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Livro: A Irmã Rejeitada que o Mafioso Escolheu

Autora: Ângela Maria


Capa: Ellen Ferreira
Revisão: Paula Santos

1ª Edição

Copyright © 2023 Ângela Maria


Todos os direitos reservados. Proibida, dentro dos limites
estabelecidos pela lei, a reprodução total ou parcial desta obra, o
armazenamento ou a transmissão por meios eletrônicos ou
mecânicos, fotocópias ou qualquer outra forma de cessão, sem
prévia autorização da autora Ângela Maria.
LEONEL DI DOMENICO
Como um Don da Máfia respeitado, minha vida é moldada por
decisões difíceis e alianças estratégicas. Desde cedo, sei que tenho
que escolher uma esposa entre as filhas do senador Alexander
Bankers, a fim de solidificar ainda mais meu domínio sobre o
cenário político. No entanto, nenhuma das filhas do casamento
planejado captura verdadeiramente minha atenção, a não ser uma.
A única que não estava na lista, Alyssa Bankers. A filha renegada,
abandonada e ignorada por seu pai quando ainda era um bebê. Ela
é diferente, destoa do padrão que a máfia impõe, mas ainda assim,
a quero em minha cama.

ALYSSA BANKERS

Minha vida estava indo muito bem antes de conhecê-lo. Estava


noiva do médico mais dedicado de todos, prestes a ganhar minha
sonhada promoção e vislumbrava um futuro brilhante à minha
frente. Tudo parecia perfeito, até que em um dia aparentemente
comum, indo ao trabalho, fui surpreendida pelos seus homens, que
me levaram à força até sua mansão.
Foi a primeira vez que olhei dentro dos seus olhos sombrios e
impenetráveis. Ele declarou que seria sua esposa, palavras
carregadas de pretensão, capazes de fazer meu peito ferver de
raiva e desespero. Naquele momento, prometi a mim mesma que
nunca permitiria que aquele homem ditasse meu destino, que nunca
o amaria.
Mas o destino é um carrasco cruel. Mal sabia eu que ainda havia
muito por acontecer, e que aquele que jurei nunca amar, seria o
homem que, de maneira surpreendente e inexplicável, roubaria meu
fôlego, me desafiaria e me faria sentir viva como nunca antes.
+18
Contém gatilhos.
Queridas leitoras,
Gostaria de começar com um aviso sincero. Este não é um
romance de máfia dark. Se você procura um enredo repleto de ação
violenta e conflitos brutais, este livro pode não ser o que você está
procurando. Mas se você está interessado em ler um romance
sensual e cheio de reviravoltas, há grandes chances de você se
apaixonar.
Esta é a história de Leonel, um Don respeitado, que se vê
diante de um casamento arranjado para solidificar seu domínio no
cenário político, mas é Alyssa, a filha renegada, que o intriga de
maneira inexplicável.
Alyssa, por sua vez, tinha uma vida planejada antes de ser
levada à força para a mansão de Leonel. Ela estava noiva, prestes a
alcançar o sucesso profissional e nunca imaginou que seu destino a
levaria a um mafioso possessivo, capaz de despertar emoções
conflitantes em seu coração.
Esta é uma história repleta de reviravoltas inesperadas, onde
o amor floresce em meio à adversidade.
Espero que desfrutem da história de Leonel e Alyssa assim
como eu amei passar cada segundo com eles.

Com carinho,
A.
PRÓLOGO
Na sala sombria da minha propriedade no Sul da Itália, estou
sentado em minha poltrona de couro, com o meu olhar direcionado
às fichas em minha mesa.
Meu fiel consigliere, Paolo, está ao meu lado, segurando uma
pasta que contém informações sobre as filhas de Alexander
Bankers.
Ele começa a apresentar as candidatas para serem minhas
esposas, uma a uma, descrevendo suas qualidades e conexões no
mundo político e empresarial. Ouço cada palavra com atenção, mas
minha indiferença é inabalável.
— Aqui está a primeira candidata, Helena Bankers, 24 anos,
formada em Economia, e começou a fazer recentemente o
mestrado... A segunda é Chiara Bankers, 25 anos, designer de
moda, possui sua própria marca de roupas... — , diz Paolo,
enquanto eu apenas aceno levemente com a cabeça, sem mostrar
nenhum interesse genuíno.
Enquanto Paolo lista as candidatas, dando ênfase em
Isabella Bankers, a Miss Itália, percebo que elas possuem trajetórias
interessantes e até bem-sucedidas. No entanto, meu interesse não
é despertado, pois ambas parecem ser meras extensões do poder
de seu pai, Alexander. Suas personalidades refletem uma vida de
privilégios e luxo, mas falta-lhes profundidade e autenticidade.
A vida que elas levam é tão previsível quanto um relógio
antigo, presas aos círculos sociais e políticos que seu pai criou. A
frieza do mafioso dentro de mim não se impressiona com suas
conquistas ou ambições, pois parecem mais interessadas em
manter as aparências do que serem elas mesmas.
Além disso, não posso negar que a ideia de me casar por
conveniência política é algo que vai contra minha própria essência.
Como homem, sempre fui guiado pela lógica e pelas regras do
mundo obscuro em que vivo, mas mesmo assim, me sinto
incomodado com a ideia de ser mais uma peça em um jogo de
poder.
No fundo, talvez eu esteja em busca de algo mais
significativo, uma parceria que vá além do poder e da política. Uma
companheira que desafie meu modo de vida e faça meu coração
bater mais forte, ou apenas alguém que vá além das convenções
impostas a mim desde que eu era um garoto.
Ainda não encontrei essa pessoa entre as candidatas
apresentadas, e é por isso que não mostro interesse genuíno em
Helena, Chiara e Isabella.
Paolo continua enumerando as demais candidatas, mas
minha expressão permanece inalterada. Seguro o charuto entre
meus dedos, a fumaça sinuosa e perfumada se misturando ao ar da
sala. Meus olhos permanecem fixos nele enquanto escuto
atentamente suas palavras sobre as outras filhas de Alexander
Bankers. Nada muito diferente das duas primeiras.
Enquanto ele fala, minha mente vagueia, pensando nas
intrincadas teias de poder e influência que cercam a máfia e a
política. Há muitos anos, quando meu pai ainda era vivo, Alexander
Bankers recorreu à Cosa Nostra para ascender ao poder e garantir
sua posição como senador. Naquela época, meu pai apadrinhou
Alexander, e a influência da Cosa Nostra em sua carreira política
cresceu significativamente. Agora, com Alexander prestes a se
candidatar à presidência da Itália, surge mais uma oportunidade de
fortalecer ainda mais nossos laços com o poder político.
A máfia vê em um casamento entre mim e uma das filhas de
Alexander um meio estratégico de consolidar essa aliança,
permitindo que exerçamos ainda mais influência sobre os rumos da
Itália.
Essa situação, no entanto, não é apenas uma questão de
conveniência política. Meu velho, que faleceu há pouco tempo,
deixou claro em seu leito de morte que era sua vontade que eu me
casasse com uma das filhas de Alexander Bankers. Ele enxergava
nessa união uma maneira de garantir a continuidade de nossa
influência na política e na máfia italiana. Carregando esse peso em
meu coração, sinto-me compelido a honrar o desejo de meu pai, no
entanto, não nego que essa união representa um fardo pesado para
mim.
Ao folhear os papéis que Paolo trouxe, meu olhar se detém
em uma ficha em particular. Uma mulher de cabelos pretos longos e
franja. Alyssa Bankers. Minha expressão permanece indiferente,
mas por dentro, sinto uma inquietação crescer. Meu coração,
normalmente envolto em gelo e frieza, é tocado por uma inesperada
centelha de interesse enquanto Paolo fala ao meu lado.
— Isso é tudo, Don Leonel. Infelizmente, essas são as únicas
opções que conseguimos reunir — diz Paolo, finalizando a
apresentação das candidatas.
Encaro a pasta por um momento antes de me dirigir a ele em
tom frio e decidido:
— E quanto a essa mulher? Quem é ela? — aponto para a
única mulher que não foi apresentada.
— Alyssa? Ela não está na lista como opção, Don Leonel.
Pensei que seu interesse estava apenas nas filhas do casamento
atual de Alexander.
Encaro Paolo com um olhar sério, sentindo a necessidade de
entender melhor essa situação.
— Explique mais a fundo sobre essa questão com Alyssa —
exijo, querendo conhecer todos os detalhes que possam influenciar
minha decisão.
Paolo mantém a postura respeitosa, percebendo a gravidade
da situação.
— Bem, parece que a relação de Alyssa com o pai não é das
melhores. Ela e sua mãe têm uma história complicada com
Alexander.
Interesso-me ainda mais por essa informação.
— Por que sua relação com o pai é complicada? O que
aconteceu?
Conforme Paolo revela mais informações sobre Alyssa, fico
ainda mais intrigado com sua história familiar. Ele prossegue,
explicando que sua mãe se separou de Alexander quando a filha
ainda era um bebê. O político se casou novamente, mas não com
uma mulher qualquer, e sim com uma de suas amantes.
— E a situação se tornou ainda mais… espinhosa. Com o
casamento de Alexander com uma de suas amantes, a relação com
a primeira família ficou ainda mais enfraquecida — relata Paolo com
seriedade.
— E o que sabemos sobre Alyssa? Suas ambições, seus
objetivos... — trago o charuto profundamente, enchendo o ambiente
com uma névoa perfumada de tabaco ao questionar.
Paolo verifica suas anotações.
— Alyssa é uma jovem advogada determinada a seguir seus
próprios passos. Ela escolheu uma carreira no direito, buscando
uma independência que a afastasse da sombra do sobrenome de
seu pai biológico e de suas conexões no meio político. De acordo
com nossas investigações, Alexander nunca foi um pai presente na
vida de Alyssa, e sua mãe, Nora, assumiu toda a responsabilidade
desde o rompimento com Alexander.
— Ela atua como advogada atualmente? É comprometida?
Me dê mais informações.
Percebo o olhar de Paolo sobre mim, uma expressão que
carrega certo incômodo. Seus olhos parecem querer transmitir uma
mensagem, como se estivesse preocupado com o meu crescente
interesse pela moça de cabelos pretos.
Paolo pigarreia discretamente, dando um tom de cautela em
suas próximas palavras.
— Senhor, é importante que compreenda que o interesse por
Alyssa pode ser em vão. Ela não é como as outras candidatas. Pelo
que soube, Alyssa tem um gênio forte e nunca aceitaria se submeter
a se casar com um de nós, mesmo que por conveniência política.
Minha curiosidade é ainda mais aguçada pelas palavras de
Paolo.
— Interessante. Explique melhor.
Paolo respira fundo antes de continuar.
— Ela é uma mulher difícil, daquelas que lutam contra
qualquer injustiça.
— E qual o problema nisto? — pergunto, cinicamente, para o
homem pálido em minha frente, que começa a ficar incomodado
com minha insistência pela tal Alyssa.
— Tenho aqui um vídeo que mostra Alyssa enfrentando um
policial que cometeu abuso do poder, dando-lhe voz de prisão. Ela
é… topetuda e não abaixa a cabeça.
Sinto o canto da minha boca se retorcer ao escutar a palavra
“topetuda” sair da boca do impiedoso Paolo Romano.
Ele projeta o vídeo em uma parede próxima, e vejo Alyssa
em ação.
— Essa mulher não é fácil de lidar, Don Leonel. Seu perfil
pode representar um risco para nossos negócios e para o controle
que desejamos ter sobre ela — explica Paolo com cuidado.
Observo o vídeo com uma mistura de surpresa e fascínio.
Seus lábios carnudos e provocantes se movem com destreza
enquanto ela enfrenta o policial. Sua voz é firme e cheia de
convicção, e cada palavra que sai de sua boca é como uma melodia
perfeita para os meus ouvidos.
Seus cabelos escorridos, longos e negros, dançam ao vento
emoldurando o rosto de traços marcantes. Sua postura ereta, os
ombros levemente erguidos, demonstram a confiança que ela tem
em si mesma, uma confiança que a torna ainda mais irresistível.
Alyssa não é apenas uma mulher bonita com conexões
políticas; ela é uma leoa. A ideia de ter que domá-la para tê-la ao
meu lado como esposa, ao mesmo tempo desafiadora e intrigante,
mexe com o meu ego.
Com um sorriso sutil nos lábios, desvio meu olhar do vídeo e
encaro Paolo.
— Prepare um encontro com Alyssa. Quero conhecê-la
pessoalmente e ver por mim mesmo quem é essa mulher.
— O quê? Senhor… — ele respira fundo, visivelmente
contrariado com minha decisão.
Paolo tenta argumentar, mas sabe que, no final das contas, a
decisão final é minha. Ele assente, ciente de que seria difícil me
convencer do contrário. Afinal, mesmo sendo meu conselheiro, ele
sabe que minha natureza obstinada e impulsiva muitas vezes guia
meus passos.
— Acho que entendo suas razões, mas tenha cautela, Don
Leonel — diz Paolo, com uma voz que denota sua apreensão.
Meus olhos permanecem firmes, e minha expressão não
mostra qualquer hesitação.
— Eu sei dos riscos, Paolo, mas também ela não é como as
outras, e é justamente isso que me atrai. Não sou um homem que
se contenta com o fácil e o previsível. Alyssa aparenta ser a
incógnita que estou procurando, e é exatamente isso que me faz
querer conhecê-la melhor. Será apenas um teste, afinal.
Paolo suspira, compreendendo que não há mais espaço para
argumentos. Ele assente, sabendo que a decisão foi tomada.
— Entendido, Don Leonel. Vou providenciar o encontro com
Alyssa e trazer todas as informações que conseguir sobre ela.
Dou-lhe um aceno de cabeça em agradecimento.
— Faça isso o mais rápido possível. Quero conhecê-la em
breve.
Paolo deixa a sala com uma expressão preocupada, ciente
de que sua tarefa será desafiadora. Enquanto isso, permaneço no
escritório, meus pensamentos focados em Alyssa. A ideia de
encontrar uma mulher que não se curve facilmente diante do poder
e da influência me instiga de maneira curiosa.
Eu, Don Leonel, sempre fui o mafioso letal que controla a
Cosa Nostra com pulso firme, mas agora me vejo disposto a
desbravar um território desconhecido: a filha do primeiro casamento
de Alexander Bankers.
Eu sei que a escolha da mulher que aquecerá minha cama e
me dará filhos é uma decisão crucial, não apenas para a máfia, mas
também para minha própria satisfação pessoal. Não serei apenas
mais uma peça nesse jogo, serei o jogador que traça o próprio
caminho.
CAPÍTULO 1

Lá vou eu, saindo do meu apartamento e fazendo uma


performance com a porta que rangia mais que uma orquestra
desafinada. Já estou tão acostumada com esse som que começo
achar que a porta faz isso só pra me dar um "oi" todos os dias.
Mas deixando a porta estrela de lado, vejo que meu celular
acende com uma notificação. Ah, é o meu querido Salvatore, o
médico mais dedicado de todos! Ele está adiando nossa
comemoração de aniversário de namoro... de novo. Terceira vez em
duas semanas, mas ok, eu entendo. Já que o trabalho dele é tão
imprevisível quanto uma chuva em Roma.
Veronica, minha melhor amiga e colega de trabalho, já até me
perguntou se não acho estranho o tanto de hora extra que meu
noivo tem feito no hospital ultimamente. Mas olha, eu não vou me
deixar levar por paranoias. Confiar é o nome do jogo, e pensando
bem, Salvatore nunca deu motivos pra desconfianças.
Envio uma resposta compreensiva pra ele, dizendo que está
tudo bem e que a saúde das pessoas sempre vem em primeiro
lugar. Afinal, não posso culpá-lo por salvar vidas, né? Só vou ter que
esperar um pouco mais pra comemorar.
Desfilo pelas ruas de Roma, enfrentando esse caos urbano
com minha dose diária de café nas mãos. Estou impecável em meu
terninho vermelho, esbanjando confiança enquanto caminho sobre
meus saltos agulha.
Coloco meus óculos escuros e enfio meus iPods nas orelhas,
dando início à minha música preferida do momento, “Is This Love,"
uma balada romântica dos anos 80 que faz todo o meu corpo flutuar.
Diminuo a velocidade com que caminho pela calçada quando
me aproximo de uma faixa de pedestres. Antes que eu possa dar
mais um passo, uma mulher atarracada, vestida com um chamativo
vestido vermelho florido, aparece na minha frente. Instintivamente,
eu tiro os fones de ouvido e os óculos escuros, olhando para ela
com uma mistura de surpresa e cautela.
— Desculpe, mas estou com pressa... — Eu começo a dizer,
tentando escapar da situação.
Porém, a mulher segura gentilmente o meu braço, mantendo
um sorriso calmo nos lábios.
— Eu recebi um chamado, minha jovem. Um chamado para
ler o seu futuro.
Eu arqueio uma sobrancelha, cética, mas ao mesmo tempo
curiosa sobre o que ela poderia dizer. Eu suspiro e olho ao redor,
buscando uma maneira de escapar, mas percebo que estou
encurralada pela curiosidade.
— Um "chamado"? Do que a senhora está falando? Eu
realmente não tenho tempo para isso agora.
A senhora apenas sorri enigmaticamente, segurando minha
mão com suavidade.
— Não se preocupe, minha filha. Não vai levar muito do seu
tempo, e talvez possa trazer algumas respostas.
Eu hesito por um momento, observando a mulher e depois a
rua cheia de pessoas apressadas. Finalmente, suspiro, me
rendendo à situação.
— Tudo bem.
A cigana fecha os olhos por um instante, parecendo
sintonizar-se com alguma energia invisível. Após alguns segundos,
ela abre os olhos e me olha diretamente.
— Vejo uma mudança brusca em seu destino, minha jovem.
Uma virada que está prestes a acontecer na sua vida… Eu vejo um
homem muito poderoso e possessivo se aproximando. Também vejo
uma paixão ardente entre vocês dois... E, bem, ele está mais perto
do que você pode imaginar. Muito perto.
Um arrepio percorre minha pele, e uma sensação inquietante
se instala no meu peito. Mas logo a sensação é substituída por uma
pontada de diversão e até mesmo de ironia.
Um sorriso quase involuntário escapa dos meus lábios
quando penso: Uma paixão ardente? Um homem poderoso e
possessivo? Bem, a cigana certamente tem uma imaginação fértil.
Considerando que já tenho o meu Salvatore e pelas características,
certamente não batem com ele.
Mas, é claro, eu não demonstro nenhum traço da minha
diversão, apenas mantenho uma expressão neutra, enquanto
balanço a cabeça em uma falsa compreensão.
— Entendo. Um homem poderoso e possessivo em meu
caminho. Muito interessante...
Por dentro, eu não consigo deixar de achar graça da situação
e me pego pensando que aquela mulher é provavelmente uma
charlatã, usando suas palavras enigmáticas para atrair pessoas
curiosas e céticas como eu.
De repente, a expressão da cigana muda. Ela parece
perceber algo a mais, e seus olhos se arregalam de uma forma
assustadora. Ela solta minha mão imediatamente, seu olhar fixo em
algum ponto além de mim enquanto diz:
— Cuidado, minha filha. Há algo muito obscuro no seu
caminho. Eu nunca vi algo assim em toda a minha vida como
cigana. Tome muito cuidado!
Sinto um arrepio percorrer a minha espinha enquanto
observo a mulher. Suas palavras parecem carregadas de um peso
que eu não consigo entender, mas que ainda assim mexe comigo.
A cigana se afasta de mim, visivelmente perturbada, e eu fico
ali, sozinha, atordoada, tentando compreender o que acabou de
acontecer.
O sinal finalmente se abre, então sacudo a cabeça e
atravesso a rua em transe, tentando afastar aquelas palavras e
pensamentos confusos.
Minha mente está em turbilhão, e ainda sinto o peso das
palavras da cigana pairando sobre mim.
O que ela quis dizer com “há algo muito obscuro no seu
caminho”?
Enquanto caminho, tento me convencer de que aquilo foi
apenas um encontro casual e estranho, uma péssima coincidência
que não tem sentido algum. Mas, por mais que eu tente, não
consigo me livrar do sentimento inquietante que tomou conta do
meu corpo.
Quando entro em uma ruela para cortar o caminho até o
escritório, um miado sofrido me desperta dos meus pensamentos, e
olho em volta, procurando pelo bichano que fez aquele barulho.
Percebo que parei em um beco deserto e úmido. Logo à
frente, há uma enorme lata de lixo e, ao meu lado, alguns caixotes
abandonados.
O miado reverbera novamente no espaço, só que dessa vez
mais alto, então imediatamente me agacho para procurá-lo embaixo
das caixas de madeira, de onde parece vir os sons esganiçados.
— Ah, aí está você! — exclamo ao ver o filhotinho de gato
amarelo encolhido sob a penumbra. — Está tudo bem com você,
amiguinho?
Ele mia de volta, sôfrego.
— Está machucado? Venha cá!
Chamo-o com as mãos, e ele sai do caixote, miando alto.
Analiso seu corpinho esguio e ao ver que ele está aparentemente
bem, pergunto:
— Está com fome? Será que é por isso que você está miando
tão alto?
Ele responde de volta, parecendo confirmar, então procuro
por alguma coisa em minha bolsa e acho uma barrinha de cereal.
Não é o mais apropriado, mas nesse momento é o que tenho.
Esfarelo um pouco e dou em pedaços a ele, que come tudo
em tempo recorde.
Ele ergue a cabeça como se quisesse mais, com os olhinhos
pidões.
— Eu preciso ir agora, mas na volta trago mais. Combinado?
Ele se esfrega em minha mão, e sorrio ternamente, afagando
sua cabecinha.
Será que ele estará aqui na volta?
De repente, questiono-me se não seria melhor levá-lo para
um lugar seguro, mas penso que me atrasar justo no dia que eu
serei promovida oficialmente me renderia uma péssima má
impressão com o meu chefe, o sr. Isidoro.
— Senhorita Bankers? — Uma voz metálica soa ali perto, o
que me faz olhar para o par de coturnos medonhos em minha frente.
Ergo a cabeça e dou de cara com um careca alto de rosto
tatuado. Engulo em seco com a energia pesada daquele
brutamontes enquanto um frio irrompe em minha coluna dorsal.
Ao seu lado, há ao menos mais quatro homens, cujos olhares
são tão sinistros quanto do homem em minha frente.
— Seu nome é Alyssa Bankers, estou certo?
Levanto-me e pigarreio, respondendo com uma pitada de
desconfiança:
— Sim. Como sabe o meu nome? Eu já o defendi alguma
vez? Pois eu não estou lembrando...
Ele sorri, e seus companheiros acompanham o gesto com
olhares intimidantes, enquanto eu tento entender qual foi a piada.
— Não sabia que era uma mulher engraçada. — Ele retira o
sorriso sarcástico e continua: — Meu nome é Renzo e é pouco
provável que eu tenha sido seu cliente.
— É, certamente não foi, pois eu nunca me esqueceria de
alguém tão arrogante.
Ele para de sorrir e me fuzila com o olhar.
— Não vai me dizer como sabe meu nome? — questiono,
sem demonstrar qualquer emoção em minha vida. — Então, com
licença, estou indo…
— Eu vim buscá-la — ele solta em um tom duro e eu estanco
os passos.
Direciono-me a ele novamente e arqueio uma sobrancelha.
— Me buscar? — repito.
— Há uma pessoa esperando por você. — Ele explica com
um ar misterioso, e eu pouso as mãos na cintura.
— E quem seria? — pergunto.
— Alguém.
— Alguém pode ser qualquer pessoa.
— Garanto que não é qualquer pessoa. — Seu tom firme
ecoa em meus ouvidos e vejo em seus olhos que ele não está para
brincadeira. Cacete! Como vou fugir daqui com tantos homens me
cercando? Se fosse apenas um, eu até dava um jeito. Mas cinco?
Inspiro fundo e tento agir com naturalidade:
— Tudo bem. Agradeço que tenha se disposto a vir aqui me
buscar, mas estou atrasada para o trabalho e, sabe, hoje eu tenho
uma promoção para receber e não posso causar uma má
impressão. Tenham um bom dia. Tchauzinho, rapazes!
Tento parecer confiante ao me despedir, mas por dentro
estou morrendo de medo. Giro os calcanhares para sair dali, no
entanto, sinto a mão gigante de Renzo pousar em meu ombro,
fazendo meu estômago gelar.
— Onde a senhorita pensa que vai? — Sua voz soa
ameaçadora e ao mesmo tempo penso na minha promoção que me
aguarda.
Por que essas coisas acontecem comigo justamente nos
meus dias de glória? O universo só pode estar brincando com minha
cara. Eu trabalho, trabalho, e no final, morro na praia.
Fecho os olhos, tentando conter o espírito de barraqueira que
existe em mim, controlando pausadamente minha raiva. Inspiro
fundo duas vezes e me viro para aquele cara.
— Renzo, não é? — fixo meus olhos nos dele, ignorando o
arrepio gelado que envolve minha pele, e pouso as mãos nos
quadris. — O que está pensando? Que essa carinha tatuada me dá
medo? Hein?! Quem você pensa que é para dar pitaco aonde eu
estou indo? Está pensando o quê? Você quer morrer? Hãm?! —
Bufo olhando para os lados e tirando uma mecha de cabelos do
meu rosto, mantendo a pose de durona. — É cada maluco que me
parece — resmungo em voz alta. — Só pra você saber, tem
câmeras espalhadas por todos os buracos desta cidade. Acha
mesmo que me levando contra minha vontade você sairá impune?
Pois fique sabendo que se eu desaparecer, a polícia vai atrás de
vocês rapidinho. E se me encontrarem, rezem para que eu esteja
morta pois caso contrário eu vou processar todos vocês. Um por
um.
Um silêncio sepulcral se faz logo em seguida e depois todos
os homens ali explodem uma gargalhada em uníssono.
— Ouviram bem, pessoal? A doutora aqui vai nos processar.
— O tal Renzo zomba entre risos.
— Isso, vai rindo. Depois que estiver atrás das grades não
vale chorar em posição fetal no colinho do advogado durante a
visita.
— E quem vai me colocar atrás das grades? Só por
curiosidade.
— O Estado — respondo, firmemente.
— Ah, o Estado! Fabuloso. — Ele dá mais alguns passos em
minha direção e fica cara a cara comigo, deixando-me paralisada
por um medo irracional e incontrolável. O tal Renzo se inclina em
minha direção e sussurra contra o meu rosto: — Prazer, Alyssa. Nós
somos o Estado.
— Quem são vocês? — dou um passo pra trás e começo a
ficar mais preocupada com a situação.
— O lado obscuro do Estado. Assim como a força do bem e
do mal, o Estado também tem duas faces distintas. Existe o lado
que zela pelos direitos dos cidadãos. E, bem, nós ocupamos
precisamente o polo oposto, o lado que está pouco se fodendo para
as leis deste país.
Se eu estivesse em outro lugar na Europa, talvez o que estou
pensando fosse um exagero. Mas estou na Itália e sei o que isso
significa.
— Vocês… por acaso… — respiro fundo, sentindo uma porra
de medo se alastrar pelo meu corpo. Reformulo a frase e pergunto
de uma só vez: — Vocês são…
— Nos chame como quiser, doutora. Mas hoje você vai com a
gente.
Olho para os lados, e ele estende uma mão na minha
direção, com um gesto que pretende ser tranquilizador, mas eu
recuo, mantendo uma distância segura.
— Não precisa se preocupar. Não estamos aqui para lhe
causar mal. Na verdade, temos planos muito especiais para você.
Enquanto ele fala, meu corpo inteiro parece entrar em estado
de alerta máximo. Ainda assim, meu instinto de sobrevivência se
sobrepõe ao medo, e quando ele se aproxima para pegar meu
braço, eu desvio rapidamente e me viro, buscando uma saída. Mas
ele não desiste. Ele tenta me pegar novamente, me girando e me
imobilizando com uma destreza surpreendente.
Meu coração bate descompassado à medida que eu luto para
me soltar, e num ato de desespero, mordo seu braço.
Ele solta um grito de dor, o que me dá a abertura que preciso
para me afastar. Não penso duas vezes antes de começar a correr
pelo beco estreito como se minha vida dependesse disso.
Minhas pernas queimam, meus pulmões ardem, mas eu não
paro. Sinto a presença dele atrás de mim, se aproximando cada vez
mais.
Antes que eu possa chegar ao final do beco, sua mão fecha-
se sobre minha boca e nariz.
Tento lutar, mas sua força é avassaladora. Aos poucos,
minha visão começa a turvar, a escuridão se fecha ao meu redor e,
finalmente, tudo apaga.
CAPÍTULO 2

Uma pontada latejante irrompe na minha cabeça,


arrancando-me de um estado de inconsciência. Meus olhos se
abrem em fendas, imediatamente agredidos pela intensa
luminosidade que preenche a sala branca ao meu redor.
Um som constante, semelhante à batida de uma bola de
pingue-pongue, ecoa no ar, martelando meus ouvidos.
Minha mão instintivamente se dirige à minha testa dolorida
enquanto eu tento assimilar onde estou e como acabei aqui. Meu
olhar vagueia, registrando a estranheza do ambiente.
Há comprimidos dispostos na mesinha perto da poltrona
reclinável em que me encontro deitada, uma sugestão silenciosa de
um propósito desconhecido.
Ao olhar para baixo, noto que estou vestindo um moletom
cinza claro, o que intensifica a sensação de desconexão.
Imagens fragmentadas dançam em minha mente: o beco
escuro, os homens sinistros que me abordaram, a fuga
desesperada.
Empurrando as lembranças confusas para o fundo da minha
mente, levanto-me, meus pés descalços tocando o chão frio e liso.
A ansiedade e o pânico começam a se misturar enquanto eu
caminho cautelosamente pela sala estranha, meu olhar examinando
cada detalhe.
Um vidro divide o cômodo em duas partes, e meus olhos se
estreitam com curiosidade e inquietação para o outro lado do vidro,
onde está um homem de presença dominante e cabelos dourados
levemente desgrenhados como de um anjo.
Ele segura uma raquete com confiança e golpeia
repetidamente uma bola contra a parede, em um ritmo constante.
Sua expressão concentradamente focada e sua postura altiva
desencadeiam uma mistura de fascínio e apreensão em mim.
Observo-o por um momento, incapaz de compreender
completamente a situação bizarra em que me encontro. Isso tudo
parece um sonho distorcido, uma realidade que não pode ser
verdadeira. No entanto, a nitidez das minhas sensações e a clareza
dos detalhes à minha volta contestam essa suposição.
À medida que o som persistente da bola de pingue-pongue
ressoa, dou alguns passos adiante, aproximando-me do vidro
separador.
Meus olhos se fixam no homem misterioso do outro lado, que
continua sua prática incansável. Um arrepio percorre minha espinha
enquanto uma pergunta ecoa em minha mente aturdida: quem é
ele? E mais importante, como vim parar aqui?
Ele vira o rosto perfeito em minha direção, e sinto um calafrio
percorrer minha espinha quando seus olhos encontram os meus.
Uma intensidade quase asfixiante parece irradiar daquele olhar, e
me vejo incapaz de desviar o meu.
Tranquilamente, ele guarda a raquete e se dirige à porta que
separa as duas salas. Meu coração dispara e um nó de ansiedade
se forma no meu estômago. Sinto como se tivesse cometido algum
erro terrível, embora não consiga entender o porquê exatamente.
Enquanto ele gira a maçaneta e abre a porta, fico paralisada,
presa em um misto de medo e expectativa. Seus olhos azuis
encontram os meus novamente, e ele me observa de cima a baixo,
como se eu fosse uma criatura de outro mundo. O silêncio paira
entre nós, impenetrável, até que a tensão me faz quebrá-lo.
— Quem é você? — Minha voz sai trêmula. — Que lugar é
esse?
Enquanto tento processar a avalanche de informações e
emoções, seus olhos continuam a me sondar, como se tentasse
decifrar cada pensamento, cada reação. A beleza dele é
avassaladora, quase irreal, e eu me sinto vulnerável sob seu
escrutínio.
— Estamos em Sicília — , sua voz grossa e rouca ressoa, as
palavras ecoando como um eco distante em minha mente
atordoada.
— Sicília? — Repito o nome, como se tentasse ancorar a
minha compreensão.
Seu olhar azulado se mantém fixo, e finalmente ele fala.
— Permita-me apresentar: sou Leonel Di Domenico.
— E quem é você, Leonel? — Franzo o cenho para ele, que
responde com uma calma surreal olhando no fundo dos meus olhos:
— Seu futuro marido.
Fico atônita com sua resposta completamente inesperada.
Futuro marido? Nunca ouvi nada tão absurdo em toda a minha vida.
As palavras que escapam da minha boca são repletas de ceticismo.
— Como assim, futuro marido? Eu nunca te vi antes em toda
a minha vida.
Ele me encara com um olhar frio e poderoso, como se
estivesse acostumado a desafiar e subjugar qualquer forma de
resistência.
— Isso não importa. Este é o acordo que meu pai fez com o
seu pai.
Fico cada vez mais confusa.
— Acordo? Deve ter havido um engano, eu não tenho pai.
Um sorriso mordaz se forma nos lábios dele.
— Todo mundo tem um pai.
— Mas eu não.
Ele inclina a cabeça, os olhos brilhando com uma expressão
de análise.
— Alexander Bankers. Esse nome significa algo para você?
Engulo em seco, meu coração acelerando. Como ele sabe
desse nome?
Minha voz trava por um momento, mas finalmente consigo
balbuciar uma resposta.
— Quem… quem é você?
Ele cruza os braços, a postura imponente.
— Você é parte do pagamento de uma dívida que seu pai fez
com minha família. Uma dívida que ele está tendo a chance de
quitar.
A revelação me atinge como um soco. Alexander estava
envolvido em dívidas obscuras? E agora eu estou sendo usada
como moeda de troca para quitar essas dívidas?
— Isso não pode ser verdade… — As palavras saem com
dificuldade, e um sorriso frio aparece nos lábios dele.
— A verdade é muitas vezes mais sombria do que
gostaríamos.
— Isso é loucura. Eu não posso simplesmente ser entregue a
alguém como um objeto. Eu tenho minhas coisas, minha própria
vida e sequer tenho qualquer relação com o senhor que você falou.
Me leve de volta para Roma! Eu exijo.
Ele encolhe os ombros, indiferente a minha indignação
crescente.
— Isso já está decidido. Além disso, tenho certeza de que
você vai preferir estar comigo a partir de hoje.
A incredulidade enche minha voz.
— Preferir estar com você? Isso só pode ser um pesadelo.
Um sorriso sugestivo brinca em seus lábios.
— Eu posso te mostrar que os pesadelos podem ser bem
interessantes.
— Você acha que eu vou simplesmente aceitar isso? —
Rebato, a raiva me consumindo.
Ele permanece calmo, uma expressão de superioridade em
seu rosto.
— A escolha não é sua. O acordo já foi feito.
Começo a andar de um lado para o outro, minha mente
girando em círculos.
— Eu tenho um noivo, sabia? Um homem que amo. Eu não
posso simplesmente abandonar minha vida por causa de um acordo
maluco.
Um sorriso irônico surge nos lábios dele.
— Acha que esse noivo pode foder melhor do que eu?
Meus olhos se arregalam com indignação.
— Isso não é da sua conta!
Ele dá de ombros, confiante e provocador.
— Apenas uma observação.
A raiva ferve dentro de mim.
— Você é um doente!
Seu olhar se intensifica, sua voz adotando um tom mais frio e
controlado.
— Tem razão, Alyssa. Não tem ninguém normal neste lugar.
Uma expressão indignada toma conta do meu rosto.
— Isso não te dá o direito!
Seu olhar endurece, a voz mantendo um tom de frieza
calculada.
— Bem, tenho um compromisso daqui a pouco. Espero que
você tenha uma boa estadia na sua nova casa, Alyssa. — Ele me
deseja um "bom dia" de maneira formal antes de caminhar em
direção à porta no fundo da sala.
Fico ali, atordoada e ainda processando tudo o que foi dito.
Decidida a não ficar parada e aceitar essa barbaridade, uma
voz dentro de mim grita para que eu faça alguma coisa. Rápido.
— Eu não vou ficar aqui — , murmuro em voz alta,
alimentando uma determinação que está começando a se formar
dentro de mim.
Sem pensar duas vezes, saio correndo pela porta que Leonel
acabou de passar, passando por ele quase sem notá-lo.
Corro pela casa desconhecida, meu coração batendo
descompassado enquanto procuro desesperadamente por uma
saída. Desço as escadas e acabo no terraço da sacada, com vista
para a costa da Sicília e a praia lá embaixo.
Ofegante, tento recuperar o fôlego, mas sinto a presença de
Leonel se aproximando tranquilamente atrás de mim.
Ele para alguns passos atrás de mim, enquanto o vento
bagunça meus cabelos.
— Alyssa — , sua voz soa calma e controlada. — Olhe para
baixo.
Com o coração acelerado, viro-me para ele e então sigo o
olhar dele até a praia lá embaixo, onde vejo os seguranças
posicionados. Minhas esperanças desabam, e uma sensação de
derrota me envolve.
— Não há como fugir — ele começa a explicar. — Essa casa
está equipada com segurança de primeira linha. E tudo isso que
você vê ao redor, a cidade, a praia, os bares... Tudo me pertence.
Mesmo que você conseguisse passar pela segurança, nunca
conseguiria escapar deste lugar. Você andaria em círculos e seria
em vão.
Ele se aproxima um pouco mais, sua voz baixa e penetrante.
— A verdade é que, neste momento, você só tem uma
escolha: ficar ao meu lado e se conformar com a situação ou
enfrentar as consequências de tentar fugir.
Com o sol poente pintando o horizonte com tons de dourado
e laranja, sinto a incerteza me envolvendo como uma teia. Enquanto
a Sicília se estende diante de nós, percebo que meu destino está
traçado.
Uma onda de desespero me atinge, fazendo com que minhas
mãos tremam e meu coração martele no peito. Não há saída, não
há escolha real, apenas um caminho que parece me puxar para um
abismo do desconhecido.
CAPÍTULO 3

Após o choque inicial e a inescapável realidade, eu me


encontro em um estado de resignação forçada.
Logo depois que o arrogante de olhos azuis saiu de casa,
uma das funcionárias daquele lugar me apresentou aos cômodos,
mas seus olhares esquivos e respostas vagas me deixaram com a
sensação de que ela estava instruída a falar apenas sobre assuntos
domésticos. Minhas perguntas sobre a minha situação, sobre o
acordo entre Leonel e meu "pai", foram evitadas como se fossem
um tabu intocável.
A sensação de prisão se intensifica quando um homem
engravatado entra na sala trazendo uma caixa de papel branca.
Ele se apresenta como Paolo e declara que o Don Leonel
quer que eu esteja pronta para sair assim que ele voltar de uma
reunião.
É nesse momento que a gravidade da minha situação se
torna clara. Não estamos falando de um mero homem comum;
Leonel é o Don da máfia.
Essa constatação atinge profundamente minha mente, pois
me lembro das histórias que minha mãe costumava contar quando
eu era apenas uma garota, sobre as estruturas e hierarquias da
máfia. No entanto, nunca pensei que essas histórias pudessem ser
mais do que apenas contos. Sinto um calafrio ao perceber aquelas
narrativas agora se entrelaçam com a minha própria vida.
Eu sabia que estava em apuros, mas entender que Leonel
tinha poder e influência além de qualquer coisa que eu poderia
imaginar me faz perceber o quão profundamente estou enredada
nesse jogo. Ele não é apenas um rufião que me sequestrou, ele é o
líder supremo de uma organização criminosa. E, ao que parece, eu
era uma peça em seu jogo.
Sentindo o desespero crescer dentro de mim, digo a mim
mesma para respirar fundo e manter a calma. Tenho que encontrar
uma maneira de escapar, de fazê-lo desistir de mim.
Mas como farei isso?
O tal Paolo sai, me deixando sozinha no quarto, então abro a
caixa de veludo e encaro o vestido preto com uma enorme na parte
das costas e o par de sapatos Jimmy Choo.
Deus! Que sapatos mais lindos! Não preciso nem dizer que
sou uma fã de carteirinha da Jimmy Choo, né? Passei praticamente
minha adolescência assistindo Sex And The City, o que,
obviamente, teve um efeito e tanto no meu guarda-roupa. Sinto o
couro macio sob meus dedos enquanto pego um deles, admirando o
design elegante e os detalhes impecáveis. Eles brilham como
diamantes sob a luz do quarto.
Mas, justo quando estou prestes a ter um momento de pura
paixão por esses sapatos, minha voz interior surge em meus
ouvidos: Você não vai se vender por um par de Jimmy Choo, não é
mesmo, Alyssa? resmungo para mim mesma.
Com um suspiro dramático, solto o sapato de volta na caixa
de veludo.
— Apesar de todos esses encantos, você não pode comprar
o meu coração! — digo em voz alta, como se estivesse falando com
aqueles bebês tão lindos, e depois a imagem daquele maluco vem
em minha mente.
Eu não posso me render. Isto é loucura!
Em vez de vestir como mandaram eu fazer, simplesmente me
coloco debaixo das cobertas da cama, ignorando o chamado
silencioso para me arrumar.
Não importa o quanto luxuosa seja essa gaiola de ouro, eu
não vou me render facilmente.
À medida que me recolho sob as cobertas, sinto uma fagulha
de medo se acender dentro de mim. Apesar de eu não baixe a
cabeça para quase ninguém neste mundo, infelizmente tenho um
cérebro.
Dessa vez não estou lidando com um policial corrupto, um
bandido de esquina ou um machão que esbarrei num bar, mas sim
com o chefe de uma organização criminosa, que sei lá quantas
pessoas já matou na vida a sangue frio.
E o mais doido nesta situação é que esse cara quer casar
comigo. Fala sério! Justo comigo? E eu lá tenho cara de mulher de
bandido? Mas ao mesmo tempo que sinto medo, uma necessidade
de sair o quanto antes dessa situação cresce dentro de mim,
alimentada pelo desejo de mostrar a esse maluco que não serei
uma peça dócil em seu tabuleiro. Esse homem não me conhece. Ele
não faz a menor ideia de quem ele sequestrou. Eu nem aposto um
chiclete grudado no asfalto que não vai demorar nem sete dias até
que ele me devolva, comemorando como se tivesse ganhado na
loteria da vida.
A noite cai lá fora, e enquanto isso, eu permaneço deitada,
esperando, com até um pouco de tédio, pois a vida de dondoca que
não faz nada sempre me pareceu estressante demais para mim,
que sou ligada nos 220 volts.
No meio da noite, o diabo de olhos azuis cinzentos entra no
quarto com uma aura de confiança e autoridade. Ele folga a gravata
preta com um movimento casual, como se estivesse se desfazendo
das formalidades do dia.
Seu olhar se volta para a cama, onde estou sob as cobertas,
e ele indaga com uma calma surreal:
— Por que você ainda não está arrumada?
Eu, sem me acanhar, respondo:
— Porque não estou com vontade de sair.
Ele abre um meio sorriso, mas não diz nada, então pego o
silêncio como uma deixa e comento:
— Só para constar, se a gente vai virar marido e mulher, é
bom que você se acostume com a minha insolência e com meu jeito
cheio de vontades.
O silêncio que se segue é quase palpável, um vácuo
carregado de tensão e expectativa. Eu me preparo para um embate,
para uma resposta cortante ou uma contrariedade, mas, para minha
surpresa, ele não contesta. No lugar disso, ele lentamente começa a
desfazer os botões da camisa que veste.
Meus olhos deslizam involuntariamente na direção dele
quando ele revela o torso esculpido e adornado por tatuagens. Uau!
Um arrepio percorre minha espinha, uma mistura de desconcerto e
admiração.
Seu corpo é uma obra de arte em si, linhas de tinta
entrelaçadas com músculos definidos. Meus olhos são atraídos
irresistivelmente para a tatuagem que adorna o peito dele, como se
fosse um ímã que captura minha curiosidade.
Minha visão se fixa no brasão, uma obra de arte inscrita em
sua pele como um testemunho silencioso de sua afiliação. O leão
feroz no centro parece ganhar vida, suas feições majestosas e
intensas quase hipnotizando meu olhar.
Minhas pupilas seguem as linhas intricadas das vinhas e
espinhos que o cercam, símbolos de proteção e lealdade que me
fazem questionar até que ponto alguém pode ser leal a um mundo
tão sombrio.
As inscrições misteriosas, em uma língua desconhecida,
parecem sussurrar segredos que estão além do meu alcance.
Além das tatuagens, meu olhar é atraído para os cortes
superficiais de faca que cruzam sua pele em pontos estratégicos.
Essas marcas parecem ser um aviso silencioso, um lembrete
visual de que Leonel é um homem perigoso, alguém que não deve
ser subestimado.
Sinto-me dividida entre a intriga e o desconforto, uma
combinação de emoções que aumenta a tensão no ar.
Ele pigarreia como quem chama a atenção de alguém para si
e, sem olhar diretamente nos seus olhos, eu me viro rapidamente
para o outro lado na cama, constrangida com minha própria reação.
— Não tem problema. Pode olhar mais se quiser — ele
comenta em um tom sério.
— E-eu não estava te secando… — gaguejo e aperto os
olhos logo em seguida. Droga! Por que eu sou assim?
— Na verdade, pensei que estivesse curiosa sobre minhas
tatuagens. Mas se não quiser mais olhar, tudo bem. — Ele diz em
um tom desinteressado e parece atravessar o quarto em busca de
alguma coisa em meio ao silêncio ensurdecedor.
Em pouco tempo, ele retorna e se deita no espaço vago ao
meu lado, e o colchão cede sob o peso dele. Meu coração bate com
força, uma mistura de medo e incerteza enchendo meus
pensamentos. Ele é indecifrável, um enigma que me intriga e
assusta.
Acomodando-se na cama com uma postura relaxada, ele
solta um suspiro que carrega um tom de cansaço perceptível. Seu
olhar encontra o meu e ele comenta de maneira direta, com um
toque de indiferença:
— Sorte a sua que não estava com vontade de sair. Estou
cansado e só quero dormir.
Sorte a minha? Penso, com um toque de sarcasmo. Mas
neste exato instante lembro que ele ainda é um criminoso que
possivelmente já derramou sangue sem hesitação nesta vida, então
decido engolir minhas palavras.
Enquanto ele se ajusta na cama, soltando um suspiro
carregado de cansaço, meu pensamento vagueia para as possíveis
narrativas sombrias que podem se esconder atrás daquelas
cicatrizes em seu tórax.
Num movimento quase instintivo, ele estende a mão em
direção ao interruptor e, com um simples toque, a luz se apaga,
mergulhando o quarto na escuridão.
O silêncio se intensifica, e a proximidade entre nós se torna
ainda maior. As batidas do meu coração aceleram, e uma sensação
desconhecida de vulnerabilidade se apodera de mim.
No escuro, meus sentidos parecem aguçados. Cada som
mínimo é amplificado, e a presença dele ao meu lado se torna uma
presença quase tangível. Eu posso sentir o cheiro dele, uma
fragrância amadeirada que flutua no ar. Minha mente luta para
processar essa proximidade, essa conexão involuntária que parece
estar se formando.
No entanto, em dado momento da noite, as lembranças do
mundo que deixei para trás me assaltam com um sentimento de
indignação. A raiva invade minha cabeça quando penso que, justo
quando estava prestes a ser promovida, quando meus esforços
estavam finalmente sendo reconhecidos na Signiel, fui arrancada da
minha vida e lançada neste cativeiro com um bandido querendo
casar comigo.
Aos poucos, o cansaço toma conta de mim, me envolvendo
como um cobertor suave. Quando eu me permito mergulhar nas
profundezas do sono, uma parte de mim ainda está consciente do
criminoso ao meu lado e do aroma inebriante que ele deixou nos
meus pulmões.

Aos poucos, as sombras da noite começam a ceder, dando


lugar aos primeiros raios de sol que invadem o quarto. Quando
finalmente desperto, minha mente ainda está em um estado de
sonolência e confusão. No entanto, a sensação de espaço vazio ao
meu lado me acorda de vez. Meus olhos se abrem, e meu coração
dispara quando percebo que a cama está deserta. Onde ele está?
Leonel deve ter saído, é a primeira suposição que surge em
minha mente. Mas a ausência dele deixa um vazio inquietante,
como se eu fosse um animal encurralado, momentaneamente livre
da presença do predador.
Com a pergunta de seu paradeiro pairando em minha mente,
decido aproveitar a oportunidade para tomar um banho. Levanto-me
da cama com cautela e caminho em direção ao banheiro, onde me
deparo com um espaço luxuoso e impecavelmente limpo.
A água quente da ducha me envolve, dissipando o cansaço e
as preocupações que se acumularam ao longo do dia anterior. No
entanto, minha mente ainda está em alerta, como se esperasse a
qualquer momento ouvir a porta se abrir.
Após sair do banho enrolada em uma toalha que encontrei
nos armários do banheiro, decido explorar um pouco o quarto. O
closet, ao qual ainda não havia dado muita atenção, é um
verdadeiro tesouro de roupas que parecem ter sido escolhidas
especialmente para mim. Vários vestidos midi, saltos elegantes e
uma abundância de tecidos finos me cercam. Olho ao meu redor,
surpresa ao encontrar peças que se encaixam perfeitamente no
meu estilo, uma mistura de elegância vintage e com perua nova-
iorquina.
No meio de tantas opções, minha curiosidade me leva a
examinar as gavetas onde se encontram as lingeries. Coro ao
perceber a quantidade de peças provocantes ali presentes.
Sinto meu rosto esquentar ao passo que minha mente se
enche de pensamentos sobre o que essa gaveta significa e o que
esperam de mim.
Finalmente, escolho um vestido que parece apropriado para o
dia. É um vestido midi de tecido floral, com detalhes delicados e
uma saia que balança suavemente ao redor das minhas pernas. Ele
me dá um certo grau de conforto e confiança, como se eu estivesse
assumindo o controle sobre a minha própria imagem em meio a
essa masmorra de ouro.
Saio do quarto, deixando para trás um pouco a incerteza e a
inquietude. Minha fome agora se torna prioridade, e começo a
explorar os corredores da casa em busca de algo para comer.
Ainda não tenho todas as respostas que desejo, mas sei que
preciso manter a mente afiada e encontrar formas de me adaptar a
essa vida se eu quiser agir com inteligência e conseguir fugir. Afinal,
minha luta pela minha liberdade apenas começou.
Meus passos me levam até a copa, onde encontro Leonel
sentado à mesa, elegantemente vestido em roupas sociais escuras.
Ele segura uma xícara de café com uma expressão serena,
concentrado na leitura do jornal.
A beleza dele é hipnotizante, não posso negar. Os traços
firmes de seu rosto, a postura confiante, a forma como parece tão à
vontade mesmo em meio a uma situação que eu ainda estou
tentando digerir. É difícil conciliar essa imagem tranquila diante de
mim com a do tirano que mandou me trazer a força para esse lugar.
— Eu exijo falar com o meu pai — minha voz soa firme,
embora uma parte de mim trema por dentro.
E ele parece ignorar completamente minha pergunta, como
se não tivesse ouvido o som da minha voz.
Seus olhos se desviam do jornal e pousam sobre mim,
estudando-me de soslaio.
— As roupas caíram muito bem em você — ele comenta.
Decidindo não me distrair com elogios superficiais, pressiono
novamente.
— Você escutou o que eu disse? Eu quero falar com o meu
pai.
Uma sombra de sorriso dança nos cantos dos lábios de
Leonel, mas sua resposta não é o que esperava.
— Pensei que você não tivesse pai.
— Eu quero falar com ele hoje, e você não vai me impedir.
Leonel se inclina para trás na cadeira, observando-me com
uma expressão que não consigo decifrar por completo.
— Hoje não será possível. Tenho planos para você.
Uma onda de inquietação me envolve enquanto as palavras
dele ecoam na minha mente.
— Planos? Que planos? — Franzo o cenho.
Ele se levanta, dobrando o jornal com um movimento preciso.
Seus olhos encontram os meus, com seriedade.
— Como ontem não tivemos a chance de sair, faremos hoje à
noite. Precisamos nos conhecer melhor.
— Nos conhecer melhor? — Desdenho.
A ideia de ser levada a algum lugar por ele é desconcertante,
mas sinto que não tenho escolha a não ser seguir adiante.
Mantenho meu olhar fixo nele, uma centelha de determinação
escondida dentro do meu âmago.
— Eu vou com você, mas só depois de falar com o meu pai.
É uma troca simples e justa — afirmo, esperando que ele finalmente
leve minhas palavras a sério.
Após um momento de silêncio tenso, Leonel parece
mergulhar em seus próprios pensamentos. Seus olhos parecem
buscar algo em mim, uma espécie de avaliação silenciosa.
Finalmente, ele assente lentamente, quase como se estivesse
cedendo a contragosto.
— Está bem, vou falar com Paolo e organizar isso para os
próximos dias. Mas… — ele ergue o dedo em riste e completa: —
esteja pronta quando eu voltar para casa.
Meu coração dispara por um instante, mas assinto para ele,
determinada a entrar na onda e fazer o que for possível para sair
desse lugar.
O silêncio é quebrado quando meu estômago ronca alto, e
sinto meu rosto corar instantaneamente. Leonel arqueia uma
sobrancelha, como se tivesse notado minha reação embaraçosa.
— Você deve estar com fome. Sente-se e tome café comigo
— ele sugere, indicando o lugar vago à mesa.
Aproveito a oportunidade e me sento, tentando esconder meu
momentâneo desconcerto enquanto tomo um gole do café que ele
serviu para mim.
A partir desse ponto, a conversa entre nós é praticamente
inexistente. Trocamos apenas olhares e silêncios, como dois
animais se conhecendo, avaliando com cautela um ao outro.
Os minutos se arrastam enquanto eu me esforço para manter
a compostura, mas a cada segundo minha mente corre com
pensamentos sobre o que me aguarda nessa noite.
CAPÍTULO 4

Minha mente está em movimento, procurando soluções para


escapar desse cativeiro. No fundo do closet, longe dos olhos de
todos, encontro uma folga para anotar minhas reflexões no espelho
do armário com meu batom vermelho.
"Opções de fuga:
1. Falar com meu pai. — Será que ele agiria em meu favor
depois de tantos anos sendo um grande filha da puta?
2. Fugir. — Mas, observando a segurança reforçada, as
chances de sucesso são mínimas.
3. Irritar Leonel. — Será que posso tornar-me tão insuportável
a ponto de fazê-lo desistir de mim?"
Ao ver essas anotações escritas de batom vermelho no
espelho, a primeira coisa que vem à mente é meu pai.
Aquele que deveria ter me protegido, mas que desapareceu
da minha vida há tanto tempo. É verdade que ele sempre foi um
cretino, mais preocupado com sua família atual e seus negócios na
política. No entanto, mesmo que remotamente, há uma esperança
de que ele faça algo certo pela primeira vez.
Mas então, enquanto reavalio sua presença em minha vida,
minha mente volta a se fixar na ideia de irritar Leonel, pois ela me
parece mais viável neste momento.
Eu sei que ele é um homem perigoso, que qualquer passo
em falso pode me levar a consequências indesejáveis, porém meu
desespero e minha necessidade de liberdade se misturam, me
fazendo considerar seriamente essa opção.
Talvez eu possa desgastá-lo ao ponto de ele não me suportar
mais, mas é um risco que não posso subestimar.
Enquanto pondero sobre essas possibilidades, um
pensamento indesejado invade minha mente. Como devem estar
Salvatore e minha mãe neste exato momento? Veronica deve estar
surtando uma hora dessas com o sumiço, certeza. Provavelmente
eles devem estar à beira de um colapso se perguntando onde eu
estou e se ainda estou viva.
A imagem deles preocupados e assustados aperta meu
coração, e eu me sinto culpada por colocá-los nessa situação.
De repente, o som de passos se aproxima, e o pânico toma
conta de mim. Rapidamente, apago as anotações no espelho com
papel higiênico, deixando apenas manchas vermelhas para trás.
Visto o roupão que encontrei pendurado no closet e saio para
o quarto, tentando parecer calma e composta.
Ao entrar no quarto, encontro Leonel parado ali, sua
presença dominante preenchendo o espaço. Ele me observa por um
momento, como se pudesse ler cada pensamento em minha mente.
Minha respiração fica presa na garganta, e eu luto para
manter minha expressão impassível. No entanto, é difícil esconder o
tumulto de emoções dentro de mim enquanto estou diante desse
homem.
— Você está pronta? — A voz de Leonel interrompe o
silêncio do quarto, arrancando-me de meus pensamentos.
Olho para ele e balanço a cabeça.
— Ainda não. Preciso de mais uns dez minutos.
Ele assente, parecendo um pouco impaciente, mas acaba se
sentando na beira da cama, como se estivesse esperando. Observo
seus movimentos enquanto caminho até o closet, sentindo o peso
de seu olhar em minhas costas.
Reviro os olhos discretamente. A situação toda é absurda.
Eu, uma mulher crescida e que sempre prezou pela independência,
me vejo presa como um passarinho preso na gaiola de um homem
controlador
Adentro o closet, escolhendo uma opção que parece mais
alinhada com minha personalidade.
Ao passo que visto o vestido midi, meu olhar captura o
reflexo no espelho do armário. Meus traços estão tensos, os olhos
refletindo a luta interna que se desenrola dentro de mim.
Ajeito o vestido e dou um último olhar ao espelho, tomando
uma respiração profunda antes de sair do closet.
Leonel ainda está sentado na cama, sua expressão tão
intensa quanto sempre. Caminho até ele, mantendo a postura altiva
carregada com um tom de desinteresse.
— Estou pronta — digo, não sem uma pitada de desafio em
minha voz.
Ele se levanta, seu olhar percorrendo-me de cima a baixo.
— Ótimo! — ele comenta sucintamente, a voz grave.
A noite está apenas começando, e não tenho ideia do que
está por vir. Mas uma coisa é certa: não vou desistir de sair desse
lugar. Não importa quais desafios se apresentem diante de mim, eu
vou sair desse lugar, ganhar minha promoção no escritório e casar
com Salvatore, o homem que amo.

— Um puteiro? O lugar especial que você disse que me traria


é um puteiro? — Minha voz carrega um misto de choque e confusão
enquanto leio o letreiro de led do estabelecimento à nossa frente:
SexFlight Lounge .
Leonel não responde, seu olhar imperturbável. Ele
simplesmente continua caminhando com passos confiantes para
dentro da boate, e eu sou forçada a segui-lo, embora uma parte de
mim esteja gritando para eu dar meia-volta.
Finalmente, ele quebra o silêncio:
— Tenho uma pessoa especial para apresentar a você esta
noite. — Sua voz é calma, mas há algo em seu tom que me faz
estremecer.
Três seguranças discretos nos acompanham, mantendo certa
distância, o que só aumenta o clima de tensão naquele lugar.
Encontramos uma mesa em um canto mais afastado, e eu me
sento, ainda tentando assimilar o que está acontecendo.
Enquanto nos acomodamos, um garçom serve uísque na
mesa para Leonel, que aceita a bebida com um aceno de cabeça.
Eu opto por uma taça de champanhe, querendo manter algum
controle sobre a situação.
Observo enquanto uma mulher dança de forma hipnotizante
no palco, seus movimentos sensuais prendendo a atenção da
plateia. Embora eu tente evitar, não posso deixar de admirar a
confiança que ela transmite.
Volto meu olhar para Leonel, esperando que ele finalmente
explique por que me trouxe aqui. Ele permanece sério, como um
homem de ferro, seus olhos fixos na mulher de peruca loira no
palco, como se eu não existisse ao seu lado.
— Então, a mulher que você está olhando, ela é uma
prostituta? — pergunto, curiosa, já que não sinto nada por ele além
de desconfiança e cautela.
— Não, ela é uma dançarina. — Leonel responde tomando
um gole espesso do líquido amadeirado, seus olhos fixos nela como
se estivessem em um mundo próprio e explica em seguida: — As
perucas rosas são usadas pelas prostitutas, enquanto as perucas
loiras são escolhidas pelas dançarinas, como é o caso da mulher à
nossa frente. Essa diferenciação ajuda os clientes a identificarem e
selecionar aquelas que estão disponíveis para serem convidadas a
um local mais privado.
Eu me vejo olhando novamente para a mulher dançando, sua
peruca loira contrastando com a iluminação dourada do ambiente.
Uma parte de mim se pergunta sobre as histórias por trás dessas
mulheres, enquanto outra parte se lembra da minha própria
situação.
— Elas estão aqui... — começo a dizer, mas antes que eu
possa concluir meu raciocínio, ele completa:
— Por vontade própria. — A resposta dele é breve, mas as
palavras ressoam em meus ouvidos, trazendo certo alívio.
Enquanto volto a me acomodar na cadeira, um homem se
aproxima da nossa mesa, e Leonel o cumprimenta com um sorriso
caloroso.
— Lorenzo, meu velho amigo, que bom te ver por aqui! —
Meus olhos capturam o homem alto de cabelos negros e traços
finos, elegantemente vestido em um terno azul de listras que realça
sua figura. Uma gravata vermelha adiciona um toque de cor ao
conjunto. Ele é indiscutivelmente bonito, de uma maneira distinta,
assim como Leonel, e sua postura emana uma autoconfiança
intrigante. — Deixe-me apresentar Alyssa, uma das filhas de
Alexander Bankers.
O homem na frente de Leonel parece perplexo por um
momento, mas logo recupera o semblante amistoso.
— Prazer em conhecê-la, Alyssa. No entanto, confesso que
não me lembro de ter ouvido falar de você antes. Conheço bem as
cinco filhas de Alexander, e você não parece familiar.
Não perco tempo em responder, minha expressão carregada
de sarcasmo:
— Você está absolutamente certo, Lorenzo. Não sou uma
das filhas de Alexander, e essa é uma bênção que carrego comigo.
Afinal, não quero ser associada a um homem tão honesto como ele.
Um sorriso divertido se espalha pelo rosto de Lorenzo,
enquanto Leonel resmunga baixinho algo que não consigo escutar.
É a primeira vez que vejo uma fissura na armadura impassível dele.
Leonel parece prestes a falar algo, mas eu continuo, desta
vez provocando-o diretamente:
— Lorenzo, você pode acreditar que Leonel me sequestrou e
pretende me fazer sua esposa? Aparentemente, ele está carente
demais para aguentar a solidão.
Uma sombra de irritação passa pelo rosto de Leonel, e ele
finalmente vira seu olhar sério na minha direção, a paciência
claramente se esgotando.
— Alyssa, você está testando meus limites.
— E se eu estiver, Leonel? O que você vai fazer a respeito?
— arqueio uma sobrancelha, tomando um gole de champanhe.
Lorenzo, por outro lado, parece achar graça na situação e
solta uma risada contida, numa tentativa de apaziguar as coisas
entre nós.
— Parece que eu perdi um episódio interessante de sua vida,
Leonel. Eu jurava que você se casaria com a Isabella, a Miss Itália.
E por que não ela? Um pensamento me ocorre, talvez meu
pai tenha preferido me dar para Leonel em vez de uma das filhas do
seu casamento com Antonella. Mesmo que eu não o considere meu
pai, sinto uma pontada de rejeição que tento disfarçar.
— E quanto à sua mãe, Lorenzo? Ela está a caminho? —
Leonel parece mudar o assunto da conversa.
— Sim, ela deve chegar em breve. Acredito que você tenha
assuntos importantes para discutir com ela.
— Com licença — digo, com um tom um tanto entediado na
voz. — Preciso usar o toalete.
Leonel assente com um gesto sutil da cabeça, indicando aos
seguranças que me acompanhem. Reviro os olhos discretamente
com o seu gesto de carcereiro controlador.
Enquanto me movo pelos corredores lotados da boate, penso
nas palavras de Lorenzo e isso de certa forma me incomoda ao
passo que a música alta e a atmosfera envolvente criam um
redemoinho de sensações ao meu redor.
Finalmente, encontro uma porta lateral que me leva a um
espaço um pouco mais tranquilo e continuo minha busca pelo
toalhete.
Logo avisto um banheiro e entro, soltando um suspiro de
alívio enquanto lanço um rápido olhar sobre o ombro para verificar
se os seguranças estão seguindo, e minha tensão diminui ao
perceber que eles estão mantendo uma distância respeitosa.
Escolho uma cabine e entro, aproveitando o breve momento
de tranquilidade. Após alguns minutos, saio da cabine para lavar as
mãos, observando uma mulher apressada entrando com roupas
brilhosas nos braços, ocupada em seu telefone.
Ela deixa as peças sobre a pia antes de se dirigir à cabine.
Uma pequena faísca de curiosidade surge em mim quando percebo
que as roupas e a peruca rosa são claramente do tipo usado pelas
mulheres que trabalham na boate.
Uma ideia se forma em minha mente, e sei que essa é a
chance que não posso deixar escapar.
A mulher desaparece na cabine, e minha pulsação acelera.
Olho rapidamente ao redor, assegurando-me de que estamos
sozinhas no banheiro.
A ação que estou prestes a tomar é arriscada, mas não tenho
outra opção. Esta é a minha chance, uma oportunidade para fugir
caindo de paraquedas em meu colo.
Com mãos trêmulas, pego as roupas da mulher e as
examino. Uma saia curta de brilho intenso, provocante e ousada.
Ela brilha sob a luz suave do banheiro, e a visão dela me faz hesitar
por um momento. Será que serei capaz de passar despercebida
usando algo tão curto?
No entanto, não há tempo para dúvidas. Eu deixo minhas
próprias roupas caírem ao chão e visto a saia curta, torcendo para
que ela não seja muito apertada nem muito larga. Ela se ajusta ao
meu corpo de forma surpreendentemente adequada, e eu respiro
aliviada, sentindo-me mais próxima de minha fuga iminente.
Procurando pela próxima peça, me deparo com um conjunto
de sutiã e calcinha brancos, adornados com brilhos sutis.
Eu visto o sutiã e a calcinha com cuidado. Completando a
transformação, uma peruca rosa audaciosa coroa meu visual.
Penso que essas roupas, esses detalhes brilhantes, são a
minha chance de me misturar entre as garotas da boate e despistar
os homens de Leonel.
Eu não posso falhar — digo a mim mesma, nervosa.
Rapidamente, eu recolho minhas roupas antigas e as guardo
em uma bolsa que encontro no chão.

Com um último olhar para o espelho, onde uma versão


transformada de mim me encara, eu me movo em direção à saída
do banheiro. É agora ou nunca. Essa é a minha chance de sair
daqui, de me libertar deste pesadelo e voltar para minha vida, e não
posso de maneira alguma desperdiçá-la.
Com destreza, deslizo entre os seguranças que estão
distraídos, passando por eles sem levantar suspeitas com meu
disfarce de dançarina.
À medida que saio do campo de visão deles, uma onda de
alívio se apodera de mim, comemorando internamente por ter
passado despercebida.
Caminho pelo labirinto dos corredores dos bastidores da
boate, buscando desesperadamente uma saída. Contudo, meu
progresso é abruptamente interrompido por um homem corpulento
que se interpõe em meu caminho.
Ele me encara com desconfiança, claramente me
confundindo com uma das funcionárias da boate.
Ele questiona com firmeza:
— O que você está fazendo aqui? A casa está cheia e há
uma legião de clientes esperando.
Minha mente corre em busca de uma explicação plausível.
— Eu… eu estava procurando… Lorenzo. Ele pediu que eu
verificasse algo nos bastidores — respondo, tentando soar
convincente enquanto mantenho a fachada de uma stripper.
O homem parece cético, e antes que eu possa reagir, ele
agarra meu braço e me arrasta pelos corredores. Minha tentativa de
resistência é em vão, pois suas mãos são fortes e implacáveis. Ele
me guia até uma sala nos fundos, fecha a cortina atrás de mim e
desaparece.
Em meio à semiescuridão, noto a presença de figura que me
olha de forma estranha. Um rosto marcado por rugas profundas
revela anos de vivência, enquanto um olhar carregado de desejo
causa um arrepio incômodo.
A percepção me atinge quando percebo que estou de peruca
rosa e lembro da explicação de Leonel sobre o que isso significa.
Talvez seja um cliente esperando uma prostituta. A tensão se
acumula em meu peito, e um frio percorre meu corpo quando minha
atenção se fixa no objeto ao lado da mesinha da poltrona onde ele
está acomodado: um revólver.
— Vamos lá, bambolina[1]. Sente aqui! — o velho bate a mão
em uma das pernas, e eu petrifico.
Merda! Onde eu vim parar?
CAPÍTULO 5

Enquanto Lorenzo e eu nos despedimos com sorrisos


cordiais, volto-me para a mesa onde Alyssa deveria estar
aguardando. No entanto, a ausência dela me deixa inquieto, algo
que raramente acontece.
A boate continua pulsando com vida, as luzes cintilantes e a
música envolvente preenchendo o ambiente. Enquanto meu olhar
percorre o espaço, meu cérebro continua preso a ela. Será que está
dando trabalho aos meus homens?
Meus olhos vagueiam pelo palco onde as dançarinas
hipnotizam os espectadores. No entanto, meu foco está longe dali,
fixado na entrada dos corredores que levam ao banheiro feminino.
Enquanto minha mente percorre diferentes cenários, lembro-
me do motivo pelo qual a trouxe aqui. Margot. Ela sempre foi uma
figura forte em minha vida, uma influência que moldou minha
perspectiva.
Enquanto eu esperava Alyssa, as lembranças de Margot
continuavam a ecoar em minha mente. Ela havia sido uma figura
materna para mim quando minha mãe biológica morreu em um
confronto com uma máfia rival quando eu ainda era um garoto. Sua
força e sabedoria moldaram minha visão de mundo e influenciaram
muitas das escolhas que fiz na vida.
Alyssa era a chave para um novo capítulo em minha história.
Eu a trouxera aqui com um propósito, para apresentá-la a Margot.
Margot era a única que poderia me ajudar a introduzi-la no mundo
complexo que eu habito.
Olho pela enésima vez para o lado, esperando Alyssa
retornar do maldito banheiro, mas nem sinal dela. No entanto,
mantenho minha máscara de calma e controle. Meu treinamento me
ensinou a não mostrar fraquezas, a nunca revelar minha
inquietação. Mas internamente, estou inquieto e irritado, pois ainda
não esqueci que ela me fez passar ridículo na frente de Lorenzo.
Sei que fui avisado por Paolo sobre o jeito de Alyssa, mas ela
não poderia simplesmente me desrespeitar como se eu fosse um
culhão de homem que conheceu por aí. Quando voltássemos para
casa, daria a ela uma amostra do tipo de homem que sou.
A voz de um dos seguranças interrompe meus pensamentos,
carregada de urgência e nervosismo.
— Senhor, a garota sumiu.
Com minha já escassa paciência esgotando rapidamente,
aperto minha mão em punho.
— Como assim sumiu, porra? Eu disse para vigiá-la.
— Não sei como… Ela simplesmente desapareceu, senhor.
Minha expressão gélida endurece ainda mais.
— Onde ela estava? Fale agora.
— No banheiro. É por ali, mas não conseguimos encontrá-la.
Respiro fundo, contendo minha crescente irritação. Com
passos firmes, dirijo-me ao banheiro feminino. Vasculho cada canto
com olhar afiado, mas Alyssa notavelmente não está lá.
— Ei! Vocês! Aqui! — uma mulher que claramente trabalha
na boate tenta nos chamar a atenção e me viro para ela, já
impaciente com suas constantes tentativas. — Vocês viram as
roupas que deixei aqui na pia? Foram vocês que roubaram?
— Cala a boca, piranha. Quem ia querer suas roupas
imundas? — Um dos meus soldados xinga e ela rebate
imediatamente:
— Ah, vai se ferrar, nojento! — a mulher se vira para ela e
resmunga pensando alto: — Então foi aquela mulher? Ah, só pode
ter sido ela.
— Que mulher? — pergunto à funcionária. — Você chegou a
ver outra mulher aqui dentro?
A mulher olha para mim com um olhar de desconfiança antes
de responder:
— Olha, quando cheguei aqui, tinha uma mulher de cabelos
pretos lisos no banheiro. Ela estava agindo de forma suspeita, meio
nervosa. Eu não sei, mas eu acho que pode ter sido ela que roubou
as minhas roupas da pia.
Um lampejo de compreensão passa pelos meus olhos
enquanto processo a informação. Logo entendo a conexão entre
aquela mulher e o desaparecimento repentino de Alyssa. Sem
perder tempo, saio do banheiro com passos rápidos, seguido de
perto pelos meus soldados.
Percorro o corredor em direção à saída da boate, meus olhos
examinando cada rosto, cada canto em busca de qualquer sinal
dela.
Meus soldados mantêm o ritmo, mantendo uma postura
alerta enquanto somos barrados por um dos seguranças da boate.
— Vocês não podem passar por aqui. É área restrita.
Quando o homem me olha nos olhos e me reconhece, ele
gagueja:
— S-senhor?
O homem engole em seco, o medo estampado em seus
olhos, enquanto suas palavras trêmulas saem a custo de sua boca.
Um dos meus soldados percebe a oportunidade e pergunta:
— Ei, camarada, você viu uma mulher de cabelos pretos por
aqui? Ela passou por você?
Uma pausa tensa se estende como se o tempo tivesse
congelado antes que ele finalmente responda com voz trêmula:
— Não... não vi nenhuma mulher assim.
Meus olhos afiados percorrem a sala, minha mente girando
em busca de pistas. Uma ponta de desapontamento atravessa meu
rosto antes que um insight ilumine minha mente, me dando conta
que Alyssa estava disfarçada como uma das funcionárias da boate.
E, com essa intuição, minhas palavras cortam o ar:
— E se ela estiver se passando por uma das garotas daqui?
Você viu alguma mulher trabalhando aqui, de cabelos pretos, nos
últimos minutos?
As mãos trêmulas do homem apontam para o corredor
adjacente, seu olhar evitando o contato direto.
— Bem, teve uma garota de programa. Ela chegou há pouco
e eu a mandei para uma das salas privadas.
A tensão no ar se intensifica num instante. Minhas ações são
precisas e velozes, minhas mãos se movendo com destreza
calculada. Retiro minha arma da cintura, o brilho metálico
capturando a fraca luz do corredor, enquanto o homem empalidece
visivelmente.
Ele gagueja, gotas de suor escorrendo de sua testa, e o
medo em seus olhos reflete a compreensão do perigo iminente.
Sem rodeios, eu ordeno com um tom que não admite contestação:
— Mostre-me onde ela está.
Minhas palavras carregam um peso inegável, um comando
que não pode ser ignorado. O homem, ciente da urgência e da
seriedade da situação, acena apressadamente com a cabeça. Ele
gesticula para que sigamos adiante, conduzindo-me junto com meus
soldados pelos corredores escuros, cada passo nos aproximando da
tal sala em que possivelmente ela estaria.
O funcionário para abruptamente em frente a uma cortina
pesada e me lança um olhar carregado de nervosismo. "Esta é a
sala onde eu a coloquei, senhor", diz ele, sua voz trêmula de
apreensão. "Ela é apenas uma prostituta, e o cliente que está dentro
é extremamente importante, um homem influente chamado Dominic
Russo."
Enquanto ele fala, meus ouvidos captam um som que
percorre meu corpo como uma corrente elétrica. Gritos, sufocados,
mas inconfundivelmente a voz de Alyssa. Minhas mãos se fecham
em punho e meu sangue ferve. O simples pensamento de outro
homem ousar tocar na futura mulher que é minha faz com que meu
controle oscile.
Minha mão se move instintivamente para destravar a arma
em minha cintura. A adrenalina se mistura com a raiva que me
consome enquanto empurro a cortina sem hesitar e adentro a sala,
minha expressão congelada e os olhos ardendo com a intensidade.
Dominic Russo, um impotente de semblante sério, está ereto
no centro da sala. Minha arma está pronta e apontada diretamente
para ele. Seus olhos se encontram com os meus, inicialmente
carregados de surpresa antes de se tornarem duros e desafiadores.
— Quem diabos é você? — ele rosna, sua voz carregada de
arrogância.
Contudo, minha atenção é instantaneamente direcionada
para o canto da sala onde Alyssa está encurralada. Seu olhar está
uma mistura de desespero e raiva, seu corpo tenso e alerta. Ela
está claramente no meio de uma situação que não esperava.
— Solte-a agora — ordeno, minha voz cortante e fria,
enquanto mantenho minha arma apontada para Dominic, minha
paciência já à beira do abismo.
Ele arqueia uma sobrancelha, desafiador.
— Quem você pensa que é para entrar aqui assim?
— O homem que vai acabar com você se não soltar essa
mulher imediatamente.
Os olhos de Alyssa encontram os meus e, por um momento
intenso, a conexão entre nós é palpável. Dominic murmura algo
incompreensível e dá um passo em direção a ela, subestimando
claramente a gravidade da situação. Antes que ele possa fazer
qualquer movimento, meu dedo pressiona o gatilho, disparando um
tiro que se crava no chão próximo a seus pés.
Seu rosto empalidece e seus olhos se arregalam, captando a
seriedade da ameaça iminente.
— Você é maluco? Quer competir por uma puta?
— Essa mulher não é uma prostituta. Ela é minha mulher. E
se você ousar tocá-la novamente, uma bala atravessará sua cabeça
antes que você possa piscar.
Dominic vacila por um momento, a gravidade de minhas
palavras finalmente penetrando em sua arrogância. Ele engole em
seco, sua postura enfraquecendo enquanto viro o rosto para Alyssa.
Seus olhos, cheios de apreensão e vulnerabilidade, capturam
minha atenção e me prendem no lugar. Ela está ali, no meio dessa
situação em que ela mesma se colocou, com medo e assustada,
usando um sutiã branco, com os seios fartos quase pulando pra
fora, e uma saia curta brilhante. A peruca em seu cabelo a
transforma, mas mesmo agora, neste momento totalmente
inadequado, eu não posso deixar de notar o quão incrivelmente
sexy ela está. É primeira vez que a olho em roupas tão curtas e
sinto uma raiva descomunal em pensar que outros homens
pudessem estar a olhando com desejo.
Dominic levanta as mãos em rendição, afastando-se de
Alyssa com um olhar de desculpa.
— Eu não sabia que ela não era uma prostituta — ele diz
rapidamente, tentando se justificar, mas o olhar irado que lhe lanço
o corta.
Ignorando completamente Dominic, seguro a mão de Alyssa
e saio da sala com passos firmes, puto com aquela situação.
Ela acompanha meus passos com dificuldade, seus olhos
cansados e assustados fixos no chão. O silêncio entre nós é denso,
carregado de emoções inexprimíveis. Finalmente, paro e viro para
encará-la, meu olhar capturando as roupas curtas que ela está
usando.
Com impaciência, começo a desabotoar minha própria
camisa. Percebendo que isso levará tempo demais, a raiva me
domina ainda mais, então rasgo o restante dos botões da camisa e
a jogo sobre os ombros dela, cobrindo-a.
Alyssa me encara, surpresa e confusão estampadas em seu
rosto. Antes que possa dizer qualquer coisa, volto a caminhar com
ela ao meu lado.
— Vamos para casa — murmuro com uma mistura de
exasperação e preocupação.
Passo por Margot, que finalmente havia chegado, sem me
deter. Seus olhos se estreitam em curiosidade, prontos para fazer
perguntas, mas não tenho paciência para explicar agora. Não com
Alyssa ao meu lado, com sua respiração ainda irregular e olhos
carregados de turbulência.
Antes que Margot possa dizer qualquer coisa, inclino-me
ligeiramente em sua direção e digo com meu tom calmo, mas firme.
— Deixe a conversa para outro dia. — Minha voz não admite
argumentos, e é o suficiente para fazer Margot recuar
momentaneamente.
Com passos rápidos, saio da boate, ainda sentindo o olhar de
Margot queimar em minhas costas. Atravessamos o corredor e
chego ao carro estacionado. Abro a porta do passageiro para
Alyssa, mantendo-me em silêncio. A raiva ainda borbulha dentro de
mim, uma sombra escura em meio ao meu desejo de protegê-la.
Assim que Alyssa está acomodada, entro no carro e ligo o
motor. Olho para ela por um momento, sua expressão tensa, e
engulo as palavras que ameaçam escapar. Em vez disso, coloco a
mão no volante e saio do estacionamento com pressa.
O silêncio reina no interior do carro enquanto dirigimos de
volta para casa. Não há necessidade de palavras agora, as
emoções estão à flor da pele demais para serem expressas com
facilidade. Minhas mãos apenas apertam o volante, tentando
controlar a tempestade de sentimentos que se agita dentro de mim.
CAPÍTULO 6

Chegamos em casa após a confusão na boate, e o silêncio


paira pesadamente entre nós. O caminho de volta foi feito sem troca
de palavras, mas as emoções dentro de mim borbulham como um
mar revolto. O olhar de Leonel permanece fixo na estrada, sua
expressão impenetrável, enquanto eu encaro pela janela, perdida
em pensamentos conflituosos.
O ambiente no carro é carregado, saturado com tensão e
sentimentos não expressos. Minha mente está em tumulto, uma
tempestade de pensamentos colidindo dentro de mim. Ele me
resgatou da situação perigosa na boate, mas ao mesmo tempo, ele
é o responsável por eu estar ali, no meio de tudo isso. A gratidão
mistura-se com a raiva, criando um nó apertado em meu peito.
A porta do carro se abre quando chegamos em casa, e eu
saio, sentindo o ar fresco da noite lavar meu rosto. Leonel me segue
em silêncio, e o som da porta se fechando ecoa pelo ar, como um
lembrete de todas as palavras não ditas entre nós.
A atmosfera pesada parece se apegar a cada passo que
damos, carregando o peso de emoções não resolvidas. Ao
chegarmos ao corredor superior, nossos olhares se encontram por
um momento, antes de eu girar a maçaneta do quarto e entrar. Não
demora muito para que as palavras escapem da minha boca:
— Eu quero dormir sozinha essa noite — murmuro, minha
voz mais firme do que eu esperava. O olhar de Leonel se estreita,
suas feições revelando claramente sua irritação.
— Esse quarto é meu — ele responde em um tom cortante.
— Se você não quer minha companhia, procure outro lugar para
dormir então.
— Sem problemas — retruco, forçando um sorriso desafiador.
A tensão se acumula no ar enquanto nos encaramos, então ele fala,
uma provocação fria que atinge meu nervo exposto em cheio.
— Só não seja idiota de fugir de novo.
As palavras são como um golpe direto no meu peito,
acendendo a raiva.
— Sabe o que é mais assustador, Leonel? Ficar sob o
domínio de alguém que acredita que pode controlar minha vida
como se fosse algum tipo de rei e eu, sua propriedade.
— Se ao menos você pudesse se permitir experimentar estar
aqui e viver a vida que eu quero te proporcionar…
— Você não entende, Leonel. Eu não pedi por isso. Eu não
pedi para ser trazida para este lugar e forçada a viver sob o seu
domínio! O que você espera? Que eu aceite essa prisão e me torne
sua esposa obedientemente? Eu não posso simplesmente esquecer
minha vida, minha liberdade.
— Sua vida. Você fala muito dela como se fosse uma grande
coisa.
Minhas mãos se fecham em punhos, minhas unhas quase
cravando na minha pele.
— E você acha que a vida que você me impôs é melhor?
Você me sequestrou, me fez prisioneira, e agora acha que tem o
direito de julgar minha antiga vida?
Ele ri, um som que ressoa como uma nota desafinada no ar.
— Você não entende, Alyssa. Eu estou tentando te dar uma
oportunidade, uma chance de ter algo além daquela vida medíocre
ao lado do seu ex-noivo traidor.
Uma risada amarga escapa dos meus lábios.
— Traidor? Salvatore? Agora você foi longe demais! — me
aproximo dele e digo pausadamente para que ele entenda: —
Primeiro, não é ex-noivo. Salvatore continua sendo meu noivo. E por
último, ele nunca me trairia pois ele não é do seu tipo.
— Tem razão, Alyssa. Somos diferentes. Eu posso estar
longe de ser considerado um homem bom, mas uma coisa que não
tenho é duas caras. Sou o que sou, com todos os meus pecados,
mas não escondo a verdade para parecer um bom moço diante
daqueles que devo lealdade.
Eu o encaro, meus olhos ardendo com indignação. Como
pode mentir tão bem?
— Isso é mentira. Você está apenas tentando manipular as
coisas para que eu fique sob seu controle.
Leonel se aproxima mais, pega o celular e mostra a foto. Meu
coração para por um momento quando meus olhos se fixam na
imagem, no beijo apaixonado entre Salvatore e outra mulher. Meu
estômago revira, uma sensação de náusea subindo em mim.
— Isso é impossível — murmuro, minha voz vacilante. — Não
é o Salvatore aí.
— Olhe de novo, tigresa. Abra bem os olhos. É ele sim.
Minhas mãos tremem enquanto pego o celular dele e olho
para a foto novamente. Meu coração aperta dolorosamente quando
reconheço a mulher nos braços de Salvatore. É a minha melhor
amiga, Veronica. Minha visão fica turva, meu peito apertando com
uma mistura de dor, raiva e traição.
Deixo o celular cair, dou alguns passos para trás. As lágrimas
que eu estava segurando finalmente caem, descendo pelo meu
rosto.
— Não pode ser verdade — sussurro, minha voz trêmula.
Minha cabeça gira, meu mundo desmoronando diante de
mim. Sinto-me perdida, magoada e devastada. E assim, a pior noite
da minha vida começa, um confronto com verdades cruéis que eu
não estou pronta para enfrentar.
Leonel murmura algo sobre me deixar dormir em seu quarto e
que ele encontrará outro quarto. Não liguei muito para isso e quando
me dei conta já estava me deitando na cama, a escuridão do quarto
envolvendo-me como um manto pesado. A confusão ferve em
minha mente, as palavras de Leonel ecoando incessantemente. A
incerteza aperta meu peito, enquanto tento desesperadamente
discernir a verdade entre as mentiras.
Será que Salvatore realmente me traia com Veronica? A
imagem dos dois juntos invade meus pensamentos, cada riso
compartilhado e olhar trocado me perfurando como agulhas afiadas.
Não quero acreditar, mas as evidências estão ali, como sombras
pairando sobre minha mente atormentada.
As lágrimas começam a cair, quentes e ardentes, escorrendo
pelo meu rosto como uma trilha de dor. Sinto-me perdida, à deriva
em um mar de emoções turbulentas. O calor das lágrimas contrasta
com a frieza que se apodera do meu coração.
A ideia de que minha vida é uma farsa é avassaladora. A
possibilidade de que minha melhor amiga e meu namorado tenham
traído minha confiança me atinge como uma pancada. Sinto-me
traída, não apenas por eles, mas também por mim mesma, por ter
confiado cegamente neles.
Enquanto as lágrimas continuam a cair, sinto a exaustão
tomando conta de mim. Meus pensamentos estão confusos, minhas
emoções em frangalhos. Minha cabeça está pesada, repleta de
questionamentos sem respostas. A incerteza paira sobre mim como
uma névoa densa, tornando impossível distinguir a verdade do
engano.
Minhas pálpebras começam a pesar, e a exaustão física e
emocional finalmente me domina. Adormeço com a cabeça cheia de
tormento, as lágrimas secando em meu rosto enquanto mergulho
em um sono agitado, em meio a sonhos confusos que refletem a
tumultuada guerra interna que travo.

***

A luz do sol invade o quarto, os raios mais intensos do que o


normal. Quando acordo, minha cabeça está mais fria e clara. As
emoções turbulentas da noite passada ainda estão presentes, mas
consigo raciocinar com mais calma.
A ideia de que as fotos que Leonel mostrou eram apenas
uma tática para me fragilizar e manipular parece cada vez mais
plausível. Minha raiva aumenta à medida que considero a
possibilidade de ele ter usado algo tão cruel para me controlar.
A Veronica e o Salvatore que conheço não seriam capazes
de uma sacanagem tão grande. Ou seriam?
Claro que não, Alyssa — meu subconsciente reclama.
Veronica é minha amiga desde a faculdade, e a ideia de que ela e
Salvatore estivessem tendo um caso não entrava na minha cabeça.
Decido sair do quarto e enfrentar a situação de frente.
Preciso confrontar esse babaca e deixar claro que não permitirei
que ele me manipule dessa forma.
Sigo pelo corredor, meus passos determinados ecoando pelo
silêncio da casa.
Ao chegar à área da piscina, vejo uma cena inesperada.
Leonel está sentado à mesa, conversando com Paolo. Eles parecem
estar em uma reunião informal, com uma garrafa de vinho entre
eles. Minha raiva aumenta ainda mais ao vê-lo tão tranquilo, como
se nada tivesse acontecido.
Sem hesitar, me aproximo da mesa. A raiva fervilha dentro de
mim, e minha vontade de enfrentá-lo é mais forte do que nunca.
Pego a taça de vinho que está na mesa e jogo seu conteúdo
diretamente no rosto de Leonel. As gotas de vinho respingam sobre
ele, sua expressão de surpresa transformando-se em ira.
— Você é um manipulador barato — cuspo as palavras com
fúria contida. — Acha que pode me controlar com mentiras e
joguinhos psicológicos? Você nunca me teria de verdade. Nunca
acreditaria ou amaria você.
O silêncio se espalha pelo ar, o clima tenso e eletricamente
carregado. Inesperadamente, Leonel pega a taça de vinho restante
na mesa e a joga em minha direção. O líquido frio e avermelhado
atinge meu rosto e colo, minha pele queimando com o choque da
ação.
Fico ali, olhando para ele com uma mistura de raiva e
incredulidade. As faíscas invisíveis voam entre nós dois, criando
uma barreira invisível de tensão.
Paolo, o consigliere, permanece ali observando a cena com
uma expressão impassível. Ele se levanta calmamente e diz em um
tom suave:
— Vou deixá-los a sós para resolverem isso. Sua presença
parece adicionar peso à atmosfera, como se ele soubesse que esse
conflito entre nós era inevitável.
Paolo sai da mesa enquanto Leonel pega um lenço e limpa o
rosto tranquilamente, mantendo um olhar firme em mim.
— O que isso significa? — ele pergunta com uma voz gélida,
suas palavras carregadas de um tom cortante que faz minhas unhas
se cravarem nas palmas das mãos.
Minha raiva ainda está fervendo, e suas palavras só
intensificam o arsenal de emoções dentro de mim. Eu o encaro com
olhos flamejantes, meus lábios se curvando em um sorriso de
desdém.
— Acha mesmo que joguinhos sujos vão fazer com que eu
me submeta a você? Você subestima a minha inteligência, Leonel
— respondo, minha voz carregada de desafio. — Mas isso só
significa que você é um idiota carente…
Ele se levanta abruptamente antes que eu termine a frase, a
mesa voa para o lado com um estrondo surdo. Seu rosto está
vermelho de raiva, e a intensidade do momento me faz dar um
passo para trás involuntariamente. Ele se aproxima de mim, sua
presença dominante me fazendo sentir como uma presa
encurralada.
Leonel me pressiona contra a parede, seus dedos afundando
em meu pescoço. Meu coração dispara, uma onda de medo
misturada com adrenalina me inundando.
— Eu te avisei para não testar a minha paciência, Alyssa —
ele murmura com uma voz baixa e rouca. — Me escute bem — ele
sibila, seu hálito quente batendo contra meu rosto. — Você pode
não gostar de mim, pode me odiar por estar aqui contra sua
vontade, mas nunca mais me desrespeite assim na frente dos meus
homens.
Ele aperta levemente meu pescoço, sua expressão sombria e
imprevisível. Minha respiração fica mais rápida, minha mente uma
confusão de emoções conflitantes. No entanto, de repente, ele
afrouxa o aperto, sua expressão mudando.
O olhar intenso se suaviza aos poucos, e quando a tensão
passa, seus dedos começam a acariciar a pele sensível do meu
pescoço.
Uma sensação de arrepio percorre minha espinha enquanto
seus dedos traçam padrões leves e delicados sobre minha pele.
A mistura de medo e excitação parece tornar tudo mais
intenso, minha mente e corpo lutando entre a racionalidade e a
tentação.
A forma como ele me pressiona contra a parede e, ao mesmo
tempo, acaricia meu pescoço é desconcertante. Nossos olhares
ainda estão conectados, minha respiração fica mais pesada, cada
toque de seus dedos acendendo uma faísca dentro de mim.
Seus lábios se aproximam perigosamente dos meus ouvidos,
e ele sussurra com voz rouca e dura:
— Você ainda vai implorar para que eu foda essa boca
insolente. Eu juro que vai.
A intensidade da promessa dele ressoa em meu ouvido,
enviando arrepios pelo meu corpo, mesmo que eu não devesse
reagir dessa forma.
Ele se afasta devagar, cada passo que dá para trás é como
um afastamento físico, mas suas palavras continuam a reverberar
em minha mente.
Respiro profundamente, tentando recuperar o fôlego
enquanto enfrento a intensidade do momento. Minha voz está
ligeiramente trêmula quando finalmente consigo falar:
— Onde está meu pai? Você me prometeu que o traria hoje
aqui.
Seu olhar fixo em mim, e a expressão em seu rosto parece
um misto de desdém e satisfação pela reação que causou em mim.
Ele responde com um tom frio e autoritário:
— Não vou mais trazê-lo. Esse é o castigo por ontem à noite
e hoje.
As palavras caem como uma sentença, a notícia me
atingindo com força. Eu me sinto impotente diante de sua decisão
arbitrária, sabendo que isso está sendo usado como um meio de me
controlar ainda mais.
Antes que eu possa responder, ele continua, sua voz
carregada com um autoritarismo inquestionável:
— Se arrume. Vamos sair em duas horas.
Ele sai da área da piscina, deixando-me ali, atordoada com
tudo o que acabou de acontecer.
Minhas mãos tremem ligeiramente, e eu toco meu próprio
pescoço, como se fosse possível sentir o calor que ele deixou sobre
mim.
Eu me sinto vulnerável e exposta, mas também há uma parte
de mim que está despertando para a atração que exerce em meu
subconsciente e que é intensificada por sua aura de macho
controlador.
CAPÍTULO 7

Leonel me conduziu até um resort à beira-mar em Palermo, e


a grandiosidade do local me atingiu assim que chegamos.
O lugar é um verdadeiro refúgio de luxo, com piscinas
cristalinas cercadas por espreguiçadeiras elegantemente dispostas
e uma praia particular se estendendo até onde meus olhos
alcançam. Cada detalhe parece ter sido cuidadosamente planejado
para emanar opulência e refinamento.
Observo as pessoas ao redor, todas trajando roupas de
banho impecáveis e sorrisos corteses, enquanto nossa presença
não passa despercebida.
Os olhares discretos direcionados a nós me fazem perceber
que Leonel é uma figura de poder nesse lugar, uma espécie de rei
em sua corte particular.
Descemos para a parte da areia, onde muitas das mulheres
circulam sem a parte de cima de seus biquínis, aproveitando a brisa
do mar com liberdade.
Leonel e eu encontramos um bangalô vazio de frente para o
mar e nos acomodamos, com os pés tocando a areia macia e
fresca.
Diferente de seu usual terno, ele está vestido de maneira
casual, com uma camisa branca de botões levemente aberta e short
azul escuro.
É um vislumbre de seu lado mais descontraído e, devo
admitir, é irritantemente atraente.
Deslizando para a espreguiçadeira que é tão ampla que
poderia acomodar facilmente quatro pessoas, deito-me, sentindo a
maciez do tecido sob minha pele que ainda pulsa com o calor do
sol. Leonel se junta a mim, deitando-se ao meu lado. O silêncio
impera entre nós, e eu posso sentir o peso das palavras não ditas
no ar.
Após um longo minuto, ele quebra o silêncio, sua voz baixa e
grave.
— Você está com medo de mim por causa do que aconteceu
mais cedo?
Não o respondo, e ele inspira fundo.
— É bom que você entenda de vez que toda ação tem uma
reação, e no meu mundo não é diferente.
— Não existe cavalheirismo no seu mundo?
— Pensei que mulheres como você lutassem por direitos
iguais.
— Que babaca! — reviro os olhos resmungando baixinho.
— O que disse? — ele pergunta, confuso.
— Que mancada! — corrijo rapidamente antes que ele
perceba.
Ele estreita os olhos para mim e depois de alguns segundos,
parece desistir e volta a olhar para o mar em nossa frente.
— Sabe, Alyssa, talvez eu tenha criado expectativas demais
em uma só mulher. Pensei que você fosse mais esperta, mais
observadora, mas você não passa de mais uma neste mundo que
fecha os olhos para infidelidade de homens que sabem que serão
facilmente perdoados.
Ele está insinuando que eu sou corna mansa? Fecho os
olhos, controlando minha vontade de rebater e ganhar uma
represália ainda pior do que a de manhã.
Por isso, inspiro fundo antes de falar com ele e ironizo
amaciando a voz:
— Falando assim parece que você é um homem bom. E
você? Você é fiel, Don Leonel?
— Tem razão. Nunca fui fiel a uma mulher, porque nunca
estive em um relacionamento sério.
— Você nunca namorou? — pergunto, chocada, piscando os
olhos duas vezes.
— Pessoas na minha posição sabem desde cedo que não
podem se relacionar livremente — ele dá de ombros. —
Geralmente, casamos por conveniência e somos doutrinados a
seguir o que é melhor para os interesses da família.
Ainda curiosa, questiono:
— Então isso quer dizer que você nunca… — estanco antes
que as palavras possam sair da minha boca –, se apaixonou?
Leonel olha fixamente para o horizonte, a brisa do mar
brincando com alguns fios soltos de seu cabelo castanho levemente
ondulados. Quando ele finalmente fala, sua voz era tão firme quanto
o oceano diante deles.
— O treinamento que recebi desde a infância... foi rigoroso.
Não foi apenas uma educação, mas uma completa transformação.
Fui moldado para não sentir empatia, não chorar e definitivamente
não amar. Cada fraqueza foi arrancada de mim, cada emoção
suprimida até que eu me tornasse a máquina que sou hoje, — diz
ele, sua expressão sombria e pensativa.
Ele se voltou para mim, seus olhos escuros me penetrando
profundamente.
— Quando nos casarmos, você não terá meu coração,
porque ele foi treinado para não sentir. Mas terá minha fidelidade e
meu corpo. Serei seu, fiel como um cão, protegendo-a de qualquer
perigo. Esse é o único tipo de sentimento perto do amor que sei
oferecer.
Sua revelação me deixou sem palavras, com os olhos
arregalados em choque e compreensão. Como alguém pode viver
dessa forma? Era uma visão assustadora da realidade que Leonel
enfrentou e do homem que ele havia se tornado.
— Então você nunca esteve com uma mulher antes?
Automaticamente meu cérebro debocha da besteira que
acabei de dizer, lembrando do que ele me disse mais cedo sobre me
fazer implorar e quebrando todo o clima sombrio da conversa.
— Eu já estive com mulheres antes se é o que quer saber. Na
cama.
— Só na cama? — arqueio uma sobrancelha.
— Sim.
Volto a me recostar na espreguiçadeira e comento em voz
alta:
— Isso explica muita coisa.
— Por exemplo, o quê?
Dessa vez, ele que está curioso.
— O porquê de você não saber flertar. Você nunca teve
encontros ou qualquer coisa do tipo... quando nos conhecemos,
você simplesmente jogou na minha cara que nós íamos casar, como
se estivesse falando a coisa mais natural do mundo, e aquilo foi
estranho.
Logo em seguida, um silêncio sepulcral se instaura.
— Então eu não sei flertar — ele suspira profundamente,
debochado.
Viro meu rosto para ele e afirmo:
— Não. Não sabe.
— Então será que pode me dar umas aulas? — Seus olhos
azuis-celestes fixam-se em mim, um olhar intenso que desliza
lentamente até minha boca.
Minha pulsação acelera, o calor sobe às minhas bochechas,
e eu me sinto desconcertada por essa atenção repentina, me
obrigando a desviar o olhar.
— O que foi? Por que seu rosto ficou vermelho?
— É o sol — pigarreio, arranjando qualquer desculpa.
Ele solta um riso de satisfação e desvia o olhar.
— De qualquer forma, ainda estou decepcionado com você.
Traição é coisa séria, e não é algo que deva se deixar passar.
Seguro a raiva e forço um sorriso.
— Agradeço sua preocupação genuína comigo, Leonel. E só
para deixar claro, não que isso seja da sua conta, eu nunca
perdoaria uma traição. Salvatore não faria isso comigo. Ele me ama,
e a Veronica é minha melhor amiga.
— Se você quer viver nessa bolha de ilusão, fique à vontade.
A verdade sempre encontra um jeito de emergir, mais cedo ou mais
tarde.
Em seguida, ele se levanta e retira seus pertences do bolso
do calção, colocando-os sobre a mesa ao lado da espreguiçadeira.
Rapidamente, Leonel se levanta, enfiando as mãos nos
bolsos do calção e caminha em direção à água.
Meu olhar se fixa nele e observo quando ele olha em volta e
começa a tirar a camisa branca, revelando seus músculos
esculpidos à medida que a peça de roupa desliza de seus ombros.
As tatuagens em suas costas capturam minha atenção: duas
espadas cruzadas, marcando sua pele com um ar misterioso e
atraente. Minha garganta fica seca enquanto ele se move com
confiança, a água salgada respingando sobre ele quando finalmente
mergulha no mar.
Um grupo de mulheres à beira-mar o observa com admiração
indisfarçada. Meus olhos não conseguem desviar dele, mesmo que
eu saiba que estou sendo observada. A imagem de Leonel emerge
das ondas, os músculos brilhando sob o sol, e eu sinto meu coração
acelerar de uma maneira que eu não esperava.
Balanço a cabeça e olho para o lado, notando que ele deixou
seu telefone desbloqueado em cima da mesinha ao lado.
Um impulso me invade, e minha curiosidade supera qualquer
reserva. Lentamente, eu me viro na espreguiçadeira e alcanço o
celular que ele deixou para trás. Meus dedos tremem levemente
enquanto deslizo a tela para o lado e me deparo novamente com
algumas fotos de Veronica e Salvatore se beijando.
Ele deixou o celular de propósito, concluí olhando para o
homem no mar. Claro que deixou.
Meus ombros murcham ao perceber que não seria muito
inteligente ligar para a polícia do celular dele, já que Leonel não
seria tão burro a ponto de deixar o celular de bobeira assim. Ele
sabe o que está fazendo.
Meus olhos recaem sobre as fotos novamente e começo a
passar uma por uma. Quando estou prestes a deixar seu celular de
mão, uma imagem chama minha atenção.
Espera aí! Eu lembro desse dia.
Trata-se de uma sequência em que Salvatore beija Veronica
em frente a portaria do meu prédio e em seguida eu apareço.
Veronica disfarça empurrando Salvatore para perto da lixeira, e ele
aparece logo em seguida, embrenhando os dedos nos cabelos.
Não faz muito tempo desde aquele dia, e me lembro muito
bem de quando encontrei Veronica quando eu desci para tomar um
café. Eu até perguntei se ela estava bem, pois me pareceu muito
pálida e inquieta. Tão logo Salvatore apareceu em cena e fomos
todos à cafeteria, eu achando que nosso encontro foi uma grande
coincidência.
A ficha cai e minha mão se fecha em punho. Porra. Essas
fotos não são montagem. Salvatore e Veronica estavam mesmo…
— Ah, que filhos da puta! — murmuro com ódio.
Minha respiração fica mais rápida e meu peito apertado
conforme a realidade se desenha diante de mim. A traição de
Salvatore e Veronica é algo que não posso mais negar.
Meu estômago se revira de raiva e tristeza, meus olhos
ardentes percorrem as fotos novamente, cada beijo e toque, e a
mágoa cresce dentro de mim como um furacão.
Eu me sinto tola, usada e traída pelas pessoas que eu
acreditava ser meu porto seguro.
Sem pensar, coloco o celular de Leonel de volta na mesa
com força, minha mão tremendo de raiva. É quando percebo um
garçom do resort passando por perto, equilibrando uma bandeja
com taças de Martini.
Não penso duas vezes. Agarro duas taças de Martini
enquanto ele se aproxima e bebo tudo de uma vez, sentindo o
álcool queimar em minha garganta.
As lágrimas ameaçam escapar, mas eu as engulo com a
bebida.
Enquanto a raiva pulsa em minhas veias, vejo Leonel sair da
água e voltar em minha direção, com uma expressão de
questionamento. Sua voz rouca me atinge quando ele pergunta:
— Está tudo bem?
Ergo rapidamente o rosto, colocando uma máscara de
indiferença. Meus olhos se encontram com os de Leonel, e, com
serenidade forçada, respondo:
— Está tudo bem, sim.
Avisto um garçom passando com uma bandeja cheia de
Martinis. Estendo a mão, pego uma taça e dou um gole generoso.
— Preciso ir ao banheiro — anuncio, devolvendo a taça vazia
à bandeja.
Quando começo a caminhar para fora da órbita de Leonel, os
seguranças parecem sair de seus esconderijos para me
acompanhar.
Admiro o banheiro do resort: ladrilhos que brilham, torneiras
douradas e uma impressionante pia de mármore branco no centro.
Deixo meus óculos sobre o mármore e entro em uma das cabines.
Quando saio da cabine e me aproximo da pia para lavar as
mãos, dou um pulo de surpresa. Leonel está recostado na pia,
olhando fixamente para mim.
— O que você está fazendo aqui, Leonel?! — Tento controlar
o batimento acelerado do meu coração.
— Só me certificando de que você não tentará fugir de novo.
Caminho em direção à pia, levando as mãos à cabeça para
encaixar os óculos sobre meus cabelos. Os ladrilhos frios sob meus
pés ecoam o latejar do meu coração. Me olho no espelho e as
marcas da traição são evidentes em meu rosto.
— Do mar, eu vi algo diferente em você, — Leonel murmura
ao meu lado. Seu reflexo aparece junto ao meu, seus olhos focados
em mim.
Viro-me para ele, minha voz carregada de acusação.
— Você sabia. Sabia que tinha deixado aquele celular na
mesa para eu ver aquelas fotos.
Ele descruza os braços, revelando mais do seu peitoral sem
camisa, e dá um passo em minha direção.
— Então, finalmente acredita que aquele bunda mole te traiu,
tigresa?
Desvio o olhar por um segundo, sentindo o peso da verdade.
Assinto lentamente, os olhos voltando a encontrá-lo. Ele disfarça um
sorriso vitorioso.
— Quer se vingar de Salvatore?
Minha resposta é imediata.
— É o que eu mais quero agora — respondo apertando a
mão em punho lembrando daqueles dois safados.
Leonel se aproxima ainda mais, quase colidindo comigo.
— Você pode se vingar.
— Como vou me vingar dele se estou presa a você neste
lugar? — replico, frustrada.
Leonel parece ponderar por um momento e depois diz com
um brilho misterioso nos olhos:
— Se quiser, eu posso te ajudar.
Intrigada, pergunto:
— Como?
Ele dá mais um passo em minha direção, obrigando-me a
recuar até sentir o mármore frio da pia em minha lombar.
— Mas você vai ter que confiar em mim, tigresa. Topa?
Olho para ele, tão perto que posso ver partículas de água
salgada em sua pele bronzeada. Engulo em seco.
— Eu confio, — murmuro.
Com um sorriso satisfeito, Leonel se aproxima, sua silhueta
alta e imponente diminuindo a distância entre nós. Os olhos azuis de
Leonel, antes cintilantes e misteriosos, agora parecem mais
profundos e intensos. Eles me encaram, prendendo minha atenção
e me deixando hipnotizada. Sinto sua mão firme e calejada
envolvendo minha cintura desnuda, me puxando de encontro ao seu
corpo. O calor da sua pele entra em contato com a minha, causando
uma série de arrepios que percorrem minha espinha. Meu coração
começa a martelar tão forte em meu peito que sinto como se fosse
saltar para fora a qualquer momento. Sua pele é quente, e o toque é
possessivo, como se estivesse reivindicando algo que sempre lhe
pertenceu. Estou envolvida por ele: pelo cheiro forte de couro e
tabaco, e por uma aura hipnotizante. A respiração dele se torna
mais pesada, e a minha segue o mesmo ritmo, enquanto seus lábios
se aproximam dos meus em um movimento lento, quase torturante.
Quando finalmente nos tocamos, é como se um raio atravessasse
meu corpo. Seus lábios são macios e quentes contra os meus, e o
gosto salgado do mar mistura-se com o gosto amadeirado em sua
boca. A língua de Leonel explora a minha, exigindo submissão, e eu
me perco no ritmo intoxicante do seu beijo. No ápice do nosso beijo,
sinto algo diferente. Leonel, com destreza, levanta o celular e tira
uma foto. Surpresa, me afasto um pouco, olhando para o aparelho e
depois para ele.
— O que é isso? — Pergunto, a confusão evidente em meu
rosto.
Leonel não responde. Seus olhos azuis me encaram
intensamente, e eu entendo o que ele quer. Mesmo sem palavras, a
conexão entre nós é forte. Ele quer usar essa imagem como parte
do plano de vingança contra Salvatore. Tocando meu nariz no dele,
sorrio de canto, mostrando minha aprovação.
Decidida a cooperar, puxo Leonel de volta para um beijo mais
intenso. Mudamos a inclinação das cabeças, garantindo um ângulo
perfeito para as fotos. A paixão se intensifica à medida que nos
beijamos, a língua dele explorando a minha. Em meio aos beijos e
carícias, por um momento me esqueço completamente das imagens
enquanto me perco no sabor daquele beijo cheio de pegada.
É como se ele soubesse exatamente o que fazer com a
língua, o que me deixa ainda mais curiosa e excitada.
As fotos tornam-se um mero detalhe, ofuscadas pelo desejo
crescente entre nós. Leonel coloca o celular na pia, movendo seus
lábios para o meu pescoço, enviando ondas de prazer por todo meu
corpo.
Em um movimento rápido, Leonel me ergue e me coloca
sentada na beirada da pia de mármore frio.
O contraste do mármore gelado contra minha pele quente
provoca ainda mais arrepios. Leonel inclina-se para beijar o meu
colo, explorando a região sensível com os lábios. Seu toque me faz
arquear as costas e arreganhar mais as pernas instintivamente,
buscando mais contato com ele.
Quando seus dedos estão prestes a afastar meu biquíni para
o lado, um som abrupto da porta do banheiro sendo aberta o
interrompe.
Meu coração gela, e antes que possamos dizer qualquer
coisa, uma mulher entra no banheiro, olhando com surpresa para a
cena diante dela.
Num salto, desço da pia, arrumando rapidamente meu cabelo
bagunçado.
— Desculpe, eu não sabia que... eu... uh... vou voltar depois
— a mulher loira murmura, nitidamente embaraçada.
— Tudo bem, nós já estávamos de saída — falo, tentando
resolver a situação rapidamente.
Leonel, ao meu lado, apenas olha daquela forma tipicamente
confiante dele, como se aquela interrupção fosse apenas mais um
detalhe em nosso dia.
Seus azuis estão sérios, mostrando nenhum sinal de
constrangimento. Por um segundo, me pego admirando essa sua
capacidade de se manter imperturbável.
Antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, agarro sua
mão, surpresa pela facilidade com que ele me permitiu liderar.
Aquele homem, que sempre parece tão dominador, agora se
deixava guiar por mim sem resistência.
Sua mão, calejada e firme, aperta a minha de forma
reconfortante, como se quisesse me assegurar que tudo estava
bem.
Ao sair do banheiro, andávamos rapidamente pelos
corredores, os sons dos nossos passos ecoando nas paredes. Mas
de repente, Leonel parou, me forçando a interromper meu ritmo.
— Nós não cometemos nenhum crime, Alyssa — ele diz,
olhando-me diretamente nos olhos.
Seu tom é sério, mas contém uma pitada de provocação.
Deixo seu comentário de lado e me concentro no celular que
ele segura firmemente.
— O que você vai fazer com essas fotos? Vai enviá-las para
a casa de Salvatore? — Pergunto, tentando esconder a ansiedade
na minha voz.
Para minha surpresa, Leonel me estende o celular.
— Não — ele diz, seu olhar se aprofundando. — Acho que
seria melhor se você postasse na sua rede social.
Olho para ele, incrédula.
— Você está falando sério? Isso seria uma humilhação
pública para ele — argumento, sentindo o peso da responsabilidade.
Leonel inclina a cabeça, avaliando minha reação.
— Você quer mesmo se vingar dele, não quer?
Engulo em seco, lembrando das traições da dor que
Salvatore me causara.
— Sim, mas...
— Na vida, aprendi que quando alguém te trai, o justo é
devolver o golpe à vista de todos. E, afinal, ele não te apunhalou
pelas costas?
Meu coração bate forte, a ideia de expor Salvatore daquela
maneira tornando-se cada vez mais atraente. Eu seguro o celular de
Leonel com determinação, preparando-me para dar o próximo passo
na minha vingança.
Com o celular de Leonel em mãos, analiso a imagem. É uma
foto nossa, em meio a um beijo apaixonado. A hesitação toma conta
de mim e afirmo:
— Eu não posso postar isso no Instagram.
Leonel me encara, uma sobrancelha erguida, intrigado.
— Por quê?
Suspiro profundamente, buscando as palavras certas.
— Se minha mãe olhar, ela vai pensar que estou aqui na boa,
curtindo, quando na realidade estou desaparecida.
— Você tem esperança de que alguém venha a resgatar?
Assinto com a cabeça, e ele ri, uma risada baixa e carregada
de ironia. Seus olhos, escuros e intensos, fixam-se em mim. —
Alyssa, mesmo que sua mãe reunisse todo o exército italiano para
te encontrar aqui na Sicília, não conseguiria. E, sinceramente? Isso
é altamente improvável.
Ele se aproxima, a intensidade de seu olhar me fazendo
recuar um passo.
— Por que não aceita estar aqui comigo agora? Você só sairá
desta ilha quando eu permitir.
Engulo em seco, tentando absorver a intensidade de suas
palavras. No entanto, percebendo minha aflição, ele suaviza a voz.
— Eu entendo sua preocupação com sua mãe. Por que não
envia uma mensagem para ela? Diga que está tudo bem, que está
viajando. Ao menos ela não ficará tão preocupada.
No fundo, ele está certo. Minha mãe enlouqueceria se não
tivesse notícias minhas por muito tempo, então seria melhor, pelo
seu bem emocional, ela acreditar que estava tudo bem comigo.
Olho fixamente para o celular, meus dedos hesitantes sobre a
tela. A luz azulada ilumina meus olhos, intensificando sua cor.
— Mas, claro, é apenas uma sugestão — ele completa por
fim.
Por um instante, sinto como se o mundo tivesse parado. Os
sons ao meu redor, o sussurro do vento nas folhas, o barulho
distante do mar — tudo parece silenciado, intensificando o peso da
minha decisão. Penso em minha mãe, em Salvatore, em Veronica,
na traição. É a mim que cabe o controle agora.
Com um novo fôlego da atitude que estou prestes a tomar,
procuro pelo aplicativo do Instagram, acesso minha conta e
seleciono a foto.
Meus dedos movem-se rapidamente enquanto digito a
legenda: "Férias inesperadas com ele #amoremio".
Uma respiração profunda e hesitante preenche o silêncio, e
pauso, encarando a postagem, completamente ciente do impacto
que aquela imagem e palavras podem causar na minha antiga vida.
Parece que todo o universo aguarda minha decisão. E,
finalmente, pressiono "publicar".
Levanto os olhos lentamente e encontro o olhar penetrante
dele.
Não há mais volta.
Um pensamento claro e perturbador se instala em minha
mente: sou apenas eu e Leonel agora. E, com esse ato, minha
antiga vida, aquela que eu costumava conhecer e amar, parece
ainda mais distante e inalcançável.
CAPÍTULO 8
O tempo parece se arrastar nesta ilha, e a cada dia que
passa, me sinto mais presa em uma teia emaranhada de
sentimentos. Viver com Leonel é como estar em uma montanha-
russa de emoções. Há dias em que seu sorriso fácil e o brilho suave
em seus olhos me fazem confundi-lo com uma espécie de amigo
distante, mas em outros, sua seriedade intensa e penetrante inflama
uma química carnal que tento negar veementemente.
Pelo que percebo, entro em sua vida em um período
conturbado para os negócios da máfia, e essa tensão só alimenta a
energia elétrica que pulsa entre mim toda vez que ele volta para
casa. Dormir ao seu lado se torna cada dia mais um desafio. Sua
proximidade, seu cheiro, o calor do seu corpo — tudo isso atiça um
desejo que tento desesperadamente manter sob controle.
Em um certo dia, após o almoço, Leonel me conduz até um
dos maiores cômodos da casa. Uma mulher de presença inegável,
com cabelos brancos bem presos e vestindo-se com uma elegância
notável, está à nossa espera.
— Alyssa, quero que conheça Margot — ele diz, sua voz
tingida de respeito.
Ela me avalia cuidadosamente, seus olhos como os de um
falcão. — Então é você — murmura com uma voz serena. —
Finalmente nos encontramos. Leonel fala ao meu lado:
— Margot tem lições importantes para você.
Com um gesto, ele se retira, me deixando a sós com ela.
Sinto um desconforto sob seu olhar penetrante, mas foi a tal Margot
quem quebra o gelo.
— Você é a tão falada Alyssa? — Ela pergunta com um ar
divertido. Franzo a testa, surpresa.
— Tão falada?
Ela ri levemente.
— Leonel menciona seu nome constantemente. Ele mal
podia esperar para que eu a conhecesse. Aquilo me pega de
surpresa. Sabia que estávamos nos aproximando, mas não
imaginava que ele falasse de mim para outros, especialmente para
alguém como Margot.
Ela se aproxima de uma poltrona antiga, mas majestosa,
sentando-se com a postura ereta como de alguém que comandou
respeito durante toda a vida. Suas mãos, marcadas pelo tempo, se
entrelaçam sobre o colo, e ela me encara com olhos astutos e
determinados.
Nos momentos que se seguem, Margot compartilha comigo
detalhes sobre a máfia, seus costumes e o papel das mulheres
nesse universo. Fico sabendo que, como potencial esposa de
Leonel, certas responsabilidades recairiam sobre mim. Enquanto
Margot discorre sobre as tradições da máfia e o papel das mulheres
neste lugar, ela pausa por um momento, seu olhar profundo fixando-
se no meu.
— Você sabe, Alyssa — começa ela com uma expressão de
quem compartilha um segredo — não há nada melhor neste mundo
do que se casar com um mafioso como Leonel. Não posso conter
uma risada abrupta. A ideia parece tão absurda para mim.
Margot me lança um olhar severo, sua postura rígida e os
olhos estreitados.
— Isso não é motivo para riso.
Tento me recompor, mas a curiosidade parece notável em
meu olhar.
— Por quê?
— Nos dias de hoje, muitos homens perderam a noção do
que é ser homem de verdade — ela diz, cada palavra carregada de
convicção. — Case-se com um mafioso, e ele lhe dará o mundo,
mesmo que tenha que brigar com o universo inteiro para isso. E a
lealdade? Será por toda a vida.
— Um criminoso leal? Isso soa contraditório — argumento, o
ceticismo evidente em minha voz. — Homens como Leonel farão
qualquer coisa por poder.
Margot sorri levemente, quase condescendente.
— Ah, minha querida, você está tão enganada. Um dos
princípios sagrados da máfia italiana é nunca trair a esposa. Porque,
veja bem, se você é capaz de trair alguém que confia o suficiente
para fechar os olhos e dormir ao seu lado, então não é digno da
confiança de ninguém. E Leonel… ele viverá esse código até o
último de seus dias. Sua lealdade a você será eterna, semelhante à
devoção de um cão fiel.
As palavras de Margot me atingem com força. Há sinceridade
em sua voz e uma certeza que não posso ignorar. Minha mente gira,
tentando reconciliar a imagem do mafioso Leonel com a de um
homem leal e fiel. Então, a conversa de Leonel sobre ser fiel não
são meras palavras ao vento. A revelação é perturbadora. Já é um
desafio não desprezar um homem tão atraente, mas agora descobrir
que ele é também fiel?
Foco, Alyssa! Você não estudou igual uma condenada para
no final se apaixonar por um criminoso, não é? Me apaixonar parece
absurdo demais, mas e se eu desse apenas uns amassos nele sem
sentimentos antes de encontrar um jeito de ganhar minha liberdade?
Droga. Esse meu fogo ainda vai colocar tudo a perder.
Depois das conversas com Margot sobre a cultura da máfia,
ela me leva para fora da mansão. Em um campo aberto, alvos de
papel estão alinhados a várias distâncias. Observando-a com
atenção, vejo Margot pegar uma pistola, verificar a munição e, com
uma habilidade impressionante, disparar contra os alvos, acertando-
os com uma precisão que me deixa boquiaberta.
— Um bom tiro pode ser a diferença entre a vida e a morte —
diz Margot, colocando a pistola de volta na caixa e me encarando.
Hesito por um momento, mas depois, com um nó no
estômago, estendo a mão para pegar a arma. Sob a orientação
atenta de Margot, aprendo a postura correta, como segurar a pistola
e, após algumas tentativas, começo a acertar os alvos. A sensação
é inebriante.
— Você é uma aprendiz rápida — elogia Margot, com um
leve sorriso.
— Obrigada — respondo, uma onda de orgulho e
autoconfiança inundando meu peito. Nunca imaginei que sentiria tal
empoderamento ao manusear uma arma.
Lembro-me dos dias em que circulava pelos tribunais como
advogada. Estava sempre cercada por policiais armados,
defensores e acusados, mas nunca havia tocado, de fato, em uma
arma. A ironia da situação me atinge. De defender a lei a disparar
uma arma em uma ilha no Mediterrâneo, minha vida deu uma
guinada. À medida que os dias passam, me sinto mais competente
e confiante. Margot não só me ensinou sobre defesa, mas também
se tornou uma espécie de amiga e confidente no mundo isolado de
Leonel. Cada alvo atingido, cada tiro certeiro, parece que estou
recuperando um pouco do controle que tinha em Roma, mesmo que
de uma maneira estranha e restrita.
CAPÍTULO 9

O aroma forte do café recém-preparado preenche o ar da


sala quando Paolo entra. Ele tem aquela aparência sempre certinha,
com seu terno feito sob medida e os cabelos perfeitamente
penteados.
— Quando você voltará para Roma? — Sua voz está
carregada de urgência. — Há várias pendências que precisam de
sua atenção, Leonel.
Suspiro, sentindo o peso de suas palavras e a
responsabilidade que vem com elas. No entanto, Alyssa está em
minha mente, e minha decisão está tomada.
— Agora não é a hora, Paolo — respondo, servindo-me de
um gole do café quente.
— Preciso de mais tempo com Alyssa.
Paolo levanta uma sobrancelha, surpreso.
— Mais tempo? Você já está aqui há semanas.
Há um tom de incredulidade em sua voz.
— Ainda há alguns eventos dos quais preciso participar.
Inclusive o batizado do neto de Vincenzo que acontece hoje —
explico, tentando manter meu tom neutro.
Paolo franze a testa, sua impaciência crescendo.
— E sobre Alexander? Quando você vai comunicá-lo sobre
Alyssa? Ele precisa saber.
— Em breve — retruco, sentindo uma onda de irritação. —
Alyssa ainda está em teste. Preciso ter certeza de que ela é a
pessoa certa.
Paolo me estuda por um momento, seus olhos
perscrutadores analisando cada detalhe de minha expressão.
— Observei que sua relação com ela parece ter melhorado
recentemente — ele comenta, um sorriso enigmático surgindo em
seu rosto. — Ela já não parece tão resistente a você.
Isso me faz rir, um som curto e sem humor.
— É apenas impressão sua, Paolo. Alyssa ainda quer voltar
para casa. Mas isso mudará. Ela se apaixonará genuinamente por
mim, é só uma questão de tempo.
Paolo abre um meio sorriso frio, aquele tipo de expressão
que em outra pessoa poderia ser considerado um sorriso genuíno,
mas nele, é apenas uma curvatura dos lábios.
Por um momento, minha mente divaga para Lorenzo. Se
estivesse aqui, com seu jeito irreverente, já teria soltado uma de
suas piadas características ou até mesmo gargalhado, tentando
aliviar a tensão. Mas Paolo… Paolo é diferente. Seu humor, quando
existe, é tão frio e impenetrável quanto um bloco de gelo.
De repente, a porta do escritório se abre. Eu levanto os olhos,
e por um instante, meus pensamentos são completamente
arrebatados.
Alyssa está de pé, trajando o vestido azul claro que eu
escolhi para ela. O tecido delineia sutilmente sua silhueta,
capturando perfeitamente a delicadeza e sensualidade que ela
possui. É um equilíbrio requintado entre a inocência e a provocação.
Nossos olhos se cruzam, e embora eu tente manter minha
expressão inalterada, algo dentro de mim reconhece o impacto de
sua aparição. Ela é, inegavelmente, deslumbrante.
— Estou pronta — ela diz com firmeza, interrompendo o
breve momento.
Recompondo-me rapidamente, coloco minha xícara de café
na mesa e aceno para que ela siga em frente.
— Vamos, então — respondo, esforçando-me para manter
minha voz firme e impassível, embora internamente esteja reagindo
ao espetáculo que é Alyssa naquele vestido.
Saímos juntos, eu mantendo uma distância protocolar. Paolo,
com seu olhar aguçado, observa silenciosamente. O evento na
Sicília nos espera, e enquanto nos dirigimos para lá, não posso
deixar de pensar que, por mais que tente ocultar, a presença
daquela mulher sempre terá um efeito inegável sobre mim.
Enquanto o carro serpenteia pelas estreitas estradas da
Sicília, minha mente divaga sobre o evento que nos espera.
Vincenzo, o subchefe e também grande amigo de meu falecido pai,
é um senhor de meia-idade que vive em Palermo desde que me
entendo por gente.
Minhas vindas à Sicília são importantes não apenas para os
negócios, mas também para apoiar, renovar e fortalecer os laços da
famiglia.
A vista do ponto mais alto da ilha é espetacular, e mesmo
antes de chegarmos lá, eu posso visualizar a cena. O mar imenso,
com seu azul profundo e infinito, circundando essa área elevada. A
grama, impecavelmente verde, serve como o cenário perfeito para a
celebração.
Após a cerimônia religiosa solene, os convidados são
agraciados com uma festa mais descontraída. As crianças, alheias
às complexidades do mundo dos adultos, se divertem em
brinquedos espalhados pelo gramado, como pula-pula e piscina de
bolinhas. Uma pequena bolha de alegria e inocência em nosso
mundo.
Cumprimento Vincenzo, trocamos algumas palavras
amigáveis e, então, eu apresento Alyssa a ele e sua esposa. No
entanto, evito entrar em detalhes sobre como Alyssa e eu estamos
conectados. Alyssa ainda está em fase de teste e não posso
assumir nada incerto para a famiglia, por uma série de questões
internas. Somente Paolo está a par de tudo o que acontece na
minha vida pessoal.
Mas tenho certeza de uma coisa: preciso protegê-la, mesmo
que ela não saiba de tudo o que acontece por trás daquela gente
sorridente e aparentemente inofensiva. A verdade, por vezes, é
mais perigosa do que a ignorância.
Me envolvo em uma conversa com um grupo de empresários,
todos discutindo negócios e as últimas notícias da política local. Por
um instante, permito-me relaxar, me perdendo nas nuances da
conversa. No entanto, ao levantar os olhos, percebo Alyssa no pula-
pula, seus cabelos saltando com ela, sorrindo e rindo enquanto pula
com uma garotinha, filha de um dos capos, que parece encantada
com sua companhia.
Por um breve segundo, acho a cena fascinante. No entanto,
meu olhar logo se direciona para um grupo de homens, um pouco
mais afastados, mas perto o suficiente do brinquedo. Eles seguram
taças de champanhe, conversando entre si, mas seus olhos estão
vidrados nas pernas de Alyssa. Eles murmuram entre si, risadinhas
escapam, e o olhar predatório deles é evidente.
O sangue sobe à minha cabeça, e minha visão fica vermelha
de raiva. Sem hesitar, vou até o pula-pula, abrindo a rede de
proteção.
— Alyssa, saia daí agora! — ordeno, a voz retumbante.
Ela olha para mim, os olhos brilhando de diversão e desafio.
— Ainda não terminei aqui — ela responde com um sorriso
travesso, voltando a pular com a pequena garota.
Caralho! Puto com sua insolência, abro a rede de proteção e,
sem pensar, a agarro pelas pernas, puxando-a para fora e
carregando-a por sobre meu ombro. Alyssa resmunga, esperneando
e protestando.
— Não acredito que está fazendo isso, Leonel! Isso é ridículo.
Me coloque no chão agora!
— Já chega! A festa terminou para nós — declaro, dando um
tapa naquela bunda redonda.
Estou determinado a tirá-la dessa situação. Atravesso o
gramado, ouvindo os murmúrios e olhares curiosos dos outros
convidados. Mas não me importo.
Quando passamos perto do precipício, as súplicas de Alyssa
se tornam mais intensas e, finalmente, me rendo, colocando-a no
chão com cuidado. Ela está ofegante, os olhos faiscando de
indignação.
— O que há de errado com você, cara? — ela exige,
arrumando o vestido. — Eu estava me comportando!
Bufo, olhando para o lado, o que parece irritá-la ainda mais.
— Pensa que eu não sei que aqueles homens conhecem
Alexander? — ela ralha. — Eu poderia colocar muita coisa a perder
hoje, mas simplesmente me comportei.
Dei um passo à frente, diminuindo a distância entre nós.
Meus olhos, sombrios e intensos, se fixam nos dela.
— Que diferença faz você saber quem são eles? Acha que
alguém ali pode te tirar de mim? Acha mesmo que alguma daquelas
pessoas ousaria me desafiar?
Ela ri, um riso carregado de sarcasmo e raiva.
— Não — ela responde com firmeza. — Mas eu poderia gritar
para todos ali o tipo de pai que o futuro candidato à presidência é.
Todos ficariam sabendo que seu amigo não passa de um homem
desprezível, que nunca esteve presente na vida da filha e que,
quando finalmente apareceu, foi para me entregar aos lobos, em
vez de entregar uma das filhas que ele próprio criou. — Sua voz
carrega um tom de mágoa profunda. — Esse é o interesse de vocês
em Alexander, não é? Não é apenas o Senado que os atrai, mas
sim a oportunidade de dominar a presidência.
Observando Alyssa, não posso deixar de pensar em como
ela é perspicaz. Entre todas as filhas de Alexander, foi justamente
essa astúcia e inteligência que me atraíram. Mas, ironicamente, são
essas mesmas características que também me tiram do sério,
desafiando-me de formas que ninguém jamais fez.
— Você está errada. Ele não entregou você a mim. Fui eu
quem te escolheu.
Ela me olha, uma expressão de surpresa e confusão em seus
olhos.
— Como? — Ela questiona, a voz hesitante.
Inspiro fundo e continuo:
— Dentre todas as opções que me foram dadas, eu escolhi
você. E Alexander não sabe que você está aqui. Pelo menos, não
ainda.
Ela franze a testa, tentando entender.
— Você disse que...
Rapidamente a interrompo, bufando e enfiando as mãos nos
bolsos, mantendo minha voz firme.
— Isso é um teste, Alyssa. Eu ainda não decidi se quero me
casar com você.
Alyssa olha para o vasto oceano ao seu lado, as ondas
quebrando com fúria contra as rochas abaixo. vento forte faz seus
cabelos esvoaçarem, criando uma aura etérea ao seu redor. Ela se
vira lentamente e questiona:
— Então... você gosta de mim? — Sua voz quase se perde
no vento, mas há um tom de desafio nela.
— Já disse que não costumo ter sentimentos — respondo,
tentando manter minha voz neutra, apesar da estranha aceleração
em meu peito.
Ela franze a testa, seus lábios se curvando em uma
expressão reflexiva. Sinto como se ela estivesse olhando através de
mim, sondando cada camada da minha máscara fria e distante.
— Você disse que me escolheu — ela começa devagar, suas
palavras carregadas de ponderação. — Mas eu não o escolhi.
Eu sei que isso a está incomodando, essa falta de controle
sobre sua própria vida. No entanto, eu também tenho minhas
próprias razões para fazer as coisas da maneira que estou fazendo.
— Você não tem escolhas, Alyssa.
A observo dar alguns passos para o lado, se aproximando da
beira do penhasco. Seus olhos faíscam quando ela se vira para
mim.
— Será que eu não tenho? — ela pergunta, sua voz ecoando
com desafio. — Você me sequestrou, Leonel. Está me arrastando
para um casamento sem amor, sem considerar minhas vontades ou
sentimentos. Mas será mesmo que eu não tenho opção?
Mas que porra é essa? No que raios ela está pensando em
fazer?
— Você não faria isso — respondo com um tom de
preocupação.
Alyssa ri amargamente.
— Foi um prazer te conhecer, Leonel.
Meu coração dá um salto em pânico quando a vejo se inclinar
para trás. Sem pensar, ajo por impulso, correndo em direção a ela
com a velocidade do desespero.
Alcanço seu braço a tempo, puxando-a para mim antes que
ela possa cair. A abraço contra o meu corpo, meu coração batendo
quase fora de controle.
A sensação de seu corpo contra o meu é avassaladora. Sinto
o tremor em suas mãos, a fragilidade que ela está tentando
esconder. Seus olhos estão levemente arregalados, como se ela
também tenha percebido o quão perto estava de cruzar uma linha
perigosa.
— Nunca mais faça isso — escapa dos meus lábios, minha
voz uma mistura de alívio e reprimenda. Alyssa sorri de leve, seus
olhos brilhando com uma intensidade que eu nunca poderia ignorar.
— Eu sabia que viria me pegar — ela diz, sua voz carregada
de um entendimento que vai além das palavras. Eu a olho por um
momento, então afasto a cabeça para poder olhá-la diretamente nos
olhos.
Ela suspira, como se tentasse encontrar as palavras certas.
— Você fala que não tem sentimentos, Leonel, mas veio me
salvar tão rápido como se sua vida dependesse disso. Neste exato
momento, seu coração está acelerado, suas mãos estão me
apertando, e seu semblante está preocupado. Se isso não é gostar
de alguém, o que seria então?
Minha mente dá voltas, enquanto eu luto para processar o
que ela disse. Eu sempre acreditei que a frieza era minha maior
proteção, uma barreira contra as fraquezas que os sentimentos
poderiam trazer. Mas ali, com ela nos meus braços, a verdade está
diante de mim. Eu posso sentir meu coração batendo
descompassadamente, a adrenalina ainda correndo através das
minhas veias.
— Isso não é... — começo, mas as palavras morrem antes de
completarem o caminho.
Ela inclina a cabeça, olhando para mim com uma expressão
de desafio gentil.
— Não tem que responder agora. Apenas... pense sobre isso.
Alyssa serpenteia suavemente o corpo para fora dos meus
braços, um sorriso brincando em seus lábios enquanto ela se
endireita. Ela me lança um olhar, os olhos brilhando com um misto
de desafio e diversão, e pergunta:
— Vamos?
Eu olho para ela, ainda sentindo os efeitos do susto que
acabei de levar. Inspiro fundo, sentindo o tremor remanescente em
meus músculos, enquanto meus olhos encontram os dela. O vento
brinca com seus cabelos e o vestido azul claro que ela usa dança
suavemente ao seu redor.
Reprimo os sentimentos que tentam se libertar, forçando-me
a voltar à minha postura habitual. Assinto lentamente, lutando para
manter minha expressão impassível, e respondo:
— Claro.
CAPÍTULO 10

Ele definitivamente está caidinho por mim. Essa ideia ressoa


na minha mente enquanto aplico o hidratante no meu corpo com
animação, sentimento que só encontro em momentos solitários
como este. A textura suave desliza sobre minha pele, e não posso
deixar de sorrir. Leonel, o temido mafioso, capturado por uma dose
de charme e ousadia. Será que ele tem alguma noção do problema
em que se meteu?
Envolta por pensamentos maquiavélicos, visualizo o plano
perfeito desdobrando-se em minha mente. Usarei isso para sair
daqui. Não será tão difícil, afinal. Bastará um pouco de sedução e
charme, e o homem enfeitiçado estará a meu dispor. Homens
apaixonados costumam agir feito bobos, e Leonel não será exceção.
E se estiver apaixonado, fará qualquer coisa para me agradar.
Roma, aqui vou eu.
Um sorriso travesso se espalha por meus lábios enquanto
espalho o hidratante pelos braços. Tudo o que preciso fazer é
mantê-lo interessado, alimentar sua paixão, e ele cederá. Afinal,
quem poderia resistir ao meu charme?
Mas, no fundo da minha mente, uma pequena voz de culpa
cutuca-me. Sei que brinco com fogo, que mexo com o coração do
homem errado. Leonel pode ser perigoso, implacável e desumano,
mas acho que algo mais suave e vulnerável se esconde lá no fundo.
Entretanto, essa culpa é rapidamente afastada por outra onda
de confiança. Eu não pedi por isso, afinal. Não pedi para ser trazida
para esse mundo de caos. Fui forçada a isso e agora tomo as
rédeas da situação. Além disso, não é como se eu não tivesse
minhas próprias razões para agir assim.
Após ser traída por aqueles dois sem-vergonhas, minha
perspectiva sobre relacionamentos mudou. Agora, não sou a pessoa
que é deixada para trás. Agora, sou eu quem quebra corações. E
quem melhor para começar do que Leonel?
Ele não é um santo. Mesmo que nunca tenha se relacionado
seriamente, deve ter partido o coração de várias mulheres por aí.
Fala sério. Não é como se eu me tornasse uma megera. Isso é
reparação social.
Termino de passar o hidratante e me olho no espelho.
Meus olhos brilham com um misto de excitação e
determinação. Esta é minha oportunidade de virar o jogo, de dar um
golpe de mestre. E quem sabe, talvez eu consiga mais do que uma
forma de fugir. Afinal, não custa sonhar um pouco, certo?
Com um último olhar para o espelho, deixo escapar um
sorriso travesso.
Saio do banheiro com passos decididos e confiantes,
dirigindo-me ao quarto, vestindo uma camisola vermelha
provocante, escolhida estrategicamente para a ocasião. O tecido
sedoso acaricia suavemente minha pele, enquanto as rendas
brincam com as sombras da luz. É impossível não me sentir
poderosa.
No momento exato em que entro no quarto, Leonel também
entra. Seus olhos percorrem cada centímetro do meu corpo, de cima
a baixo, como se ele não pudesse evitar me devorar com o olhar.
Ele desvia o olhar, evitando encontrar diretamente meus olhos,
como se esteja desconfortável com sua própria reação.
Decido assumir a iniciativa, rompendo o silêncio que paira no
ar.
— Oi. Como você está? — pergunto, mantendo a voz casual
enquanto me aproximo dele.
Ele dá de ombros, parecendo distante.
— Não tenho tempo para discussões, Alyssa.
Um sorriso doce e sedutor brinca em meus lábios à medida
que me aproximo, ficando a poucos centímetros de distância.
— Você parece tenso. Posso ajudar com isso? — minha voz
soa suave, quase como um sussurro. — Não quer que eu faça uma
massagem?
Ele me lança um olhar desconfiado, como se esteja avaliando
minhas intenções.
— O que foi? Prometo que não mordo — sorrio
nervosamente, tentando parecer natural.
Após um momento de hesitação, ele finalmente consente.
— Uma massagem não seria má ideia.
Guiando-o até a cama, ele se senta na beirada enquanto
começa a tirar a camisa branca. Observo o movimento dos seus
músculos, o tórax tatuado que conta parte de sua história, e meu
corpo reage instantaneamente, uma onda de desejo me percorre.
Não dá para negar que ele é sexy e que, se não fosse um
criminoso, eu facilmente me interessaria por ele.
Ele se deita de bruços na cama, e aproveito para pegar um
óleo que está no banheiro antes de voltar ao quarto.
Ajoelho-me na cama, subo até o final das costas dele, de
forma que uma perna fique de cada lado do corpo. Despejo um
pouco de óleo nas mãos e começo a trabalhar em seus ombros com
movimentos lentos e precisos. Sua pele está quente sob minhas
mãos, e posso sentir a tensão se dissipando aos poucos. Mas a
forma como deslizo a mão na pele morna faz minha temperatura
corporal aumentar e a região entre as minhas pernas fica úmida.
Estou excitada.
Aperto suas costas e ele geme roucamente em resposta.
Chego ao ápice da excitação e sussurro em seu ouvido:
— Que tal ficar de frente?
Ele fica parado por alguns instantes, talvez processando meu
pedido, no entanto, no final ele vira na cama, de forma que nossos
olhos se encontram.
Sento em cima da ereção dele, e os olhos parecem pegar
fogo. Sentindo seu membro quase rasgar a calça, rebolo em cima
dele lentamente e ele rosna um palavrão. Sua mão aperta minha
nádega direita, aumentando ainda mais a tensão sexual entre nós,
que parece prestes a explodir.
— Isso está bom? — pergunto com doçura na voz,
carregando intenções claras.
Ele considera por um momento, então assente.
— Não está mal.
Seus olhos encontram os meus e, por um momento, sinto-me
hipnotizada pela boca dele, bem desenhada e tentadora. Aqueles
lábios que parecem feitos para beijar. Lentamente, desço meu rosto
em direção a ele e, sem pensar, meus lábios encontram os dele em
um beijo ardente.
— O que me fez mudar de ideia? — ele rompe o contato por
um instante para perguntar, com voz suave.
Com um sorriso nos lábios, murmuro contra sua boca:
— Depois do que aconteceu naquele batizado, eu
simplesmente percebi que quero aproveitar o tempo que temos
juntos aqui. Não vejo nada de errado em termos uma relação física
sem compromisso — explico, minhas palavras cheias de
sinceridade.
Seus lábios endurecem ligeiramente, e eu percebo que algo
mudou.
Antes que eu possa entender completamente, ele ordena de
forma firme:
— Sai de cima de mim.
Confusa, me afasto e me sento na cama, observando-o. Ele
se levanta com determinação e me olha com uma expressão séria.
— O que deu em você? — percebo minha voz trêmula,
refletindo a confusão que toma conta de mim.
Sua resposta é direta e contundente:
— Não serei usado para satisfazer seus desejos sexuais. Se
vamos fazer sexo, você deve estar apaixonada por mim.
As palavras ecoam em minha mente, deixando-me atônita.
Pisco os olhos e pergunto, incrédula:
— O quê? Fala sério? Nunca ouviu falar de sexo casual?
Ele mantém sua postura firme, respondendo calmamente:
— Muitas vezes, inclusive boa parte do que fiz na vida foi
sexo casual. Mas não pretendo fazer isso com você.
Minha mente gira, tentando processar suas palavras. Ele está
falando sério? Nunca imaginei que Leonel teria tal postura. Antes
que eu possa dizer mais alguma coisa, ele simplesmente vira as
costas e declara:
— Estou indo dormir no outro quarto. Boa noite.
Assisto enquanto ele sai do quarto, deixando-me sozinha,
embasbacada e ao mesmo tempo com uma excitação pulsante.
As palavras de Leonel me deixam confusa, e sinto a
excitação anterior ceder lugar a uma mistura de frustração e raiva.
Meus olhos fixam na porta fechada do quarto, mordendo meu lábio
inferior enquanto tento entender o que acabou de acontecer. Minha
mente está em turbilhão, minhas emoções oscilam entre a
incredulidade e a raiva crescente. Como ele pode recusar algo que
parecia tão intenso entre nós?
Levanto da cama e começo a andar pelo quarto, passando as
mãos pelos cabelos em gestos de frustração.
— Como pôde parar justo naquele momento? — murmuro
para mim mesma em um tom de voz baixo, quase subindo pelas
paredes.
A sensação de ser rejeitada deixa um gosto amargo em
minha boca, mas também acende a chama de determinação dentro
de mim.
Sento-me novamente na beirada da cama, fechando os olhos
por um momento e respirando fundo, tentando acalmar minhas
emoções tumultuadas. Não vou permitir que ele me deixe assim,
ardendo de desejo e confusão. Uma ideia começa a se formar em
minha mente, um plano para despertar ainda mais o desejo de
Leonel e fazê-lo ceder.
Se ele acha que vou desistir tão facilmente, está muito
enganado, penso alto com meio sorriso nos lábios. Leonel, você não
vai resistir. Eu juro. Farei sua vida um inferno até que ceda.
CAPÍTULO 11

Um novo dia amanhece, trazendo com ele uma nova


oportunidade para colocar meu plano em prática.
Decidida a despertar o desejo de Leonel, visto uma de suas
camisas sociais brancas que encontro no closet e desço decidida a
fazer o café da manhã hoje.
Ainda é muito cedo, e os funcionários ainda não haviam
chegado.
A música "Volare" ecoa em minha mente, e eu começo a
cantarolar enquanto me movimento pela cozinha, analisando os
ingredientes na geladeira e decidindo preparar ovos mexidos e
cornetos.
Meus passos se tornam uma dança, e eu me deixo levar pela
energia contagiante da canção que canto.
Lembro-me de como aprendi a gostar dessa música com a
família da minha mãe, e isso traz uma sensação de conexão e
alegria.
Enquanto mexo os ovos na frigideira, minha voz se junta à
música, enchendo o ambiente com um tom animado e descontraído.
De repente, sinto a presença de alguém. Como se um sexto
sentido tivesse sido ativado, viro-me rapidamente e encontro Leonel
encostado no batente da porta.
Seus braços estão cruzados sobre o peitoral, e seu olhar está
fixo em minhas pernas.
Meus lábios se curvam em um sorriso travesso, percebendo
que meu plano está funcionando. Ele está me observando.
Desligo o fogão e me aproximo dele, mantendo meu sorriso
enquanto meus olhos encontram os dele.
Nossos olhares travam, e é como se houvesse uma troca
silenciosa de entendimento.
— Gostou da visão? — pergunto com uma pitada de ousadia,
vendo-o momentaneamente desconcertado.
Seu sorriso é discreto, mas está ali.
— Não imaginei que encontraria você assim na cozinha —
diz ele.
Rapidamente, percebo que a camisa que visto deixa parte
das minhas pernas e meu bumbum à mostra. Não posso evitar o
sorriso que se forma em meus lábios, mas finjo inocência.
— Ah, isso? A camisa é sua, achei que estaria tudo bem —
digo, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— E está tudo bem. Ela caiu muito bem em você — ele
admite sem demonstrar nenhuma emoção na voz.
Olho para os lados e explico dando de ombros:
— Os dias trancafiada nessa casa serviram para alguma
coisa. Eu aprendi com a funcionárias onde fica tudo aqui.
— O que preparando? — ele franze o nariz.
— Ovos mexidos e cornetos. Quer?
Seus olhos encontram os meus, e a tensão entre nós é quase
sufocante.
— Quero, sim. — Ele assente com aquela voz rouca e grossa
que faz todos os meus pelos da minha nuca arrepiarem.
— Eu ainda não terminei…
— Posso te ajudar a terminar.
— Você sabe cozinhar? — pergunto, surpresa.
— O básico.
Ele se coloca ao meu lado e liga o fogão, finalizando os ovos
mexidos e colocando no prato em cima da bancada.
Em seguida, pego a farinha de trigo para fazer os cornetos e
ele me acompanha, pegando novamente ovos frescos.
Eu não resisto. Pego um pouco de farinha do saco e, de
brincadeira, sujo o nariz dele.
Sua pose de "bandido mau" se desfaz momentaneamente, e
ele parece genuinamente desconcertado.
— Acho melhor eu limpar isso — murmura ele, quebrando o
clima carregado.
— Oh, me desculpe — digo, segurando um riso. — Deixe-me
ajudar.
Pego um pano e vou em direção a ele. Ficamos frente a
frente, nossos corpos próximos perto da bancada.
Há uma eletricidade no ar, e por um instante, parece que
estamos prestes a nos beijar, tudo o que eu mais quero nesse
momento. Mas quando estou prestes a completar minha missão, ele
pigarreia, quebrando o momento, e se afasta subitamente.
— Preciso ir.
— Como assim? Tão de repente? Você me disse que iria
ajudar a cozinhar — digo fazendo um biquinho.
— Acabei de lembrar que tenho uma reunião agora cedo —
diz ele, a expressão séria retornando. — Podemos deixar o café da
manhã para uma próxima?
— Ah, claro — murmuro, minha voz carregada de
desapontamento. — Talvez na próxima vez.
Ele se afasta da cozinha, deixando-me sozinha. Fico ali,
olhando para o espaço vazio que ele ocupava momentos atrás e
penso que talvez esteja fugindo de mim. Será que ele ainda está
ofendido com que eu disse na noite passada? Ou será que ele já
sacou o meu plano?

Os dias se transformam em semanas, e sua indiferença


persiste. Cada olhar ignorado, cada avanço recusado, apenas
aumenta minha vontade de tê-lo aos meus pés.
Certo dia, no final da aula de tiro, enquanto guardo as
pistolas, tenho uma ideia e escondo um revólver menor entre meus
seios e caminho de volta para a mansão, despistando Margot e o
restante dos soldados por ali.
O que pretendo fazer com aquilo? Ainda não sei. Mas uma
arma pode me deixar em vantagem e não estou em condição de
desperdiçar as chances que são me dadas.
A noite cai, e me encontro no closet, me preparando para o
jantar. Vou até à gaveta de lingeries e olho para aquele tanto de
calcinhas de renda. Todas muito pequenas e sexys. O que ele tinha
na cabeça quando mandou colocar isso na minha gaveta?
Será que ele desistiu do que estava pensando fazer?
— Ai, céus! Esse homem ainda me deixará louca.
Lembro que ele está prestes a me chamar para o jantar, e
uma ideia me faz sorrir maliciosamente. Escolho uma calcinha
provocante e decido jogar pesado desta vez.
Coloco apenas a calcinha preta fio-dental e me deito na
cama, seminua, com os seios livres, esperando por ele.
O tempo passa mais devagar do que o habitual, minha
respiração acelerada de expectativa. Ele demora, e eu permaneço
ali, mantendo minha pose insinuante.
A noite vai se arrastando, e meus olhos começam a pesar.
Finalmente, acabo adormecendo, mas minha determinação não
diminui.
Quando acordo, percebo que ele ainda não chegou.
Frustrada, penso que ele não veio essa noite para me chamar para
jantar. Sinto uma mistura de decepção e inquietação.
Decido procurar algo para me distrair e saio da cama,
olhando para o colchão, pegando a arma que escondi. Meus dedos
tocam a fria superfície da arma enquanto a analiso, e de repente,
finalmente escuto passos se aproximando.
O coração dispara, e nervosamente jogo a arma para debaixo
da cama e volto a me deitar.
Ele entra no quarto, e eu rapidamente me coloco na pose de
quem está dormindo, deitada de bruços, meus cabelos espalhados
sobre o travesseiro. Sutilmente, levanto o bumbum inocentemente,
fingindo estar em sono profundo e sussurro mentalmente: Dessa
vez, você não me escapa, Leonel.
CAPÍTULO 12

Chego em casa, a tensão estampada em meu rosto, e atendo


a ligação de Paolo. Sinto a expressão estressada em meu rosto se
aprofundar à medida que ouço suas palavras.
— Precisamos conversar — Paolo começa, sua voz firme e
direta. — Alexander quer que marquemos um dia para que conheça
suas filhas o quanto antes.
— Diga a ele que espere um pouco mais.
Do outro lado da linha, Paolo mantém a calma, mas suas
palavras são inabaláveis. Ele sugere uma alternativa que me parece
incômoda, mas que talvez seja inevitável.
— Se você não quer conhecer as outras filhas dele, então
talvez seja hora de apresentar Alyssa como sua futura esposa e
dizer que ela está sob seu domínio — Paolo diz, sua voz impassível.
— Você precisa tomar uma decisão, Leonel. E precisa fazer isso
logo.
Passo a mão pelo cabelo, mostrando minha impaciência
diante da situação. Minha resposta sai com um traço de irritação:
— Eu preciso de mais tempo com Alyssa. Não posso
simplesmente apresentá-la como minha esposa assim. Ainda não
nos acertamos.
Paolo resmunga do outro lado da linha, me lembrando que o
tempo está se esgotando. A urgência está clara em sua voz ao
lembrar que as eleições estão a apenas 8 semanas de distância.
— Já faz quase dois meses que Alyssa está na mansão,
Leonel. O tempo está passando rápido, e as eleições estão se
aproximando. É do interesse da Cosa Nostra que você tome uma
decisão logo. O pacto precisa ser selado com o casamento antes
das eleições.
Suspiro, percebendo que não posso adiar mais. Compreendo
que não há escapatória, e que terei que enfrentar essa escolha.
— Tudo bem, Paolo. Vou pensar nisso — respondo, cedendo
à pressão.
Após encerrar a ligação, entro no quarto, frustrado e irritado.
Sei que não tenho muitas opções e que terei que tomar uma
decisão que pode mudar o curso da minha vida.
O sangue fervendo em minhas veias, a frustração acumulada
parece quase insuportável. O peso das responsabilidades, das
decisões a serem tomadas, tudo contribui para a minha tensão.
Porém, quando meus olhos pousam na cama, automaticamente
todo o estresse parece desaparecer. A imagem de Alyssa está ali,
deitada na cama, apenas de calcinha fio dental, seus cabelos
espalhados pelo travesseiro. Minha mente se esvazia de tudo o que
não seja ela.
Seu corpo é uma visão de provocação, e não posso evitar de
analisar o bumbum redondo que fica perfeito na calcinha minúscula.
Minha atenção é capturada pelas sequências de tatuagens de
diferentes fases lunares em sua coluna dorsal.
Aproximo-me, hipnotizado, incapaz de resistir à atração que
ela exerce sobre mim. Ela está ali, vulnerável e ousada, como se
soubesse exatamente o efeito que causa em mim.
Minha mente trabalha em uma dança de pensamentos
conflitantes. Nos últimos dias, para evitar que eu cedesse ao desejo
e nos entregássemos ao sexo ela antes da hora, evitei qualquer
contato a mais com ela. Mas agora, aqui ela está tentando-me
novamente.
Alyssa só pode querer me enlouquecer. Minha determinação
em resistir ao que ela provoca é testada até o limite. Não sei por
quanto tempo poderei suportar essa tensão. Caminho para mais
perto, meus olhos percorrendo cada curva, cada centímetro da pele
lânguida.
Sinto a tensão em meu corpo enquanto me aproximo da
cama. Seu corpo está ali, deitado de forma provocante, e meus
olhos são atraídos automaticamente para o seu rabo perfeito.
A maneira como ela balança ligeiramente o quadril me faz
perceber que não está dormindo. Sua respiração apressada entrega
seu jogo — essa mulher não está brincando. Ela quer que eu a
toque, que eu ceda à tentação que vem construindo entre nós. E,
merda, não vou negar que a ideia é tentadora.
Caminho ainda mais perto, meus passos silenciosos no
carpete e sento na beira da cama, ao lado do seu corpo. Meu olhar
faminto percorre cada detalhe dela.
Meus dedos encontram o caminho até sua nádega,
acariciando-a suavemente. Seu estremecimento em resposta não
passa despercebido, apenas confirmando o que eu já suspeitava —
ela não está apenas jogando, ela quer isso tanto quanto eu.
Ela muda de posição de maneira sutil, abrindo um pouco
mais as pernas, um gesto tão provocante que meu autocontrole é
colocado à prova. Ela me dá uma visão mais do que perfeita da
boceta rechonchuda apenas coberta por uma renda preta, e minha
mente começa a divagar para lugares perigosos.
Não posso negar que a atração entre nós é intensa, quase
agonizante. Alyssa é uma mulher que sabe o que quer, e isso me
enlouquece.
Minha resistência está desmoronando diante dela, e a ideia
de ceder hoje à noite me tenta como nunca antes.
Meus dedos deslizam suavemente pela renda da sua
calcinha fio dental, tocando sua boceta que já está melada e pronta.
Seu clítoris responde instantaneamente ao meu toque, vibrando em
minha mão enquanto massageio com o dedão. O gemido abafado
que escapa de seus lábios é como música para meus ouvidos, uma
melodia que aumenta ainda mais minha excitação.
Meus olhos se fixam em seu rosto, observando cada
expressão de prazer que ela tenta conter. Seus olhos permanecem
fechados, mas os vincos em sua testa e o leve arquear de seus
lábios denunciam o turbilhão de sensações que está sentindo com
meus toques em sua fenda melada. É uma visão que me hipnotiza,
que me faz querer levá-la ao limite do prazer.
Confesso que minha própria excitação está incontrolável.
Sinto meu cacete endurecer, duro como aço, uma reação inevitável
diante dessa provocação. Cada gemido, cada reação dela, alimenta
ainda mais a vontade de fodê-la.
Eu me levanto da cama, sentindo a urgência do desejo que
me consome, pronto para tirar o cinto e abrir minha calça. No
entanto, meus olhos recaem sobre o cano de um revólver
despontando sob a cama. Uma mistura de surpresa e confusão
toma conta de mim, e não posso deixar de questionar por que
diabos essa arma está aqui.
A resposta é clara, embora eu não queira admitir. Ela trouxe
essa arma aqui para se proteger de mim. Sinto um aperto no peito,
uma sensação de decepção ao perceber que Alyssa tem tanta
resistência em relação a mim, que ela ainda deseja escapar dessa
casa.
Abaixo-me e pego a arma com cuidado, minhas emoções
oscilando entre frustração e raiva. Porra. Sinto-me assim pois no
fundo sei que eu quero que seja ela. Enquanto me levanto, arrisco
um olhar de canto para Alyssa, que mantém os olhos fechados,
fingindo estar dormindo.
Tiro as balas do revólver e as coloco na mesinha ao lado da
cama, certificando-me de que a arma está descarregada e
inofensiva.
Meus olhos voltam-se para Alyssa, e eu não posso deixar de
notar seu corpo voluptuoso, que parece me desafiar mesmo em sua
falsa tranquilidade.
Encosto o cano da arma levemente em seu ombro,
arrastando seus cabelos para o lado. Sinto sua respiração parecer
pesar com meu ato, e minha atenção se desvia por um instante para
a pequena pinta que adorna a parte de trás de seu pescoço.
Sigo a linha de seu corpo, descendo o cano da arma
lentamente, observando-a enquanto ela prende a respiração,
fingindo estar adormecida.
O metal percorre sua coluna, e quando chego à rachadura de
sua bunda, ela estremece involuntariamente.
Inclino-me sobre seu corpo, e minha boca se aproxima de
seu ouvido, minhas palavras saindo em um sussurro rouco:
— Eu sei que você está acordada.
Ela treme, desfazendo seu disfarce, e sua voz trêmula
responde:
— O que você vai fazer comigo?
A situação é intensa demais, e sei que preciso controlá-la
antes que tudo saia do controle. Respirando fundo, tento recuperar
a compostura.
— Eu te avisei que haveria consequências — murmuro. — E
agora, vou aplicar seu castigo.
Deslizo delicadamente a calcinha de renda que ela usa,
separando suas pernas com cuidado.
Meus dedos encontram o clitóris novamente, acariciando-o
com sutileza enquanto ela solta um suspiro involuntário.
Ordeno que ela abra mais as pernas, e vejo a hesitação em
seus olhos antes de ela ceder, arqueando-se para mim.
Sua boceta, rosa e molhada, fica escancarada diante dos
meus olhos famintos, e neste momento introduzo o cano do revólver
nela, abrindo suas paredes.
O gemido que ela solta é sôfrego, repleto de urgência e
desejo, parecendo travar uma batalha interna entre o desejo e a
moralidade.
Observo seu rosto, agora corado, enquanto sinto a sensação
de poder me intoxicar, sabendo que ela está vulnerável, submissa
às minhas ações.
Continuo estimulando-a, movendo o cano da arma com
cuidado enquanto observo suas reações.
Seus quadris começam a se mover por conta própria, uma
dança sincronizada com a crescente excitação.
O cano do revólver está agora úmido, lubrificado pelo seu
desejo. Ela está mais confortável com sua presença, e isso me
motiva a continuar explorando. Ela se move, rebolando no cano da
arma, uma imagem que é quase hipnotizante.
Ela solta palavras entrecortadas, suplicando, chamando meu
nome em meio ao prazer que a consome. Cada som que escapa de
seus lábios é como música para meus ouvidos, alimentando minha
própria excitação e alimentando o fogo que arde entre nós.
Ela está se permitindo sentir, se perder nas sensações que a
percorrem, e não consigo conter meu próprio desejo, minha
necessidade de estar dentro dela.
Com um esforço tremendo, afasto-me dela, deixando o
revólver de lado.
Respiro fundo, tentando recuperar o controle sobre minhas
próprias emoções, e ela vira o corpo de frente para mim, me dando
visão dos seios fartos subindo e descendo devido sua respiração
entrecortada e os olhos nublados pelo desejo.
Não posso evitar sentir que essa noite marcará uma virada
em nossa relação, um ponto de não retorno. Seja qual for o próximo
passo, sei que nada será o mesmo.
Desfaço os botões da camisa e deixo-a cair no chão, seguido
pela calça que me aprisionava. Meu pau lateja, rígido e faminto,
escapando da cueca com uma necessidade quase dolorosa. Movido
por uma urgência que me consome, avanço em sua direção. Seus
olhos fixos em mim, um apelo mudo que me atiça ainda mais.
Nossos lábios se unem em um beijo voraz, impregnado de
um desejo que mal consigo conter. Minha língua dança com a dela,
explorando cada canto, enquanto minhas mãos percorrem seu
corpo nu na cama.
Ela me arranha, deixando marcas em minhas costas que
provavelmente ficarão vermelhas no seguinte.
Seu gemido, um misto de urgência e desejo, escapa de seus
lábios quando nossos corpos se aproximam e meu membro roça
contra ela, incendiando-nos ambos.
— Leonel... — seu tom é um sussurro necessitado.
— Implore! — ordeno, minha voz carregada de autoridade. —
Quero ouvir você implorar, tigresa.
Seus olhos hesitantes me lançam um olhar que parece
questionar minha atitude, quase como se ela estivesse me xingando
por aproveitar esse momento para cumprir minha promessa. Há
uma hesitação, mas está claro que o tesão que a consome supera
qualquer resistência, buscando as palavras certas para dirigir a mim.
Nossos olhos se encontram, e finalmente ela fala, sua voz
trêmula de desejo.
— Por favor. Me possua, Don Leonel. Por favor.
Um sorriso satisfeito brinca nos meus lábios. O que anseio há
tanto tempo está diante de mim, e finalmente, ela se entrega. A
conduzo, penetrando-a profundamente.
Nossos corpos se fundem completamente, não há espaço
para conter a entrega total, apenas a combustão do desejo entre
nós.
Movemo-nos em perfeita sincronia, um ritmo frenético que
reflete o desejo reprimido durante tanto tempo, que agora se
desdobra com força avassaladora, nos levando a uma foda dura e
brutal.
O quarto é preenchido por nossos gemidos e suspiros,
enquanto assisto ao espetáculo que é o rosto suado e a boca
rosada entreaberta de Alyssa Bankers. Caralho! Ela fica muito
gostosa assim.
Capturo seus lábios, metendo ainda mais fundo e sentindo
um grito dela abafar em minha boca. Ela segura em meus ombros,
com o corpo ondulando, me dando avisos de que está prestes a
gozar.
Completo ébrio de tesão, saio de dentro dela e viro seu
corpo, puxando seus quadris para o alto e assistindo ela me olhar
por cima do ombro com confusão estampada no rosto.
— Segure-me na cabeceira da cama — instruo e coloco meu
cacete na sua boceta.
Ela geme de tesão e faz o que peço, empinando a bunda
linda para mim enquanto volto a fodê-la aumentando gradualmente
nosso ritmo e intercalo as estocadas com tapas em suas nádegas.
Seus clamores pedindo por mais são minha ruína. É como se
eu percebesse que agora eu tenho um novo vício e nenhuma noite
inteira seria o suficiente para satisfazer minha vontade dela.
A cada segundo, sua respiração torna-se mais profunda e
ritmada, enquanto observo pequenas ondas de prazer começam a
percorrer seu corpo.
As mãos dela apertam a madeira e entendo os sinais claros
de que Alyssa está prestes a gozar. Jogo a cabeça para trás e a
fodo em um ritmo quase selvagem.
E, finalmente, ela amolece em minhas mãos no instante em
que sinto a intensidade chegar ao ápice, me derramando nela,
soltando um urro profundo e primitivo.
Os joelhos de Alyssa fraquejam e ela desaba exausta na
cama, comigo seguindo imediatamente depois, nosso fôlego pesado
ecoando no quarto.
Deitado na cama, sinto meu peito subir e descer
rapidamente, cada respiração ainda carregada com a intensidade do
que acabou de acontecer. Alyssa está ao meu lado, seu corpo
igualmente ofegante, os lençóis enrolados ao redor dela de uma
forma que realça ainda mais sua beleza.
Ela é... perfeita. Forte, desinibida, provocante — cada parte
dela irradia uma confiança que me atrai de maneira quase
magnética. Alyssa não é como as outras. Disso não tenho dúvidas.
Ela tem essa habilidade única de me deixar louco, de me desafiar e
seduzir simultaneamente, e o pior de tudo é que sei que estou
fodido, pois nunca antes quis uma mulher da forma que quero
Alyssa.

A luz fraca do quarto banha seu corpo, e Alyssa, nua, está


deitada sobre mim. Seu dedo enrola um dos meus pelos do peito,
seus olhos fixos nos meus. Ela murmura, com um tom provocante:
— Isso precisa acontecer de novo.
Mantenho minha expressão séria, embora uma centelha
travessa dance em meus olhos e aperto seu bumbum em resposta.
— Por mim poderíamos repetir agora mesmo.
Ela sorri, e se levanta um pouco, cruzando os braços sobre
meu peito e apoiando o queixo em uma de suas mãos. Seu olhar é
brincalhão, mas por trás daqueles olhos, vejo algo mais. Algo oculto.
— Leonel, que tal sairmos um pouco da Sicília? — Ela
sugere, seu tom inocente demais para ser verdadeiro.
Analiso-a por um instante, minha intuição sempre em alerta.
— Pode ser. Tem alguma ideia em mente?
Ela se inclina, beijando meu peito, seu olhar carregado de
sedução.
— Poderíamos ir a Roma.
De repente, uma lembrança me atinge. A arma que vi
anteriormente, escondida em sua bolsa.
— Você quer mesmo tanto ir para Roma? — Pergunto,
tentando manter a calma.
Ela assente com a cabeça, o olhar tão inocente quanto o de
uma criança pedindo um doce. Mas eu sei que algo está errado.
— O que pretendia fazer com aquela arma? — Minha voz é
mais fria agora, minha paciência se esvaindo.
— Que arma? — Ela tenta se fazer de desentendida, mas
meus olhos perfuram os dela, forçando-a a enfrentar a verdade.
Ela engole em seco, o nervosismo evidente.
— Eu juro, Leonel, não pretendia fazer nada. Eu só a peguei
na aula de tiro, por precaução.
— Para usar em Roma? — Pressiono, sentindo a frustração
crescer dentro de mim.
Ela morde o lábio, claramente em conflito.
— Leonel...
De repente, sinto uma pontada de tensão na base da minha
nuca, as palavras de Paolo ecoando em minha mente. Ao longo da
nossa conversa de hoje, ele deixou claro que o tempo estava se
esgotando e eu precisarei me decidir o quanto antes.
Mas saber que talvez ela queira se afastar de mim,
especialmente depois do que compartilhamos, é como uma faca
afiada rasgando meu peito. Será que não significa para ela o
mesmo que significa para mim?
Quero aproveitar cada momento com Alyssa, mas essa
incerteza paira sobre nós como uma sombra escura. Preciso
encontrar uma maneira de mantê-la por perto, de garantir que ela
perceba que seu lugar é comigo. Mas como fazer isso sem sufocá-la
ou parecer desesperado?
Com um movimento brusco, a afasto de mim e me levanto,
deixando-a sozinha na cama.
— Para onde você vai? — Ela pergunta, sua voz um misto de
confusão e preocupação.
Olho para ela, e respondo:
— Você terá o que quer.
— O quê? — Ela franze a testa, claramente confusa e
buscando entender o que está acontecendo.
— Isso mesmo o que ouviu. Eu te darei o que você quer,
Alyssa. — Respondo com firmeza, embora por dentro esteja
abalado.
A expressão dela muda, de confusão para nervosismo.
— Está falando sobre Roma? Ah, esqueça. Podemos ir para
outro lugar. — Ela balbucia, tentando apaziguar a situação.
Mas estou decidido. Sem dizer uma palavra, pego meu
celular da mesa de cabeceira. Ignoro o fato de estar nu e me dirijo
para a porta, sentindo a sensação do frio na minha pele e o peso
das decisões que estão por vir.
— Leonel! — Ela chama em uma oitava mais alta.
Mas não olho para trás. Há muito a ser feito e cada segundo
conta. Deixo Alyssa no quarto, tentando entender o que acabou de
acontecer, enquanto desapareço pela casa. Apenas espero que um
dia ela compreenda o porquê disso.
CAPÍTULO 13
No dia seguinte
Acordo aos poucos, meio grogue, como se tivesse inalado
uma substância estranha ao longo da noite. Meu corpo se move
lentamente, resistente à minha vontade de despertar
completamente. Passei a noite inteira pensando em Leonel, e
aquele sentimento de mal-estar após sua saída abrupta do quarto
ainda paira. Abro os olhos com esforço, piscando para clarear a
visão embaçada.
E, quando minha visão finalmente clareia, minha mente dá
um salto olímpico para fora da cama.
Ok, sério, alguém precisa me beliscar! Isso só pode ser um
sonho bizarro. Eu estou em um lugar que eu conheço muito bem,
mas não faz sentido.
Esfrego os olhos, dando tapinhas na minha bochecha, na
tentativa desesperada de me convencer de que estou apenas
sonhando, mas aquele lugar parece ser mesmo meu antigo quarto
em Roma.
— Isso não é possível! Como eu vim parar aqui? — murmuro
olhando para os lados e, de repente, percebo que estou vestindo o
pijama rosa com corações vermelhos, o mesmo que eu costumava
usar em dias preguiçosos, quando não esperava visitas.
Decido sair da cama com cuidado, sentindo o choque do
chão frio nos meus pés. Meu Deus, esse chão gelado… é tão
familiar.
É tudo tão real, tão vívido. Corro até a sala, meus olhos se
fixando no meu sofá velho, verde-musgo, tão amado por mim. Um
suspiro de alívio e felicidade escapa dos meus lábios:
— Ah, meu sofá verde-musgo!
A luminária antiga, que sempre foi inútil e mal iluminava o
ambiente, está ali, como um aviso de que tudo é real. Meus móveis
antigos, cheios de histórias e lembranças, parecem sorrir para mim.
Lágrimas começam a encher meus olhos enquanto percorro o
apartamento com as mãos unidas e olhos afoitos.
Mas a desconfiança começa a surgir em meio à minha
empolgação. Aquilo tudo parece bom demais para ser verdade. E se
fosse um plano de Leonel? E se ele estivesse armado uma
pegadinha para mim? Se bem que não faz muito a cara dele esse
tipo de brincadeira.
No entanto, não posso parar de pensar que seus homens
poderiam estar esperando lá fora, prontos para me capturar
novamente. Sinto um arrepio na espinha só de pensar nisso.
Com passos cautelosos, decido verificar a porta. Abro-a com
cuidado, colocando apenas cabeça para fora e olhando para os
lados, mas não encontro ninguém.
Poderiam eles estar à espera lá embaixo? A ansiedade toma
conta de mim e decido arriscar.
Saio descalça mesmo, descendo as escadas do prédio
apressadamente até a portaria. Passo por ela, caminhando até a
rua, olhando para os lados, vasculhando a rua que não tinha muitos
carros estacionados e nenhum rosto suspeito à vista.
Nada. Não há ninguém ali. Nenhum sinal dos homens de
Leonel.
Paro no meio da rua, apenas de pijamas e uma sensação de
alívio começa a inundar meu peito, seguida por uma onda
avassaladora de felicidade.
Não contendo mais minha emoção, abro os braços e solto um
grito, olhando para o céu:
— Estou livre! — recupero o fôlego, minha voz carregada de
felicidade, e acrescento com fervor: — Obrigada, meu Deus!
Minha voz ecoa pelas ruas tranquilas, misturando-se ao ar
fresco da manhã. As lágrimas fluem dos meus olhos finalmente
acreditando que eu estou livre e este dia não é um sonho.

Com o coração ainda pulsando de alegria e gratidão, eu volto


para dentro do apartamento, trazendo comigo a sensação de
liberdade que inunda cada centímetro do meu ser.
E, quando entro na cozinha, meus olhos são imediatamente
atraídos para a bancada, onde uma única rosa vermelha repousa
elegantemente ao lado de bilhete amarelado.
Suas pétalas macias parecem brilhar sob a luz suave que
entra pela janela, e eu imóvel por um instante, não deixando de
pensar em Leonel.
Com mãos trêmulas de antecipação, pego o papel e abro
com cuidado, revelando as palavras escritas com uma caligrafia
elegante.
— Eu prometi ontem que lhe daria aquilo que desejava.
Desfrute ao máximo! Ass. Leonel.
Minha boca se abre em um pequeno "o" de surpresa. O que
Leonel quis dizer com isso? Quer dizer que ele desistiu de mim e
daquela história absurda de casamento?
Deixo o bilhete descansar em minhas mãos por mais um
instante antes de guardá-lo com cuidado em um lugar seguro. Olho
para a flor novamente, sentindo uma estranha sensação de
desapontamento. Por que me sinto de repente tão… triste?
Sacudo a cabeça, expulsando os pensamentos confusos.
Tenho que ficar feliz, afinal, finalmente estou de volta em casa.
Inspiro profundamente, olhando ao redor do apartamento que
conheço tão bem. Meus pensamentos começam a se organizar, e
eu tento me lembrar do que mais desejava quando estava naquela
ilha.
Falar com minha mãe e…
De repente, como um lampejo de inspiração, lembro-me da
promoção que estava prestes a receber no dia em que me pegaram
a força naquele beco. Minha mente se volta para o relógio na
parede, marcando duas horas da tarde. O escritório estaria aberto,
então queridos colegas de trabalho, aqui vou eu.
CAPÍTULO 14
Estou na área da piscina, com as mãos nos bolsos e os olhos
fixos na deslumbrante costa siciliana. Enquanto a vista se estende
diante de mim, com suas praias douradas, bares animados e resorts
luxuosos, meus pensamentos estão todos voltados para Alyssa. Sua
imagem dança em minha mente, como uma presença constante
desde a primeira vez que pus os olhos em sua ficha naquele dia na
sala escura.
A brisa do mar acaricia meu rosto enquanto pondero sobre os
acontecimentos recentes e a reviravolta que nossas vidas tomaram.
Passos calmos ressoam no ambiente, e adivinho
imediatamente quem é antes mesmo de me virar. Paolo se
aproxima, e sua presença carrega consigo a aura da Cosa Nostra,
como se ele fosse uma extensão viva da influência e do poder que
nossa organização exerce.
— Don Leonel — ele começa, sua voz adquirindo um tom
sério que ecoa como a sombra densa que se estende sobre nós. —
Alyssa já está em casa.
Minha mente processa a informação enquanto continuo a
observar o horizonte.
— Por que você desistiu dela? — Paolo pergunta, sua voz
revelando a curiosidade que carrega.
Inspiro profundamente, buscando as palavras certas.
— Eu não desisti dela, Paolo. Na verdade, isso é apenas o
começo.
— Começo?
Paolo inspira fundo, como se estivesse processando minhas
palavras.
— Seja como for, não temos tempo a perder. Já é hora de
voltar para sua vida em Roma.
Meus olhos deixam o horizonte e se voltam para ele. Paolo
está certo, é claro. A vida segue seu curso implacável, e há muitos
assuntos que demandam minha atenção em Roma.
— Você está certo, meu amigo. A hora de voltar para casa
chegou.
Com um movimento firme, me viro completamente, ainda
com as mãos nos bolsos, e nossos olhares se encontram. O olhar
gélido de Paolo é uma característica conhecida, mas entre nós há
uma compreensão que transcende as palavras. Ele entende que,
apesar das mudanças de cenário, nossas responsabilidades
permanecem inabaláveis, e sei que estou voltando para um capítulo
que está longe de ser encerrado. A história está apenas
começando, e é meu dever assegurar que ela siga o curso que
tracei.
Roma — Itália
Entro no escritório da Avvocati Ricchezza com um sorriso que
parece estar colado permanentemente em meu rosto. Uma mistura
de alívio, felicidade e ansiedade me domina. Finalmente estou de
volta ao lugar que tanto amo, e a minha mente está concentrada em
uma única coisa: a promoção que está a poucos passos de
distância, aquela que teria sido minha se não tivesse sido levada à
força exatamente no dia em que Isidoro, meu chefe, pretendia
oficializá-la.
Meus passos são leves e ágeis enquanto percorro o corredor,
os olhos brilhando de expectativa. A ansiedade só aumenta a cada
passo que dou. Ao abrir a porta da sala principal onde os advogados
juniores costumam trabalhar, no entanto, sou recebida com olhares
confusos e sobrancelhas arqueadas. Não são os olhares que eu
esperava: um misto de alegria e surpresa. Pelo contrário, são
olhares que parecem dizer: “O que diabos você está fazendo aqui?”
Surpreendentemente, Isidoro, o diretor jurídico, sai de sua
caverna do outro lado da sala e atravessa o espaço até mim.
— Alyssa? — ele diz, parecendo surpreso com a minha
presença. Cumprimento-o com respeito e então ele pergunta:
— Como foram as suas férias?
— Férias? — respondi, confusa.
— Seja como for, passe no RH e pegue seus documentos.
Está demitida!
Minha garganta aperta.
— Como assim? Demitida? E a minha promoção?
Isidoro parece surpreso pela minha surpresa.
— Você sumiu do nada por dois meses e Veronica me contou
que você tinha postado uma foto beijando um homem. Pensei que
não estivesse mais interessada no emprego. Aliás, eu dei a
promoção de coordenadora de equipe para Veronica.
Uma sensação de peso parece se apossar do meu
estômago.
— Espera, o quê?
Ele se afasta, dirigindo-se à porta.
— É isso mesmo que você entendeu. Está demitida. Quer
que repita? Enfim, tenho muito trabalho hoje e não posso me dar ao
luxo de faltar o trabalho para sair por aí beijando e tirando fotos para
o Instagram. Passar bem.
Fico ali, parada e atordoada, sem acreditar no que acabei de
ouvir. Demitida? Veronica agora é a coordenadora da equipe? A
sensação de choque me atinge como um soco no estômago. Não
posso acreditar que ela aproveitou esse momento para tomar o meu
lugar, essa cobra traiçoeira.
A raiva começa a se misturar com a frustração, e eu me sinto
impotente diante de tudo isso. Mas uma coisa é certa: não vou
deixar isso passar assim tão facilmente.
Recupero a pose com um esforço tremendo, forçando um
sorriso enquanto dirijo minha pergunta a uma das advogadas
juniores do escritório ali.
— Com licença, Rafaella, a Veronica está aí? — pergunto,
mascarando o ódio que estou sentindo por Veronica neste exato
momento.
Além de me trair com Salvatore, ainda tem a audácia de ficar
com minha promoção? Ah, isso não vai ficar assim. Não vai mesmo!
Rafaella me informa que Veronica tinha acabado de sair,
dirigindo-se ao setor jurídico do Mackenzie, o hospital onde
Salvatore trabalha e que fica a apenas alguns passos dali.
— Obrigada, Rafaella!
A raiva ferve dentro de mim enquanto saio do escritório,
meus saltos altos ecoando pelo corredor.
Caminho em direção ao hospital, o coração batendo forte no
peito. A praça no centro parece mais distante do que nunca, e
minha mente está cheia de pensamentos confusos e furiosos.
Atravesso a praça com passos decididos, a determinação me
guiando através da agitação do dia.
Chegando ao hospital, me aproximo da recepção com um
sorriso educado e pergunto ao recepcionista:
— Desculpe, você poderia me informar se o doutor Salvatore
está no hospital hoje? — É uma desculpa para entrar no hospital,
mas minha verdadeira intenção é encontrar Veronica no setor
jurídico e confrontá-la.
O recepcionista consulta o sistema no computador e
responde que Salvatore ainda não chegou ao hospital.
Agradeço com um aceno de cabeça e começo a considerar
como poderei entrar e encontrar Veronica.
Enquanto pondero minhas opções, meu olhar se fixa
casualmente em um casal que entra no hospital. E então, como se o
destino estivesse intervindo, percebo que o casal são eles. Veronica
e Salvatore.
Meu coração dispara, e minha primeira reação é me
esconder entre as colunas de concreto próximas e observá-los de
longe.
Salvatore tem o braço envolto nos ombros dela, e eles
compartilham risadas e intimidades como se fossem o único mundo
que importa.
Engulo em seco, tentando conter a avalanche de emoções
que ameaça me engolfar, e minha mente luta para processar a cena
diante de mim.
Eu sabia que eles estavam me traindo, mas vê-los juntos, de
maneira tão clara e assumida, é um choque que não posso ignorar.
A traição que sentia antes se torna mais real do que nunca, e a
ferida em meu coração se aprofunda.
Eu poderia simplesmente confrontá-los ali mesmo, expressar
minha raiva e frustração, mas algo dentro de mim me impede. A
raiva é forte, mas o desejo de manter minha dignidade é ainda mais
poderoso. À medida que eles finalmente desaparecem do meu
campo de visão, solto um suspiro profundo e fecho os olhos por um
momento, tentando acalmar minhas próprias emoções.

— Sem noivo, sem casamento, sem amiga, sem promoção e


agora oficialmente desempregada... — desabafo em voz alta,
largada no sofá do meu apartamento, com uma cerveja na mão e
uma das minhas pernas está esticada sobre o apoio do sofá.
As lágrimas ameaçam brotar, e mais um gole de cerveja se
esvai. Eu me sinto quase como se estivesse flutuando, perdida em
um mar de álcool e pensamentos negativos.
— Bem que eu poderia ter ficado lá na Sicília com o Leonel,
né? — murmuro, minha voz oscilando entre risos e lágrimas. — Pelo
menos os boletos não chegariam lá e ainda de quebra ainda estaria
com um gostoso querendo se casar comigo. — Ri, um riso amargo
que parece cortar a noite, antes que meu pranto bêbado tome conta
de mim novamente.
Sorvo uma boa lufada de ar e choramingo jogando a cabeça
para o lado dramaticamente.
— Ah, eu só faço merda!
Minha mente está turva, minha visão embaçada, mas uma
coisa é clara: estou em um estado de autoindulgência que não vai
me levar a lugar algum.
Tenho que reagir, e hoje mesmo, se possível.
Uma voz dentro de mim começa a sussurrar que estou
bêbada demais para lidar com isso agora, que seria melhor deixar
para amanhã. Mas eu a ignoro. Eu tenho que conseguir um
emprego para ontem.
Não vou dar o gostinho a esses dois canalhas de me verem
derrotada. Preciso dar a volta por cima o mais rápido possível.
Com esforço, consigo me levantar, a latinha ainda na mão.
Cambaleio em direção à escrivaninha na sala, com o coração
pesado de desespero e cerveja.
Abro o laptop, com a visão turva e sorrindo abobalhada, e ali,
diante de mim, está uma tela em branco esperando por ação.
— Vamos lá, Alyssa — murmuro para mim mesma. — Você
não pode ficar assim para sempre.
Minha voz oscila entre a embriaguez e minha determinação,
enquanto começo a procurar meu currículo entre os arquivos.
É difícil manter o foco, mas sinto a sensação de estar
fazendo algo positivo me fortalecer.
Enquanto digito freneticamente, começo a enviar meu
currículo para escritórios de advocacia que conheço e que estão
contratando, segundo os classificados on-line.
Minha esperança está aumentando, e a névoa do álcool está
lentamente se dissipando.
De repente, enquanto verifico meus e-mails recentes, meu
coração dá um salto.
O que é isso?
Há uma mensagem que eu não esperava, um e-mail que
chegou hoje. É da Imperium Investments, a multinacional em que fiz
uma entrevista há seis meses, e, logicamente, não fui contratada.
Eu até cheguei a pensar que eles nunca responderiam, afinal,
que multinacional contrataria para seu time de advogados uma
profissional sem um currículo rechonchudo?
Apesar de me ver como uma excelente advogada, meu
currículo não é tão impressionante. Para ser contratada por uma
multinacional é necessário mais do que a autopercepção de
excelência profissional; infelizmente é preciso comprovar isso no
papel.
Meus olhos se arregalam quando abro o e-mail, um pouco
eufórica e quando começo a ler, quase infarto.
Assunto: Confirmação de Aceitação e Detalhes da
Contratação na Imperium Investments
Prezada Alyssa,
É com grande prazer que lhe informamos que sua
candidatura para a posição de advogada na Imperium Investments
foi aprovada. Parabenizamos você por ter conquistado essa
oportunidade e ficamos impressionados com sua dedicação e
experiência.
Pedimos que confirme sua disponibilidade para a data de
início mencionada e, caso não possa comparecer na data
agendada, entre em contato conosco o mais rápido possível para
que possamos reagendar conforme a necessidade.
Para finalizar o processo de contratação, solicitamos que
traga consigo a seguinte lista de documentação enviada em anexo.
Aguardamos ansiosamente sua chegada à sede em Roma
para a assinatura do contrato de admissão. Desejamos a você uma
transição tranquila e estamos confiantes de que você fará uma
contribuição valiosa para nossa empresa.
Parabéns novamente, Alyssa, e até em breve!
Atenciosamente,
Giovanni Ferrari
Diretor de Recursos Humanos
Imperium Investments
— Eles estão interessados em me contratar? — sussurro,
chocada, lendo novamente o e-mail. — Isso não é mesmo um
engano? Ai, meu Deus! — Não consigo parar de sorrir, mesmo
ainda estando um pouco bêbada.
Minha mente começa a se encher de pensamentos gloriosos,
e meu ego infla instantaneamente.
— Alyssa Fabbri Bankers, a advogada mais promissora de
toda a Itália! — sussurro para mim mesma, com um sorriso
incrédulo no rosto. — Afinal, uma profissional do meu calibre não
pode permanecer desempregada por muito tempo.
Neste instante, me sinto invencível, como se o mundo inteiro
estivesse aos meus pés. Aquele e-mail é a validação que preciso, a
prova de que minha capacidade e dedicação não passam
despercebidas.
No entanto, à medida que minha euforia começa a diminuir, a
realidade se faz presente. Uma onda de humildade inunda meu
coração. Não posso simplesmente atribuir isso à minha própria
grandiosidade.
Uma vozinha sensata dentro de mim começa a sussurrar em
meu ouvido: "pare de se gabar, garota! Está na cara que isso foi
sorte sua".
Com os olhos marejados de emoção, deixo escapar um
suspiro tremido. Olho para o céu estrelado através da janela aberta,
como se buscasse uma conexão com algo maior. Agradecer não é
suficiente, mas é o que posso fazer neste momento.
— Eu sei que foi você, Deus — murmuro, as lágrimas
começam a rolar por meu rosto, não de tristeza, mas de pura
gratidão. Sei que aquele e-mail não é apenas sorte, é um presente
que Deus guardou para me dar na hora certa. — Obrigada!
Após um momento de pura reflexão, dou um salto para fora
da cadeira e começo a pular de alegria, derrubando uma pilha de
revistas.
Olho para as revistas no chão e começo a rir, descontrolada e
morta de felicidade.
— Mas, espera, que roupa vou usar no primeiro dia? Algo
que grite "advogada de sucesso", com certeza!
Estou tão animada que mal consigo ficar quieta. Começo a
vasculhar freneticamente meu guarda-roupa, puxando roupas e
jogando-as pela sala. Roupas voam para todos os lados enquanto
murmuro para mim mesma.
— Talvez aquele vestido preto elegante? Ou o terno azul-
marinho que sempre me faz sentir poderosa? Oh, e não posso
esquecer o salto alto, claro!
Continuo tagarelando e experimentando roupas, perdendo
completamente a noção do tempo e da realidade.
CAPÍTULO 15

O aroma da Sicília ainda pairava no ar quando finalmente


chego à cobertura em Parioli, meu refúgio na caótica Roma. Dessa
vez, optei por aterrissar no terraço do prédio em que vivo, onde uma
pequena equipe já aguardava para cuidar da aeronave.
Após uma temporada nas terras ensolaradas, a capital
italiana parece mais frenética do que nunca. Caminho com minha
mala de mão de couro pelo corredor escuro, iluminado apenas pelos
fachos de luz que escapam das cortinas pesadas. Esta é a hora em
que Roma dorme, e sou alguém que valoriza a tranquilidade da
madrugada.
Ao entrar em meu escritório, dou uma rápida olhada em
torno. Renzo, um dos meus soldados de confiança, vinha me
acompanhando desde o heliporto. Ele está sempre alerta, como um
fiel cão de guarda. Com um gesto discreto, indico que ele está
liberado para descansar.
Renzo assente respeitosamente e sai da sala. Assim que ele
parte, retiro uma Glock 17 de trás da minha calça e a coloco com
cuidado sobre a mesa, ao lado da documentação que preciso
revisar. Depois, vou até um armário próximo e pego uma garrafa de
uísque, servindo-me de um generoso gole.
O líquido queima minha garganta enquanto eu o aprecio.
Meus pensamentos rapidamente voltam para a mulher que não
consigo tirar da mente desde a última vez que estivemos juntos.
Os gemidos de Alyssa ainda ecoam em meus ouvidos,
chamando meu nome enquanto lambuzava meus dedos com seu
mel, implorando para que eu a fodesse. A visão de sua pele suave
sob a luz fraca do quarto é uma lembrança que incendeia meus
sentidos a cada vez que fecho os olhos.
Um meio sorriso se forma em meus lábios enquanto imagino
que, nesse momento, ela deve acreditar que está finalmente livre de
mim. Mas Alyssa não compreende que não é tão simples. Quando
ela se apaixonar por mim, e eu sei que isso acontecerá mais cedo
ou mais tarde, ela estará terrivelmente perdida.
Depois de alguns minutos perdido em pensamentos,
apreciando meu som preferido, o silêncio, ouço um ruído no
apartamento. Estranho, já que isso não costuma acontecer,
especialmente a essa hora.
Meus sentidos se aguçam instantaneamente, e pego a Glock
17 de volta. Também retiro uma Beretta 92FS da gaveta da minha
mesa, segurando-as firmemente enquanto me movo
silenciosamente em direção à fonte do barulho, andando em passos
furtivos até a sala.
Entretanto, antes que possa alcançar a sala, algo frio e
metálico encosta na minha nuca. Uma voz suave, mas firme, me
ordena a não me mexer. Levanto as mãos lentamente, segurando
as armas com firmeza, mas sem ameaçar qualquer movimento
brusco.
— Não precisa fazer nada estúpido — digo ao dono da voz.
— Apenas fique onde está — ele rebate.
Percebo que estou em uma situação delicada. Minha mente
trabalha rapidamente para avaliar minhas opções, mas sei que
qualquer movimento em falso pode ser fatal. Decido aguardar e
manter a calma enquanto a pessoa atrás de mim mantém o
controle.
— O que você quer?
— Sua cabeça, em uma bandeja. Mas antes, preciso que
grave um vídeo.
Um matador de aluguel. Inspiro fundo, tentando imaginar
quem teria encomendado minha morte. Claro que tenho alguns
nomes em mente, começando por Alesso, o chefe de uma
organização mais nova que vem ameaçando nossos negócios, mas
ainda não posso ter certeza.
— Coloque as armas no chão e caminhe até o sofá — ordena
o homem atrás de mim.
Faço lentamente o que ele me pede, deixando minhas armas
no chão e me dirigindo para o sofá com uma calma fria. Minha
mente está em alta velocidade, procurando uma brecha para
reverter essa situação desfavorável. E então, em um movimento
rápido e certeiro, viro-me de uma só vez, pegando o homem de
preto de surpresa e desferindo um golpe preciso em seu braço,
fazendo a arma cair com um estrondo metálico.
Dou um chute no meio do seu peito, e ele cai para trás,
batendo a cabeça no degrau da escada, zonzo e
momentaneamente desorientado.
Enquanto o sujeito se recupera, aproveito a oportunidade
para pegar minhas armas de volta do chão, manuseando-as com
destreza, e as guardo comigo. Olho friamente para o homem caído.
— Levante-se. Vamos brigar de uma maneira justa — digo
com voz calma, desafiando-o.
O homem se levanta cambaleando, visivelmente enfurecido.
A briga é intensa, um jogo de movimentos calculados e
ataques precisos. Embora ele me dê um pouco de trabalho, não é o
oponente mais forte que já enfrentei.
Em um momento crucial, levo-o ao chão, e ele tenta
desesperadamente pegar sua arma que está caída próxima ao sofá.
Não permito que isso aconteça, desferindo um chute preciso que
afasta a arma de seu alcance.
— Levanta! — ordeno, pousando a mão na cintura e sem
paciência.
O homem se levanta, agora ainda mais furioso, e nossa briga
se torna uma batalha desesperada, mas minha indiferença é
inabalável.
Continuamos a luta até que, finalmente, subo no sofá,
aproveitando a vantagem de ter o terreno mais alto, e desfiro um
chute nocauteador que o deixa no chão, inconsciente.
Recupero minha respiração ofegante e, com calma, vou até
ele e verifico seu pulso. Ainda está vivo.
Depois pego o celular no meu bolso e ligo para Paolo. Ele
fica furioso com a situação e peço para que ele chame alguém,
busque o sujeito e o interrogue.
Enquanto observo o homem no chão, seu corpo imóvel como
um tronco derrubado, minha expressão permanece fria e
imperturbável.
— Preciso descobrir quem encomendou minha morte e como
diabos esse sujeito conseguiu driblar tão eficazmente nossos
sistemas de segurança. Não quero mais surpresas desagradáveis.
A resposta de Paolo é séria e decidida, confirmando que
tomará todas as medidas necessárias para encontrar respostas.
Enquanto aguardo a chegada da equipe que o recolherá, olho
para o homem desacordado no chão da minha sala e tenho um
pressentimento ruim. Geralmente, não sou dado a esse tipo de
sensação, mas algo me diz que talvez ele não seja exatamente
quem ou o que eu estava pensando.
CAPÍTULO 16
No dia seguinte
Saio da sala de contratação da Imperium Investments com
um sorriso radiante no rosto. Tudo deu certo com os documentos, e
começarei no novo emprego amanhã mesmo. A ansiedade e o
encanto tomam conta de mim enquanto olho ao redor do prédio
impressionante que abriga a empresa. A localização é estratégica,
no coração de Roma, onde grandes empresas se concentram. No
entanto, é impossível não comparar o novo escritório com o antigo
escritório de advocacia em que trabalhava. Não há como negar que
o ambiente é completamente diferente. É luxuoso e moderno, como
algo saído de um filme futurístico, com lustres curvados que
parecem mais esculturas de arte do que iluminação.
Pego meu telefone, que não para de vibrar, e percebo que é
minha mãe. Ela já sabia da minha demissão, pois enviei uma
mensagem no início da noite passada, e sua voz está cheia de alívio
quando atendo.
— Alô, mãe?
— Alyssa, querida! — A voz dela soa aliviada. — Graças a
Deus você atendeu. Estava preocupada! Pensei que tivesse sumido
de novo.
— Desculpe, mãe. Eu estava ocupada até ainda há pouco.
Mas advinha só? Tenho boas notícias. Consegui um novo emprego!
Há um breve silêncio do outro lado da linha, seguido por um
grito abafado de alegria.
— Oh, querida, que notícia maravilhosa! Estou tão feliz por
você. Como conseguiu tão rápido?
Sorrio, sentindo-me abençoada por ter uma mãe tão
apoiadora.
— Na verdade, eu já havia feito uma entrevista no passado,
mas nunca tive uma resposta. Apenas ontem, recebi um e-mail com
a proposta. Parece que a sorte estava ao meu lado, mãe —
sussurro baixinho, toda animada.
— Minha menina é incrível. Tenho certeza de que você vai
arrasar nesse novo emprego.
Sinto meu coração se aquecer com as palavras dela.
— Obrigada, mãe. Isso significa muito para mim.
No entanto, minha mãe não demora a mudar de assunto.
— Aliás, e aquele bonitão com quem você disse que havia
viajado e apareceu nas fotos no Instagram? O que aconteceu com
ele? Ele sumiu de repente.
Engulo em seco e tento parecer casual.
— Ah, aquele cara? Nós terminamos, mãe. Não era nada
sério.
Minha mãe ri, como se soubesse que estou escondendo algo.
— Nada sério, filha?! Você simplesmente largou tudo para ir
atrás de uma aventura? Não estou reconhecendo mais minha filha.
— Pois é, mãe. Como eu já expliquei ontem, depois que
descobri que Salvatore enfeitou minha cabeça com um par de
chifres, eu só quis extravasar um pouco, sabe?! Aí o Leonel surgiu e
aconteceu — digo, tentando despistá-la.
Não quero contar a verdade, pois sei que isso implica falar do
meu pai e isso a machucaria, então prefiro poupar minha mãe desse
estresse desnecessário.
— Está bem, filha. Mas lembre-se, nenhum homem é mais
importante do que as suas próprias coisas. Não deixe um
relacionamento atrapalhar o seu caminho, e nunca… nunca mais
deixe seu trabalho para ir atrás de um homem.
— Eu sei, mãe. Não se preocupe. Estou focada na minha
carreira agora. E, aliás, quando a senhora virá em Roma me visitar?
— resmungo parando em frente ao elevador.
— Em breve.
— Fala sério! A senhora sempre diz isso, mãe — resmungo,
e ela sorri.
Após encerrar a ligação com minha mãe, entro no elevador
com um sorriso ainda mais amplo no rosto. Sinto-me nas nuvens
com a nova contratação na Imperium Investments. O elevador se
move rapidamente, e logo estou no hall de entrada do prédio.
Caminho em direção à saída, ainda com um sorriso no rosto,
quando meus olhos se fixam em um carro de luxo que para
abruptamente bem em frente ao edifício.
A porta de trás se abre, e um homem com cabelos levemente
ondulados, castanhos dourados, quase louros, emerge do veículo.
Ele veste um terno cinza claro e usa óculos estilo aviador que se
encaixa perfeitamente em sua estrutura óssea máscula. Sua
presença é imponente, e há algo incrivelmente sexy nele.
Conforme ele se aproxima, minha pulsação aumenta, e
começo a perceber que conheço esse homem de algum lugar.
Quanto mais ele se aproxima, mais minha certeza se fortalece, e
meu coração parece querer saltar do peito. E então, finalmente,
reconheço-o.
É o Leonel.
Ele tira os óculos com um sorriso confiante no rosto, e meu
coração bate contra meus ouvidos como um tambor.
— Alyssa?! — Ele semicerra os olhos para mim, também
parecendo surpreso. — Você por aqui?
Fico encarando-o de boca aberta, completamente
embasbacada. Não consigo acreditar no que vejo diante de mim. A
última pessoa que eu esperava encontrar neste momento era o
Leonel.
— Leonel? O que você faz aqui? C-como? — gaguejo,
tentando entender o que está acontecendo. — Você não ficou na
Sicília? — Meus olhos percorrem seu corpo incrédulos. — E que
roupas são essas? — questiono, olhando para seu traje diferente.
Ele enfia as mãos nos bolsos novamente e solta uma
resposta enigmática:
— Ah, essas roupas! Digamos que aquela versão que você
conheceu na Sicília era minha versão mais… rústica. E esta minha
versão melhorada, a de diabo executivo — ele responde com um
resquício de divertimento no olhar.
— Diabo executivo? — repito, arqueando uma sobrancelha.
Nesse momento, um homem que aparenta ser funcionário
dele se aproxima com pressa e fala algo como:
— Senhor, ainda bem que chegou. O Sr. Kim já está lhe
esperando lá em cima.
Leonel olha para mim e diz:
— Eu adoraria ficar, mas tenho que ir agora, tigresa.
— Espera, você trabalha aqui? — pergunto, ainda mais
confusa. — Como? Quer dizer, você trabalha?
Ele sorri.
— Mas é claro, srta. Bankers. Não pensou que eu fosse um
vagabundo?
Fico perplexa e olho para o homem ao lado, sussurrando:
— Não. Só um criminoso mesmo. Você não armou tudo
isso...
— Espera. Está achando que vim atrás de você? — ele se
aproxima, ficando perigosamente próximo, e sinto meu corpo
esquentar ao olhar para aquela boca que me traz lembranças da
noite que provei seu gosto. — Como sempre, tão pretensiosa.
Recuo, desconcertada e pigarreio:
— Seja como for, eu saberei se foi proposital ou não. Mais
cedo ou mais tarde.
Ele abre um meio sorriso e se despede charmosamente:
— Certo. Tenha um bom dia, srta. Bankers.
Fico com raiva porque aquele sorriso dele é irritantemente
lindo, e permaneço ali, observando-o enquanto ele se afasta,
imaginando onde diabos ele trabalha neste prédio. Será que é na...
Imperium? Não, Alyssa, não seja tola. Há várias empresas aqui.
Seria muita coincidência ele trabalhar justo na Imperium.
Decido que seja lá onde esse homem diz trabalhar, é melhor
eu ficar bem longe de confusões. No entanto, não posso negar que
o encontro com ele mexeu comigo.
CAPÍTULO 17
Estou em casa, usando meu pijama de cerejas e organizando
o look para o próximo dia.
Começo a separar as roupas e acessórios que usarei no
trabalho amanhã, tentando manter o foco.
De repente, minha mente foge para Leonel. Lembro-me do
encontro surpresa no prédio hoje, e me pego pensando se aquilo foi
ou não uma coincidência.
Sendo coincidência ou não, ele estava muito gostoso naquele
terno cinza. Suspiro e sacudo a cabeça, tentando me concentrar.
"Foco, Alyssa!", digo a mim mesma. "Você tem coisas melhores
para pensar agora."
Então, a campainha toca, quebrando meus devaneios. Olho
para o relógio, confusa. Quem poderia ser a essa hora? Estranho,
não recebi nenhum aviso pela portaria pelo interfone.
Quando abro a porta, quase tenho um treco.
Lá está Leonel, parado na porta, com um dos braços
encostados no batente e uma garrafa de vinho na mão. Ele está
vestindo uma camisa social branca meio aberta e calças
despojadas.
— Surprise! — ele exclama em um perfeito inglês.
Meu coração dispara novamente, e minha voz sai um pouco
receosa pergunto:
— O que você faz aqui?
Ele levanta a garrafa de vinho e diz com um sorriso travesso:
— Eu estava passando aqui na frente e pensei: será que ela
não quer beber comigo?
Fico desconfiada, olhando para ele, que admite:
— Está bem. Não foi bem assim, mas ainda sim, quer beber
comigo?
Fico relutante por um momento, mas mesmo contra minha
melhor intuição, quero concordar. Há algo intrigante e irresistível em
Leonel que me faz vê-lo como uma espécie de velho amigo.
— Então, não vai me convidar para entrar?
Reluto por um momento, mas acabo afastando-me para o
lado, dando espaço para que ele entre.
— Entra aí! — digo, permitindo que ele passe.
Leonel adentra o pequeno apartamento com toda a sua
elegância, seus olhos curiosos percorrendo o ambiente.
— Seu apartamento é aconchegante. Gosto do estilo — ele
comenta.
— Nunca veio aqui? — pergunto, curiosa.
Leonel se vira para mim e responde com sinceridade:
— Não.
Fico ainda mais confusa e insisto:
— Nem mesmo quando me deixou. Aliás, como eu vim parar
aqui depois daquela noite?
Ele pigarreia e explica:
— Paolo fez todo o processo.
Fico um pouco reflexiva, olho para a taça de vinho sobre a
mesa de centro e digo:
— Vou pegar as taças.
Levanto-me e vou até a cozinha, retornando com as taças de
cristal e um saca-rolhas.
Leonel abre a garrafa de vinho e despeja o líquido rubro nas
taças. Ambos nos sentamos no sofá, cada um em um extremo, nos
olhando enquanto bebemos o vinho. A tensão no ar é palpável, mas
também há algo magnético entre nós.
Depois de um tempo em silêncio, sinto a necessidade de
perguntar:
— Por que desistiu de mim?
Leonel para de beber, olha profundamente nos meus olhos e
responde com sinceridade:
— Eu não desisti de você.
— Então por que me trouxe de volta?
Ele pausa por um momento e, depois, responde com
tranquilidade:
— Quero você livre para se apaixonar por mim.
Meu coração acelera com sua resposta, e quase me esqueço
de quem ele é. Decido mudar de assunto e brinco:
— Então não foi porque estava se apaixonando por mim? Eu
pensei que estava fugindo.
— Fugindo? — ele repete, abrindo um meio sorriso sexy,
olhando para o lado e tomando mais um gole, como se estivesse se
divertindo com a conversa.
— Sim, admita: você estava caidinho por mim. E aquela noite
foi o gatilho para perceber que teria que se livrar de mim antes que
eu o dominasse completamente — continuo, me divertindo com
suas expressões faciais. — Não estou certa?
— Não, não está certa. — Ele contém o riso e responde com
seriedade.
Sinto um desafio no ar e coloco minha taça de vinho de volta
na mesa de centro. Engatinho pelo sofá até ele e sussurro
provocativamente:
— Você não vai me dizer que aquele discurso de mafioso que
não se apaixona era verdade, vai? — Chego mais perto de seus
lábios, olhando-o com sedução. — Sério mesmo. Nem você acredita
nisso.
Ele desce o olhar para meus lábios, e um clima intenso se
forma, fazendo meu corpo esquentar. Minha intenção de deixá-lo
sem graça é frustrada quando ele ameaça me beijar, mas, em
seguida, recuo o rosto, sorrindo.
— Você ainda pensa muito na nossa noite, não é? —
provoco.
— Não vou negar que sim, tigresa — ele responde, com um
olhar penetrante, e meu coração dispara, pensando que esse
homem é insuportavelmente sexy.
Ele sussurra algo como:
— Deveríamos repetir agora a dose?
A tentação é forte, e sua sugestão me deixa sem palavras por
um momento. Mas, recuperando o bom senso, respondo:
— Quer transar comigo agora?
Ele sorri maliciosamente e provoca:
— Você conheceu o meu quarto. Nada mais justo conhecer o
seu.
Recuo, percebendo que aticei o fogo além do que posso
sustentar naquele momento.
— Não vai dar. Tenho trabalho amanhã — respondo,
tentando manter minha compostura, apesar do desejo que queima
entre nós.
Volto a me sentar no meu lugar, decidida a não beber mais
naquela noite; já estava no meu limite. Leonel se acomoda
confortavelmente no sofá e me olha com interesse.
— Aliás, está tudo bem com o seu trabalho? E essa situação
com Salvatore, você resolveu?
Faço uma pausa, inspirando fundo antes de responder:
— Fui demitida.
Ele parece genuinamente surpreso:
— Será que tenho uma parcela de culpa nisto?
Estreito o olhar para ele, sentindo a necessidade de
esclarecer as coisas:
— Ah, não! Relaxa. Não precisa se preocupar. Já arranjei
outro emprego em um escritório muito maior e superior ao que eu
trabalhava. Eu já tinha feito uma entrevista lá, e eles me chamaram
agora.
Ele solta o ar pelas narinas e exclama:
— Que bom então. Acho que me sinto mais aliviado em saber
que não prejudiquei você.
Deixo escapar um sorriso orgulhoso e seguro:
— Não tem como me prejudicar, porque eu sou uma boa
advogada, baby. E sobre Salvatore, eu nem me lembrei dele desde
que voltei.
— Bom saber. — Ele faz um silêncio reflexivo e depois
pergunta: — Então, amanhã é o seu primeiro dia?
Respiro fundo e concordo:
— Aham!
Seu olhar parece perdido, e ele reflete:
— Que legal. Uma nova chance de recomeçar, talvez?
— Sim, é um recomeço.
Ele parece contemplativo e continua:
— Talvez você até encontre um... sabe... um namorado por
lá.
Brinco com a ideia:
— É, talvez. Um advogado que me interesse. Já que estou
solteira, tudo é possível.
Ele parece pensar por um momento e sugere:
— Ou um CEO, talvez.
— Ah, não!
— Por que não?
— CEO eu acho um pouco demais.
— Achei que as mulheres gostassem desse tipo de cara?
— Nos livros de romance, sim. Mas a realidade é outra coisa.
Geralmente, esses caras são bem mais velhos e chatos.
Sinto uma pontada de estresse em sua voz fria quando ele
pergunta:
— E os advogados são mais legais?
Brinco, provocando-o:
— Por que de repente sinto que você está com ciúmes?
Ele nega com um tom de voz rígido:
— Ciúmes? Claro que não.
Solto um sorriso travesso:
— Ah, bem. Pensei que seu coração incapaz de sentir tivesse
dado uma pane — debocho, mordendo uma risadinha. — A
propósito, o que você estava fazendo naquele prédio? Você trabalha
mesmo lá? — pergunto curiosa.
— Eu mantenho uma empresa naquele lugar. Não é nada
grandioso, é algo modesto, mas que exige um pouco do meu tempo
— ele responde.
Provavelmente deve ser uma empresa de fachada.
— Então, quer dizer que você estava de folga quando
estávamos na Sicília? — questiono, curiosa.
— Eu nunca estou de folga, Alyssa.
— Entendi. — Fico pensativa por um momento e continuo: —
As mulheres devem ficar impressionadas com você. Sabe, suas
roupas e estilo estavam muito elegantes.
— Obrigado.
— Talvez você até encontre uma noiva lá. Quer dizer, esqueci
que você só se casa por conveniência.
— Não tenho do que reclamar. As opções são variadas. Seu
pai é especialista em colocar mulheres no mundo.
— Então você já tem alguém em mente entre as minhas...
irmãs? — Hesito um pouco em falar a palavra “irmãs”, pois mal
pronuncio essa palavra.
— Por que não? Afinal, você tem me rejeitado desde que nos
conhecemos. — Ele não esconde sua frustração.
Caímos em silêncio por um momento, até que Leonel decide
se levantar, deixando a taça na mesinha e comentando:
— Acho que estou indo agora. Vou deixar você descansar
para o seu primeiro dia.
Brinco com uma pitada de decepção:
— Mas já? Logo quando a conversa está ficando boa.
Leonel se despede, pronto para sair, quando eu o interrompo
com um toque leve em seu braço.
— Leonel… Obrigada!
Ele olha para mim com curiosidade e pergunta:
— Pelo quê?
— Não tenho nada a agradecer, pois você não fez nada de
muito grandioso me libertando, mas mesmo assim… — faço uma
pausa e solto, suspirando: — obrigada!
Ele parece um pouco surpreso com minhas palavras, mas
depois seu rosto se ilumina com um sorriso genuíno.
— Não precisa agradecer. Apenas cuide de si mesma e
lembre-se de que estarei por perto — dou um piscar de olhos
confuso e ele continua: — caso precise de mim, claro.
Com um último olhar e um aceno, ele se afasta, e eu fecho a
porta do meu apartamento, refletindo sobre o encontro inesperado e
tudo o que ele representava.
À medida que minha mente divaga, começo a sentir que algo
está muito estranho. Uma intuição me diz que isso não foi apenas
uma coincidência. Será que devo considerar a ideia de mudar de
endereço?
Mas para quê? De uma maneira estranha, eu confio em
Leonel. Só não confiava nele quando ele tinha aquela ideia maluca
de me sequestrar e fazer de mim sua esposa. Mas isso já foi
superado, não foi?
— Claro que foi. Ele até está cogitando se casar com uma
das minhas irmãs. Fala sério! Que traíra.
Inspiro fundo, notando que meu coração está batendo mais
forte. Olho para o próprio peito e falo comigo mesma:
— O que foi? Nunca viu um homem bonito na vida, não?
Agora deu de bater mais forte.
CAPÍTULO 18

Meu primeiro dia na Imperium estava sendo um desafio


daqueles. Já na sala do setor jurídico, eu estava imersa em novas
atribuições e tarefas bem diferentes das que costumava executar
em meu antigo escritório.
Enquanto eu me concentrava em um contrato complexo,
observei meus colegas na sala. Alguns deles estavam
descontraídos, tomando café e beliscando bolachas, enquanto
outros pareciam mais interessados em cuidar das unhas do que do
trabalho em si. Eu não podia acreditar na falta de empenho que
estava presenciando.
De repente, alguém na sala avisou que faltavam apenas
cinco minutos para o horário do almoço. Todos começaram a fechar
seus laptops e a arrumar suas bolsas, e eu os segui, pensando que
finalmente teria uma pausa merecida.
No entanto, meu chefe, o Sr. Anderson, interveio. Ele olhou
diretamente para mim e disse:
— Alyssa, você fica. Precisamos que alguém fique no
escritório para atender as ligações enquanto os outros estão
almoçando.
Meu coração afundou. Apesar de querer sair um pouco da
sala, eu não reclamei.
— Ah, tudo bem. Eu entendo.
Aproveitei a oportunidade para adiantar o restante do
trabalho, observando a pilha de contratos ao lado da minha mesa.
Após alguns minutos, meu estômago começou a roncar,
indicando que a fome estava me dominando. Decidi levantar e pegar
um pouco de café e bolachas para enganar a fome. Enquanto
estava na cozinha improvisada, peguei uma xícara de café e, ao
voltar para a mesa, aconteceu o pior.
Por distração, minha mão esbarrou na cadeira, fazendo com
que a xícara de café se inclinasse e derramasse seu conteúdo sobre
os papéis do contrato. Em pânico, tentei limpar o líquido derramado
com um lenço, mas só consegui espalhar ainda mais a mancha pelo
papel. Meu coração disparou enquanto eu procurava freneticamente
por uma cópia limpa do contrato, mas não consegui encontrar
nenhuma. A sensação de desespero tomou conta de mim quando,
naquele momento, o Sr. Anderson retorna à sala acompanhado de
mais três funcionários. Eles estavam rindo e conversando até que
seus olhares caíram sobre mim, como se fosse um daqueles
momentos em câmera lenta de um filme.
Meu novo chefe, com um sorriso irônico, desceu o olhar para
a xícara de café nas minhas mãos, que tremiam ligeiramente de
nervosismo. Seu olhar deslizou então para o lado, onde as pilhas de
papéis estavam agora manchadas com café. Ele soltou um suspiro
pesado e finalmente disse:
— Esses aí não são os contratos, não é mesmo?
Hesitante, assenti com a cabeça, engolindo em seco antes de
responder:
— São sim, mas... Eu posso imprimir outras cópias agora
mesmo. Não se preocupe.
O olhar dele ficou furioso, e ele explodiu:
— Não tem como imprimir outras cópias! Esses contratos
vieram de outra empresa, não temos como recuperá-los!
Fechei os olhos por um breve momento, percebendo a
terrível situação em que tinha me metido. — Como foi que você
jogou café nos papéis assim? — ele resmunga e depois parece falar
em voz alta consigo mesmo. — O Recursos Humanos só pode estar
de brincadeira com minha cara de me mandar alguém tão
incompetente.
Incompetente? Olho para ele com ódio pensando que esse
bunda mole não saiu do celular a manhã inteira e vem me chamar
de incompetente.
Respiro fundo e tento manter a calma, prometendo a mim
mesma que resolverei essa situação.
— Eu vou ligar para a outra empresa e pedir novos contratos.
O sr. Anderson resmunga alto, quase gritando, dizendo que
eles demoravam para enviar, pois tinham várias assinaturas para
coletar.
— Sim, mas o que posso fazer?
Nesse momento, o chefe de Recursos Humanos, o mesmo
homem que me recebeu no dia anterior, entra na sala.
— O que está acontecendo aqui? Por que tanto barulho?
O bundão do meu chefe responde:
— A novata aqui acabou destruir os contratos que vieram de
outra empresa. Ela derramou café neles, e agora não temos como
recuperar!
— Alyssa, é sério? Logo no seu primeiro dia?
Eu estava prestes a responder, mas meu chefe continuou:
— Sim, no primeiro dia! Parece que o RH está contratando
qualquer um ultimamente.
As palavras dele perfuraram minha autoestima. Olho para o
lado e sinto os olhares de sadismo dos meus colegas na sala,
observando-me enquanto sou depreciada pelo Sr. Anderson. A
sensação de humilhação é inevitável, e as expressões críticas em
seus rostos tornam a situação ainda mais insuportável.
— Vou falar com o RH sobre isso. Senhorita Alyssa, por
favor, me acompanhe.
Balanceio a cabeça, incapaz de dizer uma palavra. Sinto
como se minha carreira na Imperium estivesse começando com o
pé esquerdo, e não posso me permitir falar ou agir neste momento,
uma vez que desejo profundamente manter este emprego.
Estou prestes a acompanhar o diretor do RH quando, de
repente, uma voz grave ecoa na sala, congelando minha
movimentação:
— A nova funcionária não irá a lugar algum.
Meus olhos se arregalam de surpresa ao reconhecer
imediatamente a voz. Era Leonel, parado na porta da sala, trajando
um terno azul escuro que denotava sua presença imponente. Ele
estava ali, na minha frente, mas eu não fazia ideia do que ele estava
fazendo ali.
— Chefe? O que está fazendo aqui? — o diretor do RH
quase gaguejou ao falar.
Numa rápida manobra, o Sr. Anderson me empurrou para o
lado, dando um passo à frente e cumprimentando-o com uma
demasiada reverência.
— Sr. Di Domenico, que surpresa! Ouvi dizer que estava de
férias. Como vai, chefe?
Chefe? Então ele é…?
— É uma honra receber o CEO em nossa sala — o Sr.
Anderson completou.
Dou um passo para trás, e tudo começa a ficar confuso. Não
pode ser. Se Leonel é o CEO da Imperium, então há a possibilidade
de… foi por isso que fui contratada do dia pra noite?
Leonel, com uma expressão séria, dirigiu seu olhar aos
outros presentes na sala, perguntando:
— O que estava acontecendo aqui?
O Sr. Anderson, começou a explicar a situação a Leonel:
— Chefe, a nova funcionária cometeu um erro ao derramar
café nos contratos, e isso é inaceitável. No entanto, nosso querido
amigo aqui, o Sr. Michael, está pronto para aplicar a devida
advertência e garantir que isso nunca mais aconteça.
Leonel, com sua expressão séria, parecia não estar satisfeito
com essa resposta. Ele cruzou os braços e dirigiu um olhar firme
para o meu chefe.
— Sr. Anderson, você está ciente de que estamos lidando
com contratos extremamente importantes aqui, correto?
O sr. Anderson assentiu, nervoso.
— Sim, claro, chefe, mas a senhorita Alyssa é nova na
empresa e...
Leonel o interrompeu com firmeza:
— Justamente, ela é nova. Não é responsabilidade de uma
funcionária nova fazer ligações tão importantes e lidar com contratos
tão cruciais para a empresa. Eu questiono agora a decisão de
atribuir essa tarefa a alguém que ainda está se adaptando ao
ambiente de trabalho.
O sr. Anderson parecia desconcertado e não sabia muito bem
como responder às críticas de Leonel, que continuou:
— Quero que ela seja realocada para um treinamento mais
adequado às suas habilidades e nível de experiência na empresa.
O Sr. Anderson, ainda relutante, finalmente concordou:
— Sim, senhor. Eu organizarei um treinamento adequado
para a senhorita Alyssa e a retirarei das responsabilidades atuais.
Leonel assentiu satisfeito.
— Ótimo. Isso é o que eu esperava.
E, Sr. Anderson, por favor, tire mais a bunda da cadeira e
pare de olhar as redes sociais durante o expediente. Pega mal eu
ficar olhando da minha sala e ver você tão disperso assim.
Leonel apontou para a câmera de segurança na sala, e o
rosto do Sr. Anderson empalideceu.
— Desculpe, senhor. Eu não sabia que o senhor via essas
câmeras — disse o Sr. Anderson, visivelmente constrangido.
Leonel respondeu com firmeza:
— Não importa se alguém está de olho ou não, o que importa
é que você tem que fazer o seu trabalho. Foi por isso que a
empresa te contratou.
— Sim, senhor!
Ele olhou para cada um dos funcionários ali presentes, como
se quisesse deixar claro que sua observação incluía a todos, e
então desviou o olhar para mim.
— Srta. Alyssa, me acompanhe, por favor.
Surpresa, eu olhei para o Sr. Anderson, em busca de
orientação, e percebi que ele praticamente me encorajava com um
olhar a seguir Leonel.
Sem mais delongas, Leonel saiu da sala, e eu o segui, ainda
sem reação.
Ele me conduziu pelos corredores da empresa enquanto eu
tentava processar o que tinha acabado de acontecer.
— O que isso significa? — sussurrei ao seu lado.
— Na minha sala, por favor.
Continuei seguindo-o, me esforçando para manter a
compostura enquanto as pessoas o cumprimentavam no caminho.
Finalmente, chegamos à sua sala, que era verdadeiramente
luxuosa e impressionante. A parede oposta à sua mesa era feita
inteiramente de vidro, proporcionando uma vista deslumbrante da
cidade lá fora.
Olhei para ele com uma expressão que pedia uma
explicação, uma resposta para todos as perguntas que agora
cercavam minha cabeça a respeito da minha contratação.
Leonel olhou para mim com seriedade e perguntou:
— O que você quer saber?
Caminhei até ele lentamente, ficando cara a cara, e perguntei
com firmeza:
— Foi você, não é? Foi você que me contratou. Tem dedo
seu nisto.
Ele pareceu hesitar por um momento antes de responder:
— Tecnicamente, não sou responsável por você estar aqui.
Você já tinha feito a entrevista, lembra? Como eu poderia ter algo a
ver com isso?
Minha desconfiança persistia, e eu olhei para ele com um
olhar penetrante.
— Leonel...
Ele suspirou, parecendo derrotado:
— Ok. Eu vi que você tinha feito uma entrevista aqui e só dei
um empurrãozinho. Afinal, você tinha sido demitida do outro
escritório.
Minha mente dá um nó. Eu não tinha ideia de como ele sabia
que eu havia sido demitida, mas pensando bem, é claro que ele
sabia. Ele age como se soubesse de cada detalhe da minha vida
desde que nos vimos pela primeira vez naquela sala branca.
— Você disse que me deixaria livre.
— E também disse que estaria por perto caso precisasse.
Ele pigarreou, parecendo um pouco culpado.
— Bem, talvez eu tenha exagerado um pouco. Mas você
estava tão desesperada por um emprego, Alyssa. Eu só queria
ajudar, já que você perdeu o outro por minha causa.
— Acho que vou procurar outro emprego.
Leonel resmungou, claramente contrariado.
— Não seja tão cabeça dura. Vai desistir só porque eu sou o
chefe?
Encarei-o com sinceridade, minha voz carregada de
convicção:
— Essa empresa é uma farsa, Leonel. Você e eu sabemos
muito bem disso.
Ele parecia surpreso com minha franqueza.
— Então prefere ficar desempregada a ter que trabalhar
comigo?
Não hesitei em responder:
— Sim. Prefiro. Eu tenho minhas economias, que não são
muitas, mas são o suficiente para me manter até encontrar outra
coisa. Eu não vivo em função de dinheiro e luxo, só para você saber.
Ele direcionou seu olhar para as minhas roupas.
— Ah, lógico que não. E essas suas roupas?
Defendi-me com firmeza:
— Minhas roupas o quê?
Leonel continuou, provocativo:
— Parecem caras, de marca. Tem certeza de que não gosta
de luxo?
Mantive meu olhar firme nele.
— Eu gosto de luxo, mas comprado com meu dinheiro, e
dinheiro honesto. Você sabe disso. Se eu quisesse viver às custas
de dinheiro sujo, eu não precisaria fazer muito esforço, Leonel. Você
sabe bem disso.
Ele pareceu ponderar minhas palavras por um momento.
— Não estou te oferecendo dinheiro sujo.
Eu o questionei com ceticismo:
— Ah, não?
— Acha que os funcionários dessa empresa conhecem meus
negócios a fundo?
— Mas eu conheço, e é isso o que importa.
Leonel bufou e tentou explicar:
— Alyssa, ninguém está aqui para conseguir dinheiro sujo.
Nem tudo que vem da máfia é ilegal. Basta olhar nos corredores,
eles acreditam fielmente que estão honestamente e, de fato, estão.
É isso o que faz da Imperium um negócio de sucesso. O trabalho
dessas pessoas.
Por um momento, comecei a ver a situação com outros olhos.
Então, ele continuou:
— Quanto tempo demorou para conseguir seu primeiro
emprego depois de formada, Alyssa? Um, dois anos? Você deveria
saber que um diploma é apenas um detalhe quase insignificante nos
dias de hoje.
Dessa vez, tenho que concordar. Emprego não estava fácil.
Havia muita gente se formando e poucas oportunidades no
mercado.
— Por favor, peço que reconsidere e espere ao menos uma
semana. Depois você pode tomar a decisão que quiser. Mas ao
menos fique uma semana.
Olhei para Leonel e, em seguida, para o ambiente luxuoso da
sala, respirando fundo e ponderando.
— Você disse ontem que tinha um negócio modesto? Se isso
aqui é modesto, eu já não sei de mais nada.
Ele deu de ombros e respondeu:
— E não menti. Eu o considero modesto. Tudo depende
muito do ponto de vista.
Olhei em volta, ainda um pouco indecisa.
— Está bem. Ficarei uma semana… mas se eu perceber que
essa empresa…
— Você não encontrará nada, srta. Alyssa. Eu lhe garanto!
Leonel fechou seu terno com aquela destreza que fazia
qualquer mulher suspirar, mas o que ele fez a seguir foi ainda mais
surpreendente. Seus lábios se curvaram em um sorriso amplo,
revelando dentes perfeitamente alinhados e brancos como pérolas.
— Tenha um bom trabalho, Alyssa — ele disse, formalmente.
Eu, por outro lado, estava tentando manter meu coração sob
controle e minha expressão profissional. Mas no fundo da minha
mente, eu só conseguia pensar: Meu Deus, quando minha vida vai
voltar ao normal de verdade?
CAPÍTULO 19

O final do expediente finalmente chega, e a ansiedade


começa a fervilhar dentro de mim para deixar o escritório.
Enquanto arrumo minhas coisas, não posso evitar uma
espiada sorrateira para o corredor. Quero ter certeza de que Leonel
não está por perto.
Com a minha bolsa firmemente debaixo do meu braço, saio
da sala com passos silenciosos e furtivos.
Meus olhos examinam o corredor em busca de qualquer sinal
de Leonel. Não é que eu queira evitá-lo desesperadamente, mas
estou me tornando mais consciente do impacto que ele tem sobre
mim. Sei que preciso manter alguma distância segura se quero
tomar o controle da minha vida de volta, sem parar em sua cama
novamente.
Ah, como ele tem que ser tão gostoso, hein? E aqueles
cachos que por vezes se assemelham mais a uma auréola de anjo
do que ao cabelo de um homem real?
Uma voz interna reprova, quase zombeteira:
Anjo? Francamente, Alyssa? Acorda para vida, ele está mais
para bandido mau do que qualquer coisa sagrada. Você não pode
se deixar seduzir novamente por esse homem, não quando você já
conhece muito bem onde isso tudo pode dar. Inspire profundamente
e mantenha-se resiliente, permaneça inabalável, tão firme quanto
uma rocha, especialmente quando a tentação retornar, trazendo
consigo aquele olhar destruidor de calcinhas.
— Isso. Firme como uma rocha! — murmuro comigo mesma
como um mantra.
Quando finalmente me certifico de que o corredor está vazio,
sigo para o elevador. Pressiono o botão com impaciência, ansiosa
para escapar daquele lugar. Quando as portas do elevador se
abrem, entro rapidamente, tentando agir o mais normal possível.
Desço até o térreo e saio apressadamente pelo hall de
entrada. E quando finalmente ponho os pés fora do prédio, respiro
fundo e olho em volta.
Caminho pela praça em frente ao prédio, aproveitando a brisa
e o pôr do sol, e sentindo-me mais livre do que havia me sentido em
meses.
No entanto, minha sensação de liberdade é abruptamente
interrompida quando vejo Salvatore e Veronica vindo em minha
direção, de mãos dadas. Eles estão tão perto que não consigo fugir
sem ser notada.
— Alyssa? — Veronica chama, e Salvatore solta sua mão
imediatamente.
— O que foi? — pergunto, quase provocativamente,
enquanto me aproximo deles. — Por que soltaram as mãos?
Paro e forço um sorriso, tentando manter a calma e parecer
superior, embora no fundo essa situação seja, no fundo,
extremamente difícil para mim.
Salvatore fala primeiro, com aquele ar de superioridade que
conheço muito bem:
— Alyssa, olha , eu posso explicar.
O encaro com descrença.
— Explicar o quê, Salvatore? Que você está saindo com a
minha ex-amiga?
Veronica intervém, tentando parecer inocente.
— Nós só começamos a sair recentemente. Foi tudo muito
inesperado. Aliás, onde você esteve esse tempo todo? Isidoro me
contou que você apareceu no escritório anteontem, mas que ele a
demitiu. Está tudo bem?
— Se está tudo bem? Está tudo ótimo! — forço um sorriso,
dando de ombros.
— Veronica tem razão, você sumiu do nada. — Agora é a vez
de Salvatore bancar o sonso. — Eu vi a foto que você publicou no
Instagram. Eu… eu… eu fiquei arrasado. — Semicerro os olhos
para ele e penso: Ai, que dó! — Você não acha que eu merecia, no
mínimo, uma explicação?
Mal posso acreditar na cara de pau deles. Mentem tanto que
a cara nem arde.
Cruzo os braços prestes a desmascarar aqueles dois, quando
sou abruptamente interrompida por uma mão me alcança, e antes
que eu perceba, meus lábios são arrebatados por um selinho
demorado e molhado, que me faz perder o chão por um instante.
Meu coração acelera, quase saltando do peito enquanto
meus olhos se arregalam, encontrando aquele par de olhos azuis
claros tão familiares, quase como um oceano em que já me perdi
tantas vezes nos últimos meses.
Nossas bocas se desgrudam lentamente, e Leonel, com seu
rosto tão marcadamente másculo e irresistivelmente atraente,
enquadrado por cabelos loiros levemente ondulados, agora tão
perto que quase podia sentir sua respiração mesclada com a minha.
Ele mantém um ar descontraído, e com um sorriso que quase me
desarma, ele solta:
— Oi, amor.
Confusa, pisquei os olhos copiosamente, tentando entender a
situação. Depois, olho para Veronica e Salvatore, que parecem
hipnotizados pelo homem ao meu lado.
Salvatore, finalmente recuperando a voz, aponta para Leonel
com surpresa.
— Ele não é o cara da foto?
Leonel responde com inocência, como se não soubesse do
que estavam falando.
— Que foto? — Ele respira fundo e finge se lembrar de
repente: — Ah, a foto! Sou eu mesmo.
Salvatore, agora olhando diretamente para mim, acusa:
— Foi com esse cara que você estava me traindo, não é,
Alyssa?
Minha boca se abre. Por que esse infeliz está invertendo as
coisas?
— Deve ter tido um engano aqui. Alyssa e eu nos
apaixonamos, e isso aconteceu quando você já não fazia parte da
vida dela. É uma pena que você não tenha notado, às vezes o
relacionamento acaba e uma das partes não percebe. Deve ter sido
o caso.
Olho para Leonel com desaprovação e me pergunto o que
maluco pensa que está fazendo? Assim até parece que eu sacaneei
o lírio do campo aqui, o que não é verdade. Ele me sacaneou com
minha melhor amiga, não o contrário.
Quando estou prestes a dar fim nesta palhaçada, Leonel sorri
para mim e cola a boca em minha orelha sussurrando:
— Confie em mim, pelo menos uma vez na vida. Eu sei o que
estou fazendo.
Leonel volta sua atenção para Salvatore:
— E você e essa moça? Estão juntos agora? Parecem se
encaixar bem.
Veronica coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha e
meneia a cabeça em negativa:
— Salvatore e eu? Ah, não. — Ela olha fixamente para
Leonel e diz com uma voz envergonhada: — Na verdade, eu estou
solteira.
Salvatore enfia as mãos nos bolsos de forma impaciente,
uma mania que tem quando está com raiva, enquanto Veronica
simplesmente continua puxando assunto com Leonel:
— Você trabalha por aqui? Eu na verdade sou a melhor
amiga da Alyssa. — Ela se vira para mim e diz: — Não é, amiga? —
Ela ainda quer que eu confirme isso? Céus! — Eu trabalho em um
escritório de advocacia logo ali, depois da praça. Alyssa e eu
trabalhávamos juntas, mas infelizmente ela foi demitida. — Ela volta
a falar comigo com todo aquele cinismo nojento: — Eu sinto muito
por isso, amiga. Principalmente porque é muito difícil encontrar
emprego hoje em dia.
— Ah, amiga, eu não estou desempregada. Arranjei outro
emprego no mesmo dia — rebato com um sorriso no rosto, pois se é
para ser falsa, vamos lá então.
— Arranjou?
— Sim, sim. Na Imperium.
— Na Imperium Investiments? — ela arregala os olhos em
surpresa.
— Essa mesma!
— E como você conseguiu entrar lá?
— Ah, é uma longa história. Mas resumidamente meu
namorado aqui lindo, gostoso e maravilhoso — puxo Leonel para
perto de mim e continuo: — me colocou lá. Ele é o CEO e manda
em tudo por lá!
— Quer dizer que esse gato… quer dizer, seu namorado é o
CEO da Imperium?
— Pois é, menina. Sabe que às vezes nem acredito que
encontrei um homem tão apaixonado por mim?
À medida que as palavras deixam meus lábios, posso ver
claramente o olhar de choque em seus rostos. Leonel, sentindo o
clima, se posiciona atrás de mim, colocando suavemente os braços
ao redor da minha cintura, seus lábios encontram um espaço suave
no meu pescoço depositando ali um beijo ardente e demorado,
incendiando toda a minha pele com sua proximidade.
— É, eu sou louco por essa mulher — Leonel confirma, sua
voz profunda reverberando contra a minha pele, enviando ondas de
calor por todo o meu corpo.
Sinto uma vitória secreta ao ver os olhos de Veronica
nublarem com uma inveja inconfundível. É uma expressão que já vi
antes, mas no passado, eu era muito ingênua para entender sua
verdadeira natureza.
Não pude resistir a uma última alfinetada:
— Aliás, sou grata pelos seus alertas incessantes, sabe? Se
não fosse por você sempre apontando os plantões intermináveis do
Salvatore, talvez eu nunca tivesse me dado a chance de encontrar
alguém realmente atencioso. É engraçado como as coisas
acontecem, não é, amiga?
— Pois é, amiga. — O desconforto se espalha pelo rosto de
Veronica enquanto Salvatore a encara como se não soubesse disso.
— E, Salvatore, boa sorte! Eu estou feliz que você encontrou
alguém tão... compatível quanto você. — Eu mantenho o meu tom
estável, controlando a raiva fervente que ameaça subir.
Com um sorriso vitorioso, volto minha atenção para o homem
atrás de mim.
Num impulso, minhas mãos encontram seu caminho ao redor
de seu pescoço, me perdendo no calor e na força que ele irradiava.
Meus olhos se fixam nos de Leonel, buscando na
profundidade azulada dele a centelha de audácia que necessito
para o que estou prestes a realizar.
Me aproximo dele com a graça feral de uma predadora,
minha boca encontrando a dele numa colisão que desperta
imediatamente uma saudade que nem sabia que residia em mim.
O ar ao nosso redor parece pulsar com a intensidade do
nosso encontro, e sua língua quente se aventura em minha boca,
um gesto ao mesmo tempo ardente e cuidadoso, que me faz
estremecer.
Sinto cada célula do meu corpo reagindo a esse beijo, cada
fibra do meu ser pulsando em um ritmo frenético e incontrolável.
Mas, de repente, uma onda de consciência me inunda, um sinal
emergindo do meu interior, sinalizando que é hora de recuar, de
manter algum domínio sobre a situação que ameaça me consumir
completamente.
Com um suspiro pesado de desejo e hesitação, me afasto um
pouco, ainda capturada pela profundidade daqueles olhos azuis.
Quando finalmente nos separamos, estava ofegante, mas
sentindo uma onda de empoderamento.
— Vamos? — murmuro contra seus lábios, a adrenalina
ainda vibrando em cada fibra do meu ser.
— Claro, amor. Vamos! — ele responde, a sua segurança e
presença sendo a âncora que eu nem sabia que estava faltando.
Com um aperto firme, Leonel entrelaça sua mão na minha e
começamos a caminhar pela praça, deixando um par de rostos
perplexos — Veronica e Salvatore — em nossa esteira.
Assim que estamos suficientemente longe, não posso evitar e
solto um resmungo, ainda segurando firmemente a mão de Leonel.
— O que foi aquilo?
Ele me lança um olhar levemente confuso.
— Aquilo o quê? Acho que você deveria estar me
agradecendo, não?
— Agradecendo? Eu estava pronta para expor aqueles dois
antes de você aparecer e falar aquelas coisas. Agora parece que eu
fui a vilã da história!
Ele revira os olhos, claramente irritado.
— Então, você queria sair como a vítima da história? Que
diferença isso faria?
— A diferença, Leonel, é que eu tenho princípios, algo que
claramente falta a Salvatore.
Leonel solta uma risada irônica.
— Alyssa, você acabou de arrasar com a autoestima daquele
patético. Você não viu a cara dele? Ficou devastado. Você acha que
caras como ele se importariam se você fizesse um escândalo por
ele ter te traído? Eles não dão a mínima.
Infelizmente, tenho que concordar com Leonel nesse ponto.
Leonel, percebendo minha hesitação, continua:
— Responda-me: o que te deixa mais satisfeita, saber que
ele está com o ego machucado ou preservar o seu próprio ego?
Fico em silêncio, as palavras presas em minha garganta, e
Leonel exclama com um sorriso sagaz:
— Como imaginei.
Continuamos andando e, reunindo um pouco de graça,
agradeço:
— Obrigada.
— Bem melhor assim.
Tento manter a compostura, advertindo:
— Não vá se achando.
Um meio sorriso surge, rasgando o cantinho da sua boca,
revelando uma pitada de diversão.
— Eu acho que posso ir daqui — declaro, indicando que
posso seguir sozinha daqui.
Ele parece um tanto resistente a desistir da minha
companhia:
— Eu te deixo em casa. Preciso apenas pegar meu carro que
deixei na empresa.
Sacudo a cabeça, firme na minha decisão:
— Não. Eu vou caminhando daqui. Eu sempre vou
caminhando mesmo.
Leonel parece ponderar por um momento, antes de sugerir:
— Será que posso acompanhá-la caminhando então?
Sorrio, sentindo um estranho tipo de cumplicidade entre nós.
— Don Leonel caminhando comigo nas ruas de Roma?
— Talvez haja uma chance de te conquistar assim.
Sinto minhas bochechas esquentarem, uma resposta
inesperada às suas palavras. Disfarço rapidamente, retomando meu
passo decidido.
— Você não desiste mesmo, hein? — comento, um traço de
diversão na minha voz.
Com uma confiança que beira a arrogância, ele rebate:
— Desconheço essa palavra, "desistir". Quando quero algo,
eu vou até o fim.
Involuntariamente, meus olhos desviam para nossas mãos
que, de alguma forma, ainda estão entrelaçadas. Uma corrente
elétrica parece percorrer meu braço, um sentimento de algo
pulsante e vivo entre nós.
Ele diminui o passo, permitindo que a atmosfera entre nós
fique mais densa, e eu solto:
— Sabe, Leonel, antes de te conhecer, uma cigana leu minha
mão e mencionou que um homem... poderoso e possessivo estaria
no meu destino. — Declaro, uma sobrancelha levantada em uma
expressão divertidamente cética.
Ele solta uma risada, uma sonoridade que parece se misturar
com a melodia da noite.
— Possessivo? Eu prefiro pensar em mim como alguém
persistente.
Dou de ombros, meu sorriso igualando o dele.
— Talvez, mas sabe como são essas previsões. Elas têm
uma maneira engraçada de se tornarem realidade, mesmo que de
maneira distorcida. — Respondo, o humor dando lugar a uma
curiosidade genuína. — Você acredita em destino, Leonel?
Ele pausa, o olhar se perdendo no vasto céu noturno, como
se buscasse respostas nas estrelas que cintilavam acima de nós.
— Acredito que no meu caso há uma espécie de roteiro, sim.
Mas não algo imutável, entende? — Ele diz, os olhos encontrando
os meus novamente. — Acredito que temos o poder de mudar
nosso destino, de escrever nossa própria história. As circunstâncias
e as estrelas podem nos guiar, talvez até nos influenciar, mas no
fim, somos nós que decidimos nosso caminho.
Suspiro, encontrando uma espécie de conforto em suas
palavras.
— Eu gosto dessa ideia. De que somos donos do nosso
destino, capazes de mudar nosso futuro. — Admito, a conexão entre
nós parecendo crescer.
Ele acena, antes de deixar escapar uma pequena pausa, o
silêncio preenchido pelos ruídos da cidade ao nosso redor. E então,
com uma expressão séria, mas com olhos que brilhavam com algo
indefinível, ele diz:
— Alyssa, o que eu sei é que, independentemente do que foi
decidido na mesa do meu pai quando seu pai o procurou, isso
pouco importa agora. A mulher que estará ao meu lado será
escolhida pela minha própria vontade, e não apenas por acordos de
família. Ela será a dona do meu respeito, da minha lealdade, e da
minha própria existência. E se algum dia o céu estiver
desmoronando, se um asteroide estivesse cruzando o céu prestes a
apagar toda a existência, eu quero que você saiba que eu estaria lá,
com meus olhos fixos nela, até que o último traço de luz se
extinguisse, até que eu desaparecesse com o resto do mundo, ela
seria a última visão que eu teria, o último pensamento a cruzar
minha mente.
Nossa, que romântico. E ele jura que não se apaixona, claro.
Num desvio sutil do olhar, vejo uma figura em vermelho do
outro lado da rua. A... A... A cigana!
— É ela! — exclamo, com um fervor que quase se torna um
grito, apontando para a mulher misteriosa ao longe.
— Ela, quem?
— A cigana sobre a qual eu te contei.
Não consigo tirar os olhos dela, é como se uma força
magnética me prendesse à sua presença. Libero a mão de Leonel,
decidida a cruzar a rua, mas um mar de carros me barra.
Observo o semáforo prestes a mudar, posiciono-me ansiosa
na faixa de pedestres e, quando a luz fica vermelha, me lanço entre
as pessoas. Porém, a multidão é densa, e logo perco a cigana de
vista.
Já do outro lado, desesperadamente busco por ela entre a
aglomeração, mas ela parece ter desaparecido.
Sinto uma desolação irracional tomar conta de mim, meus
ombros descem e, de repente, um toque frio e suave beija meu
nariz.
Levanto o olhar e me perco na magia do céu noturno, agora
embelezado pela dança delicada dos flocos de neve caindo. Um
sorriso nasce em meus lábios, natural e involuntário, percebendo
que este ano é um ano de sorte em Roma, já que não acontece
esse evento em todos os invernos.
Olho em volta e parece que todas as pessoas — adultos,
crianças e idosos — ali haviam parado para contemplar a primeira
neve de inverno, menos uma pessoa.
Em meio ao encanto coletivo, meus olhos encontram o único
que resiste à magia celeste: ele. Leonel está ali, uma presença
calma e sólida, seus olhos cravados em mim enquanto alguns flocos
de neve decoram seu terno azul escuro.
A intensidade de seu olhar faz meu coração vibrar, uma
melodia alta e clara que ressoa em meus ouvidos.
Me pergunto, com espanto, o que está acontecendo em meu
peito neste exato momento. Oh, Deus, não!
CAPÍTULO 20

Estou dirigindo de volta para o meu apartamento após deixar


Alyssa em frente ao seu prédio e retornar ao local em que deixei
meu carro.
Aquela mulher me deixa maluco, de todas as formas
possíveis. Maluco de raiva e de tesão. A maneira como ela
consegue mexer comigo é inacreditável. No entanto, minha mente
está prestes a mudar de rumo quando uma ligação de Paolo
aparece no painel multimídia do carro. Não posso evitar a ligação,
então coloco no viva-voz.
— Como está, Leonel? — Paolo pergunta, de maneira direta.
— Estou bem, Paolo. O que você quer?
— Alexander entrou em contato. Ele quer conversar sobre o
noivado com uma de suas filhas. Aparentemente, ele acha que está
na hora de planejar nosso acordo.
Bufei, lembrando que ainda não disse a Alexander sobre
Alyssa.
— Diga a Alexander para vir ao meu escritório amanhã de
manhã. Está mais do que na hora de resolver essa situação
diretamente com ele, e colocar minhas exigências na mesa.
— Entendido. Vou transmitir a mensagem.
Em seguida, mudo o assunto:
— E quanto ao sujeito que tentou me matar naquele dia no
meu apartamento? Descobriram algo?
Paolo responde com um toque de frustração em sua voz fria.
— Ainda não. O homem está sendo muito resistente sob
tortura. Nossos homens estão fazendo de tudo para extrair
informações, mas ele não está colaborando.
Eu assinto e, depois de uma breve pausa, dou minhas ordens
finais:
— Aumentem a pressão, Paolo. Façam o que for necessário.
Quero saber quem foi que mandou me matar naquele dia.
— Sim. Amanhã mesmo vou pessoalmente lá.
Desligo o viva-voz e fico pensando, tentando imaginar quem
poderia estar por trás daquela tentativa de assassinato além de
Alesso.

No dia seguinte

Estou na sala da presidência no escritório da Imperium,


analisando e assinando alguns contratos. A manhã está agitada,
como de costume naquele lugar, e a papelada não para de se
acumular.
Por muito tempo, a Imperium foi o meu refúgio. Lembro-me
do meu pai, um lobo solitário, que sempre se dedicou a nossa
famiglia. No entanto, também tenho as lembranças das férias na
Sicília, visitando Magort e Lorenzo. Mas desde que meu pai se foi,
mergulhei de cabeça nos negócios em Roma, mantendo minha
mente ocupada. No entanto, confesso que sinto falta da casa na
Sicília e dos momentos que vivi lá, principalmente os recentes.
Meus olhos se desviam para o monitor do computador, onde
a câmera de segurança do departamento de advogados está à vista.
Não posso evitar a necessidade de espiá-la.
Alyssa está ali, diante da máquina de café, preparando seu
próprio café. Ela toma um gole e faz careta quando prova a bebida.
Depois ela olha para os lados e acrescenta mais três
colheres de açúcar, e não consigo evitar um meio sorriso ao assistir
essa cena.
Mas minha distração é abruptamente interrompida quando a
porta da minha sala se abre subitamente. Fecho rapidamente a aba
no computador que mostrava a câmera de segurança, e olho para o
senhor em minha frente. Alexander.
— Bom dia, Leonel.
Eu assinto de maneira séria, indicando que ele deve se
sentar na cadeira em frente à minha mesa.
Ele se senta e inicia a conversa de forma casual:
— Minha nossa, como você cresceu. Ainda me lembro do dia
que visitei a casa de seu pai na Sicília pela primeira vez. Você
deveria ter uns oito anos?
— Quase isso.
Alexander limpa a garganta, percebendo meu desinteresse
naquele tipo de conversa fiada, e sua voz soa resoluta quando
finalmente volta a falar:
— Leonel, confesso que estava ansioso por esta conversa, e
não sou o único. Minhas filhas e minha esposa esperam por este
momento há anos. Tentei diversas vezes criar uma conexão direta
com sua você, mas Paolo me informou que, nos últimos anos, você
esteve muito ocupado, especialmente após a morte de seu pai.
— Paolo está certo. Andei bastante ocupado nesses anos e
realmente não tive tempo de conhecer suas filhas.
Alexander respira fundo e prossegue:
— Estou aqui agora porque estamos em plena campanha
eleitoral, e pensei que seria sensato agilizar as coisas. Minha
esposa sugeriu uma reunião para apresentar nossas filhas.
Ergo uma sobrancelha, demonstrando meu ceticismo:
— Uma reunião?
— Sim, um evento apenas para família e amigos mais
próximos. Você sabe como as mulheres gostam de elaborar essas
ocasiões. Nós, homens, costumamos ser mais práticos.
Refleti por um momento antes de concordar:
— Acho que pode ser uma boa ideia. Será uma boa
oportunidade de conhecer suas filhas antes de formalizarmos nosso
acordo.
Alexander sorri satisfeito:
— Perfeito, então. Elas já contrataram uma empresa de
relacionamentos para organizar o evento, a "Amor VIP". O senhor
conhece?
Respondo com pouca empolgação:
— Sim, conheço.
Amor VIP é uma empresa que tem à frente um solteirão que,
ao final de sua vida, decidiu empreender unindo pessoas da alta
sociedade em busca do amor.
— Ótimo. Vou comunicar a elas ainda hoje. Quando eu tiver
uma data, conversarei com Paolo para que você seja informado.
— Está bem.
Alexander questiona:
— Alguma sugestão ou preferência sobre como gostaria de
ser recebido em minha casa?
Respiro fundo e exponho minha exigência de forma
intransigente:
— Na verdade, tenho um pedido.
Alexander olha para mim, curioso, e ajusta-se na cadeira:
— Um pedido?
Com firmeza, declaro:
— Sim, um pedido. Quero que inclua sua filha Alyssa na lista
de possíveis candidatas a serem minha esposa. É importante que
ela seja considerada.
Alexander parece surpreso, seu olhar momentaneamente
congelado, mas ele tenta esconder isso ao limpar a garganta:
— Você deseja que Alyssa seja uma das opções?
— Exato. Notei que você não é muito próximo dela, por
razões que desconheço, mas quero que você providencie uma
aproximação entre vocês o mais rápido possível.
Ele se remexe na cadeira, visivelmente desconfortável com a
situação.
— Quer que eu me aproxime de minha filha do meu primeiro
casamento? — Alexander pergunta, buscando entender melhor a
situação.
— Exatamente. — Eu confirmo com firmeza.
Há um momento de silêncio, e então Alexander pergunta com
curiosidade:
— Desculpa, qual é o seu interesse nisso?
Eu respiro fundo e encho meu peito de ar antes de
responder:
— Analisei os perfis de todas as suas filhas, e nenhuma me
interessa tanto quanto Alyssa.
Alexander parece surpreso:
— Nenhuma?
— Nenhuma.
Ele olha para o lado, visivelmente frustrado.
— Leonel, você tem cinco opções disponíveis, e nenhuma
delas lhe agradou?
— Essas coisas acontecem — respondo com um toque de
indiferença.
Alexander, enquanto vira o rosto para lado, murmura consigo
mesmo:
— Garoto mimado!
— Como?
Ele volta a me encarar e sugere:
— A Isabella é uma forte candidata. Você irá gostar dela.
— A Miss Itália? — Pergunto, um tanto cético.
— Sim, ela é uma jovem delicada e de personalidade forte e
influente. Tenho certeza de que minha mulher fez um bom trabalho
em relação a ela.
— Escute, não estou dizendo que não quero conhecer suas
filhas, pois ainda não está nada decidido. Apenas quero que você se
aproxime de uma delas. É um sacrifício tão grande assim? —
Questiono, semicerrando os olhos para ele.
Alexander engole em seco e balança a cabeça
negativamente.
— Não.
— Ótimo. Espero que Alyssa esteja neste evento. Esta é
minha única exigência, e não vou tolerar que ela seja ignorada. —
Falo em tom incisivo.
— Sim, senhor. — Alexander concorda.
Ele olha para os lados novamente e diz:
— Foi um prazer.
— Igualmente. — Respondo de forma inexpressiva.
Ele bate as mãos nas calças e sai do meu escritório.
Após a saída de Alexander, permaneço sozinho, encarando a
porta. Com base nas informações que sempre tive sobre ele,
Alexander nunca me pareceu uma pessoa de boa índole. Não que a
índole seja um fator determinante para apadrinhamento na máfia,
muito pelo contrário. Precisávamos também de pessoas que fazem
de tudo por dinheiro e poder. Pessoas gananciosas, sem
escrúpulos. No entanto, havia algo nele que não me agradava. Algo
mais profundo, além do que se possa ver.
De repente, a porta em minha frente se abre silenciosamente,
e Paolo entra.
Nossos olhares se encontram. Não é necessário falar; nossos
olhos dizem tudo.
Na sombra do seu rosto, capturo uma centelha de satisfação
por finalmente ter conversado com Alexander. Afinal, meu
casamento era um negócio para a máfia, e Paolo só sossegaria
quando esse matrimônio acontecesse.
No entanto, a atmosfera muda abruptamente quando Paolo
começa a falar.
— Tenho péssimas notícias.
Meu rosto se contrai.
— O que aconteceu? — Pergunto, minha voz baixa e séria.
— Nosso prisioneiro fugiu.
A notícia me atinge como um soco no estômago. Fugiu?
Como assim ele fugiu? Minha mente corre em busca de
explicações, mas nada faz sentido.
— Fugiu? — Repito, desta vez com um timbre cortante. —
Como assim ele fugiu?
Paolo balança a cabeça, sua expressão sombria revelando a
gravidade da situação.
— Ele simplesmente desapareceu. Não temos pistas, não
sabemos como aconteceu.
Minha frustração aumenta e sinto a necessidade de agir
rapidamente para conter qualquer ameaça que essa fuga possa
representar para a máfia.
— Convoque a cúpula para uma reunião neste fim de
semana, na Sicília — ordeno. — Quero toda a famiglia reunida lá.
Paolo assente, compreendendo a seriedade da situação.
— Sim, senhor. Farei os preparativos imediatamente.
Enquanto ele se vira para sair da sala, eu permaneço ali, com
a mente fervilhando. A fuga daquele infeliz era um problema que
precisávamos resolver, e a reunião da famiglia era o primeiro passo
para lidar com essa situação de forma eficaz.
CAPÍTULO 21

Estou na Imperium, na minha sala, lendo os mesmos


contratos que, por um descuido meu, derramei café ontem. Não
entendo por que o Sr. Anderson fez tanto drama com isso. Resolver
a questão da nova impressão foi fácil, bastou ligar para a empresa
responsável. Não havia nada de terrivelmente difícil em conseguir
novos contratos, pois, segundo o que me explicaram por telefone,
sempre pedem que assinem duas vezes por precaução.
Parece que o Sr. Anderson estava decidido a criar um alarde
e me pressionar sem motivo. Típico de chefe narcisista arrogante!
Enquanto leio os contratos, termino um origami que comecei
com uma folha de papel que encontrei. De vez em quando, me
estico na cadeira e troco olhares com Gemma, a advogada que
trabalha na mesa da frente. Ela é a única aqui que eu realmente
gosto. Tirando seu estilo sem graça e apagado, ela tem um rosto
angelical e um jeito fofo.
Todos os outros advogados são uns narizes em pé, que não
enxergam além dos próprios umbigos. Mas sei muito bem lidar com
esse tipo de gente.
Nosso time é formado por sete advogados, e pelo pouco
tempo que passei aqui, percebi que eles se dividem em grupos.
O primeiro é o das garotas que andam sempre juntas e só
falam entre si. Parecem estar na quinta série, para ser sincera.
Depois, há dois rapazes que vivem bajulando o Sr. Anderson, e, por
fim, eu e Gemma, as solitárias. Tenho a impressão de que, antes de
eu chegar, Gemma ocupava a posição de "faz tudo", mas depois
que entrei, ontem, ela finalmente ganhou uma folga.
No entanto, tudo mudou depois da bronca que Leonel deu no
Sr. Anderson. Desde então, ele tem me tratado até melhor. Só não
sei até quando esse tratamento vai durar.
Paro de ler o contrato quando um homem entra na sala. Ele é
alto, de traços fortes e cabelos escuros, típicos de um homem
italiano. Seus olhos são intensos, e seu terno preto elegante
destaca sua figura esbelta. As outras advogadas olham para ele,
claramente impressionadas com sua presença.
— Gemma, preciso da sua ajuda para analisar um contrato
no setor financeiro — disse o homem, dirigindo-se a Gemma e
chamando-a pelo nome. Ela ficou visivelmente vermelha quando ele
a mencionou na frente de todos.
O Sr. Anderson, por sua vez, interveio:
— Gemma está ocupada agora e não pode sair da sala —
anuncia o Sr. Anderson.
O homem, com um sorriso encantador, responde:
— Sem problemas, eu a chamarei mais tarde.
Gemma, com timidez, gagueja enquanto explica:
— Na verdade, não estou ocupada. Já terminei de redigir o
contrato.
— Ótimo, então. É bom que você vá logo ao departamento de
publicidade e propaganda para coletar novas assinaturas. — O Sr.
Anderson responde, com um sorriso sádico no rosto, que faz os
ombros de Gemma murcharem.
— Tudo bem, eu chamo você em outro momento — o rapaz
assente amigavelmente para ela.
Nesse momento, os dois trocam olhares significativos, e eu
posso arriscar que está pintando um clima entre eles. Que
bonitinhos! O homem sai da sala em seguida, e não posso deixar de
notar os olhares invejosos das outras advogadas em direção a
Gemma.
A voz do Sr. Anderson me desperta dos meus devaneios
chamando meu nome:
— Alyssa.
Viro-me prontamente para ele:
— Oi?
— Acompanhe Gemma ao departamento de publicidade e
propaganda — ele me pede.
— Ok.
Começo a guardar os contratos, pronta para sair da sala, e
até que gostei da ideia de levantar um pouco. Eu precisava esticar
minhas pernas.
Gemma e eu caminhamos pelos corredores da Imperium em
direção ao departamento de publicidade e propaganda. Ela é uma
mulher extremamente tímida, com um jeito suave e gentil que
transparece em sua expressão.
Enquanto seguimos o caminho, sinto a necessidade de puxar
assunto e tentar me enturmar um pouco mais.
— Escuta, Gemma... — começo, escolhendo minhas
palavras com cuidado, — o que rola entre você e o cara do setor
financeiro?
Gemma cora de vergonha, suas bochechas ganham um tom
mais rosado enquanto ela tenta encontrar as palavras certas para
responder:
— Ah, nós... nós somos apenas amigos. — Sua voz é quase
um sussurro, e ela evita olhar diretamente nos meus olhos.
Tento ser um pouco mais direta:
— Mas ele quer ser mais do que apenas amigos, com
certeza.
— Sério?
Ela parece genuinamente surpresa, e eu respondo com um
sorriso:
— Mas é óbvio que sim. Ele está completamente na sua.
— É que para mim é meio difícil interpretar essas coisas —
ela confessa com certa hesitação.
— Se quiser, posso te ajudar com essas coisas. Não sou
especialista em relacionamentos, mas no quesito flerte eu me
garanto.
Gemma, impressionada, pergunta:
— Você faria isso?
Com um sorriso sincero, respondo:
— Mas é claro. Acho que estou precisando fazer amizades.
Gemma, ainda sem acreditar, diz:
— Você quer ser minha amiga?
— Por que não?
Gemma olha para as minhas roupas e confessa:
— Você parece ser tão descolada. Pensei que quisesse se
enturmar com as comadres.
Eu fico curiosa:
— As comadres?
Gemma explica:
— É, é o apelido que dei àquelas três lá da sala.
Começo a sorrir. As comadres. Parece um ótimo apelido para
aquelas invejosas.
Enquanto Gemma e eu conversamos, meus olhos de repente
capturam a figura de um rosto familiar saindo do elevador. Paolo. O
homem de pele pálida emerge com uma elegância natural, vestindo
um terno impecável e um olhar frio que causa arrepios involuntários
em minha espinha dorsal. Seus cabelos escuros e traços fortes
destacam-se, e seus olhos indiferentes percorrem o escritório até a
ala da presidência.
Gemma estala os dedos na frente dos meus olhos, tirando-
me do meu transe momentâneo. Ela olha na direção em que Paolo
entrou e pergunta curiosamente:
— Você conhece aquele homem?
Faço o meu melhor para parecer casual e balanço a cabeça
negativamente:
— Aquele homem? — Franzo o cenho e minto: — não. Não o
conheço.
Gemma parece desconfiada, observando-me atentamente:
— Estranho. O jeito como você olhou para o senhor Paolo até
parecia que o conhecia.
Eu finjo surpresa:
— Paolo? Esse é o nome dele?
Ela explica:
— Sim, ele é o chefe do departamento financeiro, mas é
quase um fantasma por aqui. Parece que ele também é professor
universitário, sempre correndo de um lado para o outro.
Sinceramente, não sei como alguém pode lidar com tantas funções
ao mesmo tempo.
Eu concordo com um aceno de cabeça, ainda um pouco
distraída:
— Realmente, é surpreendente.
Imagino o que Gemma pensaria se soubesse que, além
desses cargos, esse homem arranja tempo ser consigliere de uma
máfia.
Sacudo a cabeça, afastando aqueles pensamentos sombrios,
e continuamos caminhando até o departamento de publicidade e
propaganda, onde o Sr. Anderson nos enviou.
Após resolvermos todas as questões pendentes, Gemma e
eu começamos o caminho de volta. No entanto, enquanto
retornávamos pelo corredor, me deparei com um senhor que
desacelerou seus passos e parou diante de mim. O senhor era nada
menos que… meu pai.
— Alexander? — Minha voz saiu quase como um sussurro
para o homem que parecia igualmente surpreso com minha
presença.
Ele me encarou por um breve momento, como se estivesse
avaliando se deveria continuar a conversa. Finalmente, ele assentiu
e respondeu:
— Alyssa. Há quanto tempo.
— Mais de dez anos, para ser exata — murmurei, tentando
não deixar transparecer a enxurrada de sentimentos que essa
surpresa provocara. — O que você está fazendo aqui?
— Fui convidado para uma reunião de negócios. Você
trabalha aqui?
Olho para Gemma ao meu lado e pondero minhas próximas
palavras, tentando não citar Leonel e os últimos acontecimentos em
minha vida.
— Sim. Como advogada — me limito a dizer.
— Como vai Nora?
O nome da minha mãe trouxe à tona todas as lembranças
dolorosas. Minha voz endureceu:
— Ela está bem. Continua trabalhando como enfermeira em
Parma. E eu... bem, estou aqui.
— É bom saber que estão bem. — Ele parecia genuinamente
interessado, mas algo em seus olhos me fazia questionar suas
intenções.
Ele se aproximou um pouco mais, e eu senti meu corpo
tensionar.
— Alyssa, eu sei que houve muitos problemas no passado,
mas talvez seja hora de deixá-los para trás.
Eu me surpreendi com suas palavras. Deixar o passado para
trás era algo que minha mãe e eu sempre fizemos.
— Por que você acha isso? — Minha voz saiu mais dura do
que pretendia.
— Porque somos família. E família deve estar unida.
Engoli em seco. A palavra "família" era carregada de
significado para mim, mas não da mesma forma que ele parecia
pensar.
— Você acha que uma conversa casual pode apagar anos de
sua ausência? — Indaguei, minha frustração começando a se
manifestar.
— Tem razão. — Ele enfiou as mãos nos bolsos e concordou:
— realmente não podemos apagar o passado. Mas podemos
escrever um novo futuro. Eu, você e nossa família. Suas irmãs iriam
adorar conhecê-la.
Ele pegou um cartão de visita do bolso e me entregou.
— Eu gostaria de conversar mais, Alyssa. De verdade. Me
ligue quando quiser.
Hesitante, peguei o cartão, sem o menor interesse de fazer
aquela ligação.
Ele deu um passo para trás, inclinou a cabeça em despedida
e se afastou em direção ao elevador. Eu fiquei ali, no corredor,
olhando para o cartão em minhas mãos, sentindo uma mistura de
emoções que eu não sabia como lidar.
— O seu pai é o sen… — escuto a voz de Gemma ao meu
lado e completo sussurrando:
— O senador Alexander Bankers, Gemma. E, acredite, não
há nada de glamuroso nisto.
CAPÍTULO 22
Alguns dias depois

— Santo guarda-roupa monocromático, Gemma! — exclamo,


retirando uma camiseta cinza do guarda-roupa. — Onde estão as
cores neste guarda-roupa?
Gemma oferece um sorrisinho tímido, encolhendo-se um
pouco, mas sei que ela não pode negar a verdade nas minhas
palavras.
É sábado à noite, e eu havia prometido de dar uma
consultoria de moda grátis à minha nova amiga de trabalho. Quer
dizer, grátis não. Em troca de alguns petiscos e um pouco de vinho
tinto.
— É que não uso roupas com cores vibrantes — murmura
ela, com um riso nervoso. — Sempre achei mais fácil usar cores
neutras, menos... chamativas.
Reviro os olhos de maneira brincalhona e coloco minha mão
no ombro de Gemma, incentivando-a a se aproximar mais do
guarda-roupa.
— Amiga, a vida é muito curta para se esconder atrás do
cinza e do bege! — digo, pegando um vestido marrom e segurando-
o contra Gemma. — Vamos adicionar um pouco de vida a este
móvel, mas nada que fuja muito da sua personalidade.
Sorrio ternamente para ela e pego uma peça de dentro da
mala que trouxe comigo, assistindo a dúvida dançando em seus
olhos castanhos, mas percebo uma faísca de curiosidade, uma
pitada de vontade de tentar algo novo.
— Talvez um pouco de cor não seja uma má ideia — admite
ela, com um sorriso cada vez maior.
— Isso aí! — exclamo, animada. — Agora, o que você acha
deste terninho azul? É uma bela cor e ficaria ótimo com aqueles
seus jeans claros!
Observo Gemma pegar o terno das minhas mãos, seus
dedos acariciando o tecido suave.
— É lindo — diz ela, um rubor suave aparecendo em suas
bochechas. — Mas você realmente acha que eu poderia usá-lo?
— Claro que sim! — respondo, com um sorriso encorajador.
— E não apenas isso, mas eu aposto que você deixará o carinha do
setor financeiro com o coração palpitando ainda mais forte.
Assisto ao seu sorriso, percebendo a confiança começando a
brotar dentro dela. Ela é muito fofa.
— Ok, vou tentar — concorda ela, sua voz ganhando um tom
mais firme.
— Isso é o espírito! — exclamo, aplaudindo animadamente.
A sala parece de repente mais abafada quando o som do
meu telefone interrompe nosso momento de descontração. Lanço
um olhar rápido para a tela e vejo que se trata da minha mãe.
— Com licença, Gemma, preciso atender essa ligação —
aviso, e Gemma assente com um sorriso compreensivo, e caminho
rapidamente até a sacada, buscando um pouco de ar fresco.
— Alô? Mãe? Aconteceu alguma coisa? — pergunto, a
preocupação tingindo cada sílaba.
Ouço uma pausa do outro lado, uma respiração meio
hesitante antes da resposta vir.
— Filha, é que eu recebi uma visita do seu pai hoje... —
começa ela, e algo em sua voz me deixa em alerta.
— Alexander visitou a senhora? — murmuro baixinho. —
Mãe, você sabe como...
— Eu sei, eu sei, filha — ela me interrompe, a voz agora
embargada. — Mas o tempo paasou, Alyssa.
O vento da noite sopra mais frio, ou é apenas o desconforto
que se instala em mim?
— Mãe, eu... — Começo, mas ela continua, como se
precisasse despejar tudo antes que perdesse a coragem.
— Ele quer te ver, minha filha. Quer se aproximar de você.
E... eu acho que seria bom. Especialmente para você.
Eu estreito os olhos, olhando para a cidade iluminada à
minha frente, tentando encontrar respostas nas luzes piscantes.
— Mãe, por que você está fazendo isso? — pergunto, a
confusão claramente audível em minha voz. — Depois de tudo...
Ela suspira, um som profundo e carregado que atravessa a
linha telefônica e parece me envolver.
— Eu estive pensando... Talvez seja o momento de deixar o
passado no passado. E eu... eu gostaria que você fizesse isso por
mim. Às vezes me sinto culpada por ter afastado tanto você da nova
família dele.
— Eu... não sei, mãe — admito, minha voz vacilante traída
pela emoção. — Eu preciso pensar sobre isso.
Ouço-a suspirar novamente, um som mais suave dessa vez,
cheio de compreensão e amor.
— Eu entendo, querida. Apenas pense nisso, ok?
Eu assinto, mesmo sabendo que ela não pode me ver.
— Ok, mãe. Eu vou pensar — prometo, embora a ideia de me
aproximar daquele senhor me parecesse estranha demais.
A ligação se encerra, e fico lá, no frio da noite, a cidade
abaixo de mim e um milhão de questões revolvendo dentro de mim.
Estou prestes a voltar para dentro quando sinto o telefone
vibrar novamente em minha mão. Uma mensagem. Respiro fundo,
os dedos hesitantes, e abro-a.
"Olá, Alyssa, aqui é o seu pai. Sua mãe me passou seu
número. Eu realmente gostaria de te ver. Que tal um jantar
amanhã à noite, para que possa conhecer suas irmãs? Estou
realmente ansioso para nos aproximarmos."
Sinto uma mistura estranha de emoções invadindo meu peito:
um turbilhão de medo, curiosidade e uma pontada de ressentimento.
Um jantar. Com o homem que agora era praticamente um estranho,
e com irmãs que eu nunca conheci.
O apartamento atrás de mim parece agora mais silencioso.
Eu olho de volta para a mensagem, as palavras "pai" e "irmãs"
destacando-se como faróis na escuridão da noite.
Respiro profundamente, o ar frio da noite preenchendo meus
pulmões, oferecendo um momento de clareza. Eu sabia que a
decisão que estava prestes a tomar poderia mudar a trajetória de
minha vida de uma maneira significativa.
A ideia de reencontrar meu pai e conhecer minhas irmãs me
deixa em um estado de vulnerabilidade que não estou acostumada.
Era bem mais fácil quando minha mãe ia contra tudo isso.
A noite me envolve com sua serenidade, e eu fico lá, parada
na sacada, o telefone pesando mais do que nunca em minha mão.
As palavras da minha mãe ecoam em minha mente, um lembrete
constante de que talvez fosse hora de realmente deixar o passado
para trás e abrir-me para um novo começo.
Com o coração palpitando no peito, sinto-me finalmente
pronta para tomar uma decisão. Eu respondo à mensagem, uma
única palavra que carrega com ela todos os meus medos e a
promessa de um futuro completamente novo para mim.
"Ok."
De repente, meu celular começa a tocar novamente e dessa
vez se trata de Luca, o proprietário do apartamento em que moro.
Prontamente atendo.
Descreva um diálogo entre Alyssa e o proprietário em que
Luca diz precisar qu Alyssa saia do apartamento hoje mêsmo que
ele alugou o apartamento. Ela sorri e diz: como assim alugou o
apartamento? O tempo de contrato ainda está longe? Sem contar
que você se voce quiser rescindir qualquer coisa, você tem a
obrigação de me enviar um aviso prévio, Luca. Ele rebate dizendo:
eu sei. Mas eu recebi uma proposta irrecusável para este
apartamento. Saia amanhã pela manhã, ok?
Ele desliga o telefone na minha cara e eu fico encarando o
telefone:
— Que idiot! Ele quer que eu mude em pleno domingo? —
Sorrio, pensando neste absurdo. — vai sonhando.
Esqueço que esse idiota existe e volto para dentro do
apartamento de Gemma.
De repente, o meu celular toca novamente, e o identificador
de chamadas exibe "Luca — Proprietário do Apartamento".
Prontamente, atendo a ligação.
— Alô, Luca. Algum problema? — questiono, tranquilamente,
enquanto observo Gemma se entreter com as combinações que
deixei em cima da cama.
Luca, com um tom de voz que revela uma leve ansiedade,
responde:
— Alyssa, na verdade, tenho um problema, sim. O
apartamento foi alugado.
Minha testa se enruga em confusão.
— Como assim alugado? Você está falando do apartamento
em que eu moro? O contrato ainda tem muito tempo.
Ele suspira, a tensão audível em sua voz:
— Eu sei disso, Alyssa. Mas apareceu uma proposta que não
pude recusar. Preciso que você saia até amanhã de manhã, está
bem?
— Como assim sair amanhã? Está louco? Você tem a
obrigação de me dar aviso prévio de pelo menos 30 dias.
— Saia do apartamento amanhã mesmo, Alyssa. Eu preciso
dele desocupado pra ontem.
Fico chocada com sua arrogância, mas antes que eu possa
expressar minha indignação, ele desliga o telefone abruptamente.
Fico olhando para o celular, surpresa e frustrada.
— Que sujeito! Quer que eu desaloje em pleno domingo? —
murmuro para mim mesma, soltando uma risada irônica. — Vai
sonhando.
Decido não perder mais tempo com tamanho absurdo e volto
para dentro do apartamento de Gemma.
CAPÍTULO 23
Palermo — Sicília
Estou na sala, a mesma que outrora era conhecida como o
Gabinete da Meia-Noite. Um lugar onde decisões de extrema
importância eram tomadas no silêncio das madrugadas em uma
sala reclusa no subsolo da SexFlight.
A madeira maciça da mesa parece se desfazer sob meus
dedos enquanto os tamborilo com impaciência. Faltava apenas um
membro para iniciarmos a reunião, Vincenzo. Se ele não fosse a
porra do subchefe, eu já teria começado sem ele há muito tempo.
Olho para o relógio na parede, marcando exatamente 4 horas
da madrugada, e minha paciência diminui a cada segundo que
passa.
Meus olhos vagam pela sala, passando pelos rostos
familiares dos capos, associados e soldados de alto escalão.
Mesmo que Alexander seja um dos apadrinhados da máfia, ele não
tem direito a uma das cadeiras da cúpula, pois ainda não alcançou o
status máximo de associado. Isso só acontecerá daqui a algumas
semanas, quando ele assumir a presidência.
Cada uma daquelas pessoas carrega a história de suas
próprias ambições e lealdades, e eu reconheço a confiança que
depositaram em mim ao comparecerem aqui hoje. Meu olhar para
em Margot. Seus olhos, normalmente expressivos, me fazem
lembrar das inúmeras vezes em que meu velho me trouxe para
essas reuniões desde que eu era apenas um garoto. Ele via a
importância de me ensinar os segredos do comando desde cedo, e
cada rosto familiar naquela mesa oval me traz lembranças daqueles
momentos.
Paolo está ao meu lado, e me assegura que falou com
Vincenzo e que ele está a caminho, a bordo de um helicóptero que o
trará até aqui em minutos.
— Deveríamos começar sem ele — murmuro, meus olhos
fixos na porta da sala, esperando que se abra a qualquer momento.
— Não podemos perder mais tempo.
Paolo assente, mas antes que possamos prosseguir, ele
aparece. Vincenzo entra apressadamente, nervoso, e acena
respeitosamente antes de ocupar o espaço vago ao meu lado.
Olho de soslaio para ele, uma sobrancelha erguida em
desaprovação enquanto sua respiração se acelera. Embora seja
bem mais velho do que eu, ele se apressa em se desculpar,
curvando-se diante de todos nós.
— Don Leonel, peço desculpas pelo atraso. Houve um
imprevisto em Mônaco que eu precisava resolver pessoalmente. Era
uma questão delicada envolvendo nossos interesses por lá.
Meus olhos não vacilam ao encontrar os dele, e minha
sobrancelha erguida permanece como um sinal de desconfiança.
— Uma questão delicada em Mônaco? — questiono, minha
voz mantendo um tom gélido.
Ele olha para Paolo em busca de apoio, e nosso consigliere
acena, encorajando-o a continuar.
— Don Leonel, um de nossos contatos em Mônaco estava
prestes a fornecer informações críticas sobre uma operação rival.
No entanto, ele foi alvo de uma ameaça iminente. Eu tive que
intervir pessoalmente para garantir que nossa rede de informações
não fosse comprometida.
A explicação de Vincenzo soa plausível, mas ainda assim, a
suspeita continua a pairar no ar. Em nosso mundo, confiar
cegamente pode ser fatal.
Respiro profundamente e finalmente assinto, indicando que
aceito sua explicação, pelo menos por enquanto.
— Muito bem, Vincenzo. Mantenha-nos atualizados sobre
essa situação em Mônaco.
Ele assente com gratidão e curva-se novamente, e em
seguida assumo o controle da reunião, olhando para cada rosto na
sala, transmitindo a gravidade do momento.
— Estamos reunidos aqui porque enfrentamos uma ameaça
que, até o momento, permanece no escuro. Não sabemos de onde
ela veio ou quem está por trás disso. Mas temos indícios claros de
que estamos sendo observados e que eles estão dispostos a ir até
as últimas consequências.
O silêncio na sala é profundo, apenas o sussurro distante do
sistema de ventilação quebrando o silêncio. Todos estão atentos,
cientes do perigo que paira sobre nós.
Paolo prossegue, com sua voz grave e segura:
— Além disso, é importante que todos saibam que o
apartamento do Don Leonel foi invadido recentemente. Por um triz,
ele escapou de um ataque que poderia ter sido fatal. Esta situação é
inaceitável, e precisamos agir com rapidez e determinação para
identificar nossos inimigos e proteger a famiglia.
Enquanto Paolo fala, meu olhar se volta para Vincenzo, que
parece inquieto. Seu celular vibra no bolso, e não posso deixar de
notar o número na tela. Os primeiros números indicavam que aquele
telefonema vinha de Roma.
O encontro continua, com discussões sobre medidas de
segurança reforçadas, investigações em andamento e estratégias
para identificar nossos inimigos.
Após a reunião, quando a tensão começa a diminuir e os
membros da cúpula começam a se dispersar, Vincenzo se aproxima
de mim com um sorriso discreto.
— Don Leonel, gostaria de cumprimentá-lo pela forma como
conduziu a reunião. Foi uma demonstração de liderança impecável.
Don Corleone estaria orgulhoso se estivesse hoje entre nós.
Agradeço com um aceno de cabeça e estendo a mão para
um aperto firme. Começamos a conversar de maneira mais casual.
— Vincenzo, não me lembro de antes você ter mencionado
estar ou viajar para Mônaco. Imagino que Nicolo esteja dando conta
da nossa representação por lá.
Ele assente, parecendo um pouco tenso com meu
comentário.
— Tem razão, Don Leonel. Essa foi minha primeira vez em
Mônaco, justamente porque Nicolo me pediu para que eu fosse
pessoalmente.
Decido investigar um pouco mais, olhando diretamente nos
olhos de Vincenzo.
— E onde você ficou hospedado lá?
Ele hesita por um momento e então responde de forma
evasiva:
— Ah, você sabe como é, Don Leonel, acabei escolhendo um
hotel aleatório, nada de especial. Preferi não abusar da boa vontade
de Nicolo em ficar em sua casa.
Minha sobrancelha se arqueia, percebendo a resposta vaga
de Vincenzo. Sinto que ele está escondendo algo, mas decido não
pressionar mais naquele momento. Continuamos a conversar, mas a
dúvida sobre a viagem de Vincenzo a Mônaco permanece pairando
no ar, como uma sombra.
Chego à minha casa na Sicília, exausto e sobrecarregado
pelas decisões e incertezas da reunião. Com um copo de uísque
firme nas mãos, percorro o jardim até a mureta que se estende para
o horizonte. O amanhecer se desenha sobre a costa siciliana, um
espetáculo de cores que só aquele lugar tem. Inspiro
profundamente, meu peito pesado de estresse diante desta situação
incerta.
É mais confortável quando se conhece com quem se está
lidando, mas desta vez é diferente. Um gole do líquido amadeirado
queima minha garganta, e uma sensação nostálgica toma conta de
mim. Olho ao redor e sinto a presença do meu velho.
Aqui, a presença dele é mais tangível do que em qualquer
outro lugar do mundo, e é por isso que amo isso tudo. Esta terra é
meu refúgio, onde minhas raízes estão profundamente fincadas, o
lugar onde nasci e quero ser enterrado.
Tomo mais um gole espesso de uísque e volto para dentro da
mansão, deixando o copo em uma das mesinhas pela sala. Ao
entrar no quarto, meu olhar inevitavelmente recai sobre a cama, e
uma lembrança invade meus pensamentos. A imagem de Alyssa
nua, de costas para mim, preenche minha mente e afasta qualquer
vestígio de sono.
Tento em vão afastar esses pensamentos, me deitando e
sentindo o cheiro de rosas dos cabelos dela impregnado no
travesseiro. Lembro de como gozei naquela noite e fiquei com gosto
de quero mais, e percebo que nenhuma mulher antes despertou em
mim o que Alyssa despertou.
Essa mulher é um vício.
CAPÍTULO 25

Acordo nesta manhã de domingo em meu quarto, me


revirando entre os lençóis da cama, enrolando para me levantar. E
de repente o rosto de Leonel invade meus pensamentos e traz
consigo as lembranças da noite que transamos naquela ilha,
incendiando meu corpo.
Lembro-me de como ele me tocou, explorando cada
centímetro do meu corpo, abrindo as paredes encharcadas da
minha boceta com o cano de um revólver, e em seguida, fazendo-
me implorar para que eu fosse fodida.
Minhas mãos deslizam sobre minha barriga, e o calor em
minha boceta começa a pulsar.
O mais excitante era lembrar que o mesmo homem que me
fodeu como puta é o mesmo que, um dia, disse aquelas coisas tão
doces na rua.
— Leonel, Leonel — sussurro baixinho encarando o teto,
sentindo minha língua estalar no céu da boca ao pronunciar seu
nome. — Por que, de repente, você me faz desejar ser a mulher de
um bandido?
Meu celular vibra ao meu lado, interrompendo meus
pensamentos pecaminosos. Abro a mensagem e lá está ele.
“Acordei pensando em você.”
Sorrio maliciosamente enquanto as palavras dele jogam fogo
e gasolina minha imaginação.
Minha resposta é rápida e provocativa.
“Espero que não esteja se masturbando neste momento
enquanto pensa em mim, tigrão.”
Minhas bochechas coram instantaneamente, e eu mordo o
lábio inferior, esperando pela sua resposta.
“Talvez eu esteja com uma mão ocupada enquanto digito
esta mensagem. Afinal, estou deitado na cama que fodi com
você e desde ontem isso não sai da minha cabeça. Obs: O
travesseiro ainda está impregnado com o cheiro de rosas dos
seus cabelos.”

Digitando com cuidado, envio minha resposta pensando que


posso me arrepender disso mais tarde:
“Talvez eu deseje estar em outro lugar agora. Obs: acabei
de acordar, estou excitada e hoje estou usando uma calcinha
dental de renda.”
A espera por sua resposta pareceu uma eternidade, e meus
pensamentos correram soltos. O sol continuava a brilhar
suavemente no quarto, e eu me encontrava ansiosa pela chegada
da sua mensagem.
Finalmente, seu nome apareceu na tela, e sua resposta me
fez sorrir maliciosamente:
“Desculpe-me a demora. Você me fez gozar ao imaginar
essa cena. Agora me responda: essa sua provocação é uma
sinalização do que pode acontecer na próxima vez que eu a
encontrar ou está apenas me atiçando sem qualquer intenção?
Obs: posso antecipar minha volta a Roma pra hoje à noite.
Mordo um sorriso e respondo:
“Hoje à noite tenho um compromisso.”
“Compromisso?”
“Sim, um encontro.”
"Me forneça o nome desse sujeito."
“Pra quê?”
"Para garantir que você não precise se preocupar com
ele."
A ameaça estava clara em suas palavras, e eu sabia que
tinha acendido um rastilho de ciúmes em Leonel. Com um sorriso
atrevido, eu respondi:
“Não tem nenhum sujeito. Na verdade, tem um sim.
Alexander. Hoje vou conhecer a família atual do meu pai
biológico pela primeira vez.”
“Porra, tigresa! Era isso?”
Sua mensagem chega denunciando que está uma pilha de
nervos.
“O quê? Eu não disse nada demais, você que ficou
imaginando coisas.”
“Espera. Estou voltando para o quarto.”
“Você não estava levando a sério essa história de ir atrás
de alguém, não é?”
“Você fez as pazes com o seu pai?”
Ele desconversa, como se segundos antes realmente
estivesse saindo para ir atrás de alguém, e ao ler sua pergunta
sobre meu pai, uma sensação de peso toma conta de mim. Inspiro
profundamente antes de responder à sua mensagem.
“É complicado. Mas parece que depois de todos esses
anos ele quer se aproximar agora, e minha mãe me ligou
pedindo para que dê uma chance à essa reaproximação.”
“Como está se sentindo?”
“Honestamente? Não sei o que pensar sobre essa
situação. Mas, enfim, eu aceitei o convite, então terei de
aparecer essa noite lá.”
“Se precisar de qualquer coisa, me envia mensagem.”
“Sei cuidar de mim mesma, mas obrigada por se
disponibilizar, baby.”
“Ok, mulher independente. Vou deixar você aproveitar
seu domingo. Cuide-se!”
“Você também! Beijo.”

Observo as mensagens de Leonel e sinto um calor


reconfortante se espalhar pelo meu peito. Essa troca de mensagens
simplesmente me faz sorrir, e percebo que ultimamente tenho
sorrido muito mais do que costumava. É como se eu estivesse
revivendo aquelas sensações da adolescência em que estava me
apaixonando pela primeira vez, com o coração batendo mais forte e
aquele sentimento de euforia sempre presente.

A noite cai sobre Roma, e estou a caminho da casa de


Alexander. O táxi percorre as ruas iluminadas pela luz âmbar das
lanternas, enquanto observo a cidade passar pela janela.
Quando o carro finalmente para em frente ao endereço que
me foi informado, saio com um sentimento de expectativa.
A mansão que se ergue diante de mim é digna de um conto
de fadas italiano. Sua fachada imponente exibe arquitetura clássica,
com colunas majestosas e detalhes ornamentados.
Os jardins que a cercam são meticulosamente cuidados, com
estátuas e arbustos bem aparados.
Enquanto observo essa visão, não posso evitar de me sentir
pequena diante da grandiosidade dessa residência. Há algo de
mágico na atmosfera que me envolve, como se estivesse prestes a
entrar em um mundo completamente diferente do que tenho vivido.
Respiro fundo e tomo coragem para subir os degraus que
levam à entrada da casa, esfregando os braços devido ao frio que
faz, mesmo vestindo o meu casaco mais quentinho.
Um dos seguranças, já à espera, me chama pelo nome.
— Senhorita Alyssa?
— Sim? Sou eu.
— Por aqui, por favor.
Adentrando a mansão imponente, segui o segurança até a
sala principal. O eco dos meus passos no chão de porcelanato
ecoava no ambiente silencioso. Ao chegar à sala, deparei-me com
uma cena.
Alexander estava sentado no sofá, absorto em seu celular,
enquanto uma mulher ao seu lado, que presumi ser Antonella, sua
esposa, olhava fixamente para a tela de um tablet.
As outras cinco mulheres distribuídas pelos sofás na sala,
deduzi ser minhas irmãs, cada uma com uma personalidade distinta,
tanto como fisicamente e gestualmente.
Algumas pareciam ter quase a minha idade, enquanto outras
aparentavam ser adolescentes. Mas todas estavam absortas em
seus próprios mundos. Algumas estavam grudadas em seus
celulares, assim com Alexander, como se o mundo virtual fosse
mais cativante, enquanto outras se observavam em espelhos
portáteis, fazendo poses e trocando olhares furtivos.
Ninguém havia percebido minha presença até o momento,
então pigarreei, chamando a atenção de todos na sala e quebrando
momentaneamente o encanto que parecia envolvê-los.
— Ela chegou! — Uma garota de cabelos ruivos tingidos e
bochechas rosadas exclama arregalando os olhos para mim.
Alexander levanta os olhos, sua expressão passa
rapidamente de surpresa para uma formalidade forçada.
Antonella, a mulher ao lado dele, me analisa de cima a baixo
com um olhar que não consigo decifrar enquanto a sala está
subitamente inundada com uma energia estranha.
— Seja bem-vinda… minha filha — Alexander começa, sua
voz traída por uma hesitação que nunca imaginei ouvir daquele
homem que tantas vezes vi em manchetes de jornais e televisão,
sempre exundando confiança
— Obrigada — respondo educadamente e sem emoção
alguma na voz.
Ele acena com a cabeça, um gesto quase mecânico, e faz
um sinal para que eu me sente.
Acomodo-me em uma cadeira que parece mais uma peça de
exposição do que um móvel para ser usado.
A sala permanece em um silêncio desconfortável, todos os
olhares focados em mim, e Antonella quebra o silêncio, sua voz
suave carrega uma certa autoridade.
— Você é muito parecida com sua mãe — ela diz, e não
consigo discernir se é um elogio ou uma crítica.
Mas abro um sorriso comedido para ela, aceitando a
observação como um elogio, independentemente de suas intenções.
Minhas meias-irmãs começam a cochichar entre si, lançando
olhares curiosos na minha direção.
Por um momento, sinto-me como uma intrusa, invadindo um
espaço que não me pertence. É uma sensação desconfortável,
sendo o centro das atenções de um grupo de pessoas que
compartilham um laço de sangue comigo, mas que são
essencialmente estranhos para mim.
Uma garota de cabelos curtos se aproxima, sua curiosidade
parecendo superar qualquer reserva que ela possa ter.
— Você vai ficar por quanto tempo? — ela pergunta, seu tom
é quase acusatório, como se temesse que eu estivesse lá para
roubar algo dela.
— Eu... — começo a explicar que estou apenas de visita, e
antes que possa responder, Alexander se levanta, sua postura
rigidamente controlada.
— Isso é algo que ainda vamos discutir — ele diz, lançando
um olhar que parece conter um aviso.
A garota ruiva de bochechas rosadas caçoa provocativa:
— Parece que alguém está com medo de dividir o carinho do
papai.
— Cala a boca, sua gorda intrometida.
— Quietas! — Antonella ergue a voz, antes que a discussão
possa ganhar maiores proporções, lançando um olhar repreensivo
para as duas que agora pareciam crianças sendo repreendidas. -
Vamos jantar antes que vocês deixem a convidada do pai de vocês
desconfortável — ela completa, referindo-se a mim de uma maneira
que só confirmava minhas suspeitas sobre sua percepção de mim:
uma estranha em sua casa.
Todos começam a se levantar e eu faço o mesmo. Caminho
ao lado de Alexander em direção à sala de jantar, observando como
as luzes suaves destacam a mesa bem-posta à nossa espera.
Alexander, sem dizer nada, me indica uma cadeira ao seu
lado na cabeceira da mesa. Assinto, e sento-me.
Diante de mim, Antonella toma seu lugar, emanando um ar
autoritário que parece reforçar sua posição de comando naquele
lugar.
Rapidamente, são servidas travessas de risoto de trufas
negras, um prato sofisticado que preenche o ambiente com um
aroma suave e terroso.
Antonella, com uma sutil indicação, pede que suas filhas se
apresentem a mim. Elas parecem um pouco relutantes, mas
obedecem.
Primeiro, a garota de olhos expressivos e cabelos
acobertados se levanta. Seu sorriso é radiante, e tenho certeza de
que dentre todas é a mais desinibida.
— Oi, Alyssa, sou a Martina. Espero que possamos nos dar
bem. — As palavras são gentis, mas seus olhos não conseguem
esconder a desconfiança.
Chiara, ao lado de Martina, levanta-se a contragosto. Sua
expressão ainda continua azeda, como quando falou comigo
instantes antes.
— Chiara — ela diz curtamente, sem oferecer nenhum desejo
de boas-vindas. Parece ser uma típica atitude dela, já que não
surpreende ninguém à mesa.
Uma mulher de cabelos pretos compridos segue, com um
meio sorriso.
— Sou Helena, a irmã do meio. Espero que tenha um tempo
agradável enquanto estiver em nossa casa. — Ela tenta ser
diplomática, mas eu posso ver que sua paciência está sendo
testada.
Giorgia é a próxima a se apresentar, sorrindo genuinamente.
— Oi, Alyssa. Sou Giorgia, a irmã mais nova e a única gente
boa dessa cambada de insuportáveis. — Ela fala provocando as
irmãs, que imediatamente fazem um coro em uníssono: “cala a
boca, Giorgia!”.
Ela rola os olhos nas órbitas, e eu não consigo conter o
sorriso que se forma naturalmente em meus lábios. De fato, ela
parecia ser a mais gentil do grupo.
O riso se dissipou nos meus lábios, e um silêncio
ensurdecedor se fez logo em seguida.
Antonella se pronuncia chamando a atenção da garota
estonteantemente linda no fim da mesa:
— Não vai se apresentar, Isabella?
Direciono meu olhar para ela, e a observo por um momento.
Seus cabelos caem como um manto negro de seda, e sua pele
parece mais perfeita do que qualquer coisa que eu já tenha visto.
Seus traços finos e expressão altiva deixam claro que ela se
considera superior a qualquer pessoa naquela sala de jantar, o que
me faz criar uma antipatia quase involuntária por ela.
Com um sorriso que beira a arrogância, Isabella finalmente
se levanta, mantendo os olhos fixos em mim por um momento antes
de começar a falar.
— Sou Isabella, a mais velha e, como você já deve ter
ouvido, Miss Itália. Espero que saiba o seu lugar na hierarquia
familiar. — Suas palavras são carregadas de condescendência, e
sua voz é suave como veludo, mas também cortante como vidro.
O silêncio que se segue é constrangedor, e todos os olhares
se voltam para mim, esperando minha reação a essa introdução. No
entanto, Alexander parece me salvar, pigarreando e dizendo:
— Fico feliz em ver vocês se conhecendo assim. Tenho
certeza de que se darão muito bem.
Chiara cochicha baixinho ao lado de Isabella, mas o
suficientemente alto para eu escutar do meu lugar:
— Até outro dia ele nem lembrava da existência dessa aí.
— Concentre-se no seu próprio prato, Chiara. — Alexander
chama sua atenção de uma maneira fria, e ela se retrai.
Tão logo todos na mesa começam a comer em silêncio, a
tensão pairando no ar.
Enquanto corto uma porção do risoto de trufas negras,
continuo a observar as pessoas à mesa. É evidente que minha
família por parte de pai tem suas complicações e rivalidades, mas
tento não pensar muito nisto, afinal, não tenho o menor interesse em
me enturmar com essa gente.

No banco de trás do carro, lado a lado com Alexander, seu


motorista conduz o veículo com destino ao endereço do
apartamento em que vivo.
Após o jantar na mansão, Alexander insistiu em me levar em
casa, mesmo depois de eu dizer que não era preciso, já que estou
acostumada a andar de táxi.
O motorista finalmente para o carro em frente ao meu prédio,
e Alexander me olha com uma expressão que sugere uma conversa
importante prestes a acontecer.
— Alyssa, acho que esta noite foi um passo importante para
nós. Talvez finalmente estejamos nos aproximando — ele começa, e
suas palavras são cuidadosamente escolhidas. — Acho que seria
benéfico para todos se você considerasse morar na nossa casa.
Poderia se aproximar mais das suas irmãs e construir uma relação
mais sólida com elas.
— Acho que o senhor entendeu errado. Eu aceitei o convite
para o jantar porque minha mãe pediu — respondo, tentando evitar
qualquer mal-entendido. — Foi um gesto para mostrar que estou
disposta a tentar construir algum tipo de relação. Mas um jantar não
muda uma vida inteira. Tenho minha própria vida, meu próprio
espaço, minhas próprias coisas. Não seria apropriado eu morar na
sua mansão com sua mulher e filhas que, aliás, até ontem, eram
completamente estranhas para mim.
Alexander abaixa o olhar por um momento, processando
minhas palavras. Seu rosto impassível não revela muita emoção,
mas acredito que ele compreende o que estou tentando transmitir.
— Eu entendo, Alyssa. Eu só queria que soubesse que estou
disposto a tentar — ele faz uma pausa e depois completa: — Agora
vou te deixar entrar. Boa noite.
— Boa noite, e obrigada pela carona.
Eu me despeço educadamente de Alexander e saio do
veículo. Assim que ponho os pés na calçada, algo me deixa
perplexa.
Móveis claramente do meu apartamento estão largados ali.
Fico parada por um momento, observando os móveis na
calçada, e em seguida instintivamente olho para cima. Por que raios
eles estão aqui? Quem os trouxe pra cá?
O porteiro apareceu, varrendo a calçada, e não contive minha
indignação.
— Por favor, você poderia me explicar por que os móveis do
meu apartamento estão todos aqui na calçada?
O homem parecia desconfortável e respondeu:
— Ah, senhorita Alyssa, o proprietário pediu para que
esvaziássemos o seu apartamento hoje. Disse que os novos
inquilinos vão se mudar amanhã cedo.
Bufei de frustração e explodi:
— Isso é um absurdo! Ninguém me comunicou sobre isso.
Eles não podem simplesmente fazer isso sem aviso prévio!
— Sinto muito, senhorita, estou apenas cumprindo ordens.
Respirei fundo, tentando manter a calma enquanto decidia
tomar medidas contra essa palhaçada.
— Eu entendo que não é culpa sua, desculpa. Amanhã
mesmo vou entrar com um processo contra esse filha da puta.
Segurei as lágrimas de ódio, pois a situação era tão
humilhante e absurda que parecia que eu estava em um daqueles
pesadelos sem pé e nem cabeça.
A porta se abre abruptamente atrás de mim, e Alexander sai
do veículo, questionando com preocupação:
— Está tudo bem?
Eu estava tão imersa em meus pensamentos e na
perplexidade da situação dos móveis abandonados na calçada que
não percebi que o carro de Alexander ainda estava estacionado ali.
Minhas bochechas queimam de constrangimento. Não queria
que ele ouvisse minha conversa com o porteiro.
— Sim, está tudo bem. Apenas uma situação inesperada.
Mas ele não parece convencido e insiste:
— Ouvi a conversa, Alyssa. Parece que você está sem ter
para onde ir. Só quero que saiba que meu convite ainda está de pé.
Sinto um nó se formando em minha garganta. Aceitar ajuda
era difícil para mim, especialmente vinda dele. Respiro fundo e tento
explicar:
— Eu sei que você quer ajudar, e eu agradeço por isso, mas
é melhor eu ir para um hotel esta noite, e amanhã mesmo, vejo um
novo lugar para mim.
Alexander não desiste e continua insistindo:
— Alyssa, não há nada de mal em aceitar ajuda quando se
precisa. Você é minha filha, e quero garantir que esteja bem e
segura. — Ele olha em volta e completa: -Venha comigo e pedirei
para que um dos meus funcionários transfira esses seus móveis
para um galpão seguro.
Fico dividida, meu instinto de independência lutando com a
oferta daquele senhor que, do nada, resolveu bancar o pai protetor.
Sei que essa decisão pode mudar muitas coisas em minha vida, e é
difícil aceitar que talvez, hoje, eu precise mesmo de ajuda.
CAPÍTULO 26

Deitada em um dos quartos da mansão, mal posso acreditar


que estou aqui, pronta para dormir em uma cama que parece caber
facilmente mais duas pessoas confortavelmente.
Enquanto me aconchego sob as cobertas macias, meus
pensamentos retornam à minha infância e adolescência, quando eu
costumava imaginar como seria a casa do meu pai e como minhas
meias-irmãs viviam aqui.
Naquela época, eu sentia a falta dele de maneira diferente,
uma sensação de inferioridade que me corroía. No entanto, agora
as coisas mudaram.
Tornei-me uma adulta, e esses sentimentos de inferioridade
naturalmente perderam o lugar em minha vida.
Respiro fundo e me aconchego ainda mais na cama,
pegando meu celular para checar as mensagens. Vejo uma
mensagem de Leonel, e automaticamente sorrio ao ler nossas
conversas repletas de provocações e insinuações.
“Está onde?”
Com um sorriso no rosto, respondo:
“Na cama e nos seus pensamentos. E você?”
Não espero que Leonel me responda logo, mas ele o faz.
“Estou louco para voltar e encontrar você. Tenho
algumas ideias em mente.”
A provocação de Leonel faz um arrepio percorrer minha
espinha, e um sorriso se forma em meus lábios.
“Ideias? Você me deixou curiosa. O que está
planejando?”
“Por ora, é segredo. Mas posso garantir que será
gostoso se você aparecer em minha sala sem calcinha.”
Sinto uma sensação de antecipação crescer dentro de mim, e
decido provocá-lo um pouco mais.
“Quer que vá atrás de você e implore que me foda como
da última vez? Nada disso. Se quiser se lambuzar, você vai ter
que vir até mim e implorar, tigrão.”
“Você sabe adoro um desafio, não é? E você é a pessoa
mais desafiadora que já conheci. Sinto falta do seu sorriso.”
A troca de mensagens continua por um tempo, deixando
minha imaginação correr solta com as promessas e insinuações de
Leonel. O quarto ao meu redor pode ser lindo, mas o que me faz
sorrir agora é a expectativa de revê-lo em breve, quando ele voltar
de sua viagem à Sicília.
Em dado momento, resolvo compartilhar com Leonel que
estou na casa de Alexander, aproveitando para comentar também
sobre o absurdo com o proprietário do meu apartamento. Ou antigo
apartamento. Enquanto digito a mensagem, sou surpreendida com o
ranger da porta em minha frente, e a garota de cabelos alaranjados
aparece no quarto com um olhar risonho.
— Giorgia? — pergunto, confusa, abaixando o celular.
— Alyssa… venha comigo.
Sua voz sussurrante tinha um tom misterioso, e, sem
questionar, eu a segui, deslizando para fora da cama.
No corredor, Giorgia caminhava em passos furtivos, e eu a
acompanhava, sem entender o motivo de toda essa cautela.
O que diabos estava acontecendo? Por que estávamos
agindo como se estivéssemos em uma missão secreta?
Continuamos caminhando em passos furtivos até chegarmos
ao fim de um dos corredores da casa. Giorgia então se aproximou
de uma área aparentemente vazia no teto e puxou uma escada para
baixo. Meus olhos se arregalaram de surpresa. Eu não fazia ideia de
que essa escada estivesse ali.
Ela começou a subir, sem explicação alguma. Eu hesitei por
um momento, mas algo dentro de mim me impeliu a segui-la.
Subindo a escada, minha mente estava a mil. Eu não fazia
ideia do que esperar ou porque estávamos indo até o sótão a essa
hora da noite. Quando alcancei o último degrau e finalmente
coloquei os pés no sótão, meus olhos se arregalaram com surpresa.
As outras garotas, minhas meias-irmãs, estavam todas
reunidas lá, vestidas em seus pijamas de seda e algumas delas com
rostos cheios de expectativa. O que diabos estava acontecendo?
Olhei para Giorgia, em busca de respostas, e ela apenas
sorriu abrindo os braços e dizendo:
— Noite de meninas!
Martina, a mais desinibida do grupo, se aproxima e diz:
— Finalmente nossa convidada especial de hoje chegou!
Chiara, com seu azedume habitual, murmura ao fundo:
— Pensei que tinha dito que não ia ficar.
Giorgia intervém rapidamente:
— Deixe de ser antipática, Chiara. O papai já explicou que
houve um imprevisto e ela precisou ficar.
Giorgia se vira para mim e me puxa pela mão:
— Não liga não, Alyssa. Venha! Vamos comer antes que a
pizza esfrie. Nós compramos refrigerante também e algumas
surpresas doces para a sobremesa.
Enquanto Giorgia me puxa pela mão, lanço um olhar ao
redor, absorvendo cada detalhe do sótão, apelidado de "Santuário
das Bitchs" por um cartaz ao fundo. O ambiente é repleto de cores
vibrantes e decorações excêntricas, onde cada elemento parece
exalar a essência única de cada uma das mulheres presentes.
Almofadas são dispostas de forma despojada no chão, um tapete
felpudo ocupa o centro e luzinhas de fada criam uma atmosfera
mágica. As paredes exibem uma mistura eclética de pôsteres de
bandas de rock e ídolos da música, intercalados com fotos que
eternizam momentos especiais compartilhados por elas. Prateleiras
exibem orgulhosamente troféus de competições esportivas e
prêmios de concursos de beleza. Em um canto, um espelho de
corpo inteiro está cercado por uma profusão de roupas e acessórios,
transformando-se em seu próprio camarim particular. O lugar é
impregnado de uma energia feminina contagiante, e, bem, confesso
que me sinto atraída por esse peculiar ambiente, intitulado o
"Santuário das Bitchs".
Sento-me em uma das almofadas no centro, ao lado de
Giorgia, enquanto as outras garotas fazem o mesmo ao redor da
caixa de pizza. Giorgia pega um pedaço e me entrega, e as outras
começam a pegar seus próprios pedaços com certa impaciência e
ansiedade. Enquanto saboreamos as fatias, Martina quebra o
silêncio:
— Você não imagina como é difícil conseguir um momento
assim. Mamãe é super rigorosa com nossa alimentação. Ela
acredita que comida saudável é a chave para uma pele perfeita.
Helena concorda:
— Sim, ela nos obriga a seguir uma dieta rigorosa. Nada de
fast food, refrigerante ou doces.
Giorgia solta um suspiro dramático:
— Eu já estava enlouquecendo. Às vezes, a gente só precisa
de um pouco de junk food na vida, sabe?
Isabella, a única que não comia ali, cruza os braços e olha
com desdém:
— Vocês deveriam ser mais disciplinadas. Eu sempre sigo a
dieta à risca. Vejam como minha pele é impecável.
Chiara lança um olhar de reprovação a Isabella:
— Poupe-nos, Isabella. Sua pele é impecável porque você
gasta metade do dia no banheiro cuidando dela.
Giorgia provoca Isabella com um sorriso no rosto:
— Acho que Isabella sempre foi tão obcecada com sua
aparência porque ela acredita que Leonel quer uma mulher que só
liga para o próprio corpo. Mas sabe, às vezes as pessoas não são o
que parecem, não é mesmo? Você pode acabar se decepcionando
se ele não for quem você imagina.
Isabella solta uma risadinha sarcástica e dispara:
— Você está se iludindo se acha que comendo como uma
vaca vai conquistar qualquer homem, irmãzinha. Nenhum homem
gosta de mulheres desleixadas, muito menos alguém como Leonel.
Minha mordida na pizza para no meio do caminho, e meu
interesse pela conversa cresce. Será que elas estão falando do
mesmo Leonel que eu conheço?
Chiara, sarcástica como sempre, rebate Isabella:
— Você fala como se já fosse a própria esposa do Don
Leonel, não é, querida?
Ótimo. Se eu tinha alguma dúvida, ela desapareceu neste
momento.
Isabella não se faz de rogada e retruca:
— E você acha que tem chances, Chiara? Ou melhor, alguma
de vocês acha que tem chance comendo assim igual umas porcas?
Helena se levanta com um ar de confiança e mostra seu
traseiro para Isabella:
— Claro, olha o tamanho da minha bunda! Coisa que você
não tem.
Todas sorriem em uníssono, mas Isabella não se deixa abalar
e rebate:
— Mas não um pingo de peito. Do que adianta?
Helena, com uma expressão de superioridade, continua:
— Ah, mas isso se resolverá no próximo ano, querida. O
papai prometeu pagar para mim.
— Mesmo assim, eles serão falsos, assim como essa sua
boca de sapo.
As palavras afiadas de Isabella foram como uma faísca em
um barril de pólvora, causando uma confusão generalizada. Todas
começaram a se xingar e acusar umas às outras, criando um
tumulto caótico. Os insultos voavam pelo ar, e parecia que a noite
de meninas estava prestes a se transformar em uma batalha verbal
sem fim.
Foi nesse momento que Giorgia, visivelmente irritada com a
briga, decidiu intervir e pôr fim àquela bagunça. Ela falou alto o
suficiente para que todas pudessem ouvir:
— Dá para fecharem a boca? Não vale a pena ficar
discutindo por causa disso. Além disso, não ligo para o que a
Isabella diz, até porque está na cara que ela não sabe chupar um
pau.
O comentário de Giorgia deixou todas chocadas. Elas
pararam imediatamente de brigar e olharam para Giorgia com os
olhos arregalados e expressões de escândalo. Parecia que ninguém
esperava que Giorgia fosse tão direta.
Giorgia, percebendo que falou demais, começou a sorrir
nervosamente e acrescentou com a voz mais baixa:
— Não que eu já tenha feito isso.
Helena, preocupada com a irmã mais nova, se aproximou de
Giorgia e disse em tom preocupado:
— Irmã, você é tão nova.
Martina, parecendo sempre pronta para entrar na discussão,
não perdeu a oportunidade e dirigiu-se a Helena:
— Ah, para de hipocrisia, Helena. Vai dizer que com vinte
anos você só tinha chupado pirulito?
Helena respondeu com convicção:
— Claro que sim, Martina. Olha o exemplo que você dá para
sua irmã mais nova.
Martina, em tom de brincadeira, provocou novamente:
— Se duvidar, a única virgem daqui é a Chiara, por isso que
ela vive de mal-humor.
Chiara resmungou, claramente incomodada com a conversa:
— Vocês gostam de encher minha paciência, não é? Santa
paciência! E se eu estiver me guardando para o Leonel? Qual o
problema nisto?
— Ah, para Chiara! Você está blefando — Giorgia sorriu com
malícia e completou a fala: — Agora, falando sério, só o papai
acredita que somos virgens. Eu fico imaginando quando o Leonel se
casar com uma de nós e descobrir a verdade... bem, isso vai ser um
choque para ele, não acham?
— Ele não liga — solto mordiscando mais um pedaço da
pizza em minha mão, e só quando levanto o olhar me dou conta da
besteira que fiz. Todas estão me olhando com uma expressão
curiosa no rosto.
— Como você sabe? — Helena pergunta.
Devolvo o restante da pizza para a caixa e limpo o canto da
boca, batendo as mãos e elaborando uma resposta em minha
cabeça.
— É que conheço os homens de hoje em dia. Eles não ligam
se você é virgem ou não. E esse tal Leonel tem quantos anos? Mais
de trinta? Com essa idade ele também não deve ser um santo —
falo despistando e os olhares dela fogem para os lados, me fazendo
respirar aliviado.
Ufa! Essa foi por pouco.
Imagina se elas descobrem que eu já estive com Leonel? Do
jeito que Leonel é claramente o ponto de discórdia entre elas, eu
passaria de convidada especial a inimiga mortal em poucos
segundos. Por isso decidi me fingir que não o conhecia.
Isabella pega o fio da conversa novamente:
— Bem, seja lá quem ele escolher, boa sorte, meninas. Este
momento está mais perto do que nunca. Soube que papai já
conversou com Leonel pessoalmente, e nosso evento acontecerá
nas próximas semanas.
A notícia faz com que todas as minhas meias-irmãs se
animem ainda mais, e Martina comenta batendo palminhas:
— Ah, estou tão ansiosa. Principalmente porque o Giovanni
irá organizar tudo. Sempre quis estar em um evento organizado por
esse homem.
A conversa então gira em torno dos detalhes do evento e da
expectativa de como serão suas interações com Leonel nas
próximas semanas. Eu, por minha vez, me mantenho observadora,
guardando bem meu segredo e ficando um pouco ansiosa com toda
aquela devoção por Leonel.
Eu me viro para Giorgia e pergunto baixinho:
— Giorgia, onde é que tem um banheiro mais próximo daqui?
Ela sorri e responde:
— É aqui perto, eu vou acompanhar você.
Nós nos levantamos e, enquanto me viro para seguir Giorgia,
algo me chama a atenção. A parede que leva à escada por onde
subimos é completamente preenchida com fotos de Leonel. Fotos
que iam desde sua adolescência até os dias de hoje, formando um
mosaico impressionante.
Fico paralisada, um pouco chocada com a obsessão das
minhas meias-irmãs pela figura de Leonel. Giorgia parece perceber
minha reação e coça o topo da cabeça envergonhada.
Ela então explica como se estivesse lendo meus
pensamentos:
— É que desde muito novas nós sonhamos em casar com
Leonel. Ele é como um príncipe encantado para todas nós. Pode
parecer estranho, mas é uma fantasia que temos desde crianças.
Eu assinto, tentando disfarçar minhas reações e continuo
caminhando até à escada no chão do sótão.
Santo Deus! Então ele era mesmo tão disputado? Eu preciso
encontrar amanhã mesmo um lugar para eu ficar. Não quero nem
imaginar a confusão que seria se elas soubessem do meu caso com
Leonel. Será que ele sabe que minhas irmãs são tão loucas assim
por ele?
De qualquer forma, não sou eu quem contarei. Vai que ele
fica se achando. Homens tem a autoestima tão elevadas que não é
nem preciso alguém ficar dizendo coisas como essas para inflar o
ego deles. Já são uns idiotas por natureza, e com Leonel não seria
diferente.
Ao retornarmos ao sótão, percebo que esqueci meu celular
ao lado da almofada. Disfarçadamente, vou até ele e o pego de
volta, lendo as mensagens de Leonel aparecerem na barra de
notificação.
“Por que está demorando a responder?”
Havia também uma chamada perdida há 1 minuto, o que me
faz olhar para os lados, desconfiada.
Todas parecem tão distraídas que dificilmente teriam notado
meu celular tocar.
Exceto por um par de olhos.
Isabella está me encarando do fundo do sótão, com um olhar
penetrante. Será que ela percebeu que deixei meu celular ali? Não
consigo evitar uma sensação de desconforto, mas rapidamente
desvio o olhar e me viro para Giorgia, alegando que estou cansada
e preciso dormir, já que amanhã tenho que acordar cedo para ir ao
trabalho.
No entanto, antes de me despedir e sair, Isabella decide
perguntar:
— Você ainda não nos contou muito sobre você, Alyssa. Em
que trabalha?
— Sou advogada — respondo sucintamente.
Martina, sempre pronta para um comentário, brinca:
— Uau! Já sei a quem chamar quando precisar.
Levanto-me antes que Isabella possa me fazer mais uma
pergunta e digo:
— Com licença, meninas. Vou indo agora. Obrigada pela
recepção e pela pizza, estava realmente deliciosa.
Ao sair do sótão e voltar para o quarto de hóspedes, fecho a
porta atrás de mim.
Quando sinto que estou sozinha novamente, pego meu
celular, ansiosa para responder Leonel.
“Você me ligou?”
“Por que demorou a responder?”
“Eu estou na casa de Alexander, já disse. Estou indo
dormir agora, beijo e boa noite.”
“Mas já? Vai me deixar aqui sozinho? :( “
“Sim, pois tenho que levantar cedo amanhã e ir para a
Imperium. Se eu chegar atrasada é capaz do chefe do meu
chefe me demitir antes que eu complete um mês de serviço.”
“Não seja por isso. Eu demito o chefe do seu chefe e está
tudo certo.”
“Nem pense em fazer isso, Leonel. Beijo, e tchau!”
“Tudo bem, baby. Beijo na boca e sonhe comigo.”
Reviro os olhos com sua última mensagem, mas não posso
evitar o sorrisinho bobo que escapa. Meu subconsciente, no
entanto, me adverte. “O que é isso, Alyssa? Cadê a sua pose de
bandida má? Isso é só safadeza, nada de nhén nhén.”
Apesar da troca de mensagens com Leonel, ainda estou
confusa e preocupada depois de ouvir a conversa das minhas
meias-irmãs. Essa obsessão delas por Leonel não me agrada nem
um pouco, pois na verdade nunca me interessei por homens muito
disputados, e sei que isso no futuro pode se tornar um grande
problema.
Bocejo, ébria de sono e murmuro comigo mesma:
— Não seja tão chata. Apenas viva presente e vá dormir.
Amanhã será um novo dia.
CAPÍTULO 27
A manhã está fresca enquanto saio da mansão, preparada
para chamar um táxi e encarar o trânsito matinal até a Imperium.
Ao atravessar o jardim, no entanto, algo chama minha
atenção: vozes sussurradas e uma conversa pela metade vindas de
trás do arbusto me faz diminuir os passos.
— Fique atenta, Isabella. A filha dela não pode simplesmente
tomar o lugar de vocês — a voz de Antonella soa preocupada. —
Não quando eu estiver no controle desta casa.
Paro por um momento, escondida pelas folhas do arbusto,
sem intenção de ser intrusiva, mas incapaz de evitar ouvir suas
palavras e imaginar estão falando de mim.
Decido seguir meu caminho, passando pelo arbusto e
surgindo à vista delas. As duas erguem as sobrancelhas ao me
verem ali, e eu as encaro com um sorriso.
— Bom dia! — cumprimento, seguindo em direção à porta de
saída sem esperar por explicações.
Não estou chateada. Tampouco afetada com as palavras de
Antonella, pois nunca esperei nada de bom desta mulher. E também
era de se esperar que eu fosse vista como alguém que
representasse uma ameaça para ela e as filhas, então
simplesmente não fiz muito caso disso, afinal, meu tempo aqui não
duraria muito, pois eu estou determinada a sair desta casa o mais
rápido possível.
Ao chegar à Imperium, encaro um dia agitado de trabalho.
Durante o horário do almoço, pego o telefone e ligo para minha
mãe, compartilhando a situação do apartamento. Como sempre,
nossos pensamentos estão em sintonia, e ela me oferece o
conselho que eu já estava ponderando. Ela sugere que eu dê uma
chance ao meu pai, mas também concorda que encontrar outro
apartamento o mais rápido possível é a melhor opção. Morar com
Alexander e suas filhas poderia criar problemas desnecessários.
— Minha nossa, Gemma! O que aconteceu com você?
Parece até mais… bonita — uma colega de outro setor elogia a
mulher ao meu lado que cora de vergonha.
— Obrigada.
A colega se afasta, e eu não consigo evitar expressar meu
orgulho:
— Você realmente está muito linda hoje.
— E isso é tudo graças a você.
Dou um leve piscar de olhos para ela e continuamos nossa
conversa enquanto almoçamos no refeitório da Imperium.
Ao terminamos e nos levantarmos da mesa após o almoço,
Giusepe, o cara do setor financeiro apareceu de repente,
interrompendo nossa volta para sala.
— Gemma, você tem um minuto? Preciso falar com você —
ele perguntou, olhando para Gemma com um ar interessado.
Gemma e eu trocamos olhares, e eu lhe lancei um olhar de
quem diz "vai lá, garota!". Ela assentiu envergonhada e seguiu o
colega em direção a uma área mais reservada, deixando-me
sozinha no refeitório.
Olho para os lados e resolvo voltar para o setor jurídico,
então começo a caminhar pelos corredores da empresa, passando
pela recepção com o pensamento concentrado em minha própria
vida, até que as portas duplas de vidro se abriram abruptamente, e
meu coração deu um salto.
Leonel.
Ele entra na recepção com uma expressão séria, seus
cabelos dourados levemente ondulados reluzindo à luz, adicionando
um toque de charme ao seu ar endurecido. Sua postura impecável e
o terno perfeitamente cortado realçam ainda mais sua presença
magnética, e seus olhos penetrantes analisam tudo à sua volta com
intensidade, enquanto ele avança com confiança.
Antes que nossos olhares se encontrassem, uma mulher se
levantou de uma das cadeiras da recepção e começou a caminhar
em direção a ele.
Levei alguns segundos para perceber que essa mulher era
Isabella, o que me levou a olhar nervosamente para os lados e
rapidamente me esconder atrás do vaso de plantas mais perto,
mantendo-me o mais discreta possível.
Permaneço escondida, observando-a se aproximar de Leonel
enquanto uma pergunta ecoa em minha mente: o que ela estaria
fazendo aqui?
Ouço atentamente à conversa deles, tentando decifrar o que
está acontecendo.
Ela se aproxima de Leonel e diz:
— Leonel?
Ele franze o cenho, enfiando as mãos nos bolsos, seu rosto
revelando indiferença.
— Nos conhecemos? — ele responde, então ela se
apresenta:
— Não, não pessoalmente. Sou Isabella. Filha de Alexander.
Acho que também já deve ter me visto nas colunas sociais.
— Eu não costumo consumir esse tipo de conteúdo. Mas
lembro do seu rosto nas fichas de Paolo, e obviamente, conheço
bem Alexander. O que te traz aqui?
Em uma pausa dramática, ela joga os cabelos para trás com
confiança, fixando o olhar nos olhos dele.
— Eu decidi que já era hora de nos conhecermos.
Enquanto observo atentamente essa conversa, uma voz
estridente chama meu nome por trás de mim: — Alyssa? O que faz
fora do setor? — Olho por cima do ombro e me deparo com os
óculos fundo de garrafa do Sr. Anderson. Que momento mais
inoportuno para esse senhor me abordar.
Respiro fundo e respondo:
— Sr. Anderson, creio que eu não seja a única advogada
naquele setor. Então, por que o senhor está reclamando comigo?
— Como ousa falar assim com o seu chefe? Está por acaso
me dando ordens? — Ele quase grita, chamando a atenção das
pessoas ao redor, incluindo Leonel e Isabella.
Aperto os olhos, sentindo o olhar de Leonel se voltar para nós
dois.
— O quê? Onde foi parar toda a sua ousadia, hein? — meu
chefe continua esbravejando em minha frente, até que, de repente,
percebe que Leonel está observando a cena de alguns metros de
distância.
Em um instante, o Sr. Anderson diminui o tom e me diz:
— Pensando melhor, acho que eu mesmo vou voltar para o
setor, srta. Bankers. Desfrute do seu tempo livre com calma, minha
querida. — Ele assente respeitosamente para mim e se afasta
rapidamente.
Fico sozinha, encarando o chão, reunindo coragem para
erguer os olhos. Quando finalmente o faço, observo Leonel virar o
rosto para Isabella e falar friamente:
— Se quiser conversar, marque uma reunião com meu
secretário. Estou sem tempo agora.
Leonel sai da frente dela e caminha em minha direção,
cumprimentando-me com um aceno comedido de cabeça antes de
passar por mim, deixando-me ali parada com os olhos de Isabella
voltados para mim.
Aos poucos, Isabella parece recuperar-se da frieza de Leonel
e se aproxima de mim, parando em minha frente.
Isabella pergunta, com aquela voz sedosa de atriz de cinema:
— Então, você trabalha aqui?
— Sim, no setor jurídico. Fui contratada recentemente.
— Por que não contou que o conhecia enquanto falávamos
dele ontem à noite?
— Quem? O CEO? O Leonel? — aponto para trás, tentando
disfarçar.
— E quem mais seria? — Ela não dá trégua.
— Como eu iria saber? Há tantos homens por aí com o
mesmo nome.
Isabella não se contenta com minha resposta evasiva e me
lança um olhar firme.
— Escuta aqui, não se faça de sonsa. ela diz, e uma raiva
começa a surgir em mim, e decido não deixar por menos:
— Escuta aqui você! Quem você pensa que é para falar
assim comigo? Ainda mais em meu local de trabalho.
Ela me olha, visivelmente surpresa com minha reação.
Parece não ter esperado que eu revidasse. Mas pensou errado.
Então continuo:
— Se não tiver nada de bom para falar, passar bem.
Eu me viro e a deixo bufando na recepção.
Enquanto volto para o setor jurídico, não posso evitar uma
sensação desconfortável que se instala em meu peito. É um misto
de alívio, raiva e... ciúmes? Não, eu não deveria sentir ciúmes de
Isabella se aproximando de Leonel. Afinal, o que eu tenho a ver com
isso? Nada. Não tenho nenhum direito sobre ele, nem mesmo o
direito de me importar. O que temos é apenas safadeza, como eu
havia prometido a mim mesma.
No entanto, à medida que mergulho de volta em meu
trabalho, não consigo evitar que minha mente divague. Lembro-me
de como Isabella olhava para ele com aqueles olhos brilhantes e o
sorriso perfeito. É evidente que ela fará de tudo para conquistá-lo.
Continuo a trabalhar, me esforçando para empurrar meus
pensamentos sobre Isabella e Leonel para o fundo da minha mente.
Mas também não posso deixar de notar que a maneira como Leonel
tratou Isabella foi surpreendentemente diferente. Ele não deu a ela a
atenção ou o interesse que normalmente demonstra com outras
pessoas. Lembro-me de como ele costuma ser caloroso, charmoso
e envolvente quando conversa comigo, mas com Isabella, foi
completamente diferente.
E, para ser sincera, confesso que gostei. Não porque Leonel
a tratou com indiferença, mas porque isso me fez perceber que ele
não age assim com todas.
Ultimamente, desde que descobri a traição de Salvatore,
digamos que a fidelidade se tornou um dos meus maiores fetiches.
Sei que Leo e eu não temos um relacionamento sério e que aquela
história de casamento forçado ficou naquela ilha, mas essa atitude
aumentou minha libido em níveis estratosféricos.

Depois do expediente, decido ficar até mais tarde no trabalho


para pesquisar alguns apartamentos disponíveis para alugar. Todos
já haviam saído do departamento, e eu estava sozinha diante do
computador da empresa. A tela brilhava na penumbra do escritório
vazio enquanto eu digitava "apartamentos para alugar" na barra de
pesquisa.
Começo a navegar pelos resultados, examinando fotos e
descrições. Encontro alguns anúncios promissores e começo a fazer
anotações em um caderno ao meu lado. Imprimo detalhes sobre
localização, preço, comodidades e contato do corretor.
O tempo passa rapidamente enquanto me perco na pesquisa,
e as luzes do escritório são as únicas a iluminar o espaço.
Finalmente, eu tinha uma lista de apartamentos para visitar e, com
um suspiro de satisfação, desligo o computador.
De repente, meu celular apita, interrompendo meus
pensamentos antes que eu possa organizar minha bolsa para ir
embora.
"O que está fazendo sozinha há uma hora dessas aqui?"
É ele. Don Leonel.
Olho ao redor do escritório, me certificando de que estou
sozinha, e recebo outra mensagem dele:
"Eu não estou aí, se é o que está pensando. Estou na
sala da presidência. Obs: Sozinho."
Olho para a câmera de segurança no canto da sala do
departamento de advogados e deixo escapar meio sorriso travesso
ao reler a observação “sozinho”. Em seguida, começo a digitar uma
mensagem para ele.
"Se você está tentando dizer que quer minha companhia,
saiba que terá que se dar ao trabalho de vir até aqui."

“Alyssa, você sabe que adoro suas brincadeiras, mas


tenho muito trabalho por aqui. Não posso simplesmente
aparecer aí.”
Mentiroso.
“Que pena então, Don Leonel. Justamente no dia que eu
queria lhe mostrar minha linda lingerie preta com lacinho no
traseiro.”
Mordisco o canto do lábio, sentindo o calor se apoderar do
meu corpo, e espero pela sua mensagem.
“Por que não facilita as coisas, amore mio? Adoraria
sentir esse seu traseiro lindo contra o meu pau hoje à noite.”

“Você parece esquecer da última vez que o tocou sem


roupas, você me fez implorar.”
“Bem, você sabe, eu estava com ego ferido naquele dia,
pois você me enlouquece e depois age como se eu fosse
nada.”
“E por isso mesmo, dessa vez é você quem vai implorar.”
“Implorar? Sério?”
“Sim, sério. A bola está na sua quadra, Don Leonel. Se
você quiser minha companhia, vai ter que se render e implorar
por ela.”
“Você realmente sabe como me provocar, não é?”
“Agora, a pergunta é: você vai aceitar o desafio? Ou vai
deixar que eu me divirta sozinha aqui?”

Encaro a câmera, imaginando seus olhos perscrutando-me


por trás daquele monitor na sala, de pau duro. O espaço entre
minhas pernas lateja apenas com o pensamento da situação.
"Você tem três minutos, Don Leonel."
Digito por fim, erguendo-me, uma dose de confiança
acendida pela luxúria.
Dirijo meu olhar para a câmera no canto superior da sala e,
com lentidão, deslizo meus quadris de um lado para o outro.
Enquanto me movo, a melodia sedutora de "Wicked Game" de Chris
Isaak ecoa pela sala vazia, preenchendo o espaço com uma aura
sensual. Minhas mãos, de maneira suave e provocante, exploram
cada curva do meu corpo, como se estivessem dançando ao ritmo
da música, enquanto saboreio a sensação de estar conectada com
o homem que me observa através da câmera.
Encaro a lente preta desabotoando os botões da minha blusa
branca e a libero, ficando apenas de sutiã e com uma saia preta,
que não era curta, mas estava prestes a ficar quando me inclinei
sobre a mesa e comecei a rebolar, sentindo metade do meu traseiro
sendo exposto.
Continuo rebolando enquanto desço o zíper ao lado e minha
cai sobre meus saltos.
Viro-me para a câmera ofegante e caminho até ela, parando
bem perto e olhando para cima. Com a boceta encharcada e as
mãos na barra da calcinha de renda, decido fazer a maior loucura
sexual da minha vida.
Deslizo a renda pela minha coxa e o barulho de duas vozes
no corredor faz meu coração dá um salto.
— Merda!
Subo minha calcinha e corro para pegar minhas roupas e
celular de volta.
Num ato de desespero, vou até a porta e a tranco
rapidamente, como se minha vida dependesse disso.
Com a respiração ofegante, pego o celular e leio a última
mensagem que Leonel me enviou há poucos segundos.
“Estou vendo um funcionário caminhando em direção ao
setor jurídico. Pare com isso. Agora.”
“Pare com essa porra agora, Alyssa!”
“Cacete!”

Enquanto recupero lentamente minha respiração, escuto a


conversa do lado de fora da sala:
— Vá para casa. Este horário não é mais apropriado para os
funcionários circularem pelo setor — reconheço a voz rouca de
Leonel.
— Peço desculpas, senhor. Fiquei apenas para finalizar uma
questão com os contratos e vim ao setor jurídico na esperança de
encontrar alguém.
— Pois é. Como pode ver, não há ninguém nesta ala. Eu
mesmo verifiquei pelas câmeras de segurança e nesta noite só resta
apenas nós dois.
— O senhor assiste às câmeras? Nunca imaginei que o
senhor fosse esse tipo de chefe.
Leonel pigarreia e responde:
— Raramente faço isso. Hoje foi uma exceção. Vá para casa
agora, ou eu o demitirei.
— Sim, senhor. Já estou indo. Juro que nunca mais ficarei
após o expediente — a voz masculina diz nervosamente, já distante.
— Ok, rapaz. Apenas suma daqui.
Quando não ouço mais nada, deduzo que Leonel está
sozinho no corredor. Não demora muito para ouvir duas batidas que
parecem ter sido feitas com os nós dos dedos.
— Pode abrir. Sou eu, Leonel.
Hesitante e ainda segurando minhas próprias roupas nas
mãos, percebo que o desejo que antes pulsava se dissipou com o
susto. No entanto, decido apagar as luzes e abrir a porta, me
escondendo no canto.
Quando Leonel entra, ágil, ele me olha na penumbra e me
puxa pela cintura, me jogando contra a superfície lisa da porta e
pressionando meu corpo com o seu, fazendo minhas roupas caírem
no chão.
A porta bate atrás de nós, e ele me olha com um olhar
sedento, como se tivesse esperado o fim de semana inteiro por isso.
— Nunca mais faça isso novamente. Nunca! — ele rosna,
como se tivesse me dando uma bronca.
— Isso o quê?
— Ficar nua no seu local de trabalho.
Mordo o canto do meu lábio, sentindo o fogo em meu corpo
reacender à medida que respondo amaciando a voz.
— Eu pensei que estivesse o seduzindo.
Sua zanga se desmonta em seu rosto sisudo quando ele me
ouve falar baixinho, e me responde com a voz abalada.
— Você só precisa respirar para me seduzir, Alyssa.
Ele pressiona os quadris contra mim, fazendo-me sentir sua
ereção pulsante por baixo da calça social.
— Se você se afastar agora, vou poder me vestir — quase
gaguejo enquanto seus olhos azuis deslizam para minha boca.
— Não quero que se vista — ele diz enfiando uma mão em
meus cabelos e acaricia levemente minha bochecha, levando
arrepios para o resto do meu corpo enquanto ele sussurra com
aquela maldita voz rouca: — Pelo menos não agora. Pois agora, eu
vou te foder, ragazza.
Ele captura meus lábios com aquela boca cujo gosto
mentolado se confunde com um sabor amadeirado. Ele puxa os
cabelos da minha nuca e me beija em longas lambidas, como se
quisesse provar cada comissura da minha boca, e o calor do seu
toque se espalha por todo o meu corpo em correntes elétricas.
Separamos nossas bocas momentaneamente, então
aproveito para trocarmos de posição.
Por um breve momento, nos separamos, e eu aproveito a
oportunidade para mudar nossa posição. Coloquei Leonel com as
costas contra a porta, e ele me olhou com uma expressão confusa
como quem pergunta: “o quê?” Respondi ao seu olhar com malícia,
deslizando minha mão pelo seu peitoral definido sob a camisa social
branca, sentindo cada músculo torneado sob a minha palma.
Minha mão trilha o caminho até a braguilha de sua calça e a
abro, sob os olhares atentos de Leonel, que não parava de olhar
para meus seios também.
— O que vai fazer? — Ele pergunta cobrindo uma taça do
meu sutiã, cabendo perfeitamente na palma de sua mão.
— Um dia você jurou que eu imploraria para você fodesse
minha boca. — Me aproximo do seu ouvido e sussurro vendo os
pelos do seu pescoço se eriçarem: — Só não sabia naquela época
que suas palavras tinham poder, Don Leonel.
Seus olhos escurecem enquanto começo a me abaixar em
sua frente descendo sua calça e a cueca boxer preta. Seu pau
grosso e repleto de veias pula para fora, sua ereção batendo no
umbigo, me fazendo salivar apenas de imaginá-lo dentro de mim
outra vez, rasgando minhas paredes ao mesmo que sua boca
sussurra algumas pirarias em meu ouvido.
Meus joelhos entram em contato com o chão de madeira e
ergo meu olhar para o seu membro duro feito aço, sentindo minha
calcinha encharcada de tesão.
É incrível como esse homem consegue ser lindo em cada
detalhe, até mesmo seu cacete parece ter sido esculpido a mão.
E ele está tão ereto que tenho que puxar sua base para que
meus lábios toquem delicadamente sua cabeça rosada ao passo
que levanto os olhos para assistir sua expressão facial endurecer.
— Isso, baby. — Ele murmura segurando um punhado dos
meus cabelos.
Passo a língua na linha do prepúcio, escutando sua
respiração pesar, então torturo o rodeando com minha língua.
— Caralho, você chupa gostoso, tigresa — ele grunhe e
começo aumentar o ritmo em minha mão, sugando seu pau com
gosto. — Isso, baby, continue assim.
Quando dou mim, estou com minhas pernas levemente
abertas com a bunda empinada e o chupando como se não
houvesse o amanhã.
— Preciso gozar, tigresa!
Intensifico o ritmo e com uma só mão ele me levanta,
apertando minha bunda.
— Não na sua boca. Preciso gozar nessa sua boceta.
Ele cobre meus lábios e começa a nos conduzir entre beijos
até minha mesa.
— Essa é a sua? — ele indaga enquanto sinto meu traseiro
encostar na mesa.
— Uhum.
— Delícia, pois é aqui que quero comer sua boceta, amore
mio.
Ele afasta tudo para o lado e me deita de costas na madeira
frio, fazendo minha pulsação acelerar, sentindo suas mãos nas
laterais da minha bunda.
Viro a cabeça para o outro, afastando meus cabelos para o
lado com a bochecha grudada na superfície da mesa.
Quando Leonel tira minha calcinha de renda e pincelou a
cabeça do seu cacete em meu rabo, clítoris latejou de tanto tesão.
Leonel se posiciona na minha entrada e reclina o corpo sobre
o meu, de forma que sinto seu tórax tocar minhas costas. Ele
deposita um beijo molhado em meu ombro, e me penetra fundo, de
forma que me arranca um gemido longo.
Ele puxou meus quadris para o alto e foi me penetrando
devagar, seu pau grosso abrindo minhas paredes enquanto minha
boceta o engole, se acostumando aos poucos a sua grossura.
Leonel não se demora neste ritmo, porém foi crucial para que
suas estocadas seguidas nos elevasse a cadência perfeito de
prazer.
Enquanto ele come minha boceta, vez ou outra ergo um
pouco a cabeça para olhar em volta, não acreditando no nível de
safadeza em que me encontro transando na sala que tenho
trabalhado todos os dias.
Imagino como estará minha cara amanhã lendo os contratos
e me lembrando desta noite insana.
— Mais forte — peço com a voz embargada, rebolando
contra seu pau.
Ele me fode em um ritmo quase animalesco, sendo que o
único som que se escuta ali era do atrito entre nossas peles suadas.
Solto um gemido sôfrego, pois desde que pedi, Leonel me
fode com uma força quase brutal.
Minhas pernas ficam bambas com o frisson do pré-orgasmo
tomando conta do meu corpo, e sei não aguentarei muito tempo.
— Leonel…
— Tigresa! — ele rosna em resposta parecendo entender
meu pedido e endireitando a coluna, me fodendo com tamanha
loucura que poderia me partir ao meio. Ele urra um palavrão, e
gozamos quase no mesmo instante.
E assim, após o êxtase, meu corpo se entrega à mesa fria,
tremendo sob a maré de sensações. Cada centímetro de mim é
tomado por essa onda avassaladora, e o som da minha própria
respiração preenche a sala.
Ouço os passos de Leonel ecoando na sala, e logo ele
retorna, já vestido, com suas mãos apoiadas nos lados da mesa.
— Dorme lá em meu apartamento? — ele pergunta, seu olhar
cheio de desejo.
— Uma gozada não foi suficiente, tigrão? — provoco,
sorrindo.
Ele responde com um sorriso enigmático, irresistível.
— Exatamente. Tudo contigo parece insuficiente quando feito
apenas uma vez — sussurra, roçando seu nariz em minha
bochecha, arrepiando minha pele.
Fico momentaneamente sem palavras, rendida à intensidade
do momento que acabamos de viver. Não é apenas um ato carnal, é
algo profundo e incontrolável que nos une. Ainda tonta pelo prazer,
puxo-o para um beijo apaixonado, ansiosa por mais uma rodada
ardente de sexo.
Entre um beijo e outro, sussurro contra sua boca:
— Eu aceito o convite, mas antes vai ter que me ajudar a
arrumar a mesa aqui.
Ele me beija mais um pouco e depois olha por cima do ombro
para a bagunça que fizemos, comentando:
— Uh! Ela está um caos.

Com a luz da manhã invadindo o quarto através das cortinas


levemente entreabertas, desperto entre lençóis de cetim, envolvida
por um aroma almiscarado que sussurra aos meus sentidos. Meus
olhos se abrem suavemente para um cenário que emana elegância
discreta, digna de alguém com uma riqueza incalculável.
Sento-me na cama, puxando os lençóis contra meus seios e
fito o lugar vazio ao meu lado. Onde ele foi? Olho para os lados e
observo o quarto em que estou.
O piso de madeira escura realça o brilho de um tapete de lã
macia, que se estende até a beira da cama king-size, adornada com
lençóis brancos. As paredes são de um tom neutro, destacando as
obras de arte moderna que pendem estrategicamente.
Uma mesa de cabeceira de vidro polido, minimalista, abriga
uma pilha de livros cuidadosamente organizados. Do lado oposto,
uma parede de vidro revela uma vista deslumbrante da cidade, com
arranha-céus que se estendem até onde a vista alcança.
Aos poucos, as lembranças da noite anterior emergem, e
minha intimidade ainda arde ao lembrar de quantas vezes repetimos
o sexo. Quando concordei em visitar o apartamento de Leonel,
jamais imaginei que literalmente transaríamos a noite inteira, como
se fôssemos dois coelhos.
Leonel é simplesmente insaciável na cama, mas bem mais
que isso, ele sabe como dar prazer a uma mulher. Tanto que,
embora minha boceta estivesse destruída, só de lembrar a noite
passada e todos aqueles apetrechos que ele usou em mim, já me
dava um puta tesão matinal.
Ah, Leonel, por sua causa, me tornei uma tarada por sexo.
Com um suspiro, saio da cama, sentindo o contraste do chão
frio com a maciez dos lençóis. Levanto-me e começo a procurar
minhas roupas, que estão espalhadas pelo quarto. Enquanto me
visto com as mesmas roupas da noite anterior, ainda impregnadas
com seu perfume, lembro-me que tenho de estar no escritório às 8
da manhã.
Meus olhos se arregalam e busco pelo meu celular,
encontrando-o na mesinha ao lado da cama. O relógio digital marca
quase 11 horas, e uma sensação de desânimo se espalha pelo meu
corpo. É evidente que já perdi a janela de horário para o trabalho
hoje.
A ideia de enfrentar o Sr. Anderson e suas reprimendas por
chegar tarde não me anima em nada. É melhor faltar e,
posteriormente, inventar uma desculpa convincente do que encarar
seu olhar rabugento e os sermões intermináveis.
Quando termino de me vestir, vou até o banheiro e escovo
meus dedos com a única escova disponível ali, que pertence a
Leonel. Sei disso, pois o gosto da sua boca é inconfundível.
Em seguida, abro a porta do quarto e me deparo com um
corredor espaçoso e iluminado por luz natural que flui pelas amplas
janelas.
Decido descer as escadas de madeira polida que conduzem
ao andar de baixo, mas um som misterioso me detém. É um ruído
repetitivo, como algo batendo contra uma parede. Percebendo que
se tratava de um barulho familiar, retorno pelo corredor e sigo o som
até o final dele.
Quando chego lá, vislumbro uma parede de vidro temperado
que separa o corredor da sala ampla. Do outro lado, vejo Leonel,
suado e concentrado, vestindo um moletom cinza, praticando
squash.
Suas roupas esportivas realçam os músculos definidos, e sua
expressão revela determinação de uma partida contra a própria
parede.
Ele não percebe minha presença até o momento em que
decido entrar. Assim que ele tira os fones de ouvido, nossos olhares
se encontram.
— Bom dia — ele sussurra, seus olhos azuis irradiando calor.
— Bom dia — respondo com um sorriso.
— Estou suado — ele avisa, como se quisesse me prevenir
sobre sua aparência.
— Não tem importância, tigrão. Eu até gosto — sussurro,
aproximando-me mais e, nas pontas dos pés, selo nossos lábios em
um beijo que reacende nosso desejo.
No entanto, somos interrompidos pelo barulho alto que meu
estômago faz. Um rubor nas minhas bochechas denuncia minha
vergonha crescente.
— Está com fome? Quer comer alguma coisa? — ele
pergunta, separando nossas bocas.
— Uhum! — minha voz sai suave, mas minhas bochechas
estão quentes como o desejo.
Meu corpo responde imediatamente quando Leonel bate a
raquete de squash suavemente em minha bunda, antes de me
convidar para compartilhar um banho. Um sorriso travesso escapa
dos meus lábios, incapaz de resistir ao convite.
De mãos dadas, seguimos para o banheiro do seu quarto,
onde o vapor do chuveiro nos envolve instantaneamente. A água
quente cai sobre nossos corpos, dissipando qualquer tensão
remanescente. Leonel pega o sabonete líquido e, com mãos
habilidosas, começa a espalhá-lo sobre minha pele, massageando
cada centímetro com carinho.
Nossos corpos se movem em uma harmonia perfeita, nossas
mãos explorando com desejo cada curva e recanto do outro, e a
visão dos nossos corpos nus refletidos no espelho embaçado
apenas intensifica nossa excitação.
Quando meus olhos se fixam nas cicatrizes em seu
abdômen, Leonel me puxa mais para perto, nossos lábios se
encontram em um beijo ardente, nossas línguas dançando em uma
coreografia carnal.
O banho transcende a mera higiene quando ele me ergue
contra a parede fria, me penetrando profundamente, sem pressa,
saboreando cada onda de prazer.
E, naquele momento, sob o chuveiro quente, somos apenas
nós dois, entregues ao desejo que nos envolve e consome.

Estamos sentados na bancada da cozinha, compartilhando


nosso desjejum. O garfo de Leonel paira no ar quando nossos
olhares se entrelaçam, e minha curiosidade encontra voz:
— Como você adquiriu as cicatrizes no abdômen?
Ele começa a explicar com um suspiro:
— Isso aconteceu durante um treinamento, quando eu ainda
não ocupava a posição de líder.
Minha perplexidade fica evidente quando faço a próxima
pergunta:
— Que tipo de treinamento é tão extremo a ponto de arriscar
a própria vida?
— Todos os membros da famiglia passam por esse processo.
É uma espécie de rito de passagem.
Meus olhos permanecem fixos nos dele quando faço uma
observação:
— Aquele treinamento que fiz com Margot, por exemplo.
Um leve sorriso aparece no rosto dele.
— Não, tigresa. O treinamento que você passou com Margot
era apenas para defesa pessoal para mulheres.
Lembro-me de ter aprendido até mesmo a manusear um fuzil
e fico tentando entender como aquilo poderia ser considerado
defesa pessoal.
— Aliás, como está Margot? — pergunto.
— Ela está bem. Ela mandou um abraço para você na última
vez que estive lá.
— Ela é uma querida — comento enquanto dou uma garfada
nos ovos mexidos.
À medida que saboreio a comida, reflito sobre o tempo que
passei naquele lugar e solto:
— Leonel... antes, quando estávamos naquela casa… você
realmente planejava me forçar a casar?
Ele franze o cenho antes de responder:
— Honestamente?
Ele inspira profundamente.
— Talvez eu tenha considerado a ideia de mantê-la lá até que
se apaixonasse por mim, mas desisti no meio do caminho.
— Por quê?
Ele faz uma pausa antes de responder.
— Porque percebi que o amor é uma via de mão dupla. Não
existe amor quando uma das partes está indisponível.
A resposta me deixa desconfortável, como se eu fosse a
culpada na história. Limpo o canto da boca com um guardanapo e
rebato:
— Você me disse que não poderia amar...
Ele me interrompe dizendo:
— Posso fazer uma pergunta?
Engulo em seco.
— Claro.
— Se você estivesse apaixonada, você aceitaria abandonar
tudo para seguir alguém? Seja franca, por favor.
— Depende.
— Depende do quê?
— Depende se essa pessoa estivesse disposta a fazer o
mesmo por mim.
Ele permanece em silêncio por um momento, e então
encontro minha própria resposta.
— E você, Don Leonel, hipoteticamente falando, estaria
disposto a desistir de tudo por amor?
Ele me encara nos olhos e responde sem um pingo de
hesitação:
— Não. Porque é diferente. Eu não escolhi ser parte desse
mundo, eu nasci nele, e ele está enraizado em mim.
— Entendo perfeitamente suas razões. Mas por que seria
diferente? Eu também nasci em um mundo completamente diferente
do seu. Um mundo normal, sem grandes emoções, no entanto,
ainda sim o meu mundo.
— Porque para você é fácil sair do seu mundo e entrar no
meu. Agora, para mim, é impossível sair do meu, sendo quem sou,
e entrar no seu. Mesmo que eu quisesse, eu seria caçado e morto, o
que causaria dor às pessoas que me amam. E, bem, ninguém quer
causar sofrimento, não é mesmo?
Suspiro profundamente, compreendendo a verdade nas
palavras de Leonel.
— Então, uma boa opção seria você se casar com uma de
minhas irmãs. Assim ninguém precisaria abdicar de nada
importante. Acredite, você é um rei entre elas.
Leonel franze o cenho, suas sobrancelhas se franzindo.
— Está com ciúmes? — ele provoca.
— Por que estaria? — Respondo com firmeza. — Não fiquei
com ciúmes, apenas disse que seria uma boa opção.
Leonel mantém seu olhar fixo em mim por um momento, e
então sorri de forma irônica.
— Suas irmãs não me interessam.
Olho para ele, meus olhos sérios.
— Então, talvez seja melhor considerar a ideia de viver
solteiro, já que não parece ter a capacidade de amar.
Leonel, com um suspiro, parece refletir sobre minhas
palavras.
— Esqueça que eu disse isso. — Ele solta, impaciente.
Um sorriso se forma em meus lábios, pois parece que
finalmente ele está admitindo algo.
Leonel assume uma expressão mais séria enquanto continua
a conversa.
— Vou te dar o tempo que precisa para pensar. Há uma
pressão para que eu me case rapidamente, especialmente antes
das eleições. No entanto, acredito que esperar um pouco por você
pode valer a pena no futuro.
Reúno coragem para encará-lo nos olhos e assinto,
aceitando seu gesto.
— Está bem.
Ele prossegue, compartilhando suas próximas ações comigo:
— Também concordei em conhecer pessoalmente suas irmãs
nas próximas semanas. Não é o que eu desejava neste momento,
mas não tenho muita escolha. Se você não aceitar no final,
precisarei ter um plano B e prestar contas à famiglia pelas minhas
escolhas.
Silencio por um momento, e ele passa a mão pelos cabelos
enquanto me observa atentamente.
— Quero que saiba que, desde o início de tudo isso, você
tem sido o meu plano A, e único que eu gostaria de executar. Nosso
futuro em suas mãos, tigresa, basta apenas você aceitar.
CAPÍTULO 28

Caminho pelo jardim tranquilo e arborizado em direção à


porta de entrada da mansão, meus passos deliberadamente furtivos
para evitar chamar a atenção de qualquer pessoa além dos
funcionários que me recepcionaram.
É uma tarde fria e tranquila, e meu único desejo é alcançar o
quarto de hóspedes sem esbarrar com ninguém, tomar um banho e
sair para procurar um apartamento para mim.
Felizmente, ontem à noite, enquanto Leonel dirigia para seu
apartamento, tive a ideia de avisar Alexander que eu dormiria na
casa de uma amiga, o que pode me livrar de possíveis perguntas
curiosas das minhas irmãs.
No entanto, ao me aproximar da porta branca com cuidado,
ouço um som fraco de choro. Involuntariamente, minha cabeça gira
para o lado, olhando ao redor antes de perceber que o som vem de
trás dos banquinhos de madeira que ficam perto da cascata no
centro do jardim.
Movida pela curiosidade, me aproximo cautelosamente da
cascata, meus passos leves e silenciosos. Quando chego mais
perto, vejo Giorgia sentada lá, com os olhos vermelhos e inchados
de tanto chorar.
— Giorgia? — sussurro, a preocupação evidente em minha
voz. — O que está acontecendo? Por que você está chorando?
Giorgia levanta os olhos para encontrar os meus, surpresa
por me ver ali, e meu coração se aperta de compaixão ao vê-la
naquele estado. Ela tenta enxugar as lágrimas rapidamente, mas
elas continuam a escorrer por seu rosto.
— Alyssa, eu... eu não sei o que fazer — soluça Giorgia, sua
voz embargada. — Às vezes, eu só quero sumir.
Ela desaba em choro, e eu imediatamente me sento ao seu
lado, afagando suas costas.
— Ei! Tudo bem. Se quiser alguém para desabafar, estou
aqui para você. Mas, se não quiser falar, também está tudo bem.
Mas quero que saiba que toda dor é temporária.
Giorgia hesita por um momento e, então, diz com voz trêmula
de vergonha:
— Estou assim porque não comi nada hoje, e estou com
muita fome.
Franzo a testa, preocupada.
— Mas por que você não comeu?
Giorgia suspira, relutante em compartilhar a causa de sua
angústia.
— Minha mãe me deu uma bronca hoje pela manhã, dizendo
que acordei mais gorda do que nunca, comparando-me com minhas
irmãs. Ela disse que sempre fui gorda e que nenhum homem, muito
menos Leonel, se interessaria por mim ou me cogitaria para casar.
Sinto uma mistura de raiva e tristeza ao saber que Antonella
direcionou palavras tão cruéis à própria filha.
Por que as pessoas são tão cruéis com os outros?
Sinceramente, eu não entendo a necessidade de falarem coisas tão
insensíveis como se fosse nada.
— Às vezes as mães dizem coisas das quais se arrependem
depois — digo, hesitante, pois embora eu desaprove a atitude de
Antonella, sei que devo tomar muito cuidado com as palavras nesta
casa.
— Se fosse apenas minha mãe... mas ouço coisas assim em
todo canto. Uma garota do quinto período da minha faculdade ficou
possessa de raiva depois de descobrir que o ex-namorado dela
ficou comigo após o término, e começou a espalhar mentiras na
internet e fazer chacota com minhas fotos. Segundo ela, o Mário
teve uma crise de loucura quando ficou comigo, e que uma gorda
feito eu deveria saber meu lugar.
— O quê? Que garota imbecil. Isso é muito grave, Giorgia.
Isso cabe um processo, sabia?
— Pior é que acho que no fundo ela está certa, pois ele nem
olha mais na minha cara. — Ela começa a soluçar, e sinto uma
indignação crescente em relação a aquelas pessoas que nem
conheço, mas já quero cair na porrada.
— Giorgia, escuta! Eu posso te ajudar se quiser, mas você
vai ter que se acalmar primeiro.
— Como? — ela pergunta com lágrimas nos olhos.
— Hoje mesmo vou abrir um processo contra essa moça por
difamação e também uma ação judicial para que parem de espalhar
mentiras por aí.
— Você faria isso por mim?
— Mas é claro, garota. Meu hobby preferido é abrir um
processo por difamação — respondo em tom de brincadeira,
arrancando-lhe um sorriso. — Hoje estou de folga do trabalho, então
tenho tempo de sobra para você fazer isso.
Ela me abraça forte me pegando de surpresa e sussurra:
— Muito obrigada, irmã. Eu não sei nem como agradecer.
Fico paralisada por um momento, mas aos poucos vou me
acostumando com o seu abraço e o retribuindo.
— Que tal começar a me agradecer comendo alguma coisa?
— falo dentro do seu abraço. — Como diria minha avó materna,
saco vazio não para em pé.
Ouço sua risada gostosa e fico um pouco mais tranquila
sabendo que ela está melhor.
CAPÍTULO 29
Dias depois
Estamos no estacionamento, dentro do meu carro após o
almoço. Eu no banco do motorista, Alyssa ao meu lado, no banco do
carona.
Embora estejamos escondidos dos olhares curiosos, é ela
quem mais quer evitar que os funcionários descubram sua ligação
comigo, o que não afeta em nada.
A perna dela está atravessada sobre a minha, e eu seguro
seu pé descalço, mordiscando delicadamente o dedão.
Instintivamente, ela dobra a perna sentindos cosquinhas e a
vejo jogar a cabeça para trás, rindo de uma forma hipnotizante.
Olho para ela com um olhar que tenta esconder o quanto
estou entregue. É o meu jeito, o jeito que aprendi a ser, mas ela já
me conhece o suficiente para saber que por trás dessa fachada,
algo mais profundo está acontecendo.
Os dias estão passando, e a cada dia que passa, nós nos
aproximamos ainda mais. Cada momento que compartilhamos, cada
risada, cada toque, só reforça o que eu já sei. Estou apaixonado, e
não há como escapar disso. Ela se tornou o meu mundo, o meu
refúgio, e isso me deixa ainda mais ansioso pela sua resposta.
— Acho que é arriscado demais para nós estarmos juntos
aqui. E se alguém nos ver? — ela pergunta olhando para os lados.
— Não me importo se eles nos veem. Não tenho nada a
esconder.
— Mas eu ligo, Leonel. Você é o CEO da empresa, e eu sou
uma… funcionária como qualquer outra. Se descobrirem nossa
ligação, isso pode me causar problemas.
— Por exemplo, quais? Do tipo sofrer de bajulação aguda? —
indago, arrancando uma gargalhada dela. — Alyssa, apenas relaxe.
É até melhor que nos vejam logo. Assim você se acostuma logo
com o tratamento que receberá depois que nos casarmos.
— Como tem tanta certeza? Eu não dei minha resposta
ainda.
Sorri.
— Eu sei que você vai me dizer sim. E quando disser, estarei
esperando, ansioso para fazer de você a mulher mais feliz do
mundo.
Alyssa me olha profundamente nos olhos, perdendo-se no
momento. Volto novamente a massagear a sola do seu pé,
enquanto ela se entrega ao prazer das carícias.
Mas então, algo me atinge como um lampejo de memória.
Uma conversa recente, algo que eu precisava discutir com ela.
— Tenho algo para contar — digo de repente, franzindo o
cenho.
Ela se vira para mim, seus olhos curiosos.
— O que é?
— Paolo pediu que eu saia com uma de suas irmãs antes da
festa em que serão apresentadas a mim.
Há um silêncio momentâneo enquanto Alyssa absorve a
informação. Depois, ela pergunta:
— Já tem alguém em mente?
Com sinceridade, respondo:
— Não. Eu queria a sua opinião, Alyssa.
— Sobre o quê?
— Qual das suas irmãs você gostaria que eu convidasse para
sair?
Alyssa arregala os olhos, sua expressão um mistério
momentâneo, antes de começar a se endireitar no banco do carona.
— Não sei, Leonel. Quer dizer, eu tenho alguém em mente.
— Diga.
— Giorgia.
— Então, está decidido. Vou convidar a Giorgia — digo com
simplicidade.
Ela quase começa a pular no banco, suas mãos batendo
palmas de alegria.
— Por que tanta alegria? — pergunto, intrigado.
— Porque acabei de conceber um plano sensacional.
Alheio aos detalhes de seu pensamento, ainda estou envolto
em confusão, mas o entusiasmo que ela irradia me sugere que sair
com a tal Giorgia será muito mais do que um encontro tedioso. Será
no mínimo um evento interessante.
O sol do final da tarde pinta o céu com tons alaranjados
enquanto me recosto no meu carro, uma Bugatti reluzente, uma
obra-prima da engenharia. Não é incomum ver homens de todas as
idades se aglomerando ao redor do veículo, com olhares curiosos e
admiradores tirando fotos, como se fosse uma atração exótica.
E dessa vez não foi diferente. Um grupo de universitários se
aproxima, telefones celulares em mãos, apontando para a Bugatti
como se fosse uma estrela de cinema. Uma garota de cabelos loiros
e olhos brilhantes passa por ali, talvez atraída por algo mais do que
o carro.
Aproximo-me dela, sorrindo com cordialidade. Ela recua
ligeiramente, surpresa.
— Olá, você estuda aqui? — pergunto, tentando iniciar uma
conversa.
Ela assente, ainda um pouco sem jeito.
— Meu nome é Leonel. Eu estava procurando alguém. Você
poderia fazer um favor para mim? Conhece a Giorgia?
— A Giorgia Bankers? Claro que sim.
— Pode dizer a Giorgia que há alguém aqui para vê-la.
Ela parece confusa por um momento, e então um lampejo de
compreensão ilumina seus olhos.
— Claro, vou avisá-la. — Ela pega o celular e envia uma
mensagem rápida. Agradeço a gentileza com um aceno de cabeça e
observo enquanto ela digita.
Pouco tempo depois, da entrada da faculdade emergem
várias pessoas, mais estudantes que terminam o dia de aulas.
Minha atenção é imediatamente capturada por uma jovem garota de
bochechas rosadas e cabelos castanhos ondulados. Giorgia.
Ela é menor do que eu esperava, mas sua aparência não
deixa dúvidas de que é da família Bankers.
Seus olhos escuros estão cheios de curiosidade quando se
aproxima, claramente se perguntando quem é o visitante
inesperado.
Giorgia arregala os olhos ao me olhar por mais alguns
segundos, como se estivesse processando a informação. Ela dá um
passo para trás, e não sei se está com medo ou apenas surpresa.
No entanto, quando me aproximo dela, ela balbucia meu nome com
firmeza.
— Leonel.
Ela pisca várias vezes, como se tentasse confirmar que era
eu mesmo, segurando as alças de sua mochila.
— Olá, Giorgia. — Digo, tentando parecer o mais amigável
possível. — Eu vim buscá-la para um encontro.
Ela gagueja um pouco, claramente perplexa.
— Um encontro?
Assinto, explicando:
— Sim, algo assim. Seu pai e Paolo acharam que seria
razoável que eu escolhesse uma de vocês para conhecer antes da
festa, e bem, eu escolhi você.
Ela parece ainda mais surpresa.
— Me escolheu?
— Sim. — Abro um meio sorriso. — O que acha de irmos
comer alguma coisa ou tomar um café enquanto conversamos?
Giorgia olha rapidamente para os lados, e percebo que uma
pequena multidão se formou ao nosso redor. A curiosidade das
pessoas parecia não ter limites, e a maneira como nos observavam
era quase bizarra. Giorgia volta o olhar para mim, claramente
desconfortável com a atenção indesejada, e gagueja:
— S-sim, claro.
Certo, então. Vamos em frente. — Coloco meus óculos
escuros e enfio as mãos nos bolsos da calça social. — Me
acompanhe.
Giorgia segue meus passos enquanto dou a volta no carro.
Abro a porta do passageiro para ela, e ela entra com uma expressão
um tanto desconcertada.
Volto para dentro do carro, entrando pela porta do motorista.
Antes de dar partida, observo Giorgia com um sorriso tímido
no rosto, seus dedos brincando um com o outro. Ela parece feliz,
como se estivesse prestes a embarcar na melhor aventura de sua
vida. Seja lá o que Alyssa estava planejando com esse encontro,
Giorgia definitivamente não parecia uma garota entediante como
suas irmãs.
— Coloque o cinto! — ordeno.
Ela arregala os olhos, surpresa.
— Oh, desculpe! É que estou tão distraída com tudo isso.
— Tudo bem, não se preocupe.
Giorgia sorri e tenta prender o cinto, mas parece ter
dificuldades.
— Você parece estar tendo problemas aí. Quer que eu
ajude?
Ela balança a cabeça, determinada.
— Não, eu consigo fazer isso. Só estou lutando contra essa
fivela teimosa.
— Uma luta feroz, eu vejo. — Sorrio para ela, tentando não a
deixar mais nervosa do que parece estar. — Aqui, deixe-me ajudar.
Estendo minha mão para pegar o cinto dela e Giorgia parece
um pouco envergonhada.
— Desculpe por isso. Eu normalmente consigo colocar o
cinto sem problemas.
— Sem problemas.
Finalmente, conseguimos prender o cinto de segurança, e
Giorgia dá um suspiro aliviado.
— Pronto, agora você está segura.
Ela ri e parece mais descontraída.
Volto a me concentrar no volante e decido não demorar muito
ali, devido à multidão curiosa, então ajusto o retrovisor e coloco o
carro em movimento, deixando a universidade para trás.
CAPÍTULO 30
— Então, papai, Leonel veio até a faculdade hoje para me
buscar para um encontro... A sala de jantar está repleta de olhares
curiosos enquanto Giorgia começa a contar sobre seu encontro com
Leonel. A iluminação suave da sala destaca o brilho nos olhos dela,
e o jantar tem tudo para se tornar uma reunião animada, mas é nas
expressões de minhas meias-irmãs que a verdadeira diversão
começa.
— Um encontro? — Isabella exclama, erguendo uma
sobrancelha com desdém. — E ele escolheu justamente você?
Giorgia ignora o comentário negativo da irmã e continua
contando com um sorriso nos lábios.
— Foi uma surpresa, na verdade. Ele disse que aquele moço
que sempre vem aqui... qual o nome dele mesmo?
— Paolo? — Antonella fala com uma mão embaixo do
queixo, parecendo não gostar muito da situação.
— Ele mesmo, mamãe. Ele disse que o Paolo achou que
seria uma boa ideia que uma de nós o conhecesse antes da festa,
e, bem, ele me escolheu.
— E como foi o encontro, Giorgia? — Alexander pergunta,
seu olhar sério como de costume.
Giorgia começa a descrever o encontro com entusiasmo,
contando sobre a chegada glamorosa de Leonel em sua Bugatti
reluzente e como eles conversam naturalmente. Ela está tão feliz
que parece não se importar com os comentários sarcásticos de
Isabella e os olhares chocados de Antonella.
— Ele é tão charmoso e inteligente, papai. E gentil também.
— Giorgia está radiante. — Nós nos divertimos muito.
As palavras de Giorgia ecoam pela sala de jantar, e eu não
posso deixar de sorrir para ela. Ela está genuinamente feliz, e é
difícil não se contagiar com sua alegria.
Chiara, por outro lado, cruza os braços e murmura algo
inaudível, mas Giorgia parece não se importar.
— Vocês deveriam ter visto a cara que Beatrice fez ao me ver
saindo com aquele homem lindo na minha frente.
— Quem é Beatrice? — Chiara pergunta confusa.
— É aquela garota que inventou mentiras sobre ela —
Martina explica, o que me faz lembrar da garota que abriu um
processo de difamação.
Quando sugeri o nome de Giorgia a Leonel, a primeira coisa
que veio à minha mente foram as palavras cruéis lançadas sobre ela
na universidade. Eu queria que Giorgia tivesse a chance de mostrar
a todas aquelas idiotas que ela podia atrair alguém incrível.
— Mas eu só achei uma coisa estranha. — Giorgia respira
fundo antes de continuar.
— Que coisa? — Martina indaga.
— Embora ele aparente ser um homem bacana, senti que ele
de alguma forma estava distante. Como se ele estivesse
desconectado emocionalmente. Era como se... — ela pensa mais
um pouco — ele já tivesse alguém especial.
— Faz sentido — Helena solta, e todos olham surpresos para
ela. — O que foi, gente? Este homem está vivo há mais de trinta
anos, vocês achavam mesmo que todo esse tempo ele não teve
alguém especial? Acordem! Helo?!
— Helena tem razão — Giorgia concorda. — E digo mais, é
capaz de nenhuma de nós casar com esse homem. Mas só o fato
de a faculdade inteira ver aquele gatão me buscando na porta foi o
auge da minha felicidade.
— Pare de falar besteira, Giorgia. — Alexander intervém,
criando um clima estranho na mesa. — É obrigação de Leonel se
casar com uma de vocês. Com ou sem amor.
Alexander joga o guardanapo na mesa com um gesto brusco
e anuncia que vai para o seu escritório. Todas elas permanecem em
silêncio, seguido de um clima estranho que paira sobre a sala.
Observo Antonella, que parece tensa diante da irritabilidade do
marido, e eu fico por um momento pensativa, pois essa é a primeira
vez que o vejo assim. Bem, esse jeito combina mais com ele do que
o senhor forçado que ele se mostrou para mim dias atrás. Há algo
misterioso em Alexander que começa a se revelar, e essa noite
parece ter lançado luz sobre esse seu comportamento arrogante.

— Ah, meu Deus, o gato do Enrico Bianchi acabou de me


seguir! — Giorgia vibra, não tirando os olhos da tela do celular,
comemorando a cada novo seguidor. Eu fico ali ao seu lado,
sorrindo e feliz por vê-la tão contente.
Estamos na sala, perto da fogueira elétrica. As outras
meninas já voltaram para seus quartos, mas Giorgia não para de
contar sobre a quantidade de gente que começou a segui-la no
Instagram após a aparição de Leonel na faculdade. Ela está
vibrando de empolgação.
De repente, dois homens altos, um vestido de preto e o outro
com um terno vermelho, entram na sala, quebrando nossa
conversa. Olho para eles e percebo que um deles se trata de Paolo.
Me levanto instintivamente, e ele para no meio do caminho, como se
estivesse prestes a dizer algo.
— Senhorita Alyssa — ele me cumprimenta com um aceno
de cabeça respeitoso, e eu faço o mesmo.
O homem de terno vermelho nos deseja boa noite e nos
chama de “meninas.” Paolo olha para o lado e introduz:
— Permitam-me apresentar, este é Panazzollo. Ele será
responsável pela festa de apresentação que ocorrerá nos próximos
dias — ele diz com seu tom inflexível e característico.
Giorgia sorri e acena com entusiasmo:
​— Eu já conheço o Panazzollo. É um prazer conhecê-lo
pessoalmente, senhor.
Panazzollo interrompe, insistindo para que o chamem apenas
de “você”:
— Senhor é o seu pai. Chame-me apenas de você, querida
— ele diz, abrindo um leque da mesma cor do seu terno e
gargalhando de uma forma contagiante.
— Peço desculpas. É um prazer conhecê-lo.
— Igualmente, minha linda.
Sem dizer mais uma palavra, eles seguem o caminho para
dentro da casa, deixando-me paralisada e pensativa.
— Quem é esse tal Panazzollo, Gi? — pergunto.
— Você nunca ouviu falar do Panazzollo?
— Ele é tão famoso assim.
— Não exatamente. O grupo para o qual ele trabalha é muito
restrito. Ele é como um organizador de eventos para pessoas da
alta sociedade, algo parecido com um showman de programas de
relacionamento, mas para a vida real. Meu pai o contratou a nosso
pedido para organizar a cerimônia em que Don Leonel conhecerá
cada uma de nós. Afinal, como Paolo sabe o seu nome? Vocês se
conhecem de algum lugar? — Giorgia pergunta, visivelmente
impressionada.
Penso em como explicar e respondo:
— É uma longa história, Giorgia. Talvez eu lhe conte um dia.
— Pode me contar hoje, estou com tempo.
Sorrio diante de sua persistência e respondo:
— Mas eu...
Ela completa, rolando os olhos nas órbitas:
— Já sei. Amanhã você vai trabalhar?
Sorrio novamente com seu drama e ela se levanta,
caminhando comigo até as escadas. Só então percebo as duas
mulheres no topo das escadas, Antonella e Isabella. Isabella parece
sair, deixando a mãe sozinha com os braços cruzados, me
encarando de uma forma estranha.
— Mãe? — Giorgia indaga. — A senhora e a Antonella
estavam aí esse tempo todo? — ela pergunta surpresa.
Antonella não responde, apenas continua me olhando com
aquele olhar negro e inquisitivo. Ela deixa Giorgia sem resposta e
desaparece no segundo andar da escada, assim como Isabella.
Fico ali, na sala, ao lado de Giorgia, com aquela sensação
estranha no peito, questionando o que Paolo estava fazendo e por
que Antonella e Isabella pareciam tão intrigadas com a minha
presença.
CAPÍTULO 31

Na suíte presidencial do Hassler Roma Hotel, todas nós, as


filhas de Alexander Bankers, estamos reunidas, inclusive eu. O
clima é de pura excitação e antecipação, enquanto minhas meias-
irmãs se movem de um lado para o outro com pressa, usando robes
brancos com plumas nas extremidades e sorrisos de orelha a
orelha. Elas estão ocupadas em conversas animadas, fazendo
apostas sobre quem fisgará o coração de Leonel naquela noite,
enquanto nossos vestidos oficiais ainda não chegam.
Minha maquiagem já está pronta, e agora estou ajudando
Giorgia a escolher o par de sandálias que melhor combina com o
deslumbrante vestido lilás que ela escolheu.
— É melhor esperarmos o vestido chegar para ter absoluta
certeza — sugiro para Giorgia.
Ela concorda com um aceno de cabeça, e
momentaneamente, eu olho ao redor da suíte presidencial,
percebendo o caos que se formou desde a nossa chegada. Paletas
de sombra, escovas, batons e sapatos espalhados por todos os
lados, testemunhando a agitação das minhas meias irmãs.
A conversa, que começou com uma descontração saudável,
rapidamente se transforma em um duelo de palavras afiadas e
provocação. Isabella, sempre confiante em sua beleza, alfineta:
— Don Leonel certamente valoriza alguém com classe e
sofisticação, algo que está além do seu alcance, Giorgia. Não se
ache tanto por causa de um único encontro.
Giorgia não deixa por menos:
— Isabella, elegância pode ser comprada, mas o bom humor
é um talento nato que você claramente não possui, irmãzinha.
Chiara, com seu humor ácido, entra na disputa com um meio
sorriso:
— O bom humor é uma coisa, mas inteligência é o que
realmente deve cativar um homem como Don Leonel. E, queridas,
não vejo muito disso por aqui.
Martina, que não perde a oportunidade de lançar uma
provocação, se intromete:
— Talvez ele valorize alguém que traga emoção para sua
vida, algo que suas personalidades monocromáticas definitivamente
não oferecem. Aliás, será que ele levará a escolhida para casa
hoje?
Giorgia rebate segurando um riso sapeca:
— Por que a pergunta, Martina? Não me diga que está
pensando em dar um chá no homem hoje mesmo?
Martina ri com malícia:
— Ah, mas se eu der um chá nele, nunca mais esse homem
me esquece, bebês.
Enquanto as irmãs lançam provocações e risadas, Helena,
normalmente a voz da razão, começa a perder a paciência:
— Meninas, parem com isso! Don Leonel é um homem
experiente e deve saber valorizar qualidades únicas em cada uma
de nós. Essa discussão agora é completamente sem sentido!
De repente, a porta se abre e o que parecia ser um
funcionário do hotel surge ao lado de uma arara com algumas capas
de roupas penduradas.
— Os vestidos chegaram! — Martina dá um grito de
felicidade, pulando animadamente em direção à arara para pegar o
seu vestido.
Depois que todas saem correndo para pegar seus vestidos,
lendo os nomes nas identificações das capas para garantir que
estão com o modelo certo, finalmente chega minha vez. Com uma
antecipação, me aproximo da arara, ansiosa para vestir o que foi
escolhido dias atrás.
No entanto, meu entusiasmo é interrompido. Ao olhar para a
arara, percebo que não sobrou nenhuma capa com meu nome.
Confusa, varro o olhar pela suíte, verificando se alguém não pegou
duas capas por engano, mas todas parecem estar apenas com os
próprios vestidos.
Percebendo minha confusão, Giorgia, sempre atenta às
minhas emoções, se aproxima e pergunta:
— Qual o problema, Alyssa?
Minha voz sai um pouco incerta enquanto respondo:
— Não sei, Gi. Acho que o meu vestido não veio.
O mesmo homem que trouxera a arara começa a empurrá-la
de volta para o corredor, pronto para dar continuidade ao seu
trabalho. No entanto, Giorgia intervém com gentileza:
— Com licença, está faltando um.
O homem de cabelos incrivelmente escuros se vira para
Giorgia, mantendo uma postura formal enquanto responde:
— Perdão, senhorita. Eu havia esquecido, mas parece que a
senhora Antonella percebeu uma imperfeição em um dos vestidos e
pediu para que fosse corrigida. Ela afirmou que chegará a tempo do
evento.
As sobrancelhas de Giorgia se franzem ligeiramente,
expressando sua própria desconfiança enquanto ela pondera sobre
a informação recebida.
— Minha mãe disse isso? Que estranho.
A situação de fato é estranha, e não posso deixar de me
perguntar internamente o que Antonella está tramando. Não é
segredo para mim que ela não goste de mim, especialmente por
causa da sua relação com meu pai. No entanto, se ela não queria
minha presença nesta festa, por que não teria sido sincera desde o
início, em vez de manter esse teatro por toda a semana?
Decidindo não dar mais atenção a Antonella e seu joguinho,
mesmo que não compreenda completamente suas intenções, sorrio
para o funcionário e digo com cordialidade:
— Está tudo bem, pode seguir em frente, rapaz. Obrigada
pela informação.
Com isso, o homem deixa a suíte com a arara, e eu me viro
para Giorgia, que está visivelmente preocupada.
— E se ela não chegar a tempo? — Giorgia questiona,
revelando sua apreensão.
Com tranquilidade, tento acalmá-la:
— Não tem problema, Gi. A festa será maravilhosa com ou
sem mim. Vocês se divertirão, e eu ficarei bem.
Ela suspira, um tanto desapontada.
— Que chato. Eu queria que você também estivesse lá.
Sorrio para ela, tocada por sua preocupação, e a tranquilizo:
— Não pense nisso agora, Gi. Vamos nos concentrar em nos
arrumar. Venha, vou ajudá-la a se vestir. A noite está apenas
começando.
Caminhamos pelo quarto, e com cuidado, ajudo Giorgia com
os últimos ajustes em seu vestido. Enquanto subo o zíper de sua
elegante peça, meus pensamentos involuntariamente se voltam
para Leonel. Onde estará ele neste momento? Esta festa é um
lembrete constante de que preciso tomar uma decisão em breve.
Ainda não dei minha resposta definitiva, e a pressão começa
a se acumular. Divertir-me com Leonel é uma coisa, mas a realidade
da escolha que enfrento é muito séria. É uma encruzilhada entre o
amor e a vida que construí com tanto esforço. Abandonar tudo por
ele, seria mergulhar no desconhecido, abrir mão de minha
independência e desafiar todas as escolhas que fiz até aqui. Mas,
ao mesmo tempo, há algo nele, um magnetismo irresistível que me
atrai para o abismo. É uma decisão que definirá meu destino, e não
sei se estou pronta para apostar tudo, até mesmo a segurança que
conquistei, por um amor que desafia todas as convenções.
Enquanto termino os ajustes em Giorgia, sinto um peso em
meu coração. Deus, preciso tomar uma decisão. A noite da festa
está se aproximando rapidamente, e sei que não posso adiar essa
escolha por muito mais tempo. É a decisão mais difícil da minha
vida, e está cada vez mais claro que não posso fugir dela por muito
mais tempo.
Quando todas já estavam finalmente prontas, eu ainda
permanecia dentro de um robe de seda. Antonella ainda não havia
chegado com o meu vestido, o que só aumentava minha
inquietação, deixando-me ansiosa sobre o que ela poderia estar
planejando com isso.
De repente, a porta se abre e um homem em um elegante
smoking entra na suíte. Era Panazzollo, o responsável por organizar
a festa de apresentação das filhas de Alexander. Ele nos
cumprimenta com um sorriso cortês e diz:
— Boa noite, minhas queridas senhoritas. Finalmente,
chegou o momento tão esperado, aquele em que as estrelas se
alinham e o destino sussurra seus segredos.
Depois de suas palavras no mínimo exageradas, ele começa
a detalhar o roteiro da noite que todas esperávamos ansiosamente.
Cada uma de nós teria um momento especial para conhecer Leonel
em uma mesa, onde poderíamos conversar e interagir, algo que
minhas irmãs aguardavam com grande expectativa.
— No final da noite, teremos o ápice da festa — continua
Panazzollo. — Don Leonel escolherá uma de vocês para sair e, com
toda a pompa e circunstância, pedir-lhe-á a mão em noivado nas
próximas semanas. Oh, que noite magnífica isso promete ser! — e
bate palminhas animadamente e ao perceber o quão ridículo está
forçando as coisas, ele para e pigarreia começando a ler a ficha que
suas mãos: — A ordem das apresentações foi acertada previamente
com Alexander e seguirá o seguinte roteiro: a primeira a conhecê-lo
será Giorgia, depois Martina, Chiara, Helena, Alyssa e, por último,
Isabella.
Ele solta um grito entusiasmado enquanto joga fichas para o
alto, quase como se estivesse lançando confetes em uma festa
surpresa.
— Ai, que se dane! Estou tão animado para esta noite! É
como um daqueles filmes românticos, vocês não acham? — Ele
abre um sorriso tão grande que parece que seu rosto vai se partir
em dois.
No entanto, seu olhar cai sobre mim, ainda vestida com o
robe, e ele franze a testa com uma expressão engraçada.
— Ei, você aí, por que ainda não está pronta para a grande
festa? — Ele exclama para mim.
— Ah, meu vestido ainda não chegou. — Respondo sem
preocupação.
— O quê? Como assim? A cerimônia está prestes a começar!
— Ele se vira para as outras meninas. — Sorte que ela é uma das
últimas a ter seu momento com o gostosão… quer dizer, com o
Leonel. Mas, sério, não demore muito! Assim que seu vestido
aparecer, corra para o salão de festas. O resto de vocês, venham
comigo. A festa está prestes a começar!
Panazzollo pega uma máscara de olhos metálica, encaixa-a
em seu rosto e olha para as outras garotas com uma expressão
teatral. Observo os rostos de minhas irmãs ao redor, que olham em
direção aquele senhor com olhos hipnotizados, como se estivessem
prontas para sair à caça.
Parece que deram a largada!

Já se passaram alguns minutos desde que as outras meninas


desceram, e aqui estou eu, no quarto, olhando entediada para o
relógio do meu celular. Estou prestes a desistir e ir embora quando
começo a tirar o robe e vestir minhas roupas novamente.
Claramente, não há nada de errado com meu vestido. Respiro fundo
e fecho minha bolsa, colocando-a sobre o ombro. No entanto, neste
exato momento, a porta do quarto se abre, e uma mulher elegante
usando um vestido vermelho aparece, segurando uma capa na mão.
Com uma expressão confusa, não esperava que ela
realmente fosse aparecer. Solto minha bolsa e me viro para encará-
la.
— Aqui está a sua roupa! — ela diz em um tom quase
inexpressivo, caminhando até uma mesa de centro e colocando a
capa sobre o vidro.
— Prove — ela ordena, e eu desconfiada, cruzo o quarto até
a mesa e abro a capa. Para minha surpresa, não é um vestido que
está ali. Em vez disso, há uma camisa social branca, calças pretas,
uma gravata borboleta e uma máscara de olhos semelhante à que
Panazzollo estava usando.
— Essas roupas... — começo a dizer, e ela completa
levantando o queixo:
— São as roupas dos garçons.
Olho para ela, imaginando o que aquilo significa, e ela
continua:
— Alyssa, você vai servir as minhas filhas esta noite. Quero
que vista essas roupas e ocupe o único lugar que a filha daquela
mulher merece, o lugar abaixo das minhas filhas.
Continuo encarando aquela senhora com incredulidade, e ela
parece esperar por uma resposta. Engulo em seco, pois não
esperava algo tão baixo vindo dela. Dessa vez, ela realmente me
pegou de surpresa. No entanto, em vez de baixar a cabeça, deixo
escapar um pequeno sorriso.
— Você quer que eu vista essas roupas e sirva alguém? —
pergunto com um meio sorriso.
— Exatamente. Qual é a graça? — ela rebate, visivelmente
contrariada com minha confiança.
— A graça é depois de todos esses anos, não imaginei algo
tão baixo vindo de você — respondo com sinceridade. — Sabe,
quando eu era criança, ficava angustiada ao ver minha mãe chorar
escondida na dispensa todos os dias. Ela nunca escondeu quem era
meu pai, mas nem sequer mencionou você durante a minha
infância. Ela esperou até eu crescer o suficiente para me contar que
meu pai se casou com uma de suas amantes. E sabe o que eu
sentia por você naquela época? Nada. Absolutamente nada. Isso
aconteceu porque minha mãe nunca cultivou essa rivalidade em
mim. Quando ela finalmente conversou comigo, já era madura o
bastante para entender que a escolha de deixar nossa família não
foi sua, mas sim de Alexander. E ele permaneceu com essa decisão
por mais de vinte anos. Conforme fui crescendo, minha raiva se
direcionou à pessoa certa. Alexander. E com o tempo, nem mesmo
essa raiva persiste mais.
Respiro fundo, olhando para as roupas diante de mim, e
continuo:
— Mas olhando para essas roupas, sinto pena de você por
ser tão miserável ao ponto de criar uma situação tão desprezível.
Ergo a cabeça e concluo:
— Mas não se preocupe. Se eu represento uma ameaça para
você, tudo bem. Eu vou embora. Me admira você cogitar que eu a
serviria para aparecer nesta festa. Minha mãe me criou com muita
honra, e hoje, e é por isso que hoje entro e saio de todos os lugares
na hora que eu quiser, sem depender de homem ou de mais
ninguém. Passar bem.
Ajusto minha bolsa no ombro e passo por ela, caminhando
em direção à porta.
— Passar bem — diz Antonella, mas eu continuo em direção
à porta, ignorando-a.
Ela tenta me impedir:
— Espere!
Mesmo sem olhar para trás, consigo sentir a tensão no ar, e
Antonella solta uma última tentativa de provocação:
-Sua mãe não é a santa que você pensa, foi Nora quem traiu
seu pai primeiro.
Meus passos congelam, e viro meu olhar furioso em sua
direção.
— O que você está dizendo?
A raiva queima dentro de mim quando me viro
completamente para encará-la.
— Lave a sua boca antes de mencionar o nome da minha
mãe — rosno.
Antonella não se intimida, mantendo sua postura desafiadora.
— Você realmente acredita que sua mãezinha é uma santa,
não é, garota?
— Eu conheço a mãe que tenho, e ela nunca seria capaz
disso.
Antonella então pega algo de sua bolsa, um envelope, e joga
sobre a mesa.
— Olhe por si mesma.
Hesitante, caminho até lá e pego o envelope, olhando para as
fotografias. Elas mostram minha mãe mais jovem, ao lado de um
homem alto e de cavanhaque. Em uma das fotos, eles estão se
beijando em frente a um restaurante.
— Esse é o nível da sua mãe, garota — diz Antonella com
um sorriso cínico. — Nada muito diferente das amantes que seu pai
sempre teve.
Fico atônita, incapaz de acreditar no que vejo. Minhas
palavras saem como um murmúrio:
— Isso não pode ser real...
Antonella ameaça friamente:
— Se você não quiser que essas fotos apareçam nos
noticiários e nas páginas de fofocas nas próximas horas, você terá
que nos servir.
Minha raiva é avassaladora, mas ainda tenho controle sobre
mim mesma.
— Por que eu cederia a essa chantagem barata? —
questiono.
Antonella responde com frieza:
— Porque você não quer manchar a imagem de sua mãe.
Como deve saber, Alexander é um homem muito influente neste
país e, daqui a alguns dias, tem grandes chances de assumir a
presidência. Essa fofoca se espalhará feito rastilho de pólvora, e
isso não afetará em nada a candidatura dele, afinal, ele será a
vítima. Mas sua mãe... vivendo em uma cidadezinha no interior, será
exposta ao ridículo em todos os lugares, sob acusações de ser uma
adúltera.
Eu me viro e encaro a janela, cerrando os punhos e
sussurrando com pesar:
— Por quê? Por que tanto rancor, Antonella, se não fizemos
absolutamente nada a você?
Antonella continuou com amargura:
— De fato, vocês não têm culpa alguma. No entanto, guardo
um profundo desprezo pelas duas. Acha que foi fácil para mim
depois de casar com Alexander? Acredita que não sofri ao ser
humilhada e rejeitada por seus pais e irmãos, que sempre
preferiram sua mãe? Levei anos para conquistar aquele casal de
idosos cabeças-duras, que felizmente já estão seis pés abaixo."
— Você se sente inferior. É isso?
Antonella retruca com desdém:
— Inferior a quem? A vocês? Estou muito acima de todas
vocês, Alyssa. E se você acha que tem a mínima chance de se
casar com Leonel, está profundamente enganada. Essa posição
pertence a Isabella desde o início, e ninguém a tirará dela. Seu
destino continuará sendo o mesmo que o de sua mãe, perdendo
para minhas filhas. Sempre.
Enquanto observava as fotos na mesa, comecei a me
preocupar com o impacto que aquilo poderia ter na vida da minha
mãe.
E então Antonella fez uma última tentativa de persuasão:
— Pense bem. A reputação e a paz da sua mãe estão nas
suas mãos agora.
Com Antonella lançando aquela ameaça, meus pensamentos
ficaram turvos e confusos. As dúvidas pairavam em minha mente
como uma nuvem escura. Tudo o que eu sabia naquele momento
era que eu estava entre a cruz e a espada. E deveria pensar bem
antes de tomar qualquer decisão.
Enquanto dirijo pela cidade em cima da minha moto, que
estava quase enferrujando devido às poucas vezes que a tenho
usado, paro em um sinal e um grupo de pessoas dentro do carro
me olha. Talvez seja por causa dos meus trajes, um smoking
preto que só uso em ocasiões como essa, que, aliás, detesto.
Principalmente quando se trata de assuntos pessoais e de um
punhado de pessoas chatas. Ainda bem que Alyssa estará lá;
assim, minha tigresa poderá me tirar do ócio caso eu me afogue
no tédio.
Ao estacionar minha moto diante do hotel, um
manobrista prontamente se aproxima. Passo-lhe as chaves e
adentro o suntuoso saguão, onde outro funcionário parece
aguardar minha chegada.
Enquanto ponho os pés no salão de festas, percebo que
a celebração já está em andamento. O número de convidados é
limitado, conforme eu esperava, mas eles preenchem cada
centímetro da sala, segurando taças de champanhe ao som de
jazz antigo. Alguns rostos me são familiares de nosso círculo
social, enquanto outros são enigmas.
Logo, Alexander e sua esposa se aproximam,
estendendo calorosas saudações.
— Leonel, é um prazer vê-lo novamente. Você
finalmente chegou.
— Pois é — minha resposta é tingida de desinteresse
enquanto cumprimento a mulher ao seu lado, que acrescenta:
— Estou honrada em conhecê-lo, senhor.
— Me chame apenas de "Leonel" — forço um sorriso para ela
e, com um olhar inquisitivo, pergunto: — Então, onde estão elas?
De repente, uma figura com uma máscara ridícula que me
lembra o Zorro aparece ao meu lado, e quando ele abre a boca, fica
claro que aquele homem é Panazzollo.
— Finalmente, nosso convidado muito especial chegou. As
jovens estão quase derretendo de expectativa.
Alexander parece compreender meus pensamentos e
instrui Panazzollo:
- ​Dê início imediatamente à cerimônia. Leonel está
ansioso para conhecer minhas filhas.
— Como o senhor desejar — Panazzollo assente
respeitosamente e sobe ao palco, alcançando o microfone.
Ele bate no microfone e começa a falar como um
verdadeiro mestre de cerimônias:
— Senhoras e senhores, sejam bem-vindos ao Hassler
Roma Hotel. É com grande alegria que os recebo na festa de
celebração da vida das filhas do candidato Alexander Banker.
Festa de celebração da vida? Pensei com desdém,
enquanto buscava Alyssa entre a multidão. Enquanto isso, o
palhaço continuava com suas palavras no palco:
- ​(…) Mais do que uma celebração, esta festa é um
marco na vida destas jovens que estão desabrochando. Por favor,
aproveitem a noite, comam, bebam, riam e divirtam-se, meus
queridos — ele abre os braços sob os aplausos da plateia.
Ele desce do palco em minha direção, informando que a
primeira com quem eu conversaria seria Giorgia.
A garota de bochechas rosadas que eu já conhecia surge
entre os convidados e me cumprimenta com um sorriso tímido.
Panazzollo sai pela lateral do palco, deixando-nos
sozinhos. Começar com Giorgia pareceu uma escolha acertada,
já que a conversa fluiu naturalmente entre nós, talvez porque já
nos conhecêssemos. Pergunto sobre como vão as coisas na
faculdade, e ela me conta que os últimos dias foram os melhores,
com muitas pessoas perguntando por mim e pela minha Bugatti.
Sorrio ao perceber que a juventude é igual em todo lugar.
Depois de meia hora de conversa, Giorgia se despede, e
outra garota se aproxima. Ela é mais alta que Giorgia e tem uma
expressão naturalmente fechada. Chiara se apresenta e me
convida a nos sentarmos em uma mesa mais reservada.
Sentamo-nos um em frente ao outro, e eu inicio a
conversa:
— Então, Chiara, né?! Você gosta de crianças? — Uno as
mãos e as descanso sobre a mesa.
— De crianças?
— De crianças? Claro. Mas bem longe de mim — ela diz
um pouco amarga. Ao notar o clima estranho, pigarreia e corrige-
se: — Brincadeirinha! Adoro brincar, sabe? Brincar é meu hobby
favorito. Meu astral está sempre lá em cima, e você sabe como
são as pessoas desse tipo, adoram aqueles pestinhas fofinhos.
Cruzo os braços, ficando com a sensação de que essa
mulher é uma grande mentirosa.
E quando pensei que as coisas não podiam ficar mais
estranhas, o tempo de Chiara se esgota, e outra mulher, Martina,
ocupa o lugar vago ao meu lado. Ela começa a falar, gesticulando,
jogando os cabelos para trás e tocando meus braços de maneira
provocadora. Até aí, tudo bem, mas a situação fica ainda mais
desconfortável quando sua mão escorrega do meu braço para o
meu colo, acariciando meu membro sob a mesa e fazendo com que
ele reaja involuntariamente ao estímulo.
— Se eu for a escolhida, você não irá se arrepender
nenhuma noite da sua vida, Léo — ela sussurra
provocativamente.
Quando percebo que a situação passou dos limites, seguro
a mão da mulher atrevida e a afasto de mim, dizendo:
— Por que não se senta do outro lado, senhorita Giorgia?
— Meu nome não é Giorgia. Eu me chamo Martina.
— Eu acho que deu pra entender, não é?
A chama de provocação se apaga instantaneamente em
seus olhos, seus ombros murcham de vergonha, e ela faz o que
peço, levantando-se e se sentando em frente a mim, onde
poderíamos conversar de forma mais respeitável.
— Me desculpe por isso, Léo.
— Leonel. — Corrijo.
— Leonel. — Ela repete e continua: — Eu juro que não sou
assim. Não sei o que me deu, mas acho que é tudo culpa da
doença que tenho.
— ​Que tipo de doença? — O que essa mulher está
dizendo?
— Eu… eu… Desde pequena, sofro de Blibiomaneia Táctil.
— Blibiomaneia o quê?
Ela completa dramaticamente:
— Táctil. É uma doença rara onde não conseguimos
controlar onde colocamos a mão.
Minha mente dá um nó. Isso foi longe demais. Uma
vontade súbita de sorrir me atinge, mas disfarço pegando meu
celular para fazer uma rápida pesquisa.
— Essa doença já é registrada? Pode me dizer novamente
o nome para eu procurar no Google?
— NÃO! — Ela grita, e meus ouvidos doem.
— Por que não?
Ela coça a cabeça, e uma garçonete se aproxima com uma
bandeja oferecendo champanhe.
-Não, obrigado — recuso sem olhar para a funcionária do
hotel. Mas uma ideia me ocorre: — Espere mais um pouco! —
peço à mulher ao nosso lado, sem tirar os olhos de Martina.
Então, pergunto à garçonete: — Você conhece alguma doença
com o nome Blibiomaneia Táctil?
Continuo encarando Martina, que engole em seco. Para
minha surpresa, a mulher ao meu lado responde com uma voz
forçadamente aguda:
- ​Sim, eu já ouvi falar dessa doença. Tenho uma vizinha
que sofre deste mal.
Martina solta o ar pela boca, e meu olhar sobe pela
primeira vez para a garçonete mascarada ao meu lado.
Aqueles olhos, penso.
Ela assente nervosamente e diz com a voz aguda:
— Com licença.
Enquanto Martina fala à minha frente, ainda continuo olhando
a garçonete que se afasta. Minha cabeça dá um giro, balanço-a e
volto a me concentrar na mulher em minha frente.
Quando a garçonete se afasta, minha mente começa a
divagar, ponderando quando seria a vez de Alyssa. Outra mulher
se senta em minha frente e se apresenta como Helena, e começo
a ficar impaciente. Será que colocaram Alyssa por último?
Fico um pouco distante em meus pensamentos enquanto
Helena conversa comigo, tentando ser o mais breve possível em
minhas respostas. Embora ela não faça o meu tipo, entre todas,
parece ser a mais sensata.
Quando Helena sai, decido ir atrás de Panazzollo e sua
maldita lista, pressionando-o para adiantar meu encontro com
Alyssa.
— Eu sinto muito, Leonel. Não sei o que acontece, mas
parece que essa filha em especial teve um imprevisto e não
poderá comparecer.
Imprevisto? Será que aconteceu algo com ela? Verifico
meu celular, e o homem em minha frente sugere:
— Isabella, a última candidata, está te esperando. Por que
você não vai falar com ela?
Fico na dúvida se vou ou não atrás de Alyssa, mas decido
que seria melhor terminar essa obrigação logo e falar com a
última candidata. Me dirijo à mesa, onde uma mulher de cabelos
longos já me aguarda. Imediatamente a reconheço. Era a mesma
mulher que apareceu em meu escritório, a Miss Itália.
Me sento à sua frente e a cumprimento sem muita emoção.
Ela faz o mesmo, mas extremamente educada, e diz sem olhar
nos meus olhos:
- ​Antes de começarmos, gostaria de pedir perdão por
aparecer em seu escritório. Naquele dia, eu não sei o que deu em
mim.
Ela continua olhando para a mesa, e eu respondo
friamente:
— Não se preocupe. Mas não faça mais isso.
Ela levanta o olhar, com os olhos arregalados, como se
percebesse que para me agradar, teria que se esforçar muito,
começando por não ser intrometida.
Ela começa a se apresentar, fala sobre sua vida após
vencer o Miss Itália 2018, menciona as pessoas que conheceu, as
ações sociais que participou e diz que sonha em ter filhos.
Enquanto ela fala, faço um esforço para me manter
concentrado no que diz, mas minha vontade é sair daquela mesa e
encontrar Alyssa. No entanto, mantenho minha compostura até o
final.
Quando Panazzollo surge para anunciar o fim do tempo,
sinto um alívio profundo e me levanto.
— Aonde o senhor vai? — Panazzollo questiona,
visivelmente preocupado.
— Embora — respondo de forma seca, sem dar muitas
explicações.
— Embora? — Panazzollo insiste. — Ainda nem
anunciamos a filha escolhida.
— Deixemos isso para depois. A mulher que eu quero não
está aqui. — Retiro as chaves da minha moto do bolso e me
encaminho para a saída, atravessando a multidão. No entanto,
enquanto me afasto, algo chama minha atenção. Uma pinta na
parte de trás do pescoço de uma das garçonetes.
Aquela marca, penso.
De repente, as lembranças da noite que compartilhei com
Alyssa naquela cama na mansão na Sicília inundam minha
mente. Recordo-me da vez que tracei o trajeto com o cano de
um revólver desde sua nuca até descer por seu corpo.
Movido por uma curiosidade instintiva, sigo a garçonete até
a área de serviço. Ela olha para trás, preocupada, mas quando
estamos em um corredor, aumento a velocidade e a alcanço,
pegando-a pela cintura e a encurralando contra a parede. Retiro
sua máscara rapidamente e me deparo com seus olhos.
O que diabos ela está fazendo vestida assim? — esta
pergunta ecoa em minha mente enquanto a observo ofegante.
CAPÍTULO 32
- ​Por que diabos você está vestida assim? — Leonel
rosna, seu olhar varrendo minhas roupas com desconfiança.
No decorrer da vida, sempre segui meu próprio coração,
mas desta vez, precisei abrir mão das minhas vontades para
proteger alguém que amo, submetendo-me à vontade de
Antonella. Por isso, a princípio, sinto que não posso dizer a
verdade a Leonel.
— Me responda, Alyssa! Alguém te obrigou a fazer isso?
— Não, ninguém me obrigou. — Respondo com firmeza,
tentando manter a fachada.
— Não minta para mim. Você é péssima com mentiras.
— Estou dizendo a verdade.
— Então está querendo dizer que, ao invés de estar
conversando comigo naquela maldita mesa, você está aqui
trabalhando como garçonete no meio da noite? Isso não faz o
menor sentido. Me conta logo o que está acontecendo.
Liberto-me do seu toque e dou um passo para trás.
— Você ao menos poderia me dar um pouco de espaço?
Você está me sufocando.
Embora tenha dito isso apenas para interromper suas
perguntas insistentes, meu coração se aperta ao vê-lo recuar
com uma expressão preocupada no rosto.
Ao ver que ele não desistirá fácil, jogo duro.
- ​Você deve voltar para lá e conversar com uma das
minhas irmãs agora. Esse é o seu destino, Leonel, não o meu.
— Isso quer dizer?
— Quer dizer que nunca fui uma escolha quando o plano
envolve obrigações. Você não me ama, você me quer apenas
porque sou conveniente para os negócios de sua organização
criminosa.
— Alyssa, eu...
— Não precisa dizer nada, Leonel. Por favor, eu tenho que
voltar ao salão de festas, e, bem, não quero mais que fale comigo
a partir de agora, está bem?
Ele me olha de uma forma que faz meu coração apertar,
pois essas não são as palavras que eu queria dizer a ele. Antes
que eu ceda à tentação de abrir o jogo, afasto-me dele em
direção às pessoas que devo servir. Coloco minha máscara de
volta e pego uma bandeja em cima de uma mesa na entrada do
salão, seguindo em direção às mesas dos convidados.
De tempos em tempos, confiro meu celular para ver se
minha mãe respondeu às minhas mensagens, mas ela ainda está
fora da área de cobertura.
Nesse momento, Panazzollo sobe ao palco, já que Leonel
retornou ao salão de festas, e começa a falar no microfone:
— Caros convidados, espero que tenham se divertido esta
noite. Finalmente, chegou o momento mais aguardado da noite, o
mais esperado da vida destas jovens. O grande e magnífico
magnata Leonel Di Domenico convidará uma das filhas de
Alexander para conhecê-la melhor. Se é que me entendem.
Leonel, suba ao palco!
Panazzollo começa a aplaudir, encorajando os outros a
fazerem o mesmo, e o salão é tomado por uma salva de palmas
enquanto Leonel sobe ao palco.
As palmas diminuem à medida que Leonel se aproxima do
centro do palco, parando ao lado de Panazzollo.
O showman pergunta com o microfone:
— Ui! Estou ansioso por isso. Leonel, você conversou com
todas as filhas de Alexander, com quem você quer passar os
próximos momentos?
Ele levanta o microfone, seu olhar perdido por um
momento. As pessoas ao redor estão esperando uma resposta,
inclusive minhas irmãs, que parecem roer as unhas de ansiedade.
O silêncio se prolonga mais do que o esperado, e depois,
seu olhar azul, antes perdido, ganha vida e começa a procurar
algo nos rostos da multidão.
Quando seus olhos estão prestes a abranger todo o salão,
dou um passo para trás, mas é tarde demais. Seus olhos já me
encontraram.
Ele me fita por alguns segundos, daquela forma que me faz
perder o fôlego, e em seguida, leva o microfone próximo à boca,
dizendo:
— A mulher com quem quero passar os próximos dias... —
ele faz uma pausa, e eu respiro profundamente, preparando-me
para o que está prestes a dizer. — Não apenas os próximos dias,
mas toda minha vida... é a Alyssa Bankers — ele conclui, olhando
profundamente em meus olhos.
Ficamos nos encarando, e aos poucos percebo a confusão
entre as pessoas ao nosso redor.
Uma mulher ao meu lado pergunta: "Quem é Alyssa? Ela
também é filha de Alexander?” Outra pessoa ali perto responde:
"Não sei. Nunca ouvi falar nesse nome."
Panazzollo parece ficar apressado e pega outro microfone
no palco, sorrindo nervosamente:
— Deve ter havido algum engano, pessoal. Não é possível
que o senhor Di Domênico tenha escolhido Alyssa, já que a
candidata em questão nem compareceu ao evento de hoje. Afinal,
não se pode querer alguém que não se conhece.
Leonel replica:
- ​Você está enganado. Entre as filhas de Alexander,
não há ninguém que eu conheça tão bem quanto Alyssa.
Ele volta a me olhar e diz:
— Hoje eu só posso perceber que há um pouco de suas
irmãs nela.
Eu balanço a cabeça, tentando dissuadi-lo, mas ao mesmo
tempo, no fundo, ansiosa pelas palavras que ele dirá a seguir:
— Por exemplo, ela às vezes pode ter o humor de sua
irmã Chiara e em poucos minutos sorrir graciosamente como sua
outra irmã Giorgia. Ela tem a beleza tão impressionante quanto a
Isabella, mas os pés firmes no chão quanto a Helena. E, bem,
não posso contar o que ela tem em comum com Martina, pois
isso só nos diz respeito, mas... eu percebi que... eu sou
completamente e irrevogavelmente apaixonado por ela. E,
apesar do que ela me disse minutos atrás, isto não é um
negócio. — Ele deixa de falar com plateia e começa a direcionar
as palavras para mim: — Alyssa, eu te amo além da superfície e
de qualquer outro motivo que me levou até você.
Nesse ponto, meus olhos já estão marejados, e minhas
emoções escapam do controle, é como se aquele homem tivesse
minhas cordas e soubesse onde puxar. Ele entrega o microfone
a Panazzollo e desce rapidamente as escadas laterais do palco
em minha direção.
Ele se aproxima, seu olhar fixo em mim, enquanto minha
pulsação ecoa em meus ouvidos como um tambor frenético. Ele
para bem à minha frente, joga a bandeja em minha mão fora e
desliza a mão em seu bolso, retirando uma caixa aveludada.
Quando ele abre a caixa, as faíscas dos diamantes
cintilam, formando um anel deslumbrante. Meus olhos estão
vidrados no anel quando ele diz em um tom de voz particular:
— Tigresa, você quer casar comigo?
Eu fico momentaneamente em estado de choque, olhando
para o anel com fascinação e esquecendo o mundo a nossa volta.
— Leonel...
De repente, vejo uma mão tocar o ombro de Leonel, e meu
olhar recai para o lado, onde meu pai, Alexander, está nos
observando.
— Não acho que esse seja o momento mais apropriado,
rapaz. Temos que conversar mais sobre essa decisão precipitada.
Guarde essa aliança.
Leonel se vira para ele, enfrentando-o:
— Não há ninguém aqui precipitado, Alexander. Não
precisamos mais conversar. O acordo que minha família tem com
você não importa mais, minha decisão é puramente pessoal. Vou
me casar com sua filha, e a única que terá direito a opinar em
nossa decisão é ela.
Meu pai aperta os lábios, sua mandíbula tensa.
— Alyssa, venha comigo? — Leonel me estende a mão, e
meus olhos vagam entre ele e minhas irmãs, que parecem estar
também em estado de choque e confusão.
Volto a olhar Leonel ao meu lado e, num momento de
loucura, decido seguir meu instinto e agarro a mão dele.
Leonel me tira dali, e caminhamos de mãos dadas até o
hall de entrada do hotel. Enquanto esperamos seu carro chegar,
ele se dirige a mim com cuidado:
— Para onde você quer ir agora?
A confusão reina em minha mente, mas eu sei o que
quero:
— Para algum lugar longe daqui, por favor.
Ele assente, sorrindo, e então algo inesperado acontece.
Um manobrista traz uma moto até nós, entregando as chaves a
Leonel. Meus olhos se arregalam de surpresa.
— Você veio nisso? — Pergunto, chocada e um pouco
apreensiva.
Por algum motivo desconhecido, tenho um medo
paralisante de motos.
— Sim, algum problema?
— Problema? Não, imagina. Eu só...
Ele me interrompe com um gesto gentil, tirando um
capacete e me ajudando a encaixá-lo em minha cabeça,
certificando-se de que está seguro. Depois, ele coloca seu
próprio capacete e monta na moto.
Ele me ajuda novamente, e eu apoio meu pé, sentando-me
na extremidade do banco alto da moto. De repente, Leonel dá um
solavanco, fazendo meu corpo descer e colar ao dele ao passo
que envolvo meus braços firmemente em torno de sua cintura.
— Primeira regra para iniciantes: confie e certifique-se de
que está amarrada ao piloto.
— Existe mesmo essa regra?
— Claro que sim. Eu acabei de inventar exclusivamente
para nós.
Ele abre um sorriso sexy e dá partida na moto, fazendo todo
o meu corpo tremer.
Cruzamos as ruas da cidade noturna com um profundo
sentimento de incerteza permeando meu ser. Em determinado
momento, talvez percebendo meu nervosismo, Leonel retira uma
das mãos do guidão da moto e segura a minha, buscando
acalmar-me. E ali, enquanto suas mãos se entrelaçam com as
minhas, sigo a regra de confiar, apertando sua mão.

CAPÍTULO 33
Já se passaram várias horas desde que Leonel e eu
partimos, e o sol está prestes a surgir no horizonte. É uma
verdadeira aventura. Quando meu celular vibra no bolso, reúno
coragem para pegá-lo e peço a Leonel que encontre um lugar
para parar. É minha mãe.
Felizmente, ele localiza um gramado próximo ao
acostamento, junto a um lago, onde estaciona a moto à sombra
de uma árvore. Desço da moto me desequilibrando e atendo à
ligação.
— Mãe? Onde você está? Liguei para você umas cem
vezes ontem.
"Ah, minha filha, estou acampando com minhas amigas
e perdi o sinal. Por que toda essa preocupação? O que você
quer?"
Olho para Leonel, que permanece na moto, e me afasto
um pouco para garantir que ele não ouça o que estou prestes
a dizer.
— Eu queria saber se a senhora traiu o Alexander com
outro homem — sussurro.
"Se eu traí seu pai? De onde você tirou essa ideia, sua
menina atrevida?", ela responde visivelmente ofendida, e de
alguma forma, sinto um alívio. Então, explico:
— A mulher dele me mostrou algumas fotos do passado
da senhora com outro homem. Por isso estou perguntando.
"Ela mostrou foi? E como era esse homem?"
— Alto e com um cavanhaque.
"Alto e com um cavanhaque? Ah, esse foi meu primeiro
namorado depois que me separei do seu pai. Eles têm fotos
nossas? Meu Deus! Então, isso significa que eles contrataram
um detetive para me seguir naquela época?"
Sinto um alívio ao saber disso. Ao que parece, Antonella
confundiu minha cabeça apenas para conseguir o que queria.
“Mas por que essa mulher mostrou essas fotos a você?
Qual era a intenção dela?"
Tentando não entrar muito em detalhes para não a preocupar
a essa hora, desconverso:
— Não estou certa do que ela está tramando. Mas, mãe,
você não tem nada a temer, está tudo bem agora.
Minha mãe parece aliviada com as palavras, mas ao mesmo
tempo, preocupada com o que está acontecendo. Suspiro e
continuo:
— Vamos deixar isso de lado por enquanto, mãe. Vá curtir
seu passeio e ficar bem feliz. Eu te amo e prometo que vou te
manter informada.
Após mais algumas palavras reconfortantes, desligo o
telefone e retorno para onde Leonel está esperando.
Ele me olha com curiosidade e preocupação. No entanto,
tento agir o mais normal possível para não o preocupar também.
— Está tudo bem, Leonel. Era apenas minha mãe, e tudo
parece estar bem com ela agora.
Ele parece relaxar, mas sua expressão fica séria quando olha
nos meus olhos.
— Alyssa, nós precisamos conversar sobre o que aconteceu
lá atrás, na festa.
Inspiro profundamente, ciente de que esta conversa inevitável
estava prestes a acontecer.
— Sim, nós precisamos — começo, — Leonel, eu... Eu ainda
estou confusa. Não sei se essa é a decisão certa, se deveríamos
mesmo nos casar.
Sua expressão muda.
— Pensei que tivéssemos superado isso. Quer dizer, eu te
amo, e eu achei que você sentisse o mesmo por mim.
Fixo meus olhos nos dele, sentindo um nó se formando na
minha garganta.
— Eu não disse que não te amo. Mas casamento é uma
decisão enorme, e eu não quero que isso seja apenas uma resposta
ao que aconteceu na festa.
Ele parece frustrado, passando a mão pelo cabelo.
— Eu quero um tempo, Leonel. Preciso de mais um tempo
para pensar e entender o que realmente quero.
Ele olha para o chão, respirando fundo.
— Então, o que você quer, Alyssa?
Fico em silêncio por um momento, ponderando minhas
próprias palavras.
— Sim. É o que eu quero.
— Ótimo, então.
Mas não posso deixar a conversa encerrar dessa forma. As
palavras continuam a fluir, alimentadas pela tensão.
— Se neste tempo, você resolver se casar com uma das
minhas irmãs, tudo bem. Eu estarei disposta a pagar o preço de te
perder se você não me esperar.
Ele me olha com incredulidade, depois sai da moto, tirando a
caixa da aliança do bolso e caminhando em direção à beira do lago.
— O que está fazendo? Ei. O que vai fazer?
Sem hesitar, ele arremessa a caixinha aveludada no fundo do
lago. Fico olhando chocada para o que ele acabou de fazer.
— Você está maluco? Aquele anel deve custar mais de um
milhão de euros.
— Mas se torna inútil já não vou mais casar. Eu vou ser
solteiro. Foda-se essa história de casamento, eu vou viver a minha
vida como um puto.
Ele retorna à moto, e eu corro atrás dele.
— Fez isso porque está chateado por que não vamos casar?
Ele ri com ironia.
— Chateado? Por não casar? Me faça rir, Alyssa.
Monta na moto e coloca o capacete.
— Então o quê? Me diz. Se não é capaz de me esperar por
mais alguns dias, por que deveria me casar?
— Desconsidere tudo, Alyssa. Você tem razão, eu sou um
homem mau. Muito mau.
Ele acelera, e eu grito:
— Ei, vai me deixar aqui sozinha, seu maluco? Volta aqui,
seu idiota arrogante.
Corro atrás dele pelo acostamento até que, depois de alguns
metros, ele finalmente para e faz meia volta.
Estanco meus passos, apoiando as mãos nas coxas, aliviada
por ele estar voltando. Claro que ele não me deixaria ali sozinha. No
que eu estava pensando?
Ele para ao meu lado, retira o celular do bolso e, com uma
agilidade que me surpreende, captura uma foto da placa ao meu
lado, acompanhada por um áudio imediato.
— Paolo, acabei de te enviar uma localização. Envie alguém
para resgatar a Alyssa Bankers — ele ordena com uma frieza que
me deixa perplexa.
Nossos olhos se encontram, e ele aponta na direção da
sombra reconfortante debaixo da árvore.
— Quando o sol estiver forte, espere ali, sob aquela árvore. É
apenas um conselho — ele diz com calma, abaixando a viseira do
capacete antes de acelerar pela estrada, me deixando para trás,
atônita, enquanto ele se afasta.
Finalmente, resignada com a situação, volto cabisbaixa para
perto da árvore, tentando entender como as coisas mudaram tão
rapidamente.
Com um suspiro, encaro o lago diante de mim e murmuro
com uma mistura de tristeza e confusão:
— Ele até jogou meu anel fora.
Aos poucos, começo a refletir sobre por que Leonel ficou tão
chateado. Pensando bem, compreendo sua perspectiva, mas
também me lembro das razões pelas quais precisava de tempo para
pensar. Afinal, da última vez que me entreguei ao amor, acabei com
um belo par de chifres. Confiança não é algo que venha facilmente
para mim, especialmente depois de ter sido magoada no passado.
Encaro o lago diante de mim, imersa em um turbilhão de
pensamentos. No entanto, enquanto reflito sobre as lembranças que
compartilhei com Leonel, não posso evitar sorrir ao recordar como
ele sempre foi capaz de arrancar risadas de mim e como esteve ao
meu lado desde o primeiro momento em que nos encontramos.
Então, como um raio de clareza, percebo a verdade inegável:
estou apaixonada por ele. Sim, amo-o! Não é algo que eu possa
controlar. É simplesmente um fato incontestável. Murmuro para mim
mesma, incrédula: "Merda!"
As emoções me inundam, uma complexa mistura de
felicidade, tristeza e um toque de arrependimento por não ter
percebido isso antes, quando ele ainda estava presente.
De repente, levanto-me abruptamente, levando as mãos à
cabeça:
— Meu Deus, o que eu fiz? Ele deve estar me odiando agora.
E se ele não quiser mais nada comigo? Deus! — Olho para o lago,
sentindo-me mortificada. — Fui tão dura com ele.
Respiro fundo, tentando acalmar minha mente tumultuada e
ponderando sobre o que devo fazer a seguir. Mais uma vez, meus
olhos se fixam na água à minha frente. Num impulso, começo a
avançar para dentro dela, desesperada, e começo a procurar a
caixa do meu anel.
A água alcança minha cintura enquanto me inclino, enfiando
minha mão no fundo do lago e sujando-a com a lama que se agarra
às minhas mãos.
— Eu vou encontrá-lo. Eu preciso encontrar. Juro que vou.

Pela milésima vez, minhas mãos rastreiam o leito do rio,


ansiosas para encontrar aquela pequena caixa preta. A água
escorre entre meus dedos enquanto a ansiedade se mistura com a
persistência. A sensação de algo áspero contra minha mão faz meu
coração disparar de alegria.
Ao erguer o objeto no ar, meu coração dispara, e a adrenalina
corre pelas minhas veias.
— Eu encontrei. É ela, eu a encontrei! — Grito em êxtase,
pulando na água como uma criança. Mas minha alegria é
interrompida abruptamente quando desvio o olhar para minha frente
e percebo um homem parado à margem do rio, olhando para mim
com uma expressão imperturbável.
— Paolo? — Minha voz vacila enquanto fico imóvel no lugar.
Ele não responde imediatamente, apenas continua me
observando com suas mãos nos bolsos de sua calça social.
Finalmente, ele assente lentamente.
— Então a senhorita estava o tempo todo aqui? — Sua voz é
calma, mas há uma pitada de frustração em seu tom. — Poderia me
acompanhar, por favor? Eu a levarei para casa.
Saio da água e me coloco ao lado dele, ainda segurando a
caixinha preta em minhas mãos. Meu sorriso desaparece
gradualmente à medida que percebo a seriedade de sua expressão.
— Para onde Leonel foi? Você sabe me dizer? — Pergunto,
querendo arrancar aquela informação dele.
— Agora ele está em uma conferência da Imperium. — Sua
resposta é breve, mas sua expressão permanece dura.
— Sério? Ele parecia hoje mais cedo tão sem nada pra fazer.
— Comento, tentando preencher o silêncio desconfortável.
— Perdão, mas ele sempre tem algo para fazer. Inclusive, eu
também tenho muito o que fazer. — Paolo responde com um
resquício de irritação.
— Nossa, que mau-humor, hein?! Mas bem que ele deveria
ter enviado um táxi em vez de ocupar você com coisas
desnecessárias.
— Eu concordo plenamente.
Cruzo os braços, lançando um olhar enviesado para aquele
filhote de família Adams, e ele completa tentando me consertar o
clima que se formou entre nós:
— Mas ele me envia sempre quando algo é importante.
— Deve ser porque eu sou importante para ele — digo
brincando, mas minhas palavras perdem a leveza quando continuo
pensando alto: — Ou era. Porque depois do que eu disse para ele
hoje, dificilmente ele vai querer saber de mim.
Paolo permanece impassível, não comentando sobre minha
observação. Em seguida, tenho uma ideia que pode ser a solução
para minha situação.
— Paolo, será que você poderia me levar até essa
conferência na Imperium agora? — Pergunto com um olhar
suplicante. — Vai! Eu quero falar só um minutinho com ele. Prometo
que não vou tomar muito o tempo do chefinho.
Ele hesita por um momento, avaliando a situação, e então
exibo meu sorriso mais simpático, esperando que ele aceite meu
pedido.
No final, depois de muitas súplicas e uma dose significativa
de persuasão, Paolo finalmente concordou em me levar até o
terraço onde estava ocorrendo a reunião da Imperium. Lembro-me
dos três dias de folga que Leonel me concedeu para me concentrar
apenas no evento de Alexander. Mas agora, com o coração
dilacerado pela possibilidade de perdê-lo, sinto que teria sido melhor
ter permanecido na empresa, longe das palavras impensadas que
proferi na beira da estrada.
À medida que entramos em um prédio ao lado da Imperium,
onde ocorria a décima conferência de investimentos sustentáveis,
organizada pela Imperium, senti os olhares de julgamento das
pessoas na recepção em minha direção. Eu estava molhada, e para
piorar, com as roupas sujas, mas eu não me importei. Tudo o que
desejava era vê-lo novamente, desesperadamente. Ansiava por
dizer que o amava, gritar para o mundo inteiro ouvir e eliminar todas
as dúvidas que poderiam existir entre nós dois.
O elevador sobe lentamente, e meu coração bate tão alto que
parece ecoar em meus ouvidos. Minhas mãos suam
incessantemente, reflexo da ansiedade que me domina. Quando as
portas do elevador se abrem, avanço rapidamente, deixando Paolo
para trás com seus passos calmos. Caminho apressadamente entre
as pessoas concentradas na palestra, e só então percebo que a voz
do palestrante me é familiar. Viro o rosto em direção ao palco, no
fundo do terraço, onde um púlpito de LED está estrategicamente
colocado. Ele está lá, absurdamente lindo em um terno cinza que
realça seus olhos profundos e cabelos dourados, brilhando contra a
luz do sol. Quando nossos olhares se cruzam, é como se o tempo
parasse. O mundo ao nosso redor desaparece, e estamos
mergulhados naquela energia única e intensa que só acontece
quando estamos juntos. Eu sei. Ele é o completo oposto do que
imaginei para minha vida, mas, de alguma forma, se encaixa
perfeitamente em mim. Leonel, com olhares furtivos ao redor, tenta
retomar a reunião, mas uma vontade súbita toma conta de mim.
Meus pés agem por conta própria, levando-me até ele, subindo ao
palco. Ele se vira e eu paro em sua frente. Seus olhos me
questionam, mas não posso mais adiar o que sinto.
— O que aconteceu com você, Alyssa? — Ele pergunta,
confuso, ao descer o olhar para minhas roupas sujas de barro.
— Esqueça aquelas palavras. Aquelas palavras sobre
precisar de um tempo para pensar, não preciso desse tempo. Eu
percebi que só preciso de você — confesso, com a voz trêmula.
Puxo uma pequena caixa que estava cuidadosamente
guardada no bolso da calça e a mostro a ele. Seus olhos se
arregalam com surpresa.
— Você...
— Sim, eu entrei no lago, e não saí de lá até pegar de volta
— murmuro, inspirando fundo e continuo: — Eu apenas estava com
medo, e continuei blefando para mim mesma, ignorando os sinais,
tentando parecer mais forte do que realmente sou, enquanto você
me dava todas as razões para me apaixonar. Mas, tigrão,
aconteceu, estou caindo a cem quilômetros por hora, e só espero
que você ainda esteja lá para me segurar quando eu aterrissar.
E então, quando menos esperava, ele envolve minha cintura
com sua mão firme, e instantaneamente meu coração começa a
bater mais forte. Com um toque que faz minha pele arrepiar, ele
afunda seus lábios mornos nos meus, espalhando um calor
reconfortante por todo o meu peito. E então, como em um final de
filme de romance, a plateia que nos observava começa a aplaudir.
Mas para nós, era apenas o começo.
CAPÍTULO 34

Semanas depois, as coisas não poderiam ter corrido melhor.


Alyssa aceitou casar comigo, e agora estou no altar da catedral da
Sicília, com boa parte da famiglia como testemunha.
Ao meu lado, na fileira, está a mãe dela, uma senhora de
semblante afável e confiante, que me faz lembrar muito Alyssa.
Do outro lado da primeira fileira, encontra-se Alexander, sua
esposa e suas filhas. Seus semblantes parecem tensos, como
estivessem em um funeral. Alexander olha em minha direção com
respeito, e eu retribuo. Embora tenha tentado assumir o controle
semanas atrás, fiz questão de deixar claro quem é o chefe.
Olho para o relógio, estranhando a demora. No entanto,
confio na tradição de que noivas costumam se atrasar, considerando
que minha tigresa era uma mulher vaidosa e cheia de bom gosto.
Deve estar demorando um pouco mais para aparecer linda na igreja
para mim, o que deve estar dando trabalho a Paolo, encarregado de
trazê-la até aqui.
Impaciente, olho novamente para o relógio em meu pulso, e é
então que meu celular toca. Retiro-o do bolso da calça e vejo que é
Paolo.
Atendo prontamente e sussurro:
— Algum problema, Paolo? Por que a Alyssa está
demorando tanto?
— Não será possível que ela chegue à igreja, Don Leonel.
— Do que está falando? O que está acontecendo? Por que
não vai ser possível ela chegar?
Paolo faz uma pausa, criando uma tensão insuportável, e
finalmente revela:
— Porque a raptaram no caminho da igreja, senhor.
Ao ouvir essas palavras, meu sangue ferve e minhas mãos
começam a esmagar o celular.
Não pode ser. Maldição!
CAPÍTULO 35
As cordas apertam meu pulso com firmeza, e a mordaça
sufoca qualquer tentativa de grito. Estou imobilizada, perdida em um
pesadelo sem fim. Minha mente gira com a realidade de ser
arrancada do carro a caminho do meu próprio casamento com
Leonel. E então, as lâmpadas acendem abruptamente, inundando a
sala escura com uma luz intensa e dolorosa.
Ofuscada pela súbita claridade, piscou várias vezes para
ajustar meus olhos. E então, à medida que a visão clareia, meu
coração dá um salto quando vejo um par de sapatos bem lustrados
se aproximando lentamente.
Meus olhos se erguem, e minha surpresa cresce quando
percebo que é Alexander, meu próprio pai, que se aproxima de mim
naquele lugar aterrador.
Com mãos firmes, ele remove a mordaça que aprisionava
minha boca, e eu engulo em seco, minha garganta seca e dolorida.
— Onde estamos? — pergunto, minha voz um pouco ébria.
Ele responde com calma:
— Estamos em Sorrento.
A informação me atinge como um soco no estômago. Como
viemos parar tão longe?
— Como você se sente? — ele pergunta, sua voz cortando o
silêncio.
Levanto o olhar e respondo com voz trêmula:
— Péssima. O que está acontecendo? Que lugar é esse? O
casamento, eu tenho que chegar…
— Não se preocupe, não haverá mais casamento, Alyssa —
ele diz com serenidade.
— Como? Você… — minhas palavras vacilam, incapazes de
formular uma pergunta coerente.
— Eu te trouxe até aqui — ele responde, como se lesse meus
pensamentos.
— Por quê? — pergunto, horrorizada.
Ele respira fundo e começa a dizer:
— Alyssa, a verdade é que eu não queria que você fosse a
escolhida para se casar com Leonel. Minha intenção era que uma
de minhas filhas, especialmente Isabella, fosse a peça-chave para
atrair Leonel para nossos planos. Mas o destino, de maneira cruel e
irônica, fez com que fosse você por quem ele se apaixonou. Eu
tentei evitar isso, utilizando aquelas fotos da sua mãe para te afastar
do evento, mas você acabou aqui.
As fotos. Ele estava por trás daquelas fotos?
Ele suspira profundamente antes de continuar:
— Entenda, o que está em jogo é mais do que apenas um
casamento. Leonel representa uma ameaça para mim, e eu
precisava mantê-lo sob controle. Isabella, com sua beleza e charme,
teria sido a isca perfeita para isso. Mas, agora, você é a chave para
nosso plano. A emboscada está armada, e infelizmente, Leonel terá
que pagar o preço.
Ele me encara com seriedade antes de concluir:
— Espero que, no final, você compreenda que tudo isso foi
necessário para proteger nossa família e nosso império. Seu
sacrifício, embora doloroso, é parte do jogo que precisamos jogar.
— Solte minhas mãos agora. — Minha voz está cheia de
preocupação.
— Logo você estará livre, bambina. Como previsto, ele cairá
facilmente na emboscada, pois está apaixonado. É por isso que
pessoas como ele devem ficar longe desses sentimentos.
— Uma emboscada — repito as palavras morrendo em minha
boca e um frio subindo pela minha espinha.
Ele olha para mim, e meu corpo congela diante de seu olhar
sombrio.
— Você está planejando mesmo… — minha voz treme.
— Sim, ele será executado.
— Não — começo a chorar, meu peito apertado. — Você está
louco? Os homens dele virão atrás de você e vão te acusar de
traição. Aí sim você terá um sério problema…
— Não, não virão, minha filha. Infelizmente, não era você
quem deveria estar aqui, mas olha como o destino pode ser cruel.
Já está feito!
A porta se abre, e outro homem entra com um fuzil na mão.
Meu coração dá um nó quando o reconheço: era Vincenzo. O
subchefe.
— Deus! — sussurro.
Alexander se afasta de mim, e meu desespero aumenta.
— Quando tudo isso terminar, se tudo sair como planejado,
eu serei o subchefe, e prometo que você terá uma vida dos sonhos.
— Eu não quero nada disso, você é nojento! — Rosno, e seu
olhar escurece.
Não há sujeira no submundo, Alyssa, apenas negócios — ele
responde friamente antes de se levantar e se dirigir até Vincenzo.
— Tenha uma boa estadia, ragazza — diz Vincenzo enquanto
a porta do que parece ser um porão se fecha.
— Ei, não me deixem aqui! — grito com toda a minha força.
— Alexander, volte aqui! — Mas só o silêncio me responde na
escuridão.
Desesperada, minhas mãos continuam a lutar contra as
cordas que me prendem. Sinto minha pele se abrasar, meus punhos
começam a machucar, mas a ânsia de me libertar é implacável.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto, misturando-se com o suor da
frustração. Meus dedos tremem, e a dor aumenta, mas não importa.
Eu tenho que escapar.
No entanto, depois de muitos minutos de luta desesperada,
percebo que é inútil. As cordas são implacáveis, e meus esforços
não fazem mais do que agravar a dor em meus pulsos. Uma
sensação de derrota esmagadora me domina, e deixo minha cabeça
cair para trás, soluçando.
As imagens de Leonel em perigo, inundam meus
pensamentos. A ideia de que ele está na mira de uma emboscada
orquestrada por eles é insuportável. Sinto meu coração apertar-se
em agonia, e a sensação de impotência me consome.
Lembro-me de seu sorriso, dos momentos felizes que
compartilhamos, e as lágrimas caem mais rapidamente. Minha
mente fica repleta de arrependimentos e dúvidas. Como eles podem
ter feito isso com ele?
Em meio ao meu choro angustiado, minha mente luta para
encontrar uma solução, uma maneira de alertar Leonel, de salvá-lo.
Mas as amarras mantêm minha esperança sob controle. Estou
encurralada, e a única coisa que posso fazer é chorar e rezar para
que algum milagre aconteça.
CAPÍTULO 36
O silêncio na Sicília parece pesar sobre meus ombros
enquanto me sento sozinho em meu escritório. A reunião com os
capos da família terminou horas atrás, e o vazio deixado pela
ausência de Alyssa preenche cada canto deste lugar. Todos
partiram, mas eu ainda estou aqui, esperando por um telefonema
que parece nunca chegar.
A angústia me consome, e minha mente se afunda nas
memórias daquele dia fatídico. Era o dia do nosso casamento, e eu
a esperava ansiosamente no altar da catedral de Palermo. O
coração batia forte, ansioso por vê-la descer pelo corredor em seu
vestido branco, sorrindo com aqueles olhos que sempre me
acalmavam.
Mas Alyssa nunca chegou. O que aconteceu naquele trajeto
até a igreja é uma ferida aberta em minha alma. A angústia que ela
deve ter sentido naquele momento, quando homens encapuzados a
cercaram e a arrancaram do carro, me assombra. A voz de Paolo,
que estava conduzindo o veículo naquele dia, ecoa em minha mente
como uma sentença de morte.
Homens encapuzados a levaram à força, e ele foi incapaz de
impedir. A busca frenética que se seguiu, a incerteza, as noites sem
dormir, tudo isso se desenrolou diante de meus olhos como um
pesadelo sem fim.
Mas agora, aqui, sozinho em meu escritório, começo a unir
as peças desse quebra-cabeça. A lembrança de como ela
desapareceu, o incidente com o prisioneiro que tentou me matar
tempos atrás e que ele está sob a tutela dele. As peças começam a
se encaixar, e a verdade emerge aos poucos.
Paolo estava em todos os cenários, e isso não pode ser uma
coincidência. A traição paira no ar, e o cheiro é sufocante. Será que
aquele que deveria ser meu braço direito, meu irmão na máfia,
esteve conspirando contra mim o tempo todo?
Decido que não posso esperar mais. A noite está escura,
mas a lua brilha no céu, lançando sua luz sobre a Sicília
adormecida. Saio silenciosamente do meu escritório e entro em meu
carro, determinado a encontrar a verdade, não importa onde ela me
leve.
As ruas estreitas da Sicília se estendem diante de mim, e o ar
está denso enquanto dirijo até o hotel onde Paolo costuma se
hospedar quando está na Sicília.
Antes de sair do carro, coloco minhas luvas de couro preto, e
ao entrar no hotel, peço discrição aos funcionários, que prontamente
acatam meu pedido ao me reconhecerem. Subo silenciosamente até
o décimo andar, onde sei que Paolo está hospedado. Cada passo
que dou é cauteloso, e minha mente está alerta.
Chego à porta do quarto de Paolo e entro com rapidez. Uma
uma pistola com um silenciador está firme em minha mão. A
escuridão dentro do quarto é total, mas meus olhos se ajustam
rapidamente.
Caminho furtivamente pelo quarto, meus passos leves e
silenciosos. Chego à cama, onde Paolo deveria estar dormindo, e
puxo o lençol de repente. A cama está vazia, apenas travesseiros
criam uma ilusão de presença.
Nesse momento, sinto o cano da arma encostar em minha
nuca, e uma voz sem cor inconfundível sussurra:
— Está me procurando, Don Leonel?
CAPÍTULO 37

Os dias se arrastam naquela sala escura, minha fraqueza


cresce a cada hora, e o pânico torna a alimentação impossível.
De repente, a rotina sombria é quebrada. A porta se abre
abruptamente, revelando um homem encapuzado segurando uma
arma.
Ele anuncia que fui "promovida" para um quarto. Sua voz é
gélida e impessoal, como se fosse instruído a não me dar abertura.
Luto para me levantar, minhas pernas trêmulas mal
sustentam meu peso, e sigo-o pelos corredores escuros, como se
estivesse entrando em um labirinto de uma construção antiga.
Finalmente, sou trancada em um quarto, e meu coração se
aperta ao perceber as grades que cobrem todas as janelas. Fico ali,
abraçando meu próprio corpo, minha única companhia nesta prisão
solitária.
Meus olhos se fixam no vestido cuidadosamente dobrado
sobre a cama. Com mãos trêmulas, começo a tirar o meu próprio
vestido de noiva e dirijo-me ao banheiro adjacente e ligo o chuveiro.
A água fria que cai sobre mim é como um choque que reaviva meus
sentidos, ao mesmo tempo revigorante. Lavo cada tensão da
preocupação que tem me acompanhado.
Finalmente, visto a nova roupa e me aproximo da janela. Ao
olhar para fora, deparo-me com um terreno que parece estender-se
por quilômetros, parecendo ser afastado da civilização, um cativeiro
perfeito para o plano de Alexander.
Enquanto observo aquela paisagem desolada, uma pergunta
inquietante martela em minha mente: onde ele está?
Que ele não venha atrás de mim. É melhor que me deixe
aqui. A incerteza corrói meu âmago, mas sei que preciso encontrar
uma maneira de escapar deste pesadelo, de uma forma ou de outra,
e avisá-lo sobre os planos de Vincenzo e meu pai.
A noite se estende e me vejo imersa em pensamentos e
ociosidade. Observo o jardim, cercada por homens armados, a
atmosfera carregada de uma tensão.
De repente, percebo que um dos homens lá embaixo
cambaleia e cai. Outro se aproxima, mas também parece ser
atingido e desaba. Meu olhar é atraído para a vegetação próxima,
onde um homem vestindo roupas escuras e um boné preto emerge.
Meu coração dispara.
Seria ele?
Não consigo ver seu rosto claramente, mas um segundo
homem de preto aparece no jardim, empunhando uma pistola. Os
dois se separam e meu instinto me diz que devo fazer algo.
Desesperadamente, pego o espelho ao meu lado e começo a
refletir a luz da lâmpada para fora, criando um sinal luminoso. Por
sorte, um dos homens percebe e alerta o outro, apontando na minha
direção.
Um deles se aproxima na direção da janela e ergue o rosto,
então consigo vislumbrar seu rosto na sombra do boné. É ele. Meu
coração salta de alegria, e um sorriso silencioso toma conta de mim.
Ele pede cobertura para o outro homem e guarda a pistola,
começando a escalar a parede, utilizando as pedras que revestem a
antiga construção. Ele passa ao lado da janela gradeada e continua
a subir até o telhado. Ouço os sons suaves de seus passos no teto
e, através da janela, vejo uma corda sendo lançada do telhado.
Meu coração bate rápido de antecipação enquanto uma parte
do teto é levantada e Leonel aparece, pendurando-se e saltando
para dentro do quarto. Automaticamente, o abraço com força,
lágrimas silenciosas escorrendo pelo meu rosto.
"Meu amor", ele sussurra, afagando meus cabelos.
Mas, lembrando das palavras de Alexander, me afasto e
sussurro:
— Você não pode estar aqui, Leonel. Meu pai, Alexander, e
até mesmo Vincenzo estão envolvidos.
Ele segura meu rosto com as mãos e me tranquiliza:
— Está tudo bem agora. Não se preocupe, eu sei disso.
— Você sabe? — pergunto, incrédula.
— Venha comigo. Não temos tempo. Suba em meus ombros
e vá até o telhado — ele ordena.
Controlando a emoção, faço o que ele diz. Leonel se abaixa,
e eu subo em seus ombros, apoiando-me em uma das vigas do teto.
Quando alcanço o telhado, percebo que a porta do quarto
está se abrindo lá embaixo. Olho para Leonel em pânico, porque ele
ainda está dentro do quarto. Em um movimento rápido, ele salta e
consegue segurar uma das vigas, mas é tarde demais, pois um dos
homens já entrou.
Leonel solta uma das mãos e retira a arma de sua calça,
enquanto o homem faz o mesmo. No entanto, Leonel é mais rápido
e atira com precisão, fazendo o homem cair no chão com um
estrondo ensurdecedor devido ao seu tamanho.
Leonel guarda a arma e se move rapidamente em direção ao
telhado, onde estou, enquanto a porta se fecha atrás dele.
O tempo avança implacável, e meu nervosismo cresce a
cada momento. Leonel parece ter um plano definido, e eu preciso
confiar nele. Determinado, ele pega a corda e me entrega.
— Temos que ser rápidos — afirma, entregando-me a corda.
— Desça! — Sua voz é firme.
— O quê? — pergunto, incrédula, observando a corda
suspensa na escuridão.
— Segure a corda e deslize. — Ele parece paciente, mas há
urgência em suas ações.
— Como vou fazer isso, Leonel? — Minha voz trêmula reflete
meu medo crescente, e minhas mãos estão úmidas de suor.
Agora de me olha impacientemente, pega minhas mãos e as
guia até a corda, depois faz o mesmo com minhas pernas.
— Agora pule. — Sua voz não admite objeções.
Olho para baixo e sussurro, o medo dominando meus
pensamentos:
— Eu não posso. Isso é muito alto.
— Qual outra alternativa nós temos? — A impaciência na voz
de Leonel é evidente.
— E se eu cair e bater com a cabeça e morrer? Eu tenho
medo… — Minha voz vacila, mas antes que eu termine de falar, ele
se agarra à corda e se posiciona atrás de mim. Sinto a corda se
mover, e meu estômago se revira quando percebo o que ele está
prestes a fazer.
Quando menos espero, ele salta, nos fazendo deslizar pela
parede. Um grito sufocado escapa dos meus lábios, e fecho os
olhos com força, agarrando-me à corda desesperadamente. O vento
chicoteia meu rosto enquanto descemos.
Finalmente, quando aterrissamos, minhas pernas tremem, e
meu corpo treme de alívio e adrenalina. Leonel me olha com um
sorriso triunfante.
— Viu? Não foi tão difícil, tigresa. — Sua voz soa triunfante.
— Você me paga, Leonel. Deveria ter me avisado antes. —
Meu humor oscila entre o medo e a raiva.
— Isso não é hora para discussões, Alyssa. Vem, vamos! —
Ele me puxa pela mão, e começamos a correr em direção à mata,
deixando para trás o pesadelo dos últimos dias.
Conforme nos aproximamos de uma estrada ali perto, um
carro está à espera. Leonel assume o volante, e eu me sento no
banco do carona.
— E a pessoa que veio com você? — pergunto, preocupada.
— Combinamos que ele pegaria outra estrada. — Ele
responde enquanto observa carros saindo da curva ao longe atrás
de nós na estrada.
— Droga. — Leonel pragueja, como se não tivesse planejado
isso. Ele pensa rápido e pergunta: — Você sabe dirigir, tigresa?
— Dirigir, como ter carteira de motorista? Não, não consegui,
pois reprovei nas últimas tentativas. — Respondo, com nervosismo
na voz.
— Mas sabe colocar um carro em movimento? — Ele está
impaciente, e a visão pelos retrovisores indica que os carros estão
quase nos alcançando.
— Isso eu sei, mas…
— Ótimo. Venha! Troque de lugar comigo. — Sem demora,
nos reorganizamos, e troco de lugar com ele. O motor ronca quando
acelero, não há alternativa senão pisar fundo no acelerador. Que
seja o que Deus quiser.
O carro dá partida, e eu começo a dirigir em linha reta. Leonel
pega uma metralhadora no banco de trás, abre o teto solar e
começa a atirar. Ele se abaixa e recebe um contra-ataque ainda
mais violento, enquanto eu suo frio dirigindo. Nossa sorte é que o
motor do carro em que estamos parece ser mais potente do que o
dos capangas que nos perseguem.
Tudo parece estar indo bem até que deixamos de seguir em
linha reta e entramos de vez em uma via movimentada.
Um outro carro à nossa frente não parece colaborar, e eu
começo a buzinar enquanto o carro dos perseguidores se aproxima.
Leonel, impaciente, ordena:
— Desvie dos carros, tigresa.
Começo a ficar preocupada, mas faço o que ele diz,
realizando zigue-zagues descoordenados enquanto ele tenta voltar
para o teto solar para nos dar cobertura. No entanto, em uma
dessas manobras, ele cai de volta no banco quando quase batemos
pela segunda vez.
Ele parece preocupado com a maneira como desvio dos
carros enquanto os perseguidores fazem o mesmo.
— Ragazza, você disse que sabia dirigir.
— Não foi o que você perguntou, amore mio. Você perguntou
se eu sabia colocar um carro em movimento? E eu avisei que
reprovei várias vezes nas provas de condução.
— Quantas vezes você reprovou? Três?
— Dez!
— Dez? — ele pergunta apavorado. — Quem reprova dez
vezes nas provas de condução?
— Prazer, eu — digo, desviando de um caminhão e quase
batendo no veículo ao lado enquanto ele tenta recuperar o
equilíbrio.
— Agora está explicado. Faz sentido você voltar a pé do
trabalho — Leonel comenta, agarrando a alça acima da janela.
— Mas eu voltava a pé porque meu apartamento era perto, e
eu gostava disso. — Minha voz tenta manter uma certa
normalidade, apesar da crescente sensação de medo.
— Como você quer que eu acredite nisso, nessas
circunstâncias, Alyssa? — Sua voz fica mais grave ao fazer uma
ultrapassagem arriscada. — A Margot deveria ter te ensinado a
dirigir em vez de atirar.
— Por favor, podemos deixar as críticas para outra hora? Não
está ajudando em nada. — Minhas mãos tremem enquanto me
concentro na estrada à nossa frente.
Nervosamente, chegamos a uma ponte com duas faixas.
Porém, o pânico me faz sair para a contramão, e uma carreta se
aproxima em nossa direção. Fico paralisada.
— Vire. Vire. Vire — Leonel percebe meu estado de choque e
gira o volante no último instante.
Por um triz, evitamos um acidente grave e voltamos para a
faixa correta. Respiro fundo, aliviada, enquanto Leonel resmunga ao
meu lado:
— Isso já foi longe demais. Venha, sente-se no meu lugar,
mas continue acelerando. Eu mesmo vou dirigir.
Sigo suas instruções, mantendo o pé firme no acelerador
enquanto ele troca de lugar comigo, assumindo o volante. Abraço a
metralhadora, ainda em pânico.
Leonel olha pelo retrovisor e percebe que eles ainda estão
nos perseguindo, disparando tiros. Quando passamos da ponte e
chegamos a uma área elevada cercada por precipícios, vejo Leonel
respirar fundo e verificar novamente o retrovisor.
— Segure-se firme. — Ele diz com firmeza.
— O que você vai fazer? — pergunto, preocupada.
— Vamos voltar.
Instintivamente, seguro-me nas bordas do banco, e Leonel
gira o carro, deixando-nos parados no meio da pista enquanto os
outros carros se aproximam.
Eu tento sorver o ar com força e é quando Leonel toma uma
decisão audaciosa. Em um instante, ele pisa fundo no acelerador, e
o carro responde com um rugido selvagem. Os pneus cantam no
asfalto, deixando uma nuvem de fumaça para trás, e por puro
instinto, seguro-me nas bordas do banco.
E então acontece. Com um movimento preciso, Leonel faz
com que o carro da esquerda colida com o da direita, ambos
perdendo o controle. Com um estrondo ensurdecedor, os dois
veículos inimigos caem da estrada e desaparecem no precipício ao
lado.
Mas, como se o destino tivesse um senso de equilíbrio, nosso
triunfo é efêmero. Enquanto comemoro internamente, vejo algo
terrível surgir à nossa frente. Uma carreta gigante está vindo em
nossa direção, e sem muito para raciocinar, entramos em rota de
colisão.
Leonel luta para controlar o carro, tentando desviar de uma
batida frontal, mas o carro acaba furando a mureta de bloqueio, e
uma sensação de peso toma conta de nós enquanto paramos
inclinados perigosamente no limite entre o precipício e o abismo.
Olho para baixo, e o vazio é avassalador. Parece que
estamos à beira de um abismo que se estende por cerca de cem
metros de altura até o mar revoltoso lá embaixo. As ondas batem
nas rochas com fúria, como se estivessem ansiosas para nos
receber em suas profundezas.
O desespero ameaça me dominar, e minhas mãos
instintivamente encontram a trava do cinto de segurança. Mas antes
que eu possa soltá-lo, Leonel me segura com firmeza.
— Não faça isso. Se soltar o cinto de segurança, o carro
despenca.
Sinto um calafrio percorrer minha espinha, e as lágrimas
começam a inundar meus olhos. O abismo se abre diante de nós, e
parece que não há escapatória.
— Como você quer que eu fique calma à beira da morte?
Meu Deus, Leonel.
Ele me olha profundamente, seus olhos buscando os meus
em meio à escuridão.
— O que você mais gosta em mim? — Ele pergunta, como se
quisesse encontrar um último raio de esperança em meio ao
desespero.
A pergunta me pega de surpresa, mas começo a pensar,
desesperadamente, tentando encontrar uma distração para a
situação angustiante em que nos encontramos.
— Por que está perguntando isso agora? — Minha voz vacila,
e tento secar as lágrimas com as costas da mão.
— Responda. O que você mais gosta em mim?
Me esforço para pensar, mesmo que naquele momento tudo
pareça perdido. As palavras saem enquanto enxugo o rosto
molhado:
— Eu gosto quando você sorri.
Posso jurar que, mesmo à beira do precipício, ele esboça um
sorriso, como se quisesse me dar um último motivo para sorrir
também.
— Eu prometo que vou sorrir mais se a gente sair daqui, e te
levar para passear em Roma, na garupa de uma daquelas
lambretas amarelas, enfrentando uma longa fila de cinema. O que
acha disso? — Ele tenta me fazer sorrir em meio à tragédia.
— Don Leonel enfrentando uma fila de cinema? — Pergunto,
tentando esboçar um sorriso em resposta à sua ideia improvável.
— Por que não? — Ele responde, sua voz firme, como se o
futuro ainda fosse uma possibilidade.
Meu olhar se volta para ele, e finalmente um sorriso escapa
dos meus lábios:
— Essa eu queria ter visto.
Em meio àquele momento sombrio, nossos olhos se
encontram, e uma expressão de amor transborda entre nós.
— Eu te amo, tigresa — ele sussurra, as palavras carregadas
de emoção.
Com lágrimas nos olhos, sussurro de volta:
— Eu também te amo, tigrão. Muito.
Enquanto nos seguramos desesperadamente no limite da
vida e da morte, nossas palavras de amor nos confortam e nos dão
forças para enfrentar o desconhecido.
Mas a situação ainda é crítica, e o carro à beira do abismo
serve como lembrança constante da nossa vulnerabilidade. No
entanto, Leonel não desiste.
— Eu tenho um plano. Por favor, fique aqui, tigresa.
Ele tira a chave da ignição e começa a reorganizar o carro,
abaixando o banco do motorista para trás e me pedindo para fazer o
mesmo. Nervosamente, obedeço, e com cuidado, ele tira o cinto de
segurança e se move para o banco de trás, redistribuindo o peso do
veículo.
— Agora teremos que sair pela parte traseira.
Ele abre o porta-malas com a chave do carro e pede para
que eu vá primeiro. Caio sobre uma superfície rochosa, arranhando
meus joelhos, e vejo Leonel saltar logo atrás de mim.
Ainda atônitos com o que acabara de acontecer, olhamos
para cima e, por um momento, ficamos em silêncio, absorvendo o
fato de termos sobrevivido àquela situação terrível.
No entanto, não há tempo para nos recuperarmos. O carro,
agora desprovido de qualquer ocupante, parece hesitar por um
breve momento na beira do precipício, como se estivesse
ponderando sua queda iminente.
Em seguida, ele começa a inclinar-se perigosamente para
frente, a gravidade exercendo sua força inexorável. O rugido dos
pneus contra a superfície áspera das pedras ressoa em meus
ouvidos. Parece uma eternidade, mas é apenas um instante, e
então o carro começa sua queda e termina com um clarão de uma
explosão lá embaixo.
Começo a tremer, e a sensação é paralisante. Não sei se é o
medo que me faz tremer ou o frio cortante daquele lugar desolado.
Mas antes que eu possa entender o que está acontecendo, Leonel
age rápido. Ele se move para trás do meu corpo, e seus braços
fortes envolvem-me, proporcionando um calor tão delicioso que me
faz suspirar involuntariamente.
Seu rosto se encaixa perfeitamente na curvatura do meu
pescoço, e sua respiração quente me acalma. Com aquela voz
rouca que só ele possui, ele sussurra palavras que, de alguma
forma, conseguem dissipar todo o medo que havia tomado conta de
mim:
— Quer que eu te distraia de novo?
— Eu quero, sim. — Sorrio, me tremendo.
— Bem, meu amor, parece que você realmente precisa
melhorar suas habilidades de direção. Quase nos matou naquela
perseguição.
— Sério, Leonel? Agora você quer brincar com isso? Quase
tivemos um final nada engraçado. E foi você quem nos colocou no
precipício.
— Eu sei, eu sei. Desculpe, não resisti. Estou apenas te
distraindo.
— E eu estava apenas tentando ser uma motorista ousada,
como nos filmes.
Ele gargalha.
— Bem, você certamente conseguiu a parte ousada. Agora,
sobre a parte de ser uma boa motorista...
- — Vou considerar isso um incentivo para continuar tentando.
— Boa ideia, meu amor. E eu vou estar lá para ser seu
instrutor pessoal, se você quiser.
— Tenho certeza de que você vai me ensinar todas as
manobras de fuga, não é?
— Claro, e também algumas táticas evasivas. Nunca se sabe
quando vamos precisar delas novamente.
Enquanto ele me aquece com os seus braços e sua
conversa, começo a perceber um barulho estranho que se
intensifica no céu. Meus olhos se erguem em pânico, buscando a
origem do som, e é quando vejo um helicóptero sobrevoando o
lugar. Meu coração dispara, e o medo se apodera de mim, pois não
tenho ideia de quem possa estar a bordo.
Leonel, ao notar minha agonia, força a visão e consegue
identificar algo que eu não consigo discernir no momento. Ele olha
para mim com confiança e tenta me acalmar:
— Não tenha medo, tigresa. Eles são de confiança, estão
aqui por nós. Acabou. E nossa vida… apenas começou.
CAPÍTULO 38
Dias antes
Sinto o frio do cano da arma pressionando contra meu
pescoço e ouço sua voz glacial:
— Está me procurando, Don Leonel?
— Paolo. — O nome dele, escapa de meus lábios como um
sussurro gélido.
— Vire-se e coloque as armas sobre a mesa — ele ordena.
Cumpro a ordem, pousando meu revólver com cuidado, seguido por
duas pistolas retiradas das minhas roupas.
— A faca também.
Tiro a faca de combate do meu tornozelo e a coloco sobre a
mesa.
— Pode se virar de novo — Paolo ordena com sua habitual
indiferença.
— Foi você, não foi, seu desgraçado? É você que está por
trás disso.
Ele guarda sua arma, mantendo sua expressão impassível.
— Por que acha que sou eu? — ele pergunta.
— É muita coincidência você estar presente em todos os
eventos recentes.
— Vai me acusar de traição? Então vá em frente, me mate —
ele oferece sua arma, e eu o encaro com confusão. — Mas me
execute com minhas próprias armas, como símbolo da minha
lealdade ao longo dos anos.
Que tipo de jogo ele está jogando? Aceito a arma dele, ainda
desconfiado, mas sem intenção de dispará-la, pelo menos não
agora.
— Não sou raiz de tudo isso. Mas há alguma parcela de
culpa minha nessa história.
Franzo a testa, inclinando a cabeça para o lado e ouvindo o
que ele tem a dizer.
— Meses atrás, em uma das minhas reuniões com Vincenzo,
ele apresentou um plano de traição, visando assumir o cargo de
Don.
— Vincenzo? Esse traidor age pelas minhas costas?
— Age, e continua a agir.
— E você? Aceitou se unir a ele?
— A priori, não. Mas Vincenzo não teria proposto algo tão
imoral sem uma carta na manga. Como sabe, Leonel, eu deixei uma
vida para trás, uma família.
Havia algo sobre Paolo que apenas meu pai e eu sabíamos;
ao contrário da maioria de nós, ele não vinha de uma família
tradicional da máfia. Ele tinha uma vida anterior, que abandonou
para seguir seu próprio caminho.
— Vincenzo planejou tudo com antecedência, inclusive
investigou minha vida até encontrar minha família, e, com todo o
respeito, Don Leonel, eu simplesmente não pude... eles estavam
torturando-os em uma vala no deserto.
— Vincenzo, maldito — rosno.
— Espere, ainda há mais. Alexander...
— O que aconteceu com Alexander?
— Ele é cúmplice de Vincenzo.
Meu sangue começa a ferver, os últimos dias voltando à
minha mente enquanto aperto o punho, a fúria crescendo em meu
peito. Como esse desgrudado pôde? Rosno, me viro para Paolo e
declaro:
— Traidores.
— Se desejar qualquer chance de redenção, prepare-se,
Paolo. Esconda sua família nos confins da terra se preciso, pois
vamos agir na calada da noite, sem avisar absolutamente ninguém.
Não permitirei que nenhum capo, soldado, e muito menos
associados fiquem a par disso. Surpreenderemos todos eles no
momento menos esperado e os faremos pagar.
CAPÍTULO 39
Sorrento - Itália
l
O gatilho cede à pressão do meu dedo, e a bala perfura a
testa do maldito. Vincenzo cai no chão, e eu me permito saborear a
doçura da vingança por alguns instantes, relembrando os dias em
que meus pais sofreram nas mãos desse canalha à minha frente.
Encaro o corpo sem vida e, em seguida, tiro o boné preto da
cabeça, imaginando que Leonel já deve estar a quilômetros de
distância agora.
Caminho pela sala com calma, pego o celular, desbloqueio a
tela com o dedo do desgraçado no chão e, em seguida, me
acomodo na poltrona verde-musgo no centro da sala, ligando a
televisão em um canal ao vivo.
Na tela, surge Alexander em seu último debate, e as eleições
estão marcadas para o dia seguinte, com pesquisas indicando 80%
de intenção de votos a favor dele. Observo o sorriso em seu rosto,
mas sei que essa felicidade logo desaparecerá em questão de
segundos.
Ao terminar o debate, com o telefone de Vincenzo, faço a
ligação. Ele demora um pouco para atender, provavelmente
ocupado, mas, talvez por se tratar de uma chamada relacionada a
Vincenzo, ele atende.
— O que você quer, Vincenzo? Por que está me ligando a
essa hora? Estou saindo de um programa de televisão agora.
— Olá, Alexander.
Do outro lado da linha, percebo que ele fica imóvel.
— Paolo?
— Bingo! — tiro um cigarro do bolso e o acendo. — Ótimo
ouvido, meu caro.
— Onde está Vincenzo?
— Ele está caído aqui, ao lado da poltrona em que estou
sentado, com um tiro na cabeça.
— Seu...
— Ouça com atenção! Não tenho a noite inteira, então saiba
que seu pequeno mundo miserável está prestes a ruir.
— O que está falando?
— Em breve, todos os jornais estarão noticiando suas
atividades ilegais, seu passado sujo e, principalmente, os crimes
que cometeu e que foram acobertados pela Cosa Nostra.
— Você não pode fazer isso.
— Tem razão, eu não posso. Mas a Cosa Nostra pode, e
esse é o preço de ser um traidor.
— Paolo... não desligue... Paolo.
Encerro a chamada e mudo de canal, assistindo ao caos se
espalhar pelos noticiários. Pego o cigarro, trago-o com calma e,
enquanto solto a fumaça, sinto como se estivesse apreciando uma
orquestra sinfônica. Cada nuvem de fumaça se dispersando no ar é
como uma nota musical perfeitamente afinada, e meu paladar se
delicia com a queda suave e dissipação do fumo, como se estivesse
testemunhando uma melodia divina. É um prazer quase mórbido,
tão vívido quanto a queda iminente daqueles que traíram a famiglia.
FINAL
Um ano se passou desde meu casamento com Leonel, e
nesse período, esses seguranças têm sido uma presença constante
em minha vida, como uma sombra, sempre me acompanhando para
qualquer lugar, até mesmo quando estou apenas tomando um café
em uma cafeteria com uma amiga.
Gemma me lança um olhar significativo enquanto segura sua
xícara de café e observa os seguranças.
— O que foi? — sussurro para ela.
Ela fica corada de vergonha e murmura baixinho:
— Isso é tão constrangedor.
Nós sorrimos juntas e continuamos aproveitando nosso café.
Gemma me entrega um convite de casamento, e adivinha só, o
romance com o cara do departamento deu certo. Eles estão juntos
há dez meses e esperando o primeiro filho. Ah, eu estou feliz por
ela.
Gemma é um amorzinho e merece todas as coisas boas da
vida.
Desde que nos conhecemos no departamento jurídico, nos
tornamos melhores amigas, e muita coisa mudou por lá desde
então. Gemma foi promovida a chefe do setor quando o Sr.
Anderson precisou se aposentar compulsoriamente devido a uma
hérnia de disco. Parece que ele não conseguia mais passar horas
intermináveis sentado em sua cadeira giratória, algo que ele
adorava fazer.
Quando terminamos nossa conversa e o café, Gemma avisa
que precisa ir embora, pois ainda tem mais convites de madrinhas
para entregar. Levantamo-nos, pagamos a conta e descemos para o
andar inferior do café.
Quase chegando à porta de saída, um grupo de mulheres
parece estar tendo algum problema com o garçom.
Paro e observo com mais atenção, e tenho uma surpresa.
Eram Martina, Chiara, Helena, Isabella e Giorgia naquela mesa.
— Se vocês não pagarem, vou chamar a polícia — ameaça o
garçom.
— O que está insinuando, meu senhor? Que somos ladras?
— Martina pergunta, indignada. — Saiba que minha irmã aqui é a
Miss Itália 2018. Use a lógica, ela não faria isso.
— Cala a boca, Martina! — Isabella a repreende com sua
habitual polidez.
O garçom parece refletir por um momento ao olhar para
Isabella.
— Miss Itália? Ah, agora eu reconheço vocês. Não são as
filhas daquele ex-senador corrupto envolvido em escândalos?
— Eu disse que era para você ter ficado quieta, Martina! —
Isabella resmunga com a irmã.
— Agora estou começando a entender. As dondocas aqui
perderam a mamata do papai e estão tentando dar golpe no café
chique, agindo como grã-finas.
Helena, preocupada, entrega um cartão ao garçom.
— Por favor, tente o cartão mais uma vez — ela pede.
O homem se irrita e afirma:
— Eu já passei essa porcaria um milhão de vezes. Se não
têm dinheiro para pagar, terão que ir para a cozinha.
Chiara se mete, dizendo:
— Fala sério. Ir para a cozinha? Nem sonhando eu coloco os
pés lá.
— Ótimo, eu vou chamar a polícia, então, já que as madames
não querem saber nem de pagar e nem de trabalhar.
— Helena, desesperada, diz, unindo as mãos:
— Por favor, não chame a polícia.
Agoniada com aquela situação, sei que preciso intervir o
quanto antes. Cobrindo meu rosto, caminho até o caixa e pergunto à
atendente:
— Oi. Poderia me explicar o que está acontecendo ali?
Em tom de fofoca, ele me conta:
— Ah, parece que as dubles de ricas estão tentando dar o
golpe do cartão sem limite para tomarem café de graça. Se não têm
dinheiro, deveriam procurar um lugar com preços mais em conta.
Concordo de forma imparcial:
— Ah, entendo. Acho que vou querer pagar a conta delas.
A atendente olha chocada e indaga:
— Como?
Explico, envergonhada:
— É que já passei por uma situação parecida no passado, do
meu cartão ser recusado, e naquela época eu teria gostado que
alguém tivesse feito o mesmo por mim.
— O choque dela se transforma em vergonha, e ela pega a
maquininha:
— Caramba, você deve ser uma pessoa muito boa.
Encosto meu cartão e ela me dá minha via.
— Nem tanto. Sou apenas uma pessoa de sorte.
Sorrio e assinto para ela. Saio do restaurante enquanto a
atendente se dirige ao garçom para contar o ocorrido.
— Caminho para fora do café e vejo os seguranças com o
carro pronto para eu entrar.
— Me viro uma última vez e olho através do vidro da janela.
Eles procuram por alguém dentro do restaurante, talvez a pagadora
misteriosa.
— No entanto, uma delas me encontra, aquela garota de
bochechas rosadas, inconfundível, que parece sorrir com os olhos.
Giorgia.
— Ela me abre um sorriso doce em agradecimento, e eu
retribuo o sorriso com um aceno, levantando a mão, como um gesto
que expressa um "até logo." Entro pela porta de trás da ranger rover
preta, e um dos seguranças fecha a porta cuidadosamente ao meu
lado.
Aceno com a mão em despedida, como um gesto de "até
logo," e entro pela porta de trás da ranger rover preta, com um dos
seguranças fechando a porta cuidadosamente ao meu lado.
Nesse momento, uma enxurrada de sentimentos e
lembranças me invade. Após a queda de Alexander e seu
desligamento na máfia, sua vida retornou ao ponto de partida, e
tudo o que ele havia conquistado nesse mundo se dissipou.
Ao voltar para casa em que Leonel e eu vivemos, sinto uma
onda de reflexão me inundando. Penso em todas as vezes que me
senti abandonada e magoada por causa da ausência do um pai. A
vida me moldou de maneira única, com todas as minhas dores e
desafios, mas agora eu entendo que essas experiências me
prepararam para algo mais.
Respiro fundo, sentindo o amor e a compaixão que agora
fluem em mim. A vida tem uma maneira engraçada de ensinar lições
importantes, e a lição de hoje é clara: o amor no final tem o poder de
curar, de unir e de transformar.
Chego à mansão, e encontro Leonel ao lado da fonte do
jardim, apoiado em uma lambreta amarela. Hoje é sexta-feira, e
nosso passeio tradicional parece estar nos esperando.
Desde aquele dia em Sorrento, Leonel me prometeu que
iríamos ao cinema de lambreta toda semana, só não sabia naquela
época que a palavra do meu marido é um juramento inquebrantável.
E de certa forma, foi uma ideia melhor que esperávamos a
princípio, já que Leonel passa a maior parte da semana envolvido
em seus negócios e eu, assumindo a presidência da Imperium
Investiments após muitas insistências da parte dele. Mas às vezes
gostamos de sair um pouco desse mundo luxuoso e levar uma vida
comum.
Saio do carro e corro até ele, que me apara em seus braços
fortes e calorosos, me beijando como se ainda fosse a primeira vez.
— Pensei que tivesse esquecido do nosso sagrado passeio
semanal, tigresa.
— Jamais, tigrão. Eu quero fazer isso todas as semanas,
meses e anos com você, até estivermos bem velhinhos.
Ele sorri com os olhos.
E naqueles olhos cintilantes, encontrei o caos e a paz de que
precisava. Ele é um homem de poder, um Don da Máfia, com o
passado marcado por tradição e lealdade. Mas ele é também
alguém que encontrou em mim, uma mulher comum, um refúgio de
paz. Seus olhos são portas para um mundo de caos e um oásis de
tranquilidade, e é nessa dualidade que me encontro vivendo. Assim,
em meio ao seu mundo sombrio e ao meu mundo comum,
encontramos um amor que brilha, como uma estrela solitária na
noite escura da vida.

FIM!
Maria Júlia
Meus olhos se abrem em ritmo letárgico e um resmungo
escapa entre os meus lábios ao sentir os feixes de luz queimarem
minhas retinas. Porcaria! Onde estou?
Esfrego os olhos e me sento no sofá, olhando para o deus
grego deitado sobre o mesmo estofado onde estava, e um sorriso
bobo rasga o cantinho da minha boca ao me deparar com o rosto
perfeito de Bernardo, o chefe mais lindo que eu poderia ter. Estou
dentro de um sonho? — Chego à conclusão de que sim, já que isso
não faz o menor sentido. Primeiro, porque não sei bem onde estou e
nem como vim parar aqui. E, segundo, não tinha a menor chance do
meu chefe ter finalmente me dado uma chance depois de todos
esses anos.
Aproveito que estou dentro de um sonho e desço os olhos pelo
peitoral perfeito de músculos torneados. Repuxo o lábio inferior em
desejo e murmuro:
— Eles parecem tão macios.
Uma voz sopra em meus ouvidos: “por que você não toca? ”
Tocar?
“Isso, garota! Estamos em um sonho, não? O que há de errado
tocar em algo que só existe na sua cabeça? Aproveita. É a sua
chance! ”
Raspo a língua entre os lábios, sendo tentada pela sugestão da
voz em minha cabeça. Mas ela tem razão. Talvez essa seja a minha
única chance de tocar em Bernardo Brandão sem a supervisão de
seus olhares. Afinal, não há nada de errado tocar em algo que só
existe na minha cabeça.
Obedeço à voz e passeio meus dedos sobre a pele do seu
peitoral nu. A pele é macia como aparenta ser e os músculos, rijos e
deliciosamente quentes, que até parece ser real.
Em meu sonho, estamos nus em um sofá no salão de seu
restaurante, o que torna ainda mais excitantes as coisas. Contemplo
o rosto angulado e a barba por fazer, demorando-me nos lábios
carnudos que sempre quis beijar. E se eu o beijasse agora?
Inclino meu corpo para frente e desço meu rosto em direção ao
seu rosto, saboreando sua respiração mentolada. Deus! Eu quero
morar para sempre aqui!
Quando nossas bocas estão prestes a se unir, os olhos verdes
de Bernardo se abrem em um rompante, com aquela mesma forma
de olhar que provoca medo em quase todos os seus funcionários.
— Júlia?
— Oi — sussurro, timidamente.
Ele se levanta, afastando-me para o lado, olhando ao redor,
então, por puro instinto, cubro meus seios com o antebraço e coloco
uma almofada em cima do meu colo. Por que de repente esse
sonho me parece real até demais?Ele olha para o próprio corpo e
logo após me analisa da cabeça aos pés, parecendo assombrado.
— Cacete! — ele pragueja, levantando-se, e fita as taças
manchadas de vinho na mesinha ao lado do sofá. — Isso não
poderia ter acontecido!
O cheiro de bebida pela primeira vez me embrulha o estômago
e as memórias da noite anterior invadem minha cabeça em
saraivadas.
Bernardo veste a cueca, que pegou no chão, e esbraveja
andando de um lado para o outro:
— Porra! Quantas vezes eu mandei você ficar longe de mim,
Júlia? O que você tem na cabeça? Seu irmão vai me matar!
— Nós transamos? — pergunto, abismada.
Ele para e me encara com os olhos pegando fogo.
— Deveria ter te demitido na primeira oportunidade. — Ele
pensa alto: — Que merda eu tinha na cabeça ao te aceitar aqui?
— Nós transamos ou não?
— É o que parece.
— É o que parece? Você também não se lembra da noite
passada?
Ele parece finalmente parar e forçar a memória.
— Não — ele conclui honestamente, o que faz todo o sentido.
Bernardo e eu nos embebedamos na noite passada, só assim
para ele me ver como alguém que pode ser tocada.
— Tudo o que me lembro é da nossa conversa antes de
começarmos a beber... — ele fala, apertando o punho, e pragueja:
— Cacete! Me desculpe, Júlia.
Desculpas?
Eu acabei de realizar um sonho, e ele me pede desculpas?
Mas por que também não consigo me sentir radiante com a
situação? Talvez não me lembrar dos detalhes da noite que tanto
sonhei em ter com ele, não faz com que eu fique animada.
— Por que está me olhando com essa expressão? Não me
diga que ontem... — ele engole em seco —, você perdeu a
virgindade?
— Virgindade? — Pisco duas vezes e, em seguida, explodo
uma gargalhada. — Não, não. Pode ficar tranquilo quanto a isso,
Bernardo.
Meu Deus! Ele achava que eu ainda fosse virgem? Durante
todos esses anos?
Ele volta a caminhar de lado para o outro e diz:
— Não conte ao seu irmão até que eu ache o momento certo.
— O quê? O que o Victor tem a ver com isso? Você vai contar
para ele que nós dois transamos?
— Você não ia contar?
— Claro que não. Por que eu contaria? Acha que saio
revelando minha intimidade para o irmão?
Bernardo parece parar e pensar com racionalidade.
— Então você não vai contar?
— Lógico que não! Espero que você não conte também.
Ele olha para o lado, parecendo respirar aliviado.
— A noite de ontem foi um erro — ele diz. — Sabe, você me
conhece, Júlia, nunca transaríamos se estivesse em posse das
minhas faculdades mentais... Você para mim é como se fosse uma
irmã.
— Chega, Bernardo! Acho que já ouvi o suficiente. — Levanto-
me em um ímpeto, buscando pelo meu vestido florido caído no
chão.
— Vamos fazer assim, eu esqueço o que se passou entre a
gente e você faz o mesmo, e fica tudo certo — diz um tanto
pragmático.
— Sim, senhor!
Visto o meu vestido, procurando pela minha calcinha e a
encontro em cima do braço do sofá, perto da minha bolsa.
— Está chateada comigo?
— Não, senhor.
— Olha, Júlia, eu sinto muito.
Visto minha calcinha e calço minhas sandálias.
— Porra, fala alguma coisa. Agora, estou me sentindo um
merda por ter transado com a irmã do meu melhor amigo e não
tenho a mínima ideia de como agir contigo.
— Não precisa se preocupar com isso, chefe. Entendo
perfeitamente a situação e até esqueci o que houve na noite
passada.
— Neste momento não estou falando como o seu chefe. Sabe
muito bem disso, Júlia.
— Pois eu prefiro que me trate como uma funcionária com
quem transou na noite passada. É melhor do que me chamar de
irmã — digo, indiferente, ferida por dentro. — Tenha um ótimo dia,
senhor Brandão!
Ajeito minha bolsa encarando seus olhos e saio da sua frente,
caminhando em passos largos em direção à porta, sentindo meu
coração sendo esmagado pela tristeza. Limpo rapidamente as
lágrimas, aguentando firme até a saída.
Não é a primeira que choro por Bernardo Brandão e sinto que
não será a última. Mas algo em mim me diz que as coisas mudarão
depois desta manhã. Só sei o que exatamente especificar o quê.
***

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Grávida e embarque já no romance da maluquinha Maria Júlia e
o carrasco Bernardo Brandão.

[1]
Bonequinha

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