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1° edição – MARÇO 2024

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A ALINE PÁDUA


Edição: AAA Design
Ilustração: L.A. Design
Revisão: Sônia Carvalho
Para o Deus que eu acredito
Para todos os deuses que possam escutar
Obrigada por me permitirem
Obrigada por tanto, e por tudo
Sumário
Playlist
Nota I
Sinopse
Prólogo
Quando ele tenta crescer...
Capítulo 1
Quando ele tem os melhores anos ao seu lado...
Capítulo 2
Quando ele parece não te enxergar..
Capítulo 3
Quando ele encontra sua pior dor...
Capítulo 4
Quando ele tenta se vingar...
Capítulo 5
Quando ele perde quase tudo...
Capítulo 6
Quando ele sabe que ela não vai...
Capítulo 7
Quando ele é um propósito...
Capítulo 8
Quando ele é um sonho...
Capítulo 9
Quando ele é malditamente perfeito...
Capítulo 10
Quando ele não está...
Capítulo 11
Quando ele chega...
Capítulo 12
Quando ele inventa...
Capítulo 13
Quando ele implora...
Capítulo 14
Quando ele te entende...
Capítulo 15
Quando ele se veste de preto...
Capítulo 16
Quando ele se surpreende...
Capítulo 17
Quando ele se descontrola...
Capítulo 18
Quando ele a escolheu...
Capítulo 19
Quando ele não sabe o que fazer...
Capítulo 20
Quando ele não está no meu lado...
Capítulo 21
Quando ele é sua melhor versão...
Capítulo 22
Quando ele sabe onde é seu lar...
Capítulo 23
Quando ele mente...
Capítulo 24
Quando ele apenas piora tudo...
Capítulo 25
Quando ele apenas piora tudo...
Capítulo 26
Quando ele se torna uma pergunta...
Capítulo 27
Quando ele não me deixa...
Capítulo 28
Quando ele te deixa ir...
Capítulo 29
Quando ele sente sua falta...
Capítulo 30
Quando ele lutar e não pode...
Capítulo 31
Quando ele só te quer de volta...
Capítulo 32
Quando ele te vê...
Capítulo 33
Quando ele quer travar uma guerra...
Capítulo 34
Quando ele te conta a verdade, a única...
Capítulo 35
Quando ele é a pior/melhor companhia...
Capítulo 36
Quando ele se torna seu...
Capítulo 37
Quando ele sabe que é a hora certa...
Capítulo 38
Quando o “sim” significa para sempre...
Capítulo 39
Quando eles são sua própria família...
Nota II
UMA FILHA PARA O MAFIOSO QUE NÃO ME AMA
UM FILHO SURPRESA PARA O CEO
REJEITADA & CASADA COM O MAFIOSO QUE NÃO ME AMA
Torres-Reis-Kang-Esteves
UMA GRAVIDEZ INESPERADA
CEO INESPERADO – meu ex-melhor amigo
O BEBÊ INESPERADO DO COWBOY
FELIZ NATAL, TORRES
UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O VIÚVO
GRÁVIDA DO CEO QUE NÃO ME AMA
O CASAMENTO DO CEO POR UM BEBÊ
A FILHA DO VIÚVO QUE ME ODEIA
GRÁVIDA EM UM CASAMENTO POR CONTRATO
UM CASAMENTO DE MENTIRA PARA O CEO
GRÁVIDA DO COWBOY QUE NÃO ME AMA
UMA FILHA INESPERADA PARA O CEO
UMA FILHA INESPERADA NA MÁFIA
GRÁVIDA DO MAFIOSO QUE NÃO ME AMA
REJEITADA POR UM MAFIOSO
UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O MAFIOSO
UMA GRAVIDEZ INESPERADA PARA O MAFIOSO
Junqueira-Dias
UM NAMORO DE MENTIRINHA COM O CEO
UMA FAMÍLIA DE MENTIRINHA COM O COWBOY
UMA GRAVIDEZ DE MENTIRINHA COM O VIÚVO
UM CASAMENTO DE MENTIRINHA COM O COWBOY
REJEITADA & GRÁVIDA DO VIÚVO QUE NÃO ME AMA
Playlist

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Nota I

Oi!
E aqui estamos nós, mais uma vez, com os Hansen.
Uma família mafiosa com origem escandinava, que cada irmã leva o
nome de um dos deuses nórdicos. Espero que estejam ansiosas para
conhecer Loki – o nosso adorável ou nem tanto assim, deus da trapaça!
Não posso dizer muito, porque a realidade é que tudo pode ser uma
mentira, assim como, pode ser uma verdade...
Obrigada por estar aqui, por eles

Boa leitura,
Aline
Sinopse

Malena que se apaixonou por Loki que se apaixonou por Irina


que estava grávida.
Ele, oito anos mais velho.
Ela, a irmã mais nova do seu melhor amigo.
Ele, o herdeiro da máfia escandinava.
Ela, a mais nova de uma família que serve a máfia.
Ele, a vê como uma irmã mais nova.
Ela, apaixonada por ele desde os dezesseis anos.
Ele, apaixonado pela herdeira da máfia russa.
Tudo o que menos esperava, aconteceu: ela teve que calar seus
sentimentos e ainda ser usada para assumir um noivado de mentira com o
mafioso que não a ama.
Prólogo

Quando ele tenta crescer...

LOKI
Todo Hansen herda a sua própria ilha e seu próprio castelo aos
dezesseis anos. E ali estava eu, aos doze, simplesmente chegando aonde
seria a minha futura casa. Meus irmãos me matariam se descobrissem a
quantidade de pessoas que enganei para conseguir chegar até aquela
localização.
Se aquela ilha era minha futura casa, por que eu deveria esperar por
tanto tempo?
Pisei na praia de areia escura, e sorri, olhando para a mata totalmente
fechada da costa, que apenas me permitia visão de morros altos ao fundo, e
o que parecia ser, o castelo no topo de um deles.
Assim que dei meu primeiro passo, ouvi um rosnado, que me fez
parar e virar meu corpo em direção ao barulho. Foi então que encontrei um
lobo, que parecia um filhote, e fiquei perplexo, ao ver uma serpente ao seu
lado. Os dois pareciam jovens, e olhando para eles, parecia que eu
conseguia entender, o medo que eles sentiam.
Eu sentia medo deles.
Eles sentiam medo de mim.
Foi quando ouvi o barulho ao longe, de um helicóptero e corri em
direção às pedras e árvores da encosta, totalmente incrédulo. Eu sabia que
era o helicóptero de Odin, meu irmão mais velho. Só ele, se arriscaria a vir
a um lugar tão remoto.
Porém, como ele sabia que eu estava ali?
Como alguém sabia?
Eu tinha saído sem que ninguém visse. Consegui um transporte que
não era rastreável, e nenhum dos meus irmãos sabia daquela minha ideia.
Nem mesmo Freya, que era a mais próxima.
Não demorou muito, para então eu perceber que talvez Odin sempre
soubesse mais sobre nós, do que nós mesmos.
Eu era o mais novo dos irmãos junto a Freya, que era, de fato, a
caçula. Criado por todos eles, principalmente por Odin, que nos ensinou
tudo sobre a vida e sobre a morte.
Foi só assim que percebi que estava escondido atrás de uma árvore,
com o pequeno lobo e a serpente ao meu lado. Agora, nós três estávamos
com medo, só que juntos?
— Sei que está aí, Loki.
A voz de Odin chegou até mim, e eu então só coloquei a cabeça à
vista, de trás da árvore.
— Como vai, O?
O melhor era fingir costume.
— Veio visitar sua ilha mais cedo que do deveria?
— Estava curioso — admiti, e passei todo meu corpo para a frente.
— Não pude evitar.
— Disciplina, lembra? — indagou, e eu suspirei fundo. — Mas eu
sabia que planejava vir antes, e então, me preparei...
— O que...
Foi então que vi uma mulher, que deveria ser mais velha que ele,
com um garoto que parecia ter a minha idade, e uma garotinha que parecia
ainda mais nova que minha irmã caçula.
— Esses são os Dahl — ele falou, e eu fiquei perplexo.
Ouvi sobre aquela família.
Todos na máfia e os Hansen o fizeram.
Erik Dahl faleceu ao receber um tiro que seria para um dos meus
irmãos mais velhos – Tyr.
Fiz uma reverência à senhora Dahl, um agradecimento respeitoso,
por tudo que ela perdeu, para que um de nós estivesse vivo. Mesmo que
aquilo não valesse de absolutamente nada, na realidade.
— É uma família fiel e dedicada aos deuses, assim como a máfia...
— Odin continuou, quando eu me coloquei ereto novamente. — Eles
estarão aqui, para começar a sua história nessa ilha.
— Mas...
— Será uma honra, se nos permitir, senhor Hansen — a mulher
falou, fazendo uma reverência, e por mais que sempre ocorresse, de pessoas
mais velhas o fazerem comigo, me atingiu em cheio, vê-la fazer.
Algo estava diferente, e parecia, ser com aquelas pessoas em
específico.
— Um cachorrinho!
O grito infantil me fez desviar da mulher mais velha, quando vi sua
filha correr em direção ao pequeno lobo que eu tinha conhecido, assim que
pisei ali, e ela deu outro gritinho, enquanto o analisava.
— Um lobinho. — Ela parecia encantada, e eu paralisei, apenas
vendo-a interagir com os bichos que eu também acabava de conhecer. — E
uma cobrinha... Parecem das histórias, Fenrir e a serpente do mundo –
Iormungander, alguns dos filhos do deus Loki.
Fiquei paralisado, e me aproximei deles, enquanto os dois animais
pareciam apenas a observarem, curiosos. O medo não mais vindo deles,
assim como não vinha de mim.
— São nomes bonitos, acho que ficaria legal — falei, e a garotinha
me encarou, assentindo. — Eu sou Loki, e você é?
— Malena Dahl — respondeu, dando um passo atrás para fazer uma
reverência. — Obrigada por nos receber, senhor Hansen.
— Loki — corrigi-a, e ela sorriu.
Então meu olhar parou em Odin, e nos outros dois membros da
família dela, que apenas nos observavam. Por um segundo, gostaria de
condená-lo, por me expor de tal maneira, e claramente, encontrar um jeito
de me ter sob controle, ao ter uma família vivendo ali, quando eu
finalmente me mudasse. Porém, mal sabia eu, que ele estava fazendo o
melhor.
Para eles.
E para mim.
Capítulo 1

Quando ele tem os melhores anos ao seu lado...

Quatorze anos depois...

MALENA
— Não é como se tivessem muitas pessoas que queiram servir a
essa ilha.
Eu apenas assistia a conversa se desenrolar, enquanto
experimentava um pedaço da torta que minha mãe tinha acabado de tirar
do forno. E cobiçava o suco que ela ainda não tinha feito, da minha fruta
favorita.
— Além de nós, e dos dois novos que chegaram, há muitos outros,
que vivem na ilha de Odin.
— Como pode ser tão isolada e mesmo assim saber de tudo,
senhora Dahl?
O deboche na pergunta de Loki, me fez quase rir e engasgar, mas
Sven não deixou de gargalhar baixinho.
— Eu recebo cartas. — Ela deu de ombros, e apontou a colher de
pau que estava em sua mão para ele, que levantou as mãos em sinal de
rendição. — E respondo elas...
— Eu sei que tenho muitas, mas... — ele suspirou fundo, e notei
seu semblante mudar, como se preocupado.
Eu nunca tinha visto Loki Hansen preocupado antes.
Conhecendo-o desde que me entendo por gente, era estranho, tê-lo
sentado na mesa da casa da minha família, não por não ser comum de ele
estar ali, mas pelo fato de que ele não parecia leve como sempre.
Notava a maneira que ele parecia receoso com algo, ou até
mesmo, escondendo.
— Sabe que as pessoas esperam, serem convidadas a morar aqui...
por aquele que leva o nome do deus da trapaça... — minha mãe
continuou.
— Mas eu sou só um homem, senhora Dahl. — Ele então a
encarou. — Não o deus que muitos parecem querer.
— Olhando para você, se parece muito com o Loki das escrituras
e histórias... — soltei, e senti os três pares de olhos sobre mim. Arregalei
os meus e dei de ombros.
Ele se parecia, pelo menos, no que eu acreditava em como o
próprio Loki seria. Alto e magro, mas totalmente construído por
músculos e definido. Tatuagens envolvendo todos os braços e tinha
certeza de que no seu torso. Cabelos pretos como uma noite sem estrelas,
olhos claros que pareciam poder iluminar qualquer caminho, e lábios
sempre prontos para dizer algo: fosse uma mentira, fosse uma verdade.
Eu o via daquela forma.
Ou talvez, fosse pelo fato de que eu o achasse a pessoa mais
bonita que já tinha colocado os olhos, e facilmente, confundiria com um
deus.
— Parecer é diferente de ser, Ena.
Ele falou o apelido que apenas ele tinha me dado, e eu dei de
ombros.
— Parece muito preocupado, meu amigo — Sven falou,
chamando sua atenção e agradeci internamente.
Loki era bonito demais para ficar apenas encarando. Ainda mais,
quando ele olhava tão diretamente, que parecia capaz de ler sua alma.
Ou seria pelo fato de que eu estava apaixonada pelo melhor amigo
do meu irmão mais velho e que era totalmente inalcançável?
— Teremos uma festa no castelo, meus irmãos virão e bom...
Nunca tive todos aqui — ele assumiu, contando a meu irmão, e
parecendo não se importar com que minha mãe e eu estivéssemos na
mesma cena. — Fora o que posso encomendar, estou brigando até
mesmo com arcos de flores.
— Mas Malena é ótima os fazendo.
Pisquei algumas vezes, encarando minha mãe, que parecia ter uma
solução para tudo. E naquele caso, eu era uma.
— É mesmo? — ele indagou, e então se virou novamente para
mim.
Bonito demais para a versão adolescente minha de dezesseis anos
que só conseguia pensar em como ele seria perfeito como o mocinho da
história de um romance que ela não escreveria.
Com dezoito, aquilo não parecia ter mudado, em nada.
— Eu os faço desde muito pequena — falei, e apontei ao redor da
cozinha, que tinham alguns arranjos antigos, já secos, que mamãe nunca
se desfez. — Faço um todos os meses, para levar para o meu pai... —
assumi, e então senti o clima pesar. — É um jeito de colorir a vida, por
que não colorir a morte?
— Malena tem suas próprias crenças em alguns momentos... —
Sven se intrometeu. — Mas é ótima fazendo arcos de flores, ou tudo o
que for envolvido por elas.
Apenas me afundei um pouco mais na cadeira.
Eu nunca me acostumaria a ser elogiada pelas pessoas que eu
amava. A sorte de não conviver tanto com desconhecidos era que não
tinha como vir de qualquer um deles, mas ainda assim, eu estava em
choque, em vê-los me encarregar de um serviço diretamente para aquele
que nossa família servia desde que eu tinha quatro anos de idade.
— Pode me mostrar hoje?
Sua pergunta me fez arregalar os olhos, e engoli em seco.
— Claro que ela pode — minha mãe falou, e eu apenas encarei a
torta, que comi um mísero pedaço. E sabendo que não tomaria o suco,
não agora. — Vamos, coloque suas botas e acompanhe o senhor Hansen.
— Loki — ele corrigiu-a, como sempre. — A única senhora e que
merece respeito aqui, sabe exatamente quem é — ele falou, e se levantou,
dando a volta na mesa, e parando ao lado dela.
— O chefe me deu a ordem, e eu estou aqui para isso, senhor —
ela o provocou, e ele riu baixinho, conforme a puxava para um abraço. —
Já faz doze anos, sabe?
— Que sorte a minha de ter ficado aos cuidados da melhor babá e
mãe do mundo, não é? — ele falou, e notei os olhos marejados de minha
mãe, enquanto ele beijava seus cabelos.
— Ele sabe como enrolar ela, né? — Sven falou, passando uma
das mãos sobre meu ombro, mesmo que eu odiasse aquele contato.
Toque, realmente, não era a minha linguagem do amor com Sven, mas
sempre foi a dele comigo.
— Ela o vê como um filho... — sussurrei para Sven, enquanto
Loki sorria para ela e vice-versa. — Igual a você...
— Bom, eu o vejo como um irmão... — admitiu, e eu fiz uma
careta. — E você?
— Bom...
Se aquela pergunta fosse feita anos antes, eu saberia exatamente
como responder. Contudo, com toda a bagunça que estava meu interior,
eu sabia que não era nada simples para lhe entregar. Tudo se confundia.
Na maneira que ele sorria, e eu me perguntava: ela sorria para mim? Ele
sorria por mim?
— Vamos, Ena?
Sua pergunta me poupou da resposta a Sven, que não me soltou de
imediato, e mexeu nos meus cabelos, fazendo-me empurrá-lo.
— Voltamos antes de estarem dormindo — ele avisou, enquanto
eu ia até minha mãe, e a abraçava.
— Faça os melhores arcos, sim?
Assenti, ela me deu um beijo no rosto, e a encarei surpresa. Ela
era tão reticente quanto eu sobre toque. Mas não pude deixar de sorrir, e
fazer o mesmo.
— Até mais tarde, mamãe.
Afastei-me dela, a tempo de ver Sven falar algo e em seguida,
empurrar Loki para o lado. Passei entre eles, e fui até a saída da nossa
casa, encarando o vasto jardim do lado de fora. Morar no topo de um
morro, cercada por tantas espécies diferentes, e florestas ao redor, tinha
suas vantagens.
Ainda mais, que um castelo tão antigo quanto aquela ilha, ficava
há poucos quilômetros dali. Onde Loki Hansen residia, e onde ele já
tinha nos chamado para viver, várias vezes. Porém, que sentido faria,
morar num castelo como aquele, se não éramos parte do alto escalão?
Como alguém como eu, se colocava no lugar de escolha de um
homem como ele?
Suspirei fundo, tentando não me aprofundar em minha própria
piedade.
Capítulo 2

Quando ele parece não te enxergar..

MALENA
Segui em direção ao caminho de pedras, que levava diretamente
para o castelo, e foi só assim que me lembrei, que não coloquei as botas
que minha mãe mandou.
Fui pulando as partes mais pontiagudas, e não demorou para sentir
a sua presença ao meu redor.
— Ena...
Parei e o encarei, vendo-a se agachar, oferecendo suas costas.
— Mas nem pensar...
— Ou sobe assim, ou vou te jogar nas minhas costas... — falou de
um modo tão sério, e eu sabia que ele o faria.
Não era diferente de outras vezes, quando ele me carregou para o
seu castelo. Ele o fazia, desde quando eu era criança.
Quando eu ainda o enxergava como apenas um garoto mais velho
legal.
Até eu enxergá-lo como o melhor amigo gato do meu irmão mais
velho.
Ao momento em que estar tão próxima me incomodava, porque eu
não queria confundir mais nada. Contudo, já fazia dois anos que eu
lutava contra aquela confusão.
No final, acabei por subir nas suas costas, e tentar não me segurar
em seu pescoço, apenas me apoiando ali, e tentei cruzar as pernas em seu
peito, para que não precisasse que ele segurasse.
Felizmente, a cintura dele era bem definida e fina, e consegui
agradecer pela primeira vez em anos, as pernas enormes que eu tinha e
que sempre se contradiziam com minha baixa estatura.
— Sem eu ter que te segurar? — indagou segundos depois,
seguindo em direção ao castelo, e eu apenas fiquei em silêncio.
O caminho todo foi feito de tal formaque tentei segurar meus
suspiros e até mesmo, o meu olhar. Era tudo tão diferente agora. Era tudo
com um peso sem igual.
Como eu poderia não me apaixonar por alguém como ele?
Ele era carinhoso, atencioso, educado, bonito... eu poderia listar,
por dias, tudo de bom que existia nele. Contudo, eu também poderia
listar o mais importante: ele era um Hansen, e eu não era ninguém.
Das histórias contadas, até as escritas atualmente, os Hansen não
se relacionavam com pessoas fora de sua classe social. Fosse alguém de
famílias ricas escandinavas, ou de outras máfias. Mesmo que Loki não
fosse um herdeiro direto a chefe, eu sabia o peso do seu sobrenome.
Apaixonar-me por ele, era um erro.
Um erro que me deixava acordada à noite, torcendo para que fosse
apenas um encanto.
Um erro que me custava os sonhos que tanto lutava para evitar,
mas que tinham o seu rosto.
Um erro que eu só gostaria de não ter cometido.
— Entregue, minha querida.
Aquele era um novo apelido, e eu engoli em seco, assim que ele se
abaixou, e pulei do seu corpo, como se todo ele pegasse fogo. Seria bom
vê-lo assim: como algo que poderia me queimar. Marcar de uma forma
irreversível, se não tomasse conta de absolutamente tudo, restando nada.
Nem de mim. Nem do sentimento.
— Obrigada.
Ele assentiu, abrindo as grandes portas, e o segui com cuidado.
Não me importava quantas vezes atravessasse aquela entrada, nunca me
acostumaria, ao ver a arquitetura de milênios, ainda de pé, e
referenciando o meu povo.
— Quer comer algo ou... Vi que perdeu a torta da sua mãe para me
ajudar e seu suco favorito.
— Prefiro ver as rosas, se possível, senhor Hansen.
— Loki... ou Lo, como você já me chamou. — Piscou um olho. —
Sei que sua mãe leva a sério a respeito dos Hansen, mas vocês me tratam
como família, e eu trato vocês assim também.
Forcei um sorriso.
Família.
Ele me via como família.
Por que diabos ele me veria diferente?
Ele apenas continuou com um sorriso sem dentes, e então me
encarou.
— As suas rosas ou as que eu comprei pra ocasião?
— As minhas rosas desabrocharam? — indaguei surpresa.
Eu as tinha plantado não fazia muito tempo, e mal tive tempo de ir
vê-las, já que ele não estava em casa durante o último mês.
— Sim, eu as vi assim que cheguei...
Ele então indicou o caminho que eu já conhecia, para a parte de
trás do castelo, e no momento que saí para o lado de fora, sempre parava
um segundo para absorver a imagem linda, do amplo jardim, totalmente
florido, e um sorriso preso em meu rosto.
Minha rosas também tinham se aberto.
— Acho que seria um pecado matá-las para fazer arranjos.
— Mas são arranjos para a sua família, senhor Hansen.
— Eles podem ficar com flores de plásticos ou já mortas —
rebateu, e eu segurei um sorriso. — Sabe, às vezes olho para você e
consigo ver a minha irmã mais nova.
Era tudo o que eu precisava ouvir, o homem que eu tinha me
apaixonado, me ver como sua irmã mais nova.
— Juro, Freya sempre pensa em fazer o melhor para os outros.
— Não me vejo como ela, senhor... quer dizer, Loki — corrigi-me.
— Bom, sei que se darão bem, quando finalmente a conhecer —
falou, e eu apenas assenti, tentando não focar naquele assunto. — Já
deveria ter acontecido, mas com toda a correria e compromissos, nenhum
deles conseguiu vir e ficar por mais que algumas horas... — assenti,
entendendo perfeitamente. — Agora, as flores...
— Claro — assenti. — Tem alguma inspiração sobre como quer
os arranjos?
— Existe algo tradicional para os Hansen, nesse sentido?
— Mas você é o que leva o nome de um deus aqui...
Minha boca sendo mais rápida que minha própria mente.
Ele pareceu achar graça, rindo alto.
— Adoro quando simplesmente é você, e esquece essa baboseira
da máfia.
— Mas você é um mafioso de uma família mafiosa...
— Detalhes, querida — falou, sorrindo de lado. — Apenas
detalhes...
— Querida? — indaguei perdida.
— Combina com você.
Falou, como se não fosse nada demais, e eu assenti, tentando
digerir aquilo.
Eu estava apaixonada por ele desde os dezesseis, e dois anos
sufocando com aquele sentimento, parecia estar me deixando totalmente
à mercê dele. Às vezes, nos detalhes, eu apenas gostaria de entender, que
ele sentia o mesmo. Não, que eu estava, mais uma vez, me iludindo por
completo.
Capítulo 3

Quando ele encontra sua pior dor...

MALENA
Eu poderia ter ficado a noite toda.
Eu poderia ter estado lá, com ele, por todo tempo que fosse.
Porém, algo dentro de mim, de repente, parecia pesar.
Uma dor tão profunda, que eu precisava ir embora.
Eu sabia que tinha que ir pra casa.
— Pode me emprestar algum sapato? — indaguei, baixando minha
cabeça, e tentando parecer no mínimo respeitosa.
A verdade era que tínhamos ultrapassado aquele limite há muito
tempo. O misturado de algum jeito, que parecia irreversível. Pelo menos, eu
tinha. E de um jeito, que duvidava que ele também o tivesse feito.
— Me lembra de quando Freya rouba roupas e sapatos meus...
Sua provocação me atingiu de uma forma, porque ele reafirmava que
me via como sua irmã mais nova. Duas vezes, em uma só noite. Era para
realmente, destruir as esperanças que ele nem sabia que existiam. E, de fato,
eu não me via naquela posição, de maneira alguma.
Eu apenas forcei um sorriso, enquanto ele subia as escadas, e eu
resolvi esperar do lado de fora do castelo, bem na porta. Apenas pegaria os
sapatos e iria para casa, sem mais ter que depender dele ou deixar que ele
me levasse. Estava tudo sendo totalmente sufocante.
Respirei fundo, e olhei para o céu, que tinha uma lua minguante.
Não demorou para eu ouvir um barulho muito alto de algo batendo contra
madeira. Parecia tão alto, que apenas pensava em Fenrir, talvez tendo
atingido alguma árvore. Porém, no momento seguinte, ouvi um uivo tão
alto, e soube que era ele.
Foi quando senti a presença de Loki ao meu lado, e de repente, ele
apenas deixou os sapatos caírem ali.
— Não saia daqui. — Era uma ordem.
Ele nunca tinha me dado qualquer ordem, mesmo que tivesse tal
poder.
Vi-o simplesmente seguir e correr caminho abaixo, e de repente,
ouvi um arrastar leve ao meu lado, e encontrei Ior – o apelido carinhoso
para um dos nomes mais bonitos que eu conhecia para os nossos deuses,
bem ali, como se estivesse me protegendo.
Eu já tinha visto ela fazer o mesmo com Sven, e com minha mãe...
Na verdade, Fenrir também o fazia, como da vez que salvou meu irmão
mais velho de um afogamento em um lago não muito longe.
E foi aí que minha ficha caiu. Olhei da serpente que estava em clara
posição de ataque, para o final do caminho de pedras, e de repente, senti o
ar faltar, e minhas pernas fraquejarem. Caí de joelhos e senti a carne ser
rasgada pelas pedras, mas não demorei para simplesmente me levantar e
correr até em casa.
Eu precisava ir para casa.
Eu tinha que ir para casa.

LOKI
Algo estava muito errado.
Fenrir nunca uivava para o mais absoluto nada. E por mais fantástico
que pudesse parecer, eu sabia exatamente qual o sentimento que ele emitia,
quando o fazia. E naquele momento, quando o ouvi, eu soube que era de
morte. Assim que me aproximei da casa da família de Malena, Fenrir tinha
acabado de derrubar a porta, e no momento que entrou, eu fiz o mesmo, e
foi quando encontrei, os corpos do meu melhor amigo, e da mulher que me
considerava um filho, caídos no chão, abraçados.
Olhei para a cena, e para a jarra de suco que estava tombada, e o
líquido espalhado por todo chão. Neguei com a cabeça, e Fenrir se
aproximou deles primeiro, os lambendo, mas quando me encarou
novamente, eu sabia que não existia vida alguma ali.
Não existia mais nada.
Olhei para as mãos deles, unidas, pelo símbolo daquela ilha, do
nome que eu levava, e eu caí de joelhos. O ar me faltou, e eu sabia que era
minha culpa.
Eu sabia que tinha que ter colocado um sistema de segurança
melhor.
Eu sabia que não deveria ter aceitado a presença de mais ninguém,
além deles, bem ali.
Eu sabia que...
Fenrir passou por mim correndo e então uivou alto, à frente da porta
que derrubou. Foi quando algo me atingiu por inteiro. Levantei-me
rapidamente, corri para onde ele estava, e então meu corpo se bateu contra o
de Malena.
— Não, o que...
— Ena...
Ela tentou me empurrar, mas a segurei firmemente, sem deixar que
conseguisse passar.
— Ena...
— O que aconteceu?
Uma pergunta nunca pesou tanto em minha vida.
Olhei para ela, ainda a segurando rente ao meu corpo, e neguei com
a cabeça.
— Eu sinto muito.
Foi quando ela gritou e tentou se soltar, mas não permiti. Segurei-a
com força contra mim, e ela ainda lutava, gritava e implorava.
Eu tinha permitido que matassem a sua família.
Capítulo 4

Quando ele tenta se vingar...

LOKI
Pessoas boas têm os finais mais tristes.
Era o que lembrava, de quando Odin me mostrou um massacre
pela primeira vez. Eu só não imaginava, como seria, quando se tratasse
de pessoas que realmente eram importantes para mim.
Só conseguia pensar na última coisa que Sven me disse: cuide
dela, sim?
Para um homem que não estava acostumado com o normal da
maioria das pessoas, eu sentia que aquela frase pesou muito além do que
deveria. Ele estava me pedindo para cuidar dela. E eu respondi, que
sempre o faria.
Foi a última conversa que tive com meu melhor amigo.
A última lembrança que ele teria de mim.
— Loki.
Ouvi a voz de Freya, e levantei o olhar, ainda com Malena presa
nos meus braços, do lado de fora da sua casa, na qual sua família tinha
sido morta.
Ela deveria ter chegado mais cedo, para o que teríamos em
família. Ela sempre foi a mais próxima a mim, e com certeza, sabia que
eu estava com a cabeça cheia, sem saber por onde começar a me preparar.
Ela veio ajudar naquilo, tinha certeza. Ela só não esperava o que
realmente encontraria.
Nem eu.
— Leve-a para o castelo, Freya — falei. — E diga para todos os
nossos irmãos virem ainda hoje.
— Mas o que...
— É uma ordem — falei, enquanto Malena tentava se soltar de
mim, e entrar na casa, mas não permiti. — Fenrir vai com vocês.
Troquei um breve olhar com Freya, que segurou Malena, que
tentou escapar dos seus braços, mas ela a segurou.
— Faça o que for preciso — falei para ela, sabendo que sempre
carregava suas poções. — Mas não a deixe entrar aqui.
— Não...
Os gritos de Malena continuavam, assim como seu choro. Eu
apenas fiquei de costas, conforme Freya a levava para a direção oposta, e
não demorou para que cessasse. Foi quando vi minha irmã pegar o corpo
desacordado de Malena, colocá-lo em seu colo, e seguir até o castelo.
— Fenrir, cuide delas — falei, pela primeira vez, dando uma
ordem para ele.
Ele uivou, e as seguiu, ficando bem próximo, enquanto eu sabia
que Ior estava ao meu lado, e tínhamos um trabalho a fazer.
— Não devem demorar para aparecer e reclamar sobre...
Eu me lembrava das antigas histórias sobre Ymir. Ele fazia o
próprio povo que o idolatrava, se enfrentar até a morte, para então
assumir o papel mais alto dentro da máfia, para aqueles que não eram um
Hansen.
E exatamente como imaginei.
Não demorou mais que dez minutos, para os dois homens, que
sabia serem os responsáveis pelas mortes, estarem se aproximando, de
dentro da floresta, e virem para perto.
— Senhor.
Eles fizeram a reverência, e eu não pude evitar uma gargalhada.
Tão fria quanto o pior inverno que já enfrentei.
— Sabem por que foram aceitos nessa ilha? — indaguei, ainda
sem encará-los. — Porque a senhora Dahl insistiu, que eram bons
meninos que perderam tudo em uma ilha do sul, e precisavam recomeçar.
— Ri ainda mais. — Como realmente perderam tudo?
— Senhor, nós...
— A verdade — falei, e encarei-os. — Por que escreveram para os
Dahl, inventaram uma história de coitados, e convenceram uma velha
senhora para depois assassiná-la?
— Era o jeito de conseguir um cargo alto — um deles, finalmente
falou. — Eles ocupavam os mais altos, e bom, não precisaríamos matar a
mais nova, já que...
— Vocês estão na ilha de quem?
— Do senhor.
— Então por que estão seguindo velhas regras que morreram junto
com o maldito Ymir? — rebati, e vi um deles dar um passo atrás. — Acharam
mesmo que iam aparecer, matar as boas pessoas que eu tratava como
família, e simplesmente, se tornariam algo? Algo além de cinzas por
essas terras?
— Veja bem, senhor Hansen, nós...
— Usaram veneno, porque sabiam que Fenrir perceberia o perigo
de outra coisa, fosse o que fosse... — suspirei fundo. — Trouxeram em
uma quantidade muito baixa, porque senão, ele o teria notado também.
— Senhor...
— E claro, não poderiam fazer nada barulhento, porque caso
contrário Ior iria entrar na casa, facilmente, e os matar.
— Senhor...
— Há quanto tempo vem planejando tomar o lugar dos
verdadeiros braços direito da minha ilha?
— Ouvimos boatos, de que existia apenas uma família pobre aqui,
e que Loki Hansen precisava de pessoas fortes e...
— E não me diga, que quem lhe disse os boatos, tinha algo na cor
vermelha amarrada no corpo? Passou-lhe o veneno na medida correta e
bom, os fez matar inocentes, e agora, vão morrer por isso.
— Senhor, não pode...
— Chega! — falei e sorri de lado. — Ior, os derrube.
Os homens se olharam, como se perdidos, e não demorou para a
serpente sorrateiramente, acertar a perna de um, e depois de outro. E os
dois caíram para trás, desmaiados, em poucos segundos.
— Obrigado.
Falei, peguei os dois e arrastei-os para o lugar que eu nunca pensei
que usaria, mas eu entendia o porquê cada ilha dos Hansen tinha. Um
lugar para a tortura de traidores.
E quando finalmente, depois de longos minutos, arrastando os
corpos pela mata, eu tinha chegado à cabana antiga, escondida no meio
do mais absoluto nada. Assim, entrei, e joguei um para cada canto.
Agora eu sabia o porquê Odin sempre tentou nos preparar para
algo assim. Porque realmente poderia acontecer. E nós tínhamos que
sermos conhecidos além do próprio sobrenome. Além da própria máfia.
Mas sim, por sermos justos.
O fato era que os Hansen tinham diferente definições, dentro da
própria máfia e fora dela.
Conhecidos pela riqueza.
Conhecidos pelo nome dos deuses nórdicos que levavam.
Conhecidos por incorporarem perfeitamente o que lhe foi
proposto.
Levar o nome do deus de trapaça deixava muitos confusos, sobre
o real propósito de alguém que teria que ser habilidoso em manipular,
mentir e claro, trapacear. Contudo, era nessa exata confusão, que eu me
encontrava. Acabando de prender, os meus inimigos ao chão, apenas por
pregos em sua pele, rasgando-os, pouco a pouco.
O veneno que Ior inoculou não era o suficiente para matar, mas
para derrubá-los por alguns minutos. Como eu sabia daquilo? Nunca teria
como explicar. Apenas sabia, e era exatamente o que aconteceu.
— Senhor Hansen.
Um deles finalmente acordou e falou, depois de quase vinte
minutos, e assim, levantei-me do banco que estava e me coloquei
próximo à luz.
Eu sabia que existia uma grande incredulidade no homem caçula
dos Hansen. Contudo, eu a usava ao meu favor.
— Quem diria que conseguiria prendê-los dessa forma... —
aproximei-me, e toquei um dos pregos, que prendia o mais novo deles,
mas que tinha o dobro da minha idade. — Acharam que matando a
família de confiança de um Hansen, seriam mesmo escolhidos como a
próxima?
— Senhor, foi uma luta justa — o outro falou, e eu tive que rir, e
então ir até ele, encarando-o de cima.
— Envenenamento não é justo — rebati. — Se queriam servir a
mim, tinham que ter pedido por isso ou se empenhado, e não escolher
matar os Dahl. — Neguei com a cabeça. — Sabe, encontrei-os mortos
por veneno, dentro da própria casa, e por uma sorte do destino, a filha
mais nova não estava... Conseguiram um lugar de direito comigo, isso é
fato.
— Senhor...
— Vou torturá-los transformando as horas que os Dahl sofreram,
em dias... Vou matá-los lentamente, usando do veneno que tanto parecem
gostar... — ouvi os gritos do primeiro e sorri.
— Ymir teria orgulho! — o homem ao meu lado gritou. — Ele
teria orgulho do que fazemos, e nos colocaria para servir o filho que leva
o nome do deus da trapaça.
Apenas o olhei com escárnio.
Era claro que meu doador de esperma ficaria mais do que grato
por atrocidades como aquelas. Para ele, sempre foi: quanto mais mortes,
melhor.
— E onde Ymir realmente está? — rebati, e não pude evitar a
gargalhada. — Ah, claro... ele foi enforcado na árvore que tanto dizia ser
sua sabedoria eterna... — ri ainda mais. — Podem gritar por ele, se
quiserem... Acho que ele esperará vocês no lugar que vão, no inferno.
Capítulo 5

Quando ele perde quase tudo...

LOKI
A sessão de tortura, naquela noite, durou tempo suficiente para que
eles desmaiassem pela dor. Foi quando ouvi barulhos do lado de fora, e a
porta se abriu. Odin entrou, e encarou minhas mãos sujas de sangue.
— Traidores... — ele falou, antes que eu pudesse dizer qualquer
coisa. — Eu vi os corpos, pedi para que fossem cobertos e vamos lhes
prestar a homenagem mais digna do nosso povo, Loki.
Assenti, e então caminhei para fora dali, sabendo que voltaria apenas
no dia seguinte.
— L...
— Preciso ver Malena, e preciso... — soltei o ar com força. — Não
há nada de satisfatório em torturá-los, com a certeza de que tiraram tudo
dela, irmão. — Foi quando bati contra uma arvore e gritei. — Eles tiraram
as únicas pessoas que se importavam comigo, que eram tão boas...
— Loki.
Foi nesse instante que eu gritei ainda mais alto, e caí de joelhos,
inconformado.
— Isso tem que ser um pesadelo...
As lágrimas desceram, e eu sabia, que só o fazia, porque alguém que
se importava, estava ali.
— Isso tem que ser, Odin.
— Eu sinto muito, irmão.
Ele então ficou agachado ao meu lado, e me puxou para si, me
abraçando com força, enquanto eu lutava contra ele, tentando desmontar
meu ódio, em algo que fizesse sentido.
— Eu devia ter ouvido e colocado o sistema de segurança mais
apurado e... Eu devia ter escutado meu interior e...
E então eu apenas falei, tudo o que deveria ter feito e não fiz. Tudo o
que poderia ter evitado, mas não houve.
Em algum momento, entre meu choro e grito, Odin me segurou
forte, e me fez olhá-lo, como se me trazendo para a realidade.
— Você fez o seu melhor. — Olhou-me profundamente. — Não
somos culpados pelo mal que está nos outros, mas pelo nosso próprio. —
Segurou meus ombros com força. — Você vai fazer o seu melhor agora,
como sempre.
— O...
— Eu estou aqui para você. Todos nós estamos. — Olhei-o em
agradecimento, mesmo que no fundo, eu estivesse sem qualquer sentimento
bom. Só existia ódio e arrependimento. — Mas Malena precisa de você,
irmão. Ela... ela perdeu tudo.
Foi quando me levantei, de supetão e puxei o ar com força.
— Eu vou vê-la e vou...
— Vai para casa, tomar um banho, e então ficar com ela... Ela
precisa de você, para encarar a própria família desse jeito e... Loki, não foi
sua culpa.
Eu assenti, mas na verdade, eu sabia.
Eu sempre carregaria aquilo, querendo ou não.
Que eu tinha permitido, que tirassem tudo de Malena.
E agora, eu, justamente eu, que não consegui proteger sua família,
era o que tinha lhe restado.

MALENA
— Nós vamos ficar bem, Malena.
— Nós sempre ficamos, você sabe...
— Mas por que não posso ficar bem e junto de vocês, de novo?
— Porque você tem mais tempo, pequena.
— Vou sentir saudade, mas vou continuar aqui...
As vozes deles estavam em todos os lados, e depois de muitos anos,
eu consegui ouvir a voz do meu pai, mais uma vez. A voz que eu pensei ter
até mesmo me esquecido, de tanto tempo que tinha se passado.
— Eles vão ficar bem comigo agora, Malena.
— Mas, eles... eu quero ficar com vocês.
— Um dia, vamos ficar todos juntos de novo...
E então eu gritei, sabendo que estava caindo, e sentindo que eu não
tinha mais como vê-los, como tocá-los, ou como... E então senti meu corpo
dar um tranco. Levantei-me assustada, e então me vi em uma cama
desconhecida. Não tanto assim, porque eu já tinha visto alguns quartos de
hóspedes do castelo de Loki.
Por que eu estava ali?
Por que eu não me lembrava de nada além de... Freya?
— Ei, Ena.
Pisquei algumas vezes, e então vi Loki, sentado numa poltrona, ao
lado da cama.
Foi quando tudo voltou de uma vez, e minha mente se perdeu por
completo.
— Eu acho que caí e devo ter criado algo, porque... Eles estão bem,
não? Eu tive apenas um pesadelo muito realista e...
— Eu não vou mentir para você, Ena.
Foi quando puxei o ar com força, e ele me encarou.
— Eu quero vê-los — falei, já me levantando, e o ar me faltou. —
Eu preciso vê-los, Loki.
— Eu vou te levar, mas... Se for demais, apenas me diga — pediu, e
eu assenti.
Então, ele se levantou e veio até mim.
— Onde... onde eles estão?
— Eu não ousei mexer, sem a sua autorização.
Foi quando senti as lágrimas virem e parei, levando a cabeça ao seu
peito, e suas mãos estavam em minha cabeça. Porém, não permiti que elas
se derramassem.
Percebi que meus pés doíam, notei que estavam enfaixados e eu
tinha colocado uma pantufa que encontrei no chão, sem sequer questionar.
E abraçada a ele, eu fiz todo o caminho até em casa, sem crer no que
realmente veria.
— Eu preciso entrar sozinha — pedi, e me afastei dele, assim que
paramos à porta.
Foi quando o fiz, e atravessei o corredor direto para a cozinha, , vi
um pano branco, que foi colocado sobre o que um dia foram meu irmão e
minha mãe. Eu caí de joelhos, que só assim notei que também estavam
enfaixados e deveriam estar sangrando novamente, e levei as mãos até o
pano branco, que tinha o brasão dos Hansen.
Tirei-o, sem conseguir olhar. Mas quando terminei, tive a visão dos
dois, como se estivessem dormindo, abraçados um ao outro, como se Sven
protegendo nossa mãe, e eu... eu só queria me deitar ali e ficar com eles.
Olhei ao redor e por um segundo, apenas pensei, que se algo os matou,
estava ali, e eu também poderia usar.
Eu poderia ir com eles.
Porém, foi quando ouvi o barulho contra a madeira, e vi Loki se
aproximar.
— Eles... eles...
— Foram envenenados — falou, e eu soltei o ar com força.
— Onde eles estão? Os assassinos?
— Estou torturando eles, Ena.
Foi quando levei meu olhar a ele, e vi a dor em seu semblante.
— De algum jeito, os farei pagar.
— Não consigo... — admiti. — Não consigo olhar para eles, e não
pensar que deveria estar aqui também, que eu... eu deveria tomar desse
veneno.
Eu estava ajoelhada, a cabeça baixa e sentindo-me quase morrer pela
tristeza. Não pensei que entenderia o sentimento de minha mãe, de quando
nosso pai se foi e Sven me contava, que foi como se ela estivesse morta em
vida. Era o que aconteceria comigo? Eu ficaria morta até encontrar algum
propósito?
E se o meu propósito eram eles? Do que... do que me adiantava
viver?
Ouvi o barulho do pano sendo colocado sobre eles, e Loki se
ajoelhou ao meu lado, seus braços ao meu redor.
Não existiam palavras a serem ditas. Não existia nada que pudesse
ser colocado em voz alta. A única coisa que consegui fazer, foi me curvar
por completo e gritar.
Gritar pela dor que me corroía.
Gritar pela perda que não tinha retorno.
Gritar por não ter ido com eles.
Gritar pelo que não sabia mais.
Gritar pelo sentido da minha vida, que tinha se perdido.
Capítulo 6

Quando ele sabe que ela não vai...

MALENA
Eles fizeram um enterro digno, que eles tanto mereciam.
Odin Hansen tinha trazido todos os integrantes fiéis à máfia, para
fazer uma passagem digna do nosso povo. E eu, só me vi à frente, sem
conseguir sequer chorar. Loki estava ao meu lado, assim como Freya,
segurando-me, como se eu fosse quebrar, a qualquer momento.
Porém, eu já estava.
Sequer entendia, como me mantinha de pé.
Mas o fiz, passando por cada segundo da tradição mais dolorosa que
já tinha encarado. Mesmo já tendo ouvido minha mãe contar, como era feito
o enterro de pessoas fiéis à máfia Hansen, eu jamais conseguiria imaginar,
tamanha dor que acompanhava tudo aquilo.
Eu não conseguia chorar.
Eu não conseguia mais gritar.
Eu parecia apenas uma casca do que um dia fui.
Não conseguia me recordar, de quantas vezes, eu apenas tinha
agradecido no completo automático, a quem dizia que sentia muito. A
verdade era que eu sentia tanto, que de repente, eu não conseguia sentir
mais nada.
Nada, parecia tudo o que eu encontraria, enquanto via os corpos
serem enterrados, e as palavras em nórdico antigo, serem pronunciadas. Eu
escrevi as runas, e as coloquei junto a eles, para uma passagem digna, do
que eles foram. Do que eles sempre seriam.
Todos os Hansen estavam ali.
E cada passo da cerimônia, um deles estava posicionado e o fazendo.
Eu gostaria, que minha mãe visse, de onde fosse, que valeu a pena, dedicar
a sua vida àquela família. A sua crença, de que os deuses nórdicos, estavam
olhando por nós.
Não poderia dizer sobre o depois, mas sabia que quem estava em
vida, estava tentando honrá-los, como podiam. Mesmo que nada, em
qualquer canto, pudesse representar a falta que eles fariam, e muito menos,
a vida digna que entregaram a esse mundo.

LOKI
Os dias se passaram.
Os gritos aumentaram e depois cessaram.
Os pedidos de misericórdia se tornaram uma constante.
Até que eles não conseguissem mais falar.
Até que foram consumidos, sendo destruídos pedaço por pedaço, se
vendo apodrecer, e não podendo fazer nada. Sem poder sentir nada, a não
ser desespero.
Não era a primeira vez que eu matava. Porém, era a primeira que eu
só conseguia pensar que deveria ter feito pior. Que eles tinham que ter
sofrido ainda mais.
Eles tinham matado meu melhor amigo e sua mãe. Fiéis a mim, e
àquela ilha desde que eu me entendia por gente. Nunca conseguiria pagar a
minha dívida com os Dahl. E sabia, que nunca, seria o bastante, para honrá-
los.
— Estão todos mortos?
Levantei o olhar, enquanto ainda terminava de tirar o sangue de
minhas mãos.
— Sim — falei, e vi-a apenas se mexer, pela sombra que se projetava,
da vela ao seu lado.
No mais escuro, do fundo do corredor do castelo, ela encarava as
estrelas, pela pequena janela que tinha ali.
— Malena, eu...
— Eles sofreram?
— Por toda essa semana, a cada segundo... — fui honesto, e então
parei próximo a ela. Seu olhar parou no meu, e senti o peso que eu jamais
tive quando meu pai morreu.
Ela tinha perdido a família.
Uma mãe e irmão mais velho, que a amavam.
Uma mãe e irmão mais velho, que ela amava.
— Obrigada.
Foi tudo o que disse, e então seu olhar parou no meu.
— Eles não queriam que Sven ou minha mãe fossem para Valhala,
mas aquele é o destino deles... — a mão dela estava sobre o próprio peito,
do lado esquerdo. — Eles morreram com honra, como guerreiros... — vi as
lágrimas descerem pelo seu rosto e me segurei para não tentar acalmá-la.
No fundo, eu sabia que era culpa minha.
Eu não os protegi devidamente.
Eu não vi o perigo chegando.
— Não se culpe.
Três palavras, que me paralisaram por completo.
Olhar para ela, era diferente depois de tanto tempo. A maneira como
ela apenas segurou tudo de si, mesmo perdendo absolutamente tudo, me
deixou totalmente inerte. Como ela conseguia? Como ela podia, com
apenas dezoito anos, estar em pé daquela forma?
— Eu ainda continuo aqui... — suspirou fundo. — Eu vou levar o
legado deles.
— Malena...
— Vou servir a esse castelo, e ao deus que acreditamos... — falou, e
seu olhar parou no meu. — Vou servir aqui, senhor Hansen.
Eu não sabia o que dizer.
Eu sempre a olhei, como a irmãzinha mais nova do meu melhor
amigo, que estava em todo o lugar, mesmo que de longe, nos observando.
Eu sempre a vi, como a garotinha que me lembrava da minha própria
caçula. Vê-la perder tudo e ainda estar ali, reafirmando seu compromisso
pela família, fazia-me pensar, quando eu não notei que ela tinha crescido.
Que ela foi forçada a crescer.
— Malena...
Foi quando ela me encarou, e eu sabia que estava perto de quebrar.
Trouxe-a para o meu peito, e a abracei com força. Ela se segurou a mim,
como se dependesse daquilo para viver, e eu me agarrei a ela, jurando ao
universo, que a protegeria de tudo – absolutamente tudo.
Então o seu choro rompeu, depois de dias em que ela apenas tentou
suportar a dor, e eu estava ali para segurá-la. E eu sempre estaria. Sempre.
Capítulo 7

Quando ele é um propósito...

Três anos depois...

MALENA
— É um dia de sol, muito bonito — falei, enquanto terminava de
colocar meus adornos e encarei os nomes de minha mãe e irmão na lápide.
— Passamos por um inverno muito severo, e mal consegui vir aqui, mas... a
primeira finalmente começou. E o bom é que Loki fez uma estufa para
minhas plantas, e consegui manter muitas delas, como essas flores —
contei, e abri um sorriso de lado. — Mas isso vocês já sabem, tenho certeza.
— Suspirei fundo. — Sinto falta de poder contar as novidades e... ver suas
reações.
Senti algo se aproximar, e me virei para encontrar Fenrir, no alto
daquela colina, caminhando sobre o que pouco tempo atrás, era apenas
neve.
Ele se aproximou, e se sentou ao meu lado, passando a cara no meu
rosto, e claramente, tentando me animar. Era incrível como animais sempre
parecem saber exatamente tudo, absolutamente tudo.
— Você cuida daqui para mim, não é, garoto?
Ele ganiu, e eu fiz um carinho em sua cara, encostando nossas testas.
— E onde está seu dono e sua irmã? — indaguei, e ele se afastou,
dando um pulo e latindo em outra direção. — Eu lembro que sempre me
pediram para ter em mente que eu tinha que construir uma família, porque
não estariam sempre ali para mim. Obrigada por terem me deixado em uma
família tão boa como essa — falei, levantando-me e ainda encarando a
lápide. — Eu volto, em alguns dias, ou até mesmo amanhã, pra compensar
o tempo que o inverno tirou.
Afastei-me dali, sabendo que o luto era um processo interminável.
Para onde vai o amor que você sente por aqueles que já não estavam mais
ali? O amor se tornava uma dor, uma lembrança, um choro... E às vezes, um
sorriso. Um de agradecimento, por ter tido a chance de compartilhar a vida,
mesmo que por pouco tempo, com eles.
Caminhei pelas pedras, com Fenrir de companhia, e agradecendo por
poder voltar a usar meus vestidos. Todos eles feitos à mão, pela minha mãe,
e agora, por mim. Loki tinha a mania de trazer vários de países e culturas
diferentes, sempre que podia, e eu os usava em certos momentos. Sabia que
era o jeito dele, de tentar me agradar, já que sequer conseguia passar a linha
na agulha.
Nós já tínhamos tentado algo assim, e terminou com ele
dramatizando sobre seus dedos todos machucados por uma agulha
minúscula.
Quando cheguei ao castelo, Fenrir simplesmente desembestou a
correr na direção da floresta, e eu sorri, vendo-o animado com alguma coisa
que viu. Entrei em casa, que eu tinha me acostumado a encarar de tal
maneira. Nunca imaginei, não da minha posição, que um castelo dos
Hansen, seria o meu lugar para chamar de lar.
— Finalmente!
Ouvi sua voz, mais ao fundo, e parecia aliviada.
— O que tanto exige minha presença? — indaguei, retirando minhas
botas, e deixando-as na entrada, para que meus pés fizessem contato com o
chão de madeira.
— Querida, que dia é hoje?
— O início da primavera? — indaguei confusa, indo em direção
aele, que estava ao lado do piano, como se horrorizado por eu não saber de
algo. — O que foi que eu perdi?
— Jura mesmo que não tem ideia? — insistiu, e pisquei algumas vezes,
tentando buscar em minha mente.
— O seu aniversário é apenas no outono, então... — tentei pescar em
minha mente, e pareceu apenas tempo perdido. — Que mistério todo é
esse? — indaguei já sem paciência, e ele sorriu de lado.
Olhando-me com aquela carinha que iria me surpreender, como
sempre.
— É seu aniversário, Ena.
Pisquei algumas vezes, e dei um passo atrás, sem crer.
— Não... não... É? — perguntei, e ele assentiu. — Puta merda!
— Acho que ficou tão ansiosa para o fim do inverno que esqueceu o
que vinha com a primavera...
— Acho que sim. — Forcei um sorriso. — Nem mesmo encomendei
um bolo. — Fiz uma careta.
— Eu planejei tudo. — respondeu de repente, e eu pisquei algumas
vezes, sem entender. — O nosso roteiro para a data mais importante do ano.
— Não é o seu aniversário, Lo.
Ele riu de lado, e veio para perto, passando um braço ao redor de
meu ombro. Sempre que ele o fazia, eu só conseguia querer me perder no
seu cheiro, no seu toque, no seu calor.
— Exatamente por isso, data mais importante do ano — rebateu,
sem usar sua arrogância típica, e eu sorri, sentindo algo bater contra meu
ombro. — O meu presente, querida.
Levei as mãos à pequena caixinha, e dei passos para longe dele,
desconfiada.
— O quanto disso você fez? — indaguei, sem me virar, e ouvi sua
risada.
— Quase fiz um óbito, isso conta? — rebateu, e eu o encarei
horrorizada. — Não sou bom em nada manual, mas... Tive que usar as mãos
para conseguir isso.
— Não matou ninguém, certo? — insisti, e ele levantou as mãos em
sinal de rendição.
— Eu disse quase, querida.
— Espero que tenha valido a pena, o quase... — suspirei fundo,
retirando o laço, e abrindo a caixinha que tinha um formato retangular.
Assim, meus olhos se arregalaram, quando notei os vários ingressos,
um sobre o outro, colocados dentro dela
— Loki...
— Sabe, difícil levar alguém no show de uma banda que não existe
mais...
— Golpe baixo — rebati, e ele riu de lado.
— Mas por que não levar no show de cada um dos ex-membros? —
indagou, e eu estava até tremendo. — Foi difícil conseguir as informações
sobre os shows, antes mesmo de serem anunciados, em anos diferentes,
mas...
Foi então, que eu sequer pensei mais, apenas me virei, e me joguei
nos seus braços. Ele me segurou com força, e eu senti uma lágrima descer, e
atingir o seu ombro.
— Aliás, aí estão os seus ingressos... — sussurrou, ainda me
segurando em seus braços. — Os meus, eu deixei no closet, e bom, é o
bônus de eu dar o presente.
— Vai nos shows comigo? — indaguei, afastando-me um pouco, e
encarando-o incrédula.
— Querida, e perder a chance de ter a certeza de que sou mais
bonito que todos eles? — Eu ri, batendo contra seu peito, e ele sorriu também.
— Obrigada, Lo — falei, suspirando fundo, ainda segurando a
caixinha com uma das minhas mãos e sorrindo em meio à emoção. — Mas
o que tem de manual nisso?
— Bom, usei as mãos para ameaçar algumas pessoas e conseguir
tudo isso antecipado, e...
— Loki!
Ele riu de lado.
— Pode-se dizer que estou enquadrado no famoso presente dos
Dahl. — Revirei os olhos, e fui novamente para os seus braços, sentindo-o
me apertar contra si. — Agora, posso ir para o meu presente.
— Mas...
Ele se afastou de repente, e então, se colocou ao lado do piano, o que
me deixou totalmente perdida.
— Olhe melhor, querida.
— Está me dando o piano? — indaguei, sem entender.
— Já disse que tem que ir novamente ao oftalmologista?
Aproximei-me, bati contra o seu braço, e ele sorriu de lado.
— Eu apenas evito os óculos, você sabe.
— Então, só chegue bem perto e... — fiquei procurando em algo no
piano, e não consegui notar nada diferente. — De mim, querida.
Foi quando eu me virei para ele, e o analisei da cabeça aos pés. Não
era bom para minha mente, nublada por todos os sentimentos que ele me
causava. Contudo, como eu poderia apenas evitar?
Porém, passando pelas calças sociais pretas, para a regata de mesma
cor colada ao seu corpo, que deixava à mostra várias de suas tatuagens, indo
para os braços definidos também tatuados e as mãos cheias de anéis, para o
seu rosto, com o maxilar quadrado, e sem sinal da barba, e os olhos claros
quase que lendo minha alma... Até mesmo procurei pelos seus cabelos
escuros, algo que pudesse ser meu presente.
— Sei que sou bonito, mas assim... Nada, Ena?
— Eu estou pensando que parece ter perdido músculos — menti, e
ele fez uma careta, que era totalmente adorável. — Acho melhor subir a
carga, ou quem sabe...
— Querida, eu sei que estou maior do que toda minha vida, mas...
Qual a sua parte favorito do meu corpo?
Foi quando arregalei os olhos, totalmente sem graça.
— O que...
— Tivemos essa conversa antes, lembra?
Foi quando eu busquei, no fundo da minha memória, quando
falamos sobre algo assim.
— Eu amo que seus cabelos sempre parecem tão bonitos, que não
precisam de mais nada, querida...
— Eu amo a maneira como suas clavículas são marcadas, e fica
ainda mais evidente de regata...
— Quando bebemos hidromel e acabamos dormindo no tapete?
— Exatamente — respondeu, parecendo se animar. Aproximei-me
dele, olhando para suas clavículas marcadas.
— O que você colocou nas clavículas?
— Eu desisto! — Ele levantou as mãos aos céus, e eu ri alto. —
Você é totalmente frustrante, sabia?
— Uma jovem senhorita de vinte anos, obrigada.
— Você, Ena.
Ele levou meu dedo até a sua clavícula direita, e eu vi a tatuagem
recente, que era um M, e então, levou meu dedo até a esquerda, e tinha um
D. Arregalei os olhos, e contornei o D, sem acreditar.
— Por que tatuou minhas iniciais?
— Porque eu te prometi, quando bebemos no seu aniversário de
dezenove — falou, totalmente na defensiva. — Não se lembra de nada,
mesmo?
— Lembro de dizer que encontraria um jeito, de sempre me ter com
você...
Foi quando minha ficha caiu.
Era o jeito dele, de o fazer.
— Eu já te disse o quanto eu te odeio? — indaguei, sentindo meus
olhos se encherem de lágrimas, e ele sorriu de lado. — Odeio tanto tanto
tanto...
— Eu também te amo, querida.
Ele me puxou para os seus braços, e eu chorei ainda mais. Não sabia
se por raiva, por ele ser malditamente perfeito, ou por saber que ele era
perfeito para mim, e eu não podia tê-lo.
Capítulo 8

Quando ele é um sonho...

LOKI
— Nós devíamos parar de beber assim...
Reclamei, enquanto ela girava pela sala de estar, com o seu copo
cheio de hidromel, e eu sorria da maneira como parecia livre. O lado feliz
de Malena, nunca a deixou. Mesmo nos dias mais difíceis, eu via que o
brilho dela, por mais que a dor encobrisse, não se apagaria.
Ela era diferente.
Ela sempre foi diferente.
— Eu vou beber até chegar o dia do primeiro show e... — ela então
suspirou fundo, e vi-a correr até as fotos coladas em uma das paredes da
sala. — Sinto falta desse dia... — admitiu, pegando uma das fotos, e então
voltou até mim.
Ela se jogou ao meu lado, que estava sentado perto de almofadas que
nem sabia como, tinham parado ao lado do piano, e a garrafa de vinho
quase vazia.
Peguei a foto, e encarei-a. Estávamos nós quatro nela. Eu, sua mãe,
Sven e ela. Em um quarto de hotel, antes do show da banda que ela tanto
amava, e que acabou se desfazendo no decorrer dos anos. Eu nunca pensei
que alguém me faria cantar músicas pop com tanta fervor. Bom, não alguém
além de Freya.
Era real que eu tinha uma conexão com minha irmã mais nova.
Porém, muitas vezes, eu me via tentando entender, se aquela conexão, era a
mesma que eu havia construído com Malena, no decorrer dos anos.
— Foi o dia mais feliz da minha vida — admitiu, de repente. — Mas
acho que sempre falta algo... e eu senti toda saudade que nem sabia que
tinha, do meu pai.
— Eu nunca senti falta, de nenhum dos dois, como sabe — admiti.
— Nem meu doador de esperma, muito menos, da barriga de aluguel que
me gerou... — dei de ombros. — Nunca fez diferença, eu acho.
— Construções diferentes de família, eu acredito — assenti para ela,
que se deitou em um dos travesseiros, próximos à minha perna. — Eu acho
que sentiu muito a perda de Hella, por exemplo.
— Acho que não se pode sentir a perda, de algo que nunca se foi...
— suspirei fundo. — Eu sempre senti que ela estava viva, e quando as
marcas de tortura dela apareceram naqueles... — os assassinos da família de
Malena, que eu não gostaria de nomear. — Eu soube que ela estava ao
redor.
— Eu me lembro de escutar, sussurros na mata, naquela noite,
dizendo que sentia muito... — contou, a história que nós sempre
voltávamos. — Se ela reaparecesse, de verdade, seria uma honra. Lembro -
me das histórias que mamãe contava, sobre os vestidos mais bonitos, serem
os de Hella Hansen.
Malena levantou o braço e tentou com a mão, pegar a fotografia,
mas acabou encontrando a minha no processo. Entrelacei nossos dedos, e
me perguntei, mais uma vez: o que nós éramos? O que nós tínhamos nos
tornado?
Ela não se afastou. Na realidade, fez carícias com os seus dedos, nos
meus.
— Odin, o mais velho e que mudou tudo... — comecei a falar,
pensando sobre cada um dos meus irmãos. — Hella, a que morreu e que eu
aposto que ainda está por aí... — Baldur, o melhor mediador que vai
conhecer, acho que foi o único que nunca brigou de fato com Thor. —
Malena riu baixinho, assentindo. — Thor, montanha de músculos e aquele
que eu posso contar para chorar a qualquer momento. — Suspirei fundo,
sentindo falta de fazer aquilo com ele. — Vidar, o mistério da família, pior
do que Hella, ninguém sabe o que ele realmente pensa ou sente, mas
sabemos que sempre está nas trincheiras, pro que seja, para nos proteger...
— Mamãe dizia que se não fosse fiel ao deus da trapaça, seria ao
deus da natureza — Malena comentou, e eu sabia bem daquilo.
— Por sorte, ela amava mais Loki. — Sorri de lado. — Aí temos
Tyr, o mais bonzinho e que nunca consegui ver como a personificação do
deus da guerra...
— E aí vem Loki, o que todos têm medo porque não o conhecem, e
nunca acreditam em nada do que ele fala, porque sempre esperam por uma
mentira... — ela falou, então virou seu corpo, e me encarou, sorrindo. —
Mas é a pessoa mais honesta que eu já conheci.
— Com você, que fique claro — anunciei, e ela assentiu. — E temos
Freya, a melhor no que faz...
— Que conseguiu me desmaiar com o cheiro de algo que carregava
como colar — Malena falou, como sempre impressionada por aquilo. Era
um fato que ela sempre tentava tirar algo que não fosse ruim, mesmo do seu
pior dia. — E ainda me carregou, por todo o caminho acima.
— Ela é uma Hansen, querida.
— Ela é incrível — admitiu e sorriu. — Preciso ir vê-la, mais vezes.
— Você sempre pode ir, você sabe...
— Bom, tenho um castelo para cuidar, mais roupas para fazer,
alimentar Fenrir e fingir que alimento Ior, além de...
— Sabe o que eu vou dizer, não? — cortei-a, e ela franziu o cenho.
— Você não precisa ficar. Você não tem que ficar. E eu sempre vou deixar
em palavras que...
— Que os Hansen têm uma dívida com você, e que nada vai te faltar,
mesmo que se mude para o outro lado do planeta... Tenha sua própria
família e seja feliz, Ena — imitou-me, usando cada palavra que eu dizia,
toda vez que era seu aniversário. — Vai precisar de uma oferta melhor, se
quiser se livrar de mim.
— Bom, e se fosse Harry Styles, te chamando para viver um
romance?
— Ele ia quebrar meu coração, e eu voltaria para casa... — ela sorriu
abertamente. — Eu ia voltar para você.
De repente, as suas palavras pesaram. E eu sequer sabia, como lhe
responder.
— Acho que isso é um formato de família — complementou, e eu
apertei com força, a sua mão na minha. — Não sei bem o que somos, mas
eu sei que...
— Toda vez que penso em casa, eu penso em nós — admiti,
complementando-a, e ela assentiu. — Acho que temos que parar de beber e
falar coisas bonitas que não vamos nos lembrar, querida.
— Eu vou me lembrar disso — falou animada, mas eu sabia que
não. — Mas agora, eu vou tocar a minha música favorita da minha banda
favorita pela milésima vez porque é o meu aniversário.
— Não quer que eu toque? — ofereci, e ela semicerrou os olhos,
como se considerando.
— Você toca, e eu canto, sim sim sim sim! — falou, levantando-se
de uma vez, e quase me levando junto, porque sua mão ainda estava na
minha. — E depois, vamos fazer o oposto.
— Tudo pelo seu dia.
— Eu sei que sim.
Ela sorriu, e eu tive que concordar.
A realidade era qela já tinha seu nome, cravado na minha pele. E eu
estava, aos poucos, percebendo, que tinha muito mais dela, em tudo que
existia de mim.
Capítulo 9

Quando ele é malditamente perfeito...

MALENA
— Odeio treinar com ressaca, que fique claro — admiti, e ele riu
alto, parecendo pronto para me atormentar. — Desumano me acordar às
sete da manhã, se nós fomos dormir às seis...
— Treinamento, querida.
— Eu não devia ter pedido para me ensinar a atirar.
— Mas pediu, e eu prometi que o faria, depois do seu aniversário de
dezenove.
— Péssima decisão da Malena de dezoito anos.
— Querida...
— Sim?
Indaguei, sem vontade alguma, e ele finalmente me parou,
mostrando-me um campo aberto de mata, que ficava logo atrás do castelo.
Fenrir e Ior seguindo seus passos, ou os nossos, e apenas observando.
— Vai me ensinar a atirar facas sem facas?
— Aqui... — ele simplesmente mostrou um lado da jaqueta de couro
e eu arregalei os olhos, vendo a quantidade assustadora de pequenos
materiais cortantes ali.
Ele então tirou a jaqueta, e veio até mim, jogando-a no chão ao meu
lado, e eu fiquei sem entender absolutamente nada.
— E os alvos? — indaguei, ainda perdida.
— Aqui — falou simplesmente, parando a cerca de dez metros de
mim, e olhei para os animais ao seu lado, como se tentando ver se tinham
escutado o mesmo que eu.
Fenrir ganiu alto, e Ior parecia pronta para simplesmente ir embora.
— Ok, acho que ainda estamos bêbados...
— É um treino básico — falou, o seu tom mudando para sério, e
apenas engoli em seco. — Seus sentidos e os meus estão um pouco
comprometidos pela bebedeira, mas ninguém vai te atacar ou vai precisar
atacar alguém nas melhores condições possíveis...
— Só quero saber me defender, se possível.
— Então, vamos ao treino — comentou, e eu pisquei perplexa. —
Atire uma faca, e mire bem na minha cabeça.
— Se Fenrir ou Ior me matarem, saiba que a culpa é sua — falei, e
encarei os animais, apontando para o culpado daquilo. — Se vocês me
matarem, saibam que a culpa é dele.
— Eles te defendem mais do que a mim, Ena.
— Quem mesmo teve essa ideia brilhante? — reclamei, odiando o
fato de estar cheia de sono e prestes a ser morta. Ou quem sabe, machucar o
homem que eu tanto admirava há nãos.
— Você, querida.
— Eu me odeio, às vezes — admiti, e peguei uma faca quase
minúscula de sua jaqueta. Tentei posicionar em minha mão, mas era
horrível. Pequena demais, pesada demais.
— Ódio apenas em mim, agora.
A voz dele soou como uma ordem.
— Se eu acertar nesse seu cabelo que tá grande demais, pode ser
aliviador...
— Ena...
— Ok!
Tentei me concentrar, e nada parecia ter sentido. Porém, em algum
segundo, eu simplesmente mirei e arremessei. Fechei os olhos, sem querer
ver, e com medo do que veria, mas então, ouvi a risada baixa dele.
— E assim, você surpreende quem te ataca.
Abri os olhos, e o vi segurando a faca com a mão.
— Como?
— Não é difícil arremessar e acertar sem querer com algo cortante,
mas é difícil saber como desviar ou usar isso contra o outro... — olhei-o
impressionada. — Se eu não segurasse, passaria ainda longe do meu ombro,
mas, foi um ótimo arremesso, para quem está começando.
— Eu agora quero ser o alvo! — Levantei a mão, como se tivesse
que me candidatar.
— Só vai ser o alvo quando usarmos algo que não corte ou
machuque...
— Ora ora, temos um senhor machista aqui?
— Temos um senhor superprotetor que não vai permitir que se
machuque, nunca — falou, e eu bufei, engolindo minha militância sem
razão. — Agora, atire de novo.
— Loki...
Ele não me deixou reclamar, e apenas ficou parado, enquanto eu
pegava outra faca, e arremessava. Meus olhos bem abertos, para vê-lo
segurá-la, e perceber o quão longe a tinha jogado.
Abri a boca de sono, e suspirei.
— Posso voltar a dormir depois que jogar todas essas coisas em
você?
— Mas temos uma desistente, já?
— Eu vou torturar você, no seu aniversário... — falei, ameaçando-o.
— Não ligo se não me deixar dormir.
— Mas liga, se eu simplesmente resolver viajar na sua data especial.
Ele levou a mão ao peito, dramatizando.
— Não seria capaz.
— Me faça arremessar mais do que essas facas, e verá.
— O que fiz para merecer uma mulher tão cruel na minha vida?
— A fez dormir menos de uma hora e vir arremessar facas em você
— rebati e ele sorriu abertamente. — Cretino.
— E eu sei que adora isso em mim.
E pior que, de fato, eu adorava.
Na realidade, eu amava, tudo nele.
A maneira como conseguia me surpreender, e nunca deixar que a
vida fosse apenas a mesma. O modo como eu podia ir para qualquer outro
lugar
E foi uma sucessão de pequenas facas sendo arremessadas, e todas
sendo pegas por ele, no ar, enquanto eu só queria me deitar na grama e
dormir. Quando ele segurou a última, foi exatamente o que fiz. Vi-me
deitando contra o mato alto, e me negando a sair.
— Ena...
— Estou com sono — reclamei.
— Às vezes, esqueço o quão carente fica quando está com sono... —
ele riu baixinho e eu lhe mostrei o dedo do meio. — Pensei que já tínhamos
passado dessa fase.
— Te conheço desde os meus quatro anos de idade, é óbvio que vou
te mandar a merda pelo resto da vida.
Ele riu alto, se deitou ao meu lado, e eu suspirei fundo, enquanto
apenas encarava o céu, e estava perto de simplesmente apagar ali mesmo.
— Nunca imaginou que os nossos oito anos de diferença poderiam
pesar?
— Não quando você tem uma idade mental menor do que a minha.
—brinquei, mas o seu sorriso não se fez presente, nem mesmo ouvi uma risadinha.
Ele estava perguntando de forma séria?
— Você achou? — acabei indagando, e virei meu corpo, tentando
olhar para ele, entre o mato alto que nos separava.
— Você foi a primeira pessoa com quem fiz uma conexão
instantânea, alguém que não fosse um Hansen... — falou, e eu conseguia
notar, o seu rosto para cima, os olhos presos ao céu, ao passo que os braços
estavam abaixo da cabeça. Ele parecia realmente pensativo, profundamente.
— Na praia, quando eu cheguei e vi você, Fenrir e Ior...
— Você deu os nomes deles, e nem sabíamos que tudo seria tão
diferente do normal como é... — admitiu, e então se virou, e seu olhar
encontrou o meu. — Às vezes, eu só fico pensando sobre como você se
sente sobre isso... sobre mim.
Eu sempre amei você, era o que gostaria de dizer.
Eu sei que sempre vou te amar, era o que queria gritar.
— Penso que encontrei um companheiro para a vida... — admiti, e
sorri de lado. — Não tenho uma definição para o que temos, e acho que
nunca existirá algo que explique, mas... mas eu sempre vou ter orgulho de
ter você, e de você me ter.
— Odeio o quão boa você é com as palavras — falou, e eu sorri
abertamente. — Já disse que deveria escrever um livro?
— Várias vezes de milhares — respondi, e então o braço dele
pousou sobre o mato que nos separava, e encurtou a distância. — Por que
eu sinto que tem mais que quer me perguntar?
— Quer se deitar no meu peito e dormir?
— Ainda é macio ou já se tornou tipo uma parede, que eu vou bater
e cair...
Antes que eu pudesse continuar a debochar, ele apenas me puxou
para si, e eu ri no processo, enquanto me ajeitava sobre seu peito. Sentia um
beijo nos meus cabelos, e minha mão parou sobre sua barriga, desenhando
círculos invisíveis.
Naquele momento, ao apenas me enroscar a ele, sem saber definir,
de fato, o que éramos, eu só tinha uma certeza, de que amor, talvez, não
fosse o suficiente para explicar. Talvez tivesse sido apenas o começo.
Capítulo 10

Quando ele não está...

Dois anos depois...

MALENA
Era um lugar enorme para se viver a dois,
Eu sempre me perguntava, como a ilha conseguia, por si só, se
manter tão bela, em todas as estações do ano que fossem. Caminhei pela
floresta, em busca do lugar que eu visitava diariamente, ou pelo menos,
toda semana. Sentia Ior me seguindo, mesmo que totalmente camuflada
entre as folhas.
Não existia nada mais mágico do que as conexões que existiam
naquela terra.
De todas as histórias que eu já tinha lido ou escutado, a que eu vivia,
na ilha do deus Loki, não se comparava com a imaginação que me
acompanhava. Tudo era mais bonito. Tudo era mais intenso. Tudo era ainda
mais decisivo.
Demorou para que Loki realmente me deixasse sozinha ali. Talvez,
ele o tivesse feito, apenas dois anos depois das nossas vidas mudarem por
completo. Sempre me carregando consigo, para onde pudesse, até que
conseguiram criar um sistema de segurança que envolvia toda a ilha, e que
de alguma forma, tornou aquele lugar mais seguro, do que os quais ele
poderia me expor.
Eu sabia o que ele fazia.
Ele sempre me contava, mesmo que eu não pedisse detalhes.
Loki não era um santo, e nem chegaria a ser um. Porém, não era um
tópico que se tornava um elefante na mesa. Na realidade, ele era o que era.
Assim como, eu também.
E sabia que tudo estava ainda mais difícil, com o que vinha
acontecendo com os Hansen. Uma perseguição dentro da própria máfia, que
ainda não existia explicação coerente, sobre o que eram, ou quem eram. Já
tinha perdido as contas, de quantas vezes, apenas o abracei, quando não
conseguia simplesmente dormir.
A culpa por tudo o que acontecia.
A culpa por não conseguir descobrir sobre o que era tudo aquilo.
Ouvi um barulho na mata, e levantei o olhar, sabendo da única
pessoa que se esgueirava por ali, e sequer precisava de permissão: Hella
Hansen.
Como eu e Loki imaginávamos, não estávamos malucos ou
inventando algo com nossa própria dor. Ela esteve ali, anos antes de se
mostrar viva para todos. Parei e fiz uma reverência, antes mesmo de ela sair
pelas árvores.
Ela usava seus vestidos, no mesmo estilo dos meus, uma versão
ainda mais antiga e vintage. Só que nos pés, botas grossas, e ela sempre
tinha um corpete em sua cintura. Ela se parecia muito como uma deusa,
diferente das histórias que existiam, que acusavam que ela era uma
bastarda. Uma bastarda dos Hansen, que Ymir quis que morresse.
— Se vamos fazer reverências... — falou, e então se ajoelhou sobre
uma perna, e ficou ali, por dois minutos.
— Senhora...
Ela apenas ficou, e quando os dois minutos se passaram, ela
finalmente se levantou. Era o jeito de ela, sempre mostrar as condolências
por aqueles que eu perdi, e que eu claramente via em sua expressão, se
culpava por não ter salvado.
Loki tinha me contado histórias, de como ela acabou salvando a vida
da amada de Thor, dez anos antes de ele se casarem. Ou de como ela
protegia a família que Baldur tentou esconder por anos. Ela sempre estava
lá, para cada um dos irmãos, e eu via a sua culpa, por não ter estado ali, por
ele.
Se ela estivesse...
Se ela tivesse salvado minha família. Como tudo estaria?
— Apenas uma volta? — indagou, caminhando ao meu lado, e eu
assenti e neguei com a cabeça. — Então?
— Vou visitar o túmulo da minha família, tomar meu café da tarde
em cima da colina, brincar com as duas pestinhas que estão nos seguindo,
uma mais sorrateira e o outro achando que não estou vendo um lobo maior
do que nós duas juntas... — falei, e Fenrir ganiu, como se não gostando da
brincadeira, e vi-a rir de lado, enquanto caminhava comigo. — E depois
arrumar o que conseguir do castelo, já que Loki chega amanhã.
— Soube que ele está no Brasil.
— Sim, tentando implorar, para que Freya volte a ser próxima dele
— admiti.
— Ela nunca parou, como sabemos.
— Disse a ele que era uma péssima ideia, colocá-la daquela forma,
para protegê-la — comentei. — Na verdade, ele só me contou sobre quando
questionei o porquê de eu não poder entrar em contato com ela... aí eu
literalmente, bati nele — admiti, sorrindo.
— Todos eles mereciam uma surra dessa, fico feliz que ele recebeu.
Não era, de fato, uma surra, era mais um soco atrás do outro nas suas
costas, por ter concordado com os irmãos a fazer algo assim com a irmã.
— No fim, para ele entregar o jogo para o pai do filho dela... —
suspirei fundo, imaginando como foi difícil para ele. — Ele é bom demais
para o próprio bem, muitas vezes.
— Não sabia que foi o Hansen que entregou sobre Bjorn e Freya, foi
ele...
Arregalei os olhos e senti meu rosto queimar,
— Freya já deve saber, porque Henrique viu o Hansen e agora vê
Loki de tempos em tempos, fique tranquila...
Assenti, e continuamos nosso caminho.
— Posso perguntar algo? — indaguei, e ela assentiu, enquanto eu
respirava fundo. — O que pensa sobre as relações dos Hansen que não são
com pessoas da mesma classe? — arrisquei, e ela parou o passo, o que me
fez fazer o mesmo.
— Baldur se casou com uma prisioneira e Freya com um cara
comum brasileiro. — Sorri, assentindo. — Mas se quer saber o que eu
acho... Se meu irmão ou irmã está feliz, não me importo com mais nada.
Assenti, e voltei a andar, sem querer me aprofundar no assunto.
Ela ficou ao meu lado, ainda caminhando, em total silêncio, apenas o
barulho dos pássaros, do vento e de Fenrir ao redor.
Eu sabia o que precisava saber, e depois de tanto tempo, nunca
pensei que realmente chegaria a hora. Eu só conseguia indagar: o que ele
estaria pensando e fazendo nesse momento?

LOKI
— Você é o Hansen mais bonito — falei, enquanto Bjorn vinha
correndo em minha direção, e eu me derretia por inteiro. — Só não diga a
ninguém, que te passei o posto.
Ele então se jogou nos meus braços, e eu apertei todo seu corpinho,
enquanto ele ria alto.
— Nunca pensei que seria tão bom com crianças — Freya falou,
voltando da cozinha com uma garrafa de água em mãos.
— Eu fui bom com você — rebati, e ela revirou os olhos.
— Temos poucos anos de diferença, você sabe — falou, e se jogou
numa das poltronas ao nosso redor. — Como está Malena?
— Por que sempre me pergunta dela quando na verdade, vocês
normalmente se falam por telefone? — rebati, enquanto Bjorn voltava a
andar na direção oposta.
— Porque uma coisa é a visão dela sobre você, e outra é a visão sua
sobre ela...
Olhei-a confuso.
— Não está fazendo sentido nenhum, F.
— Não? — indagou séria, e eu a encarei, sem entender. — Se é o
que usa para fugir do assunto.
— Não estou fugindo, só não estou entendendo...
Bjorn então se jogou sobre mim novamente, e eu ri, jogando-o para
cima e pegando-o no ar.
— Seria um bom pai, você sabe.
— Fui um péssimo irmão, Freya — assumi, enquanto Bjorn corria
até ela. — Não vamos falar sobre ser pai, com alguém que nem imagina
como vai ser ter uma família.
— Você já tem...
Olhei-a ainda mais confuso.
— Só não parece querer enxergar.
Deixei-a divagar, e me concentrei em Bjorn, que correu de volta para
mim, e me fazia valer todo o tempo que eu passava longe de casa. Era bom
demais estar ali, perto de alguém que eu tanto amava, e que tinha construído
o seu próprio lar.
Capítulo 11

Quando ele chega...

MALENA
Eu tinha me arrumado por inteira.
Coloquei o meu vestido mais bonito e os sapatos que ele tinha me
dado de presente no último aniversário. Preparei o almoço, com a comida
favorita dele, e pensei em que mais, poderia fazer.
Ele sabia de tudo sobre mim.
Eu acreditava que sabia tudo sobre ele.
Levei as mãos à cabeça, e respirei fundo.
Eu sabia que ele estava chegando, porque ele tinha me avisado.
Gostava de pensar, que eu era a pessoa favorita no mundo dele, como ele
dizia. Apegava-me àquelas palavras, porque elas eram o mais perto do
sentimento que eu tinha por ele. Eu gostava de pensar que era o jeito dele,
de também estar apaixonado por mim.
Só que ele era Loki Hansen.
Ele não era um cara comum, que eu simplesmente poderia pensar em
me apaixonar. Na verdade, ele deveria ser o último de qualquer lista, ou
melhor, nem estar nela.
Se minha mãe estivesse ali, com certeza, nunca me deixaria fazer
aquilo.
Ele era um Hansen, herdeiro da máfia mais rica do mundo, levava o
nome do deus que minha família cultuava há gerações. Como eu, uma
pessoa simples, poderia considerar me apaixonar por ele?
Por mais que fosse totalmente incompreensível e proibido no
passado. Nós não estávamos mais sobre as antigas leis dos Hansen. Elas
tinham se transformado quando Odin Hansen assumiu a máfia. E não
existia alguma lei, que me proibia de finalmente, dizer o que sentia.
Ouvi o barulho da porta da frente sendo aberta, e sempre era
impossível, não o fazer. Se existia uma coisa que Loki era, era barulhento.
— Querida, cheguei!
Um sorriso se abriu no meu rosto, enquanto eu tentava realinhar as
taças sobre a mesa, da sala de jantar.
Senti-o se aproximar, e antes que eu me virasse, ou algo assim, senti
um beijo seu em meus cabelos. Ele era sempre assim. Fosse para passar por
ali por alguns segundos, fosse para estar ali por dias.
Os últimos tempos tinham sido mais caóticos do que antes. Sempre
cheio de trabalho, e se desdobrando para resolver os problemas em família.
Eu via a forma como cada escolha que sequer foi dele, impactava na
maneira como ele levava a vida. A dor que estampou os seus olhos, desde
quando teve que começar a mentir para sua irmã mais nova. Até o momento
que pôde dizer a verdade, e então estava tentando reconquistar a confiança
dela.
— Tudo certo com Freya? — indaguei, tentando estar em qualquer
assunto, menos no principal, naquele momento.
Por que tinha que ser tão difícil assim?
— Bom, ela está tentando me reaceitar na sua vida... Mas passamos
mais tempo falando de você e de Bjorn do que qualquer outra coisa. —
Semicerrei os olhos, confusa, e o encarei.
Senti seu braço ao redor do meu ombro, e segurei um suspiro. Era
sempre tão acolhedor, tê-lo assim perto. Era, tantas vezes, abrasador, o fato
de que gostaria de morar em seu toque.
Virei meu olhar para si, segurando uma taça em mãos, e encontrei
seu sorriso, encarando-me como sempre: feliz por estar em casa.
— Sabe, Bjorn e você, são os nossos bebês.
Fiz uma careta, enquanto ele se afastava, e apenas desviou do tapa
que acertaria em seu ombro, rindo alto.
— Eu tenho a idade de Freya — acusei-o, apontando-lhe com a taça.
Nós dois sabíamos onde aquilo poderia terminar. Anos e anos
treinando tiro ao alvo, como um jeito de ele me ensinar a me defender e
lutar, e seria fácil para eu o acertar, assim como, seria fácil para ele desviar.
— Bom, uma irmãzinha mais nova, então?
Fechei minha expressão e engoli em seco.
Parecia que sempre voltávamos para o mesmo estágio, o qual, ou ele
me via como família, ou sempre me veria como uma irmã mais nova. Virei-
me para voltar com a taça na mesa, e apenas ignorei aquela conversa. Eu
sabia que precisava ultrapassar a linha, de uma vez por todas, para parar de
me permitir sangrar em silêncio. Se tivesse que o fazer, que fosse de uma
vez. Que fosse para não me permitir viver em uma mentira.
Uma mentira de que ele era apenas família para mim. Ele era mais
do que aquilo. Ele era a família que eu tinha escolhido, e que eu escolheria,
em qualquer outra situação em que estivéssemos.
— Tenho algo para te contar...
Ouvi seus passos se aproximando, enquanto eu tentava realinhar minha mente, e encontrar
um jeito de me declarar.
Parecia tão mais simples na minha imaginação.
Preparar tudo, do melhor jeito possível. Fazer com que o ambiente fosse perfeito. Fazer com
que eu estivesse linda. Fazer com que ele realmente enxergasse isso. Porém, o difícil era fazer minha
boca se abrir e dizer em alto e bom som: estou apaixonada por você.
Como poderia ser fácil fazer algo assim?
— “Ena, estou apaixonado…”
De repente, eu apenas fiquei paralisada, e me virei, sentindo a taça
escorregar entre meus dedos e o barulho dela contra o chão. Nada mais parecia
milimetricamente planejado como eu queria.
— Nunca te vi derrubar nada… — sua voz parecia distante, mas ele estava
próximo a mim, agachando-se e me ajudando a pegar os cacos no chão.
Tudo em mim, em puro automático.
Diga o meu nome.
Diga que sou eu.
Diga que não estou nessa sozinha.
— O nome dela é Irina.
Congelei no mesmo instante, enquanto levantava meu olhar e procurava o dele. Sentindo
então, outra coisa se estilhaçar, só que dentro de mim: meu coração.
— A herdeira da máfia russa, sua... sua cunhada?
Ele apenas assentiu, conforme terminava de pegar os cacos, e eu me
levantei abruptamente, querendo sair dali.
Era óbvio que ele iria querer alguém do nível dele.
Era tão nítido, que de repente, eu me culpei por não ter entendido o
meu papel, desde o início.
— Bom, ela...
Foi quando ouvimos um uivo tão alto, que só poderia ser Fenrir.
— Alguém...
Antes que eu terminasse a pergunta, ele simplesmente correu até a
cozinha, deixou os cacos sobre a bancada, e pegou o celular no bolso.
Olhou algo nele, e fez uma careta, que se eu não estivesse tão inerte e
incrédula sobre tudo, acharia graça.
— Thor, seu filho de um desgraçado...
— O que...
De repente, tudo em mim gelou, e como sempre, apertei minhas
mãos com força. Uma mania que tinha, quando ficava nervosa.
— Querida, não...
Foi no momento em que apenas senti os cortes. E Loki correu para
jogar os cacos para longe das minhas mãos, e as colocou na pia, abrindo a
torneira. O celular dele, sequer sabia onde tinha ido parar.
— Eu nunca te vi se machucar assim...
Ele falou, e eu voltei à realidade, piscando algumas vezes, e
afastando minha mão da dele. Eram pequenos cortes, que teria que passar
alguma faixa de curativo e nada mais.
— Estou bem.
Senti-o me encarando e suspirei fundo.
— Thor entrou no sistema de segurança da ilha, como fiz na dele, e
por isso, tem algum helicóptero pousando nesse exato segundo...
Virei-me para ele, pegando os guardanapos ao lado da pia, e
enrolando-os na mão, até ir ao banheiro e fazer um curativo.
— Ena, senta aqui.
Sua voz soou baixa, mas como uma ordem.
Ele raramente o fazia, e eu sequer soube como ir contra. Na verdade,
eu só queria me sentar na primeira cadeira que encontrasse, e chorar.
Chorar porque eu planejei tanto para contar que amava o homem
à minha frente, para ele aparecer, e dizer que estava apaixonado por
outra.
— Ok, vamos...
— Tem pessoas chegando...
Ele apenas me ignorou, e se colocou de joelhos diante de mim,
pegou minhas mãos e olhou, antes de abrir a caixa de primeira socorros,
retirar os curativos e álcool.
— Vai arder um pouquinho.
Sua voz era tão calma, mas firme, que a olhando dali, apenas
cuidando de mim, não consegui pensar, como seria ele fazendo o mesmo,
para outra.
Ele já o fazia?
Ela o correspondia?
Ele apenas se concentrou em meus curativos, e então seu olhar parou
no meu.
Por que ela?
Por que se apaixonou por ela?
Por que não eu?
Por que...
Um rosnado alto, próximo, me fez quebrar o olhar do ele, e ele então
se levantou, olhando-me de cima abaixo.
— Eu estou bem, eu só...
— Não se machuque mais.
Sua voz soou como uma ordem, e ao mesmo tempo, um implorar.
— Sabe quem está aí?
Caminhei com ele, e logo vi Fenrir à frente da porta principal do
castelo, totalmente imponente, e um rosnado alto.
— Seguro, Fenrir.
Loki falou na antiga língua nórdica, que era estritamente conhecida
por ali, e então o lobo apenas se afastou da frente da porta, e eu quase o
segui, para ver se estava tudo bem com ele, mas meu olhar parou nos dois
estranhos parados na porta.
— O que os sogros do meu irmão mais velho fazem em uma ilha tão
remota?
Sogros?
Irmão?
Aqueles eram os Romanov?
— Vai nos chamar para entrar?
— Depende... — Loki falou, enquanto eu estava claramente tampada
pela seu corpo, e sabia que não era notada. — O que fazem aqui?
— Preciso falar com o pai do filho que minha filha espera.
Foi quando eu abri a boca incrédula, e minha voz se tornou presente.
— Filho?
Capítulo 12

Quando ele inventa...

LOKI
Que papo de maluco era aquele?
Apenas lhes dei espaço para entrar, enquanto mantinha Malena às
minhas costas, um braço confortavelmente à frente do seu corpo.
— Thor abriu meu espaço aéreo e a ilha, mas não sei realmente o
que fazem aqui.
— Irina está grávida, Loki.
— Senhor Hansen para o senhor — falei, mesmo sabendo que eles
eram os sogros do meu irmão mais velho.
Eles não eram nada meus.
E praticamente, não significavam nada para as próprias filhas.
De onde tinham tirado aquele tipo de comunicação?
— Não vai nos oferecer um jantar por educação, Hansen?
— Não ofereço isso a invasores — rebati. — Agora, direto ao ponto.
— Irina está grávida, e sabemos que passou o último mês com você
na Grécia...
Tentei juntar as peças, e pensei que talvez Irina tivesse, de fato, feito
uso de uma das minhas técnicas.
— Bom, ficamos lá a trabalho — falei, sem sequer pensar. — Não
sei o que os leva a pensar que sou o pai do filho que ela espera.
— Há fotos de vocês, saindo juntos e...
— Transando? — rebati, e ouvi a sua esposa engasgar. — Eu
poderia ver isso como uma afronta, senhor Romanov.
— O que...
— Vem a casa de um herdeiro da máfia escandinava, sem qualquer
aviso prévio, e ainda o acusa de traição... — olhei-o friamente. — Isso é
passível que deixe Fenrir ou Iormungander se alimentarem de você... vocês.
— Não sei o que diabos é isso que disse, mas se for o maldito lobo...
— Deveria ter prestado atenção, mas havia uma serpente enorme,
camuflada e pronta para dar o bote, ao lado da sua esposa...
O homem quase perdeu a cor.
— Moleque atrevido...
— Loki Hansen, prazer. — Fingi uma reverência. — Agora, peça
desculpas a meus animais, e principalmente, à minha noiva.
— Noiva?
A pergunta pareceu ecoar pelo castelo, dos dois.
Foi quando me virei para Malena, e o braço que estava à sua frente,
passou para suas costas.
— Malena Dahl — falei, olhando-a. — Minha noiva.

MALENA
Ele estava delirando?
Ou eu quem teria que jogá-lo como comida para Fenrir e
Jörmungandr?
Sequer consegui sorrir, totalmente em choque.
— Ela não está feliz por isso.
— Ela é muda por acaso?
Foi quando virei meu olhar para o chefe da máfia russa, e semicerrei
o olhar. Nunca sequer vi Odin Hansen falar assim com alguém
desconhecido, ou olhar com tamanha prepotência para alguém que não
fosse seu rival.
Ele me via assim?
Um empecilho?
— Uso minha voz apenas com quem a merece.
Apenas deixei sair.
Poderia ouvir minha mãe em minha mente: tem que parar de ser tão
impulsiva quando está nervosa.
Poderia ouvir meu irmão gritando: agora corre, maninha!
E senti apenas a mão de Loki, no final da minha cintura, apertando-a
levemente, como quem dizia: muito bem, querida.
— Odin Hansen saberá disso....
Eles pareciam inconformados, enquanto se afastavam.
— Conte a Odin também que invadiu minha ilha... ele adorará
começar uma guerra.
— É uma ameaça, Hansen?
— É uma realidade, senhor Romanov — Loki falou, e então apenas
me lançou um olhar, antes de se afastar, e indicar-lhes a porta. — Tenham
um ótimo voo de volta, e boa sorte em tentar colocar a gravidez de Irina em
algum outro herdeiro... talvez da máfia grega?
— Moleque...
O homem parecia pronto para acertar Loki, que nem se mexeu, mãos
nos bolsos da calça, e sorrindo abertamente. O rosnado de Fenrir se tornou
presente, como se pronto para atacar, e eu segurei uma risada.
Ele sempre estava lá. Com a irmã na retaguarda, pronta para pegar o
que ele deixava passar.
— Uma péssima viagem de volta, senhor e senhora.
Loki falou, e seguiu-os até a saída, que ambos passaram como se
atormentados, enquanto Fenrir os observava.
Não pensei muito, quando levei a mão até a outra taça que estava na
mesa, e a atirei diretamente em Loki, que a pegou no ar, virando-se para
mim.
— Ainda não, querida.
Foi quando fui até ele e o olhei incrédula.
— Que porra de história de noiva é essa?
Ele sorriu, como se pudesse consertar tudo assim, e eu quase me
esqueci por um segundo, o que ele tinha me confessado mais cedo. Porém,
ainda estava ali, rondando-me. Ele estava apaixonado por Irina Romanov...
E agora... ele era meu noivo?
Porém, antes que eu pudesse fazer alguma coisa, ou me aproximar
dele, ou correr para o mais longe possível, apenas o vi vir para perto, e seus
braços ao meu redor, puxando meu rosto para o seu peito. Tentei impedir,
mas ele me segurou, dano um leve beijo próximo à minha orelha.
— Eles estão voltando, querida.
Minhas mãos subiram por suas costas, e não sabia se estava me
segurando nele com toda minha dúvida ou raiva.
Alguns minutos passaram, e eu apenas suspirei, tentando ignorar a
proximidade, e o cheiro dele, que eu tanto senti falta. Dias e dias longe... E
ele estava na Grécia? Com Irina? Com a mulher que ele amava?
Foi quando apenas o empurrei com força e o encarei.
— Eles já voltaram e...
— Não foi visitar Thor e depois para a América do Sul?
Ele assentiu, e eu o olhei sem entender nada.
— O que é verdade e o que é mentira, Loki?
— Bom, Irina deve ter usado algum sósia meu para fingir que estava
a trabalho na Grécia, enquanto eu estava exatamente onde você sabe... —
olhei-o perdida. — Não tenho por que mentir para você, Ena.
— Como ela está grávida de outro, se está apaixonado por ela?
Nem eu sabia mais o que estava indagando.
— Por que ela não está apaixonada de volta? — Deu de ombros,
como se preso na própria miséria.
A minha miséria era idêntica.
E eu apenas me vi, no mesmo lugar dele.
— Por que disse que sou sua noiva?
— Para fazer eles irem embora mais rápido e... — suas palavras me
acertaram por inteira, e eu percebi o quão pequena me senti, presa em uma
de suas trapaças. — Poder ficar perto de você, depois de tanto tempo.
— Loki... Eles podem levar isso a Odin, podem espalhar para outras
máfias... Eles...
— Querida...
Ele então colocou as duas mãos em meus ombros e os segurou com
cuidado.
— Quantas vezes já mentimos juntos?
— Era trabalho, Loki — rebati, e suspirei fundo.
— Pense nisso como um trabalho de segundos, e que olha só... eu
posso te pagar rapidamente, com aquele livro que tanto me pediu para
encontrar...
Ele sabia onde me pegar.
— Isso não é justo.
Foi tudo o que consegui dizer, enquanto ele sorria, e me puxava para
os seus braços. Mal sabendo ele, que mesmo que eu estivesse ali, e tentando
entender, a realidade, eu me sentia tão longe e quebrada, que precisava sair.
Precisava respirar longe dele, para reencontrar o meu lugar.
Um lugar que não era ao seu lado.
Capítulo 13

Quando ele implora...

MALENA
Sempre adorei conhecer histórias ricas e diferentes, de outras partes
do mundo.
Olhei para os vários livros e registros diferentes que ele trouxe,
diretamente do Norte do Brasil. Queria poder apenas ler e me perder em
mais histórias totalmente diferentes das que eu conhecia, mas a fala dele,
continuava rondando minha mente.
Batidas na porta, me fizeram levantar o olhar diretamente para ela, e
então o encontrei parado na mesma, me encarando.
Como se foge daquilo que sempre te encontra? Como se foge
daquilo que sempre quer encontrar?
— Você fez minha comida favorita e não vai me acompanhar no
jantar? — indagou, cruzando os braços, já expostos.
Ele tinha deixado a jaqueta de couro, que era sua companheira fiel,
em algum canto. E só vestia uma regata preta, que se agarrava a cada
músculo de si, e deixava ainda mais evidente cada tatuagem em seu corpo.
Segurei outro suspiro, e deixei os presentes de lado, o encarando.
— Precisa da minha boca para comer? — indaguei, ouvi sua
risadinha, e ele levou um dedo até os lábios, batendo-o ali.
— Ok, quanto tenho preciso implorar para me perdoar por uma
mentirinha?
Ele então adentrou meu quarto, e eu revirei os olhos, tentando fingir
que nada daquilo me atingia. Mas o fazia, e muito. Mais do que gostaria de
admitir.
— Não há súplica suficiente — respondi, e me levantei, antes que
ele se sentasse ao meu lado. — Vamos comer, e eu vou fingir que não me
usou como uma mentirinha barata.
— Ei! — ele falou, o seu tom inconformado, enquanto eu saía para o
corredor. — Não há nada de barato nisso.
— Vai dizer que sou uma mentira cara? — rebati, assim que ficou ao
meu lado, seguindo-me pelo corredor até a grande escadaria. —
Honestamente, Loki.
— Lo.
Revirei os olhos, enquanto descíamos as escadas.
— Não está merecendo seu apelido, e muito menos, que eu te faça
companhia.
— Sempre esqueço o quanto pode ser cruel, querida.
Ele passou à minha frente, e vi-o já puxar uma cadeira para que eu
me sentasse. Eu o fiz, ignorando o sorrisinho em seu rosto.
— Acho que agora temos algo muito mais importante do que minhas
mentiras para falar...
Olhei-o, assim que se sentou diante de mim, e engoli em seco.
— Sim... — falei, e suspirei fundo. — Como é estar apaixonado por
alguém que está envolvida com outro? — indaguei, tentando usar minha
maior máscara de frieza.
Se eu não tratasse aquilo como algo tão grande, talvez se tornasse
mísero. Talvez eu pudesse apenas desenterrar aquele sentimento, sem que
Loki nunca percebesse. Matando-o, eu mesma, pouco a pouco.
Sua careta foi imediata.
— Ia perguntar como foram os seus dias... — falou, e então
impediu-me de me servir, no momento que o faria, e o fez. Apenas deixei-o
fazer, e fiquei o observando. — Fenrir deu trabalho? Ior?
— Vai fugir da minha pergunta? — indaguei, e ele se recostou na
cadeira, levando a mão ao peito, como se atacado.
— Não tenho uma resposta para isso — falou, tão honesto quanto
todas as palavras e promessas que já sussurramos um para o outro. — Mas
eu gostaria de saber se...
— Sabe, eu já passei por isso... — cortei-o, e engoli em seco,
encarando o prato que ele acabou de me servir, sem o mínimo de fome.
A verdade era que eu acabava de sentir em minha pele, como era
tudo aquilo. Ainda processando, como realmente me sentia.
— Já se apaixonou, Ena? — indagou, sua voz mais baixa e
controlada.
Não consegui olhá-lo, encarando os talheres de prata.
— Já. — Dei de ombros. — Mas não deveria... — neguei com a
cabeça. — A exata situação que você está vivendo...
— Quem é ele?
Levantei o olhar, e notei a maneira como ele parecia incomodado.
Em como parecia pronto para matar alguém, se eu pedisse.
— Se ele te machucou ou fez algo, se ele...
— Não vou te dizer quem é, Loki — falei, e resolvi começar a
comer. — Não é importante para essa conversa.
— Tudo sobre você é importante, querida.
— Me chamou para comer ou para usar suas frases prontas, querido?
— rebati, usando o apelido que raramente deixava sair, por inflar tanto o
ego de Loki, que eu evitava.
Ele adorava dizer que conseguiu me fazer usar apelidos como ele. A
verdade era que eu nunca sabia para quem ele estava se gabando. Era
apenas eu. Éramos apenas eu e ele ali. Ou nós dois, em algum lugar pelo
mundo. Ou eu, em algum lugar distante. Ou ele, por dias e dias longe.
— Acho que vou superar o fato de não usar o outro apelido.
Revirei os olhos e foquei na comida, relembrando tudo o que eu
tinha pensado e planejado, enquanto cozinhava e cantava pela cozinha.
Minha mente tão longe, mas ainda assim, tão perto dali. Porque era
justamente nele, que eu estava pensando.
— Eu realmente sinto muito, Ena.
Sua voz soou baixa, e eu levantei o olhar, para encontrar o dele. O
seu olhar culpado no rosto, que sempre me doeu profundamente. Porque eu
sabia exatamente quando o vi pela primeira vez.
— Eu vou sobreviver a essa mentira, Lo.
Levei minha mão até a sua, que estava sobre a mesa, e dei um leve
aperto. Sua expressão mudou um pouco, enquanto eu me apegava aos
pedaços dele, que nunca seriam meus.
Eu tinha que sobreviver àquilo.
Eu tinha que sobreviver àquele sentimento.
O celular dele vibrou sobre a mesa, e ele se afastou, para encará-lo.
Ele nunca fugia do celular, sempre alerta e atento a qualquer coisa que a
máfia e principalmente, os seus irmãos, precisavam. Foi quando sua
expressão mudou por completo, e um medo se apoderou de mim.
— Querida, então...
— É muito tempo longe? É perigoso? Eu posso ir junto?
— Na verdade, vou ter que implorar para que vá comigo. — Franzi
o cenho, sem entender, quando ele me entregou o celular.
“Os Romanov convidam Loki Hansen e sua noiva, Malena Dahl,
para a festa de aniversário de Nicolai Romanov”.
Li em voz alta, e pareceu ainda pior.
— Eles estão nos convidando? — ele assentiu e me encarava com os
olhos do próprio gato de botas. — Por que eu tenho que fingir ser sua noiva
para a família da mulher que você ama?
Diga que ela não é quem você ama, minha mente implorou.
Diga que essa foi apenas mais uma das suas mentiras, meu coração
sangrou.
— Porque você é minha melhor amiga e minha salvação, querida —
falou, no tom bajulador que eu tanto conhecia, e sem saber que me
machucava ainda mais, saber que eu nunca sairia daquele lugar na sua vida.
Friendzone era realmente a pior merda que poderia estar, tanto
quanto eu lia, assistia ou escutava. E era ainda mais dolorosa, na realidade.
— Eles estão querendo nos testar... — continuou, e suspirou fundo.
— Eles querem nos desmascarar? — indaguei, e ele assentiu. — Por
que devem achar que é uma mentira, então?
— Porque eu sou o melhor mentiroso de todos, Ena. — Deu de
ombros. — E eles querem que eu seja uma mentira e assuma o filho da
herdeira deles, não me pergunte por quê.
— Talvez porque saibam que você gosta dela.
— Só você sabe, Ena — respondeu simplesmente. — Eu... eu posso
ficar de joelhos agora e implorar para ir comigo nessa festa?
E de repente, eu sabia que ele realmente o faria, por quanto tempo
fosse necessário, para que eu aceitasse.
Ser a noiva de mentira dele, era muito diferente de qualquer outra
coisa que já fizemos juntos. Era maior e mais perigoso, porque mexia onde
não deveria, em um lugar que eu tanto queria que ele não visse. Não mais.
Desenterrar tudo, para não ter mais que viver com o fantasma
daquele sentimento... era a minha melhor saída.
— Querida, só precisa ser minha noiva de mentira por uma noite...
— falou, e eu deixei seu celular novamente sobre a mesa. — Isso é uma
história de amor, apenas diga sim — arriscou, e eu peguei o celular
novamente e queria jogar na sua cara.
Como ele conseguia ser tão dolorosamente frustrante e empolgante
ao mesmo tempo?
— Isso não é uma história de amor — corrigi-o, porque nunca usaria
uma das minhas músicas favoritas para aquilo. — É só mais uma mentira
sua comigo, Loki. — Soltei o ar com força. — Eu vou ser sua noiva de
mentira, por uma noite!
— Já disse o quanto te amo, Ena?
Não como eu gostaria.
— Apenas me deixe comer — falei, e lhe entreguei o celular,
enquanto ele ria baixinho. — E coma, porque deu o maior trabalho ir em
outras ilhas comprar cada ingrediente para sua comida favorita — eu disse,
fazendo uso da minha maior arma para defesa: entrar em outro assunto.
Nós comemos em silêncio, e ele não era ruim ou algo parecido, só
que sabia que estava sendo diferente para mim. Não tinha como não ser.
Porque eu sabia que no final daquela semana, estaria em outro país, com
desconhecidos por todos os lados, sendo apresentada como a noiva de Loki
Hansen. Por mais que fosse tudo que desejava internamente, não conseguia
sentir a plenitude de nada daquilo. Porque eu sabia que não era real.
E me tornei o que nunca desejei: apenas mais uma mentira para ele.
Capítulo 14

Quando ele te entende...

MALENA
Ele tinha saído.
Não sabia se para caminhar pela praia ou se para apenas passar um
tempo sozinho.
Eu sempre me vinha, correndo para o lugar que me dava uma
sensação de paz maior. Não sabia explicar o porquê, mas eu sempre
adentrava o closet de Loki, e me sentava lá, parada, e olhando tudo ao
redor. Talvez, porque fosse uma memória afetiva e nostálgica.
Na primeira vez em que brincamos de esconde-esconde, eu, ele e
Sven. E foi ali, que eu me escondi. Tão pequena, que foi fácil de entrar em
uma das prateleiras inferiores, e puxar a porta de correr. Lembrava-me de
respirar bem devagar, e segurar a respiração quando ouvia um barulho
próximo.
Até que em um momento, eu apenas dormi, e minha mãe contava,
que todos ficaram totalmente desnorteados. Eu tinha apenas seis anos, e
lembrava-me de quando a porta de correr foi puxada, e Loki me tirou de lá
de dentro, gritando que tinha me achado.
E eu não entendia nada, apenas aceitando o seu abraço, e
acreditando que eu tinha perdido na brincadeira.
Olhei para o final do corredor do closet, e era como se pudesse ver,
minha mãe e meu irmão, nos observando. Era uma memória viva em minha
mente. Acreditava que por aquilo, que eu sempre me escondia ali. Mesmo
que não tivesse de fato do que fugir.
E se eu quisesse fugir de mim mesmo?
E se eu quisesse que não fosse Loki que me encontrasse?
Fiquei apenas ali, por algum tempo, minha cabeça contra a parede, e
me indagando do porquê, eu simplesmente não dizia tudo o que me
atormentava, me inundava e me incomodava.
Eu não conseguia.
Eu não sabia como.
O medo de perder tudo.
O medo de já ter perdido tudo.
Levantei-me a contragosto, e iria direto para o meu quarto. Mas
quando pisei no corredor, ouvi o piano sendo tocado. Era raro, que Loki
simplesmente se sentasse e o fizesse. Era algo que ele tinha me ensinado, e
que eu fazia, todos os dias, estando ele em casa ou não. Porém, era algo que
eu sabia, ele apenas fazia, quando precisava.
Quando precisava de um jeito diferente de se perder.
Desci as escadas, e reconheci a canção, um sorriso nascendo em meu
rosto. Ele sempre sabia, mesmo nos piores momentos, em como tirar um de
mim. E o fato de ele estar tocando a música favorita de Sven, e no caso,
pensando em minha família, assim como eu, me mostrava em como
parecíamos interligados.
Então, por quê?
Por que no momento que eu ia me declarar, ele resolveu se declarar
para outra?
Por que o amor romântico podia ser tão desconexo e cruel?
Então eu me encostei ao seu lado e não pude evitar cantar a parte
final, enquanto ele abria um sorriso e fazia o mesmo.
— “E se você pedir
Papai vai te comprar um passarinho
Eu vou te dar o mundo
Eu vou comprar um anel de diamantes para você
Eu vou cantar para você
Eu farei de tudo por você, para vê-la sorrir
E se o passarinho não cantar e aquele anel não brilhar
Eu vou quebrar o pescoço do passarinho
E vou voltar ao joalheiro que vendeu o anel
E fazê-lo comer cada quilate, não fode com o papai...”[1]
— Tocar Mockingbird no piano, Sven ficaria muito puto — falei, e
ele sorriu ainda mais, assentindo.
— Acho que ele ficaria orgulhoso, em te ver cantando a música
favorita dele...
— Pensando neles?
— Sempre — admitiu, suspirando fundo. — E você, querida?
— Estava no seu closet — confessei, e ele se afastou um pouco no
banco, dando espaço para me sentar ao seu lado. — Sempre faço isso,
inconscientemente...
— Bom, eu ia te achar, se não me achasse aqui... — comentou, e
passou um braço ao redor do meu ombro. — Desculpe por, muitas vezes,
trazer a sua dor à tona, junto à minha.
— Eu li esses dias “o luto é um amor que não tem para onde ir”. —
Suspirei fundo. — Acho que define perfeitamente, a maneira como a gente
tenta dar um destino e nunca parece o suficiente...
— Mas eu ainda prefiro você tocando a mim...
Ele então se afastou, levantando-se, e deixando o piano à minha
disposição.
— O pedido de hoje? — indaguei, e ele deu de ombros.
— Qual a sua música do momento, querida?
— Tem tantas, mas a maioria tão tristes... tão românticas e tristes...
— admiti, com um sorriso sem graça.
— Sobre o cara que gosta? — perguntou, sua voz descendo um tom,
e eu não consegui encará-lo.
— Quer mesmo que eu toque uma música que me lembra do que
cara por quem eu me apaixonei?
— Realmente está apaixonada? — indagou, e então meus dedos
quase se encostaram nas teclas.
— Seria estranho se eu não estivesse, depois de tantos anos...
— Eu não sei como não vi, que estava assim — admitiu, e levantei
meu olhar, encarando-o.
Como não me viu aqui?
Como ainda não me vê, bem aqui?
— Acho que paixão não era um tópico entre nós, até aparecer
dizendo que está apaixonado por Irina Romanov — falei, as palavras saindo
amargas de minha boca.
— Pensei que não escondíamos nada um do outro, Ena.
— Nunca me perguntou sobre — fui honesta, e dei de ombros. —
Não é como se fosse me orgulhar, de gostar de alguém que não gosta de
mim...
— Ele é um babaca.
— Nisso, eu concordo.
Mal sabia ele, que estava xingando a si mesmo.
— E um idiota.
— Também.
— E um cego.
— Provavelmente.
Apenas fui dando corda, sem saber que ele estava tentando, na
verdade, enforcar a pessoa que eu falava, que sequer sabia, que era ele
mesmo.
— E o nome dele é...
— Loki — falei, apenas para cortá-lo, sem perceber como poderia
soar. Até mesmo em uma minidiscussão, eu acabava, deixando tão óbvio.
Como ele podia não entender? Como eu não insistia em fazer? Neguei com
a cabeça, encarando-o. — Não vou te dizer nada sobre ele.
— Querida...
— Nem adianta apelar.
— Mas...
Foi então que apenas comecei a tocar, a primeira música que me
veio em mente, e apenas ignorei suas reclamações. Era melhor me deleitar e
iludir com a música, do que deixar que aquela conversa continuasse. A
realidade era que eu precisava sobreviver àquela mentira com ele, para
então, ter a minha verdade.
Sabia, que de um jeito, ou de outro, eu o perderia.
Eu sentia, lá no fundo.
Só não estava preparada para aquilo. Não ainda.
Capítulo 15

Quando ele se veste de preto...

MALENA
Não me lembrava da última vez que pisei na Rússia.
Sempre preferi viajar para países tropicais, quando fosse para
realmente espairecer, e até mesmo, os preferiria, se fosse a trabalho, para
acompanhar Loki. Mas ali estava eu, vestida de verde-escuro, em um
vestido que deixava aparentes minhas costas, e em saltos que eu gostaria de
tirar o quanto antes. Preferia os que tinham uma sola quadrada, ou
simplesmente, minhas botas.
Dei uma voltinha à frente do grande espelho do quarto de hotel, e
sabia que Loki estava apenas enrolando do lado de fora, no corredor. Cada
passo nosso, totalmente calculado por ele. Um quarto para dois, para que
ninguém pensasse na possibilidade de que dormíamos separados.
Quanto mais me encarava no espelho, mais conseguia me sentir
patética.
Por que não conseguia apenas dizer “não” a ele?
Batidas na porta, me fizeram virar, enquanto jogava meus cabelos
ruivos para trás. Caminhei até ela, abri-a somente um pouco, e então o vi.
Ele era bonito de várias maneiras, a minha preferida, com sua jaqueta de
couro e regata preta coladas. Porém, quando ele se vestia socialmente, todo
de preto, em cada detalhe, e deixando suas tatuagens à mostra com os
botões da camisa no alto abertos. Não havia um tom diferente de preto em
sua roupa. Mas notei entre os seus acessórios, que sempre eram muitos, um
bracelete exatamente da cor do meu vestido, no formato de uma serpente.
— Vai me deixar para fora a noite toda, querida?
Eu forcei um sorriso, e abri a porta, afastando-me para que ele
pudesse fechá-la. Foi quando respirei fundo, e dei uma voltinha, sabendo
que ele estava me olhando.
— E então? — indaguei, tentando acalmar minha insegurança. —
Esse é o tipo de roupa que esperam de mim?
Por um segundo, vi que a sua boca se abriu levemente, e era
engraçado, ver Loki não ter uma resposta na ponta da língua. Geralmente,
ele era o dono de todas elas.
— Não sei o que esperam, mas sei que será a mulher mais linda
dessa festa.
— Diz isso porque você me ajudou a escolher o vestido... —
provoquei, e ele sorriu levemente, levando um dedo ao lábio inferior e
batendo ali. A sua mania que sempre me intrigou. Como seria, se fossem os
meus dedos, bem ali?
Foco, Malena!
— Bom, deveria me agradecer por isso? — provocou, aproximando-
se.
Ele sempre esteve próximo.
Ele sempre foi próximo.
Só não conseguia mais fingir que a cada vez que ele o fazia, uma
parte de mim, quase que acreditava que ele queria aquilo tanto quanto eu.
— Não esqueça quem está aqui te ajudando — rebati, e coloquei um
dedo contra o seu peito, o parando. — Vamos ter que ficar por muito
tempo?
— Nem sempre dura muito — avisou, e eu suspirei fundo. — Mas
você vai estar com a pessoa mais bonita e legal da festa.
— E a mais humilde, obviamente...
Dei passos para longe dele, e procurei pela minha bolsa, pequena,
em formato de uma serpente, e eu sabia que ele era apegado a cada detalhe,
assim como eu.
— Ior ficaria orgulhosa — falei, lembrando-me de uma das guardiãs
de sua ilha, que era o que tornava tudo ainda mais místico. O fato de a
própria natureza ser de acordo com a ilha de cada um que levava o nome de
um dos seus deuses nórdicos.
— E Fenrir ia me jogar uns cinco metros longe, no mínimo.
Ele parou, e ofereceu-me seu braço.
— Pronta, querida?
— Que eu possa apenas passar despercebida — falei, e entrelacei
meu braço no dele.
— Acho que isso é impossível.
Eu ri, enquanto saíamos do quarto.
— Por que eu estou com a pessoa mais bonita e legal de festa? —
debochei, assim que paramos à frente do elevador.
— Não, porque você será a mais bonita lá... — prendi uma
respiração, ouvindo as portas se abrirem, e entrarmos na grande caixa de
metal. — Não posso dizer que a mais legal, mas...
Bati contra sua costela e ele riu de lado.
Consegui ver seu reflexo pelo grande espelho, e notei o quanto ele
parecia apenas... ele. E eu, a cada segundo, revisava meus passos e minhas
palavras. O medo e pavor, de deixar algo escapar. A vontade e cansaço, de
querer apenas parar.
Porém, eu conseguia fazer aquilo.
De tudo que eu já tinha vivido, nos quatro anos apaixonada pelo
homem ao meu lado. Ir a festa de aniversário de um chefe da máfia, como
sua falsa noiva, não poderia ser o fim do mundo. Certo?
Capítulo 16

Quando ele se surpreende...

LOKI
Os Romanov queriam impressionar.
Desde o momento em que nos aproximávamos da enorme mansão
deles, era óbvio que não estavam tentando se esconder, como era de
costume. Eles queriam aparecer, e serem o centro das atenções.
Pensava eu, que por toda a narrativa de na verdade, terem casado a
filha errada com meu irmão, e agora terem que fingir que ainda possuíam
algum controle a respeito da própria herdeira.
Irina estaria ali?
Ela estaria presente para sorrir e acenar, como ela mesma?
Pensava se Thor viria com sua esposa.
Nós não tínhamos nos falado durante toda a semana. A verdade era
que o tinha evitado, e a ligação de cada um de meus outros irmãos. Ficando
preso no castelo, com medo de que Hella brotasse de algum arbusto e me
desse um guia completo de como eu estava fodido. Ou até mesmo, esperei
que Odin aparecesse, e me desse um escorraço.
Mas nada...
O mais absoluto nada me veio acontecer pessoalmente.
Talvez porque Tyr ter engravidado a mais jovem herdeira da máfia
indiana, e que era simplesmente uma das que os Hansen não tinham
qualquer ligação, tivesse tomado a cena e todo seu tempo.
Agradecia a Tyr por ser o protagonista inesperado na maior
reviravolta que todos nós tínhamos visto acontecer naqueles anos.
Nem mesmo Freya tendo engravidado de um protegido dos Kang,
que sequer era da máfia.
Nem mesmo Baldur tendo construído uma família com a brasileira
que deveria ter aprisionado e matado.
Nem mesmo Thor que se casou consciente com a gêmea que não era
a prometida dos Romanov para um Hansen.
— Isso parece grande.
O carro parou, e enquanto Malena parecia sem palavras, eu saí do
mesmo, e dei a volta, abrindo a porta para ela.
— Só seja você, querida — sussurrei na antiga língua nórdica, que
era a que mais usávamos quando não queríamos que ninguém mais ouvisse
ou soubesse.
Ela segurou meu braço e saiu, e no momento que seus saltos bateram
contra o chão, eu podia sentir todos os olhares presos nela. Suspirei fundo e
a guiei pela grande entrada da casa, cercada por seguranças e alguns outros
representantes de máfias chegando.
Assim que adentramos a porta, percebi que não pouparam esforços
de mostrarem sua riqueza: diamantes em lugares que você nunca
imaginaria.
— Estão todos olhando para você — Malena sussurrou, enquanto eu
forçava sorrisos, e notei o medo em seus olhos, e era como se me visse, na
primeira vez que estive em algo tão grande assim.
Saber que todos em uma sala são assassinos em potencial, e te
matariam, sem pensar duas vezes, não era, de fato, agradável. O que
diferenciava, era saber que era um assassino melhor e mais temido que cada
um deles.
— Querida... — continuei andando, até encontrar o aniversariante, que estava próximo
às escadas. — Estão todos olhando para você — falei, o que era a mais pura
verdade.
Era óbvio, cada olhar que lhe perseguia, enquanto eu tentava os
evitar, porque seria capaz de matar cada um daquela sala, por estarem tão
embasbacados com ela.
— Hora do show... — sussurrei para ela, e dei um beijo em sua bochecha, vendo o
vermelho se espalhar por seu pescoço. — Nicolai Romanov — falei, enquanto
Malena fazia uma reverência, diferente da que era usada com os Hansen,
mas que qualquer um faria, para um chefe como ele. — Gostaríamos de
agradecer pelo convite, e desejar feliz aniversário — falei, e notei o olhar
aterrorizante do homem à minha frente.
Mal sabia ele que eu já tinha conhecido homens muito piores do que
ele.
— Eu sei que não é costume, mas trouxe um presente, senhor
Romanov — Malena falou em russo, assim como eu tinha feito, e até eu
mesmo fiquei surpreso, olhando-a desconfiado, enquanto ela abria sua
bolsa, de onde tirou um pacote embrulhado de dentro. — Bom, é um
costume da minha família, de presentearmos com o que faria a pessoa ter
boas lembranças sobre nós.
Aquilo me acertou por inteiro.
Ela estava fazendo o que um Dahl fazia.
O que foi ensinada por sua mãe. O que seu irmão também propagou.
Notei o olhar desconfiado de Nicolai, e a maneira como levantou a
mão, para impedir o segurança que pareceu querer se aproximar. Seria um
desrespeito, desconfiar daquela forma da noiva de um membro da máfia
mais rica que existia. Ainda mais, com o elo que agora existia, entre meu
irmão mais velho e uma das filhas deles.
Ele aceitou o embrulho, e fez questão de o abrir, e quando o fez, era
uma vela, com uma de suas rosas brancas dentro da parafina transparente, e
o símbolo da máfia russa, da qual ele era o chefe.
— Obrigado — ele falou, e pela primeira vez na vida, vi Nicolai
Romanov, parecendo sem palavras.
Ela assentiu e fez outra reverência, e então nos afastamos.
— Por que não me disse? — perguntei, levando-a para uma das
mesas que tinha o nosso nome. E foi quando li o nome do meu irmão e da
esposa, em uma plaquinha, ao lado.
— Bom, pensei que fosse previsível que eu faria um presente.
— Eles estão com orgulho, claro — falei, e puxei-a para mais perto,
dando um beijo em seus cabelos, e sabia que ela estava sorrindo. — Eu
estou orgulhoso, querida.
— Bom, as tradições mais bonitas devem ser continuadas...
Falou, assim que me afastei, e puxei a cadeira para que ela se
sentasse. Porém, enquanto eu esperava, vi-a se virar e parecer notar algo, e
segui seu olhar com o meu.
Thor – meu irmão, e sua esposa, Anastasia Romanov, vindo em
nossa direção.
— Como sabiam que meu pai coleciona velas? — ela perguntou,
aproximando-se, como se precisando perguntar imediatamente sobre.
— Ele coleciona? — indaguei perplexo, e me virei para Malena, que
fez uma reverência específica que se usava para os Hansen, com a mão em
seu peito, que jurava lealdade.
— Já passamos disso há anos, Malena.
Meu irmão falou, no seu jeito sério, mas que era tão leve como um
folha caindo, e sorrindo para ela.
— E como ficou noiva desse imbecil?
Ela abriu a boca para responder, um sorriso de nervoso em seu rosto.
— Onde estão seus modos, Th?
— Onde você enfiou o seu celular, L.
Fiz uma careta, e revirei os olhos.
— Anastasia, cunhadinha, essa é Malena Dahl, minha noiva — falei.
— Querida, essa é Anastasia Romanov, a esposa de Thor.
— Futura esposa... — ela corrigiu, e antes que Malena a
reverenciasse novamente, Anastasia a puxou para um abraço.
Vi o rosto de Malena se tornar quase da cor dos cabelos.
— Você é mais linda do que Thor me disse — falou, olhando-a de
cima a baixo. — Obrigada por trazer o presente, de verdade. Não lembro a
última vez que meu pai ganhou algo que não fosse um acordo ou dinheiro.
— Não pensei que um presente fosse causar isso, mas... fico feliz.
As duas sorriram uma para outra, enquanto eu ignorava o olhar de
Thor sobre mim.
— Querida...
Voltei a segurar a cadeira para que ela se sentasse, e ela o fez. Vi
Thor fazer o mesmo, e levantei uma sobrancelha, surpreso pelo seu
cavalheirismo. Ele não dizia nada, mas eu sabia que teria muito o que falar,
ou um soco na minha cara marcado para mais tarde.
O jeito era beber uísque e deixar a noite passar, o mais rápido
possível.
Capítulo 17

Quando ele se descontrola...

LOKI
— Vou ao banheiro... — Malena falou baixo ao meu lado, e eu
assenti, já pronto para me levantar.
— Eu vou com ela... — Anastasia se ofereceu, já se levantando, e
tendo a deixa perfeita para me deixar a sós com Thor.
Tudo o que eu não precisava.
Olhei de relance, enquanto as duas caminhavam até um corredor, e
agradeci pelo fato de Anastasia ser confiável. Mas ainda assim, a parte
protetora que existia quando se tratava de Malena, me atormentava.
— Devia socar a sua cara.
— Ou me parabenizar pelo noivado...
— L...
Olhei para meu irmão, com um sorriso de lado.
— Quem mandou abrir o espaço aéreo da minha ilha para a porra
dos seus sogros? — sussurrei em nórdico antigo e ele abriu um sorriso
debochado.
O que era raro para Thor Hansen.
— Você desprogramou todo o meu sistema de segurança primeiro e
apareceu lá de surpresa...
— Mas eu sou seu irmão... — levei a mão para o peito, fingindo-me de magoado.
— Eles são...
— Não sabia que apareceriam lá... — admitiu. — Eu só abri o
espaço para me vingar, e apareceria lá depois... Só que eles foram mais
rápidos.
Suspirei fundo, sabendo que ele jamais estaria de acordo com
qualquer outra pessoa, sem ser da nossa família, estando na minha ilha,
ainda mais, sem qualquer aviso prévio.
— Está desculpado — falei, e ele apenas bufou.
— Eu não pedi desculpas por isso, L.
— Mas deveria, sabe como Odin ensinou a gente a...
— Odin está puto — falou, e eu fiz a minha melhor cara de
paisagem. — Mas não mais do que com Tyr.
— Tyr, abençoado seja por não me deixar ser o foco da família. —
Levantei uma das mãos para cima, usando a outra para terminar meu
uísque.
— Mas, irmão... Não brinque com ela... — sua voz soou baixa, mas
era uma ordem, tanto como irmão mais velho como usando sua posição
acima na máfia da nossa família.
— Eu nunca brincaria com ela, Th — fui honesto. — Nunca, não
com ela.
Não demorou para eu saber que ela estava de volta ao salão. Algo na
maneira como ela se movia, ou como eu conseguia sentir que estava sendo
observado por ela, me fez me virar, e então a vi caminhando com uma
Anastasia totalmente chocada, e que perguntava várias coisas para ela.
Levantei-me, fui até elas, e de imediato, levei a mão ao braço direito dela,
que agora tinha uma marca vermelha, claramente recente.
Anastasia falava algo ao lado, mas eu não conseguia sequer focar no
que ela dizia. Todo o meu foco na mulher à minha frente, que reclamou
quando toquei no avermelhado. Eu sabia que ficaria logo mais roxa e
pioraria.
— Quem fez isso com você?
Toda a minha frieza tomando conta, e eu estava pronto para matar
qualquer um naquele maldito lugar.
Ela apenas negou com a cabeça e sorriu. Seus olhos castanhos presos
aos meus.
— Devia perguntar como ficou a outra pessoa depois disso.

Malena
— Quem eu tenho que matar, Malena?
Foi quando percebi que ele estava com um olhar que eu não via há
muito tempo.
— A pia do banheiro.
Ele piscou algumas vezes, e eu levei minha mão livre a dele, que
ainda estava tocando a mancha vermelha.
— Eu me desequilibrei com os saltos, Anastasia tentou evitar que eu
batesse na pia, mas não deu tempo... — confidenciei, vendo sua expressão
ainda desconfiada, e suspirei fundo.
— Você não é uma pessoa desastrada, Malena.
Quando percebi que minhas palavras não o acalmariam, vi-me
levando uma das mãos ao seu rosto, e tocando-o com carinho. Ele
realmente me olhou, como se enxergando algo além da raiva ou proteção
que sentia.
— Vem.
Ele falou de repente, e tirou minha mão do seu rosto, entrelaçando-a
com a sua, e nos levou na direção que tinha uma enorme porta aberta, e
dava diretamente para o que pareciam jardins. Assim que nos afastamos de
todos, ele parou, e sua mão saiu da minha. Vi-o suspirar fundo, como se
tentando se controlar.
— Lo...
— Eu sei — falou, e suas mãos pararam sobre um pequeno cercado,
apertando-o com tanta força, que consegui ver o nó dos seus dedos brancos.
— Eu estou bem, só foi um...
— Você está se machucando, a todo momento, nos últimos dias —
falou, como se alarmado, e então me encarou. — Os cacos em suas mãos,
agora o seu braço...
Quando pensei em levar minha mão às suas costas, num ato de
acalmá-lo, apenas ouvi uma voz que desconhecia, chamando-o.
Levantei o olhar, e então encontrei, vindo dentre algumas árvores no
jardim, uma mulher idêntica a Anastasia. Foi quando dei um passo atrás,
como se estar tão perto de Loki me queimasse. Mas na verdade, me doía
profundamente, saber que a mulher por quem ele estava apaixonado,
chamava o seu nome e estava há apenas alguns passos dele.
Aquela era Irina Romanov.
Capítulo 18

Quando ele a escolheu...

LOKI
Eu ouvi meu nome sendo chamado.
Porém, era como se eu sequer estivesse ali. Tentando controlar
minha respiração, assim como os meus atos. Só pareci voltar à realidade,
quando senti Malena se afastar um pouco, e a proximidade de outra pessoa.
Levantei o olhar, e então encontrei o de Irina, parada a alguns passos
de nós. Eu tinha muitas coisas a tratar pessoalmente com ela, mas com todo
o meu próprio descontrole, não sabia nem por onde começar.
— Como vai, Irina? — foi tudo o que consegui indagar, antes de me
colocar de frente para ela, e sentir a mão de Malena, firme em minha
cintura, agarrada ao meu corpo. — Essa é Malena, minha noiva — falei, e
notei a mudança no brilho dos seus olhos verdes, mas continuei. — E
querida, essa é Irina Romanov, herdeira da máfia russa e irmã gêmea de
Anastasia.
— É um prazer, senhorita Romanov.
A impecabilidade na educação e formalidade de Malena, sempre me
surpreendiam quando estávamos distantes do nosso próprio mundo. Porém,
era um fato que eu preferia mil vezes, nós dois, o nosso fim do mundo, as
estrelas e lua como testemunhas a serem contadas, e dois bichinhos nada
convencionais como melhores amigos.
— O prazer é todo meu — Irina falou, e sorriu para ela.
Contudo, eu senti a tensão que emanava do seu corpo, e firmei a
minha mão no final da sua cintura, como se tentando acalmá-la. Do que
exatamente? Não tinha ideia. Contudo, faria qualquer coisa para que ela se
sentisse segura.

MALENA
Quase sentia a palma das minhas mãos suarem.
Cada movimento de Loki para com a mulher diante de mim, não
passando nada despercebido. Ele parecia propositalmente distante dela,
como se querendo evitar algum murmurinho. Aquela era minha teoria,
enquanto comparava cada pedaço de mim, com cada detalhe dela. Era
horrível estar me submetendo a tal coisa. Contudo, não conseguia evitar.
E ela era tão bonita.
Tinha um aura natural de liderança.
Tinha uma força inebriante ao entregar poucas palavras.
Enquanto eu sentia a tensão sendo construída através de nós todos. E
passei a entender que talvez aquela fosse a tensão que existia entre os dois.
E naquele meio tempo, apenas me senti patética.
Entretanto, me prendi ainda mais a Loki, porque uma coisa era saber
que ele era apaixonado por outra pessoa, outra, era simplesmente permitir
que o caminho estivesse livre para ela, mesmo quando eu estava presente.
Eu era apaixonado por ele.
Ele era apaixonado por ela.
E ela estava grávida de outra pessoa.
Não me parecia a melhor narrativa em um primeiro momento, mas
era a única que eu tinha. Apegando-me a mentira que Loki criou, porque
não podia me apegar a ele.
— Pode ser pedir muito, mas... Podemos conversar em particular,
Loki?
Sua pergunta fez com que eu sentisse um soco no estômago, as
borboletas ali, todas se remexendo e tentando recalcular sua rota. Pensei em
como seria simples, ele apenas soltar-se de mim e pedir alguns minutos a
sós com ela, deixando-me de lado.
E não foi diferente do que aconteceu.
— Permita-me apenas deixar Malena com meu irmão, e podemos...
— Eu sei o caminho de volta.
Soltei minha mão dele, assim como meu corpo, da forma menos
impulsiva possível. Dois segundos com ela, e eu já estava sendo deixada
como se ele não pudesse dizer não a mulher à nossa frente.
Acenei com a cabeça, antes de me afastar e seguir, sem olhar para
trás, até a parte de dentro da festa, e sabia que talvez ele não quisesse evitar
murmurinhos ou nada daquilo. Talvez ele tivesse me firmado ao seu lado,
em um primeiro momento, por uma simples razão: para que ela sentisse
ciúmes dele.
Talvez fosse uma das intenções daquele noivado descabido.
Talvez eu só estivesse não querendo enxergar as reais razões que o
fizeram aceitar justamente o convite de aniversário de um Romanov.
Talvez, eu só precisasse aceitar, que era o efeito colateral perfeito
para que ela pudesse enxergá-lo como ele queria.
Parei na mesa em que antes estávamos sentados e agradeci
internamente por Thor e Anastasia não estarem ali, naquele exato segundo.
Sentei-me, e encarei o meu redor. Pessoas bebendo. Pessoas rindo. Pessoas
gargalhando. Parecia até mesmo uma festa normal, se não soubesse que
cada um dali, era, na realidade, alguém que me mataria em segundos.
Eu poderia fazer o mesmo, o que ajudava a acalmar meu peito.
Entretanto, nada o acalmava, quando pensava que ele estava sozinho
com ela, em um lugar tão perto, mas que de repente, era longe demais. Por
que ele não disse não? Por que ele não podia recusar, justamente, na festa
em que tanto queria que eu fingisse ser sua noiva?
Eram tantos porquês já existentes, e outros que nasciam em minha
mente, que eu só queria ter o poder de silenciá-los.
— Senhorita Dahl, correto?
Levei um leve susto, com a voz masculina me chamando e me
coloquei de pé, encontrando o dono da festa à minha frente, junto à sua
esposa, que tinha um sorriso mais ameno do que qualquer outro que já me
destinou.
— Certo — falei. — Em que posso ajudá-los? — perguntei, vendo
trocarem um breve olhar, e pensei que deveria ter saído de fininho daquela
festa e não ficado ali.
Não gostava de chamar atenção.
Não gostava de que alguém realmente me enxergasse.
Porém, ali estava eu, de frente para um casal poderoso, encarando-
me como se precisassem de algum ajuda.
— Bom, sua vela é artesanal, e devo dizer que me impressionou a
qualidade dela. — Olhei-o sem entender, mas então me lembrei do que
Anastasia tinha contado sobre a coleção dele. Se eu soubesse a respeito
antes, nunca teria acertado tanto. — Posso presumir que as faz na ilha que
mora?
— Ah, sim — assenti, e então sua esposa me encarou.
— E poderia nos ensinar? — Pisquei algumas vezes, sem acreditar
na pergunta. — Sei que é repentino, mas estamos procurando alguém
qualificado para isso há anos, e todos pareceram uma grande perda de
tempo — ela admitiu, e eu arregalei os olhos. — Ele é o admirador, e eu sou
a perfeccionista. Juntando isso, adoraríamos pagar pelo seu serviço de nos
ensinar a confeccionar velas personalizadas dessa forma.
Abri a boca, totalmente surpresa.
Eles pareciam prontos para atirar mil estacas em mim, quando nos
conhecemos.
E agora pareciam apenas um casal normal e apaixonado, que queria
muito aprender algo junto.
As nuances na máfia sempre seriam algo a me surpreender.
— Eu nunca ensinei ninguém, quer dizer... — pensei sobre Loki, e
de como ele foi péssimo ao tentar aquilo. — Nunca ensinei alguém que
realmente se interessasse.
— Podemos conversar sobre os honorários e então, marcarmos para
quando ficar melhor para todos, o que acha?
— Não precisam me pagar para algo que eu faria de qualquer jeito
— assumi, e notei a surpresa no olhar de ambos. — Podem apenas
combinar antes com Loki para...
— Para o quê, querida?
Foi quando levei a minha mão para trás, evitando que a dele
conseguisse se prostrar perto da minha cintura. A realidade era que tinha me
machucado a simples escolha de ele querer passar algum tempo a sós com
Irina, por mais que eu não fosse nada além para ele.
Porém, eu não era uma noiva de mentira por aquela noite?
Nada me impedia de sentir o ciúme e a dor verdadeira que me
corroíam.
— Abrir o espaço aéreo para os Romanov — complementei, e sabia
que Loki tinha um sinal de interrogação na testa, mesmo sem olhá-lo. —
Será uma honra, senhor e senhora Romanov — falei para o casal, que
assentiu, e então apenas deu um leve aceno com a cabeça, e se afastou.
Eles pareciam tão menos interessados do que eu, em manter alguma
conversa com Loki.
— O que...
— Já podemos ir? — perguntei, antes que ele fizesse a pergunta, e
dei um passo atrás, enquanto disfarçadamente, retirava sua mão das minhas
costas.
— Sim, mas...
Foi a deixa perfeita, para eu me virar e seguir em direção à saída
daquela casa. Tudo se tornando uma sensação esmagadora, de saber que
nem mesmo uma mentira comigo, Loki pareceu conseguir sustentar durante
toda a noite.
Não pensei sobre o fato de não me despedir de Thor e Anastasia. E
nem mesmo dos anfitriões com quem eu tinha acabado de falar. Eu só
queria, sair dali o quanto antes.
Antes que eu simplesmente explodisse, e deixasse claro para todo
um alto escalão que eu não era absolutamente ninguém, além da irmãzinha
mais nova do melhor amigo falecido, de Loki Hansen.
Meus passos foram rápidos, mas os deles foram ainda mais, sua mão
se firmando em minha cintura, novamente, enquanto o motorista aparecia, e
eu me afastava dele para entrar no veículo, como se me queimasse por
completo.
Poderia ter queimado todas as borboletas no meu estômago, certo?
Quem me dera.
— O que falou com os Romanov? — indagou, quebrando o silêncio
e a tensão que se formou entre nós, enquanto estávamos totalmente
separados do motorista por uma cabine antissom.
— O que falou com Irina? — rebati, na falsa esperança de que ele
contaria, sem maiores problemas, e tudo poderia voltar ao normal.
Porém, ganhei seu silêncio como resposta.
— Então, cada um com sua própria conversa misteriosa.
Ele não disse mais nada. Tampouco eu.
Muitas vezes, atitudes falavam mais do que palavras, e as dele, com
toda certeza, o levavam direto para Irina. E as minhas, me levavam
diretamente para o fundo do poço que as malditas borboletas em meu
estômago insistiam em querer me tirar, para estar perto dele.
O perto que nunca era o bastante.
O perto que nunca seria meu.
Capítulo 19

Quando ele não sabe o que fazer...

MALENA
Eu só queria um banho.
Eu precisava de um.
A agonia de estar tão magoada e brava com ele, era totalmente nova.
Nunca tinha experenciado tal sentimento, em meus vinte anos de vida. Era
totalmente diferente do que eu tinha visto acontecer em novelas, e filmes.
Nada perto do que tentava interpretar em meus livros e músicas favoritas.
Ele abriu a porta do carro, antes que eu o fizesse, e agradeci ao
motorista, antes de me afastar e ir direto para o elevador privativo que daria
direto no andar que ele alugou inteiro naquele hotel. Era de praxe, que
fizessem algo assim, pelo que ele sempre me contava. E até mesmo comum,
que tivessem alugado até mesmo o andar inferior ou superior, caso não
fosse uma cobertura.
Entrei no elevador, e ele fez o mesmo, enquanto eu soltava todo meu
peso contra uma das paredes, e encarava os números mudando no painel,
sem qualquer intenção de conversar com Loki.
Para quê?
Por quê?
Era uma perda de tempo, que apenas me deixaria mais exposta. Ele
nunca entenderia aquele sentimento, porque ele também não o tinha. A não
ser, quando se tratava de Irina.
Suspirei fundo quando finalmente chegamos ao andar, e me lembrei
que estávamos no mesmo quarto. Por via das dúvidas, era a melhor decisão
para que não vazasse de forma alguma, que éramos uma mentira. Peguei
um pijama de blusa e calça comprida, uma calcinha, e fui direto para o
banheiro.
Precisava ficar sozinha.
Precisava tirar aquele sentimento do meu sistema.
Liguei o chuveiro e deixei esquentar, enquanto tirava a maquiagem
de meu rosto, e encarava a expressão vazia nele. Era realmente tão diferente
do que eu pensava que seria.
O que eu tinha planejado para aquele almoço, era algo tão simples
perto de tudo o que aconteceu. Não esperava que ele fosse me dar uma
resposta recíproca quando me declarasse, mas pelo menos, eu lhe teria dito
e descoberto se teria pelo que lutar ou não.
A declaração não foi feita. Uma mentira foi criada. E agora éramos
como dois estranhos em um quarto de hotel.
Entrei para o meu banho, e deixei a água me dar o abraço quentinho
que eu tanto precisava. Cantei baixinho, à medida que me ensaboava e sabia
que era um jeito de conseguir externar aquela dor, já que o sentimento real,
parecia totalmente inviável.
Por que o amar tinha que ser tão frustrante?
Nunca imaginei, nem por um segundo, enquanto planejava aquilo,
que seria assim.
Fiquei um bom tempo ali, até que vi meus dedos já enrugados. Foi
quando ouvi as batidas na porta, e sua voz ao fundo. Desliguei o chuveiro, e
puxei uma das toalhas penduradas, secando primeiro meu cabelo, e usando
outra, para secar o meu corpo.
— Ena? Tá tudo bem?
Ele perguntou, e talvez não fosse a primeira vez que o fazia, para
aquela porta fechada.
— Estou viva, sim.
Respondi simplesmente, não conseguindo melhorar meu tom. Nem
mesmo um banho quente parecia capaz de melhorar algo. E não melhorava
em nada, saber que existia apenas uma cama de casal, mesmo que enorme,
me esperando do outro lado daquela porta.
Aquele não era um clichê, e do que me servia aquilo, era pensar que
na vida real, “tem somente uma cama” pode servir apenas para você querer
derrubar o outro do colchão.

LOKI
Eu já a tinha visto chateada e com raiva algumas vezes.
Porém, eu nunca a vi, com aqueles dois sentimentos, destinados a
mim.
Suspirei fundo, quando a porta do banheiro se abriu, e me afastei.
Ela passou, já em seus pijamas, e uma toalha enrolada na cabeça. Pensei em
perguntar se ela precisava de algo, tentar percorrer qualquer caminho, que a
trouxesse à normalidade comigo, todavia, não consegui.
Eu não sabia onde tinha errado.
Eu estava refazendo, cada passo daquela noite, para compreender,
onde a tinha deixado tão incomodada, a ponto de não querer olhar para
minha cara.
Seria pela mentira?
Seria por ainda ter que estar fingindo?
Seria pelo fato de ter que dormir comigo naquele quarto?
— Vou tomar banho.
Ela apenas assentiu, procurando algo em sua mala, e seu olhar não
chegou ao meu. Frustrado, ressentido e provocado, peguei apenas uma calça
na minha mala aberta, jogada no chão, e segui para o banheiro.
O efeito de qualquer álcool já tinha passado, e eu pensava que
deveria aproveitar o uísque que tinha trazido na mala, e contar com a ajuda
dele para simplesmente apagar em algum ponto da noite.
Tomei um banho rápido, e apenas me demorei na frente do espelho
que ficava acima da enorme pia. Limpei o embaçado dele, e olhei para o
meu rosto, tentando encontrar o que tinha de errado. Fazia aquilo desde
criança. Algo que Odin tinha me ensinado.
Olhar para mim mesmo, e entender, onde foi que eu errei. Ou até
mesmo, onde foi que me machucaram. Suspirei fundo, pensando que toda a
postura de Malena se modificou quando a levei para o jardim da casa dos
Romanov. Tudo parecia normal, até que já não era.
Deixei uma toalha em volta do pescoço, e resolvi apenas encarar a
realidade, e fazer o certo: perguntar a ela. Quando saí do banheiro, apenas
com minhas calças, encontrei-a deitada na cama, o cabelo de alguma forma,
já seco, e um dos edredons puxados até perto do seu rosto.
Era claro, ali, que ela não queria conversar.
Ficou totalmente escancarado, que ela estava me evitando.
E foi quando percebi, que eu poderia ter qualquer outra pessoa do
mundo fazendo aquilo comigo, mas não ela. Não suportava, nem por
aqueles instantes, que Malena não quisesse simplesmente me dar “boa
noite”.
Terminei de secar o cabelo com a toalha, e joguei-a em um canto. Vi
que tinha o que parecia um secador, colocado perto de sua mala, só que no
chão, talvez por estar quente.
Pulei na cama, e puxei o outro edredom que ela deixou no pé da
cama, para usar como meu. Era óbvio que ela não queria nem mesmo,
dividir a cama, quem dirá, um edredom comigo.
Eu estava ultrapassando todas as linhas que existiam entre nós? Era
demais, tê-la colocado naquela situação e ela não soube dizer não?
Suspirei fundo, esquecendo o uísque, e encarando os seus cabelos
espalhados pelo travesseiro ao meu lado. Minha mão foi automaticamente
até os fios, e me segurei no último segundo, apenas me concentrando em
jogar o edredom sobre mim, e afundar naquela cama, com ela.
Nunca imaginei que quando estivéssemos mais próximos, mais
distantes nos tornaríamos.
— Eu sinto muito, pelo que for — falei baixo, mas que se ela ainda
estivesse acordada, poderia ouvir.
O que eu duvidava que estivesse, porque se havia uma coisa que
Malena nunca fez: foi fingir algo para mim. Ela era honesta demais para o
seu próprio bem. Principalmente, comigo.
— Bons sonhos, querida.
Falei, e me virei na cama, ficando de costas para as costas dela.
Precisava exigir de mim mesmo, a distância mínima e confortável para
aquela situação. Cogitei dormir no chão, sem problemas, mas a cama era
realmente enorme, e existia uma distância entre nós, mesmo deitados lado a
lado.
Para duas pessoas que dividiam suas vidas, há tanto tempo, era
estranho, se sentir tão estranho, pelo fato de terem que dividir uma cama.
Pensei que precisaria do uísque para dormir. Porém, a necessidade
de uma realidade em que ela estivesse falando comigo novamente, era ainda
maior. E não demorou para que o sono chegasse, e eu pudesse, sonhar.
Como sempre, com ela.
Capítulo 20

Quando ele não está no meu lado...

MALENA
Eu estava lá de novo.
Eu sorri, enquanto ele estava sentado ao meu lado, as mãos sobre as
minhas, orientando-me novamente, em como tocar o grande piano. Segui-o,
ignorando todos os sentimentos que tomavam meu peito e minha pele, e
tentei me concentrar nos ensinamentos.
Música sempre foi um refúgio. Fosse para ouvir, para cantar ou para
dançar. Pela primeira vez, era para tocar.
— Não está aqui, Ena.
Suspirei fundo, e ele então tirou as mãos das minhas.
— Onde estão seus pensamentos?
Em você, era o que gostaria de dizer. Olhei para ele, e neguei com a
cabeça, não querendo mentir, mas sabendo que estaria omitindo o que
sentia.
— Ok, já que não quer dizer... Por que não vamos dançar?
— Dan... dançar? — quase que minha fala não saiu, e ele sorriu.
Vi-o se levantar, e então esticar uma das mãos em minha direção,
num pedido silencioso. Levantei-me, sem saber muito o que fazer, mas
levei minha mão à dele, aceitando o pedido.
— Qual a música?
Abri a boca algumas vezes e fechei.
— Daquela boyband que você tanto gosta, que tal? — indagou,
ainda parado, e segurando apenas minha mão com a sua.
— Como sabe que gosto de uma boyband?
— Você vive para cima e para baixo cantando, além de que já te vi
cantar para nossas maiores estrelas.
Senti meu rosto pegar fogo, e ele sorriu de lado, enquanto tomou a
frente. Ele deu o comando, e fiquei perplexa, com o seu pedido à
inteligência artificial.
E de repente, ele estava me puxando para si, e eu girando pelos
grandes pisos de madeira do seu castelo. Com Perfect do One Direction no
fundo, e eu sorrindo, sem conseguir me conter.
Se ele estivesse tentando apenas me deixar feliz, ele o fazia.
Porém, ele não tinha a mínima ideia, de que na verdade, aqueles
pequenos detalhes, me faziam ficar ainda mais apaixonada por ele.
Suspirei fundo, ainda sorrindo, quando ele me afastou, para que
girasse novamente, e então sua mão saiu da minha. Pisquei algumas vezes,
sem entender, sentindo falta do seu toque, e sabendo que não era como na
minha lembrança. Não como foi um dia. E, quando o encontrei, ele estava
indo em direção oposta, e chamando outra pessoa para dançar. E de repente,
eu estava presa ao piano, tocando a música que eles dançavam, sorrindo um
para o outro.
Eu não conseguia sair.
Por mais que tentasse.
Eu não conseguia gritar.
Por mais que sentisse meus pulmões queimando.
Foi quando tudo se transformou e ela estava em um vestido de
noiva, e ele estava prestes a beijá-la.
E de repente, o meu grito finalmente saiu. Foi quando tive a
sensação de que estava caindo, e subitamente, me peguei sentada em uma
cama de hotel. Suspirei fundo uma, duas, até três vezes. Olhei ao redor, e
então percebi que estava sozinha ali.
Levei a mão ao rosto, como se tentando me localizar, e o fiz.
Entendendo que estava no quarto de hotel, com Loki, e aquele foi apenas
um pesadelo. Suspirei fundo uma, duas, até três vezes, e então percebi que o
lado dele da cama estava vazio, só que todo remexido.
Levantei-me, e pensei em ir até a sacada, com a desculpa de precisar
de ar fresco, mas na verdade, porque queria saber onde ele tinha se enfiado.
Ele tinha saído?
Ele teria ido se encontrar com ela?
Saí para o lado de fora, sentindo o vento frio da madrugada, e
felizmente, ajudava-me a entender que foi apenas um pesadelo. Nada
demais. Porém, lá no fundo, eu sabia que cedo ou tarde seria uma realidade.
Se não fosse com Irina, seria com alguém.
Loki não seria um solteiro para sempre.
E eu estaria lá, para vê-lo sorrir, dançar e se casar com outra? Era
isso?
Senti o cheiro de cigarro, antes de encontrá-lo, encostado no canto
mais escuro da sacada, e parecendo terminar de fumar. Ele apenas o fazia
quando estava extremamente preocupado ou nervoso com algo. Raras
vezes, as que o vi fazer aquilo.
Seu torso estava todo exposto, com suas tatuagens aparentes, assim
como seus músculos. Ele era bonito demais para minha própria sanidade,
parecendo pronto para quebrar um coração a qualquer segundo. E ele o
fazia, com o meu, a cada segundo que se passava.
Pensei sem abrir a boca e perguntar o porquê de estar fumando, o
porquê de estar ali, mas a minha dor era maior. E talvez fosse o jeito de
redirecionar aquilo. Se eu parasse de tratá-lo como sempre o fazia, talvez eu
parasse de sentir tudo o que me machucava.
— Vamos ser estranhos agora?
Perguntou, assim que eu me escorei na beira da sacada, e suspirei
fundo.
— Só preciso de um tempo — fui honesta, e me afastei dali, pronta
para voltar para o quarto.
— Posso saber onde foi que eu errei para te deixar assim, Ena?
Sua pergunta me atingiu, porque o fato era que ele sequer podia ser
culpado. Ele não tinha ideia de como eu me sentia, e mesmo que o fizesse,
que culpa ele teria de não poder me corresponder? Que culpa ele tem de
gostar de outra pessoa?
— Pode parecer ridículo, mas... o problema não é você, Loki... —
neguei com a cabeça, evitando olhá-lo. — Sou eu, de verdade.
— Nunca escondemos nada um do outro.
Eu escondia.
Antes mesmo daquela lealdade extrema nascer entre nós, eu já o
tinha no meu coração. Quatro anos apaixonada pelo melhor amigo do meu
irmão mais velho. Quatro anos, escondendo da pessoa que eu mais amei,
que eu o amava muito mais do que um amigo.
— Eu escondo, Loki — fui sincera. — E é exatamente por isso, que
não quero falar.
Foi quando o encarei, e vi sua expressão mudar, já que tinha se
aproximado, e parecia pronto para dizer algo. Vi-o parar, e então me movi
para dentro do quarto novamente. Encarei o relógio na mesa de cabeceira, e
eram quatro da manhã. Entrei debaixo dos edredons, e ignorei o fato de que
seu cheiro estava por cada canto dos lençóis.
Fechei os olhos e sabia que não existia sono algum, nem mesmo, a
vontade de forçar. Alcancei meu celular, os fones de ouvido na mesa de
cabeceira, e escolhi apenas fugir da realidade de uma forma diferente. E
pela primeira vez, eu fugia da realidade em que Loki também estava.
Capítulo 21

Quando ele é sua melhor versão...

MALENA
O tempo passou, mesmo que parecendo tão lento e cansativo. Loki
não se deitou ou sentou-se na cama, ficando na varanda por um bom tempo.
Foi quando meu telefone tocou, e paralisei por alguns segundos, ao ver que
era uma chamada de vídeo de Freya Hansen – a irmã mais nova de Loki e a
caçula de todos os Hansen.
Vi-me quase caindo da cama ao tentar descer, corri até a sacada, e
Loki não estava. Bati na porta do banheiro, e em seguida abri, ele também
não estava. Foi quando abri a porta do quarto, e então apenas senti um
corpo bater contra o meu – o dele.
— Mas o que...
— Freya está me ligando, por vídeo...
— Pensei que fossem amigas? — indagou, como se confuso.
— E se ela soube do nosso noivado e... e eu vou ter que falar disso
e...
— Ei, Ena! — ele então levou as mãos até meus ombros e os
segurou. — Respira, querida!
Olhei em seus olhos e respirei uma, duas e até três.
— Amo que fui de estranho ignorado para o salvador de capa em
algumas horas...
Bati contra o seu peito e ele gargalhou alto, sabendo que aquilo era
muito mais importante do que qualquer coisa.
— Eu não vou mentir pra ela — falei, e sua expressão mudou.
— Ela sabe da verdade — confessou baixinho, assim como eu.
— Eu só liguei para ver se estava tudo bem, e se gostou do vestido
que ajudei Loki a escolher, mas...
Foi quando notei que no meio de toda aquela bagunça, tinha aceitado
a ligação de Freya e ela tinha escutado tudo do outro lado da linha.
— Fico feliz que não ia mentir para mim — complementou, e eu
senti meu rosto queimar.
Levantei o celular para que ela me enxergasse, enquanto Loki
tentava aparecer no fundo, e eu o empurrava para longe. Porém, em algum
momento, ele simplesmente agarrou minha cintura e me imobilizou no
lugar.
— Eu liguei para Ena, L.
Eu estava feliz, pelo simples motivo de ela o chamar pelo apelido.
Não pude evitar olhar rapidamente para ele, e saber que estava grato pela
segunda chance que ela estava lhe dando. Eu o vi morrer, dia a dia, que teve
que se afastar dela, e mentir tanto para sua própria proteção.
— É um pacote, se pega um leva dois, entende? — ele falou, ainda
com as mãos presas em minha cintura, e eu engoli em seco, tentando focar
em Freya do outro lado da linha.
— Nunca me coloquei à venda dessa jeito — rebati, e Freya riu alto
do outro lado da linha.
— Pelo que vejo, estão bem... — falou, ouvi o barulho de alguém se
aproximando, e me derreti por inteira, ao ver seu filhinho, que ainda era um
bebê, e quase derrubou o celular de onde estava. — Bjorn... — ela chamou,
e então a vi pegá-lo e beijar seu peito.
— Para de atrapalhar a chamada da sua mãe, deusinho.
Ouvi a voz masculina e em português brasileiro, do marido de Freya,
que parecia saído diretamente de um dorama. Ele deu um leve aceno, nos
cumprimentando, antes de pegar Bjorn, e se afastar.
— Ele está bem? — perguntei, sobre o seu filho, e ela sorriu, um
brilho que a acompanhava, sempre que se falava a respeito dele.
— Mais do que bem... Correndo de um lado pro outro, caindo
sozinho às vezes, arrumando os primeiros machucados....
— Parece bastante com a Ena.
Tentei dar um empurrão com o quadril em Loki, mas a tentativa, saiu
totalmente diferente do que imaginei. Eu estava tão firmemente presa pelos
seus braços, que sequer consegui movê-lo, e acabei rebolando contra ele, e
senti um arrepio percorrer toda minha espinha. Olhei para Freya, tentando
disfarçar o que tinha acontecido, mas parecia impossível.
De repente, dava a impressão de que tudo simplesmente ia explodir.
Entre nós dois, literalmente.
Um barulho de campainha foi ouvido e ela olhou em outra direção,
parecendo se lembrar de algo. Foi quando dei graças ao universo, por algum
parente da família de seu marido que tinha chegado, e ela desligar segundos
depois.
Assim que ela desligou, senti as mãos de Loki saírem de meu
quadril, e ele apenas caminhou em direção às sacolas, que eu nem tinha
notado mas ele deveria ter entrado com elas ali. Minha mente toda
bagunçada, quando ele as colocou à frente do corpo e pareceu forçar um
sorriso.
— Eu trouxe algo para comermos, antes de pegarmos o voo...
Assenti, vendo-o ir até a mesa que ficava no canto, e deixar as
sacolas ali, antes de rumar, sem dizer mais nada, para o banheiro. Quando
ele fechou a porta atrás de si, apenas soltei o ar que nem sabia que estava
segurando.
Fui até as sacolas, e comecei a abri-las, para organizar tudo sobre a
mesa. Foi quando notei o meu tipo de chocolate quente favorito, e dois
pedaços do meu bolo favorito também.
Coisas pequenas – detalhes, que apenas ele sabia sobre mim.
Não era muito difícil imaginar o quão atencioso ele era com outras
pessoas, pois tinha uma vida toda com ele sendo a pessoa mais complacente
que já conheci. Arrumei tudo, como pude, e me sentei, esperando por ele.
Sentia todo o meu rosto queimar, ao lembrar o que tinha acontecido,
minutos antes.
Não sabia, como me recuperaria, de tudo que vinha acontecendo em
tão poucos dias. Depois de tanto tempo apaixonada por alguém, tudo se
transformar em uma verdadeira novela que você não esperava, não era algo
que estava sabendo administrar.
Ele saiu do banheiro, ainda olhando para o chão, e eu apenas respirei
fundo, esperando-o.
— Quer conversar?
Perguntou, antes de se sentar à minha frente, e seu olhar se prendeu
no meu.
Sobre o quê? Era a pergunta que eu guardei.
Sobre estar apaixonada por você? Sobre você estar apaixonado por
Irina? Sobre eu não estar sabendo lidar com nada disso? Sobre ter rebolado
em você minutos atrás?
Eu apenas neguei com a cabeça, enquanto ele mexeu no celular e a
música da minha boyband favorita começou a tocar.
— Apelando para 1D? — indaguei, e ele deu de ombros, pegando seu café em
mãos.
— Se está falando comigo, é porque funcionou, certo? — insistiu,
com um sorriso no rosto. — 1D é minha estratégia favorita.
— Vou me lembrar disso quando me deixar puta com você de novo.
— E eu ainda nem sei por que está tão brava — salientou e eu sabia
que deveria somente deixar o assunto morrer. Era o melhor, para mim. —
Quando quiser, querida.
Assenti e tomei um longo gole do chocolate.
— Eu sei.
Foi tudo o que consegui dizer, ainda sentindo seus olhos sobre mim,
e toda sua tensão preencher a sala. Era um caminho tortuoso, que eu
desconhecia, e não sabia por onde deveria. No final, eu só torcia para que os
meus pesadelos, não se tornassem uma realidade.
Capítulo 22

Quando ele sabe onde é seu lar...

LOKI
Eu amava viajar.
Amava conhecer cada canto do mundo, desbravar o mais distante
possível, para então, voltar para o meu finzinho do mundo favorito, e ficar
nele.
Eu amava meu lar.
Nunca pensei, que a solidão de uma ilha poderia ser minha melhor
amiga.
O fato era que os Dahl nunca permitiram que eu estivesse a sós.
Fosse quando a mãe de Malena apareceu e jurou lealdade, não se
importando por eu ser apenas um garoto de dezesseis anos. Fosse para
quando Sven se tornou meu melhor amigo e poderia ser apenas eu, em
todos os momentos, com ele. Foi quando conheci Malena, anos mais nova,
um olhar sonhador e calmante. Nunca imaginei que estaríamos em uma
situação como aquela.
E se não fossem eles, Fenrir e Iormungander nunca me permitiram
enxergar aquele lugar como apenas mais um no mundo. Eles o
transformaram em algo mágico. De a vontade de um garoto de ter gatos e
cachorros como animais de estimação, que não eram permitidos no castelo
de Odin, já que todos queriam algum, eu tinha me tornado pai de um lobo e
uma serpente. O quanto a minha história ia sendo descrita, de acordo com o
próprio nome do deus que homenageava, sempre me surpreendia.
Porém, em que parte da história do verdadeiro Loki, eu poderia
compreender o sentimento de que um lar também pode ser composto por
uma pessoa?
Voltar para casa, sempre significou voltar para Malena.
Eu lhe tinha dito para seguir em frente.
Eu lhe disse para não ficar mais lá, e encontrar o seu lugar no
mundo, onde desejasse.
Eu lhe disse que não precisava cumprir qualquer juramento de sua
família.
Porém, ela ficou. Ela escolheu ficar. Mesmo após tantos anos, sendo
apenas nós dois ou melhor, nós quatro naquelas terras, ela nunca pareceu
cogitar outro caminho. Ela adorava viajar também, conhecer outras partes, e
eu adorava poder lhe proporcionar aquilo. Fosse indo com ela. Fosse
recebendo mil vídeos e fotos durante o dia, porque ela estava em seu modo
turista.
E agora, ela estava voltando para o nosso lar, comigo.
Suspirei fundo, assim que pisei no chão da ilha, e ela abriu os
braços, como se cumprimentando o lugar. Parei ali, só admirando a maneira
como ela parecia ter nascido para estar ali. Como se fosse parte de cada
canto daquele lugar, desde o menor grão de areia, ao brilho das milhares de
estrelas que apareciam à noite.
Os cabelos ruivos dela estavam balançando com o vento, ela abaixou
os braços, e mesmo de costas para mim, sabia que ela estava sorrindo. E
naquele momento, só conseguia pensar, que não existia nada mais lindo do
que olhá-la.
Apenas parar e olhar para ela: e tudo o que o mundo tinha me
mostrado, se tornava nulo.
— É tão lindo, tudo aqui...
Ela falou, e eu assenti.
Enquanto ela olhava para a vista que dava direto para uma das
florestas, eu olhava para ela, tornando-se cada dia mais, totalmente
impossível, não o fazer.
— É realmente lindo, querida.
Ela me encarou sobre o ombro, e eu me forcei a ir até ela, levando
uma das mãos ao seu ombro, e rumando para a nossa casa. Não demorou
para termos a presença de Ior, que simplesmente rastejava atrás de nós, e se
enrolou no meu braço esquerdo livre enquanto caminhávamos.
— Estamos de volta — falei, e não sabia como, mas sabia que ela
me entendia.
Se fosse um cachorro, com certeza, faria mais sentido para grande
parte das pessoas. Mas para quem levava o nome do deus da trapaça, aquilo
ali, fazia ainda mais.
— Fenrir, nem pense em...
Foi quando apenas senti o corpo de Malena ir para trás, e quase me
derrubar, e Ior apenas saiu do meu braço, como se assustada também.
O lobo que passava facilmente a altura de Malena se ficasse de pé,
não parava de passar nas pernas dela, e pedir carinho. Era realmente, uma
bênção poder vê-la sendo amada pelas criaturas que mais me amavam antes
de tudo.
— Carente...
Ele parou e me encarou, e apenas pulou sobre o meu peito, fazendo-
me cair para trás, tamanha sua força – que sabia que não era toda que tinha
colocado ali. E por estar com o braço sobre Malena, ela acabou vindo junto.
O mato abaixo de mim, acabou por amortecer a queda, enquanto o meu
corpo, amortecia a queda dela.
E de repente, apenas ouvi sua risada bonita, conforme sua cabeça
estava contra meu peito, e os braços ao meu lado.
Era contagiante, de fato. Tudo o que eu conseguia pensar, era em
sorrir também.
— Eu juro, se tem alguém com bichos mais adoráveis...
Foi quando ela se apoiou no meu peito e me encarou. Sua risada
sumiu aos poucos, e uma expressão diferente de tudo o que eu sabia dela,
apenas tomava conta de seu rosto. Uma que eu estava tentando decifrar há
tempos, mas nunca chegava a qualquer conclusão.
Na verdade, tinha medo de ter alguma conclusão a respeito.
Seus olhos estavam no mais fundo dos meus, como se ela
conseguisse enxergar o que ninguém mais podia – o verdadeiro eu. Na
realidade, ela despertava sempre o melhor de mim. Em qualquer coisa que
fosse, eu estaria lá, para oferecer-me como tributo, se necessário. Se fosse
por ela.
— É sempre bom voltar para casa — falou de repente, e afastou-se
aos poucos, levantando-se, e esticando a mão na minha direção.
E foi quando eu entendi, que eu sempre poderia voltar para casa.
Porém, o meu lar, de fato, poderia sempre estar comigo. Porque era ela.
Sempre ela.
Segui-a em direção ao castelo, e notei de imediato, a runa colocada
acima da grande porta da frente.
— Odin está aqui — falei, e Malena parou um passo, virando-se
para mim. — Deve estar lá dentro.
— Na verdade, estou bem aqui.
Foi quando ouvi a voz do meu irmão mais velho, o chefe da máfia
escandinava, e que eu não gostaria de realmente encarar naquele momento.
— Senhor... — Malena falou, reverenciando-o com o mais
tradicional dos Hansen, e ouvi os passos de meu irmão se aproximarem.
— Como sempre, é bom te ver, Malena.
— Fico feliz, senhor Hansen.
— Odin, para quem está na família há tanto tempo — corrigiu-a,
como eu o via fazer há anos, mas ela nunca acatava. — Aliás, obrigado por
cuidar de Loki na festa, com a mentira e todo o resto... — ele sempre sabia
mais do que qualquer um. — Pode nos dar um momento?
O olhar de Malena parou no meu, como se perguntando: quer que eu
invente algo e fique? E eu apenas me vi ainda mais encantado por sua
proteção. Por tudo dela. E ela pareceu ler, no fundo dos meus olhos, que
estava tudo bem.
A gente sabia se comunicar, simplesmente assim.
— Claro. Estarei no andar superior.
Ela respondeu a Odin, dando-lhe um leve aceno de cabeça, antes de
entrar para dentro do castelo. E assim, senti a mão dele, em meu ombro, e
usei o meu sorriso mais fingido do mundo, para me virar e encará-lo.
— Como vai, meu irmão mais velho favorito de todo o mundo?
Um simples olhar dele, e eu sabia, quando me fez seguir com ele
para dentro do castelo, só que em alguma parte onde Malena não estaria,
que eu estava muito fodido.
— Tyr, o que aconteceu?
— Não estou aqui para resolver algum problema de Tyr — rebateu, e
então parou, próximo à cozinha e me encarou. — Estou aqui porque
resolveu atender uma festa da máfia russa com a sua noiva.
Forcei um sorriso, e dei de ombros.
— Foi apenas uma mentirinha de nada, O.
— Eu sei muito bem que não tem mentira alguma nessa história,
Loki.
E não sabia se pela sua afirmação, ou se por me chamar pelo nome e
não qualquer apelido. Porém, eu tinha total certeza de que estava totalmente
fodido.
Capítulo 23

Quando ele mente...

MALENA
Suspirei fundo, encarando o grande closet, preenchido por um lado
com suas camisas, em todos os tons de verde-escuro possíveis, e do outro,
totalmente em preto, para qualquer peça. Como sempre, o seu closet, sendo
o meu lugar de esconderijo perfeito. Sem correr o risco de ouvir algo que
não deveria, e muito menos, estar ao redor de um assunto que não me
pertencia.
Eu ainda tentava traçar uma linha entre nós. Mesmo que ela fosse
mínima.
Parada ali, pensando sobre aquele noivado de mentira, que eu daria
tudo, para que fosse de verdade.
Existia um motivo maior, do que atuar durante aquela noite? Algo a
mais? Algo pelo que lutar?
Se, ao menos, existisse uma motivação real, eu tentaria.
Tentaria tornar aquilo real. Porém, no fim, estava presa a uma
armadilha do homem que eu nunca pensei que usaria a sua característica
mais apurada comigo: manipulação.
Passei as mãos pelas suas camisas, parando em uma, quando percebi
que era antiga, apenas pela cor mais surrada, e eu podia garantir que dentre
todas elas, aquela, com toda certeza, era uma que ele usou, quando nos
conhecemos. Suspirei fundo, e tentei tirá-la do lugar, puxando o cabide
comigo. Contudo, a minha baixa estatura, fez com que puxasse não só com
muita força, que o cabide e a camisa apenas foram arremessados junto
comigo, e ouvi o baque de algo caindo no chão.
Levantei o olhar, e então encontrei uma grande pasta preta, que não
sabia de onde tinha caído. Encarei ao redor, e percebi que justamente atrás
daquela camisa, tinha um fundo falso. Um que eu tinha acabado de
encontrar.
— Ele realmente levou a sério esse negócio de deus da trapaça...
Falei comigo mesma, e deixei a camisa de lado, indo até a pasta,
pensando em como a colocaria de volta no lugar. Porém, meu olhar pousou
sobre as iniciais cravadas na parte direita inferior da mesma.
— M e H? — Li em voz alta, e pensei sobre o fato de não existir
nenhum Hansen que tivesse a letra M como inicial. — Odin, Hella, Baldur,
Thor, Vidar, Tyr, Loki e Freya... — repeti alto, o que já tinha decorado há
anos, mas ainda assim, procurando a justificativa daquele M.
O problema era que eu me chamava Malena.
E pensar que uma velha conversa, com um Loki totalmente bêbado,
sempre estava presa nos meu sonhos acordada e dormindo, me fez
realmente crer que não tinha criado toda aquela cena em minha cabeça.
— Querida, casada comigo, você será Malena Hansen, não soa
formidável?
Só me lembrava de rir, e dançar ainda mais com ele, bebendo
hidromel a noite toda. E eu me lembrava, vagamente de um papel que
assinamos, no fim daquela noite. Não me parecia algo importante, não até...
Até estar encarando aquela pasta.
Levei uma das mãos até o botão de abertura, e o tirei, abrindo-a e
notei que tinha alguns papéis dentro, todos perfeitamente colocados em um
plástico transparente. Acabei me sentando no chão, para ter mais facilidade
em mexer, e meu olhar parou em documentos meus, todos colocados ali, e
pareciam ser de fatos os originais – os que eu tinha perdido, anos antes.
Ou Loki os teria pegado?
Foi então que parei, assim que meus olhos encontraram as palavras
que eu não podia imaginar, que leria, alguma vez, naquela vida.
— Certidão de Casamento...
Foi então que eu encontrei, a minha assinatura, no fim dela, e a dele,
do lado. Procurei pela data, pelas testemunhas, por qualquer coisa que
fizesse sentido. E ali estava – no meu aniversário de dezoito anos.
Eu tinha me apaixonado por ele aos dezesseis.
Eu tinha compreendido e aceitado aquilo quando completei dezoito.
Eu finalmente, iria me declarar quando fiz vinte.
A história não era mais assim.
Eu tinha me apaixonado aos dezesseis
Eu tinha me casado com ele, aos dezoito, sem ter a mínima ideia de
que o fiz.
Eu tinha decidido deixá-lo, e ele me colocou em um noivado falso
consigo.
O que diabos estava acontecendo?

LOKI
— Isso é mais sério do que pensa, Loki.
— Irmão, está tudo sob controle — falei, abrindo um sorriso de lado
e lhe oferecendo o uísque em meu carrinho de bebidas. — Por que veio até
aqui, afinal?
— Porque eu recebi uma ligação do chefe da máfia russa dizendo
que meu irmão mais novo está noivo, e que deveria se manter distante da
herdeira dele que está grávida! — Pisquei algumas vezes, um pouco
perdido.
— Eu estou totalmente longe de Irina.
— E que história é essa de noivado, Loki?
— Bom, o pai dela queria que eu assumisse algo, mas quando ele
viu Malena e eu a assumi, simplesmente desistiu e pensei que tínhamos
ficado por isso... — assumi, e dei de ombros. — Aí seguimos assim.
— E por que Malena não está usando o seu anel de noivado, Loki?
— O... — suspirei fundo. — Eu só estou seguindo o fluxo certo das
coisas. — Dei de ombros. — Não é atual já ter uma aliança.
— Ou não é atual não ter uma aliança quando não se está noivo,
irmão? — rebateu, e eu fiz uma careta. — Ou melhor, quando já se está
casado?
Aquela segunda pergunta me pegou em cheio, mas apenas escolhi
fingir que não a escutei.
— Na verdade, estou tentando... — tentando fazê-la se apaixonar por
mim, complementei mentalmente. — Desde quando somos tão emocionais
e abertos?
— Desde que eu sei o que está fazendo aqui, L.
— Como sempre, vivendo e dançando, ouvindo-a tocar piano e...
— Ela sabe, Loki?
Foi então que entendi a profundidade da sua pergunta. Odin estava
sério, olhando-me como dizendo: eu sei exatamente o que você fez no
passado. E bom, não duvidava que ele soubesse. Contudo, não era ele que
realmente importava ali.
— Ela sabe o que tem que saber, irmão.
Respondi, tentando parecer tranquilo sobre. Aquela minha escolha,
pesando toneladas, por ainda não ter encontrado o momento certo para
contar a ela.
— Ela sabe que está casada com você desde os dezoito anos?
Eu sabia que ele iria insistir, até que lhe desse a resposta verdadeira:
Não, ela não sabe. Ou melhor, ainda nem sabia, se um dia, saberia.
Quando abri a boca para responder, apenas senti meu corpo desviar
por pura memória muscular e então notei um copo passar ao meu lado e se
estilhaçar na parede, à minha esquerda.
Não precisava me virar para saber quem tinha feito aquilo.
E muito menos, para ter certeza de que talvez um vaso, fosse o
próximo objeto a voar diretamente na minha cabeça.
Ela tinha ouvido tudo.
Ela estava ali.
Capítulo 24

Quando ele apenas piora tudo...

MALENA
— Vou deixá-los...
A voz de Odin Hansen, de repente, era apenas um sussurro, e ele
parecia totalmente invisível para mim. A minha raiva cega, me levando
diretamente para o vaso sobre uma mesinha, e ele sendo o próximo a ir
direto para a cabeça de Loki.
— Obrigado pela deixa, irmão.
A voz de Loki sendo tudo o que eu precisava para ter ainda mais
raiva, e pegar outro vaso, enquanto ele desviava do primeiro, e jogar em
sua direção. Ele desviou novamente, e eu senti ainda mais raiva. A cada
passo que dava para perto dele, vi-o fazendo o mesmo, mas a vontade era
de simplesmente afundar os meus dedos no seu pescoço.
— Querida, eu posso...
— Pode o quê? — rebati, e então cheguei próxima a ele, e me vi
indo diretamente para a garrafa de uísque.
Afastei-me do seu corpo e o encarei.
— Pode me dizer por que tem uma pasta com a inicial do meu
nome e de um sobrenome que eu nem sabia que carregava? — rebati, e
não sabia se jogava a garrafa nele ou simplesmente a virava inteira. — O
que o senhor Hansen disse é verdade? O que está naqueles papéis?
— Querida, vamos apenas...
— Me diga a porra da verdade uma vez na vida, Loki!
Meu pedido saiu no mais puro desespero, substituindo por
completo a minha raiva. Soltei a garrafa e senti meu coração se apertar.
— É verdade. — Sua voz soou baixa, mas eu o senti se aproximar.
— O que Odin perguntou, e o que está nos papéis...
— Somos casados?
Indaguei, levantando meu queixo e encontrando seu olhar.
Nunca pensei que me doeria tanto, olhar diretamente para os meus
olhos favoritos em todo o universo. Mas doía – absurdamente.
— Somos.
Dei um passo atrás, tamanho o baque de suas palavras.
— Mas eu posso explicar, querida, eu...
— Não sou sua querida, sou... sou sua esposa. — Levei as mãos
ao rosto, sentindo-me totalmente traída.
Tudo o que eu tinha guardado durante aqueles anos. O sentimento
que se apoderava de mim, e eu tanto temia. A maneira como ele nunca,
nem por um instante, me deu alguma deixa sobre aquilo.
— Por quê?
Fiz a pergunta, que eu sabia, me arrependeria amargamente de
saber a resposta. Porque era como se ela fosse mais do que óbvia.
— Por que, Loki?
Insisti, e então levantei meu olhar para o seu. Em muito tempo, eu
não o via tão desestabilizado. Os olhos procurando por algo que parecia
que nunca encontraria, a boca sendo aberta e fechada, várias vezes.
— Pensando em qual mentira me dizer? — rebati, e então ele me
encarou. — Precisa de tanto tempo assim para alguém que engana há
anos?
— Eu precisava te proteger! — rebateu. — Eu precisava da
certeza de que se algo acontecesse comigo, você teria uma vida, um
futuro...
— Foi o que prometeu a Sven? — indaguei, e ele deu um passo
atrás. — Foi isso, não?
— Sven não tem nada a ver, quer dizer...
— Por que um Hansen, que tem absolutamente tudo, iria se
preocupar com o futuro de uma criada? — rebati, e levei uma das mãos
ao rosto.
— Nós nos conhecemos desde sempre, Malena — rebateu, e deu
um passo para perto. — Não é justo dizer nada disso.
— Então, me diga, se não foi por uma promessa ao meu irmão
mais velho, por que estaria protegendo a irmãzinha dele? Por que alguém
que tem tudo, mente por anos, para alguém que não vai mudar
absolutamente nada?
— Eu não tenho tudo, porra — falou, e antes que eu pudesse
perceber, senti suas mãos nos meus braços, como se necessitasse daquele
toque. — Nunca tive você, Malena.
— Loki... Por quê? Por que fez tudo isso? Por que... por que fingir
que sou sua noiva, se já sou a sua esposa?
Tentei me separar de si, mas ele me segurou no lugar, fazendo-me
encará-lo.
— Porque pela primeira vez na vida, queria que alguma mentira
minha se tornasse uma verdade.
Olhei-o perdida, e suspirei fundo.
— Porque eu te amo, querida.
— Já ouvi isso antes... — afastei-me dele, e neguei com a cabeça.
— Sei exatamente como essa conversa termina.
— Por que está tão furiosa e triste com isso?
Sua pergunta me pegou desprevenida.
— Porque não é justo... não é justo, ouvir o homem que eu amo,
dizer que está apaixonado por outra e então se declarar meu noivo à
frente da família dela — rebati, e apontei um dedo para o seu peito. —
Porque estou cansada de aceitar o que quer me dar, mesmo que seja outro
coração partido.
— Você... você me ama?
— E eu não deveria...
Apenas resolvi me virar e sair dali. Fosse para correr para longe.
Fosse para me trancar no ambiente mais próximo. Eu só precisava sair.
Porém, antes que desse um passo, senti uma mão no meu braço,
que me virou, e apenas senti lábios firmes contra os meus.
Os lábios que eu gostaria de chamar de lar.
Os lábios que eu tanto queria que fossem o meu lar.
Capítulo 25

Quando ele apenas piora tudo...

LOKI
Impulsividade nunca combinou comigo.
Na realidade, não fazia parte de quem eu era.
Para alguém que tinha cada passo milimetricamente calculado
antes de dar o próximo, apenas agir, e não pensar antes de beijar os lábios
que eu mataria para ter, me mostraram que Malena tinha ainda mais
poder do que eu conhecia, sobre mim mesmo.
Contudo, quando senti seus braços me empurrarem, e a ardência
no lado esquerdo do meu rosto, eu soube que estava fodido.
— Não vou fazer parte de qualquer joguinho que seja — rebateu,
e eu levei a mão ao lado do meu rosto que ela atingiu. — Jurou nunca
mentir para mim... jurou que seríamos honestos, sobre tudo, um com o
outro.
— Então somos dois mentirosos e hipócritas? — rebati, e a
encarei. — Porque se você se apaixonou por mim e não disse...
— Eu não disse, mas eu não menti em momento algum. — Olhou-
me como se tudo pesasse. — Você apareceu, de repente, dizendo que
amava outra pessoa, e agora, eu descubro que somos casados e que... e
que você me ama?
Ela gargalhou alto, claramente sem vontade alguma, e com um
toque de frieza, que eu nunca tinha visto nela.
Eu não podia culpá-la, por estar de tal maneira. Não tinha como eu
simplesmente, conseguir explicar de uma forma lógica.
A realidade era que quando se tratava de Malena, a lógica parecia
simplesmente não existir mais em minha vida.
— Se me ouvir, eu juro que...
— Que, o quê? — Abriu os braços, como se cansada. — Vai
inventar outra mentira? Vou descobrir, daqui a anos, que temos um
divórcio assinado?
— Ena...
— Não. — Ela deu um passo atrás, pela primeira vez, em toda
nossa vida, não aceitando meu toque, e nem o meu chamado. — Não
quero mais isso.
— O que...
— Não quero que me confunda ainda mais — admitiu, olhando-
me como se tivesse quebrado algo dentro de si. — Eu preciso ficar longe
de você. Só assim, eu posso pensar direito.
Vi-a então sair pela porta de trás da cozinha, e até dei passos na
direção dela, mas sabia que seria em vão. Seria insistir em algo que
poderia magoá-la ainda mais. Eu nunca a tinha magoado de tal forma,
por isso não sabia o que fazer.
Meu celular tocou no mesmo instante, e vi o nome de Freya na
tela. Não fazia ideia de onde Odin tinha se enfiado. Se ainda estava pela
ilha. Se já tinha ido embora. E sequer conseguia me importar. Um vazio
se abrindo dentro de mim.
Por que eu fui ouvir o conselho de alguém que não tinha a mínima
ideia da relação que existia entre mim e Malena? Por quê?
— Oi, F.
— O que aconteceu? — A voz de Freya soou preocupada do outro
lado da linha, mesmo que eu tivesse apenas atendido a sua ligação por
voz.
Ela me conhecia bem o suficiente para saber que eu não estava
normal. E não estava sequer tentando fingir que estava tudo bem. Havia
tanto tempo que eu tinha que fingir, que agora, tudo apenas tinha
explodido.
— Malena aconteceu, Freya.
— Finalmente percebeu?
— O quê?
— Que ela é o amor da sua vida, Loki.
Suspirei fundo, indo até uma bancada, e deixando o celular sobre
ela.
— Eu já sabia, depois de tanto lutar contra mim mesmo nos
últimos anos, mas... mas como eu digo para a pessoa que eu mais me
importo, que ela é o amor da minha vida? — indaguei, e ri totalmente
sem vontade. — Eu não sabia como fazer. Depois de tantas vezes
imaginando cenários diferentes, e vendo que ela parecia tão alheia a
mim...
— Ela sempre te amou de volta, idiota.
— Eu não sabia.
Minha voz mal saiu, e totalmente descompensada no final. Eu não
tinha a mínima ideia. Porque tudo o que eu conseguia ver, quando se
tratava de Malena, era que ela era muito além do que eu merecia. Vários
estágios daquele amor foram perturbadores, até eu finalmente o aceitar.
O primeiro: entender que eu a amava, demais, e que a queria para
sempre na minha vida. Mas ainda assim, era como a irmã do meu melhor
amigo.
O segundo: a mudança daquele sentimento, quando eu percebi que
não olhava, nem por um segundo, da mesma forma que eu via Freya.
O terceiro: a negação do que sentia, porque ela era oito anos mais
nova, e eu era o culpado da pior tragédia de sua vida.
O quarto: o entendimento que, mesmo que eu lutasse, arduamente,
não adiantava.
O quinto: a aceitação de que ela me tinha, desde antes mesmo de
eu entender, que aquele amor era além de tudo que eu compreendia.
O sexto: o desespero, de não saber, como ela se sentia a respeito
de mim. E como seria, se em algum dos cenários que eu criava, eu
simplesmente a perdesse, porque aquele sentimento era apenas meu.
— Loki, o que aconteceu?
— Estraguei tudo, F. — Soltei o ar com força. — Ela descobriu
que eu... eu menti para ela, há muito tempo, e agora, não há declaração
minha no mundo, que a faça querer ficar.
— Não sei o que fez, e nem vou indagar, mas Malena é uma
pessoa totalmente centrada, ela não vai simplesmente te dar as costas...
— Eu mereço que ela faça, F.
— Mesmo assim, isso não é ela — cortou-me. — Dê o tempo que
seja, para ela. Se quiser, sugira para ela vir para cá... — soltei o ar com
força mais uma vez, sabendo que eu não merecia, sequer que Freya
estivesse falando comigo naquele instante. — Pare de se culpar pelo que
não pode controlar, irmão.
— O pior é que eu estou há cinco anos guardando isso dela... Eu
pensei em dizer na hora, mas parecia tão errado, Freya.
— Se era tão errado, por que fez o que fez?
— Porque eu precisava da certeza de que ela estaria segura.
— Por conta da morte de sua família?
— Não. — Engoli em seco, rindo sem vontade alguma. — Eu fiz
isso antes mesmo de ela os perder.
— Seja o que for, você pode consertar ou compensar... Você sabe,
só existe uma coisa que não tem solução.
— Odeio quando fala bonito e tem toda a razão. — Arfei. — Não
vou admitir isso depois, mas você é tão mais inteligente que eu, Freya.
— Isso, eu sempre soube. — Eu bufei, e pude ouvir sua risadinha
do outro lado da linha. — Mas eu conheço um cara que é o melhor em
consertar tudo, até mesmo, o que parece inquebrável.
Ouvi o barulho de alguém dentro do castelo, corri em direção ao
mesmo, e parei meu corpo, no segundo em que vi Odin, adentrando
novamente pela porta da frente.
— Odin chegou ou melhor, voltou. — Respirei fundo. —
Obrigada, F.
— Sempre, L.
Ela desfez a ligação, e então Odin me encarou, como se agora sua
preocupação maior fosse comigo.
— O que agora, O?
Não podia culpá-lo pelos meus erros, e sim por ter me adiantado
aquela dor. E pior, a dor que agora, percorria a mulher que eu amava.
— Só vim checar, se...
— Se eu estava fodido? — Dei de ombros. — Estou, e não da
maneira que gostaria.
— Loki...
— Eu sei que sempre quer o nosso melhor, mas não tem porque
querer decidir quando e onde as nossas vidas vão acontecer, O — rebati.
— Não tem porque querer controlar tudo.
— É o meu dever, cuidar de você.
— Então cuide de Hella — rebati, sentindo-me exausto, e notei a
mudança em sua expressão. — De todos nós, sabe bem que ela é a que
mais precisa de você, mas todas as vezes que estão na mesma sala, parece
que vão se matar. — Neguei com a cabeça. — Não é porque levo o nome
de Loki, mas eu não sou burro em não desconfiar, de que existe mais no
que as histórias contam, e do que você mesmos, os mais velhos, nos
disseram...
— Não é sobre mim, nada disso, Loki — cortou-me, e eu soltei o
ar com força.
Não era tão bom quando se tratava de si, não era?
— Então não faça a minha vida ser também — assumi, e me
afastei. — Eu vou procurar Malena, e tentar vê-la de longe... E você,
irmão, deveria tentar resolver o que é que seja que existe entre você e
Hella.
Saí dali, seguindo diretamente para o outro lado da colina, e soltei
o ar com força. Ninguém tinha como assumir os erros dos outros, mas eu
estava farto de ver Odin tentar resolver o de todos nós, ou até mesmo,
nos obrigar a encará-los. Mas nunca, em hipótese alguma, encarar os
seus.
Parei e fechei os olhos por um momento.
Como eu faria tudo aquilo ter sentido?
Capítulo 26

Quando ele se torna uma pergunta...

MALENA
Parei em uma parte coberta por flores, que mais parecia um tapete
delas. Dali, eu conseguia ver a praia, e me sentar apenas para admirar o
pôr do sol. Não sabia o porquê, mas sentia tanta raiva, que não conseguia
simplesmente externá-la.
Por que ele tinha mentido daquela forma?
Por que ele o tinha feito desde o meu aniversário de dezoito anos?
Por que ele nunca me contou?
Por que ele estava dizendo que me amava?
Por que ele disse que amava outra?
Por quê?
Por quê?
Por quê?
Soltei um grito para o nada, tentando tirar aquelas perguntas de
minha mente, porém, elas estavam ali, intactas.
Desde quando ele sentia algo mais?
Desde quando ele me amava?
Ele realmente me amava?
Ouvi Fenrir se aproximar, antes mesmo de ele estar ao meu lado.
Ele se sentou ali, enquanto eu encostei minha cabeça contra o seu pelo.
— Às vezes, queria ser como você e Ior, que parecem criaturas
mágicas em um mundo tão corrido... O tempo parece não passar e nem
machucar vocês. — Suspirei fundo, e acariciei sua cabeça. — Nós
crescemos juntos, mas ainda assim, você parece tão melhor que eu. —
Ele ganiu, e eu sorri, quando lambeu meu rosto.
Por maior que ele fosse, em vários momentos, era como se Fenrir
fosse apenas um cachorrinho. Do outro lado, eu via Ior, rastejando para
perto de mim, e apenas parou próxima à minha perna. Ela era mais
introspectiva, não que eu pudesse esperar que uma serpente fosse
carinhosa, mas eu sabia, que era o seu jeito.
Eles só podiam ser, de fato, mágicos, ou era aquela ilha ou até
mesmo, a nossa própria cabeça que os fazia ser. Nunca combinaria com
nada dali, ter gatos e cachorros correndo por cada canto. Não. Sorri
sozinha, enquanto olhava para os dois.
— A culpa é de vocês, sabiam? — indaguei, e sorri. — Me
apaixonei por aqui quando vi os dois, e fiquei... desde os meus quatro
anos. — Soltei o ar com força. — Eu deveria ter ido embora, em algum
momento? — perguntei para o universo, como se precisando de alguma
resposta, mas não esperava por ela.
— Senhorita Dahl!
O grito veio do lado oposto ao qual eu encarava, e então levantei o
olhar e me virei. Foi assim, que vi Tyr Hansen, dar um leve aceno com as
mãos, e passar a subir a colina. Levantei-me, e aguardei por ele. Aquela
presença inesperada, parecendo o suficiente, por alguns segundos, para
me distrair da realidade e das minhas questões.
— Nunca gostei de morros — ele falou, respirando, e prendendo
os cabelos longos em um coque no alto da cabeça.
Fiz uma reverência tradicional do nosso povo, e ele, como sempre
o fazia, quando me via, ajoelhou-se sobre uma perna, e recitou runas de
passagem.
Meu pai tinha entrado na frente de uma bala por ele.
Não tinha como nenhum dos Hansen o trazerem de volta, nem
mesmo, o que ele se sacrificou, mas ainda assim, eu sempre me indagava,
o que se passava na mente do homem que meu pai salvou.
— Desculpe a aparição repentina — falou, ao se colocar
novamente de pé.
— Loki deve estar no castelo... — adiantei-me. — O senhor
Hansen, Odin, também está por aqui.
— Deveria ter chamado todo o resto, então — falou, de sua forma
sempre calma e plena. — Mas na verdade, vim em busca de você.
— Eu? — indaguei surpresa.
— Deve saber por Loki, que eu estou para me casar, e bom, o
mais rápido possível...
Casamento – de repente, aquele se tornava um assunto sensível.
— Ah sim — assenti sem graça. — Quero parabenizá-lo pelo bebê
que está a caminho, que venha com toda saúde e força, e pelo seu
casamento, senhor Hansen.
— Obrigado — ele falou e pareceu pensativo, como se quisesse
dizer mais. — Porém, eu preciso de três serviços seus.
— Que seriam?
— Primeiro, que me chame de Tyr, já que sabemos que é da
família há anos. — Sorri sem graça, e ele continuou. — Segundo, sei que
faz os próprios vestidos e sempre fiquei admirado quando te via em
alguns jantares da família e... Gostaria de saber se faz vestidos para
noiva?
Arregalei os olhos, totalmente surpresa.
— Eu já fiz, para algumas mulheres das outras ilhas, mas... Está
pedindo para que eu faça o vestido da sua futura esposa?
— Sim, a herdeira da máfia egípcia. — Eu estava perplexa, de
fato. — Pagarei o que for preciso, e claro, te fornecerei todos os
materiais... Só que preciso disso para, literalmente, ontem.
— Não seria melhor, levá-la para uma costureira de luxo e...
— Não, quero algo do nosso povo para ela — cortou-me e senti o
peso daquele trabalho. — E confio no seu trabalho, senhorita Dahl.
— Malena, já que... — fiz um gesto com a mão, e suspirei fundo.
— E o terceiro trabalho?
— Quer dizer que aceita o segundo, ótimo. — Ele bateu uma
palma, e eu quase ri. — Um enxoval de bebê? Já fez algo assim?
— Isso seria totalmente novo — admiti. — Mas posso fazer o meu
melhor, se quiser.
— Seria perfeito, Malena. — Olhei-o, de repente, tendo uma
animação me tomando. — Sei que também faz trabalho com flores, de
todos os tipos e... Não posso pedir para que decore a festa de casamento
já que ficará encarregada do vestido, mas... poderia pedir por um buquê?
— Eu... eu não sei nem o que dizer — admiti. — Me sinto
honrada por me considerar para isso.
— Bom, a gente escuta o que acontece pelas ilhas, além de que
claro, Loki pode ser bastante falador quando se trata de você. — Olhei-o
intrigada.
— O que ele disse?
— Bom, durante toda nossa vida? — Deu de ombros, sorrindo. —
Ele sempre conta sobre os vestidos que faz, e como segue perfeitamente
os padrões do nosso povo, que se perderam com o tempo... — olhei-o
surpresa. — Mas é claro, que não levaria a opinião apenas do que
representa o deus da trapaça em conta, para escolher a costureira do
vestido da minha futura esposa e mãe do meu filho.
Eu sorri, sem saber como identificar, a maneira nada leve que sua
fala se tornava quando falava sobre o seu próprio casamento.
— Espero que eu seja capaz de cumprir todas essas tarefas, senh...
Tyr — corrigi-me, mesmo sabendo que, logo menos, estaria o chamando
novamente de senhor.
— Eu sei que sim, só... vou confirmar o itinerário da minha futura
esposa e entro em contato para combinarmos.
— O senhor... quer dizer, você poderia ter ligado e me perguntado
sobre... Por que vir até aqui?
— A verdade? — indagou, a sua expressão mudando. — Sinto
falta de estar em casa, na minha terra, com meu povo... — admitiu. —
Posso levar o nome do deus da guerra, mas o que eu mais gosto é da
vida, Malena.
Ouvi um leve rosnado, e Tyr deu um pulo para trás, enquanto
Fenrir se colocava à minha frente. No meio da conversa, eu tinha me
aproximado mais dele, e sequer notado.
— Eu sempre vou ter pavor e pensar que ele vai arrancar meu
braço, como nas histórias... — comentou, sorrindo em seguida, mas
dando vários passos para longe do lobo.
— Fenrir... — chamei sua atenção e ele sequer ouviu. — Ele é um
bom garoto.
— Não duvido, mas ainda assim, vou te esperar no castelo.
Assenti, vendo-o descer a colina, sem nem olhar para trás, e
quando o mesmo ficou fora de vista, Fenrir se tornou novamente um lobo
tranquilo. Realmente, era como se dizia: existia muito mais entre o céu e
a terra que a ciência poderia explicar.
Quando o silêncio voltou, eu me sentei novamente, e encarei a
praia. Os meus pensamentos sendo tomados, pelo que me atormentava,
antes de Tyr aparecer.
Talvez fosse o momento certo, aquele trabalho em específico,
porque seria o suficiente para me tirar de minha própria mente e parar de
me questionar os “e se”, “por quês” e “desde”, que tanto me
atormentavam.
Porém, quando tomei meu caminho de volta ao castelo, por
educação, e por saber que tínhamos visitas, eu contei cada um dos meus
passos. Como se eu precisasse, para saber, quantos deles, eram
necessários, para estar longe, mas nunca o suficiente, do homem que eu
amava.
E que... me amava também?
E o ciclo vicioso recomeçava.
Capítulo 27

Quando ele não me deixa...

MALENA
Tyr ficou por um bom tempo.
O suficiente para que eu pudesse terminar de comer, e pedir
licença, indo para o meu quarto. Mas não parecia o bastante, para evitar
que tivesse alguém batendo na porta do meu quarto, horas depois.
Eu deveria ter colocado algum fone de ouvido, tinha certeza.
Levantei-me, a contragosto, largando o meu livro, e caminhei até a
porta. Não precisava ser um gênio para saber quem estava do outro lado.
Contudo, também não precisava ser muito espero para saber que ele não
deveria estar ali. Não agora.
Abri a porta apenas o suficiente para vê-lo, e como sempre, a sua
imagem, me fazia perder um pouco da noção de tudo o que nos envolvia.
Era frustrante olhar para ele, e não ter ideia, do que realmente nos
esperava. Não depois do que descobri.
— Desculpe atrapalhar, eu...
Era a primeira vez, em toda minha vida, que eu via Loki sem
palavras, principalmente, quando era para estar na minha porta, no meio
da noite. Nós sempre tínhamos uma naturalidade, que não permitia que
as palavras sumissem.
E elas pareciam ter desaparecido.
— O que precisa, senhor Hansen?
Indaguei, o peso de chamá-lo assim, não para machucá-lo, mas
sim para tentar me proteger. Sentia-me infantil por não simplesmente
deixar que a situação toda fosse explicada e escancarada.
Porém, como não o ser, se de repente, descobria que ele mentia
para mim, há tantos anos? Que depois disso, vieram ainda mais mentiras
e mentiras?
— Só queria agradecer, senhorita Dahl.
Doeu-me, ouvi-lo me chamar de tal forma. Eram anos da minha
vida, tendo-o me chamando como “Ena” ou então “querida”, que não
estava preparada para ser tratada de tal forma. Por mais que fosse o
melhor. Tinha que ser o melhor, para os dois.
O pior de tudo, era que eu não tinha apenas aquele sobrenome,
não mais. Não quando ele tinha colocado o dele, anos atrás, sem que eu
soubesse.
— Não seria, senhora Hansen? — minha boca foi mais rápida que
minha mente.
Odiei-me por lhe deixar ver que aquilo me atormentava também,
soltando algo de tal maneira. Ele me olhou, e então desviou, parecendo
procurar qualquer canto que pudesse, para fugir.
— A quem eu quero enganar? — Ele riu baixo, olhando para o
chão. — Não tenho como fingir que sou indiferente a você, nem mesmo
se você for a mim — admitiu. — Obrigado por aceitar o trabalho com
meu irmão e não deixar que os nossos problemas interfiram ou algo
assim — complementou.
— Não sou os nossos problemas.
Era a verdade, nua e crua.
— Eu sei, mas acho que estou tão imerso deles, que não consigo
me diferenciar disso.
Eu sabia que ele estava machucado.
Não sabia o quanto e nem como realmente chegou a ficar daquela
forma. Ainda assim, me doía profundamente, não conseguir dar um
passo, puxá-lo para os meus braços e dizer que ficaria tudo bem.
Eu não tinha ideia se eu ficaria, como poderia afirmar que tudo?
— De nada, eu acho.
Apenas iria fechar a porta, mas a mão dele foi mais rápida e
segurou a madeira.
— Eu sei que estou pedindo demais, mas... Eu vou estar aqui, Ena.
Qualquer momento que seja, quando quiser me ouvir, eu...
Os olhos que eu tanto queria, que me olhassem com admiração e
paixão, agora me encaravam com clara dor e desespero. Não poderia
deixar que meu coração e emoção tomassem a frente, porque eu sabia,
que ele conseguiria, facilmente controlar os dois. Então, eu suspirei
fundo, e apenas assenti, sem conseguir dizer alguma coisa.
— Boa noite, querida.
Assenti novamente, apenas olhando para o chão, e então fechei a
porta. Quando o fiz, encostei o corpo contra ela, e suspirei fundo. Por que
era tão difícil? Por que tinha que ser assim?
Sentei-me no chão, e fechei os olhos com força. Minha mente se
contradizendo com meus sentimentos, e me tornando uma bagunça
completa. Eu poderia não ser os nossos problemas, quando estava fora
daquele quarto. Porém, ali, totalmente sozinha, me sentia apenas como o
compilado de todos eles.
— Por que, Loki?
Indaguei baixinho, e neguei com a cabeça.
Só queria ter a certeza de que em algum momento, eu o
conseguisse ouvir. Porque a realidade era que eu estava com medo do
que viria e do que ele diria. E se tudo, novamente, não passasse de outra
mentira, que eu só descobriria, anos depois?
Eu não suportaria.

LOKI
Eu precisava de uma bebida.
Na realidade, eu precisava de qualquer coisa, que me fizessesentir
vivo.
Porque eu me sentia, totalmente inerte e uma casca, desde que ela
simplesmente saiu. Sequer tinha tido tempo de encontrá-la fora dali.
Vendo-a interagir de longe, com meu irmão mais velho, e então, voltado
sorrateiramente para o castelo e esperado por ele.
A verdade era que o meu maior medo, desde que eu aceitei o que
sentia, era que ela me deixaria. Só não imaginava, que justamente uma
decisão que tomei, antes de qualquer sentimento se apoderar, seria a
possível e grande causa.
Olhei para as opções que eu tinha, e sabia que tempos de paz,
mesmo com toda a confusão que existia com Tyr e seu casamento
repentino com uma herdeira mafiosa já grávida, eram raros. Eu podia
estar em casa, por um tempo, sem me preocupar de investigar, delatar e
viver apenas pela máfia. Eu sabia, que quando apenas desligava os meus
sentimentos e deixava o que fui treinado agir, tudo o que eu precisava, no
final, era tê-los ligados e voltar para casa.
Mas como uma casa seria a mesma, se a dona dela, não estivesse
mais lá?
Comecei a criar em minha mente, todos os possíveis cenários que
existiriam, se Malena apenas se fosse. Porque ela podia fazê-lo, a
qualquer momento. Eu sabia, eu sempre soube. Na realidade, eu sempre
lhe deixei aquilo claro. Contudo, eu também sabia, que existia algo muito
mais forte, que a fazia ver aquele lugar como seu também.
E se eu o tivesse quebrado?
Virei o copo de hidromel, e enchi-o novamente. Levei o copo à
boca, e virei todo o líquido. Era a bebida mais gostosa e a que mais me
deixava bêbado rápido. Ficar fora de minha própria consciência, poderia
me fazer parar de imaginar tantos finais sem ela. No entanto, não me
permitiu, não me sentar novamente no piano, e tocar a música que me
atormentava, desde quando ela me mostrou, pela primeira vez.
Fosse, quando ela ainda era uma adolescente, e eu considerei a
letra mais cafona que já ouvi.
Fosse, quando ela a cantava pela casa, e eu acabei decorando cada
letra.
Fosse, quando ela me pediu para ensiná-la a tocar aquela canção
no piano, e eu aprendi, para ensinar a ela.
Fosse, quando eu me via apenas sentado, sozinho, e com um copo
de bebida, à frente do piano, e quisesse cantar cada letra para ela. Cada
vírgula que nem existia, porque resumia como eu me sentia.
Como a música diria, as pequenas coisas que eu não poderia
deixar saírem de minha boca. Porém, elas tinham saído, nem todas, mas a
mais importante delas.
Capítulo 28

Quando ele te deixa ir...

LOKI
Eu deveria ter trabalho, disse a mim mesmo.
Vi Malena sorrir ao telefone, enquanto conversava com alguém, e
eu me sentia miserável, comendo uma fruta, e sentindo minha cabeça
quase explodir.
— Certo, senh... Tyr — ela falou, e eu pensei se fratricídio era
uma opção válida.
Como ela sorria tão bonito para ele e sequer tinha me dado bom
dia?
Tudo bem que já era quase uma hora da tarde, e ela já deveria ter
até almoçado, contudo, eu estava no meu pior humor e pior situação com
ela.
— Se quiser, eu posso ir até ao Egito.
Engasguei-me com a maçã, e parte dela, praticamente tive que
cuspir, para não sufocar por completo. Foi quando ela se aproximou, e de
repente, começou a bater em minhas costas, como se para me ajudar.
— Eu... — minha voz mal saiu, enquanto ainda tossia. — Eu estou
bem — consegui complementar, depois de alguns segundos.
— Respira fundo — pediu, de forma calma e ordenada, e eu não
sabia de onde ela tirou, mas colocou um copo de água sobre a mesa de
jantar.
Fui para pegá-lo, mas ela o segurou no lugar. O que resultou em
meus dedos encontrando os seus, e eu suspirei fundo. Sequer me
importando em esconder ou disfarçar o que realmente me causava. Tudo
o que ela me causava com um simples toque.
Não que eu fizesse antes. Mas antes, ela não tinha ideia do que eu
sentia. Eu a encarei, e então meus olhos imploravam: você sabe agora?
— Mais uma vez.
Exigiu outra respiração de repente, e eu fiz, sem pensar duas
vezes. Antes de finalmente, ela soltar o copo, e então meus dedos se
afastaram dos seus.
Não deveria ter respirado, de fato.
— Desculpe, não, ele está bem — ela falou, parecendo se lembrar
que estava em uma ligação. — Mas posso ir para o Egito, sem problema.
Faz tempo que não visito esse país — complementou, e eu fiz uma careta, enquanto
bebia minha água. — Hoje estaria ótimo.
— Hoje? — minha pergunta saiu, antes mesmo que eu pudesse
evitar.
Ela fez uma careta, mas apenas deu passos para longe, se
afastando.
— Merda — reclamei baixinho.
Se eu já pensava que seria difícil, com ela estando ali, debaixo do mesmo tempo. Como
seria, com ela, estando em outro país?
Tyr só podia estar querendo me castigar por todas as vezes que o usei como
do deus da guerra, e disse que ele anunciaria alguma. Ou de
representante
todas as vezes que enchi sua cama com lobos de pelúcia, porque eram
seu pavor particular.
Levantei-me, e segui na direção em que ela saiu falando ao
telefone, e me aproximei de um dos armários da cozinha, enquanto ela
confirmava algo ao telefone, e eu tentava ouvir, mesmo que fosse
impossível, o que meu irmão falava do outro lado da linha.
Foi no instante que seu olhar parou em mim, e vi-a fazer uma
careta.
— Sim, ele está. — Ela ouviu o que ele dizia. — Certo, vou
passar. Sem problema, senh... Tyr.
Ela apenas me entregou o próprio telefone, e eu o peguei,
desconfiado.
— T...
— Pare de segui-la. — Revirei os olhos. Tudo o que eu precisava,
dicas do meu irmão menos problemático. — E venha ao Egito.
— Está me convidando?
Olhei para Malena, que tinha uma expressão inexpressível no
rosto e eu sabia que ela não ficara feliz. Contudo, como eu poderia
permitir que ela apenas escorregasse pelos meus dedos, sem nem tentar
que quisesse permanecer?
— Estou dizendo que pode vir, se quiser.
— Vou entender como um convite — falei, e entreguei o celular
novamente para Malena.
— Certo, eu estarei esperando — ela falou, depois de um tempo, e
notei que ela sorriu novamente. — Até mais, Tyr.
Ela deixou o celular sobre a bancada, vi-a ir até a geladeira, e
pegar algo, e quando fechou a porta, percebi que era um refrigerante.
— Está parecendo um fantasma, me seguindo — falou, e reparei
que estava tendo dificuldade em abrir a lata.
Algumas coisas nunca mudavam.
Tomei a frente, mesmo que ela não quisesse, peguei a lata de sua
mão, e a abri, entregando-a de volta. Ela parecia prestes a voar no meu
pescoço.
Bom, com a sua raiva, eu sabia lidar. Já com a indiferença, de
forma alguma.
— Então, que horas vamos?
— Deveria perguntar ao sue irmão, não a mim — falou,
afastando-se, e dando a volta na cozinha, para não passar ao meu lado. —
E para deixar claro, eu disse a ele que não precisava de você.
— Ele pediu por mim, Ena — falei, dando de ombros. — Sabe,
assuntos da máfia.
Ela revirou os olhos, como alguém que me conhecia melhor do
que qualquer outro.
— Uma mentira, numa hora dessas, certo?
— Você sabe quando estou mentindo, querida.
Só pensei exatamente no que tinha dito, no segundo em que sua
expressão caiu.
— Eu pensei que soubesse — declarou, mal me encarando. —
Mas agora sei que talvez nunca tenha te conhecido de verdade.
Ela se afastou, antes que eu pudesse ter algo inteligente para dizer.
A realidade, era que eu não tinha nada. E no fundo, eu sabia, que a estava
forçando. A ficar perto. A me ter por perto. A não a deixar me afastar por
completo.
Talvez, o melhor, fosse deixar que ela tivesse seu tempo.
Talvez, o certo, fosse aceitar que não era hora para conversas.
Talvez, o certo, fosse me deixar miserável, longe dela, até que ela
me quisesse de volta.
Nem que fosse como seu amigo.
Eu aceitaria, qualquer coisa, vinda dela. Porém, ela sequer sabia
daquilo.
Por que o amor tinha que ser tão complicado? Por que eu o tinha
deixado ainda mais complicado? Caindo diretamente, na minha própria
trapaça. O karma não falhava, de fato.

Fiquei apenas parado, em um dos sofás, encarando o teto, e


pensando se estava, finalmente, escolhendo algo para o melhor de nós
dois. Ou, de fato, para o melhor dela. Porque o meu, só seria para odiar
cada segundo do dia.
Ela desceu com apenas uma mala de mão, e antes que eu pudesse
correr para ajudá-la nas escadas, ela o fez ainda mais rápido, e desceu
toda ela. Foi quando notei a outra mala, grande, no andar de cima. Fui até
lá, e a peguei, descendo-a até onde ela estava, mesmo que seu rosto fosse
de desaprovação.
— Obrigada.
Assenti, deixando a mala ao lado da outra, e me afastando. Voltei
para o sofá e me joguei. Usando apenas uma calça de moletom preta e
uma regata da mesma cor, eu ficava a admirando, mesmo que ela
parecesse apenas concentrada conferindo algo em seu celular.
Ela usava um de seus vestidos, que era um dos meus favoritos, de
cor rosa, que descia para um corpete no meio, na cor bege, eu não
entendia sobre tecidos, mas o caimento daquele, em seu colo e os ombros
expostos, parecia deixá-la ainda mais bonita.
Com roupas, claro.
Sem roupas, eu não sabia se teria capacidade para não morrer, só
de pensar.
Um aviso em meu celular, e eu liberei o espaço aéreo da ilha. Thor
estava pousando com um dos seus jatinhos, para levar Malena até a ilha
dele, e então reabastecerem para irem para o Egito.
— Thor chegou.
— Certo — ela falou, e puxou as malas até a enorme porta de
entrada – ou de saída, e parou.
— Eu te ajudo, a levar as malas até... até o avião.
Falei, peguei as duas malas, levantando-as, e ela abriu as portas,
sem indagar nada, e me seguiu, pela ala externa, que tinha uma porta, que
dava conexão direta com o pequeno aeroporto.
Para ter acesso, aquele literal corta-caminho, precisava de
autorização prévia. Foi então que Malena deu a dela, usando sua face e
digitais, para as portas se abrirem, e depois seguirmos pelo grande
corredor de metal, que cortava uma montanha ao meio.
— Sei que vai se sair bem, mas... espero que seja um ótimo
trabalho e... — soltei o ar com força, quando as palavras me faltavam.
Eu sempre tinha algo a dizer, no entanto naquele momento, tudo
parecia simplesmente errado.
— Não vai, então?
Sua pergunta me fez parar, quando chegamos à outra extremidade,
e ela tinha que autorizar o acesso, para que a porta se abrisse.
— Não — falei, e deixei as malas no chão, a encarando. — Sei
que tenho que te deixar ir, pra que quem sabe, queira voltar...
Ela não disse nada, mas seu olhar permaneceu no meu, como se
também não soubesse o que dizer.
Meu olhar caiu para os seus lábios.
Eu tinha sonhado, tantas vezes, em como seria, tê-los nos meus. E
quando o fiz, por poucos segundos, eu ainda os tinha cravado na
memória. Relembrando a cada segundo, como se encaixavam
perfeitamente aos meus, assim como cada limite dela, se encontrava com
o meu.
Fiquei tão preso a ela, que sequer percebi que ela tinha usado seu
passe, aberto a porta de metal, e eu suspirei fundo, totalmente frustrado
com minha tamanha burrice. Caminhei atrás dela, enquanto observava o
avião pousar por completo, e então deixei as malas ao seu lado.
— Boa viagem e bom trabalho, querida.
Falei, dando dois passos para trás, e ela então me encarou.
— Fique bem, sim?
Assenti, e eu apenas tentei me manter de pé, ao mesmo tempo que
toda a cena se desenrolava à minha frente. Eu tinha falado com Thor, mas
não saberia refazer a conversa, se me pedissem, porque não tinha ideia.
Totalmente no automático. Totalmente perdido, enquanto a via entrar no
avião e ir para longe, e eu, ficar ali, me sentindo pequeno, patético e
culpado.
Capítulo 29

Quando ele sente sua falta...

LOKI
Eu estava jogado no meio da sala, olhando para o teto, que ficava
tão alto, que eu comecei a me questionar, do porquê o castelo era de tal
maneira. Talvez os meus pensamentos estivessem tão dispersos, que
aquela era a única forma de tentar juntá-los.
Eu já tinha bebido uísque. Depois passei para o vinho. Aí até abri
uma garrafa de champanhe, e então voltei para o hidromel. Bebida
favorita, para uma bebedeira seguida. Seria mais do que perfeito.
— Eu pensei que Odin fosse patético quando ficava triste.
Ri sozinho, e apenas acenei com a mão.
— Oi, H.
— Está se embebedando porque Malena foi trabalhar em outro
país?
— Isso, apenas jogue mais sal nas minhas feridas — dramatizei, e
ouvi sua risada, baixa e controlada, quase como uma gargalhada. —
Percebo que devo ficar miserável mais vezes, para te fazer sorrir, irmã.
— Prefiro você inteiro e eu séria — admitiu, e eu continuei encarando o teto.
— Pensei que tivesse o nome do deus da trapaça e não do deus da
conformação.
— Hella, minha querida e irmã mais velha favorita...
— Sou a única irmã mais velha sua, Loki.
— Continuando... Como você se fez de morta por tantos anos e
simplesmente consegue saber de tudo? — indaguei.
Aquele era o melhor jeito que eu tinha, de conseguir não focar o
assunto apenas em mim. Verdade fosse dita, eu também tinha uma grande
curiosidade de entender mais sobre o que aconteceu com ela.
— Bom, a verdade é que Odin me matou para vocês — falou, e eu
virei meu olhar, encontrando-a sentada, sobre o encosto da poltrona, e as
pernas cruzadas. — E eu aceitei isso.
— Deusa da conformação? — indaguei, e ela deu de ombros. —
Não parece feliz por ter se conformado.
— É por isso que estou aqui.
— Mas como sabe que eu estou tentando me conformar e aceitar?
— Bom, Malena me ligou...
— Você tem celular? — indaguei, perplexo, e sabendo que a
bebida já fazia seu efeito.
— Ela me disse para cuidar de você — comentou, e eu senti meu
coração se aquecer, apenas pelo fato, de ela ter passado por cima do seu
próprio orgulho, para ligar e pedir algo assim a minha irmã.
— Como ela tem seu número e eu não?
— Sempre tentando mudar o foco para não falar de si? — rebateu,
e eu bufei. — Ela é uma boa mulher.
— Ela é.
— E você não, só para te lembrar. — Forcei-me a sentar, e fingi
que ela tinha me atingido bem no peito, caindo de volta no tapete. —
Sabe, às vezes, é melhor não ser o bom da história.
— Duvido que Odin adore ser o vilão da sua — rebati, e ela
parecia já impaciente.
— Estou falando de você, e não dele. — Foi então que a encarei
novamente. — Tudo bem respeitar o espaço dela, é o mínimo que pode
fazer, mas e se... e se tentar, nesse meio tempo, mostrar que não quer esse
espaço.
— Difícil estar não estando em algum lugar, H.
— Na verdade, você tem seu irmão lá, com o celular... Tem como
fretar jatinhos e voltar no mesmo dia... Tantas opções, e vai optar mesmo
por ficar arrasado?
— Odin optou por isso, ou é impressão minha? — Ela revirou os
olhos, e então eu sorri. — Eu acho que vou aguentar isso, até a página
dois. Só não posso impor mais nada, H. Porque eu já impus demais.
— O que realmente impôs a ela, que ninguém me contou e até
agora não consegui descobrir?
Arregalei os olhos, e senti minha boca seca.
— Está em toda essa defesa minha por...
— Porque sei que pediu para ela ser sua noiva de mentira e sei que
os dois se gostam, mas acabaram se separando no meio disso tudo...
Então... O que realmente houve?
— Deveria ter perguntado antes, H.
— O que fez?
— Eu... eu a fiz assinar alguns papéis no aniversário de dezoito
anos, porque estava preocupado, que algo aconteceria comigo, e era um
jeito de resguardar ela, e... Claro, além da herança que eu deixaria para
ela e toda sua família.
— O que você fez?
Agora ela estava séria.
— Somos casados, desde os dezoito anos — assumi, e vi Hella
descruzar as pernas e arregalar os olhos. — Entende agora o que eu
impus?
— Ela realmente é boa, porque me ligou para cuidar de você, e eu
estou prestes a te jogar colina abaixo...
— Sabe, ficou muitos anos longe de mim, não vale aparecer e
querer partir para a agressão, já que fiquei tanto tempo sem o seu carinho
de irmã e...
Ela veio até mim, estendeu a mão, eu, inteligentemente, aceitei, e
acabei de pé à sua frente. Hella era a mais baixa de todos nós, e
facilmente, até mesmo menor que Malena. Forcei um sorriso, enquanto
ela me encarava, e sabia que seria capaz de me dar uma surra, se
quisesse. Tamanho não tinha nada a ver com o que a mulher diante de
mim era capaz.
— Apenas fique aqui, conformado, então.
— Viu, até que eu escolhi bem, de não ir para o Egito...
— Até quando vai conseguir ficar assim, é o que me preocupa.
— Por ela, eu espero o resto da vida, H — fui honesto. — Por
mais que isso me mate por dentro.
— Para de ser dramático, e vem me ajudar a arrumar essa bagunça
de garrafa vazia e bebida nesse tapete.
— Mas...
— Vamos, melhor que do autolamentação.
Fiz uma careta, mas fiz o que mandou, sem mais retrucar. Tudo
me indicava, que seria um longo resto de dia.

MALENA
Eu já tinha estado duas vezes no Egito.
Uma a passeio misturado com trabalho, porque Loki disse que
precisava me mostrar um local que conheceu com tantos tecidos, que eu
poderia fazer vestidos para infinitas gerações, tanto, porque adorou
conhecer alguns lugares típicos. Outra, totalmente sozinha, para me
acabar como turista.
Contudo, eu nunca estive tão afastada das grandes cidades.
Basicamente, no mais inesperado do meio do deserto, onde ficava, pelo
que consegui ver do avião, uma grande extensão de uma mansão, que
nunca imaginaria que seria ali.
Como Tyr tinha conseguido se relacionar com a herdeira daquele
povo, tão recluso e tão introspectivo, era um mistério que Loki tanto
parecia querer desvendar. E ali estava eu, pensando nele novamente.
Assim que o avião pousou, Thor fez questão de me acompanhar
até Tyr, que já nos esperava, no que parecia uma passarela de vidro, no
meio do absoluto nada.
— Preciso dizer novamente, que Anastasia sente muito por não ter
vindo conosco e ter sido uma companhia durante a viagem — Thor falou,
e eu neguei com a cabeça.
— Está tudo bem, de verdade. — Sorri para ele, porque ele tinha
pilotado até ali, e provavelmente, o faria de volta. — Eu dormi, boa parte
do tempo.
— Bem-vindos!
Tyr falou, abrindo os braços, para o irmão mais velho, que não
pareceu realmente animado, ao ser obrigado a abraçá-lo.
— Boa viagem?
— Tranquila e sonolenta — comentei, e ele fez a reverência de
ficar sobre um joelho, enquanto eu o reverenciava como Hansen. — Sua
futura esposa? — acabei perguntando, curiosa.
— Vamos entrar e sair desse calor... — falou, e assenti, seguindo-
o.
Por puro hábito, peguei meu celular, e selecionei a conversa com
Loki, pronta para apertar em ligar. Parei, e caí em mim. Eu estava muito
longe de casa, pronta para trabalhar, e apenas deixar meus sentimentos
não me tomarem. Contudo, quase me vi contando a ele, que cheguei bem.
— Eu vou dizer, fique tranquila.
Ouvi a voz de Thor, ao meu redor, e me lembrei de que ele estava
ao meu lado.
— Vi sem querer que abriu a conversa com ele, e sinto muito —
falou, e eu não me importava com aquilo, de fato. — Na verdade, ele
mandou mensagens de cinco em cinto minutos, mesmo sabendo que eu
não responderia tão cedo... Mas já avisei a ele que chegamos e que está
bem.
Não consegui dizer nada. Nem mesmo ter alguma reação.
Apenas me vi voltando a caminhar, pela extensa passarela, e focar
no que Tyr dizia, contando sobre algumas peculiaridades de estrutura.
Era no que focaria, naquele momento, por mais que minha mente me
fizesse voltar a ele.
Capítulo 30

Quando ele lutar e não pode...

MALENA
Eu não tinha conhecido a futura esposa de Tyr até o momento.
Descobri depois que entramos na grande mansão, que aquela era
uma mansão que ele tinha providenciado para os dois, e não pertencente
à máfia egípcia. Na realidade, pertencia aos Hansen.
Não sabia onde sua futura noiva estava, mas escolhi o silêncio,
enquanto comíamos, e ele continuava a falar, educado como sempre, dos
detalhes daquela casa. Ele parecia genuinamente empolgado.
Logo após comermos, em um jantar longo e tranquilo, o jatinho já
estava reabastecido, e Thor voltaria para casa. Agradeci-o, ao ficar a sós
com Tyr, e me segurei para não perguntar nada sobre o fato de sua noiva
não estar ali.
— Acho que vou te mostrar onde vai trabalhar, melhor, não?
— Claro.
Segui-o para dentro da grande casa novamente, e ele me levou a
um cômodo no fim do corredor do térreo, e quando o abriu, fiquei
surpresa, com tamanho espaço, e todos os tipos de ferramentas possíveis
e imagináveis para costura.
— Isso é... Uau! — falei, totalmente animada.
— Pedi para que trouxessem o melhor do melhor, e o que me disse
que precisaria...
— Bom, para começo, preciso falar com a noiva e...
— E ela chegou!
A voz feminina tomou o local, e eu notei a mulher de longos
cabelos escuros, e olhos marcados por um delineador preto. Como era o
meu costume e ela era uma futura Hansen, fiz-lhe a reverência que era da
nossa tradição, e me surpreendi, quando a encarei novamente, e a vi
rindo, como se debochada.
— Alguém já disse o quão ridículo é esse tipo de situação?
— Isis...
— Se fosse trazer uma criada, deveria ter me avisado, para não
perder o meu tempo e o seu dinheiro com isso.
— Isis...
Eu nunca tinha visto a voz de Tyr mais alta do que o normal, mas
por puro reflexo, levei uma das mãos até o seu braço, e o segurei. Ele me
encarou, e eu neguei com a cabeça, sorrindo.
— Sou membro da máfia Hansen há mais tempo do que você tem
de vida, senhorita Ramesses — falei, e ela pareceu pronta para retrucar,
mas fui mais rápida. — Tenho orgulho de servir a eles, e não me ofendo
de me chamar de criada. Na realidade, como realmente gostaria de me
ofender?
A mulher fez uma careta, como se tentando me entender, e notei a
maneira como levou a mão até a barriga, que já aparecia, e a acariciou
com cuidado.
— Se não se importar, eu gostaria de fazer o meu trabalho —
insisti. — Eu vim para cumprir ordens do senhor Hansen, não suas.
— Mas vai medir o meu corpo.
— Ou vai usar os vestidos que ela fizer, ou não vai usar vestido
algum. — A voz de Tyr entrou no meio, e eu percebi que ele parecia
outra pessoa, quando se tratava dela. — É isso ou nada, Isis.
Ela assentiu, parecendo vencida, pelo menos, naquele momento.
— Qual o seu nome, afinal? — perguntou, cruzando os braços e
me encarando de cima a baixo. — Não me surpreenderia se Tyr trouxesse
alguma das putas dele para...
— Acho que acabou de chamar de puta a noiva do seu cunhado —
falei, antes que Tyr interferisse. — Malena Dahl, noiva de Loki Hansen.
Pela primeira vez, aquela mentira de Loki, me serviria para algo.
E no caso, para colocar a jovem à minha frente, em seu lugar. Ela deveria
ter o quê? Pelo que eu me lembrava, dezenove ou vinte anos, algo assim.
Vi a sua cor se perder por um segundo, enquanto eu sorria de lado.
— Posso ter um momento a sós com minha noiva, Malena?
— Claro.
Respondi a Tyr, que saiu da sala, segurando o braço de Isis, que
parecia nem um pouco feliz, na verdade, parecia envergonhada.
Peguei meu celular e gostaria de mandar uma mensagem para
Loki, contando o que tinha acontecido. O fato de sermos dois fuxiqueiros
e fofoqueiros, não ajudava no nosso afastamento.
Digitei algumas vezes e apaguei, sabendo que não tinha como
iniciar aquela conversa. A realidade, era que eu só pensava em como
voltar a falar com ele, sem querer pensar em mais nada.
Contudo, nós dois, éramos uma bagunça premeditada. Já tínhamos
pulado etapas, que eu desconhecia, e agora, não sabia como voltar para
nenhuma delas. Suspirei fundo, desligando meu celular, e tentando me
manter focada.
Pelo menos, em não ser tratada feito nada, à frente da noiva de
Tyr. Já era algo para conseguir me focar.

LOKI
— Se eu soubesse que bastava Malena me abandonar por um
tempo para vocês aparecerem ao mesmo tempo...
Olhei de Odin para Hella, e o clima no jantar parecia pesar mais
do que qualquer outro que estive na vida.
— Vai dizer que teria feito isso antes?
— Na verdade, eu diria para ela me ajudar a fingir que estávamos
estranhos e... Bom, mentido para que isso acontecesse.
— Mentiras te fizeram ser abandonado — Odin falou curto e
grosso, e eu revirei os olhos. O grande exemplo falando.
— Eu acho que se formos considerar que eu represento e levo o nome do deus da
mentira, deveria ter uma folga ou um descontinho, certo?
Os dois negaram com a cabeça no mesmo instante.
— Então, o que vamos falar durante esse agradável jantar?
Os dois apenas permaneceram em silêncio.
— Juro, não deveriam me deixar sozinho, já que vão fingir de
estátuas à minha frente?
— Você consegue ser o mais inoportuno de nós, não é?
— Obrigado — falei, e tomei um longo gole de água em seguida.
— Podemos ter uma aula sobre o que aconteceu anos atrás?
— Não!
Os dois disseram ao mesmo tempo, e eu assenti, sem saber como
conseguiam parecer tão tensos, mesmo que tudo o que quisessem era se
ignorar. Se minhas desconfianças estivessem certas, e geralmente, elas
estavam, tinha algo que mudava totalmente de figura a situação.
E era como se eu estivesse vendo Malena e eu, diante de mim. No
caso, não queria que Malena e eu, nos tornássemos daquela maneira.
Porém, só se a linhagem sanguínea deles fosse diferente, como eu
suspeitava. E se fosse, não ficaria pedra sob pedra, quando algo assim
fosse declarado. E muito menos, se eles nunca declarassem, e mesmo
assim, ficassem juntos.
Eles ficariam, certo?
— Falou com Irina novamente? — Odin perguntou, cortando
totalmente o meu raciocínio sobre eles, e eu neguei com a cabeça. — Por
que não?
— Um: somos cunhados e amigos. Dois: ela usou um sósia meu
para conseguir não ser descoberta fazendo outras coisas, e acabou com a
cena dos Romanov aqui em casa, achando que eu a engravidei. Três: ela
pediu desculpas quando a reencontrei no aniversário do pai, e eu disse
que ela era uma péssima conselheira.
— Pensei que existia muito mais entre vocês, pela maneira como
desconfiaram da gravidez.
— São os sósias que eu espalhei pelo mundo, por segurança. —
Dei de ombros. — Ela pediu para usar um deles, e eu disse que sim, só
não imaginei que estaria engravidando de alguém por aí e cairia no meu
colo.
— Qual o péssimo conselho dela, então?
— Ela me disse para falar para Malena, que estava apaixonado por
outra, e então, ver a reação dela, e saber se ela tinha algum ciúme ou... —
foi quando os encarei, e eles pareciam perplexos.
— Malena deveria ter te acertado com o copo nessa hora.
— Concordo, mas o que houve foi que eu estava tão empolgado
em ver se ela sentiria ciúmes e poderia demonstrar algo, que eu cheguei
em casa e contei que estava apaixonado por Irina... — apenas ouvi os
“puta merda” e “péssimo”. — E não demorou para os Romanov estarem
aqui, por retaliação do meu digníssimo irmão do trovão.
— Para uma sequência de burradas.
— E põe na lista, o pai de todos aí... — apontei com o garfo para
Odin. — Aparecendo aqui e me obrigando a dizer em voz alta sobre ela
estar casada comigo, e ela ouvir...
— Odin!
Era a primeira vez que via Hella reagir tão brava com Odin, e
diretamente com ele.
— Só ia piorar se não contasse...
— Sabia que ela estava ouvindo?
E então os dois começaram a discutir, e eu, em meio ao caos, fui
saindo da mesa, e segui para o meu quarto. Pé por pé, sabendo que eles
estavam fazendo o seu melhor, mas eram simplesmente péssimos juntos,
porque não aceitavam que eram melhores assim.
Parei meus passos, próximo ao quarto de Malena, e me vi
adentrando o mesmo. Havia ainda uma parede, da sua adolescência, com
todos os posteres, e muitos repetidos da sua boyband favorita. Caminhei
até sua cama, e me sentei, olhando ao redor, do que ela via todos os dias.
Encarei uma das fotos em sua mesa de cabeceira, e era de nós dois, com
Fernir ao lado, e se forçasse muito, era possível ver Ior, entre a grama.
Uma foto que nós tínhamos tirado no seu último aniversário.
Ao lado, tinha uma outra foto nossa, só que no seu show dos
sonhos, quando jovem. Olhando a diferença de uma foto para outra, eu
sabia da diferença de sentimento que existia, entre cada uma delas.
— Como posso sentir sua falta, tão desesperadamente? Como
consigo sentir tanto medo de ter que sentir essa falta para sempre?
Vi-me deitando na sua cama, com as fotos ao meu lado, e encarei-
as por um longo tempo. Até virar meu olhar, e encontrar o seu piano, que
ela tanto sonhava em ter no quarto, e que foi a maior luta para conseguir
ser içado em um castelo, e colocado exatamente ali.
Levantei-me, levando as fotos comigo, e as colocando sobre o
tampo do instrumento.
Uma música, que ela tanto ouvia, repassando em minha mente.
Meus dedos sendo mais rápidos que meus pensamentos. Talvez fosse isso
que eu precisava, estar onde ela estaria, para a sentir próxima a mim. Era
o que eu tinha, por enquanto. Mesmo que não bastasse.
Capítulo 31

Quando ele só te quer de volta...

LOKI
Já completavam cinco dias.
E eu gostaria muito, que Odin me dignasse qualquer missão, para
que eu não estivesse ali, sucumbindo em limpar tudo o que via pela
frente, e cantar as músicas favoritas de Malena, para a sentir próxima de
mim.
— Mamãe fora da cidade, então já sabem...
Brinquei com Fenrir e Ior, que na verdade, nunca foram proibidos
de estar dentro do castelo, mas sempre pareceram preferir estar do lado
de fora. O fato era que inventar uma realidade em que ela estivesse
apenas viajando, e voltaria para casa, e quando me visse, voaria para os
meus braços e eu beijaria seus cabelos, era melhor.
Se eu era como o deus da mentira, deveria saber mentir para mim
mesmo, certo?
Contudo, achava que Fenrir e Ior estavam com tanta pena de mim,
que acabaram sentindo, e ficado na sala de estar, me monitorando.
Melhor do que Odin e Hella, que eu sequer sabia como tinham terminado
naquela noite, e nem me arrisquei a saber. A realidade era que eles
vieram, em momentos separados após aquilo, e eu acabei os expulsando
da última vez.
Eu estava bem sozinho.
Eu tinha que estar.
A razão de ter um lobo e uma serpente me encarando com pena, e
eu sentir que eles sentiam isso de mim, não poderia ser levado a sério.
Até porque, soaria como maluquice. E era melhor duvidar dos meus
bichinhos do que aceitar que eu era um caso perdido.
— Eu pensei em visitar Freya, mas fiquei com receio de ir, e
Malena chegar, e eu não estar e... — Vi-me falando sozinho, ou melhor,
contando minha briga interna para as outras duas almas presentes. — Até
mesmo pensei em ir à ilha de Vidar, que é a mais próxima, mas nem
encher o saco do mais carrancudo pareceu me animar...
Vi Fenrir mexer uma orelha, enquanto Ior simplesmente seguiu
para fora do castelo, e não demorou para ele fazer o mesmo,
— Abandonado pelos próprios filhos mágicos...
Levei-me até o piano da sala, e me sentei a frente dele. Eu deveria
abrir outra garrafa de hidromel, ou parar de ficar de ressaca? Na minha
mente, vinha a voz de Malena e dizia: se beber demais, vai acabar
baixando sua imunidade, e ficar doente.
E eu me vi não abrindo a garrafa jogada ao meu lado, e recorrendo
ao piano. São e desesperado, duas palavras que não combinavam, mas
me definiam.
E depois de tantos dias, apenas tocando, eu me vi cantando
também, já sem saber pelo que gritar:
— “Estou sentado, com os olhos bem abertos
Dentro destas quatro paredes, esperando que você ligue
É um jeito muito cruel de viver
Como se não houvesse sentido nenhum ter esperança

Amor, amor, eu me sinto como se estivesse louco


Acordado a noite toda, a noite toda e todos os dias
Peço que me dê alguma coisa
Oh, mas você não diz nada
O que está acontecendo comigo?
Eu não quero viver para sempre
Porque eu sei que estaria vivendo em vão
E eu não quero me encaixar em nenhum outro lugar
Eu só quero continuar chamando o seu nome
Até você voltar pra casa

Eu só quero continuar chamando o seu nome


Até você voltar pra casa
Eu só quero continuar chamando o seu nome
Até você voltar pra casa...”[2]

Parei, e suspirei fundo, sabendo que a música era um dueto. Como


se faz um dueto quando se está sozinho? Foi quando eu apenas ouvi o
barulho da porta da frente, e pensei que Fenrir tinha batido nela, mas
quando me virei, encontrei Malena ali, com suas duas malas, e a grande
caída contra a madeira.
— Malena...
— Oi — falou, parecendo ter cuidado, e eu suspirei fundo.
O que era mesmo que eu pretendia dizer?
Como era mesmo todo o discurso que eu tinha planejado?
— Oi... quer dizer, como você está? — perguntei, sentindo minhas
mãos suarem, enquanto permanecia sentado, sem saber o que fazer.
— Bem — falou e olhou ao redor. — Thor disse que preferiu abrir
ele mesmo o espaço aéreo por ser de madrugada e... Por que está
acordado?
— Estava... estava cantando — admiti, e apontei para o piano. —
Tem sido um momento bom.
— Como você está?
— Estou bem, claro...
Levantei-me e acabei tropeçando na garrafa e senti meu corpo ir
para a frente e caí, em câmera lenta e pateticamente diante dela.
— Loki...
Neguei-me a abrir os olhos, caído de costas para o chão e me
sentindo o pior conciliador que eu já conheci. Péssimo. Tenebroso.
Horrível.
— Acho que precisa de mais um minuto no chão, para minha
vergonha não ser tanta — admiti, e suspirei fundo.
Eu não precisava abrir os olhos, para saber que ela estava sorrindo
e me encarando de cima. E por um segundo, queria ficar apenas ali,
mesmo que envergonhado, tendo-a por perto de mim. Ouvi ganidos, e
então Fenrir deveria ter entrado, porém, apenas fiquei parado no mesmo
lugar, sem saber o que fazer ou o que dizer.
O que me surpreendeu foi um gritinho de Malena, que xingou Ior
e depois Fenrir, e eu abri os olhos e senti o corpo dela, cair sobre os meus
braços, e corri para segurá-la com força.
Agora, eu estava quase sentado, segurando a mulher que eu amava
e tinha machucado, mais do que ninguém, e sem palavras para lhe dizer.
— Senti sua falta — admiti, quando seu corpo parecia ter o
caminho próprio ao meu, e uma de suas mãos chegou ao meu rosto.
— Eu também... — falou, e seus lábios estavam bem próximos
aos meus. — Cretino. — Bateu contra meu peito, e se afastou, com um
sorriso sem graça no rosto.
— Ainda adora isso em mim?
Ela apenas negou com a cabeça, mas tinha um sorriso no rosto.
— Precisamos conversar, não é?
— Eu acho que se a gente pular essa parte, direto para a que você
me beija e...
— Loki.
Eu então sorri de lado, e fui me levantando, assentindo para ela.
— Vá descansar, que a gente conversa de manhã?
— Já é de manhã — falou e me encarou. — Há quanto tempo não
está dormindo direito?
— Acho que não seria bom dar essa resposta agora — fui honesto.
— Eu vou dormir também, prometo.
Ela então subiu as escadas, enquanto eu me virava para a porta de
saída, e já não tinha mais sinal de qualquer um dos dois que acabaram
armando para nós.
Subi as escadas aos poucos, e parei meu passo, na porta do seu
quarto, já fechada.
Um sorriso se abrindo em meu rosto, mesmo que triste. O fato de
ela não ter buscado outro destino para voltar, que não fosse casa, me dava
alguma esperança. Uma de que, nós dois, ainda tínhamos alguma chance.
Capítulo 32

Quando ele te vê...

MALENA
Eu tentava pensar no trabalho que teria, a seguir, só que a verdade,
era que eu tinha tirado aquele dia para voltar para casa, e poder vê-lo.
Uma necessidade que eu desconhecia, mas que se apoderou de tudo de
mim.
O fato de não falar com ele, não saber exatamente como estava,
não ter ideia do que estava acontecendo, me consumia por completo.
Eu precisava saber.
Eu precisava estar ali.
Nem que fosse, para que tudo voltasse a ser o que era. Não
poderia mais, ficar apenas longe, e esperar que os deuses fizessem algo
acontecer. Depois de tanto, estava na hora de eu tomar a frente e fazer
acontecer. Para o melhor de nós. Para o pior de nós. O importante, era
que algo fizesse sentido, e fosse uma linha que ambos pudéssemos
acompanhar.
Contudo, ali estavam as perguntas apenas aumentando, e eu me
sentei na cama, parada e pensando em como ele se sentia. Ele estaria
dormindo naquele momento? No que ele estaria pensando agora?
Imaginando que se fosse em qualquer outro momento, das nossas
vidas, era só bater na porta do seu quarto e entrar, ir para os seus braços e
conversar por horas a fim, sem nos preocuparmos com mais nada.
E agora, simplesmente, tudo me preocupava. Sobre nós. Sobre ele.
Sobre mim. Sobre o futuro. Eu estava no seu futuro? Ele estava no meu?
Joguei meu corpo para trás, e caí deitada na cama, repassando em
minha mente todos os últimos anos. Lembrando-me da forma como ele
me olhava, falava, e sempre estava lá. Eu perdi algo no caminho? Eu não
tinha conseguido enxergar? Como pude não ver? Como pude não
descobrir?
Precisava acalmar meus pensamentos e dormir, porque senão,
seria uma longa madrugada, como as outras anteriores. Se não fosse o
trabalho que tinha me ocupado, ou o fato de eu me sentir assistindo a
uma novela ao observar Tyr e Isis, com toda certeza, eu não teria
conseguido dormir.
Mas agora, quando nada mais silenciava o que me causava, vi-me
levando um braço até os olhos e cantando baixinho, porque se fosse para
pensar em nós, que não fosse para ficar tão medrosa, e sim me lembrar de
todas as vezes que “nós” me fez bem.
— Quais são mesmo os nomes dele?
— Ainda não decorou? — Loki rebateu Sven, que deu de ombros,
mas ajudava a colar os pôsteres em minha parede. — Da esquerda para
a direita: Niall, Louis, Harry, Liam e Zayn — Loki falou, e depois me
lançou um olhar, como se para checar, e eu assenti, sorrindo
abertamente. — Como você não decorou? — ele provocou meu irmão,
que deu de ombros.
— É muito mais fácil do que pensa, Sven — falei, terminando de
colocar a fita no outro pôster que eu tinha. — Se até Loki conseguiu
decorar.
Sven riu alto, e eu não pude deixar de sorrir e sentir meu rosto
queimar. Loki se fingiu de atingido, caindo de joelhos, jogando-se no
chão do meu quarto.
— Acho que acabei de ser machucado demais pela senhorita
Dahl, Sven — ele reclamou, e abriu os braços, como se derrotado.
— Não tem como reverter o quadro, meu amigo.
Abri os olhos, e encarei na parede pôsteres que existiam naquele
quarto, no castelo. Todos os que havia na minha antiga casa, transferidos
para ali, e colocados no exato lugar. Lembrava-me de como Loki passou
horas, dizendo que tinha uma surpresa, e quando cheguei, ele
simplesmente tinha deixado nas posições exatas, e tortas igualmente,
como no meu antigo lar.
Tudo para fazer com que eu me sentisse acolhida e em casa.
Ele sempre o fez.
Ele sempre o fazia.
O meu medo era que, o meu sentimento por ele ter mudado,
tivesse me tirado aquilo. Tivesse me tirado ele. Eu só queria torcer para
que não. Sem encarar a minha mágoa e raiva, eu conseguia ver
claramente: eu o amava, e estava apavorada.
Porque agora ele sabia. E eu não tinha mais como fingir que não
existia aquele sentimento.

LOKI
— Nada de me entregarem para a mãe de vocês — falei,
apontando para Fenrir e Ior, que me seguiam pelo caminho de pedras, do
lado de fora do castelo. — Se ela souber que chamo ela de mãe de vocês,
acho que ela vai ficar menos com raiva de mim, não?
Fenrir ganiu, e eu o encarei sério, antes de ele apenas me olhar
com aqueles olhos de pesar. Lobo esperto e dramático, como eu. No final
daquele caminho, que raramente fazia, porque mesmo depois de tanto
tempo, ainda parecia que tinha sido há uma noite. Ou até mesmo, há
poucas horas. Eu parei e encontrei a antiga casa dos Dahl, que sempre
seria deles.
Ficava na decisão de Malena, manter ou não o lugar. Porém,
apenas olhando por fora, eu via que ela tinha constantemente ido até ali.
Dava para ver pelas flores nas janelas, e as misturas de várias delas, logo
na entrada.
Como ela tinha me dito, na noite em que tudo aconteceu: é um
jeito de colorir a vida, por que não colorir a morte?
Segui reto, porque o fato era que eu nunca tinha conseguido
adentrar aquela casa novamente. Doía tão profundamente, a culpa que me
assolava, que eu agora, me culpava por ver felicidade na pessoa, que eu
acabei tirando tudo. Nada, nunca mudaria em minha mente, o que eu não
fiz para evitar aquela tragédia.
Das coisas que me mantinham acordado à noite, eu sempre
voltava para aquele momento.
Das várias coisas ruins que já tive que fazer na vida, em escolhas
que pareciam impossíveis, quando se envolvia além da máfia, e chegava
à família, as linhas se perdiam, e eu não sabia como ter a imparcialidade
que era tão clara nos meus irmãos mais velhos. Talvez por já serem mais
velhos e experientes, mas eu duvidava que em algum momento
conseguiria somente não sentir o que me assombrava.
Segui o caminho, tentando me cansar, enquanto tentava pensar em
como as coisas poderiam ser tão barulhentas em minha mente, se ela não
estivesse vazia. Caminhei até o meio da floresta, e parei bem próximo ao
local em que tinha plantado algumas mudas, anos antes. Pela sorte do
destino, Malena ainda não sabia da existência daquela roseira.
Sentei-me à frente da mesma, e sabia que a plantei, justamente no
dia em que aceitei que estava apaixonado. Nunca pensei que seria tão
difícil entender o sentimento, mas quando o fiz, eu queria extravasar de
alguma forma. E plantar uma muda de rosas no meio mais profundo da
floresta da minha ilha, parecia o ideal.
Silencioso, discreto e ainda medroso, como meu amor era. Mesmo
que na realidade, quisesse ser gritante, espalhafatoso e corajoso. E agora
eu sabia, estava na hora de ser, finalmente. A pergunta era: ela estava
preparada para aquilo? Eu estava?
Capítulo 33

Quando ele quer travar uma guerra...

MALENA
Acordei por volta das oito da manhã, e tinha sido o melhor sono
em todo aquele tempo fora. Não me lembrava de ficar tanto tempo
dormindo mal de tal maneira, se não fossem os meus piores dias. Suspirei
fundo, encarando a mesa de cabeceira, e notei que meus porta-retratos
não estavam ali.
Virei-me, e me sentei, encontrando-os sobre o piano, do outro lado
do quarto. Um sinal de que Loki esteve ali, e provavelmente tocou piano
naquele cômodo.
Eu ainda não sabia se estava preparada para a realidade,
entretanto, eu sabia que não podia mais adiá-la. Estava me corroendo por
dentro, todas as dúvidas se transformando em algo ainda maior, e não me
permitindo concentrar em nada que fizesse sentido.
Escovei meus dentes, e apenas coloquei um roupão sobre o meu
pijama, saindo para o corredor. Desci as escadas, e o cheiro de morangos
não me passou despercebido. Quando cheguei ao último degrau, ouvi o
barulho vindo da cozinha e fui até lá.
Foi quando o encontrei, cortando vários morangos e os espalhando
sobre uma pequena tábua, e uma grande torre das suas panquecas. Eram
as únicas coisas que ele sabia cozinhar, mas sempre o fazia, quando
estava em casa.
— Bom dia.
Não pensei que minha voz o assustaria, já que ele sempre parecia
me perceber antes. Porém, tamanho foi seu susto, que ele deu um pulo, e
eu o ouvi reclamar. Fui para perto, sabendo que tinha cortado alguma
parte de si, o que me deixou totalmente alarmada.
— Bom dia, querida.
Falou, olhei para o seu dedo, e não vi nenhum corte. Quando olhei
para ele novamente, tinha um sorriso no canto da sua boca, e sabia que
aquele era Loki sendo apenas ele. Mesmo que as olheiras fossem
evidentes, e ele tivesse menos brilho no olhar.
Ele ainda sabia me fazer cair facilmente em seus jogos.
E aqueles, que nós dois construímos durante os anos de nossas
idas, não me assustavam ou afastavam. Não mesmo. O que me fazia
querer ir para longe e me reconhecer novamente, eram os que eu nunca
soube que estive jogando.
— Feliz porque ainda se preocupa, e com medo, porque ainda se
preocupa...
— Só fiquei cinco dias fora...
— Você nunca se afastou e não me deixou te tocar, Malena. —
Sua voz soou séria, e dei um passo para trás, vendo-o desviar o olhar. —
Você nunca se afastou desse jeito antes, e eu pensei... pensei que não
voltaria tão cedo. Ou até mesmo, que não voltaria.
— Talvez eu devesse ter ficado cinco anos fora, pelo tempo que
você escondeu a verdade de mim...
— Seria justo — falou, terminando de colocar os últimos
morangos na tábua. — Mas eu ia atrás de você, assim que fizesse uma
semana — admitiu. — Mesmo que de longe, eu ia estar lá.
Suspirei fundo, vendo-o se mover para perto, com a tábua de
morangos em uma das mãos, e a com as panquecas em outra.
Ele então passou por mim, e sabia que as deixaria na mesa de
jantar, que sempre usávamos para as refeições, qualquer uma que fosse.
Logo ele voltou, pegou todas as geleias e caldas que tínhamos, e foi
empilhando.
— Apenas chocolate para mim — pedi, e ele devolveu a maioria,
ficando apenas com a de chocolate e um pote de mel. — Podemos
conversar depois do café da manhã? — indaguei, enquanto o seguia para
fora da cozinha, até a mesa de jantar.
Ele parou, e assim que colocou as duas na mesa, puxou a cadeira
que era minha há tanto tempo, que eu comecei a perceber, o quanto senti
falta de um simples lugar, daquele simples gesto.
Sentei-me, e ele então foi para a minha frente, sentando-se.
— Podemos conversar, se for para ter um final bonito... — falou, e
eu neguei com a cabeça, incrédula com sua audácia. — Ou melhor, sem
finais.
— O que realmente te aconteceu enquanto estive fora? —
indaguei, vendo-o mais dramático do que o normal.
— Honestamente? — indagou, enquanto eu derramava a calda de
chocolate em uma das panquecas. Notando que ele tinha colocado o meu
conjunto de jantar favorito, mesmo que fosse apenas o café da manhã.
— Sem mentiras, você sabe.
— Eu tive que aturar Odin e Hella querendo se matar no primeiro
dia, e quase quis morrer por ter que aturá-los — dramatizou e eu quase ri.
— Freya me ligou em todos, e disse que eu era um babaca completo —
assumiu. — Thor apareceu ontem, apenas para checar se eu realmente
estava comendo. — Revirou os olhos. — Baldur me ligou e pediu
desculpas por não poder vir, já que está preso em um trabalho, e eu
implorei para ir ajudar, mas não tive permissão... — Até Vidar apareceu,
mesmo que por pouco tempo, e na costa... Deu um aceno do seu barco e
logo voltou para a própria ilha — comentou, e eu ri de lado.
Cada um dos seus irmãos, ao seu jeito, estando presente.
— Nunca pensei que o nosso falso noivado causaria tanto estrago
— assumi.
— Isso, e o fato de que somos casados... — sua voz foi
diminuindo. — E que você me deixou depois de saber... —
complementou, como se falando consigo mesmo. — Acho que eles estão
de olho, caso precisem implorar para que você reapareça.
— Eu pedi para Tyr, por esse dia de folga.
— Veio ficar um dia? — indagou perplexo, e eu assenti. — Mas...
— Eu precisava ter essa conversa, e no espaço que achei que faria
melhor, não ajudou...
— Malena...
— E bom, também dar um tempo para Tyr conseguir se conectar
com a sua noiva, porque... — fiz uma leve careta. — As coisas não são
tão boas entre eles.
— Tem a chance de ele não ser o pai da criança? — perguntou de
repente, e eu quase cuspi uma parte da panqueca.
Ele riu e levou um guardanapo até meus lábios, que deveriam
estar sujos de chocolate. Por um segundo, aquele gesto que acontecia,
quase que sempre, parecia pesar mais do que antes. Porque agora, eu
tinha o lado dele, quase explícito, de que também se bagunçava por
inteiro, quando nos tocávamos, mesmo que de forma inocente.
Levei minha mão ao guardanapo e tirei-o de sua mão,
agradecendo.
— Eles têm química demais, do jeito que quase explode —
comentei.
E parecia, de repente, que estávamos em apenas um café da manhã
após uma viagem, e eu estava contando cada detalhe a ele.
— Mas ela foi legal com você?
— Tyr não te contou tudo? — indaguei confusa.
— Não disse nada sobre a noiva, nadinha...
— Bom, ela me chamou de puta na primeira conversa que
tivemos...
Loki simplesmente parou com a panqueca que iria à sua boca, e
deixou-a novamente no prato. Ele se levantou, vi-o cruzar até a grande
sala, e pegar seu celular na mesa de centro.
— O que...
— Me dê um ótimo motivo para que eu não vá ao Egito e mate a
sua futura esposa.
Fiquei paralisada, vendo-o falar aquilo ao telefone, e deduzi que
era Tyr. Corri até ele, vendo-o respirar de forma descompassada, e levar
uma das mãos aos cabelos, passando-a ali, totalmente nervoso. Ele estava
muito puto, e eu estarrecida com sua reação.
— Posso matá-la depois que o bebê nascer, sem problema.
— Loki! — gritei por ele, mas ele parecia cego pela raiva.
Eu já o tinha visto de tal maneira, por minha causa, antes. Porém,
fazia tanto tempo que não tínhamos algo assim, que eu estava totalmente
inerte.
— Loki!
— Acho bom que ela se desculpe, e peça de joelhos, senão...
Foi então que eu pulei e peguei o celular dele e levei-o à minha
orelha. Loki iria vir para pegar, até eu levantar uma das mãos, no pedido
silencioso para parar, e ele o fez.
— Tyr?
— Oi, Malena. — O tom dele era claramente preocupado.
— Desculpe, eu estava contando para Loki sobre a primeira
conversa com Isis, e ele... ele não me deu tempo de falar mais nada.
— Mas ele está certo, no entanto.
— Tyr...
— Eu teria a mesma reação, se alguém insultasse a mulher que eu
amo.
As palavras de Tyr pesaram, e eu apenas engoli em seco.
— Desculpe, não precisamos de desculpas e sem mortes — falei, e
suspirei fundo. — Vou colocar um pouco de juízo na cabeça do seu
irmão.
— Ele nunca teve, sinto muito.
Ouvi sua risada no fundo, e desfiz a ligação.
— O que tinha na cabeça?
— Ela te chamou de... — ele parecia transtornado. — Quem ela
pensa que é?
— Ela estava com ciúmes, era óbvio — falei, o que tinha notado
no decorrer dos dias. — E claramente, não sabe interagir.
— Não me importo se ela estivesse mentindo a dizer isso... Essa...
Ele respirou fundo, e meus olhos se perderam, vendo as veias de
seu pescoço expostas, assim como de suas mãos e braços. A minha mente
não estava nada bem. Os pensamentos que me inundavam há anos, fora a
raiva e mágoa do momento, eram muito maiores.
— Eu já a desculpei.
— E ela nem pediu desculpas, Malena.
— Às vezes, não precisamos de um pedido — falei, vendo-o andar
de um lado para o outro. — Será que pode parar antes que eu tenha que
tacar algo na sua cabeça para pará-lo?
— O que respondeu a ela? — perguntou de repente, parando. —
Me diga que mandou essa maldita direto para o reino dos mortos, ou para
o inferno que ela acredita.
Abri a boca e fechei, já sem coragem de responder.
— Não disse nada? Malena?
— Eu disse... — suspirei fundo. — Eu disse que ela tinha acabado
de chamar a noiva do cunhado de puta, e que era sua noiva —
complementei, e apenas lhe dei as costas, sem conseguir encará-lo.
E finalmente, o silêncio caiu entre nós.
— A cara dela foi como?
Perguntou, e eu somente me sentei novamente, tentando focar nas
panquecas.
— De espanto e de que tinha se fodido ao dizer aquilo.
— Ótimo — falou, sua voz se aproximando, e se sentou à minha
frente. — Devia ter mandado ela para o inferno também.
— A mentira já a calou.
— Ou eu deveria pedir para Freya, quem sabe Hella agora, fazer
como na época que você ia à escola, sofreu bullying, e...
— Loki — cortei-o, pegando uma panqueca e enfiando-a na sua
boca.
Ele se surpreendeu, mas sorriu e aceitou o alimento, ficando
quieto.
Eu quase ri, porque naquele momento, conversando daquela
maneira e falando sobre os detalhes, apenas parecia um dia comum entre
nós. Parecia que nada tinha mudado e estávamos simplesmente sendo
nós.
Bom, éramos nós.
Só que pela primeira vez, aquele conjunto, pesou.
Porque eu não tinha ideia, do que “nós” significaria após aquele
dia.
Capítulo 34

Quando ele te conta a verdade, a única...

MALENA
Suspirei fundo, enquanto descíamos em direção à praia. Eu não
sabia exatamente, do porquê Loki queria ir até ali. Porém, não questionei.
Quanto mais tempo levasse até estarmos parados, mais adiaria a conversa
que eu tanto queria, mas também temia.
— Eu trouxe essa toalha velha — falou, e do nada parou,
estendendo-a na areia, e eu apenas o observei.
Vi-o se sentar e então bater ao seu lado, como se me incentivando
a fazer o mesmo. Eu fiz, sentando e apenas observando as ondas
quebrarem ao fim do caminho.
— Vou ser honesto e pode ser que eu fale muito — ele disse, e
estendeu seu dedo mindinho em minha direção, o qual eu apertei com o
meu, na nossa promessa silenciosa.
— Eu sempre gostei de te ouvir — fui honesta.
— Toda vez que venho aqui, eu me lembro de quando a gente se
conheceu — falou de repente, e o encarei, vendo-o observar o horizonte,
mas seu olhar parecendo preso a uma lembrança. — Eu só queria
descobrir como era a ilha que herdaria, e então ganhei pessoas que se
tornariam parte de mim... Ganhei você. — Sua voz suavizou, e seu olhar
parou no meu. — Eu só pensava, a cada momento, que eu precisava
cuidar de você... Eu só não imaginava, que cuidado também pode mudar
com o tempo. — Desviou o olhar, e encarou o horizonte novamente. —
Primeiro, você era apenas uma amiga, que eu queria proteger. Depois, eu
percebi que não suportaria se o mundo te machucasse. E quando estava
perto de fazer dezoito anos, eu tinha uma sensação tão grande de que
estava sempre me arriscando e que a qualquer momento, eu poderia te
deixar... deixar todos vocês — falou, e suspirou fundo. — Eu já tinha
colocado Sven e sua mãe no meu testamento, assim como você... Mas eu
tinha em mente, que existia um jeito, de te garantir de uma forma mais
rápida, e não ter contestações... — vi-o puxar o ar com força. — Foi
quando me veio a ideia de nos casarmos, porque se algo me acontecesse,
e pior, a todos os meus irmãos também, ninguém poderia contestar um
documento desse.
Abri a boca perplexa, sem conseguir acreditar que era o que
acontecia.
— Na noite em que foi no castelo comigo, para fazer os arcos, eu
queria te contar. — Eu me lembrava, perfeitamente, do quão preocupado
ele parecia, sem razão alguma. Pelo jeito, existia uma. — O problema é
que eu não sabia como. Eu... eu tive medo de contar, e te perder —
assumiu. — Foi naquela noite, que eu comecei a perceber que talvez o
cuidado que eu tanto tinha com você, tivesse mudado. E eu nem havia
percebido.
— E então, tudo aconteceu...
— E então, a vida te tirou tudo — falou, e seu olhar se perdeu por
completo. Eu sabia, que por mais que ele dissesse algo assim, ele ainda
se culpava. — Foi quando eu pensei que o melhor era deixar como
estava, e que eu te contaria, na hora certa. E a hora certa... Nunca parecia
chegar.
— Se eu não tivesse te ouvido, com Odin, eu não saberia?
— A minha ideia romântica que não tem nada de romance, era nos
casarmos, e então eu te contar o que eu já tinha feito — confessou. —
Parece estúpido dito em voz alta, mas... mas era o que eu realmente
pretendia.
— Quando? — indaguei, suspirando fundo. — Quando o cuidado
se tornou algo mais?
— Quando eu simplesmente pedi as suas iniciais no meu corpo, e
percebi, pouco tempo depois, que não eram só elas que estavam cravadas
ali... — falou, e vi-o suspirar fundo. — Eu estava meio apavorado, com a
ideia de que me entendesse errado, e por ser oito anos mais velho e
termos crescido juntos... Foi uma luta de anos, até chegarmos exatamente
aqui.
— Lutou para aceitar o sentimento? — indaguei, e ele me
encarou, um sorriso fraco no rosto.
— Lutei para não deixar claro esse sentimento — admitiu. — Meu
maior medo era te perder para ele. Porque se você soubesse e não
sentisse o mesmo, ou preferisse se afastar, eu... eu não suportaria,
Malena.
— Eu nunca te abandonaria — fui honesta, e ele baixou a cabeça,
assentindo.
— E eu sempre fui medroso demais, quando se trata de você. —
Olhou-me novamente, e soltou o ar com força. — Quando fui visitar
Thor, para contar sobre o que aconteceu com Tyr, acabei conhecendo
Irina, e não sei em que momento da viagem de volta, em uma bebedeira
que tivemos, eu comecei a dizer que sentia sua falta, mais do que tudo, e
ela me perguntou se eu já tinha tentado te fazer ciúmes.
Franzi o cenho e não pude desfazer a careta.
— Parece horrível admitindo em voz alta, mas... mas para alguém
já sufocando há anos, parecia uma ótima ideia — assumiu. — Só que eu
desconsiderei o fato de que ela não tinha ideia do que somos, e que
mesmo que eu quisesse uma reação, não deveria chegar e dizer...
— Que estava apaixonado por ela — complementei, e ele
assentiu.
— No segundo em que te falei, quando vi como você reagiu,
soube que tinha feito algo muito errado. — Vi-o levar uma das mãos aos
cabelos e passar ali, nervoso. — Só que daí, do nada, os Romanov
apareceram e... Uma sucessão de mentiras que eu nem pensei, mas fui
fazendo, e acabamos exatamente aqui...
— Pensou que eu não me importava? — indaguei, e ele me
encarou. — Ao dizer que amava outra, e depois irmos a uma festa dos
pais dela, e você ir falar com ela a sós... Achou que eu realmente não
sentia nada?
— Eu já nem sabia o que pensar. — Olhou-me profundamente. —
Eu só queria uma chance, e não sabia o que fazer, e então... É
vergonhoso, para alguém que sabe começar e finalizar qualquer situação,
não conseguir colocar em palavras o que eu sinto, para quem eu
realmente me importo.
— Eu te amo desde os meus dezesseis... — falei, fugindo do seu
olhar, minhas mãos se cravando contra a toalha. — Neguei por muito
tempo, e até aceitar de fato... — soltei o ar com força. — Eu tinha me
preparado e planejado para me declarar no dia que chegou e disse que...
que estava apaixonado por outra.
— Ena...
— Acho que escolhemos o mesmo momento para tentar ver no
outro o que tínhamos em nós, e...
— Eu sinto muito — ele falou, e virei meu rosto, o encarando. —
Eu não sei o que me deu para achar que alguma mentira me ajudaria com
a mulher que eu amo. — Negou com a cabeça, rindo de forma sem graça.
— Pareço um adolescente fazendo merda atrás de merda... E não sabendo
como consertar.
— Não estou quebrada — admiti, e seu olhar voltou para o meu.
— Estou magoada e triste, porque não confiou em mim e me disse como
se sentia. Mas eu levei oito anos da minha vida para tentar me declarar
para você, não posso simplesmente te culpar por agir assim.
— Quer dizer que não me odeia? — indagou, um sorriso
esperançoso em seu rosto.
— Nem se eu tentasse muito — fui honesta. — Eu só... só não sei
como vamos seguir daqui — admiti. — Somos só nós há anos, uma vida,
e agora...
Calei-me, sem saber como me expressar.
— E agora sabemos que um quer tirar as roupas do outro —
complementou, eu bati contra seu braço, e ele riu alto. — Mas eu queria
te prometer algo, um juramento na verdade... — olhei-o com atenção,
enquanto sua expressão suavizava. — Não vou mais mentir sobre como
me sinto para você e sobre você, querida.
Assenti, enquanto ele me encarava, e o ar me faltou, ao perceber o
quão perto estávamos, e tudo o que tinha sido finalmente colocado em
panos limpos.
— Eu não vou mais esconder — falei, e ele sorriu abertamente.
Um sorriso que parecia ainda mais brilhante do que o sol que nos
cercava. Era algo que eu não podia evitar, admirar e ficar perplexa, com o
quanto ele conseguia me desestabilizar.
Senti seu braço passar ao redor do meu ombro, e ele me puxou
para si, com minha cabeça sobre seu peito, e o horizonte como nosso
presente. Meu coração estava tão acelerado, que eu não sabia como
estabilizá-lo novamente. A questão era que, agora, nós tínhamos nos
confessado. Porém, o que vinha depois?
O que acontecia, depois que você se declarava, abertamente, para
a pessoa que significava o seu lar?
— Querida.
— Sim?
— Eu posso... — ouvi-o respirar fundo, e levantei meu olhar, para
buscar o seu. — Eu posso te pedir em namoro? — indagou, fazendo-me
piscar algumas vezes, quase que incrédula. — Sabe, não sei fazer isso
direito, nunca fiz... Se tiver pena desse homem de trinta e um anos e...
— Loki... — cortei-o, e ele riu de lado.
— Eu não estou brincando sobre o pedido.
— Refaça, de um jeito bonito — pedi, batendo contra seu peito.
— Se eu fizer de um jeito bonito, vou acabar querendo colocar
uma aliança no seu dedo anelar esquerdo...
— A gente nem se beijou direito e você já tá pensando em
realmente fazer esse noivado acontecer?
— Não seja por isso.
Eu não sabia se minha boca tinha sido grande demais, por apenas
soltar aquela provocação, mas foi quando percebi, no segundo seguinte,
que realmente, não era tão esperta. Ou melhor, não estava preparada.
Uma de suas mãos puxou-me pelo pescoço, e seus lábios capturaram os
meus. O som de surpresa que saiu da minha boca, sendo engolido pela
dele.
Mal tinha aproveitado quando aconteceu pela primeira vez, mas
ali, eu me senti derreter por completo. Em algum momento, o meu corpo
apenas pairou sobre o dele, e suas mãos estavam queimando sobre o
tecido fino do meu pijama. Sua boca castigando a minha, como se para
lembrar que era dele.
E eu sabia que era.
Era muito antes mesmo de ele estar ali, tomando-a para si.
Um uivo fez com que eu sentisse seu sorriso contra minha boca, e
suas mãos pararam em minha cintura, apertando-a delicadamente, e
nossos olhos se encontraram. Eu puxei o ar com força, sem nem ter
percebido, quando o perdi.
— Se me disser que eu ainda não tirei a sua roupa em uma praia
e...
Pulei do seu colo, e me levantei, correndo em direção à praia.
— Um homem pode sonhar!
Ele gritou, enquanto eu ia para as ondas, e tentava me acalmar. A
verdade era que eu não estava preparada para aquela parte da história. Eu
pensei, que ela apenas tinha chegado ao fim, quando ele disse que amava
outra. Porém, talvez fosse apenas a venda do meu próprio medo e
conformismo.
Quando ele se levantou, e correu até mim, que já sentia as ondas
molharem meus pés, percebi o quanto seu olhar, dizia muito mais que
qualquer palavra. Ele me olhava como se eu fosse única. Ele me olhava
como se eu fosse, tudo o que ele precisava.
Pensei que fosse apenas minha mente inventando, mas agora eu
sabia, não era.
— Devia parar de iludir esse pobre homem — falou, assim que se
aproximou, e levou as mãos até minha cintura, trazendo-me para perto.
— Não estou fazendo nada, querido.
— Você tentaria até um santo, Malena.
Sua voz soou um tom abaixo e totalmente séria. Vi-me parando,
enquanto uma de suas mãos subia para acariciar meu rosto.
Não precisava de mais nenhuma palavra. Não quando, tudo o que
eu realmente precisava, estava comigo, segurando-me em seus braços, e
seus lábios a um fio de cabelo de distância dos meus. E ele os tomou
novamente, enquanto eu me agarrava a ele, como se minha vida
dependesse daquilo. E naquele momento, eu tinha certeza de que fosse o
que fosse, ela poderia depender.
Capítulo 35

Quando ele é a pior/melhor companhia...

LOKI
— Assim, só acho que eu poderia ir na sua mala, para o Egito... —
sugeri, jogado em sua cama, enquanto ela terminava de trocar as roupas
de sua mala, e vi-a revirar os olhos. — Estou dizendo, já que estou
abandonado aqui, sem nenhum trabalho e...
— Mafiosos deveriam ter trabalho em tempo integral, eu acho. —
rebateu, e eu fiz uma careta.
— Diz isso para O, que simplesmente não arruma nada, ou está
evitando...
— De novo sobre a seita que ainda segue Ymir?
— Não sei, mas agradeço ao próprio Loki por eles terem medo de
pisar na ilha do deus da mentira. — Levantei aos mãos aos céus. —
Sempre acho engraçado, o fato dos boatos que espalharam sobre Ior e
Fenrir...
— Eu adoro aumentar os fatos... — ela piscou um olho, e eu me
sentia, realmente, um adolescente, vendo-a ir de um lado para o outro, e
parecer um sonho.
— Eu acho que deveria ter ido com você ao Egito e evitado essa
separação...
— Ficamos cinco dias longe. — Parou e me encarou. — E se
fosse em qualquer momento antes desse, não teria dado certo. Eu estava
muito puta e muito magoada para pensar racionalmente.
— Se você diz... — levantei as mãos em sinal de rendição.
— Aliás, eu sei que andou tocando aqui no meu quarto... — falou,
indicando os porta-retratos sobre o tampo do piano, e eu apenas forcei
um sorriso. — O que estava fazendo aqui?
— Me deprimindo — assumi, e ela riu alto, jogando uma camiseta
em minha direção. — Eu só precisava estar onde você sempre estava, e aí... e aí fiquei
cantando músicas cafonas e tristes que você tanto adora.
— Não finja que não gosta também. — Apontou um dedo em
minha direção.
— São ótimas para sentir saudade e querer chorar — admiti, e ela
apenas me ignorou, olhando algo dentro da mala. — Aliás, você ficou me
devendo, de tocar a música sobre o cara... — foi então que eu parei, e
repensei sobre o que conversamos. — Espera aí! O cara que eu xinguei e
queria matar, era eu mesmo? — indaguei, e ela apenas parou, me encarou
e revirou os olhos. — Malena!
— Pensei que fosse sua querida? — provocou.
— Vai sentar sua bunda nesse piano e cantar a música que pensa
sobre mim...
— Isso é uma ordem, senhor Hansen? — debochou, e eu queria
fingir que não achava a coisa mais sexy do mundo, quando ela me
enfrentava daquela maneira.
O olhar afiado, a cor avermelhada tomando conta de seu pescoço e
rosto, a postura intocável... Ela não sabia o que me causava, nem de
perto.
— Com toda certeza — respondi, e ela negou com a cabeça. —
Querida, por favor.
Ela parou, me encarou, e soltou as roupas que segurava.
— Depois que eu tocar, vai me deixar terminar a mala em paz?
— Onde vai arrumar mais paz do que comigo, sendo um ótimo
futuro noivo com quem já é casada?
— Vou pedir o divórcio. — Apontou um dedo em minha direção,
e eu quase me sentei na cama, ficando perplexo.
— Não ousaria.
— Continue me tentando a querer chutar a sua bunda...
— Minha bunda é muito bonita para isso — falei, e ela me olhou
como se não suportasse mais nada que saísse da minha boca. — Aliás,
deveria ver ela, qualquer dia desses...
— Se fazer mais uma piadinha sobre você, ou eu, ou nós,
pelados... eu juro que vou pedir para Tyr te proibir de ir para o Egito!
— Não são piadinhas...
Minha voz mal saiu, e ela me encarou de forma séria, o que me
deixava ainda mais animado para atormentá-la. Adorava tirá-la daquela
pose, vê-la perdê-la por completo. E só conseguia imaginar, como nos
meus sonhos mais sujos, como seria, fazê-la se desmontar por inteiro.
— Então...
Sua voz me trouxe para a realidade, e pisquei algumas vezes,
vendo-a sentada à frente do piano, e suspirando fundo.
— Vai cantar a música sobre o cara mais gostoso que existe?
— O mais arrogante.
— E bonito?
— Na verdade, babaca.
— E inteligente?
— Está mais para insuportável.
— E seu para todo o sempre?
Ela deu uma risadinha, e desviou o olhar.
— Cretino.
— Acho que ainda adora isso em mim.
Ela apenas me enviou um olhar de “cale a boca ou eu vou parar” e
eu acatei, observando-a. Se existia algo que eu adorava na vida, era vê-la
tocar e cantar, e ainda mais agora, sabendo que seria sobre mim.
E aquele era um sonho que eu pensei que nunca se realizaria.
MALENA

— “Eu entendi
Eu entendi claramente
Os segundos e as horas
Talvez precisássemos de um tempo
Eu sei como isso vai
Eu sei como isso vai do errado para o certo
O silêncio e o barulho
Eles já se abraçaram apertado, assim como nós?
Alguma vez eles já brigaram, como nós?

Você e eu
Não queremos ser como eles
Podemos levar isso até o fim
Nada pode ficar entre
Você e eu
Nem mesmo os deuses lá em cima
Podem separar nós dois
Não, nada pode ficar entre
Você e eu
Oh, você e eu...”[3]

Eu o olhava, ainda com as mãos nas teclas, e antes que eu pudesse


continuar, apenas senti suas mãos em meu corpo, levantando-me, e
trazendo-me para si, olhando-me por cada canto do meu rosto, e o
encarei sem entender.
— Eu te amo — falou, e eu sabia que, de fato, como na música,
nem mesmo os deuses acima poderiam nos separar. Na realidade, lá no
fundo, eu sentia, que os deuses tinham escrito para que estivéssemos
exatamente ali. Com minhas pernas presas à sua cintura, uma de suas
mãos em minha cintura, e a outra em meu rosto. — Mesmo quando eu
não sabia o que era, eu já te amava... Sinto muito por ter demorado tanto.
Por ter quase estragado tudo, antes mesmo de...
Levei dois dedos à sua boca, o calando, e neguei com a cabeça.
Uma de minhas mãos presas em sua bochecha.
— Disse bem, quase... Nós dois quase estragamos tudo — admiti,
porque sabia, que nós dois acabamos errando no meio do caminho. —
Não vamos mais fazer isso, nem casar o outro sem ele saber...
Ele sorriu de lado.
— Querida, saiba que quando se casar comigo novamente, você
terá que dizer “sim” primeiro — provocou, mesmo que fosse totalmente
honesto.
— Eu ainda posso dizer “não” — provoquei-o de volta, e ele
sorriu.
— Acho que preciso te dar motivos para não ter essa reposta.
E então, seus lábios tomaram os meus, e nada fazia mais sentido
do que estar ali, tendo-o como meu. E finalmente, me sentindo sua.
Capítulo 36

Quando ele se torna seu...

LOKI
— E se eu ligar para Tyr e disser que você precisa de mais alguns
dias de folga...
— Loki...
— Pode ser para que eu me prepare para ir junto e...
Ela suspirou fundo, batendo contra a minha mão que iria direto
para o molho que ela estava fazendo.
— Por que quer tanto ficar grudado em mim nesse castelo? —
perguntou, parecendo concentrada na comida.
Enquanto eu, fiquei atrás dela, apenas parado, e sentindo seu
cheiro de rosas. Se existia um cheiro melhor do que aquele, eu
desconhecia.
— Eu tenho algumas ideias, mas...
— Ideias que não envolvem roupas? — indagou, olhando-me de
canto de olho e eu assenti. — Por que não estou surpresa?
— Eu ia dizer para nadarmos na praia — falei, dando passos para
o lado e me encostando no balcão, cruzando os braços, e ela me encarou,
como se duvidando por completo. Bom, ela me conhecia melhor do que
ninguém. — Quais seriam as suas ideias?
— Honestamente?
Assenti, enquanto ela ia até a geladeira, tirava uma garrafa de água
e voltava para perto. Ela me entregou a lata, e eu a abri, dando-lhe de
volta. Bebeu um longo gole da água com gás, e a deixou sobre a bancada,
ainda encarando o molho.
— Faz muito tempo — admitiu de repente, e fiquei confuso. —
Eu imaginei muitos cenários diferentes, de como seria a primeira vez que
estivesse com você...
— Então quer dizer que também me imaginou nu? — indaguei, e
ela pegou o pano que estava no seu ombro e bateu em meus braços. —
Não pude evitar, desculpe. — Ela sorriu, e assentiu.
— E eu não sou uma virgem medrosa, mas... Não é como um caso
de uma noite que eu nunca mais vou ver a cara da pessoa.
Eu apenas arregalei os olhos, me segurei contra a bancada, e
pensei que iria desfalecer ali mesmo.
Ela riu alto e eu tentei começar a respirar fundo, contando o tempo
entre uma e outra.
— Pensou que eu era virgem?
— Não sei o que pensei, só sei que estou imaginando outras
pessoas com as mãos em você e... — soltei o ar com força e minhas mãos
se cerraram de imediato. — Não acho que devo perguntar nomes, mas se
os disser, não me responsabilizo pelo que farei.
— Vai me dar a lista das mulheres que já fodeu?
Rebateu, e eu sabia que ela, era a única que conseguiria lidar
comigo daquela forma, de igual para igual, sem medo algum de me
contrariar.
E porra, ela ficava um pecado daquela maneira.
Os cabelos ruivos presos no alto da cabeça, com uma faixa que
deveria segurar a sua franja, mas ela já despontava em sua testa, e os
olhos castanhos ferozes, prontos para me humilharem.
Eu adorava ser masoquista por conta dela.
— Quem disse que eu não sou virgem? — rebati, e ela revirou os
olhos, parecendo apenas querer me ignorar. — Queria poder dizer que
sou, todo romântico e cafona, mas... Sinto muito, querida.
— Penso pelo lado positivo, de que vai saber me dar prazer... —
rebateu, e eu estava perplexo com sua boca esperta.
Ela sempre conseguia me surpreender.
— E eu devo saber uma ou duas coisinhas, não muito elaboradas.
Suspirei fundo, e apenas tentei não a olhar. Porque se o fizesse, eu
apenas perderia a cabeça de vez.
— Continuando sobre estar insegura... — falei, tentando voltar ao
nosso foco.
— Bom, é isso, faz bastante tempo e... e eu não sei, eu só... como
que eu faço isso? Simplesmente pulo sobre o cara que sempre quis e peço
para ele me foder?
Arregalei os olhos, e percebi que por mais provocante que soava,
era uma pergunta totalmente honesta e inocente. O que tornava a situação
ainda mais tentadora.
Fui até ela, fiquei às suas costas, e desliguei o fogo. Ela se virou e
me encarou, como se sem entender.
— Me peça e eu farei, querida.
— Mas...
— Tudo o que você tem que fazer é me pedir — falei, levando
uma das mãos ao seu rosto e tocando com cuidado. — Nada além disso.
— Não devia me falar isso.
— Por quê? — perguntei, sentindo suas mãos em minha cintura, e
sua respiração mudar.
— Porque me faz pensar que posso realmente só pular em você e
te beijar, quando quiser.
— Mas você pode. — Olhei-a profundamente. — Eu sou todo seu.
E então, me surpreendendo ainda mais, ela levou as mãos ao meu
pescoço, e sua boca exigiu a minha. Segurei-a firme contra mim, e no
momento seguinte, já a prensei contra a geladeira, engolindo o gemido
que saiu de sua boca.
E a cada passo que eu dava, em direção ao meu quarto, que eu
tanto sonhei que fosse nosso, uma peça de roupa dela desaparecia, assim
como minha. Uma bagunça de risadas, beijos, lambidas, unhas, e
gemidos, por toda a escada, até finalmente chegar no quarto.
E era tudo o que eu precisava, dela totalmente nua sobre a minha
cama, para que eu pudesse adorar, como a verdadeira perfeição que ela
era.

MALENA
— Eu não vou quebrar — falei, sentindo sua boca descer, para
onde eu mais precisava, ouvi-o suspirar fundo, e o seu hálito quente, me
fez quase desmanchar ali mesmo. — Loki...
— Eu vou matar, quem quer que seja, que te viu assim... — sua
voz soou séria, e uma de suas mãos subiu perigosamente para minha
barriga e parou sobre meu seio, apertando-o levemente no começo. —
Me diga, querida... Quem?
— Não vamos falar sobre suicídio nesse momento...
Minha voz mal saiu, quando sua mão apertou com força meu seio,
e sua língua me castigou, fazendo-me gemer alto. Sequer conseguia
entender o que ele dizia, ou se dizia algo. A minha mente perdida em
qualquer lugar, diferente de tudo que ela já tivesse imaginado. Minhas
mãos se prenderam aos lençóis, enquanto tentava evitar que minhas
pernas se fechassem tanto em sua cabeça.
Ele então parou e me encarou, e era como se o próprio diabo
estivesse ali, para me tentar. Na verdade, um próprio deus.
— Me sufoque, querida.
Era uma ordem.
E eu não iria descumpri-la.
Sua boca se voltou para mim, e eu não me segurei mais. Uma de
suas mãos prendendo meus seios, e a outra em meu quadril, não me
deixando escapatória. Não podia dizer, nem quanto tempo fiquei ali, mas
sabia que cada maldito milésimo foi totalmente presa em uma nuvem de
prazer, que eu nunca imaginei ser possível.
Nem nos meus melhores sonhos.
Quando gritei seu nome, e senti todo meu corpo ceder, senti sua
boca prolongar ainda mais meu prazer, deixando-me extremamente
sensível, a ponto de que quando subiu sobre meu corpo, e seus lábios
chegaram aos meus, eu sequer conseguia beijá-lo de volta.
— Porra... — reclamei contra os seus lábios, e ele sorriu, dando-
me um leve beijo. — Não devia ter feito isso.
— Por quê? — indagou, seu corpo todo sobre o meu, deixando-me
inebriada, enquanto a nuvem de prazer se dissipava, e eu o encarava.
Os olhos dilatados e presos aos meus, claramente, necessitados
por mais. E era exatamente o que eu também queria.
— Porque vou querer todos os dias — confessei, e sua boca
engoliu parte das minhas palavras, fazendo-me sentir meu próprio gosto,
enquanto ele se virava na cama, e me colocava acima de si.
— Não devia ter me dito que já existiram outros antes de mim...
— Loki...
Sua boca chegou aos meus seios, conforme suas mãos desceram
para minha bunda, e eu já nem sabia como se respirava.
— Porque agora, todos os dias e noites, eu vou te fazer esquecer o
próprio nome e só lembrar o meu...
Sua boca tomou a minha, enquanto eu levantei meu quadril, e o
senti se encaixar em mim. Ele me encarou, antes de qualquer outro
movimento. Seu olhar em uma pergunta silenciosa, se deveria ou não
continuar.
— E eu vou te fazer lembrar somente do meu nome, querido.
Foi quando eu desci sobre ele, aos poucos, acostumando-me com
seu tamanho, fechei os olhos com força, e senti o momento que seus
dedos puxaram os fios do meu cabelo, fazendo-me encará-lo.
Levei as mãos até seu peito, cravando-as ali, enquanto encarava as
minhas iniciais em seu corpo, e agora sabia, que todo ele, estaria sempre,
cravado no meu.
— Olhos nos meus...
Exigiu, e então o encarei, me movendo pela primeira vez, e quase
os fechei novamente, tamanho o prazer que me atingia. Sua boca buscou
a minha, e ele quase se sentou na cama, dando um novo ângulo, que me
permitiu sentir ainda mais de si, minhas coxas arderam pela força, e ele
então segurou com firmeza minha bunda e quadril, tomando todo o
controle.
— Peguei você, querida. — Sua boca engoliu meu gemido,
chamando seu nome.
E eu não sabia mais se realmente gemia ou se estava gritando, mas
em algum momento, apenas senti a pele dele se desfazer sob minhas
unhas, e suas palavras sujas fazendo-me fechar os olhos, enquanto ele me
punia ao não permitir que parasse de o encarar.
Algo na maneira como ele se movia, no seu cheiro, na sua voz...
Tudo nele, me fazendo esquecer completamente como eu era ou o que eu
era, antes daquele momento. Só importava, o agora. Só importava, o
prazer que eu sentia. Totalmente envolta por ele. Totalmente cheia dele.
Totalmente e apenas dele.
E eu sabia, que não importava onde eu estivesse, ainda iria querer
que me tomasse novamente. E eu o tomaria, para ser apenas meu.
Capítulo 37

Quando ele sabe que é a hora certa...

LOKI
Eu ainda precisava fazer algo, antes que ela precisasse voltar ao
trabalho, e mesmo que eu a acompanhasse, tinha certeza de que não
existia lugar no mundo que seria melhor do que aquele.
Vi-me caminhando em direção aos arcos de flores novos, que
estavam todos espalhados ao redor da lápide, e me agachei ali. Sentia Ior
me acompanhar, mas ela tinha parado há alguns metros, enquanto eu lia
os nomes da mãe e irmão de Malena.
— Eu queria tanto fazer isso da forma certa — assumi, e suspirei
fundo. — Eu queria tanto, que estivessem aqui... Talvez, só talvez, eu e
Malena não tivéssemos sido tão lerdos em perceber o que acontecia
conosco... A senhora sempre foi mais inteligente de todos, e Sven, meu
amigo... você sempre parecia ver além, como se soubesse que eu iria,
realmente, cuidar dela para sempre. — Suspirei fundo, e senti uma
lágrima descer por meu rosto. — Isso é algo que prometi aos céus e
deuses, há muito tempo... — admiti. — Mas é diferente agora, porque eu
quero que seja para sempre, a maneira como ela é minha e eu sou dela...
— suspirei fundo. — Eu gostaria de ter conhecido o pai dela, para poder
pedir a ele, e a vocês, todos juntos, a honra de pedi-la em casamento... —
outra lágrima desceu. — Vocês perderam tanto por conta dos Hansen, da
máfia... E o mais inesperado disso, é que Malena nunca perdeu o seu
brilho. O brilho que existia em vocês, e eu espero, se eu tiver a sorte de
ela querer, que possa ter nos nossos filhos... Senhor e Senhora Dahl,
Sven... — falei, e suspirei fundo. — Eu não tenho como solicitar sua
permissão para a honra de pedir Malena em casamento, mas eu...
Foi quando apenas senti um toque em minha pele, e me virei, para
perceber Ior fazendo o que só me recordava, de ela ter feito, logo após
eles terem falecido. Ela se enrolou em meu braço, e deixou sua cabeça
sobre minha mão, a que estava direcionada à lápide.
Paralisei por um instante, e outras lágrimas descerem.
— Eu posso ser maluco, mas vou entender como um sim — falei,
e não demorou para Ior simplesmente se desenrolar e se afastar
novamente. — Obrigado por isso. Obrigado por... por tudo. — Soltei o ar
com força. — Prometo que vou me dedicar mais a fazer arranjos e arcos
tão bonitos como os de Malena — complementei. — Ou pelo menos,
ajudá-la a fazê-los.
Dei um passo atrás e me ajoelhei, baixando minha cabeça, em
homenagem a cada um deles. Nunca seria o suficiente para o quanto eles
significavam, para o quanto, uma vida sempre o faria. Contudo, eu faria o
meu melhor, para que a vida que eles deixaram, fosse feliz. Para que ela,
o fosse.

MALENA
Acordei me sentindo cansada. Mexi meu corpo, e senti-o
totalmente dolorido, mas um sorriso se abriu em meu rosto. Era o melhor
acordar dos últimos tempos. Procurei pelo corpo de Loki, do outro lado
da cama, mas o que encontrei, foi simplesmente, a bagunça dos lençóis.
Forcei-me a sentar, e olhar ao meu redor, procurando por ele.
Levantei-me, pegando sua regata preta que ficou como um vestido
decotado dos lados, e senti meu rosto queimar, ao chegar na beira da
escadaria, e ver que minha calcinha estava jogada em um dos degraus.
Desci-os, e peguei a peça, colocando-a, e repassando em minha
mente, o quanto tinha sido especial, adorável e... e incomparável estar
com ele. De todos os meus pensamentos, dos sonhos molhados à noite,
aos sonhos acordada somente o admirando, nada se comparava. Olhei ao
redor e não o encontrei, e rumei até a cozinha, para pegar uma água.
Tomei-a sem pressa e fiquei me indagando, sobre onde ele deveria
ter se enfiado. Ouvi o barulho na porta da frente, saí do cômodo, e o
encontrei, adentrando o castelo, com uma rosa vermelha em mãos. Não
entendi de imediato, mas logo seu olhar parou no meu, e um sorriso se
abriu no seu rosto.
Ele veio até mim, já todo de preto, eu uma camisa e calça sociais
em contraste com seus pés agora descalços, e eu só pude admirar cada
músculo, que agora eu tinha visto por completo, e cada tatuagem, que
agora eu queria, mais do que nunca, decorar com a minha língua.
— Oi, querida.
Sua boca veio para a minha, em um leve beijo, e eu poderia jurar,
que ia me jogar sobre aquele homem de novo. Contudo, senti no jeito que
me abraçou e deu um leve beijo em meus cabelos, que ele estava
hesitante.
— O que foi?
Senti seu sorriso contra minha cabeça.
— Fascinante a maneira como eu consegui esconder que te amava
por todo esse tempo, mas não consigo disfarçar meu nervosismo...
Ele me encarou e deu outro beijo em meus lábios.
— Isso é para você.
Mostrou-me a rosa, e eu sabia que não a tinha tirado do meu
jardim, e fiquei curiosa, sobre onde teria a conseguido.
— Plantei uma roseira, em um lugar escondido no meio da
floresta, e os deuses resolveram me abençoar que desse certo... —
confessou, como se lendo a pergunta em minha mente. — Incrível como
não enxerguei que me amava, mas sei exatamente o que está causando
esse ponto de interrogação na sua testa... — brincou e tocou com dois
dedos bem ali.
— Então...
Tentei pegar a rosa, mas ele negou, afastando-se. Não entendi, e
então o segui. Ele deixou a rosa sobre o piano, e sentou-se à frente do
dele, o que me fez ficar ainda mais curiosa.
— Eu nunca toquei essa música antes, não para você... — admitiu.
— Acho que porque, ela diria mais do que qualquer outra, como eu me
sentia. — Apenas fiquei de pé, próxima a ele, sem saber o que pensar. —
Acho que deixaria claro, as pequenas coisas que eu sinto, antes mesmo
de eu confessar...
E eu sabia.
Sabia exatamente a música que ele ia cantar.
O que me remeteu a vez que lhe disse, quando fomos ao show dos
cantores dela, que era minha favorita, e que eu sonhava, que o homem
que me amasse e eu o fizesse, pensasse em mim, sempre que ela tocava.
— “Sua mão se encaixa na minha
Como se tivesse sido feita só para mim
Mas coloque isso na cabeça
Era para ser assim
E estou ligando os pontos
Com as sardas em sua bochecha
E tudo faz sentido para mim

Eu sei que você nunca amou


As rugas nos seus olhos quando você sorri
Você nunca amou
Sua barriga ou suas coxas
As covinhas nas suas costas
Na base da sua espinha
Mas eu as amarei infinitamente
Não vou deixar essas pequenas coisas
Saírem da minha boca
Mas se eu deixar
É você
Oh, é você
Eles somam que
Eu estou apaixonado por você
E todas essas pequenas coisas

Você não pode ir para a cama


Sem uma xícara de chá
E talvez essa seja a razão
De você falar dormindo
E todas essas conversas
São os segredos que guardo
Apesar de não fazerem sentido para mim

Sei que você nunca amou


O som da sua voz na gravação
Você nunca quer saber o quanto você pesa
Você ainda tem que se espremer nos seus jeans
Mas você é perfeita para mim

Não vou deixar essas pequenas coisas


Saírem da minha boca
Mas se for verdade
É você
É você
Eles somam que
Eu estou apaixonado por você
E todas essas pequenas coisas

Você nunca irá se amar


Metade do tanto que eu te amo
Você nunca irá se tratar bem, querida
Mas quero que você faça isso
Se eu lhe disser que estou aqui para você
Talvez você se ame como eu amo você
Oh
Oh

E eu acabei de deixar essas pequenas coisas


Saírem da minha boca
Porque é você
Oh, é você
É você
Eles somam que
E eu estou apaixonado por você
E todas essas pequenas coisas

Não vou deixar essas pequenas coisas


Saírem da minha boca
Mas se for verdade
É você
É você
Eles somam que
Eu estou apaixonado por você
E todas as suas pequenas coisas...”[4]
Eu já estava chorando.
Sem saber como reagir a tudo aquilo. Ele me encarou, totalmente
nervoso, pegou a rosa em mãos, e caiu sobre um joelho à minha frente. E
pela primeira vez na vida, eu sabia que aquilo não era uma reverência ou
saudação.
— Eu comprei isso, quando eu percebi que te amava, e queria
fazer da forma certa... — falou, e então tirou uma pequena caixinha do
bolso da calça, e eu levei as mãos à boca, perplexa. — Se tivesse mexido
mais no meu closet, querida, teria encontrado essa aliança...
— Loki...
— Eu nunca pensei em ser algo além do que esperam de mim... —
assumiu, e seus olhos pararam nos meus. — Mas você nunca esperou
nada, e sempre entregou absolutamente tudo... e o que eu quero, é te
entregar, absolutamente tudo de mim também. — Eu prendi uma
respiração. — Malena, Ena, querida... — ele sorriu, da forma mais linda
que já vi. — Você quer se casar comigo?
— Não — falei, sem poder evitar, em um sussurro, mas logo sorri,
pulando sobre ele e o abraçando. — É claro que sim, querido.
Ele riu, caindo comigo para trás, e me abraçando com força.
Seus lábios encontraram os meus, assim como minhas lágrimas,
em meio ao sorriso que se abriu em meu rosto, e no dele. Foi quando
senti a aliança sendo deslizada pelo meu dedo anelar direito, parei para
encará-la, e vi que era cheia de pequenos diamantes, que formavam uma
serpente, assim como, uma runa de lobo, e eu fiquei encantada.
— A culpa é deles, de estarmos aqui... — falou, e eu assenti,
dando-lhe outro beijo. — Fico tão feliz que já nos economizei em gastar
com a papelada do casamento...
Sua provocação me fez bater contra o seu peito, e como sempre,
eu sabia que não existia lugar no mundo que eu gostaria de estar, que não
fosse exatamente ali.
— Eu já disse o quanto te odeio?
— Eu também te amo, muito — rebateu, e me puxou para os seus
braços, fazendo-me rir, enquanto sua boca buscava a minha.
Era tudo o que eu precisava, sempre.
Capítulo 38

Quando o “sim” significa para sempre...

MALENA
Eu estava olhando para o anel em meu dedo anelar direito,
totalmente desacreditada. A verdade era que quando resolvi voltar para
resolver o que tinha acontecido, em hipótese alguma, nem no mais
romântico da minha mente, eu estaria ali, daquela forma, com ele.
Senti beijos subirem por minhas costas, suas mãos a tocaram por
cada centímetro, e suspirei fundo. Ele parou para dar um longo beijo em
meu pescoço, e então me fez virar e beijou meus lábios.
— Acho que agora, vou conseguir dormir um pouco. — falou,
jogando-se ao meu lado, e eu sorri para ele.
— Não dormiu nada nos últimos dias, não é?
— Eu tentei, mas nem a bebida ajudou muito — admitiu. — E
quando pensei em beber ainda mais, a sua voz estava na minha cabeça.
— Gosto de saber que te coloco na linha mesmo de longe.
Ele beliscou meu quadril e eu dei uma risada.
— Mas eu acho que preciso ficar atento a essa cena, da mulher
que eu amo, admirando o anel que eu tanto pensei para ela, por anos... —
falou, em seu tom arrogante e eu revirei os olhos, enquanto ele puxou
minha mão e deu um leve beijo bem ali. — Não sabia que tinha como
ficar ainda mais linda — confessou, e eu senti todo meu rosto esquentar.
Como sempre, eu nunca estava preparada para receber elogios.
Ainda mais, estando nua, envolta em apenas um lençol, e com seus olhos
atentos em cada parte de mim.
— Eu sempre te achei bonito demais para a realidade... — admiti,
e ele me encarou, um sorriso se abrindo no canto da boca. — Mas daí eu
lembrava e ainda me lembro do seu ego, e é melhor não falar.
— Querida, eu tenho motivos para me gabar. — Revirei os olhos.
— Ainda mais agora, com a mulher mais linda do mundo como minha
noiva...
— Vai me usar para o seu ego também? — provoquei, e ele
apenas levantou as mãos, como se pedindo por rendição. — Acho bom...
— Você me usou como mentira para a noiva de Tyr — rebateu.
Não pude evitar rir alto.
— Não sei como aceitou continuar esse serviço.
— Não é a primeira vez que alguém me chama de puta — falei o
óbvio. — Ela, eu até relevei, porque parecia que precisava me atacar. Tá
na cara que não confia em ninguém.
— Não é motivo para o xingamento.
— Sabe que muitas pessoas já me chamaram assim só por ser a
única que mora aqui com você, não? — rebati, e ele apertou os olhos,
como se surpreso. — Acho que eu não devia ter contado.
— Ena...
— É um fato. — Dei de ombros. — Eu escuto alguns sussurros
quando estou nas outras ilhas... Quando descobrirem que engravidei, as
mesmas pessoas que me chamavam de puta, vão dizer que dei o golpe da
barriga.
— Astrid, é a minha amiga mais próxima e vive na ilha do Baldur,
acho que já falei sobre ela... — continuei, e ele assentiu. — Lá é a ilha
mais unida e menos fofoqueira que eu já vi, e mesmo assim, chegou até
eles que eu devo ser capaz de tudo para usar Loki Hansen.
— Como se alguém pudesse me usar — rebateu, e pareceu
totalmente incrédulo. — Claro que você pode, apenas você... Mas isso
não interessa a ninguém.
— Bom, não posso obrigar as pessoas que gostam de passar o
tempo me chamando de puta ou interesseira, a não pensarem isso... —
dei de ombros. — Eu realmente não me importo.
— Por que nunca me disse?
— Porque não faz diferença, não para mim — admiti. — Só estou
dizendo, para te poupar de ficar preocupado com isso.
— Eu acho que se quiser me dar o golpe da barriga, eu aceito.
— Loki...
Ele sorriu de lado, e eu não pude evitar um suspiro, e lhe dar um
leve beijo na boca.
— Já que vão falar, podemos dar argumentos reais.
— Está dizendo que quer me engravidar? — rebati, e ele negou
com a cabeça.
— Estou dizendo que você quer engravidar sem que eu saiba. —
Piscou um olho, e eu revirei os meus. — Mas sério, já pensou que
podemos ter minis você correndo por esse castelo? — indagou sério, o
seu tom mudando, e parecendo realmente ver a cena.
— O meu maior sonho, que você nunca soube.
Ele arregalou os olhos e de repente sorriu, como se tivesse
ganhado um sorteio.
— Era isso? Que você sempre pedia quando soprava as velas?
Eu sorri, assentindo, e então me lembrando de cada aniversário
após a morte da minha família. Estar sozinha no mundo, me trouxe a
necessidade de não querer que o legado deles, morresse comigo. Eu
queria, que o legado fosse eterno. Até mesmo, para os anos contados
humanos.
— Cada vela, eu soprei e pedi, para que eu pudesse continuar o
legado da minha família — admiti, e sorri para ele. — Não sei com
quantos anos, mas eu pretendo, sim, ter filhos.
— Querida, se me quiser na linhagem da sua família, estou à
disposição — falou, de forma terna, mas ainda provocante.
— Vou pensar sobre isso, quem sabe...
Ele sorriu, e deu um leve beijo em meus lábios.
— Por que eu acho que preciso começar a mudar os quartos de
hóspedes para de bebês?
— Loki, eu tomo anticoncepcional e não estou grávida agora.
— Mas eu posso me preparar, para daqui a quantos anos forem...
— admitiu. — Eu sempre tento estar à frente do momento.
— Não pense em registrar um filho nosso antes mesmo de ele
nascer. — Apontei um dedo para o seu peito e ele sorriu.
— Não que isso seja impossível para um Hansen, mas eu não
pretendo.
— Acho bom.
Deitei-me novamente, jogada contra o pé da sua cama, enquanto
ele se acomodava entre os travesseiros.
— Eu vou dormir, mas... Quando eu acordar, vamos trazer todas
as suas roupas para cá, assim como, pode redecorar esse quarto inteiro —
assumiu. — Ou se quiser, eu levo as minhas roupas para o seu.
— Querido?
— Sim? — ele perguntou, a voz já meio baixa.
— Apenas descanse e não pense tanto.
— Não consigo não pensar tanto quando se trata de você, querida.
— Só durma e lembre que eu te amo, ok?
Eu sabia que ele estava sorrindo, sem precisar olhá-lo.
— Eu também te amo, muito...
Senti-o se mexer na cama, e fiquei em silêncio, enquanto ouvia
sua respiração se tornar controlada, e de repente, olhei de lado, e vi que
ele tinha dormido.
Deixei-me naquela mesma posição por um tempo, sem querer
acordá-lo, e acabar por estragar um sono bom que ele não tinha há dias, e
aproveitei para admirá-lo.
Sorri sozinha, sabendo que aquele era realmente o rosto que eu
via, no pai dos meus filhos, e nas minis misturas minhas com ele, que
podia imaginar, correndo por todo aquele lugar.
Capítulo 39

Quando eles são sua própria família...

MALENA
Desci as escadas em direção ao lado de fora, e já era quase
madrugada do outro dia. Foi quando me lembrei de que não passei meu
tempo com as criaturinhas mais especiais da minha vida.
Finalmente usando um dos meus vestidos, coloquei as botas, e ia
chamar por Fenrir, que não demoraria a vir junto com Ior, já que sempre
estavam juntos. Porém, no segundo que abri a porta da frente, encontrei o
grande lobo dormindo ali, e Ior enrolada à frente dele.
— Desculpem não ter dado atenção e nem oi — falei baixinho, e
me sentei no chão, olhando para os dois. — Mas obrigada por cuidarem
de Loki por mim, nesses dias.
Fiz um leve carinho na cabeça de Fenrir, que mal se mexia, e
então levei a mão a Ior, que com o toque mais leve, já parecia desperta.
— Pode dormir, pequena — falei, com todo meu carinho. — Só
queria ver vocês.
Era estranha a forma como eu sempre me senti ligada a eles.
Como se fossem uma parte de mim, que eu tivesse perdido e então
reencontrado, aos quatro anos de idade. Vinte anos depois, nada parecia
explicar, o fato de que os dois ainda estavam vivos, e eu sentia que podia
contar com cada um, pelo resto dos meus dias.
Talvez fosse a magia daquele lugar. Talvez fosse a crença de uma
mulher de fé em seus deuses.
Vi-me me aconchegando aos pelos de Fenrir e sua barriga, e me
deitando ali. Como fazíamos quando ainda éramos pequenos, e
ficávamos nós três, apenas encarando o céu, em um dia quente. Ou até
mesmo, quando estava muito frio, e eles finalmente aceitavam entrar no
castelo, e fazíamos o mesmo.
Loki estava em vários desses momentos, mas a verdade era que
ele sempre parecia com medo de machucar Fenrir, e então se deitava em
algum lugar vazio, Ior se enrolava no braço dele, e todos parecíamos
felizes. Nós quatro éramos. E conseguia imaginar, como seria, se
tivéssemos mais de nós, para conhecê-los.
— Já pararam para pensar que podem ter outros mini-humanos
para vocês criarem e suportarem? — indaguei, bocejando e me
aconchegando aos pelos dele. — E claro, te pregarem peças...
Fenrir deu um uivo fraco, e apenas senti Ior se aproximar um
pouco de mim, e se enrolar toda ao meu lado, com suas escamas em
contato com um dos meus braços.
— Acho que vão gostar.
Fechei os olhos e pensei em ficar ali por um tempo. Era o meu lar.
Os dois eram. E eu sabia, que parte dele, também estava ali, no andar
mais alto do castelo. Contudo, enquanto eu pensava sobre isso, meus
pensamentos foram se acalmando, e o cansaço me bateu.
Eu sabia que ali, eu estava segura.

LOKI
— Eu acordo ele...
Pensei ter ouvido a voz de Freya, mas ela estava do outro lado do
planeta, e não vinha à minha ilha desde que tivemos nosso maior
desentendimento.
— Sejam razoáveis.
Ouvi a voz de Hella, e pisquei algumas vezes. Quando abri apenas
uma faixa dos olhos, percebi que o sonho parecia real, até demais.
— Acordarem ele, felizes?
Vidar?
Por que Vidar estaria no meu quarto?
Ele já tinha estado ali antes?
— Calem a boca, pelo amor dos deuses!
A voz de Odin soou, eu abri totalmente os olhos, e percebi que
não estava sonhando. Meu olhar parou no canto do quarto, onde Thor
estava, encostado contra a madeira da porta, claramente entediado, e Tyr,
parado ao lado de Hella, com um sorrisinho na cara.
— Reunião no meu quarto? Quem convidou?
— É bom te ver, imbecil.
Sorri, e fui puxar Freya para um abraço, mas ela pulou para trás.
— Não vai me tocar depois que vi o caminho de roupas até o
quarto.
Fiz uma careta e olhei para o lugar vazio na cama, onde Malena
deveria estar.
Joguei os edredons longe, e mostrei que estava de calça de
moletom, preta, e Freya pareceu menos sem graça.
— Isso já faz um tempo, se quer saber — assumi, levantando-me,
e não entendendo porque todos os meus irmãos estavam ali. — É meu
aniversário, por acaso?
— Eu pedi a Hella para vir comigo, e o resto, encontrei na praia...
— Eu sabia que elas viriam, e Thor me trouxe — Odin se
manifestou.
— Vidar?
— Eu estava no barco e resolvi aparecer.
— Tyr?
— Vim tentar convencer Malena a voltar a fazer o vestido —
assumiu.
— Ótimo, todos e seus próprios propósitos — admiti, e agradeci
ao universo, pelo meu quarto ser tão grande, que os comportava ali. —
Agora, podem todos ir embora — falei, e olhei direto para FREYA. —
Menos F e H.
— Antes de ir, pode me dizer por que Malena está dormindo com
Fenrir e Iormungander, na porta do castelo?
Sorri, surpreso com aquilo.
— Eles estão mesmo?
— Por que não parece surpreso? — Tyr quem perguntou, como se
assustado.
Era engraçado o fato de que ele tinha medo de Fenrir, talvez pelas
próprias escrituras, de que o deus Tyr perdeu um braço para o gigante
Fenrir. Quem podia culpá-lo por ter medo da história do nossos próprios
deuses?
— Porque não é a primeira vez que fazem isso.
Passei por eles, e segui pelas escadas, notando a bagunça de
nossas roupas pelos degraus. Sorri sozinho, lembrando-me de como
poderíamos ficar apenas ali e perder nossa mente, coração, corpo e alma
um para o outro.
Quando cheguei próximo à porta do castelo, olhei com todo meu
carinho e amor, para o que mais me importava no mundo. Os três
estavam juntos, dormindo, e o mundo poderia acabar, se eu estivesse ali,
com eles.
— Ele nunca olhou para gente desse jeito...
Freya reclamou, eu me virei para ela e corri em sua direção.
Ciumenta como sempre. Consegui pegá-la no caminho, e a joguei para
cima. Ela sempre seria minha caçula, e nunca pararia de me encher, e eu
de provocá-la.
— Mas o que...
A voz de Malena passou pelo ambiente, enquanto eu tinha Freya
jogada nas costas, e ela batia para tentar se soltar.
— Ei, querida.
— Senhores e senhoras Hansen — ela falou, e vi seu rosto e colo
se tornarem um tomate. Ela fez uma reverência, e eu larguei Freya sobre
Thor, que a segurou para que não caísse, e reclamou, como sempre.
— Só eu estou vendo a aliança no dedo anelar direito dela? —
Freya perguntou com um gritinho, e eu ri, enquanto enlaçava a cintura da
mulher que eu amava.
Malena se escondeu no meu peito, como se não conseguisse dizer
nada, e apenas levantou o dedo, mostrando a aliança.
— Diga que tivemos um pedido...
— Sim — ela respondeu, se virando para Hella, e sorrindo para
ela. — E vamos nos casar de verdade, dessa vez... — deu um leve tapa
no meu peito, e os encarou. — Com meu consentimento.
— Parabéns?
Vidar arriscou, e a gargalhada foi geral, enquanto eu dava um leve
beijo nos cabelos de Malena.
Foi então que Odin deu um passo à frente, e então todos somente
pararam, o encarando.
— Bem-vinda, novamente, a essa família, Malena.
— Obrigada, senhor... — ela falou e sorriu. — Odin — corrigiu-
se.
— Posso já levar a minha estilista para o Egito?
Tyr se intrometeu, e o uivo baixo de Fenrir o fez se assustar de
imediato.
— Que tal apenas comemorarmos o fato de que eu estou noivo do
amor da minha vida?
Virei-me para Malena, que tinha os olhos marejados e um sorriso
no rosto. E eu sabia, que ela se sentia da mesma forma. E estando ali, só
conseguia pensar, na sorte que eu tinha.
Mesmo não merecendo, eu tinha aquela sorte.
A de ter o amor, na pessoa que era minha companheira para toda a
vida. E esperava que fosse, para toda a eternidade.
Surpreendendo-me, ela se separou de mim, e deu um sorriso sem
graça.
— Gostaria de pedir desculpa, por ter arremessado aquele copo
perto do senhor, quer dizer, Odin. — ela falou, e eu sequer lembrava
daquilo.
E um dos casos mais raros aconteceu, Odin abriu um sorriso, de
verdade, deixando todos atônitos.
— E eu não recebo um pedido de desculpas?
— Você mereceu. — ela respondeu, voltando para os meus braços,
e eu sorri.
Eu merecia, era um fato.
Eu não a merecia, outro fato.
Contudo, passaria o resto dos meus dias, assim como o fazia,
desde os meus doze anos, tentando merecê-la.
Nota II

E aqui chegamos!!!
Acho que eu não me cansaria de contar mais e mais sobre eles,
massss temos outros Hansen para dar suas caras. E acho que tivemos várias
ideias do que vem por aí. Espero poder, futuramente, trazer um bônus
especial, das futuras gerações Hansen, porque imagina só, como seria bom
encher esses castelos?
Se estiver animada como eu, pelos outros deles, e por eles, não
esqueça de deixar sua avaliação aqui na amazon e me acompanhar nas redes
sociais.
Obrigada de todo coração por dar uma chance a eles
Obrigada por acompanharem Loki, Malena, Fenrir e Ior!
Obrigada por dar uma chance ao meu trabalho e sonhos, que eles
levaram consigo...
Espero que até a próximo Hansen, e quem sabe, com uma mafiosa
egípcia...

Obs: e a Irina em??? Bom, boa sorte que ela vem em algum
momento, só não posso dizer quando.

Com amor,
Aline
UMA FILHA PARA O MAFIOSO QUE NÃO ME AMA

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SINOPSE
Um ditado que caiu com dor em seu colo: Baldur que amava Hari que amava Kalel
que amava Lea que amava Baldur.
Ele, um dos primeiros no comando da máfia escandinava.
Ela, uma traidora que condenou um homem de uma máfia rival.
Ele, precisa dela para descobrir o que aconteceu.
Ela, se torna uma prisioneira, dentro de um castelo em uma ilha.
Ele, acaba se envolvendo com Lea.
Ela, acaba tendo uma filha com o mafioso que não a ama.
UM FILHO SURPRESA PARA O CEO

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SINOPSE
Ela, uma das herdeiras da máfia escandinava.
Ele, um homem comum, CEO de uma empresa no Brasil.
Eles se conheceram em uma praia.
Eles se apaixonaram nesse mesmo lugar.
Ela, simplesmente desapareceu.
Ele, descobre que ela pertence a máfia.
Ela, foi embora da vida dele, grávida.
Ele, depois de dois anos, tem uma surpresa ainda maior: o próprio filho.
REJEITADA & CASADA COM O MAFIOSO QUE NÃO ME AMA

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SINOPSE
Anastasia que se apaixonou por Thor que se apaixonou por Irina que é a irmã gêmea de
Anastasia.
Ele, o terceiro no comando da máfia escandinava.
Ela, a gêmea substituta e escondida da herdeira da máfia russa.
Ele, se apaixona pela irmã gêmea dela.
Ela, tem o seu coração totalmente quebrado por ele.
Anos depois, Thor assume o lugar do irmão mais velho, em um casamento por contrato com
a herdeira da máfia russa.
Já Anastasia, assume o lugar da sua gêmea, em um casamento por contrato com o homem
que a rejeitou no passado.
Tudo o que menos esperava, aconteceu: ela foi rejeitada e agora está casada com o mafioso
que não a ama.
Torres-Reis-Kang-Esteves

UMA GRAVIDEZ INESPERADA


Família Torres – Livro 1

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SINOPSE
Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma pedra, no meio do caminho de
Maria Beatriz, sempre teve Inácio. O herdeiro da fazenda que fica ao lado das antigas terras de
sua família, tornou-se um homem bruto e fechado, que quando aparece na sua frente, ela já sabe que
só pode ser problema ou alguma proposta indecorosa. Maldito peão velho!
Inácio Torres é um homem de poucas palavras, mas que vê em uma mulher tagarela, a
oportunidade perfeita. Mabi precisa de dinheiro, ele o tem. Ele precisa de um casamento falso, e ela
é a escolha perfeita. Porém, a única coisa que recebe de Mabi, como sempre, é uma negativa.
Maldita criança sonhadora!
No meio das voltas que a vida dá, uma noite de prazer os marca. E a consequência será
muito maior que o arrependimento: UMA GRAVIDEZ INESPERADA.
CEO INESPERADO – meu ex-melhor amigo
Família Torres – Livro 2

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SINOPSE
Se nem tudo que reluz é ouro, Júlio é apenas a melhor imitação de pedra preciosa em
que Babi colocou os olhos.
O seu ex-melhor amigo, a abandonou e quebrou seu coração quando eram adolescentes.
Bárbara Ferraz jurou a si mesma que nunca mais o deixaria ficar perto. Maldito CEO engomadinho!
Júlio Torres sabe que deixou uma parte de si para trás. Sua ex-melhor amiga o odeia e ele,
muitas vezes, teve o mesmo sentimento por si. Maldita sombra!
Júlio sabe que não pode mais ignorar, porque ele não quer apenas a sua melhor amiga de
volta, ele a quer como sua.
Babi foge dele como o diabo foge da cruz. Entretanto, como fugir se depois do
reencontro e finalmente os pratos limpos, ela se descobre grávida do seu ex-melhor amigo?
O BEBÊ INESPERADO DO COWBOY
Família Torres – Livro 3

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SINOPSE
Se existe amor à primeira vista, Abigail Alencar e Bruno Torres compartilham o
completo oposto. Abi o detestou desde o primeiro momento, e com o passar dos anos, o sentimento
permaneceu. Bruno é o típico cowboy cafajeste, arrogante e popular, de quem ela não suporta a
presença um segundo.
A cidade pequena sabe de seu desgosto e desinteresse no mais novo dos Torres, porém, ele
sempre pareceu ficar ainda mais animado em confrontá-la. Se existe algo sobre Bruno que ela
conhece bem, é que ele não foge de um desafio.
Assim, quando Abi o encontra como babá da sua filha de apenas um ano, ela só consegue
pensar que ele quer algo. Bruno jura que está ali apenas para tirá-la do sério, como sempre, mas tudo
acaba por mudar, naquele exato instante.
Existe uma linha tênue entre o amor e o ódio... eles estarão dispostos a cruzá-la?
FELIZ NATAL, TORRES
Família Torres – Livro Extra

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SINOPSE
O Natal parou de ser uma data festiva, e tornou-se dolorosa, assim que Maria Beatriz perdeu
os pais. No entanto, nesse ano, tudo mudou e ela vai lutar para que essa data seja ressignificada. Que
ela possa sorrir, o tanto quanto, um dia fez, no passado. Assim, ela precisa que tudo saia PERFEITO.
Uma árvore de Natal destruída, enfeites perdidos pela casa, a ceia que não vai chegar a
tempo, um desmaio...
Será que ela terá o seu Feliz Natal ao lado dos Torres?
Esse é um conto natalino, narrado na visão de Mabi e Inácio (do livro Uma Gravidez
Inesperada), onde você poderá passar essa data tão especial ao lado da Família Torres.
UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O VIÚVO
Família Torres – Livro 4

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SINOPSE
Olívia Torres sempre teve em mente que para bom entendedor meia palavra bastava.
Assim, quando se apaixonou perdidamente e descobriu que o homem com o qual se envolveu era
casado, o seu mundo perdeu o chão. Ela apenas foi embora, sem olhar para trás.
Contudo, com Murilo, ela nunca pôde parar de olhar. Ainda mais, quando descobriu que
estava grávida.
Murilo Reis perdeu tudo. Nunca pensou, que em algum momento, poderia voltar a sentir
algo. Entretanto, bastou um olhar para Olívia, para ele compreender que ainda existia uma chance.
Chance essa, que se perdeu por completo, quando ela o deixou.
Anos depois e uma coincidência do destino, Murilo descobre que não apenas as lembranças
daquele amor de verão permaneceram, mas sim, que ele tem uma filha.
Um amor de verão pode ser o amor para a sua vida?
GRÁVIDA DO CEO QUE NÃO ME AMA
Família Reis – Livro 1

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SINOPSE
O triste é que aquele velho ditado se tornou real em sua vida: Valéria que amava
Tadeu, que amava Bianca, que amava Murilo, que não amava ninguém. Desde que seus olhos
pousaram em Tadeu Reis, Valéria se apaixonou. Não sabia dizer se era pelo olhar escuro enigmático,
o sorriso que ela queria tirar daqueles lábios cerrados ou o fato de ele ser tão atencioso com quem
amava.
Porém, Tadeu apenas tinha olhos para outra mulher, e Valéria escondeu aquele sentimento
no fundo de sua alma, tentando matá-lo durante os anos que se passaram. Uma coincidência do
destino, os coloca frente a frente. Ela sabe que ele é errado, mais do que isso, uma grande mentira,
porém, seu corpo não resiste.
E uma noite com o homem errado não é o fim do mundo, certo?
Para ela, tornou-se um outro começo, já que terá uma parte dele consigo, para sempre.
Valéria está grávida do homem que não a ama. E não pretende deixá-lo descobrir.
O CASAMENTO DO CEO POR UM BEBÊ
Família Reis – Livro 2

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SINOPSE
Águas passadas não movem moinhos – era o que Lisa repetia a si mesma. Contudo,
estar sempre tão próxima do único homem que realmente se apaixonou, fazia com que ela
quisesse voltar, e na verdade, se afogar com ele. Igor Reis era um erro, e ela sempre soube.
Ainda assim, não podia evitá-lo para sempre, já que seus círculos de amizades eram tão
próximos. Então, era apenas isso: Igor era um amigo. Um ótimo fofoqueiro e uma pessoa para
perder horas conversando – mesmo que quisesse perder muito mais.
Todavia, quando ele bate na sua porta no meio da madrugada com um bebê a tiracolo, ela
não sabe o que de fato está acontecendo. Porém, nada é tão ruim que não possa piorar, e ele a
pede em casamento.
Nas voltas que a vida dá, Lisa se vê com o sobrenome Reis, um bebê para chamar de seu
e um contrato de casamento por um ano com o homem que ama.
Até onde o casamento do CEO por um bebê será uma mentira?
A FILHA DO VIÚVO QUE ME ODEIA
Família Reis – Livro 3

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SINOPSE
Os opostos se atraem.
Carolina Reis queria jurar que isso estava errado, mas não pôde evitar a forma como seu
corpo reagiu ao cowboy bruto e grosso que, literalmente, atravessou o seu caminho. Franco era uma
incógnita, com um chapéu de cowboy escuro e uma expressão tão dura, que lhe fazia indagar se ele
em algum momento sorria. Bruto insensível!
Franco Esteves não tinha tempo para perder, muito menos, com uma patricinha mimada que
encontrou sozinha no meio da estrada. Porém, não conseguia evitar ajudar alguém, mesmo que este
parecesse ser no mínimo uma década mais novo, com olhos claros penetrantes e um sorriso
zombeteiro. Diacho de madame!
O que era para ser apenas um esbarrão no meio do nada, torna-se uma verdadeira tortura,
quando Carolina assume, por coincidência a função de tutora da filha do cowboy. Ele só quer evitá-
la. Ela só quer irritá-lo. No meio do ódio e atração que lhes permeiam, uma adolescente se torna um
vínculo que eles não podem evitar.
Mas até onde ela será a única a uni-los?
GRÁVIDA EM UM CASAMENTO POR CONTRATO
Família Reis – Livro 4

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SINOPSE
Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma pedra, no
meio do caminho de Nero, sempre teve Verônica. A matriarca dos Reis
era uma mulher que intimidava a qualquer um, e ele nunca conseguiu
entender uma reação dela. Quando ela estava à sua frente, ele sabe que tudo
o que deve fazer é correr para a direção oposta.
Verônica Reis é uma mulher que nunca demonstra o que sente.
Sendo assim, praticamente impossível desvendar o que se passa em sua
cabeça, e muito menos, em seu coração. Contudo, sempre lhe intrigou o
fato de que Alfredo Lopes – ou apenas Nero para os demais – parecia
querer enfrentá-la em uma simples troca de olhares, e nunca a temer.
No meio das voltas que a vida dá, um contrato de casamento é o que
os une. O que ela e muito menos eles esperavam, era que no único
momento que deixassem a guarda baixar, teriam algo maior do que o
arrependimento para lidar: UMA GRAVIDEZ EM UM CASAMENTO
POR CONTRATO.
UM CASAMENTO DE MENTIRA PARA O CEO
Família Fontes – Livro 1

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SINOPSE
Nas voltas que a vida dá, Talita e Gael se encontram dizendo “sim” no altar.
A rejeição à frente de várias pessoas foi o que Talita Kang vivenciou aos dezessete anos,
quando Gael Fontes a recusou e humilhou abertamente sobre o possível noivado dos dois.
Porém, como o carma nunca falha, tudo o que o herdeiro dos Fontes necessita quinze anos
depois, quando retorna para recuperar a empresa da família, é justamente um casamento por contrato.
O que ele não esperava era que justamente a mulher que quebrou seu coração seria a
candidata perfeita, e mais, que ela o escolheria novamente.
Ele a humilhou por um casamento por contrato.
Ele precisa dela agora, pelo mesmo motivo.
Talita se apegou a esse contrato pela sua família, e por uma promessa que apenas ela pode
cumprir. Mas nada lhe impede de se divertir com a infelicidade do homem que estará preso nessa
mentira com ela. Entre o carma, uma rede de mentiras e corações partidos, até que ponto um
casamento por contrato significará apenas isso?
GRÁVIDA DO COWBOY QUE NÃO ME AMA
Família Esteves – Livro 1

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SINOPSE
Ter um ditado como aquele sendo uma realidade, depois de tanto tempo, apenas fazia
Guta duvidar se realmente queria tal casamento. Augusta que amava Juan, que amava Pâmela,
que amava Franco, que amava Carolina, que felizmente, o amava de volta.
Deixada sozinha em casa, após finalmente ter o homem que amava da forma que sempre
desejou, Guta parou de se questionar do que era necessário para que aquele casamento fosse real, e
aceitou que o amor de Juan Esteves nunca seria seu.
Ela então o deixa para trás, e com ele, todo o sonho do primeiro amor que agora ela jurou
que esqueceria. Contudo, o que ela não esperava, depois de tanto tempo, era que criaria algum laço
real com ele.
Guta apenas quer os papéis do divórcio e distância, mas se descobre grávida do cowboy que
não a ama.
UMA FILHA INESPERADA PARA O CEO
Família Esteves – Livro 2

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SINOPSE
Júlia Medeiros sempre pensou que para bom entendedor, meia palavra bastava.
Entretanto, ela não sabia o que entender, quando o homem para o qual se declarou, a abandonou na
cama, na companhia de um chapéu. Ela só não tinha ideia do que mais acabou ficando para si.
Oscar Esteves sempre lutou por sua família, e seus irmãos eram seu mundo, contudo, os
olhos bonitos da mulher que o encantou desde que a encarou pela primeira vez, sempre vagavam em
suas memórias.
Anos depois e uma coincidência do destino, Oscar descobre que aquele amor não resultou
em apenas lembranças que ele não conseguia tirar da mente, mas também, em uma filha.
UMA FILHA INESPERADA NA MÁFIA
Família Esteves – Livro 3

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SINOPSE
Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma pedra, no meio do caminho de
Flávio, sempre teve Dove Kang.
Ele, um cowboy de sorriso fácil e cheio de piadinhas.
Ela, uma mafiosa que sorri apenas de forma calculada.
Ele, não pode evitar a atração que sente.
Ela, adora ver a forma como o homem mais novo a teme.
O que nenhum deles imaginou é que no meio desse caminho que os une, surgiria uma filha
inesperada.
GRÁVIDA DO MAFIOSO QUE NÃO ME AMA
Família Kang – Livro 1

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SINOPSE
O ditado que ela não queria ter como uma realidade, mas era: Hari que amava
Kalel que amava Lea que não amava ninguém.
Ele, conhecido com o diabo da máfia Kang.
Ela, a mulher apaixonada por ele desde os dezoito anos.
Ele, se apaixona por outra, mas acaba na cama dela no fim da noite.
Ela, acorda sozinha na cama, com a notícia de que ele abandonou a máfia.
Hari apenas quer seguir em frente após ser usada, porém se descobre grávida do mafioso que não a
ama.
REJEITADA POR UM MAFIOSO
Família Kang – Livro 2

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SINOPSE
E quando você se apaixona por um mafioso?
Ele, o segundo no comando da máfia Kang.
Ela, dez anos mais nova e que não confia em ninguém.
Ele, tenta ajudá-la de todas as maneiras a se abrir.
Ela, tenta vê-lo apenas como um irmão, mas acaba falhando.
Hinata se apaixona por um mafioso, só não esperava que seria rejeitada por ele.
UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O MAFIOSO
Família Kang – Livro 3

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SINOPSE
Sara Hernández ficou viúva aos vinte e dois anos, com uma filha de quatro anos, e fará de
tudo para protegê-la. Até mesmo, se casar por contrato com um homem estrangeiro, que pertence à
máfia mais respeitada e temida.
Chae Kang está no México por uma razão: se responsabilizar pela máfia da sua família e
fazer o Cartel se reerguer. Ele só não esperava encontrar algo além do seu objetivo e trabalho: uma
família inesperada.
UMA GRAVIDEZ INESPERADA PARA O MAFIOSO
Família Kang – Livro 4

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SINOPSE
Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma pedra, no meio do caminho de Paola,
sempre teve Vincenzo Kang.
Ele, o chefe da máfia mais temida e respeitada.
Ela, à venda para um contrato de casamento desde que nasceu.
Ele, um homem que vive apenas para os irmãos e pelo seu legado.
Ela, uma mulher que tenta se livrar do fardo do seu sobrenome.
Nas brincadeiras que o destino lhes prega, os dois sempre se encontram. Porém, o que
nenhum deles imaginava era que em algum momento seriam de fato unidos, e ainda mais, que seria
por UMA GRAVIDEZ INESPERADA.
Junqueira-Dias

UM NAMORO DE MENTIRINHA COM O CEO

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Sinopse
Iara Junqueira acreditou ter encontrado o cara certo. Porém, tudo muda de figura,
quando ela descobre que na verdade, não passou de uma aposta para ele. O que ela menos
imaginava era que naquele exato o momento, Caio Vieira, o homem que ela mais evitava e que era
seu inimigo número um, faria a proposta mais descabida possível para ajudá-la a se vingar: um
namoro de mentirinha.
UMA FAMÍLIA DE MENTIRINHA COM O COWBOY

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Sinopse

Helena Junqueira apenas aceitou que nunca encontraria o cara certo. Porém, tudo muda de
figura, quando ela viaja a trabalho para o interior e acaba sendo literalmente atropelada por um
garotinho em uma bicicleta. O que ela menos imaginava era que em algum momento, se
autointitularia a madrasta dele e a falsa namorada do seu pai, e eles formariam uma família de
mentirinha.
UMA GRAVIDEZ DE MENTIRINHA COM O VIÚVO

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Sinopse

Sabrina Junqueira tinha apenas um objetivo: cuidar e proteger suas irmãs. O que ela
menos imaginava era que em algum momento, estaria de frente com o único homem que conseguiu
chegar até o seu coração a ponto de quebrá-lo, e que após uma mentirinha de nada, ela se descobriria
grávida dele.
UM CASAMENTO DE MENTIRINHA COM O COWBOY

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Sinopse

O que todo casamento de verdade tem que ter?


Os noivos, claro. Quem se importa e amamos, para se celebrar. Surpresas especiais, com
toda certeza. E uma pequena confusão, para jamais ser esquecido.
Mas, é possível um casamento de mentirinha ter tudo isso?
REJEITADA & GRÁVIDA DO VIÚVO QUE NÃO ME AMA

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Sinopse

Quando uma noite com o cara que sempre sonhou se torna um pesadelo?
Eliana não acreditou, quando teve a chance de ter o homem que sempre desejou,
literalmente em suas mãos, mesmo que por poucas horas. Contudo, ela ficou ainda mais incrédula,
quando se descobriu grávida dele.
O que ela não esperava era que aquela história terminaria muito antes de qualquer começo:
com ela grávida e rejeitada pelo viúvo que não a ama.
[1]
Mockingbird – Eminem
[2]
I Don’t Wanna Live Forever – Zayn feat Taylor Swift
[3]
You And I – One Direction
[4]
Little Things – One Direction

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