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1° edição
Michelliny Santos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 1
Quando o sangue corre pelo chão, manchando o porcelanato, eu
acordo. É um pesadelo repetitivo, tenebroso e real.
Após a morte dele fui enviada para Itália, para terminar de ser
criada pela minha tia e seu esposo. Meu sobrenome foi mudado para
que eu fosse aceita e tivesse uma nova imagem, uma nova família e
linhagem.
Olho para ela pelo reflexo, vendo-a curvada calçando meu salto
alto nude que combina perfeitamente com o vestido.
Ela sabe que não é isso. Nós duas sabemos. Meu tio me mantém
presa a casa, só saio quando a reuniões do clã.
Sinto meu ventre apertar, o bile sobe minha garganta e antes que
o medo cruze minha face eu relembro o dia da morte dos meus pais.
Voltar a esse dia me faz desligar do mundo à minha volta e eu me
sinto presa em uma paralisia.
Ele é o pior dos Capos e Don. É cruel, visceral e sem alma. Todos
os conhecem por ser um sociopata. Um homem incapaz de sentir
qualquer emoção, de matar com as próprias mãos.
[1]
Toda a Alemanha o pertence, todas as outras famílias o temem.
Ele é inteligente e impiedoso. Ficou conhecido após matar seu
próprio primo com as mãos, estourando o crânio dele na frente de
todos seus capangas.
Seu nome faz jus a ele. As histórias das suas conquistas são
contadas para todas as meninas e meninos de toda família siciliana
como uma forma de nunca trair ninguém.
Nunca traia ou acabará tendo o cérebro explodido pelos olhos.
Olho para seus olhos castanhos claros com uma inocência que
eles não tem. A inocência dela foi levada no dia que se casou com
Mário Vacchiano. Sei que ele a quebrou de todas maneiras possíveis
por ela não ter lhe dado um herdeiro.
Quero fugir.
— Aí está minha filha Athena, Hades. — Meu tio sorri e olha para
mim: — Se aproxime para seu futuro marido a olhar melhor, filha.
Ele olha para Mário como se ele tivesse falado com a parede.
— Chamarei você e sua esposa quando eu terminar com a filha
de vocês. Podem sair— Ele respira fundo, esperando que Mário e
minha tia saiam.
Ergo meus olhos para os seus, buscando discernir se seu tom foi
de provocação ou ele realmente acha que me vestir assim
propositalmente. É claro que foi Mário que escolheu essa roupa.
— Não, ninguém irá morrer. Axel anda comigo por todo lugar
porque é um segurança, e sempre encontramos pessoas atentando
contra a vida de um dos nossos.— Hades Baumann parece ler meus
pensamentos, mas ele estava apenas olhando para meus olhos.
Procuro o ar, mas até ele parece fugir de mim. Sinto que estou
me afogando. É desesperador.
— Tem razão.
Minha tia vai até meu armário e volta de lá com um vestido de
linho na cor lilás. Não tenho roupas de tons escuros, eles tomam
cuidado de não ressaltar minha pele ainda mais.
Me mantenho em silêncio.
— Porém, todos conhecem a fama de Hades Baumann.
Olho para meu Don ao qual tenho respeito e devo a minha vida.
Por um momento, penso em falar a ele tudo sobre os assédios de
Mário e a vingança que ele está planejando com esse casamento…
mas, quem sou eu? Don Hugo Colombo pode ter apreço por mim, e
ser um homem de uma só palavra, porém ele nunca iria acreditar na
palavra de uma menina sobre seu Consigliere.
Aperto minhas mãos por baixo da mesa. Ele não veio para me
ajudar, veio para esclarecer que logo após o casamento meu elo com
a famiglia será rompido.
Estou em um beco cada vez mais escuro e sem saída. Não tenho
a quem clamar ajuda ou para onde fugir.
— Não serei seu Don, mas continuarei sendo seu padrinho — Ele
limpa a garganta — Você não sairá daqui sozinha. Não posso deixar
isso acontecer, eu prometi cuidar de você no dia do seu batismo.
Jurei diante de Deus. Por essa razão, você encontrará apoio na
Alemanha.
Eu terei alguém.
Pelo modo como uma das mulheres me olha com pena, sei que
elas sabem.
Uma delas fala sobre como tudo pode ser possível de conseguir
de um homem desde que seja boa na cama.
Não respondo.
São homens de Hades. Isso significa que ele já deve ter chegado.
A cerimônia será às 16hrs e ainda são 7hrs da manhã. Para seus
capangas estarem aqui, isso significa que eu estava sendo vigiada.
Minha tia olha para meu cabelo negro longo, com pensamentos
distantes. Provavelmente pensando no dia que ela preparou minha
mãe para o casamento dela.
— Vamos prender em um coque. O véu precisa ficar firme. —
Responde, distante.
Olho para meu reflexo no espelho vendo a beleza que elas estão
vendo. O vestido é de costura minimalista, branco e com um decote
quadrado, o véu é um favorecimento da beleza de toda costura
branca.
E isso me assusta.
— Você é uma noiva muito linda — Sua voz é suave e baixa e por
alguma razão faz Axel olhar assustado para a menina.
Mas tudo que faço é sorrir para ela, a vendo retribuir de forma
tímida.
Capítulo 5
O véu cobre meu rosto de maneira linear. Estou na porta da
igreja ao lado de Mário, meu braço entrelaçado ao seu. É de um
desagrado enorme esse momento, essa usurpação. Ele está
tomando tudo que deveria pertencer ao meu pai, Mário não é digno
disso.
Mario ri.
Contudo, eu achei que teria escolha sobre isso. Como minha mãe
teve.
Minha mão está na sua, mas sem nenhuma pressão ou peso. Ele
deve está sentindo minha palma úmida pela ansiedade que vem de
sentimentos como a raiva e angústia por está tão desamparada.
— Sim.
Seus olhos negros piscam com tédio e suas duas mãos segura
cada lado do meu rosto.
Olho para ele rapidamente para ver se ele sabe o que acabou de
fazer ao se casar comigo.
— Está tremendo.
— Desculpe.
— Posso ter a honra de dançar com a minha filha pela última vez,
Baumann?[7]
Hades olha para meu rosto, seus olhos se demoram por alguns
segundos nos meus.
Axel deixa que meu Don dance comigo, ele percebe meu tremor
e nervosismo.
Volto à mesa e bebo duas taças de vinho de uma vez só, sempre
tomando cuidado de ninguém estar me observando engolindo a
bebida com fervor.
Bebo cerca de cinco taças até sentir uma mão impedir que eu
leve a sexta taça até os lábios.
— Não saiam até ter muito sangue para nos mostrar! — Axel grita
e gargalha completamente bêbado.
Encontro os olhos da minha tia, ela está cabisbaixa e Mário tem
um riso no olhar. Hades aperta minha mão e para não mostrar meu
andar cambaleante, ele me ergue em seus braços como se eu não
pesasse nada.
Engulo em seco.
— Não sei fazer amor, se é isso que quer de mim. Mas serei o
mais gentil possível com você. Se quiser que eu a beije, eu a
beijarei, mas não faço questão de beijar na boca.
— Se eu pedir que não me leve para a cama, você faria isso, por
favor? — Minha voz é trêmula, repleta de lamúria.
Solto meu cabelo que cai liso até o meio das minhas costas.
O quarto está com uma única luz amarela que vem do abajur ao
lado da cama. A lâmina da adaga brilha.
Olho para seus olhos negros, aturdida. Não imaginei que fosse
me fazer essa pergunta.
— Sim, eu quero.
Sua mão tocou minha cintura, segurando a mesma com toda sua
mão. Meus pêlos enrijecem e eu perco o ar quando ele me puxa para
ele.
Seu corpo é quente e sua outra mão segura meu seio direito. Um
toque que engloba todo meu peito e o aperta rapidamente.
Sua mão vai para trás do meu cabelo, trazendo-me ainda mais
para ele, colando minha boca a sua.
Aperto seus braços com o susto por tal coisa, mas ele não para.
— Preciso que relaxe para não ser doloroso para você. — Hades
mantém suas mãos em mim, acariciando meus seios.
— Acabe logo com isso, por favor. — Sussurro.
Seus beijos desceram pela minha barriga, indo cada vez mais
baixo, me deixando ofegante. Com um beijo no meu osso púbico, ele
acariciou minhas duas coxas simultaneamente me fazendo arfar.
Essa força era boa para o meu corpo, mas na minha mente algo
dizia que era um indício da violência.
— Você lubrificou mesmo com sua mente tão contra isso — sua
voz é baixa, tensa.
Puxo o ar.
— Inspire.
Obedeci.
Hades foi entrando dentro de mim com seus olhos nos meus. A
cada centímetro seu dentro de mim, fazia com que eu apertasse os
lençóis e mordesse meus lábios com força.
Inspiro.
— Foi uma ótima noite com sua esposa bela e virgem, meu
capo? A mancha parece ter sido bem feita — sorri com sua forma
zombeteira de sempre e indiscrição.
Axel ri.
Seu cabelo loiro está bem penteado, ela está com um vestido
quente e confortável, juntamente com uma sandália fechada.
Ela assente.
Axel ri.
Fico no meu assento vendo a Itália sumir dos meus olhos quando
o vôo é levantado. Meu coração acelera e eu sinto vontade de
chorar. Aqui nunca foi meu lar, nunca tive um, mas era o lugar onde
eu tinha com quem contar.
Fique atenta.
Assenti.
Sigo Hades em direção a um carro que nos leva até uma espécie
de fazenda.
— Obrigada — agradeço
Por volta das 19:00, após o meu jantar sozinha, eu tomei banho,
lavo meu cabelo e me visto com uma das camisolas branca colocada
na minha mala. Escovo meu cabelo e vou para a cama.
Mas isso não é uma regra, talvez ele não quisesse me ver
chorando, gritando de dor. Ainda sinto uma certa rigidez nas pernas,
acredito que seja pelo tamanho dele.
Ele vai até o espelho do quarto, sem ligar as luzes, apenas a luz
da janela clareia o quarto. Hades enxuga seu cabelo e eu olho para
suas costas largas, musculosas e malhadas vendo tatuagens com
espécies de runas e caracteres japonês.
Abri meus olhos vendo seu corpo para cima, seu peitoral tatuado,
o braço forte embaixo da cabeça.
— Na ala leste.
— Não sinto o frio como outras pessoas, sinto mais calor. Não
consigo dormir com cobertores ou qualquer coisa sobre meu corpo.
Mas não farei isso até ela começar a se sentir segura ao meu
redor.
Seus olhos cinzas descem pelo meu corpo nu, subindo até meu
rosto.
— Que horas são? — Sua voz está rouca. Porra, como isso é
excitante!
— 5:30
— Esse problema tem algo com o sangue nas roupas que chegou
ontem?
Olho para ela, procurando algo na sua expressão. Ela não mostra
desconforto ou incômodo, está apenas sendo curiosa.
— Não.
— Ótimo.
Bebo uma boa dose do meu café, olhando para a grama verde e
as oficinas de armas e carros ao redor do campo.
Ele ri.
— E quem não tem? Achei que ela fosse mais corajosa dado ao
fato das histórias que ficamos sabendo sobre ela. O que ela passou,
se casar com você deveria ser uma bênção.
Bebo todo meu café, desejando um pouco mais de rum para dar
algum sabor a minha boca.
— Ele dará um jeito de tentar tirar Athena daqui. Por isso, preciso
que fique de olho em todo mundo que entrar e sair dessa casa.
Athena agora é minha, da Alemanha. Hugo não vai chegar nem perto
dela.
Volto para a mansão, indo até a ala leste onde Anelise fica. Estou
me aproximando quando ouço vozes.
Paro de andar.
Olho para Athena que está vestida com uma calça preta justa,
sapatilhas e uma blusa vinho de manga longa. O cabelo solto.
Ela assente.
— Vamos.
Ela me segue, saindo da casa até a entrada onde meu carro está
estacionado. Não necessito de seguranças para me escoltar,
ninguém em sã consciência me atacaria. O sucesso dessa máfia, os
segredos políticos bem sucedidos são por minha causa.
— As cinco da manhã.
Ela ficará linda em uma peça preta que destaque sua pele, olhos
e cabelo. Principalmente no dourado.
Linda é pouco.
Ela passa a mão por ele, olhando rapidamente pra mim, tirando o
cabelo do rosto.
— Hades — O chamei.
— Por que não voltou a ter relações comigo desde que nos
casamos? — Perguntei — Você também evita me tocar.
Ele não tem sido gentil, mas também não é bruto ou hostil.
Tomo banho e me arrumo para tomar café com Anelise, essa tem
sido nossa rotina. Ela não costuma sair da sua ala, nem mesmo para
andar pela casa.
Então, é por isso que ele não me toca ou tem qualquer coisa
comigo, porque tem outra, está usando as mulheres da sua boate.
Mas, trazê-la para cá é um ultraje.
Mas, por que a imagem dele com outra me incomoda tanto? Por
que me causa desconforto e agonia?
— Saia.
As batidas e a voz dele cessam, mas eu sei que ele não foi
embora.
Olho em seus olhos vendo minha mãe sobre uma mesa, sendo
violentada por um homem do tamanho dele, refletindo nos seus
olhos.
— Me deixe sozinha.
— Não.
Porque você foi gentil e achei que você fosse diferente. Porque
em nenhum momento você me forçou a nada.
Meus olhos. Ele precisa dos meus olhos para ler minha
expressão, e eu não vou dar isso a ele.
Antes que eu saia, Hades segura meu pulso e me traz para seu
corpo. Eu vacilo. Minha mão está sobre seu peito.
Estremeço com seu corpo sobre o meu. Hades tem a voz tão
sombria como seus olhos e eles me fazem uma promessa silenciosa
e verídica.
Mário Vacchiano.
Hades está com uma roupa formal, não um formal comum, mas o
suficiente para se considerar assim.
— Puta merda, isso vai dar problemas — xinga Axel passando a
mão pelo cabelo curto.
Axel ri sombriamente
— Foi mais jovem que esse garoto, se quer saber. O primo traidor
foi o terceiro assassinato dele — Axel inspira, bebendo mais — Não
ache que pode entrar no coração de Hades Baumann, mesmo sendo
esposa dele. Ele não sente essas coisas, ele não tem emoções.
Hades é como um robô e por isso tudo está em equilíbrio. Ele é
impiedoso, letal e decisivo. A cabeça dele é lógica e tudo que se
passa nela se torna uma lei— ele aponta para a sala — Ninguém
aqui tem a coragem de o desafiar.
Axel dá de ombros.
— Por acaso, você tem algo especial? Pode ser a esposa dele,
mas não desperta os sentimentos, as emoções que o farão hesitar
se tentar fazer algo. Assim como eu.
— Eu vou
Salva la famiglia
Estou prestes a voltar para onde estava quando sinto uma mão
nas minhas costas, me viro assustada encontrando o rosto de uma
mulher loira.
Suspiro.
Segurei seu ombro com a mão livre e curvei seu corpo até acertar
sua parte íntima com o meu joelho. Ele cai, não completamente, ele
está pronto para outro ataque, mas o reduzo a um gemido quando
acerto meu cotovelo no seu maxilar com toda força possível.
— Vagabunda!
Hades se aproxima junto com Axel. Axel tem sua faca nas mãos
assim como Hades e todos os homens estão a postos.
Ninguém aqui deve saber que sou filha de Matteo Gagnon, isso
levaria notícias da minha sobrevivência a Gardel.
— Você já sabe, Mário contou a você que não sou filha dele. Mas
os outros, aqueles que não são tão próximos, não sabem. Meu pai
era um soldado da Cosa Nostra estadunidense. Seu nome era
Matteo Gagnon, e ele afrontou o subchefe americano por não
permitir ter minha mãe para ele.
— Ele disse ter sido amigo do meu pai, que mandaria uma foto
minha e um aviso de que a filha da mulher que ele sempre quis está
viva e se parece com ela. Gardel provavelmente não mediria
esforços para me ter.
Hades quase riu. Não uma risada, apenas um barulho.
Abraço meus ombros, o quarto está muito frio e esse vestido não
me aquece.
— Não. Pode ser desconfortável, mas sem dor. Você quer fazer?
— Eu sei disso, e talvez seja por isso que quero dormir com você.
Mas se for dormir comigo, será apenas comigo. Nada de outras
mulheres.
Athena estremece.
Para ter mais visão da sua boceta e toda sua dimensão, coloquei
um travesseiro por baixo da sua bunda. Athena se inclinou nos
cotovelos para me ver entrar nela.
— Quer ver como meu pau está louco para possuir sua boceta?
— Ofeguei de desejo.
Enfiei meu pau pouco a pouco dentro dela vendo Athena sentir
um leve desconforto, para aliviar, molhei meu polegar com saliva e
massageei seu clitóris em movimentos circulares.
(...)
Anelise assentiu.
O que tem em Athena que faz minha irmã confiar nela dessa
forma quando nem comigo ela possui tal laço?
Capítulo 14
Hades Baumann
Athena não amanhece o dia do meu lado, eu tive poucas horas
de sono e acordo mais cedo que o normal. Depois do banho, eu vou
até a ala de Anelise, entrei devagar no quarto, abrindo a porta com
cuidado. São 4:20 da manhã. As duas estão dormindo. Anelise e
Athena estão em frente uma à outra, dormindo serenamente.
Balanço a cabeça.
— Seja o que for, isso é bom. Athena pode ser uma chave para
fazer Anelise voltar a reagir, ser alguém normal…
Axel toma cuidado na última frase, eu sei o que ele quer dizer
com ser alguém normal. Todos têm medo de que Anelise seja
diagnosticada com o mesmo mal que eu, a sociopatia.
Não acredito no que ouço, por isso que caminho até o jardim às
pressas. Atravesso a porta de vidro, cruzando o caminho de flores
até chegar no centro onde a grama se estende por toda extensão.
— Seu irmão está aqui, ele pode almoçar conosco, não pode? —
Athena pergunta a Anelise, que olha na minha direção e depois para
Athena. Ela assente.
Após nosso almoço no jardim, Anelise volta para sua ala, ela tem
aulas com sua tutora. A vejo beijar o rosto de Athena e se despedir
da mesma com um sorriso.
Balanço a cabeça.
— E o que pensa?
Athena nega.
Seu físico pode ser magro, mas tem a aparência de uma pessoa
ativa fisicamente.
Ela coloca os pratos no lava-louças e dobra a toalha, a
guardando em uma das gavetas do balcão.
Ela inspira.
Toco seu cabelo e perna. Fico feliz por ela estar de vestido.
— Quer subir para o quarto, então? Não importa o lugar onde vou
possuí-la, ninguém seria louco de se aproximar ou interferir, mas se
sente confortável no quarto, podemos fazer lá: sobre a cama, no
chão, nos móveis, banheiro…
Seus olhos ficam duros.
— Você é um selvagem.
Desço meu beijo pelo seu pescoço, inspirando seu cheiro doce,
Athena ofega, colocando as mãos sobre meus ombros.
— Nosso prisioneiro quer falar com você, diz ter uma informação
importante sobre Mário Vacchiano.
— Por favor, não o deixe me tocar. Não me faça fazer sexo com
vocês dois — Ela pula da cama, indo até minha coleção de adagas.
Por agora, nossa convivência está sendo boa, sinto calma com as
coisas desse jeito.
Hugo cumpriu com o que disse sobre enviar alguém, se algo fugir
do controle posso ter uma saída mesmo sabendo que Hades nunca
deixaria de me procurar, porém Hugo é um mestre em esconder
pessoas. Fui uma prova disso e talvez volte a ser.
Vou até a cozinha, já se passaram três horas e Hades ainda não
voltou. Encontro Cressida na cozinha preparando bebidas. Seus
olhos rígidos pousam em mim antes dela suspirar e voltar a
preparação das bebidas.
Ela me olha.
— Ele faz isso com frequência? Trazer mulheres da sua boate até
aqui?
Ainda não sei o que aconteceu, mas Anelise tem uma espécie de
trauma causado pelo pai. Pelo que ouvi de Hugo, o pai de Hades era
cruel com todos à sua volta, até mesmo com a esposa.
O que essa pobre garota pode ter passado me assusta. Mário
não foi meu pai em nenhum momento e seu impacto na minha vida
causou todos meus medos atuais.
Dessa vez, não coloco uma camisola, estou com muito frio e
minha cabeça parece pesar cada vez mais. Pego uma calça de
algodão e uma blusa de mangas juntamente com meias.
Sinto vontade de chorar. Não sei se pela dor, pelo aperto que se
apossa do meu peito quando Hades fala isso de forma tão fácil.
— Estou bem!
Não chego até a ala de Anelise, por isso caminho até o jardim em
busca de ar fresco.
Minha vista tremeu, vejo a piscina bem a minha frente, mas ela
surgiu de repente.
Sinto meu corpo despertar quando caio na água fria, indo para o
fundo. Tento nadar, subir para a superfície, mas me sinto sem forças,
é como se meu corpo estivesse paralisando aos poucos e eu engulo
a água, inundando meus pulmões, me sufocando e nem mesmo
consigo lutar contra isso.
Abraço meu corpo sentindo frio por todo meu corpo, meus lábios
tremem e meus dentes batem um no outro. Axel pragueja e me
ergueu em seus braços.
Balanço a cabeça.
Ele inspira.
Nego.
— Sabia que tinha algo errado, mas deixei você sair achando que
precisava de ar — inspira — Tente dormir. Amanhã estará melhor.
Limpo a garganta para chamar sua atenção, mas ele não olha
para mim.
Ele inspira.
— Por que isso importa para você? Ele não me estuprou, você
mesmo pôde comprovar na nossa primeira noite.
Balanço a cabeça.
Levo minha mão até seu pescoço, querendo mais dos seus
lábios. O beijar e ser beijada por ele é como viver uma realidade
paralela entre céu e inferno.
Eu não me movi.
— Não.
Seu aperto na minha cintura era forte, quase doloroso, mas ele
não me tirou de cima dele. Não quis assumir o controle dessa vez.
— Quis saciar meu desejo da mesma forma como faz comigo. Foi
bom para nós dois, não foi? Qual o problema da posição?
Hades passou a mão pelo cabelo, levantando da cama.
Ele inspira.
— Vamos tomar banho, vou levar você para comer alguma coisa.
— Diz, e eu assenti.
Após o banho, eu visto outra roupa e desço com Hades. Axel está
na cozinha e os olhos dele vêm até mim, de forma analítica.
Ele está tomando café e lendo algo no tablet à sua frente. Hades
se aproxima dele.
— E Anelise? — Pergunta.
— A doutora soube que ela saiu para o jardim e até viajou para a
Itália, então a convenceu de fazer algumas coisas no jardim — Axel
gesticula para a parede de vidro e nós olhamos para Anelise e a
psicóloga pintando em uma tela — Acho que é uma evolução — olha
para mim — Graças a você, suponho.
Ignoro seu tom e me aproximo da parede para ver mais do que
estão fazendo. Anelise parece concentrada enquanto pinta, o que
Hades me falou sobre o pai deles me vem à mente e meu coração
aperta.
— Athena agora faz parte da casa, por isso não teremos mais
esse tipo de coisa dentro da geladeira. — Hades fala.
Axel ri.
Ela assente.
Balanço a cabeça.
O garçom assentiu.
Balanço a cabeça.
— Você é um belo motivo para se matar alguém. Com certeza, eu
vou matar por você. Talvez, essa noite, se as atenções quiserem se
tornar palpáveis.
— Hades.
Inspiro.
Pondero.
— Meu nome não era Hades até os 10 anos de idade. Meu pai
resolveu mudar quando fui diagnosticado com sociopatia. Acharam
que seria o ideal, e acabou sendo.
Athena está séria, me olhando com um sentimento de
compadecimento.
Me pergunto como seria ser amado por Athena, fico curioso sobre
isso. Vejo a forma como ela trata Anelise e é um cuidado o qual
nunca experimentei antes.
Olhando para o garçom, ela assente. Ele pede para que ela se
posicione perto da parede com garrafas de vinho, Athena parece
nervosa. O garçom pede um sorriso, ela olha para mim inspirando e
depois volta a olhar para a lente da câmera, com um sorriso
pequeno.
O flash dispara e Athena sai bela e elegante na foto.
Fico em silêncio.
Deixo que ela olhe para Teufelsberg por exatamente uma hora e
vinte minutos em silêncio. Não sei o que se passa na sua cabeça,
nem mesmo posso decifrar as emoções nos seus olhos.
Gostaria de ter emoções agora para poder saber o que falar, algo
que ela gostaria de ouvir.
— Não — É tudo que digo.
Ela assente.
Ela inspira
— Não tenho família. Eles nunca foram minha família real e isso é
bom. Nada me conecta mais a eles. Estou liberta.
Sua boca diz algo que seus olhos não refletem, Athena
demonstra sua decepção. Acredito que ela passou tanto tempo com
eles que achou que fosse um deles.
Saio do quarto, indo até o galpão. Não planejo dormir essa noite,
preciso exercitar meu corpo.
Por sorte, cinco dos homens da minha organização estão lutando
entre si, se exercitando. Eles são lutadores de gaiolas patrocinados
por mim.
Respiro fundo.
Hugo está realmente cumprindo com o que disse, ele nunca falha
com suas promessas. Eu poderia ir embora e evitar o que está por
vir. Mas ainda quero ver Anelise bem, saindo de casa.
— Está tudo sob controle, diga isso a ele. Diga que estou bem. O
que aconteceu aquela noite foi um pequeno acidente.
Axel suspira.
— Bem, não foi ruim, mas a de Hades foi melhor. Até duas horas
atrás ele estava de pé, lutando contra cinco homens. Ele derrubou
três nas primeiras duas horas e massacrou os dois últimos perto do
começo do dia — Axel e os homens riem — Nosso capo é cérebro e
músculo. Uma ótima combinação.
Axel está claramente abismado com meu pedido, mas ele não
contesta.
— Meio ambiente.
Sorrio.
Concordo.
— Por favor, não os deixe se aproximar muito. Não deixe que ela
perceba que está sendo monitorada — Pedi.
— Sim, senhora.
Me sinto contente por ter conseguido fazer Anelise consentir, mas
sei que isso é só um pedaço pequeno do caminho. Ela ainda precisa
de casa.
Axel está nos esperando fora do carro, assim que pisamos fora
da casa sinto o aperto de Anelise ficar mais forte na minha mão. Ela
olha ao redor, assustada, em pânico.
Pedi a Axel para ir pela estrada com mais detalhes para se ver,
com mais natureza e parques.
O que achei que seria alguns minutos que ela poderia aguentar,
Anelise conseguiu se manter no lugar por duas horas, olhando tudo
em volta, sem soltar minha mão ou desligar a música. Ela estava se
conectando da forma dela, se reintegrando dessa maneira.
Uma barraca com comida estava perto do local, e foi uma boa
oportunidade de fazer Anelise comer um sanduíche e beber
refrigerante sem nenhuma restrição dos muitos tutores dela.
— Sim!
— É muito bom ver esse brilho em seus olhos, Ane. Você está
radiante.
Até mesmo eu olho para essa Anelise tagarela e não acredito nas
tantas palavras que ela falou, Hades também parece tão
impressionado como eu, mas ele não demonstra. Ao invés disso,
fazemos ela falar mais.
— Obrigada — Sussurrou.
— Não sei como, não sei o porquê, mas você fez um milagre
acontecer. Não acredito em milagres, só estou dando um nome que
possa fazer você entender o que quero dizer.
Suspiro.
Ele era lindo como um anjo, seu destino foi morrer como um
demônio.
— Se desejar alguma coisa, Athena, quero que me fale. Sou
capaz de realizar qualquer desejo seu depois do que fez hoje.
Quando ele se retira, levo meus dedos até meus lábios que estão
formigando pela sensação do beijo. É um sentimento estranho, como
um frio na barriga.
Nesses três dias está claro para mim que muitas mortes
impiedosas estão acontecendo, Hades voltará com mais sangue nas
mãos. Ainda mais envolto na sombra do mau que carrega.
Suspiro baixo.
Ele ri.
— Perséfone chamava atenção por sua aparência. Era virgem e
protegida pela sua mãe, a deusa da agricultura. Perséfone foi
raptada pelo seu tio Hades enquanto colhia narcisos. Hades, o deus
do submundo, ou como outros gostam de chamar: inferno — ele
continua de pé, alisando sua gravata e contando sua história —
Hades ludibriou Perséfone quando chegou ao submundo, a fazendo
comer uma romã, um fruto proibido, selando assim o casamento de
ambos. Deméter, a mãe, pediu ajuda a Zeus, mas com o casamento
selado, tudo que conseguiram foi que Perséfone saísse do
submundo para a terra para ficar com sua mãe nos meses de
outono, primavera e verão. No inverno, ela ficava no submundo com
Hades. Um terço do ano.
Concordo.
— Uma boa sorte nas tentativas delas, então. Você entrou nessa
casa com minhas boas vindas, e sairá com as mesmas, Emil, porque
farei um favor a você de não deixar Hades saber do que me falou
hoje aqui. Sei que seu intuito é preservar a organização, e esse é o
único motivo pelo qual estou dando uma cortesia a você de fingir que
sua visita foi cordial. Obrigada pela visita. Chame seus homens e
saia da minha casa tão discretamente como entrou.
Ele parece afrontado e por mais que isso seja um mal sinal em
inimizades eu agir como deveria, não baixei minha cabeça perante
suas palavras e vontades. Nunca farei isso para nenhum homem que
não seja Hades. E não faço por Hades porque quero, mas porque
preciso.
Esse foi o único lugar que ainda não explorei, gosto de carros e
Hades tem uma coleção invejável de automóveis antigos e
modernos. A garagem está cheia de carros, por toda parte.
— Athena.
Mordi meus lábios para não gemer alto, o som era amplificado
dentro dessa garagem.
— Como? — Perguntei.
— Oh…
Isso era demais. Hades era demais. Minha intimidade pulsava por
ele, minhas pernas ao redor do seu quadril tremiam.
Toco o corte levemente vendo que foi muito mal feito e deixará
uma cicatriz.
Suspiro.
[...]
Plínio assente e se retira. Não faço ideia como Hugo fará isso
acontecer, mas sei que ele dará um jeito, ele é um Don, é conhecido
por encontros furtivos.
Não consigo não comparar com meu casamento, não por ser
parecido, mas por ter sido tudo ao contrário do que vejo hoje. Cecília
está tendo o casamento que eu sempre quis para mim. Um
casamento com amor.
Eu não odeio o que tenho com Hades, hoje não. Antes sim. Eu
tinha medo dele e o considerava um animal. Mas hoje, o vendo lutar
e se ferir por mim, usando seus homens para me manter protegida,
os ferindo quando podia simplesmente me entregar a Gardel… eu
me sinto grata a essa lealdade.
Eu sei que ele nunca irá me amar e muito menos está fazendo
isso por tal sentimento. Ele é apenas leal e cumpre com seus votos a
mim, mas a cada vez que olho para ele, que me deito ao seu lado e
ouço sua respiração, vejo suas cicatrizes e tatuagens… quando o
vejo como ele é, não consigo mais sentir medo, eu me sinto em
casa.
Balanço a cabeça.
Meu coração aperta. O que ele irá fazer com essa informação?
Me tratará com menos afeto? Me afastará? Mas, Hades faria isso?
Talvez, sim, para poupar meus sentimentos.
— É claro que nada como isso pode ser real entre nós. Eu não
sinto isso e se você estiver apaixonada por mim, vai chegar um
momento que irá me odiar, se sentir frustrada por eu não retribuir.
Você é boa demais, Athena. É uma mulher completa, não tem
nenhuma chance de se apaixonar por um homem como eu.
Amor não é algo que possamos pedir, ser amada não deve ser
um pedido.
Toda vez que fodemos eu irei me contentar com o que vejo nos
seus olhos. Desejo é a única coisa que ele tem para me demonstrar,
principalmente quando está dentro de mim. Talvez, um dia ele
também se canse de mim e nem isso eu terei.
Mário conseguiu.
Tento gritar por Hades, mas minha voz simplesmente não sai. O
terror me toma. O homem me leva para algum lugar, abrindo uma
espécie de porta secreta que leva para um quarto.
Vejo Anelise brincando com outras crianças, algo novo e bom. Ela
acena na minha direção e volta a correr com as outras crianças.
— Acho que o fato de eu não gostar dela nunca foi real. Ela curou
Anelise de uma forma que nenhum de nós dois iríamos conseguir,
não importa o dinheiro que colocássemos nisso. As duas se
introduziram uma na outra através da dor semelhante. Se uniram a
isso e se mostraram na escuridão. Anelise se libertou. Athena deu
asas a ela — Axel se refere a Athena e seu tom é pacífico. Ele
finalmente está confessando que gosta dela.
Axel jurou a vida a mim, e sei que a partir do momento que
Athena se mostrou confiável esse juramento se estendeu a ela.
Anelise bufa.
— Comece das 19:40, foi quando ela saiu do meu lado — Instruo
— ela foi até a mesa de bebidas e depois para o salão de entrada.
— Droga! — Exclamo.
Dez minutos significa muito, muito tempo perdido onde tudo pode
acontecer.
Observo.
Controlo a raiva que faísca nas minhas veias. Desço até o lugar
onde eles estavam, passo a mão pelas paredes, procurando uma
porta secreta. A parede é de madeira e sem detalhes. Sinto uma
parte em falso da parede e a pressiono fazendo uma abertura.
— Shh, está tudo bem agora, minha ninfa. Vou fazer você voltar
ao normal — Sussurro.
Meus olhos estão no seu rosto com uma certa fúria contida nos
seus olhos. Vejo ele sair do meu campo de visão e voltar minutos
depois com uma seringa contendo um líquido transparente, quero
perguntar o que é, mas não consigo fazer nenhum som audível.
Não são suas mãos que vejo ou sinto. São as mãos daquele
homem e Mário.
— Shh…
Olho para Hades por baixo de toda água que cai sobre nós dois.
Suas mãos estão alisando meus braços e é um toque suave.
Espero por Hades, sei que ele irá voltar e por mais que eu queira
que ele diga algo, aceitarei sua resposta se ela for o silêncio.
Ele volta trazendo uma bandeja com meu almoço e várias frutas
que gosto como uva roxa e toranja.
— Você viu o que eu fiz com aquele homem, não viu? Assistiu
tudo do início. Eu sou um ser bestial, Athena, eu vivo para matar da
pior forma e arrancar tudo que ousa ferir qualquer pessoa perto de
mim. Eu sinto um certo prazer nisso — ele inspira— eu nunca vou
poder retribuir seus sentimentos, eu já disse isso. Como pode ter se
apaixonado por mim? Mesmo depois do que viu, como pode dizer
que me ama?
— Você é tudo que eu não tive e está me dando algo que eu não
esperava. Você não pode me amar, mas age comigo com dignidade
e lealdade. Quando o vi, eu achei que seria meu fim. Que iria me
devorar como um monstro que todos falam, mas em nenhum
momento você foi tudo o que disseram que seria comigo. A minha
vida toda, eu nunca esperei nada de ninguém e ninguém nunca me
deu nada, com exceção de você, Hades.
Bebo a água e volto para a cama, Hades não abraça meu corpo
novamente, mas eu me aninho a ele, o sentindo respirar fundo e
encostar o rosto no meu cabelo. Traço seu peito com os dedos
ouvindo as batidas rítmicas do seu coração. Volto a pegar no sono
com seu calor e ao som do seu coração.
Está tudo correndo normalmente, até que Cressida vem até a ala
de Anelise onde estou e diz que tenho visita. Isso me assusta. Quem
viria me visitar? Deixo Anelise no quarto e desço tentando imaginar
quem seja a pessoa e como conseguiu acesso a casa de Hades.
Fora os familiares, ninguém tem acesso.
Não hesito, vou até ele o abraço. Sua estrutura é alta, e ainda
forte apesar da idade. O abraço com respeito, evitando o apertar.
Suas mãos tocam minhas costas e ele acaricia meu cabelo.
Hades tem os olhos negros mais frios do que o normal, ele não
parece satisfeito com presença do Don.
— Entendo que seja padrinho dela, mas esse laço foi rompido no
dia do nosso casamento. Você a entregou para mim, não tem direito
de querer uma inspeção — a voz de Hades é fria.
— Veio até aqui para levar minha esposa até um passeio? Isso é
ilógico, não concorda Hugo?
— Claramente não. Athena é da minha família ainda, sempre
será e você não pode querer cortar os laços dela comigo. Mário e
Laura podem ter feito isso, mas eu não. Você pode ser o marido e o
Capo dela agora, Hades, mas a decisão é de Athena.
Hades olha para mim com uma certa certeza, seus olhos brilham
e um sorriso desenha seus lábios.
Não é uma pergunta difícil. Sei que essa escolha não irá
machucar Hades, ele não é capaz de sentir isso e mesmo eu
sentindo que minha decisão poderia o magoar, isso me faz hesitar.
Mas existe minha tia e sua sobrevivência e a liberdade que ela
poderá ter sem Mário Vacchiano. Hugo pode ajudá-la de diversas
formas, Hades não. Hades não aceitaria minha tia aqui. Ele odeia
italianos e considera minha tia igual a Mário.
Axel olha para ele, como para ter certeza de que Hades
continuava no lugar, e não no pescoço de Hugo. Sei que existe
diplomacia entre eles, Hades não perderia a cabeça por qualquer
que seja a razão dos seus olhos carregados.
Hugo me leva de carro até um lugar seguro, nós dois não saímos
do carro e os homens fazem a guarda do lado de fora. Armados e
discretos.
Cogito falar tudo sobre o que Mário e Gardel estão fazendo, mas
ainda não tenho como provar e não vou comprometer o carinho que
Hugo sente por mim. Ele pode voltar atrás de tudo, Mário é seu
conselheiro há anos. Não posso cometer um deslize, mas também
não posso esconder tudo.
— Mário está comprometido com algo que vai além do seu poder,
da sua concepção. Ele mexeu com algo que não tem controle e logo
pagará por isso. — Começo.
Isso não abala Hugo, pelo contrário. Ele parece certo de que isso
vai acontecer.
— Acho que não sairei do lado de Hades. Ele não é ruim comigo,
muito pelo contrário. Ele me trata bem e é minha família agora. Não
tenho motivos para ir embora.
Balanço a cabeça.
Depois de tudo, não acho que Hades seria capaz disso comigo.
Não depois de eu ter falado tudo que sinto, como sou.
— Obrigada, Hugo.
Assim que ele vai embora no seu carro com seus homens, eu
deixo de falar italiano. Minha língua não é mais essa, assim como o
inglês anos atrás.
— Hades — Sussurro.
Seus olhos pairam por todo meu corpo nu, desde os meus pés,
intimidade, seios até meus olhos. Os olhos ficando cada vez mais
negros.
Eu o olho confusa.
— Hades…
— Você não me ama? Então, faça algo legal pra mim. Se ajoelhe,
querida.
Seu tom é umbroso, faz com que todo meu corpo se arrepie. Algo
nele não parece certo.
Não, não dessa forma. Não com esse tom e com esse olhar me
tratando como se eu fosse uma das suas prostitutas. Sua mão
pulsiona meu ombro para baixo, me fazendo ajoelhar diante dele.
Ele tira seu membro ereto de dentro da cueca e o segura diante
da minha boca. Estou em choque, tudo parece girar e o silêncio não
parece bem-vindo agora.
Olho para Hades e ele segura meu rosto com a mão livre.
Abro a boca e sovo seu pênis sem saber o que fazer. Tudo que
quero é me levantar e parar de fazer isso. É humilhante. Eu não sou
uma prostituta como ele parece estar me vendo.
Faço o que ele pede, sua mão agarra a parte de trás do meu
cabelo para controlar meus movimentos. Seu pênis bate no fundo da
minha garganta e meus olhos queimam, com lágrimas. Hades geme
baixo, recebendo prazer nisso. Seus olhos se fecham uma vez ou
outra mas ele não desvia os seus dos meus.
— Você pode se tornar muito boa nisso — a voz fria é como uma
lâmina na minha alma.
A voz de Hugo vem em forma de aviso na minha mente. Pego a
toalha e me enrolo.
— Então, como foi com seu padrinho? Você se divertiu com ele?
— pergunta.
Não sei por que falei isso, mas é uma verdade. Hugo é a única
pessoa que nunca me machucou ou me humilhou e me ajudou sem
pedir nada em troca. Eu achava que Hades era tudo isso, até agora.
Isso não é ciúmes, é seu ego. Ele não é capaz de sentir ciúmes.
Ego é uma coisa que ele tem, como todos.
— Hades, não faça isso. Com Athena não. Eu vi nos seus olhos a
fúria, o caos novamente e eu sei que foi pelo fato de Hugo ter
entrado nessa casa. Você sabe que ele ama Athena e a audácia dele
de ter vindo aqui te enfurece.
— Você viu como ele a toca? Como ela deixa ele tocá-la? Como
são íntimos? — minha voz é ácida. — Ela tremia quando eu chegava
perto dela algum tempo atrás, mas com ele… o alívio nos olhos dela,
a felicidade…
— Ele a salvou, Hades. Ele foi o pai que ela teve, que a protegeu.
Não esqueça do passado de Athena e de quem a salvou. Ela deve a
vida a Hugo Colombo, assim como devo a minha vida a você.
Não estão inchados, como ficam quando ela chora aos montes.
Deduzo que só algumas lágrimas caíram.
— Não quero ver ele, não quero nenhum contato com ele. Não
desejo ver o rosto do assassino dos meus pais. Faça o que quiser
com ele. Sua motivação para matá-lo não é mais por mim, é por ele
e Mário terem a audácia de afrontar você.
Não!
— E Mário? — Pergunto.
Vou para a boate, onde Gardel irá entrar daqui a algumas horas.
Não tenho pressa. Ele virá com todos seus homens e tentará
negociar minha esposa comigo. Homens obsessivos e doentes como
Gardel fazem de tudo para conseguir algo que não tiveram.
A família de Athena será vingada. O soldado que seu pai foi terá
seu nome ressuscitado. Os Vacchiano irão morrer, Athena assumirá
o nome do seu verdadeiro pai e será reconhecida por ele.
Inspiro.
— Sim, você tem. E ela deve estar na sua casa nesse exato
momento.
— Quer que o leve até lá para verificar? Sério, Gardel. Veio até
aqui pelo passado?
Ele suspira e tira uma foto do paletó. Uma foto de uma mulher
quase idêntica a Athena, com os olhos da mesma cor e a pele da
mesma tonalidade assim como o cabelo.
— Sei que não sente nada por essa menina, você não é capaz de
sentir isso e com certeza qualquer mulher tão bela quanto ela pra
você afundar seu pau não vai fazer diferença para você — ele ri e eu
o acompanho.
Peço para Geralt servir outra bebida para mim, mais forte.
— Ele mentiu para você como mentiu para mim. Agora, tenho
uma coisa que você diz ser sua e quero algo que você tem. Faremos
o negócio, ou você sai da minha boate com todos seus homens.
Gardel fica parado, sem saber o que fazer. Claramente
analisando a situação, se vale a pena trair Mário. Claro que sua
resposta é óbvia. Ele se ergue e pega o celular fazendo a ligação.
Os homens que estão aqui hoje vieram para sua condenação por
puro despeito. Porque querem o mal de uma menina que culpa de
nada tem.
— Vocês dois eram os únicos que tinham algo para querer tirar
de mim. Algo em comum. Me subestimaram muito, não acham? —
olho para Mário. — Você principalmente. Não deveria ser um
conselheiro? Não deveria analisar todos os riscos? E que estupidez
da sua parte foi essa de vir até aqui?
Covardes.
— Você achou que sairia impune de tudo que fez, Gardel? Achou
que não teria justiça pela forma como matou duas pessoas por causa
do seu desejo por uma mulher que não te amava, que nunca desejou
ter nada com você?
— Eu poderia ser mais cruel que isso? Claro que sim, Gardel,
mas você me trouxe Mário. Só irei tirar as mãos que você usou para
matar a minha sogra e sogro e dar de presente para minha esposa
fazer o que ela quiser.
Ele murmura.
Seguro suas duas mãos, não vou usar um serrote ou algo rápido.
Mesmo com o osso, eu consigo tirar sua mão usando a adaga e é o
que eu faço. Mas, no meio do processo Gardel desmaia, facilitando
para ele.
Quando ele acordar terá a surpresa que não tem mais mãos, e
logo ficará sem a cabeça também.
Ele quer me ver. Tem pedido para me ver desde o momento que
entrou na sala. O Underboss o responde com um soco inglês no
meio do seu rosto, dessa vez, claramente quebrando seu nariz.
— E agora? — pergunto.
— Irei ver Mário. Preciso olhar em seus olhos e o deixar ver que
está pagando pelo preço das suas ações. Quero que ele veja que eu
sou o carma.
Hades assente.
Balanço a cabeça.
Minha tia não viveu uma boa vida ao lado de Mário, tenho certeza
que ela sofreu maus tratos, mas sua inocência e compaixão não
permitiria que ela continuasse sã com a imagem dos restos mortais
de Mário, por mais carrasco que ele tenha sido.
— Não mande para minha tia — Olho para Hades o deixando ver
que estou falando sério, pedindo isso a ele — Envie para os homens
de Mário e o próprio Hugo, mas não para minha tia.
— Obrigada.
— Acorde-o — Peço.
— Você não chorou, não disse nada além de "pare". Por todos
esses anos, eu achei que você queria — Mário confessa.
Ouço os latidos ao longe, olho uma última vez para Mário vendo
seu olhar pedindo clemência.
Sorrio.
— Posso abrir essa exceção para você já que há mais de dois
meses não come besteiras. Eu também estou precisando disso —
confesso.
Um olhar clínico.
O olhar está mais frio que o normal, o tipo de olhar que ele
reserva a suas vítimas e isso percorre minha espinha em forma de
frio e advertência.
Visto uma camiseta branca, jaqueta e calça jeans junto com tênis.
Encontro Hades e Anelise em uma conversa quando desço. Anelise
se anima e caminha até o carro comigo e Hades atrás dela.
Não olho para Hades, não o deixo ler as emoções nos meus
olhos. Tenho evitado mostrar meu medo por ele.
Isso parece satisfazer sua curiosidade, ela fala das coisas que
deseja no seu aniversário e são coisas tão simples para uma menina
com tanto dinheiro. Meus aniversários sempre foram grandiosos,
Hugo fazia questão que eu tivesse uma festa e chamava todos da
família. Eu não gostava das comemorações, foi no meu aniversário
que meus pais foram mortos, mas Hugo nunca deixou uma só data
passar em branco.
Meu sangue parece gelar nas minhas veias ciente de que ele vai
tentar algo contra mim.
— Hades… — murmuro.
— Vá até a parede e fique parada em linha reta — ordena.
Não quero e não vou falar a Hades, ele não entenderia. Hades
queria que a minha tia fosse julgada por todos como uma cúmplice
de Mário, ele ainda deseja isso. Não posso deixar que ele saiba que
fui eu quem impossibilitei sua sede de chegar até ela.
Fecho os olhos.
A lâmina lambe minha pele mais três vezes até que Hades pare
de lançá-las ao redor de mim.
Eu agi pelas costas dele pelo bem da minha tia, fiz algo que ele
desaprovaria. Isso conta como uma traição.
— Quem?
Ele vem na minha direção, sua mão toca meu rosto, desce até
meu pescoço tocando no corte.
Seus olhos negros brilham e ele observa o sangue reluzindo na
sua mão. Eu estremeço.
— Seu sangue é tão bonito como você, mas ele não me engana
como você. Confiei na sua lealdade e deixei que confiasse na minha,
mas me traiu ao pedir ajuda ao filho da puta que é Hugo Colombo.
Esse era o marido que Mário queria para mim, que havia me
prometido.
Não está sendo prazeroso. Dessa vez não. Na minha mente não.
— Athena.
— Não irei pedir desculpas por isso, mas sinto algo similar ao
arrependimento. Esse aperto no peito deve ser isso, não?
Mantenho meus olhos fechados. Ele pode estar sendo sincero,
mas não irei acreditar nisso. Hades não é capaz de tais sentimentos.
Não posso me apegar a mais nada dele, quero me soltar e ir embora.
Se eu ficar, vou morrer.
Deixo que ele me abrace dessa forma, que toque meu cabelo e
inspire meu cheiro enquanto me mantenho de olhos fechados me
sentindo catatônica.
Olho para ele que está contra o sol, preciso piscar várias vezes
até visualizá-lo com mais clareza.
— Ele fez isso, não fez? — sua voz carrega culpa e certeza.
— Não sei qual foi o motivo, mas tenho certeza que deve ter sido
forte o suficiente. Eu nunca trairia Hades, ao menos que você ou
Anelise e ele mesmo estivesse em perigo, e acho que o mesmo se
aplica a você. Você não pediu ajuda a um inimigo, mas Hades nunca
entenderá isso. Pediu ajuda ao homem que te salvou e nunca te fez
mal. Tentei fazer Hades entender, mas ele é Hades e odeia Hugo.
Passo o resto do dia com Anelise quando ela não está com sua
tutora. Nós duas fazemos suas lições e conversamos sobre o futuro.
Ela ainda é uma criança, mas logo terá que estar pronta para
assumir suas obrigações.
Ela assente.
— Eu poderia recuperar o tempo que fiquei presa aqui, Athena.
Eu poderia fazer amizades e me capacitar. Pesquisei a escola na
internet e realmente quero ir.
Olho para Anelise com atenção. Ela tem nove anos, irá fazer dez
em breve e essa conversa parece muito séria para está tendo com
ela.
Ela parece decidida e desejosa sobre isso.
— Você pode falar com ele. Hades vai te escutar e isso será bom
para mim. Tenho tudo que preciso aqui, mas não é o suficiente.
Quero sair, estudar fora e ter experiências. Sei que todos esperam
algo de mim e para isso eu preciso viver. Eles até ensinam
autodefesa nesse lugar.
Axel nega.
— Não, isso não é uma verdade e você sabe disso. Ela nunca
evitou seus olhos, nunca desviou de nenhuma pergunta sua ou se
assustou ao te ver matando. Ela não te temia, Hades. Agora, ela
teme. E não é pelo medo normal.
— Você está ainda mais linda, Athena. Bordô é uma cor que cai
divinamente em você — Evelyn elogia minha esposa, pousando os
olhos em mim logo em seguida — Hades.
— Evelyn.
Cecília é mais calorosa e extrovertida. Ela vem na minha direção
e me abraça forte, eu não retribuo. Não gosto de demonstrações de
afeto e cumprimentos pra mim bastam apenas palavras.
— Um vinho tinto para mim, por favor. Cecília não pode beber
nada além de sucos naturais, ela está tentando engravidar.
— Já? — Pergunto.
— Ora, eu quero dar filhos ao meu marido. Ele é louco para ter
dezenas e eu também quero ser mãe. Não tem nada de cedo nisso
— Cecília ri, se sentando no sofá.
Sei que ela quer falar para eu fazer o mesmo, mas meu olhar de
advertência é o suficiente para ela ficar em silêncio.
— Para uma jovem que irá se tornar uma The Boss essa escola
deve ser uma referência. Anelise será treinada e viverá de tudo até
completar os dezoito anos. Ela está jovem, em uma idade perfeita
para entrar. Não hesitem — Cecília aconselha — Tudo que sei e
aprendi… vieram de lá. Eu não me arrependo nem por um momento
de ter ido. Não é uma escola normal.
Cecilia nega.
— Ninguém entra ou sai durante os doze primeiros meses. Todos
os empregados, professores são os mesmo há mais de três
décadas. Já tentaram se infiltrar na escola, conduzir uma
carnificina… mas foi em vão. Antes que eles pensassem, já estavam
sendo mortos. Todos os profissionais da escola tem olhos e ouvidos
por todos os lados e a proteção de todas as organizações. Eu diria
que a segurança que temos perde para a deles — Cecília fala com
firmeza.
Nunca achei que beijar alguém fosse tão bom assim. Não consigo
definir um sentimento, uma emoção… mas é bom. Me acende, me
deixa sedento.
Mas quero vê-la gozar com minha boca nos seus seios. E ela
está tão perto. A forma como se move inquieta e me aperta deixa
claro que falta pouco…
Aumento minha sugada, dando leves mordidas e apertando o
outro bico com meus dedos. Athena geme jogando a cabeça para
trás e contém um grito quando seu orgamos chega com tudo nela, a
fazendo se derreter em cima de mim.
Ela me olha com paixão e loucura e isso me preenche. Me livro
da sua calcinha e a encaixo no meu pau, mordendo os lábios ao
sentir a umidade do local. Ela está encharcada e desliza pelo meu
pau com facilidade arrancando um gemido de mim.
Estou tão fundo dentro dela que sou eu quem estremeço. Agarro
seus quadris vendo seus peitos saltarem na minha cara enquanto ela
cavalga em cima de mim, arrancando todo tipo de gemidos.
Axel ri.
— Vou deixar a casa quente para quando for nos visitar — É tudo
o que diz.
Ele estende uma arma para mim, com os olhos nos meus.
— Athena!
Mordo meus lábios. Por favor, não torne isso mais difícil.
Não percebi o momento que ergui a arma. Tudo que senti foi meu
dedo apertar o gatilho duas vezes conduzindo duas balas em direção
ao ombro de Hades.
— Athena, vamos.
A cicatriz no meu ombro, dos dois tiros, está melhor com o passar
dos dias, mas ainda sinto limitações e dor no lado atingido. Athena
não atirou em mim por ódio, foi mais por desespero. Vi isso em seus
olhos até o último momento.
— Isso será difícil. Ela não sai de casa e não vamos conseguir
invadir. Não podemos invadir a propriedade, temos regras, Hades.
— Hades…
— Não. Ela deve estar com Athena onde quer que ela esteja.
Sinto falta dos seus olhos, da sua pele, da forma como dormia
tranquilamente ao meu lado. A maneira suave e amorosa que me
olhava. Eu sinto falta dela.
— Hades, você tem uma reunião com os capi hoje. Está atrasado
— Axel alerta.
Continuo batendo no saco de areia com toda minha força, o suor
percorre todo meu corpo, minha respiração está tão acelerada e
meus punhos doem. Meus pulmões doem.
— Hades!
Sinto Axel apertar meu ombro, mas ele não diz mais nada,
apenas sai do ringue me deixando sozinho, deitado olhando para o
teto com esse pesar no corpo, na minha alma.
Athena se tornou meu ponto de luz, e então foi embora me
deixando em uma escuridão que não reconheço mais como um lugar
seguro. Não me sinto seguro sem ela. Não sinto que sou capaz de
respirar direito. Meu caos se transformou em uma espécie de silêncio
ensurdecedor.
Nada funciona sem ela.
Hugo me quer. Ele quer vingança pelo que fiz a Athena e com
seus lucros e bens. Ele com certeza quer me torturar.
Não demora nem cinco minutos para que três armas estejam
apontadas para minha cabeça.
Não tem nem mesmo uma sombra de luz nesse quarto. Estou
com a garganta seca, mas isso não é um problema.
— Você abandonou sua família para viver com ela, tenho certeza
de que está fazendo Athena de brinquedo como se ela fosse uma
boneca. Você não tem coragem de tocá-la. Seu pau não deve subir
nem com viagra e um homem vaidoso como você não iria mostrar
esse corpo velho e enrugado para uma mulher tão linda como
Athena.
Ele gesticula para um dos seus homens que trás mais uma faca
para ele. Hugo a cravou no meu outro ombro e eu mordo meus
lábios até sangrar para que ele não ouça meus gritos. Seus soldados
olham para mim e eles riem. A dor é cruel, mas é algo a que estou
acostumado. Cresci sendo esfaqueado, cortado, retalhado desde os
meus 15 anos. Posso aguentar por muito tempo.
Hugo gesticula para que seus homens me batam. O mais forte
deles. Acorrentado, não consigo me defender, recebo chutes nas
costelas, estômago e rosto. Ouço o som das minhas costelas
quebrando, o sangue escorrendo da minha boca e minha audição
ficando surda pelo impacto na cabeça.
Não tenho forças para falar, então apenas observo bem o rosto
de Hugo. Matarei ele. Eu sabia que seu interesse por Athena era
doentio. Conheço uma pessoa doente quando vejo porque também
sou um doente.
— Axel…
— Ele vai sair dessa. Hades não irá morrer dessa forma — Axel
diz. Ele está em pé, encostado na parede do corredor e eu sentada
olhando para ele.
— É culpa minha.
Concordo.
— Ele está inconsciente, mas assim que repor todo sangue que
perdeu vai começar a se sentir mais forte. Poderão ver ele daqui a
algumas horas.
Ele nega.
— Não, Athena. Isso é mérito seu.
Visto a calça jeans preta e uma blusa de gola que Axel trouxe,
junto com roupas íntimas e um tênis. Deixo meu cabelo úmido e saio
do banheiro com o vestido branco encardido de sangue dentro de
uma sacola. Jogo ele dentro do lixo mais próximo que encontro.
— Quero te dar tudo que uma mulher merece, e eu sei que você
quer ser mãe. Tenho certeza que posso ser um bom pai se você me
ensinar a ser bom, Athena. Com você ao meu lado eu posso tudo.
Hades assente.
Foi como rios de sangue que consegui uma vida pacífica ao lado
de Hades.
Anelise nos visitava nas férias e tudo corria bem. Hades estava
cumprindo sua promessa.