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Editora Sunny

1° edição

Copyright © 2022 Confidentes


Todos os direitos reservados

Título: Confidentes — Livro 01


Preparação de texto: Nyck Fireball
Projeto gráfico: Nyck Fireball
Diagramação: Nyck Fireball
Capa: Nyck Fireball
Hades
“Ela é o caos de um demónio que
não conhece a luz.”

Michelliny Santos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 1
Quando o sangue corre pelo chão, manchando o porcelanato, eu
acordo. É um pesadelo repetitivo, tenebroso e real.

Isso realmente aconteceu.

Era o sangue dos meus pais, afinal. Eu estava lá, vendo


acontecer, o sangue respingou no meu rosto quando a garganta da
minha mãe foi cortada. Os olhos azuis jade focaram em mim durante
todo o ato, e de olhos abertos, ela caiu. Enquanto meu pai teve a
morte mais rápida, ele foi atingido por um tiro no peito, seguido de
um no centro da testa.

O corpo dele estava nas escadas quando enfim um dos


seguranças me encontrou sentada na poça de sangue da minha
mãe.

Eu tinha seis anos. Era o meu aniversário e a festa se converteu


em uma execução.

Os rumores são de que meu pai havia afrontado o subchefe da


máfia americana ao negar a ele uma noite de amor com minha mãe.
Os homens da máfia são honrados, mas não resistem a mulheres
bonitas, não importa se são casadas ou não.

Os homens americanos não são como os italianos. Nós, italianos,


preservamos nossos valores morais. Não cobiçamos mulheres ou
homens comprometidos. Existe honra.

Não vivíamos na Itália, na época. Meu papi era um dos soldados


do subchefe da máfia Cosa Nostra estadunidense. Um soldado com
uma bela mulher. A mulher que escolheu o soldado ao subchefe.

Após a morte dele fui enviada para Itália, para terminar de ser
criada pela minha tia e seu esposo. Meu sobrenome foi mudado para
que eu fosse aceita e tivesse uma nova imagem, uma nova família e
linhagem.

Fui de Athena Gagnon, para Athena Vacchiano em questão de


meses.

Todos meus costumes foram tirados de mim. A irmã da minha


mãe a substituiu como se isso fosse fácil, e para ela foi. Eles não
tinham filhos, minha tia não conseguiu engravidar e isso é tido como
uma vergonha para todas as mulheres da máfia e uma afronta para a
linhagem dos Consiglieres.

O esposo da minha tia é o principal Consigliere do Don da máfia


siciliana.

Ele é poderoso e opressor.

E hoje escrevi um novo capítulo da minha vida.

Observo meu reflexo no espelho, mirando no vestido creme que


colocaram em mim. Minha pele é branca, tão branca como se tivesse
sido embalsamada com leite, sem nenhuma marca. O cabelo longo,
preto é um contraste com essa pele, assim como o azul acinzentado.
Os olhos que me deram o título de "Princesa do gelo".

Não existe nenhuma emoção neles, talvez meu título venha a


caber.

— Está ficando maravilhosa, senhorita. Meraviglioso! — Esther


exclama.

Olho para ela pelo reflexo, vendo-a curvada calçando meu salto
alto nude que combina perfeitamente com o vestido.

É um vestido plissado, com mangas finas mostrando os ombros.


É um vestido que não estou acostumada a usar, nunca uso roupas
que mostre demais. É uma proibição da minha tia. A única proibição
que aceito de bom grado, eu usaria burca se fosse possível.
Minha aparência é uma maldição que foi selada no nascimento
da minha mãe e que segue comigo.

— Você sabe por que estão me arrumando dessa maneira? —


Pergunto a Esther, a governanta da casa.

Ela é uma senhora de 56 anos, e está presa nessa família assim


como eu.

— Provavelmente para dar um passeio, conhecer os soldados, a


família siciliana. A casa está toda sendo preparada para uma visita,
senhorita — Seu tom é animado, mas precavido.

Ela sabe que não é isso. Nós duas sabemos. Meu tio me mantém
presa a casa, só saio quando a reuniões do clã.

A porta enorme de madeira atrás de nós se abre, revelando o meu


tio em um terno escuro, delimitando seu porte pequeno e curvado.

Sinto a repugnância no meu interior ao ver sua imagem.

— Deixe-nos, Esther. Laura deve está precisando de ajuda— Sua


voz é controlada e repleta de desdém.

Me mantenho parada, olhando para meu reflexo no espelho. Ouço


a porta se fechar, ele se aproxima, passos lentos, o suficiente para
me fazer ter mais repulsa.

Sinto sua respiração no meu ombro, seu corpo próximo ao meu.


Mantenho meus olhos nos castanhos miúdos.

Ele sorri. Um sorriso de desdém.

— Não se sente como um cordeiro indo para o abate, filha? —


Pergunta.

Prendo minha respiração.


— Hoje você terá seu destino finalmente selado. Sou um homem
de palavra. Eu disse que você teria a pior vida que poderia viver
quando não aceitou ser minha de bom grado. Se tivesse aceitado,
poderia viver aqui para sempre, com sua tia, com suas raízes, ter
mais liberdade… você escolheu o pior destino, Athena.

Algo no meu interior treme com o ódio, repugnância, que é nítida


na minha expressão. Esse nojo não consigo esconder.

— O que planejou para mim? — Questiono, temendo a resposta.

Ele ri e se afasta dois centímetros de mim. Uma risada de


satisfação, orgulhosa.

— Muitos soldados, assassinos de aluguel e até mesmo subchefes


queriam sua mão, mas eu não poderia dar isso a eles, eu até cogitei
ao pensar em como eles iam te estilhaçar, fazer essa pele leitosa
marcada...— Seus dedos tocam meu ombro e eu me retraio. — Mas
os homens da Cosa Nostra italiana são gentis demais com as
mulheres. Você não pode voltar a America porque acham que está
morta graças a morte dos seus pais… eu até queria enviar um
bilhete ao Gardel e dizer que a filhinha da mulher que ele nunca teve
é o clone dela. Ele não teria misericórdia de você.

Aperto a palma da minha mão a cada palavra pavorosa que sai da


sua boca. Ele não me entregou ao assassino do meu pai porque isso
não lhe traria lucros ou alguma estratégia.

Ele pensou em algo.

— O que planeja, então? — Controlo a hesitação na minha voz.


Ele não irá me ver pedir clemência. Não irei baixar minha cabeça
perante ele. Nunca.

Ele quem baixara a cabeça diante de mim quando eu o matar e o


deixar engasgar na sua própria poça de sangue.

Seu sorriso é amplo.


— Te troquei por domínio na máfia Alemã. O melhor de tudo, é que
ele não é qualquer capo. Você já ouviu falar de Hades Baumann?

Sinto meu ventre apertar, o bile sobe minha garganta e antes que
o medo cruze minha face eu relembro o dia da morte dos meus pais.
Voltar a esse dia me faz desligar do mundo à minha volta e eu me
sinto presa em uma paralisia.

— Esses olhos cinzas estão mostrando pavor, é a primeira reação


que arranco de você… isso me causa um certo júbilo! — Sua risada
ecoou pelo meu quarto. — Desfaça essa expressão o quanto antes,
seu futuro marido está chegando de helicóptero a qualquer
momento. É bom que seu alemão esteja em dia, Athena. — Antes de
sair, ele olha para mim com um sorriso de triunfo — Não esqueça
que deve me chamar de Papi, porque é isso que sou, já que é meu
sobrenome que carrega.

Observo ele sair do meu quarto, e assim que a porta se fecha eu


caio no chão com a demanda de sentimentos presos em mim.
Concentrados no meu estômago.

Levanto com as pernas tremendo e corro para o banheiro, levanto


a tampa do sanitário e expulso tudo que comi de manhã. Vômito a
cada vez que o nome Hades Baumann ressoa na minha cabeça.

Ele é o pior dos Capos e Don. É cruel, visceral e sem alma. Todos
os conhecem por ser um sociopata. Um homem incapaz de sentir
qualquer emoção, de matar com as próprias mãos.
[1]
Toda a Alemanha o pertence, todas as outras famílias o temem.
Ele é inteligente e impiedoso. Ficou conhecido após matar seu
próprio primo com as mãos, estourando o crânio dele na frente de
todos seus capangas.

Seu nome faz jus a ele. As histórias das suas conquistas são
contadas para todas as meninas e meninos de toda família siciliana
como uma forma de nunca trair ninguém.
Nunca traia ou acabará tendo o cérebro explodido pelos olhos.

Caio ao lado do vaso sanitário buscando ar, uma forma de me tirar


de tudo isso, mas nem mesmo voltar aquele dia consegue arrancar
da minha cabeça as histórias de Hades Baumann.

Ele irá mais do que me estilhaçar.

Na máfia italiana, não se machuca mulheres, porém todos sabem


que as outras não são assim. Torturar mulheres é um passatempo
para eles, às esposas são uma ótima ferramentas para os aliviar do
tédio.

Eu ainda lembro de ver a esposa de um soldado ser estuprada


pelo próprio marido no banheiro masculino de um restaurante, na
época que eu vivia no Canadá. 5 dias antes dos meus pais serem
mortos.

Meu destino está selado.

Não tenho para onde fugir ou quem recorrer e eu prefiro esse


destino a ter que implorar para Mário Vacchiano pela minha vida.
Tudo que ele quer é meu corpo e sabe que se eu não ceder, ele não
poderá ter.

Se ele me estuprasse estaria condenado a morte mais lenta pelos


homens da famiglia, mas se eu concordar e fomos descobertos,
então eu quem serei julgada.

Prefiro minha morte pelas mãos de Hades Baumann. Se eu for


estrupada, espancada… aceitarei isso como meu último ato de
resistência, e sempre tem a possibilidade do suicídio.

— Senhorita? — A voz de Esther soa atrás da porta do banheiro.

Levanto do chão com as mãos trêmulas, escovo meus dentes,


organizo os fios lisos do meu cabelo e olho para meu reflexo uma
última vez.
Morra pelas mãos certas, Athena.

Saio do banheiro encontrando Esther com o rosto apreensivo. Ele


provavelmente já deve estar na casa e deve ser apavorante para
deixá-la com essa expressão.

— Mandaram eu te buscar, menina— Sua voz sai em um fio de


apreensão.

Eu apenas caminho de cabeça erguida em direção a saída do


quarto.

Mário Vacchiano não me verá tremer na frente dele. A outra


expressão que ele terá de mim é o mais puro ódio e nojo que sinto
pela sua existência.
Capítulo 2
Forço minhas pernas a cada passo que dou, cada vez que puxo
o ar consolo a mim mesma. O aterramento me toma, mas não o
deixarei me devorar. Estou ciente de que minha caminhada é para
um sofrimento maior, talvez, minha morte.

O que posso esperar de um casamento com um homem que é


incapaz de sentir como qualquer outro ser humano normal? Que tem
como hobbie explodir cérebros?

— Oh, você está linda, Athena.

Minha tia Laura me espera na porta da biblioteca, do lado de fora.


Seu rosto branco e amável está contorcido em angústia.

— Ele prometeu que não vai te machucar, Athena. Os homens da


máfia cumprem com o que dizem. — Diz tentando transmitir paz na
voz.

Olho para seus olhos castanhos claros com uma inocência que
eles não tem. A inocência dela foi levada no dia que se casou com
Mário Vacchiano. Sei que ele a quebrou de todas maneiras possíveis
por ela não ter lhe dado um herdeiro.

— E a senhora acredita nisso, Mamma?

Ela comprime os lábios e se aproxima de mim, envolvendo seus


braços ao meu redor. Seu corpo magro em contato com o meu me
traz um sentimento de fuga.

Quero fugir.

— Eu acredito que você conseguirá se sair melhor do que sua


verdadeira mamma e eu, Athena. Você tem algo que nós não
tínhamos.
Ela se solta de mim, com os olhos no meu rosto e a mão
segurando a minha. Ela aperta minha palma e abre a porta.

Nesse momento, em que a porta é aberta, sinto que meu corpo


está aqui, mas meus pensamentos vagam em lugares sombrios

Dentro da vasta biblioteca se encontra meu tio com sua postura


baixa e encurvada. Ele está de lado, com um rosto sorridente. Um
homem alto está de costas para mim, olhando para a vista do jardim,
com as mãos atrás das costas.
Sinto um frio englobar todo meu corpo.

É um homem de altura intimidadora e uma grandeza colossal,


robusta. O cabelo em degradê é um louro claro, vivo, e quando ele
se vira eu sinto uma onda de estremecimento no meu estômago.

Seus olhos são negros e sem nenhuma expressão, seu rosto é


limpo, sem nenhuma mancha ou cicatriz.

Ele está com uma roupa escura por baixo de um sobretudo


vermelho.

— Aí está minha filha Athena, Hades. — Meu tio sorri e olha para
mim: — Se aproxime para seu futuro marido a olhar melhor, filha.

Os olhos negros como o breu de Hades Baumann estão no meu


rosto e ele não desmonstra nada. Exatamente nada. Nem mesmo
qualquer deslumbre.

Muitos homens ficam deslumbrados ao me ver e eu esperava


causar isso em Hades Baumann, mas ele não esboça nenhuma
reação e isso me faz comprovar que ele não é mesmo um homem
que possa sentir qualquer coisa.

Minhas pernas parecem presas ao chão e eu não consigo dar


nenhum passo em direção a ele.
— Vamos, Athena, venha até aqui— Mário está animado, me
chamando para me entregar ao meu executor.
Não consigo respirar bem, estou forçando todas minhas forças
reservas para funcionarem. Não posso demonstrar ser uma mulher
fraca, que sente medo diante de um olhar predador.

— Pode nos deixar sozinhos, Vacchiano? — Ele fala em alemão.


Sua voz me faz lembrar do som de um trovão. Ela não é alta, e nem
baixa, mas seu efeito é como de um trovão. A autoridade sem
disfarce ou esforço. Um tom de voz controlado que faz a imaginação
ir a um ponto específico quando imaginamos como ele deve ser com
raiva.

Mário olha para Hades Baumann.

— Nossos costumes não permitem que uma moça virgem fique


sozinha com seu futuro marido antes do casamento, Baumann.

Ele olha para Mário como se ele tivesse falado com a parede.
— Chamarei você e sua esposa quando eu terminar com a filha
de vocês. Podem sair— Ele respira fundo, esperando que Mário e
minha tia saiam.

E os dois obedecem, confusos.

Minha tia me lança um olhar de apoio,e eu desvio o rosto. Estou


olhando para qualquer canto que não seja esse homem e seus olhos
negros.

A porta de madeira se fecha e eu respiro fundo, devagar e


inaudível.

Sinto os olhos dele em mim.

— Arrumaram você demais. — Comenta. — Olho para meu


vestido creme plissado e o salto nude. Fico em silêncio. — É
costume daqui arrumar as virgens como se fossem a própria virgem
Maria, porém, com a pele exposta para causar tentação?

Ergo meus olhos para os seus, buscando discernir se seu tom foi
de provocação ou ele realmente acha que me vestir assim
propositalmente. É claro que foi Mário que escolheu essa roupa.

— Deveria perguntar isso a ele, senhor. Não são as roupas


comuns que uso diariamente. — Meu tom de voz é controlado e
baixo.
Ele inclina a cabeça com a minha fala, demonstrando certo
interesse.

— Não o chama de pai, pelo que vejo. Sua história é conhecida


entre o ciclo que rodeio. Todos dizem de como você estava sentada
na poça de sangue da sua mãe, com a mão na garganta dela para
tentar conter o sangue que te sujava inteira. No final, quando te
resgataram, você estava imunda com o sangue por toda parte de
você.

Eu o olho sem nenhum medo agora, sem nenhum tipo de


sentimento tal como ele olha para mim. A forma como ele fala
friamente desperta a inabilidade de não ter medo.

Ele se aproxima de mim, ficando próximo. Sua altura é


considerável sobre a minha. Não sou baixa, tenho 1,75m, mas ele
parece ter mais de 1,90m.

— Você quer saber por quê escolhi você? — Questiona.

— Ele deve ter feito uma proposta irrecusável ao senhor. — Digo.

— Não tenho interesse em nada italiano, o domínio que eles


exercem não chegam aos pés da Alemanha. A famiglia nunca foi um
problema, e nunca será.

Ergo meus olhos para ele.

— Então, por que querer se casar com uma membro da famiglia


que nada lhe acrescenta? — Pergunto.

Ele dá dois passos para trás, me permitindo respirar e senti um


perfume masculino. Um perfume diferente de qualquer outro que eu
tenha sentido.
— Direi isso a sua mãe, mas deixarei você ciente sobre meu
desejo de você começar a tomar anticoncepcionais. Marcamos a
data do casamento para daqui um mês, será o tempo dessa
medicação fazer efeito em você. Não me importo com o qual método
escolher, desde que se certifique de que não irá engravidar de mim
sem minha permissão. Não quero filhos tão cedo. Entendido?

Ótimo, não serei uma vaca reprodutora e eu não quero colocar


um filho nesse mundo. Não esse mundo de máfia.

— Tem algo que queira saber sobre mim? — Pergunta ele,


olhando diretamente para mim. Em nenhum momento ele tirou esses
olhos negros do meu rosto.

Na minha mente nada além de saber sobre crueldade é tão forte.

— Dizem que você tem a data de morte do primo que você


assassinou escrita no seu pulso. Vocês tinham 17 anos. Ele foi seu
primeiro assassinato?

Ele descruza as mãos que estavam nas suas costas, às deixando


em evidência para mim. Mãos grandes, dedos longos e
aparentemente brutas.

Sua expressão continua impassível.

— É uma pergunta óbvia, não vejo necessidade de responder,


mas também não vejo mal algum em mostrar a você.

Ele ergue a manga do sobretudo três centímetros e eu vejo uma


data tatuado no seu pulso. Mas não é a data que me chama a
atenção, é o fato da pele dele estar marcada com tinta,
demonstrando que ele deve ter tatuagens pelo corpo inteiro.

Abaixando a manga, ele retira uma caixa do bolso do sobretudo.


Uma caixa pequena de veludo.

Ele abre e segura minha mão direita. É um anel de diamante. Um


anel de prata com um brilhante de tamanho notável. Ele escorrega o
anel pelo meu anelar.
Quando o anel está no meu dedo, ele observa minha mão, o anel
nela e eu observo como minha mão é pequena em comparação a
dele.

Solta minha mão, se afasta de mim e volta a me olhar.

— Nos casaremos daqui a um mês, tudo será planejado pela


famiglia, eu só irei comparecer. — Sua mão toca às pontas do meu
cabelo, ele enrola um fio liso nos dedos, mas o solta logo depois —
Não acho que vou ter dor de cabeça com você. Tenho 38 [2]anos,
você tem 22, mas mostra se comportar como uma mulher e eu
espero que realmente haja como uma.

Apenas permaneço parada, olhando para ele e me aprofundando


na escuridão dos seus olhos. Suas palavras podem ser
inexpressivas, mas elas ainda me fazem sentir uma contração no
estômago ao imaginar como será minha vida ao seu lado.

Ouvimos uma batida na porta e logo a figura de um homem alto,


moreno, e menos robusto entra na biblioteca.

— Já terminou as coisas por aqui, capo? — O alemão é uma


língua forte e saindo da boca de um homem repleto de tatuagens, ela
fica ainda mais agressiva.

O homem olha para mim, da cabeça aos pés e eu vejo o


deslumbre. O deslumbre que todo homem com sentimentos sente.

— Mário e a esposa deixaram você entrar tão facilmente? —


Pergunta o Capo ao seu capanga, ou seja lá quem for esse homem.

O capanga sorri de forma debochada.

— Acha que eu realmente vou respeitar as ordens que esse


conselheiro italiano quer? — Os olhos do homem descem para o
meu dedo — Parabéns, capo. Será um homem casado em breve.

Hades ajusta sua postura perfeita, ameaçadora.


— Athena, esse é Axel, ele é meu principal executor.

O homem me lança um sorriso sombrio e meus olhos examinam


as tatuagens macabras no braço, subindo pelo pescoço…

Os capos e dons não andam com seus executores. Se ele o


trouxe, alguém irá morrer em breve.

— Não, ninguém irá morrer. Axel anda comigo por todo lugar
porque é um segurança, e sempre encontramos pessoas atentando
contra a vida de um dos nossos.— Hades Baumann parece ler meus
pensamentos, mas ele estava apenas olhando para meus olhos.

— Entendo. — É tudo que sai dos meus lábios.

— Precisa de um pincel e um quadro, Axel? — Hades pergunta


ao seu executor e o mesmo para de olhar para mim e se empertiga.
[3]
Mário e minha tia voltam para a biblioteca. Recebo um abraço e
beijos na face dos meus tios. Mário tem um olhar de satisfação no
rosto, e antes de se afastar, ele sussurra algo no meu ouvido.

— Espero que tenha se agradado do Axel. Baumann e ele


dividem tudo, ao mesmo tempo.

O nojo se espalha pela minha corrente sanguínea, causando


contrações. Me sinto sem ar, sem saída e sobre os olhares de todos
nesta sala.

— Preciso verificar algumas coisas. Com licença — Minha voz sai


demorada e eu dou às costas, me equilibrando nos saltos que nem
são tão altos assim.

Saí pelos corredores, abrindo às portas de vidros até sair no


jardim da mansão. Coloco minhas mãos sobre minha barriga e
procuro o ar com necessidade, fazendo um barulho alto ao inspirar o
oxigênio.
Me sinto fraca, cambaleante e me encosto na parede de pedra da
casa. A extremidade fria me traz um certo conforto.
Forço minha mente para o dia da morte dos meus pais, mas tudo
que está na minha cabeça é o rosto do executor de Hades Baumann
e os olhos negros do próprio capo. As palavras de Mário estão na
minha cabeça e minha garganta queima com o bile que sobe.

Procuro o ar, mas até ele parece fugir de mim. Sinto que estou
me afogando. É desesperador.

Olho ao redor do jardim, para a área de saída da casa vendo


dezenas de carros e homens ao redor. Homens de aparência
duvidosa.

Acredito que seja os homens de Hades Baumann. Ele não viria


para Itália sem seus homens, mesmo ninguém ousando tocar em um
fio de cabelo dele, seus homens são importantes para mostrar o que
acontece quando tentam algo contra o capo deles.

Ouço passos de dentro da casa de pessoas vindo para o jardim.


Corro para me esconder atrás dos arbustos e meu pavor só aumenta
quando percebo que se trata do capo da Alemanha e seu executor.

— É uma casa e tanto, parece um castelo. Será que o Don dessa


famiglia passa tão bem como o Consigliere dele? — É o executor
que pergunta em tom debochado.

— Mário Vacchiano é um canalha. Ele não age a favor do seu


Don, ele age por ele mesmo e se Hugo não ver isso, então está mais
miserável de percepção do que imaginei. — Hades se refere ao Don
da Cosa Nostra italiana. O meu Don.

— Mudando de assunto, o que achou da sua futura esposa,


capo? Eu particularmente apreciei a aparência dela. É bem mais
bonita do que falaram… o que achou dela?

Me inclino mais para ouvir a resposta, sentindo uma espécie de


ansiedade.

— Não gosto de morenas. — É tudo que ele diz e seu executor


rir.
[4]
— Mas essa você irá usufruir com todo gosto, meu capô. Vi seu
olhar para ela, sei que não deixará essa mulher em paz. Finalmente,
as mulheres das nossas boates terão um sossego de você.

Hades faz um barulho com a garganta e ouço eles indo embora.

Me sinto ainda mais enojada.

Ele dormia com prostitutas, está acostumado a ter o que quiser


das mulheres.

Mário está certo.

Hades Baumann irá me estilhaçar.

Teremos as demonstrações de lençóis nupciais no dia seguinte a


nossa primeira noite juntos. Minha primeira vez será um show de
horrores. Pelo tamanho do homem que irá me desposar, acredito que
terá tanto sangue meu nos lençóis que Mario irá se sentir o homem
mais satisfeito do mundo.
Capítulo 3
A notícia do meu noivado se espalha pela famiglia de forma
instantânea. Vários dos membros serventes da família Vacchiano
enviam presentes e marcam presenças para parabenizar o
casamento.

Em uma manhã de quarta-feira, quando estou tirando as medidas


para o vestido, minha tia corre em direção ao quarto. Seu rosto está
ansioso e por um momento eu acho que Hades Baumann esteja de
volta, mas é alguém que a presença não é estranha.

— Nosso Don está esperando você, Athena. Ele quer parabenizar


você pessoalmente. — Sua voz soa ansiosa, como sempre fica.

Embora Mário seja o Consigliere, é difícil ter a presença do Don


na casa, Mário sempre que vai ao seu encontro.

Hugo Colombo é o chefe da família italiana, do crime organizado


e do tráfico há mais de 16 anos. Ele é temido por ser um adversário
calculista, e impiedoso.

Todos os crimes que ocorrem na máfia italiana, como traição,


fazem o Don demonstrar o quão ele é impiedoso.

A costureira para o que está fazendo e observa minha calça jeans


e camiseta. Não me visto formalmente como às outras moças da
família, ninguém nunca opinou sobre isso. Vivo presa dentro de
casa, raras são às vezes que minha tia me leva para alguma reunião
ou compras.

— Melhor colocar um vestido nela, senhora — A costureira de


meia idade aconselha minha tia.

— Tem razão.
Minha tia vai até meu armário e volta de lá com um vestido de
linho na cor lilás. Não tenho roupas de tons escuros, eles tomam
cuidado de não ressaltar minha pele ainda mais.

Laura e Mario não são tão pálidos como eu, só minhas


características semelhantes a minha tia, como o cabelo escuro e os
lábios rosados, são ressaltados. Querem que eu me pareça com ela,
que realmente seja filha dela.

Vou até o banheiro e substituo o jeans e a camiseta pelo vestido.


Solto meu cabelo liso do coque e volto ao quarto.

Caminho com minha tia até o jardim.

Ela está calada, focada em parecer forte e amável ao mesmo


tempo.

Don Colombo se encontra na nossa mesa de café da manhã, no


jardim. Ele está sozinho, tomando uma xícara de café e vestido com
seu terno claro rotineiro. Sua mão esquerda, a que está segurando a
xícara, deixa o anel de rubi amostra no seu dedo mindinho. Ele tem
67 anos e ostenta uma boa forma.

Ele se levanta quando nos aproximamos, com um sorriso suave.

— Espero que sua mama não tenha tirado você de algo


importante, bela Athena. — Diz.

Sorri de lábios fechados, em simpatia forçada.

Me aproximo dele, segurando sua mão e beijando o dorso da


mesma.

— É um prazer tê-lo aqui, senhor. — Digo. E é uma verdade.

Hugo Colombo foi o responsável por me salvar, e ele tem um


certo apreço por mim, não é à toa que foi escolhido como meu
padrinho. Ele sempre me ensinou as regras da sobrevivência, e
como me capacitar diante das minhas fraquezas.
— Sente-se, querida — Puxa a cadeira para mim.

— Obrigada— Sento, recebendo um afago no ombro.

Minha tia fica em pé, esperando ordens.

— Pode nos deixar, Laura. Quero conversar com minha afilhada


com tranquilidade. Por isso, vim em um dia que sabia que Mário não
estaria em casa. — Dispensa minha tia com sua voz suave e
controlada.

— Estarei por perto, meu senhor. — Minha tia sorri e me olha


com cautela antes de sair.

A manhã está ensolarada, o sol está quente e o ar tem cheiro de


grama molhada e flores.

Don Colombo me olha de forma gentil.

— Ainda tem muita sensibilidade ao sol, Athena? — Pergunta.

— Sim, senhor. Não é uma escolha minha, infelizmente, nasci


dessa maneira.

Ele serve café na minha xícara com um sorriso.


— Quando você chegou aqui, tão pálida como a neve, eu achei
que logo iria ganhar uma cor mais escura devido ao sol. Mas, o
problema não estava no país que você viveu, e sim na sua
tonalidade.

Levo a xícara de café até os lábios me mantendo atenta aos


gestos do Don e ao que ele fala.

— Mário me surpreendeu com esse casamento. Não temos


nenhuma pendência com a família alemã, nenhum domínio. Eu
sempre soube que ele tinha interesse em ter, e ele diz que isso nos
fará muito bem como aliados de uma organização tão sólida.

Me mantenho em silêncio.
— Porém, todos conhecem a fama de Hades Baumann.

Olho para meu Don ao qual tenho respeito e devo a minha vida.
Por um momento, penso em falar a ele tudo sobre os assédios de
Mário e a vingança que ele está planejando com esse casamento…
mas, quem sou eu? Don Hugo Colombo pode ter apreço por mim, e
ser um homem de uma só palavra, porém ele nunca iria acreditar na
palavra de uma menina sobre seu Consigliere.

Os olhos verdes, cansados do Don recai no meu rosto.


— Conversei com Hades Baumann pessoalmente quando ele
veio pedir sua mão. Eu expliquei nossas regras e como não
machucamos nossas mulheres… ele parece seguir nossos
pensamentos, mas nunca podemos confiar — Respira fundo,
levando a xícara até os lábios e a colocando na mesa logo depois —
Uma vez que sair da Itália com o sobrenome Bauman, não poderei
mais influenciar em nenhuma decisão da sua vida. Não terei mais
nenhum controle sobre o que acontece com você, Athena. Hades
Baumann será seu responsável, seu Don, ele quem irá decidir como
será sua vida.

Aperto minhas mãos por baixo da mesa. Ele não veio para me
ajudar, veio para esclarecer que logo após o casamento meu elo com
a famiglia será rompido.

Não poderei voltar, isso traria desonra.

Estou em um beco cada vez mais escuro e sem saída. Não tenho
a quem clamar ajuda ou para onde fugir.

— Não serei seu Don, mas continuarei sendo seu padrinho — Ele
limpa a garganta — Você não sairá daqui sozinha. Não posso deixar
isso acontecer, eu prometi cuidar de você no dia do seu batismo.
Jurei diante de Deus. Por essa razão, você encontrará apoio na
Alemanha.

— O que quer dizer com isso, senhor? — Pergunto, sentindo


expectação.
— Você terá alguém quando estiver lá, Athena. É tudo que
precisa saber.

Ele levanta e eu o imito. Levanto depressa e ansiosa.

Olho para meu Don, em busca de respostas.

— Você será uma linda noiva, Athena. Organizarei um casamento


que ficará na memória da famiglia.

E com essas últimas palavras ele vai embora me deixando voltar


a pensar que estarei sozinha, mesmo sendo o contrário o que ele
falou. Um Don nunca mente ou faz promessas em vão, então tenho
isso em quê me agarrar. Talvez, eu encontre uma forma de escapar
de tudo quando chegar a Alemanha.

Talvez ele tenha planejado isso.

Eu terei alguém.

Isso se mantém na minha mente, e eu me agarro.

Recebo mais visitas durante o dia, de mães e filhas. Todas


parecem entusiasmadas, conversando como se o casamento delas
tivesse sido por amor.
Raros casamentos nesse meio é por amor. São obrigações,
negócios, expansões…

— Dizem que ele é muito bonito. É verdade? — Karina, uma das


filhas de um dos capangas, pergunta.

Ela tem cerca de 21 anos e está prometida a um dos soldados.


Ela é bonita. Tem uma beleza nítida, agradável aos olhos dos
homens.

— Não o observei tão bem, mas acho que sim— Respondo,


tentando fugir do assunto.
A beleza de Hades Baumann é fatal. Ele tem uma espécie de
aparência que remete ao paraíso, que se você caminhar muito na
direção irá cair na tentação de pecar e então ele te levará ao inferno.
Essa é a aparência dele.[5]

São muitas perguntas sobre os preparativos do casamento, sobre


a festa e comida, convidados… e tudo isso me causa dor de cabeça,
pânico e vontade de fugir..

Será que tem noção de que estão me mandando para minha


condenação?

Pelo modo como uma das mulheres me olha com pena, sei que
elas sabem.

Todas aqui sabem.


Elas também foram enviadas para a condenação, mas ao
contrário da minha, elas estão em casa e o marido tem sentimentos.
São acessíveis.

Uma delas fala sobre como tudo pode ser possível de conseguir
de um homem desde que seja boa na cama.

Será que isso se aplica a um sociopata?


Capítulo 4
Os dias transcorrem agitados, repletos de preparativos e escolhas
de cardápios. Duas mulheres alemãs estão na cidade, ajudando com
o que minha tia pede.

Meu vestido de noiva é um corte princesa, com uma saia


volumosa marcando meu tronco, o véu é longo, um estilo catedral.
Grande o suficiente para demonstrar minha pureza. Mário quer que
eu pareça um cordeiro indo para o abater, uma piada que ele irá rir
sempre que lembrar, o espetáculo da sua vingança.

Só nós dois sabemos o porquê desse casamento.

Nenhum familiar de Hades Baumann apareceu.

— Ele não tem família? — Pergunto à minha tia, quando estamos


sozinhas dentro do meu quarto vendo os presentes enviados por
outras famílias.

Minha tia está muito interessada nos presentes, principalmente


nas jóias.

— Ele só tem uma irmã de 9 anos de idade. O pai dele faleceu de


câncer no cólon há seis anos, e a mãe deles morreu no parto da filha
— Responde.

Olho para minha tia.

— Ele criou a irmã?

— Todos dizem que sim, mas ninguém vê a menina.

Ela deve ser uma prisioneira em uma casa de luxo, sendo


cuidada por mulheres desconhecidas… ou talvez tenha sido enviada
a um internato. Um homem sem sentimentos não poderia criar uma
criança, ele provavelmente a entregou. Não importa se é sua irmã ou
não.

Olho para o anel de diamante no meu anelar. A pedra redonda


notável parece pesar na minha alma.

Meus dias tem se resumido a receber as visitas, acompanhar


minha tia nas escolhas do buffet e ornamentações. Eu não faço nada
além de concordar com tudo que ela escolhe. Não é meu casamento
que está sendo planejado, é meu destino final.

Não pesquiso, ou procuro me inteirar sobre Hades Baumann,


tudo que faço é focar em uma forma de encontrar a pessoa que o
Don disse está a meu dispor quando eu estiver na Alemanha.

Talvez, eu consiga fugir.

Não conseguirei escapar da minha primeira noite com meu futuro


marido, e da crueldade que ele me infligir, mas me conforta saber
que posso escapar de todo esse mundo de violência.

O dia do casamento chega tão rápido quanto uma má notícia.


Minha mente condena meu corpo enviando estímulos de pânico e
pavor.

Quando as mulheres da famiglia entram no meu quarto para me


preparar logo pela manhã, eu sou encontrada trancada no banheiro.

Elas batem na porta, me chamando.

Não respondo.

Meus olhos estão fixos na minha imagem no reflexo. Aperto na


mão direita a lâmina de barbear a qual passei a noite segurando.

— Athena, abra a porta e vamos começar a te preparar, querida!


— é a voz de uma das senhoras que está ajudando na
ornamentação de tudo.
Meus olhos no espelho revelam a angústia na decisão de acabar
com minha vida ou deixar que outra pessoa faça isso.

Eu quero viver. Meus pais foram mortos na minha frente, eu fiquei


em mundo sem ninguém… mas quero viver. Por que é tão difícil de
ser aceito? Eu não estou causando nenhum mal ou ameaçando
ninguém com essa vontade.

Posiciono a lâmina de barbear na carótida, no lugar certo a ser


cortado com precisão. Minhas mãos não tremem, elas nunca
tremeram.

Entre viver no pior dos infernos e ser violentada todos os dias…


prefiro a morte. Não quero perder a minha vontade de viver, então
prefiro acabar com tudo enquanto sei que fiz isso pela minha vida.

Estou a um passo de cortar profundamente quando a porta do


quarto é arrombada por dois homens que nunca vi antes.

Um deles avança na minha direção, tirando a lâmina de barbear


da minha mão e me imobilizando. As três mulheres na porta,
incluindo minha tia, me olham com pavor.

— Não a deixe marcada. — Diz em alemão o homem que não


está me segurando — O Capo te mataria se ela aparecesse com
qualquer machucado.

O que está me imobilizando respira fundo e solta meus braços


devagar, cautelosamente.

São homens de Hades. Isso significa que ele já deve ter chegado.
A cerimônia será às 16hrs e ainda são 7hrs da manhã. Para seus
capangas estarem aqui, isso significa que eu estava sendo vigiada.

Os homens saem e as mulheres entram. Ninguém comenta nada


e agem normalmente.

Apenas minha tia que me lança olhares angustiantes, e só isso.


Ela não tem coragem de tomar uma atitude contra nada e ninguém.
Meu café da manhã é servido, nada do que vejo desperta o
apetite, eu apenas observo a comida.

O banho com sais, pétalas de rosas e essências é preparado com


afinco pelas mulheres da família. Durante todo o ritual eu me sinto
anestesiada, envolta das minhas lembranças sobre minha mãe.
Do sorriso dela, da forma como beijava e amava meu pai… ela
era feliz. E morreu sendo feliz. Meu pai morreu tentando a defender
dos homens de Gardel, e ela morreu tentando me defender.

Ainda lembro da cena de a ver sendo estrupada por um homem


alto, vestido com um terno preto. Eu estava escondida dentro do
escritório do meu pai e depois dele acabar com ela, minha mãe
sorriu, cuspiu no rosto do homem mostrando todo seu nojo e
desdém.

Depois disso, sua garganta foi cortada e eu saí do armário para


tentar estancar o sangramento.

São meus melhores momentos, as melhores lembranças que me


fazem ficar em silêncio e ser levada a preparação do meu
casamento.

Minha pele é cuidada com todos tipos de óleos e cremes, assim


como meu cabelo.

— Iremos prender o cabelo dela ou fazer um penteado? —


Pergunta uma das mulheres enquanto escova meu cabelo.

Minha tia olha para meu cabelo negro longo, com pensamentos
distantes. Provavelmente pensando no dia que ela preparou minha
mãe para o casamento dela.
— Vamos prender em um coque. O véu precisa ficar firme. —
Responde, distante.

— Podemos pegar uma das tiaras de pedras finas da família


Vacchiano! — Sugere a mulher ao lado da minha tia.
— Não. O noivo não quer ela com nenhum adorno no cabelo, fora
o véu. Só faça o coque baixo e coloque o suporte do véu. — É a
palavra final da minha tia.

Após várias preparações, sou colocada no meu vestido de noiva.


Um vestido de beleza e elegância superior, com um caimento
perfeito no corpo esguio.

As mulheres ficam fascinadas com o resultado final e minha tia


tem os olhos marejados.

Olho para meu reflexo no espelho vendo a beleza que elas estão
vendo. O vestido é de costura minimalista, branco e com um decote
quadrado, o véu é um favorecimento da beleza de toda costura
branca.

Até mesmo o salto alto que estou usando é branco.

Meu cabelo preto está em evidência e minha pele branca fica


ainda mais pálida. Estou com uma aparência juvenil, vivida, e
angelical.

— O buquê, filha. — Minha tia estende um buquê de rosas


vermelhas. — É uma tradição da família alemã a noiva entrar com
rosas vermelhas.

— Um ponto vermelho em meio a tanto branco… uma mancha.


— Comento baixinho.

Ouço as buzinas dos carros, os tiros, e a falação dos homens


vindo do jardim. Está tudo pronto. Eles estão indo para a igreja.

Antes que eu saia do quarto, as mulheres se vão e ficamos eu e


minha tia. Uma batida na porta é ouvida e o executor da máfia Alemã
entra no quarto.

Não é sua aparência assustadora que me deixa sem reação, é a


menina loira, pequena e tímida que entra com ele.
Ela é parecida com Hades Baumann e eu assimilo os dois
imediatamente: cabelos loiros, olhos negros e a pele clara.

Os olhos de Axel não se demoram em mim, ele apenas sorri de


uma forma nada convencional e abre espaço para a menina.

— Anelise queria te conhecer, senhora. Ela é a irmã mais nova do


nosso capo. — A voz de Axel é o mais simpática possível, isso é o
mais perto do que posso definir esse tom estranho.

Eu e a menina nos olhamos.

Seus olhos escuros não demonstram medo ou qualquer outro


sentimento negativo. Ela parece… impressionada.

— Sou Athena — Digo, olhando para sua beleza tão angelical.

Ela continua em silêncio, apenas me olhando.

Axel e minha tia não dizem nada, tudo fica em silêncio.

Apenas eu e essa menina nos olhando e algo em mim se conecta


com esses olhos tão jovens e profundos. Algo nela acorda um
instinto que eu não sabia que existia em mim.

E isso me assusta.

— Você é uma noiva muito linda — Sua voz é suave e baixa e por
alguma razão faz Axel olhar assustado para a menina.

Eu sorrio. Um sorriso sincero em muito anos. Tenho vontade de


caminhar até ela, me abaixar para ficar a sua altura.

Mas tudo que faço é sorrir para ela, a vendo retribuir de forma
tímida.
Capítulo 5
O véu cobre meu rosto de maneira linear. Estou na porta da
igreja ao lado de Mário, meu braço entrelaçado ao seu. É de um
desagrado enorme esse momento, essa usurpação. Ele está
tomando tudo que deveria pertencer ao meu pai, Mário não é digno
disso.

Nem mesmo nesse casamento.

— Estou sentindo sua felicidade, filha — sussurra com um


sorriso. — Preparada para ser quebrada ainda essa noite?

Aperto o buquê de rosas vermelhas, as portas dessa igreja estão


demorando muito para serem abertas. Estou suando frio, tremendo
de raiva e asco.

— Eu prometo que um dia vou te matar, Mário. Cortarei sua


garganta e te deixarei sangrar enquanto olha para mim. Darei você
de alimentos aos abutres— Prometo trincando os dentes.

Mario ri.

— Uma ameaça vinda de uma menininha condenada não me


assombra, nem mesmo cócegas ou qualquer sentimento… eu irei ver
seu declínio, a sua beleza se esvair de você… e é isso que mais
desejo.

As portas se abrem, a marcha nupcial toca e eu forço meus pés a


andarem em direção ao corredor que me levará para Hades
Baumann.

Sinto os olhos de todos que estão nessa igreja, ouço os


comentários e elogios. Ergo meus olhos por baixo do véu fino para
olhar em direção ao meu futuro marido. Ele está parado com uma
postura ereta, as mãos ao lado do corpo e o rosto impassível. Seu
executor está ao seu lado.

Hades tem os olhos em mim e deles vem toda a certeza da minha


condenação.

Imaginei que eu iria me casar um dia com um dos soldados


menos violentos e devoto a família… como meu pai. O destino das
mulheres da máfia é o casamento, não importa como ele seja.

Contudo, eu achei que teria escolha sobre isso. Como minha mãe
teve.

Aqui estou eu, tremendo, me equilibrando nos saltos altos que me


foram colocados para me manter em uma altura razoável para Hades
me beijar. Tudo calculado para o benefício e conforto dele.

Meus pensamentos são insistentes e eu não percebo que todo o


trajeto nossos olhos estiverem em contato, assim que percebo eu
não os desvio. Não quero que ele sinta meu desespero.

Não estou com medo. O medo foi drenado depois da primeira


noite que Mário tentou me estuprar. Eu tinha 13 anos na época e
aquilo por si só levou o resto de sentimentos que eu tinha.

Mário entrega minha mão a Hades Baumann, que a segura com


firmeza. Sua mão é grande e áspera e um frio escorre por todo meu
corpo.

É meu primeiro contato com ele e a sensação é de tremor.

Nós dois nos posicionamos diante do padre. Hades não se


ajoelha diante de padre, desrespeitando nossos costumes.

Ele não irá se ajoelhar no nosso casamento para demonstrar sua


rendição e respeito a Deus e a mim, como todos os homens fazem.
Isso já diz muito sobre ele e meu futuro.

Ouço todos se sentarem e eu engulo em seco.


O padre começa a cerimônia de forma lenta, em italiano. Meu
olhar está fixo no rosto do padre, na boca proferindo minha sentença,
no juramento que não irá impor o fato do meu marido ser um
assassino; uma pessoa incapaz de sentir sentimentos e um homem
que não irá medir distância em me tomar para ele a hora que quiser.

Por que os juramentos parecem mais sinceros quando sabemos


que não são reais? Não possuem validade? Talvez pelo fato de
querermos achar conforto e proteção nas leis de um ser poderoso
que dita que se obedecemos os votos, teremos salvação. Onde
estará essa salvação se eu obedecer esses votos quando meu
marido é um sociopata? As regras de recompensa por obediência de
Deus são iguais para mim?

Deus, eu nunca estive tão condenada na minha vida como estou


agora.

Hades e eu nos viramos um para o outro. Não tenho medo ou


receio de olhar nos seus olhos negros sem um único traço de
emoção.

Ele começa a repetir os dizeres do padre enquanto segura minha


mão e olha nos meus olhos.

— Eu, Hades Baumann, tomo você, Athena Vacchiano, para ser


minha esposa fiel, para ter e manter, deste dia em diante, para
melhor, para pior, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença,
para amar e respeitar, até que a morte nos separe; de acordo com
santa vontade de Deus, me comprometo a você.

Você ao menos acredita em Deus, Hades Baumann?

Minha mão está na sua, mas sem nenhuma pressão ou peso. Ele
deve está sentindo minha palma úmida pela ansiedade que vem de
sentimentos como a raiva e angústia por está tão desamparada.

Repito a fala do padre olhando para Hades em busca de qualquer


emoção. Algo em mim deseja que ele possa ao menos sentir o
mínimo possível.
— Eu, Athena Vacchiano, tomo você, Hades Baumann, para ser o
meu marido fiel, para ter e manter, deste dia em diante, para melhor,
para pior, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, para amar
e respeitar, até que a morte nos separe; de acordo com santa
vontade de Deus, me comprometo a você.

O padre prossegue enquanto nós dois mantemos nossos olhos


em contato.

— É de livre e espontânea vontade de ambos? — Questiona.

— Sim — A voz de Hades é retumbante como um trovão e tão


sem qualquer sentimento, emoção… Oca.

Ele olha para mim com firmeza, esperando minha confirmação.


Ao contrário da sua voz, a minha sai baixa e sem firmeza.

— Sim.

A aliança dourada, fina e reluzente escorrega pelo meu anelar e


minhas mãos repetem o gesto na mão de Hades Baumann.

— Hoje, Hades e Athena se comprometem um com o outro.


Prometendo um ao outro a vida e suas atribulações e felicidades. A
partir de hoje, vocês serão um— Mário e minha tia se aproximam do
altar..

É uma tradição da famiglia prometer diante do padre e Deus que


estão abrindo mão da filha quando ela se casa com um estrangeiro.

— Mario e Laura Vacchiano abrem mão da filha, para que ela


morra como Athena Vacchiano e renasça como Athena Bauman,
esposa de Hades Baumann?

Minha tia se mantém firme e Mário tem um sorriso que apenas eu


sou capaz de ver.

— Sim. — A resposta sai em uníssono.


O padre continua a cerimônia, encerrando quando chega o
momento de Hades e eu selamos nosso casamento.

— Pode beijar a noiva.

Meu pé direito por instinto é movido dois centímetros para trás


inconscientemente, e antes que eu mova o outro, Hades vem na
minha direção.

Ele levanta meu véu.

Seus olhos negros piscam com tédio e suas duas mãos segura
cada lado do meu rosto.

O rosto dele se aproxima do meu, seu nariz toca o meu, e os


lábios vermelhos são comprimidos nos meus. Tirando de mim meu
primeiro beijo.

Fecho os olhos para conter o pânico e assimilar a sensação de


ter outros lábios sobre os meus.

É um beijo frio, com um único movimento como se estivesse


provando do meu batom.

Ouço os aplausos e ele se afasta de mim lentamente, tirando


suas mãos grandes do meu rosto deixando um calor e formigamento
na minha face.

Os aplausos são intensificados, e nós dois nos viramos para as


pessoas, Hades segura minha mão para fazermos juntos a
caminhada para fora da igreja, sobre o olhar de todos.

Sua mão é extremamente forte, ele não está segurando a minha


com força, mas até a leve pressão que faz parece ser bruta.

A chuva de arroz cai sobre nós assim que saímos em direção ao


carro. Ninguém para nosso percurso para parabenizar e eu entendo
isso como medo de Hades.
Sua aparência está ainda mais assustadora nesse terno preto.

Entramos no carro e eu seguro meu buquê com força ao me ver


dentro de um espaço tão pequeno com ele.

Seu corpo é robusto e mesmo eu indo para o final do assento do


banco de trás, ainda me sinto em contato com ele.

— Casamentos italianos são enfadonhos. — Comenta


afrouxando a gravata.

O carro está em movimento, indo em direção a casa de Mário.

— Espero que essa festa acabe rápido e eu possa voltar para a


Alemanha. Os Italianos são demais para minha paciência.

Olho para ele rapidamente para ver se ele sabe o que acabou de
fazer ao se casar comigo.

— Por que se casou comigo, então? — Pergunto, sentindo uma


pequena adrenalina faiscar nas minhas veias.

Ele olha para mim, um olhar que parece conter mistério.

— Gosto da firmeza que vejo em seus olhos e da ausência de


medo, mas não baixe a guarda ao meu lado. Não baixe a guarda em
nenhum momento. Sua pergunta terá um tempo para ser respondida,
mas até lá, seja esperta e não faça muitas perguntas.
Viro meu rosto para a janela do carro.

Terei que ser uma esposa muda também?


Capítulo 6
A festa de casamento está sendo realizada no pátio do jardim da
mansão. Há várias pessoas, muita bebida, comida e música. Todos
estão em volta da comemoração enquanto eu estou sentada em uma
mesa, ao lado do meu marido. Torcendo minhas mãos de pavor com
a chegada da minha primeira noite.

Mário está na minha frente, sentado ao lado da minha tia, falando


com todos que chegam até ele. Ele tem uma alegria estampada no
rosto que me deixa repleta de raiva.

Penso seriamente em o esfaquear nessa mesa, cortar sua


garganta e apunhalar seu peito diversas vezes… sinto tanta vontade
de fazer isso que minhas mãos vão até a faca prata sobre a mesa.

— Está na hora da nossa dança. — Hades Baumann se levanta


da mesa, estendendo a mão na minha direção.

Em algum momento todas as atenções se voltaram para nós e a


música parou. Eu não percebi, estava empenhada em procurar a
melhor rota para esfaquear Mário Vacchiano.

Olho para a mão estendida de Hades e a seguro. A mão grande e


áspera. Bruta.

Meu véu foi retirado para possibilitar mais liberdade dos


movimentos.

Caminhamos até a pista de dança, me coloco diante de Hades e


sua mão segura a minha enquanto a outra vem para minha cintura.
Descanso minha mão no seu ombro, ergo o rosto encontrando os
olhos dele.

A música começa e nós dois nos movemos. Seu toque na minha


cintura me faz sentir algo que não quero sentir: medo.
Medo do momento que estiver despida e entregue a ele.

— Está com frio? — Pergunta ele, me puxando para mais perto


do seu corpo.

Uma onda de estremecimento percorre meu corpo com sua voz


tão próxima e seu toque.

— Não. — respondo de forma baixa.

— Está tremendo.
— Desculpe.

— Sente medo pelo que vai acontecer quando ficarmos a sós?

Sua pergunta me faz estremecer ainda mais e eu sinto minhas


pernas pesadas, todo meu corpo pesado.

— Não fui eu quem inventei essa bobagem de demonstrações de


lençóis, isso é uma das coisas que me faz ter mais desavenças com
a família siciliana. Exibir o lençol com o sangue da mulher… isso
nem mesmo soa bem.

— É disso que os homens da máfia gostam, não é? Mostrar o


sangue, a conquista. — não contenho meu rancor na voz.

A mão de Hades Baumann fica mais firme na minha cintura e sua


bochecha encosta na minha rapidamente.

— Não ligamos para essa bobagem de virgindade. Os homens


casam com quem quiserem, e fazem o que querem também, desde
que aceitem as consequências.

Me sinto no direito de perguntar o que suas palavras ressoam na


minha mente:

— E qual será a consequência de homens como você, que


derramou tanto sangue?
Hades me olha sem nenhuma sombra de emoção. Sua voz é
ainda mais sombria quando ele fala.

— Eu sou a consequência do erro dos outros. Todo sangue que


derramei foi por um motivo, e todo sangue que irei derramar ainda
será por um outro bom motivo. [6]

A forma como ele fala é fria e sem nenhuma sombra de culpa ou


remorso. Ele realmente não tem emoções.

Estou tremendo em seus braços quando Mário chega até nós,


para dançar comigo.

— Posso ter a honra de dançar com a minha filha pela última vez,
Baumann?[7]

Hades olha para meu rosto, seus olhos se demoram por alguns
segundos nos meus.

— Você a entregou a mim, então não tem permissão para dançar


com ela. Axel dançará com ela. — Ele chama seu executor, que
surge imediatamente — Dance com sua nova senhora, Axel.[8]

Os olhos negros olham para mim de novo como se procurassem


algo. Mário reluta.
— É nossa tradição— Insiste.

— Já obedeci elas até demais, Mário. Axel, dance com a minha


esposa e a introduza no nosso mundo.

Axel ri e se aproxima de mim. Os olhos de Mario me olham de


forma divertida e eu lembro do que ele falou. Hades e seu executor
dividem tudo, inclusive as mulheres.

Sinto meu corpo tremer.

Axel é mais delicado que Hades ao me segurar na dança, talvez


por ele estar sobre os olhos da famiglia, mas acredito que isso não
detenha sua brutalidade se ele quisesse fazer algo. Ouvi histórias
sobre como ele é um assassino nato, um torturador que ninguém
deseja encontrar.

— Os homens falaram do seu incidente no banheiro, senhora—


seu alemão bruto faz com que eu saia dos meus pensamentos.

— Acredito que seu capo também já esteja ciente— murmuro.

— Nada se passa sem o conhecimento dele. Espero que fique


ciente disso. Você pertence a ele agora, e o capo não deixa suas
propriedades irem embora. Ele pode não sentir emoções, mas é
obstinado em tudo, por isso é o melhor do ramo.

Isso é um aviso curto e impetuoso.

Axel deixa que meu Don dance comigo, ele percebe meu tremor
e nervosismo.

— Beba o quanto puder, se quiser ficar o mais distante possível


da sua primeira noite. Não sei como Hades Baumann é, mas não
arrisque ficar lúcida para ver isso.

Apenas olho para meu Don e assinto.

Volto à mesa e bebo duas taças de vinho de uma vez só, sempre
tomando cuidado de ninguém estar me observando engolindo a
bebida com fervor.

Bebo cerca de cinco taças até sentir uma mão impedir que eu
leve a sexta taça até os lábios.

Ergo meus olhos encontrando os negros de Hades.

— Pretende beber até desmaiar e evitar dormir comigo? —


pergunta.

Estou sentada, mas sei que quando levantar vou está


cambaleando. Nunca bebi muito, e espero que não seja forte para
bebidas.
— Eu estou aproveitando a festa. — digo com a voz enrolada.

— Você não tocou em nenhuma das comidas, e nem mesmo se


alimentou hoje. O álcool vai te fazer passar mal.

— Como sabe que não me alimentei?

— Da mesma forma que sei da sua tentativa de ter um fim como


o da sua mãe.

Engulo um um monte da minha saliva sentindo uma tontura


mesmo eu estando sentada. Meu corpo está pesado.

— Está na hora de subirmos.

Essas palavras me fazem arrebatar em pavor. Olho para Hades


em busca de sua cooperação, mas tudo que ele faz é me segurar
pela mão e me ajudar a ter equilíbrio.

As pessoas percebem nosso movimento, começa a gritaria dos


homens.

— Leve-a para o quarto! — gritam!

— Não saiam até ter muito sangue para nos mostrar! — Axel grita
e gargalha completamente bêbado.
Encontro os olhos da minha tia, ela está cabisbaixa e Mário tem
um riso no olhar. Hades aperta minha mão e para não mostrar meu
andar cambaleante, ele me ergue em seus braços como se eu não
pesasse nada.

Como se eu não tivesse nervos que me fizessem sentir dor pelo


movimento brusco.

A gritaria dos homens aumentam, e eu ouço coisas que pedem


para Hades fazer comigo. E isso é o suficiente para eu sentir meu
estômago revirando.
Capítulo 7
Hades me coloca no centro do quarto e fecha a porta do mesmo.
Foi preparado um quarto para nós dois, com uma cama grande e
lençóis branco leite. As janelas do quarto estão trancadas e a chave
do quarto está com Hades.

Se tinha algum álcool em mim, ele evaporou com o medo desse


momento. Hades retira seu paletó, deixando a blusa branca, o blazer
preto e a gravata exposta no seu porte robusto, assim como seu
coldre com uma adaga e uma arma.

Engulo em seco.

— O álcool parece ter desaparecido de você. — observa,


retirando o coldre com as armas.

Ele vai se despir na minha frente, e eu não tenho para onde


correr.

— Você vai tirar suas roupas? — pergunto, assombrada, sem


sentido, tonta.
Seus olhos demonstram um certo enfado.
— Você precisa de um momento para se preparar? Por que não
há como você fugir disso, esses lençóis precisam está com seu
sangue, e eu não me casei para ter uma esposa como enfeite.

— E suas mulheres das boates? Não pode dormir com elas e me


ter como um adorno bonito na sua casa? — meus lábios tremem
graças ao medo.

Hades caminha na minha direção, retirando a adaga prata,


brilhante com uma cobra esculpida no punhal do seu coldre.

Dou um passo para trás, implorando com os olhos. Ele


simplesmente me vira de costas e corta o vestido com a faca. Seguro
a frente do vestido, sentindo a lâmina cortar o tecido, deixando
minhas costas expostas, a calcinha branca com uma cinta liga.[9]

— A tradição me manda tirar seu vestido assim. — diz.

Sinto a frieza do quarto nas minhas costas, descendo pelas


minhas pernas e repercutindo para a frente do corpo que ainda está
coberta.

— Você vai ser bruto? — pergunto, vendo minhas mãos tremendo


pela primeira vez.

Sinto Hades colar o corpo no meu e arrepios de medo se


espalham por mim, ele ainda está vestido.

— Não sei fazer amor, se é isso que quer de mim. Mas serei o
mais gentil possível com você. Se quiser que eu a beije, eu a
beijarei, mas não faço questão de beijar na boca.

Meus olhos umedecem, borrando minha visão.

— Se eu pedir que não me leve para a cama, você faria isso, por
favor? — Minha voz é trêmula, repleta de lamúria.

Hades parece tenebroso pela sombra que está à minha frente.


Seu corpo é mais largo, alto e forte que o meu, e ele está atrás de
mim de forma ereta.

— Você estaria fugindo das suas obrigações como um membro


da máfia, como esposa. E eu não tolero isso. Você pode colaborar
comigo e me deixar acabar logo com isso da melhor forma para
você. Tenho experiências, sei que dói e eu não vou piorar isso— sua
respiração está no meu cabelo — Pode começar tomando banho, se
isso for te fazer relaxar.

Balanço a cabeça em um sinal afirmativo, com as mãos trêmulas,


segurando meu vestido, eu caminho em direção ao banheiro onde
me tranco.
Minhas pernas sentem a necessidade de ceder, mas não posso
deixar isso acontecer. Não posso me trancar aqui, entrar em
desespero e fazer os homens entrarem e me forçarem a ter relações
com meu marido.

A alternativa dele é a melhor.

Entro na ducha morna sem molhar meu cabelo, ensaboei meu


corpo com o sabonete de limão e retenho minhas lágrimas. Observo
meu corpo, a minha parte íntima que passou por uma depilação para
essa noite.

A sombra em que estávamos desenhados minutos atrás


repercute na minha mente. O tamanho dele, e como ele parece
impiedoso.

Visto a camisola azul clara transparente que foi posta no


banheiro, para meu uso. É totalmente transparente e eu posso ver os
centímetros da minha pele. Desde o seio de auréolas rosadas, firme
e pequeno a minha parte íntima.

Solto meu cabelo que cai liso até o meio das minhas costas.

Respiro fundo e olho para meu reflexo no espelho.

Morra pelas mãos certas, Athena.

Saio do banheiro encontrando Hades apenas de cueca, sentado


na cama analisando a adaga. Sinto um frio na espinha ao vê-lo com
isso nas mãos, os olhos negros tão concentrados na lâmina.

O quarto está com uma única luz amarela que vem do abajur ao
lado da cama. A lâmina da adaga brilha.

Hades ergueu o olhar para mim e se ergue, e ao fazer isso eu


vejo as diversas tatuagens espalhadas pelo seu tórax, peito, e
braços. Pouca parte dele nessa área não é coberta por tatuagem.
Seus músculos parecem esculpidos. Sem roupas, ele parece ser
ainda maior. A cada passo que ele dá na minha direção eu percebo
as cicatrizes na barriga que as tatuagens cobrem, mas não as fazem
desaparecer. O relevo delas ainda está lá.

Ele está a cinco centímetros de mim, com os olhos no meu corpo.

— Você quer que eu a beije? — Pergunta.

Olho para seus olhos negros, aturdida. Não imaginei que fosse
me fazer essa pergunta.

Lembro da sensação de ter seus lábios nos meus, e de como


aquilo me fez desligar de tudo.

— Sim, eu quero.

Ele se aproxima ainda mais.

Sua mão esquerda toca meu cabelo, descendo pelo comprimento


longo. Hades inspira profundamente. Seus olhos estão tão negros.

Ele é tão imenso em altura e dimensões.

Pareço tão pequena e frágil perto dele.

Sua mão tocou minha cintura, segurando a mesma com toda sua
mão. Meus pêlos enrijecem e eu perco o ar quando ele me puxa para
ele.

Seu corpo é quente e sua outra mão segura meu seio direito. Um
toque que engloba todo meu peito e o aperta rapidamente.

— Pode me tocar também, se desejar— Sua voz é baixa e causa


calafrios.

Lentamente coloco minhas mãos sobre seus bíceps tão duros


como uma rocha, e grossos o suficiente para não deixar nenhuma
parte das minhas mãos sem apoio.
Hades se inclina como fez na igreja, mas ao contrário de lá, a
forma como seus lábios tomaram os meus é selvagem, e ele toca
meus lábios com sua língua.

Sua mão vai para trás do meu cabelo, trazendo-me ainda mais
para ele, colando minha boca a sua.

Movo meus lábios, os abrindo e isso o faz introduzir sua língua na


minha boca, explorando a mesma com ela.

Aperto seus braços com o susto por tal coisa, mas ele não para.

A forma como ele segura meu corpo de forma tão determinada e


fácil, assim como me beija me traz lapsos do dia que Mário tentou
me beijar, me segurar dessa forma.

O terror de ser violentada me afeta e eu me afasto de Hades com


a respiração desregulada pelo medo. Ele me olha friamente.

Dessa vez, eu irei consentir. Deixarei Hades tomar meu corpo.

Me viro de costas para ele e retiro a camisola, ficando


completamente nua e trêmula. Me deito de costas na cama, olhando
para o teto e sentindo a presença de Hades.

Seus movimentos me fazem olhar para ele. O vejo retirar a


cueca, ficando completamente nu e uma onda de pânico passa pelo
meu corpo.

Vou ser estilhaçada.

Hades sobe na cama, determinado.

Sua mão tocou meu peito e eu me senti tremer ainda mais. Eu


estava apavorada e tudo que conseguia pensar era em Mário, nas
suas mãos repugnantes em mim.

— Preciso que relaxe para não ser doloroso para você. — Hades
mantém suas mãos em mim, acariciando meus seios.
— Acabe logo com isso, por favor. — Sussurro.

— Você sentirá dor se eu entrar em você do jeito que está.

Seus olhos são frios, suas palavras são clínicas.

— Se eu relaxar, irei sangrar menos? — Pergunto.


— Sangramentos são singulares para cada mulher, mas se eu
entrar em você com brutalidade você irá sangrar bastante. Como se
tivesse sido violentada.

É isso que Mário quer, é o que todos os homens da máfia


querem. Desejam ver sangue aos montes.

— Consigo lidar com a dor —digo com convicção em meio ao


tremor.

Seus olhos frios e clínicos me cercaram.

Meus olhos desceram até o contorno da forma do seu membro.


Ele pareceu ler meus pensamentos.

— Não será de forma agradável para você nem para mim.

Estremeci ao pensar que isso doeria muito pelo tamanho que eu


via.

Ele ergueu meus joelhos e se ajoelhou entre minhas pernas.

Se abaixando, ele começou a beijar meus lábios, descendo com


seus lábios pelo meu pescoço, clavícula e ombros até chegar aos
meus seios, mas ele não se demorou ali, desceu até minhas costelas
onde meu corpo vibrou com seu beijo e língua.
Eu arfei com a sensação.

Hades ergueu o olhar.

— Costelas, então — não foi uma pergunta, ele voltou a me beijar


enviando ondas desgovernadas de eletricidade pelo meu corpo.
Eu ainda sentia o nervosismo e o pavor, seus lábios me distraía
uma vez ou outra, quase insuficientes para me tirar da minha mente.

Seus beijos desceram pela minha barriga, indo cada vez mais
baixo, me deixando ofegante. Com um beijo no meu osso púbico, ele
acariciou minhas duas coxas simultaneamente me fazendo arfar.

A cabeça de Hades se alojou entre minhas pernas, sua língua


tocou a parte interna da minha coxa e eu exalei com força.

A sensação era de formigamento, dormência e calor.

Segurei os lençóis, cravando minhas unhas neles a cada vez que


ele subia com a língua até chegar no meu íntimo onde me beijou de
forma demorada, e lambeu vagarosamente meu clitóris, me fazendo
arquear as costas quando pressionou a língua no mesmo lugar. Uma
espécie de grunhido saiu da minha boca, fazendo Hades agarrar
minhas coxas com mais força.

Essa força era boa para o meu corpo, mas na minha mente algo
dizia que era um indício da violência.

Me contrai inteira, voltando a ficar tensa.

Hades ergueu seu olhar, voltando a ficar ajoelhado entre minhas


pernas, com os olhos clínicos me analisando.

— Você lubrificou mesmo com sua mente tão contra isso — sua
voz é baixa, tensa.

Puxo o ar.

Hades dedilha minha intimidade, circulando a entrada e enfiando


um dedo dentro de mim.

— Isso arde — Ofego.

— Preciso preparar seu canal para entrar em você. Está pronta


para o sexo, só quero aliviar o desconforto.
— Apenas termine logo! — não foi uma exclamação ou ordem, foi
uma voz baixa e urgente.
Muitos sentidos do meu corpo estavam fora do lugar e eu queria
que voltassem para onde pertencia urgentemente. Essa mulher de
agora não sou eu.

Não sou tão inofensiva assim.

Hades retirou seu dedo de mim, se ajoelhando novamente diante


de mim, me dando total visão do seu membro ereto.

Acariciando seu membro, ele se posicionou na minha abertura,


tentando entrar.

— Inspire.

Obedeci.

Hades foi entrando dentro de mim com seus olhos nos meus. A
cada centímetro seu dentro de mim, fazia com que eu apertasse os
lençóis e mordesse meus lábios com força.

Gemi com a dor e fechei meus olhos.

— Abra os olhos. Não consigo ler suas emoções com eles


fechados.

Então, é assim que ele lê emoções? As minhas emoções?


Assenti mantendo meus olhos abertos.

Hades se introduz completamente dentro de mim e a dor é algo


que não posso ignorar.

O peito dele sobe e desce mesmo ele não demonstrando a


excitação na sua respiração.

— Posso me mover? — Questiona.

Olho para ele.


— Faça.

Seus quadris se moveram com cuidado, mas intensos e seu


membro tocou algum ponto em mim que me fez gemer.

Os movimentos traziam dor e retesamento de mim, e isso me


deixava ainda mais tensa. Hades me olhava e controlava sua
respiração e seus impulsos. Eu sabia que ele estava se controlando,
que queria ir mais rápido… eu queria que acabasse rápido essa dor,
a sensação de o ter pressionado contra meu corpo.

— Mais rápido — sussurrei arfante.

Os olhos de Hades mergulharam nos meus, ele viu algo, eu


sentia que ele sabia que eu não disse isso por prazer, e mesmo
assim ele obedeceu.

Seus movimentos se intensificaram, ele ia mais fundo dentro de


mim causando mais ardência e um certo tremor.

Agarrei seus braços, buscando alívio das sensações que me


tomavam.

Em algum momento suas estocadas pararam de serem


desconfortáveis e eu me sentia mais aberta para ele.

Hades ficou rígido.

Mordendo os lábios, ele bateu mais fundo dentro de mim e


grunhiu.

Seu corpo amoleceu depois de alguns segundos e ele se retirou


de dentro de mim, caindo para o lado da cama, jogando o braço, que
caiu sobre minha barriga.

Eu podia ouvir sua respiração e sentir o suor que deixava no meu


corpo.
Minha respiração também estava acelerada, se controlando com
o passar dos segundos.

Depois de alguns minutos, Hades se ergueu, indo até o banheiro


e voltando segundos depois com uma toalha úmida.

Me ergui o suficiente fazendo seu gozo escorrer pelas minhas


pernas, junto com meu sangue.

Olhei para Hades que estava limpando minhas pernas.

— Você teria sangrado mais se eu tivesse feito como pediu —


Sua voz ainda é sem nenhuma emoção, mas a forma como me limpa
é suave.

Ele não foi um monstro.

Não me sinto estilhaçada.


Capítulo 8
Hades Baumann
Acordo duas vezes no meio da noite ao sentir a presença de
alguém ao meu lado. Já faz muito tempo que dividi minha cama com
alguém, a última pessoa foi Anelise, minha irmã, nos três primeiros
anos da sua vida. Depois disso, ela simplesmente ficou no quarto
dela.

Agora, tem uma mulher ao meu lado e sua aparência é de uma


beleza celestial, quase irreal.

Ela pegou no sono depois de se certificar que eu estava


dormindo, mas eu não estava, apenas dei a sensação de segurança
a ela.

São 4:00 da manhã e eu estou desperto, parado ao lado da


janela, observando os jardins da mansão de Mário Vacchiano
enquanto analiso os fatos.

Meus olhos desviam para Athena, insistentemente, sinto que tem


algo nela.
Uma mulher sem traumas não iria pedir a um homem, na sua
primeira vez, para ir com tudo e a machucar. Posso não ser
acessível a emoções, mas os olhos dela me dizem algo que não
consigo decifrar.

Durante todo o tempo que estivemos no mesmo local, eu não vi


medo, relutância ou hesitação. Ela tem os olhos determinados,
controlados e enigmáticos, porém ontem a noite vi tudo isso se tornar
em medo com minha presença.

Ela nem mesmo chegou a gozar, não se permitiu isso e eu fui


atencioso. Não a machuquei, não usei da força que sou acostumado
com as mulheres que faço sexo.
Athena se mexe na cama, agarrando ainda mais o travesseiro,
seu cabelo liso está caindo pelas suas costas e rosto. No meio da
cama está o lençol manchado com o sangue dela.

Continuo olhando para o jardim enquanto pondero meus


próximos passos.

Às horas se passam e às 5:00 em ponto, Athena acorda. Seus


olhos se abrem lentamente, mas ela continua parada. Seus olhos
miram no meu lugar vago até subirem e fazer contatos com os meus.

Imediatamente ela se ergue, se virando de costas para mim,


procurando algo para cobrir sua nudez.

— Está tímida por estarmos pelados na luz do dia? — Questiono,


olhando suas costas magra e pálida.

Ela se enrola em um lençol.

— Incomodei seu sono a noite?

— Sim, não costumo ter companhia na minha cama durante toda


a noite — Respondo.

Se virando na minha direção agarrada ao lençol a sua volta, ela


me olha com os olhos cinzas evitando olhar para meu baixo ventre.

— Desculpe por isso.

O rosto dela é uma combinação perfeita com o corpo, cabelo e


olhos. Muitas mulheres da máfia são bonitas, mas acredito que
Athena esteja em outro patamar.

Percebo seus olhos mantendo o contato com os meus, ela não


desvia, não a deixo com medo, pelo menos ela não mostra isso a
mim.

— Podemos tomar banho. Daqui a pouco as mulheres virão para


recolher os lençóis.
Athena olha para a mancha de sangue com um certo desgosto no
olhar, ou seria raiva? Não consigo entender suas expressões quando
não a estou olhando diretamente nos olhos.

— Você quer tomar banho comigo? — Sua voz é baixa.

— Quero que se acostume comigo, com minha nudez. Não


costumo usar roupas quando estou no quarto e seria ótimo não ver
esse desconforto nos seus olhos a cada vez que me ver despido.

— Você irá me querer todas as noites? — Sua pergunta carrega


uma entoação de hesitação.

Inspiro.

— Você é minha esposa, Athena. Ontem a noite pode ter sido


desconfortável, mas as próximas vezes serão melhores. Não sou
bruto como achou que eu fosse e não serei se não quiser que eu
seja.

Ela apenas balança a cabeça.

Caminho até o banheiro e abro a porta do mesmo, dando espaço


para ela passar, a mesma caminha com uma certa rigidez. Suas
pernas e sua intimidade devem estar doendo pelo meu tamanho.

Tomamos banho juntos, sem falar muito um com o outro e com


ela tentando o máximo cobrir o corpo de mim.

Saio do chuveiro primeiro e a deixo se lavar com privacidade.


Enxugo meu cabelo na toalha e visto minha roupa reserva.

Athena sai do banheiro minutos depois com o cabelo úmido e


vestindo um vestido solto, na cor azul clara, fazendo seus olhos
ganharem ainda mais atenção.

— É sangue o suficiente? — Ela pergunta olhando para os


lençóis na cama.
A mancha não é tão grande, mas se torna um destaque nesse
lençol branco.

— Já fui em demonstrações de lençóis da famiglia e vi diversas


formas — Calço meus sapatos — alguns homens acham que ser
bruto faz as mulheres sangrarem mais, então agem como animais e
violam as mulheres apenas para serem elogiados.

— Então, quanto mais sangue, maior é a força que o homem


usa?

— Ou não sabem como preparar uma mulher para a penetração.


Athena assente como se tivesse descoberto algo importante.

Alguém bate na porta e logo duas mulheres sorridentes da família


entram, recolhendo os lençóis e nos mandado esperar um pouco no
quarto enquanto preparam o café da manhã e a exposição do lençol.

Nesse meio tempo, minha esposa e eu ficamos em silêncio no


quarto, esperando sermos chamados.

Quando descemos, as mulheres correm em direção a Athena e


Axel vem na minha direção.

Ele ainda está com a roupa de ontem e exalando o odor de


álcool.

— Foi uma ótima noite com sua esposa bela e virgem, meu
capo? A mancha parece ter sido bem feita — sorri com sua forma
zombeteira de sempre e indiscrição.

— Onde está Anelise? — Pergunto.

— No jardim com as outras crianças e sua cuidadora. Não


queremos que as crianças vejam essa mancha de sangue, não é?
Principalmente Anelise, nossa princesa.

Mário se aproxima de mim com um sorriso de lábios fechados,


calculado. Ao lado dele está Hugo Colombo, o don dessa famiglia.
— Parabéns pelo casamento, Baumann — Hugo aperta minha
mão.

— Minha filha deu alguma dor de cabeça a você? — Pergunta


Mário com um brilho no olhar.

— Qual tipo de dor de cabeça ela poderia me dar, Mário? Foi um


casamento, não uma luta— respondo fazendo o mesmo perder o
brilho no olhar.

Por outro lado, Hugo parece satisfeito com minha resposta.

A sala está sediando o show com os lençóis manchados,


esticados para todos verem. Muitos dos homens estão olhando para
eles como se estivessem apreciado e discutindo uma obra de arte.

Procuro Athena no meio das pessoas e a encontro perto da sua


tia e de outras mulheres. Seus olhos estão distantes, fora de foco.

— Está tudo pronto para nossa volta à Alemanha? — Pergunto a


Axel.

— Sim, capo. Mas antes, poderia me deixar conseguir foder com


pelo menos mais duas italianas? Tentei fazer algo com algumas das
virgens, mas são tão medrosas que nem um beijo conseguir ter —
Axel suspira fazendo o álcool subir em um vapor de odor dele.

— Não arrume problemas, Axel. Procure por Anelise e organizem


tudo para nossa partida. Chega de italianos.

Axel ri.

— Sua esposa é italiana, capo. Irá dar um fim nela?

Olho para meu executor reforçando o que mandei ele fazer.

Vou em busca de Athena.

É hora de sair da Itália e ir para seu novo lar.


Antes que eu chegue nela, Hugo Colombo é mais rápido.
Observo de longe ele conversar com a afilhada.

Athena parece confortada com ele, mais calma e com os olhos


suaves.

Então, eu estou levando a preciosidade do don da Itália comigo.


Isso vai ser interessante.
Capítulo 9
Athena Baumann
Minha tia tem os olhos repletos de lágrimas quando me despeço
dela. Mário por outro lado parece estar muito satisfeito com tudo. Ele
conseguiu o que queria, me tirou do lugar onde eu tinha um pouco de
proteção, e está me mandando para outro país.

Os homens de Hades colocam todas minhas coisas necessárias


dentro do carro e após me despedir do meu don, eu vou para o
carro.

Quem está dirigindo é Axel, Hades está na frente e eu e Anelise


estamos atrás. Anelise parece sonolenta e encosta a cabeça no meu
braço. Sinto os olhos de Hades pelo retrovisor.

— Se sente cansada? — Sussurrei para Anelise.

Seu cabelo loiro está bem penteado, ela está com um vestido
quente e confortável, juntamente com uma sandália fechada.
Ela assente.

— Poderá dormir quando chegarmos no avião — digo.

Anelise balança a cabeça e volta a se apoiar no meu braço.

Chegamos na pista de vôo onde um jatinho nos espera. Os


homens de Hades se dirigem para um outro veículo e nós subimos a
bordo.

Procuro um lugar perto da janela e confortável para Anelise. Não


quero ficar perto de Hades. Não há nada que eu possa conversar
com ele, e nada que ele vá conversar comigo.

Observo que só estamos ele, Axel, Anelise e eu no lugar dos


passageiros. Olho para Hades:
— Você não tem conselheiro?

Axel ri.

Hades se senta em um lugar próximo a poltrona de Axel.

— Sou meu próprio conselheiro. — Responde.

Isso explica o fato de eu não ter visto ele acompanhado de outra


pessoa que não fosse Axel.

Sento ao lado de Anelise, que escorrega para perto do irmão. Ela


não fala, apenas faz gestos com a cabeça e só se aproxima de
pessoas que conhece como Axel e Hades, e agora eu. É como se as
pessoas fossem repelentes.

Fico no meu assento vendo a Itália sumir dos meus olhos quando
o vôo é levantado. Meu coração acelera e eu sinto vontade de
chorar. Aqui nunca foi meu lar, nunca tive um, mas era o lugar onde
eu tinha com quem contar.

Fique atenta.

Meu padrinho me aconselhou a ficar atenta, a ajuda vai vir de


algum lugar. Eu irei precisar dela.

São mais de 4 horas de voo, e quando finalmente chegamos já é


de tarde. O avião pousou em uma pista privada.

Axel segura a mão de Anelise e ambos saem deixando apenas


Hades e eu.

— Os costumes são diferentes aqui, não faça muitas perguntas,


apenas fique atenta aos gestos de todos e não aja com submissão

— Preciso me reportar a alguém quando for fazer alguma coisa?


— Pergunto — A você?

Ele levanta, a postura ereta, olhos sem expressão e a voz clínica.


— Você é minha esposa agora. O que falar aqui, se tornará uma
lei, as pessoas irão te servir em tudo que quiserem. A única coisa
que não poderá fazer é desrespeitar ninguém para não receber o
mesmo tratamento.

Assenti.

Hades pega sua bolsa de mão e começa a caminhar para fora, eu


o sigo. Não tem ninguém do lado de fora do jatinho, e ao nosso redor
tudo é verde.

Sigo Hades em direção a um carro que nos leva até uma espécie
de fazenda.

A casa de Mário é enorme, parece um castelo.

Mas a de Hades é muito mais bonita.

O lugar é rodeado de árvores, grama e pedras. É uma casa


antiga pintada de vermelho vinho com janelas e portas pretas. É um
local isolado, mas nada discreto. É notável que é afastado da cidade
e de outros lugares.

O espaço ao redor parece um campo de golfe, mas tem casas


pequenas na parte de trás. Chalés.

É onde os capangas devem ficar. Ele mantém todos eles pertos.

Ao passo que vou caminhando para a casa junto com Hades e


Anelise, vejo pessoas ao redor, me olhando. Homens sujos com
graxa, tatuados, sem camisa e com cicatrizes.

Seus olhares são mortais.

Entro na casa sentindo o ar gélido na minha pele. As paredes são


de madeira, tem uma lareira na sala e um aquecedor no vestíbulo,
mas a casa é fria.
— Senhorita Anelise! — Uma voz feminina vem do corredor, com
o sotaque alemão forte.

Anelise se esconde atrás de Hades e eu olho para a mulher de


meia idade que se aproxima.

O cabelo totalmente branco solto e vestida de preto. Ela tem o


rosto sério e uma postura rígida.

Os olhos castanhos vem até mim, desviando para Hades.

— Bem-vindo de volta, meu senhor.

Hades ponhe a mão no alto da cabeça de Anelise como se


estivesse acariciando.

— Athena, essa é Cressida. Ela é quem cuida da alimentação


dos homens da organização e da casa quando não estou. Cressida,
essa é Athena, minha esposa.

A mulher não esboça nenhuma reação, sua postura e olhos


continuam rígidos.

— Seja bem-vinda a sua casa, senhora.

— Obrigada — agradeço

— Preparei o quarto dos senhores. Também deixei comida pronta


na cozinha para o caso de estarem com fome.

— Estou faminto, Cress. Obrigado! — Axel vai em direção a


cozinha com um suspiro profundo.

Anelise continua segurada nas pernas do irmão e com os olhos


negros amedrontados.

— Leve Athena para o quarto, Cressida — Pede Hades.


Olho para Anelise dando um breve sorriso, ela pisca os olhos
parecendo assustada.

Cressida sobe as escadas e eu a acompanho olhando para tudo


que consigo. A casa tem uma decoração antiga, minimalista e
clássica.

Os corredores são enormes e tem quartos por todo lugar.

Cressida abre a porta do último quarto e me dá espaço para


entrar. A temperatura do quarto parece ainda mais fria.

O quarto é em um tom vinho tanto nas paredes como no chão, é


amplo, sem muita decoração. A cama é de casal e tem lençóis claros
e grossos. Na frente da cama, na parede, tem uma coleção de
adagas, arco e flechas.

Não tem fotos, adornos ou qualquer outra coisa além de uma


cama, a decoração da parede, abajur, mesas de cabeceira,
poltronas… parece um quarto de hotel.

— Vou trazer suas coisas para serem organizadas no closet —


avisa Cressida

Ela se retirou me deixando sozinha aqui, olhando para a cama. É


menor do que a de ontem a noite.

É aqui que terei meu corpo tomado até quando eu me recusar.

Olho o banheiro do quarto, o closet e volto para o quarto, me


sentando na poltrona.

Cressida volta junto com um homem carregando as malas.

— Deveria descer para comer, senhora. O senhor Hades foi


resolver alguns problemas junto com Axel. Na cozinha tem bastante
comida.

— Farei isso. — Digo.


Ela e o homem vão até o closet e eu desço para a cozinha. Uma
cozinha enorme com comida sobre a mesa e diversos sucos. É o
único lugar da casa que não tem uma temperatura fria.

Me sinto faminta por alguma razão, sirvo um prato com as


comidas que mais agradam meus olhos e me sento sozinha na
mesa.

Esse é o único momento que tenho para me sentir como deveria:


tomada.

Fui tomada, despojada.

Estou em um lugar desconhecido suscetível a qualquer tipo de


situação. Gostaria de fugir, mas para onde iria? Hades talvez
mandasse seus homens acabar comigo se eu tentasse, ou ele
mesmo o faria.

Mário conseguiu tirar uma ilusão minha ao me casar com um


homem como Hades: ser amada.

Ele nunca poderá me amar, ele não sente isso.

Passo a tarde explorando o máximo que consigo da casa em


busca de achar o quarto de Anelise, ao que parece ela não divide o
mesmo lado da casa que Hades. Eu fico praticamente o resto da
tarde procurando e não encontro.

Por volta das 19:00, após o meu jantar sozinha, eu tomei banho,
lavo meu cabelo e me visto com uma das camisolas branca colocada
na minha mala. Escovo meu cabelo e vou para a cama.

O quarto está muito frio, o ar condicionado deve estar no mínimo.


Não é possível que alguém consiga dormir nessa temperatura.
Procuro o controle, mas é algo que também não acho.

Subo na cama, me enrolando com três camadas de lençóis


grossos e um edredom, e ainda assim sinto frio. Deito a cabeça no
travesseiro e lembro da noite passada quando Hades me
transformou em sua mulher.

Ele não foi cruel ou bruto.

Mas isso não é uma regra, talvez ele não quisesse me ver
chorando, gritando de dor. Ainda sinto uma certa rigidez nas pernas,
acredito que seja pelo tamanho dele.

Hades não me tocou depois daquela noite, nem mesmo quando


tomamos banho pela manhã.

Me pergunto se ele está guardando sua verdadeira natureza para


quando chegar.

Fecho meus olhos, mas não consigo dormir. Ouço o exato


momento que Hades chega no quarto, gelando meu coração e corpo.
Ele é silencioso, mas não o suficiente para passar despercebido.

Abro meus olhos o suficiente para o ver tirar as roupas


completamente e ir para o banheiro, ele deixa a porta aberta. Ouço a
água do chuveiro e enquanto isso meus olhos descem para a roupa
jogada no chão.

Tem sangue nelas. A blusa parece ensopada em algumas partes,


a calça jeans manchada.

O sangue não me assusta, o fato de onde esse sangue veio é


que sim.

Hades sai do banho com o cabelo pingando e uma toalha em


volta do quadril.

Tento fingir que estou dormindo, porém a minha respiração


entrega meu coração acelerado de medo do que Hades pode querer
comigo.

Ele vai até o espelho do quarto, sem ligar as luzes, apenas a luz
da janela clareia o quarto. Hades enxuga seu cabelo e eu olho para
suas costas largas, musculosas e malhadas vendo tatuagens com
espécies de runas e caracteres japonês.

Ele joga a toalha no chão, retira a da cintura e eu fecho meus


olhos quando o mesmo vem em direção a cama, subindo na mesma,
se ajeitando para deitar e isso aumentou o pavor em mim.

Seu cheiro fresco de banho tomado inundou meu nariz e eu


procurei soltar minha respiração.

— Amanhã levarei você para conhecer ao redor da casa, se


quiser, podemos até fazer algumas compras para você — é claro que
ele sabia que eu não estava dormindo.

Abri meus olhos vendo seu corpo para cima, seu peitoral tatuado,
o braço forte embaixo da cabeça.

— Onde fica o quarto de Anelise? — Foi a primeira coisa que me


veio à mente.

Hades virou o rosto na minha direção:

— Na ala leste.

— Por que não aqui?

— Esse lado é frio e movimentado, duas coisas que ela odeia.


Anelise prefere ficar sozinha e em paz.

— Então, o ar-condicionado tão frio é proposital?

Hades suspira e fecha os olhos.

— Não sinto o frio como outras pessoas, sinto mais calor. Não
consigo dormir com cobertores ou qualquer coisa sobre meu corpo.

Quero perguntar o porquê, mas ele me avisou sobre não fazer


muitas perguntas.
Me envolvo ainda mais nas cobertas e fecho meus olhos. Hades
não quer nada essa noite, e eu respiro aliviada.
Capítulo 10
Hades Baumann
Athena está encostada na cabeceira da cama quando saio do
banheiro. O cabelo negro liso caindo ao seu redor e os olhos cinzas
despertos. Meus olhos descem para o inchaço dos seus seios tão
pouco protegidos nessa camisola fina. Meu sangue escorre para
meu pau e eu contenho a necessidade de reivindicá-la. Athena é
muito linda e eu estou louco por sexo com ela novamente, entrar no
seu canal apertado e suculento.

Mas não farei isso até ela começar a se sentir segura ao meu
redor.

Ela encontrou meu corpo durante a noite, provavelmente pelo frio.


Precisei de cuidado para não acordá-la quando afastei seu corpo do
meu para me levantar.

Seus olhos cinzas descem pelo meu corpo nu, subindo até meu
rosto.

— Que horas são? — Sua voz está rouca. Porra, como isso é
excitante!

Me viro de costas para vestir minhas roupas.

— 5:30

Ela respira fundo e puxa os lençóis até os ombros. A temperatura


do quarto deve estar baixa demais para ela, mas é a única
temperatura que consigo dormir.

— Vou ficar pronta para sairmos — sussurra.

Visto as calças e uma blusa.


— Pode descansar um pouco mais, ainda é cedo. Vou resolver
alguns problemas antes de sairmos.

— Esse problema tem algo com o sangue nas roupas que chegou
ontem?

Olho para ela, procurando algo na sua expressão. Ela não mostra
desconforto ou incômodo, está apenas sendo curiosa.

— Gostaria de me acompanhar e saber mais sobre isso? —


pergunto.

— Não.
— Ótimo.

Saio do quarto, caminhando até a parte de trás da casa onde fica


a casa de Axel e outros capangas. Não preciso me aproximar o
suficiente para ver a porta do chalé de Axel se abrindo e ele saindo
com um hematoma na bochecha.

— Não colocou gelo nisso? — Pergunto subindo a varanda do


chalé.

Axel suspira estendendo um copo de café com rum na minha


direção.

— Ainda acho que aquele ataque na boate ontem foi proposital.


Eles acharam que você estava na Itália e quiseram mostrar algum
poder. O sul está se rebelando, capo, ontem foi uma prova disso.

Bebo uma boa dose do meu café, olhando para a grama verde e
as oficinas de armas e carros ao redor do campo.

— Matamos o homem que se proclamava meu underboss e


mandamos os pedaços dele para aquela região. Se esse aviso não
for o suficiente, farei uma grande fogueira humana.

Axel ri sombriamente, se apoiando na cerca da varanda.


— Como foi sua segunda noite com sua esposa? Fodeu ela
depois de ter fodido a Marrie em cima do sangue daquele filho da
puta? — questiona.

Athena me causou um aumento de testosterona, e isso misturado


a má sorte de um homem sem razão, acabou em uma festa com
assassinato e sexo.

— O quê? Só ficou com ela na lua de mel? Sério, capo? — Axel


está incrédulo.

— Ela tem medo de mim.

Ele ri.

— E quem não tem? Achei que ela fosse mais corajosa dado ao
fato das histórias que ficamos sabendo sobre ela. O que ela passou,
se casar com você deveria ser uma bênção.

Bebo todo meu café, desejando um pouco mais de rum para dar
algum sabor a minha boca.

— Hugo Colombo gosta dela. — Afirmo.

Axel estreita os olhos.

— Que tipo de gostar? Ele é um velho.

Subo meus olhos em direção a mansão, olhando para a janela do


meu quarto.

— Ele gosta dela como um homem gosta de uma mulher. Quando


Mário me procurou para oferecer a Athena, ele me confirmou isso.
Disse que ela era o sonho de Hugo, que pelo fato dele ser casado e
ela mais nova e afilhada dele… não era possível ter um caso
amoroso. Eu duvidei disso, Mário Vacchiano não é confiável. Mas
teve a demonstração de lençóis e eu vi Hugo Colombo tenso e
desconfortável.
Axel está ouvindo tudo com atenção.

— Acha que ele fará algo contra nós? — pergunta.

— Ele dará um jeito de tentar tirar Athena daqui. Por isso, preciso
que fique de olho em todo mundo que entrar e sair dessa casa.
Athena agora é minha, da Alemanha. Hugo não vai chegar nem perto
dela.

Axel abre seu sorriso macabro.

— Claro que não, capo. Nenhum outro pé italiano entrará aqui.

Saímos do chalé para verificar as novas remessas de armas para


os homens. Às 8:30 Axel vai para a boate principal, cuidar dos
assuntos da noite, verificar se alguém limpou o sangue do sótão.

Volto para a mansão, indo até a ala leste onde Anelise fica. Estou
me aproximando quando ouço vozes.

— Você tem um nome e a aparência de uma deusa.

Paro de andar.

Anelise está falando.

Axel tinha razão. Ela fala na presença de Athena.

— Por que ficar sozinha aqui? — Pergunta Athena.

— Gosto mais daqui. Não tem barulho, nem pessoas.

Anelise está falando, depois de tanto tempo.

— Eu também gosto mais daqui. É quente, e tem você— Athena


tem a voz suave falando com minha irmã.

— Deveria mudar para cá, podemos assistir e escrever.


Athena ri e tudo fica em silêncio. Assimilo a voz da minha irmã,
uma voz que eu não escutava a 5 anos e está tão diferente de antes.

Faço barulho com os pés, anunciando minha entrada. O rosto de


Anelise muda para neutro, e Athena levanta da cama da minha irmã,
com uma expressão de susto.

— Cressida me mostrou onde ficava Anelise, como você demorou


e eu não tinha ninguém para comer comigo, decidi vir até aqui. —
Explica.

Ignoro Athena e vou até Anelise.

— Como se sente hoje, Ane?

Ela apenas assente em afirmativo, me negando sua voz. Já a


levei em vários profissionais, ela tem acompanhamento psicológico,
mas nada disso tem ajudado ela a falar. Ao que parece, Athena
despertou algum gatilho nela, ao que minha irmã se sente
confortável e bem o suficiente para falar na sua presença.

Quase não acreditei quando Axel me contou.

Olho para Athena que está vestida com uma calça preta justa,
sapatilhas e uma blusa vinho de manga longa. O cabelo solto.

— Está pronta para sairmos? — Questiono.

Ela assente.
— Vamos.

Ela me segue, saindo da casa até a entrada onde meu carro está
estacionado. Não necessito de seguranças para me escoltar,
ninguém em sã consciência me atacaria. O sucesso dessa máfia, os
segredos políticos bem sucedidos são por minha causa.

Tem sempre pessoas que querem o desequilíbrio, mas nenhuma


quer entrar no meu caminho.
Athena vai em silêncio durante o percurso até o shopping, e eu
não procuro conversar. Gosto do silêncio, de como as coisas estão
nesse momento.

Toda a Alemanha, principalmente Berlim, conhece os Baumann,


me conhece. Minhas regras são as leis dessa cidade.

Agora, serão as de Athena.

A conduzo pelo elevador, caminhando pelos corredores em busca


da loja certa. Eu não encosto um só dedo em Athena, ela se retesa a
cada toque e isso me deixa incomodado de algum modo. Nenhuma
mulher se mostrou tão hesitante e com medo de mim. Não as
mulheres com quem faço e fiz sexo, nem as putas das minhas
boates.

— Que tipo de roupa você precisa? — Pergunto.

Ela olha rapidamente para mim enquanto caminhamos. Os


olhares masculinos estão na direção de Athena.

— Não trouxe nenhuma roupa de ginástica, e eu gosto de correr.


Corro todos os dias. Eu poderei correr? — pergunta.

— Que horas costuma correr?

— As cinco da manhã.

Mostro a loja e entramos.

— Tudo bem — Concordo.

Três atendentes vem ao nosso encontro, todas elas olhando de


forma respeitosa na minha direção e curiosas na direção de Athena.

A notícia que me casei já deve ter se espalhado, a famiglia


contou a todos.
— Minha esposa precisa de roupas que se adequem mais a ela.
Ajude-a com isso — digo.

Athena começa a ser atendida e eu me afasto para procurar entre


as opções de vestidos, alguma peça de seda preta ou dourada.

Ela ficará linda em uma peça preta que destaque sua pele, olhos
e cabelo. Principalmente no dourado.

Encontrei um de alças finas, com um fenda grande na perna e um


decote nas costas na cor dourada.

Athena ficará muito bem nele.

Procuro pela mesma na loja, vendo-a na seção de legging.


Chamo sua atenção e peço para que ela prove o vestido, relutante,
ela vai em direção ao provador.

Sento em uma das poltronas, esperando pacientemente enquanto


uma das atendentes vai oferecer ajuda a Athena, mas a mesma
recusa.

Minutos depois ela sai do provador e eu ergo meus olhos,


impressionado.

O vestido tem um caimento perfeito na sua cintura fina, no quadril


e seios. O dourado pálido deixa seu cabelo um breu, brilhante, a pele
parece mais leitosa. Seus olhos mostram desconforto e ela evita o
meu olhar.

Sua postura está torta pelo desconforto e meus olhos estão na


perna exposta pela fenda.

Ela está linda.

Linda é pouco.

Ela faz jus ao nome de uma deusa.


— Você gostou do vestido? — Pergunto.

Ela passa a mão por ele, olhando rapidamente pra mim, tirando o
cabelo do rosto.

— Não é o tipo de roupa que costumo usar. Na verdade, nunca


usei nada assim.

Levanto, indo na sua direção, Athena permanece no mesmo


lugar, quieta.

— Deveria se vestir mais assim quando quiser. Leve quantos


vestidos gostar. Escolhi esse e outro modelo preto, tenho certeza
que terá ocasiões onde você precisará usar, e eu quero que o use.

Athena permanece parada, admiro ela por mais alguns minutos


até ela voltar ao provador.
Capítulo 11
Athena Baumann
Voltamos das compras às 14:00 da tarde, Hades me mostrou
alguns pontos da cidade, não imaginei que nossa relação seria tão
pacífica dessa forma.

Os dias se passam calmamente, Hades não tenta nada comigo


ou me toca. Ele chega tarde e levanta cedo. Por respeito ao meu
desconforto, ele tem dormido de cueca há uma semana, isso me
deixa menos ansiosa. Sua nudez não me incomoda, estranhamente
não.

Anelise e eu temos ficado bastante tempo juntas, é a melhor


parte do dia quando estou com ela e podemos conversar, nos
distrair.

Acordei às 4:30 da manhã hoje, Hades estava no chuveiro. Ele


não conversou muito comigo, apenas o necessário e saiu para o
trabalho com Axel.

Antes dele sair, tive um ímpeto de coragem.

— Hades — O chamei.

Ele se virou na minha direção, eu estava encostada na cama, de


camisola e cabelo solto.

— Por que não voltou a ter relações comigo desde que nos
casamos? — Perguntei — Você também evita me tocar.

Os olhos negros, frios e clínicos de Hades focaram nos meus.

— Não sou um homem que gosta de violência com uma mulher


sem a permissão dela. Não tocarei em você sem sua permissão,
Athena.
Apenas assenti e ele saiu do quarto fechando a porta.

Suas palavras me fizeram refletir.

Mário não ficaria nenhum pouco contente em saber que não


estou sendo violada pelo meu marido, maltratada…

Ele não tem sido gentil, mas também não é bruto ou hostil.

Ele não é o que eu achei que fosse.

Tomo banho e me arrumo para tomar café com Anelise, essa tem
sido nossa rotina. Ela não costuma sair da sua ala, nem mesmo para
andar pela casa.

Nós duas comemos conversando sobre a imaginação dela.


Anelise não fala dos pais, nem mesmo da mãe que não conheceu ou
de Hades. Ela parece um baú onde tudo é guardado e ninguém pode
abrir… assim como eu. Talvez seja isso que me ligue a ela.

Após o almoço eu visto minha roupa de corrida e vou fazer um


percurso pela propriedade. Aqui é grande o bastante para um
percurso de 10km que termino em uma duração de 40 minutos.

Correr me ajuda a organizar meus pensamentos, a me fazer não


pensar em nada e me sentir viva.

Me faz lembrar do meu pai, me arrancam algumas lágrimas que


não são fáceis de cair. Lembro da minha mãe e do dia do
assassinato, e eu choro enquanto corro. Choro de dor, tristeza e fúria
pela forma como eles foram tirados de mim.

Tenho uma enorme sede de vingança, de acabar com todos os


homens de Gardel, principalmente ele. Mas não tenho o poder,
mesmo sendo casada com o capo mais temido de toda máfia.

Faço meu percurso ignorando os homens que estão aos


arredores trabalhando, todos eles gostam de me olhar, mas nunca
chegam perto.
Volto para a casa ofegante notando o carro de Hades
estacionado na frente da casa.

Bebo um pouco da água na garrafa de vidro que carrego.

— Hades está em casa? — Pergunto a Cressida quando rompo a


sala.

Seus olhos rígidos assumem um brilho.

— Sim. Ele está no porão. Sozinho.

Seu tom de voz é subjetivo, não ligo muito para isso.

Estou pingando de suor e com a respiração acelerada. Ainda não


fui até o porão e também não vi Hades indo até lá desde que me
mudei. Talvez ele tenha algo lá, alguma coisa que possa me mostrar.

Por pura curiosidade, eu desço as escadas até o porão, pisando


nas escadas na ponta do tênis para não emitir nenhum barulho caso
ele esteja fazendo algo importante.

Estou quase no final das escadas quando ouço gemidos altos,


escandalosos e o som de palmadas.

Prendo a respiração pensando no pior.

O sótão é mobiliado com um papel de parede vermelho, assim


como o piso, e sofás de couro.

Uma sala de jogos e diversão.

Caminho pelo corredor segurando fortemente a garrafa nas


minhas mãos.

Me aproximei sorrateiramente ouvindo os gemidos mais


selvagens e a mobília se movendo.

Por um momento, eu paralisei e apenas observei a cena.


Minha mãe vem a minha mente, o dia que ela foi estuprada antes
de ser assassinada.

Porém, dessa vez, por mais violento que pareça, não é um


estrupo. A mulher debruçada na mesa de bilhar, com os cabelos
loiros estendidos assim como as mãos, o vestido levantado, geme de
puro prazer enquanto Hades estoca com força dentro dela.

— Oh… isso! Isso! — Grita a mulher.

Hades agarra o cabelo da mesma, tendo mais impulso de ir mais


fundo dentro dela.

Sinto meu almoço subindo minha garganta e pela forte impressão


minhas mãos amolecem fazendo a garrafa cair das minhas mãos e
se espatifar no chão, atraindo a atenção dos dois.

A mulher retira o cabelo do rosto com a respiração


completamente ofegante e com o rosto vermelho. Hades por sua vez
tem os olhos negros, sem expressão em mim.

Dou um passo para trás, querendo ir embora, mas acabei


esbarrando em uma luminária que cai no chão me fazendo ter um
sobressalto.

— Athena — Ouço Hades me chamando com sua voz grossa,


mas já estou correndo de volta para o andar de cima, com o coração
acelerado e minha pele formigando.

São tantos pensamentos na minha cabeça, desconforto e um


sentimento de sujeira.

Passo por Cressida que engole o questionamento, subo direto


para o quarto e me tranco no banheiro.

Retiro toda minha roupa suada da corrida e vou para o chuveiro


onde ligo sem regular a temperatura. Hades sempre deixa no frio e
dessa vez isso é bem-vindo.
A água escorre da minha cabeça até meus pés e eu sinto um
ardor, olho para baixo vendo um corte na minha panturrilha. Fecho
os olhos sentindo a água fria por todo meu corpo.

Então, é por isso que ele não me toca ou tem qualquer coisa
comigo, porque tem outra, está usando as mulheres da sua boate.
Mas, trazê-la para cá é um ultraje.

Do que está reclamando, Athena?

Fui eu quem disse para ele ter um adorno bonito em casa


enquanto se divertia, mas não apliquei isso a ele sendo Hades um
homem que não iria me violentar.

Não. Talvez assim seja melhor. Hugo mandará alguém me


buscar, ele me prometeu isso no dia seguinte ao meu casamento.
Hades já tirou minhas primeiras vezes, é só isso que ele terá de mim.

Mas, por que a imagem dele com outra me incomoda tanto? Por
que me causa desconforto e agonia?

— Athena? — Hades bate na porta do banheiro com força.

Abro meus olhos, assustada e com um pouco de raiva.

— Estou no banho — Respondo.

— Saia.

— Estou no banho — Repito.

As batidas e a voz dele cessam, mas eu sei que ele não foi
embora.

Tiro todo sabão e condicionador do meu cabelo, me cubro com


um roupão e enrolo meu cabelo em uma toalha.

Saio do banheiro com os olhos baixos, evitando olhar para


Hades. Ele está parado no meio do quarto com um postura ereta e o
rosto parece uma máscara de mármore.

— Olhe para mim.

Não o obedeço, ao invés disso, vou até o closet e pego uma


roupa fria e sapatos. A imagem da minha mãe sendo estuprada se
repete na minha cabeça como uma tortura.

Eu preciso sair daqui, preciso de ar.

Saio do quarto, indo até a porta, me sinto trêmula e com os olhos


marejados. Minha respiração está falha.

— Athena? — Hades me segura em seus braços.

Olho em seus olhos vendo minha mãe sobre uma mesa, sendo
violentada por um homem do tamanho dele, refletindo nos seus
olhos.

Fica muito difícil respirar.

— Athena! — A voz de Hades é firme e alta, mas não chega aos


pés dos gemidos do homem enquanto investia dentro da minha mãe.

O barulho gutural, a mão pressionando a cabeça dela na mesa e


a lágrima descendo pelo olho dela.

Levo minhas mãos até o meu ouvido e me deixo cair no chão.

— Não me toque — Sibilo a Hades.

— Você está tremendo.

— Me deixe sozinha.

— Não.

Abraço meus joelhos, pressionando meu rosto no mesmo. Eu não


esqueci aquele dia, mas ele nunca tinha voltado tão vivo dessa
maneira.

Sinto Hades segurar meu pulso gentilmente, depositando seu


dedo nele. Ele fica em silêncio, com os olhos em mim.

Se passam vários minutos até eu sair desse estado, assim que o


faço me ergo e vou até a cama. Fico ciente de que estou coberta
apenas por um roupão e isso me causa mais frio.

— O que aconteceu com você? — Pergunta, os olhos clínicos em


mim.

As memórias ruins dão lugar à raiva.

— Traz todas as mulheres com quem fode para casa? Para a


casa onde sua irmã mora, e agora eu?

Hades inspira, sua mão ainda está no meu pulso.

— Aquele é um lugar onde só eu tenho acesso. Você não deveria


estar lá, é um lugar onde ninguém desta casa deve descer.

Solto meu pulso da sua mão.

— Já fazem duas semanas que estou aqui, nesse meio tempo


você também tem feito isso com outras mulheres e depois deitado do
meu lado na cama? — Questiono, fuzilando-o com o olhar.

Por que estou com tanta raiva?

Hades se mantém calmo.

— Foi você mesmo quem disse para te ter como um adorno


bonito na minha casa enquanto eu buscava prazer com outras
mulheres. Está querendo voltar atrás do que disse agora?

Levanto, ficando próxima a ele.


— Achei que fosse diferente, mas é igual a todos os homens
dessa maldita máfia. Se tem tanto prazer aos seus pés, porque
casou comigo?

Hades inspira devagar.

— Você está com raiva. Por quê? — Questiona.

Porque você foi gentil e achei que você fosse diferente. Porque
em nenhum momento você me forçou a nada.

Meus olhos. Ele precisa dos meus olhos para ler minha
expressão, e eu não vou dar isso a ele.

— Volte ao que estava fazendo, isso não me incomoda. — Desvio


meus olhos para o closet, preciso me vestir.

Antes que eu saia, Hades segura meu pulso e me traz para seu
corpo. Eu vacilo. Minha mão está sobre seu peito.

— Diga-me, te incomoda me ver fodendo com outra mulher? Diga


isso olhando nos meus olhos, Athena.

Mantenho meus olhos nos seus.

— Me incomoda estar casada com um selvagem que possui


mulheres como éguas.

Hades caminha para frente, fazendo meus pés se moverem junto


a ele. Prendo a respiração e perco o controle do que está
acontecendo. Caio na cama com um grito surdo, com Hades caindo
sobre mim, a perna no meio das minhas.

Seus olhos negros pairam sobre os meus de forma a penetrar


toda camada óptica.

Não consigo respirar.


A mão de Hades abriu meu roupão, na parte de cima, colocando
para o lado e revelando o inchaço nu do meu seio esquerdo.

A mão é áspera e pesada.

— Eu poderia reivindicar seu corpo agora mesmo, nessa cama,


nos móveis e cômodos dessa casa. Nada me impediria. A única
razão por eu não fazer isso, é pelo terror que vejo em seus olhos
quando me aproximo e eu sei que não sou eu que te coloca medo.
Alguém tentou algo com você, te fez temer o toque, o prazer…
alguém tentou te quebrar mais uma vez. Quem foi?

Sua mão ainda está na minha pele e eu engulo em seco. Não


quebrei o contato visual com ele.

— O que você faria se soubesse? — Pergunto

Os olhos de Hades ficam mais sombrios.

— Eu mataria essa pessoa da pior forma e faria com que se


arrependesse de tudo que fez. Eu a faria sangrar até morrer e sentir
dor até não estar mais nesse mundo.

— Por que faria isso?

— Você agora é uma Baumann, Athena. É minha esposa. Todos


seus inimigos, são os meus, todos que te fizeram alguma coisa irão
pagar terrivelmente. Nesta família, ninguém que nos fez algum mal
vive. Eles precisam sair desse mundo da forma mais dolorosa de
todas.

Estremeço com seu corpo sobre o meu. Hades tem a voz tão
sombria como seus olhos e eles me fazem uma promessa silenciosa
e verídica.

Até onde posso confiar nisso?

— Você está com o cheiro de outra mulher em você. Se quiser


me tocar, me ter para você não encoste em mim depois de ter se
sujado com outras mulheres. Não estou dizendo que irei me entregar
a você, não agora. Não depois de hoje. Se me quiser como sua
mulher, você precisa esquecer as outras.

Hades não hesita ou se balança com minhas palavras. Seus


lábios umedecem e ele inspira.

— Se é isso que deseja, Athena, você terá.

Ele sai de cima de mim, olhando para mim de cima.

— Mas antes de te ter, eu quero saber quem foi quem tentou


encostar em você. Quero saber o responsável pela marca negra em
seus olhos.

Mário Vacchiano.

Tenho a enorme vontade de contar em voz alta sem ressalvas,


mas eu não quero que seja Hades a acabar com ele, eu mesmo o
farei.

Levanto da cama, fechando meu roupão.

Hades continua a me olhar de forma clínica.

— Temos uma festa de iniciação de um dos garotos da família. O


vestido dourado parece uma ótima opção.

Dito isso, ele vai em direção ao banheiro e eu fico sentada na


cama me perguntando se Hades seria capaz de matar por mim.
Capítulo 12
Athena Baumann

Minha beleza sempre foi a primeira impressão, o centro das


atenções e a marca da desgraça da minha mãe. A beleza dela, que
veio para mim, é uma marca para nós duas: uma maldição.

O vestido que Hades escolheu é perfeito para meu corpo e realça


toda minha aparência. As alças finas, decote quadrado e justo na
cintura, com uma saia lisa revelando uma fenda na que expôr toda
minha coxa. O sapato é de um salto alto fino, prateado e aberto.

Meu cabelo está solto, caindo pelas minhas costas e os brincos


são de diamante, duas pedras pequenas. Nenhum colar.

Não exagero na maquiagem, o vestido por si só já é o suficiente.

Hades me espera lá embaixo, ele saiu a um tempo com Axel para


ir até a casa do garoto que será iniciado na família alemã.

Pego a bolsa e saio do quarto, caminhando firmemente sobre os


saltos. Ouço a voz de Hades e Axel na sala quando me aproximo
das escadas.

Seguro no corrimão e desço atraindo a atenção dos dois com o


som do salto na madeira. Axel está embasbacado, suas pupilas
parecem dilatadas e ele está inerte enquanto Hades está parado,
ereto e com os olhos negros em mim.

Termino a descida ficando alguns centímetros de distância deles.


Axel ainda parece sem palavras.

Hades está com uma roupa formal, não um formal comum, mas o
suficiente para se considerar assim.
— Puta merda, isso vai dar problemas — xinga Axel passando a
mão pelo cabelo curto.

— Quem se atreveria a cobiçar minha esposa comigo no mesmo


recinto, Axel? — Hades vem até mim, estendendo o braço para que
eu o segure.

— Capo, o sul está fazendo presença, você os conhece.

Hades segura a minha mão que está no seu braço, suavemente.

— Me incomoda seu pensamento de achar que estou sendo


vaidoso, Axel. Athena precisa ser apresentada. Ela é uma Baumann
agora. É minha esposa. Representa meu povo junto a mim.

Hades branda a Axel e eu me arrepio. Sua voz é firme e


prepotente. Hades não teme a ninguém, é impenetrável e voraz.

Sua calma, perspicácia, e calma são os melhores pontos dele.

Vivendo com ele começo a entender porque ele é tão poderoso


dessa forma.

Nós três saímos.

Axel vai em um carro separado, atrás de nós. Hades dirige com


paciência e em silêncio. Me pergunto quem serão as pessoas que
estarão nesta iniciação.

Algumas das famílias podem estar presente agora que ganharam


uma parte de construção de cassinos depois do meu casamento.
Eles me verão e correrão até Mário.

A iniciação é em uma das boates, não são feitas em lugares


sofisticados. Geralmente, acontecem em lugares piores sobre muito
sangue e bebidas.

Hades e eu saímos do carro e adentramos na boate sem música.


O calor é sentido logo no primeiro contato. Hades segura minha mão,
entrelaçando nossos dedos, mesmo de salto, continuo pequena
perante ele.

As pessoas param o que estão fazendo quando nos veem


chegar, principalmente as mulheres da boate.

Os homens mostram respeito por Hades, mas os olhos deles vem


até mim, de forma indiscreta.

Hades caminha firmemente até o centro do lugar estofado,


repleto de pole dance e palcos, assim como mesas e sofás.

— Meu capo — Um homem mais velho, de cabelo grisalho e com


uma orelha mutilada saúda Hades, seus olhos vem até mim.
Inexpressivos — Minha senhora.

— Onde está o garoto? — Pergunta Hades.

O homem gesticula para o garoto que deve ter no mínimo 18


anos. Ele está jogado em um dos sofás, com mulheres ao seu redor,
mulheres seminuas, o enchendo de álcool, beijos e carícias.
— Esse é Egon, Athena. Ele é pai do rapaz e o subchefe do
tráfico das áreas da cidade — Hades o apresenta a mim.

Apenas balanço a cabeça.

Tudo ficou em silêncio, os olhares estão em nós e Hades não


parece se importar com isso.

— Capo, seria bom cumprimentar algumas pessoas. Eu cuido


dela — Axel surge ao nosso lado.

Hades procura meus olhos e eu os suavizo deixando ele ver que


está tudo bem.

Ele se vai entre as pessoas, me deixando com Axel.

— Quer beber alguma coisa? — Pergunta ele


— Água.

Ele gesticula para a garçonete vestida apenas com uma lingerie e


pede duas bebidas para nós dois. Olho em volta, vendo pessoas de
todas as aparências e com cicatrizes notáveis. O próprio Axel tem as
mãos cobertas e um lado do rosto com marcas.

— Quantos anos tem o garoto? — Pergunto

Axel vira seu copo de gin.

— 16 anos. Ele é novo, mas o pai o quer no trabalho o mais cedo


possível. Ele também já cometeu o primeiro assassinato dele.

Olho para Axel:

— Quantos anos Hades tinha quando matou pela primeira vez?

Axel ri sombriamente

— Foi mais jovem que esse garoto, se quer saber. O primo traidor
foi o terceiro assassinato dele — Axel inspira, bebendo mais — Não
ache que pode entrar no coração de Hades Baumann, mesmo sendo
esposa dele. Ele não sente essas coisas, ele não tem emoções.
Hades é como um robô e por isso tudo está em equilíbrio. Ele é
impiedoso, letal e decisivo. A cabeça dele é lógica e tudo que se
passa nela se torna uma lei— ele aponta para a sala — Ninguém
aqui tem a coragem de o desafiar.

— Está dizendo que devo temer Hades? — Questiono

Axel dá de ombros.

— Por acaso, você tem algo especial? Pode ser a esposa dele,
mas não desperta os sentimentos, as emoções que o farão hesitar
se tentar fazer algo. Assim como eu.

Deixo meu copo de água no balcão e fito os olhos cor de cobre


de Axel.
Ele não me amedronta mesmo com seu tamanho, suas tatuagens
e cicatrizes. Já vi homens piores.

— Não me aconselhe sobre o que eu sei, Axel. Também não


tente me alertar, não sou uma mulher inofensiva. Posso ter crescido
em um castelo, mas isso não significa que vivi à sombra das piores
coisas. Hades não é um demônio para mim, nenhum de vocês é.

Axel desenha seu sorriso sombrio e bebe sua bebida.

A iniciação começa e eu não me movo do balcão, enquanto todos


vão até o círculo onde Hades e o garoto estão.

Já vi diversas iniciações e nenhuma delas desperta nenhum


sentimento em mim. Esses garotos estão se prendendo a algo em
que morrerão da pior forma.

A única coisa que me impressiona é o fato de Hades está


tatuando o garoto, desenhando meticulosamente uma adaga com
uma cobra enrolada nela.
Axel, Hades e Egon e mais dois homens uniram os braços com a
mesma tatuagem na direção do braço do garoto. Hades pôs sua mão
por cima da tatuagem recém feita do iniciado, fazendo o mesmo
contorcer o rosto em dor.

— Você vai ser escudo? — Questionou Hades.

— Eu vou. — Respondeu o garoto.

— Vai ser minha faca?

— Eu vou

— Você vai sangrar e morrer por nossa causa?

— Eu vou — o garoto respondeu com firmeza.

— Hoje você me deu sua vida, é minha para tomar decisões e


dizer onde deve ir. Só eu ou a morte podemos te libertar. Bem vindo
a máfia Alemã. Bem vindo a serpente.

Hades se ergue e o menino imita seu gesto, Hades segura sua


mão com firmeza, batendo em seu peito. Os homens urram e
erguem suas bebidas. A comemoração começa.

Mais um garoto nesse mundo com a vida voltada a Hades


Baumann. Eu também fiz um juramento a ele, ele tem minha vida
nas mãos até o dia da minha morte.

Assim como ele jurou a mim.

Sinto um olhar masculino em mim e eu ergo meus olhos para o


homem colossal do outro lado do balcão, com o rosto repleto de linha
de expressão e um olhar penetrante.

Ele anota algo em um papel e deixa sobre o balcão, saindo logo


em seguida. Contorno o balcão e cubro o guardanapo com a mão. O
leio com atenção.

Salva la famiglia

Imediatamente destruo o papel o jogando na primeira fonte de


fogo que encontro.

Hugo enviou alguém. Ele cumpriu com o que falou.

Estou prestes a voltar para onde estava quando sinto uma mão
nas minhas costas, me viro assustada encontrando o rosto de uma
mulher loira.

Loira de olhos verdes.

A mulher que estava com Hades.


— Por que não bebe uma champanhe comigo? É uma noite de
comemoração. — Sua voz é fina e pouco suave.

Olho para ela, medindo sua presença.


— Não aceito bebidas de quem não conheço.

— Foi Hades quem mandou te oferecer, querida. Por favor, não


seja rancorosa. Hades e eu só temos alguns encontros casuais,
nada além de sexo. Pegue a bebida e relaxe.

Ela insistentemente coloca a bebida na minha direção e eu viro o


rosto.

— Se encostar em mim, não terá mais mãos. Seja a vagabunda


de Hades longe de mim, não se atreva a falar comigo.

Saio do caminho voltando ao meu percurso. Fico no balcão no


momento que Hades chega até mim, com sua expressão fria e
passos silenciosos.

— Está com raiva — Observa olhando meus olhos.

Suspiro.

— Sim, estou, gostaria de ficar sozinha. Pode voltar ao que


estava fazendo antes de chegar até mim? — Pedi.
Os olhos deles estão nos meus, procurando a verdade nisso, e
ele acha. Mas, ao invés de sair, ele é chamado por alguém.

Me virei no balcão e peguei uma água.

Esse lugar está quente e cheio de pessoas, pessoas que não


param de me olhar.

— Athena Vacchiano ou melhor… Gagnon?

Olho para o homem que acabara de pronunciar o sobrenome do


meu pai. Meu verdadeiro sobrenome.

É um homem alto, ereto e gordo. Olhos castanhos e pouco


cabelo.

— Como sabe sobre meu pai? — Indago.


Ele ri.

— Matteo e eu éramos amigos. Ele serviu a máfia Alemã por um


tempo, antes de conhecer sua mãe e ir para o Canadá. Devo dizer,
ele sangrou como um porco assim como sua mãe. Como você
conseguiu se safar? Gardel sabe que você está viva e é o clone da
sua mãe? Me pergunto o quanto eu ganharia com essa informação e
uma foto sua.

A mão dele agarra meu pulso, e eu a puxo de forma a me


defender da maneira como Hugo ordenou os homens a me
ensinarem.

Segurei seu ombro com a mão livre e curvei seu corpo até acertar
sua parte íntima com o meu joelho. Ele cai, não completamente, ele
está pronto para outro ataque, mas o reduzo a um gemido quando
acerto meu cotovelo no seu maxilar com toda força possível.

— Vagabunda!

Hades se aproxima junto com Axel. Axel tem sua faca nas mãos
assim como Hades e todos os homens estão a postos.

— Ele me assediou — Minto.

Ninguém aqui deve saber que sou filha de Matteo Gagnon, isso
levaria notícias da minha sobrevivência a Gardel.

— Eu não fiz isso! — Exclama o homem.

Hades não dá uma segunda oportunidade a ele de falar. Axel o


levanta e coloca as mãos do homem sobre o balcão. Hades pega
suas duas adagas e finca nas mãos do homem que grita de dor, e
nessa onda de grito Hades gesticula para o garoto recém iniciado,
que com adrenalina nos olhos vai até o homem que está debruçado
no balcão, com às mãos cravadas, gritando, e corta o pescoço dele,
espirrando sangue por toda parte e calando para sempre o homem
que me reconheceu como filha de Matteo Gagnon.
Os olhos negros de Hades vem na minha direção, eu não
expresso nada, mas algo me diz que ele sabe que mentir.

Hades arranca suas adagas e as limpa em um lenço. Respirando


fundo, ele olha para todos:

— Aprendemos uma lição sobre não cobiçar a mulher do capo de


vocês, não? — Fala calmamente, como se tivesse dando aula —
Uma ótima iniciação começa com sangue e melhora com a morte.

Axel ri abraçando o menino que está sujo de sangue.

— Vamos beber algo antes de limpar essa bagunça! — aperta o


braço ao redor do pescoço do garoto.

Hades, por sua vez, tem seus olhos sombrios em mim.

Tenho muito o que falar com ele.

Ao voltarmos para casa, subimos juntos para o quarto. Hades tira


a jaqueta e olha para mim de soslaio.

Respiro fundo, sentando na cama.

— Você já sabe, Mário contou a você que não sou filha dele. Mas
os outros, aqueles que não são tão próximos, não sabem. Meu pai
era um soldado da Cosa Nostra estadunidense. Seu nome era
Matteo Gagnon, e ele afrontou o subchefe americano por não
permitir ter minha mãe para ele.

Hades se senta na poltrona em frente a cama, me olhando.

— E o que o homem de hoje tem com isso?

— Ele disse ter sido amigo do meu pai, que mandaria uma foto
minha e um aviso de que a filha da mulher que ele sempre quis está
viva e se parece com ela. Gardel provavelmente não mediria
esforços para me ter.
Hades quase riu. Não uma risada, apenas um barulho.

— Conheço Gardel e seus domínios, os políticos americanos


devem mais a Alemanha do que ao próprio chefe da máfia deles. Ele
não teria força suficiente para tirar você daqui… e eu sempre posso
optar por matar ele.

— Se você o matasse, aconteceria uma guerra entre as famílias,


haveria muitos conflitos.
Hades inspira calmamente.

— Gardel está velho, não está tomando as melhores decisões


para seu povo. Logo logo ele será morto por alguém, ainda não sei
como isso ainda não aconteceu.

Fico em silêncio. Eu nunca subestimo ninguém, as pessoas


encontram formas de se reerguer, não importa a circunstância. A
última imagem que tenho de Gardel é assustadora.

— Você só não viu a morte da sua mãe pelas mãos dele —


Hades afirma.

Abraço meus ombros, o quarto está muito frio e esse vestido não
me aquece.

— Ele a estuprou na minha frente, eu estava escondida, mas vi


tudo.

— Isso explica o ataque de pânico que teve mais cedo, Athena.

Hades levanta, vindo na minha direção.

— Gardel não terá nenhum acesso a você, e também não é


preciso se esconder dele. A notícia de que me casei está se
espalhando, uma hora ou outra ficarão face a face e eu deixarei você
ter duas escolhas: — ele se inclinou, ficando com o rosto perto do
meu — Ou você o mata, ou eu o matarei em seu nome.
Capítulo 13
Hades Baumann

Athena vem para o quarto após remover toda maquiagem,


tomar banho e vestir uma das suas camisolas que me deixa sedento
por ela. Estou de cueca, sentado na cama.

Ela olha rapidamente na minha direção e me surpreende ao


sentar ao meu lado na cama. A camisola preta de seda marcando
seu corpo e cabelo, os olhos cinzas olhando para meu braço repleto
de tatuagens.

— Eu sentirei dor se fizer sexo com você agora? — Pergunta.

Olho para ela.

— Não. Pode ser desconfortável, mas sem dor. Você quer fazer?

Ela passa a mão pelo cabelo.


— Na nossa primeira noite juntos você disse que eu tinha
obrigações a cumprir, e eu não estou fazendo-as. Você matou um
homem por minha causa hoje, poderia não ter feito, mas fez mesmo
sabendo que eu estava mentindo. Ele era do seu povo. Não tenho
ressalvas com você, Hades. Então, se quiser dormir comigo, eu não
vou protestar. Sou sua esposa.

Suas palavras são firmes, sem ressalvas, como algo a ser


realizado.

Me viro para Athena.

— Eu não te forçaria a dormir comigo.

— Eu sei disso, e talvez seja por isso que quero dormir com você.
Mas se for dormir comigo, será apenas comigo. Nada de outras
mulheres.

— Você me satisfará o suficiente.

Ela balança a cabeça mantendo nossos olhos em contato.


Seguro sua cintura, a colocando de pé para que se sente nas minhas
pernas, com as pernas de cada lado.

As mãos de Athena seguraram meus ombros e a visão dela me


olhando de cima envia sangue para meu pau.

Esses olhos cinzas despertam um desejo insaciável em mim,


assim como seu corpo.

Athena baixa a cabeça encostando os lábios nos meus de forma


tímida, adentro minha mão em seu cabelo aumentando a intensidade
do beijo o suficiente para que eu explore toda sua boca e sinta meu
desejo palpitar dentro da minha cueca.[10]

Eu poderia rolar ela nessa cama e a possuir sobre a mesma, mas


a lembrança do prazer que ela sentiu com minha boca na sua boceta
me remete a dar a ela esse prazer completo. Quero voltar a sentir
seu gosto e perfume, estou louco por isso.

Ergo Athena nos meus braços, sem interromper nosso beijo, a


coloco sentada no parapeito da janela, abrindo suas pernas com as
minhas e me alojando nelas.

— Faremos sexo aqui? — Pergunta com os olhos arregalados.

Inspiro, acariciando sua cintura fina no tecido de seda.

— Confie em mim. Você gostou da minha boca em você. Não


quer sentir de novo?

Athena estremece.

Ergui sua camisola, tirando-a por cima da sua cabeça a deixando


apenas com uma calcinha fina de seda. Por Deus, como ela é
perfeita sobre a luz do luar, sua pele é brilhante e seu cabelo parece
cintilar.

Meu pau pulsa dentro da minha cueca e Athena está arrepiada.


Acaricio seus seios desnudos, descendo minha mão para sua
intimidade onde massageio a fazendo arfar, retiro sua calcinha e
antes de me ajoelhar diante dela, eu a beijo severamente.

Seus seios estavam enrijecidos, e sua intimidade pulsando.

Dou atenção aos seus seios, os lambendo, chupando e


arrancando de Athena gemidos baixos. Suas pernas se prendem ao
meu redor, clamando para sua intimidade ser saciada, e ela logo
será, mas preciso dar atenção aos seus seios. Os chupo de maneira
a sugar todos os gemidos possíveis de Athena, os cubro com minha
mão massageando os mesmo enquanto mantenho o olhar em
Athena que está com a cabeça inclinada para trás.

Se segurando nos apoios da janela e com as pernas em volta de


mim.

Me ajoelho à sua frente, passando suas pernas pelos meus


ombros.

Pairando sobre sua intimidade úmida, eu salivei, pronto para ter


mais do sabor de Athena na minha boca.

A puxei em direção a minha boca, simulando um beijo de língua


na sua boceta e isso fez Athena gemer alto. Alto o suficiente para
enviar uma vibração dolorosa para minhas bolas de tanto prazer.
[11]
— E…e se alguém nos ouvir?— Perguntou arfante.

Olhei na sua direção.

— As paredes são grossas e minha ala é fechada, ninguém vem


aqui. Os homens do lado de fora estão comemorando. Pode gemer o
quanto quiser.
Athena gemia, se contorcendo quando voltei para sua intimidade
suculenta, doce e perfumada.

Arrastei minha língua ao longo da sua fenda fazendo Athena


agarrar meu cabelo, mantendo meu olhar nos seus olhos cinzas
embriagados de desejo.

Sua intimidade palpitava a cada sugada, lambida e fricção. Eu


estava me deliciando com seu sabor e gemidos enlouquecidos.
Athena flexionava suas pernas entre meu pescoço, se retesando de
prazer. Metendo minha língua ainda mais nela senti o suco de
Athena molhar minha boca e queixo. Porra, tão deliciosa e linda.[12]

As unhas dela se fincaram nas minhas costas, gemendo


necessitada, de forma quase dolorosa.

— Por favor… — Choramingou, chegando na borda do precipício


de prazer.

Sem sair do seu centro, eu enfiei um dedo dentro dela,


continuando chupando seu clitóris, isso fez Athena quase gritar. Suas
unhas estavam rasgando minha pele e isso era gostoso pra caralho.

Movi meu dedo dentro dela, deixando Athena mais suscetível ao


seu gozo. A ouvir engasgando, sentir suas paredes internas se
contraindo.

Athena gritou, empurrando seu corpo para mais perto do meu, em


busca de mais. Todo seu corpo clamando de prazer na minha boca e
dedo.

Porra, como isso era bom de se ver.

Enfie mais dois dedos dentro de Athena, vendo sua excitação


escorrer. Eu queria mais. Mais desta visão. Athena teria quantos
orgamos eu pudesse dar essa noite, até ela cair exausta.

Enfiando e tirando meus dedos de dentro dela, Athena começou


a mover seus quadris em busca de mais velocidade. O suor descia
pelo seu corpo, fios de cabelo grudados no rosto.

Ela estava próxima a outro orgasmo, mas eu não podia mais


esperar. As paredes dela estavam prontas para outra libertação, mas
retirei meus dedos de dentro dela.

Athena me olhou aturdida e ofegante.

— Eu quero gozar — arfou, apertando as coxas.

Um sorriso se desenhou nos meus lábios.

— Você vai, com meu pau dentro de você, Athena.[13]

Segurando-a nos meus braços, a levei para a cama, deitando na


mesma. Retirei minha cueca revelando meu pau latejante, grosso e
longo babando por ela. Me apoiando em um braço, me posicionei
entre suas pernas, acariciando suas dobras encharcadas com a
cabeça vermelha do meu pau.

Para ter mais visão da sua boceta e toda sua dimensão, coloquei
um travesseiro por baixo da sua bunda. Athena se inclinou nos
cotovelos para me ver entrar nela.

— Quer ver como meu pau está louco para possuir sua boceta?
— Ofeguei de desejo.

Athena assentiu, mordendo os lábios.

Esfreguei meu pau em suas dobras para frente e para trás,


aprofundando nossa respiração.

Enfiei meu pau pouco a pouco dentro dela vendo Athena sentir
um leve desconforto, para aliviar, molhei meu polegar com saliva e
massageei seu clitóris em movimentos circulares.

Quando entrei nela por completo, Athena agarrou minha bunda,


fincando suas unhas. Flexiono meus impulsos, indo mais fundo em
Athena que gemia arrancado de mim grunhidos pelo seu canal tão
molhado e apertado.

Ergui sua perna para ir mais fundo, Athena me abraçou gemendo


alto, sem ressalvas. Meus grunhidos enchiam o quarto junto aos
seus sons de prazer. Minha pélvis batendo na sua, esfregando uma
na outra.

O corpo macio, quente e deliciosamente pequeno embaixo de


mim. Porra!

Athena passou as duas pernas ao meu redor, mantendo seus


olhos em mim, quase revirando de tanto prazer, sua boca estava
aberta para que os barulhos que me faziam meter nela com força
saíssem.

— Hades… — Gemeu agarrada a mim.

— Isso, sou eu, Athena. Goze para mim. — Grunhi.

Athena encostou sua boca na minha, em um beijo necessitado,


selvagem. Nunca achei que beijo na boca fosse algo importante na
hora do sexo ou acrescentasse algo, mas eu estava errado. Com
Athena o beijo era essencial. Aumentava o prazer, me inebriava e me
fazia querer mais… Caralho!

Athena gritou, suas paredes se apertaram ao redor do meu pau


anunciando seu orgasmo. Bati mais forte dentro dela, me libertando
ferozmente, grunhido.

Estremeci com a sensação e desci meus lábios para beijar a boca


de Athena, seu queixo e pescoço.

Sai de dentro dela, caindo de lado, sentindo o suco dela na minha


coxa misturado ao meu gozo.

Estamos ofegantes e Athena busca normalizar a respiração.


— Isso foi muito bom, eu não imaginei que fosse assim —
Confessa como se tivesse descoberto um tesouro.
— É uma das melhores sensações humanas, eu posso te dar
mais delas. Sempre que quiser, Athena.

Ela olhou na minha direção, colocando sua mão sobre meu


abdômen. Seus olhos pairaram sobre os meus e em um único
movimento ela montou na minha coxa. Sua intimidade úmida
pressionando minha coxa.

Observei seus seios delgados, sua barriga lisa e a cintura fina. O


cabelo longo caindo pelo seu corpo… uma porra de uma deusa.
Engoli em seco sentindo a excitação voltar.

— O que você diria se eu ficasse no controle dessa vez? Iria me


impedir? — Sua voz é calculada, rouca e sexy.

— Por que não tenta?

Se inclinando na direção do meu pau, empinando a bunda para


trás, Athena pegou minha ponta na sua boca me fazendo sentir a
onda de vibrações enviando sangue para o meu pau, voltando a ficar
ereto e pronto para isso.

Agarrei seu cabelo liso, macio, flexionando meus dedos no seu


couro cabeludo. Gemi com o primeiro chupão.

Então Athena continuou e eu me senti perdendo o controle, e isso


não poderia acontecer. Eu não perco o controle de nada. A virei de
costas, colocando-a de quatro para mim e entrei dentro dela sem
nenhuma cerimônia, investindo forte e sem pudor.

Athena gemia, se entregando ao prazer. Eu resfolegava pela


demanda de prazer que ela estava me causando.

(...)

Após o sexo, Athena foi se lavar e ao sair do banho com a mesma


camisola, alguém bateu na porta. Athena olhou para mim. Vesti uma
cueca.

— Quem é? — Perguntei alto o suficiente para ser ouvido através


da porta.

Não houve respostas.

Peguei a arma no meu coldre e gesticulei para Athena ir para o


banheiro.

Abri a porta rapidamente, ficando por trás dela. Não houve


nenhum movimento e eu olhei pela fenda vendo que se tratava de
Anelise.

Descalça, com roupa de dormir e o cabelo despenteado.

— Está tudo bem? — Me abaixei na sua direção, escondendo a


arma.

Anelise assentiu e caminhou até Athena, que voltou ao quarto.


Athena se abaixou para ela, olhando bem no fundo dos olhos da
minha irmã.

— Você teve um pesadelo? — Perguntou.

Anelise fez algo que eu não via há muito tempo, ela


simplesmente abraçou Athena com seus braços curtos, e Athena a
abraçou de volta.

— Está tudo bem, Anelise. Os pesadelos não são reais, eles só


existem na nossa mente. Estou aqui. — Athena a soltou do abraço,
deixando seus olhos suaves sobre minha irmã — Vamos tomar um
copo de leite e eu deitarei com você até conseguir dormir.

Anelise assentiu.

Athena segurou sua mão e me olhou.

— Dormirei com sua irmã hoje.


Nenhuma palavra saiu de mim.

Anelise saiu da ala dela e veio até aqui por Athena.

Ela a abraçou, pediu sua ajuda.

O que tem em Athena que faz minha irmã confiar nela dessa
forma quando nem comigo ela possui tal laço?
Capítulo 14
Hades Baumann
Athena não amanhece o dia do meu lado, eu tive poucas horas
de sono e acordo mais cedo que o normal. Depois do banho, eu vou
até a ala de Anelise, entrei devagar no quarto, abrindo a porta com
cuidado. São 4:20 da manhã. As duas estão dormindo. Anelise e
Athena estão em frente uma à outra, dormindo serenamente.

Eu deveria ficar feliz em ver minha irmã voltando a falar com


alguém, se expressando depois de tudo que aconteceu… mas algo
me incomoda.

Deixo a casa e vou em direção ao galpão para ringue feito perto da


casa. Preciso extravasar e me exercitar. Acordo Axel para que vá
comigo, seja meu saco de pancadas. Preciso de uma luta justa hoje.

Visto o calção e enrolo meus punhos com ataduras, Axel se


prepara do outro lado, estamos apenas nós dois. Os homens ainda
devem estar na cama depois da farra de ontem.

— Ela te contou que sabe autodefesa? Viu como ela nocauteou


aquele homem? — Pergunta Axel, indo para seu lado do ringue.

Respiro fundo, me posicionando.

— Anelise foi até o meu quarto ontem.

Acerto Axel no estômago, ele se recompõe rapidamente,


surpreso.

— Ela saiu da ala dela? Como? Por quê?

Axel tenta me acertar, eu me esquivo, rodando no ringue.


— Ela teve um pesadelo, foi atrás de Athena e a mesma dormiu
com ela. Anelise dormiu na mesma cama com uma pessoa que até
três meses não conhecia. Ela parou de dormir comigo quando houve
aquilo.

Axel para e me olha.

— Você só se casou com Athena por causa de Anelise. Se ela


não tivesse visto a foto que Mário enviou para você junto a
proposta… você não teria aceitado o casamento. Acha que ela já
falou algo a Athena sobre o que aconteceu aquele dia?

Balanço a cabeça.

— Athena já estaria me questionando. Acredito que seja algo no


passado das duas que as torne tão próximas. Anelise pode ter
ouvido nossa conversa sobre Athena quando estávamos falando
sobre o passado dela. Minha irmã deve se identificar com algo.

Axel se encosta na base do ringue, ponderando. Não tem muito


sentido em tudo que está acontecendo.

— Seja o que for, isso é bom. Athena pode ser uma chave para
fazer Anelise voltar a reagir, ser alguém normal…

Axel toma cuidado na última frase, eu sei o que ele quer dizer
com ser alguém normal. Todos têm medo de que Anelise seja
diagnosticada com o mesmo mal que eu, a sociopatia.

Ela já passou por médicos, psicólogos, o quadro dela não se


enquadra nisso. Todos dizem que ela tem um trauma, fobia social e
depressão.

Ela recusa ajuda, mesmo a psicóloga vindo todos os dias. Anelise


se trancou do mundo. De mim. A única pessoa que é capaz de entrar
é Athena.
Depois de suar na luta, Axel e eu vamos para um banho frio.
Os assuntos da máfia não param de chegar e com eles os
problemas.

Algumas pessoas vem apenas para me presentear pelo


casamento.

Os Underboss das regiões da Alemanha vem ao meu encontro


para repassar o andamento das adições de armas e o
contentamento das pessoas com a segurança que oferecemos.

É uma manhã longa, meus pensamentos divergem para a noite


de ontem com Athena, me causando uma excitação por essa noite e
por tê-la novamente.

— Egon, chegará uma mercadoria de navio da Rússia. Tem


armas, drogas novas e um prisioneiro. Fiscalize tudo junto com Axel
e dê as boas vindas da nossa família ao nosso novo integrante das
masmorras.

Levanto da minha cadeira depois de ouvir todos os Underboss e


esclarecer os pontos de estratégias. Sou um bom ouvinte, é através
do que ouço, observo e calculo que chego a um resultado lógico.

Observar as pessoas é um passatempo de leitura para mim.

— Está voltando para casa? — Axel pergunta ao me ver tirar meu


coldre da cintura.

— Quero ver Anelise, saber como ela passou a noite —


respondo.

Axel ergue a sobrancelha

— É só Anelise mesmo quem quer verificar, Capo?

Ignoro sua pergunta saindo da sala usada para as reuniões dos


membros e subalternos da organização.
Dirijo até em casa, tendo lapsos da noite anterior, me
perguntando qual expressão ocupa os olhos de Athena hoje.

Ao chegar em casa encontro Cressida zanzando pela sala,


procurando algo para fazer. Sua expressão carrancuda me diz que
algo não a agradou.

— Anelise. Onde está? — Pergunto

— A sua esposa a levou para o jardim, elas estão almoçando lá.


No chão.

Não acredito no que ouço, por isso que caminho até o jardim às
pressas. Atravesso a porta de vidro, cruzando o caminho de flores
até chegar no centro onde a grama se estende por toda extensão.

Athena e minha irmã estão sentadas sobre uma toalha, com as


pernas cruzadas e segurando os pratos. A comida está em tigelas no
chão e ambas estão em silêncio.

Hesito em me aproximar, talvez isso faria Anelise levantar e se


trancar no seu quarto. Porém, Athena me vê.

— Seu irmão está aqui, ele pode almoçar conosco, não pode? —
Athena pergunta a Anelise, que olha na minha direção e depois para
Athena. Ela assente.

Athena gesticula para que eu me aproxime, e eu o faço.

— Sente-se — Pede Athena.

Tento achar a melhor forma de me sentar no chão sem sentir


muito desconforto. Simplesmente não tem uma posição boa para
alguém do meu tamanho.

Olho para Anelise e sorrio.

Eu não sinto emoções, mas sei assimilar. Anelise é a única


pessoa que faço questão de simular e às vezes é espontâneo.
— Está com fome? Anelise e eu fizemos macarrão, salada e
almôndegas — Athena se inclina para pegar um prato para mim.

Um típico prato italiano.

Anelise parece gostar da comida, ela está toda lambuzada e


come ainda mais do conteúdo no seu prato.

— Você teve um pesadelo na noite passada, Ane? — Pergunto


de forma suave.

Anelise olha para Athena.

— Conte a ele, vai te fazer se sentir bem — Athena limpa a boca


dela com um guardanapo, servindo um prato de comida para mim
logo em seguida.

Minha irmã inspira, descansando o prato nas suas pernas


pequenas e finas.

— Sonhei com o pai.

Ela falou comigo. Diretamente.


— Ele não irá voltar, Ane. Ele se foi. Nada de ruim vai acontecer
mais enquanto eu estiver aqui. — Olho para Athena — Nada
acontecerá com nenhuma de vocês duas.

Levo o garfo com macarrão até a boca, saboreando o sabor do


molho e a consistência da massa. Athena é italiana, é claro que ela
faria uma comida boa. Anelise parece adorar.

Após nosso almoço no jardim, Anelise volta para sua ala, ela tem
aulas com sua tutora. A vejo beijar o rosto de Athena e se despedir
da mesma com um sorriso.

— Como ela faz isso com você? — Pergunto.

Athena para de arrumar as coisas no chão para me olhar.


— Você não me disse que ela tinha problemas de comunicação,
que sofreu um trauma. Conversei com a psicóloga dela hoje, fiquei
sabendo que Anelise não conversa com ninguém há mais de 5 anos.
5 anos sem falar nenhuma palavra.

Balanço a cabeça.

— Sim, Anelise se trancou em um mundo só dela, e por alguma


razão, você faz parte desse mundo agora. Como fez isso?

Athena me olha, os olhos cinzas sérios, o vento balançando os


fios longos e negros.

— Se você me contar o que aconteceu com ela, talvez eu possa


ter certeza do que penso.

— E o que pensa?

Ela suspira, se abaixando para recolher os pratos, eu a observo.


Seus movimentos são sutis e isso me faz lembrar da forma como ela
nocauteou um dos homens com o dobro do tamanho dela.

— Mário ensinou autodefesa a você? — pergunto.

Athena nega.

— Meu Don fez questão que eu aprendesse com os homens dele


quando completei meu décimo quinto aniversário. Não sei muitas
coisas, apenas o básico.

Hugo a queria muito bem treinada.

Ela se levanta com os pratos e enrola a toalha no seu braço,


começa a caminhar em direção a casa, eu a sigo, a vendo caminhar
de costas com um gingado perceptível nos quadris, a postura ereta.

Seu físico pode ser magro, mas tem a aparência de uma pessoa
ativa fisicamente.
Ela coloca os pratos no lava-louças e dobra a toalha, a
guardando em uma das gavetas do balcão.

Observo Athena, e ela percebe meu olhar.

— Por que está me olhando assim? — pergunta.

Apenas um balcão nos separa.

— Por que consentiu com a noite passada?

Ela inspira.

— Em algum momento você iria querer me reivindicar, quis que


fosse com meu consentimento. Quero ter controle das poucas coisas
que consigo, e meu corpo é uma das coisas que posso controlar —
sua voz é firme.

— Pelo que vi nos seus olhos e no seu corpo… você gostou,


Athena.

Ela ficou em silêncio, contorno o balcão para me aproximar dela.


A seguro pela cintura, colocando-a sobre o balcão, a mesma me olha
assustada.

— Você quer que eu a beije como beijei na noite passada? —


questiono.

Ela olha para os lados, preocupada.

— Alguém pode entrar — Sussurra.

Toco seu cabelo e perna. Fico feliz por ela estar de vestido.

— Quer subir para o quarto, então? Não importa o lugar onde vou
possuí-la, ninguém seria louco de se aproximar ou interferir, mas se
sente confortável no quarto, podemos fazer lá: sobre a cama, no
chão, nos móveis, banheiro…
Seus olhos ficam duros.

— Você é um selvagem.

— Você quer emoções de mim, posso sentir isso. Só terá algo


similar fodendo comigo, me deixando mirar seus olhos e demonstrar
meu prazer por possuí-la. Se quer algo de mim, além da minha
proteção, sobrenome e lar… É só o prazer. Isso eu posso te
proporcionar aos montes.

O lábio dela treme e seus olhos piscam.

— Você é um estranho que entra dentro de mim, toma o que quer


e me larga depois do uso.

Apoio minhas duas mãos na sua perna.

— Eu não largo, você é minha esposa. Sempre vou voltar para


seu lado. Fiz um juramento a você, e pretendo honrar.

Ela ri, uma risada sem humor.

— Me honrou o bastante quando jurou ser fiel e estava fodendo


com uma prostituta na casa que me trouxe para morar. — Ela sai de
cima do balcão, ficando próxima — Sua irmã e eu temos algo em
comum: nossa confiança em homens é limitada a promessas vazias.
Essas mesmas promessas nos quebram completamente, mas de
você nunca terei uma, não é, Hades? Você não pode prometer algo
que não sente.

Seguro sua cintura, algo em mim gosta de tocá-la.

— Se é amor que você precisa, posso simular sentir isso por


você. Já vi casais apaixonados, sei como se comportam. É isso que
você quer?

Ela balança a cabeça, incrédula.


— Mário conseguiu o que ele planejou para mim. Ele tirou uma
realidade que eu almejava. — Fala pra si mesma, com desgosto,
depois volta para mim: — Vamos para o quarto e tenha de mim o que
quer.

Seus olhos tem uma mistura de emoções a qual não consigo


distinguir, mas ela está obviamente fervendo em angústia e
redenção.

Seguro ela em meus braços, a levando para o quarto.

Athena não protesta quando tiro seu vestido a deixando apenas


de lingerie, ela parece trêmula. Tiro minha blusa e a puxo para meus
braços, segurando sua nuca e costas. A beijo sedento porque algo
nos seus lábios, o seu beijo é um combustível que nunca encontrei
em outra mulher. Ele me atrai, me acende e faz com que meu corpo
vibre de excitação.

Desço meu beijo pelo seu pescoço, inspirando seu cheiro doce,
Athena ofega, colocando as mãos sobre meus ombros.

Caminho com ela em direção a cama, caindo sobre seu corpo e


retirando seu sutiã. Observo seus seios enrijecidos, sua pele
arrepiada e o desejo crepitar em mim.

Sovo o bico do seu seio direito a fazendo gemer baixo, apertar


suas pernas. Enquanto chupo seu peito direito, acaricio o outro com
minha mão. Mantenho meus olhos em Athena observando seu rosto
ganhar uma tonalidade avermelhada pelo prazer, ela arfa e procura
tocar meu corpo com as mãos.

Estou descendo uma trilha de beijos pela sua barriga, com as


duas mãos na alça da sua calcinha pequena, pronto para avançar
até minha parte preferida quando o toque do meu celular no bolso de
trás da calça ecoa por todo quarto.

Athena se assusta com o toque e eu xingo. Paro os beijos e me


apoio sobre Athena, pegando meu celular na parte de trás da calça.
— Axel, o que foi? — Minha voz soa controlada, como sempre,
mas com uma entoação irritada.

— Nosso prisioneiro quer falar com você, diz ter uma informação
importante sobre Mário Vacchiano.

Athena se apoia nos cotovelos, olhando para mim e eu retribuo


seu olhar.

— Venha até minha ala, Axel. Estou no meio de algo importante


— esses dizeres fazem Athena ficar pálida, estática.

Ela me empurra de cima dela e se cobre com um lençol.

— Por que chamou Axel para cá? — Pergunta, assombrada.

— Preciso dele para me dizer o que exatamente está


acontecendo. O que é esse assombro? Tem medo de Axel?

Athena aperta o lençol em torno dela, os olhos espantados,


pânico cobrindo toda a íris.

— Por favor, não o deixe me tocar. Não me faça fazer sexo com
vocês dois — Ela pula da cama, indo até minha coleção de adagas.

Pegando uma afiada o suficiente, ela segura a mesma.

— Acabo com minha vida tão facilmente como vocês podem me


tomar. Não sou uma prostituta. Eu não deitarei com dois homens!

Caminho na sua direção, olhando seus olhos em pânico,


determinados.

— Athena, o que diabos está dizendo? — Pergunto — Por que


acha que eu deixaria Axel tocar em você?

Ela aperta o punhal da adaga, engolindo em seco.


— Mário me disse que vocês dois gostam de compartilhar tudo ao
mesmo tempo, principalmente as mulheres. Se fizer isso comigo, eu
acabarei com minha vida. Poderão fazer apenas sobre meu cadáver.

Mário, outra vez.

Me aproximo de Athena, vendo a mesma ficar ainda mais


resistente. Pego a adaga da sua mão pela lâmina, cortando minha
palma ao apertar para retirar da sua mão.

— Mário Vacchiano tentou te estuprar, não foi? — Minhas


respostas começam a chegar com seu olhar de estremecimento e
repulsa.

Tiro a adaga das suas mãos sentindo meu sangue pingar.

Axel bate na porta do quarto e Athena fica parada, me olhando


com terror.

Sim, preciso de todas as informações sobre Mário Vacchiano


mais do que nunca.
Capítulo 15
Athena Baumann
Depois de minutos após a saída de Hades eu continuo
trêmula de pavor. Mário cravou esse medo em mim, por um instante,
realmente achei que Axel também iria possuir meu corpo.

Olho para o chão onde gotículas do sangue de Hades se


encontram, meus pensamentos repousam na lembrança dos seus
olhos repletos de calma clínica. Ele é como um lobo, por mais que
sua aparência seja bela, também é assustadora. Sua lógica em tudo,
inteligência o torna notavelmente diferente de qualquer homem com
quem já convivi, e eu vi muitos homens dessa máfia.

Visto minhas roupas novamente, sentando na cama, presa na


minha mente e na pergunta de Hades sobre Mário.

Mário Vacchiano tentou te estuprar, não foi?

Ele quase conseguiu. Naquele dia, ele pode não ter me


estuprado, mas arrancou algo grande o suficiente de mim, algo que
me faz projetar medo sempre que faço sexo com Hades.

Hoje, na cozinha enquanto Hades falava comigo, me tocava, a


única coisa que eu conseguia projetar na minha mente era deixar ser
entregue para não ser violada. Eu deixarei ele fazer sexo comigo, até
mesmo quando eu não quiser. Se eu continuar consentindo ele não
terá motivos para ser bruto comigo.

Por agora, nossa convivência está sendo boa, sinto calma com as
coisas desse jeito.

Hugo cumpriu com o que disse sobre enviar alguém, se algo fugir
do controle posso ter uma saída mesmo sabendo que Hades nunca
deixaria de me procurar, porém Hugo é um mestre em esconder
pessoas. Fui uma prova disso e talvez volte a ser.
Vou até a cozinha, já se passaram três horas e Hades ainda não
voltou. Encontro Cressida na cozinha preparando bebidas. Seus
olhos rígidos pousam em mim antes dela suspirar e voltar a
preparação das bebidas.

— A tutora de Anelise já foi embora? — Questiono.

— Sim, alguns minutos atrás.


Pego um copo de água e me sento na cadeira da mesa, olhando
para o jardim pelas paredes de vidro do lado direito do cômodo.

Sinto os olhos de Cressida em mim.

— Foi proposital, não foi? — Pergunto.

Ela me olha.

— Do que está falando, senhora?

— Você quis que eu visse Hades com aquela mulher no sótão.


Disse que ele estava sozinho, sabendo que não estava. A pergunta
que faço é: por que me mandou para lá?

Cressida parece afrontada, como se eu estivesse falando um


absurdo.

— Não sei do que está falando, senhora.

Coloco o copo vazio sobre a mesa mantendo meus olhos na


mulher ardilosa na minha frente.

— Ele faz isso com frequência? Trazer mulheres da sua boate até
aqui?

Um brilho acende nos olhos de Cressida.

— Axel e o senhor Hades promovem orgias nessa casa, no sótão


quando terminam um trabalho ou quando estão entediados. É
comum de se ver por aqui.
Apenas balanço a cabeça.

Anelise fica longe dessa área, contudo ainda é a casa dela e


Hades não deveria fazer isso. Nessa madrugada ela chegou na
nossa ala com facilidade, o mesmo pode acontecer quando tiver
essas festas de Axel e Hades.

Sinto minha cabeça doer repentinamente, me mantenho sentada


na mesa, observando de soslaio Cressida preparando petiscos para
acompanhar as bebidas. Devem estar tendo alguma comemoração
em um dos chalés dos homens.

A porta que liga o jardim à cozinha se abre, ergo meus olhos me


surpreendendo ao ver o homem que Hugo me enviou. Os olhos
claros dele pairam brevemente sobre mim e eu assimilo o fato de
que Hugo conseguiu pegar um dos homens de Hades.

— Senhora — me cumprimenta respeitosamente.

Ainda estou em choque.

— Ótimo, Plínio, leve a bandeja com bebidas e aperitivos. Preciso


começar a fazer o jantar para vocês — Cressida gesticula para o
homem pegar as coisas.

O mesmo obedece e sai sem olhar para trás.

Como Hugo conseguiu persuadir um dos homens de Hades?

A dor na minha cabeça parece aumentar, mas não peço nenhum


remédio a Cressida. Ao invés disso, eu vou até a ala de Anelise, mas
a mesma está dormindo. Fico por um momento no seu quarto,
sentada na poltrona, a observando dormir.

Ainda não sei o que aconteceu, mas Anelise tem uma espécie de
trauma causado pelo pai. Pelo que ouvi de Hugo, o pai de Hades era
cruel com todos à sua volta, até mesmo com a esposa.
O que essa pobre garota pode ter passado me assusta. Mário
não foi meu pai em nenhum momento e seu impacto na minha vida
causou todos meus medos atuais.

Já é quase noite quando volto para o quarto. Como sempre, ele


parece mais frio a cada vez que entro. Tomo um banho quente e
procuro alguma aspirina nas gavetas do banheiro, encontrando
apenas ataduras, linhas e agulhas e medicamentos anestésicos.

Dessa vez, não coloco uma camisola, estou com muito frio e
minha cabeça parece pesar cada vez mais. Pego uma calça de
algodão e uma blusa de mangas juntamente com meias.

Me deito na cama ignorando completamente o fato de ter que


jantar.

Cubro meu corpo com as três camadas de lençóis e fecho meus


olhos buscando alívio da dor na minha cabeça.

Não consigo dormir, e nem mesmo me movo quando Hades entra


no quarto.

Ele acende as luzes e eu me retraio com a luminosidade nos


meus olhos.

— Não acabamos nossa conversa de mais cedo — diz.

Ele se posiciona na minha frente e eu me sinto tão cansada.

— O que quer saber? — Pergunto

— Mário Vacchiano te entregou a mim depois de você ter se


recusado a ser amante dele?

Sinto vontade de chorar. Não sei se pela dor, pelo aperto que se
apossa do meu peito quando Hades fala isso de forma tão fácil.

— Ele tentou te violentar quando era mais nova e todos os dias


depois disso. Quando não conseguiu, ele quis que você tivesse o
pior destino. Te entregando a mim, um sociopata conhecido como o
próprio diabo ele achou que eu fosse te fazer pagar pela sua
negação a ele. — Conclui sem eu falar uma palavra.

Levanto da cama, exausta, com dor e vontade de chorar.

— Para onde vai, Athena? — Pergunta ao me ver caminhando


para a porta.

Toco a maçaneta sentindo uma vertigem.

— Aqui está frio, vou dormir com Anelise.

Minha voz soa estranha e eu abro a porta, mas antes de eu


atravessá-la, Hades segura meu braço. O olho tonta, vendo sua
imagem trêmula na minha frente.

— Você está com febre — Observa.

— Não, eu estou bem.

— Claramente não está.

Solto meu braço dele.

— Estou bem!

Passo pela porta, caminhando a passos lentos e me apoiando


nas paredes. Hades não me segue e eu fico grata por isso, quero
distância dele agora, da sua frieza.

Não chego até a ala de Anelise, por isso caminho até o jardim em
busca de ar fresco.

Minha vista tremeu, vejo a piscina bem a minha frente, mas ela
surgiu de repente.

Sinto meu corpo despertar quando caio na água fria, indo para o
fundo. Tento nadar, subir para a superfície, mas me sinto sem forças,
é como se meu corpo estivesse paralisando aos poucos e eu engulo
a água, inundando meus pulmões, me sufocando e nem mesmo
consigo lutar contra isso.

O que tem de errado com meu corpo?

Volto a minha consciência com alguém fazendo respiração boca a


boca em mim e retirando de mim toda água que engoli. Me viro de
lado, tossindo e tremendo de frio.

Axel está olhando para mim de cima, completamente encharcado


e atento.

— Você está bem? — Pergunta

Tusso violentamente, colocando para fora o resto de água que


engoli.

Axel me ajuda a me sentar, o mesmo me cobre com uma toalha


ao ver tremer.

— O que aconteceu? Você está bêbada?

Balanço a cabeça, ainda tossindo.

— Não tentei me matar, se é isso que quer saber. Eu estava


passando mal, não sabia para onde ir.

— Por que saiu do quarto se estava assim? — Seu tom é de


atenção.

Abraço meu corpo sentindo frio por todo meu corpo, meus lábios
tremem e meus dentes batem um no outro. Axel pragueja e me
ergueu em seus braços.

Ele caminha comigo de forma apressada até o andar de cima,


indo para a ala de Hades sem nenhum aviso. Ele chuta a porta do
quarto e Hades abre a porta do mesmo olhando para a cena de Axel
me carregando.
Axel entra no quarto sem cerimônias, me levando até o banheiro.

— Ela caiu na piscina, quando cheguei já estava inconsciente,


consegui tirar a tempo.

Hades me olha com seus olhos clínicos e eu continuo batendo o


queixo.

— Saia, Axel. — Ordena.

Axel sai e Hades me coloca debaixo de um jato de água quente


me causando um alívio imediato do frio, chego a suspirar com a
temperatura.

Ele tirou minha roupa por completo, me tirando do chuveiro e me


enrolando em uma toalha logo em seguida.

Hades me leva até o closet onde me ajuda a vestir uma roupa e


seca meu cabelo. Ao voltarmos para o quarto ele regula a
temperatura do ar-condicionado e me coloca na cama, sobre
diversas camadas de lençóis.

Seus olhos estão calmos, como sempre. Analíticos.

— Bebeu alguma coisa da geladeira? — Pergunta.

Balanço a cabeça.

Ele inspira.

— Cressida não a alertou sobre qual garrafa de água tomar?

Nego.

— Temos duas garrafas de água com MDMA. Guardamos na


geladeira para o caso de uma visita com algum intuito. Deveria ter
avisado.
Ele checa minha temperatura, indo a algum lugar e voltando
minutos depois com um copo de água e uma pílula.

— Para sua dor cabeça. — Diz

Engulo o comprimido com água e volto a me emaranhar nos


lençóis.

Hades fica ao meu lado, me observando.

— Sabia que tinha algo errado, mas deixei você sair achando que
precisava de ar — inspira — Tente dormir. Amanhã estará melhor.

Deito minha cabeça no travesseiro, sentindo meu coração


acelerado.

Hades não se deita comigo mas o vejo no quarto até eu


adormecer.
Capítulo 16
Athena Baumann
Pela primeira vez desde que cheguei aqui, eu acordo sentindo
calor. Me movimento na cama, abrindo os olhos. Estou sozinha. Olho
para o relógio na cabeceira vendo o ponteiro marcar 8:50 da manhã.
Nunca acordei tão tarde assim.

Não sinto mais dor de cabeça ou qualquer reação à droga que


tomei ontem, apenas uma dor leve na garganta pelo esforço de
colocar a água para fora.

Levanto da cama, indo até o banheiro urinar e fazer minhas


higienes.

Encontro Hades parado na frente da sua coleção de adagas,


olhando para elas com as mãos atrás das costas, concentrado
quando saio do banheiro.

Limpo a garganta para chamar sua atenção, mas ele não olha
para mim.

Ponho um vestido de verão e calço sandálias confortáveis. Hades


continua no quarto e dessa vez olha na minha direção:

— Como se sente? — Pergunta.

— Com um pouco de fome — Sussurro.

Ele inspira.

— Meu pai tentou matar Anelise quando ela tinha 2 anos de


idade. Ele a levou para um prédio de 50 andares e tentou a atirar de
lá. Felizmente, eu cheguei a tempo de impedir que ele fizesse isso.

Olho para Hades assombrada, sem palavras. Ele continua.


— Eu o atirei daquele prédio, incinerei seu corpo e três dias
depois dei a notícia de que ele havia falecido de câncer no cólon.
Encontrei um corpo que não era o dele para colocar dentro do caixão
onde as pessoas foram prestar a última homenagem ao capo
falecido — Hades caminha pelo quarto: — Meu pai era um homem
insano, não era só crueldade. Anelise era o reflexo da mulher que ele
torturou durante toda sua vida e que morreu por complicações no
parto. Eu não o suportava, mas usei todo meu desgosto quando o
empurrei daquela cobertura.
Seus olhos continuam pacíficos, mas com uma tranquilidade
diabólica. Ele fala de forma a me fazer arrepiar com os
acontecimentos.

— De alguma forma, Anelise é ciente disso. Seu corpo somatiza


tudo que aconteceu e a deixou dessa maneira. Eu sou capaz de tudo
por ela, mas a confiança dela em mim é limitada. Ela não confiava
em mais ninguém além de mim, até você chegar. Você chegou e
abriu um novo mundo para ela, a abraçou de uma forma
inexplicável… todos os dias eu tento saber como aconteceu.

Permaneço parada, olhando para Hades com o choque de tudo


que acaba de me contar. Ele matou o seu pai, incinerou o corpo e
colocou um corpo qualquer dentro de um caixão.

Não consigo considerar isso como um ato cruel para um homem


que tentou jogar a filha de um edifício.

— Por que está me contando isso? — pergunto.

Hades se aproxima, fincando os olhos em mim.

— Se sua resposta para o que te perguntei for sim, você terá


duas opções Athena. A primeira: me ver acabando com Mário
Vacchiano da forma mais lenta e humilhante. Segunda: me dizer
exatamente o que você quer fazer, e dependendo disso, posso fazer
por você.

— O que quer eu diga?


— A verdade. Tudo que Mário Vacchiano tentou fazer com você.

— Por que isso importa para você? Ele não me estuprou, você
mesmo pôde comprovar na nossa primeira noite.

Vejo algo como um vislumbre de raiva passar pelos olhos de


Hades.

— Você é minha esposa agora, protegida dessa família. Uma


parte importante. Se alguém te fez mal, hoje você tem o poder para
revidar. Gardel, Mário… você tem o poder de fazê-los se curvar
diante de você, Athena. E eu quero muito que me use para isso.
Quero que use toda fonte de poder e sede por sangue que tenho
para fazer com que todos paguem pelo sofrimento imposto a você.

Balanço a cabeça.

— Não coloque o poder nas minhas mãos, Hades. Eu não posso


fazer nada com isso. Durante todos esses anos da minha vida eu
aguentei tudo em silêncio, me remoendo de raiva e repulsa,
esperando o momento certo de acabar com Mário. Mas, agora que
você me oferece, eu fico em cima de um muro. Mário também é
poderoso, ele tem pessoas por toda parte, sabe de tudo que
acontece. Se algo acontecer a ele, então também virão atrás de mim.
Podem até ferir Anelise. Antes eu não tinha nada a temer, mas agora
tenho ela.

— Acha que eu deixaria algo acontecer a minha irmã?

— Claro que não, mas tudo pode acontecer. Você não é um


Deus, Hades. Não pode evitar tudo. Mário virá até mim uma hora ou
outra quando descobrir que não estou sofrendo os maltratos que
achou que eu teria com você. Ele não pode me matar porque agora
sou sua esposa, mas ele tentará algo.

Hades faz um barulho baixo com a garganta.

— Você me subestima, Athena— ele respira fundo — Você terá a


cabeça de Mário, verá o sofrimento dele. Tem minha palavra.
Fico em silêncio, olhando para ele.

Hades se aproxima ainda mais, tocando meu ombro com sua


mão esquerda. É um toque áspero e quente.

— Você é uma Baumann agora, Athena. O que você deseja se


torna uma lei nesse país. Você é minha esposa.

Olho para seus lábios, sentindo um calor se apossar do meu


corpo. A mão que está no meu ombro parece queimar minha pele de
uma maneira boa.

Inclino minha cabeça para Hades, pedindo por isso, ele me


atende ao depositar os lábios nos meus. Suas mãos vem até minha
cintura: fortes.

Levo minha mão até seu pescoço, querendo mais dos seus
lábios. O beijar e ser beijada por ele é como viver uma realidade
paralela entre céu e inferno.

Hades segura minha bunda, subindo o vestido e caminha comigo


até a cama. Eu caio de costas, arfante. Olho para ele, desejando o
que não conseguimos concluir ontem.

Retiro sua blusa com sua ajuda, vendo seus músculos


esculpidos, tocando-os.

Hades me beija, descendo uma trilha de beijos molhados pelo


meu pescoço, escorrendo as alças finais do vestido, se alojando com
seu tamanho entre minhas pernas abertas para ele.

Sem nenhum aviso Hades enfiou seu dedo em mim, me fazendo


arfar enquanto também massageava meu clitóris. Sua língua era
possessiva sobre a minha, sua boca me fazia delirar juntamente com
seu dedo que logo mais foi acompanhado de outro.

Apertei seus ombros, gemendo contra sua boca, pressionando


meu quadril na direção dos dedos que estavam dentro de mim. Isso
era tão bom. Hades conseguia me dar tanto prazer.
Em chamas e necessitada por ele, eu simplesmente o virei na
cama, ficando sobre ele. Hades me olhou com atenção, um certo
alerta, mas isso não importava. Seus dedos ainda estavam dentro de
mim e eu só queria senti-lo comigo sobre ele, vendo toda sua beleza
implacável.

Hades se ergueu, agarrei seus ombros, rebolando sobre seus


dedos que iam mais rápidos dentro de mim, arrancados gemidos
desenfreados.

Os olhos de Hades não saiam de mim, me dando certeza de que


ele adorava me ver dessa maneira. Agarrei-me a ele quando
aprofundou seus dedos dentro de mim, abrindo minha boca com a
sensação de vastidão que me tomou.

Sacudindo seus polegares na minha parte mais sensível eu


chorei contra sua boca, vendo estrelas ao ser arrebentada por um
orgamos.

Hades diminui seus impulsos, me vendo ofegante. Com os olhos


predadores, ele me afastou o suficiente para retirar sua calça. Ele
estava duro. Tão duro como antes e isso me encheu de expectativa.

— Deite-se para mim, Athena — Sussurrou, impedindo que eu


ficasse no seu colo.

Eu não me movi.

— Não.

Retirei meu vestido e a calcinha que ele tinha colocado de lado e


voltei a me sentar nas suas pernas. Hades me olhava e eu o
encarava de volta.

Me posicionei sobre seu membro, segurando o mesmo e o


introduzindo dentro de mim. Hades gemeu, eu gemi ao ser
preenchida por ele.
Sua mão agarrou minha cintura e eu abracei seus ombros.
Nossos olhos sempre em contato.

Com ele inteiramente dentro de mim, movi meus quadris


arrancando de nós dois um gemido.

Hades me olhava dançar sobre seu membro, com movimentos


que me causavam um prazer imenso e que sua expressão parecia
retribuir.

Seu aperto na minha cintura era forte, quase doloroso, mas ele
não me tirou de cima dele. Não quis assumir o controle dessa vez.

Roçando minha pele na dele, gemendo contra sua boca, sua


língua, eu me embriagava com as demandas de prazer.

Aumentei o ritmo das minhas reboladas fazendo com que Hades


grunhisse de prazer.

Meu orgasmo se aproximava, apertei Hades o suficiente para


sentir minha unha rasgando a pele do seu ombro quando desabei no
seu membro ao mesmo tempo de Hades, que segurou as duas
bandas da minha bunda enquanto moveu seu quadril e entrou em
mim com força, batendo forte dentro de mim.

Nossas testas se encontraram, Hades buscou meus lábios,


depositando um beijo suave. Suas mãos nas minhas pernas e nossa
respiração ofegante se misturando.

Quando enfim nos recompomos, Hades me tira de cima dele,


quase que com gentileza. Meu suco misturado ao seu escorre pela
minha perna.

Hades inspira, unindo as sobrancelhas.

— Está tentando me controlar? — Questiona.

— Quis saciar meu desejo da mesma forma como faz comigo. Foi
bom para nós dois, não foi? Qual o problema da posição?
Hades passou a mão pelo cabelo, levantando da cama.

— Não tente dominar a situação quando eu estiver nela, Athena.


Me deixe guiar as coisas. Às vezes posso perder o controle e eu não
quero te machucar.

— Não consigo imaginar você perdendo o controle — Sussurro.

Ele inspira.

— Eu perco, são raras às vezes, mas acontece.

Levanto da cama, indo na sua direção. Coloco minha mão sobre


seu peito forte e desenhado, traçando com os meus dedos.

— Eu sei que não irá me machucar, Hades. Hoje eu sei disso.


Não tenho mais esse receio com você.

Ele me olha sério e eu passo minha mão pela cicatriz do seu


peito, em linha reta.

— Vamos tomar banho, vou levar você para comer alguma coisa.
— Diz, e eu assenti.

Após o banho, eu visto outra roupa e desço com Hades. Axel está
na cozinha e os olhos dele vêm até mim, de forma analítica.

Ele está tomando café e lendo algo no tablet à sua frente. Hades
se aproxima dele.

— E Anelise? — Pergunta.

— A doutora soube que ela saiu para o jardim e até viajou para a
Itália, então a convenceu de fazer algumas coisas no jardim — Axel
gesticula para a parede de vidro e nós olhamos para Anelise e a
psicóloga pintando em uma tela — Acho que é uma evolução — olha
para mim — Graças a você, suponho.
Ignoro seu tom e me aproximo da parede para ver mais do que
estão fazendo. Anelise parece concentrada enquanto pinta, o que
Hades me falou sobre o pai deles me vem à mente e meu coração
aperta.

Ela é uma menina linda, adorável. Tudo nela me encanta e me


deixa tão rendida por essa garota. Anelise ganhou uma parte de mim
desde a primeira vez. Algo em mim, se conecta a ela, algo que não
consigo controlar.

— Athena, tome café — Hades chama minha atenção.

Olho por mais alguns segundos Anelise ao ar livre, pintando. Isso


é um alívio.

Vou para a bancada, ficando sentada entre Axel e Hades. Hades


me serve um sanduíche com um copo de suco de laranja.

Olho para Axel:

— Obrigada por ontem — agradeço.

Ele engole o seu café.

— Fique atenta ao que bebe nessa casa, não tomamos cuidado


com coisas justamente para que isso aconteça aos curiosos.

— Athena agora faz parte da casa, por isso não teremos mais
esse tipo de coisa dentro da geladeira. — Hades fala.

Axel ri.

— Sério isso? Só pode ser brincadeira.

— Se me falarem o que são as coisas e onde estão, eu não


chego perto. Não precisa remover o que usam — digo.

Hades olha para Axel.


— Remova tudo ou peça para Cressida fazer isso. Apenas tire
isso da casa.

Axel parece incrédulo, mas não contesta. Parece até um pouco


chateado.

Hades continua comendo de forma séria, olhando para sua


comida enquanto eu olho para Anelise com um sorriso no rosto.
Capítulo 17
Hades Baumann
Uma soma de fatores me deixam reflexivo, e um deles continua
sendo Athena e sua forma de agir. Ela é amável, mas afiada como
uma lâmina quando algo a fere. Ela tem feito muita companhia para
Anelise, as duas estão fortalecendo cada vez mais o laço que as
une, um laço desconhecido por todos.

Após resolver os problemas da máfia mais cedo, eu resolvo voltar


para casa antes do horário de jantar. Convidei Athena para jantar
fora. Estamos casados a 3 meses e ainda não a levei para nenhum
outro lugar de destaque. A mídia alemã divulgou fotos dela antes do
casamento, mas nenhuma depois do matrimônio, sei que estão
sedentos.

— Athena? — Chamo-a entrando no quarto.

Ouço passos de salto alto, ela sai do closet vestida com um


vestido preto frente única, longo e com o cabelo de lado. A
maquiagem é levemente forte, destacando seus olhos e contornos
do rosto. Nas suas orelhas tem dois brincos de diamantes que sobe
pelo lóbulo da sua orelha. Meus olhos descem até o salto fechado e
fino.

Ela é simplesmente bela. Tudo que qualquer homem almeja em


uma mulher. Tudo que eu almejo.

Dando dois passos tímidos na minha direção, ela procura algo na


minha expressão. Eu sorrio.

— Você está magnífica. Linda, Athena. — Meu elogio é genuíno.

Ela sorri. Deus, seu sorriso é lindo. Com covinhas e lábios


carnudos pintados de vermelho.
Me aproximo dela, pondo minha mão na sua cintura fina. Inspiro
seu perfume característico dela, que me faz buscar por sentir seu
corpo.

— Não sei se é uma roupa exagerada, não sei onde está me


levando. Vi que as mulheres da máfia, as esposas dos Underboss
devem se vestir com classe, como você é capo eu quis ir além.
Exagerei? — pergunta.

Sorrio mais uma vez.

— Você não precisa se inspirar em nenhuma outra mulher, você é


a porra da própria inspiração, Athena. Eu passarei a noite louco por
você.

Ela sorri mais uma vez, tocando meu braço.

— Precisa se arrumar ainda? — pergunta.

Massageio sua cintura.

— Sim, farei isso em poucos minutos. Só preciso de um banho.

Ela assente.

— Anelise quer me ver, vou até a ala dela.

Ela beija minha bochecha e se retira, meus olhos focam na sua


bunda redonda nesse vestido justo e nas suas costas nuas. Meu pau
lateja por ela.

Tomo um banho rápido, apenas para tirar o suor do dia. Visto


uma camisa preta com um blazer igualmente preto e calça de tecido
mole.

Olho para meu coldre com armas, resolvendo o deixar em casa,


tudo que levarei comigo é minha adaga. Não sou um fã de armas de
fogo, gosto de lutar com minhas mãos, corpo a corpo. É uma das
boas sensações que tenho na vida.
Procuro por Athena na ala de Anelise vendo a mesma rindo para
minha irmã. As duas conversam.

— Você poderia ir com seu irmão e eu. É minha primeira vez


saindo para um restaurante na Alemanha. — diz Athena.

Anelise balança a cabeça.

— Não gosto de sair, é barulhento lá fora.

— Quando você quiser sair, eu posso dar um jeito no barulho, eu


prometo.

Athena se abaixa e beija a bochecha da minha irmã que está


sentada na cama.

— Boa noite, Anelise. Nos vemos amanhã cedo.

— Boa noite, Athena.

Athena nota minha presença na porta e vem na minha direção.


Nós dois saímos da mansão juntos, indo em direção ao meu carro
esportivo estacionado na frente da casa. Abro a porta para que ela
entre, como um cavaleiro.
— Para aonde vamos? — Pergunta quando estamos na estrada.

Mantenho meus olhos na estrada.

— Um dos restaurantes que costumo frequentar, acredito que


você irá gostar.

Dirijo até o lugar que fica no centro de Berlim, é um lugar calmo,


com uma das melhores comidas e com pessoas elegantes. Gosto do
lugar por ser particularmente silencioso.

É um restaurante refinado, com paredes de vidros e madeira.


Uma fachada atraente para os sonhadores refinados e quem adora
esbanjar dinheiro. No meu caso, eu só quero que Athena conheça o
requinte da Alemanha.
Abro a porta do carro para ela, oferecendo meu braço para a
mesma. Os olhares não são para mim quando entramos, todos se
voltam para Athena. Todos os malditos olhares masculinos de dentro
e fora do restaurante.

— Senhor Hades — O manobrista vem nos receber, seus olhos


focam em Athena, o mesmo passa a língua pelos lábios
inconscientemente — Senhora. — volta aos seus sentidos.
Passo a chave do carro para ele, ignorando sua cobiça velada.

A caminhada de Athena até a mesa parece ser um espetáculo a


ser assistido por todos daqui de dentro. Eles não olham na minha
direção, mas prestam toda atenção a Athena.

Nos sentamos na mesa e o garçom nos entrega o cardápio.

— O Sommelier está aqui hoje? — Pergunto, olhando para minha


esposa que está lendo o cardápio, curiosa.

— Sim, senhor. Ele foi avisado da sua vinda. Devo chamá-lo?

Balanço a cabeça.

— Diga a ele que tenho um serviço à sua espera e espero o


encontrar no fim da tarde, na boate de sempre.

O garçom assentiu.

— Traga-nos o prato tradicional, com melhor sabor alemão.

O garçom se retirou e outro traz uma garrafa de vinho. O vejo


servir Athena e depois a minha taça. Não gosto de vinhos.

— Por que está me olhando tanto? — Pergunta Athena, tímida —


Minha maquiagem está borrada?

Balanço a cabeça.
— Você é um belo motivo para se matar alguém. Com certeza, eu
vou matar por você. Talvez, essa noite, se as atenções quiserem se
tornar palpáveis.

— Hades.

Inspiro.

— Você é linda, Athena.

Ela assente, como se elogios não a deixassem à vontade, fossem


como uma maldição.

— Se importa se eu beber? — Pergunta.

— Só não se embriague, quero aproveitar o resto da noite com


você.

Ela crispou os lábios, levando a taça até a boca.


Continuo observando, procurando em Athena justificativas de
tamanha habilidade em deixar as pessoas à vontade. Axel detesta
isso nela, até mesmo ele se sente à vontade na presença dela.

— Seu nome é grego, assim como o meu. Temos o nome de dois


dos deuses gregos. Desde que ouvi sobre você, sobre nosso
casamento fiquei me perguntando se isso era uma coincidência, ou
um fatídico encontro.

Pondero.

— Seu nome foi dado a você por pura coincidência? Hades é o


deus do submundo. O deus infernal — Continua.

Inspiro, lembrando da história do meu nome.

— Meu nome não era Hades até os 10 anos de idade. Meu pai
resolveu mudar quando fui diagnosticado com sociopatia. Acharam
que seria o ideal, e acabou sendo.
Athena está séria, me olhando com um sentimento de
compadecimento.

— Qual era seu nome? — Pergunta.

— Não menciono mais um nome que não me pertence. Não


importa mais.
Ela não pergunta mais, apenas assente com um pequeno sorriso
e leva a taça de vinho até os lábios.

— Não sei a origem do meu nome, não tenho lembranças sobre


meus pais falando sobre isso. Na verdade, eu sinto que a única
lembrança que sobra pra mim são pequenos lapsos, como flashes.
Não lembro mais do rosto do meu pai, só lembro das costas dele. O
mataram por trás.

— Você presenciou tudo, mas não tem pesadelos. Imaginei que


iria acordar todas as noites com você sonhando com isso. Anelise
tem pesadelos.

Athena balança a cabeça.

— Eu não tenho nenhum tipo de sonho, eu apenas durmo. Nunca


sonho com nada. Estranho, não é?

— Mário ou sua tia procuraram ajuda psicológica para você


depois do que aconteceu? — Pergunto.

Nossa conversa é interrompida quando nossa comida chega.


Somos servidos e Athena agradece ao garçom.

— Não lembro se já fiz alguma terapia. Eu só lembro de chegar


na Itália e é como se eu tivesse ficado em um quarto escuro até
meus 10 anos. Hugo diz que é bom, que não vai adquirir nenhum
trauma — responde.
Hugo Colombo.

— O quão próxima você é de Hugo?


Athena suspira.

— Ele era a pessoa mais próxima a mim. Literalmente a única


pessoa que se preocupou comigo. Tudo que sei, inclusive o alemão,
foi ele quem me ensinou. O considero como um pai.

Levo um pedaço de cordeiro até a boca, mastigando devagar,


saboreando. Athena realmente acha que Hugo a vê como uma filha,
e não é de se espantar. Ele tem idade para ser o avô dela. Até
mesmo os velhos se apaixonam, não importa a idade.

Após nosso jantar e de três taças de vinho Athena se solta mais


um pouco. Percebo seu olhar para as pessoas que estão dançando
na pista. Suspiro baixo. Isso não tirará um pedaço de mim.

— Você quer dançar? — Convido.

Ela arregala os olhos, sorri e assente já se levantando da mesa.


Segurei sua mão, a levando até a pista de dança. Apoio minhas
mãos na sua cintura enquanto ela enlaça meus ombros. É uma
música lenta, suave, tocada por instrumentos.
— Você não é o monstro que todos falam, Hades. Realmente
achei que fosse morrer pelas suas mãos ao me casar com você —
Confessa.

Olho em seus olhos.

— Eu a trato bem porque é da minha família, Athena. É minha


esposa. Não sou assim com os outros, não dou o direito de qualquer
redenção, por isso sou um monstro. Você ainda não me conhece
bem.

Ela toca meu queixo, os olhos tentando se aprofundar nos meus.

— Você realmente consegue simular bem as emoções. Às vezes,


quando me beija, eu chego a acreditar que esteja apaixonado por
mim, mas daí vejo seus olhos, sua expressão e me dou conta de que
você não é capaz disso.
— Gostaria que eu me apaixonasse por você?

Ela balança a cabeça.

— Eu queria um casamento por amor, mas não posso mais ter


isso. Estou com você e sei que nunca irá sentir isso por mim. Farei o
máximo que eu puder para não me apaixonar por você, irei sofrer se
isso acontecer. Não seja atencioso comigo, não me leve para sair.
Vamos viver juntos, pacificamente, dormir juntos e não nos abrirmos
um para o outro. Temos algo em comum que queremos muito que é
a melhora de Anelise. E eu tenho certeza que ela vai se recuperar.

Sua voz é branda, sincera e suave. Ela me pede isso com um


brilho de sutileza nos olhos e uma inocência que me afeta.

Me pergunto como seria ser amado por Athena, fico curioso sobre
isso. Vejo a forma como ela trata Anelise e é um cuidado o qual
nunca experimentei antes.

— Se é o que você quer, faremos isso.

Ela expira, me dando um pequeno sorriso, mantenho meus olhos


nos seus, minha mão acariciando suas costas nua, a sentindo
arrepiar com o toque. Ela me lembra um gato recebendo carinho, tão
desejosa por isso, entregue e estremecida.

Antes de sairmos do restaurante um dos garçons pergunta a


Athena se ela quer uma foto como lembrança da sua primeira vez no
restaurante.

Ela olha para mim, sem saber o que fazer.

— Acho que não faria nenhum mal — comento.

Olhando para o garçom, ela assente. Ele pede para que ela se
posicione perto da parede com garrafas de vinho, Athena parece
nervosa. O garçom pede um sorriso, ela olha para mim inspirando e
depois volta a olhar para a lente da câmera, com um sorriso
pequeno.
O flash dispara e Athena sai bela e elegante na foto.

— Quero uma cópia — Sussurro para o garçom. Ele balança a


cabeça de imediato.

— Por que não se juntam? Só mais uma foto — Sugere.

Athena desvia os olhos, como se quisesse isso, mas não tivesse


a coragem de pedir. Vou para seu lado, passando minha mão pela
sua cintura, trazendo ela para meu corpo, sua mão se apoia no meu
peito.

O garçom nos mostra a foto, Athena tem o rosto pacífico


enquanto o meu demonstra a brutalidade que pareço emanar.

Entramos no carro indo em direção a nossa casa. Ainda é cedo e


eu gostaria de mais tempo com Athena. Por essa razão, eu
estaciono o carro perto de Teufelsberg. Alguns turistas passeiam ao
redor do ponto mais alto da cidade, admirando a construção, tirando
fotos.

Athena olha através da janela, observando a montanha.


— Chamam esse lugar de montanha do diabo, não é? —
pergunta.

— Devem chamar de vários nomes já que foi um dos toques


nazistas.

Athena volta a observar, em silêncio. Seu rosto se tornou


reflexivo, distante… sua mente parece divagar.

A deixo observar, ver as pessoas passando por perto do carro.


Seus olhos cinzas se enchem com lágrimas, ela vira o rosto,
limpando as mesmas antes de cair.

Fico em silêncio.

Deixo que ela olhe para Teufelsberg por exatamente uma hora e
vinte minutos em silêncio. Não sei o que se passa na sua cabeça,
nem mesmo posso decifrar as emoções nos seus olhos.

Quando chegamos em casa subimos para o quarto. Athena para


no meio dele, levantando o rosto para mim.

— Alguém da minha família entrou em contato com você após o


nosso casamento? — Sua voz é calma — Hugo telefonou?

Gostaria de ter emoções agora para poder saber o que falar, algo
que ela gostaria de ouvir.
— Não — É tudo que digo.

Ela assente.

— Bom, eu não sou mais um membro da famiglia, certo? Abriram


mão de mim, é isso que deveria acontecer.

Não, não é. Muitas mulheres casadas com homens de fora ainda


recebem o apoio e visitas da sua família. Somos uma organização
mafiosa, mas honramos nossas famílias até o fim.

— Verdade que pensa mesmo isso? — pergunto

Ela inspira

— Não tenho família. Eles nunca foram minha família real e isso é
bom. Nada me conecta mais a eles. Estou liberta.

Sua boca diz algo que seus olhos não refletem, Athena
demonstra sua decepção. Acredito que ela passou tanto tempo com
eles que achou que fosse um deles.

— Você tem uma família de verdade agora, Athena. Você tem um


marido, tem uma cunhada e pessoas que estão dispostas a morrer
por você. Você faz parte de algo.

Uma lágrima desce pelo seu rosto. Uma única lágrima.


Ela parece querer transbordar, mas precisa de consolo, e eu não
sei consolar ninguém.
Mesmo assim, eu me aproximo dela, a segurando em meus
braços lentamente. Me sentando na cama e a colocando sobre
minhas pernas como eu fazia com Anelise.

Olho para Athena:

— Anelise a deixava consolar dessa forma, é a única maneira


que sei de consolar alguém. Se quiser chorar, pode ensopar meu
ombro, se não quiser isso, quiser apenas um calor humano também
serve para isso.

Athena então me abraça, colocando seu rosto na curva do meu


pescoço e começa a chorar. Suas lágrimas molham meu pescoço e
suas mãos abraçam meu pescoço.

Coloco minha mão nas suas costas, dando leves batidas.


Estudos mostram que isso conforta alguém.

Isso é o máximo que posso fazer.

Após chorar até suas forças drenarem, Athena se afastou de


mim, com os olhos inchados e vermelhos. Limpei suas lágrimas
restantes misturadas a maquiagem borrada.

— Obrigada — agradeceu fungando.

— Deveria tomar um banho morno, colocar uma roupa


confortável e dormir. Deve estar exausta.

Athena assente, levantando de mim. Ela vai em direção ao


banheiro e eu fico no quarto, relembrando os momentos de agora a
pouco. Por que me importo tanto com ela?

Não estou me reconhecendo na minha lógica, algo está fugindo


do controle, se criando um caos dentro de mim. Preciso parar isso.

Saio do quarto, indo até o galpão. Não planejo dormir essa noite,
preciso exercitar meu corpo.
Por sorte, cinco dos homens da minha organização estão lutando
entre si, se exercitando. Eles são lutadores de gaiolas patrocinados
por mim.

Eles param o que estão fazendo sobre o ringue quando me vêem


entrar. Retiro o blazer e a camisa, juntamente com os sapatos.

— Senhores, darei a melhor recompensa para quem conseguir


me machucar o suficiente para me deixar incapacitado. Por isso, não
quero brigar só com um de cada vez. Podem vir todos.

Subo no ringue ouvindo a risada de satisfação dos meus homens.

— Certeza disso, capo? — Um deles pergunta.

Me posicionei do lado esquerdo do ringue, esperando por eles.

— Façam o melhor de vocês. Me acertem para valer.

Os cincos homens me circulam com risadas de satisfação.


Cálculo seus movimentos, vendo que irão atacar de uma vez.

Respiro fundo.

Os cinco avançam sobre meu corpo como animais famintos.


Capítulo 18
Athena Baumann
Hades não volta para o quarto o resto da noite, nem mesmo de
manhã. Presumo que minha descarga emocional foi demais para sua
lógica.

Acordo antes das 5 da manhã e me visto para uma corrida. Vou


em direção aos galpões atrás da casa, os chalés dos homens da
organização, passando pelas oficinas. Corro até os limites, me
afastando da casa e de tudo ao redor dela até que a minha frente
esteja apenas grama, vento frio beijando o suor no meu corpo e se
misturando a minha respiração ofegante.

Ontem foi uma dura realidade chegar a conclusão de que


realmente fui descartada da família que achei ter me acolhido.
Mesmo com Mário, eu considerava a famiglia meu lar. Foi lá onde eu
vivi os maiores anos da minha vida, sendo assistida por eles.

Brincando com seus filhos, dançando com os familiares, fazendo


amizades breves… foi onde experimentei tudo. Eu não deveria me
surpreender, não é a primeira coisa que perco. E aquilo estava longe
de ser meu.

Paro de correr, me curvando para recuperar meu fôlego, estou


suando como um porco e quase sem fôlego.

Admiro o sol frio à minha frente, brilhando para iluminar a


escuridão que se impregna na cidade. Bebo um pouco de água,
voltando para casa, sem correr dessa vez.

Estou chegando perto da casa quando alguém se aproxima de


mim, correndo por trás até chegar ao meu lado. É um homem alto e
tatuado e eu o reconheço de imediato: Plínio.

Estamos longe o suficiente para não sermos ouvidos.


— Nosso Don foi informado do acidente que sofreu na piscina,
senhora. Ele pediu para que eu perguntasse se é uma boa hora de a
de tirá-la daqui — Fala em italiano.

Hugo está realmente cumprindo com o que disse, ele nunca falha
com suas promessas. Eu poderia ir embora e evitar o que está por
vir. Mas ainda quero ver Anelise bem, saindo de casa.

— Está tudo sob controle, diga isso a ele. Diga que estou bem. O
que aconteceu aquela noite foi um pequeno acidente.

— Tem certeza, senhora? Tenho tudo preparado para o momento


que decidir partir.

São palavras tentadoras, mas a cada vez me sinto distante dessa


realidade. Dentro de mim, sei que aqui agora é meu lugar, que
Hades agora é meu marido e é ao seu lado que tenho que ficar, e
tem Anelise. Como posso deixá-la para trás?

— Você ficará sabendo quando for o momento. Não se


aproximem muito de mim assim, eles podem desconfiar— Aviso.

Plínio faz um meneio com a cabeça e volta ao seu percurso


correndo. Sigo a passos lentos, me sentindo melhor ao saber que
Hugo não esqueceu de mim, que realmente está ao meu lado…
como sempre ficou.

Me aproximo das oficinas ouvindo a voz familiar de Axel falando


sobre uma noite quente com três mulheres e do tiroteio promovido
pela organização após a rebeldia de um dos subordinados.

Ele está contando com afinco, os homens sujos de graxa estão


ouvindo tudo com sorrisos no rosto. Entro na oficina vendo eles
engolir a risada e ficarem eretos, atentos a mim.

Axel suspira.

— Uma corrida matinal, senhora? — O senhora é enfatizado.


Não tenho nada contra Axel, mas ele parece ter algo contra mim.

— Noite agitada, hum? — Me apoio no carro que está sendo


consertado. Um sedan que provavelmente é usado para disfarces.

— Bem, não foi ruim, mas a de Hades foi melhor. Até duas horas
atrás ele estava de pé, lutando contra cinco homens. Ele derrubou
três nas primeiras duas horas e massacrou os dois últimos perto do
começo do dia — Axel e os homens riem — Nosso capo é cérebro e
músculo. Uma ótima combinação.

Então, Hades passou a noite brigando com seus homens. Eu


devo realmente ter ultrapassado seu limite de humanidade.

— Preciso que arrume um carro e seja o motorista, Axel — digo.

Ele me olha confuso.

— Por que eu? — Pergunta.

— Anelise confia em você. Se arrume, sairemos daqui a duas


horas. Quero um carro com vidros escuros.

Axel está claramente abismado com meu pedido, mas ele não
contesta.

Antes de sair, eu peço mais uma coisa.

— Preciso de um iPod e fones de ouvido. Onde posso conseguir


isso?

Axel me leva até seu xale que é como imaginei: bagunçado e


com garrafas de bebidas por toda parte. Peço para que ele baixe um
álbum de uma cantora americana e me encontre com o aparelho
daqui alguns minutos no quarto de Anelise.

Volto para a mansão, tomo um banho rápido, vesti uma roupa


casual e sandálias de tiras e me apresso em ir até a ala de Anelise.
Hades não estava no quarto e ninguém me informou seu paradeiro,
nem mesmo ele.

Anelise está na sua mesa de estudos quando entro no seu


quarto, escrevendo algo no caderno preto. Provavelmente uma das
suas muitas tarefas, ela adora isso, ou finge adorar porque não tem
mais nada para fazer e isso a conforte.

— Bom dia, minha bela princesa! — A saúdo com alegria.

Ela sorri. Isso é um bom sinal.

— O que está fazendo, Ane? — me inclino na sua direção,


tocando suavemente no ombro.

Ela me mostra o caderno com uma redação.

— Preciso terminar isso hoje — responde.

— Sobre o que é? — pergunto.

— Meio ambiente.

Sorrio.

Espero ela terminar de escrever, enquanto arrumo sua cama e


vou até seu closet procurar uma roupa confortável para ela. Anelise
termina sua redação e se senta na cama, me sento ao seu lado.

— Se eu arrumasse um jeito de abafar os barulhos do mundo lá


fora, você me acompanharia a um lugar? — pergunto.
Seus olhos negros se acendem, mas são apagados na mesma
velocidade. Ela quer sair, mas seu medo é maior.

— Não, o barulho não vai embora.

— Você disse que quando estava no meu casamento não os


ouviu tão fortes.
— Porque eu estava no seu casamento e ansiosa para conhecer
você. Aqui é diferente. Tudo é barulhento. O jardim, a cozinha, os
corredores… tudo é muito barulhento.

Concordo.

Seguro sua mão pequena na minha, olhando em seus olhos.

— Ontem eu vi algo muito bonito e pensei em você presa nesse


quarto. Eu disse a mim mesma que precisava te mostrar aquilo,
pensei em formas de te levar lá e abafar o barulho. Eu prometo que
se minha técnica não der certo e você quiser voltar, nós faremos
isso. — Aperto sua mão, olhando em seus olhos — Ane, você não
pode ficar presa nesse lugar. Se continuar aqui sem fazer nenhum
esforço para sair, permanecerá presa aqui. Você é um passarinho
que ainda não aprendeu a voar, mas isso precisa ser aprendido.
Preciso que confie em mim hoje e me prometa se esforçar, tudo
bem?

Ela balança a cabeça.

— Não consigo sair daqui — Sussurrou.

— Eu também não conseguia sair de onde eu estava, mas eu saí.


É assustador, aterrorizante, mas acredite em mim… quando nos
libertamos a sensação é a melhor que podemos sentir. Você me faz
sentir livre, Anelise. Quando a vi pela primeira vez, esses olhos tão
escuros e brilhantes — sorriu, tocando seu cabelo — Eu me senti
pela primeira vez na vida conectada a uma pessoa. Anelise, você
ocupa uma parte apenas sua no meu coração desde aquele
momento. Não sei o tanto que você sabe, não sei o quão profundas
são suas cicatrizes… mas eu quero ajudar você com elas. Quero
embalsamá-las com o amor que você plantou em mim, e para isso,
eu preciso que você me ajude a te ajudar. — Seguro seu rosto
pequeno — Nada nem ninguém jamais voltará a machucar você.
Nada mais.
Os olhos de Anelise são tomados por lágrimas, e ela me abraça.
Me abraça forte o suficiente para que eu sinta seu medo e sua
ansiedade.

— Tenho medo, Athena. Medo de todos.

Acaricio seu cabelo, engolindo o nó na minha garganta. Como


alguém pôde fazer tanto mal a uma menina indefesa?

— Eu sei, e está tudo bem sentir medo. Eu também sinto muito


medo, mas não o deixo mais me tomar. Entregue seu medo nas
minhas mãos, Anelise, eu saberei lidar com ele.

Ela me aperta mais forte e assente com a cabeça. Pisco os olhos


várias vezes para não chorar.

Quando Anelise se levanta para ir vestir o vestido que separei


para ela, eu me ergo, me virando na direção da porta vendo Axel
parado com o aparelho e o fone de ouvido na mão.

Ele está sério, com os olhos carregados de alguma emoção que


ele não dá vasão.

Ele não diz nada, apenas me entrega o aparelho.

— Vou alertar alguns dos homens, vocês não podem só sair


comigo de segurança — Axel fala baixo.

— Por favor, não os deixe se aproximar muito. Não deixe que ela
perceba que está sendo monitorada — Pedi.

— Sim, senhora.
Me sinto contente por ter conseguido fazer Anelise consentir, mas
sei que isso é só um pedaço pequeno do caminho. Ela ainda precisa
de casa.

Anelise volta vestindo um vestido azul claro casual, sapatilhas e o


cabelo solto, bem penteado.
Me abaixo na sua direção, conectando os fones no aparelho e
colocando os earpods sem fio na sua orelha.

— Eu ouço essa música sempre que algo me assusta. Me faz


pensar na melhor amiga que desejei encontrar e agora tenho ao meu
lado: você.

Aperto play na música Dorothea de Taylor Swift.

Os olhos de Anelise ganham um certo brilho e eu vejo isso como


um sinal positivo. Seguro sua mão, a conduzindo para fora da casa.

Me sinto nervosa e com o coração apertado, mas estou tomada


de fé. A fé me sustentou até aqui e ela se estenderá para Anelise.

Axel está nos esperando fora do carro, assim que pisamos fora
da casa sinto o aperto de Anelise ficar mais forte na minha mão. Ela
olha ao redor, assustada, em pânico.

Olho para ela e sorri confiante. Pausei a música.

— Não se concentre na sua respiração ou nas batidas do seu


coração, eles só aumentaram seu pânico. Ouça a música. Sinta a
letra e se imagine sendo a amiga da Dorothea, a amiga que está feliz
pela outra está conquistando tudo que ela sempre sonhou.

Anelise suaviza o rosto e eu aperto o play. Axel abre a porta do


carro e eu juro ver ele segurando a emoção que toma seu rosto,
deixando só a dureza no lugar.

Sentamos no banco de trás, Anelise se encosta em mim,


apertando os olhos e com as mãos transpirando. A segurei em meus
braços, apertando a mão.

Axel dirige com os olhos no retrovisor, pronto para qualquer


ataque de pânico que Anelise possa ter.

Ela está transpirando, mas não tira os olhos do que ver na


estrada. Sua curiosidade e vontade de viver a faz se ligar no que ela
deixa de ver diariamente.

Pedi a Axel para ir pela estrada com mais detalhes para se ver,
com mais natureza e parques.

Quando chegamos a Teufelsberg eu me esforço para não parecer


emocionada pelo fato de Anelise conseguir descer do carro. Seus
olhos estão em toda paisagem. Mesmo seu corpo em pânico, ela luta
para se manter firme. Sua mão segura tão forte a minha que chega a
doer.

Axel está bem atrás de nós, olhando tudo atento, principalmente


às pessoas ao nosso redor.

Caminho com Anelise, nos misturando à multidão, rodeando a


montanha com pinturas na parede. É um lugar devastado pela
guerra, mesmo assim ele ainda mantém uma espécie de encargos
de sentimentos. Anelise parece sentir isso também.

Ela observa tudo com o fone ligado na altura máxima e os olhos


voltados para a construção, as pinturas na parede e todo o
comprimento da montanha.

O que achei que seria alguns minutos que ela poderia aguentar,
Anelise conseguiu se manter no lugar por duas horas, olhando tudo
em volta, sem soltar minha mão ou desligar a música. Ela estava se
conectando da forma dela, se reintegrando dessa maneira.

Uma barraca com comida estava perto do local, e foi uma boa
oportunidade de fazer Anelise comer um sanduíche e beber
refrigerante sem nenhuma restrição dos muitos tutores dela.

Nos sentamos em um banco, e comemos. Ao terminar, Anelise


simplesmente encostou no meu braço e eu descansei minha
bochecha no topo da sua cabeça.

Sorriu com uma enorme vontade de chorar de felicidade.


Ao voltarmos para casa, Anelise parece mais leve do que quando
saiu, ela retira os fones de ouvido e me surpreende com um abraço
apertado.

— Obrigada, Athena. Obrigada.

Seguro suas costas pequenas, me abaixando para olhar em seus


olhos.

— Eu agradeço por ter confiado em mim. Muito obrigada. O que


acha de fazermos o jantar juntas? — Proponho.

Ela assente de imediato.

Seguro sua mão e vamos até a cozinha, Cressida se surpreende


ao ver Anelise e eu peço para que ela saia. Anelise não gosta da sua
presença e a casa é dela.

— Você quer fazer o molho do macarrão como da última vez? —


Pergunto.

— Sim!

Pego os ingredientes do armário, colocando sobre a pia. Anelise


lava as mãos e segue minhas instruções. Vamos fazer macarrão com
almôndegas novamente.

Coloco música para nós duas, a mesma que estava no fone.

— Eu penso em você quando ouço essa música, você é minha


Dorothea — Diz Anelise.

— E você é a minha. Você é minha primeira amiga, Ane e eu não


poderia ter ninguém melhor.

Ela sorri, contente.

— Você também é minha melhor amiga. A primeira e única.


Beijo seu cabelo, tomando cuidado para não a interromper
enquanto faz o molho.

Quando estamos terminando Hades entra na cozinha, sua


bochecha tem um pequeno hematoma e ele parece analisar a
situação.

— Vai se juntar a nós para o jantar? — Pergunto.

Ele olha para a irmã, a mesma segue seu olhar.

— É macarrão com almôndegas — Fala Anelise para o irmão.

Hades sorri para ela, caminhando na sua direção e beijando sua


testa.

— É muito bom ver esse brilho em seus olhos, Ane. Você está
radiante.

— Athena me levou para sair, e eu gostei. Não foi barulhento, e


ela estava ao meu lado todo o momento. Também comi sanduíches
deliciosos e suco industrial que nunca tinha provado antes. Quero
fazer isso mais vezes.

Até mesmo eu olho para essa Anelise tagarela e não acredito nas
tantas palavras que ela falou, Hades também parece tão
impressionado como eu, mas ele não demonstra. Ao invés disso,
fazemos ela falar mais.

Nos juntamos na mesa, Anelise estava animada e falando sobre


as coisas que mais gostou no dia de hoje, de como era parecia longe
de tudo que a assustava. Hades e eu mal tocamos nossa comida,
nossa atenção estava em Anelise.

Meu coração se encheu com uma alegria que eu não conseguia


medir. Ela vai conseguir sair desse mundo atormentado que criou
para si mesmo, gradualmente, ela vai conseguir. Tenho fé nisso.
— Estou cansada, acho que dormir será ótimo. Vou subir para o
quarto — Avisou Anelise, muito tempo depois de termos terminado
nosso jantar.

Ela vem na minha direção, me abraçando.

— Obrigada — Sussurrou.

Acaricio suas costas.

— Obrigada por tudo isso. Tenha uma ótima noite.

— Boa noite, irmão — se despede de Hades.

— Durma bem, Ane.

Observamos ela se retirar, absortos no que acabamos de


presenciar, nessa Anelise falante e que sorri.

Cressida vem tirar os pratos e Hades se vira na minha direção.

— O que acha de um ar fresco? — sugere com seu tom clínico.


Apenas balanço a cabeça em confirmação.

Pego um casaco no vestíbulo e o acompanho até o jardim,


ficando próxima a piscina. O céu está estrelado e a noite fria. Hades
não parece sentir frieza. Ele está com uma blusa fina branca e uma
calça jeans. Suas tatuagens no braço são evidentes, selvagens.

Ficamos lado a lado.

— Não sei como, não sei o porquê, mas você fez um milagre
acontecer. Não acredito em milagres, só estou dando um nome que
possa fazer você entender o que quero dizer.

Suspiro.

— Anelise precisa viver, sair dessa casa. Ela nasceu dentro de


um mundo mafioso, provavelmente ela irá viver como um membro.
Mas, se ela quiser ser livre, você irá contra isso? — Pergunto.

Hades se mantém impassível e eu o admiro. Sua pele branca


bronzeada está iluminada com as luzes do jardim, assim como seu
rosto bonito, os olhos negros e a cabeleireira loira. Seu cabelo é
muito bonito, a cor dele. Um amarelo pálido, assim como o de
Anelise.

— Nenhuma mulher que nasce nesse meio consegue ser livre.


Principalmente Anelise. Ela é minha irmã, filha do ex capo, sobrinha
de dois Underboss e dona da metade dos bens que acumulamos
durante todos esses anos. Ela pode querer ser livre, mas isso não é
possível, não completamente. A máfia é uma hierarquia.

— Se você tiver um filho esses deveres dela são encerrados


parcialmente.

Hades me olha, olhos negros e sem expressão.

— Só terei um filho se for realmente preciso que eu tenha um, se


Anelise se negar aos seus deveres. Do contrário, não planejo
engravidar você ou qualquer outra mulher.

Sinto um beliscão no peito, isso me incomoda. Eu deveria ficar


feliz por isso. As mulheres que têm seus filhos nesse mundo vivem
de tormento. Nunca se sabe se irão voltar com vida para casa.

Três anos atrás eu perdi um amigo em um ataque da milícia. Ele


foi tão baleado que nem mesmo a mãe dele o reconheceu. Sua
morte foi brutal e o desfigurou completamente.

Ele era lindo como um anjo, seu destino foi morrer como um
demônio.
— Se desejar alguma coisa, Athena, quero que me fale. Sou
capaz de realizar qualquer desejo seu depois do que fez hoje.

Olho para Hades, fitando seus olhos com atenção.


— Um dia, eu irei pedir por esse favor e quero que me prometa
que não irá recusar.

Hades fica em silêncio, mas faz um aceno com a cabeça.

— Sim, farei isso. Por Anelise.

Concordo, sempre olhando nos seus olhos.

Hades se aproxima de mim, em um gesto gentil e desajeitado.


Não entendo o que ele quer com a aproximação, logo percebo que
se trata de um beijo. Ele se inclina na minha direção, sem me tocar,
apenas abaixa a cabeça e encosta os lábios nos meus, sem os
mover, apenas os encostando. Seus lábios são quentes e macios.

Ele se afasta e nossos olhos se encontram, os seus estão


nublados, mas com resignação.

— Suba primeiro para dormir. — Diz.

— Tudo bem — são as únicas palavras que consigo pronunciar


em meio a esse ato inesperado da parte dele.

Quando ele se retira, levo meus dedos até meus lábios que estão
formigando pela sensação do beijo. É um sentimento estranho, como
um frio na barriga.

O que fez ele me beijar? Sua gratidão?


Capítulo 19
Athena Baumann
Hades passa três dias fora de casa, ele viajou com seus homens
para Altebengerg, uma cidade da Alemanha que fica em seus
domínios. Um dos Underboss foi baleado três noites atrás e Hades
viu isso como uma ameaça a qual necessita da sua atenção. Ele, em
pessoa, foi em busca dos responsáveis levando apenas Axel.

Convivo com Hades há cinco meses para conhecer seu estilo de


confronto, sua caça aos inimigos da sua organização. Ele é como um
demônio e não dá a ninguém uma morte lenta, principalmente
quando alguém mexe com um dos seus.

Nesses três dias está claro para mim que muitas mortes
impiedosas estão acontecendo, Hades voltará com mais sangue nas
mãos. Ainda mais envolto na sombra do mau que carrega.

A cama parece larga sem ele, tenho corrido todas as manhãs e


conhecendo pessoas da família de Hades. Desde a minha aparição,
e o conhecimento que estou habitando nessa casa várias das tias,
primas e até os tios de Hades vieram fazer uma visita.

Hoje estou recebendo a visita de um dos Underboss mais


famosos da máfia Alemã, Emil Mallmann, irmão da mãe de Hades e
Anelise.

Um homem de porte físico volumoso, olhar calculista e uma


presença intimidadora. Ele é conhecido por servir pedaços das suas
vítimas aos familiares delas, os obrigando a comer. Sua aparência
chega a causar um certo entojo em mim.

— A famosa esposa italiana do meu capo, vulgo, sobrinho —


sorri, se levantando da poltrona, abotoando o terno.

Olho em seus olhos, sem ter nada a temer.


— Senhor Mallmann, a que devo sua visita? — questiono.

Ele sorri friamente.

— Faz cinco meses que entrou na família e não tivemos uma


apresentação adequada, Athena Vacchiano Baumann — ele degusta
meu nome em sua boca — Um sobrenome que carrega uma
essência bestial em uma mulher com uma beleza tão celestial como
a sua. Não é infame?

Cressida aparece para oferecer bebidas, eu recuso e o


Underboss a minha frente também.

— Fico honrada com sua vontade de me conhecer, Emil. Mas,


realmente fico curiosa para saber sobre sua visita cinco meses
depois do casamento e em um momento que o Capo não está em
casa. É desrespeitoso da sua parte vir até a casa da esposa do seu
capo sem a presença dele.

— Estou visitando a esposa do meu sobrinho e prestando meu


respeito a nova senhora da máfia. Isso é tão grave assim? A senhora
tem mais de cem homens lá fora prontos para me cortarem, atirarem
em mim se eu encostar um dedo em você. Acredito que eu esteja na
mira de um dos snipers de Hades nesse momento — Alisa seu
paletó de cor clara.

Ele rodeia a poltrona, parando atrás dela.

— Conhece a história da mitologia grega sobre o deus do


submundo Hades e a filha de Zeus e Deméter? Perséfone, o nome
da garota.

Suspiro baixo.

— Veio me contar uma história, Emil? — Indago.

Ele ri.
— Perséfone chamava atenção por sua aparência. Era virgem e
protegida pela sua mãe, a deusa da agricultura. Perséfone foi
raptada pelo seu tio Hades enquanto colhia narcisos. Hades, o deus
do submundo, ou como outros gostam de chamar: inferno — ele
continua de pé, alisando sua gravata e contando sua história —
Hades ludibriou Perséfone quando chegou ao submundo, a fazendo
comer uma romã, um fruto proibido, selando assim o casamento de
ambos. Deméter, a mãe, pediu ajuda a Zeus, mas com o casamento
selado, tudo que conseguiram foi que Perséfone saísse do
submundo para a terra para ficar com sua mãe nos meses de
outono, primavera e verão. No inverno, ela ficava no submundo com
Hades. Um terço do ano.

Ele faz uma pausa e me olha:

— Perséfone é conhecida como a deusa do submundo, quem


comanda tudo ao lado de Hades e na ausência dele.

— Uma história cativante, mas não entendo seu ponto, Emil.


Acha que sou como essa deusa e fui raptada? — pergunto em um
tom de humor.

— Bem, você foi tirada do seu lar e trazida para um verdadeiro


inferno. A alemã é muito diferente da Itália. Embora aqui você tenha
submissão e proteção de todos, também está suscetível aos males
dessa organização. Todos os inimigos acham que você se tornou um
ponto fraco para Hades, tudo que eles queriam. Nada pode abalar
Hades, sabe disso. Todos sabemos. Ele não tem emoções ou
sentimentos e pode caçar qualquer um até o fim da sua vida, sem se
cansar. Isso causa o temor de todos, até mesmo o meu. Não o quero
como meu inimigo.

Concordo.

— Por que noto um tom subjetivo nas suas palavras, Emil? Se


tem tanto medo de Hades, por que veio a casa dele e está brincando
com palavras subliminares? — Não movo meus olhos dos deles, não
temo sua presença. O único capaz de me colocar medo é Hades.
Emil se aproxima poucos centímetros de mim, olhando com
atenção.

— Você é a deusa desse submundo agora, Athena. É invejada


pelas mulheres que gostariam de estar em um posto tão alto como o
seu, e também por inimigos da máfia que querem atingir Hades, mas
não são corajosos o suficiente. Por muito tempo, Hades se negou a
ter um filho e ele já está na idade de conceber um. Você é da família
agora, precisa promover essa história na cabeça dele. Anelise
servirá para outras coisas, não para comandar essa organização.
Minha mensagem objetiva para você é única: engravide.

— Você pode ser o Underboss, Emil e até mesmo tio de Hades e


Anelise, mas acredito que minhas palavras e vontades como esposa
do seu capo se sobressai a qualquer uma que você falar. Eu sou a
esposa, a pessoa que Hades escuta antes de dormir e que ouve ao
acordar. Sua presença foi discordial para mim, principalmente pelo
fato de me instruir a engravidar para manter meu posto como esposa
e senhora dessa organização. Hades me escolheu por uma razão, e
nossas decisões serão baseadas nisso. Anelise se tornará a próxima
chefe se essa for a vontade de Hades. Nem você, nem ninguém
pode ir ao contrário disso.

— Se você não engravidar, as mulheres com quem Hades fode


com certeza irão — isso parece uma ameaça.

Sorriu de lábios fechados.

— Uma boa sorte nas tentativas delas, então. Você entrou nessa
casa com minhas boas vindas, e sairá com as mesmas, Emil, porque
farei um favor a você de não deixar Hades saber do que me falou
hoje aqui. Sei que seu intuito é preservar a organização, e esse é o
único motivo pelo qual estou dando uma cortesia a você de fingir que
sua visita foi cordial. Obrigada pela visita. Chame seus homens e
saia da minha casa tão discretamente como entrou.

Ele parece afrontado e por mais que isso seja um mal sinal em
inimizades eu agir como deveria, não baixei minha cabeça perante
suas palavras e vontades. Nunca farei isso para nenhum homem que
não seja Hades. E não faço por Hades porque quero, mas porque
preciso.

Emil Mallmann sai da casa, claramente controverso, mas


nenhuma contestação na sua boca.

Fico um tempo parada na sala, pensativa. Emil não está errado,


Hades precisa de um herdeiro, mas isso é um problema dele. Se um
dia ele resolver querer o filho, terei que consentir, mesmo não sendo
minha vontade dar à luz a uma criança que será o centro de uma
organização violenta.

Anelise e eu tomamos café da manhã no jardim e brincamos ao


redor da piscina. Ela está cada dia mais extrovertida conosco. Sua
tutora chega depois de meio-dia e eu vou até a garagem da casa.

Esse foi o único lugar que ainda não explorei, gosto de carros e
Hades tem uma coleção invejável de automóveis antigos e
modernos. A garagem está cheia de carros, por toda parte.

Observo os que estão no meu campo de visão com atenção,


estou tão concentrada na observação que não ouço ou sinto a
presença de Hades. Só me dou conta quando ele respira no meu
pescoço, me viro assustada encontrando seu peitoral firme e largo.

— Hades — meu coração bate acelerado pelo medo.

Ele olha para mim

— Athena.

Ficamos em silêncio, meu coração ainda está acelerado e o olhar


de Hades o faz disparar ainda mais. Minhas mãos estão nos seus
braços descobertos e rígidos.

Hades inspirou baixo, olhando para mim com atenção,


mergulhando nos meus olhos, passeando pelo meu rosto.
— Eu quero você — Sussurrou baixo.

Isso me pegou desprevenida, não de uma forma ruim. Antes da


minha reação, Hades tomou minha boca de forma lenta, aumentando
o ritmo e seu aperto ao redor do meu corpo.

O beijei de volta, minhas unhas mergulhando no seu couro


cabeludo, descendo pelo seu rosto, descansando no seu pescoço
quente. Hades estremeceu, suspirando contra meus lábios.

Suas mãos foram ágeis em desabotoar meu jeans e o escorregar


pelas minhas pernas. Me encostando em um dos carros, Hades se
ajoelhou diante de mim, segurando meus quadris e beijando os
mesmo, fazendo eu apreciar cada beijo molhado e sua língua contra
minha pele. Ele baixou minha calcinha, e mordiscou minha coxa me
fazendo ter um reflexo de dor, acalmou o lugar logo em seguida com
sua língua. Sua língua foi subindo pela minha coxa, arrancando
arrepios de mim, suspiros e gemidos baixos.

Eu ofeguei quando Hades passou sua língua entre minhas


dobras, me excitando ainda mais, causando uma onda de calor
incontrolável e deixando meu ventre pesar.

Sua mão segurou a parte posterior do meu joelho, o colocando


sobre seu ombro. Me deixando em pé só em uma perna e
completamente encostada no carro. Eu arfei. Minha excitação estava
no ápice.

Seus lábios se moviam sobre minhas dobras, e sua língua


deslizou ao longo do meu vinco. Hades me observava com os olhos
negros semicerrados. Eu não conseguia parar de olhar para ele, para
sua expressão.

A língua traçou meu clitóris e eu me contrai.

— Hades — Ofeguei procurando sua pele.

Me abri ainda mais para ele, em busca de mais e mais. Suas


mãos agarraram as bandas da minha bunda enquanto ele trabalhava
em mim, me chupando ainda mais, circulando todo o ponto de
prazer. Deus, como isso era bom.

Como eu amava a boca, a língua de Hades…

Mordi meus lábios para não gemer alto, o som era amplificado
dentro dessa garagem.

Eu não aguentava mais, precisava me libertar, segurei os ombros


de Hades, movendo meus quadris contra sua língua, gemendo
baixinho, me contorcendo com o prazer. Hades passava sua língua
avidamente pelas minhas dobras encharcadas. Meus gemidos o
estavam incitando, fazendo ele ir com mais vontade em mim e eu
comecei a tremer com meu orgamos.

Hades não parou, dessa vez mordiscando e isso me levou a outro


orgasmo, mas antes que eu pudesse chegar a ele, Hades
interrompeu o trabalho da sua boca, se elevando.

Ao redor da sua boca, seus lábios, estavam molhados com meu


suco e isso era excitante. Rapidamente tirei minha camiseta, ficando
completamente pelada. Os olhos de Hades estavam acessos de
desejo e eu fui até ele, tirar sua blusa, calça e cueca até estarmos
nós dois completamente pelados na garagem.

Eu estava ofegante e não fazia idéia de como faríamos sexo aqui.

— Como? — Perguntei.

Hades me enlaçou pela cintura, me colocando de costas para ele


e completamente debruçada sobre o capô do carro.

Arfei ao sentir a ponta do seu pênis na minha entrada, todo meu


corpo foi tomado por arrepios.

— Você é tão linda, minha ninfa — beijou minhas costas


enquanto se enfiava dentro de mim arrancando um gemido alto de
mim.
— Hades — Ofeguei.

Sua mão enrolou no meu cabelo, puxando minha cabeça para


trás. Isso me fez gemer. Ele se moveu lentamente me fazendo revirar
os olhos com o prazer se apossando do meu corpo com seu
comprimento inteiramente dentro de mim.

— Oh…

Hades acariciava minhas costas, beijava minha pele e puxava


meu cabelo enquanto estocava em mim. Isso era bom. Muito bom.
Eu me sentia necessitada, louca por mais e mais dele enfiando em
mim.

Os gemidos de Hades melhoraram tudo, eu adoro seus gemidos


e em como eles soam com uma extrema satisfação enquanto ele
está investindo em mim.

Antes do meu ápice, Hades me colocou de frente a ele. Me


sustentando nos seus braços e me colocando contra a parede de
gesso. Gemi ao sentir minhas costas se chocarem na parede fria.

— Quero ver seus olhos se entregando ao prazer que te dou,


Athena — Arfou com braveza, se enfiando novamente dentro de
mim.

Isso era demais. Hades era demais. Minha intimidade pulsava por
ele, minhas pernas ao redor do seu quadril tremiam.

Hades manteve os olhos nos meus enquanto investia em mim,


me fodendo com força, fundo e de forma a fazer seus gemidos se
tornarem altos iguais aos meus.

Agarrei seus ombros, revirando meus olhos, abrindo minha boca


para gemer ainda mais com o prazer.

Hades gozou e logo depois fui eu, misturando nossos sucos e


causando uma descarga de energia em nós dois.
Arfantes e suados nós dois encostamos nossa testa uma na
outra, misturando nossas respirações. Busquei a boca de Hades e a
encontrei esperando por mim. Foi um beijo intenso, nossos lábios
cheios de sede um pelo outro.

Depois de alguns minutos Hades me desceu dos seus braços e


fui até minhas roupas no chão e as visto, olho na direção de Hades,
que está de costas para mim, vejo hematomas nas suas costas e um
corte de 5 centímetros suturado.

— O que houve com você? — Pergunto, indo na sua direção.

Toco o corte levemente vendo que foi muito mal feito e deixará
uma cicatriz.

— Isso não foi nada além de um ataque de covardes. Eu estou


bem.

Ele veste a camisa, olhando sempre para mim.

— Você passou três dias fora — comentei.

— Sentiu minha falta? — É quase irônico seu tom de voz.

Suspiro.

— Melhor irmos para o quarto e cuidar desses machucados —


digo.

Ele passa a mão pelo cabelo loiro, mantendo a expressão calma,


como sempre. Subimos até o quarto, vou ao banheiro pegar tudo que
preciso como pomadas, esparadrapo e gazes.

Hades se senta na cama, com as costas viradas para mim. Ele


parece ter sido machucado ontem, e foi muito mal cuidado.

— Quem suturou seu corte? — pergunto enquanto limpo os


pontos.
— Eu mesmo, na forma que conseguir.

— Isso explica a aparência.

Cubro os ferimentos abertos com gases depois de limpá-los. Os


hematomas não posso fazer nada sobre isso, irá sumir com o tempo.

Hades se deita na cama, sem camisa, de barriga para baixo.


Seus olhos encontraram os meus de forma analítica, ele parecia
cansado, como se não dormisse há algum tempo, talvez fosse esse
o caso.

Não falamos nada, eu apenas fiquei sentada o observando.


Hades é bonito. Muito bonito. Seu rosto é como uma representação
de paraíso corrompido, juntamente com seu corpo grande. Ele é
letal. Uma espécie de homem feito para comandar e matar. A cada
vez que olho para ele vejo o terror que as pessoas que ele matou
possam ter sentido, mas também enxergo um homem. Um homem
que cuida de mim e da irmã dele, que mataria por mim e o qual eu
tenho sua lealdade.

As pálpebras de Hades se mexem uma última vez até se


fecharem. Ele adormeceu pacificamente. Não o cobri, apenas abaixei
ainda mais a temperatura do ar condicionado e saí do quarto para
que ele durma.

Sinto uma certa rigidez nas minhas coxas e um desconforto na


minha intimidade por causa da intensidade de minutos atrás.

[...]

Hades não tem um processo de recuperação, ele não aceita não


fazer esforço e segue seu trabalho. Tudo está tenso ao redor dos
seus homens, várias pessoas estão pagando com a vida por uma
invasão no território sul. Hades não está sendo piedoso, muitos dos
homens tem falado sobre isso.

Ouvi um deles falando que Hades extirpou o homem que o


atacou pelas costas. Os três dias que Hades passou fora foram um
banho de sangue nos estabelecimentos pertencentes a organização.
Pelo que estão falando, alguma máfia perdeu a cabeça e está
ousando desafiar Hades.

— Pode ser Gardel? — pergunto a Hades enquanto corremos


juntos pela manhã.

Hades me olha, sua camiseta preta está molhada de suor, mas


sua respiração não é tão arfante como a minha.

— Se for ele, então está entrando no seu próprio túmulo e


condenando seu território.

— Mário pode ter avisado sobre mim, mandando fotos minhas,


dito coisas… ele sabe que você não está me tratando como ele
esperava.

Um sorriso perverso desenha os lábios de Hades.

— Tudo que preciso saber é se você vai querer assistir a morte


dos dois homens que ferraram com sua vida, Athena, esse dia está
próximo. Esteja preparada.

Suas palavras soam como uma promessa, como da última vez.


Eu me arrepio. Hades irá acabar com Mário da pior forma, é uma
questão de tempo.

Mário se aliou a Gardel para destruir Hades, e claramente não foi


uma atitude racional. O ódio e o orgulho o cegou e agora ele pagará
isso com sua vida.
Capítulo 20
Athena Baumann
Em meio a tanto derramamento de sangue que a organização
está promovendo aos inimigos, Hades comunica do casamento da
sua prima ao que devemos comparecer. Pergunto se não será um
risco para todos caso os inimigos tentem atacar.

— Casamentos são sagrados em toda máfia, ninguém ousa


manchar um dia como esse de sangue. Presumindo que Mário e
Gardel estejam tão desesperados assim, então os homens estão
prontos, eu estou pronto.

Observo ele colocar uma arma de fogo, e duas adagas no seu


coldre. Ele o veste, cobrindo com o blazer. Eu suspiro baixo. Hades
me olha, contemplando meu vestido vermelho de seda com uma
fenda nas pernas e de alças finas, juntamente com um salto alto fino.

Hades se aproxima, sua estrutura alta, forte e suas roupas


escuras o deixam mais sombrio e mesmo assim maravilhoso. Sua
mão toca minha bochecha com suavidade, escovando a mesma. Eu
olho para ele vendo os negros dos seus olhos cintilando com malícia.

Não falamos nada, apenas saímos em direção ao carro, Anelise


está nos acompanhando, pela primeira vez desde o meu casamento,
essa será sua aparição na família alemã. Nós três entramos no
carro, em silêncio.

A festa de casamento ocorreu em uma mansão antiga, no jardim


da casa. Não é para menos tanta ostentação e luxo que estão
evidentes aos olhos de todos. É uma parente de Hades que está se
casando, uma pessoa de nível alto na organização. Ela tem 26 anos,
sua união é com um capo, uma espécie de tenente na máfia.

Seguro a mão de Anelise quando entramos, Hades caminha ao


nosso lado. A presença de Hades atrai todos na sua direção, para
cumprimentá-lo assim como eu. Os Underboss de todas as áreas
seguram minha mão gentilmente, dizendo apreciar nossa presença.

Todos os homens estão armados, mesmo que a roupa cubra as


armas. É a filha de Emil que está se casando hoje, e um assassinato
no dia do casamento da sua princesa o deixaria furioso.

— Hades, achei que não viria dados as circunstâncias que vêm


enfrentando. — Emil fala em tom complacente.
— É o casamento de Cecília, é claro que eu viria. Espero que
tenha seguido minhas ordens e colocado uma segurança extra ao
redor de tudo e todos dessa família — Hades fala, avaliando o tio.

Emil sorri de forma cruel.

— Se um desses desgraçados tentarem manchar o casamento


da minha filha, então pedirei sua permissão para eu mesmo caçar os
filhos da puta e servi-los de jantar aos seus familiares.

Hades assente e eu me afasto com Anelise para que ela não


ouça esse tipo de conversa. Ela ainda é uma criança, mesmo que eu
não possa evitar seu crescimento em meio a tanta violência, farei o
possível para que absorva o menos possível de tudo isso.

— Posso me juntar às outras crianças? — Anelise pergunta.

Olho ao redor, vendo cerca de três meninos e duas meninas da


idade de Anelise. Balanço a cabeça em sinal afirmativo e ela solta
minha mão, indo até as outras crianças. Observo ela por um instante,
conversando e gesticulando, vendo sua evolução. Isso me deixa
feliz.

Vejo Hades cercado pelos soldados da máfia e os Underboss e


eu me concentro em focar em mim mesma. Muitas pessoas não se
aproximam de mim, algumas acham que não sei falar alemão, e
outras por pura intimidação. Entretanto, sempre tem os que querem
causar uma boa impressão da mulher do capo.
— Você está divina nesse vestido, Athena — Evelyn, a mãe da
noiva e esposa de Emil vem ao meu encontro.

Gesticulo para o espaço muito bem decorado para a cerimônia.

— Será uma linda cerimônia. Acredito que Cecília está ansiosa


pela união com seu amado. Ouvi a história de amor dele por ela.
Será um casamento lindo.

Evelyn assente, com um sorriso. Seus olhos verdes


demonstrando felicidade.

— Anelise veio com vocês, isso é muito bom. Achávamos que o


quadro dela era irreversível, mas ficamos felizes em ver que não.
Talvez ela só precisasse de uma presença feminina.

Sorri de lábios fechados, observando Anelise.


Outras mulheres se aproximam, os únicos que não tem a
coragem são os homens, eles até mesmo evitam olhar para mim por
puro medo de Hades não se agradar.

O único homem que se aproxima de mim é Plínio, ele está aqui


como convidado. Ele se aproxima como se para verificar se estou
bem, fazendo seu papel como capanga de Hades.

— Hugo está preocupado com o que vem ocorrendo na máfia


Alemã, ele acha que pode ser Gardel tentando chegar até a senhora
desde que foi revelada ao olhos de todos.

Se Hugo souber que Mário está envolvido nisso a morte por


traição a família seria certa para Mário. Ou talvez Hugo o perdoasse
pelos anos de serventia como conselheiro.

Apenas Hades, Axel e eu sabemos que pode ser Gardel e Mário


por trás de tudo que está acontecendo. Hades quer chegar a ambos
silenciosamente, fingindo ignorância. Eles estão loucos ou
subestimaram Hades demais.
— Diga a Hugo que preciso falar com ele. De uma reunião. O
mais breve possível.

Plínio assente e se retira. Não faço ideia como Hugo fará isso
acontecer, mas sei que ele dará um jeito, ele é um Don, é conhecido
por encontros furtivos.

Hades vem para o meu lado, juntos vamos cumprimentar o noivo


e logo tomamos assento para assistir a cerimônia.

Meu pensamento vai até o Hugo e no que preciso falar a ele. Se


Mário morrer, o que vai acontecer, minha tia ficará sozinha e vista
com maus olhos. Ela nunca fez nada que merecesse meu
desagrado, pelo contrário. Foi ela quem recorreu a Hugo para me
salvar. Só estou viva por causa dela. Devo fazer o mesmo.

Hades não pode me ajudar com isso.

A cerimônia tem início e todos param para ver a beleza da noiva


e em como bela e jovial está no seu vestido de noiva feito sob
medida. Ela tem um sorriso amplo no rosto, e caminha ao lado do pai
com alegria.

Não consigo não comparar com meu casamento, não por ser
parecido, mas por ter sido tudo ao contrário do que vejo hoje. Cecília
está tendo o casamento que eu sempre quis para mim. Um
casamento com amor.

Eu não odeio o que tenho com Hades, hoje não. Antes sim. Eu
tinha medo dele e o considerava um animal. Mas hoje, o vendo lutar
e se ferir por mim, usando seus homens para me manter protegida,
os ferindo quando podia simplesmente me entregar a Gardel… eu
me sinto grata a essa lealdade.
Eu sei que ele nunca irá me amar e muito menos está fazendo
isso por tal sentimento. Ele é apenas leal e cumpre com seus votos a
mim, mas a cada vez que olho para ele, que me deito ao seu lado e
ouço sua respiração, vejo suas cicatrizes e tatuagens… quando o
vejo como ele é, não consigo mais sentir medo, eu me sinto em
casa.

Sei que estou em um jogo perigoso, meu coração está se


rendendo a um homem que não pode me amar. Ele não é capaz
disso.

Sinto a mão de Hades tocar meu pulso, estamos sentados lado a


lado, assistindo a cerimônia. Ele olha rapidamente para mim,
buscando minhas emoções nos meus olhos, sua forma de me
entender.

— O que aconteceu? Você está aflita? — Pergunta.

Balanço a cabeça.

— Só estou admirando o casamento, não estou aflita.

Ele limpa a garganta.

— Deve estar lembrando do nosso casamento, por isso ficou


assim.

Não digo nada, apenas continuo observando os noivos dizerem


sim um para o outro.

A cerimônia teve uma hora de duração e logo depois aconteceu a


comemoração. Uma mesa grande foi posta para os principais
membros da família, uma mesa reta, como uma bancada. Meu lugar
e o de Hades fica perto dos pais da noiva.

Todos estão dançando, comendo e comemorando, os homens


puxam suas mulheres para a dança.

A primeira dança da noiva é com o marido, depois com o pai e


em seguida com Hades. Procuro Anelise a vendo próxima à mesa,
comendo doces aos montes. Ela sorri para mim e eu pisco na sua
direção.
Hades dança surpreendentemente bem para um homem da sua
altura e tamanho. Enquanto ele dança com a prima eu vejo os dois
conversando e os olhos de Cecília rapidamente vem até mim, como
se estivessem falando de mim.

Bebo um pouco de vinho para ajudar a comida do banquete


descer. Os olhos dos homens agora que Hades está distraído são
persistentes em mim.

Concedo minha dança ao noivo como se manda a tradição. Ele é


respeitoso e não nos falamos. É uma dança de uma música só e
logo sou tirada dos seus braços por Hades.

E estar em seus braços me deixa mais confortável, mas também


pesada. Pesada de tanto sentimento.

— A fama de que cortou a garganta de um homem por ele ter se


atrevido a falar comigo parece ter se espalhado por toda parte —
comento, apoiando minhas mãos sobre seus ombros.

Hades inspira baixo.

— Ótimo. Assim não tenho que derramar nenhum sangue no


casamento de Cecília.

As mãos de Hades estão na minha cintura, de forma possessiva,


como sempre são quando estão no meu corpo.

— O que estavam falando de mim? — pergunto me referindo a


Hades e Cecília minutos atrás.

Hades mantém os olhos nos meus como sempre faz questão de


fazer. Eu procuro tanto por uma única expressão que me
corresponda, mas sei que não a terei.

— Ela disse que você era linda, gentil e que estava


transformando tudo ao meu redor em coisas coloridas. Falou que
você me deu o que sempre quis: a melhora de Anelise — ele pausa
e eu acho que parou de falar, mas depois de um tempo, ele continua:
— ela também disse que vê o amor nos seus olhos quando olha para
mim. Que você está apaixonada.

Meu coração aperta. O que ele irá fazer com essa informação?
Me tratará com menos afeto? Me afastará? Mas, Hades faria isso?
Talvez, sim, para poupar meus sentimentos.

— É claro que nada como isso pode ser real entre nós. Eu não
sinto isso e se você estiver apaixonada por mim, vai chegar um
momento que irá me odiar, se sentir frustrada por eu não retribuir.
Você é boa demais, Athena. É uma mulher completa, não tem
nenhuma chance de se apaixonar por um homem como eu.

Não, Hades, você está errado.

— Você não acha que alguém seria capaz de te amar?

Sua mão na minha cintura diminui o aperto, se voltando a


acariciar minha costas.

Seus olhos negros estão sombrios.

— Sou um homem sem sentimentos, não posso suprir a


demanda de amor e atenção que uma mulher precisa genuinamente.
Posso fornecer prazer, simular emoções, mas até eu sei que isso
não é suficiente se não for de verdade. Você está presa a mim,
Athena e terá tudo que posso oferecer a você. Mas, eu nunca
poderei te amar.

É isso. Suas palavras cravam uma adaga no meu coração e eu


seco as lágrimas antes que elas ousem emergir.

Amor não é algo que possamos pedir, ser amada não deve ser
um pedido.

Encosto minha cabeça na curva do pescoço de Hades, inspirando


seu cheiro e buscando respirar. Desviando meus olhos dos seus
para que ele não veja a dor que sua palavra me causou.
Mário conseguiu algo, no fim. Ele me fez amar alguém que nunca
poderá me amar de volta. Alguém que nunca terei o coração, os
pensamentos e a ingenuidade dos sentimentos. Isso não é um
castigo suficiente para uma pessoa que sempre sonhou com o amor
e agora está nisso?

— Preciso de uma bebida — Digo a Hades.

Ele me solta e eu caminho até a mesa de bebidas pegando o


copo de whisky. Nunca bebi essa bebida na minha vida, mas
qualquer um que ajude esse nó na minha garganta a se desfazer, me
fará bem.

Pego minha bebida e entro dentro da casa para um lugar mais


tranquilo, menos ventilado. Tomei a bebida amarga que rasga minha
garganta, me arrepio inteira sentindo minha boca queimar. É um
gosto horrível. Como alguém pode beber isso?

Lágrimas querem descer, mas não permito. As segurei por muitos


anos, posso continuar fazendo isso. Hades é minha marca agora.
Uma marca que não conseguirei arrancar e a qual sempre ficará
selada no meu coração.

Toda vez que fodemos eu irei me contentar com o que vejo nos
seus olhos. Desejo é a única coisa que ele tem para me demonstrar,
principalmente quando está dentro de mim. Talvez, um dia ele
também se canse de mim e nem isso eu terei.

Mário conseguiu.

Hades está me quebrando.

— A coisa mais irônica da minha noite foi encontrar uma mulher


com o nome e a aparência de uma deusa — Uma voz masculina fala
em inglês.

Me viro vendo um homem alto, cabelo preto penteado para trás


com gel e vestido formalmente. Deve estar na casa dos 40 anos e
tem um sorriso amplo.
Ele deve ser estrangeiro para tomar essa liberdade, ele com
certeza não sabe o perigo que está correndo.

— Saia antes que alguém o veja falando comigo. Você


claramente não é daqui, não sabe quem é meu marido.

O homem riu e eu cambaleei ao tentar andar, minha vista fica


turva.

— Ora, isso é excitante e eu amo esse sentimento de perigo. —


Ele se aproxima, tocando meu cabelo que cai pelas minhas costas,
seus olhos são repletos de fascinação — Você é tão linda. A mulher
mais linda que já vi.

Empurro sua mão e isso parece demandar uma espécie de


energia absurda de mim. Minha vista fica mais turva e eu deixo o
copo na minha mão cair. Conheço essa sensação. Oh, não!

Olho para o homem:

— O que você fez?

Minhas pernas enfraquecem e antes que eu caia o homem me


segura em seus braços.

— Calma, querida. É só um entorpecente, você sentirá prazer


quando eu estiver fodendo com você da forma que eu quiser. Foda-
se esse tal de capo. Ele não será capaz de nada.

Tento gritar por Hades, mas minha voz simplesmente não sai. O
terror me toma. O homem me leva para algum lugar, abrindo uma
espécie de porta secreta que leva para um quarto.

Hades, por favor, me salve.

Tento relutar a droga que ingeri,, lutar. Mas só acerto o rosto do


homem e ele me xinga batendo no meu rosto logo em seguida. Sinto
o impacto e a dor, mas todo o resto do meu corpo parece
anestesiado.
Capítulo 21
Hades Baumann
Athena se afasta como se ficar perto de mim anulasse sua
capacidade de respirar, seus olhos me revelaram dor, desgosto e
algo que não consigo decifrar. Observo ela pegar a bebida e se
afastar, estou prestes a segui-la quando Axel se aproxima com o
rosto concentrado.

— Nenhum filho da puta parece ter armado nada para hoje. Já


verificamos tudo. Todos os cantos da casa, ao arredores e temos
atiradores e homens por toda parte. Não acho que seriam imbecis.
Eles estão perdendo mais homens que nós.

Vejo Anelise brincando com outras crianças, algo novo e bom. Ela
acena na minha direção e volta a correr com as outras crianças.

— Mário e Gardel estão pensando em um plano, acredito que


logo um deles dará as caras. Eles tentaram me matar para ter
acesso a Athena, sabem que enquanto eu estiver vivo, Athena não
vai a lugar algum. Eu deixei isso bem claro para Mário quando aceitei
Athena, principalmente para Hugo. Já que não conseguiram acabar
com minha vida, tentarão barganhar. Mário irá conduzir essa
barganha a distância, sem querer se mostrar em meio a esse
conflito. Irá usar Gardel como marionete para conseguir o que quer.
Estou esperando um deles logo.

Axel assimila o que acabei de falar.

— Mário é o tipo de pessoa que faria isso, capo. Vou manter


nossos homens na Itália com os ouvidos abertos assim como na
América. Se algum deles quiser chegar até você, terá que fazer
contato com um dos nossos primeiros — Axel fala.

Anelise passa correndo por nós dois, Axel a observa com um


sorriso. É incrível para nós dois. Meses atrás Anelise não falava ou
expressava qualquer coisa.

— Acho que o fato de eu não gostar dela nunca foi real. Ela curou
Anelise de uma forma que nenhum de nós dois iríamos conseguir,
não importa o dinheiro que colocássemos nisso. As duas se
introduziram uma na outra através da dor semelhante. Se uniram a
isso e se mostraram na escuridão. Anelise se libertou. Athena deu
asas a ela — Axel se refere a Athena e seu tom é pacífico. Ele
finalmente está confessando que gosta dela.
Axel jurou a vida a mim, e sei que a partir do momento que
Athena se mostrou confiável esse juramento se estendeu a ela.

Anelise vem até mim.

— Onde está Athena? Não a encontro. — Diz.

Axel imediatamente olha ao redor assim como eu. Sem eu


precisar falar ele sai em busca de Athena, com a mão no coldre.

Me abaixo até Anelise.

— Já está tarde, princesa. Você deve voltar para casa. Mandarei


alguém levar você.

Anelise bufa.

— Não quero ir sem Athena.

— Ela logo irá ao seu encontro — Sorrio.

Gesticulo para Plínio, ele entende o recado de cuidar de Anelise.

Saio em busca de Athena por todos os lados, passando por todos


os salões e até a pista de dança. Não a encontro.
Volto para o salão principal encontrando Axel com o rosto
nervoso, esbaforido.

— Nada dela, Hades. Estou indo para o quarto das câmeras de


segurança. — Avisa, correndo em direção ao final do corredor.
Aperto o botão de pânico enviando aos homens instruções para
achar Athena. A minha calma parece se perder de mim por alguns
minutos, acompanho Axel e ele assume as filmagens.

— Comece das 19:40, foi quando ela saiu do meu lado — Instruo
— ela foi até a mesa de bebidas e depois para o salão de entrada.

Axel tem mãos ágeis e logo estamos assistindo às filmagens


desse horário, monitorando tudo. Presto atenção em cada tela,
principalmente na que nós dois aparecemos juntos.

Athena sai dos meus braços e anda em direção a mesa,


seguimos para a sequência vendo ela entrar em um ponto cego.

— Droga! — Exclamo.

Logo após cinco minutos um homem alto aparece e a câmera só


consegue capturar às costas dele. Ele parece conversar com Athena
e em minutos a imagem mostra quando o homem sofre um breve
impacto e o braço de Athena cai por suas costas.

Memorizo o rosto do homem.

— Faz exatamente dez minutos que isso aconteceu… — A voz


de Axel falha.

Dez minutos significa muito, muito tempo perdido onde tudo pode
acontecer.

— Mandem fechar tudo! Não deixe ninguém entrar e sair. Quero a


porra do dono da casa para saber exatamente todos os lugares
dessa casa!

Axel reúne todos os homens mostrando a foto do sujeito. Eu


procuro respirar e pensar no que estou vendo, no que me encontro.
Preciso ser racional, não posso deixar o caos me tomar agora.

Analiso as imagens, assistindo às sombras de ambos já que eles


não estão muito visíveis na tela. Observo.
Observo.

Observo.

A sombra de Athena parece desferir um golpe no homem. E


depois eles somem. Somem como se tivessem atravessado a
parede.

— Hades, o homem que levou Athena é o proprietário da casa.


Ninguém tem detalhes da casa, só ele. É um americano. — Axel
comunica pelo celular.

— Vão para o estacionamento, procurem um abertura em


qualquer lugar do chão, nas paredes! Mande todos os homens para
fora! — ordeno.

Não é coisa de Mário ou Gardel. Isso é uma tentativa de estrupo,


muito comum de acontecer por aqui.

Controlo a raiva que faísca nas minhas veias. Desço até o lugar
onde eles estavam, passo a mão pelas paredes, procurando uma
porta secreta. A parede é de madeira e sem detalhes. Sinto uma
parte em falso da parede e a pressiono fazendo uma abertura.

Um caminho abre a minha vista mostrando um corredor. Um


corredor curto com uma única porta. Não penso duas vezes ao
arrombar a mesma e me deparar com uma cena que faz o ódio
crescer nas minhas veias de forma gradual.

Corro até Athena, a vendo deitada na cama com o vestido


rasgado revelando do seus seios até o quadril. Ela não consegue se
mover, mas seus olhos se arregalam quando me vêem. O homem
está ao lado da cama sentado, com uma adaga na coxa, gritando e
xingando em inglês enquanto o sangue jorra da sua coxa. Uma das
minhas adagas.

Seguro Athena em meus braços, a vendo apenas reagir com os


olhos e lágrimas descendo pela sua bochecha.
— Eu estou aqui. Está tudo bem — minha voz sai firme e eu a
cubro. Ela tenta falar, mas nada sai da sua boca além de um gemido.

O homem está com as calças abaixadas e o pau para fora,


Athena está com o vestido completamente rasgado, mas sua
calcinha continua intacta.

— Ele te estuprou? — Pergunto, o ódio fervilha nas minhas veias.

Athena pisca os olhos duas vezes, negando. Muitas lágrimas


saem dos seus olhos, descendo pelo seu rosto. Ela não consegue se
mover, está paralisada.

A soltei dos meus braços a deitando novamente na cama. Minha


vista é tomada por escuridão, meu sangue, minha força… tudo em
mim parece amplificado.

— Por favor, tenha misericórdia e me leve ao hospital! — O


homem clama em inglês, os dentes trincados e o sangue jorrando.

Me abaixo diante dele, segurando pelo colarinho. Olho bem em


seus olhos, deixando-o ver o demônio dentro de mim.

— Eu não queria… tenha misericórdia! Oh, meu Deus!

Dou um soco no seu rosto, depois outro, seguido de outro. O


acerto em todos os lugares, o seu grito de dor, os gemidos e o
sangue espirrando não me é suficiente. Eu o pisoteio, acabo com ele
com minhas mãos ouvindo seus ossos se quebrarem com toda força
que utilizo.
Acerto principalmente no seu rosto. Seguro sua cabeça,
pressionando meus dedos nas suas pálpebras. O rosto já deformado
e inconsciente acordou quando comecei a pressionar seus dois
globos oculares. O maxilar solto e os dentes quebrados assumem
uma expressão enquanto enfio meus dedos dentro dos seus olhos
até que seu grito se torna mudo e o barulho da sua cabeça
explodindo com a pressão que fiz sobre seus olhos, se juntando ao
barulho das minhas mãos batendo sua cabeça no chão de
porcelana, quebrando os ossos do seu crânio preenche todo o
recinto.

O sangue escuro jorra do cadáver com a cabeça esmagada e


ainda assim não me sinto saciado. Foi uma morte lenta. Eu deixei
minha raiva falar mais alto, acabei com ele de forma rápida. Eu
poderia tê-lo feito se arrepender muito mais do que ele sentiu.

Olho na direção de Athena que tem o rosto voltado na direção


onde tudo aconteceu. Limpo o sangue das minhas mãos e rosto no
lençol da cama. Vou até Athena, a pegando nos meus braços. Todo
seu corpo está mole, sem nenhuma resistência.

— Vamos para casa, Athena — Minha voz é sombria.

Axel e mais três homens chegam no momento em que levanto


Athena. Seus olhos vão até o homem no chão e uma sombra passa
pelo rosto de Axel.

— Emil e a família não precisam saber disso hoje.

— Sim, capo — Axel assente.

Meus olhos estão no rosto de Athena, nos olhos abertos me


olhando apavorada, em pânico.

— Shh, está tudo bem agora, minha ninfa. Vou fazer você voltar
ao normal — Sussurro.

Os homens abrem caminho e eu saio carregando Athena, a


sujando com o sangue que está em mim. Grudado na minha roupa,
mãos e rosto.
Capítulo 22
Athena Baumannu
Hades me dá banho na cama, limpando meu corpo paralisado
com um pano úmido, em seguida, ele veste uma calça de moletom
em mim junto com uma regata e me envolve nos lençóis. Seu rosto
ainda possui traços de sangue que já ficou seco, sua blusa branca
contém manchas escuras e grandes.

Meus olhos estão no seu rosto com uma certa fúria contida nos
seus olhos. Vejo ele sair do meu campo de visão e voltar minutos
depois com uma seringa contendo um líquido transparente, quero
perguntar o que é, mas não consigo fazer nenhum som audível.

Hades olha para mim, acariciando minha bochecha.

— Isso irá te fazer dormir e cortar o efeito da droga que ingeriu.


Amanhã, você não sentirá nada. Seu corpo voltará ao normal.
Meu rosto ainda estava dolorido pelo tapa que levei e minha
mente ainda focalizava o momento em que consegui força o
suficiente para apunhalar o homem na coxa com a adaga que peguei
da coleção de Hades.

Acima de tudo, a cena de Hades estourando o crânio do homem,


batendo nele como se não fosse um ser humano… isso se repete na
minha mente. Hades não parecia humano, a forma como ele matou
aquele homem… não, ele não era um humano. Sua expressão, a
força sobrenatural não deixou nenhuma nuances de que ele pode ser
um demônio.

Ele injeta o líquido na minha veia, sinto a picada e o efeito é


quase imediato. Caio na inconsciência olhando para o rosto de
Hades, para os olhos negros como o breu vendo a sombra da
escuridão tomando conta dele.
Quando acordo, a primeira coisa que faço é mexer meus braços e
pernas, sentindo todo meu corpo. As cenas do que aconteceu se
reproduzem na minha mente e o pavor se apossa do meu corpo.

As mãos daquele homem no corpo, nos meus seios, na minha


intimidade; suas mãos rasgando meu vestido e a imagem dele se
alojando entre minhas pernas.

Me ergo na cama, procurando respirar, olho para todos os lados


buscando um ponto de foco me dando conta de que estou no meu
quarto e de Hades. Que estou em casa. Mas isso não ajuda o pavor
a sair do meu corpo, por algum motivo sinto a presença de Mário
comigo, a presença daquele homem.

Levanto da cama, vou em direção ao banheiro. Abro os armários


procurando por álcool, preciso me limpar, preciso tirar as digitais
daquele homem. Abro a garrafa e despejo pelo meu corpo,
esfregando a minha pele com uma esponja de banho. Alguns ruídos
saem da minha boca e minhas mão tremem, continuo me
esfregando, sentindo o cheiro forte do álcool até que Hades entra no
banheiro..

Suas mãos arrancam o frasco de álcool das minhas mãos e ele


me abraça forte para que eu pare de me contorcer, mas foi um erro
da parte dele.

Não são suas mãos que vejo ou sinto. São as mãos daquele
homem e Mário.

Luto contra Hades, usando todo meu conhecimento de


autodefesa. Piso no seu pé, enfiando meu cotovelo nas suas
costelas, Hades aguenta o impacto e me prende ainda mais nos
seus braços.

Estou arfante e apavorada.

— Athena, respire, sou eu! — sua voz é calma e firme. — Você


está em casa.
Puxo meu ar como se fosse impossível tê-lo nos meus pulmões.
Hades me faz olhar em seus olhos. As íris negras são reconhecíveis,
elas fazem um estalo na minha mente e eu paro de me debater.
Mergulho nos olhos de Hades, na calmaria que eles exalam, na
segurança que encontro neles…

Devagar eu começo a respirar de forma correta, puxando e


soltando o ar. Quando isso acontece eu desmorono e Hades me
sustenta nos seus braços, caindo de joelhos comigo no chão, se
encharcando do álcool que joguei em mim.

— Eu achei que iria morrer depois que ele conseguisse o que


queria, ele disse que mancharia todo o quarto com meu sangue —
Sussurrei trêmula, apertando os braços de Hades, me encolhendo no
seu peito.

— Shh…

Aperto meus olhos e me deixo ser envolvida pelo corpo de


Hades, pelo calor, cheiro e segurança. Hades é o símbolo de
segurança para mim, eu sabia que ele iria me encontrar e estar
agora aninhada a ele, com seus braços em volta de mim é um
consolo, uma sensação de segurança que nunca fui promovida
antes.
Não sei por quanto tempo ficamos no chão, mas Hades tira minha
roupa junto a sua e entramos no banho juntos. Ele lava meu cabelo
gentilmente enquanto eu estou chorando; ele tira toda sujeira do meu
corpo com suas mãos de forma gentil mesmo para ele.

Eu só quero ele. Só quero me envolver em seus braços.

Olho para Hades por baixo de toda água que cai sobre nós dois.
Suas mãos estão alisando meus braços e é um toque suave.

Esses olhos escuros sem expressão. Os dois pares mais negros


que já vi na minha vida. Esse homem marcado por cicatrizes,
tatuagens e tormentos, incapaz de sentir qualquer emoção, mas que
mesmo assim me fez sentir o que eu não deveria.
— Eu te amo, Hades — Minha voz sai embargada e abafada pelo
som do chuveiro.

Hades parece enrijecer, seus olhos não demonstram nada, mas


seu corpo está duro. Ele não sabe o que fazer ou como agir.

— Eu te amo com essa escuridão, esse lado demoníaco e sua


incapacidade de me amar de volta. Eu simplesmente amo você.

Ele permanece parado, me olhando sem nenhum movimento.


Minhas lágrimas se misturam com a água que desce pelo ralo. Sei
que ele nunca será capaz de retribuir, mas falar isso nesse momento
tira uma pata de elefante do meu peito que parecia estar ali há algum
tempo.

Hades desliga o registro do chuveiro e pega toalhas para nós


dois.

— Você precisa vestir uma roupa e se alimentar, Athena.

Fico parada deixando ele me envolver com a toalha. Ele sai do


banheiro depois de se enxugar e quando eu saio ele já não está mais
no quarto.

Visto uma calça de linho branca e uma blusa de gola alta e


mangas longas preta. Calço meias e vou para a cama. Sinto meus
olhos inchados e ardendo, eles também estão vermelhos pelo choro.

Espero por Hades, sei que ele irá voltar e por mais que eu queira
que ele diga algo, aceitarei sua resposta se ela for o silêncio.

Ele volta trazendo uma bandeja com meu almoço e várias frutas
que gosto como uva roxa e toranja.

— Não precisava ter trazido, eu ia descer. Obrigada. — Agradeço


quando ele coloca a bandeja na minha frente.

Seus olhos percorrem meu rosto e eu estico minha mão para


comer o meu currywurst.
— Por que estava com aquela adaga? — pergunta.

— Para defender tanto a mim ou Anelise caso algo acontecesse


no casamento. Sei que tinha vários homens ao nosso redor, mas, e
se nenhum chegasse a tempo? Eu simplesmente decidi pegar uma
das adagas.

Ele presta atenção em cada movimento meu.

— Se tivesse pedido uma arma de fogo, eu teria te dado uma. É


notável que você sabe mais do que usar uma arma. Hugo te
preparou bem para um confronto.

Mastiguei minha comida, a engolindo com um pouco de água.

— Hugo dizia que minha aparência poderia atrair as atenções


mais perigosas para se ter, que nem sempre eu poderia contar com a
proteção de alguém.

— Se ele não tivesse feito isso, eu assumiria esse dever de te


fazer aprender a se defender.

Termino minha comida minutos depois, pegando uma uva logo


em seguida. Hades continua do meu lado, olhando para mim vez ou
outra, assimilando meu rosto, o que eu disse no banheiro.

— Você viu o que eu fiz com aquele homem, não viu? Assistiu
tudo do início. Eu sou um ser bestial, Athena, eu vivo para matar da
pior forma e arrancar tudo que ousa ferir qualquer pessoa perto de
mim. Eu sinto um certo prazer nisso — ele inspira— eu nunca vou
poder retribuir seus sentimentos, eu já disse isso. Como pode ter se
apaixonado por mim? Mesmo depois do que viu, como pode dizer
que me ama?

Afasto a bandeja, me aproximando de Hades.

— Você é tudo que eu não tive e está me dando algo que eu não
esperava. Você não pode me amar, mas age comigo com dignidade
e lealdade. Quando o vi, eu achei que seria meu fim. Que iria me
devorar como um monstro que todos falam, mas em nenhum
momento você foi tudo o que disseram que seria comigo. A minha
vida toda, eu nunca esperei nada de ninguém e ninguém nunca me
deu nada, com exceção de você, Hades.

— Eu posso simular o amor para você, isso te fará feliz?

Balanço a cabeça sentindo meu coração apertar no peito.


— Não, não faça isso. Não posso aceitar algo que não seja real.
Eu vou lidar com isso da minha forma, vou encontrar uma maneira
de me manter com isso controlado. Eu não vou te incomodar ou tirar
sua paz.

Seus olhos são indecifráveis e sua respiração é pesada. Ele me


olha por um certo momento até levantar e pegar a bandeja. Sozinha
no quarto eu me abraço. O amor é um jogo para tolos e eu entrei
nisso consciente de que seria a única atingida.

Anelise vem me ver, nós duas ficamos na cama, aninhadas


resolvendo seu dever de álgebra e conversando sobre meu tempo na
escola.

Hades se junta a nós uma hora ou outra e nós três realmente


parecemos uma família. É o que somos, afinal. Esse momento é
precioso e Anelise ri das histórias que Hades conta sobre quando ela
era bebê e ele precisava trocar sua fralda.

Eu ouço tudo com atenção, observando a forma como Hades


sorri e olha para a irmã. Ele a criou. Às noites de sono que não
conseguiu ter foram dadas a Anelise. Tento imaginar um homem
como Hades aninhando uma criança, dando mamadeira e a
limpando. Ele e Axel fizeram isso por Anelise.

Uma fresta de luz parece se abrir dentro de mim.


Nós três vamos para o jardim à noite, pedimos a Cressida para
mover o jantar para fora. Nos sentamos na mesa perto da piscina,
Anelise parecia animada como ficou a tarde inteira.
— Ora, uma reunião em família e não me chamaram? — Axel
aparece puxando uma cadeira para se sentar.

— Viemos para cá justamente por causa de você, sabíamos que


você veria a gente do seu chalé — diz Hades, tocando o alto da
cabeça de Anelise.

— Você sempre sai pra fora quando um de nós está aqui —


Anelise fala de forma descontraída.

— Não sei se estou gostando de como a pestinha está se


tornando, princesa. Eu sou tão seu irmão como Hades e conheço
você há mais tempo que Athena. Não me coloque para escanteio.

Anelise mostra a língua me fazendo rir da cara que Axel faz.

— Você se tornou uma peste mesmo — Axel tem um tom feliz,


mas chateado.

Olho na direção de Hades o vendo se servir e passar um prato


para Axel. A noite deixa seus olhos ainda mais escuros e seu corpo
maior. Ele parece imbatível.

— Foi você quem cozinhou, Athena? — Pergunta Axel.

Mastigo minha salada balançando a cabeça.

— Cressida. Passei o dia no quarto com Anelise, depois Hades


apareceu e agora estamos aqui — respondo.

Axel lança um olhar subjetivo para Hades que apenas o ignora,


depois se voltou para mim. Algo em seus olhos pergunta se estou
bem e eu sorrio para ele.

Deixamos Anelise torrar a paciência de Axel, os dois são como


dois irmãos brigando por besteira, puxando a orelha um do outro.

Meu coração está cheio com uma felicidade desconhecida. É


bom ter eles e saber que agora são minha família. A única que eu
posso ter tido depois dos meus pais.
Capítulo 23
Athena Baumann
Acordo sentindo o corpo de Hades atrás do meu, grudado nas
minhas costas. Seu rosto está mergulhado no meu cabelo e sua mão
na minha barriga. Estamos nus por baixo de um lençol fino branco.
Estamos na nossa cama, deitados após horas de sexo onde
exploramos diversas posições. Meu corpo está dolorido em alguns
pontos, principalmente meu tornozelo, onde Hades agarrou com
força o suficiente para me virar de costas para ele e me penetrar por
trás.

Olho para o relógio na cabeceira vendo que está marcando 3:20


da madrugada. Algo incomum eu acordar esse horário. A respiração
de Hades atrás de mim é pesada, assim como sua mão na minha
barriga.

Sei que se me mexer, ele acordará. Tento ser sutil ao me levantar,


mas mesmo assim Hades se movimenta e abre os olhos, os
deixando semicerrados.

— Vou beber um pouco de água — aviso, sussurrando.


Ele assente e fecha os olhos novamente, antes disso dando uma
boa olhada no meu corpo nu. Visto o roupão para me proteger do frio
desse quarto. Tem água no quarto, Hades pediu para colocarem aqui
para que eu não precisasse descer quando sentisse sede durante a
noite.

Bebo a água e volto para a cama, Hades não abraça meu corpo
novamente, mas eu me aninho a ele, o sentindo respirar fundo e
encostar o rosto no meu cabelo. Traço seu peito com os dedos
ouvindo as batidas rítmicas do seu coração. Volto a pegar no sono
com seu calor e ao som do seu coração.

Na manhã seguinte, Hades e eu acordamos quase no mesmo


horário. Ele se prepara para treinar e eu para correr. É uma manhã
normal até às 11:00 da manhã.

Está tudo correndo normalmente, até que Cressida vem até a ala
de Anelise onde estou e diz que tenho visita. Isso me assusta. Quem
viria me visitar? Deixo Anelise no quarto e desço tentando imaginar
quem seja a pessoa e como conseguiu acesso a casa de Hades.
Fora os familiares, ninguém tem acesso.

Minha surpresa estampa meu rosto quando chego na sala e


encontro Don Hugo Colombo em pé olhando para Hades. Está
vestido com seu terno de linho, o rosto controlado e a expressão
neutra. Meu coração bate forte.

Lembro imediatamente do recado que pedi para Plínio o entregar,


não imaginei que fosse vir até aqui ou que seria tão rápido. Seus
olhos verdes cansados repousam sobre mim no canto, e ele sorri,
seus olhos se acendem.

Minha vontade é de abraçá-lo, ele é o rosto familiar que vejo


depois de meses. E não é um rosto qualquer. É o rosto do homem
que me ensinou tudo que sei, que me acolheu no seu seio familiar.
Que me forjou. Fez meus traumas não serem um problema para mim
hoje.

— Athena — ele abre os braços, como se lesse meu


pensamento.

Não hesito, vou até ele o abraço. Sua estrutura é alta, e ainda
forte apesar da idade. O abraço com respeito, evitando o apertar.
Suas mãos tocam minhas costas e ele acaricia meu cabelo.

Me afasto dele, o olhando com um sorriso no rosto. O costume


não sai de mim, é algo automático mesmo ele não sendo mais meu
Don. Seguro sua mão e beijo o dorso da mesma pedindo sua
benção.

Ele acaricia meu rosto, observando minhas feições.

— Você parece bem, minha querida.


— Estou bem. Vejo que também não parece diferente — sorrio.

Nós dois estamos falando em italiano, fico consciente da


presença de Hades na sala, não só dele como de Axel também. Os
dois estão sérios, olhando para nós. Me empertigo, ficando ao lado
do meu Don.

Hades tem os olhos negros mais frios do que o normal, ele não
parece satisfeito com presença do Don.

— Vim até a Alemanha para resolver pendências no nosso


pequeno domínio que foi adquirido depois do seu casamento,
querida. Resolvi passar para vê-la — esclarece o Don.

— Entendo que seja padrinho dela, mas esse laço foi rompido no
dia do nosso casamento. Você a entregou para mim, não tem direito
de querer uma inspeção — a voz de Hades é fria.

Hugo ri de forma camarada.

— Ela pode ter saído do seio da família, Hades, mas continua


sendo minha afilhada. Isso não muda com o casamento. E eu não a
entreguei a você. Mário, sim. Os laços de Athena foram rompidos
com ele, mas não comigo.

— Que seja. O que faz aqui? — Hades pergunta por fim.

Don Hugo respira, alisando o terno de linho e mantendo seu rosto


calmo.

— Estou buscando Athena para um passeio, preciso entregar


recados da sua mamma. A levarei com toda segurança e a trarei de
volta logo em seguida.

Hades faz um barulho de desdém, e Axel se mantém sério. Ele


gosta de desdenhar de todos os italianos, por que está tão sério?

— Veio até aqui para levar minha esposa até um passeio? Isso é
ilógico, não concorda Hugo?
— Claramente não. Athena é da minha família ainda, sempre
será e você não pode querer cortar os laços dela comigo. Mário e
Laura podem ter feito isso, mas eu não. Você pode ser o marido e o
Capo dela agora, Hades, mas a decisão é de Athena.

Hades olha para mim com uma certa certeza, seus olhos brilham
e um sorriso desenha seus lábios.

— Você quer conversar com ele ou me acompanhar, Athena? —


Pergunta Hades.

Não é uma pergunta difícil. Sei que essa escolha não irá
machucar Hades, ele não é capaz de sentir isso e mesmo eu
sentindo que minha decisão poderia o magoar, isso me faz hesitar.
Mas existe minha tia e sua sobrevivência e a liberdade que ela
poderá ter sem Mário Vacchiano. Hugo pode ajudá-la de diversas
formas, Hades não. Hades não aceitaria minha tia aqui. Ele odeia
italianos e considera minha tia igual a Mário.

— Quero falar com Hugo. Preciso saber da minha tia — respondo


com firmeza e vejo a sombra se apossar do rosto de Hades.

Axel olha para ele, como para ter certeza de que Hades
continuava no lugar, e não no pescoço de Hugo. Sei que existe
diplomacia entre eles, Hades não perderia a cabeça por qualquer
que seja a razão dos seus olhos carregados.

Eu escolho Hades em todos os sentidos, ele é da minha família,


assim como minha tia. Devo minha vida a ela e ao Hugo, preciso
liquidar essa dívida.

— Axel, chame três dos homens para os acompanhar — é a


palavra final de Hades.

Não me surpreendo em ver Plínio entre um desses três homens.


Hades parece confiar muito nele, não sei a forma que Hugo fez Plínio
agir ao seu favor, mas se Hades descobrir não terá piedade.
Hugo me oferece o braço e eu o seguro olhando para Hades que
está parado com os olhos sombrios e o corpo rígido. Por que ele
odeia tanto Hugo?

Hugo me leva de carro até um lugar seguro, nós dois não saímos
do carro e os homens fazem a guarda do lado de fora. Armados e
discretos.

— Como conseguiu fazer com que um dos homens mais


próximos a Hades se tornasse uma fonte para você? — pergunto.

Hugo sorri. Ele é sempre sorridente quando me vê. Sempre


parece se alegrar na minha presença e isso me conforta.

— Tem várias formas de convencer uma pessoa a fazer o que


você quer, Athena, você sabe disso. Plínio tinha muitas dívidas antes
de Hades o resgatar, mas não saldou tudo com a família. Ninguém
além de nós dois sabe que ele também age ao meu favor.

Hugo Colombo é inteligente, possui um dom de manipulação


incrível. Depois de Hades, eu o considero o chefe mais letal das
organizações.

— Qual a razão de querer me encontrar, bambina?

Voltar a falar italiano suaviza meu peito, me faz sentir confortável


com meus pensamentos e minha dicção.

Cogito falar tudo sobre o que Mário e Gardel estão fazendo, mas
ainda não tenho como provar e não vou comprometer o carinho que
Hugo sente por mim. Ele pode voltar atrás de tudo, Mário é seu
conselheiro há anos. Não posso cometer um deslize, mas também
não posso esconder tudo.

— Mário está comprometido com algo que vai além do seu poder,
da sua concepção. Ele mexeu com algo que não tem controle e logo
pagará por isso. — Começo.

Hugo mantém os olhos em mim, sem nenhuma surpresa.


— O que Mário fez?

— Colaborou com Gardel para afrontar Hades. Você conhece


Hades, sabe que ele irá atrás dos dois logo em breve. Mário morrerá.

Isso não abala Hugo, pelo contrário. Ele parece certo de que isso
vai acontecer.

— Então, era Gardel com quem Mário estava colaborando… isso


é uma surpresa, mesmo eu tendo cogitado que isso seria possível.
Mário está agindo estranho desde que você se casou. A cada foto
sua no jornal ao lado do seu marido é motivo de fúria para ele. Não
entendi o por que dele ter unido você a Hades, às peças não se
juntam. — Seus olhos verdes me olham com atenção — Tem algo a
me contar, bambina?

Sinto um nó na minha garganta e eu clamo por falar a tudo a


Hugo, mas não posso sem antes saber que iria acreditar em mim.

— Você saberá de tudo em breve, Hugo. Por enquanto, apenas


me conceda um favor — Minha voz sai firme, mesmo eu estando
com medo dele negar meu pedido.

Sua mão toca a minha, seus olhos são genuínos.

— Athena, você pode me pedir qualquer coisa. Eu sei que será


do seu coração e toda sua sinceridade me comove. Então, apenas
me peça. Se for para te tirar desse lugar, saiba que está tudo pronto.
A hora que quiser.

Balanço a cabeça, pondo minha mão sobre a dele, agradecendo


pelo gesto.

— Acho que não sairei do lado de Hades. Ele não é ruim comigo,
muito pelo contrário. Ele me trata bem e é minha família agora. Não
tenho motivos para ir embora.

Hugo se mantém atento a mim.


— Ele nunca poderá amar você, Athena. Ele não pode sentir isso.
Isso irá machucar seu coração, e eu conheço essa parte de você
muito bem. Não irá conseguir seguir com um casamento assim. Logo
irá querer fugir. Principalmente, pelo fato de eu ver nos olhos de
Hades que ele pode te machucar fisicamente, te violentar.

Balanço a cabeça.

— Hades não faria isso.

Hugo aperta ainda mais minha mão.

— Não coloque tanta fé em um homem que não pode sentir


emoções. Sentir já é uma situação em que nada se mantêm em
conserto, imagine não sentir. Ele pode te destruir de todas formas e
isso não afetará ele em nada, porque ele não sente empatia,
remorso… homens assim são capazes de tudo.
Nego.

— Hades não é assim, Hugo. Ele não é assim — digo firmemente


e vejo os olhos dele se encherem de compaixão por mim.

Depois de tudo, não acho que Hades seria capaz disso comigo.
Não depois de eu ter falado tudo que sinto, como sou.

— O que gostaria de pedir? — Hugo volta ao assunto.

Puxo meu ar, recobrando minha linha de raciocínio.

— Proteja minha tia. Não a deixe ser afetada se algo acontecer


com Mário. Aconteça o que acontecer e o motivo da morte de
Mário… me prometa que cuidará de Laura. A envolverá ainda mais
no seio da família e manterá ela a salvo de todos. Ela não tem culpa
de nada.

Hugo parece ainda mais absorto em saber o que Mário fez, na


sua mente deve estar se passando várias possibilidades onde ele
não consegue chegar a nenhuma conclusão. Hugo não faz
perguntas ou me pressiona.
Ele apenas aperta minha mão.

— Você tem minha palavra, Athena.

O fardo nos meus ombros parecem perder um pouco de peso e


eu respiro fundo.

— Obrigada, Hugo.

Conversamos por mais alguns minutos até ele me levar de volta,


depois do horário de almoço. Eu me despeço dele com um abraço e
um muito obrigada. Hugo segura minha mão por um momento longo,
segurando como se estivesse me sentindo pela última vez, como se
algo pesasse nele, mas desaparecesse enquanto segura minha mão.

— Até breve, bambina.

Assim que ele vai embora no seu carro com seus homens, eu
deixo de falar italiano. Minha língua não é mais essa, assim como o
inglês anos atrás.

Entro na casa e vou em direção a cozinha comer algo. Penso em


procurar por Hades, mas sei que ele não está em casa, ele nunca
fica aqui por essa hora.

Almoço sozinha, pensando em tudo que aconteceu enquanto


recebo olhares invasivos de Cressida.

Subo para tomar um banho e relaxar com o fato de ter


conseguido a palavra de Hugo, isso basta para eu saber que minha
tia ficará salva.

Me enrolo em uma toalha e tiro o excesso de água no meu


cabelo. No momento que entro no quarto apenas de toalha e o
cabelo molhado, eu encontro Hades admirando sua coleção de
adagas.

Sinto a necessidade de me desculpar por ter ido contra sua


vontade, mas não seria genuíno, eu faria novamente. Laura
Vacchiano ainda é irmã da minha mãe.

— Hades — Sussurro.

Ele se vira na minha direção, seus olhos estão sombrios e algo


nele parece ameaçador. Sua aproximação me faz perder o ar, mas
não de medo. Ele toca meu ombro desnudo, indo até a toalha a qual
retira do meu corpo a deixando cair no chão.

Seus olhos pairam por todo meu corpo nu, desde os meus pés,
intimidade, seios até meus olhos. Os olhos ficando cada vez mais
negros.

— Se ajoelhe, Athena — Seu tom é frio e imbatível.

Eu o olho confusa.

— Hades…

— Você não me ama? Então, faça algo legal pra mim. Se ajoelhe,
querida.

Querida. Ele nunca me chamou assim.

Seu tom é umbroso, faz com que todo meu corpo se arrepie. Algo
nele não parece certo.

— O que está fazendo? — pergunto.

Ele retira o cinto, abrindo a calça e gesticulando para que eu me


ajoelhe.

— Preciso de um pouco de prazer, você queria isso até um tempo


atrás: me dominar. Estou te dando a oportunidade. Se ajoelhe.

Não, não dessa forma. Não com esse tom e com esse olhar me
tratando como se eu fosse uma das suas prostitutas. Sua mão
pulsiona meu ombro para baixo, me fazendo ajoelhar diante dele.
Ele tira seu membro ereto de dentro da cueca e o segura diante
da minha boca. Estou em choque, tudo parece girar e o silêncio não
parece bem-vindo agora.

Olho para Hades e ele segura meu rosto com a mão livre.

— Abre a boca e me chupe.

Meus olhos queimam com a humilhação que sinto. Ele está


fazendo isso por eu ter ido contra ele. Mas, por que isso? Por que
tão cruel dessa forma?

Abro a boca e sovo seu pênis sem saber o que fazer. Tudo que
quero é me levantar e parar de fazer isso. É humilhante. Eu não sou
uma prostituta como ele parece estar me vendo.

— Chupe olhando nos meus olhos, querida.

Faço o que ele pede, sua mão agarra a parte de trás do meu
cabelo para controlar meus movimentos. Seu pênis bate no fundo da
minha garganta e meus olhos queimam, com lágrimas. Hades geme
baixo, recebendo prazer nisso. Seus olhos se fecham uma vez ou
outra mas ele não desvia os seus dos meus.

Uma lágrima desce quente pela minha bochecha e a limpo


imediatamente.

Sinto o pênis de Hades pulsar na minha boca e seu gozo vem


com tudo na minha boca, um gemido de Hades ressoa pelo quarto.
Não faço outra coisa se não engolir.

Hades puxa a respiração, se afastando de mim, respirando


satisfeito. Eu proíbo minhas lágrimas de descer. Não chore!

O vejo erguer as calças e se sentar na cama de forma relaxada.

— Você pode se tornar muito boa nisso — a voz fria é como uma
lâmina na minha alma.
A voz de Hugo vem em forma de aviso na minha mente. Pego a
toalha e me enrolo.

Neste momento, não sei o que sentir além de humilhação.

Não olho para Hades, apenas me levanto e continuo de costas.

— Então, como foi com seu padrinho? Você se divertiu com ele?
— pergunta.

Sim, claro que é isso. Ele quer me humilhar, me mostrar meu


lugar sem escolhas ao lado dele. A palavra e vontade de Hades é lei
aqui e eu passei por cima disso hoje. Contudo, eu sou sua esposa,
ele me tratou como tal todo esse tempo até aqui.

Hades não é diferente dos outros homens, a única coisa que o


difere é sua sociopatia.

— Hugo é alguém que você poderá fazer de tudo para tentar me


manter afastada dele, mas não conseguirá. Mesmo que eu não o
veja, meu coração o manterá. — Sussurro com minha voz trêmula.

Não sei por que falei isso, mas é uma verdade. Hugo é a única
pessoa que nunca me machucou ou me humilhou e me ajudou sem
pedir nada em troca. Eu achava que Hades era tudo isso, até agora.

— Você também o ama, é isso? — sua voz é rude e voraz.

Hades vem na minha direção, me virando para ele e olhando nos


meus olhos com a sombra do olhar por todo rosto bonito e cruel.

Isso não é ciúmes, é seu ego. Ele não é capaz de sentir ciúmes.
Ego é uma coisa que ele tem, como todos.

— Ande, me violente. Me force a deitar nessa cama e ser


penetrada por você como era pra ser desde o início. Seu ego o torna
como todos que já conheci.
Hades aperta meus ombros e eu me mantenho firme olhando em
seus olhos. Ele está prestes a fazer o que disse quando uma batida
alta soa na porta.

— Hades, é urgente. — A voz de Axel é quem me salva.

Quando Hades sai eu não desmoro, eu não choro ou extravaso


minhas emoções. Eu só fico parada, sentindo meu coração partido
doer em mil pedaços.

Você foi tão tola.


Capítulo 24
Hades Baumann
Os olhos de Axel analisam meu rosto quando saio do quarto,
fecho a porta atrás de mim, sentindo meu sangue frio correr pelas
veias e o caos tomando forma em mim.

Saio de casa, caminhando até o chalé de Axel com ele atrás de


mim. Me sinto fora de mim, bravo e ilógico sobre tudo que acabou de
passar na merda da minha cara.

— O que você fez com ela? — Axel pergunta.

— O que acha que eu fiz com ela? — Devolvo a pergunta indo


até a janela para respirar fundo.

— Hades, não faça isso. Com Athena não. Eu vi nos seus olhos a
fúria, o caos novamente e eu sei que foi pelo fato de Hugo ter
entrado nessa casa. Você sabe que ele ama Athena e a audácia dele
de ter vindo aqui te enfurece.

— Você viu como ele a toca? Como ela deixa ele tocá-la? Como
são íntimos? — minha voz é ácida. — Ela tremia quando eu chegava
perto dela algum tempo atrás, mas com ele… o alívio nos olhos dela,
a felicidade…

— Ele a salvou, Hades. Ele foi o pai que ela teve, que a protegeu.
Não esqueça do passado de Athena e de quem a salvou. Ela deve a
vida a Hugo Colombo, assim como devo a minha vida a você.

— Eu a salvei de Mário também, matarei ele por ela! —


Esbravejo.

Axel continua neutro.


— Não é a mesma coisa, Hades, são similares, mas não é a
mesma coisa. Não deixe o caos em você machucar Athena. Não a
machuque. Ela gosta de você e isso está custando caro a ela. Seu
coração é nobre, gentil e procura ser amado de volta, mas ela
entregou seu frágil coração a um homem que não pode sentir o
mesmo por ela. Sabe o quanto isso pode estar machucando ela?

Não consigo ver lógica em nada, sinto meu caos me puxando


para o fundo, meus monstros me devorando e clamando por sangue.
Preciso me distrair ou será pior.

Faço a menção de sair do chalé de Axel e ir atrás de Athena


porque quero sexo, quero me aliviar com isso e a única mulher que
consegue atrair meu desejo é ela. É por seu corpo que vibro e pelos
seus olhos que desejo mergulhar. Ela é o meu centro de prazer e
distração.

Axel coloca a mão no meu ombro.

— Não tome uma decisão a qual vai se arrepender, Hades, você


não é assim. Não deixe o caos de tudo consumir você. Temos Mário
e Gardel para matar, isso te fará melhor do que qualquer outra coisa.

Sim, isso faria. Entregar a cabeça dos dois homens que


condenaram Athena a ela faria eu me sentir melhor, mas, neste
momento, meu único interesse é em Athena.

— Mantenha os homens circulando Mário e Gardel. Tenho


certeza que pela manhã Gardel virá ao meu encontro — digo.

Axel assente e eu saio do seu chalé, voltando para casa.


Relembro de algumas horas atrás quando fiz Athena ficar de joelhos,
na sua expressão, na vergonha e humilhação que se projetava no
seu rosto… isso não deveria me causar nada, mas, de certa forma,
me sinto um fudido por isso.

Volto para o quarto, em busca de Athena. Não sei pedir


desculpas, isso não funciona com ninguém e o que eu fiz com ela
não merece uma absolvição.
Athena está no quarto, no parapeito da janela. Com certeza viu
quando entrei e saí do chalé de Axel. Ela não olha na minha direção.
Seu cabelo longo, preto e liso ainda está úmido e seus olhos com um
pouco de vermelhidão.

Não estão inchados, como ficam quando ela chora aos montes.
Deduzo que só algumas lágrimas caíram.

— Athena, Gardel virá até mim amanhã. O que deseja que eu


faça? — Pergunto em tom neutro. Essa é minha forma de desculpa.

Ela não responde, continua olhando para fora. Se passam


minutos até que ela fale algo.

— Não quero ver ele, não quero nenhum contato com ele. Não
desejo ver o rosto do assassino dos meus pais. Faça o que quiser
com ele. Sua motivação para matá-lo não é mais por mim, é por ele
e Mário terem a audácia de afrontar você.

Não!

— Se você quer Mário, então também o mate da forma que


quiser. Eu não me importo mais, Hades.

Me aproximo dela, ela não reluta ou se retesa. A única coisa que


faz é não me olhar nos olhos.
— Não matarei eles por mim ou pelo que me fizeram, é por você,
Athena.

— Quer que te agradeça trepando com você como uma prostituta


como me fez parecer horas atrás? Posso fazer isso. Você não é
diferente de nenhum outro homem que entrou na minha vida, só o
fato de que conseguiu me ter é o que te difere. Mas nada além disso.

Me empertigo, sentindo um oco com suas palavras. Toco seu


braço e seus olhos descem para minha mão na sua pele.

— Eu não quis te machucar — digo.


— Você não me machucou, não fisicamente. Pelo menos, até
agora não. Mas, era apenas uma questão de tempo.

A seguro pela cintura, a tirando do parapeito e a colocando diante


de mim. Seus olhos finalmente vem até os meus e eu mergulho
neles.

— Você não entende? Não entende como consegue entrar na


minha cabeça? — questiono de forma calma.

Athena tenta sair de perto de mim, mas eu a seguro e a levo até a


cama. Tiro minha blusa e puxo a sua pela sua cabeça. Beijo sua
boca não sendo retribuído, ela tenta me chutar, me machucar.

Eu a cubro com meu corpo, a beijando em todos locais que


consigo, querendo que ela se renda com meus beijos.

— Me solte, Hades! — Exclama.

Olho para ela, vendo fios de cabelo no seu rosto vermelho e a


respiração ofegante.

— Você desperta um caos em mim, Athena. Você é a única


pessoa capaz de acessar qualquer que seja o único sentimento,
emoção que tenho e isso me descontrola quando vejo você agir de
forma que não consigo reconhecê-la. Você é minha válvula de
escape e também o gatilho do meu caos. Você me ama, e eu não sei
porque, mas se é capaz disso então reconheço que é merecedora de
qualquer coisa nesse maldito mundo. Tudo que for bom.

Ela fica em silêncio, com o peito subindo e descendo em uma


respiração acelerada. Athena não diz nada, simplesmente lágrimas
escorrem pelos seus olhos e a única coisa que consigo fazer é beijar
seus lábios, seu rosto, pescoço… beijo todo seu corpo.

Tiro sua roupa e a penetro fazendo com que mais lágrimas


escorram pelos seus olhos copiosamente. Me fundo a ela, mostrando
a única forma que consigo de mostrá-la que sinto alguma coisa.
Deixo a ver nos meus olhos que não tenho o desejo de machucá-la
ou ferir seus sentimentos.

Nesse momento, meu caos está contido. Enquanto estou dentro


dela, sentindo seu corpo pequeno e magro… tudo desaparece ao
meu redor e só vejo Athena na minha frente. Seu prazer é o meu e
eu amo dar isso a ela, de ver seu corpo se render a mim. Sinto que o
sexo é a única forma de fazê-la feliz.

Me desmancho em cima de Athena, sentindo ela se libertar


segundos antes de mim. A envolvo nos meus braços, enxugando as
lágrimas do seu rosto. A cubro com lençóis grossos e a deixo
encharcar meu peito com as lágrimas que causei nela.

Pela manhã, antes que o sol comece a surgir, eu me levanto da


cama para tomar um banho e vestir uma roupa fria. Athena dorme
pacificamente.

— Trarei a cabeça do homem que a fez presenciar algo horrível,


minha ninfa — acaricio seu cabelo negro enquanto a prometo isso.
Athena dorme serenamente.

Encontro Axel à minha espera na entrada da casa, o sol ainda


não deu às caras.

— Gardel está em Berlim. Se hospedou em um hotel próximo a


um dos nossos pontos — Avisa abrindo a porta do carro.

— O porão da boate já está pronto? Os homens também?

Axel assente com um sorriso macabro. Isso é bom. Preciso do


seu lado mais desumano hoje.

— E Mário? — Pergunto.

— Não saiu da Itália, continua incomunicável dentro de casa.

Sorrio. É bom ele começar a temer. A morte dele será a melhor.


Entramos no carro, percorrendo todo o percurso até o centro da
cidade. Finalmente o sol começa a aparecer dando início ao começo
do dia. Fortaleci a casa para o caso de Gardel e Mário terem
planejado um ataque.

Ninguém conseguirá chegar perto o suficiente da casa.

Vou para a boate, onde Gardel irá entrar daqui a algumas horas.
Não tenho pressa. Ele virá com todos seus homens e tentará
negociar minha esposa comigo. Homens obsessivos e doentes como
Gardel fazem de tudo para conseguir algo que não tiveram.

A boate está vazia, apenas o barman e três prostitutas que


moram no local. Ainda estão de porre de ontem, seminuas jogadas
no sofá. Quase inconscientes de tanta bebida, sexo e drogas.

— Meu capo — Geralt, o barman de 25 anos me cumprimenta.

Seu rosto é calmo e bonito para as mulheres, ele é novo e órfão.


Ele me procurou cinco anos atrás dizendo que queria entrar no ramo.
Era uma criança, então a tarefa que dei foi servir bebidas. Algo que
ele faz bem.

— O de sempre — sento no banco do balcão.

Axel começa os preparativos para nossa visita, instruído onde


tudo deve ficar, até mesmo as câmeras. Irei acabar com toda fama,
honra e poder que Gardel tem. Quando as pessoas lembrarem dele,
será pela forma como morreu, o porquê e por quem.

A família de Athena será vingada. O soldado que seu pai foi terá
seu nome ressuscitado. Os Vacchiano irão morrer, Athena assumirá
o nome do seu verdadeiro pai e será reconhecida por ele.

Se passa horas onde meus homens arrastam coisas, posicionam


atiradores e instalam câmeras.

Aprecio minha bebida calculado tudo, observando todos e


esperando meu convidado que fez questão de vir até mim.
Gardel America é um homem de 60 anos que mantém uma boa
forma, como todos os homens dessa máfia. Seu rosto é fino, seus
traços angulares marcados com expressão. Ele se veste bem. Como
a porra de um mafioso de filme.

Ele entra na minha boate exatamente às 9:00 da manhã com


cinco homens ao seu redor.

— Hades Baumann — Seu inglês é uma merda. Tem um sotaque


que me enoja.

Me viro com meu copo de martini nas mãos. Abro um breve


sorriso.

— Ora, qual o interesse da América na Alemanha? Vocês não


tem nada que me interessa. Se veio negociar algo, pode sair porta
fora — Digo tomando um gole da minha bebida.
Ele ri sem humor, se aproximando de mim.

— Você está com algo que me pertence. Alguém que eu achei


que estava morta, mas fui enganado — Senta ao meu lado.

Inspiro.

— Não tenho nada assim.

— Sim, você tem. E ela deve estar na sua casa nesse exato
momento.

— Quer que o leve até lá para verificar? Sério, Gardel. Veio até
aqui pelo passado?

Ele suspira e tira uma foto do paletó. Uma foto de uma mulher
quase idêntica a Athena, com os olhos da mesma cor e a pele da
mesma tonalidade assim como o cabelo.

— Bela mulher, parece com a minha. Mas claro, a minha é muito


mais bela. Deixe-me mostrar… — Pego meu celular, mostrando a
foto de Athena tirado no restaurante na primeira vez que a levei para
jantar.

Os olhos de Gardel assumem uma expressão sedenta. Ele se


inclina para ver a foto com mais atenção e eu simplesmente bloqueio
a tela.
— Essa menina não é filha de Mário Vacchiano. É filha de um
traidor, Hades. A entregue para mim. Ela me deve algo que não
posso perdoar. A vadia da mãe me roubou algo e eu a matei assim
como o marido estúpido. Ninguém além dessa menina sobrou para
pagar a dívida. — Ele olha para mim com atenção — Diga-me o que
quer, eu darei a você. Te arrumo uma esposa ainda melhor. Diga-me
seu preço, Hades.

Sorrio vendo Axel fazer o mesmo discretamente pelo canto do


olho.

Gardel é patético. Quero tanto matá-lo.

Termino minha bebida olhando para ele.

— Sei que não sente nada por essa menina, você não é capaz de
sentir isso e com certeza qualquer mulher tão bela quanto ela pra
você afundar seu pau não vai fazer diferença para você — ele ri e eu
o acompanho.

Peço para Geralt servir outra bebida para mim, mais forte.

— Ligue para Mário Vacchiano e o mande embarcar para cá


imediatamente. Se você quer minha esposa, me entregue Mário por
ter mentido para mim.

Gardel perde o riso.


— Não posso fazer isso. Mário é um aliado.

— Ele mentiu para você como mentiu para mim. Agora, tenho
uma coisa que você diz ser sua e quero algo que você tem. Faremos
o negócio, ou você sai da minha boate com todos seus homens.
Gardel fica parado, sem saber o que fazer. Claramente
analisando a situação, se vale a pena trair Mário. Claro que sua
resposta é óbvia. Ele se ergue e pega o celular fazendo a ligação.

— … Consegui a garota e uma proposta de Hades. Venha até


Berlim. Você irá gostar — Fala ao celular e eu troco um olhar com
Axel.

Seu olhar me confirma o que eu presumi: Gardel colocou homens


ao redor da minha casa.

— Traga ela aqui — exige ele, claramente afobado.

— Axel, mande trazerem Athena aqui — Instruo.

Axel assente e faz a ligação também.

— Quando Mário estiver aqui, ela também estará. Uma troca


justa. — Ergo meu corpo na sua direção, o vendo trincar a
mandíbula.

Às horas se passam. Duas. Três. Quatro horas.

Quatro horas e cinquenta e sete minutos de merda.

Mário Vacchiano entra na minha boate com um terno bem


passado e escuro. Seu rosto é cauteloso e ele entra com seus
homens.

— Então, cadê ela? — Pergunta Gardel, ansioso.

Deixo meu prato de comida de lado e me levanto para olhar


Mário. Agora que sei toda verdade sobre o que ele tentou fazer com
Athena… eu vou acabar com a raça desse filho da puta.

— Mário Vacchiano, quanto tempo! — Sorrio.

Mário está cauteloso.


— Hades.

— Onde está a garota? — Gardel está perdendo a paciência.

Limpo minha boca e olho para os dois. Já se passa das 3 da


tarde. E a boate continua fechada.

Os homens que estão aqui hoje vieram para sua condenação por
puro despeito. Porque querem o mal de uma menina que culpa de
nada tem.

Isso me enche de prazer em matá-los.

Eles não vieram sozinhos, tem vários homens ao redor da minha


casa, fora e dentro da boate. Felizmente, metade deles foram
persuadidos por Axel semanas atrás. O resto, será executado.

— Vocês dois se juntaram, atacaram meu povo, minhas boates.


Se meteram na locomoção das minhas armas e drogas e até
deixaram seus homens estuprar a filha de um dos Underboss e ferir
o mesmo.

O rosto de ambos começam a perder a cor, eles achavam mesmo


que não seriam descobertos?

— Vocês dois eram os únicos que tinham algo para querer tirar
de mim. Algo em comum. Me subestimaram muito, não acham? —
olho para Mário. — Você principalmente. Não deveria ser um
conselheiro? Não deveria analisar todos os riscos? E que estupidez
da sua parte foi essa de vir até aqui?

— Hades, só queremos a filha da puta — Gardel está nervoso,


dessa vez, é medo.

Sem nenhum aviso eu simplesmente esmurro sua cara o fazendo


virar o pescoço com o impacto. Dou um passo para trás e cruzo
minhas mãos.
— Gardel, seus homens que estão ao redor da minha casa…
devo jogar no mar ou enviar os pedaços para a família? Aliás, tem
uma pessoa que quer falar com Mário antes de mim.

Os homens fiéis a Mário e Gardel reagem, mas meus homens


são mais rápidos e os executam com apenas um tiro em cada um.
Às vezes as pessoas esquecem a importância dos snipers no dia de
hoje, e enquanto está em um lugar com tantos pontos abertos como
essa boate é perigoso.

Gesticulo e o Underboss do sul entra na boate com seu tamanho


assustador e os olhos raivosos.

— Athena te contou absurdos e você acreditou? Se eu tivesse


desejado aquela putinha eu a teria tido na minha cama. Mesmo
contra a vontade dela! — Mário cospe as palavras — Eu podia
violentar a hora que eu quisesse. Não faz sentido eu não ter feito,
certo?

Me mantenho inexpressivo e gesticulo para Kent cuidar de Mário.


O Underboss dará sofrimento suficiente a ele antes de eu chegar a
ele.

Axel segura Gardel pela gola e o arrasta até o porão enquanto o


mesmo clama por misericórdia e jura nunca mais voltar à Alemanha.
Coloca toda a culpa em Mário.

Covardes.

O porão está limpo e pintado de branco. Uma mesa metálica está


posta no meio e no meio dela tem dois homens sem camisa, apenas
de cueca. Dois homens grandes o suficiente.

Axel está rindo de puro prazer.

— Minha senhora, a esposa do capo, está assistindo seu


espetáculo, assim como todos seus subordinados. A América está
assistindo você, seu verme. Toda a porra e fodida América que você
governa! — Axel o debruça na mesa, entregando ele aos homens.
Os olhos de Gardel vão até às câmeras, seu rosto tem pavor,
pânico.

— O que vão fazer comigo? — pergunta enquanto um dos


homens o imobiliza. Assim como ele fez com a mãe de Athena.

Sendo na cadeira na frente desse espetáculo, com Axel ao meu


lado.

— Lembra do dia que invadiu a casa dos Gagnon, em pleno


aniversário de seis anos da filha deles? Você matou Eric Gagnon, um
soldado de respeito e mérito pelas costas e depois estuprou sua
esposa e a matou — lembro-o — O carma chegou para você. A
história da família Gagnon foi esquecida por alguns, mas sua
humilhação hoje não será.

— O que vai fazer comigo, caralho? — Surta.

Gesticulo para os homens e os mesmos rasgam a roupa de


Gardel o fazendo entender o que vai acontecer. Ele grita e tenta lutar,
mas são dois homens fortes o conteúdo e ele acaba sendo
amarrado.

Seu traseiro velho e branco fica exposto e um dos homens


começa a acariciar.

— VOU CORTAR A MÃO DE CADA UM DE VOCÊS. VOU


DECAPITAR VOCÊ, HADES! MATAREI SUA PUTA TAMBÉM! ELA
ESTÁ ME OUVINDO? VOU MATÁ-LA!

Claro que Athena está vendo. Ela está em um dos quartos da


boate, foi trazida por Plínio e colocada lá para assistir tudo e ouvir os
gritos saindo da filmagem e subindo do porão até o quarto em que
ela está.

— Vamos lá, rapazes, começam o trabalho. E enfie tudo, inclusive


a mão para que esse filho da puta tenha um esfíncter! — Axel está
muito animado.
Um dos rapazes passa lubrificante por toda bunda de Gardel até
chegar ao ânus. Ele grita e se debate inteiro, mas logo é calado
quando um dos homens bate forte no seu rosto.

— Caladinho, seu viado! — Um dos homens fala fazendo o outro


rir.

Axel cai na gargalhada. Principalmente quando o primeiro homem


com um pau considerável entra em Gardel com tudo, o fazendo urrar
e se cagar nas calças. É uma cena humilhante que me faz assistir
tudo pensando que nenhum homem no mundo passará em branco
se fizer algo a Athena.

Os dois homens se revezam em comer Gardel enquanto o


mesmo parece está sentindo uma dor horrível e seus gemidos e
gritos perdem a força. Um dos homens introduz a mão dentro do
ânus dele já no final, depois de duas horas disso. E puxa de dentro
algo dele que é vermelho e notável.

— UM ESFÍNCTER! — Exclama Axel achando prazer naquilo —


Não coloquem para dentro, deixem ele da forma que está. Podem
sair, rapazes, agora é com o capo.

Os dois homens saem entregando Gardel nas minhas mãos e na


de Axel.

Eu saco minha adaga, mantendo Gardel nessa posição


humilhante. Ele está imóvel de dor e sangue que escorre por trás
dele.

Passo a ponta da lâmina pela sua face o vendo se contrair.

— Você achou que sairia impune de tudo que fez, Gardel? Achou
que não teria justiça pela forma como matou duas pessoas por causa
do seu desejo por uma mulher que não te amava, que nunca desejou
ter nada com você?

Ele não responde nada, apenas se mantém tentando controlar a


dor que sente. Bom, preciso mudar o foco dessa dor.
Retalho suas costas, tirando o primeiro pedaço o fazendo urrar de
dor. Seus pulmões parecem muito saudáveis.

Logo depois, percorro todo o caminho da sua pele. O


escalpelando com maestria, fazendo-o agonizar de dor e chorar
como uma criança. Axel apenas assiste com prazer.

Quando termino, Gardel está a beira de perder a consciência,


seus olhos reviram com a dor.

— Eu poderia ser mais cruel que isso? Claro que sim, Gardel,
mas você me trouxe Mário. Só irei tirar as mãos que você usou para
matar a minha sogra e sogro e dar de presente para minha esposa
fazer o que ela quiser.

Ele murmura.

— Por favor, e…eu…na…não aguen…to…me mate — Sua voz


sai entredentes.

Suspiro, me sentindo comovido.

Seguro suas duas mãos, não vou usar um serrote ou algo rápido.
Mesmo com o osso, eu consigo tirar sua mão usando a adaga e é o
que eu faço. Mas, no meio do processo Gardel desmaia, facilitando
para ele.

Quando ele acordar terá a surpresa que não tem mais mãos, e
logo ficará sem a cabeça também.

Olho em direção a câmera depois de Axel enfiar as duas mãos do


miserável dentro de uma caixa. Algo me diz que Athena continua
assistindo, como ela ficou anos atrás vendo sua mãe ser estuprada e
morta.

Não podemos evitar quando algo assim se projeta na nossa


frente anos depois, agora em outra posição.
Ouvimos gritos de Mário e Athena sabe o que está acontecendo
com ele também. Espero que meu Underboss não o machuque
demais, também tenho contas a acertar com Mário Vacchiano.
Capítulo 25
Athena Baumann

Meus olhos estão no telão à minha frente, reproduzindo Gardel


quase sucumbindo à morte, e em Mário sendo espancado por um
dos Underboss. Mantenho meus olhos na tela à minha frente,
focando em Gardel. Hades escalpelou todas suas costas, deixando a
carne vermelha em evidência e arrancou suas mãos.

Sinto um peso no estômago, uma pressão no meu interior para


vomitar, mas aguento firme. Não posso dizer que isso me deixa feliz,
mas encerra um desejo que sempre tive: vingar meus pais.

Hades já saiu da sala de Gardel, o deixando com Axel que parece


estar se divertindo com tudo. A expressão de Hades infligindo a
tortura era controlada, como se tivesse tratando de um animal.

— Tragam ela até mim.


O áudio de Mário chama minha atenção para ele. O mesmo está
sentado sobre uma cadeira, amarrado e todo machucado. Sangue
escorre da sua boca, rosto e mancha toda sua camisa social branca.

Ele quer me ver. Tem pedido para me ver desde o momento que
entrou na sala. O Underboss o responde com um soco inglês no
meio do seu rosto, dessa vez, claramente quebrando seu nariz.

A porta do quarto onde estou se abre revelando Hades


completamente limpo, sem nenhum vestígio de sangue. Eu me
levanto da cadeira e olho para ele.

— E agora? — pergunto.

Hades se mantém impassível, ele inspira.


— Gardel está praticamente morto, o choque está mantendo ele
vivo, mas é só uma questão de tempo. Meu próximo passo é Mário.
Quero saber o que você quer que eu faça com ele.

Olho em direção a imagem de Mário coberta de sangue. Sua


onipotência desapareceu por completo. Sempre que ele desmaia é
acordado pelos homens de Hades para apanhar mais e mais.

— Irei ver Mário. Preciso olhar em seus olhos e o deixar ver que
está pagando pelo preço das suas ações. Quero que ele veja que eu
sou o carma.

Hades assente.

Antes de irmos, nós dois jantamos na boate, dentro do quarto.


Hades está faminto como se nada abalasse ele, devora um pedaço
enorme de bisteca de boi com batatas fritas e molhos.

Não tenho fome, os últimos acontecimentos da minha vida e esse


de agora tirou completamente meu apetite.

Consigo olhar para Hades e lembrar das suas palavras na noite


passada me pegando pelos braços e me jogando em um precipício.
Eu poderia me agarrar ao afeto que vi em seus olhos, nas suas
palavras e dizer que tudo não passou de ciúmes porque talvez ele
me ame.

Mas, é possível? Não.

— Seu olhar está projetando algo em mim que me deixa


desconfortável comigo mesmo, não entendo a razão — Hades olha
para mim. — Está enojada de mim depois de ver o que eu fiz com
Gardel?

Balanço a cabeça.

— Vi você espancando um homem, explodindo seus olhos antes


de estourar seu crânio. O que você fez com Gardel não tem como
me deixar enojada.
— É sobre ontem.

Mantenho meus olhos em Hades, buscando o caos que eu o


causo, o sentimento que ele diz sentir… isso não é visível para mim.

— Quando tudo isso acabar. O que planeja fazer? — pergunto


me referindo ao que está acontecendo na boate.

Hades limpa a boca.

— O resto de Mário vai ser entregue a sua tia e a Hugo.

Minha tia não viveu uma boa vida ao lado de Mário, tenho certeza
que ela sofreu maus tratos, mas sua inocência e compaixão não
permitiria que ela continuasse sã com a imagem dos restos mortais
de Mário, por mais carrasco que ele tenha sido.

— Não mande para minha tia — Olho para Hades o deixando ver
que estou falando sério, pedindo isso a ele — Envie para os homens
de Mário e o próprio Hugo, mas não para minha tia.

Hades me analisa, procurando um motivo para não fazer o que


peço. Uma certa brutalidade retorce seus olhos sendo quebrada por
uma expressão suave, contraditória.

— Se é isso que quer, eu farei.

— Obrigada.

Hades levanta da cadeira vindo na minha direção, suas mãos


pousam em cada um dos meus ombros e eu sinto meu corpo ficar
rígido. Ele encosta os lábios no alto da minha cabeça e o sinto
inspirar meu cheiro.

— Tudo que você quiser, Athena. Qualquer coisa.

Fecho os olhos sentindo seu toque, seu corpo próximo ao meu.


Eu o amo, mas não quero mais ficar com ele. Não depois de ver o
que ele pode fazer comigo sem nem mesmo sentir remorso. Esse
amor irá se destruir se eu continuar ao seu lado e ver seu pior lado
para esse sentimento.

Me desfaço do seu abraço, horas já se passaram e a madrugada


está prestes a emergir. Hades me conduz até onde Mário está, tem
dois homens na porta de metal reforçada. Os dois homens fazem um
aceno respeitoso na minha direção e Hades gesticula para que
abram a porta.
Sinto os olhos de Hades em mim, procurando qualquer chance de
me tirar daqui caso eu sinta a necessidade. Ele dá um passo para o
lado, me incentivando a entrar, faço isso sem nenhum tremor.

O frio da sala me abraça, beija minha pele fazendo arrepios se


espalhar pelo meu corpo por baixo da camada de roupas que estou
vestindo.

Mário está desacordado, a cabeça pendendo para baixo, a roupa


ensanguentada e o rosto desfigurado pela agressão que lhe foi
infligida.

— Ele ainda respira, minha senhora — o Underboss que o


espancou me diz em alemão com regozijo.

Inspiro baixo olhando para a figura de Mário à minha frente.

— Acorde-o — Peço.

O Underboss joga um balde de água fria em Mário, fazendo ele


despertar com um arquejo violento. Ele ergue a cabeça
dolorosamente e os olhos inchados pelos socos parecem estar
virados na minha direção.

Mário não sorri. Não esboça nenhuma reação.

Por alguns minutos ficamos nos olhando dessa forma. Relembro


da época que ele tocou minha coxa, subiu o toque pela mesma até
chegar na minha intimidade e de como me retorci e me enchi de
pânico. Eu tinha 13 anos. Vestia um vestido floral e tinha um
diadema no cabelo.
— Você me levou à biblioteca quando eu tinha 13 anos, disse que
iria me ensinar a fazer cálculos porque eu estava com dificuldades
na matéria. Eu fui com você. Lembro com toda nitidez do som da
fechadura se fechando, do olhar que me lançou e da forma que me
colocou sentada no seu colo — Sei que todos os três homens nessa
sala, incluindo Hades, estão me ouvindo — Você passava a mão
pela minha coxa e subia até me tocar enquanto sua boca beijava
meu pescoço e cheirava meu cabelo. Eu pedi para você parar e você
disse que estava apenas tentando me fazer relaxar. Eu pedi mais
uma vez, com pavor de você Mário. Lembra do que fez? — ele me
encara em silêncio assim como todos os homens nessa cela — Você
me colocou sobre sua ereção com meu vestido levantado e ficou me
esfregando em você até que eu te acertei no rosto e você me jogou
contra a mesa da mesma forma que Gardel fez com minha mãe.
Você ia me estuprar naquele dia e eu tinha apenas 13 anos. O que te
impediu foi a chegada de Hugo.

Não tem lágrimas nos meus olhos ao lembrar isso a ele.


Nenhuma lágrima ou tremor no meu corpo. Sinto como se estivesse
fazendo um desabafo para o vento, deixando ele levar tudo que
aconteceu e me livrando do fardo de carregar isso.

Mas não é como se tivesse me livrado disso. Isso viverá em mim


pelo resto da minha vida.

— Você não chorou, não disse nada além de "pare". Por todos
esses anos, eu achei que você queria — Mário confessa.

E para sua infelicidade, Hades avança na sua direção como se


tudo que acabei de falar tivesse explodido seu autocontrole. Ele vai
até Mário e com sua adaga ele faz um corte na sua barriga, tão
profundo que Mário grita como um condenado e sangue escorre
junto com suas estranhas.

Mário não morre. Suas entranhas estão penduradas fora do seu


corpo.

Hades exala crueldade e fúria.


Os olhos de Mário estão arregalados e da sua boca sai sangue.

— Traga os cachorros. Esse filho da puta será servido aos meus


cachorros. Quero apenas a cabeça dele. — Hades olha para mim —
Mandarei a cabeça dele para Hugo Colombo expôr esse pedófilo
para o seu povo.

Ouço os latidos ao longe, olho uma última vez para Mário vendo
seu olhar pedindo clemência.

Viro minhas costas no momento em que os dois cachorros


grandes e pretos entram na sala, latindo e salivando. Devem estar
famintos .

Passo pelo corredor ouvindo o grito de Mário na primeira


mordida, depois vem o som dele sendo dilacerado pela boca dos
cães da máfia Alemã. Morreu sob o poder de Hades, o demônio que
ele havia me condenado e acabou por ele sendo seu executor.
Capítulo 26
Athena Baumann
Dois meses se passaram depois da morte de Mário e Gardel. Toda
Itália e América ficaram horrorizadas com a forma da morte deles,
mas não se surpreenderam quando souberam quem foi o executor
da morte de ambos. Às notícias que recebi da Itália após a morte de
Mário, e a entrega da sua cabeça, foram que minha tia havia sido
acolhida no seio da família do Don.

A história de que Mário me molestou se espalhou como chamas e


agora toda a máfia, de todos os lugares, conhecem a história.
Principalmente minha tia. Hugo não veio à Alemanha, mas mandou
por Plínio o recado de que viria ao meu encontro em breve. O motivo
dele não ter vindo ainda fui eu mesma. Pedi para que não viesse,
não quero atritos com Hades.

— Athena, você parece triste.

Anelise está tomando banho na piscina, nadando de um lado


para o outro e eu também estou dentro com um maiô. Não percebi
que fiquei parada e minha mente viajou para longe.

Volto meus olhos para Anelise que se aproxima de mim. Coloco


um sorriso no rosto. São 14:00 da tarde, estamos aproveitando o sol.

— Estava pensando no que vamos comer hoje a noite.


Poderíamos fazer hambúrgueres… — Sugiro vendo a mesma ficar
animada.

Os olhos pretos brilham de excitação.

— Hambúrgueres e pizza! Os dois!

Sorrio.
— Posso abrir essa exceção para você já que há mais de dois
meses não come besteiras. Eu também estou precisando disso —
confesso.

Ela mergulha, nadando na minha direção, ficando próxima o


suficiente para me abraçar.

— Posso ter milk shake também?

Hum, uma garota esperta.

— Ora, você está aproveitando todas suas chances hoje,


senhorita Baumann — olho para ela de forma avaliativa, a vendo
sorrir ainda mais e piscar os olhos escuros — Sim, você pode ter, eu
também quero um.

Ela me abraça forte e volta a nadar. Fico na borda da piscina,


observando Anelise feliz. Uma das atividades que ela mais gosta é a
natação. Recentemente pediu para fazer parte de um clube de
natação com os filhos dos membros da organização. Hades
consentiu.

Ele tem sido muito condescendente nos últimos dois meses,


mesmo que às vezes mostre seu lado bestial. Nós dois estamos
sobrevivendo. Meu amor por ele parece estar sobrevivendo com os
olhares, os carinhos e as nossas conversas tarde da noite. Mas,
depois do que aconteceu fico imaginando que é só um momento,
que Hades poderá querer de mim a humilhação que me submeteu
uma vez.

Eu o amo. Mas é difícil continuar acreditando que seu lado


sórdido não virá à tona outra vez. Isso me enche de medo, um medo
que eu esqueci de sentir quando passei a amá-lo, só que ele está de
volta. E todos os avisos das pessoas próximas a mim sobre Hades
também.

Saímos da piscina perto das 15:40. Visto um roupão e Anelise


veste outro. A levo até sua ala e fico com ela até que tome banho e
lave o cabelo para que eu o escove. Depois que terminou, ela se
veste e vai para o andar de baixo comer alguma coisa.

Eu vou para meu quarto, entro no banheiro tirando o roupão e


ficando só de maiô. Meu cabelo está úmido e meu rosto levemente
avermelhado pelo sol.

Retiro o maiô e entro embaixo do chuveiro para retirar todo o


cloro do meu corpo e cabelo. Saio enrolada na toalha até o closet e
meus olhos se deparam com Hades na cama. Está parado, olhando
para as adagas.

Um olhar clínico.

— Anelise quer comer hambúrguer, pizza e milk shake. Pensei


que poderíamos sair para comer isso em alguma lanchonete.
Podemos fazer isso? — pergunto suavemente.

Hades olha para mim com a expressão analítica, fria e clínica de


sempre. Só que tem algo fora do normal.

— Não vejo problemas.

Sorrio e caminho até ele, tocando seus braços e ficando na ponta


dos pés para beijar seus lábios. Eu ainda gosto do seu toque, sinto a
necessidade de tocá-lo o quanto posso.

Hades me segura em seus braços, espalmando as mãos nas


minhas costas, me colocando frente a seu corpo de forma firme.

Seus olhos se aprofundam nos meus, seus dedos entram no meu


cabelo e o segura firmemente fazendo minha cabeça inclinar para
trás.

— O que eu faço com você, Athena? — Sua voz é fria e forte.

— O que quer dizer com isso? — Pergunto-lhe olhando nos


olhos.
Ele não responde, apenas cola seus lábios nos meus e me solta
segundos depois.

— Vá se trocar. Esperarei você lá embaixo, junto a Anelise.

O olhar está mais frio que o normal, o tipo de olhar que ele
reserva a suas vítimas e isso percorre minha espinha em forma de
frio e advertência.

Visto uma camiseta branca, jaqueta e calça jeans junto com tênis.
Encontro Hades e Anelise em uma conversa quando desço. Anelise
se anima e caminha até o carro comigo e Hades atrás dela.

O aniversário de dez anos dela está chegando, quero fazer algo


especial mesmo que só seja eu, Hades e Axel como convidados. Ela
fica tão feliz comendo besteiras que me controlo para não sucumbir
ao desejo de dar todo tipo de besteira a ela.

Assumo meu lugar ao lado de Hades dentro do carro e Anelise


está atrás. Anelise diz o lugar que ela quer ir e Hades dirige em
silêncio.

Nós três achamos uma lanchonete que atende os desejos de


Anelise. Fazemos os pedidos e sentamos na mesa enquanto
esperamos.

— Vocês planejam ter filhos? — Anelise pergunta.

O sorriso congela no meu rosto, ela nunca tocou no assunto.


Esse é um tópico que nem mesmo Hades e eu tocamos. Ele já
deixou claro que só terá um filho se for inevitável para a organização,
mas não quer um.

— Por que está perguntando isso? — Hades se empertiga,


olhando com atenção para sua irmã.

— Seria bom se tivessem um bebê, assim Athena ficaria mais


feliz. Ela parece triste e distante.
Sinto o olhar de Hades e Anelise em mim, imediatamente balanço
a cabeça, abrindo um sorriso pequeno.

— Não estou triste, Anelise. Desculpe se pareço assim para você,


eu apenas estou um pouco pensativa sobre coisas que devo fazer —
Toco sua mão na mesa.

— Que tipos de coisas você vai fazer? — continua perguntando


insistentemente.

Não olho para Hades, não o deixo ler as emoções nos meus
olhos. Tenho evitado mostrar meu medo por ele.

— Coisas como seu aniversário, o que devemos fazer para você


ter uma boa festa de aniversário — sorrio.

Isso parece satisfazer sua curiosidade, ela fala das coisas que
deseja no seu aniversário e são coisas tão simples para uma menina
com tanto dinheiro. Meus aniversários sempre foram grandiosos,
Hugo fazia questão que eu tivesse uma festa e chamava todos da
família. Eu não gostava das comemorações, foi no meu aniversário
que meus pais foram mortos, mas Hugo nunca deixou uma só data
passar em branco.

Mantenho minha atenção em Anelise enquanto como, evitando


olhar para Hades. Sinto que tem algo de errado, ele está mais
silencioso que o normal e a mandíbula cerrada. Sei quando algo
desperta sua fúria, aprendi a ler isso nele.

Voltamos para casa às oito da noite, levo Anelise para o quarto


dela e volto para o meu encontrando Hades apenas de calça jeans e
segurando uma das adagas.

Meu sangue parece gelar nas minhas veias ciente de que ele vai
tentar algo contra mim.

Dou um passo hesitante na sua direção.

— Hades… — murmuro.
— Vá até a parede e fique parada em linha reta — ordena.

Quero falar, perguntar o porquê e até aplacar a fúria que vejo em


seus olhos, mas eu não faço isso. Apenas vou até a parede e
encosto meu corpo nela, ficando reta.

Hades arremessa a adaga fazendo com que a mesma se prenda


na parede, ao lado da minha cabeça. Eu arquejo e fecho os olhos.
Sentir o vento e a frieza da lâmina na minha bochecha antes da
mesma fincar na parede.

— Pediu ajuda a Hugo Colombo — A voz de Hades é profunda,


impiedosa. — O que exatamente você pediu a ele que não podia me
pedir, Athena?

Abro meus olhos, sentindo minhas pálpebras tremendo. Olho


Hades seminu, com uma postura rígida e mais adagas nas mãos. O
cabelo loiro está brilhando e seus olhos pretos se misturam à
escuridão que vem da noite a fora.

Fico em silêncio então outra adaga voa na minha direção, dessa


vez se cravando acima do meu ombro. Um centímetro de distância.
Contenho um arquejo de medo e às lágrimas que querem cair.

— O que pediu a ele? — Pergunta lentamente, preparando outra


adaga.

Não quero e não vou falar a Hades, ele não entenderia. Hades
queria que a minha tia fosse julgada por todos como uma cúmplice
de Mário, ele ainda deseja isso. Não posso deixar que ele saiba que
fui eu quem impossibilitei sua sede de chegar até ela.

— Vou precisar te cortar para que fale, Athena?

Mantenho meus olhos em Hades, mirando o homem que amo me


torturar e não sentir absolutamente nada com isso. Meu coração bate
tão rápido no meu peito que chego a ficar tonta com o fluxo
sanguíneo que sobe para minha cabeça.
— Sou sua para fazer o que quiser, não é mesmo? Apenas vá em
frente — minha voz é trêmula e hesitante. Estou com medo e meu
corpo treme.

Hades arremessa outra adaga e eu arquejo alto ao sentir a


lâmina cortar minha orelha. Sinto o acúmulo de sangue no local, mas
não tenho tempo de focar muito nesse corte porque ele causa outro,
agora na pele do meu pescoço.

Feche os olhos, Athena. Feche os olhos. É só raiva, quando ele a


extravasar voltará ao normal.

Fecho os olhos.

A lâmina lambe minha pele mais três vezes até que Hades pare
de lançá-las ao redor de mim.

Quando ele finaliza me lança um olhar predador, frio e calculista.


Ainda não tenho coragem de me mexer, então espero que ele venha
retirar as adagas da parede, isso não acontece.

Hades espera que eu saia, mesmo trêmula eu me retiro do alvo


que ele fez sem olhar para as formas como suas adagas estão na
parede.

Sinto o fio de sangue escorrer pelo meu pescoço, orelha e sujar


minha blusa branca.
— Você ousou me trair, Athena? — Pergunta

Eu agi pelas costas dele pelo bem da minha tia, fiz algo que ele
desaprovaria. Isso conta como uma traição.

— Tinha alguém a quem eu precisava ajudar — Passo a mão


pelo corte raso no meu pescoço sentindo o sangue.

— Quem?

— O que vai fazer comigo agora? Quer foder comigo de forma


violenta e sem nenhuma clemência? — Pergunto temendo sua
resposta.

Ele vem na minha direção, sua mão toca meu rosto, desce até
meu pescoço tocando no corte.
Seus olhos negros brilham e ele observa o sangue reluzindo na
sua mão. Eu estremeço.

— Seu sangue é tão bonito como você, mas ele não me engana
como você. Confiei na sua lealdade e deixei que confiasse na minha,
mas me traiu ao pedir ajuda ao filho da puta que é Hugo Colombo.

Mantenho meus olhos em Hades. Eu o trairia outra vez se Anelise


estivesse em perigo, se ele mesmo estivesse correndo riscos.

Hades puxa outra adaga e com ela rasga minhas roupas e me


coloca de frente para a parede, ficando atrás de mim.

Ele não me prepara, não me deixa lubrificar. Apenas mete em


mim como um selvagem, puxando meu cabelo e apertando meu
pescoço. Sinto o sangue descer mais quente e sua mão ficando
escorregadia na minha pele graças a esse sangue.

O sangue que agora se tornou uma mancha na minha pele


branca. Apenas fecho os olhos e contenho meus gemidos de dor.

Esse era o marido que Mário queria para mim, que havia me
prometido.

Hades é violento na penetração, tão brutal que eu me contraio de


dor e me seguro nas paredes. Uma das suas mãos puxa meu cabelo
com agressividade enquanto a outra aperta minha cintura forte o
suficiente para que eu gema de dor.

— Você é minha, entendeu? Nenhum velho ou homem vai tocar


em você! — Ruge em gemidos brutais no meu ouvido.

— Hades… —Arquejo com todo seu comprimento dentro de mim


criando um atrito.
Ele me puxa até a cama, me mantendo de costas para ele e
ainda dentro de mim.

— Levante. Fique de quatro para mim.

Seu aperto na minha cintura é tão forte que tenho medo de me


mexer e sentir mais dor.

— Levante, Athena — Sua voz está ofegante e bestial.

Com esforço do meu corpo trêmulo e ensanguentado, eu me ergo


nos braços e pernas manchando o lençol com meu sangue. Hades
estoca e eu me contraio.

Não está sendo prazeroso. Dessa vez não. Na minha mente não.

Meu corpo pode gostar, mas meu cérebro quer se desligar.

Depois de estocar por várias vezes comigo nessa posição, ele me


vira para ele, se encaixando nas minhas pernas. Seu quadril junto ao
meu e sua ponta na minha entrada.

Hades me olha com loucura, a mão no meu rosto suja de sangue.


Do meu sangue.

Seus quadris se movem sobre os meus fazendo seu pênis entrar


em mim e eu gemo junto a ele. Um gemido de prazer.

Nessa posição é melhor.

— Eu te dou tudo o que me pedir, é só pedir — Grunhi beijando


minha boca, movendo seus quadris e entrando dentro de mim e
arrancando gemidos de prazer de mim.

Toco seus braços o sujando de sangue. Estamos molhados com


ele. Os lençóis se sujam e escorregamos no suor e no fluxo de
sangue que sai do meu pescoço e em um fio de sangue que sai da
minha coxa.
É uma cena brutal, selvagem.

Me desfaço embaixo de Hades enquanto ele se desfaz sobre


mim.

Sua respiração ofegante sopra meu ouvido e eu sinto calafrios


pelo corpo assim como o tremor.
Capítulo 27
Athena Baumann
Acordo antes que o sol nasça, antes mesmo que Hades
acorde. Nem mesmo sei se dormi, o cansaço no meu corpo diz que
não. Saio da cama com cuidado, fazendo o mínimo de barulho e
movimento. Caminho para o banheiro sentindo minha intimidade
dolorida e minhas pernas rígidas. Entro no banheiro, me apoio na pia
de mármore e encontro meu reflexo no espelho.

O corte no meu pescoço parou de sangrar, meu pescoço e colo


ainda estão manchados pelo sangue seco. Minha coxa teve um corte
superficial, mas evidente. Olho para mim, vendo um Athena patética
e chorona. A imagem de uma pessoa deplorável digna de pena.
Meus olhos estão inchados, estou suja com meu próprio sangue e
nos meus quadris e cintura os hematomas das mãos de Hades
começam a ficar roxos. Meu couro cabeludo também formiga.

Ele não me estuprou, foi violento, mas não foi um estrupro. Eu


deixei que ele fizesse isso. Me submeti a tal ato violento.

Sem lágrimas eu entro na ducha quente e deixo a água lavar meu


cabelo e corpo, esfregando as manchas de sangue no meu corpo
enquanto lembro de tudo que aconteceu. Os grunhidos de Hades no
meu ouvido, suas mãos me apertando, o olhar predador impiedoso.

Meu coração parece ter se partido em várias partes. Tudo em


mim dói.

Saio do banho depois de minutos longos esfregando meu corpo e


relembrando de tudo.

Me enxugo com uma toalha e coloco um curativo no pescoço. O


corte deve ter cerca de três centímetros, parece mais profundo do
que imaginei.
Volto a olhar meu reflexo limpo e com o cabelo úmido e penteado.
Meus olhos estão vermelhos e levemente inchados. Estou mais
pálida que o normal e meus lábios estão quase esbranquiçados.

Não saio do banheiro, não tenho coragem de encarar Hades e


me sujeitar a qualquer que seja sua fúria. Quero muito me afastar
dele, ir para o mais longe possível… mas onde eu poderia ir sem
Anelise? Hades não faria nenhum mal a ela, mas eu não conseguiria
deixá-la, não depois de tudo.

Ouço a porta se abrindo e Hades surge ainda nu e com os olhos


clínicos olhando para mim. Algo quebra em seu olhar quando cruza o
meu.

Abaixo a cabeça, estou ciente da minha traição e não tenho


nenhuma forma de me redimir disso, e nem quero. Faria novamente.
Não há arrependimentos.

— Athena.

Sua voz é profunda e sua mão me obriga a olhar para ele.


Encontro os olhos escuros como o breu e sinto o amor em mim se
retrair. Não sei se sou capaz de continuar mantendo esse amor.

— Me diga o que pediu a Hugo. Me dê uma boa razão para voltar


a confiar em você. Diga-me apenas o que quero ouvir… não quero
me ressentir de você — Seu tom de voz não tem sentimentos e as
palavras soam ocas.

Hades não seria capaz de compreender como esse som frio na


sua voz machuca em certos momentos.

— Laura ainda é da minha família. Ela é sangue da minha mãe —


é tudo que digo.

Essas palavras parecem ser o suficiente para Hades entender o


que eu fiz. Sinto que o caos irá invadir ele por ter sido contrariado,
mas não. Ele apenas fica rígido e mantém os olhos gélidos em mim.
Seus dedos seguram meu queixo e eu sinto um breve aperto na
área.

— Por quê? — questiona.

Fico em silêncio, não sei exatamente o que ele está se referindo.


Hades inspira.

— Por quê me deixou te ferir quando poderia ter me falado desde


o início?

— Você precisava me ferir, esse é você. Minha traição precisava


ser punida e você não deixaria nada passar em branco. Se não fosse
com as adagas, com o sexo… então seria de outra maneira.

Hades encosta minha cabeça na sua barriga e acaricia meu


cabelo com suavidade. Sinto o cheiro dele e fecho os olhos. Sinto
uma mistura de medo e familiaridade. É assustador saber que aquilo
que você mais ama é também aquilo que pode te matar apenas com
um olhar e você se renderia à morte pelo mais puro amor.

— Não irei pedir desculpas por isso, mas sinto algo similar ao
arrependimento. Esse aperto no peito deve ser isso, não?
Mantenho meus olhos fechados. Ele pode estar sendo sincero,
mas não irei acreditar nisso. Hades não é capaz de tais sentimentos.
Não posso me apegar a mais nada dele, quero me soltar e ir embora.
Se eu ficar, vou morrer.

Deixo que ele me abrace dessa forma, que toque meu cabelo e
inspire meu cheiro enquanto me mantenho de olhos fechados me
sentindo catatônica.

Deixo ele tomar banho e vou para a área da piscina. O sol da


manhã está frio e eu me cubro com uma manta e me sento em uma
das espreguiçadeiras. Preciso de ar puro e de uma rota para desviar
meus pensamentos de ontem, de Hades.

Desde que o conheci, eu perdi minha paz. Eu não me lembro da


última vez que me senti calma e plena. Não lembro da última vez que
apenas me deitei à noite e adormeci sem ansiedade ou pavor.

Como pude me apaixonar dessa forma? Como pude amar


alguém como Hades? Quando meu coração se tornou um cápsula
para algo dessa dimensão?

Eu posso dizer que não Mário se não eu mesma a cavar minha


cova. Mas, a escolha é minha se vou entrar dentro dela.

— Ele fez isso com você? — A voz grave e repleta de hesitação


de Axel me tira da minha cabeça.

Olho para ele que está contra o sol, preciso piscar várias vezes
até visualizá-lo com mais clareza.

Ele se coloca na minha frente e olha para meu pescoço com um


curativo. O da coxa não é possível ver, estou usando uma calça.

— Ele fez isso, não fez? — sua voz carrega culpa e certeza.

— Eu traí sua confiança em mim ao pedir ajuda a Hugo. Entendo


a raiva dele. Não foi grande coisa.

Axel me olha de forma impassível, pelo menos tentando ser.

— Não sei qual foi o motivo, mas tenho certeza que deve ter sido
forte o suficiente. Eu nunca trairia Hades, ao menos que você ou
Anelise e ele mesmo estivesse em perigo, e acho que o mesmo se
aplica a você. Você não pediu ajuda a um inimigo, mas Hades nunca
entenderá isso. Pediu ajuda ao homem que te salvou e nunca te fez
mal. Tentei fazer Hades entender, mas ele é Hades e odeia Hugo.

Pisco os olhos com a luminosidade do sol frio batendo no meu


rosto. Continuo olhando para Axel.

— Por que ele odeia tanto Hugo? — Pergunto.

Axel pigarreia, cerrando os punhos. Ele é uma pessoa que fala


tudo o que pensa e sei que ele será a pessoa a me falar o motivo.
— Hades sente ciúmes, ele não vê como ciúmes, mas é o que
claramente é.

— Ciúmes? Por qual motivo?

— Hugo não te vê como uma afilhada, Athena. Isso é claro para


todos, menos você. Hugo Colombo gosta de você como mulher e o
desejo da vida dele é ter algo com você, mas sabe que nunca vai
acontecer por causa das suas próprias regras. Ele não te defenderia,
não enfrentaria Hades se você fosse apenas uma afilhada. Ele tem
centenas de afilhados e afilhadas e não age nem com um 1% da boa
vontade que age com você. No dia em que Hades foi à Itália e pediu
sua mão, Colombo tentou impedir. Ele ameaçou Mário de tirar seu
posto como conselheiro, fez uma ameaça velada contra Hades e até
tentou te tirar da Itália. Hades sabia de tudo e deu um jeito. Hugo
tentou de tudo para que não se casasse. Todo o tempo, Mário tentou
te casar e ele recusou todos os pretendentes até que Mário achou
Hades. Se Hades aceitasse você, então ninguém poderia detê-lo de
ter você como esposa. Nem mesmo Hugo.

Absorvo tudo que Axel me diz sem acreditar em uma única


palavra. Hugo foi condescendente comigo durante toda minha vida, e
ele mesmo organizou meu casamento, ele nunca fez nada disso.
Conheço o Hugo a minha vida inteira. Ele foi o homem que me
salvou, que me acolheu e até hoje é uma figura do bem na minha
vida.

Não posso acreditar em tais palavras quando nunca enxerguei


isso em Hugo. Ele nunca me olhou de outra forma. Formas como um
homem olha uma mulher.

Axel e Hades estão doentes por pensar assim.

— Isso é demais para meu estômago suportar — isso é tudo que


digo antes de levantar e ir para o quarto. Minha cabeça dói com
todas as palavras ditas por Axel.
Deus, Hugo tem idade para ser meu avô. Ele nunca tentou nada
comigo, nunca me pediu nada em troca das suas ajudas. Seu
amparo a mim foi paternal e agora surge essa história.
Isso é tão doentio.

Passo o resto do dia com Anelise quando ela não está com sua
tutora. Nós duas fazemos suas lições e conversamos sobre o futuro.
Ela ainda é uma criança, mas logo terá que estar pronta para
assumir suas obrigações.

— Conheço duas meninas que vão para uma escola especial na


França. Elas só voltam nas férias e falaram que a escola é muito
legal e podem fazer de tudo — Anelise me conta com um certo
interesse na voz.

Estamos na cama, em frente a outra, montando um quebra


cabeças.

— É um internato, não uma escola. Algumas das garotas com


quem cresci também foram. Falam maravilhas de lá.

Os olhos de Anelise se acendem, como uma árvore de natal.

— E se eu fosse? — Sua voz é tímida e carregada de


expectativas.

Olho para ela com atenção.

— Se você fosse só poderia vim para casa nas férias de verão.


Nós não poderíamos visitar você, Ane. E só sairia de lá com 18 anos.

Ela assente.
— Eu poderia recuperar o tempo que fiquei presa aqui, Athena.
Eu poderia fazer amizades e me capacitar. Pesquisei a escola na
internet e realmente quero ir.

Olho para Anelise com atenção. Ela tem nove anos, irá fazer dez
em breve e essa conversa parece muito séria para está tendo com
ela.
Ela parece decidida e desejosa sobre isso.

— Eu permitiria, mas isso é uma decisão do seu irmão.

Seu semblante não decai.

— Você pode falar com ele. Hades vai te escutar e isso será bom
para mim. Tenho tudo que preciso aqui, mas não é o suficiente.
Quero sair, estudar fora e ter experiências. Sei que todos esperam
algo de mim e para isso eu preciso viver. Eles até ensinam
autodefesa nesse lugar.

Seus olhos negros estão implorando por isso e vejo a


necessidade que Anelise sente de sair dessa casa, dessas paredes.
Vejo a ânsia que ela despertou para abrir as asas e voar para longe.

Reconheço isso tão nitidamente que eu a abraço fortemente.

— Falarei com seu irmão. Ele me deve um pedido.

Anelise me abraça de volta, com mais força e sussurrando vários


agradecimentos.

Por um momento, um estalo repercute na minha mente. Se


Anelise for embora, eu também posso ir. Nada mais irá me prender
aqui.
Capítulo 28
Hades Baumann
Uma cicatriz rosada e pequena se formou no pescoço de
Athena, é quase imperceptível, mas alguém com a proximidade que
tenho com ela consegue notar. Ela não tem sido a mesma, não
posso culpá-la. Não tenho emoções, não sinto empatia, mas quando
se trata de Athena, uma pessoa que aprendi a ler tão bem, sinto que
sua mudança de comportamento comigo é para sua segurança.

Axel e eu estamos trabalhando para descobrir quem Hugo


Colombo possa ter infiltrado na minha casa. Tenho essa suspeita.
Alguém levou o recado de Athena até ele, do contrário, ela não
conseguiria sua ajuda. Axel e eu já reviramos tudo, todos os homens.

Mas algo está claramente faltando, passando despercebido aos


meus olhos.

— Ela parece ter medo de você agora — Comenta Axel.

Estamos observando Athena e Anelise tomando sol na piscina.


Elas estão aproveitando bem o verão. Anelise principalmente, ela
quem tem arrastado Athena todos os dias para a piscina.

— Ela sempre teve medo de mim — Lembro-o

Axel nega.

— Não, isso não é uma verdade e você sabe disso. Ela nunca
evitou seus olhos, nunca desviou de nenhuma pergunta sua ou se
assustou ao te ver matando. Ela não te temia, Hades. Agora, ela
teme. E não é pelo medo normal.

— O que quer dizer com isso?


— Athena tem medo do sentimento que criou sobre você. Ela
sabe que se não o parar, vai acabar destruindo ela mesma. O medo
que ela sente de você é projetado pela decepção de que você não
fosse machucá-la.

Levanto da cadeira, andando até o corrimão. Encosto minha mão


ali e pondero. Axel vê coisas sentimentais que não sou capaz de
entender. Ele é meu olho e fonte de explicação.

— O que eu deveria fazer? — Pergunto.

— Não a machuque novamente, capo. Sei que gosta dela de


alguma forma. Faça exatamente o que prometeu a ela: a proteja.

Observo as duas na piscina por mais um tempo até Anelise se


enrolar em um roupão junto com Athena e às duas entrarem na casa.
Deixo os minutos passarem até virarem horas.

Subo para o quarto perto das cinco da tarde e encontro Athena


terminando de se arrumar. Ela olha rapidamente para mim.

— Cressida avisou que sua prima Cecília está passando aqui


junto com a mãe dela.

— Evelyn e Cecília vindo até aqui? Aconteceu algo? — Pergunto


de forma analítica.

Athena assente e me passa um formulário, pego das suas mãos


vendo que se trata de um internato feminino na França.

— O que significa isso?

Athena inspira, os olhos hesitando um pouco.

— Anelise quer ir para essa escola, ela mesma me disse isso.


Faz alguns dias que veio até mim me falar da sua vontade de ter
uma vida diferente e outro tipo de educação.

Olho para o formulário nas minhas mãos.


— Ela quer ir para um internato?

— Não é um lugar ruim, todas as meninas quase da idade dela


são levadas para terem todo tipo de educação e experiências até os
18 anos. Anelise tem colegas que estudam nessa escola e ouviu
delas coisas que despertaram sua curiosidade. Chamei Evelyn até
aqui porque Cecília estudou nesta escola. Quero que você ouça e
depois converse com Anelise para chegar em um veredito.

Olho para Athena. Quando Anelise chegou a essa decisão? Até


uns meses atrás ela não saia da ala dela nem para beber água, e
agora quer ir para um internato na França?

— Anelise finalmente se deu conta de que tem asas e quer


levantar vôo com elas, Hades. Ela não quer ser motivo de dúvidas e
objeções quando chegar o momento dela assumir seu lugar. Ela tem
nove anos, mas é ciente de que se você não tiver filhos, é ela quem
irá assumir. Nós dois sabemos que seu pai a marcou horrivelmente e
estamos fazendo de tudo para apagar essa mancha.
Fico em silêncio.

Deixar Anelise ir embora dos meus olhos nunca passou na minha


cabeça. Ela sempre esteve sobre meus olhos, com a melhor
educação e bens materiais a sua disposição.
Eu nunca deixei nada faltar, forneci tudo que ela precisava e até
me casei com Athena por ela.

— Você disse que eu poderia te pedir algo. Se isso ainda vale,


então peço que ouça Evelyn e Cecilia e não deixe sua mente de
irmão borrar as suas decisões como capo. Você precisa que Anelise
tenha a melhor formação.

Fico em silêncio assimilando tudo o que está se passando na


minha frente e cabeça. Sim, eu devo um pedido a Athena e eu nunca
volto atrás das minhas palavras.

Nós dois saímos ao encontro de Evelyn e Cecília que nos espera


na sala de visitas. Athena cumprimenta as duas com um abraço
rápido e agradece por vir.

— Você está ainda mais linda, Athena. Bordô é uma cor que cai
divinamente em você — Evelyn elogia minha esposa, pousando os
olhos em mim logo em seguida — Hades.

— Evelyn.
Cecília é mais calorosa e extrovertida. Ela vem na minha direção
e me abraça forte, eu não retribuo. Não gosto de demonstrações de
afeto e cumprimentos pra mim bastam apenas palavras.

— Querem algo para beber? — Athena oferece.

— Um vinho tinto para mim, por favor. Cecília não pode beber
nada além de sucos naturais, ela está tentando engravidar.

— Já? — Pergunto.

— Ora, eu quero dar filhos ao meu marido. Ele é louco para ter
dezenas e eu também quero ser mãe. Não tem nada de cedo nisso
— Cecília ri, se sentando no sofá.

Sei que ela quer falar para eu fazer o mesmo, mas meu olhar de
advertência é o suficiente para ela ficar em silêncio.

Athena pede um suco natural para Cecilia e um vinho tinto para


Evelyn e Cressida. Nós dois nos sentamos próximos, no mesmo sofá

— Chamei vocês aqui para falar sobre a escola que Cecília


frequentou na França. Algumas meninas da família estão falando
muito sobre isso e Anelise deseja ir — Athena começa.
Evelyn solta um ar de exclamação.

— É a melhor coisa que podem fazer por ela! Eles ensinam de


tudo lá. Além de línguas, ensinam meninas da máfia a usarem
armas, se defenderem e montarem estratégias — Evelyn olha para
mim — Você mesmo viu como Cecília é boa em montar
emboscadas, não viu? Ela é o braço direito de Amil.
Mantenho meus olhos imparciais. Sim, Cecília é muito boa em
estratégias e até mesmo em confronto. Achei que tinha sido o próprio
Amil que havia treinado ela, mas parece que me enganei.

— Para uma jovem que irá se tornar uma The Boss essa escola
deve ser uma referência. Anelise será treinada e viverá de tudo até
completar os dezoito anos. Ela está jovem, em uma idade perfeita
para entrar. Não hesitem — Cecília aconselha — Tudo que sei e
aprendi… vieram de lá. Eu não me arrependo nem por um momento
de ter ido. Não é uma escola normal.

Athena passa a mão pela saia plissada que está usando,


parecendo nervosa.

— E a segurança? Tem algum risco? — Pergunta.

Cecilia nega.
— Ninguém entra ou sai durante os doze primeiros meses. Todos
os empregados, professores são os mesmo há mais de três
décadas. Já tentaram se infiltrar na escola, conduzir uma
carnificina… mas foi em vão. Antes que eles pensassem, já estavam
sendo mortos. Todos os profissionais da escola tem olhos e ouvidos
por todos os lados e a proteção de todas as organizações. Eu diria
que a segurança que temos perde para a deles — Cecília fala com
firmeza.

Todos os olhos se voltam para mim, esperando uma reação


minha. Estou aqui apenas para ouvir. Farei o que Anelise quer.

Ela nunca me pediu nada e se essa escola é assim tão boa,


então não tenho porque negar.

— Oh, soubemos do que houve com você, Athena. Aquele


demônio teve o que mereceu — Evelyn cita Mário e eu vejo Athena
ficar tensa.

— Ele foi apenas uma degustação de que quem ousar tocar no


assunto novamente ou cobiçar minha esposa terá um fim muito pior,
Evelyn.
Seu rosto fica em choque e ela gagueja um pedido de desculpas
que afasto com a mão.

Conversamos por mais um tempo assegurando falar as melhores


qualidades dessa escola, mas é claro que não vou mandar Anelise
para nenhum lugar sem investigar pelos meus meios primeiro.

Quando elas se vão, Athena e eu vamos jantar. Ela não fala


nada, apenas se concentra na comida.

— Anelise quer mesmo ir para essa escola? — Pergunto.

Athena ergue os olhos.

— Sim. Você pode falar com ela sobre isso e verá.

— Você está de acordo com isso?

Athena deixa os talheres na mesa e olha para mim com um


suspiro.

— Sou a favor da felicidade de Anelise. Se ela quer algo que a


faça feliz, sou a primeira a dar apoio.

É isso. A voz voraz e os olhos firmes que eu queria ver. Esse


olhar e essa voz. Seu tom de desafio. Eu senti saudades disso
durante essas semanas que se passaram.

Devo ser um monstro por está desejando tê-la depois de tudo?

Após nosso jantar, subimos para o quarto. Athena veste uma


camisola fina de cetim e escova os dentes enquanto eu espero ela
sair. Já escovei meus dentes e estou despido.

Ouço o barulho da água e então o cessar. Ela sai do banheiro


apagando a luz e olhando rapidamente para mim, nesse rápido olhar
pude ver o estremecimento no seu corpo.
O cheiro fresco de limão se apossa do quarto, do meu nariz, me
deixando em êxtase por ela.

Athena se deita do lado esquerdo da cama, mas antes que ela


puxe os lençóis eu seguro suas mãos. Seus olhos cinzas pousam
sobre os meus.

— Posso tê-la essa noite? — minha voz é profunda.

Ela respira devagar, como se temesse minha reação.

— Você vai ser violento?

Minha resposta é colar nossos lábios gentilmente uns nos outros.


A beijo com fascinação, com delicadeza que nunca experimentei
antes. Acaricio seu rosto, seu cabelo e desço minha outra mão até a
lateral do seu corpo coberto por essa camisola tão fina.

Sinto o corpo de Athena se arrepiar e minha ereção já dura


parece virar pedra. Ela reage ao meu beijo e vem para cima de mim,
sentando sobre minhas pernas.

Suas mãos alisam meus ombros, subindo pelo cabelo, rosto


enquanto mantém o beijo acesso a ponto de brasas.

Nunca achei que beijar alguém fosse tão bom assim. Não consigo
definir um sentimento, uma emoção… mas é bom. Me acende, me
deixa sedento.

— Athena… — Gemo seu nome contra sua boca ao me sentir


entregue a ela.

Ela se afasta poucos centímetros para olhar nos meus olhos e o


que vejo nos olhos dela me faz mergulhar. Lágrimas, desejo,
inocência e… amor.

Acaricio suas costas.


— Eu gosto de você, da minha maneira. Gosto de beijar você, de
sentir seu corpo. Gosto de te ter.

Ela continua me olhando expectante.

— Eu não me deixaria te perder. Se você fugir de mim, eu irei


atrás de você até o fim do mundo. Matarei quem estiver à minha
frente — suspiro roçando meus lábios no seu pescoço perfumado —
Você é uma jóia do caos. Você causa o caos em mim de forma tão
brilhante que tudo que vejo é esse brilho quase como uma luz. E
preciso dessa luz.

Beijo a cicatriz no seu pescoço, descendo as alças da camisola.


Beijo seus ombros lisos e magros, saboreando sua pele salgada com
minha língua.

Athena se arrepia e puxa meu cabelo, pressionado sua intimidade


pulsante sobre meu pau ereto. Adoro como ela lubrifica tão rápido
sobre minhas carícias.

Abaixo as alças por completo revelando seus seios inchados. Os


bicos duros para mim. Tão excitados que me vejo na mais adorável
tarefa de chupá-los com prazer e clamor.

Athena agarra meus ombros e eu chupo seus seios dando


atenção aos dois. Chupando cada um com a devida atenção até ela
se mover inquieta sobre minha ereção livre. Diabos! A calcinha dela
é tão fina e meu pau está em contato sentindo a umidade e a pulsão
da sua intimidade. Quero me enterrar dentro dela e nunca mais sair.

Mas quero vê-la gozar com minha boca nos seus seios. E ela
está tão perto. A forma como se move inquieta e me aperta deixa
claro que falta pouco…
Aumento minha sugada, dando leves mordidas e apertando o
outro bico com meus dedos. Athena geme jogando a cabeça para
trás e contém um grito quando seu orgamos chega com tudo nela, a
fazendo se derreter em cima de mim.
Ela me olha com paixão e loucura e isso me preenche. Me livro
da sua calcinha e a encaixo no meu pau, mordendo os lábios ao
sentir a umidade do local. Ela está encharcada e desliza pelo meu
pau com facilidade arrancando um gemido de mim.

— Você é perfeita, ninfa — Arquejo quando ela rebola, abrindo


sua boceta para englobar meu pau com seus sucos e músculos.

Estou tão fundo dentro dela que sou eu quem estremeço. Agarro
seus quadris vendo seus peitos saltarem na minha cara enquanto ela
cavalga em cima de mim, arrancando todo tipo de gemidos.

Athena cavalga, seus quadris rebolando ao seu ritmo, ela mesmo


se induzindo ao prazer. Viro ela na cama, segurando sua perna
contra meu quadril, me enterrando mais fundo dentro dela.

— Você é meu amor, Athena. Meu amor — As palavras saem


suaves mesmo diante dos meus gemidos e respiração ofegante.
Athena encontra meus olhos, procurando confirmação no que
acabei de falar e eu a respondo beijando seus lábios de forma
intensa. Engolindo seus gemidos com minha língua.

Ela estremece debaixo de mim com um grito liberando a


descarga de prazer. Vou logo em seguida sentindo meu pau pulsar e
espirrar dentro dela meu gozo.

Puxo Athena para meu peito, estamos ofegantes e suados. É a


primeira vez em muito tempo que o sexo dessa vez é sobre nós dois
e não tem nenhum tipo de vingança ou desconto nele. Dessa vez, só
fomos nós. E eu precisava disso porque sinto mais do que nunca a
importância de Athena na minha vida.

Ela é o meu caos luminoso e eu farei de tudo para mantê-la do


meu lado. Mesmo que os infernos se abram, Athena continuará
minha.
Capítulo 29
Athena Baumann
Você é o meu amor, Athena. Meu amor.

Essas foram as palavras de Hades para mim três dias atrás


enquanto transarmos. Ele me chamou de amor, me envolveu em
seus braços e me amou de forma carinhosa e isso era tudo que eu
quis que um dia tivesse com ele. Mas, não depois de tudo que
aconteceu. Hades parece estar enlouquecendo no seu próprio caos.
Ele está envolto de conspirações sem fundamentos e eu não quero
ficar aqui e ver ele se afundar me usando como uma bóia furada.

Já dei a carta verde para Hugo me tirar da Alemanha e tudo


ocorrerá no final desta tarde, após levarmos Anelise até a escola.

Hades está levando apenas Axel. Estamos voando para a França


e é lá que Hugo estará me esperando.

— Está tão ansiosa assim? — Hades pergunta a Anelise que está


balançando a perna no seu assento.

Amanhã é o seu décimo aniversário e eu coloquei um presente


na sua mochila. Meu peito está apertado. Foram poucos meses que
passamos juntas, mas sinto ela tão próxima a mim que o
pensamento de deixar Hades se tornou distante por um tempo.

— Estou, sim. Quero ver tudo. Nunca fui à França!

Axel ri.

— Eles são um bando de preguiçosos, não fique muito animada e


foque nos seus estudos — Aconselha Axel.

Anelise olha para mim e eu sorrio na sua direção. Fui eu quem


organizou tudo para sua entrada na escola e até mesmo essa
viagem. Hades supervisionou tudo e ficou em silêncio apenas
ouvindo os relatos dos seus homens sobre a escola. Foram as
melhores avaliações. Nem mesmo Hades pôde objetar.

Chegamos na França por volta das 14:00 da tarde e seguimos


direto para a escola antiga e no ponto mais discreto da cidade de
Dijon. Tudo tem uma aparência medieval, a escola e a cidade em
geral. Se nota pouco movimento pela cidade.

Somos recebidos pela diretora da escola.

— Senhor e senhora Baumann, ficamos felizes em recebê-los. É


um prazer que tenham escolhido nossa escola para a filha de vocês.

Não corrigimos quando ela se refere Anelise como nossa filha.


Preenchemos os formulários de forma correta, mas havia uma
exigência sobre Anelise ter pelo menos alguém que assumisse a
paternidade dela já que ser irmão não é o suficiente. A escola só
aceita órfãos sem ninguém, ou meninas com pais e boas condições.

Os olhos castanhos rígidos da senhora de idade baixam para


Anelise que está com o rosto erguido.

— Bem-vinda, senhorita Baumann.

— Esperamos que ela tenha toda a educação que possa oferecer


a ela. Ela não é uma menina qualquer. Sua educação precisa ser
rígida e levada a ponta da linha — Hades adverte.

— Não se preocupe, senhor Baumann. Anelise será tratada como


deve. Irei levá-la para o quarto. É melhor se despedirem.

Me abaixo até ficar da altura de Anelise, acaricio seu rosto


olhando em seus olhos pretos brilhantes. Meu peito aperta ainda
mais. Não quero deixá-la, farei de tudo para vê-la novamente.

Abraço ela com força, inspirando seu cheiro.


— Eu quero que seja corajosa, que enfrente tudo que te
incomodar. Sempre que cair, levante com ainda mais força. Não
deixe ninguém ver suas fraquezas. Não seja fraca, Anelise. Nunca.
Você é forte. Uma força da natureza irá inundar essa escola com sua
força. Seja forte, ok?

Ela assente com os olhos lacrimejando, a abracei novamente,


dessa vez mais apertado. Levanto enxugando as lágrimas no meu
rosto.

Hades também abraça Anelise, um abraço rápido, mas que


demonstram a hesitação de Hades em deixar sua irmã aqui.

— Vou deixar a casa quente para quando for nos visitar — É tudo
o que diz.

Anelise o abraça forte e sussurra um "eu te amo, cuide da


Athena" que consigo ouvir. Isso despedaça ainda mais meu coração.

Ficamos no corredor vendo Anelise indo embora sem olhar para


trás, mostrando sua firme decisão. Acompanho meu olhar nela até
que suma na minha vista e isso faz meu coração estilhaçar. Me
desculpe, Anelise. Me perdoe.

Hades e eu saímos da escola com um Axel cabisbaixo pela


despedida.

O local onde fica a escola é uma espécie de montanha e tem


campos verdes e planos. O helicóptero irá pousar a alguns
quilômetros de distância de onde estamos.

— Gostaria de caminhar um pouco, preciso de ar — Digo a


Hades, não é uma mentira. Realmente preciso de ar.

Ele ergue as sobrancelhas, procurando algum indício de que eu


esteja passando mal.

— Irei com você.


Só está ele e Axel aqui. Perto do nosso carro e com os
semblantes abatidos pela despedida de Anelise. Ver eles assim me
faz querer desistir, mas não posso e nem irei.

— Só vou andar alguns metros, não precisa me acompanhar.


Aqui é um deserto. Me espere aqui, por favor. Sei que tem ligações
que precisa fazer e Axel parece querer dormir. Fiquem aqui.

Hades não contesta, ele não faz ideia de nada. Me comportei de


forma natural todos esses dias e não dei motivos para
desconfianças.

Ele estende uma arma para mim, com os olhos nos meus.

— Atire se precisar de ajuda. Nós ouviremos. — coloca a arma na


minha mão e eu me retaso.

Concordo e antes que eu me vá, eu me viro para Hades e o


envolvo em meus braços. Ele não corresponde, é pego de surpresa
e mesmo que não tenha sido, ele não retribuiria. Fecho meus olhos e
inspiro seu cheiro pela última vez.

Se eu conseguir fugir, sei que Hades irá até às profundezas por


mim, mas ele não vai me achar. Hades pode ser um bom farejador,
mas Hugo é especialista em esconder pessoas. Nem mesmo Hades
conseguirá me achar.

Olho em seus negros que me falaram de amor e me fizeram


amar. Vejo a imparcialidade neles, a neutralidade e frieza… tudo que
Hades é. Tudo que ele foi para mim.

Me viro de costas, me equilibrando nas minhas botas de salto alto


fino. Começo a caminhar segurando a arma firmemente. Evito as
lágrimas, evito o soluço que a dor dessa partida está me causando.
Evito sentir tudo que meu corpo está projetando. Apenas continuo
andando, engolindo as lágrimas e respirando como se minha
garganta estivesse fechada.

Você é meu amor, Athena.


Não. Ele não pode ter falado a verdade por mais que eu acredite
nisso. Ele simulou. Disse algo que eu gostaria de ouvir. Não posso
me apegar a isso. Hades me feriu, ameaçou minha dignidade e está
fazendo meu amor por ele se tornar obscuro. Não quero que esse
sentimento apodreça.

Estou chegando perto do campo onde o helicóptero está pairando


causando barulho. Torço para que Hades não assimile ele a mim,
mas é como pedir o impossível. Ele vai notar.

Quando o helicóptero pousa, com as hélices ainda rodando, a


porta se abre revelando Hugo.

Seus olhos descem para a arma na minha mão e eu mesma olho


para ela pensando em largar a mesma, mas não o faço. Caminho em
direção ao helicóptero, quando estou perto o bastante ouço o som
dos pneus do carro e um grito de Hades.

— Athena!

Mordo meus lábios. Por favor, não torne isso mais difícil.

Hugo está em maior número e com homens armados. Hades só


tem Axel, duas adagas e uma pistola. Não duvido do estrago que ele
causaria com isso, mas hoje ele precisaria me matar.

— Athena, volte! — A voz de Hades sai feroz e alta como um


rugido.

Estou perto do helicóptero, perto o suficiente para entrar e dar


adeus a Hades, mas ainda assim me viro para ele.

Ele está próximo a mim, os olhos arregalados e uma postura


rígida. Não está com suas adagas nas mãos, parece indefeso.

— O que está fazendo? — Pergunta.

O vento sopra meus cabelos em diversas direções, mantenho


meus olhos em Hades.
— Eu amo você, Hades e esse é o motivo de eu não poder ficar
com você. Você será minha destruição e eu lutei muito para
permanecer viva. Me levantei até quando eu achei impossível eu
fazer. Fui maltratada e abusada emocionalmente e nunca reclamei.
Mas, eu não posso receber esse tipo de tratamento de você. Do
homem que amo e que não pode retribuir meus sentimentos, que ao
contrário de ter uma consideração por mim, por esse sentimento…
usa isso como uma arma contra mim. Eu aguentaria maus tratos de
todos, menos de você. Anelise está segura e bem agora. Eu não
devo mais nada a você e nem você a mim. Estamos limpos, Hades.

Ele está parado, como se tivesse sido atingido. Eu também me


sinto atingida por todas essas palavras.

Hades caminha na minha direção com os olhos em determinação.


Os homens de Hugo erguem as armas e Axel faz a mesma coisa.

Mas não é nenhum deles quem dispara na direção de Hades, sou


eu.

Não percebi o momento que ergui a arma. Tudo que senti foi meu
dedo apertar o gatilho duas vezes conduzindo duas balas em direção
ao ombro de Hades.

Axel gritou e correu em sua direção, Hades estancou com os


olhos em mim e a camisa começando a empossar com seu sangue.
Nossos olhos estão conectados e duas lágrimas descem pelas
minhas bochechas.

Hades tem os olhos negros petrificados e eu estou prestes a


pedir perdão a ele e Axel. Correr na sua direção e tentar reverter a
situação que eu causei. Eu não quis machucá-lo. Não queria isso.
Queria ir embora em paz, mas Hades não iria deixar eu ir. Ele nunca
deixaria.

— Athena, vamos.

Hugo me segura pela mão, me levando para dentro do


helicóptero.
Observo Hades caído no chão com Axel ao seu amparo, os olhos
deles estão vidrados no helicóptero que está subindo voo, ele parece
gritar para Axel impedir o vôo, mas Axel só está preocupado com ele
que está perdendo muito sangue.

Eu atirei em Hades. Eu o machuquei e fui embora. Meu último


vislumbre dele é dos seus olhos fechando. Jogo a arma que está nas
minhas mãos trêmulas e as uno no meu colo. Hugo tenta me
consolar, mas tudo que consigo fazer é lembrar do som dos disparos
e de Hades cambaleando.
Capítulo 30
Hades Baumann
3 meses depois

Athena desapareceu, como se tivesse apagado seus rastros e


nem mesmo eu fosse capaz de localizá-la. Ela simplesmente sumiu e
eu sei que foi Hugo o responsável por isso. Ela me traiu outra vez ao
ir atrás dele, principalmente por ter fugido de mim.

A cicatriz no meu ombro, dos dois tiros, está melhor com o passar
dos dias, mas ainda sinto limitações e dor no lado atingido. Athena
não atirou em mim por ódio, foi mais por desespero. Vi isso em seus
olhos até o último momento.

Hugo Colombo também está inacessível, ninguém tem notícias


dele nesse meio tempo e o pensamento de que ele é Athena estejam
juntos me deixa espumando de raiva.

— Vamos sequestrar a mulher de Hugo. Trazê-la para cá e


esperar Hugo querer negociar. Ele irá se importar com a mãe dos
filhos dele — digo a Axel quando estamos de tocaia na Itália, perto
dos arredores da casa de Hugo Colombo.

— Isso será difícil. Ela não sai de casa e não vamos conseguir
invadir. Não podemos invadir a propriedade, temos regras, Hades.

— Hugo quebrou essas regras quando levou minha esposa. Dei


um ultimato a ele para devolver Athena, ele não respondeu. Iremos
entrar, sim.

— Hades…

Um pensamento que está na minha cabeça há algum tempo


começa a se tornar persistente. Athena ainda se preocupa com a tia
dela, ela me traiu para protegê-la, se eu conseguir pegar Laura
Vacchiano, então terei Athena novamente.

— A tia de Athena está na casa de Hugo? — Pergunto. Temos


homens infiltrados.

— Não. Ela deve estar com Athena onde quer que ela esteja.

É claro. Hugo não deixaria Laura à minha mercê, não quando


sabe que Athena se preocupa com a tia.

Dou partida no carro, dirigindo até os cassinos em alto mar de


Hugo Colombo. Tenho dado prejuízo a ele incendiando seus
cassinos, roubando suas prostitutas e queimando todo dinheiro que
encontro. Ele começou uma guerra e nem mesmo tem dado às caras
para lutar. Ele precisa de mais incentivo.

Hoje meus homens e eu iremos atacar o maior cassino de Hugo,


onde tem o maior número de lavagem de dinheiro. A segurança foi
reforçada, mas isso não será nenhum problema, matarei quem for
preciso para chegar a Hugo.

É noite e todos estão embarcando no iate de luxo. Mulheres nos


seus melhores vestidos e elegância.

Meus homens compraram o ticket de entrada e estão todos


vestidos formalmente. Eu irei mergulhar, e subir pelo casco do navio.
Tem homens nessa parte, homens de Hugo e eles tentarão me deter,
mas não conseguirão. Será preciso mais homens e eles estarão
ocupados com os meus homens os matando.

Visto a roupa de mergulho e verifico minhas adagas. Estou


próximo ao barco, mas não perto o suficiente para ser visto. Coloco
os óculos de mergulho e verifico o oxigênio. Está tudo ok.

Espero que o iate comece a se mover para mergulhar na água e


começar a nadar até ele. Vejo o motor por baixo da água e encontro
a deixa perfeita para danificá-lo. Me aproximo pelos lados,
segurando a lateral do iate, perto o suficiente das hélices que giram
para o barco continuar navegando.

Retiro uma granada de dentro da pochete. Não é uma granada


comum, essa foi fabricada pelos russos para com um cronômetro de
até três minutos. Sua explosão é alarmante, mas dentro da água não
terá muito barulho. O motor simplesmente vai explodir e parar de
funcionar.

Jogo a mesma por dentro das hélices, ouvindo o baque surdo ao


chegar no motor.

Começo a nadar para a lateral do iate, a parte menos


movimentada e que me dará acesso ao iate. São dois minutos para
eu chegar lá, sobra apenas um para me desfazer do oxigênio nas
minhas costas e da máscara de mergulho. Ao fazer isso, ouço o
barulho da explosão e água espichando pelo ar. O iate para de
funcionar e fica completamente escuro. Ouço os gritos e pessoas
correndo pelo corredor onde estou embaixo, ainda na água.
— Alguma coisa entrou no motor! — Ouço um homem dizer.

Me desfaço de todo peso que carrego e subo a bordo do iate


dando de cara com um dos homens de Hugo. Ele avança na minha
direção, me arrastando com seus ombros, uso meu peso para frear
seu movimento e o derrubar no chão, esmurrando seu rosto em
seguida.

Tossindo e gemendo ele tenta lutar, se desfazer de mim sobre


ele. Pressiono meu joelho no seu pescoço e finco uma das minhas
adagas no seu pescoço antes de seguir meu caminho até a convés
do iate.

Meus homens já começaram a briga com os homens de Hugo e


os convidados da noite estão correndo por toda parte, alguns até se
jogando no alto mar.

O barco está escuro, a queda do motor fez isso acontecer. Luto


com mais dos homens que me reconhecem de imediato, os matando
no confronto. Olho em direção a ré do iate vendo Axel embolado com
um dos homens mais fortes, ele parece está se divertindo.

Atravesso o mar de pessoas desesperadas com as lanternas dos


celulares acesas e chego no convés do iate. Os galões de gasolina
já estão aqui e esse será um enorme prejuízo para Hugo.
Seus associados irão cobrar por sua presença, irão o pressionar
para dar um basta em mim e então ele terá que me procurar.

Axel chega ao encontro com o terno sujo de sangue e


despenteado. Juntos começamos a derramar a gasolina por toda
parte externa do iate enquanto os homens fazem isso por dentro.
Axel e eu nos olhamos antes de acender o isqueiro e mergulhar no
mar quando as chamas começaram a ficar altas.

Antes de chegarmos na costa, ouvimos o som da explosão do


iate milionário de Hugo Colombo explodir. Axel sorri na minha
direção e de longe observamos o estrago que fizemos acontecer.

Volto para a Alemanha depois de três dias sem nenhuma


resposta de Hugo ao meu ataque. Ele nem mesmo mandou um
recado ou atacou minha gente.

Esse silêncio está me deixando fora de mim, não é possível que


meus ataques passem em branco. Minha mente não consegue achar
nenhuma explicação para o que está acontecendo, qual o plano de
Hugo ou como chegar em Athena.

Esmurro o saco de areia na minha frente com força, machucando


meus dedos enquanto penso em Athena e nas coisas que devo
fazer. A cada dia que passa ela está mais distante de mim,
consumindo algo que não faço ideia.

Sinto falta dos seus olhos, da sua pele, da forma como dormia
tranquilamente ao meu lado. A maneira suave e amorosa que me
olhava. Eu sinto falta dela.

— Hades, você tem uma reunião com os capi hoje. Está atrasado
— Axel alerta.
Continuo batendo no saco de areia com toda minha força, o suor
percorre todo meu corpo, minha respiração está tão acelerada e
meus punhos doem. Meus pulmões doem.

— Hades!

Axel entra no meio do saco de pancadas e eu, aparando meu


soco. A adrenalina sobe pelos meus olhos e projeta Axel como um
inimigo. O derrubo no chão pronto para atacá-lo, mas Axel conhece
todos meus movimentos e ampara meu primeiro golpe e me
imobiliza.

Está por cima de mim, me olhando com atenção.

— Qual o problema, Hades? O que é isso nos seus olhos? —


Axel pergunta aturdido.

— NADA FUNCIONA SEM ELA, AXEL. NADA. NADA DISSO! —


Grito com a voz rouca falhando.

— Nós vamos achar ela, Hades. Amanhã iremos atrás de Hugo!

— AMANHÃ NÃO. EU PRECISO DELA AGORA! NÃO AMANHÃ


E DEPOIS. Agora!

sinto meus olhos úmidos e uma dor no meu peito.

— Eu preciso dela agora. Isso dói para caralho! — Levo minhas


mãos aos rosto, procurando uma proteção.

Axel fica em silêncio e meu peito parece comprimido, como se


alguém o estivesse apertado. É uma angústia sem fim e um medo
avassalador que nunca senti antes.

Sinto Axel apertar meu ombro, mas ele não diz mais nada,
apenas sai do ringue me deixando sozinho, deitado olhando para o
teto com esse pesar no corpo, na minha alma.
Athena se tornou meu ponto de luz, e então foi embora me
deixando em uma escuridão que não reconheço mais como um lugar
seguro. Não me sinto seguro sem ela. Não sinto que sou capaz de
respirar direito. Meu caos se transformou em uma espécie de silêncio
ensurdecedor.
Nada funciona sem ela.

Estou disposto a dar toda a Alemanha se isso significar ter ela de


volta. Foda-se tudo isso.

Um estalo repercute no meu cérebro.

Hugo me quer. Ele quer vingança pelo que fiz a Athena e com
seus lucros e bens. Ele com certeza quer me torturar.

Levanto do ringue, indo até a casa onde tomo um banho e visto


uma roupa fria.

Entro dentro do carro e dirijo até um galpão abandonado,


sozinho. É uma área deserta e se estou sendo seguido pelos
fantasma de Hugo, então ele entenderá o recado.

Não demora nem cinco minutos para que três armas estejam
apontadas para minha cabeça.

Ergo minhas mãos, olhando para todos com um sorriso pequeno.


Eu sabia que Hugo iria querer sua vingança. Ele é um homem, afinal.

Os homens me amaram e me colocaram dentro de uma van.


Colocam uma substância no pano úmido que me faz perder a
consciência.
Ninguém me feriu. Hugo deve estar ansioso para acabar comigo.

Não tenho noção de quanto tempo fiquei apagado, quando


acordo estou em um chão de cimento frio, acorrentado nos
tornozelos e pulsos. Dois homens estão me olhando e estou apenas
de calça jeans.
Associo o balde de água com os fios elétricos por perto para
saber que Hugo irá me torturar.

— Onde está minha esposa? — Pergunto em alemão, olhando


para os dois homens com armas e posturas relaxadas — Tragam a
porra do chefe de vocês até aqui!

Um deles xinga em uma língua que não reconheço e logo depois


sai. Tento me mover para acabar com o formigamento pelo corpo,
não tenho muita mobilidade dessa maneira.

Não tem nem mesmo uma sombra de luz nesse quarto. Estou
com a garganta seca, mas isso não é um problema.

Hugo entra com uma roupa esportiva e um rosto sombrio. Sorrio


na sua direção.

— Eu merecia boas vindas melhores, não acha? — pergunto,


movendo meus braços fazendo as correntes se arrastarem no chão
— Onde está Athena? O que você fez com ela?

Hugo coloca um leve sorriso no rosto, um sorriso que me enoja.


Ergue as mangas do moletom e caminha na minha direção.

— Você me deu um prejuízo e tanto, Hades. Um grande prejuízo


— suspira me olhando com indiferença.

Reconheço um homem velho como Hugo de longe. Ele não


ajudou Athena por boa vontade e com certeza não está mantendo
ela segura. Ele a quer para ele, que ela seja um enfeite para sua
coleção. Ele a ama de forma devocional e doentia e era por essa
razão que eu não queria esse doente perto dela.

— Onde colocou Athena? — perguntei, ríspido.

Seus olhos claros parecem mais doentes do que nunca, e


satisfeitos por me ter aqui.
— Ela está bem, se é isso que quer saber. Também está feliz. Eu
a deixo sair para o jardim, cuidar das flores e ela dorme em uma
ótima cama. Ela está muito bem.

— Você abandonou sua família para viver com ela, tenho certeza
de que está fazendo Athena de brinquedo como se ela fosse uma
boneca. Você não tem coragem de tocá-la. Seu pau não deve subir
nem com viagra e um homem vaidoso como você não iria mostrar
esse corpo velho e enrugado para uma mulher tão linda como
Athena.

Hugo puxou uma faca da sua cintura e cravou no meu ombro. Eu


contenho um grito alto, mas ainda gritei. Minha respiração acelera e
eu mordo meus lábios enquanto minhas veias pulsam e a lâmina fria
está dentro de mim.

Hugo gargalha com minha expressão.

— Então esse é o som de Hades Baumann, o imbatível, gritando?


Nada mal. Gostei de ouvir. Acho que eletrochoque não será tão
divertido como cortar você ou até mesmo te queimar.

Coloco um sorriso em meio a dor.

— É melhor acabar comigo de uma vez antes que eu arrume uma


forma de sair daqui, Hugo. Quando eu sair, vou matar você e pegar
minha esposa — Digo entredentes.

Ele ri, assentindo.

— Sim, sim. Boa sorte.

Ele gesticula para um dos seus homens que trás mais uma faca
para ele. Hugo a cravou no meu outro ombro e eu mordo meus
lábios até sangrar para que ele não ouça meus gritos. Seus soldados
olham para mim e eles riem. A dor é cruel, mas é algo a que estou
acostumado. Cresci sendo esfaqueado, cortado, retalhado desde os
meus 15 anos. Posso aguentar por muito tempo.
Hugo gesticula para que seus homens me batam. O mais forte
deles. Acorrentado, não consigo me defender, recebo chutes nas
costelas, estômago e rosto. Ouço o som das minhas costelas
quebrando, o sangue escorrendo da minha boca e minha audição
ficando surda pelo impacto na cabeça.

Me mantenho consciente. Não irei perder a consciência. Meu pai


me forjou na mais terrível agressão justamente para que eu não me
rendesse. Ser espancado, ter facas cravadas em mim, receber
eletrochoque… Posso suportar.

São horas de espancamento e eu não consigo mais me mexer.


Hugo me olha com atenção, me vendo na minha própria poça de
sangue e respirando com dificuldade. Meus olhos estão tão inchados
que quase não o enxergo. Minha boca está repleta de sangue.

— Athena sempre foi minha de alguma forma. Eu não a posso ter


como um homem tem uma mulher, mas isso não importa para mim.
Eu a tenho de uma forma que ninguém jamais irá entender e para
isso eu só precisei ter paciência. — Ele senta à minha frente, sobre
uma cadeira com as pernas cruzadas— Mário tentou tirar ela do meu
domínio, mas me fez um favor a entregando a um demônio como
você. Eu só precisei ficar por perto, atender seus pedidos e ser um
ombro amigo confiável. A maior fonte de confiança dela. E com isso,
eu trouxe Athena para mim. Estes meses têm sido gloriosos, Hades.
Ela está estonteante— Sua voz é de fascinação. Uma fascinação
doentia.

Não tenho forças para falar, então apenas observo bem o rosto
de Hugo. Matarei ele. Eu sabia que seu interesse por Athena era
doentio. Conheço uma pessoa doente quando vejo porque também
sou um doente.

Hugo sai da sala junto com seus homens me deixando sozinho,


encurvando no meu próprio sangue e colocando mais dele para fora.
Todo meu corpo dói loucamente e minha cabeça parece estar sendo
explodida. As duas facas ainda estão nos meus ombros, mas nem a
sinto mais. Não depois das costelas quebradas.
Pela forma como minha barriga está inchada e rígida eu deduzo
que esteja com uma hemorragia interna. Fui deixado para morrer.

E não verei Athena. Ela ficará presa a Hugo para sempre. E é


culpa minha.

Tento me desfazer das correntes, mas é inútil e com esse esforço


minha visão fica turva. Estou perdendo a consciência quando a porta
se abre.

Athena entra por ela e eu ouço os tiros.

Ela corre na minha direção, aterrorizada pelo que vê.

— Meu Deus, Hades. Meu Deus! — seu rosto está contorcido e


ela procura alguma coisa para abrir às correntes.

Procura loucamente pela sala até não achar as chaves. A vejo


pegando um machado e o erguendo para quebrar as correntes,
usando toda sua força e arfando com o esforço.

Quando ela me desfaz das correntes se abaixa até mim. Os pés


descalços pisando no meu sangue e o vestido branco ficando
vermelho ao se sentar e me trazer para seus braços.

— O que devo fazer, Hades? — Chora, olhando para as facas


encravadas nos meus ombros.

— Axel…

— Seus homens estão aqui. Eu chamei Axel. Ele está aqui.

Olho para Athena com minha visão turva.

— Como ousou cortar seu cabelo? — A vejo rir em meio às


lágrimas e então caio na inconsciência em paz.
Capítulo 31
Athena Baumann
Hades está passando por uma cirurgia meticulosa. Ele teve duas
paradas cardíacas enquanto víamos para o hospital. Minhas mãos
não param de tremer, meu corpo está tomado pelo medo de algo
acontecer com ele. Seu estado é grave e só dele ter chegado ao
hospital ainda com vida é um milagre.

Às lágrimas descem pelo meu rosto sem nenhum controle. Meu


vestido branco está sujo com o sangue de Hades e o sangue nas
minhas mãos já secaram. Axel e eu estamos no corredor da sala de
cirurgia esperando o médico ou alguém sair. Estamos na Rússia e
Hades tem aliados aqui. O hospital o aceitou sem fazer perguntas e
nenhuma polícia foi chamada.

Tudo ocorre de forma silenciosa e resguardada. Os homens de


Hades estão por todo hospital o protegendo de qualquer perigo.
Hugo foi preso por Axel e seu destino agora pertence a Hades.

— Ele vai sair dessa. Hades não irá morrer dessa forma — Axel
diz. Ele está em pé, encostado na parede do corredor e eu sentada
olhando para ele.

— É culpa minha.

— Você é o mundo de Hades, Athena. Eu nunca o vi louco da


forma que ficou. Ele se entregou a um inimigo, algo que ele nunca
faria. Hades perdeu uma certa racionalidade desde que você foi
embora. Entendo seu ponto de ter feito o que fez, mas não posso
deixar de condenar o fato de que você deixou seu marido.

Concordo.

— Hades estava se tornando destrutivo comigo, violento e com


mudanças de humor. Ele me assustava e eu temi acabar odiando
ele. O amor que sinto por Hades não poderia acabar em ódio, isso
acabaria com nós dois. Nossa relação iria ser um inferno e eu
encontraria uma forma de morrer a me tornar apenas uma das
muitas mulheres de Hades — Confesso enxugando minhas lágrimas.

Axel mantém os olhos em mim, de forma impassível.

— É a primeira vez na vida dele amando uma mulher. Ele


precisou chegar a isso para entender os erros dele. Vocês poderão
ter um recomeço, se é isso que você quer. Mas, se não for isso que
queira, Athena, então deixo as portas abertas para você sair e não
olhar para trás. Hades vai até o inferno por você, mas ele desistirá
quando ver que é o melhor para você. Até um homem sem
sentimentos como ele sabe quando desistir.

Hades nunca desistiria de mim, sou a pessoa que o faz sentir


amor, empatia e amabilidade. São sentimentos novos que ele quer
explorar comigo. No fundo eu sabia que no fundo talvez Hades me
amasse, mas eu nunca poderia acreditar nisso. Um sociopata
amando? Alguém acreditaria nisso?

Às horas se passam até que por perto das 2:00 da manhã o


médico sai do centro cirúrgico. Axel e eu vamos na sua direção.

— Ele perdeu muito sangue, precisamos retirar o baço dele e


remendar suas costelas com platina. Seu tímpano foi prejudicado,
mas irá cicatrizar com o tempo. Ele não teve nenhuma concussão, o
que é ótimo no quadro dele. Suturamos os dois cortes profundos nos
seus ombros — o médico inspira — Ele vai ficar bem.

Respiro de alívio, quase cedendo a cair no chão. Axel me lança


um olhar de alívio.

— Ele está inconsciente, mas assim que repor todo sangue que
perdeu vai começar a se sentir mais forte. Poderão ver ele daqui a
algumas horas.

Axel e eu nos abraçamos de puro alívio e eu posso jurar que


escuto um arquejo saindo da sua boca. O medo que ele sentiu de
perder Hades foi similar ao que eu sentia. Nós dois amamos ele de
forma diferente. Hades é nossa família, somos uma família.

Nos soltamos devagar, lágrimas de alívio descem pelo meu rosto


e Axel tem um sorriso discreto nos lábios. Ele olha para minhas
roupas.

— Vou sair para comprar algo para vestir e calçar. Se Hades


acordar e ver você assim, irei pagar por isso.

— Obrigada, Axel. Por tudo.

Seus olhos cor de cobre olham para mim com favorecimento.

— Obrigada por ter ligado e avisado onde ele estava. Eu estava


enlouquecendo sem conseguir encontrá-lo.

— Eu não saberia o que fazer se você não tivesse vindo. Hades


está vivo por sua causa.

Ele nega.
— Não, Athena. Isso é mérito seu.

Tomo banho no hospital, lavando meu corpo e cabelo que agora


bate nos meus ombros. Eu cortei assim que cheguei na Rússia,
queria mudar algo em mim que Hades parecia gostar. Eu queria me
desfazer das coisas em mim que me faziam lembrar ele.

Visto a calça jeans preta e uma blusa de gola que Axel trouxe,
junto com roupas íntimas e um tênis. Deixo meu cabelo úmido e saio
do banheiro com o vestido branco encardido de sangue dentro de
uma sacola. Jogo ele dentro do lixo mais próximo que encontro.

Caminho até o quarto de Hades, vendo Axel por perto,


monitorando ele. Hades está ligado a aparelhos cardíacos e o som
do seu coração batendo me conforta. Cada tum tum tum que ouço é
como uma oração atendida.
Entro no quarto e Axel ergue os olhos na minha direção. Seus
olhos estão vermelhos pelo cansaço.

— Preciso resolver algumas pendências da organização. Fique


com ele e me avise quando ele acordar — Pede.

Assinto. Axel sai e eu me sento ao lado de Hades. Seguro sua


mão sentindo a palma fria, ele está recebendo sangue e soro. Seu
rosto está com hematomas, o olho roxo e inchado e seu peito está
desnudo.

No lugar onde as facas foram cravadas se encontram curativos.


Vejo a cicatriz do tiro que dei nele e isso me faz sentir remorso. Beijo
sua mão, lembrando de todas as vezes que essa mão me tocou e
me amparou.

Deito minha cabeça ao lado da sua mão, sentindo o cansaço me


tomar. Foram mais de 24 horas sem dormir e agora estando ao lado
de Hades me sinto segura o suficiente para fechar os olhos.

Sinto uma mão na minha cabeça, dedos dedilhando meu couro


cabeludo. Abro os olhos e ergo o rosto vendo Hades acordados me
tocando. Ele tem um breve sorriso nos lábios.

— Quem teve a idéia de cortar seu cabelo, Athena? — Sua voz


autoritária tira o aperto do meu coração.

— Como está se sentindo? Posso chamar uma enfermeira se


estiver sentindo dor.

Hades balança a cabeça, me olhando intensamente.

— Você está linda mesmo com esses olhos inchados e


vermelhos. Não sei se vou me acostumar com esse corte de cabelo,
quero que o deixe crescer de novo.
Suspiro feliz. Hades está agindo como Hades. E isso é ótimo. Um
bom sinal de que vai se recuperar. Seguro sua mão na minha,
levando a mesma até a minha bochecha.
— Você me quer de volta, Hades? — Pergunto baixinho.

Seus olhos estão em mim, atentos e firmes. Cheio de amor.

— Você é tudo que tenho de bom em mim, Athena. Você é meu


equilíbrio. Sou trevas e você é luz, você repele o que é mau em mim
e me coloca em um caminho menos sofrido e obscuro. Meus erros
com você são algo que não conseguirei me redimir totalmente, sei
que você sentirá medo de mim…

— Não, Hades. Eu te perdoei completamente. Desde o momento


que fui embora eu te perdoei. Não guardo nenhum rancor.

Seus olhos cintilam.

— Preciso de você para me mostrar o bem e me ensinar a ser


melhor. Quero ser um bom marido para você e um ótimo irmão para
Anelise. E no futuro, quero ser um bom pai.

Suas palavras finais me pegam de surpresa e eu arregalei meus


olhos. Hades segura minha mão.

— Quero te dar tudo que uma mulher merece, e eu sei que você
quer ser mãe. Tenho certeza que posso ser um bom pai se você me
ensinar a ser bom, Athena. Com você ao meu lado eu posso tudo.

Lágrimas escorrem dos meus olhos e eu abaixo minha cabeça


para que Hades não se incomode com isso, mesmo eu sabendo que
ele não se incomodaria.

Nesse momento, Hades está sendo tudo que eu quis desde o


momento que me casei. Ele está me mostrando seu lado humano e
me deixando acessar ele.

Hades abre espaço para mim na cama e eu me deito do seu lado


com cuidado, evitando tocar nele mesmo ele tornando isso
impossível.

— Preciso que me prometa uma coisa — Solicito.


Hades me olha com atenção. Engulo a saliva que se acumulou na
minha boca.

— Se vamos fazer isso dar certo, se precisar de mim como


preciso de você… então me mostre isso diariamente. Seja o homem
que está dizendo ser. Nos ame explicitamente. Eu e Anelise. Seja um
imbatível e cruel fora de casa, com seus inimigos, mas seja amável e
carinhoso com sua família. Eu aceito seu lado obscuro e cruel, mas
preciso do outro lado também para encontrar o homem por quem me
apaixonei.

Hades assente.

Ele puxa minha cabeça na direção dele e encostamos nossos


lábios em um beijo demorado.

Quando nos soltamos, Hades é convicto e firme ao dizer às


palavras que nunca achei que fosse ouvir dele.

— Eu te amo, Athena. Eu te amo pra caralho.

Sorrio e encosto meus lábios novamente nos seus.

Hades passou cerca de duas semanas no hospital


desobedecendo todas as regras médicas sobre seu repouso e
estourando dois pontos do seu machucado. Ele não consegue ficar
em repouso e nem mesmo seu trabalho como Capo deixa isso
acontecer.

Ontem a noite, mesmo com dor e se contorcendo a cada


movimento ele queria sexo. Precisei voltar para o hospital para tirar
essa possibilidade da sua mente, mas na manhã seguinte a ideia se
mantinha firme.

Os membros da elite da máfia Russa vieram visitar Hades e


perguntaram qual destino Hades queria para Hugo. Hugo havia
enganado eles há um tempo atrás e essa era a chance perfeita para
acabar com ele.
Hades olhou para mim, em busca da minha opinião e eu
simplesmente virei o rosto. Hugo estava doente e não era tão
diferente de Mário. No final, ele também me queria, mas não me
tocou e eu nunca saberei a razão e nem faço questão de saber.

Hugo Colombo foi morto a facadas e entregue a famiglia. O filho


mais velho dele assumiu o seu posto com Don e uma nova era
começou na família.

Plínio não escapou de Hades, Axel o executou dois dias antes de


chegarmos à Alemanha.

Foi como rios de sangue que consegui uma vida pacífica ao lado
de Hades.

Meu nome agora era temido tanto quanto o de Hades. Eu era a


pessoa que Hades Baumann amava e matou centenas por mim. Eu
era como uma Helena de Tróia e ninguém ousava se aproximar.

Havia noites que eu conseguia dormir com a mente tranquila e


outras sentia minha consciência pesar com o peso de todas as
mortes à minha volta, mas de alguma forma Hades não me fazia
sentir o peso disso quando estávamos juntos.

Anelise nos visitava nas férias e tudo corria bem. Hades estava
cumprindo sua promessa.

Dois anos após nossa renovação de votos, em uma tarde de


janeiro, eu segurei meu primeiro teste de gravidez, e nele tinha dois
traços.

Eu estava grávida de Hades.


[1]Desculpa, mas eu gosto ����
[2]Age Gap, amoooo
[3]KKKKK adorooooo
[4]meu deus kkkkkkk eu triste aqui, prque sou morena
[5]Oh, my, good! Quero cair
[6]Seu gostoso, seu safado, seu bandido
[7]Nãooooooo saiiiii desgraçaaaa
[8]AHHHHHHHHHHHHHHH ISSOOOOOO TO
SURTANDOOOOOOOO
[9]Kiss me Kiss me baby
[10]Queria ver anen
[11]Caralhoooooooo
[12]Aaaaaaahhhh eu to em surto com esse homem narrando
jesus!!!!!
[13]Brasilllllllll ����������

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