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Copyright © 2023 Daia Vitoriano


 
Todos os direitos desta edição reservados e protegidos a autora. Este ebook ou qualquer parte dele
não pode ser reproduzido ou usado de forma alguma sem autorização expressa, por escrito, da autora
Daia Vitoriano, exceto pelo uso de citações breves em uma resenha do ebook.
 
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real
terá sido mera coincidência.
 
Autora: Daia Vitoriano
Capa: Ctrl Designer
 
 
Classificação Indicativa:
Livro recomendado para maiores de 18 anos
 
 
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Sinopse
Nota da autora
Playlist do livro
Capítulo 1 – Emma Steele
Capítulo 2 – Mike McCoy
Capítulo 3 – Emma Steele
Capítulo 4 – Mike McCoy
Capítulo 5 – Emma Steele
Capítulo 6 – Mike McCoy
Capítulo 7 - Emma Steele
Capítulo 8 - Mike McCoy
Capítulo 9 - Emma Steele
Capítulo 10 - Mike McCoy
Capítulo 11 – Emma Steele
Capítulo 12 - Mike McCoy
Capítulo 13 - Emma Steele
Capítulo 14  - Mike McCoy
Capítulo 15 - Emma Steele
Capítulo 16 - Mike McCoy
Capítulo 17 - Emma Steele
Capítulo 18 - Mike McCoy
Capítulo 19 - Emma Steele
Capítulo 20 - Mike McCoy
Capítulo 21 – Emma Steele
Capítulo 22 - Mike McCoy
Capítulo 23 - Emma Steele
Capítulo 24 - Mike McCoy
Capítulo 25 - Emma Steele
Capítulo 26 – Mike McCoy
Capítulo 27 - Emma Steele
Capítulo 28 - Mike McCoy
Capítulo 29 - Emma Steele
Capítulo 30 - Mike McCoy
Capítulo 31- Emma Steele
Capítulo 32 – Mike McCoy
Capítulo 33 - Emma Steele
Capítulo 34 - Mike McCoy
Capítulo 35 - Emma Steele
Capítulo 36 - Mike McCoy
Capítulo 37 - Emma Steele
Capítulo 38 - Mike McCoy
Capítulo 39 - Emma Steele
Capítulo 40 - Mike McCoy
Epílogo
 
Um conto de fadas moderno entre um irresistível quarterback e
uma jovem cientista virgem.
 
Emma Steele é uma dedicada estudante de química cujo maior sonho é se
tornar uma grande cientista para ajudar as pessoas. Apaixonada pela cultura
asiática e nerd de carteirinha, a inocente universitária nutre um crush pelo
popular quarterback, Mike McCoy, mas a sua timidez a impede de revelar
seus verdadeiros sentimentos.
 
No entanto, um baile de máscaras surge como a oportunidade perfeita para
Emma se libertar de suas inibições. 
 
Mike McCoy é herdeiro de um magnata do esporte e seu maior objetivo é
entrar para a Liga Nacional do Futebol Americano. Cobiçado pelas
mulheres, nunca imaginou que se veria encantado com uma virgem
misteriosa.
 
Nessa noite encantada, o encontro entre os dois se revela marcante e
intenso. Porém, um evento inesperado os separa, deixando apenas um
modesto acessório como pista de sua conexão.
 
Completamente rendido pela jovem mascarada, Mike deseja mais do que
tudo reencontrar a sua Cinderela, sem imaginar que ela possa estar grávida. 
 
Movida pelo medo de ser rejeitada ou ser acusada de interesseira, Emma
decide manter em sigilo a verdade sobre o futuro bebê do irresistível bad
boy.
 
Ela será capaz de manter esse segredo?
 
 
Quero agradecer.
 
Primeiro a Deus, pois só ele sabe o quanto me esforcei para entregar o meu melhor neste livro.
 
Segundo a minha família, pela paciência e apoio durante o processo, e uma amiga muito especial que
foi a beta desta obra, Stella Bianchi, que me incentivou a acreditar nele dia após dia.
 
Muito obrigada!
 
Espero de coração que você que chegou até aqui aproveite a leitura, surte bastante e termine com um
quentinho no coração. Depois venha me contar sua experiência: @daiavitoriano - vou amar saber!
 
Que a magia do amor te contagie!
 
Daia Vitoriano
 
Aviso: Este livro contém cenas para maiores de 18 anos e um possível gatilho de luto.
 
 
Uma das coisas que mais gosto é escutar música, ela é uma das minhas
inspirações durante a produção dos meus livros!
 
E claro que “O bebê secreto do bad boy” iria ter sua playlist!
 
Leia o QRCode com o seu celular ou clique aqui para escutar!
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este livro para todas as pessoas que acreditam na magia do amor.
A vida pode não ser um conto de fadas, mas podemos torná-la.
 
Capítulo 1 – Emma Steele

 
BUM!
 
Assusto-me quando o experimento do meu colega de classe, que está
sentado na minha frente, começa a sair do frasco em abundância, melando
toda a mesa com a infusão incorreta dos produtos químicos.
 
Não é uma grande novidade para os estudantes de ciência que alguns
projetos não dão certo. Sempre somos orientados a analisar o erro, tentar
novamente, e nunca desistir do que acreditamos. Às vezes podemos até
guardá-los na gaveta, mas se tivermos chances, tentamos de novo.
 
O colega solta um palavrão após a tentativa frustrada, quer dizer, mais uma
tentativa frustrada. 
 
— Lembre-se do que disse Júlio Verne, meu caro! — O professor diz
olhando na direção dele pronto para lhe declamar uma citação motivacional.
— “A ciência se compõe de erros que, por sua vez, são os passos até a
verdade.”
 
Ele assente antes de pegar os equipamentos para realizar a limpeza da sua
área de trabalho. Volto a me concentrar na minha fórmula quando Abigail
me cutuca, fazendo-me virar para trás. 
 
— Fiquei sabendo que os meninos do futebol irão fazer um treino aberto lá
no estádio para todo mundo que quiser assistir depois do almoço — notifica
sussurrando enquanto arruma os óculos de proteção. — Tá a fim de ver seu
crush?
 
Sinto o meu rosto ficar vermelho, olho em volta para ver se alguém ouviu,
mas ouço o bufar dela antes de voltar a encará-la.
 
— Ninguém ouviu, Emma — tranquiliza. — Então, vamos dar uma
passadinha lá? Assim posso continuar minhas investidas no Chris — pisca
de forma debochada.
 
Confirmo com a cabeça antes de voltar a atenção para os frascos na minha
frente. 
 
Abigail Kim é muito diferente de mim, ela não tem vergonha de chegar em
um cara e dizer abertamente o que está sentindo ou ficar jogando indiretas
para provocá-lo. Eu não conseguia dar o primeiro passo, mas também não
ficava muda se alguém conversasse comigo, às vezes, quando dava por mim
estava falando demais. O meu problema era o primeiro passo, a famosa
iniciativa.
 
Ela e o Chris Fischer, o linebacker do Florida Gators, o time da nossa
universidade, ficavam nessa de jogar indiretas ao invés de ficarem juntos de
uma vez. Enquanto eu ficava apenas observando de longe o famoso
quarterback, Mike McCoy, o colírio da grande maioria das mulheres na
Universidade da Flórida. 
 
Ele era venerado em todo o campus e fora dele, garotas de todas as áreas
queriam ter uma chance com o prodígio e gostoso capitão que arrancava
suspiros só com o ato de tirar a camisa, e ainda pra constar em seu
currículo, era herdeiro de uma empresa milionária em equipamentos
esportivos.
 
Mas ele não seguia os negócios da família, sua mãe era quem tomava conta
da empresa, sendo uma das grandes patrocinadoras da universidade na área
de atletismo. 
 
Por mais que eu tivesse um crush no Mike, eu não conseguia ser aquela
garota que ficava rondando-o em busca de atenção. Sempre que ele aparecia
em um mesmo ambiente que eu, simplesmente me afastava, pois tinha
receio de trocar olhares, já que eu tinha grandes chances de virar um
pimentão ambulante. 
 
Sem contar que ele vivia rodeado de mulheres, em especial as líderes de
torcida que estavam em busca de qualquer chance com ele, não teria como
eu competir. 
 
Ser uma nerd tem suas desvantagens quando o assunto é chamar a atenção
de um cara popular, quer dizer, às vezes tem algumas curvas fora da linha já
que esse tipo de estereótipo vem mudando. Diferente de algumas garotas
que se produziam a ponto de parecer uma boneca, eu adorava o básico e o
confortável.
 
Não sei se o Mike tem interesses parecidos com os meus, como ler mangás
ou ver anime, se gosta de ir em eventos nerds apenas para apreciar as
novidades desse universo ou ver um jogo de videogame maneiro que
acabou de lançar. Sem comentários para as novelas asiáticas que vem se
tornando uma febre e são as minhas queridinhas.
 
Estou inserida neste mundo desde a minha pré-adolescência, então não é
muito difícil encontrar itens de otaku decorando o meu quarto, ou em
chaveiros na minha mochila. A influência desta cultura é tão marcante que
o meu interesse por química aumentou após assistir a um dos meus animes
favoritos: Fullmetal Alchemist, que narra uma aventura de dois irmãos em
busca da pedra filosofal após uma tentativa fracassada de ressuscitar a mãe
através da alquimia, que é uma teoria científica desenvolvida na Idade
Média.
 
Voltando ao Mike, ele é uma incógnita quando o assunto é interesses
pessoais, quando entro na rede social dele, seu foco é o esporte. Eu o vejo
como alguém centrado apenas nisso, até mesmo nas entrevistas que ele dá.
Algo que destoava desses estilos de publicação era quando ele visitava
ONGs e instituições que atendia crianças. Mesmo assim, seu jeito
galanteador acabou me seduzindo, ele é como um experimento que eu
gostaria muito de desvendar.
 
Enfim, sejamos sinceras, desde quando um bad boy do futebol americano
olharia para uma mulher que está sempre usando jaleco, os cabelos estão
presos em um rabo de cavalo, raramente se maquia, que estuda ciências por
conta de um anime e assiste dorama nas horas vagas? Nunca!
 
Olho pelo microscópio para analisar de forma mais aprofundada o
componente na platina antes de prosseguir com o meu experimento e
minhas anotações, mas não posso negar o frio na barriga que sempre me dá
quando penso que vou observá-lo jogando.
 

 
A caminho do estádio, que não fica longe do prédio de química, o som da
torcida e da banda ficava mais alto conforme nos aproximávamos. Pelo
visto, o campus inteiro resolveu comparecer a esse treino aberto, pois os
Gators eram idolatrados pela grande maioria dos estudantes. Ver alguém
segurando um jacaré de pelúcia comprova minhas suspeitas, ao mesmo
tempo que alguém atrás de nós, grita em pleno pulmões: Go Gators! 
 
— Achei que fosse um simples treino — comento olhando as pessoas
surgindo com roupas do time.
 
— Quando se trata de Gators, não tem simples amiga. — Abigail retruca
me dando uma leve cotovelada.
 
O hino de guerra começa a ser tocado pela banda quando entramos no
estádio. As vozes da torcida se unem para cantar. Descemos para os bancos
mais próximos do campo, mas, ainda assim, longe das primeiras fileiras.
Encontramos um lugar com boa visibilidade e nos sentamos. Pego em
minha mochila um pacote de cheez it e ofereço para ela, que nega.
 
— Não quero ficar com o gosto de queijo, ainda quero roubar um beijo do
Chris! 
 
Reviro os olhos e foco nas líderes de torcida que entram no estádio fazendo
suas apresentações antes de anunciar a entrada do time. The Swamp, como
chamamos o famoso estádio da nossa universidade — uma alusão ao
pântano onde os jacarés habitam, sendo eles o nosso principal mascote —,
não está lotado como costuma ser quando há jogos oficiais, mas muitos
estudantes estão espalhados pelas arquibancadas torcendo como se fosse um
jogo oficial.
 
Quando o time entra em campo, procuro pelo número 16 com o nome
McCoy estampado em sua camisa, e o vejo caminhando tranquilamente,
segurando o capacete de proteção na mão enquanto conversa com um dos
seus amigos. 
 
O corpo esguio de 1,80 m se destaca no uniforme laranja que possui
proteção em seu peitoral e nas partes íntimas devido à agressividade das
jogadas. Ainda sim é possível ter um pequeno vislumbre de seus braços e
pernas torneadas, que fazem parte do pacote escondido embaixo daquela
roupa. Por exemplo, o seu peito malhado e barriga de tanquinho, os quais só
tive a oportunidade de ver através das fotos que ele tirou na piscina ou na
academia do centro de treinamento.
 
O semblante sério, sem dar muitos sorrisos, demonstra o quanto está focado
em ganhar.
 
A barba por fazer bem desenhada em seu belo rosto, dá um certo charme ao
rapaz de cabelos amarronzados, que possui lisos fios que sempre ficam
suados após a partida, os quais o quarterback faz questão de passar os dedos
assim que tira o capacete enquanto recupera o fôlego.
 
A postura ereta demonstra a sua autoconfiança e também a sua liderança
para com o time.
 
— Bem-vindos ao treino aberto pré Orange & Blue Game que vai acontecer
daqui a duas semanas! — Uma voz sai pelos altos falantes. — Vamos
incentivar nosso time aqui no The Swamp como se fosse uma final,
combinado?
 
Os gritos e palmas soam com força pelo estádio. Vejo Mike colocando o
capacete e indo direto para o centro do campo, onde seus colegas estão
divididos com os uniformes laranja e azul. Cada time se reúne em um
círculo antes de fazer um grito de guerra. Após o sorteio de quem inicia a
partida, sendo a equipe do Mike a escolhida, começo a observá-lo
orientando seu time que se posiciona na área de jardas.
 
O kicker dá o chute inicial e o jogo começa. Meus olhos acompanham o
maravilhoso quarterback que monta a estratégia no campo direcionando os
demais, tentando fazer a pontuação máxima que é o touchdown. A cada
pequena pontuação conquistada, os estudantes comemoram e Abigail ao
meu lado não para de pular de tão animada.
 
Mike se irrita quando uma bola é perdida, mas logo ajuda os jogadores a
reformular a estratégia. Conseguindo manter a bola por mais tempo, sobre a
proteção da sua equipe, ele arremessa para um dos recebedores, que agarra
a bola oval no ar e sai disparado, desviando de quem quer derrubá-lo até
chegar à End Zone do adversário, fazendo um touchdown no final do
primeiro tempo. Não me seguro e comemoro com todos os outros.
 
O time laranja começa a fazer dancinhas, ao mesmo tempo em que agarram
o recebedor responsável pela pontuação, para só assim irem para o banco se
recompor.
 
— O Chris foi perfeito! As defesas que ele fez para alcançarmos o
touchdown foram precisas! — Diferente de mim, que entende o básico do
básico de um jogo como aquele, Abigail é apaixonada pelo esporte. Não é à
toa que ela tenha assunto com o linebacker! Se eu fosse depender disso para
conversar com o Mike, estava lascada.
 
Dirijo meu olhar novamente para o banco onde o quarterback joga uma
garrafa d'água sobre os cabelos amarronzados que brilham no sol
quentíssimo e abafado da típica Flórida. Me abano em busca de algum
vento artificial, para afastar a sensação que teima em queimar o meu corpo
por inteiro.
 
— Ver o crush todo molhado aumentou a temperatura aí, amiga? — Abigail
brinca, fazendo-me arregalar os olhos.
 
— Por acaso você esqueceu que vivemos em uma cidade que não venta? —
rebato, evitando manter contato visual com ela.
 
— Não tem nada de errado em imaginar como seria ser aquela água —
provoca sussurrando para que somente eu escute. — Ou como seria ser
pega de jeito no vestiário depois dele ganhar uma partida e o quão
empenhado ele pode estar — engulo em seco.
 
Minha mente divaga para aquele pensamento impuro, como se eu pudesse
sentir o atrito do armário contra minhas costas, enquanto o sinto dentro de
mim. Mesmo que eu não saiba exatamente como é transar, só imagino
mesmo. Sim, sou uma atrasada na vida sexual.
 
Balanço a cabeça para retornar à realidade e, logo em seguida, encontro
uma das líderes de torcida, dando um beijo na bochecha dele, antes dele
entrar em campo. Reconheço ser a líder delas, a tal da Hailey Smith, por
conta dos cabelos ruivos que lembram fogo e chamam a atenção por onde
passa. Aquela com certeza irá ganhar uma super foda após o jogo.
 
— Você sabe que eu não tenho chances com ele, Abigail — reforço,
tentando afastar o clima de tristeza que quer se instalar em mim.
 
— Tudo pode ter uma chance, basta achar o momento certo — pisca antes
de gritar o nome do Chris tão alto, que tapo minhas orelhas com as mãos,
mas tenho certeza ele que ouviu porque retribui com um rápido aceno.
 
— E se não tiver o momento certo… 
 
— A gente faz acontecer, só não pode perder as esperanças — incentiva. —
Aliás, fiquei sabendo que as fraternidades vão se unir para realizar uma
festa de última hora. A temática será um baile de máscaras em prol da
doação de alimentos que serão enviados para o Texas depois daquele
tornado. Acontecerá neste fim de semana, todo mundo tem que ir a caráter,
e pelo que sei o time inteiro vai comparecer.
 
— Você sempre muito antenada com o que acontece nesta universidade —
analiso procurando uma garrafa d'água na bolsa.
 
— Uma de nós tinha que ser né, amiga! Então, prepara a sua melhor roupa,
que vou atrás das máscaras mais lindas para arrasarmos nesse baile…
 
— Aí amiga, não sei… preciso estudar… fiquei de visitar os meus pais em
Miami… 
 
— Ah, para com isso, você vive estudando, Emma! Se não é isso, está
assistindo meus ancestrais — interfere balançando o meu ombro. A menção
aos seus ancestrais é porque sua família veio da Coreia do Sul para os
Estados Unidos há muitos anos. — Tem que se divertir um pouco, fazer
coisas que universitários fazem, beber, dar uns amassos, dançar, se
aventurar. Não ficar focada nos livros e no laboratório o tempo todo, sendo
que isso será sua vida depois daqui. Visite os seus pais depois! Vai perder a
chance de se aproximar do seu crush?
 
— Me aproximar… — Começo antes do barulho no campo avisar que a
partida está de volta.
 
— Estaremos mascaradas, o clima tem todo um mistério, você pode ser
quem você quiser amiga, e eu prometo que darei um jeito para você ficar a
sós com o Mike — revela, pegando-me completamente de surpresa.
 
— Como assim… ficar a sós? — questiono me voltando para ela.
 
— Confia em mim, amiga! Você não estava querendo uma chance? Um
momento certo para acontecer? Pode estar mais perto do que você imagina!
— pisca, mas antes que eu fale qualquer coisa sua atenção volta para o
campo.
 
Ficar sozinha com Mike McCoy em um baile de máscaras? Sinto meu rosto
esquentar e outras partes também, só de pensar na ideia de ficar tão próxima
do quarterback que há muito tempo rodeia meus pensamentos mais
impuros, faz o meu pobre coração acelerar e a garrafa d'água acabar em um
único gole. O que diabos a Abigail está aprontando? 
 
A adrenalina corre por minhas veias durante todo o jogo, meu cérebro e
meu corpo trabalham em conjunto enquanto penso em estratégias para o
nosso time ganhar aquela partida. Pra mim não importa se é apenas um
treino com meus próprios colegas de time, jogo é jogo.
 
Estamos no último intervalo, e o time laranja, o qual pertenço, está na frente
do adversário, mas sabemos que qualquer deslize pode ser prejudicial para
o nosso lado e que manter a bola conosco é essencial, não podemos perder a
posse. Oriento meus companheiros e os incentivo para terminar bem aquele
jogo, como se fosse uma final de campeonato.
 
— Precisamos de pelo menos um touchdown! Foco no touchdown! Vamos,
Gators! — abro os braços e faço o movimento da boca de um jacaré, gesto
muito comum entre nós, antes de nos posicionarmos.
 
Quando estou no campo parece que todos os gritos da arquibancada somem.
A bola precisa da minha proteção enquanto meus companheiros resguardam
o meu caminho para ser atingido. Desta forma, posso arremessar com
segurança para os recebedores.
 
Mal sinto o impacto quando um dos defensores do time adversário vem
com tudo pra cima de mim, mas antes de cair no chão lanço a bola para o
time, e não consigo ver se conseguimos alguma pontuação, já que alguns
corpos estão me prendendo no chão. 
 
Após sair debaixo deles, temos que refazer a jogada. E é assim, por meio de
tentativas, que o jogo de futebol americano se forma, mas não leva muito
tempo para alcançarmos o tão sonhado touchdown. 
 
No momento em que um dos juízes encerra o jogo, finalmente escuto a
arquibancada explodir de alegria. Eles comemoram como se fosse uma
grande final e eu volto para o mundo real. Apesar de estar com a respiração
ofegante, sinto a sensação de dever cumprido. Parabenizo todos os
integrantes do time, uma vez que todos eles são Gators.
 
O suor escorre por todo o meu corpo e tudo que mais desejo é um banho
bem gelado, mas antes de me dirigir até o vestiário, aceno para a plateia que
nos acompanhou durante aqueles 60 minutos e cantamos o hino com eles,
finalizando com uma salva de palmas.
 
— Você é foda, McCoy! — Ouço alguém gritar e abro um largo sorriso.
 
— Ótimo jogo, rapazes! — O treinador Jenkins se aproxima. — Vou passar
as análises para vocês depois do banho. Relaxem, se alimentem e me
encontrem no centro de treinamento às 3h.
 
Meus companheiros seguem agitados em direção ao vestiário, mas vou sem
pressa, antes de sentir uma mão puxando o meu braço, me deparando com a
líder das torcedoras oficiais do time, Hailey. 
 
— Parabéns pela vitória, Mike! — Um sorriso enorme está estampado em
seu rosto, enquanto o seu olhar transmite segundas intenções.
 
— Valeu!
 
— Meu convite ainda está de pé. — Um dos dedos dela desliza pelo meu
braço, antes de jogar os belíssimos cabelos ruivos por cima dos ombros. —
Se quiser relaxar, posso dar uma passadinha no chuveiro depois que os
meninos saírem.
 
Hailey sempre foi atirada, pelo jeito adora me chupar, pois sempre que tem
oportunidade sua boca está no meu pau. É difícil negar um convite desses
quando seu corpo clama por uma trepada digna de final de jogo.
 
— Estarei te esperando — sussurro em seu ouvido antes de me afastar. Sigo
para o vestiário, onde os outros jogadores, a maioria já nu, caminhava em
direção aos chuveiros.
 
O assunto sobre jogadas e táticas permanece no vestiário, enquanto enrolo
para entrar na ducha, sabendo que terei companhia. Quando a maioria já
saiu do banho, me livro de todo equipamento de proteção e da roupa suja.
Alguns hematomas das pancadas sempre aparecem, mas já me acostumei
com isso. 
 
Com a minha toalha no ombro, vou até a área dos chuveiros e ligo na ducha
gelada. Tremo com o primeiro contato, mas logo me sinto relaxado com o
atrito da água sobre minha pele. Aproveito para fechar os olhos por um
instante, permitindo-me descansar. Mas esse momento dura pouco quando
mãos suaves começam a massagear meus ombros.
 
— O meu jogador favorito está muito tenso. — A voz mansa da Hailey é
sussurrada em meu ouvido, antes da mão dela deslizar pelas minhas costas e
por fim abraçar minha cintura. — Temos pouco tempo, gatinho.
 
Isso é o bastante para me virar em sua direção e prendê-la contra a parede
gelada do chuveiro, fazendo-a soltar um gemido com o contato do azulejo
frio. Seu corpo está completamente nu, a silhueta perfeita de uma mulher
desejada por muitos. Hailey é muito linda, agraciada com os cabelos ruivos,
intensos olhos verdes e algumas sardas em volta do nariz. Engraçado que
ela pode ter qualquer homem aos seus pés, mas insiste em permanecer
correndo atrás de mim. Beijo seu pescoço ao mesmo tempo que a sinto
apertar a minha bunda, louca de desejo.
 
— Trouxe o preservativo? — pergunto perto do seu ouvido, fazendo-a
sorrir antes de abrir a mão mostrando a embalagem da camisinha.
 
Abro o preservativo com o dente e deslizo-o pelo cumprimento do meu pau,
e sem qualquer cerimônia, sabendo que ela já se preparou pra mim, levanto-
a no meu colo e encaixo-me em sua boceta com força a ponto dela arquear
as costas e gemer alto.
 
— Xiii, os outros não podem ouvi-la, ou seremos pegos neste ato proibido
— aviso, segurando-a contra a parede.
 
— Como se eles não trepassem também… Ah… — Ela não continua, já
que dou inicio as estocadas ritmadas, enquanto as unhas dela arranham
minhas costas e seus lábios ficam vermelhos de tanto que ela os aperta, se
segurando para não gritar de puro prazer. Estou prestes a gozar, então
acelero o ritmo, chegando no meu extremo. 
 
Desço-a do meu colo para buscar o ar que nos falta, mas a insaciável garota
não quer parar por ali. Não demora para Hailey se ajoelhar na minha frente,
tirar o preservativo e enfiar meu pau na sua boca. Meu corpo treme
conforme ela toca e estimula cada partezinha do meu membro, despertando
sensações nos pontos mais sensíveis do meu corpo, o qual ela já estava
acostumada.
 
Envolvo seus cabelos ruivos e molhados entre meus dedos, e não seguro em
nenhum momento os sons guturais que saem por minha garganta, pouco me
importando que alguém esteja ouvindo. Quem nunca transou no chuveiro
do vestiário quando teve oportunidade que atire a primeira pedra. 
 
Assim que meu corpo reage intensamente, ela desvia a boca, pois não curte
engolir porra e me ajuda a liberar tudo dentro de mim. A respiração volta ao
normal, me sinto relaxado e leve após aquele ardente exercício. Viro meu
rosto contra a água que cai do chuveiro, sentindo a pressão sem me
importar.
 
Hailey começa a beijar meu peitoral e meu pescoço, e eu sei o que ela quer.
Mas não darei o que ela mais deseja. A nossa relação envolve apenas sexo e
nada mais.
 
— Obrigado pelo relaxamento. — Desvencilho-me dela e saiu debaixo do
chuveiro.
 
— Por que você não me beija, McCoy? — pergunta cruzando os braços,
revoltada. — Venho aqui, dou pra você, e é dessa forma que me retribui?
 
— Eu não te obriguei a nada, Hailey. — Pego minha toalha e a envolvo ao
redor da minha cintura. — Você queria ser comida, e eu comi você, e é isso
que posso te proporcionar.
 
— Você é um grande babaca! — resmunga antes de se enrolar em uma
toalha e sair por onde entrou.
 
Eu sei que ela volta, ela sempre volta. Hailey faz todo esse drama porque
ela me quer como seu namorado oficial, o qual ela pode exibir como um
troféu pela universidade inteira, dizendo para todos que está namorando o
capitão do time de futebol americano e um dos caras mais ricos que residem
aqui. Essa fama atrai mulheres interesseiras o tempo todo.
 
Já o lance de beijar era algo mais pessoal, para mim o beijo era algo íntimo,
envolvia muito mais os sentimentos do que uma transa. Através do beijo
sinto sensações além do explicável, o sexo é só um complemento para o
relacionamento. Por isso eu não saia beijando todo mundo, isso somente
acontecia quando algo dentro de mim mexia por aquela pessoa. Eram raras
as ocasiões que eu me permitia fazer isso.
 
Abro o meu armário e tiro algumas mudas de roupa para passar o resto do
dia. Preciso retornar ao centro de treinamento para continuar a minha rotina
de estudos, treino e academia, mas antes de fechar a porta olho para a foto
do meu pai. Ele e eu estávamos em uma partida do New England Patriots,
foi no dia do meu aniversário de dez anos, um ano antes dele falecer devido
a um câncer de intestino.
 
Passei a gostar de futebol americano porque era isso que meu pai mais
amava além da empresa, da minha mãe e de mim. Ele fazia questão de
voltar pra casa para assistir à partida na televisão. Nessas ocasiões, eu me
reunia com ele no sofá e torcíamos como se estivéssemos no estádio. Houve
momentos que ele me levava em partidas ao vivo em Boston, onde eu
morava antes de vir definitivamente para a Flórida.
 
Ainda me lembro quando cheguei nele falando que havia conseguido entrar
no time da minha escola aos onze anos. Ele fez uma festa na empresa
dizendo que eu seria a próxima estrela do futebol, e ganhei uma chuteira
muito maneira para usar nos meus jogos. Pelo menos ele conseguiu assistir
a minha estreia no time. Naquela época eu não era destaque e sim um
novato, mas por sorte o treinador Parker me colocou na linha de defesa. Foi
a única vez que meu pai me viu em campo, porque depois disso a sua
doença piorou drasticamente.
 
Foi difícil entender como em poucos meses ele teve uma recaída, indo logo
para um estado vegetativo em um curto período. Só descobri que ele tinha
câncer quando sua doença estava avançada, era um segredo dele com a
minha mãe, eu não tinha noção do que meu pai sentia.
 
Quando ele passou a ficar em casa, toda vez que eu chegava da escola fazia
questão de dedicar todo o meu tempo disponível ao seu lado em seu quarto,
e algo na minha cabeça ainda tinha esperança de que ele iria melhorar, que
era somente uma fase. Mas depois que a gente cresce, e entende melhor da
realidade, é que a ficha cai. Algumas doenças são difíceis demais de
combater. 
 
— Obrigado, pai — sorrio para a foto antes de fechar o armário.
 
Começo a me arrumar, pois o meu foco é treinar para conseguir ganhar o
Orange & Blue Game que acontecerá em breve, sendo este um grande
evento na universidade que atrai milhares de fãs e alunos. E o treino de hoje
é apenas um de muitos que vem acontecendo nesse período.
 
Assim que saiu do estádio, caminho para o centro de treinamento a alguns
prédios dali. No trajeto vejo Chris conversando com uma mulher de
ascendência oriental, os cabelos curtos e repicados dela dão um ar sensual
enquanto joga charmes para o meu amigo. Tadinha, mal sabe ela que ele
tem uma extensa lista de conquistas.
 
O ar-condicionado me recepciona assim que abro a porta, as cores laranja e
azul se destacam nos móveis e no espaço em contraste com as paredes e
pisos brancos que estão sempre impecáveis. O enorme jacaré que é o
símbolo do nosso time está em destaque na entrada, enquanto palavras
motivacionais estão ao nosso redor.
 
Alguns dos meus colegas estão no refeitório que sempre disponibiliza
comida saudável e balanceada aos atletas da casa. A área de atletismo
atende, além do futebol americano, os jogadores de beisebol, basquete,
vôlei, ginástica, natação, tênis, hóquei e outros. É um exemplo de local para
todos os atletas, de todos os gêneros, de uma das melhores universidades
para esportes do país.
 
— E aí McCoy, vem pra cá! — Kyle chama e eu me junto a eles. —
Fizemos um ótimo jogo, né?
 
— Ainda temos alguns pontos para melhorar — confesso roubando um
morango do prato de Harry. — Mas estamos no caminho!
 
— Você acha que o treinador vai falar sobre isso?
 
— Com certeza! Ele observou o desempenho de cada um na partida, vai nos
apontar onde temos que melhorar — observo um grupo de meninas do vôlei
chegando no refeitório. — Ele não será tão rígido porque estamos
competindo entre nós no Orange & Blue, mas quando chegar a temporada
de jogos com outras universidades, o treino se tornará intenso.
 
— Eu ainda nem consegui entregar meus trabalhos das outras matérias —
reclama Harry tomando um longo gole de suco natural que parece ser de
laranja. — E as fraternidades da UF decidiram se unir neste fim de semana
para fazer um baile de máscaras…
 
— Por que vão fazer um baile em cima da hora? — pergunto olhando um
por um.
 
— Por conta do desastre natural lá no Texas, todo mundo quer juntar o
maior volume de comida para enviar para as famílias desabrigadas. — Kyle
explica.
 
— E onde será essa festa solidária? Porque vamos ser sinceros, está longe
de ser uma festa certinha — brinco antes do meu olhar voltar a se dirigir
para as pernas da capitã do time de vôlei, que vire e mexe abre um sorriso
na minha direção.
 
— Vai ser lá no prédio de uma das fraternidades. Mas estão dizendo que
assim que terminar o horário permitido, todos vão para um galpão em
Gainesville — conta Harry comendo o último morango. — Lá que a
verdadeira festa começará!
 
— O que os estudantes não fazem para farrear longe dos olhares dos
professores, não é? — Kyle zoa, fazendo a gente rir.
 
— Nada melhor do que uma festa para dar uns amassos! E será de máscara,
então podemos ir a caráter e nos beneficiar dela por causa de todo o
mistério, se perguntado: "tô pegando quem?". Sair um pouco da rotina
certinha da vida de um atleta é tudo que preciso. — Harry comenta
animado. — Vai ser muito divertido!
 
— É… esse baile veio para esquentar as coisas, faz tempo que não
quebramos as regras — pisco para a capitã que toma um gole de sua bebida
antes de retribuir.
 
— Olha o garanhão agindo! — Kyle solta olhando para os outros rapazes
presentes em nossa mesa. — Sejam confiantes quem nem o nosso capitão,
que a noite será nossa rapaziada!
 
Já estou ansioso para este fim de semana fora do planejado, quem sabe
assim recupero a energia e claro, me divirto um pouco.
Fuço o meu guarda-roupa em busca de algo legal para vestir na festa
daquela noite, mas a grande maioria das roupas que eu trouxe da minha
casa não combinam com o tema: baile de máscaras. Estou prestes a desistir
quando Abigail aparece segurando sacolas em nosso dormitório.
 
— Trouxe nossas máscaras! — anuncia cantarolando. — Elas são tão
misteriosas que ninguém vai saber quem é a gente.
 
— Amiga, acho que não vou… 
 
— Como assim não vai? — rebate irritada.
 
— Não tenho roupa pra isso! Meus vestidos não combinam com o tema —
explico apontando para os cabides à minha frente.
 
— Tenho a solução! Após sair do Walmart para comprar os alimentos que
serão nossas entradas, passei na Ross para achar um salto alto e encontrei
dois vestidos baratíssimos e lindos para usarmos! — Ela estende a sacola da
loja de departamento. — O seu é o vestido azul, para combinar com sua
máscara.
 
Abro a sacola e encontro um vestido vinho e outro azul-escuro. Ao pegar o
meu deparo com um tecido bem gostoso que lembra veludo, alguns brilhos
dão um toque especial, suas mangas são longas apesar de ser curto e pra
finalizar tem um belo decote.
 
— Vamos, vista-se pra ver se fica bom em você! — incentiva tirando as
máscaras de outra sacola, uma mais linda do que a outra, cheia de detalhes
na confecção.
 
Desfaço do meu moletom com emblema da universidade e coloco o vestido
que serve perfeitamente, o decote em v realça o meu busto, dando destaque
aos meus seios que não são tão pequenos assim. Não tenho costume de
evidenciá-los como este vestido está fazendo, mas gosto do que vejo no
reflexo do espelho.
 
— Sabia que você iria ficar gata nesse vestido! Foi um achado incrível e custou apenas 25 dólares!
— Abigail pega o dela, que diferente do meu não possui um decote, mas é
muito mais curto, justo ao corpo e parece de couro. — Pronta para arrasar
nesta festa?
 
— Pronta!
 
Não sei de onde vem a confiança, mas gosto quando ela está presente em
momentos que eu poderia simplesmente me enfiar embaixo das cobertas e
relutar em ir. Como uma fada madrinha que está ali para te incentivar e
dizer que nem tudo está perdido. Às vezes ter a coragem de se aventurar um
pouco é o caminho para descobrir novos feitos.
 
Deixo que Abigail passe maquiagem em mim e eu fico responsável por
cuidar dos penteados dos nossos cabelos. O dela por ser curtinho é mais
fácil, mas o meu que é longo precisa de mais cuidado, então o deixo meio
preso com uma pequena trança. Após terminarmos de nos arrumar, não
acredito no que vejo diante do espelho.
 
— Uau! Arrasamos! — Ela grita animada alisando o vestido com decote
nas costas.
 
As máscaras, que são da cor de nossos vestidos, cobrem boa parte do rosto,
dando um ar de mistério. As pessoas não irão nos reconhecer, apenas se
forem muito próximas.
 
— Adeus a vida de cientista por um fim de semana! — Abigail bate na
minha bunda antes de pegar as sacolas com os alimentos para doação.
 
Ajeito a dupla de presilhas de delicadas borboletas que ganhei da minha
mãe no meu cabelo, antes de pegar nossas bolsas de lado e acompanhá-la.
No caminho para fora dos dormitórios, encontramos outras pessoas vestidas
a caráter parecendo bem felizes com o evento. 
 
Sinto alguns olhares em mim, mas evito olhar de volta, mas alguns caras
não têm medo de assobiar quando nós duas passamos por eles conforme
saímos do dormitório estudantil. Levaríamos 25 minutos andando até o
local da festa, mas como todo bom americano o carro é as nossas pernas,
sendo uma necessidade para quem vive na Flórida. Então, seguimos até o
estacionamento para pegar o Nissan Versa de Abigail.
 
— Não sei porque você vai de carro sabendo que vai beber — comento
entrando no lado do passageiro.
 
— Amiga, a festa começa aqui e termina em outro lugar, onde precisaremos
ir de carro. Eu sei que você adora a sua bike, mas hoje vamos chegar como
todo mundo! — Ela liga o motor do carro automático e em poucos minutos
já estamos em frente a uma das mais populares casas da fraternidade,
tentando achar uma vaga, é claro.
 
Dentro do carro, observo várias pessoas caminhando para as dependências
da fraternidade que de fora parece bem comportada, mas basta entrar nela
que uma imensa mansão cheia de lugares diferentes se revela. São raras às
vezes que as fraternidades se juntam, sempre houve uma rivalidade entre
elas, pois cada uma quer ser a melhor da universidade, mas hoje estão
fazendo algo em prol do bem maior, e somente por algumas horas os líderes
terão que se juntar.
 
Eu nunca tive interesse em participar de uma fraternidade, sinceramente é
algo que não me agrada. Mas hoje entrarei em uma delas apenas porque
está liberado pra todo mundo, senão, nem poderia colocar os meus pés ali.
Por isso os estudantes mais curiosos estão vestindo suas melhores roupas e
as mais diversas máscaras.
 
— Qual é o plano? — pergunto para Abigail assim que ela desliga o carro.
 
— Divirta-se!
 
— Além disso, como… — Tomo coragem para dizer. — Como vou
conseguir me aproximar do Mike?
 
— Aproveite a noite sem se preocupar com isso, quando acontecer você
nem vai perceber. — Ela continua mantendo o mistério antes de sair do
carro, eu a acompanho.
 
— Você não está me enrolando não né? — encaro minha amiga por cima do
capô do carro. — Você não me arrastou pra essa festa apenas para me tirar
do dormitório com esse pretexto de que vou ficar com ele.
 
— Bom, meu objetivo sempre é te tirar da sua zona de conforto. — Ela
ativa o alarme. — Mas fique tranquila e confie em mim, amiga. — Agarra o
meu braço me levando em direção ao casarão que já denuncia a música alta
e dançante.
 
Ao chegarmos no lounge onde eles conduzem as festas, entregamos os
alimentos para uma das integrantes da fraternidade e seguimos para dentro,
encontrando uma enorme sala toda enfeitada e com várias pessoas
dançando. A casa, que possui mais de dois andares, está cheia de gente ao
som eletrizante da música eletrônica tocada pelo DJ. Me sinto deslocada
naquele ambiente conforme sigo minha amiga, desviando das pessoas que
parecem estar felizes ao extremo por vivenciar aquele momento “único”.
Não duvido que além do álcool, a maconha esteja à solta por aqui, o cheiro
comprova minha teoria.
 
— Vamos pegar uma bebida! — Abigail fala alto apontando para o
tradicional ponche em um canto da sala.
 
Não tenho muito costume de ir em festas, até mesmo no ensino médio eu
evitava ir pelo simples fato que poderia acabar sozinha sentada em um
canto da casa enquanto observava minhas amigas ficando com os carinhas
que gostava. Já na universidade, durante esses três anos, fui arrastada por
Abigail para ir em algumas festas clandestinas, eventos próprios da
universidade, e algumas ações solidárias. Gostava mais de ir ao barzinho do
que me enfurnar nesses locais cheios de gente.
 
Já na questão de garotos. Bom, eu não era a maior pegadora, mas as
chances que tive de ficar com alguém foi durante os encontros nerds que
ocorriam no campus e fora dele. Conforme fiquei mais velha, avancei o
sinal em questão de permitir que me tocassem de forma mais íntima, pois
eu estava curiosa para saber qual era a sensação. Alguns foram um desastre,
outros sabiam muito bem o que fazer com os dedos. Mas nunca fui além
disso, pois eu me tornei uma mulher que não se interessava fácil por
alguém.
 
Aos quinze anos, tive uma decepção amorosa tão grande que chorei em
posição fetal por meses após ser traída pelo meu ex-namorado. Eu disse pra
ele que me entregaria quando me sentisse pronta, e ele dizia que iria me
esperar e que estava tudo bem, mas algo me bloqueava e eu não conseguia
avançar. A timidez me atrapalhou demais naquela época. Então, um dia,
resolvi fazer uma surpresa e o peguei transando com outra garota em seu
quarto. 
 
Por conta disso, coloquei de alguma forma na minha cabeça que “homens”
serviam apenas para beijar e dar uns amassos, que eles não mereciam a
minha virgindade. Mas tudo mudou quando vi Mike McCoy correndo no
campus e um desejo se apossou de mim de tal forma, que eu disse pra mim
mesma que se eu tivesse uma chance com ele, eu cederia. 
 
Os anos foram se passando, eu não tomei nenhuma iniciativa. Primeiro
porque soube que ele tinha namorada, e depois por pura covardia mesmo, e
o resultado disso foi que nada aconteceu. Além do desejo de tê-lo, comecei
a nutrir sentimentos pelo quarterback, criei uma paixão por ele, mesmo que
a gente nunca tenha se sentado para conversar. Pode ser que eu esteja me
iludindo com uma imagem que criei dele, mas… por outro lado, eu queria
de fato ter essa chance para comprovar ou me surpreender.
 
— Conversando com o Chris, ele me disse que a fraternidade disponibilizou
uma das salas para eles no andar de cima. — Abigail fofoca enquanto nos
afastamos do ponche já batizado.
 
— Mesmo você conhecendo ele, não quer dizer que conseguiremos ficar
com os atletas nessa sala VIP. — Tomo um gole do ponche com gosto de
vodca.
 
Atletas, desde o tempo de colégio, são vistos sempre como ídolos por toda
uma geração. Mesmo que eu entrasse na tal sala, duvido que o Mike olharia
sequer pra mim, principalmente com a Hailey que insiste em sentar no colo
dele sempre que estão em público. Eu sei que os dois não namoram, não
oficialmente, mas meu crush tem a fama de pegador, já ficou com várias
garotas do campus que chamaram a sua atenção. 
 
Não vou negar que queria ser uma dessas sortudas, que ele me olhasse
apenas uma vez, que me enxergasse de verdade, que de alguma forma me
desejasse como eu o desejo, e quem sabe, eu me tornasse alguém
importante na sua vida, não apenas uma paquera.
 
— Vou ali rapidinho, fica aqui que eu te encontro! — Abigail anuncia em
meu ouvido, e se afasta antes que eu diga qualquer coisa.
 
Olho em volta, as pessoas estão concentradas em suas próprias danças, e
como sempre não sei como me sair sem estar na presença de alguém. Até
que um rapaz alto e forte se aproxima de mim, não sei quem é, mas pelo
tom de sua voz, já tomou todas que teve direito.
 
— E aí gostosa, vem dançar comigo! — Ele puxa meu braço, tento me
desvencilhar, mas é em vão, ele é mais forte do que eu.
 
— Me larga! — ordeno, mas ele não me escuta, o empurro, mas ele insiste
em avançar. O desespero começa a tomar conta de mim. Esse era um dos
motivos pra eu odiar festas assim, a falta de respeito.
 
— Solta ela cara! —  A voz inconfundível de Mike soa atrás de mim, antes
de ver o braço dele empurrando o grandalhão para longe.
 
— Ah, já vem você McCoy, querendo todas as meninas da festa! —
reclama o grandalhão. —  Ninguém te chamou, eu e ela estamos nos
divertindo.
 
— Você está importunando ela — diz sem rodeios. — Você conhece esse
cara, moça?
 
Nego com a cabeça, sentindo meus ombros encolherem, principalmente
quando sinto o peitoral dele bem nas minhas costas, fazendo-me prender a
respiração.
 
— Vai procurar outra que te queira, Roosevelt. — O tom sério e intimidador
de sua voz faz o homem cambalear e ir para longe.
 
Sinto a mão de Mike apertar de leve meu ombro, antes de me virar em sua
direção, e me deparar com o meu crush usando uma camisa social preta
entreaberta, uma calça jeans escura e uma bela máscara preta que não
esconde tão bem o seu rosto, diferente da minha.
 
— Você está tremendo, vem, vamos para um lugar menos agitado. — A
mão dele segura a minha, e uma corrente elétrica me envolve por inteira.
Sentir sua mão na minha é indescritível. Preciso me controlar, preciso focar
em não parecer uma garotinha indefesa. Essa é a minha chance, não posso
desperdiçar.
 
Vamos para um canto da casa onde apenas abajures estão ligados e ele me
conduz até uma poltrona vaga, sentando-me ali.
 
— Tá na cara que você não tem costume de vir a essas festas. — Ele ri
assim que se ajoelha na minha frente.
 
— Pra ser sincera, eu não curto muito — respondo tomando o restante do
meu ponche, deixando que o álcool me dê mais coragem.
 
— Então você veio acompanhar a sua amiga, que te largou no meio do
caminho — analisa enquanto mantém sua atenção em mim.
 
— Ela foi encontrar alguém, e fiquei esperando. Até aquele cara aparecer
e… por que homens são assim, gostam de tudo na força? — Solto
apertando o copo vermelho em minhas mãos.
 
— Querem se sentir superiores. Ao invés de chegar em uma linda mulher
como você e puxar papo, só pensam no jeito de domá-la — responde e eu
sinto meu rosto esquentar… ele me chamou de linda! Escutei isso mesmo?
Mike McCoy me chamou de linda?
 
— Que bom que há homens atentos a babacas! Mas a grande maioria fica
olhando e não faz absolutamente nada para defender — analiso. —
Obrigada por me defender, Mike.
 
— Então você sabe quem sou eu! — Ele ri.
 
— Impossível não saber, você é um dos caras mais populares da
universidade. — Trocamos sorrisos.
 
— Achei que essa máscara serviria de alguma coisa, esse lance todo de
mistério, da gente não saber quem é quem. — Sua risada é contagiante,
fazendo borboletas se agitarem em meu estômago.
 
— Convenhamos que você não comprou uma máscara tão misteriosa assim.
— Interfiro analisando a máscara preta e simples que moldam seus olhos
acinzentados. — Na verdade, você não se escondeu tanto, é bater o olho em
você que todo mundo saberá quem é. Diferente de mim.
 
— Concordo que você está realmente cheia de mistérios, não consigo
decifrar quem é você. — Os olhos dele me analisam, e sinto meu corpo
inteiro esquentar apenas com aquela troca de olhares.
 
— Sou apenas uma simples estudante. Não ando no seu círculo de amigos e
não estou inserida no atletismo — respondo desviando meu olhar. Ninguém
na festa parece interessado em nós e isso acalma meu coração, apenas um
pouco confesso, porque bastava olhar de novo pra ele para as batidas se
intensificarem.
 
— O mesmo ciclo acontece na universidade, é como se estivéssemos
revivendo o colégio, só que de um jeito mais avançado. Saímos de casa,
estamos morando nos dormitórios sem a supervisão de nossos pais, criamos
nossas próprias regras, não precisamos mais festejar escondidos, lidamos
com a vida de adultos ficando cada vez mais ocupados com as nossas
responsabilidades. Mas o clube dos favoritos permanece intacto. — Ele
pega o copo de minha mão, o qual não percebi que estava destruído.
 
— Mas diferente da escola, que era um grupo muito seleto, aqueles que não
são populares tem a chance de se destacar na sua área. — Encontro
coragem para encarar seus belos olhos, dando espaço para que se sente
comigo na poltrona que tem dois lugares.
 
— E eu posso saber de qual área você é nesta imensa universidade? —
pergunta aceitando o convite. Seu corpo ocupa todo o espaço, sua perna
encosta na minha, elevando as batidas do meu pobre coração. Parece um
sonho tê-lo pertinho assim de mim, como também sinto uma sensação boa
ao saber que ele continua interessado em conversar comigo.
 
— Bom, pra manter o mistério, não vou revelar exatamente o que faço —
digo olhando-o de relance. — Mas sou da área de ciências puras.
 
— Então quer dizer que tenho uma mulher muito inteligente comigo! —
Mike leva a mão ao queixo, pensativo.
 
— Eu me esforço pra ser! — comento fazendo-o se virar para mim.
 
— Se você está estudando aqui, é porque você é inteligente! Sem sombra de
dúvidas! — incentiva como um líder nato que ele é. — Pra você ter noção,
eu sempre fui péssimo nas minhas aulas de laboratório, tive que ralar no
ensino médio para ter um ótimo boletim, era bem difícil pra mim. Eu amava
matemática, sempre me dediquei a entender os números, principalmente por
conta do futebol, mas quando envolvia outras matérias, puff! — rimos. —
Mas né, eu precisava manter um currículo aceitável, mesmo que não fosse
concorrer a uma bolsa, afinal eu não poderia tirar essa chance de outra
pessoa devido minha condição. A mesma coisa aqui na universidade, eu não
posso me dar ao luxo de ser bom apenas no futebol, quantas vezes vi atletas
perderem bolsas porque não se importavam com as outras matérias,
achando que iriam apenas se formar como jogador.
 
— É, saímos da escola imaginando mil coisas da universidade, mas só
estando aqui pra entender que é dureza. Não é porque estamos mais livres
que as coisas serão mais fáceis — concordo entrelaçando minhas mãos,
sentindo seu olhar em mim. — Você é muito esperto, Mike. Tenho certeza
de que se daria muito bem em qualquer área! Mas o seu lugar é no campo,
orientando toda uma equipe e bolando as estratégias mais mirabolantes
possíveis pra ganhar. Isso o torna inteligente também, você ganhou esse
posto pelo seu talento e dedicação, e está sendo bem recompensado por isso
— elogio, fazendo-o sorrir de canto, antes dele desviar o olhar para a sala
cada vez mais lotada com casais dançando agarrados.
 
Tenho a sensação de estar puxando o saco dele e não sei se isso é o
princípio do fim da nossa conversa. E eu estou longe de saber flertar, os
garotos que fiquei sempre tomaram a iniciativa, não eu.
 
— Você deve ouvir isso de muita gente — solto sem pensar.
 
— Não, poucos me falam isso — diz, balançando a cabeça de leve. —
Quando você é o centro das atenções, é preciso tomar certos cuidados com
aqueles que querem te derrubar. Por ser o quarterback oficial do Florida
Gators e capitão do time, acabo chamando muito a atenção. Também não
duvido que os reservas ou os outros estudantes que ainda não fazem parte
do time, pensam em relação a isso e o quanto desejam o meu lugar. Temos
todo um time, mas não quer dizer que não sou insubstituível. 
 
— Você já está fazendo história no Gators, e ainda irá fazer muita história
fora dele. — Apoio minha mão em sua perna, dando um leve aperto de
conforto, mas logo me arrependo do gesto, afastando-a. — Desculpe — falo
sem jeito. — Enfim, toda fama tem um preço. Se o seu desejo é se tornar
um jogador profissional, isso já é um preparo para saber que você precisará
enfrentar muitos obstáculos para se estabilizar em um time da Liga. Que
haverá aqueles que apostam no seu sucesso e aqueles que querem ver sua
queda o mais rápido possível. — Quando dou por mim tagarelei mais do
que a minha própria boca, maldito nervoso. — Desculpa, quem sou eu pra
falar isso, né?
 
Mike, que estava olhando para mim, aproxima sua mão assim que uma
mecha do meu cabelo insiste em cair sobre os meus olhos, devido à
inquietação causada pelo nervosismo. Ele coloca-a atrás da minha orelha,
fazendo-me prender a respiração ao mesmo tempo em que sinto o aroma
amadeirado do seu perfume.
 
— Engraçado — começa ainda se mantendo próxima —, já falei com tantas
mulheres, mas nenhuma delas conseguiu parar pra me ouvir ou analisar o
que faço… Geralmente elas querem inflar o meu ego, dizendo que sou o
melhor, que sou um gostoso, mas se esquecem que eu já sou autoconfiante
o bastante e que não preciso disso.
 
— Desculpa, eu… — digo sem jeito remexendo no meu lugar. Merda o que
foi que eu fiz?
 
— Você não fez nada de errado, moça misteriosa — interrompe. — Sabe o
que elas falam? “Você é foda McCoy, não há quarterback melhor que você,
você é capitão mais sexy e gostoso dessa universidade” e por aí vai. Duvido
que se eu fosse outro estudante, de outra área, iriam falar assim comigo, ou
estariam interessadas em analisar a nossa vida universitária.
 
— Você é muito lindo, Mike, não importa a área, você iria receber esses
elogios e teria garotas aos seus pés! — E minha tagarelice ataca novamente.
— Merda! — Desvio o meu olhar do dele, escondendo o rosto. Escuto a sua
risada, devo ter estragado tudo.
 
— Agradeço a sua sinceridade — sinto a sua mão pegando as minhas,
afastando-a do meu rosto. Quando volto a abrir meus olhos, ele está mais
próximo de mim.
 
— Acabei de agir como as outras garotas, né?
 
— Diferente delas, você não disse logo de cara para me conquistar. — Seu
olhar desvia do meu e para em minha boca, meu coração dá um salto… meu
Deus, vai acontecer? — Você realmente não vai me dizer o seu nome?
 
— Pra acabar com o mistério da festa? — aconchego-me no encosto da
poltrona, tentando de alguma forma parecer sexy. — Você pode me achar
tão sem graça e sem sal, prefiro manter o sigilo.
 
— Você não é nada disso, moça misteriosa. — Ele se curva um pouco, sua
mão agarra minhas pernas, apoiando-as sobre as suas. Meu corpo inteiro
entra em chamas com aquele pequeno gesto. Mordo os lábios, tentando
controlar minha respiração, mas já que a iniciativa veio preciso ter coragem,
então envolvo uma das minhas mãos em sua nuca, acariciando aqueles
cabelos que eu sempre desejei tocar. Ele aprova o carinho, sorrindo de um
jeito tão sexual que me excita. O seu hálito quente causa um arrepio bom
quando fala no meu ouvido com sua voz rouca, o que me desperta mais
tesão. — Aposto que você é especial e muito interessante.
 
Então, aquilo que eu sempre desejei, acontece. 
 
Os lábios de Mike primeiro encontram o meu pescoço, trilhando um
caminho gostoso até a minha boca, iniciando ali um beijo devagar e ao
mesmo tempo sedutor. O toque de sua barba em contato com a minha pele
causa uma sensação maravilhosa por todo o meu corpo. Sua boca explora o
gosto do meu lábio inferior e depois o posterior, antes dele pedir permissão,
buscando pela minha língua. Parece uma explosão quando entrelaçamos
uma na outra em um ritmo lento e extraordinário. Sugo-a sem qualquer
pressa, aproveitando cada segundo enquanto minhas mãos envolvem suas
costas, me perdendo entre os seus cabelos macios, sentindo suas mãos
apertando minha pele de um jeito voraz.
 
Ele se afasta um pouquinho, apenas para puxar meus lábios de forma
provocativa. Um gemido denúncia o que estou sentindo, fazendo-o sorrir
antes de me beijar mais profundamente, despertando cada vez mais
sentimentos que guardava apenas para mim.
 
Eu não sei explicar o que acontece no meu interior, pois meu coração está
batendo tão descompassado que tenho receio que ele perceba. Um arrepio
bom e gostoso percorre pelo meu corpo ativando tudo que tem direito. Sinto
minha intimidade pulsar, louca por um contato. Minha mente está um
turbilhão, imaginando diversas possibilidades, pois desde o primeiro
momento que o vi correndo pelo campus, sem saber que ele era um
quarterback, esse rapaz não saiu mais dos meus pensamentos. 
 
Sou incapaz de me afastar deste beijo viciante. Tudo que eu mais quero, é
me perder em seus braços e ficar assim com ele por horas a fio, sem me
preocupar com o amanhã.
 

Essa moça misteriosa, de sorriso delicado e olhar intenso, sem esforço


algum, conseguiu despertar o meu desejo de beijá-la como há muito tempo
eu não fazia com nenhuma mulher. 
 
O gosto de seus doces lábios me deixa hipnotizado, não quero me afastar
dela, desejando ficar minutos ou até mesmo horas em uma troca intensa.
Meu corpo reage ao seu carinho em minha nuca e o seu jeito amável de me
domar. Conforme o tempo passa, partirmos para um beijo mais selvagem e
bruto.
 
Ela, que eu ainda não sei o nome, é a definição de mulher que me atrai. Ela
pode até me querer, mas não é do tipo atirada, e só o fato dela saber
conversar, sem a cada dois minutos me chamar de gostoso ou me olhar com
segundas intenções, é um bônus, uma raridade.
 
Quando a vi sendo encurralada daquela forma pelo Roosevelt e percebi seu
desconforto através da sua linguagem corporal, precisei ir ao seu encontro.
Aprendi a ler esses sinais ainda com minha mãe, principalmente depois que
ela começou a se envolver com outros homens após o falecimento do meu
pai, desde então se presencio essas cenas, arrumo um jeito de ajudar.
 
Agora essa moça está aqui, em meus braços, e porra, como é bom sentir o
gosto da sua boca! Sinto uma sensação diferente percorrer por minhas
veias, a enorme vontade que tenho de me fundir a ela como um só é difícil
até de explicar. Quando digo que beijos são perigosos, é disso que estou
falando, desse sentimento que brota em você quando você menos espera.
 
Assim que busco o ar que falta em meus pulmões, mantenho nossas testas
coladas uma na outra. Abro os olhos por um momento para encontrar seu
semblante alegre antes de seus olhos castanhos abrirem e encontrarem os
meus. Ela me observa com carinho através daquela máscara que está
camuflando boa parte do seu rosto, mas que eu aposto que tem uma beleza
pura por trás.
 
Desvio meus lábios para o seu pescoço, distribuindo beijos antes de me
encaminhar para o decote em v que realça seus seios, aperto um deles com
delicadeza e aquele simples movimento a faz erguer o quadril. Aquilo é o
bastante para eu saber que está tão excitada quanto eu.  Volto a beijar e
mordiscar seu pescoço, antes de sussurrar em seu ouvido.
 
— Eu quero muito foder você, moça misteriosa — mordo o lóbulo de sua
orelha. —  Com todo o respeito, é claro. — Sua risada faz seu peito se
mexer embaixo de mim.
 
— E eu quero muito você dentro de mim, Mike — encontro seu olhar. —
Merda, não sei de onde tirei coragem pra falar isso.
 
— Fale mais! — incentivo, voltando a beijar seu queixo. — Seja boca suja,
confesse seus desejos mais sórdidos.
 
— Estou encharcada depois do nosso beijo — revela de um jeito tímido. 
 
Antes que ela diga qualquer coisa, ajeito-a no sofá curvando meu tronco
numa posição discreta pra evitar curiosos e apago o abajur próximo da
gente.
 
Seu olhar me analisa, e mantendo o nosso contato visual, afasto um pouco
suas pernas, um gemido baixinho ressoa por seus lábios antes mesmo de
enfiar minha mão por debaixo de seu vestido de veludo, sentindo a sua
calcinha, comprovando o que ela disse, antes de empurrar o tecido para o
canto e meu dedo invadi-la com vontade espalhando seu mel. Ah como
queria prová-la!
 
Ela morde os lábios para evitar um grito quando a penetro com um único
dedo, levando-a a esconder o rosto no meu ombro. Sua respiração fica cada
vez mais ofegante, seguro sua cintura, pois conforme a estímulo, ele cria
vida própria, até o momento em que me implora. 
 
— Transe comigo, Mike. Me satisfaça a ponto de não saber onde estou.
Faça eu saber que tudo isso não é um sonho, e que não vou acordar no meio
do caminho. 
 
Observando ao nosso redor, noto que as pessoas parecem pouco se importar
com a nossa presença, pois estão aproveitando tanto quanto a gente. No
entanto, noto que há uma porta próxima à nossa poltrona. Parece-me um
local onde, geralmente, guardamos as nossas bagunças. Antes que qualquer
pessoa perceba, pego na mão dela ajudando-a se levantar e giro a maçaneta
que abre sem dificuldades, o ambiente está escuro, mas a puxo para dentro
do local, trancando-nos lá dentro.
 
— Mike… — ouço-a me chamar, um pouco receosa. 
 
Procuro um interruptor, mas sinto algo bater na minha cabeça e me deparo
com uma cordinha no ar, assim que a aciono, uma luz neon roxa liga, e o
suposto quartinho da bagunça se revela um lugar erótico, com um sofá,
desenhos obscenos e até lubrificantes. Olho incrédulo para aquela cena, já
tinha ouvido falar desses quartos nas fraternidades, mas nunca aconteceu de
eu dar de cara nele. Encontro o olhar dela e nós dois começamos a rir.
 
— Acho que esse quartinho é para casais desesperados. — Volto-me para
ela que está tão impressionada quanto eu. — Não tenha medo — envolvo o
seu rosto, depositando um beijo em seus lábios enquanto uma música
sexual toca do lado de fora. — Você ainda quer? Podemos parar… 
 
— Quero, nossa, como eu quero! — Seu braço envolve minha nuca,
puxando-me para um beijo intenso que acende mais ainda o fogo que está
nos consumindo.
 
E essa é a deixa para pressioná-la contra a parede daquela salinha. Ainda
com os nossos lábios selados e ansiosos, puxo o seu vestido até a cintura,
arrebentando o tecido de sua calcinha, antes de me afastar para abrir o zíper
da minha calça para colocar o meu pau já ereto pro lado de fora. 
 
Quero-a tanto que nem me preocupo com o preservativo. Puxo uma de suas
pernas ao encontro do meu corpo, e começo a atiçá-la com a minha glande
por toda sua extensão molhada, enquanto suas unhas se afundam nos meus
ombros e suas costas arqueiam de prazer com o contato de pele na pele. E
mesmo assim, continuamos nos beijando.
 
Procuro sua entrada, que para a minha surpresa é bem apertada, mas vou
devagar, fazendo-a aceitar-me gradualmente dentro de si. Ela arfa com o
contato, apoiando a cabeça em meus ombros conforme entro cada vez mais.
Um gemido baixo e contínuo se intensifica, diferente de outras mulheres
mais fogosas que me querem rapidamente a ponto de deslizar mais rápido,
com ela o processo é mais lento.
 
— Tá tudo bem? — Aliso seus longos cabelos, sentindo suas paredes
internas me apertarem cada vez mais, me causando uma sensação
maravilhosa de puro prazer. Então minha ficha cai, quando as unhas dela
afundam com força contra meu ombro. Aquilo não é gemido de prazer, ela
está sentindo dor. — Você é virgem…
 
Ao dizer isso ela encontra o meu olhar e não é preciso dizer mais nada, pois
neles estão a comprovação da minha afirmação, ao mesmo tempo que sinto
uma onda de êxtase tomar conta de mim.
 
— Só continue, Mike. — Sua mão volta a acariciar a minha nuca, causando
uma sensação gostosa no meu corpo. — Eu quero você, me permita sentir. 
 
— Eu também quero. Mas… você está bem nessa posição?
 
Ela confirma acariciando meu rosto, procuro qualquer incerteza em seu
olhar, mas tudo que vejo neles é a mais pura entrega. Deste modo início
com movimentos lentos com medo de machucá-la. Beijo sua boca mesmo
que ela gema por entre meus lábios, e assim vou aumentando a velocidade
das estocadas. Não nego que sentir a sensação de pele contra pele me
enlouquece, mais ainda com a boceta dela me pressionando daquela
maneira. Aproveito para apertar a sua bunda, aumentando mais ainda a
fricção e o contato de nossos corpos. Tenho cada vez mais um prazer
extraordinário. 
 
— Mike… — Sua voz falha, seus olhos reviram nas órbitas, sua respiração
se descontrola cada vez mais naquele ambiente que está pegando fogo.
 
— Pode gritar, não tenha vergonha ou medo de expressar o que sente —
começo a meter mais fundo, observando um fio de suor escorrer da sua
testa antes de sentir suas mãos apertarem com força minhas costas, e esse
incentivo é o bastante para ela gemer alto, me arrancando um enorme
sorriso. — Isso, gatinha, mostre o quanto você gosta disso. Como é bom ter
meu pau dentro de você.
 
Estou atingindo o meu ápice e sei que ela também, pois seu corpo começa a
tremer e me apertar cada vez mais. Seguro-me, pois quero que ela se sinta
privilegiada em sua primeira vez. Um grito mudo sai da sua boca antes do
seu prazer banhar todo o meu pau. Sua perna desliza caindo de volta para a
posição, seguro seu corpo enquanto ela agarra o meu pescoço, deitando-se
em meu ombro enquanto assimila tudo que sentiu. Dou duas últimas
estocadas antes de tirar meu pau e derramar todo o gozo no chão.
 
A moça misteriosa busca a respiração que lhe falta nos pulmões após provar
algo totalmente novo. Acaricio os cabelos suados e as costas dela, antes de
beijar seu pescoço. Ficamos assim por um tempo.
 
— Espero não tê-la machucado — sussurro em seu ouvido. 
 
— Eu tô bem, Mike. — Sua voz continua cansada.
 
— Você deveria ter me contado que ainda era virgem — deixo um beijo
estalado em seu pescoço.
 
— Pra você me rejeitar? — Sua voz sai em um tom brincalhão.
 
— Não, pra eu te proporcionar uma experiência melhor — seguro seu rosto.
— Tem certeza de que está bem?
 
— Estou me sentindo maravilhosa! — Ela deposita um beijo em meus
lábios, tranquilizando-me. — Acabei de presenciar uma sensação que nunca
provei antes.
 
— Esse era seu objetivo essa noite?
 
— Objetivo? — aproveito para me afastar assim que sinto que ela está mais
estável para ajeitar a minha calça.
 
— Transar com um cara legal? — explico com outras palavras.
 
— Não, esse foi um bônus. — Ela arruma o vestido, já que rasguei sua
calcinha.
 
— Qual era o seu objetivo, então? — pergunto, voltando a abraçar sua
cintura, sem pretensão de deixar aquele ambiente, apesar de não ser tão
agradável quanto aparenta. Uma música mais lenta toca do lado de fora, e
eu começo balançar os nossos corpos como se estivéssemos dançando. Ela
acompanha o ritmo.
 
— Falar contigo — franzo o cenho. — Faz um tempo que tenho um crush
em você, Mike, mas eu não tinha coragem para dar qualquer iniciativa.
Andamos em grupos diferentes, e eu tinha receio que você me afastasse por
ser uma nerd — mordisco o seu pescoço em resposta. — Esse baile poderia
ser o momento perfeito, com todo esse ar de mistério por conta das
máscaras. Eu fiquei imaginando — ela brinca com os fios do meu cabelo
conforme dançamos —, vai que esbarro em um tal quarterback que é
sempre disputado entre as mulheres, que ele olhe pra mim e a gente comece
a conversar.
 
— Então você ganhou a noite! Conseguiu ficar comigo e ainda transar! —
mordo seu ombro de leve, e ela me empurra brincalhona. — Tirou a sorte
grande, moça misteriosa. 
 
— Será mesmo?
 
— Vai, confessa, que sua primeira transa foi boa! — beijo sua bochecha
antes de morder devagar o seu lábio. — Aposto que está louquinha para
uma segunda rodada nesse sofá.
 
— Não consigo fazer uma segunda rodada agora, seu safado! — Sua boca
envolve a minha e rendo-me a doçura de sua língua, apertando suas nádegas
com malícia. — Confesso que você me fez sentir nas nuvens, dizem que
uma boa transa você não sente nem as pernas.
 
— Então estou aprovado?
 
— Se você conseguiu fazer eu chegar lá de primeira, o que você acha? —
Ela coça a minha barba antes de voltar a encontrar meus lábios. — Devo me
preparar para sair desse sonho?
 
— Temos a noite inteira para aproveitar, moça misteriosa. Eu que te
pergunto, preparada pra sair daqui disposta a ficar ao lado do cara mais
popular da universidade, com milhares de mulheres sentindo inveja de você
por estar comigo essa noite? Vai aguentar a pressão? — seguro a sua mão, e
ela entrelaça seus dedos nos meus, apertando-os carinhosamente, afirmando
com a cabeça.
 
Antes de sairmos faço questão de olhar seu corpo para ter certeza de que
está tudo bem com ela, já que dizem que algumas vezes as virgens sangram
muito na primeira vez, e não quero que ela morra de vergonha caso isso
tenha acontecido.
 
— Que foi? — pergunta, olhando na mesma direção.
 
— Tô verificando se você não precisa de uma blusa — explico encontrando
o seu olhar através da máscara.
 
— Tá tudo bem — confirma abrindo mais uma vez o seu sorriso
tranquilizador. 
 
Destranco a porta e logo nos deparamos com um casal no batente se
pegando horrores, entrando no ambiente logo depois da gente sair. Rimos
da situação e desejo novamente que ela tivesse tido uma experiência em um
lugar melhor na sua primeira vez. Espero proporcionar isso em um segundo
encontro.
 
— Eu preciso te conhecer depois dessa festa — coloco uma mecha de seu
cabelo para trás da sua orelha, observando ali uma dupla de presilhas de
borboletas um pouquinho fora do lugar depois da nossa aventura. —
Amanhã você poderia me encontrar no Starbucks próximo ao centro de
treinamento, aquele dentro do prédio de Direito? Tipo as 3h da tarde.
 
— Claro! Podemos sim…
 
— Ah, você está aí! — Uma voz nos interrompe, e vejo que é a mesma
amiga que a havia deixado sozinha mais cedo. — A gente precisa ir.
 
— Mas… — tenta dizer, mas a garota volta a interromper.
 
— É urgente! — confronta, puxando a amiga.
 
A moça misteriosa me olha pela última vez sem reação, antes de ser puxada
com força pela amiga. Mas antes que ela entre na multidão, vejo o exato
momento em que uma de suas presilhas cai do seu cabelo. Quando dou por
mim, vou até o chão para capturá-lo, para que não se perca entre os sapatos
dos estudantes. Volto a ficar de pé, porém não a encontro em meu campo de
visão, saiu a sua procura desviando-me das pessoas que agora dançam
freneticamente, mas é tarde demais, ela se foi tão rápido quanto apareceu.
 
Seguro a presilha com força na mão olhando para a rua movimentada em
busca de qualquer vislumbre da garota vestida de azul que conseguiu mexer
comigo de várias maneiras, e mesmo sem saber seu nome, tenho esperança
de que ela ainda irá me encontrar amanhã no local combinado. E eu
descobrirei finalmente sua real identidade.
 
Eu estava vivendo um sonho! O gosto inconfundível da boca de Mike
McCoy ainda permanecia em mim, as sensações que ele causou em meu
corpo enquanto tirava a minha virgindade eram difíceis de descrever. Estava
em um sonho quando fui arrancada dele, como se um despertador maldito
estivesse tocando sem parar. Uma raiva súbita cresce em mim ao ver
Abigail me levando para longe dele, destruindo tudo que finalmente
consegui alcançar.
 
— Que porra, Abigail! — solto-me da mão dela, já bem distante do casarão.
— O que aconteceu? Por que estamos correndo? Por que você me afastou
dele? Caramba, quando eu consigo… 
 
— Temos uma emergência! — responde sem rodeios, pegando no meu
braço de novo.
 
— Me explica, o que aconteceu! — grito, me desvencilhando dela.
 
— Vamos pro carro agora, Emma! — ordena, apontando para o veículo
vermelho.
 
— Por quê?
 
Abigail respira fundo antes de finalmente abrir a boca.
 
— A gente trocou nossas bolsas na entrada, então seu telefone começou a
tocar e percebi na hora que estava com a bolsa errada. Eu atendi, e era do
hospital…
 
— Como assim do hospital? — pergunto nervosa, arrancando a máscara do
meu rosto.
 
— Seus pais, amiga… — Ela busca fôlego desfazendo-se da máscara
também. — Seus pais sofreram um acidente de carro.
 
O meu mundo desaba no mesmo instante. 
 
Mal sinto minhas pernas e vou ao chão. Meus olhos enchem de lágrimas em
questão de segundos, e um grito de horror sai por minha garganta seguido
de um choro sofrido. Minha visão se torna um borrão. As mãos de Abigail
me acalentam, antes de me puxar para um abraço.
 
— Vou te levar pra lá, Emma — tenta me confortar, mas é em vão. Meu
coração se aperta cada vez mais no meu peito.
 
— O-onde eles so-sofreram esse acidente? — gaguejo em busca de
qualquer informação. — Co-como é o estado d-de saúde deles?
 
— Foi na Rota 441.
 
— Essa rodovia é aqui perto… — Então a ficha cai, essa rota é a que eles
pegam pra vir de Miami para Gainesville, eles estavam vindo aqui para me
ver. — Não, não, não…
 
— Calma amiga, respira fundo. Preciso que você seja forte. — Os olhos
marejados de Abigail revelam o quão preocupada ela está. — Vamos,
levante-se, eu sei qual hospital eles foram levados, vou te levar até eles.
 
Busco forças para levantar do chão e seguir para o carro da minha amiga.
Mas a minha mente continua nebulosa demais. Eu disse aos meus pais que
eles não precisavam vir, que eu ia até eles assim que pudesse, mas eles não
me ouviram.
 
Quando me dou conta, Abigail já está na estrada rumo ao hospital onde
meus pais estão internados. Em nenhum momento parei de chorar, enquanto
a sensação de desespero aumentava em meu peito. Rezo em silêncio para
que tudo esteja bem, que tenha sido um susto.
 
— Apenas um susto… — murmuro.
 
Assim que chegamos ao hospital, mal deixo o carro estacionar e corro em
direção à área de atendimento do pronto-socorro.
 
— Por favor, meus pais, Helen e Roman Steele, me informaram que eles
estavam aqui, preciso saber sobre o seu estado, sou a filha deles — digo
desesperada para a mulher que atende do outro lado da mesa. Acostumada a
receber aquele tipo de tratamento, responde secamente para aguardar até ela
localizar no sistema.
 
Apavorada, olho para a televisão na recepção que está no canal Fox News e
me deparo com a notícia de uma batida de um carro e um caminhão na Rota
441 no início daquela noite. Levo a minha mão à boca e grito quando vejo o
estado do carro, reconhecendo o mesmo modelo dos meus pais. Abigail
aparece ao meu lado e envolve o braço ao redor dos meus ombros, também
vidrada na TV.
 
— Senhorita Steele? — escuto uma voz masculina chamar meu nome e me
viro em sua direção, encontrando um policial.
 
— Sou eu — informo, quase sem fôlego.
 
— Sou o policial Marshall, fui o responsável por acompanhar o caso dos
seus pais até este hospital — diz, encarando-nos com seriedade.
 
— Como eles estão? — engulo em seco. 
 
— Senhorita Steele, sinto em comunicar que seu pai veio a óbito no local
do acidente e sua mãe estava em estado grave, mas no caminho pra cá… —
Ele começa a relatar, mas um forte zumbido faz com que eu não ouça mais
nada.
 
Sou sugada pela minha memória, relembrando da ligação que fiz ontem
avisando os meus pais que eu não conseguiria ir até Miami neste fim de
semana devido aos estudos, só que na realidade era por conta de uma festa.
Uma. Maldita. Festa.
 
Já fazia um tempo que eu estava devendo a ida até a minha casa para visitá-
los, era uma viagem longa até lá e eu posterguei isso. Agora era tarde
demais, eu os perdi, para sempre. 
Olho para o relógio em meu pulso mais uma vez. Já são quase cinco da
tarde e o meu cappuccino do Starbucks acabou há algum tempo. Eu ainda
tenho esperança de que ela passará por aquela porta e virá ao meu encontro,
pois não tem como deduzir quem é a dona da presilha no ambiente que está
quase vazio.
 
Eu havia levado um bolo, só não queria aceitar que a mulher que teve o
poder de conseguir um beijo meu, não apareceu para revelar a sua
identidade, mesmo depois de tudo que passamos.
 
Olho para o meu copo com o meu nome e um rostinho feliz, e por um
momento me sinto triste, mas afasto a ideia para longe. Se ela queria apenas
o lance de uma noite, devo respeitar essa decisão. Desde o começo ela quis
manter o mistério, nem ao menos disse o seu nome para mim. O que eu
poderia esperar de uma pessoa assim?
 
Levanto da mesa, e vou até o lixo para jogar meu copo. A garota da
cafeteria lança um sorriso compreensível em minha direção, e a observo
atrás de qualquer evidência de que ela seja a moça misteriosa, mas sei que
não é ela. Dou um leve aceno antes de sair do estabelecimento com o
sininho batendo atrás de mim.
 
Enfio a mão no bolso, sentindo o pequeno acessório perdido enquanto saiu
do prédio. Sem vontade nenhuma de voltar para o dormitório, subo na
minha Harley-Davidson e sigo sem rumo pelas ruas do campus. Confesso
que através da viseira do capacete procuro por ela, mas como esperado vejo
ruas pouco movimentadas e sem evidências de alguém caminhando por
aquelas redondezas. 
 
Quando me deparo com uma grande área verde da universidade decido
estacionar. Sigo pela trilha que dá acesso a um dos lugares mais bonitos e
tranquilos do campus, o qual muitos estudantes desconhecem. O Centro
Baughman é notável por suas janelas de tamanho impressionante que
alcançam o chão e o teto. A sua arquitetura é semelhante ao estilo gótico,
mas, ao mesmo tempo, tem um ar rústico e único devido ao revestimento e
detalhes em madeira. Em suma, parece uma capela moderna, que se destaca
pela beleza da paisagem que se encontra logo atrás, o belo lago Alice.
 
Não é comum que esteja aberta aos finais de semana, apenas se tiver
eventos privados, como casamentos. Mas, naquele dia específico, suas
portas nos convidam a entrar, e poucas pessoas estão ali por conta própria,
pois aquele centro tem como foco a contemplação. Gosto de vir para
colocar minha mente em ordem, não sou muito religioso, fui criado no
catolicismo, mas raramente vou à igreja. Aqui, posso ter um momento de
paz comigo mesmo.
 
Entro no local, contemplando o lago através de um grande e belo vitral no
altar. Ao mesmo tempo, a área verde nos abraça por causa das janelas. Os
raios de sol do fim da tarde nos agraciam com sua beleza, sendo o toque
especial para quem busca a paz. Sento-me em um banco vago e fecho os
olhos por um momento. 
 
Sempre que sinto que a tristeza vai me rondar, é aqui que me encontro.
 
Pode parecer algo bobo, mas preciso manter o foco quando se trata de ser
um atleta, uma mente desconcentrada é o deslize perfeito para o desastre. 
 
E essa moça misteriosa me tirou totalmente do foco, a ponto de, quando ela
foi embora daquela forma, eu não quis mais continuar na festa, como
costumava ficar sem me importar de ter transado com uma ou duas na
mesma noite, aproveitando até altas horas. 
 
No fim das contas, voltei ansioso para o meu quarto ontem a noite, pois não
via a hora de reencontrá-la, mas como acabei de constatar, ela ainda era um
grande mistério para mim. Tiro a presilha de borboleta do meu bolso,
observando-a nos mínimos detalhes. Recordo-me do acessório preso nos
longos cabelos dela, que tinham um cheiro adocicado, do sorriso tímido, da
sua mão delicada em minha nuca, do gosto de seus lábios nos meus, do
quanto ela era apertada, causando-me sensações indescritíveis conforme
tirava a sua pureza.
 
Caramba, fazia tanto tempo que eu não me apegava a alguém assim. A
última vez que isso aconteceu foi com a minha ex na época da escola. Eu e
a Britney não continuamos juntos por conta da distância, acabamos nos
afastando e achamos melhor cada um seguir seu caminho, ela foi para
Califórnia e eu vim para a Flórida, extremos opostos.
 
Desde então tenho meus casos esporádicos, mas nenhum deles me
interessou a ponto da garota ficar na minha mente, como é o caso dessa, que
nem ao menos sei qual é o seu nome. O pior é que algo em mim diz que não
devo desistir, que ela pode estar precisando de um tempo para tomar
coragem de se revelar, que não tenha me deixado esperando por mal. Ela
própria me disse que tem interesse em mim já faz um tempo, mas nunca
teve coragem de chegar perto o suficiente com receio da rejeição.
 
Olho para os vitrais onde o lago brilha e mando um pedido para o universo,
para que essa sensação de ainda manter a esperança, traga alguém que vale
a pena.
 
Sinto uma mão em meu ombro pegando-me de surpresa, por um momento
queria que o pedido tivesse sido realizado, mas quando me viro encontro o
treinador Jenkins.
 
— Treinador, o senhor por aqui…
 
— Vim prestar homenagens e rezar por uma aluna.
 
Dou espaço para ele se sentar ao meu lado, mas ele recusa com um sorriso
solene.
 
— Aluna? — franzo o cenho, sentindo um leve tremor.
 
— Uma das alunas aqui da universidade perdeu os pais em um acidente na
Rota 411 na noite passada. Ela não é minha aluna, mas nenhum jovem
deveria perder os pais subitamente. — Ele aperta meu ombro. — Por isso
abriram a capela hoje.
 
— É compreensível — olho para os meus próprios pés, sabendo exatamente
a dor que essa aluna está sentindo. — Deveríamos prestar uma homenagem
antes do jogo da próxima semana.
 
— Sim, conversarei com a equipe organizadora. Tragédias como essa com
um dos nossos estudantes precisam ser respeitadas. Vou pedir para eles
incluírem um minuto de silêncio. Nos vemos amanhã no treino. —
Acenamos com a cabeça antes dele se afastar.
 
Olho para as janelas, que parecem convidativas, e segurando a presilha em
uma das mãos, faço uma oração silenciosa para a aluna que perdeu os pais,
pedindo forças para suportar o luto, pois sei muito bem que será uma fase
complicada e difícil, desejando que pessoas próximas dela sejam a estrutura
que vão ajudá-la a não cair no fundo do poço.
 
Sentindo-me mais leve, saio da capela e vou até uma pequena ponte onde
passa o lago. Fico atento a possíveis jacarés nas beiras, o que é comum nos
lagos por toda Flórida. Aproveito para colocar meus AirPods, apertando o
play na playlist do rapper NF, enquanto observo os patos e outras aves que
também se encontram no lago. Apoio meus cotovelos na construção de
madeira, enquanto “Happy” toca alto em meus ouvidos.
 
Eu me fechei para o mundo depois que perdi meu pai e, ao mesmo tempo,
precisei criar uma imagem minha que mostrasse que eu era forte e que nada
me afetava. A raiva que eu sentia do mundo, só consegui expurgá-la através
do esporte. Antes eu jogava por diversão, esse era o esporte favorito meu e
dele, mas depois que ele se foi virou minha válvula de escape. Houveram
momentos que me excedi como defensor, e para mudar isso e melhorar o
meu comportamento agressivo, o treinador Parker começou a me testar
como quarterback, onde além da força, precisaria parar pra pensar na
estratégia da jogada. Estar dentro do campo não me fazia pensar nos meus
problemas pessoais. Eu queria dar o meu melhor, e meu objetivo era o
nosso time vencer com a minha liderança. Essa mudança de posição me fez
ter controle da minha mente. 
 
Mas preciso mostrar às vezes o quão inalcançável posso ser apenas pelo
fato do status que a minha família carrega. Com a morte do meu pai, que
tinha toda uma influência no mundo dos negócios, principalmente por vir
de uma longa família de magnatas, eu e minha mãe não podíamos baixar a
guarda para manter os privilégios do nome McCoy, como também a
empresa sob o nosso comando.
 
Ava McCoy, minha mãe, muitas vezes teve que ser dura consigo mesma
apenas para não desmoronar na frente daqueles que a achavam incapaz de
continuar à frente dos negócios do meu pai. Ela sempre dizia pra mim: “Eu
preciso cuidar desse patrimônio, isso é seu Mike, não posso deixar que
espertinhos queiram se aproveitar da situação para tomar o que você tem
por direito. Temos que ser fortes, nunca abaixar a cabeça”. Aposto que
minha mãe segurou muitas lágrimas e gritos, antes de conseguir colocar
rédeas em todos que duvidavam dela. 
 
Meu pai aguentou a dor do câncer por anos, mesmo tendo todo o dinheiro
do mundo e feito todos os tratamentos possíveis, isso não pôde salvá-lo. E
minha mãe sempre esteve lá por ele. Cuidou dele como ninguém, e mesmo
assim, a família do meu pai não foi capaz de reconhecer isso.
 
Infelizmente faço parte dessa linhagem de magnatas, sou um dos herdeiros,
mas aposto que se eu não tivesse nascido, eles teriam enxotado minha mãe
pra bem longe, não lhe dando qualquer apoio. E ela aguenta isso por mim,
pra que eu siga meu sonho de ser o atleta do esporte que meu pai tanto
admirava.
 
Eu sei que, no fundo, ainda tem muita coisa mal resolvida dentro de mim,
que muitas vezes afasto as pessoas apenas com um olhar, enquanto atraio
aquelas que gostam de um desafio. Que poucos têm a chance de perceber o
verdadeiro Mike McCoy, não apenas o atleta prodígio que é tão popular em
toda a cidade.
 
Olho uma última vez para a capela que fica invisível aos olhos de quem
passa nas ruas, antes de pegar o caminho até minha moto e seguir para o
dormitório estudantil que se tornou minha casa. A enorme instalação com
prédios anexos faz eu andar até minha suíte individual. As vantagens de se
ter dinheiro é conseguir bancar o aluguel de lugares como esse, sem ter que
dividir banheiro e o mesmo quarto com alguém desconhecido, até se tornar
amigos, ou não. Minha mãe até queria comprar uma casa onde eu pudesse
ter mais privacidade, mas não queria me sentir tão sozinho, e ter um local
perto do centro de treinamento já era uma grande vantagem.
 
— McCoy! — ouço a voz animada do Chris assim que apareço no espaço
de interação do dormitório, vejo-o vindo na minha direção. — E aí, como
foi? Encontrou sua Cinderela?
 
— Ela não apareceu, cara — digo me desviando dele e indo para o
elevador.
 
— Como assim ela não apareceu? — Ele segue no meu encalço.
 
— Não foi, simples assim — respondo no momento em que porta se abre e
entramos na caixa metálica.
 
— Mais que vaca!
 
— Olha o respeito! — repreendo-o lançando lhe um olhar duro.
 
— Desculpe, mas se eu fosse você estaria bem puto! Caralho, você marcou
com ela e ela te deu um bolo! Tipo, cara, é difícil imaginar alguém te dando
um bolo! — tagarela sem parar, enquanto meus pés batem sem paciência no
chão. Não precisava ser lembrado disso.
 
— Ela teve seus motivos para não aparecer — comento antes da porta
finalmente abrir no meu andar.
 
— Foi muita sacanagem dela, isso sim! — Chris, que está acostumado a ter
uma listinha de contatos, sempre sente demais quando é rejeitado. — Essa
menina não teria mais chance comigo, ah não teria mesmo!
 
— Olha, Chris, na boa, não tô pra papo. Preciso estudar e amanhã madrugo.
— Sou direto virando-me para ele que estanca no lugar.
 
— Porra… essa garota realmente mexeu contigo. — Ele pisca várias vezes,
mas o ignoro e destravo a minha porta com o cartão.
 
— Até amanhã, cara.
 
Entro no meu dormitório e caminho até os fundos do corredor, onde se
encontra o meu pequeno quarto cheio de cacarecos. Ainda me lembro do
dia que pisei aqui e encontrei apenas uma cama, uma mesa e uma pequena
cômoda rodeados por paredes brancas. Hoje, bandeirolas do meu time,
pôsteres, uma pequena prateleira com todos os meus prêmios, um frigobar,
e outros apetrechos de um quarto de estudante compõem o ambiente. Aqui
tive que me virar e aprender a deixá-lo apresentável e limpo, tendo assim a
minha própria independência para quem viveu em uma mansão cheia de
empregados. Isso foi um grande avanço.
 
Tiro minha camiseta enquanto procuro uma cueca limpa na gaveta, mas
antes de me livrar das calças, retiro com cuidado a presilha do bolso,
colocando-a sobre a mesa de cabeceira. Isso é a única coisa que tenho dela,
e espero um dia poder devolver para sua verdadeira dona.
 
Uma coisa o Chris tinha razão, ela é como a Cinderela, a única ligação que
temos é esse pequeno objeto, pois todo o resto é um verdadeiro mistério.
Um príncipe procura por ela por todo reino, já eu, terei que procurar por
toda a universidade. Mas como ele, terei que ser paciente, sabendo que no
meio do caminho haverá aquelas que farão de tudo para ser a minha
Cinderela, enquanto a verdadeira estará fora do meu alcance.
 
Eu sei, a vida não é um conto de fadas, mas às vezes a realidade dá um jeito
de nos lembrar delas.
Nunca me esquecerei da dor que senti quando voltei a desabar no chão frio
daquele hospital, da falta de ar que me acometeu ao saber que meus pais
não haviam resistido ao trágico acidente envolvendo o carro deles e um
caminhão. Posso jurar que senti meu coração parar de bater por um instante.
Até uma onda me tomar e eu deixar de lado o controle, chegando ao ponto
de ser sedada para controlar aquela dor que me tomou, e que ainda faz parte
de mim.
 
No dia seguinte a pior parte foi reconhecer os corpos. Ninguém merece ver
alguém que ama naquelas condições. Mesmo sendo a pessoa mais perto
para realizar esses trâmites, é uma imagem que não se apaga da memória
facilmente, é capaz dela permanecer comigo para sempre.
 
Abigail não saiu do meu lado por sequer um segundo, tudo que foi preciso
fazer, ela me ajudou sem perguntar, me auxiliando quando a minha mente
vagava para longe. Abigail cuidou dos procedimentos para a transferência
dos meus pais para Miami e no planejamento do funeral, enquanto precisei,
com pesar, informar os meus familiares sobre esta perda. Não consigo
mensurar a tamanha gratidão que tenho à minha melhor amiga por passar
esse momento doloroso ao meu lado.
 
Super cansada e sem qualquer energia, saímos de Gainesville e viajamos
por quase 6h até Miami. Assim que Abigail estacionou o carro em frente a
minha casa na tarde daquela segunda-feira, as memórias vieram com tudo.
A pior parte foi abrir a porta e me deparar com a casa vazia, mas as
lembranças me fizeram visualizar a mamãe preparando panquecas no fogão,
do papai fritando ovos com bacon ao lado dela, das piadas sem graça que
ele adorava soltar de manhã para alegrar nosso dia. Saber que não vou mais
presenciar esses momentos ao lado deles, dói, dói demais.
 
As fotos nas paredes de minha casa mostravam diversos momentos em
família, mais uma se destacava de todas elas, eu ao lado deles na formatura
do ensino médio. O aperto no peito se intensificou ao saber que não terei
uma foto assim quando terminar a universidade. Que momentos como
aquele não serão mais possíveis. 
 
Lembro-me de ter subido as escadas naquele dia e, em vez de dirigir-me ao
meu quarto, fui até o deles. Mamãe sempre deixava a casa organizada antes
de sair, mas o que mais desejava naquele momento era sentir o cheiro deles
novamente antes que desaparecesse com o tempo. Então, deitei sobre a
cama, abraçando os travesseiros em busca de qualquer conforto que seja, e
fiquei ali até adormecer, sabendo que, quando acordasse, a realidade
voltaria para me assombrar.
 
Meus familiares começaram a chegar a Miami dois dias depois para
velarem e prestarem homenagens aos meus pais. Com ajuda de Abigail e
dos amigos dos meus pais, montamos um belo mural de fotos no velório.
Boa parte da minha família vem do Colorado, já que meus pais resolveram
investir no polo turístico desta cidade abrindo sua loja de presentes. Pessoas
de várias nacionalidades atravessavam a loja deles em busca de qualquer
lembrança daquela viagem. Papai tinha grandes histórias sobre isso, e foram
obviamente lembradas no decorrer dos discursos de homenagem em seu
velório, inclusive por mim.
 
— Eu ainda me lembro do dia que meu pai me levou até a loja dele. Parecia
que eu estava no paraíso por conta das variedades de bugigangas que ele
conseguiu encontrar. Não era à toa que os turistas amavam visitar a loja
dele, passavam horas olhando todos os detalhes naquele espaço enorme e
cheio de possibilidades — falo olhando para o caixão semiaberto deles
sobre o altar. O serviço funerário fez um trabalho tão bom que seus rostos
não tinham sequer um arranhão, assim todos poderiam se despedir deles de
um jeito mais digno. — Mas ele vivia me dizendo que aquela seria sua
diversão até ficar bem velhinho, pois amava admirar os rostos das pessoas
que ficavam vidradas com aqueles presentes.
 
Preciso de um tempo para me recompor enquanto enxugo minhas lágrimas,
queria acreditar que meus pais estavam apenas dormindo ali, mas a
realidade é dura demais. Volto a olhar para os presentes sentados na
pequena capela.
 
— Ele não queria que eu seguisse os negócios da família, sempre me
incentivou a perseguir o meu sonho de ser cientista, dizendo que eu
descobriria feitos que mudariam o mundo e fariam a diferença. — Um
sorriso desponta em meu rosto antes de olhar para o rosto sereno da minha
mãe e minha voz começa a falhar. — Já a minha mãe era uma pessoa mais
centrada, sempre estava preocupada com a empresa. O papai enxergava a
loja como diversão e ela levava o empreendimento muito a sério. Mesmo eu
os ajudando depois da escola, ela também me incentivou a cursar a
universidade, a ir atrás dos meus próprios objetivos, dizendo que eu tinha
que me tornar uma mulher independente e poderosa. Quando eu consegui
ser aceita na Universidade da Flórida, foi uma felicidade que não sei
explicar…
 
Sinto a garganta fechar, recordando-me do dia que gritamos de alegria com
a minha admissão na universidade por meio de uma bolsa. Meus pais
chegaram a guardar dinheiro para os meus estudos, então, com a bolsa
garantida, a reserva foi crucial para os custos de moradia. Mas nunca
esquecerei de ouvir minha mãe rezando, pedindo a Deus que a loja desses
bons frutos, pois não queria me ver desamparada na universidade. Volto a
encarar meus pais em seu sono eterno, sabendo que aqueles serão os
últimos momentos que terei com eles aqui na Terra.
 
— Serei eternamente grata a tudo que vocês me proporcionaram. Esse
acidente tirou vocês de mim com uma brusquidão que continua sendo muito
difícil de aceitar. Peço também perdão se algum momento desapontei vocês.
Juro que trocaria qualquer coisa para tê-los ao meu lado, e prometo que vou
honrar todo o esforço que depositaram em mim, que me tornarei uma
cientista capaz de mudar o mundo. Obrigada, mamãe e papai, muito
obrigada.
 
Os aplausos soam pela sala e aceito os apertos de mão antes de voltar a me
sentar ao lado de minha amiga e de minhas tias.
 
Quando termina o velório e os caixões estão prestes a serem fechados para
sempre, abraço cada um deles uma última vez, sentindo o corpo e a madeira
fria contra minha pele, ao mesmo tempo em que peço aos meus pais para
descansarem em paz e não se preocuparem comigo. E só assim me afasto
para realizar o procedimento de lacração do caixão. Assim que seguimos
para o enterro, eu sei que o ciclo está para se finalizar, que demorará todo
um processo até eu entender que a partir dali nunca mais terei a chance de
ver o rosto deles outra vez, somente por fotos e lembranças.
 
A mão de Abigail aperta a minha enquanto ouvimos o padre rezar pela
última vez para as pessoas que me trouxeram ao mundo. A linda foto de
casamento deles em um cavalete ao lado de seus caixões, sob uma cova, me
fazem lembrar porque eu queria ter alguém importante ao meu lado, pois
eles nunca tinham vergonha de demonstrar o que sentiam um pelo outro na
frente de qualquer pessoa. Ainda me recordo das vezes que falei o quanto
aquilo era cafona e ficava emburrada com a demonstração em público, mas
hoje consigo enxergar o quão bonito era esse gesto. O quanto eles me
inspiraram a não procurar menos do que isso.
 
Assim que os caixões começam a descer em cada um dos túmulos, me
aproximo para dar o último adeus jogando algumas rosas sobre a tampa.
Uma onda de choro volta a me atacar, e sinto a mão de Abigail envolvendo
minha cabeça, enquanto escuto o barulho da pá derrubando a terra naquele
buraco que agora descansam meus pais.
 
O sentimento de culpa não deixa de me rondar, se eu não tivesse adiado a
minha ida pra casa, eles não teriam pego a rota 441 e poderiam estar aqui,
sorridentes, esperando a minha chegada na rodoviária da cidade, não dentro
de um caixão.
 
Eu queria voltar no tempo, queria consertar as coisas, mas agora sei como é
perder alguém que ama bruscamente sem poder fazer nada para reverter.
Sinto a mesma dor que os irmãos Edward e Alphonse Elric, suportaram
quando perderam a mãe e tornaram-se tão vulneráveis a ponto de quererem
ressuscitá-la. 
 
Mas o anime é ficção, e essa é a verdadeira realidade, nua e crua, e nada
mudará essa dor que estou sentindo, apenas o tempo irá curá-la.
 

Amanhã já é o Orange & Blue Game e não vejo a hora de entrar em campo.
O treino de hoje foi intenso de várias maneiras, mesmo com o treinador
dizendo pra gente que a partida era para ser pura diversão. Argh, tente dizer
isso para um bando de jogadores que tem como objetivo apenas ganhar.
 
Após correr sob o sol escaldante de mais de 30 graus, tomo um longo gole
de água para aliviar a garganta seca. 
 
— Nossa, que delícia de mulher! — ouço comentários sexistas de meus
parceiros e olho na mesma direção, encontrando a minha mãe entrando no
campo de treinamento com a presença de alguns dirigentes da universidade,
sua assistente e o seu guarda-costas. Fecho o punho com força.
 
— É melhor que o engraçadinho que está falando isso cale a boca —
retruco em bom som fazendo meus colegas me olharem assim que me
levanto do banco. — Pois é da minha mãe que você está falando.
 
Vejo o culpado engolindo em seco, antes dela se aproximar acompanhada
de um bando de homens, sendo que a outra mulher é a sua assistente.
 
— Senhora McCoy! — O treinador se adianta estendendo a mão para ela
que aceita o aperto.
 
— Olá, treinador Jenkins — cumprimenta com um sorriso profissional
antes de olhar para o time. — Olá, garotos! — Eles a cumprimentam de
volta com os olhos vidrados.
 
Não podia negar, Ava McCoy chamava a atenção por onde passava, minha
mãe era uma mulher muito linda. Mesmo com seus 42 anos, ela fazia muito
homem virar o pescoço em sua direção. Os longos cabelos castanho-claro e
os olhos verdes eram sua marca registrada, juntamente com o corpo que
lembrava e muito uma modelo.
 
Seus olhos verdes encontram-se com os meus, e um sorriso mais maternal
surge em seus lábios antes dela interagir com os demais perguntado sobre o
que acharam das novas mudanças nos equipamentos.
 
Ela sempre quis se mostrar eficiente e atenta a todos os detalhes da empresa
da nossa família, e mesmo usando seu terninho e salto alto, ela faz questão
de ir de cliente a cliente para avaliar a qualidade de seus produtos e
serviços, como papai sempre fazia.
 
Outra qualidade dela é a facilidade de se comunicar e ser muito simpática.
Infelizmente essa simpatia muitas vezes é interpretada de outra forma, e era
quando os homens gostavam de tirar proveito. Com o tempo ela foi
aprendendo a reconhecer aqueles que a viam apenas como um objeto
sexual, até se tornar essa mulher foda de hoje em dia.
 
Após ter uma conversa descontraída com o pessoal, ela vem até mim antes
de continuar o seu tour pelo campus.
 
— Oi querido, saudades — cumprimenta com um beijo no meu rosto, não
nos abraçamos pelo simples fato de eu estar pingando de suor. — Assim
que eu terminar passo lá no seu dormitório pra gente conversar um
pouquinho.
 
— Aconteceu alguma coisa, mãe? — pergunto preocupado.
 
— Só quero um tempinho com meu filho. — Ela acaricia minha barba. —
Até mais tarde!
 
Observo-a se afastar com os demais. Mesmo morando a quilômetros daqui,
sempre que tinha oportunidade minha mãe pegava o nosso jatinho e vinha
me visitar, às vezes ela me avisava, mas adorava uma surpresa.
 
Sou chamado para a segunda parte do treinamento, porque mesmo sendo
filho de uma das maiores patrocinadoras da universidade eu tinha uma
carga horária para cumprir. Afinal, a vida de um atleta é sempre baseada no
foco, estratégia e dedicação.
 

 
Quando saio do vestiário, encontro minha mãe no saguão do centro de
treinamento acompanhada de sua assistente e do guarda-costas. Os três
conversam como se fossem grandes amigos. Não deixo de notar a troca de
olhares que minha mãe tem com o funcionário, e isso faz o meu sangue
ferver.
 
— Oi querido! — Ela anuncia assim que percebe a minha presença. — Está
no seu momento de pausa?
 
— Por hoje é só, o treinador nos liberou para a gente descansar mais cedo.
Amanhã temos o campeonato — informo aceitando o braço dela antes de
me virar para os dois. — Olá, Karen e…
 
— Leon — responde o guarda-costas.
 
— Bom, espero que esteja realmente cuidando da segurança da minha mãe,
não de outros assuntos — provoco, fazendo minha mãe me beliscar.
 
— Ignore ele Leon. — Ava me puxa para fora do saguão, deixando-os para
trás, mas como é o trabalho deles, nos acompanham. — Por que fez isso,
Mike? — sussurra entredentes. 
 
— Sou homem, percebo quando um cara tá interessado em alguém,
principalmente na minha mãe — explico, enquanto ela me arrasta.
 
— Ele está… — Ela pisca antes de falar. — Enfim, a minha vida adulta diz
respeito a mim, mocinho!
 
— Você está transando com o guarda-costas? — Paro encarando-a, mas de
novo ela me belisca me puxando pelo campus, tentando se manter plena.
 
— Mike, olha como você fala com a sua mãe! — avisa antes da gente
passar por um grupo de estudantes que olham curiosos para a executiva.
 
— Tenho direito de saber se terei um padrasto em breve — brinco, fazendo-
a revirar os olhos.
 
— Em breve vou te dar uns cascudos, isso sim!
 
Rio da sua reação, e seguimos até a entrada do meu dormitório. De praxe,
preciso esperar a Karen e o tal Leon chegarem até nós, antes de seguirmos
para o meu quarto, onde os dois aguardam do lado de fora.
 
— Eles deveriam dar quartos maiores para quem quer morar sozinho. —
Minha mãe comenta assim que entramos na minha mini casa. Pra quem está
acostumada a morar em uma mansão, aquilo ali era um quartinho da
bagunça.
 
— Eu me acostumei, é bem mais prático para cuidar também. — Puxo a
cadeira da mesinha de estudos para ela, enquanto me acomodo na cama.
 
— Verdade, este quarto é bem mais arrumado do que na época que
morávamos juntos. — Ela se senta observando o ambiente. — Não mudou
muito desde a última vez que estive aqui.
 
— Você sabe que não sou de decorar sempre — olho para as paredes com
algumas bandeirolas. — E ter muita coisa, é mais trabalho pra limpar.
 
— Eu te disse que você poderia comprar uma casa na cidade e ter uma
empregada — relembra da oferta.
 
— Gosto desta vida independente, mãe. Aprendi muito a me virar com essa
experiência. E o que eu iria fazer numa casa grande? Eu me sentiria muito
sozinho — explico de novo, olhando rapidamente para a presilha na
mesinha ao lado da minha cama.
 
— De quem pertence àquilo?
 
Outra qualidade da minha mãe, o qual posso dizer que herdei dela, a
observação, e em um mínimo gesto ela percebeu meu olhar.
 
— De uma garota interessante que conheci numa festa — respondo,
encarando os seus olhos verdes.
 
Já fazia uma semana que eu não tinha notícias da moça misteriosa, desde o
bolo que ela me deu no Starbucks. Ela sequer me procurou.
 
— E essa garota… é diferente das demais? Você sentiu algo por ela? 
 
Sempre fui muito aberto com a minha mãe sobre meus relacionamentos,
com a ausência do meu pai ela supriu os assuntos que eu lidaria apenas com
ele. No começo fiquei envergonhado, mas ela me mostrou formas que pude
me comunicar sem ter vergonha.
 
— Sim, ela soube me ouvir, em comparação às outras — conto. — Mas eu
não sei o nome dela, aconteceu um desencontro e até agora não sei quem
ela é.
 
— Uma pena, faz tempo que não ouço a palavra “namorada” sair da sua
boca — rimos. — Espero que encontre essa Cinderela.
 
— Também estou na expectativa, mãe.
 
— Mas também quero que você tome cuidado. — O olhar dela fica sério.
— Já tivemos essa conversa várias vezes, mas é sempre bom ressaltar.
Tome cuidado com aquelas que querem tirar proveito seu, sobretudo
sabendo que você é herdeiro de um império. Nós mulheres, temos o lado
bom e ruim quando o assunto é homem, querido. E posso lhe afirmar, que
haverão golpistas no meio do caminho, a ponto de engravidar de você para
tirar vantagem.
 
— Eu me cuido, mãe — garanto.
 
— Espero que sim! Sei muito bem que jovens podem ser bem afobados e se
esquecem em um momento como esse, principalmente durante essas festas
da universidade regadas a bebidas. Mas lembre-se o uso da camisinha é de
extrema importância, querido. Não apenas para evitar filhos como também
doenças. — continua orientando.
 
— Eu não planejo ser pai tão cedo, tenho que focar na minha carreira. —
Me levanto indo até o frigobar, retirando de lá duas garrafas d’água e
oferecendo uma para ela.
 
— Obrigada, querido. — Ela pega a garrafa da minha mão. — Digo isso
porque eu me preocupo com você. Muitas mulheres podem estar
interessadas na sua fortuna, esperando o momento certo para dar o golpe. Já
tenho que enfrentar seus tios todo dia no conselho da empresa, não quero
dar a eles mais um motivo para tomá-la de nós, pelo simples fato que um
dos herdeiros feriu a honra da família.
 
— Você sabe que até seus relacionamentos podem ser mal-vistos pela
família McCoy, não é mãe? — retruco. Sem olhar pra mim, a sua cabeça se
mexe devagar, assentindo. — Esse cara… ele é confiável?
 
— Antes de contratá-lo, fiz toda uma pesquisa para ter certeza de que não
estava colocando um traidor ao meu lado. — Seu olhar encontra-se com o
meu. — Confio a minha vida a ele.
 
— E está prestes a confiar o seu coração também — comento, mas não a
deixo falar. — Eu sei que não posso me intrometer, mas como você mesma
disse, a família está buscando qualquer deslize para afastá-la do cargo de
CEO da Sports Advanced. Se ele é sua válvula de escape ou… alguém que
você tem grandes chances de se apaixonar, mantenha no sigilo, até você não
se sentir mais pressionada ou ter coragem o bastante para enfrentá-los mais
uma vez.
 
— O dia que eles pararem de me pressionar é porque estão armando pra
cima de mim, eu preciso garantir que eles não vão prejudicar o seu futuro
— diz, convicta que minha família é capaz de nos descartar, mesmo com
um herdeiro na jogada.
 
— Mãe, você sabe que eu não serei jogador de futebol por toda vida, que
haverá um limite que irei alcançar antes de entregar o capacete. Mas de uma
coisa eu sei, dinheiro não vai me faltar.
 
— Na minha cabeça, você vai jogar até os 45 anos como o Tom Brandy fez,
querido — ri antes de tomar um longo gole da garrafa. — Esse império é
seu, como dos demais. As famílias são capazes de tudo por suas heranças.
Seu pai não era filho único, toda a riqueza é dividida entre três pessoas,
cada uma com seus herdeiros. Theo construiu essa empresa, fez ela crescer,
mas só pelo fato de ter envolvido a família dele, convidando os irmãos para
a sociedade, tudo se complicou e por saber que eu não vim de uma família
“nobre”, não queriam me ver no cargo dele, e sim você.
 
— Parece que minha palavra não é de nada, eu disse pra todos que você iria
ficar no meu lugar… 
 
— Você sabe que pra eles, o testamento do seu pai é o que importa. Você é
o dono da Sports Advanced, Mike. — Mamãe me encara com atenção. —
Eles me acham uma usurpadora, porque estou liderando uma empresa,
sendo a esposa “duvidosa”. Eles nem reconhecem o cuidado que tive com
seu pai, do quanto eu o amei, da felicidade que nossa casa era. Mas eles
nunca se importaram com as mulheres da família, quer dizer, seu pai era o
único que destoava deste mundo machista.
 
— E no fim ele acabou se casando com uma funcionária. — Relembro da
história de amor dos meus pais, ele um magnata tentando construir uma
empresa renomada de esportes que acabou se apaixonando pela secretária.
 
— Sim! — Ela sorri, provavelmente lembrando dos momentos que estivera
ao seu lado. — Seu pai me ensinou tudo, pagou meu curso de gestão de
negócios, e com ele aprendi a lidar com várias coisas no caminho.
 
— Você é a pessoa mais capacitada para exercer essa função, mãe. —
Aproximo-me dela, apoiando minha mão em seu ombro. — Você conhece a
nossa empresa como ninguém, nem eu seria páreo pra estar em um nível tão
alto. Eu sei que você se preocupa com a herança do meu pai, mas enquanto
eles estiverem na sociedade, vamos aguentando. Só olhe para trás e veja
tudo que vocês construíram.
 
— Por mim eu os tiraria da sociedade, mas pela lei, teria que entrar com
uma ação judicial. E não estou a fim de armar uma briga desse tamanho
com os McCoy, sabe se lá o que eles podem inventar sobre mim ou sobre
nós.
 
Assinto entendendo a real situação, agora sei o porquê da apreensão da
minha mãe em relação à família do meu pai. Famílias poderosas tem seus
próprios macetes quando o assunto envolve dinheiro. Com certeza eles não
fizeram nada até então, porque a Sports Advanced está trazendo mais lucro
para o tesouro da família, enquanto minha mãe se esforça para ser a melhor
CEO e muitas vezes se desgasta para mostrar que a empresa anda na linha.
 
— Mãe, seja sincera comigo, ser CEO está sendo prazeroso pra você? Ou
você está fazendo isso apenas por mim?
 
— Eu amo o que eu faço — responde sem delongas.
 
— Quando você começar perder essa paixão, você me avisa. A família do
meu pai pode achar que tem controle sobre nós, mas não tem. Farei o meu
nome no esporte! Se eles implicarem contigo ou com a nossa empresa, ou
tirarem todo o dinheiro que é nosso, você não ficará desamparada, pois farei
minha própria fortuna, como o meu pai fez — beijo o topo de sua cabeça,
sentindo a sua mão apertar a minha.
 
O dinheiro é muito vantajoso em diversas ocasiões, mas também uma
grande maldição dependendo da situação em que se encontra.
 
Já faz mais de uma semana desde o velório dos meus pais. Ainda é muito
doloroso para mim, parece que foi ontem que me despedi deles para
sempre, mas bastou retornar para casa que a realidade caiu com força sobre
mim.
 
Nos últimos dias não sinto a mínima vontade de fazer absolutamente nada,
pareço uma completa planta enquanto vejo as horas dos dias passando
devagar enquanto permaneço na cama deles.
 
Fiz a Abigail voltar para casa depois do enterro. Ela relutou, mas eu insisti
dizendo que iria ficar bem, o que era uma grande mentira, mas eu não
queria que isso prejudicasse as suas aulas. Já no meu caso, a universidade
foi compreensível em deixar que eu retornasse assim que conseguisse
colocar as coisas no eixo, antes de me focar nos estudos. Porque
sinceramente, eu não conseguia pensar, imagina estudar.
 
— Emma querida — ouço minha tia Nora antes dela abrir a porta trazendo
uma bandeja de comida. — Você precisa comer um pouquinho.
 
— Não quero, tia — envolvo o lençol sobre minha cabeça, sentindo meu
estômago se contrair, parece que meu corpo além de sentir a dor emocional,
resolveu me dar uma forte cólica de presente.
 
— Você precisa se alimentar, Emma. Seus pais não iriam querer te ver
doente — sinto a bandeja sendo apoiada sobre a cama, o cheirinho de
macarrão com queijo preenche o ar, mas não atiça o meu estômago.
 
Minha tia por parte de mãe decidiu ficar uns dias comigo para que eu não
ficasse sozinha, ela tenta me animar e me alimentar, mesmo que seja
empurrando a comida na minha boca. Porém, eu estava vivendo meu
momento de luto, e só o tempo iria dizer quando eu iria conseguir sair dele
de forma definitiva, ou aceitar o fato que meus pais não estão mais aqui.
 
— Olha, tem o seu docinho favorito como sobremesa! — incentiva, me
fazendo olhar para o prato de macarrão, com um enorme copo de suco e pra
finalizar um pacote de Twizzlers.
 
— Estou com cólica, não vou conseguir comer — respondo olhando para
seus olhos gentis. — Não estou mentindo, é sério tá doendo.
 
— Bom, sendo assim vou deixar esse copo de suco para você se hidratar e
esse docinho para te animar — diz, colocando os itens perto de mim. —
Quando se sentir melhor, esquente um pouquinho do macarrão, não fique de
jejum. — Ela passa a mão sobre meus cabelos que estão bagunçados, já que
eu mal me levantei da cama.
 
— Mais tarde eu desço — garanto, mesmo sem soar com tanta certeza
assim na minha voz. Ela assente devagar antes de sair do quarto.
 
Meu celular vibra na cama e vejo que Abigail me mandou uma mensagem,
curiosa que sou, abro me deparando com a imagem do The Swamp lotado,
enquanto o foco está na camisa 16 com a seguinte mensagem: 
 
Abigail: Pra matar a saudades do seu crush 
 
Então, um estalo soa na minha mente. Caramba! Depois de todo
acontecimento com meus pais, eu simplesmente esqueci de Mike McCoy. 
 
Emma: É hoje o Orange & Blue Game?
 
Abigail confirma, e eu pego o controle sobre a mesinha ligando a televisão
no quarto dos meus pais, procuro pela transmissão na ESPN que os exibem,
encontrando o jogo prestes a começar. 
 
A câmera foca nos jogadores do time da universidade que irão se enfrentar
indo até o meio do campo, ficando todos em uma fileira entre uma mistura
de laranja e azul.
 
— Agora, os jogadores estão se preparando no meio do campo para prestar
uma homenagem a Roman e Helen Steele. — Meu coração dispara assim
que ouço o nome dos meus pais através do narrador. — O estádio irá
realizar um minuto de silêncio aos pais de uma das estudantes, que
faleceram no acidente de carro na semana passada. 
 
Meus olhos enchem de lágrimas quando todo mundo fica em silêncio no
aviso do apito. Uma foto dos meus pais é exibida no telão e sinto uma
gratidão enorme pela universidade estar realizando este gesto tão lindo. 
 
Quando o um minuto acaba, o barulho no estádio retorna e os Gators estão
prontos para mais uma partida. A transmissão mostra as pessoas na plateia
batendo palmas em um estádio lotado de ponta a ponta, antes de focar em
Mike.
 
— Aí está um dos queridinhos do time, o quarterback Mike McCoy! — O
narrador anuncia com a câmera focada no meu crush que começa a orientar
seu time daquela noite. — Muitos têm se falado que ele vem se destacando
de uma forma interessante, é que tem grandes chances de participar do
Draft da NFL! Ouvimos também boatos que olheiros já estão empalhados
nos melhores campus de esporte das universidades americanas em busca de
novos talentos…
 
Acho que todo jogador de futebol quer fazer parte da seleção do Draft, que
escolhe os jogadores universitários que mais se destacam por ano para fazer
parte de um dos times da National Football League – Liga Nacional de
Futebol. Com certeza aquele é o sonho de Mike, ir para um time grande.
 
Observá-lo de perto através da televisão me faz recordar do nosso beijo na
noite do baile e do quanto aquele desejo nos consumiu a ponto de eu perder
a virgindade sem pensar duas vezes em seus braços. 
 
Por conta dos últimos acontecimentos, minha mente desligou-se de tudo.
Mal tive tempo de aproveitar a sensação de que eu havia chamado a atenção
do meu crush, num nível bombástico, que de uma conversa gerou um beijo,
dai surgiu uma transa, e no fim ainda ele queria passar o restante da noite
comigo.
 
Fecho os olhos, recordando-me da sua língua envolvendo a minha, da sua
barba me causando arrepios gostosos, do seu corpo pressionando o meu, das
reações que tive ao tê-lo dentro de mim, abrindo-me conforme seu membro
duro me comia a cada estocada, levando-me ao êxtase. Fui agraciada com a
melhor foda de primeira viagem. 
 
Senti uma leve ardência no início, mas depois tudo que experimentei foi
puro prazer, enquanto uma sensação invadia o meu interior. Eu sabia que
tinha sentimentos por ele, mesmo sem o conhecê-lo de verdade, mas aquele
ato intensificou tudo, e eu não queria mais que ele me visse apenas como
uma conquista daquela noite. Eu o queria como meu namorado, eu desejava
conhecer o verdadeiro Mike, não o famoso que todo mundo já conhecia.
Mas não foi possível, porque tudo veio abaixo.
 
Uma lágrima escapa ao lembrar que talvez ele tenha me esperado no
Starbucks no dia seguinte e eu não apareci por lá. Ele não teria como saber
quem era eu, já que eu não disse qual era o meu nome, mantendo aquela
droga de mistério durante todos os minutos que passamos juntos. Ele não
sabe quem eu sou. E provavelmente perdeu a total vontade de saber. Posso
até ter conseguido ficar com ele, mas qual é a probabilidade dele me
esquecer? Tornando-me mais uma diversão daquela noite? Acho que 100%,
com uma margem de erro de 1%.
 
Enxugo as lágrimas conforme o observo correndo no estádio, não me
arrependo de ter me entregado para ele, foi um momento especial mesmo
que tenha sido naquele quartinho neon erótico da fraternidade, mas não
posso dizer que foi a melhor noite da minha vida, pois infelizmente ela foi a
pior.
 
Pego o pacote de Twizzlers que minha tia deixou na mesinha de cabeceira e
começo a puxar a tira de alcaçuz com os dentes enquanto assisto ao jogo. 
 
Não posso me preocupar em ter um relacionamento naquele momento, pois
tenho tantas coisas para se resolver da minha vida depois desse desastre.
Quem sabe um dia a sorte volta a me rondar, e o Mike e eu possamos nos
reencontrar, e desta vez, irei lhe dizer qual é o meu nome.
A sensação de participar de um campeonato, mesmo que estudantil, sempre
me deixou com a adrenalina lá em cima. Meu corpo virava uma máquina, e
eu queria o melhor resultado possível para a minha equipe.
 
Aqueles tipos de jogos sempre nos ensinaram muito como melhorar nossas
táticas, e nos preparavam para a temporada de campeonatos entre as
universidades. Fazíamos todos os trâmites de um jogo, dávamos até
entrevistas para os estudantes de jornalismo esportivo, que faziam um ótimo
trabalho na divulgação dos Gators, durante uma conferência de imprensa.
Era um baita preparo para o que o futuro nos reservava. 
 
Sempre era uma emoção ter um público para vibrar conosco,
principalmente ouvir os gritos da plateia lotada conforme entravamos no
campo. Eu estava usando o uniforme laranja enquanto os meus colegas de
equipe, os quais iriam enfrentar aquela noite, estavam usando azul.
 
Nos encaminhamos para o centro do campo antes mesmo de pensar em jogo
para fazer a homenagem aos pais da aluna que haviam falecido. Afinal,
éramos uma comunidade de alunos e escolhemos aquele lugar para passar
alguns anos de nossas vidas, e algo que era mais prezado aqui na
Universidade da Flórida era o apoio por todo time institucional. Claro que a
universidade também tinha suas falhas, mas não vinha ao caso.
 
Após o ato solene, vieram os aplausos, e quando bati o olho na
arquibancada, perto de onde meu time descansaria nos breaks, não acreditei
quando vi um dos meus tios ao lado de minha mãe. 
 
O sorriso convencido de Viktor McCoy demonstrava o quão influente ele
era e também o quão inoportuno poderia ser. Ele era um dos homens que
queriam nos derrubar. Minha mão fechou em punho. O que caralho ele
estava fazendo ali? Minha família mais distante nunca foi de sequer dar as
caras em momentos como esse, por que esse interesse tão repentino?
 
Minha mãe parecia plena ao seu lado, mas eu conhecia seus sinais, sabia
que estava desconfortável em saber que um homem como ele veio até o
campeonato universitário do seu filho para atazaná-la. Ou seria ameaçá-la?
 
Sinto meu sangue ferver e o foco ir para longe. Quando começamos o jogo
estou completamente no modo automático, sequer consigo analisar as
jogadas porque vire e mexe, meus olhos param no homem de terno italiano
que fica sussurrando no ouvido de minha mãe, que mexe as mãos,
demostrando o quão desconfortável está.
 
Não demora para eu perder a bola em jogadas sequenciadas, meus colegas
chamam a minha atenção, mas o time azul está começando a se destacar, já
conquistando seus primeiros pontos.
 
Os quinze primeiros minutos passam tão rápido que mal percebo, quando
estou no momento de pausa escuto o treinador falar, mas a informação entra
em um ouvido e sai por outro. Aquela sensação desconfortável de saber que
meu tio está aqui me incomoda, mesmo sabendo que minha mãe está na
companhia do guarda-costas, eu sei que palavras machucam muito mais que
ações.
 
— Acorda McCoy! Estamos perdendo cara e ainda é o segundo tempo! —
Escuto Kyle dizer assim que bate em minhas costas, antes de voltarmos a
nos posicionar em uma das jardas.
 
Quando volto a me agachar, gritando os comandos para a equipe, minha
curiosidade novamente me suga para a direção deles, pegando no exato
momento que meu tio coloca a mão sobre a coxa da minha mãe, muito perto
da sua virilha. O ódio que sinto naquele gesto, faz meu sangue ferver de tal
forma que, ao invés de fazer o meu trabalho de quarterback, viro o defensor
que eu era mais novo, indo com toda força contra meus colegas vestidos de
azul, em um ato agressivo, antes de me derrubarem no chão.
 
— Porra, McCoy o que você está fazendo? — Escuto Chris tentando me
ajudar, mas eu não preciso de ajuda e o afasto com meus braços.
 
— MCCOY! VOCÊ FICOU MALUCO! — Um dos meus colegas do time
azul, o qual havia atingido, me empurra com força. Mas não gosto de levar
desaforo pra casa e o empurro de volta na mesma proporção. 
 
William, que é quarterback do outro time, vem se intrometer, e
completamente envolvido pela raiva, não penso duas vezes quando lhe dou
uma cabeçada, iniciando uma sequência de socos a ponto de conseguir
arrancar o capacete de sua cabeça. Os outros caras tentam me segurar, mas é
em vão, continuamos brigando até que consigam nos separar. 
 
— QUE PORRA É ESSA MCCOY! — grita o treinador Jenkins segurando
o meu capacete assim que consegue me afastar do tumulto. — Foco no
jogo, caralho! São seus amigos, não é um time fora de casa!
 
Pra piorar, o juiz me dá penalidade máxima, expulsando-me do jogo no
início do segundo tempo. Obrigando-me a deixar o meu time na mão de
algum estudante novato. 
 
Irritado por causar tudo isso, tiro o capacete jogando-o com força contra o
chão do campo, enquanto me retiro do local, indo direto para o vestiário,
sem me importar com as câmeras que estão me filmando naquele estado.
 
Assim que chego no vestiário, solto o grito que estava preso em minha
garganta antes de socar o meu armário.
 
Eu odiava perder o foco, odiava estar preocupado, simplesmente odiava. 
 
Mas ver meu tio agindo daquela forma com a minha mãe em público foi a
gota d'água, por mim deveria ter subido naquela arquibancada e socado o
rosto dele, mas acabei descontando nas pessoas erradas.
 
— Mike! — escuto a voz da minha mãe que caminha apressada até a mim,
com o tal do Leon em seu encalço.
 
— Mãe — murmuro antes dela me abraçar com força, não se importando
com a minha roupa suja.
 
— O que foi que houve? — Ela se afasta para me analisar melhor. — Não
te vejo tendo esses ataques de raiva desde a época que seu pai… — Não
consegue finalizar.
 
— O que o desgraçado do meu tio veio fazer aqui? — questiono encarando
seus olhos verdes.
 
— O desgraçado do seu tio veio saber como anda o desempenho do
sobrinho na universidade que sua mãe faz questão de patrocinar. — O
vozeirão estridente de Viktor McCoy surge no ambiente fazendo nós três
olharmos em sua direção. Ele observa de esguelha o tal Leon antes de nos
encarar. — Isso é jeito de tratar sua família?
 
— Você não é minha família — digo, colocando minha mãe atrás de mim.
 
— Que eu saiba, você leva o nosso sobrenome, e não da sua querida e
belíssima mãe, que também se apossou dele. — O modo ganancioso que ele
diz aquilo dá a sensação que a gente deveria agradecer por carregar
tamanha importância. — Seu comportamento em campo mostra que
continua o mesmo adolescente rabugento.
 
— Pelo visto, você nunca assistiu ao jogo de futebol americano, brigas são
uma das coisas mais comuns em campo — rebato o seu comentário.
 
— Não sou o tipo de homem que gosta de ver jogos triviais como esse,
diferente do meu falecido irmão que adorava perder tempo vendo homens
se atacando em campo — bufa mostrando sua insignificância para o
assunto.
 
— Eu não invisto nesta universidade apenas porque o Mike está aqui,
Viktor, mas é uma forma de mostrar o apoio da nossa empresa para os
futuros talentos e o desenvolvimento que a educação é capaz de
proporcionar. — Minha mãe diz com confiança saindo atrás de mim.
 
— Futuros talentos… — revira os olhos. — O que vi no campo, não parecia
ter talento algum. — Por mais que não sejamos próximos, ouvir aquilo fere
o meu ego.
 
— Sinto muito que tenha perdido seu precioso tempo, tio — falo
secamente.
 
— Obrigado pelas condolências, isso é um aviso para sua mãe, que se ela
quer investir, que ela consiga algo mais rentável, como o NFL. — Meus
olhos se arregalam. — Até mais ver.
 
Saindo pelo mesmo lugar que entrou, Viktor McCoy deixa o ambiente com
um clima tenso no ar.
 
— Ele está exigindo que você invista na Liga Nacional de Futebol? —
pergunto para minha mãe que assente devagar. 
 
— Sim. — Ela me olha por cima do ombro. — É um mercado competitivo,
toda temporada eles limitam o número de parceiros e os valores de
investimento são cada vez maiores. Por isso acabei indo para outros
esportes, assim dando mais visibilidade aos equipamentos da Sports
Advanced. Mas agora eles estão insistindo que a gente chegue no patamar
de uma NFL. Eles querem que eu fique no lugar de uma das maiores lojas
de esportes americanos que já é patrocinadora deles.
 
— Ele quer que a nossa empresa entre em conflito com outra? — Olho
abismado para minha mãe. — Tipo quando a Pepsi tirou a Coca-Cola do
caminho quando teve oportunidade de patrocinar a Liga?
 
— É, exatamente isso. — Ela suspira abaixando a cabeça pela primeira vez.
— Eles acham uma perda de tempo e dinheiro quando invisto em
universidades que tem potencial no esporte, e isso me irrita de tal forma que
não consigo expressar a frustração que é trabalhar com pessoas mesquinhas.
Caramba, fornecemos itens e equipamentos esportivos, que podem ser tanto
para estudantes quanto para times enormes. Estudantes que serão
reconhecidos lá na frente por eventos grandes como jogos significativos,
competições e até mesmo uma Olimpíada! Mas a ganância de pessoas
magnatas é conquistar sempre mais dinheiro. Nossa empresa já gera lucros
extremamente significativos com tudo que a gente conquistou, mas para
eles não é o suficiente.
 
— E se você não conquistar essa vaga na NFL? — pergunto pousando
minha mão sobre seu ombro.
 
— Mesmo sendo sócios, eles retêm 50% do lucro e também tem controles
sobre algumas coisas na empresa. Eles podem queimar o meu filme com
alguns colaboradores, chegando num nível de justificativa que me tire do
cargo de CEO, já que não consegui trazer mais lucro para os seus bolsos.
 
— MAIS QUE PORRA! — chuto o armário com força. — Isso é
justificativa? Depois de tudo, TUDO, que você fez por essa empresa.
 
— Eles não ligam pra isso, Mike. — Ela respira fundo antes de se voltar pra
mim. — Ou conquisto isso, ou perco o controle da empresa.
 
— Eu não deveria deixar você nessa situação… eu deveria estar estudando
algum curso de administração…
 
— Mike, não, olha pra mim. — Suas mãos envolvem meu rosto. — Seu
sonho sempre foi se dedicar ao esporte e não vai ser agora que você vai
desistir por conta do que está acontecendo. Eu já passei por coisas piores,
meu filho, e eu consegui, mesmo com várias tentativas para me derrubar.
 
— Você é foda, mãe — envolvo-a em um abraço apertado.
 
— Obrigada, e não se preocupe comigo, eu ficarei bem. Se concentra nos
campeonatos, na chance que você pode ter de ser selecionado pelo Draft.
Desculpe por esse assunto deixá-lo tão estressado no dia de hoje. — Ela
coça o meu cabelo ainda presa a mim.
 
— Quando vi ele te assediando, eu explodi, perdi a cabeça — revelo me
afastando dela. — Minha vontade era de socá-lo.
 
— A mão dele não ficou ali por muito tempo. — A voz rouca e forte do
guarda-costas da minha mãe se pronuncia.
 
— Leon quase quebrou o ombro dele com um singelo aperto. — Minha
mãe segura o riso. Pelo jeito o cara era competente.
 
— Obrigado, Leon. Você fez um bom trabalho! — Encaro o homem alto e
com o porte atlético parecido com o meu, mas bem mais velho, acho que
deve ter uns 30 anos.
 
— O meu trabalho é proteger a sua mãe, até mesmo dos familiares dela.
 
Assinto devagar antes de olhar novamente para a minha mãe.
 
— Eu queria que você pudesse ter me visto melhor em campo — conto,
acariciando seu rosto que me lança um sorriso gentil.
 
— Tudo bem, meu filho. Só tente controlar sua raiva, não quero vê-lo numa
cama de hospital. — Ela aperta meu ombro antes de se afastar. — Agora
vou retornar para a arquibancada, você deveria ir ver seus amigos também,
o jogo de hoje é contra vocês, é pra ser algo divertido.
 
Ela tem razão. Esse campeonato era para ser tranquilo em comparação aos
outros os quais enfrentamos ao longo do ano, e eu estraguei tudo. Vai ser
difícil recuperar a confiança da equipe de novo.
Já tinha se passado quase três semanas que eu estava afastada da
universidade, evitando pensar na quantidade de coisas que eu precisaria
colocar em ordem nos meus estudos assim que retornasse.
 
Foi difícil organizar meus pensamentos. 
 
Tive fortes crises de choro, continuei dormindo no quarto dos meus pais ao
invés do meu, fiquei olhando nossas fotos por horas, sem vontade alguma
pra comer. Se não fosse a tia Nora insistindo, era capaz de eu estar bem
doente, mas senti que perdi peso nesse meio tempo, além do cansaço
inexplicável, o que minha tia deduziu ser a falta de vitaminas no meu corpo.
 
Para evitar que eu caísse em depressão me levou a um psiquiatra, comecei a
tomar remédios para controlar minhas emoções que sempre foram afloradas
demais e só assim consegui dormir. 
 
“Não esqueça de ir ao psicólogo na sua universidade, os remédios não
serão os únicos que vão te ajudar”, disse ela antes de entrar no carro para
voltar a sua vida. Titia não podia ficar comigo para sempre, e depois de
duas semanas e meia após o falecimento dos meus pais ela retornou ao
Colorado. 
 
Deste modo eu tinha que começar a colocar a minha vida de volta nos
eixos. Só que a burocracia é uma chatice. Principalmente quando você está
tentando colocar a sua cabeça no lugar, ao mesmo tempo em que resolve
coisas pendentes após enterrar seus pais. 
 
Afinal, a vida adulta não esquece de mandar suas dívidas, e quando
consegui parar e ter concentração para verificar todas as despesas, me
deparei com um buraco sem fundo na vida financeira dos meus pais. A
situação não ia nada bem, mesmo com os salários dos funcionários em dia,
a loja de presentes estava com várias dívidas com fornecedores e algumas
contas não fechavam.
 
Entendi porque a mamãe vivia dizendo que tinha que pegar firme com a
loja, pois era sua principal fonte de renda, mas quando o mundo se fechou
por conta da pandemia alguns anos atrás, os turistas também sumiram e isso
resultou em vários prejuízos de vendas, que refletiam até hoje. As pessoas
voltaram, mas ainda assim precisava recuperar o valor que normalmente se
arrecadava no ano, mas isso não estava acontecendo. Por mais que eles
tivessem tentado a internet, o tipo de loja deles era destinada ao presencial.
Quem iria comprar a lembrança de uma cidade que não esteve?
 
O pior que ao invés deles me avisarem dessas condições, continuavam a me
mandar a mesada para viver no campus. Por sorte eu era bolsista, e os
aluguéis da habitação já estavam quitados até o final dos meus estudos, pois
o dinheiro guardado pelos meus pais ao longo da minha vida proporcionou
isso. Ainda tinha algumas reservas na minha poupança para me ajudar com
despesas escolares, mas eles me ajudavam por fora, e isso com certeza
pesava em seus bolsos.
 
Por causa do seguro não tive tanto problema em relação às despesas
médicas e funerárias, mesmo assim, isso não cobria o desfalque na loja. E
essa era a principal renda dos meus pais. A poupança que um dia eles
tiveram, estava escassa, e acredito que agora seria mais difícil de recuperá-
la.
 
Passo as mãos pelos cabelos tentando manter a calma enquanto aqueles
números me encaram de volta. A sensação de desespero quer me dominar,
mas respiro fundo e levanto-me para tomar uma água e espairecer.
 
Caminho até os fundos da casa dos meus pais, quer dizer, agora apenas a
minha casa. Ela é o único bem livre de problemas financeiros comparado ao
patrimônio da loja. Olho para o lago aos fundos que faz parte do
condomínio que moramos. 
 
Quando nos mudamos para Miami, eu tinha apenas cinco anos, então não
me lembro de muita coisa daquela época, mas uma lembrança ainda é muito
viva a respeito desse lugar. Quando entrei na casa vazia e fui atrás do que
poderia ser meu quarto, deparei com um que dava para ver o lago da janela.
Então quando o sol de fim de tarde e começo de noite estava abaixando, a
visão era magnífica e acolhedora.
 
Eu sentia falta dessa privacidade, eu adorava dividir o quarto com a
Abigail, mas havia momentos que eu queria ficar sozinha, em meu próprio
quarto, ou não ter que dividir banheiro com vários estudantes. Por isso,
quando dava eu saia de Gainesville e descia para cá. Ocasionalmente dava
um pulo em Miami Beach para renovar as energias, mas não era sempre, eu
não sou tão fã assim de praia.
 
Voltando para os papéis sobre a mesa da cozinha, sinto um leve desconforto
em meus seios, como se eles estivessem sensíveis ao toque, e faço uma cara
de dor. Além disso, preciso verificar alguns cômodos da casa, porque tem
algum cheiro forte que está me incomodando desde ontem. Na verdade,
tenho que ir atrás de um depósito onde poderei guardar todos os nossos
pertences com segurança, pois essa foi uma das alternativas que encontrei,
alugar essa casa durante o período que eu estivesse estudando para turistas
por temporada.
 
Essa é a parte triste, ser responsável por tomar decisões. Eu não queria fazer
isso com a minha casa, mas tenho contas para pagar e nenhum tostão no
bolso para suprir todas as dívidas sem que elas me prejudiquem. Preciso me
concentrar na universidade para que assim eu consiga finalizar a minha
graduação e não posso de maneira alguma perder a minha bolsa, mas como
cientista sei que quero continuar estudando, mestrado e doutorado, mas pra
isso preciso ter dinheiro, e infelizmente ele não dá em árvore.
 
Meus pais foram o suporte que tanto precisei para alcançar esse sonho, eu
reconheço isso muito bem, principalmente agora que eles não estão mais
aqui. Mesmo com toda culpa que ainda me ronda, enquanto pensamentos
acusatórios surgem no meu consciente de que se eu não tivesse adiado, eles
estariam aqui, nessa cozinha, vivendo a vida deles, batalhando como
sempre, mas vivos.
 
— Por que vocês decidiram pegar a estrada? Por que vocês não me
avisaram sobre isso? Por que não aguentaram mais um pouco pra me ver?
Por que… — choramingo fazendo-me sempre as mesmas perguntas.
 
Um acesso de raiva faz com que espalhe todos os papéis da mesa, a
sensação de imponência envolve todas as minhas veias, um desespero toma
conta do meu peito fazendo meu coração disparar e as lágrimas virem à
tona.
 
Merda, eu estou sozinha. Literalmente sozinha.
 
Encaro os papéis jogados no chão, e enxugando com força as lágrimas que
ainda insiste em cair, pego-os um por um.
 
É necessário manter a calma, pois nada será resolvido se eu perder a cabeça
dessa maneira. Meu humor está aflorado de tal jeito, que não sei se é efeito
dos remédios ou toda situação que vem acontecendo nos últimos dias.
Tenho que entender que meus pais não estão mais aqui, que agora tenho que
tomar de conta do que eles construíram com muito afinco, eu não posso
decepcioná-los. Não posso.
 
Recomponho-me. Fiquei de encontrar com a advogada que está dando conta
de todas as papeladas depois do almoço, mas antes disso quero passar na
loja do meu pai, ver como está sua situação, saber da boca dos funcionários
como está sendo o movimento. Sou péssima com administração, mas terei
que lidar com isso.
 
Meu celular vibra, o número da Abigail aparece na tela e limpo a garganta
antes de atender.
 
— Oi
 
— Oie amiga, como você está? Já se alimentou? — questiona. Desde que
voltou a Gainesville ela faz questão de me ligar ou mandar mensagem nos
intervalos.
 
— Caminhando — respondo antes de me sentar. — Vou comer depois…
 
— Você precisa se alimentar direito, Emma — repreende. Passo a mão no
cabelo sabendo que ela tem razão. — Nem que seja um frango assado do
Wallmart, mas você precisa comer. 
 
O cheirinho irresistível do frango assado vem com tudo no meu paladar, e
com certeza aquilo aguça o meu estômago de um jeito inexplicável.
 
— No caminho passo lá pra comprar um desses pra mim, acompanhado de
um Mountain Dew para refrescar a alma — comento só imaginando os
sabores da gordura e do refrigerante adocicado estilo cítrico.
 
— Depois que se entupir de besteiras, quero a senhora comendo alimentos
bem saudáveis, mas por enquanto, esse cardápio está ótimo! — Ela ri no
outro lado da linha. — E as questões da sua casa? Você acha que vai
demorar para retornar ao campus?
 
— Infelizmente, sim — folheio os papéis na minha frente —, tem muita
coisa para analisar e também muitas dívidas acumuladas. Não posso sair
daqui sem deixar as coisas nos eixos, pelo menos encaminhadas ou que eu
possa resolver com uma ligação.
 
— Nossa, amiga, sinto muito, se precisar de qualquer suporte financeiro,
eu…
 
— Não se preocupe, eu darei um jeito, acharei alguma forma de controlar a
situação. — Interrompo-a, arrumando os papéis em uma pasta.
 
— Emma, você não está sozinha, não tem mal algum pedir ajuda. Você era
filha única, tudo recaiu sobre você, e é normal que se sinta sobrecarregada
com tudo, mas você não precisa passar por isso sozinha.
 
Ao escutar isso, tenho a sensação dela estar ao meu lado me sacudindo de
leve. 
 
— Amiga, questões financeiras são decisões individuais. A situação está
crítica, e tudo indica que vou perder o que meu pai construiu ao longo
desses anos, sua amada loja de presentes, e eu não quero. Uma casa alugada
okay, ela continua sendo minha, mas a loja… — sacudo a cabeça. —
Realmente, eu não sei.
 
— Você já entrou em contato com aquela advogada que eu te passei? 
 
— Já, fiquei de encontrá-la após o almoço. — A imagem do frango
crocante volta a minha mente. Pena que não poderei comer isso na frente do
motorista de aplicativo senão ele é capaz de me expulsar do carro. 
 
Droga, a falta que um carro me faz agora. No campus, andava de bicicleta
de um lado para o outro, sob o sol e a chuva, mas pelo visto terei que voltar
para Gainesville com um carro, primeiro para carregar minhas coisas, assim
desocupando a casa. Segundo, agora eu estou por minha conta e risco, e ter
um carro é indispensável para atender algumas necessidades. Após resolver
as pendências, preciso passar em uma loja de carros usados e pegar um que
atenda as minhas economias e que aguente quase 6h de viagem. 
 
— Que bom! Isso já é um grande passo! As coisas vão se resolver amiga,
você vai ver. É tudo um processo, mas eu sei que você é forte — sinto meus
olhos encherem de lágrimas. — Eu não sei a sua dor, apenas imagino, mas
pensa assim, seus pais estão lá no céu ajudando e guiando você, mesmo que
eles não estejam mais nesse plano, eles continuaram cuidando de você,
como sempre fizeram.
 
— Obrigada amiga — agradeço, deixando as lágrimas escaparem. 
 
— Estou aqui, sempre. — Posso imaginar o sorriso em seu olhar. — Para
demonstrar o meu cuidado com você, estou fazendo questão de anotar todos
os conteúdos passados pelos professores e gravando áudios em todas as
aulas para que você não perca nada.
 
— Ownt! — Ouvir aquilo aquece meu coração. — Nossa, muito, muito
obrigada por isso, sério, não sei como agradecer.
 
— Só fique bem, isso será o melhor agradecimento. — Que vontade de
abraçá-la! — Agora preciso ir, depois mando mensagem! Vai almoçar!
 
— Tá bom! Beijos, amiga!
 
Nos despedimos e o silêncio volta a tomar conta da casa. 
 
Por isso sempre falam que somente sabemos quem são os nossos amigos de
verdade quando passamos por situações difíceis, e Abigail é a prova de uma
pessoa que quero levar para sempre na minha vida e no meu coração. 
 
 
Todo ato tem consequências. 
 
Meus companheiros de time ficaram furiosos com a minha atitude no
campeonato, mal olharam na minha cara quando retornaram ao vestiário. 
 
O time azul, claro, comemorou muito o resultado. William tinha finalmente
conseguido me vencer e estava com o ego inflado por conta disso. 
 
Não quis forçar a barra e deixei-os em paz ao sair do estádio. O campus
estava cheio naquele dia de festa, algumas pessoas me reconheceram, mas
evitaram falar comigo, talvez com medo de que eu estivesse pura ira e
acabasse socando-os também.
 
Eu não fiquei pra comemorar ou confraternizar, afinal tinha muita coisa se
passando na minha cabeça. Só me recordo de ir para o meu quarto, tomar
um banho e pegar no sono enquanto encarava a pequena presilha de
borboletas que ainda estava sobre minha mesinha.
 
Minha mãe veio se despedir de mim no dia seguinte ao jogo, me
assegurando que ficaria bem. Vi alguns dos outros estudantes nos
observando enquanto fuxicavam entre si. Ser alvo de fofoca era algo que
era frequente na universidade, mas acabei me acostumando, pois esse seria
o meu futuro, sendo um atleta conhecido e, quem sabe, admirado.
 
A Hailey veio até meu dormitório naquela semana esquisita, queria saber se
eu estava mais calmo. Como estava precisando de algo para me distrair dos
problemas que eu mesmo me enfiei, não neguei o que ela sempre vinha
buscar. Fodi ela atrás da porta, sem me importar com quem estivesse do
lado de fora e ouvisse os seus gemidos, que não eram muito discretos. Ela
até quis ficar no meu dormitório, mas a dispensei. 
 
Mas quando voltei ao quarto e meu olhar se recaiu na presilha, eu me senti
um verdadeiro bosta. Era como se eu tivesse traído alguém. E desejei que a
moça misteriosa estivesse lá, que ela tivesse vindo até meu quarto porque
estava preocupada comigo e queria saber como eu estava, mas ela não veio.
Foi a primeira vez que joguei a presilha com força contra a parede,
indignado com o descaso dela em continuar a me evitar. Mas também me
sentindo um idiota por continuar alimentando esperanças em algo que pode
nunca mais acontecer. Com raiva, guardei a presilha na gaveta, tirando-a do
meu campo de visão.
 
Nunca fui de ter muitas amizades, eu não sabia como mantê-las e sempre
que algo acontecia, eu não era o primeiro a pedir desculpas, mesmo que a
culpa fosse minha. Era teimosia? Com certeza, mas também não queria
confiar em todo mundo, sabendo que sempre haveria aqueles que estão ali
apenas para ganhar vantagem.
 
Meus colegas de equipe ainda estavam me dando um gelo dias depois do
campeonato e eu não me deixei abater, mas isso despertou a raiva do nosso
treinador. 
 
— O que está acontecendo?! — Ele esbravejou, pegando-nos
completamente de surpresa na academia. — Vocês se esqueceram que são
um time? 
 
— Lá vem o senhor defender ele! — Ouço um dos estudantes falar
apontando para mim. 
 
— Qual é! Vamos lá, Mike, fale com seus companheiros! Peça desculpas,
porra! — O treinador Jenkins grita, me encarando conforme pego os pinos. 
 
— Pra quê? Se eles não querem nem me ouvir? — rebato. 
 
— Para de ser mimado, McCoy! Uma visita da mamãe e fica assim cheio de
não me toque? — atiça William.
 
— Quer ver um soco no meio da sua cara, Evans? — digo me levantando,
mas sinto as mãos de Chris e Kyle me segurando para não avançar.
 
— Parou! Parou! — O treinador se coloca entre nós. — Porra, somos um
time! Não é pra ficar com briguinhas igual clube de mulher, vocês são
líderes de torcida por acaso? — diz olhando para ambos os lados. — Vocês
têm que colocar na cabeça de vocês que situações como essa podem
acontecer, seja perder uma partida ou perder a cabeça! Mas precisam
identificar porque o colega fez isso, não fecharem a cara! 
 
Afasto-me deles voltando para a minha sequência, sinto seus olhares em
mim, esperando que eu diga alguma coisa. 
 
— Ele não vai abrir a boca! Que porra de líder é esse? — William volta a
falar, sinto meu pulso se apertar com força.
 
— Cala a boca, Evans! — rosno. 
 
— Fala com a gente, Mike, o que houve? — Chris incentiva.
 
— Problemas familiares! — Sou direto. — Perdi o foco por conta disso,
algo me irritou, e quando dei por mim, descontrolei. 
 
— Você está em dia com o seu psicólogo? — O treinador questiona
olhando-me com atenção e dou de ombros, faz tempo que não passo em um
analista. — Olha, vocês têm que começar a levar isso mais a sério. O
futebol americano já é conhecido como um esporte agressivo, mas vocês
não podem se tornar agressivos por fatores externos no campo e
principalmente fora dele. Isso vai prejudicar e muito a imagem de vocês!
Estamos na temporada da escolha do NFL Scouting Combine que te levará
ao Draft, onde avaliam o seu psicológico e me disseram que o Orange &
Blue estava com olheiros.
 
Meu coração vai na boca ao ouvir aquilo. Olheiros do Draft no nosso
campeonato interno? Ou seja, eles virão uma versão nada agradável de
mim! Merda, merda, merda…
 
— É sério isso? — pergunto sentindo o desespero em minha voz.
 
— Mas é claro que estou falando sério! E essa briga já diminui um ponto de
qualquer um de vocês de serem escolhidos! E não estou dizendo apenas isso
para quem está no último ano, é ao longo do seu período como estudante
aqui na universidade. — O treinador olha para todos. — Vocês precisam
recuperar essa imagem, mostrar o seu melhor, mas não brigando entre si!
Vocês vão agir assim em times profissionais? Bater no próprio colega de
equipe?
 
Abaixo a cabeça, sentindo-me culpado por causar essa impressão sobre o
nosso time aos olheiros. Se fosse um jogo contra rivais, era compreensível
ter brigas, mas era um jogo contra nós mesmos.
 
— Desculpa — murmuro, com um bolo na garganta. — Desculpe ter
estragado tudo, pessoal. 
 
— Agora é tarde demais, McCoy — rosna William que tinha o resquício
ainda de um olho roxo. — Você fodeu com tudo!
 
— Não, não está tudo perdido! — O treinador tenta acalmar. — Eles vão
voltar no campeonato entre as universidades. Vocês terão que fazer o que eu
disse, precisarão se concentrar em campo! Nada das suas vidas pessoais
pode te atrapalhar quando vocês estão lá. Se acha que não está nas
condições mentais para fazer isso, me informa que você fica no banco!
Combinado, Gators? 
 
— Sim, treinador! — falamos em alto e bom som.
 
— Não senti firmeza! — provoca 
 
— Sim, treinador! — voltamos a gritar. 
 
— Ok, agora nada de desavenças por aqui, temos que sempre estar unidos
se quisermos alcançar novos horizontes! Já faz algum tempo que o Draft
não seleciona os atletas da nossa universidade, então temos que continuar
insistindo para mostrar a eles o nosso valor! — incentiva, batendo no ombro
de alguns alunos, inclusive no meu. — Agora que estamos entendidos,
estão dispensados para o almoço, depois vejo vocês na sala de estratégia. 
 
Todos os meninos começam a se ajeitar, mas mesmo com a bronca do
treinador, eu sei que essa distância permanecerá até eu recuperar novamente
a confiança deles. 
 
Estraguei tudo. Se eu soubesse que o olheiro da Draft estava na
arquibancada naquela noite, tudo poderia ter sido diferente, eu teria
bloqueado qualquer informação externa, mas me deixei levar, e meu tio
também foi aparecer na hora mais inoportuna, levando sempre a desgraça
por onde ele pisa! 
 
— Mike! — ouço alguém me chamar, e percebo que estou apertando o peso
com força. Olho em direção a Kyle e Chris que me encaram, Chris é quem
continua. — Queremos entender melhor o que aconteceu.
 
Percebo que a academia ficou vazia, permanecendo apenas nos três. 
 
— Eu já disse que foram problemas familiares — digo, colocando o peso
em seu lugar. 
 
— Que tipo de problemas familiares? — Chris insiste. 
 
— Agora vocês querem falar comigo? — encaro os dois.
 
— Você ficou com a cara fechada a semana toda, McCoy, se a gente se
aproximasse, era capaz de você socar a gente só pelo fato de abrirmos a
boca. — Kyle rebate levando as mãos ao alto. 
 
— Ele tem razão! — Chris concorda. 
 
— A gente não entendeu como de uma hora pra outra você saiu em
disparada e empurrou o Rogers. Você já estava distraído durante a partida,
mas o ataque de fúria nos pegou de surpresa. — Kyle conta, cruzando os
braços. — Ai o Anderson ficou no seu lugar e foi só ladeira abaixo. O time
ficou puto, não só porque perdemos, mas porque não tínhamos o nosso líder
conosco. 
 
— Culpe o juiz que me expulsou — resmungo. 
 
— Vamos, Mike! Abra o coração! Somos seus amigos! — Chris incentiva. 
 
Por um instante, os observo. Apesar de estudarmos em períodos letivos
diferentes, nos encontrando mais no treinamento que atendia alunos de
várias idades, Chris, Kyle e Harry, foram as únicas amizades verdadeiras
que tive ao meu lado.
 
— Eu… — respiro fundo —, vi meu tio assediando minha mãe na
arquibancada.
 
— O QUÊ? — os dois gritam surpresos.
 
— Ele já vem fazendo da vida dela um inferno na empresa, e o filho da puta
ainda teve a audácia de vir até aqui pra esbravejar mais ameaças — explico,
enfiando às mãos por entre os fios do meu cabelo.
 
— Desgraçado! — Chris xinga. — Agora faz total sentindo você ter agido
dessa forma explosiva, eu faria o mesmo. 
 
— Não importa a classe, sempre terão caras escrotos! — Kyle soca a mão. 
 
— Agora ferrei todo o time por conta daquele puto! — jogo minha toalha
contra o chão. — Porra, olheiros do Draft logo neste jogo!
 
— Isso também me pegou de surpresa! — Chris diz, sentando em uma
máquina de pinos. — Por mim eles só compareciam a jogos oficiais entre as
universidades, não num evento do próprio time.
 
— A avaliação de trabalho em equipe foi pro brejo! — exclamo. — Vocês
não sabem a raiva e a culpa que estou sentindo!
 
— Mike, você precisa controlar esse seu humor. — Kyle orienta. — Faça o
que o treinador disse, passe com um psicólogo. Você precisa voltar ter a
mente em foco. Se continuar a ficar pensando em como vão os negócios da
sua família, tudo vai desandar de novo e você não terá controle.
 
Olho para meus amigos sabendo que eles têm razão. Não posso levar meus
problemas pro campo, senão vou explodir de novo, e eu não quero ser a
mesma versão de mim que anos atrás usava apenas o esporte para descontar
a raiva do mundo! Tenho que evitar distrações nesse patamar, os quais me
tiram dos eixos. Preciso manter o controle. 
 
 
Após um mês, finalmente consegui resolver as pendências antes de voltar a
Gainesville, agora com uma picape chevrolet 1998 com a pintura
envelhecida e algumas caixas na sua caçamba. 
 
Foi doloroso deixar a minha residência em Miami quase vazia, ficando
apenas os móveis e alguns utensílios domésticos para os futuros hóspedes
que iriam passar uma temporada por lá, enquanto uma rede imobiliária
cuidaria de todos os trâmites de aluguel. Alguns pertences dos meus pais
ficaram em um depósito particular e outros fiz doações. 
 
Um dos baques, para a sequência de desgraças que estava acontecendo na
minha vida, foi me desfazer da loja de presentes do meu pai. Infelizmente
eu não pude dar continuidade ao seu funcionamento e precisei dispensar os
trabalhadores, mas tomei a decisão de passar o ponto para alguém que
tivesse a melhor condição de manter aquele negócio. Desta forma e com
muita dor no coração, ela está a venda. Mas terei que cuidar das contas até
alguém assumi-la com as dívidas.
 
Assim que entro no campus, uma saudade do local preenche meu peito. Eu
gosto muito daqui, e a partir dos próximos anos continuará a ser o meu lar.
Estaciono em uma vaga em frente ao meu prédio e logo vejo Abigail
aguardando ao lado de Chris. Eu nem contei para ela sobre o Mike ainda,
mas será uma conversa pra outra hora.
 
Saio da picape que se destoa dos carros mais populares e novos, e minha
amiga corre em minha direção dando-me um abraço apertado. 
 
— Como é bom ter você de volta, amiga! — anuncia ainda em meus
braços.
 
— É bom estar em casa — sorrio para ela que se afasta para olhar as caixas
no carro.
 
— Trouxe o Chris pra nos ajudar a levar as coisas pro nosso quarto. — Ela
aponta para o forte linebacker que acena.
 
— Meus pêsames. — Ele comenta e agradeço de volta.
 
— Não é muita coisa, mas agradeço a ajuda — informo ao abrir a caçamba
da picape.
 
Começamos a pegar as caixas e levar em direção à habitação estudantil. O
meu quarto e da Abigail não é tão grande assim, por isso evitei trazer tudo
que era da minha antiga casa que não fosse tão útil, deixando no depósito.
Chris ficou na dele o tempo todo, mas minha língua coçou pra perguntar
sobre o Mike, saber se ele estava bem depois do surto que teve no campo e
se aquilo havia colocado ele em maus lençóis, mas não o fiz. 
 
Observo os dois se despedindo com um selinho, e acho fofa a mistura de
etnias através daquela união, ela uma descente de orientais e ele um
americano negro com fortes raízes africanas. 
 
— Pelo jeito, você e o Chris estão caminhando para um novo patamar —
comento assim que ela fecha a porta e começo a abrir as caixas. 
 
— Ele me auxiliou na sua ausência. Mesmo sendo um cafajeste, eu gosto
dele, apesar da gente não ter um relacionamento fixo. Gosto de manter
aberto. — Ela pisca antes de me ajudar.
 
— Você tem uma mentalidade avançada, nunca me vi em um
relacionamento aberto com alguém — digo, colocando alguns porta-retratos
sobre a cama. 
 
—  Eu sei que você é toda romântica dona Emma, quer dizer, você tenta
transparecer que é de boas, mas sei que seu coraçãozinho quer pertencer a
alguém que começa com Mi e termina com Ke — zomba da minha cara
tirando com cuidado as coisas da caixa com um sorrisinho sapeca.
 
— Com tudo que aconteceu, eu esqueci de te contar… — paro de tirar os
itens da caixa. — Naquela noite do baile, você percebeu com quem eu
estava?
 
— Não, quando consegui te achar meu instinto foi te puxar, mal olhei pra
cara dele, quem era? — Seus olhos negros encaram os meus até ela abrir a
boca e gritar. — ERA O MIKE?! — confirmo devagar com a cabeça
fazendo-a levar a mão à boca enquanto arregala os olhos. — Porra, vocês
finalmente ficaram!
 
— Muito mais do que isso, amiga… — sinto meu rosto esquentar com a
lembrança.
 
— NÃO! — Ela bate nas próprias coxas. — É o que estou pensando?
 
— Sim, a gente transou. — Um sorriso se expande no meu rosto, antes dela
vir ao meu encontro e me abraçar.
 
— Caralho! Caramba, amiga, você não é mais virgem! Meu Deus, você
ficou com seu crush! Depois de todos esses anos! E aí como foi? Preciso de
detalhes sobre esse evento importante! — Agitada, ela se afasta para me
encarar.
 
Estou prestes a falar, mas como vem acontecendo ultimamente, meu
estômago se embrulha, e a sensação de náuseas voltam a me rondar.
 
— Que foi? — Ela pergunta, preocupada.
 
— Sei lá, ando tendo náuseas, acho que ferrei a minha alimentação, andei
comendo um monte de porcaria desde o enterro — informo, pegando uma
garrafa d’água na minha mochila.
 
— Você deveria passar no médico pra ver isso, pode ser gastrite, amiga. —
Abigail aperta meu ombro, mas a sensação de bile ainda persiste. — O que
você anda sentindo além das náuseas?
 
— Sei lá, estou meio estranha nesses dias. Às vezes tenho náuseas com
cheiros e crises de cólica. — explico, fechando os olhos por um momento.
 
— Emma — sussurra devagar, o que me faz abrir os olhos —, quando você
e o Mike transaram… vocês usaram preservativo?
 
Preservativo… a gente estava tão alvoroçado para ficar junto que
simplesmente não pensei em nada, eu apenas o queria e muito, e não me
recordo dele colocar nada antes do ato. Nego com a cabeça bem devagar,
percebendo como minha ação foi estúpida.
 
— Vocês fizeram sem proteção! — Ela sacode os meus ombros em alerta.
— Emma, quando foi sua última menstruação?
 
— Foi… — Eu não consigo dizer, porque eu não lembro, mas era para ter
vindo. Levo minhas mãos ao rosto, sentindo o tum-tum-tum do meu
coração batendo com força no meu ouvido.
 
— Você não tomou a pílula do dia seguinte? — Mais uma pergunta surge
dos seus lábios, e nego mais uma vez. — Faz sentido, porque você não
estava em condições de se lembrar de nada disso! — diz, desesperada, ao se
levantar em um pulo. — Vou até a farmácia!
 
— Por quê? — pergunto, mesmo sabendo o que ela vai fazer, mas sem
querer acreditar.
 
— Vou trazer um teste de gravidez pra você — responde, pegando as
chaves e a bolsa.
 
E a temida palavra aparece em nosso diálogo. Engulo a náusea persistente,
ao mesmo tempo que as lágrimas nublam a minha visão. Não, eu não posso
estar grávida. Não depois de tudo que passei, que eu ainda continuo
passando. Como… como eu vou cuidar de uma criança… 
 
— Emma, olha pra mim. — Abigail se agacha para pegar em meu rosto. —
Fica calma.
 
— Eu não posso estar grávida… — sinto minha garganta fechar, e ela corre
para pegar o lixinho embaixo da nossa mesa, colocando-o na minha frente.
Seguro o pequeno recipiente, mas nada sai além de saliva, porém a vontade
de colocar pra fora permanece igual, como também a sensação ruim,
levando-me a chorar compulsivamente.
 
— Amiga, não temos certeza ainda. — Ela segura meus cabelos enquanto
massageia minhas costas. — Mas se você estiver, saiba que você não vai
passar por isso sozinha.
 
— Eu tô com medo — agarro-a em busca de algum conforto. — Amiga,
você sabe o quanto tô ferrada em dívidas, como… como eu… — não
consigo pronunciar as palavras: como vou cuidar de um bebê.
 
— Calma, respira, eu vou buscar o teste. — Suas mãos envolvem os fios do
meu cabelo. — Não vamos precipitar nada, mas precisamos ter certeza.
 
Concordo, me afastando dela aos poucos. Assim que percebe que estou
mais calma, ela volta a se levantar e vai em direção da porta dizendo que
retornará rapidinho.
 
Olho para a janela do meu quarto, o céu nublado desponta na Flórida, como
também no meu coração. Como pude ser tão imprudente na minha primeira
vez? Se eu estiver grávida, isso explica porque venho me sentindo estranha
esses dias… Olho para as fotos dos meus pais nos porta-retratos, me
sentindo envergonhada por decepcioná-los desta forma. Se esse teste der
positivo, minha vida mudará completamente mais uma vez.
 
— Sua burra! — resmungo com raiva, deixando as lágrimas escaparem.
 
Droga, eu deveria ter me cuidado. Agora posso ter um filho do Mike, do
Mike McCoy… Ele nunca vai acreditar que este filho é dele, ou pode
acreditar, mas pode… aperto meus braços com força tentando me manter
calma, e mal percebo quando Abigail retorna.
 
— Emma — chama, tirando-me dos devaneios —, vamos até o banheiro? 
 
Respiro fundo enxugando as lágrimas e a acompanho até o banheiro
coletivo, que por sorte aquela hora está vazio.
 
— Aqui. — Ela tira o pacote da bolsa e me entrega. Minhas mãos estão
trêmulas, mas ela segura o meu pulso, massageando-os. — Calma, eu tô
aqui.
 
Assinto devagar antes de entrar na divisória do banheiro. Solto a respiração,
percebendo estar fazendo isso assim que me acomodo no vaso sanitário.
Olho para a embalagem trêmula em minha mão, percebendo que ele é
digital e que irá informar quantas semanas. Coloco na posição e espero o
xixi vir, o que não demora tanto, então tiro o aparelho assim que finalizo e o
seguro olhando atentamente para o visor, com o coração na boca. E em
poucos minutos me deparo com a notícia: Grávida 2-3.
 
Desespero-me no mesmo instante em um choro sofrido, daqueles que seu
corpo dói com o impacto da notícia. 
 
Eu estava grávida! 
 
Grávida do homem que sempre admirei de longe. Do rapaz que me
entreguei de forma imprudente na primeira oportunidade que tive com ele,
do popular quarterback, herdeiro de um império, e que, a partir de agora,
me odiará para sempre por torná-lo pai de uma forma tão inesperada, no
melhor momento da sua carreira.
 
 
Como acontecia todos os anos, marcávamos uma festa para comemorar o
Orange & Blue Game em um barzinho no centro de Gainesville no final do
mês do evento. O local ficava lotado de jogadores, líderes de torcida e
também torcedores fanáticos pelo time.
 
Dessa vez eu não receberia as honrarias depois do show que fiz na frente da
universidade inteira. Posso até ter voltado a falar melhor com o meu time,
mas só um jogo oficial que determinará se eles ainda me veem como líder. 
 
A música alta e as risadas tomavam conta do ambiente naquela noite de
sábado. E assim que cheguei ao estabelecimento, me deparei com uma cena
inusitada, as pessoas vangloriavam William Evans carregando-o pelo bar.
Não vou negar que senti inveja dele, mas também entendi que era assim que
ele se sentia toda vez que eu me destacava. 
 
Sempre haverá competição, mesmo que esteja no mesmo time. Porque
infelizmente no esporte tem aqueles que se tornaram os favoritos, e você
será mais um, até conquistar o seu posto de destaque.
 
O sentimento de culpa ainda me rondava, mas estava tentando empurrar
toda aquela sensação para o mais fundo da minha mente. O único conforto
era a presilha da moça misteriosa, o qual se tornou minha força enquanto o
apertava em meu bolso. Depois do meu ataque de raiva contra o mero
objeto, não consegui por muito tempo escondê-lo de mim, ele me fazia
bem, independente da escolha de sua dona.
 
Fazia um mês desde o baile de máscaras, e até agora ela não se revelou para
mim. Por um lado, isso me magoa de várias formas, mas também eu não fui
atrás dela. Eu não tinha ideia de quem ela poderia ser, mas ela tinha plena
consciência de quem eu era. Ela deveria ter vindo falar comigo…, mas algo
a impede de vir, ou ela não tem mais interesse… 
 
— McCoy! — grita Kyle, tirando-me dos devaneios, levantando-se de uma
mesa e vindo ao meu encontro, apoiando seu braço no meu ombro. — Que
partida histórica tivemos na última quinta-feira!
 
— Tão histórica que conseguiu fazer todo o time brigar — solto antes dele
me arrastar para a mesa que estava.
 
— Seus atos tiveram consequências, mas gostei de ver você socando a casa
do Evans, ele ficou muito exibido depois do jogo. — Harry diz oferecendo
uma garrafa de cerveja lacrada para mim e eu aceito.
 
— Ainda está sendo exibido — digo, abrindo a bebida, dando um gole que
desce gelado pela garganta.
 
— Entendo que ele está assim porque sempre foi sua sombra Mike, ele joga
na mesma posição que a sua, mas desde o campeonato o cara se tornou um
insuportável. — Um dos defensores do time diz, pegando uma asinha de
frango para comer.
 
— Deixa ele aproveitar esse momento de glória, será por pouco tempo —
jogo meu corpo contra a cadeira.
 
— Diz o popular bad boy da universidade que adora se meter em encrenca.
— Kyle solta fazendo todos na mesa rirem.
 
— Olha só se não é o fracassado do Mike McCoy! — A voz de William nos
faz olhar em sua direção.
 
— O que você quer, Evans? — pergunto, sério. 
 
— Só queria ver novamente a sua cara depois do fracasso que foi seu time.
— Ele abre um sorriso debochado. — Está com saudades do abraço da
mamãe? Ou preocupado dela te achar um péssimo atleta e parar de investir
no time? 
 
— Cala a boca, Evans! — digo, me levantando da cadeira.
 
— Cara, é isso que ele quer, te desestabilizar — Kyle segura o meu braço. 
 
— Vou mostrar pra todos que você é uma fraude, McCoy! — O atleta loiro
me encara, uma mesa é tudo que nos separa, senão eu já tinha socado o
outro olho do infeliz. — Aposto que sua mamãe paga para a comissão pra te
dar destaque, e a universidade, que não é boba e nem nada, não pode perder
os milhões que recebe por ano. 
 
— Você está indo longe demais! — digo, entredentes.
 
— Eu ainda vou ver você cair, McCoy. — Ele ri antes de me dar as costas,
estou prestes a ir atrás dele para acabar com aquele sorrisinho de merda,
mas sinto meus amigos me segurarem.
 
— Filho de uma puta! — rosno.
 
— Não se envolva em encrenca com ele, cara! — Harry diz. — Não vale a
pena! Deixa esse babaca.
 
Solto-me deles e volto a me sentar na cadeira. Eles ainda me monitoram,
mas logo relaxam quando percebem que não vou sair dando voadora em
ninguém. Para me distrair, desatamos a falar sobre estratégias de jogo.
Deste modo começamos a lembrar dos nossos acertos e falhas durante o
campeonato, comparando as partidas anteriores e a jogos clássicos de outros
times. 
 
Cerveja vai, cerveja vem, e eu não sei quantos litros tomei no tempo que
passo com eles entre comer aperitivos e falar de assuntos aleatórios, até que
Hailey aparece e, como sempre, se senta no meu colo. Consequentemente
ela tenta me beijar, mas desvio o rosto, a líder de torcida não se deixa
abater, beija meu maxilar voltando-se para os meus amigos.
 
— Vocês não se cansam de falar sobre jogos e estratégias? — Ela pergunta
para a mesa. 
 
— Essa é a nossa vida, gatinha! — Kyle responde de um jeito descontraído.
— Aguente se for casar com um atleta. 
 
Hailey me lança um olhar antes de suas mãos apertarem meus braços. Se
ela acha que tem chances de se tornar a minha futura esposa, está enganada.
A ignoro e continuo tomando minha cerveja.
 
— Mas não é possível que vocês não falem de outros assuntos além de
jogos — continua voltando a olhar para os meus amigos.
 
— Como o quê? — questiona Harry. — Você acha que falamos de garotas? 
 
— Sim, sei lá, comentam como as líderes de torcida estavam gostosas no
campeonato, por exemplo. — Ela rouba um petisco da nossa mesa antes de
sorrir.
 
— Falamos disso no vestiário, gatinha. Depois batemos uma pra vocês! —
Um dos jogadores solta o comentário sexista fazendo todos na mesa rirem. 
 
— Que rude! — reclama. — Não vai falar nada, Mike?
 
— Você queria saber sobre o que falamos sobre vocês, aí está a resposta —
respondo sem paciência. 
 
— Mulheres não são nosso tipo de assunto em mesas de bar, gatinha. — O
outro pisca em resposta.
 
Hailey, tentando não parecer ofendida, se levanta do meu colo e se afasta da
mesa. Ela sempre tentou se encaixar nessas rodas em que me encontro em
todos os eventos, não era a primeira vez que respostas como aquela
aconteciam. 
 
— Como você aguenta o grude dessa garota? Ela parece aquelas líderes de
torcida da época da escola — comenta um dos jogadores.
 
— Oh, respeita a namorada do capitão! — Outro rebate.
 
— Ela não é minha namorada — respondo com firmeza. — Hailey e eu só
nos pegamos quando me convém.
 
Se era sobre mulheres que Hailey gostaria de conversar na mesa, acabou de
despertar o interesse no assunto.
 
— Eu achava também que vocês namorassem, a minha mina disse que ela
age como se vocês tivessem esse tipo de relacionamento. — Um dos
corredores solta antes de pegar um petisco.
 
— Nada, estou fora de relacionamento! Não estou a fim de dar satisfações a
ninguém — comento, tomando o último gole da garrafa, mas o vislumbre
da moça misteriosa volta a minha mente. Eu a namoraria, sem pensar duas
vezes. — Fico com quem me desperta o interessante e está ótimo. Cada um
ganha o que deseja naquele momento, e cada um segue seu rumo.
 
— Tipo o Chris? — Kyle aponta para um canto onde nosso colega troca
beijos com uma garota qualquer. — Ele tem uma lista extensa, posso dizer
que ele é o maior pegador da universidade. 
 
— Olha, de uns tempos pra cá, percebi que o Chris anda se encontrando
com uma mulher pelo campus, e tipo, isso foi mais de uma vez! — Harry
olha na direção do nosso amigo. — Será que ele chegaria ao ponto de ceder
essa vida de pegador? 
 
Recordo-me do dia que vi ele e essa tal mulher conversando perto do centro
de treinamento, mas o Chris não é de falar muito sobre seus sentimentos.
Ele gosta de dizer das suas conquistas, quantas ele transou em uma só noite,
mas se o assunto envolve alguém em seu coração, isso ele nunca parou para
compartilhar.
 
— Bom, a Hailey conseguiu o que queria — digo me levantando, mas me
arrependo no mesmo instante, pois a bebida sobe com tudo. — Ver vocês
falando sobre mulheres. 
 
Eles riem e o assunto perdura, enquanto isso vou para banheiro, pois estou
com a bexiga estourando de apertada, já perdi a noção de quantas garrafas
tomei e parece que bebida já está fazendo efeito no meu sistema.
 
No caminho, vejo uma garota de longos cabelos castanhos, um fio de
esperança surge no meu pensamento, será que é ela? Mas quando estou
prestes a ir até seu encontro, ela se vira e um único detalhe me traz de volta
a realidade, a garota tem um piercing no nariz, a minha moça misteriosa não
tinha um piercing, e analisando bem, não era tão baixinha. 
 
— Procurando por mim, gatinho? — Hailey aparece no meu campo de
visão. 
 
— Por que você acha isso? — retruco, fazendo o sorriso dela virar uma
carranca.
 
— Sério que precisa me atacar com sete pedras nas mãos? — resmunga me
encarando. — Poxa, eu só tô com saudades de você! — Ela se aproxima
gemendo no meu ouvido. — Minha boceta está pulsando louca de desejo
por você desde o momento que você chegou, não vai pegar seu prêmio pós-
campeonato?
 
Presto atenção nas roupas que Hailey pela primeira vez, ela está usando
uma minissaia e um crooped que deixa em evidência a sua barriga chapada,
e para complementar o visual um salto alto. Ela está gostosa pra caralho, e
geralmente eu já estaria de pau duro, louco por uma transa em qualquer
cantinho deste bar, mas por incrível que pareça, desta vez não consigo sentir
nada, nem sequer umas cócegas no meio das pernas. Bom, exceto a vontade
de correr para o banheiro. E desde que transamos pela última vez, aquela
sensação de traição ainda me domina, eu não queria outra mulher, eu queria
a minha Cinderela perdida.
 
— Entregue esse prêmio para outro cara — oriento, dando as costas pra ela,
querendo sair logo dali.
 
— Como é que é? — sinto meu braço ser puxado. — Você está me
rejeitando, McCoy?
 
— Sim, Hailey. Eu não tô a fim de transar com você — afasto meu braço de
sua mão. 
 
— Você… você nunca fez isso! — fiz sim, mas com certeza ela estava
bêbada para se lembrar disso. — Desde a nossa última vez você anda se
afastando de mim, me evitando, o que está acontecendo contigo?
 
— Ele está apaixonado! — Somos surpreendidos por um Chris sorridente
que apoia o braço ao redor do meu pescoço. 
 
— O quê? — Ela olha abismada para nós dois. Percebo que algumas
pessoas estão prestando atenção em nossa discussão. — Como assim,
apaixonado?
 
Lanço um olhar duro em direção ao Chris que levanta a mão batendo em
retirada, mas ela volta a insistir.
 
— Responde, McCoy! — Os olhos dela demonstram o quão irritada está
com aquela revelação.
 
— Hailey, eu não devo satisfações da minha vida a você. Tudo que temos é
consensual e não envolve sentimentos — esclareço, mas é em vão.
 
— Envolve os meus sentimentos! — Ela empurra o meu peito me deixando
mais tonto. — Eu sempre estive à sua disposição, eu sempre fui louca por
você! E agora você está apaixonado por outra? O que ela fez de tão especial
assim? Como ela te conquistou, e eu não…
 
— Simples, ela não é uma mulher atirada. — Palavras duras, mas
necessárias.
 
Sua mão vem em direção ao meu rosto, mas por conta do meu reflexo de
jogador sou mais rápido, pegando em seu punho no meio do caminho.
Odiava fazer aquele tipo de cena na frente de todo mundo, principalmente
quando se dizia a respeito sobre minha vida pessoal.
 
— Hailey, melhor você se acalmar e compreender que não é porque você é
uma linda mulher, a qual resolvi ter relações, que eu sou sua propriedade —
digo sério antes de soltar seu pulso. — Eu sempre fui muito claro sobre as
minhas intenções contigo. Sinto muito se você envolveu seu coração na
jogada.
 
— Eu te odeio! — Com os olhos cheios de lágrimas, ela se afasta,
empurrando qualquer um que esteja em seu caminho.
 
Ignoro os olhares e volto a fazer o meu caminho, mas antes de ir ao
banheiro, percebo um pequeno palco de karaokê e uma ideia super maluca
surge na minha cabeça. Sendo assim, decido cometer a pior loucura que já
fiz na minha vida. Vou até o palco do bar e peço o microfone para a pessoa
que está cantando, que me entrega sem reclamar.
 
— E aí galera, McCoy na área! — anuncio subindo meio cambaleante no
pequeno palco improvisado. Sou ovacionado em todo o bar. — Desculpe
atrapalhar a diversão de vocês, mas primeiro quero agradecer a presença de
todos em nosso campeonato, mesmo que eu tenha sido expulso, mas
acontece né! O importante é que todos apreciaram um ótimo jogo. — Ouço
as pessoas concordando. — Enfim, também quero deixar uma mensagem
para alguém, por favor, compartilhem isso nas suas redes, espero que esse
vídeo chegue até ela. 
 
Alguns celulares que já me filmavam, fazem companhia para outros que
surgem no ambiente. Foco em um deles sabendo que essa declaração vai
cair nas mãos de um dos maiores fofoqueiros da universidade. Sendo assim,
como se estivesse me dirigindo exatamente para a minha Cinderela, começo
a falar: 
 
— Moça misteriosa, não tenha vergonha de se mostrar, eu sei que você é
tímida, mas eu realmente quero te conhecer. Pode ter certeza de que não
vou te julgar ou caçoar de você. O que tivemos naquela noite do baile de
máscaras foi indescritível. Por favor, me procure a qualquer momento, pois
estou esperando por você.
 
Os assobios soam pelo ambiente assim que termino e eu torço para que
aquela mensagem chegue até ela.
 
 
Um bebê. Estou esperando um bebê.
 
A ficha ainda não caiu enquanto me olho no espelho do banheiro coletivo.
Abigail está ao meu lado, atenta a qualquer coisa que eu venha fazer. 
 
— Emma, não é o fim do mundo. 
 
— Você fala isso como se estivesse esperando um bebê também — rosno,
mas logo percebo o quão grossa fui. — Desculpa.
 
— Você tem razão, eu passei por sustos, mas não virei mãe — responde. —
Quem sabe isso seja um sinal divino depois do que lhe aconteceu…
 
— Não tem sinal divino nisso — aponto para a minha barriga. — Isso é a
consequência de um ato errado e que agora vai acabar com a minha vida.
 
— Não fala assim! — Ela aperta meu ombro com força. — Sabia que tem
mães aqui no campus? Estudantes como você! Mesmo com filhos, elas não
deixaram de seguir seus objetivos. Foi mais difícil, com certeza, mas é
possível. E outra o Mike poderá te ajudar…
 
— Não, não envolve o nome dele, por favor — encaro o seu rosto. — Ele
não pode saber disso.
 
— Como assim ele não pode saber disso? — Ela me olha abismada. —
Emma, você não fez esse filho sozinha.
 
— Percebe que atrapalhei a vida de nós dois? — Solto antes de focar na pia,
onde a torneira pinga sem parar. — E ele não vai acreditar em mim, vai me
chamar de impostora.
 
— Como você pode pensar uma coisa dessas…
 
— Ele é herdeiro de pessoas riquíssimas, Abigail. O que você acha que um
cara como ele vai achar assim que eu contar que estou grávida?
Principalmente vindo de uma mulher que ele conheceu e transou na mesma
noite! — Solto-me de sua mão e ando pelo banheiro. 
 
— Você acha que ele vai falar que você engravidou por interesse? — Ouço-
a perguntar. 
 
— Não é meio óbvio? Se a gente estivesse saindo e acontecesse era uma
coisa, mas foi o lance de uma noite — respondo, passando as mãos pelos
cabelos. — Uma noite que gerou um bebê.
 
— Vamos pro nosso quarto, você está querendo se exaltar — sugere
estendendo a mão.
 
Realmente aquele tipo de assunto não deveria ser discutido em um banheiro
coletivo. Sigo-a de volta ao nosso dormitório, enquanto poucos estudantes
se encontram na área de interação naquele sábado. 
 
Retornando ao quarto, me sento na cama como se estivesse carregando um
peso enorme. Eu havia planejado um futuro para mim, que eu iria me tornar
uma cientista renomada capaz de mudar o mundo. Agora, com uma
gravidez inesperada do quarterback, tudo vai sair do controle.
 
— Decepcionei meus pais — murmuro enquanto minha amiga afasta as
caixas. — Eu… eu acabei de estragar todo o esforço deles de me manter
aqui. Agora posso perder a minha bolsa de estudos e me endividar mais
ainda com créditos estudantis. — Levo a mão aos cabelos. — Eu preciso
arranjar um trabalho aqui no campus de meio período porque a situação está
complicada, estou cheia de contas pra pagar. Não tenho mais plano de
saúde, então como vou bancar todas as despesas de um parto… 
 
— Primeiro, você não decepcionou seus pais. — Ela vem ao meu encontro,
pegando na minha mão. — Somos mulheres, e você sabe que qualquer
deslize é um risco. Mas isso não quer dizer que você é menos competente
porque engravidou antes do previsto.
 
— Se eles estivessem vivos — sinto as lágrimas em meu rosto —, eles
iriam se decepcionar sim, Abigail.
 
— Eles iriam te dar a maior bronca que você já escutou na vida! Mas
duvido que iriam deixá-la desamparada. Pelo que notei nas poucas ocasiões
em que estive com eles, acredito que eles a acolheriam e não a
apedrejariam. — Sua mão coloca uma mecha do meu cabelo atrás da
orelha. — E eu digo e repito, você não está sozinha nessa, amiga. Saiba que
pode contar comigo.
 
Então, eu a puxo para um abraço apertado. Abigail retribui me dizendo
palavras de incentivo enquanto massageia minhas costas. Eu queria
acreditar que as coisas ficariam bem, que eu resolveria tudo, que
conseguiria lidar com essa gravidez, mas olho para a realidade da situação.
Não quero atrapalhar a vida da minha melhor amiga por conta de uma
imprudência minha! Com o avanço da gravidez precisarei mudar de
habitação ou alugar uma casa mais barata na cidade. Terei que readaptar
toda a minha rotina., Estudo no período integral, agora precisarei intercalar
horários de aula e trabalho, além das dívidas dos meus pais terei que arcar
com os custos do pré-natal o qual não faço a mínima ideia.
 
— Você tem que falar pro Mike, amiga. — Ela volta a tocar no assunto. —
Ele pode até não gostar, mas tem o direito sobre essa criança. Ele não vai
carregar esse bebê por 9 meses, você que vai passar por vários momentos
que só uma mulher grávida pode presenciar. Ok, ele é rico, mas isso por um
lado é bom, ele poderá dar uma vida melhor para o bebê do qualquer outro
pé-rapado que iria te dar mais dor de cabeça do que a ajuda necessária.
 
— Não insista, Abigail — afasto-me de seu abraço. — Eu não vou contar
pra ele, terei esse filho por minha conta e risco.
 
— Amiga…
 
— Não quero passar por um momento constrangedor. Já basta o erro que
cometemos transando sem camisinha. Se eu falar pra ele que ele é o pai, ele
vai me rebaixar, não vai acreditar em mim, vai pedir teste de DNA. Ou pior,
ele pode perder a cabeça, você sabe que ele é estourado quando fica com
raiva. Minha vida já está de ponta cabeça! Não quero mais sofrimento e ele
pode mandar eu tirar essa criança… — tagarelo, mas ela me interrompe. 
 
— Calma, Emma. Você está precipitando as coisas, você não tem ideia de
como ele reagirá, e pode ser que seja totalmente o contrário do que você
está dizendo. Você não o conhece pra tirar essas conclusões…
 
— Você acabou de dizer uma coisa que é a mais pura verdade, eu não o
conheço, ele não me conhece. Somos completos estranhos — olho para a
minhas mãos antes de encarar a minha amiga. — Eu sequer disse pra ele
meu nome, Abigail. Aquelas máscaras, todo o mistério do baile, eu não
falei pra ele quem eu era. — Ela me lança um olhar confuso. — Ele sequer
sabe o meu nome.
 
— Porra… — sussurra, percebendo a real situação.
 
— Depois que fui embora, ele pode ter ficado com outras ao longo da noite.
Ele até queria ficar comigo, mas sair daquela forma brusca pode ter feito ele
desistir de mim. — Levanto da cama e vou até a janela, observando
algumas pessoas que circulam na entrada da habitação. — Ficamos de nos
ver no Starbucks no dia seguinte, mas você sabe o que aconteceu… 
 
— Nossa, Emma, eu não sei o que dizer…
 
— Se coloca no meu lugar — volto-me para ela. — Eu transei com um cara
popular que não sabe meu nome, não sabe qual é meu rosto, nunca
havíamos conversado na vida antes e agora vou chegar nele e dizer: “Então
Mike, nossa brincadeira virou um bebê, acredita nisso? Você será pai, olha
que alegria!”.
 
— Daremos um jeito! — diz de supetão. — Eu só quero que você entenda
que você não está sozinha nessa, mesmo que você seja uma mãe solo. Estou
sendo muito sincera contigo, eu estou aqui. — Ela vem até a mim e abro um
sorriso em sua direção. — Desde que te conheci neste dormitório, sempre
soube que você seria alguém que me faria bem, e os anos se comprovaram
isso. Eu te vejo como uma irmã, Emma. Você sabe que eu nunca tive boas
relações com meus familiares, então você é como uma família pra mim.
Sendo assim, vamos passar por isso, juntas. 
 
Meus olhos se enchem de lágrimas com aquela declaração, e me deixo
envolver pelos seus braços acolhedores. Estou completamente sem palavras
para lhe responder, mas agradeço a Deus por colocar uma amiga como
Abigail na minha vida. 
 

 
Aguardar na sala fria do centro de saúde estudantil naquela segunda-feira de
manhã só me deixa mais ansiosa.
 
Enquanto espero minha vez chegar, já que outras mulheres aguardam
também na sala de espera, resolvo navegar nas redes sociais. Esse é o único
tempo que tenho, pois desde que retornei entrei de cara em todo o conteúdo
que perdi enquanto estive fora e me concentrei em todos os trabalhos que
preciso finalizar, já que faltam poucos meses para entrarmos de férias de
verão e encerrar mais um ano letivo. Só estou neste consultório porque
Abigail me convenceu a vir ao médico, apenas para comprovar que em
breve serei mãe.
 
Rolando o feed do Instagram, uma notícia sobre o Mike chama a minha
atenção e eu paro pra ler a manchete do perfil fofoqueiro da universidade, o
GatorsPoison:
 
BOMBÁSTICO! Em busca da nova Cinderela: Mike McCoy pede para a "moça misteriosa"
falar com ele!
 
Meus olhos se arregalam no mesmo instante. Foi assim que ele me chamou quando estávamos
juntos, aperto a foto para ler a legenda.
 
Na festa deste último sábado, o nosso quarterback favorito e mais cobiçado da universidade resolveu
causar na comemoração do Orange & Blue Game! 
 
Depois de quase sair no tapa com o William Evans (o mesmo que levou um soco durante o jogo), o
bad boy descontou na bebida sua frustração, e acabou na frente de todos com o seu envolvimento
com a líder de torcida Hailey Smith - e olha que ela saia falando pra todo mundo que os dois
namoravam, mas a máscara finalmente caiu! 
 
E falando de máscara, McCoy nos agraciou com algo b-o-m-b-á-s-t-i-c-o, ele subiu no palco e disse
pra todo mundo que estava em busca de uma "moça misteriosa" que conheceu no Baile de
Máscaras! 
 
Parece que o nosso garoto teve seu coração flechado por essa mulher mascarada, a ponto de falar
na frente de todo mundo que estava no Bar (pedindo ainda para gravar essa mensagem - veja o
video a seguir) que ele ainda quer reencontrá-la. 
 
E aí meninas, quem de vocês é a tal "moça misteriosa", a Cinderela perdida, que o nosso queridinho
está procurando?
 
O coração dispara antes mesmo de eu passar para o lado e ver Mike em
cima de um pequeno palco com o microfone na mão. Parecendo afetado
pela bebida, ele faz uma declaração, dizendo para eu não ter vergonha de
me mostrar pra ele. Aquilo aperta meu peito de tal forma que preciso me
segurar para não chorar na frente de todo mundo.
 
Ele quer me conhecer…
 
Droga, logo agora que tenho um bebê dentro de mim, um serzinho que vai
se desenvolver e vai transformar a minha vida pra sempre.
 
Estou impressionada com a sua iniciativa, mesmo que seja influenciada
pelo álcool, de contar para toda a universidade que está a minha procura,
exatamente como o príncipe ordenou que encontrasse a Cinderela após sua
saída repentina do baile! 
 
Caramba, que conto de fadas mais sem sorte é esse, meu Deus? Eu podia
viver uma história de amor com ele tão linda, mas estraguei tudo antes
mesmo disso acontecer.
 
Vê-lo naquele estado me preocupa também, eu poderia estar ali ao lado dele
nesse momento difícil, apoiando-o após aquele ataque de raiva em pleno
jogo do Orange & Blue, a ponto de ser segurado pelo time e resultando em
uma expulsão pelo juiz por conta do seu comportamento. 
 
Sempre que ele perdia era a mesma história, bebia e quebrava as coisas,
simples assim. Aquele temperamento dele me assustava, não vou negar.
Mas eu entendia a pressão, a autocobrança que muitas vezes colocamos em
nossos objetivos e nos frustramos quando não acontece do jeito que
imaginamos. Porém, isso me faz pensar em como seria a reação dele ao
saber que será pai do meu filho… ele se tornaria agressivo da mesma
maneira?
 
Agora, dizem que quando bebemos muito revelamos os nossos mais
profundos desejos e segredos, e ele ter feito aquela revelação na frente de
todos era algo verdadeiro. Mas tenho a sensação de que o Mike vai se
arrepender disso, e não duvido que um bando de garotas vai querer se
passar por mim.
 
— Emma Steele! — Ouço meu nome ser chamado pela doutora e desligo o
celular, encontrando-a à minha espera na porta. 
 
Não posso pensar em relacionamento agora, preciso saber o que farei da
minha vida a partir deste acontecimento inesperado que deu uma sacudida
em tudo.
 
Vou até ela e a cumprimento antes de entrarmos em sua sala.
 
— Emma, em que posso ajudá-la? Conferi no prontuário que você não veio
fazer papanicolau. — A jovem senhora, que parece ter uns 60 anos, me
encara através dos óculos. Ela com certeza é enfermeira obstetra, não uma
estudante que ainda está aprendendo. 
 
— Bom — engulo em seco —, eu recentemente perdi a minha virgindade…
— Ela assente devagar. — E eu acho, quer dizer, tenho certeza de que
engravidei.
 
— Entendi, por que você tem certeza absoluta de que engravidou? — Seus
olhos ainda permanecem em mim, atenta às minhas informações.
 
— Eu não usei preservativo. — Sou direta, mas evito olhá-la nos olhos,
com certo receio de identificar certo julgamento. — E eu fiz o teste de
farmácia no sábado, e deu positivo. No ato ele tirou antes de… você sabe,
mas mesmo assim.
 
— Ele fez o coito interrompido, não é? — pergunta e eu afirmo. —  Mas
esse método não é 100% eficaz, como vivo explicando para minhas
pacientes, a camisinha é o melhor método para prevenir gravidez
inesperada. Claro, a camisinha tem que estar na validade e não sofrer
nenhum tipo de modificação que prejudique sua eficácia. Mas ela é o
método mais seguro de todos para evitar gravidez e doenças. O que pode ter
acontecido no seu caso, é que seu parceiro teve uma pré-ejaculação, são os
famosos fujões, e por mais que o parceiro queira controlar, às vezes pode
acontecer de algumas secreções ficarem no pênis dele e os espermatozoides
se tornam viáveis, assim entraram em contato com seus óvulos. Você
chegou a tomar a pílula do dia seguinte?
 
— Não — olho para minhas mãos. — No mesmo dia eu perdi os meus pais,
então eu me esqueci de tudo.
 
— Meus sentimentos — diz de forma sincera, e eu agradeço. — Como você
não tomou a pílula do dia seguinte em até 72h, o espermatozoide foi
fecundado, gerando essa criança em seu ventre. Mas vou te encaminhar
para fazer alguns exames para termos certeza, e também para iniciar seu
acompanhamento pré-natal… 
 
— Eu não tenho plano de saúde, quer dizer, eu tenho algumas assistências
aqui pela universidade, mas com certeza não cobre gravidez inesperada e os
custos que isso obtém. — A interrompo, pois não quero que mais uma conta
apareça, sendo que não tem como eu pagar tanta coisa com a situação em
que me encontro.
 
— Aqui! — A mulher puxa uma gaveta e de lá tira um folheto, entregando-
me. — Pertinho de nós tem a Community Pregnancy Clinics, eles oferecem
apoio a mulheres que engravidaram de forma não planejada. Eles realizam
exames gratuitos como os testes de DSTs, o qual recomendo fazer, e até
mesmo o acompanhamento com ultrassom. Lá elas podem te ajudar com
todo o procedimento que irá melhor direcioná-la e assim você terá uma
gravidez mais saudável e sem pagar pelos custos. — Reconheço o prédio
que fica a uma quadra do qual frequento.
 
— Muito obrigada! — sinto meus olhos lacrimejarem.
 
— Você não precisa passar por isso sozinha! Tem grupos de apoio a
mulheres que tiveram gravidez inesperada ou estão na mesma situação que
a sua aqui no campus. Como também o auxílio caso você sofra alguma
discriminação. Em alguns pontos da universidade, tem salas de
amamentação e até mesmo podemos mudar você de dormitório por conta
das suas condições e dar certas facilitações que não irão prejudicar os seus
estudos enquanto for mãe. — Suas mãos se cruzam sobre a mesa. —
Também temos a Baby Gator, a creche dos nossos pequenos jacarés que
você pode colocar seu bebê a partir dos 6 meses. — Ela ri, me fazendo
acompanhá-la. — É, eu sei que é assustador, mas saiba que queremos que
nossos estudantes tenham um bem-estar, independente de suas condições,
estamos aqui para ajudá-los. Como você passou por muita coisa, como a
morte de seus pais e agora acabou de descobrir uma gravidez, recomendo
que se consulte com um analista para tornar o processo de aceitação mais
fácil. — Ela explica calmamente, voltando a pegar outro folheto. — Esse é
um grupo de estudantes que estão no último ano de psicologia, eles estão
realizando atendimento gratuito via tele consulta.
 
Como sempre, me surpreendo com a atenção que a universidade tem com
seus alunos, primeiro com a compreensão da minha situação com os meus
pais e agora com essa nova realidade o qual terei que enfrentar. 
 
— Me sinto um pouco mais tranquila em saber que terei apoio. Agora que
não tenho mais meus pais… — Não consigo completar, pois um nó se
forma na minha garganta.
 
Ela apoia sua mão sobre a minha e trocamos um sorriso sincero. Não é
preciso palavras para descrever o quão importante aquela conversa é para
mim.
 
Após deixar o centro de saúde, vejo no relógio que ainda tenho um tempo
para ir para a aula. Decido dar uma volta de carro, passando pelo prédio
aonde vou me consultar, imaginando todos os procedimentos que terão que
ser feitos e onde precisarei tirar todas as dúvidas com eles, pois, sem minha
mãe aqui, não há a quem recorrer. 
 
Olho de relance para o retrovisor interno encontrando a presilha de
borboleta que minha mãe me deu quando ela me trouxe até essa
universidade há três anos, antes era um par, agora restou apenas uma, pois
perdi a outra na noite do acidente, infelizmente.
 
Mas basta andar mais um pouquinho e passo em frente a uma das unidades
do Baby Gator, e por curiosidade paro o carro, deixando o pisca alerta,
enquanto de longe observo crianças brincando no parquinho, correndo de
um lado para o outro. 
 
Imaginar que serei mãe dali alguns meses e que terei um pestinha crescendo
dentro de mim, desperta ainda mais minha ansiedade, mas pela primeira
vez, eu me imagino segurando-o em meu colo, e quando dou por mim,
estou alisando minha barriga ainda intacta, mas que em breve vai crescer, e
o meu amor também.
 
 
O que foi que eu fiz?
 
Após passar todo o domingo de cama com uma ressaca do caralho, acordei
na segunda-feira com a minha DM lotada de mensagens. 
 
Pelo amor de Deus, será que coloquei algo comprometedor nos meus stories
depois de passar a noite bebendo? 
 
Por curiosidade, acesso uma dessas mensagens onde uma garota loira
escreve:
 
Olá Mike, lembra de mim? Nos encontramos no baile, você me chamou de
moça misteriosa. 
 
Como ela…
 
Ah, não! Olho para o teto assim que desvio o celular do meu foco. Merda,
merda, merda!
 
Leio algumas das outras mensagens, todas elas dizem ser a minha "moça
misteriosa". Algumas mulheres não têm nada a ver com ela, mas outras
lembram e muito, e isso me deixa mais confuso. Será que uma dessas é
realmente ela?
 
Não posso pensar demais, pois preciso focar no treino. Mas basta eu sair do
dormitório que sinto os olhares delas sobre mim, algumas falam o meu
nome a fim de chamar a atenção, mas sei que a verdadeira não faria isso.
Ou faria? Sacudo a cabeça, afastando aquele pensamento, encontrando logo
em seguida o Chris na entrada, já a minha espera.
 
— Bom dia, cara! — A gente se cumprimenta com os costumeiros toques
de mão.
 
— Bom dia! Vem cá, deixa eu te perguntar uma coisa… — puxo papo
conforme saímos para a nossa corrida matinal —, eu fiz alguma coisa
constrangedora no sábado?
 
— Hm — Ele tenta se lembrar. — Você desfez quaisquer laços com a
Hailey. — Alguns flashbacks da noite de sábado retornam com tudo,
principalmente quando ela tentou me bater.
 
— E o que mais?
 
— Ah, você disse da sua Cinderela para todo mundo!
 
— O quê? — Meus olhos se arregalam. Fico abismado. Porra, fui longe
demais! Por isso essas meninas estão falando que são a moça misteriosa.
 
— Você pediu pra todo mundo filmar, pois queria que a mensagem
chegasse até ela — Chris explica assim que começamos a pegar no ritmo.
— E o fofoqueiro do GatorsPoison ou seus "olheiros" com certeza estavam
lá, já deve ter espalhado a notícia nas redes.
 
Passamos correndo por algumas meninas que nos olham de cima a baixo
com certa expectativa. Nossos corpos bem malhados sempre chamam a
atenção da mulherada, mas hoje parece que qualquer mulher que passa pela
gente tem um motivo a mais para nos encarar. 
 
— A universidade inteira parece estar interessada em ser a sua moça
misteriosa. — Chris me dá uma leve cotovelada. 
 
— Que ideia mais idiota que eu tive! — reclamo, evitando olhá-las. —
Agora vou ficar mais confuso ainda, como vou saber quem é a verdadeira?
 
— Aposto que na hora que reencontrá-la vai saber, ou simplesmente aceita
a atenção que está recebendo e aproveite as beldades que irão cair no seu
colo.
 
Antes que eu possa comentar qualquer coisa, ele pisca e apressa o passo da
corrida, me incentivando a acompanhá-lo. 
 
Essa foi uma ideia de jerico que tive, mas também foi uma fórmula de
chamar a atenção da dona da presilha. Agora o problema era que eu
precisaria tomar muito cuidado com quem fingisse ser ela, e evitar a todo
custo não cair em tentações.
 

 
Na sala de aula, a professora explica um dos exercícios complicados,
enquanto tento prestar atenção na aula de Introdução à Contabilidade
Financeira. Desde que comecei a estudar na universidade, meu objetivo
principal foi concluir a minha graduação em Gestão de Esportes. Embora
tenha feito outros cursos menores por incentivo da instituição durante os
primeiros dois anos para testar, permaneci na escolha inicial.
 
A vida de um estudante atleta é mais longa que os demais estudantes na
universidade, pois temos que dedicar nosso tempo além do estudo como
também nos treinos, uma alta carga horaria por dia. Além das viagens que
precisamos realizar entre um campeonato e outro. 
 
Não nego que às vezes por conta da situação da minha mãe eu quis mudar
para Negócios, até tentei fazer os cursos menores focados nisso para ter
uma noção de como funcionava, mas não me identifiquei e voltei para o que
era antes.
 
Além dos estudos, a parte que eu mais amava era obviamente os treinos, era
ali que eu me entregava 100%, mais ainda depois do desastre que causei no
Orange & Blue Game. Tenho tentado afastar a sensação de desconforto e
culpa para o mais profundo nível de percepção, apesar da minha psicóloga
solicitar que avaliemos isso de forma mais aprofundada. Mas não vejo outro
método melhor do que empurrar essa sensação para longe, mesmo sabendo
que isso pode me prejudicar no futuro.
 
Só que hoje a concentração não está lá das melhores, porque todos os
lugares em que estou a mulherada está me olhando diretamente, como se
pedisse: “Me análise, quem sabe eu sou sua moça misteriosa”. 
 
Mesmo sabendo que a minha moça misteriosa não agiria dessa forma, quer
dizer, eu não sei se agiria, mas tenho quase certeza de que ela não seria tão
óbvia assim. O grande problema é que até as mais tímidas tem lançado
olhares para mim, como está acontecendo nesse exato momento. 
 
Minha atenção para em uma mulher que está colocando uma mecha atrás da
orelha. Ela é bonita, mas tem cabelos curtos, o que já a descarta da lista de
opções. Pelo que me lembro, a pessoa que estou procurando não é do
mesmo curso que eu. Ela chegou a mencionar que estudava ciências, mas
qual tipo de ciências? Pois há vários aqui no campus. A mulher me lança
um sorriso, e eu aceno apenas por educação. 
 
Essa minha atitude esdrúxula de falar para todos sobre o nosso encontro, ou
vai me aproximar da garota que eu quero ou vai me afastar pra sempre
dela. 
 
Quando a aula termina, começo a arrumar as minhas coisas, parando apenas
quando sinto uma mão em meu braço, fazendo-me encontrar a mesma
mulher que trocou olhares comigo.
 
— Olá! — A cumprimento. — Posso ajudá-la em alguma coisa?
 
— Olá, McCoy, você não se lembra de mim? — A voz fina me surpreende.
Franzo o cenho. — Sou o que você está procurando.
 
— Não é não — respondo, colocando a mochila em um dos meus ombros.
 
— Como assim? Você falou pra eu não ter vergonha de chegar em você e é
desta forma que me trata? — questiona, cruzando os braços.
 
— Olha, eu sei que espalhei pra todo mundo na universidade que estou
atrás de alguém, e que muitas estão querendo tirar proveito disso. Mas eu
tenho certeza absoluta de que não é você, sinto muito — desvio-me dela,
mas a mulher é persistente e segura o meu braço.
 
— Eu sabia que você iria me rejeitar, eu nem deveria ter me revelado dessa
forma. O que uma máscara, uma boa maquiagem e um aplique de cabelo
não fazem, né? — Sua voz se torna manhosa, e de relance percebo alguém
nos filmando. Ah, droga! É só o que me faltava! — Obviamente o grande
Mike McCoy queria uma beldade ao lado dele, não alguém simples como
eu!
 
— Eu não te diminui em nenhum momento, você é bonita, só não é ela —
defendo-me sabendo que se eu for grosseiro vou ser mais uma vez alvo de
fofoca.
 
— Sou ela sim, McCoy! A menina que você se apaixonou no baile! —
insiste. Respiro fundo.
 
— Então me diz, qual era a cor do vestido que você estava usando? —
Encaro seus olhos esverdeados. Sinto um leve vacilo ali, sabendo que a
máscara de barranqueira vai cair.
 
— Vermelho — solta sem jeito, quase como uma pergunta.
 
— Errado! — digo, sério, me afastando dela.
 
— Era preto! — Ela tenta voltar atrás, mas já estou longe o suficiente.
 
Não acredito que vou passar por situações constrangedoras como essa!
Cadê o bom senso das pessoas? Fazer todo aquele teatro pra quê? O que ela
ganha com isso senão pagar o mico na frente de todo mundo? As pessoas
perderem o fio da meada. 
 
Caminho em direção ao refeitório, preciso me alimentar direito antes de
seguir para o treino com o time. Mas basta eu pisar o pé no ambiente que
todas as cabeças se viram pra mim, igual naqueles filmes que se algo
aconteceu com alguém da escola todo mundo tá sabendo. E caralho, como
isso é constrangedor pra cacete! 
 
Ignoro aqueles olhares e vou até a cantina para pegar meu prato,
encontrando Kyle no meio do caminho. 
 
— Seu fã clube aumentou de tamanho ou é impressão minha? — provoca
fazendo-me revirar os olhos.
 
— Estou tão impressionado quanto você — revelo enquanto me servem
legumes.
 
— Você deixou a mulherada ligada no 220! Qualquer grupinho que eu
cruzava hoje, era de você que estavam falando — conta, seguindo para as
proteínas.
 
— Por isso minha orelha está queimando! — agradeço a atendente após
pagar pela minha refeição.
 
— Até eu fiquei impressionado que uma mulher foi capaz de fazer você
subir naquele palco e se declarar daquela forma! — Meu amigo comenta
me acompanhando até a mesa dos outros caras. — Pelo jeito ela é bem
especial. 
 
— Eu não sei como explicar o que estou sentindo, mas desde que estive
com ela, não consegui tirá-la da minha cabeça — revelo antes de me sentar
na mesa.
 
— O nosso bad boy está morrendo de amores! — Harry brinca, jogando um
pedaço de cenoura em mim.
 
— Até vocês vão ficar me zoando agora? — Encaro Harry e Chris, cansado
de ouvir tais piadas.
 
— Qual é, McCoy! A gente nunca te viu assim, então é uma baita novidade
saber que o nosso capitão teve o coração fisgado! — Chris comenta,
sacudindo meu ombro. 
 
— Isso tudo é culpa sua! Se você tivesse ficado de boca fechada e não ter
revelado pra Hailey, nada disso tinha acontecido — reclamo, apontando o
garfo pra ele.
 
— Quer dizer que você conta seus segredos pro Chris e não diz pra nós,
McCoy? Magoou viu! — Kyle reclama, mas sinto em seu tom que é apenas
brincadeira.
 
— Como vocês já perceberam, eu nem sei quem ela é. O que fiz no sábado
foi um ato de desespero, uma ideia maluca que surgiu na minha cabeça
afetada pelo álcool, mas agora me arrependo disso, porque as mulheres
ficaram loucas. — Largo o talher no prato. — Uma acabou de me abordar
na sala dizendo ser ela, mas eu sabia que não, e fez um teatro ridículo com
direito a filmagem, vocês acreditam numa porra dessas? 
 
— Caralho! — Harry arregala os olhos. 
 
— E você fez o quê? Com essa que fingiu ser ela? — Kyle questiona me
encarando.
 
— Fui bem pleno. Não me exaltei. Já basta como a minha imagem está
ultimamente — volto a comer.
 
— Você fez bem! — Kyle respira aliviado. — Mas aguente mais um pouco,
cara. A fofoca está muito recente, daqui a pouquinho o povo se interessa
por outra coisa. 
 
— E essa tal moça misteriosa, ainda não conseguiu identificá-la? — Harry
pergunta curioso.
 
— Não. — Nego com a cabeça, uma tristeza de repente me abate. — É
como se… é como se ela não quisesse ser encontrada. 
 
— Aaah mas você vai encontrar a sua Cinderela, cara! — Chris tenta me
animar sacudindo o meu ombro. — Ela pode estar mais perto do que você
imagina. 
 

 
Após um intenso treino em campo, ainda tive a oportunidade de recuperar a
confiança do time em mim, o que fez com que o sorriso debochado de
William se transformasse em uma careta. Fui para o vestiário sentindo um
certo alívio em saber que estava conseguindo colocar o controle na equipe
de novo e esfregando na cara dele que eu estou naquela posição não por
influência da minha mãe e sim por mérito próprio. 
 
Olho meu celular evitando abrir o Instagram que duplicou as mensagens e
vejo que precisarei pegar uns livros para um trabalho de questões legais no
esporte, ou seja, terei que olhar aqueles livros de leis nada agradáveis de
ler. 
 
Vou em direção a minha moto e me surpreendo com alguns bilhetes e cartas
que apareceram nela. Dou uma olhada em volta a procura de suas donas,
mas não encontro ninguém, deste modo respiro fundo para não me
descontrolar e recolho todas elas as enfiando de qualquer jeito na minha
mochila. Como cansa ser popular!
 
Assim que paro em frente à biblioteca, que fica a poucos quarteirões do
centro de treinamento, a primeira coisa que faço é puxar o moletom sobre
minha cabeça. Não quero chamar a atenção, já basta o que recebi somente
hoje. 
 
Vou em direção às escadas rolantes e a deixo me levar, evitando a todo
custo olhar muito em volta, querendo apenas um pouco de paz. E assim que
chego no andar de cima, as pessoas estão concentradas demais em suas
conversas para prestarem atenção em mim. Então me informo onde posso
encontrar o livro indicado pelo professor, e sigo em direção ao andar
sinalizado pelo bibliotecário, encontrando um lugar mais silencioso com
várias estantes a disposição.
 
Arrumo a mochila nas costas e entro em um corredor a procura do livro de
leis, mas minha atenção para em uma mulher caminhando mais adiante,
também procurando algum livro nessas prateleiras. Os cabelos longos dela
batem no meio das costas, que estão cobertas com um jaleco branco, e por
alguma razão isso me faz lembrar da moça misteriosa que tinha os mesmos
cachos naquela noite. Não consigo focar na pesquisa do meu livro, pois
sempre meu olhar se volta na sua direção, observando-a enquanto caminha
entre as prateleiras sem nenhum propósito aparente, deslizando os dedos
pelas lombadas dos livros. Quando ela fica de perfil, meu coração dispara, e
uma desconfiança me toma por completo, enquanto flashbacks da noite do
baile voltam a minha mente, relembrando seu sorriso, seu nariz, sua boca.
Meu Deus… será? Será que é ela?
 
Começo a me aproximar, pois preciso tirar essa dúvida, mas em questão de
instantes a mulher cambaleia levando a mão a cabeça, e sou rápido em
alcançá-la a tempo de ela não cair no chão, segurando-a em meus braços,
voltando colocá-la de pé.
 
Então tenho o vislumbre do seu rosto, que é lindo por sinal, mas não é só
ele que me chama atenção, outro item está ali, preso em seu cabelo, a
presilha de borboletas idêntica a que venho guardando há tanto tempo.
Quando ela abre os olhos e aquelas íris amarronzadas invadem os meus, eu
tenho a certeza absoluta. É ela. A minha moça misteriosa.
 
— Mike — murmura, confusa. 
 
— Finalmente eu te encontrei. 
 
Então, sem pensar em mais nada, eu tomo seus lábios aos meus. 
 
 
(Minutos antes)
 
Estudos acumulados são um grande problema, mesmo assistindo às aulas
ainda necessito de mais de 24h para que eu esteja em dia após ficar um mês
sem comparecer à universidade. 
 
Depois do horário letivo, fui direto para a biblioteca para rever tudo que
perdi. Graças a santa Abigail, que fez questão de gravar as aulas, facilitando
assim as minhas anotações, e em um local calmo como aquele, onde nada
iria me distrair, era perfeito para colocar os fones de ouvido e ouvir a voz
do professor na gravação.
 
Ficando em dia, poderei me candidatar para o emprego de meio período no
laboratório da universidade, assim posso começar a ter um dinheiro extra
todo mês. Deste modo, preservo minha poupança para os gastos com o bebê
e através do aluguel da minha casa, pago algumas contas em relação às
dívidas da loja.
 
A ideia de ser mãe ainda é algo difícil para mim, é muito pra assimilar em
um curto período de tempo, principalmente por não ser planejado. Mas
tomarei as devidas providências para que ele ou ela cresça saudável em
minha barriga. Mesmo que atrapalhe minha vida acadêmica, acharei uma
maneira de lidar com toda essa situação. Não dizem que mães são capazes
de tudo? Bom, ainda não ativei meu instinto materno de fato, mas estou
começando a perceber os sinais do meu corpo, algo que o luto me
impossibilitou de perceber.
 
Caramba, papai e mamãe, vocês terão um netinho e… uma tristeza bate em
meu peito, fazendo com que eu perca o foco das anotações. Respiro fundo,
não quero que isso me afete, não mais, preciso me preocupar com outras
coisas, meus pais não estão mais aqui e preciso aceitar isso. Agora tenho
que pensar no meu futuro e neste bebê. 
 
Para refrescar um pouco a minha mente e esticar as pernas, decido fazer
uma das coisas que mais gosto nesta biblioteca, olhar sem propósito as
infinitas opções que eles oferecem, desde livros acadêmicos a quadrinhos,
onde adoro pegar para ler por horas. Agora, bom, nem sei se terei tempo de
lê-los por horas com tanta coisa pra fazer e responsabilidades que antes não
existiam. 
 
Entro em um corredor e começo a ler os títulos difíceis que nem fazem
parte da minha grade, mas que de alguma forma geram uma certa
curiosidade em serem explorados. Meus dedos passam pelas lombadas, até
que um dos títulos me chama a atenção por conter a palavra “gravidez
indesejada” nele, me viro pensando se devo folheá-lo, quando uma
vertigem me pega desprevenida. Sinto minhas pernas fraquejarem por um
instante e quando penso que vou ao chão, alguém me segura. Volto a abrir
meus olhos e encontro as iris azuis acinzentados me encarando de volta, e
por um momento acho que estou tendo uma miragem. 
 
— Mike? 
 
— Finalmente te encontrei. — E a ação após aquelas simples palavras me
pegam de surpresa.
 
Sentir o gosto dos lábios de Mike nos meus mais uma vez é um misto de
emoções incapazes de serem descritas. A sensação da barba dele contra
minha pele me causa um arrepio bom, e seus braços ao redor de mim me
trazem conforto. Tudo se aquece, igual a primeira vez que nos beijamos,
como se labaredas seguissem um rastro delicioso, principalmente quando
dou liberdade para que ele encontre a minha língua, e esse pequeno gesto
faz o meu corpo inteiro entrar em combustão. Vejo-me afundando meus
dedos por entre seus cabelos, ao mesmo tempo que sinto as mãos dele
apertando minhas costas, provando minha boca sem pressa, fazendo-me
relembrar de tudo que passamos juntos. 
 
Meu coração está disparado e minha mente um turbilhão, mas o sentimento
daquele momento íntimo de reencontro é impagável, cujo homem que eu
queria manter a distância agora me toma em seus braços. Nos afastamos
apenas quando buscamos o ar que nos falta, ambos com um sorriso genuíno
no rosto.
 
— Caramba. — Ele sussurra ainda abraçado a mim. — Desculpa. Você está
bem? Estava prestes a desmaiar.
 
— Por que está pedindo desculpa? — pergunto segurando seu rosto.
 
— Cheguei te beijando assim do nada. — Mike me olha com atenção. —
Você é real?
 
— Eu que deveria estar te fazendo essa pergunta — acaricio sua barba.
 
— A gente tem tanto pra conversar. — Ele olha em direção do corredor
principal onde alguém passa, mas ele não se afasta sequer por um
momento. 
 
— Vamos para o andar da sala de estudos? — sugiro, fazendo-o me olhar de
novo. — Só me deixa pegar as minhas coisas.
 
— Claro! — afirma. Desvencilho-me de seus braços, o qual já sinto
saudades, mas ele volta a segurá-los. — Só me diz, por favor, o seu nome?
 
— Ah, Emma — respondo com um sorriso de orelha a orelha. — Emma
Steele.
 
— Emma — escutá-lo repetindo meu nome é tão sexy! — Combina com
você.
 
Sinto minhas bochechas esquentarem, antes delas pegarem fogo por
completo quando os dedos dele entrelaçam com os meus, incentivando-me
a continuar até o local onde estão os meus pertences.
 
É estranho e, ao mesmo tempo, engraçado estar de mãos dadas com o Mike
McCoy, principalmente se estou saindo de uma fileira de livros, sendo que
eu estava sozinha até então. Nossas mãos se separam apenas quando
começo a arrumar meus livros e cadernos na mochila. Assim que termino,
ele faz questão de pegar a mochila e colocar a alça em um dos ombros.
 
— O que você carrega aqui, pedras? — Ele pergunta bem baixinho antes de
unir nossas mãos enquanto caminhamos até o elevador.
 
— Apenas material de estudos — olho para ele sabendo que mesmo com
aquele moletom quem é esperto o bastante saberá que se trata do famoso
quarterback da universidade.
 
— Então você faz um exercício e tanto carregando esse peso todinho —
rimos, recebendo logo em seguida um “xiii” em resposta. 
 
Entramos no elevador que vem com outros estudantes, e eu percebo que o
segundo andar já está acionado. Ficamos em um cantinho, não falamos
nada, mas sinto seu olhar em mim, me analisando nos mínimos detalhes,
mas seu aperto em minha mão é confortável, encaixada perfeitamente como
se sempre pertencesse àquele local.
 
Se minha cabeça já estava uma loucura antes, agora com esse novo
acontecimento que a vida resolveu me pregar de novo, tudo piorou. Mike
me encontrou quando eu não queria ser encontrada, mas não fui capaz de
resistir e agora estamos aqui, de mãos dadas como se fôssemos namorados.
Enquanto em meu ventre cresce um filho que ele e nem eu pedimos. Eu
disse que iria guardar segredo, e permanecerei de bico calado, pode ser que
esse encontro seja apenas momentâneo, que depois das portas dessa
biblioteca nada aconteça entre nós.
 
O bipe da porta do elevador se abrindo me traz a realidade e saímos
próximo ao Starbucks, que possui seu audível sininho tocando toda vez que
as pessoas entram e saem do estabelecimento.
 
— O local que eu te convidei pela primeira vez. — Mike sussurra no meu
ouvido. Confirmo com a cabeça. — Vamos pegar um cappuccino?
 
Deixo que ele me leve para dentro do local com cheiro de café tostado,
onde logo somos atendidos. Aproveito para pedir apenas um cookie para
forrar o estômago.
 
— Você acabou de passar mal, precisa comer. — Ele me olha com singelo
cuidado. — Você gosta de croissant? — confirmo antes dele se virar para a
atendente e pedir dois croissants, duas fatias de bolo de limão e dizer que os
dois cafés são em copos grandes. Assim que procuro minha carteira, ele é
mais rápido, pagando todo o pedido e informando nossos nomes no copo.
 
— Não precisava… — digo enquanto saímos da fila.
 
— Precisava, afinal você é minha convidada. Mesmo que você tenha me
deixado esperando neste estabelecimento em outro endereço. — Embora a
sua maneira de se expressar seja tranquila, eu sei que o magoei por conta
disso. Sinto sua mão apertar a minha incentivando a olhá-lo. — Acredito
que você teve seus motivos, depois quero que me explique, se você quiser, é
claro. 
 
Nossos nomes são anunciados quebrando o clima. Solto sua mão para pegar
os cafés, e ele fica responsável pela sacolinha dos lanches. Saímos da
cafeteria e seguimos até uma área mais tranquila onde podemos nos sentar e
conversar sem ter ninguém falando “Xi” o tempo todo. Nos acomodamos
bem do lado de uma enorme vidraça onde podemos ver uma parte do
campus e da movimentação lá embaixo. Ele se senta de frente pra mim e de
costas para a multidão, ninguém iria nos atrapalhar, podíamos ficar ali até
altas horas quando a biblioteca fechasse as portas.
 
— Ufa! Finalmente sem as pedras — comenta risonho colocando minha
bolsa no canto, junto com a dele.
 
— Trabalhos acumulados são pesados — digo colocando o café na frente
dele e tirando os lanches de dentro da sacolinha com o logo emblemático
mais conhecido do mundo.
 
— Não imaginava que uma mulher como você acumularia tanto trabalho
assim. — Ele diz pegando seu cappuccino extragrande. 
 
— Como você tira tantas conclusões sendo que nos vimos apenas uma vez?
— pergunto ainda organizando nosso lanche de fim de tarde.
 
— Você não tem ideia de quanta coisa imaginei de você, Emma. — O tom
acinzentado de seus olhos faz meu coração disparar no peito e engolir em
seco.
 
Para desviar de sua atenção, olho para as pessoas no hall e observo algumas
mulheres olhando em direção a nossa mesa. Mike chamava a atenção, isso
não era novidade, mas hoje a universidade inteira decidiu me perseguir ao
ouvir seu nome em todos os cantos. O vídeo dele se declarando pra mim na
festa caiu na boca do povo. Se eu estava me sentindo incomodada ao ouvir
os mais diversos comentários ao seu respeito, principalmente sexuais,
imagina ele.
 
— Ei, eu disse alguma coisa de errado? — Sua voz rouca desperta a minha
atenção, mas sua mão apoiada na minha me faz perceber que, independente
de onde estamos, ele não tem vergonha de se sentar junto comigo.
 
— Não, é que… — limpo a garganta —, seu vídeo caiu na graça do povo.
 
— Então ele chegou até você. — Mike relaxa na cadeira antes de abrir a
mochila, e meus olhos se arregalam quando vejo várias cartas dentro dela. 
 
— Isso tudo é o que estou pensando? — pergunto antes dele voltar a focar
no café onde seu nome e a carinha feliz se encontram.
 
— Hoje minha vida se tornou um inferno, só tive meu momento de paz no
treino e aqui com você. — Sua mão volta a apertar a minha. — Agora, vejo
que não era necessário ir tão longe, e que a vida deu um jeito de nos
encontrarmos.
 
Abaixo minha cabeça. É vida, ultimamente você também anda me
surpreendendo até demais pro meu gosto. Eu pedi para o universo que eu
pudesse lidar com tudo sozinha, sem envolvê-lo e como você me retribui?
Fazendo o Mike me encontrar quase desmaiando na biblioteca.
 
— Quer dizer… — Ele afasta a mão, percebendo minha hesitação. — Posso
estar precipitando as coisas, já que fiquei muito feliz em te reencontrar. Mas
também pode ser que você tenha outros motivos pra que isso não tenha
acontecido antes. Ou que eu tenha criado expectativas demais…
 
Vê-lo naquela posição de incertezas me faz agarrar sua mão. Eu poderia dar
uma desculpa, pegar minhas coisas e sair correndo daquela biblioteca
alegando pra ele que nunca mais poderíamos nos ver. Mas não é isso que eu
realmente quero, não é isso que sempre desejei quando eu apenas o
observava de longe. Posso ter um bebê crescendo dentro de mim, enquanto
minha consciência grita no meu ouvido que uma hora não serei mais capaz
de esconder este segredo. Mas, por hora, algo muito bom está para
acontecer depois de tantas catástrofes, não posso deixar que ele escape de
minhas mãos. Mesmo que… mesmo que tudo isso dure pouco.
 
— Eu não te deixei esperando aquele dia por mal, Mike. Não queria ter
saído de supetão daquela forma como aconteceu. A gente teve uma química
tão maravilhosa naquele pouco tempo que compartilhamos juntos, mas…
— sinto um bolo na minha garganta, fecho meus olhos com força. Meu
Deus, como ainda era difícil dizer aquilo. — Eu… — Sua mão aperta mais
a minha, me incentivando a falar. — Eu perdi meus pais naquela noite.
 
— Você… — Ele fica sem palavras. Sua mão desvencilha da minha, sinto
um vazio no lugar, mas quando retorno a abrir os olhos, Mike está
sentando-se ao meu lado e me puxando para um abraço. Agarro sua cintura,
apoiando minha cabeça em seu peitoral, sentindo o cheiro de sabonete
misturado com a fragrância do seu perfume. — Meu Deus, eram os seus
pais.
 
— Eu assisti à homenagem no jogo, muito obrigada por isso — agradeço,
apertando mais ainda o seu corpo musculoso. 
 
— Sinto muito, Emma — declara antes de beijar o topo da minha cabeça.
 
— Desde daquele dia tem sido complicado, eu estou lidando com muitas
coisas, então… — Tento me explicar virando-me para encontrar seu olhar,
mas ele me impede.
 
— Não precisa me explicar mais nada — pede, acariciando meus cabelos
com seus dedos — Eu sei muito bem pelo que você está passando, já estive
em seu lugar. 
 
— Seu pai — sussurro, e ele confirma devagar. 
 
— Entendo a sua dor e seus motivos. — Sua carícia me deixa tranquila,
meu coração antes apertado, mais leve. — Quando quiser conversar sobre
isso, eu estarei aqui. 
 
— Obrigada — acaricio sua barba com carinho. — Engraçado, eu sempre
me imaginei assim com você. Mas não em um momento melancólico — rio
sem graça. — Quer dizer, não imaginava que você estivesse atrás de mim…
depois dessa mancada que fiz contigo… como… como você descobriu que
era eu?
 
— Por causa dela. — Seu dedo pousa na presilha presa em meu cabelo. —
Estou com o outro par, você deixou cair no baile. — Fico impressionada
com aquela informação. — Eu me apeguei a este acessório, com a
esperança de que um dia iria te reencontrar, essa era a minha única pista que
eu tinha de você. — Meu sorriso se expande, realmente essa situação
lembra e muito um conto de fadas, mas isso acontece somente em situações
a cada um milhão.
 
— Ainda não consigo acreditar que você ficou tão interessado em mim,
uma mulher sem experiência e sem graça… —  Seus lábios se juntam aos
meus me calando. Ouço alguns “Oh!” no ambiente, e sei que os olhares de
inveja estão sobre a gente. 
 
— Eu quero te conhecer melhor, Emma Steele — diz com total confiança
assim que nos separamos. — Lembra do que eu te disse antes de sairmos
daquele quarto? — pisco tentando me recordar. — Se você estava pronta
para andar comigo, mesmo que todas as mulheres sentissem inveja por estar
com um dos caras mais populares da universidade. Se você aguentaria a
pressão?
 
Respiro fundo, sabendo que minha resposta mudaria tudo que eu estava
planejando, inclusive a regra de me manter longe dele. Mas meus
sentimentos por Mike McCoy não são de hoje, eu tenho um crush por ele
faz três anos. Beijei outros rapazes pensando muitas vezes que era ele.
Como posso negar algo que a tanto tempo desejei? Eu sei que temos outra
coisa em jogo, que se eu não estivesse grávida eu não pensaria duas vezes
antes de me jogar em seus braços e agarrar a oportunidade que sempre
pedi. 
 
— Isso quer dizer que… — começo a dizer, mas não consigo finalizar.
Caramba, que decisão difícil.
 
— Quero que seja a minha namorada, moça misteriosa. — Ele coloca uma
mecha atrás da minha orelha. — Quero conhecer você, saber suas manias e
seus defeitos. Quero ter alguém com quem eu possa contar e que você
também possa recorrer a mim sempre que precisar. Desejo construir um
relacionamento saudável depois de tanto tempo sozinho. De alguma forma
eu me senti diferente contigo, mesmo em tão pouco tempo. Posso estar
enganado, eu não sei, mas preciso descobrir. E eu quero saber se você
também quer descobrir comigo?
 
Envolvo seu rosto com carinho, posso me arrepender amargamente do que
irei fazer, sabendo que terei consequências no futuro, mas pra mim, naquele
momento, isso basta.
 
— Eu quero descobrir com você. — E aceito aquele pedido de namoro
depositando um beijo em seus doces lábios que tanto desejei, e que agora os
tenho para mim.
 
Finalmente eu a encontrei, a garota que permeou meus pensamentos nos
últimos dias, agora tinha um rosto, um belíssimo rosto. Emma… Emma
Steele, agora a moça misteriosa, tinha um nome, o qual nunca mais iria
esquecer. 
 
Ela tem uma beleza singular, daquelas que não precisava de muito para
mostrar seus traços, mas quando mostrava era impossível não notar. Os
cabelos castanhos claros eram um deleite, pois eram tão cumpridos e
sedosos que minha vontade era penteá-los com meus dedos. Uma coisa
curiosa que chamou a atenção, é que uma de suas mechas tinha a tonalidade
mais clara que as demais, dando um charme para o seu visual, e isso incluía
também as sobrancelhas grossas e bem desenhadas.
 
Diferente de outras garotas, ela usava uma roupa básica, tipo calça jeans,
uma blusinha neutra no tom azul e um jaleco branco impecável. Seu corpo
magro, mas com curvas e seios fartos, me fazia imaginá-la sem roupa. Já
tínhamos transado naquele quartinho apertado no nosso primeiro encontro.
Eu havia tirado a sua virgindade. Mas eu queria ir além, queria ensiná-la os
prazeres da vida, e, no fundo, de alguma forma me sentia honrado de ter
sido seu primeiro homem. Pensar nisso faz meu pau pulsar dentro da minha
calça, mas não quero constranger minha mais nova namorada, então me
levanto trazendo-a para onde eu estava sentado. 
 
— Primeira dica para namorar um popular — digo segurando a mão dela
até sentar no meu banco, ficando de fora dos olhares do ambiente, dando de
cara com a parede onde ela se encontrava. — Ignorar os olhares. Não
podemos nos deixar levar pela expressão que as pessoas fazem em relação a
nós, isso nos prejudica psicologicamente.
 
— Por isso você tem um andar tão confiante e quase não encara ninguém de
volta. Quer dizer — vejo-a colocando uma mecha atrás do cabelo —,
apenas quando a pessoa te interessa. 
 
— Pelo jeito você ficou longe do meu campo de visão durante todo esse
tempo. — Bato o meu ombro de leve contra o dela antes de puxar o copo de
café da outra ponta e colocar na sua frente. — Vamos comer antes que
esfrie.
 
— Tem razão, eu te observava de longe — conta antes de dar uma mordida
no croissant, faço o mesmo e sinto um gostinho irresistível de manteiga.
 
— Como você se interessou por mim? — pergunto tomando um gole de
café. — Foi me vendo jogar? Você é fã de futebol?
 
— Não! — olho em sua direção. — Eu entendo pouquíssimo sobre futebol,
só sei o básico do básico. 
 
— Entendi, achei que fosse uma fã, daquelas que roubam qualquer item do
jogador — brinco fazendo-a arregalar os olhos.
 
— Mike! — repreende enquanto caio na gargalhada.
 
— Tô brincando! — beijo sua bochecha como um pedido de desculpas. —
Como foi então?
 
— Eu estava a caminho do prédio de química com a minha bicicleta,
pedalando tranquilamente, aí conforme fui passando, vi você correndo,
perdido em seus próprios pensamentos. — Seu olhar está longe como
estivesse se lembrando do acontecimento. — Era nosso primeiro ano aqui,
você ainda iria construir toda sua fama, apesar de já fazer sucesso entre a
mulherada. 
 
— Por que você não se aproximou de mim depois? — questiono curioso.
 
— Descobri na época que você tinha uma namorada a distância, então era
óbvio que não iria me intrometer. Aí você terminou e começou sua fama de
garanhão. Mas percebi os níveis de mulheres que você costumava ficar. Eu
não me encaixava em nenhuma delas. — Meus dedos brincam com a
embalagem quente do café. 
 
De fato comecei a universidade compromissado, mas durou apenas seis
meses essa tentativa com a minha ex, assim decidimos que cada um iria
seguir o seu próprio caminho. Depois eu não quis saber de relacionamento
sério, queria aproveitar minha vida de solteiro e a minha popularidade me
levou a ter várias mulheres. Hailey se tornou a exceção, pois apenas nos
procurávamos quando tínhamos nossas necessidades sexuais. O que sempre
foi pra mim, até ela se provar o contrário neste fim de semana. Havia
muitas que não conseguiam arrancar um beijo meu, mas Hailey continuou
tentando, mas não teve êxito tão rápido quanto Emma havia conseguido.
 
— Confesso que eu acabava limitando as opções, mas se eu tivesse
esbarrado contigo… — Minha mão puxa sua cintura, deixando-me mais
colado ao seu corpo, antes de me aproximar do seu ouvido. — Eu iria
querer uma chance. 
 
— Eu não sou do tipo que chama a atenção, Mike — encontro seus olhos
amarronzados. — Aquele baile foi uma exceção. Eu queria que você me
olhasse por estar toda produzida daquele jeito. Já tivemos chances de estar
no mesmo ambiente, mas como eu te disse, não sou de atrair olhares.
 
— Mas agora atraiu. — Minha mão envolve seu rosto, acalentando-o. —
Atraiu tanto que quero ficar apenas com você. Emma, você não tem ideia
do poder que teve sobre mim. — Um sorriso se expande em seu belo rosto.
— Pra você entender a dimensão, eu raramente beijava as mulheres com
quem eu ficava, e eu quis muito te beijar naquela noite, e foi o que fizemos,
indo até além disso. Pode ser que não era pra acontecer antes, pois eu
poderia ser um baita filho da puta contigo e acabasse com qualquer
sentimento que você nutrisse por mim. Aconteceu no momento certo.
 
Emma fecha os olhos por um instante. Eu sei que ela está pensativa em
relação a isso, entendo que possa soar estranho ao ouvir uma revelação
como essa. Talvez ela tenha me imaginado beijando de boca em boca ao
longo desses anos, mas não era bem assim. Quando retorna a encontrar o
meu olhar, vejo lágrimas nublando-os e fico desesperado. Eu disse alguma
coisa de errado?
 
— Eu queria tanto guardar esse dia que ficamos juntos na minha memória
como um dia bom e mágico. — Ela segura a minha mão, mas não o retira
de seu rosto. — Mas não foi… aquela noite foi a pior da minha vida…
desculpa dizer assim…
 
— Ei, tudo bem — digo, encarando-a enquanto enxugo uma lágrima que
insiste em cair. — Que tal a gente definir que hoje é o dia bom e mágico?
Quando finalmente nos reencontramos e eu te pedi em namoro. 
 
— Acho uma ótima ideia! — Um sorriso surge em seu rosto e eu beijo sua
testa antes de voltar a comer.
 
O baile pode ter sido onde tudo aconteceu, mas respeito que também foi o
dia que ela teve sua maior perda, e não quero que ela se recorde sempre
destes dois acontecimentos em simultâneo, mesmo que um deles seja bom.
 
— Você comentou que me viu pela primeira vez quando estava indo para o
prédio de química, e olhando para esse jaleco, quer dizer que você é uma
futura cientista, estou certo? — Decido mudar de assunto.
 
— Sim, sou uma das alunas de jaleco que anda pra lá e pra cá perto do
estádio — conta rindo antes de comer o restante do seu croissant.
 
— Então a minha namorada é uma mulher muito inteligente — comento
levando o café aos lábios, já com saudades do seu beijo. 
 
— É engraçado ouvir você falar assim “minha namorada” — ri antes de
pegar o cookie. — Ainda terei que me acostumar e me beliscar pra saber
que é real.
 
— Também é estranho pra mim — suspiro. — Faz dois anos e meio que
não tenho um relacionamento sério. Posso estar um pouquinho enferrujado.
 
— Eu também estou enferrujada. — Ela morde o cookie. E aquilo me pega
totalmente de surpresa.
 
— Quer dizer que você já namorou? 
 
— Já! Achou que eu era virgem de tudo? — pergunta virando o corpo pra
mim, evito olhar seus seios que se destacam na blusinha. 
 
— Desculpa, mas sim — respondo com medo de que ela me bata, mas
Emma reage ao contrário, começando a rir.
 
— Eu tive um namoro na adolescência, e eu sonhava com uma primeira vez
toda romântica. Até pegar meu ex transando com outra no quarto dele —
conta, e isso faz meus dedos se fecharem em punho.
 
— Que filho da puta! — reclamo, mas ela segura minha mão, e isso é o
bastante para me acalmar.
 
— Por conta dessa decepção, eu não queria saber de relacionamentos, pois
eu tinha medo de ser traída desta forma de novo e me foquei nos estudos.
Claro, fiquei com outras pessoas, mas nunca levei adiante. Fui curiosa com
certas preliminares, mas não tinha vontade de dormir com aquela pessoa.
Até eu conhecer você. — Aquela declaração faz meu pau, que já estava
aceso, pulsar mais uma vez dentro da minha calça. — Eu disse que se eu
fosse perder a virgindade, eu queria que fosse com você. 
 
— Uau! — Um calor me toma o corpo. — Garota, cadê a sua timidez?
 
— Mike, já estamos seguindo para um patamar que posso me abrir pra
você. Pode ter certeza de que também estou surpresa por conseguir falar
isso de forma tão clara contigo. Estou me sentindo a vontade em
compartilhar essas experiências, sabe? — conta antes da sua mão deslizar
pelo meu braço, deixando um rastro de fogo e arrancando-me um sorriso
cheio de segundas intenções.
 
— Eu não vejo a hora de fazer você experimentar todas as sensações
possíveis — sussurro em seu ouvido e quando me afasto vejo seus olhos
brilharem de expectativa.
 
Ela traz o cookie até os meus lábios, e eu mordo um pedaço do doce de
chocolate do jeito mais sensual possível, arrancando um sorriso seu.
 
— Antes de nos conhecermos de outra forma mais íntima, que tal a gente
ser os tradicionais namorados que descobrem algumas coisas básicas do seu
parceiro? — sugere, antes de limpar o cantinho da minha boca.
 
— Pode perguntar o que quiser, moça misteriosa — incentivo, mantendo
nosso contato visual.
 
— Me fale do Mike que não é atleta — franzo o cenho. — Eu sei que o
futebol é sua grande paixão, mas acredito que há outras coisas que você
goste ou se importa.
 
Paro pra pensar no que ela quer saber e falo devagar. 
 
— Minha vida inteira tenho me dedicado ao futebol. Eu me sinto mais
ligado ao meu pai por conta desse esporte. Muitas das coisas que realizo
tem a ver com esse universo. Tenho uma carga horária muito extensa de
treino e estudos, mas gosto de ouvir música, sendo que meu cantor favorito
é o The Weeknd, gosto também de andar com a minha moto pra espairecer
e ver filmes sobre fatos reais, vire e mexe assisto anime…
 
— Sério? Você curte animes? — Seus olhos ficam esbugalhados.
 
— Principalmente de esportes, por quê? — questiono.
 
— Eu amo animes — diz agitada, tornando-a mais fofa. — Sou fã da
cultura asiática.
 
— Não vai me dizer que você é fissurada naqueles coreanos? — Ela segura
o riso. — Sério?
 
— Eu sou mais dorameira do que kpopper se é isso que você está se
perguntando — informa me deixando mais confuso. — Doramas são as
novelas coreanas, mas assisto às japonesas e chinesas também. Kpop são as
músicas. Mas sou apaixonada por animes, e um deles é Fullmetal
Alchemist.
 
— Aaaah já ouvi falar! Só não tive tempo pra assistir — reajo ao ouvir um
nome conhecido.
 
— Podemos ver juntos! — Ela agarra o meu braço, mas me solta tão rápido
quanto pegou. — Quer dizer, se você quiser…
 
— Emma teremos momentos de namoro, vou adorar ficar abraçadinho
contigo depois de uma transa maravilhosa enquanto assistimos por horas
vários episódios no notebook — beijo seus lábios devagar. — Você fica
mais linda animada deste jeito! 
 
— É que eu nunca imaginei que teríamos algo que eu amo tanto em comum
— revela.
 
— Temos tanto ainda a descobrir — coloco sua mecha mais clara atrás da
orelha. — Pode ser que eu te surpreenda e eu sei que você também irá me
surpreender.
 
— Eu não disse, mas me surpreendi por saber que independentemente do
tempo, você ainda queria saber quem eu era. Porque eu tinha quase certeza
que tinha desistido de mim. — Ela desvia o olhar para o campus que está
escurecendo aos poucos.
 
— Eu não podia desistir da mulher que fez meu coração bater depois de
muito tempo. — Seu olhar retorna a encontrar o meu. — Eu quero, de
verdade, fazer com que esse relacionamento dê certo, Emma. Não vou te
decepcionar.
 
Os olhos dela voltam a lacrimejar, mas a envolvo em um abraço forte, meus
dedos encontram seus cabelos sedosos, onde com carinho penteio seus fios,
enquanto em silêncio apreciamos a presença um do outro. 
 
“Não vou te decepcionar” 
 
Aquilo ali foi um tapa tão forte no meu consciente que me perguntei como
eu iria conseguir aguentar esconder aquele segredo? Que no final das contas
eu seria a responsável pela sua decepção.
 
Mas o Mike conseguia afastar qualquer tipo de pensamento, puxando-me
sempre para outros assuntos que me faziam focar no agora, no momento em
que estávamos vivendo, e eu me esquecia da verdadeira realidade. 
 
Ficamos conversando até escutarmos a notificação que a biblioteca seria
fechada, e isso era quase uma da manhã que era o seu horário de
fechamento oficial. O bate-papo trouxe assuntos dos mais aleatórios até os
mais sérios, o que era impressionante, pois em nenhum momento ficamos
em silêncio ou sem saber o que dizer um para o outro.
 
— Caramba! O tempo passou tão rápido. — Ele comenta conforme
caminhamos até a minha picape enquanto sua mão envolve a minha.
 
— Sim, pelo menos não ficamos tão tímidos — digo olhando para o
campus quase vazio, apenas com algumas janelas acesas.
 
— Nem pedi desculpas por atrapalhar seus estudos. Juro que não farei isso
até você estar em dia de novo. — Eu havia contado sobre o meu
afastamento da universidade até que eu pudesse resolver todos os
problemas.
 
— Não se preocupe com isso. — O acalmo assim que paramos ao lado do
meu carro.
 
— Preciso sim! Você está mais atolada de trabalhos e estudos do que o
normal, então pode me dizer sim quando não puder me encontrar porque
está estudando. Um mês é muita coisa. — Ele coloca uma mexa do meu
cabelo para trás, mantendo a mão ali. — Vamos almoçar juntos amanhã?
 
— Onde você quer ir? — aceito com outra pergunta, fazendo-o sorrir.
 
— Podemos ir à SweetBerries, fica aqui pertinho do seu prédio e do centro
de treinamento. O que acha?
 
— Maravilha! Lá tem uns sanduíches ótimos e — coloco meus braços ao
redor dos ombros dele —, umas saladas bem gostosas também, pois sei que
você tem que manter uma dieta balanceada. 
 
— Fugir um pouquinho da dieta não tem problema. — Suas mãos envolvem
minha cintura, trazendo-me para mais perto. — Principalmente se tem uma
gostosa bem aqui na minha frente. — Minhas costas são apoiadas na porta
do carro, enquanto o clima esquenta entre nós.
 
— Bom saber que atiço seu mais profundo desejo. — Meus dedos brincam
com o seu cabelo e sua nuca.
 
— Vem para o meu dormitório — convida distribuindo beijos no meu
pescoço. — Estou morrendo de saudades.
 
Uma de suas mãos desliza até minha bunda, apertando-a ao mesmo tempo
em que seu quadril se choca com o meu. Sinto seu membro contra minha
barriga e isso me arranca um gemido baixinho.
 
— Você é apressado — digo arranhando sua nuca, fazendo-o estremecer de
leve.
 
— Olha quem fala — morde o lóbulo da minha orelha antes de sussurrar. —
Quem foi que entregou a virgindade pra mim na primeira oportunidade?
 
— Bobo — bato nele arrancando-lhe uma risada rouca que é muito gostosa
de se ouvir.
 
O que eu tinha a perder? Já tínhamos feito isso no nosso primeiro encontro,
não teria mal algum continuarmos de onde paramos. O pior já tinha
acontecido mesmo, só que ele não precisava saber disso.
 
— Não quero atrapalhar — digo, beijando seu rosto.
 
— Não vai, e eu moro sozinho, então teremos total privacidade, quer dizer
— um sorriso sacana surge em seu rosto —, se você não gritar muito alto
para os outros dormitórios ouvirem.
 
Sinto meu rosto esquentar, com certeza estou parecendo um tomate, mas a
escuridão impossibilita que ele veja. 
 
Eu quero passar mais tempo com o Mike, terei que aproveitar ao máximo
até que não seja mais possível esconder o que carrego em meu ventre. Eu
sei que ele vai me odiar pra sempre, essa será uma das grandes
consequências da atitude que estou tomando, mas não quero em hipótese
alguma que ele pense que estou com ele apenas para tirar proveito da
situação, que só por ele ser rico engravidei de propósito.
 
— Aceito — respondo tentando transmitir confiança.
 
Um sorriso enorme abre em seu rosto antes de seus lábios encontrarem os
meus, me entrego para o seu beijo intenso que me acende cada vez mais,
tento não perder o controle em um estacionamento aberto, então o afasto
com delicadeza antes que façamos algo inapropriado.
 
— Vai pegar a sua moto, que eu vou atrás de você — oriento antes dele me
dar mais um beijo e ir até a sua Harley Davidson que está estacionada um
pouco mais pra frente.
 
Entro no carro com o coração disparado, a sensação de calafrio é igual ao
dia do baile, mas também o forte desejo de tê-lo aos meus braços fala mais
alto. Nesse momento paro pra pensar se estou adequada o suficiente para
aquele encontro, pois eu sequer me arrumei, e ele pode simplesmente não
gostar do meu corpo. Fecho os olhos, respiro fundo e tento relaxar as mãos
que apertam o volante.
 
Hoje foi um dia de tantas emoções, primeiro a ida ao ginecologista com
aquela conversa profunda sobre eu não estar sozinha nessa gravidez, depois
minha ida até a creche da universidade e pra finalizar com uma cereja no
topo do bolo, Mike descobrindo quem sou eu.
 
Tento controlar minhas emoções após o universo decidir jogar tudo ao
mesmo tempo no ventilador: meus pais, uma gravidez, um segredo, um
namorado. Pra quem tinha a vida parada, agora deu uma grande
movimentada, e não foi uma das mais agradáveis.
 
Mike pisca o farol de sua moto e sei que é minha deixa para segui-lo. Ligo
o motor que faz um barulho forte por se tratar de um carro mais velho e o
sigo, em poucos minutos procuro uma vaga em um dos centros
habitacionais mais caros da universidade.
 
Meu celular começa a vibrar na bolsa, assim que tiro me deparo com o
nome de Abigail e percebo que não a respondi desde a última vez que nos
falamos.
 
— Oi — digo assim que atendo.
 
— Emma, cadê você? Dormiu na biblioteca? — pergunta preocupada.
 
— Amiga, não dá pra responder agora, mas eu juro que te explico tudinho
amanhã. — respondo.
 
— Como assim amanhã? Você não vai voltar pra casa? — A surpresa em
seu tom de voz é evidente.
 
— Eu tô com o Mike — respondo vendo-o caminhar até o carro.
 
— O QUÊ? — preciso afastar o celular do ouvido após o surto. 
 
— Eu juro que te conto amanhã antes da aula.
 
— Vou acordar cedo só pra te encontrar antes de enfrentar o senhor
Madson! Meu deus, você me deixou ansiosa, como vou dormir agora? —
reclama, fazendo-me sorrir.
 
— Eu sei que você consegue — incentivo, pegando a bolsa no banco do
carona antes de abrir a porta e dar de cara com Mike. — Até amanhã,
Abigail.
 
— Ah, meu Deus, até! — Ela desliga o celular.
 
— Sua amiga já está preocupada contigo? — Mike pergunta, pegando a
bolsa da minha mão.
 
— É, Abigail tem cuidado de mim desde… você sabe — falo sem jeito,
trancando o carro.
 
— É bom ter uma pessoa assim, uma amizade forte e verdadeira.
 
Viro-me para ele, que olha para o horizonte anoitecido com os olhos
perdidos, e por um momento me pergunto se ele também tem uma amizade
assim.
 
— Você vai gostar dela! — digo, envolvendo seu braço o incentivando a
andar.
 
— Quando você me disse que ela e o Chris estão ficando, nem acreditei! —
A expressão perdida some e o Mike animado está de volta. — O Chris é um
galinha, não sei como ela aguenta.
 
— Vai entender os relacionamentos de hoje em dia — dou de ombros. —
Fazemos parte dessa geração, mas nossos pensamentos em relação a
algumas coisas ainda são conservadoras — rio antes de chegarmos na
entrada. — Tipo você que me surpreendeu já me pedindo em namoro, sendo
que simplesmente você poderia ter jogado pra mim que a gente iria se
pegar, mas sem qualquer compromisso, sabendo que eu poderia dar de cara
com você flertando com outra garota.
 
— Eu já fiz, Emma. — Ele passa o cartão de liberação na porta. — Mas não
envolvia sentimento.
 
Entramos no centro de habitação que já estava com as luzes apagadas,
sendo que a claridade vinha apenas dos corredores que davam acesso aos
dormitórios. Caminhamos em silêncio até o elevador, pois não quero
comentar sobre isso, eu sabia muito bem com quem ele já tinha feito algo
que não envolvia sentimentos, uma bela e metida líder de torcida.
 
— Isso te incomoda? — Ele pergunta assim que entramos na caixa
metálica, subindo para o seu andar.
 
— O quê? O fato de você já ter tido outros relacionamentos? Não! —
respondo olhando para os botões. — Eu sei muito bem onde eu estava me
metendo quando passei a gostar de você.
 
— Eu sei que você tem uma imagem formada sobre mim, mas por outro
lado, fico feliz em saber que você irá descobrir os bastidores. — Olho de
relance para ele antes do elevador apitar.
 
Saímos e seguimos até a porta do seu dormitório. Sinto como se borboletas
flutuassem na barriga, aquela ansiedade voltando a me rodar. Embora eu
tenha ficado com outros caras e tenha permitido que me tocassem no banco
de trás do carro, eu estava curiosa para descobrir qual era a sensação dele
me tocando. Havia muito tempo que eu não entrava no quarto de um
homem, exceto do meu ex-namorado, que me deixou em pedaços.
Engraçado como o mundo dá voltas, agora posso ser a mulher que irá
quebrar o coração de Mike em milhões de caquinhos.
 
— Tá tudo bem? — pergunta, me esperando entrar.
 
— Sim — digo sem jeito, antes de forçar as minhas pernas a entrarem no
local, dando de cara com um pequeno corredor.
 
— Segue reto que o quarto está aos fundos, aqui fica o banheiro — informa,
ligando o interruptor.
 
— Caramba, você tem um banheiro só pra você! — digo, olhando para a
porta à minha direita entreaberta.
 
O quarto de Mike, para a minha surpresa, é organizado e limpo. As
decorações que remetem aos esportes e ao time da universidade fazem parte
de sua parede que têm os prêmios em destaque. Os poucos livros ficam
sobre a mesinha de estudos junto ao notebook que fica ao lado de um
frigobar a disposição, um micro-ondas e um armarinho multiuso onde
acredito que ele guarde os snacks. 
 
Até que meus olhos pousam em um item brilhante na mesa de cabeceira,
me aproximo deparando-me com a minha presilha de borboletas. A pego
em minha mão, sabendo que um pequeno acessório como aquele foi capaz
de nos manter conectados.
 
— Essa presilha foi um presente da minha mãe assim que entrei aqui na
universidade — começo a falar sabendo que ele está atrás de mim. 
 
— E foi por causa dela que encontrei você — sinto suas mãos envolvendo
minha cintura por trás, dando-me um abraço, e me permito relaxar. — Eu
ficava horas olhando esse acessório e tentando de alguma forma descobrir
quem era mulher que foi capaz de me seduzir com tão pouco.
 
— Mike — rio sem graça.
 
— Pode pegar de volta, é sua, mas confesso que sentirei falta dela, se
tornou meio que um amuleto.
 
Encontro seu olhar, abraçando seus braços.
 
— Ela é um par, você pode ficar com um e eu com o outro. Afinal, foi essa
presilha que nos uniu, não é.
 
Eu olho para aquele acessório tentando compreender se o fato dela ter se
desprendido do meu cabelo naquela noite inoportuna, era um sinal. Dizem
que as coisas não são por acaso, nós cientistas não acreditamos muito em
destino ou milagres, mas que determinados acontecimentos ocorrem por
diversas razões, ainda desconhecidas.
 
— Ficarei honrado em ainda mantê-la comigo, obrigado. 
 
Ele afasta meus cabelos, e seus lábios começam a mordiscar meu pescoço,
levando-me a fechar os olhos por um instante enquanto sua barba pinica
minha pele de um jeito bom. Sua mão desliza devagar pelos meus braços,
arrepiando-me por completo antes de uma delas passar por debaixo da
minha blusa. Sinto seus dedos acariciando minha barriga antes de subir em
direção a um dos meus seios, apertando-o sobre o tecido do sutiã. Encosto
minha cabeça em seu peitoral, aproveitando a sensação de ser tocada
daquela forma, tão sutilmente e, ao mesmo tempo, capaz de encharcar a
minha calcinha.
 
— Se quiser posso te dar carinho, não precisamos ir além — sussurra
enquanto a mão desliza pela minha barriga, chegando no cós da minha
calça. — Eu sei que você ainda é bem iniciante nessas coisas.
 
— Agora você quer ir mais devagar — provoco, levando um braço até sua
nuca.
 
— Se eu soubesse antes que você era virgem e não no ato, as coisas
poderiam ter sido diferentes — revela, me pegando de surpresa.
 
— Diferentes?
 
— Eu posso te mostrar — sussurra no meu ouvido, antes de me virar,
fazendo-me encontrar seus lindos olhos acinzentados. — Alexa, toque Take
my breath do The Weeknd.
 
Mal escuto o que o aparelho diz, pois a mão dele envolve a minha nuca
puxando-me para um beijo. Dou passagem para que sua língua encontre a
minha, sentindo um misto de sentimentos e sensualidade conforme nos
envolvemos em um beijo lento que aos poucos se torna mais rápido igual à
batida de nossos corações. Nossas mãos buscam o corpo um do outro, mas
ser guiada enquanto seus dedos estão presos em meus cabelos com o ar
dominante é muito excitante.
 
Quando ele se afasta de mim, um gemido descontente sai dos meus lábios,
fazendo-o sorrir, e encarando-me, suas mãos abaixam o meu jaleco,
fazendo-o cair aos meus pés. Em seguida, suas mãos me conduzem até a
bainha da sua camiseta.
 
— Me ajuda a tirar? — pede, e eu faço que sim, puxando o tecido sem
muitas dificuldades.
 
Então sou agraciada com o vislumbre do seu corpo malhado que antes eu só
conseguia ver por fotos e agora ele estava ao vivo e a cores bem na minha
frente. Caramba, como desejei esse corpo. Não consigo me controlar e
minhas mãos deslizam pelo seu peitoral liso como eu sempre sonhei, meus
dedos exploram cada tracinho e detalhe da sua pele. Percebo algumas
marcas de batidas que são provenientes dos seus treinos e jogos. 
 
Fechando os olhos por um momento, Mike sente o meu toque antes da
minha boca beijar cada cantinho da sua pele bem devagar, seguindo para
seus ombros, e por fim seu pescoço e maxilar. Tenho sorte de ser alta como
ele, então posso provocá-lo da mesma maneira, fazendo-o sorrir antes de
empurrá-lo para a sua cama.
 
— Também posso te mostrar um pouquinho do que eu queria ter feito —
digo tirando a minha blusa, enquanto seus olhos permanecem em mim. A
coragem por um momento desaparece e sinto meu coração se apertar com
vergonha de me exibir. Tento me esconder, colocando meus braços em
frente ao meu corpo, mas ele os puxa me trazendo para mais perto.
 
— Você é linda, Emma! 
 
Suas íris me prendem, afastando qualquer tipo de insegurança do meu
corpo, enquanto sinto suas mãos irem até as minhas costas desafivelando o
meu sutiã. O ajudo tirando o acessório do caminho, antes dele me puxar
para cima do seu colo, fazendo senti-lo duro embaixo de mim, causando-me
mais tesão ao saber que ele está tão excitado quanto eu. Envolvo meus
braços ao redor do seu pescoço, sentindo os meus seios irem de encontro
com sua peitoral, e aquela sensação de pele contra a pele me faz arfar. 
 
— Não tenha medo de se mostrar, você é perfeita do seu jeito.
 
Suas mãos acariciam as minhas costas, conforme brinco com seus cabelos,
antes da sua boca encontrar a minha puxando o meu lábio inferior. Mike
consegue de novo fazer o meu coração querer sair pela boca. Roço contra
seu membro provocando sensações em nós dois a ponto dele me deitar
sobre os lençóis, pressionando seu corpo forte contra o meu. Minhas unhas
apertam seus braços musculosos, enquanto seu quadril me provoca por cima
das roupas. Quando ele volta a se afastar, deixando aquele vazio, seu corpo
másculo desce até meu quadril e começa a desabotoar a calça. Nunca passei
desse nível com outro garoto, então olho para o teto desejando que a luz
esteja apagada, mas ele percebe na hora.
 
— Emma — ouço sua voz, me fazendo olhá-lo por um instante.
 
— Eu nunca fiquei exposta assim — explico, antes de desviar o meu olhar.
— Você deve achar que sou uma idiota, né?
 
— Não, não acho. — Ele volta a ficar sobre mim, buscando o meu olhar. —
Quer dizer que você nunca foi chupada? — confirmo com a cabeça. —
Confie em mim, posso te proporcionar uma noite inesquecível, uma que
você possa se lembrar. — Ele deposita um selinho em meus lábios.
 
— Tudo bem — tento relaxar, tirando qualquer pensamento de estética do
meu pensamento.
 
Mike morde meu maxilar devagar antes da sua boca descer até o centro dos
meus seios, onde começa a sugar um deles, fazendo com que eu
imediatamente curve as costas contra o colchão. Minhas mãos agarram suas
costas conforme sua boca mordisca e chupa cada um deles com precisão,
despertando mais ainda o meu corpo para sensações desconhecidas, capaz
de deixar minha calcinha mais encharcada. Gemidos baixinho escapam dos
meus lábios, mas sentir sua boca e sua barba descendo em direção ao meu
baixo ventre faz meus olhos reviraram de prazer, apenas desejando que ele
tire qualquer peça que ainda reste do meu corpo. 
 
Não fico tensa quando ele retorna a baixar as minhas calças, revelando
minha peça íntima que denuncia tudo que estou sentindo. Minha respiração
se descontrola quando ele beija minha intimidade ainda sobre o tecido e
depois minha virilha, antes de puxar, me expondo por completo, mas não
sinto receio, pois seus olhos estão vidrados nos meus de um jeito tão sexy
enquanto cheira a minha calcinha.
 
— Emma, Emma. — Um sorriso cínico surge em seus lábios, antes de
afastar mais minhas pernas. — Acho que você está louquinha pra me ter
dentro de você.
 
— Você não sabe o quanto — confirmo, sentindo minha intimidade pulsar
em busca de um contato.
 
Não sei mais quem está cantando, quando seus lábios voltam a minha pele,
começando com o interior das minhas coxas, antes dele mordiscar a minha
virilha fazendo-me empurrar o quadril contra seu rosto. Logo suas mãos
fortes seguram minha cintura para me manter no lugar. Não nego que estou
curiosa para sentir o que ele tem a me oferecer, mas paro de pensar no
instante que sinto sua língua de encontro meus grandes lábios. Fecho os
olhos com força, os gemidos se tornando mais frequentes, enquanto meu
corpo corresponde às suas investidas. Desde assopros gelados até a sucção
do meu clitóris, Mike me faz ver estrelas enquanto meu corpo queima com
todas as sensações que aquele oral está me proporcionando. Meu corpo quer
se descontrolar, mas ele é firme em me manter no lugar, enquanto uma de
suas mãos vem até meu seio apertando-o a ponto de eu morder meus lábios
com força para não fazer nenhum escândalo. 
 
Sempre que possível, seus olhos encaram os meus. Devo estar toda
descontrolada, pois ele sorri abertamente antes de lamber os lábios
molhados e enfiar dois de seus dedos dentro de mim. Um sonoro gemido
escapa dos meus lábios, pois sou incapaz de segurar, mesmo colocando
minha mão sobre a boca logo em seguida. Começo a requebrar conforme
seus dedos saem e entram em mim, mas não sei de onde tiro forças e puxo a
nuca de Mike para que sua boca encontre a minha, sentindo os últimos
resquícios do meu gosto em seus lábios.
 
— Eu quero você, Mike — imploro assim que me afasto, pois meu corpo
está a ponto de ir pelo caminho da explosão. 
 
— Você me quer muito? — Ele morde o lóbulo da minha orelha assim que
murmura.
 
— Me faça sentir de novo aquela sensação — arranho sua nuca fazendo-o
fechar os olhos.
 
Um sorriso expande em seu rosto antes dele sair de cima de mim e se sentar
na beira da cama para tirar a calça. Apoio-me sobre suas costas enquanto
ele se livra da cueca e eu tenho o vislumbre do seu membro grosso já em
pé, esperando apenas se encaixar. Mike abre a gaveta da mesa de cabeceira,
tirando dali uma camisinha, a tal esquecida no nosso primeiro encontro, e
vacilo por um momento, antes de encontrar os olhos azuis acinzentados
dele e esquecer de todo o resto. Seu corpo volta a se sobrepor ao meu, sinto
seu membro deslizar pelas minhas dobras, espalhando toda a lubrificação
natural. A sensação de ansiedade toma conta de mim quando ele se encaixa
na entrada, e tudo o que mais desejo é ter ele dentro de mim. Com os olhos
fixos nos meus, sinto-o entrando lentamente até atingir o talo, enquanto
minhas mãos apertam seus braços, acostumando-me com o seu tamanho.
 
— O encaixe é perfeito. — Ele murmura, afastando os cabelos dos meus
olhos. — Pronta?
 
Afirmo e Mike começa a se movimentar devagar, levando-me a fechar os
olhos para sentir o meu corpo corresponder àquele ato íntimo e tão gostoso.
Volto a abrir os olhos assim que sinto sua respiração pertinho de mim.
Entreabro meus lábios convidando-o a me beijar, ao mesmo tempo que meu
quadril reage, prendo minha perna contra seu corpo, desejando-o mais e
essa é a deixa para que ele inicie movimentos mais rápidos, fazendo-nos
gemer por entre os lábios. As estocadas ficam mais firmes, a ponto de me
deixar sem voz, mas me agarro ao corpo do meu namorado, não querendo
em nenhum momento que ele se afaste, pois quero que ele se enterre cada
vez mais em mim. 
 
Meu corpo entra em uma chama incontrolável e um formigamento me toma
por completo. Eu sei que o orgasmo está vindo, ao mesmo tempo que meu
corpo treme, minha garganta se fecha e o coração se aperta no peito, e
quando a avalanche chega, mal consigo sentir minhas pernas e um grito
mudo me faz afundar os meus dedos na pele dele. Mike parece sentir o
mesmo que eu, pois desaba sobre mim no mesmo instante, antes de deitar-
se ao meu lado completamente entregue.
 
 — Porra, faz tempo que não me sentia assim! — Após um tempo, comenta
enquanto tentamos recuperar o fôlego, abraçando a minha cintura logo em
seguida.
 
O quarto ainda continua quente, sinto pela primeira vez meus cabelos
suados com todo aquele esforço maravilhoso, enquanto fixo na memória as
sensações para que eu nunca esqueça.
 
— Assim como? — digo acariciando seu rosto, sentindo todos os pelinhos
da sua barba.
 
— Muito feliz! — Sua mão volta a colocar uma mecha atrás da minha
orelha.
 
Envolvo o seu corpo em abraço, afundando meu rosto contra sua pele,
sentindo seu corpo quente contra o meu. Meus dedos se afundam contra
suas costas, ao mesmo tempo que meus olhos enchem de lágrimas. 
 
Meu sonho de tê-lo nos meus braços se realizou, mas ao invés de
compartilhar da mesma felicidade, sinto uma tristeza enorme se formar em
meu peito, porque infelizmente eu sei que isso não vai durar por muito
tempo.
 
Desperto às 5h30 como de costume mesmo após dormir tarde, mas não abro
os olhos, aproveitando para sentir a sensação de como é acordar com um
corpo quente de uma linda mulher lhe abraçando. Sinto o cheiro adocicado
de seus cabelos. Por mim ficaria horas deitado naquela cama com ela,
aproveitando cada segundo com a minha moça misteriosa. 
 
Essa madrugada foi maravilhosa em todos os sentidos. Explorar o lindo
corpo dela sem a mínima pressa enquanto ela se contorcia de prazer
embaixo de mim me fez perceber o quanto eu desprezava o sexo com outras
mulheres que se resumiam a rapidinhas, muitas vezes com pouquíssimas
preliminares. Mas com Emma era outra história, eu queria que ela sentisse e
guardasse aquela noite como um avanço especial entre nós, uma noite que
poderia ser lembrada sem qualquer receio. A noite do baile seria sempre
especial pra mim, mas eu tinha que fazer uma lembrança que fosse especial
pra ela. 
 
Devagar começo a tirar seu braço ao redor de mim, não quero acordá-la,
preciso ir fazer minha corrida matinal. Porém, suas pernas estão apoiadas
nas minhas, se encaixando no meu corpo, dificultando minha locomoção, e
isso acabar acordando-a aos poucos, enquanto se mexe como uma gatinha
que se estica assim que acorda.
 
— Bom dia — sussurro e seu olhar sonolento encontra o meu, ela pisca
uma, duas, três vezes.
 
— Então eu não estava sonhando — comenta levando a mão até minha
barba, iniciando um carinho ali.
 
— Não, foi tudo muito real, princesa — acaricio a sua pele nua. A ereção
matinal no meio das minhas pernas pulsa quando ela resvala em sua cintura.
 
— Já está tão aceso a essa hora da manhã, quarterback? — Emma morde os
lábios e para provocá-la empurro minha intimidade contra seu baixo ventre
por debaixo daquele edredom. 
 
— Acordar com uma mulher como você ao meu lado, seria impossível não
estar excitado. — Um sorriso se expande em seu rosto, até que sinto suas
delicadas mãos sobre o meu pau iniciando uma deliciosa masturbação.
 
— Vou te deixar mais relaxado para o treino de hoje, afinal você tem uma
rígida programação a cumprir. — Sua voz está carregada de malícia,
enquanto sua mão me faz gemer cada vez mais, principalmente quando ela
massageia as minhas bolas. 
 
— Vida de atleta não é nada fácil.
 
Consigo dizer antes de envolver sua boca em um beijo desesperado, sua
língua suga a minha com convicção, mas em nenhum momento ela para de
me tocar. Minha vontade maior é me enterrar fundo nela, mas deixo que
daquela vez ela me proporcione prazer através de suas mãos. Mas não
resisto de vê-la gemer comigo, então minha mão vai de encontro com sua
bunda que contrai empurrando mais ainda seu quadril contra o meu assim
que a aperto. Meus dedos vão de encontro com seu clítoris, pegando-o por
trás já percebendo que ele estava a puro prazer. 
 
Emma arfa dentro da minha boca, mas nada impede do nosso beijo
continuar em meio a uma troca de carinhos que começam a desestabilizar a
nossa respiração. Sinto que a qualquer momento gozarei por entre seus
dedos, como também sei que ela fará o mesmo com os meus, então gemo
alto quando a forte pressão vem, espalhando todo o gozo por debaixo
daquele edredom. Ela sorri observando com atenção meu rosto antes de
beijar a pontinha do meu nariz.
 
— Gostou? — pergunta assim que se afasta.
 
— Acordar com esse estímulo todo? Com certeza — respondo, controlando
minha respiração. — Mas eu não terminei a minha parte. 
 
E sem qualquer aviso, volto a penetrar meus dedos na sua boceta ao mesmo
tempo que afundo meu rosto contra seus seios. As unhas dela arranham
minhas costas enquanto me perco entre duas dobras. Ainda vou comê-la de
quatro, ah se vou! Emma empina mais ainda a bunda a ponto de rebolar
assim que meus lábios abocanham um dos seus seios intumescidos.
Caralho, eu quero mais do que isso. 
 
Afasto meus dedos dela, recebendo um resmungo quando vou atrás de uma
camisinha, abrindo uma com rapidez enquanto coloco no meu pau
totalmente lubrificado, o qual desliza que nem uma beleza. Mas antes que
eu pense em ficar por cima, Emma me surpreende, subindo em cima de
mim, tendo a visão privilegiada de seus seios fartos que estão encobertos
pelos seus belíssimos cabelos castanhos. Eu a ajudo se encaixar sobre mim,
e sem muita dificuldade meu pau desliza por entre suas paredes apertadas,
ao mesmo tempo em que a observo arfar com o contato.
 
— Sou um cara de sorte — comento, apertando sua bunda. — Ter uma
princesa como essa me cavalgando logo cedo. 
 
— Só pra avisar que essa cavalgada aqui é de iniciante — diz, começando
no tempo dela. Incentivo empurrando meu quadril, fazendo-a gemer.
 
— Tudo tem uma primeira vez, mas aposto que você vai tirar de letra —
pisco com malícia, e isso é o bastante para a minha moça misteriosa iniciar
seus movimentos um pouquinho desajeitados no início, mas depois o seu
rebolado e as sentadas me fazem ir à loucura. 
 
Aperto um dos seus seios ao mesmo tempo que empurro meu quadril contra
ela, que morde os lábios com força para não gritar. Meu desejo é que ela se
expresse, que não tenha vergonha de gemer alto, então continuo provocando
com o meu quadril a ponto de eu arfar alto com o atrito de pele contra pele.
 
— Você está indo muito bem, princesa — aperto sua bunda com força antes
dela sair e voltar com tudo, fazendo as suas paredes internas me apertarem
de um jeitinho delicioso. 
 
— Ganhei um novo apelido? — Ela se debruça sobre mim, colocando todo
o cabelo de um único lado. — Achei que era moça misteriosa.
 
— Mas você continua sendo minha moça misteriosa, agora com a
identidade revelada — busco pelos lábios dela que me recebem com
carinho antes de ofegarmos quando uma onda de prazer se intensifica.
 
Emma se ajeita no meu colo, mas ao invés de ficar parada, aumenta as
sentadas que me fazem ver estrelas por um momento. Ajeito-me sobre os
cotovelos para admirar seu belo corpo antes da mão dela deslizar pelo meu
abdômen, chegar no meu peitoral e por fim apoiar sobre meus ombros.
Estou quase lá enquanto a observo jogar a cabeça pra trás aproveitando suas
próprias sensações, porra quero tanto proporcionar prazer pra essa mulher
que me tornou seu primeiro homem. 
 
Minha mão envolve sua nuca e afundo meus dedos em seus cabelos. Seus
olhos encontram os meus, vividos e cheios de luxúria. Sem qualquer aviso,
puxo seus cabelos para trás ao mesmo tempo que ela impulsiona mais ainda
seu quadril contra mim, apertando-me ao ponto de escapar um rouco
gemido do fundo da minha garganta, antes de trazê-la até meus lábios,
tomando-os com desespero. 
 
O ranger da cama se intensifica preenchendo o quarto, e não precisa de
muito quando nos afastamos atrás de fôlego. Eu apoio minha cabeça sobre
seus ombros antes de um som gutural sair da minha boca e eu explodir, não
demora para suas paredes me apertarem ainda mais a ponto de eu gozar de
novo. Suas unhas arranham minhas costas com força antes de desabar seu
corpo no meu. Beijo seu pescoço, puxando-a para um abraço.
 
— Fui bem? — Ela pergunta baixinho, arrancando-me um sorriso.
 
— Foi maravilhosa — beijo sua testa suada. — Adorei esse exercício extra.
— Sua risada me alegra.
 
— Olha que eu não sou boa em praticar exercícios, me considero uma
sedentária. — Emma beija a pontinha do meu nariz.
 
— Por mim ficaria o dia inteiro na cama contigo e principalmente dentro de
você — mordo seu lábio inferior.
 
— Não me provoca — ri, desencaixando-nos por completo. — Temos que
estudar, você tem seus treinos. — Sua mão vai de encontro com o meu
cabelo, distribuindo um carinho maravilhoso ali. — Mas podemos pensar
nessa possibilidade no fim de semana.
 
— Já estou ansioso para este fim de semana — beijo-a uma última vez
antes de levantar da cama. Sinto seus olhos em mim, observando-me nu. —
Gosta do que vê?
 
— Demais! — Ela abre um sorriso largo antes de eu vestir minha roupa de
treino.
 
— Com certeza o Chris deve estar puto por eu não ter aparecido na hora.
 
— Vocês correm juntos todos os dias? — pergunta, acompanhando todos os
meus passos pelo quarto.
 
— Nesse horário, sim, meio que um incentiva o outro durante a competição.
— Encontro seu olhar assim que termino de calçar os tênis e vou até ela
dando-lhe um selinho. — Fique à vontade, daqui 40min estou de volta, aí
podemos ir tomar café juntos, o que acha?
 
— Sim! — Ela olha para o relógio e está marcando 6h da manhã. — Tenho
uma aula as 8h. 
 
— Prometo que não vou atrapalhar seus estudos, mas eu precisava matar
essa saudade — digo, acariciando seus cabelos antes de me afastar e pegar
o boné sobre minha mesa. — Até daqui a pouco, princesa. — Escuto-a
dizer “Até” assim saio correndo do dormitório. 
 
Princesa… encontrei a minha Cinderela perdida e a reivindiquei pra mim.
Eu estava disposto a conhecê-la melhor, mesmo que meu pedido de namoro
esteja sido de supetão, eu queria mostrar pra ela que eu quero que a gente
dê certo. Posso estar errado e tudo acabar? Sim! Posso estar criando
expectativas em um relacionamento que acabou de começar? Sim! Quero
mostrar o lado que ela ainda não tem ideia, fazê-la sentir mais sensações e
experiências. Por exemplo, ontem na biblioteca a conexão entre nós foi
tamanha que por um momento achei que já nos conhecíamos há anos.
 
— Até que fim! — Chris diz, apontando para o relógio. — Perdeu a hora,
cara?
 
— Perdi por um bom motivo! — respondo, cumprimentando com um toque
de mão, antes de mover a cabeça e seguirmos correndo. 
 
— Se esse motivo for: eu estava trepando com uma linda mulher, até aceito!
— O tom brincalhão do meu amigo, que é bem mais alto que eu, me faz
questionar se eu e Emma nos denunciamos ontem à noite.
 
— Acertou — confirmo, fazendo ele virar a cabeça em minha direção. —
Encontrei ela, Chris. 
 
— A sua Cinderela? — O tom atônito de sua voz demonstra o quanto está
surpreso. — E qual é o nome dela?
 
— Emma, Emma Steele! — Um sorriso escapa dos meus lábios ao
pronunciar um nome tão lindo.
 
— Eu a conheço! — Chris para de correr pra me encarar. — Caralho, ela é
amiga da Abigail!
 
— É fiquei sabendo que vocês estão ficando, digo, mais de uma vez — dou
de ombros voltando a correr.
 
— Abigail e eu estamos mais pra amizade colorida, sei lá eu me sinto bem
com ela — revela. 
 
Desde que conheço o Chris, que está no penúltimo ano da universidade, ele
nunca demonstrou interesse em relacionamentos sério. Pelo que me lembro,
nunca teve uma namorada fixa, sempre esteve envolvido com mulheres sem
qualquer tipo de compromisso, chegando a um ponto em que você não se
importava em saber quem era a garota com quem ele estava se envolvendo,
uma vez que a demanda era grande. Ou seja, ele não era de falar sobre seus
sentimentos em relação a mulheres, desde criança foi criado pelo pai, já que
sua mãe o abandonou ainda bebê. Não sei dizer se essa falta feminina ao
seu lado não o despertou para o interesse de ficar mais tempo com alguém.
 
— Mas conta ai! Ela que veio falar com você depois daquele vídeo?
 
Decido contar meu reencontro com a moça misteriosa, desejando voltar o
quanto antes para os seus braços.
 
Olho para o teto do quarto que não é meu. O nosso cheiro pós-sexo está no
ar, assim como nos forros de cama. As lembranças da nossa última noite e
do que aconteceu há poucos minutos me arrancam um sorriso de orelha a
orelha. 
 
CARAMBA, ESTOU REALMENTE COM O MIKE MCCOY!
 
Minhas mãos pousam na barriga que ainda não cresceu e a realidade parece
socar o meu estômago. Fecho meus olhos, evitando deixar me levar pela
grande probabilidade de o conto de fadas ter um final tão precoce quanto o
início.
 
Levanto-me tirando os lençóis da cama de Mike, preciso colocá-los na
lavanderia depois de uma noite intensa de sexo. Sabendo que essa será a
primeira de muitas que ainda virão, antes dele começar a perceber a
diferença do meu corpo.
 
Sacudo a cabeça, afastando os pensamentos, e procuro lençóis limpos no
pequeno armário perto de sua cama, me deparando com um violão
guardado em um estojo. Isso é uma grande novidade, ele nunca postou nada
nas redes sociais que tocava tal instrumento. Minha mente divaga,
imaginando-o por um momento tocando e até mesmo cantando uma música.
 
Começo a arrumar a cama antes de pegar minha bolsa, minhas roupas e ir
para o banheiro. Que sorte ter o banheiro no quarto! Ok, tinham dormitórios
com essa possibilidade, mas o aluguel era muito mais caro. Só que quando
eu tiver o bebê, terei que arrumar um dormitório assim, onde a gente tenha
a privacidade, tanto pra mim quanto para o bebê.
 
Ajusto a temperatura do chuveiro até que fique bem aquecida, antes de
prender meus cabelos em um coque e aproveitar a privacidade de um banho
sem ninguém para encher o saco. Já bastava a presença de outras estudantes
porcas que, apesar de morarem sozinhas no campus, ainda não sabiam
cuidar do ambiente em que se viviam.
 
Meus pensamentos divagam para aquela madrugada. Mike fez questão de
me proporcionar uma segunda “primeira vez” para que eu me lembrasse
dessa com carinho e com certeza esse cuidado me proporcionou essa
memória. 
 
Quando me entreguei para ele sem qualquer romantismo naquele quartinho
erótico da festa, não tinha a menor ideia de que seria acometida por um
acontecimento que me faria esquecer de como foi perder a virgindade com
alguém que há muito tempo eu tinha um crush. Mas agora, depois de tudo e
do nosso reencontro, o qual evitei que acontecesse, Mike me proporcionou
uma lembrança que guardarei pra sempre no meu coração.
 
Após sair do banho e me arrumar para o café da manhã, escuto um barulho
de porta sendo destravada e meu peito se agita ao saber que ele está de
volta. 
 
Abro a porta do banheiro devagar me deparando com um suado e gostoso
quarterback que exibe seus músculos através da regata preta. O boné para
trás dá um toque de charme ao seu visual descontraído. Seu corpo é sempre
um convite para agarrá-lo, mas me controlo. Como que pra me provocar, ele
arranca a regata suada mostrando todo seu tanquinho definido, levando-me
a morder os lábios. 
 
Se eu não me afastar deste quarto, vamos transar feitos coelhos o dia todo e,
como estou com uma grande quantidade de tarefas a serem resolvidas, não
posso perder mais nenhuma aula.
 
— Oie! Como foi a corrida? — pergunto, desviando minha atenção do seu
abdômen definido e focando nos seus olhos acinzentados que estão bem
brilhantes, e me sinto feliz por estar proporcionando isso. 
 
— Foi boa, mas nada se compara com o que fizemos mais cedo. — Ele se
aproxima do meu corpo. Prendo a respiração.
 
— Não podemos, vamos nos atrasar — digo, sentindo o meu corpo
reagindo aos seus encantos. Mais que homem fogoso! Se ele é assim em
dias tranquilos, imagina depois de um jogo? A ideia de ser prensada contra
os armários com força retorna com tudo à mente. Minha intimidade volta a
pulsar. Cacete, preciso me controlar. Desvio meu corpo do dele, pego as
minhas coisas e saindo do banheiro. — Te espero aqui fora.
 
— Fugindo de mim, princesa? — Escuto-o dizer antes de ouvir o chuveiro
sendo ligado, mas ele sequer fecha a porta, atiçando a minha curiosidade de
vê-lo tomando banho.
 
— Deixamos a tentação para depois, pode ser? Eu não estou te rejeitando,
quer dizer, estou, mas preciso cumprir os horários. Fiquei um mês fora e
estou atolada de trabalhos, também começarei a trabalhar e ainda tem o…
— Quase revelo meu segredo, então seguro a língua, levando minhas mãos
ao rosto. Droga eu tinha que ser uma matraca?
 
— Estou brincando, Emma. Você não precisa se explicar. Mas ainda terei o
prazer de te comer neste banheiro.
 
Aquele comentário faz meu rosto esquentar. 
 
Coloco meu jaleco que por sorte não ficou todo amassado enquanto encaro
a vista do campus onde estudantes já estão andando de lá pra cá. Pego meu
celular no bolso: já são 7h da manhã. tem algumas mensagens de Abigail
comemorando minha conquista, mas um link mandando por ela me chama a
atenção. 
 
Abigail: Você já está na boca do povo, amiga!
 
Abro o link que dá acesso ao perfil da GatorsPoison, deparando com uma
foto minha e do Mike nos beijando na biblioteca com a seguinte legenda:
 
What’s Up Gators! Fui informado que o nosso encantado príncipe bad boy encontrou a garota dos
sapatinhos de cristal! Para a tristeza de toda universidade que estava em polvorosa sobre tal
acontecimento! 
 
Segundo as minhas fontes, a mulher misteriosa é a estudante de química Emma Steele, uma
promissora futura cientista com um currículo de excelência. Recentemente a nova Cinderela passou
por um período triste, lembram-se da homenagem no Orange & Blue Game, pois é, foi à família dela
que demos aquele um minuto de silêncio. 
 
Esperamos que o nosso bad boy mais cobiçado — que foi caçado ontem — com direito a show por
uma de suas admiradoras (post anterior) — conforte o coração da nossa futura cientista (e esquente
os seus lençóis, pois sabemos a fama de Mike McCoy na cama). 
 
Até a próxima fofoca, Gators!
 
— Caramba, como ele é rápido! — comento em voz alta.
 
— Que foi? — ouço a voz de Mike atrás de mim e me viro, encontrando-o
com a toalha na cintura e os cabelos molhados. Como esse homem
consegue ser tão gostoso? Meus olhos voltam a focar no seu abdômen
perfeito. Ainda estou me acostumando com a ideia de que podia tirar
proveito daquilo tudinho, quando sou facilmente atraída para uma gotinha
de água que desliza pelo seu peitoral até seu baixo ventre entrando pela
toalha na cintura. Como é possível que, com tão pouco, eu me sinto
entrando em estado de combustão? — Emma… — Ele chama a minha
atenção e volto a encontrar o seu olhar.
 
— O GatorsPoison, já descobriu que sou eu a sua moça misteriosa para a
infelicidade de toda a universidade — respondo, vendo um sorriso se abrir
em seu rosto.
 
— Amém! — anuncia, franzo o cenho. — Ontem, quando ele soltou o
vídeo, eu não tive um momento de paz. Praticamente quase todas as
mulheres do campus estavam me encarando, como se fosse uma grande
amostra de um catálogo. Outras tiveram a coragem de vir até a mim para
dizer que era você, chegando a um ponto que uma delas fez toda uma cena
depois da aula. Tudo que eu queria era me esconder. Então, amém que já foi
anunciado, assim não passarei por isso hoje.
 
— Já eu pelo jeito terei que aguentar os olhares enviesados das mulheres
que tiveram o coração partido — desabafo, olhando para a minha foto logo
após a do nosso beijo no banco da biblioteca. O GatorsPoison, o estudante
de jornalismo que tem grandes chances de fazer parte da equipe de uma das
revistas de fofocas mais badaladas dos Estados Unidos, foi rápido para
encontrar o meu perfil. Ele escolheu uma foto em que me encontro em
frente ao prédio de química usando um jaleco e meu tradicional rabo de
cavalo.
 
— Lembra do que eu disse ontem. — Mike se aproxima pegando nos meus
braços e meus olhos encontram os seus. — Você terá que ignorar essas
pessoas, elas não tem nada a ver com sua vida. Eu sei que não é fácil, que
infelizmente haverão comentários maldosos, mas quero que seja forte.
Namorar um futuro atleta que poderá ficar famoso além dos campus tem
seus desafios. — Sua mão pousa no meu rosto, distribuindo um carinho
bom ali. — Se acontecer qualquer coisa ou você ouvir qualquer merda, fale
comigo. Não passe por isso sozinha. Eu me acostumei com os holofotes e,
sabendo o quão reservada você é, não quero que isso te prejudique. 
 
Quando dou por mim, meus braços estão em volta do seu corpo quente em
um abraço apertado, enquanto a frase “não passe por isso sozinha”
reverbera no meu consciente. Se ele tivesse consciência do quanto ouvi esta
frase nos últimos dias. 
 
Se estou na boca do povo por saberem que agora eu e o Mike estamos
juntos, quais serão as críticas que irei receber no momento que todo mundo
ver a minha barriga de grávida crescer? Com certeza serei chamada de
oportunista. Sinto meus olhos encherem de lágrimas, mas engulo todas elas.
Preciso aproveitar o momento, enquanto isso é bom.
 
— Vou enfrentar este desafio, Mike — viro minha cabeça para encontrar
seu belo rosto. — Eu falei sério quando aceitei me tornar o centro das
atenções ao seu lado.
 
— Não quero que você mude seu jeito de ser para se adaptar. — Seus dedos
afundam nos fios dos meus cabelos. 
 
— Não vou — garanto, antes dele sorrir e beijar minha testa com carinho.
 
— Vou me trocar e a gente já vai tomar café — diz antes de se afastar. 
 
Guardo o celular de volta na mochila, me deparando com o folheto da
clínica que a médica me entregou e o qual marquei minha consulta para a
próxima semana. Fecho a bolsa com medo de que ele veja.
 
— Tomei a liberdade de trocar os lençóis e descobri algo que não sabia —
puxo papo vendo-o colocar a calça. — Você toca violão? 
 
Seus olhos acinzentados encontram os meus e percebo que o deixei sem
palavras, pois sua boca abre uma, duas, três vezes antes de responder.
 
— Costumava tocar. — Ele se vira de costas para mim buscando algo na
gaveta. 
 
— Isso quer dizer que não toca mais? — pergunto, ainda curiosa para saber
uma resposta.
 
— Toco quando não estou bem. — Ele diz devagar antes de enfiar a
camiseta por cima da cabeça, ainda de costas pra mim.
 
— Curioso, algumas pessoas só se dedicam às artes quando estão tristes —
digo, olhando para os meus sapatos. — Já li matérias de ilustradores que só
conseguiam desenhar quando estavam passando por alguma dificuldade,
mas que, em momentos de alegria, simplesmente a criatividade sumia…
Será que, um dia, vou poder ouvi-lo tocar? — volto a encará-lo.
 
Mike sorri antes de se aproximar e pegar na minha mão, apertando-a com
carinho.
 
— Vou preparar uma música pra você e vai ser uma música com um
significado feliz. — Seus lábios encostam nos meus antes dele puxar minha
mão. — Bora tomar café antes que eu te atrase.
 
Pego minha mochila e o sigo para fora do seu quarto. Assim que chegamos
no saguão, percebo que algumas pessoas olham em nossa direção, mas evito
encará-las, o acompanhando até a saída. Vamos conversando sobre assuntos
aleatórios até a minha picape, e assim que chegamos perto dela olho para a
pintura escassa do veículo por um momento. Com o dinheiro que meu
namorado têm, a versão do ano deste carro estaria em suas mãos.
 
— Se importa de ir nela? — pergunto, mordendo os lábios de leve. Pra
quem está acostumado a andar de Harley Davidson, entrar numa lata velha
pode ser um absurdo.
 
Mike revira os olhos e vai até o carona esperando que eu destranque a porta.
Assim que me acomodo no banco do motorista, ele entra me encarando.
 
— Você acha que eu teria vergonha de andar contigo neste carro? — Seu
corpo forte se volta na minha direção.
 
— Sim, porque isso aqui é o extremo do usado — digo, forçando o motor a
ligar, demora um pouco, mas o bichinho dá sinal de vida. — Você é rico,
então achei por um momento que você acharia o cúmulo entrar nessa
lataria.
 
— Essa lataria que você comprou com seu próprio dinheiro, acredito eu —
comenta, observando enquanto saiu da vaga.
 
— Comprei apenas porque seria útil eu ter um carro já que fiquei sozinha.
Antes nem ligava muito, eu vivia pra cima e pra baixo de bike aqui no
campus — informo ajeitando a marcha. — Mas com o falecimento dos
meus pais, fiquei com mais responsabilidades nas costas. Essa picape foi o
que consegui comprar, já que… — mordo os lábios. Eu ainda não havia
contado pra ele sobre minhas condições financeiras, e não pretendia ainda
tocar nesse assunto. — Enfim, foi o dinheiro das economias que ganhava
dos meus pais, mas em breve começarei a trabalhar meio período para
recuperar. — E me manter já que estou sozinha nessa e com uma criança a
vista para cuidar.
 
— Não consigo ter uma real proporção do que você passou ou está
passando, mas quando quiser conversar sobre isso, estarei aqui — avisa
antes de olhar para frente e mudar de assunto. — Vamos no Sweets, aí
tomamos aquele café reforçado merecido.
 
— Estou te tirando da dieta! Seu treinador vai me matar. Você não precisa
estar em dia com sua alimentação nesses casos? — digo, entrando na
avenida que dá acesso ao restaurante.
 
— Ah, não sou tão paranoico assim não, claro que sigo minha dieta, mas
também quero ser feliz. Principalmente quando uma linda mulher está ao
meu lado e é um exercício e tanto! — A provocação faz meu rosto
esquentar.
 
— Fico lisonjeada em saber que uma inexperiente te cause isso — comento,
procurando uma vaga. 
 
— Essa inexperiente que está aprendendo os prazeres da vida e que faz meu
pau ficar duro só de imaginar o que podemos fazer neste carro. — Sua mão
desliza pela minha calça, causando-me um arrepio gostoso pelo corpo.
 
— Você parece um viciado em sexo — comento antes de achar um local
adequado para estacionar.
 
— Isso te incomoda? Prefere que eu seja mais discreto ou não fale desse
jeito? — pergunta. Sinto que ele está meio apreensivo. 
 
— Desculpa, eu não estava te julgando — respondo, me virando pra ele. —
Só não estou acostumada a ter esse tipo de conversa que envolve
provocações.
 
— Posso estar meio enferrujado, mas também posso ser mais romântico. —
Ele me dá um selinho antes de sair do carro, surgindo ao lado da porta,
abrindo-a como um perfeito cavalheiro. — Dizem que tem mulheres que
gostam desse gesto, outras acham antiquados para a época que estamos
vivendo, então… — O interrompo envolvendo meus braços ao redor do seu
pescoço e o puxando para um beijo.
 
— Gosto tanto quando você é atencioso assim — afasto-me de seus lábios e
os meus dedos envolvem seu cabelo macio. — Nem parece um bad boy.
 
— Não serei um bad boy contigo. — Sua mão faz um carinho na minha
cintura. — Eu só perco o controle quando algo me incomoda muito, por
isso me chamam de briguento e bad boy.
 
— Igual ao acontecimento do Orange & Blue Game? — Ele franze o
cenho. — Eu assisti na televisão. — Mike se desvencilha de mim e, como
imaginei, aquele assunto ainda o incomoda. — Fiquei preocupada contigo
naquele dia. Queria entender aquela fúria que você estava sentindo.
 
Aproveito que ele se encostou na picape para trancar o veículo.
 
— É um assunto longo, deixa para outro dia, princesa. 
 
Assinto devagar. Sou compreensiva, afinal cada um de nós tem seus
próprios segredos. No meu caso é algo extremamente nítido. Não é porque
nos encontramos e já estamos transando que iremos revelar tudo que
sentimos ou passamos em uma única tacada, nem fazemos isso com o nosso
psicólogo, imagina com alguém que a gente está conhecendo. 
 
Não posso exigir respostas de Mike, quando eu mesma não estou sendo cem
por cento sincera com as informações também. Uma hora esses assuntos
surgirão de forma natural. Por isso, envolvo meu braço no dele e seguimos
para o Sweets, mas eu não contava com a presença de alguém desagradável
logo cedo: Hailey. 
 
Os olhos furiosos de Hailey encontram os meus no momento que a encontro
tomando uma grande taça de sorvete com vários sabores. Realmente mexi
com o psicológico dela, porque pelo que a conheço aquela bomba de açúcar
logo cedo era algo que a própria repugnava, já que tinha que manter o corpo
perfeito por ser líder de torcida. 
 
Passo direto pela mesa dela e de suas amigas, adentrando a lanchonete. 
 
— Ela está furiosa! — Emma comenta ao meu lado assim que paramos na
fila do caixa, com duas pessoas na nossa frente.
 
— Ela está com inveja de você — digo, afagando sua mão.
 
— Sempre achei que uma hora ou outra vocês iriam se assumir namorados
— conta antes de pegar o cardápio. — Ficarei com esse Monte Cristo.
 
Olho para o pedido dela, um sanduíche com uma mistura de presunto, peito
de peru e queijo. Deslizo meus olhos pelo menu de café da manhã e escolho
um Bagel, queijos e ovos. Faço o pedido acompanhado de dois smoothie de
manga com leite, o qual descubro ser o nosso favorito. 
 
— O que eu e a Hailey tínhamos era apenas consensual, nunca houve
interesse amoroso da minha parte — informo conforme nos acomodamos
em uma das mesas, aguardando o nosso pedido.
 
— Sério que nunca rolou um sentimento? — Ela franze a testa me
encarando.
 
— Hailey sempre foi atirada, o que eu e ela tínhamos era mais tensão
sexual. Ela me procurava quando estava a fim, e raramente eu negava, pois
eram momentos que eu precisava. — Olho para a mesa de madeira onde
alguns riscos ainda permanecem com o tempo. — É esquisito compartilhar
isso contigo. 
 
— Eu sempre quis entender o que rolava entre vocês, porque eu sabia da
sua fama de pegador, mas com ela era diferente, era contínuo. — O dedo
dela desliza por um desenho de coração gravado na mesa. — E o jeito como
ela agia era como se vocês em breve anunciassem que estavam juntos de
vez.
 
— Emma — minha mão vai de encontro a sua —, tudo que rolava entre
mim e ela era sexo. Eu sequer a beijava. Pois para mim beijos são íntimos
demais. Tudo que ela queria era meu beijo, mas eu nunca lhe dei.
 
— Achei que era boato esse lance de você não beijar. — Há surpresa em
sua voz.
 
— Eu só beijava as mulheres quando elas me despertavam o interesse além
do sexo — abro um sorriso. — E você foi uma de um grupo muito seleto de
pessoas que tiveram esse privilégio.
 
— Estou me sentindo muito honrada. — Emma retribui o meu sorriso, mas
logo sua expressão se modifica. — A Hailey viu a gente se beijando! —
Seus olhos castanhos encontram com os meus em alerta, mas volto a apertar
a mão dela para acalmá-la. 
 
Nossos pedidos chegam e dou espaço para atendente colocar tudo em seu
devido lugar antes de se afastar, desejando “bom apetite”.
 
— E essa relação de apenas sexo, sem a troca de um carinho mais íntimo,
nunca te afetou? — pergunta antes de tomar um gole do smoothie, levando-
me a negar com a cabeça. — Você não ficou com medo dela forçar a barra,
e sei lá, chegar no ponto de engravidar de você?
 
— Engravidar de mim? — Quase engasgo com o meu smoothie. — Sem
chances! A Hailey detesta criança. Pra ela ser mãe seria o cúmulo. Hailey
quer ser líder de torcida profissional, e segue uma dieta pra lá de exigente.
 
— E você também detesta a ideia de ser pai?
 
Nunca havia parado para pensar nisso. Na verdade, nunca me imaginei
sendo pai, então antes de morder meu lanche, olho para Emma e respondo
sua pergunta.
 
— Eu não detesto. Eu só nunca imaginei essa possibilidade. Quer dizer,
quem sabe no futuro, depois que eu conquistar meus objetivos na carreira e
estar estabilizado em um time da Liga. Até lá estarei com a pessoa certa
para iniciar uma família. Afinal, um filho requer muitas responsabilidades e
paciência, precisamos estar preparados para lidar com ele.
 
Emma assente devagar antes de tomar o seu smoothie. Seus pensamentos
parecem estar bem longe, então decido continuar o assunto.
 
— E você se imagina mãe algum dia? — Seus olhos amarronzados
encontram os meus e por um breve momento percebo ali uma certa
confusão antes de desviá-los. 
 
— Essa possibilidade também não passa pela minha cabeça, porque meu
desejo sempre foi me dedicar aos estudos. — Ela abaixa a cabeça por um
instante. — Imagino que o meu futuro será ficar num laboratório estudando
mais a fundo sobre química orgânica.
 
— Ah, você me disse que tem outros tipos de química, mas essa química
orgânica seria o que?
 
— Química orgânica é basicamente um dos principais elementos
encontrados na nossa sociedade. Ela está no alimento que ingerimos, nas
roupas que vestimos, na tinta desta parede, neste copo — levanta o dela
antes de continuar. — Mas também está muito presente no desenvolvimento
de medicamentos. Cientistas desta área estudam a origem das matérias, e
através delas tentam encontrar soluções para melhorar ou no caso acabar
com certos inimigos.
 
— Inimigos? — pergunto confuso.
 
— Doenças e vírus. Tivemos a pandemia aí pra comprovar a extrema
importância dos cientistas que tiveram que correr contra o tempo para achar
uma vacina eficaz que evitasse tantas mortes — O modo como ela fala
deixa evidente a paixão que sente por essa área em específico. — É uma
tarefa complexa, sabe. Ter a responsabilidade de descobrir a cura para uma
enfermidade, criar uma vacina que pode prevenir tragédias, fazer uma
análise aprofundada para confirmar uma nova doença ou o progresso
significativo na raça humana. — Um sorriso se expande em seu rosto. —
Quero exatamente isso, trabalhar na área da saúde, ajudar as pessoas. —
Seu olhar desvia do meu por um instante. — Você deve achar que isso tudo
é uma chatice, né?
 
— Claro que não! Eu acho muito maneiro! — rebato. — Imagina, ter o
poder nas mãos para descobrir coisas que podem fazer a diferença na vida
de muita gente! — Volto a pegar em sua mão, apertando-a com carinho. —
Fico feliz em saber que tem interesse em trabalhar na área da saúde.
 
— É um trabalho que requer muitos estudos e pesquisas, sempre está em
constante mudanças. Quando eu não estiver dentro de um laboratório, quem
sabe estarei lecionando em alguma universidade. — Ela suspira sonhadora
antes de comer seu lanche. 
 
— Tem alguma cientista que você admira?
 
— A Nobel de Química, Jennifer Doudna. — Um sorriso abre em seus
lábios. — Ela é professora lá na Universidade da Califórnia. Junto com
outra cientista, Emmanuele Charpentier, estudam o genoma, que é o
conjunto de todos os cromossomos presentes nas células reprodutivas de
um indivíduo e descobriram através desta pesquisa diferentes possibilidades
de se criar terapias para doenças como o câncer, além da criação de
organismos geneticamente modificados.
 
— Isso quer dizer que mexeria com a nossa genética? — pergunto tentando
entender.
 
— Sim! A técnica delas ainda está em fase de testes, mas quem sabe no
futuro tenhamos meios de curar um câncer.
 
— São tantos testes né? Meu pai era uma dessas pessoas que tinha
condições de bancar tratamentos caríssimos e terapias alternativas que
tinham no mercado, mas não foram o bastante — comento após tomar um
longo gole do meu smoothie.
 
— Pelo menos ele tentou, Mike. Seu pai foi em busca de opções que
pudessem ajudá-lo a melhorar e assim a ficar mais perto de você e de sua
mãe. — Sua mão vem ao encontro do meu rosto acariciando a minha barba
bem devagar. — Uma pena que ele não esteja mais aqui, mas tenho certeza
de que ele está muito orgulhoso do homem que você se tornou.
 
Apoio minha mão sobre a sua, agradecendo por suas palavras de conforto.
O dinheiro é um fator que influencia o mundo, que dá opções para algumas
pessoas e para outras não, mas, como a minha namorada disse, meu pai
tentou permanecer conosco aqui na Terra, se esforçou ao máximo em busca
de formas de prolongar a sua vida, e tentou até não conseguir mais. Se ele
não tivesse dinheiro para o tratamento, eu acho que o tempo em que
estivemos juntos seria muito menor do que o previsto. 
 

 
A picape de Emma para bem em frente ao Centro de Treinamento, e mesmo
percebendo os olhares sob nós dois, despeço-me dela com um selinho
demorado, arrancando-lhe um lindo sorriso. 
 
— Você quer realmente que as pessoas saibam da gente, não é? —
questiona assim que nossas bocas se separam. 
 
— Com certeza! Quero que todos saibam que Mike McCoy está namorando
uma linda princesa chamada Emma Steele. Uma irresistível cientista que
tem seios maravilhosos. — Ela começa a ficar ruborizada, arrancando-me
uma gargalhada antes de abrir a porta. — Qualquer coisa me liga, tá bom?
Pode mandar mensagem a hora que quiser, confesso que posso demorar um
pouquinho pra responder, mas assim que tirar ele do armário, eu te
respondo.
 
— Hoje será bem difícil pra conversar, mas de noite eu te mando uma
mensagem, só pra você não sentir a minha falta. — Sua mão envolve meus
cabelos do jeitinho que eu tanto gosto.
 
— Eu vou sentir sua falta o dia todo — confesso, roubando mais um beijo
seu. — Promete que não vai sumir. 
 
— Prometo! — Ela ri. — Agora vai, senão me atraso. 
 
— Tá bom! Não vou atrapalhar seus estudos, mas vamos dar um jeito de
nos ver — pisco antes de sair do carro.
 
Caminho em direção ao centro de treinamento despreocupadamente,
sentindo que algumas mulheres olham na minha direção. Com certeza estão
decepcionadas por eu ter encontrado a minha princesa cedo demais. 
 
Vou em direção à academia para a execução da minha sequência de
exercícios antes de saber quais serão as atividades do dia que o treinador e a
equipe do Gators irá pedir para realizarmos, como também seremos
avaliados pelo personal trainer. Chego ao ambiente cumprimentando-os
com um 'bom dia' conforme passo pelo imenso janelão que dá vista ao
campo de treinamento de futebol americano onde outros alunos já estão
treinando a corrida.
 
— Pelo visto nosso capitão está super feliz hoje! — Ouço Harry antes
mesmo de chegar no meu grupo de amigos que já estão na estação de
musculação. Os cumprimento com toques de mão.
 
— Óbvio, ele encontrou a Cinderela! — Chris bate seu ombro no meu.
 
— E você dando com a língua nos dentes — reclamo, sem levar a sério.
 
— Ele nem precisou falar, já tínhamos visto pelo GatorsPoison.  — Kyle
defende.
 
— Fiquei sabendo que já revelaram sobre minha namorada nas redes —
digo me sentando na base do aparelho.
 
— Namorada? — Todos eles perguntam ao mesmo tempo.
 
— Sim, eu e a Emma estamos namorando — confirmo olhando para cada
um deles.
 
— Um relacionamento sério, mesmo? — Kyle questiona piscando os olhos.
 
— Você não acha cedo demais? — Chris se prontifica jogando a toalha
sobre o ombro. — Você acabou de reencontrá-la, sendo assim, deveriam ter
alguns encontros antes de se firmar como um casal…
 
— Quando a gente sente que encontrou a pessoa certa, por que demorar
para dar um avanço? Sendo que tudo pode ser bem melhor no momento em
que envolvemos sentimentos — encaro Chris antes de começar a fazer o
exercício para o peitoral.
 
— Realmente essa garota conquistou você! — Harry diz, impressionado.
 
Um burburinho se inicia na academia, tirando-nos do foco antes de
encontrar uma Hailey furiosa vindo acompanhada de três amigas em nossa
direção. Ah, merda, ela veio arrumar confusão.
 
— Como você pôde? — Essas são suas primeiras palavras antes de sentir o
tapa no meu rosto, desta vez não consegui segurá-la a tempo. — Me trocar
por aquela garota sem graça, Mike?!
 
Sinto uma fúria crescer dentro de mim por ser pego desprevenido, mas
respiro fundo voltando encarar os olhos vermelhos da mulher que por um
bom tempo só me satisfez no sexo e nada mais.
 
— Eu não te troquei Hailey, o fato é que eu nunca te escolhi — digo sério,
pouco me importando que aquelas palavras irão machucá-la. Estou cansado
de dizer que nós não temos mais nada e que não lhe devo explicações.
 
Ela leva a mão ao peito, e eu sei, quebrei algo ali. Mas não posso sentir
pena, sempre deixei claro o bastante minhas reais intenções com ela, nunca
demonstrei nenhum tipo de mudança ou carinho repentino. Porém, a cabeça
do ser humano é mais complicada ainda de se compreender e interpretar os
acontecimentos.
 
Para piorar os meninos soltam um “Oh!” sonoro fazendo-a ficar mais
vermelha ainda.
 
— Você vai se arrepender dessa escolha! — Hailey diz, apontando o dedo.
 
— Hailey, na boa, siga a sua vida, e eu seguirei a minha, não é necessário
ameaçar. — digo calmo, encarando seus olhos furiosos. — Não faça nada
contra a minha namorada.
 
— Namorada? — A incredulidade em sua voz é impressionante. —
Namorada?
 
— Sim, isso mesmo que você ouviu, eu e a Emma estamos namorando —
falo com firmeza me colocando de pé. — Agora acabe com esse showzinho
que todos aqui precisam treinar.
 
— Foda-se os Gators! — xinga descontrolada antes de sair esbaforida do
centro recebendo vaias dos outros estudantes.
 
— Não é nada bom irritar uma mulher desse jeito, McCoy. — Kyle
comenta por fim apertando meu ombro. — Cuidado, ela pode aprontar
alguma. Sabemos muito bem como a Hailey é ardilosa.
 
Levo a minha mão em direção ao rosto no local exato do tapa,
massageando-o. A Hailey vai superar, pode demorar um pouco, mas vai. A
gente sempre supera, ou acabamos aceitando uma hora ou outra. No fundo,
só espero que ela encontre alguém que a ame de verdade.
 
Respiro fundo mais de vez. Essas últimas horas foram intensas de várias
maneiras. De uma completa desconhecida passei a ter olhares se voltando
na minha direção acompanhado de cochichos. Tentei ignorar, mas até meus
colegas de classe não conseguiram disfarçar a surpresa de eu estar
envolvida com o mais famoso quarterback da universidade.
 
Entro na praça de alimentação e logo vejo Abigail acenando na minha
direção, nem para ser um pouquinho mais discreta, mas é evidente a
felicidade em seu olhar. Quando me aproximo, só basta falar “Oi” que sou
recebida com um forte abraço.
 
— Amiga! — começa a dizer ainda me apertando. — Caramba, que
reviravolta! Quero que me conte tim tim por tim tim. 
 
— Preciso comprar meu almoço — digo, desvencilhando-me dela.
 
— Peguei dois pokes de salmão pra gente! — Ela diz apontando para a
mesa, onde me deparo com o prato havaiano colorido e saboroso que me dá
água na boca.
 
— Isso foi um golpe baixo para eu te contar tudo antes de irmos ao
laboratório, né? — comento, sentando-me de frente pra ela.
 
— Antes e depois, pois você precisa me relatar tudo que aconteceu. Você
parece uma celebridade. — Ela pega os hashis de metal de sua bolsa e inicia
seu almoço, eu fico com os meus descartáveis mesmo.
 
— Exatamente por ser uma “celebridade” preciso ter cuidado no que vou
dizer em público, amiga. O GatorsPoison tem olhos e ouvidos em todos os
lugares. Não quero que ele saiba tudo sobre a minha vida, principalmente
sobre minhas condições — informo olhando atenta para a praça.
 
— Ok, os detalhes mais importantes você me fala no dormitório mais tarde,
mas outras coisinhas você pode sim compartilhar, começando com esse
reencontro, me conta. — Ela me chuta de leve por debaixo da mesa. —
Como isso aconteceu?
 
Um sorriso esboça em meu rosto antes de relatar com detalhes como um
príncipe encantado com fama de bad boy encontrou a Cinderela perdida
entre os livros.
 

Depois de um dia intenso de estudos, até mesmo durante as pausas, retornei


ao meu quarto no final da tarde para me concentrar em preparar alguns
trabalhos atrasados. Só percebi que estava exausta quando acordei quase
babando com o falatório de Abigail tentando despachar Chris.
 
Desde que os dois começaram a sair mais vezes, o atleta se vê cada vez
mais na sua cola, e agora é capaz de nós quatro sairmos juntos, já que ele é
amigo do Mike. Quando isso acontecer será bem interessante.
 
— Saiam daqui! Eu e a Emma temos muito o que fazer. — Escuto Abigail
falando e estranho ela citar o plural até que a voz rouca do Mike surge ao
fundo.
 
— Só quero dar um beijo de boa noite nela — escuto sua justificativa, e um
sorriso se abre em meu rosto. Levanto-me da cadeira com a pilha de livros
em minha frente, passo as mãos entre os fios de cabelo antes de aparecer em
seu campo de visão.
 
— Boa noite! — bocejo.
 
— Tá vendo, vocês acordaram ela! — Abigail volta a cruzar os braços.
 
— O que vocês estão fazendo aqui? — pergunto ainda com a voz um pouco
sonolenta. 
 
— O Mike insistiu pra trazê-lo aqui — Chris responde levantando as mãos
para o alto.
 
— Nem um pouquinho ansioso né, Mike. — Abigail comenta antes que eu
me aproxime dele.
 
Ainda com sono, o cumprimento com um tímido “oi” antes de envolver
meus braços ao redor do seu pescoço, enquanto sua mão circunda a minha
cintura com carinho.
 
— Só tenho medo de que ela suma de novo — revela antes de me dar um
selinho. 
 
— Esses dois vão ficar melosos que só, você vai ver! — ouço Chris
comentar, mas os ignoro.
 
— Não esqueçam que estamos aqui, pombinhos. — Abigail diz tentando
parecer séria, mas pela tonalidade de sua voz sei que minha amiga está feliz
por mim.
 
— Preciso estudar, mas agradeço a visita — encaro os olhos acinzentados
de Mike conforme meus dedos brincam com seus cabelos macios.
 
— Hoje o nosso treinador nos informou que vamos começar a treinar para a
temporada da liga entre as universidades na próxima semana, pois como
mês que vem é fim do semestre e depois as férias, ele quer que a gente volte
bem-preparado. — Mike informa olhando de mim para Abigail. — Então,
estava pensando por que nós quatro não saímos neste fim de semana?
Depois teremos treinos mais intensos do que de costume e pouca
disponibilidade para encontros.
 
— Acho uma ótima ideia! — Minha amiga confirma antes de agarrar o
braço de Chris.
 
— O que acha, princesa? Vou atrapalhar muito seus estudos? — Seus olhos
voltam a encontrar os meus.
 
— Podemos ir, sim, já que terei pouco tempo com meu namorado —
confirmo antes dele me abraçar contra seu corpo.
 
— Esses jogos da liga serão importantes, os olheiros do Draft comparecem
nesses campeonatos, e nosso amigo aqui precisa se redimir depois do
último jogo — Chris aperta os ombros de Mike.
 
Volto a lembrar do acontecimento do Orange & Blue Game, do
comportamento agressivo de Mike naquele dia, sendo expulso de campo, e
o quanto aquilo abalou seu posicionamento entre os jogadores e torcedores.
Ainda me recordo da voz do locutor da ESPN: “Isso não é bom,
principalmente quando tem olheiros do Draft nesta partida. O que será que
aconteceu para um dos favoritos do time agir daquela forma?”. Massageio
suas costas para lhe dar um conforto, ainda não havíamos conversado
direito sobre esse dia, sobre seus reais motivos para ter perdido a cabeça
daquela forma.
 
— Agora vamos deixar vocês estudando. — Mike beija a minha têmpora
antes de se virar para mim. — Posso te buscar amanhã?
 
— Gostou de tomar café comigo? — pergunto em tom brincalhão.
 
— Adoro a sua companhia. — Ele coloca alguns fios do meu cabelo para
trás da orelha. — Quero aproveitar todo tempo que estivermos disponíveis.
 
— Então amanhã nos encontramos às 7h — oficializo, dando-lhe um beijo.
 
Chris puxa Mike afastando-nos e os dois saem rindo dando tchau antes de
desaparecerem pelo corredor.
 
— Quem diria hein amiga, estamos ficando com os jogadores de futebol
mais famosos da universidade. — Abigail comenta. Olho em sua direção.
 
— E pelo jeito, o Chris está cada vez mais interessado em você — observo
assim que entramos no quarto.
 
— Vou ser sincera que achei que iríamos durar pouco. Ele ficou surpreso
quando eu disse que poderia ficar com quem quisesse sem me dar
explicações, contanto que quando estivéssemos juntos ele não flertasse ou
comentasse sobre esses casos. — conta, se sentando em sua cama.
 
— No final das contas, quando você está ficando aleatoriamente, não tem
ninguém a quem recorrer. Mas agora ele tem você, amiga. E pelo que
parece o que rola entre vocês não é só sexo, como eu descobri que era assim
entre o Mike e a Hailey — tagarelo conforme arrumo meus livros
bagunçados na mesa.
 
— Por que estamos comentando sobre ela?
 
— Ela nos viu hoje e por um momento achei que iria voar na minha
garganta. — Puxo a cadeira para ficar de frente pra minha amiga. — E eu
não sou de ficar vendo fofoca, mas desde que passei a ser o centro de
atenções estou monitorando o perfil do GatorsPoison. Postaram até dizendo
que a Hailey deu tapa na cara do Mike na academia.
 
— Ela tá morrendo de inveja de você, amiga. Ela sempre desejou o que
você conseguiu sem muito esforço. — Abigail abraça uma almofada antes
de continuar. — Como foi ontem na ginecologista?
 
— Foi bem! Ela me indicou um local pertinho do prédio de química onde
funciona uma instituição para mulheres que também foram pegas de
surpresa como eu, e lá eles não cobram pelos exames. Já liguei e marquei
uma consulta na próxima semana. 
 
— Posso te acompanhar, se quiser 
 
— Agradeço, amiga, acho que vou me sentir menos ansiosa. — Trocamos
um sorriso sincero. — A médica comentou também que tem um grupo de
mães aqui na universidade que pode me ajudar com dicas, já que sou mãe
de primeira viagem.
 
— Como eu te disse, você não está sozinha, amiga. — Seu olhar se tornar
sério. — Falando nisso, você contou para o Mike? 
 
— Como eu vou contar, Abigail? Acabamos de nos reencontrar. Eu não
posso chegar nele e falar: “Ei sabia que você vai ser papai agora?” E outra
eu não posso contar pra ele, não agora.
 
— Por que não?
 
— Amiga, você acabou de ouvir! Ele está se dedicando para entrar no Draft
e sua reputação e foco precisam estar ótimos nos próximos jogos que irá
realizar. Se eu contar… ele poderá perder a oportunidade de sua vida
porque não estará focado o bastante perante os olheiros. E eu nunca vou me
perdoar por isso. — Levanto-me da cadeira, enquanto meus braços
gesticulam.
 
— Você está com medo de acabar com a carreira dele, é isso mesmo que
estou ouvindo? — Confirmo devagar com a cabeça. — Você tá achando que
ele será o único que terá consequências disso tudo? E quanto a você? Você
também poderá perder oportunidades neste momento por conta da gravidez,
mas não quer dizer que elas não vão ressurgir quando você tiver com tudo
nos eixos. Ou seja, vocês dois terão a vida modificada, mas isso não quer
dizer que um bebê vai acabar com a carreira de vocês. Compreende o que
estou falando, amiga?
 
— Eu sei, Abigail. O deslize da gravidez foi meu, eu deveria ter lembrado
de me proteger, ter lembrado de ter tomado remédio, mas não… deixei isso
acontecer. 
 
— Você não fez esse filho sozinha, Emma! — repreende, e percebo que ela
está perdendo a paciência. — Mike tem direito de saber que será pai de uma
criança, não importa se ele será o famoso quarterback de um time de
renome, ele precisa saber. E não fique falando que você que deveria ter
tomado cuidado, ele também poderia ter tomado cuidado. Vocês dois foram
imprudentes, então não adianta culpar nem um e nem outro e sim aceitar o
destino. 
 
— Abigail, você já parou pra pensar como será a reação dele? Ele é um
rapaz influente, tem uma família com nome poderoso no mercado. Nem sei
o que eles podem fazer comigo se descobrirem que carrego um bebê de um
dos herdeiros dentro de mim. Sendo que isso pode prejudicar sua ascensão
ao futebol? — analiso.
 
— Mike pode se defender, ele pode aceitar esta criança, pode te ajudar no
crescimento dela.
 
— Mike não quer ser pai tão cedo, Abigail — informo me jogando na
cama. — Ele disse que não se imagina nessa posição.
 
— E você se imaginava Emma? — Seu tom seco me pega de surpresa. —
Amiga acorda pra realidade, é você que vai carregar esse bebê por 9 meses,
e ele vai estar ali com o corpinho dele todo malhado apenas olhando!
Enquanto isso, você que vai estar carregando uma criança, é você que vai
sentir as dores, as sensações, não ele! — Ela começa a gesticular,
demonstrando sua frustração. — Agora me diz quem é a mais afetada em
tudo isso? Quem vai dar à luz? Mike pode ser o mais filha da puta possível
com toda essa questão em relação à carreira. Mas, por outro lado, ele
também pode aceitar essa reviravolta e ficar com você nessa, enfrentando
essa situação ao seu lado. Ao lado da criança. Eu só quero que você entenda
que quanto mais você esconder esse segredo, pior será quando ele for
descoberto. 
 
— Sei que quanto mais tempo eu demorar pra contar, pior será a reação. —
concordo com a cabeça baixa, me sentindo derrotada. — Mas eu não queria
estragar esse momento. Quero que ele me enxergue além desta notícia, que
ele saiba quem eu sou antes de revelar que espero um filho dele. Que não
sou nenhuma oportunista que decidiu tirar vantagem dele — aperto minhas
mãos um tanto nervosa. — Eu não queria que ele tivesse me encontrado,
mas de alguma forma o destino resolveu colocar a gente no mesmo
caminho. E agora que estamos juntos, eu queria aproveitar o momento,
sabe? Sempre desejei ter isso com o Mike, sair com ele, namorar ele,
dormir com ele. Eu sei que as condições no momento são outras, mas por
um período de tempo quero aproveitar esse momento ao lado dele. Viver
algo bom depois de tanta desgraça. 
 
— Emma, eu não posso te obrigar a contar pra ele. Se sua decisão é de
continuar namorando o Mike e ao mesmo tempo escondendo dele sobre sua
gravidez, eu vou respeitar. — Minha amiga me olha da outra ponta do
quarto. — Esse momento de revelação não está tão longe porque uma
gravidez é incapaz de ser escondida por tanto tempo. Seu corpo vai mudar e
ele vai notar. Mas você tem plena consciência de que tem grande chances
de vocês se machucarem por conta disso, né? — assinto em concordância.
Ela respira fundo, antes de continuar. — Você sabe que estarei aqui amiga,
para o que der e vier. E de forma alguma quero que pense que não te acho
capaz de cuidar do meu futuro sobrinho, independente do que ele decida
ser. Eu sei que você será uma mãe solo incrível.
 
Volto a me levantar e vou ao encontro de Abigail, dando-lhe um forte
abraço de gratidão por entender minha decisão. Eu sei que esse segredo
pode me prejudicar, mas não posso negar que há uma pontinha de esperança
de que se o Mike me conhecer melhor, ele vai compreender a situação. Mas,
sendo sincera, não estou contando muito com isso. As pessoas, por mais
que nos conheçam, agem de forma diferente em determinadas situações.
Mesmo que ele me rejeite e diga que esse bebê não é dele, ainda estarei
aqui, batalhando para cuidar do meu filho, com ou sem a sua presença. 
 
Filho. Aos pouquinhos vou compreendendo que serei mãe. Não é uma
tarefa fácil de ser aceita, mas acredito que durante a gestação vou me
acostumar com a ideia de ser mãe solo, que agora terei alguém sobre minha
responsabilidade e que darei meu amor todinho.
 
— Ei bebê, sua mamãe quer aproveitar o restante do tempo que tem antes
de você vir — Abigail apoia a mão sobre minha barriga, que ainda continua
na posição normal, mas que daqui a algumas semanas e depois meses ficará
enorme, enquanto fala com uma voz fininha. — Afinal, você vai tomar uma
boa parte do tempo né? Mas titia também estará aqui pra ajudar! Se ela
precisar sair com um carinha, eu vou ser a sua babá!
 
Aquele comentário me faz rir, enquanto ela conversa com o meu filho ainda
em formação. Fazendo-me relembrar como nós duas nos tornamos amigas. 
 
Conhecer seu colega de quarto pode ser uma experiência boa, ruim, ou
estranha. E comigo e a Abigail foi estranha.  No dia em que cheguei
acompanhada dos meus pais para os meus novos aposentos e futura
residência, ela já estava presente com os pais, aparentando estarem
discutindo sobre algo relevante, mas não pude compreender, uma vez que
estavam falando em coreano. No entanto, sabia que estavam incomodados,
uma vez que já havia ouvido tais termos em doramas. 
 
Nos apresentamos, Abigail foi um amor, mas os pais dela foram uns grossos
e logo de cara meus pais não gostaram daquele tipo de atitude. Saímos do
dormitório até que eles se resolvessem e começamos a andar pelas
dependências do conjunto habitacional. Quando retornei mais tarde, já
sozinha, não a encontrei no dormitório, e dormi sem sua presença. 
 
Acordei no meio da noite por conta de um barulho, e a vi meio cambaleante
entrar no quarto e do mesmo jeito que saiu despencou sobre a cama. No
outro dia ela estava com uma ressaca brava, e eu não me aguentei apenas
ficar vendo, afinal, iríamos morar juntas nos próximos anos, teríamos que
nos ajudar, e foi o que fiz, cuidei dela para que ficasse bem para o início das
aulas. Ajudei a organizar sua parte do quarto e não precisou de tanto pra
gente conversar abertamente. 
 
Sobre seus pais ela evitava falar sobre eles, mas eu sabia que a pressão que
eles colocavam nela era impressionante. No primeiro ano foi difícil pra ela,
vire e mexe eu a observava levando o cantil de bebida alcoólica até a boca
nos intervalos. Fazer com que Abigail não se cobrasse tanto e descontasse
na bebida foi complicado, mas com muita conversa, hoje ela já não carrega
mais o cantil na bolsa, e isso é um grande avanço.
 
Paro a moto em frente ao prédio de Emma naquela manhã fria com pouco
sol em Gainesville, e sendo esse um indício que mais tarde vai aumentar
mais ainda a temperatura. Levanto da moto, tirando o capacete, ao mesmo
tempo que observo os estudantes indo de um lado para o outro, prontos para
começar mais um dia de estudos.
 
Com o treino excessivo para a temporada de jogos entre as universidades
que acontecerá apenas depois das férias de verão, o meu tempo será bem
escasso. Quando o campeonato de fato começar teremos algumas viagens
de uma cidade para outra para realização desses jogos, algumas vezes não
conseguimos retornar no mesmo dia para Gainesville, ou quando voltamos
estamos megas cansaços. E mesmo durante esse campeonato, continuamos
nossa rotina de treino e de aula. Mas confesso que quando algumas partidas
são realizadas em nosso estádio é um gás muito melhor, é ótimo ter o apoio
dos nossos torcedores, mas também contamos com fãs em outras cidades, o
que é surreal e, ao mesmo tempo, gratificante.
 
— Bom dia! — ouço Emma tirando-me de meus devaneios, encontrando o
seu olhar.
 
Admiro a sua beleza singela, a qual me encanta, suas roupas são neutras,
mas de alguma forma combinam muito com o seu jeito de ser, incluindo o
jaleco sobre elas. Suas sobrancelhas expressivas se movimentam antes
mesmo de dizer:
 
— Tá tudo bem? — pergunta, passando a mão sobre o tecido do jaleco. 
 
— Sim, você está linda! — abro um sorriso em sua direção antes de dar um
beijo em seus lábios rosados. — Já andou de moto antes? — Ela nega com
a cabeça. — Então será sua primeira vez. — estendo o capacete reserva pra
ela que o pega um pouco receosa.
 
Explico como colocar o capacete e, logo depois, lhe ajudo a subir na moto.
No início, parece engraçado e rimos, mas logo Emma se adapta e se
acomoda atrás de mim. 
 
— Segure bem, princesa. — Suas mãos seguram a minha cintura e a
sensação de calor do seu corpo contra o meu aquece outras partes de mim.
Caralho como estou com saudades dela.
 
Sigo para o Sweets, enquanto suas mãos abraçam meu tórax cada vez mais
forte, talvez com medo de cair devido à velocidade, e isso alarga mais ainda
o meu sorriso. Quando paramos em um semáforo, aperto sua mão com
carinho, para lhe passar algum conforto antes de prosseguir para o local que
será o nosso point do café da manhã.
 
Assim que paramos em frente ao estabelecimento com suas típicas mesas de
verão, fico aliviado por não sermos confrontados por uma raivosa Hailey, e
também por finalmente as pessoas estarem parando de nos olhar, se
preocupando com suas próprias vidas.
 
— Vai querer smoothie de novo? — Ela pergunta assim que paramos em
frente ao cardápio.
 
— Smoothie é tudo de bom! — pisco. 
 
Eu amo esse estilo de batida, mas também sei da quantidade de calorias e
açucares que estou me sujeitando a tomar, saindo assim da minha dieta.
Essa é a parte ruim de ser um atleta, se manter em forma, nada que
prejudique minha saúde como um todo, e isso inclui não comer o que mais
gostamos.
 
— Não coma lanches proibidos apenas por minha causa, Mike.
 
— Qual graça teria não comer o que mais gostamos? — Meu dedo desliza
por cima do tecido do jaleco, antes dos meus lábios se aproximarem da sua
orelha. — Minha sobremesa favorita é você, como posso negar tal iguaria?
 
Vejo seu rosto ficar rubro antes de chegar nossa vez de sermos atendidos e
eu informar nossos pedidos.
 
Emma continua tímida ao meu lado assim que pego em sua mão e a levo em
direção da mesa onde podemos ficar lado a lado. Envolvo meu braço ao
redor de sua cintura e ela acomoda a cabeça sobre o meu peito. Beijo o topo
de sua cabeça, abraçando-a contra o meu corpo.
 
— Ah, como eu queria ter acordado com você assim, ao meu lado —
murmuro.
 
— Eu também queria. — Suas mãos deslizam pelas minhas costas. 
 
— Eu sonhei com você — revelo e sua cabeça vira na minha direção. —
Estávamos em um baile, mas desta vez sem qualquer máscara. Você estava
com um vestido todo glamoroso, igual uma princesa. Todo mundo olhava
para gente. 
 
— E você estava igual um príncipe? — pergunta, atenta a mais detalhes.
 
— Sim, usava um terno azul-marinho e o seu vestido era um azul bem
claro, parecia quase branco. — Penteio seus cabelos com meus dedos. —
Você estava magnífica! — Um sorriso sacana espalha pelos meus lábios. —
Mas não parou por aí.
 
— Não? — pergunta, arqueando a sobrancelha.
 
— Depois a gente foi para um lugar reservado, longe de tudo e todos. Você
começou a se comportar como se fosse uma pessoa da realeza, e eu, um
simples plebeu. Uma hora você pediu que eu tirasse os seus sapatos e
beijasse seus lindos pés. E eu fiz. Não podia desobedecer uma princesa.
Beijei cada um deles antes de subir pela sua perna. — Os meus dedos
deslizam pela coxa dela, fazendo-a fechar os olhos. — Fui subindo até
minha boca chegar onde ela mais deseja estar. — Meu dedo desliza até sua
virilha, alcançando a parte quente do meio das suas pernas. — Eu chupei
você por debaixo de todo aquele vestido. — Ela estremasse de prazer
enquanto sussurro em seu ouvido o conto de fadas que se transformou em
um sonho erótico. — Você queria gritar meu nome, conforme minha língua
fazia todo um trabalho em suas dobras deliciosas, mas não queria chamar a
atenção dos convidados. Mas foi inevitável quando você sentou no meu
colo e me tornou todo seu, enquanto aproveitávamos sem qualquer pressa
as sensações. 
 
A garçonete se aproxima colocando os pedidos, Emma rapidamente pega o
meu smoothie gelado ao invés do seu café e toma um bom gole. Revelar
aquele sonho acendeu chamas até em mim.
 
— Amanheci tão duro que só com um banho gelado que me aliviei. E eu
bati mais de uma pensando em você. — Emma se abana, fazendo-me sorrir.
— Ficou excitada depois desse sonho? — pergunto, comendo um pedaço de
beagle, observando seu rosto ficar mais corado. — Quer que eu te alivie um
pouco?
 
— Ficou maluco, estamos em público, Mike. — diz entredentes, colocando
uma mecha atrás da orelha olhando o ambiente atenta.
 
— Não aqui, em algum lugar mais reservado — beijo sua têmpora antes de
focar na bandeja que está em nossa frente. 
 
— Ainda sim… em público? — Emma mordisca o pão. 
 
— Vários casais fazem isso, só manter a cautela — empurro o ombro dela
de leve. — Mas antes deste convite, tenho outro pra te fazer. 
 
— O que seria?
 
— Gostaria de saber se quer ir a um lugar comigo esta tarde. Ou você
estaria muito ocupada com aulas e estudos? — tomo um gole do meu
smoothie de morango.
 
— Minhas aulas hoje vão até as 3h30 — informa.
 
— Ótimo! Posso te buscar então? Juro que não tomarei muito do seu tempo
e você ainda conseguirá estudar. 
 
— Onde a gente vai? — curiosa me lança um olhar, tentando de alguma
forma me decifrar, mas logo desvio.
 
— Surpresa! 
 
— Nem um spoilerzinho? — pede, arrancando-me uma risada sincera.
 
— Daqui a algumas horas você vai descobrir — dou-lhe um selinho antes
de continuar o nosso café. 
 

Hoje foi até que um dia tranquilo de treino, pois sabemos muito bem que
semana que vem essa tranquilidade vai deixar de existir, pois o treinador
quer nossa atenção total antes das provas finais, e ele não vai nos dar
trégua. Aposto que minha única vontade será encontrar a cama depois de
um dia pra lá de cansativo e simplesmente apagar, antes de repetir tudo de
novo.
 
Mas estou animado para buscar Emma e levá-la ao meu local favorito e em
sequência a um lugar que eu nem imaginava que existia por aqui. A
Universidade da Flórida tem diversos prédios com seus mais variados
cursos e áreas, mas muitas vezes, não temos conhecimento da sua
totalidade. Pode ser que ela já conheça este lugar, mas espero que Emma
enxergue ele com outros olhos no momento que estivermos por lá.
 
— E aí, McCoy! Estamos indo lá no prédio do Harry para jogar videogame,
quer vir com a gente? — Kyle pergunta batendo de leve no meu ombro.
 
— Já tenho um compromisso com a Emma.
 
— Esquece cara, agora que ele tem namorada vai ter suas prioridades. —
Chris diz, risonho.
 
— E você está indo pelo mesmo caminho — Cutuco-o.
 
— O Chris com uma namorada? E ainda fixa? — Harry começa a rir. —
Essa eu pago pra ver!
 
— Ainda acredito que o nosso amigo aqui vai sossegar em um único
relacionamento. — Kyle aperta o ombro de Chris. — Quem tá ficando pra
trás é a gente, Harry!
 
— Mulher? No momento estou de boas, focado apenas na carreira e nada
mais! — Ele leva as mãos ao céu em agradecimento. 
 
Harry é um cara que chamamos de coração de gelo. É quase impossível vê-
lo se apaixonando por alguém e se isso acontecer, será um milagre. Já com
o Kyle a história é outra: ele havia perdido o amor dele para a leucemia
alguns anos atrás. Os dois namoravam desde a adolescência, ela foi a
primeira namorada dele, e desde então Kyle vem se preservando, diz que
não se fechou para o amor, mas acredito que está esperando a pessoa certa
para entregar seu coração outra vez. 
 
— Vai lá aproveitar os momentos com a sua Cinderela perdida. — Kyle
incentiva com um sorriso sincero no rosto. — Porque a partir da semana
que vem, quem vai comandar nossos horários é o treinador, e você vai
cansar de olhar pra nossa cara.
 
— Isso é verdade! — rio antes de dar um cumprimento de despedida em
cada um e seguir rumo a minha moto. 
 
Estou ansioso para encontrar Emma e aproveitar o restante da tarde ao seu
lado. Fazia tanto tempo que eu não me sentia assim, completamente rendido
por uma mulher. Nossa atração foi tão intensa que nem consigo entender
como em apenas uma noite juntos meus sentimentos mudaram de água para
o vinho.
 
Assim que paro em frente ao prédio de química, percebo que algumas
pessoas olham em minha direção, em especial as mulheres. Algumas
colocam mechas de cabelos atrás da orelha e lançam sorrisos de lado, mas
as ignoro. Antigamente eu retribuía, agora acho uma falta de respeito com a
minha namorada, que logo reconheço vindo em minha direção com os olhos
escancarados, fazendo-me gargalhar por conta de sua reação.
 
— Respira, princesa — digo puxando sua cintura, colando os nossos
corpos.
 
— Fica difícil já que estou tendo essa visão de você usando regata com
todos esses músculos à mostra. — Ela apoia as mãos nos meus braços.
 
— Não é miragem, esse corpinho aqui é todo seu. Enquanto as outras
pessoas só tem a chance de ver, você pode me tocar — coloco uma mecha
solta do seu rabo de cavalo para trás da orelha, empurrando um pouco meu
quadril contra o seu. Emma prende a respiração no mesmo instante,
mordendo os lábios antes de afundar as unhas nos meus braços.
 
— Sério que você vai me deixar na vontade? — provoca encontrando o
meu olhar.
 
— Isso é só começo do que estou planejando para nós — sussurro em seu
ouvido, fazendo-a se arrepiar em meus braços. — Pronta para a nossa
tarde? — Ela confirma, então faço a primeira ação do nosso encontro, retiro
do meu bolso os meus fones de ouvido por bluetooth e entrego um para ela,
enquanto coloco o outro. — Coloque — peço, ela franze o cenho, mas faz o
que o que pedi.
 
Em seguida pego nossos capacetes entregando-lhe um, sem dificuldades ela
o coloca e segurando a minha mão sobe na garupa do jeitinho que eu
expliquei mais cedo. Antes de iniciar a viagem, vou até a playlist que
montei para gente e a música “Heaven” do Niall Horan começa a tocar.
Olho por cima do ombro, encontrando seus olhos que sorriem em resposta
ao reconhecer a música, antes de acelerar e seguir para a nossa primeira
parada. 
 
Dirijo pelas ruas do campus, sentindo seus braços ao redor de mim,
enquanto suas mãos inquietas batem e dedilham meu peitoral conforme o
ritmo da música. Pelo retrovisor a observo fechando os olhos enquanto
aproveita o som, antes de tomar coragem e abrir os braços sentindo a brisa
do vento, deixando-a com um semblante tranquilo. Sorrio por estar
proporcionando essa sensação a ela. Seus braços voltam a me abraçar e a
música termina assim que estaciono perto do lago Alice.
 
— Onde estamos? — Ela pergunta, tirando o capacete.
 
— Nunca andou por essas bandas? — pego em sua mão.
 
— Não, quer dizer, já devo ter passado nessa rua, mas nunca parado aqui —
informa conforme me segue. — Afinal, aqui é uma área de mata, então é
meio esqui… — Ela para de falar no mesmo instante quando visualizamos
o Centro Baughman. — Uau!
 
— Bem-vinda ao meu local favorito — digo, levando-a em direção à
entrada enquanto olha atônita para a sua estrutura.
 
— É uma igreja? — pergunta, apoiando sua mão sobre meu braço.
 
— Não, é um centro de contemplação, aqui todas as religiões podem
comparecer e fazer sua reza, meditar ou apenas refletir — explico antes de
pisarmos na entrada.
 
Emma analisa as janelas com admirada atenção antes de seguirmos para o
altar, onde outro casal observa o lago que fica logo atrás. Um sorriso se
expande mais ainda em meu rosto enquanto os olhos dela percorrem todo o
ambiente de madeira.
 
— Meu Deus, como aqui é lindo — sussurra agarrando o meu braço com
carinho.
 
— Eu me sinto em paz neste lugar, venho aqui quando me sinto solitário,
triste ou apenas para acalmar a minha mente — pouso minha mão sobre a
dela, ainda falando baixinho. — No fim de semana do falecimento dos seus
pais, eles abriram esse local, é bem difícil eles abrirem sabe, é mais para
eventos privados, senão é fechado, mas eles abriram, e por coincidência eu
estava aqui, rezei por eles e por você, enquanto segurava isso. — Tiro do
meu bolso a outra presilha, o qual ela deixou que eu ficasse. Os olhos de
Emma se enchem de lágrimas, e capturo uma delas com meu dedo. —
Quando precisar esfriar a cabeça ou simplesmente conversar com eles,
venha até aqui. Quem sabe você encontra a paz. — Emma abraça minha
cintura, ao mesmo tempo em que apoia sua cabeça sobre meu ombro e olha
para o lago com o sol refletindo sobre a água. Acaricio suas costas deixando
que ela absorva a energia deste lugar e que de alguma forma isso lhe traga
forças.
 
— Obrigada, Mike — murmura e eu beijo sua testa.
 
Passamos mais alguns minutos contemplando a paisagem, antes de ela me
olhar e eu compreender que podíamos seguir a nossa rota. Saímos de mãos
dadas para fora do centro, onde algumas pessoas estão sentadas em seus
próprios pensamentos.
 
— A energia desse lugar é renovadora! — Ela comenta olhando para a
fachada. — O que me impressiona é um cara como você ter esse local como
o seu favorito.
 
— Aposto que achou que fosse o campo de futebol — digo, encarando-a de
frente.
 
— Sim! — confirma colocando uma mão no bolsa da calça.
 
— Lá também é, mas o campo é o caos, onde posso extravasar, e aqui é
onde posso pensar. — Olho para as portas abertas do centro. — Eu ainda
sinto muito a morte do meu pai, queria que ele estivesse aqui para
presenciar tudo que estou conquistando.
 
— Ele está te observando. — Ela aponta para o céu, mas sua voz falha. —
Eles estão cuidando de nós.
 
Eu a puxo para um abraço, pois esse assunto é delicado para nós dois, mas a
questão é que o caso de Emma é muito mais recente.
 
— Você não está sozinha, princesa. Eu estou aqui — falo, mas isso é o
bastante para eu fazer a garota pelo qual estou me apaixonando a cada dia,
chore contra o meu ombro.
 
Respeito o seu tempo, antes dela se afastar.
 
— Desculpe — diz, limpando as lágrimas.
 
— Magina, princesa. — beijo seu rosto com carinho. — Agora, vamos para
um lugar onde espero arrancar um sorriso seu.
 
Voltamos pela trilha para continuar a nossa aventura. Nos ajeitamos na
moto e antes de sair seleciono mais uma música, sendo ela “Starry Eyes” do
meu cantor favorito The Weeknd, para nos acompanhar até a nossa próxima
parada.
 
Paro a moto em uma vaga perto de uma rotatória, onde um chafariz se
encontra no centro dos edifícios que rodeiam as dependências da
universidade. Ela me olha curiosa assim que descemos da moto, seus olhos
se arregalam mais ainda quando paramos em frente do Museu Natural da
universidade.
 
— Você curte museus? — pergunta assim que paramos em frente ao
estabelecimento.
 
— Na verdade, a última vez que eu fui ao museu foi na escola — respondo
rindo, mas aponto para o cartaz. — Mas viemos por conta disso. — Ela vira
de costas para mim e encontra o cartaz de uma enorme borboleta.
 
— Floresta tropical de borboletas? — questiona atônita.
 
— Bom, foi por conta de sua presilha de borboletas que nos reencontramos,
então… — Emma não deixa que eu termine, pois seus lábios encontram os
meus. — Você sabia da existência deste lugar?
 
— Eu já ouvi falar durante as minhas aulas, mas nunca visitei. — Seus
braços envolvem meu pescoço. — Mas caramba, Mike… eu tô
impressionada, é um detalhe tão pequeno…
 
— Mas muito significativo. Essa presilha foi o acessório que te diferenciava
de todas as outras que tentaram se passar por você. — explico colocando o
acessório em seu cabelo. — Então me deparei com esse local enquanto
pesquisava um trabalho, e achei que deveria te trazer aqui. Tem várias
borboletas nesse santuário, soltas na natureza. Você tem medo ou quer
visitar?
 
— Claro que eu quero visitar! — Ela pega minha mão e me arrasta em
direção à entrada.
 
Gosto da empolgação dela para visitar o local e a sigo para a entrada onde
informamos que somos estudantes, e nossa passagem é liberada.
Caminhamos pelo lugar observando fósseis de dinossauros até seguirmos a
placa que indica onde fica a floresta das borboletas. Ao entrarmos na sala,
encontramos uma grande coleção de borboletas de diversos tamanhos, de
diferentes partes do mundo. Algumas eram tão grandes que eu nunca
poderia imaginar que eram borboletas, antes de entrarmos na fila para
conhecer o santuário delas. 
 
Assim que liberam nossa entrada nos deparamos com uma região de mata,
com barulho de água e pássaros. Algumas borboletas se tornam presentes
em nosso campo de visão, e vejo Emma olhando para cada um delas
admirada com sua beleza. Até que uma borboleta colorida pousa em meu
braço. Paro no lugar no exato momento, admirando-a andar bem devagar,
causando uma leve cócegas. Emma se aproxima observando-a antes de
colocar um dedo próximo dela e a borboleta ir diretamente para lá, fazendo-
a rir antes do pequeno inseto voar para bem longe. 
 
Ver seu lindo sorriso expandir faz meu coração disparar e não penso duas
vezes antes de envolver seu pescoço e beijar seus lábios com fervor, ela
retribui na mesma intensidade, enquanto imagino borboletas nos rondando,
selando um compromisso que eu espero que dure por muito tempo.
 
 
Mike me surpreendeu de várias formas somente no dia de hoje, pequenos
gestos que tinham um significado tão importante que fizeram o meu
coração disparar no peito de tanta alegria. 
 
Nunca imaginei que ele seria um cara assim, mesmo sendo conhecido como
o bad boy da universidade, em um relacionamento ele é um perfeito
cavalheiro com uma boa dose de sedução. Suas provocações logo cedo e as
mensagens com segundas intenções durante a aula, deixaram-me na
expectativa de como nosso encontro terminaria. 
 
Confesso que estou com saudades de senti-lo dentro de mim. Quero suas
mãos deslizando pelo meu corpo, o seu olhar acinzentado me analisando
com quem admira uma obra de arte. Tirando que além dele despertar isso
em mim em tão pouco, parece que a vontade de transar triplicou meus
hormônios. Dizem que isso acontece com algumas grávidas, ficamos mais
fogosas, enquanto outras não querem de jeito nenhum.
 
Depois da nossa visita na floresta tropical das borboletas, que foi uma
experiência incrível, estou de novo na garupa do meu namorado, ouvindo
mais uma música que ele escolheu para aquela tarde, que se eu não me
engano é do Post Malone.
 
Em determinado momento, entramos em uma trilha de mata com a moto.
Não tenho medo de onde ele esteja me levando, pois Mike já ganhou minha
confiança. Até que uma linda região, que lembra e muito uma clareira com
um lago ao fundo, surge no nosso campo de visão.
 
— Só me confirma que não tem jacaré por aqui — brinco, tirando o
capacete assim que estacionamos.
 
— Não, aqui é fora de perigo. — Ele pega o acessório da minha mão. —
Aqui também é um lugar privado que encontrei por acaso, podemos ficar de
boas que ninguém vai nos atrapalhar. 
 
— De boas como…
 
— Namorando um pouquinho. — Seus lábios encontram o meu pescoço,
deixando rastros de calor. — Podemos continuar nosso encontro acabando
com esse calor. — Sinto meu corpo encostar na potente Harley Davidson. 
 
— E se nos pegarem? — questiono, segurando seus braços musculosos.
 
— Ninguém vai, princesa. — Ele morde levemente o lóbulo da minha
orelha, antes do volume no meio das suas pernas roçar contra minha coxa, e
isso é o bastante para ativar a chavinha dos meus hormônios e o calor subir
por toda a extensão do meu corpo com rapidez.
 
Jogo minha cabeça para trás assim que sua boca desce pelo meu pescoço,
indo em direção ao meu pequeno decote, enquanto sua mão aperta a minha
bunda e minhas unhas afundam em seus braços musculosos. Mike é um
tremendo gostoso, não posso negar, tirei a sorte grande de estar vivenciando
esses momentos com ele.
 
— Sabe de uma coisa que eu sempre quis fazer e nunca fiz antes? — Sua
voz rouca faz minha intimidade pulsar. — Transar em cima da minha moto.
 
— E isso é possível? — pergunto fazendo seu sorriso chegar no olhar que
brilha como o céu de uma deliciosa tarde.
 
Sua boca volta ao meu pescoço, beliscando-o, antes da sua mão ir de
encontro com o botão da minha calça, abrindo-a antes de se agachar e tirá-
la por completo. Ele começa a beijar meu baixo ventre, seguindo para o
tecido da minha calcinha encharcada, antes de parar nas minhas virilhas
distribuindo mordidinhas por lá, ao mesmo tempo que sua barba me pinica
de um jeito bom. Suas mãos apertam minha cintura e minha bunda. Até que
ele abaixa a calcinha, e sinto um pouco tensa por estar exposta naquela
mata, mas seus olhos acinzentados voltam a encontrar os meus,
transmitindo tranquilidade e ainda mantendo-os nos meus, seus dedos
deslizam por toda sua extensão fazendo-me arfar alto.
 
— Você está pronta pra mim, princesa. — Sinto seus dedos me penetrando,
agarro a moto atrás de mim soltando um gemido de surpresa. — Mas não
vou deixar de provar esse mel que tanto senti falta. — Ele sai de dentro de
mim, trazendo os dedos até seus lábios, chupando-os com vontade. Sua
expressão denuncia o quanto ele está deliciado com isso, antes de me olhar
cheio de malícias. — Preciso de mais.
 
Sou surpreendida quando suas mãos agarram minha cintura, erguendo-me
sem qualquer dificuldade no colo e me coloca sentada no banco da moto.
Mike se ajoelha na minha frente, afasta mais as minhas pernas, apoiando-as
sobre seus ombros, ficando no meio delas.
 
— Não tenha vergonha de gemer — mordisca a minha coxa, enquanto seus
braços, que passam por debaixo de minha perna, seguram minha cintura. —
Muito menos de chamar o meu nome.
 
Ele volta a apertar algo no Applewatch, e o fone que eu havia esquecido
que ainda continuava no meu ouvido começa a tocar uma música sexy que
parece ser do Justin Timberlake, aquelas mais antigas, se não me engano é
“Summer Love”. Mas logo perco o fio da meada, quando a língua de Mike
desliza por minhas dobras, e automaticamente minhas mãos vão de
encontro com fios de seus cabelos. Sendo que a minha vontade é mover o
quadril com cada sugada, mas as mãos fortes do meu namorado me
prendem no local. 
 
Não controlo os sons da garganta conforme sinto cada terminação nervosa
do meu corpo pegar fogo. Sua língua faz milagres, pois a cada segundo que
passa mal consigo ficar com os olhos abertos. Meu interior grita e Mike
parece não se incomodar com o fato de eu estar quase arrancando seus
cabelos com uma mão, enquanto a outra se agarra a moto, mostrando que
uma forte onda de prazer está prestes a acontecer.
 
Os olhos nublados dele sempre buscam os meus, e em resposta em meio a
gemidos e mordidas nos meus lábios que aposto que devem estar inchados,
acaricio sua nuca antes dele voltam a sugar meu clitóris com mais força a
ponto de eu ver estrelas em plena luz do dia.
 
— Mike, por favor… — consigo dizer com o meu quadril cada vez mais
incontrolável —, preciso de você.
 
A quentura de sua boca afasta da minha intimidade, sentindo a sua falta no
mesmo instante, mas estou a ponto de gozar, e não quero fazer isso sozinha,
quero ele dentro de mim.
 
— Precisa do quê? Seja mais específica — provoca.
 
— Preciso de você. Dentro de mim. — digo ofegante. — Agora.
 
Um sorriso devasso surge em seus lábios, antes dele beijar minha
intimidade pulsante uma última vez, ao mesmo tempo em que tira minhas
pernas de cima dos seus ombros, as quais eu havia prendido contra mim.
Sua boca vem de encontro a minha, e o recebo com avassaladora paixão,
sentindo a sua língua envolver a minha com avidez, enquanto provo o meu
próprio gosto. Suas mãos agarram a minha cintura, puxando-me mais para
cima do banco que é bem largo, assim posso me apoiar sem ter medo de
cair.
 
— Você me deixa completamente doido por você, princesa. — A voz rouca
de Mike se torna presente no ambiente. — Você é tão deliciosa, como uma
fruta docinha que derrete na boca. Mas não vou negar que eu meu pau não
vê a hora de enterrar bem fundo em você, levando-a do céu ao inferno.
 
Ele se levanta, deixando-me na expectativa quando tira uma camisinha do
bolso, e abaixa o short , revelando seu membro grande e duro. Minha
vontade é dizer: “Esquece a camisinha e deixe-me senti-lo de novo por
completo, igual à primeira vez.”, mas não quero levantar suspeitas, então o
observo se prevenir e voltar para mim.
 
Me ajeito sobre o banco, pronta para recebê-lo. Mike passa as grossas e
torneadas pernas em volta da moto, observo as veias saltadas do seu pau,
antes de apoiar minhas pernas sobre a dele, deixando que ele deslize a
cabeça do seu pau contra minhas dobras encharcadas, encaixando-se sem
qualquer dificuldade. Aperto seus braços, conforme o seu comprimento me
preenche por inteira. Sinto minhas paredes internas contraírem contra ele,
arrancando os gemidos mais deliciosos de se ouvir dos lábios dele, e
encarando seus olhos que me observam com atenção, beijo-o mais uma vez,
antes de iniciar meus movimentos lentos contra seu pau, enquanto minhas
pernas envolvem sua cintura. 
 
Mas logo, a delicadeza vai para os ares, pois sou deitada sobre o banco de
couro da moto, e suas investidas se tornam mais rápidas e precisas, fazendo
com que nós dois mal conseguimos falar. Porém, o olhar de Mike
permanece no meu rosto, observando cada detalhe e expressão, ao mesmo
tempo que trocamos sorrisos entre mordidas, beijos e gemidos.
 
Estou chegando no meu ápice, meu corpo inteiro entra em combustão.
Impulsionando meu quadril contra o dele, Mike vai até o talo com mais
velocidade, tirando e colocando-o com precisão, e basta mais algumas
estocadas, para meu corpo inteiro formigar, minha respiração falhar e uma
forte onda de prazer jorrar fazendo-me desfalecer sobre o banco. Minha
visão foca no céu acima de nós e nos galhos das árvores. Mike também faz
o mesmo, apoiando sua cabeça entre meus peitos, ao mesmo tempo em que
buscamos a respiração que fugiu dos nossos pulmões.
 
— Isso foi incrível — murmuro acariciando os sedosos fios de seu cabelo.
 
— Concordo! — Vejo um sorriso se alargar em seu rosto. — Achei que iria
falhar, já que nunca tinha feito isso antes. — Se refere a moto.
 
— Fico feliz em saber que fui a primeira, pelo menos nisso — comento,
ainda o sentindo dentro de mim.
 
— Tem muita coisa que eu ainda não fiz, princesa.
 
— Então, ficarei honrada em realizá-las com você — provoco,
impulsionando meu quadril de novo contra ele.
 
— Está querendo uma segunda rodada? — Seu rosto se vira, encontrando o
meu.
 
— Hoje estou disposta a uma segunda rodada, meu príncipe — respondo
com firmeza. — Afinal, temos que aproveitar o tempo que temos, não estou
certa?
 
Sua risada gostosa contagia o ambiente, e não é preciso pedir duas vezes,
pois Mike se livra da camisinha, e busca outra no bolso dos seus shorts.
Sem qualquer timidez e completamente entregue a este irresistível bad boy
que tanto desejei, buscamos outra posição para continuar nos deliciando
com os prazeres da vida. 
 
Ao mesmo tempo, nossas roupas somem do nosso corpo, e eu estou pouco
me importando de sermos flagrados, pois eu quero sentir tudo que ele puder
me proporcionar, enquanto ainda estivermos juntos. 
 

 
Sei que meu cabelo está cheio de matinhos, pois a moto não foi o suficiente
para saciar minha disposição naquele fim de tarde. Mike até ficou
impressionado com o meu fogo, parecíamos dois coelhos no cio, é só
paramos porque a cartela de camisinha dele havia esgotado. Imagina se eu
explicasse que meu corpo estava deste jeito por conta que está produzindo
mais hormônios do que o normal e que o nosso bebê está crescendo dentro
de mim.
 
— Chegamos. — Mike abraça meus braços contra seu peitoral. 
 
— Quer subir? — convido, mas logo acrescento. — Calma que o restante
da noite é sua folga.
 
— Quem disse que preciso de folga quando se trata de você. — O som
abafado do capacete consegue deixá-lo mais sexy.
 
Levanto do veículo que a poucas horas atrás eu me entregava sem qualquer
pudor em meio a uma clareira com o risco de sermos vistos a qualquer
momento. Mas não vou negar que essa transa inusitada foi uma experiência
e tanta!
 
— Diferente de você, eu divido o quarto com minha amiga — completo,
entregando-lhe o capacete.
 
— Nada que não possa ser feito embaixo dos edredons e em silêncio. —
Mike aperta minha bunda disfarçadamente, antes de guardar os capacetes
no baú da enorme moto.
 
Seguro sua mão conforme caminhamos para dentro do conjunto
habitacional, e como sempre, alguns estudantes viram o pescoço para nos
olhar, outros caras o cumprimentam com acenos dizendo que ele é o maior
ou gritam “Go Gators!”. Passando pela área de convivência cumprimento
com um “boa noite” alguns conhecidos que ficam atônitos com a presença
de uma celebridade por ali. Quando chegamos em frente ao meu dormitório,
destranco a porta e peço para ele entrar, mas seu cavalheirismo pede que eu
vá primeiro. Assim que entro, vejo Abigail sentada em sua cama calçando
uma sapatilha, e Mike para atrás de mim.
 
— Boa noite, amiga, vai sair? — pergunto, tirando a mochila e colocando-a
sobre a cadeira de estudos.
 
— Boa noite, Abigail. — Mike a cumprimenta, fazendo ela levantar o rosto.
 
— Oi, gente! Vou sair, sim! O Chris me chamou pra gente assistir a um
filme no cinema. — Ela sorri para nós antes de se levantar. — Vou chegar
bem mais tarde, então aproveitem a minha ausência. — Se despede dando
um beijo em nossas bochechas.
 
— Se divirta! — desejo antes dela sumir pela porta. — Bom, bem-vindo ao
nosso mini quarto! —  comento, me virando para Mike.
 
Dou espaço para ele passar, enquanto observa o ambiente com decorações
de polaroid, frases nerds, minha pequena estante com meus mangás
favoritos, uma bandeirola do time da universidade está sobre a cabeceira de
Abigail. Já no meu cantinho, as fotos dos meus pais se encontram na
mesinha ao lado da minha cama. Eu e Abigail decidimos unir gostos na
decoração, afinal iriamos conviver juntas por alguns anos.
 
Mike se aproxima dos porta-retratos, senta-se na minha cama e pega um
para observá-lo melhor. Vou até ele e identifico a qual ele escolheu, uma
foto minha quando eu tinha 12 anos na frente do castelo da Cinderela da
Disney, com minha mãe de um lado e meu pai de outro, o trio com
camisetas iguais e orelhinhas do ratinho mais famoso do mundo.
 
— Essa viagem foi mágica — conto, me juntando a ele. — Foi a primeira
vez que conseguimos ir para a Disney juntos, era o mês do meu aniversário
e meus pais fizeram a minha vontade. Guardo ótimas memórias deste dia,
da sensação de entrar nas atrações, das lojas de presente, dos personagens
circulando pelo parque, do show de fogos de artifício no final.
 
— Você acredita se eu disser que eu nunca fui pra Disney? — revela, me
pegando de surpresa, mas isso não tem nada de incomum entre os
americanos, nem todo mundo se interessa ou tem condições de bancar uma
viagem para parques temáticos.
 
— Você nunca foi por falta de oportunidade ou por que não gosta? —
pergunto olhando de canto.
 
— Nunca fui porque eu não queria ir sem meu pai. — Seus olhos
acinzentados encontram os meus. — Pra mim, no momento que eu pisasse
na Disney, onde várias famílias estavam juntas e felizes, eu olharia para o
lado e meu pai não estaria lá.
 
— Você o perdeu muito cedo, né?
 
— Eu tinha apenas 10 anos. — Ele volta a colocar o quadro no lugar,
enquanto analisa as outras. — Depois disso, eu só me foquei no futebol.
 
— Quem sabe um dia vamos juntos — aperto seu braço musculoso,
fazendo-o sorrir. — É uma experiência que todos deveriam passar.
 
— É quem sabe conheço a Disney e a Universal depois de velho… — O
seu celular vibra no bolso, levando-o a olhar para o relógio em seu pulso,
consultando uma nova mensagem, antes da sua expressão mudar para pura
preocupação. 
 
— Algo errado? — Acaricio seu braço, antes dele me responder.
 
— É só minha mãe me avisando que está tudo bem.
 
— Então por que a preocupação?
 
— O fato dela se doar tanto para a empresa que meu pai construiu e meus
tios estarem fazendo de tudo para vê-la cair. — Ele cruza as mãos
curvando-se para frente para apoiar-se nos joelhos. — Tenho medo de que
ela tenha alguma crise por conta das exigências que estão impondo,
colocando-a em risco de perder o cargo de CEO. Minha família por parte de
pai é uma desgraça, Emma. Nunca fui próximo deles e não quero ser. Se
eles não respeitam a minha mãe, que ficou do lado do meu pai durante todo
o sofrimento dele, não merece o meu respeito também. Agora, ela tá
precisando lidar com meus tios abusivos que tratam mulheres como
objeto… — para bruscamente fechando os punhos. Aperto seus ombros em
uma tentativa de acalmá-lo. — Dinheiro corrói as pessoas, sobretudo
aquelas que sempre desejam mais, mesmo com bilhões na conta. 
 
— Você não sente essa mesma ambição… — comento e ele nega.
 
— Por dinheiro, não. Minha ambição é pelo esporte, sair vitorioso do
campo, ganhar um campeonato. — conta, me olhando de relance. — Eu sou
herdeiro do meu pai, tenho meus direitos a parte da sua herança. Mas o erro
do meu pai foi envolver meus tios como sócios na empresa que ele
construiu. Agora eles estão por um triz querendo o império inteiro da Sports
Advanced pra eles. Nossa empresa vem construindo um nome grande ao
longo dos anos, graças a competência da minha mãe. A família do meu pai
não suporta a ideia dela comandar a empresa, eles nunca aceitaram direito o
casamento dela com o meu pai, eles queriam me ver a frente disso, mas… 
 
— Você está seguindo o seu sonho, fazendo aquilo que você sempre
desejou fazer. — Apoio minhas mãos sobre as costas dele. — Meus pais
também me incentivaram a seguir meu sonho, eles não queriam que eu me
formasse em algo que ajudasse na loja deles, me incentivaram a correr atrás
da carreira de cientista. — Fecho os olhos por um instante. — Tá que hoje
eu não sei como administrar uma loja, e por conta das dívidas que meus
pais acumularam, tive que colocá-la pra vender.
 
— Sério? — Ele se apruma voltando a encontrar o meu olhar.
 
— Sim, a pandemia afetou muito a loja de presentes dos meus pais, afinal,
os turistas sumiram de Miami. Quem iria comprar presentes temáticos sem
visitá-lo? — respiro fundo e solto o ar. — Mesmo com as contas atrasadas,
eles continuavam depositando dinheiro pra mim, não me falaram nada das
condições em que estavam. As dívidas se acumularam, a pandemia deu uma
trégua, mas mesmo assim estava difícil recuperar os ganhos. Aí com a
morte deles, a empresa estava já no ponto de falir e a única solução foi
colocá-la à venda. Eu não queria, pois aquela loja era o xodó do meu pai,
mas eu não tinha como bancar essas dívidas, não tinha como recuperá-la.
Foi doloroso colocá-la a venda, como também colocar minha casa para
alugar. Mas agora estou sozinha, então…
 
— Você não está sozinha, Emma. — Sua mão acaricia meus cabelos que
agora estão soltos.— Eu posso te ajudar nisso, sabe, financeiramente… 
 
— Nem pensar, Mike — O repreendo. — Você não tem nada a ver com
esses problemas. Uma hora eles vão se resolver.
 
— Emma…
 
— Não vamos falar deste assunto — peço, pousando minha mão em seu
rosto, sentindo a sua barba rala acariciar a minha mão. — Eu vou dar um
jeito na minha vida, por enquanto eu me viro. Consegui até um trabalho de
meio período no laboratório nas férias de verão, alguns estudantes e
professores utilizam o local para experimentos. Vou trabalhar e, ao mesmo
tempo, aprender, afinal, já que daqui a alguns meses estaremos no nosso
último ano de faculdade.
 
Mesmo que na realidade eu não termine no mesmo período que os meus
colegas, mas o começo do quarto ano eu estarei barriguda, e se o médico
autorizar continue irei indo às aulas até quando for possível.
 
— Nem me fale! As provas finais são no mês que vem. Teremos essas
semanas de treino intensas por conta das provas. Apesar disso, continuarei
treinando durante as férias, a fim de destacar-me no campeonato que
começa em Agosto. Preciso chamar a atenção dos olheiros do Draft, caso
seja selecionado, e, eventualmente, posso ingressar num time da Liga
Nacional de Futebol, onde eu posso mostrar o meu valor e dar o meu
melhor. No entanto, precisarei ir para a minha cidade, Boston. Mas eu
queria mesmo era ficar aqui com você.
 
Sua mão agarra a minha cintura, fazendo-me sorrir com o carinho constante
que ele deixa por ali.
 
— Quero ver como estão as coisas lá em casa e na empresa. Minha mãe não
quer me preocupar, mas estou longe demais para saber a real situação. Mas
vamos combinar assim… — seu rosto está bem pertinho do meu, seus olhos
brilham de expectativa. — Passo metade das férias lá e o restante aqui com
você, aí podemos aproveitar as horas vagas depois do seu trabalho, ou
antes. Você pode dormir comigo no dormitório todos os dias, já que você
divide o seu quarto. O que acha?
 
— Seria perfeito! — digo, mas não sinto firmeza na minha voz. 
 
Infelizmente esses planos podem não dar certo, pois pelas minhas contas,
estarei no terceiro mês de gravidez nas férias, ou seja, ele vai descobrir, e
mesmo enganando a mim mesma, pode ser que nem essas férias aconteçam
como ele está planejando. 
 
Eu preciso contar para o Mike, preciso lhe dizer o que nos aguarda nas
férias de verão, mas essa tensão me faz sentir ânsia, e fecho a mão a boca,
me desvencilhando dele.
 
— Ei, que foi? — escuto sua voz preocupada, mas tento controlar a vontade
de vomitar. — Emma! — Sua mão apoia em meu ombro, mas aquela
sensação ruim volta para a minha garganta, sinto lágrimas nos meus olhos.
 
Mike se levanta e traz o baldinho de lixo para perto de mim. Não quero
olhar pra ele, estou envergonhada por ele presenciar tal cena. Mas ele
permanece ali acariciando minhas costas, e a única coisa que cuspo no
balde é a salivação que se forma na minha garganta. A ânsia começa a se
dissipar devagar, enquanto a sensação ruim vai sumindo aos poucos. Mike
estende uma garrafa d'água pra mim, e eu agradeço tomando um longo gole
do líquido que desce gelado.
 
— Desculpa — murmuro.
 
— Não precisa se desculpar por isso. — Ele beija a minha testa. — Você
tem se alimentado direito?
 
— Dentro do possível — confesso. Mentindo eu não estava, desde quando
estudante tem alimentação certinha? Quer dizer, só quem faz dieta, tipo ele.
 
— E não passamos em lugar nenhum antes de vir pra cá. Vou buscar um
jantar bem saudável e já volto — diz ele se levantando, mas agarro o seu
braço.
 
— Mike, não precisa.
 
— Precisa sim, não quero minha namorada doente. — Ele beija o topo da
minha cabeça. — Eu volto daqui a 20 minutos.
 
E sem que eu possa convencê-lo ao contrário, Mike sai do dormitório as
pressas. Por um instante, imagino-o correndo atrás dos meus desejos mais
loucos durante a gravidez, determinado a encontrar o que quer que eu peça. 
 
Respiro fundo… não sei se essa será a minha realidade ou outra
completamente diferente, enquanto esse segredo não vem à tona, deixo que
ele cuide de mim. Mesmo com a certeza que irei magoar o seu pobre
coração.
 
Aguardo o meu pedido ainda preocupado com a saúde de Emma. Já vi
relatos de estudantes ficando doentes pelo simples fato de esquecerem de se
alimentar porque estavam focados demais nos estudos. E com essa pressão
de recuperar o tempo perdido que se juntou com outras atividades, ela pode
estar se descuidando por achar os estudos mais importante do que a saúde. 
 
Quando chamam o meu nome, pego as sacolas de papel e saio agradecendo.
Subo na moto e sigo para o conjunto habitacional que está com a
movimentação bem menor. Ao subir para o andar onde está seu dormitório,
encontro algumas meninas pelo caminho que acompanham meu andar, mas
sigo pleno até a porta no fim do corredor. Bato duas vezes antes de abrir e
me deparar com Emma secando os cabelos com uma toalha. O cheiro de
sabonete e xampu preenche o ar, dando uma certa calmaria. 
 
— Prontinho! — digo, levantando o saco de papel. — Nossa janta está entre
nós!
 
— Hmm, o cheiro está muito bom! Curiosa pra saber o que você pediu! —
Ela se aproxima tirando o pacote da minha mão e me dá um beijo no rosto.
— Obrigada!
 
— Disponha, mas eu quero que você comece a se alimentar direito. Sua
saúde é mais importante que os seus estudos — auxílio antes de observá-la
pegar talheres em uma das gavetas de multiuso. — Nosso jantar será steak
com purê de batata com legumes refogados. E comprei uma sobremesa pra
você, um generoso pedaço de torta de maçã.
 
— Nossa, deu água na boca! — Emma se ajeita na cama colocando o
notebook em uma posição que nós dois podemos ver em seu colo. — Que
tal enquanto jantamos assistirmos Fullmetal Alchemist? Você disse que
ainda não tinha assistido, então podemos ver juntos. O que acha?
 
— Claro! — digo, tirando o tênis e subindo na cama para ficar ao seu lado. 
 
Retiramos as marmitas da sacola e, segurando o prato de isopor,
começamos a comer. Enquanto isso, o anime dos irmãos Edward e
Alphonse Elric inicia, contando a sua trajetória para recuperar o que eles
perderam em uma longa jornada de ação, mistério, drama e muitas
gargalhadas.
 

 
Uma claridade faz com que eu acorde. Meus olhos piscam por alguns
instantes antes de me habituar onde estou, até sentir o corpo quente de
Emma abraçado ao meu. O notebook esquecido na cama está com a tela
apagada, pelo visto com a bateria esgotada. Até eu perceber que há uma
figura que aparece no quarto sendo iluminada apenas pela luz de um abajur.
 
— Oi, desculpa acordar você. — Abigail murmura. — Acabei de chegar.
 
— Tudo bem — digo, me afastando com cuidado de Emma para que não
acorde. Ela se mexe um pouco antes de virar para a parede e voltar a
dormir. Pego o notebook dela e o coloco em um local seguro.
 
— Pode dormir aí com ela, não tem problema — diz, tirando os saltos na
outra cama.
 
— Não, vou deixá-las à vontade — encaixo o tênis no pé, pego a sacola
com as marmitas vazias e meus pertences na mesinha. — Abigail, ela tem
se alimentado bem? Pois mais cedo ela passou mal.
 
— Eu falo sempre pra ela se atentar a alimentação. Às vezes Emma é
esquecida, então tenho que lembrá-la de comer. — Abigail conta, e mesmo
com a pouca claridade do abajur percebo a sua preocupação. — Como ela
está?
 
— Comprei comida saudável pra gente, nada de porcarias. Mas bom saber
que ela é esquecida, mas um motivo para eu enviar mensagens pra ela
lembrando-a de se alimentar, e se alimentar direito, não com snacks — falo
antes de beijar a têmpora de Emma e cobri-la melhor. — Boa noite,
princesa. — Ela ressoa em um sono profundo e sorri antes de olhar para sua
amiga. — Boa noite, Abigail, nos vemos no sábado.
 
— Boa noite e até! 
 
Saiu do seu dormitório e olho no relógio, já são duas da manhã. Os
corredores estão vazios, as únicas luzes acesas são a de sensores
automáticos e emergência. Queria ficar com ela até o dia raiar, mas Emma
não mora sozinha e eu não queria deixar Abigail desconfortável com minha
presença no quarto delas. Por isso, com passos largos vou até a minha moto
e naquela noite de brisa fria, acelero de volta para o meu dormitório, pois
tudo que mais desejo é que a semana termine e que chegue sábado para que
eu possa reencontrá-la de novo.
 

 
Fiz questão de mandar para Emma nos últimos dois dias um lembrete para
ela almoçar e jantar, preferencialmente comida saudável e não fast food.
Mas hoje a noite seria exceção, pois iríamos a um bar de jogos de
fliperama.
 
Ajeito a minha jaqueta jeans sobre a camiseta branca, enquanto observo
meu reflexo no espelho. A barba está bem aparada, o meu cabelo bem
penteado, espero não ter exagerado no perfume, mas posso dizer que estou
de parar o trânsito. Sorrio para mim antes de ouvir três toques na porta. Vou
até lá e me deparo com Chris todo estiloso, usando uma jaqueta preta de
couro personalizada com símbolos do nosso time. 
 
— E aí, mano! — Chris abre um enorme sorriso antes de me cumprimentar,
puxando-me para um abraço. — Tamô chique, hein! Nossas gatinhas vão
ficar babando na gente! 
 
— Animado pra encontrá-las? — pergunto, convidando-o para entrar.
 
— Mais é claro que eu estou! — Chris para na frente do espelho para
verificar o seu visual.
 
— Me conta aí cara, a Abigail está conquistando o seu coração? Porque isso
é um caso raro que está acontecendo com você! Cansou de bancar o
garanhão? — digo calçando meu tênis.
 
— Abigail se demonstrou ser uma mulher interessante, ela não fica comigo
apenas pelo fato de eu ser um dos caras populares da universidade. Ela é
inteligente, sabe me ouvir e além do mais, entende muito bem de futebol
americano, e tipo, dá pra ver que ela não “estudou” apenas para me
conquistar, sabe, ela entende do que está falando, ela gosta do nosso
esporte. A facilidade que tenho pra conversar com ela sobre jogadas, lances,
é impressionante! É como se eu estivesse falando com vocês. — Ele puxa a
cadeira para se sentar. — E a Abigail é gata pra caralho! Uma gata
inteligente, que me entende e ainda me domina na cama, é pedir demais?
 
— E ela aceita sua liberdade de ficar com outras mulheres? — questiono,
encarando-o.
 
— Sim, ela diz que como não temos um relacionamento sério, temos
liberdade para ficarmos com quem quisermos, mas por conta disso não
posso transar com ela sem camisinha. Enfim, se um dia eu quiser algo sério
com ela, tenho que fechar o mercado, e aí sim, ser fiel apenas a ela.
 
— E você, está pensando em fechar o mercado? — coloco-o contra a
parede assim me levanto para pegar meus documentos.
 
— Sinceramente, cara… Tô sim. — Ao ouvir aquela resposta, me volto pra
ele, surpreso por ser tão objetivo, se não fosse sério ele iria enrolar pra falar
ou mudar de assunto. — No próximo semestre será o nosso último ano na
universidade, e se Deus quiser estaremos seguindo daqui rumo as nossas
carreiras em um dos times da Liga. Já aproveitei demais nos últimos anos, e
sei lá, acho que está na hora de ter alguém para me apoiar de verdade. —
Ele respira fundo antes de se juntar a mim rumo a porta. — Tô pensando
em pedi-la em namoro essa noite, cara.
 
— Sério? — exclamo, impressionado com àquela revelação. — Cara, que
ótima notícia!
 
— Então… — começa parecendo tímido —, eu quero ficar a sós com ela
essa noite sabe, não num quarto de motel, e bom, você sabe que eu não
tenho um dormitório privativo igual você, e ela também não, ai eu…
 
— Ah já saquei! Você quer que eu traga a Emma pra cá — continuo, ele
assente um pouco acanhado, mas bato em suas costas. — Eu já iria trazê-la
de qualquer forma! Assim vocês terão o dormitório dela todinho pra vocês.
Eu quero aproveitar o máximo com a Emma nesse fim de semana, já que na
segunda o pau vai comer lá no centro de treinamento. 
 
— Então beleza! — Ele ri ainda sem jeito. — Me deseje sorte.
 
— Com certeza ela vai aceitar cara! — aperto seu ombro. — Vocês formam
um belíssimo casal e ela está super na sua. O que me impressiona é que ela
conseguiu te tirar dessa vida de pegador.
 
— Uma hora a gente cansa, sabe. Então vi você, seguindo esse rumo,
pedindo em namoro uma mulher que você só ficou uma vez, se entregando
para um sentimento assim de uma hora pra outra. Por causa disso fiquei
pensativo, eu queria tentar também sabe. E aí a Abigail sempre esteve ali,
sem colocar pressão, me rondando, presente quando eu mais precisava… —
Ele vai me contando conforme seguimos rumo ao estacionamento. — Aos
poucos parei de ficar buscando novas conquistas, e me apoiei em uma que
eu já havia conquistado. E tá sendo legal e interessante fazer coisas que
namorados fazem, como jantar juntos, ir ao cinema, ficar vendo jogos na
televisão. Ter alguém pra fazer essas coisas que antes eu fazia sozinho ou
com amigos. Reparei que, há muito tempo, não sentia isso. O meu coração
começou a bater acelerado quando a via. Ficava ansioso à sua espera,
temendo que ela não aparecesse. Uma sensação estranha, mas ao mesmo
tempo boa, que sinto sempre, é quando andamos de mãos dadas...
 
— Você está apaixonado, Chris, é isso que está acontecendo com você — o
interrompo assim que paramos em frente ao seu Mitsubishi.
 
— É isso que você sente pela Emma? Quando está com ela? — pergunta
antes de entrarmos no carro.
 
— Sim, eu me sinto tranquilo quando estou com ela. — Um sorriso se abre
em meu rosto. — Emma me desperta curiosidade e, ao mesmo tempo,
felicidade.
 
— Então, caímos nas garras dessas cientistas, e agora será difícil escapar.
— Cris liga o carro e seguimos para o prédio das garotas.
 
Não demora muito para chegar ao nosso destino. Chris para o carro com um
certo tranco quando as vê na calçada a nossa espera. Elas estão irresistíveis.
Abigail usa um macacão curto preto e a minha princesa optou por um
vestido na cor creme um pouco mais longo, ambas usam jaquetas.
 
— Se a gente tivesse combinado, não teria dado certo. — Ele comenta antes
de sairmos para recepcioná-las.
 
— Oi, princesa! — digo tirando-a do chão.
 
— Boa noite, meu príncipe — responde com um sorriso de orelha a orelha,
antes dos seus lábios encontrarem os meus.
 
— Ansiosa para jogar fliperama? — digo, voltando a colocá-la no chão.
 
— Preparado para perder de mim? — provoca, fazendo-me arregalar os
olhos.
 
— Ih, Mike, arrumou uma adversária! — Chris comenta fazendo nós dois
olharmos para o casal.
 
— Ela é boa hein Mike! — avisa Abigail agarrada no braço do meu amigo.
 
— Vai ser uma ótima competição, porque neste bar que iremos, tem três
andares só de jogos… — começo a dizer.
 
— Eu sei, já estive lá várias vezes. — Emma me interrompe.
 
— Encontraremos ex-namorados por lá, Emma? — Chris zomba, e a
aproveito para mostrar o dedo do meio pra ele, que cai na gargalhada.
 
— Fica tranquilo, vamos aproveitar a noite, estou animada pra usar todas as
fichas! — Sua mão entrelaça com a minha, puxando-me em direção ao
carro.
 
— Bora lá! — Chris abre a porta para Abigail, e eu sequer tenho
oportunidade porque Emma está tão animada que não me dá a chance de ser
cavaleiro também.
 
Meu amigo liga o rádio colocando em alguma música do Travis Scott e
seguimos rumo ao bar. Durante o trajeto, Abigail diz que já tentou vencer
Emma nas vezes em que foram juntas a este local, mas falhou em todas
elas. Minha namorada diz que ela está exagerando, mas não nega que é
competitiva, principalmente em jogos de pontuação e os pinballs. Assim
que Chris acha uma vaga, seguimos rumo ao bar que já está movimentado,
mas não cheio. Uma música eletrônica toma conta do ambiente e logo sou
surpreendido quando Emma cumprimenta o barman e outras pessoas do
local.
 
— Você é bem conhecida aqui — murmuro em seu ouvido assim que
abraço sua cintura.
 
— Só um pouquinho! — Ela sorri antes de chegarmos a uma mesa. —
Venho muitas vezes aqui, meio que encontrei uma tribo para passar o
tempo.
 
— Bem-vindos ao Arcade Bar. — Uma mulher vem nos recepcionar antes
de reconhecê-la. — Emma, querida, faz tempo que você não vem aqui!
 
— Boa noite, Ellen, tudo bom? Como vão às crianças? Acabou acontecendo
alguns imprevistos, mas hoje vim me divertir com os meus amigos —
informa antes da sua mão envolver a minha —, e com alguém especial.
 
— Tá todo mundo bem, querida! — A garçonete então me olha de cima a
baixo. — Que partidão você foi arranjar, hein garota! Tenho quase certeza
de que já te vi na televisão — comenta, me analisando.
 
— Sou o quarterback do Florida Gators.
 
— Ah, tá explicado! Fisgou um jacarezão, hein! — Ela bate no meu ombro
de forma despretensiosa. — Agora os passarinhos daqui nem vão se
aproximar de você. — Troco olhares com Emma que dá de ombros. —
Aqui está o cardápio, espero que vocês gostem das nossas opções e, claro,
das nossas principais estrelas, os fliperamas! — A tal mulher chamada
Ellen diz animada. Decido pedir uma cerveja e Chris vai na minha, Abigail
decide por um mojito e Emma escolhe um blue drink enfatizando que quer
sem álcool. — Não vai beber hoje? — A garçonete arregala os olhos. —
Não vai querer seu tradicional saquê?
 
— Hoje não preciso de bebida, quero ficar bem atenta, pois vou competir!
— Emma justifica antes de se virar para nossos amigos perguntando o que
vamos comer, e decidimos por uma porção de nachos. A atendente se
afasta, enquanto os olhinhos de Emma brilham para as máquinas de jogos
que se encontram ocupadas naquele andar.
 
— Aqui tem cara de ser o seu local favorito, Emma! — Chris comenta
observando o ambiente.
 
— Chris tem razão — digo em busca do seu olhar, o qual é retribuído. — É
aqui que você gosta de vir para extravasar ou pensar?
 
— Sim, é o local perfeito para me distrair com coisas corriqueiras.
Principalmente quando entramos em período de provas. Aqui é meu Oásis
em meio ao Caos. É onde posso me divertir até cansar — explica, tirando a
jaqueta antes de apontar uma das máquinas. — Elas são ótimas para
desestressar. Às vezes passamos raiva, mas acabamos colocando toda
frustração nos botões.
 
— Tirando que tem outros jogos bem divertidos, como tiro ao alvo, um que
a gente joga bola estilo basquete e pontua. — Abigail começa a contar. —
Este local nos faz sentir dentro daqueles filmes dos anos 80, a nossa
geração nem se interessa tanto por esse tipo de jogo, quer dizer, mais os
nerds, igual a Emma.
 
— Esses jogos foram a diversão de nossos pais ou até mesmo avós —
comento, beijando o ombro desnudo dela. — Por que você se interessou
tanto por fliperama?
 
— Eu vi um documentário sobre jogos e então achei legal os lugares que
existiam no passado, aí sai pesquisando sobre e dei de cara com esse lugar
bem aqui em Gainesville — conta, mexendo no porta-guardanapos. — Eles
fizeram um evento nerd, aí decidi vir tirar minhas conclusões, gostei do
ambiente e acabei voltando mais vezes. Já joguei em várias máquinas,
conheço quase todos os jogos.
 
— São verdadeiros clássicos esses jogos — digo, envolvendo a cintura dela.
— Por qual deles vamos começar? 
 
— Street Fighter! — diz animada e aquilo me contagia. — Ele fica no
segundo andar.
 
— Pelo jeito esses dois vão competir mesmo. — Abigail comenta antes das
nossas bebidas serem servidas com os nachos. 
 
— Quero saber qual será o meu prêmio se eu ganhar a competição de hoje à
noite — provoco fazendo nossos amigos assobiarem.
 
— Sexo sem camisinha em qualquer lugar que você escolher. — Ela
sussurra em meu ouvido, fazendo-me abrir mais ainda o sorriso.
 
— Eu vou ganhar! — digo convicto, já imaginando onde a nossa noite vai
terminar.
 
— Ih, você decidiu competir com a pessoa errada, Emma. — Chris comenta
tomando um gole da cerveja.
 
— E o que eu ganho, se eu te vencer? — Ela pega um nachos ao mesmo
tempo em que me encara.
 
— Eu toco uma música pra você — acaricio seu cabelo sedosos. — E passo
o final de semana inteiro fazendo todos os seus desejos. 
 
— Gostei! — Ela me estende a mão — Combinado?
 
— Combinado!
 
E a noite só está começando! Após socializar com Chris e Abigail até
terminar nossas bebidas, Emma me puxa para o caixa onde compramos
nossas fichas e subimos para o segundo andar que estava mais
movimentado. Observo-a acenar para alguns caras, mas aqueles que
pensaram em se aproximar dela veem minhas mãos envolvendo a sua
cintura e dão um passo para trás. Enquanto aguardamos a liberação da
máquina, Emma envolve meu pescoço com os braços e, ao olhar-me com os
seus brilhantes olhos amarronzados, fez um leve cafuné no meu nariz antes
de falar.
 
— Estou feliz de você ter me trazido aqui. — Seus dedos acariciam minha
nuca. — Sempre imaginei vir aqui com um namorado que não achasse isso
uma babaquice.
 
— Isso aqui está longe de ser uma babaquice, princesa! — digo,
acariciando sua cintura. — Muito pelo contrário.
 
— Vamos competir, mas também nos divertir! — Ela beija a pontinha do
meu nariz.
 
— Esse final de semana vai ser inesquecível — sussurro em seu ouvido,
antes de ver a máquina ser liberada. — Chegou a nossa vez!
 
Vamos até a máquina com o design de um dos jogos de luta mais
conhecidos e observo o gráfico antigo em comparação à alta tecnologia que
os vídeo games carregam nos dias de hoje. Emma me dá uma breve
explicação de como funcionam os botões antes de inserir as fichas. Ela
escolhe a personagem feminina Chun Lin e eu decido ficar com o Ryu. Há
uma breve apresentação antes do joguinho falar “FIGHT” e mal dá tempo
de pensar, pois com a habilidade que Emma tem, mal consigo me defender
dos golpes da sua lutadora. Fazendo-me perder o 'primeiro round'. Ela
empurra de leve meu ombro, se divertindo com a situação, antes de
iniciarmos o 'segundo round' onde consigo me desenvolver melhor, mas
quando menos espero sou derrotado e o K.O volta a aparecer na tela. 
 
— Revanche! — digo, encarando o painel. — Vou me acostumar com esses
botões!
 
— Tá bom, mas não gaste toda sua energia porque temos várias máquinas
ainda pra jogar! — Animada, ela me dá um beijo na bochecha antes de
voltar para a tela inicial e repetimos todo o processo.
 
Ficamos mais alguns minutos jogando, até que eu consiga vencer, torcendo
para que ela não tenha deixado eu vencer de propósito, mas pela sua feição,
eu venci mesmo. Seguimos para as outras máquinas, entre pinballs e jogos
de corrida como o Mário kart — sendo um dos brinquedos mais
competitivos entre os presentes. 
 
Uma hora Chris e Abigail se juntam a nós e competimos entre casais ou
como duplas opostas. Vire e mexe vamos ao bar pegar mais drinks, Emma
se mantem sóbria, mas o restante de nós já sentindo um pouco do efeito do
álcool em nosso sistema. Quando percebemos já passa de uma da manhã e
decidimos retornar para o campus. 
 
— Fica comigo essa noite — murmuro em seu ouvido. — Não só essa
noite, o fim de semana.
 
— Eu deveria pegar algumas roupas — diz, aconchegada em meus braços.
 
— Você pode usar as minhas, afinal não vamos sair da cama mesmo —
mordo o lóbulo da sua orelha fazendo-a rir. 
 
— Mike McCoy quer tornar a sua princesa uma prisioneira? — Emma usa o
tom brincalhão.
 
— Quero ficar preso nas masmorras com você, matando toda a minha
saudade — beijo os seus lábios antes de completar. — Te satisfazendo de
todas as maneiras.
 
— Ui, parece que a noite será boa pra todo mundo! — Abigail solta no
banco da frente.
 
— O dormitório será todo seu esse fim de semana, amiga! — Emma
anuncia se curvando para bater no ombro dos dois. — Ficarei com o
raptador de princesas.
 
— Ei, eu achei que eu era o príncipe! — reclamo, arrancando uma risada
dela.
 
— É que a gente prefere os anti-heróis ou vilões. — Ela dá de ombros, mas
puxo sua cintura arrancando-lhe uma gargalhada.
 
— Então posso me tornar um bad boy para você — começo a beijar seu
rosto, intensificando a risada.
 
— Em pensar que durante um bom tempo eu vi apenas a Emma te
admirando de longe, hein Mike — Abigail olha pra mim por cima do
ombro. — Mas como dizem né, tudo tem seu tempo. Agora temos essa
surpresa de vocês estarem juntos, formando um belo casal e serão futuros
p… — Ela não termina a frase, pois Emma aperta o ombro da amiga que
solta um sonoro “Aí!˜.
 
— Futuros? — incentivo ela a continuar.
 
— Futuros marido e mulher! — Abigail diz olhando de Emma para mim
com um sorriso esquisito no rosto. — Vai que essa relação vira casamento!
 
— Imagina a gente se casando, princesa? — puxo-a de volta para mim.
 
— Você sonha em se casar com alguém? — Ela pergunta se aconchegando
em meus braços.
 
— Não é um sonho, mas se der certo com alguém e querer compartilhar
com ela uma vida, sim, vou querer acordar ao lado dessa pessoa todos os
dias possíveis — informo.
 
— Casar é um passo enorme na vida de um casal. — Chris comenta
entrando na rua onde fica o meu dormitório. — Temos que ter certeza
absoluta de que é isso que queremos, senão não aguentamos o tranco e
fazemos absurdos. — E eu sei o que ele está se referindo, a sua mãe que os
abandonou por não aguentar a pressão de um casamento.
 
— Por isso a melhor coisa é um passo de cada vez, mas também acredito
que depende muito do casal — comento assim que ele estaciona em frente
ao meu prédio. — Valeu cara! 
 
— Uma boa noite pra vocês! — Abigail deseja enquanto trocamos apertos
de mãos. 
 
Acenamos para o carro que buzina antes de seguir seu caminho. Emma
começa a andar em direção ao meu prédio, mas seguro a sua mão levando-a
para o lado oposto.
 
— Tem uma coisa que eu quero te mostrar — justifico e ela me segue. 
 
— O que você está aprontando? 
 
— Você vai ver! — digo, levando-a em direção ao The Swamp.
 
Em alguns minutos estamos em frente ao enorme estádio e a conduzo em
direção a uma entrada mais escondida. Emma fica atenta a qualquer
movimento que nos denuncie, mas não se recusa a continuar me seguindo,
até que damos de cara com o campo de futebol apenas iluminado pela luz
da lua.
 
— Uau! — Ela pronuncia conforme a levo até o centro do gramado. —
Sempre fiquei na arquibancada, então não tinha uma dimensão de como é
estar aqui, sendo observada de vários ângulos. 
 
— Aqui é onde a magia acontece — sorrio, olhando os detalhes do gramado
bem amparado, só esperando o momento para sentir nossas chuteiras.
 
— Ninguém vai nos pegar aqui, Mike? — preocupada, ela para em minha
frente.
 
— Relaxa, vire e mexe venho aqui treinar a minha corrida matinal, aquele
local que passamos é do zelador — digo envolvendo seu rosto. — Ele me
deu livre acesso.
 
— Ai, ai… você sempre me levando para os seus lugares favoritos —
comenta antes de envolver os braços ao redor do meu pescoço. — Estou te
devendo esses passeios.
 
— Tem algum lugar que você queira me mostrar? — pergunto circundando
sua cintura, trazendo-a para mais perto.
 
— Sim, onde eu mais gosto de estar! — alarga o sorriso. — O laboratório!
Quem sabe um dia mostro um experimento pra você!
 
— Nossa, adoraria! Só não pode explodir! — Ela ri antes de ganhar um
beijo na pontinha de seu nariz. — Vem, vamos relaxar — convido tirando
minha jaqueta e colocando-a no gramado. Deitamos de barriga para cima
pra ver as pouquíssimas estrelas que iluminam o céu naquela noite. Emma
se aconchega em meu braço, abraçando meu tronco.
 
— Sabe uma pergunta que ando me fazendo… — Emma começa e olho
para ela, incentivando-a continuar. — O que você viu em mim, Mike?
 
— Por que você está fazendo esse tipo de pergunta? — respondo com outra
e ela me bate, arrancando-me uma gargalhada.
 
— Tô falando sério! — retruca.
 
— Bom, por onde posso começar! — Meu olhar se foca na escuridão a
nossa frente. — Você sabe ouvir, isso é um dom que poucas pessoas
possuem, mas independente do assunto você para e escuta, e muitas pessoas
não têm paciência pra lidar com a opinião e expressão dos outros. Outro
ponto foi que ao invés de seu olhar ter ficado cravado no meu corpo, você
me olhou nos olhos, mesmo com a sua timidez, você não ficou me
admirando como um troféu — acaricio o seu braço. — Sua risada também
traz uma leveza e demonstra que a cada dia que passa você está mais
confiante em estar comigo. Não é forçado, é verdadeiro. — Ela se remexe
um pouco, mas volta a me abraçar. — E não posso me esquecer do quão
linda você é.
 
— Está exagerando, sou uma mulher normal…   — interrompe.
 
— Uma mulher que não precisa de muito pra demonstrar o quanto é linda
— beijo o topo da sua cabeça. — Agora eu não entendo como você
conseguiu manter o interesse por mim por tanto tempo, mesmo sabendo da
minha reputação?
 
— Sua reputação de bad boy? — Ela se apoia sobre meu peitoral. — Você
está longe de ser malvado. Explosivo sim, mas está longe de ser um vilão.
 
— Posso me tornar um vilão se preferir, dizem que são os favoritos das
mulheres — digo passando minha mão sobre suas madeixas.
 
— Vilão que faz de tudo pela mocinha. O mundo pode acabar, mas não
ouse tocar na mulher que ele ama. — Emma complementa. 
 
— Exatamente esse — rio da sua descrição. 
 
— Para a universidade você pode ser até um bad boy, mas pra mim está
mais para herói. — Ela beija meus lábios de leve. — Por você ser uma
figura pública fica mais fácil manter o interesse, afinal as redes sociais estão
aí pra isso. Eu te acompanhava de longe, como uma fã admira o seu ídolo.
Eu queria compreender o mundo em que você vivia, então confesso que fui
atrás pra entender como o futebol americano funcionava, porque
sinceramente eu não conseguia assimilar o que vocês estavam fazendo, mas
a Abigail me ajudou e muito nesse processo.
 
Caímos na gargalhada, e por um momento recordo do Chris dizendo que
Abigail entende do assunto. Nesse momento ele deve estar se declarando
para ela.
 
— Eu te acompanhei muito nas redes sociais, e percebi que de vez em
quando você postava ou era marcado em instituições de caridade os quais
você participava, em especial as crianças que estão lutando contra o câncer.
Achei a sua atitude beneficente muito bonita, e suas fotos eram tão
espontâneas que dava para perceber que você não estava ali pelo simples
fato de que isso seria uma boa visibilidade para a sua imagem. É porque
você ama fazer isso. — Sua mão acaricia meu rosto. 
 
— Realmente amo fazer trabalho filantrópico como também realizar
doações. Afinal, meu dinheiro tem que servir para algum propósito, não
estocá-lo como a família do meu pai faz, enquanto o resto do mundo que se
dane — suspiro. — Então, minha admiradora secreta, por que demorou
tanto para vir falar comigo? — digo observando os traços do seu lindo
rosto.
 
— Eu já disse! Eu não era o seu perfil ou o estilo de mulher que você
costumava sair. Não sou uma Hailey. — Seu olhar desvia do meu. — Me
vesti com aquela roupa do baile pelo simples fato que eu queria conquistar
você, nem acreditei que consegui. Mas não estou acostumada a me produzir
daquela forma…
 
— Você fica linda sem maquiagem, Emma. — interrompo-a. 
 
— Linda, mas não era o bastante para o bad boy — afirma antes de voltar a
me olhar. — Eu já estive no mesmo ambiente que você e passei
despercebida, então fui perdendo a coragem que eu sequer tinha. Só passei
a te observei de longe. Aprendi o básico de futebol, já que não entendia
nada. Meu pai era mais fã de futebol estilo europeu, então sequer
assistíamos o tradicional. Fui ao estádio para te ver ou nos treinos abertos.
Eu era mais uma no extenso mar de mulheres que queriam estar no meu
lugar.
 
— Dizem que Deus escreve certo com linhas tortas — abro um sorriso que
a contagia. — Pode ter demorado, mas ficamos juntos no fim das contas.
 
— Meu crush me notou depois de anos — Ela ri. — Sabe, houve dias que
eu estava naquele bar, e eu desejava ter alguém especial para compartilhar
aquele momento comigo. Mas tudo que eu tinha eram os caras disponíveis
que queriam apenas beber e beijar na boca. — Meu rosto se fecha, será que
algum daqueles caras que a estavam encarando já tinham ficado com ela?
— Mas eu sentia um vazio em relação a isso. Eu não me divertia cem por
cento. Passei a ir apenas pra jogar, então foquei na minha diversão, sem
esperar por homem nenhum. Mas hoje — suas mãos envolvem meu cabelo
—, você me fez sentir o que eu sempre imaginei. Ter você ao meu lado,
competindo e rindo comigo, me trouxe uma sensação que jamais presenciei
antes. E eu deveria ter deixado você vencer algumas partidas, apenas para
ganhar aquele prêmio.
 
O seu olhar cheio de malícia encara os meus, meu pau pulsa na calça assim
que me lembro da proposta que ela fez caso eu vencesse.
 
— Você não precisa me propor, basta me pedir que será uma honra transar
com você — digo, pegando em seu pulso, antes de parar em cima dela,
prendendo-a embaixo de mim. — Quer cometer a pior loucura?
 
— Que tipo de loucura? — Sua expressão é de curiosidade, mas basta eu
roçar meu quadril contra o dela para Emma arfar. — Ah, esse tipo de
loucura.
 
— Confia em mim? — pergunto alisando suas madeixas.
 
— Sim.
 
Bastam aquelas três palavras, que envolvo a sua boca na minha, ao mesmo
tempo que minha mão vai para baixo da saia do seu vestido, apertando sua
bunda gostosa com vontade a ponto de ela arfar entre meus lábios. Sem
cerimônia, deslizo o tecido da sua calcinha, puxando-a até retirá-la por
completo. Aproveito para abrir o zíper da minha calça, abaixando apenas
um pouco para tirar meu pau que não vê a hora de se enterrar nela. 
 
Mantendo nosso olhar vidrado um no outro durante todo o processo. Emma
apoia os cotovelos sobre o gramado, mas a puxo pelo quadril para mais
perto de mim, abrindo mais suas pernas para que eu fique entre elas.
Sustentando meu peso com um braço, volto a envolver seus lábios aos
meus, enquanto com a outra mão começo a deslizar a cabeça do meu pau
sobre suas dobras, arrancando-lhe um gemido preso no fundo da garganta. 
 
Ainda nos beijando, voltamos a nos deitar sobre o meu casaco, e conforme
a estímulo, seu corpo começa a se remexer embaixo do meu ansiando por
mais. Seus olhos voltam a abrir e me encaram naquela noite de luar,
ouvindo seus gemidos contidos entre meus lábios.
 
— Quero você por inteiro dentro de mim. — Emma se afasta com a
respiração ofegante. — Igual a nossa primeira vez.
 
Aquele é o estímulo que eu preciso. Agarro a bunda dela, uma de suas
pernas envolvem o meu quadril, e entro lentamente sem qualquer
dificuldade. Sinto suas paredes internas me apertarem, mas senti-la por
completo, sem nada no caminho, é uma definição surreal. 
 
Minha garganta solta um som gutural conforme deslizo até o talo, e Emma
se contorce embaixo de mim, mordendo os lábios com força ao mesmo
tempo que suas unhas me apertam e deslizam pelas minhas costas. Volto a
apoiar meus braços ao seu redor, e envolvo sua boca em um beijo profundo,
iniciando as minhas estocadas ritmadas.
 
Deslizo minha boca pelo pescoço com cheiro adocicado, permanecendo na
constância do vai e vem. As mãos dela deslizam pelo meu corpo. Ora está
apertando minha bunda com força, estimulando para que eu vá mais fundo,
ora envolve minha nuca em um carinho continuo nos meus cabelos.
 
— Você é tão maravilhosa — sussurro em seu ouvido, ao mesmo tempo que
escuto sua respiração cada vez mais descontrolada.
 
— Só você para me fazer cometer loucuras. — Seus dedos afundam em
meus cabelos, empurrando o quadril contra mim, apertando-me cada vez
mais.
 
— Quero cometer muitas loucuras ao seu lado, princesa. — Minha língua
desliza pelos seus ombros e pescoço, antes de invadir a sua deliciosa boca.
 
Eu sei que ela está prestes a ter um orgasmo, por conta disso aumento a
velocidade das estocadas, com direito a reboladas, que faz ela simplesmente
ir à loucura, virando a cabeça para trás em busca de todo o prazer que eu
possa proporcionar.
 
— Mike — murmura meu nome baixinho, antes de seu corpo tremer com
força embaixo do meu e suas unhas afundarem em meu quadril.
 
— Emma — chamo de volta, fazendo-a me encarar com pura entrega, antes
de eu sentir seu prazer me inundar. Beijo sua bochecha, conforme sua
respiração se acalma, e volto a me movimentar sobre ela com mais força,
até que sinto a onda vindo. Estou prestes a sair de dentro dela, mas ela me
segura.
 
— Quero sentir — sussurra. Eu sei que isso pode ser um erro, mas aquilo
me deixa tão excitado, que dou mais duas estocadas, um rosnado sai do
fundo da minha garganta e libero toda a minha porra dentro dela. Quando
termino, apoio minha cabeça em seu ombro, sentindo sua mão acariciar
minha nuca. — Você está pulsando, e isso é tão bom, tão íntimo.
 
— Não vou negar que fazer sexo sem proteção é tentador e gostoso demais
— digo, voltando a encontrar seus brilhantes olhos amarronzados. — Não
se preocupe que estou limpo, sempre me cuido, mas preciso que você se
cuide também, não queremos um bebê pra agora né? — Seus olhos desviam
do meu, o sorriso some do seu rosto.
 
— Vamos indo? — apoiando-se nos cotovelos, ela faz menção de se
levantar.
 
— Eu disse algo que te incomodou? — questiono tentando encontrar o seu
olhar, saindo por completo de dentro dela. 
 
— Não, tá tudo bem. Só fiquei pensativa com o que acabamos de fazer. —
Ainda me evitando, ela volta a vestir sua calcinha. 
 
— Não vai acontecer nada, não se preocupe — acalmo-a, beijando seu
pescoço. — Só tomar as pílulas direitinho e estará tudo certo.
 
— E se... — para um instante antes de continuar —, e se acontecesse? Se eu
ficasse grávida? Qual seria a sua reação?
 
— Ah, pra quê pensar nisso, princesa — envolvo a sua cintura, ainda
sentados no chão, agora vestidos.
 
— Me diz, qual seria a sua reação? — segurando meus braços, ela me
encara com atenção.
 
— Bom, se isso acontecesse, não sei como seria minha reação, mas eu não
te deixaria desamparada. Afinal, o filho seria tão meu quanto seu — digo
com sinceridade antes de beijar sua testa.
 
— Mike, eu… — Emma começa a falar, mas uma luz de lanterna surge no
estádio nos interrompendo.
 
— Ei, o que estão fazendo aqui? — O guardinha grita, mas logo me ponho
de pé, puxando Emma do chão que ajeita o vestido rapidamente.
 
— Quando eu disser já, você corre — informo assim que pego a minha
jaqueta do chão e fecho o zíper da calça. 
 
Quando vejo o guardinha mais longe da porta, onde seria nosso ponto de
fuga, aguardo até que esteja mais perto, mas tudo que faço é pegar na mão
de Emma com força antes de avisar.
 
— Já! — desviamos dele e seguimos para a porta.
 
Emma segue os meus passos com esforço, evitando olhar para trás, mesmo
com o guardinha falando pra gente parar. Troco olhares com ela e estamos
rindo da situação, enquanto nos distanciamos cada vez mais até conseguir
sair do estádio. Já fora do estabelecimento, continuamos a correr em direção
ao meu dormitório, mas chega um determinado momento que percebo que
ninguém está nos seguindo, e paro para que ela possa tomar fôlego.
 
— Nossa, que vergonha! — Ela diz, batendo em meu peito. — Será que ele
nos viu no ato?
 
— Acredito que não, senão ele teria nos atrapalhado — digo rindo, mas
novamente ela me bate.
 
— Mike! Tô falando sério! — retruca e eu seguro suas mãos, levando-as até
minha boca para depositar um beijo.
 
— Desencana, princesa. Ele não me viu comendo você, ele nunca terá esse
privilégio — pressiono-a contra a árvore que nos esconde. 
 
— Vamos para o seu dormitório, não quero ser pega no flagra de novo. —
Emma me empurra brincalhona antes de me puxar para o conjunto
habitacional.
 
— Não fomos pegos no flagra — digo, mas ela não discute, e deixo que ela
me leve até o meu quarto. Ansioso pra saber como terminaremos aquela
noite.
 
 
 
Eu estava prestes a contar, se não fosse aquele guardinha. Eu poderia ter
revelado ao Mike que ele seria pai do filho que carrego em meu ventre, mas
não foi isso que aconteceu.
 
Quando o assunto bebê surgiu, algo dentro de mim voltou a gritar em alerta,
e pela primeira vez junto ao Mike me senti extremamente incomodada por
guardar esse segredo dele.
 
Olho para a minha barriga por um instante, o meu ventre já está se
modificando, a barriga mais magra está dando lugar a uma pequena
protuberância, conforme caminho para o segundo mês de gestação. Volto a
observar meu reflexo molhado no espelho do banheiro privativo, antes de
secar o meu rosto e seguir para fora, encontrando Mike ainda sonolento
deitado na cama, com os braços convidativos a minha espera embaixo de
grossos edredões. Vestindo uma camiseta larga dele como pijama, me
acomodo ao seu lado.
 
O dia já havia amanhecido. Até pensamos em continuar o que começamos
no estádio, mas o cansaço nos abateu, e o máximo foi uma troca de carícias
com mãos bem bobas antes de dormirmos agarradinhos.
 
— Bom dia, princesa — murmura com ronquidão.
 
— Bom dia, meu príncipe — digo beijando-o bem devagar.
 
— Podemos passar o dia inteiro na cama hoje. — Mike cheira meus
cabelos. — Ou você quer sair?
 
— Prefiro a cama — respondo desenhando cada gominho da sua barriga
definida com meus dedos. — Já que não teremos mais tanto tempo
disponível, quero ficar a sós contigo. Esses treinos vão se estender até o fim
de semana?
 
— Esse intensivão vai até sábado, domingo será nossa folga — explica. —
Claro, se a gente quiser se ver de domingo, estarei à disposição.
 
— Aposto que você vai querer recuperar toda sua energia aos domingos —
digo, olhando pra ele. — E terá que se manter em forma, ou seja, nada de
fast food.
 
— A vida de atleta tem várias limitações para comida. Temos um
acompanhamento de nutricionista e de outros médicos desde o início da
faculdade, pra evitar contratempos e nos manter saudáveis — conta,
acariciando os meus braços. — Foi difícil pra cacete no início me adaptar a
essa realidade, mas me acostumei. Afinal, quero ser um profissional e essas
são as regras.
 
— Alguns esportes requerem esse tipo de cuidado, pois o corpo é a sua
ferramenta de trabalho e vocês precisam estar bem para exercer
determinada atividade — volto a olhar para frente, sentindo seu corpo
quente ao meu. — Já imagino você preparando aqueles sucos verdes toda
manhã.
 
— Credo! — solta, fazendo eu rir abertamente. — Olha, eu amo smoothie,
mas somente de frutas. Nada de vegetais e legumes líquidos, pelo amor de
Deus!
 
— Espero que você não se torne aqueles homens chatos da dieta, que fica
apontando quantas calorias tem o que estou comendo, ou pior, me proíba de
comer besteiras — comento, olhando-o de relance.
 
— Jamais! Não faria isso, afinal eu que estou sofrendo com esse tipo de
alimentação, não você. Na verdade, é capaz de eu dar umas escapulidas,
tipo hoje… que tal a gente pedir comida no Panda Express e continuar
assistindo Fullmetal Alchemist? — sugere, ligando a televisão.
 
— Acho maravilhoso — digo abraçando seu peito nu. — Quero aproveitar
cada minutinho contigo.
 
— Eu também. — Ele beija meus cabelos colocando no streaming o anime
que iniciamos a poucos dias, mas antes de dar play, anuncia. — Ah, estou
devendo seu prêmio.  — Ele se levanta da cama em um pulo, exibindo a sua
cueca boxer azul-escura e vai até o armário, retirando de lá o violão. 
 
— Não acredito! — exclamo animada, vendo-o sentar na cama com o
instrumento, antes de me aproximar dele. 
 
— Preparei uma música, espero que goste, pode sair meio desafinado, mas
treinei um pouquinho. — Mike sorri antes de pegar a palheta e deslizar
pelas cordas.
 
— Qual música você preparou pra mim? — abraço suas costas.
 
— Here with me do d4vd — responde antes de respirar fundo e iniciar.
 
A música começa a tomar forma com as cordas do violão, mas o que me
surpreende é a voz rouca de Mike cantando os primeiros versos. O observo
com detalhes, conforme seus dedos dedilham e a sua voz preenche o quarto
e o meu coração. 
 
— I don't care how long it takes — canta ao mesmo tempo que seus olhos
acinzentados grudam nos meus. — As long as I'm with you, I've got a smile
on my face. — Um sorriso se alarga em seu rosto, contagiando-me também.
— Save your tears, it'll be okay — sinto um filete de lágrima descer pelo
meu rosto, mas limpo rapidamente antes dele finalizar o refrão. — All I
know is you're here with me[1].
 
Deito a minha cabeça contra suas costas, fechando os olhos por um
momento, conforme sua voz ecoa no quarto, ao mesmo tempo em que um
sentimento maior do que eu me domina. Ele prometeu que iria tocar uma
música pra mim, e aqui estamos. Mike a cada dia que passa sempre me
mostra maneiras de amá-lo cada vez mais. Ouvir aquela linda música, que
ele preparou com tanto carinho pra mim, pegou na minha ferida.
 
Será que um dia iremos envelhecer juntos? Será que ele vai me perdoar?
Independente de quanto tempo isso dure? Ou as consequências dos meus
atos colocarão tudo a perder? E esse conto de fadas não terá um final feliz.
Enxugo minhas lágrimas. Não quero que ele veja que estou chorando, afinal
ele preparou essa surpresa pra mim, e como diz a canção, ele não quer me
ver chorando e sim sorrindo. 
 
Quando Mike termina a canção, deposito meus lábios em seu pescoço,
mantendo-o lá enquanto o abraço com força.
 
— Sua voz é linda — elogio, beijando seu rosto com carinho. — E você
toca super bem.
 
— Eu sei que não é uma música animada, das quais você vai pular da cama
pra dançar, mas gosto de músicas mais calmas para serem tocadas aqui. —
Ele bate de leve no violão. — Confesso que sou meio melancólico na minha
seleção quando se trata de tocar no violão.
 
— Prefiro esse jeitinho calmo. Agora me conta, como você começou a tocar
violão? — pergunto ainda apoiada em suas costas.
 
— Uma instituição que eu ajudo oferece aulas para crianças com câncer.
Um dia, fiquei com eles durante a aula e gostei do instrumento. Sempre que
pude, compareci às aulas para treinar com eles — explica, acariciando os
meus braços. — Mas eu não queria sair divulgando pra todo mundo sobre
isso, sendo que até usei um violão da instituição pra evitar comentários.
Queria algo pra mim, um hobbie que pouquíssimas pessoas iriam saber e
não me expor. Ao invés de tocar músicas alegres, eu me vi tocando quando
estava triste ou pensativo. 
 
— É uma forma de se conectar — apoio minha cabeça no seu ombro. —
Muito obrigada pela surpresa e por tocar uma melodia tão linda.
 
— O que diz essa música é algo que desejo para nós, Emma. — Seu olhar
encontra o meu. — Eu estou apaixonado por você. 
 
Ouvir aquela declaração faz o meu coração disparar. Meu crush se
apaixonou pela nerd? Após anos de espera, estou vivendo um conto de
fadas como eu sempre quis! Mas ao invés de estar gritando de alegria, estou
me sentindo uma traidora. Eu o amo também, e não é de hoje, mas eu
mereço o seu amor? Será que esse amor permanecerá quando ele descobrir
a verdade?
 
— Mike, eu… — Não consigo achar palavras, um bolo se forma na minha
garganta. Eu quero falar pra ele o que o futuro nos reserva, quero saber
como será a sua reação, mas ao mesmo tempo tenho medo, pois não quero
que nada disso entre nós termine em um estalar de dedos. 
 
— Não precisa falar agora, princesa — Ele beija o meu rosto. — Temos
muito tempo para falar sobre nossos sentimentos.
 
— Eu sempre o admirei Mike, sempre imaginei você comigo, enquanto
uma paixão não correspondida foi surgindo por uma versão que criei de
você. Mas agora que estamos realmente juntos, estou conhecendo o
verdadeiro Mike McCoy, o bad boy cavalheiro por trás da fama de atleta da
universidade, que faz questão de me surpreender a cada encontro. —
Abraço-o forte. — Eu também estou apaixonada por você Mike, mais do
que isso, eu estou amando você. E eu tenho medo de te perder, perder tudo
que estamos vivendo.
 
— Não tenha medo, princesa — Ele puxa meu braço, tirando-me de suas
costas, sentando-me em seu colo. — Não vai acontecer nada conosco. 
 
Envolvo meus braços em sua nuca, enquanto os seus envolvem meu corpo.
Eu preciso me preparar para saber escolher as palavras e então lhe contar
tudo.
 

 
Alguns dias se passam desde o meu último encontro com Mike. Seus
treinos extensivos iniciaram, e o máximo que conseguimos era trocar
mensagens ou fazer chamada de vídeo tarde da noite, onde um dos dois
acabava se entregando para o sono.
 
Os últimos trabalhos daquele ano letivo estavam me deixando presa nos
livros e no laboratório, e que se não fosse a insistência de Abigail eu nem
teria comparecido ao instituto para realizar os exames.
 
Em pensar que agora nós duas estamos namorando! 
 
Após passar o domingo inteiro no dormitório do Mike, assistindo meu
anime favorito, vendo-o tocar mais músicas e nos amando sem qualquer
pressa, retornei para a minha casa tarde da noite, mas Abigail ainda estava
acordada, ansiosa demais para me contar que o Chris a havia pedido em
namoro! Eles teriam finalmente um namoro sério e outras mulheres não
estariam inclusas no pacote. Fiquei super feliz com a notícia, eu queria a
felicidade da minha amiga, e se ela conseguiu colocar o Chris nos eixos e
largar a vida de playboy, já era um avanço.
 
Enquanto aguardo minha vez de ser chamada na clínica, ao lado da minha
melhor amiga, lembro que as minhas calças jeans mal tem fechado nos
últimos dias, e pelo jeito terei que arrumar roupas mais soltinhas. Acredito
que não terei um barrigão, mas nunca se sabe, os bebês têm nascido cada
vez maiores.
 
Apoio minha mão sobre o pequeno volume, observando outras mulheres de
várias idades na recepção, algumas com o olhar desesperado, outras mais
tranquilas e aquelas com a gravidez mais avançada.
 
— Emma Steele — ouço meu nome, e Abigail aperta a minha mão
desejando-me força antes de eu seguir para a sala onde vejo um aparelho e
uma maca, junto de uma mesinha onde ela se acomoda.
 
— Boa tarde, Emma. Espero que você esteja bem — diz a gentil mulher
pedindo para me sentar.
 
— Estou sim, e a senhora? 
 
— Bem, também. Eu entendo que você já marcou o ultrassom, mas como é
costume na nossa clínica, se você precisar discutir as suas condições ou
precisar de ajuda para lidar com isso, temos especialistas que podem
auxiliá-la em decisões, visando o seu bem-estar e do bebê. — Ela diz isso
cruzando as mãos em frente ao corpo. 
 
Eu sabia da sua preocupação, pois muitas mulheres que se veem em uma
gravidez indesejada buscam lugares como esse para abortar ou achar uma
forma de colocar a criança para adoção. O que não era o meu caso.
 
— Imagino que algumas mulheres fiquem bem confusas. Eu também fiquei
e ainda estou aprendendo a lidar com isso. Mas realmente eu quero esse
bebê, só preciso saber como está a nossa saúde, e os próximos
procedimentos que devo realizar como o pré-natal, se vocês têm algum
ajuda em relação aos primeiros cuidados, digo isso porque não tenho
ninguém para me auxiliar nessas questões. — Sou sincera.
 
— De quantas semanas você está?
 
— De acordo com minhas contas, estou na quinta semana, quase entrando
na sexta — respondo.
 
— Ótimo, você já está apta a realizar o seu primeiro ultrassom. — Ela sorri
se levantando. — Por favor, entre no banheiro, retire sua calça e sua roupa
íntima, vista o avental e retorne aqui, depois respondo suas dúvidas,
combinado?
 
Assinto e caminho em direção ao pequeno banheiro, sentindo um frio na
barriga, mas retiro o que ela pediu, cobrindo-me com o avental. Ao sair me
deparo com a sala mais escura, com a iluminação vindo apenas do aparelho.
A médica me convida para deitar na maca e respiro fundo antes de obedecê-
la, deitando-me naquele local frio.
 
— Deixe me adivinhar, você nunca fez ultrassom transvaginal, né? —
pergunta, e eu concordo. — É um exame tranquilo, esse transdutor não vai
te machucar, só relaxa e pensa que é para o seu bem.
 
Solto o ar antes de olhar a médica e dar o okay para ela continuar o exame.
Durante todo o procedimento ela me auxilia e explica, é esquisito em um
primeiro momento sentir aquele negócio gelado dentro de mim, mas logo
me vejo olhando a tela junto com a doutora.
 
— Ah aqui está! — anuncia — O saco gestacional, e dentro dele o seu
bebê, ainda muito pequeno, mas já se desenvolvendo.
 
Com os olhos vidrados na tela, me surpreendo com o que está se formando
dentro de mim, mas ao mesmo tempo, algo bate com força no meu âmago,
sinto minha garganta fechar e meus olhos começam a lacrimejar. Eu sei que
ele ainda está muito pequeno, mas aquela é a confirmação que tem uma
pequena vida crescendo ali, e que ao longo dos próximos meses vai se
desenvolver, até nascer um lindo bebê. A doutora diz mais alguns termos
médicos, mas pelo que parece está tudo bem. Depois de concluir o exame,
fico mais alguns minutos na maca enquanto ela esclarece as minhas dúvidas
antes de ser liberada para trocar de roupa e aguardar minhas imagens na
recepção, onde em torno de 15 minutos elas estarão em minhas mãos.
 
Assim que retorno a sala, Abigail vem ao meu encontro, e eu aproveito para
lhe dar um abraço apertado, tentando controlar as lágrimas de emoção que
querem sair.
 
— Ele está aqui, dentro de mim — digo com a voz embargada em sua
orelha.
 
— E está tudo bem?
 
— Sim, só vou aguardar as imagens — respondo, levando-a até uma
poltrona.
 
— Está emocionada né, amiga? — Ela acaricia minhas costas.
 
— Ele é tão pequenininho, mas mesmo assim encheu meu coração de
expectativa. Não sei como explicar, mas foi uma sensação maravilhosa. Eu
sei que no começo bateu o desespero, mas agora… tudo que eu quero é
cuidar dessa criança — enxugo uma lágrima teimosa que insistiu em cair.
 
— Agora, vamos aguardar pra ver se esse garotão vai ser um guloso! —
Abigail afina a voz falando diretamente para a minha barriga.
 
— Você não sabe se será um garoto — rebato brincalhona.
 
— Meu instinto de tia me diz que teremos um garoto entre nós, com os
olhos do pai, e os cabelos da mãe — pisca, antes de me encarar. — Eu sei
que você sempre foge desse assunto, mas amiga, sério, daqui pra frente
você sabe que não terá mais como esconder essa gravidez do Mike.
 
— Eu vou contar pra ele, Abigail — revelo olhando para o Albert, o jacaré
que é símbolo da nossa universidade na parede da clínica. — Estou me
preparando e escolhendo as palavras certas para lhe dizer que não
engravidei por interesse, que aconteceu quando abusamos da sorte.
 
— Eu acho que se você contar pra ele com jeitinho, ele irá compreender. —
Ela meneia a cabeça antes de continuar. — Mas não adie mais isso, Emma.
Revele antes das nossas férias chegar, não será nada legal ele retornar da
cidade dele, e deparar com você já barriguda.
 
— Farei isso quando nos encontrarmos de novo, preciso de foco para contar
a ele sobre essa notícia. Que estou esperando um filho dele — digo,
alisando a minha barriga devagar.
 
— Tá bom, mas sabe né, não revele mais nada pra ninguém antes de dar
três meses — avisa, relembrando um dos ditados populares. — E assim que
eu voltar da casa dos meus pais, vamos procurar um local melhor para você
e seu bebê. Nosso quarto está fora de cogitação, mal cabe um berço naquele
lugar. — Ela revira os olhos. — Por mim, nem passava as férias na casa dos
meus pais, mas sabe como eles são, é capaz de fazerem uma guerra num
copo d'água. E só estou indo por conta dos meus irmãos. — Os gêmeos,
Jonas e Jessica, de apenas 6 anos, são uma graça.
 
— Durante sua ausência ficarei trabalhando no laboratório, como também
pesquisarei as opções que uma gestante tem em nossa universidade, vou
conversar com a administração, eles vão me dar uma direção. Não precisa
se preocupar com isso. Não vou cometer nenhuma loucura, amiga — pego
em sua mão para acalmá-la. — Vou começar a me cuidar mais, afinal, o
bebê precisa crescer saudável. Não vejo a hora de ouvir seu batimento
cardíaco, ainda está cedo, mas já estou ansiosa. — E decido dar uma dica
valiosa. — Vá ficar com sua família amiga, mesmo que não seja a das
melhores, valorize-os enquanto estão aqui.
 
— Você tem razão, amiga. — Ela aperta minha mão com carinho. —
Também fico feliz que esteja aceitando aos poucos o seu filho, Emma. Pois
sei que você será uma mãe incrível, independente do que o Mike irá dizer,
eu sei que você vai dar conta e continuará sendo fodona, enquanto estuda de
um lado e amamenta de outro. — Isso me faz rir, mas me seguro pra evitar
chamar atenção para nós duas.
 
— Obrigada pelo apoio, quando esse bebê vier, aí sim será uma loucura! —
Já consigo me imaginar com os cabelos literalmente de pé. — Por
enquanto, ele está confortável aqui.
 
Ouço meu nome sendo chamado na recepção, onde me entregam um
envelope e um material para os próximos procedimentos do pré-natal,
marcando o retorno para três meses. Assim que saímos da clínica, abro o
envelope e me deparo com o meu primeiro ultrassom, meu bebê é algo bem
pequeninho, incapaz de distinguir qualquer forma, mas está ali, seguro
dentro de sua bolsa, aguardando crescer. 
 
Abigail olha para o papel com atenção, tão impressionada quanto eu, se ela
ficou assim com uma imagem tão pequena, imagina quando o bebê tomar
forma, e o seu rostinho for visível. Não tenho dúvidas, minha melhor
amiga, será a melhor tia deste mundo para o meu filho.
 
 
Já faz quase duas semanas que não vejo Emma pessoalmente, e estou
morrendo de saudades da minha princesa. Mesmo que a gente converse por
mensagem e faça ligações, não é a mesma coisa, pois quero abraçá-la, beijá-
la, sentir seu cheiro adocicado, amá-la devagar, a sensação que é estar
dentro dela.
 
— Mais depressa, McCoy! — grita o treinador, tirando-me dos devaneios,
conforme corremos em volta do campo debaixo daquele calor abafado da
Flórida. 
 
— Estou pensando em dar um pulo lá no dormitório da Abigail, mal
comecei a namorar e já não tenho tempo de vê-la. Mas hoje, pelo que
parece, o treinador vai nos liberar mais cedo. — Chris comenta me
acompanhando na volta pelo campo. — Quer vir junto pra ver a sua
Cinderela?
 
— Claro! Nossa, eu estou morrendo de saudades da Emma — confesso,
sentindo o suor escorrer pelo meu corpo.
 
— Sem conversinha paralela! — avisa o treinador. — Ou vocês querem que
eu retire o prêmio de vocês de sair mais cedo?
 
— Não, treinador! — dizemos com firmeza, quase como se estivéssemos
em um campo de soldados. 
 
— Ótimo, então finalizem a corrida com mais dez voltas e vão pro
chuveiro! — ordena.
 
O que importa para o futebol americano é a agilidade na corrida e na
defesa.  Temos a força ao nosso favor, mas a corrida é primordial para
marcar pontos. Precisamos controlar nosso corpo para termos uma
capacidade física capaz de suportar uma partida. Hoje o treino, além da
corrida, realizamos saltos horizontais que nos ajudam a desviar de
obstáculos que queiram nos derrubar por baixo, exercícios de direção e
coordenação, arremessos e também exercícios específicos na academia para
cada atleta. E essa semana tem sido assim, com treinos constantes para
deixar nosso corpo ativo, antes das férias de verão.
 
— Lembrando novamente que quem for ficar no campus nessas férias, ou
pretende voltar antes de iniciar o período letivo em agosto, estarei
realizando treinamentos adicionais pela manhã aqui no centro. Quem quiser
se preparar para o início do campeonato, só me procurar — informa o
treinador assim que finalizamos nossa atividade. — Dispensados! E nada de
atrasos, quero vocês cedinho aqui amanhã!
 
Sigo com os outros estudantes para a área de chuveiro do centro. Os
meninos logo se livram da roupa assim que chegam no vestiário, e faço o
mesmo, tudo que desejo agora é um banho gelado.
 
— Caramba, vocês não sabem o quão ansioso estou por essas férias. —
Harry comenta tirando as proteções do pulso. — Essas semanas estão
acabando comigo, preciso urgente de descanso.
 
— Harry, você ainda está no primeiro ano e já está assim? Vai aguentar os
quatro anos? — zoa Chris, recebendo em resposta uma toalha na cara.
 
— Quando iniciei aqui também desejei muito pelas minhas primeiras férias.
— Kyle, que está sentado, diz tirando as chuteiras. — Mas vamos
aprendendo ano após anos que precisamos estar preparados para o
campeonato entre as universidades e sempre mostrando o nosso melhor. O
nosso time já se destaca por fazer parte da NCAA Division I Football Bowl
Subdivision. É a nossa chance para sermos notados e nos tornarmos
prodígios, chamando a atenção dos grandes times. Sabemos que tem um
número limitado de seleção, mas todo ano, a nossa universidade manda
alguém da nossa equipe pra lá, quem sabe algum de nós é selecionado,
tirando o Mike que está no último ano, podemos ter a chance de ter uma
entrada antecipada.
 
— Como vocês fossem o grupinho exclusivo da universidade. — William
aparece de intrometido em nossa conversa ao lado de sua dupla de
capangas. — Claro, o novato que ainda por cima é filho do reitor poderia
dar um jeitinho de aparecer. — Ele aponta para Harry. — Ou quem sabe o
riquíssimo Mike McCoy, que poderia muito bem comprar a entrada de
todos vocês para o Draft. 
 
— Cala a boca, Evans — digo, encarando meu “colega” de classe.
 
— Não gosta que a gente fale de sua família, McCoy? — diz em tom de
deboche. — Você é um dos estudantes mais ricos desta universidade, suas
chances de se destacar em qualquer coisa são enormes, você nem precisa
passar por um Draft, só bater na porta de um time, oferecer um bom
patrocínio pra eles, e em troca você entra. Seja mais humilde, não tire a
oportunidade de outros jogadores.
 
— Você não percebeu o que você acabou de dizer — revoltado, tento me
aproximar, mas Chris segura o meu braço. — Você tem a cara dura de vir
aqui e falar pra mim que eu deveria “comprar” minha entrada em um time! 
 
— Dinheiro move o mundo, McCoy, e se você possui poderes sobre ele, por
que não usufruir? Pra que passar por uma seleção? Você sequer precisaria
de um esforço para isso, só dizer de quem você é filho, e as portas —
encena com um tanto de exagero — automaticamente se abrirão pra você,
diferente de muitos de nós aqui que precisam se esforçar um bocado a mais
pra isso acontecer, ou contar com a sorte. 
 
— Eu não quero entrar num time pagando, Evans. Ou por eu ser de uma
família podre de rica. Eu quero entrar por mérito! — rebato antes dele rir.
 
— Faça-me o favor, McCoy! Tem muitos melhores do que você!
 
— Tipo quem? Você? — retruco. 
 
— Sim, eu! — William apruma o corpo, o sorriso some de seu rosto dando
lugar a uma carranca cheia de sarcasmo. — Vamos combinar aqui, McCoy.
Você só tem essa fama todinha aqui no campus por ser um filhinho de
papai, ops, quer dizer filhinho de mamãe, esqueci que seu papai já morreu.
 
Eu não me controlo, largo dos braços de Chris e dou um soco no rosto de
William que cambaleia para trás. Os garotos começam a me segurar, pois a
minha vontade é de derrubá-lo no chão e socá-lo até vê-lo sangrar.
 
— Lava a sua boca pra falar assim do meu pai! — rosno.
 
— Eu disse a verdade, não é? Que eu saiba, ele não está mais aqui. —
William provoca, mas não consigo me soltar das mãos fortes dos meus
amigos.
 
— Mike, relaxa, não tá vendo que ele quer te causar problemas? — Kyle
diz com firmeza pra mim.
 
— Segue seu rumo, mano! — Chris ordena, encarando o trio na nossa
frente.
 
— Vocês não mandam em mim! — William, que diferente de mim, não
estava sendo segurado, continua a destilar o seu veneno. — O povo aqui
está cansado de vocês serem os privilegiados.
 
— Ninguém é privilegiado aqui, senhor Evans. — O vozeirão do treinador
soa no ambiente atraindo nossa atenção antes de aparecer nos encarando. —
Todos têm a chance de se destacar, isso dependerá apenas de você. Mas
entenda que sempre haverão os favoritos, pode ser aqui, pode ser no futuro
time que você entrar, ou você se torna um, ou a sombra de algum deles. Se
você faz parte do futebol apenas pelo fato de querer popularidade, sinto
muito, mas você está no lugar errado. Se você quer continuar nessa carreira,
terá que aprender a conviver com os populares, mas acima de tudo tem que
estar ali para a equipe, com o foco pra vencer, não pra mostrar os dentes
para uma câmera.
 
William bufa antes de se afastar e seguir o seu rumo, se é que o conselho do
treinador serviu de alguma coisa pra ele. Desde o princípio ele age desta
forma comigo. Ele fez de tudo para se destacar, mas eu estava sempre um
passo a frente, então eu ser o titular pra ele era o cúmulo. A minha imagem
de bad boy surgiu por conta de suas provocações que me descontrolavam,
ele sempre achava um meio de fazer eu perder a cabeça e não era de hoje
que ele apanhava de mim. O problema é que ao invés de parar com o
tempo, foi se intensificando. Eu evitava até certo ponto.
 
— Circulando pessoal! — grita o treinador. — O show acabou!
 
Solto-me dos braços dos meus amigos e sento no banco de frente aos
armários, passando as mãos entre os cabelos.
 
— McCoy, lembre-se do que eu te disse, evite confusões. — O treinador
começa a falar, fazendo com que olhe em sua direção. — Você receberá
muitas provocações na vida porque você se destaca. William não será
apenas o primeiro e nem o último. Infelizmente tem certas coisas que
seremos obrigados a ouvir se não quisermos problemas, seja com um
patrocinador ou com o próprio time. Claro, se acontecer algum tipo de
discriminação, vá atrás dos seus direitos, mas evite discussões como essa, e
essa mania sua de sair socando os outros.
 
Concordo antes de vê-lo se afastar. Começo a tirar a minha roupa, enquanto
meus amigos batem de leve contra meu ombro. Respiro fundo, antes de
seguir para o chuveiro, onde início uma ducha gelada.
 
O treinador tem razão, William não seria o último que irá me provocar a
ponto de testar a minha paciência, muitos ainda virão com esse argumento
para me ferir e me prejudicar. Pelo jeito terei que ir muito além com a
psicóloga, trabalhar melhor esses pontos. Tenho que evitar perder o controle
dessa maneira, principalmente quando eu estiver focado em entrar no Draft,
e muito menos no meu futuro time.
 
Coloco meu rosto embaixo da ducha, sentindo a pressão da água contra a
minha pele. Preciso relaxar pra encontrar a Emma, não quero que ela saiba
o que aconteceu ou perceba qualquer resquício de raiva no meu rosto. Não
quero assustar ou deixá-la preocupada.
 
Finalizo meu banho sem participar da conversa dos demais estudantes e
retorno ao meu armário para me vestir. Olho para a foto minha e do meu pai
na porta, e peço pra ele me dar o controle que necessito para seguir adiante
nessa carreira que é meu sonho, antes de olhar a presilha de Emma junto
com meus pertences. Sem a presença dela nesses dias, resolvi trazê-lo como
meu amuleto da sorte. Coloco no bolso da calça antes de fechar.
 
— Bora Mike! Quero comprar uns chocolates pra Abigail — Chris vem em
minha direção com um enorme sorriso no rosto. 
 
— Boa ideia! — digo, tentando dissipar a tensão que toda essa discussão
me causou. — Cara, só não fala nada pra ela sobre isso, tá bom? 
 
— De boas, mano. — Ele aperta o meu ombro amigavelmente antes de
seguirmos viagem. 
 
Chris para em uma doceria gourmet e escolhemos um kit cada de doces
diferentes, mas que segundo a vendedora são ótimos. Após sair do
estabelecimento seguimos para o conjunto habitacional das meninas, e logo
damos de cara com Abigail, que recepciona Chris pulando em seu colo. É
uma cena engraçada já que ele é bem mais alto que ela.
 
— Sem querer atrapalhar o casal, mas a Emma está aí? — pergunto, me
aproximando dos dois.
 
— Oi, Mike! Então ela deu uma saidinha, foi no centro resolver umas
pendências, mas acredito que daqui a pouquinho ela esteja aí. — Abigail
informa descendo do colo de Cris. — Aqui! — Ela me dá a sua chave. —
Encontre-a no dormitório, vou dar uma escapada com o meu mozão!
 
— Obrigado! — digo antes de piscar pra Chris e seguir rumo a entrada do
dormitório da minha namorada.
 
Sigo para o quarto dela, cumprimentando alguns estudantes com um aceno
de cabeça. Assim que chego em seu andar, vou até a porta e a destranco,
deparando-me com o local organizado e já conhecido. Coloco a sacola com
os doces gourmets sobre a cama dela, enquanto observo a mini estante com
os volumes de mangás, mas um deles chama a minha atenção. Ela tem
vários do anime que estamos assistindo juntos, e pego um para folhear,
deparando com personagens já conhecidos em suas páginas. Até que meus
olhos desviam para uma prateleira abaixo da qual estou olhando, onde um
envelope com o nome “Community Pregnancy Clinics” chama a minha
atenção. Coloco o mangá de volta no lugar e por impulso pego o envelope,
eu sei que isso é invadir a privacidade, mas o nome Gravidez é chamativo
demais para o meu gosto. 
 
Respiro fundo antes de abrir e tirar lá de dentro uma imagem, que é bem
estranha, mas o nome informativo no canto superior faz meu coração
disparar — Emma Steele. 
 
Meu Deus… A Emma está grávida?!
 
O barulho de chaves na porta se torna audível, mas não me importo, pois é
muita informação para eu lidar em um curto período de tempo.
 
— Mike? — escuto sua voz suave, e finalmente me viro em sua direção. 
 
Observo a mulher na minha frente, ela está usando um vestido soltinho, que
é incapaz de definir como está seu corpo, mas os seus seios, ah, os seios
dela estão maiores desde a última vez que nos vimos há duas semanas. Pra
finalizar, em uma das suas mãos uma sacola da Carters, uma loja infantil
muito famosa, está em evidência.
 
— Você está grávida? — pergunto, encarando os olhos amarronzados e bem
assustados dela. Emma balbucia como um peixe, mas nada sai da sua boca.
— Não mente pra mim, Emma!
 
— S-s-sim! — Sua voz é quase um sussurro.
 
— Quem é o pai? — pergunto de forma automática.
 
— Como assim quem é o pai? — Emma arregala os olhos, encarando-me
incrédula. — Você é o pai, Mike.
 
— Não é possível… — desvio meu olhar dela, voltando a olhar o ultrassom
em minhas mãos. 
 
— É possível, porque aconteceu um deslize…
 
— O campo… — digo lembrando de quando nos entregamos no estádio.
 
— Não, no baile — volto a encontrar seu olhar. 
 
As engrenagens do meu cérebro começam a trabalhar, pensando em todos
os pontos daquele primeiro encontro quente que tivemos, estávamos tão
afobados em ter um ao outro que sequer pensamos no preservativo.
 
— Mas eu tirei antes de… — murmuro.
 
— Isso não é garantia de nada, Mike. — Emma tenta se aproximar, mas dou
um passo pra trás, batendo em sua estante, ainda incrédulo com tudo que
está acontecendo.
 
— E você escondeu essa gravidez esse tempo todo? — Minha voz se altera,
sacudindo o ultrassom em minha mão.
 
— Eu não queria que você achasse que eu era uma interesseira. — Sua voz
falha, os olhos enchendo-se de lágrimas. — Eu não queria que você
soubesse dessa forma…
 
— E eu iria saber como? Quando você estivesse com uma barriga enorme
ou com o bebê no colo? — Meu tom sai ríspido, mas pouco me importo,
pois algo dentro de mim se quebrou. — Você escondeu isso de mim,
Emma! Eu confiei em você esse tempo todo! Eu te contei coisas que nunca
falei pra ninguém! E você estava guardando um segredo desse tamanho de
mim?
 
— Mike, eu…
 
— Então foi por isso que você não me procurou. Por isso que você não veio
atrás de mim. — Minha revolta está cada vez mais presente em minha voz.
— Você iria esconder esse filho de mim! 
 
— Por favor, deixe-me explicar — implora com lágrimas escorrendo pelo
seu rosto.
 
— Não quero ouvir mais nada, Emma. — Jogo o ultrassom na cama dela e
saio da sua frente caminhando em direção da porta.
 
— Mike, por favor… — Sua mão segura meu braço, mas desvio do seu
toque. — Eu tinha meus motivos… 
 
— Eu não quero saber! — Minha voz se altera. — Você não confiou em
mim o bastante, Emma! Como quer que eu confie em você agora? — Ela
leva as duas mãos ao rosto desabando em minha frente, mas não vou
consolá-la, pois, ao mesmo tempo, seguro o choro que está preso em minha
garganta. — Se esse filho é realmente meu, vou te dar toda assistência, ele
não ficará desamparado. 
 
— E quanto a nós? — Os olhos vermelhos dela voltam a cruzar com os
meus.
 
— Eu não digo o mesmo.
 
E essa é minha deixa, desvio dela e sigo com passos largos rumo a saída,
não quero que ninguém me veja neste estado, mas a raiva que estou
sentindo faz com que eu feche a porta com um forte baque. 
 
Procuro minha moto desesperadamente, mas lembro que vim de carona com
o Chris. Fecho os punhos, quero gritar, expelir toda dor que meu peito está
carregando, tornando-se mais doloroso a cada caminhada. O excesso de
raiva, me faz chutar uma das latas de lixo, que acerta em cheio uma fileira
de bicicletas. Foda-se se amanhã estarei na rede de fofoca, pois eles não
sabem a dor que estou sentindo, de ter sido enganado desta pela mulher que
amo! Volto a socar uma placa qualquer, meu coração está disparado a um
ponto que fico sem ar, curvando-me pra frente, tentando achar forças. 
 
— Mike! Mike! — ouço alguém me chamar até identificar Chris no meu
campo de visão que está ficando cada vez mais turva. 
 
— Me tira daqui. — Encontro forças para dizer em meio a um ataque de
ansiedade. 
 
— O que aconteceu? — Ele pergunta preocupado, me ajudando a ficar de
pé.
 
— Leva ele, Chris — ouço Abigail auxiliando-o. — Depois eu te explico,
preciso ver a Emma agora. 
 
Chris me leva até seu carro que estava a poucos metros dali. Assim que ele
finalmente sai do estacionamento, eu não consigo mais me controlar e um
choro desesperado e sufocado transborda pelo o meu peito. Meu amigo não
me pergunta nada, e agradeço por isso. Pois tudo que estou sentindo no
momento é uma dor tão forte, que parece que algo foi arrancado de mim de
forma tão brusca, que será incapaz de curar em tão pouco tempo.
 
Eu serei pai... a pessoa que amo terá um filho comigo, mas sua atitude de
esconder uma informação como essa por tanto tempo, deixou-me de
coração partido.
 
 
Ouvir aquelas palavras saindo de sua boca antes de me deixar foi como eu
tivesse levado uma facada irreversível. 
 
Cambaleante me apoio na cama, antes de ser tomada por um choro
compulsivo e doloroso. Meu coração está tão apertado no peito que eu mal
consigo respirar. Olho para o ultrassom jogado sobre os lençóis,
relembrando momentos antes quando esta imagem estava em suas mãos.
 
Estava feito. Eu destruí qualquer chance com Mike. Eu sabia que isso
poderia acontecer, mas imaginar e presenciar são o extremo oposto.
 
— Emma! — ouço meu nome e vejo Abigail na entrada.
 
Levo minhas mãos ao rosto, incapaz de encarar a minha melhor amiga.
Sinto seus braços em volta de mim, abraçando meu corpo contra o seu,
enquanto soluços escapam da minha garganta. 
 
— A-acabou — murmuro enquanto as mãos dela acariciam minhas costas.
 
— Você contou? 
 
— Ele viu o ultrassom — respondo apertando a blusa dela. — Eu só
confirmei.
 
— Aí amiga, desejei tanto que tivesse sido diferente. — Abigail passa as
mãos pelos meus cabelos.
 
— Por que doí tanto? 
 
— Porque você o ama, e amar dói. — Ela beija minha têmpora. — Quem
sabe, depois desse choque, vocês tenham uma conversa e tudo se resolve.
 
— Ele me odeia, Abigail — fungo antes de continuar. — Ele me chamou de
mentirosa. Ele duvidou que esse filho é dele. E eu acabei com qualquer
chance de conversa que poderíamos ter. Agora ele pode até querer a guarda
pra ele…
 
— Não, ele não vai fazer isso — Ela segura o meu rosto, fazendo-me
encará-la. — Não pense desta forma, Emma. Ele não faria isso.
 
— Você não sabe amiga, ele perdeu a total confiança em mim — limpo
minhas lágrimas. — Em nosso relacionamento ele se entregou, me disse
coisas que nunca havia dito pra ninguém, e eu acabei com a confiança dele
em um estalar de dedos. Quem garante que por causa disso, por conta da
minha teimosia em manter essa gravidez em segredo, ele pense que não
serei uma boa mãe…
 
— Emma, para por favor, não pense desta maneira. Ele está magoado e tem
direito de estar, eu estaria no lugar dele! — Ela balança os meus ombros. —
Ele não vai te prejudicar.
 
— Eu não sei mais o que pensar — digo abaixando minha cabeça, sendo
tomada por uma nova onda de choro. — Eu… 
 
Abigail volta a me abraçar, mas sei que essa dor permanecerá por muito
tempo, uma dor parecida com a que senti ao perder os meus pais. Mas essa
situação é bem diferente, pois Mike ainda estará presente na minha vida e,
sobretudo, do nosso filho, mas eu não estarei ao seu lado. 
 

 
GatorsPoison: Whats’up Gators! Fofoca novinha tem que ser compartilhada! Fiquei sabendo por
fontes confiáveis que o nosso queridíssimo bad boy, Mike McCoy, está novamente na pista! Parece
que seu conto de fadas com a tal Cinderela, Emma Steele, não deu muito certo! E aí, quem está
disposta a ser a nova princesa do nosso talentoso quarterback?
 
As notícias voam que nem pássaro, já estávamos na última semana pré
férias e a notícia que mais circulava no campus era que Mike estava
solteiro. 
 
Desde que ele descobriu sobre o nosso bebê, ele se limitou a mandar
mensagens apenas voltando a afirmar que se eu precisasse de algo para a
criança, era pra eu avisar, mas sequer perguntava sobre a minha pessoa. Na
primeira vez eu até tentei puxar papo, mas fui ignorada, insisti mais um
pouco na próxima, mas da última vez eu apenas disse “ok”.
 
Eu odiava esse tratamento, esse jeito frio dele resolver as coisas. Conheci
um lado de Mike que não me agradava, mas eu não podia reclamar, afinal
eu só me tornei uma enorme pedra em seu caminho. 
 
Por mim, me contentei com a realidade, aceitando o fato que fui rejeitada,
mas agora eu precisava seguir com a minha vida e com a de meu filho. Eu
não queria sequer um tostão do dinheiro dele, eu própria poderia me virar e
cuidar desta criança com muito trabalho árduo. Ia ser difícil, mas eu iria me
esforçar e muito para não lhe faltar nada. Foda-se se o pai é magnata, que
pode dar uma vida cheia de luxos, mas comigo viveria na simplicidade.
 
Tiro o post da GatorsPoison da minha frente e estou prestes a guardar o
telefone quando ele vibra e me deparo com uma mensagem de Mike.
 
Mike: Podemos nos encontrar?
 
Mesmo xingando-o há poucos instantes, meu coração dispara no peito com
aquela possibilidade. Ele quer me ver? Não perco tempo e respondo de
volta.
 
Emma: Claro!
 
Mike: Me encontre nesse endereço às 4h da tarde.
 
Ele manda o endereço em uma rua, e eu achando por um momento que ele
poderia me buscar na moto, doce ilusão. Mando um okay antes de entrar no
laboratório e me sentar em frente a uma das banquetas de experimento. 
 
O professor começa a distribuir as provas finais que encerram o ciclo
daquele semestre, e quando vejo as alternativas fico feliz por não estar
perdida. Por conta dos trabalhos adicionais que tive que realizar juntamente
com os oficiais de fim de semestre, eu revi muita coisa, então a grandes
chances de terminar o terceiro ano de Química com notas altas.
 
Começo a realizar a prova com um leve sorriso no rosto, mas não por conta
da avaliação e sim porque finalmente Mike demonstrou interesse em saber a
minha versão dessa confusão toda.
 

 
Paro o carro em frente ao endereço indicado e reconheço a moto de Mike
um pouco mais a frente, mas ela está vazia. Olho para o número na caixa de
correios apenas para confirmar que é exatamente ali onde ele pediu para me
encontrar. Então paro para observar a casa plana na minha frente assim que
desço do carro. Ela é enorme, possui uma grama bem verdinha com
detalhes em pedras e alvenaria, há árvores e palmeiras ao seu redor em um
espaço bem amplo. Aquele local equivale a uma mansão.
 
— Ali está ela — ouço a voz de Mike, e viro em sua direção, encontrando-o
ao lado de uma mulher bem mais velha usando um terninho.
 
— Ah, olá senhorita Steele, sou Glades Stanford, corretora de imóveis, tudo
bom? — Ela estende a mão pra mim, e eu aceito cumprimentando-a. —
Estava mostrando para o seu amigo a parte dos fundos desta maravilha, lá
tem a casa da piscina bem ampla e uma área de lazer com brinquedos e
balanço, é uma casa bem família. Apesar de ter sido construída na década
de 80, ela e os móveis estão em perfeito estado…
 
Sem compreender o que está acontecendo, sigo a corretora em direção à
entrada da residência. Enquanto isso, a mulher continua sua venda, dizendo
todas as qualidades do ambiente, as revisões realizadas antes de colocá-la à
venda, e o que está nas redondezas, enfatizando as escolas. Passeamos pelo
ambiente rústico e, ao mesmo tempo, atual da enorme casa, que tem quatro
quartos, duas salas grandes, e até uma área destinada à academia. Reparo na
piscina e na área de lazer aos fundos da casa. Uma casa confortável, ótima
pra receber pessoas e construir uma família. 
 
— Essa belezura está apenas 850 mil dólares já com a mobília. — O sorriso
da mulher se alarga no rosto. — E por ser um local mais privativo, as
pessoas não vão incomodar um famoso atleta. — Mike retribui o sorriso. 
 
Quer dizer então que ele quer comprar uma casa? Por que diabos ele me
chamou aqui? Me sinto acanhada naquele local, nunca que eu teria todo
esse dinheiro para dar em uma casa, e se ele está comprando por que
escolheu uma tão grande? 
 
Mike conversa com a mulher sobre valores e garantias, enquanto caminho
em direção a um dos quartos, o qual tem o tamanho ideal para um quarto de
bebê. Por um momento, imagino um berço ali e, automaticamente, levo
minha mão à barriga que ganhou mais volume nas últimas semanas.
 
— O que achou? — escuto a voz de Mike, e um arrepio passa por todo o
meu corpo. Como estava com saudades de ouvir a sua voz.
 
— É uma bela casa — respondo ainda sem olhá-lo.
 
— Acha que o nosso futuro filho irá gostar? — Sua pergunta me faz virar
em sua direção, os olhos acinzentados focam nos meus, mas aquele brilho
que eu via quando estávamos juntos, não se encontra mais ali.
 
— Você quer comprar essa casa pra gente? — digo incrédula, tentando
entender por qual caminho as coisas estavam se encaminhando.
 
— Nós não, para o bebê. — O seu tom frio me machuca que nem navalha.
— Podemos morar juntos aqui durante a sua gravidez, afinal é espaçoso e
tem vários quartos, você pode ficar com um deles.
 
Minha boca se abre ainda perplexa com o que havia acabado de escutar.
Meu coração dói com aquela proposta esdruxula que ele acabará de me
fazer. 
 
— E depois? O que você pretende fazer quando ele nascer? — Irritada,
cruzo meus braços. — Me enxotar pra fora e ficar com o meu filho?
 
— Não, eu não faria isso, Emma — responde sério como se eu o tivesse
insultado. — Bom, mal ficarei em casa, quem sabe estarei em um time bem
longe daqui, então essa casa seria mais um endereço de retorno.
 
— Eu não preciso da sua ajuda — digo, me desviando dele.
 
— Como você vai criar essa criança sozinha, Emma? Você já viu o tamanho
do dormitório que você vive? Mal cabe um berço lá dentro! Você me disse
que está endividada, então que futuro você irá dar para o meu filho? —
Suas perguntas me irritam cada vez mais.
 
— Eu vou dar o meu jeito! Farei de tudo para essa criança ter tudo do bom
e do melhor, vou me esforçar pra isso acontecer. Não preciso virar uma
prisioneira em uma casa de favor! — respondo batendo de frente com ele.
Lágrimas se acumulam em meus olhos, seco-as rapidamente de qualquer
jeito, pouco me importando com a maquiagem. — Não preciso da sua
caridade, Mike!
 
Dou as costas pra ele e saiu pisando duro daquele casarão. Extremamente
decepcionada com o posicionamento de Mike perante a minha gravidez. Ele
não entende que a sensação que senti com àquela proposta foi de
incapacidade, como se eu não fosse capaz de cuidar desta criança.
 
Sento-me no volante da picape, que deve ser da mesma época dessa casa,
mas não está tão moderna quanto ela, e respiro fundo, pois minha cabeça
começa a girar. A sensação de tontura me acomete e eu começo a chorar
mais ainda, enquanto apoio minha cabeça no volante.
 
— Emma — volto a escutar sua voz, mas não levanto a cabeça. — Eu só
quero que você pense bem, pense no melhor para o meu filho…
 
— Nosso filho! — corrijo-o quase que rosnando pra ele.
 
— Nosso filho — repete e sinto hesitação em sua voz. — Estou pensando
no melhor, aqui você terá privacidade, é um local calmo e tranquilo, poderá
ir pra faculdade. Tem uma cozinha que você poderá se alimentar de uma
forma mais saudável, um banheiro agradável. Sua gravidez se tornará mais
fácil.
 
— Nenhuma gravidez é fácil, Mike! — encaro-o, pouco me importando
com os meus olhos vermelhos. — Você não sabe o que estou sentindo, o
que estou passando e o que irei passar! — Ligo o motor do carro que ronca. 
 
— Eu posso te dar uma vida menos complicada, eu só peço que pense
melhor a respeito dessa proposta.
 
Encaro-o com minha melhor expressão de repulsa e acelero fazendo ele se
afastar da janela do carona. 
 
Não digo mais nada e saiu com o carro. Uma proposta de viver dentro da
mesma casa do homem, o qual magoei e que vai me ignorar, é demais para
o meu coração. Mas mesmo irritada com tudo, em partes ele tem razão,
morar ali durante o período de gravidez e nascimento seria muito melhor,
pois onde resido não tem condições, e eu estaria atrapalhando Abigail. O
problema será o depois, como vou conseguir lidar morando em uma casa
que não é minha? Com alguém que me despreza? Terei condições de
suportar essa vida com o homem que amo, sendo frio e distante todos os
dias?
 
Dizem que quando se é mãe, temos que fazer certos sacrifícios pelos nossos
filhos, mas eu estou disposta a aceitar essa proposta e viver infeliz? 
 
 
Vê-la depois de semanas foi um grande baque pra mim. Achei que depois
de toda raiva que senti nos últimos dias, no momento que eu a
reencontrasse, ela seria indiferente, mas não foi bem isso que aconteceu,
aquela ferida que ainda estava tentando se cicatrizar voltou a doer, e muito. 
 
Posso ter sido duro com ela, e invasivo, dando aquela proposta de
morarmos juntos tão de supetão. Mas eu quero ajudar, mesmo que ela tenha
me machucado de várias formas escondendo esse segredo. 
 
Desde aquele encontro não nos falamos mais, e agora dentro deste avião
rumo a minha casa em Boston me vejo em uma encruzilhada com essa
reviravolta que aconteceu em minha vida. 
 
Nas últimas semanas eu me foquei no treino e nas provas finais, foi difícil,
mas bloqueei minha mente para esse assunto para conseguir lidar com tudo
isso. Porém, bastava chegar no meu dormitório e olhar no meu reflexo, que
eu enxergava o quanto estava destruído. Meus amigos estranharam, mas
acredito que Chris tenha dito algo pra eles, e nenhum deles tocou sequer no
nome dela. 
 
A única pessoa que veio encher meu saco foi a Hailey, que fez questão de
dizer na minha cara que estava certa o tempo todo. Mas deixei ela falando
sozinha, pois eu não estava em condições de discutir.
 
A ideia da casa foi de supetão, pois enquanto pesquisava sobre algumas
informações na internet e me deparei com anúncios de casas a venda, então
a ideia de ter um local em Gainesville surgiu. Pesquisei várias casas até me
deparar com aquela, e por um momento, imaginei nós três naquele local.
Marquei com a correntista e no final deu no que deu. Mesmo com a rejeição
de Emma, eu segui com a ideia, e ainda estava resolvendo as papeladas.
Mas a casa era minha, e mesmo que eu negasse pra mim mesmo, torcia pra
que ela voltasse atrás e aceitasse a proposta. Mesmo que fosse
desconfortável pra mim e pra ela, era o melhor a ser feito, eu estaria
presente e ela não estaria sozinha.
 
Ouço o aviso do piloto informando que iremos pousar em breve e que é pra
todos afivelarem os cintos e colocar a cadeira na posição correta. Ajeito-me
no jatinho particular da família enquanto meus olhos focam na cidade cheia
de prédios que é Boston logo abaixo de mim.
 
Não sei como vou dar a notícia a minha mãe que ela será avó,
principalmente após me orientar tanto para não engravidar ninguém, e
mesmo assim aconteceu. Ela deve ficar louca comigo por cometer um
deslize desses. Mas o deslize não foi com qualquer uma, foi com a Emma, a
mulher que por mais que eu tente negar a mim mesmo, eu ainda a amo,
mesmo que ela tenha enfiado uma faca em meu peito.
 
Sinto um pouco de pressão no momento do pouso, mas estou em segurança
no chão. Aguardo mais alguns minutos até estar estacionado, para a bela
comissária de bordo me autorizar a saída. Senti seus olhos em mim durante
toda viagem, em outros tempos teria pegado ela de jeito no banheiro, mas
hoje não senti nenhum tesão por ela.
 
Levando apenas uma mochila e uma bagagem de mão, desço do jatinho
particular e logo vejo o carro de minha mãe me esperando no local, mas
apenas o tal Leon está me aguardando, o que acho estranho, pois minha mãe
sempre vem me recepcionar.
 
— Boa tarde, senhor McCoy. — Leon cumprimenta em tom formal.
 
— Olá, Leon, onde está a minha mãe? — pergunto sem dar voltas.
 
— A senhora McCoy está resolvendo uns problemas na empresa, ela pediu
desculpas por não conseguir vir buscá-lo, então ela me mandou aqui.
 
— Você deveria estar do lado dela, principalmente com problemas
acontecendo naquele lugar, e você sabe disso — digo abrindo a porta de trás
da Mercedes. — Me leve até ela, preciso ver o que está acontecendo na
minha ausência. 
 
Leon assente e entra no carro, partindo em direção ao prédio da Sports
Advanced. Observo a cidade movimentada entre carros e prédios, algo
muito diferente de Gainesville que tem prédios medianos em comparação às
arranhas céus daqui e o seu jeitinho de cidade do interior.
 
— Seja sincero comigo, Leon — digo devagar sem olhar para o retrovisor.
— Você está saindo com a minha mãe?
 
— Senhor…
 
— Me chame de Mike! — Interrompo-o. — Não vou brigar com você se a
resposta for sim. Faz muito tempo que ela não se interessava por ninguém.
A morte do meu pai foi difícil, e acredito que pra não me magoar ela
evitava demonstrar para mim como estava a sua vida pessoal. E minha mãe
faz isso até hoje, mesmo eu sendo adulto — respiro fundo. — Okay, ela tem
suas razões de manter a discrição, mas agora com essa situação dos meus
tios estarem no pé dela — balanço a cabeça. — Ser rico tem suas merdas.
 
— A Ava anda apreensiva. — Leon diz o nome da minha mãe, e esse gesto
sequer precisa de uma explicação, pois comprova que eles estão realmente
tendo algum lance. — Seus tios não a deixam em paz. Eu acho que ela está
se afundando cada vez mais no trabalho, e isso não está fazendo bem a ela.
 
— Certos familiares ao invés de ajudar apenas pioram tudo — fecho os
punhos. — Minha mãe quer manter essa empresa do meu pai, mas pelo jeito
com essa intromissão dos meus tios, e eles tendo a liberdade de ir e vir nas
decisões, eles continuarão transformando a vida dela num inferno. O que eu
não entendo, porque depois de todos esses anos, com minha mãe no
comando, eles resolveram encher o saco, sabe?
 
— Eu não venho de uma família rica, muito pelo contrário. — Leon para
em um farol. — Mas de uma coisa eu sei nessa vida, quando você começa a
se destacar, os invejosos aparecem com força. Eles não vão torcer pelo seu
sucesso, eles vão querer que você caia, mas não caia pra reerguer, caia e
permaneça lá.
 
— Faz todo sentido — digo, refletindo. — A nossa empresa começou a
ganhar mais destaque nos últimos cinco anos, minha mãe conseguiu fechar
parcerias grandes com universidades e alguns times. O nome foi ficando
mais forte, as pessoas passaram a associar a marca à empresa. E então,
meus tios que não opinavam tanto começaram a arregaçar as mangas.
 
— Provavelmente ao observar os patamares que sua mãe estava chegando
com a empresa, e por nunca terem gostado dela, passaram a exigir muito
mais. — Leon me olha através do retrovisor antes de focar no trânsito. —
Não fale pra ela que eu te disse essas coisas, mas eu sinto que a Ava está
infeliz com essa situação. E ela está com medo, um dos seus tios tem
passado dos limites. Eu só a deixei sozinha porque ela estava com a Karen,
pedi pra ela não sair de perto dela até eu voltar. Desculpe o termo — vejo-o
apertando o volante do carro com força —, mas o desgraçado do seu tio deu
pra aparecer no escritório todos os dias, como que para atazanar a mente e o
sossego dela.
 
— Porra! — soco o banco me lembrando da cena que vi durante o Orange
& Blue Game. — Ela deve estar sendo ameaçada por ele ou sendo
chantageada.
 
— Ela não fala disso pra mim, acho que tem medo de que eu faça algo e
denuncie pra ele o que temos. — Ele respira fundo antes de falar. — Mas
um dia o vi conversando com ela de uma forma muito intimidadora.
 
— Precisei colocá-lo contra a parede e de hoje não passa — digo com raiva
assim que entramos na avenida que dá acesso à sede da empresa. —
Precisarei da sua ajuda, Leon.
 
— O que for preciso para afastá-lo dela eu o farei — diz com convicção, e
eu começo a contar meu plano no momento que entramos no
estacionamento do prédio que estou acostumado a visitar desde pequeno.
 
Depois de conversar com Leon, subimos para o andar onde fica a
presidência. Alguns funcionários antigos me cumprimentam pelo caminho,
antes de seguir para sua sala, encontrando-a com Karen enquanto analisam
alguma coisa no notebook através das paredes de vidro, bato de leve antes
de abrir uma frestinha.
 
— Atrapalho? — pergunto, fazendo-a levantar os olhos da tela.
 
— Mike! — Ela se levanta num pulo antes de abrir os braços em minha
direção. Minha mãe diferente de dois meses atrás está bem mais magra, e o
brilho em seu olhar simplesmente apagou, tudo que vejo é uma mulher
muito cansada. — Desculpe não ter ido buscar você. — Seus braços me
agarram afundando seu rosto contra os meus ombros. — Como você está,
querido?
 
— Estou bem! — dou meu melhor sorriso, não quero trazer mais
preocupações para quem já está afundada nelas. — Trabalhando muito?
 
— Ah, tenho que apresentar alguns relatórios de última hora. — Minha mãe
passa as mãos pelos cabelos, tentando achar uma postura. — Desculpe estar
sem tempo pra ti.
 
— Magina, vou dar uma volta com o Leon pela empresa, faz tempo que não
venho aqui — digo acariciando seu belo rosto. Ela olha para o guarda-
costas com carinho antes de assentir.
 
— Juro que vou terminar quanto antes para jantarmos juntos. — Ela segura
minha mão, dando um leve beijo antes de voltar para frente do computador.
 
Saiu com o Leon da sala da minha mãe, e com uma expressão plena sigo
em direção à varanda ampla do último andar do nosso edifício, onde uma
área arborizada se encontra, dando um verde em uma cidade que sempre
tem um pé de árvore em suas ruas. Leon não me segue, desviando para uma
sala onde o desgraçado do meu tio se encontra. Admiro o Rio Charles que
passa pela cidade, antes de ouvir a voz estridente de Viktor McCoy.
 
— De volta a Boston, Mike! — Viro-me encontrando o homem
desagradável a poucos metros. — Está de férias daquela faculdade fajuta? 
 
— A minha universidade não é nada fajuta, tio, com todo o respeito.
 
— Nada supera a Harvard — rebate com o seu senso de arrogância. — E
fica bem pertinho daqui.
 
— Bom, tio, não quis seguir a carreira dos negócios como o senhor —
coloco as mãos nos bolsos de forma descontraída.
 
— Decidiu ser um atleta, e acho que está contando com a ajuda da sua mãe
para ter um ótimo patrocínio. — Ele imita a minha posição e um sorriso
expande no meu rosto.
 
— Pelo que eu saiba, essa empresa é do meu pai, ou seja, ela é minha. —
Vou direto ao assunto. — Por que o interesse de vocês nessa empresa tão de
repente, tio?
 
— Apenas queremos que ela alcance novos patamares.
 
— Se queriam tanto que ela chegasse a novos patamares, porque no passado
vocês, mesmo sendo sócios, davam o mínimo? Parecia que estavam
desejando que ela falisse ao invés de prosperar — aproximo-me dele. —
Por que somente agora começaram a olhar pra uma empresa de “esportes”
com tanta atenção? Afinal, essa não é a única empresa no catálogo da
família McCoy.
 
— Enxergamos um potencial. O mercado esportivo vem crescendo ano
após ano — responde sem se abalar.
 
— Então, se a empresa está prosperando tão bem, por que insiste tanto em
ir contra a minha mãe? Ela que vem cuidando dela por anos desde a morte
do meu pai, esse crescimento e sucesso que a Sports Advanced tem é por
causa dela. — Cruzo os braços mantendo uma postura de confiança.
 
— Sua mãe já deu o que tinha que dar, se quisermos alcançar novos
horizontes precisamos de outro CEO mais jovem, preparado e com grande
visão para chegarmos a um nível igual ou superior de marcas muito
conhecidas. — Ele apruma o corpo querendo mostrar confiança.
 
— Acredito que já tenha um nome a indicar, não é mesmo, tio? —
questiono o encarando.
 
— Bom, sempre pensamos que você seria o sucessor de seu pai, que
cuidaria deste império que ele deixou para trás, mas você escolheu outro
caminho. Toda empresa McCoy precisa de um pulso firme, de um pulso
masculino para lidar com os negócios, e meu filho Patrick poderia ser um
ótimo nome para cuidar deste local.
 
Bufo completamente indignado pelo que acabei de ouvir. Patrick terminou a
pouco tempo a universidade de negócios na Harvard, ele nunca sequer
trabalhou na área antes e agora meu tio quer dar de bandeja um cargo
altíssimo e de extrema competência para ele?
 
— Você só pode estar zoando! — seguro o riso. — O Patrick é capaz de
afundar essa empresa!
 
— Olha a boca, moleque!
 
— Moleque? Você ficou maluco, tio? Patrick ainda está colocando em
prática tudo que aprendeu na universidade. Ele ainda tem muito a aprender,
não é justo ele simplesmente pular do patamar em que está para ser CEO de
uma empresa em ascensão! — respondo revoltado.
 
— Eu o ensinaria tudo! — rebate. — Ficaria ao seu lado administrando isso
aqui.
 
— Meus outros tios sabem dessa maluquice? Eles estão apoiando essa ideia
absurda? — Volto a encará-lo, mas vejo ali um vacilo.
 
— Não, mas vou convencê-los.
 
— Como? Inventando mentiras sobre a minha mãe? Dizendo que ela não é
capaz de cuidar da Sports Advanced? E que no lugar dela, uma profissional
de mais de 10 anos de mercado, que vem carregando essa empresa nas
costas, você quer que eles aceitem um CEO inexperiente? — O confronto
com mais perguntas.
 
— Muito melhor, pois será um McCoy que estará comandando esse lugar!
— Seu rosto fica vermelho.
 
— Ela também é uma McCoy! — revido.
 
— Essa vagabunda nunca deveria ter colocado esse sobrenome em primeiro
lugar! Meu irmão foi um trouxa em ter se casado com uma funcionária de
quinta categoria, sem qualquer honra, apenas para desestabilizar a nossa
família. — Ele parece estar prestes a espumar pela boca. — Você se
vangloria que é filho do meu irmão, mas será mesmo? Meu irmão nunca fez
DNA, dizia que você era filho dele sim, mas ninguém explica por que ele
foi se casar com sua mamãe que já estava buchuda depois de ter
simplesmente desaparecido da vida dele. Quem te garante que você é filho
de outro qualquer e meu irmão te assumiu?
 
Ouvir aquelas palavras pegam-me completamente de surpresa. Ele deve
estar mentindo… só pode ser! Sinto uma leve vertigem, mas fecho os olhos
para me estabilizar sobre meus próprios pés.
 
— Ah, sua mamãe nunca te contou essa história? — Meu tio debocha com
um sorriso de canto.
 
— Theo McCoy sempre foi meu pai! — digo entredentes.
 
— Ou foi o que eles fizeram você acreditar? — Seu ar superior tenta me
afetar, mas mantenho a postura, não vou me rebaixar perante a essa
acusação. — Uma pena que não podemos te tirar do testamento, pois meu
irmão deixou bem claro para quem seria os seus bens. Você ainda terá seus
ganhos por parte desta empresa, mas ela não é exclusividade sua, rapaz. E
que eu saiba, a parte da minha família é a que tem muito dinheiro. — Ele
bate no meu ombro antes de se afastar.
 
Quando ele desaparece do meu campo de visão, preciso me apoiar em um
banco próximo, pois percebo que estou prendendo a respiração ao mesmo
tempo em que o veneno do meu tio penetra em minhas veias, fazendo-me
rever todas as minhas crenças sobre meu pai e minha mãe.
 
— Gravei tudo! — ouço Leon se aproximando, mas não o encaro.
 
— Você sabe alguma coisa sobre o que ele disse?
 
— Não, sua mãe nunca falou sobre isso, e ele pode estar mentindo, Mike.
— Ele até tenta me tranquilizar, mas as frases do desgraçado do meu tio
continuam a reverberar pelo meu consciente, enquanto me faço as seguintes
perguntas:
 
Será que o que ele disse é verdade? 
 
Será que meu pai é realmente meu pai de sangue? 
 
Minha mãe mentiu todos esses anos pra mim?
 
 
— Amiga, como eu queria que você viesse junto comigo! — Abigail me
abraça forte. — Mas você sabe como são meus pais com visitas sem ser da
família…
 
— Vão me fazer mil perguntas, vão querer que eu revele sobre sua vida
aqui — digo acariciando suas costas.
 
— Exatamente! — Ela me afasta segurando-me pelo ombro. — Mas como
eu te disse, eu retorno antes das férias acabarem pra gente procurar um
lugar maior pra ficar.
 
Eu não contei pra ela sobre o episódio com o Mike, não queria que ela me
fizesse aceitar aquela proposta absurda. Então empurrei essa informação
para o mais fundo da minha mente. Se Mike acha que vai me comprar, está
enganado. 
 
— Vê se não abusa no trabalho do laboratório — orienta, pegando a
mochila da cama. — Nada de cair.
 
— Vou ficar bem, Abigail — asseguro, apertando seu braço. — Os dias vão
passar rápido.
 
— Por mim, nem iria pra casa dos meus pais, mas se eu não for…
 
— Eles são seus pais, amiga — interrompo. — Mesmo que eles sejam um
pé no saco. Aproveite enquanto eles estão aqui, pois… — Minha garganta
fecha.
 
— Não precisa falar. — Ela segura minha mão. — Antes que a gente
comece a chorar, vou indo, pois a estrada até o Alabama é longa. 
 
— Boa viagem amiga, e muito cuidado com a rodovia — digo,
acompanhando-a até a porta dando-lhe um último abraço.
 
Vejo a sumir pelo corredor antes de voltar para o quarto. É a primeira vez
que ficarei no campus em plenas férias. Geralmente nessa época do ano eu
já estava em Miami. É…  uma dorzinha bate no peito em saber que nada me
espera por lá. Então, apenas observei os demais estudantes pegando seus
carros e partindo rumo às suas casas, ficando pouquíssimos no campus,
dentre elas, eu.
 
Vou até a minha gaveta, onde comecei a montar aos poucos o enxoval do
meu filho com cores neutras. Sempre que vou à cidade resolvo ver
promoções em lojas, e encontro roupinhas lindas que podem ser utilizadas
tanto em meninas como em meninos. Também aproveitei pra comprar
utensílios como chupeta e mamadeira. Em cima da estante coloquei meu
novo presente que Abigail fez questão de me dar no início dessa semana,
um berço estilo moisés, é como se o bebê ficasse num cesto bem decorado,
mas com as cores creme e marrom. Eu amei a delicadeza e poderia ser
perfeito nos primeiros seis meses do bebê.
 
Além de trabalhar no laboratório, o qual iniciarei amanhã, fiquei de ir às
reuniões no grupo de apoio às novas mães que será toda quarta-feira. Lá
terá o apoio emocional, como também aulas dos primeiros cuidados, os
quais achei essenciais, pois não tenho nenhuma experiência com bebês e
minha mãe não está aqui pra me auxiliar. 
 
Minha barriga entrou no terceiro mês de gravidez, então teve alguns
momentos que vi alguns olhares em mim, principalmente no banheiro
coletivo. A falta de privacidade é complicada, a vontade de ir ao banheiro
duplicou e nesses momentos apenas queria ter um banheiro particular. Não
duvido que assim que acabassem as férias o GatorsPoison iria revelar pra
todo mundo que engravidei do quarterback.
 
Mas não me importo mais com que eles irão dizer, pois somente eu posso
lidar com a minha vida. Darei o melhor pra criar meu filho, mesmo que
outros me julguem.
 
Vou até o meu pacote de alcaçuz em cima da mesinha de cabeceira e
começo a comer. A vontade de me alimentar substituiu os enjoos matinais,
cada dia quero comer um snack diferente, e por conta disso acabei
comprando um bom estoque no supermercado. Mas claro que não substitui
por coisas saudáveis, eu precisava manter uma alimentação adequada, não
queria que o meu bebê necessitasse de vitaminas só porque não me
alimentei direito.
 
— Vai dar certo, bebê — digo alisando o volume em minha barriga. —
Vamos fazer dar certo. Eu prometo pra você. Eu não nego que queria que
seu pai estivesse conosco. Quer dizer, ele disse que vai estar, mas nós não
estamos nada bem. Mike foi até atrás de uma casa pra você, ela é enorme!
Você terá total liberdade pra brincar lá quando crescer, tem até piscina! Mas
eu não vou conseguir conviver com ele na mesma casa nessa situação que
nos encontramos, sabe — enxugo uma lágrima. — Eu o amo, e vai ser
difícil pra mim vê-lo todos os dias, sabendo que não posso tocá-lo, que
seremos dois completos estranhos em um teto — respiro fundo. — Pode ser
que você me odeie, diga que onde vivemos é pequeno demais, que você
prefere a casa do seu pai, mas eu vou me tornar uma grande cientista, capaz
de ganhar um salário que não nos deixará na mão, e quem sabe você terá
orgulho de mim. Eu te amo, bebê. 
 

 
Solto a respiração antes de entrar no laboratório, o avental antes justo ao
corpo, agora deixa evidente mais ainda a barriguinha de grávida.
 
— Boa tarde! — digo sorrindo para o jovem rapaz que está analisando uma
amostra.
 
— Olá! — Ele se afasta do microscópio e percebo o quão atraente ele é.
Seus traços lembram o povo latino. — Você deve ser a Emma Steele? — Eu
confirmo com um aceno. — O professor Jackson me disse pra recepcioná-
la, prazer sou o Alexandro Sanchez, sou assistente integral aqui do
laboratório.
 
— Prazer, Alexandro — aperto sua mão. 
 
— Quantos meses? — Ele diz apontando o queixo para a minha barriga. —
Desculpe ser direto, mas minha esposa também está grávida, então…
 
— Estou no terceiro mês — respondo, acariciando-a.
 
— Depois do terceiro é um pulo! A minha esposa está no sexto mês, mas
parece que foi ontem que estávamos no terceiro. — Ele ri antes de seguir
até uma área de materiais de laboratório. — Sua primeira tarefa será
verificar quais estão bons para serem utilizados ainda, e o que precisa repor.
Afinal, no próximo mês receberemos novos alunos. 
 
— Certo! — digo, olhando vários materiais. 
 
— Bem-vinda, Emma! — Ele diz antes de voltar a se sentar em sua
bancada.
 
— Obrigada, Alexandro — sorrio em sua direção antes de encarar tubos de
ensaios, balões, cápsulas, funis, entre outras coisas. 
 
Vou dar o meu melhor neste trabalho de meio período, ao mesmo tempo
espero aprender muito a favor da minha carreira, para que desta forma
alcance novos patamares, mostrando que já adquiri experiência.
 
O tempo passa tão rápido que mal percebo que as horas já foram cumpridas,
mas não me importo de continuar mais, já que não tenho muito o que fazer
no laboratório. Fico na presença de Alexandro e do professor Jackson
absorvendo o que eles têm a me ensinar, o que torna a tarde bem divertida e
cheia de aprendizados.
 
Quando finalmente saímos do laboratório, sigo para o meu carro gratificada
com a possibilidade que esse trabalho vai me abrir muitas portas. Só que ao
chegar perto da minha velha picape, vejo uma figura ruiva encostada ali:
Hailey.
 
— Aí está você! — Ela diz cruzando os braços, antes do seu olhar me
encarar de cima a baixo. — Então os boatos são verdadeiros, você
engravidou do Mike. — Seu olhar para em meu ventre, e a minha vontade é
protegê-lo.  
 
— O que deseja? — pergunto, estranhando por que uma mulher tão popular
como ela está no campus naquelas férias.
 
— Sabe, eu sempre quis entender por que o Mike nunca quis nada além de
sexo comigo. — Ela enfia as mãos nos bolsos da calça. — E quando você
surgiu na vida dele pareceu tão fácil...
 
— Pode ter certeza que não foi, Hailey. — Seu olhar volta a encontrar o
meu. — Eu gostava do Mike antes mesmo dele me conhecer. Foram anos o
admirando apenas de longe. Nunca fui uma garota de atitude como você.
 
— Uma atirada como eu, você quer dizer — rebate.
 
— Prefiro atitude.
 
— Enfim, me surpreendi com ideia de que Mike vai virar pai, sendo que ele
sempre tomou todos os cuidados comigo. — Ouvir aquilo não me agrada
nem um pouco, mas engulo meu orgulho. — A surpresa maior foi o fato de
vocês terminarem, com você nessas condições. Ele também te rejeitou?
 
— Dei motivos pra isso.
 
— Hm, por mais que eu não tenha conseguido fazer ele me amar, só fui
perceber que era um mero objeto sexual dele durante os últimos meses
quando nos separamos. — Ainda há um resquício de dor e mágoa em seu
olhar. — Eu sei muito bem o que é ser rejeitada. Ou ser titulada por nomes
dado por pessoas que sequer me conhecem. Enfim, espero que você supere
e arranque até as cuecas dele, se for possível, em um tribunal.
 
Engulo em seco assim que ela passa por mim e vai embora deixando o
ambiente pesado. Entro no carro pensativa depois daquela conversa.
 
O pior de tudo isso, é que ela tem razão, todo mundo ali vai começar a me
rotular, vão me chamar de oportunista e que engravidei dele por interesse.
Sinto meus olhos encherem de lágrimas, mas engulo o choro, não posso me
deixar abater. Ligo a picape e saiu dali, tentando afastar os pensamentos que
querem me consumir.
 
Dirijo sem um rumo aparente, até que reconheço uma entrada da trilha que
me leva até o centro de contemplação, e decido estacionar. Tiro meu jaleco
e desço do carro, seguindo para a trilha, lembrando do dia que Mike me
trouxe até aqui.
 
Encaminho-me para o local rústico que tem suas portas abertas, e me sento
nos últimos bancos, enquanto tento encontrar uma paz interior. Fecho os
olhos por um momento apreciando o silêncio, enquanto tento aquietar a
minha mente. 
 
Eu queria que as coisas tivessem sido diferentes, mas também tinha
consciência da consequência de guardar um segredo como aquele do
homem que eu me apaixonei a distância, e o qual engravidei por total
descuido.
 
Ele não deveria ter procurado por mim e hoje não teríamos esse problema.
Eu guardaria esse segredo pra sempre, mesmo que o bebê me odiasse por
isso. Mas a vida me fez tomar caminhos diferentes, e o que era pra ser
apenas um assunto particular meu, agora ganhou proporções. 
 
Não quero que minha gravidez vire alvo de chacota na faculdade, que diga
respeito apenas a mim e ao Mike, mas quando você se torna mãe do filho de
um bad boy popular que ainda por cima é quarterback, aí fica mais difícil. 
 
Solto todo o ar dos meus pulmões, tentando me conectar com a fé ainda
presente dentro de mim, peço que me guie para a melhor opção, e que eu
aguente o tranco da maternidade. Que mesmo separados, Mike também
aguente a sua paternidade.
 
Meu celular começa a vibrar no bolso, tirando-me da concentração, e olho
de relance para o identificador, e vejo o nome de Mike. O que ele quer
comigo em plenas férias? Levanto-me do banco e saio do local para atendê-
lo em uma área mais reservada.
 
— Mike? — atendo, mas antes de ouvir sua voz, escuto sua respiração, e eu
sei que tem algo de errado — Mike, aconteceu alguma coisa?
 
— Apenas escute — Ele sussurra com a voz embargada, e é exatamente
isso que eu faço.
 
 
(Duas horas antes)
 
Observando as fotografias da nossa família espalhada pela sala de estar,
noto que compartilhamos diversos momentos juntos, dos quais alguns eu
me lembro. Meus pais em todas elas demonstram estar apaixonados e
vivendo o melhor momento da vida deles.
 
Até que paro em uma delas, lembro perfeitamente deste dia, e eu só tinha 8
anos. Estávamos no rinque de patinação do Boston Common, vestidos com
roupas fofas para nos aquecer do inverno rigoroso. Cada um estava do meu
lado, segurando minhas mãos sobre aquele mundaréu de neve. Era a
primeira vez que eu ganhava um patins e eles foram me ensinar a andar.
 
— Relembrando os velhos tempos? — Minha mãe aparece, devolvo a foto
no lugar. 
 
— Queria ter compartilhado mais momentos assim — digo antes de me
virar pra ela.
 
— Você anda meio estranho nos últimos dias filho, aconteceu alguma coisa
na universidade? — Ela cruza os braços, os olhos verdes focados em mim.
 
— Mãe… — tento encontrar palavras pra lhe dizer. — Eu só quero que me
fale a verdade…
 
— Verdade? — confusa, ela volta a se aproximar. — Que verdade?
 
— Meu pai… Theo McCoy… é realmente… meu pai? — digo devagar, até
encontrar o olhar dela.
 
— Mas é claro que ele é! Como você pode dizer uma coisa des… — Ela
para de falar no mesmo instante. — Foi o Viktor né? O que ele te disse?
 
— Que eles não têm certeza de que sou filho dele — respondo me sentando
na poltrona. 
 
Minha mãe se aproxima de mim, sentando-se na poltrona ao meu lado. Ela
respira fundo antes de começar.
 
— Antes do que vou lhe contar, Theo sempre foi e sempre será o seu pai.
Independentemente do que os outros falem. — Suas íris verdes me olham
com atenção. — Quando conheci seu pai, eu era apenas uma estagiária. A
Sports Advanced ainda estava começando e eles estavam em busca de
mentes abertas. Mesmo seu pai sendo 10 anos mais velho do que eu, eu
admirava a sua força de vontade em fazer a empresa crescer e os patamares
que ele queria alcançar. — Ela olha em direção a um dos porta-retratos. —
Minha admiração por ele foi crescendo, ao ponto de me ver interessada
emocionalmente. Até que tomei uma iniciativa e o chamei pra almoçar
comigo. Depois disso, começaram mais encontros, e ele declarou que
também gostava de mim, então começamos a namorar, mas sem dizer para
as pessoas, queríamos manter o sigilo. Nos encontramos várias vezes, e
acabei engravidando dele, mesmo tomando todos os cuidados, foi durante
uma afobação que esquecemos de nos prevenir. 
 
Ela passa as mãos pelo cabelo, sua expressão de sonhadora apaixonada se
modifica, como se aquela lembrança não fosse nada agradável.
 
— Eu sabia da fama da família McCoy. Eles eram tradicionais demais, que
nunca aceitariam uma mulher como eu, vindo de uma classe mediana em
seu ciclo familiar, muito menos grávida antes do casamento. Então, eu optei
em esconder a gravidez, deles e do seu pai — Meus olhos se arregalam com
tal revelação. — Com a dor no coração, eu peguei meus poucos pertences e
me mudei de cidade, sem deixar nenhuma evidência para o seu pai. Aquilo
machucou minha alma, mas foi necessário. 
 
Ouvir aquilo faz meu cérebro trabalhar na velocidade da luz. Minha mãe
escondeu a gravidez do meu pai, exatamente como a Emma escondeu a dela
de mim?!
 
— Mas seu pai não se conformou com o meu sumiço e começou a me
procurar. Ele queria tentar entender porque fui embora sem lhe dizer nada.
E ele me encontrou, 6 meses depois, morando em um trailer. — Ela ri, mas
não de felicidade, e percebo que seus olhos começam a lacrimejar. — Eu
estava com uma barriga enorme e vivendo uma merda de vida. Por um
momento ele achou que eu tinha me casado com outra pessoa, constituído
família e seguido em frente, mas tomei coragem e disse que não, e que ele
era o pai daquela criança. Eu estava infeliz, tinha me arrependido de não ter
falado nada pra ele, mas não tinha como eu voltar atrás e dizer que ele seria
pai. Mas ele me encontrou, senão até hoje poderíamos ter levado uma vida
bem diferente, filho.
 
Meus olhos se enchem de lágrimas. Levo as minhas mãos em direção ao
rosto, mas a emoção toma grandes proporções e me pego caindo no choro.
Meu pai não desistiu da minha mãe em momento algum, ele foi atrás da
mulher que ama e não parou até encontrá-la, sendo pego de surpresa com
aquela notícia.
 
— Desculpa não ter contado isso, querido. — Sua voz se torna trêmula. —
Não queria que você soubesse essa parte. Pois seu pai, independente dessa
escolha que eu tenha feito, amou você loucamente. Eu sei que o
impossibilitei de viver os primeiros momentos da gravidez, mas ele foi o
melhor pai do mundo. — Sinto suas mãos segurarem a minha, apertando-a
com carinho. — Viktor falou merda porque seu pai casou comigo ainda
grávida. A família "perfeita" dele não aceitou essa “desonra” e achou desde
o início que ele tinha me assumido assim. Mas o Theo é seu pai de sangue,
e mesmo que não fosse, ele cuidou e amou você como ninguém. Ele sempre
será seu pai.
 
— Então feri a memória dele — digo limpando o rosto com força. — Em
acreditar em uma barbárie dessas… e não seguir o seu exemplo.
 
— Como assim? — Ela se aproxima afagando meu ombro.
 
— Estou passando por uma situação parecida, mãe — confesso antes de
virar meu rosto e encará-la. — Eu vou ver pai.
 
Sua boca se abre, mas não omite nenhum som, absolvendo aquela
informação repentina.
 
— Pai? — sussurra devagar.
 
— Eu sei que você disse pra eu tomar cuidado, eu tomei, mas o que
aconteceu conosco também foi tão intenso que esquecemos dos
preservativos. — Olho para nossa mão entrelaçada. — Também não tinha
como a Emma se prevenir no dia seguinte, devido a uma tragédia em sua
família que a desestabilizou por completo. — Volto a encontrar o olhar da
minha mãe. Havia interligado os pontos depois de tanto pensar como isso
aconteceu. — Nos conhecemos em um baile de máscaras, mãe. Eu sequer
sabia o nome dela, mas eu queria muito reencontrá-la. Confesso que
demorei pra agir, pois na minha cabeça ela viria até a mim, até que tomei
uma atitude de dizer pra todo mundo que eu estava atrás da minha moça
misteriosa — mordo os lábios. — Mesmo assim ela não foi atrás de mim,
mas o destino quis que os nossos caminhos se encontrassem, e aconteceu na
biblioteca. Eu a pedi em namoro no mesmo dia. Vivemos um romance
lindo, mas ela continuou escondendo de mim à gravidez. Eu soube apenas
quando vi um ultrassom em seu quarto.
 
— Você a rejeitou, filho? 
 
— Eu assumi a criança, mas não ela. — Minha garganta volta a fechar. —
Mesmo amando-a demais, me senti traído. Este segredo me machucou de
várias formas.
 
— Ela teve seus motivos, Mike. Como tive os meus — sinto sua mão em
meu cabelo. — Seu pai também ficou magoado com a minha atitude, mas
depois de uma longa conversa, ele entendeu por que fiz isso. Não
queríamos continuar separados depois de tantos meses, então superamos
essa dor e seguimos em frente. Nos amávamos, então não queríamos mais
sofrer, e sim sermos felizes.
 
— Estou me sentindo um idiota! — confesso, me levantando da poltrona.
— Eu nunca dei a oportunidade de ela falar… Comprei até uma casa em
Gainesville pra gente sem consultá-la e fiz uma proposta de morarmos
juntos sem sermos um casal. Ela odiou isso. Deve me odiar mais ainda por
essas atitudes estúpidas — ando de um lado para o outro. — Sou um
verdadeiro merda em só pensar no bebê e não na mulher que amo, mas que
partiu meu coração.
 
— Querido, não se xingue desta maneira. — Ela vem em minha direção. —
Se a moça que você tanto ama é alguém que vale a pena, mesmo que ela
tenha omitido essa informação ou estivesse se preparando para lhe contar, é
importante que vocês conversem olho no olho, expondo os seus medos e
preocupações, sendo sinceros em relação aos seus sentimentos. Só desta
forma as coisas irão se resolver. Você está machucado, mas ela também
está. Tenho certeza de que ela teve os seus motivos pra não revelar de
imediato. Pelo que você me disse, vocês sequer se conheciam antes desse
baile de máscaras, ela pode ter tido medo da rejeição ou da dúvida que você
teria contra ela. — Abaixo a cabeça, derrotado. — Dá tempo de reverter
essa situação, filho.
 
— Eu vou, mãe — digo com firmeza.
 
— E eu serei uma jovem vovó — Um sorriso se abre em seu rosto.
 
— Não está chateada comigo?
 
— Magina! Quem sou eu pra criticar, Mike? Passei pela mesma coisa! E dá
pra ver no seu olhar o quanto você está apaixonado por essa mulher. — Ela
envolve meu rosto com carinho — Vai ser bem interessante ser vovó.
 
— Você acha que por eu me tornar pai, a situação com a família do meu pai
vai se complicar? — questiono me lembrando de outro ponto que ainda
preciso resolver com ela.
 
— Sinceramente, filho, acho que eles farão o mesmo que fizeram comigo.
— Ela olha para os porta-retratos. — Mas não se preocupe, darei meu jeito
pra eles não atrapalharem nossas vidas.
 
— Mãe…
 
— Primeiro resolva suas questões, querido. Não se preocupe com sua mãe.
— Ela aperta meu ombro antes de se afastar. — Se quiser trazê-la para
passar as férias aqui, sua amada será muito bem-vinda! — Então ela sai da
sala.
 
Eu ainda iriei dar um jeito de tirá-la dessa responsabilidade. Não quero que
minha mãe se mate perante a uma família que nunca a aceitou. Irei atrás dos
meus direitos como herdeiro, mas farei o possível pra ela voltar a ser feliz e
que o brilho retorne ao seu olhar, algo que os McCoy infelizmente vem
tirando anos após anos.
 
Subo em direção ao meu quarto. Ter tido essa conversa com minha mãe
acalmou a minha mente, mas a coincidência dela ter escondido a gravidez,
igual a Emma, não havia passado despercebida. Fui um imaturo em nem ter
parado para ouvir o que ela tinha a me dizer, saber quais eram seus motivos
para esconder o bebê de mim. Talvez o seu maior medo era passar pelo o
que eu havia feito, rejeitando-a ao ponto de quase não acreditar que o bebê
era meu.
 
Olho para o canto do quarto, encontrando outro violão que deixei ali para
treinar nas férias, vou ao seu encontro retirando-o da capa. Diferente do
tradicional que está comigo no dormitório, este é todo preto. Sento-me no
batente da janela estofada, dedilhando suas cordas quando uma ideia vem
na minha mente. 
 
Pego o meu celular no bolso, e procuro 'Princesa' na agenda. Eu não havia
tirado seu apelido dos meus contatos, e respiro fundo antes de ligar. O toque
dura, uma, duas, três vezes, e meu coração está disparado no peito enquanto
aguardo na linha. Estou prestes a desligar, quando finalmente ouço a sua
voz suave.
 
— Mike? — solto a respiração aliviado por ela ainda me atender. — Mike,
aconteceu alguma coisa?
 
— Apenas escute — consigo dizer, antes de colocar o celular no viva voz e
apoiá-lo sobre o estofado. 
 
Meus dedos começam a tocar as cordas do violão, fazia um tempo que eu
não tocava aquela letra, mas não me importei, pois eu queria expressar
meus sentimentos, não a perfeição. 
 
— Don't go tonight. Stay here one more time — início a música. — Remind
me what it's like. And let's fall in love one more time. I need you now by my
side — canto calmamente tentando transmitir pra ela todo o sentimento
preso em meu peito. Canto mais alguns versos da música do cantor Slander
antes de partir para o refrão. — I'm sorry, don't leave me, I want you here
with me. I know that your love is gone — sinto minha garganta fechar, mas
continuo — I can't breathe, I'm so weak, I know this isn't easy. Don't tell me
that your love is gone. That your love is gone[2]… 
 
Continuo a cantar mesmo com a voz falhando e minha lágrimas caindo
sobre o violão. A música sempre foi um meio de me expressar, de falar o
que o meu coração está sentindo, e era exatamente essa sensação. Eu não
queria que ela fosse embora, eu queria que ela ficasse comigo, e eu não
queria que o amor dela por mim terminasse depois dessas mancadas que
dei. Quando toco a última nota, meu medo maior é que a ligação tenha sido
finalizada, mas o ressoar baixinho de um choro no outro lado da linha me
fez perceber que ela continua ali, ouvindo o que tinha pra dizer, pelo menos
o começo. 
 
— Eu quero muito resolver as coisas entre nós, princesa. — Volto a dizer,
um tanto fanho. Seu choro se torna mais audível ao chamá-la pelo apelido
que lhe dei. — Eu quero muito entender tudo, mas tem que ser
pessoalmente. Você aceita conversar comigo?
 
— Eu estarei aqui, Mike. — Sua voz embargada me desestabiliza cada vez
mais, eu não quero vê-la sofrendo dessa maneira. — Eu sempre estive aqui. 
 
— Voltarei quanto antes, eu te prometo. Eu amo você, Emma Steele, e eu
quero te fazer feliz — declaro, voltando a colocar o telefone no meu
ouvido.
 
— Eu te amo mais, Mike McCoy, me desculpe por ter te magoado dessa
maneira. — Sua voz é como um abraço o qual estou desejando neste exato
momento.
 
— Eu que te magoei, princesa. Eu deveria ter parado para te ouvir, e não ser
esse idiota. Foi muito imaturo da minha parte. Me espere, por favor. —
imploro com a voz ainda trêmula.
 
— Não irei a lugar algum, meu príncipe. 
 
Ouvir aquela afirmação fez meu coração se acalmar e um sorriso sincero
finalmente se abriu em meus lábios. 
 
 
Ouvir Mike cantando daquela maneira, de coração aberto, como se
libertasse todas as suas dores, fez todas as minhas energias serem minadas
do meu corpo. Sentei-me no banco perto do lago, incapaz de controlar a
avalanche de lágrimas e sentimentos que senti naquele momento, junto com
os hormônios da gravidez, foi como se meu corpo inteiro se comunicasse
comigo, dizendo que altas emoções fariam meu coração parar por um
instante. 
 
Mas eu precisava me controlar, afinal eu carregava uma vida dentro de
mim, que merecia uma mãe forte. Porém, quando se tratava de Mike,
cantando vulneravelmente daquela forma algo tão íntimo, alimentou as
minhas esperanças de que alguma maneira estávamos prestes a resolver
aquela situação. Um sentimento não de tristeza, mas de felicidade me
invadiu por completo, pois isso era o que eu mais desejava pra nós dois.
 
Assim que encerramos a ligação, precisei me acalmar antes de levantar
daquele banco, por isso fiquei admirando o lago. Pedi forças a Deus para
lidar com essa nova realidade, como também pedi para que cuidasse de
Mike, que nossa conversa fosse sincera e que no fim das contas o nosso
amor prevalecesse acima do que os outros irão achar.
 
— Está tudo bem? — ouço alguém perguntar e me viro em sua direção.
Encontro uma mulher já idosa me analisando com atenção, suas vestimentas
demonstram ser uma pessoa simples.
 
— Ah, sim está tudo bem — digo, enxugando uma lágrima.
 
— Que bom, achei que fosse uma ligação ruim, mesmo vendo o seu sorriso,
queria confirmar. — Ela analisa meu rosto antes de apontar para o banco.
— Posso?
 
— Claro! — afasto-me do centro, dando espaço pra ela sentar.
 
— Obrigada, mocinha, as pernas não são mais as mesmas depois de um
tempo. — Ela ri antes de se acomodar ao meu lado. — Você é estudante
aqui da universidade? — afirmo categoricamente. — Então nos
desencontramos, pois estou sempre aqui no Centro, sou a responsável por
ele.
 
— Na verdade, descobri esse lugar há pouco tempo, uma pessoa especial
para mim me trouxe até aqui para conhecer, é um dos lugares favoritos dele
— explico observando a estrutura ao nosso lado. — Se não fosse por ele,
demoraria pra descobrir esse local.
 
— Vire e mexe as pessoas descobrem aqui, concordo que o Centro ficou
escondido de olhares curiosos. Tem estudantes que nunca souberam da sua
existência, mesmo que ele tenha sido construído por um deles. — A
senhora brinca com um molho de chaves. — Eu o considero uma obra de
arte, além de observar o povo tentando encontrar a sua paz na sua fé, aqui
fica lindo quando são realizados os casamentos.
 
— Até imagino as lembranças que as pessoas tem ao se casar em um lugar
como esse — comento no exato momento que um casal sai da glamorosa
construção. 
 
— Seus pais ficariam felizes se você escolhesse esse lugar para se casar. —
Sua fala me pega totalmente de surpresa, tento encontrar o olhar da senhora,
mas ele está vidrado em algum ponto. — Eles pediram para avisá-la que
você não está sozinha, que de maneira alguma você deve se culpar pela
passagem deles, pois era algo que não podiam escapar. Também querer lhe
dizer que em hipótese alguma esse bebê será uma desonra e eles estão
orgulhosos da sua trajetória.
 
Meus olhos voltam a encher de lágrimas, levo a mão a boca segurando um
soluço. A senhora sai do momento de transe, piscando várias vezes antes de
estar em seu estado normal. Como ela sabia de tudo isso, sendo que acabei
de conhecê-la?
 
— Desculpe, às vezes perco o fio da meada. — Ela ri voltando a encontrar
o meu olhar. — Eu disse alguma coisa que te magoou? Falo isso porque
minha mediunidade pega as pessoas de surpresa de vez em quando.
 
— Não, muito pelo contrário, você acalmou meu coração, muito obrigada
— sorrio para tranquilizá-la.
 
— Ah que bom! Às vezes não tenho controle e recados que me são
passados podem ser bons ou ruins. — Sua mão aperta meu ombro em sinal
de conforto. — Basta ter paciência, mocinha, e essa criança trará muitas
felicidades. — Seu queixo aponta para minha barriga, antes de se levantar.
— Agora tenho que ir, pois está na hora de fechar o Centro de
Contemplação, espero receber mais suas visitas.
 
— Com certeza voltarei — garanto, secando uma lágrima antes da senhora
me dar um leve sorriso e se afastar. 
 
Minha atenção se volta para o lago brilhante, pensando na experiência que
acabei de ter ao ouvir aquelas palavras. Sempre acreditei que havia uma
força maior, mesmo sendo cientista e tendo um pensamento mais realista,
eu sabia que o sobrenatural era uma hipótese viável. Não havia explicação
para uma desconhecida saber sobre determinados acontecimentos da minha
vida e ainda me acalmar daquela maneira.
 
Volto para a picape sentindo um peso a menos nos ombros. Sinto um leve
desconforto nos seios assim que coloco o cinto, algo bem normal nos
últimos dias. Mas meu humor está nas alturas, e um desejo de comer no
local que geralmente tomava café com Mike fala mais alto. Quem sabe peço
um smoothie de manga bem gelado e um delicioso sanduíche.
 
Eu estava ansiosa para a nossa conversa, eu e Mike precisávamos colocar os
pingos nos is. 
 
Tudo que eu mais queria era sair voando assim que finalizei a ligação com
Emma, fazer que nem aqueles filmes onde o cara larga tudo e vai atrás da
amada. Mas eu precisava resolver umas questões antes de simplesmente
sumir de Boston: minha mãe.
 
Ao ouvir seu relato de vida, ficar sabendo que o meu futuro hoje poderia ser
diferente se eu não tivesse conhecido o meu pai, que nós dois poderíamos
nunca ter nos se reencontrado, e que eu viveria com uma dúvida por anos, é
doloroso. 
 
Mas saber que eu e meu pai tivemos uma atitude em comum, que buscamos
pelas mulheres que nos apaixonamos, isso deixa meu coração mais feliz.
Meu pai foi atrás da minha mãe até encontrá-la bem longe dele, em outra
cidade, se deparando com ela em condições precárias e ainda por cima
grávida, mas ao invés dele dar as costas, ele estendeu a mão. 
 
Já eu precisava arrumar toda confusão que eu havia causado. Meu
temperamento não me deixou sequer ouvir a Emma, pensei apenas em mim,
no bebê e sequer dei chances para ela se explicar.
 
Eu amo a Emma, ela foi uma das poucas mulheres o qual meu coração
bateu mais forte, que não virou outra pessoa apenas para me agradar e
permaneceu sendo ela mesma. O mais admirável foi sua capacidade de me
ouvir e enxergar minhas qualidades e defeitos, e quis me conhecer além do
atleta popular da universidade.
 
Coloco o violão dentro da sua capa e limpo as lágrimas em meus olhos.
Fazia muito tempo que eu não era tão vulnerável assim com uma mulher,
mesmo que ela não pudesse me ver e apenas me ouvir, minha voz me
denunciou várias vezes.
 
Preciso tomar alguma coisa, minha garganta está seca, parece que todas as
lágrimas que chorei agora a pouco me limparam por dentro. Abro a porta do
meu quarto e no mesmo instante ouço um barulho de algo se quebrando e
um grito. Meu instituto nem faz eu bater na porta, simplesmente entro de
supetão no quarto de minha mãe, deparando-me com ela sentada na beirada
da cama com as mãos presas ao cabelo, e o celular estatelado no chão após
um acesso de raiva.
 
— Mãe — digo baixinho, me aproximando dela.
 
— Tá tudo bem, querido… — Ela tenta argumentar.
 
— Não, não está nada bem — sento-me ao seu lado. — O que foi que
aconteceu?
 
— Problemas na empresa — diz vagamente, mas eu sei que tem algo a mais
nisso tudo.
 
— Na empresa ou com o meu tio? — questiono mesmo ela não gostando, e
seu silêncio comprova isso. — Você tem feito tudo por mim, mãe. Você
quer manter esse pé de guerra com a família do meu pai, mas isso está te
prejudicando cada vez mais. O seu brilho está se apagando. Eu não quero
que você seja uma mulher infeliz por conta deles.
 
— Eles querem nos prejudicar, Mike. Eu não posso deixar que isso
aconteça. Eles querem a empresa que seu pai se esforçou tanto pra
construir. — Sua voz denota toda a sua revolta.
 
— Mãe, eu sei que você tem um valor sentimental muito grande por esta
empresa, mas está valendo a pena? — pego em sua mão.
 
— Tenho medo de que o Viktor faça alguma coisa que diga que você não é
um legítimo herdeiro — confessa, apertando minha mão. — Eu sei que eles
odeiam a minha posição dentro daquela empresa, que não queriam que eu
assumisse um cargo tão importante. Mas agora ele tem se tornado mais
insuportável.
 
— Ele quer que o filho dele comande a Sports Advanced, mãe. — Seus
olhos se arregalam. — Ele me disse quando o confrontei. E parece que
alguma coisa nessa família diz que apenas homens podem estar a frente dos
negócios, por isso eles se incomodam tanto em ver uma mulher nessa
posição.
 
— Filho da p… — Ela respira fundo, quase perdendo a etiqueta. — Mike,
foram anos de dedicação por parte do seu pai e, posteriormente, por mim.
Não me sinto confortável em entregar algo que construímos juntos com
tanto empenho e dedicação para eles de mãos beijadas. A empresa é o nosso
maior lucro.
 
— Mãe, o que temos é suficiente. Você tem ações em algumas empresas,
temos rendas paralelas, eles nunca irão interferir nessas questões —
envolvo mais ainda suas mãos. — Eu sei, é doloroso entregar de bandeja
algo que foi construído com tanto suor, mas podemos construir algo nosso.
Tenho certeza absoluta de que você iria conseguir alcançar patamares
incríveis por conta da sua experiência, e você não teria sequer qualquer
vínculo com a família do meu pai. Eles não iriam ter qualquer autoridade.  
 
— Foi um erro tê-los como sócios, mas isso foi uma decisão do seu pai, ele
quis manter esse vínculo familiar. — Ela se levanta da cama, soltando-se
das minhas mãos.
 
— Que tipos de ameaças você vem recebendo do Viktor? — Sou objetivo. 
 
— Filho, não se envolva nisso… você já tem seus próprios problemas —
pede andando de um lado para o outro.
 
— Mãe, quando envolve você, também é um problema meu. Não me sinto
confortável levando uma vida longe de você, sabendo que estão tornando a
sua vida num inferno. Nem meu pai iria querer isso pra você. Quero que
você seja feliz, que o sorriso genuíno volte ao seu rosto, que se liberte
dessas amarras, namore sem medo o seu guarda-costas! — O rosto dela fica
vermelho, finalmente me encarando. — Foda-se, os outros, isso pode estar
minando você aos poucos, e eu não quero que você fique doente por causa
disso. Não posso te perder também. 
 
Ela vem em minha direção e me abraça forte, afagando minhas costas. Eu
sei que estamos acostumados à vida de luxo, mas do que isso vale quando
nos matamos por ela? Minha mãe fez essa empresa acontecer em seu
momento mais vulnerável, meu pai a preparou pra tudo, mesmo que ele
tenha pensado que esse conhecimento iria vir pra mim, mas eu segui outro
rumo. Podemos nos adaptar, temos muito dinheiro, ela pode ter seu próprio
negócio, pode recomeçar. Não será fácil, mas pelo menos os McCoy
deixarão a gente em paz.
 
— Mãe, se você está cansada, está na hora de parar e ir viver — digo em
seu ouvido. — O dinheiro a gente recupera a longo prazo. Você já fez muito
por mim, você está a frente da Sports Advanced para garantir um pedaço da
herança. Podemos vender nossa parte da empresa e recomeçar. Segundo a
justiça, tenho direitos como herdeiro sobre o que era de meu pai, e se
tentarem tirar da gente, provaremos que estão errados. Mas quando algo que
amamos não está nos fazendo bem, o importante é rever se vale a pena
continuar, mesmo que você já tenha batalhado para reverter a situação. —
Afasto-a para olhá-la melhor. — Me responde mãe, você ainda tem aquela
paixão por essa empresa? Seja sincera. 
 
Ela respira fundo antes de se afastar do meu abraço e voltar a sentar na
cama. Deixo que ela tenha seu próprio tempo, enquanto aguardo uma
resposta.
 
— Já houve momentos melhores — confessa —, principalmente quando os
McCoy sequer ligavam para empresa, sendo sócios contistas. Mas de uma
hora pra outra, eles começaram achá-la importante, sobretudo Viktor, que
deseja que eu saia quanto antes, e agora pelo que você me falou coloque seu
filhinho como CEO. 
 
— Se sairmos da sociedade, temos o direito de receber boa parte do
dinheiro investido, mãe. A empresa está bem, então de acordo com a lei, se
eu retirar a sociedade receberei os valores correspondentes a nossa
participação, isso será um déficit e tanto na empresa, pois somos os maiores
investidores, mas se eles a desejam tanto para inflar os egos, que fiquem
com ela. Nada nos impede de abrir outra empresa de esportes ou qualquer
coisa que você desejar mãe — digo com convicção. — Estou falando sério,
não precisa se prender a uma empresa por minha causa, e mesmo que seja
doloroso, está na hora de seguir em frente, mãe. O papai iria querer isso. Eu
vou me esforçar para passar na seleção e assim ser chamado para o Draft,
eu irei entrar em um time da Liga, vou crescer tanto que terei muito
dinheiro que conseguirei manter a nossa fortuna e posso cuidar da minha
família e de você.
 
— Tudo que eu não quero é dar trabalho pra você, querido. — Ela passa as
mãos pelo meu cabelo —  Mas você tem razão, por mais que eu ame ter
construído a Sports Advanced, ter sido sua representante dentro dela,
ultimamente tudo que venho sentindo é vontade de gritar. Estamos no
melhor momento, mas com os McCoy, mal consigo comemorar cada
vitória. Eles decidiram transformar a minha vida num inferno. Antes eu
acordava animada para iniciar mais um dia no escritório, hoje estou indo
arrastada.
 
— Dar um passo para trás não é ser uma perdedora, e sim uma pessoa
corajosa em rever seus objetivos — repito uma das frases que o treinador
disse em campo um dia desses. 
 
— Tomarei as providências legais em relação a isso. Verificarei com o
advogado como podemos resolver essa situação e sair sem causar
confusões. — Ava McCoy levanta a cabeça mais confiante.
 
— Fico feliz que esteja disposta a seguir em frente, mãe — seguro a sua
mão com carinho. — Tudo que eu mais desejo é isso. Que você seja livre. 
 
— Muito obrigada por me acalmar, querido — diz, beijando a minha testa.
— Saiba que você não estará sozinho nessa nova fase da sua vida, do que
você precisar e a Emma também, contem comigo. Serei uma ótima avó! 
 
— Tenho certeza de que sim, mas antes disso preciso convence-la a ficar
comigo — encaro os olhos da minha mãe.
 
— Se ela ama você, tenho certeza de que vocês vão se acertar! Como eu
disse, uma boa conversa tudo se resolve. — Sua mão acaricia meu rosto. —
Depois quero conhecer essa moça misteriosa que fisgou seu coração.
 
— Aposto que você vai gostar dela, mãe. — Um sorriso se abre em meu
rosto. — Ela é incrível!
 
— Tenho certeza que sim! — Ela se levanta, pegando o celular no chão. —
Vou falar com o nosso advogado quanto antes. Assim o que você precisar
assinar, já te libero para voltar correndo para os braços dela. Droga… —
mostra a tela do iPhone trincada, antes de mexer no aparelho. — Pelo
menos está ligando.
 
Rio da situação, mas com o clima bem mais leve e sensação boa por saber
que minha mãe tomou a decisão certa, e que a felicidade dela é o que
importa.
 
 
Com um saco de pipoca de um lado e twizzlers do outro, assisto ao episódio
mais recente da minha lista de doramas que me tem causado lágrimas e
afetado o meu coração. Principalmente, quando comecei a assistir doramas
com gravidez inesperada e crianças, aí a caixinha de lencinhos foi
literalmente para o saco!
 
Nos últimos dias, depois do expediente no laboratório, estou comparecendo
aos encontros de mães do grupo da universidade, com elas estou ouvindo
relatos e também experiências sobre a gravidez, além de algumas aulas
práticas de como trocar o bebê, dar banho e até mesmo como ajudar ele a
arrotar. Isso se estendeu pra vídeos no YouTube e sites sobre maternidade.
Ontem mesmo me peguei olhando os nomes que poderia escolher se fosse
menino ou menina, mas uma coisa era certa, eu iria colocar o nome do meu
pai ou minha mãe como compostos para serem homenageados.
 
Ainda houve tempo para eu me dirigir à administração da universidade para
informar sobre as minhas condições atuais. Os funcionários foram
extremamente cuidadosos ao informar quais dormitórios poderiam ser
adequados para uma futura mãe, quais seriam os meus direitos a partir de
agora e os locais de acessibilidade, como salas de amamentação, em alguns
pontos da universidade e o auxílio de creches.
 
Mike e eu trocávamos mensagens padrões, era esquisito porque ainda não
havíamos tido aquela conversa necessária, mas não resistia e escutava a sua
voz rouca me desejando 'bom dia', 'bom trabalho' e 'boa noite'. A ansiedade
em reencontrá-lo só aumentava dia após dia, mas enquanto ele não se
resolvia com questões familiares, eu ficava aqui, sozinha assistindo casais
passando por situações até que parecidas com a nossa, tornando-me mais
sensível ainda.
 
Estou finalizando o alcaçuz quando ouço toques na porta, digo um “Já vai!”
antes de dar pausa na melhor cena do dorama, quando o mocinho
finalmente vai correr atrás da mocinha depois de ser um completo grosso. 
 
Com a metade de um alcaçuz na boca e, talvez, o cabelo todo desgrenhado,
abro a porta, sem me importar com quem está do outro lado, mas me deparo
com um peitoral saliente, vestindo uma camisa azul com alguns botões
abertos e uma calça jeans rasgada. Em uma das mãos, há um buquê de
rosas-brancas numa cesta de doces. Enfim, meus olhos cruzam-se com as
íris acinzentadas que estavam buscando por mim. O meu príncipe está de
volta.
 
Não penso duas vezes, pois a saudade é grande e abraço Mike com tudo,
apertando com força a sua camisa em minhas mãos. Sinto seus dedos
acariciando meus cabelos enquanto inalo o seu delicioso cheiro de sândalo.
 
— Me perdoa, Mike — sussurro, sentindo minhas lágrimas descerem pelo
meu rosto. — Eu não deveria ter escondido nada disso de você.
 
— Oi, princesa. Temos muito o que conversar. — Sua voz rouca me causa
arrepios assim que sinto sua respiração em minha nuca. Ele se afasta me
entregando o buquê junto com a cesta. — Um presentinho.
 
— Que lindas! E quanta coisa gostosa! Muito obrigada! — abro um sorriso
pegando o presente e dando um cheiro na rosa que é muito suave. — É um
símbolo de que “vim em paz”? — Dou espaço para que ele consiga entrar
no meu quarto antes de trancar a porta, observando a cesta cheia de
chocolates.
 
— Sim, fico feliz que tenha gostado.
 
Mike caminha no pequeno dormitório, mas o berço estilo moisés, que se
encontra em cima da estante de livros, chama a sua atenção. Em seguida,
desvia seu olhar para a mesa de estudos, onde uma pilha de livros sobre
maternidade se encontra. No momento em que coloco seus presentes sobre
a mesa, ele se vira pra mim. Seus olhos me estudam até parar no volume da
minha barriga que se destaca com a regatinha colada que estou utilizando.
Mike se aproxima e com sua mão grande, apoia diretamente nela antes do
seu olhar encontrar o meu.
 
— Estou te devendo um pedido desculpas. — Sua mão acaricia a minha
barriga e a sensação disso é tão boa que algo dentro de mim diz que o bebê
gostou também. — Eu não deveria ter dito aquelas palavras horríveis pra
você, Emma.
 
—Eu não devia ter escondido essa informação de você. Desculpa — seguro
seu braço.
 
— Por que você fez isso? Quais foram suas razões para esconder essa
gravidez? — Sua expressão desesperada comprova o quanto precisa saber
desta informação. 
 
Pego em sua mão e o levo em direção a minha cama, onde nos sentamos,
enquanto afasto minha bagunça para um canto. Respiro fundo, sentindo o
seu olhar em mim.
 
— Mike, quando eu descobri que estava grávida ainda não tínhamos nos
encontrado — começo me recordando do dia que fiz o teste. — Eu havia
voltado de Miami havia pouquíssimo tempo, até que a Abigail me fez
realizar o teste. Eu já estava na terceira semana. Foi um grande choque pra
mim. — Minhas mãos se entrelaçam uma na outra. — Abigail me
incentivou para te procurar, mas Mike… a gente tinha se encontrado apenas
no baile, você sequer sabia o meu nome, eu não podia chegar em você de
supetão e dizer: Ei Mike, adivinha só, você será papai. 
 
— Então você decidiu que iria esconder essa gravidez de mim? — pergunta
devagar e eu afirmo antes de completar.
 
— Eu tinha medo de chegar em você com essa notícia. Já tinham se passado
vários dias depois do nosso encontro. Sinceramente, eu pensei que você já
havia se esquecido de mim, uma vez que o deixei esperando no Starbucks e
não dei notícias. Dessa forma, conclui que o nosso encontro seria apenas de
uma noite, que não poderia ser repetido. Então, se coloque no meu lugar,
uma mulher chegar em você dizendo que espera um filho seu, sendo que
vocês se encontraram apenas uma vez. Você poderia simplesmente jogar na
minha cara que não era o pai. Ou mandasse eu tirar o bebê — confesso,
fazendo ele pegar em meu braço.
 
— Eu nunca mandaria você abortar, Emma — diz sério.
 
— Você é de uma família muito influente, Mike. O que eles iriam achar de
um dos herdeiros engravidando uma pessoa que sequer ele tinha um
relacionamento? — Volto a encontrar o seu olhar que está atento a mim. —
Minha vida já estava de ponta cabeça por conta da morte dos meus pais.
Saber da gravidez fez meu mundo capotar de novo. Eu não queria trazer
você pra dentro deste caos. Já bastava a ideia de que meu futuro iria ser
prejudicado, eu não queria prejudicar a sua carreira.
 
— Imagino o choque, a gente faz tantos planos, mas às vezes, as coisas que
planejamos não sai conforme imaginamos — comenta ainda mantendo o
olhar em mim. — Mas você não iria prejudicar a minha carreira, seria uma
bomba, mas poderíamos desarmá-la. Mesmo com a GatorsPoison postando
aquele vídeo, você não queria me encontrar?
 
— Por mais que doesse — pego na sua mão, entrelaçando-a na minha. —
Eu não podia ficar com você, a minha barriga iria crescer. Então, mesmo
sabendo que você estava a minha procura, eu evitei ir atrás de você. — Seus
olhos desviam do meu focando em qualquer ponto do quarto. — Mas não
deu tempo nem de tentar fugir, o destino quis que a gente se reencontrasse
logo em seguida.
 
— Você até tentou fugir, mas eu te encontrei — um sorriso de canto surge
em seus lábios, mas logo some —, e ainda permaneceu com esse segredo.
 
— Depois que aceitei namorar você, meu objetivo se tornou outro. Eu
precisava fazer você me conhecer, não me enxergar apenas como uma
estranha que entrou em seu caminho. Eu queria que você descobrisse quem
era Emma Steele. Até que eu tomasse coragem o suficiente pra lhe dizer o
que estava acontecendo, torcendo para que você aceitasse, mas ciente de
que poderia rolar uma rejeição — desvio do seu olhar.
 
— Então você planejava me contar… — Ele também olha para os próprios
pés que contém um tênis esportivo. 
 
— Sim! Não queria que você descobrisse daquela forma. Minha barriga
estava crescendo Mike, — acaricio o volume na minha frente. — Uma hora
você iria descobrir, não tinha como manter mais segredo, mesmo sabendo
que nosso relacionamento poderia ir por água abaixo. 
 
— Fui um babaca falando daquele jeito contigo! Ter sequer deixado você se
explicar, fui jogando toda a culpa em cima de você, duvidando de você…
— Suas mãos se fecham em concha, e um choro silencioso se inicia.
Envolvo meu braço ao redor dos seus ombros, trazendo-o para junto de
mim. — Me perdoa por isso. Eu deveria ter te apoiado desde o começo…
 
— Você foi pego totalmente de surpresa, Mike. — Consolo-o, acariciando a
sua nuca. — Você não estava preparado para ter uma notícia que iria mudar
sua vida. Não planejamos essa gravidez.
 
— Mas eu não deveria ter agido daquela forma com você! — resmunga,
tentando se afastar, mas o prendo contra o meu corpo.
 
— Você tinha todo o direito de estar irritado comigo, Mike. — Sou sincera
depositando um beijo em sua nuca. — Eu não iria te julgar, no seu lugar
também eu iria sentir que você não confiou em mim o bastante. O único
momento que fiquei brava contigo, foi a ideia maluca que você teve de
comprar uma casa grande para morarmos juntos, mas ao mesmo tempo
separados. Isso sim você me irritou!
 
— Eu fui longe demais, confesso. — Sua mão começa a acariciar minha
barriga. — Eu queria que nosso filho tivesse um lugar, e eu não queria
deixá-lo desamparado. Eu só pensei nele, em um futuro confortável, pois
não queria deixá-lo sem garantias caso eu não pertencesse mais a esse
mundo. — Sua cabeça se apoia na minha barriga. De acordo com os textos
que li, no quinto mês, começarei a senti-lo dentro de mim, já estou ansiosa.
— Mas eu estava torcendo para você aceitar. Aqui é muito pequeno pra
vocês dois. — Seu olhar encontra o meu.
 
— Eu e a Abigail ficamos de ver outro dormitório, um até familiar que tem
aqui no campus. Não ficaríamos aqui, preciso de um banheiro privativo,
minha bexiga anda solta demais. — Ele gargalha antes de se sentar ereto.
 
— Adivinha? — O sorriso continua em seus lábios. Levanto a sobrancelha.
— Comprei aquela casa. — Minha boca abre em um imenso formato de
“o”. — E eu quero que você vá morar comigo nela, Emma. Porque amo
você, amo esse bebê e eu quero cuidar da nossa família.
 
— Mike… — Meus olhos enchem-se de lágrimas, o modo supersensível
ativo. 
 
Afundo meu rosto contra a curvatura do seu pescoço, envolvendo meus
braços ao seu redor. Sinto suas mãos passarem por debaixo da minha blusa.
Seu toque me incendeia em um estalar de dedos e minha libido clama, e
tudo que eu mais desejo naquele momento é me perder com ele. Afasto meu
rosto, mas ainda permanecendo perto o suficiente para sentir sua respiração,
eu encaro seus lindos olhos acinzentados antes de dizer:
 
— Eu amo você Mike McCoy, e a cada dia que passamos juntos esse
sentimento só cresce entre nós dois. — Meus dedos brincam um pouco com
o seu cabelo macio. — Eu amei conhecer o lado que poucos sabem ao seu
respeito. Todos te enxergam como bad boy, mas pra mim, você tem um
coração de ouro. Me arrependi profundamente de ter te machucado daquela
maneira. Eu sempre soube das consequências que seria esconder esse
segredo, e durante todo o tempo que passamos juntos, não teve sequer um
dia que eu não pensasse sobre essa escolha que eu havia feito. — Seus
olhos encaram os meus. — Mas eu tinha medo de machucá-lo, mesmo
sabendo que não teria como escapar dessa opção. Você estava tão feliz, que
eu não tive coragem, principalmente por estar tão concentrado em ser
selecionado pelo Draft. Mesmo chateada e me sentindo culpada, eu não
consegui tirar você da minha cabeça. Eu amo você Mike, e eu quero muito
construir essa família ao seu lado.
 
— Eu amo você, princesa. Eu te perdoou e eu quero que você me perdoe
também. Tudo que mais desejo é ter seu amor de volta. Pois, você mudou a
minha vida quando nos encontramos naquele baile. Tenho certeza que vai
continuar modificando ela para melhor todos os dias. — Com delicadeza,
ele puxa o meu rosto para pertinho do seu.
 
Encosto meu nariz no dele, distribuindo um leve cafuné antes de procurar
seus lábios, que rapidamente colidem com os meus. O beijo começa lento,
mas a saudade fala mais alto e nossas línguas se envolvem em um ritmo
frenético. Quando vejo, minhas mãos estão abrindo os botões de sua
camisa, enquanto ele se perde na curvatura do meu pescoço distribuindo
beijos e leves mordidas que arrepiam todo o meu corpo. Livro-me do tecido
que cobre aquele corpo maravilhoso e esculpido que senti tanta falta. 
 
Mike segura a minha mão e me levanta da cama junto com ele, colocando-
me em sua frente. Suas mãos puxam a regata que estou usando, deixando-
me nua, antes de focar nos meus seios que cresceram desde a última vez
que transamos. Sua mão volta a pousar na barriga já crescida de três meses.
 
— Não vamos machucar o bebê? — pergunta, preocupado. Nego com a
cabeça.
 
— De acordo com que li na internet, sexo durante a gravidez, se não for de
risco, está liberado.  Só não posso fazer loucuras, é um sexo mais
confortável e tradicional. — Explico acariciando sua barba. — Mas você
não tem ideia do quanto meus hormônios estão gritando desde da
descoberta desta gravidez.
 
— Isso explica o fogo que você tinha quando estávamos juntos. — Ele ri,
mas eu confirmo sentindo minha bochecha esquentarem. — Deixe-me vê-
la.
 
Concentrada em seu olhar, sinto suas mãos abaixando o meu moletom, não
tenho vergonha de estar nua em sua frente, pois essa foi uma confiança que
adquiri com os dias que passamos juntos. Quando estou livre de qualquer
roupa, me viro de lado, evidenciando a barriga de grávida, ainda maior do
que semana passada, faltavam alguns dias para entrarmos no quarto mês.
 
— Você está tão linda! — Sua mão acaricia meu rosto, os cabelos caindo
em cascata pelas minhas costas, até que seus dedos os envolve por trás da
minha nuca, arrancando-me um gemido. — Eu vou cuidar de você.
 
— Só não me deixa na vontade — digo, abrindo meu melhor sorriso safado.
Mike retribui, e nossas bocas se colidem outra vez em um beijo apaixonado
e cheio saudades. 
 
Minha mão vai de encontro com o zíper da calça dele, desabotoando
enquanto nossas línguas exploram uma a outra. Mal nos afastamos e ele
consegue se desfazer da calça e da cueca, e o contato de pele com pele me
excita mais ainda, pois tudo que quero é me encaixar nele. 
 
Sua boca desgruda da minha, distribui beijos pelo meu pescoço, ombros, até
vir de encontro com meu mamilo, começando a sugá-lo com delicadeza,
mesmo sensíveis isso não me incomoda. Uma de suas mãos aperta as
minhas nádegas, fazendo-me sentir seu membro bater contra minha virilha,
ele está tão duro, e minha intimidade pulsa de desejo.
 
— Senti tanto a sua falta — murmuro com os olhos fechados,
experimentando todas as sensações que ele causa no meu corpo. — Senti
falta dos seus lábios, do seu carinho, de você me tomar como uma joia rara. 
 
— Eu também morri de saudades, princesa. — Sua voz rouca e cheia de
tesão me arrepia. — Desde que sai daqui, tudo que eu mais desejei era ficar
nos seus braços.
 
Suas mãos envolvem minha cintura, ele dá dois passos para trás sentando-se
na cama, em seguida me ajuda a sentar em seu colo com suas coxas
torneadas, deixo minhas pernas apoiadas na cama, enquanto os braços
fortes de Mike sustentam minha coluna.
 
— Independente da situação, a partir de hoje, eu sempre vou escolher você
— promete. — Eu perdoou você, e você me perdoa?
 
— Com certeza!
 
Encosto sua testa na minha, enquanto minha mão vai de encontro com seu
membro, estimulando-o apenas um pouco, pois eu sei que não precisamos
de tanta preliminares, já que o nosso desejo está falando mais forte. Sem
dificuldades, o encaixo na minha entrada. Gememos juntos sentindo o
delicioso contato de pele contra pele, Mike me preenche por inteira. 
 
Agarro sua nuca, enfio os meus dedos em seu cabelo macio e começo os
movimentos de ir e vir devagar. A sua boca encontra-se com a minha e,
durante o ato, provamos o gosto de nossas línguas. Nos entregamos sem
pressa, aproveitando cada instante, beijo e carinho perdidos ao longo desses
últimos dias, com a única certeza de que, depois de tudo, temos mais uma
chance de sermos felizes juntos.
 
 
GatorsPoison: Whats Up Gators! Como foram as férias de verão? Estão preparados para o novo
ano letivo da UF? Bem-vindos, calouros! Já vão se acostumando que o Babado não vai faltar! 
 
Fiquei sabendo de um bem forte, mas segurei meu veneno para o retorno das aulas! Afinal seria
mais interessante compartilhar com todos! Booom, vocês se lembram que o nosso queridíssimo bad
boy Mike McCoy antes de voar pra sua cidade estava solteiro, correto? 
 
A esperança de muitas outras mulheres se acenderam nesse verão, acredito que muitas se
prepararam pra chegar chegando no bonitão, mas sinto dizer que essa fase acabou, sabe por quê?
Mike reatou com a jovem cientista Emma Steele! 
 
E você achou que a fofoca iria parar por aí? O outro babado forte é que o quarterback do Florida
Gators será papai! Pois é amiguinhos, temos um Jacarezinho a caminho! Felicidades ao casal, e
lembrem-se nesse retorno a universidade, usem camisinha!
 
Rio da postagem do perfil de fofoca da universidade antes de voltar a tarefa
de montar um berço no quarto do nosso futuro filho. 
 
Depois da nossa reconciliação, convenci a Emma a vir morar comigo nesse
casarão, que ela achava um certo exagero, mas pelo menos teríamos espaço
para cuidar de uma criança.
 
O restante das férias foi organizar nossos pertences em caixas e transar
sempre que tivéssemos um tempinho entre o trabalho de meio período dela
e as reuniões com as mães universitárias, claro visando sempre o seu
conforto.
 
Por conta da casa já estar mobiliada, compramos alguns itens de uso
contínuo e de decoração nas lojas de departamentos, sendo o quarto do bebê
o único cômodo não mobiliado que estávamos montando. 
 
Com idas e vindas em lojas acabei comprando um carro pra mim. Afinal,
agora eu precisaria de um para usá-lo nesses feitos de pai de família, mas a
moto seria ainda meu transporte favorito. Tentei convencer Emma que eu
poderia lhe dar um carro novo, mas ela me xingou dizendo pra que eu me
controlasse, pois já tinha gasto uma fortuna com a casa e com outras coisas,
que ela não queria ser bancada por mim. Mesmo com essa objeção, fiz
questão de colocar um cartão sem limites na bolsa dela para eventuais
compras que ela desejasse fazer. Eu sabia que ela não iria torrar todo o meu
dinheiro, mas ainda seria um processo até ela aceitar que estava morando
com um herdeiro de magnata e que dinheiro não é problema.
 
Abigail, que retomou antes de terminar as férias, nos ajudou nesse trajeto,
sempre incentivando a amiga a não ser mão de vaca e para aproveitar a
oportunidade de ouro que surgiu em seu caminho, arrancando nossas
gargalhadas. 
 
— Eu vou descobrir qual será o sexo do bebê, mas vocês só irão descobrir
no dia do chá de revelação! — Ela avisou batendo palmas. Nunca vi uma tia
tão animada em conhecer seu futuro sobrinho ou sobrinha. 
 
Chris retornou na última semana de férias, e acabou me ajudando com
algumas pendências que tinha na casa. Nunca precisei lidar com questões
como essa antes, então ainda ficava meio perdido. Emma também me
proibiu de contratar qualquer funcionário que ficasse na casa, de acordo
com ela, tínhamos que aprender a nos virar. Mas ainda vou convencê-la de
que ter colaboradores, além de dar oportunidades, vai facilitar a nossa vida
corrida.
 
Já a minha princesa estava mais linda a cada dia que passava. A barriga de
Emma crescia um pouquinho a cada semana e quando entrou no quarto mês
de gravidez, percebi que ela ficou mais cansada e também começou a
ganhar mais peso, além da vontade de comer a cada instante. Mas aquilo
não me incomodou de forma alguma, fazia questão de elevar sua
autoestima, arrancando seu lindo sorriso. E pra animá-la mais ainda, fazia
questão de acompanhá-la durante a compra do enxoval do nosso filho. Seu
entusiasmo era enorme ao ver várias opções de roupinhas, mas também
batiam momentos sensíveis quando ela se lembrava da mãe, e a queria ali
com ela, se debulhando em lágrimas.
 
Já que estamos morando juntos no início do nosso último ano letivo, decidi
contar pra ela sobre toda situação que estava acontecendo com os negócios
da minha família. Emma pediu para chamar a minha mãe para jantar, antes
das aulas de fato começarem e a qualquer momento Ava McCoy daria o ar
da sua graça.
 
Levanto-me do local que teoricamente vai virar um berço, pois ainda estou
aprendendo a montá-lo e sigo para a cozinha onde um cheiro bom invade o
ambiente. Emma está atrás do balcão e mal percebe a minha chegada,
apenas quando a abraço por trás.
 
— Está preparando o que, princesa? — beijo seu pescoço, arrancando um
sorriso seu.
 
— Lasanha congelada serve? — responde risonha. — Agora estou
preparando uma salada de abacate com milho que vi na internet e acabei de
colocar umas batatas para assar. Eu sei que sua mãe é refinada, mas…
 
— Ela vai amar — asseguro, beijando seu ombro. — Eu e ela já jantamos
muita lasanha congelada, pode ter certeza!
 
— Espero que ela goste de mim. — Ela enxuga a mão no avental.
 
— Aposto que vocês se darão bem! Eu falei muito bem de você, mesmo
quando eu estava magoado — revelo, olhando para a mesa já montada.
Uma coisa que percebi da minha namorada é a agilidade e organização.
 
— Conhecer a namorada do filho que pegou barriga, é meio constrangedor
— diz com o prato de salada pronto, ela o leva até a geladeira.
 
— Não se esqueça que ela passou por uma situação parecida — informo,
estendendo a mão para que ela venha ao meu encontro. — Acredito que
com os meus avós foi mil vezes pior.
 
— O que o dinheiro tem o poder de unir, mas também é capaz de separar.
— Ela segura a minha mão antes de abraçar meu corpo. — Mas você fez
bem ter dito pra ela sair da empresa, já que ela não estava feliz. Apesar de
ser uma mãe bem preocupada com o futuro do filho. Vou entender melhor
quando o nosso pequeno aqui nascer.
 
— Teremos uma mãe coruja? — brinco fazendo-a rir, mas somos
interrompidos quando a campainha toca. — Deve ser ela! 
 
De mãos dadas com Emma vou até a porta, e ao abrir deparo com a minha
linda mãe. Agora com um semblante muito diferente do nosso último
encontro, transmitindo uma leveza que há tempos não aparecia em seu
rosto, minha mãe está genuína, então reparo no grandalhão ao seu lado,
Leon.
 
— Oi querido! — Ela abre os braços com tamanha alegria antes de me
abraçar com força.
 
— É bom te ver, mãe — digo retribuindo o gesto, antes dela se afastar e eu
cumprimentar o Leon com um forte aperto de mão.
 
— Espero que não seja um problema o Leon ter vindo. — Minha mãe
coloca o cabelo pra trás da orelha, mas balanço a cabeça afirmando que
tudo bem, mesmo que seja esquisito ver os dois assim… assumidos.
 
— Mãe, Leon — estendo a mão pra Emma que sai de dentro da casa com
um sorriso tímido. — Essa é a Emma, minha namorada.
 
— É um prazer. — Ela diz tímida, antes da minha mãe olhá-la com atenção
e um brilho crescer mais ainda no olhar quando para na barriga já crescida
por baixo de um vestido. 
 
— Você é linda! — Mamãe a elogia puxando-a para um abraço um tanto
desengonçado. — E uma fofinha!
 
— Obrigada! — Emma agradece se ajeitando no abraço. — Sejam bem-
vindos a nossa casa!
 
Amava ouvi-la dizer “nossa casa”, sendo que a primeira impressão que
passei pra ela foi que moraríamos em uma casa em quartos separados. Me
arrependo deste dia até hoje.
 
— Emma, esse é meu namorado, Leon. — Minha mãe os apresenta, Emma
dá um breve abraço em Leon o cumprimentando.— Que casa enorme, filho!
Achei que tinha comprado uma menor. — Ela se adianta olhando para todo
terreno.
 
— Eu disse pra ele que era exagero — Emma concorda, fazendo-me revirar
os olhos.
 
— Precisávamos de espaço, e bom… acho que esse bebê será o primeiro de
mais uns dois. — pisco para minha namorada, que reage com um tapa em
um braço. — Qualé, quero uma família grande!
 
— Vou adorar ter vários netos! — Minha mãe agarra o braço de Emma. —
Me apresenta esse casarão?
 
— Claro!
 
Vejo as duas adentrando a porta, enquanto mamãe começa a fazer
comentários sobre a residência.
 
— Pelo menos elas já estão puxando papo — ouço Leon comentar atrás de
mim. — Seria bem ruim se sua mãe não tivesse se simpatizado pela moça
logo de cara.
 
— Então agora vocês estão juntos oficialmente — mudo de assunto me
virando pra ele, diferente daquele homem de cara amarrada que era o
guarda-costas da mamãe, agora esbanja um sorriso realizado.
 
— Sim, depois que sua mãe deu aviso sobre sua saída da empresa e a
retirada da sociedade com sua família, ela teve a audácia de pegar na minha
mão na frente de todo mundo. — conta, com certeza se lembrando da cena.
— Foi a melhor coisa que você fez, ter falado com ela que não valia a pena
continuar se esforçando daquela maneira. Parece que um peso enorme saiu
de seus ombros.
 
— Ela realmente levou numa boa? — digo dando espaço, convidando-o a
entrar.
 
— Estaria mentindo se dissesse que sim, mas ela teve seu momento
sensível. Afinal, foram anos de trabalho e dedicação. Também tinha a
questão da memória do seu pai. Entregar algo que foi valioso para a família
de vocês apenas por ganância.
 
— Aposto que Viktor pulou de alegria — fico irritado só de pensar nas
ameaças deste “familiar”. — Ele parou de se intrometer na vida da minha
mãe?
 
— Pelo que Ava me disse, antes dela retirar seus pertences na sala de CEO,
ele não perdeu a oportunidade de se gabar. — É a vez dele revirar os olhos.
— Mas agora é seguir em frente.
 
— Outro ponto positivo desta casa é que ela é toda plana — escuto minha
mãe voltando de braços cruzados com os de Emma. — Uma preocupação a
menos com a criança.
 
— Temos quarto de hóspedes, então quando quiser vir pra ficar conosco,
vou adorar! — Emma convida com um sorriso muito sincero, eu perceberia
se fosse apenas educado, mas pelo jeito ela está gostando da minha mãe.
 
— Aceita uma bebida? — ofereço a Leon que concorda, então pego duas
cervejas na geladeira.
 
— Sabe que eu agora me pego imaginando como vou me sair como avó?
Pois vocês dois resolveram me agraciar com esse feito bem mais cedo do
que o esperado. — Minha mãe acompanha Emma até a cozinha, onde ela
verifica o forno. 
 
— Ava está bem animada — Leon comenta olhando para minha mãe. —
Toda vez que saímos ela para nas lojinhas de bebê pra comprar algo!
 
— Vai me dedurar mesmo, Leon! — rebate mamãe, mas ao invés de estar
incomodada que seu segredo esteja sido revelado, um sorriso se expande
pelo rosto. — O Mike me disse que vocês vão fazer um chá revelação! 
 
— Minha amiga insistiu que fizéssemos esse evento. — Emma justifica
apoiando no balcão dois copos de suco de laranja, oferecendo um para
minha mãe. 
 
— Então vocês já fizeram o ultrassom? — pergunta animada, caminhando
para nossa sala.
 
— Não, está marcado para o mês que vem, quando eu vou entrar no quinto
mês da gravidez — Emma diz, acariciando a barriga.
 
— E as aulas? Já vai conversou com o pessoal da universidade? — Leon
pergunta antes de tomar um gole da cerveja.
 
— Já conversei. Uma das coisas que me surpreenderam foi o apoio que
recebi por parte da administração. Quando eu precisar sair tenho permissão
como também a realizar consultas nesses horários. Vou continuar indo às
aulas até quando o médico permitir — explica sentando-se ao meu lado.
 
— Bom saber que a universidade dá esse apoio. — Minha mãe diz assim
que Leon apoia o braço sobre a cabeceira do sofá quando ela se acomoda.
— E você também estará no último ano da universidade, não é?
 
— Sim! Não conseguirei finalizar, mas pelo menos quando eu retornar terei
pouca coisa pra realizar, aí vai coincidir com o trabalho final. — Emma
apoia a mão sobre minha coxa. — Já o nosso atleta aqui, vai correr atrás do
destaque e vencer os jogos do campeonato pra ter a chance de ser chamado
pelo Draft!
 
— Verdade, querido, tem o campeonato entre as universidades! Estou
torcendo tanto para você ser selecionado… uma pena que não vou
conseguir mais te patrocinar. — Uma tristeza perpassa pelo seu olhar.
 
— Não se preocupe, mãe! Inclusive já entrei em contato com um dos
melhores escritórios de representação esportiva, pois saindo da
universidade, mesmo passando por um Draft, preciso de algum agente para
cuidar dessa parte da minha carreira. Aí ele vai atrás de patrocínios e outras
partes burocráticas — informo orgulhoso, apertando a mão de Emma com
carinho.
 
— Por que a Ava não pode ser sua agente? — Leon sugere.
 
— Magina, amor! — Ela se vira pra ele. — O Mike precisa de alguém que
tenha experiência em futebol americano, eu tenho experiência com produtos
esportivos. 
 
— Você pensa em retornar ao mercado? — Emma pergunta, chamando a
atenção do seu olhar.
 
— Sim, eu gosto de trabalhar, Emma. Gosto de desafios. Se não fosse esse
problema familiar, tudo estaria bem na Sports Advanced, mas desde que a
família do meu falecido marido decidiu me infernizar… — respira fundo
—, fui perdendo o interesse nessa área. Eles faziam de tudo para
desvalorizar meu trabalho, mesmo com as conquistas da marca eles
achavam ainda que era pouco. Doeu muito ter dado esse ultimato, ter dado
essa satisfação para eles de entregar as pontas, entregar um trabalho de anos
porque são mesquinhos demais, mesmo com uma baita fortuna nos cofres
da família.
 
— Eu sei bem como é doloroso entregar uma empresa de anos, sem ter a
chance de fazer nada — abaixando a cabeça, Emma comenta em um tom
desapontado. — Meus pais tinham uma loja de presentes em Miami, foi
uma conquista deles quando eu ainda era criança. A loja foi crescendo,
sendo um ponto de referência para os turistas da cidade que queriam levar
qualquer lembrança da viagem. Com o falecimento deles, descobri que a
loja não ia bem desde a época da pandemia, estava com muitas dívidas. E
eu não tinha como cuidar dela. Doeu demais colocá-la no catálogo de
vendas, pois como você mesma disse Ava — Seus olhos encontram os dela.
— Foram anos de dedicação os quais não pude reverter, ou eu abandonava
meu sonho de ser cientista para cuidar dos negócios deles, ou eu passava
essa herança adiante. A única coisa que me sobrou em Miami foi a minha
casa, essa eu coloquei para alugar, mas ainda é minha.
 
— Sinto muito pelos seus pais, Emma. — Leon dá seus votos, recebendo
um singelo obrigado. 
 
Minha mãe se levanta do sofá e vem em nossa direção, sentando-se ao
nosso lado e dando um forte abraço na minha namorada.
 
— Emma, eu sei bem a dor que é perder alguém que amamos tanto — diz,
acariciando os cabelos dela. — Saiba que estarei aqui para te ajudar no que
for preciso durante essa gravidez. Você não estará sozinha.
 
— Muito obrigada! — A voz dela falha, e eu sei que está prestes a chorar.
Troco sorrisos com minha mãe antes dela arregalar os olhos, e pelo jeito
teve alguma ideia mirabolante.
 
— Sabe, acabei de ter uma ideia! — Minha mãe se afasta de Emma, mas
permanece segurando seus braços. — A loja da sua família já foi vendida?
 
— Não — responde balançando a cabeça. — Por estar com dívidas é muito
mais difícil vendê-la. Também faz pouco tempo que a coloquei no catálogo
de vendas… 
 
— O que acha de eu comprá-la? 
 
Ela me olha com extrema alegria, antes de trocar olhares com Leon e depois
com Emma. Estou impressionado com a ideia da minha mãe de tentar
recuperar a loja tão querida dos pais da minha namorada.
 
— Você quer comprar a loja de presente dos meus pais?
 
— Sim! Bom, como eu disse, eu adoro desafios! — Um sorriso se expande
em seu rosto. — E ter um negócio em Miami, um polo turístico que recebe
gente do mundo todo, e ainda ter a chance de ficar mais pertinho de vocês e
do meu futuro neto, seria maravilhoso! Bom, eu sei administrar produtos,
acho que não será difícil administrar presentes e lembrancinhas! Tirando
que posso transformar a loja do seu pai outra vez em uma referência, fazer
parcerias, dá pra fazer bastante coisa que atraia os turistas! Se eu já estudei
sobre o ramo do esporte, posso estudar do turismo também! O que acha,
querida?
 
Eu e Emma trocamos olhares antes de voltarmos nossa atenção para minha
mãe que está bem animada com essa possibilidade. Eu particularmente
achei a ideia muito boa, mas dependerá somente de Emma e mais ninguém.
 
— Isso seria incrível! — Emma finalmente dá uma resposta também se
animando com a possibilidade.  — Saber com quem a loja está e que estão
trabalhando pra reerguê-la seria maravilhoso! — Elas duas dão mais um
abraço forte. — Muito obrigada, Ava!
 
— Vamos combinar uma viagem até Miami pra você me mostrar a loja e
realizarmos todos os trâmites! — Ela sacode os ombros dela. — Quem sabe
agora posso aproveitar mais as praias e tirar aquelas férias tão merecidas
antes de botar a mão na massa! Não é, amor?
 
— Sabe, é meio esquisito ouvir você chamando-o assim — comento
fazendo todos me olharem. — Enfim, acho a ideia sensacional, mãe! Emma
a loja dos seus pais estará nas melhores mãos, ela é a melhor CEO que
poderia ter!
 
— Modéstia da sua parte, filho. — Minha mãe bate no meu ombro. — Fico
feliz em saber que pelo menos um patrimônio não estará totalmente
perdido, e está na hora de alçar novos voos!
 
Após aquela troca gostosa de informações sobre o novo futuro da minha
mãe, ao lado do Leon, que envolveria a loja dos pais de Emma, nos
sentamos para almoçar. Onde a conversa continuou fluindo sobre os mais
diversos assuntos, sendo que minha mãe queria saber mais da Emma, e eu
do Leon. Foi uma apresentação momentânea de namorados um para o
outro. 
 
No fim, achei o Leon um cara bem legal, mesmo que ele curtisse mais
basquete do que futebol americano. Ele demonstrava ser um homem devoto
a minha mãe, pois suas trocas de olhares não tinham como negar a atração
avassaladora que sentiam um pelo outro. Emma foi super educada e
carismática com os dois, convidando-os a vir mais vezes para ficar no
quarto de hóspedes, mas eu ainda não estava preparado pra essa conversa.
 
Quando nos despedimos, e aquele casarão voltou a ser apenas eu e minha
princesa, após limpar e organizar as coisas, nos sentamos em frente a
televisão para nos empanturrar de pipoca doce. 
 
— Minha mãe adorou você — digo, acariciando seus sedosos cabelos.
 
— Acha mesmo? — Ela se volta pra mim ainda insegura.
 
— Tenho certeza! Já vi situações que ela não gostasse de alguém comigo,
pode crer! — afirmo relembrando da minha ex. 
 
— Espero ter uma ótima relação com ela. — Emma volta a deitar sua
cabeça sobre meu peito. — Ela será a única avó do nosso bebê, e eu quero
que ele ou ela perceba a importância de tê-los em nossas vidas.
 
Pensar nessa realidade deixa o clima mais dramático, mas pra melhorar a
situação, apoio minha mão sobre sua barriga. 
 
— Ela será a melhor avó do mundo, mas também nosso bebê saberá os avós
incríveis que tiveram e que agora eles o protegem lá de cima. — Curvo-me
e dou um beijo estalado na barriga dela.
 
— Sua mãe me contou uma coisa da qual você não me disse. — Sua mão
envolve meu cabelo iniciando um carinho, antes de eu apoiar minha cabeça
sobre sua barriga. — Que você descobriu que ela também havia guardado
segredo sobre a gravidez.
 
De fato eu não havia contado esse capítulo pra ela assim que retornei a
Flórida. A única coisa que relatei foi a minha demora, pois estava
resolvendo os problemas de família.
 
— Foi um choque de realidade que levei no momento que ela me contou.
Ao mesmo tempo, foi a explicação porque a família do meu pai desconfiava
tanto da gente. Eles achavam que eu era um bastardo, que meu pai me
assumiu. — Volto a acariciar sua barriga. — Então quando o babaca do meu
tio disse isso, eu fiquei magoado porque ela nunca tinha me dito nada, e
achei que ela havia mentido pra mim por todos esses anos. Foi aí que ela
me contou quando a questionei, que fugiu porque tinha medo do que a
família do meu pai poderia fazer com ela e com o bebê. A sorte é que meu
pai era insistente, e não conformado com o desaparecimento dela, foi à sua
procura, e não cansou até encontrá-la.
 
— Acho que já ouvi essa história. — Um sorriso se expande pelo seu rosto.
— Um conto de fadas bem moderno com uma pitada especial.
 
— Verdade — Rio voltando a encontrar seu lindo olhar. — Isso foi a gatilho
pra eu cair na minha, que eu poderia perder vocês dois pelo simples fato de
não ter escutado sequer sua explicação, que eu me arrependeria se
continuasse te afastando.
 
— Mas você foi insistente, igual ao seu pai, em encontrar uma mulher
desconhecida pela universidade após apenas um encontro. — Sua mão
acaricia minha nuca. — Você poderia simplesmente ter me esquecido e
partido pra outra.
 
— E eu nunca saberia dessa gravidez. — A encaro mesmo sabendo a sua
resposta. Emma suspira desviando o olhar pra televisão.
 
— Eu não sei como teria sido esse capítulo, já que ele não aconteceu Mike.
— O desconforto em sua voz anuncia que falei besteira.
 
— Desculpa — beijo seu rosto antes de deitar minha cabeça em seu ombro
e voltar a apoiar minha mão sobre sua barriga e iniciar minha conversa com
meu futuro filho. — Eu sou um papai muito malvado, né, bebê? Falando
desse jeito com a mamãe. Mas ela precisa saber que mesmo com toda essa
reviravolta em nossas vidas, ela está me dando um presente maravilhoso:
você. Quem eu já amo com todas as minhas forças.
 
Emma puxa minha cintura para um abraço, antes de procurar meus lábios e
depositar ali um delicioso beijo. Sinto o gosto salgado de suas lágrimas,
mas logo se tornam doce em sua boca. Afastamo-nos apenas pra buscar o ar
que nos falta, antes dela encostar sua testa na minha.
 
— Eu estive pensando no nome do nosso bebê. — Sua mão segura a minha
sobre o volume que em breve se tornará um formato bem redondo. — Se
for uma garotinha, ela se chamará Annelise Helen, o segundo nome é em
homenagem a minha mãe. Agora se for um garotinho. — Ela abre mais
ainda o sorriso. — pensei em chamá-lo de Theo Roman, em homenagem
aos seus dois avôs. 
 
Ouvir o nome do meu pai faz com que meus olhos automaticamente se
encham de lágrimas, e uma risada de alegria misturada com choro saia da
minha garganta. Sem pensar duas vezes volto a beijá-la com tamanha
paixão e agradecimento.
 
— Eu amei — digo, segurando o seu cabelo atrás da orelha. — Eu amei a
ideia, Emma.
 
— Aposto que ficou mais animado ainda se for um garoto né. — Seu dedo
vem de encontro com uma das minhas lágrimas.
 
— Não importa se será menino ou menina, vou continuar amando esse bebê
com todas as minhas forças, como os próximos também — beijo sua testa.
— Quero construir uma família linda ao seu lado, princesa.
 
— Já estamos construindo, meu príncipe.
 
Nossa troca de olhares é tão profunda, que me perco na imensidão daqueles
olhos amarronzados que fez meu coração disparar no primeiro momento
que conversamos naquele sofá na festa do baile de máscaras. Do mesmo
olhar que trocamos quando transamos pela primeira vez e tantas vezes
depois. Do mesmo jeito que nos reconhecemos naquele corredor de livros,
ou quando nos machucamos e nos reconciliamos. 
 
Eu me apaixonei por essa linda mulher nos seus mínimos detalhes, pelo seu
jeito de ser o qual foi verdadeira do início ao fim, mesmo com todo o bafafá
da gravidez secreta, ela me fez sentir o cara mais feliz da porra deste mundo
todo! Eu a amo, e eu quero mais do que tudo é gritar para o mundo o quanto
estou louco por essa mulher.
 
 
Viver com o Mike tem seus desafios. Afinal, quando moramos com alguém
em definitivo, tudo é uma questão de costume. Por mais que você conheça a
pessoa do dia a dia, é muito diferente quando estamos dividindo o mesmo
teto. 
 
Não estou reclamando que ele é bagunceiro, muito pelo contrário. Ele é tão
organizado que às vezes implica comigo apenas por deixar algo
desarrumado por alguns dias. Mike tem tudo que uma mulher necessita em
casa. Além da organização, não preciso ficar pedindo mil vezes pra ele
fazer uma coisa, ele pega e faz, além de me satisfazer muito bem,
principalmente dentro da banheira da nossa suíte. 
 
Mas não posso dizer que ele é perfeito, porque ninguém é, mas Mike tem
uma coisa que não é bom: cozinhar. Se ele soubesse cozinhar, colocaria o
selinho de excelência, mas nesse quesito ele ainda tem que aprender e
muito. Chega até mesmo ser traumático, então o deixo longe da cozinha.
 
Apesar de não sermos casados, ou nos chamarmos de “marido e mulher,
morar junto diz muita coisa. Abigail mesmo surtou quando contei que ele
pediu perdão, quis reatar comigo, e de quebra me levou para o seu
“castelo”. É bem um conto de fadas! Se alguém queria saber o depois dos
“felizes para sempre” que aparece nos créditos de Cinderela, poderia ser
esse. 
 
Uma das visões do meu castelo é acordar vendo Mike malhando seu corpo
sarado em uma salinha à parte que temos em nosso quarto, ou vê-lo
correndo por toda a rua sem ouvir nada e nem ninguém por conta dos fones
de ouvido. Mas a melhor parte era quando nos deitávamos naquele sofá
aconchegante e comíamos os mais diversos snacks enquanto terminávamos
de assistir todos os 64 episódios de Fullmetal Alchemist. Agora eu estava
trazendo-o para o mundo dos doramas com alguma trama de ação que ele
possa gostar, tipo Iris. 
 
Em questão de cuidar de mim, Mike era um amor. Ele sempre estava
preocupado comigo, seja com minhas tonturas que foram presentes durante
toda a gravidez, como também com o fato que comecei a ficar muito
cansada. Vire e mexe eu pegava no sono, seja assistindo anime ou quando
estava estudando, e quando dava por mim ele me pegava no colo mesmo e
me levava para o quarto. Nem vou comentar sobre eu estar com alterações
no humor. Não chegamos a brigar feio por conta disso, porque geralmente
acabo chorando no final, e ele me consola entendendo toda a situação.
 
Quando voltamos as aulas na universidade, decidimos que iríamos no carro
dele, mas que a chave ficaria comigo para eventuais emergências. O meu
decidiu ir parar no mecânico, e eu teria que ir para os laboratórios para
seguir com o meu trabalho de meio período que insisti em continuar, pois
eu estava aprendendo muito com o pessoal. Eu o deixava no centro de
treinamento e seguia para os prédios de química. Após o meu expediente,
retornava para buscá-lo, já que os treinos estavam intensos devido ao início
do campeonato no final do mês.
 
Não deixei de notar os olhares em mim, mesmo com as roupas mais
soltinhas, não tinha como enganar as pessoas que já tinham lido a fofoca do
ano. Infelizmente ouvia comentários desagradáveis como se eu estivesse
dando um golpe no famoso quarterback, mas não me deixei abalar,
simplesmente ignorei e segui com a minha vida. Abigail insistia que eu
podia denunciar a discriminação no campus, mas não queria colocar mais
lenha na fogueira, muito menos dar a ideia para esse pessoal de que sou
frágil e continuar sendo o motivo de fofoca na universidade.
 
— O Mike vai conseguir ir conosco no ultrassom? — Abigail pergunta
assim que nos sentamos em frente a nossa bancada no laboratório.
 
— Ele disse que conversou com o treinador, que liberou a saída dele —
informo, colocando a mochila no chão.
 
— Aaah não vejo a hora da gente descobrir quem é o bebê da titia! — Ela
abre um sorriso enorme antes de fazer bico. — Estou morrendo de
saudades, amiga. Por mais que o nosso quarto esteja agora só pra mim, sei
que a qualquer momento a administração pode transferir alguém para
minhas dependências. Sorte que estamos no último ano, não sei se
aguentaria conviver com alguém novato por muito tempo.
 
— Espero que você fique um bom tempo com o quarto só pra você — bato
meu ombro no dela. — Aí você pode aproveitar a vontade com o Chris.
 
A reação do Chris quando soube que o melhor amigo seria pai, de acordo
com Abigail, foi hilária! Ele não acreditou nessa reviravolta, pois sempre
achou que ele seria o primeiro a engravidar alguém, e não que o amigo seria
pai tão cedo. Minha amiga logo avisou que, com ela, ele teria que andar na
linha, pois sempre quis ser tia cedo, não mãe.
 
Algumas horas depois, estou com Abigail no carro estacionando na frente
do centro. Estou indo para a ultrassom e minha melhor amiga ficará com o
resultado do sexo do bebê, pois quer montar um chá revelação para nos
surpreender. Quero vê-la aguentar segurar esse segredo até o sétimo mês,
quando planejamos realizar um encontro bem restrito.
 
— Cheguei! — ouço Mike assim que se aproxima do carro. Ele
cumprimenta Abigail ao meu lado e depois entra no banco de trás. Me viro
para receber um rápido selinho. — Ansiosa?
 
— Sim, apesar da gente não saber o resultado — respondo olhando para
Abigail antes de sair com o carro.
 
— Pelo amor de Deus, Abigail, não fala nada para o Chris, ele é muito
linguarudo! — Meu namorado implora fazendo a minha amiga gargalhar.
 
— Sei bem a fama dele, pode ficar tranquilo que guardarei esse segredo a
sete chaves e só daqui a dois meses vocês saberão quem está chegando,
Annelise ou Theo! — Abigail cruza os dedos em promessa.
 
Já no consultório, mesmo sem saber o sexo do bebê, a ansiedade toma conta
na sala da médica, deixando as minhas pernas inquietas e as mordidas nos
lábios mais constantes. Até que a mão de Mike envolve a minha e encontro
o seu olhar azul acinzentado.  Ele me transmite a segurança que preciso,
sendo assim abraço o seu braço.
 
— Não fique nervosa, vai estar tudo bem com o bebê. — Ele sussurra no
meu ouvido.
 
— Assim espero — encosto minha cabeça em seu ombro.
 
— Senhorita Emma Steele. — A médica chama.
 
Nós dois nos levantamos e seguimos para o consultório, recebendo um
joinha animado de Abigail que aguarda na sala de espera. Lá dentro,
respondo todas as perguntas da médica e solicito que não informe o sexo do
bebê, pois o resultado ficará com uma amiga de confiança. Ela concorda,
dizendo que vivem fazendo aquele pedido. A médica então pede para que
eu me deite sobre a maca de exame, para que assim passe o gel condutor,
avisando com um grande sorriso que iremos conhecer o nosso bebê pela
primeira vez. Isso faz com que o meu coração bata mais forte. 
 
Sinto o gel gelado sobre a minha pele, levando-me a tremer de emoção,
enquanto a mão de Mike aperta a minha. O quaterback está ao meu lado,
acompanhando tudo e não deixo de trocar sorrisos com ele, grata por estar
ali para compartilhar aquele momento comigo. A médica desliza o condutor
pela minha barriga. Olhamos ansiosos para a tela preta, até uma imagem se
formar, ainda pequena, mas nítida. É o nosso bebê! Imediatamente meus
olhos se enchem de lágrimas.
 
— Aqui está o bebê de vocês! — anuncia a médica, animada.
 
A mão de Mike aperta a minha mais forte, e olho para ele por um instante,
sabendo que está tão emocionado quanto eu em ver o nosso futuro filho ou
filha pela primeira vez.
 
— Tem mais uma surpresinha. — Então, quando menos esperamos, um som
se torna presente na sala, até minha mente associar aos batimentos
cardíacos do bebê. Solto o ar abrindo um largo sorriso ao ouvi-lo pela
primeira vez, enquanto lágrimas deslizam pelo meu rosto, tentando conter a
emoção daquele momento. — Nos próximos dias vocês irão sentir o bebê
chutando.
 
A médica ainda sorridente em ver nossas reações, continua o exame
analisando todo o bebê, falando de termos médicos e nos explicando cada
procedimento, inclusive dizendo que no próximo retorno se optarmos em
fazer um ultrassom morfológica em 4D ou 5D teremos uma visão mais
realista do bebê. Saímos felizes em saber que o nosso bebê está crescendo
saudável.
 
Abigail vem ao nosso encontro, ansiosa para saber os detalhes, e começo a
tagarelar com ela até o exame do sexo do bebê sair em um envelope
lacrado. Pelo menos as imagens vem para a nossas mãos, e volto a me
emocionar ao vê-lo naquele retrato preto, as mãozinhas, seu corpinho
pequenino, com a cabeça em formação. Olho para a minha amiga que
enxuga as lágrimas, abraçando eu e Mike simultaneamente. 
 
— Estou tão feliz por vocês!
 
Retribuímos o seu abraço antes de sair do consultório. Minha melhor amiga
segura a bolsa com o envelope como se fosse a coisa mais preciosa,
enquanto nos convence que o chá revelação será belíssimo. Deixamo-la no
meu antigo dormitório antes de seguirmos para nossa casa em um bairro
fora do campus.
 
— Tanta coisa acontecendo que nem perguntei: está ansioso para o início do
campeonato neste sábado? — viro-me para ele que ficou responsável pelo
volante.
 
— Tô sim! Será a abertura em nosso estádio, não podemos levar nada na
brincadeira e ser bem profissionais — responde, virando uma esquina. —
Conforme o tempo passa parece que as exigências se tornam maiores, sabe?
Mas estou confiante! Eu me dediquei durantes anos, participei de vários
campeonatos, e esse é o último período definitivo aqui na universidade. É
quando os olheiros aparecem para selecionar jogadores que se destacam
para o Scouting Combine, aquele teste físico e mental da Liga o qual te
falei, e isso já é um grande passo rumo a seleção para uma das chamadas do
Draft. Só o fato de eu conseguir ser convidado e ter a chance de mostrar
meu potencial para a equipe da NFL para, quem sabe, um time de renome
da Liga me convocar, será perfeito! Minha carreira estará definida, Emma!
— Seu tom é todo animado. — Olha o Tom Brandy, ele foi selecionado
pelo Patriots no Draft e fez uma puta história como quarterback.
 
— Tenho certeza de que você será reconhecido — aperto seu braço com
carinho. — Quero estar ao seu lado quando o seu nome for chamado
naquele lugar chique e você subir no palco pra receber a camisa do time que
te escolheu! E aquele agente esportivo, entrou em contato com você?
 
— O Robert? Sim! Ele ficou de vir até a Flórida para conversarmos. — Ele
para em um farol vermelho. — Eu sei que já falamos sobre isso, mas você
ficará realmente bem se eu for para Indianópolis caso seja selecionado? 
 
— É claro que sim! É o seu sonho, Mike, não se preocupe conosco —
acaricio a minha barriga. — E será apenas em fevereiro, né? Nosso bebê
ainda será um recém-nascido… 
 
— Mas eu deveria estar contigo nesses momentos que serão os mais
difíceis, Emma. — Ele aperta o volante.
 
— E perder a chance da sua vida? Não vou deixar! — aperto seu braço,
reconhecendo a nossa rua, louca para tomar um banho assim que
chegarmos. — Sua mãe ou a Abigail ficarão comigo durante essa semana
que você se dedicará aos testes. Quero que dê o seu melhor, Mike, pense na
gente, e mostre o quão foda você é! Vou te assistir na TV com o nosso bebê
no colo, e estaremos torcendo para o seu sucesso!
 
— Amo tanto quando você me apoia — declara no momento em que
paramos em frente a nossa casa. Antes de sairmos do carro, ele acaricia meu
rosto, me puxando para um delicioso beijo que me acende por inteira.
 
— Tenho certeza de que faria o mesmo por mim — comento assim que
consigo me afastar do seu beijo viciante.
 
— Você ainda será uma cientista incrível, Emma! — Seus dedos ajeitam o
meu cabelo atrás da orelha. — Eu sei que você foi a pessoa que mais foi
prejudicada… nem sei se essa é a palavra certa, mas, eu sei que esse não era
o futuro que você aguardava. Mesmo que seu sonho tenha ficado mais pra
frente, eu sei que você vai conseguir alcançá-lo. 
 
— A parte boa de ficar com o bebê, é que vou ter tempo pra ler e estudar
muito, quer dizer — rio da situação —, se ele ou ela deixar. É bem capaz de
eu dormir em cima dos livros. Acho que toda a minha energia será sugada
nos primeiros meses, até conseguir me acostumar.
 
— E não pense que é só porque estarei treinando que eu não vou te ajudar.
Darei o meu melhor, mesmo com as viagens, serei um pai presente. E com
certeza, precisaremos de uma babá!
 
— Você já vai me treinar a ficar longe de ti nos próximos jogos do Gators,
que será em outros locais — aviso coçando a sua barba.
 
— Chame a Abigail pra ficar contigo, princesa — pede, beijando a pontinha
do meu nariz.
 
— Eu vou ficar bem — garanto antes de abrir a porta do carro. — E vou
assistir todos os jogos que não forem aqui na universidade, mas já que esse
ano a abertura é aqui, então terei a chance de te ver estrelando!
 
— Quando eu era apenas o seu crush — Ele me abraça por trás conforme
caminhamos até a entrada. — Você acompanhava todos os jogos?
 
— Ah, quando tinha jogo no The Swamp, sim. Não ficava em lugares
privilegiados, sabe? Mas eu queria te ver, mesmo que de longe — respondo,
abraçando seus braços. — E a Abigail ia comigo, ela sempre gostou de
futebol americano, mas foi aos poucos que ela se interessou pelo Chris.
 
— Esse ano vocês terão uma visão privilegiada! — Mike beija minha
bochecha antes de eu abrir a porta. — Já reservamos a primeira fileira para
vocês, logo atrás do nosso banco.
 
— Uau! A Abigail vai surtar!
 
— E você não? — Ele se vira em sua direção e encontro seus olhos
acinzentados esperando uma resposta no momento que ele coloca nossas
mochilas sobre as poltronas da nossa sala.
 
— Claro! Mas você vai entender o “surtar” quando estivermos no estádio
— pisco pra ele antes de lhe dar os ombros. — Mas vou amar ver você de
pertinho, e estou torcendo para ver você ganhar essa partida, sabe por quê?
— enfatizo olhando por cima do ombro, ele nega com a cabeça. — Dizem
que vocês ficam tão eufóricos com uma partida vencida, que o nível de
transa é surreal. — Um sorriso safado surge em seus lábios, mordo os meus
em resposta. — Então, posso confessar que estou curiosa.
 
— Então prometo que farei de tudo para ganhar essa partida! — Ele volta a
me abraçar por trás, depositando beijos em meu pescoço, criando um rastro
gostoso por todo o caminho. — Podemos começar a análise hoje, então
você pode decidir se esse boato é verdadeiro. O que acha?
 
Sua mão vai de encontro com a bainha da minha blusa. Permito que ele
puxe, deixando-me apenas de sutiã. Levo minha mão em direção a sua
nuca, enquanto uma das suas acaricia o meu corpo e a outra abre o zíper da
saia que desliza pelas minhas pernas, conforme seus lábios exploram meus
ombros e pescoço.
 
Volto a me virar para Mike. Seus olhos estão sedentos de desejo, mas não
me canso de admirar seu belo corpo, por isso arranho suas costas antes de
puxar a sua blusa, exibindo seu peitoral perfeito. Não resisto e começo a
deslizar minha mão por cada gominho definido, beijando-os logo em
seguida. Um gemido rouco sai da sua garganta com aquele contato, ao
mesmo tempo em que uma de suas mãos agarra os meus cabelos.
 
Começo a abrir o botão e o zíper de sua calça, que desliza para o chão,
revelando uma cueca boxer. Minhas unhas arranham sua virilha e,
encarando seus lindos olhos, deslizo uma mão para dentro da sua cueca
boxer, iniciando os movimentos de vai e vem enquanto observo as
expressões em seu rosto darem lugar ao puro prazer. Enquanto aproveita o
carinho, suas mãos deslizam pelas minhas costas, entre apertos em minha
bunda, e leves puxões em meus cabelos.
 
Mordo os lábios quando sinto minhas costas sendo apoiadas no balcão da
cozinha. Uma das mãos dele desliza pela minha barriga antes de arrancar a
minha calcinha, entrando para o hall das rasgadas por ele. Permanecendo
com o olhar focado no dele, sinto seu dedo invadir minhas dobras,
arrancando-me um gemido.
 
— Achou que seria a única a sentir prazer? — A voz rouca e cheia de tesão
faz todos os pelinhos do meu corpo se arrepiarem. Em outras circunstâncias
ele já teria me jogado contra essa bancada, mas nas atuais condições em que
nos encontramos, não é possível.
 
— Você nunca me decepciona — falo com a voz entrecortada, enquanto as
terminações nervosas do meu corpo respondem às suas investidas e, ao
mesmo tempo, continuo a estimulá-lo.
 
— Quer fazer nessa posição mesmo, ou… — pergunta, mordiscando o
lóbulo da minha orelha. 
 
— Eu quero assim — informo, soltando o seu membro ereto e me virando
de costas. 
 
Puxo meus cabelos pra frente, me apoio na bancada e empino a bunda em
sua direção. Olho por cima do ombro do jeito mais sexy possível, ganhando
um sorriso seu antes de se livrar da cueca e se posicionar atrás de mim.
Mike começa a deslizar seu membro contra minha entrada, fazendo-me
gemer com o contato, ao mesmo tempo que sua boca distribui beijos pela
minha pele, antes de senti-lo me penetrando com vontade. O contato faz
com que eu jogue minhas costas contra o seu peitoral, sentindo-o deslizar
até o talo. Não tenho medo, pois eu sei que ele me sustenta contra o seu
corpo. As estocadas iniciam, assim como o contato da sua mão contra meu
clitóris. Me agarro ao balcão e aos cabelos dele, sentindo meu corpo reagir
a cada estímulo. Ele aumenta a intensidade, fazendo nós dois gemermos
alto pela casa vazia.
 
— Você fica mais gostosa a cada dia que passa — elogia, mordiscando o
meu ombro, pescoço, e por fim encontrando os meus lábios.
 
— E você. adora. bajular. a minha. autoestima — falo a cada estocada,
sentindo o meu corpo cada vez mais entregue.
 
— Isso é mínimo que um cara deve fazer por sua mulher. — Sua mão
empurra de leve minhas costas, e volto a me curvar, empinando a bunda
ainda mais. Seguro a bancada com força antes de receber um puxão de
cabelo, que me pega de surpresa, mas é excitante ao mesmo tempo.
 
Nossas respirações se aceleram, como as estocadas também, estou a ponto
de ter um colapso, meu corpo inteiro está em chamas, meu coração está
agitado, e quando o clímax chega com força, ambos gritamos, confirmando
que chegamos lá juntos. Cansada, apoio meu corpo contra o seu, enquanto
esperamos nossa respiração voltar ao normal, mas Mike é mais rápido e me
toma nos braços, arrancando-me um gritinho assim que me pega no colo.
 
— Aposto que te cansei muito — diz, levando-me em direção ao nosso
quarto. — Sábado vou te cansar, mas quero você em um lugar mais
confortável.
 
— Sempre preocupado — digo, acariciando seu cabelo enquanto um sorriso
brincalhão permanece no meu rosto. — Não vou sentir minhas pernas, é
isso?
 
Ele não me responde, mas seu olhar diz tudo. Ai, ai, Mike… você pode
continuar sendo meu primeiro e último homem, pois eu sei que com você
não haverá monotonia. 
 
 
 
Go Gators! Go Gators! Go Gators!
 
Os gritos da torcida da nossa universidade se intensificam contra a torcida
do time rival que veio assistir ao jogo. É como um grande incentivo para
nós que aguardamos nos bastidores para sair no momento certo, enquanto
toda uma apresentação era realizada no campo naquele momento.
 
Pelo telão interno víamos toda banda da universidade espalhada no
gramado, com os mais diversos instrumentos, enquanto o hino do time é
entoado. As líderes de torcida fazem as suas performances, animando a
arquibancada. Por um instante vejo Hailey entre elas exibindo seu melhor
sorriso.
 
— Nervoso? — Kyle se aproxima, apertando o meu ombro.
 
— Não vou negar que estou um pouco! Faz tempo que a abertura não é
realizada em nossa casa né, mano? Então a emoção é diferente — respondo,
verificando as proteções de pulso.
 
— Digo, além desse nervoso? O outro? — Kyle me relembra do que
planejo fazer ao fim do jogo. 
 
— Ah, sim, muito! — respondo. — Mas tô evitando pensar.
 
— Temos que estrear bonito nesse campeonato! — Chris diz, animado. —
Não quero decepcionar minha mina. Ela estará me assistindo.
 
— Desde quando tu virou um cara tão apaixonado, Chris? — Harry revira
os olhos apertando os cadarços da chuteira. — Agora tudo que tu diz é
respeito a sua mina.
 
— Ah fica na tua, Harry. Você que se incomoda com a felicidade dos
outros. — Chris rebate, mas antes que isso vire uma discussão resolvo me
intrometer.
 
— Galera, o foco de hoje é começar o campeonato bem, pra chegar na
próxima partida com uma vantagem muito boa! — falo alto, pois a
pretensão é alcançar todo o time, pois meu momento de liderar começou. —
Lembrando: hoje teremos olheiros. Isso significa que temos que dar o nosso
melhor. Todos os campeonatos têm importância com o nosso futuro
profissional. É o pontapé inicial para tudo que acontecerá em nossas vidas.
Não importa se você não está no último ano — olho para Harry, Kyle e
Chris, pois cada um esta em um ano letivo diferente. — Todos aqui querem
ter uma oportunidade, querem ser reconhecidos, arrumar um emprego, e eu
sei que tem muitos talentos que vão conseguir essa vaga. A questão não é
rebaixar o amigo, pois toda sua vida no futebol será o trabalho em grupo,
sem ele não somos nada. Absolutamente nada. Então deem o seu melhor,
mostrem pros outros caras que vamos devorar eles! — Faço o gesto da boca
de jacaré com as mãos, nosso bordão tradicional, e todos me imitam. —
Quem nós somos?
 
— GATORS!
 
— Quem nós somos? — repito, levantando o capacete.
 
— GATORS!
 
Os gritos soam no vestiário enquanto o time se anima, colocando os
respectivos capacetes e proteção de boca.
 
— Eles vão provocar, vão querer nos diminuir, mas os Gators não se
intimidam! A gente age na surdina, os pegamos quando eles menos
esperam. Façam seu melhor, pois isso tornará essa noite inesquecível no
The Swamp, vamos mostrar pra todos quem manda aqui!
 
Dou meu ultimato seguindo para a linha de frente, me preparando para
entrar com o time atrás de mim. Cumprimento alguns fãs que se penduram
na arquibancada para nos ver, antes de fechar os olhos por um momento,
rezando para o meu pai me guiar nessa partida. Ouço o aviso sonoro
liberando nossa presença e entro correndo no estádio ao lado dos meus
companheiros.
 
Os gritos se tornam mais altos. Acenamos para a plateia cheia de pessoas
vestidas de azul e laranja, enquanto uma pequena parte do estádio está com
pessoas usando vermelho e branco. Seguimos para a nossa posição em
campo com o time principal, onde iremos cantar o hino dos Estados Unidos,
mas meus olhos buscam por alguém especial algumas fileiras à frente, e a
encontro ao lado de Abigail, que está toda cheia de cacarecos de fã.
 
— Sua namorada veio toda produzida — falo chegando perto de Chris, que
olha na mesma direção que eu.
 
— É o jeitinho dela de torcer. — Ele responde, acenando pra elas. As duas
acenam de volta e eu retribuo o gesto. É… meu amigo está apaixonado
mesmo, pois num tipo de situação como essa ele teria inventado uma
desculpa qualquer.
 
O outro time entra em campo recebendo aplausos da plateia, e alguns gritos
histéricos dos seus fãs, mas logo o estádio fica em silêncio para todos
cantarem o hino nacional. Assim que terminamos, vamos em direção ao
treinador para os últimos ajustes.
 
— Vocês já sabem a tática do outro time, estudamos ela muito bem nos
últimos dias. — Começa o treinador Jenkins, encarando cada um de nós. —
Vamos vencer essa partida na nossa casa, com a nossa torcida! Vamos
conquistar essa vantagem, e mostrar para os adversários quem são os
Gators! 
 
Damos um urro e fechamos nossas mãos em formato de boca de jacaré,
antes de irmos para o campo, colocando-nos em nossa primeira posição. O
kicker se posiciona para dar o chute, iniciando assim o primeiro confronto,
e o estádio começa a gritar mais alto. 
 
Após o primeiro impacto, volto a me reunir com o meu time dando
instruções, antes de seguirmos para as posições de defesa, onde início os
comandos. Encarando os nossos adversários frente a frente, após o aviso do
apito, começamos a abordagem, mas eles são rápidos na defesa, e não
conseguimos passar pelo seu bloqueio. Mas futebol é exatamente assim,
vamos aprendendo em várias tentativas até quebrar barreiras para conseguir
pontos e os desejados touchdowns. 
 
A torcida grita e apoia a todo instante, então não demora muito para
conseguirmos uma tática para alcançar a end zone do time adversário, mas
estamos em busca do touchdown. O treinador Jenkins faz a primeira troca
na defesa e ataque. Enquanto aguardo o posicionamento, volto a estudar
como vou receber a bola e passar para o Kyle na outra ponta, para que ele
corra o mais rápido possível.
 
Nesse momento olho rapidamente para a arquibancada onde Emma se
encontra. Usando um vestido rosa e o jaleco, seu sorriso é enorme enquanto
entoa com os outros torcedores nossos gritos de guerra em meio ao mar de
azul e laranja, sinto uma alegria crescente em meu peito antes de dar o
comando. 
 
Assim que a bola chega em minhas mãos, engano os adversários e corro,
mirando na direção de Kyle. Quando ele está em uma distância
considerável, jogo a bola em direção ao meu amigo, que a pega no bola no
ar e sai correndo a ponto de ninguém alcançá-lo. A plateia vai à loucura
prevendo o que mais desejamos, e quando ele chega na end zone do
adversário, o touchdown é anunciado fazendo todo o estádio comemorar.
Corremos em direção a ele para festejar a pontuação máxima da partida.
 
Após o primeiro tempo, vou em direção ao banco, retirando meu capacete
pra tomar água e enxergar melhor Emma, que ainda comemora com a
plateia. Assim que trocamos olhares, ela me manda um beijo, então brinco
pegando-o no ar e mando outro em resposta. 
 
O jogo continua enquanto pensamos em como ultrapassar as jardas e ir
encurralando o adversário até ele perder. Estamos em vantagem,
principalmente quando conseguimos realizar mais um touchdown que leva
a arquibancada à loucura. 
 
Meu corpo inteiro está pegando fogo com a adrenalina de começar tão bem.
Minha autoconfiança está em um grau elevado, pois acredito que ainda
ganharemos essa partida sem muito esforço. Percebo que o outro time já
está desestabilizado com a situação que se encontra, e quando um time
começa a perder as esperanças de lutar, sabemos o real destino da partida. 
 
Estamos no último tempo, a poucas jardas do final, e o outro time decide
reagir com mais agressividade. Há momentos em que a partida é parada
para apartarmos brigas em campo, já que alguns jogadores estão perdendo o
controle por verem que estão sendo derrotados. Mantenho-me no controle.
Eu não desejo cometer o mesmo equívoco que ocorreu com Orange & Blue
Game, então oriento a minha equipe para conter as emoções e as
provocações, pois não podemos desandar, já que a partida está em nossas
mãos.
 
Quando o sinal toca encerrando a partida de 20 a 12, o estádio parece
tremer com tamanha alegria da torcida. O time inteiro vem pro meio do
campo comemorar a primeira vitória do campeonato. Ainda é o começo,
mas o objetivo é vencê-lo no final, trazendo um troféu pra casa e a honra ao
mérito.
 
Mas eu não podia esquecer de outro evento importante que eu estava
prestes a realizar. Corro em direção à arquibancada onde Emma está, e pulo
a mureta sem dificuldades, indo até seu encontro.
 
— Você ganhou! — Ela grita animada, antes de envolvê-la em um abraço
apertado e em seguida a surpreendo com um beijo. Os assobios soam alto e
as palmas também, com certeza estão exibindo nós dois no telão.
 
— Obrigado por tudo, princesa! Por entrar na minha vida, por me enxergar
além do atleta, por mudá-la tão de repente em algo bom — sussurro em seu
ouvido. — Mas eu preciso transformar essa comemoração em algo mais
especial e memorável para nós dois. Não tenha raiva de mim, mas preciso
que todos saibam que eu amo você.
 
A banda da universidade volta ao centro começando a tocar a marcha com a
melodia de Just the way you are do Bruno Mars, recebendo um coro da
arquibancada. Chris se aproxima estendendo um pacote pra mim conforme
o combinado. De lá retiro uma caixinha levando a mão de Emma
imediatamente a boca. Ajoelho-me no corredor, ficando de frente para ela,
com todos os olhares em nós, mas finjo que existe apenas nós dois naquele
ambiente e digo em alto e bom som.
 
— Emma Steele, você aceita se casar comigo?
 
O estádio fica agitado, antes dela abrir um largo sorriso e gritar um sonoro.
 
— SIM!
 
Eu e toda a torcida comemoramos o pedido de casamento. Pego-a no ar,
girando-a antes de beijá-la com muito amor. Volto a encontrar seus olhos
amarronzados e pego sua delicada mão, colocando no dedo anelar a aliança
com o detalhe de uma pequena borboleta. Assim que coloco o delicado
acessório, levo sua mão aos meus lábios e encosto nossas testas.
 
— Eu amo você — declaro.
 
— Eu amo mais — afirma, beijando-me com carinho.
 
Todos, sem exceção, sabem que o meu coração pertence apenas a uma
pessoa. A mulher que conquistou meu coração sem mostrar o rosto, que me
deu um bebê surpresa, e que agora constituirei uma família. Mike McCoy
está construindo uma carreira e também construindo um legado. 
 

 
— Então você é a famosa Emma Steele! Agora sim fomos devidamente
apresentados! — Kyle anuncia animado. 
 
— Sim. — Ela diz abraçada a minha cintura assim que encontramos a mesa
do bar onde meus amigos estavam após a partida daquela noite. Mesmo
cansados queríamos brindar o momento.
 
— Agora oficialmente minha noiva, então nada de ficar de olho hein,
pessoal! — brinco, puxando uma cadeira para ela, a barriga de cinco meses
dando ar da sua graça. 
 
— Como se sente sendo pedida em casamento na frente de todo o estádio?
— Abigail comenta sorrindo de leve para amiga. Chris também decidiu
mostrar aos rapazes que está em um relacionamento sério, pois eles não
acreditaram quando ele apenas disse sobre isso, todos precisavam de uma
prova, e ele comprovou.
 
— Aposto que você sabia disso o tempo todo! — Emma rebate olhando pra
amiga que levanta as mãos para cima em redenção
 
— Não, não, não! Não tinha a mínima ideia deste plano — reafirma.
 
— Só contei para os meninos, princesa — afirmo, pegando em sua mão. —
Pra banda também, e o treinador…
 
— Pra toda equipe atlética — interrompe, rindo. 
 
— Ah, precisávamos de toda uma equipe pra exibir esse espetáculo! —
Harry comenta antes de dar uma mordida em seu hot dog. 
 
— Foi muito chamativo, pareceu que o estádio inteiro estava na expectativa
e preparado pra isso, mas eu gostei. Se sua meta era gritar pro mundo,
conseguiu. Aposto que em todas as mídias esportivas já estão escrevendo
sobre nós. — Emma responde à pergunta olhando diretamente pra mim. 
 
— Esse é um aviso que ele tem dona, você sabe como os atletas são
cobiçados. — Chris comenta antes de estender a mão, chamando o garçom.
 
— Desde quando isso é empecilho? Sabia que tem mulheres loucas por
homens casados? — Abigail rebate o namorado. — Seja namorando ou
casado, quando o assunto é mulher sem caráter, não tem relacionamento que
afaste. 
 
— Não mesmo! — Emma concorda.
 
— Pode ficar tranquila, que serei um companheiro fiel — afirmo, beijando
a sua testa. 
 
— Agora que vocês dois estão namorando, não nego que me sinto
deslocado. — Kyle comenta, nos observando. 
 
— Não tem ninguém que você esteja interessado? Ou, sei lá, alguém que
você não deu uma chance? — Abigail pergunta, cruzando as mãos sobre a
mesa. — Eu mesma tive que correr atrás do Chris, até ele ceder. — Ela se
volta para o namorado e dá uma piscadela. 
 
— Já o nosso caso, Emma sempre gostou de mim, mas foi uma força maior
que nos uniu naquela noite — comento, abraçando-a. Em resposta, ela
apoia a cabeça no meu ombro.
 
— Se eu disser que uma certa fada madrinha deu uma ajudinha. — Abigail
toma um gole da cerveja, fazendo com que a gente olhe para ela.
 
— Como assim, Abigail? — Emma pergunta com os olhos arregalados.
 
— No momento que vi o Mike chegando e ficando próximo da gente, dei
um perdido em você e falei para aquele cara que você estava a fim dele.
Então Mike veio ao seu socorro — responde como quem não quer nada.
 
— Abigail! — Emma bate no braço da amiga, que apenas ri da situação.
 
— Eu disse que vocês dois iriam se conhecer, não disse? — Abigail pisca,
fazendo todos na mesa rir.
 
— Então, ao invés de agradecer o universo, devo agradecer a Abigail por
dar esse empurrãozinho! — exclamo ainda entre risos.
 
— Exato, o que os amigos não fazem para ver vocês felizes. — Ela ri, mas
a Emma ainda continua atônita. 
 
— Por que não me disse antes? — pergunta, por fim.
 
— Ah, não era importante! — Ela sacode o braço da amiga. — Você que
conquistou o popular bad boy, só ajudei na iniciativa.
 
— Sendo assim, acho justo você ser a nossa madrinha! Você e esse bando
de sapos — aponto para o Chris, Harry e Kyle. — O que acha princesa?
 
— Nem precisa perguntar! — Emma puxa a amiga para um abraço. — Você
realmente é uma fada madrinha. E será madrinha do nosso casamento.
Obrigada por ser você!
 
— Sempre saiba que estarei aqui, amiga! — Abigail declara ainda agarrada
ao seu abraço. 
 
— Caramba, nosso capitão está noivo! Pode deixar que eu vou preparar
uma puta festa de despedida, presente de padrinho! — Harry diz animado,
levantando o copo em comemoração. 
 
— Epaaa! Nada desagradável, hein! — Emma aponta pra ele. — Quero
meu noivo inteiro e fiel de volta! 
 
Acaricio as costas dela, acalmando a fera. Harry levanta as mãos em
redenção, levando na brincadeira. 
 
O restante da noite transcorre entre risadas e desejos para o futuro, enquanto
eu e Emma compartilhamos a felicidade genuína. Saímos apenas quando o
barzinho está fechando as portas no seu horário limite que é 2h da manhã.
Por beber, Emma me leva de carro, recusando mesmo que eu não esteja
bêbado.
 
— Eu nem comentei, mas amei que você tenha pensado no detalhe da
borboleta. — Ela comenta durante o trajeto, batendo o dedo com a aliança
contra o volante.
 
— É por conta disso — digo, colocando uma mecha do seu cabelo atrás da
orelha, onde a dupla de presilhas em formato borboleta se encontram. — Se
uma delas não tivesse caído do seu cabelo, como eu teria te encontrado? Já
que você estava se escondendo de mim. A Abigail pode ter dado o
empurrão, mas esse pequeno objeto foi o responsável pelo nosso
reencontro. Sabia que as borboletas são um símbolo? Dizem que elas
transmitem transformação e renovação, e foi exatamente isso que aconteceu
com a gente, Emma, principalmente quando nos encontramos. 
 
— Foram tantas transformações que passamos nos últimos meses —
comenta olhando de relance para mim.
 
— Então fiz questão de achar um anel que representasse a gente — aperto
sua coxa desnuda de leve. Ela está linda naquele vestido rosa bem justo ao
seu corpo. — Fico tão feliz que tenha aceitado!
 
— Você achou que eu iria rejeitar? — Seu tom é de espanto. — Eu estava
louca pra me tornar sua esposa. A gente já estava morando juntos, então…
 
— Só estava esperando o pedido — completo, deslizando minha mão para
partes internas da sua coxa. Ela se remexe no banco. — Outra coisa que
estou te devendo, é uma noite com uma foda de respeito pós-jogo.
 
— Você não está cansado? — Ela faz a curva, entrando na rua que dá
acesso a nossa casa.
 
— De você? Nunca. — Minha mão vai até o tecido da sua calcinha,
afagando-a. — E temos que comemorar o nosso noivado. — As mãos dela
apertam o volante. — Só não posso ser bruto, por razões maiores —
acaricio sua barriga. — Mas posso ser muito carinhoso e, ao mesmo tempo,
inesquecível. Haverão muitas partidas em nossas vidas ainda, então poderei
te foder com força em todas elas.
 
— Safado!
 
— Eu? Você que é safada.
 
Ela abre mais as pernas, aproveitando o carinho ao mesmo tempo que
estaciona o carro em frente a nossa casa. Afasto o tecido sentindo seus
grandes lábios encharcados. Sua boca procura pela minha e a recepciono
com um beijo de língua capaz de arrancar todo o seu ar. Massageio seu
clitóris, a ponto dela morder meus lábios. Faço mais alguns movimentos,
aumentando a nossa temperatura, mas me afasto devagar, percebendo que
ela quer mais.
 
— Não será no carro, princesa — pisco antes de abrir a porta do passageiro
e sair, deixando-a ofegante.
 
— Sério que você me deixará nessas condições? — reclama, mas vou até a
porta do motorista da Land Rover abrindo-a. Estendo a mão pra ela sair,
mas antes de pegá-la, Emma para ainda sentada no banco do motorista,
apoiando a mão na barriga.
 
— O que foi? — pergunto preocupado.
 
A mão dela puxa a minha, apoiando-a sobre a sua barriga. Sinto um forte
impacto na palma e a  ficha cai. Encaro os olhos de Emma.
 
— É o nosso bebê? — digo abobalhado, sentindo o chute novamente contra
minha mão.
 
— S-sim — A voz dela falha, pois seus olhos já estão cheios de lágrimas de
emoção.
 
É a primeira vez que sentimos o bebê de fato, e não tenho palavras para
descrever só com o toque da minha mão.
 
— Como está se sentindo? — pergunto, colocando seu cabelo atrás da
orelha.
 
— É esquisito num primeiro instante, mas depois é uma sensação diferente,
como se estivéssemos nos tornamos mais íntimos. Como se ele avisasse que
está ali, esperando seu momento chegar. — O jeito risonho que ela fica ao
contar sobre isso é uma alegria que não tem tamanho.
 
— Vem, vamos curtir o nosso bebê, já que ele resolveu dar as caras nesse
dia tão especial! Podemos conversar mais ainda com ele, não é garotão? —
me aproximo de sua barriga e deposito um beijo. 
 
— E se for uma garotinha? 
 
— Se for, a amarei da mesma forma, e tenho certeza que serei o pai mais
protetor desta Terra. — Emma segura em meu braço conforme caminhamos
pra casa. — O que a sua intuição diz? 
 
— Eu acho que é menino.
 
Agito-me com a possibilidade. 
 
— Tá ouvindo, campeão? A mamãe também acha que você é um garotão!
— volto a acariciar sua barriga e sinto outra vez o chute.
 
A tensão sexual desaparece por completo, pois tudo que queremos é
compartilhar este momento tão único, que coincidiu com uma data tão
importante. Estou feliz por estar ao seu lado neste pequeno evento, mas
muito significativo em nossas vidas.
 
 
Uma das coisas que ainda quero me acostumar é com as viagens de Mike.
Devido ao fato do campeonato ser entre as universidades, nem todos os
jogos são no nosso estádio e ele precisa ir para outras cidades, precisando às
vezes pernoitar por lá. A casa fica vazia sem a sua presença marcante e
sinto falta dos seus beijos roubados quando estou na cozinha, do seu cafuné
no meu cabelo quando assistimos algo na TV, de acordar com ele malhando
aquele corpo esculpido, ou vê-lo nadando na piscina nos fundos da casa. É,
tirei a sorte grande, estou noiva do quarterback mais gostoso da face da
Terra.
 
Todo dia ele faz uma vídeo chamada após o jogo, contando como foi a
partida. Ver seu rosto alegra a minha noite. Mesmo quando aconteceu a
primeira derrota, ele tentou transmitir que estava bem, mas eu sabia que
estava incomodado. Ao retornar para casa, a primeira coisa que ele fazia era
me abraçar bem forte, e ficava ali em meus braços por horas, seja
apreciando minha massagem em suas costas ou falando com o bebê.
 
Enquanto a maternidade, entrando no sexto mês meu corpo se alterou
muito. Ganhei mais peso, minhas pernas começaram a ter mais câimbras, o
apetite aumentou mais ainda junto com a indigestão. Tinha dias que eu
sequer desejava levantar da cama, mas me esforçava, pois não queria perder
as aulas. Claro que o bebê estava sempre agitado, se mexendo como se
tivesse uma balada dentro da minha barriga, ou seja, ele poderia ser bem
agitado assim que nascesse. 
 
Abigail sempre fica comigo durante a viagem dos nossos namorados. Nós
duas assistimos à partida exibida do Florida Gators no canal fechado,
enquanto ela me dava notícias de como seria o chá de revelação, o qual ela
me convenceu ser durante a festa do meu casamento. Ela fez questão de
organizar tudo também, dizendo que irá me surpreender. Eu pedi pra ela ser
bem simplória, eu e Mike só queríamos chamar as pessoas mais próximas
para essa data especial. Realizaríamos a festa aqui no quintal da nossa casa,
após a cerimônia no Centro de Contemplação, o qual eu e Mike
concordamos que seria o local perfeito para nossa união, principalmente
depois da minha experiência “espiritual” e por ser o lugar favorito dele.
 
— Você tem noção, seu casamento já é mês que vem! — Ela diz se virando
pra mim. — Precisamos ver seu vestido!
 
— Eu estava pensando nisso hoje cedo — aliso minha barriga. — Tenho
que achar um que caiba nesse barrigão aqui. Vi alguns na internet bem
bonitos, mas quero provar. Como vou a Miami na próxima semana, achei
que seria bom pesquisar por lá. 
 
— Verdade! Sua sogra vai ver a loja de presente dos seus pais né? — Ela
diz, levando a mão a testa. — Posso ir com vocês?
 
— Claro! Vou querer sua opinião! — empurro seu ombro de leve. —
Afinal, você é minha fada madrinha, lembra? Nada mais justo do que me
ajudar na escolha do vestido.
 
— Agora você é a nova Cinderela, é? — brinca, me empurrando de novo. 
 
— Minha vida não é exatamente um conto de fadas, mas a nossa história
lembra um pouco — concordo analisando tudo que vivi. — Você me
incentivou a ir neste baile, me deu um lindo vestido de presente, eu e o
Mike nos encontramos e nos desencontramos, eu perdi uma presilha que ele
guardou e por conta dessa presilha, ele me encontrou. — Rio da situação.
— Bom, teve até pessoas que queriam ser eu. Não tive uma madrasta má,
isso é verdade. Mas de resto, foi tudo mais original.
 
— Um conto de fadas moderno. — Abigail completa.
 
— Exato! 
 
— Isso me deu uma ideia para a sua festa dupla! — Solta de repente.
 
— O quê? — pergunto curiosa.
 
— Só no dia você irá descobrir! — pisca, me deixando mais ansiosa. Não
vou pressionar a minha amiga, vou deixar que ela me surpreenda. 
 

 
O fim de semana com a mãe do meu noivo chega, e Mike me leva ao
pequeno aeroporto particular onde o jatinho de sua mãe irá nos buscar.
Abigail, por incrível que pareça, está quieta demais no banco de trás. Para
quem estava animada para voar alguns dias atrás, hoje sua expressão está
perdida, e eu sei que tem algo de errado com ela.
 
Ficaríamos na minha casa em Miami, o qual pedi para imobiliária não
colocar pra alugar naquele fim de semana, exceto Mike, que não iria
conosco por falarmos que seria o momento das “garotas” e ele tinha uma
certa despedida de solteiro na minha ausência.
 
Quando chegamos ao aeroporto, seguimos por uma área exclusiva antes de
dar de cara com o jatinho na pista, e de longe vejo Ava McCoy usando um
terninho impecável a nossa espera na escada de acesso.
 
— Princesa, vai ficar tudo bem, você e minha mãe vão se dar bem, você vai
ver. — Ele me tranquiliza pegando em minha mão.
 
— Vou tornar o clima delas bem agradável. — Abigail garante, apertando
nossos ombros. Sorri, mas percebo que aquele sorriso não chega aos olhos.
— Depois de algumas horas de sol em Miami Beach, ela vai querer ser a
melhor amiga da sua noiva. — Ela sai do carro, nos dando privacidade. 
 
— Ela está esquisita, você não acha? — pergunto logo em seguida.
 
— Ela e o Chris! — Ele olha pela janela encontrando nossa minha amiga se
afastando do carro. — Ontem ele ficou muito avoado durante o treino, falei
sobre a despedida de solteiro e ele sequer estava animado.
 
— Será que eles brigaram? Porque essa é a única explicação viável — digo,
observando minha amiga cumprimentando Ava educadamente. — Vou
descobrir.
 
— Eu te aviso se descobrir alguma coisa hoje à noite também. — Ele me dá
um selinho, antes de se curvar sobre minha barriga, dando-lhe um beijo. —
Até daqui a alguns dias, campeão ou rainha! Pois a princesa eu já tenho
aqui comigo. — Seu sorriso faz meu coração palpitar como da primeira vez
antes de receber seus lábios nos meus. — Vou sentir saudades.
 
— Eu também — acaricio sua nuca. — Mas em breve estaremos juntos,
mesmo nessa loucura do dia a dia! Ser esposa de um atleta será mais difícil
do que imaginei. — Ele começa a falar, mas o interrompo. — Mas vou
aguentar o tranco, afinal, já está dando certo.
 
— Não vejo a hora de te ver vestida de noiva — Sua mão acaricia meu
rosto.
 
— Vou me esforçar pra ser sua princesa — acaricio sua barba. — Nada de
abusar nessa despedida, viu!
 
— Só vamos jogar videogame e beber — garante.
 
— Aposto que o Harry deve estar preparando alguma surpresa sexual pra
vocês — faço bico arrancando uma risada gostosa dele.
 
— Relaxa, princesa. Vou ser fiel — diz, apertando minha bochecha.
 
— Confio em você. Divirta-se com seus amigos e nossos futuros padrinhos.
Agora vamos, senão o povo vai nos xingar. — Mas ele não deixa me
puxando para mais um beijo antes de escutarmos um assobio. — Vamos,
Mike — aviso me afastando aos risos, e abrindo a porta do SUV.
 
— Aaah o casal apaixonado finalmente se desgrudou! — Abigail diz
levantando os braços. Nos aproximamos de onde ela e minha sogra estão.
 
— Querido! — Ava vem em direção a Mike, abraçando-o com força. 
 
Apesar de muitas pessoas dizerem que mãe grudenta ao filho pode vir a ser
uma péssima sogra, prefiro acreditar que ela será minha parceira.
Realmente quero criar um vínculo com ela, afinal Ava será a única avó do
meu futuro bebê. 
 
— Emma! Meu Deus, como a sua barriga cresceu! — Minha sogra vem ao
meu encontro e me dá um abraço antes de se dirigir ao meu ventre.. —
Vamos passar um tempo com a vovó! Faremos a sua futura titia falar quem
será você, não é?
 
— Se prepara que minha mãe vai tentar arrancar o segredo de você! —
Mike bate no ombro de Abigail.
 
— Ela pode até tentar, mas não vai arrancar. — Ela pisca pra minha sogra
que ri da situação.
 
— Vamos indo? Em menos de uma hora estaremos em Miami — acelera
Ava, dando um beijo de despedida no filho. Abigail também se despede
dele e por fim, eu o abraço.
 
— Qualquer coisa não hesite em me ligar — pede, antes de beijar a minha
testa. — Eu amo você. 
 
— Eu amo mais — Dou um selinho nele e sigo as duas para dentro do
jatinho, me deparando com o que sempre vi na TV, assentos estofados de
couro marfim e bem espaçosos, poucos lugares, a cara da riqueza. 
 
Olho pela pequena janela, encontrando Mike no mesmo lugar que o deixei,
com a certeza de quando eu retornar, faltará muito pouco para a nossa
união.
 
 
Ver o mar do alto é uma sensação ótima! Aquela imensidão azul que
combina com as nuvens e o céu transmitem a sua intensa beleza.
 
Abigail, que se sentou em frente a mim, não demorou para pedir os snacks
disponíveis, mas aquela sombra estava novamente a rondando, e por um
momento eu queria saber o que se passava na sua cabeça. Não consegui
falar com ela, pois minha sogra ficou conversando comigo sobre a gestação
e como estava sendo o meu desenvolvimento, com isso ela acabou me
dando algumas dicas que poderiam me ajudar em certas questões. 
 
A maternidade não era uma experiência romântica, mas também tem a parte
boa, como por exemplo, sentir o bebê crescendo, compartilhar os momento
com ele como: ler os meus mangás ou colocar as músicas favoritas de Mike
para ele ou ela escutar. Tirando as altas conversas que tínhamos, e o bebê
parecia gostar dessas interações, pois se remexia em resposta.
 
Também passei até a admirar mais o meu corpo, o qual Mike fazia questão
de elevar mais ainda a minha autoestima, mesmo estando um pouco acima
do peso e às vezes me sentindo inchada. Tirando que o apoio é fundamental
nessas horas, tanto do Mike, da Abigail, da minha sogra, das meninas do
grupo de apoio às mães da universidade. 
 
Quando desembarcamos no aeroporto, um carro de luxo que lembra uma
limusine, mas um pouco menor, já nos aguardava. Acompanhamos Ava
com seu ar de riqueza e poder até ele onde um chofer nos recepciona. 
 
Ainda estou me acostumando com essa vida de gente rica. Por mais que
Mike quisesse que eu contratasse pessoas para nos ajudar, o máximo que fiz
foi contratar uma moça para limpar toda casa uma semana sim e outra não,
mas de resto falei para ele controlar o dinheiro. Eu sei, ele é herdeiro de um
magnata, o quanto de dinheiro que deve estar rolando sem parar em algum
investimento ou ação, mesmo com a retirada deles da empresa, mas não
quero abusar de algo que não é meu, mesmo com um cartão sem limites na
bolsa.
 
Assim que entramos no carro, sento no banco que fica de frente para Ava
que tem toda uma etiqueta até no modo de se sentar. Olho para meu vestido
florido, pareço uma menina do interior, e não uma futura esposa de um
magnata.
 
— Ava — chamo a sua atenção. — Foi difícil pra você se casar com um
magnata? Digo, assumir esse papel de mulher rica ou você levou tudo isso
numa boa?
 
— Foi difícil — assume, apertando as mãos em seu colo. — O Theo nunca
me pediu pra virar uma mulher cheia das etiquetas, mas fiz questão,
porque… no fundo, eu queria que a família dele me aceitasse. Então me
esforcei pra mostrar que eu poderia muito bem assumir o lugar de esposa ao
lado de um homem tão influente, mesmo vindo de uma família de baixa
renda. — Ela ri olhando-me nos olhos. — Não adiantou muito, mas quando
precisei assumir o lugar do meu marido, o modo como eu me comportava
fazia muita diferença. Tive que me impor mais, levantar mais a cabeça,
mostrar que nada me abalava. Mas eu já fui uma mocinha, assim como
você, que se tornou estagiária, se apaixonou pelo chefe, teve um caso
romântico, uma gravidez e teve a vida virada de ponto cabeça em um
estalar de dedos.
 
Por um momento imagino como foi essa mudança na vida da minha sogra,
do quanto ela deve ter sofrido por conta da rejeição da família do falecido
marido e mesmo assim aguentou tudo.
 
— Mas saiba, querida, que não precisa mudar o seu jeito de ser para me
agradar, ou aprender etiqueta apenas pelo fato do Mike ser herdeiro de um
magnata. Seja você mesma, e que se dane os outros. — Ela estende a mão
para mim, pegando-a com carinho. — Meu filho se apaixonou pelo seu
jeitinho de ser, não pelo jeito que você se veste.
 
— Obrigada, Ava! É que você é tão poderosa, sabe? O Mike te admira tanto
— comento ainda encarando seus olhos verdes.
 
— Somos todas poderosas, querida. — Ela desvia o olhar de mim para
Abigail. — Você parece desanimada… aconteceu alguma coisa?
 
— Não, tá tudo bem. Foi o voo, fiquei meio enjoada. — Troco olhares com
minha amiga, e eu sei que ela não vai contar na frente de alguém que
acabou de conhecer. — A Emma te contou que vamos atrás do vestido de
noiva?
 
— Sim! Marquei horário em alguns ateliês, iremos mais tarde! — Ava diz
animada.
 
E quando menos se espera, as duas estão tagarelando sobre os preparativos
do casamento e do chá de revelação, com direito a pequenos spoilers da
celebração, o qual minha sogra fica mais curiosa ainda, oferecendo ajuda
para tornar o momento mais especial. Mas Abigail não me escapa, preciso
saber o que aconteceu para ela estar assim, tão no mundo da lua.
 
A primeira parada da nossa aventura em Miami começa em um endereço o
qual eu sempre visitava quando estava na escola: a loja de presente dos
meus pais. 
 
Olhar para a fachada abandonada com desenhos de palmeiras e pranchas de
surfe e sol que infelizmente passou por algumas vandalizações, faz meus
olhos encherem de lágrimas. Com a chave na mão, destranco os cadeados
que protegem a loja com a placa “Fechado” já faz um bom tempo. Por ter
alarme, não furtaram as coisas que ainda se encontram naquele lugar, desde
chaveiros a roupas de todos os estilos. Um barulho de sininho soa assim que
passamos pela porta, e no momento em que ligo a luz, um mar de opções se
abre em minha frente dividido em dois andares em um espaço amplo, sendo
que no seu centro há um enorme sol decorativo. Lembro dos corredores, do
que cada um deles oferecia aos clientes, dos presentes mais simples, aos
mais sofisticados e criativos.
 
— Bem-vindas ao Sunshine Gift Shop, você encontra aqui o presente ideal
com o preço que cabe no seu bolso! — anuncio abrindo os braços e olhando
pra elas. — Era esse o bordão do meu pai para atrair clientes.
 
— Olha só, tem vários chaveiros com o meu nome! — Abigail se agita
olhando para os expositores de chaveiros típicos dos Estados Unidos.
 
— Caramba! Não imaginava que tinha tanta coisa. — Ava comenta olhando
ao redor.
 
— Tem produtos novos, produtos de temporadas passadas, e até lembranças
da Disney e do Harry Potter, mesmo que estejamos a 3h de Orlando —
digo, apontando para o corredor onde as pessoas podiam comprar alguma
lembrancinha que esqueceu quando esteve nos parques mais famosos do
mundo. 
 
— Estou impressionada, seus pais construíram uma enorme loja de
presentes. Não é à toa que as pessoas ficam aqui durante horas! É muito
bom cativar o cliente a esse ponto, ou seja, todo mundo sai com alguma
sacola nas mãos, nem que seja um chaveiro — diz, animada.
 
— Pode ficar a vontade — incentivo minha sogra que assente e começa a
caminhar pelos corredores.
 
Vou até o caixa, passando a mão pelo balcão onde muitas vezes mamãe
esteve atendendo os clientes, enquanto meu pai ficava responsável em
ajudá-los ou organizando o estoque. Por um momento a visualizo montando
os pacotes de presente ou contabilizando os pedidos, enquanto um sorriso
simpático surge em seu rosto ao entregar a compra. Como também vejo
meu pai abrindo a porta de sininho carregando mais uma caixa de
novidades que ele achava que os clientes iriam amar. Mamãe fica surtada
pra saber onde ele vai enfiar mais aquela remessa. O estoque era limitado,
apesar das diversas opções na loja, era aquele tipo de presente que se você
não comprasse naquele momento, e ele fosse o único, era capaz de não
encontrá-lo nunca mais, mesmo quando você retornasse.
 
— Sabe, eu imagino que deve ser muito divertido ter uma loja de presentes.
— Abigail aparece ao meu lado após um tempo. — Dá vontade de levar
tudo pra casa, mesmo que não seja útil!
 
— Aqui era um parque de diversões pra mim — conto voltando a olhar a
loja como um todo. — Meus pais ficavam malucos quando sem querer eu
quebrava alguma coisa.
 
— É um lugar muito especial. — Abigail se enrosca no meu braço. O peso
em seus ombros ainda muito presente.
 
— O que aconteceu, amiga? — sussurro fazendo-a me olhar, mas logo os
desvia. — Você e o Chris estão bem? — Ela se remexe ao meu lado, me
viro para olhá-la melhor, e assim que meus olhos focam nela, sei que está
segurando o choro. — Amiga…
 
Abigail então me abraça, e eu retribuo o gesto. Um choro compulsivo toma
conta de todo o seu ser, e eu acaricio suas costas com a intenção de acalmá-
la. O que será que aconteceu, meu Deus? 
 
— E-ele… ele ter-terminou com-comigo — releva entre soluços.
 
— Como assim? — digo, afastando-a para encontrar a minha amiga na mais
pura derrota. Ela estava guardando isso por um bom tempo.
 
— Eu não queria te contar — funga, com a dor evidente em sua voz. —
Estragar o seu final de semana.
 
— Mas o que foi que aconteceu…
 
— Eu não sei! — Ela passa a palma da mão sobre os olhos, borrando a
maquiagem. — Simplesmente não sei. Até semana passada estava tudo a
mil maravilhas, mas depois que ele retornou de Columbia, ele estava
esquisito, e foi se tornando distante, até que ontem ele terminou tudo por
mensagem! Ele sequer teve a coragem de vir falar na minha cara!
 
Chris sempre teve a fama de cafajeste, sempre foi o homem de mais de uma
mulher, mas fez ela acreditar que estava disposto a largar essa vida para
ficar com Abigail, viver um relacionamento sério, mas pelo visto não
conseguiu ficar sem correr atrás de um rabo de saia.
 
— Mais que desgraçado! — expresso com raiva.
 
— Amiga, por favor, não passe raiva, você está grávida, não quero te
prejudicar. — Abigail pede, segurando minha mão. — Eu sempre soube que
o Chris era um homem libertino demais, o que eu poderia esperar dele? Que
mudaria por amor? — Ela bufa, respirando fundo e se recompondo. —
Sempre tive dedo podre para macho, você sabe disso. Se ele não estava
pronto pra entrar em um relacionamento, deveria não ter me feito de
palhaça me pedindo em namoro, e estaríamos do mesmo jeito que foi desde
o princípio. Sabe, cansei, eu corri atrás dele por tanto tempo, consegui que
ficássemos juntos, mas agora… depois de toda essa armação de namoro, me
descartar como se eu não fosse nada. Eu não o quero mais.
 
— Sempre há um motivo por trás — escuto Ava, que se aproxima da gente.
— Principalmente quando as coisas acontecem de forma tão repentina.
 
— Não sei se ele tem motivo ou não, mas de uma coisa estou certa, eu não
vou mais correr atrás dele. Acabou. — Abigail apruma o peito. — Não fui
eu que terminei com tudo. Enfim, não vamos mais falar disso, tá bom? O
final de semana é para aproveitarmos os preparativos do seu casamento e
até quem sabe uma despedida de solteira.
 
Aperto seu braço em concordância. Se ela não quer falar daquele assunto,
irei respeitar o momento, mas eu estava triste em saber desse rompimento
tão abrupto entre os dois, sem motivos aparente. Decido mudar de assunto.
 
— O que achou da loja, Ava?
 
— Bom, uma das coisas que sinto falta nessas lojas de presente é um
cantinho para comer, seja para tomar um café ou aproveitar algumas
guloseimas da região. Já que estamos lidando com turistas, podemos
reservar um espaço aqui dentro onde as pessoas, além de olhar os presentes,
possam degustar de algumas sobremesas, tomar um café, tipo bistrô, o que
acha?
 
— Quer dizer que você gostou do lugar? — Meus olhos se arregalam.
 
— Adorei! Tem uma vibe meio vintage, mas ao mesmo tempo bem
aconchegante. É uma mudança total dos ares, para quem trabalhou a vida
inteira presa no último andar de um prédio e falando apenas de produtos
voltados ao esporte. — Ela enfatiza, batendo uma palma na outra. — Vou
comprar a loja dos seus pais!
 
Não me aguento e vou ao seu encontro, abraçando-a bem forte enquanto
uma emoção forte toma conta de mim. Pensei que nunca mais veria a loja
dos meus pais assim que vendesse para alguém totalmente desconhecido, ou
pior, alguém que jogasse fora todo o trabalho construído por eles durante
anos. 
 
— Muito obrigada! — digo sentindo a minha voz embargar.
 
— Eu que agradeço, querida. Prometo que vou cuidar para que a loja dos
seus pais alcance novos voos, mantendo ainda a sua essência. — Suas mãos
acariciam minhas costas, levando-me a apertá-la mais ainda, enquanto tento
transmitir de alguma forma toda gratidão por ela estar disposta a continuar
o legado.
 

 
Após passarmos na imobiliária onde eu havia colocado a loja para vender e
lidar com as burocracias de uma venda, seguimos para uma loja de vestidos
de noiva de grife o qual Ava indicou após o almoço. 
 
Meus dedos passam pelos cabides com poucas opções para noivas grávidas,
já que a grande maioria das lojas geralmente atende o público que não é
gestante, e penso que não vou conseguir achar um vestido que me agrade
nesta sessão. Por curiosidade olho para outro espaço da loja ao mesmo
tempo em que ouço os comentários de Ava e Abigail sem de fato prestar
atenção no que dizem. Até que meus olhos param em um lindo vestido que
não é totalmente branco, ele tem uma tonalidade que lembra e muito um
azul acinzentado muito clarinho, com o tule brilhante, um belíssimo
bordado com detalhes de botões de cristais que se estende por uma saia
volumosa com cauda.
 
— Ah, esse faz parte da coleção de vestidos de noiva baseados em
princesas da Disney, esse é inspirado em Cinderela. — A vendedora
comenta enquanto observo todos os detalhes do belíssimo vestido. —
Acredito que com alguns ajustes, e um número maior, esse vestido pode
caber em você, mesmo sendo gestante.
 
— Uau! Esse vestido é lindo demais! — Abigail surge atrás da gente ao
lado de Ava. — E foge da ideia de ser totalmente branco.
 
— Pode fazer todos os ajustes que desejar, se esse for seu desejo, Emma. —
Ava garante pegando no tecido do vestido. — É um belo vestido, você
ficará parecendo uma princesa!
 
E era exatamente isso que eu queria, parecer uma verdadeira princesa para
Mike neste momento especial.
 
— Eu quero esse! — Anuncio para a vendedora. 
 
Sorrio para minha amiga e minha sogra, enquanto a vendedora feliz por
mais uma venda corre atrás de uma peça que caberá em mim com o auxílio
das costureiras. Imagino a expressão do Mike no momento que ele me ver
entrando pelas portas do Centro Baughman com aquele magnífico vestido.
 
 
(Um mês depois)
 
Minhas mãos estão inquietas enquanto espero no altar do Centro de
Contemplação Baughman, usando um terno azul-celeste naquele calor
típico da Flórida. O Centro está com rosas azuis, brancas e rosas em todos
os bancos, um tapete branco segue até o altar, onde arranjos de flores se
destacam em grandes vasos.
 
Nossos convidados conversam entre si, ansiosos por aquele momento. Vire
e mexe aceno para os conhecidos, enquanto olho para Chris e Abigail de
relance. Os dois podem até estar com o braços entrelaçados, esperando
como os outros padrinhos e madrinhas, mas dá pra perceber a tensão em
volta deles. 
 
Quando Chris me contou que os dois haviam terminado, fiquei perplexo
pela atitude do meu amigo que se dizia disposto a abandonar a vida de
garanhão. Tentei arrancar dele o motivo, mas ele sempre desconversava, o
que achei muito estranho, pois se tivesse rolado alguma traição ou mulher
envolvida na jogada seria diferente. Mas vê-lo desanimado, mesmo após
terminar com Abigail, e sequer vivendo a vida de pegador de novo, me
deixava desconfiado de que alguma coisa havia acontecido, mas eu só
saberia se ele mesmo contasse.
 
Minha mãe estava radiante ao lado do seu namorado Leon. Os dois
mudaram para Miami e juntos iriam comandar a Sunshine Gift Shop. Eu
estava contente em saber que agora não precisava mais me preocupar, ela
tinha alguém que iria cuidar dela e fazê-la muito feliz.
 
O som de um piano começa a soar pelo Centro, sendo ela uma música
clássica que gera murmúrios de reconhecimento antes de uma salva de
palmas se iniciar. Levo a minha mão à boca ao reconhecer o tema do filme
Cinderela. 
 
As portas se abrem e meus olhos se enchem de lágrimas no mesmo instante
ao me deparar com Emma segurando um buquê de rosas-brancas, os
cabelos presos em um coque, e meu Deus, que vestido é esse? Ela está
idêntica a uma princesa! 
 
Devagar minha noiva entra sozinha na igreja e seus olhos permanecem
focados nos meus. Eu sei o quanto ela está se segurando para não chorar,
diferente de mim que enxuga as lágrimas admirado com tanta beleza. Assim
que está próxima o suficiente, vou até ela e lhe estendo minha mão, o qual
ela pega com carinho. Minha atenção para em seu coque, pois nele há um
detalhe importante: as presilhas que foram as responsáveis pelo nosso
reencontro se encontram ali. O sorriso se alarga mais ainda antes de beijar a
sua testa e sussurrar:
 
— Você está esplendida — elogio, colocando seu braço junto ao meu. Ela
sussurra um “obrigada”, antes de seguirmos rumo ao altar com aquela
lindíssima visão do lago. 
 
— Prezados convidados, familiares e amigos, estamos reunidos neste lugar
mágico para celebrar a união de Emma Steele e Mike McCoy. Um casal que
nasceu de um conto de fadas moderno no campus desta universidade. Um
casal que precisou aprender a ter confiança um no outro para então viverem
finalmente viverem esse amor e que agora aguardam a vinda de uma nova
vida que irá transformá-los.
 
A cerimônia começa com um celebrante. Enquanto o escuto, meus olhos
permanecem focados nos lindos olhos amarronzados de Emma que brilham
de tanta emoção. Sua barriga de sete meses por baixo do vestido ganha
destaque, e minha mão vai ao encontro dela, acariciando-a conforme
escutamos os votos.
 
— Emma e Mike, vocês são verdadeiras almas gêmeas, unidas por um
vínculo especial que transcende as fronteiras do comum. Desde o momento
em que se conheceram, foi como se o destino estivesse traçando um roteiro
exclusivo, destinado a unir duas pessoas cujas almas foram feitas para se
encontrarem. — declama o celebrante. — Cada capítulo dessa história é
preenchido com risos, carinho e uma cumplicidade notável. O brilho em
seus olhos quando estão juntos, a maneira como se apoiam mutuamente e se
encorajam em todas as circunstâncias, é um testemunho do amor puro que
nutrem um pelo outro.
 
Por um momento, recordo-me do dia que vi Emma naquele baile de
máscaras, dos seus olhos assustados encontrando os meus, da nossa
conversa naquela poltrona que fluiu como água até o momento da entrega
por completo. Da sensação esquisita e ao mesmo tempo boa de estar em sua
presença, de desejar ficar ao seu lado no restante daquela noite. Da dor de
não encontrá-la no dia seguinte, da esperança que mantive enquanto
segurava aquela pequena presilha, desejando ter uma segunda chance. Até
que finalmente a encontrei, e hoje, depois de tudo, ela está aqui na minha
frente, tornando-se minha esposa e esperando um filho meu.
 
— Neste dia especial, é importante lembrar que vocês estão escrevendo sua
própria história. O conto de fadas moderno que estão vivendo é único,
singular e verdadeiro. Mas, lembrem-se sempre de que o amor é uma fonte
inesgotável de poder e inspiração. Mantenham-se firmes em seu
compromisso um com o outro e deixem que essa história se desdobre com a
mesma magia e encanto que a trouxe até aqui. — O celebrante então
estende uma rosa para cada um de nós. — Através dessas rosas, propaguem
o amor que sentem um pelo o outro, perante seus familiares, amigos e a
Deus.
 
— Emma — digo segurando a rosa-vermelha que se destaca de todas as
presentes no Centro, enquanto o celebrante segura o microfone para mim.
— Confesso que no dia que a trouxe a este local, eu a imaginei entrando por
aquela porta, e esse desejo se tornou real. Eu sei que passamos por algumas
situações que por pouco quase nos separaram, mas superamos isso e
enfrentamos juntos essa nova realidade. Eu quero que saiba que você me
fez amar você de um jeito que nenhuma outra conseguiu, e agora você será
a minha eterna princesa.
 
Palmas soam no Centro, antes do celebrante levar o microfone até Emma,
que não parou de sorrir sequer um minuto. 
 
— Mike. — Ela aperta a sua mão na minha. — Tudo começou com um
certo crush pelo famoso quarterback da universidade. O bad boy que não
tem nada de mal, mas sim um coração gigante, o qual desejei por muito
tempo. Mas a timidez me impossibilitou de me aproximar, até que um
empurrãozinho do destino fez isso acontecer. — Vejo-a piscar pra Abigail
que retribui. — E hoje, depois de tudo que passamos, estamos aqui, diante
um do outro, firmando um compromisso na frente dos nossos entes
queridos e amigos. Espero viver um conto de fadas ao seu lado, pois eu amo
você, meu príncipe, e tudo que desejo é que tenhamos um felizes para
sempre.
 
Novamente a plateia aplaude e o celebrante estende um vaso onde
colocamos nossas rosas. 
 
— Após essa cerimônia, levem esse vaso e coloque em sua casa, para vocês
lembrarem do amor de vocês e dos votos prestados neste lugar mágico, com
essa belíssima visão e este sol que vos cerca. — Ele coloca o vaso sobre a
mesa. — Agora, vamos à entrega das alianças. 
 
Uma música ao piano volta a tocar e minha mãe se aproxima, entregando as
alianças em uma pequena almofada. Agradeço dando um beijo em sua testa
antes de pegar a almofada de sua mão e puxar o laço que as une. 
 
Com as mãos um pouco trêmulas, coloco a almofada sobre o pequeno altar,
e pego na mão de Emma que aperta a minha tentando me acalmar, antes de
estender o dedo para que assim eu coloque o símbolo do patrimônio. Levo a
sua mão aos meus lábios selando aquele compromisso na frente de todos.
Ela pega a outra aliança, acariciando meus dedos antes de colocá-la em seu
lugar de direito, também beijando a minha mão logo em seguida. 
 
— Que seu conto de fadas moderno seja um farol de esperança para todos
nós, mostrando que o amor verdadeiro sempre vence e que a felicidade é
possível para aqueles que acreditam. — O celebrante retorna a falar. —
Perante seus familiares, amigos e a Deus, vos declaro marido e mulher, que
vivam os seus felizes para sempre. 
 
Admiro a mulher que amo com todas as minhas forças a minha frente.
Quero gravar aquela imagem para sempre em meu coração, antes de me
inclinar e beijar a sua linda barriga de gestante sobre aquele deslumbrante
vestido que ela escolheu se casar. Quando volto a encontrar seu lindo rosto,
envolvo sua nuca antes de presenteá-la com um beijo apaixonado. Não me
importo que uma plateia esteja nos assistindo e nos aplaudindo naquele
momento, pois quero que todos vejam a mulher que escolhi para dividir
uma vida ao seu lado.
 
— Eu amo você — murmuro entre seus lábios.
 
— Eu amo mais.
 
Minha mãe e nossos amigos vêm ao nosso encontro nos dar parabéns com
abraços e beijos. Enquanto convidados saem do Centro para nos aguardar lá
fora.
 
— Você não sabe o que a Abigail aprontou. — Emma comenta transmitindo
uma alegria genuína enquanto se agarra ao meu braço.
 
Escuto um alvoroço do lado de fora e então presto atenção, fazendo meus
olhos se arregalarem no mesmo instante. Não acreditando no que estou
vendo!
 
— Aquilo é uma carruagem? — pergunto.
 
— Bom, minha inspiração foi o conto de fadas, mas tive a ajuda de Ava
para tornar algumas coisinhas mais possíveis ainda! — Abigail dá de
ombros de um jeito brincalhão antes de sair carregando o vaso com as rosas
os quais declaramos o nosso amor, deixando Chris para trás.
 
— É tão chato ver vocês nessa situação — comento com ele, que apenas
sobe os ombros, antes de dar um breve abraço, me parabenizando pelo
casamento.
 
  — É que vocês não virão à festa que montamos no quintal de vocês! —
Minha mãe comenta animada antes de puxar o Leon para fora.
 
— Essas duas! — digo beijando sua têmpora. — Vamos comemorar?
 
— Com certeza!
 
Caminhamos em direção à saída do Centro, e cada vez que chego mais
perto da porta vislumbro a grande carruagem em formato oval que
realmente lembra a história de Cinderela e me impressiono com o seu
tamanho. Assim que passamos pela porta, os convidados começam a jogar
confetes na gente, me deparando com mini borboletas de papel nas cores
azul e rosa. Dou mais um beijo apaixonado nela, enquanto somos
ovacionados, antes de ajudá-la a subir na carruagem, e sentar ao seu lado.
 
— Nem vamos chamar a atenção — digo, rindo, assim que o cocheiro
começa a conduzir o cavalo.
 
— Fiquei encantada quando sai e me deparei com essa carruagem. — A
mão de Emma está entrelaçada à minha. — Fico feliz que tenha gostado do
vestido.
 
— Você está virou uma linda Cinderela, é a noiva mais linda que eu já vi!
— elogio fazendo-a sorrir.
 
— Eu queria parecer uma princesa pra você — fala com sinceridade,
desviando o olhar de mim para os carros que buzinam atrás da gente, sendo
um cortejo e tanto que acaba incentivando outros veículos a buzinar de
volta.
 
— E conseguiu, você está maravilhosa — Ela apoia a cabeça no meu
ombro. — Agora, só falta a gente descobrir se será o nosso bebê, Annelise
ou Theo…
 
— Tá ansiosa? — pergunto. Ela balança a cabeça, passando a mão sobre a
barriga.
 
Em poucos minutos entramos na rua em que moramos, já visualizando a
tenda em nosso quintal, com algumas flores idênticas as da entrada do
Centro. Esperamos os convidados se ajeitarem para então seguirmos para a
festa, que já está com o som ligado e uma música animada toca no
ambiente.
 
Ao liberarem a nossa entrada, ajudo minha esposa a sair da carruagem e
seguimos para dentro da tenda, onde os convidados nos esperam.  Assim
que aparecemos todos começam a aplaudir. 
 
O ambiente tem luzes suspensas no ar, ao mesmo tempo que a cor rosa, azul
e branco tomam conta das flores e dos itens de decoração. Algumas mesas
enfeitadas estão espalhadas pelo ambiente, enquanto uma pista de dança se
encontra no centro, e ao fundo, a nossa mesa nos aguarda com os dizeres:
Nós queremos saber é: Garota ou Garoto?, ao lado de dois jacarés de
pelúcia, um vestido de menina e outro de menino fazendo menção aos
mascotes da nossa universidade. 
 
Outra mesa com vários docinhos está próxima dali, incluindo o nosso bolo
de dois andares cujo topo me faz rir assim que me aproximo para ver
melhor, uma versão nossa abraçados em miniatura, Emma grávida
segurando um tubo de ensaio e eu de terno segurando uma bola de futebol.
 
A família de Emma compareceu em grande número à cerimônia. Já a minha
parte, a maioria dos convidados foi composta pela família por parte da
minha mãe que não era muito grande. Por parte do meu pai, convidei
apenas um grupo restrito, enquanto a maioria dos meus convidados são
meus companheiros de equipe.
 
Começamos a cumprimentar todos os presentes e fazer as cerimônias de
todo o casamento, e quando finalmente conseguimos nos sentar por alguns
minutos, uma música instrumental que lembra o estilo de filmes de contos
de fadas começa a tocar. 
 
Somos surpreendidos quando os mascotes do nosso time surgem entrando
na tenda — Albert e Alberta, que chegam causando na festa fazendo todos
rirem conformem dançam “Bibbidi-bobbidi-boo”, ao mesmo tempo que
trocam a responsabilidade de segurarem uma grande abóbora azul cheia de
glitter e borboletas douradas. O casal de jacarés, aponta para nós dois, indo
ao nosso encontro, ficando de frente para a nossa mesa, enquanto colocam a
abóbora em nossa frente. Ajudo Emma a levantar e somos pegos de
surpresa quando tudo fica escuro, apenas as luzes de decoração acesas e um
foco de uma luz se concentra na gente. Uma voz surge, o qual reconheço
imediatamente ser de Abigail.
 
— Foi me dado a honra, como fada madrinha de vocês, guardar esse
segredo a sete chaves. — Ela aparece em outro ponto da tenda, segurando
um papel em mãos enquanto diz seu discurso. Emma leva uma das mãos à
boca enquanto admira a amiga. — Assim como em Cinderela, Emma e
Mike tiveram que passar por desafios e obstáculos para chegar a este ponto.
Eles esperaram ansiosamente por esse momento, imaginando o futuro e
sonhando com todas as possibilidades que um filho, mesmo que de
surpresa, traria as suas vidas. E agora, como a fada madrinha, é hora de
revelar o segredo que estava guardado. Mas eu preciso da ajuda de todos os
presentes nesta encantadora festa. Na mesa de vocês, há uma varinha de
condão, quando eu terminar de cantar, apontem para o casal ao meu sinal, e
assim, o segredo será revelado!
 
Abigail começa a cantar um trecho da música e, ao chegar na parte “Junte
isso tudo e teremos então”, quando aponta a varinha em nossa direção e
outros convidados também, somos tomados por uma fumaça azul que sai da
abóbora. A ficha cai no mesmo instante em que encontro o olhar de Emma,
que está tão atônita quanto eu.
 
Teremos um menino!
 
UM MENINO!
 
Urros de alegria soam dos meus companheiros de time, ao mesmo tempo
que escutamos palmas e assobios dos convidados. Mas agora estou agarrado
a Emma que chora de emoção em meus braços.
 
— Que este momento seja apenas o início de uma jornada encantadora,
onde cada passo dado seja guiado pelo amor e pela sabedoria. Que o Theo
Roman, nome em homenagem aos seus avôs, seja abençoado com uma vida
repleta de saúde, felicidade e realizações. E que, assim como Cinderela
encontrou sua felicidade, minha melhor amiga e seu tão sonhado bad boy
também encontrem a sua no sorriso e no amor incondicional de seu
precioso filho. — Abigail continua o discurso vindo até o nosso encontro.
— Que a história do meu futuro sobrinho seja repleta de capítulos
emocionantes, onde ele possa descobrir seu próprio caminho e viver
aventuras extraordinárias. Que cada sonho se torne realidade e a magia do
amor e da família esteja sempre presente em suas vidas. Parabéns ao casal!
 
Emma abraça a melhor amiga com força, ainda sem conseguir segurar as
lágrimas em seu olhar. Confesso que essa revelação do nosso bebê, além de
criativa, foi encantadora, e que ficará guardado em nossa memória para
sempre.
 

(3 meses depois)
 
O barulho da torcida é ensurdecedora. Novamente estamos jogando em
casa, e essa é uma partida importante, por ser contra um time forte e a
semifinal da Liga entre as universidades, mas desta vez minha atenção não
está 100% em campo. Minha mente oscila de preocupação, ansioso para
saber como a Emma está, já que se encontra no último mês da gestação, e
mesmo com uma data prevista pela médica, ela poderia ter o nosso pequeno
campeão a qualquer momento.  
 
Mesmo com minha mãe em nossa casa nesses últimos dias, não quero
perder esse momento tão especial em nossas vidas, quero estar ao lado da
Emma, segurando sua mão durante o parto, e ter o privilégio de ouvir o
choro do nosso filho pela primeira vez.
 
Quando o fim do primeiro tempo chega, vamos para o nosso banco
descansar e planejar as próximas jogadas. Arranco o capacete da cabeça,
com o coração acelerado após árduas corridas. Estou tomando um longo
gole de uma garrafa de isotônico quando batem no meu ombro. Encontro o
treinador Jenkins.
 
— Chegou a hora, Mike! — Ele diz. Pisco, confuso. — Seu filho, ele vai
nascer!
 
— Sério? — levanto de um pulo do banco, meus amigos vêm até a mim
batendo em minhas costas, parabenizando.
 
— E agora? Estamos no meio de uma partida importante… eu não posso
deixar meu time na mão, mas também não quero perder esse momento…
 
— Está esperando o que, McCoy? — William se pronuncia no meio dos
garotos. — Vai ver o nascimento do seu filho cara, eu cuido do nosso time!
 
Sorrio para o meu rival, e com a aceno de concordância do treinador, saiu
de campo, indo diretamente para o vestiário apenas para pegar a chave do
meu carro, e sem trocar de roupa, sigo rumo ao hospital.
 
Quando chego lá, me informo sobre seu quarto, e me encaminham para a
troca de vestimentas antes de entrar no local que ela se encontra. Quando
estou pronto vou até seu quarto e ao abrir a porta deparo-me com Emma, já
usando o avental hospitalar, e minha mãe caminhando pelo quarto.
 
— Emma — murmuro me aproximando, cheio de preocupação.
 
— Mike… — Ela sorri cansada, antes de se contorcer novamente.
 
— Ela está tendo contrações. — Minha mãe explica, segurando a mão dela.
 
— Não seria melhor ela ficar deitada? — questiono indo para o outro lado
de Emma.
 
— Não, querido. Ela precisa caminhar, alivia um pouco o desconforto —
responde, voltando a ajudar Emma a caminhar pelo quarto, e eu faço o
mesmo.
 
— Mike, e o jogo? — Emma pergunta baixinho, enquanto um suor frio
escorre de sua pele.
 
— Eu disse que ficaria ao seu lado, não disse, princesa? — beijo o topo da
sua cabeça antes de ver um sorriso em seus lábios.
 
Diferente de filmes, Emma fica mais algumas horas sentindo contrações ao
ponto delas se tornarem tão fortes que a enfermeira nos indica para sentá-la
na maca semi sentada, até que a médica obstetra vem verificar se há
dilatação o suficiente para dar início ao parto. 
 
Tento ficar calmo com aquela situação, mas presenciar o que as mulheres
enfrentam durante uma gravidez comprova o quanto são guerreiras. E
quando finalmente minha esposa entra em trabalho de parto, ela se esforça
ao máximo para dar à luz ao nosso primeiro filho. Uma das minhas mãos
afasta seus cabelos suados da testa, enquanto a outra ela aperta com uma
força que jamais vi nela. Ao comando da médica ela empurra o bebê. E
quando menos esperamos um choro é ouvido. Escutar isso transborda o
meu peito de tal maneira, que não seguro as lágrimas.
 
— É um menino — anuncia a médica entregando o nosso filho a
enfermeira, que o traz enrolado em um lençol.
 
Emma, chorando de alegria, o pega no colo pela primeira vez, dando um
leve beijo na testinha dele, antes de trocar olhares comigo de pura emoção.
Beijo a testa dela, ao mesmo tempo que observo o rostinho do nosso
campeão, que vai se acalmando aos poucos conforme sente a presença da
mãe. Por um momento ele agarra o meu dedo, fazendo o meu coração dar
um grande salto. 
 
Encosto meu rosto ao lado dela, compartilhando aquele momento tão único
em nossas vidas, me sentindo extremamente grato por Deus colocar essa
mulher em minha vida, transformando-a da noite para o dia. 
 
Embora um segredo como este tenha sido guardado, a vida seguiu o seu
rumo ao mostrar que todos merecem uma segunda chance, nos fortalecendo
e nos fazendo acreditar na magia dos contos de fadas.
 
 
(Quatro anos depois)
 
— Cuidado para não se perder! — oriento Mike e Theo que vão à frente de
mãos dadas rumo a entrada do Magic Kingdom. As camisetas iguais com as
orelhas do famoso Mickey Mouse, escrito “Pai” e “Filho” nas costas com a
numeração da atual camisa de Mike em seu novo time, Jacksonville
Jaguars, se mistura com outras famílias que vieram combinando em
homenagem às férias de família.
 
Enquanto os observo, lembro de como foi o nascimento de Theo. Tive que
aprender na marra o que é ser mãe. Não foi uma tarefa fácil, não baixou a
maternidade em mim e tudo saiu a mil maravilhas, muito pelo contrário,
tive crises de choro, situações de desespero, pois eu queria entender o que
meu filho estava querendo me dizer, principalmente durante as cólicas
noturnas. 
 
Mike ficou o tempo todo ao meu lado, muitas vezes acordando no meio da
noite para verificar o que estava acontecendo, e por muitas vezes falei pra
ele deixar comigo que isso iria prejudicar seu desempenho nos treinos, mas
ele ignorava, e se levantava primeiro do que eu. 
 
Os primeiros meses foram difíceis e a semana que Mike viajou para
Indianópolis para fazer os testes para a seleção do NFL foi a mais difícil de
todas, mas eu fui a melhor atriz para não preocupá-lo. Deste modo ele
arrasou em seus testes, e não demorou pra ele ser convocado para o Draft
pelo seu desempenho. Foi uma emoção acompanhá-lo no evento, e escutar
seu nome ser chamado entre tantos.
 
Nós dois fomos aprendendo a sermos pais de primeira viagem, entre noites
mal dormidas, perguntas ao Google ou telefonemas para Ava, que foi muito
paciente em responder todas as questões. O que não impossibilitou de ter
algumas discussões comuns entre casais, mas depois do meu período de
resguardo e recuperação, resolvemos a discussão na cama. 
 
Só voltei aos estudos quando Theo completou dois anos. Deixava-o na
creche da universidade e assistia às aulas perdidas, enquanto nas horas
vagas montava o meu trabalho de conclusão de curso enquanto o ninava ou
dava de mamar. Foi cansativo, mas no final valeu a pena. Hoje trabalhando
em um laboratório farmacêutico, estou me preparando para ingressar no
mestrado, ao mesmo tempo tento conciliar meu trabalho de ser mãe e
esposa.
 
— Papai, eu quero ver o Mickey! — ouço a voz delicada de Theo assim que
Mike pega ele no colo.
 
— A gente vai ver o Mickey e os outros personagens, só ter um pouquinho
de paciência, combinado, campeão? — responde Mike admirando sua mini
cópia.
 
Ele tem sido um excelente pai! Mike faz de tudo para agradar o pequeno.
Em suas folgas os dois passam o dia inteiro brincando, até que os encontro
esgotados dormindo no sofá após horas de desenhos animados. Como
também não posso negar que ele tem sido um excelente esposo que sempre
eleva minha autoestima e adora me agradar quando menos espero. 
 
Várias vezes tive que acompanhá-lo em sua agenda oficial, pois ele se
tornou um atleta famoso entre os fãs de futebol. Sua popularidade aumentou
mais ainda após ir para um time oficial da Liga Nacional do Futebol, e
convites de jantares e eventos começaram a surgir, não era estranho ligar a
TV em um canal de esporte e ver seu rostinho nas notícias por vir se
destacando como quarterback no Jaguars. 
 
Nossas manhãs eram quentes, antes do dia começar nos perdíamos nos
lençóis ou no banho, mas nossas melhores transas aconteciam após ele
ganhar uma partida, não sei explicar de onde vinha aquele fogo que o
consumia, mas eu via estrelas e estava tudo certo. Ele vivia pedindo para
dar um irmãozinho para Theo, mas eu disse que dessa vez seria muito bem-
planejado, e apenas depois que eu finalizasse meu mestrado.
 
Theo aponta para toda a decoração do belíssimo parque a cada caminhada,
encantado com os detalhes. Percebo que algumas pessoas reconhecem
Mike, algumas cochicham, outras apontam, e tem aqueles que gritam
“McCoy, você arrasa!”. Em alguns lugares tínhamos esse momento de
paparazzi, mas aos poucos me acostumei com essa atenção.
 
— Mamãe, mamãe! — Sua mãozinha me chama, e avanço empurrando
mais o carrinho assim ficando ao lado deles. Mike me olha por cima do
ombro com um sorriso genuíno no rosto. — Papai disse que aquele é o seu
castelo!
 
Olho para a avenida movimentada à nossa frente, enquanto uma música
toca por todo o parque, encontrando no fundo, o glorioso castelo da
Cinderela. Apoio minha mão na cintura de Mike, imaginando que tudo
aquilo que estamos vivenciando não estava nos nossos planos há alguns
anos, quando nos conhecemos, mas hoje enxergo o quão mágico se tornou a
nossa vida.
 
— Sua mãe é uma linda princesa! — Mike elogia, beijando minha têmpora. 
 
— Bom dia, família! Como vocês estão? — Escutamos alguém falar
conosco e encontramos um dos fotógrafos oficiais do parque. — Gostaria
de registrar esse momento?
 
— Claro! 
 
Mike apruma o pequeno Theo em um braço, afasto o carrinho para não
atrapalhar a foto antes de me ajeitar do outro lado deles, deixando nosso
pequeno no centro. Ajeito as orelhinhas na minha cabeça, e neste momento
troco olhares com o homem que amo. Aquele que mudou a minha vida em
um estalar de dedos, que me acolheu no momento mais difícil, que me fez
sentir amada, que por pouco quase o perdi pela omissão de um segredo.
Mas ele voltou me dando uma segunda chance, o qual hoje faço questão de
aproveitar e demonstrar que não desperdiçarei essa oportunidade, que estou
fazendo valer a pena.
 
Um sorriso se expande em nossos lábios, sentindo tamanha alegria por estar
compartilhando aquele momento em família. Vínhamos construindo o
nosso próprio conto de fadas ao longo desses anos, nada mais justo do que
estar em um lugar que a cada esquina tem um pouquinho dessa magia.
Antes de olhar para câmera do fotógrafo, desejo em silêncio que essa
energia contagiante que estamos vivenciando esteja sempre presente em
nosso dia a dia, nos lembrando que apesar das dificuldades, sempre haverá
uma forma de nos reerguer, e que não estamos sozinhos nesta caminhada.
 
FIM
 

Nota da autora: Muito obrigada por ter dado uma chance para Emma e Mike contar para você a sua
história de amor, quem sabe nos vemos no próximo livro! Não esqueça de avaliar a sua leitura e
fique à vontade para falar comigo no instagram @daiavitoriano
Que a magia do amor sempre te contagie!
 
Surpresinha na próxima página...
[1]
Tradução da música: Eu não me importo quanto tempo leva. Enquanto eu estiver com você. Eu
tenho um sorriso no meu rosto. Salve suas lágrimas, vai ficar tudo bem. Tudo o que sei é que você
está aqui comigo.
[2]
Não vá hoje à noite. Fique aqui mais uma vez. Lembre-me de como é. Vamos nos apaixonar mais uma vez. Eu preciso de você
ao meu lado agora. Me perdoe, não me deixe, eu quero você aqui comigo. Eu sei que seu amor acabou. Não consigo respirar, estou
tão fraco, sei que isso não é fácil. Não me diga que seu amor acabou. Que seu amor acabou.

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