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DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
UM
DOIS
TRÊS
QUATRO
CINCO
SEIS
SETE
OITO
NOVE
DEZ
ONZE
DOZE
TREZE
QUATORZE
QUINZE
DEZESSEIS
DEZESSETE
DEZOITO
DEZENOVE
VINTE
VINTE E UM
VINTE E DOIS
VINTE E TRÊS
VINTE E QUATRO
VINTE E CINCO
VINTE E SEIS
VINTE E SETE
VINTE E OITO
VINTE E NOVE
TRINTA
TRINTA E UM
TRINTA E DOIS
EPÍLOGO
CAPÍTULO BÔNUS
PEDIDO DA AUTORA
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Copyright © Mary Oliveira
Todos os direitos reservados.
Criado no Brasil.
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da
autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.
DEDICATÓRIA
A você, que carrega feridas nunca cicatrizadas da infância. Você
merece amar e ser amado. Ciclos que existiram na sua vida não
precisam ser perpetuados.
PRÓLOGO
Quão estúpida uma garota precisa ser para se apaixonar pelo melhor
amigo do seu irmão?
Maverick Bradshaw.
Eu realmente não queria, mas isso não vem ao caso. Quem diabos
achou que seria uma boa ideia colocar Maverick no lugar do meu parceiro?
Como Liam concordou com isso?
— Ainda posso ir com você — meu irmão ofereceu, colocando-se à
minha frente quando o Camaro antigo de Maverick surgiu no fim da rua.
— Eu não vou ao meu baile com meu irmão mais velho surtado —
resmunguei, sem nem me dar o trabalho de encará-lo. Ainda estava puta.
Liam riu do meu drama, porque era como ele via minhas palavras:
um drama adolescente que passaria em algum momento. E, em partes, até
poderia ser, mas não completamente.
— Você perdeu alguma aposta com seu amigo para ele concordar
em me levar? — perguntei baixinho, quando Maverick estacionou à frente
da minha casa e meu coração simplesmente parou de bater. As mãos
suavam e as deslizei disfarçadamente pela saia longa do vestido azul-claro,
para limpá-las.
— Não, ele me viu quando soquei o idiota e mamãe pediu que ele te
acompanhasse.
Murchei.
Devia ter ficado calada. Era muito pior saber que ele só estava ali
porque mamãe havia pedido.
A porta do carro de Maverick foi aberta.
Ele era dez anos mais velho. Dez anos. Pelo amor de Deus. E eu
ainda era irmã do seu melhor amigo.
Meu Deus.
Precisava ser gostoso, bem-humorado, moreno e sarcástico?
Essa era tipo a descrição de noventa por cento dos mocinhos dos
romances que eu lia. Se ele tivesse um passado sombrio oculto em algum
lugar, eu estaria ferrada.
Eu amava cada pequeno detalhe tolo que havia catalogado sobre ele
nos meus últimos meses de observação e obsessão silenciosa.
Sorri, porque eu sabia que ele realmente ficaria. Liam Caldwell era
uma versão muito mais protetora do nosso pai adotivo.
Acho que, por isso, e por saber que eu nunca mais teria aquela
oportunidade, eu agi de modo tão imprudente. Num lapso de coragem e
loucura, praticamente me atirei em sua boca e o beijei como nunca havia
feito com ninguém. Como nunca quisera fazer com ninguém.
— Eu precisava saber como era beijar você. E agora que já sei, nós
vamos esquecer que isso aconteceu.
— Vamos lá, Maverick. Não aja como se esse também fosse seu
primeiro beijo. — Meneei a cabeça em negativa e o puxei para longe da
pista. — Você já pode me levar pra casa. Nada mais que acontecer aqui será
melhor do que essa cara que você está fazendo agora.
Eu ri, mas ele não me respondeu, apenas se permitiu ser guiado para
fora dali.
E não mudou.
— Quem diria que seu avô estaria certo, hein? — ironizou, com
alguma dificuldade, o sorriso aumentando apesar da respiração cada vez
mais densa. — Ele vivia dizendo que eu teria uma morte lenta para ter
tempo de me arrepender por toda a merda do passado.
Bufei.
— Talvez tenha sido por isso que ele passou anos em tratamentos
infinitos e invasivos antes de morrer também — sugeri, com o humor
mórbido que aquela maldita situação havia inflamado. Papai sorriu. Eu
também, mesmo que ele não pudesse ver atrás da máscara de proteção que
eu precisara colocar antes de entrar naquele quarto frio.
Ele voltou a sorrir, mas logo fez uma careta de dor e se esforçou
para respirar fundo. Meu coração virou a porra de uma pedra de gelo no
peito. Odiava vê-lo assim. Odiava não poder fazer nada. Odiava me sentir
inútil diante do seu sofrimento.
— Você vai se sair bem sem mim, filho — garantiu, era o que se
esforçava a dizer todas as vezes que acordava do coma induzido. Esse era o
máximo que ele era capaz de ser emotivo. — Não vai mais precisar apagar
meus incêndios… ou cuidar de mim como se eu fosse seu filho e não o
contrário. Você sempre se saiu bem mesmo com um pai imprestável e um
avô desalmado.
— Nada… ainda.
— Hum… — Sentei-me na beira da cama. — Vou precisar de mais
do que isso, Liz.
Ela hesitou.
Voltei a sentar.
— Que porra, Liz, você decidiu descobrir o que é uma boa foda,
caralho? — rosnei, me erguendo. O sangue inflamando nas veias com a
mera possibilidade de essa merda ser verdade. Retomei minha caminhada
inquieta pelo quarto. — Você não era demissexual? Ou está saindo com
alguém há algum tempo, sem eu saber?
— Por que me ligou pra dizer que vai dar sua virgindade pra um
filho da puta qualquer, hein? — rosnei. — Uma palavra pro seu irmão e
esse infeliz será capado antes de tirar as calças.
— Você não faria isso.
Ela hesitou.
— Não tem ninguém ainda — ela contou, por fim. Outra batida na
parede, agora sem tanta força. — Eu vou sair com a Sophia e decidi me
abrir para essa possibilidade, porque, pelo que ela contou, o lugar é bem…
promíscuo.
— Você vai perder sua virgindade num bordel, com um filho da puta
que nem sabe se será capaz de te fazer gozar… — grunhi, furioso. — É isso
mesmo, Liz. Está certa. Esperou vinte e um anos por essa merda e vai…
— Eu achei que você seria a última pessoa a me julgar — ela disse,
baixinho, de um jeito que quase me fez me arrepender do que havia dito. —
Só queria contar pra alguém e ouvir uma coisa útil como: use camisinha
ou… soque a garganta dele se ele não tiver cuidado… ou então: você tem
certeza de que quer isso? De que está pronta pra isso?
— Liz…
— Tanto faz. Ligar pra você foi uma péssima ideia mesmo.
***
Preferi não pensar sobre toda aquela merda por muito mais tempo.
Tomei um banho rápido e me troquei para ir à inauguração da Secret
Pleasure, no Clube Oásis.
Principalmente Bruce.
Ri baixo, e apesar de ser realmente irônico o que eu dizia, meu riso saiu fingido demais. Não
enganou nem a mim.
Voltei a rir, desta vez com um pouco mais de vontade. A ideia de os Cinco Herdeiros de Nova
Iorque — como meus amigos e eu ficamos conhecidos na faculdade — estarem inaugurando uma
festa de luxúria num ambiente que mais lembrava uma maldita catedral certamente deixaria nossos
antigos professores de cabelos em pé. Alguns diriam que minha má influência era a única
responsável por isso.
A imagem de Liz voltou a surgir em minha mente e, antes que eu começasse a me perguntar
por que o fato de ela querer perder a virgindade estava me incomodando tanto, liguei o som do carro
mais uma vez e deixei a voz de Brian Johnson abafar qualquer pensamento.
A Secret Pleasure era uma festa exclusiva que faríamos ao menos uma vez por mês. Meu
amigo Chuck Gustafson havia idealizado a coisa toda, transformando uma das áreas ocultas do Clube
Oásis em algo muito próximo de um templo, criando ambientes diversificados preparados para o
sexo, dignos de surpreender e excitar qualquer um dos milionários que eram associados do Clube e
haviam entrado em nossa lista seleta e exclusiva para aquela festa. Como donos e organizadores de
tudo, estabelecemos regras para manter a identidade de todos os convidados em sigilo, além do uso
de máscaras, todos deveriam usar pseudônimos durante a festa.
— Não tenho certeza se vou conseguir usar esses saltos por muito
tempo — lembrei-a, erguendo a saia ousada do vestido para observá-los —,
mas obrigada por me emprestar. São lindos.
— Acho que valeu a pena gastar uma pequena fortuna pra alugar
essa peça — comentei, rindo de mim mesma por me sentir gostosa numa
roupa que normalmente sequer chamaria minha atenção.
— Claro que valeu! Olha essa bunda sendo valorizada, Liz! — Ela
riu e se aproximou já em seu vestido vermelho e sexy. Sophia era uma
mexicana curvilínea e naturalmente sensual. Não precisava de muita
maquiagem para sua beleza ser realçada, tampouco para chamar atenção.
Ela estava deslumbrante. — Adoro sua tatuagem, mas acho que é a primeira
vez que te vejo usando uma roupa que a deixa à mostra.
— Duvido que ele tenha se recuperado da última vez que você tocou
no cabelo dele — comentei, ainda rindo.
— Tem certeza de que Maverick não estará lá? Seu irmão pode não
te reconhecer assim, porque é um cego que nunca conseguiu te ver como a
mulher adulta linda e safada que você é, mas não tenho certeza de que
Maverick não reconheceria — ela avisou.
— Linda e safada? — ecoei, voltando a rir.
— Amiga, você tem mais vibradores que eu — ela lembrou, sem se
importar em falar baixo. Desbocada como eu, quando ficava bêbada. — E
aposto que já gozou mais com eles do que eu com os babacas com quem já
saí. Você pode ser demissexual, mas não é inocente ou ingênua. E é leitora.
Adora umas putarias, sim. É virgem só de pa…
— Okay — eu a interrompi, porque já sentia minhas bochechas
ardendo e não precisava de um espelho para ter certeza de que meu rosto
estava vermelho. Nem tive coragem de olhar para a motorista de meia-idade
que dirigia o táxi agora. — Primeiro, você me deu todos aqueles vibradores
pra testar e escrever sobre eles no seu blog, lembra?! E segundo, Maverick
não estará lá. Liam me disse ontem que ele está com um problema de
família para resolver. Deve ser alguma coisa que o pai dele aprontou de
novo.
— Mas tinha o jeito que ele olhava pro seu ex. Liam parecia querer
assustá-lo e enxotá-lo da sua vida a pontapés, mas Maverick? — Ela acenou
em negativa. — Ele olhava para as mãos do Dean em você como se
quisesse arrancá-las e forçá-lo a engoli-las.
— Eu realmente acho que foi bom você não ter dado para o filho da
puta do seu ex, sabe? — ela disse. — Você merece mais do que aquele
babaca traidor que deve socar fofo. Mas você não é a pessoa mais receptiva
a contato masculino que eu conheço, Liz. Me preocupo com como se
sentirá nessa festa e duvido que seja capaz de deixar um desconhecido te
tocar… entrar em você.
Apertei os lábios. Eu sabia que ela estava certa. Desde que nos
tornamos amigas, quando me mudei para o apartamento à frente do seu e
nos encontramos numa ONG lá perto, tivemos uma conexão imediata. E
conversar sobre sexualidade era algo que fazíamos abertamente. Sophia
sabia que eu precisava estabelecer alguma conexão com um homem antes
de me sentir confortável com seu toque, sabia que era por isso que eu
continuava virgem.
Eu não sabia como reagiria ao que visse, mas acreditava que, pela
experiência, já estava valendo.
Acenei, concordando.
Não conversamos mais até chegarmos ao Clube Oásis. Descemos do
táxi já com nossas máscaras e não demoramos a ser recepcionadas.
A música baixa, de letra obscena, cantada por uma voz rouca e sexy,
que mais parecia sussurrar aquelas sacanagens diretamente nos meus
ouvidos.
Parecia uma catedral do século XIX. Uma catedral requintada, imponente, mas
completamente deturpada do sentido de um local religioso. As esculturas, vitrais e até mesmo as
pinturas no teto eram eróticas, remontavam posições e nus sensuais que me lembravam a arte erótica
da antiga Pompeia. De um período em que o cristianismo não dominava o Império Romano. Era
como ver a arte desafiar uma parte hipócrita do clero do século XIX.
Num primeiro momento, tudo ali parecia tão perturbador, errado, sujo. Um sacrilégio. Mas à
medida que meus olhos se acostumavam e capturavam as referências, as críticas anticlericais, o poder
que aquelas imagens pareciam ter de instruir o prazer, em contraposição às imagens sagradas que
instruíam a religião.
— Merda, eu queria muito poder dizer que odiei, mas não vou
conseguir — Sophia resmungou ao meu lado. Os olhos presos aos
dançarinos seminus se movendo lenta e sensualmente em tecidos
acrobáticos presos ao teto.
Sorri e teria dito algo, mas dois homens passaram por nós, um deles
carregando uma mulher e com uma mão grande cobrindo um seio dela, e o
outro a beijando, como se nem precisasse estar atento ao caminho que
seguia. Como se continuar beijando-a fosse muito mais importante agora.
Eu deveria estar querendo correr para longe dali ou ao menos
paralisada, tentando absorver o fato de que eles não eram os únicos se
agarrando bem diante dos olhos de todos que quisessem ver, mas a verdade
era que eu estava curiosa. Interessada. E estranhamente consciente do calor
aumentando no meu corpo.
Logo nos acomodamos num banco negro estofado, com uma mesa
da mesma cor. A iluminação ali era mais reservada, mas meus olhos
alcançaram um casal se agarrando numa mesa não muito distante da nossa.
A mulher estava sobre o colo do homem, se esfregando nele enquanto os
dois se beijavam. Fiquei hipnotizada pela cena. Atenta a cada movimento,
ao modo como as mãos grandes dele agarravam as coxas dela. O vestido
que usava era curto, então era possível ver a carne dela ser apertada com
força.
Não eram.
Mas ele não me viu. Sequer olhou para os lados, apenas pisou firme
enquanto saía furioso.
Soltei o ar com dificuldade. Sem acreditar naquela conversa, sem
acreditar que tinha esbarrado tão facilmente com aqueles dois, sem acreditar
que Maverick estava a uns poucos metros de distância, tendo sua calça
aberta por uma ruiva estonteante e mascarada.
Meu Deus, meu Deus, meu Deus… que infernos eu estou fazendo
aqui?
Ao meu lado, Sophia já trocava palavras com um homem e sequer
notou meu desespero e tentativa vergonhosa de me esconder fingindo
buscar algo em minha bolsa.
Ele me chamou.
Sem me reconhecer, talvez sem sequer imaginar que eu poderia estar
ali, ele me chamou. E eu nem consegui raciocinar ou descobrir se me
importava o fato de ele me ver como uma boceta para ser fodida, porque
uma parte de mim queria que ele me visse exatamente assim, não como a
irmãzinha do seu melhor amigo ou como uma irmã mais nova postiça.
Mas como uma mulher louca para tê-lo. Louca para senti-lo em seu
corpo. Louca para gozar gritando seu nome.
Merda, acho que por isso eu me levantei com as pernas bambas, a
calcinha úmida e pesada, a boceta pulsando de necessidade.
Eu queria mais.
Me beija.
Eu tô pronta.
Me beija.
E ele entendeu.
Ele me beijou.
Parecia me punir.
Ele não disse nada, não fez nada além de me beijar como se eu
tivesse cometido um crime e precisasse ser castigada, então tomei o
controle da situação e envolvi minhas pernas em torno da sua cintura,
ficando aberta o bastante para minha umidade tocar a aspereza do seu terno.
Segurei sua mão e a guiei para o interior das minhas coxas, onde eu ainda
estava quente e molhada.
Ele rosnou.
Rosnou.
E não sei o que exatamente acordei com aquelas palavras, mas foi
animalesco, furioso e o fez arrancar o controle das minhas mãos e me
submeter à violência do seu desejo. No beijo, no modo como invadiu minha
boceta com seus dedos, na força com que investiu contra mim a partir dali,
me deixando tonta de prazer, perdida para o mundo, refém de tudo o que só
Maverick era capaz de me fazer sentir.
Maverick parou.
— Vai doer — ele grunhiu, tão rouco, parecia odiar que essa fosse
uma certeza.
Seu próximo movimento foi ágil, mas cuidadoso. Ele nos mudou de
posição, me ergueu e colocou sobre seu colo, enquanto se acomodava
sentado sobre a cama. Pulsei com seu pau sob mim, tão duro que meu
desejo de tê-lo só aumentou.
E ele sugou forte, tomando mais do que meu gosto para si, então
mordeu as aréolas e puxou os mamilos entre os dentes com força, me
deixando louca em seu colo.
O mais letal.
Talvez fosse uma ilusão criada por mim mesma, mas enquanto
minha boceta sofria espasmos alucinantes que reverberavam por todos os
meus membros, e eu gozava pela segunda vez em seus braços, ouvi sua voz
rouca grunhir o que eu nem sabia que precisava ouvir.
Minha.
Finalmente minha.
QUATRO
— Maverick…
Sorriu.
Eu estava surtando e essa ninfeta maldita estava rindo, porra.
— Você não vai tentar me fazer acreditar que não lembra de nada,
não é?
Bufei.
Eu queria muito não lembrar de nada. Queria muito poder dizer que
meu pau estava duro por causa de uma ereção matinal que eu não era capaz
de controlar e não porque eu lembrava exatamente qual era a sensação de
me enterrar na boceta apertada que Elizabeth tinha.
Porra, eu merecia uns socos muito bem dados nessa minha cara.
Ela franziu os lábios naquela mania fofa que tinha e que nesse
momento só me irritou pra caralho, então respirou fundo.
Com. A. Liz.
A garota espertinha de língua afiada que era um gênio que eu
sempre ajudei a manter intocável. Aquela que eu sabia, sempre soube, que
merecia a porra do mundo aos seus pés. Merecia alguém disposto a entregá-
lo de bandeja a ela e ainda dar a vida clichê de comercial de margarina que
ela queria.
Quanto de álcool eu bebi para fazer toda essa bagunça? Por que nem
lembrava o que tinha me feito levar aquela situação adiante?! Que parte
fodida era essa do meu cérebro que eu desconhecia, mas ainda assim tinha
tomado a porra do controle sobre mim daquele jeito?
— Por que você não diz nada? — indaguei, parando para finalmente
a encarar, ainda sentada sobre a cama, mas ela logo se ergueu também,
como se não quisesse deixar nossos olhares mais desnivelados que o
necessário por causa da sua baixa estatura.
— Minhas opções são chutar suas bolas ou jogar na sua cara que
você está em negação porque não consegue assumir pra si mesmo que quis
tudo o que fizemos. Mas não acho que você gostaria de nenhuma delas.
Ela pegou sua bolsa sobre a mesa de cabeceira e se voltou para mim.
— Bradshaw?
Porra!
Elizabeth cambaleou um passo para trás enquanto o casal
intercalava olhares entre nós dois, compreendendo a merda que havíamos
feito. Ela conhecia Bruce há quase tanto tempo quanto me conhecia e havia
conhecido Emma há alguns meses.
Foda-se.
— Algo não muito diferente do que você e Emma certamente
fizeram — soltei com ironia e fui até a cama para pegar outro lençol e me
cobrir.
— Como que você diz isso assim, porra?! — Meu amigo tentou
afastar Emma para o lado, de modo que pudesse avançar sobre mim, mas
não teve sucesso. Aquela mulher de um metro e sessenta e cinco tinha mais
poder sobre ele que qualquer outra pessoa nesse mundo. — Você se drogou
por acaso?!
Bufei.
— É claro que não. Eu nem sabia que ela estava aqui quando a
beijei ontem! — declarei, toda a minha frustração finalmente sendo
expressa através daquelas palavras. — E depois, quando percebi, já era
tarde… não consegui mais parar.
— Além disso, a Liz tem que ficar com algum babaca metido a
intelectual que quer casamento, filhos e uma casa com cerca branca e dois
cachorros magrelos e ridículos! Exatamente como ela merece!
Talvez não devesse, e nem sei por que exatamente o fiz, mas peguei
a porra da calcinha e a enfiei no meu bolso antes de sair dali. Me
preparando para enfrentar a merda que viesse depois do que eu tinha feito.
CINCO
Sorri.
Ela riu.
Sorri, porque pensar nisso estava me fazendo sorrir feito uma idiota
nas últimas horas.
— Não sei. Talvez ele não saiba como lidar com o fato de que fez
sexo comigo — tentei. — Ainda sou a irmãzinha de um dos melhores
amigos dele.
— Ele não pode agir assim só porque não está sabendo lidar com o
que houve.
— Eu achei melhor dar um tempo pra ele lidar com isso antes de
conversarmos — avisei. — Não vou deixar ele passar uma borracha na
noite de ontem, Sophs.
Gargalhei.
Sorri.
— Ele vai, mas não vou deixar.
Minha amiga deu uma risadinha.
Além disso, permiti a mim mesma reconhecer que aquilo era o que
eu queria com Maverick. E era um futuro alcançável, se eu não o deixasse
continuar em negação sobre me querer.
E eu não deixaria.
SEIS
Para piorar, Liz não saía da minha cabeça. Eu não havia pregado os
olhos à noite, reunindo e revisitando cada maldita lembrança do que
havíamos feito. Do seu rosto se contraindo de prazer, dos lábios
entreabertos, resfolegando, gemendo ou implorando por mim. Daqueles
peitos deliciosos adornados por joias delicadas que só os deixavam mais
lindos. E a boceta… aquela boceta, porra.
E agora eu estava ali, com nossa noite jogando na minha cara que
estive enganado sobre tudo aquilo. A Liz não era ingênua e inocente; não
era intocável, insegura, tímida ou qualquer uma dessas merdas. Ela era
corajosa, receptiva, curiosa, ávida, intensa e gostosa pra caralho.
Eu podia ainda me recriminar e culpar por ter feito isso, por ter
cedido e agido como se tivesse o direito de foder com aquela garota, mas
estava cada vez mais difícil enxergar a Liz como algo além de uma mulher
linda e gostosa que sabia exatamente o que queria e não tinha medo de agir
para conseguir. E essa era uma mudança grande demais para um período de
tempo muito curto.
— Contei pra nonna que você estava nos ignorando desde a semana
passada e ela insistiu em fazer essas pizzas — Blake respondeu, erguendo
as duas caixas que segurava, o sorriso que quase nunca surgia em seus
lábios iluminando sua expressão normalmente fria e impassível. — Disse
que você nunca abriria mão de comer uma pizza preparada por ela e
aceitaria nos ver se trouxéssemos um estoque grande.
— Você pode preferir lidar com sua merda sozinho, irmão — ele
iniciou, sua voz grossa saindo tão gentil quanto ele era capaz de soar —,
mas não significa que não estaremos aqui se precisar.
Então, cara, sabe sua irmãzinha virgem e intocada? Ela não é mais
virgem, nem intocada.
Grunhi, sem acreditar em mim mesmo, e balancei a cabeça, para
afastar aqueles pensamentos.
— A nonna quer que você faça uma visita a ela até o fim da semana
— Blake avisou e, mesmo que não erguesse os olhos das caixas de pizza
que abria, eu soube que falava comigo. Nós dois éramos os mais apegados à
senhorinha que havia adotado os Cinco Herdeiros de Nova Iorque como
netos postiços quando éramos só adolescentes. — Ela quer ter certeza de
que você está bem e prometeu fazer todos os seus pratos preferidos.
Apesar das minhas preocupações, sorri ao lembrar da nonna e da
sua mania de me mimar como se eu fosse seu filho preferido — e foda-se se
eu não era mesmo. Eu amava aquela italiana. Estava com saudades dela, da
sua risada, humor e leveza. E precisando ser mimado um pouco para
esquecer as pancadas da vida.
— Eu vou — garanti.
— Não sei de onde vocês tiraram que sou fofoqueiro — iniciei, bem
cínico mesmo, pegando duas fatias de pizza de uma vez. — Eu só gosto de
me manter informado.
— E se intrometer nas nossas vidas — Bruce completou, uma
sobrancelha grossa içada em desafio.
— Ele tem — Liam quem respondeu, quase sem fôlego por causa do
riso descontrolado.
— É bom você calar a porra dessa boca se não quiser ser o próximo
com um olho roxo — Chuck rosnou, e seu sotaque se acentuou aqui.
Troquei um olhar com Bruce e outro com Blake, que apenas
observavam tudo, lendo a situação antes de emitirem qualquer comentário,
como sempre.
— Não é com ela que você tem uma reunião amanhã? — Blake
indagou, sorrindo com uma provocação atípica dele.
Chuck grunhiu uma resposta afirmativa e afundou no sofá em que
estava, bufando como um adolescente.
***
Ele bufou e voltou sua atenção para mim. Eu soube o que estava
prestes a me dizer antes mesmo que cortasse a distância entre nós.
— Ahhhh, eu tava com saudades, sabia? Você podia ter ido passar o
Natal com a gente. Eu ia adorar muito — ela disse, com a dicção invejável
de uma oradora, e não de uma garotinha de oito anos.
Sorri. Eu não fazia ideia de quem era RM, muito menos Jimin, mas
sabia que ela era obcecada por aquele grupo de k-pop, o BTS, e pedi que
minha secretária encontrasse algo valioso dos integrantes do grupo. Ela
claramente havia acertado em cheio.
— Que bom que você gostou — falei, rindo, quando ela voltou a me
abraçar. Bruce parou à nossa frente com os olhos semicerrados. O filho da
puta mal conseguia disfarçar o ciúme que tinha da minha relação com sua
irmãzinha.
Eu não aguentaria lidar com essa merda por muito mais tempo,
então resolveria logo a porra dessa situação com Elizabeth. E mesmo que
não fosse capaz de fazê-la enxergar o tamanho do erro que cometi ao tocar
nela, teria que deixar claro que aquela noite não mudaria nada entre nós.
Que nada entre nós nunca poderia mudar.
SETE
Bufei.
Fui até a porta acreditando que era Sophia, mas só precisei olhar
pelo olho mágico para meu coração saltar no peito ao ver que não era ela
ali. Afastei-me rapidamente, os olhos arregalados e uma onda de euforia
acordando todo o meu corpo diante da imagem de Maverick.
Atendi à porta.
Sorri, feliz por ele escolher perguntar isso antes de qualquer outra
coisa.
— Sim.
— Eu sinto muito, Liz. Você merecia mais do que uma foda como
aquela na sua primeira vez… merecia alguém que tivesse…
Eu o cortei:
— Tive exatamente o que eu queria na minha primeira vez,
Maverick — garanti, firme, ainda sustentando seu olhar, para que ele não
tivesse dúvidas do que eu dizia. — Você… você me fodendo.
— Não aceito que se desculpe por ter me dado a melhor noite que
eu poderia ter — avisei. — Você veio aqui para tentar me convencer de que
o que fizemos foi um erro, não é?
— Liz…
— Isso não muda o fato de que foi um erro, de que eu nunca deveria
ter tocado em você ou tirado sua virgindade, porra! Como você ainda não
enxerga isso?
— Não quero enxergar o que fizemos pelas mesmas lentes
deturpadas que você — redargui, de pronto. E agora eu estava a dois passos
de distância.
Gostava muito.
Toquei mais do que um nervo com aquelas palavras, sei que sim.
— Liz!
— Faça as perguntas certas para mim e para você — pedi, por fim.
— Vai me dizer então que eu fui só uma foda que não significou
nada? — testei, a pergunta soou como um desafio, mas foi só uma máscara,
uma que usei para não expor o quanto me desarmaria e machucaria ouvi-lo
confirmar isso. — Que teria fodido e beijado aquela ruiva do mesmo jeito
que me fodeu e beijou? Que não importava se era ela ou eu naquele quarto?
— Estou me odiando por ter desejado você, por ter fodido você
como se tivesse algum direito de tomar sua virgindade, por ficar de pau
duro só de lembrar da sua boceta, Liz. — Acho que perdi a força das pernas
naquele momento. — Eu deveria proteger você, porra, garantir que nenhum
filho da puta como eu entrasse na sua vida, garantir que você fosse feliz,
que encontrasse algum gênio como você, um idiota que beijaria o chão que
você pisasse, que quisesse te dar o mundo, a começar por um casamento e
filhos de olhinhos apertados e covinhas fofas, como você…
Você pode ser esse homem… era o que eu queria dizer, mas ele não
permitiu.
— Isso era o que eu deveria fazer, o que seu irmão espera que eu
faça, o que você deveria querer de mim, Liz. — Maverick soltou minha
garganta de uma vez, e eu teria caído para trás se não tivesse agarrado as
lapelas do seu terno e ele não tivesse me segurado pela cintura. Por entre
minhas tentativas de encher os pulmões de ar, ele concluiu: — Eu não sou
esse homem, não sou o filho da puta que vai dar o que você merece. O que
você quer. Por isso o que fizemos foi um erro. A porra de um erro que não
vamos repetir.
Com seu braço forte enlaçando minha cintura, meu corpo foi
apertado ao seu com firmeza, num agarre possessivo, rude. Nossos corações
trovejavam um contra o outro, no mesmo ritmo louco.
Encostei minha boca à sua, a língua deslizando por seus lábios antes
de finalmente afundar por entre eles e encontrar a sua. Um grunhido baixo
escapou da sua garganta, como o som emitido por um animal que estava
sendo torturado. Sua língua tocou a minha, girou em minha boca e me
chupou, roubando o controle que era meu, beijando-me profundamente, me
consumindo aos poucos, mas de um jeito tão intenso que abalou todas as
minhas inseguranças e me deixou molhada em segundos.
Enfiei minhas mãos em seus cabelos e me preparei para montá-lo de
verdade, mas Maverick se afastou. E me afastou. Com o último resquício de
autocontrole que ainda aparentava ter.
— Não vou arriscar perder você e Liam quando já sei como isso
aqui terminaria.
— Liz…
— Eu não…
Não foi uma acusação, apesar das minhas palavras, aquela foi só
uma tentativa de expor a verdade que ele ainda ignorava.
— Você deveria reconhecer o que sente antes de tentar me fazer
acreditar que sabe o que eu quero e o que eu mereço — anunciei.
— Liz… — chamou, de modo mais incisivo agora, mas se calou
quando me viu cortar a distância entre nós, decidida, determinada como eu
não lembrava de já ter estado algum dia.
Acenei em negativa.
— Vou dar o que você quer, Maverick — esclareci. — Exatamente o
que você quer.
— E então?
— Um erro — repeti.
— Um erro que não pode se repetir mesmo que você queira,
presumo.
Não neguei.
Não respondi e acho que minha agitação ficou muito mais nítida a
partir daqui.
Bruce suspirou.
— Então você tirou a virgindade da irmã do seu amigo e quer
acreditar que fez isso só porque estava com tesão? E está tentando se
convencer disso mesmo quando sabia exatamente tudo o que estava em
jogo ao transar com ela?
Franzi a testa.
— Espero que não demore a reconhecer que o que sente pela Liz
não é o mesmo que sente pelos seus casos de uma e cinco noites — iniciou.
— Que não precise perdê-la para perceber que, se quiser, pode sim oferecer
a ela mais do que orgasmos, distanciamento emocional e o quê mesmo?
Certeza de que não terão um futuro.
Ele riu.
Riu.
— Vamos logo falar com aquele sheik, quero dar esse dia por
encerrado e voltar pra minha mulher — avisou, por fim. Como o buldogue
babão que era por Emma.
— Podemos ir então?
Ir para onde?
— Claro — Liz respondeu, voltando a encará-lo e a sorrir, então
seus olhos baixaram para a tela do celular, e ela digitou algo nele antes de
guardá-lo na bolsa que trazia em seu ombro.
PARA ONDE?
— Para onde vão? — inquiri, sem me importar se soava invasivo ou
mal-educado.
Irmão…
A droga de um irmão.
— Será que você pode ficar quieto, porra?! — grunhi, fazendo meu
melhor para não chamar atenção indesejada.
Meus olhos se estreitaram para os pombinhos na droga do bar de
novo, agora rindo juntos enquanto tudo o que eu tentava fazer era entender
o que diziam, mesmo com os mais de dez metros que nos distanciavam.
Uns resmungos bem miseráveis deixaram meus lábios enquanto aquela
coisa queimando em meu peito parecia consumir mais do que meu controle.
E isso foi agravado por Bruce, que achou uma ótima ideia começar a rir ao
meu lado, de mim.
Filho da puta.
Ele nem era de rir, mas estava ali, praticamente gargalhando com a
porra daqueles dentes brancos de fora, como eu nunca tinha visto.
— Há meia hora você estava dizendo que foi um erro transar com
ela.
— E foi — repeti.
Estreitei os olhos.
— Uhum, sei.
— Vá se ferrar — mandei.
Grunhi.
Sua mulher…
— Elizabeth não é minha mulher.
Ele riu baixinho, dando alguns tapas amigáveis nas minhas costas.
Bruce foi quem segurou meu braço e me impediu quando tentei sair
dali para descer até onde os dois estavam.
— Fale com algum dos seguranças para que fique de olho nela e me
avise quando ela se preparar para ir embora — pedi, desvencilhando-me do
seu agarre. — Vou voltar para o escritório.
***
Sophia.
E desligou.
Simplesmente.
Encarei o telefone por um instante, um vinco se aprofundando em
minha testa, mas então um sorriso pequeno curvou meus lábios. A
praticidade de Sophia ainda me surpreendia às vezes, mas o que era bom
mesmo era saber que ela estava com Liz, isso significava que o filho da
puta já não estava lá.
Desta vez, peguei o elevador para descer até o bar do clube e não
demorei a avistar as duas amigas. Elas estavam acomodadas em um dos
bancos estofados, com a cabeça de Liz apoiada à mesa enquanto ela girava
um copo vazio e Sophia acariciava seus cabelos, estava sentada de costas
para mim.
— Você devia ter me falado que seria assim, amiga — ela dizia,
fungando baixinho, de um jeito que me deixou com o cenho franzido,
preocupado. Se aquele filho da puta tinha tentado forçá-la de alguma
maneira, eu ia… —, que depois de transar uma vez, a gente começa a sentir
falta.
Quê?
— Amiga — Sophia tentou chamar a atenção de Liz, se inclinando
para aproximar seus rostos —, é pra isso que você tem aqueles vibradores,
eles…
Vibradores?
A mexicana riu e eu queria ter tido essa reação, queria mesmo, mas
tudo o que fui capaz de fazer foi imaginar Elizabeth se tocando… gemendo
baixinho, sozinha. Gozando com a porra de um vibrador. Tocando aqueles
peitos gostosos que ela tinha… Puxando os piercings delicados nos
mamilos para instigar um pouco de dor em meio ao prazer.
— Acho que esse seu vício por lingerie cara ainda vai te levar à
falência.
Liz gemeu baixinho.
Mas Liz não respondeu desta vez, não com palavras, ao menos.
Apenas resmungou o que pareceu ser um insulto a mim e bocejou.
Eu estava tão ferrado, porra. Tão, tão ferrado com aquela garota.
DEZ
O vento frio tocando minha pele me fez encolher contra uma parede
sólida e quente, atraída pelo calor que ela emanava.
Era Maverick ali, me carregando para onde quer que fosse. Perceber
isso foi suficiente para eu relaxar. Para me sentir segura.
— Por que você tem que ter um cheiro tão bom, hein? — perguntei,
minha língua enrolando de um jeito estranho, a voz saindo rouca demais,
irreconhecível. Por quanto tempo eu tinha dormido? Por que ainda me
sentia tão cansada?
— Ela teve que cobrir alguém no abrigo noturno da ONG que vocês
ajudam — Maverick avisou. — Eu a deixei lá antes de te trazer para o seu
prédio. Já vamos chegar ao seu apartamento.
— A Sophs te ameaçou?
— Ela não precisa te perdoar porra nenhuma, você não tinha que
seguir a vontade dela, Liz. Você está vivendo a sua vida e não precisa da
permissão dela para tomar decisões. — Seu lembrete incisivo me fez
menear a cabeça em negativa e ainda senti-la pesada. Eu não queria falar
sobre isso agora. A mera lembrança de mamãe já começava a desencadear
uma dor de cabeça.
— Sim.
Merda.
— Maverick?
— Sim?
Droga.
Minha cabeça pesou ainda mais e abrir os olhos já não parecia mais
uma opção. O gosto ácido e corrosivo da bile queimou em minha língua e o
esforço para segurar o conteúdo do meu estômago se tornou ainda maior.
Por sorte, Maverick não demorou a alcançar o meu andar. Paramos
por alguns instantes enquanto ele parecia buscar minha chave na bolsa que
estava sobre meu colo. Não faço ideia de como ele conseguiu fazer isso sem
me soltar, mas logo a porta foi aberta e entramos.
Logo eu estava de volta aos seus braços. Agora mais lúcida, de cara
limpa e boca também. Não o deixei se afastar nem depois que me colocou
sobre a cama. Mantive meus braços em volta da sua nuca, prendendo-o a
mim.
Então, o que escolhi fazer foi levar uma de minhas mãos até sua
nuca e embrenhar meus dedos em seus cabelos grossos, voltando a acariciá-
los, esperando conseguir acalmá-lo de novo. Diminuir a rigidez da tensão
que tomava seu corpo.
Não sei quanto tempo levou até ele começar a relaxar, mas
desconfiei de que o cansaço e o sono que me acometiam também o
alcançaram. A última coisa que registrei antes de me deixar ser vencida foi
o braço de Maverick envolvendo minha cintura para me manter perto,
colada à estrutura sólida e forte do seu corpo perfeito.
— Bambino! — nonna emitiu, vindo até mim com uma rapidez que
contradizia sua idade e me apertando tão forte quanto conseguia. Voltei a
sorrir, meus pulmões se enchendo com um fôlego do qual eu sabia que
precisava, apenas por tê-la ali. Amava essa senhorinha mesmo que entre nós
não houvesse nenhum laço de sangue. E nem tinha a ver com o fato de ela
me tratar como o filho que nunca tivera, ela preenchia a vida de todos ao
seu redor com uma luz que ofuscava qualquer sombra de dor e
preocupação, além de ser protetora e cuidadosa como a figura materna que
escolhera ser para mim. — Como você está, hein?
— Você sabe que eu estou sempre disponível para você, não é, meu
pequeno Maverick? — ela sussurrou. Seu pequeno Maverick sempre me
fazia rir, porque perto dela eu era tudo, menos pequeno. — Não importa se
você não é meu neto de verdade, meu querido, você é um filho para mim
desde que se mudou para Little Italy com dezesseis anos e começou a
aparecer no meu restaurante para comer todos os dias antes e depois da
escola.
Já era início da tarde quando ela nos serviu a sobremesa gelada que
tinha em seu freezer e me guiou até a sala de TV, onde nos acomodamos
lado a lado enquanto degustávamos o doce e ela escolhia o filme que
assistiria pela milésima vez. Todos os sábados e domingos, religiosamente,
ela se acomodava neste sofá enorme e assistia algum dos filmes que
ganhara seu coração nas décadas de oitenta e noventa. Como a boa
romântica incurável que era. Talvez por isso tivesse tanto sucesso em
proporcionar jantares e pedidos de casamento inesquecíveis em seu
restaurante.
— Seu pai não é sua única referência familiar viva — lembrou, com
uma delicadeza que quase diminuiu o impacto dessas palavras. A imagem
de mamãe doente retornou à minha mente no vislumbre que eu ainda tinha
dela. O único que restara do seu rosto depois de mais de duas décadas,
desde que eu a vira pela última vez. — Não importa o quanto queira, você
não é capaz de resolver todos os problemas das pessoas que você ama, meu
querido, principalmente quando eles envolvem a saúde de alguém.
— Nonna…
— Você era uma criança, meu querido — repetiu. — Nunca foi sua
responsabilidade resolver os problemas dos seus pais ou impedir que sua
mãe sofresse naquele casamento. Ela não foi embora por sua culpa.
Sob minhas pálpebras cerradas, meus olhos arderam, flashes
confusos de memórias retornando contra minha vontade. Não apenas das
brigas entre papai e mamãe, das vezes em que eu a vi chorar ou das noites
em que ele retornou bêbado, fedendo a perfumes doces e fortes, e eu
precisei levá-lo ao escritório para escondê-lo de mamãe, porque ela sempre
chorava quando o via daquele jeito; mas de vovô a culpando por eu ser um
imbecil que mal conseguia reconhecer as letras do próprio nome.
Fora ele que me dissera que ela havia ido embora por minha causa.
E por que não acreditar, não é? Se, mesmo com os esforços dela e os meus
próprios, eu continuei com um péssimo desempenho na escola. Se eu era o
motivo de ela discutir tanto com vovô e se era por mim que papai jurava
que seria um marido melhor antes de voltar para casa bêbado de novo ou
simplesmente sumir por dias sem avisá-la? Se fora por engravidar de mim
que ela fora forçada a entrar para a família Bradshaw?
Eu não a culpava por ter desistido daquela vida. De mim. Nem por
ter me deixado sozinho com aqueles dois. Ela merecia a oportunidade de ter
uma vida melhor longe dos Bradshaw. Dos três homens que estavam
destruindo a sua vida.
Não respondi nonna. Dizer tudo isso a ela nunca a havia dissuadido
da resolução de que eu precisava reencontrar mamãe para entender de
verdade o passado. E eu não queria permanecer nesse assunto. Ele me
drenava.
— Nonna?
— Sim, querido?
— Eu… — Por que era tão difícil admitir isso para ela? —… eu
dormi com a irmã do Liam.
Nonna sorriu.
— E por isso você fala dela com esse sorriso bobo, cheio de
orgulho?
— Nonna…
— Uma amizade como a que você tem com Liam e os garotos não
se acaba por algo assim — garantiu, agora acariciando meu rosto. — E se
quer saber minha opinião… Liam pode até demorar a aceitar ver vocês
juntos, porque eu sei como pode ser cabeça-dura, mas um dia verá que não
poderia entregar a irmã dele a alguém melhor que você. Sabe por quê?
Fui engolido pelas perguntas que nonna já tinha sobre a garota que
vinha consumindo cada maldito pensamento que cruzava minha mente.
Passar os próximos minutos falando sobre ela definitivamente não me
ajudou a mudar isso, mas, por algum motivo, o peso da culpa não era mais
tão grande.
Emma riu.
— Alugamos metade do estoque de brinquedos infláveis e três
camas elásticas diferentes, além da torre para ser escalada — Bruce contou,
indicando todos os itens no salão amplo. — Mas se forem como Emy, essas
crianças vão passar o dia todo aí e não vão se cansar.
Emma voltou seus olhos para mim com um sorriso, animada com a
possibilidade de rever nonna.
Mas ela não cedeu, não fez nada além de menear a cabeça em
negativa e desviar o olhar, irritada.
— Obrigado, irmão.
— Sabe que não precisa agradecer — foi tudo o que eu disse antes
de vê-lo seguir sua mulher.
Bruce e eu queríamos ver Emma recebendo os pedidos de desculpa
que merecia e voltando a ser recebida de braços abertos na família que
escolhemos formar com nossos amigos. E eu faria isso acontecer, mesmo
que demorasse porque esses filhos da puta eram uns cabeças-duras.
Emy só faltou pular dos meus braços para ir atrás da sua nova
melhor amiga em potencial.
— Vamos, tio Maverick! — ela pediu, batendo palmas, animada.
— Vamos nos sentar juntas, sinto que vamos nos dar muito bem, Liz
— foi o que nonna escolheu dizer, intercalando sua atenção entre mim e
Elizabeth.
Meu celular tocou e sequer precisei olhar para saber que era uma
chamada do gerente do hotel. Estávamos recebendo um grupo de
empresários de Dubai. O Emir estava presente e minha atenção era
constantemente solicitada.
Aquela sombra anterior, que vi em seus olhos tão logo ela chegou à
festa, estava ali de novo, o que me preocupou ainda mais. Acabei
encerrando a ligação após avisar ao gerente que o encontraria mais tarde.
Ao me ver guardando o telefone e caminhando em sua direção, Liz também
avançou, o barulho de suas botas pretas no piso de mármore demarcando a
distância extinguida a cada passo.
Hesitei.
Elizabeth não respondeu. Por muito tempo, o que ficou entre nós foi
apenas o som das batidas dos nossos corações vibrando em nossos corpos,
das nossas respirações acelerando, nossos pensamentos praticamente
zunindo entre nós. E eu quis, mas não soube como desfazer essa merda.
Liz acabou com nosso abraço, em seu semblante havia o que
reconheci como uma expressão decidida, eu só não fui capaz de entender
sobre o quê. Ela me deu as costas para alcançar a maçaneta da porta mais
próxima. Quando conseguiu abri-la, voltou para me puxar pela gravata para
dentro de uma sala vazia e escura.
Liz foi rápida em circular minha cintura com suas pernas e minha
nuca, com os braços.
— Liz… — iniciei, mesmo que ser a razão fosse a última coisa que
eu quisesse.
Liz suspirou sob o aperto mais forte das minhas mãos, o corpo
estremecendo contra o meu, rendida. Ainda estava ofegante quando
prosseguiu:
Ela roçou nossos lábios num beijo, como se selasse uma promessa.
— Porra, Liz…
E eu fui, porra.
Invadi o paraíso que Liz tinha entre as pernas e massageei seu
clitóris, para distraí-la da dor da minha invasão. Eu me esforçaria para fazer
essa bocetinha se acostumar ao meu tamanho, até Liz não sentir nada além
de prazer quando eu a fodesse.
Ela ofegou, um espasmo intenso atravessou suas paredes úmidas.
Me deixando insano, um animal guiado por instintos, por necessidade.
Beijei seus lábios e agarrei sua bunda com as duas mãos, afundando
na carne macia e a firmando para receber minhas estocadas. Não fui fundo
o bastante para machucá-la, mas forte o suficiente para fazê-la gemer mais
alto e chamar meu nome. As unhas cravaram na minha nuca com desespero,
o corpo macio tremendo em espasmos contra o meu, palavras sem sentido
inundando aquela sala e abafando o barulho dos nossos corpos se
encontrando num ritmo alucinante.
E bem ali, enquanto a beijava e me enterrava na única boceta que
quis desde que a provei, eu entendi o que o Maverick bêbado daquela festa
depravada já sabia e que eu só entendia agora: deixar a Liz livre para outro
também era perdê-la. E eu tentei, porra, tentei me lembrar de todos os
motivos pelos quais eu não deveria aceitar o que ela me oferecia, mas já
reconhecia que não conseguiria continuar com aquela merda.
Liz prendeu meus cabelos entre os dedos para conseguir apoio e nós
dois gememos quando começou a rebolar, somando aquele movimento ao
meu próprio. Meu pau latejou, inchado, faminto, e sendo ainda mais
apertado pela boceta que era minha. Só minha.
Eu faria isso mesmo, porra. Levaria essa coisa entre nós adiante.
Lidaria com o que viesse pela frente. A Liz valia o risco. Valia tudo. Eu
encontraria uma forma de ser merecedor dela, também estava disposto a
arrancar um braço antes de fazê-la sofrer de qualquer maneira. Confiaria
em nós. Descobriria como fazê-la feliz. Eu podia fazer isso. Tinha que fazer
isso. Do contrário teria mesmo que a ver com outro em algum momento. Se
distanciando aos poucos para viver a própria vida.
Sem mim.
Liz obedeceu, obedeceu como a boa garota que era quando queria,
gozou tão forte que me arrastou junto, como se um trem descarrilhado nos
atingisse ao mesmo tempo.
E, pela primeira vez na vida, eu quis que fosse assim dali para
frente.
TREZE
Acenou.
— Mas…
Ela me interrompeu:
— Não estou dizendo isso para convencer você a lutar por ele.
Estou dizendo por que é justo você saber o motivo de ele não aceitar você
agora. — Minha mão foi alcançada pela sua sobre a mesa, mais uma vez.
Ela dizia tudo com tanta serenidade, esbanjando sabedoria. Eu já a
adorava. — Se relacionar com pessoas feridas não é fácil, querida. Exige
mais do que amor. Você é muito jovem e não quero que nenhum de vocês se
machuque, então peço que seja firme na decisão que tomar sobre vocês
dois, independente de qual seja. — Ela indicou a entrada do salão, por
onde Maverick havia saído. — Aquele menino não precisa sentir que outra
pessoa está desistindo dele.
— Coisas demais.
— Me conte uma.
Hesitou.
Eu ri, de verdade, por ele estar tão perdido e ao mesmo tempo tão
certo sobre isso.
— Eu não vou facilitar assim pra você, Maverick — avisei, mas me
inclinei para beijar seus lábios e tranquilizá-lo. — Você não me pediu em
namoro e já acha que estamos namorando? Tsc, tsc, tsc… não funciona
assim.
Sorri.
— É claro que sim — confirmei, e prossegui no tom que costumava
usar com meus alunos da ONG: — Primeiro nós nos conhecemos…
— Já nos conhecemos há quase sete anos.
— Não posso contar ao Liam sobre nós e dizer que estamos nos
conhecendo, Liz — lembrou.
— Liam ainda passará umas duas semanas fora. Não precisa se
preocupar com ele ainda.
— Até lá, vou treinar você em tudo o que precisa saber sobre
relacionamentos — garanti e pressionei os lábios para não rir quando ele
estreitou os olhos.
— Você faz soar como se eu fosse um animal a ser adestrado.
Voltei a rir.
Foi sua vez de acenar. Um sorriso pequeno lutando para ganhar seus
lábios.
Estreitei os olhos, sem entender seu tom, mas também sem querer
levar minha dúvida adiante. Sua palma voltou a deslizar por minhas costas
devagar, numa carícia tranquilizante.
Mantivemos a proximidade entre nossos rostos e compartilhamos as
respirações por alguns segundos, o calor, uma cumplicidade silenciosa e
reconfortante. Acho que eu demoraria um pouco para me acostumar ao fato
de que o tinha comigo. De que realmente estava em seus braços.
— Você não está surtando — falei, ainda baixinho — e isso deve ser
um bom sinal, mas… está bem? Não se arrepende de…
Sua respiração falhou, mas Liz não se deixou abalar por muito
tempo, logo ergueu o rosto o bastante para me encarar, nivelar nossos
olhares, sabia que eu estava fazendo uso consciente do poder recém-
descoberto de desconcertá-la falando putarias fora da cama.
— Ele teria que voltar uma hora ou outra — lembrei, então inspirei
fundo e finalmente contei o que vinha guardando só para mim desde a tarde
anterior. — Avisei a ele que precisamos conversar. Vamos almoçar juntos
mais tarde.
— Eu também quero…
Problemático.
Lerdo.
***
Verifiquei meu relógio pela segunda ou terceira vez enquanto
andava em círculos no escritório amplo de Liam. Volta e meia encarava as
pastas e o capacete preto que ele havia deixado sobre a mesa, antes de me
cumprimentar e avisar que só precisaria conversar com seus advogados e
então poderíamos sair para almoçar.
Não foi necessário insistir muito, era óbvio que o filho da puta sabia
o que eu estava fazendo ali, menos de duas horas depois de Liam
desembarcar em Nova Iorque. Blake era esperto, observador, e eu tinha
certeza de que já havia sacado que existia algo entre mim e Liz. Se
precisava de provas, nosso sumiço na festa da Emy devia ter confirmado
qualquer suspeita.
— Você fura com a gente cinco minutos depois de ter aceitado sair,
seu infeliz?! — Liam meneou a cabeça.
Sophia.
— E a mamãe?
— Ela estava aqui comigo, mas acho que foi conversar com o
médico.
Seus olhos nublados de lágrimas se abriram e me encontraram ali.
Imóvel, atento a cada pequeno movimento seu.
Merda.
— Que porra é essa, Bradshaw?! — disparou, um dedo em riste se
movendo em nossa direção, intercalando entre mim e Liz, olhos se
semicerrando, queimando, enquanto sua mente parecia travar e reiniciar de
novo e de novo. — Por que você está… vocês estão… — ele parou,
focando em nossas mãos entrelaçadas.
— Já falei com a Liz — ele disse, voltando-se para sua mãe, que já
chorava —, ela não vai para aquele lugar de novo, nós vamos tirar…
— Não pode fazer isso… — alertei, acenando em negativa, sem
acreditar nessa merda.
Gravidez…
Bebê…
Vinte e um anos…
Não sei de onde tirei forças para sair do estado de inércia em que me
encontrava, mas o fiz e logo trazia Liz para meus braços, envolvendo-a com
cuidado, como o escudo que, infelizmente, não a protegeria de nada do que
acontecia agora.
Ela estava paralisada. Olhos perdidos em algum ponto do quarto.
Fechada para processar o que acontecia, como costumava ficar em situações
assim.
— Não vão — rosnei, alto o suficiente apenas para ser ouvido por
ambos.
— Pare de se intrometer nas nossas vidas! Você não tem nada a ver
com isso! Nem deveria estar…
Está grávida…
— Não vou deixar você sozinha com esse filho da puta — meu
irmão rosnou, o olhar furioso cravado em Maverick.
— Não está — garanti, mas minha voz ainda soou frágil, e me tornei
incapaz de controlar o choro quando Maverick desabou, sem conseguir
continuar guardando para si a bagunça emocional em que ele também havia
se transformado. Tentei abafar meus soluços, temendo que ele se fechasse e
se afastasse, mas foi em vão. Nossos olhos se encontraram em meio às
lágrimas e à dor, todas as nossas inseguranças muito cruas e expostas um
para o outro. As dúvidas, os medos.
Maverick se ergueu do banco em que estava e me abraçou. Forte.
Tão forte como se quisesse drenar a dor que eu sentia.
— Nunca.
Mas eu sabia.
Esquecíveis.
Ali eu desmoronei. Dei vazão a tudo o que sentia e fui amparada por
seus braços. Permaneci neles por minutos, segura, recebendo o carinho
suave dos seus dedos em meus cabelos, do mesmo jeito que eu acarinhava
os seus para acalmá-lo quando sentia que ele precisava. Eu quis poder
confortá-lo também, mas tudo o que consegui fazer foi abraçá-lo. Deixar de
lado o fato de que meus braços continuavam doloridos pelos ferimentos e
apertar Maverick para lhe dizer, sem palavras, que também estava ali para
ele.
Passamos minutos abraçados naquela posição, nos acalmando e
confortando, nossas respirações e batimentos cardíacos assumindo o mesmo
ritmo, até que me senti pronta para começar a me erguer dos escombros, de
tudo o que havia desabado sobre mim nas últimas horas. Estava exausta,
mas precisava fazer isso. Ou pelo menos começar, antes de a enfermeira
retornar e dar fim àquele momento de fragilidade que eu compartilhava com
Maverick.
— Você merecia muito mais que isso, Liz — emitiu, num tom de
confissão. — Mais do que uma gravidez a essa altura da sua vida, quando
está só começando a descobrir as coisas que quer e gosta de fazer, mais do
que alguém fodido que não tem metade da sua inteligência, nem faz ideia
de como ser seu namorado ou um… — ele não conseguiu concluir. — Eu
fui egoísta quando ignorei tudo isso.
— Liz…
O medo voltou com tudo, muito mais real agora. Medo de não ser
capaz de lidar com as mudanças, de não conseguir ler Maverick e mantê-lo
comigo com a leveza e paixão de antes; de as coisas mudarem tanto entre
nós a ponto de não nos reconhecermos e nos afastarmos; medo de passar
por uma gravidez, de ter um bebê, de colocar uma vida no mundo, de ser
responsável por um ser pequenino e tão frágil, por criar alguém e torná-lo
uma boa pessoa.
Meu coração parou, o ar foi roubado dos meus pulmões por aquelas
últimas palavras.
Maverick levou minha mão aos seus lábios, para beijar o dorso, mas
não consegui encará-lo nesse momento. Não pude sequer me mover. Havia
coisas demais desmoronando em mim.
Em segundos, o médico organizou os materiais de que precisaria,
me orientou sobre a posição em que eu deveria ficar e pediu licença antes
de iniciar o procedimento. Apertei a mão de Maverick com mais força ao
sentir o desconforto e o gelado entre as pernas. Cerrei os olhos, sufocando
um ofego baixo, com lágrimas que já surgiam por tantos motivos que seria
difícil identificar qual deles fora responsável por elas transbordarem.
Não consegui respirar aguardando por algum som, batidas de um
coração, algum indício de vida dentro de mim, mas não houve nada além de
movimentos desconfortáveis em meu interior, pausas para o que desconfiei
serem anotações e o pulso agitado de Maverick vibrando em meu antebraço
enquanto o meu próprio latejava em meus ouvidos.
Vinte e quatro horas. Esse foi o tempo que levou para minha vida
dar aquela volta completa.
— Maverick?
— Sim?
— Vamos ter esse bebê — informei, porque a decisão já estava
tomada. Independente de qualquer insegurança, de todos os medos. Dele.
Sorri.
Apertei-a um pouco mais forte, louco para ter o calor de seu corpo
aquecendo tudo o que alcançasse do meu. O que me ajudava a evitar as
crises existenciais da minha realidade atual era saber que Liz continuava
nela. Comigo.
Depositei um beijo delicado em sua nuca e a vi se arrepiar para
mim, em reconhecimento, como sempre.
Ela riu.
— Não, eu adoro ver você nu, Maverick — devolveu. — Com
pouca roupa, você só mexe com minha imaginação.
Ela não hesitou, mas tenho certeza de que compreendeu sobre o que
eu falava.
Ela hesitou.
Ela me apertou um pouco mais forte, sua voz vibrou em meu peito
quando respondeu:
— Eu sei.
Liz soluçou.
— Ela tentou decidir por mim o que fazer sobre a minha gravidez —
lembrou, num fio de voz que foi abafado pelo meu peito. — Ela achou que
podia fazer isso por mim, Maverick. Ir adiante com a gravidez ou não, ter
um filho ou não… ninguém podia decidir isso no meu lugar. Mas eu fui
permissiva no passado, tão permissiva a ponto de ela acreditar que poderia
passar por cima de mim sobre isso.
— Nos últimos dias, percebi que sou responsável por ela chegar a
esse ponto — disse, ainda calma, resignada com essa conclusão. — Eu
acho… acho que sempre me senti… em dívida com ela. Com medo de
decepcioná-la… de fazê-la se arrepender de ter me adotado e continuado
comigo mesmo após a morte do papai… então apenas aceitei tudo… até
não aguentar mais.
Uma lágrima fina rolou por sua bochecha e a limpei com um
polegar, atento a ela, às suas palavras e ao modo como dizê-las parecia
livrá-la de um peso. Acho que eu nunca havia imaginado que Liz se sentia
assim.
— Não sei como dar fim a esse ciclo e não a quero perto de mim,
especialmente durante a gravidez, se continuarmos presas nele —
sussurrou. — A mamãe está emocionalmente instável. Acho que está assim
desde a morte do papai, mas eu precisei vê-la naquele hospital, depois de
meses longe dela, para perceber isso com clareza.
Liz acenou, mas não respondeu com palavras. Não disse mais nada,
apenas me abraçou como pôde, procurando o conforto que sempre
encontraria comigo. Nesse momento, compreendi que ela também estava
tentando se preparar mentalmente para essa conversa com seu irmão, para
dizer todas essas coisas a ele.
Não insisti mais, já me sentia aliviado por perceber que Liz havia
chegado àquelas conclusões antes mesmo de eu dar início a este assunto.
— Obrigada — ela sussurrou —, acho que eu precisava falar sobre
isso com alguém.
Engoli em seco.
— Acho que seu pai não ia querer que você se lembrasse dele assim
— ela sussurrou com suavidade, e suas palavras não pareceram vazias,
como uma mera tentativa de me confortar. Pude sentir que Liz acreditava
no que dizia. — Nenhum pai gostaria de ver um filho sofrendo por sua
causa, principalmente num hospital.
…vai se sair bem sem mim, filho… Você não precisa mais ficar aqui,
nem se preocupar comigo…
— O que foi?
Suspirei, vencido.
Olhei para a porta do lavabo apenas para confirmar que Liz ainda
estava nele e baixei minha voz o máximo que pude antes de perguntar:
— Sim?
— Isso quer dizer que, por causa do meu DNA, nosso bebê tem
mais chances de desenvolver uma dessas doenças — explicou.
— Liz…
Ela desviou o olhar para encarar o elevador que abria as portas para
que pudéssemos entrar.
— Liz?
— Sim?
— Eu… — tentei, mas tropecei na porra das palavras antes que
pudesse colocar para fora o que nunca havia dito em voz alta a ninguém,
mesmo que meus amigos soubessem e tivessem chegado a essa conclusão
antes de mim no fim do ensino médio e na faculdade. — Minha família tem
um histórico de dislexia.
— Ele pode ter muitas dificuldades por isso, Liz — avisei, porque
uma parte de mim ainda acreditava que ela só não tinha consciência do que
exatamente significava ter dislexia. — Dificuldades que vão deixar de ser
aceitáveis na sociedade à medida que ele crescer. Ele pode não conseguir
associar sons simples a letras, sabia? E ter dificuldades de dizer e até
escrever seu próprio nome — minha garganta se apertou aqui, não fui capaz
de voltar a encará-la —, a escola pode se tornar um inferno se você mal
consegue dizer seu nome e piora quando percebem que você também não
entende enunciados simples, e é incapaz de concluir um trabalho ou prova
mesmo que tenha estudado como louco e todos na sala já tenham concluído
seus trabalhos. Não importa quanto dinheiro você tenha, se é um imbecil
incapaz de entender e escrever coisas simples e todos ao seu redor já
perceberam isso. Como vamos protegê-lo do bullying na escola?
— Maverick… — Liz tentou novamente, mas eu ainda não
conseguia encará-la.
— Mesmo que ele consiga se tornar popular e ser adorado por ser
muito legal e bom nos esportes, se ele tiver essa sorte, ainda será visto
como um aluno disperso e preguiçoso. Um mau exemplo que sempre
receberá olhares tortos dos professores. — Meneei a cabeça, lembrando
exatamente como era. — Ele também terá uma dificuldade fodida para
aprender outras línguas, Liz, mesmo que precise muito aprender porque
nossos negócios vão exigir isso dele. E a redação de admissão que as
faculdades exigem? Às vezes pagar um nerd para fazer uma não é
suficiente. E mesmo que subornemos o diretor da melhor universidade, para
que ele possa entrar, ele ainda precisará passar por provas mais difíceis. Se
tiver sorte, talvez receba ajuda de amigos, mas isso também não garante que
consiga passar por tudo, porque seus amigos também vão se formar em
algum momento e ele ficará sozinho para lidar com…
— Liz…
— Nosso filho terá algo que você não teve — ela sussurrou,
pressionando nossos lábios num beijo suave. — Ele terá você, terá a mim.
Terá pais que vão ajudá-lo e dar a ele todos os meios possíveis para tornar
sua vida mais fácil. Para que ele não sofra tudo o que você sofreu, nem seja
mal interpretado por familiares e professores relapsos.
Encarei-a, incapaz de dizer algo, de fazer palavras atravessarem o
nó dolorido que apertava minha garganta.
— Puta merda, Liz! Eu quase enlouqueci sem poder ver você, sem
ter certeza de que estava bem! — ele grunhiu, a voz grave vibrando em meu
peito com a certeza de que ele realmente se preocupara. — Como você
está? O que aquele filho da puta fez?
— Não fale assim dele — pedi, ainda sem soltá-lo. — E você sabia
que eu estava bem, nos falamos várias vezes por telefone e a Sophs disse
que você não a deixou em paz.
Ele rosnou.
— Eu não estava bem para lidar com você. Para falar sobre coisas
que precisaríamos conversar — fui sincera, mesmo consciente de que ouvir
isso poderia ser difícil para ele. — E você? Como está?
Liam bufou, meneando a cabeça em negativa, os olhos se apertando
em minha direção, uma umidade atípica os inundando.
— Sinto que falhei com você, Liz.
Foi minha vez de acenar em negativa.
Ele não precisou dizer nada para eu saber que não acreditava em
minhas palavras, mas decidi não insistir nesse argumento. As coisas que eu
tinha para dizer a Liam poderiam ajudá-lo a lidar melhor com o que ele
sentia sobre minha gravidez.
Pousei minha mão livre sobre a mesa e busquei a sua para entrelaçá-
las.
— O quê?! Como…?!
— Liz…
— Eu não estou dizendo isso só para você perceber que Maverick
não me seduziu nem manipulou — iniciei e acho que senti meu coração
trincar ao vê-lo desviar o olhar para longe. — Estou dizendo, Liam, porque
eu preciso que você pare de me ver e tratar como a garotinha que você e o
papai quiseram adotar há tantos anos… Eu não sou mais aquela menina que
precisava de proteção. Graças a vocês, eu cresci e me tornei forte… alguém
de quem eu gosto de pensar que o papai sentiria orgulho. — Minha voz
embargou aqui e foi muito mais difícil prosseguir porque havia algo
indecifrável no semblante de Liam quando ele voltou a me encarar com
olhos brilhantes de emoções que se acumulavam. — Eu amo você, você é o
meu herói e sempre será. Nada nunca mudará isso para mim, mas eu preciso
que comece a me enxergar como sou. Mesmo que não goste de quem eu me
tornei.
Ele não respondeu e eu senti meu coração se partir um pouco mais
nos segundos que se estenderam e pareceram estabelecer distância entre
nós.
— Nos falamos por telefone. Vou voltar para casa com Maverick,
okay? — Ele não respondeu, nem me soltou quando tentei me afastar. —
Liam — pedi, calma, tentando alcançar sua racionalidade porque podia
imaginar quão difícil era para ele me ver indo para os braços de um dos
seus amigos.
— Você sabe que… que sempre vai poder voltar para os meus
braços, não é? — indagou, rouco. E tudo o que fui capaz de fazer, por causa
do aperto em minha garganta, foi acenar. — Que eu sempre vou estar aqui,
se você precisar. E vou esmagar as bolas desse filho da puta se ele te
machucar.
— Sim — soprei a resposta, rindo e lagrimando por causa da sua
ameaça.
Ainda mantivemos o abraço por alguns instantes, segundos que
partiram e reconstruíram meu coração com a certeza de que o elo que
tínhamos era inquebrável, independente do que acontecesse. E eu me senti
tão abençoada por isso. Por ter um irmão como Liam.
Ele acenou.
— Acho que aquele filho da puta está empolgado por nós dois
estarmos juntos.
Sorri. Eu conseguia entender isso. Os dois eram muito próximos e
Bruce sempre desejou constituir família, devia estar genuinamente feliz por
Maverick estar fazendo o mesmo.
— Vamos, então — respondi assim que chegamos a uma antessala e
uma senhora atrás de uma mesa se ergueu com alguns papéis e chamou a
atenção de Maverick.
— Ah, Elen, o que eu faria sem essa sua mente minuciosa, hein?!
A porta foi aberta, mas não me virei para encarar quem entrava,
apenas aceitei os braços que me envolveram e o peito forte que pressionou
minhas costas.
Maverick beijou meu ombro, sua barba por fazer arranhando minha
pele de um jeito gostoso. Eu estava muito tentada a pedir que ele a deixasse
crescer.
Sorri.
Ele riu, daquele jeito alto e expansivo que enchia meu peito.
— Hmm… Acho que você não está com tanta sorte, Maverick —
provoquei, mas já estava mais afetada do que poderia ser normal. Diferente
dos últimos dias, agora que já havia desafogado meu peito da preocupação
pela conversa com Liam, eu não me sentia com o emocional frágil demais
para conseguir me ligar em algo como sexo, e estava sentindo sua falta
cobrindo meu corpo, me preenchendo. — À noite, quem sabe?
— Sim — assumi.
— Liz… — emitiu, num tom de alerta que foi reforçado pelo seu
aperto em minha cintura. — Você não tem ideia do que…
Meu sorriso aumentou, acariciei seu cabelo e ela ergueu os olhos até
me encarar.
— Eu tava pensando também e acho que ele vai ter muita sorte de
ter vocês como pais, porque vocês são muuuuito legais e lindos e incríveis,
sabe? — ela disse, seu olhar doce intercalando entre mim e Maverick. Desta
vez, eu não consegui dizer nada, e acho que ele também não, porque a
crença de Emy, mais do que suas palavras, parecia ter atingido a nós dois da
mesma maneira profunda e inesperada.
Maverick pigarreou.
Emy riu e foi até ele, só para ser erguida e o envolver com seus
bracinhos em meio aos risos provocados pelas cócegas que ele fez.
Emma sorriu.
Ela ainda tentou negar, mas insisti e logo seguíamos juntas até a
cozinha, que era só umas duas ou três vezes maior que o metro quadrado da
que eu tinha em meu apartamento.
Enquanto Emma retirava os pratos e louças dos armários, eu lavei
minhas mãos e segui até o balcão que dividia a sala da cozinha, para abrir
as caixas de comida. A gargalhada de Maverick levou minha atenção à sala,
para vê-lo com Emy ainda em seus braços, aparentemente provocando
Bruce sobre algo.
Essa foi a primeira vez que imaginei nosso bebê, que consegui
visualizá-lo mentalmente e me permiti pensar nele como algo além de uma
ideia, com um sexo e um rostinho perfeito. Fiquei ansiosa para o conhecer e
ter em meus braços. Para vê-lo nos braços de Maverick. Para assisti-lo
interagir com nosso filho dia após dia, até também ser capaz de reconhecer
que seria um pai melhor do que podia imaginar.
Queria que tivéssemos uma vida juntos. Uma família. Que nós dois
pudéssemos sentir que pertencíamos a uma de verdade. A nossa.
Abaixei minha mão até o meu ventre, mas hesitei em tocá-lo. Ainda
não havia me permitido acariciá-lo e, por um motivo que desconheci, fiquei
com vergonha de fazê-lo ali, na frente de outras pessoas.
— Sei que não somos muito próximas ainda, mas você tem o meu
apoio e terá minha ajuda no que precisar — disse, com a serenidade que eu
começava a associar a ela. — Se precisar conversar ou chorar durante a
gravidez, se quiser alguém para te ajudar a se preparar para o pré e pós-
parto, se quiser aprender a trocar uma fralda ou o que fazer para diminuir as
cólicas do bebê, se precisar de alguém para te ajudar a cuidar dele num dia
particularmente difícil ou simplesmente de alguém que te escute quando
precisar desabafar. Eu estou aqui, tá bom?
— Obrigada — sussurrei.
Tia Liz… eu nunca havia pensado que um dia seria chamada assim.
Liam adorava crianças, mas era avesso à ideia de relacionamentos. Nunca
havia demonstrado interesse em ser pai também, então… o tia Liz me pegou
inesperadamente.
Como uma boba emocionada, tudo o que consegui fazer foi acenar,
em concordância.
— Não se preocupe, ninguém vai tirar seu pódio de tio mais babão
— garanti.
Sorri.
Acho que, também por saber disso, eu não emiti qualquer outra
resposta contrária à ideia. E aceitei para saber onde aquilo daria.
VINTE E DOIS
Liz gemeu.
Ela resfolegou.
— Mas na nossa cama, você vai sentar na minha cara, Liz. E eu vou
te chupar até todos os moradores daquele prédio ouvirem você gritar que é
minha. — Lambi seu pescoço e baixei uma das mãos até a boceta que
latejava só por me ouvir falando assim. Liz sufocou um gemido quando a
toquei e mordi um dos seus seios por sobre o tecido, prendendo o mamilo e
o piercing propositalmente. — Mas antes disso, meu bem… antes disso
quero ver você se dando prazer. Com os dedos e algum dos seus vibradores.
Será que você consegue gozar enquanto é observada? Será que vai tremer
como quando é o meu pau te dando prazer?
Seu gemido foi a única resposta que obtive, seguida pela tentativa
afobada de abrir minha braguilha e empurrar a calça para baixo, o que ela
só conseguiu quando a ajudei.
Grunhi, puxei-a pela nuca, para trazer seus lábios para mim, e
concluí:
E eu tentei, juro que tentei não agir como se aquela fosse a primeira
vez que via uma lingerie, especialmente porque já tinha visto Elizabeth
vestir mais da metade das suas, mas aquela… porra, nenhuma fora como a
que ela vestia nesse momento. Nenhuma me fez babar desse jeito. De forma
tão instantânea.
A peça preta de renda simplesmente não deixava nenhuma droga de
espaço para a imaginação. Eu conseguia ver seus seios alvos empinados,
pequenos mas cheios, como eu já amava; até os mamilos estavam visíveis,
ainda adornados pelos piercings. E apenas seus peitos estavam cobertos de
alguma maneira. Elásticos finos e negros aderiam à sua pele e formavam
triângulos por seu ventre levemente protuberante até chegarem à virilha lisa
e à boceta, que não estavam cobertas por nada. A droga do elástico envolvia
o interior das coxas, uma tira de cada lado, sem nenhuma encostar onde
realmente interessava, deixando tudo livre para mim.
Eu conseguia ver seu clitóris ainda inchado, porra, podia apostar que
também estava durinho, ainda excitado.
Meu pau pulsou.
Sorri.
— Acho que vamos precisar ir com mais calma daqui para frente —
avisei.
Deslizei minha mão sob o edredom para tocar seu torso e acariciar
sua cintura, do jeito que vinha fazendo por causa da hesitação que ainda
sentia de tocar seu ventre. Diferente de semanas atrás, quando Liz estava
nua, já era possível notar seu ventre se arredondando. A protuberância sutil
e delicada que adicionava uma nova curva ao seu corpo.
— Maverick?
Minha mão congelou sobre seu corpo quando Liz pousou nela a sua.
— Sim?
Com amor.
— Eu também…
Ali, eu percebi que essa foi a primeira vez que pensei nele sem me
deixar ser atingido por todos os medos e inseguranças que eu ainda nutria.
Acho que foi a primeira vez que acreditei que, mais do que enfrentá-los, se
realmente quisesse, eu seria capaz de superá-los um dia. E eu queria, porra.
Pela Liz.
Pelo nosso bebê.
Acho que nunca fiquei tão feliz por você, meu querido — as
palavras roucas e emocionadas de nonna retornaram à minha mente no
momento que estacionei o carro. Se eu fechasse os olhos, acho que poderia
sentir novamente até o calor do seu abraço carinhoso. — Um filho… Você
vai experimentar o tipo de amor que foi digno de receber desde sempre.
Amará como deveria ter sido amado e será amado por alguém que sempre
enxergará você como o homem maravilhoso que é. Não tenho dúvidas
disso.
Fechei os olhos, lutando contra aquele embargo estranho na
garganta, o bolo que diminuía a cada vez que eu repassava suas palavras.
Porque elas me soavam mais naturais… mais verdadeiras toda vez que eu
as revisitava.
Eu era muito bom em consertar as coisas, porra. Tinha que ser capaz
de fazer algo pela nossa amizade.
Por estar de costas e usando fones, ele não notou que eu já tinha
chegado e não tentei chamar sua atenção também, apenas observei quando
diminuiu a velocidade da esteira até parar e descer dela já abrindo uma
garrafa de água.
Sim.
Merda.
— Responda!
— Você sumiu por um mês! Queria que eu tivesse contado isso por
telefone?! — rosnei.
— Caralho!
— Responde, filho da puta! — ele insistiu. — Quando essa merda
começou entre vocês?
Grunhi, a dor ainda disparando em ondas através dos meus ossos.
— Sim.
— E já disse isso pra ela?
Nessa eu me fodi pela terceira vez. Até tentei desviar do soco, mas
Liam já tinha outro pronto para mim. Foi inevitável.
— Você vai dizer a ela. A Liz merece saber que é amada. E todos os
malditos motivos pelos quais você a ama. E é bom que sejam muitos.
Liam bufou.
— E essa ONG…
— Já?
— O quê?! — rosnou.
Pressionei os lábios para não rir da cara que Liam fez, com todas
aquelas emoções cruzando seu semblante sem que ele fosse capaz de
ocultar.
— Vá se foder, Bradshaw!
— E você é meu cunhado, vai ter que aprender a lidar com isso —
avisei, voltando a pressionar a faixa no nariz. Era para ser uma provocação,
mas acho que minhas palavras pegaram a nós dois desprevenidos.
Por mais de dez anos, fomos amigos, irmãos… agora éramos
cunhados. A consciência disso parecia ter atingido Liam apenas agora
também.
— Eu também — confessou.
— Vou ter que conseguir — foi sua resposta e, apesar do seu tom
arredio, eu sorri. — Mas também vou ter que matar você se machucar
minha irmã — completou, sem qualquer sombra de humor.
Mesmo consciente de que ele falava sério, meu sorriso não
diminuiu. Não seria Liam se não ameaçasse qualquer um capaz de
machucar sua irmã. E este desfecho era muito melhor do que eu podia
esperar conseguir depois de uns poucos socos.
— Isso é bom.
— Ela não quer preocupar a Liz, então não conta pra ela.
Liam me encarou sem dizer nada por alguns segundos, então voltou
seus olhos para Hefesto, que agora se aproximava de onde estávamos.
Apenas quando já estava afagando as orelhas do seu Dobermann, ele disse:
— Obrigado…, irmão.
E essas duas palavras foram tudo o que precisei ouvir para ter
certeza de que ficaríamos bem mesmo. Em breve.
VINTE E QUATRO
Ele acenou e só tive certeza disso porque seu rosto ainda estava
próximo ao meu pescoço e roçou minha pele. Maverick inspirou
lentamente. Sua palma grande voltou a envolver e alisar meu ventre, quase
não conseguia abarcá-lo completamente, mas continuava me tocando assim.
Na verdade, acho que me tocar desse jeito começou a ficar mais
natural para Maverick depois que ouvimos os batimentos cardíacos do bebê
pela primeira vez, há umas semanas. E desde que fizemos a última
ultrassonografia e Liam e Sophia receberam a informação sobre o sexo do
bebê, eu havia notado como Maverick ficara ansioso sobre isso. Nos
detalhes, eu enxergava que ele já estava avançando sobre seus medos e
inseguranças, mesmo que ele não percebesse, e por mais que os meus só
parecessem aumentar junto às mudanças que chegavam cada vez mais
rápido ao meu corpo, eu ainda conseguia me sentir feliz por vê-lo assim.
— Eu quis dizer sobre tudo — ele voltou a falar. — Nós, o bebê, a
gravidez, a diminuição no seu ritmo de trabalho, seu cansaço, esse sono, seu
corpo mudando, as emoções se intensificando… sua mãe.
Era óbvio que Maverick tinha percebido como eu havia ficado desde
que tentara entrar em contato com a mamãe e não tivera resposta dela. Fora
há dias, mas ainda doía como se tivesse sido há poucas horas. Nem o fato
de ele e Liam me contarem que ela não estava me ignorando de propósito,
que apenas não conseguia falar comigo agora, apesar de já ter iniciado um
tratamento, não havia diminuído o que eu sentia. Parecia ter apenas me
preocupado ainda mais, porque eu não fazia ideia do que mamãe estava
passando. E a situação era angustiante, pois antes disso já parecia haver
coisas demais em minha cabeça.
— Liz?
— Queria que não tivesse que sentir tudo isso sozinha — ele
sussurrou.
— Se você achar que precisa e quiser que eu esteja lá, Liz, eu vou
— prometeu, o polegar deslizando sobre minha bochecha. — Faço qualquer
coisa para você se sentir bem de novo.
Devolvi o beijo.
— É bom saber que você ainda se lembra disso.
— E então?
— Hoje?!
— Não quero que crie expectativas altas demais, então vou adiantar
que… — Ele pigarreou. — É apenas um jantar.
Sorri.
Ensaiei me levantar da cama, mas uma caixa entreaberta sobre a
mesa de cabeceira me chamou atenção. Era a que usávamos para guardar
cada registro do bebê, que a obstetra nos oferecia nas consultas. Não resisti
a pegá-la e observar as imagens das ultrassonografias, na última, eu
conseguira identificar melhor as pequenas formas que já podiam ser
distinguidas do bebê.
— Já disse pra parar de fazer essa merda! — rosnou para ela, que
revirou os olhos.
Ela ergueu um dedo em riste para ele, mas antes que pudesse dizer
algo, Maverick a interrompeu:
Maverick riu.
— Eu via você com aqueles livros e pensava: porra, ela deve ser
mesmo um gênio. — Ele inspirou fundo e então riu baixinho. — Por isso,
quando vi você dormindo à beira da piscina, segurando aquele livro aberto,
fiquei tão curioso em saber o que você tanto lia.
— Saber que você gostava de ler putaria não mudou minha certeza
de que você era incrível e um gênio, mas me deu um motivo para implicar
com você e te deixar sem respostas espertinhas por algum tempo.
Sorri.
— Você não deve saber, mas a primeira vez que fui a uma biblioteca
longe da escola e da universidade, foi pra buscar você com Liam. Naquele
dia, eu quase consegui entender sua fascinação por elas.
Interrompi minha respiração no momento que Maverick começou a
desfazer o nó que prendia a venda de seda em meus olhos. Meu coração
passou a trovejar ainda mais forte no peito.
— Agora você terá esse registro sempre com você, Liz — informou,
também emocionado. Então se inclinou sobre mim para me beijar e agarrei
as lapelas do seu terno para que ele não se afastasse.
Ela não disse mais nada. Uma de suas mãos se estendeu para
acariciar meus cabelos, tentando chamar minha atenção, mas eu permaneci
concentrado em minha tarefa e quieto ao seu lado, apenas massageando sua
barriga lentamente.
E ele fez de novo, desta vez sob nossas mãos. Quase nos dando um
“oi” pela primeira vez.
Ela respondeu com um aceno, mas não disse nada por alguns
instantes. Procurei seu olhar.
— Liz?
Ela pigarreou.
Foi minha vez de hesitar, a primeira coisa que me veio à mente foi a
consciência de que sua língua materna era muito diferente do inglês. Eu não
queria demorar a aprender a dizer o nome do nosso bebê ou pronunciá-lo
errado.
Engoli em seco.
— Min-Jun, se for menino — disse, voltando-se para mim para
indicar seus lábios antes de repetir: — Você pronuncia Meen, com o “i”
alto e curto do inglês e “Joon”, com o “u” mais prolongado e anasalado
no final. Coreanos adoram vogais.
Elizabeth riu.
Eu também.
— O que significa?
Seus lábios se esticaram ainda mais num sorriso.
Liz acenou.
— Se for menina, pensei em Ji-Na.
— O que significa?
— Ele acordou.
VINTE E SETE
— Papai…
— Sei que fui um pai horrível, mas não quero ir sem ter certeza de
que você vai ficar bem sozinho, Maverick…
— Papai…
— Eu também.
— Como isso…? — ele não conseguiu concluir, apenas fixou seus
olhos em mim, lendo-me por instantes. — Você a conheceu nos últimos
meses e se apaixonou?
Acenei, confirmando.
— A Liz é… incrível — concluí, consciente de que era a segunda
vez que dizia isso. Era a verdade.
— O quê?
— Por quê?
— Por quê?
— Você foi o único motivo pra ela ter aguentado anos na nossa casa
— ele disse, quando o silêncio entre nós passou a pesar demais. — Talvez
você não lembre, mas ela já era só uma sombra de si mesma quando foi
embora.
Não consegui dizer nada. Ou digerir de uma vez tudo o que ele
revelava agora. Também não conseguia fazer nada sobre o emaranhado de
emoções que abalava as certezas que haviam me sufocado por anos.
— Não pedi antes, porque nunca achei que merecia seu perdão —
sua voz me chamou atenção novamente, agora falha, rouca, frágil —, mas
nesse momento reconheço que você merece que eu peça perdão.
***
— Não, Blake… não é algo que quero fazer agora — ele dizia
enquanto eu me aproximava. — Só… encontre ela. No momento, só quero
saber como ela está.
Parei de andar.
Não precisei de mais do que aquilo para saber que falava da sua
mãe. Na noite anterior, pela primeira vez, havíamos conversado sobre ela e
Maverick obviamente estava seguindo meu conselho, de ir devagar. Por si
mesmo, porque já havia passado por muito recentemente.
— Estou melhor… muito melhor por ter em meus braços tudo o que
preciso nesse momento…
Aproveitei sua proximidade para inspirar seu cheiro também. Ele
estava impregnado em mim depois de dormirmos aconchegados, mas senti-
lo em sua pele era muito melhor.
— E você, Liz?
Ela apertou sua mão à minha ao ouvir a pergunta da amiga.
— Não acho que o meu consiga aguentar muito mais tempo dessa
agonia — confessou, seu corpo se aconchegando ao meu, de modo que
pude identificar a posição exata da sua cabeça para pressionar um beijo
sobre o topo.
Havia uma enorme caixa branca alguns metros à nossa frente, uma
fita de seda presa a ela se estendia até nós, quase ao alcance das nossas
mãos. Gravado nela estava:
Min-Jun ou Ji-Na?
Ji-Na.
Um sorriso bobo tomou meus lábios quando nonna veio até mim,
curvei-me como pude para abraçá-la e, antes mesmo de ouvir suas próximas
palavras, eu já tinha um nó em minha garganta.
Observei Liz ser envolvida por nonna num abraço, e o que quer que
tenha ouvido da senhorinha, a fez chorar ainda mais. Logo ela era abraçada
por Sophia, Emy, Emma e nonna.
— Vão nos dar mais trabalho — avisei, o que a fez rir e acenar.
Eu sentia que minha família estava ali, completa, mas ainda faltava
alguém para Liz.
Liz hesitou, mas então voltou sua atenção para o presente e o levou
para o colo. Ela o acariciou por instantes. Precisou de alguns segundos para
abri-lo e, quando o fez, um soluço baixo escapou dos seus lábios.
Observei em silêncio Liz erguer uma roupinha delicada de bebê.
Enquanto ela chorava, eu quis abraçá-la, mas Liam estava ali para ela. Para
Elizabeth e para sua mãe, na verdade, ele a envolveu com um braço,
acomodando-a ao seu peito.
— Eu aceito — sussurrou.
Só algum tempo depois, eu descobri que sua mãe pedira que as duas
se encontrassem.
Ambas estavam prontas para aquele encontro e perceber isso me
deixou aliviado.
TRINTA
Eu acenei.
Mamãe fungou baixinho, recompondo-se ao meu lado. Tentei não a
olhar. Não queria chorar ou fazê-la chorar novamente.
— Do que lembra?
O embargo aumentou em minha garganta, me fez hesitar, lembrar
me fez hesitar, porque revirar essas lembranças era doloroso.
Hesitei.
— Sua mãe comentou que você estudou fora por alguns anos.
— E quanto ao seu pai? Você se lembra como era sua relação com
ele? E a dele com sua mãe?
Lembrar de papai tocou aquela ferida mal cicatrizada que sua morte
abrupta havia deixado. Eu era uma criança e não entendia bem como um
homem tão grande e saudável podia sair para trabalhar pela manhã e voltar
para casa num caixão. Vítima de algo tão mortal, mas que cabia numa
palavra pequena como infarto. Nunca pareceu certo.
Ela anotou algo mais no caderno e ergueu seu olhar para buscar
mamãe.
— Celina? — chamou. — Você gostaria de falar agora?
Não sei o que mamãe respondeu. Não a encarei nem ouvi qualquer
resposta. E ela demorou a se aproximar, mas, em algum momento, o fez.
Culpa.
Dor.
Angústia.
— Eu não sei o que fiz de errado, juro que não sei. Fiz tudo como
me ensinaram, mas numa madrugada, eu levantei, estranhando o fato de
Emily não ter acordado para mamar, e ela estava fria. Tão fria que me
desesperei pensando que tinha esquecido alguma janela aberta. Demorei a
perceber que ela não respirava, que seu coraçãozinho não batia… que
minha menininha não estava mais viva.
— Mamãe…
E foi o que fiz. Por todo o tempo que ela precisou. E não a deixei se
afastar novamente dali para frente.
Podíamos caminhar juntas, nos curar juntas, mesmo que aquele
processo fosse pessoal e demorado.
Agora parecia ter vida. Cor. Aconchego. Tinha cara de nosso até nos
detalhes, que incluíam os porta-retratos e as prateleiras de livros de
Elizabeth.
— Não se preocupe, mamãe só saiu daqui ainda há pouco —
informou. Sua mãe a havia ajudado a escolher e decorar esta casa nos
últimos meses, o que fora bom para as duas, uma chance de se
reaproximarem e criarem laços mais saudáveis para reconstruir sua relação.
— Ela acha que na semana que vem terminam as reformas no andar de
baixo e já poderemos nos mudar.
— E ela quer?
— Ela disse que sim. O psiquiatra se ofereceu para nos ajudar nisso
e… eu aceitei.
Liz ergueu nossas mãos entrelaçadas e beijou o dorso da minha.
Sorri.
Aqui eu gargalhei.
— Contrações de treinamento.
— Tem certeza? — indaguei, preocupado.
Sorri.
Porra, como era linda! De todo ângulo. Em cada pequena parte. Por
dentro e por fora.
Latejou.
E então gritou quando meu impulso forte para dentro da sua boceta
fez seu corpo inteiro arquear sobre a cama.
Eu quis xingá-lo pela milésima vez, bem ali, mas minha respiração
entrecortada não me permitia isso.
E foi o que fiz, cerrando os dentes em outro grito que pareceu rasgar
minha garganta, eu empurrei. Meus músculos todos se tensionaram juntos,
o tronco se inclinando para frente com a força expulsiva que fiz, o latejar e
a pressão entre as pernas flexionadas impulsionando minha filha para fora,
por segundos que pareceram durar toda uma eternidade. Que me roubaram
o fôlego, as forças e parte dos sentidos.
E quando o elo físico que nos ligava foi cortado, eu pressionei meus
lábios à sua testa pequenina, prometendo silenciosamente que nada seria
capaz de quebrar o vínculo único que nós duas teríamos para sempre.
Como mãe e filha.
***
O calor da sua mão tocou meu rosto conforme ele limpava a lágrima
fina que deslizava por minha bochecha.
— Mas com você eu descobri que estava errado sobre muitas coisas,
meu bem. Que queria muito mais do que me permitia enxergar —
confessou. Seu corpo se inclinou em minha direção e um beijo foi
depositado em minha testa. — Sei que combinamos esperar, e ainda
podemos fazer isso, mas eu precisava que você soubesse que um casamento
não é mais algo de que quero abrir mão com você. Se e quando você quiser,
eu estarei pronto para ele.
— Eu quero.
Maverick sorriu. De novo. Lindo. Daquele jeito que enchia meu
peito de sentimentos bons. De calor. De amor.
Um ano depois
Engoli em seco.
— Você deu sorte — ela sussurrou para ele, a voz ainda rouca de
emoção. — Na versão que a Liz e eu imaginamos desse dia, eu pude
estapear você.
Aquilo me fez rir por ela ainda se lembrar disso. Meu irmão até
tentou, mas não conseguiu esconder o sorriso. Aquele que combinava bem
com seus olhos brilhantes quando se prendiam à minha amiga.
O beijo que ele deixou em minha testa trouxe novas lágrimas aos
meus olhos, mas lutei para espantá-las.
— Obrigada.
A cerimonialista ergueu a cauda do meu vestido e Liam e eu
começamos a andar. Quando chegamos ao início do caminho que levava ao
altar, meus olhos alcançaram Maverick com nossa filha nos braços,
sorridente, lindo, ansioso.
Esperando por mim. Para começar outra nova fase de nossas vidas
juntos.
Aviso:
Só leia se quiser saber mais sobre outros personagens desta
história. Este capítulo termina com um gancho.
Liam grunhiu.
— Tem fotos, irmão — Blake disse, não como uma provocação,
aquela era apenas uma constatação óbvia.
— Por que aquela filha da puta fez isso comigo, porra? Com o
próprio marido! Ele está em ano de companha!
Chuck bufou.
— O Caldwell se casando? Vocês comeram merda por acaso?
Mas Liam não o respondeu, não negou a possibilidade. Acho que foi
a primeira vez que o vi perder a chance de desdenhar da ideia de casamento.
Era Liz.
— O que houve?! Você está bem? Começou a sentir dores?! —
indaguei. Meu tom chamou a atenção dos meus amigos, de Liam
principalmente, que se ergueu no mesmo instante e veio até mim, já
preocupado com a irmã.
Caralho.
— Você pode trazer o Blake? — ela pediu, num sussurro que não
disfarçou sua voz embargada. — Eles chamaram a Imigração. A Sophs está
sem visto há mais de um ano e nós estamos assustadas...
O corpo de Liz ficou tenso contra o meu, Sophia limpou o rosto com
o dorso da mão e intercalou o olhar entre os homens que a cercavam, se
surpreendendo ao encontrar o irmão de sua melhor amiga ali. E só por estar
muito atento aos dois, percebi a troca de olhares, a conversa silenciosa.
Aquela coisa latente que existia entre os dois há tempo demais e só parecia
ter se intensificado com a parceria que fizeram para a festa de revelação de
sexo da minha filha.
— Mas, senhor, ela é uma imigrante que foi pega no flagra. Não
podemos...
— Libere a moça — o capitão insistiu.
Bruce Waldorf é um magnata arrogante que só amou uma mulher na vida , estava pronto
para pedi-la em casamento quando descobriu que ela era a filha da amante de seu pai, e que
estava sendo enganado para ser vítima de um golpe.
Emma Hale é uma jovem doce e esforçada que perdeu o homem que amava por causa dos
erros de sua mãe , e agora cria sua irmã mais nova sozinha enquanto sua progenitora esbanja o
dinheiro da pensão da menina em viagens.
Um acordo milionário os coloca frente a frente de novo, para trabalharem juntos depois de cinco
anos, e o reencontro inesperado é suficiente para Bruce perceber três coisas:
Primeiro, Emma continua sendo a única mulher que ele ama.
Segundo, cometeu um erro ao desconfiar dela no passado.
Terceiro, vai rastejar para tê-la de volta se for preciso.
O que ele não esperava era que sua irmãzinha mais nova o ajudaria nessa empreitada, que o
conquistaria com sua doçura e que acabaria se tornando a segunda a ter seu amor e proteção
incondicional.
Você encontra: segunda chance, Found Family, romance com bilionário, grumpy & sunshine,
cicatrizes emocionais, hot de milhões.
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proporcionado muitas emoções, que estes personagens tenham conquistado
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Guilhermo D’Angelo foi um libertino inconsequente reconhecido por toda a Espanha, mas
hoje é o futuro CEO e herdeiro do império de sua família, determinado a conquistar a confiança de
seu pai e assumir todas as empresas.
Evangeline Howell é uma norte-americana sarcástica, linda e determinada a fechar um
contrato com as Indústrias D’Angelo. Viajou para Barcelona com esse objetivo e nunca deixaria um
espanhol convencido desviá-la de seu propósito, não importava se ele fosse sexy, charmoso e
acendesse seu corpo de um jeito que nenhum homem conseguiu em mais de sete anos.
Ele era o vice-presidente daquela empresa, um homem com uma lista de conquistas
absurdamente grande. Ela jamais colocaria em risco um contrato tão importante, e seria estúpida se o
fizesse justo com o seu coração.
Mas e se ele não fosse só o que aparentava? E se aquele CEO arrogante fosse a segunda
chance que ela tanto pedira para finalmente superar o passado?
Leia aqui!
E me deixar louco.
Eu sabia que ela tinha segredos e sabia que eu não tinha motivos para insistir em encontrá-
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Marco Monteleone sempre foi obcecado por Virgínia Mazzone, e ela nunca permitiu que
nenhum homem além dele a tocasse, mas as obrigações com a famiglia tornaram esse amor proibido.
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Qual deles será forte o suficiente para vencer?
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Srta. Wright é um suspense romântico cheio de reviravoltas e segredos. Fique atenta aos gatilhos.
[1]
A demissexualidade se caracteriza pelo surgimento de atração sexual somente quando existe
envolvimento ou conexão emocional ou afetiva. Ou seja, pessoas que se identificam como
demissexuais só sentem atração sexual por quem já têm algum envolvimento ou conexão emocional
ou afetiva.
[2]
Vamos lá, me conte tudo sobre isso!, em espanhol.
[3]
ARMY é a palavra usada para se referir aos fãs do grupo de K-Pop BTS.