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1ª EDIÇÃO
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escrito do autor/editor.
NOTAS DA AUTORA
AVISOS E GATILHOS
PLAYLIST
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Na primeira vez que nos vimos, ela enfiou um salto nas minhas
bolas.
Na segunda, me acusou de ser um péssimo pai sem motivo
algum.
Na terceira, fingi ser seu namorado para irritá-la e levei um
beliscão.
Na quarta, ela me contratou como seu assistente e foi aí que
tudo mudou.
Ana Brandão é tudo que eu não deveria gostar: é estressada,
tem um péssimo gosto para vinhos e seus sorrisos são raros. Mas
ainda assim, eu gostei.
Ele roubou meu Uber, me chamou de pinscher raivosa, fez
piada do que não deveria, terminou de arruinar minha noite e
conseguiu me tirar do sério com uma facilidade que ninguém mais
conseguiu.
Pensei que nunca mais o veria e agradeci por isso.
Porém, o destino gosta de brincar...
Leopoldo Marinho é a pessoa mais irritante e inconveniente que
já conheci.
Ele é um garoto que adora me irritar.
Ele é tudo que eu não deveria querer. Mas ainda assim, eu o
quero.
Eu paguei língua.
Comecei Ana e Leopoldo para escrever qualquer coisa e sair do
bloqueio criativo antes de ir para Dimitri. Depois, pensei em publicar
uma comédia romântica para dar uma respirada entre os dramas.
Fiz o roteiro inteiro com desgosto, escrevia por escrever, sem
brincadeira, o arquivo deles se chamava "Bloqueio criativo". Briguei
mais vezes do que posso contar com a Marcielle falando que queria
desistir, deixar pra lá. Perdi a conta de quantos “Para de ser doida”
ouvi da protetora desse casal.
Segui escrevendo, e sem perceber, fui me apaixonando junto
com eles. Aos poucos, eles foram me conquistando, mudando meu
roteiro, adicionando e tirando coisas, e quando notei, estava me
divertindo horrores escrevendo, gargalhando mesmo.
Gosto de brincar que o plot do livro foi que o enemies era entre
a autora e os personagens. E assim como todo bom enemies,
começamos nos odiando, mas nos apaixonamos perdidamente no
final.
Ana e Leopoldo me ensinaram que nem tudo precisa ser tão
pesado, nem tudo precisa ter um super ensinamento no final, às
vezes, você pode apenas se divertir, só gargalhar e seguir a vida.
Para quem me conheceu por Sublime Recomeço, já te aviso
que esse livro é bem diferente.
Em Entre Vinhos e Programações, não há uma grande lição de
superação ou uma carga enorme de drama, não vou te fazer chorar,
só dar umas boas risadas.
Para quem está tendo o primeiro contato com a minha escrita,
seja bem-vindo ao Luverso!
Eles me mostraram uma nova faceta da minha escrita e uma
nova Luana também.
Espero que se apaixone por eles como eu me apaixonei.
Espero que dê boas gargalhadas com o bobo alegre e nossa
pinscher agressiva.
Boa leitura!
Luana Siqueira.
Este livro possui conteúdo para maiores de dezoito anos, entre
eles: uso de álcool, cenas gráficas de sexo com e sem preservativo,
palavras de baixo calão e menção à morte. Caso seja sensível a
qualquer um desses temas, não recomendo a leitura.
Que tal ouvir a playlist?
Só escanear o QR Code com a câmera do
seu celular:
Para todas as Luana's perdidas no mundo:
nem tudo precisa ser tão carregado, nem sempre precisa ter um
aprendizado ou uma moral no final da história, às vezes você pode
simplesmente escolher sorrir.
“Cê tem uma cara de quem vai foder minha vida
O seu olhar é um caminho sem saída
O seu corpo é um caminho sem saída
Então só entro”
— Girassóis de Van Gogh, Baco Exu de Blues
Minha mãe já cansou de me falar para não abrir a porta para
estranhos. Eu obedeço? Claro que não. O problema é que, pela
primeira vez, essa desobediência me colocou nessa situação em
que estou agora, com duas crianças que acredito ter uns cinco
anos, paradas na minha porta e junto delas, uma loira que, em
outras circunstâncias, eu facilmente pegaria, afirmando que sou o
pai dos pirralhos.
Quase engasgo com a gargalhada incrédula que dou.
Por longos minutos, explico com toda a educação que meus
pais me deram, que isso é impossível, já que nunca nem transei
sem camisinha.
Tenho curiosidade de saber qual é a sensação? Óbvio que sim,
não sou de ferro e ouvi mais vezes do que posso contar, que transar
com camisinha é como chupar balinha com papel, mas correr o risco
de adquirir alguma IST ou a ideia de ser pai tão cedo, sempre foi o
suficiente para reprimir qualquer curiosidade. Tô custando cuidar de
mim, quem dirá de uma ou duas crianças.
Ser DJ freelancer não dá muito dinheiro ou resultados. Na
verdade, não traz resultado nenhum mesmo. Por isso, com 21 anos
ainda sou completamente dependente dos meus velhos.
Uma vergonha, eu sei.
Mas quem sou eu para negar a ajuda que eles oferecem?
Só quero ser um DJ de respeito e conseguir pagar as contas.
Mas essa não é a questão aqui, não mesmo. O problema é que
nunca coloquei meu pau desencapado em lugar nenhum. Não tenho
dúvidas disso. Mas ela escuta? Não, não escuta. Independente de
quantas vezes eu insista que está enganada. E pior, pela sua
expressão, a única coisa que a impede de voar no meu pescoço,
são as crianças agarradas em suas pernas.
— Camisinhas não são nem de longe 100% eficientes, gênio! —
Esbraveja com raiva.
É claro que não, mas nunca pensei que justo eu cairia na taxa
de erro.
Agora estou pagando os pecados da minha cabeça de baixo, só
por considerar a possibilidade que ela esteja falando a verdade.
Ainda desconfiado, olho para ela.
— Ok. Se isso é verdade, Mariana... por que sua melhor amiga
não me contou antes? E por que você só me procurou agora?
— Marina, babaca — corrige irritada. — Como foi que a Alice
ficou com você? Por Deus! — Ei! Exceto por não ter um tostão
furado para pagar um lanche decente, eu sou um partidão! — Ela
tinha sérios problemas em casa naquela época e preferiu fugir, a
correr o risco de a mãe tirar os bebês dela.
Franzo o cenho, confuso.
Alice.
Esse nome não é estranho... Tenho a vaga lembrança de
realmente ter ficado com uma garota com esse nome quando tinha
15 anos e… Caralho! Posso mesmo ser o pai dessas crianças? Mas
se eu sou, por que caralho ela não confiou em mim para ajudar a
falar com sua mãe?! E por que a própria Alice não veio me contar?
— Eu poderia…
— Antes que fale que poderia ter ajudado, o que dois
adolescentes poderiam fazer contra uma velha nojenta cheia de
dinheiro? — Não muita coisa. — Quando soube da gravidez, Alice
fugiu sem olhar para trás, ela sabia o que a mãe tinha capacidade
de fazer. Foi quando a conheci e me encantei pelos bebês ainda na
barriga. Ela conseguiu se estabilizar com a ajuda da minha família e
estava tudo bem, até o maldito câncer chegar e tirá-la de nós.
Caralho!
Leopoldo, porra!
E, meu Deus, eu vou ter que parar de falar tantos palavrões se
esses pirralhos forem mesmo meus.
Caralho, estou mesmo começando a cogitar a ideia de ser pai?
Porra, falei de novo.
Argh!
Bagunço meu cabelo com os dedos e olho para eles. Meu peito
aperta ao ver os olhos grandes de ambos tomados por lágrimas.
Como eles estão lidando com a perda da mãe tão precocemente?
Eu estaria chorando em posição fetal se estivesse no lugar deles.
A menina, apesar das lágrimas grossas escorrendo pelas
bochechas, entra na frente do irmão e me encara com pura
determinação. Prendo um sorriso, fascinado pelo gesto.
— Sinto muito pela perda de vocês. – É tudo que consigo dizer.
O menino se esconde mais e a irmã simplesmente me encara,
deixando claro que não vou ganhar uma resposta dela. Marina é
quem agradece e afaga o cabelo dos gêmeos com carinho.
— Escuta, até dois meses atrás, eu sequer sabia seu nome —
diz um pouco mais calma. — Não estou pedindo para assumir a
responsabilidade por eles, mas para que eu possa adotá-los,
preciso que você confirme a paternidade com um teste de DNA e
abra mão da guarda pra mim — explica sem desviar os olhos dos
meus. — Depois disso, não precisamos nos ver mais e pode seguir
sua vida como se nunca tivesse nos visto.
Passo a mão pelo cabelo de novo, perturbado. Volto a olhar
para as crianças, tentando absorver tudo que a loira desconhecida
me contou. De repente, percebo como eles lembram uma versão
minha quando criança. Ambos loiros com olhos castanhos.
Se conseguisse arrancar um sorriso deles, talvez encontrasse
covinhas semelhantes às que enfeitam meu rosto. Respiro fundo,
nem tenho certeza se ela está falando a verdade, mas por algum
motivo, a ideia de não os ver mais, me deixa angustiado.
— E se eu não quiser que desapareçam? — pergunto,
atordoado com o rumo que tudo isso vai tomar.
Marina me olha com atenção, como se tentasse decifrar cada
mínimo pensamento que atravessou minha mente nos últimos
minutos. E então, escondendo um sorriso singelo, ela solta o ar e
balança os ombros.
— Alice me pediu para te dar uma chance.
04 de novembro de 2022 às 23:12
Garoto?
É sério?
Já não mostrei que sou mais homem do que muito cara da
idade dela não?
Ana está mordendo as bochechas, entregando mesmo sem
querer, a vontade que tem de sorrir. Obviamente está falando para
me irritar e está conseguindo. Não me importo de frisarem que sou
novo, eu sou mesmo, mas por algum motivo, ela fazer isso me
aborrece.
Saber que ela pode, no fundo, me ver como nada mais do que
um garoto, me irrita pra caralho.
Fico em silêncio, pensando no que responder e a cada minuto,
seu sorrisinho vitorioso aumenta, como se ser eu a ficar irritado,
fosse extremamente divertido para ela. Não duvido que realmente
seja.
— Ficou chateado? — pergunta por fim.
— Não.
Nós dois sabemos que é mentira. O sorrisinho ainda desenha
seus lábios grossos.
— Tem certeza? — Morde o sorriso.
— Vou buscar seu vinho. Deve estar com vontade depois de um
dia cheio desses, certo?
Ela fica surpresa que eu tenha percebido e é minha vez de
sorrir. Não é como se fosse um super segredo, Ana sempre toma
uma taça de vinho depois de dias exaustivos como hoje. Já cansei
de vê-la pegar a garrafa quando eu estava indo embora ou até
mesmo servi-la nos dias em que trabalhávamos até um pouco mais
tarde.
— Está ficando tão eficiente em ler o que preciso quanto a Luna
— comenta, ainda aturdida.
— Eu sei. — Pisco e entro com cuidado na sala para não
acordar os meninos.
Pego a garrafa e a taça com um sorriso bobo. Aproveito para
conferir se está tudo bem com os meninos e saio com cautela de
novo.
Ana está sentada no chão com as pernas cruzadas e digita algo
no celular com o cenho franzido e um esboço de sorriso. O barulho
da fechadura traz seus olhos para mim e meu coração dá um salto
esquisito.
Escorrego na parede até estar ao seu lado. Estendo a taça e
meus dedos roçam nos dela quando ela pega. Sirvo seu algodão-
doce líquido e fico preso na sua boca enquanto dá um longo gole.
Um gemido deliciado escapa dos seus lábios e ela fecha os olhos
aproveitando.
Nossa.
— Dá até vontade de provar — murmuro sem querer,
desnorteado.
Ela abre as pálpebras, as íris cintilando, os lábios pintados de
vermelho e agora úmidos com o vinho e um sorriso empolgado.
Ela é linda, muito linda.
— Quer tentar de novo? — O quê? — O vinho. Você disse que
deu vontade de provar — explica, vendo minha confusão.
Mal sabe ela que eu estou querendo provar uma coisa
completamente diferente, mas que não devo.
— Eu não — respondo e faço careta ao lembrar do sabor
enjoativo. — Vinho ruim da porra.
— Seu cu — rebate no automático e eu gargalho. — Você que
tem um péssimo gosto.
Faz bico, igualzinho o da Rayka. Meu sorriso aumenta.
— Não precisa fazer bico só porque você tem um gosto ruim,
nervosinha.
Seus olhos se estreitam.
— Não estou fazendo bico. — O bico aumenta e as três
dobrinhas no nariz aparecem. Minha risada aumenta também.
— Aham, tá não. Só uma tromba enorme mesmo.
— Você é insuportável!
— É o que você diz, mas ainda está aqui sentada no chão só
pra ficar na minha companhia. — Jogo meu cabelo para trás, bem
Meninas Malvadas e me deleito ao arrancar uma risadinha dela.
— Ridículo — fala, ainda rindo. Linda! — Onde será que seus
pais estão, hein? Que demora.
Meus pais!
Tinha esquecido completamente deles e da armação ridícula
que fizeram para me deixar sozinho com Ana. Se um dia me iludi
achando que o fato de ela ser minha chefe tiraria da minha mãe as
ideias mirabolantes de que seríamos um ótimo casal, me iludi
mesmo. O esquema de hoje só comprovou isso. Espero que Ana
não tenha notado a intenção por trás das ações estranhas que
tiveram. Espero mesmo.
— Devem ter se perdido. — Ou ido pra casa. Não duvido nada.
— Talvez seja melhor procurarmos. — Ameaça se levantar e
impeço.
— Não precisa, vou ligar para eles e descobrir o que aconteceu.
Ela não responde e abaixa o olhar para as próprias pernas. Sigo
seu olhar e percebo que, involuntariamente, para a impedir de se
levantar, apoiei minha mão em sua.
Bem inconveniente, hein. É agora que ela me demite ou pior,
me processa por assédio.
Seus olhos sobem para os meus e voltam para minha mão
algumas vezes. Não consigo identificar o sentimento na sua
expressão. Confusão? Inquietação? Raiva? O que ela está
pensando?
Minha mão está formigando só por imaginar sua pele. Por que
ainda não a tirei do lugar que nem deveria ter ido parar?
E se…
Não! Tira a mão daí, Leopoldo! Vamos!
Só uma apertadinha pra ver se é tão gostosa quanto parece.
Não vai fazer mal.
Pulo no susto com meu celular vibrando no bolso, seguido pelo
toque irritante e dou um sorriso sem graça. Atendendo e quero ficar
órfão quando ouço meus pais mentirosos falarem que tiveram um
imprevisto e foram para casa.
Pra casa.
Sério que são tão caras de pau assim?
Desligo sem xingar ninguém, porque não quero ser capado pela
minha própria mãe e respiro fundo antes de me virar de volta para
minha chefe.
Seguro um sorriso ao ver que ela está me olhando
descaradamente, os lábios presos entre os dentes enquanto seus
olhos escrutinam cada pedaço de mim.
Quero fazer algum comentário sobre sua falta de vergonha, mas
quem sou eu para falar quem precisa ou não de um óleo de peroba
quando já fui pego secando minha chefe duas vezes. Porque se for
sincero, a seco muito mais vezes do que deveria.
— Eles tiveram um imprevisto e foram embora.
— E deixaram vocês pra trás?
Sim, porque eles acham que vamos nos apaixonar
perdidamente se ficarmos sozinhos.
Hahaha! Como se Ana fosse gostar de um garoto.
Balanço a cabeça. As loucuras da minha mãe estão entrando no
meu sistema. Deus me livre.
— Deixaram. — Ela fica incrédula. Mal sabe que meus pais são
doidos. — O lado bom é que posso finalmente ir embora.
— Finalmente, uh? — Zomba.
Penso em refutar e falar que a companhia dela é ótima e só vou
embora por causa dos meninos, mas qual o sentido?
— Os gêmeos estão cansados e vão dormir melhor nas próprias
camas — é o que respondo.
Leopoldo não vai na festa que me ajudou planejar com tanto
esmero. Entendo o motivo, ele quer passar a virada com as pessoas
que mais ama no mundo, sua família.
Se a Ágata não tivesse uma viagem marcada com as amigas,
provavelmente a arrastaria comigo para Ilhabela. Mesmo que não
seja mais um costume passarmos Ano-Novo juntas, já que minha
irmã viaja com os amigos desde que completou 18 anos, ver
Leopoldo priorizar a família, me deu saudade de passar esse
momento com a minha.
Das madrugadas jogando cartas com minha avó roubando na
cara dura e Ágata deitada no meu colo, rindo da minha indignação
com nossa avó ladra. Dos nossos brindes de copo de alumínio com
água na hora que o ponteiro do relógio batia meia noite. De assistir
ao pôr-do-sol da nossa janela de grades, agarrada com as duas
mulheres mais importantes da minha vida. Dos eu te amo trocados
antes de dormir, e do melhor beijo na testa no mundo de benção e
boa noite.
Saudade, vovó.
Pego sorrindo o porta-retratos na cabeceira da minha cama.
Ágata estava sentada no meu pescoço e dona Amelita com as duas
mãos na cintura, puta da vida, nos olhando e berrando para que eu
descesse minha irmã antes que ela caísse e rachasse a cabeça.
Sim, minha avó era dramática assim. Vou ser eternamente grata à
vizinha simpática que capturou esse momento.
Olhar a foto é quase como sentir que estou lá de novo. Sinto
tanta saudade da minha velhinha dramática e rabugenta, mas que
vivia sorrindo e amava fazer e escutar piadas bestas. Minha vó
adoraria o Leopoldo e os gêmeos, o bobo da corte provavelmente a
faria se mijar de rir.
Minha irmã bate na porta, atraindo minha atenção e sorri para a
foto. Se joga na cama e deita a cabeça no meu colo, como ama
fazer desde criança. Guardo a foto e ela pega minha mão e coloca
na sua cabeça, exigindo carinho, e como se estivesse só esperando
uma abertura, Mel também pula na cama e deita ao meu lado,
empurrando com o focinho minha outra mão, também pedindo
atenção.
— Eu mereço mesmo. Duas carentes e ainda por cima
mimadas. — Suspiro alto, fazendo drama.
— Não temos culpa se você nos mimou, maninha. A
responsabilidade é inteiramente sua.
O pior é que é mesmo. Não respondo e me rendo, fazendo
carinho nas duas e me aconchegando mais na cama também.
— Já que estou sendo usada na cara dura, pelo menos coloca
um filme pra gente.
— Como Treinar seu Dragão? — pergunta ao pegar o controle.
— Sempre. — Sorrio e ela revira os olhos.
— É uma viciada mesmo viu. — Implica, nos embrulhando.
— Não tenho culpa se é o melhor filme do mundo.
Ela se aconchega mais e Mel vira de barriga para cima para me
dar mais acesso. Folgadas viu. Eu amo.
— Quem vê a Ana Brandão fodona diariamente na BT, mal
imagina que é uma criança viciada em doces e desenhos animados.
Esqueço de responder sua brincadeira quando o filme começa.
Ana foi embora sem nem olhar para trás e não fiz nada além de
ficar olhando até seu carro sumir da minha visão.
Ela não deveria ter se metido ou usado seu dinheiro e influência
para nos defender. Não interessa se sua intenção foi boa ou não.
Nem eu, nem os gêmeos precisamos do dinheiro ou de pessoas
como a Eugênia nas nossas vidas.
— O que aconteceu entre vocês? — minha mãe pergunta no
segundo que entro em casa.
— Ela se intrometeu onde não devia.
Ela me encara insatisfeita com minha resposta e respiro fundo,
contanto tudo que aconteceu, incluindo as ameaças da Eugênia
dessa vez. Meu pai chega no meio da conversa e senta ao lado da
minha mãe, ouvindo também.
— Eu não criei um babaca. — Dona Madalena esbraveja e me
dá um tapa forte no ombro. — Não mesmo! Vai pedir desculpa para
aquela menina agora, Leopoldo.
— Não criou mesmo — me defendo. — Não sou babaca, só
deixei claro que não precisamos que ela esfregue seu dinheiro na
nossa cara.
— E quando ela fez isso, filho? — meu pai pergunta
pacientemente.
— Acabei de contar para vocês, ora!
Minha mãe me dá outro tapa e reclamo dessa vez.
— Não criei filho burro também!
— Seu filho sou eu, sabia? Vai ficar me batendo por causa dos
outros? — reclamo.
— Estou te batendo porque está precisando, Leopoldo! Onde já
se viu? Pobre menina. Estava tão murchinha.
Não ligo. Acho que não, pelo menos.
— Filho, do nosso ponto de vista, a única coisa que Ana fez foi
tentar te ajudar — meu pai fala com tranquilidade. — Ela mostrou
para a Eugênia que você não está sozinho ou desamparado. Se
colocou ao seu lado...
— Não preciso do dinheiro dela para isso. — Interrompo.
— Meu Deus. Criei uma mula, Jorge? Criei mesmo? — mamãe
lamenta. — ELA NÃO ESTAVA MOSTRANDO QUE TEM
DINHEIRO, LEOPOLDO. — Perde a paciência que já não tem. —
Você que foi uma mula orgulhosa. A menina só colocou as
ferramentas que tem à sua disposição caso precise e mostrou para
a Eugênia que está ao seu lado.
Não respondo. Não quero tomar outro tapa. Ela respira fundo,
massageando a testa e meu pai faz carinho nas suas costas. Os
dois me olham como se soubesse de algo que eu não sei, antes do
meu pai apoiar a mão no meu ombro e falar:
— Tem certeza que está bravo com a Ana, filho? Não acha que
pode ser porque ela conseguiu amedrontar Eugênia com o
sobrenome dela e você não? Nós entenderíamos se estivesse se
sentindo insuficiente depois de hoje, mas a Ana não tem culpa, ela
só tentou ajudar.
Não sei o que responder ou pensar sobre o que disseram, então
não faço nada. Só beijo o rosto deles.
— Vou tomar um banho. Hoje foi um longo dia. — E amanhã
preciso enfrentar a onça em miniatura que provoquei hoje.
O que será que ela vai jogar em mim dessa vez?
Quão estranho sou por estar ansioso por isso mesmo estando
puto com ela?
Nada.
Ana não jogou nada.
Nem mesmo me xingou.
Ela está me tratando com uma cordialidade que está me
deixando louco.
Ela me colocou de volta no meu lugar como nada mais que um
funcionário sem dizer uma palavra sobre isso.
Eu deveria estar feliz, não é? Fui eu que disse que não preciso
dela.
Deveria.
Mas não estou.
Estou puto.
Só não sei se com ela ou comigo. A conversa com meus pais
está martelando na minha cabeça desde ontem. Será que distorci as
coisas? Estou vendo através das lentes de um orgulho idiota? Já
repassei a cena do hospital na minha cabeça inúmeras vezes e
quanto mais penso, mais vejo que fui um completo idiota e que ela
só estava tentando ajudar.
Meu pai tem razão. Eu me senti insuficiente para defender meus
próprios filhos, fiquei revoltado com o sistema, com o quanto o
dinheiro tem peso em outros seres humanos, não com a Ana em si.
Só descontei nela. A usei como bode expiatório quando tudo que ela
fez foi ajudar, proteger a mim e aos meninos.
Será que ela entenderia se eu tentasse explicar? Será que me
perdoaria por ter agido como um babaca?
Ana não é o tipo de mulher que aceita ser maltratada, muito
menos perdoa atitudes como a que tive ontem.
Será que a perdi por ser um idiota?
A menção de tê-la perdido faz o ar ficar rarefeito.
Por favor, que ela pelo menos me ouça.
Por favor, que me desculpe.
O que vou fazer se não me entender?
— Leopoldo? — Chama educada. — Pode trazer os
documentos do Caio para mim, por favor? — Seus olhos não saem
do computador.
— Claro. Um minuto.
Grita comigo, Ana.
Me manda ir a merda.
Enfia o sapato na minha cara.
— Precisa de alguma coisa? — pergunta quando não me movo.
Preciso.
Está vendo esse porta-caneta ao seu lado? Joga ele em mim,
por favor, linda?
Me dá alguma esperança, chaveirinho.
— Não.
Grita comigo, nervosinha.
Pego a pasta que ela precisa e a entrego, esperando alguns
segundos por alguma reação. Qualquer coisa que não seja essa
frieza serve.
— Posso ajudar, Leopoldo? — Suspira, finalmente me olhando.
— Podemos conversar?
— É sobre o trabalho? — pergunta indiferente.
— Não.
— Seus pais ou os meninos estão precisando de alguma coisa?
— Também não, eles estão bem. É sobre nós dois.
— Então não, não podemos. — Vira de volta para a tela, me
ignorando completamente.
Fico desesperado. Ela não vai me ouvir mesmo?
— Ana, por favor. — Estou implorando? Estou, mas nem me
importo com isso.
— Não existe nós dois, você deixou isso cristalino ontem. —
Volta a me olhar, mas não muda em nada sua expressão, quase
como se estivesse entediada com a conversa. — Não quer ter nada
a ver com meu nome ou meu dinheiro, certo? Infelizmente para
você, os dois vêm no pacote junto com os orgasmos gostosos.
— Orgasmos gostosos? — Rio incrédulo. — Está falando sério?
Você sabe que somos muito mais que isso.
— Éramos — frisa o tempo verbal, meu sangue esfria. — Ontem
você me provou que não mais.
— Ana, seja razoável. Sei que exagerei ontem. Quero
conversar, por favor.
— Razoável? — É sarcástica. Por algum motivo, fico alegre. Já
é alguma reação, certo? — Estou sendo profissional, Leopoldo. E
você está me atrapalhando a trabalhar. Pode se retirar e fechar a
porta quando sair, por favor.
Profissional.
Nossa. Doeu.
A mínima alegria de antes desapareceu.
Ana volta a olhar para o computador e ignorar minha existência.
Porra.
Fico feito estátua um bom tempo antes de desistir e fazer o que
me pediu. Não consigo trabalhar o restante do dia, agoniado com a
possibilidade de não conseguir convencê-la a me ouvir.
E se ela nunca mais me der uma oportunidade? E se nunca
mais puder ouvir sua risada? E se ela não gozar mais na minha
boca? E se nunca mais vê-la brincar com meus filhos? Dar as mãos
para eles e correrem de mim rindo tanto que quase caem um monte
de vezes?
E se nunca mais escutá-la gemer ao beber aquele vinho
horroroso? E se nunca mais puder zoar ela pelo seu desenho
favorito ou as putarias que lê? E se ela nunca mais jogar nada na
minha cara? Ou dar uma de chaveirinho de capeta e pinscher
raivoso?
E se ela nunca mais quiser ser minha?
Caralho, só de pensar dói.
Meu corpo inteiro gela.
Minha.
Quero tanto que ela seja minha.
Puta que pariu.
Puta merda.
Porra.
Estou fodido.
Mais fodido do que antes.
Não é um ótimo momento para perceber que estou
completamente apaixonado pela minha chefe?
— Por que não posso ligar para ela? O senhor disse que posso
usar o telefone em momentos muito importantes! — Rayka briga,
apoiando as mãozinhas na cintura e me encarando zangada. —
Agora é um momento muito importante!
— Importante como ir para o hospital, meu amor. Não convidar
alguém para seu aniversário.
— Mas eu tenho que ligar! O senhor não chamou ela quando foi
trabalhar. É tudo sua culpa. Então tem que me dar o celular pra eu
consertar. — Estende a mão feito gente grande, me deixando
orgulhoso demais da sua determinação. — A tia Ana vai achar que
esquecemos dela e vai ficar triste, papai.
Sua tia Ana não quer ver seu papai agora, amor.
— Ela está certa, papai. — Átila ajuda, todo sério. — Nós dois
queremos a tia Ana no nosso aniversário amanhã. Se não podemos
ligar, liga o senhor.
Ela vai desligar na minha cara, certeza. Isso se atender. Ela tem
ignorado todas as chamadas nos últimos dias. A única que atendeu
foi no dia que levei Rayka para tirar o gesso, e só porque queria
saber se tudo ocorreu bem.
O lado bom de ser ignorado? Consegui colocar minha cabeça
em ordem e ter clareza dos meus sentimentos.
O lado ruim? Ela não me dá nenhuma oportunidade para me
desculpar e isso faz com que fiquemos cada dia mais distantes.
O pior de tudo? Me apaixonei pela mulher que faz o inferno
parecer gelado e meu sentimento só cresce a cada minuto.
Sortudo eu, não?
— Vou ligar. — Prometo. — Sua madrinha deve tê-la chamado
também, ok? Fiquem despreocupados. Sua tia Ana vai vir.
Ambos sorriem, parecendo ter ganhado uma caixa gigante de
chocolates. Já os alegrei, agora só preciso descobrir como trazê-la
aqui em casa amanhã. Ou melhor, descobrir como fazê-la atender
minhas chamadas. Tenho certeza que não vai ignorar um convite
dos meninos. Ela os adora tanto quanto eles a adoram.
Ana e meus filhos se adoram.
Eu a adoro.
Ela pode estar puta agora, mas também gosta bastante de mim.
Nós brincamos de pega-pega.
Átila, Rayka e eu a queremos nas nossas vidas e o que fiz?
Estraguei tudo.
— Anda, papai! Tá esperando o que para ligar? — Rayka
indaga, fazendo o biquinho fofo de quando está se irritando de novo.
— Sabe o que é, meu amor? — Ela me olha confusa. — Acho
que tem um problema com o telefone da sua tia. Ela não está
atendendo. O que acha de irmos na casa dela e fazer o convite
pessoalmente?
Os olhos dos dois brilham.
— De verdade? — minha advogada mirim pergunta.
— De verdade.
— Vamos logo! Assim eu posso contar que é tudo culpa sua que
ela ainda não saiba da nossa festa e ela não vai ficar brava com a
gente.
— Você tem que se trocar primeiro, Ray. Vocês, na verdade.
Não podem ir de pijama.
— Mas o meu pijama é o do Banguela! Ela não vai ficar
chateada se me ver com o pijama do banguela — Átila argumenta,
me fazendo rir.
Sento na minha cama e puxo os dois para o meio das minhas
pernas, fazendo carinho nos fios da mesma cor que os meus.
— Ela não está chateada com vocês, meninos. — Só comigo.
— Tenho certeza que Ana vai entender que fui eu que esqueci e
vocês não tiveram nada a ver com isso.
— Tem mesmo?
— Tenho. Agora vão se trocar pra gente ir.
Eles saem correndo, gritando animados e minha mãe entra no
quarto dando risada dos netos. Ela me olha com aquele ar de mãe
que sabe de tudo e senta na cama ao meu lado.
— Vai usar os meninos para fazê-la te ouvir? — pergunta séria.
— Vou, e nem adianta tentar me convencer do contrário. Sei
que é errado, mas é a única forma de ter certeza que não vai me
colocar na rua. Ela é apaixonada demais nos gêmeos para isso.
Minha mãe abre um sorriso do tamanho do mundo, batendo a
mão na minha coxa.
— Não vou tentar te dissuadir, pelo contrário, acho uma ideia de
gênio. — A olho abismado. — O que? — Se faz de inocente. —
Temos que usar as armas que temos. Eu te ensinei isso.
— Ensinou. Contanto que não machuque ninguém.
— Isso mesmo. — Sorri. — Quer me falar por que é tão
importante conseguir o perdão dela? — Abro a boca para falar que
fui um idiota, mas ela continua falando. — Sim, você foi um idiota e
tem que se desculpar, mas ter uma atitude ruim com sua chefe não
te deixaria tão agoniado assim.
— Posso precisar muito desse emprego — brinco.
— Não tente me fazer de boba, Leopoldo. Quando você foi
buscar o fubá, eu já estava com o bolo pronto e frio. Se ela fosse te
despedir por isso, já teria feito. — Faz carinho no meu ombro e
respiro fundo. — Se não quiser me contar, tudo bem. Mas você não
levaria sua patroa em um piquenique com os meninos, levaria?
— Não levaria ninguém que não fosse importante para sair com
eles, mamãe — assumo, sentindo meu peito doer.
Lembro das risadas deles correndo de mim, dos nossos dedos
entrelaçados, do quanto Átila confia nela e dele aninhado no seu
colo sem nem mesmo pedir por mim.
Que saudade.
Por que não respirei antes de tratá-la daquele jeito? Por que
não pensei mais? Ou dormi e falei com ela no outro dia?
— Eu sei, meu amor.
— Acho que estou apaixonado por ela — falo em voz alta pela
primeira vez e, obviamente, minha mãe não fica surpresa.
— Acha? — Mais um dos seus sorrisos de sabe tudo.
— Tenho certeza, dona Madalena. — Reviro os olhos e seu
sorriso fica maior.
— Eu sabia. — Comemora. — Tá vendo como tem que ouvir
mais a mamãe? Te falei que sabia que ela seria minha nora no
primeiro segundo que coloquei meus olhos nela. Meu coração
escolheu o dela como nora. Eu sabia.
— Não acha que é o meu coração que deveria escolher,
mamãe? — pergunto rindo da sua empolgação.
— E ele escolheu, ora essa. Ninguém conhece melhor seu
coração do que eu, meu filho. Ele foi formado dentro de mim.
Tenho a melhor mãe do mundo, é fácil ser um bom pai com
esse exemplo.
Deito no seu colo, como meus filhos fazem comigo e ela faz
carinho no meu cabelo.
— Você pode estar certa, mamãe, mas de que adianta isso se já
estraguei tudo?
Ela ri.
— É exatamente por isso que vai levar os meninos com você,
eles vão amolecê-la o suficiente para te ouvir, ou pelo menos aceitar
o convite do aniversário, o que já é uma chance para conversarem.
Você só não pode estragar tudo de novo quando ela decidir te ouvir.
— E se eu estragar?
— Vou te bater.
— MAMÃE!
— O que? Já falei que não criei uma mula. Não se atreva a me
envergonhar, Leopoldo Marinho.
Gargalho. Ela é completamente maluca, mas é a melhor mãe do
mundo, com certeza.
— PAPAAAAAAI! ESTAMOS PRONTOS! — Rayka grita para o
quarteirão inteiro ouvir e nós dois gargalhamos.
— Seu pequeno ciclone está te esperando — brinca, dando um
tapinha na minha testa para levantar. — Boa sorte, filho.
Definitivamente vou precisar.
Fingir que não me importo com o Leopoldo tem sido uma das
coisas mais difíceis que já tive que fazer.
Estou com saudade das nossas conversas, das nossas risadas,
de tomar vinho com os pés no colo dele, dos nossos beijos. Como
estou com saudade dos nossos beijos. Saudade de acordar toda
marcada da sua boca e das suas mãos.
Saudade dos seus gemidos no pé do meu ouvido, dos elogios
sussurrados, das apalpadas na minha bunda no escritório quando
ninguém está vendo. Saudade de apalpar aquela bunda gostosa.
Saudade de ficar na ponta dos pés e fazê-lo se abaixar para me
alcançar, das suas mãos me agarrando e me pegando no colo
quando sua coluna doía de ficar todo torto.
Estou com saudade de cada momento nosso.
Muita saudade.
Mas saudade passa.
E essa também vai, em algum momento.
Babaquice não.
Babaca uma vez, babaca sempre.
A atitude dele me machucou e isso fez soar todos os alertas
dentro de mim. Leopoldo estava entrando demais, passando dos
limites, chegando em um lugar perigoso. Então é hora de afastá-lo.
Só não pensei que fosse ser tão doloroso.
A campainha toca, me tirando dos meus devaneios. Mel corre
para a porta e pula empolgada, balançando o rabo e girando no
lugar, latindo para que eu abra logo.
Será que Ágata esqueceu a chave? Mas ela disse que só
voltava amanhã. Abro a porta, já revirando os olhos. Certeza que
esqueceu alguma coisa importante, só não esquece a cabeça
porque está pregada no pes…
— Leopoldo?
Tum.
Tum.
Tum.
Fica quieto aí, coração.
— TIA ANA! — Sobressalto com o grito, como não vi os dois
pequenos agarrados nas suas mãos? Porque estava ocupada
demais olhando para o pai deles. — Eu já tô boa, olha!! — Rayka
balança o braço animada, me arrancando um sorriso.
Ignoro Leopoldo e me abaixo na altura deles. Mel me atropela e
se joga nos dois, quase os derrubando no chão e enchendo eles de
lambidas.
— A gente também sentiu saudade, Melzinha — Rayka fala por
ela e pelo irmão. Os dois sorrindo e brincando com ela que não para
quieta.
— Fico muito feliz que já tirou o gesso. Está doendo? — Chamo
atenção da loirinha e ela me olha sem parar de fazer carinho na Mel.
— Não. O doutor disse que já tô pronta para outra.
— Não está não — Leopoldo e eu falamos juntos.
Nossa que voz gostosa, sabe? Tinha que ser tão boa de ouvir
assim?
— É só um modo de falar, tia Ana — Átila explica com um
sorrisinho idêntico ao do pai. — Ai, Mel! — reclama em meio a uma
risada gostosa quando ela pula em cima dele de novo.
— Podemos entrar? — Leopoldo pergunta. Não olho para ele.
— Queremos te fazer um convite e os meninos podem matar um
pouco da saudade da Mel enquanto isso.
Golpe baixo, Leopoldo Marinho.
Golpe muito baixo.
Suspiro e me levanto olhando para o sorriso vitorioso na sua
boca, ele sabe que ganhou. Dou espaço para que entrem e fecho a
porta, parando para respirar alguns segundos. Posso conversar com
ele por alguns minutos sem acabar com minha boca na sua, não
posso?
Os gêmeos sentam no tapete para brincar com a Mel e o pai
deles se acomoda no meu sofá. No mesmo que demos uns bons
amassos. Amassos que não estou sentindo falta de jeito nenhum.
— Também senti sua falta, filhote do capeta. — Mel se arrasta
pela perna dele como se fosse um gato pedindo carinho.
Traidorazinha.
Vou te deixar sem petisco.
Aproveito sua distração com minha cachorra para babar um
pouquinho sem ser pega. Não tenho me permitido olhar muito na
empresa, porque todas as vezes em que tentei, seus olhos já
estavam em mim.
Está lindo e gostoso como sempre. Um pouco de olheiras, mas
não é algo tão incomum desde que aceitou os trabalhos como DJ. Vi
algumas delas enquanto estudávamos opções de apartamento para
ele e os meninos.
Será que ele já escolheu algum? Ele não me contou e eu não
perguntei, mesmo estando morrendo de vontade de saber.
Eu não iria ceder. Não ganhei nem mesmo um pedido de
desculpas. Tudo bem que não facilitei, mas ele poderia ter se
esforçado mais também, não é?
— Já terminou de me secar? — provoca, fixando seus olhos nos
meus. O sorrisinho safado mexendo comigo de uma forma que não
deveria mexer.
— Não estava te secando. Tem uma mancha na sua camiseta.
— Minto na maior cara de pau e ele percebe, porque o sorriso
aumenta.
— Tem, é?
— Tem.
— Vou no espelho dar uma olhada, não vi nada quando saí de
casa. — Ameaça se levantar, mas me sento ao seu lado e para
impedir, apoio minha mão na sua coxa no automático.
— Não precisa. Não é nada muito visível. — Nossa que
saudade de morder essas coxas firmes.
— Se você está dizendo, nervosinha. — Outro sorriso vitorioso.
Idiota.
— Você disse que tinham um convite. O que é? — Mudo de
assunto, tirando minha mão da sua coxa quando sua atenção se
volta para ela.
— Querem falar, meninos?
Ambos assentem e correm para meu colo, me derrubando
deitada no sofá, rindo. Senti saudade deles também.
— Amanhã é nosso aniversário de oito anos — Rayka fala e
mostra o número oito com os dedos. — O papai esqueceu de te
convidar. — Esqueceu mesmo ou ficou com medo de eu dizer não?
Talvez só não me quisesse lá também. — Então a gente veio aqui
hoje para pedir para ir.
— Queremos muito que vá, tia Ana — Átila concorda. — Não vai
ser tão legal sem a senhora lá.
Sorrio, sentindo meu coração aquecido. Porém antes de aceitar,
preciso ter certeza que o Leopoldo está bem com isso. Nós
sabemos bem o que deu quando me aproximei um pouquinho mais
dos gêmeos. Não quero terminar a noite chorando no meu carro de
novo por ter passado de limites que nem sabia que existiam.
— Vocês podem me fazer um favor? — Peço sorrindo e ambos
concordam. — Podem pegar a coleira da Mel para darmos um
passeio?
Explico onde é e espero eles saírem correndo para me virar
para o Leopoldo.
— Quero falar com você antes de dar uma resposta para eles.
Não sei o porquê não me convidou antes, e como a última vez que
estivemos os quatro juntos, não terminou muito bem, preciso ter
certeza. Você quer que eu vá ou só está aqui porque eles não
pararam de insistir?
Seus olhos ficam tristes e ele se aproxima mais de mim,
encostando seu joelho no meu e pegando nas minhas mãos.
Demoro longos segundos para reagir, perdida no seu toque, mas
quando me dou conta, saio dele e me afasto. Ele faz menção de
tentar se aproximar de novo, mas desiste com um suspiro.
— Eu quero que vá. Só não te convidei antes porque você não
está exatamente me dando espaço para falar sobre qualquer outra
coisa que não envolva a empresa.
Não é mentira, mas quem quer dá um jeito.
— Poderia ter me mandado um e-mail — rebato.
— E você poderia ter me escutado por um minuto, mas não
escutou, escutou? — Ele está irritado? É sério isso?
— Pra quê, Leopoldo? Para falar que sou da laia daquela
mulher de novo? Não, obrigada.
Ele parece ter levado um murro no saco, e bem que poderia ser,
mas estou civilizada agora. Tem crianças aqui.
— Escuta, Ana. — Pede calmo, sem sorrir. Cadê o sorriso dele?
— Não vim aqui para brigar, e para ser sincero, até queria
conversar, mas acho que não é um bom momento com os meninos
aqui. — Olha para minha cozinha, conferindo se eles não estão
voltando. — Viemos te convidar para o aniversário. Vai ser uma
festa simples, só para a família. Lá em casa mesmo às 19 horas.
Você pode ir direto do serviço. Sua irmã e Marina vão fazer isso.
Analiso seu rosto entristecido, os ombros nada altivos como
sempre são. Os lábios comprimidos, sem nenhum sorriso. Nada do
Leopoldo que estou acostumada. Respiro fundo.
— Ok. Eu vou na festa.
Um meio sorriso se desenha no seu rosto e é o suficiente para
fazer meus batimentos acelerarem. Coração idiota. Leopoldo me
olha como se quisesse transmitir tudo que não pode me falar, mas
estou fechada demais para tentar entender agora e mesmo se
quisesse, não tenho tempo porque logo os meninos voltam com a
coleira colocada toda errada na Mel.
Gargalho e Leopoldo se junta a mim. Por um segundo, parece
que voltamos no tempo e me dá uma vontade louca de beijar a boca
dele. O segundo passa e eu pego minha cachorra, consertando a
coleira e pegando a guia.
— Vamos dar um passeio?
Átila agarra minha mão, Rayka a do pai e saímos os quatro do
apartamento.
Eu poderia ter inventado uma desculpa qualquer para passear
com a Mel sozinha, e no estado atual de bom moço do Leopoldo,
tenho certeza que ele teria me ajudado a despistar os meninos, mas
não consegui. A empolgação dos gêmeos em passear com ela e
brincar no parquinho de novo me impediu. Como poderia falar não
para duas carinhas fofas como aquelas? Sem chance.
Diferente do que pensei, foi natural, como se nós dois nunca
tivéssemos nos afastado ou brigado. Os gêmeos, como sempre,
dominaram toda a nossa atenção. Rayka tomou a guia da coleira de
mim assim que chegamos no térreo e ela e o irmão andaram mais a
nossa frente, brincando com a Mel.
Depois que se cansaram de andar, viemos para o parquinho e
soltei a guia para os três brincarem. Nós concordamos com um
olhar em observá-los em um silêncio confortável. Não preciso olhar
para o lado para saber que Leopoldo está com um sorriso bobo, ele
sempre tem um desses quando está olhando os filhos. Também não
preciso de um espelho para saber que tenho um igual.
Apesar de estar realmente confortável com o silêncio, também
estou com saudade das nossas conversas. Estou me coçando para
perguntar se já escolheu entre os dois apartamentos que olhamos,
se já deu a entrada, se está de mudança marcada. Estou doida para
perguntar como foi a recuperação da Rayka de verdade e não só os
relatórios médicos que minha irmã conseguiu para mim; quero saber
como estão os pais dele e como lidaram com a ideia dos netos e o
filho não morarem mais com eles. Quero saber se a velha nojenta
voltou a incomodá-lo, mesmo que tenha medo de desencadear
outra reação igual à que nos afastou.
Quero tanto simplesmente conversar com ele.
— Comprei o apartamento. — Prendo um sorriso ao ouvir sua
voz. Ou ele lê pensamentos ou estava com tanta saudade quanto
eu. — Aquele mais perto da BT. Apesar de ser menor, acredito que
vai ser mais fácil morar mais perto da empresa e também tem uma
ótima escola entre o prédio e a BT. Fica mais fácil caso eu precise
pegar os meninos mais cedo ou resolver alguma coisa.
Ele continua olhando para os gêmeos, os ombros tensos como
se estivesse esperando que eu reagisse mal ou o ignorasse como
tenho feito com suas tentativas de conversar sobre qualquer coisa
que não seja relacionado ao trabalho.
— É uma ótima escolha — comento e ele vira o rosto para mim
sorrindo. — A mesma que eu faria.
— Mandei pintar o quarto dos gêmeos. Dividi entre as cores
favoritas deles, finalizaram ontem. Vamos esperar alguns dias para
sair o cheiro de tinta e devemos mudar no final de semana que vem.
— Eles não quiserem quartos separados?
Ele nega e sorrio. Apesar do Leopoldo ter falado que iria
oferecer essa opção, nós já imaginávamos que fossem recusar. Eles
são muito unidos.
— Os dois detestaram a ideia. A Rayka fez um bico maior que
você quando mencionei e o Átila franziu a testa daquele jeito dele e
argumentou sobre todas as vantagens de eles permanecerem
dormindo no mesmo quarto — conta sorrindo. — Você tinha que ter
visto. Foi uma graça. — Queria ter visto, mas você é um idiota. —
Mas foi bom, vou fazer do terceiro quarto um escritório para mim.
Sorrio mais e ele continua me falando como foi contar para
todos sobre o apartamento. Fico tão envolvida que quase esqueço o
motivo pelo qual ficamos tanto tempo sem nos falar.
Quase.
20 de abril.
O dia do aniversário de oito anos dos donos da minha vida. O
tempo voa e eles cada vez dependem menos de mim e eu dependo
mais deles. A cada nova coisa que aprendem sozinhos, fico todo
orgulhoso, mas também um pouquinho desesperado para quando
chegar o dia que não vão me procurar para mais nada. Como é que
pais de adultos sobrevivem? Não quero descobrir tão cedo.
— PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI! ME AJUDA — O grito da
Rayka traz um sorriso para meu rosto. Por enquanto estamos bem.
— Não consigo abotoar minha calça. — Esbraveja, olhando com
raiva para o botão. Não consigo não sorrir. — PAI! — reclama,
cruzando os bracinhos.
— Desculpa. — Ergo os braços em rendição e ela me olha
desconfiada, mas aceita e aponta de novo para o botão que não
consegue abotoar.
A ajudo a terminar de se vestir e faço as duas tranças que ela
escolheu para hoje. Átila aparece já pronto e de mãos dadas com
meu pai segundos depois. Os dois estão com roupas combinando,
uma fofura. Rayka pega a mão do irmão e para na frente do
espelho, admirando o conjunto azul que escolheram.
— Estamos lindos, não é, pai? — Me dá um sorriso banguela. O
mais fofo do mundo. A presa da parte de baixo caiu ontem enquanto
ela comia um pedaço de pão. Rimos muito com o dentinho pregado
na massa.
Pego o celular os dois fazem pose para a foto.
— Estão perfeitos, amor. — Beijo a testa dos dois.
— Prontos? — minha mãe pergunta, encostando no batente ao
lado do marido.
— Prontos — respondem juntos.
— Então vamos que já tem convidados esperando por vocês.
Eles saem empolgados de mãos dadas e passam correndo na
frente dos meus pais.
— O tempo está passando tão rápido — minha mãe lamenta
encostada no peito do meu pai.
— Está — concordo ao me enfiar no meio dos dois e ganho
carinho.
— Menino abusado. — Papai finge reclamar, mas me abraça
mais apertado.
Beijo o rosto deles e saio para o quintal também. Dona
Madalena não mentiu quando disse que já tinha gente esperando.
Quase todos os nossos convidados já chegaram, menos a que mais
quero que chegue.
Passo bons minutos cumprimentando todos e chamando os
gêmeos para fazer o mesmo quando consigo. Nós passamos quase
um ano organizando essa festa para sair do jeitinho que os dois
queriam. Por um tempo, achei que não conseguiria, mas graças a
Deus, deu tudo certo.
A decoração é uma mistura engraçada entre Os Incríveis, Como
Treinar o Seu Dragão, Toy Story e os filmes da Barbie. Alugamos
um pula-pula, carrinho de pipoca, algodão-doce e sorvete. Minha
mãe preparou algumas entradas e está terminando o jantar. Um
picadinho de carne de dar água na boca de qualquer um. Um que a
chaveirinho do capeta comeria com gosto.
Olho para o portão no exato segundo em que ela para nele,
como se algo dentro de mim soubesse quando ela está por perto.
Ela está com duas sacolas grandes — quase do seu tamanho —
nas mãos e olha para os lados parecendo perdida, mas por fim me
encontra e fixa seus olhos nos meus. Meu estômago esfria e me dá
aquela sensação de mil borboletas voando dentro dele.
Ana está linda.
Está com uma calça jeans justa, acho que nunca a vi de jeans.
Confesso que estou curioso para ver como sua bunda está nela.
Aposto que está uma delícia. A blusa é da minha cor favorita, de
manga longa larga e está enfiada no cós da calça de um jeito bem
estiloso. O tênis é vermelho também, o cabelo está preso em um
rabo alto e usa os mil acessórios que adora.
Tenho certeza que estou babando. Ana Brandão tão simples e
na minha cor favorita, é algo de outro mundo.
Sabe o que eu queria? Ir até ela, fechar minha mão na sua nuca
e trazer sua boca para minha.
O que eu faço? Ando até ela, apoio minha mão na sua cintura,
sorrindo quando ela estremece e beijo seu rosto. SEU ROSTO.
Queria a boca, mas tenho que pedir perdão primeiro, não é? E
torcer para ela aceitar.
— Oi. — Ainda não a soltei.
— Oi. — Ela também não se afastou. Isso significa que há
esperança, certo?
— Estou feliz que veio. — Acaricio sua cintura por cima da
blusa.
— Também estou. — Sorri de lado e meu coração dispara.
— A gente pode conversar? — Dou um passo para frente sem
tirar meus olhos dos seus. — Por favor.
Ela respira fundo.
— Tudo bem.
Meu sorriso não tem nem tamanho agora.
— TIA ANAAA! — Somos interrompidos por duas crianças muito
felizes com a presença da baixinha.
Rayka e Átila se agarram nas pernas dela com tanta rapidez
que a desequilibram. Firmo sua cintura e seguro os dois furacões,
impedindo o tombo. Ela agradece e se agacha, abraçando-os e
mostrando o conteúdo das sacolas com a maior paciência e carinho
do mundo.
Espio e sorrio ao ver que ela acertou em cheio nos presentes.
Uma casa da Barbie acompanhada da boneca e uma coleção de Os
Incríveis. Eles sorriem de orelha a orelha, o que a faz sorrir também.
Eu me derreto todo.
É cedo para falar que não me importo de viver essa cena pelo
resto da minha vida?
— Vem brincar com a gente. — Rayka agarra a mão dela
quando se levanta.
— Temos que colocar os presentes na mesa primeiro, Ray —
Átila lembra.
— O papai coloca — rebate e se vira para mim com os olhos
mais pidões do mundo. — Você guarda pra gente, papai? Por favor.
— Guardo, amor.
Ela me manda um beijo e pego no ar, a fazendo dar uma
risadinha antes de sair arrastando Ana para longe de mim. Fui
roubado pela minha própria filha. Espero Átila ir junto, mas ele fica.
— Não vai com elas?
— Vou te ajudar primeiro, papai.
Concordo para não o decepcionar, mas já pensando em uma
forma de fazê-lo pensar que está me ajudando sem ajudar de
verdade. Com certeza as sacolas estão pesadas para ele e se
arrastá-las no chão, pode estragar.
— Pode ir na frente e ajeitar um espaço na mesa para elas? —
Peço e ele concorda, já correndo.
Pego os presentes e ando atrás dele com um sorriso que não
quer sumir de jeito nenhum.
— Pronto. Agora pode ir brincar, filho. É sua festa, tem que se
divertir.
Bagunço seu cabelo de brincadeira e ele me olha com cara feia,
ajeitando os fios e o óculos, e em seguida vai até o pula-pula atrás
da Ray. Observo de longe Ana ajudá-lo a tirar o tênis e entrar no
brinquedo. Ela fica olhando os dois por todo o tempo que pulam e
depois os ajudam a descer e calçar os sapatos de novo, dando as
mãos e seguindo para o próximo lugar que querem ir.
Rayka e Átila não desgrudam dela, que os leva em todos os
brinquedos com um sorriso enorme no rosto. Eles se empanturram
de doce a noite inteira e fico de longe observando feito bobo, com
um sorriso maior que o dela. Se fosse de açúcar, já tinha virado
melado a essa altura. Estou rendido nos três juntos, totalmente
rendido.
Minha mãe anuncia o jantar e Ana me ajuda a colocar os dois
sentados à mesa. Antes que eu possa entrar na fila para servir o
jantar para eles, minha mãe chega equilibrando três pratos.
— Filho, pode ir na cozinha com a Ana pegar mais pratos? Acho
que os que trouxe não vão ser o suficiente. — Olho para o montante
na mesa ao lado das panelas. Duvido muito que falte pratos com
aquela quantidade ali. — Anda logo, Leopoldo. Os convidados vão
comer na mão? — Finge estar irritada, mas nem disfarça o sorriso
de quem está aprontando. — Você pode ajudá-lo, né, querida? —
Pede com doçura para Ana. A fingida até pisca os cílios.
Prendo a risada e olho para Ana que também está se
segurando para não rir. Minha mãe não engana ninguém, nem se
tentar. Porém, dessa vez, vou me lembrar de agradecê-la depois.
Quero um tempo sozinho com a escaladora de meio-fio.
— Posso sim, Madalena.
— Obrigada, meu amor. — Sorri. — Agora, quem está com
fome? — Se vira para os netos e nos dispensa com a mão.
Apoio minha mão nas costas da morena e andamos para dentro
da casa que está convenientemente vazia. Como já imaginava, não
tem prato na cozinha ou nos armários, minha mãe levou todos para
fora. Ana dá risada quando percebe o mesmo que eu.
— Ela nem tenta disfarçar — comento rindo também.
— Pelo menos sei de quem puxou sua cara de pau.
— Minha cara de pau? — Coloco a mão no peito fingindo estar
ofendido.
— Uhum. — Seus olhos estão brilhando em diversão. — Está
no sangue não ter vergonha na cara.
— Não é falta de vergonha na cara, é determinação. Nós
sabemos o que queremos e vamos atrás. — Ela balança a cabeça
ainda sorrindo. — Podemos conversar agora? Se quiser jantar, vou
entender, mas pensei em aproveitar que te deram uma folga para te
roubar um pouquinho.
— Podemos.
— Vem comigo. — Agarro sua mão. — Aqui alguém pode nos
interromper para pegar alguma coisa que minha mãe realmente
tenha esquecido.
Penso em levá-la para meu quarto para termos mais
privacidade, mas não tenho certeza de como ela se sentiria com
isso e não quero arriscar, então vou para a sala.
Estou ansioso demais para sentar, mas aponto para o sofá caso
ela queira. Ela nega e cruza os braços, me olha e espera eu falar.
— Perdão. Fui um babaca com você. — Ana ergue a
sobrancelha, não falar nada. Passo a mão pelo cabelo, todo
nervoso. — Sei que não tem justificativa, fui um idiota e pronto, mas
posso explicar o que me fez agir daquele jeito?
— Explica.
Não descruza os braços e também não dá nenhum sinal de que
vai aceitar minhas desculpas. Só fica quieta esperando.
Custava ter pelo menos uma reação? Mesmo que fosse mínima.
— Não te contei muito sobre a mãe dos meninos, então vou
começar daí. Quer sentar? É uma longa história. — Ela nega e
respiro fundo tentando acalmar um pouco as batidas
descompassadas do meu coração. — Não fiz parte dos primeiros
cinco anos da vida deles. — Nunca vou superar isso. Seu rosto se
contorce em espanto. — Já deve ter feito as contas e descoberto
que fui pai na adolescência — brinco para amenizar o clima pesado,
ou pelo menos tentar. — No ensino médio, estudei em um colégio
particular com 100% de bolsa, fiquei com várias garotas e uma
delas foi a Alice. Para ser sincero, depois que transamos, nunca
mais falei com ela. Ela saiu do colégio pouco tempo depois e mal
notei. Sempre usei camisinha, então nunca me preocupei. Se
tivesse me aproximado mais ou sei lá, dado um pouco mais de
atenção, talvez a história fosse diferente, mas não foi. Entramos na
margem de erro e Alice engravidou, ela tinha tanto medo da mãe
tomar os bebês dela, que acabou fugindo. Não me contou que
estava grávida, não pediu minha ajuda, só fugiu para Santa
Catarina. — Respiro fundo, meu peito comprimido com a vontade de
chorar ou construir uma máquina do tempo para mudar isso e ser
presente com meus filhos desde o segundo do seu nascimento. Ela
espera pacientemente até que eu volte a contar. — Lá, ela
conheceu a Mari e a família dela, eles a adotaram para a família,
bem como os bebês na barriga dela. Alice se estabilizou com a
ajuda da família da Mari e viveu cinco anos bem, até que
desenvolveu câncer de mama. Ela tinha uma rotina muito corrida
entre trabalhar e cuidar dos meninos, então ignorou todos os
sintomas, e quando finalmente foi ao médico, não tinha muita coisa
que eles pudessem fazer. Não demorou muito para que ela
falecesse depois disso. Porém, nos últimos dias de vida, ela contou
à Marina quem era o pai dos gêmeos e onde me encontrar. Pediu
para ela me procurar e me dar uma chance de conviver com os
gêmeos, mas que se visse que eu não os merecia, só pedisse
minha ajuda para adotá-los. Mari veio me procurar pouco tempo
depois que ela morreu. Foi um susto gigante e não acreditei no
início. — Ela revira os olhos com um sorriso de canto. — Antes que
me julgue, lembra que sempre usei camisinha. Quem é que espera
estar na margem de erro? Ninguém.
“Ela nem me ofereceu a opção de ficar com eles de início, só
me contou o que aconteceu com a Alice e falou que precisava que
eu fizesse o teste de paternidade para dar a guarda para ela e para
não correr o risco da Eugênia descobrir sobre eles e tentar tomá-los.
Ela e meus filhos desapareceriam assim que tudo fosse resolvido.
Eu não queria ser pai, estava com 21 anos, querendo viver como
DJ, sem vontade nenhuma de estudar e ainda dependia totalmente
dos meus pais. Mas quando vi aqueles rostinhos, me apaixonei.
Rayka se colocou na frente do irmão para protegê-lo quando foquei
minha atenção neles, e bem ali eu soube que não os deixaria ir
embora.”
Sorrio com a lembrança e ela também. Então continuo a contar
como meus pequenos entraram na minha vida.
— Marina decidiu se mudar para São Paulo para ficar perto dos
meninos e me ajudar com tudo. Depois que ela me testou de todas
as formas possíveis, eles vieram morar comigo, foi complicado nos
primeiros meses. Ambos sentiam muita falta da mãe, eu era um
completo estranho, Rayka não se abria de jeito nenhum… Mas com
paciência, carinho e muito amor, fomos nos tornando uma família. E
a doida da madrinha deles, que me odiava no começo, se tornou
minha melhor amiga.
— A história de vocês é linda. — Sorri abertamente e concordo.
— Como a Eugênia entrou nessa história?
— Segundo ela, quando a Alice fugiu, ela achou que era uma
mera birra e não se preocupou, mas conforme os anos foram
passando e as desculpas que dava aos amigos e à diretoria da
empresa foram ficando escassas, ela decidiu encontrar a filha e
quando soube a respeito dos netos, decidiu que eles teriam uma
vida melhor com ela. Ela apareceu aqui em casa há alguns meses,
falou que eu não era o suficiente para meus filhos. Tentou me
comprar para deixá-los morar com ela e ameaçou usar dinheiro e
influência para tomá-los de mim quando não aceitei. — Sinto a raiva
fervendo meu sangue de novo. — Depois sumiu, mas o medo ficou.
Marina e eu estamos estudando cada possibilidade que ela tem de
conseguir cumprir a ameaça. Sabemos que nesse país o dinheiro
manda muito. — Ela assente. — Quando você nos defendeu no
hospital, Eugênia se sentiu ameaçada. Recuou para você, enquanto
de mim ela só zombava. Eu me senti impotente, um nada, senti que
não era o suficiente para proteger meus filhos dela. E sei que não
tem nada a ver com isso, mas acabei descontando os meus
sentimentos em você. Joguei em cima de você porque não estava
sabendo lidar com eles, entende? Sinto muito mesmo. Você não
merecia a forma como te tratei.
— Entendo. Entendo de verdade. Sim, não justifica, mas
consigo entender melhor o porquê virou um babaca de uma hora
para outra. — Seu tom é tranquilo, porém não me tranquiliza. Estou
esperando o “mas.” — Mas de certa forma, me abriu os olhos. —
Não falei? Merda. — Nós falamos que seria só sexo até enjoarmos
um do outro, mas obviamente algo deu errado. Porque não só não
enjoamos, como fomos para um piquenique em família e entrei em
uma briga que não devia, para proteger vocês. No fundo, eu já sabia
que não era só sexo, não tinha como ser, não com todas as nossas
conversas, nossas risadas. Se fosse só sexo, por que ficaríamos na
cama por horas só curtindo a companhia um do outro depois de
gozar? Mas não tinha me dado conta do quão envolvida estava até
você me machucar. — Ela sorri, mas não é de verdade, assim como
o sorriso que tento esboçar. Ela está terminando comigo? E esse
aperto estranho no peito? — Eu te desculpo, Leopoldo. E quero
pedir desculpa também por não te dar espaço para se explicar
antes. Só estava magoada e achei mais fácil te cortar do que dar
uma chance. Foi imaturo da minha parte.
— Está desculpada. — Interrompo, esperando que deixe o
porém que ainda tem para trás. Não funciona.
— Agora que resolvemos essa parte, quero oficialmente
encerrar nosso relacionamento sexual. Não acho que seja bom
continuar porque já…
— Como é? — Interrompo de novo, dessa vez, sentindo a
irritação se infiltrar em cada poro da minha pele. — Oficialmente
encerrar? É sério? Não sou a porra de um contrato, Ana. — A
aflição me consome e dou um passo para mais perto dela. Ela não
se move, só ergue ainda mais a cabeça para não perder o contato
direto com meus olhos e me encara se estressando. Ela fala merda
e ainda tem a audácia de ficar estressada?
— Não sou vaca para falar comigo nesse tom. — Esbraveja.
— Não está parecendo muito diferente de uma agora. — Seus
olhos faíscam.
Foda-se se acho uma graça seu bico irritado.
Ela. Está. Me. Tratando. Como. A. Porra. De. Um. Contrato.
Caralho.
Babaca.
Babaca.
Babaca.
Está sendo um babaca de novo e não tem dois minutos que se
desculpou.
Um babaca burro ainda por cima. Não o tratei como contrato, só
estava usando minha educação, coisa que aparentemente ele não
conhece.
Ele me chamou de vaca.
VACA.
Respira, Ana.
Réu primário.
Maturidade
Respira.
— Não estou te tratando como um contrato, Leopoldo. Só estou
tentando falar que é melhor pararmos por aqui para não piorar as
coisas. — E eu não me apegar mais e tomar no cu quando enjoar
de mim.
— Não? — Ri sarcástico. Será que a Rayka ficaria muito triste
se eu enfiasse a casa da Barbie na bunda do pai dela? Acho que
sim, infelizmente. — Oficialmente encerrado é o que, Ana Brandão?
Hum?
— EDUCAÇÃO! — Berro, perdendo a paciência. Fico na ponta
dos pés e enfio o dedo no seu peito, ele segura meu punho, me
deixando mais puta ainda. — É um termo desconhecido para você,
porque enfiou a sua no cu!
— Educação seu rabo, mentirosa. Você me tratou como
contrato porque não é mulher o suficiente para assumir que está
com medo de se envolver. — Que vontade de arrancar esse sorriso
arrogante no tapa.
Convencido do caralho.
— Babaca arrogante!
Enfio o outro dedo no seu peito, olhando para cima, possessa
de raiva e ele me encara do mesmo jeito, os olhos cintilando. Ele
bufa e o ar quente me atinge.
Quando foi que ficamos tão perto?
— Uhum. — Zomba, ainda segurando meu pulso e agarra meu
queixo, levantando minha cabeça ainda mais para cima. Acho que
rosnei, mas nós dois ignoramos. — Sou um babaca arrogante, mas
estou mentindo, Ana? — Que vontade de falar que está. —
Responde, vaquinha — provoca com o sorriso de quem está puto. O
Átila é mais compreensivo, tenho certeza que vai me emprestar seu
Senhor Incrível se eu pedir… — Estou mentindo?
— Vaquinha é seu…
Não consigo terminar, porque Leopoldo me agarra. Ele pega
minha nuca e bate sua boca na minha com brutalidade.
Porra, que pegada gostosa.
Não dava para ser ruim não? Puta que pariu, viu.
Sua língua não pede permissão, ela invade minha boca e a
domina. Assim como seu corpo rende o meu.
No fundo da minha mente, tem uma vozinha quase inaudível me
lembrando do motivo pelo qual não deveríamos estar nos beijando
agora, mas quem liga? É bom demais para parar.
Liberto meu punho do seu agarre e me penduro nele, enlaçando
seu pescoço e ficando ainda mais na ponta do tênis. Nos beijamos
com raiva, gana e saudade. Tanta saudade. Leopoldo aperta minha
bunda com força, com certeza deixando seus dedos gravados na
minha pele e arfo na sua boca.
Puxo seu corpo mais para mim com necessidade e me irrito
quando não consigo me pressionar o suficiente. Ele ri na minha
boca e me ajuda a escalá-lo até minhas pernas estarem ao redor do
seu quadril e minha boceta pressionando seu pau.
Nossa que tesão.
— Escaladorazinha. — Implica sem deixar de me beijar e é a
minha vez de rir na sua boca. — Faz isso de novo. — Grunhe,
apertando minha bunda.
— Isso o que? — Abro os olhos e ele também.
— Sorrir assim. — Meu sorriso é automático, o dele também. —
Caralho que saudade que eu estava dessa boca atrevida. — Me
morde até sentirmos gosto de sangue. Também senti falta disso. Da
dor misturada ao prazer. Ele desce os beijos e mordidas para meu
pescoço e jogo a cabeça para trás, totalmente entregue. — Que
saudade de ver sua pele vermelha assim. — Morde meu colo e me
esfrego nele.
Continuo me esfregando e ele me ajuda rebolando, mas não é o
suficiente para nenhum de nós dois. Tem muito tecido entre nós.
Fico irritada de novo.
— Bico mais lindo. — Morde minha boca. — Toda vez que ele
aparece quero morder.
— Sério? — Fico curiosa. Ele concorda. — Mesmo quando quer
me matar? — brinco.
— Mais ainda quando quero te matar.
Sorrio e puxo sua boca para minha de novo. Nem de longe tive
o suficiente dele.
— Quero você dentro de mim. — Ele geme. Fico com mais
tesão ainda. — Agora, Leopoldo.
— Chaveirinho do capeta mandona. — Mordisca meu lábio e
me segura com mais firmeza, andando para algum lugar que não
consigo ver porque estou muito ocupada beijando o pescoço dele e
enfiando minhas mãos por dentro da sua camiseta.
Ele abre e fecha uma porta e me encosta em algo duro. Fico
curiosa e olho ao nosso redor, dando risada ao ver que estamos na
despensa e estou encostada em uma espécie de prateleira.
— Sério?
— Foi o primeiro lugar que consegui pensar. — Dá de ombros.
— Quer ir para o quarto? É o cômodo mais longe daqui.
Nego.
— Aqui está ótimo.
Ele me dá mais um dos seus sorrisos arrogantes antes de voltar
a me beijar com voracidade. Arranco sua camisa e ele faz o mesmo
com a minha, sem parar de me devorar. Tiro meu sutiã e sua
atenção se volta toda para as minhas duas azeitonas, chupando-as
com vontade.
— Gostosa. — Finco minhas unhas nas suas costas e ele
estremece. — Caralho, Ana.
Desabotoo minha calça e me contorço no seu colo, tentando me
livrar dela. Por que decidi vir com algo tão apertado logo hoje?
— Não vai conseguir tirar sem descer, nervosinha — fala dando
risada do meu contorcionismo. Mordo seu ombro, ele grunhe. —
Isso era para ser um castigo? Porque só me deixou com mais tesão.
— Safado.
— Você gosta.
— Gosto.
Ele me desce e se ajoelha na minha frente, arrastando a calça
pelas minhas pernas e apalpando cada pedaço de pele no
processo. Leopoldo olha com fome para minha boceta ainda coberta
pela calcinha preta e lambe os lábios. Esfrego as coxas, sentindo-a
pulsar e ficar ainda mais encharcada.
Enfia dois dedos dentro da minha calcinha e acaricia minha
boceta, me fazendo estremecer.
— Está pingando, linda. — Brinca com minha entrada, minhas
pernas perdem um pouco as forças e ele usa a outra mão para me
apoiar. Tira os dedos de dentro de mim e coloca-os na boca,
sugando e lambendo com vontade. Caralho. — Deliciosa. — Beija
meu ventre e continua beijando e subindo até alcançar a parte de
baixo do meu peito onde fica mais um tempo, me fazendo arfar alto.
— Para de enrolar, Leopoldo. — Esbravejo segurando seu
cabelo e forço sua cabeça para trás para me olhar, perco o rumo por
um momento.
Leopoldo Marinho de joelhos com os olhos nublados de tesão é
uma visão do caralho.
— O que você quer? — Desce a mão para o meio das minhas
pernas e passa os dedos para cima e para baixo por cima do tecido.
— Você sabe o que eu quero — retruco, encostando na
estante.
— Sei, mas quero te ouvir pedir — responde presunçoso.
— Arrogante.
— O que você quer, linda?
— Quero você dentro de mim me fodendo com força. — Ele
aperta minha boceta, fechando os olhos e gemo alto.
— Shhh! Vou te foder do jeito que quer, mas tem que ficar
caladinha, amor.
Amor.
Prendo a respiração.
Ignoro as borboletas no estômago, ele deve ter falado no calor
do momento. Às vezes saem coisas sem querer quando estamos
com tesão. Às vezes sentimos coisas que não são verdades
também. É só isso.
Leopoldo pega minha calcinha com os dentes e a tira com a
ajuda de uma das mãos enquanto a outra estimula meu clitóris. Nem
lembro mais o porquê fiquei tensa.
— Humm! — Fecho as pálpebras quando enfia um dedo dentro
de mim.
— Abre os olhos. — Manda, metendo outro dedo e me
masturbando devagar, mas sem parar de pressionar o polegar no
meu clitóris.
Passa a língua pela minha virilha, me enlouquecendo e sorri
antes de parar tudo e se levantar. Não contenho o xingamento,
arrancando uma risada gostosa dele.
— Quero que essa boceta esmague meu pau quando você
gozar, linda.
Ele levanta sem tirar os olhos de mim e tira a calça e a cueca,
expondo o pau grosso e gostoso. Mordo a boca, salivando de
vontade de colocá-lo na boca.
— Depois — fala, entendendo meu olhar.
Concordo e pulo no seu colo, ele ri e agarra minha bunda. Seu
pau se encaixa certinho na minha entrada e nós dois gememos.
Chupo seu pescoço, arrastando minhas unhas devagar pela sua
nuca, adorando quando seu corpo estremece. Rebolo ajudando seu
pau a entrar e arfo quando ele me penetra devagar.
Tortura do cacete.
— Porra. — Quase chora e sai de dentro de mim de uma vez.
— O que foi?
— Não tenho camisinha aqui. — Juro que parece que ele vai
chorar e não julgo porque também estou quase. — Só no quarto.
Evito perguntar o porquê tem camisinha no quarto. É uma
péssima hora para ser ciumenta.
— Qual a chance de irmos até lá sem ninguém nos ver? — Ele
enfia a cabeça no meio dos meus peitos e choraminga.
— Mínima.
Respiro fundo, tendo uma ideia bem sem noção, mas já fizemos
uma vez, o que custa duas?
— Você ficou com alguém depois que brigamos?
— Não.
Meu ciúme agradece. Prendo um sorriso e ele revira os olhos.
— Eu também não. Fiz exame esse mês e está tudo certo com
o DIU.
Os olhos dele brilham.
— Vamos fazer isso de novo?
— Você quer?
— Estou louco para sentir essa boceta apertada.
— Então mete logo, pivete. — Rebolo de novo tentando fazê-lo
entrar em mim.
— Tem certeza?
— Leopoldo! — Rosno.
Ele gargalha e me beija, penetrando de uma vez.
Leopoldo se divide entre me foder com força e dar estocadas
lentas e profundas sem nunca parar de me beijar.
— Nossa, que saudade! — Suspira na minha boca. — Quero
meter nessa boceta pra sempre, Ana. Nada nunca vai ter tão... —
Sai e entra devagar, olhando seu pau sumir dentro de mim
centímetro por centímetro. — Perfeito. — Geme. — Nada nunca vai
ser tão bom, linda.
— Não, nada vai ser — concordo, fincando minhas unhas nos
seus ombros quando ele rebola e atinge um ponto dentro de mim
que me faz ver estrelas. — Porra, Leopoldo.
Ele sai e entra de novo e de novo, voltando a estocar com força
e me fazendo gritar.
— Não grita, linda. — Beija minha boca, roubando meu gemido.
Quanto mais perto chegamos do orgasmo, mais bruto ele mete,
me enlouquecendo. Rasgo suas costas, ele me prensa entre ele e a
estante e fecha a mão no meu pescoço, devorando minha boca e
usando a outra mão para me empurrar contra ele, aumentando o
atrito delicioso entre nossos corpos.
— Não para. — Choramingo, tão perto de gozar.
— Gostosa. — Rosna na minha boca, fodendo com força,
também perto de chegar lá.
— PAPAAAAAAI!
O grito da Rayka quase me mata de susto e no desespero de
descer do colo do Leopoldo, esbarro em uma das estantes com
força o suficiente para derrubar algo lá de cima. É um fodido papai-
noel que para terminar de foder comigo, começa a cantar.
Puta merda.
Puta merda.
“Jingle bell, jingle bell, jingle bell rock
Jingle bells swing and jingle bells ring
Snowing and blowing up bushels of fun
Now the jingle hop has begun”
Dizem que seu primeiro beijo do ano é com quem vai ficar o ano
inteiro.
Não acreditava nisso até conhecer a Ana. Até o nosso beijo.
Há um ano, estava beijando o amor da minha vida e apesar de
fingir que não, lá no fundo eu sabia que aquele beijo ia mudar tudo.
Não tinha como não mudar. Não tinha como não me apaixonar pela
minha chefe rabugenta. Não tinha como Ana Brandão não ser o
amor da minha vida.
— PAPAAAAI! — Rayka grita do meu quarto e corro para lá com
meu filho atrás de mim. — Não tô conseguindo fechar o zíper da tia
Ana — conta frustrada. — Precisamos da sua ajuda.
Nós nos dividimos em dois quartos para nos arrumar para a
festa deste ano. Meninas em um quarto, meninos em outro. Átila e
eu ficamos prontos há mais de 40 minutos, e as moças continuaram
trancadas aqui.
— Deixa eu ver o que aconteceu — peço e ela se afasta, me
dando espaço.
Olho para minha mulher no espelho e encontro seu sorriso. Ana
é toda sorrisos agora.
Sorrisos que se tornaram meu lar.
Não que o capeta escondido no seu corpo tenha sumido, ela
continua arremessando tudo que pode na minha direção, mas seus
sorrisos são mais frequentes agora, mais ainda quando estamos
com a nossa família.
Desemperro o zíper e fecho com cuidado para não machucar.
Só eu posso marcar sua pele.
Ela está linda.
Deslumbrante.
O cabelo preto está solto, batendo abaixo da cintura, os olhos
mel destacados por uma maquiagem leve e a boca que amo beijar
pintada da minha cor favorita, que também é mesma cor do vestido
modelando seu corpo. Ana usa muito mais vermelho agora também.
Seja para me enlouquecer ou para me deixar feliz…
— Está linda, amor.
— Você também está um arraso.
— E eu? — Rayka chama nossa atenção.
Ela pega minha pequena no colo e senta na cama, chamando
Átila para sentar também.
— Vocês dois são as pessoas mais lindas que já vi — fala toda
apaixonada e me deixa ainda mais rendido. — Já falei que amo
vocês hoje?
— Dez vezes — Átila conta sorrindo. — Mas não me importo se
quiser falar de novo. — Balança os ombrinhos.
— Eu também não.
— Eu amo vocês. — Beija o rosto deles.
— A gente também te ama — respondem juntos.
Um latido atrai nossos olhares para a porta e todos damos
risada ao ver a Mel toda pomposa para o Ano-Novo também. Ana e
os meninos escolheram uma saia rodada brilhosa e transparente
para ela e um lacinho na mesma cor.
Ela se enrosca nos meus pés e pula, arranhando minha perna,
pedindo colo. Ana sorri para nós dois. Mel e eu nos tornamos os
melhores amigos que poderíamos ser. Tenho certeza que minha
baixinha às vezes fica até enciumada com nosso relacionamento.
Ela gostava de ser o centro do universo da vira-lata. Bom, azar o
dela, agora ela tem que dividi-la comigo também.
— Eu poderia ficar aqui o resto da noite — falo.
— Sei que sim e eu também, mas temos pessoas importantes
esperando por nós.
Sim, nós temos e é por isso que agarro as mãos das pessoas
mais importantes da minha vida e seguimos para a garagem. Depois
de conferirmos se os meninos estão seguros, dou partida para a
casa dos meus pais.
Para ser sincero, estou um pouco nervoso e Ana percebe isso,
colocando a mão atrás do meu banco e arrastando as unhas com
carinho pela minha nuca.
— Vai dar tudo certo — garante.
— Vai sim.
— A gente vai conhecer a vovó nova hoje? — Rayka pergunta
curiosa.
Olho para os dois pelo retrovisor e apesar de Átila não falar
nada, seus olhos também estão brilhando com a curiosidade.
— Vão sim, amor — Ana responde sem parar de fazer carinho
em mim. — Ainda querem conhecê-la?
— Sim — respondem e respiro fundo.
Espero que realmente dê tudo certo.
Depois de muita conversa e consideração, Ana me convenceu a
ligar para Eugênia e tentar conversar mais uma vez, mas como
pessoas civilizadas dessa vez. Ela foi uma bruxa, mas no fundo,
acho que tudo que queria era ter contato com os netos. Foram
longos meses de negociação em que não só deixei, como pedi para
Ana participar de tudo e usar toda a influência que pudesse para
proteger nossa família.
Foi complicado, intenso e difícil, mas no final, conseguimos
chegar a um acordo e assinamos um contrato para isso. Não confio
completamente na Eugênia, ainda temos um longo caminho pela
frente. Então um contrato legal foi a melhor forma de deixar que ela
pudesse fazer parte da vida deles e garantir a segurança da minha
família.
Eles não lembram muito da mãe, mas o que lembram é o
suficiente para fazê-los sentir saudade de ter uma parte dela nas
suas vidas, é aí que Eugênia entra.
Quando chegamos, vejo o carro da Eugênia já estacionado.
Respiro fundo mais uma vez e descemos os meninos, entrelaçando
nossas mãos de novo. Nós quatro sempre estamos de mãos dadas.
Entramos e encontramos meus pais conversando com Eugênia
enquanto Marina está em um canto com Ágata, olhando
desconfiada para a velha. Não julgo.
— Boa noite! — Cumprimento, chamando a atenção de todos.
Eugênia nos olha e parece um pouco menos bruxa hoje. Seus
olhos descem para as pernas da Ana que escondem meus filhos.
Sorrio com a lembrança de vê-los exatamente assim com Marina
quando me conheceram.
Mel está na frente dos três, olhando desconfiada para a nova
pessoa no nosso meio, e sei que qualquer movimento mais brusco
na direção deles, ela vai atacar Eugênia, então me agacho na altura
deles, pego a cadela no colo e mostro a avó para os gêmeos,
deixando que se sintam confortável e deixem sua zona de
segurança no tempo deles.
Demora quase 15 minutos para saírem das pernas da minha
namorada. Ignoro a estranheza que a palavra namorada me causa,
parece tão errado chamar Ana só disso. Ela é muito mais.
Átila segura na mão dela e a leva junto com ele para perto da
Eugênia e Rayka observa, ainda ressabiada, mas ficando
estrategicamente na frente do irmão, como sempre.
— Você é a Eugênia? — Átila pergunta e a velha assente com
os olhos cheios de lágrimas.
— É a mãe da minha mãe? — Rayka questiona também.
— Sou — ela fala com a voz embargada. — Mas podem me
chamar de vovó se quiser. — Eles não respondem. — Trouxe
presentes. — Pega uma sacola, atraindo o olhar da minha filha. —
Fiquei sabendo pelo seu pai que vocês dois amam assistir filmes e
sentem muita falta da mãe de vocês. Então trouxe algumas
filmagens que tenho de quando ela era pequena. Vocês gostariam
de assistir depois quando chegarem em casa?
Os olhos dos meus filhos brilham mais do que as estrelas estão
cintilando no céu hoje. Eles concordam com sorrisos enormes e
pegam a sacola da mão dela, agradecendo e correndo para mim.
Eles estão felizes. Sorrio, muito feliz também.
— Você escutou, papai? Vamos ver a mamãe quando era do
nosso tamanho! — Átila se empolga.
— Escutei sim, amor. Muito legal, não é?
— Muito mesmo! — Ray concorda. — Tia Ana, você vai assistir
com a gente?
— Cada minuto, meu amor. Aposto que sua mãe era linda igual
vocês dois.
— Também acho. — Minha filha se gaba.
— Vocês cumprimentaram seus outros avós, a madrinha e a tia
Ana? — pergunto e eles negam, surpresos por terem esquecido. —
Então vão lá.
Rayka e Átila saem de mãos dadas tagarelando com todo
mundo na sala e deixando nós três para trás.
— Viu? Falei que ia ficar tudo bem. — Ana encosta o queixo no
meu peito quando enlaço sua cintura. — Acho que já pode soltar a
Mel, ela parece estar mais tranquila também.
Olho para nossa cachorra e realmente está menos desconfiada,
beijo sua cabeça e a desço com cuidado. Ela corre para cheirar
cada um, demorando mais tempo em Eugênia, mas não faz nada
além de latir e em seguida se junta aos meninos, os seguindo aonde
vão.
— Eu te amo. — Encosto nossas testas Ana e agradeço em
silêncio por ser tão foda. — Obrigada por ter tentado me matar com
aquele salto — brinco, fazendo carinho na sua nuca.
— Obrigada por ter roubado meu Uber.
— Não roubei nada, era compartilhado — rebato sorrindo.
— Eu te amo, Leopoldo Marinho.
Dez…
A contagem regressiva para um novo ano começa e nós
contamos em gritos animados.
Nove….
Sorrio para nossa pequena grande família
Oito…
Rayka e Átila correm com Mel logo atrás e cochicham com a
avó Madalena.
Sete…
Minha irmã me olha com um sorriso gigante.
Seis…
Marina pisca para mim. Leopoldo passa as mãos pelo cabelo
comprido.
Cinco…
Começo a ficar ansiosa. O que eles sabem que eu não?
Quatro…
Leopoldo ajeita a roupa pela milionésima vez. Rayka, Átila e Mel
correm e se entrelaçam nas nossas pernas.
Três…
Me agacho na altura deles para abraçá-los no segundo em que
o novo ano começar.
Dois…
Leopoldo se agacha ao nosso lado e coloca nós quatro dentro
dos seus braços
Um…
Leopoldo se ajoelha e coloca os filhos sentados na perna
dobrada e Mel senta no meio das pernas dele. Os três se viram para
me olhar com sorrisos idênticos e covinhas rasgando suas
bochechas.
Ele vai…?
— TIA ANA, VOCÊ QUER CASAR COM NOSSO PAPAI? —
Gritam no mesmo segundo que os foguetes estouram no céu. Mel
late junto com eles, mas em seguida se esconde dos foguetes nas
pernas do Leopoldo.
Casar.
Porra.
Leopoldo está me pedindo em casamento.
Tum.
Tum.
Tum.
Tum.
Já falei que vai nos matar se continuar acelerado desse jeito,
coração.
— Quer ser minha esposa, nervosinha? — Leopoldo pergunta
com aquele sorriso que me derrete, abrindo uma caixinha vermelha
com duas alianças douradas dentro dela. O formato delas me
chama atenção e examino, gargalhando ao ver que são o Banguela
e a Fúria da Luz. — Átila me ajudou a escolher — conta. — Rayka
também, mas ela queria algo bem brilhante como os solitários nos
filmes.
— Claro que ela queria — brinco.
— Não me respondeu, amor — me lembra. — Quer casar
comigo e jogar coisas na minha cara pelo resto das nossas vidas?
Gargalho, me sentindo a mulher mais feliz do mundo.
— Claro que quero, bobo da corte. Acha mesmo que vou perder
a oportunidade de jogar um salto nesse rostinho lindo?
— É um sim, tia Ana? — Átila pergunta.
— É sim, meu amor. Quero mais do que tudo casar com o papai
de vocês e continuar com a nossa família.
Eles gritam empolgados e me abraçam antes de sair para
comemorar com o resto da família que também está gritando, Mel
vai atrás deles, mas nem me importo em tentar olhar para eles.
Estou presa nos olhos castanhos mais lindos do mundo inteiro.
Leopoldo aproveita a distração dos meninos e me arrasta para a
dispensa do papai Noel.
— Se ele cair na minha cabeça de novo, juro que vou jogar ele
no primeiro lixo que eu ver — ameaço e nós dois gargalhamos.
— Me dá essa mão pequenininha aqui.
Obedeço e ele coloca a aliança, beijando cada um dos meus
dedos. Pego sua mão e coloco a dele também, sorrindo abobada.
Estou noiva!
Sorrimos um para o outro e fico na ponta dos pés para beijá-lo,
me irritando quando não o alcanço do jeito que quero. Como
sempre, ele dá risada da minha irritação antes de morder meu bico
e me pegar no colo. Enfio minhas unhas na sua nuca e ele aperta
minha bunda com força, provavelmente deixando a marca dos seus
dedos ali.
— Já te falei que amo quando usa vestido? Fica tão fácil me
enfiar aqui. — Geme, enfiando os dedos na minha calcinha já
encharcada.
— Safado — acuso rindo.
— Só com você, amor.
— Acho bom mesmo se quiser continuar com seu pau.
— Ciumenta. — Chupa meu pescoço e mete dois dedos em
mim de uma vez.
Mordo a boca com força para não gemer alto e ele continua me
fodendo com os dedos, me enlouquecendo e roubando cada gemido
meu com um selinho.
— Eu te amo — me declaro enquanto gozo nos dedos do amor
da minha vida.
— Eu te amo também. — Tira os dedos de dentro de mim e
chupa com vontade.
Leopoldo me encosta em uma estante — que não é a do papai-
noel — e toma minha boca para ele de novo, me rendendo ao seu
beijo, dominando minha língua e me dando mais um beijo da minha
nova coleção.
Os melhores beijos da minha vida.
O meu era uma vez.
O meu início feliz.
— ISSO É TUDO CULPA SUA! — Berra o amor da minha vida,
enquanto finca as unhas com toda a força que tem no meu braço,
me arrancando um gemido de dor. Nem eu sei de onde tira tanta
força sendo pequena desse jeito. — TEM UMA MELANCIA
TENTANDO PASSAR PELA MINHA BOCETA, LEOPOLDO! UMA
MELANCIA QUE VOCÊ COLOCOU AQUI DENTRO. — Os médicos
e enfermeiras na sala riem baixinho, mas eu como tenho medo de
morrer, tento me controlar, mordendo as bochechas. — Como uma
melancia vai passar por um buraco tão pequeno, amor? — Chora,
um pouco mais calma quando a contração passa.
— Do mesmo jeito que entrou — brinco, beijando seus lábios e
ela morde minha boca quando a próxima contração vem com força.
Péssima hora para brincadeira? Péssima, mas quem sabe
assim ela se distrai um pouco…
— SEU PAU É UM PALITO DE DENTE PERTO DISSO AQUI —
Rosna me fitando com olhos assassinos. — EU VOU MATAR VOCÊ
ASSIM QUE CONSEGUIR SAIR DAQUI, SEU OVO MOLE DO
CARALHO. MELHOR, VOU ENFIAR UMA MELANCIA NO SEU CU
E VER SE GOSTA!
Dessa vez não consigo me conter e rio junto com a equipe
médica.
— Tudo bem, amor. Prometo que pode fazer o que quiser assim
que colocar nossa filha no mundo. — Beijo sua testa e faço carinho
no seu rosto. Ela respira fundo, com os olhos marejados.
— Estou colocando nossa filha no mundo — murmura
emocionada.
Ana estava grávida no Ano-Novo e nós dois não sabíamos. Foi
uma surpresa quando ela começou a vomitar e ficar ainda mais
irritadiça trinta dias depois que a pedi em casamento.
Estávamos confiando no DIU, o que foi burrice, já que os
gêmeos vieram mesmo com a camisinha. Não deveríamos ter nos
surpreendido tanto assim quando o teste deu positivo, não é? Mas
nos surpreendemos e minha escaladora de meio-fio passou longos
dias digerindo a informação. Não queríamos mais filhos, Rayka e
Átila eram o suficiente para nós dois, ou pelo menos era o que
pensávamos até escutarmos as batidas do coração da nossa
miniatura da Tasmânia pela primeira vez.
— Só mais um pouco de força, Ana. — Incentiva o médico.
Ela obedece, me ameaçando de morte mais algumas vezes e
rasgando cada pedaço da minha pele que encontra com suas
unhas, mas cada segundo vale a pena quando um choro forte
preenche a sala.
— Vai ver se está tudo bem com ela. — Me empurra e obedeço
sem pestanejar.
Ando com pressa até o médico e sorrio ao ver a outra dona do
meu coração. Ana e eu decidimos por um parto mais humanizado,
então não cortamos o cordão umbilical quando a levo para a mãe
pela primeira vez.
— Ela é perfeita — sussurra encantada, as lágrimas de
felicidade escorrendo pelo seu rosto.
Não preciso me olhar no espelho para saber que estou
chorando também.
— Exatamente igual a você — concordo.
Alice Marinho Brandão não parece nenhum pouco com um
joelho. Pelo contrário, é a cópia da mãe, com os cabelos cheios
pretos e os olhos amarelados.
Ela abre um sorriso banguela para mim, fazendo meu mundo
inteiro girar.
— Ela sorriu pra mim — conto embasbacado.
— Ela sabe que o pai dela é o bobo da corte — brinca sem tirar
os olhos do fruto do nosso amor.
Beijo a testa da minha mulher e coloco o dedo na mãozinha da
minha filha, sentindo que estou com metade do meu mundo aqui
dentro desse abraço.