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quaisquer meios ― tangível ou intangível ― sem o devido consentimento. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Esta obra literária é uma ficção. Qualquer nome, lugar, personagens e situações são produtos da
imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas e acontecimentos reais é mera coincidência.
— Eu adoraria não ter que topar com aquela garota na minha sala
novamente, Logan! — Ergo a cabeça, seguindo a voz forte que veio do
corredor.
Levi Johnson, um dos meus melhores amigos desde a minha infância, está
parado, escorado na parede, e me olhava com uma cara de desgosto. Ele
puxa sua blusa do time de natação da Saint Vincent University, tampando
toda a sua pele negra retinta. Josh e Summer aparecem ao seu lado, enquanto
o primeiro caminha até o outro sofá e se joga nele, Summer vai até a cozinha
e tira um suco de dentro da geladeira e quando volta, percebo que está
vestindo uma blusa do Homem de Ferro, que já disse milhões de vezes que
era horrível, mas nunca me escuta. A loira à minha frente tinha um gosto
peculiar para roupas casuais e a cada dia que topamos com ela em casa, está
vestida de uma maneira que me faz querer queimar todo o seu guarda-roupa.
— É sério? Analu? — A sua voz enojada me faz sorrir.
— Ela é uma boa companhia! — digo e vejo o desgosto da minha amiga
aumentar. — E não me olhe assim, não é a primeira vez que uma garota sai
do meu quarto.
— Você realmente precisa parar de transar com garotas aleatórias!
— Não virarei celibatário, Summer! — Me deito no sofá novamente.
— Ser celibatário por algum tempo, talvez seja bom para você,
Underwood! — Josh gargalha quando levanto o dedo médio para eles e jogo
uma das almofadas em sua direção, enquanto Levi some pelos outros
cômodos do apartamento.
Observo a sala quando o silêncio me abraça, me fazendo companhia.
Éramos um grupo de amigos inseparáveis, e pensávamos que nada poderia
nos abalar, que sempre estaríamos juntos, principalmente pelo fato de
morarmos na mesma cidade em que crescemos.
Mas depois daquela noite, depois dos meus sonhos terem escorregado de
minhas mãos, aprendemos que nada disso faria sentido, principalmente
depois que nosso grupo havia sido desfeito e que havia restado apenas nós
cinco. Tomamos então a decisão de nos mudarmos para um apartamento
longe de toda a nossa realidade, principalmente depois que Levi e Josh
decidiram que odiavam morar com seus pais na parte alta; Summer deixar
claro o seu ódio pelo alojamento, porque sua colega de quarto dizia que
todos seus HQ’s eram coisa de criança, e por eu estar a ponto de violentar
um dos meus companheiros de time na fraternidade.
Suspiro fundo, jogando a almofada sobre minha cabeça. São em momentos
assim, quando meus amigos estão em silêncio e não há ninguém para
conversar ou brigar, que minha mente começa a vasculhar memórias que
deveriam permanecer esquecidas. Lembranças que ficaram guardadas em
mim e nem mesmo eles sabem o quanto me afetam. Mesmo escondendo esse
meu lado, tenho a consciência de que cada machucado, que se tornou cicatriz
hoje, é parte de quem eu sou. E mesmo que não me orgulhe de muitas atitudes
que tomo, eu as aceito.
Encaro o celular à minha frente, a mensagem era clara e objetiva:
Hazel: Se você furou comigo por causa de uma mulher, é melhor você
ter um plano de saúde ou um funerário, Underwood.
Quando voltei a abri-los, ela estava lá agora, seu batom vermelho sangue
destacava entre toda roupa preta, e seus olhos brilhavam em admiração.
Verônica Blackwell era o centro das atenções, principalmente as masculinas,
como um espetáculo para ser visto. Mas toda a sua atenção era minha.
Seus olhos me reivindicaram para si, era como a última vez que cantei e
ela estava no mesmo espaço. Não havia mais ninguém, toda aquela
aglomeração se tornou invisível aos meus olhos, era apenas nós dois. Senti
vontade de pedir para que ela dançasse, que me acompanhasse naquela
queda.
Seus olhos estavam vivos, vivos para mim. E soube que sua armadura
estava se abaixando.
Me mostrando que estava como eu, destruída, que a bela fachada era
apenas uma máscara para esconder o quão quebrada estava. Mas ela me
mostrou mais que isso, ela me fez perceber que um resquício do meu anjo
ainda estava vivo dentro daquela casca, escondida em algum lugar. Mesmo
que nunca mais pudéssemos ficar juntos, por mais que nossa história não
pudesse mais se repetir.
Dizem que o primeiro amor, deixa marcas para a vida inteira. E talvez
isso seja verdade, talvez eu esteja marcado por Verônica Blackwell desde o
momento que meus olhos recaíram sobre os dela. E talvez eu carregue isso
para sempre. Mas algo dentro de mim me dizia que estava na hora de deixar
aquele sentimento ir, deixar que o ódio parasse de nublar todo o meu ser
quando se tratava daquela família.
Porque eles mal haviam voltado e Verônica e eu já estávamos de volta em
um ciclo vicioso, tóxico e infantil, um ciclo no qual sabíamos que não
haveria como sair ileso. E eu sabia que na minha memória congestionada, no
meio de todo o meu caos, ela ainda estava lá, dançando em volta de mim e
sorrindo como se eu fosse a sua pessoa favorita em todo o mundo. Cada vez
que eu pensava na garota dos olhos âmbares, podia sentir a dor que senti
todos esses anos, podia sentir como ela quebrou meu coração em tantas
partes, mesmo sabendo que estava dentro, como não se importou em me
expulsar da minha própria casa, e muito menos deixou algum sentimento
transpassar dentro de si.
No passado, eu costumava achar que Verônica Blackwell era a minha
salvação, mas no fim, ela estava certa, desejar algo proibido acabou sendo a
minha própria ruína.
E eu não estou disposto a me destruir novamente.
— Você não parece estar bem… — Melany diz, entrando no meu quarto e
se escorando na porta com uma das mãos, enquanto força um sorriso em
minha direção.
— Como entrou aqui? — pergunto, ignorando sua frase e devolvendo o
sorriso, afastando o edredom de meu corpo e batendo duas vezes no colchão
para que ela se deitasse ao meu lado.
— Existe uma campainha e mais pessoas que moram nesta residência,
irmãozinho. — Seu sorriso aumenta quando se ajeita na minha cama. —
Agora me conte o porquê de estar em casa em um sábado, com um livro entre
as mãos e não naquelas festas que todos ficam bêbados e fazem merdas.
— Por que estou preferindo ler? — Ergo uma sobrancelha, balançando o
meu livro levemente e lhe lançando uma careta, como se eu estivesse
dizendo o óbvio. — Não vivo apenas de festas, minha querida irmã.
— Qual livro desta vez? — diz, tomando o exemplar de minhas mãos e
lendo o título. Quando finaliza a sua pequena averiguação, Mel ergue uma
sobrancelha. — Eu não sabia que era fã de fantasia.
— O quê? Você acha que eu só leio livros com ação, carros e violência?
— Reviro os olhos com sua incredulidade. — Curto fantasia, sim. E esse,
nossa… realmente estou em êxtase com o plot desse livro! — Solto uma
gargalhada. — Estou em um loop eterno para saber o tamanho da
filhadaputagem do Maven, como ele lança um: “não, eu acho que não”.[1]
Foi assustador, Melany!
Melany encosta a cabeça na cabeceira da minha cama e solta uma
gargalhada. É doce e singela, como se eu fosse a pessoa mais engraçada de
todo o universo.
— Você, Logan Underwood, é sem dúvidas, um bookstan de péssimo
gosto! — ela exclama, fazendo com que uma sobrancelha se erga. — O quê?
É a verdade!
— Vou te obrigar a ler essa saga, Melany Underwood! — debocho,
atrapalhando seu cabelo. — Agora desembucha, o que veio fazer aqui?
Ela solta um suspiro e me lança um pequeno sorriso que chegava a ser
receoso.
— Audrey quer fazer um almoço em família, vai apresentar o novo
namorado.
— Ela finalmente decidiu desencalhar? — Solto um sorriso travesso e
fecho o livro, deixando-o na mesa de cabeceira. — Eu fico feliz por ela,
estava na hora.
— Eu também! — exclama com animação e então respira fundo aos
poucos, deixando o sorriso sumir, dando lugar a um olhar perdido. —
Logan…
— Por que eu tenho a impressão de que vem merda por aí, Mel? — A
interrompo e a encaro sério.
— Eu sei que ela está em Saint Vincent. — Melany morde o lábio inferior
e suspira como se fosse contar algo que talvez se arrependesse. — E eu… e-
eu a conheci…
— Blackwell foi atrás de você? — Tento manter meu tom suave, mas por
dentro eu podia sentir todo o ódio sendo despertado. Verônica poderia ser
cruel comigo, poderia jogar seus jogos maquiavélicos, mas ela não faria
nada a Melany, não dessa vez.
— Não! — Revira os olhos como se eu tivesse dito uma coisa estúpida.
— Ela foi visitar Emmy e era meu horário de aula, então a gente meio que se
esbarrou.
— Por que ainda sinto que não foi aí que isso terminou? — Franzi a testa.
— Não sei se devo te contar. — Melany estudou meu rosto, buscando
algum sinal de raiva ou algo do gênero e quando não encontrou, ela
prosseguiu: — Agh! Tudo bem… Ela não me reconheceu e então me ajudou
com alguns passos.
Aquilo não me surpreendia, Verônica sempre foi altruísta, sempre que via
algo em que pudesse ajudar, ela o fazia. Mas é Melany, a minha irmã, a
mesma que foi enviada para o abrigo por culpa da minha ex-namorada.
Antes, eu não teria duvidado que ela faria tudo de bom grado, mas essa nova
versão de Verônica, essa mulher que voltou agora, não é mais a garota que
um dia conheci. Pude olhar em seus olhos e constatar, ela só se importava
apenas consigo mesmo, não se importaria de passar por cima de qualquer um
que fosse apenas para mostrar que ainda detém o poder.
— Espero que não tente se aproximar dela novamente, Melany — Cerrei a
mandíbula, sentindo raiva da ingenuidade de minha irmã caçula. — Não
preciso te lembrar do quão desumana Verônica é.
— Se ela é tão desumana como você mesmo diz, por que você um dia
chegou a amá-la? — ela pergunta calmamente, me lançando um olhar
curioso.
— Porque eu tenho a tendência a fazer as piores escolhas para minha
vida! — respondo encarando o vazio à minha frente, com um olhar perdido.
— Eu amei uma versão de Verônica que não existe mais, Melany, uma versão
que poucas pessoas tiveram a chance de conhecer e que foi quebrada no dia
que sua irmã morreu.
— Logan, alguma vez você já pensou em perdoá-la, por tudo que ela fez?
— pergunta hesitante, enquanto brinca com seus próprios dedos. — Porque
eu já a perdoei…
— Você ainda é uma criança, Mel… — digo, a encarando, tentando não
soar ignorante. — Não entende as consequências dos atos das pessoas
ainda.
— E você entende? — Me encara do mesmo jeito que eu a encaro. —
Porque, pelo que eu sempre soube, vocês eram adolescentes, imaturos e
inconsequentes quando tudo aconteceu.
— Você não sabe do que está falando, Melany! — censuro com voz agora
regada a rispidez. Olho para ela realmente sem querer acreditar no que ela
acabou de dizer, peço espaço para que eu possa sair da cama. Paro, olhando
para minha irmã, exasperado, e levo minhas as mãos a cintura, deixando
prender minha cabeça, ela não era tão pequena quando tudo aconteceu, mas
isso significava que entendia o quão grave foi as consequências das ações de
Verônica. Levanto meu rosto quando ouço o suspiro de minha irmã.
— Nossa família também os machucou, Logan. — Ela suspira, como se já
esperasse pela reação que eu estou tendo no momento.
— Nós não estávamos dentro daquele maldito carro, Mel — declaro com
os olhos ardendo em raiva — Nós não fizemos com que Sophie capotasse e
morresse, ela deveria ter entendido isso. Mas não! — Passo as mãos pela
cabeça, suspirando fundo, eu não posso aceitar que ela a defenda. —
Verônica precisou fazer todas aquelas coisas atrozes, precisou te deixar
desamparada e ainda comprar a casa que era da nossa mãe… Ela fez isso
para se vingar de uma coisa que nós não tínhamos como controlar! —
Respiro fundo, tentando manter o resto de calma que ainda havia dentro de
mim. — Então não, não penso em perdoá-la.
— Eu nunca estive desamparada. — Suspira. — E espero que um dia
entenda…
— Entenda o quê? — Vejo ela se levantar e se preparar para ir embora.
— Que eles podem ter nos separado por alguns anos, mas eu ainda estou
aqui, Logan. — Solta um sorriso fraco. — Você ainda pode conversar, rir e
tudo mais comigo, ainda pode ter a sua irmã ao seu lado. Mas a Verônica
não, ela não pode ter o que nós temos, porque, pelo que eu soube, o nosso
irmão não se importou com porra nenhuma, além dele mesmo. Talvez nós
não tenhamos culpa, mas ele quis jogar um jogo perigoso. — Melany
caminha até a porta e a abre. — E todos nós viramos peças dele, mas o
problema é que o Xeque-Mate veio do outro lado do tabuleiro.
— O problema, Mel, é que esse Xeque-Mate não machucou apenas
Aidan, machucou todos nós! — Solto uma lufada de ar erguendo minha mão
até meus cabelos e bagunçando-os.
— Eu amo você, Logan, muito! Porém, você pode até estar machucado
por ela ter destruído o que tinham por uma retaliação. — Ela suspira como
se estivesse desistindo dessa conversa. — Já a Verônica, Logan, está
quebrada de uma tal forma, que talvez ela nem acredite que possa juntar os
cacos.
Não respondo, apenas a deixo ir. Eu não queria aceitar que talvez Mel
estivesse certa, porque aceitar isso é ter que dar o braço a torcer, deixando
ela vir até mim. É deixar Verônica Blackwell para trás e trazer a Vee à tona
mais uma vez. E eu não estou disposto a isso. Porque Verônica Blackwell
era como uma droga, e a sua abstinência ardia, doía e até mesmo chegava a
sangrar.
Eu não havia mentido para Melany quando disse que preferia ser
conhecida por ser uma vadia insensível do que uma garota quebrada.
Porque foi esse título que me manteve em pé durante esses anos e me
colocou no topo da cadeia alimentar em NYU, e era o que me colocaria no
mesmo lugar em Saint Vincent novamente.
E tive a certeza disso enquanto encarei a casa de meus pais inundada de
universitários bêbados. Eles se aglomeram no hall de entrada e nos outros
cômodos da casa, segurando copos vermelhos e balançando seus corpos.
Observo o primeiro andar, onde inúmeras pessoas dançam na pista de dança
improvisada e outras vão em direção à piscina na lateral da casa. A música
ecoa por todo o ambiente e meu sorriso só aumenta quando alguns dos
convidados passam por mim e meus irmãos e nos cumprimentam como se
essa fosse a melhor festa que já tivesse acontecido na universidade.
— Eu estava com saudades disso! — Dylan confidencia, escorando as
mãos no vidro de proteção à nossa frente.
— Eu disse que seria uma boa ideia — digo sorrindo para um garoto
escorado na parede no andar de baixo e depois volto minha atenção para
meu outro irmão, que mantém uma carranca estampada em seu rosto. —
Vamos lá, Ed, anime-se!
— Assim que toda essa gente bêbada sair da minha casa, pode ter certeza
de que ficarei animado! — diz, tomando um pouco de sua bebida. — Irei
achar alguém que também odeie essa palhaçada para me acompanhar nesse
meu martírio!
Antes que eu ou Dylan pudéssemos dizer algo, ele some entre as pessoas,
fazendo com que eu e meu irmão mais velho soltássemos uma gargalhada.
Nós sabíamos que Edmund se trancaria em sua sala de jogos antes mesmo da
meia noite. Mas antes que possamos terminar nosso momento, a porta do hall
de entrada é aberta e todos os jogadores do time de futebol entram. A
primeira coisa perceptível eram suas jaquetas azuis com o brasão de um
falcão estampado na parte frontal. Eles sorriem como se fossem os donos do
lugar e meu olhar foi direto para Mike. Ele olhou para cima, me procurando,
e quando me encontra, solta um sorriso, como se eu fosse a sua pessoa
favorita no mundo.
— Eu acho que Burhan não vai aguentar esse lance de relacionamento
casual de vocês por muito tempo — Dylan debocha. — Já posso esperar por
outro coração partido, maninha?
— Eu nunca prometi um relacionamento e seria uma pena perder uma boa
transa por conta disso! — digo, lhe lançando uma careta e virando o resto do
líquido do meu copo em meus lábios.
O sorriso de Dylan logo se desmancha, fazendo com que eu olhasse para o
mesmo lugar onde seus olhos estão, e quando faço isso, me arrependo. O
último integrante do time ultrapassa a porta e a tensão se instala no meu
corpo, fazendo com que meus ombros se transformem em pedra.
Diferente de todos os outros, ele traja suas roupas casuais, sua jaqueta
preta se mistura no mesmo tom de sua camiseta com o emblema dos The
Beatles estampada em uma cor cinza. Logan Underwood anda como se fosse
um deus em terras inimigas. E todos que nos conhecem intercalam os olhares
entre nós dois. Quando seu olhar recai sobre o meu, nos encaramos com ódio
e principalmente em desafio, uma promessa de um novo jogo. Estávamos nos
perguntando silenciosamente quem de nós dois faria o primeiro escândalo da
noite. Não rompemos a conexão que se criou ao azul de suas pupilas se
encontrarem com o castanho das minhas. Uma troca ofensiva que pode ser
comparada à labaredas neste momento, chamas que queríamos usar para
tentar queimar um ao outro. Todos ali estavam ansiosos por alguma atitude,
algo para que pudessem comentar no dia seguinte, mas não darei o que ele e
todos querem, não estragaria minha festa o expulsando.
Estou decidida a aproveitar minha noite sem nenhum problema. Então
apenas estampo o meu melhor sorriso e levanto o copo, cumprimentando
todos os jogadores, inclusive meu ex namorado. E pelo olhar decepcionado
que me lança, eu soube que ele esperava outra atitude.
— O que esse filho da puta está fazendo aqui? — Dylan esbraveja ao meu
lado.
— Ele é parte do time, Dylan! — Dou de ombros. — E nós convidamos
todo o time, o que inclui esse babaca.
— Então eu lhe mostrarei o caminho da porta por meio do meu soco! —
Meu irmão dá a volta por mim e prepara para descer, mas antes que tivesse
êxito, seguro seu braço, apertando minhas unhas em volta de sua pele.
— Se fizer isso, irá magoar Hazel. E se magoá-la, a única pessoa que
levará um soco aqui é você e será pelos meus punhos, irmãozinho! —
Rosno, o encarando friamente. — Além disso, você irá estragar meus
planos!
— E que porra você quer, Verônica? — Cruza os braços, enquanto volta a
ficar ao meu lado.
— Aprenda uma coisa, Dylan: reputação é poder! — Devolvo o sorriso.
— Eu prefiro que as pessoas saibam que nós ainda a detemos, que ainda
somos os fodidos Blackwell que ninguém ousava se meter, o grupo fechado
no qual ela se orgulhava. E, principalmente, que não achem que precisamos
da benevolência delas por conta do que aconteceu com Sophie.
— Não se destrua como se destruiu em Nova York apenas pra mostrar que
é inabalável. — Avisa, preocupado.
— Eu já estou destruída há um bom tempo, Dylan! — Solto um sorriso
frio, virando o resto de minha bebida.
Antes que possa responder, passo por ele, descendo as escadas.
Cumprimento algumas pessoas que começavam a subir. E quando estou
quase no último degrau, Mike aparece segurando dois copos. Ele se
aproxima, deixando um beijo em minha bochecha e me entregando um deles.
Sorrio, levando o líquido em meus lábios e o puxo entre as pessoas até a
pista de dança. Porém, meus planos foram interrompidos por dois rostos
familiares que me encaravam do outro lado da sala. Hazel estava escorada
em um dos sofás e sorria para mim, enquanto Summer me encarava com uma
careta ao perceber quem é minha companhia.
E sem pensar, me desvinculo do meu companheiro de dança, sigo em
direção à elas, desviando de alguns convidados. Está na hora de me
aproximar das minhas amigas novamente, sinto falta de alguém para
conversar, de alguém para rir comigo de coisas aleatórias como fazíamos e
de me sentir em casa. Eu estou colocando minha rixa com Logan em segundo
plano, começando a priorizar o que realmente me importava.
Quando paro alguns centímetros à frente da dupla, solto um sorriso.
— Eu espero que vocês ainda bebam! — digo, mordendo o lábio inferior.
— Porque estamos prestes a ficar bem bêbadas.
— E-eu não sei… — Summer diz. — Não sou uma boa versão de mim
quando estou bêbada.
— Ninguém é, Summer! — digo sorrindo. — Mas você pode parar se não
se sentir bem.
— Nós aceitamos... apenas se aceitar um almoço entre nós três. — Hazel
me encara esperançosa.
— Feito! — Levanto as duas mãos para elas, puxando-as. — Agora
vamos.
Levo-as até o bar improvisado e sirvo algumas doses de tequila. Na
primeira rodada, o álcool já não queimava quando entrava em contato com a
minha garganta. Mas a careta que Hazel me lançou me fez gargalhar e só
piorou quando Summer engoliu o líquido, nos xingando de quase todos os
nomes por arrastá-la para aquilo.
E nas próximas rodadas que se passaram, eu já podia sentir meu corpo
ficar anestesiado. A adrenalina já começava a correr pelo meu sangue,
liberando sensações que me faziam sentir viva. Mas meu corpo ansiava por
algo a mais, algo além de apenas uma dose de tequila e olhares cheios de
luxúria que os homens nos lançavam. Arrasto minhas parceiras até a pista de
dança quando uma música animada começa a tocar por todo o ambiente. Meu
olhar se volta para Hazel e Summer, éramos uma mistura de álcool e alegria,
um misto de saudades e, principalmente, de alívio. Alívio por saber que
nada havia mudado em nossa amizade. E nas horas que se passaram, nos
revezamos em dançar e correr até o bar para nos servirmos de mais algum
tipo de bebida, como sempre fazíamos nas festas que dávamos antes de tudo
acontecer.
Em algum momento da noite, nós havíamos achado que seria uma boa
ideia subir em cima do enorme balcão da cozinha que dava ligação à sala de
estar. Summer segura uma garrafa de tequila, enquanto eu e Hazel nos
movemos ao som de Labrinth, alguns jogadores sorriem em minha direção.
Solto uma piscadela para um deles, que me encara a tempo suficiente para
que eu saiba que seu flerte não é nada inocente. Summer me passa a garrafa e
percebo que a loira já está em seu estado caótico, e quando volto meu olhar
para frente, solto um resmungo junto a Hazel em direção a Levi que aparece
em frente ao balcão e ergueu uma de suas sobrancelhas.
— Você é uma péssima amiga, Blackwell! — ele grita sobre a música
alta.
— Você está ferido porque não o convidei para subir aqui, Johnson? —
digo, gargalhando.
— Alguma dúvida? Eu estaria conquistando todas as calouras se
estivesse rebolando ao lado de vocês!
— Nah! Você é um dançarino de merda! — Summer grita, fazendo uma
careta.
— Não fira meus sentimentos enquanto está bêbada, loirinha! — Levi leva
as mãos até o coração, fingindo-se ofendido. — Venha eu vou te levar para
casa…
— Não seja um estraga diversão, Levi! O que foi, não encontrou ninguém
para te contar a última fofoca? — Hazel reclama, puxando a garrafa de
tequila das minhas mãos, fazendo nosso amigo revirar os olhos. — Sum está
ótima, não é, Sum?
— Claro… — A loira solta um sorriso arrastado. — Olhe só isso...
Antes que eu e Hazel pudéssemos segurá-la, Summer tenta fazer uma
posição imitando o número quatro com as pernas, mas tropeça em seus
próprios pés e se desequilibra. Solto um grito, tentando segurá-la, porém,
antes de seu corpo tocar o chão, Levi consegue pegá-la e nós, que ainda
estávamos em cima do balcão, a encaramos, assustadas, ao contrário de
Summer, que gargalha no colo de Levi como se fosse a cena mais icônica da
noite.
— Chega de álcool para você, Sum! — Johnson diz, segurando Summer
em seu colo.
— Você vai me levar para casa, Levi? — Summer pergunta com uma voz
que faz Levi arregalar os olhos, ela aproxima a boca de seu ouvido, dizendo
algo que faz ele prender a respiração. Porra eu estou louca ou a Summer
acabou de flertar com ele? É, acho que realmente já chega de bebida pra ela.
— Merda, eu acho que vou passar mal!
Levi faz uma careta para a nossa amiga, a apoiando no chão, ele envolve
um braço dela nos ombros e a ajuda a sair, tendo cuidado para que ela não
tropece nos próprios pés. E assim que sumiram entre as pessoas, encaro a
minha única companheira que havia restado e soube, naquele momento, que
estávamos pensando o mesmo. Mas desta vez, ela quem me passou a garrafa
e começou a remexer o corpo sensualmente em sincronia com a música.
Neste momento não há problemas, nem minha realidade de merda. Há apenas
eu e minha antiga amiga em cima de um balcão, dançando e dividindo uma
garrafa de tequila, enquanto estávamos bêbadas, arrastando todos os olhares
para nós.
As pessoas nos olham admiradas, como se desejassem estar aqui, ao
nosso lado. E aquilo nos faz dançar ainda mais sensualmente.
Sei que Dylan daqui a pouco irá arrancar sua garota daqui e a levará para
seu quarto. Mas Hazel está feliz, suas bochechas estão coradas pelo calor e
seus olhos brilham quando se encontram com o meu.
— Eu senti sua falta, sua cadela insensível! — Hazel exclama de repente,
me tomando a garrafa e bebendo. — Meu-u Deus… Você era a minha melhor
amiga, não podia ter sumido daquele jeito.
— Agh! Não seja uma vadia dramática, eu estou de volta… Somos nós
três de volta, a porra de um trio incrível! — sussurro, puxando a garrafa de
sua mão e a levando até a boca.
— Se sumir outra vez, eu mesmo irei atrás de você em Nova York e vou
quebrar esse seu rosto perfeito. — Ela abre os braços, me puxando para um
abraço.
— Não quebre meu rosto, ele é a razão pela qual metade dos garotos estão
nos rondando agora! — digo, gargalhando, me ajeitando em seus braços.
— Agh! Vee… nós estamos chamando muita atenção! — Me lança um
sorriso embriagado.
— Nós somos a sensação dessa festa, Hazel — A solto. — As fodidas
estrelas da noite!
— E você está adorando isso, não é?
— Óbvio! E você também. Olha a forma como meu irmão olha pra você!
— Indico a direção com o queixo, onde meu irmão está quase babando
olhando para ela.
Eu estou em cima de uma mesa, abraçando Hazel e ignorando sua ameaça
sobre eu ir embora, a minha parte sóbria sabe que é impossível prometer
ficar. Eu sei que minha estadia nessa cidade será breve, apenas um semestre,
até que eu conseguisse terminar esse semestre e pudesse voltar para minha
casa, minha verdadeira casa, em Nova York. Mas não pensaria nisso agora,
eu apenas apreciaria a sua companhia.
Pelo menos eu pensava isso, até que Dylan se aproxima e Hazel
praticamente pula em seu colo, me lançando uma piscadela.
— Me desculpe te abandonar, Vee, mas seu irmão é gostoso demais para
deixar nas mãos de outra garota — grita e a minha única reação foi
gargalhar.
Uma gargalhada que chamou a atenção de Logan. Ele está escorado em
uma das paredes perto da saída, com um copo em uma das mãos. Uma garota
de pele branca e cabelos azuis conversa com ele, ela é linda. Mas o
problema é que ela estava se esforçando demais para mantê-lo naquela
conversa.
E o pior de tudo é que ele não está prestando atenção nela. Ele me encara,
como se estivesse fascinado com aquela cena e como se eu fosse seu sonho e
seu pior pesadelo. Como se me tocar significaria realizar sua maior fantasia,
mas também o levaria a cometer o pior dos pecados capitais.
E eu entendo aquela sensação, porque passei a noite toda o evitando para
não ter que sentir aquilo, não pensar no calor de suas mãos em minha pele ou
em como ele está gostoso para um caralho naquela roupa, mas agora é
impossível, porque nossos olhares finalmente haviam se cruzado e se
prendido um ao outro.
A sua escuridão abraçou a minha de um jeito peculiar e todo o resto
desapareceu. Não existia mais festa ou qualquer outra coisa. Existia apenas
eu e ele. Havia um universo caótico nos seus olhos, e mesmo que nossos
corações fossem pálidos, frios, nesse momento é como se fossemos uma
performance rebuscada. Somos arte causando impacto em meio a tantos
quadros cinzas. Somos o centro do universo, um universo criado para nós
naqueles segundos.
E eu não julgava a garota ao seu lado, compreendia a fascinação que ela
tem nesse momento por ele. Sei como é ficar presa nessa sensação de que
ele pode fazer o mundo parar apenas por nos encarar com aqueles olhos
azuis.
Mas o que aquela garota não sabe é que aquele mesmo olhar, carregava as
mesmas cicatrizes que as minhas.
E também não sabia que nós nos destruímos e pulamos de um penhasco,
mesmo sabendo que era suicídio.
E que após essa queda, nos tornamos a nossa pior versão.
Porque quando estou ao seu redor,
Eu costumo continuar mudando de ideia. Eu prometo
Eu prometo a mim mesmo não voltar aos velhos hábitos
Porque a decepção amorosa está clara e o amor é uma vadia.
Love Is A Bitch | Two Feet
Uma vez, minha mãe me disse que eu deveria saber escolher as batalhas
que teria que travar, mas o que ela não me disse, é que a pior das batalhas
que um dia enfrentaria, seria com meu próprio coração.
Em um momento eu estava beijando Logan Underwood, e no outro estava
encarando seu rosto com pavor, como se eu tivesse tocado em algo proibido.
A culpa se instalou em meus ombros, fazendo com que toda a minha
respiração se esvaísse do meu corpo. Não me mexi enquanto ele descia as
escadas como se fosse o rei daquele local e muito menos quando Oliver
caminhou até mim, me encarando como se eu tivesse perdido todos os
neurônios da minha cabeça, o que não contribuiu em nada para me fazer
sentir melhor.
— Que merda você tem na cabeça, Verônica? — pergunta severamente,
enquanto se escora na estante à minha frente. — Se Dylan ou Edmund
tivessem pegado esse flagra, eles com certeza jogariam Underwood por
aquela maldita escada.
— Seria um problema a menos, não? — Solto um sorriso frio para ele,
tentando não demonstrar quão abalada estou. — Não faça disso um drama,
Wright.
— Um drama? Caralho, Verônica! — Ele passa as mãos pelos cabelos, do
mesmo jeito que faz quando está nervoso. — Você passou quatro anos
odiando aquele cara e algumas semanas na cidade já retrocedeu todo esse
sentimento?
— Eu nunca disse que deixei de odiá-lo, acredite quando digo, esse
sentimento está bem vivo dentro de mim — vocifero no mesmo tom que o
dele. — Não me dê um sermão Oliver, eu sei a cagada que acabei de
cometer. E agora preciso tomar providências para que essa merda não
ocorra nunca mais…
Deixo a frase morrer, porque não sei qual a gravidade da situação agora e
muito menos sabia como lidaria com ela, mas o amargor das consequências
daquele fatídico momento já começava a inundar minha mente.
Eu perdi o controle, me afoguei naquele beijo e me esqueci de tudo. Das
noites em claro, dos pesadelos e da dor... Da dor que senti ao ver minha irmã
morrendo, dos sorrisos falsos que me deu enquanto mentia descaradamente
para mim, dos beijos doces que eram como veneno e de todas as vezes que
me sacrifiquei para que tudo desse certo.
— Ei, ei, pequena Blackwell, volte para a realidade, agora! — A voz
preocupada de Oliver me faz sair dos meus devaneios. — Talvez queira um
abraço?
— Não se atreva. — Faço uma careta, percebendo o que ele queria fazer
com aquela súbita troca de assunto. Pego minha bolsa e aponto para a
escada. — Você é um idiota, sabia?
— Você faz questão de me lembrar… — Ele sorri abertamente. — Todas
as vezes que nós nos vemos, o que não é pouca. Agora vamos, precisamos
tirar esse cheiro de jogador de você!
— Eu tenho que me encontrar com Hazel e Summer no Oásis agora, isso
precisa esperar! — digo o puxando para sairmos da biblioteca.
— Ótimo, estou com fome. — Sua face iluminou-se com alegria.
— Você não foi convidado.
— E desde quando eu me importei em ser convidado, Pequena Blackwell?
Irei pela comida, não pelas companhias. — Dá de ombros. — Além do mais,
preciso de uma carona.
— Você é fodidamente rico, compre um carro! — resmungo.
— Porque que eu teria um carro se tenho uma piloto profissional como
motorista? — Seu sorriso estava começando a me irritar e para não fazer
nada que me arrependesse, abro a porta do carro e me sento, jogando minha
bolsa para o banco traseiro. — Aliás, quando será a próxima corrida?
— Não sei — digo, acelerando pelas ruas do campus. — Não correrei
nesta temporada, é o pior momento do ano para fazer coisas regadas a
adrenalina, você sabe bem disso.
E estou falando a verdade, quando a temporada de tempestades começa,
evito ao máximo fazer coisas que podem resultar em alguma merda. Nessa
época já tenho muitas coisas para lidar. Sei que Edmund se fechará para
qualquer conversa, Dylan irá concentrar toda a sua atenção no final do
semestre, dando a desculpa que, por ter entrado um ano atrasado na
faculdade, ele precisaria se formar com honras ou nosso pai acabará com
qualquer chance que possa ter no futebol. E o pior de tudo, meus pesadelos
irão voltar, irei acordar assustada todas as noites quando os trovões
entrarem pelas janelas e o barulho da chuva me assustar o suficiente,
pensando estar em uma pista molhada e escorregadia, eu, com minha irmã
nos braços, rodeada de sangue. E descontarei toda essa frustração em
bebidas, festas e muita das vezes, na dança. E quando nada disso conseguir
me manter sã, eu perderei o controle sobre mim, trancarei meus sentimentos
em uma cápsula e fingirei que nada mais importa, que a máscara fria que
ocupa meu rosto em momentos como esse, é algo normal, como aconteceu na
última temporada.
— Você pode ligar para sua psicóloga a qualquer momento. — Oliver
suspira no banco do passageiro, me tirando dos meus pensamentos. — E não
estamos mais em Nova York, talvez consiga superar tudo o que te atormenta,
Verônica.
— Estamos na cidade onde tudo começou, Oliver. — Essa não é uma
conversa que quero ter enquanto dirijo. Então dou seta e encosto o carro no
acostamento, solto meu cinto de segurança e me viro para o encarar. — É
pior, do que quando estávamos em Nova York, lá eu podia fingir ter uma
vida normal, podia fingir que toda essa merda ficou no passado.
— Quando estávamos em Nova York perdíamos a porra da realidade,
Verônica. Você quer aquilo de novo? Quer que seu pai coloque uma coleira
em você e te trate como marionete? Quer que voltemos para aquele campus e
agir como se fossemos cruéis e superficiais como fazíamos? — O rosto do
meu amigo estava severo, como se ele estivesse dando uma bronca em uma
criança. — Eu amo você, Vee. Você é a minha melhor amiga, mas eu não
posso deixar você voltar a se destruir como fez naquela cidade.
— Tudo o que aconteceu em Nova York não foi sua culpa, Ollie! —
Estendo a mão até seu rosto, acariciando. — Você sabe disso, não sabe?
— Fomos expulsos da NYU por colocarmos fogo na universidade, Vee.
— Fomos convidados a nos retirar gentilmente. — Solto um sorriso falso,
tentando aliviar o clima. — Eles foram uns filhos da puta, não tivemos culpa
do que realmente aconteceu.
— Me prometa que não seguirá os mesmos passos que seguimos em Nova
York.
— Não posso prometer nada. Você sabe que as merdas sempre estouram
na minha cara. — Viro meu corpo para a frente novamente. — E se
seguirmos os mesmos passos de antes, nós foderíamos com nossas vidas
antes mesmo do fim do semestre, você não gostaria de foder com tudo?
— Seu convite é tentador, mas não repetirei isso novamente — ele diz,
fazendo uma careta engraçada.
— Não posso discordar disso. — A gargalhada que soltamos fez com que
o clima ficasse suave.
Esse é um dos motivos pelo qual Oliver é o meu melhor amigo, ele esteve
comigo desde que Sophie morreu, o garoto de cabelos loiros sujos e olhos
verdes, limpou minha bagunça, me acordou quando meus pesadelos me
aterrorizavam, tentou me distrair enquanto eu me afogava em um poço de
autodestruição por conta do luto e, principalmente, fez com que a realidade
não acabasse com o resto de luz que ainda estava escondida dentro de mim.
Por todos esses motivos, eu sei que se existe alma gêmea no que quesito
amizade, Oliver Wright é a minha.
Quando estacionei em frente ao Oásis, o vento frio do começo do inverno
bateu em meu corpo, fazendo com que me arrependesse amargamente por não
ter trago um agasalho. Porém, sei que Dylan virá ao resgate de Hazel antes
mesmo que terminássemos nosso almoço. Então, enquanto entramos no
estabelecimento, retiro o celular da minha bolsa, deslizando o dedo pela
tela, ignorando as inúmeras notificações das redes sociais, entro no chat com
meu irmão mais velho, digito uma mensagem pedindo que fosse um bom ser
humano e trouxesse um casaco para mim quando viesse e volto a jogar o
objeto em minha bolsa.
Assim que levantei minha cabeça, a primeira coisa que vi foi o coque
loiro de Summer, ela encara um livro com capa verde e as laterais pretas e
sem olhar para o lado, puxa algumas batatas da bandeja que está em cima da
mesa. Hazel encara o celular com um ódio mortal, como se algo estivesse
completamente errado.
Me aproximo lentamente e jogo minha bolsa na cadeira desocupada ao
lado de Hazel, fazendo com que essa desse um pequeno sobressalto e
olhasse para cima com as sobrancelhas arqueadas. Quando percebe que sou
eu, ela solta um sorriso, como se estivesse aliviada que eu realmente
aparecesse. Um barulho de cadeira se arrastando faz com que nós duas
encarássemos o lugar que antes estava vago ao lado de Summer. Oliver se
jogou na cadeira, cruzando os braços em frente ao corpo e encarando a blusa
vermelha do Homem-Aranha que nossa amiga veste. Uma careta nada
agradável se estende no rosto do meu amigo e antes que eu pudesse dizer
algo para ele, uma voz nervosa preenche o ambiente.
— Alguém já te disse que é desrespeitoso encarar os seios de uma mulher,
babaca? — Summer xinga, direcionando a Oliver um olhar digno do duende
verde.
— Por mais tentador que seja, eu sinto em lhe dizer que não eram eles que
estava encarando, loirinha. — Ele solta um sorriso malicioso.
— Sendo assim, mantenha seus olhos longe de qualquer parte do meu
corpo. — O rosto de Summer não é nada amigável, ela se vira para mim e
solta uma lufada de ar. — Pensei que esse almoço seria apenas de amigos,
Vee.
— Eu sou um amigo, loirinha — Oliver responde por mim, quase que
ofendido e eu realmente estou pensando na hipótese de jogá-lo pela janela ao
nosso lado. — Não seu, claro! Não gosto de amizades onde a cobra morde a
própria espécie.
— Oliver! — repreendo.
— Tome cuidado, playboyzinho! — Ela solta um sorriso frio e aponta
para si mesmo. — O veneno desta cobra é letal.
Antes que Oliver possa responder, eu o chuto por baixo da mesa. Fazendo
com que ele solte um resmungo, porém mantém sua boca fechada. Hazel
havia me pedido esse momento e eu não deixaria que meu amigo estragasse
isso, não quando passei tanto tempo sem aquelas garotas. Mesmo que eu não
estivesse entendendo o porquê de sua reação a Summer. Ele pode ser um
mulherengo de péssimo nível, mas ainda assim é gentil, conquista todos ao
seu redor.
— Eu nunca a vi tão nervosa por conta de alguém — Hazel sussurra
confusa, enquanto aponta o queixo para a loira sentada à minha frente, que
havia voltado sua atenção para seu livro.
— Eu nunca o vi tentando provocar uma garota desta maneira — sussurro
de volta.
— Levi não gostará de saber que talvez tenha concorrência… — Ela solta
um sorriso.
— Eles… — Minha boca se abre em surpresa. — Oh, meu Deus!
— É platônico, ele gosta dela, mas pensa que pode estragar a amizade
deles. — Ela solta um sorriso fraco. — Então não toma nenhuma atitude a
não ser observá-la de longe.
Por um momento, encaro minha amiga do outro lado da mesa, que ignora
Oliver com toda força possível. Summer e Levi sempre foram amigos
inseparáveis, sempre estiveram lá quando um precisava do outro. Eles eram
como Oliver e eu, e se realmente sentissem algo um pelo outro, eu ficaria
feliz por aquilo. Ambos mereciam um amor, mas algo me diz que ela não
corresponde às suas expectativas, a não ser um sentimento fraternal.
Antes que eu pudesse dizer algo, Ed e Dylan entram caminhando até nossa
mesa com Josh e Levi. O sorriso que meu irmão mais velho esboça para
Hazel fez com que me sentisse feliz por eles, principalmente quando ele
parou atrás de minha amiga e se abaixou, sussurrando algo em seu ouvido
que a fez corar. Enquanto Ed se abaixou e deu um leve beijo em minha testa,
me entregando um casaco que havia pedido a Dylan.
Summer, por um momento esqueceu o livro em suas mãos e nos encarou,
como se aquilo fosse algo que jamais presenciou. E não é. Porque antes de
tudo acontecer, não tínhamos esse elo tão solidificado. Sabíamos que se
precisássemos, moveríamos o mundo apenas para ajudarmos um ao outro,
mas depois de toda aquela tragédia, percebemos que o amor entre nós três
era o que nos salvaria e foi como se aquela noite fosse um divisor de águas,
fazendo com que nos tornássemos inseparáveis. Como sempre deveria ter
sido.
— Achei que tinha deixado sua sombra em Nova York, Vee — Dylan
resmunga, soltando um sorriso.
— Você ainda sente ciúmes pela pequena Blackwell me amar mais do que
te ama, Dylan? — Oliver solta um sorriso sarcástico enquanto encosta os
cotovelos na mesa, lhe lançando uma expressão de falso pesar. — Isso é
deprimente para um homem da sua idade.
— Somos irmãos, Wright! — ele resmunga, fazendo uma careta,
colocando as mãos no ombro de Hazel. — Uma ligação muito maior do que
essa que vocês dois tem, então aproveite um pouco, porque sempre serei eu
o preferido.
— Podem brigar à vontade crianças, mas todos sabem que eu sigo sendo
o preferido dela! — Ed diz, dando de ombros, enquanto puxa uma cadeira
para se sentar ao meu lado.
— Desde quando vocês brigam pela minha atenção? — Ergo uma
sobrancelha, pegando uma batata da bandeja de Summer enquanto ela encara
a briga dos três como se fossem extraterrestres. — Estão parecendo crianças
brigando pelo último doce.
Os três soltam uma gargalhada, mas antes que um deles possa continuar o
assunto, Summer encara a porta da lanchonete e arregala os olhos
instantaneamente, fazendo todos seguirmos o seu olhar. Me arrependo logo
em seguida. Logan Underwood caminha lentamente pelo grande espaço, com
os braços ao redor de uma loira bastante conhecida por todos. Ela não sorri
para o babaca ao seu lado, pelo contrário, seu semblante está todo fechado,
como se ele estivesse levando-a para a cova dos leões, e quando seu olhar
encontra o meu, seus olhos transmitem um pequeno pavor, e eu sei que está
se lembrando do nosso último encontro.
— Oh, merda, eu deveria ter comprado um balde de pipoca para esse
momento! — Levi debocha, se jogando do outro lado de Summer. — Será
que eles vendem aqui?
— Não seja idiota, Levi! — Summer xinga, enquanto lhe dá um beliscão
em seu antebraço.
Ignorei os dois, porque meu olhar estava focado em Logan que dizia algo
inaudível para Analu, que solta um pequeno sorriso e me encara como se
estivesse desfilando pelo Met Gala e sua companhia fosse o artista mais
cobiçado do momento. Aquilo trouxe lembranças de uma cena parecida que
havia acontecido no ano sênior quando tínhamos terminado e ele havia
desfilado com Parker como se fossem o casal do ano no colégio.
Voltei meu olhar para meus amigos e Oliver me encara como se dissesse:
“Eu te disse que esse bastardo era um babaca”, mas foi o olhar que Dylan
emitiu ao meu ex namorado que me fez ficar apreensiva. Não estou a fim de
mais uma confusão entre meu irmão e Underwood, não quando eu tinha
certeza de que ele usaria o beijo que aconteceu horas antes para ter uma
vantagem.
— Vocês querem ir embora? — A voz de Josh fez com que deixasse meus
pensamentos de lado.
— Não se preocupe conosco, Josh. — Ed sorri calorosamente para nosso
amigo. — Tenho certeza que meus irmãos são civilizados o bastante para
conseguir ficar no mesmo lugar que seus… — Ele lança um olhar a Analu
sem saber se ela realmente era uma amiga ou se estava ali apenas por estar.
— Amigos.
— Eu vou precisar de uma bebida — Dylan profere me encarando. —
Talvez duas?
— Talvez mais? — resmungo, voltando meu olhar para Oliver. — Você
dirige.
Quando Wright abre a boca para responder, o casal em questão finalmente
chega até a nossa mesa. Logan se separa da garota apenas para caminhar até
Summer e beijar o topo de sua cabeça, mas não repetiu o ato com Hazel e eu
sabia o porquê, ela está entre mim e meus irmãos e nós o encaramos como se
ele fosse a última pessoa que gostaríamos de ter visto na face da terra. E o
olhar que nos direcionou é totalmente mútuo, até que encontrou o meu rosto e
um sorriso de escárnio se abre em sua face.
A vontade de levantar e jogar cada copo que estava em cima daquela
mesa no rosto daquele babaca começa a subir por todo o meu ser, porém,
antes que concluísse esse desejo, Oliver me chuta por baixo da mesa, como
fiz a momentos atrás, bebe um pouco d’água e olha para os dois, soltando um
enorme sorriso, um que eu sei que não era verdadeiro.
— Analu Parker! — diz sorrindo falsamente, enquanto encara a loira, que
observa Logan puxar duas cadeiras para se sentarem.
— Oliver Wright! — A voz doce da garota fez com que uma careta
surgisse em meu rosto. — Pensei que odiasse Saint Vincent como os nossos
queridos Backwell.
— Ah, eu odeio, mas gosto de Vee o suficiente para aturar o caos dessa
cidade.
Oliver me encara e solta uma piscadela, enquanto uma das garçonetes traz
uma bandeja de Donuts, alguns deles eram com cobertura de chocolate e
outros com algumas que não sabia exatamente qual o sabor. Mas meus olhos
brilharam quando encarei os dois que estavam com a cobertura recheada de
confetes coloridos. É o meu preferido desde criança e todos ali sabem
disso. Levo uma das minhas mãos até um deles e Logan faz o mesmo. Nossos
dedos roçam um no outro, e é como se a corrente elétrica que passa sobre
meu corpo estivesse parando o tempo.
Como se eu precisasse desse toque, dessa vibração que percorre cada
membro do meu corpo enquanto me lembro de como ele me tocou mais cedo.
E isso é errado. Sei disso perfeitamente, porque meu peito fala mais alto
sobre essa necessidade de estarmos perto um do outro, as palavras que
ninguém entenderia, a não ser nós dois.
— Uh, eu sempre soube que acabariam juntos! — Analu bate palminhas
sem perceber que Logan e eu ainda nos encarávamos enquanto segurávamos
o doce em nossas mãos. — Eles não formam um belo casal, Underwood?
Uma das minhas sobrancelhas se ergue involuntariamente ao escutar o tom
de provocação que Analu está usando, não para mim, mas para Logan. Como
se ela quisesse que ele visse algo que nenhum de nós sabíamos o que é. E
quando meu olhar varre a mesa, percebo que todos ali têm a mesma
expressão que a minha. Logan abre a boca para dizer algo que eu tenho
certeza que não é nada amigável, mas Summer solta um sorriso nervoso e
diz:
— Pensei que estaria fazendo um trabalho na biblioteca o dia todo, Logan!
Seguro o doce em uma das minhas mãos e com a outra pego o copo de
água que está em cima da mesa e o levo até meus lábios, evitando o olhar
divertido que Underwood me lança, então o idiota solta um suspiro que
deveria parecer chateado, mas que saiu como se estivesse eufórico por
poder dizer tais palavras:
— Acredite, fiz bem meu trabalho, Sum! — Seu sorriso estava realmente
me incomodando. — Minha dupla é incrivelmente experiente.
— Agh! Conheço esse sorriso. — Levi solta uma gargalhada. — Você
transou com a sua parceria de trabalho!
Eu engasgo assim que ele profere as palavras, fazendo com que Ed bata
algumas vezes em minhas costas e me encarasse confuso.
Filho de uma mãe.
Minha vontade agora é realmente de correr desse lugar apenas para não
encarar meus amigos quando souberem que a parceira de Logan — com a
que todos agora acreditam que ele transou — sou eu. E o pior é que eu não
posso soltar uma palavra sobre isso sem me prejudicar, porque aquele
babaca tinha sua língua enfiada em minha garganta há algumas horas.
Analu resmunga, mas todos ignoramos, porque meus amigos encaram
Logan, que mantém seus olhos em mim por alguns segundos, até desviar sua
atenção para Summer.
— Infelizmente não. — Ele solta um sorriso perfeitamente alinhado. —
Mas isso não significa que não irá acontecer eventualmente.
Certo, minhas opções são levantar desta cadeira, socar a cara bonita de
Underwood até me cansar e pagar uma indenização milionária por espancar
o capitão do time de futebol da universidade, fazendo com que eles percam o
campeonato, porque, porra, não estive em nenhum de seus jogos, mas o que
ouço é que ele é o capitão mais jovem que SVU já teve. Ou ignorar esse
imbecil até Oliver entender a gravidade da minha situação e inventar uma
desculpa para me arrastar para fora dessa lanchonete. Infelizmente, eu
deveria escolher a segunda opção, porque se um de nossos amigos ou um dos
meus irmãos sonharem que eu estava prestes a foder com Logan Underwood
em uma biblioteca, porque havíamos perdido o controle de nossas ações,
estarei condenada a sermões eternos.
— Eu tenho pena dessa garota! — Oliver se engasga ao escutar as
palavras de Hazel.
— O que diabos tem nessa água para você e Verônica ficarem se
engasgando? — Dylan ergue uma sobrancelha em confusão.
— O gosto! — Eu e Oliver dizemos em uníssono, enquanto Logan se
escora em sua cadeira e me lança um pequeno sorriso debochado.
— Por que você teria pena dela? — Analu interrompe com um sorriso
malicioso, enquanto fixa seus olhos castanhos em minha direção. —
Underwood é um ótimo parceiro de cama!
— Não acho que precisamos saber sobre o que você e Logan fazem na
cama, Parker! — Summer fala fazendo uma careta.
— Vee, talvez seja melhor nós irmos embora. — Ed sugere quase em um
murmuro, e sei que não estava sugerindo aquilo por acaso, mas sim, para
evitar uma possível discussão entre mim e Logan. Ou outra briga entre mim e
Analu.
— Não pense em mover sua bunda daí, Edmund! — profiro levando o
copo novamente até meus lábios. — Eu prometi isso às garotas, eu
cumprirei.
— Você promete muitas coisas, Blackwell! — A voz de Logan preenche o
ambiente e Summer solta um suspiro, enquanto Levi se escora na cadeira,
como se realmente estivesse apreciando aquele momento. — Chega a ser até
repetitivo.
— Você ainda se mete em assuntos que não te dizem respeito,
Underwood? — pergunto, me virando para ele.
— É a minha especialidade, anjo! — Dá uma piscadela e logo após dá
uma mordida no seu donut.
— A única especialidade que você realmente tem, e diga-se de passagem,
todos nós concordamos, é de ser um babaca! — devolvo, o encarando
friamente, levando o meu donut até meus lábios e dando uma mordida
generosa.
— Voltamos a fase em que te explico que este palavrão está ficando
repetitivo, Verônica?
— Não se iluda a esse nível, pensando que estamos em alguma fase,
capitão! — Vejo seu olhar se tornar fogo, fazendo com que desviasse antes
que alguém entendesse o real significado dele. — Supere que existem
momentos em que minha falta de sanidade é maior que minha inteligência.
Sou salva quando Analu se levanta, envolvendo os ombros de Logan com
as mãos, enquanto vira seu rosto para mim com um sorriso voraz e diz com
um brilho contemplativo nos olhos:
— Quer saber? Estou cansada dessa merda, não adianta vocês brigarem
vinte e quatro horas, é muito cansativo, por isso vou dar o primeiro passo —
ela diz e todos, que ficamos totalmente de boca aberta, mas meu espanto não
acabou por aí, não até ela proferir as próximas palavras. — Vee, você
deveria ir à festa na fraternidade dos garotos este final de semana.
— Isso é algum tipo de brincadeira? — questiono, contudo, ela mantém a
postura e não responde, apenas olha para suas unhas e solta um sorriso. —
Para quê quer que eu vá a essa festa? Para ver você ficar bêbada e falar
merda? — pergunto, devolvendo o sorriso. — Não, obrigada!
— Estou levantando uma bandeira de paz, Verônica, aceite, mulher!
Desvio minha atenção para Oliver sentado à minha frente com a boca
aberta. Minha expressão já diz tudo: você caiu nessa?
— Pequena Blackwell, é uma festa. — Bufo já sabendo qual a sua
resposta. — E nós nunca dizemos não a uma.
— Você não foi convidado, Wright! — Logan rosna do outro lado da
mesa.
— É uma pena que não ligo para isso, Underwood!
— Foda-se você, Logan! — Meu amigo e eu dizemos ao mesmo tempo. —
Eu vou. E não é você quem deve me dizer quem me fará companhia.
Logan lambe os dedos, retirando os últimos resquícios do chocolate,
passando seu polegar vagarosamente por seus lábios, quase me hipnotizando.
Ele me encara sob os cílios, como estivesse me desafiando a ir, então foi a
minha vez de soltar um sorriso de escárnio e me levantar, finalmente
colocando o casaco que Edmund havia me entregado e jogando meu cabelo
para o lado, enquanto caminho até Summer e me abaixo para abraçá-la.
— Me desculpe por te abandonar, mas preciso sair daqui antes que eu
jogue seu amigo por essa janela e precise pagar uma indenização milionária
por isso! — sussurro, enquanto ela solta uma gargalhada fraca. — Nos
vemos na festa, Sum!
— Eu não...
— Você vai sim! — A interrompo. — Preciso das minhas companheiras
de tequila.
Não precisei dizer nada a Ed, ele apenas se levanta e começa a caminhar
ao meu lado, enquanto Oliver lança um olhar cheio de significados para
Summer e depois segue pelo mesmo caminho que estávamos indo. Hazel e
Dylan haviam ficado para trás, apenas para se despedir dos nossos outros
amigos.
Realmente preciso ficar longe de Logan, ainda mais depois do momento
que aconteceu na biblioteca e dos olhares que me lançou durante nosso
pequeno momento dentro do Oásis.
Sei que nada nesse olhar era simples, puro.
Porque Logan Underwood não é isso, ele é uma daquelas poesias
indecifráveis, com versos tortos e metáforas sujas, que foram escritas para
serem efêmeras, mas que nos marcam a pele, chegando a deixar cicatrizes e
nos faz cultivar sentimentos controversos.
E tenho quase toda a certeza do mundo de que me provaria todas essas
afirmações nesta festa.
Insano, por dentro, o perigo me deixa louco
Não consigo me ajudar, tenho segredos que não posso dizer
Eu amo o cheiro da gasolina
Eu acendo o fósforo para saborear o calor
Eu sempre gostei de brincar com fogo
Play With Fire | Sam Tinnesz
Respiro fundo algumas vezes, amaldiçoando Analu por ter sido uma filha
da mãe em convidar Verônica e todo o bando que com certeza se arrastaria
junto dela para essa festa, mas sabia que fez aquilo para me irritar por não a
ter levado para minha casa quando sugeriu. Como diabos eu transaria com
uma garota, quando minha mente ainda tinha a porra da visão de Blackwell
sobre aquela mesa e minha memória auditiva ainda guarda aquela melodia
suave que ela emitiu quando gemeu em meus ouvidos? Não tinha como, e
Analu entendeu o motivo quando Verônica saiu da biblioteca não muito
melhor do que eu. E por esse motivo, e por Parker querer foder com a minha
vida quando a dela não é fodida o suficiente, terei que lidar com todos os
irmãos Blackwell e um Wright que sempre deixou claro seu desgosto por
mim. Ou seja, minha noite será uma merda.
E sei que minhas opções para essa festa realmente são limitadas, quase
inexistentes, porque assim que descer o último degrau da escada, meus
amigos do time irão me puxar para o centro da festa, não me dando a
oportunidade de colocar uma distância segura entre mim e a garota que
ocupava meus sonhos nada inocentes.
Suspiro fundo, finalmente pegando a jaqueta azul do time de SVU em cima
da cadeira e saio do quarto. A voz de Dua Lipa & Sean Paul cantando No
Lie fica ainda mais alta enquanto sigo pelos corredores, indo em direção a
escada. Alguns copos vermelhos já estão espalhados por todo o lugar e eu
começo a ter pena dos calouros que serão recrutados para ajudar na limpeza
dessa casa no próximo dia.
Quando finalmente piso no primeiro andar, o caos se revela, duas garotas
estão em cima da bancada dançando, e isso me faz lembrar da última festa,
onde Verônica e Hazel estavam naquela mesma posição, mas diferente das
duas que agora ocupam um lugar semelhante, minha amiga e sua companheira
estavam realmente apreciando o momento, dançando para se divertir e
tinham um brilho incomparável nos olhares.
— Underwood! — Levi me grita do outro lado da sala. — Finalmente!
Solto um suspiro enquanto caminho até onde ele está. Assim que paro em
sua frente, me viro para cumprimentar meus outros amigos que estão
espalhados em dois sofás escuros. Josh segura um copo azul em uma das
mãos e conversa com Hazel, que está bastante alegre, e apenas desvia a sua
atenção da conversa para me encarar com os olhos brilhantes e solta um
sorriso, fazendo com que eu o devolvesse verdadeiramente. Meu amigo se
limita apenas a acenar a cabeça. Volto meu olhar para Levi, que agora encara
algo do outro lado da sala com uma atenção exagerada, como se estivesse
fascinado.
— Onde diabos está Sum? — pergunto, erguendo a sobrancelha.
Summer não é fã de festas como todos nós, mas é uma das maiores
apoiadoras de um grupo unido e por esse motivo, ela comparece na maioria
delas.
— Com Blackwell! — Levi responde sorrindo, apontando o queixo na
direção oposta à nossa. — Olhe só.
Quando meu olhar encontrou o que ele deseja me mostrar, eu tive a certeza
de que minha noite realmente seria uma merda. Merda. Eu preciso de
algumas doses de bebidas para conseguir manter meus olhos longe de
Verônica Blackwell, porque o termo vestida para matar foi criado para ela.
O vestido preto brilhante com duas tiras o sustentando ia até mais ou menos
um palmo abaixo de sua bunda, o tecido torneia cada uma de suas curvas,
como se fosse um paraíso a ser descoberto, desço o olhar até seus sapatos e
não me surpreendo com a sandália de salto alto envolvida em algumas tiras,
que parecem pequenas estrelas brilhando que vão até seu tornozelo. Ela sorri
para Summer, entregando um copo com um líquido âmbar, que todos nós
sabemos que é tequila, e pega um idêntico; elas os erguem, dão um leve
brinde e logo após, os vira em seus lábios, engolindo a bebida. A loira solta
uma careta, que em questão de segundos se transforma em uma gargalhada, e
remexe o corpo de uma maneira que me faz sorrir.
Summer Miller é, definitivamente, uma péssima dançarina. Abaixei os
olhos por um momento e então percebo que ela não veste suas roupas
habituais. Sum havia abandonado suas blusas da Marvel e trajou um conjunto
que se baseava em uma saia branca e um cropped da mesma cor, as sandálias
não eram tão altas como as de Vee, mas ainda assim a deixam incrivelmente
bonita. E eu sei que Blackwell precisou de muita chantagem para que ela
usasse aquelas roupas, mas minha ex namorada adora um desafio, então, sem
dúvida alguma, ela adorou cada um dos momentos que precisou para
convencer Sum a vestir essas peças. Quando encarei Levi, eu entendi o
fascínio que ele a encarava, Summer rouba a sua atenção como se fosse a
única coisa que existisse na nessa festa, mesmo que outras garotas o encarem
com fome, com desejo de poder compartilhar um momento com o infame
capitão do time de natação.
— Ela nunca vai saber dos seus sentimentos se não demonstrar — solto
para meu amigo, que me encara como se eu fosse um estranho.
— Vamos mesmo falar sobre sentimentos, Underwood? — resmunga
enquanto nos viramos e seguimos para a cozinha, deixando Verônica e
Summer curtirem sua noite.
— Se quiser, sou todos ouvidos. — Sorrio, roubando um copo de cerveja
que um dos jogadores acabou de se servir. — Sou um ótimo apreciador dos
romances.
— Aham, até parece. — Ele enche um copo de cerveja, o leva até os seus
lábios e me encara de um jeito que não aprecio, — Por isso está encarando
Blackwell desta forma? Está apreciando o romance?
Eu paro o copo que está quase chegando à minha boca e lhe lanço um
olhar porco, quase parecido com que ele me lança no momento. E é um
daqueles que só damos a quem realmente nos irrita.
— Não seja um idiota! — advirto.
— Não me pergunte sobre meus sentimentos — devolve no mesmo tom
—, se é tão babaca quando se trata do seus.
Me viro, o abandonado e seguindo para onde o resto dos nossos amigos
estão, não estou com vontade de discutir com Levi, não quando ele trará o
assunto Verônica para a roda e estou muito bem ignorando tudo o que a
envolve desde aquele beijo na biblioteca. Nós guardamos aquilo como se
realmente fosse um segredo sujo, fingimos que não foi real e continuaremos
assim, precisamos fazer com que momentos como aquele não se repitam, mas
o problema é que a mulher que mais parece um diabo do que anjo, está
rondando a porra do meu pensamento desde que voltou, e a minha única
vontade é arrastá-la para o andar de cima e me aterrar entre suas pernas,
como fazíamos no ensino médio.
Quando finalmente me jogo no sofá onde meus amigos estão, percebo a
presença de três pessoas que eu realmente gostaria que não estivesse aqui
nesta noite. Summer já havia voltado da pista de dança e está conversando
com Edmund, que mostra algo em seu celular para a loira como se fosse um
precioso diamante e a atenção dela era toda dele. Hazel agora está sentada
no colo de Dylan, que passa suas mãos pela sua cintura, cochichando algo
em seu ouvido. Levi aparece logo atrás de mim e se joga ao lado de Josh,
confidenciando algo que não entendi.
Meus olhos vão até o canto da parede, para Oliver, que conversa com uma
garota que eu tenho uma vaga lembrança de ser cheerleader, porém, seus
olhos se mantém em Summer, que às vezes lhe devolve o mesmo gesto, seus
olhos queimavam um no outro, não em simpatia ou desejo, é algo a mais,
como se eles estivessem lutando por algo. Observo por alguns segundos e
tenho a impressão de que aquele olhar de Sum, é quase o mesmo que
Blackwell sempre me lança quando se lembra do quanto me odeia.
Meus olhos vagam pela multidão, procurando algo para ocupar minha
mente até que meus amigos decidam ir embora, mas meu olhar recai
novamente sobre Verônica, que agora dança com Mike Burhan e sorria
maliciosamente. Blackwell desliza a mão pela cintura dele e desce
sensualmente até o chão, fazendo com que praticamente todos os garotos
parem para encarar essa cena, então ela se vira para o lado e me vê, suas íris
viram o pior dos incêndios, Verônica solta um sorriso maquiavélico em
minha direção e sem desviar o olhar, volta a subir novamente, dessa vez
rebolando lentamente, me dando a visão perfeita de sua bunda tampada pelo
pouco tecido.
Ela está me convidando para um jogo. Um jogo sujo, que só nós dois
sabemos as regras e que nossas jogadas definirão o final desta noite. E,
porra, eu estava realmente seguindo meu pensamento de querer mantê-la
longe, mas depois disso, é impossível.
Quando ela se aproxima e beija o pescoço de Mike, como eu fiz com ela,
eu soube exatamente o que desejava. O jeito como suas pupilas se dilatam,
me revela que ela me imagina ali, deseja que fosse eu o responsável por
tocar em cada curva sua, ajudando-a a se mexer conforme a melodia. E, por
Deus, eu nunca desejei tanto dançar como uma garota como nesse momento.
E realmente estou cogitando a ideia de ir até lá e puxá-la dos braços de
Burhan, até que sinto um toque gentil em meus braços, me fazendo cortar o
contato visual com Blackwell.
Num primeiro momento quis xingar todos as divindades por isso, mas
quando me viro para o lado, uma caloura com a pele levemente bronzeada e
os cabelos cacheados se aproxima de mim e solta um sorriso sagaz,
deslizando uma de suas mãos pelo meu ombro e se inclina, indo até perto do
meu ouvido. Apenas solto um sorriso.
— Oi gatinho! — sussurra. — Tá a fim de dançar?
Volto meu olhar para Blackwell, que agora cochicha algo para Mike, ele
se abaixa e sorri abertamente, como se tivesse ganhado a noite. Encaro a
garota a minha frente, devolvendo o sorriso, e seguro sua mão, puxando-a
para mais perto e sussurrando de volta:
— Me mostre o que sabe fazer, querida!
Não precisou de um incentivo maior para ela me levar até onde todas as
pessoas dançam. Minha parceira coloca as mãos em meu abdômen,
dedilhando suas pequenas unhas em minha pele coberta pela minha camiseta
e começou a rebolar, seu vestido rosa sobe um pouco com o movimento, mas
pela sua expressão, estava pouco se importando com isso. Ela se aproxima
para deixar um beijo em meu pescoço e meu olhar se volta para Verônica,
que me encara sobre os ombros de Burhan, e imita o mesmo gesto da minha
companhia. Nossos olhos criam uma conexão quente, excitada e familiar. E
com um rosto regado a desafio, ela move os lábios sem emitir nenhum som:
— Babaca!
— Megera! — Solto um sorriso de lado.
Mike a gira, fazendo com que perdêssemos o contato visual, minha
parceira de dança volta a me encarar com fome, como se apenas uma dança
não fosse a saciar. Ela se vira de costas e começa a se abaixar, fazendo com
que nossos corpos se juntem, mas eu não estou apreciando esse show que me
dava. Estou apreciando o olhar divertido que Verônica me lança do outro
lado da sala a cada vez que Mike a encara com a mesma fome que a minha
companheira.
Sorri ardilosamente, passando a língua pelo meu lábio, porque sabíamos
que eles poderiam nos desejar, mas não passaria disso. Porque nós dois não
queríamos matar essa fome que nos consome com eles, queremos mais.
Queremos nos deleitar sobre o caos, reinar sobre o perigo.
Verônica Blackwell e eu queremos misturar fogo e gelo novamente.
Pecar da melhor forma possível. Com os piores demônios.
Quando me afasto da garota, Verônica já não está mais lá. Por um
momento, acho que tivesse levado Mike para o quarto e fizesse aquilo que eu
desejo fazer com ela nesse momento, mas o vi conversando com um dos
nossos jogadores na entrada da cozinha, então sigo para o único lugar que
ela poderia estar. Passo entre os convidados e subo as escadas, desviando
de algumas pessoas que me chamam. Não consigo dizer se é a adrenalina, a
endorfina, ou seja lá quantos outros hormônios que percorrem as minhas
veias nesse exato momento, fazendo com que me sinta vivo, inalcançável. E
esse sentimento é algo que se instala em meu peito, me mostra que isso deve
acontecer e que estou em êxtase por isso.
Assim que viro o corredor onde os quartos ficam, eu a avisto. Ela vira o
rosto por cima do ombro e sorri como se eu fosse o melhor prêmio da noite;
eu só consegui devolver o sorriso. Uma parte de mim sabe que se pensarmos
muito, iremos desistir desse momento, mas estamos excitados demais e
precisamos nos libertar dessa sensação. E, principalmente, precisamos saber
que esse desejo que nos corrói, irá acabar assim que terminarmos de foder.
Caminho rapidamente em sua direção e ela começa a fazer o mesmo, e
assim que nossos lábios se colidem ferozmente, eu tenho a certeza de isso é
a porra mais certa que fiz nesta noite.
O meu anjo é realmente como uma droga, que cada vez que eu provo, me
vicio mais.
Seguro sua cintura e giro seu corpo, prensando na parede mais próxima,
intensificando o beijo. A língua dela desliza pela minha, me indicando que
ela não deseja um beijo tímido, calmo, ao contrário, ela me dá um furioso,
desesperado. Uma das minhas mãos segura seu pescoço e a outra aperta sua
cintura, como se tivesse medo que por algum instante, ela desista dessa
nossa brincadeira. Mas sou pego de surpresa quando ela dá um impulso e
pula em meu colo, fazendo com que eu rapidamente a segure pela bunda.
Verônica solta meus lábios apenas para passar sua língua por toda a extensão
do meu pescoço, mordendo o lóbulo da minha orelha, enquanto suas pernas
serpenteiam o meu quadril, me trazendo para mais perto. Ela respira e se
aproxima de meu ouvido sussurrando:
— Não pense por um segundo que o que está acontecendo aqui muda o
sentimento que tenho por você, Underwood! — Sua voz deveria ser
ameaçadora, mas saiu sensual, tão sensual que meu pau latejou.
Eu me abaixo, beijo o seu decote, depois subo pelo seu pescoço e solto
um sorriso depravado.
— Eu vou foder você, Blackwell — sussurro, deixando um beijo perto de
seu ouvido —, de uma maneira que todos os seus átomos saberão o quanto te
odeio. — Passo a minha língua pela extensão do seu pescoço da mesma
maneira que ela fez segundos atrás. — E eu não vou parar, eu vou te comer
contra todas as paredes do meu quarto, firme e forte, enquanto você grita
meu nome, para que todos os babacas lá embaixo que te desejaram com os
olhos enquanto dançava, escutem e saibam que mesmo que nós nos odiemos,
essa boceta ainda deseja o meu pau!
Antes que ela respondesse, volto a beijá-la. Caminhando até a porta do
meu quarto e abrindo-a, mesmo que minha real vontade fosse fodê-la ali.
Mas saber que qualquer babaca poderia aparecer naquele corredor e a
desejasse, fez um ódio percorrer meu corpo.
Verônica não me solta enquanto eu chuto a porta e tranco. Ela apenas se
delicia com meus lábios, como se estivesse provando o seu doce favorito.
Quando finalmente nos separamos em busca de ar, é impossível dizer quem
está mais ofegante. Seguro sua bunda para que não caísse sobre o chão, mas
ela apenas se desvincula de mim e dá alguns passos para trás, virando-se de
costas e me dando uma puta vista de suas mãos indo até o zíper de seu
vestido, me olhando sobre o seu ombro em desafio para que me levantasse e
a ajudasse. Por um segundo, eu apenas quis observar aquela cena, mas
minhas mãos querem o contato de sua pele quente e macia e quando dei por
mim, estou caminhando em sua direção, a ajudando a se livrar de seu maldito
vestido. Assim que finalmente o retirei, deixando-a apenas de calcinha e
sutiã, jogo o vestido em algum lugar do quarto e observo enquanto ela se
vira e faz suas mãos trabalharem em minha jaqueta, jogando no chão; depois
minha camisa e então começa uma luta com minha calça. Éramos um
emaranhado de mãos e braços, e antes de percebermos, já estávamos nus. E
fodida seja Blackwell e seu corpo perfeito.
— Não irei te oferecer uma foto desta vez, Underwood! — ela diz
sensualmente.
— Eu não preciso, anjo! No momento, o que eu preciso é apenas da minha
língua em cada curva do seu corpo — devolvo.
— Não tão rápido! — Ela tomba a cabeça de lado, fazendo com que as
cascatas de seu cabelo caíssem sobre seus seios. — Sente-se, agora!
Eu não desejo discutir com Blackwell, não com uma versão dela nua na
minha frente, então pelo bem do resto da minha sanidade, caminho de costas
até a beirada da cama e ela sorri quando me alcança, Verônica se ajoelha
entre minhas pernas e lambe seus lábios da maneira mais gostosa que alguém
pode fazer.
— Aproveite a vista, Underwood! — ela sussurra, passando as unhas
pelas minhas coxas nuas, fazendo com me arrepiasse. — Porque não será
sempre que verá um Blackwell de joelhos para você.
E sem mais nenhuma palavra, ela se abaixa e lambe a extensão do meu
pau. Começa leve, como se estivesse apenas se preparando, mas a verdade é
que eu deveria estar me preparando, porque quando ela envolve seus lábios
na minha glande, solto um gemido alto o bastante para quem quer que
estivesse passando pelo corredor no momento escute. Filha da puta gostosa.
Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o
restante com seus lábios lindos e quentes. Eu estou nas nuvens e Verônica
Blackwell é a responsável por isso. Minhas mãos vão até seus cabelos e os
prendo entre meus dedos, forçando-a a me encarar enquanto fodo sua boca e
um sorriso sagaz se forma em meus lábios, mas aquilo não a intimida, ao
contrário, ela se delicia com cada segundo, brinca com minhas bolas
enquanto engole meu membro, depois volta a colocar meu pau novamente na
boca, chupando, olhando para cima, encontrando o meu olhar.
Verônica Blackwell é linda diariamente, porra, ela é deslumbrante, mas
nesse momento não há comparação melhor que não fosse com uma deusa. As
bochechas levemente coradas, os olhos brilhantes em excitação e com meu
pau entre os lábios, isso é a como a porra de um paraíso, que eu não tenho
intenção de sair. E mesmo se ela fosse a cobra que me ofereceria o fruto
proibido, eu o comeria. Pecaria de bom grado.
— Porra… anjo! — digo entre gemidos. — Não pare!
Ela não o faz, ao contrário, esboça sua melhor cara de safada e volta a se
deliciar novamente com todo meu membro, eu posso sentir o meu próprio
êxtase chegando, posso sentir que não aguentarei mais que alguns pequenos
minutos. E, pelo amor de Deus, eu preciso prová-la. Com o pensamento de
que realmente preciso disso, volto a prender seus cabelos, firmando o aperto
enquanto ela me engolia por inteiro e acelero o movimento, quando sinto
meu orgasmo chegando, Vee não se afasta, ela continua chupando, lambendo
e assim que explodo, ela engole cada gota.
Minha respiração está totalmente descompassada e quando lambe minha
virilha e se levanta, limpando o cantinho da boca, eu perco o resto de
controle que ainda tinha. Eu me levanto, pego sua cintura e a jogo na cama de
pernas abertas, assim que suas costas tocam o colchão, ela me puxa para um
beijo. Nossas bocas se chocam e é como a explosão mais caótica que o
mundo já presenciou. Desço, deixando algumas mordidas seguidas de
pequenos beijos pelo seu pescoço, depois a clavícula, dou uma atenção a
mais aos seus seios, então vou descendo até chegar em sua boceta. Meu
sorriso apenas se alarga quando passo lentamente meus dedos pela sua
entrada, observando o quão excitada está. Levo dois dedos na boca, antes de
me ajoelhar e começar a beijar toda sua perna torneada, até chegar
novamente em sua vagina. Quando minha língua toca sua entrada, ela solta
um gemido e leva suas mãos até meus cabelos. Um sorriso se estende em
meus lábios, fazendo com que movimente minha língua lentamente,
mergulhando no seu centro.
O contato fez Vee soltar gemidos que me deixam louco, meus dedos
deslizam dentro dela em um movimento rápido, movendo para baixo e para
cima em suas dobras, revestindo todo o seu prazer.
— Logan — ela diz entre gemidos.
— Você se lembra de quando disse que gozaria em minha boca, anjo? —
profiro maliciosamente, lambendo outra vez antes de me afastar e sorrir
como um louco. — Prepare-se, porque esse é o momento!
Eu sei que ela não cederá tão fácil, mesmo que esteja amando o momento,
então abaixo meu rosto mais uma vez, lambendo enquanto meus dedos a
fodem. Eu realmente poderia gozar apenas de ver Blackwell dessa maneira,
com as pernas entre meu rosto, com os olhos fechados e os lábios levemente
entreabertos. A melodia de seus gemidos é uma maldita música para meus
ouvidos. E uma necessidade imensa de estar dentro dela fez com que levasse
meu polegar e começasse a circular até seu clitóris, movendo de uma forma
que seu orgasmo chegasse, e em poucos segundos suas costas arquearam e
um prazer irrompeu daquele ponto. O êxtase de Verônica se espalhou como
eletricidade.
Ela ergue o quadril, enquanto espasmos enchem o seu corpo. E puta
merda, é a coisa mais linda e sensual que havia presenciado em toda a minha
vida.
— Não pense que acabamos, anjo! — digo enquanto subo, cobrindo seu
corpo com o meu. — Eu prometi te foder com força, até que soubesse o
quanto te odeio.
— Não espero menos que isso, Underwood! — profere sensualmente,
soltando um sorriso travesso. — Mostre-me até onde pode me odiar.
— Vire-se e segure a cabeceira da cama, anjo — sussurro em seu ouvido.
— E se prepare… porque não terminaremos até que estejamos esgotados.
Ela se vira, me dando a visão de sua bunda perfeita, eu me abaixo e
distribuo leves mordidas em suas costas, fazendo ela se remexer, trazendo
seu corpo para perto do meu pau. Alcançando o preservativo na mesinha de
cabeceira, rasgo o papel alumínio e rolo látex sobre meu comprimento, logo
após, posiciono em sua entrada e então deslizo para dentro de Verônica.
Aquela sensação de preenchimento está de volta, e é como se todos os
nossos fragmentos estivessem se completando.
Dei um impulso lento e profundo, a enchendo-a completamente. Quando o
corpo de Vee se acostumou, deslizei para trás e depois entrei novamente com
força, uma, duas, três vezes, e começo a ir rápido o bastante, provocando
nela gritos de prazer.
— Grite assim novamente, anjo — profiro segurando sua cintura enquanto
estocava na mesma medida. — Deixe que todos escutem que está sendo
fodida.
— Merda… Logan! — choraminga movendo o quadril — Eu preciso de
mais, agora.
Com isso, perco toda a sanidade que ainda me resta, faço com que minhas
estocadas percam o ritmo. A penetro com mais força, mais rápido e mais
fundo, várias vezes. Tudo de uma vez, balançando em Vee desenfreadamente.
Nossos corpos colidem enquanto eu seguro sua cintura e observo seu corpo
se desfazer sob meu toque. A palma da minha mão entra em contato com sua
bunda, transferindo um tapa, o barulho se instalou por todo o quarto. E
depois outro, enquanto ela grita por mais, grita para forçar mais rápido e
com mais força.
— Eu quero tudo, Logan… — resmunga enquanto deslizo meus dedos até
seu clitóris e o massageio. — Q-quero cada parte de seu ódio.
— Eu lhe darei, anjo — grunhi em seu ouvido.
Seguro seu cabelo, forçando a se levantar um pouco, enquanto me
abaixava sobre suas costas. Ela virou o rosto em minha direção, encontrando
meus lábios e os reivindicou para si. Éramos o pior dos incêndios e
estávamos adorando aquilo, cada vez que eu a preenchia, ela gemia e gritava
meu nome como se eu fosse a sua prece.
O suor se estendia por toda a nossa pele, desci uma de minhas mãos para
frente de seu corpo e dedilhei cada parte de seu abdômen, até finalmente
chegar em sua entrada, fazendo com que sentisse meu pau a preenchendo.
Dois dedos foram em direção ao seu clitóris o esfregando, o atrito se
intensificou e a fez soltar um gemido.
Sua boceta se contraiu em meu pau e logo em seguida, o meu membro
seguiu por esse caminho também. Podia sentir nosso êxtase chegar. Quando
finalmente Vee chegou ao seu limite, enquanto me desfazia, a preenchendo
por completo. Abaixo meu rosto suado sob suas costas, fechando meus
olhos.
Ficamos ali mesmo, quietos, ouvindo as batidas de nossos corações.
Quando finalmente saio de dentro dela, ela apenas se deita em minha cama,
exausta. E eu a entendia, porque apenas caminho até o banheiro, me limpo e
trago uma toalha úmida para que se limpasse. Assim que meus olhos recaem
sobre ela, percebo que estava sonolenta, então me sento ao seu lado,
passando a toalha sobre toda sua parte sensível e puxo o cobertor sobre seu
corpo quando a vejo fechar os olhos. Ela se vira e os cabelos negros se
esparramam pelo meu travesseiro, o corpo ocupando metade da cama e o
rosto parecendo um anjo. Me levanto, jogo a toalha no cesto de roupa suja e
volto a caminhar até ela, passo os dedos pelas suas bochechas coradas
enquanto ela se desfazia no seu próprio sono. Não havia mais a música lá
fora, o único barulho que me interessava era a respiração calma de Verônica,
a forma como estava tranquila e em paz e quando me levanto, ela segura uma
de minhas mãos.
— Logan? — diz sonolenta, sem abrir os olhos.
— Hum?
— Eu ainda te odeio, ok? — Solto um sorriso, enquanto vou até o outro
lado da cama e me deito. — Muito.
— Eu sei, anjo! — devolvo, me ajeitando em meu travesseiro.
— Mas eu gostaria que não precisássemos nos odiar, capitão… — Eu
conhecia aquela voz, e sabia que ela não se lembraria daquela confissão
quando acordasse, por conta de estar sonolenta. E uma parte de mim queria
dizer que também não queria odiá-la, mas essa é a nossa vida e nós não
tínhamos controle sobre isso, não mais.
— Durma, anjo, amanhã voltaremos ao nosso jogo sujo.
Amanhã. Porque hoje, nesse momento, eu não a odiava. Porque um pedaço
de Verônica Blackwell foi meu nessa noite. Por poucas horas, mas o
suficiente para me fazer sentir vivo novamente.
Se eu estivesse morrendo de joelhos
Você seria aquele que me salvaria
E se você estivesse afogado no mar
Eu te daria meus pulmões, para que você pudesse respirar
Eu estou com você, irmão
Brother | Kodaline
Eu tenho uma lista de coisas proibidas, coisas que eu sabia que deveria
seguir à risca, e talvez isso fosse loucura, porque ela consistia em apenas
três itens: Não usar botas coloridas, não atender meu pai após às 17h e não
foder com Underwood.
E estava seguindo-as perfeitamente. Até hoje.
Essa situação me lembra quando minha mãe lançou uma coleção de roupas
e seu co-estilista aconselhou-a a usar botas coloridas com uma peça que já
era totalmente colorida, o que, obviamente, me fez surtar. Mas o que tem a
ver com isso agora? Eu estou tendo a mesma reação neste exato momento,
enquanto sinto o braço de Logan me segurando pela cintura, fazendo com seu
corpo fique aconchegado ao meu e pudesse sentir sua respiração lenta em
meu pescoço. Merda. Eu nem tenho desculpa para explicar esse momento,
porque não estava bêbada ou dormindo quando nos atacamos no corredor ou
quando fiz sexo oral nesse bastardo, e muito menos quando ele chupou,
lambeu e se me fez enxergar estrelas cada vez que sua língua desbravava a
extensão do meu corpo, e não me surpreenderia se eu tiver marcas em toda
minha pele.
Pisco novamente, expulsando aqueles pensamentos pecaminosos e tento
traçar um plano de fuga. Um que não envolva meus irmãos me interrogando,
Mike me pegando saindo furtivamente deste quarto e me fazendo perguntas
idiotas, ou Oliver descobrindo essa situação. Ok, talvez eu esteja
literalmente fodida. Seguro a mão de Logan calmamente, levantando-a,
enquanto rolo para o outro lado da cama. Se eu tiver sorte e ele ainda
possuir o sono profundo, conseguirei sair sem passarmos por aquele
momento constrangedor em que sabemos que tudo o que rolou nesta
madrugada será engolido por uma briga. E para minha sorte, ele apenas solta
um resmungo e passa seu braço, que antes me segurava, por baixo do
travesseiro, voltando a dormir pesadamente. O movimento faz com que os
músculos de seu corpo apareçam e o edredom caia um pouco de lado,
liberando aquele corpo incrivelmente gostoso. E, por Deus, esse homem só
pode ser um deus grego vindo direto do Monte Olimpo.
Bato a mão em minha testa, me repreendendo por estar secando
Underwood dessa forma, enquanto eu deveria estar colocando meu vestido e
saindo desse quarto antes que ele acorde. Quando começo a percorrer meus
olhos pelos quatro cantos do quarto, procurando minhas roupas, coloco
minha calcinha que estava jogada ao lado da cama queen-size, respiro fundo
ao constatar que meu vestido não está em nenhum lugar, então faço o que
nunca imaginei que faria. Roubo a camisa que Logan estava vestido ontem à
noite, ela ia até o meio das minhas pernas e não esconde mais do que o
vestido escondia. Preciso sair daqui rápido o suficiente para que os
jogadores não acordem, por isso pego minhas sandálias e meu celular e abro
a porta lentamente, saindo do quarto de Underwood.
Respire, Vee. Ok, passamos pelo primeiro e pior obstáculo. São poucos
passos até a porta de entrada, então desbloqueio meu celular e ligo para a
única pessoa que pode me salvar desta situação de merda. O primeiro toque
veio quando pisei no primeiro degrau da escada e quando estava no meio
dela, Hazel finalmente atendeu.
— O que diabos você fez para me ligar a essa hora, Verônica? — ela
resmunga, o barulho de uma buzina de algum carro me fez respirar
aliviadamente.
— Uma merda. — Suspiro, mordendo meu lábio inferior. — Uma merda
bem grande.
— Acho que hoje todas minhas amigas decidiram fazer alguma merda. —
Hazel acusou. — Onde você está?
— Fraternidade, mais especificamente saindo dela — profiro quase
chegando à porta. — Preciso de uma carona, quantos minutos acha que pode
chegar aqui?
— Estou do lado de fora, agora ande logo antes que eu me arrependa e
volte para casa — ela manda e desliga sem esperar por uma resposta.
Quando abro a porta, uma Hazel com um pijama que eu sei que é de
Dylan, com cara de sono e um cabelo todo bagunçado, me encara irritada. Eu
me pergunto se ela já esperava que ligasse para me salvar ou se tem outros
motivos que a trouxesse até aqui antes das sete horas da manhã. Porém, no
momento, não me importo com isso, ao contrário, eu poderia ajoelhar e
beijar seus pés apenas por me salvar desta situação.
Solto um sorriso envergonhado para ela, enquanto amarro meu cabelo em
um coque e quando abro a boca para dizer algo, a porta volta a se abrir. Meu
coração para e eu oro rapidamente para não ser Logan. Mas quando olho por
cima dos ombros e encontro uma Summer assustada, com as roupas
embaralhadas e me encarando com a sobrancelha erguida, finalmente solto a
respiração presa em minha garganta.
— Eu odeio vocês duas, por me acordarem às sete horas da manhã para
salvar a bunda de vocês — Hazel resmunga, caminhando até a Land Rover
preta estacionada do outro lado da rua, que eu sei que é de Dylan. — Você
tem sorte por Dylan ter bebido um pouco demais essa noite e não quis me
acompanhar até aqui, Verônica.
— Nunca fiquei tão aliviada por meu irmão estar de ressaca. — Abro a
porta do banco do carona, enquanto Summer desliza para o banco traseiro e
Hazel para o motorista.
— Do que caralhos vocês estão fugindo daquela fraternidade a essa hora
da manhã? — Ela me ignora e praticamente grita.
— Ninguém — dizemos rapidamente em uníssono.
— Você está com a blusa que Logan estava na festa ontem, Verônica! —
Hazel tira os olhos da estrada por um momento. — É sério? Vocês dois
decidiram que as merdas que os envolve se resolveria se transassem?
— Merda!
— Deixe-a em paz, Hazel! — Summer intervém e eu queria beijá-la por
isso.
— E com quem diabos você estava? — Hazel a encara pelo retrovisor do
carro.
— Me desculpe se você é a única que pode transar, Smith! — resmungo e
ela me lança uma careta séria por tê-la chamado pelo seu sobrenome que
odeia. — E sei que está nervosa por termos te acordado cedo, mas pelo
amor de Deus, pare de surtar!
— Eu não estou surtada por transarem, estou surtando porque estou
preocupada com vocês, isso sim! — Ela estaciona em frente a uma
cafeteria, respira fundo e o tom de sua voz desce uma nota quando volta a
falar. — Vou comprar algo para comermos e então as duas irão me contar
tudo o que aconteceu nesta festa, ok?
— Certo, mãe! — Summer resmunga.
Hazel puxa sua bolsa e sai, quase batendo a porta do carro. E tenho uma
suspeita de que apenas não bateu porque Dylan ama essa Land Rover mais
do que ama a mim e Edmund. Olho pela janela e solto um sorriso quando os
poucos clientes encaram seu pijama como se tivesse agredido a moda por
andar pelas ruas de Saint Vincent daquela maneira. Summer solta um suspiro
no banco de trás, se jogando no banco, me viro em sua direção, observando
seus olhos fechados e uma leve marca roxa em seu pescoço.
— Desembucha — digo. — Se quiser uma desculpa para usar com Hazel,
é melhor falar agora para que eu possa te ajudar.
— E-eu… caí no sono em um dos quartos... — mentiu.
— Você é uma péssima mentirosa, Sum! — Solto uma gargalhada e me
aproximo um pouco, sentindo o cheiro de perfume masculino, sabendo que
ele pertence a um dos nossos amigos.
— Merda, Vee!
— Relaxe, eu transei com Logan! — Foi minha vez de suspirar. — Minha
situação é pior do que a sua.
— Eu não deveria ficar feliz por isso, mas é inevitável! — Ela solta uma
gargalhada.
— Se não estiver pronta para dizer sobre isso, apenas diga a ela que
bebeu demais e que realmente dormiu em um dos quartos vazios, todos nós
vimos você beber, mas creio que ela não acreditará! — Sorrio calmamente.
— Vee, eu não deveria ter feito o que fiz hoje…
— Se não estiver pronta para falar sobre isso, não fale! — Seguro sua
mão. — É a sua vida, e está tudo bem não querer compartilhar tudo, Sum!
Antes que ela possa responder a porta do carro é aberta e Hazel entra, se
sentando no banco atrás do volante; percebo que está mais calma, ela me
passa uma bandeja com três copos e uma sacola com alguns donuts. Ela
apenas liga o carro e volta a dirigir silenciosamente até a mirante da cidade,
assim que estaciona novamente, deixa com que uma música do One Direction
ecoe pelo pequeno ambiente. Por alguns segundos eu apenas bato minhas
unhas em meu colo, prestando atenção nas vozes dos garotos que cantam
Night Changes, mas a respiração que Hazel solta me faz perceber que esse
silêncio que mal havia começado, acabou.
— Vamos definir isso por tópicos principais — ela diz passando o café
para mim e um cappuccino para Summer. — Você transou com Underwood e
você, Summer, sumiu da festa e só apareceu agora. Que merda vocês
ingeriram naquela pista de dança?
— Tequila! — falamos em uníssono novamente, o que nos fez olhar para
Summer e soltar um sorriso cúmplice.
— Puta merda! Vocês parecem duas adolescentes que aprontaram alguma
merda e estão tentando esconder de seus pais e não duas adultas de vinte e
dois anos. — Ela suspira, apontando para mim. — Você, Verônica, eu já
deveria suspeitar que estava com Logan, porque assim que sumiu, ele
evaporou, deixando uma caloura bastante irritada para trás. — Ela levou seu
copo até os lábios e ingeriu a bebida, ficando em silêncio por alguns
segundos. — Aliás, todos nós sabíamos que isso aconteceria mais cedo ou
mais tarde... — Ela se virou para Summer, antes que pudesse dizer algo. —
Agora o suspense aqui é você, Miller!
— Hazel…
— Não, Vee, vocês não estavam bêbadas, e caralho, eu realmente fiquei
preocupada quando Sum me ligou e depois de alguns minutos você... — Ela
me interrompe. — Eu achei que algo tinha acontecido.
— Ele, eu estava com ele! — Summer solta e então bebe seu café como se
aquilo fosse seu escudo contra os olhares que nós lançamos para ela. —
Merda! Quando dei por mim… aconteceu.
— Ele? A mesma pessoa que você falou que nunca transaria? — Tanto a
minha boca, como a de Hazel se abre em choque pela confissão de Sum. —
Você… Verônica, sabia disso?
— Eu estou tão surpresa quanto você. — Balanço a cabeça, dando de
ombros e solto um sorriso travesso. — Ela transou, Hazel, fique feliz por
nossa amiga.
— Vocês são duas idiotas! — Hazel gargalha. — E eu achando que tinha
sido precipitada por ter voltado com Dylan. Mas, porra, vocês duas…
— Ela está bem? — Ergo uma das minhas sobrancelhas, me virando para
Summer, que mantém uma careta voltada para nossa amiga.
— Ela sempre faz isso quando está surpresa com alguma coisa, não ligue!
— Summer dá de ombros.
Levei o copo até meus lábios, absorvendo o gosto do café, enquanto Hazel
se recupera lentamente de sua crise de gargalhada. Mas quando nos encarou,
eu soube que o modo mãe estava de volta. Fingi uma súbita curiosidade
pelos donuts dentro da sacola, enquanto ela bebia silenciosamente o seu café
e afiava o olhar para mim. Mas quando meus olhos a encontraram
novamente, ela soltou um sorriso malicioso e se escorou no banco, cruzando
os braços.
— Eu salvei vocês duas, agora preciso da sua ajuda — disse
ingenuamente para mim.
— Neste momento, eu realmente estou me arrependendo de ter te ligado.
— Bufo, pegando o doce e levanto até a boca. — Desembuche.
— Precisamos de uma capitã na equipe das cheerleaders — diz
calmamente. Minha mão fica parada, enquanto segura o Donut na boca,
sabendo que alguma merda está prestes a vir à tona. — E você é a melhor
pessoa para isso.
— Não — respondo, quando finalmente recupero o ar e abandono meu
café da manhã quase que intacto. — Me peça outro favor, qualquer outro e
eu farei.
— Ela nos salvou de uma caminhada da vergonha, Vee… — Summer
sussurra.
— Isso não significa que eu tenho que fazer algo nesse nível para
agradecer. — Me defendo, quase que em uma voz inaudível.
— É o único favor que preciso, depois disso… nunca mais toco neste
assunto sobre ter salvado você e Summer desta saída vergonhosa. — Ela
junta as mãos e me encara como se eu fosse sua salvação.
— Merda! — Eu estava realmente pensando na ideia de que ter que
encarar o olhar de Ed e Dylan seria melhor do que aquilo. Não, não seria,
eles surtariam pior do que minha amiga neste momento. Mas a ideia de
voltar a vestir um uniforme azul e roxo e treinar uma equipe, faz uma
agitação entrar pelas minhas células, me faz querer voltar a correr pelos
estádios defendendo um time, sentir aquela vibração, comemorar com Hazel
e Summer em uma festa após uma vitória. É isso que eu quero, e isso que me
assusta, porque há anos que não penso nisso, que não desejo coisas tão
banais. Mas a culpa que ainda corre pelas minhas veias sobre aquela noite
do recital há quatro anos atrás diz que eu não mereço essa oportunidade, que
eu não sou digna de ter essas coisas que eu sempre amei, porque ela não
teria. — Eu não posso…não depois de tudo.
Eu realmente não podia? Ou eu estava sendo covarde porque tudo aquilo
me lembrará Sophie? Me lembrará das nossas últimas brigas, do seu último
pedido que me destruiu completamente por dentro. Porque eu sei que meus
irmãos e Oliver estarão lá, sei que essas duas malucas que me ajudaram a
sair daquela fraternidade e gargalharam comigo a momentos atrás, também
irão me segurar caso eu cair, porque isso é a nossa amizade; é saber que
poderíamos confiar de olhos fechados, é deixar que saibam sobre nossas
cicatrizes, saber que estaremos lá quando todo o mundo ruir.
Mas então, o que me segura? O que me faz estagnar dessa forma, fazendo
com que eu não tenha forças nem mesmo para… correr atrás dos meus
próprios sonhos?
— Vee, você pode! — Summer aperta meu ombro, me lembrando que
meus irmãos fazem a mesma coisa quando preciso de apoio. — Você
consegue fazer qualquer coisa.
— E se não conseguir, estaremos aqui. — Hazel coloca a mão por cima da
de Summer. — Juntas, como o trio das três espiãs demais, sabe?
— Ugh, Hazel! Seu gosto para desenhos é péssimo! — Summer faz uma
careta.
— Cale a boca e concorde, Miller! — Ela devolve e então solta um
sorriso, como se não estivesse discutindo sobre desenhos a alguns segundos
atrás.
— Vocês são ridículas! — Eu começo a gargalhar e quando recupero o ar,
seguro a mão delas e suspiro fundo. — Tudo bem, eu posso tentar entrar para
a equipe, mas não posso prometer que eu vá conseguir!
Eu não sei se me arrependerei desta decisão, porém, uma parte do meu
coração me diz que isso deve acontecer, que eu não estou ofuscando Soph da
minha vida, mas, sim, que apenas estou finalmente me livrando daquele peso
que a culpa me faz carregar durante esses anos. Eu estou enfrentando meus
medos, minhas cicatrizes e meus pesadelos. Eu posso fazer isso.
Hazel me puxa para um abraço, me tirando dos meus pensamentos e sinto
que Summer vem logo em seguida, nos envolvendo com seus braços finos.
Eu sempre achei que apenas Oliver e meus irmãos me entendiam,
conseguiam me fazer sentir digna de algo. E estava errada.
Summer e Hazel também estão ali para mim, me mostrando que são
minhas amigas e estarão ali caso eu caia.
E eu também estarei se caso for ao contrário.
O barulho dos punhos encontrando o metal dos armários grita que está
começando mais uma temporada de jogos. A adrenalina percorre meu corpo,
enquanto visto a última peça de meu uniforme, sentindo o cheiro da grama
fresca recém preparada para nos receber. Acima de nós, posso ouvir os
passos dos torcedores seguindo seus caminhos até as cadeiras, prontos para
ver nosso espetáculo.
Sou o capitão e sei que deveria prestar atenção no que o treinador começa
a gritar assim que entra no vestiário, mas a porra da minha mente verbera em
apenas uma pessoa: Verônica Blackwell. Nela fugindo do meu quarto,
deixando apenas seu vestido como lembrança da noite quente que tivemos.
E essa lembrança, a imagem dela sobre minha cama, enquanto eu a
penetrava, se fixou em minha cabeça a semana toda, mesmo que a dona desta
memória esteja me evitando como se eu fosse seu pior pesadelo. E eu
deveria estar feliz com isso, afinal, havíamos prometido nos mostrar o
quanto nos odiávamos, o quanto poderíamos ser o pesadelo um do outro.
Mas tudo fugiu do controle, principalmente porque fui idiota o suficiente
para acordar e passar o braço pelo enorme colchão atrás da mulher e
perceber que ela havia ido embora no meio da noite.
E, porra, o que aconteceu naquela festa deveria realmente significar que
nossa atração era carnal, apenas uma necessidade regada à luxúria. Mas
depois que a provei, beijei cada curva daquele corpo, eu não acredito mais
nisso. Porque a parte mais afetada nessa merda toda não foi meu pau, foi a
porra do meu coração.
Mas não estávamos preparados para isso e tive a conclusão disso quando
ela me enviou metade do trabalho via e-mail, não discutiu ou mandou alguma
frase sarcástica, apenas mandou uma frase cordial e me disse que
resolveríamos todos os problemas que vier a acontecer junto com todos os
integrantes do grupo, ou seja, ela não estava a fim de me encarar.
Verônica Blackwell está sendo uma covarde de merda.
— Onde caralhos está sua atenção, Underwood? — O treinador grita do
outro lado do vestiário.
Levanto meu rosto em direção a sua voz. Ele está parado com os braços
cruzados e uma prancheta em mãos. É raro vermos Danforth sem suas blusas
polos ou seu boné da SVU, mas hoje, ele está vestido a caráter para o
momento. Sua blusa social azul marinho, junto com uma calça social que eu
sei que está odiando usar. Diferente de todos nós, que vestimos o manto azul
e roxo da universidade. O falcão grita em nosso peito que é hora de
voltarmos, hora de mostrar a todos que traremos a taça da temporada para a
universidade que pertence.
E tenho certeza de que meus companheiros também sentem o mesmo,
porque neste momento, eles gritam por todo o enorme vestiário, levantam
seus capacetes e sorriem uns para os outros. É uma bagunça, mas mesmo
assim, é onde me sinto bem. Confortável. Mesmo que o peso desta noite irá
recair sobre mim, porque mesmo que seja apenas o primeiro jogo, ainda sim
estamos em casa, precisamos mostrar que somos fortes e unidos. E que
mesmo que seja o capitão mais jovem que o time já teve, nós continuamos
sendo os fodidos The Falcons.
— Desculpe, estou pensando em um trabalho de uma disciplina difícil —
minto, passando a mão pelo meu cabelo e me inclinado para escorar meus
cotovelos no meu joelho para tentar prestar atenção no que ele diz.
— Guarde isso para depois, o nosso jogo de estreia é daqui a alguns
minutos — ele praticamente rosna em minha direção. — Se precisar de
tempo para fazer seu trabalho, o libero do treino essa semana, mas no
momento, foque a porra da sua atenção aqui.
— Sim, treinador! — solto suspirando fundo.
— Me desculpe, treinador, mas que eu saiba, não podemos jogar, sem que
as cheerleaders balancem aquelas bundas pelo estádio — Michael, um dos
veteranos, grita do outro lado, tirando a atenção do homem de mim.
Fecho a cara, lançando uma careta de desaprovação para meu
companheiro, enquanto nosso colega, Kennedy, ergue a mão e lhe dá um tapa
por se referir às garotas desta maneira.
— Tenha respeito, porra! — ele xinga, lhe lançando um olhar fulminante.
— Obrigado pela sensatez, Kennedy — Danforth diz ainda olhando para
Michael, que revira os olhos. — Mas para o bem de seu pau adolescente,
que não pode ver uma mulher, esse problema já foi resolvido.
Isso me faz erguer a sobrancelha, porque as líderes treinam quase todos os
dias no mesmo horário que nós e em nenhuma vez essa semana elas
treinaram ou apresentaram a nova capitã. E isso é estranho pra caralho,
porque todas as garotas que já carregavam a coroa de capitã, gostavam de
exibi-la por todo o campus, principalmente com um dos jogadores do seu
lado.
Me viro lentamente para perguntar a algum dos meus colegas o que diabos
eu havia perdido nessa semana, quando minha cabeça apenas estava focada
em esquecer Verônica e a porra do seu gosto. Porque estava me sentindo um
capitão de merda por não saber que o nosso principal problema foi
resolvido e ninguém havia me comunicado. Droga, eu deveria saber quem
assumiu o posto, afinal, nós entraríamos juntos na porra do estádio com a
bandeira da universidade, para que os patrocinadores, e até mesmo os
diretores, vejam uma fachada unida entre as duas equipes. Mas sou
interrompido por uma voz:
— Chega de conversa fiada, quero que se lembrem de tudo o que
planejamos nos últimos treinos. — O treinador começa a andar pelo lugar,
olhando para todos nós. — Nós iremos jogar em casa, a torcida espera uma
vitória e estamos a dois meses do Draft, então, garotos, esse é o momento de
decidirem quem desejam ser.
Ele diz a última parte olhando para o meu rosto. Como se fosse um aviso
ou algo similar. Apenas aceno para ele e pego meu capacete. Sigo para a
saída, com Mike em meu encalço. Burhan tem uma expressão de desgosto e
até mesmo de raiva estampada em seu rosto e assim que paro do lado de
fora, arrumando meu capacete, ele fica a minha frente e me encara como se
eu fosse seu pior inimigo.
— Um aviso, Underwood: não faça nenhuma gracinha com a minha garota
enquanto estiverem entrando neste estádio! — falou com os punhos
cerrados. — Ela não é uma das garotas da sua lista que você quer foder e
depois esquecer o nome, então tome cuidado!
Minha garota? Lista? Que caralhos ele quer dizer com aquilo? Eu
realmente não estou nem um pouco animado para criar um tumulto com
Burhan nesse momento por conta de algum caso que esteja tendo com uma
das meninas da equipe. Até porque, eu não estou interessado em nenhuma
delas. E felizmente o treinador me intercepta antes que eu possa dizer algo
sobre essa garota aleatória que ele provavelmente está apaixonado.
— Sua parceira está te esperando no final da rampa, então arraste sua
bunda até lá, Underwood! — o treinador grita, me empurrando pelos
ombros.
Suspiro fundo caminhando na direção que indicou, deixando todos para
trás. E quando meus olhos recaem sobre a figura esbelta no topo da rampa
que liga ao campo, eu entendi o que Burhan quis dizer.
O universo só pode estar de sacanagem com a minha cara.
Verônica Blackwell é a nova capitã das cheerleaders do SVU, e ela está
exatamente do mesmo jeito de quando nos reencontramos há anos atrás. O
uniforme azul e roxo ainda desenha perfeitamente seu corpo e aqueles
malditos olhos castanhos que me atormentam desde o final de semana, me
encaram com brilho e uma excitação de estar de volta a aquilo que todos nós
sabemos que sempre amou fazer. O laço roxo com algumas listras azuis
compõe seu rabo de cavalo no alto de sua cabeça e o tênis branco finaliza
todo o uniforme. Ela está impecável e isso me despertou diversas
lembranças das temporadas durante o high school, que para outras pessoas
não deve ter nenhum significado, mas para ela, um dia significou tudo. E
peço ao universo que com essa decisão de ela voltar ao posto que sempre
lhe pertenceu, aquela parte de Vee, determinada e radiante, retorne junto.
Caminho lentamente até onde ela estava, o suspiro que me deu quando
parei ao seu lado foi recebido com uma batida forte do meu coração. Eu
sabia que ela desejaria muito mais a companhia daquele babaca do Burhan
do que a mim neste exato momento. Mas eu não desejava mais ninguém. Não
tinha mais como imaginar outra garota caminhando comigo por todo o
campo. Porque, neste momento, a universidade nos consideraria intocáveis.
E a realidade caiu sobre mim como se fosse um soco no rosto. Não é o
simples fato de Verônica ter dormido na minha cama no último final de
semana que vem me atormentando, é a vontade de tê-la novamente ao meu
lado, caminhando os mesmos passos que os meus, como um dia tanto
planejamos. Acabo vendo um passado voltando aos seus eixos. Este é o
lugar dela, este é o meu lugar.
Mas ao mesmo tempo que isso se esclarece em minha mente, não sou
capaz de esquecer tudo que aconteceu durante esses anos. Quantas noites tive
que perder o sono por dar duro para tentar recuperar o pouco que um dia foi
meu. Por isso, o que sinto é incerteza, mas não posso mais enganar a porra
do meu coração, então só me resta força-lo mais um pouco, tentar deixar
esse sentimento que pensa em despertar novamente e me focar naquilo que
deve ser sempre minha prioridade.
Fecho os punhos, tentando conter o nervosismo. Que merda é essa? Desde
quando ultrapassei esse limite?
— Pare de me encarar como se eu fosse uma estranha, Underwood! —
diz, fazendo uma careta e me tirando dos meus pensamentos.
— Em trajes assim, anjo? — Solto um sorriso provocador. — Você é
tudo, mesmo uma estranha.
— Não seja um babaca.
— Não haja como uma megera.
Sorrio levemente para ela, orando para que ela não perceba quão afetado
fiquei por conta de meu pensamento. Mas quando nossas íris se fixam um no
outro e se tornam chamas, eu esqueço disso e tudo o que nos rodeia. Por
alguns segundos, ficamos ali, devolvendo aquele olhar um para o outro,
como se sentíssemos as descargas elétricas nos nossos corpos antes mesmo
de nos tocarmos, como se ela estivesse se lembrando de quando minha mão
encontrou suas curvas e como aquilo nos fez sentir em pleno curto-circuito.
Nós éramos fogo que não apagava, e a vontade imensurável de só colocar
mais lenha até nos consumir, começou a aumentar dentro de mim.
Antes que eu pudesse beijá-la ou arrastá-la até um vestiário vazio, alguém
arranhou a garganta, fazendo com que quebrássemos aquela troca de olhares.
Quando me virei em direção ao som, encontrei uma Hazel vestida da mesma
forma que minha ex namorada e com um sorriso aberto, como se ver aquela
cena tivesse dado a ela todas as respostas de uma prova importante.
— Estamos todos prontos, até mesmo aqueles babacas da outra
universidade — diz cruzando os braços.
— Nós também estamos — dizemos em uníssono.
— Ótimo, destrua-os no campo, Underwood! — Hazel levanta a mão para
que eu faça um hive-five com ela e pula em meus braços, me abraçando. —
Não perca ou eu irei acabar com você na festa.
— Não pretendo perder, Smith! — Solto um sorriso ao ver sua careta por
mencionar o seu sobrenome que tanto odeia.
— Babaca — resmunga se virando para Verônica que apenas nos
encarava. — Arrase como sempre arrasamos no Saint Vincent College, e
Vee… obrigada por fazer isso, de verdade!
Ela apenas assente e nossa amiga a puxa para um abraço. Verônica passa
os braços pelos ombros de Hazel desajeitadamente, como se não esperasse
pela ação da nossa amiga. Solto um sorriso fraco vendo a cena, porque
mesmo que a odeie, sei que Verônica ama Hazel, como eu amo a minha
amiga que me obriga tomar cafés todas as terças com ela e a ver todas as
temporadas de Grey’s Anatomy quando está entediada em um final de
semana. Elas foram amigas inseparáveis quando éramos adolescentes e uma
parte de mim ficou feliz ao ver aquele vínculo intacto, mesmo depois de
anos.
Assim que Hazel a solta, um grupo de garotas se alinham atrás de nós,
todas elas trajam o uniforme das cheerleaders. Um pouco atrás da fila que
formam, o time de futebol se posiciona, gritando loucamente por finalmente
estarmos de volta. Meus olhos brilham quando Verônica e eu caminhamos até
a saída dos vestiários, já escutando os gritos animados de todo o estádio. As
arquibancadas são uma mistura de azul e roxo, algumas pessoas levantam a
bandeira da SVU e gritam. Um calouro, vestido com uma fantasia de falcão,
símbolo da delegação de esportes da universidade, aparece ao nosso lado e
fez uma reverência exagerada demais para Verônica, que gargalha como se
não esperasse por isso, mas se inclina ligeiramente, devolvendo o gesto com
uma elegância que apenas ela tem.
Hazel e outra garota aparecem atrás de nós, segurando a enorme bandeira
do time e levantando o dedão, fazendo um sinal positivo para nós. Os meus
colegas começam a gritar animadamente, porém são silenciados pelo nosso
treinador assim que o diretor sobe os poucos degraus de um palco
improvisado no centro do campo.
— Boa noite a todos! — Ele cumprimenta assim que se ajeita atrás do
microfone. — Como diretor da Saint Vincent University, eu dou boas-vindas
a todos vocês! — O diretor leva a mão até sua gravata, enquanto solta um
sorriso falso. — É uma honra sermos escolhidos para abrigar a estreia da
temporada de jogos das maiores universidades do condado, e, por isso,
chamo o capitão do time da SVU, Logan Underwood e a capitã das
cheerleaders, Verônica Blackwell, junto dos capitães da Columbia, para que
possamos abrir oficialmente a temporada de jogos das universidades do
condado.
Verônica se vira apenas para me encarar, suspirar fundo e apontar o
queixo para que possamos caminhar juntos até onde o diretor estava. Vejo
ela apertar seus dedos fortemente, como se estivesse nervosa, como se
estivesse a um passo de surtar.
Então, antes que eu pudesse pensar no que estou fazendo, seguro a sua
mão. Apertando levemente, como em uma frase silenciosa de que tudo ficará
bem. Ela encara nossas mãos por alguns segundos e suspira fundo, se
afastando lentamente e olhando sobre seus ombros, diretamente para Hazel,
que tinha suas íris castanhas voltadas para nossas mãos. Vee olha para frente
e dá um passo, me indicando que está bem o suficiente para fazermos isso e
o grito animado da universidade nos faz sorrir quando finalmente meus pés
tocam o gramado impecável.
Eu realmente amo quando a temporada chega, amo os gritos, a felicidade e
todo o caos que ela traz. E, acima de tudo, eu amo estar neste campo,
correndo atrás de uma bola Wilson, amo a sensação que é ter um time me
dando suporte, me apoiando e sendo cúmplice em cada jogo.
Quando finalmente subimos no palco improvisado e nos posicionamos ao
lado do diretor, pude ver o olhar que o capitão do time da universidade rival
deu à Verônica; ele a encarou com desejo, como se ela fosse o maior prêmio
que pudesse ganhar naquele jogo. E um sentimento começou a subir pela
minha bile, me fazendo o encarar com uma expressão nada agradável, que
ele entendeu quando os olhos escuros dele encontraram os meus.
Ignoro todo o discurso que deram sobre a temporada, meu foco é apenas a
garota ao meu lado, que sorri falsamente para cada um que a cumprimenta ou
diz algo sobre a equipe. Verônica e eu sempre odiamos pessoas superficiais,
a bajulação sem sentido e, assim como eu, ela deseja que todo esse momento
passe rápido. Quando finalmente nos liberam, desço do pequeno palco, me
separando de Blackwell, que aperta o laço no topo de sua cabeça e corre até
o centro do campo onde as outras garotas já a esperam.
No caminho, ela levanta os braços se alongando e vira um mortal, parando
perfeitamente no centro. Ela junta as mãos, grita para toda a equipe se
preparar e pega dois pompons de uma das garotas. Quando a música que elas
sempre dançam invade todas as caixas de som do estádio, Verônica recita
algumas palavras com as suas parceiras e sem mais, corre até o final da fila
junto com outra menina, abandonando os pompons no processo, elas se
posicionam, formando a famosa torre. Percebo que Verônica e sua
companheira serão o topo, e a cada andar que formam, cada vez que escala,
um frio se instala em meu estômago, com medo de que ela se desequilibre e
caia.
— Sua garota é boa pra caralho, Burhan! — um dos jogadores diz.
— Eu sei, ela sempre foi foda! — Ele devolve e eu sei que está sorrindo
orgulhoso.
Dou uma olhada por cima do meu ombro, encarando Mike com olhos
semicerrados. Ele percebe o meu olhar e me encara, erguendo os ombros.
Respiro fundo algumas vezes para não dizer algo que sei que me
arrependerei mais tarde, principalmente porque Burhan sabe que Verônica
não é a sua garota só porque eles já transaram. E tenho quase certeza de que
ela havia deixado claro para ele que o que tinham era apenas casual, porque
está explícito no rosto de Vee que ela não procura nenhum relacionamento.
Quis me virar para ele e dizer isso, dizer que ela não é a garota dele, nunca
seria. Não por todos esses argumentos acima, mas sim porque ela pertence
apenas a si mesma. Mas não valia a pena, não quando eu sou o capitão e
estamos a cinco minutos de entrar em campo. Arrumar uma briga por uma
mulher seria algo idiota de se fazer, mesmo que me trouxesse uma satisfação
enorme em quebrar a cara de Mike.
Volto meu olhar para frente, observando duas das garotas posicionarem a
bandeira no qual entraremos, então apenas grito para que todos se preparem.
Assim que Verônica me encara e acena com a cabeça, nos indicando que é o
momento de entrar, eu levando a mão, chamando meu time, e corro até onde
as líderes de torcida estão. Assim que passamos correndo e rasgamos a
bandeira no meio, balançando o capacete, posso escutar a felicidade inebriar
o estádio e a torcida se levantar animadamente. O time rival fazia o mesmo
do outro lado do campo, mas a única coisa que eu posso perceber é o sorriso
que Blackwell lança para sua equipe. Um sorriso nostálgico, verdadeiro.
As cheerleaders finalizam a apresentação e se posicionam nas laterais do
campo, nos dando a liberdade para ocupar todo o espaço necessário para
que possamos realizar todas as jogadas.
Olho para o placar a fim de perceber quanto tempo falta para o final da
partida e descubro que faltam poucos minutos. Solto uma lufada de ar
frustrado. Por termos subestimado nossos oponentes, agora nos encontramos
em uma posição arriscada. O jogo é acirrado de uma forma que não
esperávamos; e o que parecia fácil, se tornou quase impossível. Nos
posicionamos na jarda dez, de frente para o time rival. Alguns deles nos
encaram com fogo nos olhos, outros com uma felicidade genuína em seus
rostos por terem a chance de nos vencer pela primeira vez em anos, mas
quando finalmente começamos a partida, o caos se instala. A defesa nos dá
cobertura, enquanto Burhan corre até o outro lado do campo, arremessando a
bola para Kennedy, que é interceptado por um dos atacantes.
Merda. Precisamos ser mais agressivos ou isso será um massacre total.
Grito por Burhan e ele corre até meu lado.
— Nós precisamos fazer a jogada que ensaiamos no treino — digo com
dificuldade pelo cansaço já adquirido durante a partida.
— Você está louco, Logan? — Mike olha para o treinador do outro lado
do campo, gritando para que nós dois continuemos com a partida, pois os
minutos correm. — Aquilo foi jogada de criança, eles irão conseguir te
interceptar antes mesmo que você consiga dar um passo.
— Eles não estão esperando por essa jogada, confie em mim. Porra, deixe
toda nossa merda entre nós dois fora desse campo, haja como equipe. Vença
comigo, Burhan! — Ele me encara por uns segundos, concorda com a cabeça
e diz:
— Vamos acabar com eles, capitão.
É isso aí! Junto o pessoal em círculo, dando o comando.
Juntamos as mãos, levantando nossas vozes para que todo o estádio saiba
quem somos:
— Quem nós somos? — puxo o coro.
— SVU! — eles respondem.
— O que nós trazemos?
— Força, foco e determinação.
— Nós lutamos como?
— FALCÕES!
Nos dispersamos, tomando nossos lugares. Troco minha posição com
Burhan e corro até o outro lado. Assim que o grito de Mike veio alto e claro
me dizendo para me preparar, faço isso, me posicionando entre outros dois
jogadores. Vejo ele levar o braço para cima e atirar a bola, fazendo com que
a Wilson voe até mim. Dou um salto para conseguir pegá-la.
E como no treino, um sorriso surge em meus lábios assim que sinto a
textura entre meus dedos, precisamos passar pela defesa e de dois
lannerback a direita, corro e pulo sobre alguns jogadores que haviam se
jogado para formarem uma barreira no intuito de me atrasar. Meus colegas
me dão apoio, tirando alguns dos oponentes da minha frente.
Estávamos perto, quase lá. Olho para o lado, no intuito de ver se tinha
algum dos jogadores ao meu alcance, mas a única coisa que vejo é Verônica,
pulando, gritando para que eu não fosse um idiota e perdesse esse lance.
Uma alegria se formou em meu peito por vê-la ali, torcendo, gritando para
conseguirmos.
E nós conseguimos. Quando eu consigo realizar o touchdown. O grito dos
torcedores não foi o motivo que me fez sorrir. Foi a garota dona dos meus
pensamentos, que comemorava do outro lado do campo, pulando abraçada à
Hazel e que depois se virou para mim, sorrindo de verdade, o riso que há
muito tempo ela havia direcionado a mim.
— Babaca. — Ela move os lábios sem emitir som nenhum, fazendo os
pelos de todo o meu corpo se arrepiar. Arranco o capacete da cabeça,
passando a mão livre pelo cabelo, tentando dissipar um pouco do suor.
— Megera — grito para que ela ouça de bom tom.
E pela primeira vez, eu não quis que ela sumisse, eu quis aproveitar cada
minuto. Porque a fome que tenho agora por essa mulher, fala muito mais alto
do que o meu raciocínio lógico. E mesmo que eu tente negar, sei que quero
me perder entre os fios dos seus cabelos castanhos e o cheiro do teu
pescoço.
Quero a sensação de combustão que emana de nós todas as vezes que
nossos corpos se colidem.
Quero Verônica Blackwell, de todos os jeitos, formas, mesmo que todo o
mundo odeie que ficássemos juntos. Eu a quero e isso me assusta.
Meus companheiros de equipe me envolvem, fazendo com que eu perca o
contato visual com Verônica. Meu corpo é suspenso, sendo levado a sentar
nos ombros deles. Ouvindo a algazarra e as vozes gritando pelo meu nome,
mas aproveito minha visão privilegiada para procurar mais uma vez por ela.
Os torcedores invadem o campo e tudo vira uma grande confusão de
abraços, palmas e risos. Consigo me desvencilhar de meus companheiros, a
procuro entre a aglomeração. Quero olhar para ela, quero ver aquele brilho
em seu olhar novamente. Porra, eu apenas quero vê-la, mesmo que eu saiba
que é errado. Caminho entre a multidão que se forma no campo, desviando
de algumas pessoas que vêm ao meu encontro para me parabenizar e dos
gritos do treinador. Meu único intuito é encontrar com a capitã das
cheerleaders, mesmo que todo o meu subconsciente grite que isso é errado.
Quando a encontro, Mike está correndo em sua direção balançando o
capacete em uma das mãos tentando chamar sua atenção e sorri como se ela
fosse a sua pessoa favorita no universo. Verônica inclina a cabeça distraída,
ao ouvir mais uma vez seu nome sendo gritado, ela vira em direção ao som.
Quando ela vê Mike correndo em sua direção, Verônica se lança em seus
braços, circulando seus braços no pescoço dele, deixando que ele gire com
ela. Não posso ouvir seu riso enquanto segura os ombros de Burhan para não
cair. Porém, quando ele a abaixa e vai em direção ao seu rosto para beijá-la,
todo o meu corpo ferve e dou um passo para atravessar a distância que nos
separa e socá-lo, mesmo que eu saiba que a minha atitude será ridícula.
Entretanto, paro abruptamente e fico surpreso com a ação que ela toma,
Verônica se afasta, recusando o beijo e segura seus ombros com uma
delicadeza que apenas ela tem, dizendo algo que o faz erguer uma
sobrancelha em descrença. Então dá de ombros e caminha na direção oposta,
onde Oliver a espera.
Eu não sei qual a relação deles agora, mas sei que Oliver é importante e
sempre a protegeria de qualquer perigo que acontecesse. Isso ficou
perceptível quando ele nos flagrou na biblioteca e me lançou um olhar
mortal. Não de ciúmes ou de inveja, era preocupação. Como se pouco
importasse quem Vee beijasse ou transasse, ele apenas estaria preocupado
com o seu bem estar, em saber que ela não sairá machucada ou algo similar.
Sou tirado dos meus pensamentos por uma das líderes que joga charme
para mim enquanto se aproxima e passa os braços pelo meu pescoço, me
puxando para um abraço. Eu deveria estar devolvendo o gesto com vontade,
deveria esquecer Blackwell e focar em tudo o que conquistei até aqui.
Deveria aproveitar a companhia de garotas que não foderiam com a minha
vida e comemorariam por isso.
Mas eu não consigo.
— Você arrasou no campo, capitão! — A morena diz, mas o apelido não
me causa a mesma sensação de quando quando ela diz.
— Obrigado! — Sorrio. — Todo o time fez um excelente trabalho.
— Oh, sim! Você vai à festa? — pergunta esperançosa.
— Não perderia por nada! — falo para a garota, seus cabelos roxos estão
presos no rabo de cavalo e a covinha a deixa ainda mais bonita.
— Nos vemos lá então! — Ela se afasta, ainda sorrindo.
A encaro por alguns segundos. Ela é bonita e eu estou em um limbo entre
tentar descobrir se ela está flertando comigo ou se estava apenas sendo
gentil, mas quando se aproxima novamente, encarando meus lábios com
desejo, eu entendi a sua real intenção. Deveria me abaixar e beijá-la, ela é
linda e seus olhos chocolates brilham enquanto chega cada vez mais perto.
Mas no momento, não quero e nem posso usar uma garota aleatória para me
distrair dos meus problemas, já havia feito isso demais. Então apenas assinto
com a cabeça, desconverso, dizendo que preciso ir para o vestiário e
encontrar a equipe para o pós jogo. Porque a única garota que desejo beijar,
está me evitando a todo custo.
Então o que está tentando fazer comigo?
Não conseguimos parar, somos inimigos
Mas nos damos bem quando estou dentro de você
Você é como uma droga que está me matando
Animals | Maroon 5
4 anos antes
Tudo que eu sei, tudo que eu sei. Amar você é um jogo perdido
A sua voz rouca fazia todos prestarem atenção, ela hipnotizava qualquer
um. E quando andou até onde eu estava, se posicionou à minha frente e
cantou apenas para mim, observando cada passo, sussurrando promessas que
sabíamos que nunca poderiam ser cumpridas, todos entenderam, todos
sentiram.
Éramos a própria química juntos. Éramos um misto de ódio e amor,
substâncias que não se misturavam, mas se completavam. Éramos o nosso
próprio paraíso caótico. E quando terminamos, estávamos suados,
esgotados, mas sorrindo um para o outro.
— Desculpe por ser tão babaca — Logan sussurrou, colando nossas
testas. — Eu não te mereço, mas não consigo me afastar de você, anjo.
Mesmo que eu tente, mesmo que eu saiba ser o certo a se fazer, é como se o
universo me puxasse de volta para você, porque você, Verônica Blackwell,
você é a minha casa, a melhor parte do meu dia e dessa maldita cidade.
— Eu amo você, Logan! — Me aproximei, deixando um beijo rápido em
seus lábios. — É você quem sempre vou escolher, não tente me afastar,
porque encontraremos sempre o caminho de volta um para o outro.
Naquele momento, antes que toda adrenalina fosse embora e a dor
voltasse, eu acreditei que eu e ele éramos para sempre, mesmo sabendo, lá
no fundo, que nada dura tanto tempo assim. E quando nos entregaram o troféu
e uma coroa de rei e rainha, nós gargalhamos juntos. A única coisa que nos
fez cair finalmente na realidade, foi o flash de uma câmera capturando a
nossa melhor foto.
Mas o que não sabíamos, era que realmente éramos o rei e a rainha de
Saint Vincent e aquela seria a última vez que reinaríamos juntos e que nunca
teríamos tempo para comemorarmos a nossa vitória juntos, porque quando
tudo terminou e a bolha de felicidade que nos envolvia se foi, a realidade
bateu com força. E a única coisa em que eu pensava, era em Sophie. A forma
como me abraçou e as coisas que me disse me deram um calafrio, até
parecia que ela queria se despedir. Todo o sentimento positivo havia sumido
e agora eu estava totalmente apavorada, não sentia nada mais a não ser isso.
E por isso eu o larguei em cima do palco e corri até meus irmãos,
explicando o que aconteceu momentos antes. Podia ver o misto de confusão e
medo invadir o semblante de cada um deles.
Olhamos todas as alas do colégio e nenhum sinal de nossa irmã, a não ser
sua mochila, jogada sobre uma mesa na biblioteca. E no meio de todo o
desespero que corroía meu corpo, disparei entre os corredores até o lado de
fora, como se minha vida dependesse daquilo, na esperança de que ela
estivesse lá, mas a única coisa com que me deparei, foi com uma tempestade.
A chuva caía com força total e o vento era tão forte que fazia as árvores
próximas ao estacionamento chacoalharam. Não me lembro de ter visto
tamanha tempestade em Saint Vincent.
Sophie podia ser dramática quando queria, mas eu sabia que não estava
chateada por não ter vencido o show de talentos, era algo pior. Conseguia
sentir o desespero que emanava dela quando me abraçou, e por algum
motivo, sabia que naquele momento ela havia ido atrás da pessoa que
guardava os seus segredos, da pessoa responsável por ela andar tão estranha
nos últimos dias. E o que me deixava aturdida, era que ninguém sabia quem
era essa pessoa, quem havia conquistado o coração da minha irmã.
Quando me dei por vencida, caminhei até onde meus irmãos e meus pais
estavam, vendo Logan do outro lado do salão, balançando a cabeça em
negação ao encontrar meus olhos. Sua resposta me fez xingar baixinho.
Sophie era tudo para minha família. Era a garota otimista, a que
adicionava beleza em tudo que tocava. Era o nosso porto seguro, a irmã que
nos tirava do quarto quando a tristeza invadia, a quem eu recorria quando
precisava de ajuda, minha melhor amiga. A minha maior ligação de sangue.
Quando meu celular tocou, todos os olhares se voltaram para mim. E um
frio rapidamente subiu pela minha espinha quando encarei o nome no meu
visor. Sophie. Um alívio percorreu todo meu corpo e pude respirar por
alguns segundos.
— Sophie? — murmurei, passando as mãos pelo meu cabelo, tentando
conter o nervosismo.
— Verônica! Agh, suponho que preciso de uma bebida ainda mais forte!
— ela zombou e um barulho de vidro se chocando contra algo ecoou em meu
ouvido — Você consegue uma garrafa para mim, talvez tequila, você gosta
de tequila, não gosta?
— Onde você está? — pergunto, puxando meus irmãos para uma sala
vazia perto de onde estávamos. — O que aconteceu?
— E-ele me usou, Vee. — A sua voz saiu dolorosa, como se estivesse
chorando. — Aquele babaca me usou. E o pior é que Logan me disse para
não me envolver com ele, ele me pediu para que não me envolvesse com seu
irmão.
— Soph, do você está falando? — digo cautelosamente. — Me diga onde
você está, nós podemos te ajudar.
— Não preciso de ajuda, eu preciso de uma bebida! — Sua voz saiu
falhada. — Você sempre foi a gêmea perfeita, sabe? Melhores amigos,
melhores notas, melhores coreografias e agora tem o melhor irmão.
— Soph, você está bêbada… — sussurro com a voz embargada de medo.
— Deixe-me te ajudar.
— Eu já disse que não preciso de ajuda, Vee, eu preciso apenas esquecê-
lo! — ela vocifera. — Eu estarei em casa logo.
Antes que pudesse dizer algo, ela desligou, o pânico se estendeu por toda
a minha pele, fazendo com que eu passasse as mãos sobre meu rosto
enquanto tentava controlar minha respiração, eu não precisava de um ataque
de pânico naquele momento. Eu precisava estar bem, minha família
precisava de mim, minha irmã principalmente. Ergui meus olhos para meus
irmãos, a minha voz falhou um pouco quando disse:
— E-edmund, preciso que rastreie o celular de Sophie. — Percebo sua
cara de confusão. — Agora, por favor!
— O que aconteceu, Vee? — Dylan aperta meus ombros, preocupado.
— Sophie… ela está bêbada, ela… — Deixo uma lágrima escorrer. — Eu
acho que ela vai fazer alguma besteira, Dylan.
— Fique calma, vamos no meu carro. — Ele aponta para a porta e a visão
de nossa mãe sorrindo para o diretor fez com que outra lágrima descesse
pelo meu rosto. — Eles não podem saber, não agora pelo menos.
Corremos em direção ao estacionamento, sem nos importarmos com os
gritos de nossos amigos. E quando finalmente paro em frente a Land Rover
de Dylan, deslizo para o banco do motorista. Eu era a melhor motorista entre
nós três, mas minhas mãos tremiam em um nível insuportável e eu sabia que
pela primeira vez, não estava em condições de dirigir. Então, quando Dylan
trocou de lugar comigo e assumiu o controle, não o impedi.
Durante todo o caminho, meu coração dizia que algo estava errado,
principalmente quando Ed nos mandou entrar pela rodovia principal, onde
era considerada a divisa entre a parte alta e a parte baixa de Saint Vincent. A
chuva estava nos impossibilitando de enxergar claramente, mesmo assim,
consegui ver o carro do outro lado da pista. Era como o que ela havia
ganhado de presente há alguns meses atrás em nosso aniversário de dezoito
anos, a pintura branca se destacava entre a escuridão, mas ele não estava
normal, ao contrário, estava totalmente destruído, como se tivesse capotado
diversas vezes. Eu orei para que não fosse o dela, pedi que aquilo fosse um
pesadelo e quando abrisse os olhos, minha irmã estaria deitada em meu colo
naquele sofá que ela sempre amou, me contando como Emmy havia acabado
com ela nos ensaios e que quando tirássemos férias, a primeira coisa que
iria fazer, era sair de Saint Vincent.
Mas quando abri a porta do nosso carro e caminhei até o lado de fora,
atravessando a pista entre as gotas de chuva que me molharam
instantaneamente, vi o adesivo da dançarina que colamos há algumas
semanas no vidro traseiro. Era ele. Era o carro de Sophie. O carro da minha
irmã.
— Sophie! — Nós três gritamos em uníssono com todas as nossas forças.
Era difícil enxergar o caminho entre as lágrimas enquanto corria, era mais
difícil ainda correr e escutar o soluço de meus irmãos ao meu lado, mas foi
mais difícil ainda, me abaixar ao lado da janela do motorista e ver minha
irmã quase sem vida, o sangue escorria por todo o seu rosto. Dylan lutou
contra a porta do motorista para conseguir abri-la, mas eu consigo atravessar
a janela quebrada, alguns vidros rasgam minha pele, mas ignoro a dor. Eu
precisava salvá-la, essa era a minha prioridade.
— S-sophie? — sussurro entre as lágrimas quando alcanço seu corpo. —
Por favor, fale comigo, Soph.
— Vee? — Escuto seu choro doloroso. — V-você me encontrou.
— Eu sempre irei te encontrar, Soph! — Estendo a mão até seu rosto. —
Sempre juntas, lembra?
— Eu preciso te contar. — Fungou enquanto estendia a mão até o meu
rosto. — Você merece saber de tudo.
— Você terá todo tempo do mundo para me contar as coisas. — Levo
minha mão, tirando alguns pedaços de vidro de seu corpo. — Mas me deixe
te ajudar, não se mova, ok?
— Vocês precisam sair daqui Vee. — Ela aponta para onde a gasolina
estava começando a escorrer e o fogo se aproximando. — Não posso correr
o risco de perder vocês por uma estupidez minha.
Eu sabia que tirá-la de dentro daquele carro poderia ser perigoso, mas se
ficássemos ali, poderíamos morrer caso tudo explodisse. Respirei fundo,
olhando para trás, pedindo ajuda de um dos dois. Levei minha mão até a
trava da porta do motorista e com muito cuidado a abri. Dylan se abaixou,
me ajudando a soltar o cinto de Sophie e a pegou no colo, levando-a para
fora, enquanto Ed segurou minha mão e me puxou delicadamente para que eu
não me machucasse com os vidros estilhaçados por todo o carro. Quando
finalmente conseguimos nos afastar do carro que agora estava em chamas, eu
me sento no chão, colocando a cabeça de Soph no meu colo e me permito
suspirar em busca de ar.
Olho para cima e vejo que Dylan agora está xingando ao telefone e
Edmund está totalmente paralisado. Ele balança a cabeça, voltando à
realidade, e corre, se abaixando ao meu lado. Observo as lágrimas
escorrerem pela face do meu irmão caçula, o menino de dezesseis anos que
não deveria presenciar cenas como estas.
Soph tosse e abre seus olhos lentamente. Percebo o quão fraca está, quase
não conseguia se manter acordada. Encarei nossas roupas, ainda estávamos
vestidas com a mesma roupa da apresentação, mas dessa vez, não era apenas
a dela que estava tingida de vermelho. Um vermelho que agora manchava
não só nós duas, mas toda a camisa branca de Dylan. Meu irmão mais velho
caminhou até onde eu estava sentada abraçada à nossa irmã e se abaixou,
passando a mão pelo cabelo dela.
— Papai e mamãe estão vindo e chamei uma ambulância — Dylan
sussurra — Nós podemos levá-la, seria mais rápido.
Se a movermos naquele momento, poderíamos causar uma fratura ou algo
pior, então nego com a cabeça, pedindo aos céus que aquela maldita
ambulância chegasse logo.
— Vee? — escuto Sophie. — Eu vou morrer.
— Não, Soph, você não vai. — O terror ultrapassou o meu rosto. — Eu
me recuso a perder você, Sophie Blackwell, então não me diga isso.
— Vee, fique tranquila...V-você — Ela sorri e então uma crise de tosse a
faz parar de falar. — Você se lembra de quando roubamos a primeira garrafa
de tequila da adega?
— Ed se cagou inteiro — Dylan diz enquanto se senta ao meu lado e
continua acariciando seu cabelo. — Vee precisou de um esforço extra para
distrair nossa mãe.
— Aquilo não foi fácil, ela ficou falando de tecidos e leis o tempo todo
— resmungo, sorrindo entre as lágrimas.
— Eu lembro que no outro dia... tínhamos que fingir não estar de ressaca.
— Ela gargalhou e logo em seguida fez uma careta de dor. — E durante todo
o almoço no colégio, ninguém chegava perto de nós quatro, por medo de
nossas expressões sombrias.
— Éramos como zumbis naquele dia, Soph, ninguém gostaria de estar
perto de nós — Ed diz, fazendo uma careta.
— Era assim que éramos felizes, Ed! — ela retrucou. — Quando as
pessoas não chegavam perto do nosso ciclo, não tinham o poder de nos
destruir.
— Onde você quer chegar com isso, Soph? — Ed a encarou, as lágrimas
desciam pelo seu rosto, se misturando às gotas da chuva.
— Eles nos destruíram, destruíram o que tínhamos sem nem ao menos
lutarmos. — Uma lágrima desce pelo seu rosto. — Eu sempre soube que
quando deixássemos alguém entrar em nossas vidas, algo aconteceria, mas
nunca imaginei que eu pagaria o preço por isso.
— Soph… — Dylan hesitou.
— Quero que me p-prometam uma coisa.
— Qualquer coisa — digo, ignorando a sensação de que o que ela estava
prestes a dizer não era algo bom.
— Aidan. Aidan Underwood. — Ela faz uma careta de dor. — Ele tirou
algo de mim, sem eu ao menos o conhecer, ele nem nasceu, Vee…
Sua voz era dolorosa, mas não era algo físico, era algo a mais. Então eu
finalmente entendi o que ela estava dizendo.
— O que ele tirou de você, Sophie? — pergunto suavemente, temendo a
resposta.
— A pessoa que teria todo o meu coração. — Vejo a tristeza em seu olhar.
— Ele me tirou o meu filho.
— Sophie... — Passo a mão pela sua testa, tirando o excesso de água.
— Eu descobri antes do show de talentos, fiquei apavorada — diz com
dificuldade. — Por isso abandonei a competição e corri para a casa dele...
— Eu vou matar aquele desgraçado! — Escuto Ed atrás de mim.
— Mas quando cheguei lá, ele estava com outra, Vee. — Percebo que sua
voz está cada vez mais baixa. — E ele riu da minha cara, ele disse que
jamais me amou, que a intenção dele era apenas provocar Logan… Eu saí de
lá desesperada e te liguei, mas quando desliguei, eu senti, Vee… — Ela
deixa um soluço doloroso. — O sangue descendo pelas minhas pernas, eu o
senti indo embora, Verônica.
Eu não sabia o que ela me pediria, mas sabia que eu destruiria cada
pessoa que atravessasse meu caminho até Aidan. Porque eu o destruiria, nem
que fosse a última coisa que eu fosse fazer na vida. Nem que isso soasse
infantil ou coisa de outro mundo. Pela primeira vez, eu usufruirei do
sobrenome da minha família, eu faria com que ele sofresse.
— E o que você quer que eu faça, Soph? — digo, a encarando.
— Destrua-o. — Ela diz com dificuldade. — Tire tudo o que ele ama!
— E o que ele mais ama? — Ergo a sobrancelha.
— Sua família... — ela diz quase sem conseguir.
Quando as palavras saíram de sua boca, eu compreendia que destruir
Aidan, seria destruir Logan. Eu estaria pronta para pagar o preço? Estava
pronta para perder Logan à custa de uma vingança? A resposta era simples,
eu nunca estaria pronta. Eu nunca conseguiria machucá-lo verdadeiramente,
mas isso não deixava de doer, porque eu precisava tomar aquela decisão,
mesmo que significasse perder tudo o que tínhamos. Entre ele e minha
família, eu sempre escolheria as três pessoas ao meu lado.
— Eu irei fazer isso, Soph. — Encarei meus irmãos por um momento. —
Eu irei...
Ela apenas acenou e depois soltou um sorriso para cada um de nós. Sua
mão foi até meu rosto e dedilhou cada curva dele, como se estivesse
memorizando cada detalhe para que levasse junto a ela.
— Sempre juntos, ok? — ela pergunta.
— Sempre! — respondemos juntos.
— Eu amo tanto vocês — Soph sussurra quase sem voz. — Me perdoe por
abandoná-los.
Paro por alguns segundos, tentando entender o que aquilo significava,
então vejo seus olhos se fecharem lentamente e um som de sirene invade o
ambiente. Minha única reação foi gritar. Meus irmãos choravam de uma
maneira que me quebrava ainda mais, não estava certo. Ela não poderia
partir dessa maneira, ela não podia me deixar aqui. E por isso gritei seu
nome, perdendo todo o controle do meu corpo.
Grito por ela estar machucada.
Grito porque ela não estava acordada.
Grito porque não consegui salvá-la.
E quando não havia mais forças para gritar, eu deixei que todas as minhas
lágrimas terminassem de cair. Estava em estado de negação, não conseguia
assimilar quando os médicos finalmente chegaram, nem quando Dylan me
pegou no colo e me tirou de cima do corpo de Sophie, sussurrando para que
eu me acalmasse, que tudo ficaria bem. Eu sabia que nada ficaria bem, a
minha irmã morreu em meus braços, eu não podia deixar que a levassem. Eu
vi minha mãe cair de joelhos, chorando, e depois nos abraçar, como se
tivesse medo de que acontecesse o mesmo com um de nós três. E só me
acalmei quando um dos médicos injetou algo em meu braço, me fazendo cair
sobre os braços fortes de meu pai, que pela primeira vez me segurou como
se eu fosse a peça mais preciosa que ele tivesse.
E quando acordei novamente, eu não me lembrava de como chegamos ao
hospital, não me lembrava como cheguei aquele quarto. Eu apenas caminhei
em direção ao corredor, seguindo o barulho das pessoas correndo, das
enfermeiras assustadas e só me dei conta de que estavam assim porque
minha irmã estava ali.
Caminhei em direção onde aquelas pessoas saíam e entravam
desesperadamente, eles estavam tão ocupados que não me enxergaram
entrando. A primeira coisa que vi foi a mão de Sophie caída ao lado de seu
corpo, vi os médicos gritando para ela não desistir. Eu queria correr e gritar
para ela voltar para nós, que precisávamos dela, mas meu corpo não tinha
reação.
— Recarregue — uma voz feminina gritou.
Ela era calmaria, a minha calmaria.
— Afaste.
Era um passo perfeito de uma coreografia bem ensaiada.
— Tente mais uma vez — a médica diz quase esperança.
Ela era protetora com os seus.
— Recarregue.
E gentil com os outros.
— Afaste.
Ela era luz.
— Recarregue.
A minha luz. E eu havia a perdido.
— Hora do óbito: duas horas e oito minutos da manhã.
Sophie Blackwell era apenas uma lembrança. E, agora, uma promessa.
E quando minha ficha caiu, eu desmoronei. Caí de joelhos em frente à
maca e gritei sobre seu corpo ainda quente e sobre nossas roupas
encharcadas de sangue. Eu não podia aceitar. Eu não queria aceitar, que a
única coisa que restava de Sophie era uma promessa feita.
Quando Dylan e Ed me tiraram daquela sala, eu sabia que também
estavam no mesmo estado que eu. Dylan me abraçou fortemente quando
chegamos ao estacionamento, nós desabamos no chão molhado. Os braços do
meu irmão mais velho me seguravam com força, enquanto Ed se abaixou à
minha frente e segurou meu rosto, procurando pelos meus olhos e sussurrou:
— Eu preciso que você seja forte, Vee! — Ele retirou uma mecha do meu
cabelo do meu rosto. — Seja forte, por ela, por nós.
Eu não era forte, não conseguia ser. Naquele momento, eu só precisava da
minha irmã, precisava chegar em casa e saber que ela ainda estaria lá.
Não conseguia encontrar mais forças, eu precisava voltar para dentro,
precisava obrigá-los a salvá-la.
De repente, meus olhos focaram sobre os ombros de Ed. Toda a minha
falta de controle se passou, uma frieza que nunca antes tinha tido, cresceu em
meu peito e quando me levantei secando as lágrimas e caminhei até onde ele
estava, senti tudo o que eu não deveria sentir. Eu o vi, admirei pela última
vez. Eu olhei para Logan, assustado na porta do hospital, com as roupas
encharcadas, e eu desejei que ele não tivesse me conhecido, que ele não
fosse um Underwood, porque eu estava prestes a destruí-los.
Ele me encarou com o rosto preocupado. Num primeiro momento, quis
correr até seus braços, deixar que me consolasse, mas ele havia mentido
para mim. Enquanto eu estava tentando fazer com que nosso relacionamento
desse certo, mesmo que nossas realidades fossem diferentes, Logan sabia
que seu irmão estava usando minha irmã e não fez nada, apenas sentou e
esperou que toda a merda acontecesse.
Naquele momento, eu me lembrei do porquê que eu não podia deixar que
aquela dor me dominasse totalmente, não agora, não quando eu ainda tinha
coisas a fazer, para cumprir tudo o que havia prometido à minha irmã.
Suspirei fundo e caminhei até ele, cada passo era como se alguém estivesse
ficando uma estaca no meu coração. O sentimento de luto e traição corroía o
que havia de bom dentro de mim.
— Você sabia? — rosnei friamente, mesmo que já soubesse a verdade,
mas precisava escutar de sua boca.
— Verônica… — Sua voz era regada a dor.
— Você sabia que seu irmão estava usando minha irmã? — grito.
Silêncio. Era a única coisa que fluía do garoto à minha frente.
— Diga a verdade, Logan. — Uma lágrima escorre, mesmo que meu rosto
ainda parecesse uma pedra de gelo. — Por favor.
— Sabia... — Uma lágrima também desceu do seu rosto. — Eu estava
com medo de te contar…
— Por que você não me contou, Logan? — questiono, passando a mão
pelo meu rosto e o sujo de sangue. — Por que me deixou no escuro? Por quê,
Logan?
— Porque... — Ele hesita, Logan nunca hesitava. Mesmo que fosse o pior
dos acontecimentos, ele sempre era honesto comigo.
— Você não vai me contar? — Minha voz sai dolorosa, quase um sussurro
inaudível contra o barulho da chuva.
— Eu... não posso — ele diz, deixando que uma lágrima descesse pelo
seu rosto. — Se eu fizer isso… Eu não posso, anjo, eu sinto muito!
— Eu já esgotei minha cota de perdão em relação às suas atitudes, Logan.
— Coloquei para fora, engolindo o choro. — Perdoei todas as vezes que sua
insegurança pelas nossas realidades foi maior que o sentimento que tínhamos
um pelo outro, perdoei quando me tratou como lixo todas essas semanas, e
estive ao seu lado quando ninguém mais esteve. Eu te escolhi, Underwood!
Não Aidan, não Mike, ninguém, apenas você! E você se acostumou tanto a
me machucar e eu o perdoar, que não enxerga mais as consequências dos
seus atos.
— Verônica…
— Não, Logan, eu não terminei. — Dou um passo à frente, ficando cara a
cara. — A minha irmã morreu essa noite, nos meus braços, enquanto meus
irmãos choravam ao meu lado, e tudo por uma atitude infantil de seu irmão.
Irei te dar um aviso para que não diga que foi pego de surpresa: eu vou
destruí-lo, cada coisa que ele ama. Eu destruirei sua família da mesma forma
que destruíram a minha!
Quando recuei, eu tive a certeza de que ele viu a luz que sempre tive, se
apagar.
Cada sentimento bom havia ficado naquela maca fria junto com Sophie. A
minha parte boa, aquela que se importava com os sentimentos alheios, com a
alegria do mundo, seria enterrada a sete palmos do chão, junto à minha irmã.
— Eu quebrei seu coração, mas você, Logan… você me destruiu.
— Eu sinto muito por te destruído, Verônica — diz dando um passo para
trás.
— Eu também sinto, Underwood.
Eu vejo aquele olhar em seus olhos
Que me faz ficar cego
Me cortam profundamente, estes segredos e mentiras
Tempestade no silêncio
Madness | Ruelle
4 anos antes
A última vez que a vi, Verônica usava preto, desde os pés à cabeça. E o
cemitério de Saint Vincent estava cheio, todos os alunos e todas as famílias
importantes de parte alta da cidade decidiram participar do sepultamento de
Sophie Blackwell.
Eu me mantive longe, bem distante dos olhos de qualquer um da família
dela, mas, ainda sim, a mantive em linha de visão. E me surpreendi quando
todos à sua volta choravam, menos ela. Seus olhos estavam fixos no caixão
preto, como se nada ali mais importasse, como se apenas seu corpo estivesse
presente.
Verônica ergueu o queixo, arrumou seu chapéu e colocou os óculos
escuros, saindo dali quando eles finalmente baixaram o corpo de sua irmã.
Ela não se despediu, não chorou e nem gritou.
Ela apenas era fria e distante. Foi a personificação do que se tornou
naquela noite.
E agora, enquanto a observo caminhar pelo Saint Vincent College, vestida
com um conjunto Chanel preto e branco e saltos altos, eu tenho certeza de
que ela não é mais a garota de antes. O salto de seus sapatos são o único
barulho que se pode ouvir nos corredores. Não existe nada naquela garota
que pudesse expressar algum sentimento.
A caixa em seus braços indicava que havia desocupado o armário de sua
irmã. Ela caminhava lentamente pelo local, sua pose nunca fraqueja, era
como se fosse uma rainha dando adeus a seu reino, como se estivesse se
preparando para colocar fogo em cada parte do ambiente.
Seus irmãos apareceram no final do corredor, atrás dela, carregando mais
três caixas. Os olhos de Ed estavam vermelhos, como se tivesse chorado a
noite toda, e as expressões de Dylan eram a cópia de Vee, frios, calculistas
e, acima de tudo, perigosos. Se não os conhecesse, juraria que eles, sim,
eram os gêmeos Blackwell.
Meus olhos foram para a mão de Dylan e vi que em uma daquelas caixas,
o uniforme de líder de Verônica estava aparente. Meu coração afundou um
pouco quando eu entendi o que estava acontecendo.
Toda a família Blackwell estava indo embora.
Eles não olharam para Analu ou Mike, que os encaravam com algum tipo
de pena. Ou para Josh e Levi que sorriram gentilmente. Verônica apenas se
distanciou de seus irmãos para caminhar até Hazel e Summer, e envolver o
pulso da primeira com a pulseira que indicava que era a capitã das
cheerleaders. Antes de se virar, sussurrou algo incompreensível para ambas
e então as puxou para um abraço, um abraço de despedida.
Mas quando finalmente se aproximou de mim, me encarou com tanto
desdém, tive vontade de gritar que jamais havia desejado o rumo que todas
essas merdas levaram. Ela deu um passo à frente, ficando cara a cara comigo
e sussurrou próximo a minha boca:
— Eu destruirei você e sua família de merda, Underwood!
E então seguiu seu caminho, como se eu fosse uma pessoa qualquer, que
jamais me conheceu ou dividiu a cama comigo. Uma parte de mim, aquela
que a amava incondicionalmente, olhou para trás e viu a pior das imagens
que poderia ver. Verônica estava nos braços de Oliver, abraçada, ele a
segurava como se fosse a coisa mais sensível que alguém pudesse tocar. E
continuei os encarando enquanto ele passava as mãos pelo seu rosto,
gentilmente, dizendo algo inaudível. Minha vontade era de socá-lo quando se
abaixou e deixou um beijo em sua testa, pegando a caixa e entrelaçando sua
mão livre na dela enquanto seguiam até as portas duplas da entrada do
colégio.
Mesmo que algo dentro de mim estivesse queimando por vê-los tão juntos,
uma parte ficou grata por ter alguém que ela confiava ao seu lado.
— Você está bem? — A voz doce de Summer ressoou, enquanto me
sentava no chão.
— Não, eu... não sei o que fazer.
— Você mentiu para ela, Logan. — Hazel cruza os braços enquanto
desliza até o chão e se senta ao lado do meu armário. — E não foi a primeira
vez.
— E a irmã dela morreu, cara. — Levi se senta ao meu lado. — Dê um
tempo a ela.
— Não sei se um tempo será capaz de resolver isso, Levi. — Suspiro. —
E nem sei onde ela vai atacar para se vingar.
— Só tem três dias que enterraram a irmã dela, Logan. — A loira suspirou
dolorosamente. — Ela disse a mim e a Hazel que deveríamos nos mudar
para Nova York quando nos formarmos.
— Ela está indo para Nova York? — questiono, sentindo o bolo em minha
garganta.
— Hoje à noite — Hazel responde, mordendo o lábio inferior. — Sinto
muito, Logan.
— Você e Dylan? — pergunto quase que em um sussurro.
— Ele terminou o que tínhamos hoje pela manhã, não está com cabeça
para seguir com algo… — ela responde com voz fina, e sabia que estava se
segurando para não chorar.
— Sinto muito.
Sorri fracamente para eles e me levantei, caminhando até a saída.
Precisava descansar, tínhamos uma viagem para a próxima semana até
Atlanta e ficar naquele colégio, lembrando de tudo o que vivemos, não era o
que eu precisava.
Caminhei lentamente até a antiga caminhonete do meu pai e dirigi até meu
bairro, quando estacionei, me assustei assim que vi duas SUVS extremamente
caras em frente à minha casa. Sabia que algo estava errado. Eu podia sentir
dentro de mim que alguma merda aconteceria. A primeira pessoa que vi, foi
Dylan. Ele estava encostado em um dos automóveis e encarava a casa, como
se sentisse repulsa.
— Um dia eu te falei que você não desejaria ver um Blackwell
machucado. — A sua face fechou-se dura. — Nós te trouxemos para nossa
casa, o colocamos na porra do nosso círculo íntimo e mesmo assim você
mentiu para nós, você machucou a minha irmã.
— Eu não a matei, Dylan — rosno. — Parem de me tratar como se eu
estivesse dirigindo aquele maldito carro.
— Você não a matou — a voz fria de Ed ressoa atrás de mim, me viro
lentamente para ver o caçula dos Blackwell —, mas esconder a verdade,
contribuiu para aquilo acontecer.
— Onde ela está? — pergunto, os ignorando.
— Não aqui. Nunca mais aqui! — Ed proferiu com suspiro.
Respiro fundo e decido encarar o que quer que estivesse acontecendo
dentro de casa. Se eles vieram para travar a guerra, que seja. Vamos à luta.
Mas não perderia aquilo de cabeça baixa. Estava cansado de ser tratado com
o vilão, de ficar com toda a fodida culpa por algo que eu não sabia como
evitar.
Quando entrei na pequena sala, a primeira pessoa que vi foi a mãe de
Verônica. Ela encarava uma foto que tiramos um pouco antes que minha mãe
morresse. Seu sorriso era verdadeiro, doloroso. A próxima pessoa que
entrou em meu campo de visão, foi um homem alto, com um terno sob
medida. Os olhos âmbares estavam frios, machucados, mas ainda assim, ele
ainda parecia o magnata. Sua pose de rei da cidade o acompanhava por todo
o lugar. O pai de Verônica, diferente de sua mãe, me encarava como ela me
encarou no hospital, como se fosse o pior demônio que habitava a terra.
— Logan — A voz de Aidan era nervosa.
— Olá, garoto — diz a mulher, finalmente me encarando, enquanto deixa a
foto em cima da mesinha de centro. — Estávamos à sua espera.
— Posso saber o que fazem na minha casa? — pergunto receoso.
A risada falsa do homem à minha frente fez com que minha raiva
começasse a percorrer todas as minhas veias, eu sabia que eram perigosos,
que não mediriam esforços para nos destruir.
— Viemos por nossas filhas — ele diz friamente, arrumando a gravata. —
Verônica deveria fazer isso, mas está com tanto nojo de você que nos pediu
que fizesse.
— E vocês decidiram fazer algo por elas, finalmente? — Aidan diz.
— Nós sempre fazemos o que eles pedem, querido! — A voz da mulher à
minha frente era dura, como se estivesse falando com um maltrapilho, mas
antes de continuar a falar seu sorriso desaparece, dando lugar a uma
expressão dura. — Quem vocês acham que pagam a clínica do alcoólatra
que chamam de pai? — ela diz, me encarando. — Você não sabia que minha
filha convenceu seu pai a ir se tratar, para que vocês pudessem ter uma vida
melhor?
Meus olhos arregalaram. Sempre achei estranho o fato de meu pai ter
aceitado um tratamento sem nenhum tipo de ameaça. E agora, saber que Vee
havia feito aquilo para ele, para mim, me quebrou um pouco mais.
— Verônica sempre teve um bom coração, mesmo que ela o escondesse. E
você o corrompeu. — A voz dura do homem volta a surgir, então ele se
levanta e se põe à minha frente. — Imagine, Underwood, segurar seu irmão
nos braços, quase sem vida, e perder o controle de suas próprias ações
quando os médicos declararem que o fim dele chegou. E então, me diga,
como minha pequena garota ainda continuará com aquele brilho especial que
apenas ela tinha?
Aquilo havia doído de uma maneira inexplicável. Eu sentia cada pedaço
que ainda restava do meu coração sendo destroçado, não queria que aquilo
fosse real, não queria aceitar que aquilo estava acontecendo.
Eu precisava que fosse um pesadelo. Precisava que tudo aquilo passasse.
— Creio que não vieram aqui para falar sobre como me sinto, Senhor
Blackwell — forço minha voz para não parecer abalado.
— Você tem razão, não viemos — diz, soltando um sorriso malicioso,
enquanto se vira um pouco e pega duas pastas, estendendo uma para mim e
outra para meu irmão.
— Acredito que saibam que também sou advogada. — O rosto da
matriarca dos Blackwell não tinha um brilho, era cansado, doloroso. — E
para não terem nenhuma dúvida, explicarei cada papel que está aí dentro.
Encaro o casal à minha frente e depois de um longo suspiro, decido abrir
o conteúdo em minhas mãos, mas me arrependo logo em seguida.
Não, ela não fez isso.
Verônica não poderia ter tomado aquela decisão.
Meu coração parou por alguns segundos quando vi o nome de Melany, o
de meu pai e a escritura da nossa casa. O pavor que percorreu todo meu
sangue foi amedrontador e pude ver a mesma reação no rosto de meu irmão.
Então entendi quando diziam que aquela família era poderosa e destruía
quem os machucava.
— Antes que minha filha morresse, ela pediu a nossa Verônica algo que
ela não poderia negar. — A voz do homem era insensível. — Ah! E peço que
não nos dê os créditos por todo o conteúdo deste papel, Verônica planejou
tudo, até nos mínimos detalhes. — Esta afirmação destroçou todo o meu
coração, aquela não era minha namorada, a garota a quem prometi meu
coração, mas, pelo jeito, ela levou a sério demais, porque ela acabou de e o
tomar entre os de dedos e o esmagar.
— Como ia dizendo... — Volto meu olhar para a mãe de Vee, que falava
agora. — Aí está o processo que seu irmão deu entrada para conseguirem a
guarda definitiva da sua irmã caçula, para ela poder estudar no SVC, mas
sinto muito em dizer, que para poderem conseguir ser guardiões de uma pré-
adolescente de quatorze anos, precisam de uma casa estável, com pessoas
responsáveis para criá-la.
— O que quer dizer com isso? — Aidan arregala os olhos.
— Quero dizer, querido, que com o histórico de alcoolismo presente
nesse âmbito, com as negligências por parte de seu pai e por não terem
responsabilidade com os estudos, com exceção de você, Logan. — Seu
sorriso aumenta. — O juiz decidiu que ela ficará melhor nos próximos anos
em algum abrigo do estado.
— Vocês não fizeram isso… — digo fracamente.
Eu não podia acreditar que eles descontaram todo o seu ódio na pessoa
mais inocente dessa história. O pior, eu não podia acreditar que Vee fez
aquilo, que me destruiu daquela maneira, sabendo que Melany é a pessoa
mais importante da minha vida.
— Não acabamos. — A voz do homem se altera. — Aqui está todo o
valor que terão que pagar para a clínica onde o seu pai está internado a
partir da data inicial nos registros dele. Verônica finalmente deu fim à
caridade que estava prestando a vocês. E como nosso último presente, vocês
têm duas semanas para desocupar essa casa.
— Por que sairíamos da nossa própria casa? — Meu irmão ergue a
sobrancelha.
— Porque essa casa não é mais de vocês, ela pertence à Verônica!
Abaixo meus olhos até o terceiro papel em minhas mãos. Eu não queria
acreditar, não podia. Ela havia feito seu último movimento no jogo.
E eu nem ao menos sabia que tínhamos começado a partida.
Na última linha do documento, as cinco palavras que me levariam ao
inferno: a atual proprietária, Verônica Blackwell.
Não disse nada, não porque não quis, mas, sim, porque todas as palavras
haviam sumidos de minha boca. Quando ela me contou o que fez com a
família de Analu por tentarem um golpe contra eles, tentei compreender, mas
agora sei o quão cruéis eles realmente eram, então apenas os observei
saindo vitoriosos da minha casa. Não tinha reação, havíamos perdido nossa
irmã, nossas lembranças, nossa casa. Não tínhamos mais nada. Eles haviam
nos tirado tudo.
Todo o amor que eu sentia por Verônica Blackwell foi tomado por ódio,
nojo e arrependimento.
Havíamos destruído um ao outro. Gradualmente, pedaço por pedaço.
E o que eu havia visto sumir no olhar dela naquela noite, acontecia o
mesmo comigo naquele momento. Fui o condutor para despertar o pior que
havia dentro dela e ela havia matado o que havia de melhor dentro de mim.
Verônica Blackwell me quebrou que nem um vidro e agora cada fragmento
dele serviria para cortá-la.
— Eu não pedirei desculpas pelas atitudes da minha família. — A voz de
Ed me faz virar e nem me incomodei em secar as lágrimas que desciam pelo
meu rosto. — E nem as justificar, mas você foi um bom amigo para mim, por
isso estou aqui.
Ele sorri e deixa um envelope em cima da mesa de entrada.
— Não preciso da merda da sua caridade, Blackwell! — rosno.
— Eu sei, mas não seja infantil no momento — diz se virando. — Trate
isso como um empréstimo, quando nos vermos novamente, me pague.
— Espero nunca mais ver nenhum de vocês, Edmund. — Dou um passo à
frente.
— Eu sei, Underwood. — Sorri fracamente. — Mas mesmo assim, foi
bom te conhecer.
Antes que possa dizer mais alguma coisa, bato a porta em sua cara. E
então me permito desabar.
Meus joelhos batem contra o chão, mas não há dor. Não há nada.
Eu não sinto nada, como se estivesse em um estado inerte. Como se meu
sistema tivesse desligado, como se eu fosse o zero entre números positivos e
negativos.
Há apenas o vazio.
Desta vez, Verônica me quebrou e nem se importou em catar os cacos que
ficaram. Ao contrário, ela se deleitou em cada fragmento que caiu sob a
superfície, como se fosse uma fodida vadia má.
Algo dentro de mim, sabia que precisava de um último confronto com ela.
E, por esse motivo, saí de casa e peguei a caminhonete velha do meu pai.
Tinha certeza de que ela não estaria em casa. Quando as coisas estão fodidas
nesse nível, ela precisa de ar puro, precisa encarar o céu e sentir que tudo
ficaria bem.
E só havia um lugar em Saint Vincent onde a visão era privilegiada. O
nosso lugar.
Quando estacionei o carro a alguns metros, pude ver um dos carros que
havia visto nas enormes garagens daquela família de merda. Acertei, ela se
tornou previsível demais para mim.
Caminhei como se tivesse mil pedras em meus sapatos, porque mesmo
sabendo ser necessário, eu não queria encará-la agora. Não com todo o ódio
queimando dentro de mim.
— Você não deveria vir atrás de pessoas que não desejam a sua presença
— diz friamente, ainda de costas.
— Me disseram uma vez que não deveríamos colidir nossos mundos,
Blackwell. — Minha voz saiu carregada de nojo. — Deveríamos ter ouvido.
— Você é ingênuo, Logan — fala firmemente. — Nosso mundo nunca se
colidiu, porque não se pode misturar fogo e gelo.
— Antes a ingenuidade do que ser igual a você, Verônica. — Não a deixo
perceber o quão abalado estou. — Que destrói tudo o que toca.
De todas as pessoas do mundo, ser cruel com ela, não só me abalou, como
também quebrou o último pedaço do meu coração.
Quando volto a encarar, a vejo andar alguns passos até ficar perto o
suficiente de mim. Eu queria me mover, ficar longe o possível dela, mas
meus pés não me obedeciam, haviam se enraizado no chão. Minha respiração
começou a ficar ofegante. A cada vez que se aproximava mais um pouco, era
perceptível a tensão que se forma entre nós dois. Nos encarávamos com
ódio. Minha vontade era agarrá-la e mostrar a ela como o sentimento ainda
queimava dentro de mim, mas não posso me dar ao luxo, porque a garota na
minha frente não era mais a minha Vee, não era mais a garota que enfrentou
seus medos porque estava ao seu lado, não era quem uma vez me fez ansiar
por poder ver seu sorriso. Aquela pessoa à minha frente, era vazia, cruel, e
havia me separado de Melany. Mas eu não esperava que ela ficasse nas
pontas dos pés e deixasse um beijo em minha bochecha e sussurrasse:
— E mesmo assim, seu corpo anseia pelo meu toque. — Consigo sentir
meu ódio subir pela garganta. — É hipocrisia dizer palavras que nem mesmo
você acredita.
Ela se virou para sair e quando começou a caminhar em direção ao seu
carro, não consegui conter a gargalhada, porque Verônica Blackwell é a
hipocrisia em pessoa.
Quando ela me encara, sem conseguir entender como eu ainda podia sorrir
depois de tudo aquilo, deixo que ela saiba que todo o amor se foi, que
morreu assim como sua irmã. Sophie não levou somente o seu destino, levou
de todos que estavam ao nosso redor.
— Hipocrisia é achar que uma garota como você, sente algo a não ser por
si mesma. — Solto um sorriso doloroso, minha garganta queimava. — Mas
não a culpo, está na sua genética ser assim, ser uma casca vazia. Agora,
Verônica, eu posso dizer que você finalmente deixou sua máscara cair. Seu
pai deve estar orgulhoso pela sua princesinha ser uma cópia idêntica a
dele... — Dou um passo à frente, quase pairando nossos rostos um sobre o
outro, sentindo sua respiração descompassada. — Afinal, como diz aquele
ditado: fruta podre nunca cai longe da árvore.
Seus olhos, por um momento, me mostraram o quão machucada estava e
uma parte de mim se arrependeu por aquelas palavras, mas a outra parte,
aquela que teve o mundo virado de cabeça para baixo, ficou feliz por tê-la
atingido.
— Uma vez Summer te disse que eu quebraria seu coração, Logan…
deveria ter escutado. — Sorri tristemente.
— Eu te odeio, te odeio de uma forma que eu nem sei explicar, mas ainda
assim, sinto muito por ter feito o mesmo com você… — Nossos olhos se
encontram por uma última vez. Não havia brilho, não havia nada. Apenas
duas pessoas quebradas. — Adeus, Verônica.
— Adeus, Logan.
Ela caminha lentamente até seu carro, como se uma coroa invisível de
orgulho e ódio ornasse sua cabeça, ela não demonstrou nenhum sentimento
quando encarou a cidade, colocou os óculos escuros e então finalmente
entrou no Bugatti, dando partida, acelerando como se o mundo dependesse
daquilo, e eu a encarei sumir de vista.
Aquele dia, no lugar mais alto da cidade, onde fizemos de lá o nosso lugar
preferido, o lugar onde fizemos amor pela primeira vez, hoje tivemos a
nossa última memória.
Verônica havia ganhado aquele jogo, havia saído da cidade como se
realmente fosse uma rainha cansada de reinar sobre uma cidade caótica.
E como dizem: As máscaras caem e os monstros se revelam.
E ela trouxe à tona todos os nossos.
Comecei a trazer o passado à tona
Como as coisas que você ama não duram
Mesmo que isso não seja justo para nós dois
Talvez, eu seja apenas um tolo
Eu ainda pertenço a você
Em qualquer lugar que você estiver
Minefields | Faouzia feat. John Legend
Acho que é melhor não levar Aidan para o apartamento que divido com
os meus amigos. Dirijo até o bairro de classe média onde Audrey mora e
estaciono na vaga da garagem que sempre deixa reservada para mim.
Observo a casa com a pintura toda branca, as janelas escuras e um pequeno
jardim na lateral. É pacato e familiar, e por um momento tenho saudades de
quando morei aqui durante as semanas que eu me organizava na SVU. Sou
tirado dos meus pensamentos pelo resmungo de meu irmão, que reclama por
tê-lo trazido para cá desde o momento em que percebeu o trajeto que
estávamos fazendo.
Ele odeia esse lugar, assim como odeia toda Saint Vincent.
Quando finalmente estou do lado de fora do meu automóvel, levanto o
olhar até o segundo andar, que está todo apagado, o que significa que minha
irmã provavelmente já está dormindo, o que é um alívio, ela não merece
escutar a conversa que teríamos. Principalmente quando sei que nada de bom
sairá daquele momento. A única luz acesa é a da sala de estar, o que não é
surpresa nenhuma, não quando minha tia ainda está acordada por conta da
mensagem que eu enviei no caminho para cá. Assim que subo os únicos dois
degraus da varanda na parte frontal, encaixo minha chave e abro a porta, sou
recebido por uma imagem de tia Audrey sentada em um dos sofás com uma
xícara amarela nas mãos.
Seu cabelo preto está preso em um rabo de cavalo, seu pijama todo
amassado e o óculos de grau está sobre os olhos azuis idênticos aos de
minha mãe. Seu semblante não é afetuoso, é apenas preocupado, porque
minha tia sabe como minha relação com Aidan vive na corda bamba desde o
que aconteceu há quatro anos atrás.
— Sente-se! — ela diz, se levantando — Vou buscar um chá para os dois.
— Não acho que seja necessário, estou indo embora, Audrey! — digo,
girando a chave do meu carro entre os dedos. — Tenho treino amanhã cedo.
— Não foi um pedido, Logan! — profere, me encarando com um
semblante fechado.
Com um suspiro, caminho até o sofá oposto ao que meu irmão está jogado
e me sento, colocando meus cotovelos em minhas coxas e abaixando a
cabeça. Estou esgotado. O jogo havia sido pesado e o momento com
Verônica no vestiário logo após a partida, ainda reverbera na minha cabeça,
me lembrando de todas as coisas que fizemos. Mas não é isso que está
fodendo com minha mente, mas sim o que eu disse a Dylan no
estacionamento. Merda! Eu não deveria ter dito tais coisas, não deveria ter
deixado explícito que ainda sentia algo por Verônica, mas quando a vi tão
vulnerável, tão machucada, eu quis mover o mundo para que aquele
sentimento se esvaísse, quis protegê-la.
— Você está fodendo com Blackwell novamente! — Não era uma
pergunta, mas a voz regada a desdém de Aidan me fez levantar a cabeça. —
De todas as garotas disponíveis na porra dessa universidade, você decidiu
estar entre as pernas de uma Blackwell!
— Não se intrometa na minha vida, Aidan! — vocifero, estreitando os
olhos.
— O caralho que não irei! — ele devolve, se levantando. — Eles foderam
com nossa vida, com a casa que era da nossa mãe, Logan, com a nossa irmã,
caralho!
— E você quer entrar nesse assunto, quer que eu vomite em cima de você
o porquê de todas as atitudes que eles tomaram? — proponho, me levantando
e ficando frente a frente com meu irmão.
Somos do mesmo tamanho. Os olhos de Aidan são de um tom azul
acinzentado e contém toda uma confusão nublada em cada parte de suas íris.
Ele solta uma lufada de ar e não desprende o olhar por nenhum segundo.
Enquanto procuro o garoto que um dia foi meu melhor amigo, que me
protegeu e me ajudou a superar todas as coisas ruins da minha, que
compartilhou sonhos e pesadelos, que apenas... foi meu irmão, contudo, ele
me encara como se eu fosse um bastardo por ainda sentir algo por Verônica.
— Chega! — A voz firme de Audrey me fez dar um passo para trás. —
Não aqui, não quando a única pessoa inocente está dormindo no quarto
acima de nós!
Audrey está a alguns centímetros longe de mim, com duas xícaras em suas
mãos. Ela anda até onde estamos e entrega uma para cada um. Tento relaxar
meu corpo, voltando a me sentar, mas não é o suficiente. Quando levo o
objeto até meus lábios, sinto o gosto forte de camomila com um pingo de
mel. Era o preferido de nossa mãe, e me trouxe lembranças de quando ela
fazia o mesmo todas as noites antes de nos colocar na cama.
Sinto falta dela e talvez, se ela ainda estivesse viva, conseguiria nos
controlar, conseguiria fazer que não nos odiássemos tanto e vivêssemos
como uma família novamente.
— Por que você voltou, Aidan? — Audrey questiona, colocando sua
caneca na mesa de centro.
— Daqui a algumas semanas é o Natal e todos sabemos que é a época
preferida de Mel! — explica como se fosse o óbvio. — E eu não perderia
esse momento!
— O Natal é apenas em sete semanas, Aidan! — digo, cruzando os braços
e me escorando nas almofadas do sofá. — Fale a porra da verdade!
Ele me encara por alguns segundos, como se estivesse praguejando se
dizia ou não, mas minha postura não vacila em nenhum momento, fazendo
com que ele suspire.
— Eu voltei, porque sei a merda na qual está se metendo e, acredite em
mim, irmãozinho... — Ele coloca os cotovelos em suas coxas e me encara
severamente. — Não deixarei você foder com seu futuro e com sua vida por
conta de uma pirralha mimada!
— Aidan, nós já temos problemas demais! — Minha tia interveio antes
que eu pudesse respondê-lo. — Não seja mais um.
— Não serei um, Audrey!
— Você está com a garota Blackwell novamente, Logan? — Ela vira seu
rosto em minha direção com os olhos semicerrados.
— Não! — O que era uma verdade, conviver Blackwell e estar junto dela
são coisas distintas. — O fato de sermos obrigados a convivermos, não
significa que temos algo!
— Então por que diabos você estava a ponto de matar qualquer um
naquela festa, incluindo a mim, quando foi ela que me atacou? — Ele ergue
uma sobrancelha.
Não tenho resposta para isso, porque eu nem ao menos sabia. Em um
momento estávamos no vestiário, em nossa própria bolha de felicidade,
enquanto ela dedilhava a porra da tatuagem meu peito, quase me fazendo
confidenciar o real motivo de ter eternizado aquele desenho em minha pele,
o que fez subir todas minhas muralhas contra ela, a tratando friamente; e no
outro, eu estava entrando na fraternidade, dando de cara com meu irmão e o
único pensamento que me veio à cabeça, era que deveria protegê-la, deveria
fazer com que eles não se encontrassem e ela sofresse.
Finalmente a verdade sobre aquele momento recaiu sobre mim e não é
bom, porque eu estava pronto para fazer qualquer coisa contra meu próprio
irmão ou qualquer um naquela festa se aquilo significasse que eles a
colocariam em perigo.
E isso é ruim, porra, muito ruim!
— Logan... — Minha tia faz com que eu a encare e repete a pergunta que
eu não havia escutado, calmamente. — Você ainda sente algo por ela?
— Ela machucou minha irmã, Audrey... — Minha voz vacilou, porque isso
é a única coisa que mantém a nossa linha tênue intacta. — Não há lugar para
sentimentos quanto a isso.
— Pelo menos ainda é sensato! — Aidan murmurou.
— Você quer falar sobre sensatez? — Ergo meu rosto para ele. — Porque
posso trazer o assunto Sophie Blackwell para essa sala e te dizer o quanto a
sensatez te faltou, irmão.
A expressão de deboche de Aidan morre ao tocar no nome da garota
proibida. Ele dá um passo para trás, como se eu tivesse lhe desferido um
soco, levando as mãos em seu cabelo, e fecha os olhos por alguns segundos,
como se estivesse expulsando lembranças e tentando não voltar para aquele
mar de lamentações que havia se tornado quando tudo aconteceu.
Sei que toquei em um assunto proibido, mas estou cansado de fingir que
tudo está bem, cansado de colocar um sorriso no rosto, mesmo que eu esteja
destroçado por dentro.
— Não faça isso, Logan... — Audrey sussurra.
— Não faça o quê, tia Audrey? Falar a verdade? Porque sinceramente, eu
estou farto! — esbravejo. — Estou farto de vocês andarem em corda bamba
quando se trata daquela família, estou farto de ainda ter que olhar para
Verônica e enxergar tudo o que fizemos um para o outro, saber que ela sofre
pela morte de Sophie e que tenho que odiá-la por ter tentando destruir a
minha vida. Estou farto de ter que ser forte, de ter que fingir para vocês que
isso também não me afetou, de presenciar Aidan se desmoronar toda vez que
alguém diz o nome dela perto dele e de ver o quanto te esgotou ter que lutar
por Melany e que eu não a vi durante um ano inteiro… E-eu estou cansado
Audrey, apenas cansado.
— Você quer o que, Logan? — Aidan praticamente grita. — Que eu diga
que sinto muito pela morte da garota que eu amei? Porque fiz isso dezenas de
vezes, fiz isso para você, para Audrey e para dezenas de outras pessoas que
viram meu estado lamentável. Fiz isso na porra da lápide dela! Chorei como
uma criança ajoelhado no chão do cemitério todo o aniversário de morte
dela! Eu estive lá, Logan... Enquanto a própria família dela nunca foi visitá-
la…
— Ela está morta porque você a traiu, porque ela dirigiu em uma
tempestade enquanto você fodia uma garota qualquer, e mesmo que tente se
explicar… lembre-se de que você — desabafo apontando um dedo em sua
direção — foi o cara que ela entregou tudo, para que no final fosse egoísta o
bastante para machucá-la!
— E você acha que eu não sei disso, caralho? — Ele dá um passo à
frente. — Você não sabe como eu tenho me sentido todo esse tempo. Todas
as vezes que fecho meus olhos sou capaz de ver o rosto dela banhado em
lágrimas e decepção. Que a porra das palavras que eu disse a ela não me
perseguem diariamente? A porra do cheiro dela está impregnado em mim,
Logan. A imagem do caixão dela sendo baixado, coberto pela terra e eu
saber que nunca mais poderia olhar nos olhos dela, ver o tique nervoso que
ela tinha quando mexia naquele cabelo ruivo. — Encaro o rosto do meu
irmão e me surpreendo ao ver seus os olhos inundados em lágrimas. Aidan
tenta contê-las, mas é impossível. — Como acha que eu me sinto quando sei
que fui o culpado por ter fodido com a sua vida e a de minha irmã? — Ele
limpa as lágrimas, enxugando as mãos nos jeans escuro de sua calça. —
Como acha que eu me sinto quando sei que perdi a única coisa boa que já me
aconteceu?
— Você não merecia Sophie, Aidan… — sussurro.
— E você acha que merece, Verônica Blackwell? — Ele dá um passo à
frente, sorrindo amargamente. — Acha que merece que ela volte para seus
braços, quando você ocultou o meu relacionamento com sua irmã, quando a
fez chorar mais do que sorrir e que a destruiu, assim como eu fiz com sua
irmã? Não tente ser mocinho dessa história, quando se é tão sujo como eu,
irmão!
— Logan? Aidan? — A voz suave faz com que virássemos em direção à
escada.
Melany está parada no último degrau com um pijama azul e os olhos
inchados de sono. Ela inclina a cabeça em confusão para mim e para meu
irmão. E por um segundo, eu acho que ela vai correr até Aidan e pular em
seu colo, como sempre fez das últimas vezes que ele veio visitá-la. Mas não
dessa vez, desta vez ela encarou Audrey com uma súplica no olhar, como se
estivessem compartilhando um segredo.
Como se ela suplicasse para que nossa tia diga algo que não temos a
mínima ideia do que seja.
— Você nunca viu Mel durante aquele ano... — minha tia começa a falar e
sua voz faz com que um frio suba pela minha espinha. — Porque eu não
queria que soubessem que ela nunca foi tirada de nós, que Mel nunca pisou
em um abrigo!
— Como é que é? — Minha voz se sobressalta.
— Que merda você está dizendo, Audrey? — Aidan ergue uma
sobrancelha. — Eu vi os papéis, aqueles fodidos Blackwell esfregaram em
nossas caras!
— Eram falsos! — sussurra, erguendo os olhos em minha direção. — As
únicas coisas que tiraram de vocês, foram a casa e o pagamento da clínica de
seu pai.
— Audrey... — murmuro, quase sem voz.
Não pode ser verdade, não posso ter odiado Verônica por tanto tempo por
um motivo que não é verdadeiro. Ela fez aquilo, eles nos jogaram na sarjeta,
ficaram com tudo o que nos pertencia e haviam levado minha irmã com eles.
— Uma semana antes de vocês voltarem para Atlanta, eu recebi uma visita
inesperada. — Ela se senta e fecha os olhos por alguns segundos, enquanto
Melany caminha até ela e aperta seu ombro, a confortando. — Era uma
mulher elegante e eu a conheci das inúmeras vezes que seu rosto estampou
uma revista. E eu a achei parecida com a garota que você sempre postava
foto nas redes sociais. Ela se sentou no café onde eu cobria um turno e me
entregou dois papéis, um sobre a venda da casa e outro sobre uma bolsa
integral em um dos melhores colégios do país, em Saint Vincent College. —
Nossa atenção está toda em minha tia, os olhos de Aidan estão arregalados e
eu não consigo ter uma reação para isso. — Ela disse que não poderia
causar dor em uma criança, não quando ela mesmo acabara de perder uma
filha…
— Amber Blackwell, mãe de Sophie e de Verônica, fez isso? — Aidan a
interrompe, erguendo uma sobrancelha.
— A que custo? — pergunto. Conheço perfeitamente a família de Verônica
e sei que não fariam isso sem segundas intenções, todos nós sabíamos
perfeitamente disso.
— Que todos achassem que Verônica havia tirado Melany de vocês. Que
vocês a odiassem, a ponto de Logan ficar longe dela. — Ela olha para Mel
por alguns segundos. — Era uma oportunidade de Mel ter uma educação
como você teve no SVC, Logan! E a sua irmã era uma criança inteligente,
acima da média, por isso aceitei, conversei com Mel sobre ela ir para um
internato durante algum tempo e depois voltaria para nós, mas nunca disse
como havia conseguido a bolsa, até que ela viu os papéis!
— Você não deveria ter feito isso, Audrey... — digo, ainda absorvendo
isso. — Não deveria ter escondido a verdade.
— Você já odiava Verônica Blackwell, Logan! Aidan estava devastado e
eu precisava cuidar de todos nós, porque seu pai não tinha condições de
cuidar nem dele mesmo! — ela vocifera, se levantando. — Então me diga
como não aceitaria uma proposta quando sabia que seria a única
oportunidade da sua irmã?
— Logan... — Mel começa a dizer, mas a interrompo de imediato.
— Você sabia disso, Mel, por isso todo aquele papo de perdão, por isso
sempre achava um meio de trazer Verônica para nossas conversas — digo,
colocando meus dedos na ponte do meu nariz e depois ergo meu olhar para
minha tia. — Por que você nunca me disse isso, Audrey? Por que me deixou
a odiá-la por tanto tempo?
— Porque isso não anula o fato deles terem tomado a casa da minha irmã!
E nem o fato de que seu pai morreu logo após vocês se mudarem para
Atlanta, porque ele voltou a beber de uma maneira que o corroeu por dentro.
— Ela se levanta e dá um passo à frente. — Isso não anula o fato de que
todos eles acabaram com a nossa família. Pagarem a educação de Melany foi
o mínimo que deveriam ter feito para nós!
— Meu pai morreu por conta de sua doença com o álcool, não por atitude
de terceiros! — Um músculo na minha mandíbula contraiu-se. — Todos nós
sabemos disso e por mais que ainda os odeie, não posso deixar que assumam
uma culpa que não deve ser deles!
Melany me encara com preocupação e mesmo que eu saiba que na época
ela não entendia o que estava acontecendo, uma parte de mim desejou que
ela tivesse me contado, tivesse dito que todo o tempo em que achava que
estava em algum lugar no estado, sofrendo, ela estava bem, confortável e
tendo uma boa educação.
Mas eles não fizeram isso.
Minha família me deixou no escuro, haviam me feito acreditar que ela
tinha jogado minha irmã em um abrigo qualquer, tinham me deixado acreditar
que eu não poderia salvá-la, que Mel não retornaria para casa.
— Estou indo embora, e-eu… preciso ficar sozinho! — digo.
Passo as mãos em meus cabelos e começo a caminhar em direção à saída,
escutando a voz de Mel me chamando e o choro de Audrey. Eu realmente
preciso de ar puro, preciso me lembrar que minha vida é uma montanha russa
de emoções. Quando entro em meu carro e dirijo pelas ruas de Saint Vincent,
não tenho um lugar em mente, não sei nem ao menos o que realmente farei
quando estacionar o carro ou quando eu encontrar Verônica.
O barulho de pedras sob os pneus do meu carro faz com que eu saiba que
estou chegando onde finalmente decidi ir. Os faróis iluminam a enorme
forma e encaro a enorme estátua que ainda está lá centralizada em frente a
todos os bancos que decoram o lugar. O mirante de Saint Vincent é o lugar
mais calmo que encontrarei na cidade, principalmente por ser isolado e frio.
A vista daqui sempre me prendeu, sempre fez com que me sentisse livre,
que ninguém poderia me dizer como ser ou agir. Era onde eu poderia chorar
ou gritar, sem que ninguém percebesse. Aqui, eu não preciso ser o capitão
que a universidade admira, o irmão que faz de tudo para manter o resto da
família unida e nem o garoto que havia sido quebrado e que nunca demonstra
isso.
Aqui eu posso ser apenas eu, o Logan.
Escoro as mãos na mureta branca e abaixo minha cabeça, tentando, por
alguns segundos, não pensar em todo caos que havia se instalado em minha
vida nessas últimas semanas.
Mas antes mesmo que eu pudesse relaxar, o barulho de saltos contra as
pedras do chão me faz erguer o rosto e me virar em direção ao som. Não me
surpreendo quando vejo Verônica caminhando despreocupadamente com uma
garrafa lacrada de tequila entre as mãos e a maquiagem borrada, como se
estivesse chorando a alguns minutos. Ela ergue o rosto em minha direção e
solta uma lufada de ar, enquanto revira aqueles lindos olhos, parando à
minha frente.
— Sem ofensas hoje, ok? — propõe, levantando as mãos e imitando o
balançar de uma bandeira. — Estou em missão de paz esta noite!
— Você nunca está em missão de paz, anjo! — Respiro fundo, enquanto
cruzo os braços em frente ao corpo. — Nunca mesmo!
— Acredite em mim, capitão, depois desta noite, não estou a fim de
arrumar outra briga com algum Underwood tão cedo — diz, tirando o lacre e
levando a garrafa até os seus lábios, ingerindo uma grande dose.
Ela passou por mim, indo até a mureta e passando as pernas, se sentando.
Seu rosto agora está virado na direção da cidade e a única visão que tenho
da mulher que estava fodendo com meu psicológico, são de seus cabelos
pretos caindo sobre os ombros até o meio da sua cintura, que esconde um
pouco da pele tampada pelo vestido.
Caminho em direção onde ela está e imito o seu gesto, fazendo com que
ficássemos sentados lado a lado. Sei que é errado, sei que tenho coisas
demais em minha cabeça e devo deixá-la sozinha para tentar resolver os seus
próprios problemas, mas há algo na maneira em como seus olhos estão
tristes e machucados, em como ainda está frágil. E algo me diz que mesmo
que mostre a todos que prefere a solidão, ela não gostaria de ficar sozinha,
não hoje, assim como eu; que não estava preparada para enfrentar todos os
pensamentos que rodeavam sua cabeça.
— Eu sempre senti falta desse lugar… — confidencia, erguendo a garrafa
para mim, que aceito e levo até meus lábios. — Eu costumava ir até o
Empire State Building e imaginar estar aqui, mas nunca era o mesmo.
— Sentir falta de um local que a destruiu não é saudável, anjo! — digo,
devolvendo a garrafa.
— Transar com ele também não, capitão! — Me encara com os olhos
vazios e solta um sorriso frio. — E é o que mais fazemos ultimamente!
— Pensei que estivesse em missão de paz! — digo encarando a cidade.
— Minha missão de paz vai até um certo limite, não me culpe por isso!
Ela sorri e eu apenas devolvo o sorriso. Verônica volta o olhar para
frente, para a cidade abaixo de nós e suspira fundo.
— Como você conseguiu o posto de capitã novamente? — pergunto,
tentando fazer com que ela não se perca nos seus próprios pensamentos.
— Hazel. Ela me ajudou a fugir de seu quarto no dia da festa da
fraternidade. — Ergo uma sobrancelha enquanto ela solta uma pequena
gargalhada. — Então ela cobrou esse favor, me convencendo a ser a capitã
das cheerleaders.
— Isso é muito a cara dela — resmungo, também soltando uma
gargalhada.
— Ela tinha boas intenções, não posso culpá-la. — Verônica umedece os
lábios e volta o olhar para frente. — Afinal, não é todo dia que sua amiga te
liga pedindo ajuda para fugir de uma fraternidade.
— Você não precisaria ter concordado com isso, se não tivesse fugido
como uma criminosa do meu quarto — digo, mas um sorriso travesso
estampa meus lábios.
— Oh, eu precisava! Isso impediu um momento constrangedor e uma
possível briga entre nós pela manhã. — Ela solta um sorriso fraco e me
encara.
— Sexo com raiva é um dos melhores — murmuro ainda mantendo o
sorriso no rosto.
Verônica devolve o sorriso, mas de repente seus lábios ficam em uma
linha fina e ela engole seco.
— Precisamos acabar com o quer que esteja acontecendo entre nós,
Logan!
Suas palavras não são rudes ou uma ameaça, são apenas tristes. E eu
gostaria que fosse o álcool que a estivesse fazendo falar isso, mas não é.
Não quando ela não bebeu o suficiente para estar bêbada. E talvez fosse o
que aconteceu hoje, mas enquanto me encara com todo tipo de sentimento,
ela não é aquela garota que discutiu comigo durante todas essas semanas. A
frase que havia proferido era apenas uma confissão, uma que doeu em mim,
porque sei que está certa, sei que precisamos parar com isso. Mesmo que
agora eu saiba que boa parte do meu ódio por ela havia sido por conta de
uma verdade que me foi escondida, mas isso não significa que anula os
outros motivos.
Não anula o fato de que nunca seremos compatíveis.
— Eu sei! — sussurro, ainda a encarando.
— Preciso que volte a me odiar da maneira que me odiava há algumas
semanas atrás!
— Por que precisaria disso?
— Porque assim... sei que somos errados juntos! — Uma lágrima ameaça
a descer pelo seu rosto.
— Eu não posso, anjo! — Minha voz sai regada a angústia enquanto
estendo a minha mão até seu rosto, acariciando-o. — Porque fingir que a
odeio como odiava, seria mentir para mim mesmo!
— Isso é tão errado, capitão…
— Os amantes não vêem as mais belas loucuras que cometem — sussurro,
aproximando meu rosto do dela, nossos lábios pairando um sobre o outro.
— Não cite Shakespeare para mim, Logan… — murmura, olhando para
meus lábios.
— Te traz lembranças, anjo? — devolvo, me aproximando e passando
minha língua pelo seu lábio inferior, enquanto ela fecha os olhos apreciando
o momento.
— Me faz querer te beijar! — Seu tom não é malicioso, mas quando suas
íris voltam a se encontrar com a minha, há desejo ali.
— Sorte a minha então! — Sorrio fracamente enquanto a puxo para um
beijo.
Não é como os outros beijos. Não há nada carnal nele. É doce, é como
todos aqueles beijos que trocamos há anos atrás. Mas desta vez, com cada
nuance que estamos descobrindo um sobre o outro.
Como um quebra-cabeça que finalmente havia sido montado sem faltar
nenhuma peça.
Uma dança entre a poesia e o caos, uma combinação perfeita.
Quando finalmente se afasta, aqueles olhos âmbares me encaram com
algum tipo de decepção e confusão, como se aquele beijo realmente fosse um
fim, um adeus para o que havíamos começado desde que havia voltado.
— Eu ainda não encontrei o antídoto para te esquecer, capitão… — Meu
coração para por alguns segundos, mas ela se afasta do meu toque e desce da
mureta, fazendo com que eu imite seu movimento. — Mas isso não significa
que irei parar até conseguir!
E então ela se vai.
Deixando algo estranho em meu coração e uma garrafa quase inteira de
tequila.
O capítulo a seguir é um crossover com o livro Forever You, da autora
April Jones, que também está disponível na Amazon e no Kindle Unlimited.
Minha solidão está me matando (e eu)
Eu devo confessar, eu ainda acredito (eu ainda acredito)
Quando não estou com você, eu perco a minha cabeça
Baby One More Time | Britney Spears
O vento frio, seguido de algumas gotas de chuva, caem sobre mim assim
que começo a seguir em direção ao estacionamento logo após o treino. O
meu uniforme azul e roxo ainda está sobre o meu corpo, não por opção, mas
sim porque todos os chuveiros do vestiário haviam decidido não funcionar
hoje, o que significa que precisaria ficar com a mesma roupa até chegar em
casa.
Enquanto atravesso o enorme local, observo algumas das garotas correndo
até seus carros. E eu apenas caminho lentamente, deixando com que as
poucas gotas de chuvas caiam sobre mim. Meu pensamento está em apenas
não focar que um possível temporal pode vir a cair e que meu medo de
chuva não me deixe chegar a um lugar seguro, onde posso controlá-lo e ligar
para um dos meus irmãos, até porque Summer, que seria a minha companhia
para hoje, precisou desmarcar por conta de uma consulta com seus pais.
Oliver ainda está ocupado com seu pai e não devolverá meu carro até a
noite. Dylan havia desaparecido do mapa, junto com Hazel. E Edmund achou
que seria uma boa ideia desligar a porra do celular logo hoje.
Eu preciso pensar em algo, antes que as pequenas gotas se transformem
em uma tempestade, mas minhas opções são limitadas e se baseiam em
apenas duas: ligar para Mike, o que será uma péssima decisão, ou pedir um
Uber.
E obviamente opto ir pela segunda, principalmente porque Burhan não
está contente depois que o boato que eu e Logan havíamos aparecido no
hotel em Boston juntos percorreu toda a faculdade.
Solto uma lufada de ar quando o terceiro Uber cancela a viagem e
resmungo alto o bastante. Nesse momento, todo o meu uniforme já está todo
molhado e o laço do meu cabelo já está desfeito. É uma situação de merda e
eu já estou ficando frustrada.
Assim que o quarto Uber cancela, um Ford Mustang bem conhecido para
à minha frente. A janela do passageiro se abaixa lentamente, me dando a
visão de Logan sorrindo como um idiota e me encarando com uma das
sobrancelhas erguidas. Abaixo o olhar para a roupa que traja e tenho a
certeza de que não é apenas os chuveiros femininos que estão com
problemas, porque ele ainda veste o uniforme do SVU, e pela maneira que
está todo encharcado e o tecido se agarra ao corpo, ele também acabara de
finalizar o treino.
Eu não poderia negar que estava evitando-o desde a semana passada,
quando o momento no estúdio de dança aconteceu.
Eu e Logan não funcionamos bem juntos e precisávamos entender isso.
Éramos ruins, nocivos e tomávamos atitudes que muitas vezes nos deixavam
no fundo do poço.
— Se está tentando pedir um Uber, desista! — exclama, dando de ombros.
— Eles odeiam rodar pela universidade.
Ergo uma sobrancelha em sua direção, mudando o celular de uma mão
para a outra, expulsando todos aqueles pensamentos que começavam a
preencher meu pensamento.
— Isso é sério? — questiono com uma carranca nada gentil.
— Muito sério, anjo! — exclama, enquanto seu rosto se ilumina. — Entre,
eu te levo para casa!
— Não, obrigada! — digo, soltando uma lufada de ar.
— Tudo bem então! — Ele dá de ombros ainda sem quebrar o contato
visual. — E sinto em lhe informar que este uniforme não é feito para o vento
e nem para o frio.
— Talvez encontre alguém que seja gentil o bastante para me dar seu
agasalho! — Sorri friamente o que tive certeza de que se transformou em
uma careta. — Você sabe como os jogadores da SVU adoram se jogar para
as cheerleaders.
— Eu diria que é ao contrário, as cheerleaders que adoram se jogar para
os meus jogadores! — Ele gargalha, dando de ombros.
Logan me encara com um sorriso debochado em seus lábios, porém seu
sorriso logo morre quando a chuva voltar a aumentar, fazendo com que me
arrepie e precise usar as mãos como concha para poder observá-lo.
— Entre no carro, Verônica! — Seu tom não é mais brincalhão, ele inclina
o corpo, abre a porta do passageiro e as escancara. — Você pode brigar
comigo, mas entre antes que fique resfriada!
Eu não conseguirei um carro, não tão cedo pelo menos e não serei imatura
o suficiente para dizer que ele não está certo, eu poderia ficar doente caso
ficasse muito debaixo dessa chuva. E com esse pensamento, eu me jogo no
banco do carona de seu carro, enquanto ele sorri e se vira para frente, no
intuito de começar a dirigir entre as ruas da universidade.
Porém, no momento em que saímos do campus e ele diminuiu a
velocidade, soube que essa carona demoraria mais do que o necessário.
Se eu não tivesse você não haveria nada sobrando
Só o casco de um homem que não pôde ser seu melhor
Se eu não tivesse você, eu nunca veria o sol
Você me ensinou a ser alguém, yeah
Drag Me Down | One Direction
Desta vez ela lança uma careta. Talvez essa parte não seja bem uma
verdade quando se trata de nós dois.
Ela caminha mais um pouco até finalmente estar a poucos centímetros do
palco e mesmo entre todas as inúmeras pessoas que andam pelo
estabelecimento, é como se apenas ela existisse, como se o som da sua
risada tivesse ido diretamente para o meu peito, causando uma pequena
arritmia em meu coração.
Pisar em Saint Vincent College novamente foi como abrir uma ferida.
O colégio que sempre foi conhecido por todo o estado pelos seus
inúmeros troféus e como uma das melhores instituições da elite, constituídos
basicamente por filhos de magnatas da cidade, é podre por dentro. E
enquanto fecho as portas do meu carro e olho para o prédio à minha frente,
concluo que eu realmente odeio esse lugar, porque tudo aqui cheira a
falsidade, frieza e todas as sínteses de coisas ruins que o dinheiro pode
trazer.
Mas sei que não posso desistir, sei que Melany precisará de mim.
Por isso, por ela, pela promessa que eu havia feito, subo lentamente as
escadas que dão acesso ao enorme prédio principal do colégio. Quando
meus pés tocam o piso e os inúmeros armários azuis preenchem a minha
visão, eu suspiro fundo com a enxurrada de lembranças que passam pela
minha cabeça. As várias vezes que corremos por aqui com os uniformes
impecavelmente arrumados, quando apenas nos sentávamos do lado de um
dos armários e ficávamos rindo, de Summer desesperada porque se atrasou,
de Hazel rindo com Dylan, das inúmeras vezes que Logan e eu pulamos um
em cima do outro, como se quiséssemos que todos soubessem o quanto nos
amávamos.
Eu não queria pensar em Logan agora, não quando eu havia deixado que
ele me distraísse com meu medo ontem, que cantasse aquela música que
havia me feito esquecer quem éramos e que precisávamos resolver a nossa
situação.
Porra, toda essa catástrofe que se tornou a minha vida está fodendo
comigo e eu nem sei como parar. E eu preciso fazê-la parar antes que se
transforme em algo que eu não consiga lidar.
E eu farei com que Logan me escutasse. Hoje. Nenhum minuto a mais.
— É estranho, não é? — A voz de Edmund me faz ter um sobressalto. —
Pisar aqui e saber que nada é como antes.
— Pisar em qualquer lugar de Saint Vincent é estranho, Ed! — respondo
com um suspiro, enquanto passo as mãos pelos meus cabelos, frustrada,
tentando não estragar o penteado.
— Você está bem? — meu irmão pergunta.
— Eu não consegui conversar com ele, Ed… — confesso, suspirando,
sabendo que meu irmão caçula é a pessoa que sempre saberia me dar os
melhores conselhos. — E eu não vou conseguir me entregar totalmente se
não resolvermos a nossa situação.
— Faça hoje, Vee, quando o recital terminar. — Ele dá um passo em
minha direção. — Faça antes que vocês se afastem e perca o elo que criaram
desde que voltou…
— Eu irei! — digo convicta, farei com que Logan me escute e não passará
de hoje. Abaixo o olhar para meu celular e vejo que estou atrasada. —
Preciso ir para o teatro, te vejo depois?
Ele acena positivamente e começo a andar a passos rápidos até onde
Emmy e as garotas estão, porém, antes que eu ultrapassasse o corredor que
liga ao teatro, meu irmão me grita, fazendo com que eu me vire e o encare
com as sobrancelhas erguidas.
— Você vai arrasar, ok? — Ed levanta os dois dedões em sinal de
positivo e sorri para mim — E eu estou orgulhoso de você, Verônica!
Solto um sorriso para meu irmão que ainda me encara. Eu posso fazer
isso, eu posso voltar a dançar para um público, posso voltar a viver e posso
contar a verdade ao homem que vive em meu coração.
Sim, eu posso.
Quando me viro e caminho a passos confiantes até o outro lado do prédio
e vejo Mel sentada em uma das escadas, segurando um celular em mãos, com
os olhos preocupados, eu me aproximo. E assim que o salto da minha bota
bate contra o piso brilhante do corredor, fazendo um barulho alto, ela levanta
o olhar e suspira aliviada, como se o significado de seu medo fosse eu não
aparecer.
— Você vai me dizer o porquê desses olhos cheios de preocupação,
Melany? — pergunto, cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha em
sua direção.
— Eu achei que… não fosse vir! — ela confessa em um sussurro.
— E por que acha isso? — A encaro com uma confusão perceptível.
— Porque não apareceu nos treinos desta semana! — Ela suspira. — E
Emmy disse que havia ido viajar, eu pensei que tinha ido embora sem…
— Eu fui para Nova York porque precisava lidar com alguns assuntos
familiares, Mel! — A interrompo enquanto me sento ao seu lado. — Não
porque estava indo embora.
— Obrigada! — Ela suspira e leva sua mão até a minha, entrelaçando
nossos dedos e os apertando. — Obrigada por enfrentar o seu medo por
mim!
— Vocês, Underwoods, têm a tendência de me fazer enfrentar meus piores
medos! — exclamo apertando sua mão. — Agora vamos, temos poucos
minutos antes do recital começar.
Melany não fala muito durante os próximos minutos que passamos nos
arrumando e, para ser sincera, eu não prestei muita atenção, minha mente
está na conversa que eu precisaria ter com seu irmão mais tarde. Mas toda
vez que ela se virava em minha direção para dizer algo, eu sorria e na
maioria das vezes, tentava responder. Quando percebeu que eu não estava
muito bem, ela respeitou o meu silêncio, como eu respeitava o seu nas
diversas vezes que precisava dele durante os nossos treinos. Depois de
alguns minutos, que pareceram horas, Emmy entra no camarim junto com
outra mulher que eu não conheço. Enquanto elas caminham para dentro do
ambiente, eu apenas me escoro na enorme penteadeira, observando-as. A
mulher que eu não reconheço se aproxima de Mel e dá um beijo em sua
cabeça desejando sorte, como se fossem próximas.
Quando aqueles olhos azuis se voltam para mim, eu a reconheço. Audrey
Underwood, tia de Logan e uma das mulheres que mais me odeia. Ela deixou
isso claro para minha mãe quando ela foi atrás dela para fecharem o acordo
sobre a bolsa de Melany.
Audrey anda até mim, seu rosto é uma máscara de frieza e quando fica a
poucos centímetros do meu corpo, ela arrasta o olhar pelo rosto. A tia de
Melany é um pouco mais baixa que eu, mas não se importa com isso. Ela
inclina a cabeça para cima, fazendo com que meus olhos gélidos se
encontrem com seus, eles são um misto de sentimentos que não consigo
definir.
— Verônica Blackwell! — ela cumprimenta, levantando as mãos. — Acho
que não nos conhecemos pessoalmente, sou Audrey!
— É um prazer, Senhora Underwood! — Levo minha mão até a sua e solto
um pequeno sorriso sem mostrar os dentes, observo seu aperto se tornar
forte.
— Você tem os olhos de sua mãe… — murmura apenas para que eu
pudesse escutar e antes que pudesse agradecer, ela continua e me lança uma
careta de desdém. — Mas é uma pena que tenha a alma sombria de seu pai.
Antes que eu pudesse responder, Audrey se vira, jogando os cabelos para
trás, e caminha para fora do camarim junto a minha ex-treinadora, que
apenas me encara como se estivesse percebendo o meu cenho franzido pela
frase que a mulher havia proferido.
Ela está errada. Não tenho a alma de meu pai, não, eu nunca poderia ter.
Eu não sacrificaria toda a minha família, o próprio bem estar dos meus
irmãos e nem minha própria mãe apenas por dinheiro. Não faria as outras
dezenas de coisas que ele fez apenas para que fosse quem é hoje.
Mas uma parte de mim sentiu suas palavras como se fossem uma faca
fincando em algo macio, abrindo uma ferida que demoraria para estancar, e
mesmo que eu tentasse não demonstrar, sei que minhas rachaduras ficaram
transparentes. Por um momento, eu vi um vislumbre das palavras que meu
pai transferiu em nossa direção, vi quando ele me obrigou a fazer a pior das
atrocidades depois da morte de Sophie. Encarei meu rosto no espelho e em
meus olhos aquela dor brilhou, como se minha alma tivesse sido despida ali.
Assim que anunciam que é a minha vez e a de Melany de nos
apresentar, eu respiro fundo, jogando toda essa dor para um lugar que não
pode me machucar, e caminho para fora do camarim, fazendo o mesmo
trajeto que eu havia feito há anos atrás. Contudo, travo em frente a escada
onde vi minha irmã bem pela última vez. É como se fosse um dejavú, como
se ela fosse aparecer a qualquer momento com os olhos nublados de
lágrimas e me daria um abraço de despedida. Como se meu coração fosse
ser partido mais uma vez e eu precisasse tomar a pior das decisões.
Eu não consigo. Não, eu não sou corajosa o suficiente.
Eu nunca poderia ser.
Eu sempre estarei presa nesse trauma, sempre serei quebrada ao ponto de
nunca mais realizar meus próprios sonhos e nem de ajudar os outros a
realizarem os seus.
— Anjo — A voz rouca de Logan atrás de mim faz com que lágrimas
preencham a borda dos meus olhos e meu queixo treme enquanto seguro as
gotas que ameaçam descer pelo meu rosto.
— Eu não consigo, Logan… — minha voz sai embargada. — Eu nunca
vou conseguir!
— Você vai, anjo, você pode conseguir tudo o que você quiser! — ele
sussurra quase perto do meu ouvido e o seu calor envolve o meu corpo.
Quando ele leva uma de suas mãos até a minha cintura e me gira, fazendo
com que nossos corpos se colidam levemente, eu prendo a respiração. Logan
segura levemente meu queixo e o levanta, fazendo com que eu encare seus
incríveis olhos azuis. — Você é forte, é a garota mais guerreira que eu já
conheci em toda a minha vida, é quem enfrentou seus piores demônios e
mesmo assim se manteve de pé, é quem corre em corridas e as ganha, mesmo
que não precise. É quem protege seus amigos como se eles fossem sua
família. Você é tudo, anjo! E você, Verônica Blackwell, nasceu para os
palcos, para dançar, para brilhar e eu sei que Sophie nunca te perdoaria se
desperdiçasse esse talento, porque nós sabemos que ela queria que você
conquistasse seu lugar, que você dançasse para o mundo, então, meu amor,
faça isso, volte a dançar, volte a viver!
Eu fecho meus olhos, absorvendo as palavras de Logan, fazendo com que
aquele pânico se diluísse em meu peito. E quando volto a abri-los, eu me
deparo com Dylan, Hazel, Edmund, Summer, Oliver, Melany, Josh e Levi
parados em volta de mim, sorrindo, como se estivessem ali a tempo
suficiente para escutar as palavras de Logan.
Cada um dos meus amigos me olhavam com tanto orgulho, que uma
lágrima finalmente desceu pela minha bochecha, porém Logan ergueu sua
mão e a secou antes que ela manchasse minha maquiagem. E quando todos
eles nos envolvem num abraço em conjunto, como se quisessem me mostrar
que sempre estarão ao meu lado. E mesmo que não tivessem feito isso, eu
saberia.
Porque esse grupo que nasceu durante o último ano sênior, são a minha
família.
E fariam qualquer coisa por mim, enfrentariam uma batalha se isso fosse
necessário, tomariam todas as minhas cicatrizes, se caso isso significasse
que eu serei feliz.
Eles são o meu porto seguro, a minha paz e as melhores pessoas que eu
poderia amar.
E por eles, eu suspiro fundo, limpo a lágrima que ameaça descer
novamente e subo lentamente as escadas, com Mel ao meu lado, que estende
uma mão em minha direção e assim que estendo a minha para ela, a minha
nova companheira de dança a aperta fortemente, me mostrando que também
estará ao meu lado.
Assim que chegamos ao palco, me desvinculo dela e pego o microfone
das mãos de Emmy, que sorri para mim, e caminho até o centro dele sozinha,
observando a pequena bagunça que meus amigos aprontam para se sentarem
na primeira fileira. Quando finalmente se arrumam e me lançam um sinal
positivo, eu solto um pequeno sorriso e levo o objeto até perto dos meus
lábios.
Eu poderia fazer isso, por mim, por ela, por nós.
— Primeiramente, boa noite a todos! — começo, suspirando fundo. —
Quando me chamaram para apresentar uma coreografia magistral a alguns
meses atrás, eu recusei… recusei dezenas de vezes para falar a verdade! —
Solto um sorriso fraco enquanto balanço uma das mãos, impedindo de as
lágrimas descerem. — Mas um dia eu fui até a academia de dança, porque
precisava de uma distração, e conheci uma garota que me chantageou de uma
forma impressionante e conseguiu me convencer que daríamos certo juntas.
Ali, eu soube que talvez estivesse na hora de dar um passo à frente e
enfrentar medos que me estagnaram no lugar desde que minha irmã morreu.
— Suspiro fundo e olho para meus amigos, que sorriem. — Sophie
Blackwell foi a pessoa que eu mais amei na vida, ela era como uma luz, a
minha luz, o meu abrigo quando era necessário, ela era… uma parte de mim
que eu jamais vou conseguir recuperar. E ela amava a dança, amava se sentir
livre e em casa, ela havia feito da dança o seu próprio lar. A minha irmã
amava saber que quando colocasse um collant e sua sapatilha, ela poderia
ser quem nasceu para ser. E ela tinha um sonho, ela carregava um planner
para cima e para baixo, planejando como seria a sua própria academia de
dança. E por isso, quando o recital foi cancelado por falta de verbas, eu
arquei com tudo, eu assumi a responsabilidade de tornar isso possível,
porque existem inúmeras Sophies espalhadas pelo mundo que precisam
disso, que precisam saber que existem outras pessoas que apoiam os seus
sonhos. E exatamente por apoiar o sonho delas, o meu, o da minha irmã e o
da garota que me fez enxergar a beleza na dança novamente, que a partir de
hoje, a academia de dança de Emmy, passa a se chamar The Sophie
Academy, porque o sonho da minha irmã era abrir a sua própria companhia e
eu farei desse sonho realidade.
Suspiro fundo quando Logan se levanta lentamente batendo palma e sorri
em minha direção, eu conheço aquele sorriso melhor do que ninguém, eu sei
que significa orgulho e muitos outros sentimentos.
Olhando para ele, eu soube que não posso mais negar, eu quero esse
olhar mais de uma vez, eu quero que Logan Underwood me olhe como ele me
olhou nas últimas semanas, quero que ele esteja ao meu lado como esteve
quando me ajudou a enfrentar os meus maiores medos.
Porque eu não posso mais negar que eu amo Logan Underwood.
Não há como mais negar esse sentimento irrefreável que havia se
enraizado em meu peito desde a noite que nos conhecemos em um parque,
desde que ele me ensinou todas as suas facetas, me ensinou sobre o seu
mundo, me desconstruiu camada por camada e desde que seus olhos azuis
enxergaram a minha alma.
Logan sempre será a parte que falta em meu coração quebrado, e sei que
essa parte se encaixa perfeitamente nele.
Quando Melany veio até mim e nós dançamos como eu havia feito
dezenas de vezes nos ensaios e em outras centenas de vezes com minha irmã,
eu soube que finalmente eu estava abandonando meu passado.
Estava me libertando de todas as amarras, me libertando das minhas
feridas e as deixando cicatrizar.
E tive certeza disso quando entregaram a coroa à Melany e o troféu do
recital, fazendo com que eu sorrisse orgulhosa, com a sensação de dever
cumprido.
Então eu me virei para frente e encontrei aqueles outros pares de olhos
intensos recaindo sobre mim e o meu sorriso morreu lentamente. Aidan
Underwood está parado no fim do teatro com os braços cruzados e é como
se ele estivesse querendo criar fogo e me puxar para queimarmos juntos. Eu
entraria nesse fogo uma última vez, porque estava na hora do nosso combate
final.
Me viro rapidamente para a saída e caminho até o corredor. Assim que
paro na porta do camarim, soube que ele estava vindo pelo barulho de
passos raivosos sobre o piso impecável do teatro, mas eu já estou me
preparando para a batalha, já tinha juntado todas as minhas armaduras e
colocado minhas máscaras no caminho até aqui.
Eu farei isso, eu preciso lutar desta vez.
Porque Aidan Underwood não me fará perder o controle, não, desta vez eu
mostrarei quem eu realmente sou.
E nós finalizaremos essa história. Está na hora do passado ficar no
passado e dos segredos serem revelados.
— Acho que finalmente está na hora de termos uma conversa, Blackwell!
— ele rosna, fechando a porta, impossibilitando de qualquer aluno curioso
espionar o que aconteceria aqui.
— Contanto que não conte apenas mentiras, Underwood! — devolvo na
mesma medida, me virando para encará-lo.
— Vamos falar de mentiras? Tudo bem, princesinha Blackwell! — Ele
solta um sorriso de desdém quando profere o apelido e passa a mão pelos
cabelos escuros. — Tudo bem, vamos falar que é mentira quando me beijou
em sua festa de dezessete anos apenas para colocar ciúmes em meu irmão e
depois me despachou, como se eu fosse uma bolsa que estava enjoada e por
isso acha que eu me apaixonei pela sua irmã? Vamos falar como você
machucou Logan apenas para se sair melhor, por que tinha dinheiro o
bastante para esfregar na cara de qualquer idiota nesse colégio? — Ele dá
mais um passo à frente, com os olhos irradiando ódio. — Ou vamos falar de
como você está destruindo meu irmão novamente porque é vadia o suficiente
para não aceitar que não o destruiu totalmente há quatro anos atrás?
— Você quer vir com acusações para cima de mim, quer se fazer de
vítima? Ok, Aidan, podemos fazer isso! — Me aproximo, dando um passo
até ficarmos centímetros de distância. O nojo, o arrependimento de tê-lo
usado por uma noite para esquecer Logan por conta de uma briga estúpida, a
vontade de quebrá-lo ainda estava lá, ainda me corroía por dentro, mas eu
não faria isso, não mais, por Logan e por Melany, eu faria com que esse
assunto morresse. — Você machucou minha irmã porque eu amei seu irmão,
você destruiu o que ela mais amava porque é um egoísta de merda. Você a
rejeitou quando ela mais precisou de você, e nós dois sabemos que não fez
aquilo por uma vingança, fez porque é um idiota fodido e sem alma, que
destrói tudo o que toca. É alguém que deveria viver sozinho.
— Estamos no mesmo patamar, não? — Ela dá um passo para trás,
coçando a barba por fazer. — Nós destruímos quem amamos por sermos
egoístas, nós fazemos o que for preciso para termos o que queremos. Então
não me trate como vilão, porque é tão má quanto eu e sabe que nós somos
feitos para apodrecermos sozinhos, princesinha Blackwell!
— Não Underwood, você está enganado! — Engulo antes de afastar as
mechas do meu cabelo. — Nós somos totalmente opostos…
— É mesmo? — ele debocha. — Então me conte: onde você esteve
quando seu pai de merda expulsou seu namorado de dentro da própria casa,
quando minha irmã foi tirada de nós e meu pai obrigado a abandonar a
clínica e voltar para o vício? Aonde, caralhos, você esteve? — ele grita a
última pergunta. — Deixe-me responder por você: você, Verônica
Blackwell, estava assinando o cheque para que tudo isso acontecesse, você
assinou a sentença para o coração quebrado de Logan. Você, Verônica,
ninguém além de você!
— E onde você esteve quando Sophie morreu? Aonde você, Aidan, estava
quando ela saiu desesperada em uma tempestade e capotou o carro? Aonde
você esteve quando eu precisei tirá-la de um carro destruído, coberto de
sangue e que poderia explodir a qualquer momento? Aonde você estava
quando ela descobriu que estava grávida e logo após sofreu um aborto
espontâneo? — Aidan dá um passo para trás, depois outro e arregala os
olhos em minha direção. — Deixe-me responder para você também: você
estava fodendo uma garota aleatória, porque é um filho da puta asqueroso!
Aidan suspira e uma lágrima desce pelo seu rosto, como se minhas
palavras finalmente tivessem perfurado seu coração, como se a realidade
estivesse batendo tão forte que não conseguia mantê-lo de pé. Como eu
fiquei quando a vi morrer, como eu me senti impotente quando descobri que
ela havia perdido um filho sem ter tido a dádiva de viver a experiência de
ser mãe.
— Não brinque comigo, Verônica! Não me leve ao meu limite, não
despeje mentiras em cima de mim para me cortar! — ele exclama com a voz
alterada. — Não seja tão baixa a ponto de sujar o nome de sua própria irmã!
— Sujar? Você sabe do que me sujei, Aidan? De sangue, dela e do meu
sobrinho que não nasceu! Sabe o porquê fui tão baixa, tão imoral, fui contra
tudo o que defendi? — eu grito quase perdendo o controle. — Porque foi o
último pedido dela! Sabe por que Melany não foi para um orfanato? Porque
eu fiz um acordo com meu pai de que se Melany tivesse a melhor educação,
o melhor futuro, eu deixaria Logan, deixaria que ele me odiasse pelo resto da
vida dele e não ousaria mais me relacionar com alguém da parte baixa. E
sabe por que eu fiz isso, abdiquei do homem que eu amo? Porque eu sabia
que o maior sonho de Logan era conseguir uma boa vida para sua irmã, e por
isso, por ele, eu deixaria que meu pai fizesse vocês acreditarem que havia
destruído sua família, o deixaria fazer com que Logan me odiasse, mesmo
que aquilo terminasse de me destruir.
— Isso é verdade, Verônica? — A voz rouca de Logan invade o camarim,
ele caminha com os olhos arregalados até ficar entre mim e seu irmão. Logan
olha para Aidan com raiva e depois seu olhar se volta para mim. — Você
pagou por tudo, por toda a educação de Melany, por mim?
— Eu cansei, Logan, cansei de manter a máscara, de manter as mentiras!
— admito, respirando fundo. — Vocês querem a verdade, então tomem a
verdade: A casa de sua mãe está em seu nome, Logan, sempre esteve, eu
nunca a tirei de você, quando visitei seu pai e nós conversamos, ele
realmente me vendeu a propriedade, mas quando ele foi assinar o contrato
não era o meu nome que estava lá, era o seu, Logan. A clínica do seu pai, eu
paguei por mais um ano, mas ele decidiu que não queria mais ficar, decidiu
que odiava a benevolência da minha família. A educação de Melany, eu
sempre estive por trás, não minha mãe, não Audrey, eu! Eu sempre mexi os
pauzinhos para que ela tivesse as melhores oportunidades aqui no SVC, eu
fiz com que Emmy a convidasse para ter aulas de balé, para que ela, assim
como eu, tivesse uma válvula de escape depois de tudo o que passou. Eu fiz
tudo isso, fiz porque mesmo que eu tentasse te odiar, mesmo que fosse
errado, eu sabia que seu sonho era proteger Melany! Eu prometi para minha
irmã, eu prometi que os destruiria, mas eu jamais poderia fazer isso, eu
nunca poderia te destruir, porque te destruir, Logan, é me destruir também.
— Deixo que uma lágrima desça por todo o meu rosto. — E por isso, Logan,
eu viajei esses dias para Nova York, porque eu tinha uma reunião com a
reitora de Julliard, para que Melany conseguisse uma audição para a bolsa
de estudos. Por isso eu não aceitei ir para sua casa com você, porque eu não
suportava a ideia de ficarmos bem sem antes eu te contar toda a verdade.
Quando a verdade finalmente sai, é como se meus ombros finalmente
estivessem livres, como se o fardo de guardar tantos segredos, finalmente se
esvaísse.
Eu estou livre, livre de todos os segredos que rondam o meu passado,
livre de promessas não cumpridas e palavras sussurradas em meio a dor.
— Você sabe por que Logan nunca te contou sobre meu relacionamento
com Sophie? — Aidan suspira.
— Aidan… — Logan suspira amedrontado.
— Não, Logan! Está na hora de você também soltar os seus próprios
segredos! — Aidan o interrompe, sua voz estava quebrada, como se ele
ainda estivesse se recuperando da notícia sobre minha irmã. — Porque eu e
Sophie o chantageamos, ela estava com medo de você achar que eu estava
com ela por vingança e surtar ou tomar alguma atitude para prejudicar nosso
relacionamento, então nós fizemos com que Logan ficasse quieto ou ela
destruiria suas chances de entrar no recital. E, como sempre, ele te protegeu,
Verônica. Mesmo quando você fodeu conosco, ele manteve isso em segredo,
porque não destruiria a imagem perfeita que você tem da sua irmã! — Ele
suspira, enquanto eu olho diretamente para Logan. Ele já havia me contado
uma parte daquilo, mas isso não significava que deveria ser assim, não
significava que ele deveria guardar tudo para si. — Quando me beijou
naquela festa, eu não senti nada, não tinha a intenção de fazer porra nenhuma
contra Logan, porque eu já estava afim de sua irmã, e todas as vezes que eu o
ameacei foi por ela, não por você, eu o fiz acreditar que eu realmente estava
a fim de você porque isso faria com ninguém suspeitasse do meu
relacionamento com Sophie. Eu sacrificaria o seu relacionamento com meu
irmão, sem pensar duas vezes, se isso significasse que eu manteria o meu
com Soph.
— Vee… — A voz de Logan surge entre o barulho da chuva que
finalmente percebi que caía do lado de fora.
— E sabe por que eu estava com outra garota quando Sophie chegou em
minha casa? — Aidan interrompe com a voz fria. — Porque o seu pai me
obrigou a terminar tudo, ele havia ido até minha casa dias antes, me
chantageado para que eu e Logan ficássemos longe de vocês, ele ameaçou
toda a minha família, ele fez com que fingisse que estava traindo-a para que
ela terminasse comigo, para que tivesse nojo o suficiente para nunca chegar
perto de mim. E exatamente por isso, Logan estava estranho com você, por
isso ele te tratou daquela forma fria durante aquela semana, quando precisou
perdoá-lo por ele ter sido negligente com o relacionamento de vocês. Bem,
Verônica, culpe seu pai!
— Não, ele… — A palavra fica presa em minha garganta, porque meu pai
teria coragem de fazer aquilo sim.
— Eu não sabia que Sophie estava grávida, não sabia de muita coisa
naquela noite... — Aidan suspira. — Mas eu sei de uma coisa, Verônica, eu
amei sua irmã como eu nunca vou poder amar alguém e se eu pudesse voltar
naquele dia, eu teria feito de tudo para protegê-la de você e de sua família,
porque durante o tempo em que eu fiquei ao lado dela, eu conheci um lado de
sua irmã que ninguém mais o fez. Ela não era a princesa de porcelana que
vocês moldaram, não, ela era forte, altruísta e verdadeira.
Eu não estava mais ouvindo, eu estava me fechando, escutando apenas a
voz de meu pai, a maneira como ele lidou com o luto, como ele me segurou
naquela noite, como lutou para eu me aproximasse nos primeiros dias.
Ele não tinha medo de perder outro de seus filhos, não, ele apenas sentia
culpa.
Culpa por todas as atitudes que tomou e que acarretaram a morte de uma
de suas filhas.
Eu não… eu não estou bem. A minha garganta se fecha e o ar começa a me
faltar.
Respire lentamente e inspire. A voz de Ed emergiu em meu pensamento,
como todas as outras vezes que o pânico me levou para lugares escuros, e eu
faço o que a voz do meu irmão caçula grita em meu subconsciente.
Faço uma, duas, três vezes.
Mas não está adiantando, o ar não corre pelo meu pulmão.
A jogada final que ninguém esperava não veio de Logan ou de mim, veio
de alguém de fora do tabuleiro, alguém cruel e vazio.
Veio do meu próprio pai.
— Verônica… respire. — A voz preocupada de Logan soou no fundo da
minha mente. — Anjo, olhe para mim.
Não está adiantando, eu preciso de mais, preciso sentir o meu sangue
correr por toda as minhas veias. Preciso pensar, preciso apenas aplacar a
dor que começa a queimar como se estivesse me rasgando de dentro para
fora.
Preciso de adrenalina.
Eu preciso correr.
E quando Logan se aproxima e me chama novamente, eu me desvinculo,
correndo para fora do colégio. As gotas de chuvas molham todo o meu traje
da apresentação enquanto corro pelo estacionamento que está vazio por
conta da tempestade, e é como se eu estivesse vivenciando aquela fatídica
noite.
Mas hoje eu não sou quem estava preocupada por alguém ter sumido.
Dessa vez, os papéis estão invertidos. E quando finalmente chego ao meu
carro, as gotas de águas caem desesperadamente sobre o capô dele, minhas
sapatilhas estão escorregadias e o traje se agarra ao meu corpo, enquanto
minhas lágrimas se misturam com a chuva e molham todo o meu rosto.
Assim que acelero para fora do Saint Vincent College, eu soube que
estava me fragmentando.
Era como no dia nove de janeiro. A tempestade, o recital e segredos
sendo descobertos.
Mas naquela data, uma pessoa não sobreviveu.
Se isso me tornar um rei
Uma estrela em seus olhos
Culpado ou inocente
Meu amor é infinito, estou dando ele
All For Us | Labrinth feat. Zendaya
Eu sabia que nada correria bem na casa de Verônica assim que meus olhos
recaíram em seu pai. Deixá-la lá para enfrentá-lo, fez com que minha
preocupação aumentasse. É como se tivéssemos regressado no tempo, em um
salão de festas, e ele enchesse o salão com postura esnobe e como exalava
poder de seus poros.
Eu sempre soube que Jonathan Blackwell tinha todos os imbecis de Saint
Vincent comendo na palma de sua mão por tudo o que ele representa. Ele
poderia destruir qualquer um facilmente se quisesse e, naquela época, eu
estive frente a frente a ele, enquanto o próprio me fazia acreditar que todo o
meu mundo estava sendo tirado de mim. Como se olhar para o rosto frio, me
lembrasse de como me senti quando ele deixou extremamente claro que
poderia realmente fazer algo contra mim ou contra minha família por ter me
envolvido com uma de suas filhas e após alguns dias, ele tenha tirado tudo o
que eu achava importante para mim, apenas por ser egoísta demais e não
conseguir ver sua própria filha feliz.
Mas hoje, enquanto ele encarava Verônica com um misto de desaprovação
e vergonha, eu quis quebrar seu rosto, quis descer aquela escada e apenas
fazer com que sumisse da vida minha garota. Contudo, sabia que se eu
realmente fizesse isso, foderia com ela e com sabe se lá o acordo que eles
tinham.
Suspiro fundo, estacionando em frente à casa de Audrey, e abaixo minha
cabeça no volante enquanto levo minha mão até o porta luvas e retiro o
chaveiro azul que Verônica havia me entregado a alguns dias atrás. Eu não
estava com ânimo de viver mais com esse assunto e precisava colocar um
ponto final nisso.
— Você está bem? — Mel sussurra do meu lado, eu estava tão absorto em
meus pensamentos que havia esquecido que minha irmã ainda estava ao meu
lado. — Está quieto desde que saímos da casa de Vee.
— Não sei te dizer se estou bem, Mel… — murmuro, me encostando no
apoio do meu banco e levantando a cabeça para o teto. — Saber que Vee
está lidando com seu pai sozinha neste momento, não é algo que me traz
alegria.
— Verônica vai ficar bem, ela sempre fica! — Mel leva sua mão até a
minha apertando-a.
— Você tem certeza que possui dezesseis anos mesmo? — Ergo uma
sobrancelha, sorrindo. — Às vezes eu realmente acho que você é a mais
velha de nós!
— Tia Audrey diz que puxei a personalidade da mamãe! — Ela sorri e
vejo seus olhos brilharem.
E é a verdade. Melany me lembra nossa mãe desde a fisionomia até o
temperamento. E eu estou realmente feliz que nossa tia comenta com ela
sobre mamãe, quero que minha irmã tenha o máximo de lembranças
possíveis dela, mesmo que isso não fosse suficiente para preencher as
lacunas que a presença dela havia deixado em nossas vidas após sua morte.
— Sim, você puxou. — Devolvo o sorriso e vejo os olhos dela se
tornarem distantes. — O que foi, Mel?
— Você sente falta dela? — Mel suspira tristemente. — Às vezes eu
sonho com o acidente, eu sei que eu era uma criança e não deveria me
lembrar... Mas às vezes é como se o acidente viesse em minha mente, sabe?
— É normal você se lembrar, Mel… — Suspiro, levando minha mão até a
dela novamente. — Você era uma criança, mas isso não impede de você se
lembrar.
— Eu tenho pesadelos com o grito dela…
— Eu também. — Ela me encara surpresa. — Não é frequente, mas às
vezes é como se eu estivesse no carro novamente e… tudo acontecesse.
— Em algum momento iremos superar isso? — pergunta insegura, como
se já soubesse a resposta.
— Talvez… — Minha voz sai no mesmo tom que o da minha irmã, porque
eu não sei se isso pode acontecer, não sei se as coisas podem ser esquecidas
e superadas facilmente. — Mel, acredito que você deva voltar a fazer as
sessões de terapia.
— Eu irei — ela exclama, me dando um sorriso verdadeiro. — Agora
vamos que Audrey deve estar surtando.
Decido não prolongar esse assunto, eu teria uma conversa com nossa tia
depois sobre isso. Então apenas assenti e abri a minha porta, seguindo em
direção às escadas da casa de Audrey. Quando Mel abre a porta e nossa tia
está sentada em frente à televisão sem focar a sua atenção na imagem que
refletia na enorme tela plana, eu soube que ela estava preocupada.
E tive a minha confirmação quando ela se virou em nossa direção e
suspirou aliviada.
— Você me disse que ela estaria em casa cedo, Logan! — Minha tia
reprova severamente.
— Ela está aqui agora e está segura! — Reviro meus olhos enquanto me
jogo no sofá. — Não faça um drama sobre isso, tia Audrey!
— Não faça mais isso, eu fiquei preocupada! — Melany solta uma lufada
de ar e segue em direção às escadas. — Aonde você vai?
— Tomar um banho! — Ela grita quando está quase chegando ao patamar
da escada.
Audrey suspira e volta a sua atenção para a televisão, enquanto eu
caminho até ela e estendo o chaveiro. Ela se vira em minha direção e ergue
uma sobrancelha, enquanto apenas dou de ombros, indicando para que as
pegue. Está na hora de finalmente acabarmos com todo esse ódio, de cortar
as raízes e deixar que o futuro comece.
Porque eu estou cansado de viver tendo que olhar para trás, estou cansado
da briga entre minha família e a de Verônica.
E mesmo que eu saiba que algumas coisas nunca poderão ser perdoadas,
eu tentarei. Porque eu amo Verônica Blackwell e não esconderei mais isso,
não farei com que os problemas dos outros interfira em nossa relação
novamente, não deixarei que os erros dos outros estejam entre nós, nunca
mais.
— O que é isso? — A voz de Audrey me desperta.
— É a chave da casa dos meus pais, Verônica me entregou há alguns dias
e como você sempre falou sobre ela, sobre como sentia falta de entrar e sabe
que era o lugar preferido da minha mãe, acho justo que fique responsável por
ela — respondo com o rosto impassível, porque eu sabia o quanto tia
Audrey poderia ser dramática quando queria.
— Ela decidiu devolver para vocês? — pergunta calmamente.
— Ela não precisou devolver, porque sempre foi minha… — digo a
verdade sem rodeios. — Verônica confessou para mim e para Aidan que
quando meu pai a vendeu, ela transferiu a escritura para o meu nome.
— Por que ela faria isso? — Audrey questiona desconfiada.
— Porque ela fez um acordo com seu pai, o qual envolvia Mel e nossa
casa. — Solto o chaveiro em suas mãos. — Eu não vou entrar em detalhes,
Audrey, é um assunto que envolve a mim, Verônica e a Aidan, e não foi fácil
colocar tudo para fora, então quando o meu irmão estiver preparado para
compartilhar, ele fará isso, mas até lá, esse assunto morre aqui!
— Obrigada por me deixar responsável pela casa da sua mãe... era
realmente o lugar preferido dela... — Ela sorri tristemente, como se
lembrasse de minha mãe naquele momento. — Obrigada de verdade, Logan!
— Aidan também está com uma cópia e acredito que ficará lá por algum
tempo e não está sendo um bom momento para brigar com ele — comento,
sabendo que uma tristeza nubla minhas feições por me lembrar de tudo o que
foi derramado entre eu, Aidan e Vee na noite do recital. — Então mantenha
seus comentários frios para outro momento.
— Não pretendo brigar com meu próprio sobrinho — ela se defende,
ofendida.
— Mas não consegue segurar seus comentários frívolos quando se trata do
assunto entre nossa família e a de Verônica — contraponho.
— Agora que todas as verdades estão sobre a mesa, não há o porque de
continuarmos com essas brigas, Logan! — exclama, deixando que seus olhos
se tornem calmos. — Se você a ama, viva o seu relacionamento, assim como
sua mãe lhe diria para fazer.
Eu apenas balanço a cabeça em confirmação e sigo em direção à porta,
aliviado por deixar tudo isso para trás. Eu sempre soube que mesmo que ela
desse seu apoio em meu relacionamento com Vee, uma parte da minha tia se
ressentia da minha namorada, porque ela havia a impossibilitado de visitar o
único lugar onde tinha lembranças boas de sua irmã. Era a melhor amiga da
minha mãe, sempre esteve ao lado dela, seja nos momentos bons ou ruins, e
sabia que o primeiro lugar que iria, seria o lugar favorito de mamãe, o ateliê
dentro da garagem. E agora ela poderia sempre voltar lá, poderia até se
mudar se quisesse.
Sou tirado dos meus pensamentos quando meu celular toca em meu bolso
assim que paro em frente ao meu carro, o pôr do sol já está acontecendo, o
que me indica que logo anoitecerá. Quando o levanto e abro a mensagem de
Verônica, meu peito se aperta, porque eu sei que nada está bem.
Aperto para enviar a mensagem assim que deslizo para meu banco. A
resposta chega poucos segundos depois.
Ela não me responde, então apenas digito uma mensagem para Hazel e
Summer para irem para o parque e acelero pelas ruas da cidade com a
intenção de chegar antes do tempo que havia dito para Verônica. Eu sei que o
parque hoje não estaria funcionando por conta das festividades do ano novo,
e que hoje eles aproveitariam para realizar a primeira noite de corridas.
Mesmo que eu adorasse esse evento, rezei para que Marcus, o organizador,
tivesse cancelado por algum motivo, porque eu sabia que se Verônica não
estivesse realmente bem, ela procuraria algo para se distrair, algo para
apaziguar a sensação que estivesse dentro dela.
Ela joga com sua própria dor, Vee faz com que aquilo que a machuque se
torne beleza, ela se reconstrói das suas próprias feridas, Verônica Blackwell
é forte, é a mulher mais forte que já entrou em minha vida e às vezes essa
força a sobrecarrega, porque ela não cede, ela nunca o faz, porque sente
medo de que se um dia fizer isso, ela se desmorone.
Mesmo quando ela veste suas máscaras, quando age friamente e usa o
sarcasmo como arma.
E eu sei que hoje ela estará assim, sei que seu pai havia conseguido trazer
o seu pior à tona. E tenho certeza disso quando entro pelos portões do
parque e encontro uma pequena multidão já formada.
Não me surpreendo, principalmente porque já está quase escurecendo e
quase todos os universitários que não foram viajar, estão se deslocando para
esse lado da cidade. Algumas garotas reconhecem o meu carro e sorriem
para mim, os estudantes da SVU que já sabem que eu participo algumas
vezes das corridas, acenam em minha direção.
Eu não devolvo o sorriso ou até mesmo o aceno, porque estou inerte em
minha preocupação. A única coisa que me importa é era a garota de cabelos
pretos e olhos brilhantes que havia desaparecido em meio às pessoas.
Percorro o olhar por todo o estacionamento e quando estou prestes a enviar
uma mensagem no nosso grupo de amigos, avisto o Bugatti estacionado entre
duas vagas de onde eu estou. Verônica está sentada no capô, sozinha, ela tem
o celular em uma das mãos e um cigarro aceso na outra, que leva até seus
lábios. Seu cabelo solto cai para o lado quando ela inclina a cabeça para
soltar a fumaça, me dando a visão de seu rosto esbelto e percebo que seu
olhar é distante, como se não enxergasse que algumas pessoas passam por
ela e a cumprimentam.
Ela levanta as pernas para cruzá-las e então eu percebo que está trajada
para a corrida. As calças pretas, o cropped dourado com pequenos brilhos
que estão tampados pela jaqueta de couro. Abaixo meu olhar para seus pés e
não me surpreendo quando avisto uma bota de salto.
Caminho até ela e me sento ao seu lado, observando a movimentação das
pessoas. Por alguns segundos, eu apenas respeito o seu silêncio e deixo que
ela absorva seus pensamentos. E quando ela finalmente suspira fundo e deita
sua cabeça em meu ombro, eu me viro um pouco para poder beijar o topo de
sua cabeça.
— Você vai correr? — pergunto quebrando o silêncio.
— Você vai me acompanhar? — devolve levantando o rosto para me
encarar. Seus olhos estão escuros, cheio de sentimentos que, pela primeira
vez, eu não sou capaz de ler.
— Sempre, anjo! — Eu não estou dizendo apenas na corrida e ela sabe
disso. Me aproximo, deixando um beijo em sua testa e continuo: — E eu
preciso de uma revanche.
— Aquela corrida foi há meses, capitão, supere! — Verônica solta um
sorriso fraco que não alcança seus olhos e, por Deus, eu estou preocupado
com ela. — Vamos?
Assinto com a cabeça. Mesmo que isso esteja me corroendo, quero saber
o que estava a afetando, quero que ela se abra comigo, contudo eu não irei
invadir seu espaço pessoal, não a forçarei a dizer as coisas apenas porque
eu desejo ouvir.
Algumas vezes todos nós precisamos de silêncio, precisamos ficar
perdidos em nossa própria cabeça para resolvermos o que esteja nos
afetando. Se fosse o caso dela e Vee precisasse de alguém que apenas o
acompanharia naquele silêncio, eu seria seu companheiro, escutaria as suas
músicas favoritas, abraçaria caso fosse necessário e correria novamente com
ela, mesmo que uma parte de mim desejasse que ela resolvesse seus
problemas de uma forma mesmo perigosa.
— Os meus melhores corredores estão de volta? — Marcus pergunta
assim que paramos em frente à mesa de apostas. Ele sorri galanteador para
Vee e ela apenas ergue uma sobrancelha e entrelaça nossos dedos. —
Verônica Blackwell, está mais linda do que a última vez que a vi.
Vee solta um sorriso que se torna uma careta, como se não estivesse no
clima para brincadeira, e logo após me dá um beijo rápido e se vira para
caminhar até onde Hazel e Summer haviam acabado de chegar,
acompanhadas de todos os nossos outros amigos. Eu apenas acerto tudo
sobre a minha rodada com a da Verônica e me viro para sair, mas antes o
encaro sobre o meu ombro.
— Não flerte com a minha garota novamente, Marcus! — resmungo,
enquanto ele solta uma gargalhada e me entrega dois papéis para a corrida.
Não espero uma resposta. Apenas sigo para onde Verônica está, encosto
meu queixo em seu ombro, passando as mãos pela sua cintura, e a puxo
contra meu corpo. Quando ela se ajeita em meus braços, observo a conversa
que flui entre todos nossos amigos. Durante o tempo em que estamos ali,
percebo que Dylan e Edmund estão tensos, eles tentam disfarçar, mas eu os
conheço e sei que nenhum deles está bem. E desconfio mais ainda quando
percebo que Oliver não está entre nós.
Algo está fodidamente errado.
Eu sei que Levi havia decidido viajar para Miami hoje pela manhã com
seus pais depois do que aconteceu ontem e aquilo não me surpreendeu. Ele
está dando um espaço para Sum, para que ela pense na sua declaração. Mas,
por outro lado, a ausência do melhor amigo de Verônica é estranha, porque
ele nunca a larga, independente de qualquer coisa, Oliver sempre está ali por
ela.
— Underwood? Blackwell? — Olhamos sobre nossos ombros em direção
a voz de Marcus. — É a vez de vocês!
— Boa sorte! — Hazel exclama em nossa direção, com um sorriso tenso e
olha para Dylan procurando por respostas, como se quisesse dizer algo que
não deveria.
Nós sorrimos tensamente e seguimos para os nossos carros. E quando
paramos na linha de largada, olho para Verônica como da primeira vez. Ela
devolve o olhar e pela primeira vez na noite aqueles olhos brilham em
excitação. Vee deixa que um sorriso se estenda por todo o seu lábio e então
solta um grito.
— Você tem certeza de que pode fazer isso, capitão?
— Não só posso como vou, anjo! — devolvo as mesmas palavras que ela
me lançou na primeira vez que corremos juntos.
Ela solta uma gargalhada gostosa, mesmo que o som não tenha atingido
totalmente os meus ouvidos, eu sei que é o melhor som. Nenhum barulho que
o ambiente emite pode se comparar àquele.
Quando um calouro com o moletom do SVU aparece no meio da pista com
a bandeira colorida, nós nos preparamos. O painel acima de nós inicia a
contagem regressiva. Os números neons vão de dez a zero. E quando chega
às seis, eu escuto o rugido dos nossos motores, no cinco tudo está preparado.
Quatro.
Três.
Dois.
Um.
A largada foi dada. Somos apenas nós dois novamente, como nos velhos
tempos.
Verônica sai com a vantagem, o carro dela é mais leve, o que a deixa
concluir os movimentos com destreza. Quando viramos em uma curva
fechada, eu inclino o volante com força, fazendo com que ela precise me dar
passagem ou bateremos em uma cerca que serve como delimitação de pista.
Assim que entramos em outra curva, preciso diminuir a velocidade para que
o carro não saia de sua estabilidade e quando ela vai me ultrapassar, jogo o
carro para o lado que ela está tentando concluir a ação, a impedindo.
Mas em uma das curvas acentuadas eu preciso fazer com que meu carro
ganhe estabilidade novamente, o que dá a Verônica a oportunidade perfeita
de me ultrapassar. Nós mantemos as ultrapassagens até o limite por boa parte
do trajeto e quando chegamos a curva final e finalmente estamos na linha
reta, eu faço como a nossa última corrida, fazendo com que nossos carros
fiquem nivelados, lado a lado.
Ela me encara de relance e sorri, um sorriso que eu sempre achei que
seria minha ruína, mas que no final acabou sendo a minha salvação. Seus
olhos brilham em minha direção por alguns segundos e um sorriso lindo,
daqueles que nos tiram suspiros sem nem mesmo percebermos, se estende
pelos seus lábios. E sem dúvidas, nenhuma melodia que já cheguei a tentar
cantar em nossas noites de karaokê ou nenhum jogo ganho em qualquer final,
será capaz de se comparar com o sentimento que Verônica trás para dentro
de mim. O seu sorriso, aquele que ela dá quando está feliz, faz minhas pernas
se estremecerem. Ela é como um mistério que amo desvendar pista por pista
e que agora sei que poderia passar anos ligando as pintas de suas costas
como se fossem constelações. Mas nada disso importa perto do jeito que ela
me faz sentir por dentro, como se fosse um vulcão prestes a explodir, como
se qualquer chama fosse pequena perto da combustão que emitimos quando
juntos.
Eu a amo. Porra, amo tanto que às vezes nem eu mesmo consigo entender
esse sentimento.
E quando a ultrapasso, fazendo com que meu carro chegue primeiro à
linha de chegada, a primeira coisa que faço é sair dele, é correr em sua
direção. Ela não se importa em perder, apenas corre em minha direção e
pula em meu colo, colidindo nossos lábios.
O beijo é lento, faz com que eu a aperte mais em meu colo. Vee explora
cada parte da minha boca, ela me puxa mais firme, como se quisesse que
esse momento jamais acabe, como se estivesse com medo de se afastar,
quando sinto uma lágrima descer pelo seu rosto, molhando a minha
bochecha, soube que realmente algo está errado e tenho certeza disso quando
me separo dela.
Verônica me encara com os olhos tristes e quebrados, é o mesmo olhar
que ela me lançou quando ainda me odiava, o mesmo que lutei para que
abandonasse, mas ele ainda estava lá.
E, por Deus, eu quero que ela me conte, quero que confie em mim, que
despeje o que quer que tenha acontecido em sua casa mais cedo.
Porém, mesmo que eu quisesse que ela confiasse em mim, eu não estava
preparado para as suas próximas palavras, porque elas me pegam
desprovido de qualquer reação. Verônica sai do meu colo levanta o rosto e
profere as palavras que eu jamais imaginei que um dia sairia de seus lindos
lábios:
— Meu pai quer que eu fique noiva de Oliver, Logan… — Outra lágrima
desceu pelo seu rosto. — Sinto muito.
Não é adorável estar completamente sozinha?
Coração feito de vidro e a mente feita de pedra
Rasgue-me em pedaços, da pele ao osso
Olá, bem-vindo ao meu lar
Lovely (feat. Khalid) | Billie Eilish
Tento decifrar aquela frase, mas sou impedido por Levi, que caminha
rapidamente até o meu lado, sua respiração é descompassada, como se
estivesse correndo por um bom tempo.
— É a sua vez! — ele disse tomando fôlego, quando não me mexo, ele
ergue uma sobrancelha. — Ande, homem! — Ele escora o cotovelo nas na
janela do motorista quando finalmente entro em meu carro, fazendo com que
a jaqueta subisse um pouco, mostrando o pulso com uma pulseira de couro
que havia ganhado de seu pai. — Não perca essa corrida, eu apostei muito
em você hoje!
— A única pessoa capaz de ganhar de mim está em Nova York nesse
momento, Johnson! — retruco com uma careca e então ligo o carro, dirigindo
até a largada.
Quando estaciono no meu lugar de sempre, observo que meu adversário
ainda não está lá, então apenas me escoro no meu banco e ergo meu celular
para a conversa com Verônica que ainda estava aberta.
O que diabos essa mensagem significa? Eu não estou pronto para jogar, ao
contrário, eu estava farto de jogos. Respiro fundo e me preparo para
começar a digitar uma resposta, mas sou impedido quando um carro para ao
meu lado. O barulho dos motores era familiar demais, então viro lentamente
o meu rosto para o carro ao meu lado. E, puta merda, meu coração quase sai
pela boca quando avisto o Bugatti que estava parado ali. A minha respiração
fica presa na garganta quando observo os vidros da janela descerem
lentamente, me dando a visão dela. Os olhos âmbares brilhavam em
excitação e os dedos delicados apertavam o volante, Verônica mordia o
lábio inferior, que estava pintado de um vermelho escarlate.
Eu queria gritar, queria dizer tantas coisas, mas minha voz parecia ter
sumido. Eu só conseguia admirá-la. A saudade dos dias longe um do outro
pesaram uma tonelada nesse instante e eu estava cogitando a ideia de correr
até o outro lado, tirá-la de seu carro e beijá-la. Porra, eu só precisava tocá-
la para saber que aquilo é real, que conseguiu acabar com tudo por nós, que
meu anjo havia voltado para mim.
Mas quando uma garota apareceu no meio da pista com a bandeira de
sempre, eu soube que aquilo ficaria para depois, porque agora faríamos o
que fazíamos de melhor.
Nós jogaríamos nosso último jogo sujo.
E desta vez, eu nem me importava quem seria o vencedor, contanto que ela
esteja comigo na linha de chegada.
Assim que foi dada a largada, nós aceleramos. Porém, pela primeira vez
desde que começamos com isso, nós não olhamos para o lado, não nos
provocamos, queríamos finalizar essa corrida o mais rápido possível,
porque a única coisa que desejávamos era chegar no final da pista, e poder
matar a saudade que nos consumiu por tempo o suficiente.
Quando Vee, virou o volante, me impossibilitando de ultrapassá-la, eu
sorri. Não porque ela estava competindo, mas porque ela sabia que não
precisávamos de ajudar um ao outro quando estávamos na pista. Então por
isso, esperei que ela relaxasse e quando fez isso, eu a ultrapassei sem pensar
duas vezes.
Era o nosso último jogo, mas não significava que não jogaríamos da
maneira correta.
Na última curva, ela conseguiu igualar nossos carros, fazendo com que
ficássemos lado a lado. E como da primeira vez, eu olhei para o lado,
encontrando aquele sorriso estampado em seu rosto e aquela adrenalina
correndo sob suas íris. A sensação de sermos únicos, imbatíveis, estava de
volta e eu não queria que aquilo acabasse, não desejava que quando
saíssemos de nossos carros, a realidade batesse com força.
Mas quando aceleramos juntos, fazendo com que nossos carros chegassem
à linha de chegada ao mesmo tempo, eu gargalhei. Nunca havia empatado
com ninguém, nunca desejei isso. Mas se ela quisesse uma revanche, eu
faria.
Contudo, não agora. No momento, a única coisa que eu fiz, foi escancarar
a porta do meu carro e sair correndo enquanto ela fazia o mesmo. Quando
estávamos a centímetros de distância, Verônica pulou em meu colo, fazendo
seus cabelos voarem, me dando a imagem de seu rosto perfeito, os olhos
âmbares, as bochechas coradas e os lábios carnudos. Eu queria estender a
mão e dedilhar aquelas pequenas pintas em volta de sua pele, queria tocá-la
para ter a certeza de que não estava sonhando e quando ela soltou um sorriso
iluminado, eu o devolvi.
Devolvi, porque eu estava com saudade de vê-la feliz, saudade de saber
que eu era o motivo dessa felicidade. E mesmo que sentisse medo de ela
estar aqui apenas para se despedir, eu apreciei aquele momento, apreciei o
brilho em seus olhos e o sorriso escancarado em seus lábios.
— Você voltou... — digo surpreso.
— Eu voltei — ela responde ainda com o sorriso estampado em seu rosto.
— Por quê?
— Porque eu precisava vir para casa! — Vee inclina a cabeça para o
lado.
— Nova York é a sua casa, anjo! — digo, mesmo sabendo a resposta.
— Não, capitão... — Ela aproxima a cabeça, me dando a chance de
encarar seus olhos. Aqueles olhos no qual sou apaixonado, aqueles que um
dia foram minha ruína e que agora são a minha salvação. — A minha casa é
onde você e nossa família estiver!
— Seu noivado? — Ergo uma sobrancelha.
— Não existe noivado mais, não existe ninguém, apenas você, sempre
será apenas você, Logan Underwood! — ela diz com firmeza e eu selo
nossos lábios em um beijo cheio de tantos sentimentos. Não me importava se
tínhamos uma plateia, eu apenas me importava com a garota à minha frente.
— Eu amo você, anjo!
— E eu amo você, capitão!
Soltamos um sorriso, um de vários que soltaríamos a partir dali.
E nós sabíamos que poderíamos ter nossos corações quebrados, mas, no
fim, nós sempre encontraríamos o caminho de volta um para o outro. Porque
nosso mundo se colidiu de uma maneira linda e, ao mesmo tempo, perigosa,
trazendo caos e, acima de tudo, poesia.
Uma poesia que coleciona rachaduras e rupturas e que nós dois
consertaremos juntos.
F I M.
E que o destino está te levando para muito longe
E pra fora do meu alcance
Mas você está aqui no meu coração
Então, quem pode me parar se eu decidir
Que você é meu destino?
Rewrite The Stars | James Artur (feat. Anne-Marie)
Respirei fundo uma, duas, três vezes, enquanto passava o olhar pela minha
roupa no espelho. O conjunto branco realça minha pele um pouco bronzeada
pelo clima de Saint Vincent. A pouca maquiagem faz com que meus olhos
castanhos, quase negros, fiquem mais brilhantes e o batom nude me fez
erguer as sobrancelhas. Essa não sou eu.
Nunca seria.
Essa visão que está frente ao espelho é apenas uma que minha mãe
adoraria que eu fosse e que Vee moldou porque eu me apaixonei pelo
conjunto em seu closet quando o vi. E minha amiga, ama fazer isso, ela ama
brincar com roupas e montá-las conforme a personalidade das pessoas.
Porém, enquanto escuto a música ressoar fora deste quarto que eu sei que
está vago desde que Declan Williams se formou no ano passado e nenhum
outro calouro conseguiu a vaga para entrar na fraternidade, eu me sinto como
uma fraude. Não uma fraude daquelas que você olha e sente desgosto, mas
uma que se sente vazia, sem nenhum sentimento para ficar lá embaixo e
comemorar a nova temporada de jogos que está chegando com meus amigos.
Talvez eu devesse virar toda essa garrafa de tequila barata que Verônica
havia roubado da cozinha dos jogadores quando chegamos, talvez eu devesse
ir atrás dela, já que havia sumido poucos minutos atrás quando saí para ir no
banheiro; o que resultou em todos nós procurando Logan e não nos
surpreendendo quando percebemos que ele também havia abandonado a
festa, deixando uma caloura bastante irritada por ter sido trocada na sua
primeira festa.
Mas o que ela não sabia é que o capitão tão aclamado da Saint Vincent
University não havia a trocado por qualquer garota, ele está com a mulher
que consome todos seus pensamentos desde que eram meros adolescente, e
sabemos que quando essa noite acabar, quando ele voltar para o
apartamento, o seu temperamento estará em um nível que não conseguiremos
suportar, porque desde que os irmãos Blackwell voltaram, desde que ele e
Verônica votaram a seus jogos sádicos de provocação, não havia um dia que
tínhamos paz.
Suspiro fundo, deixando Logan e seus problemas para lá. Levo a garrafa
em meus lábios novamente e me viro para caminhar até o quarto, porém,
assim que atravesso o batente do banheiro, a porta é aberta e Oliver Wright
entra suspirando fundo. Ele passa a mão pelos cabelos loiros sujos e suspira
outra vez, quase que cansado. Sua blusa cinza de frio está arregaçada até
seus cotovelos, ele está com a atenção focada em seu celular e ainda não me
percebe aqui.
— Merda, pequena Blackwell, onde você se meteu? — ele resmunga para
si mesmo.
— Eu acredito que você sabe muito bem onde nossa amiga está, Oliver!
— digo me encostando na parede e cruzando meus braços. — Não seja tão
inocente.
Ele dá um sobressalto, finalmente olhando para frente e me encarando.
Seus olhos estão arregalados pelo susto, mas Wright esconde isso
rapidamente e solta um sorriso malicioso em minha direção.
— Por que diabos você está se escondendo em um quarto, loirinha? —
questiona, erguendo uma sobrancelha. — Não me diga, por favor, que tem
um jogador nesse banheiro e que atrapalhei a foda de vocês.
Eu lanço uma careta de desgosto em sua direção e levanto a garrafa de
tequila novamente até meus lábios, bebendo um pequeno gole. Eu não sou de
beber, mas hoje eu realmente preciso do álcool para conseguir passar toda
essa festa sem surtar com algum universitário.
— Não, não há nenhum jogador. Mas você está me atrapalhando a ficar
sozinha, então permita-me dizer que a porta é serventia da casa! — Sorrio
falsamente para ele, apontando para a porta fechada.
— Eu estou fugindo de algumas calouras, então você terá que me suportar
até que eu consiga sair e encontrar o quarto de Logan para entregar a chave
do carro de Verônica, para que eu finalmente possa voltar para casa. — Ele
dá de ombros, balançando o chaveiro do Bugatti de Vee em uma das mãos e
caminha até a porta da pequena varanda.
Suspiro fundo, me juntando a ele, mesmo que ainda não goste da presença
de Wright no mesmo lugar que eu. Ele não é alguém que eu quero perto de
mim ou até mesmo dos meus amigos. Oliver Wright, por mais que tenha uma
beleza assustadoramente encantadora, é alguém que eu sei que não mostra a
verdadeira face para as pessoas, algo dentro de mim me diz que tudo isso é
apenas uma máscara que ele utiliza para esconder o que mantém sob sua
pele.
— Por que não pede a Dylan para levá-lo embora? — pergunto, chegando
até ele e escorando minhas mãos no braço de proteção.
— Porque ele já foi embora com Hazel e Edmund, fiquei para levar a
Pequena Blackwell versão bêbada para casa porque estou com chave do
carro dela. — Ele suspira olhando para alguns universitários bêbados no
primeiro andar. — E agora acredito que eu fiz a pior escolha da noite em
esperá-la. — Oliver ergue uma sobrancelha e se vira para mim. — E por que
você está se escondendo em um quarto vago com uma garrafa de tequila?
— Porque…Verônica e Hazel me abandonaram na pista de dança e eu
estava odiando ficar lá embaixo. — minto. Eu não falaria para Oliver que
estava me sentindo vazia em uma festa repleta de pessoas. — E você por que
está se escondendo aqui?
— Eu já te contei, loirinha, estou fugindo das calouras. — Ele sorri
abertamente.
— Oliver Wright fugindo de uma garota? — Solto uma gargalhada, me
sento no piso da varanda e vejo meu novo companheiro fazer o mesmo. —
Isso é uma fofoca que poderia correr pela SVU amanhã.
Ele sorri puxando a garrafa das minhas mãos e virando em seus lábios.
— Eu não me importo com isso, mas para você saber, eu não estou afim
de transar com ninguém — Ele dá de ombro.
— Não? — Ergo uma sobrancelha, me virando para ele, me lembrando de
que ele estava conversando com uma garota linda quando voltei da pista de
dança.
— Não, estou bem em apenas aproveitar apenas a companhia de uma loira
que me odeia sem motivos. — Ele sorri abertamente para mim. — E você,
por que realmente está aqui? Seja sincera, Sum.
— Eu estava me sentindo… vazia — confesso, deixando meus ombros
caírem. — E sou uma péssima dançarina.
Ele me olha por alguns segundos, espero que ele solte uma gargalhada ou
diga algo irônico, mas Oliver apenas acena levemente, leva a garrafa até os
lábios, ingere uma quantidade considerável e se levanta, esticando a mão
para mim. Mesmo sem saber o porquê, eu a pego, ele me puxa, fazendo com
que nossos corpos quase se colidam e pela primeira vez eu vejo como
aqueles olhos safiras são hipnotizantes e como sua boca se curva em um
lindo sorriso.
— Vamos ensiná-la a dançar, então — ele diz como se estivesse
notificando o tempo.
— Não.
— Sim! — Ele contrapõe e me puxa para o centro do quarto pouco
iluminado. — Vamos lá, loirinha, você não gosta de mim, eu não gosto de
você, mas estamos nos escondendo aqui até que tudo se acalme lá fora para
irmos embora, então por que não aproveitar esse pouco tempo para
aproveitar e te ensinar a dançar decentemente?
— Até onde eu sei, a única dançarina profissional entre nossos amigos…
— Olho para seu rosto com o cenho franzido. — É Verônica.
— Eu sou o melhor amigo dela, o que logo me faz parceiro de dança dela,
então acredite em mim quando eu digo que sei os melhores passos para você
conquistar todos os universitários dessa festa — ele sussurra, virando meu
corpo e colidindo minhas costas com seu peito, sem me dar a oportunidade
de responder.
Prendo minha respiração quando ele me olha de relance, pedindo
permissão com os olhos para me tocar. Eu fico o encarando enquanto penso
na resposta. Não há nada para fazer até que tudo se acalme e eu consiga uma
carona para voltar para casa, porque todos nós sabemos que nenhum Uber
aceitaria uma corrida a essa hora, então por que não aceitar uma aula de
dança, mesmo que ela seja irrelevante, apenas por algum tempo? Suspiro
fundo e assinto levemente com a cabeça.
Mas me arrependo no momento em que suas mãos se fecham em minha
cintura, porque é como se o pequeno toque estivesse soltando a pior das
descargas elétricas por todo meu sistema. Uma música lenta começa a tocar
no lado de fora do quarto e eu apenas fecho meus olhos enquanto Oliver me
diz para me mover lentamente, deixando que a melodia guiasse meus
próprios movimentos. Mas eu não estou mais escutando suas palavras.
Merda, eu apenas sinto seu corpo se mover atrás de mim, seu cheiro me
atormenta e sua voz doce é como um cântico de uma sereia, que me
entorpece, me faz esquecer os segundos, minutos e até mesmo as horas.
— Relaxe seu corpo, loirinha! — ele pede baixinho no pé do meu ouvido.
Não respondo, apenas faço o que ele pede, obrigo meu corpo a relaxar,
enquanto ele move meu corpo em sincronia com a música que toca. Oliver
solta um palavrão quase inaudível e me gira, fazendo com que nossos corpos
voltem a se colidir, ele segura minha cintura novamente, como se a ideia de
não me tocar nesse período de tempo fosse demais para ele. Eu deveria dizer
que poderíamos parar, que eu já tinha tido uma aula suficiente para a noite,
mas eu não consigo, a voz havia me abandonado. Ergo meu rosto para
enxergar o seu e meus olhos se chocam com o dele, como se estivéssemos
próximos a mergulhar em algo desconhecido, algo errado, mas que não
dávamos a mínima.
Oliver afasta minhas pernas para colocar uma das suas entre elas e me
girar calmamente, o movimento não deveria ter sido erótico, mas foi. Sem
que percebêssemos, sua coxa roça em minha parte sensível, fazendo com que
atrito torne a experiência de dançar ainda mais intensa, íntima, me causando
sensações que eu não consigo nomear no momento. Mordo meu lábio
inferior, segurando o gemido que se formou em meus lábios e quando volto
meu olhar para Oliver, seus olhos estão nublados em algo perigoso,
selvagem e pecaminoso.
Eu não deveria desejar isso, não, eu deveria me afastar antes que façamos
algo que nos arrependeremos no dia seguinte, mas é como se estivéssemos
conectados. Oliver umedece seus lábios enquanto seus olhos se abaixam até
os meus, ele encara minha boca com intensidade e, por Deus, eu faço o
mesmo. Os lábios carnudos do homem à minha frente são como um convite,
um labirinto que sei que se eu entrar, nunca conseguirei achar a saída.
Encaro Oliver Wright como se ele fosse a minha pior perdição, como se
mesmo que esse momento fosse efêmero, ainda sim, ele iria se perpetuar em
nossa carne.
E por um momento eu tive medo de continuar, medo de tomar a atitude
errada.
— Summer — ele murmura.
— Oliver.
— Eu vou te beijar — ele confessa rouco. — E se você não deseja isso,
eu aconselho a sair desse quarto agora mesmo, porque eu não sei se serei
capaz de parar quando eu começar.
— Eu achei que não estivesse afim de transar com alguém hoje — digo
quase que em um sussurro inaudível.
— Eu tenho a impressão de que você é a minha exceção, loirinha.
Eu tinha a sensação de que ele não estava falando apenas disso, mas não
tenho tempo para pensar nisso. Eu apenas levantei meu rosto e encontrei
aqueles olhos, esses malditos olhos lindos, e mordo meu lábio inferior antes
de respondê-lo:
— Então beije-me, por uma noite, apenas beije-me!
E Oliver me beija. Não, ele me devora.
Seus lábios são macios e suas mãos sobem até minha nuca, aprofundando
ainda mais o momento.
Nós caminhamos cegamente até a parede mais próxima, sem nunca
deixarmos nossos lábios se desgrudar. Oliver segura minha cintura e com a
outra mão, ele aperta a minha nuca, segurando-a quando descemos para o
paraíso.
Ele me solta por um momento, apenas me encara calorosamente e então
abaixa seus lábios até meu pescoço, deixando uma pequena pressão em meu
ponto de pulsação. Quando solto um gemido fraco, Oliver emite uma
pequena risada nasal, como se perguntasse em sua mente onde estava a
mulher que há poucos minutos atrás estava o mandando para fora do quarto.
E isso me irrita, porra, eu não posso pensar nisso agora. Não, eu preciso que
todos nossos pensamentos fiquem longe desse lugar por ora.
Por isso, levo a minha mão até a borda da sua camisa e a retiro de seu
corpo, depois faço o mesmo com sua calça, deixando-o apenas com uma
cueca box branca, que faz minha boca ficar seca instantaneamente quando
percebo a protuberância que está seu membro. Ele não me dá tempo de dizer
algo, porque Oliver segura meus ombros com uma pequena força e me vira
contra a parede, fazendo com ele tenha a visão de minhas costas ainda
tampadas por todo o tecido do meu conjunto. Só então percebo que ele faz o
movimento para ter acesso ao zíper do cropped e da saia.
Oliver desliza o dedo lentamente, abrindo minha roupa e causando
sensações que eu nunca poderia descrever no momento. Quando finalmente
todo o tecido caí no chão, fazendo com fiquemos os dois nus, eu giro meu
corpo e pulo em seu colo, o surpreendendo, e sem dar tempo para pensar, o
beijo intensamente. Ele segura minha nádega, caminha comigo até a enorme
cama no centro do quarto e me coloca lentamente sobre o colchão, se
colocando entre minhas pernas. Quando levanta o rosto, colidindo com os
seus malditos olhos verdes nos meus, minha respiração fica presa na
garganta por um momento.
Estou prestes a transar com Oliver Wright. O melhor amigo da minha
melhor amiga, o homem que guarda segredos e que mantém todos longe de si,
o homem que ao mesmo tempo que me leva ao limite, também me faz sentir
viva, elétrica e, acima de tudo, consegue fazer com que o vazio que eu sinto,
se dissipe.
E mesmo que seja errado, mesmo que eu saiba que eu não devo fazer isso.
Eu seguro seu rosto e colo nossos lábios, faço com que o beijo seja intenso e
ao mesmo tempo que perpetue o nosso momento, deixando todo o resto fora
desse quarto.
No momento, existe apenas o agora, nada mais, nada menos.
Saio dos meus pensamentos quando noto que Oliver se abaixa, beijando
meu pescoço, depois minha clavícula e finalmente meus seios. Ele dá
atenção a ambos, morde e chupa, fazendo com que meus gemidos se
intensifiquem, ele se eleva novamente até meu rosto, me dá um beijo rápido
e desce seu rosto até a minha boceta. Oliver para pôr um momento, olhando
em direção a minha intimidade, solta um sorriso malicioso e sem se segurar
mais, se abaixa, fazendo com que eu sinta sua respiração em minha pele
sensível.
Sem aviso prévio, ele suga minha intimidade com força, me fazendo
contorcer e gemer alto. Assim que se afasta um pouco e geme, passando a
língua pelos lábios, sentindo meu gosto, eu inclino a cabeça para trás e solto
um gemido que estava preso em minha garganta. Oliver percebe o quão
afetada estou, então fecha os olhos, tentando aproveitar cada sensação e
volta a foder minha intimidade com sua boca. A forma como lambe e me
empurra para um limite desconhecido, me faz gemer descontroladamente,
minhas pernas tentam se fechar ao redor de sua cabeça em razão do prazer
que estou sentindo, minhas mãos vão até seu cabelo claro e puxam os fios
sedosos, o calor sobe por todo meu corpo, sinto os arrepios cada vez que
escuto os sons que ele faz, e quando ele suga fortemente, sei que estou perto.
— Ollie… — grito entre gemidos, esfregando minha boceta em seu rosto.
Retirando uma de suas mãos da minha coxa, ele introduz dois dedos em
minha intimidade enquanto ainda me chupa, escutando meus gemidos. Ele
sorri em resposta, sabendo que está me levando à loucura, inclinando
levemente os dedos dentro de mim. Sinto minhas pernas começarem a tremer
quando Oliver encontra meu ponto sensível. Ele abre os olhos agora para
observar cada uma das minhas reações.
— Goze, loirinha, apenas goze em minha boca… — ele rosna, lambendo a
minha intimidade.
Eu não consigo responder. Porra, as palavras que ele emite em minha
direção são como gasolina sendo jogada em um fogo. E quando tudo está
prestes a explodir dentro de mim, sinto a minha intimidade se contrair ao
redor de seus dedos. Oliver não me dá tempo de respirar, ao contrário, ele
aumenta os movimentos para que eu chegue mais rápido ao ápice. Percebo a
minha respiração morrer na garganta, impedindo que qualquer som seja
emitido, e com mais alguns movimentos, me sinto desfazer seus dedos e boca
enquanto gemo o nome dele de forma alta.
Sentindo o meu olhar sobre si, ele se levanta. Um sorriso maquiavélico
nasce em seu rosto, não há timidez em Wright, ele sabe que é fodidamente
lindo e quando se vira para caminhar até sua calça do outro lado do quarto,
procurando por um preservativo em sua carteira, percebo pequenas marcas
em suas costas, marcas que não consigo definir o que é por conta da minha
visão nublada pelo orgasmo e a pouca iluminação do quarto, então apenas
balanço minha cabeça, pensando que estou enxergando demais, talvez seja as
luzes que entram no quarto e formem aquele desenhos em sua pele.
— Oliver… — tento dizer algo enquanto Oliver coloca adequadamente a
camisinha em seu membro e volta para a cama, se posicionando sobre meu
corpo. Ele se inclina para me beijar e é notório o quão excitado está.
— Nós ainda não terminamos, loirinha, isso é apenas o começo da nossa
noite! — sussurra, deixando beijos em meu corpo.
Ele toma meus lábios com suavidade, enquanto se posiciona em cima do
meu corpo. Oliver se afasta por alguns segundos e encara os meus olhos
enquanto suspira fundo, levando seu pau até minha entrada e me
preenchendo. E pela primeira vez na noite, o medo me consome, porque não
há vazio, não há sentimentos confusos, é como se Oliver tivesse preenchido
não só meu corpo, mas toda a minha alma. Meu corpo inteiro parece pegar
fogo e clamar pelo seu toque.
Oliver se move com força e fecha os olhos em puro deleite quando o puxo
para baixo, colidindo nossos lábios em um beijo desesperado, como se eu
dissesse a ele para não ser gentil, para não me fazer sentir de uma maneira
que eu não deveria. E ele entende, porque quando seu rosto se eleva sobre o
meu novamente, seus olhos também me encaram com um sentimento
desconhecido
Ele move seu quadril duramente contra o meu, sem se importar com gritos
que saem de meus lábios, as mãos de Oliver deslizam por cada centímetro
do meu corpo, ele se inclina um pouco, chupando os meus seios e de repente,
ele nos gira e nos senta na cama, fazendo com que eu fique por cima e seu
rosto fique nivelado ao meu. Aqueles globos oculares me encaram com
louvor e admiração, como se nunca tivesse sentido tanto prazer como
estamos sentindo agora, como se nossos corpos estivessem conectados como
um só. Sentindo meu próprio ápice chegando, começo a cavalgar com mais
força, arrancando gemidos mais intensos de nós dois. Oliver leva a mão até
meu clítoris e movimenta seus dedos em minha boceta, fazendo-me contrair
ao redor de seu pau.
Ele não tira os olhos do meu rosto e eu desejo guardar cada reação em
minha mente, mesmo que seja errado, mesmo que eu não devesse querer que
esse momento acabe. Levo minha mão até suas costas e corro minhas unhas
pela sua pele, sentindo pequenas ondulações por toda extensão de suas
omoplatas. Mas não me importo com isso, apenas sinto as estocadas que ele
emite dentro de mim e após alguns minutos, Oliver se desfaz no
preservativo, chegando ao ápice e me levando junto.
Sinto meu corpo cansado e fraco, então deito minha testa em seu ombro,
mas assim que percebo o que fiz, tento me levantar. Contudo, Oliver se
inclina, deitando sobre o colchão e me puxando para fazer o mesmo, ele me
vira para o lado e saí de dentro de mim, indo até o banheiro e retirando o
preservativo. Minhas pálpebras estão pesadas, o sono está me atingindo e
quando acho que ele vai me deixar sozinha no quarto enquanto durmo, ele se
aproxima, beija o meu pescoço e se deita ao meu lado, puxando um lençol
sobre nossos corpos.
E a última coisa que escuto, enquanto Oliver me puxar para si e passa as
mãos pela cintura, é sua voz também sonolenta:
— Boa noite, loirinha.
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Broken Hearts é um livro onde aprendemos que não podemos curar nossas
cicatrizes, medos e inseguranças sozinhos, que mesmo quando achamos que
nunca haverá luz no fim do túnel, ela pode surgir inesperadamente. E assim
como Verônica e Logan, eu não teria chegado até aqui sozinha, não teria
passado do primeiro capítulo se não tivesse um time de pessoas por trás de
mim, me incentivando e me dizendo que meu sonho também é possível.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à minha mãe, por ser meu
exemplo de vida e que muita das vezes me perguntou o que eu tanto fazia
com o Word aberto, mal sabia ela que escrevia um romance. Mãe, mesmo
que eu seja cabeça dura, eu amo você, mais do que posso expressar em
palavras.
À minha irmã, Maria Júlia, que me deu inspiração para escrever Dylan e
Edmund, que me ensinou que eu sempre terei um abraço no fim de um dia
destruidor. Eu amo você até a lua ida e volta, meu anjo.
Ao meu grupo de leitoras no Whatsapp, que me incentivaram
incansavelmente até que esse livro chegasse até vocês, que surtaram a cada
capítulo postado e que ainda estão comigo. Vocês foram luz para a minha
vida e sempre serei grata.
À Ayla Shaiane, a segunda mãe de BH, minha irmã de coração e o meu
melhor presente que a escrita me deu. Amiga, quando você entrou na minha
vida, eu não imaginava o quão importante você se tornaria; e hoje agradeço
por cada momento que compartilhamos, cada vez que você trouxe ideias
mirabolantes e surtou por conta dos capítulos de BH. Mas acima de tudo,
obrigada por acreditar no meu sonho, por não me deixar desistir quando a
insegurança bateu à minha porta e por lutar por Saint Vincent ao meu lado.
Obrigada por me ajudar a encontrar saídas em momentos escuros, obrigada
por ter sido a minha Summer quando precisei e por ter chutado minha bunda
quando foi necessário.
À April Jones, a pessoa que caiu de paraquedas em minha vida e sem
dúvidas foi um dos meus melhores presentes que ganhei no ano passado.
Amiga, obrigada por criar meu gêmeo favorito, por me apoiar em terminar
BH e trazê-lo para a Amazon. Obrigada por tudo e principalmente por
embarcar no crossover entre BH e FOREVER YOU, foi incrível escrever ao
seu lado.
À Amanda, minha melhor amiga, a minha inspiração para a Hazel e a
única pessoa que realmente conhece a Annie por inteiro, que me apoiou e
segurou minha mão quando eu quis desistir. Amiga, nós conseguimos, BH
finalmente nasceu e eu sempre serei grata pela sua ajuda.
À Fernanda Barroso, pelo trabalho impecável na revisão ortográfica, e
acima de tudo, obrigada por me proporcionar momentos únicos em nosso
grupo e pelos surtos durante toda a revisão.
À Evelyn Fernandes, por ter feito a leitura sensível, por ter me dado
suporte para que Broken Hearts fosse escrito de forma responsável e por me
ajudar em todo o processo de lançamento, obrigada amiga, você foi incrível.
À Laura Santos, leitora e beta de BH, obrigada por abraçar Saint Vincent
com todas as suas forças. Você foi importante em cada processo de Broken
Hearts.
Às minhas leitoras no Wattpad, que me acompanham desde o início da
primeira versão de BH, que surtaram em cada comentário, que trouxeram
suas teorias e suas mensagens de carinhos até minhas redes sociais e que se
tornaram minhas amigas. Obrigada! É por vocês que o nosso bando ganhou
uma série inteira, por vocês que agora eles gritam para contar suas próprias
histórias.
E por fim, à Annie de 2020, que se sentou em frente a um notebook sem
saber o que fazer, que estava insegura e quebrada, mas que finalmente deixou
que as palavras finalmente saíssem, deixou que os personagens falassem e
que Saint Vincent nascesse. A nossa coragem de sair de nossa bolha, que
criamos para nos proteger, de renascer em um momento tão difícil, nos
fizeram chegar aqui e eu hoje vejo que foi a melhor decisão que tomamos.
Com todo o meu amor,
Annie.
[1]
Citação do livro A Rainha Vermelha da autora Victoria Aveyard
[2]
Livro O Príncipe Cruel da autora Holly Black
[3]
Livros onde os personagens principais têm diferenças de idades
[4]
O tight end fica posicionado ao lado do tackle e tem função híbrida, pode tanto funcionar como
bloqueador como um recebedor de passes.
[5]
São os jogadores se posicionam algumas jardas atrás da linha defensiva, para parar o jogo corrido e
os passes curtos. Ou seja, eles são responsáveis por controlar o avanço pelo meio da defesa.
[6]
A Universidade de Connecticut, também conhecida como UConn, é uma universidade
pública do estado de Connecticut, nos Estados Unidos.
[7]
responsável por chutar os field goals e os kickoffs.
[8]
nome dado a cada tentativa de avanço de um time durante seu
ataque.
[9]
NCAA Football Championship é o principal campeonato nacional de futebol americano
universitário nos Estados Unidos.
Table of Contents
SUMÁRIO
NOTA DA AUTORA E AVISO DE GATILHO
PLAYLIST
DEDICATÓRIA
EPÍGRAFE
00 | Prólogo
01 | Saint Vincent
02 | Você está pronta para jogar, anjo?
03 | Blackwell x Underwood
04 | Você me quer arrastando de volta para você?
05 | Partes para me destruir
06 | Xeque-mate
07 | Nossa pior versão
08 | Tome uma verdade
09 | Pequena Blackwell
10 | Abstinência
11 | Sentimentos controversos
12 | Cada parte de seu ódio
13 | Válvula de escape
14 | Temporada de jogos
15 | Vestiário
16 | Corações Quebrados
17 | Passado - Parte I
18 | Passado - Parte II
19 | Revelações
20 | Boston
21 | Processo de cura
22 | Um jogo sujo
23 | Pesadelos
24 | Dance comigo, anjo
25 | Carona
26 | Eu te desafio
27 | Estrelas binárias
28 | Aprenda a se perdoar
29 | Venha comigo, anjo
30 | Recital de Natal
31 | Seja corajosa
32 | Rei e rainha do caos
33 | Fio vermelho
34 | Feliz Ano-Novo
35 | Acordo com o diabo
36 | Sinto muito
37 | Fogo e gelo
38 | Convite
39 | Encontro de família
40 | Nosso último jogo sujo
EPÍLOGO
LOGAN UNDERWOOD
BÔNUS | A festa na Fraternidade
NOTAS FINAIS
AGRADECIMENTOS