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Bebedouro/Sp
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer meio,
Autora: Tay G.
Essa é uma obra de ficção. Nomes, personagens e lugares são frutos da imaginação da autora ou
usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, ou eventos reais é mera
coincidência.
Sumário
Notas da Autora
Prólogo
1
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Bônus
Olá, que alegria estar aqui, compartilhando mais uma história com
vocês.
Antes de tudo, quero expressar minha gratidão a Deus, pois sem Ele,
nada seria possível. Deus é grandioso!
Agora, vamos lá.
Se está procurando por um drama bem elaborado, com situações
realistas, esta história é indicada para você.
A história surgiu em um dia em que eu estava escrevendo um
romance completamente diferente. No entanto, Luara e Stefan estavam
gritando tão alto em minha mente que senti a necessidade de falar sobre
eles. Então, dei uma pausa na outra história para me concentrar nessa.
Sendo honesta, escrevi as primeiras páginas duas vezes. Na primeira
tentativa, não estava me encontrando ali; parecia que me perdi nas loucuras
que rondam minha mente. Mas, com calma, encontrei meu caminho
novamente. Abri um novo arquivo e recomecei do zero.
Neste romance, vocês vão conhecer uma mocinha como nós, meros
mortais, que trabalha diariamente, mas sonha com uma reviravolta em sua
vida. Imaginem ganhar um sorteio para um país como a Austrália e viver o
impossível? Sim, meus amores, é isso que nossa protagonista vai
experimentar.
Contudo, nem tudo são flores, e a vida dela não é fácil. Portanto,
estejam preparados para uma história com um toque de choque de
realidade. Mas, fiquem tranquilos, porque aqui, vamos encontrar um
empresário bilionário, lindo, gostoso e carinhoso.
Espero sinceramente que vocês apreciem a história e, se possível,
deixem seus comentários ao final.
Desejo a todos uma excelente leitura.
Luara Almeida
∞∞∞
Chego em casa ainda processando tudo, e assim que abro a porta,
Renata corre em minha direção e me abraça.
— Eu disse, eu disse para você. — fala com a voz embargada. —
Você vai viajar de avião, para viver algo que talvez nunca iríamos ter a
chance, e estou muito feliz, irmã.
Retribuo o abraço.
— Obrigada, Re. Ainda estou tentando processar na minha cabeça
que em breve vou conhecer cenários que só vi em filmes.
Escuto passos se aproximarem, afasto do abraço de Luara e encaro
minha mãe, que está com os olhos marejados.
— Estou tão feliz, minha menina. — Nos abraçamos. — Você
merece viver esse momento.
Lágrimas escorrem em meu rosto, fecho os olhos e só consigo
agradecer por isso estar acontecendo.
Ela se afasta e acaricia meu rosto, seus olhos brilham com as
lágrimas.
Na hora do jantar, fui surpreendida por um bolo sobre a mesa, e uma
torta de frango.
— Ontem acabei esquecendo, mas hoje, quando me lembrei, fiz esse
bolo, não é o mais bonito, mas foi de coração.
O bolo com cobertura de chocolate está lindo.
— Mamãe, nem sei como agradecer.
— Venha, vamos sentar.
Sento ao lado de Renata, elas cantam parabéns, e quando estou
prestes a cortar o bolo, a porta se abre e Fernando entra.
Suas sobrancelhas estão franzidas, e olhando daqui, ele parece um
monstro.
Volto a olhar para minha mãe, que tem o sorriso desfeito.
— Fernando, querido, que bom que chegou, fiz esse bolo para Lu,
ontem foi o…
— Então você ganhou o sorteio. — seus olhos furiosos são
direcionados para mim.
— Sim. — respondo.
Ele se aproxima, arrasta a cadeira principal e ocupa seu lugar.
Corto o bolo e coloco em sua frente.
Quando começo a cortar outra fatia, ele simplesmente pega o prato
que acabei de servi-lo e o joga na parede, com bolo e tudo.
Todas o encaramos.
— Pensa que pode ir para esse país por duas semanas, vai chegar lá e
agir como uma puta, e depois voltar buchuda?
— Fernando, o que é isso? — minha mãe pergunta assustada, pois
por mais que ele já tenha sido rude e até agressivo comigo, ele nunca me
chamou de algo assim.
— Não me diga que você apoia essa pouca-vergonha?
— Papai, a Austrália é um país lindo, e Luara conseguiu ganhar o
que muitos desejavam, ela não vai gastar um real, qual o problema? —
Renata sai em minha defesa.
— O problema é que lá ela vai estar longe dos nossos olhos, vocês
não veem? Não digam que eu não avisei quando ela aparecer aqui grávida
de um gringo que ela nem vai saber quem é. — ele arrasta a cadeira furioso.
— Venha, Maria, preciso falar com você no quarto.
Ele sai pisando forte.
Tanto eu quanto Re olhamos para minha mãe.
— Não vai, mãe. — peço.
— Ele vai bater na senhora. — Re a abraça.
— Vamos só conversar, não se preocupem. — ela beija a cabeça de
Re e se afasta indo até o quarto.
Assim que ela entra, escutamos vozes abafadas, xingos proferidos
pelo monstro que habita nessa casa.
Re me abraça.
— Se divirta muito, irmã, e se tiver a chance, nunca volte para esse
inferno. — murmura em meio às lágrimas.
— Eu nunca me afastaria de você. — sussurro.
Será que se eu pedir para que Fernando morra, ou suma das nossas
vidas, meu desejo será realizado?
Stefan Moser
O dia hoje foi exaustivo, repleto de reuniões, mas pelo menos antes
do horário do almoço, consegui aproveitar umas ondas para aliviar o
estresse. Minha paixão pelo surfe tem raízes na infância, quando pedi aos
meus pais que me colocassem em uma aula ministrada por um instrutor
local.
Desde então, o mar se tornou meu confidente, e quando percebo que
enfrentarei um dia tenso, reservo pelo menos uma hora para relaxar sobre
uma prancha. Após esse momento revigorante, retorno ao hotel e vou para o
meu refúgio pessoal no último andar. Este quarto é meu santuário, onde
ninguém me incomoda, e ao cruzar a porta, me desconecto do mundo.
Nunca trouxe ninguém aqui e pretendo manter assim.
Após um banho rápido, visto um terno sob medida que se ajusta
perfeitamente ao meu corpo. Estou pronto para enfrentar mais uma jornada
de trabalho.
No fim do dia, dirijo-me ao elevador, prestes a voltar para casa. No
quinto andar, uma jovem muito bonita surge. Morena, cabelos lisos e
longos, rosto oval, olhos escuros — por um momento, sua presença me
impacta e devo me conter.
Sou um homem reservado, não costumo conversar com
desconhecidos, mas, por alguma razão, sinto uma vontade súbita de falar
com ela, de perguntar seu nome.
Ao perceber que ela está indo para o restaurante, decido mudar meus
planos e sair do elevador quando não deveria. Vejo-me caminhando até o
balcão do bar, de onde consigo observá-la.
Ela escolhe uma mesa próxima à janela de vidro, e noto como seus
olhos brilham ao admirar a paisagem, como se fosse algo novo para ela. Um
sorriso ilumina seu rosto, revelando duas covinhas que a tornam ainda mais
atraente aos meus olhos.
Quando o garçom se aproxima, percebo que ela tem dificuldade em
se comunicar no nosso idioma. Ela pega o cardápio, aponta para um dos
pratos, o garçom entende e sorri ao anotar o pedido.
Enquanto ele se afasta, ela volta a contemplar a paisagem. Seus
olhos irradiam um brilho intenso, e me vejo hipnotizado por esse
espetáculo. Em certo momento, seu olhar cruza o meu, e como se eu fosse
um adolescente inexperiente, desvio o olhar, mesmo ciente de que fui pego
no flagra.
A comida chega à sua mesa, e ela saboreia cada prato, suspirando ao
fechar os olhos e apreciar os sabores. Sem perceber, acabo levantando o
canto dos lábios ao observar cada gesto dela. Embora seja uma turista e
consideravelmente mais jovem, algo que nunca me atraiu, sinto uma
curiosidade inexplicável, uma vontade de conhecer mais sobre ela.
Luara Almeida
Após degustar o prato mais exótico que já experimentei, repleto de
frutos-do-mar deliciosos, decido saciar meu desejo por doces e peço uma
sobremesa. Enquanto aguardo, olho para a janela, de onde posso ver as
ondas do mar quebrando com intensidade à frente. Pessoas movimentam-se
pela orla, e me pego pensando na sorte de quem vive em um lugar tão
paradisíaco.
Imagino-me morando em um local assim, aonde iria procurar por
trabalho em um dos hotéis à beira-mar. Nas folgas, ou ao término do
expediente, tiraria meus sapatos e caminharia descalça pela areia, sentindo a
água do mar acariciar meus pés. Certamente, seria uma existência mais
plena do que...
— Posso oferecer minha companhia?
A voz robusta e envolvente me arranca dos devaneios. Ao erguer o
olhar, deparo-me com o homem do elevador.
— Posso? — Ele repete a pergunta diante do meu silêncio.
— V-você... — Engulo em seco, surpresa. — Está falando meu
idioma. — Não é uma pergunta, mas uma constatação.
Um sorriso sutil surge nos lábios dele, acentuando ainda mais sua
beleza.
— Sim. — Ele confirma. — E falo mais dois idiomas além do
português.
Minha boca se entreabre em um silencioso "Oh".
— Se quiser, posso contar como aprendi, claro, se permitir que eu
lhe faça companhia.
Ai, caramba, estou parecendo tão patética que ainda não respondi.
— Claro. — Coço a garganta, tentando disfarçar minha surpresa. —
Pode fazer-me companhia.
Observo enquanto ele ocupa a cadeira à minha frente, e uma
sensação intrigante de expectativa se instala no ar.
Stefan Moser
Ocupo a cadeira à sua frente, a mesa quadrada entre nós. Seus olhos
revelam surpresa, e percebo que minha presença repentina a deixou um
pouco tímida. Ao observá-la de perto, constato que sua beleza é ainda mais
notável do que havia percebido.
— Primeiro, irei me apresentar...
— Não! — ela me interrompe, surpreendendo-me. — Quero dizer,
por que não ficarmos no anonimato?
Arqueio uma sobrancelha, encarando-a enquanto ela morde o lábio
inferior.
— Se é assim que deseja. — Deixo-me envolver por seu encanto,
hipnotizado pela proximidade e pela curiosidade crescente sobre sua vida.
Não posso recuar agora que estou aqui, tão perto.
Um garçom se aproxima, e ao perceber minha presença, seus olhos
se arregalam. Balanço sutilmente a cabeça em negação, dispensando a
necessidade de palavras. Ele entende que quero manter minha posição como
dono do hotel em segredo. Que fique claro que só estou fazendo isso porque
a linda garota com o sorriso mais encantador que já vi pediu.
— Amo doces. — confessou quando o garçom colocou um prato
diante dela.
— Essa sobremesa se chama lamington, uma verdadeira iguaria
australiana. — Seus olhos se iluminam com curiosidade. — Sabe, este é o
meu doce favorito, para mim tem sabor de infância.
Ela franze o cenho, intrigada.
— Lamington? Nunca ouvi falar.
— É um clássico aqui. Um pedaço de bolo esponjoso, mergulhado
em uma cobertura de chocolate e, em seguida, envolto em coco ralado. —
Explico, observando sua expressão enquanto descrevo cada camada. — A
combinação de texturas é incrível. O bolo é leve e macio, enquanto a
cobertura proporciona um contraste perfeito com o crocante do coco.
Noto um sorriso sutil surgir nela.
— Você parece entender bastante de confeitaria. — constatou.
— Sim, minha avó tinha uma padaria, e lá ela fazia sua magia, e eu
como um garotinho curioso ficava a observando.
— Isso é fofo.
— É, devo concordar.
Ela abre ainda mais seu sorriso.
— Agora, me conte, como aprendeu tão bem o português?
— Já estive no Brasil algumas vezes, tenho alguns conhecidos por
lá. Não sei se você conhece a companhia aérea Sky Aire? — ela nega. —
Então, eles abriram uma rede de hotéis, e foi lá que conheci os irmãos
Park[1]. Eles são coreanos, casaram com brasileiras e moram no Brasil. E
por termos negócios com a Sky Aire, aprendi o idioma para me comunicar
melhor quando fosse ao país que agora eles chamam de lar.
— Eu não conheço essa companhia aérea, mas isso é interessante.
Eu até tentei aprender o inglês básico antes de vir, mas não deu muito certo.
— Se quiser posso te ensinar, enquanto estiver aqui.
— Ah, não. Não quero atrapalhar você, e também irei ficar apenas
alguns dias.
Ela volta a olhar para o lado de fora.
— Foi a primeira vez que vi e mergulhei no mar. — Confessou, com
a voz tão baixa que, se eu não estivesse com os olhos fixos nela, nem teria
escutado.
— Nunca foi nas praias do seu país?
Ela volta a negar.
Noto quando ela respira fundo e volta a me olhar.
— Aqui é tudo muito bonito.
Seus olhos brilham, e agora, olhando assim de perto, percebo que
são castanho escuro.
— Seus olhos são castanhos? — Pergunto curioso.
— Sim. — Responde.
— São muito bonitos.
Posso perceber que o simples elogio sobre seus olhos a deixou ainda
mais tímida.
— Os seus também. — Responde após alguns minutos em silêncio.
Estamos nos fitando, seus olhos não desprendem dos meus, até o
vibrar do meu celular interromper nosso momento.
— Desculpa. — Peço ao pegar o aparelho e verificar quem é; vejo o
nome da minha filha e, claro, que irei atender. — Preciso atender. —
Informo, ficando de pé, quando ela assente. Me afasto e coloco o telefone
na orelha. — Filha? — Falo ao atender.
— Pai, amanhã vou na praia, e queria saber se quer que eu pegue o
Zeus?
Fecho os olhos, aliviado ao perceber que não é nada sério.
— Ele vai adorar. — Respondo.
Zeus é meu aussie[2], um cachorro que surgiu na porta de casa em um
dia chuvoso ainda quando era um filhote; isso já faz mais de seis anos. Ele é
o que chamo de melhor amigo e companheiro para todas as horas.
Ao encerrar a chamada com minha filha, volto ao salão. No entanto,
meus passos cessam quando percebo que a mesa está vazia.
Com o olhar, percorro todo o ambiente até ter certeza de que ela
acabou de fugir.
Que saco, pensei que estava curtindo minha companhia, do mesmo
modo que eu estava curtindo a dela. Talvez tenha sido algo que disse ou
uma situação desconfortável. Respiro fundo, frustrado por não perceber o
que a fez ir embora tão abruptamente.
Luara Almeida
Eu fugi.
Sim, não sei o que aconteceu. Eu simplesmente entrei em pânico e,
quando vi, estava saindo do restaurante e me enfiando em um corredor.
Toda essa situação é nova para mim; o medo de me iludir ou me machucar,
do mesmo modo que acontece com a minha mãe, pareceu explodir na
minha cabeça.
Eu me vi sentada à mesa, esperando por um homem de aparência
belíssima. Ouso dizer que é o homem mais bonito que já conversei. E pelo
modo como ele falou da companhia aérea, dizendo "temos negócios,"
significa que ele é rico, muito mais do que eu havia pensado.
Coloco a mão no peito para acalmar meus batimentos.
Por que eu fugi?
Respiro fundo e passo a mão na testa, que está suando frio. Estou em
um país desconhecido, não deveria deixar o medo me atingir. Não vou me
casar com um desconhecido cujo nome nem sei.
Teria coragem de avançar com ele? Não sei.
Revelaria que só beijei dois rapazes e que foi horrível, e que talvez
eu não saiba beijar? Talvez.
Ou contaria que sou virgem? Provavelmente ele descobriria, já que o
olhar predador dele revelava quais eram suas intenções.
Estou pronta para mergulhar nisso? Uma noite e nada mais? Me
entregar para alguém que nunca mais verei?
Inspiro todo o ar ao meu redor mais de três vezes. Engulo a vontade
de correr e vomitar tudo o que comi e, decidida, caminho de volta até o
restaurante.
Para minha sorte ou azar, o vejo sentado em frente ao balcão do bar,
parecendo pensativo, talvez pensando em quão louca é a moça com quem
estava conversando, que no caso sou eu.
Volto a inspirar o ar ao meu redor. Decidida a viver o que nunca vivi
por medo.
E se ele for um psicopata? Meus passos cessam quando penso nisso.
Não, ele parece ser alguém conhecido aqui.
Volto a caminhar e só paro quando estou na frente dele. Seguro seu
rosto entre minhas mãos, que estão geladas, e junto nossas bocas.
Stefan Moser
Após ter certeza de que ela não vai voltar, decido pelo menos
terminar minha bebida no balcão do bar. Antes mesmo que o barman possa
colocar o copo no balcão, mãos extremamente geladas seguram meu rosto,
e mal tenho tempo de processar quando a boca da garota une-se à minha.
Inicialmente, fico estático, diversas coisas apitando em minha
cabeça. Por que ela me beijaria assim do nada, especialmente em público?
No entanto, ao perceber o quão nervosa ela está, acabo deixando de lado
esses alerta, contorno sua cintura fina com minhas mãos e a puxo em minha
direção.
— É melhor sairmos daqui. — Aviso entre nossas bocas. Fico de pé,
despeço-me do barman e, segurando a mão da garota, começo a nos guiar
até o elevador.
Aperto o botão da cobertura freneticamente, até as portas se abrirem.
Aproximo meu cartão do painel, liberando nossa subida, e no momento em
que as portas se fecham, sou eu quem segura seu rosto entre minhas mãos,
unindo nossas bocas.
Dessa vez, não trocamos apenas um selinho demorado. Aprofundo o
beijo, abro a boca e coloco minha língua para fora. Ela faz o mesmo, e
começamos a nos beijar como se estivéssemos nos devorando. Um tipo de
beijo demorado e molhado que deixa qualquer um excitado.
Tenho certeza de que se eu colocar a mão nela agora, vou encontrá-la
molhada. E só de pensar nisso, sinto meu desejo crescer. Pressiono-a contra
o metal do elevador, afundo meus dedos em seu couro cabeludo e
aprofundo ainda mais o beijo, que, aliás, é o melhor beijo que já tive.
As portas se abrem, e para o meu azar, não é no andar da cobertura.
Rapidamente, me afasto dela, e ofegantes encaramos a senhora que entra e
nos cumprimenta.
Ficamos cada um de um lado do elevador, com a senhora de cabelos
grisalhos entre nós. Estamos ofegantes e excitados, ou a senhora disfarça
muito bem que não está sentindo o cheiro de excitação no ar, ou ela tem
algum problema de olfato e talvez de visão, pois os cabelos da garota estão
uma bagunça.
As portas se abrem novamente, no andar inferior ao da cobertura, e a
mulher sai. Antes de sair, ela se vira e sorri para nós. Então, percebo que ela
estava sentindo muito bem o clima de excitação entre nós dois, antes de nos
interromper.
As portas voltam a se fechar, e quando vou me aproximar da garota,
ela recua.
— Vamos... esperar chegar ao quarto. — Murmura.
Reunindo todo meu autocontrole, recuo.
— Claro. — Jamais forçaria algo que ela não queira. Mesmo que, ao
chegarmos ao quarto, ela diga que não vai rolar, mesmo que eu esteja
ansioso, não forçarei. Tratarei-a bem e estarei disposto a conversar, se assim
ela quiser.
Ela sorri, mas é notável o quanto está nervosa. Ficamos mantendo
uma distância até o elevador abrir na suíte da cobertura.
Entramos, lado a lado, em silêncio. Ela está na minha frente, e
mantendo o respeito, evito olhar seu corpo, mesmo que essa seja a maior
prova que já passei.
— Aqui é enorme. — Falou ao se virar e me olhar. — Você mora
aqui?
— Não, tenho uma casa à beira-mar. Podemos dizer que este lugar é
o meu refúgio, um local onde eu me isolo. — Nunca trouxe uma mulher
aqui. Então, por que a trouxe agora?
A garota me olha como se eu fosse um cara esquisito por ter um
lugar como esse.
— Quer beber algo? — Pergunto.
— Água, está ótimo.
Me afasto e vou até a cozinha pegar a água para ela. Ao voltar para a
sala, a vejo parada em frente a um quadro que pintei.
— Fiz isso para extravasar um pouco. — Informo ao entregar o
copo.
— Você que fez?
— Sim.
— Você é realmente um pacote completo.
Observo ela beber a água, com os olhos fixos em mim sobre o copo.
Ela respira fundo, e me devolve o copo. Ao tocar em sua mão, noto o
quanto ela está nervosa.
— Não precisa ficar nervosa por estar aqui comigo. Não farei nada
que não queira, e se preferir, podemos colocar um filme ou conversar, nos
conhecermos mesmo sem sabermos nossos nomes.
— É que tudo isso é novo para mim... — Novamente ela fala baixo,
quase inaudivelmente.
— Venha comigo, quero te mostrar algo. — Coloco o copo sobre a
mesa de centro, estendo a mão em sua direção, e hesitante ela aceita.
Caminho com ela até a varanda.
— Meu Deus, é um telescópio? — Sua voz fica um pouco mais
animada.
— Sim, que tal observarmos o céu enquanto conversamos?
Ela sorri, aquele tipo de sorriso que alcança os olhos, trazendo um
brilho diferente.
— Eu vou adorar.
Ficamos ali, na varanda, observando o céu estrelado. Aponto o
telescópio para algumas constelações, explicando a mitologia por trás delas.
Ela ouve atentamente, seus olhos brilhando não apenas pela luz das estrelas,
mas também pela curiosidade.
— Ali é a constelação de Órion, o Caçador. Na mitologia grega, ele
era um gigante conhecido por sua beleza e força. — Explico, enquanto ela
observa as estrelas.
— É incrível como as estrelas têm histórias por trás delas. — a
garota comenta, ainda encantada.
— Sim, cada ponto lá em cima tem sua própria história. — Sorrio e
olho diretamente nos olhos dela. — E cada história, por mais antiga que
seja, ainda não é tão fascinante quanto a sua deve ser.
Ela cora levemente, desviando o olhar, mas não consegue esconder o
sorriso. Há um silêncio entre nós, apenas o som suave da noite e o sussurro
do vento na varanda.
— Você veio para a Austrália por alguma razão especial? —
Pergunto, rompendo o silêncio, mas mantendo o tom suave.
— Uma viagem de autodescoberta, eu acho. — Ela responde, com
um meio sorriso. — Sem grandes planos, só queria experimentar algo novo.
— Às vezes, é exatamente isso que precisamos, aventuras
inesperadas. — Olho novamente para o céu estrelado. — E, de repente,
você apareceu na minha vida, tornando a noite ainda mais interessante.
Ela ri suavemente, e nossos olhares se encontram mais uma vez. A
tensão no ar é palpável, a atração mútua inegável.
— Eu... — Ela começa a dizer, mas a interrompo gentilmente.
— Às vezes, as palavras só atrapalham. — Aproximo-me dela, e
nossos lábios finalmente se encontram em um beijo suave.
A suavidade inicial dá lugar à paixão, e nos entregamos ao
momento. É como se o tempo parasse enquanto nos beijamos sob o manto
estrelado. O calor da noite se mistura com a chama que arde entre nós.
É um beijo cheio de promessas, um prelúdio para algo mais
profundo. E enquanto nos afastamos, nossos olhos ainda se encontram,
comunicando mais do que as palavras poderiam expressar.
— Linda... — Murmuro, e ela sorri, selando nosso momento especial
com outro beijo.
Percebo que o nervosismo inicial que ela estava sentindo não está
mais presente, e que está tão entregue ao momento quanto eu.
Deixo minhas mãos deslizarem suavemente por seu corpo,
explorando cada curva enquanto a puxo para mais perto, sem afastar nossas
bocas. Ela suspira contra meus lábios, seus braços envolvendo meus
ombros.
Sinto a necessidade de intensificar o contato e, com ousadia, agarro
suas coxas, levantando-a do chão. Ela entrelaça as pernas em torno do meu
corpo, respondendo ao gesto com um sorriso travesso. O calor do momento
é palpável, criando uma eletricidade que nos envolve.
Com ela em meus braços, decidimos levar nossa paixão para o
quarto. Entretanto, antes de alcançarmos a cama, decido pressionar seu
corpo contra a parede mais próxima. Afasto nossas bocas por um breve
instante, permitindo-me admirar seu rosto, seus olhos repletos de desejo.
O vestido, agora embolado em sua cintura, revela delicadamente a
renda de sua calcinha. O desejo mútuo nos olhares é evidente, e eu sinto
meu coração acelerar com a intensidade do momento compartilhado.
— Eu quero você garota.
Luara Almeida
∞∞∞
Após o banho, visto minha roupa enquanto o observo vestir o traje
social. Ele parece perceber meus pensamentos, e com um sorriso de canto,
que de alguma forma parece carregar uma tristeza, inicia uma conversa que
me deixa surpresa.
— Sei que você deve estar ansiosa para conhecer os lugares, as
pessoas e talvez até se relacionar com outros caras, mas se em algum
momento dos dias que estiver aqui, você se sentir sozinha, ou quiser
companhia, pode vir nesse quarto. — Ele me entrega um cartão, o mesmo
que ele usou para abrir a porta. — Na mesa de cabeceira, ao lado do
telefone, tem anotado meu número. Ligue que virei te encontrar, a qualquer
hora.
Por essa, eu realmente não esperava.
— Obrigada — agradeço, meio atônita. Ele oferece um sorriso de
lado.
Juntos, saímos do quarto e entramos no elevador, agora com uma
distância que não existia na noite anterior. O encaro, admirando sua
elegância, postura e a roupa de alta costura. Se pudesse, tiraria muitas fotos
para lembrar desse dia.
As portas de metal se abrem no andar em que estou hospedada.
Sorrio para ele e saio do elevador, dando alguns passos antes de me virar
para olhar para trás. As portas estão quase se fechando, e tudo o que vejo é
o olhar dele fixo em mim. E eu nem sei o seu nome.
∞∞∞
Estou estirada na cama do quarto em que estou hospedada, enquanto
lá fora o sol brilha intensamente. Aqui dentro, mais precisamente dentro da
minha mente, um turbilhão de emoções compete por espaço. Não consigo
decifrar o que estou sentindo. Será empolgação? Encantamento? Medo?
Maravilhamento? A única certeza é que meu coração bate acelerado, uma
sinfonia desordenada e pulsante.
De repente, coloco as mãos sobre o rosto e, sem conseguir me
conter, começo a rir. A situação parece saída de um filme clichê, aqueles
onde o homem atraente e rico se apaixona pela garota comum. Mas, aos
poucos, meu riso se dissipa.
A realidade é diferente, cruel até. Não estou em um filme nem em
um conto de fadas. Na realidade, sou a garota que ganhou um sorteio e que,
em breve, voltará para casa, onde o medo reina e relações afetivas parece
ficção.
Decido agir, levantando-me de um impulso repentino.
— Não ficarei nesse quarto. Estou aqui para aproveitar cada
momento como se fosse o último. — repito para mim mesma. — Estou na
Austrália, um lugar onde perdi minha virgindade com um homem incrível,
diante do oceano, e ainda não avistei um coala ou um canguru, nem me
deparei com aranhas perigosas ou crocodilos.
Um sorriso determinado se forma em meu rosto enquanto me arrumo
rapidamente para ir à praia. À noite, quando me deitar, sonharei com o
homem bonito e misterioso que cruzou meu caminho.
Chegando à praia, estendo minha toalha na areia e me sento,
contemplando o vasto oceano. Os surfistas aproveitam as ondas, enquanto
ao meu redor, tanto locais quanto turistas, desfrutam do sol, brincam e riem.
Ao fechar os olhos para sentir a brisa suave acariciar meu rosto, algo
áspero e molhado toca minha bochecha. Abro os olhos, e deparo-me com
um cachorro de olhos espertos me encarando.
— Olá! — Cumprimento-o, incerta se ele é amigável ou tem
intenções menos amigáveis. No entanto, ele balança o rabo e estende a
língua.
— Ah, você é bonzinho. — Dou-me a liberdade de passar a mão em
seu pelo, e rapidamente ele se esfrega em mim, arrancando uma risada
minha. Aproveito para enchê-lo de carinho.
— ZEUS! — Alguém grita, e o cão levanta e corre até o chamado.
Uma garota loira, com cabelos ondulados característicos de quem
vive à beira-mar, começa a falar em inglês com o cachorro. Em seguida, ela
se aproxima de mim e continua a falar rapidamente em sua língua, muito
mais rápido do que consigo processar em minha mente.
— I am, no inglês... — Ai, que vergonha.
Ela arqueia a sobrancelha.
— Português. — prossigo. — Brasil.
— Oh, você é brasileira.
Ao ouvir sua resposta em meu idioma, quase sinto vontade de
abraçá-la.
— Sou Zoe Moser. — ela estende a mão, e eu aceito.
— Luara Almeida. — apresento-me. — Então esse bonitão se chama
Zeus. — aponto quando o cachorro volta para perto de mim.
Ela sorri.
— Sim, esse é o cão fugitivo. — ela fala português com um sotaque
encantador.
Zeus parece entender que estamos falando dele e abana o rabo
peludo.
— Está de passeio? — Zoe pergunta, fazendo-me desviar meu olhar
do cachorro para ela.
— Por duas semanas.
— Se precisar de um guia para conhecer os melhores lugares de
Gold Coast, conte comigo.
Apesar de ser alguém que acabei de conhecer, sinto-me segura ao
assentir. Há algo no olhar de Zoe que transmite confiança e familiaridade.
— Vai ser ótimo. Os únicos lugares que conheci foram o restaurante
do hotel e a praia.
Ela sorri.
— Está hospedada no Paradise? — pergunta.
— Sim.
— Não quero soar mesquinha, mas o Paradise é do meu pai.
Abro a boca surpresa.
— Sério? — ela assente. — Você também trabalha lá?
— Não, por enquanto estou estudando na universidade da capital.
— Ah, que legal. — sorrio amigavelmente.
— Posso te chamar de Luara? Sem formalidades?
— Sim, claro.
— Então, Luara, eu preciso ir, devolver esse super cão ao meu pai,
mas se estiver tudo bem, posso passar no hotel mais tarde.
— Por mim vai ser ótimo.
Antes que ela possa se despedir, Zeus escapa novamente e sai em
disparada. Ela acena para mim enquanto persegue o cão fugitivo.
Continuo sentada, observando o mar, mal percebendo o tempo
passar. Poderia ficar aqui todos os dias, apenas apreciando a brisa em meu
rosto e a beleza da paisagem.
— Nos cruzamos novamente. — A voz ao meu lado me faz erguer o
rosto, e não compreendo por que meu coração acelera.
O desconhecido está parado ao meu lado, sem camisa, revelando seu
corpo atlético, e segurando uma prancha de surfe sob o braço.
Luara Almeida
Stefan Moser
Acompanhei a garota, cujo nome desconheço, até o quarto onde está
hospedada. Trocamos beijos deliciosos pelo caminho, e me vi tentado a
entrar no quarto para repetir o que aconteceu, mas resisti. Ela é diferente, e
não quero magoá-la. Por isso, nos despedimos à porta, e eu segui para
minha casa.
Ao longo do trajeto, o sorriso, os olhos e até o nariz pequeno e
arredondado da garota não saíam da minha mente.
Já me envolvi com hóspedes, mas foram casos de uma única noite, e
nada mais. Então, por que com essa garota está sendo diferente? Eu poderia
descobrir o nome dela facilmente, bastava verificar o registro no quarto, no
entanto, optei por não fazê-lo. Essa dinâmica de agirmos como dois
desconhecidos é excitante.
Ao abrir a porta da minha casa, dou de cara com Kylie, sentada no
sofá com uma taça em mãos. Seu olhar se prende em mim assim que passo
pela porta.
— Kylie, lembro de te dar a chave da minha casa em caso de
emergências. — Falo ao fechar a porta às minhas costas.
Ela sorri de forma despreocupada.
— E quem disse que não é uma emergência?
Caminho até a cozinha e pego uma bebida.
— Estou ouvindo, qual seria a emergência que a fez invadir minha
casa?
Ela fica de pé e caminha com passos lentos em minha direção.
Kylie é uma mulher linda, já era assim na adolescência, e o tempo a
deixou ainda melhor. Seus cabelos, antes loiros, hoje são vermelhos vivos.
Seu rosto fino tem o queixo arrebitado.
— Estava em casa entediada e decidi vir aqui. — Ao ouvir sua
resposta, a encaro. — Falar sobre a festa da nossa filha. — Completa.
— Sei.
— É a verdade. — Ela se aproxima ainda mais até que suas mãos
toquem em mim. — E depois dos termos burocráticos, poderíamos relaxar.
— Suas mãos deslizam pela minha camisa, e mesmo que seja algo que
fazemos às vezes, eu a interrompo, segurando seus pulsos, a afasto.
— Hoje não vai rolar. Estou bastante cansado. Amanhã passo na sua
casa e falamos sobre a festa. Hoje realmente preciso descansar.
Ela abre a boca surpresa, mas se afasta, claro que não sem
questionar.
— Stefan Moser negando sexo, essa é novidade. Estou bastante
surpresa. Posso saber o porquê? Nem adianta dizer que está cansado; já
transamos com você exausto após uma viagem de horas.
Levo a garrafa de long neck até a boca, e enquanto sinto o gosto
amargo preencher meu paladar, pondero se devo ou não falar a verdade do
que está acontecendo.
Stefan Moser
∞∞∞
Amanhece e decido ir até a casa de Kylie. Ao chegar, encontro Zoe à
mesa tomando seu desjejum. Me aproximo e a beijo no topo da cabeça.
— Bom dia, filha. Onde está sua mãe?
— Bom dia, pai. Ela está descendo. Junte-se a mim enquanto isso.
Puxo uma cadeira e me sento ao lado dela.
— Quando volta para Sydney? — pergunto, pois Zoe está cursando
artes na capital de Nova Gales do sul.
— Daqui a vinte dias.
— Antes de ir, vamos pegar umas ondas juntos.
Ela sorri animada.
— Eu vou adorar, pai.
Os passos dos saltos de Kylie são ouvidos quando ela se aproxima.
— Olha só, decidiu aparecer cedo. — Ela me beija no rosto, algo que
é costume entre nós.
— Você disse que precisávamos falar sobre a festa, aqui estou.
Zoe se anima.
— Eu fiz uma lista com os convidados. Posso chamar uma pessoa
que conheci na praia?
— Um estranho? — Kylie questiona.
— Mais ou menos, é uma garota que deve ter a minha idade. Ela é
bem legal, chama Luara. Hoje vou chamá-la para dar um passeio.
Encaro minha filha, e quando vou perguntar de onde essa garota é,
Kylie me interrompe.
— Será que não vai ter problema fazermos a festa de Zoe na sua
casa, Stefan?
— Não.
— Eu e o papai já conversamos. — Zoe fala animada.
— Ah, tá. Pensei que agora que ele está namorando...
— Namorando? — Zoe me encara. — Pai, você está namorando?
Nesse momento, percebo o quanto isso parece ser uma notícia ruim
para minha filha, mesmo que minha vida amorosa seja um assunto só meu.
— Não, só conheci uma pessoa, e estou interessado.
— E você e a mamãe? — Ela tem os olhos lacrimejados ao
perguntar.
— Não temos nada, Zoe. Você já está bem crescidinha para saber
que ambos estamos solteiros.
Ela fica de pé abruptamente.
— Eu não quero uma madrasta. Pensei que vocês se gostassem, já
que vivem se pegando.
Também me levanto.
— Já vi que o assunto não era a festa e sim meus relacionamentos.
Não vi essa comoção toda quando sua mãe estava namorando aquele
médico. Eu preciso ficar solteiro o resto da vida?
Zoe encolhe os ombros.
— Eu também não gostava dele.
Respiro fundo e me aproximo dela.
— Independentemente do meu status de relacionamento ou de quem
me relaciono, você sempre será minha prioridade, e meu bem maior. — A
beijo na testa com ternura. — Agora, vou ir trabalhar.
Lanço um olhar que, se pudesse, soltaria faíscas em Kylie antes de ir
embora. Ao entrar no carro, respiro fundo.
— É só o que faltava. Aos trinta e cinco anos ter que dar satisfação
dos meus relacionamentos.
Luara Almeida
Stefan Moser
Fiquei no quarto de hotel andando de um lado para o outro,
pensando se deveria ou não ir até ela, e quando tomei a decisão, não poderia
ter ficado mais surpreso ao encontrá-la no elevador. Ela usou o cartão que
dei a ela e veio até mim. Porra, por que estou me sentindo como um
adolescente?
Agora, estamos deitados na cama, ela aconchegada a mim, e eu
nunca me senti tão bem na companhia de uma mulher.
— Falta pouco para eu ir embora. — ela falou tão baixo que quase
não consegui entendê-la.
Algo que notei, além de sua falta de experiência, é que, mesmo que
ela tente mostrar confiança, ela é insegura. Percebo isso em seu olhar, que
não consegue ficar preso ao meu por muito tempo. Quando tenta, desvia
rapidamente o foco e encara os próprios pés.
— Você gosta de morar no Brasil? — perguntei, e algo em mim
quase implora para que ela responda que não, que ela odeia morar lá, e que
ficaria aqui.
Mas que merda de pensamento é esse? Não me reconheço.
— Sim. — demorou para ouvir sua resposta. — Minha mãe e minha
irmã estão lá, e elas são tudo para mim.
É a primeira vez que a ouço falar algo sobre sua vida, abrindo uma
janela entre nós dois que não existia antes.
Mesmo que seja excitante esse lance de agirmos como dois
desconhecidos, sem nem ao menos sabermos o nome um do outro, sinto a
necessidade de ouvir sair de seus lábios, seu nome, sua idade, o que gosta
de fazer, quais são suas paixões. Acaricio seu cabelo e deixo um beijo em
sua testa.
— Me fale seu nome. — sussurro ao pedir.
Ela levanta o rosto e me encara.
— Eu gosto desse joguinho que temos, mas também quero te
conhecer. — continuo. — E para provar isso, falarei meu nome, e você
decide se revela ou não o seu.
Ela assente.
— Me chamo Stefan.
— Como em "The Vampire Diaries".
Franzo as sobrancelhas, mas me recordo da série que ela está
falando.
— Sim. Espero que entre os dois irmãos, Stefan seja o seu favorito.
— brinco.
— Sinto em lhe dizer que torcia para o Damon.
Abro a boca, fingindo estar ofendido.
Ela volta a se aconchegar em mim, e quando penso que está pegando
no sono, sua voz surge, e travo ao ouvir ela dizer seu nome.
— Luara, me chamo Luara.
Luara... a garota que minha filha vai convidar para o aniversário.
Porra, tinha como isso se tornar menos complicado.
Luara Almeida
Estou em choque.
Como pude me deixar enganar por um rosto bonito?
Ele é casado? Ai, meu Deus, fui a amante dele?
Sinto-me horrível, não acredito. Zoe nunca vai me perdoar, tenho
certeza de que se ela descobrir, me manda embora daqui. Minhas mãos
estão tremendo, todo o medo que por um momento não existia em mim
parece ter voltado pior.
Stefan estende a mão em minha direção, e chego a engolir a saliva
seca que desce raspando. Olho para sua mão estendida e, por um curto
momento, tenho vontade de bater nele. Mas, em vez disso, estendo a minha
e aceito o seu aperto.
— Seja bem-vinda à minha casa. — Ele diz, com os olhos fixos nos
meus.
Puxo minha mão de forma brusca.
— Zoe, onde fica o banheiro? — Pergunto, querendo fugir daqui o
mais rápido possível.
— Vem, vou te levar até lá.
Zoe me guia até o outro corredor.
— Aqui. — Aponta para a porta de madeira escura. — Vou te
esperar lá fora.
Assenti, e antes mesmo dela se afastar, entro no banheiro e tranco a
porta. Apoio as mãos na bancada, e com a cabeça baixa, sinto meus olhos
marejarem.
Como pude ser tão idiota?
Devo ser a pessoa mais burra desse mundo. Fecho os olhos, tentando
me recompor, jogo um pouco de água no rosto, e, claro, a maquiagem que
já quase não tinha, sai com facilidade. Isso que dá não ter dinheiro para
comprar maquiagem de qualidade.
Assim que tenho certeza de que não vou surtar, ou pior, sair correndo
daqui, abro a porta e dou graças a Deus por não ter ninguém no corredor.
Do lado de fora, Zoe está novamente com seus amigos. Timidamente, me
aproximo deles, e é impossível não perceber o pai de Zoe em um canto,
sozinho dessa vez, e pior, com os olhos fixos em mim.
— Luara, o Gutter perguntou o que você mais gosta no Brasil? —
Zoe traduz o que um rapaz de cabelos compridos perguntou.
Forço um sorriso ao responder.
— As músicas são legais. — O que eu poderia dizer? As praias?
Nunca fui. As pessoas? Nem amigos eu tenho.
Eles falam mais alguma coisa, e o Gutter se aproxima de mim.
— Ele pediu para você ensinar a dizer "você é muito bonita" em
português.
O rapaz sorri, e acho que ele está dando em cima de mim.
— Você. É. Muito. Bonita. — Falo pausadamente.
— Vuci é muito bunita. — Ele tenta repetir, me fazendo rir de
verdade.
— Isso. Very good. Congratulations. — Falo, arriscando nas
palavras que aprendi.
Estou distraída rindo quando sinto uma mão nas minhas costas.
— Filha, se importa se eu mostrar umas fotos minhas no Brasil para
sua amiga?
Arregalo os olhos ao ouvir a voz atrás de mim. Como ele pode ser
tão cínico?
— Não, Luara, você vai amar. Meu pai estava em uma praia muito
bonita.
Forço mais uma vez um sorriso e, fingindo estar tudo bem,
acompanho Stefan, que teve o bom senso de tirar as mãos de mim. Quando
chegamos no corredor, falo às suas costas.
— Você deveria ter vergonha.
Ele para e me encara.
— Vergonha?
— Sim, você é casado, um canalha sem vergonha casado.
— É por isso que está me fuzilando com os olhos?
— Você esperava que eu fosse correr e te abraçar?
Ele ri, o que me dá ainda mais raiva, e, ainda rindo, ele volta a
caminhar até chegar em uma porta dupla. Ele a abre, e passo por ele, que
fecha a porta e a tranca.
— Não sei por que trancou. — Resmungo irritada.
Sem eu esperar, ele me puxa em sua direção, fazendo com que
minhas costas se choquem em seu corpo, suas mãos seguram minha cintura.
— Tranquei porque não quero que ninguém atrapalhe o que quero
fazer aqui.
— Não vai acontecer nada, seu traidor.
Ele aproxima a boca da minha orelha.
— Eu não sou casado, Luara. Sou, sim, o pai da Zoe, mas nunca me
casei com a mãe dela. Sou solteiro e desimpedido.
Me afasto, mesmo que meu corpo traidor não queira fazer isso.
— Você sabia que conheci sua filha?
— Sim.
— E por que não me contou?
— Sabia que, quando descobrisse, iria se arrepender do que
aconteceu entre nós. E não estava pronto para lidar com isso, quero dizer,
ainda não estou pronto.
Ele tenta se aproximar, mas recuo. Até ter meu corpo encostado na
mesa.
— Eu não acredito mais em você.
— Eu não menti em nada para você.
— Você omitiu.
Ele continua a se aproximar, até estar tão perto que apenas um palmo
nos separa.
— Luara, eu entendo você ficar assim, mas eu sou um homem
solteiro, e você também, e sou o mesmo que conheceu, o mesmo que
explorou cada pedacinho do seu corpo, lhe deu prazer. Eu sou o mesmo que
foi o primeiro homem na sua vida. Eu sei que o que temos é por tempo
determinado, mas não estou pronto para perder você. — Ele segura meu
rosto entre as mãos.
— Eu não quero magoar a Zoe, entende?
— Sim, e não vamos magoá-la.
Levanto o olhar para fitar o seu.
— Não quero que ela descubra.
— Você tem certeza?
— Sim. Falta pouco para eu ir embora, e não quero partir sabendo
que a única amiga que já tive está chateada comigo. E...
— E?
— Eu também não quero perder você.
— Luara…
Sua boca encontra a minha, em um beijo calmo que vai tomando
uma intensidade maior. Quando percebo, estou sentada na mesa, com as
pernas ao redor do corpo dele.
O vestido embola em minha cintura, sua mão, que já sabe o caminho
para me dar prazer, vai até minha calcinha encharcada. Ele coloca a peça de
lado, e então seu dedo começa a alisar minha carne. Ofego contra sua boca.
— Como eu queria você para mim. — Murmura, e quando seu dedo
me penetra, preciso morder o lábio inferior para não gritar de prazer. —
Linda.
Sua boca encontra a minha, faminta, tirando-me o ar de um jeito que
nunca pensei ser possível.
— Stefan…
— Isso, chama por mim.
Ele afasta a mão, e não demora para que eu sinta seu membro me
invadir. Tombo meu corpo para trás, deitando-me sobre os papéis que
parecem bem organizados. Com uma mão, ele segura minha cintura, com a
outra, aperta meu seio. Seu corpo se movimenta para frente e para trás.
Abro bem as pernas para recebê-lo ainda mais fundo. Ele ergue
minha perna até estar apoiada em seu ombro, e eu nem sabia que conseguia
separar tanto uma perna da outra.
— Stefan…
— Vem, minha linda.
Meu corpo treme, quando mais uma vez ele consegue me fazer ter
um orgasmo, e não demora para ele mesmo encontrar o seu próprio prazer
enterrado em mim. Sinto o líquido quente me invadir, preenchendo-me de
uma forma deliciosamente prazerosa. Ofegantes, permanecemos parados.
— Eu quero você até o último dia que estiver aqui.
Sei que eu queria que ele falasse outra coisa, talvez uma promessa
que nem mesmo ele possa cumprir, mas me apego ao que tem a oferecer.
— Eu aceito.
Após ele sair de dentro de mim, vou até o banheiro que fica em seu
escritório. Estou terminando de me limpar quando escuto uma batida na
porta do escritório. Stefan surge na porta do banheiro.
— Fique aqui, vou falar para Zoe que você já foi.
Assenti, fechando a porta do banheiro. Meu Deus, que situação estou
vivendo, envolvendo-me com o pai da única pessoa que realmente se
mostrou querer ser minha amiga.
Stefan Moser
Olho meu reflexo no espelho mais uma vez, sem ter certeza se estou
verdadeiramente sexy.
Decidi usar a camisola vermelha de seda que Renata colocou na
minha mala, com renda no busto, e uma calcinha fio dental, na mesma cor.
Nunca usei algo assim, mas, faltando tão pouco para minha partida, decidi
que é hora de ser ainda mais ousada. Por isso, vou surpreender Stefan, do
mesmo modo que ele faz comigo.
Coloco um vestido por cima da camisola, pego o cartão da cobertura
e saio em direção ao elevador. Dessa vez, não estou nervosa, pois sei que
ele vai gostar.
Uso o cartão na porta da suíte e entro, começando a me arrumar. Tiro
o vestido, solto o cabelo e começo a ensaiar posições para esperá-lo.
Primeiro, sento no sofá e cruzo as pernas. Depois, fico em pé, com as costas
apoiadas na parede. Decido ir até a cama e esperá-lo deitada, mantendo-me
nisso por um bom tempo. Até que escolho ficar no sofá mesmo, cruzando as
pernas no momento em que a porta se abre.
Meu sorriso surge, pronta para ele me pegar nos braços e fazer com
que eu grite seu nome até minha garganta doer. No entanto, quando ele abre
a porta, em vez de ver um sorriso, ele franze as sobrancelhas.
— Luara, o que faz aqui?
— Vim fazer uma surpresa. — O nervosismo que não estava
sentindo antes surge. — Fiz mal?
Ele tira o terno, caminha até a cozinha e pega uma bebida.
— Não esperava vê-la aqui.
— Quer que eu vá embora? — um nó se forma na minha garganta ao
fazer essa pergunta.
— Foi bom você vir, precisamos conversar.
Pela primeira vez desde que chegou, ele me olha por mais de um
segundo.
— Tá, eu vou só me vestir. — Aviso, pegando o vestido do chão e
correndo até o banheiro.
Coloco o vestido por cima da camisola, e prendo meu cabelo. Ao
retorna, encontro Stefan sentado no sofá, tomo a liberdade de sentar ao seu
lado, mantendo uma distância.
— O que quer conversar?
Ele está com um copo nas mãos, enquanto encara o chão.
— Nem sei por onde começar. — Ele levanta o rosto e me encara. —
É que… — ele leva o copo até a boca e bebe todo o líquido âmbar. — Esse
lugar é o meu refúgio, entende? Não quero chegar aqui para descansar e
encontrar alguém.
Sinto meu coração bater rápido, e meu estômago embrulhar.
— Mas… você me deu o cartão. Eu pensei…
— Eu sei o que pensou, mas te dei o cartão para usar naquele dia, e
me ligar quando estivesse aqui. E não para vir a hora que quiser. Sendo
honesto com você, Luara, o lance que estamos tendo, foi bom, foi gostoso,
mas já sabíamos que era momentâneo, e para facilitar as coisas, vamos
encerrar por aqui.
Se alguém me contasse que isso iria acontecer, eu não iria acreditar.
— Tá bom… — sussurro, sentindo as lágrimas inundarem meus
olhos. Estendo o cartão para ele. — Peço desculpas, por vir sem avisar.
Ele pega o cartão, seus olhos se prendem aos meus. Fico de pé,
sentindo que acabei de ter meu coração esmagado.
Ele também levanta. Penso que vem atrás de mim, dizer que tudo o
que disse não é verdade, mas não escuto seus passos me seguirem, nem
quando abro a porta, nem mesmo quando a fecho às minhas costas. E muito
menos quando entro no elevador. Nem quando desabo em lágrimas assim
que as portas de metal se fecham.
Ele não veio atrás de mim em nenhum momento. E tudo o que ele
disse foi o modo que encontrou para me tirar da sua vida. Por que me sinto
a pessoa mais insignificante do mundo?
Stefan Moser
Porra! Por que fiz isso? Quando Luara saiu pela porta, em desespero,
fui atrás, mas parei, apoiei a testa na madeira, fechei os olhos, e só percebi
que estava chorando quando senti meu rosto úmido.
Tiro meu celular do bolso e ligo para Zoe.
— Está feito. — aviso assim que ela atende.
— Eu vou ver ela, obrigada pai, amo você.
— Tamb… — não tenho tempo de responder, pois ela desliga.
Espero que um dia Luara possa me perdoar.
Luara Almeida
Estou deitada na cama, virada na direção da janela, observando o
tempo do lado de fora, que está nublado. Enquanto lágrimas escorrem em
meu rosto.
Não entendo o porquê me sinto tão machucada; sei que ele foi meu
primeiro, mas foi algo rápido, que eu sabia que não iria durar para sempre.
Então, por que quando ele me afastou, eu senti como se estivesse levando
uma porrada no peito?
Pelo menos eu terei algo para contar quando eu chegar, Renata vai
criar mil e uma fanfics com isso.
Fecho os olhos, tentando apagar da cabeça tudo o que Stefan disse,
quando uma batida na porta me faz abrir os olhos. Será que ele se
arrependeu do que disse?
Com esse pensamento, levanto e corro até a porta, mas ao abri-la,
encontro Zoe.
— Oi. Está tudo bem? — perguntou, sem ter noção de tudo o que
está acontecendo.
— Oh, sim. — tento disfarçar a decepção em não encontrar seu pai
do outro lado. — Entre. — Dou espaço para ela passar por mim.
— Você parece triste, aconteceu algo?
De costas para ela, passo o dorso da mão no rosto, enxugando as
lágrimas.
— Estou sentindo falta da minha família.
O que de fato não é uma mentira. Como eu queria poder deitar no
colo da minha mãe, ou desabafar com Renata.
— Entendo. Quer sair? Hoje vai ter uma festa…
— Não. — a interrompo. — Hoje estou cansada, vou ficar por aqui
mesmo.
Ela me encara.
— Está tudo bem mesmo?
— Sim. — forço um sorriso.
— Então, vou ficar com você aqui, tem problema?
Não quero mentir para ela, e não quero que ela fique chateada
comigo, e sei que se ela permanecer aqui por mais um tempo será o que vai
acontecer.
— Eu estou realmente cansada, vou tentar dormir um pouco,
desculpa não ser a melhor companhia hoje.
Ela sorri, porém, seu sorriso não alcança seus olhos.
— Entendo, amanhã eu venho cedo.
Assenti, enquanto a acompanhava até a porta.
— Acho que meu pai está na cobertura, lembra, que falei que ele é o
dono do hotel?
Sua pergunta faz meu coração disparar.
— Uhum. — respondo ao encontrar minha voz.
— A cobertura é onde ele tira um momento para descansar, eu acho
que às vezes é o lugar onde ele leva as hóspedes do hotel, sabe, para transar,
tipo o matadouro. — Ela ri, mas eu não acho graça. — Vou lá ver se tem
alguém com ele, e depois vou em uma festa.
— Tá bom.
Fiquei parada na porta até ela entrar no elevador.
Ao fechar a porta, lágrimas que segurei enquanto ela estava aqui
escorrem com força. Pois, a cada momento me sinto ainda mais idiota.
Ele disse que nunca levou alguém na cobertura, que eu era a
primeira mulher além de sua filha que já pisou lá, e agora, descubro que é o
lugar onde ele leva as hóspedes.
Canalha.
Como pude ser tão inocente?
Ele, um homem lindo, e ainda por cima rico, claro que teria um lugar
para levar suas conquistas, e que caí como um patinho na sua conversa.
Se antes eu achava que ele havia me magoado, agora eu tenho
certeza disso.
Luara Almeida
∞∞∞
Fiquei no quarto o restante do dia, acordei com meu celular tocando.
Era uma ligação do meu gerente Tiago, que também é um dos donos. No
entanto, quem herdou tudo foi Edgar. Tiago é bem mais jovem que o irmão,
conhecido por ser mulherengo, mas comigo sempre foi gentil e educado.
— Luara, estou ligando em nome da empresa para saber como foi de
viagem. E também estou bastante curioso. — Ao dizer a última frase, ele
riu.
— Foi tudo... tranquilo. — Respondo ao encontrar minha voz.
— Ah, que bom. Edgar queria que você voltasse a trabalhar amanhã,
mas como sou o irmão legal, o convenci a deixar que fique alguns dias em
casa descansando.
Devo agradecer antes de dizer que não sei a hora de voltar, pois não
gosto de ficar aqui?
— Eu agradeço...
— Ih, já prevejo um "mas".
— Mas prefiro voltar quanto antes.
— Entendo, sei que deveria dizer que sinto muito, que queria ver
você descansando. Sendo honesto, fico até feliz.
Franzo as sobrancelhas.
— Feliz? — indaguei.
— Claro, você é uma ótima funcionária e fez falta nesses dias.
— Oh, sim, claro. — Caramba, não acredito que pensei que ele
estava dando em cima de mim. Acho que a viagem me deixou meio lelé da
cuca.
— Enfim, te vejo amanhã.
— Sim.
Ao encerrar a chamada, encaro meu celular. Tiago estava estranho.
Após a ligação do meu gerente, tomei um banho, não tão demorado
como os que tomei no hotel, pois Fernando surtaria e ficaria batendo na
porta do banheiro. Coloquei uma calça de moletom, pois está esfriando
hoje, e uma blusa de manga comprida. Prendi meu cabelo em um rabo rente
à nuca e saí do quarto, pois está na hora do jantar, porém meus passos
travam ao chegar na cozinha e ver que os três já estão reunidos, e pelo que
percebo, acabando o jantar.
— Oh, filha, pensei que fosse dormir após a viagem de avião, por
isso não a chamei. — Minha mãe começa a se levantar, provavelmente para
preparar algo para mim, mas quando vou dizer que não precisa, Fernando
cobre minha voz com a dele.
— Ela não é criança, Maria, deixe que ela mesma vá à cozinha e veja
o que tem para comer.
Minha mãe volta a se sentar, e com os olhos tristes, me encara; forço
um sorriso.
— Tá bom. — Concordo, indo até o fogão, vendo que quase não
sobrou arroz e feijão, e a mistura acabou. Para não deixar minha mãe
chateada, pois sei que Fernando deve ter feito isso de propósito, pego um
copo de refrigerante e bebo.
— Mãe, eu não estou com fome, realmente estou bem cansada.
Posso ver o leve sorriso que Fernando dá.
— Certeza, filha? Eu deixei um bife para você, e como sei que não
gosta de cebola, eu fritei separado.
Meu olhar vai até o prato de Fernando, e lá eu vejo dois bifes com
bastante cebolas e um sem.
— Tenho, sim, mãe. Boa noite! — Saio e volto para o quarto.
Ao deitar na cama, fecho os olhos, sentindo meu estômago contorcer
de fome, já que não comi nada no avião, pois a viagem era muito longa e
tive medo de passar mal durante o voo. E depois o nervosismo para chegar
em casa, acabei não comprando nada na rodoviária de São Paulo.
Fecho os olhos e acabo sendo vencida pelo sono, e foi ao dormir que
sonhei com olhos azuis, prancha de surfe e lamington.
Luara Almeida
∞∞∞
Chego em casa, após o turbilhão de emoções no hospital, e Tiago
está todo feliz. Ele segura minha mão com carinho, e seus olhos brilham de
alegria.
— Luara, preciso conversar com seus pais. Quero formalizar nossa
relação e pedir a sua mão em casamento.
Tudo acontece no automático. Tiago me acompanha até em casa,
sempre simpático e cordial. Paramos em frente à porta e ele continua
segurando minha mão, dando um sorriso encorajador.
— Estou aqui por você, Luara. Vai dar tudo certo.
Entramos, e encontramos Fernando e minha mãe na sala, assistindo
televisão. Eles se levantam quando nos veem.
— Boa noite, dona Maria, senhor Fernando. Preciso conversar com
vocês. — Tiago parece confiante, mas respeitoso.
Fernando cruza os braços, avaliando a situação, enquanto Maria
mantém um olhar mais suave.
— O que deseja, rapaz? — pergunta Fernando.
— Eu amo a Luara. Respeito-a profundamente, e gostaria da bênção
de vocês para pedir a mão dela em casamento.
Fernando me encara, e consigo ver um misto de emoções em seus
olhos. Por um instante, sinto um arrepio, sabendo que ele provavelmente
não gostou da ideia, mas disfarça bem.
— Casamento, hein? Isso é sério? — Fernando parece animado, mas
percebo um leve tom de sarcasmo em sua voz.
Minha mãe parece mais relutante, seus olhos buscam os meus em
busca de alguma resposta. Sorrio para tranquilizá-la.
— Eu... eu acho que é o que eu quero. — Digo, tentando parecer
confiante.
Fernando bate nas minhas costas, como se estivesse comemorando
uma vitória.
— Ótimo! Já estava na hora, não é?
Minha mãe ainda parece insegura, mas força um sorriso.
— Se é isso que vocês querem, então, contem com o nosso apoio.
Tiago agradece, e Fernando o cumprimenta como se fossem velhos
amigos.
No entanto, guardamos para nós o segredo da gravidez. Não
queremos gerar mais preocupações neste momento de aparente
tranquilidade. O sorriso de Tiago, apesar de toda a situação, me faz
acreditar que talvez eu tenha feito a escolha certa.
Stefan Moser
∞∞∞
Saio da farmácia, recém-injetada com mais um contraceptivo, pois
não tenho planos de ter um filho com meu marido, apesar de ele já ter
expressado seu desejo de ser pai.
Chego ao trabalho, e antes mesmo de alcançar o caixa, vejo Tiago
vindo em minha direção.
— Onde você estava? — ele pergunta de forma ríspida, mas baixa o
suficiente para que ninguém ouça.
Mostro a sacolinha da farmácia.
— Estou com dor de cabeça.
Ele me encara por um tempo, e penso que não vai acreditar, até que
ele sorri.
— Está melhor? — sua voz é calma, o oposto do que parecia
minutos atrás.
— Uhum.
Passo por ele e vou preparar meu local de trabalho.
Durante o expediente, sinto o olhar de Tiago sobre mim, como se me
avaliasse, controlasse meus passos, gestos e até mesmo meus sorrisos.
Estou passando as compras de uma cliente animada que puxa
assunto aleatório comigo.
— Espero que esse final de semana faça muito sol, pois farei minha
primeira viagem de avião.
— Ah, que legal. — sorrio para ela, sem parar meu trabalho.
— Meu filho conseguiu um emprego no Rio de Janeiro, naquela
companhia aérea muito famosa... qual é o nome? — ela parece estar
tentando lembrar. — É de um pessoal gringo, acho que da China, não,
lembrei da Coreia.
Meu olhar se desvia da máquina registradora para prestar atenção
nela, pois o que diz chama minha atenção.
— Sky Aire? — pergunto.
Ela sorri animadamente.
— Isso, menina. Meu filho está trabalhando com eles agora, pensa
que chique, e ele me deu uma viagem para Fortaleza.
— Espero que a senhora se divirta muito. Fortaleza é linda, pelo que
vi em fotos. Ficaram trezentos e cinquenta e dois reais e quinze centavos.
— Informo o valor, mas meus pensamentos voam até uma conversa que tive
com Stefan, onde ele fala que aprendeu português devido à amizade que fez
com os donos dessa companhia aérea. Quando ele me contou isso, nem
poderia imaginar que ele viraria meu mundo e me daria a coisa mais
preciosa da minha vida, que é meu filho.
Ao sair do trabalho, acompanhada, claro, por Tiago, ele passa na
casa da minha mãe, onde Darel fica enquanto trabalho.
Durante o trajeto, o silêncio é predominante. Não sei o que deu em
Tiago para ele estar com um semblante tão fechado. Ele estaciona em frente
à casa da minha mãe e fica no carro enquanto vou buscar meu filho.
Ao abrir a porta da sala, vejo Fernando sentado, com uma expressão
semelhante à do homem com quem me casei. Ele também está irritado.
Minha mãe surge da cozinha, com Darel em seus braços.
— Oh, filha, ele acabou de dormir. — ela informa quando o pego.
— Ele deve ter se divertido muito. — falo acariciando o rostinho do
meu pequeno.
— Esse menino só sabe chorar, se isso for diversão, então é, ele se
divertiu muito. — A voz de Fernando me faz encará-lo.
Hoje, eu não tenho medo dele, desde que ele fique bem longe do
meu filho. Falei para minha mãe que não quero que ele pegue Darel nos
braços nem fique sozinho, pois eu não confio nele.
— Lu, que bom que chegou, preciso falar algo com você, é bem
rápido. — Renata surge do corredor, e mal tenho tempo de dizer algo, pois
ela me arrasta até o quarto que um dia dividimos e hoje é todo dela. Ela
fecha a porta e começa a sussurrar.
— O seu gringo está vindo para o Brasil no próximo fim de semana,
e adivinha, ele vai abrir um hotel em São Paulo. A inauguração será no
sábado da próxima semana, você precisa ir até ele.
Meu coração acelera sempre que penso em Stefan.
— Não posso, como eu iria?
— Você tem dinheiro guardado, dá para você ir embora, ficar em um
hotel por um tempo.
— E meu casamento?
— Quando estiver na proteção do gringo, ele vai arrumar centenas
de advogados que vão fazer o idiota do Tiago assinar os papéis. Irmã, essa é
sua chance.
Pondero por alguns segundos, antes de uma batida na porta
interromper meus pensamentos.
— Luara, Tiago está buzinando lá fora. — grita minha mãe do outro
lado.
Minha irmã me olha com expectativa e olhos sonhadores.
— Eu não sei. — sussurro.
— Você tem até a próxima semana para pensar, e quando decidir,
tem meu total apoio e sigilo.
Ela me abraça.
Saio do quarto pensativa, entro no carro de Tiago, que resmunga que
não é meu motorista para ficar me esperando. No entanto, boa parte do que
diz não me interessa, pois a única coisa que consigo pensar é que na semana
que vem Stefan estará no Brasil.
Luara Almeida
∞∞∞
A chegada em São Paulo foi cansativa. Assim que desembarcamos
na rodoviária, conferi o endereço que Renata havia enviado por mensagem,
contendo as informações sobre a localização do hotel Paradise. Este se
encontra distante da rodoviária, o que me leva a decidir pedir um carro por
aplicativo. Antes disso, porém, decido passar pelo banheiro, pois preciso
trocar Darel, que ficou um pouco enjoado durante a viagem.
Ao entrar no banheiro, procuro um fraldário e encontro um
disponível. Coloco Darel no trocador, e ele sorri, olhando para mim.
— Você vai conhecer seu papai, meu amor. — Digo com a voz suave
enquanto o troco; em resposta, Darel brinca, erguendo os pezinhos
rechonchudos. — Você é tão lindo. — Comento ao terminar de vesti-lo. —
Tomara que seu pai esteja no hotel; vamos direto lá, e depois procuramos
um lugar para passar a noite.
Ao sair do banheiro, paro em uma lanchonete para comprar algo para
comer. Opto por uma salada de frutas, que divido com Darel.
— Olha o aviãozinho. — Brinco, incentivando Darel a abrir a boca,
e ele prontamente a abre, pois adora frutas. — Isso, meu amor.
— Com licença. — Uma voz ao meu lado me faz virar o rosto. —
Desculpe interrompê-la, mas posso falar um minuto com a senhora? —
Pergunta uma mulher.
— Claro, o que deseja?
A mulher me encara com olhos cheios de gratidão.
— Eu moro na rua, e estou sem comer desde ontem. Se a senhora
puder comprar algo, pode ser até um pacote de bolacha, estou com muita
fome.
Olho para ela e me compadeço de sua situação.
— Claro. — Ajeito Darel em meus braços, levanto-me e vou até o
balcão da lanchonete. — Escolhe um salgado e algo para beber.
A mulher se anima e faz o pedido. Assim que a atendente entrega a
comida para ela, eu pago. No entanto, ao voltar para a mesa, meu coração
dispara, pois minha mala não está mais lá. Desespero-me ao perceber a
ausência dela.
— Não, não pode ser. — Sussurro para mim mesma, olhando ao
redor em busca da mala.
A mulher nota minha aflição e tenta acalmar-me.
— O que aconteceu?
— Minha mala, ela sumiu. — Respondo, sentindo um aperto no
peito.
A mulher olha ao redor, buscando alguma pista. Vejo um homem
suspeito correndo para fora da lanchonete. Instintivamente, começo a
persegui-lo, ignorando o chamado da mulher para parar. Corro pela
rodoviária, tentando alcançar o ladrão.
— Ei, devolve minha mala! — Grito, mas ele continua correndo.
Desesperada, vejo-o desaparecer na agitação da estação. Percebo que
perdi a mala, contendo minhas poucas posses, documentos e pertences
pessoais.
Meu olhar cai para Darel, ainda nos meus braços. Respiro fundo,
tentando encontrar forças, enquanto seguro a vontade de chorar. A sorte está
do meu lado; a bolsinha com o dinheiro que Renata me entregou está na
bolsa de Darel, que está nas minhas costas. Mas o que vou fazer agora?
Sem documentos, sem as roupas?
Informo a guarda da rodoviária sobre o roubo, o que não pode fazer
nada além de um boletim de ocorrência. Solidários, oferecem-me uma
carona no carro da polícia até meu destino. Entrego o endereço do hotel que
ainda não foi inaugurado, e eles me deixam na porta, em um bairro luxuoso.
Desço do carro, segurando ainda mais firme Darel, sentindo minhas
forças esgotarem. Se Renata estiver certa em suas pesquisas, Stefan está no
Brasil, pois a inauguração é amanhã, e como ela disse, ele precisa vir antes
resolver as coisas.
Na porta giratória de vidro, um segurança está parado. Me aproximo
dele.
— Oi, bom dia. Em que posso ajudá-la? — Pergunta.
— Oi, sei que pode ser estranho o que vou dizer, mas preciso falar
com Stefan Moser, esse é o hotel dele?
O homem me olha franzindo as sobrancelhas.
— Sim, mas não tenho autorização para deixá-la entrar. — Seu olhar
me avalia, e eu nem imagino qual deve ser a minha imagem agora. Pelo
olhar crítico dele, não estou nos meus melhores dias; posso até dizer que
estou no pior dia.
— Por favor, fale que Luara Almeida está aqui, ele sabe quem é. Só
preciso falar com ele.
Ele me analisa e então pega o rádio no bolso, comunicando-se com
outra pessoa.
— Mendes, na escuta?
O rádio faz um barulho antes de uma voz masculina surgir.
— Na escuta.
— Tem uma mulher aqui, chamada Luara Almeida, pedindo para ver
o senhor Moser.
— Não autorizado. O senhor Moser está em reunião, ela tem que
esperar para ver se ele vai querer recebê-la.
— Entendido. — O homem olha para mim. — Você ouviu, e como
conselho, é melhor voltar em outro momento, pois ele pode levar a tarde
toda.
— Não, eu irei esperar. — Falo com determinação.
— Então, sente-se em um dos bancos ali. — Ele aponta para um
banco de madeira em um canto.
Assinto, e com Darel nos braços, vou até o banco. Coloco a bolsa
nele e distraio Darel; por ser uma criança calma, ele não dá nenhum
trabalho.
— Aqui, para vocês aguentarem nesse calor. — O segurança estende
duas garrafas de água gelada.
— Obrigada. — Agradeço ao pegar, e a primeira coisa que faço é
encher a mamadeira de Darel. Não sei até que hora vou ter que ficar aqui,
mas não sairei até falar com Stefan.
Stefan Moser
Faz algumas horas que cheguei, e até agora nada do Stefan sair.
A minha sorte foi que Deus colocou uma pessoa muito boa e gentil
para me ajudar nesse tempo; o segurança, que no início pensei que iria me
expulsar daqui, está sendo um anjo. Ele trouxe mais de uma vez alguns
sanduíches que estão sendo servidos para os funcionários, suco, e até
mesmo na hora do almoço, ele surgiu com um prato de comida, que por
sinal estava ótimo.
Quando me viu trocando Darel aqui no banco, ele gentilmente me
levou até o banheiro que fica no fundo do hotel, onde pude limpar Darel
com mais calma e lavar o rostinho dele para que ele se refrescasse. Também
lavei o meu e até tentei dar uma arrumada no cabelo, que estava uma
bagunça.
Durante o dia, meu celular não parou de tocar. Tiago é insistente, e
quando percebeu o que aconteceu, deve ter enlouquecido.
Ele me mandou algumas mensagens me ameaçando, e até mandou
um e-mail, fingindo preocupação com nossa segurança. Minha mãe me
ligou desesperada perguntando onde estávamos, pois Tiago estava chorando
muito. Ele chegou a dizer para minha mãe que faz um tempo que ando
tendo surtos mentais e que posso colocar a vida do meu filho em perigo.
Claro que minha mãe não acreditou nele, e quando contei tudo o que
aconteceu e como está o meu rosto agora, ela o enfrentou e disse que se ele
aparecer na porta dela vai chamar a polícia. Ele até tentou ser rude com ela,
mas Fernando gritou com ele; pelo menos um monstro enfrentou outro.
Renata disse que até agora não tem notícias de Tiago, e eu até pensei
que ele ia me deixar em paz, até receber uma mensagem de Edgar, falando
que se eu não voltar até amanhã, ele irá acionar a polícia e os advogados da
família, pois Tiago contou toda a história de como eu surtei e como ele não
gosta de mim, acreditou cegamente no irmão.
Por isso, ficarei aqui e falarei com o único que pode me ajudar.
No entardecer, algumas pessoas começam a sair, e cada vez que
escuto vozes na porta giratória, sinto meus batimentos acelerarem, mas a
decepção quando percebo que não é Stefan é grande.
Fico sentada no banco e faço Darel dormir; estou o ninando quando
escuto passos se aproximarem. Quando levanto o rosto e vejo Stefan parado
na minha frente, não sei o que devo fazer.
— Luara… — Ele fala ao dar mais um passo em minha direção. Fico
de pé, pronta para ir até ele, mas assim que levanto do banco, uma mulher,
linda, surge atrás dele e une a mão dela na mão dele. O que me faz recuar.
Eu não estava pronta para vê-lo com outra.
— Querido, você a conhece? — A mulher perguntou, me olhando
dos pés à cabeça, e quando seus olhos se fixam no meu rosto, ela arregala
os olhos, solta a mão de Stefan e se aproxima. — O que houve com seu
rosto? — Perguntou, e pude notar a preocupação em seu tom.
Nesse momento, Stefan parece perceber, pois, por mais que seus
olhos estivessem fixos no meu rosto, ele parece em choque demais para
notar os hematomas.
— Quem fez isso? — Sua voz grossa e potente irrompe o silêncio.
Ele se aproxima e coloca as mãos no meu rosto. — O que aconteceu,
Luara?
— Precisamos conversar, por favor. — Peço, não, na verdade, eu
imploro.
— Sim, vamos agora. — Ele passa a mão no rosto e se vira para a
mulher. — Amelie, vou pedir para alguém levá-la, preciso conversar com
Luara.
Ela assentiu.
— Claro. — Ela passa a mão no meu braço. — Fique bem, querida.
Tentei sorrir, mesmo que por dentro estivesse com ciúmes; no
entanto, a mulher é simpática demais. Ela sai caminhando, deixando-me
sozinha com Stefan.
— Vou pedir para prepararem uma suíte, você precisa descansar e se
alimentar direito.
— Eu estou bem alimentada, o segurança foi atencioso e gentil
comigo.
Ele olha para o homem que está parado na porta.
— Vou gravar bem o rosto dele para depois retribuir o cuidado que
teve com você. Vem, vou te levar lá dentro, e conversaremos melhor.
Darel, que está com o rostinho em meu ombro, se mexe, e como se
reconhecesse a voz do pai, ele acorda e vira seu pequeno rostinho para
Stefan.
Nesse momento, sei que a conversa não precisará nem que eu revele
de quem Darel é filho, pois os olhos azuis de Stefan se arregalam. Ele olha
para o filho, e sei que ele sabe, está óbvio, ele é um xerox dele.
— Luara… o que… mas como… Meu Deus! Ele é meu. — Sei que
não foi uma pergunta, mas mesmo assim, assenti.
— Sim, e agora, preciso que salve Darel.
— Como assim?
Stefan Moser
A sensação de ver o rostinho do menino é avassaladora. É como se o
tempo tivesse se dobrado sobre si mesmo, me lançando de volta à minha
própria infância. Darel é simplesmente uma cópia minha, como se alguém
tivesse retirado um retrato meu quando eu era criança. O impacto é tão forte
que sinto meu corpo congelar, e a palavra "choque" mal descreve o que
estou experimentando.
— Vamos conversar. — Ajudo Luara a pegar a bolsa, e entramos no
hotel. Vou até a recepção, onde estão três funcionários.
— Quero o cartão da suíte presidencial. — Peço, e imediatamente
um dos funcionários começa a fazer o que pedi.
Pego o cartão e conduzo Luara até o elevador. Durante a subida até a
suíte, nenhum de nós falou nada. Continuamos assim até as portas de metal
se abrirem.
— Se você quiser usar o banheiro, fique à vontade.
Vou caminhando até o minibar e pego um copo e coloco uísque.
— Pode ficar nesse quarto; avisarei na recepção para colocarem a
suíte presidencial como indisponível. — Viro o conteúdo do copo de uma
só vez, pois sei que vou precisar desse pouco teor de álcool para a conversa
que virá.
Luara continua parada no meio da sala, e noto como seus olhos estão
cansados, nada parecida com a garota sorridente que conheci na Austrália, e
mesmo assim, é exatamente ela.
Ela abraça o filho como se o quisesse proteger do mundo, o que eu
entendo completamente. Não faço ideia do que ela passou nesses últimos
dois anos.
— Como foi sua gestação? — Pergunto ao parar em sua frente.
— Foi boa, não tive complicações, além de uma anemia no começo.
— Responde com um sorriso tímido. — Darel sempre foi um bebê calmo,
até mesmo dentro da minha barriga.
— Deve ter puxado com você; minha mãe diz que eu era um bebê
agitado, o terror das babás. — Tento falar com a voz humorada, o que surte
efeito, pois consigo um sorriso dela.
— Sim, sempre fui tranquila.
Seguro a mão dela e a levo até o sofá, para sentarmos; a conversa
será longa.
— E quando ele nasceu? Como foi?
Ela sorri ainda mais, e noto que falar do nosso filho é sua felicidade.
— Foi cesárea, fiquei dois dias no hospital, e quando voltei para
casa, minha irmã e minha mãe prepararam uma festinha de boas-vindas
para ele. Foi lindo; ele ama demais elas.
— Eu imagino. Por que não me contou que estava grávida? —
Preciso perguntar; essa questão, entre outras, está entalada na minha
garganta.
Ela respira fundo e desvia o olhar.
— Eu… queria te contar. É o seu direito como pai, mas… — Ela
parece sem jeito.
— Mas?
— Depois que fui embora da Austrália, mantive contato com Zoe. —
Claro que minha filha está envolvida nisso. — Ela sempre foi gentil
comigo, e por um tempo pensei que seríamos amigas. No dia que descobri
que estava grávida, ainda no hospital, ela me ligou, e eu pensei que era um
sinal. Mas quando perguntei de você, ela simplesmente ficou furiosa
comigo, disse que eu precisava parar com a obsessão em você. Eu tentei
falar, mas ela não deixava; desligou a chamada na minha cara e me
bloqueou. Foi ali que percebi que não tinha outra escolha.
— Por isso se casou. — Não foi uma pergunta, mesmo assim ela
assentiu.
— Sim. Minha vida estava à beira de se tornar um verdadeiro
inferno. Eu não sou nada do que viu na Austrália. — Seus olhos voltam a
me fitar, dessa vez, cheios de lágrimas. — Eu sou uma garota insegura,
medrosa, e não tenho amigos além da minha irmã mais nova. Moro com
minha mãe, minha irmã e meu padrasto. Um homem que sempre tive medo,
que fora de casa era um exemplo de ser humano, mas dentro era um
monstro. Quando ganhei a viagem, fiquei tão feliz, pois era uma chance de
viver o inesperado, algo que talvez eu nunca teria a chance de viver. E então
eu o conheci, e quando estávamos juntos, eu me senti eu mesma. — Ela usa
o dorso da mão para enxugar o rosto. — Foram os melhores dias da minha
vida, até que acabou. Voltar para casa grávida, e sem um pai para esse bebê,
seria terrível; eu pensei que não daria conta de cuidar de um bebê sozinha.
Foi quando surgiu Tiago; ele é um dos donos do supermercado em que
trabalho, sempre foi gentil comigo, e estava comigo quando descobri que
estava grávida. E na hora, ele me fez uma proposta, que naquele momento
parecia a melhor escolha; eu só não sabia que ele seria alguém pior que
Fernando.
Estendo a mão e com o polegar acaricio os hematomas.
— Ele fez isso? — Pergunto, controlando para não ir atrás desse
homem e deixar o rosto dele irreconhecível.
Ela assente.
— Ele disse que vai tomar meu filho de mim.
— Esse homem registrou Darel?
Ela nega.
— Não se preocupe, que vou proteger você e nosso filho.
— Você… não duvida da paternidade?
Sorrio para tranquilizá-la e falo com convicção.
— Não, nem um pouco; acredito no seu caráter, e convenhamos, ele
é minha cópia.
Ela sorri em meio às lágrimas.
— Sim, ele é como vê-lo em miniatura.
— Posso segurá-lo? — Pergunto.
— Claro.
Ela aconchega o garotinho, que está dormindo, antes de entregá-lo
com cuidado para mim. Como não sou um pai de primeira viagem, sei
como devo pegá-lo, e assim eu o faço. Pego meu filho e o aconchego em
meus braços. Como se sentisse minha presença, ele abre os olhos. Num
primeiro momento, parece confuso, franze as sobrancelhas loirinhas, como
se questionasse por que não está no colo protetor de sua mãe, então ele
sorri. E foi naquele sorriso que eu soube que, por esse pequeno, dou minha
vida sem hesitar.
Stefan Moser
Como Luara foi roubada na rodoviária, ela não tinha nenhuma troca
de roupa para usar após o banho. Por isso, fui até o hotel onde estou
hospedado e peguei minhas coisas. Decidi que não vou sair de perto dela e
do meu filho; por esse motivo, fiz checkout e levei minhas coisas até a
suíte.
Entreguei uma camisa minha, que nela vai parecer um vestido, e um
short de moletom que tem ajuste na cintura. Ela tomou um banho, e
enquanto isso, fiquei brincando com Darel. Como ela disse, o pequeno é
bonzinho e amoroso, me fez rir como há muito tempo não o fazia.
Eu só não estava preparado para ver Luara usando minhas roupas,
com o cabelo molhado surgir na sala. Por um momento, fiquei paralisado
com a visão, e precisei desviar o olhar para parar de babar.
— Pedi para entregarem o jantar. — Aviso pegando Darel nos
braços.
— Obrigada. — Agradece, e completamente sem jeito, ela caminha
até a mesa e se senta.
— Pedi para uma das funcionárias comprar algumas roupas para
você amanhã, assim que o comércio abrir. Ou se você preferir ir escolher...
— Está ótimo. — Me corta com um sorriso fino, e noto aquele brilho
no olhar, o mesmo que teve quando estava experimentando frutos-do-mar
no restaurante.
— Como não sei o que Darel pode comer, esperei você.
— Ele ama frutas, e também estou começando a dar comidinhas para
ele. A pediatra dele disse que agora que ele está com quatro dentinhos,
posso ir acrescentando alimentos além do leite. Ele ama gelatina.
— Pelo visto ele tem um gosto único, já que tanto eu quanto você
adoramos doce.
Ela sorri.
— Sim.
Ficamos nos olhando.
— Você não vai jantar? — Indagou.
Assenti, mesmo que eu não esteja com fome. Sentei-me à mesa,
ainda com Darel nos braços, e em vez de me servir, fiquei olhando Luara
comer.
O que essa garota sofreu para chegar até aqui? As coisas que
enfrentou para proteger nosso filho, e tudo poderia ter sido diferente se eu
tivesse descoberto antes que ela estava grávida.
Após o jantar, Luara deu um banho em Darel e preparou o leite dele,
o colocou na cama, cercado por edredom, pois ela disse que ele se mexe
bastante. Colocou ele de lado, deu a mamadeira e usou uma manta para
cobri-lo.
— Desse jeito ele dorme rapidinho, e como ele ficou no meu colo o
dia todo, estar em uma cama macia é como um sonífero. — Informou na
porta do quarto.
— Você também deve estar cansada.
— Sim.
Ela fica parada no batente da porta, e nenhum de nós dois parece
querer se afastar.
— Se precisar de algo, estou aqui.
Ela sorri, e quando penso que ela vai se afastar, ela dá um passo em
minha direção, contorna meu corpo com seus braços, coloca a lateral do
rosto em meu peito e me abraça.
Em um primeiro momento, fico sem reação, mas me dou conta de
que estou com a garota que esteve em meus pensamentos durante dois
malditos anos, e que enfrentou coisas horríveis, e tudo o que ela precisa
agora é que eu seja seu porto seguro. Por isso, coloco os braços sobre seus
ombros e acaricio seus cabelos.
— Estou aqui, Luara, e não irei embora sem vocês.
Escuto seu choro baixo.
— Você promete?
— Sim. — Não hesito em respondê-la. — Prometo.
— Obrigada, Stefan. — balbuciou. — Por estar aqui, e não me
mandar embora.
Seus braços em minha volta apertam-me ainda mais.
— Nunca iria te mandar embora. — Sussurro.
Não sei quanto tempo passou até que ela se afastasse, mas quando o
fez, de cabeça baixa, ela entrou no quarto e fechou a porta.
Continuei parado no mesmo lugar, sem reação, e ainda sentindo seu
cheiro. Fecho os olhos e passo a mão no rosto.
Volto até a sala, pego meu celular e ligo para meus advogados,
explico a situação e peço que encontrem uma solução, pois quero registrar
meu filho o mais rápido possível, e que Luara assine o divórcio, pois eu
nunca vou permitir que aquele homem que ousou levantar a mão para ferir
seu rosto se aproxime dela. Usarei todo o recurso que o dinheiro pode
proporcionar para dar um fim nesse inferno que a garota está.
Luara Almeida
Acordo com Darel me chamando, ele estava me empurrando e
gritando "mama".
— Oi, meu amor. — Acaricio o rostinho sorridente dele. — Ontem
foi um dia e tanto, em.
Ele ri, como se entendesse tudo o que estou dizendo.
Pego meu celular para ver a hora e me assusto quando vejo que já
são nove horas.
— Meu Deus, filho, dessa vez dormimos muito.
No entanto, quando olho novamente para o meu celular, encontro
dez chamadas perdidas da minha irmã, cinco chamadas da minha mãe e
uma mensagem estranha de Tiago.
"Querida, tudo o que peço é que volte em segurança com nosso
filho, sei que você não está bem, mas juntos vamos superar tudo. Por favor,
não faça mal a esse menino, eu lhe imploro, volte."
Estranho sua mensagem e decido ler a da minha irmã.
"Aquele filho da puta armou para você, irmã. A polícia bateu aqui
hoje, dizendo que estão te procurando, ele falou que você está com surtos
mentais, e que se machucou e feriu Darel. Não atenda ele, e nem
responda."
Decido responder Renata.
"Irmã, encontrei Stefan, e ele prometeu que vai cuidar de tudo, e não
vai deixar Tiago se aproximar."
Ela não demora a visualizar, e em poucos segundos recebo sua
resposta.
"Eu sabia, ele te ama."
Sorrio com a imaginação fértil da minha irmã. Ele não me ama; ele
só está protegendo o filho.
Levanto da cama, e quando chego na sala, sou surpreendida por uma
arara de roupas para mim, brinquedos para Darel, além de andador, bebê
conforto, uma cadeirinha para ele comer e muitas outras coisas.
Com Darel nos braços procuro por Stefan, mas não o encontro. Em
vez disso, encontro um bilhete na mesa, sob uma bandeja de café da manhã.
"Tive que sair cedo para a inauguração. Na hora do almoço eu volto
para almoçarmos juntos. Não se preocupe, estão seguros aqui, e meus
advogados já estão resolvendo tudo."
Por que não consigo desmanchar o sorriso ao ler essas palavras?
Coloco Darel na cadeirinha e sento à mesa; sobre a bandeja está um
café digno de cena de filme, com frutas, torradas, geleia, suco, café, e tem
até uns brigadeiros.
Após comer, estendo um tapete felpudo no chão. Pelo jeito, Stefan
pensou em tudo. Coloco Darel e dou os brinquedos para ele se divertir.
Enquanto isso, olho as roupas na arara.
São lindas, mil vezes melhores das que eu tinha na mala. Tem
vestidos, calças, shorts, blusas, e até mesmo lingerie de qualidade. E tudo
na minha numeração. Decido pegar um vestido de alcinha, na cor azul, e
usá-lo.
Hoje sei que as coisas vão ser diferentes, e sinto que serão melhores
do que ontem.
Stefan Moser
Deixar Luara e Darel para trás foi difícil; eu queria estar lá quando
eles acordassem. No entanto, não podia ignorar meu compromisso com a
inauguração do hotel. Deixei avisado para minha equipe que no horário do
almoço precisarei me ausentar.
Meus advogados me ligaram quando estava entrando no elevador,
para avisar que Tiago Martin, o sujeito que ergueu a mão para ferir Luara,
fez uma denúncia alegando que ela sofre de transtorno mental e que, duas
noites atrás, ela bateu no próprio rosto e agrediu o filho. Vou provar que ele
está errado e colocá-lo atrás das grades.
Ao sair do elevador, encontrei Amelie.
— Oh, que bom que desceu, estou tentando falar com você pelo seu
celular e não estou conseguindo. — Ela se aproxima e me dá um rápido
selinho. — E como a garota está?
— Cansada, ela e o filho estão descansando. E sobre o celular, eu
deixei ele na sala, e só o peguei hoje quando estava vindo para cá.
— Entendi, sem problemas. Vamos? — Ela apoia o braço no meu, e
caminhamos até o hall do hotel, onde já se vê a movimentação. — Esse
hotel vai abalar essa cidade.
Assenti, não tão empolgado como deveria, já que tudo o que consigo
pensar é em Luara e meu filho. E falando em Darel, eu preciso falar com
Amelie e contar que acabei de descobrir que tenho mais um filho.
Pessoas começam a se aproximar, me cumprimentando, elogiando a
estrutura do hotel, e ainda preciso posar para fotos, o que não é minha praia.
Estou conversando com um político que veio prestigiar a
inauguração quando, pela visão periférica, vejo o segurança do dia anterior,
o mesmo que ajudou Luara.
— Com licença. — peço ao homem, afastando-me e indo até o
segurança.
— Oi, bom dia. — O cumprimento, fazendo-me olhar.
— Bom dia, senhor.
— Qual o seu nome? — pergunto.
— Gabriel Silva, senhor.
— Silva, quero agradecer pelo que fez ontem pela mulher e o bebê.
— Não tem o que agradecer, senhor. No começo eu pensei que era
alguém querendo pedir algo, mas ao ver o quanto falar com o senhor era de
extrema importância para ela, não pude fechar os olhos, e deixá-la passar
fome ou sede. Também tenho uma mulher e dois filhos.
— Mesmo assim, quero agradecer. Em breve você e todos aqui vão
descobrir a importância daquela mulher na minha vida, e por isso não se
espante ao ver o valor que irá cair em seu pagamento, e peço descrição de
sua parte com os demais.
Ele arregala os olhos, e por um momento penso que vai chorar.
— Senhor, eu...
— É o meu modo de retribuir. — Aperto seu ombro. — Bom
trabalho.
Deixo o homem para trás, emocionado. Provavelmente os cem mil
que vou pessoalmente depositar na conta dele vão fazer a diferença em sua
vida.
— Pai! — Meus passos travam ao ouvir a voz de Zoe. Viro meu
corpo, e é impossível não a olhar incrédulo, já que ela disse que não viria
devido às provas na faculdade. Ela corre até mim e me abraça. — Viemos te
prestigiar.
— Viemos? — Mesmo feliz em ver minha filha, é impossível
ignorar o plural de sua frase.
— Sim, eu e a mamãe.
Olho para trás dela e vejo Kylie entrando. Para o meu espanto, ela
coloriu o cabelo de preto, e parece que colocou extensões, já que ele está
quase na cintura. Franzo as sobrancelhas, pois, diante de tudo que preciso
resolver, lidar com a mãe da minha filha não estava nos meus planos.
— Stefan, espero que nossa visita o deixe feliz, foi uma viagem
longa e cansativa. — Ela fala ao parar na minha frente com um sorriso
largo.
Por um momento, tenho vontade de falar que não posso lidar com
elas agora, mas nunca iria mandar minha filha embora. Mas, caramba,
quando ela ver Luara aqui vai surtar, e vai ficar ainda pior quando descobrir
que tem um irmão.
— Claro, estou feliz que vieram. — Respondo por fim.
— Ih, lá vem ela. — Murmura Zoe, referindo-se a alguém atrás de
mim, e eu não preciso ser um gênio para saber de quem ela está falando.
Amelie para do meu lado, como sempre, estampando um sorriso
simpático.
— Olá, Zoe e Kylie, como estão?
Zoe revira os olhos, e ganha uma encarada minha, ciente de que não
gosto desse seu comportamento.
— Oi, Smith. — Kylie responde, usando o sobrenome de Amelie
para cortar qualquer tipo de intimidade entre elas. No entanto, esse gesto
parece não afetar Amelie.
— Que bom que vieram. No restaurante está sendo servido um
brunch, fiquem à vontade.
— É o hotel do meu pai, não preciso da sua autorização para ficar à
vontade.
— Zoe, pare. — Peço, mas em tom de autoridade.
— Tanto faz. — Ela dá de ombros, e é nesses momentos que percebo
o quanto ter tudo fácil a hora que quiser está tornando minha filha em uma
mulher mesquinha e mimada. — Pai, estamos cansadas da viagem, pode
pedir o cartão da suíte presidencial.
— Essa suíte já está com hóspedes, vou levá-las até um quarto que
não está ocupado. — Falo, e me viro em direção a Amelie. — Vou levá-las,
pode cuidar das coisas na minha ausência?
Ela assentiu.
— Claro. Foi bom ver vocês. — Amelie usa um tom de provocação
antes de se afastar.
Respiro fundo, torcendo para que até o final do dia eu esteja em sã
consciência para lidar com o que realmente precisa da minha atenção.
Após acomodar Kylie e Zoe em um dos quartos, retorno ao evento e
vou imediatamente me desculpar com Amelie, que está conversando com
alguns funcionários.
— Amelie. — A chamo ao parar ao seu lado.
Ela se vira com um enorme sorriso.
— Acomodou elas?
— Sim, e quero me desculpar pelo comportamento delas.
— Stefan, você precisa parar com isso. Se desculpar pelas coisas que
sua filha, que já é adulta, faz, não torna as coisas mais fáceis; pelo
contrário, ela vai crescer pensando que tem controle sobre você e que
qualquer coisa que fizer errado, tem o pai para resolver por ela.
— Você tem razão.
— Sim, eu tenho.
Olho para a mulher na minha frente, que desde que a conheci se
mostrou um ser humano incrível, gentil e atenciosa, e percebo que preciso
ser honesto com ela. Por mais que ela seja tudo isso que eu disse, é por
Luara que meu coração bate forte.
— Podemos conversar no meu escritório? — Pergunto.
Ela sorri.
— Sim, mesmo que eu já saiba o que vai dizer. Eu não sou cega,
Stefan. Ontem vi o rostinho do garotinho, é como um reflexo seu. E o modo
como olhou a garota foi tão puro, cheio de paixão. Por mais que estar com
você seja maravilhoso, pois, sim, você é o homem dos sonhos, não quero
que se sinta mal por querer viver o amor.
— Você realmente existe?
— Sim, e sou uma raridade. — Ela beija meu rosto. — Vá ao
encontro dela e do seu filho, que eu cuido das coisas aqui, e se sua filha
aparecer, direi que precisou se ausentar. — Sussurrou no meu ouvido.
— Espero que um dia encontre alguém que mereça uma mulher
como você.
— Digamos que não estou procurando no momento, mas se os céus
ouvirem seu desejo e quiserem realizá-lo para mim, não negarei.
Beijo sua testa.
— Obrigado.
Me afasto, sentindo-me leve. Não por terminar as coisas com
Amelie, mas sim porque agora, posso ir ao encontro daquela que ocupa
cada pensamento meu. Se ela me quiser, eu nunca sairei do seu lado.
Adentro o elevador e pressiono o botão da suíte presidencial; sinto
uma ansiedade adolescente tomar conta de mim. Fecho os olhos enquanto o
elevador sobe. Foram duas semanas, um período que nunca saiu da minha
mente. Foram dois anos em que desejei esquecê-la. Agora, finalmente,
posso realizar o que anseio desde o momento em que a vi pela primeira vez.
As portas do elevador se abrem. Respiro fundo e encaminho-me para
recuperar aquilo que nunca deveria ter deixado partir da minha vida.
Luara Almeida
∞∞∞
Estamos deitados no sofá, os corpos ainda se recuperando da paixão
que compartilhamos momentos atrás. Ambos sorrindo, satisfeitos, enquanto
a sensação de proximidade e cumplicidade nos envolve.
Aconchegados, trocamos olhares cheios de significado, como se
nossos olhos se comunicassem em um idioma exclusivo.
De repente, o silêncio é interrompido pelo som insistente do celular
de Stefan. Ele se estica para pegar o aparelho e, com um gesto rápido, ativa
o viva voz. A voz de Zoe, surge.
— Pai, onde você está?
— Ocupado, Zoe. Vou até o seu quarto mais tarde para
conversarmos.
— Ocupado com o quê? Tem algo tão importante assim?
Stefan hesita por um momento, troca um olhar rápido comigo e
responde:
— Não dá para discutir isso pelo telefone. Vamos conversar
pessoalmente.
A chamada é encerrada, e Stefan suspira profundamente. Eu acaricio
seu rosto suavemente, oferecendo um apoio silencioso.
— Não vai ser fácil falar com ela sobre nós, Luara. Ela é minha
filha, e...
— Eu entendo, Stefan. Não precisa se explicar.
Nossas mãos se entrelaçam e nos beijamos, fortalecendo o laço
recém-descoberto entre nós.
O beijo é a expressão mais sincera do que sinto por Stefan. Seus
lábios contra os meus criam uma conexão intensa, e por um instante, o
mundo ao nosso redor desaparece. O toque dele é uma promessa de amor e
compromisso, e eu me entrego a cada sensação.
Entretanto, o choro suave de Darel quebra a magia do momento. A
realidade da maternidade se faz presente, e eu me afasto rapidamente de
Stefan, vestindo o robe que estava ao alcance. Ele compreende
imediatamente a situação e me segue até o quarto onde Darel está.
Ao entrarmos, vejo o pequeno no berço, agitado e soluçante. Pego-o
nos braços, acalentando-o com carinho enquanto Stefan se aproxima,
preocupado.
— O que aconteceu, meu amor? Por que está chorando?
Darel olha para o pai com os olhinhos cheios de lágrimas, mas assim
que Stefan o pega no colo, uma transformação ocorre. O rosto do nosso
filho se ilumina com um sorriso adorável, e as lágrimas dão lugar a
risadinhas contagiantes.
— Parece que alguém está feliz em ver o papai. — Comento,
sorrindo.
Stefan, segura Darel com habilidade, faz caretas engraçadas e emite
sons brincalhões, arrancando gargalhadas do nosso filho. O momento é tão
puro e repleto de ternura que meus olhos se enchem de lágrimas de
felicidade.
Após alguns momentos de ternura na sala, Stefan dedicou um tempo
a brincar com Darel. Seu sorriso ao interagir com o pequeno era tão
encantador que parecia pintar a sala com tons mais vibrantes.
No entanto, o dever chamou, e Stefan anunciou que precisava partir.
Ele me entregou Darel e dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho e se
recompor.
Aos poucos, o som da água que caía no chuveiro preenchia o
ambiente. Enquanto isso, eu aproveitei para acalmar Darel, garantindo que
ele ficasse confortável.
Stefan emergiu do banheiro, vestindo uma nova roupa, fresco e
revitalizado. Seus olhos encontraram os meus, e um sorriso suave se formou
em seus lábios.
— Volto assim que eu resolver tudo com ela. — prometeu.
Ele se aproximou para se despedir, trocando olhares de carinho com
Darel, depositando um beijo suave na minha testa.
Fiquei a observar sua saída, experimentando um frio na barriga,
temerosa quanto à possível reação de Zoe. Contudo, recuso-me a permitir
que a insegurança me domine.
Stefan mal saiu e meu celular tocou, exibindo um número
desconhecido.
Atendo e, instantaneamente, reconheço a voz de Tiago ameaçando:
— O que é seu está guardado, se não voltar ainda hoje, é melhor dar
adeus à sua família, pois não vou medir esforços para mandá-los para o
inferno. — Sem tempo para responder, ele encerra a chamada
abruptamente.
O desespero toma conta de mim, e seguro Darel nos braços,
correndo para fora do quarto. A necessidade de contar a Stefan sobre essa
ameaça iminente é urgente.
Entro no elevador, sentindo meu corpo tremer com o medo de que
aquele monstro possa fazer algo terrível à minha família. No entanto,
quando as portas se abrem no décimo terceiro andar, descubro que há outra
questão urgente para resolver: Zoe está parada bem diante de mim.
Luara Almeida
Stefan Moser
Caminho até onde Zoe está, seu olhar fixo em Luara, logo se desvia
para mim.
— Como você pode? — Começa a gritar, e o que eu mais detesto é
escândalo. — Pai! — grita ainda mais, quando a seguro pelo braço e
começo a levá-la para o escritório.
— Se você não calar essa boca, nunca mais vai ver um dólar do meu
dinheiro.
Percebo que falar de dinheiro a faz se calar, o que de certa forma me
decepciona, pois acabo de perceber o quanto minha filha só pensa no
dinheiro, e não nas pessoas.
Entramos no escritório, e eu tranco a porta.
— Vocês tiveram um filho, eu não vou dividir minha herança com
esse bastardo.
Rio, ironicamente, e de pura decepção.
— Eu ainda estou vivo, e você pensando na sua herança? Quando se
tornou essa pessoa? Como eu nunca vi como minha própria filha era
mimada e egoísta.
Ela dá de ombros.
— Não sou nada disso que está falando, só quero que pense no meu
futuro. Quando você morrer, vou ter que dividir tudo com esse menino.
— Caralho, Zoe. Você se escuta? Porra, garota. Presta atenção no
que está me falando, sério, pare e pense. Você consegue medir a dimensão
das suas palavras?
— Ai, pai, para, não precisa desse drama todo.
Fico olhando para ela, pensando na sorte que ela tem por eu nunca
ter levantado um dedo em sua direção. Talvez tenha sido isso que faltou, ou
eu que agi muito protetor, sempre fazendo suas vontades.
— As coisas vão funcionar assim a partir de hoje…
— Não quero sa…
— CALA A BOCA QUE EU ESTOU FALANDO! — grito, e pela
primeira vez a vejo não me retrucar. Me aproximo dela, parando bem em
sua frente. — As coisas serão assim, vou continuar pagando sua faculdade,
seu material escolar, e só. Se quiser comer, sair para se divertir, e continuar
morando naquele apartamento em Sydney, vai precisar trabalhar…
— O quê?
— Não é para isso que está estudando? Ou é só para ir em festas?
— Você não pode fazer isso, e nem dizer o que devo fazer, eu já sou
adulta.
— Sim, e por ser adulta vou lhe tratar como tal. Quer roupa nova,
trabalhe, quer ir em restaurantes, trabalhe, quer morar em um apartamento
de luxo, trabalhe. E se você não arrumar um emprego em duas semanas,
não vou mais pagar seu curso.
Ela arregala os olhos.
— Se fizer isso, eu peço para mamãe.
— Pede, é? Então vamos a mais uma novidade, eu pago uma pensão
para sua mãe, de livre e espontânea vontade, mas se ela interferir nisso, e
quiser custear sua vida glamourosa, eu irei parar de pagar, e ela ficará sem
dinheiro, por sua culpa. Aposto que ela não vai querer perder isso. Então,
agora, cresça, e tente ser mais humilde, pois se eu não lhe ensinei isso
quando mais nova, vai aprender agora.
— Tudo porque agora tem outro filho.
— Não Zoe, independentemente se tenho outro filho, eu amo você,
mais do que ontem, e amanhã mais do que hoje. Eu te amo tanto, que não
quero que você seja uma pessoa que as pessoas só queiram se aproximar
pelo dinheiro. Eu não quero vê-la entrar em um mundo obscuro, por más
escolhas, eu quero o seu crescimento, como ser humano.
Me aproximo dela, e acaricio seu rosto.
— Eu te amo, filha, mas a partir de hoje, as coisas serão diferentes,
mas o que nunca vai mudar é o meu amor por você.
Lágrimas escorrem em seu rosto, então eu a abraço.
— Eu odeio você, a Luara e aquele menino. — murmurou, me
abraçando ainda mais.
— Não, você não nos odeia, e um dia, você fará de tudo para
proteger aquele menino que diz desprezar, você só precisa conhecê-lo.
Ela nada diz, mas ficamos no abraço por mais um tempo, até ela se
afastar.
— Vou procurar minha mãe, e iremos embora, e nunca mais quero
ver vocês. — Diz, e antes que eu possa impedi-la, ela sai batendo a porta.
Inspiro fundo, e sinto meus olhos arderem, pois o que fiz foi
pensando no bem dela, e um dia ela vai reconhecer isso. É o que espero.
Stefan Moser
Ele assente, e saio da casa, deixando que eles resolvam isso, mesmo
que seja preciso usar violência.
Fico no carro, e não demora nem meia hora para que os homens
saiam da casa, e o chefe da segurança se aproxime me entregando o papel
assinado.
— He won't say anything about what happened today. (Ele não dirá nada
sobre o que aconteceu hoje) — Informa.
Assinto.
— I need to go somewhere else. (Eu preciso ir para outro lugar) — Aviso,
entregando o endereço da casa da mãe de Luara.
Stefan Moser
Luara Almeida
∞∞∞
Alguns dias se passaram, e finalmente, os documentos de Luara
estão prontos. Ela pode embarcar para a Austrália, e em breve, se ela disser
sim, iremos nos casar. Nunca estive tão feliz em toda a minha vida. Só falta
minha filha para que esse momento se torne completo.
Luara decidiu ir até Verdejante para se despedir de sua família. Para
garantir sua segurança, enviei alguns homens de confiança para
acompanhá-la, já que não pude ir devido a alguns compromissos aqui no
hotel.
Como partirei em breve, preciso deixar tudo em ordem. Já escolhi
um representante para ficar à frente na minha ausência. Espero voltar
algumas vezes ao ano para ver o hotel, e também para Luara visitar sua mãe
e irmã.
Hoje, como planejado, estou cheio de reuniões e análises para fazer.
Estou no escritório quando a secretária bate na porta.
— Senhor, a senhora Moser está aqui.
Franzo as sobrancelhas, pois não me lembro de minha mãe avisar
que estava a caminho.
— Mande-a entrar.
A secretária assente e se afasta. No entanto, ao abrir a porta,
descubro que a tal "senhora Moser" é Kylie, que, para mim, já estava bem
longe daqui.
— Só pode ser brincadeira. — Falo assim que ela entra e tranca a
porta. — Posso saber com que direito você se identificou como Moser?
— Stefan, já me recebeu melhor, hein? Lembro que alguns anos
atrás, quando eu aparecia no seu escritório, perdíamos algumas horas
fazendo aquilo que você sabe fazer muito bem.
— E que eu me lembre, eu era solteiro naquela época, o que não é o
caso hoje. Estou em um relacionamento, se ainda não se deu conta.
Ela se aproxima, dá a volta na mesa, e quando vai colocar as mãos
em mim, a impeço.
— Não faça isso, pode se arrepender amargamente.
— Vai fazer o quê? Tirar minha pensão? — Ela ri. — Stefan, quando
Zoe me contou que disse isso, juro que caí na gargalhada. Eu não preciso do
seu dinheiro, querido.
— Ótimo ouvi-la dizer isso. Já pedirei que meus advogados cortem a
pensão.
Ela revira os olhos, recua e então se afasta, tomando assento em uma
das cadeiras em frente à minha mesa.
— Quando vai acabar esse casinho com a garota? Já não enjoou?
— Percebo com quem Zoe puxou. Você se escuta? Não é possível.
Ela ri de forma sarcástica.
— Só estou sendo realista, querido.
— Pare de me chamar assim. — Falo com rispidez. — Kylie, pelo
respeito que sempre tivemos um com o outro, pare com isso. Estou cansado
de lidar com pessoas que agem de forma egoísta, que ignoram os outros.
Será que aquele respeito que prometemos sempre ter um pelo outro pode
continuar?
Ela me encara como se eu estivesse falando outro idioma além do
inglês.
— Você ficou tão chato. Vem, vamos relembrar os velhos tempos,
transamos aqui, e ninguém nunca fica sabendo, principalmente a sua
garotinha.
Fico de pé, e posso ver a expectativa dela a cada passo que dou em
sua direção. No entanto, seu sorriso desaparece quando seguro seu braço,
fazendo-a ficar de pé, e a levo até a porta.
— A partir de hoje, só fale comigo a respeito da nossa filha,
entendeu? — Abro a porta e a coloco para fora.
— Você não está falando sério.
— Sim, estou. — Faço um gesto com a mão para os seguranças se
aproximarem. — Espero que tenha tirado suas coisas do quarto, pois a
partir de hoje, está proibida de entrar nesse hotel. — Os seguranças se
aproximam.
— Deixa que eu sei onde fica a saída, e para mim, é a melhor coisa.
Farei, como Zoe disse, manter distância de você. Só não vem implorar por
nós quando essa sua fantasia acabar.
Ela se afasta, sendo escoltada pelos seguranças. Passo a mão no
rosto no momento em que fecho a porta. Só espero que agora tenha
acabado.
Luara Almeida
∞∞∞
Chegamos à casa dos pais de Stefan, e eu me pego ansiosa na porta,
com uma mistura de nervosismo e curiosidade. Stefan, como sempre,
demonstra seu carinho ao acariciar meu rosto.
— Será que eles vão gostar de mim? — Pergunto ao parar na porta.
Ele sorri e continua a acariciar meu rosto com o polegar. — E tem
como não gostar? E saiba que minha mãe já te ama, só por eu te amar.
Sinto meu coração se aquecer diante dessa declaração. Stefan
realmente sabe como me surpreender. Será que isso é uma amostra do
tratamento que ele recebeu dos pais? Dizem que é possível conhecer a
índole de alguém observando como ele trata seus pais.
— Pronta? — Ele pergunta.
Assinto, mesmo que uma parte de mim ainda sinta uma pontinha de
nervosismo. Nunca conheci os sogros, e não sei o que esperar dessa
primeira experiência. Stefan abre a porta, e entramos em um hall amplo e
espaçoso.
Caminhamos até a área externa, onde encontro um lugar encantador,
com uma piscina olímpica, espreguiçadeiras e guarda-sóis. Mais adiante,
vejo os pais de Stefan entretidos na cozinha ao ar livre, preparando algo que
exala um aroma delicioso.
Como ainda não fomos notados, aproveito para observá-los enquanto
nos aproximamos. Ambos são altos, assim como o filho, e percebo a origem
da estatura de Stefan. Além disso, são loiros, sendo que o senhor Moser
exibe alguns fios grisalhos, enquanto a senhora Moser mantém o loiro
impecável.
— Mãe, pai. — Stefan os chama, e quando nos veem, seus sorrisos
acolhedores me tranquilizam um pouco.
— Vocês chegaram. — A senhora Moser fala empolgada ao se
aproximar. — Então esse é meu netinho. — Darel parece reconhecê-la,
estendendo os bracinhos e se jogando nos braços dela. — Oi, lindo. Eu sou
sua vovó. — Ela usa um tom de voz amoroso, depois levanta os olhos para
mim. — Você deve ser Luara.
— Olá. — Tento responder em inglês, praticando o idioma que
venho aprendendo.
Ela se aproxima e me abraça, ainda com Darel nos braços, que se
joga em minha direção, e acabamos rindo com a interação.
— Ei, seu pequeno traidor, não pode ver o colinho da mamãe, né? —
Brincou com Darel, que ri e abraça minha cabeça.
— Venham, cheguem aqui, a comida está quase pronta. — O pai de
Stefan nos chama, e nos aproximamos dele.
Acompanhamos os pais de Stefan até a área da churrasqueira, onde
aromas tentadores preenchem o ar. O pai de Stefan, o senhor Moser,
supervisiona orgulhosamente a grelha, enquanto a senhora Moser, sua mãe,
continua a mimar Darel, fazendo-o sorrir com suas brincadeiras carinhosas.
— Vocês devem estar cansados da viagem. — Ela diz enquanto me
entrega Darel. — Sintam-se em casa.
Stefan puxa uma cadeira para mim, e nos acomodamos em volta da
mesa de madeira. A atmosfera é descontraída, e os pais de Stefan fazem
questão de nos deixar à vontade. Darel, entusiasmado, explora o novo
ambiente, encantado com cada detalhe.
— A vista daqui é incrível, não é mesmo, amor? — Stefan comenta,
e eu assinto, admirando o horizonte que se estende diante de nós.
— Sim, é maravilhosa. — Respondo, absorvendo a serenidade do
momento.
Os pais de Stefan, em um gesto acolhedor, compartilham histórias
sobre a infância dele, mostrando fotos antigas e rindo de lembranças
familiares. É um vislumbre do passado de Stefan que, até então, eu
desconhecia.
Durante o jantar, somos tratados com pratos deliciosos preparados
pelo senhor Moser, revelando seu talento culinário. A senhora Moser,
sempre atenciosa, faz questão de garantir que Darel esteja confortável e
bem alimentado.
Ao longo da noite, as barreiras iniciais desaparecem, e percebo que
os pais de Stefan são genuinamente acolhedores. As preocupações e
nervosismos iniciais começam a se dissipar diante da calorosa hospitalidade
deles.
Stefan Moser
Há alguns dias, recebemos a notícia sobre a morte de Fernando.
Luara está tentando convencer sua mãe e irmã a virem morar aqui. Renata
parece empolgada com a ideia de viajar de avião e conhecer um novo país,
enquanto a senhora Almeida está relutante. Ela diz que sua vida está toda na
casa dela e que não abrirá mão.
Enquanto isso, meus pais estão apaixonados pelo neto e pela nora.
Minha mãe já puxou minha orelha sobre eu ainda não ter feito o pedido de
casamento. Eu farei, mas será em um momento especial, só nós dois.
Estou em Sydney, resolvendo assuntos sobre o hotel, acompanhado
do meu assistente.
Após uma manhã agitada de reuniões e encontros de negócios, eu e
meu assistente decidimos ir até um restaurante almoçar. Eu só não esperava
que, enquanto estava comendo, veria minha filha entrar na companhia de
mais duas amigas.
Sorrio ao vê-la, já que faz um bom tempo que ela se afastou, mas ao
me ver, a animação que estava desaparece. Ela me encara com raiva, e
penso até que vai me ignorar; em vez disso, ela caminha até onde estou.
— Papai, que surpresa. — Se fosse em outra época, pensaria que
estava sendo gentil, mas o tom usado, o sorriso debochado, mostra sua real
intenção.
— Sim, faz bastante tempo. Como você está? — Tento ser sucinto
nas palavras.
— Como se você se importasse.
E lá vamos nós de novo.
— Sim, eu me importo, Zoe.
— Tanto faz, ficou sabendo da novidade? Minha mãe vai se casar, e
adivinha, vai embora para Dubai.
— Não sabia.
— Só mais um dos meus pais me abandonando por uma nova
família, nada a que eu não esteja acostumada.
— Ninguém está te abandonando; são suas atitudes que afastam as
pessoas. Sabe que é bem-vinda na minha casa.
— Sou mesmo? Duvido. — Ela olha para as amigas que estão
esperando. — Preciso ir; não encontramos mesa. E esse lugar também é
muito caro.
— Conseguiu um trabalho?
— Sim, não tive muita escolha, não é? Estou trabalhando como
secretária na Crawford.
— Oh, isso é ótimo. Tristan é um velho conhecido.
— É, ele é rico e egocêntrico. Insuportável.
Fico a olhando enquanto ela fala, e minha filha não imagina o quanto
senti falta dela.
— Zoe, vamos. — Uma das garotas grita.
— Vou indo nessa. Um dia talvez eu vá até vocês.
— Ficaremos felizes em recebê-la.
— Ta. — Ela me olha um pouco sem jeito, se inclina e me abraça.
Antes de sair correndo, como se tivesse feito algo errado.
Se minha filha conseguir manter o emprego, pode aprender muito
com Tristan.
Luara Almeida
Darel está na casa dos avós, pais de Stefan, que estão apaixonados
pelo neto. Após deixarmos o pequeno lá, Stefan disse que tinha uma
surpresa para mim, pediu que eu colocasse uma roupa fresca e ficasse
descalça.
Animada, tomei um banho e escolhi um vestido azul longo de seda,
com alcinhas finas. Optei por não usar sapatos como ele pediu. Prendi o
cabelo em um rabo no topo da cabeça. Ao me ver pronta, fui de encontro a
ele, que já estava vestindo uma calça caqui e uma camisa social branca,
com os primeiros botões abertos.
Aproximei-me e o abracei, e ele comentou:
— Você está maravilhosa.
— E você não está nada mal. — Respondi. — Aonde vamos?
— É surpresa. — Ele respondeu, segurando minha mão e me
levando até o deque. Ao chegarmos lá, fiquei boquiaberta. Na areia, havia
uma tenda armada, com panos brancos, um tapete no chão e muitas
almofadas. Ao lado, uma mesinha repleta de quitutes.
— Uau, Stefan, que lindo.
Nos dirigimos até a tenda, onde ele me ajudou a me sentar, e então
pegou o lamington.
— Esse doce foi o primeiro que comemos ao nos conhecermos, e eu
disse que sabia fazer.
Meus olhos brilharam. Abri a boca e ele colocou um pedaço do doce
nela. Suspirei ao sentir o sabor.
— Que delícia.
— Sim, uma delícia. — Ele respondeu com malícia, fazendo-me
corar.
Desfrutamos das delícias dispostas sobre a mesa na tenda na praia,
rindo e compartilhando momentos que ficariam gravados em minha
memória. O ambiente aconchegante, a brisa suave e o som das ondas
criavam uma atmosfera mágica.
Enquanto provávamos diferentes iguarias, Stefan segurou minha
mão, olhando-me nos olhos com um brilho intenso.
— Luara, desde que você entrou na minha vida, tudo mudou para
melhor. Você trouxe luz, amor e felicidade. Não consigo mais imaginar meu
futuro sem você ao meu lado. Por isso, hoje, neste lugar especial onde nossa
jornada começou, quero fazer uma pergunta muito importante...
Meu coração começou a acelerar enquanto ele se ajoelhava diante de
mim, tirando uma pequena caixa do bolso.
— Luara Almeida, você aceita se casar comigo?
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e eu mal
conseguia conter a emoção.
— Sim, Stefan. Mil vezes sim!
Ele sorriu, colocando delicadamente o anel em meu dedo. O brilho
da joia refletia o amor que sentíamos naquele momento.
— Eu te amo mais do que as palavras podem expressar. Mal posso
esperar para construir um futuro juntos, como marido e mulher.
Ficamos ali, abraçados, celebrando o amor que nos unia. O som do
mar testemunhava o início de uma nova fase em nossas vidas, repleta de
promessas e sonhos compartilhados.
Stefan Moser
Hoje é o dia.
O dia em que Luara e eu decidimos unir nossas vidas de uma
maneira mais profunda, mais significativa. A atmosfera está repleta de
emoções, e o cenário parece feito sob medida para testemunhar o nosso
amor. Estamos prestes a embarcar em uma jornada que vai além das
palavras, uma jornada que escreveremos juntos, capítulo por capítulo.
A cerimônia acontece em um local à beira-mar, com o sol se pondo
no horizonte, pintando o céu com tons de rosa e laranja. Luara está
deslumbrante em seu vestido de noiva, um verdadeiro reflexo da beleza que
existe em seu coração. A brisa suave do oceano acaricia nossos rostos
enquanto nos posicionamos diante do altar improvisado, decorado com
flores brancas e luzes suaves.
As palavras do celebrante são como música, criando uma trilha
sonora para o momento único que estamos prestes a compartilhar.
Quando chegamos ao momento dos votos, o mundo ao nosso redor
parece desaparecer. Luara segura minha mão, seus olhos fixos nos meus, e
começa a falar com a voz suave carregada de emoção.
— Stefan, desde o momento em que nossos caminhos se cruzaram,
eu soube que minha vida estava prestes a mudar para sempre. Você é a luz
que iluminou os cantos mais escuros do meu coração, trazendo calor,
alegria e amor. Hoje, diante de todos, eu quero prometer que estarei ao seu
lado em todos os momentos, nos dias ensolarados e nas noites escuras.
Prometo ser sua companheira, sua amiga, sua amante, e construir juntos um
futuro cheio de risos, superações e cumplicidade.
Suas palavras tocam minha alma, e ao receber a palavra, tento conter
a emoção que ameaça transbordar. Respiro fundo antes de começar a
expressar meus sentimentos.
— Luara, minha vida, minha inspiração, hoje, diante de todos, eu
reafirmo meu compromisso de amar você em todos os momentos. Você
trouxe cor à minha existência, transformando-a em uma obra de arte
vibrante. Prometo ser seu refúgio nos dias de tempestade, seu companheiro
nos dias de sol. Juntos, enfrentaremos desafios e celebraremos conquistas.
Sua felicidade será minha prioridade, e seu coração, minha casa. Eu te amo
mais do que as palavras podem expressar, e estou ansioso para construir
uma vida inteira ao seu lado.
À medida que as palavras fluem, percebo que não estamos apenas
trocando votos, mas estamos selando um pacto de amor eterno. O som de
aplausos suaves ecoa ao nosso redor quando trocamos as alianças,
simbolizando o início de uma nova jornada, nossa jornada.
A festa está em pleno andamento, risos e música preenchem o ar
enquanto poucos convidados, a maioria conhecidos meus, celebram o nosso
amor. Infelizmente a família de Luara não conseguiu vir.
Em meio à alegria da celebração, um momento inesperado acontece.
Zoe aparece no horizonte da festa, usando um vestido verde que destaca sua
beleza. Seus olhos encontram os meus, e há algo diferente neles desta vez.
Ela se aproxima com uma expressão que mistura nervosismo e
determinação.
— Papai, posso falar com você? — Zoe pergunta, desviando o olhar
para Luara, que observa a cena com curiosidade.
— Claro, Zoe. O que foi? — Respondo, abrindo espaço para uma
conversa que poderia mudar muita coisa.
Zoe respira fundo antes de começar.
— Eu... Eu tenho refletido muito, e percebi que fui egoísta e cruel.
Eu machuquei você e a Luara com minhas atitudes, e quero pedir desculpas.
Não quero ficar sozinha, e entendi que a vida não gira em torno de mim.
Fico em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. É um
passo importante para ela reconhecer seus erros.
— Zoe, é um grande passo reconhecer isso. — Digo, sentindo uma
mistura de alívio e esperança.
Zoe então se vira para Luara, que observa com compaixão em seus
olhos.
— Luara, sei que te tratei mal, que fui rude e cruel. Eu realmente
sinto muito por tudo. Você merece ser feliz, e eu nunca deveria ter
atrapalhado isso.
Luara olha para mim, e eu assinto, encorajando-a a responder.
— Zoe, todos cometemos erros. Espero que possamos seguir em
frente. — Luara diz, surpreendendo Zoe com sua gentileza.
Zoe percebe finalmente o pequeno Darel nos meus braços.
— Esse é... meu irmãozinho? — Ela pergunta, seus olhos brilhando
com curiosidade e ternura.
— Sim, Zoe. Este é o Darel. — Respondo.
Ela se aproxima e estende os braços para acariciar suavemente a
cabeça do pequeno.
— Ele é adorável. — Zoe murmura, e por um instante, percebo que
estamos começando a curar velhas feridas e construir um novo começo para
a nossa família.
Luara Almeida
A noite se desenha no horizonte, e o céu ganha tons de laranja e rosa
enquanto Stefan e eu deixamos para trás a festa e nos dirigimos para a nossa
lua de mel. Darel está seguro com seus avós.
Chegamos à casa à beira-mar, que agora é nosso refúgio especial.
Stefan, cavalheiro como sempre, segura minha mão enquanto caminhamos
pela areia macia. O som suave das ondas quebrando cria uma trilha sonora
romântica, e a lua se ergue no céu, iluminando nosso caminho.
Ao entrarmos na casa, tudo está à luz de velas, criando uma
atmosfera acolhedora e apaixonante. Stefan me abraça suavemente, seus
olhos azuis refletindo o amor que ele sente. O perfume de velas aromáticas
preenche o ar, e a suavidade da música clássica ao fundo envolve nossos
sentidos.
Subimos a escada para o quarto, que está decorado com pétalas de
rosa espalhadas sobre a cama king-size. As cortinas estão levemente
balançando com a brisa noturna, e as estrelas se tornam testemunhas
silenciosas da nossa celebração de amor.
Stefan se aproxima de mim, e nossos olhares se encontram em uma
troca silenciosa de promessas. Ele acaricia meu rosto com ternura, e então,
lentamente, ele começa a desfazer os botões do meu vestido. Cada toque é
carregado de amor e desejo, e eu me entrego ao momento, deixando a roupa
cair ao chão.
Sua boca acaricia meu ombro exposto, e lentamente ele começa a
descer seus beijos. Ajoelhado as minhas costas, ele segura as laterais da
minha calcinha, e a desliza para baixo. Com o rosto rente em minhas
nádegas, ele inspira fundo entre elas, lentamente vou inclinando meu corpo
para frente, expondo-me para que possa explorar cada pedacinho meu.
Stefan fica de pé, segura meu rosto e me beija.
— Minha para sempre. — Sussurrou.
Com facilidade ele me levanta do chão, e me leva até a cama, onde
tenho meu corpo deitado.
Observo enquanto ele tira sua roupa. Ao ficar nu, ele se aproxima, e
deita seu corpo sobre o meu.
Ao sentir seu membro deslizar por minha entrada, suspiro,
agarrando-o pelos ombros.
Nossos corpos encontram o ritmo perfeito do prazer, naquele
santuário privado, descobrimos novas formas de nos amar. A lua observa
nossa união, e as estrelas parecem cintilar mais intensamente, como se
celebrassem esse momento mágico.
No abraço sereno da noite, Stefan e eu nos tornamos um só, perdidos
no êxtase do amor que transcende todas as palavras. A lua de mel se
transforma em um capítulo memorável, gravado em nossos corações para
sempre.
Luara Almeida
Um ano depois
[1]
Personagens da duologia Made in Korea.
[2]
"Aussie", se refere ao Pastor Australiano, Apesar do nome, a raça não é originária da Austrália,
mas sim dos Estados Unidos, onde pastores australianos foram usados para cuidar de rebanhos.
Os Pastores Australianos são conhecidos por sua pelagem densa e ondulada, frequentemente com
manchas distintivas e uma variedade de cores.