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Copyright © 2024 Tay G

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Primeira edição 2024.

Bebedouro/Sp

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sem a prévia autorização da autora.

Autora: Tay G.

Título: Em Minhas Memórias

Essa é uma obra de ficção. Nomes, personagens e lugares são frutos da imaginação da autora ou

usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, ou eventos reais é mera

coincidência.
Sumário
Notas da Autora
Prólogo
1
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Bônus
Olá, que alegria estar aqui, compartilhando mais uma história com
vocês.
Antes de tudo, quero expressar minha gratidão a Deus, pois sem Ele,
nada seria possível. Deus é grandioso!
Agora, vamos lá.
Se está procurando por um drama bem elaborado, com situações
realistas, esta história é indicada para você.
A história surgiu em um dia em que eu estava escrevendo um
romance completamente diferente. No entanto, Luara e Stefan estavam
gritando tão alto em minha mente que senti a necessidade de falar sobre
eles. Então, dei uma pausa na outra história para me concentrar nessa.
Sendo honesta, escrevi as primeiras páginas duas vezes. Na primeira
tentativa, não estava me encontrando ali; parecia que me perdi nas loucuras
que rondam minha mente. Mas, com calma, encontrei meu caminho
novamente. Abri um novo arquivo e recomecei do zero.
Neste romance, vocês vão conhecer uma mocinha como nós, meros
mortais, que trabalha diariamente, mas sonha com uma reviravolta em sua
vida. Imaginem ganhar um sorteio para um país como a Austrália e viver o
impossível? Sim, meus amores, é isso que nossa protagonista vai
experimentar.
Contudo, nem tudo são flores, e a vida dela não é fácil. Portanto,
estejam preparados para uma história com um toque de choque de
realidade. Mas, fiquem tranquilos, porque aqui, vamos encontrar um
empresário bilionário, lindo, gostoso e carinhoso.
Espero sinceramente que vocês apreciem a história e, se possível,
deixem seus comentários ao final.
Desejo a todos uma excelente leitura.
Luara Almeida

Nunca imaginei que meu maior medo pudesse se materializar diante


dos meus olhos. Eu era ingênua demais, até mesmo tola, confesso. Como
pude acreditar que ele seria diferente?
Ele fez promessas de uma família, assegurando que seria um pai
exemplar para o bebê que crescia em meu ventre, mesmo não sendo seu.
Eu me entreguei à ilusão, preferindo acreditar na ideia reconfortante
de um futuro afetuoso e generoso, em vez de encarar as consequências de
revelar que estava grávida de um homem que jamais veria novamente. Um
homem que persiste não como um devaneio ou fruto da minha imaginação,
mas como uma realidade indiscutível, registrada no meu ventre como prova
tangível.
Ele não é o homem com quem me casei, mas viverá eternamente em
minhas memórias.
Luara Almeida

Se eu pudesse expressar um desejo neste dia especial, o qual é o meu


aniversário, pediria por um refúgio na minha vida, um lugar onde eu
pudesse ser verdadeiramente eu mesma, sem receios do que os outros
pensariam e, claro, sem medos.
Hoje, completo vinte e um anos, uma idade que deveria ser
celebrada com alegria, mas, em vez disso, encontro-me trancada no meu
quarto, enquanto meu padrasto discute acaloradamente com a minha mãe do
lado de fora. Ao meu lado, está minha irmã de quinze anos, Renata, que
repousa com a cabeça em meu colo. Posso ouvir seus soluços, seu choro
silencioso, enquanto acaricio seus cabelos.
É difícil compreender por que minha mãe tolera ser tratada dessa
maneira. Fernando, pai de Renata, é um homem rude dentro de casa, mas ao
atravessar o portão, revela-se completamente diferente.
No exterior, ele assume um personagem de alguém disposto a ajudar,
sempre presente quando alguém precisa, sorridente e trabalhador. Aqui
dentro, porém, ele se transforma em algo como um diabo: arrogante e
estúpido.
Dentro de casa, suas palavras são leis, e para viver sob o mesmo teto,
devemos acatar suas regras, especialmente eu, que não compartilho seu
sangue.
Ao contrário de Fernando, meu falecido pai, que partiu quando eu
tinha apenas três anos, era uma figura amorosa.
Minha mãe sempre o descreve como um exemplo de homem e pai, e
até hoje sente sua falta. No entanto, após sua morte, ela se viu desamparada.
Sem emprego e morando de aluguel, Fernando cruzou seu caminho.
Inicialmente, Fernando parecia ser uma boa pessoa, mas testemunhei
a primeira agressão e, mesmo após a violência, minha mãe justificou que o
importante era ter um teto sobre nossas cabeças e comida na geladeira.
Cresci em meio a xingamentos, agressões e falsidades. Quando
adolescente, comecei a intervir, mas fui agredida por ele. Minha mãe,
mesmo sendo vítima, saiu em minha defesa, mas os gritos e lamentos
vindos do quarto indicavam o sofrimento dela.
Após os episódios violentos, Fernando agia de maneira afetuosa,
pedindo para eu o chamar de pai, mimando minha mãe com passeios e
presentes. Ao questionar por que ela não o denunciava, minha mãe afirmava
ser feliz, tratando as agressões como algo comum entre marido e mulher,
como se tivesse sofrido uma lavagem cerebral.
Presenciar tudo isso me transformou em uma pessoa reservada, sem
amigos, receosa de me aproximar de qualquer pessoa, pois o medo de
encontrar alguém como Fernando é avassalador.
Atualmente, trabalho em um supermercado renomado em
Verdejante, interior de São Paulo, tentando passar despercebida com a
cabeça baixa.
A comunicação é restrita ao necessário, e meu comportamento
parece não incomodar os demais. Entro em uma rotina silenciosa, onde os
dias se desenrolam como uma película monótona, pintada em tons de cinza.
No entanto, dentro do meu silêncio, guardo sonhos inexprimíveis e uma
centelha de esperança por um futuro onde a verdade e a liberdade sejam
minha realidade.
— Irmã, eu só queria ir embora daqui. — sussurrou Renata.
— Um dia, nós vamos. Eu prometo.
Ela ergue o tronco para me encarar.
— Ontem, a Yasmin disse que queria um pai como o meu, atencioso
e gentil. — Revira os olhos. — Eu quase contei a ela o monstro que ele é, e
o quanto eu o odeio.
— Não diga isso. O ódio é um sentimento ruim. — mesmo que eu
mesma sinta esse ódio por Fernando.
Ela volta a deitar a cabeça em meu colo. Do lado de fora, os
xingamentos cessam, indicando o fim da discussão.
Ao atingir meus quinze anos, confrontei Fernando, ameaçando expor
publicamente suas ações violentas. Afirmei possuir evidências do mal que
ele nos causava. Desde então, ele não ousou me agredir novamente. Minha
mãe alega que, mesmo quando ele chega em casa irritado, nunca mais a
agrediu. No entanto, a veracidade disso é incerta, pois sempre que ele
demonstra raiva, ela nos instrui a mim e Renata nos retirarmos.
— Ele parou. — murmurou Renata.
— Sim.
— Já pensou se você fosse a contemplada no sorteio? — Renata fala
sobre o sorteio que um dos donos do supermercado, onde trabalho, está
promovendo: uma viagem com tudo pago para a Austrália.
— As chances são mínimas; são muitas pessoas participando. Eu
diria que na urna existem milhares de nomes.
— E o seu pode ser o escolhido.
Sorrio e bagunço seus cachos loiros.
— Não me iluda. — brinco, pois não tenho nem um pingo de
esperança de que vou ganhar. — Agora, vamos sair desse quarto.
Ela assente, e juntas saímos. Encontramos nossa mãe na cozinha,
preparando o jantar. Ela se vira e sorri.
— Renata, corte a cenoura para mim, e Luara, prepare a salada
verde. — diz fingindo que está tudo bem.
Seguimos as instruções dela e, na hora do jantar, nos sentamos à
mesa. Fernando ostenta um semblante fechado, devorando a comida de
boca aberta, um hábito que me incomoda bastante, mas tento ignorar.
— Como está indo na escola, filha? — Ele pergunta. Renata
responde animadamente, compartilhando todos os detalhes das suas
atividades escolares, contente com o mínimo de interesse que ele demonstra
por ela.
Levo uma garfada de salada verde à boca e, enquanto mastigo, meu
olhar percorre a mesa. Sinto os olhos de Fernando sobre mim, mas ele
desvia rapidamente.
Observo minha mãe, que parece sem apetite, remexendo a comida de
forma despretensiosa. Ela esqueceu que hoje é meu aniversário, não a
culpo, considerando tudo que enfrentou durante o dia.
No final da noite, deitada no quarto que compartilho com Renata,
fico encarando o teto. Sinto uma lágrima solitária escorrer, e enquanto fecho
os olhos, faço um pedido em pensamento: Que eu seja a vencedora do
sorteio e que possa viver algo inesperado.
O vento suave entra pela janela entreaberta, carregando consigo o
cheiro da noite. Uma calma aparente preenche o quarto, contrastando com o
caos que vivemos diariamente. Meu coração anseia por uma mudança, por
algo que quebre a monotonia da vida. A viagem para a Austrália, caso eu
seja a sortuda, seria como um sopro de ar fresco, uma oportunidade de
escapar do sufocante ambiente que chamamos de lar.
Aconchego-me nos lençóis, perdendo-me em pensamentos sobre as
possibilidades que a vida pode oferecer. Mesmo diante das adversidades,
ainda carrego a chama da esperança, alimentada pela vontade de um futuro
diferente.
Luara Almeida

Estou no caixa do supermercado, concentrada em meu trabalho. O


dia promete ser agitado devido ao sorteio, e a expectativa paira no ar. Além
da viagem com tudo pago para a Austrália, há uma variedade de outros
prêmios, desde utensílios de cozinha até dinheiro.
A agitação das pessoas é evidente, e a euforia se espalha
rapidamente. Vez ou outra, algum cliente compartilha suas esperanças
enquanto passo os produtos pelo leitor de código de barras. Sem saber
exatamente o que dizer, limito-me a sorrir de forma educada, absorvendo a
atmosfera carregada de expectativas.
Entre os bip-bips das compras registradas, as conversas animadas
sobre os possíveis prêmios preenchem o ambiente. Alguns clientes trocam
palpites sobre quem será o grande vencedor da viagem à Austrália,
enquanto outros discutem a utilidade dos utensílios de cozinha em jogo.
À medida que o dia avança, o clima festivo contagia a todos. A
energia positiva se intensifica, transformando o supermercado em um lugar
vibrante e animado. Por trás do caixa, continuo a sorrir, absorvendo a
alegria e torcendo secretamente para que, entre tantos clientes animados, eu
seja a sortuda a conquistar o inesperado.
Quase no término do dia, o senhor Edgar Martin, encarregado do
sorteio, emerge para fora segurando um microfone. O ambiente está
ricamente decorado, pois a ocasião não é comum: celebram-se os dez anos
desde a inauguração do supermercado Aurora, que agora possui filiais
espalhadas pelo Brasil.
Quando anunciaram a viagem para a Austrália, despertou estranheza.
Por que não uma viagem pelo litoral brasileiro? O próprio senhor Martin,
em resposta a alguns funcionários curiosos, explicou que a família Martin
iniciou-se na Austrália, com seu avô australiano, que se casou com uma
brasileira. Ele revelou seu amor pelo país e contou que todo ano viaja com a
família para visitar parentes em Sydney.
O vencedor do sorteio, no entanto, ganhará uma viagem de duas
semanas para a Gold Coast, um lugar de praias deslumbrantes e uma
natureza exuberante. Um verdadeiro sonho para alguém que nunca saiu da
cidade com pouco mais de oitenta mil habitantes.
Aproveito minha pausa para sair e, em um canto, observar o sorteio.
Um sorriso se forma em meu rosto quando as pessoas comemoram
efusivamente os primeiros prêmios. Continuo acompanhando tudo, e
quando o senhor Martin anuncia que vão sortear o prêmio principal, sinto
meu coração acelerar.
Fecho os olhos e, em pensamentos, começo a fazer uma prece
silenciosa a Deus, pedindo que meu nome seja o escolhido.
Duas funcionárias jogam os papéis da urna para o alto várias vezes
até que o senhor Martin pega um.
Meu coração para, e meus olhos se fixam nele.
— E temos um vencedor… ou melhor dizendo, vencedora. — Meu
Deus, uma mulher, eu tenho chances. — E a vencedora é… — ele sorri ao
criar um pouco de suspense. — Luara Almeida!
Fico paralisada, com a boca aberta. As pessoas começam a aplaudir,
e sinto meus olhos marejarem.
Eu não posso acreditar; meu desejo foi atendido.
Ainda incrédula, me aproximo deles. Mal consigo processar o que
está acontecendo: as fotos que preciso tirar, as palavras de congratulações
das pessoas. Tudo parece confuso em minha mente.
Quando tudo chega ao fim, acompanho o senhor Martin até seu
escritório.
— Parabéns, Luara. Como está se sentindo? — Tiago Martin, o
irmão mais novo de Edgar e o gerente do supermercado, pergunta ao se
acomodar em uma das cadeiras.
— Eu… ainda estou processando. — respondo.
Ele sorri gentilmente.
— Precisarei de todos os seus documentos para dar entrada no seu
passaporte. Ou você já possui um? — perguntou Edgar.
Balanço a cabeça.
— Não, senhor.
— O advogado do supermercado cuidará de tudo. Não se preocupe.
Acredito que em algumas semanas, tudo estará pronto.
Meus olhos marejam.
— Obrigada. — agradeço, quase inaudível.
— Você vai adorar a Austrália. — comentou Tiago.
Ao sair do escritório, feliz e, ao mesmo tempo, trêmula e nervosa,
volto ao trabalho.
Durante esse tempo, tenho que lidar com olhares de todos os tipos:
alguns me parabenizam, enquanto outros sussurram inconformados por eu
ser a contemplada.
Mal sabem eles que, ao fazer o pedido, o fiz com todo o meu
coração, e ele foi atendido.

∞∞∞
Chego em casa ainda processando tudo, e assim que abro a porta,
Renata corre em minha direção e me abraça.
— Eu disse, eu disse para você. — fala com a voz embargada. —
Você vai viajar de avião, para viver algo que talvez nunca iríamos ter a
chance, e estou muito feliz, irmã.
Retribuo o abraço.
— Obrigada, Re. Ainda estou tentando processar na minha cabeça
que em breve vou conhecer cenários que só vi em filmes.
Escuto passos se aproximarem, afasto do abraço de Luara e encaro
minha mãe, que está com os olhos marejados.
— Estou tão feliz, minha menina. — Nos abraçamos. — Você
merece viver esse momento.
Lágrimas escorrem em meu rosto, fecho os olhos e só consigo
agradecer por isso estar acontecendo.
Ela se afasta e acaricia meu rosto, seus olhos brilham com as
lágrimas.
Na hora do jantar, fui surpreendida por um bolo sobre a mesa, e uma
torta de frango.
— Ontem acabei esquecendo, mas hoje, quando me lembrei, fiz esse
bolo, não é o mais bonito, mas foi de coração.
O bolo com cobertura de chocolate está lindo.
— Mamãe, nem sei como agradecer.
— Venha, vamos sentar.
Sento ao lado de Renata, elas cantam parabéns, e quando estou
prestes a cortar o bolo, a porta se abre e Fernando entra.
Suas sobrancelhas estão franzidas, e olhando daqui, ele parece um
monstro.
Volto a olhar para minha mãe, que tem o sorriso desfeito.
— Fernando, querido, que bom que chegou, fiz esse bolo para Lu,
ontem foi o…
— Então você ganhou o sorteio. — seus olhos furiosos são
direcionados para mim.
— Sim. — respondo.
Ele se aproxima, arrasta a cadeira principal e ocupa seu lugar.
Corto o bolo e coloco em sua frente.
Quando começo a cortar outra fatia, ele simplesmente pega o prato
que acabei de servi-lo e o joga na parede, com bolo e tudo.
Todas o encaramos.
— Pensa que pode ir para esse país por duas semanas, vai chegar lá e
agir como uma puta, e depois voltar buchuda?
— Fernando, o que é isso? — minha mãe pergunta assustada, pois
por mais que ele já tenha sido rude e até agressivo comigo, ele nunca me
chamou de algo assim.
— Não me diga que você apoia essa pouca-vergonha?
— Papai, a Austrália é um país lindo, e Luara conseguiu ganhar o
que muitos desejavam, ela não vai gastar um real, qual o problema? —
Renata sai em minha defesa.
— O problema é que lá ela vai estar longe dos nossos olhos, vocês
não veem? Não digam que eu não avisei quando ela aparecer aqui grávida
de um gringo que ela nem vai saber quem é. — ele arrasta a cadeira furioso.
— Venha, Maria, preciso falar com você no quarto.
Ele sai pisando forte.
Tanto eu quanto Re olhamos para minha mãe.
— Não vai, mãe. — peço.
— Ele vai bater na senhora. — Re a abraça.
— Vamos só conversar, não se preocupem. — ela beija a cabeça de
Re e se afasta indo até o quarto.
Assim que ela entra, escutamos vozes abafadas, xingos proferidos
pelo monstro que habita nessa casa.
Re me abraça.
— Se divirta muito, irmã, e se tiver a chance, nunca volte para esse
inferno. — murmura em meio às lágrimas.
— Eu nunca me afastaria de você. — sussurro.
Será que se eu pedir para que Fernando morra, ou suma das nossas
vidas, meu desejo será realizado?
Stefan Moser

Sentado em minha cadeira no escritório, examino documentos


cruciais. Finalmente, conseguimos inaugurar mais um hotel Paradise, fruto
de muito esforço e trabalho árduo.
Herdei o Hotel Paradise em Gold Coast quando meu pai decidiu se
aposentar há quinze anos. Desde então, venho expandindo os negócios, e
hoje contamos com mais de dez hotéis cinco estrelas espalhados pelas
costas australianas.
Embora saiba que deveria dar uma pausa nessa correria, não consigo.
Não se trata mais apenas de dinheiro. Sei que o possuo em abundância, e o
lucro mensal é mais do que suficiente para eu viver apenas desfrutando da
vida. Mas, se fizesse isso, não seria eu.
Uma batida na porta faz com que eu erga o rosto, e do outro lado da
porta de vidro vejo minha filha, Zoe. Ela acena animadamente, sorrio e
autorizo sua entrada.
— Oi, pai.
— Oi, filha. O que faz aqui?
Ela caminha até onde estou e se senta na cadeira em frente à minha
mesa.
— Pai, eu sei que pode ser pedir muito… mas será que eu poderia
usar sua casa para fazer a festa do meu aniversário?
Reclino na cadeira e a encaro.
Zoe mora com sua mãe, Kylie Lee. Kylie e eu tivemos um breve
envolvimento na adolescência, e quando decidimos perder a virgindade,
dois inexperientes que não tinham a mínima ideia do que fazer acabaram
gerando a gravidez de Kylie aos dezesseis anos.
Tentamos ficar juntos e formar uma família, pois era isso que nossos
pais queriam, mas não deu certo. Hoje, temos um relacionamento de
amizade e, às vezes, algo mais, mas sempre respeitando os limites um do
outro.
— Quantas pessoas? — pergunto.
— Quinze… não… vinte.
— Use toda a área de lazer, mas não quero saber de ninguém
entrando nos quartos, nem usando os banheiros privados. A bagunça é do
lado de fora, e você já está bem grandinha para saber o que é
responsabilidade.
Minha filha fará dezenove anos. É, estou ficando velho.
— Pode deixar, papai. A festa será na área de lazer, e ninguém vai
invadir seu espaço.
Sorrio quando ela corre até mim e beija meu rosto.
— Você é o melhor pai do mundo. — E sai, toda saltitante.
Só espero não me arrepender disso.
Ao chegar em casa, que fica em frente a uma praia privada, decido
que é hora de tirar um momento para mim.
Caminho até o banheiro e tomo um banho relaxante, deixando a água
quente aliviar a tensão acumulada pelos longos dias de trabalho.
Após o banho, escolho um bom vinho da minha adega particular e o
deixo respirar enquanto vou para a cozinha. Preparo um jantar especial,
utilizando ingredientes frescos e típicos da região. Os sabores exóticos
misturam-se na panela, preenchendo a cozinha com um aroma delicioso.
A mesa posta, com velas acesas, cria uma atmosfera acolhedora.
Sirvo-me de uma generosa porção do prato principal, acompanhado do
vinho que escolhi. Cada garfada é uma explosão de sabores que me
transporta para as paisagens exuberantes da Austrália.
Levo meu prato até o convés, onde uma brisa suave vinda do mar
acaricia meu rosto.
A vista da praia particular é deslumbrante, especialmente ao
entardecer. Sento-me confortavelmente em uma cadeira, absorvendo a
tranquilidade do ambiente.
A cada gole de vinho, saboreio não apenas a bebida refinada, mas
também os momentos de paz que minha casa à beira-mar proporciona. A
refeição, combinada com a vista da praia e o som suave das ondas
quebrando na areia, é uma experiência que me permite escapar da agitação
do mundo exterior.
Com a taça ainda na mão, deixo-me perder na contemplação do
horizonte, agradecendo pela conquista do novo hotel Paradise e pelas
alegrias que a vida me proporciona.
Luara Almeida

— Pegou o remédio para dor no estômago? — Minha mãe pergunta


enquanto deixa um beijo suave na minha testa.
— Sim, mãe. Não esqueci nada.
Ela acaricia meu rosto, os olhos cheios de lágrimas, revelando a
mistura de orgulho e preocupação.
Hoje, estarei embarcando em um ônibus na rodoviária até São Paulo,
que fica a três horas da nossa cidade. De lá, planejo chamar um carro por
aplicativo até o aeroporto. Se tudo der certo, estarei na Austrália em três
dias.
Meu chefe fez um depósito generoso na minha conta, uma quantia
suficiente para cobrir gastos extras como locomoção e alimentação. Além
disso, guardei dois meses do meu pagamento como reserva.
Para que toda a documentação ficasse pronta, se passaram dois
meses e duas semanas.
Renata fez pesquisas sobre o dólar australiano, adicionando um
elemento a mais à minha ansiedade. Além de ir para um lugar desconhecido
e não falar o idioma local, preciso administrar a parte financeira.
Abraço minha irmã, que tenta se mostrar forte, mas o biquinho fofo
que ela faz entrega suas emoções, junto com o brilho nos olhos.
— Se não me trouxer um canguru de pelúcia, eu te mando de volta.
Rio com seu jeito peculiar de desejar boa viagem.
— Pode deixar, e vou tirar centenas de fotos.
— Te amo, irmã.
— E eu a você.
Fernando, como esperado, não quis vir à rodoviária conosco, o que,
para mim, é ótimo.
O ônibus para em sua linha, e tento controlar o choro ao entregar
minha bagagem para o motorista e entrar no ônibus. Da janela, aceno para
minha mãe e irmã.
Sei que serão apenas duas semanas, mas nunca fiquei tanto tempo
longe delas. Se eu parar para pensar, nunca passei nem um dia longe delas.
Só espero que elas fiquem bem.
No ônibus, busco meu assento e tento desviar minha mente da
saudade que já aperta o peito.
Olho pela janela, observando as paisagens conhecidas que em breve
estarão distantes. O coração aperta, mas a empolgação da jornada à frente
traz um sorriso incerto ao meu rosto.
O desconhecido sempre carrega um misto de emoções, mas estou
pronta para enfrentar o que vem pela frente.
∞∞∞
Chego ao aeroporto de São Paulo e sou imediatamente envolvida
pelo frenesi da cidade onde nunca havia colocado os pés. As luzes
brilhantes, o vaivém constante de pessoas e o burburinho dos diferentes
idiomas criam uma atmosfera que me deixa deslumbrada.
Ainda na área de desembarque, faço uma pausa para absorver a
grandiosidade dessa experiência. Tudo é novo, estimulante e um pouco
assustador. Respiro fundo, lembrando-me do propósito desta viagem:
aventura, autodescoberta e a oportunidade de construir memórias
inesquecíveis.
Dirijo-me a uma casa de câmbio para converter parte do dinheiro
depositado pelo meu chefe. Observo ansiosamente enquanto a atendente
realiza a transação, convertendo reais em dólares australianos. A sensação
de segurar aquelas notas estrangeiras é um lembrete tangível de que estou
realmente embarcando em uma jornada única.
O próximo passo é entrar no avião. Ao caminhar pela passarela, a
ansiedade e a empolgação crescem. Sento-me na poltrona, ajusto o cinto e
olho pela janela. O coração bate mais rápido à medida que a aeronave
ganha altitude, levando-me para longe da familiaridade em direção ao
desconhecido.
A sensação de voar é surreal. A turbulência suave, o ronco dos
motores e a visão das nuvens lá embaixo criam um ambiente que parece
mágico. Não posso deixar de sorrir, maravilhada com a perspectiva única
que se desenrola diante de mim.
À medida que a noite se desenha, o cansaço da preparação para a
viagem e das emoções acumuladas toma conta de mim. Recosto-me na
poltrona, envolvida pela monotonia do zumbido constante do avião. Com o
ronco dos motores como uma canção de embalar, permito-me ceder ao
sono.
Sabendo que terei horas de voo pela frente, deixo-me levar pelo
cansaço e pela expectativa do que está por vir. Os sonhos começam a se
misturar com a realidade, enquanto o avião corta os céus em direção ao meu
destino na Austrália.
Finalmente, após uma escala no Chile e horas esperando outro avião,
cheguei em Gold Coast, Austrália. Olho pela janela e a paisagem
exuberante me recebe com tons de verde e azul que parecem pintados à
mão. A ansiedade e a expectativa renovam-se ao pisar em terra estrangeira.
No entanto, essa sensação de deslumbramento é rapidamente
acompanhada por um desafio: o idioma. No aeroporto, encontro placas e
ouço vozes em inglês, um idioma que estudei superficialmente, mas que, na
prática, me deixa perdida.
Ao me dirigir ao balcão de informações, percebo que a comunicação
será um obstáculo. Uma funcionária simpática me aborda, e o diálogo
inicial torna-se um desafio. Percebo que ela tenta se expressar lentamente,
mas as palavras me escapam.
Decido usar a tecnologia ao meu favor e puxo meu celular. Com a
ajuda do tradutor, tento formular a pergunta:
— Excuse me, can you help me? I need to get to Paradise Hotel.
Ela franze a testa por um momento, mas depois parece entender. Ela
me aponta para a saída e, com um sorriso compreensivo, indica que devo
pegar um táxi.
Agradeço com um sorriso de alívio e, seguindo as orientações, sigo
para o ponto de táxi. À medida que as luzes da cidade piscam ao longe,
sinto-me simultaneamente desafiada e animada pela aventura que está
apenas começando.
O táxi chega, e ao entrar, vejo-me cercada pela língua estrangeira,
pelos aromas e pela atmosfera vibrante de Gold Coast. Após um breve
trajeto, o táxi para em frente ao Paradise Hotel, um oásis que se destaca na
paisagem noturna.
Entro no hotel com um misto de emoções, da excitação à gratidão
por superar o desafio linguístico. A recepção calorosa do pessoal do hotel
me acalma. Ao fazer o check-in, percebo que as barreiras linguísticas não
precisam ser um impedimento para esta experiência incrível.
No quarto, decido mandar uma mensagem de áudio para minha irmã,
avisando que cheguei bem. A tecnologia facilita a distância, e a voz dela do
outro lado me enche de conforto. Tiro algumas fotos da vista deslumbrante
do meu quarto e, empolgada, faço um pequeno vídeo para compartilhar com
Renata.
— Oi, Re! Cheguei em Gold Coast, e o lugar é incrível! Dá uma
olhada na vista da janela. Estou ansiosa para explorar tudo por aqui. Espero
que esteja tudo bem aí. Manda um beijo para a mamãe. Saudades!
Renata responde com a empolgação característica em sua voz:
— Lu, que demais! A vista é maravilhosa mesmo. Fico feliz que
tenha chegado bem. Manda um beijo para os cangurus por aí! Já estou
com saudades. Ah, e a mamãe está ótima.
Decido perguntar sobre Fernando, pois meu maior medo é que ele
brigue com minha mãe.
— E o seu pai, Re? Ele brigou com a mamãe?
— No dia que fomos com você à rodoviária, ele estava furioso
quando voltamos para casa. Disse coisas horríveis, coisas que nem prefiro
repetir. Mas desde então ele se acalmou, age de forma amorosa, o que é
estranho, mas a mamãe está feliz.
Essas palavras ressoam em mim, e uma tristeza sutil se instala.
Pergunto-me se o problema de Fernando é a minha presença, a filha que não
tem o mesmo sangue que ele.
Guardo esses sentimentos complexos e volto a focar na conversa
com minha irmã.
— Agora vou descansar.
— Não esqueça de me mandar muitas fotos e vídeos.
— Pode deixar.
Inspiro profundamente e tento concentrar-me no momento.
Luara Almeida

Acordei mais tarde do que gostaria; o cansaço e o fuso horário


cobraram seu preço em meu corpo. Após a conversa com Renata, acabei
apagando. A claridade que entra pela janela me faz sorrir, abro os olhos e
fico olhando para a janela, de onde vejo o céu azul.
Hoje vou poder aproveitar bastante a praia.
Levanto e vou até a janela, tendo a visão privilegiada da praia, onde
surfistas estão aproveitando as ondas, e pessoas caminham pela areia.
Hoje será minha primeira vez no mar, e estou ansiosa por esse
momento. O que me deixa tranquila é saber que aprendi a nadar ainda
criança.
Decido me aprontar e explorar essa terra cheia de promessas. Visto
meu biquíni, passo um protetor solar e pego minha toalha.
Ao descer até a praia, sinto a areia quente sob meus pés, e o som
suave das ondas do oceano me acolhe. É uma sensação diferente, mas
revigorante.
Escolho um local na areia, estendo minha toalha e observo as
pessoas ao meu redor. O sol está radiante, iluminando o cenário com uma
tonalidade dourada. Há uma energia vibrante no ar, e as risadas e conversas
das pessoas se misturam ao som relaxante do mar.
Respiro fundo e decido me aventurar nas águas australianas. À
medida que me aproximo do oceano, sinto a água fria tocando meus pés. A
sensação é revigorante, e a cada passo, minha empolgação cresce. Chego à
beira da água, onde as ondas suaves acariciam a areia.
Com confiança, dou alguns passos, até ter a água na altura dos
joelhos. A água é cristalina, e a sensação de flutuar nas ondas é
indescritível. Olho para o horizonte, onde o azul do céu se encontra com o
azul do oceano, e sinto uma paz interior que há muito tempo não
experimentava, se é que já experimentei.
Os surfistas deslizam habilmente pelas ondas, e eu me permito
absorver a atmosfera descontraída e rejuvenescedora. Cada onda que quebra
na praia parece carregar consigo uma nova esperança, uma promessa de
dias melhores.
Após alguns minutos, retorno à areia com uma mistura de exaustão e
êxtase. Deito-me na toalha, deixando o sol secar a água salgada da minha
pele. Enquanto fecho os olhos e escuto o suave murmurar do oceano,
agradeço por esta experiência única e prometo explorar cada pedacinho
desta terra cheia de maravilhas.
Ao entardecer, decido me arrumar para desfrutar do jantar no
restaurante do hotel. Escolho um vestido azul curto e soltinho que encontrei
na mala, prendo meu cabelo em um rabo no topo da cabeça e faço uma
maquiagem simples, do jeito que sei. Nos pés, coloco uma sandália sem
salto, mas muito bonita, presente da minha mãe.
Ao ficar pronta, dou uma última olhada no espelho e sigo em direção
ao elevador que fica no corredor do hotel. Quando a porta de metal se abre,
dou de cara com um homem alto, loiro, olhos azuis e barba bem aparada.
Ele está vestido com elegância, usando um terno que realça sua presença.
Fico um pouco sem jeito diante da presença do desconhecido, mas entro no
elevador.
O espaço é pequeno, e ficamos lado a lado em um silêncio
constrangedor. Sinto seu olhar por alguns instantes, mas nenhum de nós
quebra o silêncio. Quando a porta do elevador se abre no andar do
restaurante, ambos saímos juntos. Ele segue em direção ao balcão do bar,
enquanto decido ocupar uma das mesas.
Escolho um lugar próximo à janela, com vista para o mar. A luz
suave do entardecer cria uma atmosfera aconchegante. Observo o homem
bonito sentar-se no balcão. Decido concentrar-me no cardápio, tentando
ignorar a presença intrigante ao meu redor.
O garçom se aproxima para anotar meu pedido, e eu escolho um
prato local, curiosa para experimentar a culinária australiana. Enquanto
aguardo, não consigo evitar olhar ocasionalmente na direção do homem no
balcão. Ele parece concentrado em sua bebida, e uma sensação inexplicável
de curiosidade cresce dentro de mim.
O jantar se desenrola, e saboreio cada garfada enquanto aprecio a
vista deslumbrante.
Stefan Moser

O dia hoje foi exaustivo, repleto de reuniões, mas pelo menos antes
do horário do almoço, consegui aproveitar umas ondas para aliviar o
estresse. Minha paixão pelo surfe tem raízes na infância, quando pedi aos
meus pais que me colocassem em uma aula ministrada por um instrutor
local.
Desde então, o mar se tornou meu confidente, e quando percebo que
enfrentarei um dia tenso, reservo pelo menos uma hora para relaxar sobre
uma prancha. Após esse momento revigorante, retorno ao hotel e vou para o
meu refúgio pessoal no último andar. Este quarto é meu santuário, onde
ninguém me incomoda, e ao cruzar a porta, me desconecto do mundo.
Nunca trouxe ninguém aqui e pretendo manter assim.
Após um banho rápido, visto um terno sob medida que se ajusta
perfeitamente ao meu corpo. Estou pronto para enfrentar mais uma jornada
de trabalho.
No fim do dia, dirijo-me ao elevador, prestes a voltar para casa. No
quinto andar, uma jovem muito bonita surge. Morena, cabelos lisos e
longos, rosto oval, olhos escuros — por um momento, sua presença me
impacta e devo me conter.
Sou um homem reservado, não costumo conversar com
desconhecidos, mas, por alguma razão, sinto uma vontade súbita de falar
com ela, de perguntar seu nome.
Ao perceber que ela está indo para o restaurante, decido mudar meus
planos e sair do elevador quando não deveria. Vejo-me caminhando até o
balcão do bar, de onde consigo observá-la.
Ela escolhe uma mesa próxima à janela de vidro, e noto como seus
olhos brilham ao admirar a paisagem, como se fosse algo novo para ela. Um
sorriso ilumina seu rosto, revelando duas covinhas que a tornam ainda mais
atraente aos meus olhos.
Quando o garçom se aproxima, percebo que ela tem dificuldade em
se comunicar no nosso idioma. Ela pega o cardápio, aponta para um dos
pratos, o garçom entende e sorri ao anotar o pedido.
Enquanto ele se afasta, ela volta a contemplar a paisagem. Seus
olhos irradiam um brilho intenso, e me vejo hipnotizado por esse
espetáculo. Em certo momento, seu olhar cruza o meu, e como se eu fosse
um adolescente inexperiente, desvio o olhar, mesmo ciente de que fui pego
no flagra.
A comida chega à sua mesa, e ela saboreia cada prato, suspirando ao
fechar os olhos e apreciar os sabores. Sem perceber, acabo levantando o
canto dos lábios ao observar cada gesto dela. Embora seja uma turista e
consideravelmente mais jovem, algo que nunca me atraiu, sinto uma
curiosidade inexplicável, uma vontade de conhecer mais sobre ela.

Luara Almeida
Após degustar o prato mais exótico que já experimentei, repleto de
frutos-do-mar deliciosos, decido saciar meu desejo por doces e peço uma
sobremesa. Enquanto aguardo, olho para a janela, de onde posso ver as
ondas do mar quebrando com intensidade à frente. Pessoas movimentam-se
pela orla, e me pego pensando na sorte de quem vive em um lugar tão
paradisíaco.
Imagino-me morando em um local assim, aonde iria procurar por
trabalho em um dos hotéis à beira-mar. Nas folgas, ou ao término do
expediente, tiraria meus sapatos e caminharia descalça pela areia, sentindo a
água do mar acariciar meus pés. Certamente, seria uma existência mais
plena do que...
— Posso oferecer minha companhia?
A voz robusta e envolvente me arranca dos devaneios. Ao erguer o
olhar, deparo-me com o homem do elevador.
— Posso? — Ele repete a pergunta diante do meu silêncio.
— V-você... — Engulo em seco, surpresa. — Está falando meu
idioma. — Não é uma pergunta, mas uma constatação.
Um sorriso sutil surge nos lábios dele, acentuando ainda mais sua
beleza.
— Sim. — Ele confirma. — E falo mais dois idiomas além do
português.
Minha boca se entreabre em um silencioso "Oh".
— Se quiser, posso contar como aprendi, claro, se permitir que eu
lhe faça companhia.
Ai, caramba, estou parecendo tão patética que ainda não respondi.
— Claro. — Coço a garganta, tentando disfarçar minha surpresa. —
Pode fazer-me companhia.
Observo enquanto ele ocupa a cadeira à minha frente, e uma
sensação intrigante de expectativa se instala no ar.
Stefan Moser

Ocupo a cadeira à sua frente, a mesa quadrada entre nós. Seus olhos
revelam surpresa, e percebo que minha presença repentina a deixou um
pouco tímida. Ao observá-la de perto, constato que sua beleza é ainda mais
notável do que havia percebido.
— Primeiro, irei me apresentar...
— Não! — ela me interrompe, surpreendendo-me. — Quero dizer,
por que não ficarmos no anonimato?
Arqueio uma sobrancelha, encarando-a enquanto ela morde o lábio
inferior.
— Se é assim que deseja. — Deixo-me envolver por seu encanto,
hipnotizado pela proximidade e pela curiosidade crescente sobre sua vida.
Não posso recuar agora que estou aqui, tão perto.
Um garçom se aproxima, e ao perceber minha presença, seus olhos
se arregalam. Balanço sutilmente a cabeça em negação, dispensando a
necessidade de palavras. Ele entende que quero manter minha posição como
dono do hotel em segredo. Que fique claro que só estou fazendo isso porque
a linda garota com o sorriso mais encantador que já vi pediu.
— Amo doces. — confessou quando o garçom colocou um prato
diante dela.
— Essa sobremesa se chama lamington, uma verdadeira iguaria
australiana. — Seus olhos se iluminam com curiosidade. — Sabe, este é o
meu doce favorito, para mim tem sabor de infância.
Ela franze o cenho, intrigada.
— Lamington? Nunca ouvi falar.
— É um clássico aqui. Um pedaço de bolo esponjoso, mergulhado
em uma cobertura de chocolate e, em seguida, envolto em coco ralado. —
Explico, observando sua expressão enquanto descrevo cada camada. — A
combinação de texturas é incrível. O bolo é leve e macio, enquanto a
cobertura proporciona um contraste perfeito com o crocante do coco.
Noto um sorriso sutil surgir nela.
— Você parece entender bastante de confeitaria. — constatou.
— Sim, minha avó tinha uma padaria, e lá ela fazia sua magia, e eu
como um garotinho curioso ficava a observando.
— Isso é fofo.
— É, devo concordar.
Ela abre ainda mais seu sorriso.
— Agora, me conte, como aprendeu tão bem o português?
— Já estive no Brasil algumas vezes, tenho alguns conhecidos por
lá. Não sei se você conhece a companhia aérea Sky Aire? — ela nega. —
Então, eles abriram uma rede de hotéis, e foi lá que conheci os irmãos
Park[1]. Eles são coreanos, casaram com brasileiras e moram no Brasil. E
por termos negócios com a Sky Aire, aprendi o idioma para me comunicar
melhor quando fosse ao país que agora eles chamam de lar.
— Eu não conheço essa companhia aérea, mas isso é interessante.
Eu até tentei aprender o inglês básico antes de vir, mas não deu muito certo.
— Se quiser posso te ensinar, enquanto estiver aqui.
— Ah, não. Não quero atrapalhar você, e também irei ficar apenas
alguns dias.
Ela volta a olhar para o lado de fora.
— Foi a primeira vez que vi e mergulhei no mar. — Confessou, com
a voz tão baixa que, se eu não estivesse com os olhos fixos nela, nem teria
escutado.
— Nunca foi nas praias do seu país?
Ela volta a negar.
Noto quando ela respira fundo e volta a me olhar.
— Aqui é tudo muito bonito.
Seus olhos brilham, e agora, olhando assim de perto, percebo que
são castanho escuro.
— Seus olhos são castanhos? — Pergunto curioso.
— Sim. — Responde.
— São muito bonitos.
Posso perceber que o simples elogio sobre seus olhos a deixou ainda
mais tímida.
— Os seus também. — Responde após alguns minutos em silêncio.
Estamos nos fitando, seus olhos não desprendem dos meus, até o
vibrar do meu celular interromper nosso momento.
— Desculpa. — Peço ao pegar o aparelho e verificar quem é; vejo o
nome da minha filha e, claro, que irei atender. — Preciso atender. —
Informo, ficando de pé, quando ela assente. Me afasto e coloco o telefone
na orelha. — Filha? — Falo ao atender.
— Pai, amanhã vou na praia, e queria saber se quer que eu pegue o
Zeus?
Fecho os olhos, aliviado ao perceber que não é nada sério.
— Ele vai adorar. — Respondo.
Zeus é meu aussie[2], um cachorro que surgiu na porta de casa em um
dia chuvoso ainda quando era um filhote; isso já faz mais de seis anos. Ele é
o que chamo de melhor amigo e companheiro para todas as horas.
Ao encerrar a chamada com minha filha, volto ao salão. No entanto,
meus passos cessam quando percebo que a mesa está vazia.
Com o olhar, percorro todo o ambiente até ter certeza de que ela
acabou de fugir.
Que saco, pensei que estava curtindo minha companhia, do mesmo
modo que eu estava curtindo a dela. Talvez tenha sido algo que disse ou
uma situação desconfortável. Respiro fundo, frustrado por não perceber o
que a fez ir embora tão abruptamente.

Luara Almeida
Eu fugi.
Sim, não sei o que aconteceu. Eu simplesmente entrei em pânico e,
quando vi, estava saindo do restaurante e me enfiando em um corredor.
Toda essa situação é nova para mim; o medo de me iludir ou me machucar,
do mesmo modo que acontece com a minha mãe, pareceu explodir na
minha cabeça.
Eu me vi sentada à mesa, esperando por um homem de aparência
belíssima. Ouso dizer que é o homem mais bonito que já conversei. E pelo
modo como ele falou da companhia aérea, dizendo "temos negócios,"
significa que ele é rico, muito mais do que eu havia pensado.
Coloco a mão no peito para acalmar meus batimentos.
Por que eu fugi?
Respiro fundo e passo a mão na testa, que está suando frio. Estou em
um país desconhecido, não deveria deixar o medo me atingir. Não vou me
casar com um desconhecido cujo nome nem sei.
Teria coragem de avançar com ele? Não sei.
Revelaria que só beijei dois rapazes e que foi horrível, e que talvez
eu não saiba beijar? Talvez.
Ou contaria que sou virgem? Provavelmente ele descobriria, já que o
olhar predador dele revelava quais eram suas intenções.
Estou pronta para mergulhar nisso? Uma noite e nada mais? Me
entregar para alguém que nunca mais verei?
Inspiro todo o ar ao meu redor mais de três vezes. Engulo a vontade
de correr e vomitar tudo o que comi e, decidida, caminho de volta até o
restaurante.
Para minha sorte ou azar, o vejo sentado em frente ao balcão do bar,
parecendo pensativo, talvez pensando em quão louca é a moça com quem
estava conversando, que no caso sou eu.
Volto a inspirar o ar ao meu redor. Decidida a viver o que nunca vivi
por medo.
E se ele for um psicopata? Meus passos cessam quando penso nisso.
Não, ele parece ser alguém conhecido aqui.
Volto a caminhar e só paro quando estou na frente dele. Seguro seu
rosto entre minhas mãos, que estão geladas, e junto nossas bocas.
Stefan Moser

Após ter certeza de que ela não vai voltar, decido pelo menos
terminar minha bebida no balcão do bar. Antes mesmo que o barman possa
colocar o copo no balcão, mãos extremamente geladas seguram meu rosto,
e mal tenho tempo de processar quando a boca da garota une-se à minha.
Inicialmente, fico estático, diversas coisas apitando em minha
cabeça. Por que ela me beijaria assim do nada, especialmente em público?
No entanto, ao perceber o quão nervosa ela está, acabo deixando de lado
esses alerta, contorno sua cintura fina com minhas mãos e a puxo em minha
direção.
— É melhor sairmos daqui. — Aviso entre nossas bocas. Fico de pé,
despeço-me do barman e, segurando a mão da garota, começo a nos guiar
até o elevador.
Aperto o botão da cobertura freneticamente, até as portas se abrirem.
Aproximo meu cartão do painel, liberando nossa subida, e no momento em
que as portas se fecham, sou eu quem segura seu rosto entre minhas mãos,
unindo nossas bocas.
Dessa vez, não trocamos apenas um selinho demorado. Aprofundo o
beijo, abro a boca e coloco minha língua para fora. Ela faz o mesmo, e
começamos a nos beijar como se estivéssemos nos devorando. Um tipo de
beijo demorado e molhado que deixa qualquer um excitado.
Tenho certeza de que se eu colocar a mão nela agora, vou encontrá-la
molhada. E só de pensar nisso, sinto meu desejo crescer. Pressiono-a contra
o metal do elevador, afundo meus dedos em seu couro cabeludo e
aprofundo ainda mais o beijo, que, aliás, é o melhor beijo que já tive.
As portas se abrem, e para o meu azar, não é no andar da cobertura.
Rapidamente, me afasto dela, e ofegantes encaramos a senhora que entra e
nos cumprimenta.
Ficamos cada um de um lado do elevador, com a senhora de cabelos
grisalhos entre nós. Estamos ofegantes e excitados, ou a senhora disfarça
muito bem que não está sentindo o cheiro de excitação no ar, ou ela tem
algum problema de olfato e talvez de visão, pois os cabelos da garota estão
uma bagunça.
As portas se abrem novamente, no andar inferior ao da cobertura, e a
mulher sai. Antes de sair, ela se vira e sorri para nós. Então, percebo que ela
estava sentindo muito bem o clima de excitação entre nós dois, antes de nos
interromper.
As portas voltam a se fechar, e quando vou me aproximar da garota,
ela recua.
— Vamos... esperar chegar ao quarto. — Murmura.
Reunindo todo meu autocontrole, recuo.
— Claro. — Jamais forçaria algo que ela não queira. Mesmo que, ao
chegarmos ao quarto, ela diga que não vai rolar, mesmo que eu esteja
ansioso, não forçarei. Tratarei-a bem e estarei disposto a conversar, se assim
ela quiser.
Ela sorri, mas é notável o quanto está nervosa. Ficamos mantendo
uma distância até o elevador abrir na suíte da cobertura.
Entramos, lado a lado, em silêncio. Ela está na minha frente, e
mantendo o respeito, evito olhar seu corpo, mesmo que essa seja a maior
prova que já passei.
— Aqui é enorme. — Falou ao se virar e me olhar. — Você mora
aqui?
— Não, tenho uma casa à beira-mar. Podemos dizer que este lugar é
o meu refúgio, um local onde eu me isolo. — Nunca trouxe uma mulher
aqui. Então, por que a trouxe agora?
A garota me olha como se eu fosse um cara esquisito por ter um
lugar como esse.
— Quer beber algo? — Pergunto.
— Água, está ótimo.
Me afasto e vou até a cozinha pegar a água para ela. Ao voltar para a
sala, a vejo parada em frente a um quadro que pintei.
— Fiz isso para extravasar um pouco. — Informo ao entregar o
copo.
— Você que fez?
— Sim.
— Você é realmente um pacote completo.
Observo ela beber a água, com os olhos fixos em mim sobre o copo.
Ela respira fundo, e me devolve o copo. Ao tocar em sua mão, noto o
quanto ela está nervosa.
— Não precisa ficar nervosa por estar aqui comigo. Não farei nada
que não queira, e se preferir, podemos colocar um filme ou conversar, nos
conhecermos mesmo sem sabermos nossos nomes.
— É que tudo isso é novo para mim... — Novamente ela fala baixo,
quase inaudivelmente.
— Venha comigo, quero te mostrar algo. — Coloco o copo sobre a
mesa de centro, estendo a mão em sua direção, e hesitante ela aceita.
Caminho com ela até a varanda.
— Meu Deus, é um telescópio? — Sua voz fica um pouco mais
animada.
— Sim, que tal observarmos o céu enquanto conversamos?
Ela sorri, aquele tipo de sorriso que alcança os olhos, trazendo um
brilho diferente.
— Eu vou adorar.
Ficamos ali, na varanda, observando o céu estrelado. Aponto o
telescópio para algumas constelações, explicando a mitologia por trás delas.
Ela ouve atentamente, seus olhos brilhando não apenas pela luz das estrelas,
mas também pela curiosidade.
— Ali é a constelação de Órion, o Caçador. Na mitologia grega, ele
era um gigante conhecido por sua beleza e força. — Explico, enquanto ela
observa as estrelas.
— É incrível como as estrelas têm histórias por trás delas. — a
garota comenta, ainda encantada.
— Sim, cada ponto lá em cima tem sua própria história. — Sorrio e
olho diretamente nos olhos dela. — E cada história, por mais antiga que
seja, ainda não é tão fascinante quanto a sua deve ser.
Ela cora levemente, desviando o olhar, mas não consegue esconder o
sorriso. Há um silêncio entre nós, apenas o som suave da noite e o sussurro
do vento na varanda.
— Você veio para a Austrália por alguma razão especial? —
Pergunto, rompendo o silêncio, mas mantendo o tom suave.
— Uma viagem de autodescoberta, eu acho. — Ela responde, com
um meio sorriso. — Sem grandes planos, só queria experimentar algo novo.
— Às vezes, é exatamente isso que precisamos, aventuras
inesperadas. — Olho novamente para o céu estrelado. — E, de repente,
você apareceu na minha vida, tornando a noite ainda mais interessante.
Ela ri suavemente, e nossos olhares se encontram mais uma vez. A
tensão no ar é palpável, a atração mútua inegável.
— Eu... — Ela começa a dizer, mas a interrompo gentilmente.
— Às vezes, as palavras só atrapalham. — Aproximo-me dela, e
nossos lábios finalmente se encontram em um beijo suave.
A suavidade inicial dá lugar à paixão, e nos entregamos ao
momento. É como se o tempo parasse enquanto nos beijamos sob o manto
estrelado. O calor da noite se mistura com a chama que arde entre nós.
É um beijo cheio de promessas, um prelúdio para algo mais
profundo. E enquanto nos afastamos, nossos olhos ainda se encontram,
comunicando mais do que as palavras poderiam expressar.
— Linda... — Murmuro, e ela sorri, selando nosso momento especial
com outro beijo.
Percebo que o nervosismo inicial que ela estava sentindo não está
mais presente, e que está tão entregue ao momento quanto eu.
Deixo minhas mãos deslizarem suavemente por seu corpo,
explorando cada curva enquanto a puxo para mais perto, sem afastar nossas
bocas. Ela suspira contra meus lábios, seus braços envolvendo meus
ombros.
Sinto a necessidade de intensificar o contato e, com ousadia, agarro
suas coxas, levantando-a do chão. Ela entrelaça as pernas em torno do meu
corpo, respondendo ao gesto com um sorriso travesso. O calor do momento
é palpável, criando uma eletricidade que nos envolve.
Com ela em meus braços, decidimos levar nossa paixão para o
quarto. Entretanto, antes de alcançarmos a cama, decido pressionar seu
corpo contra a parede mais próxima. Afasto nossas bocas por um breve
instante, permitindo-me admirar seu rosto, seus olhos repletos de desejo.
O vestido, agora embolado em sua cintura, revela delicadamente a
renda de sua calcinha. O desejo mútuo nos olhares é evidente, e eu sinto
meu coração acelerar com a intensidade do momento compartilhado.
— Eu quero você garota.
Luara Almeida

Estou prestes a me entregar para um homem lindo, cujo nome nem


sei, mas que, ao contrário do que deveria sentir, só quero que ele beije todo
meu corpo e me dê o que só vi em filmes.
Não me reconheço, pois, até o medo que antes parecia dominar cada
célula do meu corpo se dissipou, é como se o momento fosse o mais
importante, e pelo menos uma vez na vida eu quero não ter medo, eu quero
que isso aconteça.
— Você está pensando muito. — Sua voz rouca em meu ouvido
arrepia todos os pelinhos do meu corpo. — Talvez eu precise fazer com que
esvazie a mente. — Ao dizer isso, ele morde minha orelha, e passa a língua.
Não consigo encontrar palavras, pois da minha garganta sai apenas
um gemido baixo.
Ele começa a morder meu queixo, e então volta a beijar minha boca.
Ao afastar o rosto, ele segura meu maxilar, e fixa os olhos nos meus.
— Hoje, vou te dar o que nunca nenhum outro conseguiu.
Sorri, sentindo um certo nervosismo, será que eu deveria contar que
antes dele nunca teve outro?
— Você é… bem confiante. — Isso é bom? Não tenho a mínima
ideia.
Ele retribui com um sorriso cafajeste, e para complementar ele puxa
meu lábio inferior com os dentes.
Ele não me responde em palavras em vez disso, tenho meu corpo
deitado sobre a cama.
Observo-o de pé entre as minhas pernas, desabotoando a manga da
sua camisa. Seu olhar percorre cada centímetro do meu corpo.
Assistir ao seu despir é a coisa mais sensual que já testemunhei. Ele
retira a camisa, revelando um corpo que parece esculpido, algo digno de ser
registrado em uma foto para guardar de lembrança. Ele é atlético, sem
exageros, mas, ao mesmo tempo, irresistivelmente gostoso. Seu abdômen é
bem definido, e ele ostenta uma tatuagem ao longo da lateral, começo a
observar a tatuagem, inicialmente difícil de identificar, mas ao prestar
atenção nas linhas, percebo que formam ondas. Ele tem o mar tatuado na
pele.
Ergo meu olhar para encontrá-lo e o encaro.
— Sua tatuagem é linda. — Faço o elogio.
Ele levanta a lateral do lábio e, permanecendo de pé, abre um pouco
mais as minhas pernas, causando um amontoado adicional no meu vestido
ao redor da cintura.
Inicialmente, sinto um leve rubor de timidez, mas ao perceber como
ele está intensamente focado na minha calcinha, ou para ser mais específica,
no que está sob ela, qualquer vestígio de timidez desaparece por completo.
— Que calcinha linda. — Ele se ajoelha, segurando minhas coxas.
— Mas está escondendo algo ainda mais bonito. — Enquanto diz isso,
começa a remover minha calcinha.
A pequena peça desliza por minhas coxas e panturrilhas até
desaparecer, já que ele a joga em algum canto do quarto.
— Como previsto, a bela calcinha escondia algo maravilhoso... —
ele desliza a língua entre minhas coxas, onde sinto a umidade. — ... E
delicioso.
Sua boca se apossa com determinação, mostrando sua experiência ao
sugar de uma maneira que faz meus dedos dos pés se contorcerem.
— Aaaah... — Agarro seu cabelo, arqueando as costas.
Ele não para, a cada sugada que dá, é como se sugasse minha alma.
E quando sinto o orgasmo se aproximar, não consigo conter o grito que sai.
Mas ele não para, e mesmo quando eu gozo como uma louca, ele continua,
deixando minhas pernas bambas, e minhas coxas trêmulas.
A língua habilidosa dele, percorre minha entrada, meu clitóris está
dolorido, e sinto que vou ter um desmaio, pois minhas forças parecem
esgotadas.
Ele está me dando o que prometeu, isso porque ele nem me penetrou,
ainda.
O homem cujo nome desconheço, mas que acaba de me
proporcionar a melhor sensação do mundo, levanta-se e me auxilia a retirar
o vestido, deixando-me nua. Quase cubro meu corpo, mas resisto.
Ele se afasta lambendo os lábios, e começa a tirar a calça social, e
quando vejo o seu monumento arregalo os olhos. Subo o olhar e posso ver o
sorriso convencido dele, também, com tudo isso, qualquer homem ficaria se
achando. É grande, grosso, com a cabeça rosada, e cheio de veias.
Chego a engolir a saliva, e não me contendo, e nem me
reconhecendo, levanto meu corpo, ficando sentada na cama, o puxo em
minha direção e começo a chupá-lo.
Eu nunca fiz isso, e nunca senti vontade de fazer, mas já vi uma vez
em um filme, tinha algo que parecia tão interessante enquanto a mulher
fazia no ator, mas agora, eu estou fazendo isso como uma profissional.
— Uou… oh my God… That… Delicious…
Ele começa a falar em inglês, não sei se está me xingando ou
elogiando, mas pelo modo como seu quadril vem ao encontro do meu rosto,
ele deve estar gostando.
Mal consigo colocar ele todo na boca, mas faço o meu melhor.
O gosto é bom, e ele é muito cheiroso. Penso que estou com um
pirulito na boca, e repito movimentos semelhantes se estivesse chupando
um.
No entanto, antes que ele possa gozar, ele me afasta, vai até a mesa
de cabeceira e pega alguns pacotes de camisinha, jogando sobre a cama, e
pegando apenas um.
Arregalo os olhos, pois é agora, eu preciso ser honesta. Não tem
como fingir que sou experiente, quando há uma barreira.
— Eu sou virgem. — falo de repente, fazendo-o parar o processo de
vestir seu membro com o látex.
— O que disse?
— Eu sou virgem.
Ele ergue as sobrancelhas, denotando surpresa.
— Percebi que você não tinha experiência, mas não imaginei que
fosse a sua primeira vez.
Ele começa a se afastar, mas eu o detenho.
— Eu sei, mas eu quero, por favor.
— Não peça por favor. O que aconteceria entre nós deve ser mútuo,
não um favor.
Sinto minhas bochechas queimarem e os olhos marejarem.
— Quero perder a virgindade. Eu sei que pode parecer patético, mas
é a primeira vez que sinto uma vontade verdadeira. Sempre vivo com medo,
de tudo, especialmente dos homens, e sei que quando voltar para casa,
voltarei a ser a mesma. Pelo menos uma vez na vida, quero ter certeza de
que fiz uma escolha sem pensar nas consequências ou no medo.
— Você sabe o quanto eu desejo você, mas perder a virgindade é
algo importante. Deveria ser especial, não com um desconhecido.
— Está sendo especial.
Ele fica em silêncio, e sei que está ponderando sobre o que fazer. A
continuidade disso está nas mãos dele.
E quando vejo deslizar o látex da camisinha pelo seu comprimento, e
deitar seu corpo sobre o meu, sorrio, pois ele vai continuar.
— Pode doer. — avisou, ao beijar o canto da minha boca. — Irei
devagar.
Assenti.
Ele encaixa seu membro em minha entrada, e no momento que o
sinto deslizar, ofego, pois é grande demais, e eu pareço muito apertada para
um tamanho desses.
Notando o pequeno desconforto, ele para.
— Tudo bem?
— Sim, pode continuar.
Ele volta a deslizar devagar, até que eu me acostume com seu
tamanho. Seu rosto se aproxima do meu, e sua boca busca a minha. E então
eu o sinto, por completo em mim, e qualquer barreira que existisse antes,
agora não tem mais.
Nos beijamos, enquanto com o quadril ele impulsa ainda mais para
dentro, ele tira e volta. É um vaivém que no início é um pouco
desconfortável, mas depois de cinco vezes, o desconforto dá lugar a um
prazer diferente, o qual nunca havia sentido.
Agarro suas costas, não me importando se minhas unhas possam
machucá-lo.
Estamos em sintonia, compartilhando um momento que talvez eu
nunca mais viva na minha vida, com um homem que talvez eu nunca mais
veja, e que eu nem descubra o nome, mas isso não importa, pois estou
vivendo meu romance, nem que seja de uma única noite.
Invertemos a posição, e agora estou sobre ele.
Ele segura meu quadril, me guiando a mexê-lo.
Uso todo meu rebolado para o surpreender, balanço minha bunda
para cima e para baixo, fazendo-o fechar os olhos e falar palavrões que não
compreendo. Isso me dá ainda mais gás. Não sei se estou fazendo certo,
mas começo a usar os movimentos do funk. Mesmo que eu sinta um leve
desconforto, pois nessa posição ele vai ainda mais fundo. No entanto, como
antes, conforme vou me movimentando, o desconforto desaparece, e a
sensação de que meu corpo está em chamas aumenta.
Começo a me esfregar, pois desse jeito também posso fazer ficar
ainda melhor para mim.
Apoio as mãos em seu peitoral, e com o tronco levantado, sinto-o ir
ainda mais fundo, rebolo para frente e para trás.
Ele levanta o corpo, ficando sentando, ele segura minha bunda,
enquanto não paro de rebolar. Apoio os braços em seus ombros, e no
momento que alcanço mais um orgasmo surreal, sorrio ao ouvi-lo gemer
alto, sem se importa que alguém possa nos escutar.
Ficamos encaixados e abraçados, enquanto nossos corpos se acalma.
— Passe a noite aqui. — pediu.
Beijo sua boca como resposta, pois do jeito que estou mal vou
conseguir colocar meus pés no chão.
Luara Almeida

Ao abrir os olhos, percebo que estou nua, sob o lençol de um quarto


que não é onde estou hospedada. Ao virar o rosto, vejo o homem que me
fez gozar mais vezes do que consigo contar, dormindo serenamente.
Um sorriso involuntário escapa, a noite passada foi surreal. No
entanto, agora preciso sair daqui. Como vou encará-lo? Não faço ideia de
como devo agir, pois nunca me comportei assim.
Decido levantar sem fazer alarde. Quando meus pés tocam o chão,
escuto atrás de mim:
— Vai sair de fininho?
A voz dele sai rouca. Me viro e o vejo com os olhos fixos em mim.
— Eu... — nem sei o que responder. Será que ele pensa que fui fácil?
Que sou o tipo de garota que dorme com muitos? Nada contra quem é
assim, mas não é o meu caso. Ah, e tem o detalhe que ele tirou minha
virgindade.
— Eu ia ao banheiro — respondo, apertando o lençol no corpo. Ele
inclina o corpo até se aproximar, seu rosto pairando próximo ao meu.
— Eu gostaria muito que você soltasse esse lençol e me
acompanhasse no banho, exceto se a noite passada tenha sido ruim e você
queira ir embora.
Arregalo os olhos e viro o rosto para frente, desviando do olhar dele.
Escuto-o ficar de pé e ir ao banheiro. Aproveito para dar uma olhada para
trás e flagro o bumbum sarado dele até ele desaparecer na porta.
Fico indecisa entre sair correndo e ir até ele.
De pé, solto o lençol, e quando percebo, meus pés estão agindo por
conta própria, indo até o banheiro, onde o som da água caindo é ouvido.
Mesmo tímida e sentindo meu corpo tremer, entro no box atrás dele e passo
os braços em volta do corpo sarado.
— Eu quero mais uma vez — sussurro, ao beijar suas costas.
— Eu também — ele responde. Vira o corpo na minha direção,
segura meu rosto entre as mãos e beija minha boca.

∞∞∞
Após o banho, visto minha roupa enquanto o observo vestir o traje
social. Ele parece perceber meus pensamentos, e com um sorriso de canto,
que de alguma forma parece carregar uma tristeza, inicia uma conversa que
me deixa surpresa.
— Sei que você deve estar ansiosa para conhecer os lugares, as
pessoas e talvez até se relacionar com outros caras, mas se em algum
momento dos dias que estiver aqui, você se sentir sozinha, ou quiser
companhia, pode vir nesse quarto. — Ele me entrega um cartão, o mesmo
que ele usou para abrir a porta. — Na mesa de cabeceira, ao lado do
telefone, tem anotado meu número. Ligue que virei te encontrar, a qualquer
hora.
Por essa, eu realmente não esperava.
— Obrigada — agradeço, meio atônita. Ele oferece um sorriso de
lado.
Juntos, saímos do quarto e entramos no elevador, agora com uma
distância que não existia na noite anterior. O encaro, admirando sua
elegância, postura e a roupa de alta costura. Se pudesse, tiraria muitas fotos
para lembrar desse dia.
As portas de metal se abrem no andar em que estou hospedada.
Sorrio para ele e saio do elevador, dando alguns passos antes de me virar
para olhar para trás. As portas estão quase se fechando, e tudo o que vejo é
o olhar dele fixo em mim. E eu nem sei o seu nome.

∞∞∞
Estou estirada na cama do quarto em que estou hospedada, enquanto
lá fora o sol brilha intensamente. Aqui dentro, mais precisamente dentro da
minha mente, um turbilhão de emoções compete por espaço. Não consigo
decifrar o que estou sentindo. Será empolgação? Encantamento? Medo?
Maravilhamento? A única certeza é que meu coração bate acelerado, uma
sinfonia desordenada e pulsante.
De repente, coloco as mãos sobre o rosto e, sem conseguir me
conter, começo a rir. A situação parece saída de um filme clichê, aqueles
onde o homem atraente e rico se apaixona pela garota comum. Mas, aos
poucos, meu riso se dissipa.
A realidade é diferente, cruel até. Não estou em um filme nem em
um conto de fadas. Na realidade, sou a garota que ganhou um sorteio e que,
em breve, voltará para casa, onde o medo reina e relações afetivas parece
ficção.
Decido agir, levantando-me de um impulso repentino.
— Não ficarei nesse quarto. Estou aqui para aproveitar cada
momento como se fosse o último. — repito para mim mesma. — Estou na
Austrália, um lugar onde perdi minha virgindade com um homem incrível,
diante do oceano, e ainda não avistei um coala ou um canguru, nem me
deparei com aranhas perigosas ou crocodilos.
Um sorriso determinado se forma em meu rosto enquanto me arrumo
rapidamente para ir à praia. À noite, quando me deitar, sonharei com o
homem bonito e misterioso que cruzou meu caminho.
Chegando à praia, estendo minha toalha na areia e me sento,
contemplando o vasto oceano. Os surfistas aproveitam as ondas, enquanto
ao meu redor, tanto locais quanto turistas, desfrutam do sol, brincam e riem.
Ao fechar os olhos para sentir a brisa suave acariciar meu rosto, algo
áspero e molhado toca minha bochecha. Abro os olhos, e deparo-me com
um cachorro de olhos espertos me encarando.
— Olá! — Cumprimento-o, incerta se ele é amigável ou tem
intenções menos amigáveis. No entanto, ele balança o rabo e estende a
língua.
— Ah, você é bonzinho. — Dou-me a liberdade de passar a mão em
seu pelo, e rapidamente ele se esfrega em mim, arrancando uma risada
minha. Aproveito para enchê-lo de carinho.
— ZEUS! — Alguém grita, e o cão levanta e corre até o chamado.
Uma garota loira, com cabelos ondulados característicos de quem
vive à beira-mar, começa a falar em inglês com o cachorro. Em seguida, ela
se aproxima de mim e continua a falar rapidamente em sua língua, muito
mais rápido do que consigo processar em minha mente.
— I am, no inglês... — Ai, que vergonha.
Ela arqueia a sobrancelha.
— Português. — prossigo. — Brasil.
— Oh, você é brasileira.
Ao ouvir sua resposta em meu idioma, quase sinto vontade de
abraçá-la.
— Sou Zoe Moser. — ela estende a mão, e eu aceito.
— Luara Almeida. — apresento-me. — Então esse bonitão se chama
Zeus. — aponto quando o cachorro volta para perto de mim.
Ela sorri.
— Sim, esse é o cão fugitivo. — ela fala português com um sotaque
encantador.
Zeus parece entender que estamos falando dele e abana o rabo
peludo.
— Está de passeio? — Zoe pergunta, fazendo-me desviar meu olhar
do cachorro para ela.
— Por duas semanas.
— Se precisar de um guia para conhecer os melhores lugares de
Gold Coast, conte comigo.
Apesar de ser alguém que acabei de conhecer, sinto-me segura ao
assentir. Há algo no olhar de Zoe que transmite confiança e familiaridade.
— Vai ser ótimo. Os únicos lugares que conheci foram o restaurante
do hotel e a praia.
Ela sorri.
— Está hospedada no Paradise? — pergunta.
— Sim.
— Não quero soar mesquinha, mas o Paradise é do meu pai.
Abro a boca surpresa.
— Sério? — ela assente. — Você também trabalha lá?
— Não, por enquanto estou estudando na universidade da capital.
— Ah, que legal. — sorrio amigavelmente.
— Posso te chamar de Luara? Sem formalidades?
— Sim, claro.
— Então, Luara, eu preciso ir, devolver esse super cão ao meu pai,
mas se estiver tudo bem, posso passar no hotel mais tarde.
— Por mim vai ser ótimo.
Antes que ela possa se despedir, Zeus escapa novamente e sai em
disparada. Ela acena para mim enquanto persegue o cão fugitivo.
Continuo sentada, observando o mar, mal percebendo o tempo
passar. Poderia ficar aqui todos os dias, apenas apreciando a brisa em meu
rosto e a beleza da paisagem.
— Nos cruzamos novamente. — A voz ao meu lado me faz erguer o
rosto, e não compreendo por que meu coração acelera.
O desconhecido está parado ao meu lado, sem camisa, revelando seu
corpo atlético, e segurando uma prancha de surfe sob o braço.
Luara Almeida

— Olá, surfista. — Cumprimento em tom de humor, fazendo-o sorrir


de lábios fechados. — Como você está? — perguntei.
— Tive uma noite incrível, e mesmo com o dia turbulento, sinto-me
ótimo. — respondeu, olhando-me com tamanha intensidade que sinto um
leve pulsar onde ainda dói. — E você? Aproveitando o dia?
Assenti.
— Bastante, estou fazendo nada, além de observar o mar. É como se
ele me chamasse para ficar aqui por dias.
— O mar é bem convidativo. Quer surfar?
Acabo rindo.
— Não mesmo. Nunca soube andar de skate, imagina ficar sobre
uma prancha água.
— Posso te ensinar. Você vai gostar.
Ficamos nos fitando. Mordo o lábio inferior, ponderando seu convite
até que me pego pensando: "Por que não? Quando terei outra
oportunidade?"
Fico de pé, tiro a blusa que estou usando, mas por timidez, continuo
com o short de pano mole.
— Vamos lá. — ele corre na minha frente, e com o sorriso mais
sincero que já dei, o acompanho.
Ao chegar mais perto da água, percebo que ele já está preparando a
prancha.
— Você está pronta para entrar nessa aventura? — ele pergunta com
entusiasmo.
— Claro, nunca imaginei que fosse aprender a surfar na Austrália,
mas aqui estou eu. — respondo animada.
Caminhamos até a beira da água, e o som das ondas fica mais alto.
Ele se posiciona ao meu lado, enquanto me dá algumas instruções básicas.
— Primeiro, você precisa ficar deitada na prancha e esperar a onda
certa. Quando ela se aproximar, reme rápido e, quando sentir a força dela,
levante. Simples assim.
— Simples? — Digo rindo. — Você fala como se fosse fácil.
— Vai ver, você pega o jeito rápido. — Ele me dá um tapinha
encorajador no ombro.
Primeiro, ele me instrui na areia, deito na prancha, e depois me
levanto, repetindo isso algumas vezes, até que ele me conduza para a água.
Ele me ajuda a deitar na prancha, e até nisso eu dou um pouco de
trabalho.
Ele continua a explicar o que devo fazer, e quando finalmente uma
onda baixa se aproxima, começo a remar freneticamente, como se estivesse
competindo nas Olimpíadas. Por sorte, consigo me levantar, mas a
estabilidade é uma história diferente.
— Ei, isso é mais difícil do que parece! — Grito para ele, que está
rindo ao meu lado.
— Você está indo muito bem para a primeira vez! Tenta se
equilibrar, vai! — Ele dá um impulso na prancha ao meu lado.
Concentro-me em não cair e, surpreendentemente, consigo ficar de
pé por alguns segundos antes de me desequilibrar e cair na água.
— Quase lá! — gritou, nadando em minha direção.
— Quase, mas não o suficiente. — Respondo, rindo enquanto ele me
ajuda a subir na prancha novamente.
Passamos boa parte do dia rindo, tentando surfar e, claro, levando
alguns tombos. No final, mesmo que eu não tenha me tornado uma
profissional, é uma experiência incrível.
— Acho que vou deixar o surfe para os especialistas. — Digo,
ofegante, enquanto balanço os braços na água.
Ele ri.
— Pode não ter pegado muitas ondas, mas pelo menos não desistiu.
E é assim que se aprende, com a prática.
— Talvez eu precise de mais algumas aulas... e talvez um pouco
menos de água salgada no nariz. — Brinco.
— Vai ver, você é uma surfista nata e só precisa de mais um pouco
de prática. — Ele sorri, jogando água na minha direção.
Estou imersa na água, deixando que as ondas suaves envolvam meus
pés enquanto ele, o desconhecido, se aproxima com uma ternura que me faz
sorrir. Ele retira com habilidade a tornozeleira de mim, um gesto simples,
mas que cria uma conexão entre nós.
Ao sentir a textura da areia sob meus pés descalços, uma sensação de
liberdade se espalha por mim. Observo o desconhecido com admiração,
percebendo o desejo refletido em seus olhos intensos.
— Você é linda, parece uma sereia. — Ele se aproxima, eliminando
qualquer distância entre nós. Suas mãos envolvem minha cintura, e sem
hesitação, me ergue, fazendo com que minhas pernas se entrelacem em
volta de seu corpo.
O entorno parece desaparecer enquanto ele me segura. Olho ao
redor, notando a distância que mantemos das poucas pessoas na praia. Sinto
uma mistura de emoções, mas nenhuma delas é medo. Com ele,
experimento uma liberdade que me permite ser jovem e viver o momento.
Seus lábios exploram meu pescoço, deixando beijos e mordidas
suaves. Uma trilha de sensações que percorre meu queixo, bochechas e
termina nos lábios, onde nos entregamos a um beijo faminto. Não é apenas
um encontro de bocas, mas de desejos que se entrelaçam.
Ele afasta seus lábios dos meus e, olhando profundamente nos meus
olhos, pronuncia suavemente:
— Beautiful girl.
Sinto-me arrepiar com suas palavras, uma mistura de elogio e
carinho que ressoa em meu peito.

Stefan Moser
Acompanhei a garota, cujo nome desconheço, até o quarto onde está
hospedada. Trocamos beijos deliciosos pelo caminho, e me vi tentado a
entrar no quarto para repetir o que aconteceu, mas resisti. Ela é diferente, e
não quero magoá-la. Por isso, nos despedimos à porta, e eu segui para
minha casa.
Ao longo do trajeto, o sorriso, os olhos e até o nariz pequeno e
arredondado da garota não saíam da minha mente.
Já me envolvi com hóspedes, mas foram casos de uma única noite, e
nada mais. Então, por que com essa garota está sendo diferente? Eu poderia
descobrir o nome dela facilmente, bastava verificar o registro no quarto, no
entanto, optei por não fazê-lo. Essa dinâmica de agirmos como dois
desconhecidos é excitante.
Ao abrir a porta da minha casa, dou de cara com Kylie, sentada no
sofá com uma taça em mãos. Seu olhar se prende em mim assim que passo
pela porta.
— Kylie, lembro de te dar a chave da minha casa em caso de
emergências. — Falo ao fechar a porta às minhas costas.
Ela sorri de forma despreocupada.
— E quem disse que não é uma emergência?
Caminho até a cozinha e pego uma bebida.
— Estou ouvindo, qual seria a emergência que a fez invadir minha
casa?
Ela fica de pé e caminha com passos lentos em minha direção.
Kylie é uma mulher linda, já era assim na adolescência, e o tempo a
deixou ainda melhor. Seus cabelos, antes loiros, hoje são vermelhos vivos.
Seu rosto fino tem o queixo arrebitado.
— Estava em casa entediada e decidi vir aqui. — Ao ouvir sua
resposta, a encaro. — Falar sobre a festa da nossa filha. — Completa.
— Sei.
— É a verdade. — Ela se aproxima ainda mais até que suas mãos
toquem em mim. — E depois dos termos burocráticos, poderíamos relaxar.
— Suas mãos deslizam pela minha camisa, e mesmo que seja algo que
fazemos às vezes, eu a interrompo, segurando seus pulsos, a afasto.
— Hoje não vai rolar. Estou bastante cansado. Amanhã passo na sua
casa e falamos sobre a festa. Hoje realmente preciso descansar.
Ela abre a boca surpresa, mas se afasta, claro que não sem
questionar.
— Stefan Moser negando sexo, essa é novidade. Estou bastante
surpresa. Posso saber o porquê? Nem adianta dizer que está cansado; já
transamos com você exausto após uma viagem de horas.
Levo a garrafa de long neck até a boca, e enquanto sinto o gosto
amargo preencher meu paladar, pondero se devo ou não falar a verdade do
que está acontecendo.
Stefan Moser

— Conheci uma pessoa. — Minha resposta parece surpreendê-la


ainda mais.
— Uau, é a primeira vez que você fala que conheceu alguém. Estão
namorando?
Caminho até a sala e me sento na poltrona.
— Não, a vi duas vezes, mas sinto que é algo diferente.
Ela se aproxima e toma assento no sofá à minha frente.
— Posso saber quem é?
— No momento não. — Como vou dizer que nem mesmo eu sei
quem ela é, além da garota que não sai da minha cabeça, ocupando cada
maldito pensamento meu.
— Quanto mistério.
Dou de ombros.
— Respondi sua pergunta, falei mais do que deveria. Agora, eu
realmente quero ficar sozinho.
Ela me encara, e quando penso que ela vai ficar de pé, ela
simplesmente levanta e senta no meu colo, segura meu rosto e me beija. O
beijo não dura nem dois segundos, pois rapidamente a afasto.
— O que foi isso, porra?
Ela sorri ao sair de cima de mim.
— Só quero te mostrar que, independentemente de quem seja essa
mulher que está te conquistando, a amizade que temos, esse vínculo, você
nunca terá com outra. — Ela se aproxima novamente e beija o canto dos
meus lábios. — Hoje vou deixar passar e irei para casa, mas enquanto você
não estiver em um relacionamento sério com quem quer que seja, não aceito
um não. É combinado, lembra?
Assim que ela se afasta, tombo a cabeça no encosto da poltrona e
respiro profundamente.
Foi só fechar os olhos para que toda a cena de minutos atrás se
apagasse, e tudo o que consigo visualizar é o sorriso da morena brasileira.
Um sorriso que deixou uma marca indelével na minha mente.

∞∞∞
Amanhece e decido ir até a casa de Kylie. Ao chegar, encontro Zoe à
mesa tomando seu desjejum. Me aproximo e a beijo no topo da cabeça.
— Bom dia, filha. Onde está sua mãe?
— Bom dia, pai. Ela está descendo. Junte-se a mim enquanto isso.
Puxo uma cadeira e me sento ao lado dela.
— Quando volta para Sydney? — pergunto, pois Zoe está cursando
artes na capital de Nova Gales do sul.
— Daqui a vinte dias.
— Antes de ir, vamos pegar umas ondas juntos.
Ela sorri animada.
— Eu vou adorar, pai.
Os passos dos saltos de Kylie são ouvidos quando ela se aproxima.
— Olha só, decidiu aparecer cedo. — Ela me beija no rosto, algo que
é costume entre nós.
— Você disse que precisávamos falar sobre a festa, aqui estou.
Zoe se anima.
— Eu fiz uma lista com os convidados. Posso chamar uma pessoa
que conheci na praia?
— Um estranho? — Kylie questiona.
— Mais ou menos, é uma garota que deve ter a minha idade. Ela é
bem legal, chama Luara. Hoje vou chamá-la para dar um passeio.
Encaro minha filha, e quando vou perguntar de onde essa garota é,
Kylie me interrompe.
— Será que não vai ter problema fazermos a festa de Zoe na sua
casa, Stefan?
— Não.
— Eu e o papai já conversamos. — Zoe fala animada.
— Ah, tá. Pensei que agora que ele está namorando...
— Namorando? — Zoe me encara. — Pai, você está namorando?
Nesse momento, percebo o quanto isso parece ser uma notícia ruim
para minha filha, mesmo que minha vida amorosa seja um assunto só meu.
— Não, só conheci uma pessoa, e estou interessado.
— E você e a mamãe? — Ela tem os olhos lacrimejados ao
perguntar.
— Não temos nada, Zoe. Você já está bem crescidinha para saber
que ambos estamos solteiros.
Ela fica de pé abruptamente.
— Eu não quero uma madrasta. Pensei que vocês se gostassem, já
que vivem se pegando.
Também me levanto.
— Já vi que o assunto não era a festa e sim meus relacionamentos.
Não vi essa comoção toda quando sua mãe estava namorando aquele
médico. Eu preciso ficar solteiro o resto da vida?
Zoe encolhe os ombros.
— Eu também não gostava dele.
Respiro fundo e me aproximo dela.
— Independentemente do meu status de relacionamento ou de quem
me relaciono, você sempre será minha prioridade, e meu bem maior. — A
beijo na testa com ternura. — Agora, vou ir trabalhar.
Lanço um olhar que, se pudesse, soltaria faíscas em Kylie antes de ir
embora. Ao entrar no carro, respiro fundo.
— É só o que faltava. Aos trinta e cinco anos ter que dar satisfação
dos meus relacionamentos.

Luara Almeida

Caminho casualmente em direção à recepção do hotel, me


preparando para mais um dia de descobertas em Gold Coast. O sol já
ilumina o céu, e a brisa marinha promete mais um dia agradável.
Ao chegar à entrada, meus olhos encontram Zoe, que me vê e acena
animadamente. Pondero continuar meu caminho, mas algo me faz parar
quando percebo que ela se aproxima.
— Luara! — exclama Zoe, sorrindo. — Que coincidência te
encontrar aqui. Como vai?
— Zoe, que surpresa! Estou bem, obrigada. E você?
Ela responde animada:
— Ótima! Estava indo até o seu quarto. Queria te chamar para
conhecer alguns pontos turísticos da cidade. O que acha?
Sorrio, achando a proposta bastante atraente.
— Seria incrível! Conhecer alguns lugares com alguém que vive
aqui é sempre melhor do que seguir sozinha. O que você sugere?
Zoe, cheia de entusiasmo, começa a listar alguns lugares que,
segundo ela, são imperdíveis em Gold Coast. A conversa flui naturalmente,
e logo estamos combinando detalhes do nosso dia de exploração pela
cidade.
Zoe sugere começarmos o dia visitando um santuário de animais
nativos, e eu não consigo recusar uma oferta dessas. Seguimos para o local,
onde ela me apresenta aos coalas, aquelas criaturas adoráveis que sempre vi
em fotos e vídeos. Ao vê-los pessoalmente, não consigo conter minha
empolgação. Zoe ri da minha reação e me ajuda a tirar várias fotos,
enquanto compartilha curiosidades sobre esses marsupiais preguiçosos.
De lá, seguimos para um espaço onde cangurus vivem livremente. É
a primeira vez que vejo um canguru de perto, e confesso que fico encantada
com esses animais tão peculiares. Eles são graciosos, pulando com uma
elegância única. Zoe, notando minha fascinação, me incentiva a me
aproximar, e até consigo tocar em um deles. Mal posso esperar para mostrar
as fotos para minha mãe e minha irmã, que ficarão tão empolgadas quanto
eu.
Em determinado momento, após conhecer vários animais, paramos
em uma praça de alimentação, e Zoe decide iniciar uma conversa, talvez
para nos conhecermos melhor.
— Você vai ficar até que dia? — perguntou, levando o canudo de
papel à boca enquanto saboreia seu suco de frutas.
— Hoje é o meu quinto dia aqui. Em dez dias, preciso estar dentro
do avião de volta ao Brasil.
Ela suspira desanimada.
— Queria que você morasse aqui. Eu sabia, desde que te vi na praia,
que você seria uma pessoa legal. Zeus nunca se engana, e ele não gosta de
se aproximar de humanos, mas com você, ele até se esfregou.
Sorrio ao me lembrar do cão fujão.
— Ele é muito fofo. Sendo honesta com você, se não fosse pela
minha família, eu ficaria aqui sem pensar duas vezes. Aqui é como viver no
paraíso, você tem muita sorte.
Ela faz um som engraçado como se discordasse de mim.
— Eu gosto de ficar aqui somente o essencial, por isso optei por
fazer faculdade em Sydney.
— Sério? O que você cursa?
— Artes. Adoro desenhar. Acho que herdei isso do meu pai, mesmo
ele não praticando muito. Ele é um grande artista e consegue até mesmo
desenhar com traços delicados e perfeitos uma pessoa.
— Uau, isso é legal. Eu sou zero para artes, mal consigo desenhar
um círculo.
Ela ri.
— No Brasil, como é? Mesmo falando o seu idioma, eu nunca fui lá,
mas pretendo ir um dia.
Nesse momento, penso no Brasil e na pessoa que sou lá, a qual não
tem nada a ver com quem estou sendo aqui. Nem ao menos tenho amigas.
Se não fosse por Renata, não teria nem com quem conversar.
— Lá também tem praias lindas, mesmo que eu nunca tenha
conhecido uma. Vejo na televisão ou na internet.
— Sério que você mora lá e nunca saiu de sua cidade?
— Sim.
Noto que talvez agora ela perceba a nossa diferença social.
— Espero que quando você voltar, você possa explorar as belas
paisagens litorais brasileiras.
Sorrio, pois por um momento pensei que ela seria diferente comigo.
— No próximo fim de semana, é o meu aniversário. — Ela começa a
dizer. — E vai ter uma festa na casa do meu pai, e eu quero muito que você
vá. Prometo que será divertido.
— Claro, vou adorar.
Após comermos na praça de alimentação, continuamos a explorar
alguns lugares, e ao lado de Zoe, percebo o quanto estou gostando dos meus
dias aqui.
Luara Almeida

Parece que o tempo aqui passa muito rápido.


Eu queria poder parar o relógio e fazer com que os dias que restam
durem muito mais tempo.
Em dois dias é o aniversário da minha mais nova amiga - e única -
australiana, e irei a uma festa. Não será só a minha primeira festa aqui nesse
país, mas também na vida. Eu nunca fui em festas, a não ser nas do
aniversário da minha irmã, que Fernando fazia questão de celebrar com
uma festinha infantil. Somente quando ela completou onze anos que ele
parou de fazer. Enfim, é a minha primeira festa de adultos. Quero que seja
especial, pois será minha recordação para a vida toda.
Com entusiasmo, levanto da cama e vou até a janela, onde o tempo
está um pouco nublado. É a primeira vez que o clima não está ensolarado
desde que cheguei. No entanto, mesmo com o risco de chuva que pode se
aproximar, noto que surfistas estão aproveitando as ondas que parecem
ainda maiores.
Isso me faz lembrar do estranho que me ensinou a ficar de pé sobre
uma prancha, ou quase.
Falando nele, meu olhar vai até a mesinha, onde deixei o cartão que
ele me entregou. E se eu fosse... não, isso é loucura. Ele não é do tipo que
faz sexo mais de uma vez com a mesma mulher... ou é? Ele me deu um
cartão, sinal de que gostou e quer mais.
Com esse tempo fechado, corro risco de sair e pegar uma baita
chuva. Não conheço como funciona aqui quando o tempo fecha, por isso
prefiro nem arriscar. Aqui mesmo no hotel tem muitas coisas que posso
fazer... como ir até a cobertura e ligar para o desconhecido mais lindo que
eu já vi.
Indecisa, pego o cartão e o encaro.
— Vou ou não vou?
A Luara que vive reprimida com medo de tudo e todos jamais iria,
porém, essa mesma Luara jamais iria ter perdido a virgindade com um
desconhecido. E nem teria aprendido a surfar. Já tivemos mais de um
encontro, por que não ser eu a tomar a iniciativa?
Vou até o banheiro, tomo um banho, passo hidratante no corpo e
perfume para ficar bem cheirosa. Coloco a melhor lingerie que trouxe na
mala, que imagino não ser a mais sexy que ele já viu. Pego um vestido de
alcinha fina na cor rosa, solto meu cabelo e encaro meu reflexo.
É isso, a Luara que está aqui fará tudo o que a Luara medrosa não
faria. Decidida, saio do quarto, com o cartão em mãos, que por sinal estão
trêmulas e geladas.
Caminho tentando parecer decidida, quando por dentro estou pura
confusão. Entro no elevador, aproximo o cartão e aperto o botão da
cobertura. Fico encarando os números subirem, e a cada andar meu coração
parece que vai sair pela boca.
Quando chego ao meu destino e as portas se abrem, arregalo os
olhos, pois parado na minha frente está ele, o estranho que mesmo que eu
não o conheça, não sai da minha cabeça.
— Olá. — o cumprimento sem jeito, porém minhas palavras morrem
quando ele envolve minha cintura e me puxa em sua direção.
— Estava indo até você nesse momento, mas não sabe o quanto
estou feliz que foi você que veio até mim. — sussurrou entre nossos lábios.
— Você... gostou? — não queria soar tão insegura, mas não consigo
evitar.
— Se eu gostei? — Ele aproxima ainda mais seus lábios dos meus e
me dá um rápido selinho. — Foi a melhor surpresa que tive em anos.
Por que ouvir essas palavras faz um frio surgir em minha barriga?

Stefan Moser
Fiquei no quarto de hotel andando de um lado para o outro,
pensando se deveria ou não ir até ela, e quando tomei a decisão, não poderia
ter ficado mais surpreso ao encontrá-la no elevador. Ela usou o cartão que
dei a ela e veio até mim. Porra, por que estou me sentindo como um
adolescente?
Agora, estamos deitados na cama, ela aconchegada a mim, e eu
nunca me senti tão bem na companhia de uma mulher.
— Falta pouco para eu ir embora. — ela falou tão baixo que quase
não consegui entendê-la.
Algo que notei, além de sua falta de experiência, é que, mesmo que
ela tente mostrar confiança, ela é insegura. Percebo isso em seu olhar, que
não consegue ficar preso ao meu por muito tempo. Quando tenta, desvia
rapidamente o foco e encara os próprios pés.
— Você gosta de morar no Brasil? — perguntei, e algo em mim
quase implora para que ela responda que não, que ela odeia morar lá, e que
ficaria aqui.
Mas que merda de pensamento é esse? Não me reconheço.
— Sim. — demorou para ouvir sua resposta. — Minha mãe e minha
irmã estão lá, e elas são tudo para mim.
É a primeira vez que a ouço falar algo sobre sua vida, abrindo uma
janela entre nós dois que não existia antes.
Mesmo que seja excitante esse lance de agirmos como dois
desconhecidos, sem nem ao menos sabermos o nome um do outro, sinto a
necessidade de ouvir sair de seus lábios, seu nome, sua idade, o que gosta
de fazer, quais são suas paixões. Acaricio seu cabelo e deixo um beijo em
sua testa.
— Me fale seu nome. — sussurro ao pedir.
Ela levanta o rosto e me encara.
— Eu gosto desse joguinho que temos, mas também quero te
conhecer. — continuo. — E para provar isso, falarei meu nome, e você
decide se revela ou não o seu.
Ela assente.
— Me chamo Stefan.
— Como em "The Vampire Diaries".
Franzo as sobrancelhas, mas me recordo da série que ela está
falando.
— Sim. Espero que entre os dois irmãos, Stefan seja o seu favorito.
— brinco.
— Sinto em lhe dizer que torcia para o Damon.
Abro a boca, fingindo estar ofendido.
Ela volta a se aconchegar em mim, e quando penso que está pegando
no sono, sua voz surge, e travo ao ouvir ela dizer seu nome.
— Luara, me chamo Luara.
Luara... a garota que minha filha vai convidar para o aniversário.
Porra, tinha como isso se tornar menos complicado.
Luara Almeida

Após dizer meu nome, Stefan fica repentinamente silencioso. Por


isso, ergo meu corpo para olhá-lo, tentando discernir se disse algo que ele
não gostou ou se ele simplesmente perdeu o interesse em mim.
— Está tudo bem? — pergunto, preocupada.
— Sim, linda. — Ele acaricia meu rosto. — Luara é um belo nome.
— Obrigada.
— Quantos anos tem?
A insegurança surge mais uma vez, pois temo que, ao saber minha
idade, ele possa recuar. No entanto, decido não mentir.
— Vinte e um.
Percebo suas sobrancelhas se erguerem.
— E a sua? — questiono.
— Trinta e cinco.
É minha vez de erguer as sobrancelhas. Ele é bem mais velho que eu,
embora eu já esperasse por isso.
— A idade... é um problema para você? — Por favor, diz que não.
Ele me encara com tanta intensidade que sinto um frio na barriga e
meu coração acelerar. Pode uma pessoa sofrer um infarto por ficar ansiosa
ou, pior, por estar se apaixonando por alguém que nunca mais verá?
Stefan, o qual agora sei o nome, acaricia meu rosto de forma gentil e
carinhosa.
— Não, Luara, a idade não é um problema para mim. — Começo a
abrir um sorriso. — Mas, sendo sincero, você é a primeira garota que me
envolvo que tem tanta diferença de idade comigo.
Mordo o lábio inferior, sem saber o que devo dizer ou se devo
permanecer em silêncio.
— Mesmo assim, gosto da sua companhia e de dividir esses
momentos com você, mesmo que seja temporário.
Meu sorriso começa a se desfazer, mas antes que ele perceba, volto a
colocá-lo no rosto. Estou me iludindo, esquecendo que tudo isso que estou
vivendo é temporário e que em poucos dias estarei longe daqui,
provavelmente sem nunca mais saber dele.
— Sim, em poucos dias estarei de volta ao meu país. — Tento
mostrar uma confiança que não existe.
Me aconchego novamente em seus braços, tentando evitar olhá-lo,
pois até mesmo o sorriso forçado às vezes é cansativo de manter no rosto.
— Me fala algo que gosta muito no Brasil. — Sua pergunta
repentina me faz sorrir.
— Minha mãe e minha irmã. — A resposta é fácil.
— O que gosta de fazer?
Penso por mais tempo do que o necessário, pois não tenho algo que
realmente goste.
— Hum… eu trabalho, depois volto para casa. É basicamente isso
todos os dias.
— Você não sai?
Ele vai conhecer a Luara que eu não quero, por isso, decido ser vaga.
— Eu gosto de ficar em casa.
O silêncio predomina, e penso por um momento que ele vai fazer
mais perguntas ou está pensando no que eu disse.
— Está com fome?
Levanto o tronco do corpo e o encaro.
— Muita.
Ele sorri.
— Vamos até a cozinha; vou preparar algo que aposto que vai gostar.
Seguimos até a cozinha, e Stefan começa a vasculhar a geladeira e os
armários em busca dos ingredientes necessários. Enquanto ele está ocupado,
aproveito para observar o apartamento. É espaçoso, bem decorado, e há um
clima agradável no ar.
— Espero que não se importe com um simples macarrão com molho
de tomate. Não sou um chef profissional, mas me viro bem na cozinha —
ele comenta, olhando por cima do ombro.
— Não me importo de forma alguma. A simplicidade muitas vezes é
o segredo da boa comida — respondo, tentando não revelar minha
ansiedade.
Enquanto ele cozinha, puxo assunto para descontrair.
— Você gosta de cozinhar?
Stefan sorri e volta a mexer na panela.
— Na verdade, sim. Sempre gostei de preparar minhas próprias
refeições. É uma forma de relaxar para mim.
O aroma do molho de tomate começa a se espalhar pela cozinha,
despertando meu apetite. Ele cozinha com uma desenvoltura que me
surpreende, e percebo que quero conhecer mais sobre esse homem
misterioso que, de alguma forma, entrou em minha vida de maneira tão
inesperada.
— E você, Luara? Além de ficar em casa, o que mais gosta de fazer?
A pergunta me pega de surpresa, mas resolvo responder
honestamente.
— Bem, ultimamente, estou tentando experimentar coisas novas.
Acho que é hora de sair um pouco da minha zona de conforto.
Ele se vira para mim com um olhar curioso.
— Como surfar, por exemplo?
Dou uma risada leve, lembrando do dia na praia.
— Sim, exatamente. Ainda estou me acostumando com a ideia, mas
foi uma experiência interessante.
Stefan serve o macarrão em dois pratos, e nos sentamos à mesa.
— Está ótimo. — Elogio na primeira garfada. Ele sorri de maneira
galante.
— Obrigado. — Diz ao pegar a taça de vinho e levá-la à boca.
— O seu quarto parece uma casa. — Falo, pois tem tudo o que um
lar tem, nada parecido com um quarto de hotel.
Ele continua com o sorriso de lado.
— Esse é um dos benefícios de ser rico. — Responde de forma
despreocupada.
— Você nunca fica entediado, não é?
— Às vezes... — Ele faz uma pausa ao colocar a taça sobre a mesa.
— Sinto-me sobrecarregado.
Abro ainda mais os olhos, surpresa com sua resposta.
— O que faz quando isso acontece?
Seu olhar se prende ao meu.
— Venho aqui.
Olho ao redor e percebo que esse quarto realmente tem toques
pessoais.
— Aqui é o seu refúgio. — Não foi uma pergunta, mas mesmo assim
ele assentiu. — Por que estou aqui?
Ele pressiona as pálpebras.
— Você é um caso que ainda não consegui desvendar, Luara.
Isso faz todos os meus batimentos errarem. Encaro-o sem palavras e,
decidida, levanto-me, ainda vestindo sua camisa social branca que cobre
minha nudez. Caminho em direção à enorme varanda.
— A visão aqui é linda, já sentiu vontade de ligar o som... — Pego
meu celular e coloco para tocar uma música animada, "Happy" de Pharrell
Williams. Animada, vou até a varanda. Levanto os braços e começo a
balançar meu corpo de forma desengonçada, não me importando com o que
ele possa pensar. Pela primeira vez, posso fazer isso, e talvez seja a última.
Chego à varanda e abro os braços, sentindo o vento em meu rosto.
Estamos no ponto mais alto de toda a costa, longe dos olhares curiosos.
Longe de tudo o que me causa medo. Fecho os olhos, experimentando pela
primeira vez uma felicidade que nunca senti.
Braços contornam meu corpo, e o rosto de Stefan surge no vão do
meu pescoço. Viro-me de frente para ele.
— Agradeça por ter isso, Stefan, todos os dias.
Ele me encara, e noto certa curiosidade em minhas palavras. Antes
que ele possa questionar, seguro seu rosto e beijo sua boca.
O beijo torna-se mais profundo, como se estivéssemos conectados
por algo maior do que nós mesmos. O som da música ao fundo e o suave
balançar das árvores ao vento complementam a atmosfera mágica.
Stefan, surpreso inicialmente, entrega-se ao momento. Sua mão
percorre suavemente a curva da minha cintura, enquanto a minha se enreda
em seus cabelos. Os lábios se separam, mas nossos olhares permanecem
conectados, trocando segredos não ditos.
— Luara... — murmura, sua voz, um sussurro, carregado de
intensidade.
A energia entre nós é palpável, e eu decido quebrar o silêncio.
— Stefan, nunca fiz isso antes, toda essa coisa de desinibição, de
viver o momento. Sempre fui a garota responsável, com medo do
desconhecido. Mas aqui, com você, tudo parece diferente.
Ele sorri, um sorriso que carrega consigo compreensão e ternura.
— Às vezes, Luara, precisamos nos perder para nos encontrar. —
Sua mão afaga suavemente meu rosto.
Ouvimos ao longe o som distante das ondas quebrando na praia. A
noite parece conspirar a nosso favor, e o perfume do oceano se mistura ao
aroma suave do vinho que compartilhamos.
Sem dizer mais uma palavra, Stefan me toma nos braços, e
dançamos lentamente na varanda.
O tempo parece suspenso, e, por um momento, esqueço que tudo
isso é temporário.
Stefan Moser

A manhã seguinte me encontra em um dilema angustiante. Luara e


Zoe se conhecem, e agora, com a festa de aniversário da minha filha se
aproximando, o receio cresce em meu peito.
Por um breve instante, considerei contar a Luara sobre a relação
entre nós, mas, após um dia tão agradável como não experimentava há
muito tempo, decidi que não era o momento certo para estragar tudo.
Passamos o dia explorando, compartilhando risadas e construindo
memórias. Luara se revelou uma companhia extraordinária, alguém com
quem posso ser eu mesmo, sem a bagagem do passado. Esse vínculo, ainda
que temporário, torna a confissão sobre Zoe uma tarefa árdua.
À medida que o aniversário de minha filha se aproxima, a
preocupação intensifica. Em algum momento, Luara descobrirá a verdade, e
essa perspectiva me atormenta mais do que eu gostaria de admitir. O receio
de perdê-la é um preço alto demais para pagar, mas também sei que a
omissão não é uma solução a longo prazo.
Entre a felicidade encontrada nos olhos dela e o peso da verdade que
espreita, encontro-me em um impasse. O tempo é um inimigo implacável, e
minhas escolhas moldarão o rumo de nosso breve encontro. Por ora, tento
aproveitar cada momento, como se fosse o último capítulo de um romance
efêmero que não posso controlar.
Decido sair dos devaneios e, no dia seguinte, após uma manhã
agradável com Luara, tomo a decisão de visitar meus pais. Em particular,
compartilho meu dilema com meu pai, algo que nunca fiz antes.
— Pai, conheci uma garota — inicio, observando sua expressão
curiosa.
Seus olhos brilham, e um sorriso se forma em seu rosto. Parece
genuinamente feliz pela notícia.
— Isso é maravilhoso, Stefan! Fico feliz por você, filho. Como ela
se chama?
— Luara. E, pai, há algo diferente nesse relacionamento. Sinto que
ela está mexendo comigo de uma maneira que nenhuma outra pessoa fez.
Ele acena, compreensivo.
— Quero conhecê-la, filho. Quando posso?
Suspiro, ciente das complexidades que cercam nossa ligação.
— Pai, é complicado. Em poucos dias ela vai embora, e tudo voltará
ao que era antes.
Ele me encara, confuso.
— Por quê? Se vocês se gostam, por que não dar uma chance?
Pondero suas palavras por um momento antes de responder.
— Mesmo que tivéssemos todo o dinheiro do mundo, há algo que
impede esse relacionamento de seguir em frente.
Ele franze o cenho, esperando uma explicação.
— Luara é mais jovem, e nosso tempo juntos é limitado. Não seria
justo arrastá-la para meu mundo complicado. Além disso, há barreiras que
não podemos superar.
Meu pai, percebendo a seriedade em minhas palavras, solta um
suspiro.
— Stefan, você sempre foi cauteloso, mas nunca vi você tão
hesitante. Se existe algo real entre vocês, talvez valha a pena lutar por isso,
independentemente das barreiras.
Olho para ele, agradecendo internamente por seu apoio, mas sei que,
no final, há obstáculos que vão além da vontade. O tempo é meu inimigo, e
o destino, uma força implacável.
Minha mãe está na cozinha, mas decide se juntar a nós. Ela se
aproxima e senta ao lado do meu pai. É impossível não observar o quanto
eles combinam. Tive muita sorte em nascer em uma família amorosa.
— O que estão conversando? — perguntou após dar um rápido beijo
na bochecha do meu pai, que se derrete todo.
Meu olhar encontra o do meu pai. Sei que ele não gosta de ter
segredos da minha mãe, por isso sou sincero.
— Conheci uma pessoa, mais jovem.
— Oh, que interessante. Ela é maior de idade?
Assinto.
— Sim.
— Isso que importa. Se ela é maior de idade e responde pelas
escolhas que faz, fico feliz, independentemente se ela é mais jovem que
você.
Sorrio genuinamente por ter o apoio da minha mãe, mesmo que seja
em algo que eu nem deveria estar dando importância, já que em breve ela
vai embora.
— Mas não se empolgue, mãe. Ela está apenas de passagem pelo
nosso país, e em poucos dias estará longe.
— Ainda não vejo problema nisso. Filho, se você gosta dela, e é
recíproco, vá adiante. Não deixe de viver algo e não coloque a culpa na
distância. Sabemos que temos dinheiro suficiente para você ir para o outro
lado do mundo toda semana, se preciso for.
Passo ainda um bom tempo conversando com meus pais até decidir
voltar para casa. Sei que os conselhos deles fazem sentido. Em meus trinta e
cinco anos, nunca me envolvi romanticamente ao ponto da pessoa não sair
da minha cabeça. Sempre foi apenas sexo. Agora, essa garota surge, e pela
primeira vez, eu não quero que acabe.
Luara Almeida

Estou diante do espelho, desembaraçando meus cabelos enquanto me


preparo para o aniversário de Zoe.
A garota sempre animada me passou o endereço, e mesmo sendo
próximo, chamarei um táxi.
Respiro fundo, pois essa será minha primeira festa, e a incerteza
paira sobre o que esperar. Será como nos filmes da Disney ou nas histórias
de universitários?
Balanço a cabeça, tentando dissipar o nervosismo, e retorno ao
penteado. Modelando as pontas com a chapinha, crio ondas perfeitas que
caem graciosamente sobre meus ombros. Passo os dedos para desfazer um
pouco dos cachos, deixando meu cabelo com um volume acentuado.
Encaro a roupa escolhida, um vestido preto de alcinhas finas e
ajustado, emprestado por Renata. Opto por sandálias de tiras longas em vez
de salto alto, que se encaixam de forma elegante em minhas panturrilhas.
Ao finalizar o visual, permaneço parada diante do espelho, refletindo
sobre os acontecimentos recentes em minha vida. Em poucos dias, fiz uma
nova amiga, conheci um homem encantador e até perdi minha virgindade.
Parece que estou vivendo um sonho.
Meu celular começa a tocar, e o nome da minha irmã aparece na tela.
— Alô.
— Está pronta para arrasar no aniversário da australiana? —
Claro, eu já contei a ela, e Renata foi minha conselheira na escolha do look,
até me guiando na maquiagem. Às vezes, parece que sou a irmã mais nova.
— Sim, estou gostando. Acho que ficou bom.
— Tenho certeza de que ficou linda.
— Obrigada, Re. — Agradeço com um sorriso no rosto. — E como
estão as coisas por aí?
— Estão bem, por incrível que pareça. Meu pai está melhor.
Acredita que ele nos levou para outra cidade, onde há um parque incrível?
Nunca me diverti tanto. Você tinha que ver a mamãe; eles pareciam até
recém-casados.
Meu sorriso aos poucos se desfaz, não por ficar infeliz em ver minha
mãe e meu padrasto se dando bem, mas por perceber que as coisas só
melhoraram depois que saí.
— Fico muito feliz, Re. Agora, preciso ir.
— Que sua noite seja maravilhosa.
Encerro a chamada com o coração aquecido, decidida a não deixar a
ansiedade atrapalhar esse momento especial.
Pego um táxi até a casa na praia onde será o aniversário de Zoe. À
medida que o veículo se aproxima do destino, uma sensação de expectativa
toma conta de mim. O taxista me deixa na entrada e, ao me deparar com a
visão da casa, fico deslumbrada.
A construção é cercada pela brisa do mar, e as ondas quebram
suavemente ao fundo, como uma trilha sonora natural. A areia clara se
estende até a água, e a casa, com sua arquitetura encantadora, parece
abraçar a tranquilidade do ambiente.
Caminho em direção à entrada, absorvendo cada detalhe. As janelas
amplas revelam a vista magnífica do oceano, e o som das gaivotas paira no
ar. A brisa salgada mistura-se com o aroma de flores silvestres, criando uma
atmosfera única e envolvente.
Ao entrar, percebo a decoração cuidadosa que reflete o estilo
descontraído e elegante da aniversariante. A luz suave ilumina o espaço,
destacando detalhes que tornam o ambiente ainda mais acolhedor.
Sinto-me agradecida por fazer parte desse momento especial e
ansiosa para celebrar o aniversário de Zoe em meio a esse cenário
deslumbrante à beira-mar.
Estou distraída, literalmente de boca aberta, observando tudo ao meu
redor, e me assusto quando uma voz surge à minha frente.
— Hi, who are you??
Olho para a mulher parada na minha frente, linda, sério, linda até
demais, de um tipo exageradamente linda. Ela é alta, com o corpo de uma
modelo. Seus cabelos são vermelhos, seu rosto é fino, e seus olhos são
verdes. Ela me lembra uma personagem de um filme ou de um desenho.
— Hi, can you hear me?
Ai meu Deus, não tenho ideia do que ela está falando.
— Hi. — Respondo, sentindo meu rosto queimar de vergonha. —
No inglês...
— Luara, você chegou! — A voz de Zoe me faz soltar todo o ar,
sentindo-me aliviada por ela chegar para me tirar desse momento
constrangedor. — Vejo que conheceu minha mãe.
Zoe se vira para a mulher que agora sei que é sua mãe e começa a
falar no idioma delas, rápido demais para que eu consiga reconhecer
qualquer palavra dita.
— Luara, quero que conheça minha mãe, Kylie.
Estendo a mão para a mulher, que sorri de forma simpática ao
apertar minha mão.
— Vem, quero te mostrar meus amigos. — Ela me puxa para os
fundos, tento acompanhar seus passos. — A propósito, você está linda.
— Você também, e feliz aniversário, eu comprei algo para você.
Ela para de me puxar e me encara.
— Sério? O quê?
Estendo a pequena caixa para ela, que pega empolgada.
— Ah, eu amei. — É um pingente de cachorro, já que foi assim que
nos conhecemos, e eu não tinha ideia do que dar para uma amiga. Sem eu
esperar, ela me abraça. — Muito obrigada, Luara, eu realmente amei.
— Fico muito feliz.
Ela se afasta com um sorriso largo.
— Vem, tem bastante pessoas para te apresentar.
Zoe puxa minha mão animadamente, guiando-me para os fundos da
casa onde a festa está a pleno vapor. A música envolvente e as risadas
contagiantes preenchem o ambiente enquanto nos aproximamos do grupo
de convidados. Mesmo sem entender o idioma, sou recebida com sorrisos
calorosos e gestos amigáveis.
Zoe apresenta seus amigos com entusiasmo, e mesmo sem
compreender as palavras, consigo absorver a energia positiva do lugar.
Cumprimento a todos com um sorriso, tentando me comunicar da melhor
forma possível.
— Today is going to be epic. — Um rapaz diz, e claro, não faço
ideia do que ele está falando, mas o grupo ri, e para não ficar de fora, finjo
um sorriso.
— Shall we go out later? — Uma moça pergunta para Zoe.
Enquanto eles interagem, permito-me observar ao meu redor. A
decoração da casa é incrível, com luzes suaves criando uma atmosfera
mágica. Sinto-me envolvida pela vibe positiva da festa, mesmo sem
entender totalmente o que está sendo dito.
Estou passando o olhar pela casa quando avisto Stefan parado. Num
primeiro momento, penso estar delirando e chego a franzir as sobrancelhas.
No entanto, percebo que, em vez dele vir até aqui, ele volta para o interior
da casa. Para confirmar que não estou ficando louca, vou atrás dele.
Passo pela porta de vidro e viro na direção que ele foi. Ao chegar no
amplo corredor, meus passos travam quando vejo diante dos meus olhos
Kylie, a mãe de Zoe, abraçada em Stefan. Ela o beija no rosto de uma
maneira muito íntima, e meus batimentos aceleram, sem compreender o que
está acontecendo.
— Luara, por que você saiu correndo? — A voz de Zoe faz com que
minha presença seja percebida, e tanto Stefan quanto Kylie me encaram.
— Desculpe, estava procurando o banheiro. — Respondo baixo para
Zoe.
— Antes de ir, quero te apresentar o melhor pai do mundo todo.
Ela começa a ir em direção a Stefan, e mentalmente peço para que
atrás dele esteja o pai de Zoe. No entanto, quando ela enrosca o braço no
homem com quem passei um dia maravilhoso ontem, sinto como se tudo o
que está acontecendo seja fruto da minha imaginação.
— Pai, essa é minha mais nova amiga, Luara Almeida. Luara, esse é
o meu pai, Stefan Moser.
Luara Almeida

Estou em choque.
Como pude me deixar enganar por um rosto bonito?
Ele é casado? Ai, meu Deus, fui a amante dele?
Sinto-me horrível, não acredito. Zoe nunca vai me perdoar, tenho
certeza de que se ela descobrir, me manda embora daqui. Minhas mãos
estão tremendo, todo o medo que por um momento não existia em mim
parece ter voltado pior.
Stefan estende a mão em minha direção, e chego a engolir a saliva
seca que desce raspando. Olho para sua mão estendida e, por um curto
momento, tenho vontade de bater nele. Mas, em vez disso, estendo a minha
e aceito o seu aperto.
— Seja bem-vinda à minha casa. — Ele diz, com os olhos fixos nos
meus.
Puxo minha mão de forma brusca.
— Zoe, onde fica o banheiro? — Pergunto, querendo fugir daqui o
mais rápido possível.
— Vem, vou te levar até lá.
Zoe me guia até o outro corredor.
— Aqui. — Aponta para a porta de madeira escura. — Vou te
esperar lá fora.
Assenti, e antes mesmo dela se afastar, entro no banheiro e tranco a
porta. Apoio as mãos na bancada, e com a cabeça baixa, sinto meus olhos
marejarem.
Como pude ser tão idiota?
Devo ser a pessoa mais burra desse mundo. Fecho os olhos, tentando
me recompor, jogo um pouco de água no rosto, e, claro, a maquiagem que
já quase não tinha, sai com facilidade. Isso que dá não ter dinheiro para
comprar maquiagem de qualidade.
Assim que tenho certeza de que não vou surtar, ou pior, sair correndo
daqui, abro a porta e dou graças a Deus por não ter ninguém no corredor.
Do lado de fora, Zoe está novamente com seus amigos. Timidamente, me
aproximo deles, e é impossível não perceber o pai de Zoe em um canto,
sozinho dessa vez, e pior, com os olhos fixos em mim.
— Luara, o Gutter perguntou o que você mais gosta no Brasil? —
Zoe traduz o que um rapaz de cabelos compridos perguntou.
Forço um sorriso ao responder.
— As músicas são legais. — O que eu poderia dizer? As praias?
Nunca fui. As pessoas? Nem amigos eu tenho.
Eles falam mais alguma coisa, e o Gutter se aproxima de mim.
— Ele pediu para você ensinar a dizer "você é muito bonita" em
português.
O rapaz sorri, e acho que ele está dando em cima de mim.
— Você. É. Muito. Bonita. — Falo pausadamente.
— Vuci é muito bunita. — Ele tenta repetir, me fazendo rir de
verdade.
— Isso. Very good. Congratulations. — Falo, arriscando nas
palavras que aprendi.
Estou distraída rindo quando sinto uma mão nas minhas costas.
— Filha, se importa se eu mostrar umas fotos minhas no Brasil para
sua amiga?
Arregalo os olhos ao ouvir a voz atrás de mim. Como ele pode ser
tão cínico?
— Não, Luara, você vai amar. Meu pai estava em uma praia muito
bonita.
Forço mais uma vez um sorriso e, fingindo estar tudo bem,
acompanho Stefan, que teve o bom senso de tirar as mãos de mim. Quando
chegamos no corredor, falo às suas costas.
— Você deveria ter vergonha.
Ele para e me encara.
— Vergonha?
— Sim, você é casado, um canalha sem vergonha casado.
— É por isso que está me fuzilando com os olhos?
— Você esperava que eu fosse correr e te abraçar?
Ele ri, o que me dá ainda mais raiva, e, ainda rindo, ele volta a
caminhar até chegar em uma porta dupla. Ele a abre, e passo por ele, que
fecha a porta e a tranca.
— Não sei por que trancou. — Resmungo irritada.
Sem eu esperar, ele me puxa em sua direção, fazendo com que
minhas costas se choquem em seu corpo, suas mãos seguram minha cintura.
— Tranquei porque não quero que ninguém atrapalhe o que quero
fazer aqui.
— Não vai acontecer nada, seu traidor.
Ele aproxima a boca da minha orelha.
— Eu não sou casado, Luara. Sou, sim, o pai da Zoe, mas nunca me
casei com a mãe dela. Sou solteiro e desimpedido.
Me afasto, mesmo que meu corpo traidor não queira fazer isso.
— Você sabia que conheci sua filha?
— Sim.
— E por que não me contou?
— Sabia que, quando descobrisse, iria se arrepender do que
aconteceu entre nós. E não estava pronto para lidar com isso, quero dizer,
ainda não estou pronto.
Ele tenta se aproximar, mas recuo. Até ter meu corpo encostado na
mesa.
— Eu não acredito mais em você.
— Eu não menti em nada para você.
— Você omitiu.
Ele continua a se aproximar, até estar tão perto que apenas um palmo
nos separa.
— Luara, eu entendo você ficar assim, mas eu sou um homem
solteiro, e você também, e sou o mesmo que conheceu, o mesmo que
explorou cada pedacinho do seu corpo, lhe deu prazer. Eu sou o mesmo que
foi o primeiro homem na sua vida. Eu sei que o que temos é por tempo
determinado, mas não estou pronto para perder você. — Ele segura meu
rosto entre as mãos.
— Eu não quero magoar a Zoe, entende?
— Sim, e não vamos magoá-la.
Levanto o olhar para fitar o seu.
— Não quero que ela descubra.
— Você tem certeza?
— Sim. Falta pouco para eu ir embora, e não quero partir sabendo
que a única amiga que já tive está chateada comigo. E...
— E?
— Eu também não quero perder você.
— Luara…
Sua boca encontra a minha, em um beijo calmo que vai tomando
uma intensidade maior. Quando percebo, estou sentada na mesa, com as
pernas ao redor do corpo dele.
O vestido embola em minha cintura, sua mão, que já sabe o caminho
para me dar prazer, vai até minha calcinha encharcada. Ele coloca a peça de
lado, e então seu dedo começa a alisar minha carne. Ofego contra sua boca.
— Como eu queria você para mim. — Murmura, e quando seu dedo
me penetra, preciso morder o lábio inferior para não gritar de prazer. —
Linda.
Sua boca encontra a minha, faminta, tirando-me o ar de um jeito que
nunca pensei ser possível.
— Stefan…
— Isso, chama por mim.
Ele afasta a mão, e não demora para que eu sinta seu membro me
invadir. Tombo meu corpo para trás, deitando-me sobre os papéis que
parecem bem organizados. Com uma mão, ele segura minha cintura, com a
outra, aperta meu seio. Seu corpo se movimenta para frente e para trás.
Abro bem as pernas para recebê-lo ainda mais fundo. Ele ergue
minha perna até estar apoiada em seu ombro, e eu nem sabia que conseguia
separar tanto uma perna da outra.
— Stefan…
— Vem, minha linda.
Meu corpo treme, quando mais uma vez ele consegue me fazer ter
um orgasmo, e não demora para ele mesmo encontrar o seu próprio prazer
enterrado em mim. Sinto o líquido quente me invadir, preenchendo-me de
uma forma deliciosamente prazerosa. Ofegantes, permanecemos parados.
— Eu quero você até o último dia que estiver aqui.
Sei que eu queria que ele falasse outra coisa, talvez uma promessa
que nem mesmo ele possa cumprir, mas me apego ao que tem a oferecer.
— Eu aceito.
Após ele sair de dentro de mim, vou até o banheiro que fica em seu
escritório. Estou terminando de me limpar quando escuto uma batida na
porta do escritório. Stefan surge na porta do banheiro.
— Fique aqui, vou falar para Zoe que você já foi.
Assenti, fechando a porta do banheiro. Meu Deus, que situação estou
vivendo, envolvendo-me com o pai da única pessoa que realmente se
mostrou querer ser minha amiga.
Stefan Moser

Abro a porta e dou de cara com Zoe.


— Pai, já mostrou as fotos para Luara?
— Faz um bom tempo, filha. Ela disse que não estava se sentindo
bem e saiu. Após isso, fiquei aqui trabalhando.
— Nossa, vou procurá-la e ver se ela precisa de algo.
— Tá bom.
— A propósito, a mamãe está sentada sozinha perto da piscina, devia
ir fazer companhia para ela. — Ela pisca para mim e sai correndo.
Fecho a porta e vou até o banheiro, onde a garota está.
— Ela já foi. — Informo ao abrir a porta.
— Isso é tão errado, me sinto mal.
Me aproximo dela e acaricio seu rosto.
— Eu também. Poderíamos conversar com ela.
— Não. — Responde rápido. — Vamos deixar assim.
— Tem certeza? — Me aproximo e acaricio seu rosto. — Não
estamos cometendo nenhum crime.
— Eu sei, mas é tudo muito novo pra mim.
— Tudo bem.
Aproximo nossos lábios em um beijo demorado.
— Passe a noite aqui. — Peço, desejando que ela diga sim.
Luara morde o lábio inferior, algo que notei que faz quando está
nervosa, passo o polegar sobre seu lábio.
— Sim. — Sua resposta me faz sorrir. — Vou me despedir de Zoe.
— Em vez de passar pela porta da sala e ir embora, sobe as escadas e
entra na última porta do corredor.
Ela assentiu.
Continuo com a mão em seu rosto como se não conseguisse me
afastar.
— Preciso ir. — Diz, me fazendo recuar.
— Claro.
Ela passa por mim e sai.
Passo a mão no meu rosto. Eu não sei o que é isso que está
acontecendo, mas de uma coisa eu tenho certeza: eu quero essa garota para
mim, e não só por alguns dias.
Luara Almeida
Saio do escritório, conferindo se o corredor está vazio. Ainda
sentindo meu corpo trêmulo, caminho até a área externa e não demoro para
encontrar Zoe, que está conversando com um grupo recém-chegado. Assim
que me vê, ela vem em minha direção.
— Luara, está tudo bem? Fiquei procurando você. — Notar a
preocupação em sua voz me faz sentir a pior pessoa do mundo, e a vontade
de desistir do que combinei com Stefan é grande.
— Fui ao escritório do seu pai, ele me mostrou algumas fotos, mas
minha cabeça está doendo. Saí de lá e fiquei andando pela praia.
— Ah, mas você está bem?
E agora, o que eu faço? Zoe vai ficar tão triste comigo. Minhas mãos
estão tremendo, e sinto uma leve dor no estômago.
— Eu vou para o hotel, já pedi um carro por aplicativo, ele deve
estar chegando.
Ela abre a boca e emite um "oh", e posso ver como minha partida
repentina a deixou triste.
— Claro, eu te acompanho.
— Não é necessário, fique, aproveite bastante sua festa, amanhã
conversamos.
— Tem certeza?
— Sim.
Nos abraçamos, e assim que me afasto, caminho de volta para o
interior da casa, indo até a sala, como se realmente fosse embora, e sendo
honesta, uma parte está a ponto de fazer isso.
Na sala não tem ninguém, paro perto da escada, respiro fundo e
recuo, apresso o passo até a porta, no entanto, quando a abro dou de cara
com Stefan, que está parado com as duas mãos nos bolsos de sua calça
social, e alguns botões de sua camisa abertos.
— Desconfiei que iria embora. — Sua voz me causa arrepios. —
Você quer mesmo ir? Ou está com medo?
Olho à minha volta, para trás pelo caminho que vim, certificando-me
de que não há ninguém.
— Estou com medo. — Respondo baixo, duvidando que ele tenha
escutado, mas para minha surpresa, ele ouviu.
Sua mão segura a minha e sem pressa, ou medo de alguém nos ver,
ele caminha em direção à escada, enquanto eu ando olhando ao redor, como
se fôssemos cometer o maior crime do mundo.
Chegamos a um corredor com umas seis portas, e continuamos
andando, sem falar uma palavra, até alcançarmos a última porta do
corredor. Ele abre a porta, solta minha mão e me olha.
— Se você passar por essa porta, vamos ficar juntos, não só hoje,
vou querê-la aqui todos os dias, que durma comigo, que faça suas danças
malucas usando uma camisa minha, que fique me observando enquanto
faço algo para comermos, e que me ensine coisas que eu nem sabia que
precisava aprender. Mas, se o medo for maior que tudo isso, e você decidir
ir embora, entenderei, e nunca mais você me verá. — Ele se aproxima e
deixa um beijo em minha testa. — Por favor, não vá.
E assim, ele entra, deixando a porta aberta.
Meu olhar vai para o corredor, e para o interior do quarto, onde o
homem que me faz sentir coisas que desconhecia está.
Fecho os olhos, enquanto aperto a barra do vestido.
E nesses trinta segundos, com os olhos fechados, tudo o que vi foi,
eu, mas não a que está aqui, e sim a garota com medo de viver tudo o que a
mãe viveu, de encontrar um homem violento, de conversar com as pessoas,
ou simplesmente medo de expressar seus sentimentos, a garota ingênua, que
decidiu que a vida seria mais fácil se ela ignorasse tudo, e não pensasse em
sua própria felicidade, e foi por essa garota, que eu dei um passo para frente
e entrei no quarto, fechando a porta às minhas costas.
Stefan Moser

Desde o momento em que Luara cruzou a porta do meu quarto,


nossas vidas parecem ter se entrelaçado de uma maneira inesperada.
Passamos horas juntos, compartilhando risos, segredos e descobertas. Ela
tem passado as noites em minha casa, transformando cada momento em
uma experiência única.
Algumas vezes, quando a saudade aperta, eu mesmo vou até o hotel,
esperando pacientemente que Zoe vá embora para surpreender Luara.
Cada encontro é como uma redescoberta, mesmo que não seja mais
surpresa. Seus olhos ainda brilham com a intensidade da primeira vez, e sua
presença preenche os espaços vazios da minha vida de uma maneira que eu
não sabia que precisava.
Os dias têm voado como folhas levadas pelo vento. Luara e eu
compartilhamos mais que momentos de paixão; compartilhamos
experiências, risadas e aconchego. No entanto, a sombra da despedida paira
sobre nós, escura e iminente.
Hoje, após o almoço, Luara volta para o hotel. A tristeza em seus
olhos não passa despercebida, e meu coração aperta com a perspectiva dos
próximos dias. A cada despedida, sinto que um pedaço dela fica comigo, e a
solidão toma conta do espaço que ela ocupava.
Os dias agora são contados, marcando o tempo implacável que nos
separa. Em três dias, Luara estará entrando em um avião de volta para seu
país, sua casa e sua família. Eu não estou pronto para isso.
Após uma longa reunião no trabalho, decido passar na casa de Zoe
para buscar Zeus, o adorável cachorro que se tornou um grande amigo da
minha filha. Quem abre a porta não é Zoe, mas Kylie.
— Vim buscar Zeus. — menciono o nome do cachorro, e ele vem
correndo, pulando em mim. — Também senti sua falta. — acaricio seu pelo
enquanto Kylie me convida a entrar.
Dentro da casa, Kylie despeja seus pensamentos, revelando o que
deve estar fervendo por dentro.
— Como você pode, Stefan? A garota se tornou amiga de Zoe e tem
a idade da nossa filha.
Eu sei exatamente do que ela está falando, e pouco me importa como
ela descobriu.
— Ela não tem a idade da Zoe, e eu não estou cometendo nenhum
crime. Até onde sei, sou um homem solteiro, e ela também.
A discussão se estende, mas Kylie não parece compreender minha
perspectiva. A ideia de que Zoe pode ser magoada está lá, mas há um
aspecto da verdade que ela ainda não conhece.
Zeus, que estava ao meu lado, sai disparado em direção ao corredor,
e Zoe surge. É impossível não pensar até que ponto ela escutou.
Decido ir até ela, mas Zoe, ao passar por mim, não diz uma palavra.
— Droga. — murmuro, indo atrás dela.
Do lado de fora, seguro seu braço, fazendo-a parar.
— Filha, vamos conversar.
Ela puxa o braço, encarando-me com os olhos marejados.
— Conversar o quê? Que esse tempo todo você estava transando
com Luara? Como eu não percebi? Quando começou? Foi no dia do meu
aniversário?
Decido ser honesto com ela.
— Não. Foi antes, bem antes.
— Caralho.
— Olha a boca.
— Não ligo. De milhares de mulheres lindas, você tinha que se
envolver com ela.
Zoe começa a chorar, surpreendendo-me. Não esperava essa reação.
— Filha, se for por mim e pela sua mãe, você sabe que nunca a iludi.
— Eu estou apaixonada, pai.
Meus olhos arregalam diante dessa revelação.
— Quê?
— Eu acho que sinto algo por Luara. Ela é linda, divertida e me
entende.
Sinto um aperto no peito ao ouvir essas palavras.
— Eu não sabia que você gostava de garotas, por que nunca me
contou?
— Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe. E sim, eu gosto
de garotas e garotos também. E você tinha que atrapalhar tudo.
Fico em silêncio, não estava preparado para essa situação.
— O que quer que eu faça? Você é a pessoa que mais amo nesse
mundo, o que pedir, farei.
Ela me encara com mágoa e os olhos vermelhos.
— Quero que termine com Luara, que a magoe para que ela nunca
mais queira saber de você. Só assim eu irei perdoá-lo.
— Mas se você se importa com ela, não deveria querer vê-la sofrer.
— Você não entende? Só assim ela pode esquecer você. Eu não vou
perder o contato com ela, mesmo quando for embora, e a última coisa que
quero é que ela queira notícias suas.
Meus olhos ardem, e o pedido de Zoe parece impossível. Luara é
especial para mim, mais do que qualquer outra mulher já foi.
— Por favor, pai, faça isso.
Passo a mão no rosto, enquanto olho para minha filha.
— Tá… eu farei o que está me pedindo.
Ela corre até mim e me abraça.
— Obrigada. Me avise quando acontecer para que eu possa ir vê-la.
E assim, ela se afasta e sai como se nada tivesse acontecido.
Fico estático no lugar, em choque, sentindo meus batimentos
acelerarem. Eu não estava pronto para me despedir de Luara e magoá-la
nunca passou pela minha cabeça, mas agora, terei que fazer isso para não
machucar minha própria filha.
Luara Almeida

Olho meu reflexo no espelho mais uma vez, sem ter certeza se estou
verdadeiramente sexy.
Decidi usar a camisola vermelha de seda que Renata colocou na
minha mala, com renda no busto, e uma calcinha fio dental, na mesma cor.
Nunca usei algo assim, mas, faltando tão pouco para minha partida, decidi
que é hora de ser ainda mais ousada. Por isso, vou surpreender Stefan, do
mesmo modo que ele faz comigo.
Coloco um vestido por cima da camisola, pego o cartão da cobertura
e saio em direção ao elevador. Dessa vez, não estou nervosa, pois sei que
ele vai gostar.
Uso o cartão na porta da suíte e entro, começando a me arrumar. Tiro
o vestido, solto o cabelo e começo a ensaiar posições para esperá-lo.
Primeiro, sento no sofá e cruzo as pernas. Depois, fico em pé, com as costas
apoiadas na parede. Decido ir até a cama e esperá-lo deitada, mantendo-me
nisso por um bom tempo. Até que escolho ficar no sofá mesmo, cruzando as
pernas no momento em que a porta se abre.
Meu sorriso surge, pronta para ele me pegar nos braços e fazer com
que eu grite seu nome até minha garganta doer. No entanto, quando ele abre
a porta, em vez de ver um sorriso, ele franze as sobrancelhas.
— Luara, o que faz aqui?
— Vim fazer uma surpresa. — O nervosismo que não estava
sentindo antes surge. — Fiz mal?
Ele tira o terno, caminha até a cozinha e pega uma bebida.
— Não esperava vê-la aqui.
— Quer que eu vá embora? — um nó se forma na minha garganta ao
fazer essa pergunta.
— Foi bom você vir, precisamos conversar.
Pela primeira vez desde que chegou, ele me olha por mais de um
segundo.
— Tá, eu vou só me vestir. — Aviso, pegando o vestido do chão e
correndo até o banheiro.
Coloco o vestido por cima da camisola, e prendo meu cabelo. Ao
retorna, encontro Stefan sentado no sofá, tomo a liberdade de sentar ao seu
lado, mantendo uma distância.
— O que quer conversar?
Ele está com um copo nas mãos, enquanto encara o chão.
— Nem sei por onde começar. — Ele levanta o rosto e me encara. —
É que… — ele leva o copo até a boca e bebe todo o líquido âmbar. — Esse
lugar é o meu refúgio, entende? Não quero chegar aqui para descansar e
encontrar alguém.
Sinto meu coração bater rápido, e meu estômago embrulhar.
— Mas… você me deu o cartão. Eu pensei…
— Eu sei o que pensou, mas te dei o cartão para usar naquele dia, e
me ligar quando estivesse aqui. E não para vir a hora que quiser. Sendo
honesto com você, Luara, o lance que estamos tendo, foi bom, foi gostoso,
mas já sabíamos que era momentâneo, e para facilitar as coisas, vamos
encerrar por aqui.
Se alguém me contasse que isso iria acontecer, eu não iria acreditar.
— Tá bom… — sussurro, sentindo as lágrimas inundarem meus
olhos. Estendo o cartão para ele. — Peço desculpas, por vir sem avisar.
Ele pega o cartão, seus olhos se prendem aos meus. Fico de pé,
sentindo que acabei de ter meu coração esmagado.
Ele também levanta. Penso que vem atrás de mim, dizer que tudo o
que disse não é verdade, mas não escuto seus passos me seguirem, nem
quando abro a porta, nem mesmo quando a fecho às minhas costas. E muito
menos quando entro no elevador. Nem quando desabo em lágrimas assim
que as portas de metal se fecham.
Ele não veio atrás de mim em nenhum momento. E tudo o que ele
disse foi o modo que encontrou para me tirar da sua vida. Por que me sinto
a pessoa mais insignificante do mundo?

Stefan Moser

Porra! Por que fiz isso? Quando Luara saiu pela porta, em desespero,
fui atrás, mas parei, apoiei a testa na madeira, fechei os olhos, e só percebi
que estava chorando quando senti meu rosto úmido.
Tiro meu celular do bolso e ligo para Zoe.
— Está feito. — aviso assim que ela atende.
— Eu vou ver ela, obrigada pai, amo você.
— Tamb… — não tenho tempo de responder, pois ela desliga.
Espero que um dia Luara possa me perdoar.

Luara Almeida
Estou deitada na cama, virada na direção da janela, observando o
tempo do lado de fora, que está nublado. Enquanto lágrimas escorrem em
meu rosto.
Não entendo o porquê me sinto tão machucada; sei que ele foi meu
primeiro, mas foi algo rápido, que eu sabia que não iria durar para sempre.
Então, por que quando ele me afastou, eu senti como se estivesse levando
uma porrada no peito?
Pelo menos eu terei algo para contar quando eu chegar, Renata vai
criar mil e uma fanfics com isso.
Fecho os olhos, tentando apagar da cabeça tudo o que Stefan disse,
quando uma batida na porta me faz abrir os olhos. Será que ele se
arrependeu do que disse?
Com esse pensamento, levanto e corro até a porta, mas ao abri-la,
encontro Zoe.
— Oi. Está tudo bem? — perguntou, sem ter noção de tudo o que
está acontecendo.
— Oh, sim. — tento disfarçar a decepção em não encontrar seu pai
do outro lado. — Entre. — Dou espaço para ela passar por mim.
— Você parece triste, aconteceu algo?
De costas para ela, passo o dorso da mão no rosto, enxugando as
lágrimas.
— Estou sentindo falta da minha família.
O que de fato não é uma mentira. Como eu queria poder deitar no
colo da minha mãe, ou desabafar com Renata.
— Entendo. Quer sair? Hoje vai ter uma festa…
— Não. — a interrompo. — Hoje estou cansada, vou ficar por aqui
mesmo.
Ela me encara.
— Está tudo bem mesmo?
— Sim. — forço um sorriso.
— Então, vou ficar com você aqui, tem problema?
Não quero mentir para ela, e não quero que ela fique chateada
comigo, e sei que se ela permanecer aqui por mais um tempo será o que vai
acontecer.
— Eu estou realmente cansada, vou tentar dormir um pouco,
desculpa não ser a melhor companhia hoje.
Ela sorri, porém, seu sorriso não alcança seus olhos.
— Entendo, amanhã eu venho cedo.
Assenti, enquanto a acompanhava até a porta.
— Acho que meu pai está na cobertura, lembra, que falei que ele é o
dono do hotel?
Sua pergunta faz meu coração disparar.
— Uhum. — respondo ao encontrar minha voz.
— A cobertura é onde ele tira um momento para descansar, eu acho
que às vezes é o lugar onde ele leva as hóspedes do hotel, sabe, para transar,
tipo o matadouro. — Ela ri, mas eu não acho graça. — Vou lá ver se tem
alguém com ele, e depois vou em uma festa.
— Tá bom.
Fiquei parada na porta até ela entrar no elevador.
Ao fechar a porta, lágrimas que segurei enquanto ela estava aqui
escorrem com força. Pois, a cada momento me sinto ainda mais idiota.
Ele disse que nunca levou alguém na cobertura, que eu era a
primeira mulher além de sua filha que já pisou lá, e agora, descubro que é o
lugar onde ele leva as hóspedes.
Canalha.
Como pude ser tão inocente?
Ele, um homem lindo, e ainda por cima rico, claro que teria um lugar
para levar suas conquistas, e que caí como um patinho na sua conversa.
Se antes eu achava que ele havia me magoado, agora eu tenho
certeza disso.
Luara Almeida

Hoje é o último dia em um país que pude viver experiências das


quais levarei para a vida, mesmo que o final não tenha sido como o
esperado, mas não levarei mágoas, principalmente daquele que me
proporcionou momentos dos quais jamais irei esquecer.
Amanhã, uma hora dessa, estarei em um avião, de volta para minha
realidade. E só de pensar nisso, sinto um frio na barriga, e o medo ressurgir.
Não sei se estou pronta para voltar ao meu mundo quando tive duas
semanas maravilhosas.
Estou guardando minhas coisas na mala, pois amanhã preciso estar
bem cedo no aeroporto, e não quero arriscar esquecer algo.
Ao dobrar cada vestido que usei nos encontros que tive com Stefan,
sorrio, pois foi mágico. Eu e ele, juntos, parecíamos uma história de contos
de fadas.
Estou fechando a mala quando uma batida na porta me faz parar. Ao
abrir, encontro Zoe do outro lado. Ela está segurando uma cesta em mãos.
— Para o seu último dia, que tal um café da tarde?
Sorrio, abrindo ainda mais a porta para ela passar.
— Vou aceitar. Já terminei de guardar tudo.
— Você é bem adiantada, eu deixo tudo para a última hora.
Assinto, pois, por mais que Zoe seja incrível, nossos mundos são
completamente diferentes. Enquanto eu preciso chegar antes do horário no
aeroporto para garantir que não perderei o voo, pois se isso acontecesse, eu
não teria dinheiro para comprar outra passagem, ela pode ir à hora que
quiser, e se atrasar, é provável que um dos jatinhos do seu pai a salve.
Eu fico feliz por ela, por ter a dádiva de ter uma vida onde ela nunca
vai saber o que é contar as moedas para pegar o ônibus.
Sentamos à mesa, ela coloca algumas coisas que estão com uma cara
ótima sobre e começamos a comer, enquanto conversamos.
— Vou sentir sua falta. — Ela fala, antes de morder um pedaço de
torrada.
— E eu a sua, você está sendo uma boa experiência em ter uma
melhor amiga… — Sinto um nó no estômago ao pensar que fui uma amiga
mentirosa.
— Eu sei, Luara, sei de tudo. — Sua fala me faz encará-la.
— Tudo?
— Sobre você e meu pai.
Arregalo os olhos assustada.
— Zoe, eu sinto muito, não queria mentir para você… me perdoe.
— Ei, sem drama, não estou com raiva de você, meu pai é realmente
um homem gato, sei que se conheceram antes que nos tornássemos amigas,
e não a culpo por não querer me contar.
Sinto um enorme alívio ao ouvir suas palavras.
— Infelizmente, meu pai a magoou.
— Não era nada sério o que tínhamos, eu sabia que uma hora iria
acabar.
— Ele sempre faz isso, sabe?
— O quê?
— Se envolver com as hóspedes, e depois as chutar. No final, ele
sempre volta para minha mãe, não entendo como eles ainda não estão
casados. Só fico triste por você.
Sinto meus olhos arderem, mas me proíbo de chorar.
— Não precisa, eu sabia que era momentâneo.
Ela sorri.
— Sei que pode ser estranho o que vou dizer agora, mas eu te acho
muito bonita, sua beleza é bem diferente das mulheres daqui.
— Obrigada… Você também é muito bonita.
Ela sorri ainda mais.
— Me passa o seu número do Brasil? Não quero perder contato com
você, e quem sabe um dia nos reencontramos.
Assenti, peguei seu celular e anotei meu número.
— Amanhã venho para ir com você até o aeroporto.
— Eu prefiro que não, não sei lidar com despedidas.
Ela fica de pé.
— Posso te abraçar?
— Claro.
Levanto e vou até ela; o abraço é apertado, e por um momento penso
que ela vai fazer algo da qual não deveria, mas antes que ela possa fazer, me
afasto.
— Vou te ligar, e mandar mensagem. — Informa.
— E eu vou te responder todas às vezes.
Sorrimos, enquanto caminhamos até a porta. Após Zoe ir embora,
me vi sozinha no quarto, vou até a janela e noto que o tempo voou, e o sol
já está sumindo no horizonte. O vento gelado toca meu rosto, e isso me
incentiva a pegar um cardigã, calçar uma sandália e sair. Pois não irei passar
minha última noite aqui; preciso pelo menos me despedir do mar.
Sentada na areia, olhando para o mar, com as ondas altas na
escuridão, sorrio. Pois quando eu pensei que teria um momento assim?
Nunca. Fecho os olhos e permito que algumas lágrimas escorram, lágrimas
de agradecimento por tudo o que tive aqui, pelas risadas e pessoas que
conheci. É quando sinto algo áspero e molhado passar na minha bochecha.
Abro os olhos e me deparo com Zeus.
— Ei, garoto. — Afago seu pelo com um sorriso no rosto, pois o cão
fujão veio se despedir de mim. Procuro Zoe pela praia deserta, mas quem
vejo faz com que meu tolo coração acelere.
— Luara… — A voz de Stefan é como uma melodia triste.
— Oi. — O cumprimento e fico de pé; com as palmas das mãos, tiro
a areia da minha roupa.
— Amanhã você vai embora. — Ele diz.
— Uhum. — Limito-me a responder; sei que sou grata a tudo que
vivi, mas também não sou trouxa de ficar aqui conversando com a pessoa
que me descartou. — Vou indo, adeus Stefan.
Viro as costas para ele, porém, quando dou um passo, sua mão
segura meu braço e puxa em sua direção. Minhas mãos se apoiam em sua
camisa. Seus braços contornam meu corpo.
— Sinto muito se te magoei, mas saiba que nunca vou esquecê-la. —
Sussurra, e por um momento quero acreditar.
Me afasto, segurando para não chorar na frente dele.
— Adeus. — Volto a me despedir. Com o polegar, ele acaricia meu
rosto, e como uma idiota, eu fecho os olhos para sentir seu contato, mas
então as palavras de Zoe sopram nos meus ouvidos. Abro os olhos e me
afasto abruptamente.
— Adeus. — Dessa vez, me despeço, lhe dou as costas e me afasto a
passos apressados, e é só quando estou de costas para ele que me permito
chorar, sentindo uma dor no peito nova, a dor da decepção por um coração
partido. Ele pode até ter me magoado, no entanto, viverá para sempre em
minhas memórias.
Luara Almeida

Estou no avião, de volta para o Brasil, e uma angústia atinge meu


peito ao pensar que, em algumas horas, estarei de volta ao lugar onde o
medo sempre está presente. A imagem do meu padrasto, aquele homem
rude, causa um frio na barriga. Eu sei que enfrentar essa realidade será
difícil, mas é inevitável.
Fecho os olhos, tentando afastar esses pensamentos sombrios. Em
minha mente, visualizo tudo o que vivi nas últimas duas semanas, e é isso
que acalenta meu coração. Os momentos mágicos com Stefan, as risadas, as
paisagens deslumbrantes e até as lágrimas se tornam uma espécie de refúgio
mental.
O avião ruma para casa, mas as memórias continuam frescas em
minha mente. Sinto uma mistura de gratidão e melancolia. Por um lado, sou
grata por viver essa experiência única, por conhecer pessoas incríveis e por
sentir o calor de um amor passageiro. Por outro lado, a tristeza se instala ao
pensar na realidade que me aguarda.
As horas passam, e o avião se aproxima do destino. Respiro fundo,
preparando-me para o desembarque. Estou pronta para enfrentar o que está
por vir, armada com as memórias vivas de um tempo que mudou minha
perspectiva. Mesmo que o retorno seja desafiador, carrego comigo a força
dessas recordações.
Ao pisar no aeroporto de São Paulo, preciso respirar fundo algumas
vezes. O ar parece mais denso, e a ansiedade toma conta de mim. No
desembarque, avisto minha mãe e minha irmã. Corro até elas, e o abraço é
forte, como se quisesse me fundir a elas, como se não quisesse mais soltá-
las.
Lágrimas que segurei durante o voo saem com facilidade, pois o
abraço delas é meu porto seguro. Minha mãe murmura algo em meio às
lágrimas, e eu declaro o quanto senti saudade delas.
— Filha... Que bom que voltou!
— Senti tanta saudade de vocês.
O caminho de volta para Verdejante é repleto de falatório. Renata,
ansiosa por detalhes, pede para eu não poupar nada. Conto sobre as belas
paisagens, a culinária, e até mesmo sobre os animais. No entanto, oculto
alguns detalhes sobre Stefan, principalmente o modo como tudo terminou.
Apenas digo que conheci alguém especial, um homem digno dos filmes que
assistimos, e que tudo foi perfeito. Também compartilho sobre Zoe e a
alegria de ter uma amiga.
Renata fica deslumbrada, acreditando que o destino trouxe essas
pessoas incríveis para minha vida, ainda mais por falarem português em um
país estrangeiro.
A felicidade que me envolvia no ônibus até em casa vai se
dissipando à medida que nos aproximamos do bairro em que cresci. Tento
não demonstrar o medo que sinto enquanto andamos pela rua.
Cumprimentos de pessoas que nunca falaram comigo são apenas um
prelúdio do que está por vir.
Ao abrirmos o portão de casa, meu coração parece esquecer como
bater. Uma mistura de medo e nostalgia toma conta de mim. Renata abre a
porta enquanto puxo minha mala, e é na sala que me deparo com Fernando.
Seu olhar encontra o meu, e suas sobrancelhas se franzem. Sinto o medo
que sempre me acompanhou desde que minha mãe se casou com ele.
Aqui, percebo que a garota que riu, se divertiu, conversou
animadamente em um lugar desconhecido, com pessoas mal conhecidas,
não existe mais. Não na casa onde cresci, não no lugar onde a insegurança
parece me dominar. Quando Fernando diz "que bom que voltou", percebo
que sim, voltei. Voltei para ser a garota infeliz que fui antes, na casa onde o
medo é meu fiel companheiro.

∞∞∞
Fiquei no quarto o restante do dia, acordei com meu celular tocando.
Era uma ligação do meu gerente Tiago, que também é um dos donos. No
entanto, quem herdou tudo foi Edgar. Tiago é bem mais jovem que o irmão,
conhecido por ser mulherengo, mas comigo sempre foi gentil e educado.
— Luara, estou ligando em nome da empresa para saber como foi de
viagem. E também estou bastante curioso. — Ao dizer a última frase, ele
riu.
— Foi tudo... tranquilo. — Respondo ao encontrar minha voz.
— Ah, que bom. Edgar queria que você voltasse a trabalhar amanhã,
mas como sou o irmão legal, o convenci a deixar que fique alguns dias em
casa descansando.
Devo agradecer antes de dizer que não sei a hora de voltar, pois não
gosto de ficar aqui?
— Eu agradeço...
— Ih, já prevejo um "mas".
— Mas prefiro voltar quanto antes.
— Entendo, sei que deveria dizer que sinto muito, que queria ver
você descansando. Sendo honesto, fico até feliz.
Franzo as sobrancelhas.
— Feliz? — indaguei.
— Claro, você é uma ótima funcionária e fez falta nesses dias.
— Oh, sim, claro. — Caramba, não acredito que pensei que ele
estava dando em cima de mim. Acho que a viagem me deixou meio lelé da
cuca.
— Enfim, te vejo amanhã.
— Sim.
Ao encerrar a chamada, encaro meu celular. Tiago estava estranho.
Após a ligação do meu gerente, tomei um banho, não tão demorado
como os que tomei no hotel, pois Fernando surtaria e ficaria batendo na
porta do banheiro. Coloquei uma calça de moletom, pois está esfriando
hoje, e uma blusa de manga comprida. Prendi meu cabelo em um rabo rente
à nuca e saí do quarto, pois está na hora do jantar, porém meus passos
travam ao chegar na cozinha e ver que os três já estão reunidos, e pelo que
percebo, acabando o jantar.
— Oh, filha, pensei que fosse dormir após a viagem de avião, por
isso não a chamei. — Minha mãe começa a se levantar, provavelmente para
preparar algo para mim, mas quando vou dizer que não precisa, Fernando
cobre minha voz com a dele.
— Ela não é criança, Maria, deixe que ela mesma vá à cozinha e veja
o que tem para comer.
Minha mãe volta a se sentar, e com os olhos tristes, me encara; forço
um sorriso.
— Tá bom. — Concordo, indo até o fogão, vendo que quase não
sobrou arroz e feijão, e a mistura acabou. Para não deixar minha mãe
chateada, pois sei que Fernando deve ter feito isso de propósito, pego um
copo de refrigerante e bebo.
— Mãe, eu não estou com fome, realmente estou bem cansada.
Posso ver o leve sorriso que Fernando dá.
— Certeza, filha? Eu deixei um bife para você, e como sei que não
gosta de cebola, eu fritei separado.
Meu olhar vai até o prato de Fernando, e lá eu vejo dois bifes com
bastante cebolas e um sem.
— Tenho, sim, mãe. Boa noite! — Saio e volto para o quarto.
Ao deitar na cama, fecho os olhos, sentindo meu estômago contorcer
de fome, já que não comi nada no avião, pois a viagem era muito longa e
tive medo de passar mal durante o voo. E depois o nervosismo para chegar
em casa, acabei não comprando nada na rodoviária de São Paulo.
Fecho os olhos e acabo sendo vencida pelo sono, e foi ao dormir que
sonhei com olhos azuis, prancha de surfe e lamington.
Luara Almeida

No supermercado, nos primeiros dias após o meu retorno ao


trabalho, foi desgastante.
As pessoas queriam que eu mostrasse fotos, contasse tudo o que fiz e
compartilhasse minha experiência em um país estrangeiro. Eu entendo a
curiosidade de todos, mas para mim, era como estar sendo interrogada por
pessoas que nunca conversaram comigo.
Tiago, por exemplo, aparece a cada hora e começa a puxar assunto.
Ele é legal, mas eu não consigo agir confiante, e me vejo respondendo suas
perguntas em sílabas. Sim, não, legal. Tenho receio de que ele me ache uma
chata grosseira.
Em casa, Fernando voltou a agir de forma rude. No entanto, percebo
que ele me encara mais do que antes, de um jeito que me deixa
desconfortável. Pensei em contar para minha irmã, mas notei o quanto ela e
o marido têm se dado bem; não quero ser eu a estragar tudo.
Às vezes, quando fecho os olhos, visualizo o mar, me imagino
sentada na areia, sentindo a brisa fresca e o cheiro. Às vezes, até imagino
Zeus lambendo meu rosto, fazendo-me rir.
Estou no trabalho, como é terça-feira, e ainda é cedo. Não há muitos
clientes. Enquanto estou sentada em frente ao caixa, esperando alguém vir
com suas compras, vejo Tiago vindo em minha direção.
Tiago é um homem bonito. Ele é alto, não tão alto como Stefan. Seus
cabelos são escuros, muitos tons mais escuros que os de Stefan, e os olhos
são castanhos, não azuis... droga, estou fazendo isso de novo, ficar
comparando homens ao único que não sai da minha cabeça.
— Bom dia, Luara. — cumprimenta-me Tiago.
— Bom dia. — respondo.
— O que vai fazer hoje? Pensei em chamá-la para tomarmos um
sorvete, mas como corro o risco de levar um fora, queria saber quais as
chances de você aceitar. — Ele tem um tom de humor e um sorriso largo.
— Preciso ajudar minha mãe em... — penso em uma desculpa. —
algo.
— Entendo, então fica para uma próxima. — ele pisca para mim
antes de me dar as costas.
Respiro fundo, e quando olho para frente, vejo Patricia, que trabalha
no caixa, me olhando como se compartilhássemos um segredo. Droga, se
ele continuar assim, as pessoas vão pensar que tem algo rolando entre nós.
Chego em casa cansada, e na sala encontro Fernando.
— Sua mãe e sua irmã foram à igreja. — Ele avisa.
Assenti, passando por ele e desejando ir ao meu quarto, mas sua voz
me faz parar.
— Antes de você ir, quero falar algo contigo.
Ainda de costas para ele, sinto um calafrio percorrer todo o meu
corpo.
— Precisa de algo? — pergunto, ao me virar para o olhar.
— Tenho notado você estranha desde que chegou.
Arregalo os olhos assustada.
— Estranha como?
— Não sei. — Seu olhar percorre todo o meu corpo. — Parece que
está mais corpuda. — Por que ele está reparando em mim? Sinto tudo em
mim tremer. — Você fez algo nessa viagem?
Meu coração está batendo tão rápido que até minha respiração se
tornou ofegante.
— Como a-assim?
Ele se ajeita no sofá, e então percebo algo que eu não queria, e que
sei que ele fez de propósito para que visse. Fernando está excitado.
— Vem aqui, Luara.
Seu chamado me faz recuar alguns passos.
— Vai, ande logo, não estou com paciência.
Antes que ele possa chegar perto de mim, corro até o quarto e tranco
a porta, encosto meu corpo na madeira, e me assusto ainda mais quando ele
dá alguns socos.
— Abre a porta!
— N-não.
— Está com medo? — Sua voz soa baixa e rouca.
— Deixa eu em paz.
— Você está na minha casa, e chegou a hora de fazer o que mando.
Escuto sua respiração ofegante do outro lado da porta, e um barulho,
como se... Ai meu Deus. Afasto da porta, ao ouvir os gemidos de Fernando
do outro lado. Ele está... cubro a boca com as duas mãos, e lágrimas
molham meu rosto.
— Luara... abre, vai. — pede ofegante, aumentando o ritmo do que
está fazendo. — Se você abrir, eu nunca mais vou gritar com sua mãe.
Vou recuando cada vez mais, até meu corpo encostar na parede,
deslizo até o chão, me encolhendo.
— Eu sei o que você fez nessa viagem, isso me deixou tão... ah...
porra, garota, abre essa porta, e me mostra o que você fez.
Por que isso está acontecendo?
— ABRE A PORTA, CARALHO.
Ele tenta empurrá-la, me assustando ainda mais, e em um ato de
desespero e medo, abro a janela do quarto, sem fazer barulho, e saio
correndo. Abro o portão, e corro, corro o mais rápido que posso, sem olhar
para trás, sem olhar para os lados, eu só quero fugir.
Corro tanto que só paro quando sinto o ar faltar. Apoio as mãos nos
joelhos, e tento me encontrar, olho a minha volta, e noto que estou longe o
bastante do monstro doente que vive sob o mesmo teto que eu.
Caminho mais um pouco até chegar a uma praça, de um bairro que
eu nunca havia colocado os pés. Vou até um banco afastado e sento.
Sinto meu celular vibrar no bolso. Ao pegar, vejo uma mensagem de
Fernando.
"Se contar o que aconteceu hoje, eu mato sua mãe."
Minhas mãos tremem. Novamente meu celular vibra, e é de um
número estranho, parece até mensagem de spam.
Abro e, em meio às lágrimas, acabo sorrindo. Zoe enviou uma foto
de Zeus, pelo cenário atrás dele, percebo que estão na praia.
Não demora para uma mensagem dela chegar.
"Últimos dias de férias, e aproveitando muito com o cão fujão."
Respondo: "Você não imagina a sorte que tem <3."
Guardo o celular no bolso e fico assim até meu celular tocar, com
minha mãe avisando que chegou e perguntando onde estou.
Aviso que saí com uma amiga, mas já estou indo.
Levanto o rosto e olho para o céu estrelado.
— Será que tudo o que vivi nunca mais acontecerá?
Após o episódio naquela noite, quando Fernando revelou suas
intenções para comigo, passo a enviar mensagens para minha mãe antes de
retornar para casa, indagando se ela já saiu. Evito ficar sozinha com ele,
mesmo que estejamos todos em casa. Quando Renata dorme, levanto e
tranco a porta, com medo de que ele apareça enquanto estou dormindo.
Os dias passam, e sinto meu corpo cansado, tanto pelas noites mal
dormidas quanto pelo medo constante que me envolve. No supermercado,
um dia movimentado devido ao pagamento, meu corpo fica pesado e uma
dor de estômago intensa me acomete, como se fosse vomitar a qualquer
momento.
Decido fechar meu caixa e me dirigir a Tiago.
— Oi, Luara, está tudo bem? Você parece abatida.
— Eu não estou me sentindo bem. Posso usar o banco de horas para
ir ao hospital?
— Claro que não. Se você não está bem, não vamos usar seu banco
de horas. Eu mesmo vou lhe acompanhar. Na Aurora, nos preocupamos
com nossos funcionários. — Ele sorri, e apesar do meu desconforto,
agradeço por sua atenção.
No hospital, o médico solicita alguns exames e enquanto
aguardamos, recebo um soro intravenoso. Tiago, sendo muito atencioso,
permanece ao meu lado o tempo todo. Acabo adormecendo.
Ao acordar, sinto meu corpo dolorido e percebo que Tiago está
conversando com o médico que me atendeu. Eles trocam algumas palavras
até meu acompanhante se aproximar.
— Como você está?
— Bem.
Ele parece um pouco sem jeito, e a jovialidade que apresentava antes
desaparece.
— Eu não sei se você desconfia do que pode ter causado esse
desconforto.
— Acho que não estou me alimentando bem.
— Entendo.
— Tiago, eu estou doente?
Ele respira fundo antes de soltar a bomba.
— Luara, você está grávida.
Luara Almeida

Encaro Tiago como se tivesse acabado de abrir um buraco no chão e


eu estivesse em queda livre.
— O quê? — minha voz falha, e meu estômago embrulha.
— O médico disse que você está grávida e com anemia, além da
falta de hidratação.
Meu Deus, passo a mão na cabeça.
— Como? — que pergunta é essa, Luara? — Quero dizer, isso não
pode estar acontecendo.
— Desculpa se soar grosseiro da minha parte, mas você sabe quem
possa ser o pai?
Assinto freneticamente.
— E você vai falar com ele?
Penso no que responder, pois eu nem sei o que fazer, e como se fosse
um sinal, meu celular começa a tocar, uma chamada de voz de Zoe.
— Preciso atender. — informo a Tiago que, entendendo, assente e
sai do quarto.
— Zoe. — falo ao atender.
— Último dia em Gold Coast, daqui a dois dias volto para a
realidade.
Ela fala com humor.
— Zoe, eu…
— Está tudo bem? Liguei em uma hora ruim?
— Não, quero dizer, eu precisava mesmo falar com você.
— Sério?
— Zoe, eu preciso falar com seu pai.
— Não acredito.
— Me escute, aconteceu…
— Chega Luara! Meu pai e minha mãe finalmente voltaram, e estão
tentando ser uma família, eu não vou deixar você estragar isso. Sério, eu
gosto muito de você, mas essa sua obsessão pelo pai é sem lógica.
— Obsessão? Mas é a primeira vez que falo dele com…
— Vai se ferrar, cansei. Não vou ficar falando com alguém que só
quer saber do meu pai, já não basta você ter agido como uma vadia e ter
transado com ele?
— Zoe?
— Adeus Luara.
Antes mesmo que eu possa dizer algo, ela desliga. Encaro o celular
com as mãos trêmulas e os olhos lacrimejados.
Uma batida sutil na porta me faz levantar o olhar. Tiago surge.
— E como foi? — pergunta preocupado.
— Eu… estou sozinha. — Começo a chorar, sem conseguir conter.
— Sinto muito, você não merecia passar por tudo isso.
— O que eu vou fazer?
— Primeiro me conte, quem é o pai.
E então, pela primeira vez desde que cheguei, eu realmente conto
tudo, até quando Stefan me magoou e agora, Zoe brava comigo. Tiago
escuta tudo com atenção.
— Claramente a garota se apaixonou por você, o que não é
impossível de acontecer.
— Por mim? Mas, eu pensei que ela era minha amiga.
— Talvez fosse, mas que ela gostava de você de modo romântico,
isso é óbvio.
— O que eu vou fazer?
Ele acaricia minha mão.
— Case-se comigo.
O encaro.
— O quê?
— Eu gosto de você, Luara, e posso ser o pai que esse bebê precisa.
Serei amoroso e gentil, e jamais deixarei faltar algo.
— O que está me pedindo é errado.
— Por quê?
— Eu…
— Sei, está apaixonada pelo homem que só lhe usou. Eu não me
importo, com o tempo sei que vai se apaixonar por mim. Eu posso lhe dar
uma casa, um lar. Uma família. Você não ficará desamparada, e seu bebê
terá um pai que lhe dará muito amor. O que tem a perder? Se não der certo,
é só nos divorciarmos.
Encaro seu rosto, que está nublado devido às lágrimas que inundam
meus olhos, e começo a pensar em tudo. Ter um lar onde poderei tentar ser
feliz, longe do assédio de Fernando, onde minha mãe e irmã podem ser
felizes comigo longe.
— Eu aceito. Aceito me casar com você.

∞∞∞
Chego em casa, após o turbilhão de emoções no hospital, e Tiago
está todo feliz. Ele segura minha mão com carinho, e seus olhos brilham de
alegria.
— Luara, preciso conversar com seus pais. Quero formalizar nossa
relação e pedir a sua mão em casamento.
Tudo acontece no automático. Tiago me acompanha até em casa,
sempre simpático e cordial. Paramos em frente à porta e ele continua
segurando minha mão, dando um sorriso encorajador.
— Estou aqui por você, Luara. Vai dar tudo certo.
Entramos, e encontramos Fernando e minha mãe na sala, assistindo
televisão. Eles se levantam quando nos veem.
— Boa noite, dona Maria, senhor Fernando. Preciso conversar com
vocês. — Tiago parece confiante, mas respeitoso.
Fernando cruza os braços, avaliando a situação, enquanto Maria
mantém um olhar mais suave.
— O que deseja, rapaz? — pergunta Fernando.
— Eu amo a Luara. Respeito-a profundamente, e gostaria da bênção
de vocês para pedir a mão dela em casamento.
Fernando me encara, e consigo ver um misto de emoções em seus
olhos. Por um instante, sinto um arrepio, sabendo que ele provavelmente
não gostou da ideia, mas disfarça bem.
— Casamento, hein? Isso é sério? — Fernando parece animado, mas
percebo um leve tom de sarcasmo em sua voz.
Minha mãe parece mais relutante, seus olhos buscam os meus em
busca de alguma resposta. Sorrio para tranquilizá-la.
— Eu... eu acho que é o que eu quero. — Digo, tentando parecer
confiante.
Fernando bate nas minhas costas, como se estivesse comemorando
uma vitória.
— Ótimo! Já estava na hora, não é?
Minha mãe ainda parece insegura, mas força um sorriso.
— Se é isso que vocês querem, então, contem com o nosso apoio.
Tiago agradece, e Fernando o cumprimenta como se fossem velhos
amigos.
No entanto, guardamos para nós o segredo da gravidez. Não
queremos gerar mais preocupações neste momento de aparente
tranquilidade. O sorriso de Tiago, apesar de toda a situação, me faz
acreditar que talvez eu tenha feito a escolha certa.

O casamento se desenrola rapidamente, e em poucas semanas, Tiago


e eu estamos subindo ao altar diante de uma igreja lotada. Há rostos
conhecidos e outros completamente estranhos, mas todos estão lá para
celebrar nosso enlace. Tiago é atencioso com todos, sempre demonstrando
carinho, o que pelo menos me traz alguma tranquilidade nesse momento
tumultuado.
No entanto, a lua de mel revela que as coisas não serão como eu
imaginava.
Tiago para atrás de mim e começa a deslizar meu vestido pelo meu
corpo.
— Não sabe o quanto esperei para ter seu corpo. — sussurra, e a
tentativa de soar sexy só me deixa mais nervosa. — Essa noite eu vou
deixá-la assada.
Meus olhos se arregalam, surpresa com o tom de suas palavras.
Inclino-me para frente enquanto o vestido escorrega pelo meu corpo
até chegar aos meus pés. Tiago segura minha cintura, cheirando entre
minhas coxas.
Fecho os olhos ao sentir a mordida, mas a dor não é prazerosa. Me
mantenho de olhos fechados enquanto ele continua com sua exploração
bucal. Só os abro quando ele me penetra de forma abrupta.
— Você é minha, Luara. E ninguém mais vai tocar nesse corpo.
Ele puxa meu cabelo para trás e desfere um tapa forte em uma das
nádegas.
Só consigo abrir os olhos quando ele termina, ofegante, se afastando
para beijar meu ombro.
— Desculpa se fui um pouco rude, é que perco o controle na hora do
sexo.
— Tudo bem.
— Quer usar a banheira? Não precisamos fazer nada se você não
quiser.
— Vou só usar o banheiro primeiro.
— Está bom, vou pedir algo para bebermos.
Entro no banheiro e, ao fechar a porta, encaro meu reflexo nu no
espelho. Lavo o rosto, tentando esconder as lágrimas.
Preciso entender que essa é minha realidade agora. Apesar de o sexo
não ter sido como foi com Stefan, Tiago é gentil o tempo todo, e talvez eu
possa aprender a gostar do estilo de intimidade que ele busca.
Stefan Moser

Estou sentado na varanda da cobertura, observando o mar agitado


enquanto os pensamentos me levam para Luara. Sinto falta dela, das nossas
conversas, dos momentos compartilhados, e, acima de tudo, de sua presença
ao meu lado.
O celular vibra com o nome de Kylie piscando na tela. Suspiro, já
faz alguns dias que ela está atrás de mim, querendo algo que eu não posso
dar. Ignoro a chamada, não estou no clima para lidar com seus dramas.
Em um impulso, decido procurar por Luara nas redes sociais.
Surpreendentemente, não a encontro. Entretanto, o Instagram da irmã dela
se torna meu alvo, não é difícil, pois tenho algumas informações sobre ela.
Em uma das fotos, vejo Luara usando um vestido de casamento, e a legenda
diz: "Casamento da melhor irmã do mundo, felicidade à Luara e Tiago."
A confusão toma conta de mim. Como ela pode se casar em poucas
semanas? Será que ela sempre esteve noiva? Sinto-me enganado, como se
algo importante tivesse sido ocultado de mim.
Decido esquecê-la de uma vez por todas.
Retorno ao meu quarto e contemplo o novo quadro que dediquei os
últimos dias a pintar. Na obra, surge a imagem suavemente desfocada de
uma jovem com cabelos negros que se estendem, sentada na areia. Seus
longos cabelos dançam ao sabor do vento, enquanto ela contempla o mar
agitado diante dela.
Luara Almeida

Nos primeiros meses como mulher casada, as coisas pareciam estar


no lugar, pelo menos à primeira vista. Mantive meu emprego no
supermercado, mas agora as pessoas me olham com um misto de
curiosidade e julgamento, como se eu estivesse tentando dar o golpe ao me
casar com Tiago.
A ironia está na rotina intensa que compartilhamos; trabalhamos
juntos, voltamos juntos, comemos, dormimos e acordamos lado a lado,
exceto quando minha mãe ou irmã vêm me visitar.
Desde o casamento, nossas idas à casa da minha mãe se tornaram um
ritual dominical, onde almoçamos e Tiago se entrosa bem com Fernando.
Enquanto os homens trocam palavras que não me interessam, minha mãe e
Renata se dedicam a discutir sobre o bebê a caminho. A gestação é
acompanhada de perto, e minha paixão cresce por esse pequeno ser que
ainda não conheço, mas que já é parte de mim.
A expectativa de segurar meu bebê nos braços está cada vez mais
próxima, e mal posso esperar por esse momento.
Hoje, estamos em casa; estou preparando o jantar, e Tiago está
distraído mexendo no celular.
— Luara, meu irmão nos convidou para almoçar no domingo. Avise
sua mãe que não iremos esta semana.
— Tudo bem. — Respondo enquanto viro o bife.
A família de Tiago é acolhedora. Ele tem dois irmãos mais velhos,
ambos bem casados e com filhos. Seus pais faleceram há alguns anos.
Coloco a mesa e nos sentamos. Tento ignorar o incômodo quando ele
mastiga com a boca aberta, algo que Fernando fazia e me irritava
profundamente.
— Um amigo meu me chamou para jogar bola na sexta. Talvez eu
vá. — informou.
— Tudo bem. — respondo baixo.
Percebo quando ele respira fundo.
— Luara, sei que você não me ama, mas caramba, já se passaram
três meses, e você age como se eu fosse um estranho, isso é um saco.
— Desculpe, eu… — Ele me encara ao arrastar a cadeira para trás.
— Estou satisfeito, vou tomar um banho.
Observo enquanto ele deixa a mesa irritado.
Passo a mão no rosto, desejando poder amá-lo, mas não consigo.
Tiago é um bom homem, mas às vezes... eu o odeio.
Cubro a boca ao pensar nisso.
Como amar alguém que me trata com desdém, age como se fosse
meu dono e, entre quatro paredes, se transforma em um monstro?
∞∞∞
Estou nos fundos de casa, no cômodo que uso para guardar algumas
coisas e passar roupa, ocupada com o serviço. Minha irmã, Renata, está
aqui, falando sobre um garoto que conheceu. Porém, é sua próxima fala que
captura minha atenção.
— Luara, eu acho que tem um gringo entrando no meu perfil.
— Um gringo? — pergunto enquanto coloco a camisa no cabide.
— Sim. Eu não queria te falar, mas acho que pode ser o seu gringo.
Forço um riso, mais como um suspiro lamentoso.
— Não existe nenhum gringo meu.
— Você entendeu.
Coloco uma calça na tábua e dou uma olhada pela janela, conferindo
que estamos mesmo sozinhas. Tiago disse que precisava ir até o irmão, e
quando ele vai lá, demora para voltar.
— Por que pensa que pode ser ele? — pergunto ao olhar para
Renata, que sorri de forma sugestiva.
— Porque ele curtiu uma foto onde estamos juntas, e descurtiu. Eu
estava mexendo no celular bem na hora, e consegui ver o nome. No entanto,
não era o nome que você me falou que estava, eu acho que ele usa algum
fake.
— Fake? — pergunto, já que não entendo nada disso, nunca tive
vontade de ter rede social.
— Uhum. Ele usa um nome estranho, talvez nem seja fake, e ele só
não colocou o nome verdadeiro, mas o que chamou atenção é a bio dele,
que dizia: Empresário, Surfista e amante dos doces. E lá estava uma
bandeira da Austrália.
Sinto meus batimentos acelerarem e um frio na barriga.
— Tem foto nesse perfil?
Ela pega o celular e começa a mexer.
— Algumas, mas são aleatórias, tem do mar, de uma prancha, de
uma vista, e de um cachorro.
— Mostra para mim. — peço quase que em desespero.
Ela começa a mexer no celular e me entrega.
E então, eu vejo, Zeus, o cão fujão. Continuo olhando as fotos e vejo
a paisagem em frente à casa dele e uma da cobertura. No entanto, ao passar
pelas fotos, uma delas me faz travar, e com as mãos trêmulas, a encaro.
É a imagem de uma pintura onde uma pessoa está sentada na areia
da praia, à noite. O que chama a atenção, mesmo com a imagem um pouco
desfocada, é que eu me reconheço, sou eu. No último dia que vi o mar.
— Sou eu. — falo em meio às lágrimas.
— Onde? — minha irmã puxa o celular da minha mão. — Meu
Deus, ele te ama.
Enxugo as lágrimas.
— Não, ele só achou que dava uma boa imagem, sem contar que está
toda desfocada.
— Mas é você, olha, dá para ver o cabelo preto e a cor do vestido.
Por que ele teria uma pintura sua se não fosse por amor?
— Se ele me amasse como disse, ele não iria dizer as coisas que
disse.
— É, mas não se esqueça que tem a teoria dele ter descoberto que a
filha idiota dele estava gostando de você.
Viro as costas para Renata e, com as mãos trêmulas, começo a
arrumar a peça de roupa na tábua, sentindo meu bebê mexer.
— Ele mexeu. — anuncio eufórica.
Renata se aproxima e coloca a mão na minha barriga.
— Até o bebê sentiu que estamos falando do papai dele.
— Re, pare. Por favor, eu estou casada, e não tem como voltar no
tempo.
Ela me encara de uma forma que mostra o quanto Renata é madura
para a idade que tem.
— Existe o divórcio para isso, estar casada não significa estar presa.
Você tinha medo de viver como a mamãe, e no fim, escolheu uma cópia
exata do meu pai.
— Não viaja, Tiago não me bate.
— Por enquanto, dá para ver nos olhos dele a maldade, e tudo o que
eu queria é que você fosse feliz. Você, de todas as pessoas que conheço, é a
que mais merece ser feliz.
— Eu fui feliz.
— Por duas semanas.
Ela se afasta.
— Se você quiser, eu falo com o gringo. Pense nisso.
Acompanho com o olhar, Renata se retirar enquanto fico estática.
Eu não tinha nenhum contato de Stefan, e agora eu tenho, e sei que
em algum momento ele precisa saber que o que aconteceu gerou um fruto.
Cubro o rosto com as mãos.
— O que eu faço?

Stefan Moser

Após um longo dia de trabalho, repleto de reuniões, onde decidi


abrir um hotel no Brasil, mesmo tentando me convencer de que Luara não
tem nada a ver com isso, estou sentado na varanda da cobertura, observando
o mar. O som das ondas tenta acalmar a tempestade de pensamentos que
pairam sobre mim.
Por curiosidade, decido entrar no perfil da irmã de Luara. Uma
tentativa inconsciente de buscar qualquer notícia ou conexão com ela. Ao
rolar a página, deparo-me com uma foto em preto e branco que me faz
sorrir involuntariamente. A imagem foca nos rostos das duas, que, apesar de
serem irmãs, são completamente diferentes.
Luara tem a pele morena e os cabelos escuros, enquanto a irmã
possui a pele clara e cabelos claros, como posso ver em outra foto. A
imagem captura um momento íntimo entre as duas: a irmã mais nova
beijando o rosto da mais velha, que sorri com os olhos levemente fechados.
A legenda é reveladora: "Te amo mais que tudo."
Fico observando a foto tão aéreo que, involuntariamente, acabo
clicando duas vezes, fazendo um coração aparecer. Arregalo os olhos,
desfaço a curtida rapidamente, fecho os olhos e rezo para ter sido rápido o
suficiente para que a dona do perfil não tenha percebido.
Luara Almeida

Dois anos depois

— EU JÁ NÃO DISSE PARA CALAR ESSA BOCA? — Tiago


grita, irritado com o questionamento sobre sua demora.
— Fale baixo, Darel está dormindo.
Ele ri de forma grotesca.
— Foda-se, esse menino nem é meu.
Tiago passa por mim, esbarrando em meu braço, entra no quarto e
bate a porta. Respiro fundo e fecho os olhos. A garota que costumava
chorar pelos cantos ficou para trás, desde que meu filho nasceu.
Darel Almeida, nome escolhido por mim, já que Tiago recusou dar
seu sobrenome ao menino. Profundamente agradeci por isso, pois ele não é
o pai de Darel e sequer ajuda na criação. Desde que peguei meu pequeno
nos braços, Tiago se transformou no monstro que sempre temi.
Na primeira explosão descontrolada, ele usou como desculpa os
comentários maldosos sobre Darel ser a cópia de outro homem, cabelos
loiros e olhos azuis intensos. Nada que se assemelhe a mim ou a Tiago. Para
se engrandecer, ele contou a todos que casou comigo apenas porque eu
estava grávida de outro homem que não queria saber do filho.
Naquele dia, pedi o divórcio. Foi humilhante. A família dele, que
antes me tratava bem, agora nem olha para mim, muito menos para meu
filho. No supermercado, permaneci empregada apenas porque Tiago não
permitiu minha demissão.
Quando pedi o divórcio, Tiago chorou, se ajoelhou, pedindo perdão e
dizendo que estava fora de si. Até hoje não compreendo por que aceitei suas
desculpas. Tenho medo de Fernando, mas com Tiago é ódio. Ele desperta
algo em mim que mal reconheço. Seus toques me causam nojo, e seu
comportamento obsessivo me assusta.
O que Tiago não sabe é que, desde que descobri que Stefan olhou o
perfil da minha irmã, comecei a guardar dinheiro em uma conta poupança
no nome de Renata.
Irei atrás do pai do meu filho, mesmo que ele não queira saber da
criança. Não negarei a Darel o direito de conhecer o pai.
Stefan foi um bom pai para Zoe, e acredito que seria um bom pai
para Darel.

∞∞∞
Saio da farmácia, recém-injetada com mais um contraceptivo, pois
não tenho planos de ter um filho com meu marido, apesar de ele já ter
expressado seu desejo de ser pai.
Chego ao trabalho, e antes mesmo de alcançar o caixa, vejo Tiago
vindo em minha direção.
— Onde você estava? — ele pergunta de forma ríspida, mas baixa o
suficiente para que ninguém ouça.
Mostro a sacolinha da farmácia.
— Estou com dor de cabeça.
Ele me encara por um tempo, e penso que não vai acreditar, até que
ele sorri.
— Está melhor? — sua voz é calma, o oposto do que parecia
minutos atrás.
— Uhum.
Passo por ele e vou preparar meu local de trabalho.
Durante o expediente, sinto o olhar de Tiago sobre mim, como se me
avaliasse, controlasse meus passos, gestos e até mesmo meus sorrisos.
Estou passando as compras de uma cliente animada que puxa
assunto aleatório comigo.
— Espero que esse final de semana faça muito sol, pois farei minha
primeira viagem de avião.
— Ah, que legal. — sorrio para ela, sem parar meu trabalho.
— Meu filho conseguiu um emprego no Rio de Janeiro, naquela
companhia aérea muito famosa... qual é o nome? — ela parece estar
tentando lembrar. — É de um pessoal gringo, acho que da China, não,
lembrei da Coreia.
Meu olhar se desvia da máquina registradora para prestar atenção
nela, pois o que diz chama minha atenção.
— Sky Aire? — pergunto.
Ela sorri animadamente.
— Isso, menina. Meu filho está trabalhando com eles agora, pensa
que chique, e ele me deu uma viagem para Fortaleza.
— Espero que a senhora se divirta muito. Fortaleza é linda, pelo que
vi em fotos. Ficaram trezentos e cinquenta e dois reais e quinze centavos.
— Informo o valor, mas meus pensamentos voam até uma conversa que tive
com Stefan, onde ele fala que aprendeu português devido à amizade que fez
com os donos dessa companhia aérea. Quando ele me contou isso, nem
poderia imaginar que ele viraria meu mundo e me daria a coisa mais
preciosa da minha vida, que é meu filho.
Ao sair do trabalho, acompanhada, claro, por Tiago, ele passa na
casa da minha mãe, onde Darel fica enquanto trabalho.
Durante o trajeto, o silêncio é predominante. Não sei o que deu em
Tiago para ele estar com um semblante tão fechado. Ele estaciona em frente
à casa da minha mãe e fica no carro enquanto vou buscar meu filho.
Ao abrir a porta da sala, vejo Fernando sentado, com uma expressão
semelhante à do homem com quem me casei. Ele também está irritado.
Minha mãe surge da cozinha, com Darel em seus braços.
— Oh, filha, ele acabou de dormir. — ela informa quando o pego.
— Ele deve ter se divertido muito. — falo acariciando o rostinho do
meu pequeno.
— Esse menino só sabe chorar, se isso for diversão, então é, ele se
divertiu muito. — A voz de Fernando me faz encará-lo.
Hoje, eu não tenho medo dele, desde que ele fique bem longe do
meu filho. Falei para minha mãe que não quero que ele pegue Darel nos
braços nem fique sozinho, pois eu não confio nele.
— Lu, que bom que chegou, preciso falar algo com você, é bem
rápido. — Renata surge do corredor, e mal tenho tempo de dizer algo, pois
ela me arrasta até o quarto que um dia dividimos e hoje é todo dela. Ela
fecha a porta e começa a sussurrar.
— O seu gringo está vindo para o Brasil no próximo fim de semana,
e adivinha, ele vai abrir um hotel em São Paulo. A inauguração será no
sábado da próxima semana, você precisa ir até ele.
Meu coração acelera sempre que penso em Stefan.
— Não posso, como eu iria?
— Você tem dinheiro guardado, dá para você ir embora, ficar em um
hotel por um tempo.
— E meu casamento?
— Quando estiver na proteção do gringo, ele vai arrumar centenas
de advogados que vão fazer o idiota do Tiago assinar os papéis. Irmã, essa é
sua chance.
Pondero por alguns segundos, antes de uma batida na porta
interromper meus pensamentos.
— Luara, Tiago está buzinando lá fora. — grita minha mãe do outro
lado.
Minha irmã me olha com expectativa e olhos sonhadores.
— Eu não sei. — sussurro.
— Você tem até a próxima semana para pensar, e quando decidir,
tem meu total apoio e sigilo.
Ela me abraça.
Saio do quarto pensativa, entro no carro de Tiago, que resmunga que
não é meu motorista para ficar me esperando. No entanto, boa parte do que
diz não me interessa, pois a única coisa que consigo pensar é que na semana
que vem Stefan estará no Brasil.
Luara Almeida

Já passa da meia-noite, e até agora Tiago não chegou. Às vezes, ele


faz isso, some sem dar qualquer explicação quando volta. No entanto, hoje,
uma das funcionárias do Aurora estava cochichando com outra, e em alguns
momentos elas olhavam para mim, deixando claro que eu era motivo de
chacota.
Aquilo, além de entristecer, me deixou completamente irritada,
principalmente depois que Tiago me deixou em casa e só disse que voltaria
tarde.
Não sou boba, sei que provavelmente ele deve ter outra, o que de
fato não me importa, mas ter a cidade toda sabendo disso e me tachando de
nomes horríveis, isso, sim, me enfurece.
Olho para o berço de Darel, que dorme sereno. Acaricio o pequeno
rostinho quando escuto o carro de Tiago estacionar na garagem.
Respiro fundo antes de sair do quarto do meu filho, encostar a porta
para que ele não acorde, e vou ao encontro de Tiago. Claro que ele está
embriagado; o cheiro do álcool pode ser sentido mesmo de longe.
— Tiago, onde esteve? — pergunto, parada no batente da porta,
enquanto ele fecha a porta do carro.
— E o que isso te interessa? — Sua voz sai enrolada.
— Sou sua esposa. — mantenho a voz firme.
Ele começa a rir de forma grotesca.
— Oh, agora a vadia é minha esposa.
Por um momento, vacilo ao ouvi-lo me ofender.
— Eu não sou isso que está dizendo, e sim, eu sou sua esposa e
mereço o mínimo de respeito, do mesmo jeito que eu lhe respeito.
Ele para na minha frente e me encara.
— Respeita? Eu sou o trouxa que casou com a pobre garota que deu
a boceta para um qualquer que não quis saber.
Ele tenta passar por mim, mas eu o impeço.
— Eu nunca lhe pedi para se casar comigo; foi você que fez juras de
amor.
— Eu realmente te amava. — Ele se aproxima e com força segura
meu rosto.
— Tiago, está me machucando.
— Eu te amava, como nunca pensei que poderia amar alguém, mas
hoje, eu não a suporto. Às vezes eu tenho vontade de matá-la e mandá-la
para o inferno.
Meus olhos começam a lacrimejar devido às suas palavras e à força
de suas mãos, que descem do meu rosto para o meu pescoço.
— Para, está me machucando.
— Você é a pior coisa que aconteceu na minha vida. — Sua voz não
sai enrolada; é como se a bebida lhe desse coragem para dizer essas coisas.
— Vamos nos divorciar…
Ele ri.
— Nunca. — Solta meu pescoço e passa por mim para entrar na sala.
Coloco a mão no pescoço, levemente dolorido, e o sigo, encontrando
uma determinação que não sei de onde tirei.
— Tiago, podemos acabar com isso de forma amigável. Eu não
quero nada que tenha aqui. — Começo a segui-lo. — Sairei sem deixar
danos para você, e se quiser, eu não me importo de inventar qualquer coisa
para justificar o divórcio.
Ele para e apoia as mãos sobre a madeira da mesa.
— E depois? Você sai daqui correndo atrás do pai do bastardinho?
— Não fale assim do meu filho.
— Isso mesmo, seu filho! — Ele se vira e me encara. — Nem para
me dar um filho você prestou; foram dois anos jogados fora com uma
mulher que parece um cadáver na cama, que não faz nada para sair dessa
rotina de merda.
Meus olhos lagrimejam.
— Você está de acordo? Vamos nos divorciar? — O encaro com
esperança de me ver livre disso tudo. Ele passa a mão no rosto, pensativo e
irritado.
— Não, Luara. Eu não vou lhe dar o divórcio. Para isso acontecer,
você vai precisar contratar os melhores advogados do mundo, ou me matar.
— Por que, Tiago? Você também é infeliz. Por que continuar nisso?
— Porque eu ainda te amo, porra! Mesmo você sendo essa merda de
ser humano. Eu prefiro viver essa vida de merda com você aqui, do que tê-
la longe.
Ele abre a geladeira, pega a garrafa de água e bebe direto do gargalo.
— Eu não quero mais. — sussurro, mas sei que foi alto o suficiente
para ele ouvir, pois ele parou com a garrafa no alto e seus olhos raivosos
encontraram os meus.
— O que disse? — perguntou, antes de jogar a garrafa na parede, me
assustando. — Você não quer mais?
Ele começa a se aproximar, enquanto vou recuando.
— E você pensa que tem esse direito de escolha?
Ele continua a se aproximar até me alcançar. Aperta meus braços,
levantando meu corpo, quase fazendo meus pés não tocarem no chão.
— Eu te mato, Luara. Eu acabo com você se pensar em sair daqui.
Eu te encontro, nem que seja no inferno, entendeu?
Lágrimas pesadas escorrem em meu rosto. Ele me encara e então me
solta de forma brusca. Penso que ele vai para o quarto, mas ele fica parado,
me encarando de forma demoníaca, como nunca havia visto antes.
Pela primeira vez, eu sinto muito medo, um medo que faz com que
cada célula do meu corpo trema.
— Amanhã vou pedir para o advogado da minha família entrar com
o pedido de registro de paternidade. Darei meu nome ao seu filho, e no dia
que tentar fugir, irei alegar que sequestrou o nosso filho. Farei de tudo, nem
que seja preciso alegar que você é uma puta louca, irei tirá-lo de você.
Começo a negar com a cabeça, pois ele pode tudo comigo, mas com
meu filho ele não irá se meter.
— Eu não vou aceitar. Meu filho tem um pai, e não é você!
Se eu pudesse voltar no tempo, ficaria quieta e deixaria ele se
acalmar para tentar conversar, pois foi só dizer essas palavras para que eu
sentisse na pele o monstro que vive sob o mesmo teto que eu e meu filho.
Tiago me jogou no chão, e mesmo que eu tentasse me defender, ele é
bem mais forte e, sem poupar forças, começou a golpear meu rosto. Senti o
gosto de sangue, minha visão embaçar e, por um momento, pensei que ele
fosse me matar, então parou e saiu de cima de mim.
— Olha o que você me faz fazer. Eu não queria te machucar, mas às
vezes só com palavras não adianta. Vou sair e volto amanhã. Limpe-se e
faça curativos, pois não quero encontrá-la assim quando eu voltar.
Ainda deitada no chão, mal enxergando o teto sobre minha cabeça,
escuto quando ele bate a porta da sala e depois o som do carro saindo.
Fecho os olhos e começo a chorar.
Choro por estar aqui, pois foi uma escolha minha que me colocou
nas mãos de uma pessoa como Tiago. Eu poderia ter enfrentado as
consequências da gravidez, poderia ter alugado uma casa pequena e feito
tudo sozinha, mas em vez disso, me agarrei às promessas vazias de um
homem ruim.
Abro os olhos e, encontrando forças que eu nem sabia que tinha, fico
de pé. Ao pisar no chão, sinto cada célula do meu corpo doer. Caminho com
dificuldade até o banheiro, e ao me olhar no reflexo, me assusto. Em meio
às lágrimas, começo a lavar meu rosto, e então, é nesse momento, olhando
para meu próprio reflexo, que chego a uma decisão: irei fugir disso e me
livrar dessa situação, pois não vou permitir que ele tire meu filho de mim.
Corro até o quarto de Darel, pego uma bolsa e jogo tudo de mais
importante nela. Vou ao meu quarto, pego uma mala de mão e jogo algumas
roupas, documentos, certidões e o pouco de dinheiro que tenho em um
cofrinho do Darel.
Darel continua dormindo quando me aproximo do berço, e continua
dormindo quando coloco um agasalho nele.
Coloco a bolsa de Darel nas costas, e a mala de mão vou puxando
com uma mão, enquanto com o braço seguro meu filho.
Saio de casa sem olhar para trás, caminho apressada, andando pelas
sombras, sempre olhando à minha volta, com medo de Tiago voltar e nos
ver.
Mesmo com o corpo dolorido, o rosto ardendo devido à surra que
levei, não meço esforços para me afastar. Eu só preciso ir para longe daqui,
e depois disso, irei pensar com clareza o que fazer.
No entanto, o que eu tenho certeza é que irei atrás do pai do meu
filho.
Luara Almeida

Caminho por três quilômetros até chegar à rodoviária.


Apreensiva, observo ao meu redor, o medo de Tiago aparecer e nos
levar de volta é apavorante. Sento-me em um banco afastado, onde a luz
não me destaque, pego meu celular e ligo para Renata. Sei que é tarde, mas
não tenho tempo a perder, e os minutos são cruciais.
— Lu? — Renata atende sonolenta. — Está tudo bem?
Seguro para não chorar antes de respondê-la.
— Re, eu preciso do dinheiro que está na poupança.
— Amanhã cedo eu te levo.
— Não, Re, eu preciso hoje.
— Aconteceu algo? Lu, você está me assustando.
Continuo observando ao meu redor, apertando Darel em meus
braços; o pequeno dorme serenamente, sem saber que nossas vidas vão
mudar completamente.
— Tiago me bateu, e amanhã vai colocar seu sobrenome no meu
filho, para poder tirá-lo de mim. Estou na rodoviária, indo para São Paulo.
— Espere, em alguns minutos estou aí.
A ligação é encerrada, e os minutos seguintes são uma angústia sem
fim. Enquanto espero, vou até um dos guichês, o único que está aberto.
— Oi, boa noite. — cumprimento a mulher que me encara
desconfiada. — Qual é o próximo ônibus para São Paulo?
— Tem um que vai sair de Ribeirão Preto às 4h, vai chegar aqui às
6h.
Meu Deus, é muito tempo.
— Antes, nenhum ônibus passará por aqui?
Minha pergunta parece deixá-la ainda mais desconfiada.
— Tem um aplicativo que você consegue comprar a passagem pelo
celular e pegar um lugar em ônibus que estão de passagem. — Ela me
analisa, e noto como seus olhos focam nos ferimentos do meu rosto. — Vou
ver para você.
A mulher, que inicialmente não parecia disposta a me atender, acaba
me ajudando, e consigo um ônibus para daqui meia hora. Ele vai dar muitas
voltas pelo interior até chegar em São Paulo, mas eu não ligo; eu só preciso
sair daqui o mais rápido possível.
Assim que saio do guichê, vejo Renata se aproximar. Ao me ver, ela
corre até mim e me abraça.
— Eu sabia que ele era um monstro como meu pai. — Sua voz sai
embargada.
Ela acaricia o rostinho de Darel.
— Passei em um caixa eletrônico. — Ela me entrega uma bolsinha.
— Guarde bem essa bolsinha.
Assenti.
Delicadamente, ela acaricia meu rosto.
— Olha o que ele fez com você.
— Vai ficar tudo bem. — Falo para ela, mas é algo em que quero
acreditar.
— O gringo vai conseguir advogados e você vai se divorciar, você
quer que eu vá com você?
Nego com a cabeça.
— Não, fique com a mamãe. Vamos ficar bem.
Ainda com a mão em meu rosto, ela assente.
Renata sempre foi uma boa irmã, mesmo sendo mais nova que eu,
sempre se mostrou sábia para a pouca idade, além de ser a única amiga que
tive na vida. Todas às vezes que me sentia sozinha, ela era minha
companheira.
— Eu te amo. — Declaro em voz baixa.
— Eu também amo você. — Ela volta a me abraçar, agora, não
esconde o choro. — Promete que vai me ligar todos os dias, mandar
mensagens o dia todo? E se precisar, não vai enfrentar tudo sozinha?
— Sim, e você cuide da mamãe, faça o vestibular e continue assim,
essa menina doce e alegre.
Ficamos juntas até o ônibus chegar, e mesmo não gostando de
despedidas, me vi abraçando novamente Renata. Quando entrei no ônibus
rumo ao desconhecido, deixei para trás aquele em quem confiei e me
decepcionei.

∞∞∞
A chegada em São Paulo foi cansativa. Assim que desembarcamos
na rodoviária, conferi o endereço que Renata havia enviado por mensagem,
contendo as informações sobre a localização do hotel Paradise. Este se
encontra distante da rodoviária, o que me leva a decidir pedir um carro por
aplicativo. Antes disso, porém, decido passar pelo banheiro, pois preciso
trocar Darel, que ficou um pouco enjoado durante a viagem.
Ao entrar no banheiro, procuro um fraldário e encontro um
disponível. Coloco Darel no trocador, e ele sorri, olhando para mim.
— Você vai conhecer seu papai, meu amor. — Digo com a voz suave
enquanto o troco; em resposta, Darel brinca, erguendo os pezinhos
rechonchudos. — Você é tão lindo. — Comento ao terminar de vesti-lo. —
Tomara que seu pai esteja no hotel; vamos direto lá, e depois procuramos
um lugar para passar a noite.
Ao sair do banheiro, paro em uma lanchonete para comprar algo para
comer. Opto por uma salada de frutas, que divido com Darel.
— Olha o aviãozinho. — Brinco, incentivando Darel a abrir a boca,
e ele prontamente a abre, pois adora frutas. — Isso, meu amor.
— Com licença. — Uma voz ao meu lado me faz virar o rosto. —
Desculpe interrompê-la, mas posso falar um minuto com a senhora? —
Pergunta uma mulher.
— Claro, o que deseja?
A mulher me encara com olhos cheios de gratidão.
— Eu moro na rua, e estou sem comer desde ontem. Se a senhora
puder comprar algo, pode ser até um pacote de bolacha, estou com muita
fome.
Olho para ela e me compadeço de sua situação.
— Claro. — Ajeito Darel em meus braços, levanto-me e vou até o
balcão da lanchonete. — Escolhe um salgado e algo para beber.
A mulher se anima e faz o pedido. Assim que a atendente entrega a
comida para ela, eu pago. No entanto, ao voltar para a mesa, meu coração
dispara, pois minha mala não está mais lá. Desespero-me ao perceber a
ausência dela.
— Não, não pode ser. — Sussurro para mim mesma, olhando ao
redor em busca da mala.
A mulher nota minha aflição e tenta acalmar-me.
— O que aconteceu?
— Minha mala, ela sumiu. — Respondo, sentindo um aperto no
peito.
A mulher olha ao redor, buscando alguma pista. Vejo um homem
suspeito correndo para fora da lanchonete. Instintivamente, começo a
persegui-lo, ignorando o chamado da mulher para parar. Corro pela
rodoviária, tentando alcançar o ladrão.
— Ei, devolve minha mala! — Grito, mas ele continua correndo.
Desesperada, vejo-o desaparecer na agitação da estação. Percebo que
perdi a mala, contendo minhas poucas posses, documentos e pertences
pessoais.
Meu olhar cai para Darel, ainda nos meus braços. Respiro fundo,
tentando encontrar forças, enquanto seguro a vontade de chorar. A sorte está
do meu lado; a bolsinha com o dinheiro que Renata me entregou está na
bolsa de Darel, que está nas minhas costas. Mas o que vou fazer agora?
Sem documentos, sem as roupas?
Informo a guarda da rodoviária sobre o roubo, o que não pode fazer
nada além de um boletim de ocorrência. Solidários, oferecem-me uma
carona no carro da polícia até meu destino. Entrego o endereço do hotel que
ainda não foi inaugurado, e eles me deixam na porta, em um bairro luxuoso.
Desço do carro, segurando ainda mais firme Darel, sentindo minhas
forças esgotarem. Se Renata estiver certa em suas pesquisas, Stefan está no
Brasil, pois a inauguração é amanhã, e como ela disse, ele precisa vir antes
resolver as coisas.
Na porta giratória de vidro, um segurança está parado. Me aproximo
dele.
— Oi, bom dia. Em que posso ajudá-la? — Pergunta.
— Oi, sei que pode ser estranho o que vou dizer, mas preciso falar
com Stefan Moser, esse é o hotel dele?
O homem me olha franzindo as sobrancelhas.
— Sim, mas não tenho autorização para deixá-la entrar. — Seu olhar
me avalia, e eu nem imagino qual deve ser a minha imagem agora. Pelo
olhar crítico dele, não estou nos meus melhores dias; posso até dizer que
estou no pior dia.
— Por favor, fale que Luara Almeida está aqui, ele sabe quem é. Só
preciso falar com ele.
Ele me analisa e então pega o rádio no bolso, comunicando-se com
outra pessoa.
— Mendes, na escuta?
O rádio faz um barulho antes de uma voz masculina surgir.
— Na escuta.
— Tem uma mulher aqui, chamada Luara Almeida, pedindo para ver
o senhor Moser.
— Não autorizado. O senhor Moser está em reunião, ela tem que
esperar para ver se ele vai querer recebê-la.
— Entendido. — O homem olha para mim. — Você ouviu, e como
conselho, é melhor voltar em outro momento, pois ele pode levar a tarde
toda.
— Não, eu irei esperar. — Falo com determinação.
— Então, sente-se em um dos bancos ali. — Ele aponta para um
banco de madeira em um canto.
Assinto, e com Darel nos braços, vou até o banco. Coloco a bolsa
nele e distraio Darel; por ser uma criança calma, ele não dá nenhum
trabalho.
— Aqui, para vocês aguentarem nesse calor. — O segurança estende
duas garrafas de água gelada.
— Obrigada. — Agradeço ao pegar, e a primeira coisa que faço é
encher a mamadeira de Darel. Não sei até que hora vou ter que ficar aqui,
mas não sairei até falar com Stefan.
Stefan Moser

No início, a decisão de abrir um hotel no Brasil surgiu da


possibilidade de reencontrar Luara, pois ela me contou que morava no
interior de São Paulo. No entanto, ao longo do projeto e das minhas visitas
ao país, comecei a apreciar a ideia, e aos poucos Luara não era mais o ponto
principal dessa decisão.
Durante uma das visitas, enquanto conhecia as pessoas envolvidas na
construção do hotel, tive o prazer de conhecer Amelie Smith, uma mulher
belíssima e carismática, com seus cabelos cacheados e pele morena.
A arquiteta americana de trinta e nove anos me encantou.
Inicialmente, pensei em construir uma amizade com ela, mas com o tempo,
me vi completamente envolvido, e hoje estamos em um relacionamento
sério. Isso é algo inédito para mim, já que nunca tive uma namorada, muito
menos alguém ao meu lado por tanto tempo no sentido romântico.
O maior obstáculo que enfrentei ao revelar esse relacionamento para
a família foi Zoe e Kylie.
— A equipe de Marketing irá apresentar o comercial. — Meu
assistente informa, me tirando dos devaneios.
Assinto, voltando a focar no momento, onde estou em uma sala de
reuniões, que provavelmente irá terminar tarde, pois hoje é véspera da
inauguração e amanhã tudo tem que ocorrer perfeito, sem erros, quero que
os hóspedes sintam realmente que estão em um paraíso. Já temos reservas
até o fim do ano, antes mesmo da inauguração.
Meu olhar vai até Amelie, que está sentada há algumas cadeiras de
mim, e como se sentisse que eu a olho, ela sorri.
Volto meu olhar para a tela, onde o comercial que, por sinal, ficou
ótimo, passa na tela.
Ao final da primeira reunião, todos vão para o restaurante, onde pedi
para prepararem um almoço.
— Amanhã vai ser um sucesso. — Amelie diz, quando estamos à
mesa.
Olho à minha volta e gosto de como o restaurante ficou.
— Sim, é o que espero.
É o primeiro hotel Paradise em uma cidade não litorânea, pois o
intuito sempre foi abrir hotéis próximos à praia, e me vi mudando
completamente minha rota.
— Reservei uma suíte para usarmos amanhã. — Ela sussurra para
que apenas eu possa ouvi-la.
Sorrio e seguro sua mão.
— Isso é ótimo.
— Será que em algum momento Zoe vai gostar de mim? — Como
disse, Zoe não apoia nosso relacionamento e não faz questão de esconder,
sendo rude e mesquinha com Amelie.
— O importante é que eu gosto de você. — Pisco para ela, e noto
suas bochechas corarem.
— Sim, isso é muito importante, senhor conquistador.
Após o almoço, voltamos para a sala de reuniões e permanecemos
nela até o entardecer. Quando tenho certeza de que tudo está dentro do
previsto, fico de pé e dou a reunião por encerrada.
O dia exaustivo pede um bom banho, um vinho e ficar tranquilo
sozinho, por isso, quando vejo Amelie vir até mim, sei qual é sua intenção,
e preciso cortar seus planos.
— Querido, quer ir para o hotel onde estou? — Pergunta, pois por
mais que estejamos em um relacionamento, não estou hospedado no mesmo
hotel que ela, como disse, prezo pelo meu momento sozinho.
— Hoje realmente preciso descansar.
Ela passa os braços sobre meus ombros.
— Posso fazer uma massagem.
Passo a mão em volta de sua cintura.
— Por mais tentador que possa ser, irei recusar.
Ela faz um biquinho, que em outras ocasiões diria que é fofo, mas no
momento é irritante, por isso, tentando ser gentil, a afasto.
— Vamos? Eu te deixo no hotel.
Ao perceber que não vou mudar de ideia, ela concorda e sai
caminhando na minha frente.
Chegamos no hall de entrada, e não posso deixar de observar o
design do lugar.
— Senhor Moser. — Olho para o lado, onde um dos seguranças se
aproxima. — Boa noite.
— Boa noite.
— Desculpe atrapalhar, mas tem uma mulher do lado de fora que
deseja falar com o senhor, ela disse que é urgente.
Franzo as sobrancelhas, pois as pessoas que conheço aqui em São
Paulo estavam na reunião.
— Fale para voltar amanhã. — Dispenso, pois quem for não vale a
pena desperdiçar meu tempo.
Coloco a mão na lombar de Amelie e a guio para sairmos.
— Senhor, ela o está esperando desde manhã, e por estar com uma
criança, penso que deve ser de alguma importância.
— Se esperou do lado de fora até uma hora dessas e ainda por cima
com uma criança, diria que é uma irresponsável. — Sou ríspido e tento
continuar meu caminho, mas meus passos param quando o segurança
insistente fala:
— O nome dela é Luara Almeida.
Sinto meu coração acelerar, e a mão que estava na lombar de Amelie
cai, encaro o segurança.
— Luara… Almeida?
— Isso.
— Onde ela está? — Pergunto nervoso.
— Quem é Luara Almeida, querido?
Mal escuto o que Amelie pergunta, pois a minha maior prioridade no
momento é ir até Luara.
— Em frente ao hotel…
Ele mal terminou de falar, soltei a pasta que segurava e saí correndo,
passei pelas portas giratórias, e do lado de fora olhei de um lado para o
outro em desespero.
E quando meus olhos viram a pequena figura da garota dos cabelos
pretos, sentada em um banco de madeira, com um bebê nos braços, senti
meus olhos arderem, pois, diante de mim, estava a pessoa que ficou poucos
dias na minha vida e se tornou inesquecível.
Luara Almeida

Faz algumas horas que cheguei, e até agora nada do Stefan sair.
A minha sorte foi que Deus colocou uma pessoa muito boa e gentil
para me ajudar nesse tempo; o segurança, que no início pensei que iria me
expulsar daqui, está sendo um anjo. Ele trouxe mais de uma vez alguns
sanduíches que estão sendo servidos para os funcionários, suco, e até
mesmo na hora do almoço, ele surgiu com um prato de comida, que por
sinal estava ótimo.
Quando me viu trocando Darel aqui no banco, ele gentilmente me
levou até o banheiro que fica no fundo do hotel, onde pude limpar Darel
com mais calma e lavar o rostinho dele para que ele se refrescasse. Também
lavei o meu e até tentei dar uma arrumada no cabelo, que estava uma
bagunça.
Durante o dia, meu celular não parou de tocar. Tiago é insistente, e
quando percebeu o que aconteceu, deve ter enlouquecido.
Ele me mandou algumas mensagens me ameaçando, e até mandou
um e-mail, fingindo preocupação com nossa segurança. Minha mãe me
ligou desesperada perguntando onde estávamos, pois Tiago estava chorando
muito. Ele chegou a dizer para minha mãe que faz um tempo que ando
tendo surtos mentais e que posso colocar a vida do meu filho em perigo.
Claro que minha mãe não acreditou nele, e quando contei tudo o que
aconteceu e como está o meu rosto agora, ela o enfrentou e disse que se ele
aparecer na porta dela vai chamar a polícia. Ele até tentou ser rude com ela,
mas Fernando gritou com ele; pelo menos um monstro enfrentou outro.
Renata disse que até agora não tem notícias de Tiago, e eu até pensei
que ele ia me deixar em paz, até receber uma mensagem de Edgar, falando
que se eu não voltar até amanhã, ele irá acionar a polícia e os advogados da
família, pois Tiago contou toda a história de como eu surtei e como ele não
gosta de mim, acreditou cegamente no irmão.
Por isso, ficarei aqui e falarei com o único que pode me ajudar.
No entardecer, algumas pessoas começam a sair, e cada vez que
escuto vozes na porta giratória, sinto meus batimentos acelerarem, mas a
decepção quando percebo que não é Stefan é grande.
Fico sentada no banco e faço Darel dormir; estou o ninando quando
escuto passos se aproximarem. Quando levanto o rosto e vejo Stefan parado
na minha frente, não sei o que devo fazer.
— Luara… — Ele fala ao dar mais um passo em minha direção. Fico
de pé, pronta para ir até ele, mas assim que levanto do banco, uma mulher,
linda, surge atrás dele e une a mão dela na mão dele. O que me faz recuar.
Eu não estava pronta para vê-lo com outra.
— Querido, você a conhece? — A mulher perguntou, me olhando
dos pés à cabeça, e quando seus olhos se fixam no meu rosto, ela arregala
os olhos, solta a mão de Stefan e se aproxima. — O que houve com seu
rosto? — Perguntou, e pude notar a preocupação em seu tom.
Nesse momento, Stefan parece perceber, pois, por mais que seus
olhos estivessem fixos no meu rosto, ele parece em choque demais para
notar os hematomas.
— Quem fez isso? — Sua voz grossa e potente irrompe o silêncio.
Ele se aproxima e coloca as mãos no meu rosto. — O que aconteceu,
Luara?
— Precisamos conversar, por favor. — Peço, não, na verdade, eu
imploro.
— Sim, vamos agora. — Ele passa a mão no rosto e se vira para a
mulher. — Amelie, vou pedir para alguém levá-la, preciso conversar com
Luara.
Ela assentiu.
— Claro. — Ela passa a mão no meu braço. — Fique bem, querida.
Tentei sorrir, mesmo que por dentro estivesse com ciúmes; no
entanto, a mulher é simpática demais. Ela sai caminhando, deixando-me
sozinha com Stefan.
— Vou pedir para prepararem uma suíte, você precisa descansar e se
alimentar direito.
— Eu estou bem alimentada, o segurança foi atencioso e gentil
comigo.
Ele olha para o homem que está parado na porta.
— Vou gravar bem o rosto dele para depois retribuir o cuidado que
teve com você. Vem, vou te levar lá dentro, e conversaremos melhor.
Darel, que está com o rostinho em meu ombro, se mexe, e como se
reconhecesse a voz do pai, ele acorda e vira seu pequeno rostinho para
Stefan.
Nesse momento, sei que a conversa não precisará nem que eu revele
de quem Darel é filho, pois os olhos azuis de Stefan se arregalam. Ele olha
para o filho, e sei que ele sabe, está óbvio, ele é um xerox dele.
— Luara… o que… mas como… Meu Deus! Ele é meu. — Sei que
não foi uma pergunta, mas mesmo assim, assenti.
— Sim, e agora, preciso que salve Darel.
— Como assim?

Stefan Moser
A sensação de ver o rostinho do menino é avassaladora. É como se o
tempo tivesse se dobrado sobre si mesmo, me lançando de volta à minha
própria infância. Darel é simplesmente uma cópia minha, como se alguém
tivesse retirado um retrato meu quando eu era criança. O impacto é tão forte
que sinto meu corpo congelar, e a palavra "choque" mal descreve o que
estou experimentando.
— Vamos conversar. — Ajudo Luara a pegar a bolsa, e entramos no
hotel. Vou até a recepção, onde estão três funcionários.
— Quero o cartão da suíte presidencial. — Peço, e imediatamente
um dos funcionários começa a fazer o que pedi.
Pego o cartão e conduzo Luara até o elevador. Durante a subida até a
suíte, nenhum de nós falou nada. Continuamos assim até as portas de metal
se abrirem.
— Se você quiser usar o banheiro, fique à vontade.
Vou caminhando até o minibar e pego um copo e coloco uísque.
— Pode ficar nesse quarto; avisarei na recepção para colocarem a
suíte presidencial como indisponível. — Viro o conteúdo do copo de uma
só vez, pois sei que vou precisar desse pouco teor de álcool para a conversa
que virá.
Luara continua parada no meio da sala, e noto como seus olhos estão
cansados, nada parecida com a garota sorridente que conheci na Austrália, e
mesmo assim, é exatamente ela.
Ela abraça o filho como se o quisesse proteger do mundo, o que eu
entendo completamente. Não faço ideia do que ela passou nesses últimos
dois anos.
— Como foi sua gestação? — Pergunto ao parar em sua frente.
— Foi boa, não tive complicações, além de uma anemia no começo.
— Responde com um sorriso tímido. — Darel sempre foi um bebê calmo,
até mesmo dentro da minha barriga.
— Deve ter puxado com você; minha mãe diz que eu era um bebê
agitado, o terror das babás. — Tento falar com a voz humorada, o que surte
efeito, pois consigo um sorriso dela.
— Sim, sempre fui tranquila.
Seguro a mão dela e a levo até o sofá, para sentarmos; a conversa
será longa.
— E quando ele nasceu? Como foi?
Ela sorri ainda mais, e noto que falar do nosso filho é sua felicidade.
— Foi cesárea, fiquei dois dias no hospital, e quando voltei para
casa, minha irmã e minha mãe prepararam uma festinha de boas-vindas
para ele. Foi lindo; ele ama demais elas.
— Eu imagino. Por que não me contou que estava grávida? —
Preciso perguntar; essa questão, entre outras, está entalada na minha
garganta.
Ela respira fundo e desvia o olhar.
— Eu… queria te contar. É o seu direito como pai, mas… — Ela
parece sem jeito.
— Mas?
— Depois que fui embora da Austrália, mantive contato com Zoe. —
Claro que minha filha está envolvida nisso. — Ela sempre foi gentil
comigo, e por um tempo pensei que seríamos amigas. No dia que descobri
que estava grávida, ainda no hospital, ela me ligou, e eu pensei que era um
sinal. Mas quando perguntei de você, ela simplesmente ficou furiosa
comigo, disse que eu precisava parar com a obsessão em você. Eu tentei
falar, mas ela não deixava; desligou a chamada na minha cara e me
bloqueou. Foi ali que percebi que não tinha outra escolha.
— Por isso se casou. — Não foi uma pergunta, mesmo assim ela
assentiu.
— Sim. Minha vida estava à beira de se tornar um verdadeiro
inferno. Eu não sou nada do que viu na Austrália. — Seus olhos voltam a
me fitar, dessa vez, cheios de lágrimas. — Eu sou uma garota insegura,
medrosa, e não tenho amigos além da minha irmã mais nova. Moro com
minha mãe, minha irmã e meu padrasto. Um homem que sempre tive medo,
que fora de casa era um exemplo de ser humano, mas dentro era um
monstro. Quando ganhei a viagem, fiquei tão feliz, pois era uma chance de
viver o inesperado, algo que talvez eu nunca teria a chance de viver. E então
eu o conheci, e quando estávamos juntos, eu me senti eu mesma. — Ela usa
o dorso da mão para enxugar o rosto. — Foram os melhores dias da minha
vida, até que acabou. Voltar para casa grávida, e sem um pai para esse bebê,
seria terrível; eu pensei que não daria conta de cuidar de um bebê sozinha.
Foi quando surgiu Tiago; ele é um dos donos do supermercado em que
trabalho, sempre foi gentil comigo, e estava comigo quando descobri que
estava grávida. E na hora, ele me fez uma proposta, que naquele momento
parecia a melhor escolha; eu só não sabia que ele seria alguém pior que
Fernando.
Estendo a mão e com o polegar acaricio os hematomas.
— Ele fez isso? — Pergunto, controlando para não ir atrás desse
homem e deixar o rosto dele irreconhecível.
Ela assente.
— Ele disse que vai tomar meu filho de mim.
— Esse homem registrou Darel?
Ela nega.
— Não se preocupe, que vou proteger você e nosso filho.
— Você… não duvida da paternidade?
Sorrio para tranquilizá-la e falo com convicção.
— Não, nem um pouco; acredito no seu caráter, e convenhamos, ele
é minha cópia.
Ela sorri em meio às lágrimas.
— Sim, ele é como vê-lo em miniatura.
— Posso segurá-lo? — Pergunto.
— Claro.
Ela aconchega o garotinho, que está dormindo, antes de entregá-lo
com cuidado para mim. Como não sou um pai de primeira viagem, sei
como devo pegá-lo, e assim eu o faço. Pego meu filho e o aconchego em
meus braços. Como se sentisse minha presença, ele abre os olhos. Num
primeiro momento, parece confuso, franze as sobrancelhas loirinhas, como
se questionasse por que não está no colo protetor de sua mãe, então ele
sorri. E foi naquele sorriso que eu soube que, por esse pequeno, dou minha
vida sem hesitar.
Stefan Moser

Como Luara foi roubada na rodoviária, ela não tinha nenhuma troca
de roupa para usar após o banho. Por isso, fui até o hotel onde estou
hospedado e peguei minhas coisas. Decidi que não vou sair de perto dela e
do meu filho; por esse motivo, fiz checkout e levei minhas coisas até a
suíte.
Entreguei uma camisa minha, que nela vai parecer um vestido, e um
short de moletom que tem ajuste na cintura. Ela tomou um banho, e
enquanto isso, fiquei brincando com Darel. Como ela disse, o pequeno é
bonzinho e amoroso, me fez rir como há muito tempo não o fazia.
Eu só não estava preparado para ver Luara usando minhas roupas,
com o cabelo molhado surgir na sala. Por um momento, fiquei paralisado
com a visão, e precisei desviar o olhar para parar de babar.
— Pedi para entregarem o jantar. — Aviso pegando Darel nos
braços.
— Obrigada. — Agradece, e completamente sem jeito, ela caminha
até a mesa e se senta.
— Pedi para uma das funcionárias comprar algumas roupas para
você amanhã, assim que o comércio abrir. Ou se você preferir ir escolher...
— Está ótimo. — Me corta com um sorriso fino, e noto aquele brilho
no olhar, o mesmo que teve quando estava experimentando frutos-do-mar
no restaurante.
— Como não sei o que Darel pode comer, esperei você.
— Ele ama frutas, e também estou começando a dar comidinhas para
ele. A pediatra dele disse que agora que ele está com quatro dentinhos,
posso ir acrescentando alimentos além do leite. Ele ama gelatina.
— Pelo visto ele tem um gosto único, já que tanto eu quanto você
adoramos doce.
Ela sorri.
— Sim.
Ficamos nos olhando.
— Você não vai jantar? — Indagou.
Assenti, mesmo que eu não esteja com fome. Sentei-me à mesa,
ainda com Darel nos braços, e em vez de me servir, fiquei olhando Luara
comer.
O que essa garota sofreu para chegar até aqui? As coisas que
enfrentou para proteger nosso filho, e tudo poderia ter sido diferente se eu
tivesse descoberto antes que ela estava grávida.
Após o jantar, Luara deu um banho em Darel e preparou o leite dele,
o colocou na cama, cercado por edredom, pois ela disse que ele se mexe
bastante. Colocou ele de lado, deu a mamadeira e usou uma manta para
cobri-lo.
— Desse jeito ele dorme rapidinho, e como ele ficou no meu colo o
dia todo, estar em uma cama macia é como um sonífero. — Informou na
porta do quarto.
— Você também deve estar cansada.
— Sim.
Ela fica parada no batente da porta, e nenhum de nós dois parece
querer se afastar.
— Se precisar de algo, estou aqui.
Ela sorri, e quando penso que ela vai se afastar, ela dá um passo em
minha direção, contorna meu corpo com seus braços, coloca a lateral do
rosto em meu peito e me abraça.
Em um primeiro momento, fico sem reação, mas me dou conta de
que estou com a garota que esteve em meus pensamentos durante dois
malditos anos, e que enfrentou coisas horríveis, e tudo o que ela precisa
agora é que eu seja seu porto seguro. Por isso, coloco os braços sobre seus
ombros e acaricio seus cabelos.
— Estou aqui, Luara, e não irei embora sem vocês.
Escuto seu choro baixo.
— Você promete?
— Sim. — Não hesito em respondê-la. — Prometo.
— Obrigada, Stefan. — balbuciou. — Por estar aqui, e não me
mandar embora.
Seus braços em minha volta apertam-me ainda mais.
— Nunca iria te mandar embora. — Sussurro.
Não sei quanto tempo passou até que ela se afastasse, mas quando o
fez, de cabeça baixa, ela entrou no quarto e fechou a porta.
Continuei parado no mesmo lugar, sem reação, e ainda sentindo seu
cheiro. Fecho os olhos e passo a mão no rosto.
Volto até a sala, pego meu celular e ligo para meus advogados,
explico a situação e peço que encontrem uma solução, pois quero registrar
meu filho o mais rápido possível, e que Luara assine o divórcio, pois eu
nunca vou permitir que aquele homem que ousou levantar a mão para ferir
seu rosto se aproxime dela. Usarei todo o recurso que o dinheiro pode
proporcionar para dar um fim nesse inferno que a garota está.

Luara Almeida
Acordo com Darel me chamando, ele estava me empurrando e
gritando "mama".
— Oi, meu amor. — Acaricio o rostinho sorridente dele. — Ontem
foi um dia e tanto, em.
Ele ri, como se entendesse tudo o que estou dizendo.
Pego meu celular para ver a hora e me assusto quando vejo que já
são nove horas.
— Meu Deus, filho, dessa vez dormimos muito.
No entanto, quando olho novamente para o meu celular, encontro
dez chamadas perdidas da minha irmã, cinco chamadas da minha mãe e
uma mensagem estranha de Tiago.
"Querida, tudo o que peço é que volte em segurança com nosso
filho, sei que você não está bem, mas juntos vamos superar tudo. Por favor,
não faça mal a esse menino, eu lhe imploro, volte."
Estranho sua mensagem e decido ler a da minha irmã.
"Aquele filho da puta armou para você, irmã. A polícia bateu aqui
hoje, dizendo que estão te procurando, ele falou que você está com surtos
mentais, e que se machucou e feriu Darel. Não atenda ele, e nem
responda."
Decido responder Renata.
"Irmã, encontrei Stefan, e ele prometeu que vai cuidar de tudo, e não
vai deixar Tiago se aproximar."
Ela não demora a visualizar, e em poucos segundos recebo sua
resposta.
"Eu sabia, ele te ama."
Sorrio com a imaginação fértil da minha irmã. Ele não me ama; ele
só está protegendo o filho.
Levanto da cama, e quando chego na sala, sou surpreendida por uma
arara de roupas para mim, brinquedos para Darel, além de andador, bebê
conforto, uma cadeirinha para ele comer e muitas outras coisas.
Com Darel nos braços procuro por Stefan, mas não o encontro. Em
vez disso, encontro um bilhete na mesa, sob uma bandeja de café da manhã.
"Tive que sair cedo para a inauguração. Na hora do almoço eu volto
para almoçarmos juntos. Não se preocupe, estão seguros aqui, e meus
advogados já estão resolvendo tudo."
Por que não consigo desmanchar o sorriso ao ler essas palavras?
Coloco Darel na cadeirinha e sento à mesa; sobre a bandeja está um
café digno de cena de filme, com frutas, torradas, geleia, suco, café, e tem
até uns brigadeiros.
Após comer, estendo um tapete felpudo no chão. Pelo jeito, Stefan
pensou em tudo. Coloco Darel e dou os brinquedos para ele se divertir.
Enquanto isso, olho as roupas na arara.
São lindas, mil vezes melhores das que eu tinha na mala. Tem
vestidos, calças, shorts, blusas, e até mesmo lingerie de qualidade. E tudo
na minha numeração. Decido pegar um vestido de alcinha, na cor azul, e
usá-lo.
Hoje sei que as coisas vão ser diferentes, e sinto que serão melhores
do que ontem.
Stefan Moser

Deixar Luara e Darel para trás foi difícil; eu queria estar lá quando
eles acordassem. No entanto, não podia ignorar meu compromisso com a
inauguração do hotel. Deixei avisado para minha equipe que no horário do
almoço precisarei me ausentar.
Meus advogados me ligaram quando estava entrando no elevador,
para avisar que Tiago Martin, o sujeito que ergueu a mão para ferir Luara,
fez uma denúncia alegando que ela sofre de transtorno mental e que, duas
noites atrás, ela bateu no próprio rosto e agrediu o filho. Vou provar que ele
está errado e colocá-lo atrás das grades.
Ao sair do elevador, encontrei Amelie.
— Oh, que bom que desceu, estou tentando falar com você pelo seu
celular e não estou conseguindo. — Ela se aproxima e me dá um rápido
selinho. — E como a garota está?
— Cansada, ela e o filho estão descansando. E sobre o celular, eu
deixei ele na sala, e só o peguei hoje quando estava vindo para cá.
— Entendi, sem problemas. Vamos? — Ela apoia o braço no meu, e
caminhamos até o hall do hotel, onde já se vê a movimentação. — Esse
hotel vai abalar essa cidade.
Assenti, não tão empolgado como deveria, já que tudo o que consigo
pensar é em Luara e meu filho. E falando em Darel, eu preciso falar com
Amelie e contar que acabei de descobrir que tenho mais um filho.
Pessoas começam a se aproximar, me cumprimentando, elogiando a
estrutura do hotel, e ainda preciso posar para fotos, o que não é minha praia.
Estou conversando com um político que veio prestigiar a
inauguração quando, pela visão periférica, vejo o segurança do dia anterior,
o mesmo que ajudou Luara.
— Com licença. — peço ao homem, afastando-me e indo até o
segurança.
— Oi, bom dia. — O cumprimento, fazendo-me olhar.
— Bom dia, senhor.
— Qual o seu nome? — pergunto.
— Gabriel Silva, senhor.
— Silva, quero agradecer pelo que fez ontem pela mulher e o bebê.
— Não tem o que agradecer, senhor. No começo eu pensei que era
alguém querendo pedir algo, mas ao ver o quanto falar com o senhor era de
extrema importância para ela, não pude fechar os olhos, e deixá-la passar
fome ou sede. Também tenho uma mulher e dois filhos.
— Mesmo assim, quero agradecer. Em breve você e todos aqui vão
descobrir a importância daquela mulher na minha vida, e por isso não se
espante ao ver o valor que irá cair em seu pagamento, e peço descrição de
sua parte com os demais.
Ele arregala os olhos, e por um momento penso que vai chorar.
— Senhor, eu...
— É o meu modo de retribuir. — Aperto seu ombro. — Bom
trabalho.
Deixo o homem para trás, emocionado. Provavelmente os cem mil
que vou pessoalmente depositar na conta dele vão fazer a diferença em sua
vida.
— Pai! — Meus passos travam ao ouvir a voz de Zoe. Viro meu
corpo, e é impossível não a olhar incrédulo, já que ela disse que não viria
devido às provas na faculdade. Ela corre até mim e me abraça. — Viemos te
prestigiar.
— Viemos? — Mesmo feliz em ver minha filha, é impossível
ignorar o plural de sua frase.
— Sim, eu e a mamãe.
Olho para trás dela e vejo Kylie entrando. Para o meu espanto, ela
coloriu o cabelo de preto, e parece que colocou extensões, já que ele está
quase na cintura. Franzo as sobrancelhas, pois, diante de tudo que preciso
resolver, lidar com a mãe da minha filha não estava nos meus planos.
— Stefan, espero que nossa visita o deixe feliz, foi uma viagem
longa e cansativa. — Ela fala ao parar na minha frente com um sorriso
largo.
Por um momento, tenho vontade de falar que não posso lidar com
elas agora, mas nunca iria mandar minha filha embora. Mas, caramba,
quando ela ver Luara aqui vai surtar, e vai ficar ainda pior quando descobrir
que tem um irmão.
— Claro, estou feliz que vieram. — Respondo por fim.
— Ih, lá vem ela. — Murmura Zoe, referindo-se a alguém atrás de
mim, e eu não preciso ser um gênio para saber de quem ela está falando.
Amelie para do meu lado, como sempre, estampando um sorriso
simpático.
— Olá, Zoe e Kylie, como estão?
Zoe revira os olhos, e ganha uma encarada minha, ciente de que não
gosto desse seu comportamento.
— Oi, Smith. — Kylie responde, usando o sobrenome de Amelie
para cortar qualquer tipo de intimidade entre elas. No entanto, esse gesto
parece não afetar Amelie.
— Que bom que vieram. No restaurante está sendo servido um
brunch, fiquem à vontade.
— É o hotel do meu pai, não preciso da sua autorização para ficar à
vontade.
— Zoe, pare. — Peço, mas em tom de autoridade.
— Tanto faz. — Ela dá de ombros, e é nesses momentos que percebo
o quanto ter tudo fácil a hora que quiser está tornando minha filha em uma
mulher mesquinha e mimada. — Pai, estamos cansadas da viagem, pode
pedir o cartão da suíte presidencial.
— Essa suíte já está com hóspedes, vou levá-las até um quarto que
não está ocupado. — Falo, e me viro em direção a Amelie. — Vou levá-las,
pode cuidar das coisas na minha ausência?
Ela assentiu.
— Claro. Foi bom ver vocês. — Amelie usa um tom de provocação
antes de se afastar.
Respiro fundo, torcendo para que até o final do dia eu esteja em sã
consciência para lidar com o que realmente precisa da minha atenção.
Após acomodar Kylie e Zoe em um dos quartos, retorno ao evento e
vou imediatamente me desculpar com Amelie, que está conversando com
alguns funcionários.
— Amelie. — A chamo ao parar ao seu lado.
Ela se vira com um enorme sorriso.
— Acomodou elas?
— Sim, e quero me desculpar pelo comportamento delas.
— Stefan, você precisa parar com isso. Se desculpar pelas coisas que
sua filha, que já é adulta, faz, não torna as coisas mais fáceis; pelo
contrário, ela vai crescer pensando que tem controle sobre você e que
qualquer coisa que fizer errado, tem o pai para resolver por ela.
— Você tem razão.
— Sim, eu tenho.
Olho para a mulher na minha frente, que desde que a conheci se
mostrou um ser humano incrível, gentil e atenciosa, e percebo que preciso
ser honesto com ela. Por mais que ela seja tudo isso que eu disse, é por
Luara que meu coração bate forte.
— Podemos conversar no meu escritório? — Pergunto.
Ela sorri.
— Sim, mesmo que eu já saiba o que vai dizer. Eu não sou cega,
Stefan. Ontem vi o rostinho do garotinho, é como um reflexo seu. E o modo
como olhou a garota foi tão puro, cheio de paixão. Por mais que estar com
você seja maravilhoso, pois, sim, você é o homem dos sonhos, não quero
que se sinta mal por querer viver o amor.
— Você realmente existe?
— Sim, e sou uma raridade. — Ela beija meu rosto. — Vá ao
encontro dela e do seu filho, que eu cuido das coisas aqui, e se sua filha
aparecer, direi que precisou se ausentar. — Sussurrou no meu ouvido.
— Espero que um dia encontre alguém que mereça uma mulher
como você.
— Digamos que não estou procurando no momento, mas se os céus
ouvirem seu desejo e quiserem realizá-lo para mim, não negarei.
Beijo sua testa.
— Obrigado.
Me afasto, sentindo-me leve. Não por terminar as coisas com
Amelie, mas sim porque agora, posso ir ao encontro daquela que ocupa
cada pensamento meu. Se ela me quiser, eu nunca sairei do seu lado.
Adentro o elevador e pressiono o botão da suíte presidencial; sinto
uma ansiedade adolescente tomar conta de mim. Fecho os olhos enquanto o
elevador sobe. Foram duas semanas, um período que nunca saiu da minha
mente. Foram dois anos em que desejei esquecê-la. Agora, finalmente,
posso realizar o que anseio desde o momento em que a vi pela primeira vez.
As portas do elevador se abrem. Respiro fundo e encaminho-me para
recuperar aquilo que nunca deveria ter deixado partir da minha vida.
Luara Almeida

Após organizar as roupas que ganhei, brincar com Darel e seus


novos brinquedos, dar-lhe a comidinha e colocá-lo para tirar uma soneca,
aguardo o almoço, pois Stefan disse que viria. Meu pequeno costuma
dormir à tarde por cerca de duas horas, mas, quando acorda, está pronto
para correr e brincar. Por isso, preparo tudo antes mesmo de ele despertar.
Ainda não almocei, pois estou esperando Stefan.
Enquanto organizo os brinquedos, a porta se abre, e Stefan entra. Ele
atravessa a sala sem desviar os olhos de mim, fecha a porta e se aproxima.
— Você tem ideia de como parecia um louco nos últimos dois anos?
— ele começa a falar.
Fico parada, sem entender.
— Eu costumava entrar nas redes sociais da sua irmã só para
conseguir alguma informação sobre a sua vida. Eu queria saber como você
estava, mesmo estando casada. Ficava pensando se ele a tratava bem, se
estava feliz. Mentia para mim mesmo dizendo que abrir um hotel no Brasil
não tinha nada a ver com você. — Ele ri ironicamente ao parar na minha
frente. — Nem eu acreditava nessa mentira. Naquele dia em que a tirei da
minha vida, você tem ideia de quão difícil foi magoá-la? Eu não queria;
você não merecia. Mas eu fiz, e passei dois anos me arrependendo
amargamente. Até Amelie percebeu o que eu nunca disse em voz alta.
Luara, eu sou completamente apaixonado por você. Foram duas semanas
inesquecíveis que ficaram enraizadas na minha mente e no meu coração.
Agora, vou segurar o seu rosto e te beijar, e se você não quiser que isso
aconteça, fale agora.
Permaneço o encarando, processando suas palavras, mas com uma
certeza: Stefan foi o homem que eu quis, escolhi e que me fez feliz. Por
isso, tomo a iniciativa, segurando seu rosto entre minhas mãos e o beijando.
Ele afasta, e segura meu rosto com uma de suas mãos, enquanto com
a outra aperta minha cintura. Fazendo com que meu rosto fique inclinado.
— Onde está Darel? — perguntou com a boca próxima à minha.
— Dormindo, ele almoçou e… — não consigo terminar de falar,
pois, sua boca volta a grudar na minha, de forma faminta, me tirando o ar.
Ele solta meu rosto, e com muita facilidade me levanta do chão,
fazendo com que eu cruze as pernas em volta de sua cintura, e então ele
senta no sofá, comigo montada nele. E detalhe, sem desgrudar nossas bocas.
Como eu amo os beijos dele.
Suas mãos vão até minha bunda, e sem nenhum pudor, ele aperta
com força, fazendo-me pressionar ainda mais em seu colo, e posso sentir o
quão excitado ele está, entre minhas coxas.
Stefan começa a subir meu vestido, e sinto um arrepio quando seu
polegar toca minha pele sob a calcinha, levantando a lateral, fazendo com
que a peça pressione minha carne.
— Ah… — Um gemido baixo o qual tento conter escapa dos meus
lábios.
— Não se contenha, minha linda. — Ele fala como se adivinhasse o
que estou sentindo.
Automaticamente, começo a rebolar em seu colo, movendo meu
quadril para frente e para trás, tentando aliviar a pressão que estou sentindo.
— Isso… rebola bem gostosinho. — diz antes de morder meu lábio
inferior.
Sua boca deixa beijos pelo meu maxilar, até chegar em meu pescoço,
onde ele leva mais tempo para explorar com a boca.
Não consigo parar de me esfregar nele, foram dois anos apenas
abrindo as pernas para um homem do qual eu não gostava, sem me
preocupar em sentir prazer, e agora, sinto todo meu corpo reagir às carícias
de Stefan, reconhecendo aquele que pode proporcionar o real prazer para
ele.
Stefan tira o vestido do meu corpo, e agora, estou só de calcinha em
seu colo, e com os peitos expostos, não por muito tempo, pois, não demora
para ele colocar um deles na boca.
Meus dedos deslizam pelos fios de cabelo em sua cabeça, enquanto
fecho os olhos e deixo o prazer dominar cada célula do meu corpo.
Vou inclinando o tronco para trás, levantando levemente o queixo
para cima, para dar acesso, a sua língua, que desliza entre meus seios.
— Tão gostosa, sabe o quanto senti falta de você?
Embriagada, por um prazer que há muito tempo não sentia nego.
— Vou te mostrar. — Ao dizer isso, ele levanta, e me deita, sobre o
sofá, e começa a tirar suas roupas.
— Luara, a partir de hoje, vou te compensar pelo que disse aquele
dia, quando menti descaradamente que não a queria.
— Você me magoou. — Confesso sem desviar os olhos do seu
corpo, observando enquanto ele abre o zíper da calça.
— Vou precisar de muito tempo para te compensar, quem sabe a vida
toda. — Ao dizer isso, ele abaixa a calça junto com a cueca, e chego a sentir
a boca salivar.
— Pode começar agora mesmo a compensar por isso.
Ele sorri, aquele sorriso que me deixa ainda mais molhada.
Seu corpo paira sobre o meu, e sua boca beija a minha rapidamente,
antes dele começar a explorar cada pedacinho do meu corpo, até está com o
rosto entre minhas coxas.
Stefan puxa minha calcinha, ergo as pernas para o ajudar tirar a
pequena peça, e agradeço mentalmente por estar com a depilação em dia.
E no momento em que ele coloca a boca no meu centro, não consigo
mais me controlar, o gemido que dou, sai da alma.
Sua língua habilidosa desliza pela minha umidade, quando começa a
chupar, dobro os dedos dos pés, pois estou tão sensível, e Stefan é ótimo no
que faz.
Automaticamente começo a rebolar contra seus lábios, buscando
alivio ao que estou sentindo, é como se eu fosse explodir a qualquer
momento.
E ele só para quando finalmente o que estava guardado em mim,
explode em um clímax delicioso.
Ainda ofegante, pelo orgasmo maravilhoso, quase perco o fôlego,
quando ele começa a subir seus beijos, e deixa alguns a mais na pequena
marca da cesárea.
Sua língua sobe pelo meu corpo, até vir de encontro a minha boca.
Posso sentir meu gosto em seus lábios, mas não me importo, pelo contrário,
isso me deixa ainda mais excitada.
Sinto seu membro se posicionar na minha entrada.
Stefan acaricia meu rosto, mostrando um carinho que há muito
tempo não tinham comigo.
— Você é a mulher mais linda que meus olhos já viram. — declarou,
me fazendo corar. — Minha. — Sua língua desliza pelos meus lábios, e
então o sinto me penetrar.
E aquela sensação gostosa de reconhecimento me domina. Abro
ainda mais as pernas para o receber.
Seu corpo se move para frente e para trás, e eu o acompanho.
Nos beijamos e nos amamos, como fizemos quando éramos apenas
dois desconhecidos.
Stefan levanta o corpo, ficando sentado, e me fazendo montá-lo,
como da última vez, que estivemos juntos, cavalgo em seu colo.
Agarro seus ombros, e ele segura com firmeza minha bunda, dando-
me apoio nos movimentos.
Nosso corpo está em sincronia.
Ao sentir meu corpo se arrepiar, e meu ventre contrair, sei que vou
ao paraíso mais uma vez.
— Aaaah… Stefan… — grito seu nome, enquanto meu corpo
convulsiona.
Suas mãos me apertam com força, quando sinto seu líquido quente
me preencher.
Ficamos parados, agarrados um ao outro, enquanto nossa respiração
demora para normalizar.
— Eu amo você, Luara. — Sua declaração, sussurrada em meu
ouvido, me emociona.
— Eu também amo você, Stefan.

∞∞∞
Estamos deitados no sofá, os corpos ainda se recuperando da paixão
que compartilhamos momentos atrás. Ambos sorrindo, satisfeitos, enquanto
a sensação de proximidade e cumplicidade nos envolve.
Aconchegados, trocamos olhares cheios de significado, como se
nossos olhos se comunicassem em um idioma exclusivo.
De repente, o silêncio é interrompido pelo som insistente do celular
de Stefan. Ele se estica para pegar o aparelho e, com um gesto rápido, ativa
o viva voz. A voz de Zoe, surge.
— Pai, onde você está?
— Ocupado, Zoe. Vou até o seu quarto mais tarde para
conversarmos.
— Ocupado com o quê? Tem algo tão importante assim?
Stefan hesita por um momento, troca um olhar rápido comigo e
responde:
— Não dá para discutir isso pelo telefone. Vamos conversar
pessoalmente.
A chamada é encerrada, e Stefan suspira profundamente. Eu acaricio
seu rosto suavemente, oferecendo um apoio silencioso.
— Não vai ser fácil falar com ela sobre nós, Luara. Ela é minha
filha, e...
— Eu entendo, Stefan. Não precisa se explicar.
Nossas mãos se entrelaçam e nos beijamos, fortalecendo o laço
recém-descoberto entre nós.
O beijo é a expressão mais sincera do que sinto por Stefan. Seus
lábios contra os meus criam uma conexão intensa, e por um instante, o
mundo ao nosso redor desaparece. O toque dele é uma promessa de amor e
compromisso, e eu me entrego a cada sensação.
Entretanto, o choro suave de Darel quebra a magia do momento. A
realidade da maternidade se faz presente, e eu me afasto rapidamente de
Stefan, vestindo o robe que estava ao alcance. Ele compreende
imediatamente a situação e me segue até o quarto onde Darel está.
Ao entrarmos, vejo o pequeno no berço, agitado e soluçante. Pego-o
nos braços, acalentando-o com carinho enquanto Stefan se aproxima,
preocupado.
— O que aconteceu, meu amor? Por que está chorando?
Darel olha para o pai com os olhinhos cheios de lágrimas, mas assim
que Stefan o pega no colo, uma transformação ocorre. O rosto do nosso
filho se ilumina com um sorriso adorável, e as lágrimas dão lugar a
risadinhas contagiantes.
— Parece que alguém está feliz em ver o papai. — Comento,
sorrindo.
Stefan, segura Darel com habilidade, faz caretas engraçadas e emite
sons brincalhões, arrancando gargalhadas do nosso filho. O momento é tão
puro e repleto de ternura que meus olhos se enchem de lágrimas de
felicidade.
Após alguns momentos de ternura na sala, Stefan dedicou um tempo
a brincar com Darel. Seu sorriso ao interagir com o pequeno era tão
encantador que parecia pintar a sala com tons mais vibrantes.
No entanto, o dever chamou, e Stefan anunciou que precisava partir.
Ele me entregou Darel e dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho e se
recompor.
Aos poucos, o som da água que caía no chuveiro preenchia o
ambiente. Enquanto isso, eu aproveitei para acalmar Darel, garantindo que
ele ficasse confortável.
Stefan emergiu do banheiro, vestindo uma nova roupa, fresco e
revitalizado. Seus olhos encontraram os meus, e um sorriso suave se formou
em seus lábios.
— Volto assim que eu resolver tudo com ela. — prometeu.
Ele se aproximou para se despedir, trocando olhares de carinho com
Darel, depositando um beijo suave na minha testa.
Fiquei a observar sua saída, experimentando um frio na barriga,
temerosa quanto à possível reação de Zoe. Contudo, recuso-me a permitir
que a insegurança me domine.
Stefan mal saiu e meu celular tocou, exibindo um número
desconhecido.
Atendo e, instantaneamente, reconheço a voz de Tiago ameaçando:
— O que é seu está guardado, se não voltar ainda hoje, é melhor dar
adeus à sua família, pois não vou medir esforços para mandá-los para o
inferno. — Sem tempo para responder, ele encerra a chamada
abruptamente.
O desespero toma conta de mim, e seguro Darel nos braços,
correndo para fora do quarto. A necessidade de contar a Stefan sobre essa
ameaça iminente é urgente.
Entro no elevador, sentindo meu corpo tremer com o medo de que
aquele monstro possa fazer algo terrível à minha família. No entanto,
quando as portas se abrem no décimo terceiro andar, descubro que há outra
questão urgente para resolver: Zoe está parada bem diante de mim.
Luara Almeida

— Luara? — Zoe pergunta, parada do lado de fora do elevador, com


a mão na porta, impedindo-a de fechar. Ela decide entrar, recuo um passo
para trás, sem desviar os olhos dela. Do lado de dentro, assim que o
elevador fecha as portas, ela aperta um botão que o faz parar seu
funcionamento. — O que está fazendo no hotel do meu pai? — Sua voz não
é nada amigável como eu me lembrava, ela me olha com raiva,
completamente diferente de antes.
— Você precisa conversar com Stefan antes, não irei passar na frente
dele.
Ela ri sarcasticamente, o que, se fosse antes, iria me assustar, mas
estou aqui com meu filho nos braços. Como uma mãe leoa, eu o aperto
ainda mais contra mim, impedindo que ela veja o rosto dele.
— Oh, você e meu pai estão sendo amantes? E a namorada dele,
sabe que está aqui?
— Isso não lhe diz respeito. Agora, eu realmente preciso lidar com
coisas importantes. — Aperto o botão que ela apertou antes, e o elevador
volta a funcionar.
— Como pude me enganar tanto com você? Pensei que era minha
amiga. — Diz, mas sua voz não soa como se estivesse magoada, e sim com
muita raiva de mim.
O que fiz para merecer essas coisas?
— Sim, fomos amigas Zoe. — Falo rispidamente. — Pelo menos eu
fui sua amiga.
— Ah, foi sim, enquanto trepava com o meu pai, igual uma cadela
no cio.
Arregalo os olhos ao ouvi-la falar assim.
— Você não cansa? Como consegue ser tão venenosa?
A porta se abre, e antes que ela possa responder, passo por ela e saio,
não suporto ficar no mesmo ambiente que ela.
No entanto, ela me segue; posso ouvir seus passos atrás de mim.
— Esse menino é seu filho? — pergunta atrás de mim. — Ou eu
deveria chamá-lo de irmão? — Ela começa a rir, atraindo a atenção das
pessoas no hall de entrada. — Você não brinca em serviço, já aplicou o
golpe.
Paro meus passos, me viro e a encaro.
— Sabe qual o seu problema, Zoe?
— Qual? — pergunta em desafio.
— Você nunca precisou fazer nada para conseguir algo, era só agir
como uma garotinha mimada, que tinha de bandeja qualquer coisa. Ao
contrário de você, eu sempre trabalhei, comi o pão que o diabo amassou, e
se engravidei, não foi intencional, mas foi uma bênção, não pelo dinheiro
do seu pai, e sim, porque meu filho é maravilhoso, e tudo o que eu quero é
que ele cresça bem longe de você. Espero que um dia possa se olhar no
espelho e se orgulhar de ser alguém sem precisar do dinheiro dos outros.
Agora, vou me afastar, e se tentar me seguir, eu juro pelo meu filho, que vai
se arrepender.
Ela arregala os olhos, e quando começo a me afastar, não escuto seus
passos atrás de mim, viro algumas vezes para garantir que ela não vem atrás
de mim.
Caminho até a recepção e peço para a recepcionista chamar Stefan.
Ela faz o que pedi, enquanto isso continuo olhando Zoe, que está
parada imóvel no mesmo lugar.
Stefan surge e vem em minha direção.
— Está tudo bem? — pergunta preocupado.
— Não, Tiago acabou de ameaçar minha família, e Zoe está logo ali.
Ele desvia os olhos para a filha, e posso ver a preocupação em seu
semblante.
— Fique calma. — Pede com gentileza, que eu não sei como ele
consegue. — Vou falar com Zoe, e vou pedir para mandarem seguranças até
a casa da sua mãe. Me manda o endereço dela por mensagem, e assim que
eu conversar com a minha filha, vou pessoalmente até sua mãe e irmã.
Assenti, sentindo meus olhos arderem.
— Quer me esperar no quarto?
— Não, vou para a área externa.
— Ta, me espere lá. — Ele beija minha testa e sai, indo até Zoe.

Stefan Moser
Caminho até onde Zoe está, seu olhar fixo em Luara, logo se desvia
para mim.
— Como você pode? — Começa a gritar, e o que eu mais detesto é
escândalo. — Pai! — grita ainda mais, quando a seguro pelo braço e
começo a levá-la para o escritório.
— Se você não calar essa boca, nunca mais vai ver um dólar do meu
dinheiro.
Percebo que falar de dinheiro a faz se calar, o que de certa forma me
decepciona, pois acabo de perceber o quanto minha filha só pensa no
dinheiro, e não nas pessoas.
Entramos no escritório, e eu tranco a porta.
— Vocês tiveram um filho, eu não vou dividir minha herança com
esse bastardo.
Rio, ironicamente, e de pura decepção.
— Eu ainda estou vivo, e você pensando na sua herança? Quando se
tornou essa pessoa? Como eu nunca vi como minha própria filha era
mimada e egoísta.
Ela dá de ombros.
— Não sou nada disso que está falando, só quero que pense no meu
futuro. Quando você morrer, vou ter que dividir tudo com esse menino.
— Caralho, Zoe. Você se escuta? Porra, garota. Presta atenção no
que está me falando, sério, pare e pense. Você consegue medir a dimensão
das suas palavras?
— Ai, pai, para, não precisa desse drama todo.
Fico olhando para ela, pensando na sorte que ela tem por eu nunca
ter levantado um dedo em sua direção. Talvez tenha sido isso que faltou, ou
eu que agi muito protetor, sempre fazendo suas vontades.
— As coisas vão funcionar assim a partir de hoje…
— Não quero sa…
— CALA A BOCA QUE EU ESTOU FALANDO! — grito, e pela
primeira vez a vejo não me retrucar. Me aproximo dela, parando bem em
sua frente. — As coisas serão assim, vou continuar pagando sua faculdade,
seu material escolar, e só. Se quiser comer, sair para se divertir, e continuar
morando naquele apartamento em Sydney, vai precisar trabalhar…
— O quê?
— Não é para isso que está estudando? Ou é só para ir em festas?
— Você não pode fazer isso, e nem dizer o que devo fazer, eu já sou
adulta.
— Sim, e por ser adulta vou lhe tratar como tal. Quer roupa nova,
trabalhe, quer ir em restaurantes, trabalhe, quer morar em um apartamento
de luxo, trabalhe. E se você não arrumar um emprego em duas semanas,
não vou mais pagar seu curso.
Ela arregala os olhos.
— Se fizer isso, eu peço para mamãe.
— Pede, é? Então vamos a mais uma novidade, eu pago uma pensão
para sua mãe, de livre e espontânea vontade, mas se ela interferir nisso, e
quiser custear sua vida glamourosa, eu irei parar de pagar, e ela ficará sem
dinheiro, por sua culpa. Aposto que ela não vai querer perder isso. Então,
agora, cresça, e tente ser mais humilde, pois se eu não lhe ensinei isso
quando mais nova, vai aprender agora.
— Tudo porque agora tem outro filho.
— Não Zoe, independentemente se tenho outro filho, eu amo você,
mais do que ontem, e amanhã mais do que hoje. Eu te amo tanto, que não
quero que você seja uma pessoa que as pessoas só queiram se aproximar
pelo dinheiro. Eu não quero vê-la entrar em um mundo obscuro, por más
escolhas, eu quero o seu crescimento, como ser humano.
Me aproximo dela, e acaricio seu rosto.
— Eu te amo, filha, mas a partir de hoje, as coisas serão diferentes,
mas o que nunca vai mudar é o meu amor por você.
Lágrimas escorrem em seu rosto, então eu a abraço.
— Eu odeio você, a Luara e aquele menino. — murmurou, me
abraçando ainda mais.
— Não, você não nos odeia, e um dia, você fará de tudo para
proteger aquele menino que diz desprezar, você só precisa conhecê-lo.
Ela nada diz, mas ficamos no abraço por mais um tempo, até ela se
afastar.
— Vou procurar minha mãe, e iremos embora, e nunca mais quero
ver vocês. — Diz, e antes que eu possa impedi-la, ela sai batendo a porta.
Inspiro fundo, e sinto meus olhos arderem, pois o que fiz foi
pensando no bem dela, e um dia ela vai reconhecer isso. É o que espero.
Stefan Moser

Chego à cidade de Verdejante, interior de São Paulo, acompanhado


de três dos meus advogados, e seguranças da minha confiança.
Apesar de ter pedido a Luara para não me acompanhar, por questões
de segurança, garanti a ela que voltaria com tudo resolvido.
Caminhamos até a delegacia local, eu com as provas das ameaças de
Tiago contra Luara firmemente em mãos. Desde as mensagens, ligações até
a chamada recebida e rastreada do número sem identificação, tudo estava
documentado.
Ao chegar na delegacia, o delegado local, no início, parece não dar
muita importância ao caso, como eu já esperava, devido à influência da
família de Tiago na região. No entanto, sabendo que a lei está do meu lado
e contando com os melhores advogados da América ao meu lado, sei que
posso reverter essa situação.
Meus advogados entram em ação, apresentando os documentos e
evidências de forma clara e incisiva. Argumentam sobre a seriedade das
ameaças e o perigo em que Luara se encontra. A situação começa a mudar
quando eles mencionam as implicações legais e a repercussão que um caso
como esse pode ter na mídia.
Diante da pressão e da perspectiva de um escândalo envolvendo a
família de Tiago, o delegado começa a agir. Emite um mandado para a casa
de Tiago, autorizando uma busca para encontrar evidências relacionadas às
ameaças proferidas contra Luara.
Saio da delegacia com a sensação de que as coisas estão finalmente
progredindo. A justiça está em movimento, e estou determinado a garantir a
segurança de Luara e Darel.
Contudo, as coisas não param por aqui, pois não irei embora sem
antes resolver pessoalmente essa situação, como havia dito para Luara.
Por isso, peço para que meus seguranças me sigam, pois irei até a
casa daquele filho da puta.
Os três carros param de forma aleatória, próximos à rua de Luara.
Tiro meu terno e abro os botões das mangas da minha camisa.
— Fiquem atentos, qualquer movimentação suspeita, podem entrar
em ação. — Aviso ao sair do carro. Caminho despretensiosamente até a
casa de dois andares, com um portão fechado. Uso a chave que Luara me
entregou e abro o portão, sabendo que Tiago não está aqui, e sim no
trabalho.
Entro na casa, que está uma verdadeira zona, cheia de latinhas de
cervejas espalhadas, e encontro até camisinha descartada na sala.
— Mais porco do que pensei. — Comento comigo mesmo sobre o
sujeito.
Entro em um dos quartos e sinto uma raiva se instalar em mim ao dar
de cara com um quarto de criança completamente destruído. Berço
quebrado, fotos rasgadas, até mesmo as roupinhas do meu filho, ele rasgou.
Olho para a hora no meu relógio de pulso. Se tudo acontecer como o
esperado, Tiago chega em meia hora para almoçar e dormir. Tratei de pegar
o máximo de informações possível de Luara.
Fico andando pela casa, olhando algumas coisas, quando meu celular
vibra com uma mensagem avisando que Tiago chegou, e ainda por cima
acompanhado de uma mulher.
Estou na cozinha, escuto a porta da sala se abrir e vozes surgirem no
ambiente.
— Tem certeza que ela não vai voltar hoje? — Uma mulher pergunta
ofegante.
— Aquela vadia vai voltar, mas não hoje. E mesmo que voltasse
agora, iria ter que ver eu comer essa bundinha gostosa.
Filho da puta.
Coloco as mãos nos bolsos da minha calça social e vou andando até
a sala.
— AH. — A mulher grita quando me vê.
— Quem é você? O que está fazendo na minha casa? — O sujeito
pergunta, ajeitando a roupa.
— Garota, vá embora, o que vai acontecer aqui não é assunto seu. —
Aviso, e sem pensar duas vezes, ela sai correndo.
Tiago parece assustado.
— O que quer? — Indaga.
— Vim aqui ver com meus próprios olhos quem é o filho da puta que
machucou o rosto da minha mulher.
Ele arregala os olhos e depois começa a rir.
— Sua mulher? Meu irmão, ela é minha!
Levanto o lábio, em um meio sorriso.
— Não, vou te contar o que vai acontecer: você vai assinar esse
papel. — Mostro o papel do divórcio. — E vai desaparecer da vida dela, e
nunca mais ousar ameaçá-la.
— Você sabe quem eu sou?
Me aproximo dele em poucos passos e o seguro pelo pescoço; como
sou bem mais alto, não é difícil fazer isso.
— Vejo que você não entendeu quem eu sou. Você só tem duas
opções: sumir da vida dela, ao assinar o divórcio, ou vou ser obrigado a te
enterrar vivo. A polícia logo vai bater aqui atrás de você, e se aquele
delegado não resolver nada, já tem quem resolva isso para mim.
— Eu sou rico, posso acabar com você.
— Rico? O seu irmão, sim, tem dinheiro. Você, é tão bosta que nem
mesmo conseguiu guardar o que herdou, gastando com puta.
Pego o papel e bato com ele no peito dele.
— Assine, agora.
— Não vou deixar as coisas assim.
— Está pensando que pode me ameaçar? — Ele tenta reagir, mas
dou um mata-leão nele. Pego meu celular. — Entrem.
Sem demora, os seguranças entram e o pegam.
Me aproximo do chefe da segurança, um homem da minha
confiança, que serviu o exército americano e está comigo há mais de dez
anos.
— Scare him and make him sign this document. (Assuste-o e faça-o assinar
este documento) — Informo, entregando, o papel do divórcio.

Ele assente, e saio da casa, deixando que eles resolvam isso, mesmo
que seja preciso usar violência.
Fico no carro, e não demora nem meia hora para que os homens
saiam da casa, e o chefe da segurança se aproxime me entregando o papel
assinado.
— He won't say anything about what happened today. (Ele não dirá nada
sobre o que aconteceu hoje) — Informa.

Assinto.
— I need to go somewhere else. (Eu preciso ir para outro lugar) — Aviso,
entregando o endereço da casa da mãe de Luara.
Stefan Moser

Toco a campainha no muro da casa, e não demora para ser atendido.


Um homem que deve ter por volta de cinquenta anos, cabelos grisalhos e
rugas no rosto, abre a porta.
— Você é Fernando? — pergunto.
— Sim, quem é... — ele mal tem tempo de terminar de falar antes do
meu punho acertar seu rosto. — Mas que porra é essa?
Entro na casa sem ser convidado e fecho o portão atrás de mim.
— Eu sei o que você fez com Luara. — O seguro pela gola da
camisa.
— Cara, se acalme, não sei o que aquela menina inventou...
— Então você não tratava ela mal, não bateu nem tentou abusar
dela?
Ele arregala os olhos.
— Não, nunca. Todos aqui no bairro me conhecem, sou um homem
trabalhador, nunca faria algo assim.
— Então está dizendo que minha mulher mentiu?
Seus olhos arregalam ainda mais.
— Sua... como assim? Ela é casada...
— Não mais. E, ao contrário daquele verme, eu não esqueço o que
fazem com quem amo.
E sem ele ter tempo de reagir, acerto seu rosto mais uma vez.
Ele cambaleia para trás e começa a gritar.
— MARIA! MARIA!
Uma mulher morena, de cabelos longos escuros, com o rosto que me
lembra da mulher que amo, surge, e ao ver a situação, se assusta.
— Meu Deus, o que está acontecendo aqui? — Pergunta, indo até o
marido.
— Esse sujeito chegou aqui me agredindo, disse que está com a
Luara.
Ela me olha preocupada.
— Desculpe, senhora, chegar assim, nessas circunstâncias, mas o
que esse homem fez com a sua filha, não poderia perdoar.
— Como assim? — Ela pergunta e olha para o homem. — O que
você fez?
— Não acredita nisso, querida. Aquela menina está inventando
coisas.
— Quem está inventando o quê? — Uma jovem de pele clara e
cabelos claros se aproxima. A reconheço como a irmã de Luara, Renata.
— Filha, esse homem...
— Meu Deus, gringo! — Ela corre até mim. — Você veio ajudar
minha irmã? Cadê ela e meu sobrinho?
— Estão em São Paulo, estou só de passagem resolvendo algumas
questões pendentes.
— Minha irmã contou como sofreu com meu pai, né?
— Sim.
A mãe de Luara, visivelmente abalada, passa a mão no rosto.
— Podemos conversar? — perguntei para ela.
Assentiu.
— Podemos ir até o meu carro? Se eu ficar aqui, vou acabar matando
esse sujeito.
Ela concordou.
— Eu já volto. — informou, me acompanhando.
Entro no carro acompanhado da senhora Almeida, enquanto o bairro
parece se recuperar do tumulto que causei na casa deles. Nos sentamos no
carro e ela me olha com curiosidade e preocupação.
— Como estão Luara e meu neto? — Ela pergunta, ansiosa.
— Estão bem. Estamos tentando resolver algumas questões aqui no
Brasil. Eles estão em São Paulo, seguros.
A mulher suspira aliviada.
— Fernando sempre foi tão duro com Luara, ela tinha medo dele.
— Fernando fez muito mais do que apenas ser duro com Luara, mas
não sou eu quem deve contar essas coisas. A própria Luara precisa
compartilhar seus medos, se assim quiser. — Respondo, tentando escolher
minhas palavras com cuidado.
Ela assente compreendendo.
— Entendo. Luara sempre foi reservada sobre esses assuntos.
— Eu estou voltando para a Austrália, e só farei isso se Luara decidir
me acompanhar. Quero levar uma vida ao lado dela e de Darel.
Maria me olha com surpresa.
— Você está convidando minha filha para ir para a Austrália?
— Sim. Quero dar a eles uma vida segura e feliz. Também estendo o
convite para você e Renata.
Ela sorri, mas balança a cabeça.
— Stefan, minha vida é aqui no Brasil, na minha casinha. Mas fico
feliz que esteja disposto a cuidar da minha filha e do meu neto.
— Eu compreendo. A vida de vocês está aqui. Se um dia, Renata
decidir ir, ela terá total apoio.
Antes de descer, ela segura minha mão.
— Stefan, cuide bem da minha filha e do meu neto. E obrigada por
estar ao lado deles.
— Pode confiar em mim, senhora. Vou protegê-los com tudo o que
tenho.
Ela sorri e desce do carro. Fico ali, assistindo-a se afastar.

Luara Almeida

Desde cedo, quando Stefan partiu em direção à cidade onde eu


morava, minha ansiedade e preocupação cresceram. Passei a manhã inteira
andando de um lado para o outro no quarto do hotel. Darel, mesmo com
suas brincadeiras, não conseguia me distrair totalmente. O medo de algo dar
errado, de algo acontecer com Stefan, me atormentava.
As horas pareciam passar devagar, e a incerteza sobre o que
acontecia lá fora me deixava inquieta. A cada batida na porta, meu coração
disparava, na esperança de ser Stefan. Mas era apenas o serviço de quarto.
Finalmente, um alívio veio quando recebi uma mensagem de Renata.
"Seu gringo veio aqui em casa, deu alguns socos no meu pai e
depois saiu para conversar com a mamãe. Irmã, esse homem te ama."
Um sorriso se formou em meu rosto, apesar da surpresa com a
primeira parte da mensagem. Nunca imaginei Stefan sendo capaz de agir
com violência, mas compreendi que ele fez isso para proteger e vingar o
que aquele monstro do Fernando tentou fazer comigo.
Algumas horas depois, Stefan finalmente chega. Corro em direção a
ele e me jogo em seus braços.
— Fiquei tão preocupada. — Sussurro.
— Estou bem, e tudo foi resolvido. — Ele responde, apertando-me
com ternura.
Sentamos e ele narra toda a história, desde o momento em que
chegou à cidade até a resolução do confronto com Tiago. Ao final, ele me
entrega o papel do divórcio, assinado por Tiago.
— É só você assinar, e acabou. — Ele diz, entregando-me a caneta.
Sorrio, sentindo que ali se inicia a nossa verdadeira felicidade.
Assino o papel, selando o fim de um capítulo doloroso e o começo de uma
nova vida ao lado de Stefan e Darel.
Stefan Moser

— Estava aqui pensando em algo... — começo a dizer, enquanto


acaricio os cabelos de Luara.
— O quê?
— O que acha de voltar comigo para a Austrália, você e nosso filho?
Ela levanta o rosto e me olha; penso que vai dizer não, mas ela sorri.
— Estava ansiosa para esse convite. Eu simplesmente amei a
Austrália, e tenho muito o que ver lá ainda.
— Ah, é mesmo?
— Uhum. Não vi jacaré na rua, nem animais extremamente
perigosos, provavelmente eu preciso conhecer mais lugares. E, estou com
saudades de Zeus.
Viro meu corpo e fico sobre ela.
— Pensei que o verdadeiro motivo para você voltar para a Austrália
seria um certo empresário, surfista, muito bonito...
— Oh, muito bonito...
— Isso, que é completamente louco por você.
— Você pensou que esse certo empresário e surfista...
— Esqueceu de dizer muito bonito.
Ela ri, aquele sorriso que contagia.
— Claro, empresário, surfista e muito bonito, seria esse o motivo da
minha volta ao país dos cangurus?
Acaricio seu rosto.
— É isso, ou, é só pelos animais peculiares mesmo. — A provoco.
Ela passa os braços em volta do meu pescoço, e com seus olhos que
me hipnotizam, ela me fita.
— Eu te amo, moço muito bonito. Te amo tanto, que não consigo
pensar em outra coisa a não ser viver o resto da vida ao seu lado.
Aproximo minha boca da sua e mordisco o seu lábio inferior.
— Teremos muito tempo, então.
— Uhum... — ela custa a falar quando começo a beijar seu pescoço.
No entanto, o que fosse acontecer é interrompido quando escutamos pela
babá eletrônica Darel chamando a mamãe dele.
— O dever me chama. — Diz, mas quando vai se levantar, eu a
impeço.
— Deixe que eu vou.
Ela sorri, e sei que está me observando enquanto levanto e coloco
uma bermuda de moletom, e fica me olhando até eu sair do quarto.
Vou até o quarto onde Darel está. Assim que entro, vejo o pequeno
no berço, seus olhinhos brilhando de alegria ao me ver. Pego-o no colo, e
então, algo incrível acontece.
— Papa. — A palavra doce escapa dos lábios do meu filho.
Fico estático, processando aquelas sílabas mágicas. Ele disse "papa".
Não posso acreditar na minha sorte. Com o coração acelerado, corro para o
quarto onde Luara está.
— Você escutou isso? Ele disse "papa"?
Luara, com os olhos brilhando, confirma com um aceno
entusiasmado.
Darel sorri para mim, como se soubesse da importância daquela
palavra. Comemoro, abraçando-o com força, enquanto Luara se junta a nós,
radiante.
Luara e eu tentamos incentivá-lo a falar novamente, e para nossa
alegria, ele repete a palavra "papa" algumas vezes. Cada vez que ele diz,
nossos corações se enche de felicidade.
É um momento mágico em que a alegria de ser pai se intensifica.
Darel, com sua risada contagiante, nos lembra do quão especial é cada
conquista, por menor que seja.

∞∞∞
Alguns dias se passaram, e finalmente, os documentos de Luara
estão prontos. Ela pode embarcar para a Austrália, e em breve, se ela disser
sim, iremos nos casar. Nunca estive tão feliz em toda a minha vida. Só falta
minha filha para que esse momento se torne completo.
Luara decidiu ir até Verdejante para se despedir de sua família. Para
garantir sua segurança, enviei alguns homens de confiança para
acompanhá-la, já que não pude ir devido a alguns compromissos aqui no
hotel.
Como partirei em breve, preciso deixar tudo em ordem. Já escolhi
um representante para ficar à frente na minha ausência. Espero voltar
algumas vezes ao ano para ver o hotel, e também para Luara visitar sua mãe
e irmã.
Hoje, como planejado, estou cheio de reuniões e análises para fazer.
Estou no escritório quando a secretária bate na porta.
— Senhor, a senhora Moser está aqui.
Franzo as sobrancelhas, pois não me lembro de minha mãe avisar
que estava a caminho.
— Mande-a entrar.
A secretária assente e se afasta. No entanto, ao abrir a porta,
descubro que a tal "senhora Moser" é Kylie, que, para mim, já estava bem
longe daqui.
— Só pode ser brincadeira. — Falo assim que ela entra e tranca a
porta. — Posso saber com que direito você se identificou como Moser?
— Stefan, já me recebeu melhor, hein? Lembro que alguns anos
atrás, quando eu aparecia no seu escritório, perdíamos algumas horas
fazendo aquilo que você sabe fazer muito bem.
— E que eu me lembre, eu era solteiro naquela época, o que não é o
caso hoje. Estou em um relacionamento, se ainda não se deu conta.
Ela se aproxima, dá a volta na mesa, e quando vai colocar as mãos
em mim, a impeço.
— Não faça isso, pode se arrepender amargamente.
— Vai fazer o quê? Tirar minha pensão? — Ela ri. — Stefan, quando
Zoe me contou que disse isso, juro que caí na gargalhada. Eu não preciso do
seu dinheiro, querido.
— Ótimo ouvi-la dizer isso. Já pedirei que meus advogados cortem a
pensão.
Ela revira os olhos, recua e então se afasta, tomando assento em uma
das cadeiras em frente à minha mesa.
— Quando vai acabar esse casinho com a garota? Já não enjoou?
— Percebo com quem Zoe puxou. Você se escuta? Não é possível.
Ela ri de forma sarcástica.
— Só estou sendo realista, querido.
— Pare de me chamar assim. — Falo com rispidez. — Kylie, pelo
respeito que sempre tivemos um com o outro, pare com isso. Estou cansado
de lidar com pessoas que agem de forma egoísta, que ignoram os outros.
Será que aquele respeito que prometemos sempre ter um pelo outro pode
continuar?
Ela me encara como se eu estivesse falando outro idioma além do
inglês.
— Você ficou tão chato. Vem, vamos relembrar os velhos tempos,
transamos aqui, e ninguém nunca fica sabendo, principalmente a sua
garotinha.
Fico de pé, e posso ver a expectativa dela a cada passo que dou em
sua direção. No entanto, seu sorriso desaparece quando seguro seu braço,
fazendo-a ficar de pé, e a levo até a porta.
— A partir de hoje, só fale comigo a respeito da nossa filha,
entendeu? — Abro a porta e a coloco para fora.
— Você não está falando sério.
— Sim, estou. — Faço um gesto com a mão para os seguranças se
aproximarem. — Espero que tenha tirado suas coisas do quarto, pois a
partir de hoje, está proibida de entrar nesse hotel. — Os seguranças se
aproximam.
— Deixa que eu sei onde fica a saída, e para mim, é a melhor coisa.
Farei, como Zoe disse, manter distância de você. Só não vem implorar por
nós quando essa sua fantasia acabar.
Ela se afasta, sendo escoltada pelos seguranças. Passo a mão no
rosto no momento em que fecho a porta. Só espero que agora tenha
acabado.
Luara Almeida

Cheguei em Verdejante, acompanhada por Darel e pelos seguranças


que Stefan enviou para me acompanhar. Vou direto para a casa da minha
mãe e, ao abrir o portão, dou de cara com Renata, que se joga em meus
braços.
— Está tudo bem? — pergunto, ao notar o desespero da minha irmã.
— Eu sei que ele foi uma pessoa horrível, e que fez muito mal para a
mamãe, para você e até algumas vezes para mim, mas… ele está doente.
— Como assim?
— Meu pai está com câncer, e os médicos falaram que já está em um
estágio avançado.
Fico surpresa diante dessa notícia, e uma parte de mim queria poder
comemorar, mas acabo tendo empatia.
Entramos na casa, e vejo Fernando sentado no sofá. Ele parece
normal, só que mais magro. Ele me olha, e mesmo estando à beira da morte,
como Renata disse, parece ainda nutrir ódio por mim.
— Oi, Fernando. — ainda o cumprimento, compadecida pela
situação dele, mas recebo uma resposta grosseira da parte dele, algo que
nem me surpreende.
— Veio rir de mim? Dizer que estou pagando pelo que fiz a você?
Respiro fundo.
— Deveria, mas se fizesse isso, eu seria como você.
Ele bufa irritado.
— Espero que dê tudo errado para você. — Ele ainda tem a audácia
de desejar o mal para mim.
— Pai, pare com isso. — Renata pede.
— Não tem importância, Re. — Olho para ele, e de costas para
Renata, encaro-o bem, no fundo dos olhos daquele que sempre me assustou,
e hoje paga pelo monstro que foi. Então, sorrio de um jeito que só ele possa
ver.
Ele arregala os olhos, e então dou as costas.
— A mamãe está? Vim me despedir. — digo, indo para a cozinha.
— Não, ela foi ao mercado, mas já está voltando. Como sabíamos
que você viria, decidimos fazer panquecas, mas acabou a carne moída.
— Ela foi ao Aurora?
Renata assente, enquanto pega Darel nos braços.
— Os advogados de Stefan enviaram minha carta de demissão.
— Isso é bom, pelo menos não precisa mais olhar na cara deles.
Escutamos a porta se abrir, e escuto a voz da minha mãe na sala.
— Renata, tem uns homens ali fora… — ela para de falar ao me ver.
— Meu Deus, minha filha. — Deixa as sacolas no chão e vem ao meu
encontro me abraçar. — Minha menina, como você está? — posso escutar
sua voz embargada.
— Estou bem, na verdade, estamos.
Ela olha para trás de mim e vê Darel nos braços de Renata.
— Ah, meu neto lindo. — ela o pega nos braços.
Eu, minha mãe e irmã vamos até a área no fundo, onde se encontra a
mesa de madeira desgastada pelo tempo. Sentamos juntas, e eu não consigo
deixar de notar como Renata brinca com Darel, tentando arrancar um
sorriso do rostinho dele. É bom estar em família novamente.
— Desde quando ele está doente, mãe? — pergunto, tomando
coragem para abordar o assunto delicado.
Ela suspira antes de responder.
— Faz mais de um ano que ele descobriu o câncer no pâncreas, mas
pediu para eu não contar a ninguém, sabe como ele é ignorante. Estava em
tratamento até alguns meses atrás. Os médicos encerraram porque a doença
progrediu. Contamos para Renata recentemente, já que ele começou a sentir
muitas dores.
Ela explica um pouco sobre o câncer no pâncreas, o quão agressivo
é, e como é difícil de detectar em estágios iniciais. Mesmo que Fernando
tenha sido um monstro, eu não consigo comemorar sua doença. A
compaixão que sinto é mais pela minha mãe e irmã, que, de alguma forma,
ainda tentam suportar essa situação.
— Como ele está agora? — pergunto, querendo entender a dimensão
do sofrimento dele.
— Não está fácil, Luara. As dores são intensas, mesmo com os
medicamentos. Ele está bastante debilitado, mas ainda tem um pouco de
tempo pela frente. A doença é implacável.
Escuto suas palavras com um misto de emoções. A vida de Fernando
foi marcada por escolhas terríveis.
— Não vim aqui para celebrar a desgraça dele. — Faço uma pausa.
— Então, quando Stefan veio aqui, ele estava doente. — Não foi uma
pergunta, mesmo assim minha mãe assentiu.
— Lu, mesmo que ele é o meu pai, eu não fico chateada de Stefan
ter dado uns socos nele, sabemos que ele mereceu, pois ele fez coisas
horríveis com você.
— Sim, mas não vamos lembrar disso agora, vou precisar voltar para
a Austrália em breve, mas prometo que sempre estarei disponível se
precisarem de alguma coisa.
Passamos o dia juntas, almoçamos, e depois ficamos conversando, e
de uma coisa eu tenho certeza, amo demais essas duas mulheres.
Luara Almeida

Chegamos na Austrália, e o trajeto até a casa na praia de Stefan é


uma jornada de emoções misturadas. Enquanto percorremos a estrada à
beira-mar, não posso deixar de me perder na beleza estonteante do cenário
que se desenha diante de mim.
A vista é espetacular, com o oceano estendendo-se até onde a vista
alcança, suas ondas dançando em uma coreografia hipnotizante. O céu,
pincelado por tons alaranjados do pôr do sol, transforma-se em uma obra de
arte em constante mutação.
Stefan dirige, mas eu mal consigo desviar meus olhos da janela do
carro. A brisa marinha sussurra histórias familiares aos meus ouvidos, e
sinto-me envolvida pela nostalgia de Gold Coast.
Lembro-me das duas semanas mágicas que passei aqui, dois anos
atrás, quando cada momento era repleto de novidades e descobertas.
A cidade vibrante, as praias de areia dourada, as ruas movimentadas,
tudo isso está aqui novamente, como um cenário familiar que saiu direto de
minhas melhores lembranças. A saudade de Gold Coast é uma melodia
suave que ecoa em meu coração.
Enquanto avançamos pela estrada, percebo o quão sortuda sou por
poder reviver esses momentos. Gold Coast se tornou mais do que um
destino de férias; é o lar de Stefan, e, de alguma forma, tornou-se também o
meu lar.
A casa à beira da praia surge ao horizonte, e meu coração se enche
de expectativa. Há uma familiaridade reconfortante em cada curva da
estrada, em cada vislumbre da paisagem que se revela. Estou ansiosa para
recriar esses dias mágicos e, desta vez, fazê-los durar para sempre.
— Chegamos! — Stefan anuncia. Escuto-o abrir a porta e descer do
carro. Olho para o meu filho, sentado na cadeirinha, e sorrio para ele,
sentindo-me emocionada.
— Casa, meu amor, e aqui seremos felizes. — sussurro para ele, ao
pegá-lo no colo.
Stefan nos auxilia a descer, tirando Darel dos meus braços, enquanto
contemplo o mar a poucos metros de distância. Solto uma risada animada
ao ser cumprimentada por Zeus, que pula sobre mim, latindo, alegremente
com a língua para fora.
— Oi, cão fujão.
Cheio de entusiasmo, ele começa a correr em direção à areia da
praia.
— Vamos? — Stefan diz.
Sigo Stefan até a beira da praia, e a sensação de ter meus pés
tocando a areia é indescritível. Cada grão parece sussurrar segredos antigos,
histórias do oceano que se entrelaçam com as minhas. A textura áspera da
areia sob meus pés é um lembrete constante da natureza, da vida pulsante
que existe aqui.
Ao alcançar a orla, a brisa marinha acaricia meu rosto suavemente, e
o som das ondas quebrando contra a costa enche meus ouvidos.
Respiro fundo, absorvendo o aroma salgado que permeia o ar. É
como se a própria essência do oceano se entrelaçasse com minha alma,
trazendo uma paz profunda e revigorante.
Decido dar um passo adiante, desafiando-me a entrar na água.
Quando as ondas tocam meus pés, uma corrente de energia revitalizante
percorre meu corpo. O frescor da água salgada é um bálsamo para a alma, e
cada passo que dou mais fundo é como um renascimento.
Sinto a energia do oceano envolvendo-me, como se as águas
dançassem ao meu redor, uma coreografia mágica e eterna. Darel ri, sentado
nos ombros de Stefan, enquanto as ondas suaves acariciam suas pequenas
pernas.
O mar parece uma extensão infinita de possibilidades, um horizonte
que se estende para além do que os olhos podem ver. É a promessa de
aventuras, a calmaria que acalenta a alma. Em meio a essa imensidão,
percebo que, de alguma forma, o oceano se tornou parte de nossa história,
uma testemunha silenciosa de nossas jornadas.
Com um sorriso e o coração cheio de gratidão, permito-me envolver
completamente pela magia do oceano, ciente de que este é o início de uma
jornada cheia de promessas e descobertas.

∞∞∞
Chegamos à casa dos pais de Stefan, e eu me pego ansiosa na porta,
com uma mistura de nervosismo e curiosidade. Stefan, como sempre,
demonstra seu carinho ao acariciar meu rosto.
— Será que eles vão gostar de mim? — Pergunto ao parar na porta.
Ele sorri e continua a acariciar meu rosto com o polegar. — E tem
como não gostar? E saiba que minha mãe já te ama, só por eu te amar.
Sinto meu coração se aquecer diante dessa declaração. Stefan
realmente sabe como me surpreender. Será que isso é uma amostra do
tratamento que ele recebeu dos pais? Dizem que é possível conhecer a
índole de alguém observando como ele trata seus pais.
— Pronta? — Ele pergunta.
Assinto, mesmo que uma parte de mim ainda sinta uma pontinha de
nervosismo. Nunca conheci os sogros, e não sei o que esperar dessa
primeira experiência. Stefan abre a porta, e entramos em um hall amplo e
espaçoso.
Caminhamos até a área externa, onde encontro um lugar encantador,
com uma piscina olímpica, espreguiçadeiras e guarda-sóis. Mais adiante,
vejo os pais de Stefan entretidos na cozinha ao ar livre, preparando algo que
exala um aroma delicioso.
Como ainda não fomos notados, aproveito para observá-los enquanto
nos aproximamos. Ambos são altos, assim como o filho, e percebo a origem
da estatura de Stefan. Além disso, são loiros, sendo que o senhor Moser
exibe alguns fios grisalhos, enquanto a senhora Moser mantém o loiro
impecável.
— Mãe, pai. — Stefan os chama, e quando nos veem, seus sorrisos
acolhedores me tranquilizam um pouco.
— Vocês chegaram. — A senhora Moser fala empolgada ao se
aproximar. — Então esse é meu netinho. — Darel parece reconhecê-la,
estendendo os bracinhos e se jogando nos braços dela. — Oi, lindo. Eu sou
sua vovó. — Ela usa um tom de voz amoroso, depois levanta os olhos para
mim. — Você deve ser Luara.
— Olá. — Tento responder em inglês, praticando o idioma que
venho aprendendo.
Ela se aproxima e me abraça, ainda com Darel nos braços, que se
joga em minha direção, e acabamos rindo com a interação.
— Ei, seu pequeno traidor, não pode ver o colinho da mamãe, né? —
Brincou com Darel, que ri e abraça minha cabeça.
— Venham, cheguem aqui, a comida está quase pronta. — O pai de
Stefan nos chama, e nos aproximamos dele.
Acompanhamos os pais de Stefan até a área da churrasqueira, onde
aromas tentadores preenchem o ar. O pai de Stefan, o senhor Moser,
supervisiona orgulhosamente a grelha, enquanto a senhora Moser, sua mãe,
continua a mimar Darel, fazendo-o sorrir com suas brincadeiras carinhosas.
— Vocês devem estar cansados da viagem. — Ela diz enquanto me
entrega Darel. — Sintam-se em casa.
Stefan puxa uma cadeira para mim, e nos acomodamos em volta da
mesa de madeira. A atmosfera é descontraída, e os pais de Stefan fazem
questão de nos deixar à vontade. Darel, entusiasmado, explora o novo
ambiente, encantado com cada detalhe.
— A vista daqui é incrível, não é mesmo, amor? — Stefan comenta,
e eu assinto, admirando o horizonte que se estende diante de nós.
— Sim, é maravilhosa. — Respondo, absorvendo a serenidade do
momento.
Os pais de Stefan, em um gesto acolhedor, compartilham histórias
sobre a infância dele, mostrando fotos antigas e rindo de lembranças
familiares. É um vislumbre do passado de Stefan que, até então, eu
desconhecia.
Durante o jantar, somos tratados com pratos deliciosos preparados
pelo senhor Moser, revelando seu talento culinário. A senhora Moser,
sempre atenciosa, faz questão de garantir que Darel esteja confortável e
bem alimentado.
Ao longo da noite, as barreiras iniciais desaparecem, e percebo que
os pais de Stefan são genuinamente acolhedores. As preocupações e
nervosismos iniciais começam a se dissipar diante da calorosa hospitalidade
deles.

Ao retornarmos para casa, já tarde da noite, colocamos Darel no


berço, ligamos a babá eletrônica e seguimos até a parte de trás da casa, onde
se estende um deque com vista para o mar.
Stefan abre uma garrafa de vinho e enche duas taças, entregando-me
uma delas. Encontramos assento em poltronas confortáveis, ele em uma
delas, eu em seu colo, de lado, enquanto contemplamos a vista à nossa
frente.
— Gosto de como estamos. — Ele começa a dizer, enquanto com a
mão acaricia minha coxa sob o vestido.
— Eu também. Desde que cheguei, só tenho vivido momentos de
alegria.
— Quando eu costumava sentar aqui, sozinho, jamais imaginei
compartilhar esse lugar e este momento com alguém. Hoje, só consigo
pensar em estar com você aqui.
Sorrio, levando a taça até meus lábios.
— Valeu a pena nos encontrarmos naquele elevador. — Comento.
— Sim, não me arrependo, nem por um segundo. A única coisa que
me arrependo amargamente é de tê-la afastado da minha vida e de tê-la
magoado.
Coloco a taça sobre a mesinha ao meu lado e acaricio seu rosto.
— Já passou. Vamos deixar isso para trás. — Falo ao beijar seu
rosto.
— Hum... pensei que estava cansada. — Comentou, entregando-me
a taça, a qual coloco na mesinha.
Levanto do seu colo apenas para tirar minha calcinha, com seu olhar
fixo em mim. E usando apenas o vestido, monto em seu colo, de frente para
ele, seguro seu rosto entre minhas mãos e beijo sua boca. Coloco minha
mão entre nós e começo a abrir seu zíper, apenas para liberar seu membro.
— Alguém está com pressa. — Disse, apertando minha bunda com
força.
— Você não imagina o quanto.
Ao liberar seu pênis, encaixo em minha entrada, e como estou
pingando de excitação, ele desliza com facilidade. Stefan me agarra ainda
mais, e começo lentamente a rebolar em seu colo.
— Minha. — Sussurrou entre nossos lábios.
Ele ergue meu vestido até a peça embolar na minha cintura, e com o
polegar começa a brincar com meu orifício, proporcionando-me ainda mais
prazer.
— Estou quase... — Alerto, e quando sinto o orgasmo vir, me deixo
levar ao prazer. Enquanto meu corpo está em êxtase, Stefan toma as rédeas
e começa a investir em mim com força, até que eu sinta seu líquido me
preencher.
— Amo você.
— I love you. — Respondo, fazendo-o sorrir.
Luara Almeida

Dois meses depois

Acordo com o som estridente do meu celular tocando sobre a mesa


de cabeceira. O pego e vejo o nome da minha irmã. Olho a hora e constato
que são 3 horas da manhã, então lá deve ser 16 horas da tarde. Atendo.
— Alô.
Antes de ouvir a voz da minha irmã, escuto um leve fungar de choro.
— Re? Está tudo bem?
— Meu pai acabou de falecer.
Sento na cama, o que acaba acordando Stefan.
— O que aconteceu? — Ele pergunta preocupado.
— Fernando faleceu. — Respondo. — Sinto muito, Rê, por você e
pela mamãe.
— Sei que ele foi horrível, mesmo assim, não consigo parar de
chorar. Ele era o meu pai, talvez o pior de todos, mas ainda assim, era o
meu pai.
— Sim, claro, e você tem todo o direito de sofrer pela sua perda.
— Nos últimos dias, ele piorou demais, Lu. Não conseguia mais nem
levantar da cama.
Eu queria poder falar palavras bonitas para consolar minha irmã,
mas tudo o que consigo pensar é nele se tocando enquanto eu estava no
quarto chorando assustada.
— Ontem, quando tive minha última conversa com ele, ele pediu
perdão. — Renata continua devido ao meu silêncio. — E para você
também.
Fecho os olhos por um momento.
— Eu já o perdoei, Re. — Sim, mesmo que ainda consiga lembrar de
como foi viver com medo a minha vida toda, eu passei por um processo
onde queria perdoá-lo. Claro, que passar por terapia também me ajudou
muito.
— Como a mamãe está?
— Ela está triste, mas bem.
— Vocês precisam de algo? Sabe, para o velório.
— O dinheiro que seu gringo nos deu já é o suficiente para custear
tudo. Preciso ir; daqui a pouco as pessoas começam a chegar. Fora de
casa, meu pai era uma pessoa que ajudava quem precisava.
— Sim. Qualquer coisa me liga.
Encerro a chamada e olho para Stefan, que me encara, esperando que
eu diga algo.
— Como você está? — Pergunta por fim.
— Não sei dizer se estou triste ou aliviada. É errado eu me sentir
bem, mesmo após saber que ele sofreu muito nessa última etapa?
— Não, meu amor. Ele te fez sofrer, e é compreensível que você não
fique triste com o sofrimento e morte dele.
— Ele foi tão horrível comigo. — Sem me controlar, começo a
chorar, os braços de Stefan contornam meu corpo enquanto ele acaricia meu
cabelo.
Com os braços de Stefan envolvendo-me, permito-me mergulhar nos
sentimentos contraditórios que a notícia da morte de Fernando trouxe à
tona. Enquanto lágrimas silenciosas escorrem pelo meu rosto, uma onda de
emoções se mistura dentro de mim.
Sinto um misto de alívio, pois sei que o sofrimento que ele infligiu
por tantos anos finalmente chegou ao fim. No entanto, a compaixão também
encontra espaço em meu coração, porque, afinal, ele era humano, sujeito às
complexidades da vida e da morte.
É estranho perceber que a figura que foi fonte de tanto medo e dor
não está mais neste mundo.
Enquanto tento processar essa perda, uma reflexão toma forma em
minha mente. A morte de Fernando não apaga os traumas do passado, mas
marca o fim de um capítulo sombrio da minha vida. Agora, cabe a mim
seguir em frente, concentrar-me nas pessoas que amo e construir um futuro
mais sereno.
Ao abraçar a jornada do perdão, percebo que, de alguma maneira,
isso também é uma libertação para mim. Sinto-me mais leve, menos
sobrecarregada pelas sombras do passado. A dor não desaparece
instantaneamente, mas a perspectiva de um recomeço se torna mais
tangível.
Enquanto a luz do amanhecer começa a iluminar o horizonte, abraço
Stefan com mais força, agradecendo pelo apoio silencioso que ele oferece.
O futuro pode ser incerto, mas estou determinada a construir um caminho
de amor, compaixão e superação.
Assim, com a aurora trazendo uma nova esperança, deixo para trás
os fantasmas do passado, concentrando-me na promessa de um amanhã
mais luminoso.

Stefan Moser
Há alguns dias, recebemos a notícia sobre a morte de Fernando.
Luara está tentando convencer sua mãe e irmã a virem morar aqui. Renata
parece empolgada com a ideia de viajar de avião e conhecer um novo país,
enquanto a senhora Almeida está relutante. Ela diz que sua vida está toda na
casa dela e que não abrirá mão.
Enquanto isso, meus pais estão apaixonados pelo neto e pela nora.
Minha mãe já puxou minha orelha sobre eu ainda não ter feito o pedido de
casamento. Eu farei, mas será em um momento especial, só nós dois.
Estou em Sydney, resolvendo assuntos sobre o hotel, acompanhado
do meu assistente.
Após uma manhã agitada de reuniões e encontros de negócios, eu e
meu assistente decidimos ir até um restaurante almoçar. Eu só não esperava
que, enquanto estava comendo, veria minha filha entrar na companhia de
mais duas amigas.
Sorrio ao vê-la, já que faz um bom tempo que ela se afastou, mas ao
me ver, a animação que estava desaparece. Ela me encara com raiva, e
penso até que vai me ignorar; em vez disso, ela caminha até onde estou.
— Papai, que surpresa. — Se fosse em outra época, pensaria que
estava sendo gentil, mas o tom usado, o sorriso debochado, mostra sua real
intenção.
— Sim, faz bastante tempo. Como você está? — Tento ser sucinto
nas palavras.
— Como se você se importasse.
E lá vamos nós de novo.
— Sim, eu me importo, Zoe.
— Tanto faz, ficou sabendo da novidade? Minha mãe vai se casar, e
adivinha, vai embora para Dubai.
— Não sabia.
— Só mais um dos meus pais me abandonando por uma nova
família, nada a que eu não esteja acostumada.
— Ninguém está te abandonando; são suas atitudes que afastam as
pessoas. Sabe que é bem-vinda na minha casa.
— Sou mesmo? Duvido. — Ela olha para as amigas que estão
esperando. — Preciso ir; não encontramos mesa. E esse lugar também é
muito caro.
— Conseguiu um trabalho?
— Sim, não tive muita escolha, não é? Estou trabalhando como
secretária na Crawford.
— Oh, isso é ótimo. Tristan é um velho conhecido.
— É, ele é rico e egocêntrico. Insuportável.
Fico a olhando enquanto ela fala, e minha filha não imagina o quanto
senti falta dela.
— Zoe, vamos. — Uma das garotas grita.
— Vou indo nessa. Um dia talvez eu vá até vocês.
— Ficaremos felizes em recebê-la.
— Ta. — Ela me olha um pouco sem jeito, se inclina e me abraça.
Antes de sair correndo, como se tivesse feito algo errado.
Se minha filha conseguir manter o emprego, pode aprender muito
com Tristan.
Luara Almeida

Darel está na casa dos avós, pais de Stefan, que estão apaixonados
pelo neto. Após deixarmos o pequeno lá, Stefan disse que tinha uma
surpresa para mim, pediu que eu colocasse uma roupa fresca e ficasse
descalça.
Animada, tomei um banho e escolhi um vestido azul longo de seda,
com alcinhas finas. Optei por não usar sapatos como ele pediu. Prendi o
cabelo em um rabo no topo da cabeça. Ao me ver pronta, fui de encontro a
ele, que já estava vestindo uma calça caqui e uma camisa social branca,
com os primeiros botões abertos.
Aproximei-me e o abracei, e ele comentou:
— Você está maravilhosa.
— E você não está nada mal. — Respondi. — Aonde vamos?
— É surpresa. — Ele respondeu, segurando minha mão e me
levando até o deque. Ao chegarmos lá, fiquei boquiaberta. Na areia, havia
uma tenda armada, com panos brancos, um tapete no chão e muitas
almofadas. Ao lado, uma mesinha repleta de quitutes.
— Uau, Stefan, que lindo.
Nos dirigimos até a tenda, onde ele me ajudou a me sentar, e então
pegou o lamington.
— Esse doce foi o primeiro que comemos ao nos conhecermos, e eu
disse que sabia fazer.
Meus olhos brilharam. Abri a boca e ele colocou um pedaço do doce
nela. Suspirei ao sentir o sabor.
— Que delícia.
— Sim, uma delícia. — Ele respondeu com malícia, fazendo-me
corar.
Desfrutamos das delícias dispostas sobre a mesa na tenda na praia,
rindo e compartilhando momentos que ficariam gravados em minha
memória. O ambiente aconchegante, a brisa suave e o som das ondas
criavam uma atmosfera mágica.
Enquanto provávamos diferentes iguarias, Stefan segurou minha
mão, olhando-me nos olhos com um brilho intenso.
— Luara, desde que você entrou na minha vida, tudo mudou para
melhor. Você trouxe luz, amor e felicidade. Não consigo mais imaginar meu
futuro sem você ao meu lado. Por isso, hoje, neste lugar especial onde nossa
jornada começou, quero fazer uma pergunta muito importante...
Meu coração começou a acelerar enquanto ele se ajoelhava diante de
mim, tirando uma pequena caixa do bolso.
— Luara Almeida, você aceita se casar comigo?
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e eu mal
conseguia conter a emoção.
— Sim, Stefan. Mil vezes sim!
Ele sorriu, colocando delicadamente o anel em meu dedo. O brilho
da joia refletia o amor que sentíamos naquele momento.
— Eu te amo mais do que as palavras podem expressar. Mal posso
esperar para construir um futuro juntos, como marido e mulher.
Ficamos ali, abraçados, celebrando o amor que nos unia. O som do
mar testemunhava o início de uma nova fase em nossas vidas, repleta de
promessas e sonhos compartilhados.

Stefan Moser

Hoje é o dia.
O dia em que Luara e eu decidimos unir nossas vidas de uma
maneira mais profunda, mais significativa. A atmosfera está repleta de
emoções, e o cenário parece feito sob medida para testemunhar o nosso
amor. Estamos prestes a embarcar em uma jornada que vai além das
palavras, uma jornada que escreveremos juntos, capítulo por capítulo.
A cerimônia acontece em um local à beira-mar, com o sol se pondo
no horizonte, pintando o céu com tons de rosa e laranja. Luara está
deslumbrante em seu vestido de noiva, um verdadeiro reflexo da beleza que
existe em seu coração. A brisa suave do oceano acaricia nossos rostos
enquanto nos posicionamos diante do altar improvisado, decorado com
flores brancas e luzes suaves.
As palavras do celebrante são como música, criando uma trilha
sonora para o momento único que estamos prestes a compartilhar.
Quando chegamos ao momento dos votos, o mundo ao nosso redor
parece desaparecer. Luara segura minha mão, seus olhos fixos nos meus, e
começa a falar com a voz suave carregada de emoção.
— Stefan, desde o momento em que nossos caminhos se cruzaram,
eu soube que minha vida estava prestes a mudar para sempre. Você é a luz
que iluminou os cantos mais escuros do meu coração, trazendo calor,
alegria e amor. Hoje, diante de todos, eu quero prometer que estarei ao seu
lado em todos os momentos, nos dias ensolarados e nas noites escuras.
Prometo ser sua companheira, sua amiga, sua amante, e construir juntos um
futuro cheio de risos, superações e cumplicidade.
Suas palavras tocam minha alma, e ao receber a palavra, tento conter
a emoção que ameaça transbordar. Respiro fundo antes de começar a
expressar meus sentimentos.
— Luara, minha vida, minha inspiração, hoje, diante de todos, eu
reafirmo meu compromisso de amar você em todos os momentos. Você
trouxe cor à minha existência, transformando-a em uma obra de arte
vibrante. Prometo ser seu refúgio nos dias de tempestade, seu companheiro
nos dias de sol. Juntos, enfrentaremos desafios e celebraremos conquistas.
Sua felicidade será minha prioridade, e seu coração, minha casa. Eu te amo
mais do que as palavras podem expressar, e estou ansioso para construir
uma vida inteira ao seu lado.
À medida que as palavras fluem, percebo que não estamos apenas
trocando votos, mas estamos selando um pacto de amor eterno. O som de
aplausos suaves ecoa ao nosso redor quando trocamos as alianças,
simbolizando o início de uma nova jornada, nossa jornada.
A festa está em pleno andamento, risos e música preenchem o ar
enquanto poucos convidados, a maioria conhecidos meus, celebram o nosso
amor. Infelizmente a família de Luara não conseguiu vir.
Em meio à alegria da celebração, um momento inesperado acontece.
Zoe aparece no horizonte da festa, usando um vestido verde que destaca sua
beleza. Seus olhos encontram os meus, e há algo diferente neles desta vez.
Ela se aproxima com uma expressão que mistura nervosismo e
determinação.
— Papai, posso falar com você? — Zoe pergunta, desviando o olhar
para Luara, que observa a cena com curiosidade.
— Claro, Zoe. O que foi? — Respondo, abrindo espaço para uma
conversa que poderia mudar muita coisa.
Zoe respira fundo antes de começar.
— Eu... Eu tenho refletido muito, e percebi que fui egoísta e cruel.
Eu machuquei você e a Luara com minhas atitudes, e quero pedir desculpas.
Não quero ficar sozinha, e entendi que a vida não gira em torno de mim.
Fico em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. É um
passo importante para ela reconhecer seus erros.
— Zoe, é um grande passo reconhecer isso. — Digo, sentindo uma
mistura de alívio e esperança.
Zoe então se vira para Luara, que observa com compaixão em seus
olhos.
— Luara, sei que te tratei mal, que fui rude e cruel. Eu realmente
sinto muito por tudo. Você merece ser feliz, e eu nunca deveria ter
atrapalhado isso.
Luara olha para mim, e eu assinto, encorajando-a a responder.
— Zoe, todos cometemos erros. Espero que possamos seguir em
frente. — Luara diz, surpreendendo Zoe com sua gentileza.
Zoe percebe finalmente o pequeno Darel nos meus braços.
— Esse é... meu irmãozinho? — Ela pergunta, seus olhos brilhando
com curiosidade e ternura.
— Sim, Zoe. Este é o Darel. — Respondo.
Ela se aproxima e estende os braços para acariciar suavemente a
cabeça do pequeno.
— Ele é adorável. — Zoe murmura, e por um instante, percebo que
estamos começando a curar velhas feridas e construir um novo começo para
a nossa família.

Luara Almeida
A noite se desenha no horizonte, e o céu ganha tons de laranja e rosa
enquanto Stefan e eu deixamos para trás a festa e nos dirigimos para a nossa
lua de mel. Darel está seguro com seus avós.
Chegamos à casa à beira-mar, que agora é nosso refúgio especial.
Stefan, cavalheiro como sempre, segura minha mão enquanto caminhamos
pela areia macia. O som suave das ondas quebrando cria uma trilha sonora
romântica, e a lua se ergue no céu, iluminando nosso caminho.
Ao entrarmos na casa, tudo está à luz de velas, criando uma
atmosfera acolhedora e apaixonante. Stefan me abraça suavemente, seus
olhos azuis refletindo o amor que ele sente. O perfume de velas aromáticas
preenche o ar, e a suavidade da música clássica ao fundo envolve nossos
sentidos.
Subimos a escada para o quarto, que está decorado com pétalas de
rosa espalhadas sobre a cama king-size. As cortinas estão levemente
balançando com a brisa noturna, e as estrelas se tornam testemunhas
silenciosas da nossa celebração de amor.
Stefan se aproxima de mim, e nossos olhares se encontram em uma
troca silenciosa de promessas. Ele acaricia meu rosto com ternura, e então,
lentamente, ele começa a desfazer os botões do meu vestido. Cada toque é
carregado de amor e desejo, e eu me entrego ao momento, deixando a roupa
cair ao chão.
Sua boca acaricia meu ombro exposto, e lentamente ele começa a
descer seus beijos. Ajoelhado as minhas costas, ele segura as laterais da
minha calcinha, e a desliza para baixo. Com o rosto rente em minhas
nádegas, ele inspira fundo entre elas, lentamente vou inclinando meu corpo
para frente, expondo-me para que possa explorar cada pedacinho meu.
Stefan fica de pé, segura meu rosto e me beija.
— Minha para sempre. — Sussurrou.
Com facilidade ele me levanta do chão, e me leva até a cama, onde
tenho meu corpo deitado.
Observo enquanto ele tira sua roupa. Ao ficar nu, ele se aproxima, e
deita seu corpo sobre o meu.
Ao sentir seu membro deslizar por minha entrada, suspiro,
agarrando-o pelos ombros.
Nossos corpos encontram o ritmo perfeito do prazer, naquele
santuário privado, descobrimos novas formas de nos amar. A lua observa
nossa união, e as estrelas parecem cintilar mais intensamente, como se
celebrassem esse momento mágico.
No abraço sereno da noite, Stefan e eu nos tornamos um só, perdidos
no êxtase do amor que transcende todas as palavras. A lua de mel se
transforma em um capítulo memorável, gravado em nossos corações para
sempre.
Luara Almeida

Um ano depois

Hoje, ao olhar para trás, é impossível não me perder na incrível


jornada que a vida me proporcionou. Tudo começou com um simples
sorteio, que me levou a um destino tão distante e, ao mesmo tempo, tão
transformador: a Austrália.
Lembro-me da excitação ao pisar em terras australianas, sem
imaginar que, naquele lugar, encontraria não apenas paisagens
deslumbrantes, mas também o amor da minha vida.
Stefan, com seus olhos azuis como o oceano que banha essa terra,
entrou na minha vida como uma brisa suave, mas que logo se transformou
em um furacão de emoções. Vencemos juntos os medos que habitavam em
mim, abrindo caminho para uma felicidade que eu nunca havia
experimentado. Ele foi meu porto seguro, o apoio nas horas difíceis e o
sorriso que iluminava meus dias.
Meu ex-marido, Tiago, tornou-se uma página virada. Sua escolha de
se envolver com uma mulher casada trouxe consequências amargas, e eu
não pude deixar de sentir uma pontada de pena ao saber que ele estava no
hospital, vítima das escolhas erradas que fez. Às vezes, a vida cobra seus
tributos de maneiras imprevisíveis.
Abrir uma confeitaria especializada em doces brasileiros na
Austrália foi um sonho realizado. Cada brigadeiro, beijinho e bolo de
cenoura carregam um pedaço do meu país, uma doce saudade que
compartilho com os australianos. A confeitaria prospera, e os sabores do
Brasil conquistaram corações do outro lado do mundo.
Zoe, também passou por uma transformação notável. Seu coração
amadureceu, e a jovem que um dia causou tantas dores hoje é uma aliada na
confeitaria, sempre pronta para ajudar ou brincar com o pequeno Darel. As
pontes que construímos são mais fortes do que os desafios que enfrentamos.
Ao recordar essa jornada, sou grata por cada riso compartilhado,
lágrima derramada e desafio superado. Minha história é uma tapeçaria de
experiências, e cada fio, mesmo os mais difíceis, contribuiu para o quadro
final. Agora, olhando para o futuro, sinto uma mistura de emoções: gratidão
pelo passado, alegria pelo presente e expectativa pelo que ainda virá.
Não importa o destino que a vida reserve, carrego comigo as
lembranças preciosas de uma jornada que me trouxe amor, família e a
realização de sonhos que eu nem ousava imaginar.
A vida é, de fato, uma obra-prima em constante construção, e eu sou
agradecida por cada capítulo que compõe a minha história.
O sol começa a se despedir no horizonte, pintando o céu com
tonalidades quentes de laranja e rosa. A brisa marinha acaricia nossos rostos
enquanto Stefan e eu corremos pela areia, pranchas de surfe em mãos. A
adrenalina toma conta de mim, misturada com a expectativa de mais uma
aventura ao lado do homem que amo.
Stefan sorri para mim, seus olhos refletindo a mesma animação que
sinto.
— Pronta para mais uma sessão épica? — Ele pergunta, divertido.
Reviro os olhos, mas não posso conter o sorriso.
— Claro, desde que eu consiga ficar em pé sobre a prancha por mais
de cinco segundos. — Ele ri, sabendo que minhas habilidades no surfe
ainda têm muito a melhorar.
Chegamos à beira da água, e as ondas se desenham como convites
irresistíveis.
— Você vai arrasar, tenho certeza. — murmura, beijando minha
testa.
Vestidos com nossos trajes de neoprene, mergulhamos no mar. A
água fria envolve nossos corpos, trazendo uma sensação de liberdade.
Posicionamo-nos, esperando a onda perfeita.
A primeira onda se aproxima, e Stefan, com sua habilidade natural,
desliza sobre ela com graciosidade. Eu, por outro lado, seguro-me na
prancha, tentando equilibrar-me na superfície instável. Ele ri, mas me
oferece encorajamento.
— Tenta de novo, você consegue! — Ele grita.
Foco na próxima onda, meus pés pressionam a prancha, e,
milagrosamente, permaneço em pé. Uma sensação de triunfo se espalha por
mim, e Stefan aplaude, entusiasmado.
— Isso, meu amor, arrasou!
Surfamos juntos, compartilhando risadas e desafios, desenhando
trajetórias na imensidão azul. O pôr do sol emolda nossa cena,
proporcionando um espetáculo inigualável. Entre uma onda e outra, nossos
olhares se encontram, e é como se o tempo se diluísse em momentos
eternos.
Ao retornarmos à praia, abraçamo-nos, molhados e radiantes.
— Você é incrível, sabia? — Stefan pergunta, com os olhos
brilhando.
— Não seria nada sem você ao meu lado. — Respondo, acariciando
seu rosto.
Sentamo-nos na areia, observando o último suspiro de luz no céu.
— Luara, desde o momento em que você entrou na minha vida, tudo
ganhou cor, sentido e alegria. Eu te amo mais do que as palavras podem
expressar. — Declarou, sério e apaixonado.
— E eu amo você, Stefan, com cada pedaço do meu coração.
Entrelaçamos nossas mãos e observamos as estrelas aparecerem no
céu noturno. E ali, na praia que testemunhou nossa jornada, selamos nosso
amor, a promessa de continuar surfando juntos pelas ondas da vida,
enfrentando desafios, celebrando conquistas e construindo um futuro cheio
de amor e felicidade.
E no momento em que nossos lábios estavam prestes a se tocar,
Zeus, nosso fiel companheiro de quatro patas, surgiu inesperadamente,
pulando bem no meio de nós. A cena nos arrancou risos espontâneos, e
rapidamente nos levantamos para iniciar uma divertida perseguição ao
nosso cão fujão.
A saga da Renata rumo à Austrália não poderia começar de forma mais clássica: um
aeroporto movimentado, despedidas emocionadas e, claro, um encontro catastrófico digno
de comédia romântica.

Renata Almeida Souza

Com o passaporte firme na mão e o coração querendo escapulir pela


boca, lá estava eu, prestes a embarcar nessa jornada do outro lado do
mundo. O aeroporto de São Paulo fervilhava, uma confusão animada que só
aumentava minha ansiedade. Entrei no saguão com uma mistura de
empolgação e nervosismo, e então aconteceu. Um choque digno de um
filme hollywoodiano, uma colisão cósmica em pleno aeroporto.
— Ai, me desculpe! Não vi você aí, achei que estava desfilando na
passarela da vida. — soltei o comentário, parte sem pensar, parte para
aliviar o clima tenso.
O sujeito em questão tinha todos os atributos de um galã de cinema,
mas sua expressão era um mix de irritação e surpresa. Parece que humor
espontâneo não era o forte dele.
— Você deveria prestar mais atenção, garota. A vida não é uma
comédia. — foi a resposta séria, quase como uma repreensão.
— Uau, que observação profunda. Diz isso porque ainda não viu
minha vida virando uma sitcom. — retruquei, sem me intimidar.
A troca de farpas continuou por alguns segundos, até nos afastarmos
um do outro. Pensei que estava livre daquele homem irritante, mas o
destino adora pregar peças. Ao me dirigir para o portão de embarque,
descubro que meu voo seria conduzido pelo próprio príncipe encantado
mal-humorado.
— Ótimo, justo o que eu precisava. Meu piloto é um poço de
simpatia. — ironizei, para mim mesma.
Ao entrar no avião, lá estava a voz dele desejando um ótimo voo
para os passageiros.
Se eu soubesse que meu destino seria guiado por alguém tão mal-
humorado, teria pensado duas vezes antes de me aventurar. Mas agora não
há volta.
“Boa viagem, Renata”, disse minha mãe ao me deixar na rodoviária.
“Te esperamos, Re. Boa viagem”, Luara, do outro lado do oceano,
me desejou por mensagem antes de eu embarcar.
Se elas soubessem o que me aguardava, talvez teriam me preparado
melhor. O avião decolou, e junto com a turbulência nos céus, começou uma
viagem cheia de desafios, sarcasmo e um piloto que parece ter feito um
curso intensivo de antipatia. Mas, ei, pelo menos isso promete ser uma
aventura para lembrar.

[1]
Personagens da duologia Made in Korea.
[2]
"Aussie", se refere ao Pastor Australiano, Apesar do nome, a raça não é originária da Austrália,
mas sim dos Estados Unidos, onde pastores australianos foram usados para cuidar de rebanhos.
Os Pastores Australianos são conhecidos por sua pelagem densa e ondulada, frequentemente com
manchas distintivas e uma variedade de cores.

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