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Capa

Oneminute

Diagramação
Katherine Salles

Revisão e Preparação de Texto


Ana Roen

Livro Digital
1ª Edição
Aline Damasceno

Todos os direitos reservados © Aline Damasceno.


É proibido o armazenamento ou a reprodução de qualquer parte
desta obra, qualquer que seja a forma utilizada – tangível ou
intangível, incluindo fotocópia – sem autorização por escrito do
autor.
Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas, acontecimentos e
locais que existam ou que tenham verdadeiramente existido em
algum período da história foram usados para ambientar o enredo.
Qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.
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Índice
Sinopse
Nota da autora
Prólogo
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Epílogo
Bônus
Agradecimentos
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Sinopse:
Militar protetor e viciado em trabalho + mãe solo recém-
divorciada + criança rejeitada pelo pai + vizinhos + recomeço

Herdeiro de uma rede de conveniências, era esperado que


Brian Broussard assumisse os negócios da família, mas o milionário
acabou optando pela carreira militar, entrando para os Navy SEALs,
força especial da Marinha norte-americana, e se tornando um
soldado de elite do Team Six.
Servir a América em missões secretas era a sua vida e Brian
não pensava em outra coisa a não ser liderar uma missão após a
outra, até que seu superior lhe deu férias compulsórias de um mês.
Como isso não estava em seus planos, ele decide então
passar um tempo na sua casa de praia enquanto contava os
minutos para voltar a ação.
O que o Navy SEAL não esperava era que durante as férias
forçadas ele acabaria louco por Ionara, uma mãe solo que buscava
um recomeço depois de várias traições que sofreu de seu ex-
marido, e que o filho dela, Tyler, um menininho carente de atenção
do pai e que adora esportes radicais, acabaria se tornando o seu
filho inesperado...
Nota da autora
A terceira história da série Virei Papai finalmente chegou!
Espero que você goste bastante de Brian, um Navy SEAL
gostosão superprotetor e carinhoso, e que se identifique com Ionara,
uma mãe recém-divorciada que tem vários dilemas para enfrentar
ao decidir criar sozinha o seu filho Tyler, um menino curioso que
adora deixar a mãe de cabelos brancos.
Essa história é estilo Sessão da Tarde, doce, cheia de
recomeços e amor... bem a cara da autora hahahaha. O único
gatilho é a questão do abandono parental. Se você se sente
desconfortável com o tema, não insista na leitura. Ler é diversão!
Foi prazeroso para mim mergulhar no mundo dos Navy SEALs,
ou melhor, no mundo do Team Six, ligado ao Grupo de Guerra Naval
Especial dos Estados Unidos (DEVGRU), mas tenho que dizer que,
apesar das pesquisas realizadas assistindo documentários e lendo
livros sobre o assunto, tomei certas liberdades criativas para
desenvolver o meu enredo. Ressalto que, para fins de ambientação,
procurei entender a mentalidade do que é ser um militar americano,
um Navy, e tentei passar um pouquinho do que observei nessa
história.
Espero que você tenha uma boa leitura!

Com amor,
Prólogo

Jersey City, Nova Jersey, oito meses atrás

Fiquei segurando a caneta e olhando para a mesa


digitalizadora apoiada no meu colo, mas todas minhas tentativas de
começar a esboçar as linhas de um dos personagens dos livros
infantis que eu era paga para ilustrar eram infrutíferas. Por mais que
desenhar sempre fosse uma espécie de refúgio para mim, a raiva
que consumia o meu corpo e o aperto no peito impediam-me de me
concentrar na tarefa comumente prazerosa, que, no momento, não
me oferecia nenhum conforto.
Suspirando, consciente de que não conseguiria fazer nada,
desisti de trabalhar, então pousei o tablet e a caneta em cima da
mesinha de centro e me ergui, caminhando em direção a cozinha.
Com uma caneca de café quente nas mãos, sentei-me em um
banco próximo a uma janela enorme, dobrei os meus joelhos e
fiquei encarando a escuridão da madrugada.
Não havia nenhuma estrela no céu, o que deixou o meu humor
ainda mais sombrio.
Lágrimas grossas deslizaram pelas minhas bochechas e o
sentimento de fracasso sobrepujou a raiva.
Tentei de tudo para manter meu casamento, mas eu não
conseguia mais, não depois de mais uma promessa quebrada. Não
depois de ver a expressão triste do meu filho mais uma vez, de ver
Tyler decepcionado pelo pai não estar presente em mais um
momento importante da vida dele: os jogos das semifinais do time
de beisebol em que ele era o rebatedor.
Eu podia suportar as inúmeras traições que sofri ao longo
desses oito anos de casamento, a falta de amor entre nós, a
ausência de companheirismo... Eu até conseguia manter as
aparências de uma união tranquila, mas não era mais capaz de
suportar um homem que dizia amar o filho e que sempre estava
ausente, um homem que nunca foi a uma reunião escolar, que
nunca esteve aqui para abraçar Tyler quando ele se machucava ou
quando ficava doente...que não era capaz de tirar uma hora do seu
dia para conversar ou brincar com o filho, sempre usando o trabalho
como desculpa, justificativa que sequer conseguia enganar o
menino, que apenas fingia entender o pai.
Meu peito pareceu se apertar ainda mais e a derrota deixava
um gosto amargo na boca.
Eu havia falhado com Tyler, mesmo que não tivesse culpa
nenhuma, já que cumpria o meu papel para com ele, mas a
sociedade sempre nos culpava pelas más escolhas que fazíamos.
Não que Donald fosse considerado uma má escolha, não pelas
pessoas que nos cercavam.
Um dos homens mais promissores na carreira política, o loiro
alto de olhos azuis arrancava suspiros por onde passava. O
carisma, o sorriso e a elegância o tornavam ainda mais desejável.
Eu, no auge dos meus vinte e poucos anos, uma universitária
festeira, achava o playboy o cara mais incrível do mundo, e o fato de
ele ter se apaixonado por mim havia me deixado nas nuvens. Casar-
me com ele foi um verdadeiro sonho, mas os últimos anos só
poderiam ser descritos como um inferno. As brigas se tornaram
cotidianas...
Eu me questiono a razão pela qual aceitei viver essa farsa por
tanto tempo. Poderia dizer que o que mais me movia era querer que
Tyler crescesse em um lar com os dois pais, mas a verdade era que
eu tinha medo de que me julgassem, de que me apontassem o dedo
e dissessem que eu era a maior culpada da nossa união não ter
dado certo, que não me esforcei o suficiente.
Beberiquei meu café, desejando que o líquido pudesse
desfazer o nó que se formou na minha garganta ao pensar que o
julgamento viria de dentro da minha própria família.
Minha mãe ficaria furiosa com a minha decisão, falando que eu
iria arruinar tudo, ainda que meu casamento com Donald não
passasse de um castelo em ruínas.
Saí daqueles pensamentos ao ouvir o portão da garagem
sendo aberto, indicando que o meu maridohavia acabado de chegar.
Foi automático olhar o relógio.
Duas da manhã.
Seis horas atrasado.
Emiti um suspiro.
Não haveria mais desculpas.
Não me dei o trabalho de me erguer, apenas continuei a tomar
o líquido, que ficava cada vez mais frio. Sabia que Donald viria até a
cozinha para pegar uma taça de vinho.
— Isso são horas, Donald? — Minha voz saiu fria quando ele
ignorou a minha presença e foi direto para a adega.
Ele deu um salto no lugar, assustado, e virou-se na minha
direção.
Por um momento, pareceu surpreso com a minha frieza, mas
logo reagiu, falando em um tom doce e pastoso que me fez sentir
nojo dele:
— Ainda acordada, amor?
Não respondi a pergunta óbvia.
Aproximou-se de mim e abriu um sorriso que fez minhas
vísceras se retorcerem ainda mais. Tentou beijar o meu rosto, mas
não deixei, impedindo-o de se aproximar ao colocar a mão no peito
dele e o empurrar. Como sempre, o simples ato de tocá-lo deixou
uma sensação ruim em mim. Ignorei o sentimento de culpa que me
tomou por não saber como eu estava com um homem que sequer
suportava o toque.
Ele recuou, franzindo o cenho.
— Você está estranha, amor…
— Isso te surpreende, Donald? — Fui seca.
— Eu estava agarrado no trabalho, Ionara! — Foi ignorante, o
que não era uma surpresa.
Quem o conhecia a fundo sabia que seu carisma era bastante
seletivo. Odiei-me por não ter enxergado isso antes.
— Estava preso em uma reunião — continuou.
Comecei a rir.
— Chega de mentiras, querido, ambos sabemos que você
estava trepando por aí. — Fui irônica. O som da minha voz era pura
acidez em meio à risada, que se tornava mais desesperada.
— Isso não é verdade — defendeu-se, ficando mais irritado.
— Como você pôde faltar ao momento mais importante para
Tyler? — cuspi.
As lágrimas retornaram e com elas a dor. Eu sofria pelo meu
filho. A tristeza dele era minha.
— Ele te esperou tanto, droga! Tyler estava tão empolgado
com a ideia de você vê-lo pegar a bola do jogo. E por quê? Por um
pouco de prazer que poderia ter com isso.
— Eu…
— Se fosse a primeira vez, eu até poderia perdoar, mas qual
foi a última vez que você foi assistir a um jogo dele? Quando foi que
você tirou uma hora da sua merda de dia para ficar com ele? Não
consegue responder, pois você nunca está presente.
— Sabia que é difícil sustentar essa casa sozinho, porra? —
explodiu, passando as mãos pelos cabelos e começando a andar
pela cozinha.
— Não grite! Tyler não precisa testemunhar essa merda —
pedi em um tom baixo.
— Que se foda! — murmurou em meio a um resmungo, mas
obedeceu. — Você nunca dá valor aos meus esforços, Ionara. Não
entende os sacrifícios que tenho que fazer para manter tudo em
ordem por aqui. Tá sempre me acusando de sair trepando por aí,
sendo que eu só cometi um único deslize nesses anos todos, algo
que você disse ter perdoado, mas nunca para de falar nessa droga!
Balancei a cabeça em negativa. Discutir sobre as mulheres e
até mesmo os homens com quem ele me traía era uma perda de
tempo. Não era a primeira vez que ele mentia. Eu sabia que não
tinha sido uma única vez e eu tinha provas, vários prints de
mensagens e vídeos que foram me mostrados por amigos dele.
— Eu te ajudo com as contas…
Minha fala o fez jogar a cabeça para trás e gargalhar, e riu tão
alto que ecoou por toda a cozinha; não duvidava que Tyler pudesse
ter ouvido.
— O que você ganha no ano não paga nem o carro que você
dirige, Ionara! — Foi sarcástico.
— Isso não é verdade — murmurei.
Nunca me senti tão humilhada. Era fato que eu ganhava bem
menos do que ele e que, talvez, sozinha eu não conseguiria manter
aquele padrão, mas Donald nunca havia zombado de mim por isso
até então. Deveria ter imaginado que, por mais que ele não tivesse
dito uma única palavra, ele se achava superior a mim, que o que é
meu é seu foi só mais uma mentira.
Grande casal que éramos.
— Se não fosse por mim, você estaria na merda…
Não me dignei a responder aquele absurdo. Ele continuou:
— Eu trabalho duro para dar o melhor para nossa família, mas
para você nada nunca está bom… — A voz dele ficou vários
decibéis mais alto, praticamente um grito.
— Mais baixo — rosnei.
— Você sempre é um saco, Ionara! — Não se controlou. —
Sempre reclamando, sendo a porra de uma chata! Tudo é cobrança!
Balancei a cabeça em negativa, sentindo a raiva ferver ainda
mais dentro de mim.
— Eu nunca te pedi nada, Donald. A única coisa que venho
implorando nos últimos sete anos é que você dê um pouco de
atenção ao seu filho, o garotinho que te ama mesmo você não
merecendo!
— Também o amo, Tyler é o meu sonho — defendeu-se.
— É o que você diz... — Mal reconheci a minha voz, que soou
baixa demais.
Ainda que meu filho fosse a melhor coisa que tinha acontecido
em toda a minha vida, quando Donald disse que sonhava em ser pai
logo assim que nos casamos, a ideia de me tornar mãe tão
rapidamente me assustou. Eu era recém-formada, iniciando em um
novo emprego, e estava longe de me sentir preparada para a
maternidade, mas o amor que sentia por Donald, a confiança nas
palavras dele, que disse que sempre estaria presente, que me
ajudaria no que fosse preciso, e a vontade de agradá-lo fez com
que, sem pensar, eu jogasse meus anticoncepcionais fora. Eu amei
o meu bebê assim que descobri a gravidez, mas, diferentemente do
que imaginava, ao longo do tempo, ser mãe tornou-se algo solitário.
Não podia contar com meu marido para nada, nem mesmo para
levá-lo à escola. Donald só estava presente quando queria, o que
era algo raro.
— Como você pode dizer que o ama se nunca está com ele?
Se nunca demonstra com ações o que diz sentir?
— Dou tudo o que ele quer, não dou?
Tornei a fazer um gesto de negativa com a cabeça, colocando
a caneca no batente da janela.
— Tyler quer o pai, Donald, não o seu dinheiro! Ele precisa de
você, que você faça seu papel de pai todos os dias!
— Você não pode falar por ele, Ionara! — Foi áspero.
— Está de sacanagem comigo? — Acabei gritando com ele e
me ergui em um salto.
Donald abriu um sorriso que fez o meu estômago dar voltas.
— Tyler gosta dos presentes que dou para ele.
— Deveria se envergonhar de comprar o nosso filho com
coisas materiais — falei, tentando controlar o tom da minha voz. —
O que está ensinando a ele?
— Não me venha com mais uma das suas malditas lições de
moral… elas são um porre! — Fez uma pausa. — Porra, quando foi
que você ficou tão chata?
— Chega! Eu não aguento mais isso! Não suporto mais suas
mentiras!
— Mesmo? — zombou.
— Eu quero o divórcio.
Para enfatizar a minha fala, removi a aliança que muitas vezes
tinha carregado em meu dedo com orgulho, joia que representava
meus sonhos de amor que, agora, estavam todos desfeitos.
A expressão debochada dele se transformou em incredulidade
quando deixei o aro dourado cair no chão, o som reverberando nos
meus ouvidos.
Estranhamente, mesmo que o anel não pesasse quase nada,
parecia que um peso metafórico me deixava junto com ele.
Sabia que mais tarde iria doer muito mais do que doía agora,
ou que talvez eu me arrependesse, mas não podia mais viver assim.
— Você não pode fazer isso — falou, transtornado.
— Posso e farei.
— Não, não fará… não está raciocinando, Ionara.
— Nunca estive tão lúcida, Donald.
Foi a vez dele sacudir a cabeça e voltar a andar de um lado
para o outro, como uma besta enjaulada, até que parou na minha
frente. Os olhos azuis eram pura fúria.
— Você não está pensando na nossa família, em como isso
afetará minha imagem — falou baixo, colocando as mãos sobre os
meus ombros.
Tentei me desvencilhar, mas o aperto dele não me deixou.
— Alguma vez você pensou em nós? — retruquei, erguendo o
meu queixo para encará-lo nos olhos, mesmo que ele fosse apenas
alguns centímetros mais alto do que eu.
— Todos os dias.
A comissura dos meus lábios se ergueram em um sorriso
ácido.
— Mentiroso...
— Tyler precisa de nós dois, precisamos ficar juntos. Eu juro
que…
— Tarde demais, Donald — cortei-o. — Quantas vezes tivemos
essa mesma conversa? Quantas vezes você me fez essa mesma
promessa? Quantas vezes eu engoli meu orgulho e aceitei suas
traições por nosso filho?
— As pessoas irão falar! — Aplicou mais força nos meus
ombros, ferindo-me. — Nós somos um exemplo de união na nossa
comunidade.
— Se afaste de mim! — pedi. — Você está me machucando.
Baixou as mãos e eu aproveitei para manter distância dele. A
partir de agora, não queria nunca mais ser tocada por ele.
— Pegue sua aliança, Ionara, e pare com essa merda toda!
Você está parecendo uma criança mimada e egoísta. Sabe o que
isso fará com a minha reputação?
— Nada… — Engoli a acusação de que era ele quem estava
sendo egocêntrico, pensando apenas em si mesmo. — Você será o
pobre coitado deixado pela esposa e eu, a cadela sem coração que
terminou com o político queridinho de Jersey City.
— Isso não é verdade… — rosnou.
— Você terá muito consolo nos braços das suas amantes. Não
deve faltar mulheres aqui e em Nova York para trepar, não é?
— Ionara…
— Vamos parar de nos enganar, Donald. Nenhum de nós dois
está feliz.
— Tyler…
— Será difícil para ele, mas conseguiremos fazê-lo entender…
— Sabia que era mentira. Duvidava que Donald fosse fazer algum
esforço para ajudar Tyler a passar pela separação.
Ele tornou a rir.
— Está louca se acha que aceitarei isso sem mais nem
menos…
— Não ganhamos nada mantendo essa relação fracassada.
Donald ficou em silêncio por alguns instantes antes de voltar a
falar.
— Isso é uma piada, Ionara? Se for, essa porra não tem graça!
— Pareço estar brincando? — Ele era inacreditável!
Donald ficou me encarando por vários minutos como se um par
de chifres tivesse crescido na minha testa. De repente, a
incredulidade transformou-se em raiva e o rosto dele ficou vermelho.
— Sabe que não te darei o divórcio, não é?
— Para isso que servem os tribunais, querido! — sibilei, dando
um sorriso malévolo para Donald. Não compreendia por que ele
estava tão relutante.
Ele ficou ainda mais vermelho, parecendo prestes a explodir.
— Não vai me expor a esse ridículo, Ionara. Eu não serei
motivo de escárnio. Já basta dessa merda de divórcio!
— A escolha é sua.
— Quando foi que você se tornou essa vagabunda egoísta?
Não estou te reconhecendo! — gritou.
Dei uma risada sem humor.
— Jura? — provoquei-o.
— Maldito dia que inventei de me casar com você! Havia
muitas opções melhores, mas preferi uma puta sem graça que nem
é capaz de me manter satisfeito.
Não deveria, mas esse comentário doeu no fundo da minha
alma.
Nos últimos tempos, o sexo estava sendo horrível, mas, no
início, era muito bom. Tínhamos química, muito desejo e topávamos
de tudo. Ou melhor, quase tudo. Sexo a três, em grupo ou
compartilhamento estavam fora de cogitação.
— Tive que procurar em outro lugar aquilo que você me nega,
amor...
Deu um sorriso arrogante, reconhecendo a minha fragilidade, e
continuou:
— A culpa é sua! Sempre soube que eu gostava de me divertir,
mas é cheia de melindres e frescuras.
Riu, o que inflamou a minha raiva e me fez perder o controle.
Sem que me desse conta, aproximei-me dele com a mão em riste.
— Seu canalha! — Antes que eu pudesse desferir o tapa, ele
segurou meu punho com força, mostrando toda sua fúria.
— Como ousa? — Usou mais pressão.
— Eu…
— Isso não ficará assim…
Ainda que estivesse furioso, soltou-me e, com passos duros,
foi em direção a porta que dava para a rua.
Não perguntei aonde ele iria. A resposta estava mais do que
óbvia: foder alguém.
— Ionara?
— Sim?
— Desista dessa ideia de divórcio, ou eu entrarei com o pedido
da guarda unilateral de Tyler! — ameaçou.
— Não pode fazer isso, Donald! Você não pode tirar meu filho
de mim. Mal fica dez minutos com ele no dia... — Minha voz soou
estrangulada, minha garganta parecendo se fechar. Meus instintos
maternos gritavam por todos os poros.
— Descobriremos isso no tribunal. Você irá pagar para ver? —
provocou-me.
Deu uma risada antes de sair.
Fiquei paralisada pelo medo. Quando escutei a porta batendo
com um estrondo, meu corpo todo tremeu e as pernas fraquejaram.
As lágrimas que haviam secado retornaram com mais força.
Donald não faria isso, faria?
O juiz daria a guarda para ele só por que Donald tinha
dinheiro? Não sabia dizer.
O aperto se tornou maior, somado a uma pontada dolorosa no
peito.
Minha mente tentava processar a razão por que ele queria
manter aquela farsa a qualquer custo, mas falhava. Donald sempre
deu muita importância à opinião pública, já que a carreira dele
dependia disso. No entanto, se ele tinha tanto medo assim, por que
não hesitou em me trair inúmeras vezes, sem medo de ser pego?
Eu estava confusa e amedrontada, toda a coragem ruindo.
Pela primeira vez, me questionei fortemente se eu estava
tomando a decisão certa.
Poderia abrir mão de tudo, de todos os bens, de mim mesma,
menos do meu menininho.
Capítulo um

Vinte e oito, vinte e nove... contava mentalmente enquanto


observava um dos candidatos subir e descer em uma flexão
perfeita, mas lenta. A dor do exercício e o cansaço cobravam o seu
preço, desconcentrando-o e impedindo-o de cumprir com o objetivo.
Era nítido que o rapaz não conseguia controlar a sua respiração.
Suor empapava a camisa branca e se mesclava com a tinta verde
que cobria o rosto dele. O sol a pino só dificultava a execução do
exercício.
— Dois minutos! — Minha voz saiu desprovida de emoção ao
contabilizar trinta e sete flexões, soando em meio aos gritos e as
zombarias dos meus colegas que fiscalizavam os outros homens.
Um som frustrado escapou dos lábios do soldado Vega e vi
uma pontada de raiva cintilar nos olhos escuros ao perceber que
tinha falhado na execução do exercício, por mais que ele tivesse
completado o objetivo sete vezes naquele curto espaço de meia
hora.
Eu não disse nada, mas também não precisava. Se ele
quisesse ser um Navy SEAL, um soldado que integraria o grupo de
elite que é capaz de operar tanto no mar quanto no ar e na terra,
responsável por executar missões de alto risco de resgate e de
antiterrorismo, ele sabia que demonstrar suas emoções seria um
erro que poderia desclassificá-lo, portanto Vega mascarou
rapidamente os sentimentos.
— Do início, e contando em voz alta! — ordenei, anotando na
prancheta sua falha e meus apontamentos sobre o desempenho
dele.
— Sim, senhor.
Com um respirar profundo, colocou-se em posição e retomou
as flexões, contando em voz alta como determinei, imprimindo mais
ímpeto a cada subir e descer, como se um demônio o tivesse
possuído, e esse demônio tinha um nome: o medo de fracassar
outra vez.
Voltar para o seu pelotão tendo falhado antes mesmo de
passar pela semana do inferno[1] era um golpe enorme para a
autoestima de qualquer um, principalmente pelas piadas que ouviria
dos companheiros, mas um futuro navy não era moldado apenas
pela disciplina, mas também pela sua humildade e pela capacidade
de pensar no coletivo. Teoricamente, não existia espaço para egos.
— Flexões, frangotes! — O instrutor responsável pelo grupo
gritou.
Rapidamente, os candidatos começaram a fazer o exercício.
Eu continuei a fiscalizar os concorrentes, embora vez ou outra
minha atenção se voltasse para Vega. Por mais que não tivesse
nenhum contato com ele fora dos treinos e eu não evidenciasse
nenhum sentimento, eu não sabia explicar o porquê de torcer para
que ele chegasse a concluir o treinamento e se graduasse. Talvez
fosse a determinação presente em suas feições, mesmo que por
uns instantes, imprudentemente, demonstrasse seu cansaço, ou era
por ele me fazer recordar de mim mesmo quando, quinze anos
atrás, deixei meu pelotão para me tornar um SEAL.
Arrogante, fracassei na minha primeira tentativa. O medo de
não conseguir quase fez com que eu falhasse pela segunda vez.
Autodomínio, paciência e não pensar em nada além de fazer o
meu melhor permitiram que eu ganhasse o meu tridente dos Navy
SEALs. Depois de três missões, fui condecorado pela minha
participação, então candidatei-me ao Team Six, um grupo de elite
responsável por executar as missões antiterroristas mais perigosas,
com ações de resgate em território inimigo e responsável por
proteger personalidades civis importantes. Éramos conhecidos pela
velocidade, precisão e sigilo. Executávamos tarefas questionáveis,
arriscando nossas vidas para proteger a América.
Por mais que somente meus superiores e colegas do
esquadrão vermelho soubessem das minhas atividades, ser um
membro de assalto do Team Six mostrava quem eu era. Não me
identificava com o administrador que meus pais queriam que eu
fosse e que achei que seria, afinal, eu tinha herdado do meu avô
uma rede de lojas de conveniência que estavam espalhadas pela
costa oeste. Muitos esperavam também que eu fosse substituir meu
pai nos outros negócios que ele possuía. Assim, decepcionei muita
gente, é claro, quando decidi tomar outros rumos.
— Levante a cabeça, porra! Aqui não é lugar para covardes e
nem maricas…— o comandante gritou.
Os instrutores continuaram a provocar os aspirantes, fazendo-
os recomeçarem as flexões, os abdominais e os exercícios na barra,
tentando levá-los ao limite psicológico para fazê-los duvidarem de si
mesmos. Eles com certeza conseguirão esse intento com alguns
deles ao longo dos dias.
Sem zombar ou rir, continuei a fiscalizar os candidatos e fazer
minhas anotações em silêncio, lançando olhares mais severos
quando não executavam o exercício a contento ou não o cumpriam
dentro do tempo estipulado. Por mais que fosse um trabalho
necessário, eu me sentia impaciente. Preferia mil vezes estar em
uma missão ou treinando com os aspirantes do que executando
aquela tarefa. Nem mesmo quando cheguei na casa da morte, local
onde eram realizadas as atividades de tiro, isso ajudou a melhorar o
meu humor.
Foi uma benção quando finalmente o dia chegou ao fim.
Porra! O suor impregnava a minha pele e não havia nada que
eu quisesse mais do que um tomar um bom banho e comer uma
refeição decente.
Antes que eu pudesse ir para o alojamento e me enfiar debaixo
do chuveiro, o contra-almirante que comandava minha unidade
interpelou-me:
— Capitão Broussard?
Virei-me para ele, prestei continência e aguardei.
— Me acompanhe até minha sala.
— Sim, senhor.
Desejando estar mais composto, entrei na sala do
comandante, fechando a porta atrás de mim. A adrenalina banhava
as minhas veias ao pensar na próxima missão que eu seria
escalado, mas fiz de tudo para não mostrar a minha ansiedade ao
meu superior. Meu esquadrão estava há bastante tempo em estado
de alerta[2] e precisava me sentir útil.
— Sente-se, capitão.
Fiz como o ordenado. O contra-almirante Stevenson ficou me
encarando por uns instantes, analisando-me, antes de dizer:
— Esperando a próxima missão, não é mesmo, Broussard? —
Deu um sorriso debochado, os olhos brilhando de diversão.
Fiz que sim, ciente de que não havia espaço para mentiras
aqui, reconhecendo que havia falhado no teste dele.
— Que pena para você — zombou e eu engoli um impropério.
Merda! Permanecer na base, continuando a fazer aquele
trabalho morno, era um inferno e me punha louco.
— Você já se controlou melhor, Broussard.
Caiu na risada e eu me segurei para não falar o palavrão que
estava na ponta da minha língua.
— Deveria realocá-lo como instrutor de forma definitiva,
soldado — provocou-me em meio à gargalhada.
Permaneci impassível. Se o comandante achava que eu seria
mais útil aqui e não em ação, não havia nada que eu pudesse fazer
a não ser acatar a decisão, mas, porra, eu odiaria desempenhar
essa tarefa com todas as minhas forças.
— Felizmente para você, Broussard, suas condecorações
contam ao seu favor.
— Obrigado, senhor.
O comandante assentiu e continuou a me analisar.
— Quando foram suas últimas férias, capitão?
Minha mente ficou em branco; não conseguia lembrar quando
foi a última vez que tirei um tempo de férias.
— Seu silêncio não me surpreende… — Estalou a língua em
reprovação e estendeu-me uns papéis. — Por isso, mandei que
marcassem suas férias, e o melhor, serão remuneradas. Aqui está a
documentação referente ao seu afastamento e também a sua
bonificação pelo cumprimento das suas funções…
Meus olhos percorreram a papelada. Mesmo que não
quisesse, já que preferia continuar trabalhando, eu não tive
nenhuma escolha quando ele me estendeu uma caneta.
— Isso é tudo, senhor? — perguntei assim que terminei de
assinar.
— Sim. Mas mantenha-se em alerta — disse ao rubricar a
documentação e me entregar a minha via. — Dispensado, capitão.
Ergui-me e, após prestar continência, deixei o escritório e fui
direto para o alojamento.
— Que cara de bosta é essa, homem? — Elijah, um atirador
de elite do esquadrão e a pessoa mais próxima a mim no grupo,
comentou assim que entrei.
— Caralho, você precisa parar de fazer isso — rosnei, olhando
para qualquer coisa que não fosse aquele merda exibicionista que
estava pelado.
— O quê?
— Ficar mostrando essa porra de bunda branca, seu filho da
puta. Ninguém quer ver isso!
— Porque preferem a minha pistola — soou convicto.
— Imbecil — praguejei.
Fui me sentar em uma cadeira para remover as botas
imundas, que teriam que ser limpas e lustradas, mesmo que eu
fosse afundá-las na lama logo depois.
— Faço sucesso… — Imaginei que ele tinha um sorriso jocoso
nos lábios, mas não olhei para ele. — Ninguém até hoje reclamou
do meu calibre.
— É o que você diz — provoquei-o.
Eu não fazia ideia se aquilo que ele se gabava era verdade.
Não tinha por hobby ficar olhando para paus alheios, nem mesmo
para fazer aquelas comparações idiotas.
— Fora que o meu está sempre em uso. Já o seu está tão
enferrujado que não me surpreenderia se falhasse na hora H.
— Desgraçado! — Senti meus dentes trincarem com raiva.
— Ihhh. Então é verdade!
— O meu funciona muito bem… Não que isso seja da sua
conta, Elijah.
— Só acredito vendo — falou em meio a uma risada.
Ignorei-o. Ele não valia a pena.
— E então? O que aconteceu? — falou em um tom sério e eu
arrisquei olhar para ele. — Dener me disse que viu você entrando
na sala do comandante.
— Contra-almirante Stevenson me deu férias.
— Remuneradas?
— Claro!
Não que dinheiro fosse um problema para mim. Tinha de sobra
para me aposentar quando quisesse fruto de meus investimentos,
fora as empresas que havia herdado do meu avô, que me rendiam
milhares de dólares ao ano.
Ele franziu o cenho.
— Porra! E você está achando ruim?
— Gosto do que faço — murmurei, dando de ombros.
— É mais idiota do que imaginei. — Revirou os olhos.
— Quero ver me chamar de idiota quando eu for pela milésima
vez te tirar das merdas que você apronta …
— Não sei do que está falando… — zombou. — Que eu saiba,
foi a minha precisão que salvou você várias vezes.
— Vá se foder! — Bufei.
— Você tem sorte, cara. Será que essa merda vai se estender
para mim também?
— Não faço a mínima ideia.
— Bem que estou precisando.
— É…
— E então?
— Então o quê?
— Quais são os seus planos? Surfar?
Fiz uma careta. Como vim para cá transferido da base da
costa oeste, na Virgínia, Elijah achava eu era um surfista fanfarrão,
como todos os outros navies que vieram de lá. Eu curtia pegar umas
ondas, gostava da adrenalina de vencer o mar a cada vez que ele
não me derrubava da prancha, mas não podia dizer que era um
aficionado. Bem... talvez eu fosse.
— É… e talvez ver uns jogos dos Cavaliers...— falei, coçando
o meu queixo. — Faz tempo que não acompanho a liga nacional de
beisebol.
— Agora tenho certeza que você é um idiota. — Suspirou de
forma cômica. — Porra! Se fosse eu, a primeira coisa que faria
quando saísse de férias seria arrumar uma gostosa e me afundar
nela.
— Você é um babaca, Elijah.
— Querer transar não me faz um babaca. — Fez uma
carranca.
— Mas usar as mulheres, sim.
— Elas sabem que é só sexo e que meu único amor é o meu
rifle de longo alcance. — Deu de ombros.
Balancei a cabeça em negativa. Embora Elijah fosse
reconhecido pela precisão dos seus tiros a longa distância, sendo
condecorado com a Cruz da Marinha por sua destreza, sua arma
não deveria ser a única coisa que ele amava nesse mundo.
— Não deveria ser assim — murmurei.
— Você não pode falar nada de mim, Brian. Pelo menos tenho
um pouco de vida além do que fazemos aqui. Eu curto as mulheres,
já você…
— É… — Dei um sorriso amarelo, esfregando a minha nuca.
— Eu tenho alguma chance de conhecer uma garota que me
amarre para sempre, que eu ame mais do que uma M82[3].… — O
tom dele foi melancólico.
— Não sabia que queria isso para si. — Poderia zombar dele,
dizendo que isso era demais para um cara cafajeste como ele, mas
não consegui.
— Completei trinta anos, cara. A vida é curta...
— É… — Não quis nem pensar que eu estava a quatro anos
de chegar aos quarenta.
— Estranho você não ter ninguém, homem. Daria um
superpaizão.
Uma sensação de vazio me invadiu e me senti extremamente
velho se comparado ao militar à minha frente.
Sempre quis ter uma família, ter filhos, mas isso sempre ficou
em segundo plano. Não sabia dizer o porquê, já que mesmo sem ter
a certeza de que voltariam para casa, muitos de meus colegas
tinham esposas e crianças, tinham alguém para quem retornar.
Além de me sentir vazio, me senti o imbecil que meu amigo
acusou-me de ser.
— Talvez eu tenha gastado tempo demais vendo beisebol e
surfando — falei em um tom baixo.
— Eu tenho certeza disso…
— Que se foda! — falei e me ergui, tentando sair daquele
estado melancólico. — Preciso de um maldito banho e comer
alguma coisa, estou morrendo de fome!
— Está fugindo, caralho… Tem certeza que faz parte dos Six?
— zombou.
Rosnando, lhe dei as costas e fui pegar roupas limpas.
— Ou está com medo da sua pistola falhar? — falou em meio
à gargalhada.
— Vai se foder!
Balançando a cabeça em negativa, fui tomar uma chuveirada
ainda com a risada de escárnio dele ecoando em meus ouvidos.
Tinha certeza que o filho da puta iria estender aquela gozação
para os outros colegas. Aquele desgraçado ia me pagar!
É... Talvez tirar umas férias não seria algo tão ruim assim.
Ficar sem ouvir a voz desse merda por uns dias seria um paraíso.
O caralho que eu era brocha! Eu não precisava provar nada
para esse babaca e nem para ninguém.
Emendando missão atrás de missão e permanecendo na base
enquanto esperava uma nova convocação, fazia tempo que não
saía com ninguém e não pensava muito no assunto.
Entrei no chuveiro e abri a água fria, tentando afastar aqueles
pensamentos e também o vazio de ainda não ter constituído a
minha família, mas a sensação não passou.
Deslizei o sabonete pelo meu corpo, removendo todo o suor,
mas os pensamentos não mudaram o rumo. Talvez eu devesse
cuidar mais daquele aspecto da minha vida, mas a perspectiva de
ter que frequentar bares e baladas, ou até mesmo marcar encontros
em aplicativos, não me agradava. Muito menos me animava
conhecer gente imatura que não entendia que muitas coisas não
podiam ser explicadas. Por questão de segurança, não podíamos
nos comunicar ou fornecer nossa localização para ninguém. Já tive
ex que me encheu a porra do saco por causa disso e acabei
terminando. Não a culpava. Deveria ser uma merda não ter notícias
e ficar preocupada sem saber se a pessoa com quem você está se
relacionando estava bem, se estava viva.
Suspirei.
Só um milagre para mudar minha vida amorosa e sexual
desastrosa.
Capítulo dois

— Já separou todos os brinquedos que você irá doar? —


perguntei para o meu filho ao ouvir seus passos se aproximando,
mas sem desviar a atenção do vaso que eu embrulhava com
plástico bolha.
— Sim, mamãe. Separei bonecos, carrinhos, pelúcias, várias
coisas… — falou com sua vozinha rouca e eu sorri com a
generosidade do meu garotinho. — Até mesmo o videogame.
Interrompi o que eu estava fazendo para encará-lo,
completamente tomada pela surpresa.
— Seu videogame?
O menininho de cabelos tão escuros quanto os meus e de
olhos azuis iguais aos de Donald assentiu com veemência.
— Por quê? — Franzi o cenho. — Você gosta tanto de brincar
com ele.
— O papai disse que vai me dar um novo se eu ficar com ele…
— O que você disse? — Minha voz soou áspera. Por um
momento, o ar pareceu faltar nos meus pulmões.
— Que ele vai me dar um jogo novo.
— Não isso, meu bem. Seu pai disse que vai te dar um
videogame de presente se você for morar com ele?
— Ahãm.
A tranquilidade que havia dentro de mim transformou-se em
fúria, mas fiz de tudo para não deixar transparecer para Tyler. Por
mais que Donald fosse ausente — a separação não mudou em nada
a situação, pelo contrário, ele raramente o via, só mandava algumas
mensagens no celular do nosso filho —, nunca colocaria o menino
contra ele, mesmo que, pelo que parecia, meu ex-marido não
hesitaria em manipular nosso filho.
Canalha desgraçado.
Comprar o nosso filho? Era ir muito mais longe do que
imaginei.
Donald havia feito da minha vida um inferno quando nos
separamos, começando com ameaças e depois realmente entrando
na justiça pedindo a guarda unilateral de Tyler. No entanto, na
sentença final, o juiz me concedeu a guarda, me dando inclusive
permissão para que pudesse me mudar para New Hampshire, o que
meu ex não esperava. Ele fez um verdadeiro escândalo, o que me
gerou muita dor de cabeça.
Meus pais, que também eram pouco presentes na vida do meu
filho, não ajudaram em nada, e encheram os ouvidos do pequeno,
dizendo que ele iria perder os amiguinhos da escola e do time de
baseball, tornando mais complicada a tarefa de fazer com que ele
aceitasse a mudança de estado.
Sustentar a minha decisão foi difícil em meio a tanta pressão,
mas me mantive firme, embora estivesse me sentindo bastante
solitária. Nenhuma das minhas conhecidas, que pensei que eram
minhas amigas, me apoiou.
Eu precisava de um recomeço depois de tanto tempo presa em
um casamento sem amor, amizade ou afeto, e morar na casa de
praia em Rye, que herdei da minha avó, local onde ela encontrou
um novo amor, compartilhando ali a paixão que sentiam um pelo
outro, parecia a oportunidade perfeita.
Não que eu achasse que fosse ter a mesma sorte que minha
querida vovó. Na verdade, depois do desastre que foi o meu
casamento, queria passar longe de qualquer homem, minhas
esperanças de um final feliz e romântico tinham evaporado. Mesmo
assim, a pequena cidade costeira parecia perfeita para mim e para
Tyler.
— Ele não pode fazer isso, querido, você não pode morar com
o papai — falei depois de respirar fundo ao ver que ele continuava a
me encarar, expectante. Eu já havia me perdido demais em meus
pensamentos.
— Por que não?
Terminei de colocar o vaso embrulhado na caixa, então me
ergui e me aproximei dele. Nossos olhares se encontraram quando
me abaixei, colocando o meu peso sobre os
calcanhares.

— O juiz decidiu que você deve morar com a mamãe, meu


bem, mas o papai pode te visitar quando bem entender, quantas
vezes quiser — expliquei mais uma vez.
— Ele disse que a gente vai morar longe demais — falou em
um fiozinho de voz.
A carinha desanimada fez meu coração se afundar no peito.
Toquei o rosto dele, acariciando a bochecha saliente.
— Isso se ele for de carro, mas de avião, é um pouco mais de
uma hora, Tyler — comentei, embora duvidasse que Donald fosse
fazer aquele esforço para visitar o filho.
Se quinze minutos de distância de onde meu ex estava se
hospedando até aqui era muito para ele, ir ao aeroporto e pegar um
voo seria muito mais infernal.
— Entendi.
— Fora que iremos morar de frente para a praia, lembra? Você
poderá fazer vários castelos, pegar conchinhas… — falei em tom de
brincadeira, recordando do que ele gostava de fazer quando era
pequenininho.
Com três anos de idade, não havia nada que o meu menininho
gostasse mais do que brincar na areia e tentar fazer construções.
Havia guardado aqueles momentos em inúmeras fotos e vídeos,
bem como as conchas que ele tinha me dado.
Uma onda de melancolia me invadiu. O tempo passava muito
rápido e parecia que tinha sido ontem que eu o tinha pegado no colo
pela primeira vez e…
— Argh! — Tyler fez um barulhinho irritado, me tirando do
transe outra vez. — Não gosto mais disso.
— Não?
Fez um gesto em negativa com a cabeça.
— Mas vou poder surfar? — perguntou à queima-roupa, os
olhos azuis parecendo esperançosos.
Franzi o cenho.
— Surfar?
— É.
— Mas você não sabe surfar, querido.
— Quero aprender.
— Hm…
— É super-radical… — Deu um grito animado.
Se eu ainda tivesse alguma dúvida de que o tempo passava
rápido, a fala de Tyler me dava ainda mais certeza. Ele não era mais
o meu bebezinho, mas um meninão que adorava esportes, e quanto
mais perigoso, melhor.
— Vou ficar de cabelos brancos mais cedo do que imaginei. —
Revirei os olhos ao mesmo tempo que suspirava.
— Isso é um sim?
— Se encontrarmos uma escola de surfe, por que não?
Sorri quando o meu filho abriu o sorriso mais lindo do mundo
para mim e seus braços longos para a idade envolveram o meu
pescoço em um abraço.
Respirei fundo, inalando o cheirinho de Tyler.
Caramba! Eu o amava demais, e o amei ainda mais quando
ele deixou um beijo estalado na minha bochecha.
— O papai vai deixar? — perguntou ao dar um grande passo
para trás, parecendo inseguro.
— Irei conversar com ele, meu amor.
Ele também iria ouvir poucas e boas sobre a tentativa idiota de
fazer Tyler ficar com ele. A dor de cabeça viria na certa com a
milésima discussão que teríamos.
— Tá bom, mamãe.
Beijou-me novamente, dando uma risadinha.
— Sobre o videogame... Você não se diverte com o que você
já tem?
— Uhum. — Balançou a cabeça para enfatizar sua interjeição.
— Então por que não esperamos que ele fique um pouco mais
antigo? Faz nem seis meses que ganhou esse.
— Tá.
Sorri ainda mais para ele. Apesar de ter os seus momentos de
birra como qualquer criança, Tyler era bastante compreensivo.
Felizmente, Donald não conseguiu estragá-lo completamente,
tornando-o um mimado que não aceita um não.
— Tô com fome, mamãe.
— Por que não toma um banho enquanto eu peço uma pizza
para nós?
— Com refrigerante de cola?
— Sim! — Ergui-me.
— Eeeee! — Animado, saiu correndo em direção às escadas.
Ficando sozinha, emiti um suspiro longo e profundo, sentindo-
me subitamente cansada. Ainda tinha várias coisas para fazer, como
terminar de embalar os objetos decorativos, guardar minhas roupas
nas caixas, ver o que mais teria que ser feito por mim para a
mudança e também finalizar o esboço de um desenho para enviar
para aprovação de uma autora. Sabia que não deveria adiar, mas
deixaria para ligar para o meu ex amanhã.
— Vamos começar com a pizza — falei para mim mesma.
Puxando o celular do bolso da calça, sentei-me esparramada
no sofá e abri o aplicativo da pizzaria. Mal havia feito o pedido
quando o número da minha mãe apareceu na tela. Hesitei, ficando
em dúvida se deveria atender ou não, ciente que aquela ligação
poderia acabar ainda mais com o meu dia, mas sabia que ela
insistiria até que eu atendesse.
Suspirei e deslizei o meu dedo pela tela, antes que me
arrependesse.
— Olá, mãe.
— Pensei que não iria me atender, garota — foi ríspida.
— Meu celular estava longe — menti.
— Sei. — Mostrou descrença e foi impossível não imaginar os
lábios pintados de vermelho se curvando para cima em desdém.
— Está tudo bem com você e papai?
— Você sabe que não… Você está levando o meu único neto
para longe! — acusou-me.
Suspirei novamente, pensando por que eu não havia
simplesmente desligado o aparelho celular ou o colocado no
silencioso. Deveria ter esperado isso dela, que Judith me ligaria
apenas para me criticar, o que não era uma novidade. Para ela, eu
estava sempre errada. Na opinião de minha mãe, Donald era um
santo, afinal, ele era um cara ligado a política reconhecido por ser
um homem de família.
— Já não bastava você ter se divorciado, me envergonhando
diante da nossa família sendo a única mulher a se separar, e ainda
tentando destruir a imagem de Donald com os falatórios do divórcio,
mas agora você…
— Chega, mãe! Sabemos que essa conversa não nos levará a
lugar algum. — Fui ríspida, mas estava cansada de ouvir a mesma
queixa.
— Alguém tem que tentar colocar um pingo de juízo nessa
merda de cabeça! — A voz dela aumentou vários tons — Eu falarei
até que você faça o que é certo.
— Não mudarei de ideia, mamãe. — Passei a mão na
têmpora. — Não há nada que você possa fazer a respeito.
— Você não pode…
— Eu posso!
Minha mãe bufou e eu pude imaginá-la revirando os olhos, os
cílios postiços deixando a sua aparência mais cômica, algo que nem
toda a plástica do mundo ajudou a melhorar.
— Tenho certeza que Tyler adorará a casa nova — falei para
provocá-la.
— Menina tola! — disse entredentes. — Não sabe o quanto
torci para você perder a guarda do meu neto.
As palavras dela foram como receber um tapa na cara, doendo
mais na alma do que seria fisicamente. Ela não tinha comparecido
às audiências no tribunal, achando a ideia absurda e escandalosa
demais, principalmente pela pequena cobertura que teve da
imprensa, mas, apesar das críticas às minhas decisões, ela nunca
tinha falado em voz alta que desejava que eu ficasse sem o Tyler.
Isso doeu... doeu demais, tanto que não consegui pronunciar uma
palavra sequer. Poxa! Eu era do sangue dela e sabia que eu fazia
de tudo para ser uma boa mãe para o meu filho. É, deveria ter
imaginado que ela preferia o genro perfeito dela a mim.
— Não sei como o juiz permitiu que ele ficasse com uma
imprudente como você… — Estalou a língua, reprovando-me.
— Por quê, ao contrário de você, ele sabe o que é melhor para
Tyler.
— Malcriada…
— Tão malcriada que darei porcaria para o seu neto comer
hoje. — Fui irônica e, sem deixar que ela retrucasse, desliguei na
cara dela. Ela odiava que eu desse fast-food para Tyler, mesmo que
fosse só uma vez na semana.
Quando o toque do meu celular voltou a soar, apenas coloquei
no silencioso e tirei a vibração. Joguei o aparelho em cima da mesa
e apoiei a minha testa nas duas mãos.
Soltei o ar com força.
— Que inferno! — sussurrei, sentindo minha têmpora pulsar.
Pela milésima vez nos últimos oito meses, me perguntei como
suportei viver tanto tempo assim, aguentando tudo. Pior, como eu
poderia ter sido capaz de sujeitar Tyler a presenciar isso? No futuro,
que consequências uma convivência com essas pessoas traria para
o menino, mesmo que eles não fossem tão presentes em sua
rotina? Ele se tornaria um playboy arrogante? Ele seria cínico como
pai dele e eu somos? Não sabia dizer, mas me senti a mais horrível
das mães, sentimento que acabei mascarando com um sorriso ao
ouvir meu menino descendo as escadas, cantarolando uma música
de um dos animes que assistia. Afinal, eu era mestre em disfarces.
Capítulo três

— Uau! — Tyler gritou assim que estacionei a van luxuosa em


frente à casa.
A tintura branca descascando dava não apenas um ar
pitoresco, mas também uma pitada de charme romântico. Talvez
fosse a recordação da minha avó contando de como ela e Bob
haviam se divertido em uma tarde ao pintar a fachada que tenha
despertado essa impressão.
Suspirei, nostálgica. Por um momento, pensei ter ouvido a voz
dela, bem como a risada de deleite.
— Ela é enorme! — Tyler continuou a mostrar seu deslumbre.
Pelo retrovisor, vi o menino remover o cinto de segurança,
parecendo empolgado.
— É menor que a nossa antiga casa, filho.
— Mesmo?
— Sim.
— Ah! — fez uma careta, para depois voltar a demonstrar
empolgação —, mas ela parece legal!
— Que bom que acha isso, querido.
Removi meu próprio cinto, não contendo um sorriso quando
Tyler abriu a porta do veículo e saiu correndo em direção a casa.
Também deixei o carro e fui resgatar o pobre Luke, esquecido
na sua caixinha de transporte. Depois das discussões exaustivas
dos últimos dias com o pai dele e mais explicações que tive que dar
a Tyler, me deixava trêmula de alívio e também um pouco
esperançosa ver a animação do meu filho com a nova casa.
Vendo que o animal estava bem, segurei a alça da caixa e a
ergui.
— Olha, mamãe! — Tyler gritou.
Alerta, procurei por ele e vi que estava próximo a uma tabela
de basquete que ficava entre a minha casa e a do vizinho. Ele
estava tentando alcançá-la com pulos, lançando uma bola
imaginária.
— Mãe?
— Estou vendo, querido — respondi, caminhando até ele.
— Eu preciso de uma bola. — Fez outro movimento, tirando os
pés do chão em um pulo alto.
— Antes, você precisa cuidar dele, mocinho. — Apontei para a
gaiola que eu segurava.
— Tá.
Pegou a caixinha da minha mão e saiu correndo em direção a
entrada da casa, o que era uma ação inútil já que a porta estava
trancada.
Fazendo um gesto com a cabeça em negativa, segui o menino
empolgado. Assim que abri a porta para ele, saiu em disparada
carregando Luke, em busca do quarto dele. Fiquei escorada no
batente, sendo inundada pelas recordações, ainda que as caixas
deixadas pela equipe de mudança estivessem espalhadas entre os
móveis que já estavam ali, que eram da minha avó. Por mais que
fossem antigos e estivessem um pouco desgastados, eu não
consegui me desfazer deles. Queria ter levado alguns para a casa
que morava em Jersey, mas Donald não deixou colocar móveis
“velhos e antiquados”, que deveriam ter sido jogados em uma pira
para serem queimados há muito tempo, na nossa casa moderna e
“perfeita” decorada por designers de interiores.
Dei alguns passos em direção a uma poltrona estampada com
florezinhas e deixei que as pontas dos meus dedos percorressem o
tecido áspero. Várias emoções tomaram o meu corpo, desde a dor
pela ausência de vovó, que com certeza teria me apoiado naquele
momento, já que ela havia me dito várias vezes para eu deixar
Donald, mas nunca a escutei, até uma sensação que há muito não
sentia: tranquilidade.
Inspirei fundo, deixando o cheiro da maresia infiltrar nas
minhas narinas.
— Lar... — A palavra escapou dos meus lábios e eu sorri.
Era indescritível a sensação de finalmente ter não apenas uma
casa, mas um lugar para chamar de meu, um lugar onde iria viver
em paz.
— Mamãe?
— Oi, querido. — Saí do transe, me virando na direção dele.
O sorriso que ele ainda tinha nos lábios aquecia a minha alma.
— Eu não vou conseguir colocar Luke dentro do terrário sem
machucar ele.
— Oh!
Presa na nostalgia, havia me esquecido completamente disso,
como também das inúmeras tarefas que eu tinha pela frente,
embora a equipe de mudança tenha facilitado minha vida ao montar
todos os móveis que tinha trazido. Eu tinha que guardar as roupas e
os utensílios que estavam encaixotados, além de decorar todo o
ambiente.
— Vamos lá! — falei, animada.
Com ele correndo na frente outra vez, o segui.
Levou uma boa meia hora para deixar o camaleão confortável
e regularizar a temperatura e umidade do seu hábitat. O fato de
Luke se aproximar de uma minhoca para comê-la era um bom sinal,
já que ele poderia ficar sem querer se alimentar por causa da
mudança, mas ficaria de olho no animalzinho, como a veterinária
solicitou.
— Me ajuda a pegar algumas coisas no carro antes da gente
arrumar o seu armário?
— Tá! — Tyler demonstrou empolgação com uma tarefa que
seria cansativa, apesar de não ser tanta coisa assim para pegar.
Gargalhei. Crianças! Queria ter esse tanto de energia que elas
tinham, pois precisaria e muito disso.
— Posso pegar essa, mamãe? — Apontou para uma caixa
grande no porta-malas da van.
Franzi o cenho.
— Essa é pesada, filho. Lembra que foi o moço da
transportadora que colocou aí?
— Eu sou forte! — Deu um grito que era uma mistura de
animação e indignação, colocando as mãos nos quadris.
Dei uma risada, pegando uma menorzinha.
— Tenho certeza que sim, querido. Você é o homenzinho mais
forte que eu já conheci, mas por enquanto me ajude com essa. —
Estendi a caixa para ele
— Ah!
Pareceu amuado, mas a empolgação logo retornou quando
pegou o papelão das minhas mãos.
— Onde coloco?
— Deixa na cozinha.
— Tá! — Correu.
Antes que o menino voltasse e teimasse a respeito de sua
força, peguei a caixa gigante, encontrando certa dificuldade em
levantá-la.
— Merda!
Pela segunda vez, me senti uma idiota por ter enchido uma
caixa com tanta coisa que não conseguia sequer levantá-la.
— Nada que desfazê-la aqui mesmo não resolva o problema
— murmurei. — Pare de se agredir verbalmente, já basta o mundo
inteiro contra você.
— Precisa de ajuda, senhora? — Uma voz grave soou próxima
e, sem nenhuma explicação, senti meu coração bater mais forte.
Atordoada com a sensação estranha, virei-me abruptamente e
deparei-me com um homem tão alto que tive que inclinar um pouco
a minha cabeça para trás para poder fitar o rosto dele. Com cabelos
escuros, barba cheia e olhos azuis, ele era extremamente lindo.
Nem mesmo a pele muito queimada pelo sol e as linhas de
expressão em sua testa e no canto dos olhos o deixavam menos
atraente.
Ser chamada de senhora por ele me fez sentir
momentaneamente uma velha, mesmo que eu tivesse apenas trinta
e dois anos e que provavelmente ele fosse mais velho que eu.
Minha pulsação disparou ainda mais quando,
inconscientemente, meu olhar baixou do rosto para os ombros
largos e bem definidos, passando pelo peitoral firme desnudo, mal
prestando atenção na dog tag que tinha pendurada no pescoço, até
alcançar o abdômen trincado cheio de gominhos.
Não contive um som baixinho, o que foi constrangedor.
O homem era pura força e masculinidade, parecendo ter sido
moldado em aço.
Até mesmo as gotinhas de suor que deslizavam pela pele dele
deixavam-no ainda mais vigoroso e…
Gostosão! Uma vozinha malévola ecoou na minha cabeça e
isso fez com que eu acordasse.
Não tinha sido eu quem havia dito que não queria mais
nenhum homem em minha vida? Então o que eu estava fazendo
admirando o corpo daquele desconhecido, como se nunca tivesse
visto um cara bonito antes? Por que eu sentia o meu corpo formigar
e a respiração querendo começar a falhar?
Mascarando a sensação, encarei o rosto dele, que estava
muito mais controlado que eu, mas não tanto quanto imaginei, já
que ele também percorria cada centímetro do meu corpo com o
olhar, detendo-se nos meus seios e quadris.
— Mãe? — Tyler falou ao se aproximar de onde estávamos.
Eu olhei para o menino com um ar culpado, como se tivesse sido
pega no flagra.
— Olá, amigão — o desconhecido disse calmamente. Eu fitei o
homem com o canto do olho e notei que tinha um enorme sorriso no
rosto direcionado para o meu filho.
— Oi — o garotinho respondeu. Como ele não tinha nada de
tímido, continuou: — Quem é você e por que você estava olhando
para a minha mãe?
— Tyler! — Dei um gritinho abafado, constrangida com a
pergunta. Passando a mão na minha calça, encarei o desconhecido.
— Desculpe o meu filho por isso…
— Sem problemas, crianças costumam fazer esse tipo de
pergunta, senhora — falou em um tom de diversão.
— Sanders, mas pode me chamar de Ionara — falei à queima-
roupa quando a palavra senhora voltou a me incomodar, mesmo
que não fizesse sentido, mas me arrependi de ser tão informal com
alguém que acabei de conhecer.
— Eu sou Tyler. — O menino estendeu a mão para o estranho
que a pegou com firmeza, mas sem o machucar, é claro.
— Broussard, mas pode me chamar de Brian — apresentou-
se, olhando diretamente para mim enquanto abria um sorriso lento
que arrepiou os pelos da minha nuca antes de voltar a dar atenção
ao meu filho. — Se você for o novo morador da casa da frente, creio
que seremos vizinhos.
— Sério? — Tyler pareceu contente.
— Sim, amigão.
— Legal.
Brian riu da empolgação dele.
— Bastante, não?
— É. — Tyler virou-se para mim e perguntou: — Agora você
pode me dar aquela caixa, mamãe?
Fiz que não.
— Está muito pesada, meu amor.
— Já disse que sou forte! — Choramingou, ficando cabisbaixo,
mas não retrucou.
— Por que não me deixam cuidar disso? Estou acostumado a
carregar peso — Brian interveio.
— Sério? — Meu filho se entusiasmou.
— Uhum, um tronco de árvore, por exemplo. — Ele adiantou-
se para pegar a caixa.
— Uau! Mesmo? — Tyler pareceu impressionado e eu arqueei
a sobrancelha.
— Sim. — O homem começou a andar e o meu filho o seguiu
de perto, indo saltitando atrás dele.
Eu tentei não olhar para a bunda de Brian, emoldurada pelo
shorts, mas falhei.
Aquela minha falta de controle só me deu a certeza de que eu
estava louca. Ou, infelizmente, carente demais.
Segui os dois, tentando não dar importância para a minha
carência de momento. Por mais gentil que Brian fosse, não deixaria
o meu filho a sós um minuto sequer com um desconhecido. O mal
muitas vezes vinha sob forma de pessoas adoráveis com sorrisos e
palavras doces.
— Era bem grande e pesado.
— E você carregou o tronco sozinho? — meu menino gritou.
— Queria dizer que sim, amigão, mas não creio que sou tão
forte assim.
— Ah! — Tyler pareceu decepcionado. — Mas será que eu
consigo?
— Só se você comer muito espinafre — brincou. — Onde eu
coloco isso, Ionara?
— Pode colocar naquele balcão. — Apontei para o móvel
antigo. —Obrigada.
— Não por isso.
— Mas por que eu tenho que comer espinafre? — Tyler
parecia confuso.
— Não conhece Popeye? — Brian se virou para ele, surpreso,
depois de colocar a caixa no lugar indicado.
— Não. — O menino chacoalhou a cabeça.
— É um desenho de um marinheiro americano. Acho que não
é da sua época — o homem comentou e se dirigiu para fora da
casa, fazendo meu filho segui-lo.
Me sentia uma barata tonta caminhando atrás deles.
— Ah! — Meu menino fez uma pausa, mas logo perguntou
quando paramos na traseira do veículo: — Não entendi por que
tenho que comer espinafre.
— Popeye come espinafre para ficar mais forte e derrotar o
inimigo que quer roubar a garota dele. Ele a salva e fica com ela no
fim, coisas que todo bom marinheiro deve fazer, é claro. — Abriu um
sorriso.
Piscou para ele e deu uma gargalhada, fazendo o menino dar
uma risadinha.
— Todo marinheiro faz isso? Digo, salvar a garota e ficar com
ela no fim?
Relanceou aqueles olhos azuis sobre mim, analisando-me, e
eu me arrependi de ter feito aquela pergunta.
Não entendi por que eu o provoquei desse jeito, afinal nem
sabia se ele era um marinheiro.
— Um esperto, sim — falou lentamente sem deixar de me
encarar, o que fez minha garganta secar.
— Entendi.
— Eu posso comer espinafre, mamãe? — Tyler perguntou e eu
desviei o meu olhar para ele. — Quero ficar ainda mais forte!
— Claro, meu amor, mas não vai deixar nada no prato quando
eu colocar, combinado?
— Tá bom!
Virei-me de volta para a van para pegar uma caixa,
encontrando Brian segurando uma pilha delas.
— Pode me dar, essas estão mais leves. Não quero mais
tomar o seu tempo, Brian…
— Estou com muito tempo de sobra, Ionara… — Novamente
aquele sorriso conquistador. — E será um prazer ajudar os meus
novos vizinhos.
Piscou para mim, o que me deixou atordoada e outra vez fez
com que meu coração acelerasse, como se eu fosse uma
adolescente.
— Me dá uma caixa também, mãe — Tyler pediu.
— Okay! — Ralhei comigo em pensamento por estar focando
em coisas sem importância e dei uma caixinha para o meu filho, que
continuou a tagarelar com Brian sobre o tal desenho.
Não precisei fazer nada, principalmente quando o homem
inventou uma “brincadeira” cavalheiresca, mesmo sob meus
protestos.
Surpreendeu-me a paciência que o meu vizinho tinha com
Tyler. Vi Brian por diversas vezes sorrir com os comentários do meu
filho.
— Isso é tudo — falei, quando ele deixou a última caixa na
sala.
— Precisa de mais alguma coisa, vizinha? — Pareceu
expectante.
— Acho que eu consigo conduzir daqui, obrigada. — Coloquei
as mãos no bolso da calça jeans.
Ele assentiu, e então o levei até a porta.
— Agradeço a sua ajuda, Brian.
— Sempre estou disponível para garotas que precisam de
ajuda — brincou.
Abri um sorriso.
— Eu deveria te convidar para almoçar como forma de
agradecimento, mas, como pode ver, estamos em meio a uma
verdadeira bagunça.
— Seria superlegal! — Tyler deu um grito animado. — Você
poderia conhecer Luke também.
— Luke? — O sorriso dele pareceu morrer um pouco.
— Uhum. — Meu filho enfatizou com gestos. — Ele também é
muito legal.
— Posso imaginar. — Deu um sorriso fraco. — Até mais tarde,
então?
— Até. — Tyler deu um gritinho.
Com um último aceno, Brian deu as costas para nós e
começou a cruzar a pequena distância entre nossas casas.
— Ele é legal, né, mãe? — meu filho falou alto. Provavelmente
deu até para Brian escutar.
— Sim — sussurrei, sem desviar o olhar do homem alto.
Suspirei, assustada com o magnetismo forte que ele parecia
exercer sobre mim, mesmo o tendo visto apenas uma vez.
— Vamos arrumar suas coisas, Tyler? — falei, virando-me para
o meu filho quando Brian entrou na casa dele.
Estava sendo uma idiota mais uma vez.
Capítulo quatro

Concentrando-me somente na minha mente, ignorando o ar


que parecia queimar os meus pulmões a cada inalar, os músculos
doloridos pelo esforço físico, continuei a dar braçadas, vencendo as
ondas furiosas que ameaçavam me engolir, até que eu fiz a volta,
retornando para a praia com movimentos rápidos e precisos. Por
mais que estivesse de férias forçadas, eu sentia certo prazer em
levar o meu corpo ao extremo. Era uma espécie de masoquismo
aprendido na Marinha, e exigir o máximo dele na água me dava a
sensação de invencibilidade.
Chacoalhei minha cabeça, espalhando gotinhas por todo o
caminho, deleitando-me com a sensação de ter os grãos de areia
grudando em minha pele a cada passo que dava. Escolhendo um
lugar a esmo próximo da minha casa, coloquei-me na posição das
flexões e comecei a contar os quarenta e dois subir e descer,
parando apenas dois minutos para retornar a repetir a sequência.
— Oi! — Uma vozinha me cumprimentou, tirando a minha
concentração.
Sem parar de fazer as flexões, ergui o meu rosto para encarar
o menino que não era tão franzino assim para a idade.
— Olá, amigão. — Abri um sorriso para ele, descendo meu
peitoral, mas sem encostar na areia. — Como vai?
— Bem.
— Gostando da sua nova casa? — puxei assunto, minha voz
soando falha.
Não sabia explicar, mas, mesmo tendo visto o garoto uma
única vez há quatro dias, eu gostei bastante dele. Ele era
inteligente, falante e curioso, tudo que uma criança deveria ser. E
por Tyler ter me chamado de legal fez com que eu gostasse ainda
mais dele, me fazendo sentir um pouco vaidoso, mesmo que não
devesse.
— Sim… Sabia que tem um sótão?
— Mesmo? — Subi, apenas para logo voltar a descer.
— Uhum, tem várias coisas lá — falou animadamente.
— Coisas bacanas?
Fez que não.
— Só coisa velha.— Fez uma pausa. — Eram da vovó, mas
minha mamãe gosta delas.
— Pelo valor sentimental, creio — falei.
Subi e desci com mais velocidade, punindo-me por sentir uma
centelha de desejo pela mulher, que poderia muito bem se tornar
uma fogueira. A dor, felizmente, fez o efeito almejado.
— Algo assim. — Deu de ombros. — Como você faz isso?
— Isso o quê? — Franzi o cenho, mas continuando a me
movimentar. Logo caiu a minha ficha. — As flexões?
— Uhum. — Balançou a cabeça.
— Disciplina e também prática. — Parei, me sentando na areia
para conversar melhor com ele. — No início era difícil, mas a gente
acaba se acostumando.
— Mesmo?
— Sim. — Sorri. — Não sabe quantas vezes eu tive que fazer
as flexões.
— Por quê?
Encarando o oceano, pensei por um minuto naquilo que eu
poderia dizer sobre a minha profissão, decidindo falar o que era
bastante conhecido. Tyler sem dúvida faria muitas perguntas que
não poderia responder.
— Faz parte do treinamento militar, Tyler.
— Você é militar? — Para minha surpresa, se sentou ao meu
lado. Com o canto do olho, vi que ele me imitava.
A sensação de camaradagem me preencheu e eu me senti
extremamente bem. Meus instintos me diziam que mesmo que eu
desejasse a ação e a adrenalina de uma missão, estar ali era certo,
mais do que um dia poderia imaginar.
— Falei para sua mãe que eu sou da Marinha — obriguei-me a
dizer, minha voz saindo embargada.
— Um marinheiro de verdade? — Pareceu admirado e eu sorri,
não por vaidade, mas, de alguma forma, feliz por ele dar valor a
minha profissão.
Quis muito contar a Tyler que eu era capitão e integrava um
grupo de elite ligado ao Comando Naval, que eu era do Team Six,
mas não podia. Mesmo que alguns caras falassem abertamente
sobre o que faziam, virando verdadeiros coaches motivacionais, isso
iria contra a minha ética e meu juramento.
— Sim.
— Você já comandou um navio?
Dei uma risada com a imaginação do garoto.
— Não, não cheguei a tanto, Tyler.
— Ah! — Pareceu decepcionado.
— Isso requer muito estudo, e confesso que eu fui para outra
área. — Tentei me justificar.
— Entendi. — Fez silêncio por alguns minutos. — E
submarino?
— Já estive dentro de um algumas vezes, mas também não
dirigi.
— É legal? — Deu um gritinho.
— Queria dizer que sim, mas, para mim, é muito
claustrofóbico. — Ri quando ele fez um barulhinho de decepção.
— O que é isso?
— Um submarino é sufocante, muito apertado, e em nada
ajuda estar a vários metros abaixo do nível do mar… — Estremeci,
fazendo gracinha, e o menininho riu. Gargalhei também.
Olhei para Tyler, e como se sentisse que eu o encarava, ele
me fitou.
— Hm... Acho que não quero ser um marinheiro.
— Não? — Fiz muxoxo.
— Não gosto de lugares apertados.
— Muito menos eu — murmurei.
— Sabia que sou rebatedor?
— De beisebol?
— Ahã. Meu time foi campeão.
— Que legal, amigão! — Coloquei a mão no cabelo dele e o
baguncei, fazendo com que ele risse. — Pegou a bola do jogo?
— Sim! — Deu um grito cheio de animação. — Tive que correr
muito. O Jonathan arremessou forte demais.
— Meu super-herói! — falei animado, continuando a mexer nos
cabelos dele, fazendo com que tanto ele quanto eu
gargalhássemos.
— Mas papai não estava lá... — A alegria que havia no menino
se dissolveu e o rosto dele ficou pesado, tomado pela tristeza. —
Ele nunca foi assistir nenhum jogo.
Uma raiva potente contra esse tal Luke me tomou, mas,
felizmente, os anos como um navy me ensinaram a mascarar os
sentimentos.
Porra! Que tipo de pai perde algo tão importante para um filho,
não uma, mas todas as vezes?
Desgraçado!
— Ele tá sempre trabalhando — continuou naquele tom
derrotado que fez com que a minha fúria aumentasse, na mesma
proporção que o instinto de proteção.
— Sinto muito por isso, amigão — forcei-me a falar em um tom
neutro.
— Papai tinha prometido que iria no último jogo.
— Terão outros. — Não sei por que razão estava tentando
defender esse merda de pai.
— É. — Ainda pareceu cabisbaixo.
Traguei o nó que havia se formado na minha garganta.
— Não conta para a mamãe — sussurrou, os olhos claros
olhando nos meus. — Ela vai ficar triste se souber que estou
chateado.
— Sou bom em guardar segredos — falei, mas intuía que esse
segredo não era bem secreto. Uma mãe saberia, não saberia?
— Okay.
Voltou a olhar as ondas, que quebravam com mais força.
— Você gosta de beisebol?
— Apesar de não poder acompanhar muito, gosto dos
Cavaliers…
— Eca! — Fez uma careta e eu também fiz uma.
— Hey, amigão, respeito com o meu…
— Deus, você está aí! Te procurei em todos os lugares, Tyler!
— A voz feminina me interrompeu.
Os pelos da minha nuca se arrepiaram só de ouvi-la falar e
meu coração bateu sem nenhum controle. Automaticamente, girei o
meu corpo para encarar a mulher.
Não escutei nada que os dois conversaram, preso nos cabelos
ondulados, escuros e longos, que emolduravam o rosto delicado e
destacavam ainda mais os olhos acinzentados.
Porra! Ela era linda.
E aqueles lábios cheios, generosos, levemente rosados,
mesmo estando crispados, eram mil vezes mais lindos.
Caralho! O desejo que eu senti por aquela boca foi fulminante,
banhando minhas veias sem nenhum comedimento. Sem perceber,
meus olhos deslizaram sobre o corpo perfeito cheio de curvas,
percorrendo a cintura fina, os quadris largos, parando sobre os seios
grandes para um corpo delicado.
Gostosa.
Eu era um desgraçado por desejar enterrar o meu rosto
naqueles peitos e só sair de lá quando a fizesse se contorcer com
as minhas
carícias.
Me senti azedo...
Na minha primeira análise no dia que nos conhecemos, tinha
buscado pela aliança, e quando não a encontrei, flertei abertamente
com ela, o que deixaria Elijah orgulhoso de mim, principalmente
quando Ionara retribuiu, mas minha animação só durou até
descobrir a existência de Luke, o desgraçado omisso, marido ou
namorado dela e pai de um menininho incrível como Tyler.
Eu era um verdadeiro filho da puta por desejar uma mulher
casada.
Podia dizer que eu vivia do perigo, mas querer a minha vizinha
comprometida era idiotice, tanto que podia imaginar os caras
zombando da minha cara, falando que era melhor me colocar na
mira de uma bala do que mexer nessa merda, mas, porra, aquele
filho da puta não os merecia.
Contive uma risada áspera. Quem era eu para dizer alguma
coisa? Nem conhecia a mulher e o menino direito.
— Brian? — Senti uma mãozinha me empurrando e eu olhei
para Tyler, assustado.
Merda! Estava fazendo papel de bobo.
— Sim?
— Quer conhecer o Luke? — Olhou-me cheio de expectativa.
O não estava na ponta da minha língua, mas me contive. Não
havia nenhuma pessoa nesse mundo que eu detestaria mais ver do
que aquele filho da puta e apeguei-me a uma desculpa qualquer:
— Meu corpo está tomado pelo sal e suor, então não é uma
boa ideia.
— Ah! — Pareceu decepcionado, mas logo os olhos azuis dele
brilharam. — Você pode tomar um banho e depois ir lá ver ele.
Merda!
— Eu…
— Brian não quer, Tyler — a mulher falou em um tom suave,
sem recriminar-me. — Não é certo você pressioná-lo. Você gostaria
de fazer algo que não quer?
— Não, mamãe. Desculpa, Brian — O garoto pareceu ficar
bem cabisbaixo e tristonho, e eu não gostei de vê-lo assim.
— Não por isso, amigão. — Atrapalhei o cabelo dele de novo,
tentando animá-lo, mas quando não obtive nenhum sucesso, acabei
cedendo, mesmo que me desgostasse por demais a ideia de ver
aquele panaca. — Posso ir mais tarde, que tal?
Um sorriso mais radiante que o sol surgiu e eu acabei
retribuindo.
— Vai ser muito legal! — Ele deu um gritinho animado.
— Creio que sim — menti, odiando a sensação.
— Por que não almoça com a gente, Brian? — Ionara falou em
um tom suave e foi instantâneo eu me voltar para ela.
— Que demais! — Tyler gritou.
Controlei-me para não devorá-la com o olhar, mas falhei.
Porra! Eu estava prestes a conhecer o marido dela, namorado, ou
sei lá o quê, mas não conseguia me conter.
— Se você gostar de bolo de carne… — continuou quando eu
não disse nada.
— Vai ter bolo de carne, mamãe? — Tyler soou animado.
— Uhum! — A mulher abriu um sorriso que, caralho,
reverberou por todo o meu corpo.
Merda! Nem queria imaginar os lábios generosos curvados
para cima de forma maliciosa, convidando-me para algo mais. Não
duvidava de que isso me deixaria duro em uma fração de segundos.
Evitei dar vazão àqueles pensamentos impróprios que fariam com
que eu me comportasse como um escroto filho da puta.
— Luke não achará ruim? — Minha voz saiu rouca, traindo-me.
Ionara franziu o cenho e Tyler começou a gargalhar.
— Luke? — ela repetiu em meio a risada do menino, surpresa.
Fiz que sim.
Ionara tombou a cabeça para trás e começou a rir também.
Fiquei confuso.
— Acho que ele não será capaz de achar nada. — A voz dela
saiu estridente por continuar a gargalhar, fazendo o menino
praticamente rolar no chão de tanto rir.
— Não estou entendendo.
— Ele é um camaleão — Ionara explicou.
— Um camaleão? — perguntei, abobado, sem conseguir
acreditar, enquanto continuava a olhar para a mulher.
— Luke é superlegal! — Tyler falou, e eu desviei minha
atenção para ele.
— Posso imaginar que sim — respondi em meio a um sorriso.
— Sabia que ele tem um linguão? — O menino continuou.
Fiz que não com a cabeça.
— É muito maior que a minha — comentou animadamente,
mostrando a língua.
Gargalhamos de novo.
— Tenho certeza que sim — falei, ainda rindo.
Outra vez, encarei Ionara e nossos olhares se encontraram.
Os olhos acinzentados brilhavam, risonhos, e eu perdi todo o
meu fôlego.
Mil vezes caralho! Estava fodido.
Para onde havia ido toda a minha disciplina, todo o meu
controle e racionalidade? Ido à merda, com certeza.
— Vai almoçar com a gente? — Tyler pareceu esperançoso.
— Eu não quero incomodar. — Parecia o certo a se dizer,
mesmo que uma parte de mim quisesse aceitar o convite.
O fato de Luke ser um camaleão não significava que Ionara
era livre. Mesmo que fosse um almoço inocente, nem todo homem
aceitaria bem isso, ainda que o desgraçado fosse relapso até
mesmo para ajudar a mulher com a mudança. Merda! Não era nem
para me permitir conhecer Luke.
— Não será incômodo nenhum — falou suavemente. — É só
colocar um prato a mais na mesa.
— Vai ser divertido! — O menininho deu um gritinho.
Senti o olhar de ambos pousados sobre mim.
— Hm… Por que não? — falei, ciente de que lidaria com as
consequências depois.
— EEEEEEE!
Sorri para o garoto. Uma onda de satisfação por ele gostar
tanto de mim assim me assolou. Os dois mexeram muito comigo de
formas diferentes e instantâneas, de uma maneira inexplicável. Eu
não tinha medo desses sentimentos, ainda que devesse. Nossas
vidas não estavam ligadas pelo destino ou pelo acaso. Sempre seria
um desconhecido, um mero vizinho polido e nada mais.
— Então vamos para dentro, querido? — Ionara me trouxe de
volta a realidade ao vencer a tagarelice da criança com sua voz. —
Você tem que arrumar sua cama e seu quarto.
— Não posso ficar aqui fora um pouco mais?
— Não, suas tarefas em primeiro lugar, Tyler — foi firme.
— Ah, mamãe!
— Sem ah, mocinho!
— Mas isso é tão chato!
A mulher arqueou a sobrancelha para o menino.
— Obedeça a sua mãe, amigão — falei ao me erguer. —
Infelizmente não fazemos apenas o que queremos.
Ele fez um barulhinho de desagrado.
— Tá! — Se levantou e me olhou, inseguro. — Você vai
mesmo almoçar com a gente?
Senti um amargo na minha boca ao pensar em quantas vezes
o pai dele fez promessas, mas não as cumpriu.
— Um homem honrado nunca falta com a sua palavra, amigão
— falei impulsivamente, deixando a raiva que sentia por esse bosta
desconhecido me tomar, algo que não tinha direito.
Encarei Ionara, tentando confirmar que eu realmente tinha ido
longe demais, porém tudo o que vi foi dor. Era um sentimento tão
palpável que poderia senti-lo.
Percebi que havia ali uma culpa dilaceradora também, algo
que ela não conseguia disfarçar.
Odiei ainda mais o cara.
— Verdade? — Tyler perguntou em um tom baixo depois de
alguns instantes.
Assenti em concordância, engolindo o nó que se formou na
minha garganta, não confiando em mim mesmo para abrir a boca.
— A gente se vê daqui a pouco então? — ele insistiu.
— Não perderia jamais a oportunidade de conhecer Luke e
comer um bom bolo de carne. — Abri um sorriso, tentando animá-lo.
— Show! — Demonstrou empolgação.
— Vamos, Tyler? — A mulher falou.
— Tá!
— Até daqui a pouco, Brian.
— Até!
Pela primeira vez desde que chegou a praia, lançou um olhar
rápido pelo meu peitoral e abdômen, fazendo todas as minhas
terminações nervosas ficarem em estado de alerta. A excitação fluía
tão rapidamente que me deixou desnorteado.
Fazendo um gesto negativo com a cabeça, deu as costas para
mim e foi em direção a escadinha, chamando Tyler novamente, que
obedeceu sem mais questionar.
Emiti um suspiro longo e profundo, chacoalhando a cabeça,
desalentado.
Que merda eu estava fazendo?
Capítulo cinco

— Idiota! — falei, sentindo um friozinho na minha barriga e


baixo-ventre com a perspectiva de ver Brian, o que era realmente
ridículo.
Eu não era uma adolescente. Isso não era um encontro,
estava longe de ser um. Na verdade, se ele viesse, seria por Tyler e
somente pelo garotinho, que estava extremamente ansioso, mesmo
nosso vizinho tendo dado sua palavra que viria. Bem, promessas
não significavam muita coisa, não? Meu filho já não havia sofrido
muito com as de Donald que nunca foram cumpridas?
A culpa recaiu novamente sobre os meus ombros e eu detestei
Donald e a mim mesma.
Eu não podia cobrar nada de Brian, como tinha tentado em vão
com Donald. Ele estava sendo bem gentil por não só aceitar o meu
convite, que foi feito de forma impulsiva, mas também por ser tão
atencioso com meu menino, bem paciente para conversar com ele,
algo que o próprio pai não conseguia fazer.
A campainha soou nos meus ouvidos. Tentando colocar de
lado aqueles pensamentos que não valiam a pena, desliguei o forno
e fui atender quem quer que fosse, já que tinha mandado Tyler
tomar banho. Meu coração tolamente se acelerou e me senti ainda
mais idiota. Ao abrir a porta e ver Brian, minha pulsação pareceu
aumentar ainda mais e senti que derretia perante o sorriso lindo que
aquele homem tinha, sensação que se tornou mais intensa quando
os olhos azuis deslizaram pelo meu corpo, naquele passeio lento e
sensual que deixava todos os meus pelos eriçados.
Inspirei fundo e a fragrância do sabonete que ele havia usado
impregnou as minhas narinas. Caramba, ele era cheiroso demais!
Pigarreei, me controlando para não o examinar da mesma
forma que ele fazia comigo.
— Obrigada por ter vindo, Brian. — Minha voz saiu mais falha
do que gostaria.
— É um prazer, Ionara. — Detestei que ele parecesse tão
controlado, diferente de mim, que as pernas pareciam ser feitas de
barro.
— Entre, por favor.
Os olhos azuis brilharam cheios de diversão e eu me dei conta
que estava parada no mesmo lugar, impedindo a passagem dele.
Sem graça, dei um passo para trás e só então vi que Brian
segurava uma caixa.
— Oh!
— Sobremesa — falou, estendendo a caixinha para mim.
— Não precisava.
As pontas dos meus dedos roçaram nos dele ao pegar a
embalagem e foi como se eu recebesse um choque, com o prazer
se espalhando por todos os meus membros, transformando-se em
um desejo cru.
— Minha avó sempre dizia para nunca chegar na casa de
alguém de mãos vazias. — O tom dele era rouco.
— Bom conselho o dela. — Sorri, recordando-me da minha
própria vozinha.
— Ela tinha muitos conselhos bons. — Ele entrou e fechou a
porta atrás de si, já que minhas mãos estavam ocupadas.
— Mesmo?
— Sim.
— Minha avó tinha inúmeros também... — Fiz uma pausa
quando, outra vez, a amargura me invadiu, e eu acabei falando em
um sussurro, mais para mim mesma: — Pena que nunca a
escutei…
Mascarando meus sentimentos, virei-me para Brian, que me
analisou, dando-me a certeza que tinha escutado o que eu havia
dito. Me senti desconfortável perante aquele exame profundo que
poderia muito bem alcançar a minha alma.
Engoli em seco.
— Sente-se, por favor. — Mostrei o sofá com a cabeça. —
Fique à vontade enquanto eu mexo na cozinha, Tyler daqui a pouco
está descendo.
Assentiu, abrindo um sorriso, que retribuí fracamente e dei as
costas para ele. Não sei como me senti quando ouvi os passos do
homem me seguindo.
Quando alcancei a cozinha, fitei a janela, procurando a
calmaria que a vista do mar sempre me proporcionava, mas não
encontrei dessa vez. Meu corpo parecia tão tenso quanto a corda
esticada de um arco, por inúmeras razões.
Pousei a caixinha sobre o balcão antigo.
— Espero que não se importe de eu esperar aqui, Ionara. — A
voz grossa soou próxima de mim e eu girei para encará-lo,
encontrando-o a poucos passos de distância.
Outra vez fiquei arrepiada.
— Por que diz isso?
— Sei que estou sendo invasivo, mas faz tempo que não
compartilho algo tão doméstico. — Deu de ombros e eu fui atraída
temporariamente para a linha tensa dos músculos. — Porra, falei
que não queria te complicar, mas…
— Complicar?
— Seu relacionamento com o pai do Tyler.
— Nada com que se deva preocupar, está morto — respondi,
meu sorriso ficando amarelo.
— Mesmo assim…
— Tão morto que resultou em divórcio — o interrompi.
— Sinto muito, Ionara. — Deu um passo à frente, erguendo a
mão para tocar meu rosto, mas acabou parando o gesto no meio do
caminho.
— Relacionamentos acabam a todo momento, então não é
necessário sentir — notei um certo cinismo em minha fala e acho
que ele também percebeu.
— Isso é verdade.
Uma tensão pareceu vibrar no ar e eu lutei comigo mesma
para não me aproximar dele. Me enchia de repulsa pensar que meu
corpo estava tão carente ao ponto de querer sentir o de Brian só
porque ele era atraente e atencioso. Eu não era assim...
— Preciso guardar a sobremesa na geladeira — falei.
— É brownie, então não é necessário. — Brian afastou-se,
compreendendo sem eu dizer uma palavra que eu precisava de
espaço, mesmo que meu corpo não concordasse com esse
distanciamento.
— É a nossa sobremesa favorita, minha e de Tyler, como
adivinhou? — brinquei.
— Digamos que tenho uma boa intuição. — Aquele sorriso
voltou a desenhar os lábios dele, o que me deixou mole.
Eu estava surpresa.
— Acredita em intuição? — perguntei.
Ele balançou a cabeça em concordância, os olhos azuis
ficando distantes e desprovidos de emoções.
— Às vezes o instinto é a única coisa que faz você sair vivo de
certas situações.
Um calafrio percorreu a minha coluna e fui tomada pelo medo.
Brian tinha dito que era da Marinha e era de se esperar que ele
tenha servido principalmente nos conflitos no Oriente Médio, mas o
que ele tinha visto ou passado? Ele já havia ficado entre a vida e a
morte?
Antes que eu pudesse questioná-lo, vi Tyler entrar na cozinha.
— Você realmente veio! — Meu filho deu um gritinho
entusiasmado e abriu um sorrisão ao se aproximar.
Brian se virou para ele.
— Eu falei que não perderia esse almoço por nada, amigão —
disse suavemente, não parecendo mais distante.
— É. Me desculpe. — Tyler ficou um pouco sem graça.
— Não precisa ficar assim, cara. Tá tudo bem, pelo menos
para mim.
— Tá bom! — Meu filho tornou a sorrir. — Quer conhecer o
Luke?
— Por que não comemos primeiro? — sugeri. — Já está tudo
pronto e vocês podem brincar com ele depois.
— Vamos poder tirar ele da casinha, mamãe?
— Sim, querido.
— Você pode tocar nele, sabia?
— Tem que ver se Luke vai deixar, Tyler — o corrigi. — Ele
pode estranhar e ser arisco com o Brian.
— Ah!
— Não seria legal ser mordido por um camaleão — Brian
estremeceu, brincando.
— Ele é bonzinho!
— Nem sempre, filho, o que é da natureza dele. Por que você
não coloca a mesa enquanto eu faço o molho?
— O de barbecue?
— Sim!
— Eu amo barbecue!
— Sei disso. — Pisquei para ele. — Agora vá, mocinho.
— Tá, mamãe.
— Posso ajudar em algo? — Brian questionou.
— Não é necessário, você é nosso convidado. — Caminhei em
direção a geladeira para pegar os ingredientes.
— Detesto ficar à toa, ainda mais quando todos estão
ocupados.
O fitei com o canto do olho, vendo-o deslocado.
— Você pode colocar a mesa! — O menino deu uma risada.
— Tyler! — gritei, horrorizada com a sugestão dele. — Eu pedi
para você fazer isso, não Brian.
— Mas ele queria fazer alguma coisa!
Balancei a cabeça em negativa.
— A tarefa é sua, mocinho, então ande logo e pegue os pratos.
— Tá.
— Por que eu não te ajudo, amigão? — O homem sugeriu.
— Brian, realmente não precisa… — Virei-me, equilibrando os
potes para encará-lo.
— Está tudo bem, Ionara. — Aproximou-se de mim, tirando as
coisas das minhas mãos, e novamente vários choques me
percorreram ao sentir o seu toque. — Me faz sentir que eu…
Se interrompeu, parecendo subitamente melancólico.
— O quê?
— A domesticidade… — Sacudiu a cabeça.
Não acreditei nele, mas também não pressionei, já que não era
da minha conta.
Brian colocou as coisas sobre a bancada.
— Onde ficam os copos? — Ele perguntou naquele tom
tranquilo, como se nada tivesse acontecido.
— Aqui! — Tyler falou e Brian caminhou até ele.
Revirei meus olhos com a teimosia dos dois, mas não banquei
a mãezona chata. Foquei em preparar o molho que faltava e ver se
o purê de batatas não estava muito frio, mas de um em um minuto
eu perdia minha concentração e voltava a encará-los. Enquanto
colocavam a mesa, eles conversavam sobre beisebol, Brian
provocando meu menino já que eles torciam para times diferentes,
arrancando dele resmungos e risadas. Era impossível não os
admirar e não ser tomada por uma sensação boa. Por mais
estranho que parecesse, torcia para que esse companheirismo
crescesse, mas sabia que isso dificilmente aconteceria. Brian
deveria ter coisas mais importantes para fazer do que ficar
tagarelando com Tyler. Fora que era um desejo mais do que
precipitado. Não é como se nós já nos conhecêssemos. Pelo bem
do meu filho, eu tinha que me manter sempre alerta.
— Acabamos, mamãe!
— Pegou o suco? — questionei, acrescentando um dos
ingredientes do molho na vasilha e mexendo.
— Refrigerante!
— Refrigerante, Tyler? — Virei-me, cruzando os braços na
frente do corpo.
— É! — Ele fez uma cara de santo para mim, mas não
conseguiu me enganar, já que abriu um sorriso sapeca.
— Não combinamos que refrigerante era só no final de
semana? — Não caí no charme dele.
— Estamos encrencados, amigão — Brian murmurou e eu
olhei para o homem que parecia tão travesso quanto Tyler.
Arqueei a sobrancelha para ele e o meu vizinho deu de
ombros.
— É um dia especial, mamãe — Tyler falou.
— Verdade — o homem concordou, me fitando de maneira
esperançosa.
— Hm… — Mordisquei os lábios, e vi os olhos de Brian
ficarem mais escuros.
Rapidamente parei o gesto, mas percebi que o desejo ainda
estava lá.
Desviei o olhar para o meu filho.
— Não vou tomar no final de semana.
— Eu também não — Brian endossou.
Se ele tomaria ou não, não era da minha conta, mas não
argumentei.
— Okay. — Suspirei.
— Oba! — O menino deu um gritinho.
— Bate aqui, amigão. — Nosso vizinho estendeu a mão para o
garoto que encostou a sua na dele.
Virei-me para terminar o molho, balançando a cabeça em
negativa quando a comemoração continuou.
— Deveria ter medo de vocês se unirem contra mim? —
provoquei os dois.
— Não! — Meu filho disse ao mesmo tempo que Brian
respondeu:
— Claro que não.
— Sei… — Percebi que estava sendo derrotada por eles, o
que quer que isso significasse. — Por que não vão lavar as mãos
enquanto termino aqui?
— Tá bom!
Escutando os passos dele, me apressei para finalizar tudo. Em
questão de dez minutos, com a ajuda dos dois, eu colocava toda a
comida sobre a mesa.
— Obrigada — sussurrei, meio sem graça, quando Brian
puxou uma cadeira para mim.
Sentei-me, mas ele não respondeu, apenas foi se sentar no
lugar vazio a minha frente.
— Por que você fez isso? — Tyler perguntou, já se servindo do
refrigerante.
Brian começou a cortar o bolo de carne.
— Isso o quê?
— Puxar a cadeira pra mamãe.
— Só estava sendo um cavalheiro, amigão, um cavalheiro
sempre ajuda uma dama e nunca se senta antes dela — respondeu
suavemente.
Meu vizinho colocou um pedaço de carne no meu prato, e, por
um momento, fiquei atônita demais para reagir.
— Ah!
Motivado pela ação do vizinho, meu menino estendeu o copo
dele quase transbordando e o entregou para mim. Sorri para o meu
filho.
— Meu pai nunca fez isso — Tyler comentou depois de
mastigar um pedaço generoso do bolo.
Senti que ficava vermelha, dominada pela vergonha,
principalmente por estar ciente de que o homem do outro lado da
mesa tinha os olhos pousados sobre mim.
Engoli em seco, focando no mais importante. Meu filho havia
reparado nisso?
Foi impossível não ser dominada por um mal-estar que
rapidamente disfarcei, mas ao olhar para Brian fiquei ciente de que
não consegui esconder meus sentimentos dele.
Merda! Por que ele tinha que ser tão observador?
— Não foi muito gentil da parte dele, amigão — disse em um
tom baixo, e pude perceber que se controlava.
— É?
O homem pegou um pouco de purê e levou aos lábios.
— Sim, já que não custa nada.
— Ah! — O menino tomou um gole do refrigerante. — Eu
tenho que fazer isso também?
— Se você for um cavalheiro, sim — falou em tom divertido,
provocando-o, e eu comecei a comer, já que eu nem havia tocado
na comida.
— Sou, sim!
— Então não terá problemas em puxar uma cadeira, abrir a
porta de um carro…
— Só para a mamãe?
— Não, para todas as damas...
— Entendi — Tyler pegou um pouco mais de comida.
Comemos em silêncio por alguns minutos.
— Ganharei um beijo se eu fizer isso? — O menino perguntou
a queima-roupa.
— O quê?
Olhei para Tyler e tive sorte de ter acabado de tomar meu
refrigerante, pois teria cuspido tudo.
— Que história é essa, filho? — Pousei o talher sobre a mesa,
tentando lidar com a situação o melhor possível.
Ele já tinha feito perguntas embaraçosas, mas nunca imaginei
que ele já tinha algum interesse em alguém, o que era natural para
a idade dele.
Tyler ficou vermelho.
— Nada, mamãe.
— Agora estou curioso, amigão. — Brian demonstrou
diversão, e o menino ficou mais ressabiado, afundando-se na
cadeira.
— Deixa para lá.
— Não vou brigar com você, Tyler. Você sabe que pode contar
tudo para a mamãe.
— Uma menina da minha escola — falou para dentro.
— E como ela se chama? — questionei.
— Lisa. Ela é tão legal!
— Você nunca me falou dela…
Deu de ombros.
— Papai disse para não contar.
Franzi o cenho, a raiva começando a surgir.
— Mesmo? Por quê, meu amor?
Tyler ficou em silêncio e eu olhei para Brian, que parecia
bastante tranquilo com o assunto familiar.
— Por que ele disse que você brigaria comigo se eu roubasse
um beijo dela — sussurrou depois de um instante.
— Donald sugeriu que você roubasse um beijo dela? — Fui
cautelosa para não o assustar.
Pensei que o menino não iria me responder, mas ele acabou
fazendo um gesto quase imperceptível com a cabeça.
Controlar a minha raiva do pai dele foi a coisa mais difícil que
tive que fazer. Sério que ele havia incentivado nosso filho a fazer
isso?
— Não tive coragem…
— Que bom que não teve, amigão, porque não seria legal.
— Não?
— Não, Tyler — concordei.
— Papai disse que posso pegar tudo o que eu quiser.
Estava tão em choque que não consegui dizer nada.
Que merda Donald estava ensinando para nosso filho no
pouco tempo que ficava perto dele?
— Não, Tyler, não pode. Independentemente de quem você
seja, isso não te dá o direito de tocar, beijar ou fazer algo com
alguém sem a permissão da pessoa. Só covardes fazem isso.
Okay? — A voz do meu vizinho era séria.
— Mas…
— Brian está certo, meu amor. — Mascarei o meu ódio, não
conseguindo nem recriminar meu vizinho por tentar ensinar a Tyler
como se comportar. — Você tem que respeitar seus coleguinhas e o
corpo deles. Você gostaria que alguém te beijasse sem permissão?
Ele negou, parecendo grudar as costas na cadeira.
— Então, querido?
— Nunca farei isso, mamãe!
— Excelente!
— Você vai brigar comigo? — perguntou baixinho.
— Só se fizer algo errado. — Abri um sorriso, pegando o meu
garfo para voltar a comer. — É normal gostar de alguém, meu bem,
mesmo que eu ache que você seja novo demais para ficar
pensando nisso. Na verdade, seu único foco no momento deveria
ser estudar.
— Tá bom, mamãe.
— Volte a comer, querido — ordenei.
Tyler não fez nenhum gesto, apenas olhou para o meu vizinho.
— O que foi, amigão?
— Tá decepcionado comigo? — Pareceu inseguro.
— Claro que não — falou, fitando-o nos olhos. — Todos nós
erramos, eu mesmo cometo vários erros até hoje, mas cabe a nós
reconhecê-los, assumir a nossa responsabilidade e melhorar.
— Ainda me acha legal?
Brian fez que sim com a cabeça e completou:
— Apesar de você ser um Yankees[4]. — Piscou para Tyler, que
deu uma risadinha.
— Eu torço para o melhor! — Ele deu um gritinho.
— Não sei aonde... — Brian fez uma careta.
— Ninguém merece! — falei, fincando meu garfo na carne para
passá-la no molho.
— Não me diga que você é uma Yankees também…
— Deus me livre! — Estremeci.
— Mamãe odeia beisebol, ela nunca entende nada! — Meu
filho parecia decepcionado.
— Isso não me impede de ser Time Tyler — falei.
— Mas você é minha mãe, não vale!
— E sempre serei a fã número um.
— A melhor fã que você pode ter, amigão — Brian disse.
— Você tem uma fã também?
Movida pela curiosidade, minha atenção voltou-se para o meu
vizinho.
Ele tinha perguntado sobre o meu estado civil, então nada
mais justo saber o dele. Não que fizesse muita diferença, mas ter
um homem comprometido te comendo com os olhos seria mais do
que horrível.
— Não tenho tanta sorte, amigão — falou, olhando diretamente
para mim.
Senti uma espécie de tensão no meu baixo-ventre, mas a
presença do meu filho fez com que eu suprimisse a sensação.
— Nem a sua mãe? — Tyler pareceu surpreso.
Brian pareceu distante, por mais que a expressão dele
continuasse a mesma.
— Creio que não, amigão — respondeu, abrindo um sorriso.
— Ah!
— Faz parte.
— É…
— Tenho certeza que você deve ter alguma medalha
escondida que te faz um herói da pátria, Brian — comentei.
— Verdade! — Tyler pareceu animado.
Ele pareceu ficar sem saber o que dizer.
— Talvez… — Foi reticente.
Arqueei a sobrancelha para ele, mas não teci comentários,
diferente de Tyler que era uma metralhadora de perguntas. Brian
respondia cada uma das indagações do menino, que estava alheio
ao quanto o homem parecia ponderar cada uma das questões antes
de falar, do modo como ele parecia mergulhado nos próprios
pensamentos, mesmo que estivesse prestando atenção no que o
meu filho dizia. Foi difícil controlar a minha própria curiosidade
acerca do que não era dito, mas havia coisas que não deviam ser
questionadas. Todo mundo tinha direito a ter os seus segredos.
— Hora do brownie? — perguntei quando nenhum dos dois se
serviu novamente.
Me levantando, fui recolhendo algumas coisas da mesa para
colocar na lava-louça.
— Você que fez, mamãe? — Tyler deu um pulo da cadeira,
indo atrás de mim. — Sabe o quanto eu amo brownie.
Gargalhamos.
— Foi Brian quem trouxe, meu bem.
— Tem com confeito? — Deu um gritinho.
— Infelizmente não, amigão.
— Ah! — Ficou decepcionado.
— Tyler! — Chamei a atenção dele. — Isso foi rude.
— Não tem problema, Ionara.
Fiz que não com a cabeça, indo de um lado para o outro para
pegar talheres e pratos limpos.
— Desculpe, Brian — Tyler murmurou. — É porque eu gosto
muito de confeitos.
— Tranquilo, cara, sem mágoas. Nem tinha também. — Abriu
um sorriso enorme.
— Ah!
— Mas será o melhor brownie que você já comeu!
— O da mamãe é o melhor!
— Obrigada pela defesa, querido. — Dei uma risada.
— Pela comida, eu imagino que sim.
— Aduladores — murmurei, — Com sorvete?
— Sim! — Gritaram em uníssono.
Ri outra vez e fui pegar o pote no freezer, enquanto eles
falavam dos sabores de seus sorvetes favoritos.
— Realmente o da mamãe é melhor — Tyler falou, pegando
mais um pedaço do doce e abocanhando-o com vontade.
— Então eu tenho que provar, porque para mim esse é um dos
melhores! — Brian comentou.
— Se convidando, Brian? — Soei divertida, levando um
pedaço do brownie de nozes aos lábios.
Tyler estava errado. Esse realmente superava tudo o que eu
havia comido.
— Sim, estou. — Os lábios dele se ergueram naquele sorriso
que era capaz de me deixar mole. — Tenho medo de que se
arrependa de ter me convidado hoje, Ionara. Provavelmente você
criará um monstro.
— Ele é bravo? — Meu filho perguntou em meio a uma risada.
— Mamãe disse que sou terrível com fome!
Rimos.
— Mais do que terrível! — comentei.
— Somos dois. — Brian pegou mais um pedaço de brownie e
eu imaginei que ele era uma formiguinha. — Ficar um dia sem
comer foi um verdadeiro inferno.
— Você já ficou um dia inteirinho sem comer? — O menino
ficou surpreso.
Brian ficou em silêncio por um momento, como se não
acreditasse que tinha dito aquilo em voz alta. Outra vez, quis
bombardeá-lo de perguntas, saber o que ele havia passado nas
forças armadas, mas estava claro que não haveria respostas.
— Sim, algumas vezes, Tyler — respondeu com bom-humor.
— Não queira me ver com fome. Só falta eu rugir como um leão.
Ele arrancou gargalhadas de nós ao imitar o animal, e senti
que pequenas lágrimas se formavam em meus olhos enquanto a
barriga doía.
— Então tenho que alimentá-lo mais vezes! — Minha voz soou
esganiçada enquanto eu buscava por fôlego.
— Vai se arrepender do convite, Ionara, eu não vou sair da sua
casa. — Piscou para mim.
— Seria legal! — Tyler disse animado.
— Não é? — brinquei, sabendo que dificilmente ele viria várias
vezes.
— Você vai brincar comigo também? E com Luke?
— Filho… — Comecei a chamar atenção dele, mas fui
interrompida.
— Por que não?
— Brian…
— Estou com nada para fazer mesmo. — Deu de ombros. —
Tenho certeza que brincar com você vai ser muito legal.
— Ebaaa!
Abri e fechei a boca várias vezes, sem saber o que dizer.
Sentia que isso não era certo.
— Falando nisso, vamos conhecer o Luke? Estou curioso para
vê-lo.
Ele não precisou dizer mais nada, pois Tyler se levantou com
um pulo e, surpreendendo-me, foi até Brian para pegar a mão dele.
O homem se ergueu e, dando a mão para o menino, os dois saíram
correndo, rindo.
Fiquei estagnada no lugar, sem reação. Depois do que
pareceu minutos, mas não chegaram a se passar poucos segundos,
fechei a caixinha do doce e fui atrás deles.
— Tá vendo ele? — Escutei o menino perguntar quando
alcancei a porta do quarto.
Escorei no batente e fiquei encarando-os.
— Não. Onde Luke está? — Era uma mentira, já que o animal
não era tão imperceptível assim.
— Aqui, ó! — Tyler fez um barulho ao tocar no vidro.
— Que maneiro, amigão! Acho que nunca vi um animal tão
legal.
— Sabia que ele um dia ficou azul?
Sorri. Tyler adorava contar aquela história um pouquinho
exagerada.
— Azul? — Brian mostrou curiosidade.
— Uhum!
— E como aconteceu, amigão?
— Ele tinha se escondido na minha blusa.
— Sério?
— Luke ficou bastante tempo nela.
— Entendi.
— Eu queria ser igual a ele.
— Por quê, amigão?
— Me camuflar em vários lugares, passar despercebido, como
um agente secreto…
— Hm.
— Eu derrotaria todos os inimigos com meu superpoder…
Brian riu.
— E deixaria a sua mãe morrendo de preocupação toda vez
que você fosse combater o mal — comentei, descolando meu braço
do batente, aproximando-me deles. — Eu quase morro com os
esportes radicais.
Tyler deu uma gargalhada gostosa.
— Você se acostuma, mamãe.
— Não, nunca irei me acostumar, mocinho. — Envolvendo-o
em um meio abraço, deixei vários beijos no rosto corado.
— Para, mãe! — Se contorceu. — Está me envergonhando!
— Envergonhando, é? — Embora me incomodasse um pouco
ele falar assim só porque estava na frente de Brian, continuei a
atacá-lo com beijocas e cócegas.
— Eu não ligaria de receber esses beijinhos, amigão — meu
vizinho falou.
Meu coração disparou ao pensar em beijar aquele homem...
Sem deixar de provocar cócegas no meu garoto com minhas
mãos subitamente desordenadas, encarei Brian que, diferente de
mim, estava com uma expressão divertida no rosto.
— Mesmo? — Meu filho arfou, perdendo cada vez mais o
fôlego.
— É sempre bom receber carinho materno — continuou em
tom brincalhão.
Me senti patética por levar o comentário para o lado sexual
enquanto Brian falava de algo tão doce como afeto de mãe, e mil
vezes mais com a decepção por ele não querer me beijar.
— Eu gosto do cafuné da mamãe — falou quando eu o soltei.
Tyler deu um beijo doce na minha bochecha, e todos os
sentimentos conturbados que havia dentro de mim transformaram-
se em amor pelo meu filho.
— Eu também adoro fazer carinho em você, querido.
— Agora você pode pegar o Luke?
— Okay! — Não podia ganhar todas.
Abrindo a parte de cima do terrário, estiquei o meu braço para
pegar Luke, que estava sobre um tronco, com cuidado. Acostumado
ao meu toque, o animal não se agitou e nem se colocou em posição
de ataque, mas mesmo que seus olhos estivessem fixos em mim,
senti que se mantinha em alerta.
— Posso? — Brian questionou baixinho.
— Coloque as mãos em concha.
Assentindo, fez o que pedi e eu aproximei o bichinho dele.
— Ele gostou de você! — Tyler não escondeu sua animação
quando Luke, depois de alguns instantes, subiu nas palmas de
Brian.
— Pelo jeito, sim.
O camaleão começou a andar pelo braço dele.
— Faz cócegas, né?
— Um bocado. — Brian deu uma risada, para a alegria do meu
filho, que também gargalhou e começou o seu discurso sobre os
hábitos do bicho.
Novamente, eu apenas fiquei observando os dois, que
pareciam imersos no animalzinho. Era hipnótico ver o quanto eles
ficavam à vontade um com o outro, falando sobre coisas banais.
Deus! Como eu tinha pedido para Donald fazer exatamente
aquilo, doar um pouco do seu tempo para o próprio filho, e um
desconhecido o dava, mesmo que seja apenas por um dia.
Caramba. Como vê-los juntos me despertava sentimentos
agridoces...
— Acho que ele já está ficando cansado de nós, amigão —
Brian falou depois de um tempo.
— É!
— Me dê ele! — Pedi a Tyler, que estendeu o animal para mim.
Coloquei Luke no terrário e ofereci algo para ele comer. A
língua longa rapidamente “caçou” a sua presa.
— E agora? — Meu filho perguntou quando voltamos para a
cozinha.
— Ajudar a sua mãe com a louça?
— Não é necessário, rapidinho eu termino aqui.
— Okay! — Fez uma cara de desagrado.
— E então? — Meu filho insistiu.
— Acho que já incomodei bastante por um dia.
— Não foi incômodo nenhum — respondi em meio aos sons de
lamúria de Tyler.
— Tá legal! — reforçou meu menino.
— Bastante — Brian concordou —, mas mesmo assim acho
que está na minha hora.
— Ah!
— Eu te levo até a porta — falei, mesmo que, igual a Tyler,
senti um pouco de decepção pela visita terminar assim.
— Te agradeço.
Fiz que sim e, em poucos passos, eu e meu filho tristonho
levamos nosso vizinho até a porta.
— Então é isso... — Brian pareceu meio hesitante. — Valeu
por me apresentar Luke, amigão.
— Você vai voltar para brincar com a gente de novo?
— Claro! Ele é muito maneiro.
— Amanhã?
— Quem sabe! — Deu de ombros.
— Será sempre bem-vindo, até mesmo para fazer alguma
refeição. — Passei as mãos pelo meu jeans.
— Tentador… — Ele abriu um sorriso e, se aproximando de
mim, deixou um beijo inocente na minha bochecha que me deixou
trêmula da cabeça aos pés, principalmente quando o cheiro dele
impregnou as minhas narinas. — Obrigado por tudo, Ionara. Você é
maravilhosa.
Fiquei sem palavras com o elogio. Após deixar outro beijo
carinhoso na minha testa, cumprimentou Tyler com um toque
descolado que nem prestei atenção, mas que fez meu filho ficar
eufórico e engatar uma conversação com o homem, tentando
prolongar a atenção que ganhava.
Sobre o que os dois falavam, não tinha ideia. Ainda estava
presa naqueles dois beijinhos de cumprimento, na sensação de ter
os lábios mornos macios contra a minha pele.
Só saí daquele transe quando o celular que estava no bolso de
trás da minha calça soou e meu filho me perguntou se eu não iria
atender. Automaticamente, puxei o aparelho e aceitei a ligação sem
ver quem era. Felizmente, era uma possível cliente e toda a minha
concentração foi para ela. O trabalho me colocaria algum juízo, que
eu parecia ter perdido na mudança até aqui.
Capítulo seis

Empunhando a minha M4a1[5], senti uma gota de suor escorrer


pela minha nuca enquanto vasculhava atentamente todo o perímetro
da rua de um país do Oriente Médio, para onde fomos enviados
para executar várias missões.
Cada passo que dava era calculado, mesmo que vários
snipers, inclusive Elijah, estivessem espalhados em edifícios com
pontos cegos e outros agentes da equipe compartilhassem
informações que mudavam rapidamente.
Fiz um gesto quase imperceptível para o meu companheiro
atrás de mim, permitindo que o grupo avançasse um pouco mais,
sem abandonar a organização.
Liderar e ficar na retaguarda era expor-se ao perigo imediato,
mas não tinha medo por mim, mas, sim, pelos companheiros que
me acompanhavam. Eles tinham esposas e filhos para quem voltar,
pais e avós preocupados, então eu daria de tudo para protegê-los.
Perdê-los não era uma opção, não para mim.
No entanto, não era o único com algum temor. Era nítido o
medo que havia no rosto de alguns civis que se arriscavam a sair
das suas casas, tentando seguir as suas vidas em meio ao caos que
era uma guerra causada por rebeldes sob o comando de um ditador,
mas a fome e a necessidade de obter recursos não esperavam,
ainda mais quando o conflito se estendia por meses e parecia não
ter um fim.
Avançamos um pouco mais em direção ao nosso alvo final,
uma casa em que, segundo alguns informantes, um dos homens
ligados ao ditador frequentava para encontrar uma mulher com
quem mantinha relações sexuais. Meus colegas zombavam que a
moça deveria ter uma boceta gostosa para fazer um cara tão
importante como ele manter uma rotina para vê-la. Diziam também
que gostariam de pagar pelos favores dela, mas apenas os
ignorava. Diferente deles, achava que permanecer celibatário não
era tão difícil assim.
Ao alcançarmos um cruzamento, um movimento chamou a
minha atenção. Com todos os sentidos em alerta, como nunca fiquei
antes, parei, fazendo um gesto de atenção para os outros SEALs
que me seguiam enquanto analisava a situação e esperava alguma
informação pelo comunicador, mas não disseram nada.
Tive pouco tempo para pensar no que fazer. Cada segundo era
precioso e poderia salvar vidas.
Quando uma figura suspeita, uma mulher coberta da cabeças
aos pés com hijab e burca, fez um movimento como se sinalizasse
para alguém do outro lado, dei o comando para que a equipe
avançasse e ficasse em alerta a uma possível emboscada, já que
estávamos a poucas quadras do local onde estava o nosso alvo, e o
homem não era burro de visitar a sua puta sem proteção.
Por mais que a mulher parecesse inofensiva, uma civil
inocente marcada pelo conflito, a experiência exigia cautela. O
inimigo não tinha rosto e nem idade. Essa era a maior merda desse
trabalho: determinar rapidamente se deveríamos ou não disparar.
Não tive tempo para pensar, pois, de repente, uma criança
vinda do lado oposto do da mulher correu em direção a ela. A arma
pareceu pesar como chumbo nas minhas mãos e meu peito se
apertou ao ver a mãe ir na direção dele, tentando protegê-lo. O véu
caiu ao correr, revelando a massa escura de cachos sedosos, que
rapidamente reconheci. Porra! Eu reconheceria aqueles cabelos a
vários metros de distância. Eles vinham me atormentando há dias e
minha boca secou de desejo só com o pensamento de tocá-los, ou
enterrar meus dedos nos fios macios enquanto puxava-a pela nuca
e tomava os lábios generosos em um beijo desesperado.
O medo me paralisou no lugar.
Tentei gritar uma ordem de não atirarem, mas a minha voz não
saiu, não a tempo de impedir a saraivada de balas que eram
disparadas na direção deles. O grito de Tyler perfurou os meus
ouvidos e eu mergulhei em um mar de sangue do qual eu não
conseguia emergir. Quanto mais eu dava braçadas, mais eu
afundava.
Alguém começou a rir. Era aquele desgraçado que ajudava a
controlar os grupos rebeldes, disseminando o ódio e o caos.
Estava prestes a perder o meu fôlego, caindo na inconsciência,
quando escutei um outro disparo que atingiu o coração da mulher.
Olhei minhas mãos trêmulas marcadas por pólvora e sangue
e…
— Não! — Ouvir o meu próprio grito fez com que eu desse um
salto na cama, e quando as minhas costas pousaram contra o
colchão, abri os olhos, assustado.
A escuridão da madrugada me envolveu enquanto o meu
corpo todo tremia de forma convulsiva, minha pele molhada pelo
suor frio grudando no lençol. Meus dentes batiam uns contra os
outros, meu maxilar estava tão tenso que doía. Minha respiração
estava tão ofegante, que parecia mais alta do que os sons das
ondas quebrando de encontro a praia. Tentei colocar na minha
mente que foi um pesadelo, mas ela parecia não ser capaz de
raciocinar racionalmente. Tudo o que eu via em minha frente era o
maldito mar de sangue, algo que minhas próprias mãos haviam
causado.
Demorou vários minutos para que eu finalmente me sentisse
mais no controle de mim mesmo, com os tremores lentamente
cessando, e eu soubesse diferenciar imaginação da realidade.
Levantei para tomar uma ducha fria, ciente que não
conseguiria mais descansar.
Não era a primeira vez que revivia em sonhos alguma merda
que havia passado ou feito, mas nunca senti tanto medo ou acordei
suado e tremendo, com o pânico ainda circulando pelas minhas
veias.
Abri o chuveiro e deixei a água gelada escorrer sobre mim.
Porra! O maldito ditador estava morto, eu mesmo havia
colocado a bala no meio dos olhos dele, já que não tínhamos ordem
de entregá-lo vivo, mas eu ter matado centenas de caras maus ao
longo das missões não mudava o fato de que as minhas mãos
deveriam estar manchadas também por sangue de inocentes.
O pesadelo só me fez relembrar que eu tinha a porra de uma
vaga grande no inferno, mas tentei não pensar nisso. Nada de bom
viria desses pensamentos e isso não mudaria o fato de que eu
continuaria a fazer aquilo que precisava ser feito, ainda que não
sentisse nenhum prazer em matar como alguns caras já disseram
ter.
Inquieto, sequei-me rapidamente e vesti um short, sem me
preocupar em colocar uma cueca nem uma camiseta.
Fui para fora e, no escuro, desci as escadinhas do deque
enquanto inspirava profundamente o cheiro salgado da maresia.
Concentrei-me em ouvir o som das ondas, que estavam mais
agitadas. Fiquei observando o nada, tentando dominar as minhas
emoções, mas minha visão logo foi atraída para a casa vizinha.
Diferente da minha residência, as luzes de fora estavam acesas e
eu estranhei, já que Ionara sempre deixava tudo apagado quando ia
dormir. Sem pensar duas vezes, movido pela urgência, caminhei em
direção àquele ponto de luz.
Porra! Cada dia que passava, eu gostava mais e mais de Tyler,
e me acostumava com o seu jeito falante. Meu vínculo com o garoto
parecia aumentar exponencialmente toda vez que nos
encontrávamos. Eu me divertia muito jogando basquete com ele ou
observando o camaleão de estimação dele no terrário. Ele estava
tornando minhas férias melhores. Se fosse honesto, eu não tinha
mais pressa de ser convocado. Não estar sempre em alerta não era
algo ruim. Queria continuar a passar aqueles dias preguiçosos,
calmos e felizes ao lado do garoto divertido e carinhoso.
Caralho! Tyler tinha tanto amor para dar... Eu não imaginava
que precisava tanto daquele afeto. Mal via a hora em que aquela
camaradagem se traduzisse na forma de um abraço.
Subi as escadas com o coração disparado, temendo que algo
houvesse acontecido, mas senti que todo o meu desespero pelo
visto era infundado quando vi a mulher sentada em um dos bancos
na varanda, parecendo tranquila e concentrada em uma espécie de
tablet, rabiscando algo. Minha pulsação continuou acelerada, mas
por uma outra razão. Um filete de luz iluminava os cabelos escuros
e ondulados que caiam como uma cascata pelos braços desnudos,
deixando-a etérea, mas não me prendi à visão, pois meu olhar foi
seduzido pela camisola de cetim rosa choque que destacava todas
as curvas do corpo dela.
Sangue se acumulou na minha pelve ao ver a barra rendada
erguida, deixando boa parte das coxas desnuda.
Caralho! Como um desgraçado, fiquei encarando a pele
desnuda, que provavelmente seria macia ao toque. Porra, se vestida
com o pouco pano que a cobria aquela mulher era extremamente
gostosa, sem nada Ionara ficaria muito mais.
Sonhei acordado em ter as minhas mãos sobre ela, sentindo-a,
desnudando-a. A imagem era sexy, fodidamente sexy.
Doentiamente, meu pau começou a enrijecer, meu desejo sendo
maior do que a autodisciplina. Foi uma péssima ideia ter subido até
ali, e ainda pior usando um short e nada mais. Ficar duro só por
olhá-la e não conseguir controlar a ereção era patético.
Antes que pudesse dar meia volta e esconder meu crime,
Ionara ergueu o rosto e me viu.
— Que susto você me deu, Brian. — Sua voz estava em alerta.
— Desculpe-me. — Dei um sorriso fraco. — Vi as luzes acesas
e fiquei preocupado.
— Ah, obrigada por se preocupar conosco.
Dei de ombros e, ao invés de me despedir dela, como seria
sensato, caminhei na direção onde ela estava sentada, como se ela
tivesse me convidado a ficar.
Merda! Queria a companhia dela. Na verdade, uma parte de
mim, talvez a minha alma, precisasse da companhia de Ionara
naquela madrugada.
Eu a desejava? Muito. Queria provar a boca e o corpo dela?
Porra, cada grama do meu corpo tinha certeza disso.
Naqueles dez dias convivendo não apenas com Tyler, mas
também com ela, trocando conversas fáceis e sorrisos e
observando-a, minha admiração pela mãe carinhosa e paciente que
ela era só crescia.
Caralho! Eu gostava mil vezes mais da mulher que Ionara era:
inteligente, firme quando precisava, brincalhona e igualmente
provocante.
— Posso? — Apontei para cadeira em frente a ela, tentando
não olhar para o decote em V rendado, mas falhei, ainda mais que a
mulher não usava sutiã.
Os seios, apesar de não serem completamente firmes, eram
belos à sua maneira. Pela milésima vez, quis enterrar meu rosto
neles, deixando um rastro de beijos e mordidas, até tomar aquelas
pequenas protuberâncias que enrijeciam sob o meu olhar em meus
lábios, estimulando-os até ouvir um gemido baixo escapar dos
lábios suculentos.
— Claro. — Ela pigarreou.
Com um balançar de cabeça, me reprovando mentalmente,
sentei do lado oposto em que ela estava. Ionara não se moveu, o
que foi meu paraíso, já que ela ainda me deixava ver uma boa
porção de suas coxas.
— Te atrapalho? — questionei quando ela colocou o tablet
sobre a mesinha.
— Não. — Suspirou. — Como eu estava sem sono, resolvi
adiantar um pouco as coisas.
— Aquelas encomendas da noiva? — Recordei que, dias
atrás, Ionara estava extremamente empolgada para trabalhar em
um projeto grande que consistia em vários desenhos que iriam
decorar os docinhos de uma recepção de casamento.
— Sim. — Os olhos dela brilharam, aquele sorriso maravilhoso
se abrindo. — Estava esboçando os primeiros traços dos noivinhos
que vão em cima do topo do bolo. Quero enviar logo para a moça
que vai confeccionar a escultura.
— Tenho certeza que ficará muito bonito, como todos os outros
desenhos que você fez. — Não tinha muito senso artístico, mas não
podia negar que todos os trabalhos dela eram fantásticos.
— Você chegou a ver algum? — O cenho delicado se franziu.
— Tyler me mostrou alguns esboços seus que ele tinha no
celular.
— Ah! Não sabia.
— Ele tem muito orgulho do talento da mãe — comentei.
O sorriso dela ficou enorme.
— Eu que tenho orgulho de ter um filho como ele, de ele ser
esse menino tão bom. Tenho muita sorte de ter ficado grávida de
Tyler... — Várias emoções se fizeram presentes na voz dela.
— Com certeza tem dedo da mãe dele na criação — tentei
elogiá-la, mas meu intento provou-se um fracasso, já que o bom
humor a deixou e ela ficou distante. — Não deveria ter dito isso...
— Está tudo bem, Brian — falou suavemente. — Queria dizer
que você está errado, mas não posso.
Não soube o que dizer.
— Infelizmente, engravidei do homem mais egoísta do mundo
— os lábios se torceram com amargor —, mas sem ele não haveria
Tyler, então…
— Ele foi um mal necessário em sua vida.
— É um bom jeito de ver a coisa.
— É somente a verdade.
— Hm.
O silêncio caiu sobre nós. Por uns instantes, apenas
escutamos o som das ondas se quebrando.
— Posso perguntar por que está acordado, Brian? Se eu não
estiver sendo invasiva, é claro.
— É justo depois do susto que te dei.
— Talvez… — Abriu um sorriso misterioso que voltou a me
excitar.
Aqueles lábios grossos e generosos fodiam cada pedaço do
meu corpo, mas queria vê-los para sempre, mesmo que não
pudesse encostar minha boca neles.
Merda! Alguma vez eu já havia caído de quatro por uma
mulher só por um sorriso? Não. Sabia que não.
Apenas Ionara, e apenas ela, que me deixava assim.
— Brian? — insistiu, erguendo uma sobrancelha para mim.
— Um pesadelo, nada demais — falei em um tom rouco.
— Não me parece nada demais… Se fosse nada, não teria te
impedido de voltar a dormir.
— Sempre é tão sagaz assim? — provoquei-a.
— Intuição.
Gargalhamos, mas logo a mulher ficou séria.
— Tem a ver com o que você faz?
— Muito sagaz mesmo — retruquei. — Não é nada que valha
a pena ser comentado.
Me encarou pensativamente e eu soube o que viria, algo que
foi confirmado pelas próximas palavras:
— Você é muito esquivo sobre o seu trabalho, Brian —
murmurou. — Não é apenas um cara qualquer da marinha, não é?
Droga! Aquela mulher era inteligente demais!
Senti o meu corpo ficar tenso e eu abri e fechei a boca várias
vezes, tentando encontrar uma escapatória, mas havia me
complicado.
— Não precisa me confirmar. — Fez uma pausa. — É segredo
não é? Questão de segurança?
Não respondi, mas não consegui disfarçar a minha tensão.
Aquele assunto sempre terminava em merda, pressão e mais
perguntas.
— Não precisa se preocupar, não vou fazer um interrogatório
sobre a sua profissão, Brian — falou suavemente. — Por mais
curiosa que eu esteja, respeito o seu silêncio.
— Agradeço por isso. — Desviei o olhar rapidamente em
direção ao oceano. — Não é algo fácil.
— É muito mais difícil para você, creio.
— Não é todo mundo que encara dessa forma.
— Experiências ruins?
— Cobranças que talvez façam sentido em uma relação. —
Não tirei minha responsabilidade dos meus fracassos amorosos.
— Talvez não…
— Ou talvez sim — testei-a.
Ela gargalhou.
— Não ficarei nesse jogo de sim ou não, Brian, ainda mais
quando acho que você tem a mesma opinião que a minha.
— Caralho, mulher — dei uma risada —, você não deveria me
ler assim.
E não era mesmo, mas meus treinamentos pareciam
totalmente esquecidos frente a ela.
Ela deu de ombros, chamando atenção para aquela parte do
corpo desnuda, já que o movimento fez com que uma alça caísse
pelo ombro, deixando eu ver um pouco mais do colo, mas sem
expô-lo completamente.
Uma nova onda de desejo me percorreu e eu me movimentei
no assento, meu pau começando a ficar ereto outra vez. Usei toda a
minha força de vontade para não me erguer e segurá-la em meus
braços, em fazer amor com ela, dando vazão aquela ânsia furiosa
que tinha a força de um furacão, que era alimentado mais e mais
com aquela visão.
— E o que te impediu de ir dormir? — perguntei roucamente,
tentando me concentrar em algo que não fosse aquela deusa que
roubaria todos os meus dias e noites.
Caralho! Tinha certeza de que quando fechasse ou abrisse os
olhos, a imagem de Ionara estaria ali na minha retina, me
atormentando, me fazendo afundar em um desejo desesperado que
me faria me saciar com as mãos, já que não trairia a ânsia que tinha
por ela com nenhuma outra.
— Cobranças — falou quando imaginei que não iria me
responder.
Arquei a sobrancelha para Ionara por estarmos falando disso
minutos atrás.
— Posso ter assinado os papéis do divórcio, mas para a minha
mãe é como se o meu casamento não tivesse acabado — explicou.
— Eu não faço ideia do porquê eu ainda atendo as ligações dela.
— Por que ela é a sua mãe? — falei suavemente.
Deu uma risada que era um pouco estridente, bem diferente da
gargalhada gostosa que Ionara tinha.
— Só no papel — deu um sorriso que mais parecia uma careta
—, ela nunca esteve presente quando precisei. Bem, esteve, para
me criticar, apontar minhas falhas, meus erros, nunca para acolher
ou oferecer apoio.
— Sinto muito.
Até a minha decisão de servir a Pátria, não posso dizer que
tive uma relação ruim com os meus pais. Na verdade, eles
costumavam fazer vista grossa perante os meus erros,
principalmente quando eu era um moleque inconsequente, mas eu
podia imaginar o quão desgastante deve ser cobrado o tempo todo
por alguém que deveria estar ao seu lado.
— Eu também sinto, não sabe o quanto, Brian — murmurou.
Ionara parecia tão ferida que desejei erguer-me e tomá-la em
meus braços, oferecendo o conforto que ela precisava. Covarde,
temi ser rechaçado, principalmente quando a fúria voltou a arder nos
olhos dela.
— Tento ser uma boa filha, uma boa mãe — sacudiu a cabeça
ferozmente, e momentaneamente fiquei fascinado pelos cachos que
acompanhavam os movimentos dela, desejando tocá-los —, até
mesmo tentei ser uma esposa exemplar. Tudo pela carreira do meu
maridinho político popular e carismático, mas isso não foi suficiente
para ela. Para nenhum deles...
— Entendo.
— Agora, estão me culpando por Donald ter sido flagrado
bêbado ao lado de uma mulher qualquer. Não é absurdo?
Antes que eu pudesse responder, continuou:
— Eu sou a sem coração que não pensou no marido,
abandonando-o, que afastou Tyler dele, levando-o a beber
exageradamente e ser visto com várias mulheres, criando máculas
na carreira dele. Ah, faça-me o favor!
Riu novamente naquele tom ácido.
— Onde está a merda desse pai maravilhoso que não visitou
Tyler uma única vez? Que não pode tirar um final de semana para
viajar para cá? Que em nenhum momento falou em vir buscá-lo? —
Foi jocosa. — Onde está esse maldito sofredor que não fez nem
uma vídeo chamada sequer durante esse tempo todo? No puteiro!
Se ergueu abruptamente, começando a caminhar de um lado
para o outro. Não falei nada, me sentindo um filho da puta em olhar
as coxas expostas pela camisola que se provou bastante curta. Os
cabelos longos e ondulados caiam como uma verdadeira cascata
sedosa, deixando-a poderosa. Sexy. Me sentia ainda mais
desgraçado em devorar com os olhos aquela bunda gostosa,
querendo senti-la nua contra a minha palma enquanto ela rebolava
nas minhas mãos.
Porra, homem!
— E eu que sou a culpada disso? — Virou-se para mim. — A
culpa é minha de ele não procurar o filho?
— Claro que não, Ionara — falei, mas ela pareceu não me
escutar, continuando a divagar:
— Por ter tentado todo esse tempo fazer com que ele desse
atenção a Tyler ao invés de passar as horas livres dele comendo
todas e todos por aí?
Fiz que não com a cabeça e me levantei, sentindo a raiva dela
tornar-se minha quando encaixei sua fala com a de Tyler sobre a
ausência do pai.
Que filho da puta preferia ir trepar a ficar com o próprio filho?
Que cara perde tudo por sexo casual?
Caralho! Minha revolta era tão grande que eu poderia encher a
cara desse babaca de porrada até que ele se arrependesse de ter
ferido os sentimentos do garoto. Porra, isso não é homem.
— Eu suportei cada traição calada, Brian... — Os lábios dela
se curvaram em desdém. — Fingia ser o que não era por Tyler, pela
família supostamente perfeita que eu tinha, e mamãe ainda me
culpa pelos atos de Donald? Eu não coloquei uma maldita pistola na
cabeça dele e o obriguei a fazer isso.
Balancei novamente a cabeça em negativa e parei na frente
dela, esticando minha mão para tocar seu rosto. Senti uma corrente
elétrica me percorrendo com o contato; fiquei trêmulo. Ionara
tombou um pouco a cabeça para trás para me encarar, seus lábios
se entreabrindo em surpresa.
Ela não era apenas linda e delicada, mas extremamente
suave.
Porra! Tive medo que ela se afastasse, quebrando o contato,
levando consigo aquelas sensações que me percorriam, mas Ionara
permaneceu no lugar.
Poderia ficar tocando-a pela eternidade, acho que eu não me
cansaria...
Massageei a bochecha dela com o polegar e tive a impressão
de que os olhos dela cintilaram com várias emoções diferentes.
— É tão crime assim não ficar presa a um homem que finge
ser o esposo perfeito, mas que em cada oportunidade é infiel? — A
voz dela abaixou vários decibéis. — Será que estou tão errada em
não querer devolver na mesma moeda?
— Trair também? — murmurei, surpreso.
— Foi o que a minha mãe me sugeriu. — Fez uma pausa. —
Ela e papai vivem assim desde que me entendo por gente, mas…
— É repulsivo — completei.
— Ele pode até merecer, mas o que isso faria de mim? Me
tornaria uma hipócrita, porque sempre critiquei o modo que meus
pais levam a vida, desprezível por trair meus princípios. Já fui uma
covarde por tempo o suficiente.
— Não fale assim de você mesma, Ionara, você não é
desprezível.
Rocei a ponta do meu dedo em um dos cantos da boca dela e
vi seus lábios estremecerem parecendo de desejo. Eu me queimei
naquele fogo, meu corpo reagindo ao dela de forma primitiva,
ficando completamente excitado.
— Eu posso não ter traído Donald, mas eu traí a jovem
idealista que acreditava no próprio caráter — falou, tomada pela dor.
—Decepcionei a mim própria, mesmo depois de ser alertada várias
vezes por vovó. E o que eu ganhei com isso, Brian? O que ganhei
vivendo assim por tanto tempo?
Quis responder à pergunta retórica, mas não podia, e nem
precisei, pois Ionara falou por mim:
— Tristeza? Raiva? — Riu sem humor. — E o que fiz com
Tyler?
— Seu ex continua sendo o pai de Tyler e o decepcionará
todas as vezes que não estiver presente para ele — fui amargo,
cedendo um pouco a raiva que sentia desse cara. — Como você
mesma disse, você não é culpada pelos atos dos outros, muito
menos pela decisão desse bosta de preferir ir trepar do que ver o
filho ser campeão no baseball.
Ela balançou a cabeça lentamente.
— Você não é responsável por nada disso, Ionara, por mais
que sua mãe diga que sim. — Deslizei o indicador pela carne macia,
desejando que fosse a minha boca escorregando pela dela. —
Porra, você tem o direito de tentar ser feliz outra vez, longe dessa
merda toda.
— Eu…
— Esse idiota nunca mereceu nenhum de vocês dois, jürek[6]...
Ele não é digno de ter um filho tão doce como Tyler.
— Brian… — Senti a respiração quente dela contra a minha
pele.
— E você merece um homem de verdade — minha voz soou
rouca —, um homem que passe todos seus dias admirando a
mulher incrível que você é.
Abri um sorriso quando seus olhos se arregalaram e
aproximei-me ainda mais, o calor dela parecendo irradiar para mim.
— Você merece um homem que venere a grande gostosa que
você é — sussurrei.
Antes que Ionara pudesse dizer qualquer coisa, passei um
braço em torno do corpo sinuoso e a puxei para mais perto,
esmagando os seios volumosos contra o meu peitoral. Substituí
meus dedos que tocavam os lábios dela pela minha boca, deixando-
me levar pela necessidade de ter aquela mulher, experimentando a
maciez daquela boca provocante que deixava ser acariciada pela
minha através de movimentos lentos. O fato de Ionara não me
afastar, permitindo o roçar de reconhecimento dos meus lábios,
provocava vários arrepios em mim e me deixava mais ereto. Eu era
um tolo por manter o contato suave, que contrariava todos os meus
impulsos, mas eu não tinha pressa, não quando a mulher parecia se
derreter nos meus braços, emitindo barulhos baixos, ofegantes, que
se misturavam aos meus.
Um som gutural escapou da minha garganta ao sentir a palma
dela deslizando pelos músculos do meu ombro, explorando-me,
oferecendo outro estímulo além do beijo e dos mamilos entumecidos
friccionando no meu peitoral. Trazendo-a ainda mais para mim pela
lombar, passei a língua pelos lábios dela, lambendo-os lentamente,
provocando-a, ao passo que a encaixava ainda mais em meus
braços.
Repeti várias vezes o mesmo movimento com minha boca,
venerando aquela parte do seu corpo, como tinha dito que ela
merecia, enquanto minha mão livre enterrava-se nos cachos longos,
matando a curiosidade que tinha de sentir a textura.
Porra! Os cabelos de Ionara eram pura seda!
Por um momento, me imaginei tomando toda a massa em uma
mão, para poder deslizar meu pau em sua boca até o início da sua
garganta, mas as carícias da mulher pelas minhas costas roubaram
todos os meus sentidos, tanto que, como um principiante, tinha
parado de me mover.
Os olhos dela brilharam, parecendo zombando de mim, e eu a
puni com um movimento mais duro. O leve estremecer de Ionara
alimentou o meu ego. Ela revidou, passando a me arranhar, e,
porra, meu pênis pulsou dolorosamente em resposta. Como uma
besta descontrolada, me esfreguei nela, deixando-a sentir o que
causava em mim.
Ionara gemeu e abriu mais a boca, me convidando a provar o
seu sabor, e eu mergulhei nela, sabendo que beijá-la seria um
caminho sem volta e que ficaria ainda mais viciado. Grunhi quando
não tive tempo de percorrer cada recanto dela, já que sua língua
encontrou a minha com avidez, envolvendo-me, e eu me rendi,
caindo de quatro perante a ela outra vez, sem pensar.
O gosto dela preencheu todos os meus sentidos, aumentando
os meus batimentos cardíacos em um ritmo insano e me deixando
bambo.
Suspirando, ajustei-me a ela, ora me inclinando sobre ela, ora
movendo a cabeça para lhe dar um novo acesso a minha boca,
acompanhando-a em sua sede, pois eu estava igualmente sedento.
Os olhos acinzentados estavam tão escuros, cheios de desejo,
como se precedesse uma tempestade. Nossos lábios se chocavam,
provocando pequenos estalos que ecoavam pela madrugada, e as
línguas se buscavam freneticamente, não deixando de se tocarem
por um segundo sequer. Nossos fôlegos se mesclavam, tornando-se
um.
Tornei a suspirar. Aquela mulher beijava bem pra caralho! Eu
não tinha dúvidas de que era um felizardo só por poder compartilhar
um pouco do fogo daquela mulher sexy. Definitivamente, não ligaria
a mínima de ser beijado assim outras vezes por ela. Porra! Eu não
conseguia pensar em nada mais atraente do que ser devorado pela
minha vizinha.
Levando a mão que estava em sua lombar para a curva do
quadril, com a outra, soltei os cabelos dela e passei a alisar as
costas de Ionara por cima da camisola frágil que pedia para ser
rasgada, pois estava sendo um empecilho para a minha exploração.
Meus dedos brincavam em sua pele, descobrindo pequenas zonas
erógenas nas costas dela, o que arrancou suspiros e gemidos de
nós dois, principalmente quando Ionara passou a arquear a coluna
para trás e impulsionar sua pelve em direção a minha. Sem
pudores, ela esfregava seu sexo na minha ereção cada vez mais
sensível pelo contato dos nossos corpos, suas mãos afagando
minhas costas, ombros e pescoço com o mesmo desespero que eu
demonstrava sentir por ela.
Sua responsividade ao meu toque, sua entrega desmedida, foi
a minha perdição. Pouco a pouco, tomei o controle do beijo,
mergulhando em sua boca da forma que desejava, tocando cada
recanto da cavidade morna antes de entrelaçar nossas línguas outra
vez. O som de prazer que escapou dela e o cravar das unhas na
minha pele com mais força fizeram com que eu perdesse toda a
minha razão. Enquanto saqueava a boca gostosa, sentindo meu
fôlego se esvair lentamente, enfiei a mão por dentro da camisola e
finalmente encontrei a pele quente e macia, que pareceu arrepiar-se
ao meu toque.
Porra! Tocá-la e sentir a coluna dela se arqueando se tornou
meu paraíso, no entanto tive que me obrigar a imprimir um ritmo
mais lento dos lábios e línguas, porque precisava não apenas
respirar, mas também queria desfrutar do prazer proporcionado pelo
beijo e sentir melhor o contato de pele contra pele.
Suspirando baixinho, Ionara entrelaçou os dedos nos meus
cabelos e retribuiu o contato lento. Ela colou-se ainda mais a mim e
acariciou o meu couro cabeludo, potencializando ainda mais as
sensações que percorriam o meu corpo. Romântico ou carente, não
sei dizer, só sei que tive a sensação de estar mais conectado a ela,
para além da necessidade física que há muito tempo não era
satisfeito.
Não tive tempo para pensar muito, pois, como a deusa que
era, Ionara interrompeu o beijo apenas para tomar um dos meus
lábios entre os dentes, puxando-o até que estalasse, o que fez o
pré-gozo começar a acumular na ponta do meu pau, molhando o
tecido do short. A trouxe mais para mim, buscando por algum alívio,
mas encontrei apenas mais tensão.
— Caralho! — Arfei, enterrando as pontas dos meus dedos na
bunda redonda e perfeita enquanto Ionara deslizava os lábios
generosos pelo meu rosto, até alcançar a minha orelha, soprando-a
até que eu estremecesse. — Você irá me enlouquecer!
A resposta dela foi dar uma risada rouca antes de usar a ponta
da língua para me provocar.
Estremeci. Me sentia como se fosse a minha primeira vez.
Sussurrei o nome dela e fui agraciado com aquela boca
percorrendo cada ponto de tensão que eu nem sequer conhecia. A
unha raspando a minha pele me fodia.
Gemi e apertei a carne macia da bunda dela ainda mais
quando ela passou a lamber toda a lateral do meu pescoço, apenas
para logo voltar a subir enquanto rebolava contra as minhas palmas
e se estimulava na minha ereção.
Fechei os olhos e deixei Ionara fazer o que quisesse com o
meu corpo, mesmo que eu estivesse morrendo de vontade de
enterrar meu rosto no pescoço dela, repetindo tudo o que ela fazia
comigo, até que ela me pedisse por mais. Incentivei-a acariciando
suas nádegas, traçando a polpa até encontrar a calcinha que usava.
Enfiei um dedo na parte de trás da calcinha, sentindo que era
um tecido fino com babados unido por um lacinho.
Caralho! Ela dormia sempre assim?
Brinquei com o tecido, tomando cuidado para não o rasgar.
Se eu fosse o homem dela, todas as noites eu iria tirar a peça
e a amaria até que ela caísse satisfeita contra o colchão. Líquido
escorreu por toda a extensão do meu pau com a imagem mental
que fiz dela vestindo apenas a calcinha fio dental.
Brinquei com o lacinho enquanto a sentia morder de leve
minha pele para depois passar a chupar a base do meu pescoço.
— Porra, Ionara, eu preciso ter você!
— Vamos para o meu quarto — convidou-me com a voz
sensual, arrepiando todos os meus pelos, ainda mais quando
mordeu o meu queixo.
Abri os olhos, contemplando a mais pura luxúria nas írises
acinzentadas, que refletiam a minha.
— Hm. — Respirei fundo ao ganhar outra mordida, seguida de
várias outras, até que ela alcançasse os meus lábios.
Ganhei o melhor selinho da vida e sorri, abobado. Bobo é uma
palavra boa para definir como eu me sentia. Bom, excitado também,
e como nunca.
Puta que pariu!
Sorte. Eu tinha muita sorte.
— Brian? — Beijou-me suavemente ao apoiar as duas mãos
no meu peitoral.
Ionara fitou-me expectante, e eu tentei ser racional por nós
dois, mas acabei me sentindo um tremendo idiota, colocando tudo a
perder, quando proferi:
— Camisinha?
Capítulo sete

— Não tenho — sussurrei, maldizendo-me por ter esquecido


do detalhe da proteção, mas sentindo uma pontada de esperança
ao perguntar: — Você tem?
Curvei-me para lamber o pescoço dele, deixando que o gosto
da sua pele misturado ao suor impregnasse a minha língua.
Brian ronronou ao mesmo tempo que fazia um não com a
cabeça.
— Merda! — praguejei, arrancando uma risada dele.
Agarrando minha bunda com as mãos grandes e quentes
trouxe-me ainda mais para perto do seu corpo. Não contive um
gemido ao sentir a dureza dele contra o meu sexo, que se contraiu
em um espasmo.
— Pílula? — Pareceu esperançoso.
— Infelizmente, não. Não me arriscaria.
— Posso compreender.
— Mas meus exames estão em dia e estou limpa... — Fiz uma
pausa, tentando me manter positiva. — E você?
— Sim, mas... — O interrompi, colando minha boca na dele
outra vez.
Subindo a mão pelas minhas costas, acariciando-me
lentamente, Brian não hesitou em beijar-me de volta. Os lábios
macios e quentes deslizavam pelos meus de forma exigente, dura,
fazendo com que o meu corpo parecesse ser feito de manteiga, pois
me derretia contra o calor dele.
— Acho que não podemos, jürek, há o risco de uma gravidez...
— Deu um beijinho na minha testa, não escondendo a decepção. —
Porra, por que não comprei camisinha?
Começou a praguejar e eu gargalhei, deslizando a ponta do
meu dedo pelo peitoral dele, descendo até alcançar o cós do seu
short.
Acariciei o volume mais do que pronto para mim, vendo a
respiração de Brian ficar mais curta.
— Maldosa — choramingou.
Ficando nas pontas dos pés, inclinei-me em direção a orelha
dele.
— Você se considera um homem criativo, Brian? Porque eu
me considero uma mulher bastante criativa... — murmurei,
mordiscando o lóbulo dele, ouvindo-o arfar.
Tombei um pouco a cabeça para encará-lo. Os olhos azuis
brilhavam com um desejo cru e eu decidi me entregar ainda mais
para ele, principalmente quando se curvou sobre mim e roçou a
barba no meu pescoço, fazendo os dedos dos meus pés se
enrolarem e meu canal se comprimir.
Eu não queria um homem em minha vida, mas a mulher que
havia dentro de mim e que praticamente colocou toda a sua
sexualidade em terceiro ou quarto plano nos dois últimos anos
precisava sentir-se desejada outra vez. E aquele homem gostoso,
lindo, que trilhava vários beijos pela minha garganta enquanto emitia
sons ofegantes de prazer me queria. Foda-se se estava indo rápido
demais, indo para a cama com ele no primeiro beijo, mas eu era
madura, livre e queria apenas sexo e um pouco de alívio,
esquecendo-me de tudo que não fosse o prazer de um orgasmo.
— E então, Brian? — perguntei, me sentindo um pouco
impaciente, mesmo que o meu vizinho ainda me fizesse contorcer
contra ele. — Você sabe usar suas mãos e boca?
Ele deu um tapa na minha bunda pelo meu atrevimento.
— O que você acha?
Brian sugou um ponto do meu pescoço com pressão e eu o
imaginei aplicando a mesma pressão sobre o meu clitóris.
Um ardor varreu o meu ventre de cima a baixo e eu
choraminguei o nome dele, resmungando quando ele parou de me
tocar.
Segurou o meu rosto com firmeza e disse:
— Posso ser um cara que está há muito tempo sem praticar,
qızıq , mas sou um homem faminto que irá te devorar. — Abriu um
[7]

sorriso lento e malicioso.


Provando o seu ponto, outra vez a boca dele encontrou a
minha com fúria, cumprindo sua promessa até que minhas pernas
estivessem bambas e eu me segurasse nos ombros dele em busca
de apoio.
Enterrando as mãos nas minhas nádegas, provocando vários
arrepios em mim com o contato da sua pele mais áspera sobre a
minha, ergueu-me com facilidade. Soltando um gemido, envolvi o
pescoço dele com os braços e cruzei minhas pernas nas costas
largas e definidas, roçando a minha calcinha na ereção,
provocando-o ao mesmo tempo que eu me excitava ainda mais.
Forte, ele nem titubeou, caminhando em direção a porta de entrada
da casa.
— Onde fica o seu quarto? — questionou em um tom rouco, só
então revelando que não era tão indiferente aos meus movimentos.
— A direita — murmurei.
Pela primeira vez, me senti feliz pela minha suíte ser distante
do quarto de Tyler, que ficava no andar de cima.
Com poucos passos, ele alcançou o cômodo e, comigo ainda
pendurada nele, fechou a porta e girou a chave.
Não tive tempo de agradecê-lo pelo cuidado, já que lá fora
havíamos nos expostos demais, pois prensou-me contra a superfície
de madeira com o seu corpo e seus lábios voltaram a buscar os
meus, tomando-me lentamente, enquanto a mão percorria minhas
curvas, deixando um rastro de fogo, principalmente quando a palma
encontrou a minha coxa nua, já que a camisola havia subido.
Gemi quando tentei intensificar o beijo, mas ele não deixou,
controlando a intensidade. Sem escolha a não ser continuar a mover
a minha língua naquele bailar lento, o puxei ainda mais para mim,
balançando os meus quadris de encontro aos dele, sentindo cada
músculo da minha boceta se tensionar, precisando ser afagada e
preenchida pelo seu pau, que parecia prestes a sair do short.
Continuei a roçar nele, tentando sem sucesso encontrar um ângulo
que aplacasse aquele ardor. Foi a minha vez de praguejar
mentalmente pela ausência de camisinha.
A boca dele tornou-se mais exigente, intensificando o beijo, e
um som alto subiu pela minha garganta, que foi tragado pelos lábios
dele, ao sentir os dedos subirem, brincando com os babados da
minha calcinha. Para minha frustração, continuou a subir,
acariciando a minha barriga, deixando um mar de tensão e
expectativa, até encontrar um dos meus seios. Bati a cabeça contra
a madeira, interrompendo o beijo, ao sentir Brian percorrer
suavemente toda a curva do mamilo antes do polegar encontrar o
bico teso e dolorido.
Minha respiração ficou mais ruidosa e curta quando, sem
deixar de torturar o montinho sensível, os lábios dele deslizaram
pelas minhas bochechas, descendo em uma carícia úmida até meu
pescoço, e isso fez com que eu baixasse meus pés e os apoiasse
no chão, temendo não ser capaz de me manter aferrada a Brian.
Os sons de apreciação enquanto ele beijava, mordia e sugava
o meu pescoço atingiam diretamente meu âmago. Mesmo
desordenada, presa ao prazer que ele me dava, voltei a explorar o
corpo suado, sentindo os músculos dele tensionarem ao meu toque.
— Brian — arfei, tentando puxar ar para os meus pulmões,
quando o senti baixar uma das alcinhas da camisola com os dentes,
deixando pequenas mordidas no processo, enquanto a mão livre
removia a outra, desnudando-me.
A resposta dele foi emitir um som baixo e, enquanto me
encarava, segurou meu cotovelo para passar o tecido, fazendo o
mesmo com o outro, até que o cetim se acumulasse na minha
cintura.
Calor líquido banhou as minhas veias ao ver o modo como
Brian contemplava os meus mamilos, como se fossem a coisa mais
linda que já havia visto, mesmo que a amamentação os tivesse
deixado naturalmente um pouco menos firmes. Não quis comparar o
homem a minha frente, que apreciava o corpo que eu tinha
adquirido com a maternidade, com o meu ex que desejava que eu
passasse por uma cirurgia a qualquer preço, mas foi difícil, ainda
mais quando segurou os meus seios em concha, testando o peso.
— Porra! Eu poderia realmente passar a minha vida inteira
com o meu rosto enterrado neles.
Gargalhei com o comentário inesperado, mas a risada se
transformou em um gemido quando ele aproximou o rosto e
percorreu com a língua todo o vale entre meus seios, para depois
traçar a curvatura de um dos mamilos.
Infiltrando meus dedos nos cabelos dele, cerrei os olhos
quando os lábios de Brian se fecharam num dos bicos e ele
começou a sorver com uma pressão suave que só aumentava a
tensão no meu sexo cada vez mais úmido. A barba arranhava minha
pele sensível, mas não importava, não quando a língua habilidosa
estimulou o botãozinho, fazendo com que eu fechasse minhas
pernas em um espasmo.
Suspirando, acariciei os cabelos dele, incentivando-o a
continuar. Com um grunhido faminto, ele levou a mão ao mamilo
negligenciado e friccionou-o com vigor, apenas para logo em
seguida diminuir a intensidade, deixando-me maluca.
Alternando sucções com mordidas ao redor da auréola,
gemendo, as mãos dele começaram a percorrer a lateral do meu
corpo, desde os seios excitados, passando pela curva da minha
cintura até alcançar a camisola. Aplicando mais pressão a sucção,
me fazendo apertar mais os olhos e me espichar contra a porta, o
senti passar o tecido pelos meus quadris e o cetim deslizar até
alcançar os meus pés.
Gemi alto quando a mão voltou a agarrar meu mamilo. Dessa
vez, ele o amassagou com mais força, como o homem faminto que
era, enquanto a língua tornava-se suave sobre o bico, como se
fosse uma pena.
A carícia mais selvagem em contraste com a delicada me
deixou ainda mais mole. Meus dedos puxaram os cabelos dele com
mais força, provavelmente machucando-o, mas Brian pareceu não
se importar, continuando a me tomar enquanto brincava com o outro
mamilo.
— Brian! — Abri os olhos, irritada, quando os lábios dele
deixaram o meu seio e a mão desceu em direção a região próxima a
minha bunda.
Ele parecia extremamente divertido com a minha frustração.
— Gosta tanto assim, jürek? — provocou-me, e eu fechei
minhas pernas quando Brian tornou a lamber o vale entre meus
seios, parecendo excitado por ver que eu o assistia me acariciar.
Minha resposta foi empinar meu peito e puxar os cabelos dele,
fazendo com que sua língua tornasse a subir por entre os meus
mamilos, percorrendo a minha garganta, até que nossas bocas
voltassem a se encontrar em um beijo calmo, bem contrário ao que
eu sentia. Segurando com pressão o maxilar barbado, inclinei um
pouco a cabeça dele para o lado e deslizei a minha língua pelos
dentes dele antes de aprofundar ainda mais o beijo. Movendo-se no
mesmo ritmo que o meu, Brian me tocou com igual delicadeza,
fazendo com que várias emoções disparassem em mim.
Como seria fazer amor lentamente com aquele homem que me
olhava com desejo, mas, ao mesmo tempo, com uma ternura
excessiva?
Nunca teria a resposta.
Obrigando-me a permanecer na realidade, intensifiquei o beijo,
ciente de que só haveria desejo entre nós dois. Me apegaria a
necessidade urgente que havia em mim e nele.
Lentamente, sem desgrudar nossos corpos, fiz com que ele
desse vários passos para trás, indo em direção 0a cama.
Alcançando o móvel, apartei o beijo e, apoiando as duas mãos
no peito, sentindo seu coração batendo acelerado, empurrei-o,
fazendo com que ele caísse contra o colchão.
— Ionara? — Pareceu curioso quando me inclinei sobre ele e
levei a mão ao elástico do short.
— Preciso ter você, Brian... — Repetindo as palavras dele,
removi a peça rapidamente, expondo o pau ereto.
Um som baixo e estrangulado escapou dos lábios do meu
amante.
Fitei por um momento a ereção deliciosa, sentindo meu corpo
reagir ao dele, e não resisti em deslizar a ponta do indicador pela
fenda babada, fazendo Brian se retorcer e cerrar as pálpebras.
— Porra! — murmurou.
Afastando o dedo, terminei de despi-lo, jogando o short no
chão, e tornei a dar atenção para o pênis dele.
— Olhe para mim — ordenei, imperiosa.
Quando ele obedeceu, se acomodando contra a cabeceira,
impregnei o meu dedo com o líquido ao fazer círculos lentos na
cabeça. Sua pelve se ergueu do colchão e as mãos dele seguraram
o lençol. O arfar dele ecoou por todo o quarto. Torturei-o um pouco
mais, e a mim mesma, observando o quanto os olhos dele ficavam
cada vez mais escuros e o pau mais tenso. Dando-me por satisfeita,
levei seu pré-gozo aos lábios, lambendo o dedo em uma amostra do
que eu poderia fazer com ele.
— Puta merda! — Ele respirou fundo e abriu um sorriso
malicioso. — Venha cá, qızıq.
Fiz que não com a cabeça e ouvi o resmungo dele.
Reunindo toda a minha coragem, sem deixar de fitá-lo, segurei
o tecido da minha calcinha e, com pequenas reboladas que fizeram
Brian parecer suar frio, comecei a me despir em um ministriptease
enquanto a minha mão livre brincava com o mamilo que ele havia
chupado e que, com o meu toque, clamava pelos lábios dele.
Poder!
Quando foi a última vez que me senti tão poderosa perante a
um homem? Um homem cujo pau babava pelo meu corpo, mesmo
com celulites.
Tirando a peça, joguei a calcinha no peito dele, que logo a
pegou.
— Puta merda, Ionara, você está encharcada — ronronou.
Assisti Brian embolar o tecido e o levar ao nariz, respirando
fundo. Meu canal se apertou ao ponto de eu sentir dor.
— Caralho de cheiro gostoso — disse, inspirando outra vez. —
Porra, que fragrância deliciosa!
Deveria retrucar, dizendo que ele estava exagerando, mas as
palavras dele me excitavam ainda mais.
— Qual será o gosto dessa mulher?
Travesso, sabendo o que causava em mim, lambeu o tecido
como se fosse os meus grandes e pequenos lábios e eu perdi o
fôlego, sentindo inveja da atenção que Brian dava a calcinha, ao
mesmo tempo que ficava ainda mais molhada ao imaginar sentir
cada um daqueles movimentos em meu corpo.
— Muito bom! — Voltou a brincar com o tecido e eu cansei de
ficar ali assistindo; eu precisava dele.
Subi em cima do homem gostoso, sentando próximo aos seus
quadris, roçando o meu abdômen no pênis dele, enquanto as
minhas mãos espalmavam o peitoral firme. Brian soltou a minha
calcinha e acariciou a região das minhas costelas, deslizando os
dedos em direção ao meu mamilo, dando-me aquele sorriso que me
desarmava.
— Sabia que você fica ainda mais linda em cima de mim,
jürek?
— Hum. — Sorri, meio abobada, como se eu fosse uma
adolescente apaixonada.
Me inclinei sobre ele para beijá-lo, não contendo um gemido
quando a ponta do pau dele roçou na minha entrada.
Segurando-me pela nuca, os lábios moldaram-se aos meus, o
beijo ganhando ferocidade enquanto os corpos automaticamente se
buscavam, tornando cada vez mais difícil resistir a encaixar-me
nele.
— Isso não está dando certo, gostosa... — Arfou contra a
minha boca. — Porra, é difícil não estar dentro de você!
A mão dele deslizou pela minha bunda, brincando com a
fenda.
— É. — Suspirei.
— Será que a minha mulher é realmente criativa? — provocou-
me, dando um beijo na ponta do meu nariz.
Meu coração deu um salto por ele me chamar de minha mulher
e eu me repreendi mentalmente pela tolice. Nessa madrugada, meu
corpo seria dele e o de Brian meu.
— Ionara? — Subiu a mão pela minha lombar.
— Criativa, mas talvez um pouco egoísta. — Beijei a bochecha
dele.
— Te fazer gozar será meu maior prazer, Ionara, não há nada
que eu queria mais. — Apertou a minha nádega.
— Você sabe conquistar alguém com palavras, Brian.
— A única que quero conquistar é você, linda! — Me deu outro
beijinho.
— E tem conseguido...
— Que bom!
— Sou egoísta, mas tive uma ideia melhor...
— E estou mais do que disposto a executá-la, gostosa, mesmo
sem saber o que é — murmurou, os olhos brilhando de diversão.
— Homem corajoso...
Lambi os lábios dele, fazendo com que Brian emitisse um
ruído, principalmente quando resvalei no pau dele. Não o beijei, o
que nitidamente o deixou frustrado.
Com uma risadinha, excitada pelo que estava prestes a fazer,
movimentei-me sobre o colchão. Abrindo as minhas pernas o
máximo que conseguia, coloquei-me de costas para o rosto dele,
apoiando todo o meu peso sobre os joelhos.
Brian arfou uma série de palavrões e eu me senti um pouco
insegura, já que nem todos curtiam a posição.
Nesse momento, me recordei que a depilação não estava
muito em dia, o que era um pouco constrangedor. Com tudo que
estava acontecendo na minha vida, não tinha me preocupado com
isso…. Não que estivesse tão ruim, mas...
— Não precisamos... — comecei a falar, mas antes que eu
completasse, Brian agarrou minha bunda expondo a minha vagina
ainda mais para ele.
A tensão no meu baixo-ventre cresceu como um vulcão em
erupção, a expectativa me corroendo, mas não precisei esperar nem
cinco segundos.
— Porra! — rosnou em um tom rouco.
Senti minhas pernas fraquejarem quando ele lambeu toda a
extensão exposta, roubando momentaneamente meu fôlego e
também minha capacidade de dar prazer a ele, sendo automático
me apoiar no peitoral dele e fincar meus joelhos ainda mais contra o
colchão.
Segurando as minhas nádegas com mais pressão, “meu
homem” tornou a me percorrer de cima a baixo, e eu mordi os meus
lábios para conter um grito quando sua boca se fechou com vontade
sobre o meu clitóris. Um som gutural escapou da garganta dele, que
irradiou por todo o meu ser, quando ele começou a sugar
lentamente aquele ponto. Eu senti todos os meus músculos se
esticarem em resposta, querendo mais que tudo a língua dele no
meu canal, já que não teria o pau.
Diante daquela pressão suave que ele exercia, dos ruídos de
prazer dele ao me chupar, não consegui mais reprimir os meus
próprios sons, deixando-os ecoar pelo quarto, junto com as nossas
respirações ofegantes.
— Brian — murmurei o nome dele, frustrada, quando ele
diminuiu a intensidade da chupada até interrompê-la.
Choraminguei outra vez, apenas para sentir meu corpo entrar
em uma espécie de combustão quando a língua habilidosa explorou
cada pedaço do meu sexo, lambendo todas as paredes que se
fechavam em torno dele, provando a minha excitação.
Por um momento, fechei os olhos, desfrutando das sensações
proporcionadas pelo homem que me devorava e me fazia mergulhar
na espiral do desejo cru e selvagem. Passei a me impulsionar para
frente e para trás, ajudando-o a alcançar outras terminações
nervosas da minha boceta que me faziam retorcer e gemer mais
alto.
Estava sendo a egoísta que falei que era, mas o que podia
fazer se Brian sabia usar muito bem os recursos que tinha? Eu
sentia que a cada carícia dele eu ficava mais lubrificada. Quando a
língua encontrou um ponto sensível, traçando movimentos diretos
sobre ele, apoiei com mais firmeza sobre o abdômen dele e arqueei
meu tronco para trás, meus cabelos caindo desordenados, e o nome
dele deixou meus lábios mais uma vez.
Sentindo-me livre, sem nenhuma amarra de pudor, acelerei os
meus movimentos, esfregando-me nele, intensificando a fricção da
sua língua em mim, bem como o desejo. No momento em que ele
tornou a subir a boca, traçando círculos pelo meu clitóris, mas sem
oferecer o alívio a carne pulsante, uma gota de suor escorreu pela
minha coluna.
Abri os olhos, mesmo que a minha vista estivesse nublada e
eu enxergasse embaçado, e continuei a me esfregar nele, pedindo
para que me levasse mais alto.
Me lembrei do meu intento de dar a Brian o mesmo prazer,
mas fiquei prestes a perder o foco outra vez quando ele capturou
meu ponto de prazer e deu uma puxadinha de leve, o que fez meu
canal se apertar dolorosamente.
Estiquei um dos meus braços e rocei a ponta do indicador na
glande dele, estimulando-o ao mesmo tempo que ondulava minha
pelve para frente e para trás.
— Caralho! — Grunhiu quando aumentei a fricção na glande,
sua voz saindo abafada por sua boca estar em minha vagina.
Arfando, tentando me concentrar nele, não nos lábios e na
língua que faziam mágica sobre mim, acariciei-o até o gozo dele
começar a umedecer a gema do meu dedo. Minha boca salivava por
querer sentir o líquido do “meu homem”, mas, infelizmente, estava
um pouco complicado fazer o 69, o tronco dele era longo demais
para mim.
Interrompi a carícia e ele ergueu a pelve do colchão em um
espasmo.
— Porra! Não pare, Ionara! — pediu.
Levei meu dedo aos lábios, provando-o, e ouvi o rosnado baixo
dele.
— Gostoso! — murmurei, lambendo até a última gota, mas
sentindo que não era o suficiente.
Brian desferiu um tapa na minha bunda, seguido de outro, e
sentindo falta dos lábios de Brian sobre mim, estiquei meu braço
outra vez e rodeei a ereção dele, deslizando minha mão pelo
comprimento babado, sentindo a textura aveludada, as veias, o
pulsar do pau ao meu toque. Ele não me atacou como esperava,
pelo contrário, pareceu imerso em si mesmo, impulsionando os
quadris para frente e para trás, querendo que eu aumentasse o
ritmo da minha exploração, o que não concedi.
Cerrei minhas pálpebras, desfrutando da sensação de ter
aquele homem emitindo sons cada vez mais incongruentes, a pele
ficando mais suada e os músculos tensos debaixo de mim, seu peito
subindo e descendo com mais intensidade.
— Deus, mulher! — murmurou com rouquidão, as mãos
explorando o meu corpo de maneira frenética e descoordenada.
Sorri. Era tocante saber que eu era capaz de excitar alguém
tanto assim ao ponto dele se perder.
Aumentei o ritmo com que o masturbava, querendo senti-lo se
esvaindo por entre os meus dedos, e isso pareceu acordar a besta
que havia dentro dele. Percorrendo meus grandes e pequenos
lábios com a língua, logo sua boca encontrou o meu ponto de prazer
e se fechou sobre ele, iniciando uma sucção mais intensa que me
levou de volta onde Brian havia me deixado, com todos os meus
músculos internos se retraindo.
Ondulava para frente e para trás na cara dele, mas
continuando a subir e descer os dedos por toda sua rigidez,
apertando seu pau em alguns pontos que achava que daria prazer a
ele.
Nossos corpos pareceram encontrar o mesmo ritmo, em uma
dança que ora era lenta, ora rápida, levando-nos cada vez mais
próximos a máxima do prazer. Até mesmo nossos gemidos
pareceram ter se tornado uníssonos, os sons cada vez mais altos e
desconexos perante as carícias mais abrasadoras.
O ar pareceu faltar nos meus pulmões quando meu amante
tornou a diminuir a sucção para usar a língua para percorrer toda a
região já sensível pelos estímulos dele e eu acabei falhando em
acariciá-lo, presa na intensidade dos movimentos que ele fazia em
mim e que me levavam mais próximo de alcançar o ápice.
O som abafado de Brian me tirou do transe e, ciente de que se
tornaria cada vez mais difícil para mim continuar a masturbá-lo
sendo atacada daquela maneira, apliquei mais pressão próximo a
cabeça do pau dele e a carne rija pulsou ao meu toque, a excitação
escorrendo pela ponta. Meu sexo se contraiu em resposta e o meu
gemido se assomou ao dele quando retomei o vai e vem sobre o
pênis. Acelerei a minha cadência e o senti cada vez mais rígido.
Brian tentou continuar a lamber e sorver meu ponto G e o
clitóris, mas estava preso ao próprio subir e descer da pelve,
ajudando-me a acariciá-lo, tentando alcançar o orgasmo que
nitidamente estava próximo.
Sabendo que ele não conseguiria me dar atenção, me
acomodei melhor contra ele e tombei meu corpo para frente,
sentindo o suor dele se juntar ao meu. Sem deixar de movimentar
meus dedos, usei a ponta da língua para brincar com a fenda na
glande. Em seguida, meus lábios se fecharam na cabeça do pênis e
comecei a sugá-la.
Ouvir o arfar animalesco de Brian ao receber o meu oral e
sentir o gosto almiscarado que impregnava minha boca e se
misturava a minha saliva pareceu levar a minha excitação a um
outro nível até então desconhecido para mim, a umidade no meio
das minhas pernas e a tensão parecia tornar-se insuportável. Havia
algo de primitivo em dar prazer a ele, algo que nunca senti com
outro homem.
Suguei com mais força e tentei engolir seu membro um pouco
mais, ao mesmo tempo que choramingava com as sensações que
ele me dava. Lamentava estar de costas para ele... Desejava poder
observar a expressão enlevada e extasiada, sabendo que era eu e
mais ninguém que o enlouquecia.
— Porra, gostosa, assim...continua!
Mal entendi o que ele dizia pela rouquidão na voz, mas meu
corpo todo vibrou quando as mãos grandes tornaram a agarrar a
minha bunda, empinando-a ainda mais para ele.
Inserindo o pau dele ainda mais em minha boca, rebolei contra
as palmas dele, provocando-o, e senti o agarre de Brian se tornar
mais forte. Salivando, fechei os olhos e deslizei a ereção até o
fundo, próximo a minha garganta, fechando meus lábios na base, o
que arrancou dele um som gutural, másculo, que me fez perder o
controle de mim mesma. Ele começou a estocar dentro de mim,
roçando seu pau na minha língua, indo cada vez mais rápido, e eu
senti uma comichão diferente no meio das minhas pernas enquanto
algo parecia se quebrar dentro de mim. Me entreguei àquela
sensação, mas continuando a receber as investidas dele.
Com um grito rouco e uma última estocada, Brian se esvaiu
dentro da minha boca. Engoli o líquido, algo que nunca tinha feito
antes, sentindo várias contrações no meu sexo ao sorvê-lo, antes de
afastá-lo.
Respirei fundo várias vezes, tentando normalizar meus
batimentos cardíacos, já que meu peito parecia prestes a explodir.
— Eu não acabei com você ainda, Ionara — Brian sussurrou
em um tom extremamente sexy e ofegante, arrepiando os pelos da
minha nuca.
Não tive tempo para pensar e me recuperar, pois ele segurou
com força a minha bunda e puxou-me novamente para ele para
deixar um beijo no meu sexo, a língua pedindo passagem para
explorar novamente minha vagina, brincando com as dobras.
Penetrando-me lentamente, o homem provava cada gota do meu
gozo, emitindo um suspiro de deleite a cada lambida, som que
alimentou todas as fagulhas que havia em meu interior,
transformando-se em uma fogueira. Soltei alto uma blasfêmia
quando os lábios dele finalmente fecharam sobre o meu ponto de
prazer e ele passou a sorvê-lo lentamente. Vários choques
irradiaram daquele local e percorreram todos os meus membros.
— Rebola para mim, jürek — pediu, tornando a me atacar.
Reunindo todas as minhas forças, que àquela altura estavam
quase escassas, e também minha concentração, já que Brian
roubava todo o meu controle, comecei a me movimentar contra o
rosto dele, sentindo que as carícias que ele fazia sobre o meu
clitóris tornavam-se mais intensas.
Com a respiração ficando mais curta e palavras incoerentes
escapando pelos meus lábios, minha única certeza era que mais e
mais me sentia prestes a explodir com as sensações poderosas que
percorriam cada célula do meu corpo ao ter a língua e a boca dele
se alternando sobre a carne inchada, brincando com a cadência,
levando-me a beira da insanidade. Não me recordava da última vez
que me senti tão viva, tão concentrada em mim mesma e no meu
próprio prazer.
Os sons baixos e gemidos que saiam dos lábios do meu
vizinho só faziam com que eu rebolasse com mais afinco,
esfregando minha vagina contra o rosto dele sem nenhum senso de
decoro, buscando por mais.
Cravejei minhas unhas no abdômen trincado dele, talvez com
mais força do que deveria, e abafei um gritinho quando Brian deixou
de lamber toda a minha boceta e passou usar a língua para penetrar
o meu canal tenso, que tentava agarrá-lo dentro de si. Segurando-
me pelos quadris, ele me ajudava a deslizar pela sua língua.
Imaginei que iria desfalecer quando ele tentou alcançar um ponto
mais fundo em mim.
Meus movimentos pareciam cada vez mais lentos, o suor
banhando a minha pele. A cada deslizar, eu sentia o corpo de Brian
mais tenso debaixo de mim. O pau babado do meu amante voltava
a endurecer, pude ver algumas veias saltando no membro, porém
não me importei com o prazer dele nesse momento, estava presa ao
meu.
Subindo e descendo, comecei a fazer movimentos tentando
prendê-lo, e isso pareceu deixar Brian ainda mais faminto. Seu
agarre era mais forte, os gemidos dele tornando-se tão altos quanto
os meus ao me penetrar. A cada estocada, eu me perdia.
Ele voltou a chupar o meu clitóris, sugando o mais rápido
possível, deixando-me mais contraída, mais ofegante. Não vou
saber precisar o momento em que me deixei levar pelo êxtase. O
grito saiu sem que pudesse me conter, e, sem forças, deixei-me cair
sobre Brian.
Ele lentamente parou de me sorver. O último percorrer da
língua por todas as minhas paredes, para capturar o meu prazer, fez
com que eu arqueasse a minha coluna em um espasmo e o nome
dele escapasse dos meus lábios.
— Caralho! — murmurou em meio um ofegar, mas no
momento não tinha forças para responder.
As mãos grandes massageavam a minha bunda e o pênis dele
ficou mais rijo só de acariciar-me. Gemi, sentindo um ardor no meu
centro. Mesmo depois do último orgasmo, não me importaria de ter
o pênis dele me preenchendo até me saciar outra vez, e mais outra,
ainda mais quando esse homem deveria fazer bem gostoso... Outro
som baixo me deixou com esse pensamento e eu ganhei um tapinha
no traseiro.
Continuei deitada até que eu me recompusesse um pouco. Me
movimentei, sob o olhar desejoso de Brian, até que minha cabeça
estivesse pousada contra o travesseiro. Não tive muito tempo para
ficar ali, já que meu vizinho me virou de lado e me puxou de
encontro ao corpo dele.
Emiti um suspiro quando ele me manteve em seus braços
fortes e passou uma perna por entre as minhas, enroscando-nos.
Essa atitude me deixou surpresa, mas quando deu um beijo
inesperado na minha testa e continuou ali deitado, isso me atordoou
ainda mais. Deveria ter esperado que ele não era do tipo que comia
e ia embora logo depois.
Espalmei minha mão no peitoral firme e senti o coração dele
ainda batendo acelerado. Os olhos dele brilharam e, pousando sua
mão sobre a minha bunda, comentou:
— Você faz isso com um homem, jürek — murmurou em voz
sedosa.
Sorri diante do comentário doce, ainda que eu só tenha feito
isso com ele.
Brian deixou um selinho na minha boca, que logo se tornou um
beijo de língua afoito que roubou todo o meu ar. Ele findou o contato
com um beijinho delicado na ponta do meu nariz.
— Você é um furacão na cama, doçura...
— Se você acha...
Caí na risada quando Brian bufou, contrariado.
Para me punir, deu um tapa na minha bunda que fez a minha
nádega vibrar, e o desejo cresceu de forma avassaladora.
Brian segurou o meu queixo e fez com que eu o encarasse.
— Nunca vou esquecer essa madrugada, Ionara — falou em
um tom tão sério que facilmente eu poderia acreditar.
Que mulher não queria ser inesquecível para um homem como
ele?
Resmungando alguma coisa que não compreendi o
significado, ele tornou a capturar a minha boca, seus lábios
moldando-se aos meus suavemente, como se tentasse me
persuadir de que realmente tinha sido memorável, e logo me senti
novamente pegando fogo. Não havia nada que eu quisesse mais do
que ter o corpo largo, forte e suado cobrindo o meu, mas Brian
interrompeu o contato, deixando vários beijinhos pelo meu rosto que
me fizeram contorcer.
Institivamente, passei uma perna pelo tronco dele, abrindo-me
para ele, facilitando a penetração.
— Porra! — resmungou.
Segurou a minha coxa e me fez deslizar lentamente de volta
contra o colchão, mas não sem soltar um gemido.
— Maldição! — praguejou. — Odeio não poder estar dentro de
você, jürek.
— Imagino que sim — rocei meus dedos na ereção mais do
que pronta para mim.
— Caralho, eu preciso ter você...
— E a gente precisa de um banho — retruquei, beijando seu
peitoral.
Rolei para o lado, saindo do abraço, o que fez com que ele
emitisse um som frustrado.
Brian tentou me trazer de volta, porém fui mais rápida e me
levantei. Tornei a rir quando ele passou a resmungar ainda mais e
me deu as costas. Deixei meu olhar percorrer a parte traseira dele.
Caramba. As costas dele eram perfeitas, mas aquela bunda... Senti
inveja.
Não tive tempo de pensar muito, pois logo Brian se virou para
mim novamente e eu percorri todo o corpo dele com o olhar,
focando na ereção.
Sim, era odioso não ter o pau dele dentro de mim, mas fazer o
quê? Lidaria com o que tinha.
— Não vem? — minha voz saiu rouca e eu fiz um gesto com a
mão, chamando-o sedutoramente, antes de provocá-lo: — Ainda
não acabei com você, Brian.
Virei-me para caminhar em direção ao banheiro da suíte, mas
antes que eu passasse pela soleira da porta, grunhindo algumas
imprecações e falando que eu pagaria caro, ele me pegou no colo.
Caí na gargalhada, eufórica e excitada demais com a possibilidade
de ser refém da boca e das mãos daquele homem mais uma vez.
Capítulo oito

Tentei ignorar o máximo de tempo possível o feixe de luz que,


ainda que fosse pálido, parecia incidir diretamente sobre os meus
olhos, e continuar dormindo, porém tornou-se bastante difícil,
principalmente quando inspirei fundo e o cheiro de sexo misturado a
fragrância suave do cabelo dela impregnou as minhas narinas,
provando que tudo tinha sido real. Bem, o cansaço que tomava cada
grama do meu corpo também era uma prova viva disso.
Caralho! Estava exausto! Bem, as poucas horas dormidas
também não ajudavam muito.
Eu era forjado para aguentar muitas coisas sem ceder a
exaustão.
Já passei várias noites em claro durante missões exaustivas,
lidando com situações extenuantes, mas senti certa diversão em
saber que saciar Ionara tinha me feito cair no sono rapidamente.
Acho que a última vez que sucumbi e dormi feito uma pedra foi
alguns anos atrás, depois da merda da Semana do Inferno.
Porra, a ideia de ter aquela mulher todos os dias até não ter
mais forças era um sonho. Torcia para que ele se concretizasse.
Pensar nela fez com que eu abrisse meus olhos. Com cuidado,
me movi no colchão até que eu pudesse contemplar o rosto do meu
minifuracão.
Para a minha decepção, ela estava virada para o outro lado e
tudo que pude ver foi a linha elegante das costas desnudas.
Infelizmente, a bunda estava tampada pelo lençol, mas, mesmo
assim, senti meu corpo se agitar e o início de uma ereção surgir.
Uma vontade enorme de tocar e amar aquela mulher me invadiu,
porém apenas a contemplei, escutando o ressonar baixinho. Não
ousei me mover. Com um sorriso, memorizei cada uma das
pintinhas das costas dela, ansiando o momento em que eu poderia
beijá-las.
Não fazia ideia de quanto tempo passei ali olhando-a, mas eu
sequer me importava com isso. Clichê ou não, patético ou não, não
queria que esse momento acabasse.
Havia transcorrido alguns minutos, ou, sei lá, segundos,
quando Ionara rolou na minha direção.
— Bom dia — murmurou em um tom rouco, mas sem abrir os
olhos.
— Bom dia, jürek. — Meu sorriso se tornou ainda maior e meu
coração acelerou.
Estiquei a mão para acariciar o rosto um pouco amassado e a
gema do meu dedo acabou roçando os lábios grossos,
massageando-os. Quando isso não foi mais o suficiente, substituí
pela minha boca, beijando aquela mulher deliciosa, que retribuiu,
concedendo-me passagem, enroscando a língua na minha.
Gemi. Sedento por ela, deixei minha mão percorrer toda a
extensão das costas, até alcançar sua bunda. Enchendo meus
dedos com a carne macia, puxei-a para mim, colando nossos
corpos, roçando a minha ereção crescente no ventre liso. Os
músculos cansados não me impediam de querer dar prazer a essa
mulher mais uma vez, não quando os olhos acinzentados pareciam
repletos de desejo, não quando Ionara devorava meus lábios, não
quando minhas mãos ganhavam cada vez mais vida sobre o corpo
dela, percorrendo cada centímetro de pele, conhecendo mais zonas
sensíveis que faziam com que ela estremecesse.
Quando atingi meu objetivo, senti que fiquei embriagado, até
um pouco zonzo, ao ter Ionara se esfregando em mim
selvagemente. Aprofundei o beijo, tomando tudo o que ela tinha
para me dar.
Sem fôlego, deixei a minha boca escorregar pela bochecha e o
ofegar baixinho dela reverberou no meu pau, que latejou, querendo
o calor úmido me envolvendo, apertando-o. Ignorando a minha
própria necessidade de tê-la, lambi a extensão do seu pescoço até
alcançar a base, fazendo o corpo dela se arquear contra mim,
enquanto minha mão alcançava o seio farto. Escutei o meu arfar ao
ver o bico do mamilo ficar excitado contra o meu polegar e senti
minha boca salivar, querendo chupá-lo.
Antes que eu pudesse descer mais a boca, dando vazão ao
meu desejo, Ionara apoiou as duas palmas no meu peitoral,
empurrando-me de leve. Removi minhas mãos dela no automático.
Olhei para o rosto belo e vi que ela parecia duelar consigo
mesma sobre algo. O fogo que havia dentro de mim arrefeceu.
Ela teria se arrependido do que tivemos?
Caralho! Preferia levar um tiro do que saber que ela achou que
ter passado a noite comigo tinha sido um erro.
Porra! Essa madrugada tinha sido uma das melhores da minha
vida.
— Jürek? — Indaguei quando ela ficou em silêncio.
— Está ficando tarde... — Mordiscou os lábios, incerta.
— Ainda está cedo para mim — provoquei-a, deixando um
beijo na ponta do nariz franzido.
— É... — Deu um suspiro longo e eu continuei confuso até que
continuou: — Tyler daqui a pouco está acordando.
— Entendo...
— Entende mesmo? — Tocou o meu rosto, acariciando a
minha barba enquanto continuava a me encarar. — Nossa noite foi
maravilhosa, mas...
— Espetacular! — Senti uma pontada de alívio me invadir por
ela não se mostrar arrependida.
Ionara balançou a cabeça em concordância.
— Eu sou mãe, Brian... Sei que pode parecer rude da minha
parte, mas eu preciso pedir que você vá embora.
— Tudo bem, jürek. — Compreendi aonde ela queria chegar.
Estiquei a minha mão e tornei a acariciar o rosto dela.
— Realmente não me entenda mal, mas preciso pensar no
meu filho... Ele poderá ficar muito confuso se ver você aqui logo
pela manhã, só de shorts... E eu...
A interrompi ao deixar um selinho nos lábios macios.
— Não precisa se justificar para mim, Ionara.
— Eu não queria mentir para ele...
— Hey! E nem é necessário...
Rocei minha boca na dela e acabamos nos beijando outra vez.
Parecíamos incansáveis.
— Você está certa em querer protegê-lo, coração — completei,
arfando.
Ela pareceu surpresa ao ouvir a palavra coração, mas se
recompôs rapidamente. Acho melhor continuar a usar jürek...
— Agradeço por compreender, Brian. — Foi a vez dela deixar
um beijinho nos meus lábios. — Nem todos os caras entenderiam.
— Eu não seria tão babaca... — Fiz uma careta.
— Huum.
Ela abriu um sorriso ao qual eu não deixei de retribuir. Acabei
beijando-a outra vez antes de me erguer.
— Mas sinto que deveria ter negociado mais — falei, divertido,
procurando pelo meu short.
— Brian! — Deu um gritinho estrangulado, fingindo estar
horrorizada e eu olhei para ela.
Contive um palavrão. Iluminada pelo sol, com os cabelos
caindo sobre os braços, os seios desnudos e o lençol embolado na
região dos quadris, a mulher parecia uma verdadeira deusa.
Foi difícil não voltar para a cama, ainda mais com Ionara
encarando o meu pau, que crescia sobre o escrutínio dela.
— Não está me ajudando, jürek — murmurei.
Ela continuou a me olhar de forma maliciosa e, praguejando,
peguei o short caído no chão.
— Você é má, mulher! — brinquei, vestindo a peça. — Sabe
que estou em apuros.
— Posso ver, Brian. — A voz era provocante.
— Caralho!
Ionara gargalhou, a risada soando extremamente rouca.
Sem resistir, me aproximei da cama e, afundando meus
joelhos na borda do colchão, me movimentei até que meu corpo
estivesse sobre o dela. Antes que ela pudesse falar qualquer coisa,
minha boca voltou a encontrar a sua. A puni com um beijo duro,
exigente, e Ionara começou a arquear a pelve dela contra a minha
por instinto, o que me deixou alucinado.
Caralho! Sentia que a fricção dos corpos poderia me levar a
molhar o tecido do meu calção com a minha porra, já que estava
extremamente sensível.
Inspirei fundo, sentindo o cheiro dela, que se contorceu e
enfiou as unhas nos meus braços, totalmente atordoada.
— Preciso ir — murmurei, tentando ser racional, odiando-me
fortemente por isso.
— Sim!
Ela choramingou quando, rolando para o lado, saí de cima dela
e da cama.
Outra vez praguejei.
Não queria deixá-la, não quando ela estava tão tentadora.
Sedenta!
Caminhei em direção a janela, que sabia que não tinha grades.
— O que está fazendo? — Os olhos dela se arregalaram.
— Indo embora.
— Poderia usar a porta, sabia?
Fiz que não com a cabeça.
— Nada de ser flagrado por Tyler. — Pisquei para ela, que deu
uma risadinha.
— Obrigada. — Se acomodou no colchão, tampando os seios
com o lençol.
— Irei cobrar um agradecimento... — Fui malicioso, mas logo o
pensamento de que talvez ela não quisesse a mesma coisa que eu
me invadiu, tanto que precisei perguntar: — Posso?
Ela não respondeu de imediato, parecendo pensar, e me senti
no inferno enquanto esperava.
— Só se você trouxer proteção. — Piscou para mim e eu
gargalhei.
Senti-me aliviado por não ser dispensado, o que era
completamente compreensivo, e ao mesmo tempo excitado com as
promessas contidas naquele pedido.
— Não me esquecerei.
— Até mais tarde?
— Até, jürek.
Ionara jogou um beijo no ar que me deixou abobado.
Sorrindo, pulei a janela que não era alta, tanto que dava para
escalar com facilidade.
Enquanto caminhava a curta distância até a minha casa,
contendo-me para não assobiar, foi impossível para mim não me
sentir o cara mais sortudo da América por ter uma chance com
aquela mulher, assim como eu seria o mais idiota deles se eu não
fosse logo comprar um punhado de camisinhas para usar com ela.
Capítulo nove

Maneando a cabeça em negativa, salvei meu trabalho. Desisti


de tentar me concentrar no sombreamento que daria mais volume e
dimensão para o meu desenho, já que, de minuto em minuto,
atraída pelos gritos de Tyler, eu olhava para ele e para Brian, que
estava instruindo meu garotinho nos movimentos que ele tinha que
fazer para se erguer da prancha.
Acabei sorrindo ao ver meu menino levantar-se e ficar
ajoelhado sobre a prancha, para, em seguida, firmar um pé de cada
vez até ficar ereto sobre ela.
— Olha, mamãe! — Tyler deu um gritinho.
— Estou vendo, querido! — berrei de volta, orgulhosa ao vê-lo
se deitar novamente sobre a prancha e, com agilidade, se levantar
outra vez.
— Parabéns, amigão! — Brian falou.
Tyler fez uma comemoraçãozinha e eu e o vizinho acabamos
gargalhando da sua empolgação. Ele logo voltou a repetir os
exercícios.
Meu olhar encontrou o do meu amante e eu senti o meu corpo
todo reagir ao escrutínio dele, que não tinha nada de inocente, ainda
mais que o meu maiô revelava muita coisa. Não que eu precisasse
mostrar algo para Brian me fitar daquela mesma maneira selvagem,
já que nas últimas madrugadas ele havia se dedicado bastante para
me conhecer e me levar a alcançar patamares a mim
desconhecidos. E a recíproca era verdadeira. Eu tinha explorado e
beijado cada pedaço daquele homem que fazia questão de
demonstrar com palavras, sons, toques e sorrisos o quanto eu dava
prazer a ele.
Um caso... Nunca imaginei que ao me mudar para a casa da
minha avó, eu acabaria tendo um caso com o meu vizinho.
Suspirei.
O que vovó pensaria disso?
Parecia meio horrível da minha parte levar um homem para lá,
mas preferia acreditar que, diferentemente da minha mãe, que
surtaria e me chamaria de inconsequente e devassa, ela não me
julgaria e até mesmo me apoiaria.
Sorri.
Conhecendo vovó, ela iria pedir para eu contar todos os
detalhes dos nossos encontros, como eu pedia para ela me contar
sobre o namorado dela. Bem, eu e Brian estávamos longe de ter um
relacionamento sério como era o dela, mas me sentia contente com
o que tínhamos. Eu não estava apenas redescobrindo a minha
sexualidade nos braços daquele homem gostoso, mas cada vez
mais o tinha como um amigo.
Não era apenas sexo o que tínhamos. Às vezes, passávamos
um bom tempo sentados no meu deque, conversando bobagens ou
falando sobre a vida. Pouco sabia a respeito do trabalho dele além
do fato de ele ter decidido não seguir os passos do pai e ter entrado
na Marinha, mas, se fosse honesta, não me incomodava com os
segredos sobre sua carreira. Preferia descobrir seus gostos e coisas
pequenas, como manias. Ele era um homem fantástico, que além de
ser extremamente prestativo, era muito carinhoso e protetor.
— Eu não sou a única a passar bastante tempo com esse
militar... — falei comigo mesma ao abrir outro arquivo em branco do
aplicativo de desenho que usava.
Mesmo podendo tirar uma fotografia, preferia desenhar, e logo
os riscos de um esboço começaram a nascer, registrando aquele
momento precioso que se tornava mais recorrente.
Tyler estava um grude com Brian. Além de verem partidas de
beisebol juntos, eles jogavam basquete e um tal de futevôlei, um
esporte que nunca tinha ouvido falar antes, na pequena quadra
entre as casas, e agora Brian o estava ensinando a surfar, já que
havia comentado com ele que em Rye não havia uma escola de
surfe e a mais próxima ficava a milhas de distância.
Havia questionado, com o coração na mão, se meu filho o
estava incomodando ao querer tanta atenção assim dele, mas Brian
me assegurou que estava tudo bem e que ele se divertia bastante
com o menino. Enquanto os desenhava, contemplando os sorrisos e
as risadas, principalmente quando eles arriscaram a entrar no mar
para treinar, eu soube que meus medos eram infundados.
Ainda que eu sorrisse, estava envolta em vários
questionamentos e eu desejei que vovó estivesse aqui para ter com
quem conversar.
Era certo incentivar a amizade entre os dois?
Brian, inegavelmente, gostava do meu filho, e Tyler o via como
uma espécie de super-herói, mas havia algo que me incomodava:
temia que meu menino acabasse vendo o homem mais velho como
algo muito mais além, como uma figura paterna. Sentiria ainda mais
culpa se isso acontecesse.
— Uau! — Outro grito de Tyler me tirou do transe em que
estava.
Encarei meu filho, que estava de pé sobre a prancha tentando
vencer a pequena onda, mas ele acabou escorregando da
superfície, tomando um “caldo”. Ouvi a gargalhada de Brian, que
estava por perto, mesmo que Tyler estivesse preso à prancha com
uma leash no tornozelo, o que garantia a segurança dele. Ele não
precisou intervir, pois logo meu menino estava na beira da praia.
— Boa tentativa, amigão! — Brian passou a mão nos cabelos
do garoto.
— Que saco! — Meu filho pareceu frustrado. — Eu tava indo
tão bem!
— Nada de palavrão, Tyler! — Brian interveio antes que eu
pudesse dizer algo, continuando a brincar com os fios dele. — Essa
foi apenas a sua primeira onda!
Uma bem pequena, na verdade, mas Brian teve tato para não
deixar o menino mais para baixo.
— Mesmo assim...
— Você ainda vai cair muito, garoto.
— Não vou, não! — O menino fez um gesto em negativa.
— Se você não flexionar mais os seus joelhos e mantiver seu
tronco mais inclinado, irá, sim, amigão — falou, gargalhando.
Tyler pareceu ficar mais emburrado, até que ele foi contagiado
pela empolgação de aprender a se tornar um surfista.
— Foi isso que eu errei?
— Uhum!
— Ah, tá! Posso tentar de novo, Brian?
— Bora lá!
Rindo, o menino pegou a prancha, que era praticamente o
dobro do tamanho dele, segurando-a como se fosse um profissional,
e voltou para a água. Brian foi atrás.
Tyler caiu não uma, mas várias vezes. Eu torci muito para que
ele conseguisse se equilibrar, porque meu coração se afligia quando
via seu rostinho desapontado a cada vez que a onda o tragava.
Sabia que a vida iria dar ao meu filho uma série de nãos, mas para
uma mãe era difícil assistir esses “tombos”. A única coisa que podia
fazer era gritar palavras de incentivo, que se juntavam as de Brian,
que pareciam encorajar o menino mais do que as minhas.
— Eeeee! — Ouvi meu filho dar um grito de alegria.
Colocando o meu tablet sobre a toalha, me ergui e bati
palmas. Estava morta de orgulho por ter visto Tyler conseguir se
erguer e deslizar a prancha sobre a água sem cair, vencendo uma
onda instantes antes que outra acabasse derrubando-o.
Caminhei na direção deles quando vi que estavam voltando
para a praia.
— Você viu o que eu fiz, Brian? — O menino buscou a
aprovação dele.
— Claro que sim. Muito bem, amigão. — Estendeu a mão para
o menino, que bateu em cumprimento. — Falei que você ia
conseguir.
— Consegui mais ou menos... — Tyler pareceu ficar tímido.
— Que isso, cara, você arrasou!
Pousei a mão sobre o ombro franzino e confirmei:
— Sim, querido, você foi muito bem. — Tentei incentivá-lo.
— Sei lá. — Ele se encolheu, tirando importância da sua
pequena conquista.
Franzi o cenho e meu olhar cruzou com o de Brian, que
parecia igualmente confuso com o comportamento do meu filho.
— Está querendo mais elogios, amigão? — Meu vizinho o
provocou. — Pois te garanto que você foi melhor do que eu na
minha primeira vez.
— Mesmo? — Demonstrou curiosidade.
— Mesmo! — Brian passou a mão no queixo barbado. —
Posso lembrar até hoje do tanto de areia que comi.
Arqueei a sobrancelha para o homem interrogativamente.
— Levei um tombo tão feio, que acabei caindo de boca. — Fez
uma cara engraçada, enfatizando a lembrança.
Tyler deu uma risadinha e eu acabei rindo também.
— Você era muito ruim?
— Muito! — Deu uma gargalhada.
— Agora você não é tão ruim — meu filho pareceu mais
animado.
— Como assim não tão ruim? — Brian fez uma careta, para a
diversão da criança, que tornou a rir. — Pensei que eu era maneiro.
— Você é maneiro! — Tyler deu um gritinho.
— Hm. — Coçou a barba, parecendo pensativo. — Não sei…
— Parem de drama vocês dois! — Cruzei os braços na frente
do corpo e o olhar do homem recaiu sobre o meu decote, mas me
obriguei a ignorar, já que me deixaria pegando fogo. — Você sabe
que foi bem, Tyler, e você está ciente de que ele te venera, Brian!
— Xiii… estamos ferrados com ela, amigão. — A voz era
neutra, mas aquele sorriso lento e provocante provocou vários
arrepios na minha coluna e fez a minha pulsação se acelerar.
— Mães! — Meu filho disse em um tom cômico.
— Deus! — Tanto eu quanto Brian encaramos Tyler, antes de
começarmos a rir.
Ri tanto que pequenas lágrimas surgiram no canto dos meus
olhos.
— Não posso perder o costume, senão perco minha
autoridade — brinquei, piscando para os dois.
— Mamãe é brava! Muito brava! — Tyler comentou e deu uma
risadinha.
Franzi o cenho com a fala dele. Não sabia que meu filho me
achava tão brava assim.
Eu não costumava brigar com ele, mas quando o corrigia,
mesmo tentando ser o mais gentil possível, me mantinha firme para
que ele visse que estava falando sério.
Contive um suspiro. Ser mãe não era fácil!
— Então devemos obedecer a sua mãe para ela não brigar
com a gente — Brian disse em um tom brincalhão, percebendo meu
desconforto.
— Tá! — Tyler fez uma pausa e se virou para mim. — Eu fui
bem, não fui?
— Claro, meu bem — respondi.
— Quer tentar outra vez, amigão?
Ele fez que sim, animado, voltando a amarrar o leash no
tornozelo.
— E você, Ionara? Não quer pegar uma onda com a gente? Eu
te ajudo! — Os olhos azuis brilharam, parecendo esperançosos com
a oportunidade de me tocar, mesmo que ingenuamente.
— Deus! Não! — Dei um gritinho histérico, como se a ideia de
ficar sobre a prancha me aterrorizasse, e meu menino tornou a rir.
Brian fez uma cara de muxoxo, parecendo extremamente
decepcionado, e eu tive que conter a minha vontade de repreendê-
lo.
— Mamãe odeia todos os esportes — Tyler comentou, alheio
ao que se passava entre mim e Brian.
— É, nada me apavora mais do que fazer exercícios físicos…
— Fiz uma pausa. — Não sei como consigo manter a minha forma.
Senti os olhos azuis dele sobre mim. Foi um olhar tão
abrasador, que minha pele começou a ficar quente, e eu tive que
controlar a minha respiração para não ficar ofegante.
Não ousei olhar para ele, de jeito nenhum! Eu me trairia.
— Você está ótima, Ionara — murmurou roucamente.
— Sim, mamãe, você é linda!
Emocionada, aproximei-me de Tyler, deixando um beijo
estalado na bochecha dele enquanto acariciava os cabelos
molhados.
Poderia não ser a mulher mais linda do mundo, mas meu filho
me fez sentir como se fosse.
— Obrigada, meu amor.
— Agora podemos ir, Brian? — Meu filho se desvencilhou de
mim e ergueu a prancha, colocando-a desajeitadamente debaixo do
braço, como tinha visto nos filmes.
— Claro, amigão!
— Vou fazer algo para a gente beber e comer enquanto isso —
falei, e só então ousei olhar para Brian.
Um erro, ou nem tanto, já que que sabia que acabaríamos na
cama, com ele demonstrando o quão ótima eu estava.
Estremeci, o desejo sendo mais forte do que o meu
autocontrole, rodopiando no meu baixo-ventre.
Caramba! Eu me sentia uma grande tarada por sexo.
— Tá bom! — Tyler ajeitou a prancha e correu para a água,
sem mesmo me pedir para fazer seu lanche favorito.
Brian não teve tempo de dizer nada, porque tinha que ir atrás
dele.
Logo os dois estavam rindo e Brian cobrava de Tyler que ele
projetasse mais o corpo para frente em busca do equilíbrio.
Assisti os dois por minutos a fio, hipnotizada, presa na
interação dos dois, vendo meu filho vencer uma onda, para acabar
desabando nas próximas.
Acompanhei cada movimento e capturei cada grito de alegria e
comemoração tanto de Tyler quanto de Brian. Sorri e, dando as
costas para eles brevemente, aproximei-me da toalha que havia
estendido. Peguei meu tablet e voltei a me sentar, tornando a
encarar os dois.
Ora desenhava, ora parava para encará-los, e acabei me
perdendo no tempo, esquecendo de tudo, até que minha barriga
roncou e me lembrei que havia prometido preparar um lanche para
eles. Se estava com fome, imagino que gastando tanta energia eles
estariam ainda mais, então voltei para casa.
Para minha surpresa, eu já havia feito os sanduíches, tomado
uma ducha rápida e estava quase completando a coloração do meu
desenho quando vi os dois voltando. Pararam do lado de fora, rindo,
repletos de areia, como tivessem rolado nos grãos.
Suspirei. Eu tinha certeza que os dois haviam se empanado,
como dois camarões, em uma das brincadeiras deles.
Resignada, desempenhei o papel de “mãe brava” e mandei os
dois tirarem o excesso de areia usando a mangueira, e fui pegar
toalhas para eles. De jeito nenhum deixaria que sujassem o piso
que eu tinha me matado ontem para limpar.
Capítulo dez

Joguei o meu celular sobre a mesa após a chamada cair


novamente na caixa postal. Me sentia não apenas frustrada, mas
também cansada. Extremamente esgotada com Donald.
Fazia mais de uma hora e meia que estava tentando entrar em
contato, ligando, mandando mensagem, sem obter nenhuma
resposta. Não sabia se ele estava a caminho ou não.
Tyler estava tão ansioso para passar o dia do aniversário dele
com o pai que até mesmo tinha custado a dormir, tomado pela
inquietação.
Puxei o ar com força e soltei-o devagar.
Tentava me manter positiva, torcendo para que ele cumprisse
a palavra, mas era difícil quando ele já havia falhado demais,
quando fez inúmeras promessas que nunca foram cumpridas. E
parecia que essa seria mais uma feita da boca para fora, já que era
metade da manhã e ele não tinha chegado.
— Merda! — Praguejei baixinho, apoiando minha cabeça entre
as mãos.
Os pensamentos corriam velozes pela minha mente e eu fiz de
tudo para afastar a sensação de culpa, porque era imerecida.
Eu cumpria o meu papel. Por mais que doesse, estava
desistindo de passar a data mais importante da minha vida com o
meu filho para vê-lo feliz, já que, infelizmente, por mais civilizada
que eu tentasse ser na frente de Tyler, Donald não era tão polido. As
alfinetadas viriam, ele me culparia pelas merdas que estavam
acontecendo na vida dele, e isso tudo acabaria com o passeio
mesmo que eu não retrucasse.
Paz era algo que nem ele nem minha mãe pareciam estar
dispostos a me dar. Por quê? Não tinha ideia. Não era tão difícil
assim de seguir com a vida.
Um calafrio percorreu a minha espinha ao pensar na
possibilidade de que ele chegaria bêbado, algo que eu também
levava a culpa, mas preferia acreditar que Donald não seria tão sem
noção.
Suspirando pesadamente, peguei novamente meu celular.
Estava prestes a ligar mais uma vez para Donald, disposta a fazer o
papel de pedante, quando o aparelho começou a tocar e o nome
dele surgiu no visor.
— Finalmente — minha voz saiu bastante irônica ao atender.
— Você é um porre, Ionara! — rosnou. — Precisava encher a
porra da minha caixa de mensagem?
— Se você tivesse me respondido, não precisaria.
— Estava ocupado.
— Nenhuma novidade... — Fiz um som desdenhoso. —
Espero que esteja dentro do avião.
— Sobre isso...
— O quê?
— Houve um problema e eu...
Antes que ele completasse, comecei a rir, sentindo uma raiva
enorme dele.
— Sério? — Tive que me controlar para não gritar. — Sério
que você não vem?
— Como disse...
— Inacreditável! — Cortei-o secamente. — Você disse para
Tyler anteontem que viria!
— Caralho, você torna tudo mais difícil!
— Eu? — Tornei a rir. — Tá de sacanagem comigo. Você que
torna tudo mais difícil.
— Deus, mulher, já disse que tenho um problema para
resolver... — Foi ríspido, saindo do modo defensivo e mostrando as
suas garras.
— Um problema de olhos azuis, verdes ou castanhos? — Fui
irônica, sabendo que ele estava mentindo. Ele já havia se valido
dessas desculpas várias vezes. — Com um par de algemas ou um
chicote, talvez?
— Por que você se importa? — Fez uma pausa. — Está com
ciúmes?
— Não acredito que estou ouvindo isso.
— Sentindo falta de ser comida direito?
Meu estômago embrulhou só de pensar nele me tocando.
— Imagino que sim... — foi jocoso quando eu não disse nada.
— Mas meu pau não está mais disponível para você.
— Que bom! — sibilei.
— Mentirosa! — Começou a rir, e desejei que se engasgasse
com o próprio veneno.
— Acredite no que você quiser, Donald. — Não iria discutir,
muito menos falar da minha vida sexual com o meu ex. — Não te
liguei para falar de mim, mas sim de Tyler. Porra, Donald! Por que
você sempre promete e não cumpre nada? Sabe que hoje é um dia
importante, droga!
— Não exagera, Ionara...
— Eu, exagerando? — Acabei gritando. — Sabe o quão
decepcionado ele vai ficar?
— Ele entenderá...
Balancei a cabeça em negativa, mesmo que ele não pudesse
ver.
— Diferentemente de você, que faz um escarcéu por tudo,
nosso filho é bastante maduro — alfinetou-me.
Gargalhei, me sentindo amarga.
— Não, Donald, ele não entenderá. — Apertei minha fronte,
cansada. — Ele não é alguém extremamente maduro. Tyler é
apenas uma criança e ele estava contando que você viria hoje e
traria os cupcakes que prometeu!
— Eu irei compensá-lo, Ionara...
— Com um celular mais novo? Caramba, superpai sofredor!
— Ionara... — disse em tom de advertência.
— Me diz que estou enganada, Donald...
— Vou me programar para passar uma semana com ele —
murmurou com secura. — Trarei ele para cá e...
— Fazer ele perder uma semana de aula, Donald?
— Que que tem?
— Sem chance! — Retruquei.— Não deixarei que ele perca
aula.
— Ele não irá perder muita coisa...
— Teve as férias inteiras para ficar com ele...
— Que porra! Você nunca fica feliz com nada!
— Donald...
— Foi você quem o levou para longe...
— Não terei essa discussão novamente...
— Porque não te convém! — cuspiu. — Você é egoísta, sabia?
— Claro... — murmurei, ciente de que não iriamos chegar a
lugar algum. — Você pelo menos vai fazer uma ligação?
— Posso falar com ele agora?
— Ele está dormindo. Ficou agitado, porque estava ansioso
por hoje.
— Porra! Você só me cobra.
— Eu não disse nada...
— Nem precisa... — Bufou.
Escutei uma voz feminina chamando-o, e aí tive certeza de
que ele havia preterido nosso filho por sexo.
Meu coração sangrou por Tyler, apesar de não ser a primeira
nem última vez que ele faria isso.
— Só não esquece de ligar, por favor — supliquei.
— Tá! — Foi ignorante e desligou a ligação na minha cara.
Colocando o celular de volta em cima da mesa, senti um
grande amargo na boca por ter que lidar com a frustração e a
decepção de Tyler mais uma vez. Veria o brilho dos olhos dele se
extinguir, por mais que eu fosse tentar contornar a situação ao
distraí-lo com outra coisa.
Suspirei várias vezes, tentando reunir coragem para enfrentar
o dia, em que o sol radiava com toda a sua força. Fazia um tempo
lindo para atividades fora de casa.
Antes que eu pudesse reunir uma fração de forças para poder
me erguer, escutei os passos do meu filho se aproximando.
Coloquei um sorriso no rosto, mascarando a minha dor e
tristeza, e girei a cadeira em direção a porta, olhando o meu menino
que tinha ficado um ano mais velho com o pijama todo amarrotado,
o rosto amassado e os olhos cheios de remela.
— Bom dia, meu amor — falei, abrindo os braços para receber
o abraço dele. — Dormiu bem?
Ele fez que sim com um assentir de cabeça, porém ele não se
aproximou de mim.
Baixei minhas mãos. Meu coração pareceu se quebrar ainda
mais por não receber o meu beijinho na bochecha diário, que
sempre me enchia de forças.
Tentei manter o sorriso, mas era muito difícil.
— Por que não me acordou, mamãe? — perguntou com uma
voz tristonha.
— Você estava dormindo tão bonitinho, Tyler... e você estava
cansado.
— Mas agora estou atrasado! — Cruzou os bracinhos na frente
do corpo, fazendo beicinho, e eu soube que seria um dia bem difícil.
Seria muito pior contar a ele que Donald não viria.
O som cansado deixou os meus lábios sem que eu
conseguisse contê-lo.
— Venha aqui, querido, nós precisamos conversar.
Tyler me encarou por alguns segundos, parecendo pensativo,
e imaginei que, teimoso, não faria aquilo que eu pedi, mas ele
acabou se aproximando.
— Você não está atrasado — falei.
— Tô, sim.
— Não, meu bem, não está. — Fiz uma pausa, sentindo-me
horrível pela mentira. — Seu pai teve uma emergência e não pôde
pegar o avião para vir para cá.
O semblante já abatido ficou mais transtornado.
Estiquei o meu braço para tocar seu ombro e ele não se
afastou.
— Papai não vem hoje?
— Infelizmente, não, querido.
— Mas ele prometeu... — A voz triste me rasgou, e não
apenas metaforicamente. — Ele prometeu que ia me levar para um
lugar maneiro, que ia trazer um montão de cupcake...
— Eu sei, meu amor, eu sei. — Continuei a deslizar minhas
mãos por ele, afagando-o.
— Ele não vem porque não quer, não é?
— Claro que não, Tyler, houve uma emergência no trabalho...
— Não! — Gritou, dando um grande passo para trás, e as
lágrimas molharam o rostinho dele instantaneamente. — Ele não
quis vir porque é longe!
— Não é isso...
— É, sim! E a culpa é sua! — A acusação foi bastante
dolorosa, mas tentei manter a minha calma.
Brigar e xingar não diminuiria a chateação e a frustração
dele, pelo contrário, só me faria ser mais vilã nessa história.
— Tyler...
— Por que você teve que terminar com ele? — continuou,
passando a mão no rosto com força, e eu me senti mais condoída,
principalmente quando ele não conseguia parar de chorar.
— Não é assim que as coisas funcionam, meu bem.
Estávamos infelizes juntos.
— Ele teria vindo! — Bateu os pés. — Eu odeio esse lugar!
— Tyler, não fale assim, filho... — Tentei tocar nele outra vez,
mas ele não deixou. — Você está se divertindo tanto aqui...
Ele balançou a cabeça de forma convulsa, negando.
— Eu odeio tudo aqui! — Tornou a gritar. — Eu odeio você!
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, meu filho virou as
costas para mim e saiu correndo para fora do meu escritório.
Gritei o nome dele mesmo ciente de que ele me iria ignorar, o
que acabou acontecendo.
Não fui atrás dele. Ele provavelmente se trancaria no quarto e
sabia que ele precisaria de um tempo para processar tudo e lidar
com os próprios sentimentos, antes que pudéssemos falar com mais
calma.
Eu também precisava lidar com as minhas emoções
conflitantes, com a tristeza, com a frustração e com a culpa
dilaceradora que outra vez me tomava.
As palavras “odeio você” ditas por aquele que eu mais amava
ecoava na minha mente, deixando o meu coração batendo mais
apertado, ainda que soubesse que foram ditas sem pensar.
Uma lágrima escorreu pela minha bochecha, seguida de
várias outras, o peso das minhas escolhas parecendo insuportável.
Chorei, dando vazão àquela dor, até que não tive mais forças
sequer para soluçar.
Capítulo onze

Mexi a frigideira em que estava fritando os ovos e o bacon,


engolindo a saliva que se formava na minha boca com o cheiro que
impregnava a cozinha, junto com o do café. Desligando o fogo
minutos depois, coloquei tudo em um prato e servi uma dose grande
de café sem açúcar para equilibrar. Gargalhei, já que dificilmente a
ausência da substância equilibraria a gordura da carne de porco.
Estava prestes a sentar em um dos bancos da ilha para
devorar o prato, quando o som de um choro infantil alcançou os
meus ouvidos. Os pelos do meu corpo ficaram todos eriçados. Sem
pensar muito, larguei tudo e fui procurar pela origem do som. Várias
coisas passavam pela minha mente e nenhuma era boa.
Abri a porta de trás e me senti mais em alerta ao ver a figura
franzina de cabelos escuros sentada nos degraus, chorando
convulsivamente. Era para ele estar feliz, não triste. Com passos
largos, o medo revirando as minhas vísceras, alcancei Tyler.
— Amigão? — Minha voz soou baixa e ofegante. — Está
tudo bem?
O pensamento de que algo tivesse acontecido com Ionara me
apavorou ainda mais.
Porra! Gostava demais daquela mulher para perdê-la.
Poderia até mesmo dizer que estava caminhando a passos largos
de me apaixonar por ela.
Como poderia ser diferente quando a mulher era gostosa,
divertida, inteligente, companheira e compreensiva? Quando eu
contava os minutos para tê-la em meus braços?
— Tyler? — Coloquei a mão sobre o ombro dele, sacudindo-
o, tentando afastar qualquer pensamento ruim da minha mente.
Finalmente, consegui atenção do menino, que levantou a
cabeça e me encarou com os olhos avermelhados.
— Oi, Brian — falou tão baixinho que quase não escutei.
— Está tudo certo?
— Papai não vai vir — continuou naquele tom, antes de
baixar a cabeça e chorar de novo.
O alívio por saber que a mãe dele estava bem foi
instantâneo, mas não diminuiu o incômodo que sentia por ver o
garotinho chorando por um maldito babaca.
A raiva começou a crescer dentro de mim.
Eu não estava apenas me apaixonando pela mãe de Tyler,
mas por ele também. Mais e mais meu afeto pelo menino crescia.
Eu o queria também em minha vida, e muito. Tyler era o meu
companheirinho inesperado e, mesmo sem saber, ele me ensinava
várias coisas.
Vê-lo machucado me machucava também.
Quanto mais Ionara me contava sobre o pai dele, mais eu
tinha certeza de que ele era um completo imbecil que não soube
valorizar o que possuía.
Eu valorizaria, uma vozinha sussurrou na minha orelha, mas
não dei importância naquele momento; meus desejos não
importavam agora. Sentei-me ao lado dele e, passando um braço
em torno dos ombros dele, obriguei-me a falar:
— Sinto muito, amigão. Sei o quanto você estava animado
em passar o dia com ele...
E era verdade. Tyler não parava de falar sobre o aniversário
dele e contava os segundos para passar o dia com aquele bosta.
Filho da puta desgraçado. Engoli o palavrão e continuei:
— Mas hoje ainda é o seu aniversário, e isso é superlegal! —
tentei animá-lo.
Minhas palavras não tiveram nenhum efeito, já que Tyler
continuou a chorar, dessa vez um pouco mais alto.
— Amigão...
— Eu odeio esse lugar, Brian! — choramingou.
Franzi levemente o cenho.
— Achava que estávamos nos divertindo muito por aqui, ou
estou enganado? — falei, imprimindo um tom de diversão a minha
voz.
Tyler olhou-me, surpreso.
— É... — Foi obrigado a concordar.
— Eu tenho certeza disso, amigão... — Abri um sorriso para
ele. — Ontem mesmo a gente estava pegando umas ondas
maneiras.
— Você quase se afogou!
Fiz uma careta.
— Só me desequilibrei — defendi-me —, afogar é meio
exagerado.
Ele deu uma risadinha.
— Não é não.
— Tá — concedi, fazendo cara de muxoxo, e desejando que
ele risse ainda mais, completei: — sorte que você estava por perto
para me salvar.
— É...
Pareceu mais animado, porém logo o semblante dele voltou a
ficar abatido.
— Mas aqui é tão longe — murmurou. — Papai disse que
minha mãe é uma louca por ter vindo para cá.
— Sua mãe não é louca, Tyler. Ela me parece muito sã. —
Obriguei minha voz a sair suave, ainda que os meus músculos
tenham ficado tensos por ter o canalha falando mal de Ionara com o
filho. Isso era jogar baixo demais. Filho da puta!
O menininho balançou a cabeça em negativa freneticamente,
negando minha fala, e as lágrimas temporariamente contidas
tornaram a cair.
Acariciei as costas dele, tentando oferecer algum consolo.
— Eu odeio ela por ter me afastado do papai! — Sua voz
ficou mais estridente. — A culpa é toda dela por ele não tá aqui
hoje!
A fúria que sentia por esse cara pareceu ficar ainda maior e
eu senti meu maxilar trincar.
Ódio era algo muito forte, algo que eu tinha certeza de que
Tyler não sentia pela mãe, que o amava com todo o coração.
— Ela sempre estraga tudo! — continuou e eu vi frustração
em meio ao pranto. — Eu queria morar com o meu pai, não com
essa bruxa! Eu odeio ela, odeio muito!
O choro se tornou mais alto. Eu permaneci em silêncio,
deixando que o garoto chorasse o que tinha que chorar, enquanto
eu continuava a afagá-lo e usava aquele tempo para pensar.
Não sabia se cabia a mim ter uma conversa séria com ele
sobre isso, principalmente quando eu era apenas o vizinho.
Que foda-se! Eu gostava muito dos dois para ficar em
silêncio.
Se Ionara não gostar da minha intromissão, por eu estar
exercendo um papel que não era meu, iria lidar com as
consequências das minhas merdas depois. Faria o que achava
certo, e seria o amigo conselheiro que eu achava que Tyler
precisava nesse momento.
— Você chegou a dizer para a sua mãe que a odeia, amigão?
— murmurei após me parecer que ele estava mais calmo, embora
ainda choramingasse algumas palavras incongruentes.
Ele balançou a cabeça, assentindo em concordância, e eu
senti um aperto no meu peito pela mulher. Ionara deveria estar
arrasada, e com razão.
— Olhe para mim — pedi em um tom sério.
Tyler fez o que pedi, mas havia receio nas feições dele, como
se temesse que eu fosse brigar com ele.
— Isso não foi uma coisa legal, Tyler...
— Mas é verdade... — Tentou retrucar em um fiozinho de
voz.
— Não, não é. — Respirei fundo. — Você ama sua mãe,
amigão. E ela ama muito você!
— Não sei...
— Ela demonstra isso nos pequenos gestos, amigão. — Emiti
um suspiro. — Nos cookies que ela prepara para você, nos beijos e
nos abraços que te dá, e até mesmo quando fala alguma coisa para
te corrigir...
Ele ficou em silêncio por uns instantes, até que falou
baixinho:
— Então por que ela me afastou do papai? — Desviou o
olhar para o mar, parecendo envergonhado.
Não cobrei que ele continuasse a me fitar, apenas também
encarei o horizonte esplêndido, com os raios de sol tocando as
águas azuis cristalinas.
— Sua mãe não te afastou do seu pai, Tyler... — Tentei
buscar as palavras certas para dizer a um menino de apenas oito
anos, e acabei, sem querer, dizendo bastante sobre mim mesmo: —
Sabe o que faz você ser um bom Navy SEAL do Team Six?
— Você é do Team Six, Brian? — Senti o olhar dele sobre
mim e eu o encarei, vendo que ele parecia entusiasmado com a
possibilidade.
— Sim, amigão, sou, há um bom tempo. — Não tinha por que
não responder a ele já que tinha entrado no assunto.
— Que legal! — Deu um gritinho.
— É... — Cocei a barba, contendo a vontade de sorrir para
ele.
— Você é um super-herói de verdade!
— Nem tanto, amigão. Sou só um soldado.
Ele fez que não com a cabeça.
— Você deve ter um monte de história legal para contar...
Não, não tenho, quis responder.
As missões que eu havia participado não tinham nada de
“maneiras”. Só havia dor, medo, sangue e a adrenalina correndo nas
veias por sair vivo delas.
— Você pode me contar uma?
— Quem sabe um dia — sussurrei a mentira.
— Ah...
— Você está tentando desviar a minha atenção da nossa
conversa, amigão...
— É...
Deu uma risadinha e eu arqueei a sobrancelha com o
descaramento dele.
— Falando sério, amigão, temos que conversar sobre o que
aconteceu.
— Temos mesmo? — Fez beicinho.
— Sim, temos...
— Tá. — Tornou a olhar para frente.
— Voltando ao assunto, um bom soldado de elite, Tyler, e
acredito que um homem de honra, sempre assume os seus erros e
nunca busca colocar a culpa em outra pessoa...
— Verdade?
Foi a minha vez de assentir, para enfatizar a minha fala:
— Sim, amigão... E é por isso que a sua mãe não teve culpa
de nada...
— Mas...
— Escute — o interrompi em um tom suave —, sim, sua mãe
decidiu se mudar para cá, mas ela não é culpada pelo seu pai não
ter vindo hoje.
— Ela disse que ele teve uma emergência... — sussurrou,
demonstrando desânimo.
Contive a vontade de fazer uma careta. Podia imaginar que
caralho de emergência que ele teve. Desgraçado mentiroso!
— Então, amigão? Sua mãe tem menos culpa ainda...
— É...
— Sua mãe não é responsável pelas ações do seu pai, Tyler
— falei seriamente, mesmo sabendo que poderia estar fazendo
merda. —Ela se mudou para longe? Okay, se mudou. Mas a
decisão de não comparecer ao “compromisso”, de não vir para o
seu aniversário, é apenas dele. Te garanto que se fosse por Ionara,
ele teria vindo passar o dia com você.
— Entendi.
— Entende mesmo, amigão? Compreende que ela deve estar
tão triste quanto você pelo seu pai não ter vindo? E que
responsabilizá-la pelo ato de outra pessoa é algo errado?
As bochechas dele ficaram mais vermelhas, agora de
vergonha.
— Sim, Brian... Não deveria ter feito isso.
— Fico feliz que reconheça seu erro, Tyler. Isso faz de você
um homem de honra!
— Mesmo?
— Uhum!
Ele abriu um sorrisinho, mas logo aparentou preocupação.
— Que foi, amigão? — incentivei-o a falar quando não disse
o que era nítido que estava na ponta da língua dele.
— Você ainda gosta de mim?
— Claro, Tyler, ainda gosto muito de você. — Baguncei os
cabelos dele, em uma brincadeira nossa.
— Não tá decepcionado comigo? Eu não queria falar aquilo...
— A única pessoa com quem você deve se desculpar é a sua
mãe. Você não fez nada para mim, ou fez?
— Não...
— Então?
— Tenho que pedir desculpas para ela...
— Sim...
No entanto, ele não fez nada para se mover, apenas ficou
parado, olhando à frente.
— Você não vai lá falar com ela, amigão?
— E se ela estiver brava?
— Duvido muito... — Triste, sem dúvidas, mas, nesse tempo
todo, Ionara se mostrou sempre muito paciente para explicar tudo
para ele. O único que a deixava puta era o tal de Donald.
— Você pode ir comigo, Brian? — pediu em um fiozinho de
voz.
Deveria dizer que era algo que ele tinha que fazer por conta
própria, que isso também fazia parte de ser uma pessoa correta,
mas eu queria vê-la.
Porra! Eu não conseguia recusar nenhuma oportunidade de
ficar perto dela e me sentiria um verdadeiro idiota se perdesse essa
chance, mesmo que eu não pudesse tocá-la.
— Bora lá! — Ergui-me de um salto.
Tyler se levantou e, para minha surpresa, a mãozinha dele
aproximou-se da minha com certo receio, como se tivesse receio
que eu fosse rejeitá-lo.
Entrelacei os meus dedos nos dele, apertando a mão
pequena.
— Um homem não tem medo de dar a mão a alguém, ainda
mais quando é um amigo — falei, descendo os degraus.
— Tá bom.
Sorri para ele. Rapidamente entramos na casa deles.
— Ainda está no escritório, mamãe? — Brian gritou ao
alcançarmos o corredor.
— Sim, meu amor — a voz parecia triste, mesmo que Ionara
tentasse dissimular.
Tyler correu em direção ao cômodo e eu apenas o segui.
— Você estava chorando, mamãe? — perguntou ao se
aproximar da mulher sentada na cadeira que, com os ombros
caídos, parecia extremamente derrotada.
O rosto lindo estava abatido. Ela nem conseguiria disfarçar as
lágrimas, já que ainda chorava. Odiei a impotência de vê-la assim e
não poder fazer nada.
— Eu... Brian! — Pareceu surpresa ao me ver.
Dei de ombros, sentindo-os tensos.
— Eu te fiz chorar, mamãe? — Tyler começou a chorar
novamente.
— Venha aqui, querido — pediu.
O menino correu na direção dela e, erguendo-o um pouco do
chão, Ionara o abraçou, deixando vários beijos no rosto dele.
— Você tá chorando por minha causa? — Ele insistiu,
choramingando, ao descer do colo dela. Colocou os braços atrás do
corpo, sem jeito.
— Pela situação toda, meu amor... — Foi sincera. — Sempre
me doí ver você chateado quando o seu pai não cumpre a palavra
dele.
— Ah!
— Eu te amo demais, Tyler.
— Eu não te odeio, mamãe!
— Sei que não, Tyler.
— Você me desculpa?
— Claro, meu bem.
— Eu amo você também, mamãe.
O menino voltou a se jogar nos braços dela, que o amparou
em um abraço forte.
— Amo que você me abrace, me beije e faça cookies! —
repetiu as minhas palavras, o que arrancou um sorriso dos lábios
generosos e lindos.
Acabei sorrindo também.
— Você é minha vida, filho — murmurou e vi novas lágrimas
deslizarem pela bochecha dela. — Eu quero que você saiba que
ainda que eu erre, só quero ver você feliz.
— Eu sei.
— Sinto muito que seu pai não venha te ver hoje, de verdade.
— Ele nunca vem...
Vi Ionara engolir em seco e nossos olhares se cruzaram por
uma fração de segundos, antes que ela voltasse a sua atenção para
o menino, que tornou a fungar.
Ionara esticou o braço para acariciar o rosto dele.
— Mas isso não impede de nós comemorarmos o seu
aniversário, afinal, não é todo dia que meu menino fica mais velho
— falou depois de um tempo, tentando animá-lo.
— Como, mamãe?
— Podemos fazer e decorar cupcakes...
— Eu tenho uma ideia melhor — intrometi-me, mesmo sem
ser convidado.
— Sério? — Tyler se virou para mim com um gritinho
enquanto Ionara parecia curiosa.
— Uhum.
— Qual?
— Vocês já tomaram café?
— Ainda não. — Ionara abriu um sorriso e piscou. — Bem, eu
só tomei uma xícara de café.
— Por que não tomamos café em uma lanchonete e depois
vamos a um lugar legal que eu conheço?
— Onde, Brian? — O menino pareceu renovado, tornando a
ficar empolgado.
— É segredo, aniversariante.
— Ah! — Sorri quando ele cruzou os braços na frente do
corpo. — Não tem graça!
— Tem, sim... — Ionara falou, sorridente. — Adoro surpresas
e você também, Tyler.
— É!
— Então, mudança de planos? — Não escondi a minha
animação por poder comemorar o aniversário dele também.
— Sim!!!! — Tyler deu um gritinho.
— Já para o banho e se arrumar, meu amor — a mulher
falou.
— Tá bom!
A mãe dele não precisou dizer uma segunda vez, já que o
garoto, deixando um beijo estalado na bochecha dela e me
cumprimentando com o nosso toque secreto, correu para fora do
escritório, gritando por todo percurso.
Balancei a cabeça em negativa e me aproximei de Ionara,
que havia se erguido.
Foi instintivo para o meu corpo reagir ao dela e, sem pensar
muito, passei um braço em torno dos seus quadris e a trouxe para
mim, abraçando-a. Ela deixou-se envolver e eu inspirei fundo,
deliciando-me com o cheiro natural que vinha dela.
— Brian! — Demonstrando afeto, deixei um selinho nos seus
lábios. Ela arfou e eu vi os olhos acinzentados se arregalarem.
Ionara não se afastou como esperava.
— Como você está, jürek? — A minha preocupação era
nítida.
Da surpresa, o rosto dela transformou-se em consternação.
— Ser mãe nem sempre é fácil — sussurrou.
— Não, não é!
— Ele não disse aquilo por mal, mas dói.
— Posso imaginar, jürek.
— Passa, mas preciso de um tempo.
Não respondi, apenas dei outro beijinho nela.
— Brian, a porta está aberta...
— Estou pouco me fodendo para isso... — Apertei Ionara
mais contra mim e ela apoiou as duas mãos sobre os meus ombros,
começando a me acariciar também.
— Tyler pode aparecer... — ralhou comigo.
— Ele verá você nos meus braços mais cedo ou mais tarde.
— Sorri, dizendo o óbvio.
— É...
— E o cara...O que houve? — questionei, e ela ficou mais
triste.
— Mulher... — Suspirou.
— Caralho! — Continuei a praguejar uma série de palavrões.
Porra! Já disse que queria surrar o filho da puta?
— Foi muito gentil da sua parte convidar a gente para irmos
no tal lugar, para animá-lo. — Mudou de assunto, e eu respeitei ela
não querer falar sobre o assunto, afinal, era o aniversário de Tyler.
— É um prazer fazer isso, e você sabe disso. — Rocei minha
boca na dela outra vez. — Espero que não tenha sido muito
inconveniente.
— Sabe que não — provocou-me, os olhos acinzentados
brilhando.
Foi minha perdição. Passei minha língua pelos lábios dela,
beijando-a de verdade, havia ficado tempo demais sem prová-la.
Suspirando, ela retribuiu ao contato, deslizando a língua pela minha
morosamente. A expectativa de ela intensificar tudo me invadiu.
Fiz um muxoxo quando Ionara findou o beijo e deu um
passinho para trás que pareceu enorme demais para mim.
— Eu preciso me arrumar e me recompor, Brian, e acho que
você também! — Ela estava ofegante.
— Tá. — Roubei um selinho dela. — Só vou porque estou
morrendo de fome.
— Besta. — Deixou um tapinha no meu peitoral. — Agora vá!
Quando não me movi, ela começou a me empurrar até que
me colocou para fora do escritório. Dei uma gargalhada.
— Até, jürek — falei depois de arrancar mais um beijo
sôfrego dela que nos fez gemer, deixando-a mole em meus braços.
Finalmente dei as costas a ela e fui embora, conhecia bem a
saída.
Enquanto entrava em minha casa, torci para que eu pudesse
fazê-los feliz, não apenas hoje, mas por muito, muito tempo.
Capítulo doze

— Foi o melhor waffle que já comi! — meu filho falou ao


deixarmos o restaurante que muitas vezes tinha ido com a minha
avó e que sempre me deixava com uma sensação nostálgica.
Nosso pequeno conflito por conta do pai dele parecia que
nem havia ocorrido. Meu menino estava tão empolgado para ir ao
local misterioso, que era impossível não me sentir contagiada pela
felicidade dele. E isso tudo graças a Brian, que tagarelava, contava
piadas e fazia gracinhas, tornando aquele café da manhã de
aniversário ainda mais divertido.
— Pensei que era o meu — provoquei-o, mesmo estando
ciente de que os que eu fazia sequer chegavam perto dos de Rose,
a dona do estabelecimento.
Os waffles eles eram tão macios que, quando colocava um
pedaço na boca, parecia que estava comendo um pedacinho de
nuvem. Minha avó, que era muito amiga dela, tentou conseguir a
receita, mas não teve sucesso, já que a receita era segredo de
família.
— Mas você não me deixa comer com sorvete no café, só
com frutas! — Tyler pareceu indignado e eu e Brian acabamos rindo
do menino.
— Com frutas e mel também é gostoso, amigão. — Brian
destravou o veículo e o menino escalou a caminhonete sem
dificuldade, se ajeitando no banco.
— Não é, não! — Meu filho resmungou, arrancando mais
risadas de nós.
Cavalheiro, mais uma vez, Brian abriu a porta do carona para
mim e estendeu a mão, ajudando-me a subir.
— Obrigada — agradeci.
Brian apenas sorriu daquela forma que me deixava bamba.
Felizmente eu já estava sentada.
— Mas waffles com mirtilos também é bom! — Tyler
continuou a puxar assunto enquanto eu colocava o cinto.
— Prefiro com framboesa — Brian comentou, dando partida e
girando o volante para sair da vaga.
— Eca! — Meu filho deu um gritinho. — Detesto framboesa!
— Então porque você come, filho? — Franzi o cenho.
— Ah!
— Tá se complicando à toa, amigão...
— Não é? — concordei. — E então, Tyler?
— Eu não sei... — ele murmurou.
Acabamos gargalhando com a resposta simplória dele.
— Bom que eu não compro mais — falei, ainda sem
conseguir controlar a risada.
— Ah, não, mamãe! — protestou e pelo retrovisor vi que ele
cruzou os bracinhos na frente do corpo.
— Pensei que não gostava, amigão... — Brian o atiçou.
Inconscientemente, ele pousou a mão sobre a minha coxa.
Mesmo que o meu jeans me impedisse de sentir o contato de pele
contra pele, várias borboletas pareciam rodopiar no meu estômago.
Deveria afastar o toque impróprio, ainda mais que Tyler
poderia ver, mas não consegui, ainda que mais cedo eu tenha tido
êxito em interromper os beijos.
Não tinha mais forças para ficar afastando-o de mim e muito
menos para negar o carinho enorme que sentia por ele. Apaixonar-
me por Brian parecia inevitável ainda que parecesse errado. Mas
não era, oras! Estava divorciada, era livre, e podia fazer o que eu
bem quisesse.
— Se você acha nojento, não deveria se importar se ela irá
comprar ou não.
— É... — meu filho falou, concentrado em responder as
provocações dele. — Mas você vai continuar comprando, né,
mamãe?
— Hm... — continuei na brincadeira. — Não sei...
— Mamãe!
— Vai comer tudo?
— Vou!
— Okay — cedi.
— Eu quero um montão de mirtilos!
— Amoras também?
— Ah, não! Só morangos!
Balancei a cabeça em negativa, com as manhas do meu filho,
já que ele amava frutas vermelhas. Os dois continuaram a se
provocar, até que Brian parou a caminhonete próximo a uma casa
acinzentada, cercada por um gramado verde imaculado.
Umas pessoas estavam sentadas no chão, assistindo
algumas crianças correrem.
— Chegamos? — Tyler pareceu um pouco decepcionado. Eu
teria que conversar com ele, já que era bem rude da parte dele
reagir assim.
— Sim, amigão. — Brian continuava a sorrir. — Parece ser
apenas uma casa como outra qualquer, mas tem coisas muito legais
lá dentro!
— Sério? — Tornou a ficar elétrico. — Tipo o quê?
— Vai ter que entrar para descobrir, amigo...
— Tá! — concordou e se desvencilhou do cinto para sair.
Eu fiz a mesma coisa e me juntei logo ao meu menino,
segurando-o pela mão para que ele não saísse correndo.
Dando a volta na caminhonete, Brian se postou ao meu lado
e espalmou a mão na base da minha coluna. Conter o estremecer
perante o toque foi muito difícil, mas eu me forcei a continuar
andando enquanto Tyler apontava para a trilha de pedras, criando
suas teorias infantis.
Com o canto do olho, vi que, diferente de mim, que estava
tensa, dando importância demais ao toque que revelava não apenas
o instinto protetor dele, algo que sabia ser inerente a sua natureza,
mas também posse, Brian agia naturalmente.
— Quantos ingressos, senhora? — A jovem perguntou assim
que alcançamos a bilheteria.
— Três, por favor — respondi, abrindo o zíper da bolsa para
pegar a minha carteira.
Antes que pudesse pegá-la, Brian segurou o meu punho
delicadamente, impedindo-me.
— Deixe que eu pago, jürek.
— Não é certo. Você já pagou o café.
— Eu que convidei, eu que pago, lembra-se? — murmurou a
pergunta contra a minha orelha e os meus pelos ficaram arrepiados.
— Brian...
— São apenas cinquenta dólares, Ionara, não vou ficar mais
pobre por isso...
Antes que pudesse retrucar, puxou a própria carteira do bolso
da calça e estendeu uma nota para a garota, que logo liberou a
nossa entrada ao Centro. Novamente, a mão de Brian pousou na
minha lombar, conduzindo-me pelo caminho, provocando outra vez
aquelas sensações que me deixavam eletrizada.
— Uau! — Meu filho deu um gritinho assim que entramos na
sala e demos de cara com um esqueleto pendurado no teto.
— Não é maneiro, amigão? — Brian deixou de me tocar para
se aproximar de Tyler, que correu em direção aos ossos, ficando
embaixo dele.
Não pude negar que senti falta do toque dele, mas acabei
sorrindo ao ver os dois juntos, o que sempre acontecia.
— Supermaneiro!
Cheguei próximo deles e confesso que não gostei da
sensação de estar debaixo da ossada. Mesmo que estivesse presa
por cabos de aço, tinha impressão de que cairia sobre nós.
— Também achei quando vi pela primeira vez.
— É gigante!
— Tem quase dez metros e pesa mais de nove toneladas.
— Como você sabe? — Meu filho encarou Brian como se ele
fosse o homem mais inteligente da face da terra.
— Li naquele painel — apontou para uma outra parte da
exibição.
— Ah! — Tyler pareceu decepcionado, mas logo voltou a
encarar a ossada, tornando a ficar animado. — O que que é?
— Uma baleia, meu amor.
— Uau! — repetiu. — Sabia que era grande, mas nem
imaginava.
— Existem ainda maiores, amigão...
— Entendi... — Tyler começou a caminhar em direção a uma
atração que tinha alguns botões e se movia. — Você já viu uma,
Brian?
— Algumas quando estive a bordo de um destroyer[8].
— Legal! Elas são assustadoras mesmo?
— Sim, principalmente quando um conjunto delas ficam
circundando o barco...
— Ah... Como será que é ser engolido por uma?
— Credo, filho! — Franzi o cenho enquanto Brian ria.
— Por quê, mamãe?
— Acho que poucos saíram vivos para contar como é ser
engolido por uma, amigão — o homem continuou a gargalhar.
— Ah!
Tyler fez um muxoxo, mas logo se sentiu atraído por outra
atração.
Mesmo que as salas não fossem tão grandes assim, havia
não apenas painéis explicativos, mas também diversos aquários
com várias espécies de animais e flora marinhos dos recifes
próximos.
— Vamos ali?
Sem esperar uma resposta, meu filho segurou-me pelo braço,
puxando-me em direção a uma espécie de tanque, onde havia um
mediador.
— Vocês sabem como vivem as lagostas?
— No mar, não é?
— Sim, no fundo dos oceanos, em tocas e também em
aberturas de formações rochosas... — continuou a explicar sobre os
hábitos do crustáceo para Tyler. — Aqui vocês podem sentir a
diferença da temperatura das águas...
— Pode colocar a mão? — Meu filho perguntou
entusiasmado.
— Sim.
— Legal! — Sem hesitar, Tyler enfiou a mão no tanque, mas
rapidamente tirou. — Nossa, é muito frio!
Demos risada, principalmente quando ele enfiou quase o
braço inteiro dentro da água e soltou um “burrrr” enquanto
estremecia.
— Como eles conseguem sobreviver a esse gelo? — Tyler
questionou.
— O corpo deles é adaptado para suportar temperaturas
baixas, e qualquer mudança de grau, mesmo que mínimas, esses
animaizinhos conseguem sentir... — continuou a explicar enquanto o
meu filho brincava de testar as diferenças entre os líquidos.
— Não vai colocar a mão, mamãe?
— Eu não. — Foi a minha vez de estremecer, para a risada
do garotinho.
— Pensei que fosse mais corajosa, jürek — Brian me
provocou depois de conseguir ficar um minuto com o braço imerso
no tanque frio.
— Medrosa! — Tyler endossou o coro.
— Eu não vou cair nessa de vocês!
— Covarde! Covarde! — Os dois começaram a fazer coro e
eu revirei os olhos.
— Não vou enfiar minha mão nessa pedra de gelo.
— Não acabe com a graça, medrosa — Brian falou próximo
ao meu ouvido e a respiração quente dele contra a minha pele
mexeu com o meu brio.
— Você me paga! — Falei o mais baixo possível, para que
apenas ele ouvisse.
— Espero por isso. — Gargalhou e eu fiz uma careta.
— Vamos logo, mãe! — Tyler praticamente me intimou.
— Tá!
Respirei fundo e, sem pensar muito, encostei a ponta dos
meus dedos na superfície e foi como se eu recebesse um choque
com o gelo.
— Credo! — Retirei a minha mão de imediato.
— Nem colocou a mão direito, mamãe...
— Deveria colocar o braço todo, Ionara... — Brian disse em
tom de diversão, fazendo meu filho rir. — Isso foi covardia.
— É, mamãe!
— Foi o suficiente — contestei.
Antes que eles pudessem me convencer do contrário,
agradecendo as informações do mediador, caminhei em direção a
outra atração.
Me arrependi no minuto seguinte de me aproximar de um
outro tanque ao ver o educador estendendo um bicho de aparência
estranha a uma garotinha, que era mil vezes mais corajosa do que
eu.
— Dessa você não escapa, jürek — a voz divertida soou bem
próxima ao meu ouvido.
Tyler deu uma risadinha ao ouvir a provocação, ainda que
estivesse entretido com o bichinho que a garota segurava.
Merda! Tinha certeza de que nenhum dos dois iria deixar
aquilo passar!
Capítulo treze

Dando um pulo alto, segurei-me com firmeza no batente de


madeira da janela e por um momento, apenas fiquei contemplando a
mulher que, de costas para mim, passava algo em um dos ombros
quase desnudos. Sorri lascivamente, como o cretino que eu era, ao
sentir o meu pau começar a enrijecer perante a imagem sensual
dela se acariciando lentamente para espalhar o produto.
Caralho de mulher gostosa!
— Você deveria parar de fazer isso — Ionara falou ao virar o
rosto na minha direção.
— Por quê? — Impulsionei o meu corpo para cima, para pular
a janela do quarto de Ionara.
— Além de deixar de me assustar? — provocou-me, já que
provavelmente sabia que eu viria.
Ela deu as costas para mim e o tecido do robe escorregou
ainda mais, deixando muito mais de pele a mostra.
Minha boca secou e senti-me ainda mais excitado. Queria
beijá-la.
— Gosto da sensação de proibido que pular uma janela me
dá — brinquei, minha voz saindo rouca.
Ionara tombou a cabeça um pouco para trás, os cachos
escuros caindo como uma cascata pelas costas, e gargalhou.
— Não tem nenhum pai severo por aqui para brigar com você
se entrar pela porta da frente, Brian...
Não consegui responder de imediato, pois ela continuou a
traçar círculos lentos na pele apenas para me deixar mais fodido.
Com um grunhido, sem me conter mais, me aproximei dela e
comecei a reunir os cabelos em minha mão.
Inspirei fundo.
Porra! Ionara estava cheirosa demais.
A minha mão livre passou a acariciar seu braço, o que a fez
estremecer.
— Me sinto um adolescente indo ver a namorada, jürek —
murmurei, só me dando conta das minhas próprias palavras quando
ela falou:
— Namorada?
— É... tipo isso — desconversei.
Não que eu não levasse o que tínhamos a sério, pelo
contrário, eu não tinha dúvidas de que um dia iria pedir aquela
mulher em namoro. Eu teria que ser muito otário se não a fizesse
minha, mas sabia que era cedo demais para Ionara, que ela tinha já
muitas coisas para lidar, como aquele bosta que sequer ligou para o
próprio filho para felicitá-lo pelo aniversário. Tyler poderia ter
acabado esquecendo da promessa não cumprida no dia, mas, na
manhã seguinte, ele se recordou e as lágrimas foram inevitáveis.
— Entendi — murmurou. — Você já fez muito isso? Digo,
pular a janela para ver suas namoradinhas?
— Nunca fiz.
— Então como sabe a sensação, Brian?
— Não tenho uma resposta para te dar...
Puxei os cabelos dela com um pouco mais de pressão,
sabendo que ela curtia uma pegada mais forte, mas sem a
machucar.
Ionara emitiu um gemido, sexy, arqueando a coluna na minha
direção, e eu rocei o meu pau na bunda dela, deixando-a sentir o
quanto estava rígido, arrancando ainda mais sons baixos dela.
Jogando os cabelos para um lado, beijei a curva do pescoço
que ela oferecia para mim. Meus lábios percorreram cada pedaço
de pele, lambendo, sugando, trilhando beijinhos, matando a minha
fome.
— Senti sua falta, jürek — murmurei, tomando um lóbulo
entre os dentes enquanto desfazia torpemente o laço que prendia o
robe dela. Realmente, estava me comportando como um
adolescente...
Nem parecia que era um homem que passava meses
tranquilamente sem sexo, porque quatro dias sem ter o corpo de
Ionara contra o meu estava sendo mais do que infernal.
Entendia que o foco dela nesses dias era cuidar de Tyler e
terminar uns projetos de trabalho, e a apoiava completamente.
Ainda assim, isso não me impedia de me sentir desesperado por
ela, por mais que parecesse exagero.
Ela segurou a minha mão, impedindo-me de tocar o abdômen
plano, e eu resmunguei, contrariado.
— Eu ainda não te perdoei por ter me feito segurar aqueles
bichos nojentos, Brian — falou ao se virar na minha direção,
apoiando as duas mãos no meu peito para me empurrar.
Mesmo que eu fosse mais forte, cambaleei para trás porque
fui pego de surpresa, preso que estava no corpo nu de Ionara
revelado pela fresta da peça de seda.
Poderia tê-la visto sem roupa várias vezes, mas sempre que
via o corpo dela ficava fascinado e babava por ela, e meu raciocínio
ficava lento, tanto que nem processei o que ela havia falado.
Sedento, me aproximei novamente querendo abraçá-la, mas
Ionara impediu-me ao esticar os braços, colocando distância entre
nós dois.
— O quê? — Franzi o cenho, confuso com a rejeição dela.
— Não estava brincando quando disse que você me
pagaria...
Removeu o robe e deslizou a mão por um de seus mamilos,
fazendo aquilo que eu mais desejava fazer, e eu grunhi, sentindo
meu pau latejar ao ver o bico excitado. Eu ofegava, enquanto gotas
de suor começavam a se acumular em minha fronte.
Ionara baixou mais a mão, até alcançar o vértice entre as
coxas.
Pude ver que os pelos aparados estavam úmidos, deixando
evidente o quão quente ela estava, e eu engoli em seco, o desejo
reverberando em cada poro do meu corpo.
Dei um passo à frente, querendo tomá-la, mas a sobrancelha
arqueada dela me impediu.
Voltei a deslizar meu olhar pelos seios fartos, descendo pelo
abdômen, e pensei que iria enlouquecer quando ela passou a
brincar com as dobras do seu sexo encharcado, sem de fato se
penetrar.
— Porra! Isso é covardia, mulher!
— Me recordo de um certo alguém me chamando de
covarde... — murmurou.
— Eu...
Qualquer argumento que pudesse usar em minha defesa
morreu no momento em que ela deslizou o indicador pela fenda e se
penetrou, emitindo um suspiro baixinho de prazer, seguido de vários
outros quando provavelmente encontrou o clitóris excitado. Não
contive os meus próprios gemidos ao assisti-la se tocando,
principalmente quando encarou o meu pênis, que latejava em
resposta as carícias dela em seu próprio corpo. Ver Ionara morder
os lábios para conter os sons que saiam mais altos enquanto a mão
se movia com mais intensidade sobre si mesma fez com que eu me
transformasse em um homem bárbaro. Sem pensar que eu estava
sendo um maldito babaca, para não dizer coisa pior, cruzei a
distância que havia entre nós e, segurando o rosto dela, colei
nossas bocas, tragando seu suspiro sensual.
Pedi passagem por entre os lábios macios e a língua dela
rendeu-se à minha em um beijo cheio de selvageria da minha parte,
mas pouco a pouco, com as mãos pequenas afagando as minhas
costas, percorrendo toda a extensão, os lábios dela foram me
controlando. Entre gemidos, deixei que a minha mulher diminuísse a
intensidade do beijo, transformando-o em uma dança lenta, mas
igualmente poderosa.
Não era surpreendente Ionara conseguir me levar de um
extremo ao outro, dominando a minha urgência. Ela era uma sereia
que havia me encantado. Por ela, não duvidava que eu me lançaria
ao mar se assim quisesse.
Uma gargalhada escapou pela minha garganta com o
pensamento clichê, mas que logo transformou-se em um gemido
quando os lábios aplicaram mais pressão sobre os meus.
Meus dedos que antes seguravam seu rosto deslizaram pelo
pescoço frágil, descendo pelos braços até alcançar a lateral dos
seios e parando na cintura. Acariciei-a de cima a baixo, deliciando-
me com a sua pele, sentindo Ionara se contorcer contra mim
enquanto a língua dela se tornava mais exigente. Choramingou meu
nome enquanto suas unhas deixavam vergões pela minha pele, no
entanto, não acompanhei sua avidez, movendo minha boca
lentamente sobre a dela, desfrutando do beijo.
Arfei quando ela roçou os quadris contra a minha ereção, o
que fez parecer que meu sangue se acumulou todo no meu pau.
Mordisquei o queixo dela, depois desci os lábios por sua garganta,
beijando, mordendo e arranhando-a com a minha barba. Estava
quase encontrando seus ombros, quando ela me empurrou de novo,
só que dessa vez não tive tempo para me sentir frustrado porque,
lançando-me um olhar sedutor, os lábios se curvando com malícia,
ela se aproximou de mim e levou a mão ao meu short.
— Caralho, mulher! — Fechei os olhos, ouvindo meus
batimentos cardíacos soando fortes.
Quando Ionara apalpou o meu pênis por cima do calção, eu
senti dor tamanha a minha rigidez. A resposta dela foi dar uma
apertadinha suave, o que arrancou um som gutural de mim, ao
passo que eu ficava melado com o pré-gozo. Ela continuou a me
acariciar, torturando-me, até que que ela abaixou meu short e a
cueca com um puxão.
Abri os olhos ao sentir a respiração dela roçar na minha
virilha. A vi de joelhos, ajeitando os cabelos em um rabo de cavalo,
enquanto me encarava. Meus dedos substituíram os dela segurando
os fios sedosos, mas ao invés de puxá-la em direção ao meu pau,
cedendo a ânsia bruta, com um toque suave, pedi que se ergue-se.
— Brian? — Pareceu surpresa ao se levantar, já que somente
um tolo negaria ter aqueles lábios te chupando.
Segurei o rosto dela e o acariciei antes de beijá-la com
ternura, provando e provocando-a da mesma forma que ela tinha
feito comigo, enquanto lentamente a tombava contra o colchão,
acomodando-nos na cama. Sem desgrudar os lábios dos meus, com
a língua percorrendo cada canto da minha boca, ajudou-me a
deslizar nossos corpos suados para alcançarmos o travesseiro. Ter
o sexo dela roçando no meu pênis me transformava em pura
tensão, principalmente por estar muito próximo de sentir todo o
canal dela me envolvendo.
Um som gutural escapou da minha boca quando ela
enroscou nossas pernas e me puxou contra si pela lombar,
querendo que eu a penetrasse. Interrompendo o beijo, apoiei o peso
sobre os quadris dela e estiquei o braço em direção ao móvel de
cabeceira, acabando sorrindo quando ouvi o resmungo dela.
Abrindo a gaveta, tateei descoordenado em busca de camisinha, já
que toda a minha atenção estava nos toques febris da mulher. Foi
um alívio encontrar vários pacotinhos, pois a última coisa que queria
era parar.
— Eu faço as honras — ela murmurou, pegando a
embalagem da minha mão.
Rasgou o lacre, removendo o látex de dentro.
— Porra! — Não contive o palavrão quando ela envolveu o
meu pênis com a mão, aplicando mais pressão do que o necessário.
Ionara começou a me masturbar, roubando todo o meu
controle e raciocínio, já que eu movimentava meus quadris, socando
nos seus dedos, gemendo insanamente o nome dela, incentivando-
a a continuar a subir e descer a mão por toda a extensão, mas um
pequeno lampejo de racionalidade fez com que eu segurasse o
pulso dela e pegasse a camisinha esquecida. Rapidamente envolvi
o meu pau com o látex e igualmente rápido fui puxado por Ionara,
que fez com que eu cobrisse o corpo dela com o meu. Tinha tido a
intenção de fazê-la explodir com os meus dedos, mas o desejo de
alcançarmos o êxtase juntos tornou-se ainda maior dentro de mim.
Nosso gemido ecoou no ar quando, apoiando-me sobre um
cotovelo, acomodei-me melhor sobre ela e deslizei a cabeça do meu
pau nos grandes lábios.
Contemplei a mulher embaixo de mim: os cabelos formando
uma cascata desordenada sobre o travesseiro, o rosto corado, os
lábios entreabertos...mas era o desejo que havia nos olhos
cinzentos que fez com que eu buscasse a boca dela em um beijo
calmo, provocando vários pequenos estalos que se juntavam ao
som das respirações entrecortadas, enquanto inseria meu pau
lentamente nela. Ao contrário de mim, Ionara mostrou sua ânsia
cravando as unhas na minha lombar e fazendo com que eu
escorregasse nela com um tranco, alcançando o mais fundo
possível, o que arrancou de mim um urro de deleite por ter toda a
minha extensão dentro dela.
Nos encarando, continuando a roçar nossos lábios naqueles
beijinhos, comecei a mover os meus quadris para frente e para trás,
sem me tirar por completo, sentindo que ela ficava mais tensa e
ansiosa debaixo de mim. Ela lambeu os meus lábios, pedindo
passagem, enquanto erguia os quadris, me recebendo no meio do
caminho, fazendo com que eu estremecesse e a estocasse com
mais vigor, buscando pelo nosso ápice. Diferente do que eu
imaginava, do desejo cru que havia em seu rosto, Ionara provou
cada canto da minha boca antes da língua deslizar morosamente
pela minha. O beijo carinhoso e os toques delicados em minhas
costas refrearam a minha ânsia pelo orgasmo e fizeram com que eu
tornasse a investir lentamente para dentro dela, acompanhando a
cadência e a pressão que ela imprimia aos nossos lábios.
O prazer que proporcionávamos mutuamente estava
presente em cada suspiro que se propagava pelo cômodo, no suor
que se misturava, no olhar que nos conectava de uma forma que
nos levava a um outro patamar de entrega. Várias sensações
percorriam o meu corpo e minha mente enquanto jogava meus
quadris para trás, para voltar a deslizar para dentro do canal
apertado, que se contraia em torno de mim, e eu deixei-me levar por
aquela mistura de euforia com carinho.
O coração pareceu encontrar uma nova forma de bater, uma
desconhecida, mas que não duvidava que seria aprendida
rapidamente.
Ionara poderia não estar sentindo as mesmas coisas que eu,
poderia ser apenas sexo para ela, mas rápido ou não, impróprio ou
não, emocionado ou não, comecei a fazer amor com ela lentamente.
Eu marcava na minha alma essa madrugada e a mulher que emitia
sons abafados, que aumentava lentamente a intensidade do beijo,
ciente de que levaria aquelas emoções para onde quer que fosse,
mesmo que tudo acabasse.
Não quis pensar em um fim. Eu não queria um fim, não
quando hoje era o início de tudo.
Meu corpo apenas obedecia ao dela, intensificando o vai e
vem, fazendo com que nossos quadris se chocassem com o
impacto.
Sem ar, deslizei minha boca pelo maxilar dela, trilhando
beijos pelo pescoço até alcançar a base sensível, ao passo que
jogava meus quadris para trás para penetrá-la. Um gritinho
misturado a um soluçar alcançou o meu ouvido, as unhas eram
garrinhas fortes sobre mim. Quando passei a sugar o ponto sensível
da jugular, Ionara se abriu ainda mais para mim, envolvendo meu
tronco com uma perna, a posição permitindo que meu pau
resvalasse no clitóris dela. Provoquei-a, diminuindo o ritmo da
investida, ao passo que continuava a traçar beijos e mordidas em
todos os lugares que meus lábios alcançavam.
— Brian! — murmurou o meu nome, mexendo a pelve,
pedindo que eu a levasse ao ápice. Grunhi.

Ela enterrou os dedos nos meus cabelos e puxou os fios com


força, já que não aumentei a velocidade da fricção como ela
ansiava, por mais que, com o passar dos minutos, meus músculos
ficavam cada vez mais rígidos com a tensão.
— Caralho, gostosa! — gemi.
Ionara não facilitou a minha tentativa de fazer amor
lentamente com ela ao começar a contrair os músculos em torno do
meu pênis, o que deixava a minha carne ainda mais latejante.
Vencendo a resistência que ela exercia, continuei a acariciá-
la na zona erógena, lambendo o suor que escorria pela lateral do
pescoço. Capturei novamente os lábios dela, beijo que avidamente
ela retribuiu, deslizando a língua pela minha em um ritmo frenético.
Deixando que Ionara tragasse meu suspiro que soltei com a
contração que ela exerceu na cabeça do meu pau, perdi o falso
controle que eu mantinha sobre nós e aumentei a velocidade com
que a estocava, buscando o nosso ápice. Arfando, soquei mais forte
dentro dela, indo até o fundo, fazendo com que Ionara segurasse a
parte de trás dos meus ombros, os olhos cinzentos parecendo mais
desfocados.
Saí e entrei novamente em um tranco, não conseguindo
conter um urro primitivo quando tudo nela pareceu se esticar com a
minha invasão, para depois se fechar sobre mim, me levando ao
limite, me fazendo perder meu fôlego e também as forças. Sabendo
que não conseguiria me segurar por mais tempo, ainda movendo os
meus quadris para frente e para trás, busquei apoio na cabeceira da
cama e deslizei uma mão entre nossos corpos até alcançar o sexo
dela.
Encontrei seu clítoris e afaguei-o sem nenhuma sutileza,
traçando círculos precisos que a levariam mais próximo do orgasmo.
— Isso, Brian! — falou incoerentemente, o abraço dela se
tornando mais frouxo, o erguer da pelve ficando mais lento.
Apliquei mais pressão sobre a carne inchada, fazendo com
que ela se contorcesse embaixo de mim. Presa em si mesma,
Ionara não conseguia mais retribuir os meus beijos; dos seus lábios
escapavam apenas gemidos, e tentei capturar com a minha boca
cada som. Dava beijinhos e mordidinhas, mas ver o prazer que ela
sentia fez com que eu me perdesse, então todo o restante da minha
concentração se manteve em continuar a friccionar a carne sensível,
bombeando dentro do canal contraído, sentindo que a tensão dela
era um reflexo da minha própria.
Deixei de acariciá-la e joguei meus quadris para trás, mas
sem me retirar por completo. Sem conseguir me conter mais,
precisando do ápice, arremeti fundo, uma, duas, três vezes... Mordi
meus lábios, tentando sufocar um urro quando os músculos dela
agarraram o meu pau com mais pressão, fazendo com que eu
esvaísse no látex com um jato rápido. Meu orgasmo pareceu
estimular o dela que, com um leve espasmo, fechou os olhos e
emitiu um suspiro profundo, arqueando o tronco para frente antes de
cair contra o colchão. Retirei-me uma última vez e a preenchi
novamente, tombando o meu corpo sobre o dela, esmagando-a com
o meu peso, cedendo ao cansaço do esforço físico.
Com os corações batendo forte um contra o outro, foi a minha
vez de suspirar ao sentir uma de suas mãos pequenas acariciar as
minhas costas enquanto a outra fazia carinho nos meus cabelos
úmidos.
Infelizmente, não poderia ficar ali para sempre, não sem
correr o risco da camisinha acabar ficando dentro dela. Removendo
meu pênis, rolei para o lado e retirei o preservativo, dando um nó na
ponta e jogando-o em cima do móvel de cabeceira.
— Venha, jürek — pedi, acomodando-me melhor na cama.
Não precisei explicar o que queria, já que Ionara sabia muito
bem o que eu esperava que ela fizesse.
Se movimentando, deitou em cima de mim, entrelaçando
nossas pernas, a mão pousando no meu peito. A abracei, deixando
um beijo no topo da cabeça dela, ouvindo o som de deleite que
escapou de seus lábios.
Dedilhei toda sua coluna vertebral, descendo e tornando a
subir quando cheguei bem próximo as nádegas.
O nosso sexo poderia ser incrível, mas aquele momento de
ter pele contra pele era muito mais.
O silêncio tornava a nossa conexão mais forte...bom, pelo
menos para mim.
Ali, outra vez, tive a certeza de que era impossível não estar
me apaixonando por Ionara.
— Jürek... o que isso significa? — perguntou, quebrando o
momento.
— É uma palavra que aprendi quando estive no
Cazaquistão... Significa... coração.
Depois da reação dela quando a chamei de coração na
manhã após nosso primeiro momento juntos, só usei a palavra em
cazaque, por isso fiquei tenso ao traduzir, e soltei um suspiro
baixinho quando me brindou com um lindo sorriso.
— Você está perdoado, Brian — murmurou, o que me deixou
confuso.
Ela apoiou os cotovelos no meu peito para me encarar
melhor, os cabelos dela roçando na lateral do meu abdômen. Toquei
os lábios que sorriam marotamente para mim com a ponta do meu
polegar.
— Pelo quê? — Franzi levemente o cenho quando finalmente
a fala dela foi assimilada pela minha mente.
— Pelos bichos horrorosos. — Estremeceu levemente.
Gargalhei.
— Ainda está nessa, amor? — Acabei deixando escapar a
palavra.
Por uma fração de segundos, Ionara me encarou de forma
estranha, mas logo tratou de se recompor, sua expressão tornando-
se ilegível, e ficou calada, mas o silêncio dela não me foi
confortável.
Merda! Tinha feito outra caca tremenda.
Porra!
Ela havia acabado de saber que esse tempo todo eu a
chamava de coração, agora a chamei de amor. Eu e minha boca
grande!
— Nem foi tão ruim assim segurar os bichinhos, jürek —
minha voz soou insegura ao continuar o assunto.
Se ela me mandasse ir embora seria bem-merecido, mas era
o pavor de que ela colocasse um ponto final no que tínhamos só
porque eu estava sendo um maldito emocionado, que acabou
confundindo sexo com sentimentos mais profundos, que me
paralisava.
— Foi horrível! — Ela deu um gritinho e riu, o que me deixou
aliviado, mas não completamente.
— Não deveria ter te pressionado — tentei adotar um tom
mais leve.
Ela deu um tapinha no meu peito.
— Não finja que está arrependido, Brian… — Fez uma careta
e eu acabei rindo.
— Hm…
Revirou os olhos e me deu um soquinho.
— Ai, isso doeu — fingi quando ela me deu um sopapo um
pouco mais forte.
— Até parece, fortão. Você aguenta mais do que isso!
— Talvez… — Deslizei a mão pela sua lombar até alcançar a
bunda dela.
Apertei a carne gostosa com pressão e Ionara mordiscou os
lábios de uma forma tão sexy, que comecei a ficar duro outra vez.
— Não era eu que estava me gabando esses dias para Tyler
sobre a minha força… — Arfou, depois que apalpei com mais
intensidade sua nádega.
— É… mas é porque eu quero que ele me veja como um
herói… — Expus aquele desejo forte que só crescia e que talvez
fosse precipitado por eu ter conhecido o menino há pouco tempo.
— Você é um herói nacional, Brian!
— Não quero ser esse tipo de herói para ele, eu… —
interrompi-me quando percebi que acabei falando demais.
Ionara ficou em silêncio, pensativa, e me amaldiçoei em
pensamentos por ousar querer fazer um papel que não me cabia.
— Tyler aprende muitas coisas com você… — falou
suavemente, amenizando a minha tensão, que não conseguia
disfarçar por ela continuar deitada sobre mim.
— Você não se importa com as minhas intromissões? —
Nunca havíamos conversado sobre o quão invasivo eu poderia estar
sendo com respeito a educação do garoto, sempre corrigindo-o
quando eu achava necessário.
Ela começou a traçar circulozinhos pelo meu peito, me
deixando outra vez em suspense.
— Sei que não são todos os pais que gostam disso… —
insisti.
— Não me importo, porque sei que você só quer o melhor
para ele. — Acariciou a minha barba, e eu sorri.
— Sim, quero.
Fiz carinho nas costelas dela e Ionara ondulou o corpo em
um espasmo, projetando os seios à frente, deixando a minha boca
seca.
Subi a mão e agarrei um dos mamilos dela. Um gemido em
uníssono ecoou no ar.
— Minha mãe e Donald fariam um escândalo se vissem você
fazendo isso… — completou, em meio a um arfar.
Fiz uma careta com a menção dos nomes deles, desgostoso
principalmente com a do ex.
— Por que não deixamos os dois fora da nossa cama? —
sugeri, não querendo estragar o nosso momento.
— Você tem alguma sugestão do que poderíamos fazer,
Brian? — provocou-me em um tom rouco, roçando o quadril no meu
pau, e eu grunhi.
Sem esperar uma resposta, inclinou-se contra mim e a boca
dela cobriu a minha. Abri os meus lábios, convidando-a, sem
precisar dizer nada, a fazer amor comigo outra vez.
Capítulo quatorze

— Até eu pegava essa! — meu filho gritou e pulou do sofá


onde estava assistindo um jogo de beisebol junto com Brian.
Meu filho ficou indignado quando o jogador não conseguiu
rebater a bola arremessada pelo lançador, que foi pega pelo
receptor.
— Não sei não, amigão — Brian o provocou, sabendo que
Tyler iria cair na dele.
— É um dos arremessos mais fáceis! — O menino resmungou.
— Daria até para fazer um home run[9].
— Que nada! Essa bola foi muito baixa.
— Eu já consegui jogar uma dessas para longe, não é,
mamãe? — Tyler se virou para mim, esperando confirmação.
— Creio que sim, meu amor — falei, não querendo acabar com
a animação do meu filho, já que, por mais que eu tentasse, eu era
uma negação em compreender as regras e a mecânica dos
lançamentos do jogo.
— Viu, Brian? — Meu filho pareceu orgulhoso.
— Eu ainda tenho minhas dúvidas... — Brian coçou a barba,
abrindo um sorriso enorme, e Tyler emitiu outro resmungo. — A
gente pode ver se você consegue mesmo.
— Claro que consigo! — A atenção dos dois foi desviada para
a TV quando a plateia emitiu um uivo, porque o jogador do time
visitante marcou um ponto.
— Que merda! — Tyler cruzou os braços na frente do corpo e
fez um bico.
— Sem palavras feias, filho.
— Ah, mamãe!
— Você nem torce para esse time, Tyler… — completei.
— Mas é uma merda! — Arqueei a sobrancelha para ele
quando falou a palavra feia de novo.
— Caralho, essa foi mal! — Brian disse entre dentes ao
mesmo tempo que meu filho dava um grito diante da tal jogada.
— Brian! — ralhei. — Sem palavrão nessa casa!
— Desculpe, jürek! — murmurou, mas com os olhos voltados
para a tela.
— Que cara burro! — Meu menino voltou a ficar indignado.
— Demais! Essa era fácil!
— Tão fácil como a outra…
— Tá exagerando, amigão — continuou a provocar o meu
filho.
Emiti um suspiro resignado, acomodando-me melhor no sofá,
quando os dois continuaram a trocar comentários sobre a partida.
Soltaram alguns palavrões, mas eu dei-me por vencida. Teria que
conversar mais tarde com Brian sobre ele não se exaltar tanto e
acabar ensinando palavras feias para o meu menino. Não que Tyler
já não as soubesse e, com certeza, aprenderia muito mais com os
outros amiguinhos da escola, mas não iria admitir xingamentos na
casa da vovó.
Já que pouco entendia do jogo, não prestei atenção na
conversa deles, apenas mergulhei nos pensamentos que se
tornaram corriqueiros. Desde o dia que Brian tinha dito que queria
ser um herói de outra forma para o meu filho, que ia além de ser um
por conta da carreira militar e da fixação por esportes radicais, a fala
dele não saía da minha mente. Por mais que eu estivesse
desconversando e o meu amante não tivesse entrado muito no
assunto, o significado estava ali: Brian ansiava que Tyler o visse da
maneira que um filho, em um relacionamento saudável, deveria ver
o pai.
Isso era assustador por várias razões.
Primeiro: porque isso significava tornar a nossa relação em
algo sério. Gostava de Brian, amava o que tínhamos, mas parecia
cedo demais para dar um passo mais à frente, um passo que, por
mais que ele nunca tivesse me pressionado ou colocado em
palavras, Brian parecia pronto para dar.
Segundo: por mais que meus instintos me pedissem cautela
desde o início, eu não fiz nada para intervir e deixei que Tyler e
Brian desenvolvessem a amizade deles.
Terceiro e o pior: estive tão cega que não protegi os
sentimentos do meu filho.
Brian abriu os meus olhos não apenas com relação aos
anseios dele de assumir o papel de “padrasto”, mas também sobre
os sentimentos de Tyler por ele.
Imaginação ou não da minha cabeça, os laços que ligavam os
dois pareciam ser bem mais fortes do que aqueles que existiam
entre o meu filho e Donald, o que era um absurdo.
Não deveria ter deixado isso acontecer.
O que será do meu menino quando o conto de fadas que eu
vivia com meu vizinho acabasse?
— Quer que eu atenda? — Brian me perguntou.
— O quê? — Olhei para ele, tomando um susto ao ser trazida
de volta para a terra e ver o cenho dele franzido. Não duvidava que
meu amante tinha estado a me analisar.
Merda! Por que ele tinha que ser tão perceptivo?
— A campainha.
— Deve ser uma daquelas velhas chatas — meu filho disse
com a voz estrangulada.
— Tyler! — gritei com ele enquanto Brian gargalhava.
— Espero que não seja a senhora Ryder. — Brian estremeceu
enquanto continuava a rir. — Essa velha é chata pra caralho.
— Demais! — Tyler deu uma risadinha.
— Brian! Não fale assim! — Dei um soco nas costelas dele,
escutando um ai, antes de me levantar.
— Além de fofoqueira, ela gosta de se meter na vida de todo
mundo — continuou, ignorando-me.
— Até na minha? — Meu filho pareceu animado com a
possibilidade horrível.
— Sim…
Sentindo-me cansada daqueles dois terríveis, balançando a
cabeça em negativa, fui atender a suposta ‘velha chata’, que
duvidava muito que fosse a senhorinha, já que ela nunca teria
apertado a campainha com tanta força, como se estivesse
impaciente.
— Estou indo — gritei, pegando a chave em cima do aparador.
Quem quer que fosse, bateu na porta com força e a sua
impaciência pareceu influenciar a minha, já que eu comecei a ficar
irritada. Mesmo assim, reunindo toda minha educação, sem olhar
antes para ver quem era, falei suavemente ao girar a maçaneta:
— Desculpe-me, estava ocupada…
— Como se esse fim de mundo tivesse algo com que se
ocupar! — A voz de Donald alcançou-me e eu olhei para ele,
querendo confirmar se eu não estava ouvindo coisas.
— Donald? — sussurrei, surpresa.
— Para mim é óbvio que sou eu, ou já esqueceu que eu
existo? — Foi debochado.
Poderia falar que sim, já que fazia tempos que ele nem sequer
ligava para Tyler nem manda mensagem, mas não queria entrar em
uma discussão tola que só me desgastaria.
— Claro que não, entre… — Fiz um gesto cortês, mesmo que
a última coisa que eu quisesse era tê-lo dentro da minha casa.
Com os cabelos impecáveis e vestindo um terno sob medida,
passou arrogantemente por mim, como se ele fosse dono do lugar, e
eu respirei fundo, mas isso não fez com que eu me controlasse, pois
acabei soltando:
— O que você está fazendo aqui?
— Vim pegar o meu filho para passar um tempo comigo em
Jersey City… — respondeu, continuando a andar.
— Eu já disse que ele não vai perder aula e…
— Que porra é essa, Ionara? — Donald gritou quando
alcançou a sala e viu Brian fazendo cócegas em Tyler, que se
contorcia de tanto rir.
Os dois automaticamente pararam o que estavam fazendo e
olharam na nossa direção.
Tyler pareceu surpreso, mas foi nítida a mudança em Brian.
Enquanto encarava o meu ex, rapidamente ele passou de vigilância
a uma expressão ilegível.
Como se soubesse que eu o encarava, nossos olhares se
encontraram, e eu vi surgir em minha frente o militar frio, sem
sentimentos, com uma expressão forjada não apenas pelos
treinamentos, mas também por tudo o que viu nos conflitos armados
que participou. Era um soldado letal.
Vislumbrar essa nova faceta dele deveria me causar medo,
porém não foi o que aconteceu.
Brian poderia ter aprendido a ser esse homem por
necessidade, mas não definia quem ele era. Ele era um homem
charmoso, protetor e carinhoso.
— Papai! — Tyler arfou tentando se levantar, comprovando
que devia ter se passado apenas segundos em que eu e Brian nos
encarávamos.
— Porra, Ionara! — Donald se virou para mim, seu rosto bonito
transfigurado pela raiva. — Sua mãe disse que viu uma foto de
vocês com um cara, mas achei que era mentira dela!
— Oi, papai! — Tyler o abraçou pelas pernas, mas foi ignorado
pelo homem, que continuou a cuspir sua ira, fazendo com que o
meu coração se quebrasse pelo menino.
— Você afastou meu filho de mim vindo para esse buraco no
meio do nada e deixa que um desgraçado qualquer se aproxime
dele? Você está louca?
— Por que você tá gritando, papai? — A voz chorosa do
menino me revelou que ele estava assustado.
— Pare de gritar, Donald — pedi em um tom calmo,
contrariando a raiva que sentia por ele fazer aquilo com o nosso
filho. — Tyler está ficando com medo. Eu não vou discutir com você
na frente dele.
— Que se foda, santa Ionara! A única que fez merda aqui foi
você, se comportando como uma vagabunda.
— Venha aqui, amigão. — Brian se aproximou de onde nós
estávamos.
Apesar de sua voz ter soado suave, estava claro que, ao ver
meu filho chorar, ele controlava o próprio temperamento. Toda a
frieza do homem treinado deu lugar ao cara protetor.
Tyler não hesitou em ir para perto dele, que o ergueu no colo
com facilidade. Meu menino depressa envolveu o pescoço dele.
— Olha essa porra! Até se comporta como se tivesse o direito
de assumir um papel que não é dele só porque trepa com você.
— Está tudo bem, amigão. — Brian ignorou o meu ex, e ficou
acariciando as costas de Tyler, seus olhos azuis buscando os meus.
Brian não precisou dizer nenhuma palavra para que eu
entendesse a pergunta em seu olhar: se eu queria que ele
resolvesse a situação, e com violência.
Fiz que não com a cabeça.
— Eu consigo resolver isso sozinha, Brian — disse, fazendo
com que Donald risse.
— Esse é o nome desse pé-rapado?
— Você pode levar Tyler para dar uma volta na praia para ele
se acalmar, Brian? — Ignorei meu ex.
— Ficará bem, jürek?
— Sim. — Dei um sorriso com a intenção de acalmá-lo, ainda
que Donald continuasse praguejando e falando sobre a minha
irresponsabilidade.
Brian pareceu contrariado, mas acabou assentindo. Tinha que
agradecer e muito por ele ser razoável, por mais furioso que
estivesse.
— Quer ir pegar umas conchas legais, amigão? Conheço um
lugar que tem umas supermaneiras. — Sem esperar uma resposta
de Tyler, começou a caminhar para deixar a sala.
Meu filho, que adorava explorar tudo, não mostrou animação,
apenas continuou a chorar. Eu senti meu coração ficar mais
apertado ao passo que a raiva que sentia de Donald só aumentava,
principalmente quando ele continuou a falar um monte de palavrões,
o que Tyler não precisava escutar.
Quando eu e Donald ficamos a sós, cruzei os braços na frente
do corpo em uma postura defensiva, e o confrontei.
— Está feliz com o show que você deu? — Fui ríspida.
— Show? — Rosnou. — Para mim, a única aqui que está
fazendo um circo é você.
— Não fui eu quem fez o nosso filho chorar por ser um
estúpido — não aguentei me manter calada e comecei a despejar
toda minha raiva. — Porra, Donald! Você nem olhou pra ele, nem
retribuiu o abraço que ele te deu!
Ele sacudiu os ombros, tirando importância dos próprios atos.
— Não é como se ele estivesse sentindo a minha falta, não é
mesmo? Nosso filho parece muito feliz com o bostinha…
— Claro que ele sente a sua falta! — Relevei a alfinetada. —
Ele te ama e fica esperando todos os dias por uma ligação sua.
— Não parece!
— Você não pode culpar Tyler por fazer novos amigos…
— Amigo? — interrompeu-me. — Faça-me o favor, Ionara!
Esse cara tem quarenta anos, no mínimo, não sete.
— Seu filho tem oito anos, caso você não se lembre. Bem, não
deve se recordar mesmo, já que prometeu ligar no dia do
aniversário dele e não cumpriu a palavra… — falei com secura.
— Não enche! E esse cara não se comporta como um amigo,
se comporta como se fosse o pai dele, o que ele não é.
— Não, Brian não é, mas fez muito mais por Tyler que você em
oito anos.
— Vá se foder, Ionara!
Arqueei uma sobrancelha para Donald, indagando se isso era
o melhor que ele poderia falar.
— Eu não quero esse sujeitinho perto do meu filho, tá me
ouvindo? Você pode continuar a trepar com ele se quiser, mas
mantenha esse cara longe de Tyler…
— Não farei isso só porque você quer, Donald… — Balancei a
cabeça em negativa. — E pare de fazer esse papel de pai
preocupado com o bem-estar do filho quando está pouco se
ferrando pra ele.
Donald riu da minha cara.
— Estou só sendo sensato…
— Sensato?
— Sim, já que a mãe desmiolada do meu filho anda transando
com qualquer um…
Foi a minha vez de gargalhar. Ri tanto que lágrimas surgiram
nos meus olhos.
— Quem é você para me acusar, Donald? Transou com Jersey
City toda!
— Mas nunca levei nenhuma dessas pessoas para dentro de
casa, para a casa onde nosso filho vive! Onde você estava com a
cabeça de trepar com um cara num quarto que fica próximo onde
nosso filho dorme?
Não consegui disfarçar o quanto as palavras de Donald me
acertaram. Foi como se eu tivesse levado uma bofetada na cara, o
que me desnorteou.
— Não estou cometendo nenhum crime… nós mesmo usamos
vários cômodos da nossa casa… — Senti um certo asco com as
lembranças de nós dois transando, tanto que mal reconheci a minha
voz ao me defender.
— Éramos casados, Ionara, é algo normal — cuspiu. — Mas
esse cara, você conhece... o quê? Há dois meses? Acho que nem
isso...
— Nunca fiz nada impróprio. Tyler nem mesmo sabe que…
— Ou você o conhece a mais tempo? — Interrompeu-me, a
expressão ficando sombria. — Esteve me traindo todo esse tempo,
Ionara?
— Não!
— Deve ser por isso que veio para cá! — Ignorou-me. —
Caralho, Ionara! Você me afastou do meu filho apenas para ficar
com o seu amante?
— Claro que não! — gritei. — Eu o conheci aqui… Não que
precise te dar satisfação sobre a minha vida.
— Você deve quando isso diz respeito ao nosso filho, quando
você está pouco se fodendo para o bem-estar dele!
— Chega, Donald! — Aproximei-me dele e o cutuquei no peito
com um dedo. — Não vou deixar você me fazer acreditar que eu
sou a vilã da história, porque eu não sou! O vilão dessa merda toda
é você! Negligente, ausente...um cara que prefere sexo ao filho…
Continuei a cutucá-lo e a despejar o que estava me sufocando:
— Você é um egoísta desgraçado que ao invés de estar com o
filho nesse exato momento, o fez chorar com as suas merdas e está
aqui discutindo a minha vida sexual… Por que te incomoda tanto
com quem eu durmo? Por que minha felicidade te importa?
— Porra! Você sabe o quanto fodeu a minha vida?
— Eu não fiz nada.
— Minha carreira está por um fio… John está ameaçando a
não me lançar como candidato!
— Sinto muito, mas isso não é problema meu, Donald.
— Você destruiu a nossa família…
— De novo essa merda não. — Tornei a cruzar os braços na
frente do meu corpo. — Você e mamãe parecem papagaios.
— Você está acabando com tudo! — Começou a andar de um
lado para o outro. — Com a minha imagem…
— Inacreditável… — falei em meio a uma gargalhada. — Tá
de sacanagem comigo?
— John falou que preciso da minha família de volta para salvar
essa situação — murmurou. — Eu preciso pelo menos mostrar que
sou um bom pai, um homem de família exemplar…
— Espere! — Senti meu sangue congelar nas veias quando
Donald mencionou Tyler. — Você só quer levar o nosso filho para
Jersey para melhorar a sua imagem?
O homem parou de andar de um lado para o outro e me
encarou.
— Eu preciso…
— Saia daqui! — gritei, perdendo todo o meu controle.
— Não, não vou a lugar nenhum.
— Saia já da minha casa!
— Ele também é meu filho, porra!
— Que bom que sabe que ele não é um objeto que você pode
usar — retruquei cheia de sarcasmo.
— Tente entender…
— Saia, Donald!
— Eu tenho direito de passar um tempo com ele, Ionara!
— Sim, tem, mas não de levá-lo para sua casa em período
escolar e também sem a minha permissão…
— Não dificulte as coisas…
— Você quer ver a sentença do juiz outra vez?
— Ou me deixa levá-lo agora ou irei na justiça pedir uma
revisão da guarda, alegando que você faz dessa casa mal-acabada
e horrorosa um prostíbulo…
— Vá em frente, Donald. Você não tem nenhuma prova de que
me comporto como uma puta.
— Veremos se o meu dinheiro não reverterá a situação ao meu
favor…
— Veremos… — Senti uma pontada de medo diante da
ameaça, mas diferentemente da última vez, eu não estava mais
sozinha. Eu tinha Brian, e ele me estenderia a mão se eu
precisasse. — Se isso é tudo, Donald, vá embora, por favor.
— Não vai me deixar passar o dia com ele? Vim de longe…
Bufei.
— Ao contrário do que acredita, ainda não estou louca o
suficiente para deixá-lo com você, correndo o risco de que o leve
embora.
— Eu não faria isso…— Rosnou para mim.
Gargalhei.
— Você não é confiável, Donald.
— E o seu bostinha é?
— Te garanto que ele tem muito mais honra do que você…
— Se você diz…
— Isso é tudo? Se for, você pode sair por onde entrou.
— Não encontrou um cara melhor para te comer não, Ionara?
Teve que dar para o primeiro pobretão que encontrou? Você já teve
mais classe.
— Isso não é da sua conta, como não é da minha conta você
ser visto transando em público com a filha de dezoito anos do
religioso mais influente da cidade e que por um acaso apoiava a sua
carreira. — Abri um sorriso maldoso. — Cá entre nós, você já foi
mais esperto, não?
Gargalhei quando ele empalideceu.
— É, as fotos estão na internet, mas você está bastante
acostumado a ser notícia, não é? Não sei como Alfred e John não
estão te ligando nesse exato momento... — Fiz uma pausa quando
os olhos dele se arregalaram. — Estava bêbado demais para se
lembrar do que fez?
Ficou em silêncio, o que confirmava minha suposição.
— Você que está jogando a sua carreira no ralo e sozinho,
Donald. Não me culpe pelas merdas que faz. Agora, se você não for
se desculpar com o nosso filho por ter gritado, falado palavrão e tê-
lo assustado, vá embora, antes que eu chame a polícia… —
ameacei, sem saber se isso era possível. — Não vai querer mais
esse escândalo sobre si, não é?
— Eu vou embora, mas isso que você fez de deixar um merda
qualquer ficar brincando de pai do meu filho não ficará assim.
— Não te levarei até a porta, porque você não é uma visita
aqui. — Fui seca.
— Você mudou muito, sua desgraçada — murmurou cheio de
desdém.
Após me lançar um olhar que deixava claro que me achava tão
suja quanto uma barata de esgoto, deu as costas para mim e
finalmente partiu.
— Deus! — Suspirei fundo quando a porta da frente foi batida
com força, Donald descontando a sua raiva nela.
Queria poder sentar e processar aquilo tudo, mas não dava.
Uma única pessoa me preocupava nesse momento. Tyler ficaria
ainda mais arrasado quando soubesse que o pai tinha ido embora
sem nem ao menos dar um beijo de despedida nele, e isso fez o
meu coração de mãe se partir ainda mais.
Capítulo quinze

— Está tudo bem, amigão — deixando a casa de Ionara, forcei


a minha voz a sair tranquila enquanto acariciava os cabelos
escuros.
A resposta de Tyler foi em forma de um choro mais alto,
convulso, o que aumentou ainda mais a minha raiva.
Eu estava com uma vontade insana de gritar, de esmurrar a
cara daquele filho da puta do pai dele até que ele ficasse
irreconhecível.
A violência percorria as minhas veias de uma forma brutal. Nos
meus trinta e seis anos, nunca esse sentimento foi tão intenso
dentro de mim.
Apenas a mulher e o menino me impediram de perder a
cabeça, fazer algo sangrento do qual não me orgulharia, mas,
caralho, ver o modo como ele tratou Ionara e rejeitou Tyler mexeu
com meu brio e sanidade.
Como o desgraçado não teve coragem nem de olhar para o
próprio filho que o abraçava e nem devolver o carinho?
Como o filho da puta ousou começar uma discussão na frente
da criança, fazendo-a chorar?
Tentei afastar esses pensamentos da mente, antes que eu
desse a volta e fizesse aquilo que meu corpo e mente pediam.
Droga!
— Está tudo bem, amigão — repeti quando ele envolveu o
meu pescoço com mais força. — Não precisa ficar com medo, eu
estou aqui.
— Não tô com medo — a voz soou fraquinha em meio ao
pranto e, confesso, que não estava esperando o comentário.
— Não? — provoquei-o, tentando desviar nossa atenção
daquela cena.
— Não!
— Hm…
— Não sou medroso.
— Sei que não — sussurrei.
Sem me dar conta, caminhei em direção a um rochedo aonde
eu tinha ido várias vezes depois de acordar de um pesadelo, o que
tinha se tornado menos recorrente quando passei a dormir com
Ionara.
— Sou corajoso… — Fungou.
— Sim, amigão — concordei com ele. — Você é o garoto mais
valente e corajoso que eu já conheci, além do mais maneiro.
— Verdade?
— Não mentiria para você, sabe disso. — Fiz uma careta ao
sentá-lo sobre a pedra, tomando o lugar ao lado dele.
— É. — Fungou.
Com o canto do olho, vi Tyler ficar acanhado, com as lágrimas
ainda rolando pelas suas bochechas.
— É mais corajoso que muitos dos caras que conheci nas
forças armadas.
— Sério?
— Uhum.
Olhei para o mar à minha frente que parecia revolto, bem
diferente dos dias que eu e Tyler pegamos boas ondas e nos
divertimos na praia. Me senti conectado à fúria das águas como
nunca antes.
— Caras fortes não choram… — disse baixinho.
Olhei para ele, vendo Tyler passar as mãozinhas no rosto com
força, deixando-o mais vermelho.
— Claro que choram, amigão.
— Não choram, não.
— Somos humanos, Tyler, e todo ser humano deveria poder se
expressar, seja através de risadas ou das lágrimas. Caras durões
que nem a gente também choram.
— Você já chorou, Brian?
— Sim…
— Quando?
Sem dúvidas era uma boa pergunta, mas a resposta era muito
mais pesada, algo que um garoto de oito anos não precisava saber,
e torcia para que ele nunca vivesse o que vivi.
— Brian?
— Choro todas as vezes que vejo a maldade do mundo,
amigão…
— Entendi… — Tornou a passar a mão no rosto. — Mas você
não vive na guerra?
— Ser um militar não significa que você goste de guerras, ou
que não sofra por ela ou com ela, que você não chore por que ainda
exista... que você não sinta o peso dela…
Tyler não disse mais nada. Tornei a olhar o oceano quando
umas gotinhas espirraram na minha pele.
Logo, o choro do garotinho alcançou novamente os meus
ouvidos. Eu apenas o envolvi em um abraço, querendo oferecer
algum tipo de conforto para ele, mas sentindo que falhava.
Porra! Ver o sofrimento dele, do garotinho que eu queria tanto
bem, fazia com que algo dentro de mim sangrasse.
Com o aperto no peito, a fúria retornou, querendo me cegar.
Caralho!
— Por que o papai estava brigando com a mamãe, Brian? —
Mal escutei a pergunta, perdido que estava em meus pensamentos.
— As pessoas, às vezes, têm seus conflitos, Tyler… — Não
consegui conter o meu amargor com o pensamento de que a briga
só ocorreu porque eu estava lá. Canalha maldito! — Mas isso não
significa que ele deveria ter gritado com a sua mãe, principalmente
na sua frente.
— É?
— Só covardes fazem isso, amigão.
Me arrependi de ter dito aquilo assim que as palavras saíram
da minha boca. Não tinha o direito de colocar filho contra pai.
— Papai é covarde? — questionou em um fiozinho de voz.
Merda! Eu que me virasse para responder agora. Respirei
fundo, buscando as palavras certas.
— Ele deveria te proteger, Tyler, não te fazer chorar. Seu pai
tem que aprender a se controlar e deixar a discussão para outro
momento, por mais que esteja com raiva…
— Ele vai bater na mamãe?
— O quê? — perguntei à queima roupa, assustado com o
rumo dos pensamentos dele.
— Ele vai bater na mamãe?
— Não, amigão, pode ficar tranquilo…
Eu poderia não gostar do cara, mas partir para agressão física
duvidava que ele fosse fazer isso, fora que, se aquele homem
tocasse em um fio de cabelo sequer de Ionara, ele poderia
considerar-se um homem morto. Eu não erraria aquele tiro. Elijah
poderia ser o perito no manejo de um fuzil, mas eu era igualmente
bom com a minha carabina. Em minhas mãos, aquela arma era
praticamente uma extensão do meu corpo.
Suprimi aqueles pensamentos que me levavam a um território
sombrio, que jogaria na minha cara que eu era um assassino, no
final das contas.
Tyler dobrou os joelhos e colocou os braços sobre eles,
baixando a cabeça, e voltou a chorar. Eu acariciei as costas dele,
sentindo-me culpado pela nova rodada de lágrimas.
— Meu pai não gosta de mim, não é? — murmurou.
Senti um gosto amargo na boca. Filho nenhum deveria fazer
essa pergunta. Não tinha o que responder, então rebati com outra
pergunta?
— Por que diz isso, amigão?
— Ele nem me disse oi…
— Sinto muito por isso…
— Ele sempre tá ocupado, nunca tem tempo pra mim.
Outra vez, ele mergulhou na tristeza. Eu fiquei em silêncio,
desejando poder tomar a dor dele para mim.
— Não queria que ele fosse o meu pai… — choramingou.
— Não podemos escolher isso, amigão…
Ele ergueu o rosto para me encarar.
— Queria que você fosse meu pai…
Eu também... eu também, amigão…
Fechei minha boca a tempo das palavras não escaparem, o
que foderia mais a situação. Ionara não me perdoaria. Eu não me
perdoaria.
Porra! O que eu queria não importava.
— Você quer ser o meu pai, Brian?
Sim…
— Não é assim que as coisas funcionam, amigão…
— Por que não?
— Independente de tudo, ele continua a ser o seu pai.
— Não, não é! Eu não quero.
— Só está chateado, Tyler.
— Não! — Fez um bico de todo tamanho.
— Tudo bem, amigão… — Dei um sorriso fraco, sabendo que
não venceria aquela batalha.
Ficamos em silêncio, quebrado apenas pelos fungares de Tyler
e o barulho da natureza.
— Por que ele chamou a mamãe de vagabunda?
Franzi o cenho e olhei para ele.
— Ionara não ficará feliz de ouvir você repetindo essa palavra,
Tyler… Onde aprendeu isso?
Deu de ombros e vi as mãozinhas dele se fecharem em punho.
— Minha mãe não é vagabunda! — soltou com raiva, e eu
deixei que ele extravasasse o que estava sentindo, diferente de
mim, que só engolia em seco.
— Não, não é.
— Minha mãe é legal!
— Bastante.
— Por que ele acha que ela é uma puta, Brian? Por que ele
ficou com raiva de você? — Me pressionou e eu cocei a minha
barba.
Porra!
— Seu pai não gostou de me ver com você — respondi a
pergunta mais fácil.
— Por quê?
— Eu sou um estranho para ele, Tyler, e somos superamigos.
Talvez ele só quisesse te proteger — menti. Duvidava muito que o
filho da puta se preocupasse com algo que não fosse ele mesmo.
O menino me encarou como se não tivesse acreditado no que
disse, mas acabou assentindo.
— Você gosta da mamãe, não gosta? — questionou depois de
um tempo.
— Sabe que sim, amigão. — Tornei a franzir o cenho. — Por
que está me perguntando isso?
— Eu vi você beijando ela na cozinha… Ela deixou? —
Pareceu beligerante, prestes a brigar comigo.
Merda! Dias atrás, sem resistir, acabei roubando um beijo de
Ionara, pensando que estávamos sozinhos.
Respirei fundo, me sentindo encrencado.
— Sim, amigão, sua mãe deixou. Nunca a beijaria se ela não
deixasse.
— Ah!
— Sei que deve ser confuso para você, já que faz pouco
tempo que ela se separou do seu pai e você queria os dois juntos de
novo, mas… eu gosto da sua mãe, amigão. Muito.
— Vocês estão namorando? Meu pai tem uma namorada
também!
— Sério? — Achei estranho ele saber disso, já que com
certeza Ionara não deve ter comentado nada a respeito das fotos
que andavam circulando pela internet. — Como você sabe disso?
— Jogando na internet, eu vi umas fotos dele com uma
mulher…
— Sua mãe sabe disso? — Franzi o cenho. Pelo que eu sabia,
Ionara monitorava o uso do celular dele.
Fez que não e se retraiu no lugar.
— Tyler…
— Eu apaguei para ela não ver…
— É errado fazer isso, amigão…
— Ela ia ficar brava comigo.
— Nunca se sabe… Por que você sentiu vontade de pesquisar
sobre seu pai?
— Para ver se ele estava ocupado mesmo…
— Entendo…
— Por que ele tem tempo pra a namorada e não tem pra mim?
— Não sei, amigão — sussurrei, engolindo para mim a
resposta “porque ele é um babaca”, mas tratei de mudar de assunto
quando um pensamento me veio à mente, um que me deixou
preocupado: — Você tem pesquisado outros tipos de coisas e
esconde da sua mãe?
Não que me orgulhasse disso, mas já tive a idade de Tyler e,
movido pela curiosidade, quando meus pais não estavam em casa,
eu mexia nas revistas de mulher pelada e também assistia os
vídeos de pornografia que eles tinham.
— Não.
— Tem certeza? — pressionei.
— Sim, Brian. Tá duvidando de mim? — Cruzou os braços na
frente do corpo, parecendo bravo.
— Não, amigão, eu acredito em você — levei a mão aos
cabelos dele, para bagunçá-los, como sempre fazia —, mas eu
precisava ter certeza, porque caso você tivesse feito isso, nós
teríamos que ter uma conversa séria.
— Ah! — Fez uma careta. — Você está falando que nem a
minha mãe!
Joguei a cabeça para trás e comecei a rir, o que fez com que
Tyler não resistisse e começasse a rir também.
— Você tá namorando com a mamãe?
— Você me deixaria namorar com ela, amigão? — retruquei,
não sabendo como explicar o relacionamento que eu tinha com a
mãe dele sem me tornar um filho da puta.
— Não sei…
Contive a vontade de fazer uma careta. Não era bem a
resposta que esperava, mas, também, o que eu queria?
— O que eu acho nunca importa mesmo… — falou baixinho.
— Claro que importa.
— Não importa, não — retrucou.
— Olhe para mim, amigo — pedi e o garoto me encarou. — Eu
preciso da sua opinião nesse assunto, Tyler, de verdade. Você
deixar eu namorar a sua mãe é importante para mim.
— Sério?
— Uhum.
— Seria legal. Aí você poderia ser o meu pai.
— Não é assim…
— Aí estão vocês! — Virei meu pescoço ao escutar a voz da
mulher.
Deixei que o meu olhar percorresse cada pedaço dela em
busca de qualquer arranhão que fosse, mas quando não vi nada
além da expressão abatida e preocupada, soltei um suspiro de
alívio. Eu não teria que manchar minhas mãos com mais sangue,
pelo menos, não daquela vez.
— Pensei que estavam olhando conchinhas.
— Mudança de planos… — Dei de ombros, sentindo os meus
músculos tensos. Demoraria muito tempo para que a raiva
suprimida e os impulsos violentos deixassem o meu corpo,
provavelmente eles só começariam a me deixar quando eu
canalizasse a ira em algum exercício físico. — Estávamos batendo
um papo legal.
— Entendo — murmurou, apoiando o peso nos calcanhares
para receber o abraço do menino, que havia descido da pedra e ido
até ela. — Como você está, meu amor?
Movimentei-me também, sentando-me de costas para o mar.
— Ele já foi? — Tyler perguntou baixinho quando a mãe
esticou a mão para tocar o rosto dele.
Meu olhar encontrou o dela rapidamente e vi uma mistura de
dor e tristeza, antes dela voltar a encarar Tyler.
Traguei em seco.
Porra! Odiava esse merda por fazê-los sofrer! Queria poder
arrancar a tristeza dos olhos dos dois.
— Sim, ele já foi, querido…
— Ele bateu em você, mamãe? — O menino, que até esse
momento parecia ter se controlado, começou a chorar novamente.
— Não, meu bem, seu pai não faria uma coisa dessas — falou
e abraçou-o com força.
— Mas ele gritou com você!
— Seu pai estava alterado, só isso… — Novamente eu e ela
nos olhamos, e eu percebi que ela temia que eu a julgasse por estar
colocando panos quentes.
Como se fosse possível, fiquei mais puto. Não com ela, claro.
— Ele já foi? — Ele deu um passinho para trás.
— Sim, meu bem. Eu sinto muito por ele não ter ficado para
conversar com você, por ele sequer ter te abraçado,
cumprimentado…— Ela parecia se sentir culpada.
— Eu não gosto dele, mamãe…— O menino fez que não com
a cabeça de forma frenética.
— Não diga isso, meu amor, é claro que você ama o seu pai.
— Eu não quero ver ele nunca mais! — Mesmo em meio às
lágrimas, Tyler falou isso com tanta convicção que fez com que
Ionara parecesse ficar surpresa.
— Filho…
— Ele é mau…
Ionara tornou a me encarar e vi que ela parecia estar se
equilibrando em uma corda bamba.
— Tudo bem, Tyler — suspirou, tornando a acariciar o rosto
dele —, depois conversaremos sobre isso, está bem?
— Não quero mais que ele seja o meu pai! — continuou. — O
Brian pode ser meu pai. Eu deixei ele ser seu namorado.
Ionara arregalou os olhos para mim, para depois franzir o
cenho.
Várias perguntas se passaram nas feições dela enquanto os
lábios se crispavam.
Merda! Isso não era nada bom.
Ela acusava-me com o olhar, como se eu tivesse contado a
Tyler detalhes sobre nós dois.
Sabia que não deveria, mas acabei sorrindo ao me levantar,
fazendo com que ela arqueasse a sobrancelha para mim.
— Ele nos viu juntos na cozinha e eu perguntei se podia pedi-
la em namoro. — Fui sucinto. Dei de ombros e me aproximei dos
dois.
— Entendo… — Respirou fundo e emitiu um suspiro.
Os olhos acinzentados continuaram a me fitar com
recriminação.
Sim, eu era culpado, mas não temia a bronca que levaria, não
quando poderia tomá-la em meus braços e fazê-la esquecer de tudo
com os meus beijos e toques.
— Você vai namorar com ele, mamãe? — Tyler fez uma pausa.
— Eu deixei.
— Eu… — Ionara me encarou, como se pedisse ajuda. — Ela
abriu e fechou a boca, sem saber o que dizer.

— Amigão, as coisas não funcionam assim…


— Por que não? — Se virou para mim, colocando as mãos nos
quadris. — Você não quer mais namorar com ela?
— Claro que quero, mas eu que tenho que fazer o pedido,
Tyler, não você… — Tentei desconversar, já que duvidava muito que
Ionara estava com cabeça para pensar na nossa relação nesse
momento.
O menino pareceu confuso.
— Então pede, ué.
Fiz um gesto, negando, e encarei Ionara, que ainda estava de
boca aberta, incrédula.
— Não é assim… Preciso pensar em algo mais romântico.
— Romântico?
— Uhum. Como você espera que sua mãe me aceite se eu
não preparar algo especial?
— Aceitando… — falou, como se fosse algo muito simples.
Não consegui segurar uma risada.
— Não, amigão, um cavalheiro precisa fazer algo melhor do
que só pedir em namoro…
— Ah! — Pareceu pensativo, como se tentasse entender. — E
quando você vai fazer?
— Tyler! — Ionara deu um gritinho.
— Não sei…
— Só não enrola muito, tá?
— Filho! — Outro grito e eu voltei a rir.
— Pode deixar, amigão…
— Eu posso te ajudar… — Tyler abriu um sorrisinho para mim,
parecendo expectante.
— Beleza… Acho que será bom contar com uma ajuda…
A mãe dele emitiu outro suspiro longo, dessa vez parecendo
de resignação. Várias coisas passaram pela minha cabeça, mas a
principal foi: e se ela não quisesse ter um relacionamento sério
comigo?
Porra! Isso machucaria.
A insegurança me invadiu como nunca antes.
— Enquanto isso, por que você não me ajuda em uma coisa,
amigão? — falei, tentando colocar a incerteza de lado e focar no
mais importante: tentar animá-los.
— No quê?
— Minha avó me deixou um caderno de receitas, deve ter
umas coisas maneiras lá.
— Como o quê?
— Sei lá… Algo.
— Isso não me parece muito promissor — Ionara me
provocou, mas parecendo abraçar a minha tentativa de distrair Tyler.
Ela se colocou de pé e perguntou: — Já cozinhou alguma vez,
Brian?
— Claro que sim… — Abri um sorriso antes de completar: —
Ficou comível.
— Deus! — Ionara fez uma careta enquanto Tyler dava uma
risadinha.
— Vamos lá? — Estendi a mão para o menininho. —
Precisamos ver o que faremos e, se precisar, irei ao mercado pegar
os ingredientes.
— Vai ser divertido! — Animado, ele deu a mão para mim e eu
entrelacei nossos dedos.
— Muito — Ionara concordou. — A melhor parte é que não
precisarei preparar o jantar.
— Isso se estiver comível, é claro — brinquei, piscando de um
olho só.
Ionara gargalhou e, para minha surpresa, também me deu a
mão e nós três começamos a caminhar em direção a minha casa.
Torci muito para que eu fosse capaz de fazê-los se divertirem e
esquecer temporariamente daquilo que aquele bosta fez.
Capítulo dezesseis

— Deixe de ser tola… — falei ao conferir a minha imagem pela


milésima vez no espelho,
Estava nervosa como se fosse a primeira vez que eu veria
Brian, o que era absurdo.
Ele já havia me visto nua, descabelada e com os olhos cheios
de remela, então não sabia por que estava tão preocupada com a
minha aparência.
— Porque você quer que ele sempre te ache linda…
Estalei a língua debochando de mim mesma.
Apliquei o perfume que Brian gostava no pescoço e, com uma
última checada, dei as costas para superfície espelhada e caminhei
para fora do banheiro.
Meu coração batia tão forte que parecia prestes a sair do peito,
e minha pele se arrepiava só com a perspectiva de vê-lo.
Essa semana longe dele foi difícil, mais do que imaginei. Meu
corpo sentia falta do calor do dele, dos lábios, da pressão da sua
boca...
As noites sem ele pareceram intermináveis, mesmo que
passássemos um tempo conversando por telefone sobre coisas
banais, sobre o cotidiano, e até mesmo trocando palavras e
promessas sujas que nos deixavam quentes.
Tive que me controlar para não ir correndo assim que ele
avisou que havia chegado da viagem a base de Virginia Beach meia
hora atrás. Tentei dar espaço para ele se ajeitar, mas acabei não
conseguindo.
Eu estava muito apaixonada, isso era inegável, e, diferente do
que imaginava, não mais temia o sentimento. Eu só o vivia, sem
medo do julgamento e sem pensar que eu não era mais uma
jovenzinha para cair de amores tão rapidamente, como minha mãe
fez questão de jogar na minha cara em uma ligação, depois que
Donald, encontrando um tempo não sei aonde, já que a polêmica
envolvendo o nome dele e o da filha do influente religioso propagou-
se em todas as redes sociais e a carreira dele afundava cada dia
mais, confirmou para minha mãe meu envolvimento com Brian, o
que gerou um estardalhaço.
Eu podia me apaixonar, sim. Ter o consentimento do meu filho
só era um bônus a mais.
Subindo os pequenos degraus, alcancei a porta de trás da
casa dele, entrando direto, já que ela estava aberta.
Encontrei-o de costas para a entrada, parecendo não ter
notado a minha presença, então caminhei nas pontas dos pés, para
fazer uma surpresa, porém, antes que eu pudesse alcançá-lo, ele
falou:
— Porra! Você está cheirosa pra caralho, jürek. — Virou-se
para mim.
— Você é muito sem graça, sabia? — Emiti um muxoxo,
alcançando-o.
— Não, não sabia, mas tenho certeza que além de cheirosa,
você está uma tremenda gostosa. Caralho! Isso que você já é uma
tremenda gostosona!
Soltei uma gargalhada com o comentário.
Com um sorriso malicioso no rosto, ele deixou que seu olhar
percorresse todo o meu corpo, do mesmo modo que eu gravava
cada pedacinho de pele exposta, até alcançar a toalha enrolada na
cintura. Senti o desejo crescer em meu ventre ao ver a ereção
despontando contra o tecido.
Deixei escapar um som ofegante quando os braços fortes me
envolveram.
Choques de prazer me percorreram ao sentir a firmeza dele
pressionando o meu sexo e, instintivamente, enlacei o pescoço dele,
mas não me passou despercebido que Brian parecia tenso.
— Senti muita falta de ter você em meus braços, Ionara…
— Também senti sua falta, querido…
— Estou com saudades do meu amigão…
— Ele está louco para te ver…
— Tyler está na escola? — perguntou.
— Ele queria faltar a aula para esperar por você, mas não
deixei… — Um gemido escapou dos meus lábios quando a mão
forte começou a acariciar as minhas costas de cima a baixo,
fazendo com que minha coluna arqueasse.
— Está certa.
— Mas daqui duas horas, terei que ir buscá-lo. Você pode
surpreendê-lo.
— Boa ideia.
— Ele irá adorar.
— Sim… Semana maldita!
Antes que eu pudesse brincar com ele, dizendo que não
deveria ter sido tão terrível assim, a boca de Brian esmagou a minha
em um beijo urgente que demandou que meus lábios se movessem
na mesma intensidade dos dele, que a minha boca concedesse
passagem para a língua habilidosa, que fazia amor apressado com
a minha em meio a suspiros. Ele agarrou a minha bunda com
vontade e colei-me ainda mais ao seu corpo, sentindo o coração
dele bater forte.
Não contive meus gemidos aflitos enquanto me esfregava na
ereção completamente rígida em poucos minutos, me entregando
ao beijo dele, deixando-me ser controlada, inclinando a cabeça
quando assim ele exigia.
Ainda que Brian estivesse sendo o amante fervoroso de
sempre, me devorando, me apertando e alisando, gemendo em
resposta às minhas carícias, havia algo de diferente no beijo, no
toque. Era um desespero brutal, que nunca houve antes. Seus olhos
azuis me revelavam que algo não estava certo. Apesar do desejo
cru, havia também preocupação.
Interrompi o beijo e enterrei meus dedos nos cabelos dele,
tombando sua cabeça para trás.
— Caralho, não sabe o quanto senti falta do seu gosto, jürek…
— repetiu em meio a um arfar, revelando o seu desespero. — Eu
não sei como… Porra!
Quando completou a sua fala com um palavrão e virou um
pouco a cabeça, tive certeza de que alguma coisa estava mesmo
errada.
— O que foi, Brian? — Segurei o rosto, cuja barba estava mais
comprida, fazendo com que ele me encarasse. — Estou ficando
preocupada.
— Em alguns dias, eu tenho que me apresentar para uma
missão, jürek, uma sem data para voltar. Ela pode durar uma
semana, como pode se estender por meses — falou sério.
— Entendo — sussurrei.
Durante esses dias que Brian esteve na base militar, evitei
pensar no momento em que ele seria mandado para longe, para um
lugar desconhecido e perigoso.
Agora, frente a frente com a realidade, o medo se tornou muito
mais palpável e dilacerador. Senti meu peito se apertar e um bolo se
formou na minha garganta.
Não queria que ele arriscasse a própria vida, fazendo sabe-se
lá o que quer que fosse.
Não queria perdê-lo, não quando estava redescobrindo minha
felicidade com ele…
— Não vá! — As palavras escaparam da minha boca sem que
eu pudesse contê-las, mesmo que eu não tivesse o direito de dizê-
las, e eu baixei a minha mão.
Vivíamos um relacionamento que não tinha um rótulo, e eu não
podia pedir para ele não fazer o trabalho dele, algo que ele amava.
Sabia que um pedido como esse pode ter feito com que ele
terminasse as relações anteriores que teve.
O nó se tornou ainda maior em minha garganta e eu o engoli
com força, mas ele permaneceu onde estava.
Brian colocaria um fim naquilo que tínhamos, mesmo tendo
pedido a permissão de Tyler para me namorar?
Lutei contra as lágrimas.
— Desculpa, Brian, eu não devia ter pedido isso… — Tentei
consertar as coisas, ciente de que eu deveria parecer patética aos
seus olhos. — Eu…
Silenciou-me ao deslizar as pontas dos dedos pelos meus
lábios, deixando-os formigando ao toque. Minha boca,
automaticamente, se entreabriu enquanto o coração doía.
— Eu também não quero ir, jürek. — A voz soou áspera. —
Porra! Pela primeira vez, não quero ir. Quero ficar aqui, com você,
com Tyler…
— Brian… — sussurrei o nome dele, surpresa pela sua fala e
também pelo medo que havia nos olhos dele, sentimento que nunca
imaginei ver nele.
Brian parecia tão invencível, sempre assumindo o papel de
forte e protetor, mas ele era humano e nem sempre seria o super-
herói implacável.
— Mas eu não posso! Caralho! Eu preciso ir. — Demonstrou
vulnerabilidade.
— Sim, precisa… — confirmar as palavras dele foi doloroso.
Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto, a qual ele enxugou
com o polegar. Se eu estava assim com Brian na minha frente, não
queria imaginar quando ele partisse em missão.
— Sim, tenho que ir, assim como eu tenho que ter você,
Ionara, como eu preciso te beijar, te sentir... — Respirou fundo, me
olhando de um modo que me deixou arrepiada. — Caralho! Eu
quero me aferrar a você, jürek. Quero fazer amor com você, lento,
do jeito que deveria ser o nosso reencontro, mas sei que não
conseguirei controlar meus demônios. Não serei capaz de dominar
meu medo, a raiva que sinto por ter que partir e ficar longe de
vocês, a falta que já sinto...
Brian segurou a minha nuca com firmeza enquanto sua outra
mão tornou a agarrar a minha bunda, arrancando de mim um ofegar
baixo e fazendo com que eu me apoiasse nos ombros dele.
— Eu preciso de você, Ionara, eu preciso tanto… — sussurrou.
Inclinou o rosto em direção ao meu, mas, diferente do que
imaginei, Brian não me beijou. Ele ficou olhando para mim, como se
esperasse que eu fugisse dele, da selvageria que o consumia.
Movida pelo meu próprio desejo de aferrar-me a ele, de me
entregar, sem refletir as consequências, tomei a iniciativa ao ficar
nas pontas dos pés e eliminar a pequena distância que havia entre
nós. Os lábios macios deslizaram suavemente pelos meus ao passo
que ele aplicou mais pressão ao agarre, enterrando os dedos na
minha bunda, fazendo com que nós dois gemêssemos.
Brian continuou a me beijar suavemente, se contradizendo, até
que, de súbito, a língua invadiu a minha boca e, segurando-me pelo
pescoço e reclinando um pouco a minha cabeça, ele tornou o beijo
mais intenso, mergulhando em mim como o homem desesperado
que era.
Deixei-me consumir pela minha própria aflição, permitindo que
as minhas mãos deslizassem por toda a extensão de pele nua,
marcando-o, me prendendo nele da mesma forma que Brian
desejava se agarrar a mim. Sentir os músculos dele ficarem tensos
ao meu toque me excitava, e eu presenteei-o com um arranhar
suave, o que fez com que ele grunhisse e puxasse o meu lábio
inferior, antes de tornar a me beijar.
A cada roçar das línguas que se buscavam, que se
entrelaçavam, e a cada toque, compartilhávamos o medo e a
solidão que sentiríamos pelo afastamento.
O pensamento fez com que eu choramingasse e me colasse
ainda mais a ele, roçando minha pelve na ereção dele, querendo
nos fundir. Brian grunhiu, excitado. Com um puxão, removi a toalha
em torno da cintura dele, deixando-o nu para mim. Esfreguei-me
sem pudor no volume, sentindo os músculos do meu canal ficarem
mais doloridos, querendo que o pau dele me preenchesse,
arrancando mais sons guturais de seus lábios, que eram abafados
pelos meus. Meu homem pareceu desejar o mesmo que eu, já que,
mesmo sem fôlego pelos beijos, continuando a tomar a minha boca,
ele levou a outra mão para segurar minha bunda e, apertando a
carne, me tirou do chão.
Deixou os meus lábios por alguns segundos quando meus
braços enlaçaram o pescoço dele e minhas pernas envolveram seu
tronco, puxando-o mais de encontro a mim.
A saia do vestido curto subiu com os movimentos e, tendo
somente o tecido fino da calcinha separando seu pênis da minha
vagina, a glande roçando na minha entrada me prendeu a uma
espiral de desejo, me deixando em um torvelinho.
Brian aumentou o agarre no meu traseiro, movimentando-me
contra o pau dele, e eu fechei os olhos, deixando-me levar pela
fricção que ele fazia, bem como pelos beijos cada vez mais
abrasadores e que roubavam a minha racionalidade, tanto que só
tive ciência de que ele havia dado alguns passos quando me sentou
sobre a bancada da cozinha. Abri os olhos, encarando o desejo
furioso nos dele, que era um reflexo do meu. O frio do mármore em
contato com a minha pele quente arrepiou-me e fez meu sexo se
contrair em um espasmo que reverberou por todo o meu corpo.
Usando mais força para manter minhas pernas em torno dele,
arqueei-me para trás e me remexi, choramingando quando a barba
mais comprida arranhou o meu queixo quando deixou vários beijos
pela minha garganta, focando naqueles pontos que me levavam à
loucura.
Gemi, rebolando nas mãos dele com aflição e friccionando no
seu pau, que molhava a renda da calcinha que eu usava,
misturando nossos fluídos. Meus dedos vagaram pela linha da
coluna dele, subindo até alcançar seus cabelos, e segurando os
fios macios, empinei meus seios na direção dele, incentivando sua
boca a encontrar o topo de um deles, porém ele não me deu o que
queria, trilhando de volta o caminho de beijos e mordidas pelo meu
pescoço até tomar minha boca com sofreguidão.
O tocava com as mãos e os lábios. O cheiro de suor e sexo
que produzíamos, os corações batendo em sintonia, e o modo como
Brian me fitava, como se realmente eu fosse a boia que o mantinha
à deriva, tomavam conta de todos os meus sentidos, embriagando-
me.
Eu me movia por instinto, deleitando-me com a fricção que se
tornava mais intensa. Pensei que iria desfalecer quando a mão dele
alcançou a minha calcinha e meu homem esfregou o polegar no
meu clitóris, fazendo com que eu cravasse minhas unhas em seus
ombros ao me espichar.
— Porra, mulher! — rosnou, beijando a minha bochecha, o
dedo trabalhando no ponto sensível que me deixava mole. —
Sempre molhada e pronta para mim.
— Sim, sempre. — Meus pensamentos se tornavam
incoerentes.
— Eu preciso ter você, jürek — sussurrou. — Eu não aguento
mais me segurar. Eu preciso de você.
— Eu também preciso de você, Brian. — Dei o meu
consentimento para qualquer loucura que quisesse fazer comigo.
Meu homem não esperou mais. Com as línguas se
encontrando novamente, parou de massagear meu clitóris e eu chiei
em protesto, mas a insatisfação transformou-se em alívio no
momento em que, sem remover minha calcinha, afastou a renda
para o lado e encaixou a cabeça do pau na minha entrada. Sem
esperar por ele, mantendo o seu olhar preso aos meus, movi meu
quadril para trás, jogando-o logo para frente, sentindo todo o meu
canal se contrair enquanto o recebia lentamente dentro de mim.
Com um urro, puxou-me pela bunda em direção à pelve dele,
penetrando-me até o fundo, e eu gemi, cravando minhas unhas nele
com o impacto, uma gota de suor escorrendo pelas minhas costas.
Brian não se conteve e, tirando alguns centímetros, tornou a
me penetrar, iniciando aquele vai e vem sem se retirar por completo,
de alguma forma precisando estar dentro de mim. Hoje, ele não era
o amante terno. Cada estocada era rápida e com pressão,
deixando-se consumir pela selvageria e pela busca do se sentir vivo,
e eu o recebia com igual desespero, ondulando meus quadris,
tomando-o, precisando tê-lo da mesma forma visceral.
Os bicos dos meus seios ficavam mais doloridos ao roçar nos
dele e eu desejei estar nua para sentir pele contra pele por
completo, fundindo-nos em um único ser, ainda que a presença da
roupa, que se colava em meu corpo ainda mais pelo suor,
oferecesse uma outra forma de estímulo, até mesmo a calcinha
embolada, que com os nossos movimentos queria entrar em mim
junto do pau dele.
Tombei um pouco a minha cabeça para trás, um som rouco
escapando dos meus lábios quando o deslizar rápido dele
friccionava sobre o meu clitóris e outras terminações nervosas,
deixando-me tensa e ainda mais escorregadia. Meu corpo era como
vários fios desencapados prestes a entrar em curto-circuito, e Brian
era o ponto que me daria uma pane.
Nossos quadris se encontrando no meio do caminho se
chocavam com força, e o som do estalo ecoava pela cozinha em
meio às respirações aceleradas e o barulho da minha bunda
deslizando contra o mármore enquanto eu rebolava.
Engoli um palavrão ao colar minha boca na dele e sentir que
meus músculos passaram a prender seu pênis dentro de mim com
os espasmos, e isso pareceu deixá-lo ainda mais feroz.
Apertando a minha bunda com força, provavelmente deixando
as marcas dos seus dedos em minha pele, me fez escorregar pela
rigidez pulsante, estocando-me uma e outra vez, me deixando mais
mole e perdida, totalmente faminta por ele.
Nada me importava nesse momento além do fato de ser dele.
Entreguei-me ao desejo poderoso. Os corpos se buscavam em
frenesi, as penetrações dele tornando-se mais curtas. Escutar os
gemidos dele, senti-lo ficando mais eufórico pelo êxtase próximo e
os músculos mais tensos ao toque era extremamente prazeroso.
Continuar a envolver a língua de Brian em meio ao beijo
tornou-se uma tarefa nada fácil. Me obrigava a deslizar meus lábios
pelos dele, enquanto ele segurava a minha nuca com a outra mão,
bem como a manter minhas pernas envolvendo o tronco dele,
porque as forças me abandonavam lentamente. Até mesmo
impulsionar meus quadris para frente e para trás para recebê-lo
estava difícil, era Brian que me fazia cavalgar o pau dele ao usar a
mão livre para segurar meu quadril com pressão.
Eram as duas safiras azuis, nubladas por fúria e desejo, que
me mantinham com os olhos abertos. Eu o encarava enquanto
trocávamos beijinhos, mas sem pronunciar nenhuma frase,
ouvíamos somente o som do nosso desejo.
Pode ter se passado horas, ou apenas cinco minutos, não sei
dizer, só sei que não consegui conter meu grito ao alcançar meu
ápice. No momento em que Brian me penetrou uma última vez,
removeu seu pau rapidamente e gozou no meio das minhas coxas.
O suspiro de satisfação do meu homem deixou o meu corpo trêmulo
e a sensação no meio das minhas pernas se tornou tão intensa, que
se alastrou por todo o meu ser e fez com que minha mente entrasse
em uma espécie de torpor.
Eu não pensava, eu apenas fiquei ali sentindo os pequenos
beijinhos que Brian deixava nos meus lábios. Ele colou a testa na
minha, enquanto se recuperava e tentava normalizar a própria
respiração.
Não deixamos de manter contato visual, e algo em mim,
mesmo em meio ao caos, soube que para Brian esse encontro não
foi apenas sexo, uma foda para extravasar frustrações, mas algo
especial.
Senti que meus olhos começaram a lacrimejar, as emoções
dentro de mim ficando fora de controle.
Paixão, medo e êxtase duelavam dentro de mim, acrescidos
da sensação de que, ainda que ele não fosse o meu primeiro
homem, Brian me era o mais devoto, que os sentimentos dele por
mim eram os mais fortes. Incondicionais.
— Seja minha, Ionara — sussurrou, acariciando a curva do
meu rosto com as pontas dos dedos. — Sei que não é o pedido
mais romântico, nem mesmo o melhor momento para isso, mas seja
a minha namorada. Aceita ser a mulher de um cara que está mais
do que apaixonado por você? Que levará os momentos que
passaram juntos para onde quer que ele seja enviado em missão?
Que pensará em você dia e noite, jürek? Que está odiando com
força a ideia de ficar longe de você e de Tyler? Que está partindo,
mas que deixará o coração dele com você e com o seu filho?
Uma lágrima escorreu pela minha bochecha, seguida de várias
outras. Ele incluir Tyler tornava aquele pedido ainda mais lindo, por
mais que ele não achasse.
— Vai me esperar, Ionara? — Engoliu em seco. Ao mesmo
tempo que me sentia feliz pelas suas palavras, as incertezas do
futuro, a angústia e a dor pela distância estavam ali. — Vai me
esperar para a gente poder continuar o que estamos construindo
juntos? Sei que estou exigindo muito, que isso é um sacrifício muito
grande a ser feito, mas, por favor, me deixe saber que você será
minha.
— Te esperar não será algo fácil, Brian… Saber que, devido a
sua carreira, você poderá estar correndo riscos todos os dias da sua
vida é algo muito difícil, fora a falta de notícias quando estiver numa
missão…
— Bom… — Vi a dor nos olhos dele. — Eu vou entender se
você quiser seguir em frente…
Rocei meus lábios nos dele, interrompendo sua fala com um
beijinho, sentindo o gosto de sal do suor.
— Ser sua não é um sacrifício… Na verdade, uma mulher que
estará sempre nos pensamentos de um homem tão honrado e
carinhoso é muito sortuda — tentei brincar, mas sem sucesso.
— Você sempre estará em meus pensamentos, jürek, nunca
duvide da minha palavra.
— Então prometa que voltará para a sua namorada, Brian! —
Minha voz saiu estrangulada, fruto do desespero só com a
possibilidade de poder perdê-lo, de nunca mais vê-lo, de nunca mais
poder sentir e cheirar seu corpo... — Volte, porque ela estará te
esperando aqui. Vai rezar todos os dias por você, para que possa
beijá-lo e amá-lo de novo.
Ele abraçou-me com força, esmagando meus seios contra seu
peitoral sólido enquanto a boca tornou a fazer amor com a minha de
maneira afoita.
— Precisamos de um banho — murmurou contra a minha
orelha depois de ter roubado o meu fôlego e despertado meu desejo
de fazer sexo com ele outra vez.
Olhei para ele, frustrada, quando me segurou pelos quadris,
impedindo-me de roçar minha boceta em seu pau.
— Já fui um filho da puta em não ter usado proteção… —
disse sério, e eu vi que Brian parecia um pouco irritado consigo
mesmo.
— Eu também tive minha parcela de culpa nisso, Brian. —
Tentei aliviar o clima, ainda que uma possível gravidez nesse
momento não fosse algo tão simples.
Uma criança demandava tempo, paciência e também recursos.
E por mais que um bebê fosse bem aceito por Brian, não me sentia
preparada para ser mãe novamente. Filhos deveriam ser
planejados...
— Deveria ter cuidado de nós… — insistiu.
— Eu deveria ter cuidado de nós… — repeti as palavras dele.
— Sempre fomos tão cuidadosos…
— E continuaremos a ser… — Abri um sorriso, espalmando
minhas mãos no peitoral dele e descendo os dedos pelo abdômen
trincado.
Esse homem era um tremendo gostosão, e agora era
completamente meu.
— Você está tranquila demais, jürek. — Removeu uma mecha
de cabelo que tinha grudado na minha testa.
— Posso tomar uma pílula do dia seguinte…
Ele fez uma careta.
— Isso é uma bomba e nem sempre é eficaz.
— É, mas vale a pena tentar.
Ele continuou carrancudo.
— Sem dramas. — Dei batidinhas nas bochechas barbadas.
— Tem muito hormônio!
— Obrigada pela preocupação, Brian, isso é bem doce de sua
parte…
— Estou falando sério, Ionara…
— Eu também. — Me inclinei, deixando um beijo no peito dele.
— Ao invés de ficarmos aqui discutindo, por que você não me dá um
banho? Daqui a pouco, Tyler está saindo da escola e nós temos que
nos limpar para ir buscá-lo.
Os olhos dele cintilaram. Sem dizer sim ou não, ergueu-me
como se eu fosse um saco de batatas e deu um tapa na minha
bunda que estalou. Gargalhei enquanto ele caminhava em direção
ao banheiro, mas logo voltei a gemer ao tê-lo socando dentro de
mim outra vez, mas agora usando a bendita camisinha, é claro.
Capítulo dezessete

— Você não irá se atrasar, Brian? — Ao ouvir a voz de Ionara,


desviei a minha atenção de Luke, que mastigava um pedaço de
fruta que Tyler tinha dado para ele.
Deixei de fitar os olhos do animal, que giravam em trezentos e
sessenta graus, e olhei para Ionara, que estava escorada na porta.
— Que horas são? — A pergunta saiu num tom cheio de
amargor, desgosto que minha namorada e meu amigão não
mereciam perceber, mas que parecia impossível de não sentir.
— Onze e vinte… — Ela deu um sorriso triste e o meu peito
começou a apertar.
Um bolo se formou na minha garganta, principalmente quando
Tyler choramingou:
— Mas já?
— Sim, meu amor… — Ionara respondeu.
— Ah, não! — O menininho, já sentimental desde que soube
que eu precisaria partir em uma missão, fez um bico e as lágrimas
começaram a banhar seu rosto.
Sentindo o meu coração se partir ainda mais por ouvi-lo chorar
de forma tão desolada, fui dar atenção ao garoto e o puxei para os
meus braços. Ele rápido passou os bracinhos com força em torno da
minha cintura.
— Não fique assim, amigão — murmurei, acariciando os
cabelos escuros tão sedosos quanto os da mãe.
— Tyler, Brian precisa ir — minha namorada sussurrou em um
tom preocupado ao se postar ao lado do menino.
Ele me apertou ainda mais, pressionando as minhas costelas,
mostrando uma força surpreendente para a idade, mesmo que a
constituição física dele fosse um pouco mais avantajada que a de
outros meninos.
— Filho… — Ionara tocou as costinhas dele.
— Pode deixar, jürek…
— Brian, olha a hora…
— Está tudo bem, amor.
Ionara suspirou dolorosamente.
Estava pouco me fodendo para o meu atraso que poderia
gerar uma advertência, que caso acontecesse, seria a primeira em
vários anos de carreira. Estava me lixando para tudo o que não
fosse aquelas duas pessoas que eu passei a amar em um curto
espaço de tempo e que agora sofriam pela minha partida, que
temiam pela minha segurança.
Caralho! Eu estava sentindo muito medo, um medo que nunca
senti antes. Por mais que eu tentasse, não era capaz de controlar.
Para mim, partir em missão nunca foi algo difícil, pelo
contrário, eu contava os minutos para entrar em ação. Talvez fosse
algo idiota, mas eu costumava me preocupar mais com a vida dos
meus companheiros do que com a minha. Perder um dos meus
homens por um erro meu de estratégia ou uma decisão ruim, já que
muitas vezes eu era o líder do grupo por ser o militar mais antigo,
seria mais do que imperdoável. Agora, meu maior pavor era por mim
mesmo. Minha vida nunca me pareceu tão importante, e eu estava
desesperado para voltar, para poder continuar amando Ionara e
Tyler. Ir nesse momento para um país que enfrentava uma
verdadeira guerra civil não me parecia mais algo tão atraente como
era antes.
— Logo estarei de volta, amigão — falei com convicção
quando o choro dele tornou-se mais baixo, tentando convencer mais
a mim mesmo do que a ele disso. — Eu juro que voltarei para você
e para a sua mãe…
— Mas e se… — começou a dizer, mas a mãe o interrompeu.
— Não fale isso, filho… — Ionara falou em um tom baixo.
Com o canto do olho, vi que o rosto dela também estava
molhado pelas lágrimas. Tentei engolir o bolo que se tornou enorme
na minha garganta, mas aquele nó metafórico pareceu entalado, me
sufocando.
— Sim, eu vou voltar — tornei a afirmar. — O amor que sinto
por vocês fará com que eu retorne para casa, para vocês.
— Você ama a gente, Brian? — Ergueu o rostinho tomado por
dor para me encarar.
— Muito, amigão.
Pela primeira vez, deixei um beijo na testa dele e Tyler franziu
o cenho.
— Eca! — Passou a mão no local e eu acabei soltando uma
gargalhada com o gesto. — Que nojo!
— Nojo? — Ionara perguntou e eu olhei para ela, vendo que
tentava se acalmar, mas sem muito sucesso.
— Homem não beija homem! — comentou, continuando a
fazer careta.
— Quem disse isso?
— Eu!
— Claro que beija, amigão. É só uma forma de demonstrar
afeto.
— Uma que não deveria sofrer julgamento, filho. Amor é amor.
— Sim, jürek — concordei. — E eu vou continuar
demonstrando meus sentimentos com muitos beijinhos, entendeu?
Comecei a fingir que iria beijá-lo de novo e ele se contorceu
para evitar que o tocasse, acabando por cair na risada.
— Dá beijo na mamãe, Brian, ela que gosta! — disse com a
voz esganiçada de tanto rir.
— Muito — Ionara entrou na brincadeira, mas, para provocar
Tyler, continuei a segurar o menininho, até que ele perdesse o
fôlego e se sentasse do meu lado no chão.
— Você precisa mesmo ir? — Tyler perguntou pela milésima
vez. Estava sério e vi que lutava para não chorar de novo.
— Sim.
— O que acontece se você não for?
— Serei considerado como um desertor da pátria, amigão.
— O que é isso?
— Perderei meus direitos como cidadão americano, não
poderei ter conta mais em banco... essas coisas — expliquei.
— Entendi… — Fungou.
— Você precisa ir, Brian — Ionara murmurou depois de um
tempo e eu vi o quão difícil era para ela desempenhar aquele papel:
o de me chamar à razão.
Assenti e, contrariado, me ergui.
— Vocês me levam até a porta? — pedi com a voz embargada.
— Claro — foi Ionara quem respondeu, já que o menino voltou
a chorar.
Inclinando-me, peguei o menino no colo, que segurou com
força meu pescoço.
Cada passo que eu dava escutando o pranto de Tyler era
como se estivesse caminhando rumo ao cadafalso.
Rapidamente alcançamos a porta. Eu recusei-me a ultrapassar
a soleira sem repetir aquela verdade:
— Eu te amo, Tyler — murmurei. — Essas férias foram a
melhor coisa que aconteceu na minha vida, porque eu conheci você,
meu companheirão, meu melhor amigo. Lembra do dia que você
desejou que eu fosse o seu pai?
— Lembro — Tyler falou baixinho em meio a um fungar.
— Eu sei que não deveria, que pode ser algo confuso,
precipitado, mas eu também gostaria que você fosse meu filho…
Não sabe o quanto seu pai tem sorte de ter um garoto como você e
o quanto eu o invejo…
— Brian… — Ionara arfou.
— Sou ligado a você pelo coração e pela alma, amigão, e esse
laço nem o tempo e nem a distância irão romper.
Mesmo que o menino não gostasse, deixei um beijo no topo da
cabeça dele.
— Nunca se esqueça disso, Tyler.
— Tá. — Ele tornou a fungar, e pareceu inseguro ao repetir a
pergunta: — Você vai voltar, né?
— Te dou a minha palavra, e você sabe o quanto isso é
importante para mim.
— É!
— Mas se ainda tem alguma dúvida, tenho uma coisa para te
dar… — Mesmo que ele ainda me segurasse com força, desci Tyler
até que os pés do menino alcançassem o chão.
Sabia que depois de ter sido machucado tanto com as
promessas vazias do pai, ele precisava mais de ações do que de
palavras.
Tyler me encarou, curioso, enquanto eu tirava algo do bolso.
— Abra suas mãos, amigão!
Fez o que eu pedi e eu depositei meu tridente dos Navy SEALs
nas mãozinhas dele, fechando-as sobre a insígnia.
— Sabe o quanto isso é importante para mim, não é, amigão?
Prometo que te encontrarei novamente para que você possa
devolvê-lo para mim, ok? — Baguncei os cabelos dele.
— Tá bom, Brian — concordou.
Sorri para ele quando segurou o tridente com mais força.
Ergui-me e voltei minha atenção para Ionara, que chorava
silenciosamente.
Cruzando a distância que havia entre nós dois, tomei-a em
meus braços e baixei minha boca sobre a dela. Como Tyler estava
próximo, não intensifiquei o beijo, apenas desfrutei da pressão dos
lábios, do calor, do toque. Aquele beijo, temperado com as lágrimas,
foi o mais doloroso, o mais difícil.
— Me espere, amor — pedi, mesmo que não fosse necessário.
Olhei nos olhos dela e enxuguei algumas gotinhas que caíam sem
parar.
— Volte para nós, Brian… — Deu batidinhas no meu rosto.
— Eu te amo, jürek — falei abruptamente, sem me importar
com as consequências.
Antes que ela pudesse dizer algo, me recriminar ou sentir que
era obrigada a me retribuir, voltei a beijar os lábios que me fariam
falta nos próximos dias e noites, contato que me marcava como
ferro em brasa.
Ionara ficou me encarando quando findei o beijo, várias
emoções passando pelo semblante dela.
Sabendo que eu não conseguiria ter forças para partir se
continuasse ali e que me sentiria tentado a virar um traidor da pátria,
com um aceno, caminhei em direção ao meu carro, onde minhas
coisas já estavam todas dentro dele, inclusive alguns equipamentos
que me poderiam ser úteis na missão.
Outra vez, senti que meus passos pareciam me levar em
direção a guilhotina.
Entrei no veículo e respirei fundo antes de inserir a chave na
ignição. Pisar no acelerador foi algo automático e finalmente parti.
A caminho de Virginia Beach, me dei conta de que estava
certo: eu havia deixado o meu coração para trás, com os dois.
Capítulo dezoito

Contive a vontade de abrir e fechar a mão assim que deixei a


sala do contra-almirante, do mesmo jeito que tentei controlar o
desejo de desferir um soco na parede. Eu já tinha deixado mais do
que claro para o meu superior o meu descontentamento e não
precisava que todos da base soubessem o quão puto eu estava.
Três dias e duas noites.
Sim, eu estava contando a porra do tempo em que eu estava
distante deles, e cada minuto longe era um inferno.
Levar uma advertência pelo atraso já era algo que esperava,
mas receber um esporro de Stevenson por estar desatento e não
estar cem por cento focado em planejar o que faríamos e nem nos
treinamentos era uma merda.
Tentando me controlar, caminhei em direção ao meu
alojamento.
Cumprimentei alguns companheiros, que tagarelavam sobre
alguma coisa que não dei importância, provavelmente era sobre
mulheres e as proezas sexuais deles, algo que não tinha interesse,
fora que se eu parasse para papear, surgiriam com certeza umas
piadinhas de sobre eu ser “brocha”, algo que a porra do Elijah havia
espalhado. Peguei roupas limpas e fui direto para o chuveiro.
— Caralho — xinguei entredentes e acabei socando a parede
azulejada, descontando a frustração que sentia. Meus dedos
latejaram com o impacto, principalmente quando repeti o
movimento, mas a dor não diminuiu em nada minha raiva.
— Olha o capitãozinho tendo um ataque de pelanca! —
Escutei a voz do desgraçado ultrapassar o som da água que caía
sobre meu corpo.
— Que porra! — Não me virei na direção dele. — Um homem
nem pode tomar um banho em paz, sem que um merda queira vir
olhar o tamanho do seu pau.
— Vai se foder, seu brocha! — Começou a rir que nem uma
hiena, me irritando ainda mais. — Não tenho interesse nenhum
nessa porra que você tem no meio das pernas.
— Então me deixa em paz, Elijah, eu não estou com humor
para as suas idiotices. — Peguei um pouco de xampu e esfreguei no
meu couro cabeludo.
— Tô vendo.
— Então saia!
— E perder a diversão de ver você nervosinho? Não mesmo.
Respirei fundo para não virar e socá-lo, dando mais razão para
ele encher o meu saco.
— Que seja — falei secamente.
— Cara, nem parece que você acabou de voltar de férias…
Que azedume do caralho!
Não respondi, mas ele continuou a me sacanear:
— Falei pra você transar — disse em um tom de deboche com
repreensão.
— Não consegue me deixar em paz, né? — Suspirei,
resignado. — Soube que foi mandado para casa também.
— É.
— Fez algo produtivo?
— Diferente do meu conselho, não.
— Que bom para você…
— Grande amigo você é.
Dei de ombros, pouco me fodendo para ele, e terminei logo
meu banho.
— E a sua? — perguntou.
— Excelente…
— Tá sendo sarcástico, né?
Virei-me para pegar a minha toalha.
— Diferente de você, eu não posso reclamar, nunca pensei
que seria tão bom. — Não consegui conter um sorriso ao começar a
me enxugar. — Porra! Ionara é tudo que um cara poderia querer na
vida.
— Ionara?
— Minha namorada. — Enrolei a toalha na cintura e finalmente
encarei o meu melhor amigo que parecia incrédulo.
— Que merda, cara.
— Vá se foder! — Fiz cara de poucos amigos para Elijah que
começou a gargalhar.
Passei por ele empurrando-o pelo ombro, indo em busca das
minhas roupas.
— Calma, cara, só estou surpreso. — Escutei os passos dele
vindo atrás de mim.
— Não vejo o porquê.
— Para quem achava que não daria conta, você foi mais
rápido do que uma bala…
— Você que inventou essa merda, caralho!
— Sei, sei… — tirou importância disso. Bufei e fui vestir uma
cueca e a calça. Ele continuou a me infernizar: — Mas namorar,
cara? Suas férias duraram menos de dois meses!
— Não sabia que tinha um tempo mínimo, Elijah. — Fui
ríspido.
— Caralho, já tá apaixonado?
— Quanta inteligência...
— E por que tá tão puto?
— Meu lugar não é aqui, mas, sim, com eles.
— Eles?
— Ionara e o filho dela, Tyler.
— Arrumou uma mulher com filho?
Olhei para ele, sentindo a frustração queimar até transformar-
se em raiva.
— Não sabe o quanto eu quero quebrar a sua maldita fuça
nesse momento, e estou bem próximo disso. — Meu tom era baixo
e frio. Terminei depressa de me vestir.
— Calma…
— Calma o caralho! Eu brincava dizendo que você era um
imbecil, mas, agora, tenho certeza que é um babaca. O que que tem
ela ser mãe? — cuspi. — Tyler é um menino doce, inteligente e
adora esportes radicais. Um filho perfeito…
— Tá, Brian, eu entendi. Desculpa, eu não quis ofender. —
Emitiu um suspiro. — Por mais que você seja todo paizão, imaginei
que você iria querer começar uma família do zero, não arranjar uma
já iniciada.
O soco veio mais rápido do que o meu pensamento, pegando
em cheio a lateral do rosto daquele idiota.
— Ei, essa doeu! — falou em meio a um gemido, acariciando a
bochecha machucada, mas não revidou.
— Eu avisei.
— É… — outro som de dor. — Você é mesmo forte, em?
Arqueei a sobrancelha para ele.
— Desculpa, Brian, fui mesmo um grande idiota.— A voz dele
soou séria.
— Muito…
— Está mesmo apaixonado, né?
— Apaixonado é pouco, Elijah. Eu os amo e muito.
— Entendo…
— Porra, estou vivendo o meu próprio inferno longe deles… —
Chacoalhei a minha cabeça em negativa. — Esse trabalho não é
mais para mim!
— O que você quer dizer com isso? — Franziu o cenho.
— Pedi que Stevenson encaminhe o meu pedido de
desligamento.
— Tá de brincadeira?
Tornei a cruzar meus braços na frente do peito.
— Pareço estar?
— Não, mas, caralho, você ama isso daqui.
— Sim, amo…
— Ser um Six faz parte de quem somos. — Tentou me
convencer a desistir da ideia, assim como o contra-almirante, como
se eu precisasse que alguém me trouxesse de volta a razão.
— Sim, mas por mais que ser um Navy seja uma honra e faça
parte da minha identidade, quero ser mais do que um militar. Quero
ser o homem de Ionara e o pai que Tyler precisa.
Elijah ficou em silêncio.
— Só desejo ser o Brian, o cara que tem tempo para ver
baseball e surfar, um cara que deseja passar os dias fazendo amor
com a sua mulher sem pensar que, no dia seguinte, ele tem que
partir para uma missão… Eu não quero submeter os dois a viver na
incerteza de ficar me esperando, sem poder ter notícias por tempo
indeterminado, torcendo para que eu volte vivo… Stevenson me
deixou em suspenso. Não disse quando encaminhará meu pedido.
Acariciei a minha barba e me contive para não começar a
andar de um lado para o outro, cedendo a minha ansiedade.
— Deve ser difícil para ele abrir mão do homem que mais
confia, além de ser o melhor em assalto que possui na equipe. —
Elijah disse depois de um tempo.
— Não nesse momento, cara.
— Sabe que sim, Brian.
— Não estou dando a mínima para isso, Elijah. Eu só queria
estar com eles. Porra! Não sabe o medo que estou sentindo.
— Entendo.
— Entende mesmo?
Para minha surpresa, ele se aproximou de mim e colocou a
mão sobre o meu ombro.
— Cara, sabe que gosto do perigo, da adrenalina, mas mesmo
que eu não fique tão exposto quanto vocês, várias foram as vezes
que temi pela minha vida… Seria bizarro e até doentio não temer, e
seria muito mais não sentir nada ao saber que você tem duas
pessoas para quem voltar, que te querem, que chorariam por você,
o que não é o meu caso.
— Isso não é verdade… Eu choraria por você, irmão.
Elijah me encarou, mas sem nenhuma emoção no olhar.
Passou os dedos na bochecha que já começava a inchar pelo
impacto e que ficaria ainda pior.
— Steverson nos chamaria de maricas se ouvisse você
dizendo isso — falou depois de um tempo.
— Provavelmente — concordei.
Elijah começou a rir e eu acabei soltando uma risada também.
— Fico feliz por você, Brian, sério. — Deu uns tapinhas no
meu ombro.
— Valeu, amigo.
— E então? — Abriu um sorriso malicioso que não gostei, já
que sabia que com isso viria merda.
— Que foi, porra?
— Não vai me mostrar uma foto da gata que ressuscitou seu
pau para a vida?
— Vai se foder! Quer que eu arrebente a porra da sua cara
toda dessa vez? — A raiva explodiu outra vez e eu segurei Elijah
pela camisa.
Ele gargalhou.
— Já teve melhor controle de si mesmo, Broussard — zombou.
Soltei o imbecil.
— Você é um imbecil, caralho.
— É só uma foto, homem, não precisa de melindre…
— Vá a merda, Elijah.
— Só estou curioso…
— Minutos atrás, você estava criticando o fato de ela ser
mãe…
— E daí? Só quero saber se ela é gostosa mesmo.
— Nunca irá saber, babaca.
— Provavelmente a conhecerei no nosso churrasco anual. Já
me sinto tentado a passar um tempo na sua casa, vai que tem outra
vizinha gostosa para mim por lá?
O palavrão esteve na ponta da minha língua, mas uma ideia
malévola me surgiu:
— Acredita que tem?
— Por que não me chamou então, caralho?
— É que ela é bem fofoqueira, sabe como é...
— Só um idiota que não sabe calar a boca de uma mulher
direito que se preocupa com isso.
— Se você diz.
— E então? Ela tem uma bunda gostosa? Sabe que gosto de
carne.
Fiz uma careta com o pensamento de olhar para a bunda da
senhora Ryder.
— Que cara é essa?
— Eu não sei…
— Cara, vai me dizer que não olhou?
Dei de ombros.
— Dificilmente olharia…
— Não é porque está apaixonado que está morto.
— É… — Abri um sorriso malicioso — Mas tenho que
confessar que bundas de setenta anos não me atraem.
— O quê?
— Quem sabe um novinho de trinta não consiga manter a boca
dela fechada — provoquei-o e ele pareceu atônito.
— Vai tomar no seu cu! — Começou a praguejar.
Joguei a cabeça para trás e ri da cara que o imbecil fez.
— Qual a piada, Broussard? — Um colega aproximou-se de
onde estávamos, provavelmente as gargalhadas chamando a
atenção dele.
— É o nosso fodedor de velhinhas aqui. — Apontei para Elijah
que fez uma careta, principalmente quando o colega começou a rir
dele.
Não tive medo do você me paga dito com um mover de lábios,
nem do olhar assassino que me lançou. Se eu era o brocha, ele que
se fodesse com o novo apelido que ganhou.
— Ah! Só mais uma coisa, espero que se apaixone por uma
senhora com muitos filhos! — acrescentei antes de sair.
— Desgraçado!
Ainda rindo, deixei Elijah me xingando enquanto era
interrogado a respeito do machucado, tinha coisa melhor para fazer
do que escutar as idiotices dele.
Iria fazer uma videochamada para saber como foi o dia da
minha mulher e do meu filho de coração enquanto eu ainda podia.
Meu tempo era marcado por uma ampulheta, uma em que os
pequenos grãos de areia caíam rápido demais.
Capítulo dezenove

Se alguém me dissesse que eu estaria naquela situação em


tão pouco tempo depois do divórcio, eu não acreditaria, mas eu
estava.
Um mês e meio havia se passado. Para me tranquilizar, havia
tomado a pílula do dia seguinte e, felizmente, eu não estava grávida.
Não sei como lidaria com essa preocupação a mais.
A ausência de Brian era sentida a cada segundo, bem como a
agonia de não ter nenhuma notícia dele me apertava o peito. Essa
era a pior parte.
Embora os dias transcorressem na mesma rotina, como
preparar o café da manhã, levar Tyler para escola, trabalhar, e
etecetera, as horas se passavam com uma lentidão sem fim.
Respirei fundo.
As noites eram vazias e frias, mesmo que Rye estivesse
passando por uma onda de temperaturas altas, porque faltava o
calor do corpo dele, a força dos seus braços me envolvendo, a
ereção pressionando as minhas nádegas mesmo que tivéssemos
acabado de fazer amor.
Várias foram as vezes que perdi o sono, presa às lembranças
dos dias e das noites que passei junto com o homem que disse me
amar, e que, de alguma forma, sem mesmo me tocar, como nesse
mês, me fazia sentir tal amor como nunca antes. Talvez fosse a
recordação do toque, dos beijos, dos olhares que me davam essa
certeza, por mais que ele não tenha repetido essas palavras nem
uma vez sequer quando conversávamos por telefone,
provavelmente achando que foi precipitado quando o fez.
Suspirei.
Todas as manhãs, o nascer do sol só trazia um novo recomeço
de espera.
Eu rezava, pedindo a Deus com todas as forças que tinha para
que Brian estivesse bem, mas isso não me parecia suficiente.
A impotência de não saber ao certo o que estava acontecendo
e não poder fazer nada para aliviar a angústia era dolorosa. Era
igualmente doloroso ver a tristeza no semblante do meu filho, que
todos os dias ficava esperando uma ligação de Brian, que não vinha
nas últimas semanas. Se fosse honesta, eu também esperava, ao
mesmo tempo que tinha medo de receber um maldito telefonema de
um dos oficiais da Marinha, informando que algo de errado havia
acontecido com o homem que eu amava. É, eu amava Brian. Como
eu poderia não o amar depois de tudo?
Um calafrio percorreu a minha coluna e eu me abracei. Fiquei
contemplando a escuridão, sem conseguir controlar os meus
tremores.
Brian estaria bem nesse exato momento? Estaria com fome ou
com sede? Estaria sob a mira da arma de um inimigo ou próximo de
uma bomba? Estaria vivo?
Será que eu teria alguma oportunidade de pronunciar em voz
alta para ele o que eu sinto?
— Não pense nisso, Ionara, não atraía coisas ruins para ele,
nem para você — murmurei.
Tentei desviar minha mente dessas incertezas e pensar em
coisas boas, mas logo voltei a cair naquele ciclo vicioso de
preocupação, então, fiz a única coisa que podia: fiz uma prece por
ele. Estava prestes a terminar minha oração quando escutei os
passos de Tyler.
— Está tudo bem, filho?— questionei ao me virar na direção
dele, ficando inquieta.
Fazia nem uma hora que eu o havia colocado para dormir.
Quando ele não respondeu, sua expressão parecendo ansiosa,
continuei, ainda mais preocupada:
— Está sentindo algo, meu amor?
Ele fez que não com a cabeça.
— Mãe, por que o papai está beijando a vovó na boca? — A
voz dele era em um tom que raramente escutava e não gostei nem
um pouco disso.
— Do que você está falando? — Franzi o cenho, confusa. —
Seu pai não tem motivos para beijar sua avó na boca.
Ele tornou a fazer um gesto de negação.
— Eles tão se beijando, mãe… Um beijo igual aqueles que
Brian sempre dá em você quando acha que eu não estou vendo. —
Senti que ficava vermelha de vergonha.
Eu sempre tentei conter o meu namorado, ainda que a mulher
fogosa dentro de mim adorasse os beijos roubados apaixonados,
mas parecia impossível para Brian manter-se afastado de mim.
Qualquer momento que achasse que estávamos a sós, ele
aproveitava para me beijar e me fazer estremecer contra ele.
Quando ele voltasse, teríamos que nos comportar melhor.
Novamente a falta de Brian assolou-me e, por alguns
segundos, desejei ter aqueles pequenos momentos roubados outra
vez.
— Deve ter sido apenas um pesadelo, Tyler… E você não
deveria ficar nos espionando, isso é muito feio — acabei ralhando
com ele.
— Tá… — ignorou-me e insistiu no assunto. — Mas eu vi o
papai e a vovó se beijando.
— Viu? Onde?
— Na foto!
— Que foto, meu amor?
— Na internet — Tyler começou a ficar impaciente. — Se não
acredita, eu te mostro.
— Okay — concordei, incerta.
— Vem, mamãe…
Levantei-me e deixei que Tyler me segurasse pelo braço e
praticamente me arrastasse para dentro de casa em direção ao
quarto dele.
— Aqui — falou naquele tom sério depois de me soltar, pegar o
celular e o estender para mim.
Achei que poderia ser uma foto de Donald com uma mulher
qualquer, até mesmo uma fotografia com a filha do ex-apoiador da
carreira política dele, que praticamente foi enterrada depois desse
escândalo, mesmo que ele tivesse injetado o próprio dinheiro nela e
procurado por outros apoiadores. Com certeza, Tyler havia se
confundido.
Peguei o aparelho, que quase escorregou dos meus dedos
que de repente ficaram trêmulos ao ver a imagem. Meus olhos não
queriam acreditar naquilo que viam.
O rosto tão parecido com o meu, rejuvenescido por plásticas,
estava mais do que nítido e não me deixava dúvidas de que Tyler
não estava imaginando coisas.
Um nó começou a se formar na minha garganta,
principalmente quando reconheci o local. Era uma casa de swing
exclusiva, um lugar que me dá arrepios só de lembrar da
experiência. Fui com Donald uma única vez, mas não consegui ficar
mais do que cinco minutos. Como permitiram a foto, eu não sabia
dizer, mas não era idiota em acreditar que os dois não terminaram
fazendo sexo.
O bolo tornou-se maior e pareceu conflitar com a bile que
subia queimando pelo meu esôfago, ameaçando me sufocar.
Sentei-me na cama de Tyler quando as minhas pernas ficaram
fracas.
— Mamãe? — O tom do menino pareceu uma mistura de
preocupação com expectativa.
— Sim, querido? — Mal reconheci a minha própria voz de tão
esganiçada que estava.
— Por que eles estão se beijando?
— Eu não sei… — falei, ainda que uma pontinha de suspeita
começasse a brotar no meu peito, deixando-me mais nauseada.
A defesa exagerada que minha mãe fazia de Donald, as
críticas a mim pelo casamento fracassado…
Há quanto tempo será que os dois eram amantes? Muito
tempo, minha intuição dizia, e eu me senti arrasada.
Dentre todas as traições de Donald e todas as vezes que
mamãe me magoou, com certeza aquela cena foi a pior.
Poderíamos não ter uma relação maravilhosa, mas, poxa, ela
era a minha mãe!
A dor me invadiu quando o pensamento de que em algum
momento nós duas compartilhamos o mesmo homem, talvez
durante o mesmo dia, aumentou meu nojo e minha repulsa.
É. Nunca poderia imaginar que passaria por algo tão
degradante, tão humilhante.
Mamãe era uma mulher linda, sedutora, talvez muito mais do
que eu conseguiria ser um dia, mas, mesmo assim, havia tantas
mulheres no mundo … Por que ela?
— Ela não podia tá beijando meu pai assim! Vovó é casada
com o vovô! — Meu filho deu um grito indignado e eu tentei engolir
aquele nó.
— Sim — concordei.
Apesar de Tyler já conhecer algumas maldades do mundo, ele
ainda era muito novinho para compreender as complicações de um
relacionamento e as traições.
— Não entendi nada. O que tá acontecendo, mamãe? Por que
papai tá beijando ela? — Cruzou os bracinhos na frente do corpo,
demonstrando confusão, frustração e também raiva no rostinho.
Não conseguiria dar a ele uma explicação coerente, se é que
havia uma a ser dada.
Olhei para foto outra vez, sentindo uma vontade enorme de
chorar quando finalmente a minha ficha caiu, mas, por eles, eu não
derramaria nenhuma lágrima, eles não mereciam. Os dois devem ter
rido demais da minha cara durante esse tempo todo.
Esse pensamento fez com que a ira suplantasse a mágoa, e,
sem pensar muito, fechei a aba do navegador, determinada a nunca
mais olhar para aquela foto degradante, e abri o aplicativo que
bloqueia determinados sites. Aproveitei para checar se Tyler não
havia acessado outros tipos de conteúdo além do site de pesquisa e
colunas de fofocas, mesmo que tivesse apagado o histórico.
Brian havia me alertado sobre o fato do meu filho ficar
procurando saber da vida do pai dele buscando notícias na internet.
Eu havia conversado com Tyler sobre isso, mas, pelo jeito, ele
continuou a pesquisar. Talvez eu devesse tomar o celular dele, mas
sabia que isso não adiantaria de nada.
— Mãe?
— Por que não deixamos isso para lá, meu amor? — Tentei
forçar a minha voz soar mais normal.
Desviei o olhar da tela e encarei meu filho, que ainda parecia
em um misto de emoções. Então, desliguei o celular e o deixei do
meu lado na cama depois.
— Eu só queria saber por que eles fizeram isso! — Os lábios
se se fecharam, formando um bico enorme.
Suspirei, cansada, e menti, pela milésima vez, sabendo que eu
não poderia despejar minhas mágoas sobre o menino:
— Não vale a pena ficar pensando nisso, Tyler. Talvez eles
estivessem bêbados. Pessoas bêbadas fazem besteiras.
— Sério? — Pareceu não muito convencido disso.
— O álcool altera o comportamento das pessoas, meu amor,
ainda mais se consumido numa quantidade grande.
— Por que eles beberam então? — retrucou.
Dei de ombros e pensei um pouco antes de responder.
Sentia a minha musculatura toda tensa. Desejei as mãos de
Brian me massageando, seus afagos desfariam todos os nós de
tensão.
Queria que ele estivesse aqui para me abraçar, para me
consolar, me ajudar a lidar com o caos que estava dentro de mim e
também dentro de Tyler. Brian havia se transformado em uma
espécie de pilar para mim, alguém que eu poderia contar e que me
estenderia a mão para enfrentar os problemas mais graves, até
mesmo os conflitos mais bobos.
Quis me encolher ao dar-me conta da minha solidão física e
emocional, mas apenas deixei que um som cansado escapasse
pelos meus lábios.
Eu tinha que lidar com isso sozinha, como sempre tinha
enfrentado durante toda minha vida, por mais que o peso nas
minhas costas fosse grande.
— Não sei, filho — respondi após uns segundos.
— Podemos ligar para o papai para perguntar?
Fiquei muda por um instante, sem saber o que dizer, até que
bati a mão contra o colchão e falei:
— Sente-se aqui, meu amor.
— Não. — Recusou-se, mas toda sua bravata começou a
desmoronar e vi a decepção e a tristeza lentamente surgirem em
suas feições.
— Por favor — pedi. Na verdade, quase supliquei.
Notei as lágrimas se formando em seus olhos enquanto ele me
encarava. Por fim, me obedeceu.
Assim que sentou, o envolvi em um abraço.
— Está tudo bem se sentir confuso, meu amor, mamãe está
confusa também. — Tentei consolá-lo acariciando os cabelos dele
quando o choro veio.
— Tá triste também? — A vozinha soou ressentida.
— Sim, meu bem, e também decepcionada, magoada —
acabei confessando —, mas irá passar…
Não respondeu, apenas ficou fungando.
— E por que me enganou fingindo que estava dormindo? Era
para mexer no celular? Sabe que não está no horário que
combinamos. — Tentei ser prática, sabendo muito bem o porquê.
— Queria ver se tinha notícias de Brian, assim como tem do
papai… — disse quando imaginei que não iria responder.
Meu coração pareceu se quebrar em mil fragmentos.
— Eu já expliquei que não irá encontrar nada sobre Brian, meu
amor, ele não é uma figura pública como o seu pai…
— Mas Brian é mais maneiro.
— Pode ser, meu bem, mas as informações do trabalho dele
são sigilosas, tanto que ele nem contou pra gente onde ele está,
para a proteção de todos, nossa e dele.
— Será que ele está bem, mamãe? — questionou com voz
fraca.
— Deus queira que sim, meu amor. Afinal, ele tem que voltar
para nós…
Tyler voltou a chorar em meio aos chamados por Brian. Eu
tombei sua cabeça para que ele ficasse no meu colo. Enquanto
brincava com os fios escuros, sussurrando que estava tudo bem, as
mãozinhas seguravam minha blusa. Senti minhas próprias lágrimas
se formarem e deslizarem pelo meu rosto.
— Por que não tenta dormir, Tyler? — Perguntei depois de um
tempo ao ver os olhinhos dele lutando para ficarem abertos.
— Eu não quero dormir, eu quero o Brian — murmurou.
— A mamãe está morta de cansaço — fingi um bocejo
enorme, tentando brincar com ele — mas não quero dormir
sozinha… Posso dormir com você, filho?
— Pode.
Saindo do meu colo e se acomodou no colchão. Depois de
guardar o celular e apagar as luzes, deixando apenas a do abajur
acesa, eu removi meus sapatos e também me deitei, pegando a
beirada do travesseiro.
Em silêncio, acariciei o rostinho do meu menino. Em pouco
tempo, ele acabou caindo no sono.
Enquanto zelava o sono do meu filho, a raiva e a mágoa com a
traição da minha mãe com Donald retornaram com força.
Eu não sabia o que fazer com essa descoberta, embora uma
voz dentro de mim gritasse para que eu cortasse os dois da minha
vida por completo. No entanto, racionalmente falando, sabia que
talvez fosse impossível, já que eu não podia proibi-los de conviver
com Tyler, mesmo que a vivência fosse mínima. Donald poderia não
ter cumprido sua palavra acerca de "comprar" um resultado
favorável para ele na justiça, mas fazer alienação parental era dar
combustível para eu perder a guarda exclusiva do menino.
Merda! Isso era tão difícil, tão cansativo! Era errado pedir aos
céus que Donald se esquecesse completamente da nossa
existência para que eu nunca mais olhasse para a cara dele?
Sim, era. Seria egoísmo da minha parte não pensar nos
sentimentos de Tyler, apesar que, no momento, meu menino estava
mais preocupado com o "pai de coração" dele. Nesse período, ele
pouco falou de Donald. Na verdade, já fazia dias que ele não falava
do pai.
Emiti um som baixinho para não o acordar. Estava presa
naquele redemoinho, onde a imagem da minha mãe e Donald juntos
parecia zombar de mim. Mesmo assim, acabei caindo no sono logo
depois.
Capítulo vinte

Expirando o ar lentamente, tentei controlar os meus batimentos


cardíacos, que estavam acelerados pelo perigo que nos rondava e
pela adrenalina, enquanto mantinha o rifle firme em minhas mãos,
pronto para apertar o gatilho e acertar o meio da testa do inimigo
caso fosse necessário.
Manter-se frio e racional, ignorando o cansaço que nos tomava
depois de um sono precário, poderia ser fundamental para que
saíssemos vivos dali, então, por mais que minhas emoções
estivessem conflitantes, eu lutava para dominá-las.
O tempo distante de Tyler e Ionara cobrava o seu preço, e eu
não era mais o soldado de antes. Tempos atrás, não pensaria em
mais nada além de capturar o desgraçado do líder, que além de
fomentar revoltas, ordenou a execução de opositores ao seu
governo no país, território que apesar de ser pequeno em extensão,
era estratégico para a América em termos de recursos minerais.
Houve diversas tentativas diplomáticas de negociação por parte dos
Estados Unidos, mas sem sucesso, assim não restou alternativa
para o DEVGRU[10] a não ser infiltrar-se no território inimigo com
uma única missão: Caçar e capturar o ditador. Vivo ou morto.
Antes mesmo que pudéssemos cumprir a missão, o rato fugiu
junto com alguns membros do alto escalão e empresários que
financiaram as atrocidades em troca de benefícios.
Os vermes eram esquivos, o que fazia com que a operação,
que teoricamente deveria ser rápida, se prolongasse por semanas,
principalmente porque deixaram a população em meio a um
verdadeiro caos, com um descontentamento generalizado com o
governo provisório, que adotou uma série de medidas impopulares.
Ainda que os conflitos internos tivessem mascarado por um
tempo a nossa atuação, a tentativa de manter em sigilo a operação
foi para o ralo, ainda que o governo americano fizesse de tudo para
que a nossa ação não acabasse na mídia internacional. Perdia-se
muito tempo traçando estratégias tendo-se que levar em conta
tantas questões políticas e diplomáticas, além de termos que lidar
com informações errôneas. Lentamente, prendíamos os envolvidos,
mas o alvo principal havia desaparecido, era como se tivesse
evaporado.
Por mais que eu fizesse de tudo para não deixar transparecer
para a equipe que eu liderava, essa brincadeira de gato e rato
estava me irritando.
Não era a primeira missão de captura vivo ou morto que eu
participava, pelo contrário, essa era apenas mais uma dentre várias,
já havia perdido as contas, e sabia que ela poderia durar semanas,
ou até mesmo anos, como a caça frenética a Osama Bin Laden, que
levou mais de uma década.
Estávamos há dois meses nessa operação, e cada tentativa
malsucedida, nos deslocando de um ponto a outro do país quando
chegavam novas pistas do paradeiro do fugitivo, aumentava a minha
raiva e frustração, frustração que se tornava maior com cada
insucesso, já que demoraria mais para voltar para aqueles que amo.
Sentia muita falta de Tyler e de Ionara, e a impotência de não poder
dar notícias e confortá-los me sufocava. Pensar que aquele período
poderia se estender por meses a fio e que os meus superiores não
permitiriam que eu passasse um tempo em casa, o que prolongaria
o sofrimento deles e o meu próprio, era algo agonizante.
Se os informantes dessa vez estivessem corretos, essa
caçada acabaria hoje. Teoricamente não hoje, mas em breve. Porra!
Eu queria muito voltar para casa, para eles!
A perspectiva de abraçar e beijar Tyler e Ionara roubou a
minha concentração e eu me xinguei mentalmente quando quase
tropecei em uma pedra.
— Capitão Broussard? — A voz sussurrada de Rob soou em
meus ouvidos.
Apenas fiz um gesto para que eles continuassem a subir a
colina, e me obriguei a ficar mais atento. Merda! Essa distração era
inadmissível!
Os estalos das folhas secas amassadas a cada passo que
dávamos e até mesmo o som das nossas respirações podiam
indicar a nossa presença, o que poderia fazer com que o verme
fugisse e se escondesse em outro lugar, então tínhamos que ser
bem cautelosos.
Estávamos a ponto de adentrar a propriedade onde disseram
que ele se encontrava, local que, segundo imagens de satélite
capturados pela equipe de inteligência, eram praticamente ruínas.
Quase chegando próximo ao alvo, a alguns metros de alcançar
o topo do declive e avistar a construção, um ruído estranho, baixo,
quase imperceptível para quem não era treinado, fez com que todos
os meus sentidos entrassem em alerta, os pelos da minha nuca
ficando eriçados.
Com um movimento de minha mão, todos pararam de
imediato, aguardando instruções. Fiz uma varredura por todo o
perímetro em busca do que havia chamado minha atenção. Não
encontrar nada no descampado, sequer um animal pastando, não
fez com que eu me sentisse tranquilo, pelo contrário. Mantive minha
arma na mesma posição e percorri mais uma vez o perímetro com o
binóculo, pois a sensação de que havia algo de errado aumentou no
meu interior de forma exponencial, e junto dele surgiu um medo
irracional que nunca havia sentido, um medo que fincava suas
garras e fazia com que gotas de suor brotassem em minha pele.
Por ser um lugar praticamente aberto, sem esconderijos
possíveis, não tivemos oportunidade de estudar o local
adequadamente, o que nos dava uma clara desvantagem. Tentei me
comunicar com a equipe, porém, mais uma vez, a porra da
comunicação pelo rádio tinha sido interrompida. Droga! Estávamos
praticamente no escuro aqui.
Novamente, ouvi o som, o que me deixou mais em alerta,
fazendo com que a minha intuição gritasse que alguma merda iria
acontecer, alguma armadilha que geraria caos. Não que nós não
esperássemos encontrar inimigos no caminho, nas outras capturas
que participei, sempre houve fogo cruzado, e estávamos preparados
para isso, mas havia alguma coisa diferente, algo que não
conseguia definir o que era, apenas temer.
Porra, nunca tínhamos tempo para nada, muito menos tempo
para pensar, então escutei os meus instintos tensos. Não levei mais
do que vinte segundos para tomar uma decisão depois de outra
varredura que não deu em nada.
Comuniquei-me com o meu homem de confiança com um
gesto, e mesmo vendo o ceticismo em sua face, ele acabou
acatando a ordem de retroceder.
Começamos a recuar, indo contra o senso que nos mandava ir
para frente, já que não havia nada a vista.
Eu analisava todas as alternativas para alcançarmos o nosso
alvo, revisando mentalmente as informações que nos foram
passadas mais cedo sobre a geografia do lugar. Tinha certeza que a
porra do verme estava escondido ali, eu sentia isso, e queria pegá-
lo, assim como sabia que todos meus homens também desejavam o
mesmo.
O medo não me abandonou um segundo sequer, pelo
contrário, ele fazia eu querer sair correndo, como um covarde
repulsivo, traindo o meu juramento, mas obriguei-me a dar um
passo de cada vez, a ser cauteloso, continuando a fazer a
varredura, alerta a cada som e a cada luz. A segurança dos meus
companheiros vinha em primeiro lugar.
Tentava me comunicar com a inteligência, mas foi em vão. O
som das folhas amassadas pelos nossos pés pareciam ter
diminuído de volume quando nos movimentamos lentamente.
Minha tensão fazia todos os meus músculos doerem. O bater
do coração, que não conseguia controlar, parecia reverberar por
todo lugar.
Outro arrepio percorreu a linha da minha coluna quando um
silvo cortou o ar, seguido de vários outros, e a única coisa que me
veio à mente antes que o verdadeiro caos se formasse em torno de
nós, com explosões, tiros e gritos, foi o rosto das duas pessoas que
mais amava.
Mesmo sentindo o pavor se tornar mais forte, vendo que tinha
chances quase nulas de ser bem-sucedido nessa missão, eu tinha
que sobreviver por eles.
Eu vou voltar! Eu não poderia falhar com a minha palavra
dada, não quando cumprir minhas promessas era a coisa mais
importante da minha vida.
Capítulo vinte e um

Apoiei minha cabeça contra o volante e, sem conseguir mais


me controlar, comecei a chorar. Quem sabe com as lágrimas o
aperto no meu peito nos últimos dias diminuísse.
Estava exausta. Estava cansada de esperar, cansada de rezar
sem uma resposta às minhas preces, cansada de não poder olhar
nos olhos de Brian, de não poder tocá-lo ou beijá-lo...
Tinha que me manter forte pelo meu filho, tentando dar a ele
esperanças de que estava tudo bem, quando por dentro eu me
sentia desabar.
Me questionava se tanto sigilo era necessário. Por que ele não
podia fazer uma maldita ligação para falar se estava tudo bem? Era
mesmo tão perigoso assim?
Estava cansada, muito cansada...cansada até mesmo das
picuinhas envolvendo Donald e minha mãe.
Ainda que eu não tivesse atendido nenhuma das ligações de
mamãe, a confusão acabou alcançando-me por meio do meu pai,
que pediu o divórcio. Parece que a esposa ter dormido com o ex da
filha foi algo inaceitável, o que era bem hipócrita da parte dele, afinal
ele já teve um caso com uma prima de minha mãe.
Embora com a separação ela tenha se tornado a “segunda
vergonha da família”, eu não conseguia rir da situação. Ainda estava
digerindo a minha mágoa pela traição, que se tornou um verdadeiro
prato cheio para a mídia local. Na verdade, era muito fácil não dar
importância a esse fato quando Tyler, Brian e os trabalhos que eu
pegava freneticamente um atrás do outro me ocupavam a mente. Só
era lembrada do episódio quando deixava meu pai discorrer acerca
dos escândalos da minha mãe, mas não assimilava tudo.
O som da porta se abrindo fez com que eu tivesse um
sobressalto e olhasse em direção ao banco de trás.
— Oi, filho — cumprimentei-o, minha voz soando fraca. —
Como foi a aula hoje?
Nossos olhares se encontraram no retrovisor.
— Tá chorando por quê, mamãe? — Tyler pareceu ficar
instantaneamente tenso ao se acomodar no veículo. — Aconteceu
algo com Brian?
Bateu à porta com um pouco mais de força que devia.
— Não, meu amor, eu não tive notícias dele, a mamãe que
anda muito emotiva. — Dei um sorriso fraco para ele.
— Ah! — Minha fala não pareceu tranquilizá-lo, pelo contrário,
Tyler pareceu ficar triste.
— Coloque o cinto, filho — pedi, limpando o rastro de lágrimas,
buscando algum controle das minhas emoções.
Evitava chorar na frente de Tyler, mas às vezes eu não
conseguia me conter.
— Tá bom.
Respirei fundo e liguei o automóvel, pegando o caminho de
volta para casa.
— E então, como foi na escola?
— Normal — respondeu num tom desanimado.
Parando em um semáforo, vi pelo espelho que Tyler brincava
com a insígnia que Brian havia dado para ele. Por mais que eu
tivesse dito que ele poderia perdê-la, Tyler carregava ela para cima
e para baixo. Para minha surpresa, quando eu perguntei se havia
mostrado o broche para algum amiguinho, ele disse que não. Meus
olhos voltaram a encher de água só de pensar o quanto meu filho
era ligado ao objeto, como se a peça de metal conjurasse a
presença do dono.
— Mas hoje não tinha aula no laboratório? — Tentei puxar
assunto. — Você gosta tanto de ciências.
— É… — O tom dele pareceu mais animado. — A Jasmine
deu um gritão e começou a chorar!
Franzi o cenho.
— Mesmo?
— Eu tive que abraçar ela pra ela parar de chorar.
— Que gentil, filho. — Abri um sorriso.
— Eu tenho que ser um cavalheiro como o Brian disse…
— Brian ficará orgulhoso quando você contar para ele —
murmurei.
— É… Mas o Max ficou rindo de mim porque eu fiz isso.
— Ele é um bobão. — Revirei os olhos.
— Não, ele é muito legal!
— Se você diz…
Não conseguia concordar. Para mim, esse garoto não passava
de um valentão que gostava de implicar com todo mundo.
— Todos querem ser amigo dele — defendeu o coleguinha.
— Entendi. — Resolvi então mudar de assunto. — Mas por
que ela estava chorando, filho?
— Por causa do sapo!
Fiz uma careta com a menção ao bicho.
— A professora levou um sapo dentro do aquário e aí quando
ela abriu a tampa e pegou o sapo na mão, ela gritou e começou a
chorar.
— Argh! — Tentei não pensar na imagem, mas foi impossível
não sentir meu estômago revirar. Definitivamente, odiava sapos.
Escutei uma risadinha do meu filho.
— Começou a sair xixi quando ela foi mostrar pra gente… —
continuou, só porque sabia que eu não gostava do bicho.
— Deus! Pare! — gritei, provavelmente mais alto do que a
amiguinha de Tyler. — Você vai me fazer vomitar.
— Mas é tão legal, mamãe — falou em meio à risada —, ele
era gosmento…
— Tyler! — Arfei, engolindo a bile.
A risada dele se tornou mais alta. Por mais que o menino
estivesse se divertindo às minhas custas, acabei sorrindo. Ver a
alegria do meu filho era uma espécie de bálsamo em meio a tudo
que estávamos vivendo.
Tyler continuou com as suas provocações pelo restante do
caminho e, momentaneamente, eu esqueci da minha angústia.
Estava prestes a entrar na garagem, quando meu olhar recaiu
sobre o alpendre e eu vi um homem sentado na escada, trajando
uniforme militar. Freei o veículo que, felizmente, não estava em alta
velocidade, tornando o impacto da freada menor.
Meu coração disparou e eu pensei que ele escaparia pela
minha boca. Brian! Custei a processar que o homem que agora se
levantava não era uma miragem criada pelos meus desejos mais
profundos, mas o grito do meu filho chamando por ele enquanto
corria em sua direção mostrava que não era um sonho.
Não consegui sair do carro. Fiquei sentada e levei as duas
mãos ao rosto. Comecei a chorar convulsivamente.
Brian tinha voltado.
Voltado para mim. Voltado para Tyler.
Chorei ainda mais. O alívio era tão palpável que o peso que
sentia nos ombros e no peito havia evaporado. Era como se nunca
tivesse existido.
Deus! Ele estava vivo! Ele estava bem!
A espera de meses por notícias havia se findado e finalmente
eu poderia abraçá-lo, tocá-lo, sentir seu cheiro e o calor da sua pele.
Comecei a rir em meio às lágrimas, mas só saí daquele misto
de emoções quando Brian, que segurava um Tyler choroso no colo,
bateu no vidro.
Encarei o rosto amado percebendo cada mudança nele, desde
a pele mais curtida pelo sol, a barba mais espessa e comprida, até
as pequenas linhas de expressão que mostravam seu cansaço e
que não estavam em sua face antes dele partir.
No entanto, foram os olhos azuis que me fitavam
amorosamente que roubaram o meu fôlego.
Eu merecia tanto amor? Se eu merecia ou não, não sabia
dizer, só sabia que o amor que ele me dava transbordava de seu ser
e o sentimento se materializava, tocando-me profundamente no
corpo e na alma.
— Não sentiu minha falta, jürek? — Abriu a porta do carro
quando eu não reagi, me brindando com aquele sorriso que era
capaz de me deixar de pernas bambas.
— Você sabe que sim, Brian — sussurrei, finalmente
removendo o cinto e obrigando-me a reagir.
Ele deu um passo para trás para que eu pudesse sair do carro.
Pulando do assento, abracei-o pela cintura, mesmo que Tyler, que
ainda chorava baixinho e segurava-o com força, como se tivesse
medo de ele desaparecer, ficasse entre nós. Meu corpo todo
estremeceu só com a proximidade do dele. O cheiro natural de Brian
impregnou as minhas narinas e eu me senti estranhamente
completa, como se, sem que me desse conta, ele tivesse levado
uma parte de mim com ele quando partiu. Com a alegria e o alívio, o
meu coração pareceu bater em uma outra frequência.
— Não sei se sentiu tanta assim — provocou-me.
Fiz um som indignado e segurei o queixo dele.
— Muita… — Acariciei a barba espessa, sentindo novas
lágrimas deslizarem pela minha face. — Todos os dias eu pensei em
você. A cada minuto eu senti sua falta, amor.
Ficando nas pontas dos pés, puxei o rosto de Brian em direção
ao meu e encostei meus lábios nos dele em um beijo suave e doce,
reencontrando o sabor, ciente de que a fome e o desejo de
realmente senti-lo teria que ficar para depois.
Mesmo com as bocas se moldando, vi nos olhos azuis a
certeza que, assim que meu filho dormisse, iríamos nos consumir,
transformando-nos novamente em um só.
— Eca! Para com isso, mãe! — Tyler reclamou e eu comecei a
rir.
Tentei continuar a beijar Brian, mas acabei parando quando os
resmungos do meu filho se tornaram mais intensos.
— Quer beijinhos também? — Brian brincou com o menino.
— Argh! — Tyler fez uma careta ao ganhar um beijo estalado
na bochecha.
Gargalhamos com os queixumes do meu menino, que passava
a mão pela bochecha, como se estivesse com nojo.
— Senti sua falta, amigão, principalmente das suas gracinhas.
— Brian deu um sorriso torto, antes de descer Tyler e colocá-lo no
chão.
— Hey! Eu não faço gracinhas.
— Sei…
Rindo, bagunçou o cabelo dele, arrancando uma risadinha de
Tyler, que automaticamente levou a mão ao bolso da calça, pegando
a insígnia.
— Você estava carregando o meu tritão, amigão? — Brian
murmurou e eu vi os olhos dele ficarem marejados.
Para minha surpresa, ele caiu de joelhos em frente ao meu
filho.
— É... Tem problema? — Tyler perguntou, inseguro.
— Não, claro que não… — tocou o rosto do meu filho. — Eu…
— Que foi? — perguntou com uma vozinha tímida.
Brian o abraçou e, pela primeira vez, vi aquele homem chorar.
Manteiga declarada, tornei a ficar emocionada com a cena.
— Brian? — Tyler parecia confuso.
— Desculpe-me, amigão, mas você não tem ideia do quanto
isso é importante para mim — falou com a voz embargada.
— Entendi. — O menino tocou o pedaço de metal e olhou para
mim. — Eu carreguei ele o tempo todo, não é, mamãe?
— Sim, meu amor.
— Nossa! — Tornou abraçar o meu filho. — Obrigado por isso,
amigão.
— Tenho que te devolver ele — meu filho disse e deu um
passo para trás, para tirar as plaquetas.
No entanto, quando Tyler estendeu a peça para entregar a ele,
Brian não permitiu.
— Fique com ela, amigão, quero que fique com ele —
sussurrou, pousando a mão sobre os ombros dele.
— Mas você disse…
— Sei que não irá perdê-la — continuou.
— Não, nunca.
— Eu te amo, amigão! — Deu outro beijo no menino, que
dessa vez não fez nenhuma careta e abraçou-o pelo pescoço.
— Podemos surfar? — Tyler perguntou, animado, fazendo com
que Brian gargalhasse.
— Filho! Brian acabou de chegar!
— Mas faz tempo que não surfo, mamãe! — Cruzou os braços
na frente do corpo. — Você não deixou. Disse que tinha que esperar
o Brian.
— Porque é perigoso! — defendi-me.
— Sua mãe está certa, amigão. — Brian se ergueu.
— Mas você disse que sou superfera! — Fez bico.
— Isso não impede de precisar de supervisão… — Mexeu nos
cabelos dele, deixando os fios pretos arrepiados.
— Ah, tá bom! — disse emburrado. — Mas a gente pode ir
agora?
— Deixe eu só cumprimentar a sua mãe direito.
— Você já beijou ela!
— Não o suficiente, amigão — sussurrou.
— Argh!
— Por que não se troca enquanto isso? Aproveita e passa
parafina na prancha. — Brian sugeriu.
Sabendo que meu namorado queria uma oportunidade de ficar
a sós comigo, completei:
— Guarda os seus materiais da escola antes, filho.
— Tá!
Não precisamos dizer mais nada para que Tyler corresse até o
carro para pegar a mochila e depois saísse em disparada em
direção a casa, esquecendo que a porta estava trancada. Nesse
momento que notei um enorme buquê de rosas vermelhas, que
deveria ter custado uma fortuna, depositado nos degraus entrada.
Olhei para Brian, que me abraçou por trás e me deu um sorriso
lindo.
Ri ao ver meu menino tendo que correr de novo para o carro
para pegar a chave na minha bolsa.
Agora, eu e Brian estávamos a sós, e os pelinhos da minha
nuca ficaram todos arrepiados quando, colocando meus cabelos
para um lado, os lábios dele pousaram sobre a minha pele.
— Porra, como eu senti falta disso. — Sua voz soou
extremamente rouca.
Ele continuou a explorar o meu pescoço com a boca,
deixando vários beijinhos até alcançar a minha orelha.
— Eu também…
Rocei minha bunda contra a pelve dele por instinto, fazendo
com que ele emitisse um som gutural. Por mais que eu quisesse
continuar a me esfregar nele, sentindo o pau dele crescer contra
minhas nádegas, Brian me virou em seus braços e me encarou
enquanto tocava a minha bochecha. Pude perceber várias emoções
antagônicas percorrendo a expressão dele: felicidade, desespero,
cansaço, frustração, carinho e também fome, muita fome... de mim.
— Eu também pensei em você a todo momento, jürek — roçou
o polegar pelos meus lábios enquanto a outra mão firmava as
minhas costas. — Me apeguei a vocês para sobreviver quando a
operação parecia perdida.
— Brian… — Cerrei minhas pálpebras enquanto a garganta
apertava. Não queria nem imaginar o que ele passou.
— Foram vocês que me mantiveram vivos, amor. A vontade de
ver o rosto de vocês outra vez foi o que me fez sobreviver! — a voz
soou desesperada.
Quando ia tentar dizer algo, os lábios dele cobriram os meus ,
sua língua me abrindo para ele, encontrando-me em um beijo
urgente, intenso, como se precisasse descontar no deslizar de
bocas e línguas todo o tempo que estivemos distantes. A barba
deixaria o meu rosto avermelhado, mas não me importava, eu me
entregava a ele sem nenhuma restrição.
Segurei-me na gola da farda dele quando minhas pernas
fraquejaram devido às emoções descontroladas, e descobri que eu
também tentava apagar com o beijo todos os meus medos, todo o
cansaço e toda a angústia que passei. Quando o ar pareceu faltar,
eu o abracei com força e chorei nos ombros dele.
— Por que você não ligou quando ficou em segurança? —
Minha voz saiu esganiçada, enquanto batia nos ombros dele como
uma criança mimada. — Não sabe o quanto eu estava desesperada
por notícias, por ouvir sua voz!
— Quis fazer uma surpresa…
Brian enxugava minhas lágrimas com pequenos beijos. Deixei,
então, minhas mãos deslizarem dos ombros até alcançar seu
peitoral. Senti o coração dele bater forte, e lembrei quando ele disse
pela primeira vez que era eu que fazia isso com ele. Suspirei.
— Queria fazer algo mais romântico, mas talvez não tenha
sido uma boa ideia...
— Talvez…
Ele soltou um muxoxo.
— Em minha defesa, assim que o avião pousou, eu…
Calei Brian ao roçar novamente minha boca na dele,
entrelaçando meus dedos nos cabelos escuros. Voltei a suspirar
quando ele mordiscou os meus lábios, puxando-os, antes da língua
intensificar o beijo.
— O importante é que você está vivo e está aqui agora, amor.
— Amor?
— Sim, Brian. Pode ser abrupto, talvez precipitado, mas eu
amo você. — Brinquei com ele, recordando as palavras que ele
usou e que ficariam eternizadas dentro de mim. — Amo o seu
sorriso, o seu cheiro…
— O meu corpo? — provocou-me, enterrando as duas mãos
na minha bunda.
— Besta! — Deixei uns tapinhas nele.
— O meu toque? O meu beijo? O modo como eu faço amor
com você, jürek?
— Brian! Você está atrapalhando minha declaração! — Briguei
com ele e arfei ao mesmo tempo, já estava ficando muito excitada.
— Eu amo os seus gemidos, Ionara… — me deu um selinho,
desferindo em seguida um tapa na minha nádega —, senti falta de
escutá-los.
Revirei os olhos.
— E o que eu posso fazer se só de pensar em ter o seu corpo
se arqueando contra o meu enquanto eu te preencho me deixa
insano?
Gemi com a lembrança de tê-lo assim dentro de mim.
— Eu te amo, Brian — dei-me por vencida e resumi o que
queria dizer.
Com uma risada, ele tornou a me puxar contra seu peito e me
deu um beijo cheio de promessas quentes enquanto me apalpava
de forma escandalosa.
— Tô pronto. — Escutei a voz do meu filho e, com um gritinho,
dei um passo para trás, findando o contato inapropriado.
— Já, amigão? — Brian fez uma careta, ao se virar para o
menino, que segurava o buquê esquecido. — Nem deu tempo de
beijar a sua mãe direito.
— Até parece!
— Você não deve ter passado a parafina como eu pedi…
— Eu passei, sim! — resmungou.
— Duvido! — provocou-o, arrancando dele mais resmungos.
— De quem é isso? — Tyler sacudiu o buquê.
— Você vai machucar as rosas fazendo isso, filho —
aproximei-me dele e tirei o ramalhete das suas mãos.
Abracei as flores contra o peito e as cheirei, como uma
completa apaixonada. Inspirei fundo, sentindo a fragrância forte e
deliciosa.
— É para a sua mãe, amigão, não para você… — brincou.
— São perfeitas e enormes… — Sorri, meio abobada.
— Por que comprou isso pra ela?
— Faz parte do romantismo, Tyler…
— É pra ganhar mais beijos da mamãe? — Senti que fiquei
vermelha com a pergunta inocente.
— Algo do tipo… — Engoli um arfar ultrajado com a fala de
Brian. Tive medo que essa resposta gerasse mais perguntas do meu
filho.
Antes que o assunto se estendesse, Brian mudou o rumo da
conversa:
— Vamos lá ver se você passou a parafina direito.
Apoiando as mãos nas costas do meu filho, incentivou-o a
andar.
— Acho que vou ter que comprar umas rosas também — Tyler
comentou.
— Pra quê, amigão?
— Para dar pra Jasmine…
Não consegui mais ouvir a conversa, já que eles haviam se
afastado e eu fui na direção oposta, para colocar o carro na
garagem.
Suspirei ao pensar no interesse do meu filho por uma garota.
Deus! Meu menino já está virando um homenzinho.
Tentando não pensar muito nisso, foquei nas tarefas à minha
frente: estacionar direito o veículo e colocar o buquê dentro d’água,
usando alguns truques da vovó para que as flores ficassem viçosas
por mais tempo.
Pensar em vovó fez com que eu sorrisse, principalmente
quando, sem nenhuma explicação, o cheiro dela me veio à
memória, vencendo os emanados pelas rosas. Deixando-me levar
pelas lembranças olfativas, olhei pela janela da cozinha e vi Tyler e
Brian rindo enquanto alisavam a prancha, verificando se ela estava
pronta para uso.
Quando a fragrância pareceu ficar mais intensa,
inevitavelmente me levou às lágrimas. Não tive dúvidas nesse
momento de que, aonde quer que ela estivesse, vovó estava feliz
por eu ter encontrado, assim como ela, um novo amor naquela
pequena cidade…
Capítulo vinte e dois

— Sinto muito por não estar ao seu lado quando isso


aconteceu, jürek — falei em um tom sério depois de vários minutos
em que apenas fiquei acariciando a lateral do corpo dela, deslizando
minha palma para cima e para baixo.
O toque não apenas ajudava a aplacar a raiva que sentia do ex
e da mãe dela, mas também me fazia acreditar que eu estava vivo e
que todo o medo e desespero que eu havia sentido durante a
emboscada, que até agora não sabia como não havíamos perdido
ninguém, não existiam mais. Eu estava em casa...
Ionara estava em meus braços depois de eu ter feito amor com
ela lentamente, e agora eu tinha aqueles olhos acizentados sobre
mim, me encarando com ternura, embora também tivesse uma
pontada tristeza ao contar o que havia acontecido.
— De verdade, Ionara, só fico imaginando como deve ter sido
difícil para você lidar com as perguntas de Tyler. — Deixei um beijo
no topo dos cabelos molhados de suor.
— Muito… — Suspirou e deu um sorriso fraco.
— Porra! E você nem podia me contatar para desabafar…
— Não precisa se culpar tanto assim, Brian…
— Caralho, eu…
— Tenho certeza que, se pudesse, você teria me ligado todos
os dias… Eu respeito e entendo o seu trabalho, Brian. — Seus
lábios pousaram sobre o meu peito e meu coração acelerou de
imediato com o calor da boca sobre a minha pele.
— Eu sei… — meu tom ficou ainda mais sério.
— Alguém te disse que você se responsabiliza muito por tudo?
— falou suavemente e os olhos dela brilharam, cheios de diversão.
— Mesmo? — Desferi um tapinha no traseiro dela e a safada
deu uma reboladinha provocativa que me fez enrijecer.
Porra! Eu precisaria de muito tempo para acabar minha fome
por ela, se é que um dia meu desejo por Ionara terminaria.
— Sei que faz parte de quem você é… Não só uma exigência
da profissão, mas também pela sua natureza protetora.
— É… — Dedilhei a linha das costas dela, sentindo-me fodido
quando ela arqueou o corpo na direção do meu e arfou
deliciosamente.
Repeti os movimentos, arrancando dela a mesma reação que
me incendiava.
— Você um dia me disse que não podemos ser responsáveis
por tudo, amor — murmurou, os dedos acariciando a minha barba
com ternura.
Sorri quando a escutei me chamando de amor.
Eu me achava um grande filho da puta felizardo por essa
mulher me amar. A euforia não cabia em mim, tanto que eu queria
gritar para todo mundo ouvir.
Tomado pelo desejo, embrenhei meus dedos nos cabelos
longos e sedosos e tomei os lábios dela, moldando-os suavemente,
provocando-a, até que mergulhei minha língua na boca sempre
convidativa a mim, encontrando Ionara ávida. Todos os pelos do
meu corpo ficaram eriçados ao escutar o suspiro dela, suspiro que
eu queria ouvir todas as manhãs e noites da minha vida.
Nem fodendo iria deixar aquela mulher sair da minha vida! Me
esforçaria a cada segundo para fazer com que o amor que ela
sentia por mim nunca se extinguisse.
Esse pensamento fez com que eu intensificasse ainda mais o
beijo, sentindo-me faminto e determinado. Deslizei minha boca pela
dela, provocando-a, enquanto acariciava seu couro cabeludo,
fazendo com que ela gemesse ainda mais. Meus próprios suspiros
se mesclaram aos dela quando ela tocou a região sensível do meu
pescoço. Minhas pernas entrelaçaram com as dela, e senti a maciez
da sua pele.
Ionara roçou o peito do pé na minha panturrilha e esfregou a
pelve na minha ereção, arrancando de mim um som gutural.
Gostosa!
Porra! Ela acabava com toda a minha intenção de conversar e
oferecer o apoio, mesmo que tardio, que ela merecia.
Não conseguia raciocinar com o beijo e as carícias que Ionara
fazia em mim, mas não queria que ela parasse, pelo contrário,
estava desesperado por ela.
Caralho! Precisava mais do que tudo amá-la outra vez.
Puxei-a pela nádega em direção ao meu pau, sentindo minha
carne pulsar contra o sexo que deveria estar molhado de excitação.
Grunhi, ficando ainda mais rígido.
— Estou falando sério, Brian, você não pode se sentir culpado
por não estar aqui quando isso aconteceu — falou, completamente
sem fôlego, ao apartar o beijo e eu soltei um muxoxo pela
interrupção.
— Talvez…
— Brian! — ralhou, me dando um tapa no ombro.
— Sabia que senti falta de você brigando comigo, jürek? —
provoquei-a.
— Sério? — Franziu o cenho e eu acabei gargalhando
enquanto me movimentava até que o corpo dela estivesse debaixo
do meu. Emiti um gemido ao ter meu pau roçando no ventre liso.
— Sim, alguém tem que me colocar nos eixos. — Toquei os
lábios dela com um selinho.
— Hm… — Os dedos dela se embrenharam nos meus cabelos
e eu ofeguei quando puxou os fios suavemente. — Seus superiores
devem sempre colocar você na linha, Brian.
— Não como você — brinquei.
— Falando assim, eu pareço uma carrasca. — Ionara me deu
tapinhas na omoplata e eu dei uma risada. — Uma “mãezilla”.
— Não é para tanto, amor.
— Sei. — Bufou.
— Gosto desse lado mãe seu…
Franziu o cenho de novo.
— Você é uma mãe bem gostosa, Ionara — minha voz saiu
rouca ao agarrar a polpa da bunda dela e apertar.
— Ah, pronto! — soou dramática, mas os olhos dela estavam
brilhando com diversão. — Agora virei uma milf[11] e nem cheguei
aos quarenta!
Tornei a gargalhar, achando graça na sua fala.
— Agora só me falta, quando Tyler ficar adolescente, eu ter um
monte de meninos atrás de mim achando que sou uma dessas —
continuou o drama.
Imediatamente eu fechei a cara com o comentário, já
imaginando um bando de moleques olhando para o corpo da minha
mulher.
— Só por cima do meu cadáver — murmurei entre dentes
enquanto acariciava o traseiro dela.
— Hm… — Espalmou as duas mãos no meu peito.
— Essa gostosa tem dono e ele é muito ciumento…
— Mesmo? — Abriu um sorriso sedutor pra caralho.
Mas o que em Ionara não era sexy demais?
— Sim… Sou bem possessivo.
Nos movimentei no colchão até que o meu corpo cobrisse o
dela e eu me apoiei nos cotovelos para não a esmagar com o meu
peso.
— Não sei se gosto muito de como isso soa…
Senti todos os músculos das minhas costas tensionarem ao
seu toque. Grunhi.
— Você é minha, Ionara — rocei minha boca na dela —, e
quem se atrever a desejar você levará bala.
— Brian! — Deu um grito estrangulado.
— Completamente minha — dei outro beijo —, e eu fui seu
desde a primeira vez que te vi.
— Exagerado! — Os olhos dela brilharam e ela se contorceu
embaixo de mim, me matando de desejo, enquanto as mãos
seguravam o meu rosto em concha. Suspirei com a carícia.
— Sou um louco, um bobo completamente apaixonado por
você, jürek, um homem que te amará para sempre.
— Eu também te amo, Brian — sussurrou com a voz
embargada. — Tive tanto medo de não poder te dizer isso…
Os olhos dela lacrimejaram e eu espalhei beijinhos pela sua
face.
— Estou aqui e você poderá falar que me ama quantas vezes
quiser, amor. Pode me amar quantas vezes quiser, como eu irei te
amar. E não importa quantas vezes eu for mandado para longe de
você, eu sempre voltarei, Ionara. — Minha voz parecia ecoar os
meus próprios medos.
Ela abriu um sorriso em meio a uma lágrima sorrateira.
Porra, mais do que tudo desejei lhe dar a certeza de que ela
não precisaria passar por isso outra vez, de que estaria perto dela e
de Tyler sempre que eles precisassem de mim, mas não podia.
Stevenson sequer tinha encaminhado o meu pedido de
desligamento. Merda!
— Me ame, Ionara, me faça sentir vivo outra vez — pedi,
sentindo uma onda de desespero me envolver.
Não precisei dizer mais nada.
Ainda segurando o meu rosto, ela me trouxe para um beijo
lento e eu me senti desmanchar em meio ao contato de lábios e
peles, permitindo-me apenas desfrutar das sensações que me
preenchiam. Meu único ato de racionalidade foi encapar o meu pau
antes de me fundir a Ionara mais uma vez.
Epílogo

Dois anos depois…

Sentindo as mãos dele acariciando a minha barriga de


quatorze semanas, uma espécie de hobby de Brian, junto com beijar
o meu abdômen toda hora, troquei um olhar com o homem que eu
amava enquanto o médico analisava os resultados do meu check-
up.
Para o meu alívio e o de Brian, o obstetra fez alguns
comentários, emitindo um som de aprovação ao constatar que
houve uma melhora significativa na minha vitamina B12 com a
suplementação que me passou.
Por mais que o doutor tivesse me garantido que tudo ficaria
bem se eu seguisse à risca as recomendações dele e da
nutricionista, o simples pensamento de que a falta dessa vitamina
poderia prejudicar o desenvolvimento do sistema nervoso do
bebezinho que crescia no meu ventre tinha me deixado
desesperada. Talvez até demais, já que era a minha segunda
gestação, mas, diferente de quando tive Tyler, eu não era mais tão
jovem, estava com trinta e quatro anos, e sabia que quanto mais
velha se ficava, mais cuidados tínhamos que ter. Fora que tudo o
que não tive na primeira gravidez estou tendo agora: muita fome e
queimação no estômago.
— Seus resultados estão excelentes, senhora Sanders.
— Obrigada, senhor Gold.
— Vocês têm alguma dúvida a respeito dos resultados? Ainda
terá que continuar a tomar o complexo B12, mas irei prescrever uma
dosagem menor já que o nível está dentro da normalidade…
— Acho que não, doutor.
— A gente pode ver o bebê? — Tyler pediu em um tom
ansioso. Com o canto do olho, vi meu filho remexer no assento,
inquieto.
— Também estou louco por isso, amigão — Brian parecia
emocionado, com a voz embargada.
Sabia que ele faria de tudo para se controlar e não desabar a
chorar, mas acho que seria inevitável num momento como esse. A
paternidade mexia bastante com ele.
Se Brian já dizia que Tyler o completava de várias formas,
tornando o sonho dele de ter uma família em algo real, e que meu
menino era o filho dele de coração, descobrir que eu havia
engravidado por outro descuido nosso o deixou extremamente
alegre, mais do que imaginei que ele ficaria. Meu marido ficou
exultante.
Meu marido...
O superior de Brian havia demorado a encaminhar a papelada
do pedido de desligamento dele e levou mais alguns meses para
que fosse deferido o requerimento, mas quando finalmente o
processo foi encerrado, ele me pediu em casamento, pedido o qual
não hesitei em aceitar, ainda que de alma eu já fosse a mulher dele
há muito tempo.
Como já havia me casado na igreja uma vez e eu não queria
passar pelo estresse novamente, fizemos uma pequena cerimônia
íntima na praia em que morávamos. Embora tenha sido algo
simples, foi muito especial para mim me casar ali, principalmente ao
usar o quarto que foi da minha avó, e que agora era meu, para me
arrumar. Era como se ela tivesse estado todo o momento ali comigo,
tanto que tinha caído no choro várias vezes por causa da sensação,
e chorei ainda mais quando, durante a cerimônia, descobri que
Brian havia incluído Tyler nos votos dele. Eu era a pessoa mais feliz
do mundo por ter esse homem ao meu lado.
Após se desligar da Marinha, Brian abriu uma escola de surfe
gratuita, já que não precisava de um emprego remunerado, pois me
contou que além de possuir investimentos, tinha as empresas que
havia herdado do avô, que lhe rendiam milhares de dólares ao ano.
Ao contrário do que havia pensado meu ex, ele não era nenhum pé-
rapado.
Todos os dias, Brian fazia valer as palavras trocadas no altar
de me respeitar, de ser o meu companheiro na alegria e na tristeza,
e principalmente de me amar, com seu corpo e com atos.
No entanto, por mais que Brian fosse muito diferente do meu
ex, já que ele sempre estava me paparicando, me ajudando em
várias tarefas domésticas, especialmente quando o trabalho me
exigia muito, com ele sempre me dizendo que a vida dele tinha
ficado ainda mais completa com a vinda do nosso bebezinho, a
gestação me deixava um pouco com receio.
Eu seria paciente?
Seria uma boa mãe para ele?
Meu marido dizia que sim, que minha insegurança era
bobagem, já que eu era uma mãe maravilhosa para Tyler.
— Ver o bebê e ouvir seu coraçãozinho batendo é a coisa mais
linda do mundo, amigão… — Brian comentou, me tirando do transe
em que estava.
Meu marido me deu mais uma comprovação de que meus
medos eram infundados. Ele poderia afirmar que eu seria uma boa
mãe, mas ele seria igualmente um pai maravilhoso.
Na verdade, ele já o era. Brian era quem conversava com Tyler
sobre diversos assuntos, que o abraçava a noite antes dele ir
dormir, que dava conselhos e também o corrigia…
— Podemos deixar as perguntas para depois então — o
médico falou suavemente e voltei a me concentrar no presente.
— Eba! — Meu filho deu um gritinho, se erguendo em um
salto.
Ao invés de repreender Tyler, acabei sorrindo, levantando-me
com a ajuda do meu marido superprotetor.
Fomos para outro consultório. Enquanto aguardava ser
chamada para realizar o exame, me perdi novamente em meus
pensamentos.
Era o primeiro ultrassom que meu menino me acompanhava, e
ele estava superempolgado. Pensei que Tyler não aceitaria muito
bem a gravidez, mas, ao contrário do que imaginava, ele ficou muito
feliz. Era supercarinhoso comigo, sempre tocando minha barriga e
perguntando sobre o bebezinho. Ele estava bastante animado em
ter mais um irmão, um com o qual ele poderia conviver, já que
Donald sequer fez algum esforço para levá-lo para conhecer o filho
que teve com a nova esposa. Na verdade, nesses dois últimos anos,
era como se Tyler não existisse para ele. Mal ligava, e até mesmo
parou de responder as poucas mensagens que meu menino
enviava.
Tentava conversar sobre isso com Tyler, perguntar como ele se
sentia, principalmente ao ver a imagem de “superpai” que Donald
projetava na mídia, o que ajudou a limpar a carreira dele, mas meu
filho apenas dava de ombros e dizia que Brian que era o pai dele,
não Donald. Mesmo que não achasse certo, eu respeitava sua
decisão. Brian, sem nenhuma dúvida, tinha sido uma luz em nossas
vidas.
Após aguardar alguns minutos, finalmente chegou o momento
tão esperado.
— Obrigada — agradeci meu marido quando ele me ajudou a
deitar na maca. Abri a minha calça e ergui a blusinha folgada que
usava.
— Nada, jürek. — Deixou um beijo na minha mão, mas não a
soltou.
— É gelado, mamãe? — Tyler perguntou quando viu o médico
passar o gel na minha barriga e eu estremecer.
— Um bocado, meu amor.
— Ah, que legal! — Demos uma risada da euforia dele.
— Não sei se é tão legal assim não — comentei.
Curioso, Tyler tocou a minha barriga melecada.
— É bem gosmento — falou em um tom engraçado,
arrancando mais gargalhada de nós.
— Você pode se afastar um pouquinho para que possamos
começar o exame, garotinho?
— Tá!
Obedecendo ao médico, colocou-se mais de lado.
Com o canto de olho, vi que meu menino estava agitado e
curioso, olhando ora para a tela, ora para a minha barriga, atento ao
que o médico fazia.
Brian apertou a minha mão com um pouco mais de força e eu
senti que seus dedos estavam mais escorregadios. Com certeza, o
coração dele deveria estar acelerado, tomado por emoções.
— Que som estranho — Tyler disse quando um eco preencheu
o cômodo, mas não olhei para meu menino, presa na imagem
projetada na tela.
Ainda que meu bebê fosse bem pequeno, mais parecido com
um feijãozinho, ele era lindo. Suspirei apaixonada.
— É o coraçãozinho dele, amigão — meu marido sussurrou.
— Ah! Você disse que ele era bonito! — falou decepcionado
quando olhou para o monitor.
— É muito lindo, filho — murmurei em meio a um sorriso de
felicidade.
— Não é, não! — O menino rebateu. — E esse som é
estranho.
— O seu coração fazia esse mesmo barulho, Tyler…
— Claro que não!
— Fazia sim, amigão! — Brian o provocou.
— Você nem tava lá, Brian. Como é que você sabe?
— Mas eu sei que era assim.
— Seu coraçãozinho batia ainda mais rápido, filho.
— Argh!
Tyler ficou em silêncio por uns instantes.
— Aquela coisa esquisita é mesmo o bebê? — Com o canto do
olho, vi que ele apontava para a tela e falava com o doutor.
— Sim, rapazinho.
— Tá tudo bem com ele? — meu menino perguntou baixinho,
parecendo temer a resposta.
Eu senti que ficava derretida pela preocupação dele, tanto que
meus olhos lacrimejaram. O amor do meu filho pelo bebê era
tocante.
— Sim, ela está muito saudável. Está apenas um centímetro
abaixo…
— Ela? — Escutei a voz rasgada de Brian questionando a
informação.
Eu olhei para ele, encontrando-o um pouco trêmulo enquanto
fitava a tela, os dedos que estavam entrelaçados aos meus ficando
ainda mais suados. Meu coração bateu mais forte ao vê-lo tão
emocionado, parecendo prestes a desabar.
— Sim, papai, você terá uma menininha. Vocês tiveram sorte,
pois nem sempre pode-se precisar o sexo antes de dezesseis
semanas.
— Uma menina! — Brian disse emocionado.
— Yes! — Tyler gritou ao mesmo tempo que o meu marido.
Fiquei olhando a imagem do ultrassom e, por um momento,
não havia nada nem ninguém além de mim e a minha bebê.
Deus! Nossa família ganharia uma linda menininha!
As lágrimas começaram a rolar pela minha face. Não que o
sexo do bebê importasse, eu queria apenas ter uma criança com
saúde e tinha certeza que Brian também queria o mesmo, mas não
conseguia acreditar que eu teria uma garotinha.
Fui tirada do transe quando escutei uma comemoração, alta
até demais para aquele ambiente, e vi meus dois meninos
saltitando, como se tivessem acabado de ver um home run.
Acabei gargalhando com a empolgação deles.
Estava feliz demais, tanto que não me importei que eles não
me incluíram naquela algazarra.
O médico chamou a atenção de nós três pelo barulho e nos
entreolhamos, cúmplices, dando um sorrisinho de felicidade.
Tentamos nos manter em silêncio durante o resto do exame, mas
parecia impossível. Ríamos muito, e o som dos murmúrios e beijos
estalados de Brian no meu rosto e lábios ecoavam no ar.
Depois que fomos dispensados pelo doutor Gold, deixamos a
clínica após marcar a minha próxima consulta.
— Brian! — Dei um gritinho quando, assim que pisamos no
estacionamento, ele me tirou do chão.
Agarrei-me nos ombros fortes, mesmo sabendo que ele nunca
deixaria nós duas cair.
— Uma menina, porra, uma menina! — Ele começou a
gargalhar. Eu me senti contagiada por sua alegria e também pelas
pequenas comemorações do meu filho.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Brian me beijou,
os lábios quentes deslizando suavemente pelos meus, a língua
pedindo passagem em direção a minha boca.
— Eu amo vocês — interrompeu o beijo ao me pousar no
chão.
Eu me perdi nas emoções que vi no rosto dele, principalmente
quando acariciou a minha barriga com ternura, conectando-se com
a nossa bebê. Quis chorar outra vez.
— Nós também te amamos, Brian — pousei minha mão sobre
a dele, em um gesto de demonstração de afeto.
— Ter uma irmã será tão maneiro! — Tyler falou
animadamente, quebrando aquele momento a dois, o que se
tornava cada vez mais recorrente.
— Pensei que iria preferir um menino, filho. — Incluí meu
homenzinho na conversa.
Ele fez que não com a cabeça.
— Eu vou ser o guarda-costas dela!
— Mesmo? — Tornei a sorrir.
— Uhum. Não vou deixar ninguém chegar perto dela.
— É assim que se fala, amigão! Principalmente quando ela
crescer. — Brian esticou o braço e Tyler bateu a palma da mão na
dele, como se tivessem fechado um trato.
— Sim! — Mostrou-se animado.
Revirei os olhos. A pequena ainda nem havia vindo ao mundo
e os dois já bancavam os ciumentos.
— Vamos para casa? — sugeri.
— Podemos tomar sorvete antes? — Tyler perguntou
animadamente.
— Está muito cansada, amor? — Brian me abraçou de lado,
deixando um beijo na minha bochecha, enquanto voltávamos a
caminhar em direção ao carro dele. — Temos que comemorar.
— Não tanto que não dê para comer uma banana split.
— Banana split para todos então — Brian provocou Tyler,
sabendo que ele odiava a fruta, enquanto abria a porta do veículo
para mim.
— Eca! — Meu filho fez um som de nojo.
Rimos da cara dele.
— Sorvete de cereja então.
— Ah, não! — meu filho resmungou, para depois brincar com o
meu marido: — Que tal pistache?
— Argh… — Brian soltou um muxoxo antes de sentar-se atrás
do volante e dar a partida.
—Tutti-frutti?
— Só fica pior, amigão…
— É uma delícia…
Brian fez um som desagradado e eu balancei a cabeça em
negativa. Toquei a minha barriga, acariciando a “minha menininha”,
suspeitando que os dois continuariam a se provocar por todo o
trajeto e até mesmo dentro da sorveteria. Não foi nenhuma novidade
para mim quando descobri que eu estava certa, assim como estava
mais do que certa de que eu amaria o momento em que uma
terceira pessoinha se juntaria a essa dupla inesperada.
Bônus

— Já tamu chegano? — minha pequena Loren perguntou.


— Faltam ainda algumas milhas, maninha — foi Tyler quem
respondeu.
Pude imaginar que minha filha fazia um biquinho desgostoso
pelo bufar. Logo ouvi um estalo seguido de uma risadinha e soube
que o meu filho havia dado um beijinho na irmã.
Ver a relação forte que havia entre os dois, o amor e o cuidado
que Tyler tinha por Loren desde que botou os olhos nela, me
emocionava e muito.
Imaginei que eu é que seria o superprotetor babão, mas Tyler
conseguia ser muito mais.
Mesmo já vivendo sua adolescência, ele não tinha vergonha
nenhuma de sair com a irmã, de beijá-la onde quer que estivesse e
até mesmo de dar atenção a ela na frente dos amigos.
Deveria estar decepcionado por eu não ser o super-herói de
Loren, mas eu tinha orgulho de ser o meu filho a pessoa favorita
dela no mundo. Eu não tinha dúvidas de que Tyler se tornaria um
homem honrado quando crescesse.
— Queru ve o tigue! — minha filha falou em meio a um
gritinho.
Dentre todos os parques da Disney, não surpreendeu a
ninguém que minha menina escolhesse o Animal Kingdom, ainda
que o outro parque temático fosse mais apropriado para a idade
dela.
No auge dos seus quatro aninhos, por mais que Loren
adorasse as princesas, escolheu visitar o parque voltado para a
natureza. Talvez influenciada por mim e por Tyler, ela amava
aventura e, claro, também amava animais, principalmente girafas.
A perspectiva de “encontrar” a Moana foi um grande bônus, já
que Loren era apaixonada pela personagem. Eu tinha perdido as
contas de quantas vezes eu havia visto a animação junto com ela,
talvez o suficiente para saber cantar todas as músicas.
— Duvido que conseguiremos ver hoje, meu amor — Ionara
disse suavemente.
— Puquê?
— Acho que a atração só fica aberta até às sete, querida, e já
está quase no horário de fechar. E você disse que estava com fome.
— Ah, não, mamãe! — choramingou. — Queru ver o tigue!
— Você vai ver, eu prometo — Tyler disse.
Relanceando um olhar pelo retrovisor, vi que ele tocava a
mãozinha da minha menina que parecia estar prestes a chorar.
— Hoje?
— Infelizmente, hoje não vai dar, maninha.
O choro ecoou no espaço do carro e ela começou a fazer birra,
porque queria ver o animal.
— Não precisa chorar, Loren, você vai ver eles, só não vai ver
hoje. — Escutei a voz de Tyler em meio ao berreiro.
— Eu queru hojeeee!
— Mas é porque eles vão estar dormindo quando a gente
chegar lá.
— Domindo?
— Uhum.
— Ah! — O choro se tornou mais baixo.
— Você poderá visitar todos eles nos dias que estivermos aqui,
filha. Pode ser a primeira coisa que faremos depois do café —
Ionara acrescentou.
— Vedade?
— Tudo o que a minha princesinha quiser — falei.
Escutei minha mulher emitir um suspiro de reprovação. Ionara
achava que eu mimava demais nossa pequena, e talvez ela tivesse
um pingo de razão.
Eu cedia muito aos desejos da nossa menininha enquanto
minha esposa tinha que ser firme por nós dois. O que eu podia fazer
se ela era tão fofinha e linda, como a mãe dela? Que eu não
conseguia resistir aos olhos acinzentados pidões?
— Eu acho que do restaurante do hotel tem vista para uns
bichinhos — Tyler ajudou.
— É, mãozinho?
— Uhum!
— Tem muiiiito bichinho?
— Tem. Tem Zebras, tem girafas…
— EEEEEEE! — A menininha deu um gritinho antes mesmo
que meu filho completasse a frase. — Vamu vê hoje?
— Vai estar muito escuro, querida, mas quem sabe, né? —
falei.
— Ah! — pareceu desanimada, mas logo a vozinha dela soou
mais animada. — Tá chegano, papai?
— Não, princesinha, faltam uns dez minutos ainda.
Com certeza, foi a espera mais agonizante da vida da minha
filha, que perguntou praticamente de minuto em minuto se já
estávamos chegando, ficando contrariada toda vez que respondia
que não.
Essa fase era bem exaustiva, mais do que imaginava, mas
tentávamos ter paciência, conversando com ela, ensinando com
muito amor a saber esperar. Brigar não resolveria o problema, e
queríamos educá-la, não causar traumas.
Felizmente, não demorou muito para que alcançássemos as
dependências do resort. Mesmo que já estivesse de noite, havia
outras coisas sem ser os animais que captaram a atenção da minha
filha, principalmente o casal de ratos mais famosos do mundo que
recepcionava os hóspedes na entrada da acomodação.
Várias fotos foram feitas e eu não pude deixar de brincar com
a minha jürek que ela havia tirado fotografias abraçada com umas
ratazanas, algo que Ionara detestava, o que arrancou uma careta
dela e uma risada de todos nós.
Felizmente, para a minha surpresa, eu tinha acabado
reservando um apartamento com vista para a "savana", o que levou
não apenas Loren a loucura, mas também Tyler. Saber que, ao
acordar, teriam uma bela visão dos bichos foi algo que deixou os
dois bem empolgados, principalmente minha filha, que achava que
uma girafa fosse aparecer na janela e dar bom dia a ela, o que era
muito improvável.
Tyler e Loren ficaram com os quartos ao lado, já que
gostávamos de privacidade, afinal, os anos não diminuíram o fogo
que queimava entre nós dois, pelo contrário, com o tempo, o
companheirismo e a cumplicidade pareceram só avivar o desejo que
sentíamos.
Sempre havia algo para descobrir um no outro, e eu poderia
afirmar que todas as vezes que nos amamos foram diferentes e
especiais para mim, fora que minha mulher continuava sexy pra
caralho, mesmo que algumas rugas e marcas tenham aparecido no
corpo dela, algo que desgostava mais a ela do que a mim.
Para mim, Ionara ainda era a mesma mulher linda e sedutora
pela qual me apaixonei incondicionalmente, e mesmo quando os
cabelos brancos surgissem e a pele ficasse mais flácida, ela
continuaria maravilhosa aos meus olhos. Ela sempre seria a minha
gostosa.
Só de pensar em beijá-la e tocá-la, em ouvir seus gemidos
enquanto eu mergulhava dentro dela, sentia meu sangue ferver.
— Pensei que ela não fosse conseguir dormir de tanta
empolgação — falei ao escutar passos aproximando-se da sacada
da suíte que eu e Ionara estávamos usando.
Virei-me para ela ao pensar que tinham se passado horas sem
que eu a tivesse beijado direito. Ela parou na minha frente e, sem
cerimônia, puxei minha mulher para os meus braços, e ela deixou-
se envolver.
— O voo, a viagem de carro até aqui e as atrações do jantar
deixaram Loren bastante cansada, o que era de se esperar. E ela
me disse que se dormisse logo, as horas iriam passar mais rápido.
Soltei uma risada perante a lógica da minha filha.
— Não pode dizer que não faz sentido. — Minha voz soou
rouca quando Ionara colou-se ainda mais a mim, seus braços
envolvendo o meu pescoço.
Minhas mãos passearam pelas costas de Ionara, até alcançar
seu traseiro.
— É… — Ofegou.
— E Tyler?
— Está no quarto dele, jogando com os amigos…
— Hum… — Era de se esperar que, mesmo que tivesse
topado participar das férias em família pela maninha dele, meu filho
iria fazer coisas da sua idade.
Caralho! Como o tempo passa rápido…Parece que foi ontem
que ele queria a minha companhia para tudo.
Preso nesses pensamentos, foi Ionara quem tomou a iniciativa
do beijo ao roçar os lábios nos meus, a língua me invadindo. Senti
que meu corpo estremecia perante o gosto delicioso dela, diante da
habilidade que minha mulher tinha de me deixar completamente
rendido. Tombei minha cabeça, dando mais acesso a língua dela,
enquanto passava a acariciá-la freneticamente.
Ouvimos um som engraçado, provavelmente vindo de um dos
animais lá fora, o que fez com que interrompêssemos o beijo e
começássemos a rir.
— Será uma aventura, não é? — perguntou com um sorriso.
Os olhos de Ionara brilharam, cheios de diversão. Ela começou
a acariciar os cabelos da minha nuca, me arrepiando.
— Muito. — Roubei um selinho dela. — E acho que Loren vai
deixar tudo mais interessante.
— Não duvido… — Abriu novamente aquele sorriso que mexia
com toda a minha estrutura. Peguei-me retribuindo o sorriso dela.
Ficamos em silêncio, apenas olhando um para o outro, meio
abobados.
— Eu já disse que amo vocês, jürek? Que agradeço todos os
dias ao contra-almirante Steverson por ter me obrigado a tirar férias,
algo que eu não queria, e com isso ter conhecido vocês dois? Que
eu agradeço aos céus por ter ganhado uma linda família? Por ter
uma mulher gostosa e dois filhos maravilhosos na minha vida?
— Sim, Brian… — Como se fosse possível, o sorriso dela ficou
ainda mais belo, ou talvez fossem meus olhos de apaixonado.
— Acho que vou repetir isso muitas e muitas vezes …
— Conto com isso, amor…
Deu uma piscada marota de um olho só antes de me beijar
outra vez.
E em meio ao deslizar lento de bocas, do seu toque suave nos
meus braços enquanto ela se entregava a mim, refiz a minha
promessa de fazer aquela mulher feliz, para sempre…
Agradecimentos

Mãe. Eu te amo e o universo literário, a uma hora dessas, sabe


da força do nosso amor. Ele está imortalizado em cada letra que
redijo, em cada personagem apaixonado pelos seus filhos,
biológicos ou não, que escrevo. O amor de Brian e Ionara por Tyler
e Loren é reflexo do seu amor por nós, suas gêmeas. Sua ausência-
presença, já que você sempre estará viva no coração e nos
pensamentos dos seus balõezinhos, é sentida todos os dias.
Obrigada pelo seu amor imensurável, que me ajudou a me tornar a
mulher que sou hoje.
Amanda. Não sei o que faria da minha vida sem você. Você é
o pilar que me sustenta e que me impede de desmoronar nas
minhas crises, sejam pessoais, sejam profissionais. Agradeço por
nunca soltar a minha mão, por me amar incondicionalmente, por
apoiar a minha carreira desde sempre. Por ouvir meus desabafos,
por me dar ideias quando estou travada, por aturar as minhas
palavras nada agradáveis sobre mim mesma.
Fadinha Ana. Mais uma vez, agradeço o carinho enorme que
você tem pelo meu trabalho ao fazer a preparação e a revisão dele,
mas sou muito mais grata pela sua amizade e o seu amor que
ultrapassam estados. Amo você e Pedro!
Alícia Bianchi, Maria Amanda Dantas e Mia Lennox, obrigada
por me aturarem, pelas conversas, por tentarem me tirar do eterno
bloqueio criativo que eu sofro. Esse livro não teria sido o mesmo
sem vocês.
Um beijo e um agradecimento especial a todas as meninas
do WhatsApp que suprem a carência dessa autora faladeira e que
se tornaram minhas grandes amigas. Amo vocês, Denise, Ziza,
Tayná, Amanda R., Franciara, Eulália, Dina, Danny, Patrícia,
Valdete, Iandra, Gisele, Edna, Fernanda, Nedja, Débora, Cristina,
Ionara, Glei, Yslai, Ju, Leila, Thaty, Wilzanete, Helenir, Helineh,
Tatiane, Talita, Rosi, Eryka, Mari, Roseane, Elisângela, Dri, Vânia,
Thais A, Valéria, Jennifer, Ellen, Caroline C., Mônia, Athina, Adriana,
Larissa, Patrícia A, Abigail, Michelly, Caroline, Regina, Jéh, Nalu,
Rosana, Naiane, Cris, Danusa, Maria, Juscelina, Bianca, Lauryen,
Laís, Natália, Luciana (Nana), Amanda L, Márcia, Isabella, Kelliane,
Bárbara, Karol, Roseane, Rose, Adriana, Edi, Beeh, Sirleni, Kaká,
Jéssica Luiza, Vanessa, Paulinha, Fabi, Erika, Juhh, Thamy, Sueli,
Lizzi, Cami, Kelly, Naiane, Vera, Isis, Ariane, Naira, Fátima,
Fernanda, Eugênia, Lara, Eliaci, Emily, Lindce, Thais Sennah,
Laysa, Magda, Sabrina, Rose, Rafaela, Rosário, Patrícia, Muh,
Eloíza, Maria C., Marcela, Karina, Simone Mijon, Ingrid, Frânia,
Helia, Isabelle A., Eryka, Emily, Ellen, Dirce, Claúdia, Carmen, Carla,
Anna C., Maria Cristina, Andrea, Aline, Ana Paula e Simone.
A você leitora que deu uma oportunidade a esse livro ou que
me acompanha sempre, o meu muito obrigada. É por vocês que
escrevo e tento sempre melhorar. Sem vocês, eu não existiria tanto
como autora, como pessoa.
Beijos,
Leia também outros livros da série:

Uma família inesperada para o cowboy


Link: https://a.co/d/5CWCkzx
Sinopse:
Cowboy protetor e infértil + virgem + bebê fofo + segundas
chances
Herdeiro de vários hectares de terras cultivadas, João Miguel desde
criança teve uma relação conturbada com o seu avô, Leôncio
Fontes, um homem de coração ruim que plantava maldade onde
pisava.
Quando Leôncio demite vários trabalhadores, inclusive o Zé, um
empregado da fazenda que tem João como um filho e que ensinou
ao menino o amor pela terra, pelos animais e pelas pessoas, o
garoto quase cometeu uma besteira, mas é impedido pelo bondoso
homem. Nesse mesmo dia, o adolescente jurou, em meio a
despedida, que faria de tudo pelo seu pai de coração. O que o
milionário não esperava era que essa promessa iria ser cobrada,
nove anos depois, por uma garota que fugiu com uma bebê que não
era dela e que precisava da sua proteção, muito menos que ao
oferecer refúgio para elas, o cowboy ganharia uma linda família
inesperada…

Uma criança inesperada para o milionário


Link: https://a.co/d/3CtGvdf
Sinopse:
CEO desconfiado e solitário + virgem + criança rejeitada +
cachorro fofo
Marcado pela rejeição dos pais, pelas brigas conjugais deles e pelas
mentiras, Hadrian Falkenberg, um milionário de descendência
alemã, podia contar nos dedos da mão em quem ele confiava, e
uma dessas pessoas era o seu primo Ignaz, alguém a quem ele
amava como um irmão. O que ele não esperava era que um dia
Ignaz o traísse, roubando não apenas a presidência da empresa da
família, mas também toda a sua capacidade de confiar em alguém
novamente.
Solitário e controlando com mão de ferro quem poderia conviver
com ele por ter medo de ser machucado novamente, o CEO nunca
mais deixou alguém se aproximar emocionalmente até descobrir
outra traição do seu primo: Ignaz o designou em testamento como
guardião de sua filha rejeitada, Verena, apenas para obrigá-lo a
fazer as empresas deixadas para ela prosperarem.
Depois de descobrir que a criança era criada em um internato frio,
sem receber nenhuma visita dos pais, Hadrian jurou dar à
menininha que inesperadamente entrou em sua vida tudo o que ele
não teve na infância antes que o seu avô viesse para os Estados
Unidos: amor incondicional e um lar. O que ele não contava era que
a paternidade fosse muito mais difícil do que imaginava e que ele
iria precisar da ajuda da sua faxineira Ana, uma jovem doce e
carinhosa que rapidamente conquistou o coração de Verena,
enchendo-a de amor, e que também devolveria a ele a capacidade
de confiar em alguém outra vez...

[1]
Durante cinco dias e meio, os candidatos a SEAL (membros da Marinha) são
submetidos a testes físicos e psicológicos, sob privação de sono (20 horas de atividades e
quatro de descanso) para definir se o militar é capaz ou não de ser um navy SEAL. É
considerado um dos testes mais difíceis por levar os participantes ao extremo. Um em cada
quatro candidatos torna-se um navy SEAL.
[2]
Período de tempo entre uma missão e outra.
[3]
Arma semiautomática usada pelos atiradores de elite que além de ser um rifle de
precisão é capaz de furar vários tipos de materiais.
[4]
Nome como é conhecido o time de beisebol New York Yankees.
[5]
Arma utilizada não apenas pelas Forças Armadas americanas, mas também pelas
brasileiras, a M4 é conhecida pela sua precisão a curto e médio alcance se comparada a
outros armamentos.
[6]
Coração em cazaque, língua oficial do Cazaquistão.
[7]
Gostosona em cazaque.
[8]
Navio de guerra conhecido pela sua velocidade e facilidade de manobrar, usado para
escoltar e defender navios menores.
[9]
Num jogo de beisebol, é quando o rebatedor consegue jogar a bola fora dos limites do
campo (na arquibancada ou fora do estádio)
[10]
Sigla do Comando Naval de Guerra Especial, ou Team Six, a qual Brian faz parte.
[11]
Termo de conotação sexual americana para mulheres que são mães e são atraentes.

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