Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Copyright © 2023 Jessica D. Santos
Capa: @designerttenorio
Beta: Lari Batista (@alaritalendo)
Leitura crítica e preparação de texto: A.C. Nunes
Revisão: Andrea Moreira
Diagramação: Independente
Imagens: AdobeStock_267423556
AdobeStock_248738662
AdobeStock_573384178
shutterstock_1395651050
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, acontecimentos descritos
são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento e/ou
reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios, sem a
autorização da autora. Ressalva para trechos curtos usados como citações
em divulgações e resenhas, com autoria devidamente identificada. A
violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/1998
e punido pelo artigo 184 do código penal.
Sumário
NOTA DE AUTORA
SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
PARTE II
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Ela não devia, mas se apaixonou pelo irmão da melhor amiga, dez
anos mais velho. Aos dezoito anos, ao se declarar e ser rejeitada, jurou a si
mesma que nunca mais se apaixonaria.
E, mais uma vez, ele partiu o seu coração. Com a diferença de que
agora ela estava grávida de não só um bebê, mas de gêmeas.
— Hum-hum...
— Eu tenho certeza de que não estou, mas você, sim, e sabe do que
estou falando. — Ele dobra a manga da camisa branca até o cotovelo.
— Acha que não sei do seu amor platônico por mim? — inquire,
convencido.
— Esqueça essa conversa, Ayla. Vim aqui para ver a minha irmã, e
como não a encontrei, estou indo. Daqui a pouco os convidados chegam e
eu preciso recebê-los. — Limpa a garganta e me dá as costas, saindo antes
que eu possa abrir a boca.
Argh, como ele me irrita!
— Não acha que esse vestido está muito curto? — pergunta minha
melhor amiga enquanto se olha no espelho, estudando a vestimenta em seu
corpo que ela cismou que está curta demais. Agora estou sentada na cama
dela, mexendo em meu celular.
— Ele tem sorte por ter uma irmã maravilhosa como você, porque
em seu lugar, eu já teria participado de muitas. Iria de penetra. — Jogo meu
cabelo cacheado para trás.
— Amiga, você fala isso porque Bernardo não é seu irmão — diz, e
acabamos rindo.
Pego meu celular e envio uma mensagem para mamãe avisando que
não irei embora. Ela reclama por ser meu terceiro dia na casa dos Guerra,
mas não tenho culpa se a minha amizade com Bea é tão forte quanto
amizade do pai dela com o meu quando ainda eram vivos. Para não alongar
a troca de mensagens com minha mãe, envio um te amo com alguns emojis
de coração e ela envia alguns também, porém me pedindo para ter juízo,
porque conhece a filha que tem.
— Da minha mamãe. Ela me pediu para ter juízo. — Rindo, vou até
a minha amiga e entrelaço meu braço ao dela.
— Ah, não vejo a hora de fazer dezoito anos. Quem sabe assim o
meu irmão me deixa ter liberdade para sair com algum garoto, sem ficar em
cima de mim — diz, olhando para todos os lados do corredor extenso.
— Sabe, no fundo, concordo com o chato, ele só quer proteger a
irmãzinha. O que tem de garotos filhos da puta por aí querendo enganar
meninas inocentes... — murmuro, encarando-a.
— Às vezes, me sinto triste por ser filha única, só que assim que me
lembro do Bernardo Guerra, meu humor muda rapidamente e eu comemoro
isso.
— Por acaso, o Bernie sabe que estão indo para a festa dele?
— Boba, aproveita que ele está longe para se entreter com outras
pessoas. Se fosse para ficarmos grudadas no seu irmão, nem precisávamos
ter vindo — falo, cutucando-a na costela.
— Vou procurá-lo. — Ignora-me completamente. — Você vem
comigo? — indaga e eu nego.
Até que ele é gatinho, e quando sorri fica ainda mais bonito.
O.k., admito que tenho apenas fogo no rabo, sou o tipo de pessoa
que demonstra ser ousada, mas na hora H é a maior frouxa que existe.
Ainda mais quando se trata de alguém que não estou a fim e dá em cima de
mim.
— Hm, agora não me recordo, mas com esse corpão vou chutar uns
vinte e dois anos. — Só falta ele gemer para me deixar mais enojada.
Neste momento, um garçom passa ao nosso lado e nos oferece uma
bebida. Com um sorriso falso, pego as duas taças de champanhe e o porco
assediador sorri malicioso achando que vamos brindar. Assim que o garçom
se afasta, olho ao nosso redor e noto que as pessoas estão distraídas em seus
falatórios, e outras dançando na pista de dança ao som de Alok.
— Mas e o…?
— O seu Bernie está quase indo para um dos quartos com a loirona,
ele nem vai nos notar, Beatriz. — Tento convencê-la.
— Foda-se, Murilo! Acha que vou deixar que ele assedie uma
menina mais nova do que ele? Pelo amor de Deus! — grita, irritado, antes
de olhar para mim, seus olhos claros estão escuros, furiosos. — A festa
acabou! Levem esse saco de bosta para longe da minha casa! — Bernardo
se solta dos amigos e vem em nossa direção.
— Para com isso, Ayla, você não vai a lugar algum. — Suspira,
olhando-me através do espelho da sua penteadeira. — E você já está de
camisola, ter que se vestir novamente para ir pra casa seria muito
trabalhoso! Sei que o Bernardo foi um pouco grosseiro, mas ele estava
nervoso. Não é para tanto a sua revolta com o Bernie.
— Não estou do lado de nenhum dos dois, Ayla. Assim como ele foi
grosso, você está sendo infantil em querer sair daqui uma hora dessas,
sendo que disse que ficaria — reclama, chateada. — Já são quase onze da
noite, quer mesmo ir embora? Peço ao nosso motorista para te deixar no seu
condomínio. — A mágoa em sua voz é nítida.
Sim, tenho meu próprio quarto na casa dos Guerra desde os meus
quinze anos – foi quando mamãe permitiu que eu dormisse aqui. A tia
Rúbia fez questão de me ceder um dos quartos de hóspedes para que eu
pudesse decorá-lo como desejasse.
Por que ele tem que ser tão lindo? O seu cabelo naturalmente ruivo
está bagunçado, e a sua expressão séria causa um reboliço no meu
estômago. Quando Bernardo para na minha frente, engulo em seco ao
avaliar de perto por alguns segundos o seu abdômen cheio de gominhos e
sardas sexys antes de erguer o rosto para o monumento de um metro e
noventa e sete de altura.
— Pela carinha de emburrada sei que está brava. — Seu tom soa
engraçado, mas permaneço séria.
— Óbvio que sim. — Encaro-o com a sobrancelha arqueada. — Se
ponha em nosso lugar. Imagine se a Beatriz fosse mais velha do que você e
te tratasse com arrogância na frente de tantas pessoas depois de uma amiga
dela ter assediado o seu melhor amigo? — Cruzo os braços.
— Reconheço que fui grosseiro, mas estava nervoso com tudo o que
aconteceu. Foi a primeira vez que fui agressivo com algum amigo meu. Ex-
amigo, na verdade. — Coça a nuca.
— Não exagere, Ayla, a forma como fala parece até que sou um
monstro — defende-se, como se estivesse ofendido.
— E você é o quê? O que sabe da vida para ser tratada como uma
adulta, Ayla? — Respira longamente.
— Você só tem dezoito anos, e eu, vinte e oito. Começando por aí,
já é errado — justifica, tentando se afastar, mas eu pego as suas mãos e
coloco em meu quadril.
— Ayla, é o seguinte. — Não sei o que ele pensa, mas tira suas
mãos de mim e volta a pôr a máscara de sério. — Você é linda, mas prefiro
que continuemos como antes, você me odiando, pensando que te odeio.
Será melhor assim. — Decide por nós dois.
— Sei que não, jamais olharia para a minha irmã do jeito que te
olho, não estou louco. — Vira-se para mim com o semblante retorcido. —
Eu praticamente te vi nascer, crescer… E você é a melhor amiga da minha
irmãzinha, quase da mesma idade que ela. — Passa a mão no pescoço.
— Sim.
— Que bom. — Uma lágrima desce por minha bochecha sem que eu
tenha controle. — Tenha uma ótima noite, Bernardo Guerra. Espero que
você encontre uma mulher que quebre o seu coração também. — Eu não
deveria rogar praga, mas é inevitável.
Ignorando-o, sigo para a cozinha sem olhar para trás. Essa conversa,
além de ter me dado mais sede, me deu fome.
5 anos depois
— Que orgulho tenho de você, filha! Nem acredito que vai começar
a trabalhar! — fala mamãe, avaliando-me assim que termino de tomar meu
iogurte.
— Mainha, ainda não está nada certo. Como eu disse, será apenas
uma entrevista, e se eu for selecionada para trabalhar na empresa, irão me
ligar — lembro-a, que faz uma careta engraçada.
Hoje, aos vinte e três, sou uma mulher cheia de sonhos e que
aprendeu aos dezoito anos a colocar o amor em segundo plano. Por ora,
entrar em um relacionamento ou me apaixonar não faz parte da minha lista
de desejos. Embora receba convites de alguns colegas de profissão ou até
mesmo do meu círculo social para encontros, conto nos dedos de uma mão
quantos deles aceitei.
Durante todos esses anos, nós não tivemos mais oportunidade para
ficarmos sozinhos, muito menos para conversar, se bem que não temos nada
para falar. Cada um seguiu com sua vida, eu acho que foi melhor assim,
para ambos.
— Mainha, estou indo — aviso, depois de alguns minutos.
Realmente, faz anos que não coloco os pés na casa de praia dos
Guerra. A minha desculpa para ficar longe do Bernardo afetou até as nossas
viagens para aquele paraíso.
Eu consigo.
Vou conseguir.
— Zeca, se quiser fazer alguma coisa enquanto estou aqui, pode ir,
tá? — aviso, e ele me olha pelo retrovisor.
— Claro! Vá dar uma volta, tomar um café, fazer alguma coisa que
não te deixe entediado nessa vaga de estacionamento — sugiro, pronta para
sair do carro.
Linda sei que sou, mas não tinha noção de que hoje atrairia tantos
olhares, devo estar realmente maravilhosa com essa roupa elegante.
Confesso que estou me sentindo uma mulher de negócios, uma verdadeira
ceo.
— Amiga, já chegou?
— Tenho uma novidade para você, só não surta, por favor — pede,
manhosa.
— É...
— Bom dia, Rosinha linda! — Luiz Miguel pega nas mãos dela e as
beija, deixando-a derretida.
— Foi bom te encontrar, Ayla, espero que nos vejamos outras vezes
— fala o homem, depois segue para o elevador.
Ele não pode fazer isso, não pode me dar esse “privilégio”, sendo
que os outros não vão passar por ele.
De onde estou, escuto o “entre” dele com aquela voz masculina que
faz o meu corpo estremecer. Engolindo em seco, procuro um lugar para me
sentar, e assim que o faço no sofá luxuoso preto, cruzo as pernas e respiro
fundo tantas vezes que perco a conta.
Passaram-se cinco minutos.
Olho para o meu relógio e jogo meu cabelo para trás. Ao erguer os
olhos, meu coração quase salta pela garganta ao ver Bernardo saindo da
sala, acompanhado da funcionária. Seu cabelo ruivo está bem penteado e
ele usa um colete cor vinho e camisa com as mangas dobradas até os
cotovelos.
— Mas, senhor…
— Senhorita o quê?
— Está enganada, srta. Dantas. — Travo os pés com a sua voz rouca
e sexy. — A sua entrevista é comigo, pode entrar em minha sala.
— Por que você quer esse trabalho? — Espalma uma mão na mesa.
— Ayla — chama.
Sem dizer uma palavra sequer, pego a bolsa e saio do escritório dele.
Com os joelhos tremendo, sigo para o elevador, e a cada passo que dou
meus olhos ardem e se enchem de lágrimas.
“Eu espero que você um dia encontre uma mulher que quebre o seu
coração também.” Essas foram as palavras dela para mim, cinco anos atrás,
com o rosto banhado em lágrimas. Acho que ela passou dias, meses ou até
mesmo anos desejando que eu pagasse caro por ter sido rejeitada naquele
dia, porque no primeiro relacionamento sério que tive com uma mulher – há
dois anos –, além de ter me traído com o dono da clínica de odontologia que
trabalhava, a vagabunda fazia suruba com alguns colegas de serviço.
Para se vingar da surra que dei nele anos atrás para defender Ayla –
o que nos levou a acabar com a nossa amizade –, ele decidiu jogar a merda
no ventilador para nossos amigos em comum para que chegasse aos meus
ouvidos. O filho da puta achou que me foderia, mas o que PH não sabia era
que Lavínia nunca ocupou um lugar em meu coração, ela só era o meu
passatempo, nenhuma mulher poderia ocupar algo que já tinha dona. Por
mais que eu negue até hoje, meus sentimentos e pensamentos nunca
abandonaram a filha dos Dantas.
Posso ter rejeitado Ayla no passado, mas foi por um bem maior e
não me arrependo. Só que agora que ela se tornou uma mulher adulta, de
vinte e três anos, e tem a sua profissão, posso tomá-la para mim, fazê-la
minha sem receio.
Eu não sabia que Ayla viria para uma entrevista na minha empresa.
Beatriz não me disse nada, e olha que ela vive falando da amiga como se
quisesse que eu ficasse atualizado de tudo, só que dessa vez eu estava no
escuro. E se a secretária de estágio não tivesse feito essa confusão toda, eu
só a veria em Guarajuba.
Ela pode não ter notado, mas vê-la jogar o cabelo para trás e deixar
o pescoço à mostra me tentou pra caralho. Criei cenas em minha mente em
como seria delicioso passar a minha língua por sua pele negra enquanto
sentia o cheiro do seu perfume marcante.
— Ainda não estou acreditando que você vai para Guarajuba ficar
no meio de tantos adolescentes por causa da sua paixonite pela Ayla — fala
Murilo Campos, lembrando-me que só voltei atrás da minha decisão em ir
para a casa de praia porque ela mencionou que a melhor amiga também
estaria lá.
— E você quer que eu faça o quê? Vá até a casa dela e diga: “Agora
que você já se formou, está quase empregada na minha empresa e se tornou
uma mulher adulta podemos nos envolver”? — Arqueio a sobrancelha,
encarando Murilo, que dá uma risadinha.
— Você teve meses, anos, para fazer isso, Bernie. Por que só agora?
— Olha-me com curiosidade.
— Eu acho que você não escuta direito o que eu falo, né? — Coloco
o copo na mesa de centro e recosto-me no sofá. — A idade não era só um
empecilho, sabe muito bem que nossas famílias têm um vínculo de anos.
Embora nossos pais tenham morrido naquele trágico acidente, nossas mães
continuaram amigas e seria horrível ser acusado por Fernanda de estar
querendo me aproveitar da sua filha. Ter afastado Ayla foi a melhor e a pior
coisa que fiz na minha vida, mas foi necessário. — Suspiro, fechando os
olhos e sorrindo ao vê-la em meu escritório, toda corajosa, respondendo às
perguntas que eu fazia.
— Sou o seu único melhor amigo, vai ter que me suportar pelo resto
da vida. — Murilo se gaba.
— Boa tarde, Rúbia. Você está mais linda a cada dia que passa. Já
disse para o Bernie que vamos nos casar assim que eu fizer quarenta anos
— o desgraçado me provoca, e eu jogo uma almofada em seu rosto.
Em vez de levar a sério o que meu amigo palhaço fala, nossa mãe
sorri.
— Você não faz o meu tipo, Murilo, sinto muito — dona Rúbia o
dispensa e eu gargalho, sendo acompanhado por minha irmã.
— A senhora acaba de partir o meu coração, nenhuma mulher nunca
me rejeitou —diz, levando a mão ao coração e fazendo uma expressão de
dor.
— Lógico que não, meu amigo, a Beatriz nem saiu das fraldas
ainda. Por favor! — Ele se levanta, em seguida, pega o seu blazer e joga no
ombro.
— Parem os dois! — falo, olhando feio para Beatriz, que bate os pés
no chão como uma criança.
— Acha que sou boba, Bernardo? Em todos esses anos, você não
tinha ido para Guarajuba, bastou que eu dissesse que Ayla vai para você
mudar de ideia, como jamais havia feito antes. — Enfrenta-me, e eu sinto
um nó se formar em minha garganta.
— Que você gosta dela e ela de você? — Vejo os seus olhos verdes
que puxaram ao nosso pai brilharem de ódio.
Outro medo meu era balançar a amizade das duas, agora percebo
que fiz isso mesmo sem querer.
— Para com isso, Bea. — Tento me aproximar dela, mas ela recua.
— Não vamos discutir — falo, passando por ela, pronto para subir
para o meu quarto.
— Faça o que quiser, minha irmã. Ayla é adulta e livre, pode ficar
com quem desejar. — Dou uma resposta à altura e subo a escada a passos
largos.
Não vou mais nesse caralho de viagem, mas agora estou com o
ciúme injetado em minhas veias com a possibilidade da mulher que me
interessa se envolver com outro. Como, em menos de vinte e quatro horas,
minha vida virou de cabeça para baixo?
Porra!
— Filha, como foi a sua entrevista ontem? — inquire mamãe, me
observando com curiosidade ao parar de mexer em seu iPad. Ela não
dormiu em casa, estava na casa do Arthur, o seu namorado que mora na
Barra. Eu não a vi mais depois da manhã de ontem.
— Você ainda vai passar por uma seleção sendo amiga dos donos da
empresa? — reclama.
— Pois vou ligar agora para Rúbia e pedir para ela falar com o
Bernardo! — Ela está prestes a se levantar do sofá quando eu nego
rapidamente.
— Esqueceu que o seu pai era quatorze anos mais velho do que eu,
filha? Quando eu tive você, tinha a sua idade e ele trinta e sete — diz,
sorrindo, com os olhos cheios de lágrimas.
São dez anos da sua partida e ainda parece que foi ontem. Ela pode
se relacionar com outro homem, mas jamais esqueceu meu pai. Mamãe
nunca esquecerá as boas lembranças que viveram. Mesmo que ele não
esteja entre nós, nosso amor permanecerá vivo.
— Não vou chorar, prometo. — Ri, mas as lágrimas já caem por seu
rosto maquiado. — Vamos, vá logo direto ao que quer me perguntar, Ayla.
Eu te conheço muito bem, minha menina, sei que há algo por trás do seu
interesse. — Pisca para mim.
— A Rúbia disse que a Beatriz vai para a casa de praia, mas não te
vi mencionando nada sobre ir também. — Mamãe ergue a sobrancelha.
— Ela me convidou, mas não sei se vou, o Bernardo vai estar lá. O
que é estranho, já que esse tipo de viagem não tem a cara dele, ainda mais
quando se trata dos amigos da irmã. Você sabe, ele é um homem jovem com
alma de velho. — Coço a ponta do nariz.
— Sim.
Mamãe sempre foi uma mulher liberal, soube me educar muito bem,
e eu jamais precisei que ela me controlasse, porque eu sabia dos meus
limites.
— Ayla, você é adulta, logo será independente como tanto deseja.
— Revira os olhos, me arrancando uma risadinha. — E se você quer ter
algo com o Bernardo, não vai ser fugindo dele que conseguirá isso, não é?
— Coloca a mão na cintura, me deixando perplexa com a sua suposição.
— Eu não sei se quero ter algo com o Bernardo, mãe. Pode parecer
bobo, mas bem lá no fundo, mesmo que não admita, ainda estou magoada
por ter me rejeitado. — Suspiro e conto detalhadamente como aconteceu
naquele dia, na cozinha dos Guerra.
— Ele fez certo não ter se envolvido com você, filha. — Ela toca
em meu cabelo. — Ele foi um lorde ao te respeitar. Bernardo, acima de
tudo, foi um homem de verdade, não pensou só nele, pensou em você
também. — Ela se inclina e beija minha cabeça.
— Isso é loucura. Nem sei se ele está saindo com alguém, não sei
nada dele — confesso, mordendo a minha bochecha.
— Verdade — murmuro.
— Que você estava focada nos estudos, mas ela não acreditou, e foi
então que me disse que sabia da sua paixão pelo filho dela. E que se fosse
para vocês ficarem juntos, que ficariam, não importava quantos anos
fossem passar — revela.
— Então quer dizer que eu, esse tempo todo, fui a inocente da
história achando que nossas famílias não desconfiavam de nada, mas
sabiam de tudo? — Ofego e mamãe balança a cabeça.
Se tia Rúbia e minha mãe já desconfiavam… então Beatriz, que é a
minha melhor amiga, com certeza também desconfiou. Como pude ser tão
boba a ponto de colocar uma venda em meus olhos? Aquelas insinuações
dela para sorrir para Bernardo porque ele ficaria derretido agora fazem
muito sentido.
Peço licença e subo para o meu quarto. Não vou ligar para Beatriz,
chegarei de surpresa, mas caso ela me ligue, digo que estou a caminho.
Aposto que esse será o final de semana mais longo da minha vida. Será
quase uma hora de viagem, o bastante para que eu me prepare para ficar
diante da minha melhor amiga para convencê-la de que em momento algum
quis que os meus sentimentos pelo irmão dela nos separasse por tanto
tempo.
Só queria um tempo e eu acho que magoei demais a garota que
considero como irmã. Fui uma péssima amiga e dói me dar conta disso só
agora.
A viagem até Guarajuba, em Camaçari, foi tranquila, ainda que o
meu pensamento estivesse voltado para o fato de que todos esses anos, não
só a minha mãe, como tia Rúbia e a minha melhor amiga sabiam dos meus
sentimentos por Bernardo.
— Menina Ayla, acho que hoje não vai dar praia, o tempo está
fechando — comenta Zeca.
Olho para um lado e para o outro, vendo que, nos últimos anos,
fizeram reformas em algumas casas. Mamãe, em questão de segundos, me
responde com um “tenha um ótimo final de semana e se for se aventurar por
aí, use camisinha”. Rapidamente meu rosto queima ao ler a sua mensagem.
Falar sobre sexo entre nós nunca foi tabu, mas ainda me sinto tímida
algumas vezes, afinal, é a minha mãe.
“Estou feliz que tenha vindo, mesmo não sendo juntas, isso é
detalhe.”
Ele assente, sai do carro e abre a minha porta para que eu saia
também.
— Tá bom! — concorda.
— Você também, dona Ayla. Mas a mulher vai ficar retada, porque
esse final de semana marquei com alguns amigos de irmos bater o baba no
clubinho — confessa, envergonhado, e eu gargalho. — Um homem de vez
em quando merece uma partidinha de futebol pra descansar, né?!
— Bea? — Mais uma vez chamo por ela ao pisar no chão de azulejo
que imita madeira da área gourmet.
E eu o encaro, confusa.
Meu coração bate tão rápido que tenho certeza de que ele pode
ouvir.
Não estava em meus planos vir para a casa de praia da minha
família nesse sábado — não depois de ter decidido que não viria mais na
quinta-feira à noite após a discussão que tive com Beatriz, mas fui pego de
surpresa às seis da manhã de ontem, ao me deparar com ela em minha
porta, pedindo para que conversássemos.
Somente duas diaristas fazem a limpeza uma vez por semana para
que os cômodos não fiquem empoeirados, de resto, é a nossa
responsabilidade. Temos muito dinheiro, mas não quer dizer que não
conseguimos fazer uma comida ou nos servir.
Faz alguns minutos que deixei suas coisas no quarto e ela ficou aqui,
me esperando voltar. Quando retornei, eu a encontrei sentada na mesa de
sinuca, com os olhos vidrados no mar. Enquanto Ayla admirava as águas
cristalinas, eu a observava com atenção e sorria.
— Você conhece a sua amiga, Ayla, ela está bem — digo, dando a
entender que não é necessário ligar. Minha irmã é maior de idade e sabe o
caminho de casa.
— Verdade — murmura.
Ah, porra, não é do nada que estou reparando nela. Estou nessa há
cinco anos, e agora eu posso olhar, desejar tocar, apalpar, morder… Tudo.
Ela não é mais uma garotinha de dezoito anos, é uma mulher adulta de vinte
e três.
Espero que nenhum de nós aja movido pelo álcool, uma vez que
estamos bebendo, se bem que dificilmente fico muito bêbado, a ponto de
cair ou acordar no dia seguinte de ressaca. Posso ficar mais animado, mais
solto, mas não passa disso.
Não quero bancar o tiozão, até porque nem idade para isso tenho,
mas de alguma maneira me sinto deslocado. Eu poderia ter esperado até
segunda-feira para tentar me aproximar de Ayla, ou pôr meus planos em
prática para me reaproximar dela, mas não, vim parar aqui.
Com a testa franzida, observo os seus amigos, todos estão com uma
garrafa de cerveja nas mãos, provavelmente passaram em algum lugar. As
quatro garotas estão enroscadas com seus namorados, e Beatriz, com o
namorado dela beijando o seu ombro, enquanto o único a segurar vela é o
cara moreno, quase tão alto quanto eu, de cabelo ondulado.
— O.k., foi só uma brincadeira, mas não faça mais isso, sabe que
me preocupo. — Suavizo minha expressão para que ela não passe vergonha
na frente dos amigos.
Esse final de semana será o meu maior desafio. Onde já se viu, eu,
um homem maduro, ter que disputar a atenção de uma mulher com um
franguinho exibido desses.
— Por acaso ele tem ciúmes da irmã dele de sangue com você? —
O imbecil está mesmo querendo sair daqui a pontapés, só pode.
Deus, não me deixe mostrar a esse garotinho o meu lado perverso,
eu posso ser muito ardiloso quando quero.
— Somos homens, Teus, acha que ele vai ligar? — o babaca diz ao
me ver se aproximar deles.
— Eu disse para ele que a Ayla é como uma irmã para você,
Bernardo. — O namorado da minha irmã tenta intervir. Eu nem o conheço
direito, porque não foi apresentado formalmente para a família.
Vendo que ele entendeu o meu recado, trago o seu corpo para cima e
o largo. O fracote cambaleia e Beatriz, junto a Mateus, vai acudi-lo.
Subindo a escada, noto que estou sendo seguido, nem preciso olhar
para trás para saber que é Ayla, pois conheço o perfume dela.
— Não, não sabe. — Dou passos em sua direção e suas costas batem
na porta.
— Mas quem veio atrás de mim foi você. — Estalo a língua e ela se
enfurece.
“É porque ainda não viu o meu lado safado.”
Mas aquele ruivo irritante não tinha motivos para quase agredir o
rapaz só por ele estar falando coisas sobre mim. Se for me importar com o
que falam de mim, eu estarei perdida. Sou o tipo de pessoa que não se deixa
abalar por pouco e, certamente, a razão do surto do Bernardo é por Gustavo
estar me elogiando, como fez mais cedo na piscina.
— Podemos fazer isso amanhã? Não acho uma boa hora, e também
bebi demais. Não estou sóbria o bastante para termos uma conversa sensata
— avisa, virando-se para mim.
— Bea, ele também está bebendo, todos nós estamos, não pode dar
uma trégua? Sei que nada justifica as atitudes dele, mas acho que não
deveria discutir com o seu irmão por algo que já passou.
— Não estou defendendo. Não foi certo o que ele fez, mas estamos
com álcool no sangue, talvez amanhã ninguém vá se lembrar de nada —
justifico, engolindo em seco.
Me preocupa que ela queira sair uma hora dessas, quase dez da
noite, de Camaçari para Salvador. Ainda mais que estava bebendo até pouco
tempo atrás. Não é só com a minha amiga que me preocupo, o fato de
Bernardo também estar tomando cerveja me apavora. Imagina se ele decide
pegar a estrada. Já perdemos nossos pais, não suportaria perder nenhum
deles.
— Sim — murmura.
— Nunca desejei ver vocês juntos porque sabia que ficaria estranho.
Eu perderia o meu irmão e a minha melhor amiga. — Ela está quase
chorando.
— Para com isso, cara, elas estão quietas — reclama o ruivo, nos
encarando.
— Céus, por que os homens são tão idiotas? Ainda bem que Bernie
é uma exceção — se manifesta a minha amiga.
— Quando tivermos a idade do Barnachato também iremos fazer
muitas festas na sua casa e chamaremos alguns amigos, principalmente
garotos bonitos! — Cruzo os braços, tentando disfarçar o ciúme em minha
voz.
— Se eu não soubesse que odeia o meu irmão, diria que está com
ciúme! — Me cutuca no braço e eu gargalho.
— Exatamente! — concordo.
— Quem diria que o garoto que ficaria entre nós seria justamente o
meu irmão. — Ela ri baixinho, se afastando de mim. — Mas não importa,
éramos crianças, nem sabíamos o que estávamos fazendo. — Limpa o rosto
e eu faço o mesmo assim que ouvimos passos vindos do andar de cima.
— Vou embora dessa porra, só assim isso vai acabar! — ele decide,
vermelho de raiva, antes de soltar a minha mão.
Sem saber o que fazer, sigo para a área gourmet e encontro o grupo
de amigos de Beatriz indo em direção ao portão dos fundos que dá para a
praia. A passos largos, eu os sigo e sinto minha respiração ficar ofegante ao
alcançá-los.
Por que fui ter uma paixão pelo homem errado? É nítido que Beatriz
está com ciúme de nós, mesmo sem termos feito nada. Essa mágoa dela está
passando dos limites, mas ao mesmo tempo ela consegue fazer com que eu
me sinta culpada. Não há nenhum santo nessa história, mas estou
carregando o maior fardo.
Nunca foi tão difícil ter que fazer uma escolha, se bem que não há
nada para escolher. Eu me fechei para o amor faz tempo, e a pessoa que me
fez tomar essa decisão é a razão de tantas incertezas.
Minha respiração fica pesada com as palavras dele, meu peito sobe e
desce.
Sonhei tanto com esse dia, mas ele está prestes acontecer na hora e
no lugar errado. Fechando os olhos, lembro-me dos conselhos de mamãe
em me aventurar.
— A sua mão está gelada — comento com a mulher que está com os
dedos entrelaçados nos meus enquanto caminhamos até o quarto.
O meu propósito em vir para Guarajuba não era para convencer Ayla
a me dar uma única noite de sexo. Só que quando ela me propôs algo tão
surpreendente, fiquei sem palavras, mas acabei aceitando como se a minha
vida dependesse disso. Não é que eu esteja desesperado, contudo, ouvi-la
dizer que tudo o que tem a me oferecer é somente uma transa me afetou, e
eu não posso deixá-la escapar mais uma vez das minhas mãos.
Apertando a sua cintura com uma mão, sugo a sua língua e ela
geme, arranhando a minha nuca. Com o coração acelerado e o pau pulsando
contra a sua barriga, desço a mão até a sua bunda redonda e deslizo-a para
debaixo da sua saída de praia, pressionando meus dedos em sua carne.
Corro meu olhar da sua boca até seu colo, notando sua respiração
ofegante. Sou surpreendido quando sinto sua mão em meu membro
endurecido, que demarca o tecido da minha bermuda. Um gemido de pura
luxúria me escapa e, por alguns segundos, aprecio seu toque quente em
mim.
Seus lábios macios se abrem nos meus, sua língua encontra a minha
e logo aprofundamos o beijo. Suspirando e com a respiração pesada,
passeio minhas mãos por suas costas e bunda enquanto ela esfrega a
bocetinha em mim.
Lascivo por ter a melhor amiga da minha irmã que é dez anos mais
nova do que eu esfregando-se em mim de um modo provocante e beijando-
me sofregamente, desfaço o laço do seu biquíni da parte de cima e vou
subindo a mão até chegar a sua nuca. Ali seguro um punhado do seu cabelo
cacheado e afasto a sua boca da minha.
Parece que estou em uma porra de sonho de tão perfeito que está
sendo. Nesse meu sonho, Ayla e eu estamos prestes a trepar bem gostoso,
mas ao vê-la conduzir minha mão até a sua boceta, estremeço da cabeça aos
pés.
Há tantas coisas que quero fazer com ela. Ainda não sei se primeiro
coloco a minha boca em seus mamilos que estão com os biquinhos
enrijecidos, ou se chupo a sua boceta, que deve ser deliciosa.
— Preciso tê-lo dentro de mim sem nada. Quero sentir a sua pele
deslizando na minha enquanto me penetra, mas antes precisava ter certeza
de que está limpo. — Suas palavras esquentam o meu corpo.
— Eu também.
Se em algum momento eu for pai terá que ser planejado. Meu filho
será bem-vindo, por ora, crianças estão fora de cogitação.
Ergo o seu quadril e tiro a peça de uma vez do seu corpo e jogo no
chão.
— Quando meu pau tiver dentro de você, prometo que será mais que
memorável a sua primeira vez. — Com uma mão, seguro em seu queixo e a
faço olhar para mim. — Socar forte e gostoso nessa bocetinha será apenas
um adjetivo perto do que iremos cometer nessa cama. Todas as vezes que eu
ou você viermos para Guarajuba, iremos lembrar de cada detalhe feito nesse
lugar, principalmente do nosso suor e gemidos se tornando um só.
— Eu já estou nua para você, agora você precisa ficar para mim. —
Instintivamente, meu olhar vai para o seu corpo.
— O seu cheiro está impregnado nela, mas ainda prefiro sentir o seu
aroma na sua pele. — Seu tom sensual me afeta diretamente no pau.
Sempre soube que essa garota seria a minha deliciosa queda quando
a tivesse em meus braços.
— Vai ser a minha putinha na cama, mas fora dela será tratada como
uma rainha. É isso que você quer? — Instintivamente, agarro o seu cabelo e
trago o seu rosto para perto do meu. — Me responda, Ayla, é isso? —
Fecho a outra mão em sua bunda e aperto meus dedos ali.
O seu toque causa algo similar a uma corrente elétrica suave que
percorre em meu corpo, arrepiando-me dos pés à cabeça. E o mais afetado é
o meu pau, que fica ainda mais ereto.
Puta merda, é a melhor visão que tenho. Ela está com a boca
entreaberta e com os olhos fechados. À medida que aperto seu mamilo com
o indicador e médio, pressiono o seu clitóris entre meus dedos da outra
mão.
— Vamos lá, Ayla, estou prestes a gozar e quero que faça isso
comigo. — Inclino o rosto e falo em sua orelha, logo a garota estremece.
Ayla faz isso diante meus olhos sem pudor algum. E como se não
fosse suficiente esse chá de boquete que me dá, a diaba ergue o olhar para
mim com a boca aberta e põe a língua para fora, mostrando-me a minha
porra. Basta isso para que eu volte a ficar duro em questão de segundos.
Ela sobe em mim e encaixa o seu corpo no meu, sua boceta molhada
roça em meu pau e é a porra mais excitante. Provocante, Ayla se inclina
sobre mim e arreganha-se numa flexibilidade deliciosa, esfregando-se no
meu pau.
Inclino-me, toco em seu rosto com a outra mão e grudo minha boca
na dela, beijando-a lentamente, sentindo gemer entre respirações pesadas
com o prazer que estou proporcionando a ela.
Por mais que a minha vontade seja ficar por mais tempo
mamando nela, lembro que talvez tenhamos pouco tempo para aproveitar
mais um do outro, já que a qualquer momento minha irmã pode retornar
com os seus amigos. Desço beijando-a em direção à sua barriga até chegar
ao meio das suas pernas.
— Não.
Não sei em que momento ela toma o controle, mas quando vejo,
estamos trocando de posição e Ayla fica por cima, sem eu ter saído da sua
boceta.
— Nada disso, vou comer a sua boceta desse jeito, com a minha
porra ainda grudada em suas pernas. — Fico de frente para ela e seguro em
seu queixo. — Dessa vez, você vai ser fodida de costas e em silêncio. Toda
vez que alguém passar do outro lado daquele cercado, curioso com a
estrutura da casa, e olhar para cima, ou se algum vizinho aparecer em uma
das varandas despretensiosamente, vou me afundar cada vez mais forte em
você. Sua boceta vai engolir cada centímetro do meu pau, e você vai ficar
caladinha. Se fizer escândalo quando gozar, vou te dar uma palmada na
bunda para aprender a ser obediente. — Desço a mão por seu pescoço e
puxo o seu rosto para perto do meu.
O brilho nos olhos escuros dela faz meu pau aumentar de tamanho.
— Você gostou, eu sei. — Pisco para ela, que bufa e segue de uma
vez para a varanda.
Seguro com mais força em seu quadril e arremeto nela por trás,
ouvindo as suas lamúrias.
— Ela não está… Preciso sair daqui antes que nos vejam. — Ela
tenta arrumar o biquíni desesperadamente e o cabelo, que está um pouco
bagunçado.
— Não vai adiantar nada sair daqui nesse desespero. Mesmo que
tente disfarçar, vão sentir e ver a minha porra escorrendo por suas pernas.
— Aponto para o local melado e ela arregala os olhos, se dando conta da
realidade.
Mesmo sabendo que Ayla pode ter um infarto com o que faço, jogo
minhas roupas no ombro e saio do quarto sem me importar de ser visto por
minha irmã e os amigos dela.
Ontem, após Bernardo se irritar comigo e deixar o quarto sem olhar
para trás, senti o choro ficar preso em minha garganta, porém, respirei
profundamente e tentei me manter forte com muito custo. Mal dormi
pensando nas palavras dele, passei a madrugada revirando na cama e com
um desejo enorme de procurá-lo e pedir desculpas pela minha atitude
infantil. Droga, ele tem razão, eu tenho idade suficiente para decidir o que é
melhor para mim. Mas só percebi isso depois que cometi a idiotice de
dispensar o Bernardo.
Eu ofereci a ele uma noite sem compromisso, mas não foi pensando
em mim, e sim na minha melhor amiga, para não balançar ainda mais a
nossa amizade. Uma única noite e agora me encontro arrependida, porque
ela não terminou como eu queria ou imaginava. Ter Bernardo dentro de
mim, beijando a minha boca, acariciando a minha pele, puxando meu
cabelo e me chupando me fez perceber que o ter somente uma vez não será
o bastante para que eu siga em frente sem olhar para trás. Embora tenhamos
passado pouco tempo juntos, foi inesquecível, principalmente o modo como
adorou cada parte do meu corpo com glória. Já se passaram horas, mas
basta fechar os olhos para que me lembre do dorso da sua mão máscula
acariciando-me, dos seus olhos castanhos encarando-me com aquela
intensidade de arrancar suspiros. E sem contar o seu sorriso perfeito e
sacana para mim.
Passo a mão por meu coque embolado que improvisei logo cedo
quando terminei de fazer minha higiene matinal. Em seguida, fito a piscina
onde os casais conversam e riem alto, a única sobrando aqui sou eu e o... Só
neste momento noto a ausência do filho do juiz. Ele deve ter ido embora,
certamente.
— O seu irmão realmente não foi embora? Você disse que ele saiu
bem cedo e até agora nada de voltar. — Demonstro preocupação.
— Sim, conversamos.
Fizemos mais do que isso, mas você ainda não precisa saber.
— Acho que eu vou beber um pouco, fiquei com sede depois dessa
— aviso a Beatriz, que está com as mãos entrelaçadas nas do namorado e
descendo até o chão.
Girando nos calcanhares e pronta para buscar uma bebida para mim
e para Beatriz, sinto um pressentimento ruim, então olho por cima do
ombro e no mesmo instante arrependo-me. O “meu homem” fujão se
encontra a alguns metros de distância, sem camisa e com uma bermuda
vermelha, de costas e muito bem acompanhado. Vejo uma mulher quase da
altura dele, magra, cabelo acima dos ombros, escovados em um tom loiro
de farmácia, usando apenas uma saída de praia.
— Ah, ela vive indo e voltando do exterior, fica mais fora do país —
explica a ruiva, que está bem-informada.
— Mas agora parecem bem íntimos. Até no celular dele, ela está
mexendo. — Mordo os lábios, corroendo-me de ciúmes por dentro.
Por que as pessoas precisam ser tão curiosas? Droga, falo por mim.
A minha maldita curiosidade me impede de fingir que nada está
acontecendo. Quando viro o rosto na direção de Bernardo, vejo a mulher
tocar no ombro dele e passar a mão no cabelo, sorrindo toda derretida para
o ruivo. Daqui não consigo ver se está sorrindo, mas o fato de ele permitir
que ela o toque, deixa claro que está gostando.
Segundo Beatriz, o irmão saiu para correr, mas que corrida foi essa
que durou uma manhã inteira? Eles estavam juntos? Será que já não tinham
algo antes daqui? Bernardo é solteiro, um homem livre. E a mulher é
lindíssima, consigo notar o quanto o prende com a sua conversa, já que
estão parados papeando há um bom tempo.
Depois de pegar tudo o que quero, sigo até a minha amiga sem ousar
olhar para o lado errado.
Que tipo de trabalho é esse que ela fica tocando nele e de sorrisos
em um final de semana na casa de praia?
— Sobre ontem…
— É passado — corta-me.
— O que vou te dizer agora não é para que se sinta humilhada, Ayla.
— Olha bem em meus olhos, me fazendo quase encolher. — Eu não preciso
esconder de ninguém um relacionamento, sou um homem independente. Se
você quiser ficar comigo, vai ter que enfrentar as consequências, caso
contrário, cada um vai para o seu lado. — Solta-me, deixando-me abalada
com a sua seriedade.
Voltei para casa no sábado mesmo, mas nem assim consegui tirar a
bendita dos pensamentos e esquecer a nossa noite naquele quarto, naquela
varanda. Cada detalhe está marcado em minha memória, seus gemidos
baixinhos, a sua entrega, o seu corpo pequeno que se encaixou
perfeitamente ao meu como se tivesse sido feito sob medida para mim.
Se distanciar para evitar ter contato com ela não mudou muita coisa,
não que eu quisesse, porém, a melhor amiga da minha irmã quis assim ao
dar a entender que Beatriz sempre será a sua prioridade. Sendo que uma
coisa não tem nada a ver com a outra. É imaturidade alguém colocar na
cabeça que uma amizade pode ser afetada por um relacionamento amoroso,
digo, às vezes pode sim, mas não seria o meu caso e o de Ayla.
— Sr. Guerra, o que acha dessa ideia? — Desde que entrei nesta sala
de reunião, não prestei atenção em uma palavra sequer do que estavam
falando.
De repente, começo a ficar com calor em uma sala que tem uma
temperatura agradável. Que merda é essa? Acho que hoje não é o meu dia,
com certeza.
— Parece que o senhor acordou com o diabo nas costas, todos estão
comentando que você apareceu na empresa com um humor do cão. Mal
cumprimentou seus súditos — cochicha e eu arregalo os olhos com a
audácia dela.
— Se fizer isso, vai ter que demitir a empresa inteira. Acho que vai
ser difícil montar um grupo tão eficiente novamente — avisa, devolvendo a
xícara com o maldito café para a copeira, que está com o rosto pálido.
— Você, pode se retirar — falo para a pobre mulher que está quase
tremendo com a possibilidade de ser demitida. Ela sai da sala na velocidade
da luz, quase bate o carrinho na parede. — E você, reorganize a minha
agenda, hoje vou sair mais cedo. Remarque minhas reuniões para o decorrer
da semana e avise aos seus coleguinhas fofoqueiros que se eu souber que
estão pelos corredores com o meu nome na boca, vou demitir todos. E você
irá junto. — Aponto para Rosa, com os olhos semicerrados.
— Rosa, se recomponha, não quero que falem por aí que você tem
regalias. — Pigarreio, arrumando minha gravata e a ouvindo bufar.
— Eu ligo para a sua mãe e falo que você quer me demitir, ela não
vai deixar — retruca.
— Minha mãe não manda aqui. Agora suma da minha frente antes
que eu mude de ideia. — Comprimo os lábios.
— Pegou a novinha?
— Você não tem nenhum caso para cuidar, não? Está fazendo o que
agora? Aposto que está com as pernas em cima da mesa, fazendo bolinhas
de papel para jogar na lixeira — provoco-o ao entrar em minha sala e fechar
a porta. Não quero ser incomodado.
— Isso que dá ser herdeiro. — Rio baixinho, porque sei que ele vai
ficar puto.
Hm, interessante.
Meu melhor amigo adora esse restaurante por ele ser à beira-mar e
os funcionários sempre solícitos.
— Obrigado — agradeço.
— Nós transamos, mas depois, ela ficou receosa pela Beatriz, que se
comportou como uma amiga e irmã ciumenta. Perdi a paciência. —
Massageio minhas têmporas.
— Você pode parar de falar dela assim? Que caralho, nunca que
você vai dar umas palmadas nela, ela não é para o seu bico. — Aponto para
ele.
— Eu que não sou para o dela, ela não aguentaria uma horinha
comigo — se gaba, por pouco não lanço a garrafa de vinho no rosto dele. —
E pare de taxar a Beatriz como santa! Ou você acha que ela levou o
namorado para Guarajuba e ficaram só nos beijinhos? — zomba.
— Hoje, eu quis largar tudo na minha sala e mostrar para ela cada
cantinho do setor que vai trabalhar, mas mantive a minha promessa em não
a procurar. Me segurei — comento, passando o polegar na borda da taça.
— E se ela te procurar, você vai ceder? — pergunta, curioso.
— Depende, Murilo. Quero muito a Ayla, mas para isso ela vai ter
que enfrentar a Beatriz e determinar que o nosso envolvimento não será às
escondidas. — De repente, meus pensamentos voam até a nossa conversa
no sábado. — Jamais vou me contentar com pouco, eu a quero por inteiro.
É tudo ou nada.
— Que nada, amigo, é porque ainda não encontrou uma mulher que
te enlouqueça de verdade. — Noto que seu pomo de adão sobe e desce.
Quando ele foi embora, horas mais tarde, fui também. Beatriz tentou
me convencer a voltar no domingo pela manhã, mas falei que não podia e
que precisava me organizar para segunda-feira, caso me ligassem para
acertar a minha contratação. Ela não se impôs, apenas me desejou boa sorte
e ficou em Guarajuba com o namorado e o restante dos amigos.
Mais tarde, recebi uma mensagem de áudio onde ela falava que
sabia que eu tinha ido embora por causa do irmão, que nem adiantava negar,
pois o cheiro dele estava impregnado em mim. E como fui embora logo
depois do Bernie, ela tinha certeza de que só fui para lá porque sabia que
ele iria também. Ela teve a coragem de me dizer que eu já tinha escolhido
um lado e que tinha sido a gota d’água para ela. Fiquei tão chocada, que
nem tive como argumentar, simplesmente a deixei sem resposta, porque
estava cansada de mentir.
— Ônibus. O jeito vai ser acordar às seis para chegar às oito, mas
vai valer a pena, trabalhar nessa empresa sempre foi meu sonho! — Encara-
me ao soltar um suspiro.
— O.k., anota aí. — Diz o número dela e pede para que eu salve
como Juli, porque seus amigos a chamam assim e ela gosta mais também.
Será que ele tem noção do quanto está sexy e irresistível? Imagino
que tenha deixado algumas mulheres babando para trás.
Ele disse que não iria misturar a vida pessoal com a profissional e
não estava mentindo.
— Bernardo… — chamo-o.
— Agora?
Volto para dentro do elevador antes que as portas se fechem. Não sei
quando terei outra oportunidade para conversarmos, então preciso
aproveitar que já estamos aqui para esclarecer as coisas de uma vez.
— Sim.
— Estamos no nosso ambiente de trabalho, é bom nos
acostumarmos a nos tratar formalmente — responde com tranquilidade.
— Senti a sua falta. — Acabo com o espaço entre nós e sinto a sua
respiração bater em meu rosto.
É intenso.
Explosivo.
Inesquecível.
— Obrigado, Ayla! Estou muito feliz, foi uma alegria saber que vou
expandir meus conhecimentos fora do país. Ter sido promovido foi uma
oportunidade de ouro. — Ele é diretor executivo em uma empresa da bolsa
de valores.
— Ah, querido, sortudos são as pessoas que irão ter você por lá —
elogia dona Fernanda, se inclinando e beijando o rosto dele, marcando a sua
pele branca com o batom vermelho.
— Vocês são tão lindos juntos que deveriam se casar logo. Só acho.
— Encolho os ombros.
Mamãe joga um guardanapo em minha direção, fazendo-me rir
baixinho.
Sair do país no momento não é uma opção, não está em meus planos
deixar meu lar tão cedo. Ainda mais quando estou prestes a começar no
meu primeiro emprego.
Os próximos dois minutos vão decidir o meu destino.
Eu disse para ele que não havia risco de nada. Mas depois de dois
meses, descubro que estou esperando um filho dele.
Desde o meu último beijo com Bernardo no elevador, não tivemos
mais contato. O setor onde trabalho fica bem longe do dele e isso faz com
que quase nunca nos encontremos. Para não dizer que não o vejo, semana
passada, quando saí um pouco mais tarde, eu o vi no estacionamento indo
embora, mas a distância e a distração dele com o celular não o deixaram
perceber a minha presença.
— Oh, Ayla, não fica assim. Para tudo tem um jeito. — Ela vem e
me abraça.
— Tem sim, amiga. E o pai? Por que você não fala com ele? Tem
medo de ele não querer assumir? — Me enche de perguntas.
— Sim! Vamos logo, o sr. Cardoso está atrás de vocês. Ele quer
conversar com a gente antes de entrar na sala do sr. Guerra. — diz Aline,
suspirando com a menção do Bernardo.
— Pode deixar.
— Amiga, vai para casa! Se quiser, eu aviso ao sr. Luiz Miguel que
você não está bem — diz, solícita.
— Farei isso.
— Eu achei que estivesse tudo bem, mãe. — Conto a ela tudo o que
aconteceu detalhadamente entre mim e Bernardo, deixando-a sem palavras.
— Eu estou desnorteada, sem saber o que fazer — confesso.
— Ayla!
— A primeira vez foi por cinco anos, e a segunda, por dois meses
— começa, me fitando com rancor e batendo os saltos no piso. — A
terceira vai ser por quanto tempo? Dez anos? Vinte? Ou será que teremos
um nunca mais? — questiona-me, cruzando os braços.
— É óbvio que estou. A garota que achei que fosse a minha melhor
amiga mentiu para mim. — Ela dá passos em minha direção e segura em
meu rosto. — Você, mais uma vez, colocou o meu irmão entre nós. — Seus
olhos ficam vermelhos.
— O meu irmão já te trocou? Soube que ele tem feito negócios com
a filha dos Rodrigues — comenta, maldosa.
— Não vai parar até conseguir o que quer, né? — Sensível, começo
a chorar sem me importar que vejam. — Quer saber? Eu gosto do seu
irmão, sim. Pensei que depois de cinco anos, esse sentimento tinha sido
eliminado, mas não, assim que o vi, tudo mudou. Os sentimentos voltaram e
quando me entreguei para ele tive certeza de que uma vez só em seus
braços era pouco demais. Eu te amo, Beatriz, mas sou uma mulher adulta e
decido o que eu quero. Não vou deixar você me magoar com as suas
paranoias. — Entre lágrimas, sorrio, porque estou farta de suas acusações.
— Nunca pensei que você fizesse o tipo interesseira, mas o que não
entendo é que você não precisa disso. É tão rica quanto nós.
Eu assinto e saio do prédio sem olhar para trás e com a mão dentro
da bolsa procurando a chave do meu carro.
Nunca achei que a minha melhor amiga poderia ser tão cruel
comigo. Nem mesmo anos atrás, quando tive o meu coração partido pela
primeira vez, doeu tanto quanto agora. Beatriz só apareceu na empresa para
acabar de destruir o resto da minha serenidade.
Se ela me odeia por ter me envolvido com o seu irmão mais velho,
imagina quando souber que estou esperando um filho dele. Que ela vai ter
um sobrinho. Ela vai me odiar para sempre e eu não posso culpá-la, muito
menos tentar fazê-la mudar de ideia.
Atravessando o hall de entrada da minha empresa com a valise na
mão esquerda, noto um burburinho entre os funcionários e juro ouvir o
nome da Ayla ser mencionado por uma das recepcionistas, mas quando eu
me aproximo, elas se calam e mudam de assunto.
Bufo baixinho, pronto para rumar até minha sala, mas ouço algo que
chama a minha atenção.
Será que ela foi assediada? Alguém fez algo que a magoou?
Impaciente por não ter respostas aos meus pensamentos, ando de um lado a
outro, em seguida, deslizo meus dedos até a minha camisa branca e abro
três botões.
Rosa entra toda tímida, o que não é do feitio dela, e se põe à minha
frente com a expressão tensa.
— Faz dois dias que a Ayla não vem para o trabalho. — Ela faz
mistério, então fixa os olhos em mim. — A sua irmã, a Beatriz, veio à
empresa e elas discutiram feio no andar que a menina trabalha. Parece que a
coisa ficou tão pesada entre elas, que a Ayla saiu aos prantos no horário de
trabalho e não voltou mais.
— Acho que não, Rosa, Beatriz e Ayla são melhores amigas desde
pirralhas, você sabe disso, e a minha irmã está num relacionamento sério —
argumento.
— O senhor aceita um café? Parece que vai chover, está bom para
um cafezinho. — Ela muda de assunto.
— Você quer gastar o meu dinheiro com essas coisas, isso sim. —
Faço uma expressão irritada e ela arregala os olhos.
— O senhor…
— Vá, Rosa, pode comprar esse tal café, mas vou descontar do seu
salário — interrompo-a de maneira firme, e a coitada quase se engasga.
— Hoje, você tem uma reunião com a sra. Carla Rodrigues, ela
ligou ontem, e como o seu dia está tranquilo, eu disse para ela vir —
informa.
Dois dias que Ayla não vem para o trabalho. Faz dois dias que a
Beatriz e eu discutimos na mesa de jantar, porque ela me acusou de ter feito
algo para separá-la da amiga.
— Ué, vocês não estão mais próximos depois desse emprego dela na
empresa? — desdenha, infantil.
— Por que você é sempre tão fechado assim? Quando sorri, é mais
bonito, sabia? — Passa a língua nos lábios.
— Me desculpe, Carla, mas não posso te iludir, não sou esse tipo de
homem. — Toco em seu rosto para que me encare. — Um dia, vai encontrar
alguém que goste de você, pode ter certeza disso. — Sorrio para ela,
ouvindo a porta ser aberta de repente, mas nem olho na direção, porque
imagino que seja Rosa querendo algo, e ao ver a cena e interpretar de
maneira errada, acabou desistindo e se retirou.
— Estou achando que ela nem existe, você que não quer nada
comigo — acusa, provocante.
Por que a minha secretária iria chorar ao me ver tão perto de outra
mulher? Não faz sentido. Será que aconteceu alguma coisa na casa dela?
Desconcertado, saio da sala sem olhar para trás, e do lado de fora encontro
a mesa de Rosa vazia, nenhum sinal dela.
Passo a mão na nuca, olho para Carla ainda dentro do meu escritório
e a vejo com o semblante pensativo.
— Alguém entrou na minha sala e saiu tão rápido que nem vi quem
era. — Coço a nuca, preocupado em ter tido a minha privacidade invadida.
— Ah, deve ter sido a Ayla. Quando eu estava descendo, ela estava
vindo para cá — minha secretária diz com tranquilidade, sem saber o
quanto isso me afeta.
O soluço.
— Carla, vamos deixar a nossa reunião para outro dia, o.k.? Mas, a
partir de hoje, o Luiz Miguel irá tratar com você sobre a sua campanha. É
ele que fica à frente desse tipo de trabalho — aviso, passando por ela e
recolhendo meu celular na mesa e o guardando no bolso da calça.
Devo ligar para ela? Pego meu celular no bolso, mas então me
lembro que nem temos o contato um do outro. Não tivemos a oportunidade
para isso.
Droga!
Posso conseguir o número dela com o rh, mas ainda prefiro explicar
pessoalmente o que estava acontecendo na minha sala quando ela entrou.
Eu sei que não tenho motivo para correr atrás de Ayla e esclarecer as coisas,
mas me sinto na obrigação de fazer isso.
Engolindo em seco, puxo meu cabelo para trás e olho ao meu redor.
Nada dela. Então, faço um gesto com a mão para um dos seguranças e ele
se aproxima.
— Por acaso você viu uma mulher passando por aqui? — Dou as
características de Ayla.
— Passou, sim, tem mais ou menos dois minutos — revela.
Um ano e dois meses depois
Passei seis meses sendo consolada por minha família, mas assim que
me dei conta de que qualquer sentimento que eu tivesse, fosse bom ou ruim,
poderia ser passado para as minhas meninas e isso as prejudicaria, engoli a
minha dor e decidi ser forte.
A princípio, não foi fácil me ver como mãe, mas renasci dia treze de
setembro de dois mil e vinte e três, às duas horas da madrugada quando
Heloísa e Helena nasceram. Elas vieram prematuras, tão miúdas que
cheguei a imaginar que as perderia, então tiveram que ficar um tempo na
maternidade sendo acompanhadas. Não houve um segundo sequer que eu
não lembrasse do pai delas quando ia visitá-las. Chorava em silêncio,
deslizando meus dedos pelo vidro de proteção da incubadora, sentindo-me
insuficiente por não ter conseguido mantê-las protegidas dentro de mim o
tempo necessário. E quando elas tiveram alta, eu também chorei, contudo,
era o meu primeiro choro de alegria depois de meses.
Se não fosse por minhas filhas, não sei se teria essa garra que tenho
hoje. Lola e Lena não foram planejadas, mas com certeza são a melhor
coisa que poderia ter me acontecido. Minhas meninas se tornaram a minha
âncora, aprendi a me reinventar e buscar uma versão melhor minha.
Odiei a mim mesma por ter fugido como uma garotinha assustada
do Brasil. Eu quis esquecê-lo, apagá-lo de uma vez dos meus pensamentos
e vida, só que agora é diferente, não posso fazer como anos atrás, fingir que
nada aconteceu. Não há como esquecer a existência das nossas filhas.
Faz um ano e dois meses que estou na Inglaterra, desde então tenho
residido na mesma casa que mamãe e o Arthur. Eles me ajudam a criar as
gêmeas mesmo antes de elas virem ao mundo.
Se não fosse por minha família, acho que estaria bem encrencada.
Não é fácil ser mãe, mas eu tive que aprender em todos os sentidos.
Embora Heloísa e Helena já estejam com seis meses de vida, vez ou outra
enfrento dificuldades em algumas coisas, e nem sempre a minha mãe está
disponível para me socorrer. Eu também não posso abusar da boa vontade
dela e do meu padrasto, que têm os seus próprios compromissos.
— Elas são tão lindas — a babá elogia ao pegar Helena nos braços.
Por mais que minhas bebês sejam tão pequenas, sei descrever a
personalidade de cada uma. Lena é calma, como o pai. A Lola é mais
agitada, como eu.
— Meu Deus, Ayla, cada dia que passa elas ficam mais espertas! —
exclama a mulher, risonha, vendo Helena tentar ficar sentada na cama. Mas
não demora muito para cair para trás, nos travesseiros que servem como
apoio.
Deus, elas já estão com seis meses, logo completarão um ano e o pai
não sabe da existência delas. Eu poderia me sentir cruel por isso, mas não
foi por falta de tentativa. Na minha primeira semana na Inglaterra, tentei
entrar em contato com Bernardo ligando do celular da minha mãe, já que o
meu deixei no Brasil para que nenhum dos Guerra entrasse em contato
comigo. Eu estava chateada, no limite, agi no calor do momento.
Juro que não foi maldade ter tirado o direito de Bernardo conviver
com nossas filhas. Eu liguei para o celular dele na primeira vez, mas
ninguém atendeu. Mamãe sugeriu que eu ligasse para tia Rúbia, porém, não
quis, era um assunto que deveria ser tratado entre mim e ele, e entrar em
contato com Beatriz estava fora de questão. Ela destruiu o que tínhamos de
mais bonito, a nossa amizade, e eu fiquei com raiva dela por um bom
tempo. E acho que até hoje sinto rancor pelas suas duras palavras
direcionadas a mim naquele dia, na empresa.
Ainda me recordo que liguei para Bernardo para contar a ele que
estava morando em outro país e que havia descoberto uma gravidez. Dias
depois, as ligações nem completavam, então me frustrei e desisti após quase
duas semanas de tentativas sem sucesso. A última que fiz, me destroçou ao
ser atendida por outra pessoa.
— Ayla, ele é o pai do seu filho e merece saber da sua gravidez. Não
importa o que aconteceu, é a obrigação dele assumir as responsabilidades
— fala de maneira firme e eu balanço a cabeça concordando.
— Eu sei. Apesar de tudo o que aconteceu, eu e ele não tínhamos
um relacionamento, não havia razão para o Bernardo… — Calo-me ao
notar que a ligação não foi atendida novamente. — Não vai, mãe, eu já
disse que ele não quer atender, ou sei lá o que está acontecendo. — Minha
voz fica embargada.
— Mas elas já não fazem isso? — Meu tom sai mais como uma
confirmação.
— Mas dessa vez é diferente, é um som novo. — A babá aponta
para a Heloísa, que esfrega a gengiva no dorso da mão com força e começa
a babar.
— Pá-pá.
Meu coração quase sai da caixa torácica ao ouvir minha filha mais
velha chamar “pá-pá”. Emocionada, acabo sentindo um misto de emoções,
mesmo que ela não esteja chamando por papai.
Algum dia, quando ele souber que temos duas filhas lindas e muito
espertas, ele não poderá me culpar por não ter tentado contar a ele sobre
elas. Porque eu tentei. Eu desisti depois de quase quinze dias, mesmo assim,
quando completei dezesseis semanas de gestação, enviei uma mensagem
para ele avisando que seríamos pais de gêmeas.
Fiz o que pude, mesmo que ele tenha partido meu coração da pior
maneira. Um dia, Bernardo terá que saber da existência de Heloísa e
Helena, afinal, nunca foi a minha intenção escondê-las dele.
— Jurei que ela tinha falado papai, mas foi só impressão mesmo —
diz a babá.
— Ela disse pá-pá, não papai, até porque ela não tem contato com o
pai. — Esfrego minhas mãos, sentindo-as suadas.
— Me perdoe, senhora.
Olivia sabe muito pouco do pai das meninas, eu não falo sobre o
Bernardo, mas ela sabe que elas não foram registradas por ele. Minhas
filhas só carregam o meu sobrenome “Dantas”, mas sei que o correto seria
“Helena Dantas Guerra e Heloísa Dantas Guerra”.
— Mãe, para com esse mistério e diz logo, por favor! — Alterno o
olhar entre o casal.
— Sim. Sua mãe não quis que ele nos visse, ela acha que ele pode
contar ao Bernardo — explica meu padrasto, uma vez que minha mãe
parece em choque.
— Claro, filha. — Mamãe vem até mim e logo fazemos a troca das
meninas.
Heloísa, quando vem para meus braços, solta um gritinho que quase
acorda a irmã e eu arregalo os olhos, com a animação dela.
— Você tem a quem puxar, Lola. Sua mãe era exatamente assim
quando bebê — dona Fernanda diz mais para mim do que para a minha
filha, porque seus olhos estão fixos em mim.
Eu achava que poderia ser o caos, mas a tia das minhas filhas
mostrou o contrário, ela que se tornou o meu. Ela foi um dos motivos que
me fizeram partir sem olhar para trás ou a quem.
Por que estou tentando me convencer de que ele teria vindo nos
procurar? Bernardo pode muito bem…
Achei que Heloísa dormiria tão rápido quanto a irmã, já que estão
acostumadas a fazer isso depois de se alimentarem, mas não, dessa vez ela
deu um pouco de trabalho. O seu dentinho está querendo nascer e começou
a incomodar, foi então que minha filha choramingou, e acalmá-la custou um
pouco.
Não são pensamentos amorosos, faz muitos meses que não penso
nele assim. Meus sentimentos como mulher por ele tranquei em meu
coração no dia que fui desiludida pela segunda vez.
E nada doeu mais do que ter meu coração partido novamente pelo
mesmo homem, que demonstrava me querer, mas que por trás estava se
envolvendo com outra mulher.
Hoje, quando acordei, decidi que viria até Bernardo. Mamãe tem
razão, ele é o pai e precisa saber. Eu jamais deveria ter adiado esse dia, e
agora estou uma penca de nervos, mais frágil do que dias atrás.
E se ele estiver ocupado? E se hoje não for um bom dia para dar
essa notícia?
“O meu irmão já te trocou? Soube que ele tem feito negócios com a
filha dos Rodrigues.” A voz de Beatriz atinge os meus ouvidos como se
fosse um diabinho e eu deixo minhas lágrimas embaçarem meus olhos, em
poucos segundos estou chorando por ter que dar razão a ela.
Antes que me vejam, corro dali aos prantos sem olhar para trás e
sem pretensão de retornar para dizer ao Bernardo sobre a gravidez. Confusa
e magoada, alcanço o elevador e, com os dedos trêmulos, toco no botão do
andar térreo. Assim que as portas se abrem, eu entro no elevador.
— Como pôde me magoar pela segunda vez? E por que, mesmo que
eu saiba que não foi intencional, dói tanto? — Deixo as lágrimas
escorrerem por minhas bochechas.
Uma mentira nunca fica escondida por muito tempo, e algo dentro
de mim me diz que Bernardo e eu estaremos frente a frente em breve. Não
sei a hora, nem o dia, mas logo nos reencontraremos, e dessa vez não será
como aquele dia em que me entrevistou em seu escritório.
Estou há três dias fora do Brasil, só meu melhor amigo para me tirar
de lá no meio da semana para vir até a Inglaterra com ele. O filho da mãe
insistiu bastante para que eu viesse, uma vez que ele fechou sociedade com
outro advogado aqui em Londres. Ele e Declan Jones, um dos advogados
mais conceituados de Londres, estão prestes a abrir um escritório. Já faz
algum tempo que estão trabalhando nisso, mas só agora conseguiram
realmente resolver algumas burocracias para inaugurar o prédio da empresa
deles.
Estou assim desde que entrei no quarto, após o jantar. Meu peito
está apertado, não sei descrever exatamente a sensação, contudo, é como se
um pressentimento ruim me envolvesse.
— Antes fosse isso, é a uma coisa bem pior. — Sua voz está
arrastada e eu me preocupo.
— Estou sentindo uma dor do caralho. Nem lembro a última vez que
tive essa merda, ou se já tive — reclama, cabisbaixo.
Qual é? Hoje em dia não se pode mais ter amigos verdadeiros que se
disponibilizam a acompanhar o outro a um hospital por estar moribundo?
Eu e o Murilo gays? Agora que deu! Nada contra, mas dificilmente o meu
amigo mulherengo iria se interessar pelo que ele tem entre as pernas.
— Ele está vomitando e com dor no estômago, isso não parece ruim
o suficiente? — Soo irritado.
— Moça, faz uma hora que estou esperando e nada da minha filha
ser atendida. Já são quase três e dez da madrugada!
Parece que tudo ao meu redor some quando a voz que eu não ouvia
por mais de um ano soa em meus ouvidos.
Nossa filha.
Sinto ódio. Raiva. Rancor. Culpa, por não ter ido a fundo para saber
mais sobre a sua partida.
Assim como eu também estou, porque não é possível que ela esteja
afirmando que eu sei que sou pai e nunca busquei os meus direitos em
poder conviver com as minhas filhas.
— Aqui não é lugar para isso, vocês estão chamando muita atenção.
Vou pedir que se retirem, por favor — fala um dos seguranças, tentando
tocar no ombro de Ayla, então dou passos na direção dela.
Ela parece estar com raiva de mim? E não, isso não é uma pergunta,
estou afirmando.
— O.k.— Suspira, porque sabe que não vou desistir. — Mãe, fique
com a Lena, por favor — pede. Logo as duas fazem a troca das gêmeas.
Sem olhar para mim, Ayla, com a nossa filha nos braços, segue na
mesma direção que Murilo entrou minutos atrás. Apressado para não as
perder de vista, sigo-as e pego-me imaginando como teria sido se ela não
tivesse ido embora e me contado da gravidez.
— Não são só suas, são minhas também! Farei o que for necessário,
até mesmo o impossível por elas — retruco, exasperado.
Mesmo sendo novidade a ideia de ser pai, sinto nascer em mim uma
vontade louca de carregar a minha filha nos braços e tentar fazê-la parar de
chorar, beijar a sua testinha e dizer que tudo vai ficar bem, mesmo que ela
não vá entender nada.
— Ela está com 37,6º C, ainda não é considerado febre, mas vou
prescrever um medicamento por precaução. Vou recomendar também que
dê a ela picolé com o leite materno para amenizar o incômodo. — A médica
volta para a sua mesa e começa a prescrever no receituário.
— Calma, Ayla, não precisa ficar com medo, não vou roubá-la de
você. Só quero pegar a nossa filha no colo. Você já me escondeu as meninas
por muito tempo, acho que mereço ser recompensado — digo, com as mãos
ainda estendidas.
— Ayla não seria nem louca de ter ido embora do Brasil grávida só
por causa da briga dela com Beatriz, ou seria? — Observo as mulheres
saírem do hospital com as minhas filhas.
Fiquei com Murilo até que ele fosse liberado. Meu amigo foi
devidamente medicado e, duas horas depois, recebeu alta. Ele realmente
teve intoxicação alimentar, mas depois de tomar os medicamentos
receitados, logo estará melhor.
Pedi desculpa por não poder acompanhá-lo até o hotel. Ele teve a
audácia de me xingar, perguntando o que eu ainda estava fazendo ali em
vez de ir atrás da Ayla exigir saber por que ela me escondeu a gravidez. Eu
ajudo esse filho da mãe e ele ainda me dá sermão.
Por mais que eu tenha ficado com meu melhor amigo naquele
hospital, a minha cabeça se encontrava em outro lugar – nas gêmeas e na
mãe delas. Não houve um minuto sequer que eu não tenha pensado nelas ou
nos motivos que levaram Ayla a me esconder as meninas. Pensei em por
que, mesmo depois do nascimento das meninas, ela não me procurou, não
exigiu que eu assumisse as minhas responsabilidades como pai.
Porra, tudo bem que eu não tivesse planos de me tornar pai tão cedo
por causa do golpe que minha ex-noiva tentou aplicar em mim, mas custava
Ayla me informar que a nossa noite em Guarajuba nos rendeu duas
ruivinhas mais lindas do mundo? Será que ela não entendeu que quando eu
disse que era um homem, e não um moleque, estava falando em todos os
sentidos? Como eu poderia rejeitar o meu próprio sangue? Que diabos
passou pela cabeça dela para me tirar o direito de conviver com nossas
garotas? Ela não tinha esse direito e eu estou puto.
Eu não vi a barriga dela crescer com o passar dos meses. Nem para
sentir quando elas mexeram na barriga da mãe pela primeira vez.
Pelo visto, não sou bem-vindo. Que merda fiz? Esse clima ruim
começou com o olhar matador de Fernanda em minha direção e agora o
namorado também.
— Eu não fiz nada de errado, pelo contrário, sempre agi certo com
ela. Nada justifica a Ay…
Mas eu mal o ouço, atraído pelo que vejo perto do aparador ao lado
do sofá. Há dois porta-retratos ali e, num deles, Ayla está sorridente, as
mãos na barriga enorme. Apesar do sorriso, seu olhar é triste. Mesmo
parecendo abatida, estava linda com um barrigão.
— Para acabarmos de uma vez com isso, vou te provar que não é
verdade o que está dizendo. — Ela gira nos calcanhares e sai da sala.
— Esse número não é meu há sete anos, e por incrível que pareça, o
meu atual é parecido com esse, só mudam os dois números finais — revelo,
ao tirar meu celular do bolso. — Esse é o meu número certo. — Mostro
meu contato em minha defesa, e vejo choque em seu rosto ao ver que não
estou mentindo.
— Eu errei, reconheço, mas acha que eu iria mesmo ligar para a sua
mãe? E se ela contasse para a sua irmã? — Soa tristonha, distante. — Sabe
o que a Beatriz me disse quando brigamos? Que só faltava uma gravidez
inesperada para que pudéssemos ser felizes para sempre, sem contar que ela
insinuou que eu só queria ficar com você por causa da sua empresa. — Ela
ri baixinho.
Puta merda.
— A Beatriz…
— Sim, estou, e não tiro uma vírgula do que falei. — Dessa vez, eu
cruzo os braços.
— Não posso largar tudo o que construí aqui para ir atrás de você —
fala, decidida.
— Não pode fazer isso! O que pensa que sou?! Acha que é simples
assim? Entra na minha casa e decide por mim? — esbraveja, revoltada.
— V-você não faria isso… — Sua voz falha e seus olhos se enchem
de lágrimas.
— Bernardo… — me repreende.
Então fico com raiva por ter sido tão duro com ela.
— Não pode jogar a culpa em mim, ambos erramos. Eu errei em não
ter te procurado mais, ter desistido tão rápido, e você, em não insistir em
fazer o mesmo. Só peço que tenha calma e me escute. — Solto os seus
pulsos e toco em seu rosto com as duas mãos, pedindo para que ela se
acalme através da nossa troca de olhar. — Agora somos pais, não somos
mais Ayla e Bernardo, há duas menininhas lindas que precisam dos pais, da
nossa união, do nosso amor. — Limpo a sua bochecha com o dorso da mão,
vendo-a relaxar aos poucos e diminuir o choro.
— Por acaso tem alguém, e é por isso que não quer ir? — sondo-a,
sendo tomado por uma inquietude infernal.
Como eu posso odiar e me sentir atraído por Ayla Dantas na mesma
proporção?
— Está pensando que vai morar na sua antiga casa, Ayla? — Estudo
o seu rosto e os seus movimentos. Ela se retrai a cada passo que dou. —
Quando eu falo em vocês se mudarem para o Brasil, é para morarem
comigo. Na minha casa — acrescento, assustando-a.
— Eu pensei que…
— O.k.
— Eu posso vir à tarde, ou à noite para ver as meninas?
— Verdade — concordo.
Por diversas vezes, eu me peguei criando cenários em minha cabeça
de como seria o dia em que Bernardo descobriria que eu tinha engravidado
dele, mas em nenhuma delas era em uma madrugada, em um hospital com
nossas filhas. Parece que estamos fadados a ter reencontros inesperados e
surpreendentes.
Bernardo sabe que é pai e isso tirou o meu sono. Por mais que eu
estivesse cansada por ter passado a madrugada acordada cuidando de
Heloísa, não consegui pregar os olhos. Minha cabeça não parou de trabalhar
com pensamentos negativos e positivos até que eu visse o sol nascer por
completo desde que chegamos do Hospital. Perambulei pela casa, até
cheguei a fazer o picolé com meu leite materno para dar a Lola mais tarde.
Como posso sentir essas coisas, sendo que até um dia atrás eu estava
praticamente o odiando por acreditar que ele e Carla estavam vivendo um
romance? Talvez seja por ter visto a firmeza no olhar dele ao dizer que não
tinham nada, que eu me confundi. Se tem algo que Bernardo Guerra não
tem problema algum em fazer é falar a verdade, e hoje ele fez isso, sem
quebrar o nosso contato visual.
Ele quer que eu volte para o Brasil com as meninas, mas não sei se é
uma boa ideia. Eu e Beatriz não nos falamos mais e ele mora com a família.
Seria horrível ter que conviver com alguém que não te faz mais bem, sem
contar que eu preciso de privacidade. Morar com Bernardo só por ele ser
pai das meninas não faz sentido algum para mim. Tudo bem que ele tem
direito de querer as bebês por perto, contudo, dividirmos o mesmo teto
como se fôssemos um casal é demais para mim.
Suspirando, deslizo a ponta dos dedos nos fios lisos cor de cobre.
Elas têm tantas coisas em comum com ele, até parece que só emprestei o
meu útero para aquele bendito ruivo.
— O seu pai quer nos levar para morar com ele e eu não sei o que
fazer. Já construí uma vida aqui. — Minha garganta arranha e minha
ruivinha deposita a mãozinha em meu seio e solta um suspiro bastante
relaxado enquanto fecha os olhos. — Ele está bravo por eu ter escondido
vocês dele, agora talvez queira me punir por isso, mesmo que a intenção
seja ter vocês por perto. — Engulo em seco.
Bernardo falou que está solteiro, mas isso não quer dizer que ele não
irá se relacionar com ninguém. Eu posso soar arrogante e egoísta, porém,
não sei como reagirei se souber que ele vai sair com alguém, morando sob o
seu teto. Será inevitável não ter ciúme se ele voltar para casa com a camisa
suja de batom, o pescoço marcado por uma noite quente ou cheiro de
perfume feminino impregnado em seu corpo.
Tenho até amanhã para dar uma resposta a ele, e pelo modo
exigente, sei que não irá aceitar um não como resposta. É aquele famoso
“vai por bem ou por mal”, mas não sei nem se quero seguir por qualquer
um desses dois caminhos.
— Ele disse que não pode ficar longe da empresa por muito tempo,
e quer que as filhas vão no mesmo voo que ele.
— Não tinha como você saber, Ayla, não pode se culpar por algo
que aconteceu quando você estava muito vulnerável, e nem tinha como
imaginar que poderia ser uma coincidência, em um momento tão caótico.
— Ela tenta me consolar ao me abraçar pelos ombros.
— E se você sabe que isso é o melhor, por que está tão receosa? —
Toca em meu rosto e me faz encará-la.
— Se eu voltar para o Brasil, seremos somente eu e as meninas, não
terei você e o Arthur para me apoiarem. Mesmo que o Bernardo tenha me
dito que se mudou, vou ter que conviver com os Guerra, perto da Beatriz,
que foi uma cretina comigo. E se ela maltratar as meninas, não vou suportar
— confesso o meu maior medo.
— Filha, olhe bem para mim e escute a sua mãe. — Ela olha no
fundo dos meus olhos. — Você acha que Bernardo, sendo quem é, irá deixar
a irmã ser má com as filhas dele?
— Se você está indo por esse caminho é porque quer que eu vá, não
é? — Dou um sorriso fraco.
— E por que o medo? De ele não ser um bom pai? Do Bernardo não
suprir as suas expectativas na paternidade?
— Eu queria poder dizer que se você contar a ele o que sente, tudo
vai ficar bem, mas não é assim. O tempo passou. E se ele ainda gosta de
você como mulher, não apenas como mãe das filhas dele, com certeza vocês
terão a oportunidade de se aproximarem novamente. Precisam ter a
confiança do outro de novo, é crucial para que entrem em uma relação, se
assim for o desejo de vocês — aconselha, deixando-me pensativa.
Minha prioridade não é focar em um romance, por ora, não. Heloísa
e Helena são minhas prioridades, é nelas que devo pensar. E se tiver que
voltar para a casa, para o país que nunca esqueci e que amo de coração for a
única alternativa para que as gêmeas tenham um pai presente, assim o farei.
Cresci sem o meu pai, sei a falta que faz não ter uma figura paterna
enquanto crescia. E eu quero que em datas comemorativas as minhas
meninas tenham o pai ao lado.
— É claro que tenho, sou sua mãe. — Pisca para mim, sorridente.
— Você fala como se nunca mais fôssemos nos ver, lógico que vou
ligar. Vou fazer muitas chamadas de vídeo! — resmunga e eu rio. — Eu até
iria com vocês, mas o homem que eu amo está aqui, tenho que estar onde
ele estiver. — Encolhe os ombros. — E você deve fazer o mesmo, Ayla,
estar onde o pai das minhas netas mora, ao lado dele, cuidando das nossas
princesas — aconselha mais uma vez.
— Ah, vai me dizer que não reparou o quanto ele está mais bonitão?
— Me cutuca.
— Mãe! Isso que dá ter a mãe como melhor amiga, olha a conversa
que estamos tendo! — Dou tanta risada, que lágrimas saem dos meus olhos.
— Eu sempre serei a sua melhor amiga para tudo, filha. Seja para
chorar, rir, gritar, passar vergonha. Para tudo. Eu sempre vou estar aqui para
te apoiar e te proteger, não importa se você vai ter trinta ou quarenta anos, a
sua idade apenas será um número para mim. — Ela se emociona e isso me
afeta também.
— Sim?
— Nunca mais deixe ninguém te machucar, não importa quem seja
— diz com firmeza.
— O Bernardo disse que vem mais tarde vê-las, quero estar presente
— comunico-a.
— Dona Ayla, a sua mãe pediu para ver se você já está acordada. O
sr. Bernardo está aqui.
— Está?
Claro que está, ele disse que viria. Normalmente, Bernardo cumpre
com o que promete.
Sem ter controle sobre minhas ações, vou ao espelho e dou uma
breve conferida em mim. Ao ver que estou bem, saio do quarto e rumo para
a sala. Por que estou mesmo me preocupando com o que ele vai pensar da
minha aparência? Estou ficando maluca.
Quem diria…
Não foi como eu imaginei, mas é bem melhor. Ele encara as nossas
filhas com tanta adoração.
— Me diga, Ayla, o que te fez tomar uma decisão? Até poucas horas
atrás era absurda, certo? — A sua desconfiança é válida.
— Jamais fiz isso. Só acho estranho você ceder tão rápido, sem lutar
— acusa, intrigado.
— Apesar de não falar claramente, sei que sente rancor pelo que fiz,
mas…
— É passado — interrompe-me.
— Bernardo, eu disse que vou com você, mas com duas condições.
— Ajeito Helena em meus braços e vejo Heloísa começar a estranhar o pai
ao choramingar na minha direção, assim como a irmã fez há alguns
minutos, pedindo para que eu a pegue ao erguer os bracinhos.
— Tudo bem, já que não iremos morar com a minha família, Ayla,
mas Beatriz não é a mesma pessoa de antes. — O modo como fala da irmã
não soa de um defensor, é algo mais semelhante à pena.
Basta que a irmã mais velha se cale, para Lena fazer o mesmo.
— Acho que já estou pegando jeito. — Ele sorri tão lindamente que
preciso disfarçar o quão afetada fico.
— Claro — concorda.
— Seria bom. — Fecho o congelador e vou até ele, que apoia Lena
em um braço e pega a Lola em outro. — Obrigada — sussurro, olhando em
seus olhos.
— Nunca me agradeça por nada que eu faça por nossas filhas. Tudo
o que farei será de bom grado — diz.
— Será que ela vai gostar? — pergunta mais para si do que para
mim ao se sentar na outra banqueta e colocar Heloísa sentada na ilha, de
frente para ele. — Olha o aviãozinho, princesa do papai. — Ele faz
manobras e a filha acha graça, soltando uma risada gostosa. Bernardo
simplesmente faz o mesmo, por achar lindo.
Ele pode ser pai de primeira viagem, mas está dando de dez a zero
em muitos que já são há anos. Sem conter a risada, fito-o antes de começar
a dar a fruta para Helena. O picolé que ele dá para a filha se torna uma
bagunça, ela baba e suja a roupinha.
— Acho que essa mocinha não quer ser a única a tomar banho aqui.
— Ele age como se nada tivesse acontecido e continua dando a ela o picolé.
Murilo não quis vir comigo porque ainda não se sentia cem por
cento para sair. Ele me aconselhou a ir com calma com Ayla, afinal, agora
somos pais. Não vou dizer que me surpreendi com o conselho dele, ainda
que seja um verdadeiro palhaço quando quer.
Não sei que tipo de conversa mãe e filha tiveram depois que fui
embora mais cedo, contudo, acredito que algo tenha mudado. A mulher está
sendo gentil desde o momento em que cheguei, fui até convidado para ficar
para o jantar. Como eu queria passar mais um pouco de tempo com as
minhas filhas, decidi aceitar o convite para me reunir com eles esta noite.
Nunca imaginei que a ex-amiga da minha irmã seria a mãe dos meus
filhos, mas com certeza ela é a pessoa certa, mesmo que não tenhamos
planejado isso.
— Por ora, não. Esse horário é mais tranquilo para mim, Lola e
Lena estão menos agitadas, é mais fácil lidar com elas. — Sorri para mim.
— Sei disso. — Sorrio ao encarar minha filha, que tenta levar meu
dedo até a sua boca. Eu o puxo devagar para que ela não se assuste. — Oh,
princesinha, além de querer esmagar o dedo do papai, você quer tentar
morder? — Uso uma voz tão calma que eu até estranho.
Conforme falo com Lola, toco sua barriga com a ponta dos dedos e
faço cócegas. Ela balança as perninhas e solta gritinhos, que me faz sorrir
abobalhado. Heloisa é mais serelepe que Helena, isso me lembra da
amizade que a tia delas tinha com Ayla. Mesmo que achasse uma bobagem
elas falarem que uma era a calmaria e a outra o caos, só agora entendo o
significado disso.
— Ótimo.
Volto a minha atenção para Lola, que me olha com aqueles olhos
grandes e curiosos.
Foi naquele dia que descobri também que eles estavam saindo. O
homem ficou um pouco receoso por estar se relacionando com a
funcionária, mas eu o tranquilizei dizendo que não tínhamos nenhuma regra
na empresa que os impedissem de namorar. Pedi que ele tivesse cuidado
para que os outros funcionários não começassem a especular em relação ao
bônus de Juliana e vissem o envolvimento deles como uma vantagem para
isso ter acontecido. Luiz Miguel me garantiu que iria ser muito cuidadoso
para não causar nenhum burburinho.
— A-a Lena dormiu, vou colocá-la no berço. Você pode ficar com a
Heloísa por enquanto? — Não responde a minha pergunta, somente tenta
fugir dela.
— Eu estou louco para contar para a minha mãe que ela é avó, mas
quero fazer uma surpresa, acho que será mais emocionante. — Levanto-me
e tiro Lola do carrinho. Ela bate as perninhas como se comemorasse por
estar ganhando um colo. — A sua avó vai amar a ideia. Há duas semanas,
ela estava me pedindo um neto e agora ela tem duas. Olha a lei da atração,
do nada, descubro que sou pai. — Espalmo a mão nas costas da ruivinha e
ela aperta os dedinhos no tecido da minha camisa no meu ombro.
— Bom, a sua tia mudou muito depois do que aconteceu, e por mais
que tenhamos nos afastado um pouco, a minha irmã jamais teria coragem de
ignorar vocês. Acredito que ela vai adorar saber que é tia. — Meus olhos
ardem e minha garganta fecha ao me lembrar que a vimos muito mal no ano
passado.
— Podemos deixar o jantar para outro dia? Tenho que retornar para
hotel, preciso resolver algo importante ainda hoje, havia me esquecido —
minto, ao me lembrar que estou aqui só pelas minhas filhas. Depois que elas
forem dormir, não há mais nada para ser feito. Eu me sentiria deslocado,
mesmo que todos estejam me tratando tão bem.
— Obrigado — agradeço-a.
Suas pupilas dilatam e um brilho diferente toma conta das suas íris.
— Tudo bem.
— Posso dar um beijo de boa noite na Lola? — indago, uma vez que
ela ainda está alimentando a nossa filha.
— Pode sim — cede, mas antes cobre os seios com a fralda de pano.
— Pode falar.
— Minha mãe gosta muito de você. Se for ligar, não fale sobre as
meninas, quero fazer uma surpresa para ela — peço.
No dia seguinte, Bernardo não apareceu, mas ligou para avisar que
estava resolvendo a parte burocrática no Consulado Brasileiro para
conseguir registrar as meninas. O tempo que pedi a ele para me organizar
para a viagem serviu para que ele pudesse fazer isso. Por sorte, Murilo tinha
alguns contatos no consulado e conseguiu agilizar os trâmites.
Por ora, estamos nos dando muito bem, e espero que continuemos
assim até a nossa ida para o Brasil, que está marcada para daqui a dois dias.
Já estou com as malas prontas e com nossos passaportes em dia para
sairmos da Inglaterra.
Ontem à noite, minha mãe ligou para casa e avisou a Janete e Zeca
que logo voltarei. Eles estão felizes com o meu retorno e ansiosos para
conhecer as gêmeas. A minha mãe deu com a língua nos dentes ao dizer que
é avó de gêmeas. O casal que trabalha há tantos anos para nós ficou
deslumbrado com a novidade.
— Saber que o privei disso por tanto tempo faz meu coração doer —
revelo, suspirando.
— Pois ele…
Ela se cala assim que Bernardo passa pela porta da cozinha, com os
olhos arregalados e com a Helena chorando em seu colo. Não entendo o que
está acontecendo até ver a sua camisa azul suja.
— Claro. Vou levá-la para sala, assim fico de olho em Lola também.
— Mamãe vem até mim e pega a neta dos meus braços, então sai da
cozinha.
Foco, Ayla!
— Obrigado.
— Pode ser.
— Mas saiba que vai ficar um pouco curta — aviso, ouvindo o seu
resmungo.
Rumo até a sala para pedir à mamãe permissão para pegar uma
camisa de Arthur, mas no meio do caminho lembro-me que tenho um
casaco unissex que fica enorme em mim, ele bate em meus joelhos. Aposto
que irá servir no Bernardo, ele é bem folgado e longo.
— O.k., senhor teimoso. Pegue esse casaco, vai servir em você, ele
é enorme.
Meu coração acelera ao vê-lo torcer o nariz. Será que o casaco está
com um cheiro ruim? Eu não lembro se o lavei da última vez que usei.
Mesmo que ele não diga com palavras, acaba de confessar que não
esqueceu o meu cheiro. Ele reconhece o meu perfume depois de tanto
tempo.
— Não sei por que ainda te suporto, você é um saco — digo, e ele
ri.
— Mas diga que é mentira? Você não disse que ela queria ser avó?
— inquire, fazendo-me olhar para ele com a sobrancelha arqueada.
— Não sei por que ainda te conto as minhas coisas. Quando você
cisma com algo é uma merda — reclamo.
— Se antes ela não me queria, agora que não vai querer — diz, com
o olhar distante.
E não é que ele vai mesmo enviar uma mensagem para a minha
irmã?
— Não me chame por esse apelido idiota — aviso.
— Bernardo?
Além de estar ansioso pela chegada dela e das minhas filhas, sinto-
me receoso em ela mudar de ideia em cima da hora. Embora tenha sido
firme em pedir que viesse morar comigo no Brasil, jamais teria coragem de
pedir a guarda de Lola e Lena caso ela não aceitasse. O lugar delas é ao
lado da mãe e do meu também, mas foi Ayla que esteve esse tempo todo
cuidando delas. Seria injusto se eu tomasse uma decisão dessas.
Sou o primeiro a sair do jato, com Murilo logo atrás. Ainda no topo
da escada, vejo Ayla e a família a alguns metros de distância do jato, perto
do carro em que vieram. Sem conter o sorriso ao ver minhas filhas no colo
da mãe e da avó, desço os degraus com os olhos vidrados nelas.
— Eu ainda estou sem acreditar que você é pai. Mas vou te dizer,
meu amigo, você está se saindo bem, viu? Até comprou um bebê conforto
para as gêmeas. Já está pensando como um pai — comenta Murilo, que
ficou calado tempo demais.
— Elas são muito fofas. Vou pegar muitas gatinhas com a ajuda
delas. As mulheres adoram um pai solo, facilmente irão pensar que são
minhas quando eu for à praia. E se você não me deixar levar as minhas
sobrinhas para sair, vai ver o que eu te faço — diz ele, se pondo ao meu
lado enquanto vamos até Ayla.
— Fale isso para a mãe delas, ela vai adorar saber do seu plano. —
Rio baixinho.
— Esse meu plano não inclui uma mãe brava, ainda mais a Ayla.
— Eu não sei se te disse, mas adoro uma mãe solo também, e já que
você e a...
— Não faz mal eu me apresentar de novo. — Pior que ele nem está
mentindo.
— Se você diz — Ayla concorda, aceitando o cumprimento de mão
dele.
— No porta-malas.
— Eu vou — prometo.
— Claro que não. Daqui a um mês vou visitar vocês — fala a mãe,
afastando-se da filha e limpando o rosto molhado.
— Eu já disse que não precisa parar a sua vida por minha causa,
mamãe — diz Ayla, tocando no ombro dela.
Com minhas filhas nos braços, vejo Ayla segurar o choro quando o
padrasto e a mãe saem do jato. Sensibilizado com a cena, vou até ela, que
no calor do momento me abraça. Ela só se afasta quando um dos pilotos
surge para fechar a porta e informar que já estão prontos para levantar voo.
— O.k., mas vamos logo. Parece que Lola está seguindo o exemplo
da irmã.
— Precisamos achar uma babá para ajudar com tudo isso — sugiro,
levando Lena para o banheiro, com Ayla me lançando um olhar enquanto
carrega Lola. — Amanhã, eu vou voltar para a empresa e você vai acabar
sobrecarregada. — Fico preocupado.
— Coitada da dona Rúbia, vai saber que é avó no susto. — Pela sua
expressão, ela pensa em algo que a deixa com um sorriso tristonho.
Nós não falamos sobre minha irmã, ainda não consegui dizer a ela o
que aconteceu porque Ayla não me dá margem para falar de Beatriz. Esta
noite, a minha mãe ficará surpresa ao me ver com a Ayla e com minhas
duas filhas lindas. E Ayla será surpreendida também ao descobrir que a
minha irmã mudou por completo.
Ayla é mais rápida que eu, logo Heloísa está despida. Nós trocamos
as crianças e ela acaba tirando o que sobra das roupas de Helena.
— Posso dar conta daqui — garanto, mesmo não tão seguro das
minhas palavras, mas preciso ser útil e dividir as tarefas com ela.
— Certo — concorda, indo até a mala no armário e tirando peças de
roupas, em seguida, entrando no banheiro.
— Lamento não ter estado por perto. — Meu peito fica apertado.
Eu fiquei puto com Ayla por não ter me contado das nossas filhas,
mas sabia que ela tinha enfrentado tudo sozinha.
— Eu sei que podia ter feito mais — sussurra, me olhando nos olhos
com cautela.
Quando ouço a porta do banheiro ser aberta, para que Ayla não se
sinta intimidada com a minha presença, não olho em sua direção. Mas esse
autocontrole não dura por muito tempo, basta que eu sinta o seu perfume
para que erga o rosto e a encare.
Meu corpo está inquieto para mostrar à minha mãe as netinhas que
ela tanto sonhou. Se bem que o seu pedido foi um neto, agora tem duas.
Parece até que a mulher estava adivinhando, com toda aquela insistência em
ter netos.
— Quero fazer uma surpresa para ela — digo para senhora de idade,
que balança a cabeça, estática, como se tivesse visto um fantasma.
Aposto que não será só ela que vai reagir assim.
Maria se afasta para entrarmos, então sigo até a sala, com Ayla ao
meu lado. Quem a olha, nem mesmo suspeita do nervosismo. A mulher
caminha em passos firmes com Helena no colo e a cabeça erguida, mas eu a
conheço e sei que está insegura de ficar frente a frente com Beatriz.
— É bem real, tia Elena — respondo por ele, com a voz embargada
e envergonhada.
Então me lembro que Bernardo me disse que ela não era a mesma de
antes.
Sigo Beatriz pela casa, que não mudou muito desde a última vez que
estive aqui. Abraço meu corpo enquanto a sigo até uma sala adjacente. Bea
se senta, suspirando e me observando cuidadosamente, enquanto caminho
até a poltrona longe dela e me acomodo.
— Ele não me contou nada. Eu não quis saber sobre a sua vida —
esclareço, com sinceridade, quando me olha parecendo surpresa.
— E-e-eu sei que você ainda deve ter rancor de mim, mas me sinto
tão sufocada com tudo o que te causei. — Ela ergue o rosto e eu vejo
lágrimas descendo por suas bochechas. — Um pedido de desculpa é o
mínimo que devemos uma à outra depois de tudo.
Contenho a réplica. Beatriz tinha perdido o direito a qualquer
gentileza, a qualquer amizade minha, mesmo que ver a garota que foi como
uma irmã desse jeito me destrua. Não posso permitir que minhas filhas
sofram, por isso, tenho que agir com a razão em vez do coração.
Não estou sendo dura com ela, só preciso ser mais cuidadosa com as
minhas ações.
— Eu sinto muito, tia, não era a minha intenção manter você longe
das suas netas — digo, sabendo que a atenção dos Guerra está em mim.
— Por mais que eu queira te dar um puxão de orelha, sei que você
deve ter um bom motivo para ter mantido minhas netas longe da família
delas. — Suas íris brilham, mas o sorriso desaparece.
— Quando eu não consegui entrar em contato com Bernardo, não
aceitei a ideia de falar com você antes dele. Não queria que o seu filho
soubesse sobre as meninas através de outras pessoas. A mágoa só aumentou
com o tempo, e eu não podia simplesmente renunciar as minhas filhas.
Confesso que me tornei uma pessoa egoísta a tudo que envolve as meninas.
— Não, Bernardo, ela tem razão, mas não tenho como voltar atrás.
É tarde demais — admito, erguendo o rosto para encará-lo.
— Vá para sua Mamama. — Rúbia nos faz rir ao falar como a neta.
— Vem, filha.
— Júlia, vou ser sincera com você. Se não fossem duas meninas,
não contrataria uma babá, iria me virar sozinha. Mas como são, nem sempre
vou dar conta — digo, olhando em seus olhos. — Se a contratamos não foi
para te explorar, foi para me dar uma força se necessário, e quando Rúbia e
Beatriz estão aqui não é. Você me ajuda no resto do dia — esclareço e ela
chega a ficar emocionada.
— Pois vamos mudar esse seu pensamento já! Aqui você não é
nossa empregada, é a nossa auxiliar! — Quando me levanto-me do sofá,
piso em um urso de pelúcia que está no chão. Rúbia e Beatriz têm que parar
de trazer presentes, ou logo Bernardo e eu não vamos mais caber nessa
casa.
— Quero só ver quando elas fizerem aniversário, aí sim não vai ter
onde colocar mesmo.
Júlia pega a mala de mão que eu fiz mais cedo e coloca na entrada
da cobertura. Pego a Heloísa na cadeirinha e coloco a bolsa das minhas
filhas no ombro, enquanto a babá pega Helena.
— Não sei o que está acontecendo, mas meu chefe me passou o seu
número e pediu que eu entrasse em contato. E ainda me deu o dia de folga.
— Está bem. Hoje, descobri que Londres não tem acesso à internet
— fala, parecendo irritada.
— Nem faz ideia, Zeca — admito. — Parece que eu errei com uma
penca de gente.
Zeca sussurra que vai dar tudo certo e coloca a mala no carro. Nós
ajustamos as cadeirinhas e Júlia se senta perto delas, no banco de trás do
carro. Eu me sento ao lado do motorista.
Com as mãos tremendo de emoção, abro a porta e vou até Júlia para
ajudá-la com Lola e Lena. Assim que piso na sala, meu coração saltita e
meus olhos ardem ao ter vastas lembranças de viver ali com mamãe.
Coloco Lena no sofá com a bolsa e sigo até a escada sem olhar para
trás.
Sorridente, desço a escada que não faz nem tantos minutos que subi
e passo por Júlia, que canta para as minhas filhas que já estão no carpete da
sala. Eu me aproximo da porta e a abro, me deparando com a minha amiga
de costas, batendo os pés no chão.
— Sua peste! Eu ainda estou com raiva, mas é muito bom te ver —
diz, vindo até mim e me abraçando com força.
Sei que ela quer nos dar privacidade, nem me dei conta que estava
prestes a falar do meu passado na frente dela.
— Dona Ayla! Olhe só para você, está ainda mais bonita — elogia,
sem conseguir tirar os olhos das minhas filhas.
O casal pega as meninas e por pouco não choram. Eles brincam com
elas, que rapidamente ficam entretidas. Enquanto Janete, Zeca e Júlia
brincam com as meninas, chamo Juliana para cozinha e ofereço à minha
amiga uma taça de vinho, enquanto procuro um suco na geladeira para
mim. Juliana sorri ao me ver pegando a bebida.
— Pois é, mas agora tenho que ser cuidadosa, porque tudo que entra
nesse corpo, vai parar aqui. — Indico meus peitos. Ela inclina a cabeça para
trás e gargalha. — Estou tentando ser melhor e mais responsável pelas
meninas — murmuro, ao colocar um pouco de suco no copo.
— Vou adorar, sabe que sou louca por acarajé. — Sinto minha boca
encher de água ao pensar em comer uma das minhas comidas preferidas.
Meus dias na empresa estão sufocantes, para dizer o mínimo.
Depois de uma semana fora, havia uma pilha de contratos enorme na mesa
que requeriam minha atenção. E eu estou cuidando dela enquanto resolvo
os demais problemas da empresa, reuniões que me obrigam a me deslocar,
ou ficar horas enfurnado no escritório, ouvindo ideias ruins de clientes
importantes.
Meu escritório agora tem fotos minhas com as meninas, das duas
sentadas no carpete, e a minha favorita é a foto em que estou com Heloísa
no colo e Ayla sentada ao meu lado com Helena. Júlia tinha tirado a foto
três dias atrás e eu gostei tanto que a imprimi para colocar na mesa.
— Não sei, ele não disse o nome, só disse que vocês são velhos
amigos. Posso deixar que ele entre?
Tive muitos amigos ao longo da vida, muitos com quem nem tenho
contato, com o passar dos anos só restou o Murilo. Talvez seja algum que
não consegui manter contato.
— Não, Rosinha. Uma pessoa que nem diz quem é não vai subir.
Vou até lá ver quem é — aviso, ao erguer o braço e olhar para o meu
relógio. — Vou sair para almoçar logo em seguida.
— Tudo bem.
— Ele está insistindo que é seu amigo e que quer entrar para te ver,
sr. Guerra — o segurança diz ao se aproximar.
— Acho que tudo que nós tínhamos para falar foi dito no dia que
enchi sua cara de porrada. — Respiro fundo, medindo-o com um olhar
desinteressado.
Podemos ter ficado todos esses anos distantes, mas o conheço muito
bem para saber que ele quer algo de mim.
Eu sabia!
— Na minha empresa você não entra, fale de uma vez o que deseja.
— Meu olhar duro quase faz o homem se encolher.
Estou prestes a perguntar se ele acha que sou algum idiota, mas olho
para o outro lado da rua e vejo Ayla se aproximando com Lola. Júlia a
acompanha, a bolsa das meninas em seu ombro, empurrando o outro
carrinho com Lena dormindo.
Volto meu rosto para o de PH e noto que ele está encarando minhas
filhas com uma surpresa evidente no rosto. O instinto protetor me contorce
quando reparo que o homem sujo observa as minhas filhas um tanto
aturdido.
— Caralho, duas filhas — diz ele, olhando para Lola e Lena dentro
dos carrinhos.
Volto meus olhos para a mulher que está imóvel a quatro passos de
distância. Ela apenas assente como se não entendesse muito bem o que
Pedro faz comigo. Mas mesmo cheia de confusão, ela se aproxima com as
crianças.
— Você chegou cedo. — Olho para ela, que encara Pedro Henrique
com uma certa desconfiança.
— Não vou atrapalhar sua reunião de família. Foi bom ver vocês.
O homem sai andando para longe da minha família e eu coloco o
blazer em cima do meu ombro. Vou até o carrinho em que Lola está,
tentando morder o próprio pé. Logo a minha expressão endurecida
desaparece quando vejo a cena fofa.
— Não quero que aquele idiota saiba sobre a nossa vida. Não é da
conta dele — justifico, sem delongas.
Quando decidi sair da casa da minha mãe por não estar tendo uma
boa convivência com Beatriz, só me importava em ter paz. Agora, tudo
parece ter sido obra do destino para quando as meninas viessem, eu já
tivesse um lar para elas. Nesse lugar, me sinto confortável e seguro em
deixar minhas filhas e minha… bom, Ayla, o dia todo enquanto trabalho.
— Ainda não. Eu achei que você ia querer brincar com elas antes de
dormirem.
— Você só diz isso porque sabe que não vão encontrar— Ayla
declara, me fazendo rir.
— Voltei.
Tenho reparado demais nela, noto que a cada dia fica mais gostosa.
E justamente hoje, a bendita põe uma camisola tentadora. Isso é demais
para mim.
— O.k.
Ayla se senta atrás de mim e suas mãos quentes vão até os músculos
das minhas costas. Ela começa a massagear, e eu seguro o meu gemido de
prazer ao sentir o seu toque me pressionando.
— Você está muito tenso. — Seus dedos fazem minha pele formigar.
— É preciso agradecer…
Acabo com a distância entre nós ao unir minha boca com a dela,
com a mão em sua nuca.
Movo a mão pela coxa dela, quase tocando sua boceta, quando ela
me impede. A mulher que está com o corpo tão colado ao meu se afasta,
baixando a camisola e fazendo meu coração ficar inquieto.
— Sei que são suas , mas não quero parecer que estou sendo fácil.
— Afasta as mãos de mim, segue para fora da sala e me deixa
completamente desnorteado, com o corpo em meio a uma combustão de
desejo. Meu pau se encontra dolorosamente duro na calça, enquanto meu
ego está no chão.
— Então faz…
Deslizo minhas mãos pelas pernas dela até envolver a calcinha que
usa, então afasto a peça de renda para o lado e meus dedos deslizam pelos
lábios vaginais encharcados. Um sorriso se forma no meu rosto ao perceber
que ela está tão excitada quanto eu. Meus dedos percorrem sua carne
lambuzada e eu me concentro em fazer movimentos circulares em seu
clitóris. Ayla exala pesadamente, se movendo no meu colo, ansiosa por
mais.
Fodo-a com meus dedos, e ela quica neles enquanto nos encaramos.
— Isso aqui ainda não é o meu pau te comendo, por que está tão
desesperada? — Sinto água na boca ao mirar em seus mamilos, depois na
sua boceta aberta e pronta para me receber.
— Céus… Ahhh.
— Vamos Ayla, mele ainda mais o meu pau com o seu gozo —
peço, com meu olhar no dela, estimulando o seu feixe de nervos enquanto a
masturbo e como sua boceta.
Três dias. Repito mentalmente. Três dias em que eu continuo acesa
cada vez que vejo Bernardo pela casa. O cretino passou a desfilar sem
camisa, expondo aqueles gominhos que me atraem. Com certeza, o sr.
Guerra está querendo guerra, já que tenho evitado falar com ele sobre nossa
noite juntos, nem expliquei a razão de ter fugido furtivamente dos seus
braços. A verdade é que percebi que os sentimentos que nutro por Bernardo
estão mais intensos do que nunca, porém, não tenho mais dezoito anos, ou
estou sozinha para trilhar meu próprio caminho. Há duas meninas que
preciso guiar pela vida.
Minha relação com Bernardo está cada vez mais complicada. Meu
coração deseja desesperadamente tentar, mas sempre que decido sucumbir a
esse sentimento, meu cérebro grita que se não der certo, nossa convivência
vai se tornar mais difícil. E Lola e Lena já estão acostumadas a conviver
com o pai, então não quero isso.
Ao rumar até o armário, tiro minha mala ainda cheia, pego alguns
cabides e jogo tudo em cima da cama. Penduro as roupas nos cabides e
quando vou guardá-las, encontro uma barata dentro do guarda-roupa. Fecho
a porta com força e jogo as peças de qualquer jeito em cima da mala.
Senhor. Sei que é só uma barata, mas ela é enorme e pode pular em
mim. Não é medo, só acho nojento demais. O grito que fica preso na minha
garganta quase escapa quando abro a porta do armário e vejo-a ainda lá, no
mesmo lugar.
— Você quer fazer a mãe das suas filhas ter um infarto? — Giro nos
calcanhares, com a mão no peito.
— Vai voltar para a Inglaterra? Para onde pensa que está indo com
as minhas filhas?
Ele entende tudo errado, está tão atordoado que nem consegue
raciocinar direito.
— Bernardo, você está…
— Eu sinto muito, Bernardo, por ter ido embora antes, sinto não ter
tentado te contatar um pouco mais, lamento ter ficado tão presa no que
queria que não pensei no que você sentiria — sussurro, com a voz
embargada.
— Sei que não posso voltar no tempo e mudar a merda que fiz, nada
vai poder trazer de volta o tempo que você perdeu da vida delas, mas eu
prometo que vou fazer o que puder para que você tenha todas as
experiências daqui em diante. E eu cansei de pedir perdão. A partir de hoje,
quero acabar com esse sentimento de culpa e deixar claro para você que
nunca mais irei a lugar algum — discurso. Ao sentir as mãos dele no meu
quadril, meu coração acelera e engulo em seco. — Eu não vou a lugar
algum, meu lugar é onde vocês estiverem . Só fugi naquela noite e tenho
fugido desde então porque tenho medo de estragar tudo para as nossas
filhas e fiquei com os sentimentos confusos em relação a nós — confesso,
encorajada.
Bernardo se afasta de mim apenas para segurar meu rosto com uma
das mãos e me olhar nos olhos.
— Desde a primeira vez que tive você nos meus braços, nunca foi
com a intenção de brincar com os seus sentimentos. Não sou um moleque,
Ayla. Meu coração sempre foi seu para fazer o que quiser. Você nunca foi
uma transa para me aliviar. Porra, desde que nós transamos pela primeira
vez eu não me satisfaço com ninguém. Nenhuma outra mulher me atraiu.
Você acorrentou o meu coração ao seu naquela noite, e não há chave para
quebrar essa ligação.
— Quero dizer que pretendo construir uma família com você. Não
importa se temos menos de um mês que nos reencontramos, nós nos
conhecemos uma vida inteira.— Rimos em concordância. — Eu preciso de
você na minha vida, não apenas da Lola e Lena, de você também. Se você
quiser ir com calma, nós iremos, se quiser arrancar minhas roupas e foder
comigo neste instante, eu farei isso. Mesmo que Murilo esteja me esperando
na sala. Posso fazer tudo como você quiser, só preciso que me diga o que
quer.
— O que você veio fazer em casa tão cedo? — indago, quando nos
afastamos.
— Confesso que foi também uma desculpa para vir ver as meninas
— diz, sorridente.
— Bernardo! — repreendo-o.
E para a minha surpresa, Beatriz está no sofá. Ela está com o cabelo
solto, o vermelho dos fios brilhando. A tia das minhas filhas sorri enquanto
observa as meninas com o Murilo. Beatriz parece melhor do que antes, e
vê-la sorrindo traz um alívio ao meu peito, mesmo que eu não saiba o
motivo.
— A eles você dá boa tarde toda carinhosa, mas para mim, não? —
reclama Murilo, bufando.
— Adoraria — respondo.
— Olha, tomara que eu fique com vocês por muitos anos, são os
melhores patrões — diz, animada.
— Pode deixar que eu atendo, Júlia — digo, indo até porta a passos
largos, porque a pessoa do outro lado não para de tocar. — Já vai! — aviso,
abrindo a bendita porta e me deparando com Beatriz, segurando algumas
sacolas de compras.
— O.k., Ju.
— Claro.
— Eu sei que Bernardo não viu a sua barriga crescer, que não te
acompanhou no pré-natal e que jamais esteve ao seu lado nas madrugadas
em hospitais. E sei que isso foi culpa minha — ela declara, em um soluço.
— Se eu não tivesse sido infantil e estúpida, nada disso teria acontecido,
você continuaria sendo a minha melhor amiga.
— Você vai ser feliz novamente, Beatriz, tudo tem o seu tempo —
sussurro, tristonha com a sua dor do luto.
— Logo depois da morte de Mateus, seus pais me culparam pela
morte dele, me chamaram de assassina, fizeram com que todas as pessoas
que pensei que fossem meus amigos se distanciassem de mim — desabafa,
aos prantos. — Eles tentaram transformar a minha vida em um inferno, só
pararam quando o Murilo decidiu sem envolver, mesmo sem o nosso
consentimento. Acredita que bastou o idiota do Murilo dizer que iria
processá-los por calúnia e difamação que eles esqueceram da minha
existência? — Ela ri com amargura.
— Bea, não posso dizer que sei como é essa dor que está sentindo,
mas posso imaginar. — Afasto-me dela e seguro o seu rosto. — O Mateus
se foi, infelizmente, e não voltará mais. A pior coisa que você faz é ficar se
martirizando, não foi só você que errou naquele dia. O.k. que o incentivou a
tirar racha, mas o seu namorado não era nenhuma criança, sabia o que
estava fazendo.
— Vão começar de novo? Vou tomar a minha filha de vocês, ela não
é um brinquedo para ficar sendo passada de mão em mão — repreende
Bernardo.
— Você que não me deixa em paz para curtir a minha sobrinha fofa.
Desvio meus olhos de Rúbia para a piscina. Minha tia tem razão, às
vezes perdemos tempo demais pensando que as pessoas vão sempre estar
por perto, mas coisas ruins podem acontecer. E eu não quero me arrepender
de nada no futuro, muito menos de não ter tentado.
— Pode ir se divertir com eles, a churrasqueira está acesa, o restante
é detalhe — me incentiva, amorosa.
Mesmo surpreso com a atitude de Ayla em me beijar na frente de
todos, não deixo de corresponder. Assim que os seus lábios carnudos
cobrem os meus, sugo-os lentamente e com paixão ao introduzir minha
língua em sua boca, aprofundando o beijo com avidez. Meu corpo reage
involuntariamente, me deixando duro enquanto minhas mãos percorrem as
costas nuas dela.
— Já chega — peço.
Respirando fundo, ergo o rosto e olho para Ayla, que tem os olhos
brilhando na direção dos dois adultos, que parecem crianças quando estão
discutindo. Pelo visto, ela tem a mesma sensação que eu. Espero que o meu
melhor amigo cuide bem da minha irmã, porque se em algum momento ele
a machucar, acabo com a vida dele.
— Quando você disser que me quer, paro de ser safado e vou ser
todinho seu. Não vou ter olhos para nenhuma mulher — promete, piscando
para ela.
— O.k. Obrigado.
Saio da piscina e Ayla se levanta da beira da água. Juntos, seguimos
pela casa, com os nossos dedos entrelaçados até chegar ao andar de cima.
Encaro sua bunda exposta no fio-dental e fico tentado com o que vejo.
Ela ofega com o meu pedido, mas me obedece. Vou ao seu encontro,
com a boca cheia da água. Ajoelho-me diante dela, que está com a boceta
molhada à mostra, e uso minhas mãos para abrir mais as suas pernas, o
suficiente para me encaixar ali e deslizar por suas dobras.
Afasto minha boca dela apenas para morder o interior de sua coxa e
ouço-a reprimir o grito ao sentir a mordida.
— Mas vai ter que aguentar, você só vai gozar com meu pau dentro
de você. — Paro de tocá-la, ouvindo a sua lamentação através de um
choramingo.
Assim que ela fica na posição que pedi, me ajeito atrás dela e seguro
sua perna direita, deixando-a mais aberta para mim. Aproveito para passar
meus dedos em sua boceta para ver quão molhada está, e acabo recebendo
um gemido em resposta.
— Mas vai gozar no meu pau. — Agarro a sua bunda e a abro com
uma mão enquanto seguro o meu pau com a outra, deslizando para dentro
dela, que solta um gemido baixo e excitante.
Ela nos interrompe antes que meu pau comece a ficar duro outra
vez.
Seguro o sabonete que está nas mãos de Ayla e o movo nas minhas
mãos antes de espalhar aquela camada de sabão pelas costas dela. Ela tem
os olhos fechados, aproveitando o meu toque. Sinto meu pau endurecer
outra vez e empurro o corpo dela em direção à parede, com a água caindo
sobre nós, limpando o sabão que eu tinha espalhado por suas costas.
— Eu acho que ela disse vovó hoje — diz minha mãe, observando
Lola.
— Vocês que lutem com o modo tia de Beatriz ativo. O tanto que as
minhas sobrinhas vão crescer mimadas por causa da tia Barbie delas —
Murilo diz e minha irmã sorri e joga uma almofada nele.
— Você só está com inveja porque elas sorriram para mim hoje e
deixaram você com suas caretas chupando dedo — minha irmã rebate no
meio de uma risada.
Meu coração fica calmo ao ver minha irmã sorrindo. Por muito
tempo, pensei que não a veria sorrir dessa forma outra vez. O alívio é tão
grande que sequer me importo que tenha sido Murilo a fazê-la rir.
Meu amigo a pega pela cintura, carregando minha irmã pela sala,
então saio da frente dos dois para evitar que esbarrem em mim. Bea grita
pela nossa mãe, que está tão petrificada vendo a cena divertida que não se
move para ajudá-la.
Lanço um olhar para Ayla e ela sorri ao ver o alívio no meu rosto.
Mamãe parece estar secando lágrimas dos olhos ao ver aquela atitude
simples em Beatriz. Minha irmã parece finalmente estar se curando.
Minha vida está em paz, como há muito tempo eu não sentia estar.
5 MESES DEPOIS
Júlia, sem a minha ajuda, termina o dia esgotada, porque correr atrás
de Helena e lidar com o choro de Heloísa o dia inteiro tem sido difícil.
— Sim, eu não perderia isso por nada nesse mundo — ela responde,
me apertando junto a si. — Demorei para vir te ver porque estava com as
minhas meninas.
— Seja bem-vinda de volta, tia. Vou procurar por minha mãe, com
licença. — A ruiva fica cabisbaixa, e quando está prestes a sair do quarto,
mamãe a segura.
— Antes, era por minha causa, agora por Lola e Lena? — falo,
fingindo indignação e elas gargalham, ao voltar para a cama. — Injusto,
mas aceito! — Pisco para elas, que começam um falatório e eu volto a
arrumar as lembrancinhas.
Uma pena que Juliana não pôde vir, se não estaria nos ajudando e
ainda marcaria a sua presença. Ela e o Luiz Miguel foram fazer uma viagem
até o sul da Bahia, para conhecer os sogros dela e irão passar quinze dias
por lá.
Eu tinha deixado Lena e Lola no quarto com Júlia, que chegou mais
cedo para nos ajudar com as meninas.
Meu celular toca em meio ao caos e eu o atendo assim que vejo que
é Bernardo. Neste momento, só preciso de boas notícias para eliminar essa
tensão.
— Acho que vou surtar. Nunca pensei que preparar uma festa para
duas crianças fosse tão cansativo. — Lágrimas se formam nos meus olhos.
Vai dar tudo certo. Já deu. Mentalizo para não enlouquecer de uma
vez ao observar o salão ser decorado. Pelo menos essa parte parece estar
indo bem. Saio do salão carregando o copo e o deixo em uma mesa no
andar de cima. Abro a porta do quarto em que as meninas brincam com
Júlia para verificar se está tudo bem e a fecho antes que me vejam. Assim
que entro em outro quarto onde estão sendo feitas as lembrancinhas, noto
que parece que um furacão passou por ali. Mamãe e tia Rúbia estão rindo
enquanto Bea tem o cabelo cheio de confete.
— Aposto que isso não exigiu muito esforço — diz irritada, tirando
a fantasia da sacola enquanto faço o mesmo.
— Claro que sim, foi difícil fazer isso estando apaixonado por outra.
— Murilo coloca a mão no peito, dramatizando toda a cena.
— Sim, é verdade.
— Tão gostosa que estou tentado a rasgar esse vestido do seu corpo
— diz, exagerado.
— Mais tarde você pode fazer o que quiser com ele — atiço-o, e um
sorriso sacana preenche os seus lábios.
— E eu vou. — Ri baixinho.
— Quem ia imaginar que este lugar que serviu para suas orgias, um
dia ia receber festa de aniversário das suas filhas.
— Orgias? — resmunga.
— É um dos termos que usávamos para descrever, já que duas
garotas menores de idade não podiam participar — relembro, nostálgica.
Céus, como isso vai caber na cobertura? Vou ter que deixar muitas
coisas na casa da avó delas. Minhas filhas já têm de tudo, ainda assim, estão
mimando-as esta noite.
— Compra uma casa, meu amigo. Você é mais do que rico, deixe de
ser mão de vaca e compre uma mansão para a sua mulher e filhas —
intromete-se Murilo.
E por incrível que pareça, Beatriz nem abre a boca para atacá-lo.
— Olhe para a sua frente, bem ali. — Ele se põe atrás de mim e
aponta para a frente.
Abro seu zíper e atiro os meus sapatos pelo convés. Já Bernardo, usa
os próprios pés para se livrar dos dele, em seguida, tiro sua calça com a
cueca e encaro o pau duro dele salivando.
— Olha que noite perfeita. — Ele não olha ao nosso redor, mas para
meu corpo. Sob o meu olhar, molha dos dedos com a saliva e enfia no meio
das minhas pernas, deslizando-os por meu clitóris. — Vou comer a minha
mulher ao ar livre — diz, e eu me sento em seu colo.
— E eu vou dar para você bem gostoso — falo, perto da sua boca e
segurando o seu membro na base, fazendo-o gemer delicioso.
— Ninguém pode nos ouvir aqui, então quero que grite o meu nome
bem alto — pede, erguendo meu quadril e me ajudando a colocá-lo dentro
de mim.
— Nós dois sabemos que você não é do tipo que sente prazer em
fazer amor com calma. — Ele me deixa acesa quando segura minha perna,
socando o pau para dentro do meu corpo com força.
Sem estar pronta para gozar, empurro-o pelo ombro e apenas com
uma troca de olhares, ele entende que quero ficar por cima. Ergo meu
corpo, me sentando sobre o seu. Bernardo envolve meu corpo e eu apoio
meus joelhos no chão, sufocando meus gemidos quando acelero as nossas
investidas, percebendo como Bernardo força o corpo contra o meu, se
movendo no mesmo tempo que eu.
Meu corpo fica preso na sensação de ter a pele dele contra a minha.
A sensação de estarmos juntos depois de tantos desencontros e reencontros.
Eu não consigo pensar em outra coisa no instante. Apenas sinto o corpo
dele contra o meu, mesmo a brisa do Atlântico ao nosso redor não é
suficiente para impedir que nossos corpos suem e nosso suor se misturem.
Levo minha boca a dele, beijando seus lábios com uma fome voraz,
movendo meu corpo sobre o dele em investidas rápidas e firmes, sentindo
os dedos dele puxando meu cabelo e sua outra mão agarrando minha bunda.
No mesmo instante que gozamos, Bernardo solta um palavrão.
Deixo as meninas com Júlia logo cedo quando Bernardo e eu
seguimos para a empresa. Voltei a trabalhar como tinha dito a Bernardo que
faria, mas somente três meses depois do aniversário delas. Lena e Lola
estavam se acostumando com a nova rotina longe de nós, mas eu tinha
demorado um pouco para me acostumar com a ausência delas durante o dia.
Vou até a sala de Luiz para ver se tem algum projeto urgente para
trabalhar, e quando bato à porta, até mesmo o chefe do departamento parece
ansioso. Ele trava o celular de maneira apressada quando me vê.
— Vim ver se tem algum projeto urgente que você precisa de mim.
— Analiso o meu chefe para ver se ele também segue estranho como os
outros, mas não encontro nada de anormal nele.
— Você sabe o que aconteceu com Juliana? Ela me disse que fez
merda e precisa consertar — inquiro, desconfiada.
Vou até a minha sala e ligo o computador, dando de cara com a foto
de Bernardo e as meninas no papel de parede. A foto foi tirada no
aniversário das meninas. Ele segura as duas no colo enquanto sorri para a
câmera e Lola tenta agarrar o nariz dele. A menina simplesmente criou
adoração pelo nariz do pai.
Passa das três quando envio tudo para o e-mail de Luiz e me recosto
na cadeira, sentindo minhas costas doerem por ter ficado o dia inteiro na
mesma posição. Fecho os olhos, descansando a visão da tela, e ouço um
burburinho no corredor. Como minha sala não tem janelas de vidro, acabo
indo até a porta e a abro.
“Contenha sua emoção, não quero que a mãe das minhas filhas
tenha um treco.”
É real, nossa vida juntos, nossa relação com nossas filhas, agora a
ideia do nosso casamento.
Nos últimos anos, a minha amiga tem se dado bem. Ano passado,
ela e Luiz Miguel finalmente se casaram e em breve o primeiro filho deles
vai nascer. O meu afilhado, João Pedro.
— Ei, dona Juliana, dessa vez, eu que vou ser a madrinha, o.k.? —
brinca Bea, fazendo a nossa amiga gargalhar e balançar a cabeça.
— Digo pelo Murilo, ele adora uma fofoca, se vacilar, toma o posto
da Rosin…
— O.k. Então vou deixar as garotas a sós. Ah, a sua mãe nos
convidou para jantar na casa dela esta noite e pediu que eu te avisasse —
diz ao depositar um beijo na cabeça de Beatriz e na testa de Daniel. — Até
breve — fala para mim, sumindo do meu campo de visão.
Pelo visto, até o Murilo foi à casa da sogra. Se ele já voltou, é sinal
de que Bernardo deve estar a caminho com nossas filhas, umas mocinhas de
cinco anos que deixam o pai de cabelo branco.
Vai servir!
— Oi, filho, sei que você ainda deve ser um grãozinho de feijão,
mas saiba que papai já te ama. — Ele me faz rir e chorar ao mesmo tempo.
— Era para você ter vindo antes, mas a sua mãe foi malvada comigo e com
as suas irmãs. Mas está tudo bem, o importante é que em breve você estará
aqui.
— É claro. — Sorrio.