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Olá leitoras!
Espero que a história do Christian e da Haven ganhe o coração de vocês, assim como fiquei
feliz em dá vida a história desses dois. Este é o terceiro livro da quadrilogia irresistível e pode ser
lido separadamente, mas pode conter spoilers dos anteriores: A Noiva Substituta do CEO e O Desejo
Entre Nós. Cada livro um casal com histórias independentes.
História pode conter gatilhos emocionais.
Boa leitura,
MAYJO
INDÍCE
NOTA AUTORA
INDÍCE
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
EPÍLOGO
LIVROS ANTERIORES
OUTROS LIVROS DA AUTORA
REDE SOCIAIS DA AUTORA
SINOPSE
10 anos de idade...
Saio do closet vestindo uma calça de pijama, e Haven ainda está lá.
Deus! Hoje não é um bom dia para ela estar aqui. Como o otário que sou,
marquei mais um encontro fracassado. A noite poderia ter terminado
comigo dentro de outra mulher, uma que me fizesse tirar Haven de dentro
de mim, é claro. O encontro terminou comigo e com a minha ex na minha
casa. De novo.
Porra!
Caminho para fora do quarto e a deixo lá. Ela não facilita,
conseguindo, com um olhar, me comer da cabeça aos pés. Hoje não,
querida, sem pau para você.
Coloco uma dose de bebida e tomo um gole bem necessário quando
Glória aparece na sala. Ela parece desconfortável, decerto acha que vou
despedi-la por deixar minha ex-mulher entrar na minha casa e ainda tratá-la
como se ainda fosse a dona dela. Elas duas gostam uma da outra, e tentar
mudar isso não é possível. Se eu pudesse admitir sem me sentir um idiota,
eu admitiria com gosto que Haven tenha em Glória uma amiga ou até uma
figura materna, ela precisa disso. A mãe de Haven está muito longe de ser
uma mãe amorosa.
— Vai precisar de mim, senhor Chris?
— Vá descansar, Glória!
— Olhe, senhor Chris, eu peço desculpas…
— Está tudo bem, não precisa se preocupar com nada, e seu emprego
não está ameaçado.
— Obrigada, senhor. Tenha uma boa-noite. — Ela se vira para sair,
mas para. — Boa noite, dona Haven.
— Boa noite, Glória.
Espero-a ir embora, me viro para Haven e a vejo pegar sua bolsa. Eu
volto os olhos para a janela com vista para a cidade lá embaixo, olhar ela
era tentador, mesmo que eu estivesse com raiva.
— Estou indo embora — anuncia ela.
— Ótimo — digo sem olhar para ela, porque eu poderia terminar essa
noite com ela gemendo meu nome. — E devolva a chave da minha casa,
Haven.
— Não tenho a chave da sua casa, apenas toco a campainha, como
todo mundo. — Eu não acredito nela. Vejo, através do reflexo no vidro da
janela, quando ela caminha para perto de mim, e sinto seu toque nas minhas
costas nuas. Meu corpo todo enrijece.
— Boa noite, Christian — diz ela e beija meu ombro. Maldição de
mulher!
Ela se afasta em direção à porta, e eu fecho meus olhos na tentativa de
deixá-la ir embora sem interferir, mas me vejo virando-me para ela.
— Como vai para casa? — Se tem uma coisa que Haven não gosta é
de dirigir, ela fica apavorada no trânsito, e eu não gosto de ela indo para
casa sozinha. Diabos, eu nem deveria me importar, mas eu ainda me
importo com o que acontece com ela, mesmo com as nossas diferenças.
— Vou chamar um táxi diz — ela da porta.
— E onde vai esperar o táxi? Na rua? Qual a pressa em ir embora sem
primeiro chamar o táxi? — Deus, essa mulher!
— Seu prédio tem mais segurança que um banco, Christian. Não vou
ser abduzida se ficar esperando lá embaixo.
— Me dê um minuto e vou te levar — digo, soltando o copo e
caminhando para o quarto para colocar uma roupa decente.
— Não precisa, Christian. E você estava bebendo!
— Um gole de álcool não me deixa bêbado, Haven, e eu vou te levar e
fim de conversa.
— Controlador! — Escuto seu resmungo e me pego sorrindo. Porra,
mesmo irritado com ela, ainda me faz rir.
Depois de vestir uma calça de moletom e uma camisa, pego as chaves
do carro e a guia de Husky, porque sei que ele vai nos seguir. Ele está junto
de Haven, seu rabo balançando feliz enquanto ela fala com ele com voz de
bebê.
— Vamos lá, garoto. — Coloco a guia nele e vamos para o elevador.
— Não fique escutando essa vozinha ridícula todo feliz, seja um macho
alfa, cara.
Haven ri.
— Diga ao seu papai que você ama quando a mamãe fala com você
assim, Husky — diz ela para ele.
Entramos no carro minutos mais tarde, e Husky vem ficar entre os
bancos ao nosso lado para receber os carinhos de Haven em suas orelhas.
— Sabe que não precisa fazer isso, não é? — diz ela para mim.
— Não poderia dormir em paz sem saber que chegou bem em casa,
Haven — digo para ela. — Não importa em que pé estamos um com o
outro.
— Uma mensagem de texto resolveria. — Ela teima, e tenho vontade
de calar a boca dela com a minha, mas me contenho, não podemos voltar
aos velhos hábitos. Bem, é o que vivo dizendo a mim mesmo o tempo todo.
O trânsito é leve a essa hora e não demora muito para chegarmos à
casa de Haven, a nossa antiga casa. Eu não sei por que ela não a vende e vai
morar em um local menor. Eu não poderia morar aqui com todas as
memórias de nós dois, de como fomos felizes e também de que fora o local
onde acabamos infelizes.
Desço, e Husky late para que eu abra a porta para ele também. Eu não
posso negar que ele ama Haven e talvez eu estivesse sendo egoísta por não
querer dividi-lo com ela.
Às vezes eu acho que ficar com Husky foi uma forma de punir Haven
por suas escolhas. Por ela desistir de nós.
— Obrigada por me trazer — diz ela na porta de entrada, tirando-me
de minhas conjecturas. Ela se abaixa e beija Husky. — Você, lindinho, se
comporte.
Ela levanta e me encara, e ela tem os olhos marejados. Tenho vontade
de fechar a distância entre nós e puxá-la para meus braços, a vontade é tão
obsessiva que me causa uma dor física, mas eu me mantenho firme, nossos
olhos presos um no outro, a eletricidade entre nós dois ainda tão intensa que
é insuportável. Vejo a mesma vontade refletida nas íris azul-glaciais, e meu
controle está por um fio quando ela abre a porta e entra, deixando a mim e
ao meu cachorro ali fora. O choramingo de Husky poderia muito bem
representar o meu próprio, se eu fosse um cachorro.
— Vamos lá, garoto, vamos voltar para casa, apenas eu e você.
Quando pego o caminho de volta para casa, penso que poderia ter sido
diferente. Haven pediu o divórcio para me deixar livre, mas isso nunca
aconteceu, o tempo estava passando e nossas vidas estavam mais
entrelaçadas do que nunca. Eu não me sinto livre.
Mas foi ela quem terminou, ela quis isso, e eu não poderia obrigar uma
mulher a me querer, nunca faria isso.
CAPÍTULO 05
A love so beautiful
Um amor tão lindo
In every way
Em todos os sentidos
A love so beautiful
Um amor tão lindo
We let it slip away
O deixamos escapar
Passado…
Ele me deixa em casa e, antes que eu saia do carro, segura meu braço.
— Prefere que espere você?
— Não, eu chamarei um táxi como todo dia, Christian. — Dou a ele
meu sorriso mais charmoso.
— Tudo bem. — Ele me solta e abro a porta, mas ele me para
novamente. — Ontem à noite eu me diverti muito, Haven. É bom quando
nós dois não estamos tentando nos matar.
— Eu também me diverti. — E era verdade, sem brigas por um dia e
noite inteiros? Era o céu. — Eu queria dizer que, independente do resultado
da guarda de Husky, eu não quero ficar brigando tanto. Eu estou ficando
cansada, sabe.
Nos próximos dias teríamos uma reunião com nossos advogados para
tentar um acordo sobre eu ganhar a guarda compartilhada de Husky.
Christian estava levando mais ou menos de boa, ainda furioso quando o
assunto surgia, mas eu não sei se ele ficará muito feliz se eu ganhasse
alguns dias da semana com Husky.
Mesmo com todos os recursos que o advogado dele utilizou, eu
poderia ter direito e acesso ao nosso cachorro, afinal, ainda estávamos
casados quando pegamos o filhote.
— Tudo bem. — Ele me olha fixamente, e quando ele me puxa e beija
minha boca suavemente, eu penso que nem tudo está perdido. Ele pode
estar furioso comigo por causa de Husky, mas ele ainda é guiado por essa
atração que nos une, ou amor, como queira chamar.
— Tenho de ir — digo baixinho contra seus lábios.
Corro para dentro antes de persuadi-lo a me fazer companhia no
banho.
Estava mais que atrasada para a reunião dessa manhã.
Vou para minha sala assim que chego depois do almoço, quando
abri minha alma para Aurora, e estou me sentindo meio letárgica, mas como
se estivesse mais leve por ter conversado com alguém sobre isso. Eu nunca
falei com um psicólogo sobre minhas questões. Talvez eu devesse. Era
como se me negasse a falar com um profissional porque ele iria me dizer
umas verdades, que sou fraca e egoísta, uma pessoa fria, sem coração, que
preferiu perder o homem que amava por não saber lidar com questões com
a própria mãe.
Eu não contei para Aurora sobre as surras das quais eu nunca tinha
hematomas. Cada ato de rebeldia, ou simplesmente porque ela estava de
mau humor, ou porque não fiquei em primeiro lugar, ou porque me
machuquei em um concurso, podia ser qualquer coisa. Ela pegava uma
toalha, encharcava de água e a usava para cada espancamento. Ela sabia que
seria suspeito eu aparecer em um desfile ou uma sessão de fotos com meu
corpo marcado, mas não tinha dia certo para ela me estapear,
principalmente quando eu esquecia de ficar perfeita, mostrar-me menos que
linda era um sacrilégio.
Acordar e tomar o desjejum sem estar perfeita? Se não fosse a primeira
nos concursos? “Oh, não, Haven, você não fez direito. Você não sorriu
como te ensinei, você não fez isso ou aquilo como disse para você fazer…”
Não precisava chegar em casa para a sentença vir, no banheiro do hotel era
onde eu já recebia meu castigo por não ser a melhor, a primeira. Por ser
apenas uma criança. Eu nunca soube ser uma criança normal, e fui tudo que
desejei ser, tantas e tantas vezes.
O lápis que estou usando para rabiscar um design de uma joia para um
cliente quebra a ponta, e percebo que estou riscando com força demais.
Baixo minha cabeça nos braços e respiro forte por uns minutos.
Dentro.
Fora.
Dentro.
Fora.
Só preciso respirar fundo.
Dentro.
Fora.
— Haven? — A voz e o toque me balançando me acordam, e quase
pulo da cadeira. — Oh, desculpe, assustei você? Estava dormindo.
Droga, eu dormi na minha mesa? Devo ter cochilado e não ter notado,
estava mentalmente exausta. Elana está parada na minha frente, me olhado
abismada, eu nunca fiz algo vagamente parecido antes.
— Você está bem? — Ela se aproxima, preocupada com meu silêncio.
— Chamei você várias vezes e não acordou, mas eu tenho de ir.
— Estou me sentindo cansada, e devo ter cochilado. — Levanto-me e
aliso minha roupa. — Acho que vou pegar um café para continuar esse
desenho. E você, vai para onde?
— Haven, já são seis horas. — Ela me olha espantada. — Você dormiu
a tarde toda, eu vim aqui e você estava dormindo, então eu a deixei, e isso
faz umas duas horas.
— Oh, merda! Eu…
— A noite foi longa, hein? — ela graceja. — Eu tenho um encontro e
já estou atrasada.
— Por que não foi embora? Ou me chamou mais cedo?
— Parecia precisar disso, anda muito estranha ultimamente. — Ela
sorri. — Bem, vai ficar ou vai sair?
— Vou levar esse trabalho para casa — digo, recolhendo meus
materiais de trabalho e os enfiando na bolsa. — Devo ter algumas ideias
legais em casa.
— Ótimo, essa cliente é além de exigente — assegura ela. — Mas
você é a melhor designer de joias que já vi.
— Você é uma bajuladora, Elana. — Sorrindo, caminho para fora da
sala e entro na parte da frente da joalheria, que está fechada, apenas os
seguranças estão lá, e eles só iriam embora depois que eu saísse.
O sistema de segurança é monitorado por uma empresa e há sempre
dois seguranças na loja. O local é formado na parte da frente com a
joalheria, onde eu coloco peças minhas em exposição, e atrás fica minha
sala, as salas de Elana e Kleber e, ao fundo, a oficina onde Anton trabalha.
A segurança aqui é reforçada, nunca tive um problema de roubo, graças a
Deus por isso.
Aceno para os dois homens da segurança e saímos.
— Quer uma carona? — Elana oferece.
A joalheria e minha casa ficam no Leblon e eu conseguiria pegar um
táxi, não demoraria para chegar em casa, e ela tinha um encontro.
— Elana, pelo amor de Deus, vá para o seu encontro — digo,
dispensando-a. — Vou chamar um táxi.
— Eu levo você para casa. — A voz vem de trás e volto-me para
encontrar Christian parado lá. — Elana!
— Olá, Christian. Como vai?
— Bem. — Ele volta sua atenção para mim. — Podemos?
— Hmm, claro. — Caminhamos para o estacionamento, e Elana se
despede entrando em seu carro enquanto Christian me guia para o dele. —
Você não tem nada melhor para fazer do que ser meu motorista?
— Só precisava saber como estava. Fiquei preocupado o dia todo, e
não me disse se tinha melhorado do mal-estar de mais cedo. E depois das
inúmeras ligações, que foram todas para a caixa postal, tive de vir.
— Oh! Eu não sabia que teria de te manter informado — digo,
caçando uma provocação. Era mais fácil quando estávamos brigando, assim
eu não sentia como se ainda estivéssemos juntos.
— Mandei algumas mensagens, fiz ligações e não respondeu, Haven.
Fiquei preocupado — profere, abrindo a porta do carro para mim. — Por
que não respondeu?
— Hmm. — Olho para ele, sorrindo. — Acreditaria se eu falasse que
estava dormindo?
— Não. — Ele fecha a porta e dá a volta para o seu lado, sentando-se
ao volante e ligando o carro em seguida.
— Pois é, mas eu estava. Inacreditável, hein? — pergunto, me virando
para olhá-lo — Eu dormi na minha mesa, a coisa mais fora do comum para
mim. Talvez eu esteja mesmo doente. Será que é alguma virose?
— Ou apenas degastei você ontem à noite — graceja, e balanço minha
cabeça, descrente.
— Você se acha, não é? Se lembro bem, eu que deixei você sem
fôlego.
Ele ri, e eu me pego rindo também, pois era uma mentira eu deixá-lo
sem ar.
Mas dormir durante o dia é algo bem inusitado, principalmente quando
estava em um projeto.
Eu sempre sou focada e, se deixasse, eu nem veria o tempo passar
quando eu estava trabalhando em uma joia. Colocar a emoção de cada
cliente na peça é algo que me fascina.
— Mas dormir durante o dia é bem esquisito — reitero.
— Que exemplo de chefe, hein? — ele brinca.
— Elana é mais chefe que eu — admito sem nenhuma vergonha,
quando eu sou apenas a parte criativa. Sem ela eu estaria perdida.
— Você quer jantar? Podemos parar em algum lugar — ele oferece
gentilmente, e fico tocada com seu cuidado.
Christian é assim, mesmo não estando mais juntos, ele sempre se
preocupava com a minha alimentação e tudo mais, mesmo que no final
estejamos brigando feito cão e gato. Ele sabe que na minha infância e
adolescência fui privada de ter desses prazeres básicos.
— Glória não fez seu jantar? Eu não estou com fome.
— Deve se cuidar mais, Haven. — Ele aponta o dedo, tocando minha
covinha. Isso por si já causa sérios arrepios de desejo. Ele é como uma
droga para mim, sempre foi, e eu o magoei com minhas questões pessoais.
Eu não abri mão por amor a ele, como era esperado que eu fizesse.
Quando nós amamos uma pessoa, é esperado que renunciemos a tudo
por ela. Se não tudo, tudo que estiver ao nosso alcance, que abdiquemos de
nós mesmos para fazer essa outra pessoa feliz, e quando eu não pude fazer
isso por Christian na questão de filhos, eu acreditei que não o amava o
suficiente e pedi o divórcio.
Eu o amei desde que coloquei os olhos nele, quando tinha dezenove
anos, e achei que faria qualquer coisa por ele, mas, no final, não fiz nada
disso. A bem da verdade, eu o fiz sofrer, e deixar que alguém lá fora faça o
que não fiz me dói além de qualquer razão. Seria egoísta de minha parte
privá-lo de uma família.
Percebo que minha cabeça está a mil por hora, e só de pensar em
comida me dá arrepios, e não no bom sentido.
— Simplesmente não estou com vontade de comer. Só em pensar, me
sinto enjoada. — É surpreendente ficar enjoada com comida. Eu amo
comer, os anos de restrições me fizeram apreciar a comida como uma das
coisas mais maravilhosas, e eu amo poder comer sem todas as exigências da
profissão de modelo as quais minha mãe me submetia. Agora eu tenho
curvas que meu ex-marido ama.
— Vamos jantar — insiste ele, e nos leva a um restaurante onde eu
nem toco na comida, e saímos rapidamente de lá, porque eu estava
reclamando o tempo todo do cheiro. Eu não voltaria a um restaurante tão
cedo.
Quando saímos do restaurante, estou levando a única coisa que me deu
vontade de tomar, e eu nem gostava daquilo. Um milk-shake de morango.
CAPÍTULO 13
Passado...
Por dois dias fiquei chafurdando em meu próprio dilema, nas minhas
convicções e em como minhas ações fazem de mim uma boa ou má pessoa.
Eu não quis ninguém por perto, alegando estar com uma gripe, mas garanti
que estava bem, só querendo ficar isolada para trabalhar em um design
inexistente.
Christian me bombardeou de mensagens, e eu pedi um tempo. Além de
Elana quase pirando com meu sumiço, todavia, eu precisava pensar e tomar
uma decisão.
E agora eu estava aqui na casa de Christian, prestes a ter um ataque
cardíaco. É tarde da noite, não sei a hora, devem ser umas dez ou onze
horas, não sei.
Parece que meu coração vai sair pela boca quando aperto o botão do
elevador. Eu deveria dar meia-volta e viajar para os Estados Unidos, ir a
uma clínica e acabar com tudo, mas algo me compelia a vir aqui e
compartilhar aquilo com Christian.
Ele já deve estar em casa, ou em mais um jantar idiota com mais uma
mulher, mas já faz um tempo que ele não sai com mais ninguém, tínhamos
mudado nossa dinâmica esses últimos tempos, temos ficado mais tempo
juntos, e era uma das razão de eu estar nessa situação, grávida. A verdade é
que nós dois temos transado como coelhos, e a consequência disso é o que
estou carregando no ventre. Maldito homem de esperma potente para um
anticoncepcional falhar.
Deus, por que agora? É tudo que me pergunto desde que aquele
médico disse a palavra grávida.
Por que isso aconteceu quando eu não queria? Nunca quis, e meu
casamento fracassou porque não pude mudar de ideia, e agora eu estou com
três meses de gestação. Eu achei que estivesse apenas com uma virose, e é
um bebê crescendo dentro de mim.
Sem conseguir me segurar, lágrimas correm por meu rosto, e eu só
quero parar com isso. Eu não chorava, e agora é a única coisa que sei fazer,
chorar como se algo dentro de mim estivesse se quebrando mais do já
estava quebrado.
Pela primeira vez, eu não abro a porta e invado; eu toco a campainha.
Eu sei que a essa hora Glória deve estar recolhida, então a conversa que
terei com Christian não terá testemunha.
— Jura? Você tocando a campainha? Que novidade é essa?
Levanto meu rosto para o olhar parado no limiar da porta, e mal o vejo
por causa das lágrimas.
— Haven… — Sua voz falha com o pânico. A próxima coisa que sei é
que ele está me pegando nos braços e levando-me para dentro. — O que
aconteceu, Haven? Diga-me.
Ele me leva para o sofá. e eu só choro sem saber como dizer para ele
que estou grávida de seu filho e que vou fazer depois. Quando estou na
frente dele, isso tem o poder de me desarmar de uma maneira que é quase
bizarra. Na minha cabeça eu tinha pensado em mil maneiras de argumentar
com ele.
Eu diria a ele que iria viajar e retirar o bebê. Era meu direito, não era?
Mas agora eu estou desmoronando. A dor de cortar fora de mim um pedaço
nosso, algo que fizemos juntos, não é fácil como eu achei que seria. Eu jurei
a mim mesma, muitas vezes no passado, que no dia que eu engravidasse eu
faria um aborto, e na minha cabeça isso seria fácil, pois me sentia tão certa
das minhas convicções. E agora eu estou sentindo como se fosse a bruxa má
que ele me acusava de ser em nossas brigas.
Por que eu simplesmente não fui direto, sem avisá-lo disso? Ele nunca
saberia, mas aqui estava eu.
— Você está me matando aqui, Haven. Por favor, me diga o que está
acontecendo — pede Christian, angustiado e, sem saber como iniciar a
conversa, eu falo a primeira coisa que vem à minha mente.
— Eu não posso… — Minha voz sai em um balbucio descontrolado,
inseguro, e não sou assim. Agora tudo me deixa fraca, e odeio me sentir
sem controle da minha própria vida. A minha vida inteira foi sobre ser
manipulada e abusada de maneiras que eu não quero nunca mais sentir.
Christian se agacha na minha frente, onde estou sentada, segurando
minhas mãos pequenas nas suas grandes e quentes. As minhas mãos estão
frias como as de um cadáver, e quero levantar-me e fugir daqui e apagar de
sua memória que estive aqui para arrancar o seu coração do peito e esmagá-
lo debaixo do meu salto.
— Sabe que pode me dizer qualquer coisa, querida. Não importa que
tenha cometido um assassinato. — Ele tira as lágrimas do meu rosto com
seus polegares e segura meu rosto em suas mãos. — Eu vou esconder o
corpo para você, se for isso que você me pedir.
Eu sei que ele está tentando fazer algum tipo de graça, mas também sei
que ele está falando mortalmente sério. Por isso sempre íamos orbitar ao
redor um do outro, porque somos um time, mesmo que desajustado.
— Aconteceu uma coisa — começo, fechando os olhos e buscando
forças para continuar falando. — Deve ter sido em umas daquelas tantas
vezes que fizemos sexo. É claro que deve ter sido quando fizemos sexo. O
que estou dizendo é que é claro que foi fazendo sexo sem proteção, porque
eu tomo minha pílula sempre e…
— Do que está falando, Haven?
Ele corta meu balbuciar sem sentido e olho para ele e despejo:— Estou
grávida, Christian.
Ele paralisa à minha frente, nenhum músculo se mexe no que parece
uma eternidade, e estou com medo de que ele tenha tido um mal súbito, e
toco seu rosto. — Diga algo, por favor.
Ele fica em pé tão de repente que vou para trás. Christian começa a
andar de um lado para o outro como um louco, suas mãos no cabelo, que já
está uma bagunça, apontando para todos os lados, as mechas loiro-escuras
com as marcas de dedos frenéticos.
— Você está grávida. — Ele para, me olhando como se eu tivesse duas
cabeças ou fosse a Medusa.
— Aparentemente sim, mas…
Ele vem para mim novamente, me faz levantar e me abraça com tanta
força que sinto minha respiração falhar.
— Puta que pariu, Haven! Foda-se! — ele pragueja e me afasta um
pouco de seu corpo duro e segura meu rosto entre as mãos. — Porra, amor!
— Ele me beija sem deixar que eu fale. Eu sabia que ele ia surtar de
felicidade, mas também sei que vai me odiar quando eu terminar de falar o
que vim dizer. Eu sou um monstro, e ele irá me odiar para sempre. Ele
enche meu rosto de beijos, e sua felicidade está me matando.
— Christian…?
— Podemos nos casar novamente. Podemos fazer isso amanhã, se eu
conseguir fazer Domênico mexer uns pauzinhos…
— Christian?!
— O quê? É muito rápido? Quer outro casamento na igreja? Ou
podemos apenas ir a Vegas e resolver isso.
— Eu não posso.
— Não quer casar? Eu entendo, já fizemos isso antes e pode ser muito
para você, ainda mais quando foi por isso que nos separamos… Quer dizer,
por você não cogitar a ideia de um bebê nosso…
Algo clica em meio à sua torrente de palavras.
— Você não pode o quê? — A luz que havia em seus olhos azuis vai se
apagando quando ele toma ciência do que eu posso dizer a seguir.
— Você sabe que não quero ser mãe, Christian — digo, um nó na
garganta, lágrimas jorrando como uma maldita cachoeira. — Eu quero
interromper a gravidez.
As palavras saem como chumbo de minha boca e, enquanto as digo, eu
vejo que poderia muito bem ter atirado em Christian com um canhão.
Ele recua como se eu tivesse batido nele.
Eu nunca tinha visto esse olhar de nojo em seu rosto como agora.
Quero pegar minhas palavras de volta, mas não posso.
— Como pode…? — Sua voz sai rouca, emoções de todo tipo
transformando suas feições. — Eu quero meu filho, Haven!
— Por favor, Christian.
— Por favor, Christian? Por favor, Christian? — ele berra, se afastando
de mim como se eu fosse uma maldita leprosa. — Não vai fazer isso, eu
juro, Haven…
— Eu tomei uma decisão, Christian.
— Se fizer isso conosco, com nosso filho, eu não sei o que farei,
Haven — rosna com tanta fúria que me choca. — Eu não sei o que vou
fazer se matar nosso filho.
— Eu…
— Quem é você, porra?! — Ele caminha para trás. — Eu preciso de ar,
esse aqui está me intoxicando.
— Não saia assim, amor…
— Não me chame de amor — rosna novamente —, ou não me
responsabilizo por mim. Estou a ponto de…
Ele para, me olhando com tanta raiva em seus olhos azuis que me
encolho como se atingida por uma tonelada de concreto. Ele nunca me
olhou assim antes. Se antes ele dizia que me odiava quando discutíamos e
eu não acreditava, agora, nesse momento, eu acredito que ele realmente me
odeia.
— Como pode o rejeitar assim? — pergunta com nojo e meu soluço
me quebra mais como se estivesse me despeçando.
Ele sai, e fico sentada em sua sala. Husky vem e sobe no sofá e se
deita em meu colo. Ele choraminga, e isso faz a cachoeira de lágrimas
aumentar.
Eu destruí o resto de amor que Christian poderia ainda sentir por mim.
Eu deveria me levantar e sair, mas não faço nada disso. Eu abraço Husky, o
único ser no planeta que não me julga agora.
— Por favor, amorzinho, me diz, o que devo fazer?
Mas ele não pode me dar a resposta.
CAPÍTULO 17
Pego o carro e dirijo sem rumo por uma boa meia hora, raiva
borbulhando por dentro. Eu nunca tive raiva de verdade de Haven. Quando
ela pediu o divórcio, acabando com o que restava do nosso casamento, eu
não a odiei. Eu não podia, mas estou sentindo agora um ódio tão grande que
minhas mãos estão doendo em volta do volante. Como ela pôde? Como ela
pôde pensar, cogitar, dar fim a algo que criamos juntos? Como ela pôde
pensar em destruir isso?
Esmurro o volante e grito de frustração.
Eu nunca fui um homem que chorava, eu era o brincalhão, de bom
humor, e muitas vezes era o cara frio que tomava as decisões em uma
empresa que dependia de minha frieza, mas nesse momento meus olhos
ardem, as lágrimas se acumulando.
Paro em um bar antes que eu cause um acidente e entro. Eu preciso
beber algo forte, ou vou acabar chorando feito um bebê. Eu preciso me
distanciar dos meus sentimentos.
Sento-me à mesa, e o garçom se aproxima e peço uma garrafa de
conhaque. Sem pensar muito, ou enlouqueceria, eu encho o copo e o
entorno como se fosse água. A única coisa que quero é entorpecer tudo por
dentro e não sentir nada.
Pego meu celular e ligo para meu melhor amigo. Eu não quero ficar
sozinho, ou faria algo estúpido.
— É melhor você ter uma razão muito boa para me ligar agora,
Christian. — A voz de Rafael é cortante, e ele deve estar fodendo sua
esposa muito feliz. Eu não consigo falar, o nó raivoso é do tamanho de uma
melancia, e não consigo concatenar uma ideia. — Christian?
Eu bebo o resto do copo que estava pela metade e engulo o conhaque
que já nem queima mais quando desce limpo por minha garganta.
— Christian? Cara, aconteceu alguma coisa? — A voz de Rafael agora
soa preocupada. Olho ao redor, tentando ver qual o nome do bar que estou.
Aceno para o garçom para ele vir à minha mesa.
— Estou em um bar. — Minha voz sai com muito esforço. O garçom
se aproxima da minha mesa. — Qual o endereço desse lugar?
Ele fala o nome do lugar do qual eu não sabia e o endereço, que repito
para Rafael. — Você pode vir aqui?
— Chris, o que está fazendo aí? — pergunta ele, e escuto a voz de
Aurora ao fundo, e peço desculpas a ela mentalmente por tirar seu marido
da cama no meio da noite.
— Eu preciso… — Fecho meus olhos com força. — Conversar.
— Tudo bem, chego em breve.
Desligo o celular e volto a encher meu copo.
Não vejo o tempo passar, e a próxima coisa que vejo é Rafael
sentando-se à minha frente.
— Ei, vá devagar com essa garrafa! — Ele afasta meu elixir
entorpecente, e tento pegá-la de volta.
— Dê-me isso aqui. — Minhas palavras são arrastadas, e não consigo
alcançar a garrafa dele.
— Você me tirou da cama para vir ao outro lado da cidade para
conversar no meio da noite, e não vai conseguir se estiver bêbado como um
gambá, filho da puta! — vocifera ele, bravo. — O que diabos aconteceu
com você? Está querendo ter um coma alcoólico?
— Eu não me importaria — manifesto, minha voz embolada. — Eu a
odeio, porra!
— Eu não acredito, isso é por causa de sua ex-mulher? Sério,
Christian? Me tirou da cama no meio da noite, quando minha mulher pode
ter o bebê a qualquer momento, para vir aqui ouvir você reclamar de
Haven?
Ele está certo em estar bravo, eu sou um bosta que não sei o que fazer
com minha ex-mulher.
— Vamos lá, vou te levar para casa — declara ele, se levantando, mas
eu o impeço com minhas próximas palavras.
— Haven vai abortar meu filho! — Minha voz sai em um grunhido.
Haven podia ter um tesão do caralho por meu pau, mas ela não me ama,
nunca amou, e ela está provando isso agora. — Ela está grávida.
— O quê? — Rafael volta a sentar-se e parece estupefato.
— Ela nunca me amou e agora está provando isso mais que nunca.
— Por que ela faria isso?
— Ela não quer filhos, tipo, nunca — exprimo, desolado. — Nosso
casamento acabou por causa disso, e agora, definitivamente, ela sairá da
minha vida. Eu a quero longe de mim, porra!
Bato na mesa com o punho fechado, e Rafael coloca a mão no meu
braço, me parando de destruir a mesa.
— Se acalme, Christian!
— Como posso, irmão? — Olho para ele, o cara que é mais que um
irmão para mim, e devo estar uma merda. Estou igual a uma mulherzinha,
choramingando. — Isso está me destruindo.
— Por que não conversam? Se ela não quer o filho e você quer, não
tem nenhum direito? Ela pode te dar o bebê quando nascer — ele raciocina,
— Ela já decidiu, e não posso obrigar ela a nada. Eu não poderia.
— A convença de que vale a pena, vocês dois fazem tudo, menos
conversar, puta que pariu!
— Quando casei com ela, ela me disse que eu teria que me contentar
apenas com ela, que ela nunca iria querer ter filhos. Ela, de início, nem
queria casar comigo, ela rejeitou meu pedido, dizendo que nunca casaria
com homem nenhum, porque ela não poderia lhe dar um filho no futuro. Eu
estava apaixonado, louco por ela, e simplesmente concordei, e no fundo eu
dizia a mim mesmo: o amor que sinto por ela irá fazer com que ela mude de
ideia. — As palavras jorram como ácido dos meus lábios. — Eu, tolo,
acreditei que o amor a faria mudar de ideia, e tentei, ao longo do tempo,
colocar a sementinha na cabeça de Haven, mas o passado dela sempre foi
mais forte. A raiva que ela carrega dentro de si é maior que o amor que ela
sentia por mim.
— Isso é triste, cara. — Rafael bate no meu ombro. — E onde está ela
agora?
— Não sei, eu apenas precisava sair. Se ficasse mais um minuto na
mesma sala que ela, eu não sei o que teria feito — revelo, envergonhado de
que eu tenha perdido o controle assim. — Ela ficou no meu apartamento.
Por tudo que sei, ela já deve estar a caminho de alguma clínica clandestina
para tirar o nosso filho.
— Você quer ir para minha casa, ficar lá o resto da noite, e amanhã
voltar para casa e tentar convencê-la? Você a conquistou da primeira vez,
Christian.
— Esse assunto é como a criptonita do nosso casamento.
— Por que ela não quer filhos, afinal? Pensei que toda mulher quisesse
isso, que fosse tudo o que elas pensam quando encontram o cara com quem
querem se casar.
— A mãe de Haven fodeu com a cabeça dela, irmão. Ela, desde que
era um bebê, foi usada pela mãe como um fantoche para suprir a frustração
de não ter conseguido ser a modelo ou a Miss que ela tanto desejava, por
causa da gravidez acidental que foi Haven. — Olho o fundo do meu copo e
faço sinal para Rafael enchê-lo, já que ele confiscou minha garrafa. — Você
lembra quando a conheci? Ela era completamente inocente com homens.
Ela tinha dezenove anos e nunca tinha nem beijado, porque nunca foi
permitido que ela tivesse uma infância normal e muito menos uma
adolescência normal. Eu fui o único homem dela em tudo.
Rafael fica calado, me deixando tentar justificar as atitudes de Haven.
Porra, eu compreendia sua decisão, mas nunca realmente aceitei como
sendo definitiva. Eu tinha esperanças de que um dia eu conseguisse fazê-la
ver o quão linda ela era, e que seria uma mãe perfeita, e até nisso eu falhei
miseravelmente.
— Eu falhei com ela, com meu casamento, e estou falhando com meu
filho, irmão. — Raiva pura me queima, e quero socar a porra do mundo ao
redor.
— Nada disso é culpa sua, Christian. Haven só precisa de tempo para
aceitar, talvez.
— Você não a viu, a determinação dela de tirar o meu filho.
— Vamos lá, vou te levar para casa e não vai beber mais hoje. Chega!
CAPÍTULO 18
Ela está calada. Não me disse nem que sim, nem que não sobre
minha proposta de ter o bebê e depois o deixar comigo, se assim ela
almejasse.
Levo-a para meu apartamento no fim da tarde, depois que o médico a
liberou com recomendações de que ela deve se alimentar e beber bastante
água. E cuidar de ir a um obstetra para cuidar do pré-natal do bebê, mas a
dúvida é: ela vai aceitar? Quanto tempo eu teria até ela fugir e fazer um
aborto? No momento, eu não confio nela.
— Christian, eu não acho que devo ficar aqui — reclama ela quando
estaciono o carro na garagem. — Não sou sua reponsabilidade, já sou bem
grandinha.
— Tão responsável que não soube dizer ao médico qual foi a última
vez que se alimentou? — Viro-me para ela. — Ficará aqui, e Glória ficará
de olho em você quando eu não estiver por perto, bruxa. Eu não vou estar
muito longe.
— Por que tenho a impressão de que estou entrando em uma prisão?
— Não está presa, bruxa, apenas não quero você sozinha quando não
faz nada para se cuidar.
— Foram apenas dois dias sem me alimentar, Christian, não um mês
— esbraveja, abrindo a porta do carro para descer, mas a seguro no lugar.
— Eu disse que ia cuidar de você e do nosso bebê, não disse? — Seus
lábios se abrem, e ela me olha com esses olhos azuis translúcidos que
causam um furor quente dentro de mim. Meu pau engrossa apenas pela
intensidade com que ela me examina. Tento pensar em algo ruim, porque
nem é hora de ter uma ereção, mas o pensamento dela grávida do meu filho
e a visão desses olhos lindos me deixam fora de mim.
Depois que me acalmei e me deitei no quarto de hóspedes de Rafael,
eu cheguei à conclusão de que, no fundo, Haven não queria interromper a
gravidez, ela só tem essa ideia plantada por ela mesma na cabeça de nunca
querer ter filhos. Se fosse algo que ela não se importasse, se ela fosse esse
ser humano que não se importava com nosso filho, ela teria abortado sem
me dizer, e eu nunca saberia, mas ela veio sabendo que eu me oporia e a
impediria de ir até o fim.
Encontrá-la chorando na minha porta significava um pedido de ajuda,
dizendo que se importava. Ela veio até mim, e eu saí como um louco
querendo me intoxicar de álcool até entrar em coma. Eu só precisava ser
paciente e saber levar Haven.
No passado, estava tão concentrado em mim mesmo, querendo que ela
cedesse para construirmos a nossa família, que a deixei saber o quanto me
sentia desapontado, o que só a fez me pedir o divórcio porque achava que
era o que eu queria, e eu, orgulhoso pra caralho, deixei-me levar. Eu ia
recuperar Haven e, por tabela, nosso filho. Eu a farei mudar de ideia,
contudo, não tenho tanto tempo.
— Mas eu…
— Sem discussão, vamos subir — a interrompo, um pouco duro.
Minha bruxa de cabelo de fogo às vezes gosta de receber ordens minhas. —
Está decidido, você fica ou eu vou ficar com você. Não há meio termo,
bruxa!
— Odeio você!
Ela desce sem esperar que eu a ajude a descer. Corro e a guio para o
elevador e a puxo para meu peito. Não darei espaço para ela recuar, irei
marcar pesado até eu tê-la completa para mim.
Eu nunca tive Haven cem por cento. Tolo, achei que tinha, e quando
ela pediu o divórcio, foi uma declaração que eu só possuía parte dela.
— Sabe que esse ódio todo é amor, não é? — pergunto, com a boca
encostada em sua orelha. Se ela acha que eu vou ser um imbecil com ela, eu
ia matar Haven de gentileza, porra.
— Se você diz — resmunga, mal-humorada.
Seguro forte sua nuca e empurro sua cabeça para trás, expondo esse
pescoço lindo, e deslizo a língua embaixo de sua orelha, mordendo forte e
fazendo-a reclamar da dor. Alivio o desconforto com a língua. Arrepios se
alastram por sua pele, e ela choraminga, expondo mais para meu ataque.
— Diga que você não quer, porra! Diga-me qualquer mentira que você
me deseja contar hoje, bruxa, mas eu não vou acreditar em nada que você
falar, porque eu tenho certeza de que se eu verificar agora, essa boceta
apertada estará pingando por minha língua, meus dedos, meu pau…
— Christian… — ela choraminga.
O elevador chega ao destino, e Haven está meio mole em meus braços.
Linda mentirosa. Praticamente a carrego para dentro, pena que ela está
fragilizada, ou teríamos uma festa hoje.
Minha raiva por essa mulher, não dura muito.
Glória espera com Husky na porta. Meu menino quase nos derruba no
chão com a festa, o rabo parece que vai sair do corpo de tanto ser abanado
freneticamente. Haven o enche de beijos, e vejo Husky praticamente rindo,
se cachorro sorrisse. Ele late como se desse boas-vindas a ela.
— Ele esteve ansioso o dia todo — Glória diz, rindo da festa canina.
— Bem-vinda de volta, dona Haven.
— Glória, não exagere, parece até que estou voltando dos mortos, e
não de um desmaio.
— Não brinque com isso, dona Haven, atrai azar ficar falando coisas
ruins.
Enquanto elas falam chamo Husky, que tem a língua de fora esperando
por minha atenção.
— Ei, garoto! Venha cá. — Ajoelho-me, e ele pula em mim,
lambendo-me todo. — Ei, vamos com calma.
Ao mesmo tempo que dou atenção ao meu garoto, vejo Haven
caminhar para a sala com Glória em seus calcanhares.
— Preparei um jantar leve para você. Como sei que está enjoando
comida, fiz uma sopinha bem leve e, claro, vou preparar todos os milk-
shakes que esse bebê desejar. — Glória sai vomitando as palavras, e vejo
Haven travar.
— Eu não quero nada, Glória, obrigada. Estou bem. Na verdade, me
sinto ótima.
— Que ótima notícia. Posso servir o jantar?
— Só vou tomar um banho, Glória — diz Haven — Serei rápida.
Ela sobe as escadas, e fico olhando-a desaparecer, indo em direção ao
meu quarto.
— Você pegou as roupas dela? — pergunto para Glória, que ainda está
de pé esperando minha dispensa.
— Sim, fiz uma mala e as trouxe.
— Em vinte minutos sirva o jantar, dona Haven descerá em breve —
digo, já começando a subir as escadas atrás de Haven.
— Não seja tão duro com ela — diz ela, e não me dou o trabalho de
responder.
Entro no meu quarto e a encontro no meio do aposento. Ela está
apenas com uma calcinha e as mãos nos quadris, me olhando com fogo nos
olhos.
— Você invadiu minha casa? — Me distraio de seu rompante, porque
estou muito absorto em seus peitos perfeitamente lindos em exibição. Meus
olhos caem para a sua barriga, onde se abriga o meu filho, e desço para a
junção de suas coxas, que a calcinha transparente preta não deixa muito
para a imaginação. — Olhos aqui em cima, marujo!
— É claro, comandante! — Minha boca se abre em um sorriso
malicioso quando volto meu olhar lento e sensual para seu rosto. — O que
estava dizendo?
— Sério que invadiu minha casa?
— Ainda é nossa casa, mesmo que esteja em seu nome, sempre foi a
nossa casa. E, respondendo à sua pergunta, não a invadi. — Não estava
mentindo, porque Glória fez isso.
— E como uma mala cheia de roupas minhas apareceu bem aqui?
— Oh, isso. — Faço-me de desentendido.
— Sim, isso! Só vim para cá por essa noite, Christian, amanhã volto
para casa.
— Veremos. — Caminho até ela e seguro seu rosto nas minhas mãos.
— Tome um banho, porque Glória irá servir o jantar em vinte minutos.
Beijo seus lábios duramente, e ela ofega, mas empurro seu corpo
tentador para o banheiro. A deixo lá e vou ao quarto de hóspedes tomar um
banho também. Eu não iria arriscar tomar banho junto com ela, pois corria o
risco de fodê-la além da razão no chuveiro, e ela perderia o jantar. Ela e
meu filho precisam que eu pense com a cabeça de cima neste momento.
Depois do jantar, nos sentamos na sala enquanto Haven verifica seu
telefone com as mensagens de trabalho perdidas de hoje. Tento argumentar,
mas ela é tão teimosa. Tenho vontade de jogá-la nos ombros e levá-la para a
cama, para que descanse.
Em um dado momento, ela fica rígida. Husky levanta a cabeça,
parecendo sentir que Haven não está bem.
— Está tudo bem?
— Só algumas mensagens de spam. — Tenho vontade de pegar o
celular e saber quem foi o imbecil que a irritou.
— Não deveria estar preocupada com o celular a essa hora, deveria ir
descansar.
— Passei o dia na cama, Christian, não estou cansada.
— Assiste um filme comigo? — convido, tentando distrair sua atenção
do que a esteja incomodando. — Ou vai me mostrar quem está aborrecendo
você?
— É apenas uma mensagem da minha mãe — ela revela, e minha
mandíbula trava, rígida. Que momento para aquela mulher enviar
mensagens ofensivas para Haven.
Se Haven estiver cogitando desistir de interromper a gravidez, essa
mulher pode acabar com minhas esperanças, ela é completamente tóxica
quando se trata de Haven. Eu acredito que ela odeia Haven de verdade. Eu
nunca conheci a mulher, e nem quero, mas se ela se intrometer na vida de
Haven, juro que ela vai ter uma visita minha, porra!
Tiro o aparelho de seus dedos e o jogo longe.
— Chega de celular por hoje!
— Sério, Christian? Vai ser esse homem chato se eu ficar aqui?
— Está se aborrecendo, e quero você calminha.
— Está tão cuidadoso por causa do seu filho, não de mim.
— Nosso filho. Geramos ele, Haven.
— E não sei disso?
— Que bom que sabe. Então, o que sua mãe quer agora? O timing dela
é perfeito, hein?
— Aparentemente, ela só quer saber como estou, e, com isso, vem
todas as reclamações do quanto sou uma filha ingrata, que nunca a agradeci
por todos os sacrifícios que ela fez por mim desde que vim ao mundo.
— Não deixe sua mãe influenciar você mais do que ela fez a vida toda,
Haven. — Seguro seu rosto entre minhas palmas. — Ou juro que você terá
de ir me visitar na prisão por assassinato, e nem estou brincando.
E não estava brincando mesmo. Eu a mataria sem pestanejar por
magoar Haven mais do que já magoara. Maldita mulher.
— Não diga besteira, Christian.
— Venha aqui e esqueça essa mulher. Venha assistir algo comigo.
— Sabe que prefiro fazer outras coisas.
— Fique quieta, mulher!
Ela ri, e fico contente também, mas meu coração está pesado como
toneladas de jumbo. O relógio não para.
Beijo sua têmpora e a abraço contra meu peito.
— Christian?
— O quê, bruxa?
— Você é a única pessoa no mundo para mim, depois de Husky.
— Como você me lisonjeia, bruxa. Husky sempre em primeiro lugar.
— Falando nisso, como foi a reunião com nossos advogados? — Ela
pergunta, tínhamos uma reunião e ela não compareceu e acabou sendo
cancelada.
— Não teve.
— Eu vou desistir da ação — diz ela, e isso me faz olhar seu rosto.
Ela está de cenho franzido e tensa.
— Estive pensando que não é justo tirar ele de você.
— Você não iria tirar. Eu também estive pensando muito e cheguei à
conclusão de que você deveria ficar com ele por um ou dois dias na semana.
— Eu entendo que não queira compartilhar, e se você deixar, eu posso
vir pegá-lo às vezes.
Tenho vontade de dizer a ela que talvez ela não tenha que pegar Husky,
que ele estaria junto dela todos os dias. Eu só preciso manter Haven por
perto até ela voltar ao seu juízo perfeito.
— Assista, bruxa!
— Filme chato…
— É o Lobo de Wall Street! — Eu gosto desse filme, porra.
— Chato. Coloque algo romântico
No fim ela ganhou, e eu estou assistindo mais uma vez uma comédia
romântica sozinho, porque ela não demorou muito para fechar os olhos e
desmaiar no meu peito. Somos um monte no sofá, nós dois e Husky
enroscado junto a nós. Eu poderia me acostumar com isso de novo.
Haven tinha tanto poder nas mãos. Ela tem o poder de acabar comigo
de uma maneira que nem fazia a mínima ideia.
Dias depois…
Aurora teve o bebê, e eu não fui ao hospital, deixei para fazer uma
visita quando ela estivesse em casa. Minha rotina tem sido intensa essa
semana, Christian só desgrudou de mim para ir ao hospital visitá-los, afinal,
Rafael é o melhor amigo dele, e Christian também fez uma surpresa para o
amigo, trazendo sua tia dos EUA para visitar e conhecer o sobrinho-neto.
Christian desliga o carro na frente da casa, e o espero descer e abrir a
porta. O homem tem sido um chiclete desde que desmaiei na semana
passada. Ele tirou a semana de folga do trabalho e me paparica o dia todo.
Ele conseguiu o obstetra de Aurora para mim, e eu iria à primeira
consulta amanhã. Eu sabia que o tempo de interromper a gravidez estava
ficando mais curto, mas eu não tive coragem de ir até o fim. Na verdade, eu
não pensei nisso em nenhum momento dessa semana. Christian estava me
bombardeando com coisas de bebê o tempo todo, e eu me peguei
imaginando se seria uma menina ou menino, coisa que não tinha me
permitido pensar até que me vi fazendo isso. Eu ainda tinha uma resistência
de aceitação da gravidez que era mais forte que eu.
Rafael nos recebe na porta.
— Fico feliz que esteja aqui, Haven — diz quando caminhamos para a
sala, onde Aurora está sentada com o bebê no colo.
— Haven! Venha ver meu bebê! — Aurora chama, e caminho para
perto dela. Eu tinha zero contato com bebês, talvez tenha sido meu
inconsciente que me fez sempre ficar longe deles, e agora me sentia como
se me faltasse ar. Asfixia provocada por bebês existe?
Fico a uma boa distância, mas Aurora acena para me aproximar mais,
e me sento no sofá mais perto dela, mas ainda distante.
— Ele não morde — graceja ela. — Venha aqui e veja como ele é
lindo.
A contragosto, sento-me bem ao lado dela e olho o pacote em seus
braços, e um rosto rosado e rechonchudo espreita de lá.
— Tome aqui, eu não me importo que o segure. — Ela enfia o bebê em
meu colo, e o pego como se fosse uma bomba-relógio prestes a explodir,
mas o seguro com medo de que ele caia. Eu nunca segurei um bebê na
minha vida. Olho para baixo, e uma boquinha rosa mexe como se estivesse
chupando algo invisível. Ele tem cabelos pretos lisinhos e seus olhos estão
fechados, mas ele realmente é o bebê mais lindo que já vi. Bem, ele é o
único que vi de tão perto assim, de qualquer maneira.
— Quando descobrimos que estamos carregando um bebê dentro de
nós, é a coisa mais assustadora que uma mulher pode sentir — Aurora diz
ao meu lado, e não tiro meus olhos dele. — Quando soube que estava
grávida, separada de Rafael, fiquei sem saber qual atitude tomar, mas no dia
que vi seu coração batendo no ultrassom, eu não coube em mim de tanta
felicidade. Quando ouvir o coração do seu bebê, Haven, sentirá que é a
mulher mais invencível do mundo, sentirá que você é como uma
supermulher, que nada nesse mundo pode chegar para machucar o seu bebê
sem que você vire uma leoa para defendê-lo.
Sinto meus olhos ardendo, e quero entregar seu filho, levantar-me e
correr pela porta da frente e ficar longe de tudo isso. Christian deve ter
combinado com Aurora para ela me dizer essas coisas para me comover,
mas ele nem percebe que é o único que está me tocando, que me faz desejar
saber se estou carregando uma menina ou menino; ele é o único que está me
fazendo ver que sou capaz de mudar de ideia, quando antes nada me tirava
do meu objetivo. Que é o único que me faz vacilar e desejar ser uma mulher
diferente, mudar e ser melhor do que a mulher que me pôs no mundo.
Estou prestes a entregar o pacotinho fofo para Aurora, quando o bebê
abre os olhos e seu rosto enruga como se algo o incomodasse, e ele se estica
com um resmungo. Se contorce e ameaça um choro, se seu rostinho
vermelho for uma indicação.
— Você acordou, bebê? — falo sem nem perceber, a minha voz sai
baixinha para não o assustar. — Sou a tia Haven. Prazer em conhecer você,
homenzinho…
Ele para de se contorcer e presta atenção em minha voz, mas não
demora muito e seu rostinho fica novamente vermelho, e agora solta um
miado como um gatinho recém-nascido, mas isso começa a crescer e o
choro é forte agora.
Jesus! Os pulmões dele são potentes.
Meus olhos assustados se levantam para Aurora, que tem um sorriso
enorme no rosto. Ela estende os braços e pega o pequeno gritador neles.
— Ele acorda assim, faminto pelo tetê da mamãe.
— Garoto esperto! — Esse é Rafael se aproximando. Ele se inclina
para sua família e acaricia seu filho e esposa com amor. A cena é tão
singela.
Meus olhos vão para Christian, o encontrando com os olhos fixos em
mim. Dou a ele um sorriso de lábios apertados, e ganho de volta um sorriso
de parar meu coração.
É tão nítida a diferença entre nós dois apenas com essa troca. Enquanto
me contenho, Christian parece entregar tudo dele.
— Vamos tomar uma bebida, irmão. — Rafael convida Christian, e os
dois desaparecem dentro da casa, nos deixando sozinhas.
Aurora se senta confortável, e ali mesmo ela começa a amamentar seu
bebê. Assisto, fascinada, ela ajeitar o filho no colo e abrir a blusa e começar
a amamentar. O pequeno gritador agora faz um barulho satisfeito quando
agarra o peito da mãe. Sorrio com a cena tão íntima entre mãe e filho, ele
parece tão faminto. Sinto-me quente como se tivesse fogo na minha pele,
deve ser o constrangimento por estar vendo os seios de Aurora.
— Eu não sei a quem esse menino puxou, tão guloso. — Ela me
encara, o amor por seu filho brilhando em seu rosto. — Vai ver quando seu
bebê nascer, nada é tão gratificante que ficar assim, mesmo com uma dor
infernal no peito ferido, mas vale cada dorzinha.
— Não sei nada sobre bebês — comento, minha voz insegura, e quero
me bater por me transformar nessa criatura frágil quando o assunto é filhos.
Eu posso fazer qualquer coisa no mundo, mas os bebês metem um medo
terrível dentro mim. — Eu…
— Você acha que as mães de primeira viagem sabem alguma coisa?
Querida, os instintos te ensinam. Eu não tenho ideia de tantas coisas ainda,
estou aprendendo a cada hora do dia. — Ela volta seus olhos para o bebê.
— A única certeza que tenho é que o amor por ele é maior que minha vida
todinha.
— Você já deve estar sabendo que estou grávida — balbucio, sem
jeito. — Também te contei que não queria nenhum bebê. Tem sido difícil os
últimos dias, eu odeio decepcionar Christian sendo egoísta e…
— Haven, eu sei que te conheço tem pouco tempo, mas pelo que
conheço de você, não será perfeita, porque ninguém está acima de cometer
erros, mas de uma coisa tenho certeza: seu filho terá muito amor, tanto seu
como de Christian. E ele não terá uma infância como a que você teve.
Ela parece tão certa, e agradeço por ela não me julgar.
— Você é uma boa mulher, Aurora. Fico muito feliz de ter sua
amizade.
— Sempre será bem-vinda aqui, sabe disso, não é? Vamos marcar um
almoço aqui quando eu voltar a ser gente, porque agora eu só sou mãe desse
rebento aqui. — O bebê para de mamar, e ela o coloca no ombro e começa a
dar batidinhas em suas costas minúsculas.
— Obrigada pela indicação do obstetra, eu não sabia nem por onde
começar com um — agradeço. — Amanhã irei à primeira consulta.
— Ele é maravilhoso, vai gostar dele.
Os homens voltam para a sala, e o assunto da gravidez é esquecido.
Christian se senta ao meu lado, e todos começamos a conversar.
A tarde passa rápido, e quando me despeço de Aurora, dou-lhe um
abraço e agradeço pelas palavras.
— Você deveria confiar mais em si mesma! — ela diz quando devolve
meu abraço.
Eu não sei onde escutei uma vez que, quando você conhece o amor
de verdade, ele te causa medo, te assusta, te deixa vulnerável de uma
maneira que te faz pensar que, mesmo que você esteja a ponto de correr,
ainda assim você quer ficar.
Nas semanas seguintes, eu volto à minha rotina de trabalho e de
aceitação de que vou ser mãe. Eu me pego muitas vezes parada,
completamente fora do ar, apenas com minha mão em volta da minha
barriga, tentando sentir o bebê lá dentro e pedindo perdão pela mãe que vou
ser, por pensar em desistir dele antes que ele pudesse vir ao mundo.
Eu me pegava chorando em muitas dessas vezes, e o sentimento de
proteção ia crescendo cada dia mais. O mero pensamento de nunca o
conhecer me abalava de tal forma que me desestruturava inteira.
Hoje eu estava, pela primeira vez, em frente a uma loja de artigos
infantis, e faz mais de quinze minutos que estou parada em frente a ela. A
vitrine tem uma variedade de coisas, e meu coração troveja dentro de mim
como uma banda marcial no feriado de quatro de julho.
Criando coragem, entro na loja, e uma vendedora logo chega perto e
pergunta o que estou procurando. Digo que só estou olhando. Quero apenas
olhar as coisas, não sei se iria levar algo.
Paro quando vejo uma roupinha rosa com branco, fofa, tão minúscula e
perfeita que sinto lágrimas nos olhos. Minha mão cai para a minha barriga,
e fico lá, parada por um tempo tão longo que a vendedora volta para perto.
— A senhora quer dar uma olhada nessa? É para recém-nascido… —
Ela fica especificando sobre a pequena peça e falando e falando…
— Eu vou levar essa — digo, interrompendo o fluxo de palavras da
vendedora.
— Tem outras cores…
— Essa.
— É claro, temos também um…
Deus! Ela é chata, eu só quero ficar sozinha e apenas olhar. São tantas
coisas sobre as quais nunca tive nem curiosidade, e percebo o quanto eu
mantive esse meu lado materno trancado dentro de mim, não deixando,
mesmo que inconscientemente, nada aflorar. Mas agora que estou
permitindo, está tudo vindo como um turbilhão para fora.
Saio meia hora depois da loja com minha primeira compra para o meu
bebê.
Meu bebê.
Meu bebê.
Meu bebê.
Recito na minha mente durante meu caminho de volta para o trabalho.
É um termo que novo demais para mim, e eu preciso me lembrar a todo
momento de que sou agora responsável por tudo que acontece com meu
filho.
E isso me apavora.
Olho a compra em minhas mãos e penso em ir ver Christian no
trabalho. Um sorriso se forma em meus lábios.
Quero mostrar para ele a minha primeira compra para o bebê. Ele
estava enchendo a casa com coisas, e eu não tinha participado disso ainda.
Talvez estivesse na hora de me empenhar mais, deixar o medo do
desconhecido de lado, porém, um passo de cada vez.
Acabo voltando para meu próprio escritório, e Elana levanta a cabeça
da tela do computador quando entro.
— Ei. — Ela vê a sacola e sorri amplamente. Eu criei coragem e falei
um pouco do meu passado para ela quando contei sobre a gravidez. Eu a
considerava uma amiga, e ela não me julgou por pensar apenas em mim
durante tanto tempo. — Ora, Haven, por que não me chamou para ir às
compras? Ah, roupinha de bebê é tão fofinha! Posso ver?
Oh! Eu quero mostrar primeiro para Christian.
— Essa é especial. Eu estou indo embora mais cedo hoje, pode ser?
Estou indo ao escritório de Christian — informo. — Sei que dará conta,
com Kleber, das coisas por aqui.
— Ah, tudo bem. Vai em frente, garota — diz. — Ah, mas amanhã tem
uma reunião logo pela manhã, não esqueça.
— Obrigada, Elana, sem você estaria frita. E não esquecerei.
— Só posso concordar com você sobre minha excelência.
Ainda tenho um sorriso nos lábios quando pego o táxi para o escritório
da Lamartine. Meu celular toca, e o pego com um sorriso, achando que é
Christian, mas meu sorriso desaparece quando vejo que não é local.
Minha advogada não teve êxito em falar com minha mãe durante todas
essas semanas, ela se recusa a falar com ela e insiste em me ligar.
— O que você quer? — Atendo para que ela me deixe em paz. Eu não
tinha nada com ela há anos. E nem gostaria de ter.
— Isso é jeito de falar com sua mãe? — Sua voz é reprovadora, como
eu estava acostumada a ouvir desde que me entendo por gente. — Por que
demorou tanto para falar comigo?
— E você nem recebeu a dica? — retruco. — Eu há muito tempo não
tenho nada para falar com você, mãe, então acho uma perda de tempo
conversarmos.
— A ingratidão ainda é um traço seu, pelo visto.
— O que você quer?
— Estou doente e preciso de ajuda com as despesas do hospital. Você
me deve isso, Haven, criei você sozinha, alimentei, vesti, dei um teto —
fala num tom de raiva como se eu fosse a culpada por ela estar doente,
quando nem sabia dessa doença, para começar.
— E todo dinheiro que você ganhou às minhas custas?
— Você acha que ganhava rios de dinheiro? Como é ingênua, Haven,
mal tenho sobrevivido.
— E acha que tenho dinheiro para te dar? Depois de tudo?
— Acha que não sei com quem se casou? E que não sei que você
mesma tem grana?
Então era isso. Ela, como sempre, iria me usar para ter seu próprio
dinheiro.
— Sempre pelo dinheiro… — digo com desgosto.
— Vai me dar ou não?
Será que era mesmo para pagar o hospital? Ela acha que vou lhe dar
dinheiro assim, sem verificar? Está enganada.
— Você é hilária. Nem se deu ao trabalho de perguntar como eu estou
— digo com raiva. — Por que eu iria pagar suas contas se nunca tive nada
de você, a não ser maus-tratos?
— Você inventou a maioria deles, Haven! Por que acha que nunca
tiraram você de mim? Acha que não sei que disse uma vez na escola que eu
batia em você? Mas nunca tiveram provas, sabe por quê? Sua imaginação
infantil inventava que eu não era uma boa mãe.
Minha imaginação? Ela agora estava me fazendo parecer louca? Deus,
ela não mudava, o tempo passava e ela continuava a mesma.
— Qual doença mesmo que você tem? — pergunto, optando por
ignorar suas palavras. — E por que não falou com minha advogada? Ela
tentou falar com você.
— A minha filha é você, e não vou falar com advogados idiotas.
Respiro fundo e percebo que estou tremendo. O táxi para na frente do
prédio da Lamartine Investiment. Pego o dinheiro e pago ao motorista, só
depois volto a falar.
— Tenho de desligar agora. Você receberá notícias minhas, se o que
diz for verdade.
Sem esperar que ela retruque, desligo e jogo o celular na bolsa.
Subo para o andar de Christian, e Salma, a assistente dele, arregala os
olhos quando me vê.
— Dona Haven! — diz ela com um sorriso caloroso, e eu retribuo.
Faz tempo que vim aqui. Salma é muito bonita, e logo que Christian e
eu nos divorciamos, passei uns dias desconfiada da mulher, mas logo vi que
ela não tinha interesse nele, ou o escondia muito bem.
Eu sou terrível quando se trata de sentir ciúme de Christian, e fiz dela
minha aliada. Sempre ligava para cá para “saber” como meu ex-marido
andava e onde ele iria jantar.
Que ele não descobrisse isso, ou a coitada poderia ser demitida por
passar informações para mim, mas chegou um momento que eu sabia que se
Christian quisesse outra mulher, nada o impediria,
— Christian está livre? — pergunto para ela.
— Ele está em reunião, mas terminará em breve — continua ela. —
Parabéns pelo bebê, o senhor Christian está muito feliz.
— Obrigada, Salma — agradeço com um sorriso. — E você, como
está? Sua filhinha está bem?
— Ela está bem. Crescendo muito rápido.
Ela é mãe de uma menina, e o pai não estava por perto, pelo pouco que
eu sabia.
Estava prestes a falar, quando vozes vêm pelo corredor e Christian
surge. Ele está acompanhado por uma mulher, e eu a reconheço. Só que,
diferente do outro dia, quando ela estava em um vestido de noite, ela está
vestida como uma executiva, de blazer e calça.
Ela é o oposto de mim na aparência, porém, muito bonita. Eles têm
sorrisos nos lábios enquanto discutem algo, e ela toca seu braço enquanto
fala. A temperatura do meu sangue sobe uns cem graus nas minhas veias.
Eu não sou de não gostar das pessoas apenas por vê-las, e não tinha muitas
rivalidades com outras mulheres, mas ela esteve em um encontro com meu
marido, quer dizer, ex-marido.
— Christian Davis! — digo, mordendo as palavras.
— Haven? — Seu sorriso só fica maior, e ele vem em minha direção.
Eu dou a ele um olhar mortal que é completamente ignorado. Ele enlaça
minha cintura e beija meus lábios como se estivéssemos ali sozinhos.
Argh!
Ele se afasta e me olha de cima a baixo, seus olhos na minha barriga.
Quero acertar a sacola na cabeça dele, mas freio o gesto.
— Não esperava você — diz, surpreso.
— Eu vejo — digo.
— Christian, foi um prazer, eu entro em contato com os novos
detalhes. — A mulher fala para ele, e quero saber de que diabos de detalhes
ela falaria com ele. Estreito meus olhos para ela, e a mulher nem parece me
notar.
Ele estava saindo com funcionárias? Porque eu lembrava muito bem
dessa, foi uma das últimas com quem ele jantou. Meus olhos são fendas e
enviam chispas de fogo na direção dela.
— É claro — diz ele, apertando a mão dela. — Até mais.
— Até mais.
Ela acena para todos e caminha para o elevador. Me viro para ele.
— Podemos falar na sua sala? — Minha voz sai como seda.
— É claro. — Ele se vira para Salma. — Segure as coisas por um
momento.
— Tem uma reunião com Rafael em meia hora.
— Tudo bem.
Caminho para a sala dele, e ele me segue. Quando adentramos, ele me
agarra e puxa minhas costas para seu peitoral duro, sua boca no meu
pescoço e seus braços envolvendo minha cintura, as palmas das mãos
envoltas na minha barriga.
— Amei a surpresa, minha linda bruxa! — Ele beija meu pescoço, e
isso quase me distrai.
Saio de seu abraço e viro para ele.
— Está saindo com funcionárias agora? Eu não sabia que esse aí
trabalhava para vocês!
— Quem? Débora?
— Esse é o nome dela? Vi você jantando com ela outro dia, e não me
diga que eram negócios, Christian!
Ele abre um sorriso perverso.
— Oh, você está ciumenta, ainda há esperança para você, bruxa! —
Ele me agarra novamente e me beija, e dessa vez eu beijo de volta apenas
para morder seus lábios. — Ai, porra, Haven!
— Você está saindo com a funcionária?
Ele lambe o lábio mordido e resmunga.
— Não que isso seja da sua conta, mas Débora é executiva da Pontes,
e não, não estou saindo com ela. Apenas jantamos uma vez, que não deu
muito certo, devo lembrar.
— Claro que é da minha conta!
— Não, não quando ela está aqui a trabalho e os assuntos da Lamartine
não dizem respeito a você.
— Mas você, sim — retruco.
— Haven, não estávamos em um relacionamento quando jantei com
ela.
— E quando deixamos de estar em um relacionamento, Christian?
— Haven. — Seu tom não dá margens para discursão, mas eu não
tinha acabado ainda. — Você veio por um motivo. O bebê está bem,
principalmente, você está bem?
— Sim.
— Você estava fazendo compras? — Ele aponta a sacola em minha
mão, e lembro por que vim aqui.
— Eu… — Parece tão bobo agora, vir até aqui no meio do dia e
atrapalhar seus compromissos para mostrar uma compra. Devia ter
guardado para a noite, quando estivesse na casa dele. — Eu… Bem, estava
passando em uma loja e… fiz uma compra.
— E veio me mostrar? — Ele parece se divertir do quanto estou sem
graça. Eu não ficava tímida com Christian tinha anos. Acho que apenas no
começo do nosso relacionamento eu fui tímida com ele.
— Parece bobo agora — digo, um pouco vermelha.
— Mostre-me — diz e me puxa para o canto, onde um sofá preto de
couro está posto em frente a uma mesa de centro e de duas poltronas
também de couro.
Dou a sacola com a roupa rosa que comprei, e ele sorri quando vê que
é algo de bebê.
— Você tem comprado tanta coisa para o bebê, e achei essa roupinha a
coisa mais fofa.
— Está me deixando feliz pra caralho, Haven — diz ele e segura meu
rosto com uma das mãos. — Feliz de ver você gostando da ideia de termos
um filho.
— Eu sei que não confia em mim com ele, Christian — digo,
colocando para fora o sentimento que tenho desde que voltei do hospital
naquele dia. — Tenho a impressão de que você acha que vou correr e fazer
um aborto quando não estiver olhando.
— Claro que não penso assim, Haven. De onde tirou isso? — Ele
coloca a sacola de lado e segura minhas mãos nas suas. — Eu, no começo,
realmente não conseguia confiar, mas você tem mudado isso. Eu sei agora
que não faria mal ao nosso bebê.
— Como tem certeza disso? — indago, desconfiada.
— Quem sairia e compraria presente para alguém de quem quer se
livrar? Eu sei que aceita nosso filho dentro de você agora.
— Eu tenho tantas dúvidas, Christian. Não posso fazer nada disso sem
você — admito.
— Estou aqui, já disse isso para você.
Eu sei que ele estaria.
CAPÍTULO 25
Semanas depois...
Nossos amigos acabam indo embora mais cedo, pois não tínhamos
mais clima para festejar. Madison Collins era o tipo de pessoa tão tóxica
que por onde passava deixava um rastro ruim.
Observo Haven no jantar que Glória, sentindo-se muito culpada por ter
deixado a mãe de Haven entrar, preparou para nós.
Haven esteve se contorcendo na cadeira e com a testa franzida desde
que nos sentamos para comer.
— Tudo bem? — pergunto quando a vejo fazer mais uma cara
incômoda.
— Um pouco de dor de cabeça e cólica — diz ela e leva a mão à
barriga. — Está incomodando um pouco, mas o doutor disse que às vezes
pode acontecer, que é normal.
— Devemos ligar para o médico?
— Eu não acho que seja nada de mais, Christian — assegura, mas o
tremor em sua voz é nítido. — Estou bem.
— Haven…
— Por que não tiramos umas férias? —pergunta ela, mudando de
assunto.
— Talvez. — Eu poderia fazer isso acontecer. Tirá-la um pouco dessa
tensão. — Para onde gostaria de ir?
— Qualquer lugar com sol está bom para mim.
— Vou providenciar uns dias de descanso então, Bruxinha.
Quando nos casamos, mesmo com a mudança para o Brasil prestes a
acontecer, viajamos por um mês pela Europa, e foi incrível. Eu poderia
passar um tempo com ela em alguns lugares aqui no Brasil. Ela não
conhece tantos lugares. E o que mais tem no Brasil é sol para minha linda
garota americana.
Depois do jantar, acabamos aconchegados na cama, para assistir a uma
reprise do último jogo dos Patriots que eu tinha perdido. Haven não é muito
fã, mas quando éramos casados ela sempre assistia comigo os jogos. Ela
estava voltando aos hábitos de antes sem nem perceber. Ela se contorce ao
meu lado com a testa franzida.
— Você parece incomodada, vou ligar para o médico…
— Christian, não está forte, é apenas um cólica suave, só isso — diz,
teimosa, e se aconchegando de novo em mim. Minhas mãos
automaticamente vão para sua barriga e acaricio o volume para cima e para
baixo, e ela suspira e murmura suavemente: — Isso é bom.
Beijo seu pescoço, deixando um caminho de beijos até sua boca, e
beijo-a forte. Nossas línguas se entrelaçam e o jogo é esquecido quando a
empurro no colchão e cubro seu corpo com o meu. Ela geme, e não é um
gemido de prazer, me fazendo lembrar que ela não está bem. Porra!
Saio de cima dela, me maldizendo pela falta de controle, e vejo seu
rosto contorcido de dor.
— O que foi? — pergunto, alarmado.
— Acho que… — Ela leva a mão ao baixo ventre. — Foi apenas uma
pontada de dor.
Ela não tinha acabado de dizer que estava tudo bem, que era apenas
uma leve cólica? Sem mais questionamento, pego meu celular e ligo para
seu médico enquanto visto uma roupa. Eu a levarei para o hospital.
Minha conversa com o obstetra é sucinta e informo o que está
acontecendo, e ele pede que leve Haven ao hospital apenas por precaução,
pois pode ser nada ou um princípio de aborto por causa de todo estresse que
ela passou hoje com a visita de sua mãe. Saio do closet com uma roupa para
ela e a encontro meio pálida na cama.
— O médico disse para irmos ao hospital — anuncio e dou a roupa
para ela vestir. — Vista-se.
Ela não discute, e isso é um indicador de que não está bem. Quando
ela vai trocar de roupa, tem uma mancha vermelha na roupa íntima, e ela
ofega quando a vê. Seus olhos estão arregalados quando encontram os
meus. Nos olhamos paralisados quando o entendimento do que pode
acontecer com a nossa bebê nos atinge.
— Christian… — ela chama, lágrimas enchendo seus olhos, e vou para
ela e a ajudo a se vestir o mais rápido que posso.
— Temos de ir, baby — digo com voz embargada. Ela estava perdendo
a nossa filha?
Fico angustiando até o hospital, pois não sei o que está acontecendo.
Quando Haven é atendida o médico de plantão diz que ela tem de ser
internada, porque está com a pressão arterial alta, e depois dos exames que
ela fez com urgência ele afirma que ela corre risco de perder a bebê, pois o
batimento cardíaco da minha filha está levemente acima do considerado. Se
Haven não fosse medicada logo, poderia…
O pensamento de perder minha filha me deixa arrasado, eu não posso
nem imaginar o quanto isso poderia ser doloroso. Nem a conheço ainda e já
a amo tanto, que se algo de ruim lhe acontecer, me devastaria.
Eu já estou devastado apenas em cogitar isso.
CAPÍTULO 30
Deveríamos ter cuidado com o que desejamos, pois pode ser que
quando isso se concretiza, não seja o que realmente queremos.
Olho para o rosto de Christian, e nunca o vi com o semblante
envelhecido como agora. Ele está com uma ruga entre os olhos e
angustiado. Meu próprio coração está apertado. O pequeno sangramento e a
pressão alta são sinais de alerta preocupantes, e eu corro o risco de abortar
nossa bebê. Fecho meus olhos, orando para que ela fique bem. O médico
estava bastante preocupado com minha pressão. Eu tinha de manter a
calma. Minha bebê era forte, ela iria ficar bem, mas eu teria de ficar
internada à noite ou até o pequeno sangramento parar e minha pressão
baixar. Eu não tinha tido problemas com pressão alta por toda minha vida.
Meu coração estava cheio de culpa, era culpa minha isso estar
acontecendo. Se eu perdesse nossa filha, meu relacionamento com Christian
não ficaria bem, isso iria destruir o que voltamos a construir, mesmo que
não fosse como antes, ainda assim estávamos tentando fazer
— Desculpe — digo para Christian quando ele segura minha mão que
está livre. Ele beija o dorso dos meus dedos, e seus olhos azuis, que tanto
amo, me fitam com tanto amor e dor misturados que meu peito aperta. —
Deve ser culpa minha, porque não fiquei feliz quando descobri sobre ela.
— Pare de falar besteira, Haven — Christian me repreende, mas eu
sinto dentro de mim a culpa me corroendo.
— Apenas sei, Christian, que se eu a perder vai ser culpa minha.
— A proíbo de falar assim. E não vai perder nossa filha, está me
escutando? A proíbo de falar isso.
A noite é longa, mas de manhã recebemos boas notícias depois da
visita do médico e do resultado de novos exames. A medicação que recebi
parou o processo do princípio de aborto e minha pressão arterial tinha
voltado ao normal, mas eu ainda ficaria o dia todo em observação. O alívio
era nítido no meu rosto e no de Christian.
— Falei com meus pais — Christian diz mais tarde, quando estamos
deitados, sua mão acariciando minha barriga com uma reverência que me
deixa toda emocional. — Eles chegarão amanhã.
— Oh, achei que seria na próxima semana.
— Eles adiantaram quando souberam que você estava no hospital.
— Oh, Christian, apenas os preocupou.
— Falando em preocupação, sua mãe foi embora hoje.
CAPÍTULO 31
Exausta não chega nem perto de como estou me sentindo, mas eu não
consigo dormir. Desde que fui transferida para um quarto e colocaram
minha bebê de volta em meus braços que não paro de admirá-la.
Como minha mãe me teve assim, desse mesmo jeito que seguro minha
filha agora, há tantos anos, e simplesmente decidiu que nunca me amaria?
Eu não entendo, mesmo com toda terapia que tenho feito. Principalmente
agora, quando olho a minha filha dormindo tão inocente.
— Olá! — A voz da mãe de Christian chama da porta. Seus pais estão
aqui no Brasil há mais de duas semanas, eles estavam tão loucos com a
chegada da neta que não resistiram e estão de visita desde então. Meu
relacionamento com Emma tinha voltado a ser melhor que antes, desde que
tinha me separado de Christian ela tinha ficado chateada comigo, mas
depois que ela descobriu minha gravidez, a mulher não cabia em si de tanto
contentamento. A conversa que tivemos, quando ela veio de visita logo
após eu ter saído do hospital, quando pensamos que íamos perder minha
filha, ajudou muito. Eu não tinha Madison na minha vida como desejei ter,
durante tanto tempo, mas a mãe de Christian estava sendo uma mãe para
mim, e eu estava feliz que ela estivesse aqui. — E minha neta?
— Oi, Emma. — digo baixinho para não assustar minha preciosidade,
e sorrio para minha sogra. — Ela é tão fofinha.
Ela vem e se senta na cadeira ao lado da cama, admirando a neta.
— Onde está Christian? — pergunto.
— Ele já está vindo — diz ela.
Ele tinha ido falar com todos nossos amigos que tinham vindo
conhecer nossa filha, e eu já estava sentindo sua falta.
— Ela é maravilhosa, obrigada por nos dar essa alegria, minha querida
— diz Emma, e ofereço para ela segurar Crystal. Quando ela pega sua neta
nos braços ela tem lágrimas nos olhos. — Ah, pequenina, como eu amo
você.
Ela fica balbuciando para Crystal, até que a porta se abre novamente e
meu marido entra. Sim, estamos casados novamente. Agora não tivemos um
casamento como o primeiro, foi apenas uma cerimônia minúscula com ele e
eu, apenas três dias depois que me pediu em casamento novamente. Era o
nosso momento sem ninguém. Já tivemos isso na primeira vez que nos
casamos, mas em breve daríamos uma festa, depois de me recuperar do
nascimento de nossa filha. A aliança no dedo da mão de Christian me deixa
toda ardente por esse homem. Ele beija minha testa quando se aproxima da
cama.
— Como está minha Bruxinha? — Ele alisa os cabelos da minha testa
com amor em seus olhos azuis.
— Melhor impossível — respondo, mas não é verdade, eu ficaria
melhor quando estivesse em casa com ele e nossa filha.
— Já disse que te amo hoje? — pergunta Christian.
— Umas cem vezes, isso o que consegui contar — digo, rindo, e sua
mãe ri também.
— Estou tão feliz que voltaram a ficar juntos e ainda trouxeram essa
linda menininha para nossas vidas — Emma diz. Christian pega nossa filha
da mãe e a embala nos braços. — Eu fui tão insensível quando você se
separou de Christian, que nunca pensei se tinha uma razão maior por trás
disso. Criar um filho não é fácil, minha querida, mas estamos todos aqui por
você.
— Eu sei, e agradeço por ter vocês — digo.
— Eu queria morar perto, ficar mais tempo, mas infelizmente
moramos tão distantes.
— Depois podemos conversar sobre isso, mamãe. Deixe Haven dormir
um pouco, ela está exausta, as horas de parto foram longas.
— É claro, que falta de tato de minha parte. — Ela se levanta e segura
minha mão na sua. — Descanse, querida.
Ela sai logo depois, prometendo me manter informada dos negócios na
joalheria.
CAPÍTULO 33
Um ano depois
“Ele é meu chefe e vivemos soltando farpas, mas ele é sexy demais
para eu me prender a esses detalhes. Porém não é só isso que está entre
nós...”.
Clara ficou viúva pouco depois de se casar com o homem que ela
acreditava ser o amor de sua vida e isso quase a destruiu. A única força, que
fez ela se reerguer foi seu bebê que seu marido deixou ainda em seu ventre.
Os anos passam e ela ainda não superou sua perda. Até que no emprego
novo, Clara vê seu chão ruir novamente quando o CEO da empresa entra na
sala de reunião.
O que seu marido morto estava fazendo ali, muito vivo? E por que
agora, ele se chamava Enrico?
Enrico Monteiro acreditava estar preparado para tudo, mas ele estava
enganado, quando uma funcionária louca o confunde com seu marido
morto, ele não lhe dar muito crédito, mas isso o intriga. Por causa de um
acidente cinco anos antes ele perdeu a memória de um período de sua vida e
ele mantinha isso em segredo por causa de sua posição como CEO, no
entanto, não acreditava que ele fosse esse mesmo tal Michel que ela dizia
ser.
Seria possível ele ter se casado e não lembrava de sua esposa?
DOMINIC ( GUARDA-COSTA 5)
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Table of Contents
NOTA AUTORA
INDÍCE
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
Capítulo 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
Capítulo 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
EPÍLOGO
LIVROS ANTERIORES
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