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O empresário do século

XXI ou será um
místico ou não será
nada

Sergio Holtz
Copyright © 2022 Sergio Holtz

Todos os direitos reservados.

ISBN: 9798428062014
DEDICATÓRIA

José, tu que como empresário do ramo dos trabalhos com madeira, em tua
marcenaria e carpintaria, sustentaste a Sagrada Família e educaste teu filho
Jesus, faze com que, em nossa vida pessoal e empresarial, sigamos sempre o
teu exemplo de fé, coragem, trabalho, disposição e humildade. Tudo isso te
pedimos para o poder, honra e glória de teu Filho. Valei-nos, São José!
A.M.D.G.
CONTEÚDO

DEDICATÓRIA 3

CONTEÚDO 5

AGRADECIMENTOS 1

DE QUE EMPRESÁRIO ESTOU A FALAR? 1

MÍSTICO NA AÇÃO 4

A experiência do mistério 7

O que não é ser místico 16

Finalmente místico na ação 19

Algumas escolas que você poderá gostar 20

Nas escolas do ocidente. 22

O EMPRESÁRIO 24

Vocação para empresário 26

Profissão e Vocação: são duas coisas diferentes 26

A importância de se perder a noção do tempo 28

Voltando para Vocação e Profissão 29

Vocação é mais que profissão 31

Assumindo o empresariado 32

Deus ajuda quem cedo madruga 33

O EMPRESÁRIO MÍSTICO 35

Mantenha a sua prática religiosa 35

Cuidados da alma 37
O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

Autoconhecimento e autoestima 38

Autoestima versus autorrejeição 41

A Verdade sobre a pessoa humana 42

A produtividade e a autoestima 43

Exercícios para reconquista da autoestima 44

Análise versus Síntese 47

Empresários místicos 48

Arjuna empresário receoso 48

Oxossi empresário de foco 51

José empresário guiado por sonhos 52

TUDO JÁ FOI DITO 54

“O Segredo do sucesso” 56

SOBRE O AUTOR 59

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

AGRADECIMENTOS

“Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças,


sempre e em todo lugar, Senhor, Pai Santo, Deus eterno e todo-poderoso, por
Cristo, Senhor nosso. Por ele, os anjos celebram vossa grandeza e os santos
proclamam vossa glória. Concedei-nos também a nós associar-nos a seus
louvores…”

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DE QUE EMPRESÁRIO ESTOU A FALAR?

Mas, Sergio, este é um livro só pra empresários? É para qualquer pessoa que
queira empreender a própria vida! Respondi. Eu percebi que na pergunta está
contido um preconceito: o de que empresário é o dono de empresa. E por
empresa entende-se só aquela constituída dentro da Matrix, pagando
impostos, contribuições sociais e todos os encargos que fazem parte da
sociedade em que vivemos. Sim, isso é importante! Tem sim que participar e
contribuir com a sociedade, e isso passa pelos encargos, contribuições e
impostos.

Eu também imaginava que ser empresário seria só exercer uma atividade


com finalidade de obter lucro. Acreditei por muito tempo que empresário
seria apenas uma pessoa vocacionada para gerenciar ou prestar serviços ou
fornecer produtos e faturar milhões; pessoa racional, responsável e capacitada.
Sim, é isso! Mas ser empresário vai além disso. Empresariar é, sem que eu
queira, estar envolvido com o mistério de cada momento da vida, de cada
coisa criada, de cada pessoa envolvida. Agir no desvio padrão; não na média,
nem na mediana nem na moda. O empresário também é místico! Tem que ser!

Este livro propõe uma visão transpessoal, integrativa, uma conversa íntima
com a natureza do EU empresário. Porque na minha empresa de acompanhar
pessoas, recebo e acolho algumas que me dizem que “depois do primeiro
milhão você não pára mais… e quanto mais… mais angústia… não pára
mais!” Então, mano véi, a coisa é o seguinte: você pode ganhar dinheiro, muito
dinheiro do jeito antigo, só no extrativismo, no estilo dos nossos irmãos
unidos do norte, mas a coisa fica braba pro teu lado! Já vai garantindo um

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bom plano de saúde, daqueles bem TOP, porque vai precisar.

Disse, se não me engano, Jim Brown, que “os homens perdem a saúde
para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por
pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que
acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se
nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido”. Desde que
li isso pela primeira vez fiquei horrorizado! É triste! É chocante tamanha
verdade!

Na definição de Oxford Languages para empresa, leio: 1. obra ou desígnio


levada a efeito por uma ou mais pessoas; trabalho, tarefa para a realização de
um objetivo; empreendimento. -- "as navegações portuguesas constituem e.
notáveis"; 2. organização econômica, civil ou comercial, constituída para
explorar um ramo de negócio e oferecer ao mercado bens e/ou serviços. -- "e.
de telecomunicações"; 3. por extensão, empresa como entidade jurídica; firma.
-- "a e. não pagou os impostos".

O mesmo dicionário define empresário como: 1. substantivo, aquele que é


dono ou dirigente de uma empresa ('organização'), ou que opera no
agenciamento de negócios; homem de negócios. – "um e. do ramo de
metalurgia"; 2. substantivo, aquele que cuida dos interesses profissionais e
financeiros de pessoa(s) que tem (têm) um desempenho público destacado. –
"o e. de um cantor"; 3. adjetivo, relativo a empresa; empresarial.

Assim, eu optei por falar sobre o adjetivo empresário, relativo a empresa,


empresarial; aquele que empreende. Empresa que é “obra ou desígnio”. Sim,
sobre empreendedorismo, sem modismos… Mas focado na “disposição ou
capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos, serviços e negócios”;
“iniciativa de implementar novos negócios ou mudanças em empresas já
existentes; quando for o caso, com alterações que envolvem inovação e
riscos”; “por metonímia, conjunto de conhecimentos relacionados a essa
forma de agir” (cf. Oxford Languages).

Eu também recomendo sim, que se aproveite de todos os conceitos,


disposições e recomendações para qualquer tipo de empresa: a contabilidade e
a controladoria, o planejamento estratégico, o business plan, os milhões e
milhões de cursos e recursos para formação, conformação, desenvolvimento
pessoal, humano e profissional, etc. Nada do que está aí disponível está
revogado! Aliás, dá uma olhada na famosa família ISO 9000. Um sistema de
gestão testadíssimo e aprovadíssimo que, se não fosse certificável, certamente,

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seria mais seriamente implantado e implementado.

Em tempo, eu vejo com respeito a contribuição do Serviço Brasileiro de


Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para a divulgação do conceito,
do apoio teórico e prático ao empreendedorismo, e também respeito muitas
outras entidades privadas, que contribuem para o desenvolvimento de
empreendedores, de colaboradores gentis e de contribuintes satisfeitos.

Muito se fala dos métodos, pouco dos processos de criação e


desenvolvimento de empresas e negócios. Vamos encontrar milhares de
manuais de como fazer, mas nenhum descreve o que acontece no meio do
processo. E o que acontece no meio do processo? Vai dar errado! Pelo menos
é o que parece em alguns momentos: que está tudo dando errado. Não se
desespere! Venha comigo nesta conversa íntima com a natureza do EU
empresário.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

MÍSTICO NA AÇÃO

Levanta-te, amiga minha, minha formosa, e vem-te.


Porque eis que passou o inverno: a chuva se acabou, e se foi.
As flores se mostram na terra, o tempo de cantar chega:
e a voz da rola se ouve em nossa terra.
A figueira produz seus figuinhos, e as vides em agraço dão cheiro:
levanta-te, amiga minha, minha formosa, e vem-te.
(Cantares de Salomão)

Difícil encontrar um método, livros, manuais ou cursos de empreendedorismo


que descreva o processo criativo de desenvolvimento de empresas e negócios.
De qualquer empresa, de qualquer negócio, de qualquer produto. Seja um
comércio (físico ou virtual), uma indústria, manufatura, prestação de serviços,
agronegócios, uma universidade… um livro, um curso, um supermercado,
“um lojinha”... um escritório de advocacia, um consultório médico, a direção
de uma escola pública, a coordenação pedagógica de uma escola particular…
qualquer negócio, qualquer produto (físico ou virtual), qualquer empresa.

O que os cursos e livros não contam é que no meio do caminho… vai dar
errado! Sempre vai acontecer um desvio, algo não previsto, algo
extra-ordinário… Não se desespere! É natural e faz parte do processo. Tem
tudo para dar errado! Essa é uma premissa libertadora, porque predispõe a sua
inteligência para observar mais atentamente as coisas que acontecem ao seu
redor… Misteriosamente, “coisas acontecem”! Isso é muito prático e muito
místico! sem misticismo.

Uma breve leitura, despretensiosa, da literatura antiga pode ajudar a


economizar recursos: tempo, dinheiro, recursos humanos, etc. Os antigos já
erraram bastante e, por isso, têm muito a nos ensinar … A saída do Egito, a
travessia do Mar Vermelho, por exemplo, representa cada um de nós como se

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tivesse saído do Egito... e o mar se abriu... Uma travessia ao desconhecido,


sem saber qual o mundo que me espera, empreender. A saída realmente pode
ser muito angustiante! Pessach para além do tradicional sentido de liberdade e
da liberação da escravidão, da travessia do deserto e do recebimento da Torá,
simboliza dois aspectos que são pouco explorados e pouco conhecidos:
primeiro, a certeza para o povo judeu de que tudo é possível; o segundo
conceito é de coragem e de fé, que andam juntos.

Por que tudo é possível? Porque simplesmente os hebreus conseguiram


sair, conseguiram dobrar o faraó, que era o ser mais poderoso do mundo
conhecido naquela época; conseguiram sair do Egito, que era a civilização
mais longeva das civilizações da época; sem falar da abertura do Mar… O
Rabino Sacks diz que "Pessach é a história da derrota do provável pela força
do possível”. História que conta que tudo é possível: um grupo
desorganizado, desarmado, foi capaz de dobrar aquele soberano e de partir, de
fortalecer a sua própria identidade e criar uma nova civilização. Para sair desse
jeito, é preciso coragem e fé!

Voltando à premissa libertadora que predispõe a inteligência humana para


observar mais atentamente as coisas que acontecem ao seu redor e observar
atentamente as “coisas que acontecem misteriosamente”... De repente, é como
se as coisas tivessem vida própria e participassem da sua vida. É como se
todas as coisas fossem criadas para você, para te ajudar a atingir aquilo para
que você é criado, como diz Inácio de Loyola. Nos seus Exercícios Espirituais,
ele afirma que “as outras coisas sobre a face da terra são criadas para a pessoa,
para que a ajudem a conseguir o fim para que é criado”.

S. Francisco de Sales, grande diplomata conciliador e reconciliador, desde o


século XVII, diz:

A curiosidade, a ambição e a inquietação, a par da inadvertência e pouco


conhecimento do fim para que viemos a este mundo, são a causa de termos
mil vezes mais impedimentos do que afazeres, mais empecilhos do que
obras, mais embaraços do que tarefas.

Observe "as outras coisas sobre a face da terra", coisas visíveis e invisíveis,
e também a sua relação afetiva com as circunstâncias, com os fatos.

Por falar em relação afetiva com as coisas visíveis e invisíveis, lembrei de


que esses dias eu estava atendendo um amigo, engenheiro, dono de uma
empresa de projetos e obras, e ele me perguntou o que significava um sonho
muito vivo que ele teve a algum tempo, onde viu perfeitamente um avião

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fazendo um pouso de emergência na Av. Faria Lima, em São Paulo. Lógico


que não dá para fazer interpretação de sonho assim, falei para ele! É
importante “conciliar” com o que você estava vivenciando naquela época do
sonho. E continuei: talvez você estivesse com qualquer imprevisto numa
obra… Ao que ele me interrompeu: É mesmo! Nós estávamos com uma obra
complicada e muito importante na Faria Lima. Mas, no avião, todos saíram
vivos! … Rimos!

Outra história que gosto de lembrar, a propósito de uma empresa, “obra


ou desígnio levada a efeito por uma ou mais pessoas”, ouvi numa entrevista de
Jorge Amado contando de quando Zélia Gattai começou a escrever. Ele a
provocava para escrever: “Escreva, Zélia, você tem Jeito!” E ela respondia: “eu
não, se alguém se interessar vai ser só porque eu sou mulher do Jorge Amado.
Não quero isso! Ele insistiu e Zélia escreveu “Anarquistas, graças a Deus”, aos
63 anos de idade. Vai vendo! Não tem idade certa para começar uma obra ou
desígnio… Mistério!

Conta Jorge que um certo dia, ele estava no seu escritório, escrevendo, e
Zélia escrevia na cozinha, na mesa da cozinha. Ele então começou ouvir Zélia
“cometendo impropérios”. Curioso, ele se dirigiu a cozinha e viu Zélia
gesticulando sobre a máquina de escrever e lançando ofensas contra alguém.
Jorge pergunta: “O que é isso Zélia?”. Ela responde, apontando para o papel
preso no cilindro da máquina de escrever: “Este crápula… ele vai trair, ele vai
matar…” Ao que Jorge Amado falou: “Mate ele.”. Ao que Zélia responde:
“Não posso.” … Notei que a autora não tem poder sobre uma personagem do
seu próprio livro, porque a obra tem vida própria. Mistério!

Está certo que Angeli matou a Rê Bordosa… Mas, a porra-louca morreu


por infecção de um vírus poderosíssimo, o tédius matrimonius – símbolo
proposto pelo cartunista para culpar a verdadeira praga contemporânea, o
tédio, a falta de sentido. E nada de adoecer e agonizar, Rê Bordosa
simplesmente explodiu. Mistério!

Então, se você já estiver preparado para caminhar o caminho da ascese


mística, já percebeu que a tua obra ou desígnio, a tua empresa tem “vontade
própria”; e ela vai te mostrando o que ela quer no meio do caminho.
Mistério!… Isso os manuais não contam. É ela, a empresa, que te aceita. Ela
quer “brincar” com você. Se não for assim, vai haver muito desgaste, muito
esforço para pouco resultado, um vale de lágrimas e ranger de dentes.

Outro dia encontrei no canal TED, na Internet, uma palestra do Dr. Uri

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Alon: Why science demands a leap into the unknown, algo como “Por que a ciência
exige um salto para o desconhecido”. Ele descreve exatamente esse “erro”
que acontece no meio do caminho. Ele conta: “No meio do meu doutorado,
eu estava irremediavelmente emperrado. Cada direção de pesquisa que eu
tentei, levou a um beco sem saída. Parecia que meus pressupostos básicos,
simplesmente pararam de funcionar…”

Dr. Alon “descobriu algo novo sobre a natureza”, segundo ele mesmo.
Falou com outros doutorandos e eles contaram que aconteceu a mesma coisa,
mas que ninguém havia falado sobre isso. Sim, havia um padrão! Ele confessa:
“Estudamos a ciência, como se fosse uma série de etapas lógicas, entre
pergunta e resposta, mas fazer pesquisa, não é nada disso.” E eu digo: nenhum
acometimento ousado, nenhuma empresa, segue padrões lógicos de respostas
corretas a perguntas diretas. Pior ainda quando nem sabemos formular as
perguntas!

Se você ainda acredita no modo como a ciência é ensinada no ocidente


eurocêntrico, e acredita em livros didáticos, você está sujeito ao esquema: se
“X” é a pergunta, e “Y” é a resposta, a “empresa” segue um caminho reto.
Acontece que, muitas e muitas vezes não funciona assim. Daí o empresário,
novo ou velho, fica deprimido, isso é considerado algo totalmente errado, e
causa de uma enorme tensão. E é por isso que eu ensino aos meus “alunos”
um esquema mais realista, onde as coisas não condizem com seu esquema.
Mistério!

A experiência do mistério

É comum que ao se falar em mística o pensamento se dirija para atividades


religiosas. Há muito que o inimigo da natureza humana quer fragmentar a
pessoa, qualquer pessoa, afastando-a da sua verdadeira habilidade, do seu
projeto original. Para isso ele estimula o vício da análise sem síntese!

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Pior… no imaginário comum mística está vinculada a expressões


primitivas, exóticas, de estrutura panteísta… E o materialismo impresso no
pensamento comum dificulta muito a percepção, ou o entendimento, de que
no mesmo objeto existem, coexistem várias dimensões. Pelo menos três:
física, psíquica, espiritual (soma – psique – nous – Pneuma). Oops! Aqui são
quatro.

Desde tempos antigos, a tradição afirma que a realidade existe em


camadas, como uma cebola. Desfazer uma a uma estas camadas permite
dissecar a realidade com uma eficácia bem maior do que reduzindo a
percepção a uma única dimensão. Mais do que um método para a descoberta
de soluções, a tradição quer ensinar uma forma de romper com estruturas
cristalizadas de saber que não admitem os diferentes componentes da
realidade.

Numa tradição ancestral também se diz que a solução de qualquer


problema não está na dimensão em que ocorre o problema. Diz-se que as
coisas – todas as coisas – acontecem em quatro dimensões: “o aparente do
aparente”; “o oculto do aparente”; “o aparente do oculto”; “o oculto do
oculto”; quatro dimensões sugeridas pelo Rabino Schneur Zalman de Ladi
(1745), um dos grandes mestres clássicos, autor do livro Tanya1.

Não vou tratar das questões dimensionais. Só quero lembrar que existem
realmente algumas dimensões no mesmo objeto. E isso é sabido desde há
muito tempo! Não é porque você não vê que não existe. Nem tudo o que
reluz é ouro, ou seja, aquilo que você vê pode não ser aquilo que você pensa
que vê. A alma que se expressa num corpo é real, é outra dimensão do mesmo
corpo; e você não vê. Entende? Alma não é coisa da sua cabeça. Existe sim, é
real! É um objeto abstrato, uma coisa adimensional, o aparelho psíquico.
Existe sim, é real!

Esse tal aparelho psíquico, usando da mente, na busca de compreender


esse lance de “algumas dimensões”, sugere teorias e elucubrações que
propõem encontrar como que uma base comum entre todas as tradições, “a
realidade última”, ou “o mistério”. Da Tradição, sabemos que sim, é possível
fazer a experiência desse “mistério”, e de uma forma imediata e ao mesmo
tempo uma experiência atemática. Essa experiência que é possível fazê-la é

1
Veja BONDER, Nilton. O segredo judaico de resolução de problemas [recurso
eletrônico]: iídiche kop / Nilton Bonder. – Rio de Janeiro: Rocco Digital, 2012. ISBN
978-85-8122-060-4 (recurso eletrônico).

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chamada de “mística” (a experiência do mistério).

Mas, o mistério não é domesticável, como querem fazer acreditar alguns


didáticos adeptos do gnosticismo. Menos ainda conforme a convicção dos
pelagianos, segundo os quais a pessoa seria totalmente responsável por sua
própria salvação e que minimizava o papel da graça divina. Não! Nós não
determinamos a circunstância histórica em que encontramos o Mistério, já que
não dependem de nós o tempo, nem o lugar, nem a modalidade do encontro.
Quem quer tudo claro e seguro, pretende dominar a transcendência do
Mistério.”2

Só por curiosidade: o mistério e a mística são duas palavras que procedem


do mesmo verbo grego (Myô) que significa “estar em silêncio” e ao mesmo
tempo “estar com os olhos fechados”. Coisa mais comum nas tradições
orientais, mas difícil aos que pensamos limitados no eurocentrismo:
compreender o modo dos orientais de pensar, de sentir, de agir… de “estar
em silêncio”. Isto marca o caráter atemático (que ainda não está definido, que
ainda não tem um nome) da experiência do mistério.

O exercício de “estar em silêncio” e ao mesmo tempo “com os olhos


fechados” e ainda assim “olhar para outras dimensões” estando num corpo
físico, é místico! O exercício é místico! Daí é possível compreender que
qualquer “obra ou desígnio”, a empresa, tem mais causas e consequências do
que se pode registrar em moeda corrente. E que também as “mutações do
patrimônio líquido” têm mais a ver com as interações atemáticas,
“não-materiais”, do que se pode aprender nas carteiras universitárias.

É bom lembrar que isso não é novo! Parece que o “velho” Eclesiastes tem
razão: “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo
que nada há de novo debaixo do sol”.

Nas obras de Benjamín Gonzáles Buelta e Johann Baptist Metz,


encontramos o conceito de “mística de olhos abertos”. Metz compreende que,
na fé cristã, se acha sempre presente uma qualidade que seria a busca pela
justiça. Resgatando a frase de K. Rahner: “O cristão do futuro ou será um
místico ou não será cristão”, Buelta compreende a mística como “uma

2
Cf. Gaudete et exsultate, 41. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/p
apa-francesco_esortazione-ap_20180319_gaudete-et-exsultate.html#O_gnosticis
mo_atual>. Acessado em 27 mar. 2022.

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dimensão de toda a vida humana” e, não, como algo reservado a privilegiados,


mesmo que, em algumas de suas expressões, atinjam níveis de profundidade
maior.

Citando Metz, Buelta esclarece que, em uma “mística de olhos abertos”, a


percepção não se restringe a nós, mas se intensifica no contato com o sofrimento
do outro. Este artigo se propõe a apresentar o resultado de uma pesquisa de
caráter teórico e qualitativo, empregando a pesquisa bibliográfica como método de
trabalho. Com base nos conceitos desenvolvidos por Johann Baptist Metz, a partir
de sua obra “Mística de olhos abertos”, de elementos também presentes na obra
“Ver ou perecer – Mística de olhos abertos” de Benjamín Gonzáles Buelta e da
análise do fenômeno místico desenvolvida por Juan Martín Velasco, pretende-se
elaborar uma análise Teopoética na perspectiva Mística de extratos de poesias de
Adélia Prado. Pretende-se, em Metz e Buelta, analisar a relação entre
espiritualidade-mística e secularidade, identificando, nas expressões poéticas, sinais
de transcendência presentes no século que possam caracterizar uma Teopoética na
perspectiva Mística.3

Dizem que a Mística empurra a alma para a contemplação e isso a afasta da


vida ativa. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. É ignorância da
História afirmar que a contemplação mística prejudica a ação. Maxime de
Montmorand evidencia que “os verdadeiros místicos são pessoas práticas e
ativas; têm o dom da organização e do comando e mostram-se muito
dispostos para os negócios”4.

As obras fundadas por alguns místicos estão aí até hoje: os beneditinos, os


franciscanos, os carmelitas, os jesuítas, os salesianos… só para citar alguns.
Essas obras atuam em várias atividades humanas: na educação, com escolas
que vão desde a educação infantil até a universidade (das mais conceituadas),
hospitais e clínicas, centros de convenção, hotéis, cervejaria, engenharia e
obras de construção civil… só para citar algumas. Na concepção e direção de
suas empresas, demonstraram prudência, audácia e bom tino para transformar
dificuldades em oportunidades rentáveis.

3
Da cegueira à “Mística de Olhos Abertos”: Uma análise da poesia de Adélia Prado
a partir de Benjamín Gonzáles Buelta e Johann Baptist Metz. Ceci Maria Costa
Baptista Mariani, <https://orcid.org/0000-0002-2948-5705>; Valmir Rubia da
Silva, <https://orcid.org/0000-0002-5064-9794>. Disponível em:
<https://doi.org/10.23925/rct.i94.44450>. Acessado em: 21 abr. 2022.
4
Excerto de TANQUEREY, Adolphe. Compêndio de teologia ascética e mística.
Campinas, SP : CEDET, 2018, p. 69.

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A Regra de São Bento, que inspirou a vida dos monges durante mais de
1.500 anos, também pode ser aplicada às empresas e aos negócios, pois
oferece excelentes princípios de gestão. Ignasi Fossas, prior da comunidade
beneditina de Montserrat, é um dos criadores do curso “Valores e liderança: a
Regra de São Bento, caminho para uma boa gestão”. Ele conta que a “Regra”
oferece o que nas escolas de negócios chamam de job profiles, o perfil para
determinadas funções. Por exemplo, o capítulo dedicado ao âmbito
econômico (capítulo 31 da Regra) oferece um perfil ideal do CEO de uma
empresa. Outro exemplo: os capítulos dedicados ao abade oferecem o perfil
ideal do presidente de uma companhia. Ou o mesmo enfoque do mestre de
noviços. Ainda que a Regra esteja muito focada na vocação monástica, ela
pode oferecer também elementos adequados para a direção de pessoas.5

De fato, a contemplação mística não se confunde com desordens da


imaginação, não se perturba com exaltações de qualquer espécie, nem perde o
bom senso. Ao contrário, facilita um raro poder de penetração. “A
contemplação, longe de ser um obstáculo à ação, ilumina-a e dirige-a”, diz
Montmorand.

São Francisco de Sales escreveu o primeiro manual para leigos. Antes dele
tudo se escrevia para monges, clérigos e pessoas “letradas”. Ele diz assim:

Não, Filotéia, a verdadeira devoção nada destrói; ao contrário, tudo aperfeiçoa. Por
isso, caso uma devoção impeça os legítimos deveres da vocação, isso mesmo
denota que não é uma devoção verdadeira. A abelha, diz Aristóteles, tira o mel das
flores, sem as murchar, e as deixa intactas e frescas como as achou; a devoção
verdadeira ainda faz mais, porque não só em nada estorva o cumprimento dos
deveres dos diversos estados e ocupações da vida, mas também os torna mais
meritosos e lhes confere o mais lindo ornamento. Diz-se que, lançando-se uma
pedra preciosa no mel, esta se torna mais brilhante e viçosa, sem perder a sua cor
natural; assim, na família em que reina a devoção, tudo melhora e se torna mais
agradável; diminuem os cuidados pelo sustento da família, o amor conjugal é mais
sincero, mais fiel o serviço do Príncipe, e mais suaves e eficazes os negócios e
ocupações.

O livro, "Vieira : místico da ação social", de Eugénia Abrantes, dá-nos a


conhecer uma perspectiva do legado de Antônio Vieira em processo de

5
A Regra de São Bento aplicada aos negócios. Patricia Navas González - publicado
em 18/10/20. Disponível em:
<https://pt.aleteia.org/2020/10/18/a-regra-de-sao-bento-aplicada-as-empresas/>
. Acessado em: 18 abr. 2022.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

globalização. Poucos ou nenhum estudo têm focado a dimensão espiritual e


mística deste que é justamente considerado um místico da ação e senhor de
uma espiritualidade da ação.

Pe. Antônio Vieira, viveu num tempo que denominamos aurora da


globalização. O modo como observou e nos deu a observar aquele mundo em
transformação permite-nos entender o dos nossos dias, também na medida
em que sonhou uma humanidade diferente. Muitas das suas inquietações são
as das pessoas do século XXI.

Algumas das saídas que ele propôs para as percepções dramáticas dos
desvios da história humana podem atender às inquietações do coração
humano de todos os tempos. Os riscos que Vieira anteviu há 400 anos para o
espetáculo da planetarização das relações entre os povos permanecem
atualíssimos.

Companheiro de Vieira, alguns séculos mais tarde, Karl Rahner, um dos


teólogos mais destacados e influentes do século XX publicou o ensaio
intitulado “Christian Living Formerly and Today” (Vida cristã, ontem e hoje). Esse
ensaio contém a frase profética e muitas vezes citada: “O cristão devoto do
futuro ou será um ‘místico’ – alguém que ‘vivenciou algo’ – ou não será
absolutamente nada”; de onde me inspiro para este trabalho, e também para
acompanhar e orientar as pessoas que me pedem ajuda.

Em sua caminhada teológica, Rahner buscou ampliar a nossa consideração


pelo místico, não como “extracurricular”, reservado aos poucos privilegiados,
mas como intrínseco à vida, ontem e hoje. Ele nos provoca a imaginar além
daqueles místicos clássicos que exibem dons extraordinários. Para Karl
Rahner, nem extraordinário nem extracurricular, um místico é alguém que
‘vivenciou algo’. É prático, experimentado.

Da minha parte, como parece, sim, estou embebido na mística cristã


católica; considerando sempre muitos dos aspectos de outras tradições.
Questão de método! Encontrei na Tradição vários exemplos de pessoas como
eu e você, que vivenciaram essa experiência de integração e deixaram
registrada sua experiência integrativa, certamente, para prevenir os que viriam
depois, para que não tropeçassem nas pedras no meio do caminho.

Nunca me esquecerei desse acontecimento / na vida de minhas retinas tão


fatigadas. / Nunca me esquecerei que no meio do caminho /tinha uma pedra /

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

tinha uma pedra no meio do caminho / no meio do caminho tinha uma pedra6.

Aglutinando a Tradição, como que resumindo milênios de atividade


humana, entre erros e acertos, “desde os tempos mais remotos até aos nossos
dias, encontra-se nos diversos povos certa percepção daquela força oculta
presente no curso das coisas e acontecimentos humanos…”, relembra o
Magistério da Igreja Católica. Percepção e conhecimento que penetram as
vidas de todos os povos e nações de profundo sentido religioso. Assim, as
religiões ligadas ao progresso da cultura, procuram responder às mesmas
questões com noções mais apuradas e uma linguagem mais elaborada.

Assim, no hinduísmo, os homens perscrutam o mistério divino e exprimem-no


com a fecundidade inexaurível dos mitos e os esforços da penetração filosófica,
buscando a libertação das angústias da nossa condição quer por meio de certas
formas de ascetismo, quer por uma profunda meditação, quer, finalmente, pelo
refúgio amoroso e confiante em Deus. No budismo, segundo as suas várias
formas, reconhece-se a radical insuficiência deste mundo mutável, e propõe-se o
caminho pelo qual os homens, com espírito devoto e confiante, possam alcançar o
estado de libertação perfeita ou atingir, pelos próprios esforços ou ajudados do
alto a suprema iluminação. De igual modo, as outras religiões que existem no
mundo procuram de vários modos ir ao encontro das inquietações do coração
humano, propondo caminhos, isto é, doutrinas e normas de vida e também ritos
sagrados.7

Eu e meus companheiros nada rejeito do que nessas religiões existe de


verdadeiro e santo. Olho com respeito esses modos de agir e viver, esses
preceitos e doutrinas que, mesmo diferentes em alguns pontos dos que eu sigo
e proponho, refletem um raio de Luz que ilumina todos os homens. Por isso
Joseph Ratzinger afirma que “não se deverão desprezar, por preconceito, tais
indicações, só por não serem de origem cristã. Poder-se-á, pelo contrário,
colher nelas o que contêm de bom, tendo o cuidado naturalmente de não
perder nunca de vista a concepção cristã.”8

Para colher o que as várias culturas contêm de bom, Carl Gustav Jung,
convida a ampliar o modo de ver ocidental. No prefácio ao Livro das

6
Viva Carlos Drummond de Andrade
7
Nostra aetate. Vaticano, 1965. Disponível em:
<https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_decl_19651028_nostra-aetate_po.html>. Acesso em: 9 mar. 2022.
8
Orationis forma. Vaticano, 1989. Disponível em:
<https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_c
faith_doc_19891015_meditazione-cristiana_po.html>. Acesso em: 9 mar. 2022.

14
O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

Mutações, de seu amigo Richard Wilhelm, Jung convida a “deixar de lado


certos preconceitos da mente ocidental”. Ele pondera:

É curioso que um povo tão dotado e inteligente como o chinês nunca tenha
desenvolvido o que chamamos ciência. Nossa ciência, entretanto, é baseada no
princípio da causalidade, o qual é considerado uma verdade axiomática. Mas, uma
grande mudança está ocorrendo [Jung escreve em 1949] em nosso ponto de vista.
O que a “Crítica da Razão Pura” de Kant não conseguiu, está sendo realizado pela
física moderna. Os axiomas da causalidade estão sendo abalados em seus
fundamentos: sabemos agora que o que denominamos leis naturais são meramente
verdades estatísticas que supõem, necessariamente, exceções. Ainda não nos
apercebemos que necessitamos do laboratório com suas decisivas limitações para
demonstrar a validade invariável das leia naturais. Se deixarmos a natureza agir,
veremos um quadro muito diferente: o acaso vai interferir total ou parcialmente
em todo o processo, tanto assim que, em circunstâncias naturais, uma sequência de
fatos que esteja em absoluta concordância com leis específicas constitui quase uma
exceção9.

Jung continua:

“O que chamamos de coincidência parece ser o interesse primordial… Devemos


admitir que há muito a dizer a respeito da imensa importância do acaso. Uma
quantidade incalculável do esforço do homem visa combater e limitar os
incômodos ou perigos representados pelo acaso. Considerações teóricas de causa e
efeito frequentemente parecem fracas e pobres em comparação com os resultados
práticos do acaso. (…) Enquanto a mente ocidental cuidadosamente examina,
pesa, seleciona, classifica e isola, a visão chinesa do momento inclui tudo até o
menor e mais absurdo detalhe, pois tudo compõe o momento observado.”10 Ele
ajunta… “Essa suposição envolve um certo princípio curioso que denominei
sincronicidade, conceito este que formula um ponto de vista diametralmente
oposto ao da causalidade.”11

Talvez você não tenha ouvido falar de Dom Jean Daniélou SJ, teólogo
francês! Ele afirmava que, num mundo que não será mais dominado pelo
ocidente (escreve nos anos de 1940), num contexto mundial onde o ocidente
não será a força dominadora, a noção de Atman, do hinduísmo, é muito mais
rica para a teologia do que aquele conceito grego de pneuma (ou espírito).

Então o Atman pode nos dar uma compreensão muito mais íntima de

9
WILHELM, Richard. I Ching : o livro das mutações. – 14. ed. – São Paulo : Editora
Pensamento, 1995, p. 16.
10
Ibidem, p. 16.
11
Ibidem, p. 17.

15
O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

como é a relação do espírito com a gente. Quando alguém consegue perceber


que o Atman está presente em todos os seres, e todos os seres se encontram
nele, nesse momento entra em relação com Brahma; e não existe outro meio
para fazer isso. Então, quem consegue enxergar, mesmo timidamente, todos
os seres no Atman, e o Atman em todos os seres, nunca mais pode se separar
dele. Mas, isso é só mais uma “chave de leitura”. Você deverá encontrar a sua
chave de leitura; e isso pode acontecer de carona com um ou mais dos
místicos que nos antecederam.

Encontrei na nossa cultura ocidental, alguns místicos que disseram a


mesma coisa com outras palavras, pois, as palavras são limitadas mesmo! Por
exemplo, enxergar todos os seres em Atman e o Atman em todos os seres,
coincide com uma frase típica dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de
Loyola que propõe “considerar como Deus trabalha e opera por mim em
todas as coisas criadas sobre a face da terra, isto é, procede à semelhança de
quem trabalhasse. Por exemplo, nos céus, nos elementos, nas plantas, nos
frutos, nos animais, etc., dando-lhes ser, conservação, vegetação e sensação,
etc. Depois, refletir em mim mesmo.12”

Na minha caminhada bio-psico-teo-lógica busquei uma certa integração


pessoal e comunitária, como se a humanidade pudesse ser (re)unida falando
uma única língua13. Também fiz tentativas de encontrar uma base comum
entre todas as tradições, “a realidade última”, ou “o mistério”; e experimentei
que é possível sim fazer a experiência desse “mistério”. Uma chave de leitura
que liga todas as tradições em todas as atividade humanas. Por isso ouso
apontar para a mística do empreendedorismo como condição indispensável
para o empresário do século XXI – e além.

O empresário do século XXI – e os que vierem, vai fazer todas as coisas


como sugerem os melhores e os piores manuais práticos de
empreendedorismo disponíveis no mercado. Vai comprar, vender,
manufaturar, distribuir, plantar e colher, divulgar nas redes sociais e outros
canais de publicidade, faturar e descontar duplicatas, tomar dinheiro
emprestado e tudo o mais… Em nada disso se diferencia o empresário
místico do empresário materialista. A diferença estará na qualidade de vida de
um e de outro.

Chega o momento do sucesso – principalmente quando consegue sucesso

12
Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, 236.
13
Cf. Gênesis 11 1-9.

16
O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

–, e aparece um vazio enorme, uma falta de “não sei o que”, uma angústia
profunda, uma insatisfação incomensurável… Além (ou também) das doenças
psíquicas é comum manifestações psicossomáticas: a somatização em nódulos,
imunodeficiências, doenças respiratórias…

As doenças psicossomáticas são muito comuns como resultado ou


complicações dos estresses psíquicos. Os estressados crônicos apresentam
uma variedade de distúrbios que podem culminar com quadros de
complicações como: infarto do miocárdio, úlceras pépticas, doenças
circulatórias, envelhecimento precoce, etc. Isso não é nada místico!

Junto com uma excelente cartela de remédios, para tornar suportável ou


aceitável, atenuar, minorar a sua doença. Mas não resolve! Assim mesmo, lá vai
o empresário materialista bem remediado tentar buscar a sua satisfação na
diversificação, mudar de ramo, mudar de empresa, vai investir para “escalar o
seu negócio”: de uma rede de lojas de departamento vai derivar para um
marketplace, por exemplo. Vai captar dinheiro investimento anjo, sócio
investidor, empréstimos, venture capital…

O empresário místico também vai “escalar o seu negócios”, pois “são


pessoas práticas e ativas, têm o dom da organização e do comando e
mostram-se muito dispostos para os negócios”, mas considera outras
dimensões, atemáticas. Considera a integração do seu ser
bio-psico-pneumo-social. Cultiva “um estado de completo bem-estar físico,
mental e social e não apenas a ausência de doença”.

O Mistério habita o lugar mais sagrado dentro de você, dentro de mim,


dentro de cada um e de todos: o Sanctum Sanctorum. ‘Santo dos Santos” que se
refere, nos textos latinos, ao lugar mais sagrado do Tabernáculo do Israel
antigo e depois ao Templo em Jerusalém, mas também possui algum uso
derivado aplicado nas imitações do Tabernáculo na arquitetura das igrejas…
ou o Sanctum Sanctorum como residência e sede do Doutor Estranho; um
edifício fictício que aparece nos quadrinhos publicados pela Marvel Comics.
Se você não for um pouco Doutor Estranho, não vai adentrar no Mistério! E
ninguém precisa saber disso. Mas, quem tem olhos para ver, verá!

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

O que não é ser místico

Para ser místico não precisa usar “auxiliares externos” ou “recursos adjuntos”.
Não é necessário comer, beber, cheirar, tocar qualquer elemento da natureza
nem sintético. Porque “cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser
feliz”, dizem Almir e Renato.

Não precisa de tocar tambor, dançar em círculos, rodopiar, dar


cambalhotas, vestir cores específicas nem preto, nem cabelo comprido, nem
cabeça raspada… Tudo isso pode contribuir, mas não é condicionante. O
místico de verdade não se deixa reconhecer pela aparência. “Não usará de
gritos, nem clamará ou levantará a voz pelas ruas. Não quebrará o caniço
rachado e não apagará o pavio que esfumaça.”14

Você pode notar que quem muito fala tem pouco a dizer. Muita explicação
é enrolação. Rir é bom! Mas rir de tudo é desespero, diz Frejat15. Cara de
maracujá murcho, não é sinônimo de seriedade… Vale reforçar o que diz
Montmorand: “os verdadeiros místicos são pessoas práticas e ativas… têm o
dom da organização e do comando e mostram-se muito dispostos para os
negócios”.

Chris Lowney16, ironiza: “As prateleiras das livrarias gemem sob o peso de
livros que se parecem com manuais de doutrinação de espantosos cultos
talismânicos. Quer se tornar um líder melhor? Consulte qualquer dos
lançamentos desvendando os mistérios da arte de liderar e de gerenciar por
meio de revelações sobre os ‘sete milagres’, os ‘doze segredos’, os ‘treze erros
fatais’, as ‘catorze técnicas poderosas’, as ‘21 leis irrefutáveis’, as ‘trinta e uma
verdades’, os ‘101 erros fatais’ e os ‘1001 caminhos’..”. Não é difícil intuir que
propostas “talismânicas” não têm nada de místico!

14
Isaias 42,2.
15
Frejat. Amor pra recomeçar. Canção.
16
LOWNEY, Chris. Liderança heróica : as melhores práticas de uma companhia que
há mais de 450 anos vem mudando o mundo. Rio de Janeiro : Edições de Janeiro,
2015.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

Como não têm nada de místico, abundam oportunistas, extrativistas


predatórios. Li um texto de Luiz González-Quevedo Campo SJ – não sei se
foi publicado –, um alerta para o problema fundamental do nosso tempo,
citando Karl Rahner: “é o esquecimento de Deus”. A falta do Mistério!
Gonzales-Quevedo observa que, “perdendo o sentido da adoração (seu fim
essencial) o ser humano perde o sentido de sua própria vida. (…) A
subjetividade, incapaz de satisfazer as ‘exigências do eu’, busca ‘fora’ aquilo
que já não encontra ‘dentro’.

Otávio Frias Filho, abertamente agnóstico, descreve: “Somos, então,


consumidores compulsivos (inclusive de afeto), narcisistas incorrigíveis,
solitários... Nossas aquisições nos tornam mais vazios, todas as satisfações que
obtemos são substitutivas… Não encontramos resposta nem no shopping
center, nem no psicanalista, nem na academia de ginástica, onde aliás
procuramos, em vão, a mesma coisa”17. Dá para ver, na imaginação, a cara de
muitos “místicos” bem conhecidos nas redes sociais!

Neste contexto de “crise de sentido”, crescem os movimentos


espiritualistas e as seitas, o apelo ao esoterismo e a procura de livros
“talismânicos”… Misticismo? ou um mercado imenso para satisfazer pessoas
propensas a fugir da realidade ou a buscar outras formas para se esquivar de
situações cotidianas? Essas buscas escapistas não resolvem o drama do
egocentrismo moderno: o isolamento. Parece que o ser humano está sozinho
“na imensidão indiferente do universo”!

Também não é místico a PNL, o coaching, mentoring, counseling,


behaviorismo, fisiognomonia, xamanismo, linguagem do corpo, hipnose,
psicanálise, psicossíntese… e congêneres, nem meditação e contemplação, I
Ching, eneagrama, tarô, runas, búzios, horóscopo, cabala, quiromancia… tudo
isso são técnicas. O verdadeiro místico reconhece o Mistério que pode estar
nessas e em todas as coisas, e não se confunde com elas.

Para ajudar a não se confundir com as miríades de técnicas ofertadas,


Inácio de Loyola diz que é necessário “fazer-nos indiferentes a todas as coisas
criadas, em tudo o que é permitido à nossa livre vontade e não lhe é proibido.”
Mas, ainda não é místico ficar na indiferença a todas as coisas criadas sem
escolher “aquilo que mais nos conduz ao fim para o qual somos criados”.

17
Otavio Frias Filho, “Sem medo de ser neoliberal”, Folha de São Paulo, 1o de
fevereiro de 1996.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

Não é místico usar de qualquer técnica para limpar a mente, para curar a
depressão, para fugir da realidade ou se esquivar de situações desagradáveis e
deixar a “casa limpa e arrumada”. Eu me lembro da passagem da casa varrida.
“Quando um espírito imundo sai de um homem, passa por lugares áridos
procurando descanso, e, não o encontrando, diz: ‘Voltarei para a casa de onde
saí’. Quando chega, encontra a casa varrida e em ordem. Então vai e traz
outros sete espíritos piores do que ele, e entrando passam a viver ali. E o
estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro”18.

Num estado pior do que o primeira, é o que tenho visto em algumas


pessoas que me procuram depois de ter buscado um monte de coisa
“mística”. Desordem total! Caiu na ilusão de “ser místico” como se isso
conferisse poder, honra e glória – ou coisas assim. Não confere! Ou até
pessoas fragmentadas depois de experimentar algumas técnicas
psicoqualquercoisa, algumas dessas técnicas até bem estabelecidas
academicamente, mas que desordenam os afetos até a fragmentação do Ser,
dependendo daquele que a oferece e conduz. Mas, o interesse que algumas
daquelas técnicas têm provocado nas pessoas, “constitui um sinal notável
desta necessidade de recolhimento espiritual e dum profundo contacto com o
mistério divino.”.19

Finalmente místico na ação

A Mística, como é uma ciência prática, chamam-na também de “arte da

18
Mateus 12,43-45 ou Lucas 11,24-26.
19
“Orationis forma” – carta aos bispos da igreja católica acerca de alguns aspectos
da meditação cristã, da Congregação para a Doutrina da Fé, em 15 de Outubro de
1989. Disponível em:
<https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_c
faith_doc_19891015_meditazione-cristiana_po.html#*>. Acessado em: 16 mar.
2022.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

perfeição”, uma vez que seu objetivo é levar as pessoas à perfeição; ou ainda a
“arte das artes”, porque não existe arte mais excelente que a de aperfeiçoar
uma alma na mais elevada das vidas, a vida sobrenatural. A denominação mais
frequente é Teologia Ascética e Mística.

O termo “ascética” vem do grego: exercício, esforço; e designa toda


espécie de exercício trabalhoso que tenha relação com a educação física ou
moral da pessoa. Sabemos que a busca da perfeição requer esforços, que o
Apóstolo bem compara com os rigorosos treinamentos a que se submetem os
esportistas para alcançar a vitória. Portanto, foi natural a denominação de
“ascese” aos esforços de uma alma que luta para alcançar a perfeição.

É claro que existem muitas escolas dessa Ascese e Mística. Eu conheci


algumas, não todas, é lógico, mas me ative mais profundamente às escolas
cristãs (de novo, questão de método). Embora eu seja professor de Yoga, na
formação e na pós-graduação de professores de Yoga, e tenho bom trânsito
nessa mística indiana, aprofundei-me na mística cristã. Parece mais objetiva
para o meio em que vivo e trabalho. Mais fácil de digerir!

Algumas escolas que você poderá gostar

Sri Patanjali escreveu um compêndio que deu origem ao Yoga. Segundo se


acredita, ele viveu entre 500 e 200 a.C., escreveu esse compêndio sobre yoga
em frases curtas chamadas sutras. O tema é o mesmo dos Vedas e o formato
de sutra também é tradicional, mas a maneira como o tema é apresentado de
forma bem ordenada e elucidativa é obra do mestre Patanjali.

O que vemos popularmente por aí é hatha yoga, e muitas pessoas a


buscam para melhorias no corpo físico. Sim, hatha yoga faz muito bem para a
saúde física, e também para a saúde mental a distensão emocional e o
reequilíbrio psíquico. Mas esse yoga do corpo só surgiu na idade média,
aproximadamente 900 anos d.C.. Ou seja, já existia yoga há mil anos…

Sete ramos são chamados clássicos devido à sua origem “no florescer da
humanidade”, segundo a tradição védica: Hatha yoga, Karma yoga, Jnana
yoga, Bhakti yoga, Tantra yoga, Mantra yoga, Raja yoga. Outros ramos
“novos” surgiram e desapareceram: só para citar alguns: Yantra yóga (formas
geométricas e símbolos), Nidra yóga (do sono e sonhos), Lava yóga (das
dissoluções). Por enquanto quero só apresentar.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

Raja yoga, literalmente, Yóga Real, é o mais elevado ramo do Yóga


Clássico, sob todos os aspectos e todos os sentidos. Raja Yóga trata do
Desenvolvimento Humano Integral, “... totalmente, e todo o vosso ser -
espírito, alma e corpo - se conserve …” (1Ts 5,23), num processo de oito
etapas, práticas. Todos os ramos convergem um para o outro; cada ramo
contém e interpenetra o outro sem uma ordem de importância. Facilitam a
experiência do mistério!

Guigo Cartuxo, monge do século XII, compôs um livrinho chamado


“Escada do Claustro", ou “Escada do Céu”. Numa carta ao seu irmão de
Cartuxa, Gervásio, ele se propõe a transmitir “certas coisas” que pensou sobre
o exercício espiritual. Guigo escreve: “Um dia, ocupado no trabalho manual,
comecei a pensar no exercício espiritual do homem. E eis que, de repente,
enquanto refletia, apresentaram-se ao meu espírito quatro degraus espirituais:
a leitura, a meditação, a oração, a contemplação”.

“Quatro degraus” é um método prático. Essa pequena escada tem uma


ponta apoiada na terra e a outra penetra nas nuvens “e perscruta os segredos
do céu”. Guigo diz que eles se distinguem pela ordem e valor, conforme suas
propriedades e funções. Ele ainda elogia o método por sua “utilidade e
doçura”.

“A leitura”, escreve o cartuxo, “é o estudo assíduo das Escrituras, feito


com aplicação do espírito. A meditação é uma ação deliberada da mente, a
investigar com a ajuda da própria razão o conhecimento duma verdade oculta.
A oração é uma religiosa aplicação do coração a Deus, para afastar os males
ou obter o bem. A contemplação é uma certa elevação da alma em Deus,
suspensa acima dela mesma, e degustando as alegrias da eterna doçura”.

Inácio de Loyola, um cavaleiro do século XVI, essencialmente prático,


fundou a Companhia de Jesus, uma empresa que se desenvolve há 500 anos. A
base dessa companhia são os Exercícios Espirituais, um manual prático tanto
para o que faz os exercícios quanto para quem os oferece. Esse livrinho não é
para ser lido, mas para ser praticado.

Logo na primeira parte dos Exercícios, prático e objetivo, o fundador dessa


empresa de sucesso, compôs “anotações orientadoras”, e explica:

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

Por este nome, exercícios espirituais, entende-se todo o modo de examinar a


consciência, de meditar, de contemplar, de orar vocal e mentalmente, e de outras
operações espirituais, conforme adiante se dirá. Porque, assim como passear,
caminhar e correr são exercícios corporais, da mesma maneira todo o modo de
preparar e dispor a alma, para tirar de si todas as afeições desordenadas 4 e, depois
de tiradas, buscar e achar a vontade divina na disposição da sua vida para a
salvação da alma, se chamam exercícios espirituais.

A comparação dos exercícios espirituais com exercícios corporais é


esclarecedora, essencialmente prática.

Assim como Sri Patanjali, Guigo Cartuxo, e muitos outros, pressupõem e


convidam à experiência, Inácio de Loyola ao nomear como “exercícios”,
predispõe à prática, à experiência. Qualquer exercício não contém imposição
de sucesso; exercício é para ser praticado. Um atleta faz seus, exercícios e
treina, treina, treina… e depois de conquistar o prêmio, ou não, volta a treinar,
continua com os seus exercícios.

Inácio aponta na segunda anotação, ainda na primeira parte dos Exercícios,


que “não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear
as coisas internamente”. Ora, sentir e saborear não dá para explicar! Como
você descreve o gosto do limão? para alguém que nunca nem viu um limão.
Descreva o verde para quem nada enxerga… Tem que experimentar!

Nas escolas do ocidente.

Nas escolas do ocidente, das quais hoje temos muito material disponível
gratuitamente, iniciamos o “caminho da perfeição” quando temos um desejo
sincero de avançar na vida integrada – espírito, alma, corpo –, a partir de
então, segundo a tradição escolástica medieval, a alma se conduz através das
vias “purgativa” a “iluminativa”, até a contemplação adquirida que é a via
“unitiva”.

Não vou apresentar a Ascética como o estudo das vias ordinárias da


perfeição, e a Mística como o estudo das vias extraordinárias, porque o termo
“extraordinário” se reserva para uma categoria especial de fenômenos
místicos, que são graças gratuitamente dadas que acompanham a
contemplação, como os êxtases e as revelações. Não quero tratar disso. Mas,

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

só indicar algumas chaves de leitura para você escolher o seu método de


estudo e de prática.

Estudo e prática! É importante combinar harmonicamente esses dois


métodos. No estudo há a preocupação com os fatos psicológicos, o caráter, o
temperamento e as inclinações do estudante, e com os efeitos produzidos nele
ou nalgum aspecto particular. Como estamos expostos a equívocos em nossas
deduções, ainda mais se forem muitas, é prudente submetê-las ao controle dos
fatos. Na prática, é fundamental o acompanhamento de um guia experiente.
Alguém que conheça a trilha para você não se perder na mata.

Recordando Maxime de Montmorand, para fixar na mente: “Os


verdadeiros místicos são pessoas práticas e ativas, não de raciocínio e teoria;
têm o dom da organização e do comando e mostram-se muito dispostos para
os negócios. As obras fundadas por eles revelam-se viáveis e perduram. Na
concepção e direção de suas empresas, demonstraram prudência, audácia e
bom tino para julgar as possibilidades que caracterizam o bom senso. De fato,
bom senso que não se perturba com exaltações de qualquer espécie, nem com
desordens da imaginação, e que, ao contrário, é acompanhado de um raro
poder de penetração.”.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

O EMPRESÁRIO

Empresário daqui, empresário de lá… Um tsunami de “empreendedorismo”


invadiu a terra firme das vocações. Com muito empenho marquetófilo,
apoiado nas técnicas ilusionistas de Hollywoodland, de repente todas as
pessoas são chamadas a empreender qualquer coisa. A terceirização, a
contratação de empresa para a realizar serviços específicos dentro do processo
produtivo de uma empresa, sugere um ganho de produtividade, de liberdade,
abusando da esperança e, por isso, impulsiona a onda do
“empreendedorismo”.

Por um lado, esse papo de empreendedorismo abre as portas da liberdade


e da vontade, atributos da semelhança original com o Criador. Por outro,
desconfiado como sou, percebo algum desespero para se livrar da
responsabilidade social, fiscal e tributária… principalmente em organizações
corporativas ou de cartorialismo. Por outro ainda fruto de uma “estranha
sociedade dos empregos de merda”.

Lembrei-me de David Graeber, professor de antropologia na London


School of Economics e autor de Bullshit Jobs: a theory20 [algo como “Empregos
de Merda: uma teoria”], cerca de metade do trabalho a que a população
trabalhadora se dedica diariamente poderia ser considerada “bullshit jobs”. Para
Graeber, são marqueteiros, burocratas de seguradoras, lobistas, etc. que não
fazem nada de útil, e o fazem com regalias.

O cartorialismo é um vício ideológico. “Hélio Jaguaribe cunhou e


desenvolveu o conceito de ‘Estado cartorial’, pelo que se entende,
basicamente, um Estado caracterizado pelo fato de que as funções públicas,
embora se apresentando como atividades orientadas para a prestação de
20
GRAEBER, David. Bullshit Jobs : a theory. Simon & Schuster, 2018.
<https://www.simonandschuster.com/books/Bullshit-Jobs/David-Graeber/978150
1143335>. Acessado em: 20 mar. 2022.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

determinados serviços à coletividade, ou seja, determinados ‘serviços


públicos’ são, na verdade, utilizadas, se não mesmo concebidas, para assegurar
empregos e vantagens específicas a determinadas pessoas e grupos. O Estado
cartorial é o resultado típico da ‘política de clientela’ quando esta atinge
amplas proporções e permeia o Estado em seu conjunto”21. Assim, viciado, o
corporativismo utiliza, se não, mesmo concebe ondas de empreendedorismo
para assegurar empregos e vantagens específicas a determinadas pessoas e
grupos.

Teoria da conspiração à parte, insisto em deixar claro que estou falando


sobre o adjetivo empresário, relativo a empresarial. Empresa que é “obra ou
designio”. Sim, sobre empreendedorismo focado na “disposição ou
capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos, serviços e negócios”;
“iniciativa de implementar novos negócios ou mudanças em empresas já
existentes; gerencialmente, com alterações que envolvem inovação e riscos”
(cf. Oxford Languages).

De carona com Chris Lowney, já citado, os jesuítas têm algo a dizer sobre
quem são, como vivem e como se tornam empresários/empreendedores. Eles
oferecem há 500 anos um modelo de empreendedorismo que vai contra a
corrente da maioria dos modelos contemporâneos, rejeitando posturas
vapt-vupt que reduzem a empresa a técnicas e táticas. Sua postura descarta
modelos de comando e controle que dependem de uma pessoa mais
importante liderando as demais (chefia). Descobre oportunidades de
empreendedorismo não apenas no trabalho, mas também nas atividades
comuns do dia a dia. A postura inaciana examina a empresa, o
empreendedorismo, por um prisma bem diferente e refratado através desse
prisma, o empresário emerge numa luz bem distinta. Quatro dessas diferenças
se destacam:
● somos todos empresários, e estamos empreendendo bem ou mal, o
tempo todo;
● o empreendedor surge de dentro. Tem a ver com quem eu sou tanto
quanto com o que eu faço.
● o empreendedorismo não é um ato. É minha vida, um modo de viver.
● nunca completo a tarefa de me tornar empresário. É um processo
contínuo.
21
Cf. CPDOC | FGV • Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil. Disponível em:
<http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/estado-cartorial>
. Acesso em: 9 mar. 2022.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

Se realmente somos todos empresários e estamos empreendendo o tempo


todo. Se de fato o empreendedor surge de dentro; é um modo de viver… um
processo contínuo, como desencapar o empresário que já está em mim?

Vocação para empresário

Na década de 1980, a Profa. Maria Luiza Marins Holtz, idealizadora do


conceito de Pedagogia Empresarial, também desenvolveu um trabalho de
orientação vocacional – não é teste vocacional –, que ela chamou de “Aprenda
a decidir qual trabalho profissional escolher : método de orientação vocacional
para qualquer idade”.22

Antes de apresentar o que é vocação, a Profa. Maria Luiza lembra uma


citação bíblica para reforçar o que já sabemos: que cada pessoa tem talentos à
sua disposição: “A um deu cinco talentos, a outro dois, e um ao terceiro: a cada qual de
acordo com a própria capacidade” (Mateus 25,15).

Então, ela apresenta a sua versão sobre profissão e vocação (daqui


transcrevo o texto da Profa. Maria Luiza).

Profissão e Vocação: são duas coisas diferentes

Vocação - A palavra vocação significa chamamento, pendor, talento. Os dons


e talentos inatos que recebemos do Criador.

A nossa vocação (nossos talentos) exerce em nós uma força de atração


para determinadas atividades que despertam muito o nosso interesse, nos
empolgam, entusiasmam, realizam, alegram e satisfazem. São aquelas
atividades “para as quais nascemos” e para as quais temos jeito. Os melhores
meios de cumprir a nossa “missão” aqui neste planeta Terra.

22
Eu sou o agente e o editor e herdeiro da professora Maria Luiza, minha mãe.
Todo o trabalho da Professora está disponível na Internet sob Creative Commons.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

A nossa vocação se manifesta desde a infância, provocando atração,


entusiasmo e alegria por certos tipos de brinquedos e brincadeiras, que nos
empolgam e envolvem tanto, a ponto de não percebermos o tempo passar.
Perdemos a noção do tempo.

A nossa vocação conduz a nossa atenção e interesse para certos tipos de


atividades, de maneira mais intensa e diferente das outras pessoas, Se formos
atentos a esses nossos interesses ou atrações, descobriremos a nossa vocação.

Trabalho ou Profissão - é o meio que usamos para canalizar e deixar


“brilhar” a nossa vocação, os nossos talentos. Quando adequamos o nosso
trabalho profissional à nossa vocação, seguramente somos bem sucedidos. E,
Deus “paga as nossas contas”, porque, é somente a vibração da alegria e do
entusiasmo pelo trabalho que atrai os retornos materiais que esperamos dele.
O segredo é conseguir aliar trabalho com alegria e empolgação. E isso é
possível, se descobrirmos a nossa vocação.

Atenção - Cada pessoa tem um jeito único que é somente seu e tem o seu
lugar reservado por Deus no universo.

Quando, enganosamente, somos levados por outras pessoas a nos


“interessarmos” por determinada atividade que dizem ser “mais rendosa”,
mas, não é a nossa vocação, o nosso talento, ao exercê-la sentimos frustração,
decepção e insatisfação e não conseguimos ser bem sucedidos
profissionalmente. Além disso, passamos a sentir dificuldades nos nossos
relacionamentos e na nossa saúde. Essa atividade não é a “vontade de Deus”
para nós.

Respeitando a nossa vocação, os nossos talentos, encontramos o nosso


trabalho gratificante e o nosso lugar reservado por Deus, no universo, onde
naturalmente nos realizamos e prosperamos.

(Fim da transcrição)

Vocação é uma palavra derivada de vocare, chamar, da mesma raiz de voz,


vocal… dizemos daquela voz interior, aquela que chama a Chama. A voz que
clama no deserto vem com força, “exerce uma força de atração”, nas palavras
da professora, “para atividades”. Tais atividades representam – ou apresentam
de novo algo que é bem maior e que habita nosso interior. Daí se diz que
“para isso nascemos”. É algo realmente intrínseco, que faz parte ou que
constitui a essência, a natureza de algo… faz parte da minha (e da sua)

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

essência.

Por fazer parte da minha essência, a vocação está lá perceptível desde a


infância nas atividades, nos brinquedos e nas brincadeiras que “tomam” a
atenção da criança; “que nos empolgam e envolvem tanto, a ponto de não
percebermos o tempo passar. Perdemos a noção do tempo”. Perder a noção
do tempo é um dos sintomas da vocação.

A importância de se perder a noção do tempo

Sobre o tempo, vale a pena uma pequena pausa para rememorar um pouco da
mitologia grega. Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: chronos
e kairós. Enquanto Chronos é a personificação do tempo dimensionado,
aquele subordinado ao relógio, ao calendário e do qual não conseguimos fugir
facilmente, Kairós é a qualidade do tempo vivido. Kairós é o tempo oportuno,
que faz um acontecimento ser especial, memorável, não em seus números,
mas em sua significância.

Além do evento em que Chronos, a pedido de sua mãe, se tornou senhor


do céu, castrando o pai com um golpe de foice e jogando seus testículos no
oceano… Aff…! Chronos devora seus filhos. Quero dizer que “controlar o
tempo crono-lógico, se não impossível, é muito arriscado: o risco de ser
devorado… ou…

Coincidentemente, a famosa ISO 9000 – grupo de normas técnicas que


estabelecem um modelo de gestão para organizações em geral, qualquer que
seja o seu tipo ou dimensão –, sugere a gestão baseada em Kairós. Baseada no
gerenciamento de processos para garantir certa qualidade dos produtos, essa
norma foi confundida como “Norma da Qualidade”. Erro ingênuo! Mas,
quem quiser estudá-la com generosidade e humildade poderá perceber que,
desde o título, é uma norma de gestão.

Logo na introdução, aponta que “esta Norma emprega a abordagem de


processo (...) A abordagem de processo habilita uma organização a planejar

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

seus processos e suas interações (...) Entender e gerenciar processos


inter-relacionados como um sistema contribui para a eficácia e a eficiência da
organização em atingir seus resultados pretendidos”. Ora gerenciar processos
está mais para Kairós, “a qualidade do tempo vivido, o tempo oportuno, que
faz um acontecimento ser especial, memorável, não em seus números, mas em
sua significância”. Traduzido em palavras organizacionais: “contribui para a
eficácia e a eficiência da organização em atingir seus resultados pretendidos”.

Na mitologia, Kairós é rápido, anda nu e tem somente um cacho de


cabelos na testa. Só é possível agarrá-lo segurando-o por esse topete. Em
nenhum momento Kairós reflete o passado ou antevê o futuro; ele simboliza
o melhor instante no presente: o instante em que se consegue afastar o caos e
abraçar a felicidade.

Com isto dito, eu exalto a importância de perder a noção do tempo


crono-lógico, e de aproximar-se do tempo propício, do tempo de Deus, para
fecundar, gestar e gerenciar a própria vocação.

Voltando para Vocação e Profissão

A profa. Maria Luiza diz que: Trabalho (ou Profissão) “é o meio que usamos
para canalizar e deixar brilhar os nossos talentos, a nossa vocação. Quando
adequamos o nosso trabalho profissional à nossa vocação, seguramente somos
bem sucedidos”, diz a professora.

Religiosamente, a professora afirma categoricamente que assim, adequando


o trabalho à vocação, “Deus ‘paga as nossas contas’, porque, é somente a
vibração da alegria e do entusiasmo pelo trabalho que atrai os retornos
materiais que esperamos dele [do trabalho ou da profissão]. O segredo é
conseguir aliar trabalho com alegria e empolgação. E isso é possível, se
descobrirmos a nossa vocação.”

Não existe negócio bom ou ruim, que dá mais dinheiro ou menos


dinheiro… Não existe: “Ah! Mas isso não dá dinheiro.” Eu conheço famílias

30
O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

que estão na terceira geração de “pastel de feira”, hoje em feiras livres e em


endereço fixo. Também conheci uma senhora pasteleira que educou seus
filhos com pastel, deixou para eles o negócio promissor, em dois dos pontos
mais cobiçados da cidade, e ambos encerraram suas atividades de forma não
muito “inteligente”, digamos assim. Volto a afirmar: não existe ramo ruim,
nem ramo bom de negócios. Nem uma profissão melhor do que outra.

Tenho um amigo médico que me disse que “médico não ganha dinheiro,
ele não tem tempo de gastar.” Se olho gentilmente para a quantidade de horas
de plantão médico, de trabalho subjugado a planos de saúde, seguradoras e
coisas do tipo, do tempo de deslocamento entre as unidades de saúde…, sim,
eu vejo que têm que estudar muito e trabalham muito, muito mesmo!

Um ex-sócio meu, num empreendimento imobiliário que ousamos, médico


oftalmologista de formação, me confessou que um belo dia dia, ele estava no
seu consultório oftalmológico, atendendo um senhor de meia idade, à meia
luz, face a face, a menos de 15 centímetros, sentindo o hálito do paciente…
pensou: “se eu roubar um banco posso ser preso, mas preso eu já estou… isto
aqui não é vida! Então saí e ‘cometi’ meu primeiro empreendimento
imobiliário.” Ele continuou clinicando somente para uma associação de
aposentados.

Também conheço uma miríade de advogados que deixaram seus trajes para
atuar noutra área na busca de melhor qualidade de vida. Tem um que deixou
de advogar para ser cuteleiro23 – gostei disso! –, outros e outras para atuar na
terapêutica constelação familiar, ou sistêmica… sabe-se lá quantas outras
debandadas de “profissões de sucesso”! Ah! Lembrei-me de um professor de
desenho, numa escola pública, que se tornou um dos “500 Melhores e
Maiores” na década de 1980… E muitos outros! Quem nunca ouviu falar no
engenheiro que virou suco?

Basta olhar para alguns dos grandes nomes do business no mundo… nem
todos que concluíram uma universidade nem estabeleceram ou permaneceram
numa “profissão certa”.

Na primavera de 1998, a Gazeta Mercantil e a Lazuli publicaram o livro


“Vida brasileira : reportagens sobre o Brasil produtivo”. “Um livro sobre
negócios. Por isso, descreve agruras, mergulha na alma de homens e de
mulheres que tomam riscos, examina sucessos e até reconstrói a trajetória de

23
@edsonvieira_cutelaria

31
O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

alguns fracassos”, assim abrem a orelha.

Trata-se de uma seleção de reportagens onde “não se encontrará nada de


sociologia na investigação de cada trajetória escolhida para figurar na série. A
pintura que emerge, porém, mostra a rica diversidade da sociedade deste país.
A vontade de empreender aproxima autóctones e imigrantes, derruba linhas
divisórias étnicas, rompe casulos linguísticos e no fundo nivela vencedores e
derrotados. Na comunidade livre de quem toma riscos, mais importante do
que construir fortuna pessoal é realizar um projeto que às vezes implica na
superação da miséria.”

A continuação da orelha exprime o espírito místico que eu quero evocar –


vocação, lembra? –: “É curioso verificar como as personagens aqui reunidas
[no livro] livraram-se da fantasia mais atroz da livre iniciativa, que é soberba
no exercício da liderança. Ser patrão no capitalismo deste final de milênio
[1998] significa guiar talentos, independente do grau de escolaridade e mesmo
da biografia de cada integrante de uma equipe na empresa. Exercícios
presunçosos de poder, que diminuem o colaborador em nome da hierarquia
ou mesmo da prevalência dos registros societários nas Juntas Comerciais, é
coisa da escravidão.”

E conclui a orelha: “Ricos e pobres, os tipos descritos nesta [naquela]


coletânea praticam uma espécie de igualitarismo viçoso e altaneiro, que brota
da confiança que cada um expressa em suas ações. Nada disso pode sugerir
que a vida seja fácil nos domínios da vida entre negócios. Apenas, este é o
mundo dos seres humanos livres”.

Vocação é mais que profissão

João Batista Libanio, grande educador, escritor e teólogo, diz que a vocação
“alimenta-se da motivação, que é plural”. A vocação, continua, “vai desde a
autorrealização até a maneira objetiva, realista do dom de si aos outros numa

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

perspectiva social, cristã, apostólica. Supera a simples funcionalidade e


utilidade do uso do aprendido”24.

Libanio não vê uma fronteira bem definida entre profissão e vocação.


“Elas podem alimentar-se mutuamente. A vocação pede adestramento,
conhecimentos objetivos e técnicos, eficiência e produtividade. Mas vai além
com o espírito que a informa. A profissão ganha muito quando consegue
despertar no profissional o sabor da vocação”25.

Ainda, por comparação ou analogia, completa com uma narrativa alegórica


que transmite uma mensagem direta para ver a profissão que ganha muito
quando consegue despertar o sabor da vocação: “É o barco a remo que iça
uma vela e navega açulado pelo vento. A vocação é a vela insuflada e a
profissão é remo manejado. Há horas em que o vento arrefece, então o remo
vem em auxílio. Há outras horas em que o remo pesa, então a vela batida pelo
vento alivia a navegação”26.

Assumindo o empresariado

Tendo reconhecido em mim os brinquedos e brincadeiras que me tomavam


atenção quando criança pequena, os assuntos que me animam, que me fazem
perder a noção de tempo, posso olhar para a possibilidade de ser empresário.
Pois sou o que sou!

Empresário não necessariamente dono de empresa, ok? Só para lembrar,


quero falar sobre o adjetivo relativo a empresa, empresarial; aquele que
empreende. Empresa que é “obra ou desígnio”. A obra da tua vida, o teu
desígnio na Vida. Sim, sobre empreendedorismo focado na “disposição ou
capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos, serviços e negócios";

24
LIBANIO, João Batista. Introdução à vida intelectual. – 5. ed. – São Paulo :
Edições Loyola, 2014. – (Coleção humanística), p. 23s.
25
Ibidem, p. 24.
26
Ibidem, p. 24.

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"iniciativa de implementar novos negócios ou mudanças em empresas já


existentes; gerenciar alterações que envolvem inovação e riscos”; “por
metonímia, conjunto de conhecimentos relacionados a essa forma de agir”27.

Então, para assumir o seu lado empresário, não precisa de buscar antes os
“conhecimentos relacionados a essa forma de agir”. Não precisa entender as
coisas, nem mesmo os caminhos oficiais para constituir uma pessoa jurídica;
esse poderá ser um passo posterior, ou não. O lado empresário que já habita
em mim e em você, naturalmente, sente primeiro um movimento interno, a
disposição, para uma obra boa, uma ideia sem ideologia, um negócio sem
ganância, um serviço sem usura, um projeto não por força. Sente primeiro a
disposição para… um movimento interno que dilata as pupilas, acelera o
coração e a respiração, seca a boca ao mesmo tempo que aumenta a salivação,
dá um frio na barriga. Explicam alguns fisiologistas que aumenta a adrenalina.

Antes de planejar, pressuposto para o tal do “business plan”, tem a vontade


de realizar, ou seja, de tornar materializado, dimensionado. Uma ideia não tem
espaço na terceira dimensão se não foi pensada por um empresário. Qualquer
coisa!

Deus ajuda quem cedo madruga

Neti Neti. É verdade… só que não! O mal uso da língua ou a ênfase de quem
pronuncia, leva a imaginar que Deus só ajuda quem levanta cedo. Mentira!
Quem se aproveita dessa frase certamente tem segundas intenções, ou é um
escravocrata ou é ignorante mesmo! Como alguém pode acreditar que Deus
ajuda um e não ajuda outro? Ah! Sergio, então Deus não ajuda quem cedo
madruga? Ajuda sim, Claro! Mas, também ajuda quem não madruga cedo.
Ajuda quem dorme demais, quem dorme “de menos”, quem é magro e quem
é gordo, quem é branco e quem não é… Você acredita mesmo que o criador
de todas as coisas visíveis e invisíveis tem preferência pelas minha horas de
sono? Ridículo!

Para eliminar essa falácia bastaria o Salmo 127(126): “Os obstinados que

27
cf. Oxford Languages [online]. Acessado em: 16 mar. 2022.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

retardam seu sono até alta noite, acordam antes do amanhecer e idolatram o
trabalho, não alcançarão os bens que o Eterno concede aos que o amam,
mesmo quando estes estão repousando.”. Noutra versão: “Inútil vos será
levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois ele supre
aos seus amados enquanto dormem.”, ou ainda: “É inútil vocês se levantarem
de madrugada e retardarem o repouso, para comer o pão com fadigas, se aos
seus amados ele o dá enquanto dormem”.

Quem ainda não leu o livro “Pai rico, pai pobre”? Nem ouviu falar? “Pai
Rico, Pai Pobre” é o primeiro best-seller de Robert Kiyosaki e Sharon Lechter.
Vai lá dar uma olhada!… tem muito fragmento das redes sociais, também. Um
desses fragmentos pode ajudar a discernir sobre essa frase maligna: trata-se de
alguns conselhos do pai rico confrontados com os do pai pobre: Pai rico:
aprendizado constante; comece um negócio; crie formas de renda; valorize seu
tempo. Pai pobre: faça uma faculdade; arrume um emprego; compre um
carro/casa; troque tempo por dinheiro.

Nem tem o que comparar! porque não há semelhança. São conselhos


completamente diferentes. Na diferença já posso antever que um estimula a
liberdade, outro a escravidão; um amplia a visão outro tolera a cegueira; um
contém a fortaleza, outro a subserviência; um promove a justiça, outro a
não-justiça; um se alegra com a criatividade que é atributo do Criador. outro…
Mas, é difícil soltar as pedras!

Difícil soltar as pedras dos conceitos estabelecidos ao mesmo tempo


suportar o desejo mais íntimo de ser imagem e semelhança daquele que criou
todas as coisas visíveis e invisíveis… muito além do universo! Um baita
conflito! Conflito que gera tensão. Tensão que provoca para sair do lugar. Um
movimento. Movimento que será dirigido pelo sujeito. Sujeito que pode ser
você ou a turma. Hmmm! Mais cedo ou mais tarde você terá que escolher.
Terá que escolher entre acordar antes do amanhecer e passar anos, muitos
anos, idolatrando o trabalho, ou vivenciar e desfrutar da alegria que o Eterno
concede aos que o amam, mesmo quando estes estão repousando. Tem
mesmo que ser místico.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

O EMPRESÁRIO MÍSTICO

Ou tudo ou nada! De maneira prática, como juntar tudo isso? Na prática!

Mantenha a sua prática religiosa

Vimos antes que toda pessoa é constituída de um corpo com várias


dimensões. Lembra? Espírito, alma, corpo. Então é fundamental que você
mantenha uma prática religiosa. Idealmente é mais “produtivo” se você se
voltar para a sua origem: se cristão, cristão; se budista, budista; se hinduísta,
hinduísta; se islão, islão; se afro-brasileira, afro-brasileira… A sua origem é
aquela que seus avós praticavam.

A troca de tradição religiosa demanda muito esforço para assimilar


conceitos exóticos. E um empresário não tem muito tempo a perder com
outra coisa que não seja “aquilo que mais nos conduz ao fim para o qual
somos criados”.

“De muitos modos, na história e até hoje, os homens exprimiram a sua


busca de Deus em crenças e comportamentos religiosos (orações, sacrifícios,
cultos, meditações, etc.). Apesar das ambiguidades de que podem enfermar,
estas formas de expressão são tão universais que bem podemos chamar ao
homem um ser religioso.”28

“Ah! Eu acredito em Deus, mas prefiro fazer a minha prática sozinho.”. É


importantíssima a sua prática pessoal! Mas você não é uma ilha. “Com efeito,
a pessoa humana, uma vez que, por sua natureza, necessita absolutamente da
vida social, é e deve ser o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições
sociais. Não sendo, portanto, a vida social algo de adventício ao homem, este
cresce segundo todas as suas qualidades e torna-se capaz de responder à
própria vocação, graças ao contato com os demais, ao mútuo serviço e ao

28
Catecismo da igreja católica, 28. Disponível em:
<https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s1c1_26-49_po.ht
ml>. Acessado em: 17 mar. 2022.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

diálogo com seus irmãos”29.

A relação íntima e vital que une o homem a Deus pode ser esquecida,
desconhecida e até rejeitada. Estas atitudes podem ter diversas origens: a
revolta contra o mal existente no mundo, a ignorância ou a indiferença
religiosas, as preocupações do mundo…, o mau exemplo dos crentes, as
correntes de pensamento hostis à religião e, finalmente, por medo, se esconde
de Deus e foge quando Ele o chama.30

O Papa Francisco chama a atenção para duas falsificações que poderiam


extraviar-nos: o gnosticismo e o pelagianismo31. O gnosticismo supõe “uma fé
fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência
ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e
iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência
da sua própria razão ou dos seus sentimentos”. Uma mente sem Deus e sem carne.

Com efeito, o poder que os gnósticos atribuíam à inteligência, alguns


começaram a atribuí-lo à vontade humana, ao esforço pessoal. Surgiram,
assim, os pelagianos e os semipelagianos. Já não era a inteligência que ocupava
o lugar do mistério e da graça, mas a vontade. Esquecia-se que “isto não
depende daquele que quer nem daquele que se esforça por alcançá-lo, mas de
Deus que é misericordioso” (Rm 9, 16) e que Ele “nos amou primeiro” (1 Jo 4,
19). Uma vontade sem humildade.

29
Gaudium et spes, 25. Disponível em:
<https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html>. Acessado em: 17 mar. 2022.
30
Cf. Catecismo da igreja católica, 29. Disponível em:
<https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s1c1_26-49_po.ht
ml>. Acessado em: 17 mar. 2022.
31
Gaudete et exsultate, 35ss. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/p
apa-francesco_esortazione-ap_20180319_gaudete-et-exsultate.html#Cap%C3%A
Dtulo_II_>. Acessado em: 17 mar. 2022.

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Cuidados da alma

Alma é um bicho que existe. Não é coisa da sua cabeça. É um corpo


adimensional. É uma dimensão do mesmo corpo… porque “não só de pão
vive o ser humano”. Em psicologia também se referiu à alma como “aparelho
psíquico” para, de certa forma, materializar aquilo que não tem matéria sólida,
tem matéria emocional.

Assim como o corpo físico, a sua dimensão biológica, precisa de comer e


beber, a alma também precisa de comer e beber. Mas, o alimento da alma não
é sólido nem líquido. É o que então, Sergio? Como matéria emocional,
alimenta-se e nutre-se de emoções. Todas as emoções alimentam a alma.
Algumas são mais nutritivas. Não é fácil determinar qual categoria de emoção
nutre mais ou menos. Cada ser em si carrega um “tormento” de necessidades
alimentares e nutricionais (da alma).

Uma vez recebi um homem, empresário bem sucedido, que estava “com
depressão”. Ele me contou que, para aliviar o seu mal estar, lia “coisas
positivas”, ouvia música relaxante e palestras motivacionais… Reconhecendo
a necessidade da alma, indiquei-lhe que não lesse, nem ouvisse nada por uma
semana. E dei de “lição de casa” que escrevesse e desenhasse um pouco todos
os dias. Por que? Para por pra fora toda aquela merda que estava entupindo o
seu intestino anímico. Precisa se expressar – pressionar para fora. Necessidade
natural da alma.

Uma alma que não concatena ideias e pensamentos, não exercita os


elementos inteligentes que a constituem ligando, juntando numa corrente ou
sequência lógica ou orgânica os pensamentos, poderá ficar com a “bexiga
cheia” ou o “intestino preso”. Já imaginou?!?! Vai dar merda! É o que acontece
normalmente com quem vicia no ativismo de “fazer cursos”. Dá para
entender que os cursos que exigem um trabalho de conclusão (TCC), são mais
saudáveis porque facilitam a expressão, a concatenação. Tem que botar pra
fora tudo aquilo!

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Autoconhecimento e autoestima

Seja por necessidade premente seja por desejo ardente, empreender demanda,
exige e leva à ousadia e ao medo, não necessariamente nessa ordem.
Normalmente na desordem!

Para enfrentar o medo é preciso coragem, coragem que não elimina o


medo, coragem que resulta em boa medida de autoconhecimento. O
autoconhecimento passa pelo reconhecimento de algumas dimensões
concomitantes no mesmo corpo: dimensão física, dimensão psíquica e
dimensão espiritual.

Da dimensão física ninguém duvida de que toda pessoa precisa comer,


beber, repousar, refrescar no calor, aquecer no frio… e também defecar,
urinar, transpirar… necessidade naturais. Estas necessidades naturais são
prementes e têm que ser satisfeitas. Ninguém duvida disso!

Na dimensão psíquica, “as necessidades naturais são prementes e têm que


ser satisfeitas''. Poucas pessoas têm consciência de tanta urgência na satisfação
das necessidades naturais psíquicas. “Ah! Isso é coisa da sua cabeça”, dizem.
Não, não é coisa da sua cabeça! É necessidade premente, tão necessária
quanto defecar e urinar depois de comer e beber. Você interrompe uma
conversa agradável para ir ao banheiro. Durante o jogo do seu time você o
deixa para atender ao seu intestino ou à sua bexiga, sem o menor escrúpulo.
Assim, as necessidades psíquicas também alteram a sua conduta, interferem
no seu comportamento e você nem percebe. “Ah! Isso é coisa da sua cabeça”.

O autoconhecimento, que confere a coragem necessária para empreender,


vai passar pelo reconhecimento e aceitação das necessidades naturais. Uma
delas, especialmente, merece atenção por ser como um elemento de passagem
da dimensão psíquica para a dimensão mística, é a autoestima. A mistura entre
autós “si mesmo”, a origem grega, e o latim, æstimare, “valorizar, apreciar”, dá
origem à palavra autoestima. A autoestima, no senso comum, se entende
como a qualidade de quem se valoriza, contenta-se com seu modo de ser e
demonstra, consequentemente, confiança em seus atos e comportamentos. É
uma das nossas necessidades naturais, ao nível psíquico, ao lado da
necessidade de segurança, de pertença, necessidade de ser visto, de ser
lembrado, de ser reconhecido, de amar e ser amado, de autorrealização e de
Self-actualization.

Em hebraico só tem autoestima quem tem BARACH (‫ = )ברכה‬BENÇÃO:

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“E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala a Arão, e a seus filhos dizendo:


Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo-lhes: ‘O Senhor te abençoe e te
guarde; O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia
de ti; O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.’ Assim porão o meu
nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei.” (Números 6, 22-27).

As necessidades naturais – do espírito, da alma, do corpo – impulsionam


de dentro pra fora a busca da sua satisfação, o que chamamos também de
motivações. As motivações que são geradas pelas necessidades naturais, são os
motivos que nos levam a agir, consciente ou inconsciente. Entre eles estão os
desejos de felicidade, de saúde, de riqueza e de sucesso; desejos esses que
buscam satisfazer as necessidade naturais de segurança de estima, de ser visto,
de ser lembrado, de ser reconhecido, de pertencer, de status…, de
autorrealização de Self-actualization.

A busca de satisfação, isto é, o impulso interior de busca da satisfação das


necessidades naturais determina a direção do nosso comportamento.
Enquanto não conseguimos satisfazer nossas necessidades naturais, sentimos
o que a Psicologia Educacional chama de frustração. Uma incômoda sensação
de carência. Parece que falta alguma coisa! E falta mesmo.

Isso quer dizer que só sentimos frustração enquanto não conseguimos


satisfazer as nossas necessidades naturais. No caso da autoestima, no estado
de frustração, temos a tendência de buscar, todo o tempo, a sua satisfação.
Isso bloqueia o nosso potencial inato, desvia a nossa atenção e a nossa
capacidade de concentração em outras coisas, principalmente no trabalho.

Abraham Harold Maslow, grande e influente psicólogo contemporâneo,


propôs uma Hierarquia das Necessidades, na qual, os quatro primeiros níveis
denominou D-Needs (Deficit Needs). Ou seja, se você tem falta em algum desses
níveis, você sente a necessidade e procura supri-la. Mas se você tiver tudo que
precisa, o que você sente? Nada. É isso mesmo! Ou seja, essas necessidades
deixam de ser motivadoras. É estranho pensar dessa forma, mas se você
supriu todas as necessidades fisiológicas, de segurança, de pertencimento e de
estima, então você não sente mais falta de nada! Qual, então, a motivação para
continuar se desenvolvendo?

Então, num nível, digamos, mais elevado é um pouco diferente. Maslow


usou muitos termos para se referir a este nível. Ele o chamou de B-Needs (Being
Needs, ou Necessidades de Ser), ou ainda “motivação para o crescimento”, ou
ainda “necessidade de auto-realização”; e essa é uma característica natural do

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ser humano saudável. As pessoas que atingem esse nível são chamadas por
Maslow de “auto-realizadoras”.

Na hierarquia de Maslow, a maioria dos esquemas não mostra além de


Self-actualization. Self em psicologia significa o Eu completo, inteiro e integrado.
Mesmo inteiro e integrado esse Eu precisa de atualização. Do mesmo modo
que os aplicativos dos nossos “celulares” precisa e recebe atualizações
periodicamente.

Mas, Maslow não parou aí. Ele reconhece, na continuação da hierarquia


das necessidades, as Metanecessidades. Estas estariam além do Eu, mas com o
Eu, num certo estado de integração total, onde as necessidades prementes são,
por exemplo, de Liberdade, Justiça, Coragem, Verdade, Unidade, Completude,
transcendência dos opostos, de Deus… Também “necessidades necessárias”.
Super necessárias!

A porta de entrada para acessar, ou para começar a ver, ou para reconhecer


em si mesmo as Metanecessidades são as virtudes, especialmente as virtudes
teologais: fé, esperança e caridade; se tiver caridade não são mais necessárias fé
e esperança. É preciso acreditar (ou necessitar urgentemente). Também o
cultivo de virtudes ditas cardinais, são como as dobradiças da porta da fé e da
esperança, a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.

Permaneçamos ao nível da autoestima, que já é bastante produtiva para


começar a ser um bom empresário de sucesso! Sem deixar de lado o trabalho
contínuo de autoconhecimento, qualquer atividade humana conjuga um
trabalho de autoconhecimento e de comunhão com a realidade, diz Libânio.
Ele explica: “A modernidade no século XVIII assistiu ao surgir de nova ideia
de progresso, baseada na técnica, no desenvolvimento material, fruto do
desenvolvimento das ciências. houve uma inflexão pragmática na
compreensão do trabalho (…) Esse mundo dominado pela técnica, pela
eficiência, pelas ciências empíricas, vem produzindo um tipo competente,
eficiente, ligado à produção. Há porém uma vocação [empresarial] que se
engasta na tradição humanista que gira em torno do sentido, da gratuidade e
da imponência da verdade. O desejo nasce de dentro e não de imposições
externas.”32

Ainda o professor Libânio sugere que “cultivar tal vocação requer

32
LIBANIO, João Batista. Introdução à vida intelectual. – 5. ed. – São Paulo :
Edições Loyola, 2014. – (Coleção humanística), p. 25..

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

compreender o estudo fora do critério único da funcionalidade, do


rendimento imediato…”. Tem que “pensar fora da caixa”. Óbvio!

Autoestima versus autorrejeição

Aqui vou usar o material da Professora Maria Luiza Marins Holtz, minha mãe,
que me nomeou seu agente, editor e sucessor. Mesmo que não o fosse, desde
1999 ela decidiu publicar todo seu trabalho gratuitamente, depois sob licença
Creative Commons. – Segue transcrição.

Eu gosto de mim. Eu não gosto de mim.

A Psiconeuroimunologia33 (PNI) e a Psicocibernética34 descobriram que,


satisfazendo a nossa necessidade natural de autoestima, facilmente
satisfazemos as outras necessidades naturais e o nosso potencial é libertado e
aflorado.

Sempre estamos buscando, a todo custo, satisfazer a necessidade de


autoestima Ao entrar em conflito com o sentimento de autorrejeição gera
constantemente em nós comportamentos de agressão e de fuga que,
dificultam muito os nossos relacionamentos humanos, conosco mesmo e
consequentemente, com a família, no trabalho, e mesmo com Deus.

A grande maioria das pessoas sente autorrejeição. Sofre da frustração de


não gostar de si mesmas, e isso é tão prejudicial e destrutivo, que pode até
alterar a eficiência do nosso sistema imunológico.

Efeitos da imagem negativa de si mesmo

A autorrejeição é considerada hoje, nas organizações, um dos maiores

33
O termo "Psiconeuroimunologia" foi introduzido por Robert Ader, em 1981,
para definir o campo da ciência que estuda a interação entre o sistema nervoso
central (SNC) e o sistema imunológico.
34
Psycho-Cybernetics é um livro de auto-ajuda escrito por Maxwell Maltz em
1960, que influenciou vários outros especialistas em desenvolvimento pessoal.

43
O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

bloqueios da produtividade e do bom relacionamento entre os funcionários.

Considerando que produtividade é a característica ou condição do que é


produtivo; é faculdade natural humana de ser frutífero, fértil, fecundo, de ser
rendoso, ser proveitoso, ser criativo, ser elaborador, de ser realizador… em
tudo que sabe fazer. Toda pessoa humana é naturalmente produtiva (quando
tem autoestima alta).

O sentimento de autorrejeição (a imagem negativa de si mesmo) se inicia


na infância, e vai se ampliando durante a vida, pela carência de incentivos e
elogios recebidos diante dos acertos e sucessos acontecidos e, principalmente,
pelo acúmulo de críticas negativas, condenações, acusações e correções
excessivas, vindas das pessoas próximas, especialmente as mais idosas, pais e
educadores.

Ao invés de elogiarem, estimularem e incentivarem todas as vezes que as


crianças e jovens acertam ou se esforçam em alguma coisa, esses adultos
focalizam somente os defeitos e dificuldades, criticando-os, condenando-os e
acusando-os exageradamente. Na realidade, projetam a sombra da sua
autoimagem negativa e sua autorrejeição, de uma geração para outra.

O excesso de críticas, acusações, condenações e correções, vão


funcionando como se fosse uma longa e profunda hipnose repetitiva e
castradora:

“Você é lerdo”. “Você é teimoso”. “Você é balofo”. “Você é burro”.


“Você é estabanado”. “Você é tonto”. “Você é incapaz”. “Você é distraído”.
“Você é incompetente”. “Você é porco”. “Você é metido”. “Você é fraco”.
“Você é estúpido”. “Você é grosso”. “Você é chato”. “Você é ruim”. “Você é
avoado”. “Você é insuportável”… etc.

Assim, ao chegar à vida adulta, é óbvio que fica muito difícil a pessoa
acreditar em si próprio, ter segurança em si mesmo e nas suas próprias
habilidades, que é, na Verdade, capaz, competente, responsável, inteligente,
agradável, corajosa e bem sucedida…

A Verdade sobre a pessoa humana

Está comprovado que a cura eficaz da autorrejeição ocorre somente quando


reconhecemos a nossa verdadeira natureza, a nossa verdadeira realidade de

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

pessoa humana: “E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus


ele o criou; e os criou homem e mulher” (Gênesis 1, 27). Somente o
reconhecimento dessa Verdade tem a força de gerar autoimagem positiva e
desenvolver a autoestima.

A conquista da autoestima faz com que a pessoa consiga vencer com


facilidade suas dificuldades de produzir, e também as dificuldades de
relacionamento humano. Além disso, promove a saúde porque estimula e
fortalece o sistema imunológico.

Na Bíblia, o maior best-seller do mundo, onde podemos encontrar todos os


possíveis comportamentos humanos e suas consequências, encontramos,
desde o Antigo Testamento, repetidamente, afirmações sobre a força e o
poder da autoestima, e que também foi apontada por Jesus Cristo, quando
repetia: “... e ame seu próximo como a si mesmo” (Mateus 19, 19).

Está claro nesta afirmação que nós todos nos relacionamos com os outros,
da mesma maneira como nos relacionamos conosco. Portanto, é essencial nos
relacionarmos positivamente, primeiro conosco mesmo.

A produtividade e a autoestima

A nossa produtividade pessoal e, consequentemente profissional, depende


daquilo que determina a direção do nosso comportamento – da satisfação das
necessidades naturais, especialmente da autoestima, e de atingir nossas
motivações.

As pesquisas sobre produtividade no trabalho destacam características


comuns entre as pessoas que têm autoimagem positiva e autoestima: todas
têm consciência da sua “Imagem e Semelhança de Deus”. – Sempre foram
incentivadas e elogiadas, desde criança, diante dos esforços e acertos. – São
pessoas bem sucedidas e de sucesso na sociedade. – Não sentem dúvidas com
relação às suas próprias qualidades e seu potencial. – Sentem-se capazes e
merecedores de sucesso. – Trabalham com eficácia, são produtivas e os
trabalhos a elas confiados são rendosas, proveitosos, criativos e bem
elaborados. – Gostam de si mesmo, são alegres, satisfeitas, sociáveis e por isso
se relacionam bem com os familiares, com os companheiros de trabalho, com
as pessoas em geral. “Amam o seu próximo como a si mesmo”.

É necessário, com urgência, iniciar uma nova corrente de autoimagens

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

positivas, de uma geração para outra, desenvolvendo a consciência das


pessoas, de acordo com a Verdade do ser humano, para que vivam realizadas
na sua vocação, no seu talento, com facilidade e felicidade.

Exercícios para reconquista da autoestima

Apagando do nosso cérebro, gravações negativas de auto rejeição

1 - Lista de qualidades

Faça uma lista escrita de 10 das suas qualidades, iniciando cada uma com
”EU SOU...” (repita a escrita dessa lista diariamente, até sentir segurança
consigo mesmo).

2 - Exercícios no espelho

Repita diariamente ao levantar, em frente ao espelho, sorrindo abertamente


(durante 5 minutos).

Algumas sugestões:

“Deus amplia os meus talentos de forma maravilhosa e muitas pessoas são


cumuladas com o que eu tenho para oferecer. É maravilhoso!”

“Sou Criatura de Deus. Deus é perfeição. Tudo o que Ele faz é perfeito. É
maravilhoso!”.

“Exalto a perfeição de Deus em mim, capaz de curar, restaurar, e ampliar o


meu bem de incontáveis maneiras. É maravilhoso!”

“EU SOU filho de Deus. A vitória é minha. O triunfo é meu. O sucesso é


meu. A riqueza é minha. A harmonia é minha. Deus é meu parceiro. É
maravilhoso!”.

“EU SOU filho do Deus. Ele me ama e cuida de mim. Exalto Deus em
mim. EU SOU saudável,perfeito,harmonioso e amável. É maravilhoso!”

“EU SOU inspirado do Altíssimo! Deus opera maravilhas através de mim.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

Deus me ama e cuida de mim. É maravilhosos!”

“EU SOU Energia e Poder. EU SOU a Alegria e a Felicidade. EU SOU a


Harmonia e a Paz. EU SOU a Beleza e a Perfeição. EU SOU a Justiça e a
Verdade. EU SOU a Luz e a Inteligência. EU SOU a Natureza e a Vida. EU
SOU Você e o Amor. EU SOU a Unidade com Deus. É maravilhoso!”

“EU SOU filho de Deus Perfeito. Imagem e Semelhança Divina. EU SOU


forte corajoso, destemido. EU SOU alegre, feliz, satisfeito. EU SOU
absolutamente sadio. EU SOU amoroso, carinhoso e bondoso. EU SOU
generoso, portanto, próspero e rico. EU SOU dinâmico e independente. EU
SOU maravilhoso!”.

3 - Limpeza do espírito

Eliminando as emoções negativas. Repetir 3 vezes ao dia.

Posição sentada ou deitada confortavelmente, soltando todos os músculos.


Deixe os braços soltos para baixo em direção ao chão, mãos soltas como se
fossem “fios terra”. Feche os olhos e imagine a energia negativa de cor
cinzenta (como poluição) escoando pelos braços para a terra e desaparecendo.
Diga:

“Com a ajuda de Deus eu esvazio o meu espírito de todas as preocupações,


medos ansiedades, inseguranças, dúvidas, culpas, ressentimentos,
ódios,mágoas…” (5 vezes).

Imagine agora uma luz branca, e diga: “Sei que Deus já esvaziou
completamente o meu espírito de todas as preocupações, medos, ansiedades,
inseguranças, dúvidas, culpas e ressentimentos, ódios, mágoas” (5 vezes).

Agora levantando as mãos abertas em direção à cabeça, fechar os olhos e


imagine uma luz dourada entrando em nossa direção. Diga: “Agora, Deus
enche o meu espírito de muita fé, força, coragem, vitalidade, energia
incansável, plenitude, beleza e alegria infinita” (10 vezes). Faça o exercício
inteiro: Esvaziar e encher.

4 - Treino do riso

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O riso é por si só expressão (pressão para fora) da nossa “Luz”, da nossa


alegria.

A nossa mente é influenciada pela expressão do nosso rosto. Então,


procure rir mais, quanto mais triste estiver, criando assim, o estado de alegria.

O riso estimula a liberação de endorfinas pelo cérebro, produzindo


fortalecimento do sistema imunológico, eliminação das dores, equilibração
mental e física, oxigenação sanguínea e muscular e bem estar.

Olhando no espelho (de preferência), inspire profundamente, e ao expirar,


ria em gargalhadas (durante 3 a 5 minutos).

5 - Recreação (re-crear-ação)

São atividades espontâneas que têm a função de recriar a nossa alegria e


bem estar. Energizam positivamente e descarregam energias negativas. Estão
classificadas em três grupos:

Atividades Religiosas - todas as atividades que (re)fazem a ligação do


nosso pensamento com Deus: orações, meditações, cerimônias religiosas,
retiros espirituais, palestras e seminários religiosos, reuniões de oração, leituras
espirituais, etc… (1 hora por dia)

Atividades Artísticas - todas as atividades que exaltam O Belo das coisas:


dançar, cantar, ouvir música alegre, praticar jardinagem, desenhar, fazer
artesanato, etc… (1 hora por dia).

Atividades Físicas - todas as atividades que movimentam e exercitam o


nosso físico: caminhar ao ar livre, dançar, nadar, jardinagem, praticar
esporte… (1 hora por dia)

6 - Treino do Elogio

Quando exaltamos uma qualidade de alguém, essa qualidade nunca mais


enfraquece.

Diariamente, procure observar as coisas boas nas pessoas da sua


convivência, e expresse, em palavras, diretamente a elas, o que está sentindo de

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bom. Isso proporciona retorno de elogios para si, melhorando nossa


autoestima.

7 - As Verdades dos Princípios Universais

Em estado de relaxamento, e usando a visualização, repita (10 vezes):

“A Lei e ordem de Deus governam a minha vida”.

“A Ação certa de Deus reina suprema”

“O Amor de Deus satura a minha alma”

“A Paz de Deus enche minha mente e meu coração”

“A Orientação de Deus leva-me para todos os caminhos”

“A Harmonia de Deus governa-me e todos os meus caminhos são


agradáveis e as trilhas são de Paz”

(Fim da transcrição)

Análise versus Síntese

Análise: separação de um todo em seus elementos ou partes componentes.

Síntese: método, processo ou operação que consiste em reunir elementos


diferentes, concretos ou abstratos, e fundi-los num todo coerente.

Jamais se submeta a análise sem síntese! Porque o autoconhecimento leva


ao Mistério, sim; mas não está nas partes. Nem a soma das partes faz um todo
coerente. O mapa não é o território. O caminho para o interior leva a Deus,
mas ficar apreciando o mapa, não. Tentar juntar as partes ou parar em si
mesmo é egocentrismo (e outros -ismos). Não leva ao Mistério, não é místico!

Nos Solilóquios, Agostinho responde à pergunta da Razão: “o que desejas

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

conhecer”? “Deus, a alma e nada mais”. Ora, a busca de si mesmo, da pessoa


(da alma) não é diferente da busca de Deus. É na alma do ser Humano (com
maiúscula) que o Mistério pode ser encontrado face a face. Quando a pessoa
volta-se para dentro de si mesma encontra sinais de Deus. Percebe o Mistério
ao sentir uma elevação da razão para além de si mesmo, convidando-o a
regressar. Sim, regressar… É como se já… fundido num todo coerente.

É óbvio que a separação de um todo em seus elementos ou partes


componentes não leva ao conhecimento de si mesmo. Este si mesmo que é
um todo coerente e razoável. O Self, como se diz em Psicologia.

Sobre a análise, eu me lembro da historinha, a parábola “Os Cegos e o


Elefante”. Deve ter vindo da Índia, e é bem conhecida em todo o mundo.
Conta a história de um grupo de homens cegos, que nunca se depararam com
um elefante. Um belo dia, e sempre há um belo dia, deparam-se com um
magnífico elefante e põem-se a apalpá-lo. Cada um descreve o que é um
elefante a partir da sua percepção tátil. Cada cego toca uma parte diferente do
corpo do elefante, mas apenas uma parte (análise), tal como o lado ou as
presas ou a tromba ou as patas ou o rabo… Eles então descrevem-no com
base nas suas experiências, e, é lógico, cada descrição do elefante difere uma
das outras. A moral da parábola é que os humanos têm uma tendência a
pretender verdade absoluta com base em suas experiências limitadas e
subjetivas, ao mesmo tempo que ignoram as experiências subjetivas limitadas
de outras pessoas, que podem ser igualmente verdadeiras.

Empresários místicos

Como algumas personagens míticas apontam um caminho para o empresário


de sucesso.

Arjuna empresário receoso

No Bhagavad Gita, Krishna diz a Arjuna: venha, levante-se homem, vá lutar,


vá lutar contra o mundo. Esse é o seu dever, desejo de Parantapa (significa

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

aquele que pode causar problemas aos inimigos) pegar suas armas e lutar.

Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre seu dever e recebe
iluminação diretamente do Senhor Krishna, que orienta na ciência da
autorrealização, ao explicar-lhe o “Reto Agir”. No desenrolar da conversa são
colocados pontos importantes da filosofia divina, onde o primeiro
ensinamento é: ele [Arjuna] é uma alma espiritual eterna que habita e dá vida
ao corpo material.

Bhagavad Gita. Capítulo Dois. Resumo do conteúdo do Gita-35

Verso 9: Sañjaya disse: Ao falar estas palavras, Arjuna, o castigador dos


inimigos, disse a Kṛṣṇa: “Govinda, eu não vou lutar”, e calou-se.

___ 10: Ó descendente de Bharata, naquele momento, Kṛṣṇa, no meio dos


dois exércitos, sorriu e disse as seguintes palavras ao desconsolado Arjuna.

___ 11: A Suprema Personalidade de Deus disse: Ao falar palavras cultas,


você está lamentando pelo que não é digno de pesar. Sábios são aqueles que
não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos.

___ 12: Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem você, nem
todos esses reis; e no futuro nenhum de nós deixará de existir.

___ 13: Assim como a alma encarnada passa seguidamente, neste corpo, da
infância à juventude e à velhice, da mesma maneira, a alma passa para um
outro corpo após a morte. Uma pessoa sóbria não se confunde com tal
mudança.

___ 14: Ó filho de Kuntī, o aparecimento temporário da felicidade e da


aflição, e o seu desaparecimento no devido tempo, são como o aparecimento e
o desaparecimento das estações de inverno e verão. Eles surgem da percepção
sensorial, ó descendente de Bharata, e precisa-se aprender a tolerá-los sem se
perturbar.

___ 15: Ó melhor entre os homens [Arjuna], quem não se deixa perturbar
pela felicidade ou aflição e permanece estável em ambas as circunstâncias, está

35
Disponível em: <https://vedabase.io/pt-br/library/bg/2/>. Acessado em: 19
mar. 2022.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

certamente qualificada para a liberação.

Comentário: Quando estiver prestes a desistir, ou já desistido (verso 9), em


meio aos conflitos e dificuldades, sorria! (verso 10). Não murmure, você estará
“lamentando pelo que não é digno de pesar”. Muita explicação, diagnóstico,
conhecimentos técnicos e teóricos, etc… levam à lamentação das coisas não
importantes (verso 11). Saiba que sempre existe uma saída (verso 12). Uma
pessoa sóbria não se confunde com os fatos e circunstâncias (verso 13). O
empresário tem de aprender a tolerar a transitoriedade da felicidade e da
aflição. Convém seguir os princípios da religião para que se possa aprender
com as adversidades, elevá-las à condição de conhecimento, porque pelo
conhecimento e pela devoção é que alguém poderá libertar-se das garras de
māyā (ilusão). (verso 14).

Bhagavad Gita. Capítulo dezesseis. As naturezas divina e demoníaca

Versos 1-3: A Suprema Personalidade de Deus disse: Destemor;


purificação da própria existência; cultivo de conhecimento espiritual; caridade;
autocontrole; execução de sacrifícios; estudo dos Vedas; austeridade;
simplicidade; não-violência; veracidade; estar livre da ira; renúncia;
tranqüilidade; não gostar de achar defeitos; compaixão para com todas as
entidades vivas; estar livre da cobiça; gentileza; modéstia; firme determinação;
vigor; clemência; fortaleza; limpeza; e estar livre da inveja e da paixão pela
honra — estas qualidades transcendentais, ó filho de Bharata, existem nos
homens piedosos dotados de natureza divina.

___ 4: Orgulho, arrogância, presunção, ira, rispidez e ignorância — estas


qualidades pertencem àqueles cuja natureza é demoníaca, ó filho de Pṛthā.

___ 5: As qualidades transcendentais conduzem à liberação, ao passo que


as qualidades demoníacas levam ao cativeiro. Não se preocupe, ó filho de
Pāṇḍu, pois você nasceu com as qualidades divinas.

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Comentário: sem comentário.

Oxossi empresário de foco

Em tempos distantes, um Rei acompanhava o seu povo na festa da colheita


dos inhames. Naquele ano a colheita havia sido farta, e deram uma grande
festa para comemorar, comendo inhame e bebendo vinho de palma em
grande fartura. De repente, um grande pássaro pousou sobre o Palácio, com
seu grito maligno e lançando farpas de fogo para destruir tudo ali, porque não
ofereceram uma parte da colheita às feiticeiras. Todos se encheram de pavor.

Prevendo desgraças e catástrofes, o Rei mandou buscar o "caçador das 50


flechas", que, arrogante e todo cheio de si, errou todas as 50 flechas. Chamou
então, de outra banda, um outro grande caçador com suas 40 flechas.
Embriagado, ele também desperdiçou todas suas flechas. Ainda foi convidado
para grande façanha de matar o pássaro, desde terras distantes, o guardião das
20 flechas. Fanfarrão, apesar da sua grande fama e destreza, atirou as 20
flechas contra o pássaro encantado, e nada aconteceu.

Por fim, sem esperança, resolveram convocar da mesma cidade o caçador


de apenas uma flecha. Um rapaz franzino, de mãos finas, e sua flecha era bem
pequena. Sua mãe sabia que as feiticeiras viviam furiosas com o
comportamento das pessoas, e nada poderia ser feito para apaziguar sua fúria
a não ser uma oferenda. A mãe do caçador de apenas uma flecha fez então
assim, e durante a sua oferenda, recitou: “Que a ave receba esta oferenda!”.
Neste exato momento, o seu filho disparava sua única flecha em direção ao
pássaro, ferindo-o no olho direito.

O pássaro caiu, o caçador de apenas uma flecha correu, tirou a flecha do


olho e cravou-a no seu coração. Todos daquele reino começaram a dançar e
gritar de alegria: "Oxossi! Oxossi!", que quer dizer caçador do povo. A partir
desse dia todos conheceram o maior guerreiro de todas as terras, foi
referenciado com honras e carrega seu título até hoje. Oxossi.

Oxóssi não precisa de mais do que uma flecha para atingir seu objetivo.
Para as religiões africana-brasileiras, como a Umbanda e o Candomblé, Oxóssi

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é ligado ao conhecimento e à natureza. Ele “fornece” tudo o que a natureza


pode proporcionar para toda e qualquer necessidade humana. Por esta razão,
ele é conhecido como o orixá do sustento, da fartura, da “caça”. Ele protege
todos os que saem de casa diariamente para o trabalho, pois é deste esforço
que vêm o sustento das famílias.

Oxóssi também é considerado um orixá de contemplação, amante das artes


e das coisas belas, sendo também um caçador de axé. Ou seja, é um orixá que
busca as boas influências e energias positivas para um ilé, espaço onde são
realizadas as festas públicas no Candomblé.

Comentário: Para atingir seu objetivo, o empresário só precisa de uma flecha.


Ela não está nas mãos dos caçadores famosos de 50, 40, 20… milhares de
flechas. Ela não está nos reinos distantes. Ela não precisa ser nem grande nem
pequena… Mas a tua alma, a tua mãe, deve estar em meditação, contemplação,
oração… ou como você preferir chamar o estado integrativo daquilo que você
é – espírito, alma, corpo.

José empresário guiado por sonhos

José não era um mendigo; tampouco seu estado de vida tem de ser
considerado inferior ou desprezível, só por exercer um ofício de trabalho
manual. Para os hebreus, a profissão de artesão não era considerada inferior;
as artes eram respeitadas como úteis para a sociedade; e um bom artífice era
preferido ao comerciante mais rico36.

José, então, trabalhava com as mãos, mas qual era a sua ocupação em
específico? A palavra que traduzimos como “carpinteiro” está, no original, em
seu sentido genérico, podendo aplicar-se a um operário que trabalhe sobre
qualquer material, seja com madeira, ferro, pedra ou mesmo metais preciosos.
Assim há intérpretes que o tomaram por empreiteiro ou arquiteto37.

36
Cf. THOMPSON, Edward Healy. Vida e glórias de São José. Dois Irmãos, RS :
Minha Biblioteca Católica, 2021, p. 90
37
Ibidem, p. 93s.

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Não vamos encontrar muitas referências a José nos Evangelhos, mas as


poucas coisas que encontramos podem ser interessantes aos empresários do
século XXI. José escuta seus sonho: o anjo pede a José que não tenha medo
de desposar Maria, pois o filho que ela carregava fora gerado pelo Espírito
Santo; José é alertado para que deixe Belém e fuja para o Egito com a sua
família; ainda no Egito, José recebe a notícia de que Herodes morreu e que é
seguro retornar; é avisado para ir para a Nazaré na Galileia.

José não discute, age! Essa firme disposição para agir é tipicamente
empreendedora. José tinha “disposição para identificar problemas e
oportunidades e investir recursos e competências na criação de um negócio,
projeto ou movimento que fosse capaz de alavancar mudanças e gerar um
impacto positivo”38.

Duas características fortes: escutar os sonhos e disposição para agir e agir


imediatamente. Escutar sonhos pode parecer coisa supérflua ou sem
importância, bobagem, coisa de maluco, mas é uma atitude de quem está
integrado no movimento da “alma que se exprime no corpo informado por
um espírito imortal”39.

Mesmo com esse lance de “alma que se exprime”, “espírito imortal”, não
podemos imaginar que José, o carpinteiro, alguma vez tenha sido privado dos
seus sentidos externos. “Como imaginamos sua atividade interior enquanto
estava, por exemplo, em sua oficina, com Jesus ao seu lado? Certamente em
êxtase silencioso! Mas, ao mesmo tempo, com total atenção exterior ao
trabalho que ocupava suas mãos.”40

A Escritura nos ensina que existem duas maneiras principais pelas quais
Deus comunica luz sobrenatural a Seus amigos mais queridos na Terra. A
primeira é por meio da oração; e a segunda é por um raio de sabedoria divina,
com a qual Ele graciosamente ilumina o entendimento. José, então, durante
toda a sua vida teve a alma elevada em Deus, “o Pai das Luzes”41.

A comunicação da luz sobrenatural não distrai, ao contrário, deixa a mente

38
Cf. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Empreendedorismo>. Acessado em: 24 mar.
2022.
39
Cf. Familiaris consortium, 1981, 11. Disponível em
<https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/
hf_jp-ii_exh_19811122_familiaris-consortio.html>. Acessado em: 24 mar. 2022.
40
THOMPSON, 2021, p. 391s.
41
Ibidem, p. 390.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

em pleno exercício de suas faculdades. “Pois a suspensão dos sentidos não é a


medida da sublimidade do êxtase como sabem todos os que possuem o mais
leve conhecimento de teologia mística.”42

Comentário: sem comentário.

42
Ibidem, p. 391.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

TUDO JÁ FOI DITO

Vimos que é fundamental que você mantenha uma prática religiosa. Devoção!
Bhakti Yoga! E que é o caminho mais curto, e mais produtivo, voltar-se para a
sua tradição, aquela que seus avós praticavam, com mais ou menos
consciência, não importa: se cristão, cristão; se budista, budista; se hinduísta,
hinduísta; se islão, islão; se afro-brasileira, afro-brasileira…

Apresentei para você só três exemplos de escolas para o caminho da


experiência do mistério; não são as únicas. Três exemplos de “empresários
místicos” de três tradições diferentes, para ilustrar. Não são os únicos! Na
minha tradição temos muitos assim: Abraão, Isaac, Jacó, Davi, Jó, Tobias, Sara,
Rebeca, Judite e, na nossa era, São José, Lídia e São Crispim levaram uma vida
mística nos seus trabalhos manuais, Santa Ana, Santa Marta, Santa Mônica,
ÁquiIa e Prisca, nos trabalhos da casa, o centurião Cornélio, São Sebastião e
São Maurício, no exército, o grande Constantino, Santa Helena, São Luís,
Santo Amadeu e Santo Eduardo, em seus tronos. Aconteceu, de fato, que
muitos se conservaram místicos no meio do barulho do mundo.

Noutras tradições também encontrei ótimos exemplos de escolas que


ajudam a caminhar o caminho da experiência do mistério; como na tradição
do Yoga, que comentei rapidamente. Outro dia eu dava aula no curso de
pós-graduação em Yoga, e fizemos um exercício de síntese (também comentei
sobre análise versus síntese). O tema da aula era “História e origens do Yoga" e
“Textos clássicos e estruturação dos mesmos”.

No nosso exercício sobre a história e os textos clássicos, pudemos sentir


(sim SENTIR, porque exercício é sempre pŕatico) que a história não é um fato
passado, mas sim, aquilo do passado que vive hoje, aqui e agora, no
presente… “Aquilo que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que
contemplamos e as nossas mãos apalparam” não é uma coleção de fatos
passados, mas a síntese ontológica, o resultado intelectual da reflexão geral em
torno da natureza, das etapas e dos limites do conhecimento humano,
manifestado na vida cotidiana, de cada um e de todos.

Das etapas e dos limites do conhecimento humano, lembrei agora de


Eckhart Tolle, no Poder do Agora: "De repente, surge uma serenidade muito

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grande dentro de você, uma sensação de PAZ. E dentro dessa paz existe uma
grande ALEGRIA. E dentro dessa ALEGRIA existe AMOR. E aí está o
sagrado, o incomensurável, o que não pode ser nominado, [o mistério]."

Na parte final dos Vedas temos diálogos entre mestre e discípulo, que
tratam da natureza essencial da pessoa já livre de limitação. A limitação é
apresentada como uma sensação, não um fator real, por isso a liberação se faz
através de conhecimento. Por estar na parte final dos Vedas, chama-se Vedanta
(-anta significa fim ou parte final). Para alcançar esse conhecimento que ajuda
na liberação, os Vedas apresentam dois estilos de vida: uma vida de renúncia, e
uma de ação.

Na vida de renúncia, a pessoa deixa de lado suas obrigações com a


sociedade e a família e se dedica exclusivamente ao estudo, à reflexão e à
meditação. Isto que normalmente se confunde com uma vida mística. Na vida
de ação, a pessoa permanece na sociedade, casada, envolvida com família e
trabalho, porém sua vida é de yoga. Isso quer dizer que ela faz ações, cumpre
suas obrigações, até mesmo satisfaz desejos, mas sempre atenta ao dharma, os
valores éticos universais, e à sua atitude na ação e ao receber o resultado dela,
mantendo o estudo e a meditação diários.

Além de manter a prática diária da meditação e do estudo, a Bíblia também


dá muitas dicas e truques para sobreviver e crescer no mundo dos negócios.
Aquele que abriu uma passagem no mar e um caminho entre águas
impetuosas; que pôs a perder carros e cavalos, tropas e homens corajosos,
entre outras coisas, diz assim:

'Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei
coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei uma
estrada no deserto e farei correr rios na terra seca. Hão de glorificar-me os animais
selvagens, os dragões e os avestruzes, porque fiz brotar água no deserto e rios na
terra seca para dar de beber a meu povo, a meus escolhidos. Este povo, eu o criei
para mim e ele cantará meus louvores.’ (Isaías 43,16-21).

Não relembrar coisas passadas, não olhar para fatos antigos, não quer dizer
romper com a História da humanidade, nem desprezar a minha história
particular. Não posso simplesmente jogar fora todo conhecimento empírico,
resultado prático de tantos e tantos erros e acertos em milênios de vivências
fundamentais. Posso sim, comparar com o retrovisor do carro: é muito menor
do que o parabrisas; e se ficar olhando para o retrovisor… É uma dica muito
prática de conduta pessoal. É olhando para frente que posso ver “uma estrada

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no deserto”.

Paulo, aquele que mudou de profissão no meio de uma carreira de sucesso,


depois de ter frequentado as melhores escolas, bem nascido, em berço de
ouro, ensina os habitantes de Filipos (3,8-14):

Não que já tenha recebido tudo isso, ou que já seja perfeito. Mas corro para
alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo já tê-lo
alcançado. Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me
lanço para o que está na frente. Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que, do
alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus.

Eu me lanço para o que está na frente! Corro direto para a meta, rumo ao
prêmio, com alegria! Corro direto para a alegria! Sim, ALEGRIA! Que no
final das contas é o que faz a diferença daquele que acorda antes do
amanhecer para idolatrar o trabalho daquele que trabalha desce antes do
amanhecer porque isso o deixa alegre e dá alegria para maior número de
pessoas. Imagino que independente da quantidade de dinheiro ou do tamanho
da sua empresa, ela tem que causar uma transformação para quem estiver do
outro lado. Justo, não acha? “A esperança dos justos acaba em alegria, mas a
esperança dos injustos termina em fracasso”, diz um dos livros poéticos e
sapienciais da Bíblia (Provérbios 1,28).

“O Segredo do sucesso”

De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo. (Séc.IV). A descida do


Senhor à mansão dos mortos

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para


permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a
vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha
imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui;
tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Salmo. De Davi.

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe,


o mundo com seus habitantes!
Foi ele que o fundou sobre os mares
e o mantém estável sobre as ondas.

Quem subirá à montanha do SENHOR?


Quem se manterá no seu lugar santo?
– Aquele de mãos inocentes e de coração puro,
que não tende para o mal
e não jura para enganar.

Ele obtém do SENHOR a bênção,


e do seu Deus salvador a justiça.
Esta é a geração daqueles que o procuram,
que procuram a tua face: é Jacó!

(pausa)

Portas, elevai vossos frontões!


Elevai-vos, pórticos antigos!
Que entre o rei de glória!
– Quem é o rei de glória?
– O SENHOR, forte e valente,
o SENHOR, valente na guerra.

Portas, elevai vossos frontões!


Elevai, pórticos antigos!
que entre o rei de glória!
– Quem é este rei de glória?
– O SENHOR do universo,
é ele o rei de glória.

(pausa)

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O EMPRESÁRIO DO SÉCULO XXI OU SERÁ UM MÍSTICO OU NÃO SERÁ NADA

SOBRE O AUTOR

Sergio Vieira Holtz Filho iniciou a prática de Raja Yóga aos três anos de idade,
em classe experimental da Faculdade de Ciências e Letras de Sorocaba
(1964-1970). Essa classe foi um laboratório da cadeira de Pedagogia, baseado
na aplicação da proposta de Helena Lubienska de Lenval para a “Educação do
Homem Consciente”. Lubienska, indo além de sua amiga Maria Montessori,
passou da pedagogia profana para o que ela chamava de “‘pedagogia do
sagrado’: é necessário implementar os recursos ocultados de uma criança que
permitam a sua emersão de sua consciência e seu espírito (...) desejamos
desenvolver na criança a consciência do seu ‘eu’ espiritual e da realidade do
espírito. Desejamos que para a criança, como para nós, a vida espiritual seja a
vida real, e que toda a atividade física e psíquica lhe seja subordinada”.

Aos 12 anos de idade, quando morou na cidade do Rio de Janeiro, conheceu e


começou a praticar Hatha yoga, ao modo do Prof. Hermógenes. Muitas coisas
aconteceram no decorrer de mais de meio século, mas a experiência vivida da
primeira infância tem mesmo impressão indelével e conduz o prof. Sergio até
hoje.

Sergio Holtz nunca foi empregado. Dos 25 aos 50 anos de idade, os poucos
registros na sua carteira de trabalho foram de empresas próprias, ou da família.
Começou na produção agropecuária como produtor rural; foi diretor da
Associação dos Zootecnistas do Estado de São Paulo - AZESP e do Sindicato
Rural Patronal em Araçoiaba da Serra SP; teve participação societária em
empresa de mineração, madeireira e serraria, supermercado, hotelaria,
metalurgia, locação de veículos, produção áudio e vídeo, editora,
desenvolvimento de projetos de produtos e de negócios… montava empresas

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e negócios e vendia, recuperava e devolvia, orientava, também faliu… algumas


vezes. Até cansar de reuniões e reuniões e reuniões… e passou a atender
individualmente, em consultório, num formato que se chamou coaching… um
pouco diferente do que se vê hoje. Fugiu do modismo e da parafernália criada
para essa tal de coaching e passou a orientar, aconselhar e acompanhar em
“terapia”.

Especialista em Teologia, especificamente na Espiritualidade Cristã e


Orientação Espiritual, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE
(2017); porque reconheceu que a psicologia sozinha não dá conta do ser
humano. Havia recém concluído o curso de pós-graduação em Psicologia,
especialização em Psicologia Transpessoal pela Associação Luso-Brasileira de
Transpessoal - ALUBRAT (2013), onde conheceu de perto o trabalho da Dra.
Vera Saldanha, do Dr. Jean-Yves Leloup, Roberto Crema, Pierre Weil, Dr.
Stanislav Grof, entre outros, e do Colégio Internacional de Terapeutas.

Sergio Holtz é psicoterapeuta em consultório particular. Conciliador e


mediador no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, nas áreas cível e
familiar, cadastrado no Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de
Solução de Conflitos - NUPEMEC. Professor visitante na Faculdade Jesuíta
de Filosofia e Teologia - FAJE, curso de Pós-graduação em Espiritualidade
Cristã e Orientação Espiritual, disciplina "Autoconhecimento e Orientação
Espiritual". Professor visitante na Universidade do Vale do Rio dos Sinos -
UNISINOS, Escola de Formação de Orientadores Espirituais - EFOE,
disciplina "Autoconhecimento e Orientação Espiritual". Professor no Curso
de Formação de Professores de Hatha yoga Clássico, na Casa Durga Instituto
de Desenvolvimento do Ser, com a Profa. Maria Angélica dos Santos Oliveira.
Professor no Curso de Pós-graduação em Yóga, no Centro Universitário das
Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU.

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