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A EMPRESA

NO DIVÃ
DESCUBRA OS 4 PILARES QUE
CONTROLAM OS RESULTADOS
DA SUA EMPRESA E
VOCÊ NEM DESCONFIA

DEZA’S
Editora
Editora Clenice Araujo
Clenice Araujo

A EMPRESA

NO DIVÃ
Descubra os 4 Pilares que
controlam os resultados
da sua empresa e
você nem desconfia

DEZA’S
Editora
NATAL/RN – 2021
© Copyright 2021 – Deza’s Editora / Natal – RN

Autora Clenice Araujo


Editores Larissa Inês da Costa
Luciana Fernandes da Costa Bezerra
José Antonio Bezerra Junior
Revisão Andreia Maria Braz da Silva
Designer Capa Guilherme Lacerda
Designer Gráfico José Antonio Bezerra Junior
Bibliotecária Larissa Inês da Costa – CRB 15/657

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Araujo, Clenice.
A empresa no divã: descubra os 4 pilares que controlam os
resultados da sua empresa e você nem desconfia / Clenice Oliveira
de Araujo; Designer capa; Guilherme Lacerda; Imagem Capa; Getty;
Designer gráfico José Antonio Bezerra Junior. – Natal: Deza’s, 2021.

92 p.

Imagem da Capa de Getty, adaptada por Guilherme Lacerda

ISBN Impresso 978-65-992576-6-7


ISBN Digital 978-65-992576-7-4

1. Experiências. 2. Mudança de percepção. 3. Psicologia


empresarial. 4. Empresário x empreendedor. 5. Autoconhecimento.
I. Lacerda, Guilherme. II. Bezerra Junior, José Antonio. III. Título.

RN CDU 159.9:65.01
CUTTER A658e

DEZA’S
Editora
“Conhece-te a ti mesmo”
Sócrates
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Sumário
Capítulo 1
Porque Escrevi Este Livro? 6
Capítulo 2
Negócios e Psicologia 9
Capítulo 3
Porque Você deve Ler este Livro? 13
Capítulo 4
O bem-sucedido insatisfeito: síndrome do impostor 20
Capítulo 5
O Especialista em maus negócios 28
Capítulo 6
O Azarado “Oh dia! Oh vida! Oh Azar!” 39
Capítulo 7
O Quase Lá: o que você esconde de si mesmo? 48
Capítulo 8
Contratos inconscientes 57
Capítulo 9
Os 4 pilares que sustentam os negócios e a vida 64
Capítulo 10
Integridade nos negócios e na vida 75
Capítulo 11
“Decifra-me ou te devoro” 87
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Capítulo 1

Porque
Escrevi
Este
Livro?

6
Porque
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Escrevi
Este
Livro?

A
tuei durante 30 anos como empresária no comércio e na indústria. E foi
na indústria de fardamentos e brindes que eu percebi que era uma “Es-
pecialista em maus negócios”.
Percebi que eu repetia sempre os mesmos erros, não importava os esforços
que fizesse, os resultados eram sempre os mesmos.
Você já se sentiu assim, nadando, nadando e morrendo na praia?
Escorregando quando já  está “quase lá”?
Esse era o meu sentimento permanente, muitas frustrações e uma exaustão
infinita.
Então, decidi voltar a estudar para aprender a gerenciar melhor os meus
negócios. Nessa fase, acabei contratando as melhores consultorias empresariais do
Rio de Janeiro.
Implantamos tudo que era sugerido. Algumas coisas passavam a funcionar
melhor. Mas o padrão de maus negócios persistia. Existia algo que escapava, algo
que aqueles consultores não podiam ver.
Não sabia mais o que fazer. Foi então que passei a desconfiar que o erro
estava em mim, em minha cabeça.
 Busquei a ajuda de uma psicóloga para sair daquele círculo vicioso. Com
o trabalho daquela psicóloga, entendi quais eram os meus bloqueios emocionais
inconscientes, que estavam minando toda e qualquer tentativa de sucesso. 
Entender a raiz daqueles padrões repetitivos foi a chave para a grande vi-
rada em meus negócios e para a minha vida. Falarei mais adiante como tudo isso
aconteceu.

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Porque
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Escrevi
Este
Livro?

Fiquei tão encantada pelos recursos da Psicologia que eu mesma retornei à


universidade e me tornei também psicóloga.
Desde 2002 venho atuando na Psicologia do Trabalho em várias frentes:
Transição de carreira, Orientação de missão de vida e propósito, entre outras.
Nos últimos anos tornei-me Especialista em Psicologia Empresarial, colo-
cando toda a minha experiência pessoal e profissional na cabeça dos donos dos
negócios. O seu dia a dia, seus dramas e dificuldades me são muito familiares.
Ninguém pode conduzir uma pessoa por uma trilha que não conhece. 
 Por já ter vivido tudo que eles passam, posso guiá-los de forma tranquila e
segura para que possam criar novos caminhos mentais que os leve a  ter clareza e
objetividade em seus negócios e em sua vida. 
A minha melhor habilidade é justamente identificar e desbloquear padrões
repetitivos inconscientes que estão influenciando em seus negócios, atrapalhando
os seus resultados e você nem desconfia.
Por ter sentido na pele a mudança que a Psicologia trouxe para os meus ne-
gócios e por eu mesma ter conseguido levar essa mudança para outros empresários,
resolvi escrever este livro, para ajudar você a identificar os pontos cegos que mais
atrapalham os empresários a terem o sucesso que merecem ter.
É sobre essa viagem dentro de mim mesma e de todas as descobertas que
fiz atendendo empreendedores e empresários que vou falar neste livro.
Ao finalizar essa leitura certamente você será um empresário melhor do que já é.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Capítulo 2

Negócios
e
Psicologia

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Negócios
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ e
Psicologia

A
pesar de a Psicologia ser amplamente usada para melhorar todos os aspec-
tos das empresas, desde a contratação de funcionários à escolha das cores
para definir a logomarca, muitos empresários ainda torcem o nariz e se
espantam quando dizemos que são os seus padrões emocionais que determinam
o rumo dosseus negócios e definem os seusresultados.
Isso sempre me chamou atenção. A Psicologia atua em todas as áreas da
nossa vida. Por que não atuaria em nossos negócios?
Se é a cabeça que comanda o corpo, como os aspectos emocionais do dono
de um negócio, sejam eles positivos ou negativos, não definiriamsuas escolhas e
resultados?
Em todas as crises que sacodem o planeta de tempos em tempos, esses pa-
drões emocionais são fortemente testados.
O que motiva uma pessoa a empreender em vez de trabalhar em uma em-
presa já consolidada, ganhar o seu salário e dormir em paz?
Poderia tecer uma tese de doutorado para explicar “N” motivações. Entre-
tanto, vou ater-me apenas a um aspecto.
Quem toma essa decisão de empreender acredita que é capaz de dar conta
do recado. Quer ter liberdade criativa, produtiva e financeira.
O impulso para empreender vem dessa certeza e do desejo de realizar algo
grandioso, há sempre um grande sonho por trás.
Movidos por essa certeza, milhões de pessoas no mundo todo mergulham
de cabeça nas águas revoltas do empreendedorismo e dão o pescoço pelos seus
ideais de vida.
Com o tempo, as águas límpidas e as certezas dos primeiros dias vão ficando
cada vez mais turvas e poucos conseguem “sair vivos” desse mar revolto.

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Negócios
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ e
Psicologia

Dados do IBGE de 2019 apontam que 316 mil empresas fecharam em quatro
anos. Desde o início da crise do coronavírus até agora, outubro de 2020, 716.000
empresas já fecharam as portas. A maioria são empresas de pequeno porte; o que
não surpreende. Essas são mais frágeis e não resistem a essas águas turbulentas.
Os empreendedores que resistem buscam desesperadamente ajuda para
sobreviver. Precisam consertar rápido as suas empresas.
A pergunta que muitos se fazem é: por que uns conseguem resistir e aguentar
os solavancos enquanto outros quebram? O que eles sabem que eu não sei?
Cursos e mentorias direcionadas aos empreendedores prosperam nessas
crises.
Engenharia de Produção, Mentorias financeiras, gestores de todas as áreas
são contratados a peso de ouro. Infelizmente, os resultados nem sempre aparecem...
Mas onde está a resposta?
Essa frase do livro Mito do Empreendedor define de forma clara a verdadeira
resposta: “Se a empresa tem que mudar, você deve mudar primeiro”.
Antes de consertar a empresa, olhe um pouco para a sua própria história de
vida. Abra a sua caixa preta. Jogue luz onde precisa. Tire os véus que encobrem as
verdadeiras causas dos seus fracassos e frustrações.
Neste livro serão abordados alguns exemplos que vão demonstrar como os
nós emocionais do dono podem interferir nos negócios, jogando por terra todos os
esforços e investimentos financeiros.
Antes de contratar um consultor para analisar para as questões técnicas do
negócio, procure o “Wally” dentro de si mesmo.
Com a clareza e a objetividade que o autoconhecimento traz, você será capaz
de contratar as pessoas e os serviços certos para o seu negócio.

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Negócios
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ e
Psicologia

Quem toma essa decisão de empreender


acredita que é capaz de dar conta do recado.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Capítulo 3

Porque
Você deve
Ler este
Livro?

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Porque
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Escrevi
Este
Livro?

T
odo empresário é um empreendedor, mas nem todo empreendedor se torna
um empresário.
Qual a diferença entre esses dois? O verdadeiro empresário possui clare-
za e objetividade para gerir os seus negócios. Tem a visão de águia, enxerga o seu
negócio de forma panorâmica, tornou-se um profissional, evoluiu como pessoa e
profissionalmente. Possui controle sobre as suas emoções.
O empreendedor trabalha de forma amadora, toma decisões equivocadas
que geram desgastes e prejuízos. O empreendedor está sempre nadando, nadando
e morrendo na praia.
Se você sente que os seus resultados são incompatíveis com os seus esforços;
que o seu negócio poderia alcançar outros patamares, ir além, e você não entende
por que ainda está patinando, leia com atenção cada palavra deste livro. Aqui você
vai encontrar a resposta para os padrões ocultos que te impedem de crescer.
Este livro é o resultado do meu esforço pessoal, que faço diariamente, em
cada atendimento, nesse trabalho árduo de formiguinha, é a minha vontade de mos-
trar e ampliar aos seres pensantes do planeta a necessidade que o homem tem cada
vez mais de entender a si mesmo, para que possa evoluir mais rápido e encontrar
as melhores respostas diante das incertezas diárias.
Está claro que nada sabemos e nada podemos controlar. Está aí o coronaví-
rus que não nos deixa mentir. O planeta inteiro de joelhos diante do imponderável.
A única coisa que temos o poder de controlar é a nossa cabeça. Entretanto,
quantos realmente conseguem essa proeza?
E por que outros não conseguem? Porque ninguém controla o que não conhece.
Centenas de empresas quebram todos os dias no planeta inteiro, agora mais
do que nunca, diante da crise do coronavírus.

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Porque
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Escrevi
Este
Livro?

Centenas de empreendedores que resistem sentem-se frustrados diante dos


seus resultados.
As queixas são sempre as mesmas: os esforços e sacrifícios são imensos. Já
os resultados estão sempre aquém do sonhado, do esperado. Não condizem com a
energia e o esforço que os empreendedores dedicam aos seus negócios.
Percebi que as suas reclamações poderiam ser embaladas e empilhadas por
padrões repetitivos: à medida que fui expandindo os atendimentos, percebi que as
mesmas histórias e padrões se repetiam incansavelmente.
Aquilo que se tornou óbvio para mim, através do meu autoconhecimento e
da minha formação, ainda é um estranho para tanta gente, gente boa e esforçada.
A grande questão é que o autoconhecimento ainda é um artigo de luxo
mesmo para as pessoas mais abastadas. Não depende apenas de recursos financei-
ros. Depende de alguma inteligência emocional e demanda um grau de evolução
pessoal e espiritual grande para ter a humildade de olhar para si mesmo e assumir
que precisa de ajuda.
A Psicologia necessitou de 5.000 mil anos de civilização escrita para poder
ser apresentada à humanidade.
Sócrates foi obrigado a tomar cicuta porque ousou ir em busca da verdade e
ensinou as pessoas a formular perguntas sobre si mesmas. Freud recebeu cusparada
e sapatos na cara dos maiores intelectuais da sua época.
A Psicologia, em pleno século 21, ainda é vista com preconceito e desdém.
Ainda é vista por muita gente boa comocoisa para loucos oupara os desequilibrados.
Em minha experiência, tanto como empresária quanto como psicóloga que
trabalha nessa área de empreendedorismo, empresas e negócios, pude constatar

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Porque
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Escrevi
Este
Livro?

que existem vários tipos de empresários que buscam o sucesso em seu trabalho,
mas sempre incorrem em erros primários,comprometendo sua jornada.
Identifiquei quatro perfis com os quais mais me deparo nas minhas consultorias.
Em qual desses perfis você enquadra?
1. O bem-sucedido possui muito resultado, mas sabe que pode alcançar
mais. Pode ir além.
Recentemente, ouvi de um deles a seguinte afirmação: “Eu sei que sou um cara
“foda”, todos pedem a minha opinião. Vivo dando consultorias gratuitas aos amigos,
entretanto, sinto uma frustração tremenda, porque os meus resultados são medíocres,
frente ao que sei e aos esforços que faço todos os dias. Vejo caras que começaram bem
depois fazendo a mesma coisa e bombando, enquanto eu sinto que há uma barreira
que não consigo romper. Eu quero mudar isso, quero virar essa chave”.
Ele não entende ainda qual é o seu verdadeiro bloqueio, quais são as suas
amarras mentais. Esta é a sua pergunta: “Qual é a informação que eu ainda não
acessei para desvendar esse mistério?”.
Ele já verbalizou a sua grande frustração e já se colocou no caminho para
encontrar as respostas.
2. O especialista em maus negócios: é aquele que entende perfeitamente
o seu trabalho, se especializou, é muito competente para ganhar dinheiro, a sua
questão é que possui a mesma competência para perdê-lo. Por que ele vive dando
tiro no próprio pé? O que o impede de atingir os seus objetivos? Quais contratos
inconscientes ele firmou com a sua família?
3. O Quase Lá: é o perdido na vida, não sabe qual é o seu propósito. É aquele
que sempre morre da praia, se dedica, corre atrás, mas, invariavelmente, não atinge

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Porque
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Escrevi
Este
Livro?

a meta esperada. Perdido, vive correndo atrás de novas oportunidades. Está sempre
indo buscar o pote de ouro no fim do arco-íris
4. O Azarado: é aquele que se preparou, montou seu negócio e quando
começa a gerar lucro acontece algo que muda totalmente o cenário: uma pandemia,
uma enchente, uma alta do dólar etc. Tudo que acontece é para ele. Só para ele.
Existem outros tipos, claro, mas esses são os mais frequentes que, em suas
angústias e tentativas de “consertar” as suas empresas, acabam olhando apenas
para as questões técnicas, tais como: gestão de recursos, gestão de pessoas ou
financeiras, ao invés de olhar para si mesmos como responsáveis diretos pelo
andar da carruagem.
Gastam muito tempo e dinheiro investindo em técnicas que não atingem a
raiz da questão. Não se constrói uma casa pelo teto. Se o problema está na base,
é para lá que precisamos olhar.
Qual é o padrão de erros que sempre ocorrem? Observe.
Por que os seus colaboradores os repetem incansavelmente?
Enquanto o empresário não identificar o que realmente determina o seu
jeito de trabalhar, de reagir ou não tomar consciência de como ele faz suas escolhas,
sempre incorrerá nos mesmos erros e fracassos.
Não adianta adotar métodos que servem para todo mundo se cada empresa
ou negócio possui a característica particular de quem a comanda.
É a sua cabeça, sua mente, meu amigo, que vai moldar o jeito e a identidade
do seu negócio e determinar o modus operandi da sua organização.
A mente é formada a partir de questões emocionais, conflitos, medos. E de
gatilhos de ansiedade que são particulares e únicos.

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Porque
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Escrevi
Este
Livro?

A empresa não é uma instituição abstrata, feita só de generalidades e as-


pectos técnicos, como se pensava no passado. Ela tem uma identidade que foi
inconscientemente produzida por você.
Quais são seus padrões inconscientes? Onde estão seus pontos cegos?
É colocando a sua empresa no divã que você vai identificar quais são os
contratos inconscientes que dominam suas tomadas de decisão e suas escolhas.
A empresa é você, sua mente, seus comandos, seus padrões psicológicos.
Não importa o tamanho do seu negócio, é a sua cabeça que vai direcionar,
que vai implantar a cultura e o clima organizacional.
O leme desse barco está em suas mãos.Suas mãos se movimentam pelos co-
mandos inconscientes, que representam 95% dos seus atos, que vêm determinando
a sua vida sem que você ao menos desconfie da sua real falta de controle.
A Psicologia, espantosamente, ainda não é uma prioridade para grande parte
dos empresários. Mas, pode acreditar que o que há de mais promissor para sua car-
reira enquanto líder ou empresário, é o “conhecer-te a ti mesmo”.
A questão aqui é saber o quanto você está disposto a enfrentar as suas ver-
dades internas e não ter mais em quem colocar a culpa pelo seu sucesso meia-boca
ou pelos seus fracassos.
O que este livro pretende é fazer um alerta: sua identidade empresarial preci-
sa ser entendida e ressignificada.Porque ter o controle sobre você mesmo no mundo
corporativo, é, sem dúvida, a chave para o seu sucesso.

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Porque
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Escrevi
Este
Livro?

A única coisa que temos o poder


de controlar é a nossa cabeça.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Capítulo 4

O bem-sucedido
insatisfeito:
síndrome do impostor
O bem-
sucedido
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ insatisfeito:
síndrome do
impostor

T
empresa vai bem, atinge bons resultados e metas, o empresário é antena-
do, se atualiza, busca se aprimorar de tempos em tempos, é visionário, faz
cursos presenciais ou a distância.
Determinado, corajoso, audaz, essas são as principais características dos em-
presários bem-sucedidos que costumo atender.
O que os mobiliza a buscar ajuda, uma vez que a empresa vai bem, atinge bons
resultados e metas?
Por que estão insatisfeitos, apesar de serem considerados referência em seus
nichos empresariais?
Ele possui tudo que é necessário para alcançar suas maiores conquistas: ca-
pacitação, ferramentas; aparentemente tem tudo que precisa, mas falta alguma coisa.
Foram anos de treinamentos,mentorias internacionais, cursos extras, novas
qualificações, inserção no Marketing Digital, busca constante por melhorias e...
As coisas melhoram, mas há algo que sempre se repete. Alguma coisa não foi
resolvida com todas as ferramentas já estudadas.
Algo foge ao escopo de todos os treinamentos já realizados; a essa altura, fica
até constrangido de receber tantos elogios, sente-se um impostor.
No silêncio do seu coração, pede a Deus para ter todo aquele resultado que
todos acreditam que ele tem.
Esse empresário se sente internamente como uma Ferrari, mas a real veloci-
dade que consegue atingir é a de um Fusca.
O que houve com aquela autodeterminação e aquela autoconfiança que
tinha no início?

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O bem-
sucedido
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ insatisfeito:
síndrome do
impostor

Por que não conseguiu ainda atingir o topo do seu Himalaia?


Olha para o seu negócio e percebe que tudo que podia fazer já foi feito. O
que falta fazer para chegar lá?
Sente que existe um imenso muro que se instalou bem no meio do seu ca-
minho impedindo qualquer avanço.
A verdade é que esse empresário até aquele momento estava tentando con-
sertar a empresa apenas olhando para os fatores externos. Afinal, foi assim que
aprendemos a olhar para os nossos negócios: “Não se leva problemas pessoais
para o trabalho”. Atualmente, qualquer empresário minimamente informado sabe
que esse paradigma caiu por terra.
Mas, foram séculos vivendo com essa separação cartesiana. Mesmo os mais
modernos ainda relutam em perceber que a Psicologia está inserida em cada átomo
humano. Como poderíamos ter negócios livres dos nossos padrões de funciona-
mento psicológicos?
No livro O mito do empreendedor, de Michael E. Gerber, o autor nos brinda
com essa certeira afirmação: “seu negócio nada mais é do que um reflexo daquilo
que você é. Se você é negligente, seus negócios serão negligentes, se você é desorga-
nizado, seus negócios serão desorganizados, se você é mesquinho, seus funcionários
serão mesquinhos. Se a informação que você tem sobre o que é necessário fazer em
relação aos negócios é limitada, a empresa irá refletir essa limitação”.
Essa é a descrição explícita do que vejo todos os dias em meus atendimen-
tos. É exatamente desse jeito: é o dono da empresa que determina a cultura e o
clima do seu negócio.

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O bem-
sucedido
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ insatisfeito:
síndrome do
impostor

Mesmo aqueles que nunca pararam para refletir sobre essas questões psico-
lógicas, inconscientemente, vão trazer os seus padrões pessoais de funcionamento
para os seus negócios. Não há como escapar.
De onde vêm esses padrões, onde foram aprendidos?
Trata-se de uma investigação profissional à luz dos bloqueios emocionais
que o dono da empresa carrega.
É na sua história de vida que está a chave para entender e liberar esses ca-
minhos interrompidos.
A Cláudia, nome fictício, é uma das empresárias bem-sucedidas que atendi
há um tempo. Ela gerencia uma multinacional e vive dando palestras em eventos
nacionais e internacionais. A queixa dela é exatamente esta: “não me sinto assim tão
‘foda’ como as pessoas acreditam que eu sou, sinto-me meio impostora às vezes”.
Por que ela se sentia assim? Porque ela sabia que poderia alçar voos mais
altos. Entretanto, não entendia o que a impedia de chegar lá.
Existia um bloqueio que ela não sabia identificar e muito menos resolver.
Identificar essa falha, esse defeito na estrada que a impedia de seguir adiante,
foi a chave para a sua transformação.
Ao colocar a empresa da Cláudia no divã pude então conhecer a sua his-
tória pessoal, a sua dinâmica familiar e identificar os padrões de comportamento
que ela trazia. Identificar os padrões que a apoiavam e quais atrapalhavam sua vida
profissional.
O problema estava em como ela aprendeu a se comunicar. Quais os parâ-
metros, quais as referências trazidas até ali?
Como ela cresceu em uma família onde uma certa dose de arrogância e

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O bem-
sucedido
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ insatisfeito:
síndrome do
impostor

prepotência era comum, não percebia que sua comunicação estava carregada de
expressões e gestos que deixavam seus interlocutores acuados, sem a mínima mo-
tivação para trazer novas ideias ou tirar dúvidas e expressar críticas.
Se alguém fizesse uma pergunta que soasse idiota para ela, não conseguia
disfarçar. Não era mal educada e não se percebia grosseira, mas ficava claro que ela
achava ridículo ter de responder algo que lhe parecia tão óbvio.
Ocorre que seu pai era assim. Ela se comportava da mesma maneira que ele.
Foi nesse padrão familiar onde os irmãos e outros membros da família propagaram
esse comportamento que ela aprendeu e agia exatamente como eles. Era difícil
enxergar que esse modo de se comunicar acabava por bloquear a fluidez de toda e
qualquer tentativa de entendimento.
A comunicação é base para toda e qualquer empresa.Se as pessoas não
entendem o que você fala, a culpa é sua!Você não é capaz de ser empático, não
consegue entender os diferentes níveis de acesso à informação e a singularidade
da percepção e captação da realidade.
Esse aspecto a frustrava demais. Nunca se sentia compreendida. Parecia
que não falava a mesma língua dos seus funcionários. Os ruídos, os enganos e erros
decorrentes dessa falha em sua comunicação causavam enormes prejuízos, tanto
financeiros como emocionais e morais. E isso acontecia repetidamente.
Quando as pessoas têm receio de parecer estúpidas ou de levar uma bronca
mesmo que de maneira aparentemente elegante, a dinâmica empreendedora fica
estagnada, bloqueia, não flui.
Quando ela aprendeu a ouvir mais as pessoas e permitiu que se expressas-
sem, ficou fascinada com a quantidade de novas ideias que nunca tinha valorizado.

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O bem-
sucedido
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ insatisfeito:
síndrome do
impostor

Ficou chocada quando percebeu que agia assim em todas as suas relações
profissionais, pessoais, familiares e amorosas.
A construção da personalidade envolve aspectos emocionais, cognitivos e
junto disso tudo está a comunicação: como se percebe o outro, a capacidade de se
adaptar a diferentes níveis de entendimento, a expressão facial e verbal como alia-
da ou inimiga das relações; tudo isso nós aprendemos socialmente e, em primeiro
lugar, no ambiente familiar.
Sendo assim, a personalidade que trago de casa, será a “personalidade” da
empresa também. Por isso é tão importante ter a oportunidade de percorrer esses
caminhos do autoconhecimento, usando toda e qualquer informação ou lembrança
como uma ferramenta fundamental na hora de resolver os problemas na empresa.
Se Cláudia não tivesse a oportunidade de enxergar,de se dar conta de que o
modo como ela interagia a prejudicava e feria as pessoas ao seu redor; jamais teria
uma empresa realmente bem-sucedida, inovadora e capaz de assumir e aplicar
novas práticas gerenciais.
Suas metas seriam inatingíveis porque, inconscientemente, ela realmente
se enxergava como superior, a dona da verdade, mais poderosa ou com muito mais
capacidade do que qualquer um ali. Esse sentimento de bastar-se é um erro comum,
mas que muitos ainda cometem sem perceber.
Enxergar que as pessoas possuem talentos e ritmos diferentes de aprendi-
zagem e produção é o que torna próspera qualquer relação interpessoal e, conse-
quentemente, deixa livre o caminho para as trocas de experiências e o aprendizado
permanente.

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O bem-
sucedido
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ insatisfeito:
síndrome do
impostor

Ao acessar memórias, registros, história pessoal e nos tornarmos conscientes


de quem realmente somos e como funcionamos, podemos quebrar paradigmas e
remover obstáculos diariamente.
Costumo dizer que precisamos atentar para o fato de que não podemos con-
tinuar vivendo sob os parâmetros dos nossos pais. Se assim fosse, ainda estaríamos
andando a cavalo.
Temos a obrigação de crescer e avançar diariamente para transformar a nos-
sa vida e criar um mundo realmente novo e dinâmico para nossos filhos e netos.
Não há mais tempo a perder. Precisamos aprender rápido, especialmente
sobre o nosso maior ativo, que é a nossa saúde física, psíquica, mental e espiritual.
Cláudia nunca poderia imaginar que “Dormia com o inimigo”, em todos os
treinamentos que fez pelo mundo afora para melhorar o seu “Mindset Empreende-
dor”, com os melhores gurus do planeta; nem desconfiava que a verdadeira causa
da sua insatisfação por seus resultados estava dentro de si mesma.
Agora tudo passou a fazer sentido e hoje ela sabe em que direção andar para
encontrar o seu lugar no mundo.

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O bem-
sucedido
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ insatisfeito:
síndrome do
impostor

Se as pessoas não entendem


o que você fala, a culpa é sua!

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Capítulo 5

O Especialista
em maus negócios
O
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Especialista
em maus
negócios

á se sentiu assim vendo os frutos dos seus esforços escorregando entre os

J seus dedos?
Há alguns anos recebi uma paciente que me fez essa pergunta: “eu quero
saber por que eu sou especialista em maus negócios”.
Eu ali ouvindo a história dela e pensando: “tão eu”…
Imagine uma pessoa extremamente competente, empenhada, que se dedica
ao trabalho totalmente, aquela profissional que todo grande empresário gostaria de
ter em seu time, que sempre busca aprimoramento e consegue se destacar produ-
zindo acima do esperado e atendendo as demandas mais absurdas.
Esse é o perfil dessa profissional. Aquela pessoa que de longe parece supere-
quilibrada profissionalmente, com sucesso e dona de uma estabilidade profissional
gigante.
Alguém consegue imaginar que, mesmo com todas essas qualidades e capa-
cidades, essa pessoa vivia se dando mal nos negócios?
Pois é, elasempre se envolvia em sociedades e parcerias que só lhe traziam
problemas e prejuízos constantes. Anos e anos repetindo incansavelmente os mes-
mos erros, sem nunca desconfiar das reais causas desses padrões de comportamen-
to em seus negócios e em sua vida.
A sua realidade interna era bem diferente da imagem que passava para o
mundo. Sabia ganhar muito dinheiro. Entretanto, com a mesma velocidade que
ganhava, encontrava sempre uma forma de perder uma boa parte daquele dinheiro.
Tudo que lhe parecia sempre óbvio, porém quando as bombas explodiam,
ela não as percebia nem podia evitá-las. Parece que algo a cegava.

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O
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Especialista
em maus
negócios

Uma das importantes percepções que tinha a respeito de si mesma era a


de que possuía um pensamento mágico. Costumava sempre acreditar no brilho da
purpurina.
Teve de aprender a duras penas que “nem tudo que reluz é ouro”, como
reza o ditado popular. Nem tudo é o que parece…
Ter a coragem para ver as coisas, sem máscaras ou fantasia, foi uma das
chaves para a sua tomada de consciência.
Esse perfil profissional é semelhante ao Bem-sucedido. O sucesso per-
cebido não reflete a realidade. Alguns estão atolados em dívidas ou atendendo a
demandas enormes que os consomem a cada dia.
Problemas crônicos e imprevistos comprometeram essa empresa e estão
consumindo aos poucos essa pessoa e toda sua identidade empreendedora.
Em quais aspectos eu me assemelhava a essa paciente?
No meu caso, a minha tara era vender, vender e vender. Assumia compro-
missos complexos e maiores que as minhas pernas.Era uma viciada em adrenalina.
Sentia um prazer patológico em fazer o que ninguém faria. Quando nenhuma em-
presa se arriscava a assumir aquele compromisso, com aquele prazo apertadíssimo,
eu o fazia com muito prazer. Aquilo fazia eu me sentir poderosa, importante. As
pessoas mais próximas tentavam me demover daquelas loucuras, mas os seus es-
forços eram inúteis. Eu não as ouvia.
Acreditava de verdade que estava fazendo a coisa certa. Demorei bastante
para perceber o quanto eu pagava caro por aquelas aventuras empresariais.
Prestava serviços para os maiores eventos que aconteciam no Rio de Janeiro
e no Brasil. Não existia a possibilidade de falhar com a entrega.

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O
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Especialista
em maus
negócios

Cumpria com os compromissos, entregando as encomendas, mas, sempre


em cima da hora.
Até que um dia uma cliente não acreditou que eu cumpriria e cancelou o
pedido. O caminhão estava na porta da empresa para entregar o material e ela não
recebeu. Milhares de peças devolvidas. Tinha desistido de mim na véspera, resolveu
de outra forma e não avisou nada.
No dia seguinte, antes de saber dessa trágica notícia, feliz com a finalização
daquele trabalho, saí cedinho dirigindo para resolver o pepino do dia, quando pro-
voquei um acidente ainda mais grave.
Havia passado a noite em claro, acompanhando a finalização daquele trabalho
e pela manhã tinha um compromisso inadiável. Era a rainha dos compromissos
inadiáveis. Tomei um banho frio e peguei o carro, acabei dormindo ao volante e
acordei com o carro entalado no fundo de um ônibus.
E foi assim que eu “acordei” para a vida que estava levando e caí na real.
Tinha me tornado uma especialista em viver com a faca na jugular, esse era
um sentimento constante, de faca na jugular, qualquer movimento em falso, tchau!
A dedicação era imensa a essas “aventuras” que acabavam quase sempre
me enterrando em maus negócios; esses trabalhos, quando não davam prejuízo,
reduziam demais a lucratividade.
Ninguém, além de mim, aceitava atender urgências sem cobrar um preço
mais alto.
Com isso, todo planejamento e cálculo de custo, acabava indo por água abaixo.
O melhor cenário muitas vezes era não amargar um grande prejuízo.Empatar
muitas vezes era lucro.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Especialista
em maus
negócios

Podem perguntar sem cerimônia: como alguém pode ser tão burro a ponto
de repetir, repetir e repetir as mesmas ações nocivas incansavelmente e não perce-
ber seu comportamento suicida?
Pois é. Precisei acordar entalada no fundo de um ônibus para perceber isso.
Por não conseguir parar aquela compulsão à repetição doentia, foi necessá-
rio chegar a esse extremo.
A vida bate pesado. Só mudamos quando cansamos de apanhar.
Lamento informar que, todos nós, em maior ou menor grau, incluindo você
que está lendo esse texto, sofre da mesma compulsão em repetir os seus padrões
inconscientes.
Agora, muito mais conhecedora da natureza humana, ainda me pego
perplexa de ver esse padrão de repetição automático e inconsciente presente em
cada pessoa que atendo.
Não foi à toa que acabei me especializando em identificar e remover esses
padrões comportamentais. Senti o calor do ferro em brasa em minha própria pele.
Este era o meu perfil há alguns anos atrás: Especialista em maus negócios.
Por conta do acidente, fiquei sessenta dias sem dirigir. Fui obrigada a abrir
mão dos compromissos inadiáveis, tive tempo pararefletir sobre as minhas es-
colhas e busquei ajuda psicológica.
Parei de aceitar aqueles prazos impossíveis, deixei de ser bombeira, apagado-
ra de incêndios alheios. A paixão pela adrenalina murchou como uma bola furada.
Comecei a observar e analisar cada empresa que eu atendia. Via que todas
possuíam um padrão repetitivo para o mal e para o bem. Bons padrões e outros
péssimos!

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Especialista
em maus
negócios

Conhecia pessoalmente a maioria dos donos das empresas e via como eles
eram e como a empresa era a cara deles.
Foi ali que nasceu a especialista em identificar padrões. Assim, decidi retor-
nar à faculdade para fazer a minha segunda graduação. Agora em Psicologia.
Mantive a empresa funcionando para que eu tivesse condições de estudar.
Mas, precisava descobrir o que estava por trás do meu comportamento sabotador.
Muitas pessoas possuem uma tradição familiar em algumas carreiras, mas
querem se destacar fazendo algo totalmente diferente, por exemplo: podem perten-
cer a uma tradição familiar de médicos, advogados, empresários, administradores,
servidores públicos etc.
A minha referência profissional era a do meu pai, que era lavrador e um pe-
queno comerciante. Um homem que trabalhava os sete dias na semana sem folga,
de sol a sol, ano após ano.
O ideal da minha família era que todos nós estudássemos para “escapar”
daquela vida difícil. Assim, saí de casa aos treze anos em busca de escola. Aos dezoi-
to, passei em um concurso públicoque fiz por determinação de um dos meus irmãos.
Com a demora em ser convocada, mudei para o Rio de janeiro. Haviam se
passado quatro anos quando resolveram me convocar. Não fazia o menor sentido
para mim retornar ao interior da Bahia naquele momento. Estava no meio da Fa-
culdade de Comunicação. Tive medo de levar um abraço apertado da vida e ficar
por lá e nunca mais retornar ao Rio; acabei não assumindo o cargo.
Essa história ficou em meu arquivo morto. Acreditava que tinha ficado no
passado.
No entanto, ao mesmo tempo em que eu queria seguir minha própria voca-
ção, meu desejo profissional, havia uma culpa inconsciente, por querer seguir um
caminho diferente daquele que o meu irmão havia desenhado para mim.

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O
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em maus
negócios

Na época, minha família ficou muito aborrecida pela minha negativa em


aceitar o emprego público tão bem remunerado e escolher colocar a pele em jogo
e correr todos os riscos que de fato experimentei.
Entretanto, seguir o meu caminho, ter feito as minhas próprias escolhas, foi
tudo o que eu precisava para ser quem sou.
Tem uma frase de Rubem Alves que sintetiza bem isso: “Eu cheguei onde
cheguei porque tudo que planejei deu errado”.
Eles acreditavam que o nosso pai não havia sido bem-sucedido nos negó-
cios, o que, na visão deles, nos tornava incapazes para o empreendedorismo. “Não
temos competência para os negócios”, é o mantra familiar.
O meu pai tinha uma explicação para isso, quando dava tudo errado era
porque o plano virou um planeta. Passei a minha infância sem entender o sentido
dessa frase. Só depois entendi que os planetas são distantes e inalcançáveis…

Eis aí o X da minha questão


Ai daquele que tentasse quebrar as tradições e as crenças da família, para
trabalhar com outra coisa, ou que abrisse mão de uma carreira estável já construída
pelos familiares próximos para ousar empreender em um ramo totalmente diferen-
te. Este era o meu desafio.
Esse foi o meu problema. A questão era que eu era muito competente. Mas,
lá no fundo, no escuro do meu inconsciente, eu me sentia traindo o ideal da famí-
lia e todo o sacrifício que os meus irmãos fizeram para eu estudar. Era como se eu
tivesse traído toda a confiança que a família havia depositado em mim.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Especialista
em maus
negócios

Essa culpa inconsciente me fazia dar todos aqueles tiros no pé. Fazer o meu
negócio dar errado foi a forma que encontrei para validar os valores da minha família
e provar para mim mesma que eles estavam certos.
Só fui capaz de enxergar tudo isso depois de um longo período de busca
de mim mesma na terapia que fui fazendo antes, durante e depois da faculdade de
Psicologia.
Essa percepção que tive a respeito da minha história se confirma diariamente
em minha prática como psicóloga.
Em cada Especialista em maus negócios se esconde uma culpa por trás
dos seus fracassos ou um medo de se parecer com alguém da família que não se
admira.
Tive um paciente que não queria aceitar uma oportunidade de negócio fan-
tástica porque um tio “bem-sucedido” na visão da família não teve muito mérito
para ter o que tem. A família acreditava que o tiohavia dado o golpe do baú.
A proposta de negócio parecia fácil demais. Ele sentia-se como o tio, dando
o golpe nos futuros sócios. Não queria aceitar de jeito nenhum.
Demandou uma análise profunda e a desconstrução daquela crença errônea
que atravessava gerações sobre aquele tio, para que ele pudesse seguir em frente.
Esse foi um caso interessante, ver como as crenças familiares vão sendo
passadas como verdades absolutas, quando muitas vezes são meros julgamentos e
carimbos que são impressos com uma digital da qual poucos conseguem escapar.
Ser mais bem-sucedido, então, é outra questão séria. Isso pode implicar em
afastamentos e isolamentos do núcleo familiar. Para evitar isso, algumas pessoas pre-

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em maus
negócios

ferem abrir mão do sucesso, veja o que falou um paciente: “Meu pai se esforçou tanto
a vida inteira e nunca conseguiu sair daquela casa, daquele bairro... como que eu pu-
deter a audácia de tão jovem comprar o meu apartamento à vista nesse bairro nobre?”.
Esse paciente sentia-se constrangido com o sucesso frente ao esforço do
pai. Ter todo aquele sucesso era encarado como uma traição ao pai. Sentia-se mal,
ficava embaraçado diante do irmão, e isso vinha gerando um certo afastamento,
não gostava de falar dos seus sucessos. Temia parecer esnobe, com o sentimento
de “cuspir no prato que comeu”, como diziam os antigos.
Essa culpa ganhou forma, pesava em seu inconsciente e acabava por lhe
incutir a ideia de que ele também precisava se sacrificar tanto quanto seus ante-
passados, que ele não pode, de modo algum, ofuscar as conquistas de sua família.
Passou então a criar suas próprias cascas de banana para escorregar logo
adiante, evitando assim se destacar muito dos demais.
E foi o que ele fez. Após essa aquisição, pediu demissão do emprego e pas-
sou uns três anos se punindo pelo seu estrondoso sucesso, para retornar a mesma
empresa em um cargo menor e deixar de ser metido a besta. Abandonou o rótulo
de esnobe e voltou à humildade franciscana do pai.
Contaria aqui dezenas de histórias parecidas que ouvi nesses anos de aten-
dimento. São sempre os mesmos padrões, mascaradas, fantasiadas, disfarçadas,
porém, todas com o mesmo objetivo: impedi-lo de ter o sucesso que você merece
e que a sua família espera de você.
Sim. Tudo que você ouviu dos seus pais e irmãos tinha um único objetivo:
protegê-lo. Eles só querem o seu bem. Secretamente desejam que você quebre o
paradigma familiar e mude esse destino. Querem aplaudir a sua vitória.

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O
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Especialista
em maus
negócios

A família só entende e aceita que abandonemos os padrões que eles dese-


nharam quando apresentamos resultados expressivos e convincentes.
É um erro ficar apegado às picuinhas familiares. O mundo mudou e evolui
rapidamente, exigindo cada vez mais que acompanhemos essa evolução, é uma
mudança que ocorre a cada segundo com mais e mais velocidade.
Estamos na era da informação e da necessidade de evoluir rápido. Não há mais tempo para
ficar andando nessa areia movediça perdidos nas sombras do passado.

A partir do momento que você identificar quais são essas crenças que te
impedem de evoluir, entende como as adquiriu e quais os efeitos disso tudo no seu
modo de agir e se comportar, terá clareza para tomar decisões estratégicas antena-
das com as necessidades atuais e sua vontade de seguir em frente.
Você passa a comandar e escolher quais princípios seguir, quando parar ou
mudar a direção com plena consciência de seus atos e capacidades.

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O bem-
sucedido
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ insatisfeito:
síndrome do
impostor

Em cada Especialista em maus


negócios, se esconde uma culpa.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Capítulo 6

O Azarado
“Oh dia! Oh vida!
Oh Azar!”
O Azarado
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Oh dia!
Oh vida!
Oh Azar!”

Eu sabia... Claro que não ia dar certo. Tudo sempre acontece comigo… Afinal

“ de contas, eu nunca faço nada direito mesmo. Sempre dou com os burros
n’água! Não sei por que eu fui inventar de investir nisso. De novo eu fracassei.
De novo! Eu nunca vou conseguir vencer na vida! De que adianta estudar e ralar
tanto? No final dá tudo errado mesmo!”.
Estamos falando de mais um perfil de empresário em apuros: O Azarado.
Esse é o sem jeito na vida. De fracasso em fracasso, chega um momento onde a
exaustão o domina. Já não tem ânimo para nada. Chega de nadar para morrer na praia!
Vive a profecia autorrealizada. Vai fazer só para provar que não adianta mes-
mo. Não vai dar em nada, como sempre…
Muitos empresáriosagarrados a esse perfil dos Azarados desenvolvem de-
pressão e síndrome do pânico, entre outros transtornos. Não conseguem ter paz, ter
uma noite de sono, tamanho o impacto que os desastres causaram em suas vidas.
Existe uma guerra interna que o domina e gera angústia. A sua alma não se
conforma, deseja vencer!
Mas, esse padrão de medo de perder o jogo mais uma vez o apavora e o paralisa.
Mesmo contando com o bom senso, preparo e estudos, os melhores equi-
pamentos e colaboradores, todos estão sujeitos às intempéries da vida.
A pessoa economiza e investe no seu trabalho para iniciar uma franquia,
começar um negócio novo. Tem tudo nas mãos: o local adequado, o planejamento,
o marketing físico e virtual, contrata os funcionários sob uma seleção qualificada,
inaugura, faz tudo dar certo, uma repercussão excelente e daí... Bomba!
Anos de investimento, preparo e até mesmo autoconhecimento para gerir
seu novo negócio em caráter de excelência, acontece algo que simplesmente põe
tudo a perder.

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O Azarado
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Oh dia!
Oh vida!
Oh Azar!”

Uma tragédia natural, a pandemia. A bolsa quebrou. O dólar aumentou...


Enfim, aconteceu um advento externo que não depende absolutamente dela.E é
algo que não tinha como prever, não teria como evitar. O grande exemplo que temos
agora: a pandemia do coronavírus.
O que acontece com essa pessoa? Esse evento passa a ser uma confirmação
de tudo que ela pensa e sente a respeito de si mesma.
Em um primeiro momento vem um choque. Pânico. “Não falei, eu sabia…
é como dizia meu pai...”.
Depois a pessoa se transforma em uma espécie de aquário que se enche
abruptamente de raiva, tristeza, medo, angústia e desespero.
Ao pensar a partir desse padrão de funcionamento, a pessoa deixa de perceber
que a pandemia, por exemplo, chegou para mais de sete bilhões de habitantes no pla-
neta terra. Mas ela sente como fosse a única pessoa que estivesse passando por isso.
Ao perceber a realidade, assim, sempre pela ótica negativa, qualquer possibilidade
se torna turva, irreal, não consegue olhar para as soluções disponíveis.
Não procuram ver o que outros empresários do mesmo ramo estão fazendo
para sobreviver.Tendem a jogar a toalha, desistir rápido.
Dão início a um processo de perdas e mais perdas que acabam por reforçar
esse padrão de se dar mal de maneira recorrente.
Vem um problema, que puxa outro e outro e mais outro... E parece que
nunca mais vai acabar. Que toda vez que se empolga com um projeto, algo sempre
vai dar errado...
Lá vem aquela imensa bola de ferro que vai demolir todos os seus sonhos e
investimentos de uma só vez.

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O Azarado
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Oh dia!
Oh vida!
Oh Azar!”

O que acontece com essa pessoa?


O Azarado é o perfil de um aluno de concurso público que atendi, que
passava a vida estudando e sabia todas as respostas, mas não se sentia merecedor
de ter aquele emprego. Quando ia fazer a prova resolvia a questão certinha, na hora
de marcar o cartão de resposta, marcava a alternativa errada e já era. Todo o seu
esforço ia por água abaixo.
Outro com o mesmo perfil foi um empreendedor que atendi no início da
pandemia Ele tinha acabado de montar sua loja no melhor shopping da cidade, fez
uma promoção de inauguração, começou com vendas lá em cima e um sucesso
inimaginável, mas, veio a pandemia e todos os shoppings foram fechados.
Ah, pronto! O universo conspirou. Tudo que acontece é só para ferrar com
sua vida, pensava ele. Fizemos um “Hot seat” com alguns empresários e ele saiu da-
quela reunião com três possibilidades de negócios que nunca havia pensado antes.
Os empresários com esse perfil são difíceis de tratar, verdadeiros desafios
em minha experiência.Essas nuvens pesadas de revolta e autopiedade se formam
e se condensam de tal forma em suas mentes que se transformam em chumbo
em seus pés. Passam a carregar esse peso onde quer que ousem ir. Onde quer que
ousem investir.
Essa mácula vai persegui-los por toda parte até que eles entendam as suas
histórias e compreendam o seu passado e possam mantê-lo em seu devido lugar.
Como um espaço apenas de referência. Foi assim!
Neste momento, de posse desse autoconhecimento, poderão criar uma nova
realidade e vigiar para não escorregarem nas mesmas cascas de banana. “Orai e
vigiai”, é bíblico.

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O Azarado
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Oh dia!
Oh vida!
Oh Azar!”

Costumo dizer que a terapia é a uma caixa de ferramentas, onde você deve
aprender a usar o que aprendeu sobre si mesmo para jogar luz em sua caixa preta
todo santo dia para iluminar os seus pontos cegos. E nunca ter medo ou vergonha
de buscar ajuda.
O padrão de ser o azarão da família pode vir pela falta ou pelo excesso de
atenção dos pais.
Se você é o irmão mais talentoso e sente a “inveja” dos demais, sente a culpa
ou o medo de ser “isolado” dos demais, a sua chance de se autoboicotar para não
”aparecer demais” pode te destruir. Já encontrei muitos casos assim.
Um dos empresários que passou pelo processo, escondia todo o seu talento
musical, para não ofuscar o irmão. Preferia lançar outras pessoas e acabou se tor-
nando empresário de músicos, em detrimento de mostrar a sua arte, o seu talento,
abrindo mão do seu grande sonho de brilhar com a música.
Há também muitos casos de pessoas que se sentiam como uma sombra, um
vislumbre do que seria uma pessoa bem-sucedida. Só um rascunho. O seu irmão
era o geniozinho da família. E ela se definia com a lerdinha, a burra da família.
Quantas vezes já ouvi esta frase: “minha irmã é tudo, eu não sou nada”, “meu ir-
mão é o gênio da família, passou em Engenharia na USP, eu sou a fracassada da família”.
Uma jovem que me procurou há alguns anos não tinha mãe, era criada pelo
irmão. Ele havia estudado em uma universidade de ponta, e sua orientação para
a irmã foi a seguinte: “você é burrinha, faça pedagogia porque essa vai ser a única
chance de você passar em uma universidade pública”.
Ela estava longe de ser burrinha, mas com aquele carimbo na testa que o
irmão havia colocado, foi exatamente o que ela fez. E estava bem infeliz quando
veio buscar ajuda. Muito triste!

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O Azarado
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Oh dia!
Oh vida!
Oh Azar!”

Nada que fizesse seria tão bom quanto o irmão. Então, para quê se des-
gastar tanto?
Esses são alguns exemplos de como essas pessoas construíram esse perfil.
O Azarado não olha para frente. O foco é o que já perdeu. Vive apegado
aos destroços.
Ao colocar a Empresa no Divã de um paciente que era a encarnação do
azarado, ele pôde perceber que todo fracasso aconteceu para ensiná-lo a olhar para
a sua verdadeira essência e se conectar com a autorresponsabilidade.
Durante o processo ele percebeu que havia assumido essa postura, por con-
ta da sua baixa estima, e acabou se colocando como bucha de canhão, assumindo
todas as responsabilidades e enfrentando tudo que o seu sócio não tinha coragem
de fazer e encarar. Quando tudo dava errado, assumia o erro total e ainda se culpa-
bilizava, vendo o sócio como vítima.
Sentia-se responsável total pelo fracasso, sem entender que a não ação do
sócio era a sua capa de proteção para esconder a sua covardia.
Na verdade, era usado pelo suposto “sócio-fodão”, que usava e abusava da
sua falta de autopercepção e consciência de si.
Essas lições preciosas só podem ser aprendidas e assimiladas por quem
entende que a autopiedade, o pessimismo e o vitimismo não devem ser cultivados.
Da mesma forma que acordamos todos os dias e escovamos nossos dentes,
precisamos cuidar da forma como pensamos e encaramos a vida.
Diz o Tim Harv Eker em seu livro Os segredos da mente milionária: “se você
quer mudar os frutos, primeiro tem que trocar as raízes – quando deseja alterar o
que está visível, antes deve modificar o que está invisível”.

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O Azarado
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Oh dia!
Oh vida!
Oh Azar!”

Quando ele percebeu que as conquistas de formas diferentes e em tempos


distintos para cada pessoa, passou a entender que o universo não conspira nem
contra nem a favor dele, de você e de ninguém.
O que conspira a favor é o autoconhecimento, o preparo, a visão ampla e a
noção clara da realidade e do mundo.
Ninguém nada em um mar de rosas. Muitos tropeçam em grandes pedras
e sofrem grandes baques. A diferença é como usam esses obstáculos. Existem os
que ficam chorando à beira do caminho e os que usam essas pedras para construir
degraus para crescer e evoluir.
Perceber-se no fundo do poço para algumas pessoas, pode ser a única
maneira de aprender e encontrar uma mola que as impulsione a levantar a
cabeça e buscar uma saída.
É isso que colocar a sua Empresa no Divã pode fazer por você e pelo seu
negócio, o processo de análise e reparação da pessoa que criou e administra a em-
presa vai proporcionar uma visão clara de tudo que desencadeou o problema e as
possíveis soluções.
Analisar como os concorrentes lidaram com a mesmíssima situação, as-
similar boas ideias advindas da crise, aperfeiçoar o negócio, tornando-o mais
seguro e promissor.
Como os outros semelhantes não fecharam, não quebraram? O que fizeram?
Aprender a enxergar o outro não como o melhor, o que sempre vai humi-
lhá-lo, mas sim como inspiração para seguir seus passos e também obter êxito, é o
que O Azarado tem que aprender a fazer.

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O Azarado
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Oh dia!
Oh vida!
Oh Azar!”

Não falamos nem de azar nem de sorte. O que estamos falando aqui é de
como trabalhar usando os ventos da realidade a seu favor, independentemente do
tamanho da tempestade que passou ou está por vir.
O ajuste de velas só acontece quando é possível nos enxergarmos como
realmente somos ou de que maneira nos estruturamos emocional e psiquicamente
lá atrás, na hora de construir nossa personalidade, que por sinal é a mesma perso-
nalidade da sua empresa.
É chegada a hora de vencer essa guerra interna, que transita entre os desejos
da alma, e se autossuperar.
Não existe mágica nem cura fora de você mesmo. Você é o milagre. Você é
a permissão.
Só vence quem faz. E quem faz até dar certo!
Vai, filho!

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O Azarado
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Oh dia!
Oh vida!
Oh Azar!”

Ao perceber a realidade, assim, sempre


pela ótica negativa, qualquer possibilidade
se torna turva, irreal, não consegue
olhar para as soluções disponíveis.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Capítulo 7

O Quase Lá:
o que você esconde
de si mesmo?
O Quase Lá:
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ o que você
esconde
de si mesmo?

A
gora vai.
Nossa! Agora eu estou sentindo que vai dar certo. Não tem erro.
É só colocar a mão na massa.
Quem é O Quase Lá?
Esse perfil de empreendedor peca pela falta de clareza e objetividade nos
negócios e na vida.
Alguns por excesso de habilidades e oportunidades. Outros por buscarem
os atalhos em vez de seguir as estradas largas disponíveis.
Olha para a estrada a percorrer, percebe que o caminho é longo. Acredita
que pode colher os frutos antes mesmo de plantá-los.
Um jovem e talentoso empresário do Marketing Digital, que atendi, estava
assim perdido, perdido, perdido. É muito bom em várias áreas. Recebe diariamente
convite para novas parcerias. Cada uma mais interessante que a outra. E agora?
Já havia entrado em inúmeras roubadas. Não queria mais perder tanto tempo
na vida.
Uma talentosa artista plástica também não sabia por onde começar. Pinta,
desenha, canta e escreve divinamente.
O seu problema é não focar em nada. Quer pintar pela manhã, desenhar à
tarde e escrever à noite. E assim ela vivia enrolada em suas próprias pernas, dando
nó em pingo d’água e não finalizando nada.
Para esse perfil, o único remédio é identificar qual dessas habilidades é
realmente a sua paixão e pode ser a sua locomotiva financeira.
Os interesses secundários precisam muitas vezes aguardar a aposentadoria
ou ser apenas um hobby.

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O Quase Lá:
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ o que você
esconde
de si mesmo?

Ficar agarrado querendo fazer tudo ao mesmo tempo é o caminho certo para
as decepções e frustrações.
Nada será concluído e o sentimento de incapacidade povoa a mente. Todos
reconhecem os seus talentos, mas, nada vai muito adiante.
Esse perfil é também o farejador das oportunidades mirabolantes. São como
aqueles alunos que não sabem onde marcar o X no ENEM e ficam perguntando nas
redes sociais quais são os cursos mais fáceis para passar.
Na vida adulta eles continuam ainda mais perdidos e confusos.
Atendi uma mulher com esse padrão, fez um curso de cinco anos para agra-
dar ao pai e outro de mais cinco anos porque um professor falou que ela seria uma
boa profissional naquela área.
Depois de dez anos alisando bancos de faculdade, e dezenas de cursos de
diversas áreas (fazia um curso atrás do outro, na tentativa de se encontrar), chegou
assim: perdida, perdida e perdida. Não tinha a mínima ideia do que fazer na vida.
Ela se empolgava com alguma coisa, se esforçava e ralava pra caramba, bus-
cava soluções, respirava fundo muitas vezes, chorava, arrancava os cabelos, mas,
tudo acabava em nada; ela já estava exausta de tantas tentativas.
Sentia-se como os alpinistas observando o pico do Himalaia e acredi-
tando que teria fôlego para chegar lá. Aqueles quepassavam dias e dias subindo,
se superando e já sentiam que estavam a poucos metros de atingira meta e nunca
conseguiam chegar.
Quando estavam na iminência de fincar a sua bandeira e ter uma prova real
do seu trabalho e esforçoe já imaginando que vão apreciar a paisagem; escorregam,
o gelo derrete e voltam à estaca zero.

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O Quase Lá:
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ o que você
esconde
de si mesmo?

Perdeu-se tudo: o investimento, a dedicação, a paciência, a esperança, os


aliados, tudo.
Como assim, quebrei, o fracasso de novo? Como assim?!
Ela não entendia por que nada dava certo em sua vida. Ela havia tido opor-
tunidade de trabalhar em grandes empresas com uma das suas formações univer-
sitárias. Nunca se sentiu realizada.
Casou-se, parou tudo para cuidar dos filhos. Quando já estavam crescidi-
nhos, resolveu retomar a sua vida profissional.
Insatisfeita com as suas duas carreiras, partiu para o empreendedorismo.
Agora vai!
Agora vou fazer o que eu realmente quero, pensava. Começou a pesquisar e
percebeu que a área da beleza era muito promissora, as mulheres gastam muito com
isso. Entrou em uma sociedade em uma rede de salões de cabeleireiros, comprou
uma franquia.
Não entendia nada do assunto, além de ser uma cliente assídua, a empol-
gação inicial logo deu lugar às brigas com as sócias, gerando intrigas e inimizades.
Fechou o negócio.
Montou uma loja de roupas e acessórios e acreditou que agora, sozinha,
não teria os problemas que teve com as sócias. O negócio ia bem, mas estava in-
feliz. Chegou à conclusão que não era aquilo que daria sentido à sua vida. Amava
cozinhar, acabou investindo em um restaurante de luxo. O cozinheiro chefe tinha
problemas com bebida e ela não conseguia arrumar um substituto para ele de jeito
nenhum. Acabava muitas vezes tendo que colocar o avental e ir para a cozinha.
Curtia muito o restaurante.

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O Quase Lá:
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ o que você
esconde
de si mesmo?

O seu marido odiava esse negócio. Não tinham mais fins de semana em
família; mais e mais esforços na lata de lixo.
O Quase Lá é aquele que foca na linha de chegada, sem querer saber qual
é a extensão da prova e quais obstáculos precisa enfrentar.
Não pensa em planejar uma estratégia, em poupar energia para usá-la mais
adiante e aumentar as chances de subir ao pódio. Ignora dados, críticas, opiniões,
estratégias que diferem da sua e segue em frente. É uma busca às cegas.
Esforço não falta. Essa é a sua principal frustração. Não entendem por que
se esforçaram tanto e não conseguiram a vitória.
Qual é a real questão das pessoas que funcionam com esse padrão de com-
portamento empreendedor?
Essa pessoa não sabe o que quer, nada sabe de si mesma: valores, interesses
e limites.
É fadada a perder muito dinheiro e energia nesses investimentos. Alguns
chegam com uma lista gigante de relatos de roubadas nas quais se meteram.
Tudo pode dar errado quando a vontade de atingir uma meta financeira
vira uma obsessão ou até mesmo uma neurose, sem que a pessoa tenha clareza do
que ela realmente quer.
Muitas pessoas dizem: “Eu quero ganhar dinheiro. Esse é o meu foco!”.
Essa cliente dizia o seguinte: “Eu analiso as oportunidades a partir das pos-
sibilidades de ter lucro financeiro, parecia tudo tão fácil, tão óbvio”. Era essa a sua
crença.
Essa moça nunca tinha parado para pensar no que ela realmente queria, qual
era o seu real interesse.

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O Quase Lá:
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ o que você
esconde
de si mesmo?

Tudo que ela tinha feito na vida foi porque alguém sugeriu ou a arrastou.
Desde os cursos universitários aos trabalhos e estágios, tinha alguém que a levou
para aquela atividade.
Nada era realmente dela. Todos os fracassos e perdas financeiras foram
necessários para que ela acordasse para esse entendimento.
Apenas a sucessão de tropeços, caminhos errados, atalhos arriscados demais
e ruas sem saída, a obrigaram a fazer um retorno para si mesma e para o autoco-
nhecimento.
Passou a perceber que, na verdade, a não escolha, era uma escolha de não
ter autorresponsabilidade.
Mas o que pode ter moldado esse comportamento que pode beirar a arro-
gância e falta de discernimento?
Por trás do que pode até parecer uma confiança exacerbada em si mesma,
na verdade, escondia uma insegurança, um padrão familiar destrutivo.
Em sua família, a crença era de que os homens deveriam ser sempre os
provedores, as mulheres podem até trabalhar, mas “quem paga as contas são os
machos”.
Residia nela esse conflito. Ouvindo a sua narrativa, observei que ela “de-
sistia” dos negócios exatamente na hora que começavam a ganhar impulso.
Percebi claramente esse padrão em cada história que contava, era justamen-
te quando os negócios começavam a prosperar que ela encontrava sempre uma
grande impossibilidade, arrumava uma briga com as sócias ou colocavao próprio
negócio em xeque.

53
O Quase Lá:
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ o que você
esconde
de si mesmo?

“Debaixo desse corpo tem outro, cava mais”, diria Robert T. Ironside, ode-
tetive de um seriado americano, para o seu assistente; juntos combatiam o crime
em San Francisco.
“Suspeitei desde o princípio”, diria o Chapolin Colorado. Matei a charada
dela. Percebi que a questão central era: medo de ganhar dinheiro.
Ela ficou muito chocada com essa descoberta. Relutou bastante, mas aca-
bou admitindo que se ganhasse todo o dinheiro que teve possibilidade de ganhar,
ganharia a liberdade financeira. Isso era assustador para ela, teria de repensar seu
casamento. Isso a apavorava.
“Eu não quero me separar!”.
A grande questão era que isso acontecia apenas dentro da sua cabeça, vindo
do seu padrão familiar. O marido era o seu maior incentivador. Reconhecia o talento
dela para os negócios e a apoiava.
Evidentemente, não via com bons olhos a sua esposa na cozinha do res-
taurante. Criticava a sua dificuldade em encontrar uma saída para a questão do
cozinheiro chefe. A via como dependente dele: “tenha dois, três, quantos forem
necessários”, dizia ele.
Até na contratação de um funcionário podemos ver o padrão de persona-
lidade dependente que essa pessoa desenvolveu.
A única coisa a fazer nesses casos é identificar e trazer esse jeito de funcionar
à tona para que esse caminhar em círculos seja interrompido.
O sofrimento por se dedicar tanto, doar 100% de seu tempo para o trabalho
com todas as renúncias que isso exige; acaba por trazer medo e ansiedade ao ex-
tremo, impedindo a pessoa de tomar novas ações.

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O bem-
sucedido
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ insatisfeito:
síndrome do
impostor

A frustração acaba respingando nos relacionamentos familiares e amorosos,


trazendo muitas vezes dor e separações desnecessárias.
Como diz a música do compositor e cantor Ivan Lins:
[...] Nada de correr da raia
Nada de morrer na praia
Nada! Nada! Nada de esquecer
No balanço de perdas e danos
Já tivemos muitos desenganos
Já tivemos muito que chorar
Mas agora, acho que chegou a hora
De fazer valer o dito popular
Desesperar jamais [...].

Quando você não estiver conseguindo atingir uma meta, seja pessoal ou
profissional, procure saber: O que você esconde de si mesmo?
Só você conhece a verdade. A resposta está sempre dentro de você!

55
O bem-
sucedido
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ insatisfeito:
síndrome do
impostor

O Quase Lá é aquele que foca na linha de


chegada, sem querer saber qual é a extensão
da prova e quais obstáculos precisa enfrentar.
Procura seguir por atalhos.

56
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Capítulo 8

Contratos
inconscientes
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Contratos
inconscientes

E
ssa é uma das imagens clássicas que usamos como analogia entre o nosso
consciente (aquilo que dominamos) e o nosso inconsciente (esse desco-
nhecido que nos arrasta por caminhos tortuosos e obscuros, nos colocando
em enrascadas fenomenais, que nos deixam perplexos.Dizem as más línguas que
somos apenas 5% conscientes, 95% das nossas escolhas e ações são determinadas
por esse “Ser” intransigente, obscuro e desconhecido.
Como já visto nos casos citados através dos quatro perfis dos empreendedores,
é o inconsciente que nos domina.
Somos movidos por essa força que nos arrasta para as maiores confusões e
enganos em nossas lutas diárias.
Isso é assustador e ao mesmo tempo revelador. O que nos resta a fazer para
dominar esse monstro oculto submerso nos meandros da nossa própria mente?
Onde e quando essas histórias começam?
Nossa história começa há muitos e muitos anos antes do nosso nascimento.
Nascemos em um caldeirão de crenças, culturas e costumes nos quais nossos pais
estão submersos.
Desde o momento em que fomos concebidos já estamos recebendo todas
essas informações, através de sensações agradáveis ou desagradáveis que vamos
absorvendo da nossa mãe.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Contratos
inconscientes

30

35
25
17

12

0 6
2
3

De zero a três anos estamos totalmente imersos no mundo materno, não


importa se você foi a uma creche ou pré-escola ou passou esse tempo exclusiva-
mente com a sua mãe.
É um estado mental. Nessa fase a criança está fazendo o download de tudo
que vê e sente em sua família, escaneando e armazenando tudo.
Um paciente descreveu muito bem isso. Ele me falou que um dia estava
vestido com o uniforme da pré-escola sentado em sua cama e olhou pela janela do
seu quarto, a sensação que teve foi como se estivesse vendo o mundo pela primei-
ra vez. É exatamente assim, tomou consciência de si e do mundo exterior naquele
exato momento.
Quem já teve filhos sabe como as crianças se transformam nessa fase. Ficam
plenas de autodeterminação; querem escolher as próprias roupas, não aceitam ajuda,
querem fazer tudo sozinhas.

59
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Contratos
inconscientes

A partir dos três anos a criança “desce do colo do paraíso” (o colo da mãe),
e vai explorar o mundo. Ela quer ficar de “pé sem ajuda”. É a luta para criar uma
identidade própria.
É nessa fase entre os 3 e os 6 anos, segundo as pesquisas, que o seu interesse
e missão de vida vão nascer. Isso acontece a partir das suas experiências e vivências.
A segunda infância, 6 aos 12 anos, é uma fase rica de aprendizados e de busca
pelo seu próprio grupo, os amigos, a escola.
Dezessete anos, aí começa a transição para a vida adulta, a partir da escolha
do que fazer: estudar ou trabalhar.
E lá vai o ser humaninho em sua saga. A partir dos 23 anos algumas decisões
foram tomadas. Já se formou e busca um emprego, muda de casa, de cidade, de país,
nessa eterna busca de encontrar seu lugar ao sol.
Costumo dizer que ninguém passa pela vida impunemente. Entre os 25 e
os 30 anos, o sujeito já está no topo do seu Himalaia. Já casou, teve um filho, criou
uma carreira.
Muitas coisas boas aconteceram e outras nem tanto. É justamente nessa fase
que o teto começa a cair. Isso ficou muito nítido na clínica de álcool e outras drogas
onde fiz uma especialização na UFRJ.
O que observei é que aquelas pessoas haviam “retornado para a casa do
pai”. E nunca mais saíram. O que significa isso? Como esse retorno se dá?
Esse retorno não é geográfico, a pessoa não volta para a casa física do pai,
embora algumas pessoas retornem de fato, por vários motivos.
O retorno à casa do pai ao qual me refiro é um retorno às crenças limitan-
tes familiares, das quais passou a vida inteira fugindo, tentando ser ele mesmo.

60
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Contratos
inconscientes

Ao quebrar a cara tantas vezes, muitas pessoas começam a duvidar de si


mesmas e passam a dar razão aos padrões de pensamento que os pais preconizam.
“Eles diziam que eu devia estudar para ter um bom emprego, passar em um
concurso etc., fui empreender, olha aí o resultado”.
Por que tudo sempre parece dar mais errado para uma pessoa que para as outras?
Cada pessoa da mesma família interpreta os fatos com visões distintas. Tudo
vai depender dos “contratos” que cada um estabelece com os pais.
Lá atrás, na primeira infância, a criança com o seu amoronipotente, fecha
“contratos inconscientes” com os seus pais.
Como isso acontece? Uma criança que viu um tio humilhando o seu pai
prometeu a si mesma que cuidaria dele, e por conta desse “contrato inconsciente”
abre mão dos seus sonhos mais profundos para cumprir essa promessa na vida adulta.
Atendi um caso bem dramático, uma moça que havia feito uma promessa
dessas ao seu pai, abandonou a carreira dos seus sonhos para trabalhar na empresa
da família.
Quase quebrou a empresa, só assim resolver buscar ajuda para entender a
sua história.
Percebeu que toda confusão que arrumou foi para poder olhar para o que
ela realmente queria na vida elutar por seus propósitos.
Nessas horas é necessário fazer algumas alterações contratuais, para que a
vida possa fluir.
Precisamos entender que os nossos pais já fizeram as suas histórias e nós
temos a obrigação de escrever a nossa e deixar a nossa marca no mundo.

61
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Contratos
inconscientes

Quando chegamos à vida adulta com a mochila cheia dessa narrativa familiar,
só existe uma solução: abrir esse arquivo e escolher aquilo que agrega, ou o peso
dessas narrativas vai te arrastar montanha abaixo.
Esse é o verdadeiro significado de voltar para a casa emocional do pai, é ser
arrastado por crenças limitantes que já não fazem jus à realidade.

O retorno à casa do pai é um retorno às crenças limitantes familiares, das


quais você passou a vida inteira fugindo, tentando ser você mesmo.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ Contratos
inconscientes

O retorno à casa do pai é um retorno às


crenças limitantes familiares, das quais
você passou a vida inteira fugindo, tentando
ser você mesmo.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Capítulo 9

Os 4 pilares que
sustentam os
negócios e a vida
Os 4 pilares
que
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ sustentam
os negócios
e a vida

Q
uase todos os ofícios necessitam de uma mesa de apoio. As confeiteiras
usam as suas mesas na cozinha, os médicos cirurgiões usam a sua mesa
(maca) cirúrgica, assim como os nossos computadores estão sobre uma
mesa. A mesa estará sempre sustentando alguma etapa do nosso trabalho.
Imagina você trabalhar em uma mesa com uma perna quebrada, e se forem
duas ou mais?
Muitas vezes, quando pergunto: “Qual é a perna da sua mesa que está mais
prejudicada?”, alguns respondem: “Estou com as quatro pernas quebradas”. Não
me espanta, porque tudo que acontece com uma perna prejudica as demais.
Mais uma vez o Tim Harv Eker, em seu livro Os segredos da mente milionária,
esclarece: “Do jeito que você faz uma coisa, você faz todas as outras…”.

Família
Dessa forma, vamos repetir tudo que aprendemos desde a barriga da nossa
mãe em tudo que fazemos.
Desde a escolha da carreira à escolha dos nossos parceiros amorosos e até
a solidariedade nas questões de saúde.
Reza a lenda,que temos as mesmas doenças do nosso clã por fidelidade ao
grupo. Segundo essa teoria, isso vai bem além da carga de DNA que todos carregam.
Tenho que confessar que isso dá o que pensar. Significa que alguns membros
da família realmente são mais “fiéis” que outros.
Porque se as doenças que temos fossem determinadas apenas por essa carga
genética, todos da família desenvolveriamas mesmas enfermidades.
Repetimos o que aprendemos com os nossos pais por identificação ou
por aversão. Isso aqui vai explicar melhor como essas escolhas conscientes ou
inconscientes se estabelecem.

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Os 4 pilares
que
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ sustentam
os negócios
e a vida

Alguns dizem: “Como eu poderia ser diferente, veja como a minha mãe é,
toda certinha, controladora. Tudo milimetricamente organizado, só pode ser exa-
tamente do jeito que ela quer”.
Outros já escolhem ser o oposto: “Sou desorganizado porque não aguentava
o nível de exigência da minha mãe. Insuportável! Faço questão de fazer tudo dife-
rente, gosto de ser livre”.
Assim, tudo que fazemos em todas as áreas da nossa vida está intimamente
interligado e sustentado por esses quatro pilares.

Relacionamentos
O que os seus relacionamentos amorosos têm a ver com os seus resultados
financeiros?
Quando digo que a energia do dinheiro e do amor são interligadas, algumas
pessoas estranham.
Entretanto, todos os negócios sofrem quando essa perna está rachada. Não
há nada que roube mais a nossa energia do que uma desavença com a pessoa que
a gente ama.
Os parceiros podem ser uma grande escada para o sucesso ou chumbo no pé.
Um homem que atendi no ambulatório do IPUB/UFRJ da Clínica de Álcool
e Drogas precisou se separar para empreender.
Ele via os seus sobrinhos que vieram do interior montando negócios e tendo
sucesso, enquanto vivia de um pequeno salário.
Sabe aquela piada: “Minha mulher não deixa não”?
Era exatamente assim, a mulher dele surtava quando ele ameaçava deixar o
emprego para empreender.

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Os 4 pilares
que
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ sustentam
os negócios
e a vida

A frustração o levou a beber abusivamente e quase destruir a sua vida.


A única alternativa foi separar-se da esposa. Nenhuma tentativa de acordo
foi possível. O seu empreendimento deu muito certo, mudando radicalmente o
padrão de vida dele.
Já atendi, também, mulheres que não atingem todo o sucesso que podem
para não se tornarem maiores que seus parceiros.
Um empresário que atendi “limitava” o seu sucesso financeiro por medo de
trair a esposa.
O pai dele era muito mulherengo, viu a mãe passar por toda sorte de humi-
lhações e privações por conta desse padrão de comportamento dele, que ganhava
muito dinheiro, mas gastava tudo fora de casa.
Inconscientemente, privou-se do sucesso por medo de se tornar “sem-ver-
gonha” como o pai.
Foi preciso trabalhar bastante o entendimento do seu contexto familiar para
que ele pudesse resolver a sua questão com o pai e se libertar do sentimento de ser
um impostor que o atormentava.
O primeiro lançamento que fez do seu negócio após o processo foi espeta-
cular. O melhor de todos os tempos. A escalada continua a todo vapor.
Quando a perna do relacionamento está ferida, é muito difícil prosperar de
verdade.

Saúde
Uma coisa que eu sempre falava: “Eu não tenho tempo para adoecer”.
A minha arrogância era nesse nível.

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Os 4 pilares
que
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ sustentam
os negócios
e a vida

Essa crença me manteve saudável (fisicamente) por longos anos. Mas, por
outro lado, roubou o meu direito de ser vulnerável quando era preciso.
Quando falamos em saúde e trabalho, geralmente associamos a saúde à
nossa força física e à capacidade de não nos afastar daquilo que mais amamos:
nossos negócios.
Licenças médicas e afastamentos sempre são percebidos pelos empresários
como mimimi e fraqueza.
Não olhamos para as questões de saúde de forma global, entendendo os
impactos dos nossos históricos familiares em nossas vidas e negócios.
Por ter essa mesma visão enquanto empresária naquela época, fiquei sur-
presa com os casos que foram aparecendo. Surgiram questões inimagináveis sobre
como uma doença da infância impacta a vida do empresário no aqui e agora.
Um deles contou que teve Púrpura aos cinco anos de idade. Essa doença
autoimune provoca sangramentos quando a pessoa passa por emoções fortes, sejam
elas negativas ou positivas. Como isso afetava a vida dele?
Ao ficar triste chorava, literalmente, “lágrimas de sangue”. A felicidade exa-
cerbada provoca sangramentos em todos os poros, conforme o seu relato.
Hoje é um empresário muito solicitado para palestras e entrevistas em várias
mídias.
Relatou que quando estava no palco e sentia que aquilo que estava falando
gerava um real interesse na plateia, ele ficava todo “errado”. Ficava vermelho e se
perdia completamente.
Percebemos que ser o centro das atenções o incomodava porque o remetia
à redoma que sua mãe havia criado para protegê-lo.

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Os 4 pilares
que
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ sustentam
os negócios
e a vida

Ele não podia brincar e interagir com os amigos e irmãos. Percebemos tam-
bém o quanto aquela doença havia afetado todos os seus relacionamentos, desde
os amorosos,tanto quanto com os irmãose amigos.
Ele só trabalhava e relatava que não tinha amigos.

O seu relacionamento amoroso era tão protocolar que o sonho da sua espo-
sa era que ele a tratasse da mesma forma que tratava os seus funcionários.
Bom, ele emagreceu 17 quilos, descobriu que tinha uma carrada de primos
e está aprendendo a brincar e fazer novos amigos. Mudou radicalmente em todas
as áreas da vida e do seu negócio.
Outro paciente descobriu a causa do seu perfeccionismo por conta da ce-
gueira dos seus avós paternos. O seu pai foi o filho mais velho e, consequentemente,
passou ser “os olhos” dos pais, ele cuidava dos irmãos e de tudo em volta.
Até a profissão que o pai escolheu não admitia falhas. O pai era piloto de avião.
Errar não era uma opção em sua casa. Muito menos nos negócios. O medo
de errar impactava bastante o seu negócio, assim como o medo de se jogar nas
relações amorosas.
Todas as tentativas de otimizar o seu tempo haviam falhado antes dessa
compreensão. Entender que a raiz do problema estava na doença do seu avô o
surpreendeu bastante.

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Os 4 pilares
que
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ sustentam
os negócios
e a vida

Finanças
Como nossas crenças financeiras podem apagar nossas paixões
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
Dinheiro na mão é solidão.
“Pecado Capital”
Paulinho da Viola

Cantado em verso e prosa, o dinheiro faz parte das nossas mais aguerridas
crenças limitantes. Todos querem ganhar muito dinheiro. Pelo menos é o que cos-
tumamos afirmar.
Entretanto, apenas 1% da população de fato ganha e mantém o dinheiro em
suas contas bancárias.
Muitas pessoas correm atrás do dinheiro, veja a expressão “correm atrás”,-
mas geralmente poucos o alcançam. O dinheiro é só uma miragem no deserto das
suas vidas.

Ganhar na LOTO resolve?


Vamos ver. O que dizem as pesquisas: o tempo que as pessoas levam para
jogar todo o dinheiro fora é de 18 meses em média.
Atendi duas pessoas que ganharam um grande prêmio na loteria sozinhas e
voltaram ao padrão anterior. Os dois perderam tudo. Retornaram ao mesmo ponto
financeiro em que estavam antes de ganhar o grande prêmio. Um deles era garçom
e voltou a trabalhar como empregado.A razão para tamanho desperdício já foi am-
plamente discutida por aqui.

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Os 4 pilares
que
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ sustentam
os negócios
e a vida

Ao responder as perguntas a seguir, você entenderá o que está acontecendo


neste exato instante em seu bolso. A razão da escassez ou do montante de capital
para investir estará em suas memórias sobre o dinheiro.
Quais foram as frases que você mais ouviu do seu pai sobre dinheiro?
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Ede sua mãe?


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Como o dinheiro era tratado em sua família?


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Quem era a pessoamais bem-sucedida da sua família?


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Os 4 pilares
que
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ sustentam
os negócios
e a vida

O que ela fazia para ter aquele sucesso e todo aquele dinheiro?
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O que a sua família falava a respeito dessa pessoa?


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Como os seus pais administravam o dinheiro?


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Percebeu a raiz das suas crenças sobre dinheiro? São esses os motivos pelos
quais a maioria corre atrás do dinheiro e raramente o alcança.

O tabu do dinheiro
O dinheiro é assunto tabu em todos os relacionamentos. As pesquisas apon-
tam que as questões financeiras são responsáveis diretamente pelas separações de
70% dos casais. Esse é, sem dúvida, o maior tabu.
Está surpreso? Se você acreditava que a maioria dos divórcios ocorre por
traições, por exemplo, saiba que apenas 7% dos divórcios são pedidos por traições
e coisas do gênero.

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Os 4 pilares
que
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ sustentam
os negócios
e a vida

Na prática, os casais não falam sobre dinheiro, não planejam as suas vidas
financeiras, e esse fosso na comunicação dos casais sobre o dinheiro, que é um pilar
fundamental para a manutenção da vida, do crescimento e prosperidade da família,
acaba por levar muitos os casamentos ao fracasso..

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Os 4 pilares
que
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ sustentam
os negócios
e a vida

Cada pessoa é especialista em sua história


de vida, eu sou especialista em desvendar os
padrões que estão ocultos.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Capítulo 10

Integridade nos
negócios e na vida
Integridade
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ nos
negócios
e na vida

O que é integridade?

É possível ser íntegro em um país onde a Lei do Gérson sempre falou mais alto?

Vale a pena ser íntegro?

Faça este teste da integridadee surpreenda-se.

Você é uma pessoa íntegra?


a) sim
b) não
c) mais ou menos

Qual é o seu percentual de integridade?


a)100%
b) 80%
c) 50%
d) 30%
e) 10%
Vejamos…

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Integridade
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ nos
negócios
e na vida

Quantas vezes você prometeu que ligaria para alguém e não ligou?
Relembre…
Hummm…
a) 0
b) 2 (20)
c) 3 (30)
d) 5 (50)
e) várias (100)

Quantas vezes marcou de sair no fim de semana com um amigo(a), e


não foi, não desmarcou, nem ligou, ou simplesmente esqueceu?
a) 0
b) 2 (20)
c) 3 (30)
d) 5 (50)
e) várias (100)

Quantas vezes você prometeu a sua mãe, mulher ou marido que ia


ajudar mais nas tarefas de casa e não moveu uma palha nessa direção?
a) 0
b) 2 (20)
c) 3 (30)
d) 5 (50)
e) várias (100)

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Integridade
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ nos
negócios
e na vida

Quantos cursos já começou e não terminou… inglês, informática,


tarot, marketing digital, culinária etc. etc.?
a) 0
b) 2 (20)
c) 3 (30)
d) 5 (50)
e) várias (100)

Quantas vezes você prometeu a sua mãe, mulher ou marido que ia es-
tudar mais para a escola/faculdade ou para passar em um concurso, porém
o tempo passou e a preguiça falou mais alto?
a) 0
b) 2 (20)
c) 3 (30)
d) 5 (50)
e) várias (100)

Quantas vezes você já pagou por alguma atividade física, tipo trilha,
academia, dança, e nunca pisou o pé lá?
a) 0
b) 2 (20)
c) 3 (30)
d) 5 (50)
e) várias (100)

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Integridade
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ nos
negócios
e na vida

Quantas vezes começou uma dieta e abandonou?


a) 0
b) 2 (20)
c) 3 (30)
d) 5 (50)
e) várias (100)

Quantas listas de desejos de fim de ano você abandonou no dia


seguinte?
a) 0
b) 2 (20)
c) 3 (30)
d) 5 (50)
e) várias (100)

Acrescente outros itens que não estão aqui, mas fazem parte do seu
padrão de comportamento.
.
.
.
Agora responda só para você, com toda coragem:
Qual foi o seu percentual de integridade, você mantém o percentual
do começo?

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Integridade
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ nos
negócios
e na vida

Como esse padrão vem atrapalhando a sua vida interior, sua paz de espírito
e a sua relação com as pessoas?
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Liste todas as situações onde a sua falta de compromisso com você e com
as pessoas gerou desconforto e desconfiança.
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..............................................................………………………………………………………….
..............................................................………………………………………………………….

O que você comunica ao mundocom as suas atitudes?


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..............................................................………………………………………………………….

O que você ensina às pessoas sobre como elas devem te ver, te tratar?
..............................................................………………………………………………………….
..............................................................………………………………………………………….
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80
Integridade
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ nos
negócios
e na vida

O que você comunica a si mesmo com suas atitudes?


..............................................................………………………………………………………….
..............................................................………………………………………………………….
..............................................................………………………………………………………….

Quantos prazos já deixou de cumprir em sua vida?


..............................................................………………………………………………………….
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Quanto de prejuízo financeiro já amargou por falta de integridade?


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E o prejuízo moral?
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..............................................................………………………………………………………….
..............................................................………………………………………………………….

Para que possamos entender a importância disso, vou ilustrar com uma
historinha que ouvi da maravilhosa professora da Nova Acrópole (Escola de Filo-
sofia) Lúcia Helena Galvão:
Em um reino antigo os sonhos eram levados muito a sério. Certa feita um
rei sonhou que estava sentado em sua cadeira real e sobre a sua cabeça tinha uma
espada. Consultou todos os oráculos, mas não ficou satisfeito com as respostas.

81
Integridade
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ nos
negócios
e na vida

Então disse que daria uma moeda de ouro a quem desse uma resposta plausível.
Um homem muito pobre que nem casa tinha para morar pôs-se a pensar: “Ah! se
eu soubesse a resposta…poderia ganhar essa moeda e construir uma casinha para
me abrigar do frio”...
Um pássaro que cantava em uma árvore ouviu os pensamentos daquele
homem e disse:
— Eu sei a resposta, se você dividir o dinheiro comigo eu te conto.
O homem, todo animado, respondeu:
— Claro que eu divido. Diga-me qual é a resposta.
O pássaro respondeu:
— Vá lá e diga ao rei que a violência está rondando o reino e que ele corre
perigo. Diga-lhe para que fique atento.
O rei ficou muito satisfeito com a resposta e deu-lhe duas moedas de ouro.
O pobre homem voltou feliz com o prêmio e no caminho pensou: “Não vou
dar nada ao passarinho, para que ele quer dinheiro? A moeda pesa mais do que ele,
não vai nem conseguir levar”.
E assim foi embora. Construiu a sua casa e ficou tranquilo.
Mas...
o rei sonhou novamente e mandou buscá-lo. Ele ficou desesperado: “E ago-
ra? O que farei? Não dei a parte do pássaro”…
Pediu um tempo aos emissários do rei.
Sem alternativas retornou à árvore em busca do passarinho, prometendo
que dessa vez dividiria o dinheiro com ele.
O passarinho deu-lhe novamente a resposta e lá foi ele.

82
Integridade
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ nos
negócios
e na vida

O reino continuava em perigo...


E mais uma vez não dividiu o dinheiro com o pássaro e ainda tentou matá-lo.
Mas o rei sonhou novamente…
e mais uma vez ele foi em busca do pássaro.
— Conte-me o sonho. — pediu o pássaro:
— O rei sonhou que o palácio estava rodeado de carneirinhos pastando livre
e tranquilamente.
Lá se foi o homem contar a boa-nova para o rei:
— Diga-lhe que o reino está finalmente em paz e que haverá um grande
período de paz e prosperidade.
Dessa vez quando voltou com a sacola pesada de ouro, o homem
pensou:“Como fui ingrato com o pássaro”...
E foi procurá-lo na árvore.
Quando encontrou o pássaro, pediu desculpas e disse:
— Não quero nem mesmo uma única moeda desse ouro todo. Vou entre-
ga-lo todo a você.
O pássaro respondeu:
— Fique tranquilo, nos dois primeiros sonhos o reino estava em perigo e com
muita violência no ar, como você faz parte do reino estava reagindo de acordo com
aquela violência e tentou me matar. Mas eu não esperava nada diferente.Eu sabia que
você reagiria assim. Agora que o reino está em paz, você também pode respirar essa
paz e a razão voltou. Pode levar o dinheiro e seja feliz. Eu não preciso de ouro.
Essa história ilustra muito bem o quanto estamos submetidos ao padrão de
funcionamento do meio no qual vivemos.

83
Integridade
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ nos
negócios
e na vida

O nosso comportamento é o resultado da soma do que aprendemos em


nossa família e em nosso reino:escola, colegas de trabalho, amigos e todo o contexto
cultural no qual estamos inseridos.
Quem foi o seu pior exemplo de falta de integridade em sua família?
Esse exercício é um ótimo exemplo, é uma pequena amostra de como ad-
quirimos os nossos padrões de funcionamento.
Geralmente aprendemos em casa, na observação das atitudes e ações dos
nossos pais.
Mesmo os mais íntegros dos homens falham em alguma coisa.
Os grandes problemas que enfrentei em meu antigo negócio foram todos
por falta de integridade, e eu nem desconfiava disso.
Acreditava piamente que era a pessoa mais íntegra do mundo.
Para mim eu só não seria íntegra se eu falhasse, não entregasse a mercadoria
pedida.
Eu dava prazos já sabendo que não ia cumprir e não pensava que isso era
falta de integridade.
Tive que levar muito prejuízo financeiro e moral para entender o verdadeiro
sentido da integridade.
Por esse motivo, estou aqui para alertá-los sobre esses meandros.
Quando entramos em uma loja e experimentamos todas as blusas da arara e
não gostamos de nada, o jeito de pedir desculpas à vendedora geralmente é dizendo:
“Vou dar mais uma olhada por aí e depois eu volto”.
Isso é falta de integridade. A chance de voltar àquela loja é ínfima. Por que
fazer essa promessa?

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Integridade
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ nos
negócios
e na vida

Fazemos porque queremos a aprovação e o bem-querer daquela moça que


nem nos conhece.
E assim, em busca de aprovação, passamos a vida dizendo Sim quando na
verdade queremos dizer Não.
A falta de integridade nos negócios traz muitos prejuízos financeiros. Por
esse motivo eu costumo dizer: seja íntegro só de sacanagem.
Cumpra sempre a sua palavra mesmo que moralmente você não acredite nisso.
O melhor exemplo disso foi uma paciente que se negou a fazer esse exercício,
ela disse: “Não vou nem fazer, eu não sou íntegra mesmo. Quem me conhece já sabe
que quando eu quero uma coisa, eu vou lá buscar; ninguém nem se atreve a passar
em minha frente”.
Como a vida é caprichosa e todos têm algum limite, essa jovem precisava fazer
um comunicado a sua mãe e ficou cozinhando a história muitos dias em sua cabeça.
Sempre me perguntava: “Como vou dizer isso a ela?”. Eu mesma respondia:
“Seja íntegra”.
E ela ensaiava e ensaiava como dizer e foi adiando aquele momento,
perdendo o sono, ficando angustiada. Teve torcicolo de tanta tensão.
Foi ao médico e ele perguntou o que ela não estava conseguindo resolver
para ficar daquele jeito.
Sem saída, teve que enfrentar a situação e conseguiu dizer tudo sem mentir
ou inventar historinhas.
Na sessão seguinte voltou radiante e aliviada. “Mulher, não é que esse
negócio de integridade é bom mesmo? Acaba o conflito!”, disse.
A falta de integridade é o maior destruidor de autoestima do planeta.
Ninguém pode acreditar em você, se você não acredita em si mesmo.

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Integridade
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ nos
negócios
e na vida

Em busca de aprovação, passamos a vida


dizendo Sim quando queremos dizer Não.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ

Capítulo 11

“Decifra-me
ou te devoro”
Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Decifra-me
ou te devoro”

“Decifra-me ou te devoro” era o misterioso ultimato da esfinge de Tebas no


antigo mito grego. Segundo a história, a esfinge observava atentamente cada viajante
que passava pela cidade. O transeunte, assim que deparava com ela, precisava re-
solver um enigma que poderia indicar o fim de sua vida ou o recomeço dela.
Finalizando o que me propus discutir neste livro, desejo de coração que você
que chegou até aqui, entenda que tudo que está vivendo, todos os problemas que
você produziu até agora em sua vida, foram comandados por esse Senhor intransi-
gente e autoritário: o seu inconsciente.
Só existe um jeito de amansar essa fera indomável: conhecendo-o, jogando
luz nesta caixa preta. Já dizem os economistas: você só controla aquilo que co-
nhece.
O que aprendi a partir da minha própria história e da história de milhares
de pessoas que atendi ao longo de quase 20 anos, é que somos como uma máquina
copiadora pronta para repetir incansável, automática e cegamente os padrões que
herdamos da nossa família.
Freud em suas angústias questionava: “Seremos para sempre escravos da
compulsão à repetição?”.
Eu sou uma mulher de fé, eu tenho um chamado para você, eu acredito que
cada pessoa que toma consciência dos seus grilhões ganha um alicate para rompê-los.
“Dez anos de autoconhecimento em três meses”
Costumo ouvir essa frase da maioria dos meus mentorados: “Eu fiz terapia
dez anos e não vi nada disso”.
Como eu desenvolvi o meu Método Único para levar os meus pacientes a
esse resultado?

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Decifra-me
ou te devoro”

Quando estava no meio do curso de Psicologia chamei a professora de


“Orientação Vocacional” e pedi que criasse um estágio supervisionado para aten-
der adultos perdidos em suas carreiras.
— Então, Clenice, você supõe que existe demanda para isso? Você supõe
que existe um “novo sujeito” para Orientação Vocacional?
Fiquei surpresa com aquele questionamento. Naquela época, quando retor-
nei à universidade para fazer a minha segunda formação, acreditava que eu seria a
“tia” da turma.
Foi reconfortante perceber que 30% pelo menos da classe tinham a minha
idade. Respondi: “Professora, olhe para a sua turma”.
Naquela época, os Coaches de Carreira não eram conhecidos por aqui.
Quando fui escrever o meu TCC não encontrei quase nada de material destinado
ao público adulto.
Ela acabou convencida, convidamos outros estudantes para o novo projeto
e vagas para Orientação Vocacional para adultos foram abertas no SPA da univer-
sidade.
Todas as vagas abertas foram preenchidas. A primeira paciente que atendi
era mais velha que eu. Por não ter material didático disponível na época, fomos es-
tudando e adaptando a metodologia Clínica do Rodolfo Borroslavick, psicanalista
argentino que tinha uma visão disruptiva desse tema.
O que ele preconizava era que a “escolha” de uma carreira não devia ser feita
por um Teste Vocacional, como infelizmente milhares de jovens ainda buscam na
internet. A escolha de um trabalho deveria se basear na história de vida da pessoa.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Decifra-me
ou te devoro”

Mais adiante outras pesquisas muito precisas apontaram o momento exato


onde essa “escolha” acontece. É exatamente entre os três e seis anos que a partir de
uma experiência traumática ou positiva, a criança desenvolve um desejo, uma curiosi-
dade ou uma necessidade de fazer algo para sanar essa necessidade criada na infância.
Desde esse estágio durante a graduação em Psicologia e na pós-gradua-
ção que fiz na UFRJ, onde, além dos dois anos obrigatórios, fiquei maistrês anos
envolvida em pesquisas; além da experiência na clínica geral, venho adaptando e
aperfeiçoando um Método próprio e Único de Orientação Profissional e Negócios,
focado na história de vida das pessoas que passaram por mim.
Foi um longo percurso de estudos e principalmente de prática. Devido a
minha história de vida já contada por aqui e ao meu interesse em negócios e Psico-
logia, desde o início da minha vida empresarial, venho participando de eventos de
Empreendedorismo. Nos últimos anos tenho participado especialmente de eventos
na área do Empreendedorismo Digital, onde acabei dando palestras e imersões pelo
Brasil e outros países.
Você pode estar se perguntando:“Como isso é possível, ter um autoconhe-
cimento em três meses que outras abordagens podem levam dez anos e não ter o
mesmo resultado?”.
Porque o método foi desenvolvido passo a passo para focar nas questões
centrais que atrapalham o desenvolvimento e a prosperidade empresarial.
O meu método de orientação terapêutica para empresários foi criado a partir
das minhas próprias experiências como empresária e psicóloga, das pesquisas e
estudos que participei na área de empreendedorismo e do aperfeiçoamento cons-
tante das dinâmicas que realmente trazem respostas direcionadas aos resultados
desejados.

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Clenice Araujo A EMPRESA NO DIVÃ “Decifra-me
ou te devoro”

Quando os padrões repetitivos inconscientes são identificados e a rota é cor-


rigida, os resultados aparecem “magicamente”. A mente desbloqueada será capaz de
ter toda a clareza e a objetividade que os negócios necessitam para fluir e prosperar.
Os empresários têm muita pressa, precisam de respostas objetivas e aplicá-
veis tanto nos seus negócios como na vida.
Eu também sou uma fazedora. Não discuto com o trabalho. Faço tudo que
precisa ser feito e ponto.
O encontro com o Marketing Digital foi uma luz em minha estrada. Estava
todos os dias com pessoas como eu, que queriam crescer em todos os sentidos e
crescer rápido.
Antes de perceber isso, estava completamente envolvida nos eventos pelo
Brasil afora, com as pessoas mais inteligentes desse mercado.
O meu método foi criado para atender a essa demanda. Ninguém mais quer
perder dez anos de vida batendo na mesma tecla.
Se você chegou até aqui e quer entender também a sua própria história
e levar o seu negócio para o próximo nível, com certeza, precisa colocar a Sua
Empresa no Divã.
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