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dolorosas do
empreendedorismo

Toni Galindo (/u/pg_10)


(/u/pg_10)
17/06/2020

Como o seu sistema de crenças afeta o seu sucesso profissional

Este texto aborda em primeiro lugar um conceito de sucesso profissional. A seguir é


apresentado o conceito do sistema de crenças de uma pessoa; depois como este sistema
é formado; seguindo ao desvelamento do mesmo, e as implicações para o sucesso

Resumo

A escrita deste artigo tem como principal objetivo propor uma reflexão das
pessoas a respeito de um processo psíquico que afeta o sucesso pessoal e
profissional; mas que é pouco conhecido pela maioria dos seres humanos. É
também pouco tratado fora da literatura especializada (medicina e
psicologia), que é o sistema de crenças ou verdades individuais presente na
mente inconsciente dos seres humanos. A estruturação lógica deste texto
segue em primeiro lugar com o estabelecimento de um conceito de sucesso
profissional; a seguir é apresentado o conceito do sistema de crenças; depois
como este sistema é formado; seguindo ao desvelamento deste sistema;
finalizando com as categorias de crenças e sua reestruturação, além das
considerações finais. Espera-se que a leitura estimule o interesse pelo
processo de autoconhecimento, que proporcionará resultados positivos em
relação às experiências vividas pelos seres humanos.

Palavras-chave: Sistema de crenças; Sucesso profissional.

Autor: Toni Pablo Souto Galindo


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–– INTRODUÇÃO ––

O primeiro passo importante para o contextualizar este artigo, cujo


propósito é promover uma reflexão sobre como o sistema de crenças que
afeta o desempenho profissional, é definir a expressão “sucesso profissional”.
O segundo passo importante é estabelecer um conceito pouco conhecido
pela maioria das pessoas – mas que afeta diretamente a experiência de vida
pessoal –, que é o sistema de crenças.

É realmente espantoso a mudança que se processa na vida de uma pessoa


quando ela estabelece um conhecimento profundo a respeito de como o seu
sistema de crenças afeta sua vida diária. A proposta é que o leitor
experimente este espanto ao tomar consciência destas crenças que estão
enraizados profundamente em sua mente.

Este pequeno texto de reflexão seguirá uma estruturação de hierarquização


por passos. O objetivo é que o texto guie o leitor por um caminho em direção
ao autoconhecimento, para que ele possa melhorar os seus resultados
profissionais.

O terceiro passo consiste na sugestão de ferramentas para desvelar o sistema


de crenças do leitor. Coaching, psicologia, psiquiatria, autoconhecimento são
algumas ferramentas úteis.

O quarto passo mostrará que se o sujeito descobrir que se o seu sistema de


crenças for predominantemente negativo (autossabotador ou
autodestruidor), é possível reconstruí-lo para o desenvolvimento de crenças
de poder. Estas são as crenças que promovem o crescimento e
desenvolvimento das pessoas, proporcionando sucesso e realização pessoal
no trabalho.

O principal propósito deste pequeno artigo é tratar de um tema pouco


conhecido pela maioria das pessoas – o sistema de crenças. Que tem um
papel preponderante nos resultados alcançados em todas as esferas do ser
humano. Daí tamanha a importância do tema. É preencher um vazio na
literatura a respeito dos fatores que influenciam o sucesso profissional e a
autorrealização no ser humano. É também promover uma reflexão profunda
e estimular as pessoas a ingressar no caminho do autoconhecimento e do
autodomínio.

–– PRIMEIRO PASSO ––

Definição de sucesso profissional.


“O sucesso é, em grande parte, uma questão de se adaptar aos ambientes variáveis e
variáveis da vida, em espírito de harmonia”. Napoleon Hill

O conceito de sucesso é sempre referido na literatura como


sendo subjetivo, pois deve levar em consideração em sua
essência os diferentes significados, valores e crenças; que,
variam enormemente nas diferentes pessoas. Fatores como a
cultura vivenciada, a história de vida também exercem um
efeito neste conceito. No entanto, sempre deve-se levar em
consideração o grau de satisfação pessoal que um indivíduo
experimente em sua vida profissional.

Para alcançar esta tal satisfação, alguns fatores objetivos e


subjetivos são mencionados como necessários, por exemplo:
reconhecimento; posicionamento em bons cargos; segurança
financeira; aquisição de bens materiais e serviços; tempo para
o lazer e para a família; qualidade de vida; ser dono do próprio
negócio.

Faz-se mister, então, analisar pormenorizadamente algumas definições


encontradas na literatura a respeito do conceito, no sentido de enriquecer o
conhecimento pelo processo de cognição pessoal do leitor.

O professor britânico da Universidade de Suffolk em Boston e colunista da


revista americana Forbes, Michael B. Arthur, em seu artigo intitulado “Career
success in a boundaryless career world” do ano de 2005, destaca que o
sucesso na carreira é resultado das experiências profissionais de uma pessoa.
O sucesso profissional pode ser definido como a realização de resultados
desejáveis relacionados ao trabalho, em qualquer momento das experiências
de trabalho de uma pessoa ao longo do tempo (Arthur e colaboradores,
2005).

Esta definição também acomoda dois significados de sucesso sugeridos pelo


Oxford English Dictionary (1989): "a obtenção de um objeto de acordo com o
desejo de alguém" e "a conquista próspera de algo que se tentou". O primeiro
significado sugere uma forma de sucesso pessoal (isto é, subjetivamente)
desejável, enquanto que, o segundo sugere uma forma de sucesso –
prosperidade – que provavelmente depende de comparações sociais (em
grande parte objetivas). Esses significados alternativos sugerem que, como
nas carreiras, existem duas maneiras distintas de ver o sucesso profissional
(Arthur e colaboradores, 2005). Abaixo serão fornecidas explicações mais
detalhadas a respeito da diferença entre fatores de sucesso objetivos e
subjetivos na carreira profissional, sob o ponto de vista de diversos autores.

Por um lado, o sucesso profissional subjetivo pode ser definido como a


compreensão interna do indivíduo e a avaliação de sua carreira, em todas as
dimensões importantes para o mesmo (Van Maanen, 1977). Ressaltando que,
as pessoas têm aspirações de carreira diferentes e atribuem valores
diferentes a fatores como renda, segurança no emprego, localização do
trabalho, status social, progressão em diferentes empregos, acesso à
aprendizagem, importância do trabalho versus tempo pessoal e familiar
(Arthur e colaboradores, 2005).

Por outro lado, o sucesso profissional objetivo pode ser definido como uma
perspectiva externa que delineia indicadores mais ou menos tangíveis da
situação profissional de um indivíduo. Isso pode envolver ocupação, situação
familiar, mobilidade, atributos da tarefa, renda e nível de emprego (Van
Maanen, 1977). A perspectiva do sucesso profissional objetivo preocupa-se
com o papel social e a posição do cargo. Os escritores que avaliam o sucesso
na carreira sob essa perspectiva o veem em termos estruturais (Wilensky,
1961) e enfatizam a propensão das pessoas a se organizar em torno das
diferenças de status social (Nicholson, 1998). O sucesso objetivo na carreira
reflete a compreensão social compartilhada, em vez da compreensão
individual distinta (Arthur e colaboradores, 2005).
Estes dois pontos de vista foram apresentados no sentido de clarificar
melhor o conceito de sucesso profissional sob diferentes perspectivas. Esta
abordagem será de grande importância quando for tratada mais abaixo no
texto a forma como as crenças individuais afetam o sucesso profissional.

De modo sucinto, pode-se dizer que sucesso profissional passa


necessariamente por uma percepção de uma realização pessoal do indivíduo
com o seu trabalho. Se o indivíduo sente-se motivado e desafiado no seu
ambiente profissional, se ele demonstra um sentimento de “paixão” ao falar
do seu ofício, se tem orgulho do que faz e demonstra isto para as outras
pessoas; são sinais que apontam que ele obteve sucesso profissional.
Independentemente do salario e do posicionamento obtido.

Tratar do tema sobre o sucesso passa, necessariamente, pela abordagem do


autor conhecido mundialmente Napoleon Hill. É um autor americano que
publicou quinze livros a respeito da questão do sucesso para o ser humano.
Ele aconselha em seu livro “Law of sucess” que: “Sucesso, dentro do
significado desse termo é a conquista de seu objetivo principal definido, sem
violar os direitos de outras pessoas”. Ainda neste livro: “Independentemente
de qual seja o seu principal objetivo na vida, você o alcançará com muito
menos dificuldade depois de aprender a cultivar uma personalidade
agradável e depois de aprender a delicada arte de se aliar a outras pessoas
em um determinado empreendimento, sem atrito ou inveja” (Hill, 2013). O
sistema de crenças é o que tornará tudo isto possível.
–– SEGUNDO PASSO ––

Definição do sistema de crenças

“É a partir das crenças que se entende o modo como funcionam as coisas, a realidade

social e os indivíduos em processo de acomodação no mundo da vida”. Anderson


Clayton Pires

De uma maneira bem simples e fácil de assimilar, pode se


dizer que as crenças são as verdades individuais de cada
pessoa. O que ela acredita ser a verdade sobre o mundo que
foi aprendida pela sua cognição ao longo do seu processo
histórico de vida. As crenças podem ser sobre si mesmo,
sobre as outras pessoas e sobre o mundo ao redor.

Em muitas situações, o sistema de crenças atua para satisfazer necessidades


que não foram preenchidas na infância: amor, atenção, valor, aceitação,
pertencimento, e também necessidades materiais. Ele atua automaticamente
em todas as situações experimentadas pelo indivíduo, unicamente repetindo
padrões e modelos preexistentes no arcabouço inconsciente; cuja única
finalidade é a de preencher estas necessidades que falharam na sua infância.
Serão atraídas, no momento presente, para situações idênticas às
experimentadas no passado, para que se tente mais uma vez que elas sejam
preenchidas. Torna se um ciclo vicioso de retroalimentação negativa
interminável – e doloroso.

Um exemplo bem esdrúxulo, bem comum em relatos de pacientes em


tratamento, é o de que muitas pessoas buscam ficar ricas para preencher
suas necessidades materiais não preenchidas na infância. Deste modo, o
sistema de crenças pode criar uma perigosa armadilha, no qual, ao obter a
tão sonhada prosperidade, estas pessoas se tornam escravas dos bens
materiais – ou melhor, escravas das próprias crenças. Tornando sua
existência um tormento ainda maior do que quando não teve suas
necessidades materiais atendidas na fase infantil.
Anderson Clayton Pires, Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutor em Teologia pelo Programa de Pós-
Graduação das Faculdades EST (PPG-EST) em São Leopoldo, RS oferece uma
definição sociológica para o termo “crenças”:

“De acordo com o dicionário moderno da língua portuguesa, crença, do latim Credentia,
significa uma 'opinião que se adota com fé e convicção'. Normalmente, o conceito vem
relacionado à religião e, por isso mesmo, a maioria dos estudiosos o considera como
termo correlato à fé religiosa. Do ponto de vista fenomenológico, trata-se de uma
disposição subjetiva na qual se figura a certeza intuitiva acerca da existência de algo ou
de alguma coisa. A crença pode ser concebida como um 'condicionamento
psicocognitivo' de acesso inteligível e explicativo da vida, do mundo e das coisas
existentes. Ela pode ser definida também como 'fundamento intencional do agir'.
Inspirado pela antropologia estrutural de Lévi-Strauss, pode-se conceber a crença como
uma forma de estrutura mental de acesso compreensivo à realidade. No idealismo
transcendental de Kant, a crença aparece como um postulado ou certeza intuitiva da
existência de coisas que não se pode demonstrar empiricamente, mas que se justificam
ou podem ser inferidas de um tipo de decisão/ escolha ética” (Pires, 2013).

Pires elucida que a crença como objeto de análise psicológica aparece na


teoria da Terapia Cognitiva. Esta foi criada pelo teórico e terapeuta da
Universidade da Pensilvânia, Aaron T. Beck, na década de 1960, nos Estados
Unidos da América. Esta teoria foi a precedente na interpretação de que do
comportamento humano é possível inferir que existem crenças operando
(Pires, 2013). Segundo Pires uma crença “pode ser compreendida como uma
ideia, uma representação mental, um postulado, uma estrutura cognitiva, um
fato da razão, entre outras coisas” (Pires, 2013).

Segundo a psicóloga Judith Beck, autora do livro “Terapia cognitiva” crenças


são entendimentos que são tão fundamentais e profundos, no qual as pessoas
frequentemente não os articulam sequer para si mesmas. Essas ideias são
consideradas pela pessoa como verdades absolutas, exatamente o modo
como as coisas ‘são' (Beck, 1997).

O sistema de crenças ancorado no inconsciente pode ser responsável por


mais de 80% dos resultados que uma pessoa obtêm na vida. O fato mais
importante desta verdade é que a maioria das pessoas não faz a mínima ideia
a respeito disto. Seus comportamentos e ações se tornaram automatizados e
elas não têm nenhum controle sobre os mesmos. Suas experiências são
repetições de padrões cíclicos intermináveis.

O sistema de crença torna uma pessoa única, é como uma impressão digital,
diferente de qualquer outro ser humano no planeta Terra. Para Pires (2013):

“As crenças definem o sentido da ação de uma pessoa interagente. A identidade desta é
definida pelo seu sistema de crença. O que é uma pessoa? Ela é o seu sistema de crença
operando em lógicas de interação no mundo da vida humana. Nessa equação da
interação 'pessoa e mundo', o que logicamente se deduz é que o comportamento humano
deve ser entendido como resultante de um sistema de crença complexo operante do
indivíduo/interagente. Por isso ele será definido, como lógica de interação. É a partir
dele que se tem acesso compreensivo ao sentido de cada interação estabelecida no
mundo da vida da 'pessoa interagente'”.

No livro “Terapia Cognitiva”, Judith Beck esclarece que “crenças influenciam


sua visão de uma situação, o que, por sua vez, influencia como ele
(indivíduo/pessoa) pensa, sente e se comporta” (Beck, 2012).

Qual a razão da existência das crenças? Para que servem as crenças


humanas? Pires, (2013) fornece algumas explanações a respeito do tema. Pare
este autor:

“A atribuição do sentido para a realidade deve ser compreendida como um exercício


cognitivo resultante da forma de adaptação intersubjetiva de autopreservação do sistema
de crença dos interagentes. As crenças operantes funcionam em sentido tanto ofensivo
quanto defensivo. Por essa razão, elas devem ser entendidas como portadoras, em si, de
um potencial nomotizante (atribuição do sentido). Crenças nomotizam o lugar das coisas
no mundo. Sem a devida apreensão do sentido, o sistema de crença do interagente entra
em colapso por falta de elementos para uma articulação hermenêutica adequada da
realidade-mundo. É a partir das crenças que se entende o modo como funcionam as
coisas, a realidade social e os indivíduos em processo de acomodação no mundo da
vida”.
–– TERCEIRO PASSO ––

Como o sistema de crenças é formado

Configura-se um curioso exercício mental refletir sobre a etiologia do


sistema de crenças de uma pessoa. Não é surpresa que alguns filósofos,
psicólogos e teóricos se debruçaram sobre o tema desde há muito tempo na
história da sociedade humana.

A princípio se diz que uma pessoa nasce sem um sistema de crenças formado
(premissa que pode ser questionada). Seria algo parecido com a compra de
um computador pessoal, no qual, nenhum programa ainda foi instalado, só
existe a parte física. Posteriormente, os programas vão sendo instalados
gradualmente de acordo com a necessidade do usuário deste computador.
No caso das crianças, o sistema de crenças (programas) vai se formando
gradualmente em acordo com as experiências vividas no seu
desenvolvimento; e, tendo como modelo o sistema de crenças dos pais em
primeiro lugar e depois com o mundo que a circunda.

Os sentimentos, as percepções, os comportamentos dos pais durante a


gestação e após o nascimento do bebê, constitui um importante direcionador
da formação deste sistema de crenças nos filhos. Eles formam os modelos
mentais e percepções do mundo da criança em desenvolvimento. Pires, (2013)
destaca que “as crenças devem ser concebidas como construções originadas
de uma experiência de natureza eminentemente sócio-interpretativa”.

Ainda segundo Pires (2013), vale a pena destacar que:

“A linguagem é uma condutora efetiva de crenças. Processos de comunicação são


dinâmicos à medida que a “inteligibilidade reativa” dos interagentes acontece,
provocando o movimento de construção e sedimentação dos sistemas de crença de cada
um dos implicados. Cada palavra estruturada no processo de inteligibilidade reativa da
linguagem contém uma espécie de 'força gravitacional' capaz de gerar atração ou
repulsão, coesão ou alienação dos e entre os interagentes”.

A psicóloga americana Judith Beck em seu livro “Terapia cognitivo-


comportamental” reforça esta visão ao esclarecer que: “No começo da
infância, as crianças desenvolvem determinadas ideias sobre si mesmas,
sobre as outras pessoas e o seu mundo. As suas crenças mais centrais, ou
crenças nucleares, são compreensões duradouras tão fundamentais e
profundas que frequentemente não são articuladas nem para si mesmo. A
pessoa considera essas ideias como verdades absolutas – é como as coisas
“são'. Ainda para Judith Beck as crenças são formadas a partir da relação
estabelecida entre os indivíduos e o mundo no qual eles se encontram
inseridos, e elas são consideradas "as lentes" a partir das quais eles
interpretam as situações de vida.

Segundo preconiza Pires, (2013): “A experiência de construção da crença é de


natureza social, pois ela implica a interação de 'agentes envolvidos' numa teia
de relação. Pontuar a experiência como matriz geracional de uma crença
significa estabelecer um nexo causal de ligação entre eles (agentes
envolvidos) de natureza interagente. Trata-se de um eu 'em relação' a um tu.
Nesse caso, considerando a natureza social que envolve a experiência de
interagentes na geração de crenças, tal fenômeno se caracteriza também por
seu movimento dialético próprio”.

Posteriormente, outros fatores contribuirão para a percepção das


experiências vivenciadas por uma pessoa como a educação recebida, o
sistema familiar, os laços afetivos estabelecidos entre os pais e os filhos, as
ideias transmitidas pelos pais e professores, as interpretações individuais e a
convivência com os amigos. Estes fatores vão formando gradualmente este
sistema de crenças que se localiza na parte inconsciente da mente humana.
Todos os estímulos recebidos na primeira infância ficam registrados no
inconsciente da mente; este se torna um sistema de filtros pessoal, com o
qual o indivíduo interpreta os acontecimentos da sua vida. Por esta razão,
nenhum ser humano percebe as experiências vivenciadas de modo similar a
outro. Existe um sistema de crenças único para cada um dos mais de sete
bilhões de seres humanos habitando o planeta Terra.

Irving E. Sigel e Ann V. McGillicuddy-De Lisi no capítulo “Parent Beliefs Are


Cognitions: The Dynamic Belief Systems Model” do livro “Handbook of
Parenting” revelam pesquisas recentes sobre o efeito das crenças dos pais no
desenvolvimento social das crianças. Os dados de estudos publicados
sugerem que as crenças relacionadas ao comportamento dos pais com seus
filhos exercem efeitos sobre as crianças. Por exemplo, mães que relataram
confiança em seus papéis maternos, que acreditavam incentivar a
independência, a estabelecer limites e explicar as razões por trás de suas
ações, e se mostraram agradáveis, tiveram filhos que eram mais socialmente
competentes e vistos positivamente por seus pares (Sigel e McGillicuddy-De
Lisi, 2002).

O modo de ação do sistema de crenças.


Como atuam as crenças na mente das pessoas? Uma pergunta perspicaz de
difícil resposta. Pode-se apenas especular, pois, na literatura pesquisada
usada como base para a construção deste artigo, esta questão não foi
abordada em nenhum texto. No entanto, vale o exercício mental de tentar
formular uma teoria a respeito.

No caso em questão uma pessoa adulta que possui um determinado sistema


de crenças recebe um estímulo externo através de uma experiência. Para tal
será usado como estudo de caso uma perda, a perda de uma pessoa amada
como, por exemplo, o término de relacionamento amoroso de alguns anos.
Este adulto, então, experimenta uma dor profunda, chegando à depressão e
perda da vontade de viver. Apenas um caso extremo para melhorar a
contextualização. Este adulto está experimentando uma sensação de perda
profunda, que para a mente dos seres humanos resulta em uma emoção
conhecida como tristeza.

Neste exemplo usado, a crença subjacente ancorada na mente inconsciente


do ser adulto que produz tal reação é a seguinte: “Eu não sou digno de ser
amado, as pessoas sempre me abandonam”. Então, a sequência de fatos
acontecidos se daria através do seguinte padrão: um estímulo externo
proveniente de uma experiência (término de relacionamento) desencadeou
uma reação emocional. No qual, este estímulo enviou uma mensagem para a
mente inconsciente, e esta elaborou tal mensagem acionando o sistema de
memórias de longo prazo, na tentativa de interpretar a mensagem recebida e
gerar uma resposta. A seguir o sistema de crença ao varrer as memórias
registradas encontra uma experiência de perda anterior que produziu
emoções intensas, geralmente ocorrida na fase infantil, para produzir uma
resposta adequada ao fato experimentado.

No caso apresentado, este indivíduo adulto quando criança experimentou


uma emoção forte relacionada ao abandono de um ou ambos os pais – como
ter sido enviado para morar com uma avó por algum tempo, por efeito de
uma necessidade, ou perda prematura de um dos pais – e, como resultado
foram produzidas emoções intensas relacionadas ao abandono, como medo,
ansiedade e tristeza, que ficaram armazenas como memórias. A resposta
gerada para a experiência atual seguirá o mesmo padrão da resposta
experimentada na infância, simplesmente pela atuação do sistema de crenças
pessoal formado.

O artigo de Dutra e colaboradores publicado na revista “Trends in Psychiatry


and Psychotherapy” no ano de 2012, elucida o possível papel preponderante
da memória atuando em sincronia com o sistema de crenças:

“Apesar das várias formas de se expressar o conceito de memória autobiográfica, um


aspecto peculiar diz respeito ao fato de que a evocação traz consigo a consciência de que
um determinado fato ou acontecimento ocorreu anteriormente consigo próprio, fazendo
parte de sua história pessoal. Além disso, a evocação apresenta como característica a
sensação de reviver o fato, de fazer uma viagem de volta ao passado. Desta forma, a
memória autobiográfica acompanha um senso de re-experiência do evento original e da
crença de que ele aconteceu” (Dutra e colaboradores, 2012).

Voltando ao caso usado como exemplo, ocorre a produção das mesmas


emoções intensas sentidas na perda anterior da infância no indivíduo
divorciado atual, como o medo, a ansiedade e a tristeza. Vale lembrar que
este sistema atuará com este modus operandi por toda a vida deste referido
adulto, sempre que ele interpretar alguma experiência vivida com uma perda.
Esta suposição soa tal como uma condenação. Mas na verdade, não é, como
será visto na parte final deste artigo – a ressignificação de crenças.

Refletindo profundamente sobre o aspecto do modo de atuação do sistema


de crenças, faz todo sentido sua atuação se dar por acionamentos de
modelos preexistentes. Discutindo a questão sob o ponto de vista evolutivo e,
da necessária economia de energias pelo sistema de um indivíduo. Pois,
imagine que a mente humana teria que criar modelos de interpretação novos
a cada situação nova experimentada por uma pessoa ao longo de sua jornada
pela vida; é de se supor que seria extensivamente custoso energeticamente.

Por tal motivo, existem os modelos armazenados na mente em formas de


crenças; que podem facilmente serem acionadas para produzir respostas
rápidas e adequadas para as mais diversas situações da vida cotidiana. Talvez
faça algum sentido este modelo proposto. Ou talvez, algum outro pensador
possa criticar e propor alguma teoria mais adequada. Um dos propósitos
deste pequeno texto é justamente estimular a reflexão nos leitores. E que
eles também possam elaborar suas próprias teorias se assim desejarem.

–– QUARTO PASSO ––

Desvelando o sistema de crenças.

“As crenças são iguais aos ímãs, se você crê em algo,

ela pode até se tornar realidade”. José Roberto Marques


No texto acima, foi discutido como o sistema de crenças de
uma pessoa afeta a sua percepção das experiências
vivenciadas; muitas das quais, se apresentam como distorções
da realidade. Causando um comportamento, que por muitas
vezes prejudica a autorrealização e o sucesso profissional do
ser humano.

É bastante comum que as pessoas tenham muita dificuldade de identificar o


seu sistema de crenças ou verdades individuais. Os motivos são a falta de
autoconhecimento, o estado de negação, e que as crenças estão localizadas
na mente inconsciente. Por esta razão, faz-se necessário a ajuda de uma
pessoa ou profissional, preferencialmente, que não tenha ligações
emocionais.

Os profissionais como psicólogos, psiquiatras, terapeuta e da área do


coaching, normalmente, possuem conhecimentos para descortinar o sistema
de crenças com maior facilidade. A ajuda de um profissional capacitado é de
fundamental importância para quem deseja saber como este sistema de
crenças esta afetando os resultados da sua vida presente; em todas as áreas –
vale a pena mencionar.
A observação das próprias emoções, dos comportamentos, dos pensamentos,
das reações, e dos sonhos podem ajudar bastante no processo de
identificação deste sistema de crenças. No entanto, um fator fundamental é
tentar lembrar das mensagens ouvidas repetidamente pelos pais ou
cuidadores no período da fase infantil; quando as crenças são formadas,
essencialmente.

As crenças de uma pessoa são formadas através de mensagens recebidas dos


pais, porém, deve-se clarificar que são mensagens paternas que foram
dirigidas repetidamente aos filhos. E estes, inconscientemente, as tomam
como verdades absolutas. Muitas crenças são aprendidas pelas crianças
também pela simples observação dos comportamentos repetitivos dos pais. A
visão infantil é a de que os pais são seres perfeitos e infalíveis por definição,
por esta razão, tudo o que é dito repetidamente a uma criança é assimilado
por ela como uma verdade absoluta. Se tornando a sua crença.

As crianças têm o poder de absorverem mensagens verbais e não verbais do


meio externo. Elas escutam os pais ou responsáveis, observam e imitam seus
comportamentos. As coisas que aprendem em casa sobre si mesmas e sobre
as outras pessoas se tornam verdades universais, absolutas e inquestionáveis;
e, que ficam profundamente gravadas nas suas mentes (Foward e Bruck,
2001).
Um exemplo bem clássico de aprendizado por observação é fornecido aqui.
Um pai fuma vinte cigarros por dia durante toda a sua vida, mas é bastante
comum ele dizer repetidamente aos filhos que fumar é uma grande idiotice.
Que o cigarro faz mau à saúde. A mensagem captada pela mente inconsciente
dos filhos não é a verbal, mas sim a subjetiva. Se os filhos nasceram e
cresceram observando o hábito de fumar do pai ou mãe (pode ser qualquer
outro hábito), a mensagem sútil gravada profundamente em seu sistema de
crenças, é a de que “fumar é legal”.

Quando adultos, pode ter certeza que, muitos dos filhos serão fumantes (ou
repetirão quaisquer outros hábitos). O poder da crença exercida nos filhos é
tão grande que eles, além de fumar, irão utilizar a mesma marca do cigarro
usada pelo pai. Este fenômeno é facilmente verificável por qualquer pessoa
observando seu histórico de vida e da sua família; não se faz necessário
empreender um estudo científico para provar tal fato.

Os pais transmitem mensagens para os filhos sem saber que estas estão
carregadas de intenções negativas: e, lamentavelmente, é comum que eles
estejam apenas repetindo as mensagens ouvidas na sua própria infância.
Algumas mensagens negativas diretas ditas por pais aos filhos serão listadas
abaixo:

“Você não presta para nada”.


“Você é igualzinho a sua mãe; ou seu pai”.

“Você não consegue fazer nada direito”.

“Nunca confie em ninguém, somente em você mesmo”.

“Todas as mulheres são interesseiras”.

“Todos os homens são vagabundos”.

“Dia de muito, véspera de pouco”.

“Como você é burro”.

“Você está louco”.

“É tudo culpa sua”.


“Eu abdiquei da minha carreira por você”.

“Minha vida é um inferno por sua causa”.

“Você nunca vai vencer na vida”.

“O dinheiro é sujo”.

“Pessoas ricas não prestam”.

“Você nunca será feliz”.

“Como você é chato”.

“Viver é matar um leão por dia”.

“A vida é dura”.
“A vida não é fácil”.

“Pessoas negras são burras”.

“Todo negro é ladrão”.

“Todo pobre é ladrão”.

“Homem não chora”.

Se por acaso você leitor identificou que ouviu repetidamente algumas das
frases acima, é bom começar o seu processo de desvelamento do seu sistema
de crenças. Lembrando que, as frases acima – muitas podem até parecerem
bem inocentes – são apenas uma pequena amostra das centenas de
mensagens transmitidas dos pais para os filhos. Construindo assim o
arcabouço de crenças dos últimos, que determinarão todos os
comportamentos e respostas diante dos fatos da vida.

A seguir o leitor poderá encontrar uma lista de algumas crenças muitos


comuns nos seres humanos, que foram construídas a partir do modelo de
crenças dos pais. Neste ponto o leitor poderá identificar algumas de suas
crenças atuais. Recomenda-se uma leitura atenta aliada a uma reflexão sobre
estas frases abaixo. Pela simples razão de que estas verdades individuais
estão alocadas no inconsciente da mente; e, por muitas vezes encobertas sob
camadas de defesas, personagens, negação, fuga, afastamento, dentre outras.
Não é um exercício simples identificar todo o seu sistema de crenças, mas
algumas podem ser facilmente percebidas.

Um fato intrigante diz respeito à criação de crenças bem curiosas. Por


exemplo: “Não coloque a mão para trás, que você mata o pai e a mãe”; “Não
limpe o umbigo, pois você perderá dinheiro”; “Não coloque a bolsa no chão,
pois assim o dinheiro vai embora”; “Comer em pé, a comida desce para as
pernas”; “A cobra cascavel coloca o chocalho na boca do bebê para mamar o
leite materno”. Existem ainda as crenças sobre a cura de doenças como, por
exemplo: “Faça um chá de rabo de lobo-guará para curar asma”. Sem contar
as crenças mágicas e bizarras criadas para aumentar a potência sexual que
levaram alguns animais à beira da extinção como, por exemplo, chifre do
rinoceronte, cavalo-marinho, órgão sexual do leão-marinho, glândulas de
almiscar do veado, genitália do boto amazônico, pênis de tigres, sopa do
ninho do pássaro troglodita do sudeste asiático (Scarfh, 2011). Não se pode
desprezar o potencial danoso de crenças irracionais tanto para as pessoas
como para as outras espécies que habitam o planeta Terra. A seguir serão
fornecidas algumas crenças comuns na mente das pessoas.

Lista de algumas crenças:


“Nunca vou conseguir dinheiro suficiente”.

“Não tenho dinheiro para nada”.

“Só é possível ganhar dinheiro fazendo coisas erradas”.

“Não tenho tempo para nada”.

“Não sou bom o suficiente”.

“Não sei tudo o que preciso”.

“Não consigo aprender isso”.

“Nunca vou conseguir alcançar meus objetivos ou realizar meus sonhos”.

“Tudo precisa ser perfeito”.


“Não consigo me organizar”.

“Eu não mereço sucesso ou coisas boas”.

“Não sei como resolver esse problema”.

“Eu não posso / não consigo / não sei fazer isso”.

“Sou muito velho para isso”.

“É melhor dar do que receber”.

“Sem trabalho duro não se consegue nada”.

“Os outros precisam mudar para minha vida melhorar”.

“Estou destinado a essa vida e a ser desse jeito porque essa é a situação da
minha família, por isso, é a minha”.
“O mundo está em crise, por isso, tudo está muito difícil para mim”.

“Não tenho jeito para isso”.

“Não é possível viver do que se ama”.

“Eu não sou digno de ser amado”.

“Eu não sou digno de ter sucesso na vida”.

“Eu não posso ser melhor que meus pais”.

“O mundo é um lugar perigoso”.

“Eu nasci pobre, sempre serei pobre”.

“Meus pais são assim, eu também sou assim”.


“Tudo o que dá errado (na família) é minha culpa”.

A importância de conhecer profundamente o seu sistema de crenças é que o


seu sucesso, (profissional, pessoal, relacionamentos, espiritual), seus feitos,
comportamentos, valores e significados, estão atrelados, necessariamente, a
este sistema. As crenças disfuncionais, vale destacar, são conhecidas pela
psicologia por causarem bloqueios, autossabotagem, autodestruição, e
pensamentos negativos; gerando dor e sofrimentos nas pessoas.

–– QUINTO PASSO ––

Tipos de crenças

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem
batalhas. Se… conheces a ti mesmo, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha
sofrerá também uma derrota. Caso não conheça nem o inimigo nem a si mesmo, perderá
todas as batalhas”. Sun Tzu, no livro “A Arte da Guerra”.

Segundo a abordagem da psicologia cognitiva existem crenças funcionais e


desfuncionais. Para a autora Judith Beck, as crenças disfuncionais provocam
a distorção da realidade percebida pelo indivíduo; enquanto que, as crenças
funcionais promovem uma percepção correta da realidade experienciada
(Beck, 2014).

Para a terapia cognitiva-comportamental existem ainda as crenças nucleares,


que são o nível mais fundamental da crença – são globais, rígidas e
supergeneralizadas. As crenças superficiais, pelo qual, os pensamentos
automáticos, as palavras ou imagens que passam pela mente da pessoa são
específicos para as situações; e, podem ser considerados como o nível mais
superficial de cognição. E as crenças intermediárias, que existem entre estes
dois tipos (Beck, 2014).

Mais detalhadamente a respeito dos tipos de crenças, no livro de Judith Beck


“Terapia cognitiva” está demonstrado que:
“As crenças centrais são ideias mais centrais da pessoa a respeito do self, de outras
pessoas e seus mundos. São usualmente globais, supergeneralizadas e absolutistas.
Quando ativadas, o paciente facilmente identifica informações que a apoiam e distorcem
as que não se enquadram no estilo de sua crença. Podem ser positivas ou negativas,
sendo as negativas ativadas em estado de aflição. Podem ser divididas em duas

categorias: as associadas a desamparo e as associadas ao fato de não ser amado. São

exemplos de crenças centrais as frases 'eu sou incapaz' e 'eu não sou
amado'” (Beck, 2014).

Já as crenças intermediárias, destaca a mesma autora do trecho acima,


consistem em atitudes, regras e suposições que levam a uma visão de uma
situação especifica, e o comportamento do sujeito. Elas estão diretamente
relacionadas ao conteúdo da crença central, dirigindo os comportamentos
das pessoas. Alguns exemplos de frases com crenças intermediárias são: “É
terrível ser incompetente” e “se me esforçar mais, serei capaz” (Beck, 2014).

Para o doutor em sociologia Pires, (2013), há basicamente dois gêneros gerais


de crenças com as respectivas funções ligadas a cada uma delas: as alcalinas
e as oxidantes. Em relação às crenças alcalinas o autor explica que uma
pessoa com um sistema de crença com maior potencial alcalino seria mais
otimista em relação à leitura que faz de si – autoimagem positiva –, do
mundo e dos outros com os quais ele interage.

Já em relação às crenças oxidantes, Pires (2013) pontua que:


“Indivíduos com alto índice de crenças com função patogeracionais presentes em seu
sistema de crença apresentam uma maior disposição pessimista em relação à
possibilidade de alcançar um 'encontro' no mundo das realizações interafetivas. A
característica de um indivíduo com um sistema de crença oxidado será evidenciado pelo
volume hipertrofiado do capital fóbico apresentado na forma de uma flagrante 'falta de
habilidade social' para a construção e manutenção de processos interafetivos. Um
sistema de crença oxidado, no entanto, não permite ao indivíduo trafegar no mundo da
vida sem a presença degradadora de crenças patogeracionais, que produzem efeitos
anabólicos sobre a estrutura do capital fóbico indefinidamente. Enxergar
exageradamente um potencial patogênico em tudo que se faz e que se vê caracteriza um
sintoma pato-reflexivo da atividade cognitivo-racional do sistema de crença com um
conjunto prevalente de crenças oxidantes em operação” (Pires (2013).

Informalmente em textos são encontradas algumas denominações de


crenças, que por falta de base conceitual formal serão apenas mencionadas:
crenças sabotadoras; crenças limitantes; crenças autodestrutivas; crenças
hereditárias, crenças sociais e crenças pessoais.

–– SEXTO PASSO ––
Reestruturação do sistema de crenças

“Se você muda a si mesmo, você mudará o mundo. Se você muda o seu jeito de pensar,
então você mudará o jeito que você se sente e quais ações você toma. Aí, o mundo ao seu

redor também muda.” Dalai Lama.

O mais extraordinário aspecto da mente humana é a sua plasticidade. Este


processo permite o aprendizado contínuo ao longo da vida de uma pessoa.
Permite também, a reestruturação do sistema de crenças, dos valores e dos
significados. Ou seja, o ser humano, desde que queira, não está condenado a
repetir padrões negativos automatizados durante toda a sua jornada de vida.

A abordagem da terapia cognitiva-comportamental esclarece que as crenças


disfuncionais podem ser desaprendidas, e novas crenças baseadas na
realidade, e mais funcionais podem ser desenvolvidas e fortalecidas durante
o tratamento terapêutico (Beck, 2014). Deste modo, um esforço corajoso e
comprometido do paciente precisa ser empregado, pois, não se trata de um
processo rápido, nem mesmo fácil. O estabelecimento de uma relação
dialógica sincera é outro fator preponderante para o sucesso da empreitada.

Pires (2013), expõe uma visão intrigante a respeito do tema da transformação


do sistema de crenças do indivíduo – contraria à visão de que crenças
profundamente arraigadas são imutáveis, ou muito difíceis de serem
transformadas. Segundo este autor:

[…] “o sistema de crença dos interagentes nunca permanece inalterado na experiência


de encontros significados. Crenças novas aparecem, e antigas são alteradas, vitalizadas
ou mesmo substituídas. Em cada experiência, um novo significado é incorporado a uma
crença existente, que se reproduz, se complexifica. O sistema de crença é composto de
crenças que se movimentam continuamente. Elas nascem de experiências que refletem o
modo mutante do mundo da vida humana”.

O autor acrescenta ainda que:

“Restruturar um sistema de crença pressupõe a realização de uma reengenharia das


próprias crenças. A reestruturação de crenças, contudo, tem que ser compreendida como
uma nova oportunidade hermenêutica de reler situações (novas ou antigas) e se reler a
própria vida nelas, através delas e a partir delas em um momento compreensivo que
pressupõe maior maturação cognitiva do interagente. No estágio hermenêutico da
reestruturação de crenças, novas experiências enviesadas por crenças
revisitadas/redefinidas podem ganhar um sentido dialético com maior efeito terapêutico
para a estrutura de relação dos próprios indivíduos/interagentes” (Pires, 2013).

Uma reestruturação do sistema de crenças é possível alterando a percepção


de uma pessoa em relação às experiências, para alterar o seu significado.
Quando o significado muda, a percepção muda, as respostas e os
comportamentos da pessoa também mudam (Bandler e Grinder, 1982).
Consequentemente, muda o seu sistema de crenças. Mudam os
comportamentos e as respostas aos estímulos recebidos. Produzindo
resultados de sucesso pessoal e profissional.

A ressignificação de crenças é usada no contexto terapêutico quando um


terapeuta tenta fazer um cliente "pensar sobre as coisas de maneira
diferente" ou "ver um novo ponto de vista" ou "levar em consideração outros
fatores". São tentativas de reformular a percepção de eventos para que o
paciente em tratamento responda de maneira diferente a eles (Bandler e
Grinder, 1982).

É possível aprender sobre o sistema de crenças com a introspecção, análise


da história de vida, ajuda de um profissional; e, também de modo prazeroso
através da leitura (este artigo por exemplo), e com filmes e documentários.
Algumas indicações de filmes sobre o tema central deste artigo serão
sugeridas a seguir: Dumbo, O Patinho Feio, Missão Cegonha, Mãos
Talentosas, A Vida é Bela, A Teoria de Tudo, Poder Além da Vida, Um banho
de Vida, Invictus, Estrelas Além do Tempo, O Pequeno Príncipe.

O uso de histórias, fábulas, contos de fadas e metáforas é outra ferramente


interessante para o processo de aprendizagem sobre as crenças individuais.
São histórias reais ou criadas pela imaginação humana, mas que encerram
dentro de suas linhas uma mensagem importante e de fácil assimilação.
Segundo o ensaio de Fontanella e Bisoto “Pela metáfora a complexidade do
mundo é, de certa forma, 'filtrada', tornando-se mais familiar e palatável. A
linguagem e sua capacidade metafórica, associadas ao conceito de analogia,
estabelecem a via de ligação com a questão da consciência.” (Disponível em:
http://www.uel.br/grupo-
estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais7/Trabalhos/A%20evolucao%20da%20consciencia.pdf
). Abaixo é fornecida um exemplo de boa metáfora a respeito do tema das
crenças.

Metáfora do elefantinho.

Em um circo que se apresentava em uma pequena cidade, um elefante de


toneladas de massa, ficava durante o dia do lado de fora amarrado por uma
pequena corda presa a um tronco.
Um jovem curioso passava pelo local e observando aquela pequena corda
amarrada a um tronco que segurava o animal, se aproximou do domador e
expôs a sua curiosidade.

– Amigo! Esta pequena corda não vai segurar esse elefante se ele resolver
escapar. Pode ser perigoso um animal desse tamanho solto pelas ruas de
nossa cidade.

Respondeu o domador olhando calmamente para o jovem observador.

– Ele nunca vai escapar!

O jovem insistiu.

– Mas como você tem tanta certeza que ele nunca tentará escapar? É um
espaço pequeno e esta fina corda não vai segura-lo se resolver sair pelas ruas
da cidade.

O calmo domador olhando dentro dos olhos do rapaz falou calmamente.


– Ele não sabe da força que tem!

O rapaz não satisfeito questionou aquele homem que parecia ser imune da
preocupação.

– Mas ele poderia tentar e logo saberia que é muito mais forte do que esta
corda que o prende.

O domador continuando a tratar o elefante respondeu o rapaz curioso.

– Quando ele era apenas um bebê elefante ele foi amarrado por esta mesma
pequena corda, e ao tentar sair ele machucou severamente as suas patas; nas
quais se formaram feridas grossas que deixaram cicatrizes em seu corpo e
profundas marcas de dor em sua memória. Por isto, ele não tenta em
hipótese alguma arrebentar a corda e fugir. Se quisesse, bastaria um leve
puxão que arrancaria a corda com tronco e tudo. Agora já é adulto e continua
acreditando que esta pequena corda é capaz de machuca-lo como de outra
vez. Ele simplesmente não conhece o poder que tem,

O rapaz sorriu com um olhar sarcástico.


– Há, mas se um ele tentasse, você estaria em apuros.

O domador devolveu o sorriso com o mesmo sarcasmo que foi interrompido.

– Meu jovem, quantas pessoas você conhece que seguem ordens todos os
dias e nunca fizeram nada diferente do que foram treinados? Que nunca
tentaram escapar? O elefante é como uma pessoa. Amarrado desde pequeno
em uma corrente, ele vai tentar, e tentar escapar daquele espaço querendo
descobrir novas coisas. Com o tempo vai acreditar que nunca conseguirá e
assim podemos amarrá-lo, domá-lo e usá-lo para o que quisermos. Com uma
pequena corda, ou até um barbante podemos segura-lo. Enquanto estiver
alimentado em sua zona de conforto, este pequeno espaço, nunca tentará
nada diferente.

–– CONSIDERAÇÕES FINAIS ––
Apesar do termo “sucesso profissional” ser mencionado na literatura como
sendo subjetivo e pessoal, o sentimento de autorrealização e bem-estar na
vida de qualquer ser humano, é algo perceptivelmente real. Mas um sistema
de crenças desfuncional simplesmente atua como uma barreira para tal
empresa.

É de vital importância que as pessoas conheçam o seu sistema de crenças e


como este afeta sua vida cotidiana. É possível entender como o sistema de
crenças é formado e o modo como ele atua afetando os resultados na vida de
cada indivíduo. A partir de então, as verdades individuais são desveladas e
podem, então, serem ressignificadas para a produção de crenças funcionais
positivas, que contribuem para o sucesso na vida pessoal e profissional.

Um importante livro “Law of sucess” do escritor americano Napoleon Hill


retrata que as mais destacadas fraquezas que existem no caminho entre as
pessoas e o sucesso são: intolerância, culposidade, ganância, ciúmes,
desconfiança, vingança, egotismo, vaidade, a tendência de colher onde não
semearam, hábito de gastar mais do que ganham (Hill, 2013), além do
julgamento. Estes fatores estão intimamente ligados ao sistema de crenças
dos indivíduos que foram formadas, principalmente, na idade infantil sob
influência dos modelos paternos.
Vale a pena lembrar que este autor – publicou quinze livros sobre o tema do
sucesso – foi assessor de Woodrow Wilson e Franklin Delano Roosevelt,
presidentes dos Estados Unidos. Todos as características mencionadas como
fraquezas por Hill estão ancoradas no sistema de crenças de cada pessoa.
Influenciando tacitamente o sucesso ou o fracasso.

Espera-se que este pequeno artigo atue como um estímulo para as que as
pessoas iniciem seu processo de autoconhecimento e autoconsciência.
Melhorando a experiência de percepção da vida e obtendo mais realização e
felicidade.

Referências bibliográficas consultadas

ARTHUR, Michael B. et al. Career success in a boundaryless career world.


Journal of Organizational Behavior, v. 26, p. 177-202, 2005.

BANDLER, Richard e Grinder John. Reframing: neuro-linguistic programming


and the transformation of meaning. USA. 1982.
BARRADAS, Lorenna e Silva Mendes. Introdução ao Modelo Cognitivo.
Publicado em março de 2012. Disponível em:

https://psicologado.com.br/abordagens/psicologia-cognitiva/introducao-
ao-modelo-cognitivo

BROTTO, Thaiana Filla. Crenças e Limitações. Disponível em:

https://www.psicologosberrini.com.br/psicologia-e-psicologo/crencas-e-
limitacoes/

DUTRA, Tarcísio Gomes et al . A supergeneralização da memória


autobiográfica nos transtornos depressivos. Trends Psychiatry Psychother.,
Porto Alegre , v. 34, n. 2, p. 73-79, 2012. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237
60892012000200005&lng=en&nrm=iso

ENGEL, Lewis, e Fergunson, Tom. Crimes imaginários – porque nos punimos


e como interromper este processo. São Paulo, Nobel, 1992.
FOWARD, Suzan e Craig Bruck. Pais Tóxicos - Como superar a interferência
sufocante e recuperar a liberdade de viver. Rio de Janeiro, editora Rocco,
2001.

HILL, Napoleon. Law of Success: The Original Unedited Edition. 1o Edition.


Wise, VA: Napoleon Hill Foundation, Digital version, 2013.

IBC, Institutuo Brasileiro de Coaching. Exemplos de crenças limitantes.


Postado em 18 de junho de 2019. Disponível em:

https://www.ibccoaching.com.br/portal/exemplos-de-crencas-limitantes/

IRVING E. Sigel e Ann V. McGillicuddy-De Lisi no capitulo “Parent Beliefs Are


Cognitions:The Dynamic Belief Systems Model. In Handbook of parenting /
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NICHOLSON, N. Seven deadly syndromes of management and organization:


the view from evolutionary psychology. Managerial and Decision Economics,
19(7-8), 411-426, 1998.

SCARFH, Regina. Sete afrodisiacos fatais. 11 de abril de 2011. Disponível em:


https://pagina22.com.br/2011/04/12/10-afrodisiacos-fatais/

SBIE. Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional. Conheça 20 exemplos


de crenças limitantes que talvez você nem sabia que existiam. Disponível em:

https://www.sbie.com.br/blog/conheca-20-exemplos-de-crencas-
limitantes-que-talvez-voce-e-nem-
sabia/#:~:text=S%C3%A3o%20as%20cren%C3%A7as%20criadas%20a,ningu%C3%A9m%20vai%20gostar%20de%20voc%

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VAN MAANEN, J. Experiencing organization: notes on the meaning of careers


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Biólogo formado pela Universidade Federal da Bahia, com mestrado
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Nanotecnologia na Universidade de Aveiro - Portugal. Cinco
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