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Copyright © 2022 Jéssica Larissa

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos de imaginação do
autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Capa: T.V designer


Revisão: Isadora Duarte
Diagramação Digital: Autora Jack A. F.
Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de


qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios —
tangível ou intangível — sem o consentimento da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei


nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital ǀ Criado no Brasil

1º Edição

Dezembro de 2022
Sinopse
Nota da autora.
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Epílogo
Leia também!
Encontre a autora
Maria Cecília

Eu estava no fundo do poço. Cheia de dívidas, prestes a


perder meu restaurante e completamente sozinha na noite de Natal.

Tomaz Mendonça era o próprio pesadelo em pessoa. Um


milionário frio e arrogante, disposto a tudo para tomar o que era
meu.

Um milagre seria a única coisa que me salvaria.

Até que aquela bebezinha apareceu. Ela era tão pequena e


frágil, e havia acabado de ser abandonada na minha porta, enrolada
em trapos de pano.

Como eu conseguiria salvar nós duas? Como sobreviveria ao


caos chamado Tomaz Mendonça?

Um bebê em uma noite de Natal

Instagram: https://instagram.com/autorajessicalarissa?
igshid=ZmRlMzRkMDU=
Queridos leitores, é com grande satisfação que entrego a
vocês mais uma história mágica. Desejo um Natal abençoado, boas
festas e um ano novo repleto de realizações.

Com amor, Jéssica Larissa.


Sentada em uma salinha pequena e abafada do restaurante,
que transformei recentemente em escritório, analiso pela quinta vez
os boletos em atraso, incluindo as parcelas do empréstimo que fiz
há alguns meses para conseguir manter o estabelecimento
funcionando.

Inspiro e expiro algumas vezes, sentindo-me esgotada física e


psicologicamente.

Deixo os papéis sobre a mesa e me recosto na cadeira,


jogando a cabeça para trás em um claro sinal de derrota.

Apenas um milagre poderia me salvar da situação caótica em


que me encontro. As dívidas não param de chegar, o movimento
apenas cai no restaurante e os boletos formam uma pilha
assustadora sobre a escrivaninha. Para completar o desastre, o
restaurante, que por tantas gerações, esteve nas mãos da minha
família, agora está na mira de uma grande empresa de tecnologia.
Segundo o advogado que me contatou para uma possível
negociação há uma semana, o estabelecimento está situado em
uma área altamente comercial e é a localização perfeita para o que
eles chamam de um investimento rentável para todos.

Minha resposta foi negativa, é claro!

Essa proposta poderia ser a solução perfeita para meus


problemas. Se a venda do restaurante não significasse ver o legado
da minha família ser transformado em destroços e substituído por
um imenso e moderno edifício.

Ah vovô, por que fez isso comigo? Por que teve que partir e
me deixar responsável por tudo isso sozinha?

Sinto o desânimo me tomar e um filme passa pela minha


cabeça lentamente. Recordo-me dos poucos momentos que convivi
com meus pais antes de eles morrerem em um acidente de carro, e
desde então, eu cresci aqui neste restaurante, sendo criada pelos
meus avós paternos que tanto amavam a mim e a gastronomia
típica italiana.

Como era maravilhoso sair da escola e chegar aqui no horário


de almoço, morta de fome, sentindo o cheirinho de comida fresca no
ar. Vovó sempre almoçava comigo na cozinha, e o vovô fazia
questão de preparar meu prato favorito: espaguete com molho
vermelho e um toque especial do chefe incrível que ele era.

Retornando dos meus devaneios, decido deixar os problemas


para outro dia e me levanto, afinal, é véspera de Natal e ainda
pretendo terminar a noite me acabando de chorar no sofá da minha
sala enquanto assisto algum clichê romântico natalino, tendo como
companhia uma barra de chocolate e um pouco das sobras de
comida do restaurante.

Arrumo o vestido brevemente e visto o casaco, pois está bem


friozinho devido à chuva forte que caiu há pouco tempo. Passo as
mãos pelos fios de cabelo que imagino estarem desalinhados e
estou pronta para finalizar mais um dia.

Antes de eu sair, no entanto, ouço uma batida na porta e me


apresso em abrir.
Sara, uma das garçonetes do restaurante, está de pé do outro
lado segurando uma bandeja vazia nas mãos.

Com o uniforme bem engomado e um sorriso cansado no


rosto, ela me cumprimenta:

— O restaurante está vazio… — Sara parece desconsertada


enquanto conversa, mas de imediato compreendo aonde ela quer
chegar. — Será que podemos fechar mais…

Com um suspiro pesaroso eu a interrompo. Não porque esteja


chateada com o seu pedido, de forma alguma. Mas simplesmente
porque a clientela diminui mais a cada dia que passa e eu não sei o
que fazer para mudar isso.

— Não se preocupe, Sara. — Sorrio para ela, mesmo que seja


um sorriso triste. — Vamos fechar mais cedo, afinal é noite de Natal.

Ela sorri amplamente e seu olhar castanho se ilumina.

— Obrigada, Cecília.

Ela me vira as costas e vai na direção das mesas para arrumar


tudo e assim, podermos fechar.

Aviso a todos os funcionários sobre o fechamento do


restaurante antes do horário habitual e ajudo na arrumação também.

Quando tudo está pronto, Sara e os demais funcionários se


despedem para irem embora. Quase todos eles.

Seu José, nosso atual chefe, que era muito amigo do meu
falecido avô, decide ficar na cozinha por mais alguns instantes,
terminando de preparar uma massa de pizza para ser congelada.
— Sinto muito que ainda esteja preso aqui quando todos já
foram embora — eu digo assim que me aproximo dele. Recosto-me
na porta e cruzo os braços enquanto encaro o senhor de idade.

O homem me observa pelo canto do olho e sorri. A barba


quase branca e a barriga saliente me faz sorrir internamente ao
compará-lo com o próprio Papai Noel.

— Eu não me importo, Cecília. Amo o que faço. Além disso, já


estou finalizando.

Assinto para ele e continuo observando, admirada com toda a


sua habilidade.

— Você e o vovô faziam uma bela dupla aqui nesta cozinha —


comento, nostálgica.

Seu José separa a massa em pequenos pedaços e começa a


pesá-los.

— Bons tempos, Cecília. Bons tempos. Aprendi muito com ele.


Seu avô era formidável no que fazia.

Aperto o casaco em volta do meu corpo e concordo com um


aceno.

— Sim, ele era. Eu sinto tanta falta… Ele e a vovó eram tudo o
que me restava.

Nem ao menos percebo quando abaixo a cabeça e sinto


aquela dor angustiada tomar conta do meu coração.

Vovô se foi há menos de seis meses, pouco mais de um ano


depois da vovó, o grande amor de sua vida. Às vezes penso que ele
desistiu da vida depois que ela morreu. Eu o vi definhar dia após
dia.

— As coisas estão difíceis, não é? — A pergunta de seu José


me traz de volta à realidade e eu me recomponho.

— Sim, estão. — Um bocejo escapa da minha boca, porém


continuo quieta onde estou.

Seu José me encara por breves segundos, o olhar indicando


preocupação.

— Tudo vai ficar bem, Cecília. Eu sei que vai. — Ele pisca para
mim e volta ao serviço, embora esteja pensativo. — Não precisa
ficar aqui me vendo trabalhar. Vá descansar, filha. O dia foi longo.

Apesar de toda a minha vontade de subir para o segundo


andar, não acho que seja justo deixá-lo aqui sozinho em plena noite
de Natal.

— Eu estou bem. Não se preocupe comigo.

Observo-o colocar as bolinhas de massa em recipientes


plásticos e levá-las ao congelador.

— Já estou finalizando. Pode deixar que fecho tudo, tenho a


chave reserva.

Outro bocejo me escapa e meus olhos lacrimejam pelo


esforço.

— Tem certeza? Não acho que seja justo…

— Vá descansar, Cecília. Em um minuto, eu irei terminar tudo


aqui.
Derrotada e cansada, eu assinto.

Eu me aproximou de seu José e o surpreendo com um abraço


apertado.

— Feliz Natal, seu José. Boa noite.

— Feliz Natal, filha. Bom descanso.

Eu me despeço dele, ainda receosa em o deixar aqui


trabalhando sozinho, em plena véspera de Natal, mas quando seu
José me passa aquele típico olhar inquisidor e ergue uma das
sobrancelhas grisalhas, tomo coragem e decido seguir seus
conselhos. Estou quase dormindo em pé de tão cansada.

Antes de sair, dou uma olhada na direção das mesas e da


recepção. A árvore de Natal toda enfeitada no hall já está com as
luzes apagadas, mas isso não diminui em nada a beleza
característica de uma data tão especial.

Observo em volta, tomada por uma sensação de tristeza e


impotência ao constatar que poderei perder tudo isso em algum
momento.

Cada pedacinho dessas mesas e paredes carrega lembranças


de um passado que me moldou no que sou hoje. Com um suspiro,
eu subo as escadas que levam ao segundo andar do imóvel. O local
que chamo de lar.

Acendo as luzes no automático e corro até o quarto para tomar


um banho rápido e vestir algo confortável. Estou faminta, mas a
comida terá de esperar um pouco até que eu retire todo o peso do
cansaço dos meus ombros.
Diferente do restaurante lá embaixo, aqui não há nenhum
enfeite ou algo que lembre a chegada do Natal. Não pensei muito
sobre isso nos últimos dias, e o mais provável é que tudo continuará
exatamente como está.

Enfiada dentro de um pijama confortável, eu ligo a TV e


sintonizo em algum canal de filmes natalinos, em seguida, sigo até a
cozinha para aquecer a marmita que seu José havia preparado para
mim um pouco antes de fechar o restaurante.

É somente quando chego ao balcão da cozinha, que percebo


que não trouxe a comida comigo e terei de descer outra vez.
Embora o desânimo tente falar mais alto, eu o ignoro, visto um
casaco quentinho com botões na frente e rumo na direção das
escadas.

Ao alcançar o último degrau, ouço murmúrios vindos da porta


da frente do restaurante e caminho nessa direção. Assim que me
aproximo, percebo a porta entreaberta e reconheço a voz de seu
José.

— Sinto muito, mas terá de voltar outro dia. O restaurante está


fechado e a proprietária, Cecília, já subiu para descansar.

Pisco os olhos algumas vezes, confusa, e me aproximo o


suficiente para ser ouvida.

— Seu José, está tudo bem?

Alcanço a porta e a abro devagar.

Dois pares de olhos atentos se viram na minha direção.

Seu José me encara com um pedido de desculpas velado nos


lábios finos, e o homem que o acompanha ruma na minha direção,
passando direto pelo senhor de idade.

Apesar da luz fraca aqui fora, consigo analisá-lo com cuidado.


É um homem alto, de presença suntuosa e expressão marcante.
Bonito demais para o meu gosto.

— Olá Cecília. Venho tratar de negócios! — A voz grossa e


acentuada repercute em minha pele em forma de arrepios. O olhar
escuro não se desvia do meu rosto, examinando cada detalhe da
minha face.

Com a testa franzida, eu o encaro de volta, completamente


atordoada com essa visita no mínimo estranha e inconveniente.

Quem é que trata de negócios a essa hora da noite em plena


véspera de Natal?

— Creio que não será possível. Já encerrei meu expediente —


digo, com firmeza e olho na direção de seu José.

O pobre homem me fita de volta, visivelmente preocupado mas


permanece em silêncio.

— Qualquer horário ou ocasião são propícios para boas


negociações. — Sua expressão é séria quando responde, a voz
firme me faz ter a sensação de que não irei gostar do teor dessa
conversa.

— Como eu disse, já encerrei o expediente e…

— Quero comprar o restaurante! — Sou interrompida por sua


fala curta e grossa que me deixa momentaneamente sem reação. —
Posso entrar um minuto? Prometo que serei breve.
Não consigo me mover ou dizer algo enquanto ele entra no
estabelecimento sem nem ao menos esperar por uma resposta.
Acende as luzes e para no hall por alguns instantes.

Recomponho-me o mais rápido que consigo e o acompanho,


sendo seguida por seu José que vem logo atrás.

— O restaurante não está à venda — digo, em um tom severo,


completamente alarmada. — Quem é você, afinal?

O homem olha de mim para seu José e estende a mão na


minha direção.

— Tomaz Mendonça, presidente da Connection Brasil.

Por um segundo, penso estar sonhando ou que provavelmente


ouvi errado. Fico tão alarmada que não devolvo o cumprimento,
deixando o homem com a mão estirada no ar.

Ele não parece se incomodar nem um pouco com a minha falta


de modos. Simplesmente pigarreia e leva as mãos ao paletó,
ajustando a peça cara no corpo.

— Acredito que agora a senhorita saiba quem sou, afinal, foi


contatada pela minha equipe de advogados recentemente.

Sei de quem se trata, da mesma maneira como sei que este


homem é um perigo para o meu negócio. Após ser contatada por
um de seus advogados na semana passada, pesquisei um pouco
sobre a Connection Brasil e descobri que se trata de uma empresa
de tecnologia que vem se expandindo no mercado em níveis
alarmantes.

Ainda trêmula, viro-me na direção de seu José. Embora eu


confie nele, sinto que não é o momento de ter esse tipo de conversa
na frente de um dos meus funcionários.

— Seu José, pode ir descansar, este homem irá embora logo


em seguida, não se preocupe — afirmo.

— Tem certeza, filha? Eu posso ficar se quiser. — Forço um


sorriso para o senhor de idade e confirmo com um aceno de cabeça.

— Sim, tenho certeza.

Apesar da desconfiança estampada em seu semblante, seu


José assente e vai embora.

Tomando fôlego, volto-me para Tomaz e expresso toda a


minha antipatia quanto a sua tentativa de negociação:

— Sei muito bem de quem se trata, senhor Mendonça.


Acontece que já dei minha decisão final à sua equipe e volto a
repetir: o restaurante não está à venda, e se me der licença, estou
exausta. — Aponto na direção da porta com as mãos trêmulas, mas
tento manter a pose de empresária inabalável, embora por dentro
esteja completamente desesperada.

Sua expressão continua pétrea, sem nenhum indício de abalo.

— Quanto, Cecília? Qual o seu preço? — Enfia a mão no bolso


interno do paletó preto, e retira um talão de cheques.

O olhar sombrio desliza para o meu pescoço e busto, me


fazendo perder um pouco da estabilidade, mesmo que por poucos
segundos.

Prendo o casaco em volta do meu corpo com mais força,


incomodada diante a sua arrogância e análise perturbadora.
Minhas pernas tremem, não sei se de raiva pela petulância
deste homem ou pela agitação que o olhar invasor dele causa em
meu corpo.

— Pode aceitar a minha proposta ou continuar se afundando


em dívidas até ser obrigada a vender o lugar por um preço muito
abaixo do mercado. De uma forma ou de outra, cedo ou tarde, eu
serei o dono de tudo isso. Resta saber se você fará a escolha mais
inteligente e nos poupará de dores de cabeças futuras. A escolha é
sua, Cecília.
Tenho a impressão de que a garota irá explodir de raiva à
medida que a vermelhidão toma conta de seu rosto tão delicado.

Maria Cecília Venturino. Uma mulher um tanto excêntrica,


totalmente diferente do que pensei que seria quando coloquei este
lugar em meus planos de compra. É tão jovem, inexperiente demais
para assumir um negócio como este. É uma pena para ela e melhor
para mim.

A descrença em seu olhar dá lugar a um riso forçado,


carregado de desdém.

Não posso deixar de admitir o quanto essa rebeldia natural a


deixa ainda mais bonita. Contrasta perfeitamente com a expressão
angelical de seu olhar castanho e as sobrancelhas grossas. Um
componente fatal para atingir o juízo de qualquer homem, exceto o
meu.

— Irei correr o risco… senhor Mendonça — ela responde, com


uma certa indiferença no tom após alguns segundos, erguendo o
queixo em um gesto orgulhoso.

Caminha na direção de uma das mesas e vira-me as costas,


como se quisesse fugir da minha análise minuciosa. Provavelmente
está se perguntando quem seria louco o suficiente para tratar de
negócios no meio da noite, em uma véspera de Natal.
Bom, eu sou este homem. O Natal não passa de uma simples
formalidade, uma desculpa qualquer para as pessoas se juntarem
uma vez ao ano e gastar com presentes fúteis além do necessário.

— Então vê isso como um jogo? — questiono, logo atrás dela.


— Saiba que eu não jogo para perder.

Cecília não se dá por vencida, volta a me encarar friamente, as


mãos apertando o casaco contra o corpo com tanta força que
poderá rasgá-lo a qualquer momento.

— A vida não é um jogo para mim. Este lugar não é um jogo,


senhor Mendonça. Este restaurante esteve na minha família por
gerações, desde que meu bisavô migrou da Itália para o Brasil,
quando meu avô era ainda criança. — Ela se aproxima um pouco
mais, o olhar firme, a testa franzida. — Eu não dou a mínima para o
seu dinheiro!

Posso ouvir sua respiração acelerada de onde estou. Consigo


ver o subir e descer do peito agitado. Observo quando uma mecha
escura de cabelo cai sobre a pele clara de seu rosto, tenho vontade
de estender os dedos e tocar os fios, apenas para confirmar se são
tão macios como imagino.

No entanto, afasto esse mísero pensamento para longe.

Seus argumentos podem até ser convincentes, mas não são


suficientes para me fazer desistir. Não estava em meus planos
passar aqui esta noite, mas enquanto dirigia pelas ruas de
Florianópolis a caminho de casa, percurso que faço todos os dias,
notei que o restaurante estava fechado mas algumas luzes
permaneciam acesas.

Estacionei o carro do outro lado da rua e decidi esperar.


Imaginei que em breve a proprietária do estabelecimento sairia para
ir embora, mas qual não foi minha surpresa quando descobri, pelo
seu próprio funcionário, que Cecília morava ali mesmo, no segundo
andar do imóvel.

Já havia pesquisado um pouco sobre a herdeira dos


Venturinos. De início, pensei se tratar de uma patricinha leviana,
mas estando frente a frente com Cecília, concluo que a garota
possui pulso firme.

Olho em volta, observo com cuidado o restaurante que precisa


de uma reforma urgente. Não passa de um amontoado de velharias
em um ponto muito estratégico da cidade.

O novo edifício não só trará melhorias para a região, como


também abrirá centenas de vagas de emprego.

— Já parou para pensar na quantidade de pessoas que serão


empregadas aqui após a construção do edifício? — Enfio uma das
mãos no bolso da calça social e permaneço impassível.

Meu argumento não parece desestabilizá-la, pois Cecília


continua com o queixo erguido, me encarando como se eu fosse um
inseto que ela abomina. Pobre garota. Uma ovelhinha tentando
sobreviver no território de lobos.

— Pense, Cecília, todo mundo ganhará no final.

Sem perder os trilhos, a garota aponta mais uma vez na


direção da porta e dá a conversa por encerrada.

— Meu tempo acabou, senhor Mendonça. Sinta-se à vontade


para se retirar.

Não faço objeção à sua ordem. No entanto, nós dois sabemos


que essa conversa está longe de chegar ao fim.
Viro-lhe as costas e rumo na direção da porta enquanto volto a
guardar o talão de cheques, disposto a encerrar a noite, mas de
forma alguma desistirei da compra deste imóvel. Não costumo abrir
mão de algo que quero, não importam as circunstâncias.

Assim que alcanço a fechadura, paro um instante ao ter a


impressão de ouvir um barulhinho agudo vindo dos fundos do
restaurante.

Volto minha atenção para Cecília, e percebo que ela também


está atenta, olhando à sua volta.

— Ouviu isso? — questiono, já caminhando na sua direção.

— Algum gatinho ou algo assim?

Ela não parece muito convencida quando fala, o olhar incerto


desvia-se do meu e Cecília caminha por entre as mesas. Sigo logo
no seu encalço.

A parte destinada ao restaurante é um ambiente


aconchegante, porém pequeno.

Não demora muito e alcançamos a cozinha escura.

O barulho se intensifica, assemelhando-se a um choro de bebê


ou miados talvez. Não dá para definir com precisão.

As luzes da cozinha são acesas por Cecília, e seguimos os


dois na direção da porta dos fundos que dá direto a um beco escuro
e vazio, a não ser pelos sacos de lixo.

Uma chuva fina cai aqui fora, a iluminação é precária. O


chorinho sofrido agora é estridente, deixando em evidência o que eu
mais temia.

— Oh meu Deus… — Cecilia sussurra ao meu lado, assim que


finalmente confirma o que está acontecendo.

Sem se importar com a chuva, ela corre na direção do choro


estalado e eu a acompanho. Seguimos até um container de plástico
que está com a tampa erguida.

As gotas de água fria caem em meu rosto e cabelo, a chuva se


fortificando a cada segundo que se passa.

Nós nos aproximamos da abertura do container, e o que vejo


me causa um enorme rebuliço no estômago. A raiva e revolta me
devoram por dentro ao me deparar com uma pequena criança,
deitada de costas sobre um amontoado de sujeira e detritos.

O cheiro da podridão é insuportável faz minhas narinas


arderem.

— É um bebê… um pequeno bebê. — A voz de Cecília sai


trêmula, e eu não posso dizer que estou muito diferente dela.

Sem esperar mais um segundo, eu me inclino sobre o


container e alcanço a criaturinha minúscula que chora e se contorce
em desespero. Ergo o corpinho pequeno no ar e trago o bebê para
os meus braços, tomando cuidado para firmar a cabeça.

Cecília logo se aproxima e toca o rostinho da criança. A pele


sensível está gelada pelo frio, mas posso garantir pelo volume do
choro que o bebê possui pulmões fortes.

— A pele está tão fria. Coitadinho… — Rapidamente ela retira


o casaco que a envolve e cobre a criança. Em seguida, retira o bebê
dos meus braços, embalando-o com cuidado. — Shiii, pequeno. Vai
ficar tudo bem.

— Leve o bebê para dentro, vou dar uma olhada por aí, vê se
encontro… a criatura que fez isso.

O mais provável é que a pessoa responsável por essa criança


ainda esteja por perto. Meu sangue ferve nas veias só em imaginar
ficar cara a cara com o ser humano que foi capaz de cometer uma
barbárie como esta.

Com um aceno de cabeça, Cecília corre de volta para o


restaurante e eu vasculho o beco escuro. Porém, nada encontro.
Caminho até alcançar a rua iluminada, observo com atenção, mas
não vejo ninguém suspeito ou qualquer pista que me permita
encontrar o responsável.

Em pouco tempo, estou de volta ao restaurante e


completamente ensopado. Encontro Cecília sentada na cozinha com
o bebê bem embalado nos braços enquanto conversa baixinho com
ele para tentar acalmá-lo.

— É uma garotinha — ela diz, assim que eu me aproximo e


aponta para o pequeno amontoado de tecido no chão ao seu lado.
— Estava coberta apenas com esses trapos sujos.

Percebo que os olhos de Cecília se enchem de lágrimas, mas


ela os seca com uma das mãos.

— Ela precisa ser examinada por um médico — comento, já


pegando o celular para contatar o médico da família. — Pode ir
trocar de roupa se quiser, eu irei deixar a equipe médica de
prontidão, para assim que chegarmos ao hospital a criança ser
examinada.
Cecília se levanta da cadeira e troca a bebê de posição. Ela
me observa de cima a baixo como se estivesse em dúvida do que
fazer a seguir.

— Acho que consigo uma camisa seca para você. Eu… eu


moro na parte de cima.

— Obrigado.

Cecília se movimenta para ir se trocar e eu a sigo enquanto


espero a chamada ser atendida. Em alguns instantes, estou na sala
de sua casa falando ao telefone enquanto espero por ela e a
criança.
De repente as coisas mudam de lugar, e o que era para ser
uma noite de descanso sozinha em meu sofá se transforma em um
verdadeiro vendaval.

Em um minuto, estou prestes a expulsar o milionário arrogante,


Tomaz Mendonça, do meu restaurante e no outro, estou com um
bebê nos braços, me segurando para não chorar tamanha é a dor
que sinto no peito.

Subo as escadas às pressas, sendo seguida pelo meu inimigo


declarado, mas isso é a última coisa que me importa agora. Deixo
Tomaz me aguardando na sala de visitas e vou para o meu quarto
com a bebê, agora mais calma, aninhada ao meu corpo.

Eu a deito na minha cama de casal e retiro meu casaco


molhado que cobre seu corpinho. Percebo que ela acabou de fazer
xixi, então eu a seco com uma toalha macia e limpa, tomando todo o
cuidado do mundo.

— E agora, bebê? O que vou fazer com você? — murmuro


baixinho, fitando as bochechas rosadas, e o cabelinho ralo em sua
cabecinha. É uma criaturinha tão linda.

Volto a cobrir a criança com uma manta macia e não deixo de


notar que o umbigo já está cicatrizado. Concluo que ela deva ter por
volta de um mês de vida. Talvez menos.
Meu coração se parte um pouco mais. Não consigo
compreender como alguém teve tanta frieza para abandonar um
bebê inocente naquelas condições. Coloco a bebê bem embalada
no centro da cama, e corro para trocar de roupa. Opto por uma
calça confortável de tecido canelado e blusa de mangas do mesmo
material.

Com a bebê de volta aos meus braços, corro até o quarto que
era dos meus avós e pego uma camisa do meu avô, a maior que
encontro. Por sorte, ainda não tive coragem de me desfazer da
maioria das roupas de nenhum dos dois.

Assim que chego à sala, encontro Tomaz Mendonça já sem o


paletó, vestido apenas com uma camisa social escura. O tecido
molhado cola em seu peito forte, deixando os músculos em
evidência.

— Acho que isso pode te servir. — Entrego a camisa de


mangas a ele, e o homem assente.

Finjo que não fico momentaneamente chocada quando ele


retira a camisa social, substituindo o tecido ensopado pela roupa
seca que acabei de trazer.

Seus movimentos são ágeis, mas é tempo suficiente para que


eu analise os músculos bem-definidos do peito e os poucos pelos
que cobrem seu abdômen.

O corpo bem torneado, junto à sua estatura grande e a barba


cerrada lhe dão um ar de homem implacável, poder e requinte.

Sinto a garganta seca, mas desvio o olhar rapidamente ao


perceber que estou encarando o homem além do normal.

— Vamos! — ele diz, me chamando de volta à realidade.


Pigarreio baixinho, pego as chaves e o sigo porta a fora.

— Como a pequena está? — questiona, enquanto descemos


as escadas às pressas.

— Aparentemente bem, o umbigo está cicatrizado e seco.


Acho que isso é um bom presságio.

— Ótimo! — responde e volta a ficar em silêncio.

Chegamos em seu carro alguns minutos depois de eu verificar


a fechadura da porta principal. Uma fina garoa ainda cai, mas por
sorte, não é suficiente para molhar a menina que está em meus
braços e bem agasalhada dentro da manta.

Eu me acomodo com ela no banco detrás do carro de luxo de


Tomaz Mendonça. Mantenho o corpinho da criança bem próximo ao
meu para que ela sinta que está segura. A menininha continua
inquieta, mas o choro já não é tão estridente quanto há alguns
minutos.

— Prontas? — Tomaz questiona assim que liga o automóvel e


observa a nós duas pelo retrovisor.

— Sim — confirmo.

O carro se movimenta e eu volto toda a minha atenção para a


bebezinha. Ajeito o tecido que a cobre com cuidado para que ela
não sinta frio e acabo segurando a mãozinha pequena no processo.

A garotinha segura meu dedo com tanta força que fico


impressionada.
Um sorriso triste escapa dos meus lábios e meu coração se
aperta mais. Ela volta a chorar, está agoniada. Segura uma parte do
cobertor e leva à boca, fazendo movimentos de sucção.

— Shiiii… tá tudo bem, pequena.

Retiro a manta de suas mãozinhas e acaricio a pele delicada


de seu rosto. Ela se acalma um pouco e vira o rostinho na direção
da minha mão. Volta a abrir a boquinha em busca de alimento.

— Está faminta, não é? — sussurro para ela, o coração partido


de angústia.

Ao perceber que sua fome não será saciada, ela volta a chorar
a plenos pulmões, o rostinho ficando vermelho pelo esforço.

— Não chore, querida. Não chore.

Firmo seu corpo em meu peito, deixando seu rostinho rente ao


meu ombro enquanto seguro a cabecinha por trás.

Continuo ninando-a, sussurrando baixinho.

Em algum momento, me recordo de uma canção de Natal que


vovó adorava cantar para mim nesta época do ano quando eu era
criança, para me fazer dormir.

Não penso muito, apenas começo a cantar para ela.

Bate o sino pequenino


Sino de Belém
Já nasceu o Deus menino
Para o nosso bem
Paz na Terra pede o sino
Alegre a cantar
Abençoe Deus menino
Este nosso lar

Hoje a noite é bela


Juntos eu e ela
Vamos a capela
Felizes a rezar
Ao soar o sino
Sino pequenino
Vai o Deus menino
Nos abençoar

Repito o refrão algumas vezes enquanto acaricio os cabelinhos


de sua nuca.

Não sei se pela exaustão, mas a garotinha pouco a pouco vai


se acalmando e acaba dormindo em meus braços.

Ergo a cabeça e encontro o olhar de Tomaz Mendonça pelo


retrovisor. As íris escuras me analisam com atenção por alguns
segundos, e ele dá um aceno sutil com a cabeça, logo depois volta
a atenção para a rua à sua frente.

Em pouco tempo, chegamos a um dos melhores hospitais de


Florianópolis.

Tomaz me apresenta ao diretor do hospital, seu médico de


confiança, doutor Roberto Farias e seguimos para a ala pediátrica.

A bebê é logo atendida por um médico pediatra e toda a sua


equipe. Tudo acontece de maneira tão rápida que mal consigo
acreditar na agilidade do processo.

Enquanto a criança é examinada, o doutor Roberto nos explica


as etapas que deverão ser seguidas a partir de agora. A primeira
delas é contatar o serviço social para se responsabilizar pela
segurança da menina até que algum parente seja encontrado, do
contrário, ela será encaminhada para um abrigo para que possa
entrar na fila de adoção.

Algo bem lá no fundo, o meu peito se aperta quando olho para


a bebezinha que está sendo examinada em cima da maca. O
chorinho estridente ecoa em cada uma dessas paredes, as
mãozinhas sendo levadas à boca em uma tentativa falha de aplacar
a fome.

Penso nos momentos que tive com meus avós após a morte
dos meus pais. Eu estava triste, sentia-me angustiada, mas jamais
fui deixada de lado ou abandonada por quem deveria me proteger.

Uma lágrima teima em escorrer, mas eu a seco com os dedos,


antes que transborde.

Sinto os olhos de Tomaz sobre mim e eu o fito de volta. Sua


expressão continua imperturbável, é como se ele não possuísse
sentimentos, apesar disso, sei lá no fundo que isso não passa de
uma máscara. O homem também está tocado pelo que
presenciamos com a criança, é notório em cada uma de suas
atitudes.

— A menina está saudável e os pulmões são bem fortes. — A


voz do pediatra me chama de volta à realidade e eu o encaro. — Foi
uma grande sorte ela ser encontrada a tempo. Poderia ter
desencadeado uma pneumonia se tivesse ficado muito tempo na
chuva.

— Graças a Deus, doutor. — Respiro aliviada, embora ainda


sinta meu corpo tremer um pouco. — Obrigada.
— É uma garotinha forte. Está com alguns hematomas nas
costas devido ao local que foi deixada antes de vocês a
encontrarem, mas não é nada preocupante.

— E quantos dias de vida ela tem? — Tomaz, que até então


continuava a conversar com o doutor Roberto, se aproxima e
questiona ao pediatra.

— De vinte a trinta dias no máximo — o doutor responde às


nossas perguntas com tranquilidade, desfazendo qualquer dúvida
sobre a saúde da menina.

Quando o médico sai, eu me viro para caminhar até a


enfermeira que agora está colocando uma fralda descartável na
garotinha, mas sinto a mão de Tomaz em meu ombro, me impedindo
de seguir.

— O que fará agora? — ele pergunta de forma direta e só


agora percebo o impasse no qual me encontro.

A verdade é que eu não sei o que fazer. O certo é que ela fique
aqui sobre os cuidados dos profissionais da saúde até que a
assistência social venha averiguar o caso. Mas… quando eu me viro
para aquele ser humaninho tão pequeno, não consigo me imaginar
deixando a menininha em um hospital na noite de Natal, como se
ela fosse um objeto que pode ser deixado por aí, sem que ninguém
se importe.

— Eu gostaria de passar o Natal com ela em casa —


finalmente digo a ele, embora não tenha certeza se isso será
possível. — Ela é só uma bebê, Tomaz, e… é Natal.

Fito seus olhos escuros e o homem me encara de volta. A


expressão austera indica que não está totalmente de acordo com a
minha resposta. No entanto, não contesta minha decisão.
— Vou falar com o doutor Roberto. Você pode verificar com a
enfermeira tudo que irá precisar para cuidar da menina durante o
feriado.

Surpresa é o sentimento que mais me domina agora. Estou


completando em choque pela atitude dele. Pelo visto, o homem tem
seus momentos de ogro desalmado, salpicados com um pouquinho
de amor no coração e muita influência para conseguir o que deseja.

Apesar da gratidão, não consigo deixar o momento passar em


branco sem desafiá-lo.

— Estou impressionada. — Arqueio uma sobrancelha


brevemente e curvo os lábios em um sorriso aprazível.

Tomaz não responde à minha fala, mas posso notar um brilho


de diversão em seu olhar misterioso. Logo depois, ele retorna a
conversa com o diretor do hospital e eu sigo até a enfermeira que
está com a menininha no colo.

Cerca de duas horas depois, estamos de volta à minha casa


com tudo que irei precisar para passar a noite com a pequena.

No caminho de casa, Tomaz estacionou o veículo em uma


farmácia 24 horas e comprou alguns pacotes de fraldas e produtos
de higiene, como também várias latas da fórmula que o pediatra
havia receitado.

A pequena está quietinha agora, usando um conjuntinho


branco de calça e body de mangas que a enfermeira conseguiu para
ela na ala pediátrica.

Assim que entramos, me acomodo com ela em uma poltrona e


a nino um pouco antes de me dirigir à cozinha para preparar a
mamadeira. Tomaz se senta no sofá logo à minha frente, as mãos
cruzadas na frente do corpo.

Ele está silencioso. É um homem calado, observador. Analisa


tudo à sua volta antes de dizer alguma coisa.

— Os olhos dela são escuros… — comento, sorrindo.

A bebê se espreguiça toda manhosa em meu colo e volta a


fixar os olhinhos em meu rosto. Sua pele é tão clarinha quanto
porcelana, as bochechas gordinhas.

— Como iremos chamá-la? — pergunto e levanto o olhar para


Tomaz Mendonça, sentindo o peito inchado de amor pela menina.

Há uma certa surpresa em sua expressão diante a minha


pergunta. O homem descruza as mãos e apoia uma delas no
encosto do sofá, o corpo tenso.

— Eu não sei, Cecília… — Seu olhar se desvia para a


garotinha e eu viro a posição do seu corpinho para que seu rosto
fique de frente para ele.

— Que tal Sophia? É tão delicado quanto ela — sugiro,


sorridente.

Quase posso imaginar que vejo as linhas de seus lábios se


curvarem em um riso suave, mas logo afasto essa impressão.

— É um bom nome — responde.


Acaricio as bochechas dela suavemente e faço barulhos com a
boca para chamar a atenção da criança.

— Agora você vai se chamar Sophia, meu amor. O que acha,


hein?

A bebê resmunga voltando a ficar agitada. Pelo visto, ainda


está faminta, apesar de ter tomado um pouco de leite no hospital.

— Como você é comilona, Sophia. — Eu me levanto e


caminho com ela na direção de Tomaz. — Pode ficar com ela um
minuto? Irei preparar a mamadeira.

— Sim, claro.

Entrego Sophia para ele e o homem a segura com cuidado,


embora seus movimentos sejam desajeitados.

— Prometo que não irei demorar — digo a ele.

Tomaz concorda com um aceno de cabeça e eu pego as


sacolas que ele havia deixado sobre a mesa de centro da sala.
Tento seguir à risca todas as recomendações da enfermeira e
começo fazendo a higienização da chuquinha e o bico com água
fervente.

Com a mamadeira pronta, retorno para a sala e encontro uma


das cenas mais lindas que provavelmente irei presenciar em toda a
minha vida. Sophia está com as duas mãozinhas na boca, chupando
os dedos com certa impaciência enquanto Tomaz sussurra baixinho
para ela. Os dedos dele acariciam os cabelinhos da testa da menina
e a segura firmemente com o outro braço, deixando o corpinho bem
rente ao seu peito.
Se eu não tivesse acabado de conhecer este homem, sabendo
que ele é meu inimigo declarado, esta, com certeza, seria o tipo de
cena que me faria derreter no chão.

Pigarreio ao me aproximar e o homem volta a se recompor no


sofá.

— Ela deu muito trabalho? — pergunto e me sento ao lado


dele. Confiro a temperatura do leite nas costas da minha mão e levo
o bico da mamadeira à boquinha dela.

— Não. Ela é uma boa menina. Só está faminta.

Sophia resiste um pouco até conseguir pegar o bico da


chuquinha.

Molho seus lábios com um pouco do leite e volto a insistir. Não


demora muito e ela já está tomando a fórmula com tanto gosto que
não consigo segurar um riso contente.

Sophia dorme antes de terminar o último gole de leite que


resta na chuquinha. Eu me levanto e a pego dos braços de Tomaz
para fazê-la arrotar como a enfermeira havia demonstrado.

Dou alguns passos na direção do quarto, mas me viro no meio


do caminho para informar ao homem que retornarei em um
segundo.

— Volto logo… — murmuro para não a acordar, Mas também


não quero que ele vá embora sem que eu o agradeça por tudo que
fez para me ajudar com Sophia. — Fique à vontade.

— Obrigado!
Mais uma vez nossos olhares se encontram e sinto um arrepio
na nuca que desce devagar até alcançar minha espinha. O homem
não desvia sua atenção um único segundo do meu rosto, me avalia
com cuidado, as íris sombreadas e profundas.

Com um suspiro confuso, eu me viro e sigo para meu quarto.

Assim que ela arrota, deixo Sophia no centro da cama para


que não ocorra riscos de a bebê cair, coloco alguns travesseiros em
volta de seu corpo e a embrulho com um cobertor macio da cintura
para baixo.

Apago a luz e retorno à sala para conversar com Tomaz e


agradecer a ele por tudo.

Para a minha total surpresa, encontro o homem dormindo com


a parte de cima do corpo apoiada no encosto do sofá, uma almofada
firmando a cabeça.

Penso em acordá-lo, mas concluo que é melhor não fazer isso.

Retorno ao quarto e confiro as horas, constando que já se


passa de uma hora da manhã. Está tarde e muito frio lá fora.
Imagino que Tomaz esteja exausto, assim como eu.

Pego um cobertor fino e cubro seu corpo, tomando cuidado


para não o acordar.

Antes de sair, no entanto, eu o observo mais uma vez,


completamente incrédula com todos os acontecimentos da noite,
mas principalmente grata por ter tido a chance de salvar a vida
daquela garotinha. Grata por Tomaz Mendonça ter me apoiado em
tudo.
Respiro fundo e concluo que esta é uma trégua bem-vinda.
Quando Sophia estiver aos cuidados da assistência social, nós dois
estaremos de volta ao primeiro impasse: seu interesse na compra
do meu restaurante e a minha total recusa em o vender.
Acordo desnorteado após ter a impressão de ouvir um choro
de bebê e abro os olhos lentamente, me deparando com a
escuridão que toma o espaço.

Ainda confuso, levo a mão à nuca e a massageio. Sinto a


região tensa, o pescoço rígido e levemente dolorido.

Olho à minha volta até me acostumar um pouco com a


escuridão, e só então constato que não estou no meu quarto, e sim
no sofá da casa de Cecília. Em algum momento, enquanto a
esperava colocar a bebê na cama, acabei adormecendo.

— Merda… — xingo baixinho e arrumo a postura no sofá.


Todos os meus músculos se contraem devido à posição nada
confortável em que adormeci.

Ouço sussurros vindos na direção do que imagino ser o quarto


dela, e logo depois o chorinho angustiado da menina explode no ar.
Pouco a pouco, consigo identificar a voz calma de Cecília ninando a
pequena para tentar acalmá-la.

Pego meu celular no bolso da calça e confiro as horas,


notando que já se passa das quatro horas da manhã. O cansaço é
constante em meu corpo, um bocejo me invade, mas acabo
afastando o lençol fino que me cobre e me levanto do sofá. Caminho
na direção do quarto que ouço o choro da pequena Sophia. Bem
lentamente bato na porta.
— Cecília? — chamo.

Ouço passos se aproximando, e em poucos segundos, a porta


é aberta e uma Cecília sonolenta aparece à minha vista. Uma fraca
luz invade o corredor, vindo de um abajur próximo à cama de casal.

Seu olhar cansado não deixa dúvidas de que a mulher não


dormiu muito bem.

A bebê está inquieta em seus braços, o rostinho vermelho pelo


choro.

— O que aconteceu? — questiono e me aproximo mais das


duas.

Cecília pisca algumas vezes como se estivesse confusa, mas


dá um passo para o lado para permitir que eu entre.

— Ela está inquieta e bastante enjoadinha. A enfermeira disse


que Sophia poderia ter cólicas à noite, mas não tenho certeza sobre
isso — diz baixinho, o tom calmo, porém com um fundo de
preocupação.

— E o que podemos fazer? — questiono um pouco espantado


com o quanto a bebê se contorce nos braços de Cecília.

Cecília continua balançando a menina, sussurrando baixinho,


está aflita.

— Já fiz massagem na barriguinha dela… mas parece não ter


adiantado muito.

— Vou ligar para o doutor Roberto. Só um minuto.


Nem sequer espero uma resposta de Cecília. Pego o celular e
saio do quarto para contatar o médico.

Na segunda tentativa o homem atende, sonolento, mas assim


que me identifico, ele logo se recompõe e eu o coloco a par do que
está acontecendo. O médico explica que as cólicas são normais
nessa fase da vida da criança e me passa algumas dicas para aliviar
o desconforto.

Em um minuto estou de volta ao quarto de Cecília.

— Ele sugeriu uma compressa morna e depois você pode


descansar a barriguinha dela contra sua — informo.

Cecília assente com a cabeça e me mostra onde ficam as


toalhas e a cozinha.

Quanto retorno ao quarto com a toalha úmida em água morna,


encontro Cecília trocando a fralda de Sophia.

Ela faz uma massagem circular na barriguinha da menina


assim que termina de pôr a fralda e eu me aproximo.

Entrego o tecido para ela e cruzo os braços, observando cada


detalhe.

Nunca fui muito adepto a crianças. Para ser sincero, ser pai
nem sequer passou pela minha cabeça em algum momento, mas ter
encontrado essa garotinha da maneira como a encontramos, além
de ter aflorado meus nervos, me deixou mexido com a situação.

É impossível não sentir raiva pelo que fizeram a um bebê, e ao


mesmo tempo não admirar Cecília por dedicar seu tempo e sua tão
merecida noite de sono para cuidar de uma criança que ela acabou
de conhecer.
Sophia se acalma um pouco assim que Cecília coloca a
compressa morna em sua barriga. A mulher ergue a criança e a
segura firmemente contra o peito, embalando a bebê com os
braços.

— Prontinho, princesa. Vai passar, meu amor… — ela


murmura para a menina e caminha com ela pelo quarto.

— Você leva jeito com criança… — comento, enquanto


observo as duas.

Cecília assente para mim e a curva de um sorriso surge em


seus lábios.

O brilho que há em seus olhos é um contraste com o cansaço


visível, e o fios emaranhados de seu cabelo não diminui em nada a
beleza clássica de seu rosto.

— Sempre gostei de bebês. Uma das minhas funcionárias tem


um garotinho de dois anos e eu já cuidei dele algumas vezes
quando estava novinho.

Concordo com um aceno e faço uma rápida vistoria pelo


quarto. É um ambiente aconchegante, porém um pouco apertado. A
cama de casal toma a maior parte do espaço.

Cecília caminha até a janela e eu me pego observando os


traços de suas costas. A forma como o tecido da calça agarra o
bumbum redondo. O sangue começa a correr mais rápido pelo meu
corpo, minha boca fica seca de repente. Imagens lascivas passam
pela minha cabeça. Imagino como seria tocar sua pele, descer a
mão até esse traseiro lindo.
A excitação começa a me invadir apenas pela proximidade
com ela. Tudo fica carnal demais, intenso. Eu me excomungo
baixinho e desvio o olhar do seu traseiro. Irritado comigo mesmo,
caminho na direção da porta decidido a encerrar o expediente, ao
menos por enquanto.

— Eu já vou. O dia vai amanhecer em breve… — justifico.

Cecília volta a sua atenção para mim, ajeitando Sophia nos


braços.

A bebê está dormindo agora, tão serena quanto um anjinho.

— Obrigada por tudo, Tomaz. — Seu semblante está mais


calmo, embora haja uma sombra de pesar em seu olhar enquanto
me fita.

Assinto para ela e continuo andando. Quando estou quase


saindo porta afora, paro no meio do caminho:

— Passo aqui amanhã em algum momento para ver a menina.

— Estarei à sua espera. Feliz Natal.


Acordo por volta das seis horas da manhã com os resmungos
da pequena Sophia ao meu lado.

Viro-me de lado, ficando de frente para ela, enquanto meus


olhos estão quase se fechando de tanto sono. Ela está chupando os
dedos, os bracinhos e as perninhas inquietos.

Sorrio para ela completamente apaixonada pela garotinha.


Chega a ser assustadora a rapidez com que eu me apeguei a essa
pequena em tão poucas horas. Felizmente os bebês têm esse poder
extraordinário. Eles nos cativam em menos de um minuto, e quando
percebemos, já não há mais volta e o coração está inchado de
amor.

— Bom dia, Sophia.

Levo a mão ao seu rostinho para sentir a pele macia contra a


minha, e logo a mágica acontece. Sophia vira a cabecinha na
direção dos meus dedos já abrindo a boquinha em busca de leite, os
gritinhos a cada segundo mais irritados por não conseguir o que
deseja.

Sorrio toda boba, embora saiba que se eu não me apressar,


ela irá abrir o berreiro em breve, eu me espreguiço na cama e em
seguida, me levanto para pegar uma fralda e fazer a troca da
pequena.

Com Sophia já sequinha, sigo com ela para a cozinha e


preparo a mamadeira.

Sento-me com a garotinha no sofá e a alimento com calma até


que esteja satisfeita. Nino-a um pouco, acaricio seus cabelos. Fico
com ela no colo aproveitando cada segundo do curto tempo que
temos juntas.
Assim que ela volta a dormir, pego um colchonete e coloco
sobre o tapete da sala. Monto uma espécie de ninho com lençóis e
deixo a bebê ali enquanto tomo um banho de gato e preparo algo
rápido para o café da manhã.

As horas passam depressa à medida em que me mantenho


ocupada com a arrumação da casa e a limpeza da louça. Sophia
acorda algumas vezes mas não faz alarde. Continua quietinha sobre
os lençóis, às vezes resmunga quando a fralda está cheia ou sente
fome, mas não passa disso. Perto das dez da manhã, ouço o
barulho da campainha e me apresso a atender, antes que o barulho
acorde a menina que acabou de adormecer novamente.

Meus passos são tão apressados que mal tenho tempo para
imaginar de quem se trata. Abro a porta e dou de cara com Tomaz
Mendonça de banho tomado e bem vestido e com camisa social
branca. Os cabelos ainda úmidos.

— Oi… bom dia — cumprimento, totalmente surpresa. Não


pensei que ele apareceria por aqui tão cedo, ainda mais depois da
noite agitada que tivemos.

— Bom dia! — Sou alvo de sua rápida análise, mas logo o


homem desvia a atenção para a pequena Sophia.

Dou um passo para o lado, permitindo que Tomaz entre, e


fecho a porta. Ele caminha sutilmente até o sofá e se senta de frente
para a menina.

— Como ela está?

Eu me sento na poltrona e respondo sua pergunta da forma


mais técnica possível, apesar do nervosismo que me toma em o ter
mais uma vez na minha sala:
— Ela está bem. Acordou animada, dormiu, mamou. É um
amor de criança.

Cruzo as mãos uma na outra para tentar me acalmar e fingir


que não estou nitidamente nervosa. Ainda é difícil para meu cérebro
assimilar a presença deste homem aqui, e principalmente, que
temos um interesse em comum agora.

— Pensei em levar vocês ao shopping para comprar algumas


roupas para ela. — Ele vai direto ao ponto. Pelo visto não há rodeios
ou dúvidas quando o assunto é Tomaz Mendonça.

Levo a mão ao meu pescoço, um pouco sem jeito em aceitar.


Era exatamente isso que eu tinha em mente para fazer mais tarde,
só não sabia ainda como faria para ir ao shopping com uma bebê e
voltar cheia de sacolas sem ajuda.

— Tem certeza? Eu não quero incomodar — esclareço, mas


ao mesmo tempo torço para que o homem não mude de ideia. Não
quero parecer uma aproveitadora, mas também não posso recusar
ajuda.

— Sim, eu tenho certeza.

— Tudo bem. Me dê apenas um minuto para trocar de roupa e


preparar as coisas dela.

Corro ao quarto e opto por uma calça jeans básica e camiseta,


já que amanheceu sem chuva, o sol está brilhando no céu e faz um
pouco de calor a essa hora da manhã.

Sophia ainda dorme quando saímos com ela e seguimos para


o carro de Tomaz. Para a minha total surpresa, há um bebê conforto
já instalado no banco de trás.
— Pensei que seria necessário — ele se justifica assim que
percebe a confusão estampada em meu semblante.

Apesar do meu espanto, devo admitir que a atitude de Tomaz é


no mínimo responsável, então decido não fazer nenhuma pergunta,
muito menos demonstrar o quanto estou chocada com toda a
atenção que ele está destinando a ela.

— Sim. É claro!

Coloco a menina no bebê conforto, tomando cuidado para


prender o cinto de forma correta. Penso em ir com ela no banco de
trás, mas mudo de ideia quando percebo que Tomaz me espera com
a porta do carona aberta.

Em pouco tempo, chegamos ao shopping. As ruas estão pouco


movimentadas devido ao feriado e o trânsito é quase inexistente.
Tomaz retira o bebê conforto do carro e eu fico responsável em
carregar minha bolsa com as coisas de Sophia.

É no mínimo intrigante olhar para este homem tão frio


carregando um bebê conforto com uma bebezinha dormindo em seu
interior, com tamanho cuidado. Noto a atenção das mulheres em
Tomaz e o quanto seus olhares brilham quando veem a bebê.
Quase posso imaginar os pensamentos que se passam em suas
cabeças: Mamãe ama, mamãe cuida.

Sorrio internamente com o ritmo idiota dos meus pensamentos


e apresso o passo para andar lado a lado com Tomaz. O restante da
manhã passa voando em meio às compras.

Sophia ganha de tudo. Desde roupinhas do dia a dia a vestidos


e conjuntinhos sofisticados, laços para o cabelo, sapatos e mantas.
Até mesmo um Papai Noel de pelúcia está incluso no pacote,
junto a uma árvore de Natal e alguns enfeites que decidi comprar de
última hora para pôr na sala da minha casa.

Retornamos para casa perto do meio-dia. Dou um banho


morninho na bebê usando a banheira que Tomaz comprou e
aproveito a presença dele para lavar algumas roupinhas enquanto o
homem dá a mamadeira de Sophia.

Começo a preparar uma massa para o almoço com molho


caseiro de tomate e à medida que o molho engrossa no fogo baixo,
corro até a sala para montar a árvore e colocar os enfeites.

Em pouco tempo a mesa está posta. Não é um grande


banquete de Natal, mas me sinto tão animada como se fosse.
Após o almoço, ajudo Cecília com a pequena Sophia e me
preparo para ir embora.

A garotinha está acordada agora, usando um conjunto verde


sem mangas, com lacinho também verde no cabelo. Cecília sorri de
orelha a orelha enquanto conversa com a menina no colo, de frente
para a árvore de natal que ela comprou no shopping.

É uma bela cena, não nego. Tem sabor de aconchego e


segurança, digna de um dia de Natal. Embora eu não dê muita
atenção para natais, devo confessar que é gostoso observar uma
linda e deliciosa mulher sentada no sofá da sala com uma criança
nos braços, enquanto sinto o estômago satisfeito após uma boa
refeição. O sol brilhando lá fora após uma noite de chuva, a
decoração simples que ela fez às pressas para o dia não passar em
branco.

— Irei para casa agora — comunico, chamando a atenção de


Cecília para mim.

A mulher ergue a cabeça para me fitar e pigarreia baixinho.

— Ainda é cedo, Tomaz… Quer dizer, hoje é Natal… —


Percebo que ela se embaralha um pouco com as palavras, mas
entendo o recado velado pedindo para que eu fique mais um pouco.
Apesar de estar tentado a ficar, não creio que seja sensato da
minha parte.

Convenhamos que essa trégua tenha feito bem para nós, mas
será passageira. Não faz sentido eu estreitar os laços de uma
relação amigável que possui os dias contados para chegar ao fim.

— Tenho assuntos a resolver. — Levanto-me e fico em pé de


frente para ela. Toco a cabecinha de Sophia. — Passo aqui amanhã
para levarmos a menina à assistência social.

Cecília concorda com um aceno, porém não é alívio o que vejo


no fundo dos seus olhos. Há uma certa tensão ali.

— Nos vemos amanhã, então.

A mulher se levanta firmando a bebê contra seu peito.

Caminhamos os dois na direção da porta.

— Tchau, pequenina… — Seguro a mãozinha da criança por


alguns segundos e em seguida olho para Cecília.

A mulher me encara seriamente e mordisca os lábios,


chamando toda a minha atenção para essa região do seu rosto.

— Tchau, Cecília… — eu me despeço com um murmúrio, mas


a única coisa que meu cérebro capta é o quanto seus lábios são
cheios e avermelhados.

— Tchau, Tomaz… — A língua úmida desliza pelos lábios e eu


ofego baixinho. A vontade de sentir o sabor dela vem forte.

Não penso muito quando ergo a mão e toco o rosto de Cecília,


deslizando os dedos pelo queixo delicado. Sinto o estremecimento
do seu corpo, mas ela não recua, também não desvia o olhar do
meu. Parece estar sob o mesmo efeito da atração que me domina.

Sua boca está tão perto da minha agora, posso sentir sua
respiração morna em meu rosto, posso ouvir as batidas fortes de
seu coração. Contudo, usando toda a força de vontade que há
dentro de mim, eu me afasto.

— Até amanhã… — digo, baixinho, a voz rouca de desejo.

Eu me afasto de Cecília e vou embora, o pau doendo dentro


da calça a cada passada que dou para descer as escadas. Até
mesmo a lembrança do cheiro dela que há poucos segundos inunda
os meus sentidos, faz o desconforto aumentar dentro da cueca e eu
gemo baixinho completamente duro.

O Natal passou como num passe de mágica e levou toda a


minha alegria com ele.

As ruas de Florianópolis ainda estão enfeitadas e alegres, mas


meu coração está triste e abatido, a cada segundo mais apertado, à
medida que nos aproximamos do centro de assistência social.
Sophia dorme calminha em meus braços. Está tão linda,
usando um vestidinho azul e sapatos da mesma cor. Digo para mim
mesma que será o melhor para ela, que a menina poderá ter a
chance de ser adotada por uma família bem estruturada, que ela
terá tudo o que uma criança merece, mas a quem quero enganar?

Tudo que quero para Sophia é que ela fique comigo. Mas
como fazer isso se eu mal consigo cuidar de mim mesma e das
minhas contas?

Desvio o olhar para as ruas de Florianópolis enquanto o carro


de Tomaz faz o percurso tão temido. Sinto as mãos trêmulas, o rosto
suado. Para meu total desespero, o centro de assistência é mais
próximo do que imaginei. Em questão de minutos, estamos em uma
sala de espera aguardando para sermos atendidos.

Tomaz está quieto, pouco nos falamos no caminho até aqui,


mas sinto seu olhar sobre mim continuamente.

— Vai dar tudo certo, Cecília. — A voz dele quebra o silêncio e


eu tento colocar em minha cabeça que sim, que tudo dará certo.

— Sim, eu sei que vai — confirmo e forço um sorriso. Contudo,


meu sorriso não parece ser tão convincente, pois Tomaz suspira
fundo.

Seus dedos deslizam pelo meu rosto e fecho os olhos,


agradecida pelo conforto que eu tanto ansiava. Percebo os cílios
molhados.

— Cecília… — o homem sussurra meu nome, sua voz sai


pesarosa.

Volto a abrir os olhos e o encaro. Uma lágrima desliza pelo


meu rosto, por mais que eu tente segurar.
— Desculpe, é que… — Olho para a bebê nos meus braços.
Tão linda, tão pequena…

— Você se apegou a ela. Eu entendo, não se preocupe.

Concordo com um aceno e mais lágrimas deslizam pelo meu


rosto.

— Vai ser difícil me separar dela. Não consigo parar de pensar


se ela será bem cuidada, se tomará a mamadeira na hora certa, se
terá alguém para niná-la quando chorar. — Seco meus olhos com a
mão livre e tento sorrir. — Estou parecendo uma mamãe babona e
ela nem é minha.

Tomaz continua analisando a situação. O olhar impassível


capta cada detalhe do que acontece. Vergonha me toma dos pés à
cabeça por chorar assim na frente dele, porém é impossível me
manter neutra quando meu coração está rendido de amores pela
criança.

— Me desculpe, eu sou uma boba… — digo, baixinho


enquanto tento me recompor.

Eu, mais que ninguém, sei o quanto a minha situação é


complicada. Mesmo se eu quisesse, seria quase impossível
conseguir adotar Sophia.

— Não se desculpe. Eu entendo.

Balanço a cabeça em concordância e aproximo a menina um


pouco mais de mim.

Em alguns minutos, somos chamados.


Apesar do centro estar quase vazio, o atendimento é
demorado devido ao quadro de funcionários estar reduzido por
causa do recesso de fim de ano. Eu me sento em uma cadeira com
Sophia e Tomaz se senta ao meu lado, segurando a bolsa com as
coisas dela.

A atendente é simpática, embora esteja sobrecarregada de


serviço.

Tomaz explica toda a situação para ela, deixando em ênfase


quem é ele e como a menina vem sendo cuidada desde que foi
encontrada. A mulher olha de mim para a criança, nitidamente
surpresa e em seguida, volta sua atenção para Tomaz.

— Então o senhor é Tomaz Mendonça? O presidente e dono


majoritário da Connection Brasil?

— Sim — confirma de forma casual, como se não fosse um


dos homens mais ricos do país carregando uma bolsinha de criança
cor-de-rosa. — Como disse, a menina foi encontrada em um
container, mas já foi examinada por um pediatra e está saudável,
como consta no relatório que te entreguei.

A mulher folheia os documentos, confirmando a informação


passada por Tomaz e volta a fazer mais algumas perguntas sobre o
ocorrido, por fim, agradece o homem pelas doações da Connection
Brasil há vários institutos e abrigos de Florianópolis.

Olho para o homem completamente surpresa e tocada. Ele


continua sério, mas agora não consigo vê-lo como um carrasco sem
coração.

— Bom, senhor Tomaz, a menina será encaminhada para um


abrigo temporário até que algum parente seja encontrado, do
contrário, ela entrará na fila de adoção — informa a funcionária.
Ouço a fala da mulher e sinto o peito se apertar mais. Meu
coração dói só de imaginar entregar a menininha para alguém que
não conheço.

— Eu gostaria de ficar com a guarda dela até que tudo seja


resolvido. — A declaração de Tomaz me faz erguer a cabeça para
fitá-lo, meu coração quase sai pela boca.

Os olhos da mulher se arregalam em surpresa, está


nitidamente chocada com a afirmação dele, assim como eu.

— Bom, creio que… creio que isso não será possível, o senhor
sabe como funcionam essas coisas aqui no Brasil…

— Sim. Estou ciente. Mas acredito que possam abrir uma


exceção para este caso, estou certo?

A mulher analisa a menina em meus braços por alguns


instantes, em seguida, volta a sua atenção para Tomaz.

A expressão dele é tão dura quanto o aço. Há determinação ali


em cada nervo e músculo de seu corpo.

Após alguns minutos de silêncio na sala, ela volta a falar:

— Bom… Estamos em recesso de final de ano e como podem


ver, a assistência social está atendendo apenas emergências devido
ao número reduzido de funcionários. Então acaba que ficamos
sobrecarregados… — Após uma curta pausa ela continua: — Neste
caso, como a garotinha vem sendo bem cuidada, acredito que não
terá problemas se ela ficar com vocês até que os serviços públicos
voltem ao normal.
Mal posso acreditar no que acabo de ouvir. A alegria me toma
por dentro e o alívio que sinto faz meu peito transbordar de pura
felicidade.

Olho para a mulher que agora busca algumas fichas para


serem preenchidas e encaro Tomaz. A verdade é que a influência
dele, por sem quem é, e o fato de ser um importante contribuidor
aos serviços sociais é que tornaram essa barganha possível.

Meus olhos marejam de gratidão, mas não irei chorar agora.


Acredito que já esgotei minha cota de manteiga derretida para o
resto do ano.

— O senhor e sua namorada podem assinar aqui. — Ela


aponta para duas linhas em um documento sobre a mesa.

Abro a boca para contestar e dizer a mulher que Tomaz e eu


não passamos de meros conhecidos do acaso, mas nem ao menos
consigo emitir algum som. Tão pouco ele parece se importar com a
fala da mulher, pois assina o documento em silêncio e passa caneta
e papel para mim.

Minhas mãos estão trêmulas quando pego a caneta e assino,


minha garganta seca. Mal consigo respirar com coerência.

— Obrigada! — agradeço a ele assim que saímos do centro de


assistência e seguimos na direção do carro.

— Não me agradeça, Cecília. — Ele pisca para mim e abre a


porta para que eu coloque Sophia no bebê conforto.

A viagem de volta para casa arranca de mim a sensação de


esmagamento que eu estava sentindo. É como se uma tonelada de
peso tivesse sido arrancada das minhas costas.
Tomaz sobe as escadas com Sophia, e eu sigo logo atrás,
carregando as coisas dela.

A bebê está dormindo agora, e por isso ele a leva direto para o
meu quarto.

Arrumo o ninho de bebê sobre a cama e Tomaz coloca a


menina deitadinha de lado. Ela suspira baixinho, fazendo aqueles
barulhinhos típicos de bebê e eu acaricio seu rosto.

Com o coração transbordando, saio do quarto tomando todo o


cuidado do mundo para não acordar o pedacinho de gente que virou
todo o meu mundo de cabeça para baixo, mas que agora não
consigo mais ficar longe.

— Eu mal posso acreditar que isso esteja mesmo


acontecendo. — É a primeira coisa que digo quando chegamos na
sala.

Meu sorriso está de orelha a orelha agora.

— O que pensa em fazer agora? Tem planos de adotá-la? —


Tomaz pergunta.

Cruzo as mãos na frente do corpo e volto toda a minha


atenção para ele.

— Sim. Com certeza, sim — confirmo para ele, embora saiba


que não será uma tarefa tão fácil quanto eu gostaria.

— Admiro a sua coragem, Cecília. — Tomaz se aproxima mais


de onde estou, ficando a poucos centímetros de distância.

— Sophia é uma bebê, Tomaz. Qualquer pessoa faria de tudo


para ficar com ela — justifico, sorridente.
A curva de um sorriso surge nos lábios dele, mas é tão breve
quanto fumaça se dissipando no ar.

— Você sabe que não é verdade… — Todo o meu corpo se


arrepia quando ouço sua voz rouca.

Os olhos dele se abaixam até minha boca e eu me pego


passando a língua nos lábios para umedecê-los. Pura eletricidade
percorre meu corpo ao sentir as pontas dos seus dedos tocando
meu queixo. O toque de Tomaz é suave e ao mesmo tempo intenso.
Uma mistura de leveza com domínio.

— É tão linda… doce…

Meu coração dispara.

Não sei definir com exatidão o que está acontecendo aqui. A


única coisa que tenho certeza é que meu coração de repente tomou
um ritmo desesperador e as batidas são frenéticas.

Sua boca se aproxima da minha pouco a pouco, os olhos


grudados nos meus.

— Tomaz… — sussurro o nome dele completamente


atordoada com o que está prestes a acontecer. — Isso só vai
complicar as coisas.

— Eu sei.

Contudo, as palavras dele não são coerentes com suas ações,


pois no instante seguinte as mãos de Tomaz deslizam pela minha
nuca e a boca experiente traça uma trilha de beijos em meu
pescoço.
É impossível segurar um gemido.

Os dedos fortes prendem os cabelos da minha nuca e Tomaz


me leva para ele, imobilizando qualquer tentativa de me afastar.

— Eu sempre quis fazer isso, desde o primeiro momento que


te vi.

Ele não espera por uma resposta. A boca exigente se arrasta


pela minha e a língua dura abre passagem entre os meus lábios.

O beijo me atordoa, desperta todos os sentidos que há em


mim, cada nervo do meu corpo. A língua ávida explora cada
cantinho da minha boca como fogo líquido, o aperto em meu cabelo
se intensifica, a força que emana dele varre a minha pele com
sensações lascivas e deliciosas.

Mal consigo me manter de pé. Sou obrigada a firmar as mãos


nos ombros dele para conseguir equilíbrio.

Sinto tudo nele. A força dos seus braços à minha volta, os


músculos rígidos de seu corpo de encontro ao meu, o contorno do
membro duro na minha barriga.

Tudo acontece rápido demais. Tão depressa que que meu


raciocínio não consegue acompanhar o ritmo dos seus movimentos.
Eu apenas faço, devolvo o beijo com a mesma paixão com que ele
me domina, permito que nossas línguas se entrelacem, permito que
ele me devore.

Tomaz é implacável no que faz e ele sabe. Diz em silêncio,


mas com detalhes, cada pequena coisinha que fará comigo à
medida que enfia a língua na minha boca e a retira, repetindo o
círculo vicioso de forma constante.
— Porra, Cecília… — ele geme em minha boca e puxa minha
cabeça para trás.

Abro os olhos completamente zonza, meus lábios ardendo por


causa da barba cerrada, o beijo grosseiro.

Seu olhar é feroz na minha direção. A pele está febril, suada.

— Você é um perigo, sabia?


Hoje é véspera de Ano Novo e as coisas estão indo de mal a
pior no restaurante. O movimento está baixíssimo, as contas não
param de chegar e infelizmente terei de demitir dois garçons.

Enquanto analiso as contas do mês, concluo que precisarei


correr atrás de um novo empréstimo o mais rápido possível, do
contrário, não sei o que poderá acontecer. Retroceder está fora de
cogitação, tenho uma dívida de honra comigo mesma e meus avós.
Também é de minha responsabilidade resguardar o emprego dessas
pessoas, e ter que demitir dois funcionários está me devastando por
dentro.

Com a cabeça fervilhando, eu organizo as contas em uma


pasta e guardo tudo em uma das gavetas.

Inspiro fundo e volto minha atenção para a bebê que dorme no


carrinho ao meu lado, como se fosse um anjinho: o anjo mais doce e
perfeito. Uma semana se passou desde que nos conhecemos, neste
período aconteceu de tudo na minha vida. Uma tremenda
sacolejada do destino.

Sophia ganhou peso, muito amor, carinho e um monte de


presentes. Algumas coisinhas eu comprei, outras vieram da turma
que trabalha comigo e que se apaixonou por ela. Os demais itens
foram comprados pelo Tomaz.
Desde a noite de Natal, não entramos mais no assunto
relacionado à venda do restaurante. Às vezes sonho que ele tenha
desistido, mas lá no fundo eu sei que não. Acredito que o homem
esteja apenas esperando o momento oportuno para dar sua
cartada-final.

Apesar disso, conseguimos conciliar uma rotina saudável pelo


bem de Sophia. Ele visita a menina todos os dias, às vezes
jantamos juntos, conversamos bastante e trocamos beijos na
despedida.

Nossa rotina se transformou em uma confusão de


acontecimentos e sentimentos estranhos, pelos quais me sinto cada
dia mais envolvida. Tomaz é um homem agradável, apesar da
seriedade tão constante, é bonito pra caramba e beija como
ninguém. Nossos curtos momentos são deliciosos, quentes, e
aproveitamos bem como dois adultos solteiros devem e podem se
portar.

Prendo o lábio inferior com os dentes, sentindo a tensão


tomando conta do meu corpo. Ainda não sei se ele virá hoje, afinal é
uma noite de festividades pela cidade. Eu e Sophia ficaremos em
casa, ela dormindo e eu provavelmente com a mesma programação
que planejei para a noite de Natal. A bebê é ainda muito novinha
para passar tanto tempo ao ar livre à noite.

Termino de arrumar tudo que está sobre a mesa e decido, mais


uma vez, encerrar o expediente mais cedo. Quando empurro o
carrinho com Sophia para fora do escritório, olho para as mesas e
cadeiras distribuídas pelo estabelecimento e sinto o coração se
apertar mais um pouco.

Já está tudo vazio. Os poucos clientes que frequentaram o


restaurante hoje à noite se foram e pelo movimento zero, devo
admitir que seria como nadar contra a maré manter o lugar aberto
até o horário costumeiro.

Permito que meus ombros caiam em desânimo e peço para


que Sara me ajude a subir as escadas com Sophia e o carrinho.
Deixo a responsabilidade de fechar o restaurante com seu José e
assim encerro mais um dia exaustivo.

Enquanto Sophia está dormindo no ninho sobre a cama,


aproveito para tomar um banho. Sinto a cabeça latejar, meus
ombros tensos, mas procuro deixar as preocupações de lado, ao
menos até passar o feriado. E é quando ainda estou de toalha,
saindo do banheiro que ouço a campainha tocar.

Embora eu não esperasse que ele viesse hoje à noite, meu


sexto sentido já sabe quem está na minha porta. Confiro Sophia
rapidinho, ajusto o nó da toalha e caminho na direção da sala para
atender. Dou de cara com Tomaz Mendonça, tão bonito e bem-
arrumado como nunca. O homem não esconde o interesse ao me
analisar da cabeça aos pés, o olhar focando alguns segundos nas
minhas coxas à mostra.

— Oi — eu digo, me sentindo nervosa pela proximidade, mas


ao mesmo tempo feliz.

— Olá…

Dou um passo para o lado para permitir que Tomaz entre, mas
sou surpreendida quando ele se aproxima de onde estou e toma
meus lábios nos seus em um beijo rápido.

— Como você está? — pergunta, baixinho, as mãos


envolvendo a minha cintura.
Sorrio para ele, embora esteja um pouco ansiosa por não
saber exatamente o que nós dois estamos fazendo.

— Estou ótima. E você? — Mordisco os lábios enquanto o fito,


e vejo o brilho em seu olhar aumentar.

— Sentindo a sua falta… — Sua resposta é direita, não há


rodeios ou objeções.

A pressão em minha cintura aumenta, mas também não perco


a oportunidade de passar a palma da mão em seu peito.

— Tão galanteador. Nem parece ser o mesmo homem que


conheci na noite de Natal querendo comprar o meu restaurante —
provoco.

Os lábios dele se curvam em um sorriso sutil, o que me deixa


momentaneamente arfante. Sorrir não é algo que ele costuma fazer
com frequência.

— Eu ainda não desisti, Cecília — alfineta.

Com a sobrancelha arqueada, eu me afasto de seus braços e


passo a mão pelos cabelos.

— Já deveria ter feito isso, senhor rabugento. Não desisto fácil


do que é meu.

— Eu sou persistente. — Seu olhar recai mais uma vez pelo


meu corpo e eu volto a prender o lábio entre os dentes, desejando
que ele se aproxime.

Somos uma mistura do certo e o errado, presos pelo vínculo


com a pequena Sophia, mas inimigos nos negócios. No entanto,
perfeitos quando o assunto são beijos quentes.
— Vem. Sophia está dormindo no quarto — convido o homem
a me acompanhar para ver a menina e estendo a mão para ele.

Tomaz volta a se aproximar de mim, aquela expressão


devassa em seu semblante. Segura meu punho e me puxa para ele.

— Eu vim buscar vocês para jantar. O que acha?

— Onde iremos jantar? — Meu olhar desce para a sua boca e


ele inspira fundo.

— Na minha casa.

Completamente surpresa, volto a fitá-lo nos olhos e vejo


sinceridade ali.

— Pensei que gostaria de passar a noite de Ano Novo com


seus amigos, família…

Os dedos grossos tocam os fios do meu cabelo e a boca de


Tomaz escorrega pela minha.

— Minha mãe e irmãs estão na Europa, querida. Meus amigos


irão sobreviver sem mim.

Ele volta a me beijar, dessa vez com mais profundidade,


mordiscando meu lábio inferior. A língua dura penetra em minha
boca e eu sugo, sentindo seu gosto delicioso e fazendo o homem
soltar um gemido.

— Quero que passem o feriado comigo… — Sua voz sai


sussurrada, quase que em um grunhindo.
— Tomaz, o que está dizendo? — Minhas palmas espalmam
em seu peito e eu o afasto alguns centímetros. — Você quer que eu
e Sophia passemos o fim de semana na sua casa?

O homem volta a me puxar para os seus braços, e a boca


exigente busca a minha outra vez. Não há tempo para protestos,
pois o beijo é profundo, molhado e me deixa completamente sem
fôlego.

A mão grande desliza pelo meu corpo. Sinto o aperto de suas


palmas em minhas costas e quadris, até que alcançam minhas
nádegas e ele passa a amassar a carne da minha bunda por cima
da toalha.

— Sim, Cecília. Quero passar mais tempo com a menina e


com você.

Sem fôlego, nós nos encaramos e sinto meu rosto afogueado,


não sei exatamente se pelo beijo que acabamos de trocar ou pelo
que pode acontecer ao passarmos uma noite sob o mesmo teto.

— Uau. Confesso que estou surpresa…

O homem sorri baixinho, seus olhos brilhando.

— Está com medo, garota? — desafia. — Eu não vou morder


você… não muito.

— Não estou com medo — rebato, empinando o nariz. — Mas


acho que… estamos indo rápido.

A expressão de Tomaz se torna séria, mas ele não recua.

A mão forte agarra a minha cintura e sou levada para os seus


braços, nossas bocas ficando rentes uma na outra.
— Do que tem medo, Cecília? — Seu olhar recai em minha
boca, meu pescoço.

Minha respiração se acelera ao imaginar exatamente o que ele


quer: sexo. Sexo suado e gostoso. Deus me ajude. Não posso dizer
que sou a pessoa mais experiente do mundo para isso, afinal não
morro de saudades da minha primeira e única vez, no entanto, meu
corpo fala por si só.

Preciso me segurar para não gemer baixinho, querendo-o da


mesma maneira.

— Não sei se é uma boa ideia… — digo, incerta, embora


esteja louca para fazer exatamente isso.

— Somos adultos… Dois adultos que se desejam…

A tensão no ar é tão intensa que quase se torna palpável.

Uma mão desliza em meu pescoço, acariciando levemente.


Nossas bocas voltam a se encontrar, nossos corpos colados.

Aperto minhas coxas uma na outra ao sentir aquela fisgada


característica em meu sexo e engulo um gemido. Tomaz me aperta
contra si, me fazendo sentir todas as formas de seu corpo, incluindo
o volume quente que marca a frente de sua calça.

Ainda ofegante, tomo uma decisão. Tomaz tem razão, somos


adultos e estamos quase devorando um ao outro aqui mesmo na
sala. Não há motivos para esperar mais. Ele me quer e eu também
o que quero.

— Está bem… eu… vou me trocar e arrumar as coisas para


irmos.
— Ok.

Eu me afasto dele um pouco relutante, mas não perco a


oportunidade de provocá-lo mais um pouco.

— Só iremos dormir, grandão. Pode tirar essa expressão de


cachorrinho pidão do rosto. — Sorrio, provocante.

Pela primeira vez, seu sorriso alcança a orelha e ele balança a


cabeça em afirmativo.

— Tem razão, Cecília, só iremos dormir.

Eu me viro para sair em direção ao quarto, no entanto, Tomaz


não parece disposto a me deixar sair tão rápido, pois no momento
seguinte, sinto seus braços me prenderem pela cintura e o homem
esmaga o meu corpo contra o dele, encaixando minha bunda em
cima do seu membro duro.

— Tomaz….

— Seja breve… — murmura, em meu ouvido. — Estou louco


para passar a noite toda dormindo. — A língua morna é certeira no
lóbulo da minha orelha. Todo o meu corpo se arrepia.

— Cretino…

Sorrio diante a sua provocação barata, mas não deixo por


menos.

Rebolo bem devagar, fazendo questão de acariciar seu


membro no processo.
— Cecília… — Sua voz sai em tom de advertência, mas eu
pouco me importo.

— Eu não poderei me apressar se você não me soltar,


grandão.

Com um suspiro pesaroso, o homem se afasta e me liberta do


seu aperto no processo, mas não sem antes acariciar e apertar a
minha bunda.

Com o coração batendo forte no peito, eu dou alguns passos


para a frente, mas paro no meio do percurso e o olho por cima do
ombro: fogo líquido brilha em seu olhar. Cada célula do seu corpo
parece gritar em silêncio o quanto me quer, eu só não sei se estou
preparada para a enxurrada de sentimentos que essa brincadeirinha
poderá me causar depois. Embora eu saiba o perigo que Tomaz
representa, é quase impossível passar imune pelas armadilhas do
coração.
Observo o quanto Cecília fica impressionada quando
chegamos à minha residência e eu estaciono o carro próximo à
piscina bem iluminada com leds. É uma mansão moderna, com
paredes de vidro, gramado bem-cuidado e áreas bastante
arborizadas. A garota observa tudo à sua volta com atenção, mas
não faz nenhum comentário a respeito. Ela pega Sophia do bebê
conforto e eu coloco as bolsas e brinquedos dentro do carrinho de
bebê para conseguir transportar tudo de uma vez.

Entro com ela na casa e somos recebidos por Roberta, a


governanta que cuida de tudo por aqui. É uma mulher madura, na
faixa dos quarenta anos e muito bonita.

— Bem-vinda, Cecília — ela cumprimenta e se aproxima para


olhar Sophia. — E essa coisinha mais linda? Que princesa fofa.

— Oi… Como vai? — Cecília devolve o cumprimento


nitidamente surpresa, mas sorri para Roberta.

Com cuidado, ela firma a bebê em seu braço e inclina o


corpinho dela para que Roberta possa vê-la melhor. Os olhos de
Sophia estão arregalados na direção da mulher, atenta a todos os
movimentos à sua volta enquanto suga uma chupetinha cor-de-rosa.

Maldição. Posso entender por que Cecília é louca pela menina,


é quase impossível não morrer de amores pela criança. Parece uma
bonequinha de porcelana com esses grandes olhos escuros e as
bochechas gorduchas.

— Cecília, essa é Roberta, a governanta da casa — apresento


a mulher para Cecília e pego as bolsas no carrinho.

— É um prazer te atender, Cecília. Tomaz já havia me falado


sobre vocês.

A garota olha para mim com as sobrancelhas arqueadas e


volta a atenção para a governanta.

— Ele falou é? Interessante!

Roberta estreita os olhos com o semblante divertido e pisca na


minha direção.

— Sim. E falou sobre a pequena Sophia. Que sorte essa


garotinha tem por ter sido encontrada por vocês. E como é linda.

Cecília sorri para a mulher e nina a bebê.

— Ela é perfeita — responde, toda orgulhosa.

Cruzo os braços na frente do corpo enquanto observo a


interação das três mulheres. Cecília fala um pouco da experiência
que está tendo com a menina, Roberta brinca com a criança e
Sophia resmunga em sua linguagem de bebê.

— Bom. Vou apresentar o quarto que vocês irão ficar, assim


você ficará mais à vontade, Cecília. Mais uma vez, seja bem-vinda.

— Agradeço, Roberta.
Subo as escadas logo atrás das mulheres, carregando as
coisas de Cecília e Sophia.

Depois de apresentar o quarto de hóspedes para Cecília,


Roberta se despede para preparar a mesa de jantar e eu coloco as
bolsas sobre a cama.

Cecília caminha até a parede de vidro que dá acesso à vista


do jardim, afasta as cortinas e suspira baixinho, o rosto iluminado
pelas luzes que vêm de fora.

— Gostou? — Eu me aproximo dela, colocando a mão em seu


ombro e inclino o corpo para depositar um beijo em seu pescoço.

— É lindo aqui — murmura.

— Que bom que gostou.

— Obrigada pelo convite, Tomaz.

Ela vira o corpo para me encarar, firmando bem a bebê em


seus braços.

— O prazer é todo meu — brinco e seguro seu queixo


levemente. — É tão linda…

Noto o quanto Cecília fica nervosa com a minha proximidade.


As bochechas coram, sua respiração se acelera. Ainda assim, ela
não desvia seu olhar do meu.

Estou prestes a me inclinar para tomar seus lábios nos meus


quando Sophia começa a resmungar nos braços dela, fazendo
carinha de choro.
A garotinha esperneia já ficando vermelhinha querendo chorar
e solta a chupeta da boca.

— O que foi, meu amor? — A menina se acalma um pouco ao


ouvir a voz dela e vira a cabecinha na direção de Cecília com a
boquinha aberta em busca da mamadeira.

Cecília sorri e eu acabo sorrindo também, completamente


bobo com os movimentos da menina.

— Ela está faminta e com a fralda cheia — comenta e se dirige


na direção da cama.

Cecília coloca a bebezinha sobre o colchão e começa todo o


processo da troca de fralda.

Eu me sento ao lado dela e observo a interação das duas.


Sophia inquieta, contorcendo os braços e as perninhas e Cecília
conversando baixinho com ela enquanto desabotoa o macacão
amarelo.

Quando termina a troca de fralda, Cecília volta a vestir a


garotinha e após abotoar todos os botões da roupinha, ergue a
menina em seus braços com todo o carinho do mundo.

Fico momentaneamente paralisado, o peito aquecido, o


coração disparado. Não entendo que merda está acontecendo
comigo, mas não consigo parar de olhar as duas, não consigo
controlar a sensação de calmaria que me invade, muito menos o
instinto protetor que desperta dentro do meu corpo.

— Shii, Sophia. Mamãe já vai preparar sua mamadeira.

Porra, ouvir Cecília se referir assim para garotinha é como


receber um golpe diretamente no peito, pois acabado pensando no
que, de fato, eu represento nessa história. Um pai?

Balanço a cabeça em negativo e fecho os dedos sobre o


colchão. Isso é loucura. Não julgo Cecília por querer se envolver a
este ponto com a menina, mas não é a mesma coisa para mim.
Filhos não são minha prioridade no momento e eu nem deveria
estar pensando sobre isso.

Pigarreio baixinho, chamando a atenção da mulher e me


levanto da cama.

— Vamos? Também estou faminto.

Cecília concorda com um aceno e me acompanha para fora do


quarto.

Mostro a ela a cozinha e enquanto a mulher prepara a


mamadeira de Sophia, eu fico com a criança no colo. Logo Roberta
anuncia que o jantar está servido e se prontifica a dar a mamadeira
para a bebê enquanto jantamos.

Mordisco a unha do dedão enquanto caminho para fora do


quarto de hóspedes, sentindo-me mais nervosa que o normal.
Sophia está dormindo agora e Roberta se despediu de nós há
meia hora. Estamos somente nós três aqui, na mansão de Tomaz
Mendonça.

Passo a mão pelos cabelos pela décima vez e arrumo o


babydoll que acabei de colocar para dormir, embora eu saiba que
dormir não será exatamente o que farei a seguir.

A casa está silenciosa e parcialmente iluminada. Aperto a


unidade da babá eletrônica em minha mão e continuo andando até
chegar ao meu destino: uma enorme sala de cinema onde Tomaz
me espera com uma garrafa de vinho e duas taças, sentado em um
estofado de aparência confortável.

Apesar da pouca luz, posso notar que ele usa apenas uma
calça de moletom, deixando o abdômen à mostra. Procuro não olhar
muito para o corpo másculo e sexy à minha frente, mas é quase
impossível desviar o olhar dele à medida que me aproximo.

— Ela dormiu? — ele pergunta e estende a mão para mim.

Seguro a mão estendida, apesar de sentir os dedos trêmulos e


respondo:

— Sim. Fiquei mais alguns minutinhos com ela no quarto para


ter certeza de que não iria acordar.

Coloco a babá eletrônica em cima da mesinha que está a


garrafa de vinho e sou guiada a me sentar ao lado de Tomaz.

— Gosta de vinho, Cecília? — Sua voz está rouca quando


pergunta, e uma mão desliza pela minha cintura.

— Sim, eu adoro. — Tomaz me observa com atenção, acaricia


um pouco mais a carne da minha cintura mas não vai além.
Levanta-se e segue até a mesinha para servir o vinho.

Recebo a taça e levo o conteúdo aos lábios. Um sabor


levemente crítico explode em minha boca e é delicioso. Tomo mais
um gole e aguardo Tomaz retornar ao seu lugar no estofado.

— O que gostaria de assistir? — A pergunta chega até mim,


assim como o calor de suas mãos em meu quadril e coxas.

Em um movimento rápido, o homem ergue o meu corpo e me


coloca sentada de lado em seu colo, de maneira que minhas pernas
fiquem apoiadas no sofá e minha bunda bem posicionada nas suas
coxas grossas.

— Tomaz… — Tomada de susto, quase deixo a taça escapar


da minha mão. — O que está fazendo?

Os braços dele estão firmes em minha cintura, impedindo que


eu me movimente e consiga sair do seu aperto.

Com uma mão, eu retiro as mechas de cabelo que caíram em


meu rosto e o encaro.

Há um brilho divertido em seu semblante, os lábios estão


curvados, o olhar mais escuro que nunca.

— Deixando você mais confortável.

Eu me remexo em seu colo em busca de uma posição mais


aconchegante e ele suspira baixinho.

— Não tenho certeza se estou confortável, parece ter alguma


coisa dura por aqui — brinco, de forma provocativa apesar do
nervosismo.
Tomaz gargalha e joga a cabeça para trás ao mesmo tempo
em que sinto seus dedos cravando em minha carne, por cima do
tecido de seda que uso.

Dando uma de inocente, tomo mais alguns goles do vinho e


coloco a taça sobre a mesinha, em seguida, me aconchego um
pouco mais ao corpo dele e passo os dois braços em seu pescoço.

Sua pele está tão quente, convidativa, quase febril.

— O que é tão engraçado, hum?

O homem me prende contra si em um abraço de urso,


imobilizando todo o meu corpo.

— Talvez seja bom verificar essa coisa dura que está te


incomodando. — O olhar misterioso desce para os meus lábios e eu
anseio por um beijo. No entanto, ele não desliza a boca sobre a
minha. Em vez disso, aciona o comando de voz que controla a sala
de cinema e escolhe um filme de ação antigo.

A luz da tela me permite ver cada nuance de sua face. Desde


o olhar experiente à boca faminta, o nariz fino e reto. Sua pele é
levemente bronzeada e ele possui uma pintinha escura próximo ao
nariz que o deixa ainda mais charmoso.

O homem é puro pecado e nunca estive tão ansiosa para me


queimar.

— Talvez seja uma boa ideia… — sussurro de volta.

Tomaz geme baixinho e se remexe no sofá. Uma de suas


mãos desliza da minha cintura até os cabelos da minha nuca e ele
me leva para si, deixando nossas bocas rentes uma na outra.
— Seu olhar me deixa louco, Cecília. Cada pedacinho seu na
verdade.

Mordisco o lábio completamente envolvida por ele e me


aproximo mais, quase tocando seus lábios.

— Ainda somos inimigos nos negócios, não se esqueça… —


murmuro, lembrando a Tomaz que apesar de tudo, eu não estou
disposta a ceder.

— Eu não me esqueci — ele responde, baixinho e roça os


lábios nos meus, me deixando com um gostinho de quero mais. —
Mas hoje à noite, você será toda minha. Só minha.

O aperto em meu cabelo se intensifica e o homem toma os


meus lábios nos seus, a língua quente exigindo passagem.

Dou tudo o que ele quer.

Abro a boca e permito que sua língua penetre os meus lábios,


permito que ele sinta o meu gosto, que me sugue e chupe. Permito
que ele tome o meu ar.

O beijo é febril, molhado, delicioso, carregado de promessas


indecentes. Completamente inebriada, eu me agarro a ele e encho
as mãos com os cabelos cheios e lisos.

Sinto os dedos de Tomaz escorregarem por baixo da blusa do


pijama e estremeço. Seu toque está frio por ter segurado a garrafa
de vinho gelado, ainda assim, sinto meu corpo se incendiar.

O prazer mais puro e gostoso me invade quando sinto a ponta


de seus dedos envolver meus mamilos ao mesmo tempo em que a
boca exigente larga a minha e ele passa a lamber meu pescoço.
Arqueio as costas, entregue às suas carícias, perdida nas
sensações que ele me proporciona. Minha blusa é erguida até que
um dos seios esteja à mostra, e então o homem inclina o corpo e
toma o mamilo na boca.

— Tomaz…

Com uma mão, ele firma o meu corpo e com a outra, segura
um dos meus seios para levá-lo à boca. Tomaz chupa o mamilo sem
pena, abocanha toda a aréola, suga, lambe e depois sopra. Todo o
meu corpo se arrepia, da nuca aos dedos dos pés, me fazendo
soltar um gemido.

— Maldição, como eu quis fazer isso — murmura, em minha


pele entre uma sugada e outra.

Ele larga um seio e passa a acariciar o outro, prendendo o bico


entre os dedos. Gemo baixinho e me remexo em seu colo, me
aproximo mais da sua virilha até sentir o membro duro pressionado
contra a minha nádega.

— Seu gosto é tão bom — ele diz e eu arfo.

A boca faminta volta a procurar a minha, esmagando meus


lábios contra os seus. O beijo é invasivo, gostoso, me deixa
completamente sem fôlego.

As mãos de Tomaz passeiam pelo meu corpo, me apertando.


Ele enche as palmas com meus seios e desce devagar, até se
deparar com o cós do shortinho de dormir.

— Abra as coxas para mim, Cecília.

Aí Jesus, tremo dos pés à cabeça quando ouço seu pedido,


mas busco não demonstrar a ele o quanto sou inexperiente no
assunto. Inspiro e respiro algumas vezes, porém obedeço. Devagar,
eu afasto as pernas uma da outra e sinto a carícia de Tomaz na
parte interna das minhas coxas. Arfo em sua boca, me segurando
nele para não perder o equilíbrio. O toque de seus dedos se tornam
mais invasivos à medida que ele enfia a mão dentro do short por
baixo.

Sinto a acaricia em meu sexo por cima da calcinha e tranco os


olhos com força, estremecendo. Céus, estou tão melada,
escorregadia. Posso sentir o líquido da minha excitação molhando a
calcinha e passando para os dedos dele. É tão bom.

Tomada de coragem, também desço a mão pelo seu abdômen


e contínuo deslizando, sentindo os músculos bem-definidos. Toco o
pênis dele por cima da calça e confesso que meus tremores
aumentam quando sinto a espessura, a rigidez. Céus, ele é enorme,
grosso.

— Porra… Assim… Me toque assim.

A voz dele está tão rouca, aveludada. A respiração arfante.

Envolvo todo o seu membro com as mãos por cima do tecido,


e Tomaz geme baixinho. Totalmente sem controle, o homem coloca
a minha calcinha de lado e dedilha meu clitóris. Escorrega o dedo
até a entrada da minha vagina, provando o quanto estou melada
para ele.

Grito em sua boca, sem forças, entregue. Deslizo as mãos


pelo abdômen, seu peito, tudo dele. Tomaz retira a mão do meu
short e engancha os dedos no cós. Ele está prestes a tirar minha
roupa quando ouço o barulhinho característico vindo da babá
eletrônica.
Os grunhidos de Sophia enchem o ar, seguido pelo chorinho
estridente que ecoa pela sala de cinema.
— Sophia acordou… — digo, em um murmúrio e me
movimento para sair do seu colo.

Tomaz ainda me dá um último beijo antes de me soltar e


arrumar a minha calcinha no lugar. Nós dois estamos ofegantes
quando me levanto do seu colo, arrumo meu short e prendo os
cabelos em um coque. Sinto minha pele suada, o peito subindo e
descendo acelerado, as bochechas provavelmente coradas.

Olho brevemente para Tomaz, notando seu semblante


torturado, o pênis rígido marcando a frente da calça. É uma cena no
mínimo alucinante. Não posso dizer que estou muito diferente dele,
pois a umidade entre as minhas coxas deixa em evidência o quanto
estou excitada, chega a ser incomodo me movimentar assim, tão
molhada.

— Vá vê-la. Eu acompanho vocês em um minuto.

Mordisco o lábio, sentindo-me um pouco grogue e assinto para


ele.

Saio da sala de cinema e caminho depressa pelo corredor até


alcançar o quarto de hóspedes. Encontro Sophia chorando dentro
do Ninho, toda impaciente.

Sem esperar mais um segundo, corro até o banheiro para lavar


as mãos e retorno apressada. Ao ouvir minha voz ninando-a, a bebê
encerra o choro mas continua movimentando os bracinhos e as
perninhas, impaciente.

Retiro a bebê do ninho para verificar a fralda e noto que está


cheia de todas as maneiras possíveis, até mesmo o macacão está
sujo nas costas, por isso ela está tão nervosa. Sorrindo da
sapequice de Sophia, pego os lenços umedecidos, o trocador e uma
fralda seca. Limpo a menina e retoco a pomada antiassaduras, em
seguida, coloco a fralda e um conjunto de calça e body cor-de-rosa.

Eu a ergo da cama e embalo seu corpinho em meus braços


para niná-la. Caminho com Sophia até a janela de vidro, abro
apenas um pouco da cortina para inspecionar a área da piscina.
Não demora muito e a bebê volta a pegar no sono.

É somente quando ergo o olhar para retornar à cama que


percebo a presença de Tomaz na porta do quarto. O homem me
observa com interesse, os braços cruzados na frente do corpo. Sem
fazer barulhos, ele caminha na nossa direção. Para a alguns
centímetros de distância e toca a barriguinha de Sophia com
carinho.

— Durma bem, princesinha — sussurra para ela e ergue a


outra mão no ar, deixando em evidência a babá eletrônica que eu
havia deixado sobre a mesinha do cinema. — Você esqueceu,
Cecília.

— Que cabeça a minha, obrigada.

Tomaz ergue uma sobrancelha e me encara travesso, um riso


indecente se formando nos lábios.

— Sei bem no que você está pensando, não se preocupe.

— Tomaz… — repreendo-o, mas acabo sorrindo também.


Caminho com Sophia até a cama, colocando a menina de volta
no ninho e retorno para Tomaz que está logo atrás de mim. Pego a
babá eletrônica de suas mãos e confiro a configuração.

No momento em que saímos do quarto, Tomaz me toma em


seus braços e começa a me beijar ali mesmo no corredor. O corpo
forte me pressiona contra a parede e mal consigo respirar, tão
faminto ele está.

— Vamos para o meu quarto… — murmura entre um beijo e


outro.

— Pensei que iríamos terminar de ver o filme — brinco,


mordiscando o lábio.

As grandes mãos me seguram pelos quadris e Tomaz ergue o


meu corpo, me deixando escarranchada em volta dele. Sou
obrigada a passar as mãos em volta do seu pescoço mais uma vez.
Sinto todo o volume de seu pau em meu sexo, nossas peles
separadas apenas pelo tecido das roupas.

— Você se lembra de alguma coisa do início do filme, Cecília?


— desafia.

Balanço a cabeça em negativo e fito sua boca, desejando


outro beijo.

— Foi o que pensei.

Sem esperar uma resposta, o homem se movimenta e


caminha pelo corredor, me levando em seus braços. Um porta se
abre e ele me carrega para o interior do quarto. As luzes são acesas
via comando de voz, revelando todo o esplendor do lugar. É uma
suíte enorme, com móveis planejados e paredes acinzentadas. Não
estava preparada para todo esse luxo, mas não tenho muito tempo
para observar com atenção à minha volta.

Sou praticamente jogada sobre uma cama king-size, muito


macia, e no momento seguinte, Tomaz está em cima de mim,
devorando meus lábios com a boca, as pernas musculosas entre as
minhas.

Os beijos quentes se estendem pelo meu pescoço e Tomaz


distribui lambidas e mordidas frenéticas em minha pele. Ofego, mal
conseguindo me lembrar como se respira, sinto toda a intensidade
dele, em cada poro.

As mãos experientes erguem a minha blusa e logo ele a retira


pela minha cabeça, deixando meus seios completamente à mostra.
Respirando profundamente, capto o momento em que Tomaz desce
o olhar para os dois pequenos montes e enfia o rosto entre o vão,
inspirando, sorvendo meu cheiro.

— Porra, que delícia… tão macia… cheirosa…

Largo a babá eletrônica no colchão e encho as mãos em seu


cabelo grosso. Solto um gemido quando Tomaz começa a lamber os
bicos, um após o outro. Ele se farta em mim, enfia o seio quase todo
na boca e faz o mesmo com o outro. Mordisca os bicos, suga.
Deixa-me completamente maluca para sentir mais dele.

Meu coração acelera a níveis astronômicos quando as carícias


descem pela minha barriga. Beijos, chupadas.

Em um segundo, o homem engancha os dedos no cós do meu


short e puxa o tecido para baixo, junto com a calcinha.

Céus… céus… Tremo da cabeça aos pés.


As mãos fortes agarram os meus joelhos e Tomaz os puxa
para cima ao mesmo tempo em que abre as minhas coxas. Fico
toda exposta, cada centímetro do meu sexo. Arfante, agradeço
internamente por sempre estar com a depilação em dia.

— Tomaz… céus… — O nervosismo me toma ao imaginar o


que ele pretende fazer, pois nunca recebi sexo oral antes.

O olhar escuro está cravado em minha fenda, a testa franzida,


a mandíbula cerrada. Ele analisa cada pedacinho da minha pele
exposta como se eu fosse a oitava maravilha do mundo.

Quando ele ergue a cabeça para fitar o meu rosto, é como se


eu pudesse ver o fogo dançando em suas íris. E então ele força
meus joelhos um pouco mais para cima, deixando-os rente às
minhas orelhas. Sem um aviso prévio, desce a cabeça para o meio
das minhas pernas e dá a primeira lambida em meu clitóris.

Jogo a cabeça para trás e gemo alto. A língua dele é quente,


dura. Fico completamente extasiada com a sensação deliciosa em
ser lambida da entrada da vagina até o monte de nervos. Tomaz não
mede esforços para me deixar completamente rendida, as pernas
trêmulas, querendo mais.

— Aí… céus… Tomaz… — É intenso demais. Todo o meu


corpo treme, meu clitóris lateja quando sinto seus lábios se
fechando em volta da carne tenra. Tento fechar as coxas, não mais
suportando toda essa tortura crua, quase dolorosa, mas seus braços
fortes me prendem com facilidade.

Não consigo mover os quadris, muito menos estreitar as coxas


uma na outra. Ele me lambe como se eu fosse sua sobremesa
favorita, desliza a língua em minhas dobras meladas e depois enfia
na minha entrada, arrancando todo o meu ar.
Arqueio o corpo e cravo as unhas no lençol da cama, um grito
silencioso fica preso em minha garganta. Contorço-me, choramingo.
Ele é implacável no que faz. Fico totalmente alucinada.

Sinto o raspar dos dentes no amontoado de nervos, seguido


de uma chupada dolorosa. Logo depois a língua experiente volta a
me lamber, amassando meu clitóris, aumentando o prazer a níveis
extremos.

Tremores percorrem o meu corpo e imagino se irei morrer a


qualquer momento. Ondas de puro êxtase me invadem desde a
ponta dos pés à virilha. O clímax bate forte, minha vagina pulsa. A
sensação é que irei explodir em milhões de partículas.

Grito o nome de Tomaz, tento impulsionar os quadris. Ele não


para de me lamber um só segundo. Quando os tremores diminuem,
Tomaz desliza a língua dentro da minha vagina e toma cada gota do
meu orgasmo. Penetra fundo em mim. E então ele para, afrouxa o
aperto em minhas coxas e fica de pé no chão.

Finalmente consigo colocar os pés no colchão.

Os olhos escuros fixam-se em meu rosto e vejo voracidade ali,


um fogo tão intenso que seria capaz de queimar nós dois. Em um
movimento rápido, ele retira a calça de flanela com cueca e tudo e
segura o membro duro na mão.

Meu sexto sentido e tato não estavam errados. Com os olhos


arregalados, olho o pênis dele com um gemido chocado entalado na
garganta. O membro grosso possui veias vigorosas. A cabeça é
larga e rosada, o comprimento avantajado além do que pensei.

Engulo em seco sem conseguir desviar o olhar, imaginando se


conseguirei recebê-lo todo dentro de mim.
— Gosta do que vê, Cecília?

A voz rouca chama a minha atenção para o seu rosto, mas eu


não consigo responder, nem sequer consigo me movimentar. Ainda
estou grogue pelo gozo intenso, o corpo mole e atordoada com o
tamanho dele.

Tomaz se aproxima de onde estou, sobe na cama e vem até


mim. O corpo forte cobre o meu, a boca exigente procura a minha e
eu o abraço de volta. Minhas pernas são afastadas uma da outra
para que ele possa ter melhor acesso ao meu corpo. Logo sinto a
pressão de seu pau contra a minha vagina, mas ele não entra.

— Estou louco para me enfiar todo na sua boceta — sussurra.


— Você tem um gosto delicioso, sabia?

Outro beijo me assola e eu grunho baixinho em sua boca


quando Tomaz ajusta o quadril e se movimenta para frente e para
trás, esfregando meu clitóris com a cabeça do seu pau. Ele continua
com essa tortura por alguns minutos, a língua enfiada quase que em
minha garganta, levando nós dois ao limite.

— Diga, Cecília. Quer dar a boceta para mim? Quer o meu pau
todo enfiado em você, hum?

— Sim… — respondo, arfante.

O membro rígido desliza entre os pequenos lábios e eu


engasgo. É tão bom, chega a ser vergonhoso o quanto estou
encharcada por causa dele.

— Caralho… Isso é tão gostoso...

O homem se afasta, ficando de joelhos entre as minhas pernas


e eu ergo o corpo, me apoiando nos cotovelos. Minhas coxas são
afastadas outra vez e Tomaz dá outra lambida em minha fenda,
metendo a língua lá dentro, me arrancando outro gritinho.

— Tomaz, por favor… — Nem sei exatamente o que estou


pedindo.

Ele se afasta e dessa vez, segura a minha mão. Leva meus


dedos até o centro das minhas pernas.

— Toque essa boceta linda, querida. Se ofereça para mim.

Estou completamente louco de desejo por ela. O gosto e o


cheiro de Cecília estão entranhados em meu sistema como uma
droga lasciva, impossível de me manter distante. Noto o quanto ela
fica vermelha quando digo para se tocar para mim, porém ela
obedece ao meu comando.

Devagar, ela fita o meu rosto e começa a deslizar o dedo


indicador ao redor do pequeno clitóris. Seguro suas coxas bem
abertas e Cecília joga a cabeça para trás, arqueando o corpo.

Merda, é uma das cenas mais deliciosas que já presenciei na


vida, vê-la esfregando o feixe de nervos rosado, amassando o
pedaço de carne com os dedos. Cecília está tão lambuzada de
gozo, tão escorregadia, pronta para ser comida por mim.

Aproximo mais o rosto, inspecionando cada detalhe dessa


tortura gostosa.

— Isso assim…— O barulhinho de sua boceta melada sendo


esfregada me leva à loucura. O cheiro dela está quase me fazendo
subir pelas paredes.

Sem pensar muito, volto a enfiar a cabeça entre as suas


pernas e deslizo a língua para fora. Começo a lamber os grandes e
pequenos lábios de seu sexo.

— Humm… — ela geme, impulsionando os quadris, está


quase gozando outra vez, a respiração ofegante.

Inspiro o cheiro dela, esfrego o nariz em suas dobras e volto


lambê-la. Desesperado, seguro seu punho e afasto seus dedos do
seu clitóris, apenas para fechar meus lábios sobre o feixe de nervos
e sugá-lo para dentro da minha boca.

— Tomaz… Tomaz… — Cecília geme o meu nome e volta a


impulsionar os quadris, toda entregue. — Eu… por Deus…

Seguro suas coxas com força e continuo lambendo e sugando


o clitóris inchado, até que sinto seu corpo tremer e ela goza outra
vez na minha boca, gritando. A boceta se contrai, seu corpo
convulsiona, o gozo escorre da entrada estreita e mela tudo, até a
bunda.

Ofegante, ela me encara com os olhos arregalados e eu


caminho até a mesinha de cabeceira da cama. Abro uma gaveta,
pego um preservativo e o desenrolo no meu pau.
Fico de joelhos entre as coxas dela, meu olhar focado em seu
rosto. Seguro suas pernas e as ergo para cima, deixo Cecília toda
aberta para me receber em seu corpo.

— Ofereça essa boceta para mim… — digo, em um tom


exigente e desço o olhar para o meio das suas pernas.

Ela faz o que digo, apesar dos tremores no corpo. Obedece


aos meus comandos como a boa garota que é, doida para ser
fodida. Os dedos trêmulos deslizam pelo sexo molhado e ela faz
exatamente o que pedi. Abre a bocetinha linda com dois dedos, me
convidando a entrar.

Gemo baixinho, quase sem controle, vendo-a toda aberta e


vermelha, o montinho de nervos inchado. Seguro o meu pau e o
posiciono em sua fenda, abaixo os quadris e começo a entrar nela.

Cecília engasga com a invasão difícil. Os dedos se fecham em


meus braços, as unhas afiadas arranham a minha carne. Ela ofega,
joga a cabeça para trás, depois volta a me encarar. Sua boceta é
apertada, não sede com facilidade, porém pouco a pouco seu canal
se estica para me acomodar.

— Céus… você é grande, Tomaz — ela choraminga,


mordendo os lábios.

Seguro seus braços e prendo os dois acima de sua cabeça.


Cecília abre mais as pernas e fecha as panturrilhas em meus
quadris, me fazendo perder o controle. Vou mais fundo, entrando
nela com dificuldade, meu pau tão estrangulado que chega a ser
doloroso, gostoso demais.

Ela grita quando entro todo, nossos corpos colados. Espero


alguns segundos para o seu canal se acostumar ao meu tamanho,
tiro o pau quase que totalmente e empurro de volta.
Abafo seus gemidos com um beijo, meto a língua em sua boca
da mesma forma que faço com o pau em sua boceta. Entro e saio
dela com punhaladas firmes, vigorosas. Arranco gemidos da sua
boca.

Cecília geme, se contorce toda, morde a minha boca.

— Deliciosa… linda…. — Minha voz sai rouca, trêmula. Solto


seus braços e apoio o meu corpo com as mãos sobre o colchão,
começo a beijar seu pescoço, mordisco o lóbulo de sua orelha.

Cecília se agarra a mim como se estivesse prestes a cair em


um precipício. Acompanha o ritmo das penetrações, impulsiona os
quadris para receber mais, se entrega toda para mim. As mãos
pequenas seguram os fios do meu cabelo, os lábios cheios
procuram os meus em desespero. Nossas línguas se entrelaçam e
eu chupo a dela para dentro da boca.

Fodo Cecília devagar, entro todo até o talo e saio, giro os


quadris, esmagando seu clitóris no processo. A garota grita, trêmula,
posso sentir o estremecimento em seu corpo, o orgasmo vindo forte.

Suas unhas são fincadas em minha carne, mas eu pouco me


importo com a pontada de dor. Porra! Tranco os olhos tentando me
controlar quando ela começa a gozar pela terceira vez e seu canal
aperta o meu pau. Seus gemidos saem fracos, ela está esgotada,
mas as contrações são fortes em volta do meu eixo. A sensação é
tão deliciosa que acabo perdendo a batalha e sinto o primeiro jato
de esperma saindo.

Minhas pernas tremem, as bolas se contraem, o coração


acelera. Preciso usar toda a minha força para não desabar em cima
dela e esmagar seu corpo com meu peso. Largo a sua boca e
enterro o rosto na curva do seu pescoço completamente alucinado,
o pau todo enfiado dentro dela enquanto gozo. Quando a última
gota das minhas forças se esvai, giro na cama e trago Cecília
comigo, deito seu corpo suado em cima do meu, nossos sexos
ainda conectados, latejando.
2 MESES DEPOIS

Entro no restaurante empurrando o carrinho de bebê de


Sophia e sigo direto para o escritório. Em minha alma, carrego a
decepção e a tristeza de ter fracassado mais uma vez, em meu
coração, o medo de perder tudo é agoniante.

Sento-me na poltrona atrás da escrivaninha e trago minha


bebê para os meus braços. Ela está tão linda, tão gordinha e fofa,
tão risonha. Enquanto brinca com a bonequinha de pano que dei a
ela, mal imagina todo o tormento que venho suportando nas últimas
semanas.

Ouço uma batida na porta e autorizo a pessoa a entrar. Seu


José entra no escritório segurando o chapéu de chef nas mãos, o
olhar inquisitivo me encara ansioso para saber das novidades.

Desanimada, eu o encaro de volta e não faço questão de


esconder toda a minha angústia.

— Eu… sinto tanto… — digo, com a voz falha, a garganta


seca. Seguro a todo custo as lágrimas que teimam em tentar rolar
em minha face. — Mais um empréstimo foi negado pelo banco… Eu
já não sei mais o que fazer.
Meu peito dói com a possibilidade de fechar este lugar, me
desligar de todas essas pessoas, ver cada uma delas perder seus
empregos por minha causa.

Seu José se aproxima um pouco mais de onde estou, e


involuntariamente acaricia os cabelinhos de Sophia. Apesar da
tentativa de manter a calma, posso sentir o quão preocupado ele
está.

— Por que não pede ajuda ao seu namorado? Talvez ele


possa te fazer um empréstimo, e assim você não precisará fechar o
restaurante.

Fecho os olhos com a menção de Tomaz Mendonça e volto a


abri-los.

— Ele não é meu namorado, seu José. Somos só amigos —


minto parcialmente. Embora Tomaz e eu não sejamos namorados,
temos uma amizade colorida que não vem ao caso agora. — Além
disso, o senhor sabe que ele é o primeiro na lista de compradores
deste restaurante.

Seu José balança a cabeça em negativo e se afasta um pouco,


me encarando com curiosidade.

— Não acredito que ele continue com essa ideia na cabeça. É


bastante óbvio que Tomaz está apaixonado por você, Cecília.

Meu coração se aperta ao ouvir a afirmação do homem sobre


Tomaz, mas eu sei, lá no fundo, o quão enganado seu José está.

— Não, seu José. Tomaz não gosta de mim como o senhor


está pensando… — afirmo, certa de que fui a única em todo esse
tempo a perder meu coração, pois estou completamente apaixonada
por ele. — A única coisa que nos une é a Sophia. Ele é como um pai
para ela.

Apesar de não parecer convencido, seu José assente e se


despede para voltar ao trabalho.

Assim que ele sai, fechando a porta às suas costas, desabo na


poltrona macia e estreito o corpinho de Sophia contra mim, o peito
doendo tanto que chega a ser difícil respirar.

Meus pensamentos voam até a primeira noite que passei com


Tomaz em sua mansão. Ficamos os dois suados na cama por um
bom tempo olhando um ao outro no mais puro silêncio. Havia sido
incrível ser dele, eu me entreguei da cabeça aos pés e ele fez o
mesmo. Conversamos por um tempo, disse a ele porque o
restaurante era tão importante para mim e como meus avós e pais
haviam morrido. Tomaz falou pouco sobre si e eu não quis
pressioná-lo a nada.

Combinamos que nossa relação seria casual, faríamos sexo


quando tivéssemos vontade, sem o peso de um compromisso nas
costas, e cuidaríamos de Sophia. Naquele momento, pareceu
razoável para mim, mas agora? Agora eu já não sei. Depois de dois
meses é difícil sentir seu toque em minha pele sem desejar algo
mais.

Sophia se remexe em meu colo, já ficando inquieta e eu a


seguro de pé, firmando suas costas.

— Oi bebê… — Faço brincadeiras com a boca para fazer a


menina rir e ela gargalha, enchendo meu coração de amor. — Está
com fome, meu amor?

Continuo brincando com ela por um tempo, arrumo o lacinho


que coloquei em seu cabelo e decido subir um pouco para dar um
banho na bebê e preparar sua mamadeira. Coloco a menina
apoiada em meu ombro e sigo com ela para o andar de cima.

Preparo um banho morno para Sophia e deixo a garotinha um


pouquinho dentro da banheira brincando com a água enquanto a
seguro. É uma festa só a hora do banho, um dos momentos mais
divertidos do dia.

Termino de banhá-la, seco seu corpinho e passo o creme de


assaduras. Visto-a com uma calça e blusa de mangas curtas, pois a
temperatura já começa a cair no início de março.

Depois de pentear seus cabelos, preparo a mamadeira e me


sento com ela no sofá. Os olhinhos enormes me encaram de volta
enquanto suga o leite e as mãozinhas inquietas dão batidinhas no
meu busto.

Mal percebo quando uma lágrima desliza pela minha bochecha


e eu fungo baixinho. Olho para a minha bebê tão pequena, tão
inocente e mais lágrimas caem pelo rosto ao imaginar que posso a
perder também.

Agora eu tenho a guarda provisória de Sophia, graças a Tomaz


Mendonça que colocou sua equipe de advogados à disposição para
entrar com os trâmites legais perante ao juiz, alegando que o melhor
para a menina seria continuar comigo até que algum parente fosse
encontrado.

Sou grata a ele, mas também sei que o risco de a perder é


muito grande, principalmente agora com o restaurante afundado em
dívidas. Poderei ficar sem emprego a qualquer momento e não terei
a menor chance de conseguir ficar com a garotinha caso ela entre
para a fila de adoção. Sobre algum parente aparecer, nem ao
menos gosto de pensar no assunto.
Apesar dos meus medos, seco as lágrimas com a gola da
blusa, termino de dar a mamadeira a ela e a nino um pouco. Algum
tempo depois, desço com Sophia para o restaurante e caio de cara
no trabalho.

Já passam das três horas da tarde quando ouço o toque de


uma batida na porta. Sophia está lá em cima agora com Sara. Pedi
que a mulher ficasse com ela para mim e lhe desse mamadeira
enquanto eu terminava de ler alguns documentos.

Deixo a pilha de papéis sobre a mesa e me afasto da


escrivaninha, o corpo doendo depois de tanto tempo sentada.

— Entre, por favor!

A porta se abre e um Tomaz todo sério e trabalhado no terno


preto entra no escritório.

Meu coração acelera quando o olho, mas me mantenho


neutra. Busco a todo custo não demonstrar o quanto o homem mexe
comigo.

— Oii… — Forço um sorriso e me levanto da poltrona.

— Oi Cecília… — Tomaz caminha na minha direção e me


cumprimenta com um beijo na boca, no entanto, a seriedade em seu
semblante deixa em evidência que algo está fora dos trilhos.

— Está tudo bem? — Sua mão ainda está em minha cintura


quando pergunto.
O homem fica em silêncio por alguns instantes, o olhar
misterioso focado em meu rosto. Em um segundo, ele se afasta e
coloca as mãos no bolso da calça social.

— Tomaz… o que está acontecendo?

Meu coração bate forte no peito ao imaginar que algo grave


tenha acontecido, principalmente porque Tomaz não é do tipo que
faz rodeios. Ele é direto, firme, sincero, doa a quem doer.

— Nenhum parente de Sophia foi encontrado. Não há vestígios


de sua mãe em qualquer lugar desta cidade. Absolutamente nada
foi encontrado, Cecília. Isso significa que a menina entrará para a
fila de adoção o quanto antes.

Inspiro com mais força, ainda não sei se aliviada por saber que
a mulher que a abandonou não a terá de volta, ou desesperada em
pensar que poderei perder minha filha para qualquer família que
nem ela e nem eu conhecemos.

Percebendo o meu estado nervoso, Tomaz coloca a mão em


meus ombros e inspira fundo.

— Eu tenho uma proposta para te fazer, Cecília. Talvez não


seja o que você quer, mas com o tempo vai perceber que será o
melhor. Tanto para você quanto para a Sophia.

Sinto meu peito apertado, a secura característica de


nervosismo na garganta. O ar falta em meus pulmões pelo medo de
ouvir o que ele tem a dizer. Tomaz volta a se afastar de mim, a
postura impecável de um verdadeiro homem de negócios.

Ele me fita dos pés até o último fio de cabelo, a expressão


acirrada e decidida.
— Venda o restaurante para mim e eu farei de tudo para a
menina ficar com você. Minha equipe de advogados irá garantir que
você tenha a guarda de Sophia.

Sinto como se acabasse de levar um soco direto no coração.


Em algum momento, eu imaginei que isso aconteceria, mas não
pensei que, de fato, Tomaz fosse capaz de colocar seus interesses
acima dos meus sentimentos e do bem-estar de Sophia. Ele sabe o
que este lugar significa para mim.

— Nada irá mudar entre nós, Cecília. A única diferença é que


você terá uma bela fortuna na conta bancária e poderá criar Sophia
sem maiores preocupações. Poderá abrir um novo negócio se
quiser.

Puxo o ar com mais força para os meus pulmões e fito Tomaz,


finjo que as palavras que ele acabou de proferir não partiram meu
coração em mil partes.

— É só dinheiro o que importa para você? — questiono, com


firmeza, não dando espaço para ser humilhada por ele. — O que
fará se eu não vender o restaurante para você? Vai permitir que a
menina seja adotada por pessoas que não conhecemos só porque
eu estou na merda de um buraco cheio de dívidas?

Sua expressão continua imperturbável, o olhar fixo na minha


direção.

— Negócios são negócios. Eu estou te dando uma escolha


bastante razoável.

Passo a mão pelos cabelos, ainda incrédula com tudo que


ouço.
Meus olhos ardem pela raiva e a decepção, mas não permito
que nenhuma lágrima caia, não na frente dele.

— Vá embora, Tomaz! — Aponto na direção da porta, uso todo


o meu autocontrole para me manter de pé, o queixo erguido.

— Não faça isso, Cecília. — O homem dá um passo na minha


direção e estende a mão para segurar a minha. — Pense em
Sophia. Pense na vida que você poderá dar a ela.

Puxo minha mão do seu toque com brusquidão e me afasto


dele o máximo que o espaço permite.

— Eu sempre soube o quanto você queria este lugar, mas


nunca pensei que usaria de um momento tão sensível para
conseguir o que quer. Você não passa de um crápula, um
aproveitador sem um pingo de escrúpulos. — Expresso as palavras
de maneira contida. Não me altero, não dou esse gostinho a ele.

— Eu não sou seu inimigo, sabe disso.

— Não. Claro que não. Afinal, são apenas negócios. Foda-se


tudo o que este lugar significa para mim, foda-se a minha filha.

Percebo que minha voz começa a embargar e meus olhos


lacrimejam. O pânico me domina quando penso que irei perder
minha bebê, que não conseguirei salvar nós duas. O sentimento de
traição é tão sufocante que não consigo respirar com coerência.

— Querida, por favor…

— Vá embora, Tomaz. Eu não quero ouvir você… por favor,


me deixe sozinha.

— Não precisa decidir agora…


— Vá embora! — grito, o controle se esvaindo do meu corpo.
— Não quero ver ou falar com você… nunca mais.

Os olhos dele se estreitam e Tomaz balança a cabeça de um


lado a outro, parecendo incrédulo.

— Não pode estar falando sério.

— Eu estou!

O homem me encara por alguns segundos e olha a sua volta,


os punhos cerrados.

— São só paredes Cecília… pelo amor de Deus.

Não posso mais manter a postura indiferente, o muro que ergui


à minha volta é pesado demais para que eu consiga mantê-lo de pé
por muito mais tempo.

Com as pernas trêmulas, caminho até a porta do escritório e a


abro. Dou espaço para que Tomaz Mendonça saia, exatamente
como farei com ele em meu coração.

O barulho dos sapatos caros ecoam pelo piso. O homem para


por alguns segundos à minha frente, me analisa e em seguida sai,
como se tudo que vivemos nos últimos meses não tivesse passado
de uma mera conveniência.

A porta se fecha à minha frente e só então me permito ser


abalada pela mistura de sentimentos atordoantes. Choro baixinho
encostada à escrivaninha. Tudo vem à tona como uma avalanche
disposta a me sufocar, desde a morte dos meus avós e todo o
fracasso que venho vivendo, cada dia mais endividada. Choro por
medo de perder minha bebê, choro por amar um homem que só me
vê como uma ponte para alcançar seus objetivos.

Quando a enxurrada de sentimentos se esvai e meu corpo


volta a se acalmar, seco as lágrimas com as costas das minhas
mãos e decido sair dali. Encerro o expediente e subo para o andar
de cima. Encontro Sara lavando a louça e Sophia dormindo no ninho
em um colchonete na sala.

Dispenso a mulher para que ela possa ir para casa e caminho


até a bebê. Pego Sophia em meus braços e inspiro seu cheirinho de
bebê que tanto me acalma. O resto faço no automático. Quando ela
acorda, dou-lhe um banho morno e preparo a mamadeira. Em algum
momento da noite, faço um jantar leve para mim, mas acabo
perdendo a fome e não como nada. Adormeço mais tarde que o
costume agarradinha com Sophia, após rejeitar várias ligações de
Tomás Mendonça.
Acordo cedo como de costume para cuidar das necessidades
de Sophia. A garotinha já desperta a todo vapor, inquieta para ter a
fralda trocada e tomar a mamadeira.

Quando ela já está trocada e de barriguinha cheia, é a minha


vez de escovar os dentes, tomar café e começar a organizar as
coisas. Nossa rotina é a mesma desde que ela veio parar em meus
braços. Já não tenho tempo para sair, mas também não sinto falta.
Os poucos amigos que possuo trabalham comigo no restaurante, e
é com eles e com a minha pequena que passo a maior parte do meu
dia.

Por volta das dez horas da manhã, saio com Sophia para
irmos a outro banco fazer uma última tentativa de conseguir um
empréstimo. O dia está ensolarado e o céu muito azul, no entanto a
temperatura é agradável. Somos atendidas uma hora depois e a
resposta é a mesma de antes. Não é possível conceder um
empréstimo deste patamar para uma empresa à beira da falência
que mais gasta do que fatura.

Abatida, retorno para casa e deixo Sophia aos cuidados de


Sara. Eu me tranco no escritório do restaurante e mais uma vez me
afundo na pilha de documentos e contratos que estão sobre a mesa.

Analiso cada empréstimo devido, leio contratos, busco uma


solução. Nada encontro, tudo se encaminha para a beira do abismo
profundo, do qual irei desabar se não tomar uma decisão.
Minha cabeça lateja e pressiono os dois polegares na testa
tentando aliviar o incômodo. Tudo em mim dói. Desde os músculos
rígidos pelo tempo em que fiquei sentada, trancada aqui dentro, ao
coração que insiste em sofrer por causa dele.

Oh céus! Os momentos em que estive com Tomaz passam por


minha cabeça como um filme. É impossível não me recordar de
tudo, dos beijos e abraços quentes, do sexo gostoso que fizemos
tantas vezes em todas as posições imaginadas.

Sinto meu rosto afogueado com as lembranças e me odeio


internamente por ter gostado tanto. Por ter permitido que ele fizesse
tudo o que queria com meu corpo, e principalmente, por ter
permitido que Tomaz Mendonça alcançasse o meu coração. Se
meus avós soubessem a safada em que eu me tornaria nos últimos
meses, teriam me deserdado com certeza.

Como fui burra.

Fecho os meus olhos me sentindo como um animalzinho


indefeso que foi enjaulado e não encontra uma saída. Penso em
Sophia, minha pequena bebê, que em tudo depende de mim. Mas
também penso em meus avós, duas pessoas incríveis que
dedicaram suas vidas a este estabelecimento.

O que eles fariam no meu lugar? Como resolveriam tudo? A


resposta é simples, mas ainda assim é difícil de aceitar. Apesar de
tudo, sei exatamente a decisão que vovó e vovô tomariam para me
manter segura, bem alimentada e protegida. Nenhum dos dois
mediriam esforços para me criarem da melhor maneira possível, não
importando o preço a ser pago. E é pensando nisso que pego meu
celular e procuro o número de um dos advogados de Tomaz, pois
agora é Sophia que depende de mim e eu preciso ser forte para
tomar a melhor decisão em prol do bem-estar dela.
Após duas chamadas, o homem atende e eu inspiro fundo.

— Senhorita Cecília?

— Oi… Olá. — Minha voz quase não sai.

— Confesso que estou surpreso com seu retorno. Posso


ajudar em algo?

Penso em desligar, dizer que me enganei ou algo do tipo, mas


busco forças do fundo da minha alma para ir até o fim.

— Na verdade, sim, é sobre a venda do restaurante.

— Então a senhorita mudou de ideia?

Fecho os meus olhos por alguns segundos, o coração batendo


tão forte que quase posso ouvir as batidas desenfreadas.

— Sim. Eu quero vender o restaurante — finalmente respondo.

Ouço um suspiro do outro lado da linha e imagino o quanto o


homem esteja em êxtase por poder concluir mais uma transação
com sucesso. Exatamente como Tomaz queria.

— Certo. Irei preparar a papelada de acordo com a proposta


que fizemos. Tudo bem?

Relembro os principais pontos da proposta que o advogado


havia me enviado por e-mail há meses, no qual constava um valor
bastante razoável pela venda do imóvel, mais a quitação de todas
as minhas dívidas.

— Sim, eu concordo, mas tenho uma condição.


— E qual seria?

— Diga ao seu chefe que só assinarei os papéis de compra e


venda depois que eu estiver com os documentos de adoção da
Sophia em mãos, devidamente regularizados.

— Tudo bem, senhorita, Cecília. Algo mais?

— Não. É só isso.

Está feito.

Desligo a chamada e me afundo na poltrona macia me


sentindo tão infeliz que não tenho ânimo para mais nada.

Observo as horas passarem e permaneço em meu cantinho


isolado, tomando coragem para avisar a todas essas pessoas que
trabalham comigo que elas ficarão sem emprego.

Ouço atentamente tudo o que o advogado diz sobre a


conversa que teve com Cecília com relação a venda do restaurante.
Finalmente eu consegui o que queria. Finalmente posso dar
prosseguimento aos planos da empresa, fazer um bom investimento
e multiplicar minha fortuna da maneira que havia planejado. No
entanto, não é felicidade, orgulho ou alívio o que estou sentindo.

Aquela sensação incômoda não sai de dentro do peito. Sinto


como se tivesse acabado de cometer o pior dos pecados e agora
devo pagar o preço com juros e correções.

Ouço a voz do homem ao fundo, mas não consigo me


concentrar o suficiente para compreender o que ele está dizendo.
Meus pensamentos voam até Cecília e a pequena Sophia. Recordo
as duas sorrindo ao me verem na porta da casa de Cecília, após um
dia exaustivo de trabalho. A bebezinha toda manhosa querendo colo
depois de tomar a mamadeira.

— Tomaz…. Tomaz…

Ergo o olhar e o encaro momentaneamente, desnorteado.


Marcelo me fita de volta com a sobrancelha erguida e a testa
franzida, o semblante preocupado.

— E então? — questiona e aguarda a minha resposta sobre o


prosseguimento da compra do restaurante.

Apesar de toda essa merda que vem me tirando o sono desde


o dia anterior, principalmente depois que Cecília cortou contato
comigo, concluo que o melhor para nós dois é que essa transação
aconteça. Cedo ou tarde, ela irá se dar conta que fez a escolha
certa e permitirá que eu me aproxime outra vez.

— Dê prosseguimento, Marcelo — sentencio. — Assim que


ela tiver em mãos a guarda definitiva da menina, e assinar o
contrato da venda, faça uma transação financeira com o dobro do
valor estipulado no acordo.
Marcelo assente, embora possa notar uma mistura de
confusão em seu olhar.

O dia passa lentamente na empresa. Minha cabeça lateja


quando a última reunião termina e eu retorno para o meu escritório,
no último andar do edifício. O estresse está me matando pouco a
pouco. Prometi a mim mesmo que não voltaria a ligar para Cecília,
que daria a ela um tempo para colocar a cabeça no lugar e só então
a procuraria. Mas porra, a saudade dela está me sufocando de uma
maneira tão angustiante que não consigo explicar.

Fecho os olhos por alguns instantes imaginado o quanto eu


gostaria de beijar sua boca agora, sentir seu cheiro se entranhando
em meu sistema, fazer sexo com ela até nós dois ficarmos
exaustos.

Os últimos dois meses funcionaram para mim como uma


válvula de escape. Meu dia começa exatamente às cinco da manhã
quando acordo para me exercitar na academia que tenho em casa e
depois passo o dia na empresa entre uma reunião e outra, mal
tendo tempo para respirar. Mas à noite, quando deixo a versão
homem de negócios no trabalho e dirijo para a casa de Cecília, é
como se eu me transformasse em outra pessoa.

Um homem muito melhor, mais humano. Um homem que se


sente verdadeiramente em casa quando está sentado à mesa de
jantar, comendo uma comida simples e deliciosa preparada pelas
mãos mais delicadas do mundo, enquanto segura uma bebê risonha
nos braços.

— Porra, Cecília…
Pego o celular e entro no WhatsApp para fazer uma ligação via
aplicativo, mas mudo de ideia quando vejo sua foto de perfil. Ela
está tão perfeita, sorridente, os cabelos negros e lisos emoldurando
o rosto lindo, os olhos marcantes, expressivos, delineados por cílios
longos e sobrancelhas bem marcadas.

E a boca… maldição… Ela tem uma boca volumosa, macia. A


mais deliciosa que já provei. E faz um sexo oral como ninguém,
mesmo se mostrando tão inexperiente no começo.

Gemo baixinho quando sinto o pau se encher de sangue só em


pensar nos lábios de Cecília se fechando em volta do meu eixo.
Xingo internamente, irritado comigo mesmo por permitir que uma
garota tome todo o meu autocontrole.

Um clima de velório se apossou dos funcionários deste lugar,


incluindo de mim. Nunca pensei que algum dia as coisas
terminariam dessa maneira, mas é exatamente assim que mais um
expediente é encerrado.

Meu coração se partiu em milhões de pedaços quando vi os


olhos marejados de seu José assim que informei a todos sobre a
venda do restaurante. Ele era a pessoa mais próxima do meu avô e
é também o mais próximo que tenho de uma família. Eu sabia que o
motivo de sua angústia não era somente pelo trabalho. Seu José
havia passado parte da sua existência aqui dentro, ele era um
pedaço da vida do meu avô ainda respirando.

Apesar de tudo, todos entenderam os meus motivos e me


apoiaram na decisão. Eles sabiam o ponto em que havíamos
chegado. Em breve, não haveria dinheiro em caixa para pagar os
salários; em breve, eu não saberia nem sequer como continuaria
pondo comida na mesa para Sophia.

Desolada, saio do escritório empurrando o carrinho de bebê e


começo a ajudar Sara com a limpeza das mesas. A mulher trabalha
em silêncio, a cabeça baixa, exatamente como todos os outros
funcionários estão se portando no momento. Não posso dizer que
estou muito diferente, pois também faço tudo no automático.

Quando tudo está limpo, pego Sophia que está dormindo no


carrinho e aninho sua cabecinha em meu peito com o máximo de
cuidado possível para não a acordar.

É neste momento que ouço uma batida firme na porta do


restaurante, fazendo com que eu, Sara e os demais funcionários
virássemos para aquela direção.

— Cecília… Por favor abra a porta. Precisamos conversar. —


Meu coração dispara a níveis alarmantes quando reconheço a voz
de Tomaz.

Sinto as pernas tremerem e firmo a bebê com mais força ao


meu corpo. Completamente atordoada, olho para Sara e faço um
aceno para que ela não atenda.

A mulher assente e eu dou o mesmo recado silencioso aos


demais.
As batidas continuam, no início apenas firmes, mas depois se
tornam bruscas. Penso em ir até lá e exigir que Tomaz vá embora,
mas também não me sinto preparada para o enfrentar cara a cara.

Sem saída, me aproximo de Sara e peço para que a mulher


diga a ele que não estou, que fui passar a noite na casa de alguma
amiga, que invente qualquer coisa. Quando Sara se encaminha na
direção da porta, dou meia-volta e subo as escadas que dão acesso
à minha casa, o coração doendo tanto que mal consigo respirar.

As luzes estão completamente apagadas quando entro, e por


isso ligo a tela do celular para me sintonizar no ambiente escuro e
não correr o risco de ser descoberta por Tomaz. Coloco a bebê na
cama e me deito com ela quietinha, aguardando os minutos
passarem. Algum tempo depois, a campainha começa a tocar, e sei
que Tomaz não se deu por convencido com a explicação de Sara
sobre a minha ausência.

Meu coração bate forte dentro do peito, como se eu acabasse


de correr uma maratona quando a campainha cessa. Tudo fica no
mais absoluto silêncio, exceto pela minha respiração acelerada.
Tomando cuidado para não fazer barulho, corro até a sala e sigo
direto para a janela de vidro que dá acesso à rua logo em frente ao
restaurante. Afasto a cortina devagar e espio lá fora.

E então eu o vejo, iluminado pelas luzes dos postes.

Tomaz está recostado em seu Mercedes-Benz do ano, as


mãos nos bolsos da calça social, a cabeça baixa, fitando o nada. Ele
permanece ali por um tempo, quase que completamente imóvel, só
então ergue a cabeça e olha na direção da janela da minha sala.

Preciso me controlar para não dar um salto, tomada pelo susto


de ter seu olhar tão fixo onde estou, no entanto, tenho total
convicção que o homem não pode me ver aqui no escuro. Ele
apenas sabe que essa janela tem ligação direta com a minha casa.
Acabo me perguntando o que se passa em sua cabeça. O que
Tomaz tem para conversar depois de tudo?

Com uma imensa tristeza, vejo o homem desviar o olhar da


janela e se movimentar para abrir a porta do motorista. Em menos
de um minuto, o veículo some de vista na rua vazia, só então eu me
afasto e abraço o meu corpo trêmulo. Não porque sinto frio, mas sim
porque a angústia que sinto no fundo da minha alma é mais forte do
que consigo suportar.

2 MESES DEPOIS

— Meus parabéns, Cecília. — A voz da assistente social que


me acompanhou durante todo o processo de adoção ecoa pela sala
do fórum.

Com as mãos trêmulas, deixo a caneta cair sobre a mesa e


levo a mão à boca para abafar o choro emocionado que me toma. É
impossível manter a postura e não chorar de alívio ao ter em mãos o
documento que definitivamente me nomeia como a mãe de Sophia
pelo resto da minha existência.

Foram semanas sendo avaliada e recebendo visitas diárias da


assistente Social destinada ao caso, além de várias sessões de um
curso preparatório de adoção e algumas idas ao tribunal,
acompanhada dos melhores advogados de Florianópolis.
Foi necessário a abertura de um processo judicial para
acelerar a questão da adoção de Sophia, com a alegação de que já
estávamos ligadas pelo vínculo afetivo e não havia motivos para
este prazo se estender por mais tempo. A equipe de advogados de
Tomaz Mendonça não mediu esforços para cumprir todo o
combinado do contrato.

— Obrigada, Sandra… — Eu me aproximo da mulher e a


surpreendo com um abraço de gratidão, pois sei que seu relatório
final foi o estopim para que tudo desse certo tão rápido.

— Vocês merecem, Cecília. Não tem o que agradecer, apenas


cumpri o meu trabalho.

Seco os olhos molhados e volto a minha atenção para


Marcelo, um dos advogados de Tomaz Mendonça que esteve à
frente do processo. O homem sorri para mim e eu sorrio de volta,
tão grata que mal encontro as palavras necessárias.

Com um aceno, ele indica que irá me aguardar do lado de fora


e eu concordo.

Eu me despeço de todos os envolvidos com um aperto de mão


e mais uma vez agradeço à Sandra por tudo. Estou em êxtase
desde o momento em que a mulher me ligou, avisando que eu
poderia me encaminhar ao fórum para assinar a documentação. A
ansiedade era tão grande dentro do peito que só tive tempo de ligar
para Marcelo para que o advogado pudesse me acompanhar
durante a assinatura dos documentos, troquei Sophia e fui com ela
até a casa de Sara ali perto.

A ideia era deixar a menina sob seus cuidados até que tudo
fosse resolvido e eu pudesse retornar para casa, mas Sara fez
questão de me acompanhar ao fórum para cuidar da minha filha e
saber de todas as novidades em primeira mão.
Assim que saio da sala, encontro Sara no corredor de espera
brincando com Sophia. Minha bebê fica toda elétrica ao me ver a
abre um lindo sorriso banguela.

Eu me aproximo das duas e Sophia estende os bracinhos para


mim, ansiosa. Não consigo evitar um sorriso radiante, a felicidade
explodindo dentro do meu peito. Seguro a menina e dou um giro
com ela nos braços, fazendo a garotinha gargalhar no processo.

— E então Cecília, deu tudo certo? — Sara pergunta, em


expectativa.

Ergo meu olhar para ela, mal contendo as lágrimas de


felicidade que teimam em escorrer pelo meu rosto.

— Sim. Agora eu sou definitivamente e legalmente a mãe de


Sophia.

— Graças a Deus… — Sara me abraça, emocionada, e deseja


tudo o que há de mais maravilhoso no mundo para mim e Sophia.

A garotinha reclama ao ser esmagada dentro do abraço de


urso, mas apenas sorrimos e eu me afasto de Sara, repleta de
gratidão.

— Obrigada por tudo. Você é uma amiga incrível… — digo a


ela e seguro sua mão em agradecimento.

— Sabe que não precisa agradecer. Eu amo essa garotinha.


Ela merece ter uma mãe maravilhosa como você. — Assinto, ainda
mais emocionada e Sara também seca os olhos. — Bom, me dê
aqui essa fofurinha porque o advogado do bonitão está esperando.
— Sara aponta para as minhas costas e eu me viro.
Marcelo está à minha espera, de pé, na porta de uma salinha
privativa.

Inspiro fundo, certa de que agora chegou a hora de cumprir a


minha parte no acordo.

Devolvo a bebê para Sara e acompanho Marcelo ao interior do


compartimento.

— Pode se sentar, Cecília. — O homem aponta para uma


cadeira de frente para a mesa e se senta também.

Cruzo as mãos na frente do corpo, e antes que ele comece a


dizer algo, tomo o partido da fala:

— Marcelo, primeiramente gostaria de agradecer a você por


tudo o que fez para que eu conseguisse a adoção de Sophia. Não
tenho palavras para expressar o tamanho da minha gratidão.

O homem me analisa por alguns instantes, a expressão firme.

— Não é a mim que deveria agradecer.

Sinto o coração bater mais rápido ao pensar em Tomaz e


desvio o olhar do homem à minha frente. Eu o evitei o máximo que
pude durante esse tempo. Cortei todos os laços que tinha com
Tomaz Mendonça e me recusei firmemente a vê-lo outra vez. Ainda
dói pensar em tudo o que ele fez para conseguir o que queria, o
quão sujo ele jogou, mas preciso ser justa. O risco de perder a
guarda de Sophia sem a ajuda dele era grande demais.

Inspirando fundo, volto a fitar o advogado.

— Onde ele está? — Confesso que sinto uma pontada de


decepção surgir no fundo do meu coração por Tomaz não ter
comparecido ao fórum com Marcelo. Ele mais que ninguém, sabe o
quanto esse momento é importante para mim. No entanto, também
tenho consciência de que não fui muito cortês com ele nos últimos
meses.

— Tomaz viajou ontem à noite para Nova York a trabalho.


Surgiram alguns imprevistos que deveriam ser corrigidos
pessoalmente, com urgência. Ele ainda não sabe que agora você
tem a guarda definitiva de Sophia.

Assinto para o homem e puxo o ar com mais força para os


pulmões. Um pouco nervosa, retiro o contrato de compra e venda da
bolsa e entrego o documento para Marcelo.

— Eu assinei há alguns dias — confesso.

O homem segura o documento e folheia as páginas,


conferindo o conteúdo e a assinatura.

— Em até vinte e quatro horas, o pagamento estará em sua


conta — diz, por fim e guarda os papéis em uma pasta preta.

— Obrigada! — Eu me levanto da cadeira e Marcelo faz o


mesmo, ajeitando o paletó cinza escuro na frente do corpo.

— Boa sorte, Cecília — diz, estendendo a mão. — Foi um


prazer fazer negócio com a senhorita.

Aperto a mão estendida e então me afasto. Olho uma última


vez para a pasta escura sobre a mesa, o coração doendo dentro do
peito por saber que mais um ciclo da minha vida chegou ao fim.
Viro-me para sair e ergo a cabeça, disposta a tudo para me
reerguer, disposta a ser a melhor mãe do mundo, disposta a seguir
o curso e agarrar com unhas e dentes este novo recomeço.
— Veja meu amor, você gostou? — brinco com Sophia,
balançando um ursinho de pelúcia que comprei para ela.

A bebê bate as mãozinhas uma na outra toda sorridente


enquanto eu a firmo sentada sobre o tapete de atividades, para que
ela não perca o equilíbrio e caia para a frente.

Agora ela tem cinco meses e alguns dias. Está tão esperta,
gordinha. O cabelinho preto caindo na testa, os olhinhos atentos a
cada movimento ao seu redor. Quando Sophia perde o interesse em
brincar com o ursinho, coloco algumas almofadas ao seu redor e a
deixo sentadinha, batendo as mãozinhas gorduchas nos desenhos
do tapete.

Sorrio toda boba enquanto a vejo brincar e me sento no sofá


para a supervisionar. Em pouco tempo, a bebê deixa os desenhos
de lado e começa a reclamar, fazendo carinha de choro na minha
direção.

Com o coração derretendo de amores, eu a pego no colo e


volto a me sentar. Um bocejo escapa de sua boca e a bebê aninha o
corpinho de encontro ao meu peito.

— Está cansada não é, bebê?

Acaricio os cabelinhos dela e começo a cantar uma


musiquinha calma para fazê-la dormir. Não demora muito e Sophia
pega no sono. Está exausta devido à viagem de quase três horas
que fizemos para o interior de Santa Catarina após eu entregar as
chaves do restaurante ao advogado de Tomaz, um dia depois da
entrega do contrato.
Coloco Sophia sobre a cama de casal com grades de proteção
e me retiro do quarto para terminar de organizar as coisas. A linda e
pequena casa que aluguei há várias semanas, está uma verdadeira
zona devido às caixas espalhadas pelos cômodos com os
brinquedos e pertences de Sophia, roupas de cama e utensílios de
cozinha. Nossas roupas ainda estão metade dentro das malas.

Localizada no sul catarinense, Nova Veneza é um pedacinho


da Itália no Brasil e foi aqui que os antepassados dos meus avós
criaram raízes antes de se mudarem para a capital, Florianópolis.
Foi também por este motivo que decidi me estabelecer aqui por um
tempo. É uma cidadezinha pequena e encantadora, não muito
distante de Florianópolis, mas perfeita para descansar o corpo e
desacelerar a mente. E principalmente, distante o bastante de
Tomaz Mendonça.

Abro o restante das malas e retiro todas as roupas para as


guardar nos armários. A casa já estava toda mobiliada quando
aluguei e isso foi uma mão na roda, pois decidi doar a maioria dos
meus móveis para não precisar passar por todo aquele processo
cansativo de uma mudança completa.

Começo pelas roupas dela. Dobro as calças e macacões e


coloco nos armários, faço o mesmo com os bodys e blusas. O clima
está bem friozinho aqui com a proximidade do inverno, e por isso,
vou em busca de uma manta quentinha e embrulho Sophia.

Pelos próximos minutos, me distraio com a organização da


nossa casa, e quase morro de susto quando ouço o toque estridente
da campainha. Não sei exatamente o que esperar enquanto me
encaminho para abrir a porta. Imagino se tratar de alguma vizinha
simpática que tenha vindo dar as boas-vindas. As pessoas
costumam ser bastante receptivas nas cidades pequenas.
Desfaço o coque bagunçado que havia feito no cabelo e
amarro os fios em um rabo de cavalo. Não me preocupo muito com
o short e a camiseta simples que uso, qualquer pessoa em sã
consciência logo perceberia que estou no momento faxina do dia.

Forço o meu melhor sorriso e então abro a porta.

Meu coração dispara a níveis alarmantes e todo o meu corpo


estremece quando vejo a pessoa à minha frente. Tomaz Mendonça
me encara de volta de uma maneira tão intensa que quase perco as
forças das pernas e desabo no chão.

Abro e fecho a boca algumas vezes tentando formular alguma


frase, mas não consigo dizer nada. Simplesmente fico parada,
encarando o homem que amo e que tanto machucou meu coração.

— Cecília… — Sua voz sai carregada de angústia, os olhos


vermelhos.

Tomás dá um passo na minha direção e sem pedir licença, me


puxa para seus braços e enfia a cabeça na curva do meu pescoço,
inspirando fundo.

— Por favor me perdoe, Cecília. Me perdoe, querida.

Confusão nubla os meus pensamentos e eu coloco a mão em


seu peito para o afastar.

— Tomaz… o que faz aqui?

Minha voz falha quando pergunto, sinto-me completamente


desestabilizada pela proximidade dele, ainda assim tento me manter
firme.
— Sinto muito pelo que fiz — ele diz, o olhar tão atormentado
na minha direção que todo o meu corpo se arrepia em resposta.

— Eu… — Não sei exatamente o que dizer. No entanto, não


há muito a ser dito pois Tomaz Mendonça estende a mão em minha
direção e me entrega alguns papéis.

O conteúdo do documento fala por si só, é o contrato de


compra e venda do restaurante sem a sua assinatura.

— Eu estou devolvendo o que te pertence. Na verdade, nem


sequer assinei o contrato. A compra do seu restaurante nunca foi
concretizada de fato.

Lágrimas dolorosas brotam em meus olhos quando ouço o que


ele diz e levanto a cabeça para encarar Tomaz Mendonça, um bolo
angustiante se formando em minha garganta.

— O quê? Mas por quê?

— Porque eu te amo, Cecília. Eu te amo demais.

As lágrimas começam a deslizar pelas minhas bochechas sem


controle e eu fungo baixinho, completamente desnorteada. Quero
acreditar em suas palavras, mas tenho tanto medo.

— Eu não entendo…

O homem volta a me tomar em seus braços e dessa vez não


há escapatória para mim. Eu desabo como há muito tempo não me
permiti fazer. Choro baixinho no peito de Tomaz Mendonça, tomada
pela incerteza e a insegurança. Tomada pela dor que a distância
dele me causou.
— Eu sei que é difícil compreender... — Suspira. — Marcelo
não sabia sobre a decisão que eu havia tomado recentemente, e por
isso ele deu prosseguimento ao processo… Eu iria te fazer uma
surpresa assim que o processo de adoção de Sophia fosse
concluído, mas um imprevisto aconteceu e eu precisei viajar com
urgência. Não fazia a mínima do que aconteceria na minha
ausência.

— Como me achou? — questiono, um pouco mais controlada.

Eu me afasto de seus braços e fito seu rosto para captar a


verdade de suas palavras. Tomaz me encara com ternura e desliza
a mão em meu rosto.

— Sara… eu fui até a casa dela assim que cheguei de viagem


e fui informado sobre tudo.

Abro e fecho os olhos, só agora me dando conta do quão


ingênua eu fui. É lógico que Tomaz me encontraria. Ele sabia onde
Sara mora pois já havia ido comigo e Sophia algumas vezes em sua
casa. Aquela amiga da onça.

— Eu não sei o que dizer… — confesso, completamente


atordoada, a voz embaçada de emoção.

— Não diga nada. — Ele se inclina na minha direção e cola a


testa na minha, as mãos fortes seguram o meu rosto. — Apenas me
aceite de volta, Cecília. Me aceite como seu namorado. Me permita
ser o pai de sua filha.

Um soluço escapa da minha garganta e eu assinto para ele, o


peito transbordando de felicidade por finalmente estar nos braços de
Tomaz outra vez.
— Eu vivi o inferno longe de você. De vocês — diz roucamente
e desce o olhar para a minha boca.

— Eu também — respondo, em murmúrio ofegante, o peito


subindo e descendo.

Nossas bocas se encontram em um beijo doloroso, carregado


de arrependimentos e saudades. Tomaz me segura em seus braços
me apertando contra si de uma maneira tão intensa que fico sem ar.
Nossas línguas se entrelaçam, nossos corpos se colam um ao
outro. Somos puro sentimento e desejo, a personificação do próprio
destino.

— Eu também te amo, Tomaz. E sim, eu aceito ser a sua


namorada. E aceito você como o pai da nossa filha.

As mãos grandes deslizam pelo meu corpo e Tomaz me ergue


no ar. Afasta a boca da minha e sorri ternamente, fazendo toda a
esperança se renovar dentro do meu coração, concretizando o
milagre que começou na noite de Natal quando encontramos aquela
linda garotinha.
1 ANO E 8 MESES DEPOIS

Termino de colocar os enfeites de Natal na árvore que enfeita o


hall de entrada do restaurante e me afasto para observar tudo com
mais atenção.

— Está magnífica, Cecília. — Sara solta um gritinho animado


ao meu lado e eu sorrio contente com o trabalho incrível que toda a
equipe do restaurante realizou na montagem da árvore.

Seu José logo aparece para observar a enorme árvore de


Natal, enquanto enxuga as mãos em um pano de prato, o sorriso de
orelha a orelha.

— Ah minha filha, seus avós ficariam orgulhosos com todas as


coisas incríveis que você e Tomaz estão fazendo neste lugar.

Assinto para ele e me aproximo para lhe dar um abraço


apertado.

Estamos no finalzinho de novembro e os preparativos para a


época mais mágica do ano estão a todo o vapor. Principalmente
agora que transformamos o antigo restaurante em um ambiente
temático e aconchegante para cada época do ano, com direito a um
bar exclusivo e música ao vivo no andar de cima.

A árvore finalmente está montada, e uma equipe especializada


se encarregará da instalação das luzes e o restante da decoração.

Sorrio orgulhosa de tudo e passo a mão em minha barriga


protuberante de oito meses de gestação. O bebezinho dá um chute
no local em que acaricio e meu sorriso se amplia, a felicidade me
consumindo por dentro.

Não demora muito e Tomaz chega no restaurante para me


levar para casa e assim encerro mais um expediente. Despeço-me
de todos e passo algumas orientações finais para Sara que agora é
a gerente do estabelecimento.

Abraçada ao meu noivo, caminho até o carro e fazemos nosso


percurso diário para casa.

Assim que chegamos, somos recepcionados por Sophia e a


babá que já estão à nossa espera, próximo à piscina da mansão.

A menininha corre na nossa direção e Tomaz a ergue nos


braços.

— Papai… — Ela ri quando Tomaz gira seu corpinho no ar e


eu aperto suas bochechas gorduchas.

— Olá filhota. — Ele lhe dá um beijo no rosto e eu faço o


mesmo.

Fico impressionada com o quanto ela cresceu. Está tão linda,


usando um vestido azul celeste, os cabelos soltos batendo abaixo
dos ombros.

Ela gargalha toda feliz e meu coração incha de felicidade por


estar ao lado da minha família. Junto ao meu noivo e nossa filha,
carregando nosso menino que em poucas semanas irá nascer.

— Olá, Senhor Tomaz, senhora Cecília — a babá nos


cumprimenta, também sorridente e seguimos todos para o interior
da casa.
Com a proximidade do parto, decidi diminuir minha carga de
trabalho e agora permaneço apenas por meio período no
restaurante. Também foi por isso que decidimos contratar uma babá
para me ajudar com Sophia até o nascimento do bebê. Embora ela
seja um amor de menina, é muito elétrica e acabo não conseguindo
acompanhar seu pique.

— Passamos a tarde colocando enfeites na árvore, senhora.


Sophia estava eufórica — diz a babá.

A enorme árvore de Natal foi instalada ao lado da lareira e


agora é o cartão postal da mansão. Ainda faltam alguns ornamentos
e a estrela no topo, mas faremos isso após o jantar.

— Está maravilhosa. — Suspiro baixinho e me aproximo do


meu noivo e da nossa filha. Abraço os dois.

Sinto meus olhos ficarem molhados pela nostalgia e levanto a


cabeça para encarar Tomaz.

— O que foi meu, amor? — O homem seca as lágrimas que


transbordam e inclina o rosto para depositar um beijo em minha
testa.

— Sabe bem como o Natal é importante para mim, para nós —


comento baixinho e sorrio para ele.

— Sim, eu sei.

Tomaz também sorri e volta sua atenção para a nossa árvore


de Natal. Com uma mão, ele segura Sophia em seus braços, e com
a outra acaricia a minha barriga.

E assim, nessa áurea mágica do Natal, eu finalmente


compreendo que o espírito natalino é capaz de realizar milagres.
Fim.
Grávida do Melhor Amigo do meu Pai

Sinopse:

Romance com diferença de idade. (+18)

Gonçalo Ribeiro era um médico rico e bem-sucedido quando


uma tragédia destruiu a sua vida. Uma perda dolorosa o quebrou de
maneira inimaginável. Meses depois, amargurado e incapaz de
continuar exercendo a profissão, ele abriu mão de tudo o que
conquistou para se isolar na antiga fazenda da família, local onde
cresceu. Mas, a vida calma e solitária que ele tanto desejou estaria
longe de existir ao conhecer Celina, a filha jovem e insolente do seu
amigo de infância. Ele deseja e odeia aquela irresistível garota que
o tira do sério.

Celina o despreza e anseia por ele na mesma proporção.


Porém, a atração que os domina é tão avassaladora que após uma
ardente noite juntos, o destino poderá trazer consequências
irreversíveis em forma de um lindo bebê.

ATENÇÃO: Cada livro da série irá contar a história de um casal


diferente.

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