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2023
 
Nome da obra: UMA DISPUTA INDECENTE – Amores Impossíveis 2
Revisão e Preparação de Texto: Dani Smith Books

Diagramação: Mavlis
Capa: Mavlis
Nome do autor: Mari Cardoso
www.maricardoso.com.br

Copyright © 2023 por Mariana Cardoso


 
INFORMAÇÕES
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e
mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de
citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de
direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns
lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais
é apenas espelho da realidade ou mera coincidência.
Sumário
SINOPSE
NOTAS DA AUTORA
DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
CAPÍTULO TRINTA E SETE
CAPÍTULO TRINTA E OITO
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
EPÍLOGO
EPÍLOGO
SOBRE A AUTORA:
AGRADECIMENTOS
 
SINOPSE
Simon Higgins Basset era quase um highlander. Alto, ruivo,
misterioso e nascido entre as montanhas misteriosas da Escócia. Sendo
fuzileiro da Marinha Real Britânica, possuía habilidades extraordinárias, era
capaz de entrar e sair de países em missões secretas e realmente muito bom
no que fazia, até que a morte de seu pai lhe fez deixar a carreira militar para
assumir os negócios no vilarejo em que foi criado.
O Castelo Basset mantém a tradição da antiga Escócia, alimentado
pelo turismo e pela produção da fazenda, assim como o famoso uísque,
marca da família. Simon era um homem recluso, quieto, mal-humorado e
muito difícil de lidar. Protetor com aqueles que amava e um tanto
competitivo, não esperava que a irmã caçula de um dos seus melhores
amigos chegasse para tirar o pouco que tinha de paz.
Ediwa Lewis era quase uma princesa. Bonita, perfeita, educada,
falava várias línguas, queridinha da mídia e nasceu em um berço de ouro no
coração de Londres. Pianista principal de uma orquestra bem conceituada e
irmã de um príncipe, ela se viu no meio de um escândalo romântico ao
negar o pedido de casamento do homem que todos consideravam o príncipe
encantado. 
Necessitando de uma mudança, ela aceitou um emprego como
professora de música no interior da Escócia para recomeçar e sair dos
holofotes. E, infelizmente, não esperava que encontraria Simon, um gigante
complicado, que estava sempre em seu caminho e implicando com todas as
suas ações, mesmo sendo amigo do seu irmão mais velho. 
Começando uma disputa indecente, os dois protagonizam cenas
realmente quentes e apaixonantes, que mostram o quanto o cupido os
flechou no primeiro olhar, provando que o amor era possível até mesmo
para dois teimosos impossíveis. 
 
 
 
NOTAS DA AUTORA
Ediwa Lewis é uma personagem que foi apresentada as minhas
leitoras no livro O Príncipe Que Eu Amo, como irmã caçula do
protagonista, Ethan Lewis, um dos quatro amigos que encabeçam a série
Princesas Modernas. E eles tinham um quinto amigo que vocês sempre me
perguntavam se teria livro e esse é o Simon, que além de terem visto nesta
série, também o conheceram melhor em Uma Família de Aluguel Para o
Magnata.
Todos os meus livros podem ser lidos separadamente, mas esse
aviso vai para as fominhas de romance que sempre querem conhecer a
história daqueles irmãos e irmãs que são mencionados no decorrer do livro.
E aqui vai uma breve explicação por ordem de lançamento. Simon, é amigo
de Justin (A Valentia do Amor), Ethan (O Príncipe Que Eu Amo), Louis (O
Beijo do Príncipe) e Liam (Um Beijo de Amor Para o CEO).
E dessa série, surgiu Amores Impossíveis, no qual o primeiro livro
chama-se Uma Aposta Tentadora e é da Daphne, irmã da Ediwa e Ethan,
com o Bruno, irmão da Cat (par do Louis de O Beijo do Príncipe). E ainda
tem uma pincelada desse povo todo pode ou não ter uma coroa na cabeça
no livro Como Casar Com Seu Príncipe.
Esse romance é uma comédia doce e divertida, tem cenas para
maiores de dezoito anos, contém gatilhos de abuso sexual de menor idade
(não com a protagonista, porém, com uma personagem importante), aborda
perda parental, tem a trope hate do lovers (quando eles se detestam sem
motivos), uma só cama e melhor amigo do meu irmão e é age gap.
Lembrando que é uma história de amor, portanto, possui um final
feliz. Como autora e detentora dos direitos autorais desta obra, não autorizo
o compartilhamento em PDF, que é crime. Ajude o autor nacional
comprando o ebook na plataforma para que outros livros possam ser
lançados.
Com amor,
Mari Cardoso
 
DEDICATÓRIA
Dedico a você que está de malas prontas para Escócia em busca do seu
Simon. Te encontro no aeroporto.
 
PRÓLOGO
Simon
Escócia 
Parei no alto da colina, respirando fundo e olhei para a imensidão
verde. O lugar que cresci, mas já fazia muitos anos que não ficava ali mais
do que algumas semanas. Meu lar novamente, para dar sequência a tudo
que meus pais construíram ao longo da vida, porque havia mais do que eu e
minha irmã como seus herdeiros. Nossos negócios também moviam a
economia do pequeno vilarejo em que vivíamos. 
Escolhi um bom ponto e tirei minha mochila das costas, montando
meu acampamento. A barraca estava bem fincada na terra, enchi o colchão
que, embora odiasse, Claire[1] insistiu que trouxesse e não carreguei o peso
extra à toa. Recolhi pedras e galhos para fazer a fogueira, acendendo e
esquentando a água para cozinhar meu jantar. Depois de um dia inteiro de
caminhada, uma boa ração operacional iria forrar meu estômago o
suficiente.
Observei a noite cair e fiquei deitado, com as mãos atrás da cabeça,
olhando para o lindo céu estrelado.
— Espero que você esteja melhor aí, velhote. Foi embora cedo
demais. 
Fechei meus olhos, tentando pegar no sono e ele só apareceu
esporadicamente. Antes do amanhecer, já estava com tudo recolhido e segui
caminho até a trilha para chegar no ponto certo quando o sol estivesse a
pino. A árvore da nossa família. Meu pai plantou quando minha mãe
descobriu que estava grávida de mim, era enorme, com folhas bonitas, bem
próxima à cachoeira. Ele marcou ali o nascimento de Claire, dos gêmeos e
do bebê caçula.
E agora… eu estava marcando o falecimento dele.
— Descanse em paz, pai. Eu sempre vou te amar — falei baixo,
tocando o tronco.
Voltei caminhando para casa e horas depois, avistei o castelo. No arco
principal, estava uma mulher ruiva, com vestido esvoaçante, de braços
cruzados e correndo em minha direção. Minha doce garotinha já era uma
mulher adulta, casada e mãe. Minha irmãzinha. Claire abraçou-me bem
apertado.
— Fiquei preocupada, já estava anoitecendo e eu teria que obrigar
Brian a ir atrás de você.
Soltei uma risada só de imaginar o riquinho andando pela mata, ou ele
contrataria alguém para tal feito. Passei o braço nos ombros dela e a levei
para casa, precisava de uma cerveja, um bom prato de comida e um banho
quente, para começar a trabalhar e deixar minha antiga vida militar para
trás. 
 
 
PRÓLOGO
Ediwa
Londres 
Andei com calma pelos corredores do palácio que morava com minha
mãe, morrendo de sono. Em algum lugar, ouvia o latido de Moana, cadela
da minha cunhada, Charlotte[2]. Eles quase não ficavam em casa, apesar de
ali ser a residência oficial deles para a imprensa, viviam a maior parte no
campo quando estavam na Inglaterra. Bocejei e continuei à procura da
minha família, que deveria estar reunida na sala de jantar principal para o
café da manhã.
Desci a escada com cuidado por ainda estar com muito sono e cobri
minha boca, bocejando. Parei ao ouvir a voz da minha mãe, mas foi a
conversa que estava mantendo que me fez travar os pés no chão.
— Ediwa está na idade do casamento.

Puta merda, ela não aprendeu nada com o que fez a Ethan[3]?
— Sim, eu sei. Victória…
TINHA QUE SER! A mãe de Charlotte! O que elas estavam
aprontando?
— E tem certeza de que ele é um bom rapaz?
Ah, não. De novo, não! Eu virei e corri, derrapando pelos corredores e
empurrei a porta aberta, assustando minha irmã, Daphne[4], que amamentava
a filha caçula, Lily Rose, enquanto Bruno, seu marido, parecia estar a meio
movimento de colocar ovos no prato de seu filho mais velho, Niall. Eles me
encararam como se tivessem visto um fantasma ou como se eu tivesse, tanto
faz.
— O que aconteceu, garota? — Daphne quis saber, ajeitando a bebê
no colo.
— Acho que a mamãe quer me casar.
— Ah… de novo não — ela resmungou a mesma coisa que o marido.
 
 
CAPÍTULO UM
Ediwa
Londres
Cobri meu rosto dos flashes insistentes dos paparazzis e assim que
entrei no estabelecimento, abri um sorriso educado como o de uma
princesa, acenando gentilmente para as pessoas que me reconheceram antes
de seguir adiante. Eu não era, de fato, uma princesa, era uma lady. Filha de
um duque, irmã de um príncipe e famosa o suficiente para ter a imprensa
me perseguindo em todo maldito lugar depois que fui obrigada a sentar ao
lado de um conde solteiro de Rainland na comemoração de aniversário da
rainha.
Eu não podia provar que minha mãe e sua melhor amiga estavam
bancando as casamenteiras conforme a conversa que ouvi algumas semanas
antes, mas também não colocaria minha mão no fogo. Não por elas. E era
inadmissível que pensassem que concordaria com um casamento arranjado.
Não era esse tipo de garota e odiava o fato de que era conformada com a
ideia de que podiam decidir a minha vida.
— Ei, Ediwa! — Pippa Armstrong trombou em mim em um abraço
apertado. — Finalmente alguém que eu goste nessa festa insuportável.
— Acabou de começar e já está ruim? 
— Tenho mesmo que dizer? — Ela apontou ao redor e as pessoas
pareciam entediadas. Ri discretamente e a levei para uma mesa, aceitando
um copo de suco do garçom. — Como foi a temporada em Rainland?
— A única parte boa foi fazer parte do concerto, amo me apresentar e
acho que é a única coisa que tem me mantido sã ultimamente. Você já
conhece o país?
— Fui com umas amigas e me diverti bastante, mas não fiz nenhuma
viagem turística, só fui beber e conhecer os homens bonitos. — Pippa
balançou as sobrancelhas. 
Apesar de eu ter mais liberdade que Daphne, minha irmã, para sair,
ainda ficava bastante presa porque minha mãe tinha regras e se eu morava
com ela, tinha que obedecer. Sem contar que qualquer comportamento ruim
meu, poderia refletir sobre a vida política do meu irmão, Ethan, e eu jamais
faria tal coisa.
Phillipa era uma boa amiga, estudamos na mesma escola e tínhamos
muito em comum, como a paixão pela arte. Eu tocava piano há anos e
participava de diversos concertos, me especializando em música na
faculdade e depois, na pós. Ela me contou que sua cunhada, Claire, era de
um pequeno vilarejo na Escócia e estavam precisando de uma professora de
música na escola local.
— Estou fazendo o design do anúncio da vaga, o que acha? — Ela me
mostrou em seu aparelho. — Se conhecer alguém disposto a se mudar, tem
uma residência garantida, o salário é bom, na verdade, muito maior do que
a média porque ninguém quer morar no fim do mundo da Escócia e ensinar
um monte de pentelhos a cantar e tocar. 
— Sua cunhada é dona do lugar ou coisa do tipo? — Quis saber,
curiosa sobre a vaga. Parecia algo bem legal e certamente algum dos meus
colegas da universidade poderia se interessar. Não diria da orquestra,
porque cada um ali tinha o interesse de se tornar famoso e buscavam os
holofotes com obsessão.
— Você não a conhece? O irmão dela é muito amigo do seu irmão. —
Pippa me cutucou e ri. Caramba, ela era uma bola de energia.
— Ah… o ruivo, sei. Eu não o conheço, pelo menos não
pessoalmente, nunca o vi. Louis[5] é quem fala mais do período em que eles
ficaram fora. 
Ethan não abria a boca sobre o assunto e a única vez que vi suas
cicatrizes, chorei muito e ele ficou me consolando. Tivemos muito medo de
perdê-lo. As semanas sem notícias devastaram a nossa família e ele voltar,
ferido e amargo, também não foi fácil. 
Nós tivemos que mudar de assunto quando a aniversariante se
aproximou para nos cumprimentar, tiramos fotos e fomos comer.
Confraternizei com outros convidados, fazendo a social e depois, para ir
embora, com mais imprensa do lado de fora, meus seguranças tiveram um
pouco de dificuldade para conter a mídia britânica sedenta por uma possível
fofoca de um novo relacionamento.
Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi tirar meus sapatos,
meus dedinhos estavam doloridos e suspirei, também soltando os cabelos e
saindo da personagem de garotinha perfeita para representar minha família.
Entrei direto na sala e me surpreendi com um enorme buquê de flores bem
na entrada. Soltei os sapatos e encontrei o cartão, meu telefone estava
tocando ao mesmo tempo.
Era Daphne em chamada de vídeo, atendi e apoiei o aparelho na mesa.
— Quero saber tudo sobre Rainland e já fiz a pipoca — ela começou
a falar. 
— Cadê as crianças? — questionei distraída e agarrei o cartão.
— Dormindo com Bruno. Está tudo bem?
— Acabei de receber flores do conde que sentou ao meu lado no
jantar. Qual a chance da mamãe ter os dez dedos nisso?
— Toda. — Daphne começou a rir. — Mas, em defesa, nós
conversamos e ela jurou não estar armando casamento nenhum. Ele se
interessou por você, perguntou sobre para Victória e ela contou para
mamãe, que ficou super empolgada e a única coisa que estão armando é
um encontro.
— Um encontro?
— Ele te achou linda e depois que conversaram, quer te conhecer
mais a todo custo. Mamãe prometeu que não tem armação e por esse
motivo, recolhi as minhas garras.
— Obrigada por me defender. Eu já estava pronta para desaparecer da
face da terra, eu amo Charlotte, mas não casaria por um acordo.
— Acho que não custa nada conhecê-lo, ele pode ser uma boa pessoa,
embora pareça ser o típico mimado engomadinho. — Ela soltou o
comentário ácido para me fazer lembrar do motivo de amá-la tanto. Sua
sinceridade era sempre azeda e, ao mesmo tempo, bem-vinda. Daphne era
única.
Com o telefone na mão, fui para o meu quarto e contei para minha
irmã tudo que tinha acontecido no país que nosso irmão era príncipe e a
rainha, carne e unha da nossa mãe. Muitas coisas aconteceram, diversas
fofocas, encerrei a chamada com sono e com a boca doendo de tanto rir.
Tomei banho e vesti um pijama, capotando. Logo cedo, pedi ao secretário
da família para enviar uma nota e agradecer as flores, duas horas depois, fui
galantemente convidada para um encontro, aproveitando a estadia do conde
na cidade.
Fiquei olhando a mensagem, escrita em uma letra bonita e me
perguntei se ele poderia ser charmoso pessoalmente como suas palavras. Já
fazia muito tempo que não era convidada para jantar e foi pelo meu quase
último namoradinho, que não passou de uns beijos e terminou tão rápido
quanto começou. Minha vida romântica não era muito animada, não por
falta de tentativa.
Ser uma lady não ajudava, e meu irmão… sempre que aparecia
alguém minimamente interessado em mim, ele dava um jeito de bancar o
protetor, assustando a maioria. 
Aceitei o convite. Não me faria mal comer fora, em um restaurante de
luxo e, felizmente, seria bastante privado. Foi uma das minhas condições.
Não precisávamos ser fotografados enquanto fazíamos perguntas básicas
sobre a vida um do outro. A rapidez em que tudo estava acontecendo não
me assustava em nada, porque podia não passar daquela noite e minhas
expectativas não estavam altas.
Estava quase pronta quando ouvi uma bati na porta. 
— Soube que não vai jantar em casa. — Mamãe entrou, cantarolando.
— Pedi que preparassem a sua salada favorita.
— Como amanhã no almoço, se sobrar. Aceitei um convite.
— Um encontro, sério? — Ela se iluminou como se fosse uma árvore
de Natal.
— Sim. E não se anime demais, é só um jantar. — Coloquei um colar
discreto e bonito, que dava um brilho admirável entre meus seios.
Dei um passo atrás, admirando minha produção, scarpins pretos
perfeitos e um vestido azul-escuro com um lascado singelo na coxa e decote
quadrado que era jovial o suficiente. Meus cabelos estavam soltos e bem
escovados, eles eram singelamente cacheados nas pontas, mas às vezes,
deixava completamente lisos. 
— Espero que seja um dia para algo mais, querida. Todo mundo
merece um amor. — Ela colocou as mãos nos meus ombros. — Divirta-se,
te amo.
— Também te amo, mãe. E nada de ficar vendo filme até tarde.
— Sim, senhora. — Ela riu e resmungou sobre filhos adultos
acreditarem ser pais dos pais. Estando solitária após a morte do meu pai,
acabou criando alguns vícios ruins, como comer besteiras na cama, parar de
se exercitar, não dormir direito e consumir todo tipo de novela cheia de
drama pela madrugada inteira.
Não era saudável. E contra todas as regras que impôs durante toda
minha vida.
Meu motorista me levou para o restaurante e parou na discreta entrada
lateral, um segurança me acompanhou junto à recepcionista, que foi
simpática. Gael Richie estava na sala privada no segundo andar, com uma
belíssima visão para o rio e perfeitamente vestido como se… ai, meu Deus,
como se fosse um mimado engomadinho. Eu ia matar Daphne por colocar
aquilo na minha cabeça.
Gael, no entanto, era cheiroso e foi bastante educado ao puxar minha
cadeira, perguntar minha opinião sobre o menu e logo puxar a conversa que
foi interrompida durante o jantar que sentamos lado a lado em Rainland.
Mesmo que parecesse um boneco programado, havia uma áurea gentil e
seus olhos eram muito bonitos. Eu não podia reclamar, também era a filha
da grande aristocracia e moldada para ser perfeita.
Decidi baixar minhas armas e aproveitar, estava ali, não era bom
perder tempo. 
 
 
 
CAPÍTULO DOIS
Ediwa
A capa de jornal à minha frente representava o meu pior pesadelo. O
dia que eu disse não a um pedido de casamento que veio após o terceiro
encontro consecutivo. Gael me surpreendeu no jardim do palácio real ao se
ajoelhar e tirar uma aliança lustrosa do bolso e me pedir para ser sua esposa
como se as poucas vezes que saímos fossem o suficiente para decidir que
poderíamos viver juntos para sempre. Ou ele era emocionado ou achou que
eu estava desesperada para casar.
Em todo caso, não importava a posição dele de prestígio em Rainland,
ou que seria perfeito para casar com a irmã caçula do príncipe ainda solteira
e a que ninguém tinha medo, afinal, mesmo comprometida e até um pouco
mais maleável, Daphne ainda botava muita gente para correr apenas com
um olhar. Eu me assustei com a proposta, mais ainda, com o fotógrafo
contratado para registrar o momento e atraí mais atenção ao correr depois
de dizer não.
Fiquei tão assustada e com vontade de vomitar que tateei as paredes
repletas de folhagens até meu segurança me encontrar, inclusive me salvar
da perseguição dos outros convidados e me levar para casa. Eu nunca tive
uma crise histérica, mas naquele dia, foi a primeira vez de muitas. Estava
no olho do furacão. 
Aparentemente, negar o pedido perfeito, do homem dos sonhos, me
colocou em um lugar de mulher amarga. Estava prometida, supostamente,
desde o jantar em Rainland e fugi da responsabilidade por ser mimada. Era
odioso o quanto a mídia britânica gostava de massacrar mulheres por
qualquer motivo e colocar homens em um pedestal. Ele nem me deu uma
prévia de que pretendia cometer aquele absurdo, o fato de estar gostando de
sair com ele não queria dizer que aceitaria um casamento.
Será que Gael fazia ideia do que significava um matrimônio?
Era algo que sonhei a minha vida inteira e queria por amor, não por
acordo ou por ser bom politicamente. Eu aceitava e até entendia que meus
pais e irmão encontraram seus pares da vida através de arranjos, mas isso
não significava que aconteceria comigo. Daphne precisou sair e ficar a
milhares de quilômetros de casa para ter um encontro ruim com Bruno, um
namoro que nossa mãe quase infartou, mas ela estava feliz e tinha uma bela
família.
— Pare de olhar os jornais. — Charlotte me abraçou de lado.
— Eu sou o novo monstro de Londres.
— Ele foi um completo imbecil em te surpreender assim.
— Te juro, Charlie. — Eu virei para ela, com os olhos cheios de
lágrimas. — Foram três encontros oficiais, em que nós conversamos sobre
tudo e sim, foram bons, mas para seguir adiante em um namoro! Isso se
fosse possível com a distância!
— Ediwa, amor. Não precisa explicar nada. 
— Eu não posso sair, invadiram o ensaio da orquestra e até quebraram
as plantas do jardim do salão de beleza quando fui cortar o cabelo. E agora,
ele foi visto com aparência abatida, o que duvido muito que tenha a ver
comigo e estão me chamando de miserável para baixo.
— Ethan e ele conversaram, Gael assume que se precipitou, foi
aconselhado pelo secretário e como estava muito empolgado, queria voltar
para Rainland com uma resposta definitiva. No entanto, faz parte da regra
nunca responder a rumores e ele não poderá falar sobre isso. — Charlotte
esfregou minhas costas. — Seu irmão dará um pronunciamento através da
assessoria de imprensa e será apenas isso. Não podemos permitir que a
mídia nos controle.
— Eles não vão parar, sabe disso.
— Eu sei, e logo vai surgir outro escândalo que vão dissecar. 
Não podia me dar ao luxo de ficar em casa porque tinha
compromissos. Eu era a pianista principal da orquestra que trabalhava e era
a única coisa boa da minha vida no momento. Em um esquema tático, meus
seguranças conseguiram me tirar de casa, fugindo dos flashes e cheguei na
hora certa. Meu chefe distribuiu as músicas, conversei um pouco com os
meus colegas e começamos o ensaio.
Tentei fingir que o barulho do lado de fora não era por minha causa,
ainda mais quando flores foram entregues com uma nota de pedido de
desculpas de Gael, por tudo que estava passando. Tantos lugares discretos
para me enviar, fiquei com raiva, só atraiu mais atenção e uma noite de
encontro animado acabou se tornando uma sequência de coisas
completamente desastrosas.
— Desculpa, chefe. Eu vou embora mais cedo e poderão ensaiar em
paz — avisei e, sem graça, recolhi minhas coisas, saindo pela porta da
frente sem as flores. Esperava que o recado estivesse bem claro: não estava
no clima para perdoá-lo.
Cheguei em casa, deixei minhas coisas em cima da mesa e me joguei
no sofá pensando que só queria um tempo longe de casa. Desde que meu
pai morreu e Daphne foi embora, que eu realmente queria sair de Londres.
A temporada que passei em Nova Iorque foi divertida, mas a vida da minha
irmã era muito agitada. Ela quase não aparecia mais nos jornais e revistas,
seu blog era famoso e não dependia mais de sua imagem. Vivia discreta e
ganhando dinheiro com o que criava.
Não iria ficar na casa de campo porque lá era o refúgio do meu irmão
com a esposa. Eles tinham muito mais problemas para fugir do que eu. 
Olhei para o alto e tive uma lembrança, mordi meu lábio, pensando.
Será que eu deveria me aventurar um tempo fora? Apenas alguns meses, ou
um ano, ter uma experiência diferente e histórias para contar além de ser
uma lady que vivia para o trabalho, estudando música, mal saindo com os
poucos amigos que tinha e uma agenda repleta de compromissos oficiais
para representar a família.
Existia alguma coisa que pudesse fazer além de ser Lady Ediwa
Lewis?
Mexi na minha bolsa, procurando meu telefone e busquei nos contatos
a pessoa que precisava falar.
Pippa atendeu no segundo toque.
— Fala aí, humilhadora de machos.
— Humilhadora? Essa palavra existe? — Soltei uma risada alta.
— Gosto de inventar. O que precisa? 
— Só você para me fazer rir em meio ao caos. Sabe aquela vaga de
emprego na Escócia, para dar aulas de música? Ainda está em aberto?
— Claro que sim. Ninguém quer se mudar para o fim do mundo —
Pippa me respondeu rapidamente. — Não vá me dizer que está
considerando?
— Estou. O contrato é temporário e acho que preciso de um tempo
fora de Londres.
— É só uma maré, Ediwa. Daqui a pouco o ex-casal real vai lançar
um novo livro prometendo contar uma nova fofoca quente sobre a família e
todos vão te esquecer. 
— Independentemente disso, estou necessitada de uma aventura
diferente. 
— Definitivamente, lá não tem porra nenhuma além de mato, então,
vai ser muito diferente. — Pippa continuou rindo. — Vou te encaminhar
todas as informações por mensagem e já te desejo boa sorte.
— Obrigada.
— Conte sempre comigo.
Eu não pensei muito ao receber os detalhes ou não iria, o medo estava
na boca do estômago. Preenchi todas as informações, anexando vídeos e
matérias sobre meus prêmios. Apesar do sobrenome, tinha troféus, era
muito boa no que fazia e lecionar sempre foi um plano que minha família
descartou automaticamente por ser uma profissão louvável, porém, baixa
para uma mulher como eu.
Era foda pensar que eu nasci para representar um papel incerto. Não
era uma princesa, não tinha deveres reais, mas representava uma dinastia
tradicional e muito poderosa. Mulheres nascidas em seios tão ricos como o
meu casavam com homens como Gael ou empresários igualmente
poderosos, para dar sequência a uma linhagem que sairia nos jornais e o
ciclo nunca terminaria.
Cansada e sem saber mais o que fazer, pedi ao secretário para cancelar
todos os meus compromissos. Não sairia mais de casa. Estava farta de me
expor. 
Subi para o meu quarto, mamãe estava em chamada de vídeo com os
netos e iria demorar uma eternidade. Daphne dar crianças para ocupá-la
trouxe luz novamente aos seus olhos. Senhorita Granger, minha governanta,
me seguiu, ela era doce e uma ótima companhia, porém, estava amarga
demais até para ela.
— Precisará de mim essa noite, querida?
— Não, obrigada. Vou apenas deitar.
Com um aceno, ela saiu e me deixou sozinha. Enchi minha banheira,
tomando um longo banho quente, ouvindo jazz e suspirando por estar
envolvida em um escândalo romântico ainda sendo virgem e sem ter dado
um mísero beijo na boca. Gael foi tão legal que nem isso tentou, o máximo
que fazia era colocar a mão em cima da minha ou tocar minha cintura. Ele
deu a entender mais de uma vez que eu nunca tinha beijado e não fazia ideia
de onde tirou a informação. Apesar de não ter transado de fato, fiz outras
coisas interessantes. 
Uma vez quase fui pega com a boca na banana do meu primeiro
namoradinho. Meu segurança encontrou-me na despensa do caseiro do
palácio e eu tinha vergonha de olhar nos olhos dele até os dias de hoje.
Fiquei de castigo e mamãe culpou minha temporada com Daphne em Nova
Iorque, dizendo que voltei ousada e desobediente. A verdade, era que eu
nunca tinha feito e não comecei a fazer porque quis, ele estava me
pressionando. Só entendi esse fato anos depois.
Nos divertimos juntos até que arrumou uma garota que estava disposta
a ir além. Fiquei magoada, beijei outras bocas sem compromisso e aprendi a
manter a discrição, até que a universidade e a vida adulta cheia de regras e
pressões começaram a me dar preguiça de tentar ser aventureira. A questão
principal era: um dia, conseguiria encontrar meu lado mulher sem sentir
culpa de estar envergonhando minha família?
 
 
CAPÍTULO TRÊS
Simon
Escócia 
Cabras malditas, filhas da puta, elas fugiram de novo! 
Levantei a cerca e olhei para os gansos, patos com dentes que agiam
como cachorros e derrubavam a porra da madeira toda maldita vez. Ao
longe, eu via as coisas brancas e chifrudas, desfrutando da liberdade,
sabendo que elas assustariam as ovelhas, iriam para perto dos búfalos e
seria a porra do caos. Enfiei dois dedos na boca e assobiei, chamado minha
trupe de Shetlands, treinados para trazer o rebanho de volta.
Agarrei o cajado e mesmo com a grama molhada, consegui chegar ao
topo e organizar a bagunça. As cabras eram teimosas e difíceis de lidar.
Prendê-las novamente deu um pouco de trabalho e expulsei os gansos de
perto para consertar a cerca antes que escurecesse. Estava cansado e suado,
precisava de um banho e comer algo mais que alguns pães com carne que
minha mãe preparou para mim antes de ir para o aeroporto.
Depois que meu pai faleceu, ela passava a maior parte do tempo
ajudando minha irmã com as crianças. Claire tinha babás, mas nada melhor
do que colo e mimo de uma avó. Eu amei crescer com a minha e sabia que
meus sobrinhos aproveitavam cada segundo. Ficar sozinho ali não era um
problema, estava mais do que acostumado a viver só, mas eu não ficava
completamente solitário, o que, aí, sim, era um grandíssimo problema.
Após meu banho e ter meu jantar quente, o vigário chegou. Apesar da
religião oficial do Reino Unido ser Anglicana, ali, na Escócia e da maneira
tradicional que vivíamos antes que os casacos vermelhos dominassem a
região (e eu não podia reclamar, era um veterano da Marinha Real Britânica
e trabalhei em agências secretas especiais), sabia que o vilarejo que cresci
mantinha as coisas como antigamente.
Ou quase.
Estávamos modernizando aos poucos. Já tinham bares que, em dias
animados, transformavam-se em baladas. E as moças, se não se
comportassem, ainda eram faladas na língua dos fofoqueiros, só não
precisavam mais da intervenção do chato do padre. Assim, ele tinha muito
tempo livre para andar atrás de mim com solicitações inúteis. A comida
desceu quadrada e nem toda cerveja do mundo ajudaria.
— Sei que está se ajustando à nova função. — Ele deu um tapinha no
meu ombro. — Está saindo-se bem, todos te adoram, como gostavam muito
do seu pai.
— Irei acompanhar o senhor na cidade amanhã.
— Obrigado, meu filho. Deus te abençoe. 
Sim, certo. Ele estava me abençoando. 
Não que não fosse grato por tudo que meus pais construíram, eu
amava o castelo, o que ele representava e tudo que produzíamos. Fazia
parte do meu estilo criar para comer, viver da minha própria renda e era
algo que tinha muitos lucros. Enviava uísque para o mundo todo.
Estávamos no páreo com marcas queridinhas dos famosos e bem
estabelecidos no mercado, fora os demais produtos, como queijo, leite, ovos
e tudo mais. 
A fazenda ao redor do castelo era grande, a plantação nos dava muitos
alimentos. Mas a parte chata era fazer parte da liderança do vilarejo e lidar
com coisas estúpidas, como o vigário reclamando de brigas de vizinhos por
causa de galinhas. 
Eu ia dividir a porra da galinha no meio ou torceria o pescoço das
duas senhoras. Havia milhares de penadas dando ovos na estrada, era só
pegar uma delas, caramba. 
Na manhã seguinte, depois de cuidar do pasto, alimentar os cavalos e
soltar os cachorros, peguei a caminhonete e segui para a parte central do
vilarejo. Estacionei na frente da igreja e percebi os olhares. Sempre
chamava a atenção por ser um dos mais altos do local e também, por ser um
Higgins Basset. Acenei para alguns senhores e encontrei o vigário com seu
assistente.
— Seja gentil — ele me pediu antes de entrarmos na casa.
— Sou sempre gentil — retruquei entredentes. — Vamos logo, tenho
mais o que fazer. 
As senhoras estavam de lados opostos da sala pequena como se fosse
um tribunal, havia testemunhas e um júri. E claro, a galinha. Eu tive
vontade de ficar com ela e fiz o que aquele rei da bíblia ensinou, disse que
ia torcer o pescoço e a primeira que gritou, bem, ela não era a dona e sim, a
que chorou e disse baixinho que preferia que a vizinha ficasse. Resolvido o
problema, aceitei um café por insistência e percebi, então, que as filhas
solteiras de ambas estavam muito arrumadas para uma segunda-feira
qualquer.
Eu seria muito idiota se ficasse ali por mais alguns minutos. Pedi
licença, lembrei de ser educado e agradecer, e saí o mais rápido possível.
Parei no mercado para comprar mantimentos que minha cozinheira pediu e
depois, enchi o tanque para levar um monte de feno da entrada do vilarejo
para a fazenda novamente. Em breve, seria temporada de visitantes e o
castelo precisaria estar em sua melhor aparência.
Também era uma das épocas que eu mais trabalharia. 
No ano anterior, Claire passou a temporada comigo, mas naquele ano,
ela estava com alguns compromissos com o marido e nem mesmo minha
mãe ficaria comigo. 
Eu teria que ser o senhor simpático, para minha morte lenta.
Entrei no curral para dar uma olhadinha nas vacas, vi os leites e bati
palmas. Elas trabalharam bem e até mereceram um carinho. Mary Beth,
Mary Ann, Mary Lisa e apenas Mary eram enormes, saudáveis e produziam
bem.
— As vacas renderam bem hoje, patrão. 
— Elas são maravilhosas, os amores da minha vida. 
Saí dali e fui para o estábulo, cuidar dos meus cavalos. Enquanto
escovava o meu de pelagem negra e um humor ruim, conversamos. Ele
estava ansioso para ser solto, mais tarde o levaria para uma volta e dar uma
olhada em todas as cercas e conferir os sensores. Meu pai relutou muito em
modernizar o castelo e todas as propriedades, ele aceitou poucas sugestões e
quando assumi, inseri meus módulos de segurança e estudei todo o terreno,
metro por metro.
Já conhecia bem antes, depois, era como se fosse a extensão do meu
próprio corpo.
Dei uma passada no escritório para me atualizar com as papeladas e a
contabilidade sempre me dava uma esperança de que estava no caminho
certo. Enviei a grana da caridade, para ajudar o orfanato local e eles
pudessem levar as crianças para passear. A escola estava em falta de alguns
professores e mandei anunciar vagas até em Londres, porque não
encontrava mais ninguém na região.
Recebi um e-mail e abri, era uma candidata para a vaga de professora
de música. Eu li o nome duas vezes para ter certeza.
Ediwa Lewis era a irmã caçula de Ethan. Ele sabia daquilo? Será que
ela tinha noção de que era preciso se mudar e não eram aulas on-line?
Peguei o telefone e liguei para meu amigo, que atendeu no segundo
toque.
— Não me diga que aconteceu alguma coisa — Ethan resmungou.
— Está com problemas aí?
— Caramba, homem! Quanto mais tempo passa na Escócia, menos
consigo te entender. Fale em inglês.
— Eu falei.
— Certo. Não tem nada de mais, apenas a rotina fodida. Diga-me, em
que posso te ajudar? Você nunca liga.
Eu não levei para o lado pessoal porque sabia que era um bom amigo,
apenas não ficava em cima ou ligava com constância. Eles sabiam onde me
encontrar. Justin e eu éramos os mais quietos e assim funcionava para nós.
— Na verdade… você sabia que sua irmã se inscreveu para a vaga de
professora de música?
— Onde? 
— Aqui. Na Escócia. Em Badenoch — falei pausadamente.
— Tem certeza de que é minha irmã? Ediwa é a pianista principal da
orquestra que trabalha e ela… — Ele parou de falar e soltou um palavrão.
— Ela está passando por uma fase terrível com a mídia. Escute, deixe-me
ver o que a motivou a fazer isso e te dou um retorno, está bem?
— Sem problemas.
Eu nem podia dizer para correr porque ninguém além dela se
inscreveu para a vaga, mesmo que o salário fosse muito maior do que a
média de todo o Reino Unido. Encerramos a chamada depois de nos
atualizarmos mutuamente sobre a vida um do outro e eu tinha mais o que
fazer. Avisei à coordenadora da escola para não se empolgar tanto com a
vaga porque poderia ser fogo no rabo de uma patricinha querendo fugir da
cidade grande. 
Ali não era lugar para brincadeiras e eu também não estava com
tempo. Desci de novo, roubando uma coxa de frango assado da cozinha, fui
andando e, literalmente, devorando. Chegando no estábulo, soltei meu
cavalo, galopei pelas terras e fui subindo as colinas, para ter a melhor visão
de tudo. Parei no topo, vendo o castelo à minha esquerda, bonito, a beira do
rio e o sol se pondo trazendo um brilho de diamantes.
Respirei fundo. O cheiro do campo sempre seria o melhor de todos,
puro, apaixonante, trazia paz. 
Não fazia ideia do porquê tinha a sensação de que meu sossego estava
acabando.
 
 
CAPÍTULO QUATRO
Ediwa
Londres
Sempre odiei ser chamada no escritório do papai, porque,
normalmente, era para ser repreendida ou para ter uma notícia ruim.
Quando ele morreu e Ethan passou a ser o homem responsável pela nossa
família, aquela atitude me dava nos nervos. Ele era meu irmão, não meu
papai. Detestava me sentir uma garotinha indo para o castigo ao receber o
recado através da governanta antes que fosse para academia privada do
palácio para minha prática diária de exercícios.
Terminei de amarrar meus tênis e segui pelos corredores. A porta
estava aberta, Ethan logo apareceu, usando suéter e jeans, não parecia
vestido para o trabalho e me deu um sorriso tranquilo. Ao invés da mesa de
madeira bem grande e as poltronas que papai usava para dar os longos
sermões sobre nosso comportamento, levou-me para o sofá e somente pela
sua expressão solene, sabia que iria falar sobre os escândalos.
Decidi me adiantar.
— Eu não quero conversar sobre Gael ou o estúpido pedido de
noivado.
— Uau. Estúpido? Ainda está com raiva?
— É claro que sim, não é a vida dele que está um completo inferno. 
— Nós já fizemos tudo que podíamos, Ediwa. Qualquer passo agora,
será quebra de protocolo e sabe que não é tão simples. Ele pediu desculpas
publicamente e informou o que…
— E isso não importa para a imprensa, continuo sendo a vaca
insensível e sim, conto os minutos para que outra pessoa faça algo babaca e
me tire do foco. 
Ethan suspirou. Ele entendia, não era maldoso de sua parte dizer que
não podia fazer nada. Ele e Charlotte já haviam sofrido muito com a
imprensa e sabiam como lidar, inclusive, antes, sequer era permitido emitir
um comunicado. As coisas mudaram e eu estava grata pela defesa, só não
me culpava por ficar chateada por ser insuficiente. 
Ele pegou minha mão e colocou entre as dele.
— Soube que se candidatou a uma vaga na Escócia.
— Como?
— Simon é meu amigo, esqueceu?
Ah, merda. Esqueci completamente. Eu nunca lembrava que Pippa era
cunhada da irmã de Simon e ele era amigo íntimo do meu irmão.
— Eu só quero uma oportunidade de lecionar, para ter no currículo e
no fim, viver algo diferente. Pareceu uma boa ideia na hora.
— Você sabe que tem que morar lá, certo? — ele questionou e lhe dei
um olhar de “sério?”. Ethan riu e balançou a cabeça. — Depois que
Daphne foi embora, me perguntei quando chegaria a sua vez e como lidaria
com isso. É difícil pensar que já tem idade para ir embora. 
— É um contrato temporário, por um ano letivo, e o salário é bom.
Não que eu precise de um pagamento, posso até trabalhar de graça, mas a
ideia de fazer algo diferente tem me animado e… eu preciso me apegar a
essa esperança. Sempre achei que Daphne estava certa, que eu nasci para
esse mundo da aristocracia e me encaixaria bem. — Lambi meu lábio, um
pouco nervosa. — Acho que não é verdade. Eu não quero mais passar por
isso.
— Ao me casar com Charlotte, escolhi continuar nessa vida que
nossos pais começaram, mas não significa que você precise. Se você quiser
ir, eu te apoio e irei organizar tudo para que tenha uma boa estadia.
— Mas eu tenho condições, querido irmão. Nada de seguranças, lá
não será preciso, é um local minúsculo que, provavelmente, não tem
imprensa e criminalidade. Quero paz, não ser a Lady Ediwa Lewis. 
— Ah…
— Ethan!
— Tudo bem, tudo bem. Vou conversar com Simon e obter mais
informações.
— Eu sou adulta e posso cuidar de tudo, se precisar de ajuda, te
chamo. — Apertei seu nariz e inclinei-me, beijando sua bochecha. — Te
amo. 
— Não faz ideia do quanto te amo, garota. — Ethan me abraçou
apertado e aproveitei para ficar em seus braços um pouco mais. 
Ainda não tinha contado para mamãe e poderia deixar para um
momento em que pudesse aguentar todo o drama que ela faria. Mas eu não
sentia que iria se importar tanto, considerando o tempo que passava em
Nova Iorque com minha irmã. Talvez nem sentisse tanto a minha ausência e
eu poderia voar para casa em alguns fins de semana, não era como se a
Escócia fosse do outro lado do mundo, eram apenas duas horas de voo
particular.
Malhei com um pouco mais de vontade, cheia de adrenalina e suor.
Quando saí, a primeira pessoa que vi de braços cruzados no corredor foi
mamãe.
Humm, talvez ela ficasse um pouco mais brava do que previ.
— Você ousou pensar em se mudar para o fim do mundo? — Ela
colocou as mãos na cintura, olhando-me como se eu tivesse doze anos e
decidido ir para o acampamento de verão sem autorização.
— Eu não ousei, se for aceita, vou me mudar. Já conversei com Ethan.
— Ele não é responsável por você!
— Mãe? — Aproximei-me com calma. — Eu sou responsável por
mim. Será uma temporada fora de casa, como um intercâmbio e, vovó
coruja, você está sempre viajando. Vai passar rápido.
— Ah, querida. — Ela me abraçou. — Quem vai roubar chocolates no
meu quarto?
— Não sou eu que faço isso, já disse que é a Charlotte! — Bati o pé e
ela riu.
Mamãe secou meu suor sem se importar que era nojento, segurou meu
rosto e olhou em meus olhos. Eu raramente reparava os efeitos do tempo
em sua expressão, mas ela pareceu uma mãe cansada e preocupada.
— Ediwa, tem certeza? Escócia, sério? 
— Estarei dentro do Reino Unido e bem perto de casa. Daphne está
muito longe e costuma vê-la com frequência. — Coloquei minhas mãos em
seus ombros. — Lembra do que a terapeuta conversou conosco depois que
ela saiu de casa? Chega o momento de alguns pássaros deixarem o ninho.
— Não significa que seja fácil. Sempre imaginei que você ficaria.
E era por isso que queria muito sair. 
Dei-lhe um beijo e avisei que iria tomar banho, que era mais do que
necessário e como não iria sair, escolhi roupas confortáveis. Peguei meu
notebook, conferi a resposta da vaga de emprego e imediatamente aceitei,
ainda seguindo a regra de não pensar muito ou iria desistir. Em seguida,
uma simpática senhora me ligou, apresentando-se como coordenadora da
escola, fez um tour virtual e era um pouco difícil compreender o que falava,
mas entendi de modo geral.
Tive que pesquisar na internet porque não sabia que existiam
comunidades na Escócia ainda tão tradicionais que falavam gaélico antigo,
por esse motivo, a pronúncia dela em inglês não era muito boa. Mas era
fácil de acostumar. Aprenderia e até seria muito importante para meu
currículo. 
Recebi o contrato e meu irmão quis dar uma olhada. Mesmo que
tivesse a ver com seu amigo, era costume dele controlar tudo. Poucos
minutos depois, me devolveu dizendo que poderia assinar digitalmente.
Caramba. Será que tinha noção do que estava fazendo? Puxa vida, se meu
irmão podia ser príncipe, duque e CEO, minha irmã mudou-se para outro
país e criou um império, por que eu não poderia mudar-me para um vilarejo
e ser professora de música?
Eu era uma Lewis. Nós sempre nos saíamos muito bem em nossos
projetos. 
Assinei e enviei. Eu tinha quinze dias para fazer as malas e conhecer
meu novo lar. Apesar de ter um verão inteiro pela frente, as crianças tinham
aula extracurricular na colônia e minha matéria era uma das selecionadas.
Passei a tarde inteira lendo sobre o local, a atividade turística e o trabalho
do Castelo Basset, que atraía pessoas do mundo inteiro para conhecer a
produção de uísque, cerveja e a vida basicamente artesanal.
Lá não aparentava ser muito urbano. Eu era uma garota de shopping e
marcas de luxo. Comecei a rir de nervoso e nem tinha começado a fazer as
malas. 
Liguei para Daphne e contei a novidade. Ela se manteve em silêncio,
fiquei na dúvida se tinha entendido ou se as crianças quase quebrando a
casa no fundo da ligação a impediram de ouvir. Do nada, começou a rir,
gargalhando, perguntando qual foi a reação da mamãe e se eu tinha ideia de
que veria um búfalo pessoalmente. Seu humor me fez rir também, aliviando
um pouco dos nervos e lembrando o real motivo pelo qual estava saindo de
Londres.
Ser esquecida pela mídia. Daphne, como sempre, tinha muitos
comentários a fazer sobre a inusitada proposta.
— Gael vai encontrar uma noiva que queira fazer parte dessa vida,
entendeu que por ser irmã do príncipe, um pedido de casamento de um
homem como ele era tudo que esperava. — Defendi-o um pouco.
— Se estivesse apaixonada, não importaria que tiveram só três
encontros, foi prepotência da parte dele. Arrogante — ela resmungou e
sorri. — E se quisesse te pedir de forma coerente, que fizesse em privado,
não no jardim do palácio com muitos espectadores.
— Felizmente, quando sumir, vão me esquecer. Caso contrário, estarei
longe demais para ser atingida. 
— Eu acho que um tempo longe vai te fazer muito bem, Ediwa. Ficar
sozinha me ensinou muito, aprendi com a vida, amadureci, tive que
cozinhar e cuidar da minha própria casa como um ser humano normal e foi
revelador poder fazer coisas por mim mesma. Sair da dieta obrigatória,
não precisar estar o tempo todo pronta para ser fotografada… é libertador
demais ficar longe de casa. — Daphne me deu um olhar amoroso através
da câmera. — Nunca esqueça que tem uma família, tá? Por mais que a
mamãe seja difícil, estou do seu lado sempre, eu te amo.
Daphne mudou tanto que me dava orgulho.
— Eu te amo, irmã.
Erguemos nossos dedinhos e “cruzamos” virtualmente. O peito
chegava a apertar de saudade e estava indo para ainda mais longe. Mas não
importava a distância. Sempre estaríamos unidas.
Estava na hora de bater asas e voar.
 
 
CAPÍTULO CINCO
Ediwa
Escócia
O interior da Escócia era muito mais bonito do que pensei. Só não
imaginei que meu primeiro contato com tamanha beleza seria perdida
dentro de um carro de aluguel, sem sinal, em uma estrada de terra,
aparentemente, no meio do nada. Eu já tinha pousado há horas, busquei um
meio de transporte e me orientei pelo GPS em como chegar no vilarejo,
pela primeira vez em toda minha vida, completamente sozinha.
Era meu beijo de liberdade e independência. 
O problema é que na primeira vez que saí sem meus seguranças,
parecia estar perdida, havia dois búfalos fechando o caminho e o céu estava
desabando. O sinal do celular desapareceu há muito tempo e estava
estudando o mapa, querendo saber se ao desviar dos bichinhos iria cair em
algum precipício, porque não conseguia ver absolutamente nada ao meu
redor tamanha neblina. 
Esperava que eles não se movessem. Afinal, pelo tamanho e
expressão, podiam passar por cima do carro e me esmagar.
— Fique calma, Ediwa. A chuva não vai durar para sempre — falei
comigo mesma, cantarolando para manter a sanidade que estava quase
escorrendo junto à chuva pela estrada cheia de lama. Reparei um par de
faróis se aproximando em alta velocidade pelo retrovisor e engoli em seco,
suando frio. — Oh, puta merda. Que não seja um maníaco estuprador. 
O carro grande, que parecia uma caminhonete, parou bem atrás do
meu e eu abri a boca ao perceber o tamanho do homem que saltou dela. A
chuva caía muito forte para poder observá-lo bem, mas o tamanho era de
trazer arrepios na espinha. Ele andou até a lateral do carro e bateu a mão no
vidro, gritando alguma coisa que me deixou apavorada. Nervosa, me
atrapalhei tentando sair do lugar e dei ré, caindo em um buraco que
levantou lama, voando uma boa quantidade nele.
Cobri meu rosto, sem acreditar, e congelei. 
— EDIWA LEWIS, É VOCÊ? — ele gritou ao tirar lama dos olhos e
jogar no chão com um movimento impaciente. Empacada, no meio do nada,
na chuva, com um homem desconhecido. Eu ia morrer cedo!
Fiquei histérica. Ai, meu Deus, ele sabe meu nome! 
— SOU SIMON! AMIGO DO ETHAN! — berrou. Ah, sim! Grudei
meu rosto no vidro, olhando-o e bem, era ruivo como Claire e meu irmão
disseram, que poderia parecer um highlander. Abri a porta. — Não faça
isso! O carro está atolado, vou guinchar! Não saia!
— Eu vou ajudar! — gritei de volta e saí, ficando molhada tão
rapidamente que olhei para minha roupa sem acreditar.
— Eu disse que não era para sair do carro — Simon grunhiu entre
dentes.
— Já saí e posso ajudar. — Ergui minha cabeça e coloquei a mão em
concha acima dos olhos para fazer uma sombrinha e conseguir enxergá-lo
direito. 
Sem falar nada, ele soltou uns sons engraçados e os búfalos
simplesmente saíram da estrada como se entendessem o comando.
Retornou, entrou em seu carro, contornou o meu e parou na frente,
ordenando para que entrasse no lado do carona e não tocasse em nada.
Quem diabos ele pensava que era? Contrariada, pensei em argumentar, mas
ao jogar a corrente para prender um carro no outro, meu veículo se moveu e
afundou um pouco mais, me levando junto.
Soltei um gritinho e saí correndo, meio escorregando, tateando pelas
laterais e praticamente precisei escalar o caminhão para conseguir sentar no
banco.
Estava imunda e não foi daquela maneira que eu planejei que chegaria
ao meu novo lar. Soube que estava sendo esperada pela coordenadora, ela
iria me mostrar a residência e a escola, obviamente, se o dia estivesse feliz e
ensolarado com a minha chegada. Os céus demonstravam fúria e
insatisfação. Cruzei meus braços, sem controlar o pequeno beicinho que se
formou nos lábios e Simon entrou, batendo a porta.
Ele não disse nada, aparentava irritação e avançou na estrada
esburacada com familiaridade sob aquela tempestade. Eu me segurei na
porta e no cinto, com um pouco de medo, olhando para trás de tempos em
tempos para ter certeza de que o carro que aluguei com todas as minhas
roupas, documentos e coisas ainda estava bem preso ao guincho.  
Ao invés de parar na pequena cidade, que também não pude ver muita
coisa, ele passou direto.
— Para onde estamos indo?
— Minha casa. Eu não faço a mínima ideia de onde a senhora Lorna
está e não fui informado qual será a sua residência, está chovendo muito,
portanto, passará a noite no castelo até que a tempestade vá embora.
— Obrigada. 
— Por que não esperou no aeroporto? — Ele me deu uma breve
olhada.
— Não sabia que alguém iria me buscar. Apenas me informaram para
procurar a escola e assim, planejei fazer. — Passei minhas palmas por
minha roupa e elas ficaram sujas. 
— É inacreditável que Ethan tenha te enviado sozinha — Simon
resmungou e fiquei confusa. O que ele tinha a ver? Era difícil conter a
minha consternação. Ele não me conhecia e estava agindo como um homem
das cavernas. Não que parecesse um, sua aparência, apesar de toda a lama,
era requintada. Ruivo, com olhos verdes chamativos, a barba longa e do
tipo bem cuidada.
A roupa grudada evidenciava o quanto seus músculos eram bem
trabalhados. Era grande mesmo, não grotesco, mas bem distribuído. Uma
geladeira 4x4 frost free.
— Sou adulta e estava me virando muito bem até a chuva me
surpreender. Eventualmente, ela iria parar, o tempo iria secar e os búfalos
sairiam do lugar.
— Poderia levar o final de semana inteiro — rebateu secamente.
— Ainda assim… — Encolhi os ombros.
Simon me deu um olhar penetrante e irritadiço, estacionou no pátio do
que parecia ser um castelo e eu não conseguia ver muito. Abri a porta e saí
com ele, corremos para a entrada, onde uma senhora abriu a porta e disse
coisas que não compreendi, mas seu gesto era para entrarmos depressa. 
— Ela só fala em inglês, Geillis — Simon avisou, ainda no modo
severo. — Vou buscar seus pertences. 
— Oh, pobrezinha! Está toda molhada e suja! Vou preparar um banho
e uma bebida quente! Eu sou Geillis, a governanta. — Ela pegou minhas
mãos. — Vem, vou te levar para o quarto de hóspedes e cuidar de você,
meu anjo.
— Muito obrigada. Eu sou Ediwa Lewis.
— Ah, a nova professora de música. A princesa.
— Oh, não. Eu não sou princesa, meu irmão que é o príncipe, sou
apenas uma lady — expliquei, um pouco sem graça.
— No nosso mundo, pessoas como você são princesas. — Ela sorriu e
me conduziu pelo casarão, que era enorme e pedi desculpas por estar
sujando tudo.
Por dentro, era um misto de moderno com antigo, possível ver que o
formato das paredes abrigava uma história de um castelo que aguentou o
tempo e estava de pé com muito poder. O quarto era perfeito, parecia saído
de um filme. Eu me recusei que ela me ajudasse a tirar a roupa, era coisa
que minha governanta faria e eu não tinha mais uma, por estar vivendo
sozinha e com um emprego. Agradeci sua ajuda e esperei minha bagagem,
que foi entregue minutos depois pelo senhor rabugento.
A abri no chão mesmo, buscando uma roupa limpa e enquanto a
banheira enchia, já com sinal, liguei para casa. Ethan estava muito
preocupado, contei com calma o que havia acontecido e que o amigo dele
me ajudou. Deixei de lado minha opinião sobre o humor e o
comportamento, porque não era o caso. Falei com mamãe e enviei
mensagens para minha cunhada e irmã. Após o banho, soltei alguns
espirros. 
— Espero que não gripe, querida. — Geillis voltou para o quarto com
uma bandeja. — Sopa, pães frescos, suco e um chá para não ficar resfriada.
O patrão foi cuidar dos cavalos, por isso o jantar não será servido no salão
principal, mas se quiser descer, pode ficar à vontade. Imaginei que estivesse
cansada.
Ela apoiou tudo em uma mesa redonda perto da janela e fui até lá, o
cheiro estava delicioso. Puxei a cadeira e peguei o guardanapo de linho,
colocando em meu colo. 
— Estou mesmo, apesar da curta viagem, a chuva tornou as coisas
estressantes.
— Coma e deite. Se precisar, basta interfonar para a cozinha. — Ela
deu um tapinha no meu ombro com um sorriso maternal fofo.
— Vou dormir depois de comer, não te darei mais trabalho. Obrigada
por tudo.
— Tudo bem, descanse. Boa noite.
Assim que saiu, comecei a comer com muita fome, enfiando o pão na
sopa e dando mordidas. Rejeitei o serviço de bordo, por ser um voo curto e
não comprei nada no caminho, fiquei presa no carro sem ter uma garrafa de
água ou chiclete na bolsa. Aproveitei para tomar meu anticoncepcional e
um remédio para dor de cabeça. Terminei e fiquei sem saber se deveria sair
do quarto para levar a louça suja, mas como disse que iria deitar, deixei
tudo coberto e fui para a cama.
Peguei meu Kindle, voltando para o livro que estava lendo. A chuva
era assustadora ao ponto de me fazer pular. Cansada, logo meus olhos
começaram a pesar, apaguei a luz principal, deixando o abajur, e fui
escorregando na cama com aquele clima perfeito para dormir. Mergulhei
em um sono cheio de sonhos confusos com carros, muita lama e as mãos de
um gigante ruivo me salvando de ficar soterrada.
 
 
CAPÍTULO SEIS
Ediwa
O dia seguinte chegou e nem parecia. Estava escuro e com muita
neblina. Ouvi dizer que o amanhecer ali era lindo e não fui contemplada, o
céu ainda parecia muito chateado. Troquei de roupa, escovei os dentes e
ajeitei minha aparência, saindo do quarto com a louça do meu jantar.
Caminhei cuidadosamente pelos corredores um pouco perdida e suspirei de
alívio ao encontrar uma jovem funcionária que rapidamente pegou a
bandeja e me conduziu até a cozinha, onde Geillis estava preparando o café
com outras senhoras.
— Oh, querida! Bom dia! — Ela se alegrou ao me ver. — A
professora de música chegou! Elas estão aqui para te conhecer!
Todas falavam muito e ao mesmo tempo.
— Uau! Bom dia, senhoras! — Acenei e fui abraçada por muitas ao
mesmo tempo, mais de uma vez, ouvindo agradecimentos. Fiquei bastante
confusa com algumas palavras porque não pareciam compreensíveis. 
De repente, duas galinhas começaram a brigar no canto da cozinha e
eu saltei para longe, com a mão no peito e ouvindo as risadas.
— Lorna havia preparado um café de boas vindas na igreja, como está
chovendo muito  as mulheres que moram mais próximo decidiram que
poderíamos fazer aqui. O patrão liberou — Geillis explicou e dei um aceno
com um sorriso.
— É muita gentileza. 
— Ela é tão fofa. Nunca imaginei que conheceria uma princesa
pessoalmente.
— Ah, eu não sou uma… — comecei a explicar e entendi que, para
elas, seria muito difícil entender que meu irmão era um príncipe e eu não.
Como era possível? Bem, ele era casado com uma princesa, meu pai foi um
duque, o que não queria dizer que estávamos na linha sucessória do trono
para receber o título de príncipes ou princesas. 
O falatório estava alguns decibéis acima do normal quando a porta
dos fundos foi aberta e dois homens passaram. Um deles, o gigante. Simon
tirou um capuz da cabeça e passou a mão na barba, seu olhar veio
diretamente em mim e depois, desviou para as galinhas.
— Por que Maria e Galizé estão aqui dentro?
— Elas fugiram e eu não quis correr atrás delas — Geillis respondeu,
com um risinho, e não era a única, porém, as outras estavam em uma
espécie de flerte, com bochechas ainda mais avermelhadas. Parecia ser
comum da região ter a pele muito branca e as maçãs do rosto conterem uma
cor rosada, mas com a presença de Simon, ficaram ainda mais. 
Eu não me surpreendi que até as casadas estavam afetadas.
— Roger, conheça a professora de música, a princesa. — Geillis me
apresentou com toda pompa novamente.
Doce Jesus! Eu não era uma princesa!
— Oi, moça. Quer dizer, alteza. — Roger se aproximou todo sem
jeito. — Sou Roger, encarregado do castelo. Pode me chamar para o que
precisar.
— Nada disso, apenas Ediwa. 
— Senhorita Lewis para você — Simon corrigiu de um jeito seco. Ele
olhou para a mulherada com uma expressão bem brava. — Vocês não iam
tomar café? O que estão fazendo na cozinha?
Elas pareciam que tinham pó de mico no corpo.
— Sem mais bagunça, patrão, vamos agora mesmo! — A governanta
agitou os braços, expulsando a todas.
Fui levada no bolo, duas me seguraram pelo braço e me conduziram
para a sala de jantar, que era enorme e tinha uma grande mesa com tantas
cadeiras que não pude contar direito. Havia muita comida que me perguntei
se elas passaram a madrugada cozinhando. Uma diversidade de bolos e
tortas de frutas vermelhas, ovos fritos, cozidos, pães doces e salgados,
presuntos, queijos e peixe.
Servi-me com um pouco de tudo para agradar a todas. Cada uma
apresentou seu próprio prato e eu não podia fazer desfeita, mesmo que, na
metade, já quisesse abrir minha calça por não caber mais nada no estômago
e precisar beber o chá para ajudar a engolir. Senti saudade de ter um
secretário dizendo o momento certo de fugir porque chegou a um ponto que
meus ouvidos doíam e elas não falavam inglês muito bem, toda hora
precisava perguntar “o quê?” ou pedir para que repetissem, até que passei a
fingir que estava entendendo tudo, acenando e indo na onda da conversa
como uma surfista.
Agradeci por ter sido criada para representar um bom papel.
Como estava chovendo muito, aquele encontro parecia não ter fim,
mas elas tinham que voltar para suas casas. Ajudei a recolher a mesa e fui
proibida de ficar na cozinha porque era uma convidada do castelo. 
— Será que poderei encontrar com Lorna para arrumar minhas coisas
na residência?
— Quanto a isso, acho que precisará conversar com o patrão —
Geillis me respondeu com um sorriso. — Ele está no escritório. Lully irá te
levar lá. 
— Obrigada.
Segui a menina que parecia jovem demais para ser uma empregada
doméstica. Pela minha pesquisa, era comum na região começar a trabalhar
cedo. Subimos uma escadaria e viramos à esquerda, ela bateu na porta e
ouvimos a voz potente, dizendo para entrar. Empurrei e ele estava sentado
atrás da mesa de madeira grande, contra a janela, e reuniu algumas folhas
antes de olhar em minha direção.
— Boa tarde, Simon. Eu vim falar sobre minha moradia. Não quero
incomodá-lo.
— Sim, certo. Imaginei que seria isso. As notícias não são boas.
— O que aconteceu? — Franzi o cenho, percebendo que estava
preocupado.
— A residência da escola sofreu danos severos com a chuva essa
madrugada. Inclusive, a senhora que iria dividir a casa está internada no
hospital. — Ele ficou de pé e cobri minha boca com horror. 
— Ai, meu Deus! Lorna está bem? 
— Foram ferimentos leves, está em observação e irá para casa quando
possível. A residência precisará de uma reforma a longo prazo. — Encostou
na parede e enfiou as mãos nos bolsos. Sem toda lama, ele era um homem
muito bonito de se olhar.
— Entendo. E onde irei viver?
— Aqui. Já conversei com seu irmão.
Senti meu sangue ferver.
— Conversou sobre a minha moradia com meu irmão antes de falar
comigo? 
— Sim. Se tem um problema quanto a isso, lide com ele. 
Irritante de uma figa.
— Já parou para pensar que é o meu nome no contrato e não o de
Ethan? Sou adulta e responsável por mim mesma, meu irmão não manda
em mim. Obrigada pela gentileza, mas tenho certeza de que haverá uma
casa para alugar no vilarejo à disposição.
Simon abriu um sorriso torto que eu odiei perceber o quanto era
irresistível.
— A maioria das casas da cidade me pertencem e eu sou seu
contratante. Como amigo do seu irmão, por consideração, desejo que tenha
o melhor dos aposentos. Ficará em uma ala privada do castelo, com total
privacidade, como seria na residência. Ah, e com um carro. 
Cruzei meus braços, não querendo ceder.
— Não teria sido mais fácil e mais justo conversar comigo primeiro?
— Ethan é o meu amigo. — Ele deu de ombros. Babaca.
— Eu sou a sua funcionária.
— Então, faça o que estou mandando — rebateu e quis voar em seu
pescoço. 
Respirei fundo… duas vezes, e dei uma olhada no profundo dos seus
olhos, deixando clara a minha completa e irrevogável insatisfação. Com a
promessa de que aquela atitude não ficaria esquecida, dei meia volta e saí
do escritório. Não bati a porta porque minha mãe me deu educação, mas ele
merecia. Andei pelo corredor de volta ao quarto, me perdi, mas achei a sala,
de lá foi mais fácil encontrar a cozinha e pude pedir ajuda para retornar.
Como seria moradora do castelo, Lully me ajudou na mudança para o
novo quarto em que ficaria instalada, que era do outro lado, próximo a uma
entrada discreta e um jardim que, assim que parasse de chover, parecia
bonito. Era maior do que o de hóspedes, com uma pequena sala na frente
com sofá grande, televisão, mesinha com lindos vasinhos pequenos e muito
bem decorado.
Depois que a tempestade fosse embora, as estradas secassem, me
apresentasse na escola e conseguisse me ambientar, buscaria um lugar
independente para morar. Não sairia por uma cidade desconhecida apenas
pelo prazer de ser teimosa, mesmo que Simon não merecesse respirar o
mesmo ar que eu. 
— Muito obrigada por sua ajuda, Lully.
— O almoço será servido em breve. O patrão costuma comer na
cozinha conosco e será bem-vinda, mas posso trazer aqui.
— Eu comi muito no café, se sentir fome, irei até lá. Obrigada. 
Meu estômago odiaria ver mais um pedaço de qualquer alimento por
um bom tempo. Com o armário organizado e meus poucos livros na estante,
organizei as partituras e deixei o notebook na mesinha, para trabalhar nas
primeiras matérias que iria lecionar. O sono bateu, provavelmente meu
cérebro precisava concentrar as energias na digestão. Deitei na cama e
mandei uma mensagem para meu irmão, pedindo para que parasse de tomar
decisões por mim. Da próxima vez que o meu patrão falasse qualquer coisa
com ele, deveria dizer para me procurar.
Ethan apenas riu, afirmando que não estava entendendo a falha de
comunicação entre Simon e eu, alegando que seu amigo era uma pessoa
muito simples e fácil de conviver. Eu era alguém fácil. Ele era teimoso e
mandão, além de rabugento, e simplesmente ordenou que vivesse no castelo
sem considerar minha opinião ou dar outra opção. Ele podia ser a pessoa
que estava pagando meu salário e tudo mais, porém, não significava que
aceitaria que estalasse o chicote sem questionamentos. 
Se continuasse a me ignorar, ele iria descobrir que eu não estava
disposta a permitir ser tratada como a princesa que não era.
Estava cansada que falassem por mim. 
 
 
CAPÍTULO SETE
Simon
A chuva finalmente foi embora, deixando um rastro de destruição um
pouco esperado. Era comum da época e eu acordei cedo, com o nascer do
sol e o primeiro cantar de pássaros para pegar o trator e limpar a estrada até
a cidade, tirando toda a lama, pedaços de madeira e árvores do caminho. Fiz
o recolhimento do lixo em mutirão com os outros homens e, antes do
almoço, as ruas estavam liberadas.
Visitei Lorna na casa paroquial, onde estava hospedada, e garanti que
ela podia ficar no castelo, como Ediwa, mas ela disse que estava bem
acomodada ali. Prometi que traria a professora de música para conhecer a
escola no dia seguinte e daria um tour, para que não se preocupasse e
apenas recuperasse a saúde. Peguei pães frescos na panificadora e com o
trator, voltei para a fazenda, ainda tendo muito a fazer.
Estacionei atrás do celeiro, soltando os cachorros e eles saíram
correndo, ansiosos para estarem no campo depois de tanto tempo presos
dentro do castelo e destruindo tudo que viam pela frente. Ouvi um gritinho
e virei a esquina, encontrando Ediwa, minha nova hóspede. Fazia alguns
dias que não a via e foi de propósito. Não queria encontrá-la. Gostava de
ficar sozinho e ela podia ficar na companhia da Lully e Geillis. 
Os cães quase a derrubaram com uma cesta de ovos. Ela usava uma
calça de tecido, botas e um camisão, em seus cabelos presos, tinham penas
e seu rosto, um pouco de cocô de galinha. Patinando na lama, apoiou-se na
cerca e quase caiu, tentando fugir do assalto dos meus pastores. Assobiei e
eles pararam. 
Ediwa ergueu o rosto e ficou vermelha, acenando timidamente.
— O que está fazendo?
— Pegando ovos? — Ela estava ofegante. 
— E por que está fazendo isso?
— Lully está doente e ao que parece, os demais estão ocupados.
Geillis disse que faria um biscoito de queijo que precisa de ovos caipiras. 
— Parece que travou uma batalha contra as galinhas.
— Eu nunca fiz isso antes e ninguém me disse que elas não ficam
felizes quando você entra para pegar os ovos.
— Galizé não gosta muito mesmo, não. — Cocei minha barba, com
vontade de rir. — Boa sorte.
Dei as costas e fui embora olhar meus cavalos. Ela queria
independência, ficou reclamando com o irmão sobre tomar decisões sem o
seu consentimento, então, podia se virar sozinha, na lama, com bosta de
galinha na cara e tudo. Entrei no estábulo e conversei com meu sangue
puro, acariciando seu pelo, dando-lhe cenouras e acalmando a ansiedade
porque a chuva o deixou muito tempo nas baias. 
Mais uma vez ouvi gritos, que só podiam ser de Ediwa, e risadas dos
homens, porém, com meu olhar, eles pararam. Não precisei dizer-lhes que
ela era intocável. Solteira e muito bonita, o ousado que chegasse perto com
más intenções não só perderia os dedos, como os dentes, os olhos e o pau. 
Para minha completa infelicidade, Ediwa era muito bonita. Odiava
Ethan porque ele não tinha o direito de ter uma irmã caçula que tirava até a
concentração com tanta beleza. Ela tinha longos cabelos castanhos escuros,
olhos cor de mel e cílios proeminentes. Eu nunca reparei nos cílios de uma
mulher antes, mas nela, foi uma das primeiras coisas que vi porque tinha
algumas gotinhas de chuva presas ali. 
Era mais alta e mais adulta, pensei que fosse uma criança, uma
adolescente. Ela tinha curvas tentadoras, seios… que puta que pariu. Por
que reparei nela? Eu não fazia a mínima ideia! E, infelizmente para mim,
sua bunda era redonda, arrebitada e bem preenchida. Poderia dar um soco
em mim mesmo por olhar, mas olhei. 
E não faria nada além disso.
Era mais nova e irmã do meu melhor amigo, totalmente proibida para
mim - e para qualquer um. 
Ao longe, observei-a correr dos gansos e subir em uma plataforma,
tentando enxotá-los com um galho. Assim que conseguiu espaço para fugir,
correu na direção oposta e entrou no pátio do castelo com as alfaces que
pegou na horta, sacudindo para Geillis como se estivesse com um prêmio. 
Maluquinha.
Os cães encontraram um filhote de coelho na mata e eu sabia que era
da filha de um dos vizinhos. Caminhei até lá, sem pressa, levando a
pequena coisa peluda nos braços para devolver. A garotinha deu vários
pulinhos no lugar de alegria, com os olhos cheios de lágrimas e o pai,
aparentemente cansado, denunciou que estavam procurando pelo animal de
estimação há um bom tempo. 
Era metade do dia e eu queria desaparecer para ficar sozinho.
Minha bateria social já estava no fim e ainda tinha reunião com a
associação dos moradores para debater melhorias que podíamos implantar
nos telhados e estradas para a próxima temporada de chuvas, aproveitando
o calor do verão. Eu queria ser a pessoa a decidir aquilo? Não. Mas fazia
parte da minha herança como um Higgins Basset e não fui criado para ser
um homem que fugia das minhas responsabilidades. 
Retornei ao castelo na hora do almoço. Tomei banho para tirar a terra
seca do corpo, o cheiro do estábulo e estar apresentável para meu próximo
compromisso. Vesti as roupas de sempre: jeans, botas, camiseta preta por
baixo e outra camisa por cima. 
Geillis estava colocando os pratos na mesa no momento em que entrei
na cozinha e me arrependi de não ter pedido meu almoço no escritório.
Ediwa saiu das roupas bagunçadas usadas para andar pela fazenda e estava
um vestido roxo claro muito bonito que delineava suas curvas com
perfeição. Os cabelos estavam presos com uma coisa brilhante e delicada
que pareciam flores de jacinto, os cachos soltos, fluídos e caídos pelos
ombros, iam até a cintura fina. 
Ela virou e olhou em meus olhos. Parecia um cervo pronto para o
abate. 
Seu pescoço me dava a sensação de abrigar o melhor perfume do
mundo. 
Desviei o olhar para a comida, que parecia deliciosa. 
— Hoje o almoço teve total apoio e colaboração de Ediwa. Lully está
doente, ficou com a mãe e as outras moças, de folga, para limpar a casa por
causa da chuva — Geillis me explicou e apontou para a cadeira. — Pode
sentar. Está tudo pronto.
— Parece delicioso. 
— Obrigada — Ediwa respondeu e dei um aceno.
— E que bom que sobreviveu ao quintal. — Dei-lhe um sorriso
provocante.
— Vou me acostumar. — Ela colocou o guardanapo no colo, graciosa,
e alinhou os garfos. Eu tinha noção de que o castelo era bonito, porém,
rústico e nem de longe luxuoso como os palácios que estava habituada.
— Deve ser difícil viver longe do shopping e das roupas de grife. E o
que mais sente falta? Das festas e coroas? — continuei provocando e
percebi a coloração de seu colo mudar lentamente para vermelho e o olhar
assumir um brilho de desafio.
— É verdade que sua vida era badalada assim, Ediwa? — Geillis
entrou no assunto com mais simplicidade e ela se acalmou visivelmente.
— Não é difícil viver longe da cidade, na verdade, é maravilhoso estar
no campo, eu nunca dormi tão bem quanto agora. Só de não ter nenhum
paparazzi fotografando meu rosto é o suficiente. — Ela serviu-se com
salada. — A perseguição era insuportável.
— Se eles ousarem, vão encontrar os punhos do patrão — Geillis
garantiu.
— Isso é certo — resmunguei, cavando meu prato com carne e batata.
Ediwa contou um pouco mais do outro lado da realeza e percebi que o
verdadeiro motivo de estar ali era fugir de um pesadelo. Eu não aguentaria
cinco minutos de exposição da minha vida sem ter explodido metade das
pessoas que a perseguiam na porrada. A história do babaca que a pediu em
casamento na frente de um monte de pessoas trouxe um pouco de risadas à
mesa e, ao mesmo tempo, me fez entender que Ethan e a família viviam em
um mundo completamente diferente.
Tudo bem que eu herdei um castelo e milhares de hectares, no
passado, alguém foi um Laird, um senhor de castelo com muitas terras,
como eu basicamente era, sem ser e sem ter muita opção ao querer. Mas o
que eles viviam era surreal e inaceitável. Não abria mão da minha
privacidade e direito de ir e vir por linhagem real nenhuma, e que todos
fossem para a puta que o pariu.
— Está indo para a cidade? — Ediwa quis saber ao terminarmos de
comer. — Pode me dar uma carona? Gostaria de visitar Lorna. Ela foi muito
gentil por e-mail e telefone, quero conhecê-la pessoalmente.
— Vá pegar suas coisas, sairei em dois minutos.
Assentindo, foi praticamente correndo e agradeci a Geillis pela
refeição. Ediwa retornou com seu casaco, bolsa e um ramo de flores que
pareciam ter sido colhidas no jardim coberto do castelo. Embora, ela não
merecesse por ser uma completa teimosa, lembrei de ser um homem
educado, abri a porta do carona da caminhonete e ofereci minha mão para
que pudesse ter apoio para subir. O carro era realmente alto.
— Obrigada pela gentileza. — Ela me deu um sorriso, foi o primeiro e
puxa… ficava ainda mais bonita quando não rosnava feito uma gatinha
furiosa.
— Não se acostume, aprenda a subir sozinha. — Bati a porta e dei a
volta, logo dando a partida porque quanto antes chegasse, logo poderia
voltar para casa.
— Você gosta de ser um idiota? — Ediwa questionou.
— Minha irmã questiona isso o tempo todo.
— Claire sempre me pareceu uma mulher muito sábia. 
Soltei um riso pelo nariz e me concentrei na estrada, que ainda não
estava muito seca e cheia de buracos. Eu não fazia a mínima ideia de
porque gostava de irritá-la, mas em todo caso, aquilo estava apenas
começando.
 
 
CAPÍTULO OITO
Ediwa
Eu podia me considerar uma garota alienada ao dizer que vi, pela
primeira vez, homens andando de kilt. Era uma feira de produtos orgânicos
na cidade vizinha e Geillis perguntou se gostaria de conhecer. Lá, Simon e
vários outros moradores levavam o que produziam para venda, era muito
cheio e tinha gente de todo lugar do mundo. Tive um pouco de medo de ser
reconhecida, porém, com jeans, camiseta, botas e um boné, descartei a
possibilidade.
— Precisa de um babador, princesa? — Lully brincou comigo ao me
ver espiar um homem bonito e grande passando por nós duas.
— Acho que nunca vi tanto homem gostoso por metro quadrado —
confessei e ouvi um ruidoso limpar de garganta atrás de mim. Merda. Virei
e empinei o queixo. — O que foi? Posso te ajudar? — desafiei Simon. Ele
era muito cheio de besteiras.
— Concentre-se nas vendas se veio ajudar. 
— Tudo pronto, patrão. Caminhão abastecido. — Roger se
aproximou, limpando o suor e me deu um sorriso nervoso. Ele nunca sabia
se olhava em meus olhos, para o chão ou se corria na direção oposta de
tanto medo. Simon deve ter ameaçado todos os seus homens, porque
nenhum deles chegava perto, pelo contrário, tremiam quando eu passava.
— Volto à noite, quando terminar a entrega dos uísques. Não arrumem
confusão. — Simon foi severo e eu bufei, enquanto Geillis parecia divertida
e Lully amedrontada. 
Ergui minha mão, levantando dedo por dedo e acenei, abrindo um
sorrisinho. Ele devolveu o que parecia mais um rosnar de lobo e não me
importei. Dei as costas e pedi para as meninas que me ensinassem o
trabalho, que foi mais divertido sem a presença dele, porque ficava
intimidada com seu humor ruim. Eu, que nunca trabalhei e sempre fui
servida, cortar queijo de cabra e convencer passantes a comprar com
argumentos inteligentes foi o ápice do meu dia.
Também vendi muito leite, farinha, batatas e ovos. A fazenda produzia
muita coisa e fiquei impressionada com o lucro. O caminhão chegou cedo e
voltou praticamente vazio. Quando a barraca foi recolhida, Simon ainda não
tinha retornado e Geillis disse que deveríamos esperá-lo em um pub não
muito longe, que servia uma boa refeição e cerveja. Não bebia mais do que
uma taça de vinho no jantar, como estava cansada, com fome e louca para
tomar um banho, a caneca oferecida desceu feito água. 
Lembramos de brindar na segunda. Serviram um ragu de cordeiro em
uma vasilha cheia até a boca e tão quente que borbulhava. Havia muitos
homens no local olhando-nos, casais também, dançando, e vários turistas
empolgados. Era um ambiente misto que não estava acostumada. Sempre
andei com seguranças, nunca fiz nada daquilo, o máximo que me aventurei
em Nova Iorque foi com minha irmã, seu marido e pelo menos cinco dos
irmãos dele. 
Era difícil não sentir um pouco de medo e, ao mesmo tempo, me
causava uma adrenalina viver algo completamente novo que nunca poderia
experimentar se ainda estivesse presa no palácio, vivendo sob as rígidas
regras da família Lewis. De tão ocupada planejando as aulas, pesquisando
sobre os eventos culturais da região, conhecendo a cidade e a fazenda, mal
acessava a internet para saber o que estavam falando de mim. No pouco
tempo que tinha livre, deitava para ler e dormir, conversava com minha
irmã, cunhada e mãe.
Phillipa e eu éramos mais de trocarmos mensagens aleatórias durante
o dia. Ela era a única amiga que estava me procurando depois que deixei
meu emprego. Todas as outras simplesmente agiram como se suas vidas
fossem ocupadas demais e então, eu retribuía o mesmo favor. 
Daphne sempre me disse que elas não eram verdadeiras comigo e eu
nunca acreditei de fato. Minha irmã estava certa o tempo todo. Amigas se
importariam em manter contato, certo? Em ligar de vez em quando? Eu
mandei fotos nos grupos e recebi reações, ninguém respondeu e depois, um
completo silêncio. Entendia que ninguém estava disposto a ficar
acompanhando minha nova vida, mas não era como se eu não lhes desse
atenção também.
Ainda bem que Geillis e Lully eram ótimas e não me faziam sentir
solitária. Sem contar que Lorna, apesar da nossa diferença de idade,
mostrou-se ser muito afetuosa nos dias que passei na escola afiando os
instrumentos da sala de música. Eu não sei o que o antigo professor andou
fazendo ali, porém, estava tudo precário e resolvi fazer uma lista de
substituição. A escola era responsabilidade do castelo e me diverti com a
ideia de Simon recebendo o valor da conta dos itens que eu precisava para
trabalhar.
Um homem que estava do outro lado do balcão com seus amigos
levantou como se finalmente tomasse coragem e se aproximou.
— As senhoras estão se divertindo?
Lully soltou risinhos bobos e eu fiquei séria, ele parecia bêbado
demais. Geillis virou-se.
— Estamos bem, obrigada. — Ela foi firme.
— Gostariam de companhia?
— Não. — Geillis virou novamente, dispensando-o.
Ele colocou a mão entre nós, empurrando-me para o lado e derrubou a
minha cerveja, tive que pular do banco ou tomaria um banho. Acabei
batendo com minha bunda em sua virilha e, entendendo o movimento
errado, agarrou minha cintura, cheirando meu pescoço. Gritei, em pânico.
Fui puxada bruscamente para trás e reconheci Simon armando o punho,
porém, outros homens o seguraram, levando o bêbado para longe,
literalmente chutando-o para fora do estabelecimento com seus amigos.
— Você está bem, querida? — Geillis passou os braços nos meus
ombros.
O cheiro tenebroso dele estava em mim.
— Quero ir embora. 
— Ele te feriu? 
— Não, só me agarrou e… 
— Vamos sair daqui — Simon determinou e jogou umas notas no
balcão.
Lully pegou nossas bolsas e casacos, seguindo-nos para fora bem
rápido. Simon tinha parado o carro próximo à entrada, abriu a porta para
mim e Geillis, fui na frente e ela atrás, com algumas caixas. Os demais,
seguiram para o segundo veículo e o caminhão já tinha seguido viagem.
Tentei não chorar, porque era adulta e aquela situação não deveria me
assustar, mas foi o primeiro assédio da minha vida.
Funguei e disfarcei com uma tosse, olhando pela janela. No reflexo do
vidro, vi Simon apertar o volante. Todo o trajeto foi silencioso e soltei um
suspiro preso quando finalmente chegamos ao castelo, precisava descansar
e jogar todas as lágrimas no travesseiro. Agradeci Geillis pelo dia, abracei
Lully que foi saltitante para sua casa e entrei com Simon, ele não acendeu
todas as luzes enquanto caminhávamos até a escada.
Não sabia para que lado ficava o quarto dele. Ele era muito reservado.
— Obrigada por ter me defendido.
— Não chore por isso — ele murmurou antes de subir e virar na
direção oposta.
Entrei no meu quarto, jogando a bolsa no chão e sequer tive ânimo
para buscar meu telefone no fundo dela. Tirei a roupa e fui para o chuveiro,
lavei o cabelo, a pele e esfreguei com muita força para me livrar do cheiro
do bêbado. Exausta, peguei o pijama, vesti, apaguei as luzes e me deitei. Só
depois lembrei que não tinha trancado a porta. Dentro do castelo, dormia
apenas Simon e eu.
Será que deveria me preocupar?
E se alguém invadisse? A taxa de criminalidade da região era
simplesmente nula, poucas pessoas da cidade grande mudavam-se para ali e
com o histórico militar de Simon, duvidava que qualquer estranho
conseguisse se estabelecer sem que ele puxasse toda a ficha. Fechei os
olhos, com preguiça, e acordei assustada com o som de algo caindo, já era
dia e o sol quente queimava meu braço. 
Rolei para o lado, tentando me esconder debaixo das cobertas. Meu
corpo doía como se tivesse malhado muito ou participado de uma maratona.
Ainda bem que era um dia na semana e eu não iria depois que as aulas
começassem, que era a minha função principal, ser professora e não
vendedora. Com calor, levantei, suada, tomei outro banho e vesti a roupa
para o dia. Não tinha coragem de ficar no castelo como uma convidada sem
ajudar nos afazeres enquanto a escola estava em reparos por conta da
chuva. 
A ansiedade para conhecer os alunos e finalmente dar aulas me
consumia.
Com o espírito mais elevado e colocando o que tinha acontecido no
fundo da minha mente, saí do quarto, cantarolando, meio que dançando
pelos corredores. Desci a escada e parei na cozinha. Geillis já estava
agitada, preparando o café, assando um bolo, as galinhas estavam do lado
de fora e eu agradeci. Nada contra, só não fazia sentido na minha cabeça
que elas ficassem ali junto à comida.
Talvez precisasse me acostumar com a vida no campo.
Abri a porta dos fundos, olhei para o gramado e respirei fundo. Nossa,
que cheiro bom! O ar puro, o perfume das flores e meu peito encheu-se de
esperança pelo meu recomeço. Fui andando pela trilha de pedras, olhando
para o horizonte brilhando com a luz do sol matinal e abri os braços,
sentindo o sabor incrível da liberdade. 
Recomeçar ali, no interior da Escócia, em um lugarzinho no meio do
nada, com um castelo antigo que dominava uma pequena região, foi a
melhor escolha da minha vida. Sempre tive medo de deixar o ninho, a
proteção da casa dos meus pais, os seguranças e a vida perfeita que ser uma
Lewis me proporcionava. 
Estava me sentindo adulta, independente e dona de mim mesma. 
Daphne estava certa, não existia nada melhor.
 
 
CAPÍTULO NOVE
Ediwa
O sinal tocou e meu coração acelerou no peito. Ajeitei minha saia,
nervosa, ansiando pela entrada das crianças para minha primeira aula. Todas
as partituras estavam alinhadas, cadeiras no lugar, instrumentos novos e
lustrosos. Caramba, estava acontecendo! Eu abri um sorriso quando o
primeiro aluninho entrou e ele usava um kilt, se fosse possível, iria derreter
ali mesmo. Ele abriu um sorriso e, acenando, deixou a mochila no local
certo e foi para seu lugar.
A turma era muito educada e gentil, eu não era a professora principal,
apenas de música, por isso, não tinha o trabalho de ensinar os detalhes. Era
engraçado ver a maneira que eles pegavam no violino, desafinavam, não
seguiam o ritmo e não entendiam nada, mas eu tinha paciência e
principalmente, muito amor. 
Cada minuto na escola foi mais do que especial, pensei que não fosse
conseguir e foi incrível. Não consegui que tocassem uma mísera música
inteira. No fim do dia, guardei todo o material no armário, tranquei e reuni
minhas coisas, indo para a sala de professores no qual fui apresentada mais
cedo. O local não era muito grande, apesar de ter turmas dos menores aos
maiores, o time dos professores não passava de dez. A que estudei, mal
dava para memorizar os nomes de todos eles.
Um professor em particular, Ian Grey, de exatas, parecia pegajoso e
simpático demais. Morava perto do castelo e, galanteador, me ofereceu
carona duas vezes como se eu fosse a professorinha que iria de bicicleta
com uma cesta de flores precisando de ajuda. Eu tinha um carro, ora essa.
Apesar de ter vindo de carona com Simon porque estava nervosa e Geillis o
obrigou.
— Muito obrigada pela sua gentileza, talvez em outra oportunidade.
— Nós sempre saímos juntos para beber nas sextas.
— Adorarei sair para confraternizar com todos os membros da equipe.
— Abracei minha pasta, dando um passinho para trás. 
Ian era alto, bem bonito, cabelos loiros cuidadosamente penteados
para trás, usava jeans, suéter e uma camisa branca por baixo com sapatos
lustrosos. Ele também carregava consigo uma pasta marrom de couro,
típico de quem gostava mesmo de cálculos. Despedi-me de todos, indo para
a entrada da escola, e Simon já estava do outro lado, conversando com
Lorna. Ela estava me enchendo de elogios.
Simon me deu uma olhada, sem esboçar nenhuma reação e abriu a
porta, encerrando o assunto. Eu ri, sem graça, subindo e acenei para me
despedir. No dia seguinte teria mais, já estava ansiosa. Queria até dormir
para passar mais rápido. 
— Campeonato de música em Inverness? — Simon grunhiu, ligando o
carro e eu coloquei minha bolsa no chão. 
Como ele já sabia?
— Sim! Faltam seis meses, as turmas ainda não estão preparadas, mas
com tempo para ensaios, vamos conseguir e poderemos fazer uma
apresentação maravilhosa. — Tirei os folhetins que imprimi na escola e
mostrei. — Vai ser incrível para a escola! 
— E os gastos de levar tantas turmas para Inverness por tantos dias? A
população daqui não tem dinheiro para isso, algumas crianças não irão e…
— Ele continuou irritado. 
— Podemos arrecadar. Temos tempo para vender produtos, preparar
tortas e bolos, participar das feiras nas cidades vizinhas e fazer rifas. Foi só
uma proposta à Lorna, que ficou muito animada. 
— Vou pensar sobre isso. — Ele bufou.
— É sua decisão?
Se dependesse do humor e animação do monstro da montanha, meus
alunos e eu estávamos ferrados.
— A escola é minha responsabilidade e eu tenho que garantir a
segurança de todos, inclusive, dos alunos e a sua. Inverness é longe, terá
que ver hotel, ao mesmo tempo, aqui é uma temporada cheia no fim do ano,
temos atrações. 
Mamãe me ensinou o momento de calar e escolhi aquele para engolir
as muitas palavras que embolaram em minha língua. Até mordi meu lábio.
Mas não podia impedir meu eu mimado, cruzei os braços e fiquei batendo
os pés. Simon ligou o rádio, aumentando o suficiente para não me ouvir
nem bufar e começamos uma disputa idiota sobre quem conseguia irritar
ainda mais o outro até chegarmos no castelo. 
Desci do carro e se ele era minimamente parecido com meu irmão,
bati a porta com muita força. Pelo reflexo da janela, vi que estremeceu e
entrei pela cozinha, cumprimentando Geillis e deixei minhas coisas no
cantinho para não atrapalhar. Lavei minhas mãos e, morrendo de fome,
cortei um pedaço da torta de queijo com uma cobertura de frutas vermelhas
que estava deliciosa.
Minha cabeça doía um pouco pela barulheira que Simon considerava
como música. Ele era um idiota. Se achava que iria desistir do festival de
música, estava enganado. Seria uma oportunidade incrível e eu iria começar
a trabalhar em muitas ideias para garantir não só a segurança, como a
hospedagem. Se precisasse, iria pedir fundos à empresa do meu irmão. Ele
tinha uma fundação para eventos culturais e me devia por tantos anos
intrometendo-se na minha vida.
— Eu vou me refrescar e desço para te ajudar com o jantar.
— Não precisa, vá falar com sua família e contar como foi o primeiro
dia, te aviso quando ficar pronto. — Geillis me enxotou da cozinha de sua
maneira divertida.
Levei minhas coisas e ao chegar na escada, Simon também estava
subindo. Ele olhou em minha direção e sendo uma boa pirracenta, olhei
para o outro lado, empinando o nariz. Ouvir a risada dele por causa do meu
comportamento infantil quase me fez rir também, mas não quis lhe dar o
gostinho. Segui para o meu quarto, tranquei a porta e liguei por chamada de
vídeo para Daphne, que apesar da diferença de fuso horário, ficou muito
feliz em ouvir todos os detalhes do meu primeiro dia de trabalho.
E era apenas a colônia de férias. 
O ano letivo ainda não tinha começado de fato. 
Estranhamente animada, escolhi um vestido rosa-escuro, longo,
coloquei sandálias baixas por não pretender sair mais e prendi o cabelo em
um coque baixo, caído na nuca, com fios soltos e emoldurando meu rosto.
Era bem simples, mas ficava muito bonito. Passei máscara de cílios e gloss,
perfume, e mantive as joias delicadas que usei para trabalhar. 
Caminhei pelos corredores admirando as obras de arte das paredes.
Havia uma história muito bonita ali e eu queria saber mais. Li os folhetins
sobre o castelo, porém, Geillis disse que Simon ou o guia que ficava ali na
época das visitações poderiam me contar melhor. Eu optei esperar o rapaz
porque nunca pediria nada a Simon, já bastava morar ali. E pensando no
diabo, encontrei-o no topo da escada, de banho tomado, usando camisa
preta bem ajustada ao peitoral definido, jeans e botas escuras.
A barba e os cabelos estavam penteados e o perfume, viril e delicioso,
trouxe um arrepio gostoso à minha espinha. 
Seu olhar desceu pelo meu corpo cuidadosamente. 
Voltando a olhar em meus olhos, apontou para a escada, indicando que
deveria ir na frente. Dei-lhe um aceno e apoiei minha mão no corrimão,
descendo o primeiro degrau muito ciente dos seus olhos queimando em
mim. No corredor, ouvir seus passos logo atrás não fez com que eu me
sentisse perseguida de uma maneira ruim, trouxe um fogo diferente à boca
do meu estômago e antes de entrarmos na sala de jantar, ele parou bem
próximo, colocou a mão em cima da minha e empurrou a maçaneta grande,
antiga. A porta pesada abriu.
Olhei-o sobre os ombros, dando-lhe um sorrisinho e fui adiante.
Geillis havia caprichado no jantar, um peru enorme estava no centro da
mesa, decorado com batatas assadas bem coradas que chegavam a ter uma
crosta bonita. A salada cheirava a azeite e manjericão fresco e o milho
brilhava com a manteiga temperada. Lully entrou com mais travessas em
um carrinho, Roger com vinho e Geillis, taças.
— Estamos comemorando alguma coisa? — Simon quis saber ao
puxar a cadeira para mim e foi para a cabeceira, o lugar arrumado para ele. 
— O primeiro dia de aula da Ediwa, é claro. — Lully abriu um
sorrisão.
— Que gentileza! Não precisava desse banquete! — Levei minha mão
ao peito, tocada com tamanho carinho.
— Claro que precisava! — Geillis retornou com a última travessa
borbulhante. — O último professor de música nos deixou sem mais nem
menos, as crianças ficaram arrasadas e agora, até para um festival quer nos
levar! Precisamos brindar a isso.
Dei um olhar a Simon, arqueando a sobrancelha. Se todos estavam
felizes com a possibilidade de nos apresentarmos, por que ele era o único
rabugento? Talvez fosse apenas sobre toda a logística e o peso da
responsabilidade que os demais membros da comunidade não pensavam
tanto. Ele pegou a garrafa de vinho, serviu nas taças e como sempre,
escolheu ficar quieto.
Geillis, empolgada e serelepe, era baixinha e rechonchuda, seus
cabelos loiros meio ruivos viviam com os fios arrepiados. Ela tinha um ar
alegre que te dava vontade de rir a todo custo e o tempo todo. Ergueu a taça,
propondo um brinde e minhas bochechas ficaram quentes com os elogios.
— À nova professora de música e que sua estadia conosco seja de
muito sucesso. — Simon completou, olhando em meus olhos e foi a
primeira vez que sua fala foi limpa. Antes, entre grunhidos misturando
gaélico e inglês, estava sempre parecendo irritado e cansado. 
— Obrigada. Estou muito feliz de estar aqui!
— Sucesso! — Roger bateu a taça dele um pouco mais empolgado na
minha, eu ri e limpei o vinho que derramou na minha mão. Ele ficou
vermelho, sem graça e gaguejando desculpas. Era muito jovem, embora
tivesse a minha idade, era nítida a imaturidade por nunca ter ido além das
cidades vizinhas e trabalhado com outra coisa sem ser a fazenda.
— Eu vou bater em você — Simon grunhiu e nós rimos da maneira
que pareceu que Roger iria fugir da mesa.
— Não vai nada. — Eu apaziguei e apontei para o peru. — Faça as
honras, patrão.
Simon pegou o grande garfo e faca, olhando-me com intensidade e lhe
devolvi com um sorriso inocente, usando a minha melhor expressão de
anjo.
 
 
CAPÍTULO DEZ
Simon
Ian Grey era um babaca. Não gostava dele quando éramos crianças,
não me arrependia de todas as vezes que bati nele na adolescência e muito
menos de não nos tornarmos amigos na fase adulta. Ao observá-lo ser todo
galanteador para cima de Ediwa na saída da escola, me deu vontade de sair
e socá-lo mais uma vez. O que ele queria, porra? Perder a porra do nariz?
Era bastante óbvio que ela era boa demais para um merda
engomadinho como ele. Apertei o volante para não descer e quebrar todos
os dedos dele. Perdi a minha paciência ao vê-la jogar a cabeça para trás e
rir. Foda-se. Risadinhas na casa do caralho. Empurrei a mão na buzina,
assustando ambos e arquei a sobrancelha, não tinha o dia inteiro para
esperar a princesa. 
Eu nem sabia por que fui buscá-la. Deveria ter deixado-a a pé. De
manhã cedo, estávamos sendo cordiais um com o outro e tinha pães para
buscar na cidade, entregar alguns mantimentos na igreja, com isso, dei-lhe
uma carona. O carro dela já estava pronto para uso há alguns dias e até o
momento, o arranjo parecia bom. Mas eu não serviria de chofer para que
ficasse flertando com o imbecil. 
Percebi que ela tentou se despedir duas vezes e ele a impediu de se
mover, continuando a falar, ficando estrategicamente em seu caminho. Eu
era um homem e conhecia todos os movimentos de sedução, não só porque
tínhamos isso naturalmente dentro de nós, como também por ser treinado
para interpretar qualquer papel, do macho escroto ao mais sedutor de todos. 
Saí do carro e só o som das minhas botas no asfalto fez com que
algumas senhoras do outro lado da rua começassem a tricotar com um
pouco mais de lentidão. Bati a porta e atravessei, indo na direção deles sem
desvios. 
— Simon, ei! — Ian reconheceu a minha presença. — Estava dizendo
a Ediwa que se ela quisesse ficar um pouco mais, para terminarmos a nossa
conversa, poderia levá-la até o castelo. Imagino que deva ser bem
inconveniente estar morando tão longe. Alguma notícia sobre a reforma da
residência? 
— O que isso te interessa?
— É direito do professor e imagino que Ediwa precise de seu próprio
espaço.
Eu ia quebrá-lo em muitos pedaços. Inclinei minha cabeça para o lado,
trincando meu maxilar e o encarei. Por que ele a queria sozinha em uma
casa na cidade?
— Não está se adiantando demais e intrometendo-se onde não é
chamado? 
— Eu estava dizendo que estou muito feliz no castelo e que a
distância não é incômodo nenhum. — Ediwa agarrou minha camisa, meio
que me empurrando na direção oposta, mas não conseguiu fazer com que
saísse do lugar. — Olha só a hora passando, caramba! Geillis detesta atrasos
para o jantar! Vamos, Simon? Tchau, Ian!
Não desviei meu olhar dele mesmo quando ela passou entre nós e foi
para o carro. 
— O que foi, Simon? Acha que é o único interessado ou você tem
direito a todas as mulheres bonitas dessa cidade? — Ian me provocou.
Abri um sorriso seco para disfarçar o tamanho do meu ódio.
— Toque em Ediwa e eu vou te matar. 
— Ela vai me querer, escreva o que estou te dizendo, se é que sabe
como fazer isso. Às vezes esqueço que é apenas rico, não muito orientado.
Eu ri. Ah, se ele soubesse. Desprezível. Ediwa me chamou baixinho,
parecendo preocupada e fui embora, abrindo a porta do carona para que
entrasse. Dei a volta, puto, e nos tirei da frente da escola.
— Ele é um pouco chato, mas é um colega de trabalho, não quero
arrumar problemas enquanto sou nova — ela falou, nervosa. — Todos
foram muito simpáticos e acolhedores, sou inglesa, aqui é uma comunidade
pequena e muito fechada, ser bem recebida é um luxo que não posso abrir
mão. 
— Ele é insuportável, Ediwa. 
E se dependesse de mim, ficaria bem longe dela.
— Bom… desculpe por demorar. Obrigada por vir me buscar mais
uma vez.
— Disponha.
A estrada estava fechada por um rebanho de vacas preguiçosas e ao
invés de sair para espantá-las, esperei. Sabia que dentre elas havia algumas
bem antigas. Ediwa ergueu o telefone e tirou fotos, encantada com a
maneira lenta com que elas andavam pelo caminho que criaram na mata e
pelo que sabia, estavam dormindo no antigo celeiro no topo da colina, se
alimentando de alguns sacos de ração que estava deixando espalhados pela
propriedade para atraí-las cada vez mais perto.
— Elas não têm dono? — Ediwa quis saber e reparei que uma estava
ferida. Precisava pegá-la antes de ser infectada. 
— Não. Estão rondando a região há um tempo. 
Nem todas eram selvagens, outras estava claro que haviam dado cria,
e provavelmente foram soltas porque não serviam mais para procriar e nem
para o abate. 
— A fazenda não pode cuidar delas? As Marias não vão gostar de
novas companhias? — Ediwa começou a roer a unha e eu tirei sua mão da
boca, para que não se ferisse e liguei o carro novamente.
— Estou tentando ganhar a confiança primeiro. As Marias não se
importam com novas amigas, apenas as galinhas detestam novatas.
— Eu percebi isso — resmungou, me fazendo rir alto. — Elas gritam
desesperadamente quando me veem, é um pesadelo, mas não desisti. Ainda
vou conquistar a Galizé, ela é a líder. 
Continuei gargalhando. Ediwa ainda se vestia como uma patricinha.
Para viver na fazenda, precisava mudar as roupas e começar a trabalhar na
terra. Ela tinha cheiro de cidade, de loja de luxo, não do campo, então, os
bichos corriam na direção oposta quando a viam. Exceto os cavalos, porque
eles sentiam o coração e todos eles absorviam sua personalidade
relativamente calma. 
Parei no pátio dos fundos porque tinha coisas para descarregar e,
teimosa, quis ajudar. Iria sujar toda a roupinha. Usava jeans, tênis e uma
camiseta azul com um violão em dourado na frente, o cabelo preso e no
primeiro pacote de comida para os cachorros, suas mãos ficaram vermelhas.
— Eles não latem muito. — Ela coçou a orelha do mais novo, que
ficou rodeando suas pernas, querendo atenção. — Sempre quis ter um,
minha mãe nunca deixou.
— São treinados. Os dois mais velhos ficam perto do meu quarto, os
outros, dormem perto da garagem. 
— Ainda não consegui contar quantos têm. 
— Doze. São pastores e me ajudam com a fazenda. — Agarrei um
saco de farelo e deixei no canto. Roger iria colocar tudo em seus devidos
lugares. — Claire tinha um cão, um labrador, mas depois dos gêmeos, ela
não teve tempo para mais nada e não o levou quando foi embora. Ele
faleceu de velhice. 
— Minha cunhada tem uma besta dessas e minha irmã, uma de raça
pequena. 
Coloquei um grande saco de cenouras para os cavalos no meu ombro e
ela me seguiu, ainda falando e foi pulando até as baias, pegando um saco de
balas e fazendo gracinha. Eles se agitaram, querendo atenção, bufando.
Meu cavalo deu uma cabeçada no meu braço, o acalmei com um gesto e lhe
dei uma cenoura.
— Qual deles posso montar?
Eu odiava o quão rápido minha mente corria para pensamentos
profanos quando ela me perguntava coisas desse tipo.
— Qualquer um, exceto o meu. Ele vai te jogar longe.
— Ele é irritado e desafiante como o dono? — Colocou uma mão na
cintura e a outra, foi erguendo lentamente, tocando o focinho dele. O
traidor, que sempre era violento com pessoas desconhecidas, inclinou a
cabeça gigante querendo mais. — Parece mais dócil que você.
— Talvez ele seja mais calmo. Não sou do tipo que fica manso com
uma carícia de uma mulher bonita. — Peguei o pano que estava pendurado
no canto para limpar minhas mãos.
Ediwa soltou uma risada e ficou com um sorriso provocante nos
lábios.
— Eu sou uma mulher bonita, Simon?
— Saia do meu celeiro. — Bati em suas pernas com o pano, ela riu
mais ainda e saiu correndo. Olhei para Bonnet, meu cavalo, bem dentro dos
olhos. — Pare de pensar com seu pau, porra. 
E só para não ficar estranho, aquela reprimenda era para mim mesmo.
Dei com a minha cabeça na parede mais de uma vez para ver se a sanidade
voltava ao lugar. Não era porque milagrosamente ela não estava sendo
irritante e teimosa que ficou magicamente ainda mais gostosa aos meus
olhos. 
Ouvi seu gritinho do lado de fora, o que não era nenhuma novidade,
ela vivia para gritar. Não parecia ser urgente, mas fiquei curioso. Estava
claro ainda, o que era normal da época, mesmo que fosse o momento do
jantar. Ela estava alguns metros longe, dentro da mata, agachada com três
dos meus cachorros ao seu redor e eles balançavam os rabos
freneticamente. 
— O que tem aí? Cuidado com as cobras!
— TEM COBRAS AQUI? — Ela deu um salto, segurando três
gatinhos em seus braços e disparou a correr. Encostei na parede, apoiando
as mãos nas coxas, rindo tanto que fiquei sem ar. — Que idiota, Simon!
Quase deixei um filhotinho cair!
— O que achou? — Eu me aproximei e vi as coisas peludas. Pelo
cheiro, precisavam de um banho. Deviam ter passado a noite na mata. Uns
ainda estavam meio melecados do nascimento.
— Gatinhos! E eles parecem famintos! Onde será que está a mãe?
— Se não está junto, sumiu ou morreu.
— Podemos cuidar deles?
— Vamos entrar. Eles precisam ficar aquecidos, de um banho a seco e
de uma mistura própria para leite. 
— Vai ficar tudo bem, bebês — ela falou baixinho e nos levei para
dentro, pelo visto, com mais bocas para alimentar. 
 
 

 
CAPÍTULO ONZE
Ediwa
Tive certeza de que não estava pronta para ser mãe ao estar de
madrugada em uma das salas do castelo, dando mamadeiras para três
gatinhos famintos que não paravam de gritar. Meu Deus! Como eram
ingratos! Eu os peguei na mata, no frio, sujos, não podiam ao menos esperar
o leite em silêncio? Cheia de sono, coloquei um recém-mamado na
caminha, dentro de um isopor com um tapete felpudo e peguei o segundo,
que era o mais escandaloso, porém, o mais gordinho de todos. 
Simon apareceu na sala, acendendo a luz.
— Você disse que ia cuidar deles e não matá-los.
— Estou cuidando — falei com sono.
— Não parece. Os gritos dão a entender que estão morrendo de fome.
— Ele se aproximou e vi que estava sem camisa, com uma calça de pijama
vermelha e descalço. Oh Senhor, me ajude. 
— Eles não colaboram e sou uma só para amamentá-los. 
— Deixe-me ver. 
Sentou-se no chão à minha frente, agarrou o terceiro desesperado e o
aninhou em seu peito. O bichinho logo ficou quieto. Simon molhou o dedo
no leite, passou na boca do gato e assim, a paz reinou por um tempo. Como
eram muito pequenos, também precisávamos ajudá-los a fazer as
necessidades, usando algodão na barriguinha, para simular a língua da mãe,
que nós encontramos morta a alguns metros, ainda mais para dentro da mata
fechada. 
Quando os três dormiram, eu poderia ficar feliz, mas sabia que seria
só por um tempo. Até dava desânimo de ir para o meu quarto. Soltei um
bocejo, puxei a colcha do sofá e a almofada, deitando-me ali mesmo. Ainda
bem que não tinha aula no dia seguinte, poderia cochilar até mais tarde por
ser fim de semana. Simon apagou a luz e acendeu a lareira, aquecendo um
pouco mais o ambiente, jogando outra colcha em mim e saindo de fininho.
Eles choraram de novo não tinha nem amanhecido, faltava pouco.
Meus olhos ardiam. 
— Vocês têm sorte de que são muito bonitinhos. 
— Deixa comigo agora. — Simon voltou para a sala, parecendo que
nem tinha dormido. Seus cabelos estavam meio bagunçados. 
— Você tem sono leve? — Bocejei, coçando os olhos e espirrei. Era
por causa do frio, embora Geillis tenha me dado um monte de remédios
para tomar porque achou que era alergia. 
— Muito e durmo pouco, pode ir descansar. 
— Tem certeza? A próxima mamadeira vai precisar descer para fazer. 
— Eu sei.
— Não vou me fazer de rogada, detesto perder minha noite de sono. 
— Vai dormir, princesa.
— Não sou princesa.
— E também não é uma mamãe de gato muito animada. — Ele riu e
lhe dei a língua, quase batendo na porta de tanto sono.
Não sei como cheguei ao meu quarto, só me joguei na cama e ali
fiquei até que me sentisse completamente satisfeita. Ignorei até as chamadas
do meu irmão, que costumava me ligar todo sábado cedo e daquela vez, eu
não tinha condições. Uma semana sem dormir direito era muito para mim.
Aqueles gatinhos estavam sugando as minhas energias.
Levantei próximo da hora do almoço, tomei banho e escolhi um jeans
antigo, botas sem salto para andar do lado de fora e camiseta. Todas as
minhas roupas eram arrumadinhas demais para a fazenda e se eu quisesse
explorar ao redor, tinha que minimizar os danos. Prendi meu cabelo e com o
estômago roncando de fome, fui andando pelos corredores, mandando
mensagens para minha família e buscando a cozinha.
Estava salivando por um pãozinho quente com manteiga, se tivesse
uma sopa borbulhando na panela, iria parar na primeira caneca que
encontrasse. 
Esbarrei em algo sólido que não chegava a ser tão duro quanto uma
parede e bem cheiroso. Simon me segurou para que não caísse e ainda teve
reflexo para agarrar meu telefone no ar.
— Distraída?
— Tentando fazer duas coisas ao mesmo tempo. Onde estão os
filhotes?
— Deixei na cozinha com Geillis.
— Ah, não! Galizé fica perseguindo eles se a porta estiver aberta! —
reclamei e peguei meu telefone, correndo pela escada. Entrei na cozinha em
disparada e parei abruptamente ao ver um cercadinho e os gatinhos de um
lado, a porta da cozinha fechada. Geillis virou, segurando um livro de
receitas, o óculos na ponta do nariz e um pano pendurado nos ombros.
— Onde é o incêndio, menina?
— Vim ver meus bebês. — Ajoelhei e acariciei as cabecinhas. — E
estou faminta.
Simon parou na porta de braços cruzados.
— Achou que eu seria irresponsável?
— Desculpe. 
— Tem sopa e pão quentinho, sanduíches de queijo no forno também,
escolha o que quiser. — Geillis apontou. Eu queria tudo.
Parecia que eu estava em uma temporada no deserto, devorei meu
prato, lavei tudo, minhas mãos, deixei os gatinhos na sala tomando sol,
improvisando um cercadinho próximo à janela e fui caminhar. Mais tarde,
iria ensaiar um pouco no piano do castelo, que Simon me autorizou a usar,
ficava na biblioteca perto do escritório que ele trabalhava e não queria
atrapalhar, por isso, só usaria nos fins de semana. 
Vivendo no castelo há algumas semanas, eu já tinha uma saída
favorita, mas ainda não tinha explorado tudo completamente. Caminhei ao
redor, peguei um galho, encontrei uma trilha e fui andando com meus fones
de ouvido, apreciando o sol e olhando os celeiros, a casa de produção do
uísque que tinha os próprios funcionários e uma entrada para o outro lado e
também, a cervejaria, que era um local bem grande.
Dei a volta, encontrando uma relva bonita. Tirei meu telefone do bolso
e fotografei. Queria ter alguém comigo para que me registrasse ali. Eu
estava encantada, fui adiante e cheguei a cobrir a boca ao ver o que tinha
mais à frente, à distância, um rio, que brilhava com a luz do sol. Desci a
pequena colina e percebi estar sendo seguida.
— Oi, menina. Vem, Marsali. — Bati na minha coxa. 
Um dos cães pastores, uma fêmea, nem todos eram do sexo
masculino, estava me acompanhando de perto. Eles eram muitos, mas ela
era a mais fofa e simpática, embora fosse autoritária na tarefa de cuidar do
rebanho. Quando cheguei no rio, estava morrendo de calor e desejei estar de
biquíni para me refrescar, mas me equilibrei na borda. A água estava
agitada, uma correnteza que eu não tinha certeza se poderia enfrentar,
queria apenas molhar as mãos para passar na nuca. 
Eu não contei com o solo traiçoeiro da borda e minha bota afundou,
perdi o equilíbrio e não tive onde me segurar, gritei de susto antes de cair na
água muito gelada, afundando e sentindo as algas do fundo grudando nos
meus braços e me trazendo ainda mais desespero. Emergi, cuspi água e
estava sendo carregada, impulsionei para me segurar nas raízes de umas
árvores e usei toda minha força para sair. 
Senti as palmas das minhas mãos arderem, a cadela não parava de
latir, correndo de um lado ao outro, agarrando meu cabelo e puxando.
Consegui prender meus pés em um lado firme e pulei, usando o tronco
como apoio e subindo. Rolei para a grama, sem fôlego, com o peito doendo
e as palmas ardendo. Ergui meus braços e vi o sangue escorrer. 
— EDIWA! Ediwa! — Ouvi Simon gritar e a cachorrada latir.
— Aqui! Estou aqui! — Sentei com dificuldade e me arrastei um
pouco mais distante do rio, com medo de cair nele novamente. Tossi,
cansada, enquanto ele galopava com os pastores ao seu redor.
— O que aconteceu? — Ele parou e desmontou com rapidez,
ajoelhando ao meu lado, me segurando e me puxando para seu colo. —
Dhia[6], dhia!
— Eu caí no rio sem querer. O solo cedeu. 
Simon tirou o cabelo do meu rosto, procurando meus ferimentos e
soltei um resmungo ao pressionar uma área da minha testa que doeu
bastante.  
— Vem aqui, dileas[7]. 
— Como você me encontrou? 
— Marsali chamou os outros cães, eles são uma matilha, quando um
late, todos procuram. — Ele me ergueu no colo e gemi, tentando ficar de pé
e sendo impedida. — Vou te levar de volta no Bonnet. O tempo vai mudar,
por isso a correnteza está feroz. 
Um tempinho na água e parecia que eu tinha andando pela Escócia
inteira. Montei primeiro e ele subiu em seguida, me segurando apertado,
dando o comando e o cavalo começou a subir a colina com pressa. A cada
solavanco, fechava meus olhos para conter as lágrimas. Era só a droga de
um passeio e ao que parecia, eu ainda tinha que me acostumar com a vida
no interior.
Simon me ajudou a entrar em casa e chamou por Geillis, pedindo para
que ligasse para o enfermeiro que ficava na fábrica do uísque, atendendo os
funcionários. Ela ficou muito agitada por ver minhas mãos machucadas e eu
não entendia por que não parava de sangrar. Até sujou o sofá. Ele tirou a
camisa, a rasgou e enrolou no ferimento, tentando conter. Marsali subiu ao
meu lado, me lambendo.
— Estou bem, menina. Você foi a minha heroína. 
— Desce, vai — Simon ordenou e ela obedeceu. — Deite-se um
pouco.
— Vou arruinar o sofá. 
— É apenas um sofá, Ediwa. — Ele me deitou, ajeitando as
almofadas. 
— Não acredito que isso aconteceu. Eu só queria conhecer ao redor,
nunca fui além da fábrica de uísque. — Olhei para minhas mãos,
completamente frustrada. Elas eram o meu instrumento de trabalho. Eu
tinha acabado de começar um novo emprego.
— Conheço aquela correnteza, ela é feroz, você foi muito forte por ter
saído de lá sozinha. Poderia ter sido carregada até o outro lado e sabe-se lá
se te encontraria. — Ele passou o polegar no meu rosto. — Não fique
assim, você é a princesa que salva a si mesma. 
Fechei meus olhos e deixei que as lágrimas caíssem, por estar
completamente assustada com o que poderia ter acontecido. Senti os lábios
dele em minha testa e passando os braços pelo meu tronco, me abraçou,
aquecendo-me. Estava com um frio que sentia dor até nos ossos. Eu me
encolhi contra ele, escondendo meu rosto em seu pescoço, buscando
desesperadamente a segurança que Simon me oferecia. 
 
 
CAPÍTULO DOZE
Ediwa
Sentei na cama, confusa, e olhei ao redor. Aquele quarto não era o
meu. Eu dormi no sofá depois de ter sido medicada e cuidada na sala, ainda
estava com as roupas que caí no rio e elas estavam nojentas, cheirando a
água e mofo. Tirei a colcha de cima de mim, levantando com cuidado e me
equilibrei sem usar as mãos, porque estavam enfaixadas. Tive alguns cortes,
nenhum profundo demais para ser preocupante, mas precisei de pontos em
algumas partes, bastava cuidar nos próximos dias.
O galo na testa eu não fazia ideia. Simon disse que havia muitas
pedras no fundo do rio e eu posso ter batido sem ter percebido com a força
da correnteza. Abri a porta com a pontinha dos dedos com um pouco de
dificuldade e reparei que estava de um lado do castelo que ainda não
conhecia porque era onde Simon dormia. Logo que virei no corredor, vi que
ele estava no escritório, de porta aberta, sério e lendo um documento.
Minha boca estava seca e a cabeça doía de um jeito irritante.
— Ei, está de pé! Por que não chamou?
— Eu acordei em um quarto desconhecido me sentindo nojenta.
— Acabou dormindo com a medicação, o enfermeiro insistiu em te
levar ao hospital, mas você não acordava, no entanto, parecia bem. — Ele
levantou e deu a volta na mesa. — Preciso te levar até a cidade, para uma
consulta na clínica e olhar se seu crânio grosso está bem.
— A última coisa que deveria fazer é dormir, mas sempre apago com
qualquer remédio. Tenho que tomar um banho e tirar essa roupa, estou…
eca. 
— Te coloquei em um dos quartos aqui para que pudesse te ouvir se
chamasse. Vou pedir que Lully te ajude no banho.
Foi péssimo tomar banho, com auxílio ou não, cada vez que água com
sabão batia nos cortes, eu tinha vontade de gritar. Simon contou ao meu
irmão o que havia acontecido e ele estava histérico, fiquei em chamada de
vídeo com ele até chegar na clínica e implorei que não contasse à mamãe.
Ela surtaria completamente. Ethan ficou mais calmo depois que me viu
lúcida e um tanto orientada, pediu que mandasse notícias, mas eu só queria
deitar na minha cama e dormir. 
A clínica do vilarejo era muito bem equipada e grande, o atendimento
médico foi excelente. Como molhei os curativos, eles refizeram e me
ensinaram a como cuidar, orientando o tratamento e pedindo que voltasse
na semana seguinte para uma consulta. Não havia nada na minha cabeça,
apenas ficaria com a região dolorida e era para retornar se sentisse algum
sintoma atípico. 
Com as receitas, paramos em uma farmácia, Simon saiu para comprar
tudo e fiquei no carro, meio que cochilando. Ele voltou depois de falar com
um senhor. Parecia político. Conhecia todo mundo. 
— E os meus filhotes? Como vou dar mamadeira com a mão assim?
— Eu cuidei deles o dia inteiro. 
— Vou pedir para Geillis cuidar deles.
— Ela vai dá-los aos cães. — Ele riu baixinho. — Posso continuar
cuidando deles, mas só enquanto suas mãos estão feridas. Daqui a pouco,
vou ensiná-los a comer corretamente, é a lei da selva, precisam se virar.
— O veterinário disse que eles ainda devem mamar.
— O veterinário é um fresco.
Eu ri de seu humor ruim, que já não me assustava tanto, embora,
continuasse me irritando um pouco. Ou eu estava muito medicada para
achar graça. Simon me acompanhou até meu quarto, parei na porta, ele
abriu e até desforrou a cama para ajudar. Tirar a roupa não seria tão
complicado, poderia me virar sozinha, mas, apesar das nossas constantes
disputas inúteis, ele foi um excelente amigo.
Parada à sua frente, dei um passinho em sua direção e envolvi seu
corpo grande com meus braços. 
— Obrigada por cuidar de mim hoje. Sei que sou uma pentelha em
alguns momentos.
— Você é, sim. — Ele colocou as mãos nas minhas costas. — Me
chame se precisar, ok? Pode ligar se não conseguir ir até meu quarto.
— Vou ficar bem. 
Assentindo, saiu e tranquei a porta por costume. Troquei de roupa,
apaguei as luzes e deitei. Era melhor dormir antes que minhas mãos
voltassem a doer. Quase pegando no sono, pensei no quanto o peito dele era
firme e macio. Simon era musculoso, porém, havia certo conforto e, poxa,
era largo também. E o perfume? Precisava descobrir qual era aquela
fragrância. Não era boa com marcas masculinas. Meu pai e irmão usavam
muitas e nunca fui de mexer nas coisas deles. 
Daphne falava uma coisa ou outra sobre os cheiros de Bruno, mas
foram durante a gravidez de Lily Rose, minha sobrinha caçula, que ela
ficou com enjoo do marido por um tempo. No mais, eu não tinha um nariz
como das mocinhas dos livros que ficavam falando sobre toques de
madeira, uma pitada de laranja e lírios do campo. Para mim era sobre ser
cheiroso e ponto.
Geillis me acordou na manhã seguinte, preocupada, querendo me dar a
medicação matinal por Simon ter lhe entregue todos os detalhes que o
médico passou na noite anterior. Lully entrou com o café reforçado, tudo
picado e facilitado, mas segurar com as pontas dos dedos era fácil. Eu não
poderia segurar nenhum instrumento musical naquela semana e precisaria
reformular todas as minhas aulas para que as crianças não ficassem com o
tempo livre.
— Acho que deveria ficar na cama hoje — Geillis me repreendeu
quando tentei levantar.
— Estou com as mãos ruins, não o corpo.
— Ainda prefiro que descanse, pelo menos hoje, amanhã você levanta
aos poucos.
Ela era muito fofa preocupando-se comigo, dei-lhe um abraço da
cama mesmo e depois fiquei de pé. Fui até o closet, peguei um vestido
porque seria mais fácil de vestir e por não pretender sair, meias nos pés.
Lully trançou meu cabelo e cuidei do rosto. 
— Quero tentar tocar piano, talvez, dependendo do modo que mover
meus dedos, não vá incomodar a palma — avisei e elas disseram que
estariam na cozinha, era só chamar se precisasse. 
Daphne me ligou por chamada de vídeo e as crianças estavam quase
quebrando a casa atrás dela, bônus para Lily Rose pendurada em seus seios.
Ela ficou chocada que eu caí em um rio, consegui sair dele sozinha e cortei
minhas mãos. Eu também estava. Sempre fui do tipo que chorava por
quebrar uma unha e por estar rodeada de seguranças, nunca tive que fazer
nada por mim mesma, nem pegar uma coisa que caiu no chão na minha
frente.
Jurei que estava bem e como ela era prática e não dramática como
nossa mãe, aceitou e disse que me ligaria depois. 
Algumas salas do castelo eram bem escuras, dependendo da posição
que ficavam, principalmente se estivessem mais recuadas na arquitetura em
relação ao pátio e às pontas proeminentes, então, eu tinha que acender todas
as luzes mesmo estando de dia. A que ficava o piano, era enorme e tinha
uma acústica maravilhosa, ocupei meu lugar e balancei os dedinhos,
fechando os olhos e deixando a música fluir de mim. 
Comecei a cantar Back to Black da Amy Winehouse pelos
movimentos, para testar minha mão. Fiquei perdida em mim mesma, na
canção, e ao terminar, respirei fundo, abrindo os olhos. Pelo reflexo de um
vaso, percebi não estar mais sozinha. Virei no banco e olhei para Simon
encostado contra a parede, em uma rara postura relaxada. 
— O que foi?
— Você canta bem.
— Um elogio de graça. Está sendo suave porque quase me afoguei
ontem?
— Talvez. Estou esperando dar mais algumas horas para voltar a te
antagonizar. — Ele inclinou a cabeça para o lado. — Não deveria estar
tocando, pode abrir seus ferimentos.
— Não doeu muito, conseguirei dar aulas, pelo menos, de piano. Não
tenho certeza sobre os outros instrumentos.
— Quantos outros sabe tocar? — Ele desencostou e atravessou a
distância entre nós, sentando na ponta do banco.
— Violino, violão, teclado e flauta, mas não sou muito boa por não ter
tanta prática. Era um projeto me aperfeiçoar antes de me mudar. 
Simon pegou minhas mãos e virou as palmas para cima, observando
as gotas de sangue que surgiram. Não estava doendo muito mais ou era
efeito da medicação. Não reparei antes que ele tinha cicatrizes, grandes e
pequenas nos braços. Eram claras, algumas finas, outras mais grossas e
rosadas, que ficavam bem camufladas nos pelos ruivos até os bíceps, onde
tinha uma tatuagem que não consegui identificar o desenho, parecia algo
por baixo e depois, tudo riscado em cima. 
— Estou bem.
— Não parece bem, pare de tocar por hoje, descanse — ele falou
baixo, com o tom de voz calmo, que foi acolhedor como uma colcha
quentinha e deu vontade de me enrolar toda nele. 
— Por que não é assim sempre?
Simon ergueu o olhar e abriu um sorriso provocante, bem lento,
apenas no canto dos lábios, de um jeito preguiçoso.
— Não se acostume, princesa. 
— O lado rude do homem do campo não me assusta, apenas me irrita.
— Eu sou rude independentemente de estar no campo. Sou militar há
muitos anos, gentileza não é o meu forte. Mas, se você deixar de ser
teimosa, implicante e respondona, eu posso tentar ser gentil.
Soltei uma gargalhada bem alta.
— Nunca.
 
 
CAPÍTULO TREZE
Simon
Um dos maiores pubs do vilarejo estava lotado para uma das tradições
mais antigas desde que a cervejaria foi inaugurada: a competição de
cerveja. O idiota que mais bebesse canecas, ganhava uma semana de conta
paga. Era uma noite de festa e diversão, e claro, com o advento das redes
sociais, usávamos para divulgar a marca. Nosso marketing era uma empresa
grande e chique, que mandava uma equipe de foto e filmagem, fazendo um
material bem bonito todo ano.
Todas as mesas estavam lotadas e mal havia espaço no balcão, muitas
bandejas com canecas de cerveja e o placar rolando sem parar. Mesmo com
a barulheira, eu soube o momento exato em que Ediwa entrou no salão
acompanhada de outra professora, Geneva, olhando ao redor como se
aquilo fosse um mundo novo. 
Seus olhos até pareciam brilhar e ela era a mais bonita da noite,
usando uma saia xadrez nas cores do castelo (magenta, azul e verde-
escuro), que trouxe um retumbar ao meu peito, uma blusa vermelha de
mangas até os cotovelos, botas de saltos altos e cabelos soltos com cachos
nas pontas que eram bonitos.
Quando acenou para a mesa dos professores, notei que suas mãos
estavam sem as ataduras, apenas com os curativos menores, e era doloroso
lembrar que se ela não fosse forte por si mesma, poderia nunca mais
encontrá-la na correnteza do rio. Foi um dia assustador e uma das ligações
mais difíceis que fiz na vida, porque nunca imaginei que ligaria para Ethan
para dizer que quase perdi sua irmã porque ela saiu para passear sozinha.
Até cogitei levá-la para um tour adequado pela região e desisti quando
voltamos ao modo de ser imbecis um com o outro de graça.
Ediwa não me percebeu no fundo do bar, no lado mais escuro, apenas
observando e conversando com alguns conhecidos. Eu não estava bebendo
ainda, porque a parte principal era meu trabalho e eu queria garantir que
tudo estivesse acontecendo conforme as incontáveis reuniões nas últimas
semanas e todo o investimento. Ainda haveria um show pirotécnico do lado
de fora.
— Higgins! 
Olhei para o lado e sorri, levantando a mão para falar com Murray,
meu companheiro da Marinha, que também era do vilarejo. Trabalhamos
em algumas missões juntos e não nos víamos há alguns anos. Trocamos um
abraço cheio de tapas. Ele era alguns anos mais novo do que eu, alguém que
tinha em conta uma imensa gratidão por me salvar em dois momentos
críticos. Na queda do helicóptero, com os príncipes, aquelas semanas
mudaram a minha vida e também, depois, em um pesadelo que me
mantinha acordado à noite. 
— Voltou para casa há quanto tempo? — Eu sinalizei para um garçom
trazer uma cerveja para ele.
— Ontem. Estou em dispensa. — Murray puxou um banco e se
sentou.
— Está ferido?  
— Algo como isso.
Dispensa psicológica.
— Passa lá no castelo, vamos conversar. 
— Eu preciso de algo para matar o tempo enquanto estou em casa, se
tiver alguma vaga na fazenda, não precisa me pagar, estou ganhando a
pensão, só preciso de ocupação. — Ele deu um gole, lambendo os lábios e
olhou para a caneca. — Que porra? Vocês estão produzindo cervejas muito
gostosas aqui, cara.
— Passe lá, a fazenda sempre tem muito o que fazer.
Murray assentiu e olhou pelo ambiente, treinado, sabia que estava
alinhando os rostos e abriu um sorrisinho quando percebeu Ediwa.
— Carne nova no pedaço. Bonita, tem jeitinho de cheirosa, gostosa…
Agarrei um taco de sinuca e bati nas pernas dele com tanta força que
quebrou ao meio, indo farpa para todo lado. 
— Nem ouse, caralho. 
— Ela é sua? — Ele me deu um olhar divertido.
— Não importa, não ouse ou eu mato você, dou para os meus porcos
comer e digo para sua mãe que caiu por acidente no rio.
— Se ela não é sua e agiu assim, por que Ian Grey está dando ovos
empanados para ela?
— Porque ele tem desejo de morte.
— Eu te ajudo a enterrar. 
— Enterrar. — Eu bufei.
Como se eu fosse me dar ao trabalho de cavar uma cova para alguém
como Ian. Eu o jogaria em ácido e assistiria desaparecer só por tentar dar
comida na boca de Ediwa. Ela negou gentilmente, afastando-se e pela
maneira com que se levantou, estava alegrinha. Já tinha bebido um pouco e
provavelmente, não tinha nenhuma resistência contra o álcool. Foi ao
banheiro sozinha, o que não era um problema, mas nem para a inútil da
amiga acompanhar. 
Observei-a ir ao banheiro, Ian também levantou e eu respirei fundo,
mas Murray foi até ele, esbarrando, fingindo estar feliz em vê-lo e o
conduziu para a sinuca, chamando outros idiotas para jogar. 
Algumas mulheres também se aproximaram, inclusive, as que estavam
na mesa. Ediwa, quando retornou, me viu e abriu um sorriso provocante. 
— Oi, ogro da montanha. — Ela sorriu e passou por mim.
— Oi, princesa — falei mais baixo, olhando para sua bunda arrebitada
por um momento e fechei meus olhos, recuperando a sanidade. Aquela
mulher estava me enlouquecendo. Era o meu castigo divino andando na
terra. 
— Eu posso jogar também? — Ela quis saber.
— Por que não fazemos duplas de casais? — Ian ofereceu e eu pensei
seriamente que o ácido seria mais divertido se ele estivesse vivo e gritando.
Morto não teria mais graça. Nem cortá-lo e dar para os porcos. Murray
olhou em meus olhos, querendo rir. Agarrei um taco e entrei na brincadeira.
— Se é para ser assim, eu e você contra Simon e Ediwa — Geneva
respondeu. Eles tinham namorado por um tempo e eu não sabia como
andava o relacionamento. Ian ficou vermelho. Ediwa deu uma voltinha e
parou ao meu lado, cutucando meu ombro e abaixei. Ficou na ponta dos pés
e colocou a mãozinha em concha no meu ouvido, roçando os seios no meu
braço, me deixando todo arrepiado. 
Comecei a cantar na minha mente que eu não podia sentir tesão, era
um mantra necessário para sobreviver àquela noite. 
— Não sei jogar e não quero perder.
— Não iremos perder. Combinado?
— Combinado, ogro. — Apertou meu braço e pegou o taco com
confiança, fazendo uma expressão de desafio.
Ela estava me chamando de ogro porque eu gritei com ela outra noite.
Eram gatinhos soltos dentro de casa, junto aos cachorros, estava um
pandemônio ainda com uma cabra circulando pela biblioteca. Eu entendia
que ela nunca teve contato com os bichos antes, mas deixá-los correr
livremente pelo castelo estava fora de questão. Pedi duas vezes com
educação, que ela disse ter sido grunhidos raivosos, até que perdi a minha
paciência.
Tinha uma cabra na minha biblioteca! Nem Niven aprontava tanto.
Um garçom passou, peguei uma caneca precisando beber e ela a
tomou da minha mão. Muito abusada. Sorte a dela que era absolutamente
linda. 
— Vocês são um casal? — Murray questionou e Ediwa, que dava um
gole da cerveja, quase cuspiu. — Combinam bem.
Ian e Geneva nos olharam. Ela tentava dormir comigo — sendo
diretamente explícita há muito tempo, mas não culpava suas investidas e de
nenhuma mulher. Era uma região com poucos homens solteiros disponíveis,
a fofoca corria rápido, ter uma vida romântica ali era na base da sorte, tanto
que ela até tentou com Ian, que era um bosta e todos sabiam. Eu nunca
transei com nenhuma mulher no vilarejo e nem nas cidades pequenas ao
redor.
Além de ter passado muitos anos fora, viajando o mundo a trabalho,
minhas conquistas eram momentos discretos. Também transei com muita
mulher quando viajava a trabalho, estando disfarçado, mas sexo no sentido
pessoal, fazia tempo que não acontecia. Eu não estava jogando minha
sanidade pela janela trepando com qualquer mulher por ali sem ter a
intenção de manter um relacionamento sério. Minha mãe voltaria a pé de
Londres para arrancar meu pau fora e pendurar no mastro da bandeira do
castelo.
— Então, vocês são? — Geneva quis saber.
— Muito curiosos — Ediwa brincou, abaixando a caneca. — E só por
causa disso, não irei responder. — Ela piscou, sendo adorável de um modo
que era impossível desviar os olhos. — Vamos jogar? Prontos para perder?
— Vocês começam.
Parei atrás dela e inclinei meu rosto, para começar a explicar baixinho
o que o babaca do Ian estava fazendo, tentando exibir seus músculos de
frango. Ele chegou a puxar a camisa para cima, para fazer mais volume e
Murray estava perdendo a batalha para o riso. Geneva deu uma boa jogada,
ela estava concentrada, sendo competitiva. Contei para Ediwa, que franziu o
olhar. 
Humm, alguém realmente não gostava de perder.
Quando chegou a nossa vez, eu joguei primeiro e depois, dei a ela
uma pequena aula, o tempo todo falando no pé de seu ouvido. Ediwa se
inclinou, entendendo muito rápido como segurar o taco entre os dedos.
Afastei suas pernas com minhas botas e toquei seu quadril, erguendo-o um
pouco e pressionei a base dele para que ficasse com a postura correta. 
Ela me deu um olhar sobre os ombros que eu queria ajoelhar e rezar
para meu pau não ficar duro. Senhor, Lord, Jesus Cristo, me ajude! 
Dei um aceno para que fosse adiante e para uma novata, ela foi muito
bem. Ediwa e eu levamos a melhor na primeira rodada, mas eu estava
perdendo uma batalha que tinha porra nenhuma a ver com a sinuca e sim,
entre minha honra, minhas emoções, meu tesão e eu. 
Eu não podia desejar transar com a irmã caçula do meu melhor
amigo. 
 
 
CAPÍTULO QUATORZE
Ediwa
Jogar sinuca era interessante. Eu queria ganhar e como estávamos em
vantagem, aproveitei. Simon era um bom professor. Ele estava atrás de
mim, me orientando, e ter sua voz no pé do ouvido estava trazendo arrepios
a espinha e um aquecer da minha calcinha que nunca senti. Era um pulsar
entre as pernas, que eu queria me esfregar naquelas coxas grossas cobertas
pelo jeans escuro e sentir o perfume gostoso direto da fonte de seu pescoço.
Ian e Geneva estavam me irritando desde o momento em que aceitei o
convite para participar da festa. Um queria chamar minha atenção a todo
custo para me convidar para sair insistentemente e a outra, queria competir
porque um homem solteiro estava dando em cima de mim. Aparentemente,
não estava deixando claro o suficiente que não queria nada com ele porque
na cidade nova, só queria fazer amigos.
Enquanto jogava, mais cervejas estavam sendo entregues e precisei ir
ao banheiro diversas vezes. Salve lenços umedecidos e álcool em gel,
porque era minha primeira vez aguentando noitada em bar, já queria tomar
um banho e comer um bom prato cheio de comida porque meu estômago
estava com uma sensação de vazio de sólido e muito líquido. Ao retornar,
parecia haver uma tensão, Ian irritado, Geneva esquisita, Murray divertido e
meio que pronto para brigar, e Simon com um taco novo.
— Aconteceu alguma coisa? — Quis saber e Simon me deu água. —
Nossa, obrigada. 
— Vai ter um show de fogos. Vamos?
— Fogos? Eu amo! 
Agarrei a mão dele, que me levou para fora, onde algumas pessoas já
estavam reunidas e como havia muita gente bêbada, ele não me deixou ir
longe. Dei um salto com o primeiro estouro e todo mundo bateu palmas,
brindando e gritando como se fosse ano novo. Alguém estourou champanhe
e fugi de tomar um banho de espuma, Simon riu, me cobrindo e depois,
entramos novamente. 
Sentei na mesa da sinuca, balançando minhas pernas e já cansada, sem
querer ver quem iria ganhar aquela brincadeira.
— Estou faminta e sonhando com o peixe frito da Geillis. — Balancei
minhas pernas. 
— Quer ir embora? — Simon parou na minha frente e quis muito
poder puxá-lo para mim. Estava bêbada demais. Meus pensamentos
estavam muito errados e confusos. 
— Seu trabalho já terminou? 
— Já, sim. — Ele olhou em meus olhos.
— Vou pegar minha bolsa. — Desci e fui correndo, louca para fugir de
Ian e do humor ciumento de Geneva. Eles que caíssem na cama sozinhos,
não tinha nada a ver com aquele relacionamento maluco. 
Simon me seguiu, pegou minhas coisas e me conduziu para fora,
desviando da multidão. Um homem quase derrubou cerveja na minha
roupa. Segurei na blusa de Simon para não me perder dele e já do lado de
fora, foi excelente respirar o ar puro novamente. Ainda bem que o carro
dele não estava muito longe, meus pés imploravam por alívio. O tempo
estava bom e a estrada sem tantos buracos, assim que chegamos, espiamos
na cozinha e tinha comida pronta.
— Eu preciso tomar banho e tirar esse cheiro de bar de mim. Ninguém
me disse que tinha tantas coisas peculiares em um. — Olhei as batatas e
salivei.
— E olha que você nunca foi em um de beira de estrada. 
— Acho que vou passar essa aventura. — Abri um sorriso e fui para o
corredor.
— Te encontro daqui a pouco aqui.
Meu novo telefone, que estava sem bateria, apitou com inúmeras
mensagens, depois lidaria com a minha família. Tomei uma chuveirada,
lavei meu cabelo para tirar todo o cheiro de cigarro e parecia que estava
exalando a cerveja, me esfreguei diversas vezes e me perfumei, colocando
uma calça de moletom e uma camiseta larga, com meias nos pés. Voltei para
a cozinha, começando a esquentar a comida, com as luzes baixas e senti a
presença dele antes de vê-lo de fato.
Olhei sobre meus ombros e sorri. Sem camisa e com uma calça
tentadoramente caída nos quadris, percebi que ele tinha um caminho do
pecado bem marcado. A barriga era definida, os braços cheios de músculos
e porra, ele era tão gostoso que minha boca enchia de água. Nunca pensei
que sentiria vontade de lamber um homem na minha vida, mas ele era quase
como um sorvete na minha frente.
Queimei meu dedo e pulei, enfiando o polegar na boca. Simon pegou a
frigideira com o peixe, e virando, fui para as batatas. Depois, coloquei a
mesa com dois lugares, guardanapos, e peguei água, não tinha condições de
beber mais nada alcoólico e não era de beber refrigerantes. Com tudo
pronto, comi com as mãos mesmo, se minha mãe visse aquilo, ela cairia
dura para trás. 
— Esse peixe é simplesmente sensacional.
— É do rio que você caiu. — Simon abriu um sorriso. — Talvez tenha
o matado com seus gritos ou com uma cabeçada.
— Sério?
— Ediwa? Ele é peixe de água salgada — Simon explicou com uma
risada e bati em seu braço, bufando, porque pra mim não fazia diferença.
— Tem como pescar aqui perto?
— Tem e eu não gosto muito, sempre devolvo, a não ser, é claro, que
esteja acampando. Aí, jantar um peixe fresco é ótimo. — Ele me serviu
mais batatas e joguei ketchup por cima, espalhando no prato, fazendo uma
melecada, e limpei meus dedos, lambendo. 
— Não gosta de peixe de água doce?
— Não. Tem gosto de terra do fundo do rio. — Deu uma piscadinha.
— Acho que nunca comi um de água doce. Pelo menos, não lembro de
sentir a diferença. 
Era tão raro estarmos sendo civilizados um com o outro que fiquei
surpresa com o quanto conversamos até tarde. Lavamos a louça, guardamos
tudo e deixei a cozinha brilhando como Geillis costumava deixar. 
— Gostou do dia da cerveja? — Simon parou perto da porta.
— Eu adorei. Foi maravilhoso conhecer um pouco mais da tradição e
eu quis ir representando o castelo que me acolheu tão bem. 
Simon desceu o olhar lentamente pelo meu corpo e percebeu meus
mamilos arrepiados. A cozinha pareceu ainda mais quente. 
— Você estava linda essa noite e um tanto irresistível. — Simon
passou a língua na ponta do lábio e puxou a barba, como se precisasse
lembrar de ter controle sobre si mesmo.
— Irresistível? Acho que resistiu muito bem. 
— Vá dormir. Agora.
Eu ri e passei por ele bem devagar, não porque queria obedecer e sim,
para provocá-lo um pouco mais. Peguei meus gatinhos e os levei para o
meu quarto, eles já não mamavam tanto, comiam ração e, felizmente,
dormiam a noite inteira. Subi a escada e quando cheguei no topo, virei para
Simon e apenas lhe soprei um beijo, correndo em seguida. De longe, ouvi a
risada dele. 
Entrei no meu quarto para dormir. De estômago cheio e induzida pelo
álcool, apaguei. Se os gatinhos chamaram, não ouvi. Acordei tarde no dia
seguinte, depois do almoço, e liguei para minha família ainda morrendo de
sono. Não contei para minha mãe que bebi quase como um marinheiro na
noite anterior. Ela adorou as fotos e eu percebi que estava maquiada, usando
uma roupa mais justa. Fiquei atenta, aquilo era estranho…
Assim que encerrei a chamada, dei uma olhada no Google, havia
algumas menções dela saindo para jantar com amigos. Era algo raro. Ela só
se divertia com Victória, mãe de Charlotte. Será que havia algum
pretendente na história? Esperava que sim, amava a memória do meu pai,
ele foi muito importante e sempre seria em nossas vidas, mas mamãe era
jovem demais para viver sozinha. Daphne e eu concordamos que podia
encontrar um novo amor. Ethan tinha náuseas com o assunto, mas era seu
lado ciumento e muito protetor. 
Meu telefone tocou novamente e era Ian, me convidando para acampar
com o grupo de professores. Geneva disse que iria também, assim como
duas professoras que eu gostava muito de conversar. Sempre quis acampar,
era uma experiência nova e talvez, com mais gente, eles não fossem tão
irritantes. Ele, por pensar que tinha alguma chance comigo e ela, por achar
que eu queria alguma coisa com ele. 
De verdade, Ian era legal e apenas isso. Nada além de um bom amigo
do trabalho. Geneva também, podíamos ser boas juntas se ela deixasse o
ciúme de lado. Daphne me disse que, sendo nova na cidade, era como se
fosse um filé novo na frente de um monte de cachorros, considerando que
era um bom pedaço de bife que era proibido por viver no castelo sob a
proteção de Simon.
Soube por alto que ele proibiu que os homens falassem comigo. Os
encarregados da fazenda mal olhavam na minha direção. Quando fui
aprender a ordenhar vacas, o moço foi super simpático, mas sem contato
visual. Os homens do uísque, se me viam, desviavam para o lado oposto ao
ponto de ser engraçado. Se ele continuasse sendo um pé no saco, eu nunca
arrumaria um namorado…
A não ser que ele fosse o meu pretendente, o que não era uma má ideia.
Animada, desci à procura de Geillis. Procurei na internet quais itens
seriam necessários para um acampamento e precisava de uma barraca,
colchão inflável, mochila, entre outras coisas. Tropecei na cozinha com os
meus gatinhos e contei a ela. Rapidamente fomos ao depósito para
pegarmos tudo e ganhei dicas úteis para sobreviver dois dias e uma
madrugada na mata. 
Puxa vida, estava muito empolgada!
 
 
CAPÍTULO QUINZE
Ediwa
O sábado amanheceu muito bonito para sair e acampar. Escolhi uma
calça legging, camiseta e tênis, levando água e algumas provisões na
mochila. Com tudo pronto para a minha aventura, esperei a carona de
Geneva para encontrarmos os demais do grupo no pé do morro que iríamos
subir. Despedi-me de Geillis e entrei logo que o carro parou, passei o
caminho inteiro ouvindo Geneva contar sobre sua noite frustrada querendo
ter ficado com Ian ou o bonitão do Murray.
— Pelo menos você foi para casa com o mais elegível deste lugar.
Sorte a sua, porque ele não dá atenção a ninguém — ela comentou,
seguindo por uma estrada estreita que me deixou nervosa. — Hum, não
estou gostando daquelas nuvens. Espero que Ian esteja certo ao dizer que o
vento irá levá-las para longe.
— Tem certeza?
— Ele acampa direto com o pai dele, tem bastante experiência e já
vim com eles duas vezes. Foi tudo bem. 
Meu telefone estava tocando na bolsa no banco de trás e não consegui
pegá-lo. Deixei para ver quem estava me ligando assim que chegasse e
quando Geneva parou, o corre-corre de tirar as bagagens do carro, esperar
as duas pessoas que faltavam e fugir das mãos pegajosas de Ian me deixou
bastante ocupada e acabei esquecendo.
Afastei-me do grupo um pouco para olhar ao redor, pegando uma flor
caída próxima de uma árvore e ouvi passos rápidos.
— Você o convidou? — Ian aproximou-se, meio furioso.
— Quem?
— Simon!
— Não. Por quê?
— Então o que ele está fazendo aqui? — Ian apontou para a
caminhonete.
— Eu não sei? E é um problema ele vir conosco?
Ian bufou e não entendi direito, mas Simon parecia furioso. Ele saiu,
batendo a porta e me chamou. Cruzei meus braços, mas queria entender que
diabos estava acontecendo, então, fui em sua direção.
— O que está havendo, ogro? Vai rugir e bater no peito?
— Você vai acampar com Ian Grey? — ele questionou entredentes e
comecei a rir.
— Saiu do castelo para saber se vou acampar com um homem? 
— Responda à minha pergunta, Ediwa. 
— Não é da sua conta — cantarolei e dei as costas. Ele podia ser
bonito, gostoso e eu adoraria fazer coisas que minhas bochechas ficam
coradas só de pensar, mas não era meu dono e muito menos meu namorado.
Não tinha que lhe dar satisfações. — Eu posso fazer o que eu quiser.
Inclusive, dividir a barraca.
Se ele estava com ciúmes, que explodisse. 
Simon respirou fundo.
— Entre no carro, Ediwa. Vamos para casa, quero conversar com
você. 
— Quando eu voltar do acampamento, podemos conversar.
— Entre no carro por tudo que é mais sagrado.
Bati meu pé, ainda achando graça, mas a poucos segundos de perder
as minhas estribeiras. Ele estava achando aceitável bancar o mandão para
cima de mim? Olhei para trás e percebi que o grupo estava subindo e
minhas coisas, deixadas contra a árvore. Cambada de filhos da puta,
péssimos companheiros!
— Não.
— Agora, Ediwa!
Ah, pronto!
— QUEM VOCÊ PENSA QUE É? — gritei e ecoou por todo o vale.
Minha fúria não seria facilmente contida e o ruivo de quase dois metros
estava com um olhar de puro fogo. — Escuta aqui, homem da montanha!
Eu sou maior de idade e mando em mim mesma, você não vai me impedir
de acampar.
— Se você vai acampar com um homem, será comigo! Ediwa, não
teste a minha paciência — ele falou baixo. Bufei. Inacreditável. O macho
chegou ontem e achava que podia mijar nas minhas pernas e ser meu dono.
Não iria discutir. Dei as costas e voltei a subir o morro, pegando minha
mochila pesada. Se ele não ia me ajudar, encontraria o caminho para o
grupo sozinha. — Volte aqui! 
Seu tom de voz me deu nos nervos, o inglês truncado, saindo
entredentes do maxilar travado, quase não deu para entender. 
— Ediwa Lewis, volte aqui! — ele repetiu, mais alto.
— Não!
Antes que alcançasse o ponto específico em que deveria fazer a
curva, senti as mãos fortes agarrando minha cintura. Ele me jogou em seus
ombros, apertando de tal maneira que não conseguia nem me debater. Com
passadas largas, desceu todo o morro, ignorando meus gritos. Minha
garganta doía de tanto que berrava. 
Simon abriu a porta de sua caminhonete e me jogou dentro, batendo
e travando o trinco. Ele se fingiu de imperturbável enquanto recolhia
minhas coisas, colocando-as na caçamba, mas as veias salientes de sua testa
diziam o quanto estava irritado. Ele não sabia o terremoto que havia
acabado de provocar. A vida dele estava prestes a se tornar um completo
inferno.
— COMO VOCÊ OUSA?
— Pode gritar o quanto quiser! Não vai acampar com Ian Grey e os
amigos dele, Geneva não é uma boa amiga. Eles fazem coisas que… — Ele
parou e respirou fundo, apertando o volante. — Eu sei quais são as
intenções dele.
Bati em seu braço, com tanta raiva que nem conseguia pensar e pulei
ainda mais de susto com o trovão que rasgou o céu. Sequer percebi o quão
rápido as nuvens densas chegaram e pareciam ainda piores.
— Foda-se! Eu também! E não quero nada com ele!
— Ele não é o tipo de homem que desiste fácil! 
— E o que iria acontecer? Ia me forçar? Hum?
Simon apenas virou em minha direção como se aquela fosse uma
possibilidade muito simples e parei de me debater, sentindo como se um
chute tivesse atingido meu estômago.
— Simon?
— Geneva e ele possuem uma relação esquisita, não posso falar o
que acontece de fato com certeza, mas toda vez que rola esse acampamento
em grupo, surgem as fofocas. — Ele passou a marcha com raiva. —
Homens falam nos bares o que fazem com as mulheres em detalhes e eu
não vou permitir que seu nome esteja nessa roda, mesmo que ele não faça
nada de verdade. 
— Ian expõe as coisas que faz com Geneva para os outros? 
— Eu nunca a vi nua e nem de biquíni, mas sei que tem uma
tatuagem debaixo do seio. — Simon encolheu os ombros e fiquei chocada
demais para reagir. Aquilo não era normal na minha vida. — Sei que não
está acostumada…
— Não justifica seu comportamento de homem das cavernas
comigo. Chegar gritando, me mandando entrar no carro e agindo como um
neandertal! 
— Você não me atendia, porra!
Eu ia responder, mas soltei um grito quando um raio caiu em uma
árvore e simplesmente a partiu ao meio, fazendo com que caísse na estrada
em que estávamos. Simon freou bruscamente e, sem cinto, voei à frente. Ele
me segurou, agarrei o banco enquanto o ogro imediatamente dava ré. Estava
chovendo muito, com uma neblina pesada, nem parecia que havia
amanhecido um dia lindo.
— O que vamos fazer?
— Você não queria acampar? — Ele olhou para trás e foi dando ré.
— Agora irá, com a minha ilustre companhia. 
Naquele tempo ruim? Eu estava apavorada! E o grupo na montanha?
Esperava que eles tivessem encontrado um abrigo a tempo. 
— Nós vamos estar seguros?
Simon me deu um olhar calmo e apertou meu joelho brevemente.
— É claro que sim, não tenha medo. Agora, coloque o cinto. 
Assenti, engolindo em seco, e com as mãos meio trêmulas, puxei o
cinto de segurança e travei corretamente. Ele dirigiu fora da estrada, usando
uma trilha que parecia que o carro iria virar a cada solavanco. Ainda bem
que era uma caminhonete 4x4. Não enxerguei direito o que era um ponto
preto no nosso horizonte até perceber ser um celeiro antigo. Simon parou o
carro, correu na chuva, abriu os portões e nos levou para dentro.
Saí, já com muito frio, olhando ao redor. Tinha feno, algumas
ferramentas, sacos fechados que não conseguia identificar o conteúdo e um
armário trancado. Ele bufou, se livrando da camisa molhada, passando a
mão no cabelo e tirou um molho de chave do porta-luvas. 
— O que trouxe nas suas coisas? — Ele quis saber, abrindo o
cadeado do armário.
— Barraca, colchão, roupas de cama e algumas comidas para passar
o dia. Geillis disse que água potável e macarrão instantâneo iriam me
salvar. 
— Aqui tem algumas provisões que eu deixo para emergência. É
comida do exército, não sei se vai gostar. 
— Sempre tem algo espalhado por aí?
— Nunca se sabe quando será necessário. — Ele pegou minha
bagagem e começou a abrir, tirando a lona da barraca.
— A chuva pode passar e poderemos voltar para casa ainda hoje,
certo?
— Só conseguiremos voltar quando alguém do vilarejo conseguir
subir com o trator e limpar a estrada. E só será seguro quando a chuva
diminuir. 
Merda. Lambi o lábio seco, pensando que ainda bem que estava com
alguém que sabia o que estava fazendo e poderia me proteger, do que com
um grupo liderado por uma pessoa que tinha certeza que as nuvens seriam
levadas pelo vento. Enchi o colchão inflável, forrei o fundo, organizei a
barraca e sentei para não atrapalhar, tremendo de frio. Simon tinha um
cobertor grande em seu carro, embalado e com cheiro de lavado.
— Peguei na lavanderia e esqueci de guardar. Marsali vomitou nele
outro dia — explicou com meu olhar questionador.
Encolhi minhas pernas, agradecendo pelo calor da coberta.
— Vai soar estúpido, mas não vai fazer uma fogueira? Desculpe, não
entendo nada. 
— Não. Aqui tem feno, vai pegar fogo e eu não vou usar toda a
gasolina do carro mantendo o aquecedor ligado. Não sabemos quando
poderemos precisar. 
— E como vamos comer? 
— Fogareiro. Tem no armário. — Ele pegou as coisas, organizando e
montando em uma mesa, que parecia estar ali para serralheria. Limpou com
o que tinha, que era meu galão de cinco litros de água, o mesmo no qual
reclamei muito com Geillis de ter que carregar na mata. Ele iria salvar a
nossa vida naquele dia. Simon tinha mais dois litros no carro, além de outro
galão com não filtrada, que usou para lavar as mãos. 
Parecia tudo pronto e a chuva continuava assustadora do lado de
fora. Nossos telefones permaneciam sem sinal e o rádio dele sem nenhum
ruído. Ele puxou a barba, meio exasperado com aquela situação inesperada
e confusa. 
— Tem um pequeno banheiro nos fundos e para ser sincero, não sei
o que pode encontrar lá. — Apontou e olhei para o lado escuro do celeiro.
Eu não iria lá nem que me pagassem e era melhor que a minha bexiga me
ajudasse.
— Estou com tanto frio que qualquer urina que estiver aqui, está
congelada. — Suspirei e me desvencilhei da coberta, ele também deveria
estar com frio. — Simon? Não há nada que possamos fazer agora. Vem
aqui. 
Só tinha um cobertor, uma cama e uma maneira de nos manter
aquecidos até que a tormenta do lado de fora passasse. 
 
 
CAPÍTULO DEZESSEIS
Simon
Ediwa moveu a mão, convidando-me para ficar ao seu lado dentro da
barraca, com aqueles doces olhos de cervo. Eu sabia que não tinha muitas
alternativas se não quisesse congelar. Sentei ao lado dela com cuidado e ela
passou o cobertor por minhas costas, puxando para a parte da frente. Porra.
Não foi minha intenção ficar preso na chuva em um celeiro velho com ela
em pleno sábado.
— Você sabia que o tempo ia mudar, não é? — Deitou a cabeça no
meu ombro, soltando um bocejo.
— Sim.
Qualquer um com um mínimo de cérebro saberia ao olhar para o
horizonte. 
— Não foi só o fato de que iria acampar com outro homem que o fez
vir atrás de mim. Até porque, havia mais gente comigo. — Ela subiu a
mãozinha pelo meu braço, buscando uma posição confortável. 
— Eles e nada seriam a mesma coisa com as intenções escrotas do
Ian.
— Como ele poderia falar que fez qualquer coisa comigo se eu não
ficaria com ele?
— Inventando? — rebati, meio irritado. Eu o avisei para ficar longe
de Ediwa bem explicitamente na noite anterior e ele ignorou, nem mesmo a
porra do taco de sinuca quebrado em seu peito o impediu de me desafiar.
Geneva também teria a vez dela. O que ela queria com Ediwa? Suas
atitudes me deixavam confuso. 
Ediwa ainda estava com muito frio, inclinei-me para frente, soltando
os laços de seus tênis e os tirei, puxando o cobertor.
— Entre completamente na barraca. 
Obedecendo sem discutir, arrastou-se para trás, fechei o zíper para
criar um isolamento térmico e deitei ao lado dela, deixando o cobertor em
cima de nós dois. Também chutei minhas botas longe. Ediwa olhou ao
redor, calma, e se aproximou, deitando a cabeça em meu peito. Suas mãos
estavam muito geladas. 
— Como não está sentindo tanto frio?
— Vem aqui, fique mais perto. — Eu a puxei para meus braços,
entrelaçando nossas pernas. — Claro que sinto frio, apenas sei como lidar
com ele, trabalhei muito tempo em lugares mais gelados. 
Odiava sentir frio porque me fazia lembrar de momentos terríveis do
meu passado. Ela não tinha nada a ver com os meus pesadelos e aquela
situação nem de longe era tão ruim. Até porque, estava confortável em um
colchão com uma mulher bonita, cheirosa e toda embolada em mim. 
— Melhor?
— Sim. — Ela exalou aliviada e fechou os olhos. 
A chuva caía tão forte que o telhado do celeiro sacudia, ainda bem que
eu pedi para Roger dar uma reformada. Não era meu, mas ficava no limite
da minha propriedade para uma outra abandonada que estava negociando a
compra no banco. Era questão de tempo até que fosse completamente
minha. 
Seguíamos sem sinal no telefone e no rádio, e ficaria assim até que a
tempestade diminuísse. Somente o idiota do Ian achou que seria possível
acampar nessa época. Nossas montanhas eram muito altas, o vento era
traiçoeiro e o tempo mudava fácil. Era preciso conhecer o clima. Não era
porque os dias estavam mais longos e bonitos que não seria necessário se
ater à segurança principal de um acampamento: o clima. 
Tinha muito respeito pelo pai dele, mas o homem estava velho e
confuso, além de em um tratamento de saúde. Já nem deveria saber o que
falava. Ian era um idiota em colocar todo um grupo em risco, esperava que
tivessem encontrado abrigo. 
Ediwa dormiu contra mim, relaxada e despreocupada. Eu perdi
completamente a minha mente ao descobrir que ela ia acampar com Ian.
Primeiro que Geillis deu a entender que seriam apenas os dois e não em
grupo, meu cérebro expulsou qualquer pensamento coerente e perdi as
estribeiras, entrando no carro e ligando para ela sem parar. Conhecia bem o
que Ian fazia depois que levava as meninas para acampar: descia pro bar e
contava tudo.
A família dele foi uma das principais em infernizar a vida da minha
irmã quando engravidou e eu não pude enfiar a porrada em todos porque
meu pai, literalmente, me segurou e me mandou ir embora depois de uma
briga. Era um absurdo a maneira com que um lugar tão pequeno ainda
lidava com as coisas. Mas, sim, as moças ficavam terrivelmente mal faladas
e eram excluídas dos eventos.
Eu não queria aquele destino para Ediwa, principalmente porque ela
não sabia. Se desejava tanto acampar, eu a levaria. 
Jogá-la sobre meus ombros e trancá-la no carro foi só a cereja do caos.
E ainda bem, ou ainda estaria na tempestade procurando-a. Aquele cenário
era melhor. Olhei para seu rosto e rocei meus lábios em sua testa, fechando
os olhos. Ao perceber que havia cochilado por um longo tempo, me
assustei. Meu braço estava dormente e era hora do almoço. Certamente,
Ediwa acordaria com fome.
Desvencilhei-me do casulo, deixando-a confortável e saí da barraca.
Ela tinha boas provisões, Geillis a preparou bem. Cortei as frutas e deixei-
as em uma vasilha, ligando o fogareiro para ferver água, cozinhando a sopa
militar para misturar ao macarrão instantâneo. Ficaria bom. 
Teve um trovão muito alto e forte, chegando a tremer as paredes, e o
som do vento estava ainda mais assustador. Ótimo dia para uma bebida
quente na frente da minha lareira no castelo, mas não, estava na bosta de
um celeiro no meio do nada.
— SIMON? — Ediwa pareceu desesperada dentro da barraca.
— Estou aqui fora.
Ela abriu o zíper com os olhos arregalados.
— Você ouviu isso? 
— Sim. Estou fazendo sopa. Pega no carro, na minha bolsa, duas
canecas e um chaveiro que tem colheres.
Confusa, calçou o tênis e abriu a porta, pulando para subir no carro,
ficando com a bunda empinada na minha direção enquanto mexia nas
minhas coisas. Respirei fundo e me virei de frente, porque, Deus, ela não
tinha a mínima maldade no que fazia. Descendo, correu para o meu lado,
me entregou os utensílios e lavei tudo rapidamente. Ela tinha um chaveiro
com garfos nas coisas dela também, provavelmente pegou na cozinha do
castelo. 
— Nunca comi em uma caneca e com colheres que dobram ao meio!
— Prove.
Ela assoprou a colher antes de levá-la aos lábios e arregalou os olhos,
querendo mais. Eu a impedi, ou acabaria se queimando. Sentamos na
barraca novamente, pois era o lugar mais quente para passarmos o dia. À
noite, eu montaria um isolamento térmico melhor no carro, porque a
temperatura iria cair muito mais e seria perigoso para nós dois. 
— Está muito bom.
— Deve estar faminta.
— Também, mas, nossa, nunca imaginei que seria tão gostoso. — Ela
afundou a colher, mexendo o fundo para ficar mais frio. — Por que ainda
tem provisões? Não abandonou a vida militar há algum tempo?
— Saí quando meu pai morreu. E tem onde comprar, basta conhecer
as pessoas certas e encomendar. — Peguei um guardanapo que tinha nas
coisas dela e ofereci, ela limpou o queixo e me deu um sorriso triste.
— Eu sinto muito. Na verdade, sou lerda o suficiente para esquecer
que é irmão de Claire e como sou próxima de Pippa, fiquei sabendo por
causa disso. Nós estávamos juntas quando ela recebeu a ligação do Brian.  
— É, sou o irmão mais velho daquela garota.
— Ela tem as crianças mais lindas do mundo. Também perdi meu pai
e meu irmão foi quem teve que mudar a vida toda, assumiu os negócios e o
nosso dinheiro — ela comentou com tristeza e depois, abriu um sorriso. —
E agora, estou aqui. 
— E gosta de estar aqui?
Ediwa olhou em meus olhos e encolheu os ombros com um lindo
corar de bochechas.
— Eu adoro. 
— Bom saber. 
Acabamos com toda a sopa e ela quis deixar tudo lavado, soltando
gritinhos toda vez que um pedaço de comida encostava nela. Deixando
secar no improviso, olhou para os fundos. Eu sabia que queria usar o
banheiro. Uma parte minha quis provocar, outra se compadeceu e fui na
frente. Ela tinha tanta sorte que o local não estava tão podre quanto poderia,
inclusive Roger deixou para trás alguns produtos de limpeza no armário. 
Dei um jeito no banheiro, que não tinha luz e estava meio escuro.
Voltei bem sério. Ela estava quase pulando em um pé só, segurando uma
bolsinha.
— Vá com cuidado, ok? Eu não sei que bicho pode ter lá nos fundos
— falei baixo. Ediwa tremeu, de frio e medo. 
— Droga.
— Pode ir. Eu não vou olhar. 
— Acho que só vou fazer xixi e escovar os dentes ali no cantinho. —
Apontou para a porta na direção oposta. Puxei minha barba para não rir.
— Tudo bem. 
Peguei minha escova, o tempo todo atento a ela nos fundos, lavei
minha boca e bebi um pouco de água. Quase engasguei ao vê-la correndo
desesperada. Encostando no carro, colocou a mão no peito, ofegante.
— Não tem bicho nenhum, não é? — Ela ergueu o rosto, me fuzilando
com os olhos.
— Não. 
— Eu te juro, é melhor ficar com os olhos bem abertos essa noite. —
Bufou e agarrou seu creme dental, dando pulinhos no lugar, com frio
novamente. 
Sem ter muito o que fazer, rastejou de volta para a barraca e se cobriu.
Espiei do lado de fora, nenhuma alma viva ou morta, só uma neblina
perigosa e muita água. Era provável que o solo estivesse com muitas
pegadinhas. Voltei para a barraca, onde ela comia um chocolate e me
ofereceu, aceitei um pedaço e ficamos lado a lado. 
— Sentiu isso? — Ela ficou alarmada.
— Senti o quê?
— Uma coisa rastejando na perna? 
— Não. 
Agarrando meu braço, chegou a enfiar as unhas na minha pele, com os
olhos arregalados e a boca ficando pálida. 
— Eu vou morrer se tiver uma cobra aqui. 
— Era gelado e tremia um pouco? — provoquei, voltando a fechar os
olhos.
Do nada, ela gritou, se debatendo e subindo em mim, tendo um ataque
histérico. Entre rir e descobrir que tinha um pedaço de feno preso em sua
calça, por isso sentiu alguma coisa tocando-a, fiquei sem fôlego. Fazia
muito tempo que não gargalhava daquela maneira. Depois de chorar, ela riu
também, secando as lágrimas e me batendo. Ao me dar conta de que ela
seguia montada em meu colo, olhei para seu rosto e a risada morreu no
fundo da minha garganta.
Ela não desviou o olhar do meu nem quando agarrei suas coxas e a
puxei bruscamente para mim. Era o momento de correr. Mas Ediwa passou
os braços por meus ombros e ficou completamente encaixada, o cobertor
desleixado entre nós. 
Segurei seu rosto, tocando o queixo gentilmente e ela riu, me puxando
pela barba e tomando minha boca. Ediwa agarrou meu cabelo, movendo-se
contra mim na mesma delícia e intensidade que sua língua me provocava.
Quando soltou minha boca, desci beijos por seu pescoço, agarrando sua
bunda, tão arrepiado que não conseguia pensar. Subi minha mão pela
extensão de suas costas, trilhando um caminho pela espinha e enrolei seu
rabo de cavalo em meu punho, tomando aqueles lábios novamente porque
não pretendia parar de beijá-la. 
 
 
CAPÍTULO DEZESSETE
Ediwa
Simon deu uma mordida no meu lábio, me fazendo gemer e soltou um
grunhido do fundo da garganta. Aquele beijo, nossa, que beijo… eu nem
conseguia pensar. E para não perder tempo, decidi que manter minha boca
na dele era a melhor alternativa, já que meu cérebro era uma gosma.
Perdido em mim, senti suas mãos me apertando, subindo por dentro da
minha camiseta e tocando meus seios. 
Movi meu quadril e ele parou, respirando fundo.
— Você está me enlouquecendo. 
— Eu sei. — Mordi meu lábio inferior. — É uma coisa boa que não
possa disfarçar, assim sei exatamente o que está sentindo. 
— O que estou sentindo? Tesão pra caralho, mas aqui não é a hora e o
momento para irmos além, por mais que esteja morrendo de vontade. 
— Fofo.
Eu era virgem, mas nem um pouco santa, principalmente ao sentir seu
pau duro contra minha boceta. Estava molhada e com uma quentura por
dentro que parecia que ia explodir.
— Só não me diga que vai bancar o homem arrependido porque sou
jovem e irmã do seu melhor amigo. Não me peça para fingir que esse beijo
não aconteceu.
Simon sorriu contra minha boca.
— Fingir que não aconteceu, Ediwa? Como? — Ele arrastou os lábios
nos meus, me deixando arrepiada. — Te quero tanto que está sendo muito
difícil me conter. Agora você é minha porque nunca vou esquecer o sabor
dos seus lábios. 
— Sou sua, é?
Aquilo desceu pela minha espinha como um arrepio e foi mais gostoso
de ouvir do que um dia imaginei. Um homem possessivo me beijando
daquela maneira era excitante demais para ignorar. Quando ele me jogou
sobre os ombros, quis matá-lo, mas ao ouvir que era dele trouxe algo
diferente ao meu peito. 
Abri um sorriso e fui distribuindo beijos por seu pescoço, dando uma
mordiscada no lóbulo de sua orelha, arranhando sua nuca e voltei a beijá-
lo. 
— Ediwa… 
— O que foi? — Dei-lhe um risinho. 
Ele me tombou no colchão, ficando por cima e me deu um beijo mais
intenso. Tendo todo aquele calor vindo dele, arranhei seus braços e subi um
pouco sua camisa. Simon abaixou e deu uma mordidinha acima do meu
mamilo, gemi alto, surpresa e maravilhada com o quanto aquilo era bom.
Incrível. Já não sentia mais frio. Era só calor. 
Nós nos beijamos até meus lábios ficarem doloridos e ainda sentia a
minha calcinha molhada. Eu queria fazer coisas que nunca fiz. Bem que
minha irmã dizia que quando eu quisesse dar de verdade, não haveria medo
ou incerteza, o desejo falaria mais alto do que qualquer sentimento. Simon
estava com o rosto um pouco vermelho e percebi que o havia arranhado no
pescoço. 
O rádio fez um ruído alto, nos assustando, e ele imediatamente foi
pegar, respondendo a Roger. Estava ruim de entender direito, mas
conseguimos compreender que eles nos procuravam. Simon quis saber do
castelo e informou que estávamos bem, ilhados em um celeiro. Disse o
nome da região e eu não entendi, por ser em gaélico. Maravilha. Eu tinha
que aprender aquela língua a todo custo. 
Simon abaixou um pouco o volume, colocando no ouvido e apertando
para entender. Fiquei curiosa pela maneira com que sua expressão fechou.
— Eles vão vir nos buscar?
— Se fosse um pouco mais perto, sim. Roger vai abrir as estradas
assim que a chuva passar, a previsão diz que vai amanhecer com sol.
— Que bom que vamos conseguir ir para casa. — Fiquei de pé, louca
para trocar de roupa. Eu tinha outras peças na mochila, também tinha
pensado que tomaria banho em algum rio e poderia, ao menos, me lavar. O
jeito seria usar meus lenços e a lanterna do celular no banheiro assustador
dos fundos. 
— A temperatura vai começar a cair, é normal, então, eu vou arrumar
a cama no banco de trás do carro, usando as lonas como isolante térmico. 
— Em que posso ajudar?
— Eu posso me virar sozinho. Quer comer essas frutas? — Ofereceu a
vasilha e aceitei, observando-o agir com bastante habilidade. Com um
canivete afiado, ele rasgou as lonas, forrando o carro por dentro, deitando o
banco dos passageiros e colocando o colchão em cima, criando algo
bastante interessante. Em um dia de céu estrelado aquela cama na caçamba
teria fins mais divertidos. — Por que está me olhando assim?
— Acho que devemos acampar quando o tempo estiver melhor. 
Enfiei um pedaço de maçã na boca, ele riu e balançou a cabeça. Assim
que terminou, fui dar uma conferida, parecia bom. O tempo não dava uma
maldita trégua, mas já estava quase na hora do jantar. Peguei minha
mochila, fui ao banheiro, troquei minha calcinha e me limpei da melhor
maneira possível, renovando o desodorante e o perfume. Escovei os cabelos
e entrei no carro para pegar roupas limpas, vestindo-as com meias mais
quentinhas. 
Simon tirou o jeans, colocou uma calça de moletom que tinha no carro
e uma camisa, que já tinha visto dias melhores. Acho que deveríamos
agradecer o fato da bolsa dele sempre ter muitas coisas. Ele preparou
macarrão com sopa novamente, com um sabor diferente, parecia um
caldinho de batata com pedacinhos de cenoura. Comemos dentro do carro
por estar realmente frio.
— Vá para o banco de trás, deixa que eu cuido de tudo. — Ele
apontou para a cama. — Vou deixar os vidros fechados. Abra a porta se
precisar me chamar.
Atravessei entre os bancos e ganhei um tapa na bunda, puxei a coberta
e me cobri. Simon não demorou muito do lado de fora, estava frio demais e
a chuva ainda caía, porém, parecia ter diminuído consideravelmente. Ele
deitou-se ao meu lado, fiquei com a cabeça em seu peito e a perna em cima
de sua coxa. O rádio e nossos telefones estavam próximos. 
— Sente saudade de Londres?
— Sinto. Mas não de voltar a morar lá, apenas de visitar minha mãe e
ver meu irmão, mas espero que eles possam vir me ver um dia.
— Sua família é mais que bem-vinda. Sempre convidei Ethan para vir
aqui, ele fica sonhando com férias onde não possa ser achado.
— E aqui é perfeito para isso. — Soltei um bocejo. — O jornal local
sabe quem sou e não publica uma mísera fofoca. Os moradores também
sabem quem sou e não enviaram nada meu para nenhuma revista. É um
paraíso.
— O jornal depende do investimento da cervejaria e o restante tem
medo de mim.
— Não estou reclamando dos métodos, continua sendo uma
maravilha. Quando minha irmã foi embora, fiquei tão ressentida,
magoada… Depois eu a entendi perfeitamente. — Subi minha mão por
dentro de sua camisa, sentindo aquele peitoral e brinquei com os pelos ali. 
Nossas bocas se encontraram em um beijo gostoso, lento. Não percebi
o quanto fomos mudando de posição até que seu peso estava todo em mim.
Arranhei suas costas, descendo minhas mãos para sua bunda e apertei. Era
firme, puxa vida. Simon riu, mordendo a junção do meu pescoço com o
ombro. O top que estava por baixo da minha camiseta não ajudava em nada
para esconder o quanto meus mamilos estavam atiçados, mesmo no escuro,
vi o seu olhar atraído para a área.
Ele passou os polegares, provocando, e suspirei, era delicioso.
Estavam tão duros. Segurando ambos os meus seios, apertou-os juntos e
deu um beijo no vale entre eles. Estava tudo muito aquecido dentro do carro
ao ponto de que eu não me oporia em ficarmos nus. No entanto, um fecho
de luz me assustou. Simon ergueu a cabeça e, cuidadosamente, levou a mão
para a lateral do carro, pegando uma arma. O quê?
— Fique aqui e bem quieta. Não faça um ruído.
— Você vai lá? — Agarrei sua camisa, querendo impedi-lo. E se fosse
um maluco estripador? 
— Quieta, Ediwa. Sem nenhum gritinho, é sério. — Ele me soltou e
saiu do carro com muito cuidado. 
Assenti e sentei, olhando-o acompanhar a luz pelas frestas das
madeiras do celeiro, com atenção e a arma em punho, mas não apontando
diretamente para nada. Eu não me movi, o coração acelerado no peito.
Simon rodou o celeiro inteiro e as luzes sumiram, elas pareciam longe e
foram diminuindo cada vez mais, principalmente quando a chuva voltou a
cair forte. O portão estava trancado, mas ele atravessou uma grande ripa de
madeira que parecia bem pesada nos grilhões de ferro, foi lavar as mãos e
voltou para o carro.
— Por que tem uma arma?
— Eu sou um militar, nunca ando desarmado. — Ele franziu o cenho.
— Ah… entendi. Sente falta da sua vida na Marinha?
— Em alguns momentos, é como se eu nunca tivesse saído. 
Puxei a colcha sobre nós e olhei para fora.
— O que eram as luzes? É do céu?
— Não, baby. Infelizmente, estão acontecendo roubos noturnos e
normalmente, durante tempestades, um grupo nômade invade os celeiros
remotos, levam o que podem e fazem parecer que foi o tempo que destruiu.
Eu já estava desconfiado que não era um acaso climático, agora, tenho
certeza. 
— Como estão conseguindo se locomover nessa chuva?
— Com o treinamento certo, é simples. Sem você, já estaria em casa
há muito tempo, porque conheço toda a mata e sou treinado para sobreviver
nela em qualquer situação. — Ele me puxou para seus braços e deitamos do
lado oposto, de frente para o portão do celeiro. — Durma, amanhã vamos
para o castelo.
Eu tinha certeza absoluta de que ele não fecharia os olhos em nenhum
momento e tentei ficar acordada fazendo-lhe companhia, só que o silêncio,
o friozinho e o barulho da chuva foi muito eficaz em me embalar em um
sono gostoso. A última coisa que pensei foi uma reza para que ficássemos
seguros. 
 
 
CAPÍTULO DEZOITO
Ediwa
Acordei com sons de pássaros cantando e ergui o rosto, assustada e
secando a boca. Estava sozinha no carro, as portas abertas e o celeiro
também. Havia um cheirinho de café. Ajeitei a roupa e procurei meu tênis,
calcei, prendi meu cabelo novamente e saí em busca de Simon. Ele estava
com as roupas do dia anterior, uma touca na cabeça e olhando para o
horizonte que brilhava com o amanhecer. Nem parecia que o mundo tinha
desabado. 
— Bom dia, bela adormecida. 
— Por que não me acordou?
— Está cedo ainda. — Ele virou e esticou a mão, peguei e aceitei a
caneca, dando um gole, mas estava forte e sem açúcar. Só não cuspi porque
não era educado. Simon riu. — Princesinha. 
— Já podemos ir embora?
— Sim. Vamos recolher as bagunças e ir para o castelo. — Ele
esfregou minhas costas e beijou minha testa.
Fizemos um rápido trabalho em recolher tudo, fiquei no carro
enquanto ele trancava o celeiro e como a estrada estava fechada, a volta foi
uma aventura que mais parecia um rally. Segurei na porta, no cinto,
soltando gritinhos de tempos em tempos para a diversão dele. Simon usou
trilhas e caminhos alternativos, passando por córregos e morros, eu estava
achando uma experiência nova e um tanto perigosa.
Assim que vi o castelo e a estrada principal, com Roger acenando do
trator, bati palmas. Banho, sanitário, escova de cabelo e comida de verdade!
Olhei para o lado e fiquei feliz em ver as vacas soltas ali, querendo entrar.
— Simon! Olha! Elas estão na porta do curral! — Apontei e ele
imediatamente parou o carro, pegou o rádio e chamou um funcionário para
lhe ajudar e também, o veterinário, porque uma delas estava ferida e o
machucado havia se espalhado.
Subi na cerca para assisti-lo colocá-las para dentro. Famintas,
seguiram o rastro da comida e as outras vacas não se importaram.
Aproveitei para tentar ordenhar de novo, na primeira vez, Mary Beth e eu
não nos entendemos. Mas na segunda, bom, apesar dela ter se movido e eu
ter caído de bunda no chão, quase derrubando um balde inteiro de leite, tive
mais sucesso. 
Passei no estábulo para ver os cavalos e acabei ajudando a cuidar
deles, os funcionários estavam atolados de trabalho devido às chuvas e os
animais muito agitados. Soltei os cachorros e fugi dos gansos, que também
estavam livres. Joguei comida para os patos nos lagos, conforme Roger me
ensinava. Foi impossível não me empolgar.
— Chega, chega! — Ele riu e segurou meu braço. 
— Ah, estava tão divertido!
— O patrão vai me matar por acabar com a comida dos patos. —
Roger riu e fechou o saco. — Quer ir para os coelhos agora?
— Ei, preciso de ovos! — Geillis gritou da cozinha e acenei de volta.
— Eu não vou pegar! Galizé me odeia.
— Vou te ensinar, tem que ser com cuidado…
Lully nos encontrou com a cesta no meio do caminho, tirei meus tênis
e calcei as galochas que ela trouxe para mim, entrando no galinheiro como
se fossemos três espiões. Galizé virou o longo pescoço e olhou em meus
olhos, eu pensei, fodeu. Roger correu para um lado, Lully para o outro, e foi
um festival de asas e penas voando. Não dei mole, enchi a cesta com ovos e
saímos de lá rindo e ofegantes.
— Estão aprontando alguma coisa? — Simon parou à nossa frente.
— Ovos para o café, patrão. — Lully riu com a cesta.
— O veterinário precisará de alguém olhando as vacas com ele —
Simon falou com Roger, que me deu um aceno e saiu. — Traga meu carro
para a garagem. 
Lully entrou e eu fiquei parada com ele.
— Estão todos muito agitados.
— Os animais ficam felizes quando o sol volta e querem sair. Mais
tarde vou cavalgar pela propriedade e ver os estragos.
— Posso ir com você? Quando tentei ir muito longe, caí no rio.
— Descanse antes. — Ele passou os braços por minha cintura e fiquei
nas pontas dos pés. — Foi um dia cansativo.
— Tem notícias do grupo que estava comigo?
— Estão todos bem, encontraram um abrigo a tempo na velha cabana
e desceram hoje, quando o sol abriu. Vem, vamos comer. O dia será longo.
Segurando minha mão, entramos em casa. Geillis logo me deu um
abraço apertado, dizendo estar grata que estávamos bem. Lully nos
percebeu juntos e apenas sorriu, dando uma piscadinha, me fazendo rir. A
mesa estava posta com muita comida e eu não me fiz de rogada. Roger
trouxe nossos telefones que estavam no carro e, com sinal, pude atualizar
minha família, respondendo às mensagens. Ignorei todas as de Geneva,
dizendo que precisava conversar comigo. 
Depois que Simon me disse o que Ian fazia, tive a sensação de que ela
sabia de tudo e não o impedia. Aquele tipo de amizade não era o que
desejava pra mim e ficaria distante, até no trabalho. 
Depois de alimentada, uma preguiça enorme bateu, pedi licença e fui
para o meu quarto. Tomei um longo banho na banheira, daqueles
renovadores, lavei meu cabelo e troquei os curativos, eram só em algumas
partes que ainda não haviam cicatrizado e nem incomodavam mais, até
esquecia deles. Escolhi um vestido florido, longo, que comprei em uma
lojinha no vilarejo de produção independente e meias, para andar dentro do
castelo. Só usaria as galochas do lado de fora. 
Meus gatinhos fizeram uma bagunça danada na caixa de areia,
viraram a água, estava uma algazarra no canto designado a eles na varanda
coberta. Limpei e troquei tudo. Simon disse para treiná-los a fazer as
necessidades do lado de fora e eu não fazia a mínima ideia de como isso era
possível, então, segui o que encontrei na internet mesmo. Eram muito
pequenos para sair, não queria que ficassem andando por aí e sumissem. 
Sentindo minha cabeça doer, procurei uma sala confortável para ler
meu material de trabalho do dia seguinte e organizar minhas aulas, mas
fiquei bocejando, tentando manter meus olhos abertos. Deitei a cabeça no
tampo frio da madeira, cobrindo a boca, e olhei para a porta. Simon estava
com o cabelo molhado, apenas uma calça de tecido e sorriu de lado. 
— Eu vou deitar um pouco.
— Isso é um convite implícito, senhor do castelo?
— Senhor do castelo? — Ele riu e mordeu o lábio. — Vem, Ediwa.
Fiquei toda arrepiada.
— Tá tentando mandar em mim?
— Estou tentando te levar para a minha cama.
Lambi meus lábios que ficaram repentinamente secos e levantei,
deixando meu material para trás. Não conhecia o quarto dele e o lado que
costumava habitar, era decorado e bonito como todas as outras áreas, mas a
parte privada tinha muito dele. A cama era forrada com lençóis escuros e
cobertores pesados, a lareira de pedra antiga, uma mesa de madeira no
canto e poucas fotografias, mas todas com a família. 
Desforrei a cama, tirei minhas meias de andar no chão e subi, era mais
alta que a minha e bem maior. Fazia sentido. Ele era grande e precisava de
móveis que o comportassem com conforto. 
— Não quero que fique chateada, mas contei a Ethan sobre nós —
Simon comentou e ergui minha cabeça, surpresa. 
— Mas já deu tempo?
— Eu fui no escritório e fiz uma rápida ligação. 
— Imaginei que acabaria contando pelo nível de relação que vocês
possuem, mas nós nem sabemos o que é isso que está acontecendo. 
— Não importa. Eu não quero que ele pense que trairia a confiança
dele.
Coloquei minha mão em seu peito, acima de seu coração.
— Ethan te tem com muita estima e confiança, ou eu nunca estaria
aqui. Mesmo que meu irmão confiasse em mim, sou meio inexperiente em
estar fora de casa e para ele, foi muito difícil Daphne sozinha em Nova
Iorque. No entanto, estou curiosa, qual foi a reação do meu irmão?
— Riu e disse que perdeu uma aposta com Charlotte. Acho que não
entendi. — Franziu o cenho. — Talvez esteja em negação ou enviando
algum agente secreto de Rainland para me matar — ponderou e soltei uma
gargalhada. Meu Deus! Em que mundo eles viviam?
— É claro que não! Ethan não vai usar o poder dele como príncipe
para te matar. Faria isso com Brian?
Simon apenas bufou, o que entendi que seria um sim. Oh, céus! Por
que irmãos mais velhos pensavam que podiam tudo?
— Em todo caso, Ethan não vai fazer isso. Ele e Charlotte gostam de
competir, apostam coisas, minha cunhada deve ter pressentido nosso
envolvimento ou, apenas quis irritá-lo com a possibilidade. — Fiquei de
joelhos e ergui a colcha, passando minha perna por sua cintura e sentando
em seu colo. — Até que o grande homem da montanha não resistiu à
princesinha. 
Simon apertou minhas coxas, subindo meu vestido e sem tirar os olhos
dos meus, puxou os laços do decote, deixando bem frouxo. Como estava
sem sutiã, meus seios ficaram livres. 
— Eu não resisti à mulher gostosa que chegou aqui para atormentar
meu juízo.
— Não fiz de propósito.
— Sei que não. — Ele puxou uma alça para baixo. — Só foi me
enlouquecendo ao ponto de me fazer perder o controle.
— Nunca fiz sexo antes. — Anunciei com calma e confiança. — Mas
quero fazer. Só não sei como será essa parte entre nós dois. 
— Temos todo o tempo do mundo, se for o que você quer. 
— Esperei muito tempo, queria sentir tesão, prazer e todas as coisas
que as mocinhas dos livros contam. Nenhum homem me provocou isso
antes, não com tanta intensidade e fogo como você. — Inclinei-me para
frente, com a boca bem perto da dele. Ele fechou os olhos, como se
precisasse repetir um mantra e ao abrir, havia um brilho safado irresistível,
desejoso. Mordeu o lábio inferior, agarrou minha bunda de forma rude e me
fez sentir o quanto estava duro por mim. 
Erguendo de novo meu vestido, brincou com a minha calcinha.
— Gostosa. — Beijou meu pescoço.
— Me faça gozar — pedi sem nenhum pudor.
— Sempre me surpreendendo.
Apenas ri. Simon precisava lembrar que eu saí de Londres, não de um
convento. Minha virgindade tinha motivos, eu vinha de uma família
tradicional, a mídia vivia em cima e havia a minha falta de conexão com os
poucos garotos que beijei. Se não queria beijá-los novamente, não transaria.
Segui os sábios conselhos da minha irmã e me dei bem: estava na cama
com um ruivo bem gostoso, pedindo que eu tirasse toda a minha roupa. 
 
 
CAPÍTULO DEZENOVE
Simon
Ediwa afastou-se com delicadeza, sem tirar o sorrisinho provocante
dos lábios. Eu pensei que ela ficaria tímida com o meu pedido, mas ela
sempre me surpreendia ao exibir essa faceta atrevida. Reunindo o tecido do
vestido, puxou pela cabeça e jogou na ponta da cama, ficando apenas de
calcinha no meu colo. Porra. Arrastei meus polegares por seus joelhos,
trilhando um caminho lento pela pele arrepiada, sem perder um mísero
pedaço, sentindo cada centímetro…
Brinquei com a tira fina de sua calcinha branca, puxando com meu
indicador, e tracei círculos por sua barriga, admirado com o corpo perfeito,
a cintura fina, os pelos claros e puta que pariu, suas roupas escondiam os
seios perfeitos, redondos, cheios, que não eram nada pequenos. Ediwa me
observava adorá-la com calma. Eu queria tomar todo o tempo, era a
primeira vez e desejava memorizá-la. 
Sentei, segurando sua nuca e a beijei. Ediwa gemeu baixinho contra
minha língua, agarrei sua coxa e a tombei na cama. Ela riu e me agarrou,
dando um tapa pelo movimento brusco. Mordi seu ombro, dando um beijo
em seguida, descendo minha boca para seus peitos perfeitos e chupei cada
mamilo. O estremecer de prazer foi lindo e era só o começo. Uma pequena
ruguinha surgiu entre suas sobrancelhas, assim como um bico atraente nos
lábios, os olhos brilhando.
Beijei suas costelas, ela riu e agarrou meu cabelo, sentindo
cosquinhas. Desci mais, engatando meus dedos nas laterais da calcinha.

— Posso estar aqui, mo luachmhor[8]?


— Depende. O que significa isso aí? — Ela riu baixinho, erguendo o
quadril, um pouco ansiosa.
— Minha preciosa.
— Eu realmente quero que esteja na minha preciosa. — Fez graça e ri,
deitando a cabeça em sua barriga. — Desculpa, não resisti. Sim, por favor.
— Você é terrível, vou acabar com suas piadinhas. — Tirei sua
calcinha completamente. A boceta linda encheu minha boca de água,
brilhava com indícios de excitação, afastei seus lábios, mantendo meus
olhos nos dela e com o polegar, circulei o clitóris, pressionando nos pontos
certos. 
Ediwa tremeu e fechou os olhos, batendo a palma na cama e se
arrependeu, balançando em seguida. Espalhei sua umidade, brincando com
os barulhinhos, deixando-a relaxada e acostumando-a com a minha
presença ali. Dei um beijinho na virilha cheirosa, passando minha língua em
seus lábios e posicionei meus braços para afastar suas coxas, colocando seu
bumbum em meus ombros, assim ela não me sufocaria. 
Meu tesão me fez perder a mente por um tempo, dando-lhe uma
chupada alimentada por seus gemidos. Segurei seu quadril no lugar, ela
arranhou meus braços e meu couro cabeludo, soltando um palavrão. Olhei
para seu rosto, com minha língua em seu clitóris.
— Oh, puta que pariu! — Ela mordeu o próprio punho, quase
gozando. — Own, Simon! 
Fiz movimentos circulares em sua entrada, sem causar-lhe dor, não
invadindo muito e assisti o orgasmo. O primeiro. Caralho, foi lindo demais.
Eu estava oficialmente viciado em fazê-la gozar daquela maneira. Suada,
vermelha, com os mamilos duros, estremecendo, lábios entreabertos e a
expressão mais linda do mundo. Não tinha como fingir aquilo. Deliciosa e
toda minha. 
O sorriso satisfeito e safado que surgiu em seus lábios levou meu ego
à lua. Ela ergueu o indicador e me chamou, subi sobre ela com beijos e
tomei sua boca ainda portando seu gosto. Devorando-me, esfregou a boceta
molhada em minha ereção. Ainda bem que estava com a calça, ou teria sido
difícil manter a sanidade. Arranhando minhas costas, foi abaixando minha
calça e me empurrou, deixei meu corpo ir para a posição que queria.
Já deitado, ela subiu em mim e tirou a única peça que usava.
Meu pau estava impressionantemente duro. Eu não lembrava a última
vez que fiquei tão excitado. Ediwa ficou de joelhos entre minhas pernas e
assoprou minha extensão, trazendo um arrepio e um gemido à minha boca.
Seu olhar, no entanto, estava divertido.
— O que foi? — grunhi com sua mão tocando uma suave punheta.
— Digamos que isso é muita areia para o meu caminhão, mas sou o
tipo de mulher capaz de fazer várias viagens.
— Você é ridícula. — Cobri meus olhos com o antebraço, rindo, e
qualquer resquício de risada morreu com sua boca quente fazendo
maravilhas na minha glande. — Porraaaaa!
Eu tive que abrir os olhos para ver aquela cena e fechei novamente ou
não iria aguentar dois segundos, mas por fim, tive que abrir, porque puta
que pariu. Usava as mãos e a boca de uma maneira surpreendentemente
coordenada. Trinquei meus dentes, apertando os lençóis para aguentar seus
olhos lindos, a boca carnuda ao redor do meu pau, levando o máximo que
conseguia e tentando até a garganta, sem piscar e sem reflexos.
— Filha da puta, pare de me provocar. 
— Nunca. — Ela riu, lambendo, adorando me ter derrubado. 

— Oh, infrinn[9]!
Então, para minha morte precoce, ao tocar meu pau, ela puxou o
próprio mamilo, olhou em meus olhos e voltou a me chupar. Foda-se. Não
existia a mínima possibilidade de ter qualquer resistência contra Ediwa.
Avisei que iria gozar, que ela deveria parar e apenas ganhei um não, com
sua boca na minha cabeça. Ela engoliu tudo. E eu perdi completamente a
minha existência por algum tempo. 
— Não tem um gosto muito agradável, não. — Franziu o cenho,
deitando-se ao meu lado e olhou para o teto. 
— Quer cuspir? — Comecei a rir e passei meu polegar em seu lábio.
— Não. Só não garanto que irei experimentar de novo. — Abriu um
sorrisinho e beijei sua boca, trazendo-a para meus braços. Ela entrelaçou
nossas pernas.
Ediwa ficou agarradinha em mim, como se eu fosse seu bote salva-
vidas e não me soltou mais durante o sono. Puxei a colcha sobre nós,
precisando dormir um pouco devido ao estresse que foi o dia anterior e a
noite mal dormida. Tinha trabalho a fazer e não faria direito se continuasse
cansado. 
Acordei uma hora depois, renovado, enquanto ela ainda dormia
profundamente. Meu telefone estava cheio de mensagens e como previ, a
ficha de Ethan caiu e ali estava sua primeira ameaça: ele ainda lembrava
como matar e sumir com um corpo. Eu ri e disse que não seria necessário,
mataria a mim mesmo se causasse lágrimas nos olhos bonitos da princesa.
Ela podia não ser uma de fato, mas era para mim e isso que importava. 
Fui ao banheiro, depois, com a toalha enrolada na cintura, para meu
armário e ela acordou, sentando na cama com um beicinho. Com minhas
roupas nas mãos, parei ao lado da cama, dando-lhe um beijo nos lábios e
em cada mamilo.
— Eu vou cavalgar pela propriedade. Quer vir comigo?
— Sim! Vou trocar de roupa. — Soltou um bocejo e se espreguiçou.
— Te encontro lá embaixo. 
Vestindo-se, saiu rapidamente e eu fiquei pronto. Passei no escritório,
respondi chamadas, falei no rádio e fui para a cozinha. Os gatos estavam
fazendo uma zona no canto, deixando Geillis maluca. As galinhas estavam
soltas. Quando elas conseguiam fugir, era foda. Lully corria atrás de cada
uma, para colocá-las de volta no galinheiro do outro lado. 
Avisei ao cavalariço para preparar um cavalo tranquilo para Ediwa e
soltei Bonnet. Ele bufou, arrastando as patas.
— Oi, bebê. — Ediwa parou na frente dele e o bicho ficou calmo.
— Traidor.
— Não o culpe por querer ser montado por mim — ela me provocou. 
— Vá para o seu cavalo, agora. — Apontei.
— Eu sei que também quer que eu monte em você. — Piscou, com
uma mordidinha no lábio. Bati em sua bunda, mandando que fosse na
frente. Tom, meu cavalariço, disfarçou a risada com um acesso de tosse. —
Oi, Tom! 
— Oi, senhora. Ele está pronto, é bem dócil. Seu nome é Curran.
— Seremos melhores amigos, não seremos? — Ediwa o abraçou,
colocando o rosto no focinho dele. — Vamos, menino?
Curran ficou tranquilo para que ela o montasse com habilidade e
negou os aparelhos de proteção, saindo da baia na minha frente. Bonnet
quis ir atrás e o impedi, deixando que Ediwa desse uma volta com o cavalo
para se acostumar. Ela conversava, acariciando a pelagem e me deu um
aceno, confiante. Saímos juntos, eu um pouco à frente, para mostrar o
caminho. Fiz algumas paradas, levantando as cercas com meu cinto de
ferramentas, conectando novamente o perímetro de segurança.
— O que é isso? — Ediwa quis saber, encostada em uma árvore, na
sombra.
— São sensores. Eu vigio a fazenda por satélite.
— Sério? — Ela arregalou os olhos. — Como?
— Talvez deva te dizer que crio módulos de segurança há alguns anos.
Era minha fonte de renda junto à Marinha.
— Uau. Então, você é nerd. Eu ouvi Ethan dizer que trabalhava com
segurança, mas não imaginei que fosse algo tão sofisticado e inteligente. —
Ela parou ao meu lado, ficando nas pontas dos pés para me ver mexer nos
conectores. — É uma caixinha de surpresas e é legal que parece ter unido
todas as coisas que gosta. A fazenda, mantendo os negócios da sua família,
e seu trabalho chique.
— Não é um trabalho chique.
— Sou professora de música, eu acho isso muito chique. — Deu de
ombros.
Eu bufei.
— Lady Ediwa Lewis.
— Só sou uma lady porque meu pai foi um duque e isso não quer
dizer nada sendo mulher. Ethan é o único com grandes responsabilidades.
Eu só fiquei com as regras tradicionais e a perseguição da mídia. Até meu
dinheiro… meu irmão, bom, não é culpa dele. Eu não sei comprar uma
bolsa sozinha. Papai nunca permitiu e quando morreu, foi mais fácil manter
Ethan cuidando de tudo — tagarelou, indo sentar na cerca, olhando para
nossos cavalos amarrados na outra árvore. — Daphne aprendeu a cuidar do
próprio dinheiro depois que casou. Eu nunca nem tentei.
— Minha irmã é contadora, se você quiser, ela pode te ensinar. Mas
tenho certeza de que Ethan não se importa de fazer isso por você.
— Desde que vim morar aqui, não gasto muito, apenas comprei
roupas, chocolates e queijo no centro. A vida aqui é bem econômica e… —
Balançou as pernas e desci, guardando as ferramentas no bolso. Parei entre
suas pernas e a beijei, calando sua boca por um tempo. Ediwa riu,
entendendo que eu precisava de silêncio e de um pouco de seus deliciosos
beijos, dando-me com prazer junto a um abraço gostoso.
 
 
CAPÍTULO VINTE
Ediwa
As crianças estavam deixando os violinos contra a parede no final da
aula. Era a última do dia e eu estava satisfeita com os avanços. Também era
o encerramento da colônia de férias, entraríamos em pausa até agosto, para
o retorno oficial do semestre. Apesar de não precisar trabalhar todos os dias
na escola, eu queria mesmo levar os alunos para o festival de música em
Inverness e para isso, tinha que assumir o projeto com todas as minhas
forças e cobrir  as bases.
Não tinha experiência em criar propostas culturais e liguei para minha
irmã, a pessoa mais indicada a me ajudar e ela se comprometeu a me
orientar no que fosse necessário. Lorna também. Ela disse que eu tinha que
ter votos dos senhores da cidade e o apoio dos professores, que precisariam
liberar os alunos para os ensaios. Eu tinha um planejamento prévio, porém,
era necessário mais. 
Guardei o material, varri a sala, limpei os quadros e levei o lixo para
fora. Recolhi minhas coisas, saindo de fininho, quase nas pontas dos pés.
Mais cedo, ouvi na sala comum que pretendiam se reunir para beber e eu
não queria ir. Estava exausta, as crianças sugaram minhas energias e além
de fugir de Geneva e de Ian, Lorna podia ser bem insistente e me fazia
sentir culpa por negar. Abri a porta da frente e fechei com cuidado, rezando
para o sino não fazer barulho.
— Fugindo, princesa? — Murray questionou e dei um salto, cobrindo
minha boca.
Simon estava ao lado dele e sorriu, encostando no carro.
— Algo como isso. Eles querem sair para beber e comemorar o último
dia de colônia de férias e eu não quero ir. 
Simon pegou meu casaco e bolsas, abrindo a porta de trás do carro e
colocou dentro.
— Está muito cansada? Nós vamos em Glencoe. Quer ir? Se estiver
cansada, vou te deixar no castelo antes de sair.
— Não estou cansada para um passeio em uma cidade que não
conheço. — Bati palmas e entrei, deixando o banco da frente para Murray,
que era maior que eu. Simon colocou o cinto em mim e aproveitou para
roubar uns beijinhos. Passei o dia inteiro longe e estava com saudades.
Ainda chovia um pouco, porém, era só garoa e eles garantiram que
não iria aumentar. Coloquei meu casaco quando comecei a sentir frio na
estrada e, no semiescuro, encontrei uma posição para dormir. Eles falavam
baixo. Pelo que entendi, Murray era militar também e estava de licença por
um tempo, na casa dos pais. Eu não era boa fofoqueira, porque não
consegui prestar atenção neles e acordei definitivamente quando o carro
parou.
Simon saiu primeiro, cumprimentando um homem e eu olhei o centro
da cidade, gostando do que estava vendo. Desci com meu telefone na mão,
atravessando para a praça. Não tinha nada. Tipo. Era mato… e montanhas.
Casinhas brancas espaçadas. Caramba… por que eles chamavam aquilo de
cidade? Parecia haver somente uma rua movimentada. Mas era mais do que
bonito, era lindo, bucólico, uma áurea mágica e a sensação de lugarzinho
familiar, como se já tivesse visto em algum filme.
— Está gostando do que vê? — Simon parou atrás de mim e olhei
para uma grande pedra, querendo ler o que tinha ali, parecia um memorial.
— É um lugar muito bonito. O que é?
— Já ouviu falar do Massacre de Glenn Coe ou Mort Ghlinne
Comhann? — Ele esfregou as mãos na minha barriga. — A maior parte do
clã predominante da região foi assassinado por não terem jurado lealdade
aos novos monarcas. Não foi a única batalha que a Escócia travou por não
ser leal à coroa.
— Existe alguma história parecida na sua família? — Segurei sua
mão, sentindo um pouco de tristeza, mesmo que fosse algo comum no
passado e que já fizesse muito tempo. 
— O castelo Higgins pouco sobreviveu à batalha de Culloden e se as
matriarcas não tivessem escondidos os meninos na Irlanda do Norte, não
existiriam mais Higgins Basset. — Ele beijou a minha bochecha. — No
passado, você seria a minha sassenach. Minha estrangeira. 
— Ainda bem que não estamos no passado. — Virei-me de frente e
tentei alcançar seus lábios. Mesmo com botas de saltos altos, ainda
tínhamos uma boa distância. Fiz um beicinho, ele riu, agarrou meu bumbum
e me ergueu, dando um beijo rápido e me fazendo rir. — O que estamos
fazendo aqui?
— Murray está fazendo um tratamento obrigatório e essa semana ele
precisa encontrar antigos companheiros. Um deles vive aqui. Eu me ofereci
para trazê-lo, como está bem, achei que gostaria de passear também. 
Simon e eu andamos de mãos dadas pelas ruas, ele tirou fotos minhas
e nós comemos em um pequeno restaurante familiar com Murray e seu
antigo amigo de equipe, que estava de licença médica, com um ferimento
na perna bem feio. Ao vê-lo mal conseguir andar, senti uma agonia no peito
e ao mesmo tempo, um sentimento egoísta de alívio por Simon não
participar de nenhuma missão e assim, não me preocuparia de que voltasse
para casa ferido. 
Chegamos no castelo no meio da madrugada e fomos recebidos pelos
cachorros ansiosos, fazendo um monte de bagunça na garagem. Com um
assobio, Simon colocou todo mundo para deitar. Exceto Marsali, ela não
obedecia ninguém. Meus gatinhos tinham brincado na sala, derrubando
alguns vasos e recolhi a bagunça. Eu os chamava de três é demais, porque
porra, era mesmo. Aprontavam o tempo todo. Sem criatividade para nomes,
eu chamava aqueles machinhos de um, dois e três. 
— Essas pragas peludas do caralho! — Simon esbravejou com eles,
que saíram correndo, serelepes pela escada. — Na direção do meu quarto
não! Arranharam minha poltrona toda!
— Eles adoraram dormir no seu quarto comigo… — cantarolei, indo
atrás.
— Você é mais do que bem-vinda, um colírio para os meus olhos, mas
eles vão ficar do lado de fora — pontuou todo bravo e comecei a rir. 
— Tenho que ir no meu quarto trocar de roupa.
Ele quase fez um beicinho.
— Não demore.
— Eu sinto muito, mas vou demorar. 
— Por quê?
— Banho, tirar maquiagem, coisas femininas…
— E não tem banheiro no meu quarto? — Ele me abraçou e me
ergueu. — Foda-se! Não precisamos de roupas, amanhã resolvemos o
restante. 
— Simon!
— Não discuta comigo, é uma causa perdida.
— Eu adoro discutir.
— E eu te quero pelada. Nessa discussão, você não vai vencer nem
por todo argumento do mundo. — Ele riu e continuou me levando na
direção oposta. Eu sequer me debati em seu colo, pelo contrário, fiquei
quieta. Ele me colocou de pé perto da cama e foi tirando minha roupa até as
botas, levando-nos para o banheiro e começou a encher a banheira.
Sozinha, tomaria uma chuveirada preguiçosa àquela hora, mas não
dispensaria a oportunidade de ficar nua e em cima dele. Fechando a porta
para impedir os companheiros de quatro patas, eu o observei se despir com
tranquilidade e recostei, dando espaço para entrar com calma, depois, virei
para encostar em seu peito. Prendi meu cabelo em um coque para não
molhar muito e ganhei um beijinho na nuca. 
Ele pegou a esponja, encheu de sabonete líquido e passou suavemente
por meu braço. Seu carinho em cuidar de mim me deixou emocionada. Não
foi maldoso, embora o toque tenha acendido um fogo que expulsou o sono,
foi doce. Beijos calmos e as mãos me faziam sentir preciosa. Também me
secou e ainda passou uma camisa pela minha cabeça, que ficou enorme, me
fazendo rir.
Ao abrirmos a porta do banheiro, encontramos os gatinhos aninhados
na cama.
— Ah, não. — Ele bufou, passando a mão na barba. — Eu te disse
para acostumá-los a ficar do lado de fora.
— E eu te disse que isso não iria acontecer. 
— Esse castelo não vai virar um zoológico. — Ele pegou os três e os
colocou no chão, não deu meio segundo para pularem na cama de novo. —
Puta que pariu! É um complô infernal?
— Eles amam dormir no quentinho e gostam de ficar perto de mim.
Sua cama já deve ter meu cheiro e isso aqui, além de um castelo antigo, é
uma fazenda! É o mais próximo de um zoológico na minha opinião. Só não
tem animais exóticos! — rebati e o olhei bem. — Retiro o que eu disse. —
Abri um sorriso, provocando.
Simon colocou as mãos na cintura, franzindo o olhar na minha direção
de um jeito ameaçador e me fingi de imperturbável. Ele não ia vencer
aquela disputa. Os gatos iriam dormir no quarto conosco e ponto final. Se
fôssemos fazer uma coisa proibida para seus olhos inocentes, tudo bem,
mas estava cansada e não seria o caso. 
— O único animal exótico que tem aqui é uma mulher de um metro e
sessenta e oito que é teimosa feito uma mula — ele grunhiu e respirei
fundo, não ia cair na armadilha. Puxa vida, como acertou meu tamanho
certinho? Será que sabia meu peso também?
— Olha aqui, ogro da montanha! — Eu virei, erguendo meu dedo e
tirei meu cabelo do braço. Ele parou de se mover e arregalou os olhos. —
Por favor, me diga que era uma mecha do meu cabelo.
— Não se mexa, baby.
Ai, meu Deus! Quando aquele lugar ia parar de me matar do coração
com insetos aleatórios subindo em mim?
Aproximando-se bem devagar, ele foi erguendo a mão para tocar meu
ombro e fechei meus olhos, simplesmente esperando que tirasse o que fosse
de mim. De repente, me agarrou, dando-me um beijo. Comecei a rir,
batendo em seu braço, surpresa e com o coração acelerado. Ele me ergueu,
abracei sua cintura com minhas pernas e olhei em seus olhos, balançando a
cabeça negativamente.
— Como sabe que não sou cardíaca?
— Gatos fora da cama. — Ele beijou meu pescoço. — Vamos ocupá-
la de uma maneira que eles não podem assistir.
— Sendo assim, eles podem dormir no sofázinho do corredor
enquanto isso, depois, eles vão entrar novamente.
— Quieta, Ediwa. Você não manda em nada aqui. — Ele me mordeu e
comecei a rir, de puro deboche.
— Veremos, baby. Veremos.
Simon me calou com mais um beijo antes de expulsar os gatos do
quarto para me mostrar mais uma vez o quanto era bom com a língua. Ele
estava quase me dando coragem para enfrentar o que ele tinha entre as
pernas, não era nada grotesco, só um pouco maior do que imaginei. E como
era a minha primeira vez, eu tinha que me preparar psicologicamente para
as viagens necessárias. 
 
 
CAPÍTULO VINTE E UM
Ediwa
Acordei com o vibrar do meu telefone. Era um raro dia em que
poderíamos dormir até mais tarde, Simon não tinha que sair pela fazenda e
nem estar na cervejaria ou na fábrica de uísque, por ser fim de semana.
Estiquei a mão e peguei meu telefone, sentindo-o bufando e me apertando
um pouco, mas já sabia que estava acordado por ter um sono muito leve.
Olhei a tela e vi que era uma chamada de vídeo da minha irmã, então
atendi, preocupada.
— Uau, querida. Tem um gigante ruivo na sua cama! — Daphne
cantarolou.
— Acho que eu que estou na cama dele.
Simon apenas grunhiu e saí das cobertas com cuidado, não só para não
expor que ele estava nu por baixo, como para não incomodar os gatinhos
que subiram de fininho no meio da madrugada. Era tão cedo que só tinha
neblina do lado de fora, enrolada em uma colcha, sentei em uma poltrona,
tremendo de frio. 
— Por que está me ligando tão cedo? Pensei que tivesse acontecido
alguma coisa.
— E aconteceu. Espere Charlotte atender. — Daphne foi enigmática.
— Está grávida de novo?
— Bruno fez vasectomia — ela brincou e meu cunhado gritou que não
ao fundo. — Não é isso, mas ele fará. Não é, amor?
— Não!
— É algum casamento? Estou curiosa.
— Cale-se, Ediwa. — Daphne bufou. — Espere Charlotte atender, ela
pediu uns minutos e deve estar se desvencilhando do fofoqueiro do Ethan.
Apesar de que, ele saberá cedo ou tarde, mas ainda não é o momento.
Simon virou de lado, puxando a colcha e, sem querer, um gatinho caiu
no chão. Ele me deu um olhar indignado e comecei a rir. Charlotte
finalmente apareceu, tão sonolenta quanto eu, com uma caneca de café. Se a
cozinha não fosse do outro lado do universo da casa, eu iria preparar um
também. Mas nem a coitada da Geillis deveria estar acordada e eu não faria
barulho perto de seu quarto para não assustá-la.
— Qual é a fofoca urgente que não poderia me esperar acordar? —
Charlotte bocejou. Para a bela adormecida da minha cunhada, ter seu sono
interrompido era um crime. — Ediwa, bebê. Estou morrendo de saudades e
preciso saber como é montar em um gigante ruivo. Ethan simplesmente vai
explodir os miolos se me ouvir falar isso.
Cobri minha boca e Simon ergueu o rosto com uma expressão “que
porra é essa?”. Encolhi os ombros.
— Não me diga que ele está ouvindo, sua filha da puta. — Charlotte
começou a rir comigo e Simon cobriu-se completamente. 
— Estou no quarto. Daphne ligou feito uma desesperada!
— E até agora não consegui falar nada! — Daphne cantarolou. —
Mamãe está namorando! 
— COMO VOCÊ SABE? — gritei e os gatos saíram correndo. Simon
ergueu as mãos, bufando, e tentei me conter. Charlotte estava chocada
demais para reagir. — Conta, Daphne!
— Kourt me contou…
— Quem é Kourt mesmo? — interrompi, meio perdida. Charlotte riu e
logo me liguei quem era, mas Daphne não perdia a oportunidade.
— Vocês sabem que sou muito amiga da Kourt, minha cunhada,
casada com o irmão gêmeo do meu marido, irmã da Khloé, que é cunhada
da Charlotte, ambas princesas de Rainland — Daphne me respondeu e eu
fiz uma expressão de ódio. Porra, ela sabia que eu era lerda. Eu esquecia
que Simon era irmão da Claire, cunhada da minha amiga Pippa, dirá
lembrar de Kourtney! — Enfim, Kourt me contou que Khloé viu a mamãe
aos beijos com um duque de Rainland depois de um jantar. Ele é viúvo
também, não tem filhos vivos, infelizmente, o filho dele morreu em um
acidente há alguns anos e a esposa, no nascimento do menino. E como não
sou boba, fiz a pesquisa completa, reparei que eles são vistos no mesmo
lugar desde que dona Ediwa saiu de casa.
— Bem que eu achei que a mamãe não choramingou minha ausência
por muito tempo. Ela sempre me liga, querendo saber como estou, manda
mensagens, mas nunca fez drama… e eu achando que ela tinha superado! A
verdade? Ela estava ocupada!
— Faz todo sentido agora o fato de que ela estava cantarolando na
última vez que estive na cidade. Nós temos ficado no campo direto, ando
cansada demais e Ethan está com muito trabalho. Conseguimos dormir
melhor aqui. — Charlotte meio que se desculpou por não estar com a
mamãe o tempo todo, mas eles não podiam viver em função dela. —
Caramba! A sogrinha está transando!
Ela soltou ao mesmo tempo em que Bruno apareceu no fundo do
vídeo de Daphne e deixou cair um copo ao ouvir. Vi meu irmão entrando no
cômodo que Charlotte estava, sonolento, como se a procurasse, e arregalou
os olhos.
— Quem está transando? — Ethan quis saber.
— Opa! Tchau, gente! — Charlotte encerrou a chamada.
— Sabe o que é isso, Bruno? O poder da fofoca. — Daphne apontou
para o copo quebrado e ele riu. — Falo com você depois, irmã.
— Amo você.
Daphne sorriu.
— Eu te amo mais.
Deixei o telefone de lado e voltei para a cama. Ao invés de deitar no
meu lugar, eu me joguei em cima do meu ruivo rabugento. Chegamos tarde
em casa, dormimos pouco e minha irmã ainda fez a gentileza de nos acordar
cedo. Ele me agarrou, tombando na cama e jogou as cobertas pesadas por
cima de novo, meio que dizendo que era para eu me calar e dormir. Peguei
no sono por mais um tempo, talvez duas horas pela posição da luz do sol na
janela, mas o tédio foi batendo e eu não queria mais ficar deitada.
— Não ouse, Ediwa. Estou de folga — Simon grunhiu no meu ouvido.
Ele ainda não tinha aprendido que me dizer para não ousar era o mesmo que
nada?
— Quem vai alimentar os animais?
— Tenho cem funcionários nessa fazenda por um motivo.
— E por que todos os dias está andando de um lado ao outro?
— Só continuo rico porque trabalho todos os dias e de vez em quando,
como todo filho de Deus, tiro um dia de folga — ele murmurou de olhos
fechados. Meu pai dizia a mesma coisa. Puxa vida. E eu querendo me
aposentar no ano seguinte. 
Soltei um estalo com a boca, brincando com meus dedos, acariciando
o Dois e puxei a orelha do Três, suspirando bem alto para ver se
incomodava. Simon continuou dormindo. Ah, não. Estiquei o braço, peguei
o controle na gaveta e liguei a televisão bem baixinho, procurando alguma
coisa interessante. Parei em um canal de música que justamente tocava
Love Story, da Taylor Swift.
— Ediwa… — Ele estava ficando irritado e eu mal começando.
Fiquei de pé na cama, usando o controle como microfone, pulando e
cantando a plenos pulmões. O quarto dele era em uma parte alta do castelo,
tinha uma acústica incrível. De camiseta e calcinha, dancei e rodopiei em
cima dele, fugindo de suas mãos tentando me derrubar a todo custo para
tentar calar a minha boca. Eu não ia parar até que acordasse e me levasse
para comer. 
Divertido, agarrou minhas pernas e me tombou na cama, cobrindo
meus lábios. Tentei lhe dar uma mordida. Virando-me bruscamente, acertou
a mão na minha bunda.
— Ai, isso foi gostoso!
— Puta merda, você é… — Ele começou a rir sem parar. — Está bem,
rainha da safadeza. O que quer fazer?
— Tomar café e depois, passear! A neblina já deve ter se dissipado,
podemos cavalgar um pouco, ir naquele córrego tomar banho e passar o dia!
Sei que é folga, mas não quero ficar dentro de casa.
— Quer tomar banho no rio?
— Vai chover? — Quis saber, não precisava de outro acampamento
inusitado no meio do nada, por mais importante que tenha sido o último
para nós dois. Eu queria acampar com um planejamento. 
— Não parecia ontem, vou olhar na previsão, podemos tomar um
banho no córrego e voltar a tempo do almoço. — Ele beijou meu pescoço e
foi erguendo minha blusa, querendo me deixar sem roupa para ver se me
convencia do contrário. 
Eu ia sair daquela cama. 
— Obrigada! — Apertei suas bochechas, enchendo sua boca de beijos.
— Vou no meu quarto pegar minhas coisas. Não demore.
Fugi dele e ri ao ouvir seu gemido consternado. Corri para o meu
quarto, empolgada e tendo um rápido pensamento sobre nossos arranjos de
dormitório. Ou eu me mudava para um quarto mais perto ou ele passaria a
buscar minhas coisas, ficar atravessando o castelo faria bem às minhas
coxas e minha alma preguiçosa tinha algumas reclamações a fazer. 
Encontrei um biquíni bonito, nada perto dos maiôs que minha mãe me
obrigava a usar, uma calça para poder montar no cavalo, uma camisa
confortável e arrumei a bolsa com produtos que poderia precisar. Ao
encontrá-lo, ele tinha meu telefone, estava vestido e com um sorriso
divertido no rosto.
— O que foi que aconteceu nesse tempo em que fiquei longe? 
— A conversa matinal deixou seu irmão tão desnorteado que ele nem
me enviou uma ameaça de morte hoje. — Simon continuou rindo.
— Ethan tem essa coisa estúpida de ficar trocando ameaças de morte
com Bruno também, que faz a mesma coisa com Louis. Agora, você entrou
no bolo.
— É, eles me adicionaram em um grupo “Nós contra elas”. 
— É o quê? 
— Acho que significa que eles devem se unir contra as esposas. —
Simon deu de ombros e, caramba, Daphne, Charlotte e Cat não sabiam
daquilo. — Descobri que meu primo está lá também.
— Seu primo? Que primo? — Corri atrás dele, ficando
completamente perdida.
— Ford, de Alicia, ele é meu primo. Acho que deve conhecê-la, certo?
Sei que ela é tia da sua cunhada Charlotte. Ou algo como isso. 
Eu abri minha boca em choque.
— Você é primo do marido da tia Alicia? — soltei um grito. Simon
jogou a cabeça para trás, chegando a colocar a mão na barriga de tanto rir.
— Deus do céu! É parente de mais alguém? Vai me dizer que o rei também
é seu primo? 
— Nunca percebeu que Ford e eu temos o mesmo sobrenome? 
Ergui minhas mãos, frustrada.
— E eu lá… Ah, é verdade! Ele é Higgins Basset! — Bati meu
indicador no queixo. 
— Acho que eu sei por que Ethan nunca te deixou sozinha e ainda me
pergunto como ele achou que seria inteligente te mandar pra cá pela
primeira vez sem um acompanhante. — Simon me deu um abraço. Eu
simplesmente detestava o quanto era lesada para muitas coisas. — Não fica
assim, mo luachmhor. Vamos comer e pegar os cavalos para aproveitar a
nossa folga. 
 
 
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Simon
Tudo parecia bem na cidade no auge do verão. Alguns turistas
andavam pelo centro tirando fotografias e eu tinha acabado de sair de um
dos pubs que era sócio. Era de um amigo de infância, que estava em um
buraco financeiro, pediu meu financiamento e achei que valia a pena.
Apenas em um verão, recuperei tudo que investi e estávamos com um
projeto de expansão contando apenas com o turismo.
Eu ia dar meia volta e fingir que era um poste quando o vigário saiu
de uma casa e começou a acenar.
— Ei, ei! Vem aqui, menino! 
— Oi, vossa graça. — Atravessei a rua, louco para voltar à fazenda e
saber como foi a visita do veterinário aos meus cavalos. 
— Deixa de formalidade, Simon. Eu te peguei no colo. — Ele fez um
gesto com a mão para acompanhá-lo. — O bispo estará na cidade na
próxima semana e teremos uma missa linda para comemorar a colheita. É
tradição do castelo fazer parte. Posso contar com sua presença?
Era o primeiro ano sem meu pai e minha mãe parecia muito bem em
Londres. Ela não falava nada sobre voltar para casa. Entendia que devia ser
muito difícil ficar ali depois que ele se foi, até as uvas que plantou secaram,
deixou o vinho de lado, estava focada em ajudar minha irmã com as
crianças e a cuidar da casa. 
— Sim, estarei lá.
— E aquela mocinha que agora vive no castelo? Ela é católica? Soube
que é inglesa, a professora de música. Deve ser anglicana, devido à família
e tudo mais…
— Acho que o senhor já sabe bastante da vida dela. 
Ediwa era anglicana por criação, assim como eu era católico, mas nós
dois tínhamos fé em Deus e não mudava absolutamente nada no nosso
relacionamento. 
— Convide-a para vir. Ela irá gostar. Se fosse católica, poderia tocar.
É talentosa, assim eu soube. — Ele ajeitou o óculos. — Se estiverem em um
relacionamento, lembre-se em não viver no pecado. 
— O senhor tem alguma coisa realmente útil para me dizer?
— Claro. Quero falar sobre Murray. Acabei de sair da casa dos pais
dele, a mãe tem me expressado fortes preocupações sobre a saúde mental do
filho e eu não abriria isso a você se não fosse necessário. Sei que é uma
carga pesada, Simon. Mas não temos psicólogos aqui, precisamos
convencê-lo a ir a Inverness toda semana. 
Parei de andar, imediatamente preocupado porque o tratamento
psicológico era mais do que necessário em uma licença como a dele. 
— E ele não tem ido? É obrigatório. Se ele não for, não poderá voltar
à Marinha.
— Temo que ele não está bem e eu não entendo como funciona, tentei
conversar, mas está além do que eu posso ir. Irei levá-lo essa semana e
preciso que, como amigo, incentive a terapia. 
— Eu vou.
— E obrigado por abrigá-lo na fazenda. Os pais estão muito gratos.
Deus te abençoe pelo seu bom coração, Simon. 
Dei um aceno e o observei ir embora, parando próximo ao meu carro.
Ainda fiquei pensativo e olhei a hora antes de entrar e seguir dirigindo. Fui
devagar por conta das ruas estarem cheias e olhei para Ian Grey me
fuzilando com seus amigos igualmente babacas. Abri um sorriso e acenei.
Era uma pena que a tempestade naquele dia não o fez rolar morro abaixo. 
A cidade inteira já sabia sobre Ediwa e eu, porque não escondemos de
ninguém na fazenda e a fofoca corria rápido por ali. 
Cheguei no castelo no final da tarde, o sol estava forte e ainda teria
muita luz do dia. Parei o carro perto da cozinha para descarregar os
mantimentos que Geillis precisava e senti cheiro de carne refogada, ela
estava fazendo o meu jantar favorito. Roubei um pedacinho de batata, saí
pelo outro lado e parei, contemplando a belíssima visão da mulher que
estava povoando meus sonhos, sentada na grama com três cachorros ao seu
redor, os gatinhos pulando e perseguindo alguma coisa, um livro e a cabra
maluca que sempre a seguia por todo lado.
Pelo menos um tipo de cada bicho a adotou. 
Nem parecia ser uma patricinha da cidade. Usava um vestido claro,
com um avental para poder mexer nas coisas da fazenda sem se sujar e
galochas coloridas nos pés. Tão linda. Luz dos meus olhos. Jogando o
cabelo para o lado, inclinou-se para pegar um pouco de sol e percebeu a
minha presença, abrindo o sorriso que causava um tremor dentro de mim,
que aumentava meus batimentos cardíacos e era impossível de controlar.
Ela acenou timidamente, sabendo que estava sendo paquerada.
Eu estava me encaminhando para falar com o veterinário, mas ficaria
para depois. Primeiro, um beijo na minha mulher atrevidinha, atentada, que
me tirava o juízo e me provocava a todo instante. Ela me deixava de pau
duro o tempo todo. Dormir agarradinho era uma delícia, mas ter sua bunda
esfregando-se em mim era melhor ainda. Sentir sua boceta melada por estar
excitada me querendo era a quebra da minha sanidade. 
Estávamos indo bem, eu não sentia pressa de meter, era um mero
detalhe, seria incrível quando acontecesse no momento em que seu corpo
estivesse pronto para me receber. No passado, talvez, pensasse que seria
preciso sexo para sentir conexão. Ediwa me trouxe algo diferente e eu
sentia necessidade de explorar nosso avanço a cada dia. Sem contar, que
não era algo passageiro, tínhamos todo o tempo do mundo para sua primeira
vez. 
E eu não esperaria muito tempo, mesmo se quisesse. Ediwa era dona
dos próprios desejos e deixava claro o que queria. 
Abaixei ao lado dela, Marsali me deu espaço e sentei. 
— Oi, ogro.
— Ainda com essa, princesinha? 
— Você brigou comigo antes de sair de casa. — Fez um beicinho e eu
a beijei, segurando sua nuca. Ediwa agarrou minha camisa, aprofundando, e
tomei uma cabeçada forte que, mais um pouco, seria derrubado. A cabra
estava com ciúme? — Não faça isso, mocinha!
— Que porra é essa? Vaza daqui, caramba! — Bati na minha coxa e
todos saíram correndo, exceto os gatos… e Marsali. Ela não obedecia
nunca. 
— Machucou? — Ediwa quis olhar minha lateral.
— Estou bem, embora deva sair com uma armadura se todos os bichos
dessa fazenda resolverem ter ciúme de você. E eu não gritei com você, e
sim com essas pragas peludas que vivem dentro de casa, arranhando o sofá.
— Semântica. Eles são filhotes, estou tentando treiná-los. Quando
grita, eles ficam assustados, não é certo. 
— Não é semântica. Deixa de ser dramática. — Beijei sua bochecha. 
Ela não aguentou segurar a personagem por muito tempo e começou a
rir. Mais do que ninguém, sabia que os gatos estavam aterrorizando as
noites do castelo quando não ficavam presos dentro do quarto, dormindo
conosco. E se ficavam dentro, eles não me deixavam dormir, subindo e
descendo da cama, andando nas minhas costas, miando no meu ouvido e
querendo ficar entre nós dois. 
— Foi tudo bem no vilarejo? — Ediwa recostou contra o meu peito,
acariciando meu braço, parecendo feliz. Ela estava ali há alguns meses e
nunca mencionou ir embora. Era como se pertencesse àquelas terras como
eu. 
— Está tudo em perfeita ordem. — Esfreguei o nariz nos seus
cabelos. 
Ela entrou depois de mais alguns minutos e disse que iria tomar
banho, finalmente fui ver meus cavalos na consulta e terminar o expediente
antes de jantar. Encerrei os documentos pendentes no escritório, tirando a
camisa e o restante da roupa no meu quarto. Abri a porta do banheiro e
fiquei feliz com o que encontrei.
— Você demorou. — Ediwa estava nua na frente do espelho,
prendendo o cabelo no alto. — Já tomei banho.
— Normalmente você usa o seu. Sempre corre para o seu quarto ou,
talvez, deva trazer suas coisas para cá definitivamente. — Dei uma cheirada
em seu pescoço. — Gostoso esse perfume, cheirosa… delícia. — Apertei
seu bumbum, dando um tapão em seguida.
— Está dizendo que vamos dividir o quarto a partir de agora?
— Por que não? A não ser que não queira. Penso que é um passo
natural, vivemos no mesmo lugar e isso acontecerá cedo ou tarde. — Eu a
pressionei na pia, apertando seus seios, beliscando os mamilos e mordendo
o ombro. 
— Nunca dividi meu espaço com ninguém. 
— Eu também não. Será um aprendizado para nós dois. 
— Do jeito que adoramos discordar um do outro, será muito divertido.
— Balançou as sobrancelhas, me fazendo rir. Segurei seu rosto, beijei sua
boca e fui tomar banho. 
— Traga suas coisas e pare de discutir comigo. Tem que ter
argumento para tudo.
— Sabe que gosto de ter a última palavra.
Para a infelicidade da minha sanidade, ela não parava de falar nunca.
Ediwa começou a se vestir, usando uma calça de pijama, camiseta e
pantufas. Ela sentou na pia, fazendo o que mais amava na vida: me deixar
tonto ao começar e terminar um assunto sem a minha ajuda. Aquilo não me
irritava de verdade, só me deixava confuso, porque nunca sabia o que
estava falando de fato. E depois, ficava chateada porque eu não memorizava
o que, supostamente, me contou em sua tagarelice.
Sequei-me e me vesti. Quando saímos do quarto, o jantar ainda não
estava pronto e ficamos na sala. 
— Seu coração ainda está fechado para a apresentação em Inverness?
— Ediwa montou no meu colo com uma expressão divertida e relaxei no
lugar.
— Meu coração nunca esteve fechado, só ainda não fui convencido da
necessidade.
— E se eu mostrar meus peitos?
Sem aviso, ergueu a blusa de brincadeira, mas eu ouvi passos e um
ofegar. De repente, minha mãe estava na entrada da sala e Niven passou
correndo. Ediwa abaixou a blusa e fechou os olhos, completamente
mortificada. 
— Acho que finalmente conseguimos pegá-lo de surpresa — Claire
brincou, cobrindo os olhos do filho de brincadeira.
— Eu quero morrer — Ediwa murmurou.
Minha única alternativa foi rir, deixando a minha família ainda mais
aturdida. 
 
 
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Ediwa
Reuni toda a minha coragem para sair do colo de Simon e ficar de pé,
encarando a sua família. Ele passou o braço no meu ombro, com um risinho
nos lábios que eu desejei tirar no soco, e me apresentou como sua
namorada. Claire me deu um abraço, feliz em me ver novamente e Brian
apertou meu ombro, ocupado com um bebê adormecido nos braços. O
menino dos gêmeos sorriu, charmoso, a menina me olhou desconfiada.
A mãe dele o abraçou emocionada, toda chorosa.
— Oh, meu filho! Você está sorrindo! — ela falou baixo, embargada e
ele riu, sem jeito. — Faz tanto tempo que não te vejo rir. E você, Ediwa,
linda. Vem aqui. — Deu-me um abraço apertado também. 
Eu ainda estava querendo me enterrar em um buraco de tanta
vergonha por ter sido pega com os peitos de fora no colo do filho dela.
— É um prazer conhecer a senhora. 
— Por favor, nada de senhora. Me chame de Marsali, Lili ou mãe,
nada de senhora.
— Marsali? — Arregalei os olhos para a cadela deitada
tranquilamente na porta.
— O idiota do Simon colocou meu nome na cachorra porque segundo
ele, não sou obediente. — Ela ajeitou a gola da minha camisa e eu olhei
para Simon, batendo em sua barriga por continuar rindo de mim. 
Virei ao ouvir passos de saltos altos e fiquei confusa sobre quem mais
poderia estar com eles. 
— Meu Deus, esse lugar precisa de um mapa! Eu não achei Ediwa em
lugar nenhum. — Pippa apareceu na sala e eu gritei, pulando ao seu
encontro. Ela abriu os braços e ficamos feito idiotas pela sala. — Surpresa,
amiga!
— Eu não acredito! Você disse que nunca viria me visitar!
— Estava fazendo com que a minha presença fosse mais requisitada.
— Pippa riu e segurou meu rosto. — Está sem maquiagem, com cabelos
ainda bonitos, unhas feitas, ainda tem todos os dentes, sobrancelhas no
lugar. Está com jeito de caipira bonita!
— Deixa de ser estúpida! — Empurrei-a, rindo. 
— Phillipa! — Brian ralhou, exasperado com a irmã.
— Aqui não é o fim do mundo, tem salão de beleza, faço minhas
unhas, escovo os dentes e, pasme, vou ao dentista! — Agarrei suas orelhas
e ri. Pippa cheirava a cidade grande e por algum motivo inexplicável, eu
quis que ela fosse tomar banho ou rolasse na grama lá fora. — Ah, estou
feliz em te ver!
— Estou feliz que conseguimos te surpreender para o seu aniversário.
— Claire abraçou o irmão com o mesmo dengo que eu me refugiava nos
braços de Ethan. Mas foi o que ela disse que me fez virar feito a garota do
exorcista. Simon chegou a erguer as mãos, pedindo calma. — Que merda eu
acabei de fazer sem querer? — Ela fugiu da zona de guerra para o marido.
— Seu mentiroso de uma figa! 
— Opa, briga. — Niven sentou no banco do piano, interessado.
— Família, o jantar está pronto! — Geillis anunciou com alegria e
pelo visto, ela foi a cúmplice de toda aquela surpresa. 
Claire levou esposo e filhos para a sala de jantar, junto à mãe e eu
acompanhei Phillipa até o quarto de hóspedes, fervendo de raiva do Simon.
Ele disse que o aniversário dele estava longe. Uma ova. Iria passar sem que
falasse nada. Esperei minha amiga trocar de roupa, tirar os saltos e a roupa
apertada. Ela prendeu o cabelo e descemos. Encontramos Claire com uma
mamadeira e fralda na mão.
— Por que tem uma cabra no corredor? — ela questionou a Simon.
— Ediwa! — ele grunhiu e lutei para não rir. 
— Ela nem estava te incomodando, tanto que nem sabia da presença
dela.
— Ela não pode dormir aqui dentro. — Ele suspirou, passando a mão
na cabeça. 
— Estava com você o tempo todo e não vi que ela entrou.
Provavelmente foi quando a expulsou de perto de mim por ter te dado uma
cabeçada inocente.— Revirei os olhos e saí, puta. Marsali me acompanhou,
e com isso foi fácil de fazer a cabra nos seguir. Sem pressa, caminhei até o
galpão onde elas ficavam, abri a cerca, mandei que passasse e fechei o
trinco com força, porque as safadas sabiam abrir.
Com um pouquinho de frio, voltei e desviei do galinheiro.
Infelizmente, a porta estava aberta porque Geillis gostava de deixar as
galinhas soltas. Galizé logo me viu e eu corri, era humilhante ser perseguida
por uma galinha. Voltei e bati de frente com Simon. Marsali estava com a
língua para fora, balançando o rabo como se fosse uma brincadeira.
— O que está fazendo aqui? — Eu me desvencilhei dele, tirei as botas
de andar do lado de fora e peguei minhas pantufas novamente.
— Eu não disse que era para levar a cabra lá. Iria fazer isso depois do
jantar.
— Ela entrou por minha causa, então, eu a tirei. — Dei de ombros. 
— Está irritada.
Não era uma pergunta porque já sabia a resposta.
— Por que dizer que seu aniversário estava longe se era mentira? —
Coloquei minhas mãos na cintura e empinei o queixo, ele era mais alto e
precisava saber o quanto estava puta.
— Não gosto muito de comemorar. 
— Sua família inteira veio da Inglaterra para estar com você.
Simon enfiou as mãos nos bolsos.
— Eu não sabia que eles viriam porque, normalmente, nunca estou em
casa ou perto o suficiente para que possam comemorar. 
— Vamos jantar.
Passei por ele e, felizmente, não me impediu. Sentamos para comer e
Pippa com sua alegria exuberante me distraiu, contando todas as fofocas
quentes de Londres. Claire adicionou os comentários certos. Os gêmeos
brigaram, o que causou uma crise de riso nossa, depois a sobremesa os
alegrou novamente. Como todos estavam cansados, ajudei a recolher a
louça com Lully e Geillis, que jantaram conosco como toda noite. 
Fiquei com minha amiga em seu quarto. Ela desfez a mala enquanto
conversávamos.
— Você não tem perdido muita coisa de Londres, as pessoas
continuam babacas e seu plano deu certo. Esqueceram completamente do
pedido desastroso  e já falam de outra coisa. — Pippa tirou um pacote de
roupas para mim. — Trouxe coisas que você andou reclamando que sentia
falta nas nossas conversas. De nada.
— Maravilhosa. E parece que não só a mídia esqueceu de mim.
Ninguém me procura, nenhuma das minhas amigas. 
— O que você tem a oferecer aqui, Ediwa? Nada. Nenhum convite
para uma festa no palácio. Você era um bilhete de ouro que largou tudo para
viver no meio do nada, com um monte de animais, ensinando crianças a
tocar música. — Ela me deu um olhar divertido. — Mal sabem elas que
vive em um castelo lindo, em uma das regiões mais bonitas das terras altas
e com um exemplar de Highlander. 
— Vou te deixar dormir porque o dia aqui começa cedo. Obrigada
pelos presentes. — Dei-lhe um abraço. — Estou muito feliz que esteja aqui.
Existia um lado meu que queria dormir no meu quarto só para Simon
saber que estava muito chateada, mas também considerei que não era muito
maduro e eu não iria entender os motivos dele se nunca conversássemos. Eu
daria aquela chance. Entrei em seu quarto quando já estava tudo escuro,
televisão ligada e os gatinhos enrolados na poltrona. 
Ele estava no centro da cama, sem camisa, com a colcha caída na
cintura. Fui ao banheiro, escovei os dentes e lavei meu rosto, passando o
creme hidratante noturno. Puxei a coberta do meu lado e como não se
moveu, acabei deitando próximo. 
— Sinto muito por te chatear. Não tive a intenção de te magoar.
— Você poderia ter dito que não gosta de comemorar o seu
aniversário, sei que sou tagarela e adoro discutir por tudo, mas isso eu iria
respeitar.
Simon virou de lado e me abraçou.
— Eu poderia e errei. 
— Não gosto de mentiras. Não faz isso comigo, por favor.
— Eu não sou mentiroso, me desculpe por isso. 
Assenti e ganhei um beijo na testa.
— Apenas preciso entender para saber como agir. Sua família está
aqui para o seu aniversário e você não gosta, mas eles querem comemorar.
O que vai fazer?
— Eu não sei. Em outros tempos, iria acampar. 
— Se quiser fugir, estou com você, o importante é não fazer nada que
te deixe desconfortável ou infeliz. — Acariciei suas costas e ele olhou em
meus olhos.
— Faria isso comigo?
— Eu quero que seja um dia feliz mesmo que não goste muito dele,
mas para mim, é o dia que nasceu. É importante. 
Não entendi muito bem a expressão que fez. Ele me beijou
intensamente, de um jeito emocional e cru que fez o meu coração acelerar.
Senti uma coisa diferente no meu peito, uma vontade de chorar e me
entreguei com tudo que tinha no meu ser, de corpo e alma. Era apenas sobre
eu e ele, mais nada no mundo. 
Pegamos no sono bem agarradinhos e senti que no meio da noite ele
estava em um sonho agitado, falando algumas coisas bem
incompreensíveis. Chegando a apertar os dedos no meu quadril. Abri os
olhos, meio assustada e acariciei seu rosto com calma, dando beijos nos
lábios e subindo um pouco mais em seu corpo. Simon acordou, me puxando
e fiquei deitada em cima dele, dobrei meus joelhos e sentei.
— O que foi, está tudo bem?
— Tira sua blusa. Me deixa sentir seu peito contra o meu — falou
baixo, o tom de voz rouco. 
Fiz o que pediu, ficando sem sutiã também e voltei a deitar. Seu
coração estava acelerado. Beijei acima, preocupada, tentando acalmá-lo.
Simon grunhiu, descendo as mãos para minha bunda e apertou, fazendo um
movimento gostoso que acordou minha vontade por ele. Busquei sua boca,
necessitada, nos afastamos com pressa de tirar todas as peças de roupa e
senti que seu gemido ao ter o pau roçando na minha boceta foi sofrido.
Eu o queria tanto que nem pensava direito. Esfreguei-me, buscando
fricção, louca.
— Você sabe o que eu quero agora? — falei contra sua boca, dando
uma lambida em seu lábio em seguida.
— Diga, baby. 
— Você… todo. 
Simon sorriu, me beijou e eu tive certeza de que ele iria satisfazer os
meus desejos sem hesitação. 
 
 
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Ediwa
Simon me deitou com delicadeza na cama e distribuiu beijos calmos
pelo colo dos seios, provocando meus mamilos. Eu sorri para sua calmaria,
um contraste do meu coração, que era um retumbar forte e apaixonado.
Observei suas mãos passearem pelo meu torso com fascínio, indo até entre
minhas pernas e afastei meus joelhos para recebê-lo. Soltei um gemido de
pura apreciação com o primeiro toque dos seus dedos nas minhas dobras
sensíveis. 
Ele me beijou, tomando meus sons mais puros, enquanto me
estimulava cada vez mais. Tremi e agarrei seu braço, ondulando o quadril
por querer mais e procurei sua boca. Eu amava aquele corpo torneado e
grande, que me passava segurança e era uma beleza aos meus olhos. Suas
cicatrizes eram apenas detalhes. Deitado de lado, me encarou e assenti,
mais do que pronta. 
Deu uma boa mamada no meu seio, soltei um gemido mais alto e
ergui o quadril, buscando fricção. Arranhei sua nuca, puxando-o para mim. 
— Diga que você é meu — pedi, olhando para seu rosto bonito.
— Não existe uma mínima parte minha que não seja sua, Ediwa. 
Posicionando-me de lado, ele colocou minhas pernas unidas e
dobradas à frente com meu bumbum empinado em sua direção. Senti seu
pau contra minha entrada e apesar de nervosa, não podia deixar de provocá-
lo, então dei uma rebolada. Ele mordeu meu ombro, empurrando dentro
devagar e fechei os olhos, entendendo que aquela invasão era… nossa. Ele
parou e respirei fundo, me acostumando. Virei meu rosto, beijando-o e
pedindo para se mover. 
O começo não foi nada agradável e algumas lágrimas se acumularam
no canto dos meus olhos, mas depois, o calor dele, as mãos grandes, os
grunhidos suaves no pé do meu ouvido e os dedos insaciáveis massageando
meu clitóris, tornou tudo melhor. Eu sabia que não iria gozar, mas a emoção
da nossa primeira vez me fez chorar, nunca me senti tão magicamente
conectada a uma pessoa antes. Era como se eu fosse uma peça solta no
universo e finalmente havia encontrado o meu encaixe perfeito.
Ele gozou e continuou me segurando, não queria soltá-lo nunca mais.
Meu coração parecia bater no mesmo ritmo que o dele.
Toquei seu rosto, Simon pegou meu pulso e beijou a palma, dando
uma mordidinha no meu dedo, me fazendo rir. Não queria levantar, me
mover parecia uma péssima ideia.
— Quando viu Phillipa hoje, sentiu saudades de Londres?
— Simon, bobinho. Espero que tenha paciência para me aturar por
muito tempo. — Abri um sorriso contra o seu pescoço.
— Que bom. Já estava pensando em argumentos para te fazer ficar,
nem que eu mandasse construir um shopping center.
— Não. Eu não quero mais aquela vida. — Afastei-me um pouco para
olhar em seus olhos. — Quero essa aqui com você. Não existe outro lugar
no mundo que eu pertença. 
— Sou louco por você. 
— Tudo bem. Eu também sou louca e maluquinha por você. — Selei
aquela sentença com um beijo e fechei meus olhos, adormecendo, amando a
sensação de segurança e carinho. 
Acordei sozinha na cama e era muito cedo. Bem, não tão sozinha.
Três gatos safados estavam embolados aos meus pés. Ergui meu rosto,
sonolenta e olhando ao redor, encontrei uma florzinha e um bilhete ao lado
da cama, ali dizia que ele precisou verificar os sensores de uma cerca e
voltaria a tempo do café. Não queria que eu acordasse sem ele. Fofo. Eu
entendia que não me deixaria na cama se não fosse importante.
Levantei e xinguei, puta que pariu, tudo doía. Um trator ruivo passou
por cima de mim… e eu estava louca que passasse de novo. Rindo, tomei
banho e andei pelos corredores feito ninja, entrando em meu quarto. Mais
tarde, pediria ajuda a Lully para fazer minha mudança. Escolhi uma calça
jeans que minha mãe disse para jogar fora antes de me mudar por já ter
visto dias melhores e eu guardei mesmo assim, prevendo o futuro, pois era
ótima para andar no mato. 
Vesti minhas botas ugg e fiquei na dúvida da camisa, não sabia como
o tempo iria reagir. Escolhi uma de alças finas, que não precisava de sutiã
por ser bem justa, e peguei um dos meus novos aventais coloridos,
prendendo o cabelo com um laço de tecido combinando com o look.
Perfeito. Complementei com uma maquiagem básica, que significava
protetor solar de cor, um blush, gloss e um pente nas sobrancelhas. 
Desci cantando animada e a cozinha já estava cheia. Claire dava café
aos filhos, enquanto amamentava um. Brian fazia ovos. Geillis preparava
pão. Lilli estava lavando frutas. Lully me puxou no cantinho.
— Oi, bom dia! Posso pegar suas coisas? O patrão pediu para te
ajudar com a mudança, mas sei que com a família dele aqui, vai querer dar
atenção e tudo mais.
— Eu adoraria.
— Farei rapidinho, sei onde guardar tudo.
— Obrigada! Ah, não esqueça que vamos escolher o tecido para
fazermos mais saias juntas.
Lully abriu um sorriso enorme. Ela fez uma saia linda com as cores do
castelo para mim, que usei no dia da cerveja, fez tanto sucesso que eu
queria mais peças. Era uma costureira magnífica. Desejei bom-dia a todos e
Geillis me pediu para ajudar no preparo de biscoitos amanteigados de
limão-siciliano, que ela já tinha me ensinado a fazer. Peguei o livro de
receitas e comecei a separar os ingredientes. 
Pela janela, vi Simon caminhar com Murray, ambos pareciam sérios.
Fiquei observando a conversa até ser pega e abaixei o olhar, fingindo que
não estava sendo fofoqueira. Percebi que a sobrinha de Simon não parava
de me olhar enquanto a mãe conversava comigo, ajudando a ralar o limão.
Brian estava com o bebê no colo, que era lindo, me enchia de vontade de
apertar as bochechas. 
— O que tanto olha para Ediwa, filha? — Brian quis saber, divertido.
— Ela parece a Bela. — Leonor respondeu com sua voz fofa.
— Bela? — Eu fiquei confusa.
— Bela de A Bela e a Fera. — Claire me esclareceu. — Então, o tio
Simon é a Fera?
— Quando está bravo, é. — Niven soltou risadinhas com a irmã.
Pestinhas. 
Simon entrou na cozinha e parou na porta.
— Eu sou a Fera? 
— Não, titio. Você é o príncipe. — Leonor soprou-lhe um beijo.
— Espertinha. — Ele passou e puxou a trança dela, parando atrás de
mim, dando um cheiro em meu pescoço e um monte de beijo que me fez rir.
Ele nem se importou que tínhamos plateia. — Bom dia. 
— Quanto chamego, solta a menina! Ela tem que fazer biscoitos! —
Claire o empurrou, sendo implicante e Simon não me soltou.
— Estou muito bem aqui. Não vou atrapalhar. — Simon continuou
atrás de mim, abraçadinho, hora com o queixo na minha cabeça, ou com as
mãos enfiadas nos bolsos do meu avental. Terminei os biscoitos, que eram
fáceis, deliciosos de fazer e os favoritos de Simon. Ele comia um tabuleiro
inteiro sozinho, por isso fiz questão de aprender. 
Eu não sabia se era a primeira namorada que ele apresentava à família,
porque a mãe e a irmã não conseguiam parar de rir e olhar na nossa direção
como se fôssemos um acontecimento raro. Na minha família, seria como
um evento, porque Daphne estava louca para me ver pessoalmente e fazer
muitas piadas. Ethan entrou no modo irmão mais velho, porém, a parte boa
de ser a irmã caçula era que ele já tinha muitos cabelos brancos e estava
bem mais calmo do que quando foi a vez de Daphne. 
Geillis arrumou a grande mesa para o nosso café e como sempre, a
maioria dos funcionários comia conosco, pelo menos aqueles que
trabalhavam dentro do castelo, e fiquei feliz que aquela tradição se
mantinha mesmo com a mãe dele ali. Afinal, ela era a senhora e recém-
viúva, infelizmente. 
— Você está bem? — Simon me parou antes de nos juntarmos aos
outros.
— Estou perfeita. Senti sua falta na cama, do nosso chamego matinal.
— Abracei-o e ele me ergueu do chão, estalando minhas costas. Ri,
balançando as pernas. — Foi tudo bem nos sensores?
— Provavelmente caíram. Só não tenho certeza ainda. — Ele beijou a
pontinha do meu nariz. — Queria ter ficado mais na cama, foi horrível sair
e te deixar. 
— Amei a flor.
— Que bom. Fiquei com medo que as pragas comessem.
— Eles não comem, só gostam de enfiar as unhas nas suas coisas. 
Era incrivelmente delicioso ficar nos braços dele, fomos comer e
depois ele foi trabalhar. Consegui tirar Pippa da cama com dificuldade e
ameaça de água gelada. Claire colocou roupa de banho nas crianças e eu os
molhei na mangueira enquanto dava banho nos cachorros, nos gatos, todo
mundo ficando limpo para Simon não reclamar porque eu gostava deles
dentro de casa. 
Mais uma vez me distraí, observando Simon e Murray conversando
com mais homens. Ele parecia passar ordens, segurando uma folha grande e
a apoiou na mesa, fazendo círculos com o lápis. Não pareciam funcionários
da fábrica e muito menos da cervejaria, eles não circulavam pela fazenda e
muito próximo do castelo, eram áreas fechadas e precisava de um cartão de
acesso que nem eu tinha. 
Claire também estava olhando, de cenho franzido, depois, Simon
entrou e ficou um tempão sem aparecer. Soube por Lully que havia pessoas
do banco em uma reunião no escritório e deveria ser relacionado à fazenda
ao lado, que estava abandonada e ele queria muito comprar. 
— Sabe se está acontecendo alguma coisa que devemos nos
preocupar, Ediwa? — Lili parou ao meu lado quando estava secando o
último cachorro. — Simon não vai nos contar. Ele tem a tendência a nos
proteger de tudo.
— Ele não me falou nada preocupante, são apenas negócios e a rotina
da fazenda. Tenho certeza que, se for sério o suficiente, não vai esconder,
mesmo com sua mania de proteção. — Eu o defendi, porque até aquele
momento, por mais que estivesse um pouco desconfiada, não havia nada de
mais. Ele era o chefe, tinha o direito de fazer o melhor sem ficar dando
satisfação o tempo todo.
— Sempre fiquei pensando como seria a mulher que Simon se
envolveria e nunca passou pela minha cabeça…
— Alguém como eu? 
— Algo me diz, Ediwa… — ela apertou minhas bochechas —, que
você só é pequena, mas tem um ar de brava. Vai deixar o meu grandalhão
na ponta dos pés.
— Mas a senhora está bem com isso? Quer dizer, não sou experiente,
é a minha primeira vez e eu sei lá, pensei que mães ficavam receosas e com
medo das noras. — Franzi o cenho. Eu só tinha como exemplo minha mãe,
que armou para Charlotte casar com meu irmão, e Victória, que fez a vida
de Khloé um inferno enquanto pôde. 
— Eu sei que criei aquele menino para se tornar um homem honrado.
E ele não estaria com você se não quisesse, se não fosse para ser. — Ela
sorriu de uma maneira doce que aqueceu meu coração. — Sou grata porque
meu marido e eu recebemos dois presentes, Simon e Claire são adultos
incríveis e eu confio cegamente no julgamento deles. Espero que seja feliz
aqui, que vocês dois construam uma história linda, assim como eu construí
com meu marido.
— Esse lugar parece até mágico. 
— É um castelo. É onde acontecem os contos de fadas. — Ela piscou
e me deu um abraço apertado, que me deu saudade da minha mãe, porém,
eu tinha que admitir que ela teria um pouco mais de dificuldade de aceitar o
meu relacionamento. Por enquanto, estava bom ficarmos longe uma da
outra.
 
 
CAPÍTULO VINTE E CINCO
Simon
Era a primeira vez que estava na missa da colheita em anos e o
primeiro ano sem meu pai. Toda minha família estava presente. Claire e o
marido, Brian, com os gêmeos e o bebê Daniel. Eles usavam cores em
homenagem ao castelo, que teve uma excelente colheita no primeiro
semestre. Mamãe estava na frente, sentada com as senhoras, também
usando um xale xadrez aveludado que Ediwa costurou e deu a ela.
Ao meu lado, seguindo a cartilha da programação, ela usava um
vestido magenta, sapatos fechados e altos, uma tiara xadrez e batom do
mesmo tom da roupa. Ao contrário do que muitos pensavam, não era a
primeira vez dela em uma igreja católica. Ethan acabou convertendo-se ao
catolicismo depois do casamento, para se tornar mais fácil acompanhar
Charlotte nos eventos oficiais da igreja.
Sempre que estava em temporada em Rainland para acompanhar o
irmão, ela ia à missa. Era bem provável que as senhoras estivessem de
queixo caído. Segurando meu braço, deu-me um sorriso e beijei o topo de
sua cabeça, voltando a olhar para frente, desconfortável por não estar nos
fundos da igreja sem ter uma ampla visão de todos. Eu podia não estar mais
ativo, porém, meu sexto sentido implorava para que eu olhasse ao redor,
farejando alguma presença incômoda.
E não era somente Ian Grey. Esse cuzão estava a minha esquerda com
cara de poucos amigos, parecendo um marido trocado, sendo que Ediwa
nunca lhe deu esperanças de nada além de amizade e nem a isso chegaram.
Estalei meu pescoço, tentando me mover sutilmente e Brian me olhou,
querendo saber se estava tudo bem. Não tinha como saber e a missa parecia
não acabar nunca.
As crianças foram cantar e aproveitei para me virar, cumprimentei um
vizinho, dei uma rápida olhada e entendi o que tanto me incomodava.
Murray inclinou a cabeça, provavelmente tendo o mesmo pensamento que
eu. Meu amigo estava em pé, não havia mais lugares, então havia encostado
na parede. Pouco antes dos últimos bancos, estava um grupo de homens que
nós não conhecíamos e eles não tinham ar de turistas. 
Voltei a sentar. Ediwa batia palmas animada e acenava para seus
aluninhos. 
— Está tudo bem, meu amor? — Ela virou brevemente e, porra, ouvir
aquelas palavras de sua boca no dia do meu aniversário era o único presente
que eu precisava. 
— Estou ótimo.
Sorrindo, voltou a cantar e se empolgar. Niven quis sentar no colo
dela. O garoto era esperto, já fazia charme para ter a atenção de mulheres
bonitas. Ganhando um beijo na bochecha, abriu um sorriso enorme. Enfiei
meu dedo em seu ouvido, provocando. Era gostoso ver a minha família
relacionar-se bem com Ediwa, não que eu tivesse chegado a pensar que eles
a rejeitariam. Minha mãe sempre foi doce e acolhedora, ela nunca se
intrometia na nossa vida, era brava pra cacete, mas só ganhávamos sua ira
se estivéssemos errados.
Nunca apresentei uma namorada antes (até porque não tive uma),
sequer apareci com uma mulher e meus pais sabiam que minha vida sempre
foi o trabalho. Vivendo em missões perigosas, não tinha a coragem de
alguns companheiros de deixar uma esposa em casa com a incerteza de
voltar. Quando aconteceu o acidente com os príncipes, eu já tinha esse
pensamento, mas depois… 
Apertei o joelho de Ediwa, lembrando onde estava, para expulsar o
pensamento. Ela colocou a mão em cima da minha, completamente
ignorante ao caos que estava passando e apertou meus dedos, pedindo para
virar e entrelaçou aos dela. Respirei fundo, acalmando as batidas do meu
coração, sentindo como se ela me puxasse para fora do pesadelo. Niven
ergueu o rosto e sorriu para mim.
Minha vida mudou quando os gêmeos nasceram. Claire padeceu, foi
humilhada, sofreu muitas fofocas e deu a volta por cima, tinha uma família
linda e uma carreira de sucesso. Eu tinha orgulho da minha irmã e a amava
muito. Sempre faria tudo por ela e por sua felicidade, mas, estava em paz
porque ela havia encontrado o homem da vida dela. 
Quando a missa acabou, dei graças a Deus e me perguntei se aquilo
era blasfêmia. Ediwa me deu uma cotovelada por parecer feliz e voltei a
ficar sério. Esperei minha mãe despedir-se da cidade inteira e fiquei parado,
recebendo cumprimentos, apresentando Ediwa oficialmente como minha
mulher, não somente namorada. Ela era muito mais. Ethan me perguntou
quais eram as minhas intenções com Ediwa, porque nunca namorei
ninguém, sempre foram transas e ele era um dos meus melhores amigos, me
conhecia muito e sabia que não me envolvia emocionalmente.
Eu também tinha irmã e entendi o medo dele. Ele temia que não
houvesse em mim sentimentos por sua irmã, alguém que ele queria proteger
a todo custo. Mas como amigo, pareceu aliviado. Todos eles. Liam[10]
brincou e disse que compraria passagens para vir me ver, quem sabe, em
uma época que os sinos da igreja tocassem. 
Ediwa era mulher para casar. Eu sabia que esse seria o nosso futuro. 
— Acho que sua mãe finalmente terminou. Geillis já disse que a
comida está pronta e a sobremesa será bolo. Vai assoprar as velas e fazer
um pedido? — Ela parou na minha frente, ajeitando minha roupa. Estava
formalmente vestido de acordo com a tradição do castelo. Era um ritual
bonito, de kilt, o que a divertiu bastante e a fez querer tirar muitas fotos. 
— Eu já tenho o meu presente. — Inclinei-me e dei-lhe um beijo.
Ouvimos palmas e nos afastamos. Ian estava se aproximando com a
família. Eu respeitava o pai dele e a doença, e ele estava se aproveitando
disso para me provocar tão abertamente.
— Não é um casal lindo?
— Claro que sim, meu filho — sua mãe respondeu alegre e ignorante
da maldade. — Está linda, Ediwa.  
— Obrigada, senhora Grey. Como vai, senhor Grey?
— Melhor a cada dia, menina.
Os três passaram e eu me vi enforcando-o, mas Ediwa voltou a me
beijar de forma divertida. Boa tática de distração. Mamãe finalmente
apareceu, ela ia embora com minha irmã após o almoço e queria fofocar
com as amigas, respondi que ela devia ficar mais tempo. Sem meu pai, ela
se recusava a ficar longe dos netos, afirmou que se eu engravidasse Ediwa
antes de um casamento, faria o funeral do meu pênis. 
Levei as duas para o carro, minha irmã já estava em casa há muito
tempo e Pippa nem se deu ao trabalho de sair da cama para ir à missa. Ela e
Ediwa beberam um monte de garrafas de vinho até tarde, ficaram trocando
as palavras e cheias de risinhos, perturbando meu sono. 
Murray estava no alto de um morro, de olho no grupo, e me deu um
aceno. Eles andavam em direção a um restaurante que era um point favorito
de turistas, tinha muitas avaliações na internet. Só que precisavam ser mais
discretos. Estavam forçando demais. Entrei e saí de diversos países sem ser
notado. Já fui pego, mas comparado a todas as vezes, tive muito sucesso
com meu tamanho e característica única. 
Dirigi para a fazenda ouvindo minha mãe falar muito com Ediwa.
Estacionei dentro da garagem, sem pretensão nenhuma de sair novamente e
levei os cachorros para dentro porque era uma batalha perdida com ela. Eles
dormiriam na sala. A cabra, ela nunca iria me convencer. Nunca. Já
bastavam os gatos. 
— Está acontecendo alguma coisa, Simon? — Ediwa me parou ainda
na sala de entrada. — Eu vi a troca de olhares com Murray. Confio que vá
me contar se algo estiver errado, mas sinto uma preocupação em você.
Olhei para o corredor porque ainda não queria preocupar minha mãe,
mas podia compartilhar com minha mulher.
— Acho que os sensores não caíram e sim, foram derrubados como
um teste, para ver como a defesa da fazenda funciona. São muitos hectares,
antes, era fácil roubar aqui. Meu pai levava semanas para se dar conta de
que suplementos foram levados, agora, eu tenho tudo conectado por satélite,
sensores muito sensíveis e caros. — Esfreguei seus braços que ficaram
arrepiados. — Estou desconfiado de um grupo de homens que dizem ser
turistas.
— Eles podem ser os saqueadores daquela noite?
— Talvez. Estou analisando cuidadosamente, ninguém sabe quem eu
sou aqui, o tempo que Murray e eu ficamos fora, as pessoas pensam que foi
um trabalho simples na Marinha. Para todos, Murray é serviço
administrativo e eu, alguém que ficava em Londres, trabalhando. 
Ediwa sabia que eu fui muito mais do que um fuzileiro. 
— Tome cuidado, Simon. Ladrões desconhecem limites e eu sei que
existe um lado seu que também foi treinado para ignorá-los. — Ela segurou
meu rosto e me deu um beijo. — Confio que vamos ficar bem e não
esqueça, que apesar de gordinho e barrigudo, temos um chefe de polícia e é
ele quem tem que investigar.
— Ele não pode fazer nada, por enquanto, minha propriedade é
privada. Se invadirem, vão ter que lidar comigo. 
— Tudo bem, vamos trocar de roupa e comer. — Ediwa deu um
tapinha no meu peito. Não seria a última vez que iríamos falar sobre aquilo
e provavelmente, discordar. Como era meu aniversário, não queria brigar.
Uma vantagem no dia. Agarrei sua bunda, chamando-a de gostosa baixinho
no ouvido e beijei-lhe o pescoço. 
Amava a minha família e fiquei muito feliz com a visita, mas queria
ficar sozinho com ela novamente, para ganhar exibição de peitos no sofá e
namorar na cama sem preocupações de termos que dar atenção aos outros.
Por mim, era só subirmos e tirar a roupa, ainda tinha que mostrar que sexo
era divertido e não somente dolorido como da primeira vez. 
— Para de me olhar assim. — Ela me acusou.
— Assim como, mo luachmhor?
— Com essa cara de que quer estar com o pau na minha boceta de
novo. — Mordeu o lábio rindo e saiu correndo. Atrevida.
— Não posso disfarçar algo que realmente quero.
— Pervertido — falou sobre os ombros e me chamou com o indicador.
— Vou tirar a minha roupa… quer me convencer a fazer alguma coisa
divertida?
Não daria tempo, mas eu não perderia a oportunidade de vê-la nua. 
 
 
CAPÍTULO VINTE E SEIS
Ediwa
Leonor e Niven estavam em cima das cadeiras, inclinados no bolo, e
Simon segurava o bebê Daniel enquanto cantávamos parabéns. Ele não
queria nada daquilo e eu sabia que o olhar triste, escondido na máscara de
felicidade, tinha uma história. Mas ele era um filho exemplar que nunca
magoaria a mãe ansiosa para comemorar, nem decepcionaria a irmã que fez
o bolo com todo empenho e jamais tiraria a alegria dos sobrinhos em
assoprar as velas.
— Tem que fazer um pedido, titio! — Lenny pediu, animada.
Simon a olhou com amor e depois, em meus olhos, assoprando. Eu
estava irrevogavelmente apaixonada por ele. 
— Feliz aniversário, meu irmão! Meu herói! — Claire pulou nele.
— Hora da foto de família! — Phillipa estava com a câmera
registrando tudo.
Posamos de diversas formas e já estava ansiosa para recebê-las.
Cortamos o bolo delicioso, foi uma ótima sobremesa. Claire arrasou na
escolha do recheio, creme branco com frutas vermelhas, incrível. Simon me
puxou para seu colo e lhe dei um beijinho com a boca um pouco suja da
cobertura de chocolate branco. 
— Feliz trinta e quatro, baby.— Esfreguei meu nariz no dele.
Sorrindo, colou os lábios nos meus e a ciumenta da Leonor quis
atenção, então deixei que ele passasse o restante do tempo explodindo meus
ovários, sendo um tio muito legal. Cada vez que ele segurava o bebê com
familiaridade, pensava no quão incrível seria como pai. E nossos filhos
seriam lindos. Como não surtar? E eu nem queria engravidar!
No final da tarde, nos despedimos da família na porta do castelo e
fiquei um tempão abraçada a Pippa. O gesto dela de vir me visitar foi muito
importante e provava o quanto valorizava a nossa amizade. Nada
programado e ainda assim, perfeito. 
Acenamos até o momento em que o helicóptero sumiu, levando-os
para o aeroporto e assim, seguiriam para Londres. 
— Enfim, sós. — Segurei a mão de Simon e o levei para dentro. —
Como eu não tive tempo de sair e comprar um presente, preparei um e
espero que goste.
— Você não precisa me dar um presente, Ediwa — ele reclamou,
andando atrás de mim. — Sabe que não faço questão dessas coisas.
— Eu faço e vou jogar na sua cara. — Dei de ombros e ri. —
Brincadeira. Mais ou menos.
— Você é muito pentelha. — Deu um tapão na minha bunda e até
pulei, rindo alto e esfregando o local. Levei-o para a sala que tinha o piano
e mandei que sentasse no sofá. — É para cobrir os olhos? Por favor, me
diga que é uma dancinha sensual.
— Não sou boa em dançar, mas vou deixar isso em mente. — Dei-lhe
um beijo e fui para o piano, erguendo a tampa e estalando os dedos. —
Compus uma canção para você.
Simon arregalou os olhos, surpreso, e inclinou-se para frente com os
lábios ligeiramente entreabertos. 
— Sério?
— Espero que goste.  
Aprumei minha postura e comecei a tocar. Era um som que começava
sombrio, distante, algo que trazia vazio e desconforto inicialmente, então a
melodia mudava de forma sutil para algo mais agudo, mostrando um lado
implicante, com toques mais fortes, de proteção e por fim, transformei em
algo completamente romântico porque sentia toda sua paixão por mim.
Terminei e tomei um susto, ele estava ao meu lado e me pegou, erguendo-
me do banco, todo bruto em um abraço desajeitado.
— Você gostou?
— Eu amei! Obrigado, foi tão bonito que me deu uma ideia!
— Qual?
— Eu preciso de um novo algoritmo e nunca pensei em notas
musicais! Amor, você é um gênio! — Deu-me um beijo super empolgado.
— Obrigado! Eu amei tanto! Quando poderá tocar de novo?
— Quando quiser, mas gravei também, posso enviar para o seu
telefone. Aqui não tenho como melhorar a qualidade. Teria que enviar para
um amigo em Londres que tem um estúdio… — Ele me deixou em pé em
cima do banquinho. 
— O que precisa para ter um estúdio e trabalhar nas suas músicas
aqui? Espaço não falta, podemos criar um em uma das salas, ser em anexo a
um escritório aqui perto…
Meu presente queimou o cérebro do homem, era o poder da música,
eu conhecia bem o efeito, tanto que amava muito o que fazia e tinha
orgulho da minha profissão.
— Simon? — Segurei o seu rosto. 
— Sim? — Ele parou de tagarelar. 
— Foi só uma música, baby.
— Não foi nada, foi o meu presente e eu amei. Se eu quiser dar um
estúdio para minha mulher, nada vai me impedir. 
— Sua mulher, é? — Mordi o lábio, toda lisonjeada. 
— Diga que é toda minha. 
— Sou toda sua. — Beijei-o, abraçando bem apertado. 
Infelizmente, o rádio tocou e ele precisou sair para ver um problema
nos estábulos, era domingo, mas não significava que a fazenda parava por
ser um dia mais tranquilo. Fui até a cozinha beliscar mais um pedaço de
bolo, comi biscoitos e liguei para minha mãe. Seu semblante estava mais
iluminado, parecia animada ao falar do evento que foi na noite anterior. Era
hora de contar sobre Simon. Estava dividindo o quarto com ele, aquilo
significava mais do que beijos, era uma vida, um relacionamento que já
falávamos a longo prazo e eu não tinha pretensão de ir embora, mesmo sem
ter começado meu ano letivo.
— Mãe, preciso te contar uma coisa. 
— O que foi, querida?
— Você lembra do Simon, o amigo do Ethan?
— Claro que sim. Ele salvou a vida do seu irmão, como poderia
esquecê-lo? 
— Nós estamos envolvidos. Quer dizer, estamos juntos.
Mamãe parou de andar, mexendo em suas coisas e olhou para o
telefone, pegando o óculos e colocando-o na ponta do nariz.
— Ele não é muito mais velho que você, Ediwa?
Parei e ri com o olhar severo dela. Poxa vida, mamãe esqueceu que ele
poderia ter sessenta anos que não faria diferença, considerando que eu já era
maior de idade?
— Um pouco, mas é jovem o suficiente para não ser chamado de
daddy — brinquei e para minha surpresa, ganhei uma risada de volta. —
Aconteceu de forma natural, não muito esperada, porque no começo, apesar
de achar bonito, não pensei nele dessa forma até que as coisas foram
evoluindo. 
— Isso é inesperado. Quer dizer, saiu daqui fugindo de um pedido de
casamento com um homem elegível e imaginei que seria a última coisa na
sua mente. — Ela sentou na ponta da cama e ficou olhando para a tela. —
Mas parece que as recentes conversas com sua irmã fazem sentido agora.
Daphne estava me preparando.
— Ah, entendi. Mãe… 
— Oi, querida.
— Simon é um homem incrível e muito honrado. Ele é bom comigo,
faz com que eu me sinta segura e aqui… é o meu lugar no mundo. Lembra
de todas as vezes que você me dizia que o abraço do papai te fazia sentir
como se fosse o seu lugar?
Ela se emocionou, assentindo, tirou os óculos e secou os olhos.
— Finalmente entendo. Nunca fez sentido antes e… é tão forte. 
— Ah, Ediwa… 
— Estou apaixonada por ele, mãe.
— Tudo bem, tudo bem. O primeiro amor assusta, viu? Mas tenha
maturidade, relacionar-se assim, logo morando junto, é difícil. Tenha
paciência, cuidado, seja menos competitiva, não discuta por tudo e pare de
querer disputar todas as coisas — ela me orientou e comecei a rir. Tarde
demais. —  Eu conheço meus filhos, sei como vocês são, puxaram o pai.
Aí eu não aguentei e soltei uma gargalha altíssima. 
— Comporte-se como uma dama, Ediwa. E agora, voltando ao
assunto. Seja sábia e paciente, o amor é uma boa coisa, mas conviver a
dois não é um mar de rosas. Existem altos e baixos, momentos dolorosos
em que vocês precisam ser o apoio um do outro. Sozinhos aí, devem
entregar mais do que paixão e sim, amizade. Sejam melhores amigos. —
Ela foi sincera e fiquei tocada. Estava com medo de receber uma bronca e
ganhei compreensão. — E eu sei porque você demorou a me contar,
Daphne estava conversando comigo sobre você ser uma mulher adulta
agora. Não vou dizer que é fácil aceitar que minhas filhas não vivem o que
sonhei para elas, mas sua irmã está certa, a vida dela é muito melhor do
que os meus sonhos e a sua também será. 
Santa Daphne, toda acidez e briga dela valiam a pena. Eu amava a
minha irmã um pouco mais a cada minuto.
— Quando poderei conhecê-lo?
— A senhora gostaria de vir me visitar?
— Eu verei uma data e combinamos com calma. Te amo, minha
menina.
— Também te amo, mamãe.
Encerramos a chamada e enviei uma longa mensagem para minha
irmã, agradecendo por ser tão incrível e companheira. Coloquei meu
telefone para carregar, fiz um momento de spa sozinha no quarto,
hidratando meu cabelo e me depilando, coloquei um pijama e me deitei na
sala com meus bichos, junto a um livro, para finalmente aproveitar meu
tempo livre antes das aulas começarem. Eu já tinha boa parte do projeto
pronto, uma reunião com o vigário agendada e muitos argumentos na
manga. Ele não gostava de mim por ser anglicana, porém, gostou de me ver
na missa bem cedo. 
Eu sabia que iria convencer um a um, incluindo Simon, o mais difícil
de todos. Oh, homem complicado.
 
 
CAPÍTULO VINTE E SETE
Ediwa
Simon me acordou com um solavanco na cama. Sentei e acendi a luz,
encontrando-o suado, com o maxilar trincado e as mãos fechadas em
punhos. Toquei seu peito e ele saltou, mas sem despertar, o que me deixou
preocupada. Ajoelhei na cama, sacudindo-o, balançando seu corpo grande,
chamando, quase entrando em desespero até que seus olhos abriram e
finalmente, focaram em mim. Assustado, olhou ao redor, passando a mão
no rosto. 
— Foi só um pesadelo, você está em casa e está bem. — Segurei sua
mão e percebi o quanto estava gelada. — Ei, olhe para mim.
— Eu te machuquei? — Ele estava apavorado.
— Claro que não, Simon. Só não acordava e fiquei preocupada. —
Passei minha mão em seu rosto, secando o suor, estava todo molhado. —
Quer tomar um banho para se acalmar? Vou pegar água!
Simon saiu da cama e notei que seu lado estava molhado. Tirei o
lençol e troquei com um pouco de dificuldade. Ele saiu do banheiro e me
ajudou, peguei água no frigobar do escritório que estava mais fresca que a
do quarto e voltei. Ajoelhei na cama, abraçando-o por trás e beijei sua nuca,
falando baixinho que ficaria tudo bem. 
— Quer conversar sobre o que sonhou? Talvez ajude.
— Não quero te assustar. — Ele beijou a palma da minha mão.
— Entende que estarei aqui para sempre, certo? Em algum momento,
vamos precisar conhecer um ao outro ao ponto de que isso será irrelevante.
Pode me contar, Simon. 
Deitando-se, ficou olhando para o teto e continuei de joelhos,
olhando-o.
— Eu fui pego uma vez — falou com angústia. — Estava distraído
porque era meu aniversário e meu telefone, apesar de não ser indicado usar
naquele dia, não parava de tocar. Queria estar com a minha família, era uma
missão que tinha tudo para ser tranquila, era um país que não considerei
todos os perigos… 
— Sinto muito, meu amor.
— Eles me pegaram e me jogaram em uma cela fria, torturando minha
vida, minha alma e minha existência por um ano… doze meses. — Ele
olhou para a tatuagem em seu braço e entendi. Doze riscos e um traço em
cima, depois, parecia que ele quis apagar aquele momento, criando um
monte de outras linhas em cima. — Um dos prisioneiros fugiu e foi
resgatado em um posto da Marinha, ainda não tinha sido dado como morto
para minha família porque eles não faziam ideia do que estava acontecendo,
se eu me infiltrei, se fiquei sem dar notícias de propósito, era esperado que
completasse a missão em dois anos, então… 
— Somente quando esse prisioneiro fugiu que eles souberam que você
estava preso e vivo — concluí, sentindo uma dor no coração por todos os
horrores que ele viveu e sem esperanças de que um dia poderiam encontrá-
lo.
— Sim. Eu estava muito ferido e doente, parecia miragem quando vi
meus companheiros chegando para me buscar. Nem acreditei quando Liam
apareceu na minha frente, foi a última missão dele, o meu resgate. —
Simon moveu o rosto e me olhou. — Eu fui pego e encontrado no dia do
meu aniversário. Liguei para minha família como se nada tivesse
acontecido, todo fodido em um hospital, falando com minha mãe toda
chorosa, dizendo que estava trabalhando em algo difícil e voltaria para casa
em breve. Eu tive que mentir porque ela não aguentaria a verdade. 
Cheguei um pouco mais perto e coloquei minha mão acima de seu
coração.
— Não consigo imaginar que será possível esquecer o que viveu lá,
mas só posso te dizer que está aqui, em casa, vivo e com uma chance
incrível de poder comemorar seu aniversário muitas vezes com a benção de
ver seus sobrinhos crescerem, fazendo parte da vida sua irmã, sendo
mimado por sua mãe e ainda poder passar os últimos de anos de vida do seu
pai bem perto. — Eu me inclinei e beijei seus lábios. — Eu sinto tanto por
essa dor, Simon. Mas quero que olhe para um horizonte diferente, onde o
sol nasce e se põe com a sua vida sendo celebrada. 
— Eu sei, só não é tão simples. Me desculpe por te assustar. — Ele
abriu os braços, sorriu e me aninhei ali, apagou as luzes e voltamos a
dormir com mais tranquilidade. Ele também não teve mais pesadelos. 
Na manhã seguinte, parecia alegre, calmo, foi trabalhar com um
semblante tranquilo e eu tentei esquecer o que me contou, mas toda hora
minha mente me traía com imagens ruins dele em um canto escuro,
sentindo frio, doente, sendo torturado e perdendo um ano inteiro da vida.
Precisei de um tempo sozinha para colocar minha mente no lugar e ficar
seguindo-o feito um cachorrinho, tranquilizando meu coração de que não
iria para lugar nenhum.
Sentei na cerca no final do dia, comendo uma maçã e ele soltou um
potrinho pela primeira vez. Aplaudi, feliz, com a boca cheia. Simon parou
entre minhas pernas.
— Vou na horta ver o que tem para colher e talvez fazer massa hoje. O
que acha?
Ele me deu um olhar preguiçoso, coçando a barriga e a calmaria da
tarde ali era tão boa, algo que nunca vivi. Minha casa sempre foi uma coisa
de muitos funcionários, roupas sendo preparadas, cardápios precisando ser
aprovados… ali, eu simplesmente podia abrir a geladeira e decidir o que
fazer. 
Geillis não se importava, era só congelar o que estivesse sendo
preparado para outro dia, mas a comida nunca sobrava, havia muita gente
para ser alimentada. Se quisesse ter um momento privado com Simon, não
tinha problemas, ela me dava espaço para isso também. No palácio, seria
um inquérito, por isso Charlotte gostava de ficar no campo com Ethan e os
funcionários que mais tinham intimidade.
— Um jantar gostoso com vinho? 
— Espaguete?
Pegamos os cavalos, o meu tinha uma cestinha pendurada e, sem
pressa, cavalgamos pela fazenda até a horta. Simon desceu primeiro,
amarrando Bonnet e me ajudou, roubando um beijo antes de me colocar no
chão. Abri o portãozinho e havia muita coisa boa para ser colhida, peguei
tomates, folhas verdes diversas e fui até os temperos, enchendo até os
bolsos. As batatas eram pequenas, porém, no ponto certo. 
Simon estava olhando as raízes, verificando os vasos, ouvimos um
barulhinho e eu gelei até a minha alma. Arregalei os olhos, olhando para a
forma que o mato se movia e virei o rosto, pensando que era jovem demais
para morrer de um ataque cardíaco. Daquela vez, só podia ser uma cobra.
Ele parou e ficou de pé, me pegando pelo braço e saímos correndo.
Nervosa, comecei a ter uma crise de riso até para subir no cavalo. Ele
montou em Bonnet depois que eu estava segura em Curran com a cesta
coberta e bem presa.
— Vamos, menino. Temos que sair daqui agora. 
— A vida com você nunca vai ser tediosa, não é?
— A vida comigo? Você mesmo percebeu que tinha uma cobra lá! —
Apontei e disparei na frente, sem querer descobrir se tinha de fato ou não. 
Simon riu o caminho inteiro do meu desespero. Deixamos os cavalos
no estábulo e ele carregou a cesta até a cozinha, lavei as mãos e tudo que
peguei, soltando um grito quando um malandrinho saiu dentre as folhas.
Parecia um pequeno lagarto. Soltei-o no quintal, menos assustada, e fui
tomar banho, escolhendo um vestido longo, deixando o cabelo solto e o
banheiro livre para ele.
Geillis me deixou sozinha para cozinhar, então abri um vinho e
coloquei música enquanto a água fervia. Senti o perfume de Simon antes
mesmo de vê-lo, virei, saboreando a minha bebida e mordi o lábio,
apaixonada. Ele só me pegou pela cintura, colocou-me no balcão e tomou
minha boca. Puxou meu vestido para cima, apertou minha bunda e gemi
contra sua boca, soltando a taça de qualquer jeito no balcão e agarrando-o
de volta. 
Simon me deu um beijo que me fez esquecer meu nome.
— Hora de colocar a massa na panela.
— Hum? — Eu o olhei meio perdida e depois assenti. Maldito.
Era fresca e ficava pronta rápido, ele cortou os temperos, separou a
carne que iria misturar e os tomates, refogando na grande frigideira com o
molho caseiro. Enquanto escorria, beijou meu pescoço, atrapalhando minha
concentração e virei na panela, mexendo e tentando sobreviver ao assalto.
Era preciso que ficasse um tempo para pegar gosto, deixei a colher de pau
atravessada e ele me virou, mordendo o lábio de um jeitinho safado, tendo
tudo de mim.
— Sabe que está me enlouquecendo, não é? — Arranhei seu peitoral,
ficando nas pontas dos pés e ele me pressionou no balcão próximo ao fogão
com cuidado.
— Estou? Sua bocetinha tá meladinha? — Ele ergueu minha coxa e
inclinei-me para trás, apoiando meus cotovelos na madeira.
— Hum… não sei. Por que não vem descobrir?
Um sorriso lento enfeitou o canto de sua boca.
— Abra seu vestido. — Apontou para meu decote e soltei o laço,
afrouxando a região. O puxei para baixo, deixando meus mamilos expostos.
Simon beijou entre meus seios, arrastando a língua para a direita e
circulando meu biquinho, chupando e olhando em meus olhos. Tentei
manter a boca fechada e falhei. — Quieta. Deixe esses gemidos gostosos
para depois. — Foi para o outro e senti seus dedos explorando minhas
dobras que estavam mais do que molhadas. — Sabia que te encontraria
assim, safada. Sempre atrevida. Está prontinha para receber meu pau.
— Inclusive, quero agora. — Ofeguei, deliciada. 
— Boas coisas vêm para aqueles que esperam. Não vamos jantar
antes?
— Foda-se o jantar, podemos comer depois.
Simon riu e me beijou, ajeitando-me, e lambeu os dedos, fazendo um
showzinho. Desligou o fogo, me dando a mera esperança de que me jogaria
naquele balcão. Com uma piscadinha, pegou um prato e inclinou a cabeça,
bufei e bebi todo meu vinho. Fiz um beicinho, se ele queria jogar pesado,
tudo bem. Eu também tinha minhas próprias armas, como um par de peitos
que ele mal conseguia desviar os olhos quando eu estava vestida, o que
diria se eu decidisse comer com eles de fora? 
 
 
CAPÍTULO VINTE E OITO
Simon
Ediwa caminhava na minha frente com um lindo rebolar, segurando
dois pratos, eu levava o vinho debaixo do braço, duas taças e subimos para
a sala do piano, onde gostávamos de ficar e era próximo ao nosso quarto.
Ela apoiou a comida na mesinha de café, pegou as almofadas do sofá e as
jogou no chão. Fechei as cortinas, escurecendo um pouco o ambiente e
deixei apenas as luzes de apoio acesas. 
Sentei, servindo nossas bebidas e dei um gole, a massa estava com um
cheiro delicioso. Ela parou perto e olhou ao redor, reunindo o vestido entre
os dedos e o suspendeu, livrando-se dele, ficando apenas de calcinha antes
de se sentar. Eu podia ver a marca molhada dos grandes lábios no tecido
branco. Lambi meu lábio, saboreando o vinho espanhol e não desviei o
olhar do vale entre suas pernas, subindo para os mamilos atiçados.
Apertei meu pau por cima da calça, com fome. E não era do jantar.
Era totalmente dela. Enrolando o espaguete no garfo com a ajuda de uma
colher, me deu um olhar provocante, levou à boca e soltou um som
apreciativo. Inclinei-me à frente, lambendo os respingos de molho que
caíram nos seios.
— Vai esfriar, coma — ela mandou, me empurrando gentilmente.
Maldita. 
Sentada, ereta, passeava com a mão pelo corpo, brincando com o
biquinho do seio, bebendo vinho, mexendo na lateral da calcinha. Empinou
completamente a bunda ao pegar o telefone caído no chão junto ao vestido,
para colocar música. Apertei sua nádega e acariciei a parte de trás da coxa,
segurando sua cintura para trazê-la até meu colo. 
— Ainda não terminei o meu jantar. — Ela bateu nas minhas mãos,
porém, esfregou o bumbum no meu pau. Porra, que delícia. 
— Eu posso esperar.
— Coma a sua comida, Simon — determinou, me fazendo rir. Peguei
meu prato e estava delicioso, só que com seu cheiro me atentando, os
olhares e a boca… 
Perdi as minhas estribeiras com sua mãozinha safada trilhando um
caminho pela coxa e parando entre as pernas. Peguei sua taça e deixei na
mesa. Ediwa riu, virando e montou no meu colo, me beijando. Esmaguei
seus glúteos, fazendo com que rebolasse contra mim, esfregando-se em toda
minha extensão. Ela encontrou um modo que estava massageando a si
mesma e deixei se divertir, estava gostoso pra caralho, ainda mais com sua
boca na minha e os mamilos duros contra meu peitoral. 
Ela segurou meu ombro, puxou minha calça para baixo, liberou meu
pau e chegou a calcinha para o lado, me deixando sentir o quanto estava
quente e molhada. Ficou brincando comigo, mordendo meu lábio, fingindo
que ia descer, provocando o próprio clitóris e olhando em meus olhos.
— Vai me ajudar?
— Eu te vejo cavalgando, sei que pode rebolar com ele todo dentro.
— Mordi seu queixo, encaixando-me em sua entrada. Ela foi descendo
devagar, testando o movimento e fechando os olhos, a boca com um
formato lindo deixando escapar os gemidos mais deliciosos. — Puta que
pariu, gostosa. 
Começamos a nos mover juntos em uma dança perfeita, cheia de
plenitude. Ela me completava tanto que fazia meu peito explodir de paixão.
Mudando de posição, ficou empinada com o sorriso atrevido e me recebeu
novamente, segurei seu cabelo, estocando até fazê-la gozar e me liberei
junto, sem aguentar mais. Sua bunda estava com a marca dos meus dedos e
o cabelo todo zoneado, assim como a boca inchada de tanto que a beijei. 
Ficando contra meu peito, beijou meu pescoço e depois, meus lábios.
— Estou uma bagunça. 
Limpamos a sala antes de nos distrairmos um com o outro no quarto
novamente. Dormi até tarde no dia seguinte, tendo reservado a manhã para
passar mais tempo com ela e sua escolha foi dormir. De folga, ela só estava
trabalhando no projeto que nos colocou em uma disputa boba. Eu até
considerava aceitar, só não significava que iria só pelo fato dela ser minha
mulher. Os argumentos tinham que ser bons. 
Até porque, não queria ninguém acusando-a de favoritismo por usar o
dinheiro do investimento público levando as crianças para uma cidade
longe e passar a noite (dependia de hospedagem, transporte e alimentação). 
Encontrei alguns funcionários, fui até a fábrica, provei uma nova
produção de uísque e estava muito bom. Até peguei uma garrafa para
saborear sozinho no escritório. Ao sair, topei com Murray me esperando,
ele tinha algumas notícias a dar sobre o grupo que estávamos vigiando. Já
fazia um tempo que não chovia e não foi relatado nenhum roubo aos
celeiros na região, somente nas cidades vizinhas, justamente no período em
que deixamos de vê-los. Também soube que os materiais roubados foram
vendidos na estrada perto de Inverness.
Eles não fariam minha cidade de lugarzinho especial de roubo e nem
trariam prejuízo aos meus negócios. 
— Vamos montar uma armadilha. 
Murray me deu um olhar.
— Aqui?
— Não. Na fazenda abandonada. Vou postergar o anúncio da compra,
mas já posso instalar meu material de segurança lá.
— Vou ficar na mata, disfarçado, pelo tempo que for necessário. —
Ele olhou para frente e vimos Ediwa sair do galinheiro correndo. Eu ri.
Galizé não era fácil. — A única coisa que me incomodou nesse tempo foi
que os vi conversando com alguns homens da cidade. Não sei se passaram
informações ou se foi apenas papo de bêbado em bar.
— Aprendi que não existem coincidências.
— Pelo amor de Deus! Essa galinha precisa me amar! — Ediwa gritou
ao ganhar uma bicada. — Eu te devolvo o ovo!
— Devolve nada, me dá isso aqui. — Geillis pegou a cesta. — Xô,
Galizé! 
— Acha que Ian pode ter falado alguma coisa? — Murray cruzou os
braços. — Eu o vi com alguns amigos, parecia uma conversa amigável,
nada de mais.
— Eu não sei se ele seria babaca o suficiente para foder com a cidade
a esse ponto, só não colocarei minha mão no fogo. 
Meu telefone vibrou e abri, já rindo. Era uma mensagem diária de
ameaça vinda de Ethan. Eu sabia que ele me daria um soco quando me visse
pessoalmente, por mais que estivesse bem com meu relacionamento com
sua irmã, era certo que isso aconteceria. Todo santo dia, Ethan não
economizava na criatividade. Em alguns, parecia um maluco surtado,
provavelmente, o nível de estresse que Charlotte e suas loucuras lhe
causavam, ele descontava nos cunhados.
Bruno era um cara legal e de bom humor. Para estar casado com
alguém intimidante como Daphne, que era feroz e protetora com Ediwa, ele
tinha que ser muito macho e já tinha minha completa admiração. 
Estar com uma mulher da família Lewis exigia muita masculinidade
garantida. Elas podiam ser muito castradoras na eterna mania de discutir,
sendo teimosas por absolutamente tudo, sempre mantendo o nariz em pé. A
implicância corria nas veias. Ediwa não gostava de tons definitivos e ela
queria dar a opinião em tudo, se pudesse ter a palavra final, melhor ainda.  
Eu tinha muitas preocupações, ainda mais com aqueles ladrões
rondando a cidade. Mas a vida ficou melhor depois que ela chegou. Seria
mais fácil se não discutíssemos tanto por tudo, porém, não seria divertido.
De longe, observei-a alimentar os patos, brincar com os cachorros e se
assustar com um galho de árvore enroscado na roupa. Correu dos gansos e
provocou as galinhas com um pouco de farelo nas mãos.
Animada e com os olhos brilhando, aproximou-se. 
— Ei, Murray! Tem bolo, quer? 
— Salgado? — Ele sorriu, enfiando as mãos nos bolsos.
— De queijo! Geillis quem preparou.
— Vou na cozinha agora mesmo. 
Murray tirou o boné e bateu as botas para tirar a terra.
— E você? — Ediwa passou os braços por minha cintura. — Quer
comer um pouco?
— Sem fome ainda. — Beijei sua boca, uma, duas vezes e na terceira,
fiquei um pouco mais, porque era impossível resistir ao sabor delicioso de
sua língua.
— Gostinho de uísque. Esse parece bom. 
— Peguei uma garrafa. Vamos experimentar juntos.
— E alguma novidade sobre o grupo?
— Nada muito bom, mas sem ainda ser preocupante para sua
cabecinha. — Rocei meus lábios em sua testa. — A compra da fazenda ao
lado foi finalizada, o processo de expansão vai demorar e por enquanto, é
segredo total. Ninguém pode saber.
— Parabéns por essa conquista! — Ediwa ficou na ponta dos pés e me
deu um beijão. — Fico muito feliz e sei que vai expulsar esses bandidos
daqui.
Eu amava a alegria e confiança dela.
Eu a amava muito, a todo momento.
— O que foi? — Ela puxou minha barba suavemente.
— Eu te amo.
Ediwa abriu a boca, cobriu-a com as mãos e deu um passinho para
trás. Em seguida, pulou em mim, me desequilibrando. Eu ri da reação. A
ergui em meu colo, enquanto ela abraçava minha cintura com as pernas e
me encheu de beijos, repetindo milhares de vezes o quanto me amava,
fazendo uma lista quase interminável que, no começo, estava bonitinho e
depois, foi me dando uma vontade enorme de rir. Ela era louca. 
— Te amo até mesmo quando expulsa nossos filhos de casa! 
— Ediwa, baby. Cale-se. — Ocupei sua boca com a minha. — Eu já
entendi que você me ama muito.
— A melhor decisão da minha vida foi aceitar uma vaga de emprego
para ser professora de música em um lugar pequeno.
— E a minha, aceitar uma patricinha da cidade grande que chegou
jogando lama em mim.
— Isso aí, é a sua interpretação do nosso primeiro encontro, que, na
verdade… — Ela forçou as pernas para ficar no chão. — Nunca tivemos
um encontro de verdade, Simon! Você me beijou, me levou para sua cama e
nem me convidou para jantar! — Colocou a mão no peito, ultrajada. — Dê
um jeito nisso, senhor do castelo.
Jogando os cabelos sobre os ombros, me deu um olhar desafiante e foi
rebolando para dentro de casa novamente. E agora, eu tinha uma nova
missão, surpreender a mulher da minha vida com um encontro que valesse
por todos que não a levei antes. 
 
 
CAPÍTULO VINTE E NOVE
Ediwa
Acenei para o vigário, mantendo o sorriso no rosto. Ganhei o sim dele,
como Daphne havia me dito, mas ele ainda não estava completamente
convencido e até a reunião final, poderia mudar de ideia. Além de uma
doação para a igreja, também me comprometi em doar meu tempo à
comunidade, o que não era algo ruim por estar vivendo ali e planejando
uma vida ao lado de um membro ativo e um dos líderes. Ele pareceu
satisfeito.
— Verei a senhorita na missa domingo?
Aí já era complicado.
— Farei um convite a Simon. — Abri um sorriso, colocando o cabelo
atrás da orelha para que ele continuasse encantado comigo. 
Joguei nas costas do ruivo, afinal, era ele o católico lá em casa.
O senhorzinho era muito difícil. Já tinha um enorme preconceito por
ser inglesa, anglicana e possivelmente, membro da realeza. Tentei explicar
mil vezes que meu irmão era um príncipe, eu não tinha nada a ver com a
história toda (embora pelas leis de Rainland, ganhei proteção real e um
título de nobreza, mas Daphne e eu abrimos mão imediatamente).
Acenei em despedida mais uma vez e segurei a saia do meu vestido,
preocupada em tropeçar na antiga escadaria de pedra que viu dias melhores
há muitos séculos. 
Murray estava me acompanhando. Simon não queria que eu andasse
sozinha e não discuti, se ele achava que era melhor para mim estar com
alguém quando sabia que havia pessoas que não eram de confiança pela
cidade, eu que não bancaria a teimosa. Não nesse sentido. Com minha pasta
do projeto nos braços, entrei na escola sozinha, dizendo que a reunião
terminaria em até uma hora, ou pouco mais. Lorna podia passar do tempo
programado se ninguém a impedisse.
Entrei na sala antes de todo mundo, as cadeiras estavam arrumadas em
círculos e espalhei o material que selecionei, colando o cartaz do festival no
quadro e ocupando o lugar que estava acostumada a sentar. Em pouco
tempo, os professores foram entrando com aquela conversa, batendo papo
sobre as férias, querendo saber as novidade e uns até me perguntaram
quando seria o casamento. Para a cidade, se Simon estava comigo quando
nunca assumiu um relacionamento, era sério de verdade.
Lorna chegou empolgada, e como estava no horário, pediu que eu
começasse, então limpei a garganta. Assim que tomei fôlego, Geneva
entrou, pedindo desculpas pelo atraso e me dando um aceno. Na missa, me
cumprimentou, toda sem graça dizendo que precisava conversar comigo
para pedir desculpas, mas falei que não era necessário. Só não tentaria
nenhuma aproximação e ela que lidasse com o ciúme de Ian bem longe de
mim.
Voltei para o tópico inicial da reunião, explicando aos professores as
horas de ensaio e quais músicas as crianças pequenas conseguiriam tocar
quando Ian entrou, como se fosse o horário normal, tirando a bolsa,
cumprimentando a todos e me atrapalhando completamente. Ele fez pouco
caso, fazendo perguntas estúpidas e diminuiu a importância do evento para
a escola. Eu queria saber quantos eventos de matemática coçou aquela
bunda para levar os alunos, babaca!
O professor de esportes ficou preocupado com algumas práticas e
conseguimos ajustar os horários sem problemas, nada como uma boa
conversa. 
A maioria dos professores concordou em me ajudar, liberando os
alunos. Percebi que Geneva ficou dividida ao ver Ian negando, mas ela era
uma maria vai com as outras de primeira, quando disse que o vigário estava
do meu lado, rapidinho concordou também. Ian foi o único a reclamar que
se os alunos dele reprovassem na matéria, a culpa seria minha. Ora essa…
até ontem queria tirar a minha calcinha, o imbecil. 
Fiz questão de agradecer um a um.
— Obrigada por me apoiar nessa oportunidade. — Apertei a mão de
Geneva.
Ian estava próximo e estufou o peito. Parei na frente dele e abri o meu
sorriso de miss simpatia, aquele de quase princesa, que me fazia ser
conhecida como uma lady da alta sociedade, filha de um duque e irmã de
um príncipe. 
— Obrigada por mostrar que é tão idiota — falei bem baixo para não
soar antiprofissional e saí com minha bolsa. Minha mãe me pediu para
amadurecer e falhei de novo. 
Murray me levou para o castelo, digitando em seu telefone de tempos
em tempos, numa lentidão irritante e eu doida para fazer xixi. Não reclamei
porque já era uma gentileza enorme me acompanhar em um dia que Simon
estava ocupado na fábrica de cerveja, era final de mês, entrega, pagamento
de funcionários e resolvendo uma série de pendências. Podia não parecer,
mas meu ogro da montanha era um ótimo CEO. 
— Você está bem hoje, Murray?
— Claro, senhora.
— Está muito quieto. 
— Sou quieto, madame. — Ele me deu um sorriso. Hum… será que
havia algo errado? 
— É coisa de marinheiro ser assim?
— Aprendemos a falar somente o necessário. 
Dei um okay e ele me deixou na entrada principal antes de levar o
carro para a garagem. Tirei os sapatos, louca para ficar sem saltos e corri
escada acima, precisando estar no meu banheiro e sem roupa o mais rápido
possível. Olhei para o horizonte quando entrei no quarto e entendi o que
poderia estar deixando Murray tenso e Simon ocupado. Iria chover. E
pareciam nuvens bem densas. 
Já reconhecia a mudança do tempo, as tempestades de verão podiam
ser assustadoras e eu sabia bem o quanto elas duravam. Assim que terminei,
desci para chamar os cachorros, assobiando da entrada. Meus gatos estavam
na sala, cada um deitado em um canto, os funcionários puxavam as lonas
para proteger as cabras e fechavam os celeiros.
— Farei sopa para o jantar. Sempre combina com chuva. — Geillis
parou ao meu lado enquanto contava a minha matilha de pastores. Um a um
foi passando para dentro. 
— Isso é coisa de vó. 
— Mal vejo a hora dessa casa ter crianças correndo. Os gêmeos ficam
muito pouco aqui e Claire mal traz o bebezinho. — Ela suspirou e eu bati
na madeira. 
Simon precisaria ajoelhar e colocar uma aliança no meu dedo antes de
produzirmos pequenas (bem, se puxassem ao pai, nem tanto) crianças
ruivas. Eu ainda estava fingindo estar de beicinho por ele não ter me levado
em um encontro. Não era algo que me importava de verdade, o ponto sobre
o nosso relacionamento ter sido diferente de tudo que experimentei na vida
era o que mais me fazia amá-lo. 
Não trocava nossas noites deitados vendo filme na cama por nenhum
restaurante chique fazendo o jogo de vinte perguntas. Eu o conhecia de
verdade vivendo ali, na faceta crua da rotina do castelo, nos grunhidos que
já me eram compreensíveis, nas palavras em gaélico que passei a entender e
nas disputas bobas que no final do dia só nos faziam rir um do outro. 
Quando a primeira trovoada rompeu no céu, os cachorros começaram
a uivar.  Os gatos saíram correndo, sem paciência. Fechei as janelas com as
outras funcionárias, puxando as cortinas, dava um trabalho porque o lugar
era enorme. Simon entrou, tirando a camisa meio molhada e foi para o
escritório sem falar muito. Eu fui atrás, pedindo para as meninas
terminarem sem mim e informando que depois, podiam ir embora para suas
casas.
Subi as escadas correndo e derrapei para dentro. Simon estava
olhando as telas que ficavam na parede, tinham vários pontinhos vermelhos.
— Isso são os sensores da fazenda?
— Uma das formas de analisar, sim. — Ele desviou o olhar
rapidamente.
— E está preocupado que a chuva possa desligá-los novamente?
— Na verdade, eu criei uma armadilha com Murray e ele vai acampar
na chuva para observar a movimentação do grupo nos próximos dias.
Precisamos pegá-los ou, no mínimo, ter provas em vídeo para entregar.
— Ah, Simon! Ele está bem para isso?
— Bem o suficiente. Precisa ocupar a mente. Está muito ocioso,
mesmo trabalhando aqui na fazenda. Nossa vida é agitada e ficar parado é a
maior causa de… 
Ai, meu Deus…
— Acha que ele considerou isso? — Toquei seu braço, preocupada.
— Não sei. Estou dando a ele coisas para focar. Tendo uma missão em
mãos, sua mente vai desviar do estresse. — Simon me abraçou, percebendo
a minha aflição. 
— Foi assim com você?
— Precisei voltar para o trabalho o mais rápido possível porque ficar
em casa me fazia pensar o tempo todo onde falhei. É a mesma coisa que
está acontecendo com ele. — Ele suspirou e beijou minha cabeça. — Vai
chover muito. O verão pode ter essas coisas e justamente hoje que estava
planejando levar minha mulher para jantar fora. — Abriu um sorrisinho de
lado e lhe dei uma cotovelada na barriga. 
— Bobo. Geillis vai fazer sopa para o jantar. Esse será o menu
especial da noite.
 — Ah, não tem restaurante, mas tenho algo especial. — Ele enfiou a
mão no bolso e tirou um saquinho de veludo. — Encontrei isso aqui nas
minhas coisas e achei que poderia dar para mulher por quem estou
irrevogavelmente apaixonado. 
— Saiu e fez compras? — Agarrei o saco e puxei o laço.
— Sou um herdeiro playboy nas horas vagas e tenho algumas joias da
minha avó no cofre. — Ele deu de ombros, fazendo charme, passando a
mão no cabelo. 
Virei na minha mão e caiu uma pulseira linda, uma corrente adornada
com rubis. 
— Nossa, Simon! É uma joia de família?
— É uma joia que vai permanecer na família. — Ele pegou meu pulso
e colocou, ficou muito bonito, combinava comigo. — Ela ganhou como
presente de namoro do meu avô e achei que seria um bom primeiro presente
entre nós.
— Puxa vida, eu te dei uma música! 
— E foi igualmente precioso para mim. — Tocou meu queixo e
ergueu minha cabeça, seu olhar amolecendo ao perceber o quanto estava
emocionada. 
— Eu te amo, Simon Higgins Basset. 
— Eu te amo, minha Lady Ediwa — ele falou baixinho e me beijou.
Quem precisava de encontros quando se tinha joias com histórias
bonitas?
 
 
CAPÍTULO TRINTA
Ediwa
A chuva estiou o suficiente para o sol brilhar entre as nuvens. Levou
uma semana, eu voltei a trabalhar e as aulas foram maravilhosas, apesar de,
infelizmente, em alguns dias, tive que aguentar o humor ruim de Ian na sala
dos professores, até passar a levar meu lanche e comer sozinha em minha
sala. Geillis preparava o meu chá, que ficava ótimo na garrafa térmica, e
socializava com os outros professores apenas nos corredores, nas trocas de
turnos. 
O fim de semana chegou bem rápido, no mês de agosto o tempo
mudava bastante por ali, começava um vento forte que me dava medo.
Estava um clima bom para fazer biscoitos, beber chá e ver um filme. Simon
vinha trabalhando em um algoritmo novo, conversando com  Liam, seu
amigo de longa data, por chamada de vídeo, e até falou com Ethan, então,
eu o deixei quieto para não atrapalhar. Ele quis que eu tocasse piano umas
cem vezes naquela semana para ajudá-lo com os códigos, meus dedos até
doíam. 
Entrei no galinheiro cheio de ovos, as galinhas estavam produzindo
com tudo naquela semana ou Geillis quase não havia passado por ali. Galizé
olhou para mim.
— Não começa, penuda. Estou aqui há meses, já deveria ter se
acostumado comigo. 
Ela soltou um som, como se fosse correr atrás de mim e desviei com a
cesta, indo para o outro lado e me protegendo com a grade. As outras
galinhas se amontoaram, peguei a quantidade que precisava, saí e ela ainda
conseguiu me dar uma bicada. Filha da mãe! Ainda bem que foi na bota, ou
eu ia cumprir a minha promessa de jogá-la na panela. 
Voltei para a cozinha, deixei a cesta na mesa e virei, me deparando
com Lully caída no chão. Ajoelhei ao lado dela, batendo em seu rosto,
gritando por ajuda e ninguém aparecia. Chamei por Geillis, Roger, Simon e
qualquer um! Eu a movi e vi que sua saia estava suja de sangue, ergui um
pouco e havia uma boa quantidade entre as coxas, aquilo não podia ser boa
coisa.
Geillis apareceu e deixou cair uma bandeja com talheres, desesperada.
— O que aconteceu?
— Eu não sei, fui buscar os ovos, ela estava pegando os ingredientes
na despensa para fazermos biscoitos! Fique aqui, eu vou chamar o Simon!
— Levantei e saí correndo, gritando pelos corredores e ele apareceu com
Roger, parecendo assustado. — Lully desmaiou e está sangrando.
— Vá pegar o carro, eu vou buscar a menina — ele ordenou a Roger.
Corremos de volta para a cozinha, Lully ainda desacordada. Simon
tinha treinamento e conseguiu fazer com que ela acordasse, mas logo a
levou para o carro e dirigiu rapidamente para a cidade, parando em frente à
clínica. Fui correndo, chamando um enfermeiro, que logo pegou uma
cadeira de rodas e me seguiu. Simon ergueu Lully e a levou onde o médico
aguardava.
— O que será que aconteceu com ela? — Geillis estava nervosa.
— Eu não sei, mas vai ficar tudo bem. 
— Nem tive tempo de avisar à mãe dela. 
— Vamos ligar. Ai, caramba. Esqueci o meu telefone! — Bati com a
mão na testa.
— Ediwa? O médico quer te fazer umas perguntas, foi você quem a
encontrou — Simon me chamou e entrei na pequena sala, percebendo que
minhas mãos estavam sujas de sangue. Expliquei tudo que vi e uma moça
da recepção muito simpática me levou para lavar as mãos. Percebi que
estava me fazendo mais perguntas do que deveria, de um jeito de quem
estava preocupada, mas logo questionando se Lully tinha um namorado, se
era um aborto…
— Você não tem mais o que fazer? 
Ela arregalou os olhos e voltou para a parte da frente. Sequei-me e saí,
encontrando o vigário. Como ele já sabia? Geillis estava chorosa, contando
tudo. Puta merda. Existia a possibilidade de resolver qualquer coisa
discretamente naquele lugar?
Simon falava com um médico, todo sério, e agarrei Roger pela camisa,
puxando-o para fora da clínica bruscamente.
— Abra a sua boca. Você e Lully vivem grudados. Se ela tem um
namoradinho, ou é você, ou você sabe quem é!
— Não sou eu, senhora. Somos primos, sabe disso.
— São primos de segundo grau, isso aqui é quase uma distância de
uma vida. Desembucha, Roger. — Cutuquei seu peito, ele olhou ao redor e
se encolheu. 
— Olha, não briga comigo, mas no dia da cerveja, ela ficou com um
homem mais velho aqui da cidade. Eu disse que não era uma boa ideia.
Lully não quis me ouvir. Ela sempre foi a fim dele e…
— Que homem? Ela pode estar grávida…
— Sério?
— É, sério. E o vigário já está lá dentro, e com um monte de gente
fofoqueira! Temos que saber o que fazer! Lully era virgem antes de ficar
com ele?
— Aí já não sei, ela não me contou essa parte, mas acho que sim, eu
nunca a vi com outro homem antes e sei que gosta dele desde a escola. Era
muito apaixonada, vivia andando atrás dele, até escrevia cartas e dava
presentes. 
Lully tinha terminado a escola no semestre anterior.
— É algum aluno que terminou antes dela?
— Não. — Roger coçou a cabeça. — Era um professor. — Ele olhou
ao redor e inclinou-se para frente. — De matemática, sabe quem é?
Ian Grey.
Agarrei a camisa de Roger com as duas mãos por ter perdido a força
das pernas. Ele me segurou e me colocou sentada em um degrau. Não
conseguia falar. Minha língua estava enrolada dentro da boca. Ele começou
a me abanar, nervoso, suando frio, enquanto eu queria sair correndo,
gritando de ódio. Aquele… ai, meu Deus! Lully tinha dezessete anos, ela
não foi à faculdade, era menor de idade e ele tinha trinta e cinco, pelo amor
de Deus! Quando Roger mencionou mais velho, passou pela minha cabeça,
no máximo, vinte anos, o que já seria um escândalo por ali. 
Coloquei minha mão no peito, achando que estava infartando. Eu teria
um ataque cardíaco. Se Lully estivesse grávida e fosse do Ian, de acordo
com a história que Roger contou, como iria dizer a Simon sem que ele
cometesse um assassinato? Como eu não cometeria um? 
— Está tudo bem aqui? — Simon apareceu na porta e assenti, nervosa.
— O médico já tem um diagnóstico prévio — ele anunciou com o cenho
franzido. — Lully está grávida. O sangramento é porque a placenta está
baixa, precisa de repouso nos próximos dias. Mandei chamar um obstetra.
A mãe dela está vindo também. 
— Oh, merda — Roger xingou baixinho.
— Vamos conversar. Agora — Simon vociferou para Roger.
— Espere. — Fiquei de pé. — Temos que impedir que o vigário saiba
de tudo antes de qualquer pessoa, e Geillis não pode contar a ninguém que
ela está grávida!
Simon franziu o cenho, e mesmo sem entender de imediato, assentiu e
foi lá dentro, falou com o médico, que garantiu que não contaria a ninguém.
Ele selecionou uma única enfermeira de confiança para trabalhar com Lully
e não sabíamos por quanto tempo seria possível guardar aquele segredo,
mas era necessário ter tempo. 
Lully pediu que eu entrasse em seu quarto antes que a mãe chegasse.
— Tente não surtar completamente — pedi a Simon, preocupada que
ele matasse Roger, que, no fundo, não tinha culpa de nada. Ele só acobertou
a prima de ficar com um homem mais velho e não contou nada a ninguém.
— Eu vou ter motivos? — Ele respirou fundo.
— Por favor, amor. Mantenha o controle. — Acariciei seu peito e
entrei no quarto.
Lully estava com os olhos arregalados e a boca pálida, ela esticou a
mão e a peguei.
— Me diz que é mentira. O médico disse que estou grávida… — ela
sussurrou, horrorizada. — Como pode? Eu só fiz isso uma vez e ele disse
que não… fez dentro. Doeu tanto e foi tão… ruim. Como pode?
— Ah, meu amor. — Eu a abracei apertado. — Basta uma única vez,
anjo. Sua mãe nunca conversou com você sobre métodos contraceptivos?
Se você não toma nenhum tipo de remédio, não precisa necessariamente…
— Não. Ela não pode saber que não sou mais virgem, Ediwa! Não
posso ter esse bebê! Eu não posso estar grávida! — Ela me agarrou,
desesperada. — Tenho dezessete anos, não sou casada. Sabe o que
aconteceu com a Claire? Ninguém falou com ela por anos! Teve que ir
embora e ao contrário dela, minha família não tem dinheiro para me manter
longe. 
— Lully, amor. Quem é o pai do bebê? Com quem transou?
— Não pode contar para ninguém, Ediwa.
— Lully, precisa aceitar a realidade de que está grávida, ele é tão
responsável quanto você e precisa arcar com as consequências. Precisamos
saber como agir. Tem que me contar quem é, para que possa te ajudar.
— Ele não vai casar comigo só porque estou grávida. — Ela se
encolheu, chorosa. — O vigário vai tentar obrigá-lo, meu pai também e
Simon o odeia! 
— Quem, Lully? — insisti por precisar ouvir da sua boca.
— No dia da cerveja, ele estava chateado, eu dei conversa e ele
perguntou se eu queria dar uma volta no carro dele. Me levou para o
mirante e disse para não contar a ninguém, aconteceu lá, eu quis parar, disse
que não, foi muito ruim e depois, me deixou perto do castelo. Foi meu
professor de matemática, sempre fui apaixonada por ele, mas doeu tanto,
que nem gosto mais, nem olhei mais para o rosto dele. — Ela secou o rosto
e engoli seco.
— Foi com Ian Grey.
Lully deu um aceno, deitando a cabeça no meu ombro. Não tive
coragem de prometer que tudo ficaria bem, em algum momento iria, não
antes do mundo inteiro dela desabar. Pelas minhas contas, a gravidez estava
perto do segundo trimestre. Esfreguei suas costas, acalentando o choro e a
porta foi aberta. Simon estava vermelho, com os olhos arregalados e as
narinas mostrando o quanto estava furioso e ele nem sabia detalhes de como
aquela criança foi concebida.
Em um carro, no meio do nada, com uma adolescente apaixonada e
deslumbrada, não preparada, que provavelmente ficou muito assustada, que
disse não e estava traumatizada para sempre. Ela era tão quieta que não
reparei nenhuma mudança em seu comportamento, guardou tudo,
escondendo seus sentimentos porque deveria estar culpando a si mesma
quando a culpa era de um homem adulto e muito consciente dos seus atos. 
 
 
CAPÍTULO TRINTA E UM
Simon
Ediwa colocou uma caneca de chá na mesa à sua frente e para mim
serviu uísque. Ela também entregou um calmante para Jocasta, mãe da
Lully, com chá, e eu dividi minha bebida com Dougal, o pai. Eles estavam
em estado de choque. Eu estava… com tanto ódio! Lully era uma menina
muito doce e o que aconteceu só me trazia uma tristeza sem fim, ela não
merecia. 
— Eu nunca imaginei que ouviria minha filhinha contar aquilo para a
polícia — Jocasta falou baixo. — Ele vai ficar preso? 
— Vai. Ele vai ser transferido para Inverness em algumas horas. 
— Lully não quer ficar com a criança. — Dougal limpou a garganta.
— E eu… acho que nem posso julgar minha filha por isso. 
— Meu Deus. — Jocasta chorou um pouco e Ediwa a abraçou. — Eu
não vou obrigar a minha filha a ser mãe. Ela só tem dezessete anos. A única
coisa que queria era ir para a cidade grande fazer curso de culinária.
Estávamos juntando dinheiro para que fosse no próximo ano. 
— Ela é muito jovem e está sendo uma experiência extremamente
traumática, precisará de acompanhamento psicológico. O apoio de vocês é
vital, mas um profissional adequado é o principal no momento — Ediwa
falou com carinho. 
Eu suspirei, preocupado, mas precisava agir.
— Não se preocupem com nada. E neste momento, se quiserem ir,
podem ficar em Aberdeen. Fiquem com seus parentes lá, saiam do centro da
fofoca, cuidem da Lully. Tenho amigos na cidade que poderão ajudar e o
seu trabalho na cervejaria poderá ser transferido, será meu representante lá
— garanti a Dougal. — Somos uma família, cuidamos um do outro, tenho
carinho pela Lully como se ela fosse minha filha e quero o melhor para ela. 
— Obrigada por tudo, Simon. Você é um menino de ouro. — Jocasta
deu a volta na mesa e me abraçou.
— Vamos descansar hoje e voltar para o hospital, para buscá-la
amanhã cedo na hora da alta. — Dougal ficou de pé e segurou a mão da
esposa.
— Estarei junto para expulsar os curiosos — avisei. Eu não deixaria
que ninguém fizesse Lully sentir-se mal por esse pesadelo. 
Foram longos dias. Ediwa sentou-se no meu colo, deu um bocejo e a
abracei apertado. Ela foi forte e não desmoronou mesmo quando ouviu as
piores afrontas,  que Lully nunca teve um comportamento ruim até a sua
chegada, que era uma acusação grave dizer que um homem íntegro como
Ian fez algo tão terrível com uma menina da comunidade e para piorar ele
negou até o último minuto.
Quase revelei a todos as minhas habilidades, desejando estar sozinho
com ele em uma sala de interrogatório, mas além de Murray ter sido sábio o
suficiente para me impedir porque não confiava em mim mesmo para ter
autocontrole, Lully guardou provas daquela noite com medo da mãe
descobrir. Ela escondeu as roupas íntimas. O chefe de polícia seguiu minhas
dicas, apertou o suficiente e Ian confessou, além de uma testemunha:
Geneva. Ela viu Ian sair com a menina, só achou que era uma carona por
ele morar próximo ao castelo, não imaginava que ele a havia levado para o
mirante.
— Espero que não a obriguem a ficar com a criança se ela não estiver
preparada para isso. Entenda que eu amo a maternidade, quero ser mãe, mas
isso é um evento traumático que mudou a vida dela… — Ediwa refletiu
baixinho. — A criança não tem culpa nenhuma. E se não a fizesse sofrer
tanto, eu te juro que ficaria com o bebê.
— Eu sei. Eu também pensei em nos oferecer a cuidar da criança, mas
ela pode ficar ressentida. Não sei se é a melhor escolha.
Ediwa me deu um olhar triste.
— Podemos oferecer. Dar uma escolha a ela, certo? Poderá fazer parte
da vida da criança sem ser a mãe dela. 
— Vamos conversar com a Lully e seus pais amanhã. — Beijei sua
bochecha, amando-a um pouco mais por ter um coração incrível. — Mas
temos que pensar no quanto isso vai mudar a nossa vida.
— Vai adiantar muitos dos nossos planos, coisas que conversamos a
respeito de um futuro, mas é a Lully. É em relação a alguém que nós dois
amamos e precisa da nossa ajuda e é sobre uma criança que pode ter um lar
repleto de amor. — Ela encostou a testa na minha. — Mas se ela não quiser,
não ficar confortável, tudo bem. Eu quero que ela seja feliz. 
Continuamos abraçados na cozinha por um longo tempo. Meu corpo
doía como se fosse ficar doente. Fomos deitar tarde e podia dizer que não
dormimos muito. Passei a noite com os gatos na cama, pela primeira vez
aceitando os carinhos deles, necessitado de um pouco de amor. Até os
cachorros ficaram dentro do quarto, com a porta aberta, dormiram
espalhados no corredor. 
Não era costume, mas eles pareciam sentir que havia uma tristeza
pairando no castelo. Geillis não saiu da cama, não havia café pronto, as
outras funcionárias estavam caladas. As camareiras empurravam os
carrinhos mudas. A época de visitantes iria começar em breve, o guia estava
se preparando para receber os turistas e eu queria manter tudo fechado. 
Ediwa estava com os olhos inchados, ela deixou para chorar no
chuveiro.
— Vai ficar tudo bem, amor. — Beijei sua testa.
— Eu sei que vai. 
Queria tanto que meu pai estivesse vivo para me orientar. Ele saberia
o que fazer. Teria uma palavra sábia. 
Ouvi o som do helicóptero e suspirei aliviado. Uma parte da sabedoria
estava chegando. Abri a porta e observei o pouso, minha mãe saiu com
ajuda de um funcionário, atravessou o gramado na nossa direção e me
abraçou apertado.
— Oi, menina. Obrigada por ligar. — Ela apertou Ediwa. — Você fez
o certo. Sei que o vigário ficou irritado, mas podemos lidar com ele.
— Ele entendeu a gravidade agora que Ian foi preso. — Ediwa
suspirou.
Ela ligou para minha mãe, pedindo ajuda, quando a maior parte das
senhoras ficou contra ela depois que o vigário achou ultrajante a acusação.
Ediwa defendeu Lully com unhas e dentes, enquanto Jocasta estava
fragilizada e precisando ficar ao lado da filha. Ela e Geillis aguentaram as
pedras. Eu lembrei de quando foi a vez de Claire e minha mãe passou por
tudo aquilo de cabeça erguida. 
Era um absurdo, porra. Em que século estávamos vivendo? 
Quando foi provado, o vigário recuou ou, pela primeira vez, eu bateria
em uma santidade. Ele testou a minha paciência. Ser velho não era mais
desculpa. Tive que ser mais rude e severo do que o aceitável para um
homem de sua idade e assim, ele se desculpou com Ediwa, mas ainda
faltava um ajuste por parte das outras pessoas.
Eis o motivo que era necessário a presença da minha mãe: para
acalmar os ânimos.
— Infelizmente, o machismo ainda está muito forte na sociedade.
Tenho certeza de que Simon trouxe a luz do entendimento a ele. — Mamãe
acariciou o rosto dela. — Obrigada por cuidar da Lully. Você é maravilhosa.
Eu olhei para o meu relógio.
— Temos que buscá-la. 
— Vou buscar minha bolsa. — Ediwa voltou rapidamente para dentro.
— Você fez muito bem em não reagir com violência. — Mamãe tocou
meu rosto. — Sei que odeia Ian desde a infância, provavelmente seu sexto
sentido sempre te avisou que ele não era boa pessoa. Mas bater nele, por
mais certo que possa soar, só iria piorar toda a situação. Para alguém
arrogante, a cadeia, a humilhação e reclusão é pior do que muitos socos. 
— Não significa que ele não vá apanhar, mamãe. Alguns presos não
toleram certos tipos de violência, principalmente a que ele cometeu. 
— O destino sempre sabe o que faz. — Ela acariciou meu peito.
Jocasta e Dougal já estavam prontos. Chegamos à clínica e,
felizmente, estava vazia, diferente das últimas vezes. O vigário estava perto
do quarto de Lully, e disse que ela amanheceu mais calma, quis rezar, não
chorou tanto e dormiu em seguida. As mulheres entraram para ajudá-la a se
arrumar e fiquei do lado de fora com o pai.
O vigário grunhiu.
— É simplesmente terrível.
— O que é terrível? — Dougal quis saber.
— Tudo. Ian foi um rapaz que eu vi crescer, ele se confessava como
um homem íntegro, mas nunca saberemos a profundidade da maldade do
coração humano. 
Eu não estava disposto a adoçar.
— É para o senhor aprender a parar de julgar também. 
Ele entendeu o meu recado. Estava disposto a culpar Lully por
seduzir, por querer, por ter escolhido entrar no carro de um homem mais
velho que deveria protegê-la. Ele foi professor dela, porra! O fato dele se
confessar como um homem íntegro não mudava a idade dela, sua inocência
e a sua história. Acenando em despedida, foi embora com seu assistente e a
menina foi liberada em seguida.
Retornamos todos para o castelo e nos reunimos na cozinha, com
Geillis agitada querendo preparar comida. Lully estava com fome, o que era
algo bom. Ela havia rejeitado a maior parte dos alimentos oferecidos
anteriormente. 
Ediwa se ofereceu para fazer panquecas com cobertura de chocolate. 
— Só tem um porém, alguém usou os ovos que eu peguei naquele dia
e eu não vou voltar no galinheiro — ela anunciou, cruzando os braços. Todo
mundo estava sério, mas os risos foram crescendo devagar. — Não tem a
mínima graça. Aquela galinha me odeia e o pior de tudo, ela é a líder! Eu te
juro, fará uma revolução! Um dia vamos acordar e elas terão fugido! É
melhor vigiar o helicóptero! 
— Não me faça rir! — Lully reclamou, com a mão na barriga. —
Galizé percebeu que você tem implicância com ela.
— Eu não tenho nada contra ela, nem a favor, enquanto ficar me
dando bicadas não seremos amigas. Nunca!
— Eu vou pegar ovos e ai daquela galinha ousar me atacar. — Mamãe
ficou de pé, empinando o nariz e abracei Ediwa.
— Isso aí, sogra! Mostra quem manda aqui! — Ediwa ergueu os
punhos, comemorando. 
Em alguns minutos, ouvimos gritos e minha mãe saiu correndo do
galinheiro, xingando tanto quanto nunca ouvi na vida. Ao que parecia,
Galizé não respeitava ninguém naquele castelo. Era muito bom rir depois de
dias ruins, era a prova de que o arco-íris sempre aparecia após a tempestade.
 
 
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
Ediwa
Jocasta e eu estávamos juntas na sala de sua casa. Ela me fazia
companhia enquanto minha cunhada conversava com Lully no quarto e eu
fingia que a galinha não me seguiu até ali e me vigiava pela janela. Tomei
todo meu chá e ouvi a porta abrir, ficando de pé, ansiosa pelo resultado
daquela conversa, afinal, Claire saberia como acalentar Lully diante de todo
caos que estava acontecendo. 
Em Londres, uma gravidez na adolescência seria ruim, porém, mais
uma na multidão. Ali, era como a porta do fim do mundo. Eu estava
impressionada com o machismo, magoada e revoltada. Soube que muitas
coisas mudaram ao longo dos anos e boa parte tinha a ver com a pressão
dos novos líderes, que eram mais jovens e de mente mais moderna. No
entanto, ainda havia uma gama de senhoras preconceituosas com línguas
chicote que eu estava doida para fatiar.
— Como foi? — Jocasta quis saber, tão ansiosa quanto eu.
— Ela vai ficar bem, está animada para fazer as malas. — Claire abriu
um sorriso. — Esperamos vocês para jantar lá em casa, ok?
— Vamos, sim, obrigada por vir, Claire.
Nós saímos da casa e caminhamos lado a lado. Sabia que estava sendo
seguida pela galinha até que a ruiva pediu um tempo, encostando-se na
parede e respirou fundo algumas vezes, inclinando-se para frente como se
precisasse controlar o choro.
— Eu sou mãe de uma menina e dois meninos. Eu mataria os meus
filhos se eles ousassem ferir uma mulher no futuro e meu maior medo é que
Lenny seja ferida. — Claire olhou em meus olhos e senti a sua angústia. —
Quando eles foram sequestrados, foi uma dor inexplicável, Ediwa. Era
como se eu não pudesse respirar. Aquelas crianças são toda a minha vida e
eu entendo tudo que Jocasta e Dougal estão sentindo.
— Como foi com Lully? Ela está bem… calma, agora. Foi bem pior
nos primeiros dias. Tenho tentado estar por perto, mas eu nunca estive nesse
lugar e é difícil imaginar. O primeiro homem com quem transei foi seu
irmão e eu estava bem consciente, sabia o que queria e o que iria fazer. —
Encostei na parede ao seu lado.
— Esse é o ponto principal. Quando eu engravidei, foi de um ato
consensual que eu sabia o que era. Eu tinha plena noção do que era o sexo,
sabia o que era um pênis e o que acontecia entre um homem e uma mulher.
— Claire olhou para o alto, piscando para afastar as lágrimas. — Lully
tinha uma fantasia, uma paixão por um homem bonito que usava suéter e
camisa branca na escola, que falava bem e era charmoso. Mas Jocasta
nunca conversou com ela sobre sexo.
— Essa é a importância da educação sexual. A escola aqui não fala
sobre isso? Quer dizer, minha mãe não foi lá um grande exemplo, mas tive
a minha governanta me ensinando a colocar uma camisinha em uma banana
quando fiz dezesseis anos e minha irmã, quando conheceu o marido dela,
passou a me orientar bastante. — Eu encolhi os ombros. Daphne não tinha
culpa que começou a vida sexual “tarde”, mas foi antes de mim e nunca
teve tabus comigo. 
— Até o semestre passado, a escola era controlada pela igreja católica.
Quando meu pai morreu, Simon assumiu todo o espólio administrativo do
castelo e com sua posição na cidade, ele convenceu outros homens a se
aposentarem, para dar lugar a seus filhos. — Claire começou a me explicar
e voltamos a andar para casa. — Com isso, agora, a escola tem um novo
método de ensino. Antes, ainda era tradicional e religioso, portanto, Lully
não teve educação sexual na escola. A educação rígida em casa também não
ajudou muito a ter acesso a essa informação na internet, fora não ter amigas
da mesma idade, só o primo, que também não deve ter muita noção. Não há
moças solteiras por aqui e ele só vê os animais procriando. 
— Isso é lamentável. Farei de tudo para que as coisas mudem. 
— Já soube que colocou algumas senhoras fofoqueiras para correr.
Queria que tivesse tido alguém como você para me defender quando
engravidei. Nikki foi a única, mas ela era adolescente como eu. — Claire
passou o braço no meu. — Você é muito corajosa, Ediwa. Ser nova em uma
cidade e se levantar assim por alguém é um ato e tanto.
— Lully foi a primeira pessoa que me abraçou aqui, eu nunca a
deixaria.
Assim que entramos, ouvimos o chorinho de Daniel e Claire foi até
ele, que estava com Brian. Eu queria um pouco de colo também e decidi
procurar o homem da minha vida. Ele não estava no escritório, então fui
para o nosso quarto, ouvi o barulho do chuveiro e fechei a porta, trancando.
Bati na soleira antes de entrar, respeitando sua privacidade e ele olhou fora
do box, cheio de sabão pelo corpo.
— Posso entrar aí com você? 
Simon sorriu de lado, irresistível.
— É claro que sim. 
Tirei minha roupa, deixando no cesto para lavar e ele me puxou para
dentro com cuidado. Eu ia prender meu cabelo para não molhar e desisti ao
sentir seu peitoral contra meus mamilos. Simon me deu um beijo gostoso,
todo molhado, passeando com as mãos pelo meu corpo, espalhando o sabão
nas minhas costas até o bumbum. Inclinei minha cabeça para o lado e ele
beijou meu pescoço com certa pressão para deixar marca e riu, empurrando-
o de leve, mas rindo também. 
Erguendo-me, pressionou contra o vidro e busquei algum apoio, a
boca ocupada na dele. Seus beijos aqueciam tudo dentro de mim. Desceu os
lábios para os meus seios, deu uma mamada rude em cada um e meus
gemidos ecoavam na acústica do banheiro. Dei um tapa no azulejo e, sem
querer, derrubei meus xampus. Aproveitei para usar o espaço para apoiar
meu cotovelo.
Simon sorriu e olhou em meus olhos, brincando com a cabeça de seu
pau em minhas dobras e empurrou dentro. Fiquei toda arrepiada. Porra, que
delícia. Arranhei seus ombros, rebolando contra ele, querendo mais. Ser
fodida contra a parede era incrível. A cada estocada ele tocava em um
lugarzinho especial que me fazia ver estrelas de uma maneira gostosa, o que
construiu um orgasmo magnífico. 
Eu o beijei quando ele gozou. 
Toda tensão que estava em meus ombros se dissipou. 
Tudo que precisava estava bem ali.
Simon me colocou no chão, lavando-me com cuidado, fazendo
chamego e ainda secou meu cabelo. Nós nos vestimos novamente e estava
com fome, encontramos sua família reunida na sala, as crianças
desenhando, o bebê no carrinho e Claire tomando vinho com Brian. Geillis
cozinhava com minha sogra. 
O castelo teve muitas visitas naquele dia, estava cheio, foi divertido
acompanhar o guia turístico. Pelo menos, aprendi tudo e não torrei a
paciência de Simon com as minhas perguntas. Se o título não tivesse sido
revogado por escolha do pai dele, ele seria um conde, nossa, ainda bem,
porque eu estava fugindo da nobreza. 
Simon pegou uma taça de vinho para mim e serviu-se com uísque,
brindando com seu cunhado, Brian. Ele sentou ao meu lado. Já estava de
pijama, porque depois de jantar iria direto para a minha cama.
— Dougal conversou comigo pouco antes de encerrar o expediente.
Lully decidiu seguir com a gravidez na casa da tia, ela escolheu não ser mãe
do bebê, mas aceita que seus pais o criem como filho e no futuro, contem a
verdade. Quer fazer parte e amá-lo, fazendo de tudo para superar esse
evento traumático — Simon anunciou e eu senti certo alívio de que eles
estavam dispostos a resolver tudo em família. — Eu já conversei com
amigos na cidade e ela terá acompanhamento psicológico. Dougal e Jocasta
não irão se mudar, não acham justo sair do lugar em que construíram a vida
porque as outras pessoas não aceitam, mas Lully prefere ficar longe por
enquanto.
— Vai ser melhor para ela, depois ela pode voltar. As pessoas não
falam para sempre. — Ergui minha taça e brindei com ele. — Ao fim das
tempestades. 
— Estou garantindo que Ian tenha a pior aventura na cadeia e pelo que
soube, ela não foi a primeira aluna com quem praticou tais atos. — Simon
suspirou, exausto. — Um abusador bem debaixo do nosso nariz. 
— Não se culpe, não tinha como saber. 
— Eu tinha que ter quebrado ele na porrada há muito tempo, assim ele
não teria forças para machucar ninguém. — Ele bufou, ainda com raiva, e
dei-lhe um beijo na bochecha, para acalmar seus ânimos. Não valia a pena
perder a cabeça por alguém como Ian, felizmente, nunca mais iríamos vê-
lo.
— Simon! Exemplo! — Claire ralhou, apontando para Niven, que
parecia interessado. — Crianças, hora de lavar as mãos para jantarmos e
vão ajudar a vovó a colocar a mesa.
As crianças saíram, ainda curiosas, mas logo começaram um pega-
pega no corredor.
— Desculpe. — Simon fez um beicinho para a irmã. 
— Ele não está completamente errado, mesmo que não seja certo falar
na frente das crianças, é foda saber que havia alguém como Ian andando
livremente por aqui. — Brian puxou a esposa para seus braços. — Agora,
no entanto, preciso mudar de assunto. Estive com Ethan em uma reunião
ontem e ele pediu para te mandar um recado, Simon.
— É mesmo? — Eu quis saber, curiosa.
— Lá vem merda. — Simon relaxou no lugar, esperando a besteira.
Claire riu.
— É, assim, eu me sinto meio vingado. Você ficou me infernizando
por namorar sua irmã, cheio de ameaças de que poderia sumir comigo e
agora está namorando a irmãzinha do seu melhor amigo. — Brian tagarelou
e ergueu a mão. — Ethan te mandou isso.
Ele simplesmente mostrou o dedo do meio. 
— E disse que te dará um belo soco no rosto por ter suas mãos
grandes na irmã dele. Foram essas palavras. 
— Recado recebido, caro cunhado. Mas ainda posso sumir com você.
— Simon deu de ombros. — Sem que ninguém consiga te encontrar.
— Não comecem! — Claire e eu falamos ao mesmo tempo. 
— No passado, sentiria até um pouco de medo, hoje em dia sei que
gosta muito de mim e essa família precisa do meu equilíbrio masculino. Já
percebemos que a senhorita aí, junto a essa aqui… — Ele apontou para
mim e me virei, ofendida. O que ele queria dizer?
— Ei! Eu o quê?
— O que quer dizer, Brian? — Claire bateu nele.
— Acho que vou te deixar aqui se virando com elas. — Simon riu,
pegou seu copo de bebida e foi embora. Brian foi rapidinho atrás dele.  
 
 
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
Ediwa
Simon estava falando na minha cabeça sobre não plantar batatas tão
perto da janela da cozinha, mas eu achava um absurdo a horta ser longe ao
ponto de precisar de uma caminhada de quinze minutos ou ir a cavalo. Não
dava para ir de carro porque o terreno tinha muitas ondas e eu daria um
jeito. Decidi fazer uma pequena horta híbrida para facilitar nos temperos
que mais usávamos na rotina e também, batatas, porque era o legume de
maior consumo do castelo.
— Oh, infrinn, saudade do tempo que um homem não se metia nas
tarefas femininas! — resmunguei, cavando a terra para plantar meu pé de
alecrim, que estava lindo. 
— Eu não me intrometeria se você não estivesse sendo teimosa. A raiz
vai se alastrar até a parede e vai criar infiltração, o ideal seria do outro lado
e você não quer.
— É perto das vacas, não quero.
— Tem tanto espaço nessa fazenda para plantar batatas, mulher! —
Ele ergueu as mãos, frustrado, como se eu fosse difícil demais.
— Tudo bem, não vou plantar. — Dei de ombros, ajoelhada.
— Não faça essa carinha, mo luachmhor. 
Fiz apenas um beicinho, porque poxa, só tinha boa intenção, mas tudo
com Simon era exaustivo. Ele agachou ao meu lado, ajudando a plantar os
temperos e me deu um beijo na bochecha, tentando me convencer a virar o
rosto. Me derreti, cedendo meus lábios. Percebi que ele olhou para o relógio
antes de levantar e ouvi o barulho do helicóptero. Ergui o rosto, olhando
para o céu. 
— Claire e Brian estão voltando?
— Não. É uma surpresa para você. — Ele sorriu e esticou a mão. Tirei
as luvas, as joguei na areia e levantei, observando o campo de pouso. Eram
dois helicópteros e eu tive um ataque histérico pulando no lugar ao perceber
o símbolo de Rainland. — Simon! Não posso acreditar!
Esperei que as aeronaves desligassem e as pás parassem para sair
correndo. Ethan desceu primeiro, atravessei o gramado com rapidez e me
joguei nos braços do meu irmão. Ele riu e me rodopiou. Eu gritei de muita
felicidade.

— Não acredito, mo ghràdh[11]! 


— Você está falando em gaélico? — Ethan me colocou no chão na
mesma hora. — Eu vou matar Simon com um pouco mais de força agora. 
— Não vai nada. Ele é o homem da minha vida.
— Ai, meu Deus, acabei de chegar, não me torture! — Ethan
resmungou e atrás dele, saiu Louis, meu primo, com a esposa. Gritei,
pulando, quase derrubando a coitada da Cat com meu abraço. Ela estava
segurando a filha, um pouco assustada com meu jeito efusivo. Charlotte
precisou de ajuda para sair, estávamos impedindo e precisávamos liberar
espaço para que os passageiros do outro pudessem desembarcar.
Mamãe, Daphne, Bruno e as crianças. Toda minha família! Bem,
faltavam meus tios, mas enfim, quase toda minha família. 
— Estou tão feliz que estão aqui, meu Deus! Isso é tão importante! —
Pulei no lugar depois de abraçar minha irmã e cunhado, segurando meus
dois sobrinhos no colo, já que a caçula estava meio dormindo, com a boca
no seio de Daphne. — Ei, Simon! Vem aqui! — Acenei, desesperada. Ele
riu e andou com calma. — Família, bem, Louis e Ethan já o conhecem, mas
todo o restante, quero que conheçam o homem da minha vida: Simon
Higgins Basset. 
— Ediwa, querida. Fale devagar, não conseguimos entender nada
direito. — Mamãe começou a rir, um pouco vermelha. — Está falando em
inglês, meu anjo?
— Um pouco em gaélico e não percebe — Simon explicou e fiquei
envergonhada. 
— Desculpe.
— É um prazer conhecê-lo, sempre quis muito te agradecer
pessoalmente por salvar a vida do meu filho. — Mamãe o abraçou apertado.
— Muito obrigada, Simon. Trouxe Ethan e Louis de volta para nossa
família e agora, você faz parte dela. 
Ela o aceitar era muito importante para mim. Devolvi os meninos para
o chão e percebi que estava toda zoada, com a calça suja de terra, galochas
(um pé de cada par), uma blusa meio puída e um avental colorido. Do jeito
que minha mãe deveria estar quase infartando por dentro. 
— Vamos entrar! Roger trará alguém para cuidar das malas e as
camareiras irão distribuí-los entre os quartos. Enquanto isso, vamos ter chá
e bolinhos no salão principal — anunciei e segurei a mão de Simon, que
chamou Roger pelo rádio. Os funcionários eram muito bem orientados para
cuidar de tudo com uma excelente etiqueta. Eu não precisava me preocupar
com nada. 
— É normal ter uma cabra nos seguindo? — Daphne quis saber. —
Sei que aqui é uma fazenda também, mas…
— Ah, sim. Ela é minha de estimação e me acompanha se estou
andando por aí — expliquei e dei um aceno para minha menina.
Geillis estava preparada para receber minha família, Simon avisou
previamente e eu pude subir, tomar um banho rápido, colocar um vestido
bonito, porém, não me arrumei demais porque não havia a mínima
necessidade. Ao retornar, eles estavam bem confortáveis, rindo e brincando,
sem nenhum clima ruim. Louis e Bruno estavam implicando um com o
outro, então, Ethan achou que poderia antagonizar Simon, fingindo que lhe
daria um soco. 
— Parem com isso agora mesmo. — Eu separei os dois, empurrando-
os para longe. — Não vai bater nele por namorar comigo. Era o que
Leonard deveria ter feito com você?
— Eu casei com a irmã dele. — Ethan deu de ombros.
— Nós somos praticamente casados. Vivemos juntos e tudo mais.
— Nada de se acomodar dessa maneira. — Ethan ficou vermelho e eu
estava apenas provocando. Simon me abraçou e me deu um beijo, ele ficava
meio chateado quando brincava que não íamos casar de verdade. Era só me
pedir que eu diria sim. 
— Quando foi que ficou tão ranzinza? 
— Eu não sei, digo que ele tem se tornado um jovem velho. —
Charlotte entrou no assunto, provocando o marido. — Sente dores nas
costas por qualquer coisa. 
— É a idade e a grande chatice que carrega. — Daphne deu um gole
do seu chá. 
— Simon, querido. Esse lugar é mágico. — Mamãe estava andando de
um lado ao outro. — Sua mãe está? Eu adoraria conhecê-la.
— Sim, senhora. Ela foi à cidade visitar uma amiga e estará de volta a
tempo do jantar. — Ele foi todo formal e educado. Fofo. Agarrei sua
bochecha. 
O rádio tocou e eu olhei, era a frequência de Murray e fazia algumas
semanas que ele não dava sinal de vida. Simon pediu licença, desculpando-
se por ser do trabalho e o acompanhei com o olhar, preocupada. Sinalizei
para Roger ir junto. Ethan e Louis perceberam, então abri um sorriso,
disfarçando e fui sentar com as mulheres, para colocar a fofoca em dia,
louca para ter notícias de Alicia. Inclusive, contei meu “mico” de não saber
que Ford era primo de Simon. Mamãe também não sabia e eu me senti um
pouco melhor.
Soube de todas as fofocas de Rainland e dei a Charlotte todos os
gorros e mantas que havia produzido, ela amou. 
— O que aconteceu? Não que eu esteja reclamando da visita.
— Simon me contou sobre a menina grávida e o quanto você brigou
com as pessoas por aqui. Eu fiquei orgulhoso, mas também sei que você
odeia confrontos, estávamos com saudade e por esse motivo, decidimos vir
— Ethan respondeu e eu os olhei com carinho.
— Obrigada, mas juro, estou bem e faria tudo de novo. Dessa vez, por
mais que meu nome esteja na boca do povo por defender uma menina, não
me importo nem um pouco. E que continuem falando, enquanto não
pararem, só vou piorar. — Abri um sorriso provocante. Daphne levou a mão
ao peito. — O que foi?
— Finalmente parece minha irmã. — Ela soou orgulhosa e rimos. —
Estou brincando, sempre soube que havia uma força aí, escondida debaixo
de toda doçura. Agora, ela é só uma dona de casa de muitos hectares e mãe
de muitos bichos. Ainda estou abismada que tem uma cabra. Eu moro em
Nova Iorque, isso é uma coisa bizarra! Se Niall me pedir uma, eu vou te
bater.
— Simon diz que todos os animais da fazenda me adotaram, bem,
exceto uma. Tem uma galinha, ela me odeia. Eu e ela estamos tendo nossas
desavenças…
— Uma galinha? — Cat começou a rir. — Está brigando com uma
galinha?
Eles não conseguiam parar de gargalhar de mim e fiquei meio irritada
porque minha relação com a penuda era complicada de verdade, não era
mera implicância. 
— Terei que levá-las para saber do que estou falando! Galizé me
detesta!
— Oh, querida. Nunca ia imaginar que sua vida mudaria dessa forma.
— Mamãe beijou meus cabelos. — Até seu cheiro mudou, ainda tem o seu
clássico perfume, porém, com um aroma diferente.
— É cheiro de ar puro. Vocês têm cheiro de poluição e shopping
center. — Franzi o nariz.  Charlotte cheirou a si mesma, confusa. Eles não
entenderiam. — Aqui é o meu lugar, mamãe. 
Simon voltou para a sala, descendo as escadas com tranquilidade e me
deu uma piscada para mostrar que estava tudo bem. Soprei-lhe um beijo
discretamente, feliz por ele ter organizado uma surpresa com a minha
família inteira só porque algumas pessoas na cidade estavam falando mal de
mim e ele sabia que aquilo me deixava um pouco triste. Seu amor e
devoção a minha felicidade me fazia amá-lo um pouco mais a cada
segundo.
 
 
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
Simon
Ediwa estava andando com uma prancheta, falando com a professora
de artes e acenou para o de esportes, pedindo para que ele pendurasse a
faixa um pouco mais alto. Eu estava contra a parede, de braços cruzados, só
observando-a trabalhar em seu primeiro festival de música. Ela queria
convencer as famílias de que seria uma boa oportunidade para os alunos
participarem do evento em Inverness, então, nada melhor do que criar um
na cidade, arrecadando fundos para igreja e envolvendo toda a comunidade
que adorava uma festa, um motivo para beber e uma história para contar.
Ela entendeu rapidinho como funcionava a mente da população. E
para eclipsar o recente escândalo, o vigário agarrou aquela festa como se
fosse uma tábua de salvação, ignorando que Ediwa sequer era católica e que
nós vivíamos em pecado. As crianças estavam animadas, arrumando as
barracas e organizando as comidas que seriam vendidas. Só de ver a
felicidade nas ruas, sabia que a viagem seria aprovada, e pelo empenho da
minha mulher, ela merecia.
Eu estava ali só para acompanhá-la e pelo meu papel, tive duas
reuniões enquanto estava ocupada. No final do dia, só queria ir para casa
comer. Ediwa me deu um aceno, animada e sentada, sem os sapatos.
Esticou os braços e fez um pequeno beicinho, querendo ser carregada até o
carro. 
— Está cansada, baby? — Dei-lhe um beijo nos lábios e ouvi os
risinhos das crianças. Ela vivia rodeada pelos alunos, principalmente os
menores, sempre tinha uma criança pequena grudada na barra de sua saia. 
Aquela cena me dava muitas ideias para um futuro próximo.
— Exausta, e está tudo pronto para amanhã! Estou tão animada, mas
meu corpo precisa de uma banheira e das mãos incríveis do meu namorado.
— Vou te mimar muito agora.
Do meu colo, ela acenou para as pessoas. Levei-a para o carro e dirigi
em segurança até nossa casa. Para muitos, deveria ser esquisito viver em
um castelo. Eu estava mais do que acostumado, não só porque nós não
usávamos todos os cômodos, era impossível. A maioria ficava conservada
para as visitações, que era o que mantinha o lugar em funcionamento. 
Nosso cantinho era muito especial, tinha nosso jeito, cheiro e
aconchego. Ediwa gostava de ter flores frescas, estava sempre arejado e
perfumado. Ela trocou meus lençóis escuros e colocou mais travesseiros na
cama. Do lado dela, tinha livros e produtos de beleza, do meu, um canivete
que usava para limpar as unhas, um livro e mais nada. Minha arma ficava
debaixo do travesseiro. 
Ediwa permaneceu montada em minhas costas por toda a escada,
levei-a direto para o banheiro dizendo que estava fedida. Um bebê golfou
em sua blusa e estava com cheiro de leite azedo, nós rimos porque Daniel
vivia fazendo o mesmo e não era algo que nos aterrorizava. O único
problema que a assustava em ter filhos era a privação de sono. A
experiência com nossos gatos foi um pouco traumatizante. 
Enchi a banheira com água morna, ela jogou os sais de banho, as
besteiras cheirosas que comprava na internet, acendeu as velas e apagou as
luzes. Colocou música e peguei vinho, porque minhas intenções eram as
melhores… 
Entrei primeiro e a observei tirar a roupa, o que fez lentamente, um
showzinho particular. Era apaixonado por seu corpo. Apoiando as mãos nos
meus ombros, sentou no meu colo, bem de frente. Amava aquele jeito
desinibido. Idolatrava o atrevimento. Nada de timidez ou pudores. Não
havia espaço para isso entre nós, quanto mais intimidade, melhor. 
Eu queria tudo, porque tínhamos a vida inteira pela frente e sorte a
minha que a encontrei no momento certo. Não só porque ela era mais jovem
e nunca aconteceria nada, teria sido terrível nos apaixonarmos em um
período da minha vida no qual o trabalho era o meu principal objetivo,
poderíamos sair de uma relação com o coração partido. 
— Está feliz por ter conseguido o que tanto queria?
— Quer dizer que um dos senhores está a meu favor?
— Acha mesmo que depois de todo esse empenho com o evento,
ainda não vai conseguir levar as crianças para Inverness? — Abri um
sorriso, tirando uma mecha de seu cabelo molhado do rosto. — Ainda quero
ter certeza absoluta sobre a segurança, é a minha principal preocupação, o
dinheiro para hospedagem você já conseguiu com a generosa doação da
empresa do seu irmão. Falta o transporte.
— Soube que a igreja vai doar, mas ainda não é oficial. Esperarei o
assistente vir falar comigo para então comemorar.
— Minha mulher é muito determinada.
— E quanto à segurança, eu me relaciono com o melhor, o mais
incrível e equipado mestre da área. Tenho certeza de que vai criar um
esquema tático que vai manter não só a professora, como os alunos e
auxiliares bem seguros. — Esfregou o nariz no meu. Maldita manipuladora.
— E será a oportunidade perfeita para finalmente trabalharmos juntos sem
brigarmos, não acha? 
— E qual a graça de não brigar? — Apertei sua bunda e a coloquei no
lugar certo.
— Hum… vamos mudar de assunto agora?
Ela esfregou-se contra meu pau e começamos a expulsar um pouco de
água da banheira, a conversa ficou mais interessante. Ela teve o mimo e a
massagem que queria, depois, desci para pegar um lanche na cozinha,
quando voltei para o quarto, ela comeu o sanduíche assistindo a um filme e
para o descanso dos meus ouvidos, ficou quieta, porque no dia seguinte não
poderia ficar rouca ou com as cordas vocais cansadas.
Dormimos cedo e fomos expulsos da cama pelos gatos morrendo de
fome, literalmente socando a porta exigindo comida. Saí, ainda de pijama,
para encher os potes e falar com Murray. Era o horário que ele mandava
notícias. Estava pela mata, a quilômetros de distância, seguindo o grupo,
registrando os roubos, documentando tudo e fazendo um mapeamento de
como eles trabalhavam em uma missão que não era da nossa conta, mas era
do nosso interesse proteger a cidade que amávamos. 
A polícia meio que não se importou com a denúncia porque não
tínhamos provas e eles eram muito bons em não deixar rastros. Em breve,
teríamos mais do que o suficiente.
E era bom porque deu um sentido a Murray. Ele já não aparentava
mais estar deprimido, estava indo à cidade para suas sessões e voltando para
a mata, focado e animado com o futuro novamente. 
Ediwa passou a manhã inteira fazendo o cabelo e maquiagem,
passando as roupas, andando de um lado ao outro agitada com um entra e
sai de mulheres no quarto. Fiquei no escritório, trabalhando até o último
minuto possível. Ethan pediu para filmar tudo e enviar assim que acabasse a
apresentação. 
— Filho, estou indo! Quero buscar a Jocasta antes de sair! — Mamãe
passou, cheirosa, tão rápido que nem vi sua roupa, só gritei tchau de volta.
— Ela está pronta, patrão. Vamos na frente — Geillis avisou, toda
arrumada. Estava linda, de batom vermelho e os cabelos presos em um
coque. 
— Uau! Será que a roupa que separei é digna de tudo isso? 
— Deixa de ser bobo, menino. — Ela riu, dando um tapinha no meu
peito. — Vá se vestir, a professora não pode chegar atrasada. 
Entrei no meu quarto e parei de supetão. Ediwa estava… sem
palavras. Seu vestido era longo, com uma saia que caía de maneira fluída
até as panturrilhas, azul-claro, com flores rosas escuras bem delicadas e os
cabelos soltos, cheios de cachos suaves, presos na lateral com uma presilha
que sabia que pertencia ao espólio de joias que minha mãe herdou, mas ela
não era apegada. Deve ter lhe emprestado. 
— Você está magnífica, mo luachmhor.
— Obrigada, Mo ghràdh. — Ela sorriu, emocionada. — Estou
nervosa. 
— Vai dar tudo certo. Vou ficar pronto em minutos.
— Tudo bem. — Assentiu e sentou na pontinha da cama para não se
bagunçar, abanando o rosto, espantando a emoção. 
Tomei um banho rápido e ainda embasbacado com a beleza dela, até
me atrapalhei para me vestir, tomando cuidado para não amassar a blusa.
Fiquei pronto e em minutos, saímos, chegando no horário certo no evento.
Fiquei acompanhando-a de perto para ajudar no que fosse necessário.
Ediwa tinha um bom domínio dos alunos, arrumou-os em fila, acalmando a
ansiedade dos pais e tirando fotos com pequenas fofuras de kilt que queriam
a atenção dela. 
Havia um cronograma a ser seguido e embora tenha liberado cerveja
de graça para atrair os turistas, desejando que fizessem doações, obriguei
que os pais que estavam rindo e conversando prestassem atenção e
batessem palmas. A grande surpresa da noite para muitos foi ver que
Ediwa, de fato, era excelente no que fazia. Dos menores aos maiores, eles
cantaram afinados, tocaram os instrumentos e sua doce voz encantou quem
não sabia que ela tinha um dom de tirar o fôlego. 
A música fazia parte do seu ser e eu tinha muito orgulho.
Aplaudi, assobiei e fiz todo o escândalo. A multidão ficou de pé e
aquilo era apenas uma pequena parte do que aconteceria no fim do ano em
Inverness. Ediwa estava conseguindo aquele holofote por ser ela mesma,
boa no que fazia, talentosa e não por ser uma lady, irmã de um príncipe,
alguém que a mídia perseguia ou que as pessoas ficavam em cima por
interesse. 
Do palco, ela olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas e
acenou. Eu movi meus lábios, dizendo que a amava e foda-se quem poderia
estar prestando atenção também. Era verdade e mal via a hora dela ser
minha esposa. Minha para sempre. 
 
 
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
Ediwa
Segurei a mão dos meus alunos e juntos, fizemos um agradecimento
antes de formar fila e sairmos do palco. Eles estavam eufóricos, desceram
gritando, trocando abraços em comemoração de que não erraram nada e
conseguiram fazer tudo. Os auxiliares subiram para recolher os
instrumentos, guardar certinho e levar para a escola. A empresa que
contratamos para fazer todo o som, tirou os microfones das nossas roupas e
logo que fui liberada, desviei de algumas pessoas e caí nos braços do meu
maior apoiador. 
Nem parecia ser o mesmo homem que implicava com tudo o que eu
fazia quando cheguei. Simon me abraçou apertado, chegando a me erguer
do chão e em seguida, deu espaço para minha sogra. Ela chorou um pouco,
como uma mãe emocionada e para minha surpresa, estava em chamada de
vídeo com a minha mãe. Fiquei tão chocada que nem tive uma reação de
imediato. 
— Achei que ela não gostaria de perder isso, trocamos nossos
números quando ela veio nos visitar — Lili me explicou e eu fiquei…
nossa. Ela me elogiou, estava chorando e foi um show de lágrimas da minha
parte também. 
Simon beijou meus cabelos e havia uma gama de pais querendo me
cumprimentar, agradecer, tirar fotos, meus braços não tinham mais espaços
para receber flores, chocolates e doces caseiros. Meu rosto estava vermelho,
ainda bem que a maquiagem estava selada e à prova d’água. 
— Não pode dizer que nunca te levei para jantar — Simon murmurou
quando abriu a porta do pub em que a maioria das famílias reservou uma
mesa depois da apresentação. Eu dei a ele um olhar.
— Me trazer para comer ragú de cordeiro com sua mãe e Geillis não é
jantar romântico, amor. — Bati em sua barriga, ele riu e puxou uma cadeira
para mim. Estava morrendo de fome e sede, já tinha falado muito. 
— Mas você disse que nunca te trouxe para comer fora. Agora, isso é
mentira. Ainda  vou te levar em um encontro.
— Só se for na nossa lua de mel.
— Nunca diga nunca. — Ele piscou, me provocando. 
Simon fez os nossos pedidos, estava louca para devorar meu prato,
bebi um copo de água e duas canecas de chopp, brindamos ao sucesso e à
aprovação, porque sabia que tinha conseguido. Atingir o objetivo que
cheguei ali, com tantas negativas, era simplesmente uma conquista
maravilhosa. De tão feliz, inclinei-me sobre a mesa e beijei os lábios do
meu namorado, já um pouquinho alegre.
Aproveitei que a mãe dele estava distraída e Geillis fofocando com a
mesa ao lado para arrastar meus lábios até seu ouvido.
— Quero comemorar o dia de hoje rebolando no seu pau quando
chegarmos em casa. 
Ele ficou todo arrepiado e ao mesmo tempo, riu, não entendi nada.
Comi todo meu prato, bebi mais e, no caminho, me bateu um sono, fiquei
dando cabeçada no vidro e cada vez que bocejava, ele ria um pouco mais.
Bati em seu braço. Chegamos em casa e colocamos os cachorros para
dentro, procurando os gatos e parei, tirando os saltos, finalmente
balançando meus dedinhos. 
— Cheia de promessas. — Deu um tapa em minha bunda.
— Me carrega na escada! 
— Não prometeu um monte de safadeza?
— Eu não prometi, disse que queria comemorar, agora estou bêbada,
com o estômago cheio, a bexiga também, os pés doendo e cansada! 
Simon me ergueu e fingiu que ia me jogar no chão, gritei, o que fez
com que Marsali avançasse nele.
— Calma, menina. É brincadeira. — Simon me colocou no chão.
— Estou bem, minha heroína. Ele é um bobo.
— Era brincadeira. — Ele tentou tocar em mim novamente e ela não
deixou. — Acho que não vou poder subir com você.
— Irei acalmá-la. Ela fica muito protetora com movimentos bruscos. 
— Sinto muito, não quis te assustar. — Simon ajoelhou ao lado dela.
— Desculpe, Marsali. Não vou machucar a mamãe. — Ele coçou as orelhas
dela, encostando no focinho e ela finalmente relaxou. 
Conseguimos subir para dormir. Embora quisesse fazer uma festinha,
deveria ter pensado nisso antes de me entupir de comida e cerveja. A
fermentação da carne, pão e cevada não colaborava com o sexo. Simon
continuou de risinho, andando nu pelo quarto, me provocando, dei-lhe um
chute quando veio para a cama só para deixar de ser idiota. Ele estava com
sorte que eu tinha sono de sobra ou passaria a noite cantando em seu
ouvido, por ter mais energia e saber vencer no cansaço. 
Apesar das semanas turbulentas com tudo o que aconteceu com a
Lully, depois da apresentação, Simon e eu entramos em uma rotina
agradável e de muitos ajustes como casal. O mês passou rápido,
considerando o trabalho, as brigas para colocar nossos pingos nos is, as
mudanças no castelo, o fim das visitações e a mudança no clima. Quanto
mais o tempo passava, mais me preocupava com Murray na mata, estava
chegando um período que era imprevisível saber quando a neve cairia na
montanha, no topo das colinas. 
Simon e ele estavam inflexíveis que o tempo do grupo também estava
acabando. Eles não podiam praticar roubos em massa no inverno. A neve
tornava praticamente impossível que eles se movessem pela mata sem
deixar rastros, precisariam de fogo, abrigo e de muito equipamento para
sobreviver ao frio. No mês de outubro, eu disse para Simon acabar com
aquilo. Se não os pegássemos naquele ano, tudo bem, em Abril as chuvas
voltariam e teríamos outra oportunidade para acumular mais provas.
— Ediwa! — Simon me chamou com urgência. Deixei o piano, saindo
correndo e derrapei na escada. — O veterinário disse que está tudo pronto!
Ela vai parir! 
— Ai, meu Deus! Vou pegar meu casaco!
— Tenho um extra, vem! — Ele estava animado.
Marsali latiu empolgada e desci correndo, pulando animada. Calcei
minhas galochas, ele vestiu o casaco em mim e saímos correndo. Entramos
no celeiro, onde minha cabra estava olhando a outra em trabalho de parto,
ajoelhei próximo ao veterinário e coloquei as luvas que ele me entregou.
Simon parou atrás de mim, segurando meus ombros. Eu nunca tinha
assistido algo parecido antes, fiquei nervosa, mas foi muito mágico. 
— Está tudo bem, tudo ótimo, saudável. Olha que beleza! — Simon
comemorou.
— Minha cabra nunca vai engravidar, eu não quero que ela cruze. —
Cruzei os meus braços e olhei para ela.
— Ainda é um filhote, não está no tempo, mas você não vai conseguir
impedir isso. — Simon riu e beijou minha bochecha.
— Quero que a minha bebê morra virgem.
— Egoísta.
Nós comemoramos a chegada do novo membro da nossa enorme
família de cabras e tirei fotos, enviando para Daphne, que morria de pavor.
Eu ria tanto. Simon me levou para dentro, tomei banho quentinho e meu
namorado me surpreendeu com um chá gostoso. Geillis preparou sopinha
de batatas com frango para mim, que estava gripando um pouco, e deitei
cedo para dormir porque no dia seguinte tinha trabalho cedo.
Minha vida ali na Escócia era tão calma que qualquer pessoa de
Londres morreria de tédio. Pippa me ligava querendo saber das novidades,
ficava interessada nas histórias dos animais que eu contava e fofoca das
pessoas que ela sequer sabia quem eram. A parte boa, era que ela e
Charlotte me atualizavam de absolutamente tudo que acontecia na
Inglaterra sem que eu precisasse ir lá. Claire, quando aparecia, além de
roupas, sapatos e maquiagens que pedia para comprar para mim, também
trazia novidades quentes.
Se eu trocava minha vida ali? Nunca.
Minha paz e tranquilidade com Simon era impagável. 
— Os gatos estão dormindo, os cachorros, já foi difícil colocar o mais
novo para dentro, ele está muito teimoso. — Ele entrou no quarto, com frio.
— Está um vento terrível lá fora. Roger teve que correr por um lado e eu,
por outro. 
— Ele está muito engraçadinho. Quando o adestrador vai voltar?
— Semana que vem. Se continuar assim, vai acabar assustando as
cabras. 
— Precisa estar pronto para pastorear com os outros. — Ele deitou-se
ao meu lado e dei-lhe um beijo de boa noite. Estava chatinha, menstruada,
toquei a tarde toda ensaiando uma nova música e sentia que a cólica iria dar
um olá em algum momento da madrugada. 
Ele apagou a luz do lado dele antes de mim, colocando o braço pesado
no meu ventre, que, de primeira, trouxe um pouco de dor e depois, alívio,
por aquecer. 
Peguei no sono lendo, mas me assustei com um som. Abri os olhos
com o movimento de Simon. Ele sentou na cama, enfiando a mão debaixo
do travesseiro e pegou a arma, ficando imóvel e atento. Sequer me movi
para não lhe atrapalhar. E então, ouvimos novamente o que parecia uma
troca de tiros cada vez mais perto do castelo. O vento estava trazendo o som
de vozes masculinas, a agitação dos cavalos provou ser do lado norte e me
preocupei com os animais. 
— Fique aqui dentro. — Simon me entregou a arma destravada. —
Não hesite se for atirar, Ediwa. Fale no telefone com Geillis, peça para ela
trancar a porta, comunique-se com os demais funcionários, vou acionar o
alarme silencioso no escritório e todos vão receber mensagens. Se proteja
em primeiro lugar, entendeu?
— Eu entendi. Vá em segurança e volte — pedi e ele assentiu, me
dando um rápido beijo antes de correr.
Eu agarrei a arma, pegando meu celular e fiz o que me orientou,
ficando arrepiada com os animais mostrando o medo do lado de fora e meu
coração cada vez mais acelerado sem saber o que estava acontecendo. 
 
 
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
Ediwa
Fiquei de pé com o ouvido contra a porta, tentando ouvir do lado de
fora e respirei fundo, tocando a maçaneta e seguindo pelo corredor. Simon
disse pelo rádio para que eu não saísse do quarto em nenhuma hipótese
quando identificou que era um ataque dos homens nômades contra Murray,
ele acionou todos os seguranças da propriedade e solicitou que eu chamasse
o chefe da polícia, assim como reforços da cidade vizinha. Mas havia um
silêncio doloroso há alguns minutos. 
Meu coração martelava no peito e fui caminhando até a ponta da
escada, tomando um susto ao ver Roger seguindo pelo mesmo caminho.
Nós demos um salto quando batemos um no outro e cobri minha boca para
não gritar. Agarrei-o, fazendo sinal de silêncio e fomos andando lado a lado,
ele segurou um pedaço de ferro de uma armadura, tentando me proteger e
eu era duas vezes maior, mas apreciei a atitude. Um recém-adulto
magricelo, mas tudo bem, era o que Simon também faria.
Descemos a escada e vimos um segurança, ele virou de supetão e
relaxou.
— Ainda não está tudo liberado, senhora. Estamos fazendo uma
varredura na fazenda.
— Algum animal ferido? Simon está bem? — Eu quis saber, nervosa.
— Preciso de ajuda! — Simon gritou e chutou a porta com força,
carregando Murray nos ombros e o jogou no chão. — Roger, pegue o kit
médico e ligue para a cidade, o médico precisa vir para ir no helicóptero
direto para Inverness. — Ele estava nervoso e corri em sua direção,
ajoelhando ao lado.
— O que eu faço? Ai, meu Deus! Você está ferido? — Entrei em
desespero.
— É superficial, estou bem. Segure a cabeça dele e faça tudo que eu
mandar — ele ordenou e olhei para Murray, que tremia. Sua ferida jorrava
muito sangue. Engoli em seco, agarrando as gazes, soltando e obedecendo a
tudo o que Simon pedia. Ele tirou o cinto, deu para Murray morder, jogou
álcool nos instrumentos e eu pressionei os ombros dele no chão enquanto se
debatia ao ter Simon cuidando de tudo. 
Foi horrível, eu só conseguia chorar. Quando o médico chegou, me
afastei para dar lugar à enfermeira, Murray estava muito ferido e Simon
precisou carregá-lo até o helicóptero. Alguém me deu um casaco e uma
bota, para poder acompanhar a viagem até o hospital. Observei o médico
cuidando dos ferimentos ali no ar, um pouco enjoada e preocupada. 
Quando pousamos, pude ficar com Simon na sala de atendimento. Ele
foi examinado, a ferida foi limpa e bem cuidada, ele foi medicado e ficou
deitado na cama com o braço nos olhos, tentando aguentar a dor. 
— Preciso saber se todos eles foram pegos — Simon murmurou. —
Alguns conseguiram fugir. Eles correram em direções opostas quando
precisei ajudar Murray.
— A equipe dará notícias em breve. — Beijei sua testa. — Ainda com
muita dor?
— É desconfortável. — Ele suspirou e segurou minha mão. — Eu não
disse para ficar dentro do quarto?
— Sou teimosa, desculpa. Fiquei muito preocupada quando o barulho
parou e não sabia o que fazer. — Abaixei a grade da cama e subi, deitando
com ele. — Vai ficar tudo bem, a polícia está na fazenda e todos os
seguranças vasculhando a propriedade. Murray vai sair dessa.
— Ele perdeu muito sangue, Ediwa. Já vi isso…
— Shh, nada disso. — Cobri sua boca. — Vamos ter fé.
Comecei a rezar baixinho, confiante de que todos nós ficaríamos bem,
seria apenas uma noite que lembraríamos com pesar, mas sem baixas. Nada
de medo. Passamos a madrugada ali e ele foi liberado pela manhã com uma
cartilha de cuidados e medicações. Já Murray, ainda estava em cirurgia,
enfrentou complicações e ficamos sentados na sala de espera, com os pais
dele, o vigário e outras pessoas da cidade.
A fofoca correu rápido, o fato de Simon ter seguido com a
investigação mesmo quando o chefe de polícia disse que não havia nada
não foi exatamente algo bom, mas era tarde demais para brigar. Estava
feito. Ele era teimoso, um militar que não ignorava o perigo quando seu
instinto dizia para abrir os olhos e ver de perto. De fato, poderia ter
acontecido algo pior. Quando recebemos a notícia de que, apesar de ter
dado trabalho e  estar crítico, Murray iria sobreviver, sentimos um imenso
alívio.
Ficaria em observação nas próximas horas e apenas os pais poderiam
entrar para vê-lo. Eu estava de pijama, com um casaco, suja de sangue e
usando botas que não eram minhas. Era hora de irmos embora. Fiquei de
pé, recolhendo nossas poucas coisas e segurei a mão de Simon. 
— E agora, vou te levar para casa. Precisa descansar. 
— Tenho que saber como estão as coisas.
—  A fazenda e o castelo continuarão de pé por mais algumas horas.
— Eu me inclinei e beijei seus lábios, ele sentia dor e não estava me
dizendo nada.
Voltamos para casa, tentei fazê-lo deitar e falhei. Havia o chefe da
segurança, da cervejaria, da fábrica do uísque, o encarregado da fazenda,
Roger e um monte de gente querendo prestar conta e lhe passar relatórios.
Tudo foi cuidadosamente inspecionado. Havia coisas a serem consertadas.
Tomei banho, troquei de roupa, prendi o cabelo, vesti botas, jeans, camiseta
e fui trabalhar, olhar meus animais, cuidar da comida e verificar o que
precisava da minha atenção.
Simon teve que ir à cidade para uma reunião e fiquei preocupada, ele
não havia comido direito e não parou nem por um minuto. Geillis e eu
queríamos ter ido junto, mas ele preferiu que ficássemos em casa. Preparei
um jantar reforçado, tranquilizando nossa família. Minha sogra, que estava
em Londres há algumas semanas para ajudar Claire com a adaptação das
crianças na nova escola, estava desesperada.
No final da tarde, ela desembarcou para nos ajudar e dar todo mimo.
Eu realmente queria um pouco do colo dela. 
— Como isso foi acontecer? E por que não me contaram nada? — Lili
brigou comigo assim que me abraçou. — Oh, menina. Parece exausta!
— Parece que todos do grupo foram pegos, segundo o relatório do
Murray e as fotografias — expliquei e cobri a boca com um bocejo. —
Simon foi prestar depoimento mais uma vez. Ele disse que estará de volta
ainda hoje. 
— Ele está ferido, deveria ficar na cama, não por aí. — Ela estalou a
língua.
— Meu ogro da montanha é o mais teimoso de todos. 
Quando Simon chegou, ele só ergueu o dedo, pedindo um minuto e
jogou-se no sofá, levantando a camisa e mostrando que precisava ter o
curativo trocado. Eu tinha muitos motivos para explodir e brigar com ele,
mas escolhi pegar o kit, fazer o cuidado correto, servir o jantar e ficar quieta
enquanto a mãe dele quase fazia nossos ouvidos sangrarem. Ele aguentou
tudo calado e pediu desculpas de tempos em tempos, sendo um filho bom e
paciente com os medos dela. 
Depois, muito cansado, ele quis dormir. Passei meu braço por sua
cintura e subimos a escada devagar. Simon beijou meus cabelos e por estar
o tempo todo quieto, fiquei seguindo-o, observando seu banho. Ele colocou
o pijama e deitamos lado a lado, apenas olhando para o teto. Virei e deitei
minha cabeça em seu peito, com muito cuidado para não machucá-lo e
beijei seu pescoço. 
— Sei que está chateado que Murray se feriu, que o castelo foi
atacado e que muitas coisas poderiam ter dado errado. 
— Muita gente poderia ter se ferido. — Ele esfregou as têmporas,
exausto. 
— E não aconteceu porque aqui tem defesas, porque você cuidou
disso antes que acontecesse. Murray é um homem treinado, ele sabia o que
estava fazendo e fez o melhor. — Inclinei-me e beijei seus lábios. — Eu te
amo e estou muito aliviada por poder estar aqui com você. 
— E eu… não sabe o quanto fiquei assustado com o mísero
pensamento de que poderia estar ferida. — Ele segurou meu rosto e me
beijou profundamente, fechei meus olhos e me entreguei, apaixonada e
muito grata. 
— Estou bem. Inteira e segura. Você me deixou protegida e ainda me
deu um meio de me cuidar se fosse necessário. — Esfreguei meu nariz no
dele, acariciando o cabelo e olhei em seus olhos. — Não vamos olhar para o
que poderia ter acontecido. Vamos agradecer que não foi pior. Estamos bem
e é isso o que importa. Enquanto estivermos juntos, vamos superar tudo.
Quando Murray acordar, você vai ver, ele vai fazer uma piadinha e dizer
que estará pronto para a próxima missão porque é assim que vocês são,
muito malucos. 
Simon riu e acabou concordando. Ele só não sentia tédio da vida fora
da marinha porque a fazenda dava muito trabalho, eram muitos negócios
para administrar. A vida no campo era tranquila e, definitivamente, nem um
pouco desocupada. O trabalho começava cedo e terminava bem tarde, mas
era um estilo de vida maravilhoso e bem mais saudável do que na cidade
grande.
Voltei a deitar, confortável. Ainda o senti tenso por muito tempo, até
que o remédio da noite finalmente começou a fazer efeito e ele dormiu
pesado ao ponto de roncar alto no meu ouvido. Cansada como estava, sem
dormir há muito tempo, não me importei. Só queria renovar as minhas
energias e superar o que havia acontecido. 
Senti suas mãos buscando as minhas, ele entrelaçou nossos dedos e
mesmo no escuro, abri um sorriso. Ele sempre dava um jeito de estar com
uma parte do corpo embolada na minha, normalmente, eram as pernas, ou
os pés, mas quando escolhia segurar minha mão, era gostoso, e eu esperava
vivenciar aquela sensação por muitas noites na minha vida.              
 
 
CAPÍTULO TRINTA E SETE
Simon
Murray saiu da cama com cuidado, colocando a mão na barriga, e me
impediu de ajudar. Ele queria ficar em pé sozinho, sem ajuda e fiquei ao
redor com os braços esticados para segurá-lo caso caísse. Ediwa estava com
o telefone na mão, filmando a primeira vez dele fora da cama depois de
várias semanas em recuperação e era justamente no dia de Ação de Graças
que ele estava indo para casa. 
Sua mala estava pronta no canto e ele se recusava a usar a cadeira de
rodas. Peguei a bolsa, os pais dele foram na frente e toda a equipe médica o
aplaudiu pelo ato heroico de salvar a todos. Sua recuperação foi um longo
processo, que precisou de cuidados e me deixou bastante chateado, senti
culpa, medo e, felizmente, conforme foi melhorando e a paz reinando
novamente, a calma voltou para o meu coração. 
Para comemorar, mandei preparar um banquete no castelo,
convidando todas as pessoas da cidade a uma festa de boas-vindas ao meu
amigo que embarcou na minha loucura e quase entregou a própria vida para
proteger o castelo, porque sabia que ali estava cheio de pessoas inocentes.
Ele foi encontrado pelo grupo quando estava fotografando uma tentativa de
roubo deles na minha propriedade e começaram uma troca de tiros, que foi
se aproximando sem que tivesse controle.
Além do mais, havia muitos motivos para ser grato. A saúde de
Murray era um deles, o principal, estava em meus braços. Minha alegria, o
amor da minha vida, minha companheira e a razão de ter um equilíbrio…
seu nome era Ediwa Lewis, muito em breve, se ela dissesse sim, seria uma
Higgins Basset. 
— Eu não aguento comer mais nada. — Ela deixou o prato na mesa.
— Está uma delícia. Vocês capricharam.
— Com a quantidade de convidados, foi preciso muitas mulheres na
cozinha e que bom. Geillis sabe que sou alérgica a morangos, mas a senhora
fez uma torta com frutas vermelhas, usando morangos e quase misturou
com todos os cremes — ela falou baixinho, com um bico fofo. — E
adivinha quem ficaria sem sobremesa? Eu! E justamente a minha parte
favorita!
— E isso seria um problema enorme, não é? — provoquei, cutucando
sua barriga.
— Como poderia ficar sem doces? Vai pegar os seus e me dar, certo? 
— Eu vou. — Beijei seus lábios. 
— Te amo, ruivo.
— Te amo, princesa. — Esfregou o nariz no meu, sorridente, jogando
os braços nos meus ombros e olhou ao redor, com um ar travesso quando se
sentou no meu colo. Ela adorava provocar as senhoras, que viviam dizendo
que estávamos em pecado por morarmos juntos sem casar. Passei a mão em
seu bumbum discretamente, louco para expulsar todo mundo e subir. 
Marsali também estava de saco cheio de ter muitas pessoas ao redor e
eu mantive os outros cachorros presos, porque as pessoas costumavam dar
comida e eles tinham uma dieta. Ediwa e eu ficamos até o último convidado
ir embora, nos despedindo, e recolhemos a maior parte da bagunça com os
funcionários, levando as louças para a cozinha e guardando a decoração.
Era meio da madrugada quando finalmente pudemos tirar a roupa no
quarto, tomar um banho para aquecer e dormir.
Eu estava cansado. 
Ediwa, por outro lado, sempre tinha mais energia acumulada. 
Ela sentou na cama, depois ficou de joelhos, pulando, meio que
querendo conversar e fechei meus olhos fingindo que não estava ouvindo.
Se não estivesse menstruada, iríamos matar o tempo de outra maneira, bem
mais divertida e proveitosa. Ela riu da minha tentativa de roncar e apertou
meu nariz, beijando minha boca repetidamente, rolando por cima de mim
várias vezes.
— O que você quer, mulher? Está quase amanhecendo.
— Tenho um presente para comemorar o nosso primeiro Dia de Ação
de Graças.
— Por que não falou antes? — Abri meus olhos, curioso. — Não
sabia que trocava presentes nessa data, sou novo nessa coisa de
relacionamentos. — Dei uma piscadinha. Ela era amorosa e vivia me
presenteando com coisas aleatórias, eu era de bilhetes e flores, ou coisas
bonitas que encontrava pela fazenda. Era uma bobeira nossa, nada de datas
específicas. 
— Eu amo ser a sua primeira namorada. E não, ninguém troca, eu é
que vi uma coisa no antiquário essa semana e quis te dar. — Ela abriu a
gaveta da cabeceira ao seu lado da cama e tirou um embrulho. Rasguei o
saquinho com cuidado e tirei uma estátua de cerâmica que parecia bem
velha, muito feia, de um highlander ruivo com um kilt com as cores
parecidas com as do castelo. — Que interessante achar um ogro da
montanha, não é? Agora, temos um em miniatura!
Comecei a rir, beijando-a e olhei para a coisa horrenda novamente.
Ogro da montanha era um apelido bastante carinhoso. 
— Amo a maneira que você é fofa. Obrigado, mo ghràdh. Você é
muito preciosa em tudo que faz. 
— Vai deixar no seu escritório?
— Vai ficar aqui do ladinho, vou olhar para ele toda noite antes de
dormir. — Coloquei perto do meu abajur e ela riu, finalmente, sossegando o
fogo e deitou, na posição favorita, que era bem gostosa. Dei um tapinha em
seu bumbum, para acalmar e ri de sua tentativa de me provocar. — Sossega.
Ela adormeceu e eu percebi que fazia um bom tempo que não tinha
pesadelos. Ediwa trouxe um equilíbrio a minha vida que não sabia que
precisava, ela também tirou meu sossego, nunca mais tive uma noite de
sono completa ou acordei em paz, porque era agitada e tagarela, mas não
era algo que me incomodava. Era divertido. Eu tinha muitos momentos de
alegria. Claire comentou sobre o quanto eu era quieto e, talvez, a vida
soubesse que precisava de uma pessoa que fosse o meu oposto.
Minha irmã estava certa. Ediwa era um trevo de quatro folhas. 
Quando pequeno, meu pai dizia que conhecer minha mãe foi o seu
beijo da sorte. Ele estava andando de bicicleta quando bateu nela sem
querer, eles se olharam, sorriram, pediram desculpas mutuamente e nunca
mais se desgrudaram. Naquele dia em específico, estava buscando nos
arredores do castelo um trevo de quatro folhas, uma planta da mitologia
celta que meu avô disse que existia na região, porque era um lugar mágico,
e ele acreditou. Pois bem, anos depois, na estrada que levava ao vilarejo, a
nova professora de música, irmã do meu melhor amigo, estava atolada e me
deu um banho de lama… 
Só podia ser magia ela ser a mulher mais perfeita que a dos meus
sonhos. 
Acordei antes dela, troquei de roupa para correr e treinei com Roger.
Ele me pediu para ensiná-lo alguns exercícios e ficava cansado na metade.
No frio, Ediwa demorava a sair da cama, ainda mais nos dias que pegava
mais tarde no trabalho. 
Entrei no escritório para uma importante chamada de vídeo. Ethan
retornou meu recado. 
— O que precisa falar comigo de tão urgente? Está tudo bem?
— Não era urgente, eu só não queria que enrolasse.
Ele riu, relaxando.
— Homem, acalme-se.
— Estou calmo. É que fiz uma pegadinha com Charlotte e não sei
quando ela vai revidar, portanto, preciso manter meus olhos bem abertos.
— Ele piscou, o que me fez balançar a cabeça. Eles nunca iriam parar. —
Em que posso te ajudar?
— Gostaria de fazer isso pessoalmente, mas não sei ainda como será
nosso acordo com as festas de fim de ano. Ediwa está com preguiça de
viajar. Ela disse que sua irmã, Daphne, talvez passe conosco se o clima
colaborar. 
— Eu tenho que estar em Rainland. Charlotte e eu somos patronos
dos eventos de Natal, mas poderemos voar logo em seguida, se for
necessário.
— Não se preocupe, o tempo não estará bom aqui. — Limpei minha
garganta. — Nossa amizade é muito importante para mim, eu te respeito
como homem e por tudo que passamos, também te honro como irmão mais
velho da mulher que eu amo. Eu quero ser marido dela. E é por isso que
preciso saber se tenho a sua benção para pedi-la em casamento.
— Você vai propor? — Ethan arregalou os olhos.
— Estou planejando há meses. Ediwa tem um sonho e espero poder
realizar. — Abri a gaveta e mostrei a aliança. — E para isso…
— Não existe homem melhor para minha irmã do que você. Espero
que sejam muito felizes, que tenham sabedoria e que sigam sempre
conduzindo o relacionamento dessa maneira admirável, com alegria,
paciência, compreensão, amizade e muito amor. — Ethan inclinou-se para
frente. — E não aceito devolução. Já sabe que ela é terrível e não cala a
boca.
— E ainda assim, eu mal vejo a hora de ser marido dela.
— E eu espero ansiosamente por esse momento. Quer me contar
como vai ser isso?
— É surpresa, por favor, não estrague.
Ethan ficou agradavelmente surpreendido com os meus planos do
pedido de casamento. Eu já queria ter feito isso há muito tempo, mas ela
confessou que estava ansiosa para um determinado período especial aqui na
Escócia e que sempre foi seu sonho presenciar, então, imaginei que seria
perfeito para nós dois tirarmos um tempo depois de tudo que passamos,
aliviar a carga mental. Seria ainda mais incrível voltarmos noivos e se tudo
desse certo, com a data do casamento marcada porque eu não queria esperar
muito tempo.
Estava mais do que pronto para começar uma nova disputa com
Ediwa, a que envolvia matrimônio, filhos, uma casa cheia e uma felicidade
conhecida nas histórias que ela amava ficar lendo na cama. 
O tão sonhado conto de fadas. 
CAPÍTULO TRINTA E OITO
Ediwa
A neve chegou no mês de dezembro e não quis mais ir embora. Eu
fiquei um pouco nervosa que a tempestade atrapalhasse o momento pelo
qual me preparei muito. Não queria que absolutamente nada desse errado
no festival, que estava mais do que confirmado, as crianças preparadas e
animadas. Alguns pais fizeram reservas para ir também, outros se
inscreveram para serem monitores e a maior parte dos membros da igreja
iria para assistir.
O ônibus chegou cedo, verifiquei aluno por aluno, mala por mala,
estava nervosa demais. Simon iria nos seguir de carro, com as nossas
coisas, e eu iria com as crianças, dois pais e mais uma professora, para
ajudar a controlar o caos. A viagem até Inverness foi relativamente
tranquila, apesar da neve caindo forte, não tivemos sustos e paramos na
frente do hotel, fazendo o registro sem problemas.
Ficamos todos no mesmo andar, a hora da arrumação foi um pouco
caótica, porque inventei que usaríamos roupas iguais que foram costuradas
pelas senhoras da cidade, usando nossas cores. Eu tive que correr para os
ajustes finais, prendendo laços, arrumando kilts, resolvendo sobre
instrumentos e pensei, que em algum momento, teria um ataque histérico.
— Vem aqui. — Simon me agarrou, puxando-me bruscamente até
nosso quarto e fechou a porta. — Feche os olhos.
— Eu sei que estou muito nervosa, mas…
— Cale a boca um minuto — ele ordenou e crispei os lábios, irritada.
— Viu? Assim. Quietinha. Acho que sei como te acalmar…
Ele foi subindo a saia do meu vestido e arregalei os olhos, rindo de
nervoso. Hum, que excelente ideia, mas e se fôssemos pegos? Não que
alguém pudesse entrar ali, mas será que poderiam perceber? Não era muito
educado. 
— Isso é sério?
— Você não quer? — questionou baixinho. Por que não pensei em
sexo antes?
— É claro que eu quero! — sussurrei um pouco alto.
— Você fica um tesão no modo professora autoritária — ele
murmurou no meu ouvido, distribuindo beijos pelo meu pescoço e deu uma
boa apertada nos meus seios, caindo de joelhos à minha frente. Ele enfiou
as mãos por baixo da minha roupa, puxando a minha calcinha, tirou e
enfiou no bolso, passando minha perna por cima de seu ombro e olhando
para minha boceta com fome. — Como eu amo… cacete. 
Simon começou a me chupar e bati a cabeça na parede, ofegando.
Agarrei seu cabelo, rebolando contra seu rosto, gemendo baixinho e
estremecendo. Meu Deus, o que era aquilo? Olhei para baixo e segurei na
maçaneta, ele devorava minha boceta, que estava ensopada. Que delícia!
Ele levantou, abrindo a calça, me ergueu e meteu.
Soltei um gemido alto e Simon cobriu minha boca, rindo baixinho.
Mordi sua palma. Ele me beijou, socando fundo, e arranhei sua nuca,
desejosa, gozando. Meu ogro estava implacável. Ele bateu em minha
nádega, grunhindo e me levou a um orgasmo que precisou mais uma vez
cobrir minha boca para não ser ruidosa. A cama estava apenas a alguns
metros no quarto em anexo, mas a graça e a adrenalina estavam bem ali. Ele
gozou com o rosto em meu pescoço e mal sentia as minhas pernas. Puta
merda, que assalto gostoso. 
— Preciso ficar nervosa e histérica na sua frente mais vezes. 
— Ao seu dispor. — Ele me beijou e ainda no colo, levou-me para o
banheiro.
Precisei me ajeitar com calma, refazer meu penteado, retocar a
maquiagem e voltar para o caos com um bom humor que me fez até querer
dançar. Simon continuou pelos cantos, sem atrapalhar e pronto para me
ajudar se eu precisasse. O apoio dele, de seu modo quieto e até um pouco
ranzinza por não ter muita paciência de modo geral, era importante demais.
Ele estava ali quando não precisava, poderia ter ficado em casa. 
Não dava para assistir as outras apresentações, era a nossa primeira
vez, muita gente ansiosa para controlar e quando chegou o momento das
minhas turmas, ignorei a multidão do lado de fora e me concentrei em todos
os meses de ensaio e preparo. E foi mágico. Não tivemos nenhum erro, nem
mesmo os pequenos saíram correndo na hora errada, como faziam nos
treinos. Eles obedeceram os sinais e ficaram no lugar.
Toquei quatro músicas e cantei todas com eles, ouvindo o público
aplaudir de pé. Olhei para os rostinhos dos meus alunos e amei o que
encontrei ali: realização e amor pela música, como sempre senti em toda a
minha vida. No final, fui surpreendida com flores e eles uniram-se para me
dar um broche de ouro com o símbolo da cidade. 
Pensei que era feliz na orquestra, mas ali… caramba. Dar aulas e
ensinar a vida através da melodia era o que me completava de verdade
profissionalmente. 
Simon me ajudou a descer do palco e me abraçou. Ele sabia que eu
queria chorar e só me segurou apertado, deixando que molhasse sua camisa
com minhas lágrimas. 
— Parabéns, meu amor. Minha vida. Tenho tanto orgulho de você. —
Ele segurou meu rosto e secou com os polegares. 
— Obrigada por me desafiar tanto, Simon. Você me fez chegar até
aqui indo além das minhas expectativas. 
— Conte sempre comigo para te tirar da zona de conforto. —
Encostou a testa na minha, rindo baixinho. 
Fomos para o hotel comemorar com um jantar, que ele mandou fechar
um dos restaurantes disponíveis. O castelo ofereceu toda a comida e bebida.
Um exibido. Eu o amava mesmo assim, torrou minha paciência com os
gastos para fazer aquela gracinha. Voltamos no dia seguinte animados e
com muitas histórias para contar. Chegamos em casa um pouco cansados,
dormi quase dois dias direto com a sensação de que iria gripar e só levantei
porque minha sogra estava em casa e eu queria aproveitar a companhia
dela.
As semanas seguintes foram tranquilas. Simon e Murray continuaram
aprontando pela fazenda para minha raiva. O ferimento de Simon curou
relativamente rápido, mas o outro ainda precisava ir devagar. A primeira
coisa que fez foi montar em um cavalo e foram o mais longe possível,
mapeando o novo território, analisando o solo e eu acompanhei tudo pelo
computador, falando pelo rádio, fazendo o que me pediam com Roger
porque não ia ficar no frio nem por todo chá de china. 
Foi meu primeiro Natal ali. Participamos da festa na cidade e depois
ficamos sozinhos em casa porque iríamos “acampar”. Simon queria fazer
algo só nosso e eu prontamente concordei, organizando as comidas e as
roupas sob sua orientação. Ficaríamos em uma cabana ao invés de barracas,
ficava no topo da colina e dava para chegar de carro. 
— Tudo pronto? — Simon quis saber na manhã de Natal.
— Acho que sim.
— Está ansiosa? — Ele riu dos meus pulinhos no lugar.
— Muito. A primeira vez foi meio alucinante, nessa há todo um
planejamento.
— Eu sei. Vamos?
Ouvimos o som de coisas quebrando, miados e o grito de Geillis. Era
hora de partir. Significava que nossos gatos já estavam deixando a babá
irritada.
— O que você pensa que está fazendo? — Simon questionou quando
coloquei meus pés para o alto e passei a mexer em seu rádio.
— Eu quero saber se acredita mesmo que eu, Ediwa Lewis, vou passar
três horas nesse carro, quieta, sem ouvir música ou apenas me sujeitando ao
seu estilo musical?
— Sim.
Soltei uma gargalhada bem alta, aumentando o volume da Taylor
Swift e tirei minha lixa do bolso. Ele estava convivendo comigo há meses,
ainda não sabia que faria tudo que queria ou, pelo menos, iria infernizá-lo
até conseguir? Só para torturar, mantive meu estilo de menininha por duas
horas e no restante, deixei a gritaria que ele chamava de rock para o final. A
cabana era linda, chegamos na hora do almoço, estava tudo muito claro por
só ter neve por todo lado e ainda assim, era uma visão esplêndida.
Descarregamos o carro com rapidez, arrumei nossas coisas no quarto,
que estava limpo, porque ele mandou alguém passar ali antes da nossa
chegada. Tinha energia elétrica? Não. Mas a intenção era viver de um modo
rústico por alguns dias. Água quente para tomar banho seria um pouco de
esquentar no fogão, encher a banheira, uma aventura. A parte boa de estar
frio? Era ver Simon cortando lenha.
Eu peguei uma caneca de chá e sentei nos degraus, olhando-o puxar a
camisa para cima e usar os músculos com um machado. Ele quase não fez
aquilo no verão, talvez por não precisarmos tanto de madeira nas lareiras,
mas no inverno, ele tirava até o casaco, porque os movimentos lhe davam
calor e eu também ficava em chamas. Deveria ser considerado pecado. O
homem sabia ser tudo, militar, fazendeiro e até lenhador, tenha
misericórdia. 
Ele recolheu as toras e foi alinhando, arrumando no canto e cortando.
Entreguei-lhe uma toalha para secar o suor, mas faria aquilo com meu
próprio corpo se quisesse. Que delícia… 
Mordi meu lábio, inclinando a cabeça para o lado, acompanhando seus
braços e lembrando que ele conseguia me pegar e me foder contra a parede.
Caramba. 
— Seu chá não está frio?
— Está e estou pensando no chá que você vai tomar daqui a pouco. —
Dei de ombros. Ele gargalhou alto, ecoando e caindo neve das árvores.
Deixei a caneca de lado. — Vou acender o fogo para começar a esquentar a
água do seu banho.
— Não vou demorar. 
O fogão era simples e nem um pouco complicado, gás antigo que
funcionava perfeitamente. A água encanada demorou um pouco para cair,
fez um barulhão, lavei as três panelas grandes (do tipo grandes mesmo) e
enchi, o processo seria longo, por isso, o banho teria que ser proveitoso. A
banheira era de um material que conservava a água quente por mais tempo,
deixando tudo fechado deu para aguentar, até precisei temperar um pouco
ou não daria para entrar. 
Cozinhamos nosso macarrão favorito juntos, bebemos uma garrafa de
vinho e dormi a tarde toda, começando a nossa merecida folga. Eu nem
imaginei que ele poderia sair naquela época do ano e fiquei bastante feliz.
Quando acordei, estava sozinha na cama, bem aquecida e já era noite. Tudo
muito escuro, só havia uma luz digital acesa no canto.
— Simon? 
— Aqui na sala — ele me respondeu baixo. 
Levantei meio com sono e parei na porta.
— Por que está tudo tão escuro? Você trouxe quinhentas lâmpadas. 
— Olhe lá fora. — Apontou para a janela e virei, me aproximando do
vidro.
— Ai, meu Deus! Aqui dá para ver a aurora boreal! — gritei, correndo
para meus sapatos e peguei o casaco, me vestindo com rapidez. Eu pulei na
neve, abrindo os braços apaixonada e ele ficou na varanda, rindo e se
vestindo com mais calma. — Vem, amor! É tão lindo! Temos que dormir
aqui fora hoje! Ou com as cortinas abertas! Meu Deus! É hipnotizante!
Eu virei e cobri minha boca por dois segundos, mas logo comecei a
hiperventilar. Simon estava de joelhos, rindo, com uma aliança que brilhava
tanto quanto o céu. 
— Minha tagarela favorita, eu posso começar a falar? — ele
questionou e assenti, fechando a boca. — Já faz tanto tempo que quero te
pedir para ser minha esposa que pensei em muitas palavras, todas elas se
resumem ao fato de que te amo enlouquecidamente, que quero viver todos
os dias da minha vida ao seu lado, ser mais do que um namorado, quero ser
seu marido, seu amigo, companheiro e pai dos seus filhos. Minha
princesinha, você aceita ser minha esposa?
— É claro que sim! Todos os dias da minha vida eu te direi sim,
Simon!
Ele segurou minha mão e deslizou a aliança no dedo, que ficou
perfeita, ela era tão bonita que não conseguia parar de olhar. 
Quando ele ficou de pé, olhei para seu rosto.
— Estamos noivos! — falei, maravilhada. — Nós vamos casar!
— Mal vejo a hora!
— Simon! Você… — fiquei sem palavras, olhando para o céu, sem
fôlego. — Te amo tanto! Isso nem parece real de tão perfeito! 
Não conseguia parar de chorar. Ele me ergueu em um abraço apertado,
beijando minha boca docemente e o calor de seu corpo me provou que tudo
que vivemos, até aquele momento mágico, era muito real.
 
 
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
Ediwa
Simon e eu nos casamos exatamente no dia em que nos conhecemos,
um ano antes, na desastrosa tempestade que nos levou a uma disputa
apimentada por algumas semanas até que nos rendemos à paixão que foi
crescendo junto a uma bela amizade. Nossa cerimônia religiosa foi
celebrada na igreja local, fui levada ao altar pelo meu irmão e tive como
madrinhas minha irmã, Daphne, Claire e Cat, por extensão, a amizade
muito forte dos nossos amigos, Olívia e Emily, que eu amei conhecê-las e
foi sinceramente uma adição maravilhosa a minha vida.
Charlotte desempenhou um papel muito importante no meu casamento
com minha mãe, por isso ela não foi minha madrinha. Pippa foi minha
dama de honra, a mais louca de todas e organizou uma despedida de solteira
que me deixou de cabelos em pé e muito bêbada. Eu pensei que não
conseguiria casar de tanta ressaca. Do lado do Simon, ele teve seus amigos,
Louis, Liam, Justin e o cunhado, Brian. Ethan e ele tiveram uma disputa
idiota sobre os custos, mas no fim, ficou tudo bem. 
Como éramos muito conhecidos, não havia a menor possibilidade de
fazer um casamento sem convidar a comunidade inteira e ainda bem que
tinha bastante espaço no castelo. Foi a primeira vez que, infelizmente, meu
pequeno lugar foi invadido pela mídia quando a notícia vazou. No entanto,
não tirou o brilho do meu dia e foi como um conto de fadas. Eu estava
magnífica e Simon mais ainda. Ele usou todas as suas honrarias militares,
teve todo o pelotão presente e estava irresistível. 
Foi a realização do nosso sonho e apenas o começo da nossa vida a
dois. 
A melhor parte? Sem sombras de dúvidas a lua de mel. Eu pensei que
ele sem camisa cortando lenha era bom, montado em cavalo andando pela
fazenda era incrível. Mas usando um calção de banho em uma praia
paradisíaca? Não tinha palavras para expressar o suficiente. Era impossível!
Entre muito sol, a ausência do meu anticoncepcional e os planos de
aumentar nossa família porque, sim, era o que nós dois queríamos,
transamos muito e continuamos praticando quando voltamos.
Eu não tive resultados de um bebê logo no primeiro mês e fiquei um
pouco aflita sobre entrar para o time de mulheres tentantes, porque era uma
pressão difícil de lidar. Fiquei sozinha no castelo por uns dias e tive uma
conversa com a minha sogra, ela acalmou meus ânimos ao dizer que nem
toda mulher engravidava de primeira e isso não queria dizer que havia algo
errado, que deveria confiar no médico e continuar namorando muito. 
— Simon voltará de Inverness amanhã, sei que ficará bem essa noite,
mas se quiser, posso adiar minha ida para Londres.
— Não precisa, sogra. Eu realmente vou ficar bem. Obrigada por
cuidar de mim.
— Eu amo você, menina. — Ela beijou minha testa e pegou sua bolsa,
porque o helicóptero estava pronto para levá-la para seu embarque. 
Fiquei no sofá deitada com meus gatos, matando o tempo e depois,
decidi treinar uma nova música no piano. Estava compondo há um tempo e
ainda não tinha me ajustado no tom certo, mas não estava me dedicando
completamente. Apesar de não ter ouvido, senti a presença dele, virei e abri
um sorriso para o homem da minha vida parado na porta com uma
expressão cheia de saudades. Ele estava com roupas de usar em casa, de
banho tomado e ri.
— Chegou há quanto tempo? — Movi minhas pernas para sair do
banco.
Ele encostou na porta, meio preguiçoso e abriu um sorrisinho.
— Fui direto tomar banho, precisava tirar a poeira da estrada e agarrar
minha esposa sem pausa. Aproveitei que estava distraída. 
— E o que está esperando?
Simon atravessou a sala e me pegou do banco, dando um beijo
avassalador. Ele só passou um dia e meio fora de casa, mas parecia uma
eternidade. Levando-me para o sofá, fiquei montada em seu colo, beijando-
o, apaixonada como na primeira vez. Ergui sua camisa, ele parou e olhou
nos meus olhos.
— Parece que chorou hoje. Você está bem?
— Estou ótima. Por que estamos parando o que iríamos fazer?
— Vamos para o quarto. Temos testemunhas. — Apontou com o
queixo e olhei para trás. Quatro cachorros deitados nos olhando com
interesse. Eu ri e lhes dei um aceno, malandrinhos. — Sua cabra quase
entrou em casa, ela está ficando cada vez mais esperta.
— Certo. É só deixá-la viver aqui conosco.
— Ediwa…
— É brincadeira. — Dei-lhe mais um beijo. — Vem, sua esposa está
dengosa e com saudades. 
— É o meu dever como um bom marido, senhor desse castelo e dono
da sua existência…
— Não exagera… — cantarolei, rindo, peguei sua mão e fomos
andando para nosso quarto. Fechei a porta e ele começou a se despir. 
— Não foi isso que o padre disse no dia do nosso casamento?
Parei perto da cama, começando a abrir os botões da minha camisa,
olhando-o bem séria. Eu ia ficar nua e transaria porque queria muito, mas
era melhor que não me irritasse com a história de ser meu dono.
— Não distorça as palavras dele.
— Tem certeza de que fui eu quem entendeu errado? — Ele
aproximou-se e me ergueu. — Por favor, me dê o prazer de te deixar nua.
— Sempre que tem nudez, tem prazer, é um dos meus momentos
favoritos. 
Namoramos a tarde inteira e eu fiquei bastante cansada, acabei
pulando o jantar, acordando de madrugada com muita fome e o fiz ir na
cozinha para buscar comida para mim. Respondi as mensagens do meu
telefone, conversando com Lully, que estava acordada também. Ela não era
de falar muito e eu respeitava o espaço dela, sempre dizendo que estava ali
para o que precisasse e, talvez, levar uma gravidez que não queria estivesse
sendo mais difícil do que imaginou. Felizmente, estava cercada de amor da
família e melhorando mentalmente a cada dia.
Desde o meu casamento, minha mãe estava em Rainland e eu me
perguntava quando iria assumir o namorado. Não falamos sobre o assunto.
Daphne acreditava que ela tinha medo que nós não iríamos aceitar. Não
sabia como chegar e dizer que ela poderia seguir em frente porque nunca
me deu abertura para tal coisa, era participativa, carinhosa e querida em
nossas vidas, só não falava dos seus sentimentos de nenhuma maneira. 
Comentei com Simon e ele tinha a opinião de que ela podia sentir
insegurança, por ter perdido meu pai e estar com medo de dar um passo
definitivo, apresentar aos filhos, sofrer novamente. Eu sentia ciúme que a
melhor amiga dela sabia de tudo e eu não. Era bobeira, assumia, mas em
parte, ficava feliz. O importante era que não estava mais na cama sofrendo,
comendo besteira e ficando sem dormir. 
— Mas será medo de terminar ou medo de perdê-lo para a morte?
Simon me abraçou.
— Talvez ela precise de mais tempo, esteja indo devagar e quando for
o momento certo, vai contar. Não acredito que esteja escondendo por
maldade, apenas precisa sentir segurança. Não foi um namoro qualquer, foi
uma vida inteira com seu pai e pode ser que esse homem dê a ela a mesma
esperança, de algo forte e duradouro, para isso, precisa de tempo. — Ele
pegou minha mão. — Vocês vão apoiá-la, certo?
— Se ele for bom, claro que sim. Eu quero que minha mãe seja feliz e
amada. 
— Ethan está bem com isso?
— Ele tem a mesma opinião, porém, pode ser bem idiota e protetor.
Por isso, conto com o tamanho do meu marido para lhe dar um chute nas
bolas. 
— Darei com prazer se ele for um idiota com a minha sogra favorita.
Eu bati nele.
— Ela é a sua única sogra, não tem como não ser a favorita.
— Ela poderia não ser favorita. — Deu de ombros, rindo.
— Você tem sorte, ogro da montanha. Salvou o filhinho dela antes de
pegar a caçula. Coitado mesmo foi o Bruno, teve que passar três meses
provando que era um bom genro e ainda ouve piadas até hoje. 
— Fazer o quê se eu sou perfeito? — Simon riu e soltou um bocejo.
— Chega de tagarelar, mulher. Para quem detesta ficar sem dormir, você
fala muito de madrugada. 
Revirei os olhos, fazendo um beicinho e sorri, acariciando o cabelo
dele, observando-o sereno. Meu coração era todo dele e esperava que
aquele castelo logo tivesse pequenos pés gordinhos correndo pelos
corredores com nossos muitos bichos. Eu era jovem e todo mundo me
perguntava se eu tinha certeza absoluta de que ser casada, mãe, professora e
fazendeira era o que alguém, criada no seio da alta sociedade, realmente
queria da vida. Se eles soubessem o quanto era bom viver com Simon
naquele lugar, entenderiam porque meu sogro saiu por aí buscando o trevo
de quatro folhas.
Era mágico de verdade. 
Apesar das nossas contas bancárias recheadas, vivíamos na
simplicidade, com o que produzíamos, amando a terra e em contato com a
natureza. Não era o luxo que nos movia, era a energia surreal que o sol
trazia toda manhã, a alegria de conquistar tudo com a força dos nossos
braços e quando a noite caía, éramos contemplados com a benção de termos
na mesa uma comida saborosa e as cadeiras preenchidas por pessoas que
amávamos muito. 
 
 
EPÍLOGO
Simon
Soltei os cachorros para correr no campo depois do banho e a primeira
coisa que eles fizeram foi rolar na grama, adoravam se sujar no mesmo
instante em que ficavam secos. Ediwa riu ao meu lado, revirando os olhos,
segurando o chapéu e olhei para seu rosto, estranhando que seus lábios
sempre rosados estavam um pouco mais brancos. Soltei a mangueira,
secando minhas mãos e a segurei em meus braços, imediatamente
preocupado.
— Você está bem?
— Eu não sei, acho que preciso me sentar. — Ela abanou-se, com um
pouco de suor acumulado no buço e nem estava tão quente assim. 
— Vamos entrar. — Peguei-a no colo, ganhando uma risada.
— Não seja exagerado, só me sinto fraca, não tomei café direito. —
Ediwa me abraçou e a coloquei em um sofá, esticando suas pernas e
deixando todas as janelas abertas.
— E por quê?
— Estava enjoada.
— De novo? — Coloquei minhas mãos na cintura. — Já…
Ediwa me deu um olhar e um sorrisinho.
— Fez um teste?
— Não. Estou com medo de fazer — confessou com as bochechas
vermelhas. — Não sei se é coisa da minha cabeça, embora o enjoo seja bem
real. Mas li que a menstruação pode atrasar quando uma mulher quer muito
engravidar.
— Isso não aconteceu nos outros meses. — Passei minha mão na
nuca. 
— Não. É o primeiro mês que atrasa bastante… e não tenho um teste
em casa. Usei todos aqueles e não quis comprar mais.
— Eu vou à cidade comprar. Não adianta nada ficar na dúvida, amor. 
— E se der negativo de novo?
— Deixa de ser ansiosa. — Inclinei-me e beijei seus lábios. — Vai vir
no tempo certo. Assim como você chegou na minha vida, nosso bebê virá
na hora que tiver que vir. 
Assentindo, ficou deitada conforme pedi e fui até a cozinha,
solicitando a Geillis um lanche para minha senhora teimosa. Sentíamos
muita falta da Lully, o bebê nasceu um tempo antes do previsto, estava bem
de saúde e Jocasta queria esperar estar maior para trazê-lo para casa,
vivendo com a irmã. A menina ainda não queria voltar e eu organizei sua
mudança para Edimburgo, para começar a faculdade, ela escolheu seguir
com a gastronomia mesmo. 
Dirigi e parei na farmácia, fazendo a compra. Esperava que não
rolasse alguma fofoca, ou precisaria quebrar o moleque do caixa na porrada.
Voltei para casa, encontrando Ediwa no quarto, de braços cruzados, olhando
para a janela e logo ficou de pé, agarrando a caixa e correndo para o
banheiro dizendo estar apertada e querendo acabar com aquela tortura logo. 
Eu queria dizer que ela fez o teste séria e quieta, mas era Ediwa, ela
errou o xixi e deu um gritinho que tinha mijo em seu dedo. Tentei ficar sério
e não consegui. Depois disso, foi só um caos dela reclamando que queria
lavar as mãos e precisava esperar vinte segundos, o que durou uma
eternidade, até fechar a tampa novamente. Dando descarga, correu para a
pia e quase derrubou o teste no sanitário, a sorte foi que eu o agarrei no ar.
— Meu Deus do céu! Que tipo de resultado sairia se ele caísse lá
dentro?
— Como iria resgatá-lo no encanamento?
— Precisaria fazer outro.
— Eu não voltaria  à cidade hoje.
— E por que nesse mundo comprou um só? — Ela franziu o cenho,
subindo a calça. 
— E precisa de mais de um?
— Claro. Sempre pode acontecer um acidente. — Começou a rir, me
abraçando. Aquela mulher estava destinada a me enlouquecer. — Basta
esperar um pouco. Meus mamilos estão coçando pra caramba.
— Esperar quanto tempo? — questionei, olhando para o teste. Ela
sequer percebeu que eu estava feliz ao ponto de começar a tremer.
— Sei lá, não li todas as instruções desse. Vou pegar a caixa. Por quê?
— Foi até o lixo e me olhou, arregalando os olhos.
— Está dizendo aqui que vou ser pai. 
— Positivo? — Ediwa sussurrou e pegou da minha mão. — É
positivo. Bem forte, não é? Caramba, Simon!
— Sim. Tem uma carinha feliz.
— Estou grávida! — Ela me olhou com tanto amor que apenas caí no
chão, erguendo sua blusa e beijando o ventre. — Você está chorando.
— Desde que você chegou, minha vida ficou repleta de muitos
momentos felizes e esse, certamente, é um dos mais belos. Seremos pais,
mo bhana-phrionnsa[12]. Luachmhor[13], mo foirfe[14]. 
— Eu tenho o melhor marido do mundo e sei que meus filhos terão o
melhor pai. — Ela me deu um beijo apaixonado, esfregando o nariz no
meu. — Meus mamilos estão coçando de verdade, só um minuto. — Ergueu
a blusa completamente e esfregou as palmas ali. Eu olhei primeiro e depois,
propus ajudar na terrível tarefa de acalmar seus biquinhos lindos com a
minha boca, o que levou a uma comemoração na cama para continuarmos
treinando, afinal, queríamos uma casa cheia de bebês nos próximos anos.
A gravidez de Ediwa foi recebida com muita alegria e foi uma emoção
muito louca. Ela ficou com um humor ácido, atirava primeiro, perguntava
depois, isso quando quase não matava e sequer fazia perguntas. Sua barriga
deu sinal com rapidez e por isso, não conseguimos esconder por muito
tempo. O bebê era grande. Optamos por não saber o sexo até o dia do parto,
que seria em casa, por parteiras experientes da região, já que ela estava
extremamente saudável e escolheu daquela maneira.
Nas últimas semanas de gestação, nossas mães estavam ao redor,
paparicando, mexendo no quartinho do bebê e aguentando o humor da
minha esposa com sorrisos nos rostos. Eu achava divertido a maneira na
qual Ediwa podia ser má em um minuto, rir no outro e querer meu colo no
mesmo instante. Ela ficou irresistível de linda. Um barrigão bonito, toda
noite minha parte favorita era passar o creme e conversar com o bebê.
— Gosto que ele se acalme ouvindo sua voz — ela refletiu de olhos
fechados. 
— Deve ser uma boa coisa para as noites de choro e tudo o mais. 
— Espero que funcionem todas as dicas que nos deram, mesmo que
não tenhamos perguntado nada. — Abriu os olhos e riu. 
— Acho que a nossa família está ansiosa.
— Não mais do que… eu. Ai. De novo. — Ediwa colocou a mão na
barriga, com o cenho franzido. — Hum, isso parece que vai doer. — Ela
segurou minha mão e apertou. Com quarenta semanas, sabíamos que
poderia acontecer a qualquer momento e aparentemente, estávamos
preparados para isso. Praticando exercícios de respiração, sentou com
cuidado e olhou entre as pernas, mostrando que a bolsa havia rompido. 
— Está tudo bem se eu for ali pegar o telefone? 
— Claro. — Ela soou ofegante.
— Então, pode me soltar? — Balancei nossas mãos.
Ediwa riu e me soltou, avisei a todas as pessoas necessárias e em
minutos, ela foi levada para o quarto que já estava preparado para o parto.
Banheira, bola, maca, um monte de coisa. O médico estava a postos, apenas
no caso de alguma coisa dar errado, helicóptero pronto, uma enfermeira
parteira nos acompanhou por toda a gravidez, assim como o obstetra, mas
eu só queria garantir que não haveria possibilidades de perder a minha
família.
Foram nove horas de trabalho de parto e ela deu à luz ao nosso filho,
que nasceu mostrando que carregava a potência de um Higgins Basset. Ele
chorou alto, meio irritado e parou imediatamente ao ouvir a voz da mamãe.
Ediwa o embalou nos braços, não parecendo nem um pouco cansada,
apenas a mulher mais bela e mais forte do mundo inteiro segurando o
presente mais precioso do universo. 
— Olha só essa penugem ruiva. — Ela me deu um olhar cheio de
lágrimas. — Tão pequeno e já parece com o pai. Acho que só servi de
barriga. Deus, como é lindo. Estou maravilhada.
— Ele lembra muito o Niven. — Mamãe estava pendurada do outro
lado.
— Ele é tão perfeito, Ediwa. — Minha sogra estava debulhada em
lágrimas.
Passei meu braço por seu ombro, incrédulo que ele estava ali.
— E qual será o nome, papais? — A enfermeira quis saber, com a
prancheta para registro do nascimento. 
— Richard Nolan Higgins Basset em homenagem aos nossos pais, os
avós que ele teria amado conhecer — Ediwa respondeu baixinho. — Seja
bem-vindo, nosso tão sonhado filho. 
Beijei ambos, orgulhoso da vida maravilhosa que eu tinha e segurei
meu menino nos braços. Eu o olhei tão apaixonado, suas feições eram de
anjo, a boca pequena, o narizinho, os olhos me encarando como se ao ouvir
minha voz, pudesse me conhecer. Sorri, passando a mão de leve em sua
cabeça. Minha herança estava ali. 
As primeiras semanas do nosso pequeno em casa foram tranquilas
com a ajuda das avós. Ele dormia à noite, o que todos diziam ser um
milagre, acordava duas vezes para mamar, mas não era escandaloso e não
nos trouxe tanta privação de sono. Quando ficamos prontos para receber
visitas, nossos irmãos apareceram um por vez, para não causar tumultos,
afinal, eles também tinham filhos pequenos e queriam conhecer o novo
priminho. 
— Ediwa é uma mãe tranquila. — Claire parou ao meu lado,
encostando a cabeça no meu ombro. — Ela está sentada no chão com um
bebê de três meses, com um cachorro de um lado e um gato do outro.
— Aqui é uma fazenda, se ele não acostumar, nunca vai ter
anticorpos. — Bebi meu uísque, olhando minha esposa rir para minha
sobrinha, que lhe mostrava uma boneca, enquanto acariciava as costas do
nosso filho que havia acabado de mamar. 
— Eu sei, mas pensei que ela ficaria preocupada por ter sido criada na
cidade e justamente ao contrário, incorporou completamente a vida aqui. E
é maravilhosa. — Claire me abraçou meio que do nada. Eu ri, sempre
emocional, minha irmãzinha. — Ah, Simon. Amo tanto te ver assim,
casado, pai… é essa vida que sonhei para você. É essa felicidade que você
sempre mereceu, meu irmão. 
Nossos pais nos criaram com os pés no chão. Eles tinham dinheiro,
nos deram tudo do bom e do melhor e também nos ensinaram a correr atrás
do nosso. Trabalhar para conquistar nossos sonhos. Eu nunca planejei ficar
na Escócia esperando herdar tudo ou viver às custas do meu pai, mesmo
sabendo que, no futuro, precisaria lidar com o castelo e com o que eles
construíram. Mas corri atrás do meu, assim como minha irmã nunca
esperou nada sentada. Ela engravidou cedo, aceitou ajuda e foi estudar,
cuidando dos filhos, trabalhando e buscando ter uma carreira.
Eu esperava poder passar a mesma garra e orgulho para meus filhos.
Se fosse metade do que meus pais foram, estava no lucro. 
Aproveitei que Ediwa teria companhia por uns dias e montei minha
mochila para fazer um rito importante, caminhando pelas trilhas sem pressa,
acampando por uma noite. Chegando no ponto próximo à cachoeira, olhei a
árvore e tirei a faca do bolso, registrando o nascimento do meu filho. 
Toquei o tronco e fechei meus olhos por um momento.
— Obrigado, pai. 
 
 
 
EPÍLOGO
Ediwa
Nolan passou por mim com as mãozinhas esticadas na frente e sorri,
oferecendo um pedacinho de maçã. Ele aceitou, mastigando do seu jeito
fofo. Estava nu como veio ao mundo, com o bumbum exibindo as celulites
gostosas, coxas grossas e o corpinho delicioso que a mamãe aqui não
aguentava e apertava muito. A criança era cheia de dobrinhas adoráveis, me
enlouquecia e era maior que a média da idade, com um ano e dois meses já
era alto, cabeludo, ruivo e brincalhão. 
Era um dia de calor e ele estava tomando banho de mangueira no
quintal, andando na grama, comendo fruta (e terra junto), andando de um
lado ao outro. Jogou um pedaço de fruta para Marsali. Ela sempre ficava
por perto, principalmente depois que fiquei grávida. Ela virou minha
sombra e depois que ele nasceu, era minha fiel escudeira, não saía mais para
pastorear. Sempre comigo, não importava como. 
— Papa! — Nolan gritou e apontou, vendo Simon de longe. Cobri
meus olhos e sorri. Ele começou a fazer uma dança maluca que era um
misto de querer andar rápido, sentar para engatinhar, querendo o pai a todo
custo. 
Murray acenou de longe, indo para o outro lado com Roger e vários
sacos de suprimentos que deviam ter pego em algum celeiro no caminho.
Simon desmontou do cavalo.
— Oi, garoto! — Ele tirou a camisa e pegou o filho. — Hum, cheirinho
de grama.
— É a atividade favorita do menino-lobo.
— Quer tomar banho com o papai?
Ao ver meu marido com o jeans caído, o peitoral de fora e segurando
um bebê gordinho nos braços, não era difícil explicar os motivos pelos
quais estava grávida novamente. Simon me ergueu com um movimento
rápido e me deu um beijo, recolhi a bagunça e entramos juntos, subindo
para o quarto do bebê, para limpar e fazê-lo dormir um pouco. E para minha
sorte, meu filho era um amor, ele sempre dormia nos braços do papai.
Deixando-o no berço, encostamos a porta e meu marido inclinou-se,
beijando minha barriguinha de quatro meses. Daquela vez, estava bem
menor do que a primeira, ainda assim, proeminente de uma maneira
adorável. A gravidez era uma experiência esquisita, não sabia ao certo dizer
se gostava, porém, eu amava ser mãe e queria ter mais filhos biológicos.
Nós também estávamos planejando adotar, tanto que nos inscrevemos e até
recebemos a visita do conselho tutelar. 
Acho que a conselheira ficou um pouco incerta das minhas faculdades
mentais quando me viu correr de uma galinha enquanto vivia em uma
fazenda, mas eu ainda tinha problemas com elas. Simon disse que ela não
podia nos excluir por termos gatos sem educação dentro de casa e uma
cabra que não ficava com as outras, por ser mimada e me seguir por todo
lado. Mas talvez ela pensasse um pouco sobre as galinhas. 
— Sua mãe ligou. A dupla de avós corujas chega amanhã e os gêmeos
virão também. E vem cá, que história é essa do Murray e a moça nova?
— Deixa de ser fofoqueira. — Simon riu e foi me levando para o
quarto.
— O quê? — Cruzei meus braços. Se ele sabia de alguma coisa, tinha
o dever de me contar. Era um absurdo não compartilhar todas as
informações comigo. 
— Ela foi contratada para trabalhar na biblioteca, deixa de ser
fofoqueira.
— E daí? Eu fui contratada para trabalhar na escola e casei com o
senhor do castelo! Ela é bem linda e simpática. Gostei bastante — continuei
e ele apenas tirou a calça. — Vai, Simon! Está rolando alguma coisa?
— Minha filha está bem?
Revirei os olhos. Ele cismou que era uma menina. Em primeiro lugar,
o assunto surgiu porque na gravidez do Nolan todos falavam o quanto
estava bonita e tinha o mito de que meninos deixavam a mãe esplêndida e
naquela, parecia ser menina, ou seja, eu estava feia? Fiquei puta e expulsei
todo mundo. Daphne ficou maravilhosa na gravidez da Lily Rose, ou foi
porque ela sabia que era menina e fez todos os tratamentos estéticos
possíveis por ser uma patricinha sem remédios?
Eu amava a adrenalina de saber o sexo na hora do parto e estava com
ódio por causa da insinuação de que minha segunda gestação me estragou.
Amava o que via no espelho. 
Simon percebeu minha expressão, arregalou um pouco os olhos e
ergueu as mãos, como se quisesse acalmar um animal selvagem furioso.
— Eu apenas acho que dessa vez é menina e não tem nada a ver com a
sua aparência — ele falou pausadamente, com calma, olhando-me com
cuidado. — E talvez Murray esteja interessado na moça nova. 
Tive um pensamento maldoso terrível e quis compartilhar com meu
marido na desculpa de que eram os meus hormônios. 
— Se continuar chegando mulheres de Londres, Geneva vai cometer
um assassinato. Estamos tomando todos os homens solteiros. — Abri um
sorrisinho. — E ótima tática em tentar fugir da merda que falou. Não
sabemos se é uma menina, pare com isso. — Bati em sua nuca e fui para o
banheiro. — Agora seja útil, aproveite que o terrorista do seu filho está
dormindo e cuide da sua mulher. 
Ele sorriu de lado, tirando a cueca e andou na minha direção, poderoso
e, felizmente, muito gostoso.
— Sim, senhora. 
Não era um sacrifício ser a senhora daquele homem. Meu eterno ogro
de humor complicado, marido apaixonado, pai incrível, amante sem igual e
o melhor amigo que sempre pedi aos céus. 
 
 
 
FIM
 
 
 
Aviso: Uma Aposta Tentadora, faz parte da Série Amores Impossíveis, com
personagens originados da série Princesas Modernas. Por ser com casais
diferentes, cada livro da saga pode ser lido separadamente, mas talvez o
posterior contenha spoilers do anterior.

Daphne precisava de um recomeço. Como era possível sentir tanta dor ao


ponto de não conseguir ficar no mesmo lugar? Era questão de sobrevivência
sair de Londres e reconstruir a vida o mais longe de tudo aquilo que lhe
feria.
Nova Iorque era conhecida como a cidade do sucesso e parecia um lugar
muito promissor. Já instalada na cidade e começando a se ambientar,
desejava arduamente ser um pouco mais normal e não herdeira de uma
tradicional família britânica, então, aceitou participar de um encontro às
cegas com o irmão de uma amiga.
E nem tudo saiu como o esperado…
O encontro foi desastroso e ela decidiu que Bruno Bennet era um idiota sem
perdão.
Bruno levava a vida com diversão e responsabilidade. CEO de uma
empresa de publicidade em ascensão, tinha muito trabalho nas mãos e
pouco tempo para perder com besteiras. Ele compartilhava a vida com o
irmão gêmeo e acreditava no melhor das pessoas.
Solteiro, estava disposto a conhecer uma bonita garota nova na cidade. Ao
obter as informações erradas, devido a uma vingança da irmã caçula, ele
acaba percebendo que magoou alguém que não merecia. Dedicando-se a
pedir perdão, conquista a atenção da difícil Daphne Lewis.
Ela propõe o seguinte: eles serão apenas amigos.
Bruno está apaixonado, porém, sabe que o lado megera indomável da
amada precisa ceder, para que ela possa mergulhar de cabeça no sentimento
avassalador que o dominou com rapidez.
 
 
 
SOBRE A AUTORA:
 
 
Mari Cardoso nasceu no início da década de noventa, na região
dos lagos do Rio de Janeiro. Incentivada pela mãe, que lia histórias
bíblicas e entre outras, sempre teve aguçado o amor pelos livros.
Em 2008, passou a se aventurar no mundo das fanfics da Saga
Crepúsculo até que, anos mais tarde, resolveu começar escrever
originais. Em 2019, iniciou a carreira como autora profissional e hoje
tem duas séries em destaque: Elite de Nova Iorque e Poder e Honra,
quarenta livros publicados e algumas milhares de leituras acumuladas.
Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o romance
Perigoso Amor – Poder & Honra.
 
Ela possui
Suas redes sociais:
www.instagram.com/autoramaricardoso
www.twitter.com/eumariautora
http://www.maricardoso.com.br/
Grupo do Facebook.
Livros físicos em
www.lojamavlis.com.br
AGRADECIMENTOS
 
Este trabalho não seria possível com a incomparável ajuda profissional da
revisora Dani Smith, da betagem sensível da Paula Guizi, Daiane Lopes e
Keu Bernardo, assim como a edição da Mavlis Editorial. Agradeço
imensamente o apoio no período de construção da história. Não poderia
deixar de fora a torcida das minhas leitoras nos grupos de contato e o
carinho excepcional (e paciência) da minha amada mãe nos dias de muito
trabalho.
Gratidão eterna.
 
 

 
 
 
[1]
Irmã do Simon e personagem do livro Uma Família de Aluguel Para o Magnata
[2]
Princesa de Rainland, país fictício da série Princesas Modernas e personagem do livro O Príncipe
Que Eu Amo
[3]
Ethan Lewis – O Príncipe Que Eu Amo e irmão mais velho da Ediwa.
[4]
Daphne Lewis – Uma Aposta Tentadora e irmã mais velha da Ediwa.
[5]
Personagem do livro O Beijo do Príncipe
[6]
Deus
[7]
Querida
[8]
Minha preciosa em gaélico escocês.
[9]
Inferno
[10]
Personagem do livro Um Beijo de Amor para o CEO
[11]
Meu amado / meu amor em gaélico escocês.
[12]
Minha princesa
[13]
Preciosa
[14]
Minha perfeita.

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