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2022
Brasília
2ª edição
Organizado por CP Iuris
ISBN 978-65-5701-026-6

CRIMINOLOGIA
SOBRE A AUTORA

GABRIELA BARBOZA ANDRADE. Graduada em Direito pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduada


em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Cândido Mendes. Professora em cursos preparatórios,
ex-Oficial de Cartório da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, ex-Sargento da Força Aérea Brasileira.
Atualmente ocupa o cargo de Delegada de Polícia no Estado de Minas Gerais.
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA ...........................................................................................................11
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.....................................................................................................................12
2. ROTEIRO DE ESTUDOS ......................................................................................................................................14
CAPÍTULO 2 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA ....................................................................................16
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES .....................................................................................................................17
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CRIMINOLOGIA .....................................................................................................18
2.1. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA CRIMINOLOGIA MODERNA ........................................................................................ 19

3. CONCEITO DE CRIMINOLOGIA ..........................................................................................................................19


4. MÉTODO ..........................................................................................................................................................22

5. OBJETO DE ESTUDO DA CRIMINOLOGIA ..........................................................................................................23


5.1. DELITO .......................................................................................................................................................... 23
5.2. DELINQUENTE ................................................................................................................................................. 24
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5.3. VÍTIMA .......................................................................................................................................................... 24


5.4. CONTROLE SOCIAL ........................................................................................................................................... 25
5.4.1. Controle social formal ......................................................................................................................... 25
5.4.2. Controle social informal....................................................................................................................... 26
6. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA ...........................................................................................................................26
6.1. EXPLICAÇÕES CIENTÍFICAS DO FENÔMENO CRIMINAL ................................................................................................ 26
6.2. INTERVENÇÃO POSITIVA NO INFRATOR .................................................................................................................. 26
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6.3. AVALIAÇÃO DOS DIFERENTES MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME.................................................................................... 27


6.3.1. Modelo clássico/dissuasório clássico/retributivo................................................................................. 27
6.3.2. Modelo ressocializador ....................................................................................................................... 27
6.3.3. Modelo integrador/restaurador/consensual/justiça restaurativa ....................................................... 28
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7. SISTEMAS DA CRIMINOLOGIA ..........................................................................................................................29


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7.1. CONCEPÇÃO AUSTRÍACA/POSIÇÃO ENCICLOPÉDICA ................................................................................................. 29


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7.2. CONCEPÇÃO ESTRITA ........................................................................................................................................ 29


8. CLASSIFICAÇÕES DA CRIMINOLOGIA................................................................................................................30

CAPÍTULO 3 - FASES PRÉ-CIENTÍFICA E CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DE ESCOLAS .....................................31


1. NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA....................................................................................................................32

2. ESCOLA CLÁSSICA/LIBERAL-CLÁSSICA ..............................................................................................................32


2.1. PRINCIPAIS EXPOENTES DA ESCOLA CLÁSSICA .......................................................................................................... 32
2.1.1. Cesare Beccaria ................................................................................................................................... 33
2.1.2. Giandomenico Romagnosi .................................................................................................................. 33
2.1.3. Francesco Carrara ............................................................................................................................... 33
2.2. O ESTUDO DA PENA PARA A ESCOLA CLÁSSICA ........................................................................................................ 34
3. ESCOLA POSITIVISTA/POSITIVA ........................................................................................................................34
3.1. PRINCIPAIS EXPOENTES DA ESCOLA POSITIVISTA ...................................................................................................... 34
3.1.1. Cesare Lombroso (enfoque antropológico) ......................................................................................... 34
3.1.2. Enrico Ferri (enfoque sociológico) ....................................................................................................... 35
3.1.3. Raffaele Garófalo (enfoque psíquico) .................................................................................................. 36
3.2. O ESTUDO DA PENA PARA A ESCOLA POSITIVISTA .................................................................................................... 37
3.3. QUADRO SINÓPTICO: A LUTA DAS ESCOLAS ............................................................................................................. 38
3.4. OUTROS MODELOS DE ESCOLAS (INTERMEDIÁRIAS/ECLÉTICAS).................................................................................... 38
3.4.1. Terceira Escola/Terza Scuola/Terceira Escola Italiana ......................................................................... 38
3.4.2. Escola de Lyon / Criminal-Sociológica / Antropossocial ....................................................................... 39
3.4.3. Escola Técnico-Jurídica ........................................................................................................................ 39
3.4.4. Escola Correcionalista ......................................................................................................................... 40
3.4.5. Nova Defesa Social.............................................................................................................................. 40
3.4.6. Movimento psicossociológico de Gabriel Tarde .................................................................................. 40
CAPÍTULO 4 - CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL...........................41

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES .....................................................................................................................42


1.1. BIOLOGIA CRIMINAL ......................................................................................................................................... 42
1.2. PSICOLOGIA CRIMINAL ...................................................................................................................................... 42
1.3. SOCIOLOGIA CRIMINAL ...................................................................................................................................... 42

2. MODELOS TEÓRICO-EXPLICATIVOS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL NO ESCÓLIO DE ANTONIO GARCÍA-


PABLOS DE MOLINA .............................................................................................................................................43

2.1. CRIMINOLOGIA CLÁSSICA ................................................................................................................................... 43


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2.2. CRIMINOLOGIA POSITIVISTA................................................................................................................................ 43


2.3. CRIMINOLOGIA NEOCLÁSSICA ............................................................................................................................. 43
2.3.1. Teoria da opção racional como opção econômica (modelo economicista neoclássico) .......................... 43

3. TEORIAS SITUACIONAIS DA CRIMINALIDADE (VIÉS PREVENCIONISTA) ...........................................................44


3.1. TEORIA DAS ATIVIDADES ROTINEIRAS (TEORIA DA OPORTUNIDADE) ............................................................................. 44
3.2. TEORIA DO MEIO OU ENTORNO FÍSICO (TEORIA ESPACIAL) ......................................................................................... 46
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4. SOCIOLOGIA CRIMINAL ....................................................................................................................................47

5. DIVERSAS CORRENTES DA MODERNA CRIMINOLOGIA....................................................................................47


CAPÍTULO 5 - SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE ...........................................48
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1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES .....................................................................................................................49


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2. TEORIAS DO CONSENSO ..................................................................................................................................49


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2.1. ESCOLA DE CHICAGO ........................................................................................................................................ 50


2.1.1. Teoria Ecológica .................................................................................................................................. 51
2.1.2. Teoria das Janelas Quebradas ............................................................................................................. 51
2.1.3. Teoria da Tolerância Zero ................................................................................................................... 51
2.1.4. Teoria dos Testículos Despedaçados.................................................................................................... 52
2.1.5. Soluções propostas pela Escola de Chicago ......................................................................................... 52
2.1.6. Contribuições da Escola de Chicago .................................................................................................... 52
2.1.7. Críticas à Escola de Chicago ................................................................................................................ 52
2.2. TEORIA DA ANOMIA/ESTRUTURAL-FUNCIONALISTA ................................................................................................ 53
2.3. TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL .................................................................................................................. 55
2.4. TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE ............................................................................................................... 56

3. TEORIAS DO CONFLITO ....................................................................................................................................57


3.1. LABELLING APPROACH ....................................................................................................................................... 58
3.1.1. Modelo explicativo sequencial (Sérgio Shecaira) ................................................................................ 59
3.1.2. Influências da Teoria em nosso ordenamento jurídico ........................................................................ 59
3.1.3. Críticas à Teoria do Labelling Approach ............................................................................................... 60
3.2. CRIMINOLOGIA CRÍTICA/RADICAL/MARXISTA OU NOVA CRIMINOLOGIA ...................................................................... 60
3.2.1. Características da Criminologia Crítica / Radical / Marxista / Nova Criminologia................................. 61
3.2.2. Críticas à Criminologia Crítica/Radical/Marxista/Nova Criminologia ................................................... 61
3.2.3. Contribuições da Teoria Crítica ........................................................................................................... 62
3.3. TENDÊNCIAS ADVINDAS DA CRIMINOLOGIA CRÍTICA: NEORREALISMO DE ESQUERDA, DIREITO PENAL MÍNIMO E ABOLICIONISMO
PENAL.................................................................................................................................................................. 62
3.3.1. Neorrealismo de Esquerda .................................................................................................................. 62
3.3.2. Direito Penal Mínimo .......................................................................................................................... 62
3.3.3. Pensamento abolicionista/abolicionismo penal .................................................................................. 63
CAPÍTULO 6 - TEMAS ESPECIAIS .................................................................................................................................64
1. SISTEMA PENAL E REPRODUÇÃO DA REALIDADE SOCIAL ...............................................................................65

1.1. O SISTEMA ESCOLAR COMO PRIMEIRO SEGMENTO DO APARATO DE SELEÇÃO E DE MARGINALIZAÇÃO NA SOCIEDADE .................. 65
1.2. FUNÇÃO IDEOLÓGICA DO PRINCÍPIO MERITOCRÁTICO NA ESCOLA ................................................................................ 65
1.3. FUNÇÕES SELETIVAS E CLASSISTAS DA JUSTIÇA PENAL ................................................................................................ 65
1.4. A INCIDÊNCIA DOS ESTEREÓTIPOS, DOS PRECONCEITOS E DAS TEORIAS DE SENSO COMUM NA APLICAÇÃO JURISPRUDENCIAL DA LEI
PENAL .................................................................................................................................................................. 66
1.5. ESTIGMATIZAÇÃO PENAL E TRANSFORMAÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL DA POPULAÇÃO CRIMINOSA ......................................... 66
1.6. NEXO FUNCIONAL ENTRE SISTEMA DISCRIMINATÓRIO ESCOLAR E SISTEMA DISCRIMINATÓRIO PENAL ....................................... 66
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2. CÁRCERE E MARGINALIDADE SOCIAL ...............................................................................................................66


2.1. CARACTERÍSTICAS CONSTANTES DO “MODELO” CARCERÁRIO NAS SOCIEDADES CAPITALISTAS CONTEMPORÂNEAS ...................... 66
2.2. RELAÇÃO ENTRE PRESO E SOCIEDADE .................................................................................................................... 67
2.3. AS LEIS DE REFORMA PENITENCIÁRIA ITALIANA E ALEMÃ E A PERSPECTIVA DE RUSCHE E KIRCHHEIMER – AS RELAÇÕES ENTRE MERCADO
DE TRABALHO, SISTEMA PUNITIVO E CÁRCERE ................................................................................................................ 67

3. MODELO CONSENSUAL DE JUSTIÇA CRIMINAL ...............................................................................................67


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4. CRIMINOLOGIA FEMINISTA .............................................................................................................................68

5. CRIMINOLOGIA QUEER ....................................................................................................................................69


6. A CRIMINOLOGIA NO ENFOQUE DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA .............................................................70
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6.1. CRIMINALIDADE ORGANIZADA DO TIPO MAFIOSA ..................................................................................................... 70


6.2. CRIMINALIDADE ORGANIZADA DO TIPO EMPRESARIAL ............................................................................................... 71
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7. CRIMINOLOGIA CULTURAL...............................................................................................................................71
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8. TEORIA BEHAVIORISTA ....................................................................................................................................72

8.1. BEHAVIORISMO CLÁSSICO ................................................................................................................................... 72


8.2. BEHAVIORISMO METODOLÓGICO ......................................................................................................................... 72
8.3. BEHAVIORISMO RADICAL ................................................................................................................................... 72
9. TEORIA DO MIMETISMO..................................................................................................................................72
10. MOVIMENTO DE LEI E ORDEM ......................................................................................................................73
11. BULLYING .......................................................................................................................................................73
11.1. MARCO LEGISLATIVO NO BRASIL: ....................................................................................................................... 75
11.1.1. Lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015 .......................................................................................... 75
11.2. CYBERBULLYNG .............................................................................................................................................. 76

12. ASSÉDIO MORAL ............................................................................................................................................76


13. STALKING........................................................................................................................................................77
14. A FIGURA DOS ASSASSINOS EM SÉRIE ..........................................................................................................78
15. PARAFILIAS .....................................................................................................................................................78
CAPÍTULO 7 - ATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE.....................................................................79
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.....................................................................................................................80
2. SISTEMA ECONÔMICO .....................................................................................................................................80

3. DESEMPREGO ...................................................................................................................................................81
4. POBREZA ..........................................................................................................................................................81
5. ESTADO DE MISERABILIDADE ...........................................................................................................................81
6. FOME ...............................................................................................................................................................81

7. MAL-VIVÊNCIA .................................................................................................................................................82
8. DÉFICIT DE EDUCAÇÃO .....................................................................................................................................82

9. MEIOS DE COMUNICAÇÃO ...............................................................................................................................82


10. POLÍTICA.........................................................................................................................................................82

11. CRESCIMENTO POPULACIONAL ......................................................................................................................82


12. PRECONCEITO.................................................................................................................................................82
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13. CORRUPÇÃO ...................................................................................................................................................83


13.1. TEORIA DA GRAXA .......................................................................................................................................... 83
13.2. TEORIA DA BOLA DE NEVE ................................................................................................................................ 83
CAPÍTULO 8 - CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ............................................84
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.....................................................................................................................85
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2. PREVENÇÃO CRIMINAL ....................................................................................................................................85

3. MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME ...................................................................................................................85


4. FINALIDADES DA PENA ....................................................................................................................................85
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4.1. TEORIAS ABSOLUTAS OU RETRIBUTIVAS ................................................................................................................ 86


4.2. TEORIAS RELATIVAS, PREVENTIVAS OU UTILITARISTAS .............................................................................................. 86
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4.2.1. Prevenção geral negativa e positiva ................................................................................................... 87


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4.2.2. Prevenção especial negativa e positiva............................................................................................... 87


4.3. TEORIA MISTA, ECLÉTICA, UNITÁRIA OU UNIFICADORA .............................................................................................. 87
4.3.1. Código Penal ....................................................................................................................................... 87
5. PROCESSOS DE CRIMINALIZAÇÃO ....................................................................................................................87
CAPÍTULO 9 - PREVENÇÃO CRIMINAL ........................................................................................................................89

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES .....................................................................................................................90


2. CONCEITO DE PREVENÇÃO CRIMINAL .............................................................................................................90
2.1. MEDIDAS INDIRETAS ......................................................................................................................................... 91
2.2. MEDIDAS DIRETAS ............................................................................................................................................ 91
3. PRINCÍPIOS BÁSICOS ........................................................................................................................................91
4. CATEGORIAS DE PREVENÇÃO AO DELITO PARA ANTONIO GARCÍA-PABLOS DE MOLINA .............................92
5. MODELOS TEÓRICOS DE PREVENÇÃO AO DELITO...........................................................................................92
5.1. MODELO CLÁSSICO ........................................................................................................................................... 92
5.2. MODELO NEOCLÁSSICO ..................................................................................................................................... 92

6. PREVENÇÃO DO DELITO NA ÓTICA DA CRIMINOLOGIA MODERNA ...............................................................93


6.1. PREVENÇÃO PRIMÁRIA ...................................................................................................................................... 93
6.2. PREVENÇÃO SECUNDÁRIA .................................................................................................................................. 93
6.3. PREVENÇÃO TERCIÁRIA ..................................................................................................................................... 94
7. PREVENÇÃO SITUACIONAL ...............................................................................................................................95
7.1. PREVENÇÃO SITUACIONAL DO SENTIMENTO DE CULPA DO INFRATOR ........................................................................... 95
7.2. PREVENÇÃO SITUACIONAL DA RECOMPENSA .......................................................................................................... 95
CAPÍTULO 10 - VITIMOLOGIA .....................................................................................................................................97
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES .....................................................................................................................98
2. CONCEITO DE VÍTIMA .................................................................................................................................... 100

3. AS FASES DA VÍTIMA AO LONGO DA HISTÓRIA ............................................................................................. 100


3.1. PROTAGONISMO: “A IDADE DE OURO” ............................................................................................................... 100
3.2. NEUTRALIZAÇÃO ............................................................................................................................................ 100
3.3. REDESCOBRIMENTO/REVALORIZAÇÃO ................................................................................................................. 101

4. PROCESSOS DE VITIMIZAÇÃO ........................................................................................................................ 101


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4.1. VITIMIZAÇÃO PRIMÁRIA ................................................................................................................................... 101


4.2. VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA OU SOBREVITIMIZAÇÃO ................................................................................................ 102
4.3. VITIMIZAÇÃO TERCIÁRIA .................................................................................................................................. 102

5. CLASSIFICAÇÕES DAS VÍTIMAS....................................................................................................................... 103


5.1. POR BENJAMIN MENDELSHON .......................................................................................................................... 103
5.1.1. Vítima completamente inocente ....................................................................................................... 104
5.1.2. Vítima menos culpada que o criminoso ............................................................................................ 104
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5.1.3. Vítima tão culpada quanto o criminoso............................................................................................ 104


5.1.4. Vítima mais culpada que o criminoso ............................................................................................... 104
5.1.5. Vítima exclusivamente culpada ......................................................................................................... 104
5.2. POR HANS VON HENTING................................................................................................................................ 104
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6. PRINCIPAIS SÍNDROMES VITIMOLÓGICAS ..................................................................................................... 105


Marceli souza

6.1. SÍNDROME X DOENÇA ..................................................................................................................................... 105


Marceli

6.2. SÍNDROME DA MULHER DE POTIFAR .................................................................................................................. 105


6.3. SÍNDROME DA MULHER DE POTIFAR X SÍNDROME DA BARBIE .................................................................................. 106
6.4. SÍNDROME DE ESTOCOLMO.............................................................................................................................. 106
6.5. SÍNDROME DE LONDRES .................................................................................................................................. 106
CAPÍTULO 11 - CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS ................................................................................................... 107
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ................................................................................................................... 108
2. POR CESARE LOMBROSO ............................................................................................................................... 108
3. POR ENRICO FERRI ......................................................................................................................................... 108
4. POR RAFFAELE GARÓFALO ............................................................................................................................. 109

CAPÍTULO 12 - ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS..................................................................................... 110


1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES E TIPOS DE CRIMINALIDADE ..................................................................... 111

1.1 CRIMINALIDADE REAL OU GENUÍNA ..................................................................................................................... 111


1.2. CRIMINALIDADE REVELADA, REGISTRADA OU APARENTE .......................................................................................... 111
1.3. CRIMINALIDADE OCULTA: CIFRA NEGRA, CIFRA OCULTA, ZONA ESCURA, CIFFRE NOIR ..................................................... 111
2. CIFRA NEGRA.................................................................................................................................................. 111
3. CIFRA DOURADA OU DE OURO...................................................................................................................... 112
4. CIFRA CINZA ................................................................................................................................................... 113
5. CIFRA AMARELA ............................................................................................................................................. 113

6. CIFRA VERDE .................................................................................................................................................. 113


CAPÍTULO 13 - DIREITO PENAL DO INIMIGO ........................................................................................................... 114
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ................................................................................................................... 115
2. DIREITO PENAL DO CIDADÃO X DIREITO PENAL DO INIMIGO ...................................................................... 115

3. CARACTERÍSTICAS........................................................................................................................................... 115
4. MANIFESTAÇÃO DO DIREITO PENAL DO INIMIGO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO....................... 116

5. CRÍTICAS À TEORIA DO DIREITO PENAL DO INIMIGO.................................................................................... 117


6. AS VELOCIDADES DO DIREITO PENAL ............................................................................................................ 117

QUESTÕES DE CONCURSOS ..................................................................................................................................... 119


GABARITO ............................................................................................................................................................... 130
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................ 131


CADERNOS DE ESTUDO ELABORADOS COM BASE NOS SEGUINTES CURSOS E VIDEOAULAS: ................................ 132
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APRESENTAÇÃO

Olá, amigo (a) concurseiro (a)!


Seja bem-vindo (a) ao fascinante e intrigante estudo da Criminologia.
Neste e-book, pretendemos traçar uma abordagem da disciplina de forma bastante didática, de
modo a proporcionar ao leitor um entendimento contextualizadoacerca da matéria.
Preliminarmente, é importante destacar que a Criminologia vem sendo disciplina integrante de
grande parte dos editais dos concursos jurídicos pelo Brasil afora. Portanto, não há como negligenciar o
estudo do tema.
Por óbvio, não temos a pretensão de esgotar a matéria; contudo, o material contempla os temas
mais importantes presentes nas provas de concurso, trazendo, ao final, uma bateria de questões para
treinamento.
Eventualmente faremos apontamentos acerca da legislação correlata aos temas abordados,
consideradas relevantes no contexto de uma análise conjunta.
Ademais, estabeleceremos um roteiro de estudos, de modo a torná-lo mais didático e prazeroso.
Para tanto, propusemos a sistematização do conteúdo em “momentos”, de maneira que o seu aprendizado
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seja coeso e interessante, espancando qualquer das afirmações acerca da dificuldade do estudo da matéria.
Avante!
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1
GABRIELA ANDRADE

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA • 1

11
GABRIELA ANDRADE APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA • 1

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Podemos afirmar que, outrora, o estudo da criminologia não era tão badalado como o das demais
ciências criminais. Prova disso é que, em algumas faculdades de direito, a disciplina integra o corpo de
matérias eletivas ou optativas (não obrigatórias).
Ocorre que, sobretudo diante dos últimos acontecimentos no cenário atual brasileiro, quando a
criminalidade organizada e econômica começou a ser descortinada e a ganhar destaque na mídia, o estudo
por uma perspectiva criminológica mostrou-se – e mostra-se – indispensável. Afinal, como explicar, inclusive,
esse tipo de criminalidade?
Sabemos que, historicamente, negros e pobres são marginalizados e representam mais de 60% da
população carcerária1.
Ocorre que, nos tempos atuais, a sociedade brasileira vem experimentando uma mudança de
paradigma naquilo que se refere à investigação, ao processo e à responsabilização de criminosos
pertencentes às mais altas camadas sociais, a exemplo de grandes empresários e agentes políticos.
Nesse contexto, esses indivíduos integram verdadeiras organizações criminosas voltadas à prática
dos mais variados delitos, tendo como objetivo último a obtenção de vantagem econômica ou de outra
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natureza.
Perceba, portanto, que o crime não é uma exclusividade das camadas menos favorecidas. Por isso,
para entender esse fenômeno (crime) em sua essência, não há como conceber o estudo das demais ciências
penais dissociado da perspectiva criminológica.
Você já percebeu que, modernamente, sobretudo com o avanço da internet, as pessoas manifestam
suas opiniões e crenças acerca das condutas criminosas sem qualquer base de fundamentação? Por várias
perspectivas, a internet é uma ferramenta indispensável nos dias atuais. Contudo pode se revelar também
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como um profundo poço de ideias aleatórias desprovidas de embasamento e tecnicismo.


Os temas atinentes à criminalidade despertam grande interesse e curiosidade na população em geral.
Nesse cenário, os leigos reproduzem afirmações desprovidas de qualquer embasamento teórico ou
cientificidade, o que acaba por prejudicar e empobrecer a percepção das causas reais da criminalidade.
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Temos observado isso de maneira muito incisiva, por exemplo, nos discursos populistas publicados nas redes
sociais. Nesse sentido, consoante o professor Zaffaroni (2013), “Atualmente, todos comentam sobrem
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futebol e violência, existindo milhares de técnicos desse esporte, e, na mesma proporção, criminólogos”.
Marceli

Nessa linha de intelecção, o que se percebe é um clamor popular acerca dos assuntos que mais
incomodam a sociedade, que pode gerar a aprovação de legislações com caráter claramente paliativo, com
espírito de “resposta estatal” aos anseios sociais, dando a (falsa) impressão de que as coisas estão sob
controle.
Todavia o crime só pode ser efetivamente combatido por meio de instrumentos que possibilitem sua
apuração por uma visão crítica e científica, analisando a questão da delinquência em suas raízes.
Decerto que tais medidas paliativas tratam a consequência e não a causa do fenômeno crime. Nas
palavras de Ney Moura Teles, “querer combater a criminalidade com o Direito Penal é querer eliminar a
infecção com analgésico”.
Nessa senda, a doutrina trabalha com o que se chama de direito penal simbólico.
Nas palavras de Sanches (2013, p. 36):

Movido pela sensação de insegurança presente na sociedade, o direito penal de


emergência, atendendo a demandas de criminalização, cria normas de repressão,
afastando-se, não raras vezes, de seu importante caráter subsidiário e fragmentário,
assumindo feição nitidamente punitivista e ignorando as garantias do cidadão.

1https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/noticias/sistema-carcerario-
brasileiro-negros-e-pobres-na-prisao.

12
GABRIELA ANDRADE APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA • 1

Esquecendo a real missão do direito penal, o legislador atua pensando quase que apenas
na opinião pública, querendo, com novos tipos penais e/ou aumentos de penas e
restrições de garantias, devolver à sociedade a ilusória sensação de tranquilidade.
Permite a edição leis que cumprem função meramente representativa, afastando-se das
finalidades legítimas da pena, campo fértil para um direito penal simbólico. Para muitos,
a Lei n° 8072/90 (Lei de Crimes Hediondos), recentemente alterada pela Lei n°
13.964/2019 (Pacote Anticrime) e a Lei n° 12850/2013 (Lei de Organizações Criminosas), é
expressão desse direito.

A Lei de Crimes Hediondos foi criada na década de 90. De nítida inspiração nas teses do Direito Penal
Máximo2 e Movimento de Lei e Ordem3, trouxe a implantação de uma política criminal bastante severa, como
forma de tentar conter o avanço da criminalidade, criando tipos penais e promovendo o recrudescimento
de penas.
Nessa linha intelectiva, a Lei n.° 8.072/1990 (Lei de Crimes Hediondos) foi editada sob o contexto de
comoções sociais que ocorreram no final da década de 80 e início dadécada de 90, conforme veremos a
seguir.
Comoções sociais influenciaram punição de crimes hediondos
Os sequestros do empresário Abílio Diniz, em 11 de dezembro de 1989, e do publicitário Roberto
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Medina, em 6 de junho de 1990, estão na gênese da Lei de Crimes Hediondos (Lei n.° 8.072/1990). Eles foram
as vítimas mais notórias de uma onda de extorsões que, no início da década de 1990, motivou a norma que
regulamentou o artigo 5º, inciso XLIII, da Constituição, segundo o qual "a lei considerará crimes inafiançáveis
e insuscetíveis de graça ou anistia, entre outros, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos".
Em 25 de julho de 1990, foi promulgada a Lei n.° 8.072/1990, definindo os crimes hediondos e
excluindo seus autores de benefícios, tais como a liberdade provisória mediante pagamento de fiança. Os
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condenados pelas práticas de tais crimes perderam também o direito à progressão do regime da pena, pelo
qual poderiam, por exemplo, cumprir um sexto da pena e sair do regime fechado para o semiaberto. No
caso, a pena passaria a ser cumprida integralmente em regime fechado.
Quatro anos depois, uma nova alteração – feita pela Lei n.° 8.930/1994 – incluiu, nos crimes
souza -- CPF:

hediondos, homicídios praticados em atividades típicas de grupo de extermínio. Era uma resposta às chacinas
da Candelária (23 de julho de 1993) e do Vigário Geral (29 de agosto do mesmo ano). A mesma alteração
Marceli souza

ainda tornou hediondo o homicídio qualificado, devido à grande repercussão do assassinato da atriz Daniela
Marceli

Perez (28 de dezembro de 1992).


Mais quatro anos depois, um novo escândalo: o dos remédios falsificados ou adulterado, como a
"pílula de farinha", um anticoncepcional responsável por muitos casos de gravidez não planejada. Uma nova
alteração, feita pela Lei n.° 9.695/1998, tornou hediondos os crimes de falsificação, corrupção, adulteração
ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais4.
Tecidas essas breves considerações, passemos a uma breve análise acerca da criminologia, apenas
para que nos situemos no estudo da matéria, ressaltando que os temas serão explorados de forma mais

2 O direito penal máximo constitui justamente o oposto do direito penal mínimo, e traz em si a ideia de que o Direito Penal é a
solução para todos os problemas existentes na sociedade. Por tal movimento, o direito penal é o meio de controle social mais
eficaz a restringir o direito à liberdade do ser humano, devendo, portanto, ser a solução adotada em primeiro lugar. HABIB, G. Leis
Penais Especiais. 10. ed. Editora JusPodivm, 2018, p. 470.
3 Movimento lei e ordem (Law and Order): movimento idealizado por Ralf Dahrendorf, que surgiu como

uma reação ao crescimento dos índices de criminalidade. Tal movimento baseia -se na ideia da repressão, para o qual a pena se
justifica por meio das ideias de retribuição e castigo. Os adeptos desse movimento pregam que somente as leis severas, que
imponham longas penas privativas de liberdade ou até mesmo a pena de morte, têm o condão de controlar e inibir a prática de
delitos. Dessa forma, os crimes de maior gravidade devem ser punidos com penas longas e severas, a serem cumpridas em
estabelecimentos prisionais de segurança máxima. HABIB, G. Leis Penais Especiais. 10. ed. Editora JusPodivm, 2018, p. 470.
4 AGÊNCIA SENADO. Comoções sociais influenciaram punição de crimes hediondos. Agência Senado, 2010. Disponível em:

https://bit.ly/3dJZ9io. Acesso em: 7 set. 2020.

13
GABRIELA ANDRADE APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA • 1

robusta no decorrer do trabalho. Trata-se de uma ciência multidisciplinar, que, através do método empírico
(causal-explicativo), pretende estudar o crime, o criminoso, a vítima e o controle social.
Nasce, inicialmente, como espécie de apêndice das ciências naturais. Tanto que o primeiro
criminólogo conhecido na história foi Cesare Lombroso, um médico alienista – aquele que trata de alienados,
pessoas que não têm ou que perderam sua identidade, ou que vivem num estado em que não são
responsáveis plenamente por seus atos, ou, dito de um modo mais popular, são aquelas pessoas que não
têm capacidade ou não querem entender a realidade que as cerca.
Com o passar dos anos, a criminologia se dissocia da medicina, já que as perspectivas defendidas por
Lombroso não se revelaram corretas na prática. Nesse contexto, o médico defendia que o criminoso era um
ser atávico, de pouca evolução e que manifestava o caráter criminoso como algo natural de seu caráter
evolutivo primário.
Com o tempo, conhecimentos de outras ciências – sociologia, antropologia, economia, psicologia –
foram incorporados ao estudo criminológico, tornando a criminologia uma ciência multidisciplinar. Com isso,
o crime passou a ser analisado sob uma outra ótica.
Nos anos 60, com o giro sociológico, a criminologia começou a observar os processos de
criminalização, identificando, na verdade, que o crime também é criado pelo próprio sistema penal, o qual,
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por meio da rotulação de determinadas condutas, constitui o delito e também o criminoso, com as chamadas
cerimônias degradantes.
A criminologia começa, então, a observar muito mais os processos de criminalização do que o crime
em si, até desaguar na criminologia crítica (final do século XX, início do século XXI), quando começa a criticar
as próprias bases do direito penal e do sistema punitivo.
Mais recentemente, a criminologia acabou por ganhar um papel de devassar o direito penal,
apontando suas falhas estruturais. Isso porque o direito penal acaba por impor determinados conceitos e
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institutos reproduzidos como verdadeiros pela dogmática penal, contudo, por vezes, sem uma base segura
de fundamentação, apoiando-se em retóricas e na perspectiva coercitiva da norma.

2. ROTEIRO DE ESTUDOS
souza -- CPF:

Neste momento, estabeleceremos nosso roteiro de estudos, de modo a torná-lo mais leve e didático.
Marceli souza

Para tanto, propusemos a sistematização do conteúdo em “momentos”, que serão seguidos dos demais
Marceli

temas correlatos, de maneira que o seu aprendizado seja coeso e se torne interessante, espancando qualquer
das afirmações acerca da dificuldade do estudo da matéria, sobretudo por conta da infinidade de escolas e
teorias existentes.
Sendo assim, com vistas a facilitar nossos estudos, façamos uma linha do tempo para o estudo da
criminologia, a saber:

• 1º MOMENTO: aqui, estudaremos a introdução ao estudo da criminologia, caminhando pelos


seus elementos principais, tais como: conceito, métodos, objetos, funções, sistemas e
classificação da criminologia;
• 2º MOMENTO – FASE PRÉ-CIENTÍFICA E CIENTÍFICA: nessa fase, estudaremos a chamada
“luta/guerra de escolas” entre as Escolas Clássica e Positivista;
• 3º MOMENTO: veremos os diversos modelos teórico-explicativos do comportamento criminal,
consubstanciados nos estudos de Antônio García-Pablos de Molina;
• 4º MOMENTO: estudaremos o denominado “giro sociológico” (sociologia criminal), abordando
as teorias do consenso e as teorias do conflito;

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GABRIELA ANDRADE APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA • 1

• 5º MOMENTO: nesse momento, estudaremos os temas especiais da criminologia, tais como:


criminologia cultural, criminologia feminista, criminologia queer, criminologia no contexto da
criminalidade organizada, entre outros temas.

Desta feita, daremos início aos nossos estudos, com a intenção de transmitir a você o conteúdo de
uma maneira sistematizada, de modo a possibilitar um conhecimento mais aprofundado e didático sobre os
principais temas de criminologia cobrados em concursos jurídicos.
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GABRIELA ANDRADE

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Do latim crimen e, do grego, logo, criminologia significa estudo do crime. Foi idealizada por Paul
Topinard (1830-1911) e difundida no cenário internacional por Raffaele Garófalo (1851-1934), apresentando
como marco científico, para corrente majoritária, o saber científico criminológico da obra “O homem
delinquente”, em 1876, de Cesare Lombroso.
Decerto, o foco inicial dos estudos da criminologia era o delito e o delinquente; contudo,
posteriormente, a vítima e o controle social também se tornaram protagonistas no palco dos estudos
criminológicos.
Preliminarmente, tenha em mente que não é possível demarcar em caráter absoluto o exato
momento do nascimento da criminologia. Os autores que debruçam seus estudos sobre a criminologia não
são unânimes em delimitar com exatidão o momento em que teve início seu estudo científico.
Como ciência autônoma, sua existência é recente. Contudo não podemos olvidar seu período pré-
científico. Nesse período, o conhecimento produzido resultava da observação realizada pelo homem, que lhe
permitia constatar e descrever fenômenos; todavia, por falta de sistematização, não era possível sua
explicação de forma plena.
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Desde a antiguidade, é possível verificar a presença de ideias acerca da criminologia, a partir de


textos esparsos de determinados autores que já revelavam sua preocupação e seu interesse no estudo do
crime e dessas causas.
Em todo esse contexto, no que se refere ao período científico, há divergências doutrinárias acerca
de seu surgimento, ora atribuído a quatro estudiosos distintos:

• Cesare Lombroso;
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• Paul Topinard;
• Raffaele Garófalo;
• Francesco Carrara.
souza -- CPF:

A seguir, conheceremos um pouco de cada um desses estudiosos:


Marceli souza

• Cesare Lombroso: majoritariamente, a criminologia passou a ser reconhecida com certa


Marceli

autonomia científica com a obra de Lombroso L’Uomo Delinquente (Homem Delinquente), em


1876. Sua principal tese era a do delinquente nato, isto é, aquele ser humano atávico, pouco
evoluído, que manifestava o caráter criminoso como algo natural de seu caráter evolutivo
primário.
• Paul Topinard: outros autores atribuem o surgimento do período científico da criminologia ao
antropólogo francês Topinard, que, em 1879, empregou pela primeira vez o termo criminologia.
• Raffaele Garófalo: há, ainda, quem atribua o surgimento desse período a Garófalo, que utilizou,
em 1885, o termo criminologia como título de seu livro científico, o qual é compreendido como
a ciência da criminalidade, do delito e da pena.
• Francesco Carrara: a escola clássica apresenta Carrara como aquele que utilizou os primeiros
aspectos do pensamento criminológico em sua obra Programa de Direito Criminal, de 1859.

ATENÇÃO!
Para uma parte minoritária da doutrina, o marco científico da criminologia é a obra “Dos Delitos e das Penas”
(1764), de Cesare Beccaria. Malgrado a data da obra de Beccaria anteceda a obra de Lombroso em mais de
um século, a doutrina majoritária refuta a ideia de marco científico, posto que o estudo da criminologia por
Beccaria, artífice da Escola Clássica, ainda não tinha alcançado a autonomia científica da criminologia, pois a

17
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

obra mencionada se debruçava num viés mais relacionado ao direito penal (ciência lógica, abstrata e
normativa).

FIQUE DE OLHO!
Em provas objetivas, recomenda-se optar pela doutrina majoritária, mais apoiada em Cesare Lombroso,
salvo, é claro, se a sua banca adotar entendimento diverso. Em provas discursivas e orais, tente explorar todo
conhecimento adquirido, demonstrando ao examinador que você conhece as diversas correntes acerca do
tema, apontando o entendimento dominante.

No Brasil, a criminologia foi introduzida pelo pernambucano João Vieira de Araújo, com a obra
Ensaios sobre Direito Penal, em 1884.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CRIMINOLOGIA

Seguindo os ensinamentos do professor Paulo Sumariva (2017), com redação adaptada,


apresentamos breve explanação acerca da evolução da criminologia ao longo da história, desde a
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Antiguidade até a criminologia moderna.


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Na Antiguidade, o principal exemplo da existência de questionamentos criminológicos é o Código de


Hamurabi, que representa o conjunto de leis escritas, sendo um dos exemplos mais bem preservados desse
tipo de texto oriundo da Mesopotâmia. Acredita-se que foi escrito pelo rei Hamurabi, aproximadamente
em 1772 a.C.
Os artigos do Código de Hamurabi descreviam casos que serviam como modelos a serem aplicados
em questões semelhantes. Para limitar as penas, o código adotou o princípio de Talião, sinônimo de
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retaliação. Por esse princípio, a pena não seria uma vingança desmedida, mas proporcional à ofensa
cometida pelo criminoso. Tal princípio é resumido no ditado popular "olho por olho, dente por dente".
Além disso, o Código dispunha que pobres e ricos fossem julgados de forma distinta, impingindo-se
aos ricos maior severidade, já que estes tinham mais oportunidades e acesso a bens materiais e culturais.
souza -- CPF:

Nos idos do século XVI, uma linha de pensamento interessante que, mais tarde, foi explorada por
outras teorias, foi esquadrinhada por Thomas Morus. Ele considerava o crime como reflexo da própria
Marceli souza

sociedade, relacionando a desorganização social e a pobreza com a delinquência.


Marceli

No século XVIII, havia uma valorização da aparência externa do indivíduo, ou seja, uma observação
de sua fisionomia, a fim de determinar o homem criminoso. Kaspar Lavater, utilizando-se de métodos de
observação e análise, propôs o “retrato robot”, o denominado “homem de maldade natural”, baseando-se
em suas supostas características somáticas (MOLINA; GOMES, 2020). Além disso, também eram feitos juízos
de valor com base na aparência do indivíduo, sempre em prejuízo do “mais feio”.
Nesse contexto, a fisionomia deu origem à cranioscopia (observação ou exame da forma e outras
características do crânio). Segundo essa linha de estudo, por meio das medições externas da cabeça, seria
possível determinar características da personalidade, do desenvolvimento das faculdades mentais e morais
do indivíduo, bem como o grau de criminalidade.
Tais estudos evoluíram para uma análise interna da mente, dando origem à frenologia (doutrina
segundo a qual cada faculdade mental se localiza em uma parte do córtex cerebral e o tamanho de cada
parte é diretamente proporcional ao desenvolvimento da faculdade correspondente, sendo este tamanho
indicado pela configuração externa do crânio), desenvolvida pelo médico Franz Joseph Gall, em 1810, que
buscava localizar malformações no cérebro e crânio humano que pudessem justificar o comportamento
criminoso, promovendo um verdadeiro mapeamento do cérebro em zonas de criminalidade.
No final do século XVIII, surge a escola clássica, que teve como principais expoentes estudiosos
como Cesare Beccaria, Francesco Carrara e Giovanni Carmignani. Em apertada síntese, a responsabilização

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GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

penal, para a escola clássica, fundamenta-se no livre-arbítrio, ou seja, o delito era produto da vontade
livre do agente e a pena é um mal justo aplicado àquele que comete um mal injusto.
Com o giro sociológico ocorrido na década de 60, surge o que chamamos de criminologia moderna,
que começa a observar muito mais os processos de criminalização do que o crime em si.
Nessa fase, a pessoa do delinquente é examinada em seu aspecto biopsicossocial e não apenas em
uma perspectiva biopsicopatológica, com a supervalorização dos aspectos fisionômicos, como outrora.
A criminologia moderna, então, foca seus estudos no fenômeno criminal, nas suas causas e
características, nas formas de prevenção e no controle. O cerne de investigação deixa de ser apenas a pessoa
do infrator, e se desloca para a conduta criminosa, a vítima e o controle social.
O criminoso passa de uma figura central para um segundo plano, passando a ser examinado como
um ser biopsicossocial, isto é, um ser sobre o qual recaem influênciasbiológicas, psicológicas e sociais para
sua formação, e que esses processos biológicos, cognitivos, sociais e emocionais interferem e influenciam
em seu processo de aprendizagem.
Passou-se, portanto, de um enfoque meramente individualista para uma abordagem mais ampla,
em atenção aos objetivos políticos-criminais.
Nesse caminho, a criminologia moderna tem algumas de suas características principais abordadas
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por Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes, como mostra o quadro a seguir.

2.1. Principais características da criminologia moderna

• Objeto de estudo: crime, criminoso, vítima e controle social.


• Destaque à orientação prevencionista: destaca a orientação prevencionista do saber
criminológico, em contraponto às obsessões repressivas apregoadas nas definições
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convencionais.
• Crime/problema: parte da caracterização do crime como “problema”, destacando sua base
conflitual e sua face humana dolorosa.
• Tratamento/intervenção: o conceito tratamento é substituído por intervenção, que apresenta
souza -- CPF:

uma noção mais dinâmica e pluridimensional, em atenção ao fato real, individual e comunitário
Marceli souza

do fenômeno delitivo.
• Análise e avaliação como modelos de reação ao delito.
Marceli

• Análise etiológica do delito: não ignora, contudo, a análise etiológica do delito (desviação
primária) no marco do ordenamento jurídico como referência última.

3. CONCEITO DE CRIMINOLOGIA

A criminologia é ciência empírica e interdisciplinar que se ocupa do estudo do crime, da pessoa


do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma
informação válida, contrastada, sobre agênese, a dinâmica e as variáveis principais do crime – contemplado
este como problema individual e como problema social –, bem como sobre os programas deprevenção
eficaz ao delito e as técnicas de intervenção positiva no homemdelinquente e nos diversos modelos ou
sistemas de resposta ao delito (MOLINA, 2003).
Neste sentido, a doutrina majoritária aponta que a criminologia integra a tríadedas ciências criminais,
que tem em comum o estudo do fenômeno criminal, a saber:

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GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

I. Direito penal
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Ciência autônoma, lógica e abstrata, apresentando um método técnico-jurídico, interpretando o


“dever ser”. Ocupa-se com as normas penais, apresentando um método dedutivo, em busca da subsunção
de um comportamento humano a uma norma penal abstrata.
Essa é uma ciência que estuda o crime em uma estrutura dogmática, além de estudar o fenômeno
jurídico. O crime seria, portanto, uma realidade jurídica. Nesse sentido, o direito penal apresenta uma
abordagem legal e normativa do crime, conceituando-o como toda sendo conduta ofensiva a preceitos
primários que culminem em aplicação de sanções.
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Seu ponto de partida, portanto, é o princípio da legalidade. Sem lei, não pode haver crime, bem como
a lei apresenta-se como limitação daquilo que pode ser considerado crime.
Nesse contexto surgem as ideias de criminalização primária e secundária:
souza -- CPF:

• Ocorre a criminalização primária quando o Estado seleciona alguns comportamentos


observados na sociedade, os quais, ao menos em tese, ofendem bens jurídicos, proibindo-os e
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sujeitando os infratores a sanções previstas na lei editada em caráter formal pelo Poder
Marceli

Legislativo;
• Na criminalização secundária, uma vez editada a lei penal com a previsão dos comportamentos
indesejados, havendo a infração, surge para o Estado o jus puniendi, ou seja, o direito de punir
esse infrator, mediante a imposição de uma sanção penal.

Podemos concluir, portanto, que o direito penal promove uma verdadeira seleção de
comportamentos que serão taxados como crimes. Nessa seleção, consoante palavras de Greco (2020, p.
155), os “valores de determinados grupos sociais, tidos como dominantes, prevalecem em detrimento da
classe dominada”.

II. Criminologia

É a ciência autônoma que estabelece um diagnóstico do fenômeno criminoso, explicando e


prevenindo o crime, intervindo na pessoa do infrator, ou seja, abrangendo o mundo do ser,
estabelecendo modelos de resposta aos delitos, ora traçando estratégias concretas de fácil assimilação para
o legislador para que este crie as normas penais, ora revelando um norte aos poderes públicos para
prevenção, repressão do crime e na ressocialização do delinquente, com metodologia empírica e indutiva.
No escólio de Rogério Sanches Cunha:

20
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

A criminologia é ciência empírica que estuda o crime, a pessoa do criminoso, da vítima


e o comportamento da sociedade. Não se trata de uma ciência teleológica, que analisa
as raízes do crime para discipliná-lo, mas de uma ciência causal- explicativa, que retrata
o delito enquanto fato, perquirindo as suas origens, razões da sua existência, os seus
contornos e forma de exteriorização. Em síntese, a criminologia busca a compreensão
do delito. (2013, p. 32)

Para a criminologia, portanto, o crime é um fenômeno complexo, com muitas variáveis, um


fenômeno social ou individual que independe da lei.

III. Política Criminal

Segundo a doutrina, trata-se de ponte eficaz entre o direito penal e a criminologia, trazendo as
soluções práticas para o combate à criminalidade, ou seja, busca traçar estratégias para o enfrentamento do
delito e o controle da violência.
A política criminal não possui metodologia própria, ou seja, não se enquadra como ciência autônoma.
Ademais, a criminologia e a política criminal são responsáveis por fornecerem subsídios ao Poder Público,
com base em dados estatísticos de índole quantitativa e qualitativa acerca da criminalidade, como forma de
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auxiliar na tomada de decisões relativas à prevenção dos delitos.


No que se refere à política criminal, nas palavras de Aníbal Bruno:

A política criminal, por sua vez, tem no seu âmago a específica finalidade de trabalhar
as estratégias e os meios de controle social da criminalidade (caráter teleológico). É
característica da política criminal a posição de vanguarda em relação ao direito vigente,
vez que, enquanto ciência de fins e meios, sugere e orienta reformas à legislação
positivada. (1967, p. 41)
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Em suma

Ao passo que o Direito Penal emprega o método lógico, abstrato e dedutivo, criando uma norma
penal incriminadora abstrata para depois analisar uma situação particular, a criminologia – ciência fática, do
souza -- CPF:

“ser” – faz o contrário: sua análise é empírica, indutiva e multidisciplinar, pela observação da realidade, em
Marceli souza

busca de uma solução.


Frise-se que os objetivos das duas ciências são comuns, contudo, a metodologia empregada para a
Marceli

produção do conhecimento é diversa.

Criminologia e Direito Penal devem unir seus esforços, sem pretensões de exclusividade
ou superioridade, visto que cada qual goza de autonomia em virtude de seus objetos e
métodos, ou seja, devem buscar se entender, pois integram uma ciência criminal total ou
globalizadora. (MOLINA; GOMES, 2020, p. 163)

Para facilitar o seu aprendizado, observe o quadro a seguir:

DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL


Ponte eficaz entre o
Ciência autônoma, lógica, dedutiva e Ciência autônoma,
direito penal e a
abstrata. empírica e indutiva.
criminologia.

Analisa os comportamentos humanos


Estuda o crime, a pessoa Traça estratégias de
indesejáveis ao convívio social,
do criminoso, avítima e o enfrentamento à
selecionandoquais condutas devem ser
controle social. criminalidade.
rotuladas como infrações penais.

21
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

FIQUE ATENTO!
Muitas questões de provas abordam, principalmente, as diferenças entre o direito penal e a criminologia.

4. MÉTODO

A criminologia trabalha de forma indutiva, apresentando um método empírico, isto é, seu objeto se
insere no mundo real, daquilo que é verificável, observando a realidade para analisar e extrair das
experiências as consequências.
Atua de forma interdisciplinar, já que, em se tratando de seres humanos, qualquer generalização
passa a ser falha; para tanto, utiliza-se dos critérios biológico e sociológico. Ao revés, o Direito Penal faz uso
do método dedutivo, partindo da regra geral para o caso concreto de forma lógica e abstrata, quando só lhe
preocupa o crime enquanto fato descrito na norma legal, com vistas a perquirir sua adequação típica,
deixando de lado a realidade.
Não se pode olvidar que o direito penal é seletivo, ou seja, escolhe o que punir equem sofrerá a
reprimenda pelos mecanismos de criminalização primária e secundária, plasmado pelo princípio da
legalidade, o qual, além de ser um verdadeiro limite ao poder punitivo estatal, também se apresenta como
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limite ao conceito de crime para o Direito Penal.


A criminologia apresenta um método empírico, mas não necessariamente experimental. Isso porque
a observação é necessária, haja vista que o objeto da investigação pode tornar inviável ou ilícita a
experimentação. Considerando a complexidade do fenômeno delitivo, caberia, pois, a complementação do
método empírico com outros de natureza qualitativa, desde que não incompatíveis com aquele.
A interdisciplinaridade, por sua vez, é uma exigência estrutural do saber científico. A análise
científica reclama uma instância superior que integre e coordene as instâncias setoriais procedentes das
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diversas disciplinas interessadas no fenômeno delitivo e que instrumentalize um genuíno sistema de


retroalimentação.
Frise-se que a criminologia somente se consolidou como ciência autônoma quando conseguiu se
souza -- CPF:

emancipar daquelas disciplinas setoriais em torno das quais nasceu e com as quais, de forma frequente,
identificou-se de forma indevida.
Marceli souza

Nesse contexto, Antonio García-Pablos Molina apresenta as seguintes técnicas de investigação da


criminologia, a saber:
Marceli

• Quantitativas: são dados estatísticos (método por excelência), questionários, métodos de


medição que explicam a etiologia, a gênese e o desenvolvimento do fato criminoso. A título de
exemplificação: levantamento da quantidade de pessoas que sofreram, num determinado
período de tempo, violação ao seu patrimônio. Frise-se que esse método, por si só, revela-se
insuficiente, posto que outras variáveis devem ser consideradas para melhor compreensão do
fato criminoso;
• Qualitativas: consiste em técnicas de observação participante e em entrevista, a permitir a
compreensão das chaves profundas de um problema;
• Transversais: consideram uma única medição da variável ou do fenômeno examinado. Ex.:
estudos estatísticos;
• Longitudinais: consideram várias medições, em diferentes momentos temporais, a saber:
estudos de seguimento (follow up); biografias criminais; case studies; e modernos estudos sobre
carreiras criminais.

22
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

ATENÇÃO!
Follow up é o estudo da evolução do indivíduo durante um determinado período de tempo, operando com
uma série de fatores psicológicos e sociológicos. São eles, pois, métodos dinâmicos e evolutivos. Busca
investigar a gênese, a evolução e as manifestações de uma carreira criminal.

5. OBJETO DE ESTUDO DA CRIMINOLOGIA

Historicamente, o objeto tradicional de estudo da criminologia foi embasado pelos ideais da Escola
Positiva (Lombroso, Garófalo, Ferri), sendo subdividido em dois: delito e delinquente.
Em meados do século XX, mais especificamente de sua metade até os dias atuais, foram
acrescentados dois outros pontos de interesse: vítima e controle social. Portanto, é pacífica a divisão do
objeto da criminologia em quatro vertentes, quais sejam:

• Delito;
• Delinquente;
• Vítima;
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• Controle social.

5.1. Delito

Num primeiro plano, não podemos confundir o objeto em análise com a definição atribuída ao delito
pelo Direito Penal. Nesse espeque, para a criminologia, para que um comportamento desviante seja rotulado
como delito, faz-se necessário o preenchimento de quatro elementos constitutivos e coexistentes, a saber:
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a. Conduta de incidência massiva na sociedade: para que uma conduta seja rotulada como
delituosa, deverá incidir de forma MASSIVA na sociedade. Ou seja, o crime não pode ser um fato
isolado. Nesse viés, Sérgio Salomão Shecaira critica a tipificação do crime de “molestar cetáceo”,
souza -- CPF:

previsto na Lei n.° 7.643/1987, a qual criou o tipo penal específico, após o fato de um banhista
introduzir um palito de sorvete no focinho de um filhote de baleia, causando sua morte (fato
Marceli souza

isolado);
Marceli

b. Incidência aflitiva do fato praticado: o crime deve ser algo que cause dor (não só no sentido
físico), aflição e angústia, seja à vítima ou à comunidade como um todo;
c. Persistência espaço-temporal: o crime deve ser algo que seja distribuído pelo território ao longo
de certo período de tempo juridicamente relevante. Nesse contexto, Sérgio Salomão Shecaira
traz uma crítica, mencionando o caso de um cantor famoso que usou um colar com uma peça
do para-brisa de um veículo fusca. Depois desse episódio e durante algumas semanas, vários
fuscas tiveram essa determinada peça furtada para que seus fãs também usassem o colar igual
ao do cantor;
Note que essa conduta não tem persistência espaço-temporal para dar azo a uma
criminalização ou uma maior reprovabilidade, como a criação de uma majorante ao delito de
furto para esses casos específicos.
d. Inequívoco consenso: não são todos os fatos massivos, aflitivos, com persistência espaço-
temporal que se revestem de inequívoco consenso acerca da necessidade de criminalização.
Como exemplo, podemos citar o uso imoderado de álcool, comportamento massivo na
sociedade, que gera dor e aflição ao usuário e/ou à sua família e tem persistência no espaço e
no tempo; contudo não há consenso inequívoco da sociedade acerca da necessidade de sua
criminalização. Tanto é assim que o álcool é considerado substância lícita.

23
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

5.2. Delinquente

A análise do delinquente sofre nuances, a depender da escola da criminologia que o estudava. Sendo
assim, vejamos as várias definições de delinquente para as diferentes escolas criminológicas:
a. Escola Clássica (fase pré-científica): o delinquente era encarado como o pecador que optou pelo
mal, embora pudesse e devesse respeitar a lei. Herança da doutrina do contrato social, de
Rousseau. O cometimento do crime era um rompimento ao pacto, e a pena deveria ser
proporcional ao mal causado. O comportamento criminoso seria um mau uso da liberdade;
b. Escola Positiva: para a Escola Positiva, o infrator era um prisioneiro de sua própria patologia
(determinismo biológico) ou de processos causais alheios (determinismo social). Enquanto, para
os clássicos, a pena deveria ser proporcional ao mal causado, para os positivistas, deveria ser
utilizada uma medida de segurança com finalidade curativa, por tempo indeterminado,
enquanto persistisse a patologia;
c. Escola Correcionalista: não teve reflexos significativos no Brasil. Defendia que o criminoso era
um ser débil, inferior e que deveria receber do Estado uma postura pedagógica e de proteção.
A título de exemplo, temos no nosso ordenamento jurídico a proteção ao menor infrator, obtida
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como uma influência da corrente correcionalista;


d. Visão marxista: sob essa ótica, o criminoso é visto como uma verdadeira vítima da sociedade,
considerada, sobretudo, a sua base capitalista;
e. Contemporaneamente: delinquente é o indivíduo que está sujeito às leis, podendo ou não as
seguir por razões multifatoriais. Com a ocorrência do giro sociológico e a necessidade de atenção
aos enfoques político-criminais, abandona-se a perspectiva biopsicopatológica, dando espaço à
perspectiva biopsicossocial.
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Nos ensinamentos de Sumariva (2018, p. 8 ):

[...] a visão atual de um criminoso é de um ser normal, isto é, não é o pecador dos clássicos,
não é o animal selvagem dos positivistas, tampouco o “coitado” dos correcionalista, nem
souza -- CPF:

a vítima da filosofia marxista. Trata-se de um homem real do nosso tempo, que se


submete às leis e pode não cumpri-las por razões diversas, que nem sempre são
Marceli souza

compreendidas pelos seus pares.


Marceli

No contexto desse objeto de estudo da criminologia, apresentaremos, em capítulo específico,


algumas classificações de criminosos, consoante propostas de Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele
Garófalo.
Avaliar e conhecer essas classificações mostra-se de fundamental relevância na análise de questões
criminológicas voltadas a estabelecer, por exemplo, as causas do crime, bem como estudar medidas de
prevenção, combate e reação ao fenômeno criminal.

5.3. Vítima

Preliminarmente, cumpre ressaltar que a criminologia moderna trouxe novoscontornos à figura da


vítima, outrora deixada de lado no bojo da persecução penal. É sabido que o Estado tinha como objetivo
principal a punição ao autor do delito, agindo os operadores da lei com a finalidade única de prevenção ao
crime ante a punição do infrator, sem conferir importância ao papel da vítima na análise do fenômeno
criminal.
Historicamente, a figura da vítima observou três fases bem delineadas, quais sejam:

• 1ª fase – protagonismo: chamada “idade de ouro”, compreendida desde os primórdios da


civilização até o fim da alta Idade Média. Caracterizou-se pela justiça privada, vingança,

24
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

autotutela. Ou seja, a vítima protagonizava o direito de punir, sendo ela a responsável pela
reparação dos danos que sofreu bem como pela punição do crime, de acordo com as leis de
talião;
• 2ª fase – neutralização: o Estado passa a ser único responsável pela resolução do conflito social
(Código Penal Francês e as ideias do liberalismo moderno), retirando o poder de reação das
mãos da vítima, ante ao fato delituoso. Em outras palavras, o Estado monopoliza o poder
punitivo e trata a pena como garantia coletiva;
• 3ª fase – redescobrimento/revalorização: nessa fase, projetam-se contornos mais humanos à
postura estatal em relação à vítima. Sobretudo após a 2ª Guerra Mundial, o estudo sobre a
vítima assumiu contornos marcados, sendo fundada, assim, uma nova disciplina (ou ciência,
para parte da doutrina) chamada VITIMOLOGIA, consubstanciada no estudo das relações da
vítima com o infrator (chamada pela doutrina de “dupla penal”) ou das relações da vítima com
o sistema. Sobre essa temática (vitimologia), nos debruçaremos em capítulo próprio.

5.4. Controle Social


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Sérgio Salomão Sechaira, citando Max Weber, entende que toda sociedade necessita de mecanismos
disciplinares que asseguram a convivência interna de seus membros, razão pela qual se vê obrigada a criar
uma gama de instrumentos que garantam a conformidade dos objetivos eleitos no plano social.
Nesse diapasão, o controle social é o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que
pretendem promover a submissão dos indivíduos aos modelos e às normas de convivência social. Com relação
aos seus destinatários, pode ser difuso (à coletividade) ou localizado (a determinados grupos).
Numa sociedade, encontramos dois sistemas de controle social, quais sejam:
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• Controle social formal;


• Controle social informal.
souza -- CPF:

5.4.1. Controle social formal


Marceli souza

Esse sistema é constituído pelo aparelho político do Estado: Polícia, Judiciário, Administração
Marceli

Penitenciária, Ministério Público etc. Ou seja, são os agentes formais de controle social, utilizados como meio
coercitivo por intermédio dos seus órgãos públicos, com a finalidade de punir o infrator das normas impostas
pelo controle social. Esse sistema atua em ultima ratio, uma vez que entram em cena após a falha docontrole
social informal.
Esse controle social formal é dividido em seleções, a saber:

• Primeira seleção – entende-se por primeira seleção de controle social formal a atuação dos seus
órgãos de repressão, ou seja, o trabalho desenvolvido pela Polícia Judiciária. Em outros termos,
o início da persecução penal com a atividade investigativa, na busca da coleta de indícios de
autoria, materialidade e as circunstâncias do delito (Estado- Polícia);
• Segunda seleção – essa forma de seleção é representada pela atuação do Ministério Público ao
deflagrar a ação penal;
• Terceira seleção – essa seleção decorre da tramitação do processo judicial com a consequente
condenação do criminoso, após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Aqui, o
Estado atua de maneira absoluta sobre o indivíduo, impondo-lhe uma sanção penal.

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GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

5.4.2. Controle social informal

Esse sistema de controle social é constituído pela sociedade civil: família, escola, religião, mídia, entre
outros, com atuação claramente preventiva e educacional, socializando o indivíduo e inserindo-o na
sociedade.
Ressalta-se que, quanto maior for o controle social informal, menor será o índice de criminalização.
Tal afirmação se torna cristalina, a título de exemplo, nas cidades pequenas, nas quais há uma forte incidência
do controle social informal, apresentandoníveis de criminalidade bem menores que nas grandes metrópoles.

ATENÇÃO!
Quando se fala em institutos de controle social, citamos três componentes fundamentais: norma, processo
e sanção. Quando as instâncias de controle social informal falham, exsurgem as instâncias de controle social
formal, sendo a pena privativa de liberdade a sanção mais grave por estas aplicadas.

Ademais, o controle social pode ser exercido por meio de três formas principais,a saber:

• Sanções formais (aplicadas pelo Estado, podendo ser cíveis, administrativas e/ou penais) e
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sanções informais (aquelas que não têm força coercitiva);


• Meios positivos (prêmios e incentivos) e meios negativos (imposição de sanções);
• Controle interno (autocoerção) e controle externo (ação da sociedade ou do Estado, como
multas e penas privativas de liberdade).

ATENÇÃO!
Para a teoria do labelling approach, uma das teorias da reação social que será detalhadamente estudada em
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capítulo específico, o controle social é seletivo e discriminatório, gerador e constitutivo de criminalidade,


além de estigmatizante.

6. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA
souza -- CPF:
Marceli souza

A função precípua da criminologia é informar a sociedade e os poderes públicos sobre o crime, o


criminoso, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos seguros e permitindo, assim,
Marceli

compreender cientificamente o problema criminal, de modo a preveni-lo e a intervir com eficácia e


positivamente no homem criminoso.
Isso se explica porque a criminologia é uma ciência que se preocupa com problemas e conflitos
concretos e históricos. Diante disso, sinteticamente, as funções da Criminologia serão apresentadas a seguir.

6.1. Explicações científicas do fenômeno criminal

Oferecer uma explicação dotada de cientificidade ao fenômeno criminal, bem como estabelecer
medidas de prevenção ao delito, com vistas a evitar sua ocorrência (vide capítulo 9).

6.2. Intervenção positiva no infrator

Buscando analisar qual o real impacto da pena ao infrator, desenhar e analisar programas de
reinserção social e trazer à sociedade a percepção de que o crime é um problema social e comunitário.

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GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

6.3. Avaliação dos diferentes modelos de reação ao crime

Neste tópico, abordaremos os instrumentos de reação ao crime de que se vale o Estado a fim de
restabelecer a ordem pública e a paz social violadas quando da prática de uma infração penal.
O crime abala a estrutura social, gerando danos das mais variadas ordens às suas vítimas. Nessa
senda, o Estado se vê obrigado a reagir, mediante a implementação de medidas de política criminal com o
escopo de exercer o controle sobre o avanço da criminalidade.
Nessa linha de intelecção, destacamos três modelos de reação ao crime, que abordaremos mais
criteriosamente a seguir.

6.3.1. Modelo clássico/dissuasório clássico/retributivo

Esse modelo é pautado na resposta punitiva do Estado como forma de retribuir o mal causado. Em
outras palavras, ao mal causado pelo crime, aplica-se o contraestímulo da pena, que possui caráter
exclusivamente retributivo e cunho intimidatório.
Com efeito, a aplicação da pena seria então necessária e suficiente à reprovação da conduta
criminosa, bem como atuaria com viés prevencionista, considerando que, em tese, o indivíduo poderia se
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sentir desestimulado a delinquir.


Cumpre salientar que esse modelo não se preocupa com a reparação dos danos causados pela
conduta delitiva, tampouco com a ideia de ressocialização do delinquente, mas tão somente apresenta
caráter de RETRIBUIÇÃO ao mal causado. Nesse contexto, podemos chegar à conclusão de que a figura da
vítima não possui qualquer importância nessa análise.

Como tudo que tem início, o modelo clássico ou dissuasório foi o primeiro modelode
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reação ao crime. Por meio dele, o mal causado pelo crime deve ser retribuído pelo mal
da pena. Numa visão hegeliana, a pena deve ser vista como um castigo proporcional
ao delito cometido. Não se preocupa com a ressocialização do agente, mas apenas que
ele sofra as consequências de uma prisão em virtude da sua conduta criminosa.
[GONZAGA, 2018, p. 109, grifo nosso]
souza -- CPF:

Cabe, ainda, destacar que figuram como protagonistas desse modelo o Estado e o delinquente.
Marceli souza

6.3.2. Modelo ressocializador


Marceli

Como o próprio nome deixa a sugerir, esse modelo pugna pela ressocialização do delinquente, de
forma a torná-lo apto à reinserção na sociedade.
Possui caráter humanista, atribuindo à pena uma finalidade utilitária, qual seja a ressocialização do
infrator e não apenas a mera retribuição ao mal causado. Por essa ótica, a pena possui finalidade de
prevenção especial positiva.

O que se busca é a reinserção social do condenado após o cometimento do delito. Afasta-


se daquele viés em que a expiação é a única busca quando da aplicação da pena, pois deve
ser lembrado que o condenado num futuro próximo irá voltar ao convívio social, o que
torna a responsabilidade da sociedade elevada. Com essa ideia é que surgem
mecanismos de ressocialização cada vez mais eficazes, como a remição da pena pelo
trabalho e pelo estudo. Não se deve apenas desejar que o crime seja combatido com a
pena, mas que o criminoso não volte a delinquir; e isso somente ocorrerá quando ele tiver
uma aceitação social, seja pelo trabalho, seja pelo estudo. Do contrário, as penitenciárias
serão apenas locais de expiação e de reunião de delinquentes que, em breve, estarão nas
ruas para o cometimento de novos crimes. Nesse tipo de modelo, a sociedade passa a
ter um papel fundamental, pois é ela que vai receber o condenado para fazer um novo
trabalho, estudar e relacionar-se de forma lícita com seus pares. Por isso a progressão
de regime e a remição da pena contam diretamente com a atuação do corpo social, seja

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GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

pela carta de emprego que algum empregador terá que conceder ao condenado, seja
pela aceitação em algum tipo de faculdade ou curso para que o condenado possa estudar.
A participação da comunidade passa a ser de suma importância para resgatar o ser
humano que existe no condenado, abandonando aquele instinto selvagem e animal que
cometeu o crime. (GONZAGA, 2018, p. 129)

6.3.3. Modelo integrador/restaurador/consensual/justiça restaurativa

A ideia central desse modelo de reação ao crime reside na celebração de um acordo, um ajuste entre
as partes integrantes do conflito, com o objetivo de promover o restabelecimento do cenário ao “estado em
que as coisas se encontravam antes do crime”, mediante aplicação de institutos e técnicas de composição
de interesses, efetivando a reparação dos danos sofridos pela vítima.
Nesse sentido, apresentam-se como protagonistas do conflito criminal a vítima e o delinquente
(dupla penal), conforme muito bem explica Gonzaga (2018, p. 131, grifo nosso):

Passam a compor, de forma principal, esse modelo de reação, a vítima e o condenado,


ficando de fora o Estado. O principal enfoque é a busca pela conciliação entre autor e
vítima, daí muitos chamarem esse modelo também de conciliatório. Nada mais salutar
para o retorno ao momento de normalidade anterior ao crime do que o entendimento
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mútuo entre as partes.

O exemplo mais comum em nossa ordem jurídica acerca da implementação desse modelo de reação
foi a edição da Lei n.º 9.099/1995, que instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, com a previsão de
medidas despenalizadoras aplicáveis, geralmente, às infrações penais de menor potencial ofensivo, com
vistas ao afastamento do cárcere, bem como à efetiva reparação civil das vítimas.
Na inteligência do Art. 61 da Lei n.º 9.099/1995:
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Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos
desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

Em síntese, para que possamos estabelecer a ideia de justiça consensual, é necessária a verificação
souza -- CPF:

dos seguintes requisitos:


Marceli souza

• Reparação do dano à vítima;


Marceli

• Assunção da culpa pelo delinquente (de maneira voluntária e confidencial);


• Presença de um facilitador (mediador judicial).

ATENÇÃO!
Existe divergência doutrinária acerca do alcance e aplicação da justiça restaurativa, face à natureza do crime
praticado, sua gravidade e primariedade do autor, estabelecendo-se duas posições:
1ª Corrente (minoritária): sustenta a possibilidade de conciliação e mediação do conflito criminal, mesmo
para os crimes mais graves e para o delinquente multirreincidente.
2ª Corrente (majoritária): restringe o alcance da incidência da justiça restaurativa aos autores primários e às
infrações penais de menor gravidade, afastando sua aplicação em relação a delitos mais graves.

Por fim, vale destacar que o modelo de justiça restaurativa gerou reflexos na legislação brasileira,
como, por exemplo, com a previsão dos institutos despenalizadores, previstos na Lei n° 9.099/1995, e a
Resolução n.º 118/2014 do Conselho Nacional do Ministério Público, que versa sobre a Política Nacional de
Incentivo à autocomposição no âmbito do Ministério Público.

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GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

7. SISTEMAS DA CRIMINOLOGIA

O estudo do tema remete à análise das disciplinas que integram a criminologia e da relação que se
estabelece entre elas, justamente por conta de sua característica da interdisciplinaridade.
De acordo com a doutrina majoritária, existem dois sistemas/concepções, os quais veremos agora.

7.1. Concepção Austríaca/Posição enciclopédica

Para essa concepção, existem três grupos de disciplinas que integram a criminologia, conforme
mostra o esquema a seguir.
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a. Disciplinas relacionadas à realidade criminal: fenomenologia (análise das formas de surgimento


da criminalidade), etiologia (causas ou fatores determinantes da criminalidade), prognose
(análise dos fatores determinantes da criminalidade, formulando diagnósticos e prognósticos
sobre o futuro comportamento e periculosidade do autor), biologia criminal, psicologia criminal,
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antropologia, geografia criminal, ecologia criminal, entre outras.


b. Disciplinas relacionadas ao processo: tem-se a criminalística, a qual se subdivide em tática e
técnica criminal. Criminalística é o conjunto de teorias que se referem ao esclarecimento dos
casos criminais (ciência policial). Tática criminal é o modus operandi mais adequado ao
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esclarecimento dos fatos e à identificação do autor. Técnica criminal é aquela que se ocupa das
provas, analisando os métodos científicos existentes para demonstrar realisticamente uma
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determinada hipótese.
Marceli

c. Disciplinas relacionadas à repressão e prevenção do delito: composta pelas penologia (ciência


penitenciária, pedagogia correcional) e profilaxia. A penologia é a ciência que examina o
cumprimento e a execução das penas. A ciência penitenciária apresenta-se como uma
subdisciplina da penologia, centralizando seus estudos nas penas privativas de liberdade. A seu
turno, a pedagogia correcional se preocupa com orientar a execução do castigo para a
significação de um impacto positivo, de reinserção social. Noutro giro, a profilaxia tem como
meta prioritária a luta contra o delito, articulando as estratégias oportunas para incidir
eficazmente nos fatores individuais e sociais criminógenos, antecipando-se ao crime.

7.2. Concepção Estrita

Admite a integração apenas de disciplinas relacionadas à realidade criminal, e afirma que algumas
disciplinas tratadas na concepção anterior não integram a criminologia.
Desta feita, assevera, por exemplo, que a criminalística é disciplina auxiliar do direito penal, pois
orbita em torno de questões processuais; e a penologia, a seu turno, é uma ciência técnica que não integra
o sistema da criminologia.

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GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

8. CLASSIFICAÇÕES DA CRIMINOLOGIA

Consoante lições de Sumariva (2017), a doutrina majoritária entende que a criminologia é uma
ciência aplicada que se divide em dois ramos:

• Criminologia geral: consiste na sistematização, na comparação e na classificação dos resultados


alcançados nas ciências criminais em relação ao crime, ao criminoso, à vítima, ao controle social
e à criminalidade;
• Criminologia clínica: consiste na aplicação de conhecimentos teóricos, tais como conceitos,
princípios e métodos de investigação médico- psicológica para o tratamento do criminoso.

Ainda no escólio de Sumariva (2017), existem outras classificações, a saber:

• Criminologia científica: cuida dos conceitos e métodos sobre a criminalidade, o crime, o


criminoso, a vítima e a justiça penal;
• Criminologia aplicada: consiste na parte científica e na prática dos operadores do direito;

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Criminologia acadêmica: sistematiza o saber criminológico para fins pedagógicos e didáticos;


• Criminologia analítica: incumbida de verificar o cumprimento do papel das ciências criminais e
da política criminal;
• Criminologia crítica ou radical: prima pela negação do capitalismo e apresentação do criminoso
como vítima da sociedade, tendo como base ideais marxistas;
• Criminologia da reação social: atividade intelectual que estuda os processos de criação de
normas penais e sociais relacionadas ao comportamento desviante;
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• Criminologia organizacional: compreende o processo de criação de leis, a infração a essas


normas e os fenômenos de reação às violações das leis ;
• Criminologia clínica: consiste no estudo de casos particulares com a finalidade de estabelecer
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diagnósticos e prognósticos de tratamento, numa identificação entre a delinquência e a doença;


• Criminologia verde ou green criminology: consiste na responsabilização penal de empresas e
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indústrias por delitos ecológicos, como forma de proteção ao meio ambiente aos ataques
Marceli

prejudiciais à biodiversidade;
• Criminologia do desenvolvimento: estudo voltado à idade e à fase de crescimento do indivíduo,
classificando as variáveis do comportamento delituoso ao longo de sua vida. A idade em que o
indivíduo iniciou sua vida criminosa é levada em consideração, assim como suas experiências e
outras considerações suscetíveis de medições em momentos distintos da vida. Acredita-se que
a prevenção da criminalidade seja efetiva e eficaz quando há a interrupção dos motivos que
conduzem o indivíduo à prática delitiva;
• Criminologia midiática: aquela que atende a uma criação da realidade por meio da informação,
da subinformação e desinformação da mídia, afastando- se de estudos acadêmicos, em
convergência com preconceitos e crenças, e baseando-se uma etiologia criminal simplista,
assentada em uma causalidade mágica. Para Zaffaroni (2012, p. 303-304), “a ideia da
causalidade especial, usada para canalizar a vingança contra determinados grupos humanos
eleitos como ‘bodes expiatórios’”;
• Criminologia fenomenológica: aquela que cuida da busca do âmago das coisas por meio da sua
aparência. Não se tornou criminologia crítica, pois nãoanalisou o sistema de controle social e
nem tratou, de alguma forma, da alteração do processo de criação das leis criminais.

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GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

FASES PRÉ-CIENTÍFICA E CIENTÍFICA DA


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CRIMINOLOGIA: A LUTA DE ESCOLAS
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GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

1. NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA

Preliminarmente, tenhamos em mente que não é possível demarcar em caráter absoluto o exato
momento do nascimento da criminologia. Os autores que debruçam seus estudos sobre a criminologia não
são unânimes em delimitar o exato momento em que teve início seu estudo científico.
Como ciência autônoma, sua existência é recente. Contudo não podemos olvidar sua fase pré-
científica. No período pré-científico, o conhecimento produzido resultava da observação realizada pelo
homem, de modo que essas observações lhe permitiam constatar e descrever fenômenos; todavia, por falta
de sistematização, não era possível sua explicação de forma plena.
Desde a Antiguidade, é possível verificar a presença de ideias acerca da criminologia, a partir de
textos esparsos de autores que revelavam sua preocupação com a existência do crime e suas causas.
No que se refere ao período científico, há divergências doutrinárias acerca de seu surgimento, ora
atribuído a quatro estudiosos distintos, conforme já estudamos.

2. ESCOLA CLÁSSICA/LIBERAL-CLÁSSICA

Num contexto histórico, a escola clássica ficou marcada num momento conhecido como “época dos
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pioneiros”, na qual se desenvolveram teorias sobre o crime, sobre o direito penal e sobre a pena (século XVIII
e início do século XIX) – sendo alguns de seus expoentes Feuerbach, Cesare Beccaria e Escola Clássica De
Direito Penal na Itália.
A Escola Clássica, por adotar o método lógico, abstrato, dedutivo, faz parte da fase pré-científica da
criminologia. A fase científica, por sua vez, é inaugurada com a Escola Positiva.
Nesse contexto, para os clássicos:
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• O homem delinquente não era um ser diferente, não há um rígido determinismo que o defina;
• O delito é um conceito jurídico, ou seja, é a violação de um direito e, também, daquele pacto
social que estava na base do Estado e do direito, segundo o liberalismo clássico. O delito surgia
souza -- CPF:

da livre vontade do indivíduo e não de causas patológicas;


• A pena deveria ser aplicada, pautando-se nos critérios de necessidade ou utilidade, somado ao
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princípio da legalidade.
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A Escola Clássica representa os primeiros impulsos da tradição italiana de direito penal. Um processo
que, segundo Baratta (2002), vai da filosofia do direito penal a uma fundamentação filosófica da ciência do
direito penal, ou seja, de uma concepção filosófica a uma concepção jurídica, mas filosoficamente
fundamentada, dos conceitos de delito, de responsabilidade penal e de pena. Essa fase é deflagrada pela
obra “Dos Delitos e Das Penas”, de Cesare Beccaria.
A referida Escola trazia influências do contrato social, no sentido de que o homem que decide por
delinquir opta por rompê-lo. Além disso, trazia aspectos da divisão dos poderes e de uma teoria jurídica do
delito e da pena, fortemente influenciada pelos ideais iluministas franceses.
A Escola Clássica não pretendeu oferecer uma teoria etiológica da criminalidade, isto é, das causas
da criminalidade, senão o suporte de uma resposta racional e justa ao delito.

2.1. Principais expoentes da Escola Clássica

A seguir, conheceremos mais detalhadamente os principais nomes envolvidos com a Escola Clássica.

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GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

2.1.1. Cesare Beccaria

Pioneiro, com sua obra “Dos Delitos e das Penas”, datada de 1764.
O crime é uma quebra do pacto social. A pena era a reparação do dano causado pela violação de um
contrato social, sendo consideradas ilegítimas todas as penas que não revelassem a salvaguarda do contrato
social, isto é, a pena deve ser suficiente para reparar o dano causado pela violação do contrato (ideia de
pena proporcional ao delito).
Para Beccaria, o dano social e a defesa social constituem, respectivamente, elementos fundamentais
da teoria do delito e da teoria da pena, posto que a pena não serve apenas para retribuir o castigo, mas,
principalmente, funciona como um sistema de defesa social.

2.1.2. Giandomenico Romagnosi

Para Romagnosi, o princípio natural é a conservação da espécie humana e a obtenção da máxima


utilidade. Desse princípio derivam as três relações ético-jurídicas fundamentais:

• O direito e dever de cada um de conservar a própria existência;


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• O dever recíproco dos homens de não atentar contra sua existência;


• O direito de cada um de não ser ofendido pelo outro.

Romagnosi defendia que a pena constitui um contraestímulo (desestímulo) ao impulso criminoso.


Parte de Giandomenico Romagnosi esta verdadeira reflexão: “Se depois do primeiro delito existisse uma
certeza moral de que não ocorreria nenhum outro, a sociedade não teria direito algum de punir o
delinquente”.
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2.1.3. Francesco Carrara

Trata-se do autor que mais contribuiu com seus estudos no desenvolvimento da Escola Clássica.
souza -- CPF:

Para Carrara, o crime não é um ente de fato, é um ente jurídico; não é uma ação,é uma infração. É
Marceli souza

um ente jurídico porque a sua essência deve consistir necessariamente na VIOLAÇÃO DE UM DIREITO. Trata-
se de direito não no sentido das mutáveis legislações positivas, mas sim de “uma lei que é absoluta, porque
Marceli

é constituída pela única ordem possível para a humanidade, segundo as previsões e a vontade do Criador”,
segundo palavras de Carrara.
Nessa toada, surgem os aspectos teóricos e práticos do direito penal:

• Aspecto teórico: o direito como a lei universal;


• Aspecto prático: a autoridade da lei positiva.

Para Carrara, o fim da pena não é a retribuição, mas a eliminação do perigo social que sobreviria da
impunidade do delito. Sendo assim, “a reeducação do condenado pode ser um resultado acessório e
desejável, mas não a função essencial da pena”. (Francesco Carrara)
O homem viola as regras sociais porque tem VONTADE. O crime é a violação do direito como
exigência racional e não como norma de direito positivo. Advém daí a ideia de livre-arbítrio.
Para os clássicos, a pena é uma retribuição jurídica que tem como objeto o restabelecimento da
ordem externa violada. No escólio de Hegel: “A pena é a negação da negação do direito”.
Nessa linha de intelecção, consoante ensinamentos de Baratta (2002, p. 38):

O delito, como ação, é para Carrara e para a Escola Clássica um ente juridicamente
qualificado, possuidor de uma estrutura real e um significado jurídico autônomo, que

33
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

surge de um princípio por sua vez autônomo, metafisicamente hipostasiado: o ato da


livre vontade de um sujeito.

Por se debruçar em critérios puramente racionais, a Escola Clássica encontrou dificuldades para
explicar diversos fenômenos, tais como a suposta homogeneidade absoluta de todos os homens no que toca
aos processos pessoais, biopsicológicos e de motivação do ato delituoso, dando azo à crítica positivista.

2.2. O estudo da pena para a Escola Clássica

Sob forte influência dos ideais kantianos, o tratamento conferido às penas possuía viés
retribucionista do direito penal, no qual a pena consistia na aplicação de um mal ao infrator, representando
o “castigo necessário para o restabelecimento do direito e da justiça”. Ademais, a pena deveria ser
proporcional ao dano causado, despida de qualquer caráter reeducativo, uma vez que a infração decorria do
livre- arbítrio do indivíduo.
Em acurada síntese, os liberais defendiam:

• Que o crime é um ente jurídico;



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Que a pessoa do infrator atuava com base na vontade racional, ou seja, possuía livre-arbítrio
na escolha pelo crime e, caso assim o fizesse, estaria quebrando as regras do pacto social;
• Que a pena possuía caráter meramente retribucionista, despida de caráter reeducativo e/ou
ressocializador, devendo ser proporcional ao injusto praticado. Nessa linha, a pena deveria ser
aplicada de forma exclusiva pelos magistrados, obedecendo ao viés humanitário da sanção
penal.
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3. ESCOLA POSITIVISTA/POSITIVA

A Escola Positivista inaugura a fase científica da criminologia, com emprego de metodologia e objetos
próprios de estudo, sendo deflagrada no final do século XIX e início do século XX, oferecendo uma reação às
souza -- CPF:

hipóteses racionalistas de entidades abstratas.


O modelo positivista da criminologia baseava-se no estudo das causas ou dos fatores da
Marceli souza

criminalidade (paradigma etiológico), a fim de individualizar as medidas adequadas para removê-los,


Marceli

intervindo, sobretudo, no sujeito criminoso. Buscava a explicação da criminalidade na “diversidade” ou na


anomalia dos autores de comportamentos criminalizados.
Nas palavras de Baratta (2002), o foco, em todo esse cenário, era o homem até então considerado
delinquente, que, por ser visto como um indivíduo diferente, era clinicamente observável. Para os
positivistas, portanto, o criminoso era um indivíduo diferente, movido por determinismo biológico, psíquico
ou social.

3.1. Principais expoentes da Escola Positivista

A seguir, conheceremos mais detalhadamente os principais nomes envolvidos com a Escola


Positivista.

3.1.1. Cesare Lombroso (enfoque antropológico)

A obra de Lombroso é considerada o marco científico da criminologia. Seu ponto de partida adveio
de pesquisas craniométricas de criminosos, abrangendo fatores anatômicos, fisiológicos e mentais.
Para Lombroso, o crime é um fenômeno biológico e não um ente jurídico (como sustentavam os
clássicos), razão pela qual o método a ser utilizado para o seu estudo deve ser o empírico. Nesse

34
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

entendimento, o delito é um ente natural, um fenômeno necessário determinado por causas biológicas de
natureza, sobretudo, hereditária.

A visão predominantemente antropológica de Lombroso seria depois ampliada por Ferri,


com a acentuação dos fatores sociológicos, e com Garófalo, com a acentuação de fatores
psicológicos. (BARATTA, 2002)

Consoante ensinamentos de Lombroso, o criminoso é um ser atávico que representa a regressão do


homem ao primitivismo. Dessa forma, é considerado um selvagem que já nasce delinquente. Em razão disso,
passa a explicar os impulsos criminosos:

Assim, lançam-se as bases para a sua teoria básica: atavismo, degeneração pela doença
e criminoso nato, com certas características: fronte fugidia, assimetria craniana, cara
larga e chata, grande desenvolvimento das maçãs do rosto, lábios finos, criminosos na
maioria das vezes canhotos, cabelos abundantes, barba rala; ladroes com olhar errante,
móvel e obliquo; assassinos com olhar duro, vítreo, injetado de sangue. (SHECAIRA,
2008, p. 95-96)

Além dessas, Lombroso também descreveu o que chamou de características anímicas, que envolviam
insensibilidade à dor, tendência à tatuagem, cinismo, vaidade, crueldade, falta de senso moral, caráter
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impulsivo.
Para Lombroso, os fatores exógenos só servem como desencadeadores dos fatos clínicos
(endógenos). Ou seja, desencadeiam uma predisposição inata, inerente ao próprio criminoso, que sempre
nascia criminoso. Portanto, a ideia central se pautava no determinismo biológico, sendo certo que o livre-
arbítrio dos clássicos não passava de mera ficção.
A principal contribuição de Lombroso para a criminologia não reside propriamente em seus estudos
acerca da tipologia de criminoso nato, mas sim no método empírico por ele explorado, deflagrando, da
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autonomia científica à criminologia e, por conseguinte, a fase científica da matéria.


Sua teoria é fruto de mais de 400 autópsias de delinquentes e 6000 análises em delinquentes vivos,
além de um estudo minucioso de 25 mil presos. No Brasil, suas ideias influenciaram Raimundo Nina Rodrigues
(1862-1906), conhecido como “Lombroso dos Trópicos”.
souza -- CPF:

Não obstante, o grande equívoco dos positivistas, notadamente Lombroso, foi acreditar na
Marceli souza

possibilidade de se descobrir uma causa puramente biológica para o fenômeno criminal.


Marceli

3.1.2. Enrico Ferri (enfoque sociológico)

Criador da sociologia criminal, trata-se de um estudioso que sucedeu os estudos de Lombroso, que
era seu sogro.
Diferentemente de Lombroso, Ferri dá ênfase às ciências sociais, com uma compreensão mais
alargada da criminalidade, evitando-se o reducionismo antropológico.
Para Ferri, o fenômeno da criminalidade decorria de fatores antropológicos, físicos e sociais:

FATORES
FATORES FÍSICOS FATORES SOCIAIS
ANTROPOLÓGICOS
Construção orgânica e psíquica Densidade da população, opinião
do indivíduo, raça, idade, sexo, Clima, estações, temperatura etc. pública, família, moral, religião,
estado civil etc. educação etc.

O autor contribuiu, ainda, para a criação da principal categorização de delinquentes, quais sejam:
criminoso nato, louco, habitual, ocasional e passional.

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GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

• Criminoso nato: conforme a classificação original de Lombroso, caracterizando-se por


impulsividade ínsita.
• Criminoso louco: levado ao crime não somente pela doença mental, mas também pela atrofia
do senso moral, que é sempre a condição decisiva na gênese da delinquência.
• Criminoso habitual: descrição daquele nascido e crescido num ambiente de miséria e pobreza,
começando por pequenos delitos até delitos mais graves. Possui como características a grave
periculosidade e a difícil readaptabilidade.
• Criminoso ocasional: forte influência de circunstâncias ambientais, injusta provocação,
necessidades familiares ou pessoais etc. Menor a periculosidade e maior a readaptabilidade
social.
• Criminoso passional: praticam crimes impelidos por paixões pessoais, como também políticas
e sociais.

Nas palavras de Ferri:

Para eles (os Clássicos), a ciência só necessita de papel, caneta e lápis, e o resto sai de
um cérebro repleto de leituras de livros, mais ou menos abundantes, e feitos da mesma
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matéria. Para nós, a ciência requer um gasto de muito tempo, examinando um a um os


feitos, avaliando-os, reduzindo-os a um denominador comum e extraindo deles a ideia
nuclear.

3.1.3. Raffaele Garófalo (enfoque psíquico)

Garófalo foi o terceiro grande nome do positivismo italiano. Para o estudioso, o crime está na pessoa
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do indivíduo, revelando-se sua natureza degenerativa, sejam as causas antigas ou recentes. Utiliza, em seus
estudos, o termo “temibilidade” (perversidade constante e ativa do delinquente e a quantidade do mal
previsto).
Segundo o autor, o crime está fundamentado em uma anomalia – não patológica – psíquica ou moral
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(déficit na esfera moral de personalidade do indivíduo, de base interna, de uma mutação psíquica,
transmissível hereditariamente).
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O estudioso criou o conceito de delito natural, em que descreve condutas nocivas em si, em qualquer
Marceli

sociedade e em qualquer momento, com independência, inclusive, das próprias valorações legais e
mutantes.

• Delito natural: violação daquilo que se entende como sentido moral, consistente nos
sentimentos altruístas de piedade e probidade, segundo o padrão médio em que se encontram
as raças humanas superiores, cuja medida se faz necessária para a adaptação do indivíduo ao
convívio em sociedade.

Ao tentar estabelecer um conceito universal de crime, Garófalo foi criticado por parte da doutrina,
considerando a impossibilidade de estabelecer ideia geral de delito natural, bem como pelo fato de seu
conceito trazer uma carga preconceituosa.
Consoante Sumariva (2017), o Garófalo elaborou as seguintes proposições:

a. Criou o conceito de temibilidade ou periculosidade, sendo o verdadeiro propulsor do


delinquente;
b. O crime é sintoma de uma anomalia moral ou psíquica do indivíduo;
c. Os criminosos possuem características fisionômicas especiais que os distinguem dos demais
indivíduos;

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GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

d. O delito é a lesão daqueles sentimentos mais profundamente radicados no espírito humano e


que, no seu conjunto, denomina-se senso moral;
e. Demonstrou a necessidade de outra forma de intervenção estatal na pessoa do infrator,
apresentando as medidas de segurança.

Uma de suas principais contribuições é a filosofia do castigo, dos fins da pena e da sua
fundamentação. O Estado deve eliminar o delinquente que não se adapta à sociedade e às exigências da
convivência. O autor entende ser possível a pena de morte em certos casos (criminosos violentos, ladrões
profissionais e criminosos habituais, em geral), assim como penas severas em geral (envio de um criminoso
portempo indeterminado para colônias agrícolas).

3.2. O estudo da pena para a Escola Positivista

A pena era entendida como um meio de defesa social, agindo além do caráter meramente
retribucionista dos clássicos, possuindo viés curativo e reeducativo. Sendo assim, a sanção deveria se
adequar ao criminoso com vistas a efetivamente corrigi-lo, apresentando como principal objetivo a
prevenção de crimes.
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Em acurada síntese, podemos concluir que, para os positivistas:

• O crime era um fenômeno natural e social;


• O criminoso não possuía livre-arbítrio, sendo verdadeiramente condicionado pelos
determinismos (biológico, social e psíquico), ou seja, o criminoso era considerado sempre um
ser psicologicamente anormal (seja em caráter temporário ou permanente);

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A pena era vista como uma medida de defesa social, apresentando caráter curativo e
reeducativo, com duração suficiente à recuperação do criminoso;
• O critério de medição de pena não está ligado abstratamente ao fato delituoso singular, ou seja,
à violação do direito ou ao dano social produzido, mas às condições apresentadas pelo
souza -- CPF:

delinquente (sujeito tratado).


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Sintetizando o que vimos sobre esses três nomes positivistas, temos:


Marceli

Para a doutrina, as influências do positivismo foram mais marcantes, sobretudo pela relação com a
antropologia, a sociologia, a filosofia e a psiquiatria, não considerando o direito como a única fonte de
explicações.

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GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

Nos ensinamentos de Baratta (2002):

O delito é, também para a Escola Positiva, um ente jurídico, mas o direito que
qualifica este fato humano não deve isolar a ação do indivíduo da totalidade natural
e social. A Escola Positiva procura encontrar todo o complexo das causas na totalidade
biológica e psicológica do indivíduo e na totalidade social que determina a vida do
indivíduo.

3.3. Quadro sinóptico: a luta das escolas


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3.4. Outros modelos de escolas (intermediárias/ecléticas)


Marceli

Superada a luta das escolas e as distinções atinentes aos ideais da Escola Clássica em contraponto à
Escola Positivista, é importante ressaltar que outros modelos teóricos surgiram, tais como os modelos
relacionados à biologia criminal, psicologia criminal e sociologia criminal.
Não obstante, apresentaremos outras linhas de pensamento que foram desenvolvidas por outras
escolas, também nominadas de escolas ecléticas ou intermediárias.

3.4.1. Terceira Escola/Terza Scuola/Terceira Escola Italiana

Surgiu no início do século XX e seus estudos se desenvolveram numa espécie de mescla entre os
ideais clássicos com os ideais positivistas, como o próprio nome deixa a sugerir: uma “terceira escola”. Tem
como principais expoentes Bernardino Alimena, Giuseppe Impallomeni e Manuel Carnevale, estando
vinculada a disciplinas não jurídicas, tais como a antropologia, a psicologia e a estatística.
Trouxe como contribuições ao estudo criminológico as seguintes ideias:

• A ideia de crime como um fenômeno individual e social;


• A pena se fundamenta com base no determinismo, bem como na responsabilidade moral do
criminoso, o que gera a distinção entre imputáveis e inimputáveis;

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GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

• Aos imputáveis, a aplicação de pena; aos inimputáveis, as medidas de segurança;


• A pena tem por finalidade a defesa social;
• O controle da criminalidade depende de uma reforma social;
• O direito penal possui autonomia científica, de modo que não pode ser absorvido pelos estudos
da sociologia criminal.

Frise-se que os expoentes da Terceira Escola eram penalistas, sendo perceptível a introdução de
certos postulados de direito penal em suas colocações e conclusões, o que retira o caráter empírico da
criminologia. Nesse contexto, sustenta-se que estaria o direito penal a implementar investigações
criminológicas, não se tratando, portanto, de uma escola essencialmente criminológica.
Nessa linha intelectiva, a escola é alvo de críticas por tentar conciliar o método empregado pelo
direito penal (lógico-abstrato/dedutivo) com o método empírico peculiar da criminologia (indutivo). A
amplitude que se pretende conferir nos estudos acerca do fenômeno criminal na análise feita pela
criminologia é incompatível com os conceitos cerrados e taxativos da dogmática penal.

3.4.2. Escola de Lyon / Criminal-Sociológica / Antropossocial


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A Escola de Lyon parte de duas premissas para a explicação do fenômeno criminoso: predisposição
individual e meio social. Em outras palavras, o criminoso possui uma predisposição ao delito; contudo essa
característica é fomentada pelo meio social em que vive e pelas interações que pratica.
A escola de Lyon defende a importância do meio social, isto é, reconhece um fundo patológico ou
estado mórbido individual na delinquência. Inclusive, Alexandre Lacassagne preconiza que o delinquente
apresenta mais anomalias físicas e psíquicas que o não delinquente, mas uma e outras seriam consequência
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do meio social (MOLINA, 2003).


Nesse contexto, isso quer dizer que o criminoso torna-se criminoso por influência do meio. Foi, então,
sobre essa influência que Lacassagne elaborou a seguinte frase: “As sociedades têm os criminosos que
merecem.”
souza -- CPF:

A Escola de Lyon tem como principais expoentes, entre outros, Alexandre Lacassagne, Martin Y
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Locard, Bournet Y Chassinand, Massenet e Topinard.


Marceli

3.4.3. Escola Técnico-Jurídica

Essa escola tem como principais expoentes Arturo Rocco, Karl Binding, Vincenzo Manzini, Eduardo
Massari, Giacomo Delitala e Ottorino Vannini. Ela nasceu como uma reação à Escola Positiva, que se apegava
excessivamente a questões antropológicas e sociológicas, prejudicando a análise jurídica.
Suas ideias em muito se aproximam das teses traçadas pela Escola de Lyon, que entendia o crime
como predisposição individual aliada ao meio social. Contudo o marco distintivo entre as duas escolas
reside no fato de a Escola Técnico-Jurídica trabalhar com a perspectiva de reação ao delito, ou seja, a
aplicação de uma pena, a qual deve se revestir de alguma finalidade – prevenção geral e prevenção especial.
O tecnicismo jurídico traz, como principal característica, a desvinculação do direito penal das demais
ciências, com vistas a restaurar o estudo do crime com base, puramente, no critério jurídico. Por conseguinte,
deve-se traçar uma visão objetiva e técnica do direito penal como ciência que possui método, objeto e fins
próprios, não podendo ser emaranhada a outras áreas do conhecimento, entre as quais a sociologia, a
antropologia, a filosofia, a psicologia etc.

39
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

3.4.4. Escola Correcionalista

Surgiu na Alemanha, com a publicação da obra “Comentatio na poena malum”, publicada em 1839,
mas teve maior repercussão na Espanha, a partir da tradução da obra para o espanhol.
Entre os principais expoentes na Espanha, podemos elencar: Pedro Dorado Montero, Concepción
Arenal, Giner de Los Ríos, Romero Gíron, Félix de Aramburu y Zuloaga, Rafael Salilas e Luis Jiménez de Asúa.
A Escola Correcionalista idealizou a piedade e o altruísmo, defendendo a pena como correção moral.
O delinquente é portador de uma patologia de desvio social, sendo certo que a pena funcionaria como
remédio social.
Dessa forma, a característica precípua da Escola Correcionalista é a correção do delinquente, por
meio da pena, como explana Roder (1876, apud BITENCOURT, 2012, p. 45): “A teoria correcional vê na pena
somente o meio racional e necessário para ajudar a vontade, injustamente determinada, de um membro do
Estado, a ordenar-se por si mesma”.

3.4.5. Nova Defesa Social

À época do Iluminismo, surgiu a ideia de “defesa social”. Após a Segunda Guerra Mundial, surge a
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Nova Defesa Social, pugnando a modernização das medidas de punição, no sentido de que o criminoso deve
ser educado para assumir a responsabilidade pelos seus atos perante a sociedade.
Com cunho completamente voltado à modernização e humanização do direito, em especial no que
tange às medidas punitivas, a Escola da Nova Defesa Social resistiu à concepção de um sistema penal
repressivo, para fundamentar-se na proteção da sociedade contra as práticas criminosas.
A Nova Defesa Social, portanto, propugna a ideia de proteção da sociedade em face das práticas
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delitivas que a desestabilizam. Assim, a ideia de punição ao criminoso não é o foco principal da teoria, que
sustenta a necessidade de tutela do corpo social mediante a neutralização da periculosidade do delinquente
de forma humanitária.
Nesse contexto, a Nova Defesa Social tem como principais expoentes Adolphe Prins, Filippo
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Gramatica e Marc Ancel.


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3.4.6. Movimento psicossociológico de Gabriel Tarde


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Gabriel Tarde, sociólogo francês, foi o responsável por instituir o movimento psicossociológico em
oposição ao determinismo biológico e social apresentados pela Escola Positiva. Esse movimento
psicossociológico propunha que os fatores sociais da criminalidade prevalecem sobre os fatores físicos e
biológicos. Nessa linha intelectiva, Tarde formulou a seguinte frase: “Todo mundo é culpável menos o
criminoso”.
Nas lições de Sumariva, Gabriel Tarde, em sua obra “As Leis da imitação”, formulou a lei da imitação
ou integração social: “o crime, como todo comportamento social, é inventado, repetido, conflitado e
adaptado [...] O delinquente é um imitador consciente ou inconsciente”.
Podemos perceber, portanto, alguns pontos de coincidência entre a teoria de Gabriel Tarde e a teoria
da associação diferencial de Sutherland, tendo como ponto emcomum a ideia de crime como “imitação”,
repetição de comportamentos. Contudo sob o enfoque da pessoa do criminoso, as teorias se distanciam,
tendo em vista que, para Gabriel Tarde, o criminoso apenas recebe de forma passiva os influxos valorativos
de caráter delitivo ou não, independentemente da ocorrência de interações sociais; ao passo que, para
Sutherland, é necessário que haja um processo de interação e comunicação pessoal.

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GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA:


4
TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL
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GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Após a chamada Luta de Escolas (Clássica x Positivista), surgiram, no panorama criminológico, três
orientações relativamente definidas acerca do comportamento criminal: biológica, psicológica e sociológica.
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1.1. Biologia Criminal

Tem como foco o homem delinquente, buscando localizar e identificar, em seu corpo, sistemas ou
subsistemas, algum fator diferencial que pudesse subsidiar uma explicação à conduta delitiva.
Apesar da nítida influência lombrosiana, o estudo sistematizado da Biologia Criminal veio depois do
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positivismo. O crime era visto como consequência de alguma patologia, disfunção ou transtorno orgânico.
Para tanto, eram realizados estudos sobre biotipologia, anomalias e fatores genéticos.

1.2. Psicologia Criminal


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Buscava a explicação do crime com base no mundo anímico do homem, nos processos químicos
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anormais (psicopatologia) ou nas vivências subconscientes que têm origem no passado remoto do indivíduo
e que só podem ser captadas por meio daintrospecção (psicanálise).
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Essa orientação sustentava, ainda, que o comportamento delitivo em sua gênese (aprendizagem),
estrutura e dinâmica tem idênticas características e se rege pelas mesmas pautas que o comportamento não
delitivo (teorias psicológicas de aprendizagem).
Para tanto, eram realizados estudos sobre teoria psicanalítica, pensamento de Freud (Sigmund Freud
foi o fundador da psicanálise e da abordagem psicodinâmica da psicologia. Sua escola de pensamento
enfatizava a influência da mente inconsciente no comportamento humano), esquizofrenia, transtorno
bipolar etc.

1.3. Sociologia Criminal

Trata-se da tendência teórico-explicativa mais badalada. A sociologia criminal e seus modelos


sociológicos analisam o crime como um fenômeno social, aplicando, à sua análise, diversos marcos teóricos
precisos: ecológico, estrutural-funcionalista, subcultural, conflitual, interacionista, entre outros.

42
GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

2. MODELOS TEÓRICO-EXPLICATIVOS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL NO


ESCÓLIO DE ANTONIO GARCÍA-PABLOS DE MOLINA

Conforme ensinamentos de Antonio García-Pablos de Molina, são quatro os principais modelos ou


enfoques teórico-explicativos do comportamento criminal, a indicar uma perspectiva de evolução e
amadurecimento acerca das ideias apresentadas em cada um dos modelos, a saber:

• Criminologia Clássica e Neoclássica (teoria da opção racional como opção econômica);


• Criminologia Positivista;
• Sociologia Criminal (teorias sociológicas);
• Diversas correntes da Moderna Criminologia.

No capítulo anterior, abordamos os aspectos inerentes à Criminologia Clássica e Positivista, traçando


suas principais características e apresentando seus expoentes. Como visto, a Escola Clássica traçava uma
análise racional ao delito, não oferecendo explicações causais e etiológicas.
A seu turno, a Escola Positivista trabalhava com paradigmas etiológicos com vistas a traçar uma
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explicação causal ao fenômeno criminoso.


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Dando seguimento à análise dos modelos teórico-explicativos acerca do comportamento criminal,


antes de analisarmos as teorias sociológicas (que possuem alta incidência em provas de concurso),
abordaremos as nuances da chamada Escola Neoclássica (teoria da opção racional como opção econômica)
e outras teorias situacionais da criminalidade (modelos relacionados à prevenção de delitos), bem como as
nuances apresentadas pelas diversas correntes da moderna criminologia.
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2.1. Criminologia Clássica

Visto no capítulo anterior.


souza -- CPF:

2.2. Criminologia Positivista


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Visto no capítulo anterior.


Marceli

2.3. Criminologia Neoclássica

Esse modelo surge na segunda metade do século XX e conserva as ideias centrais sustentadas pela
escola clássica, quais sejam: vontade racional, livre-arbítrio e crime como quebra do pacto social.
Contudo, os estudos da criminologia neoclássica avançam trazendo teorias situacionais pautadas na
ideia de opção racional, as quais, assim como a escola clássica, não buscam explicar a etiologia do crime.
Trata-se de teorias com orientação prevencionista, a saber: teoria da opção racional como opção
econômica (modelo economicista neoclássico), teoria das atividades rotineiras e teoria do meio ou entorno
físico.

2.3.1. Teoria da opção racional como opção econômica (modelo economicista


neoclássico)

Surge na década de 70 do século XX, ou seja, mais de dois séculos depois da Escola Clássica do
Século XVIII e tem como principais autores Gary Stanley Becker eIsaac Ehrlich.
Antonio García-Pablos de Molina tece algumas considerações acerca das razões para o retorno dos
ideais clássicos:

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GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

• Fracasso do positivismo em tentar oferecer uma teoria generalizada da criminalidade


(determinismo biológico ou psíquico ou social);
• Baixo êxito dos programas de reeducação e ressocialização propostos; e
• Incremento da criminalidade.

Inicialmente, vale ressaltar que teoria da opção racional como opção econômica ou modelo
economicista neoclássico propõe uma análise do crime como resultado de uma opção racional que se baseia
numa opção econômica.
Em outras palavras, a ação delitiva é fruto de uma opção livre, racional e interessada do indivíduo, de
acordo com uma análise prévia de custos e benefícios, ônus e bônus. Isto é, para cometer um crime, o autor
alia uma opção racional à opção econômica.
Insta salientar que essa análise custo x benefício não é marcada pelo viés estritamente econômico,
sendo certo que outros fatores são considerados pelo indivíduo que opta por delinquir, tais como: prestígio,
conforto, conveniência, risco de ser preso, risco de ser submetido à vingança popular (linchamento), entre
outros.
O infrator valora as chances que existem e escolhe a alternativa que lhe traga mais vantagens e menos
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riscos. Nessa linha intelectiva, conclui-se que os indivíduos delinquem quando o coeficiente de benefícios é
maior para o comportamento criminaldo que para as alternativas não criminais.
O homem delinquente, assim como para a teoria clássica propriamente dita, não se distingue do
homem não delinquente do ponto de vista da racionalidade do seu comportamento.
Como estratégia de prevenção, a teoria destaca o caráter retributivo da pena: após análise do custo x
benefício, a certeza da punição gera uma intimidação que comprometerá a escolha pelo delito. Nessa senda,
o modelo acredita na lei penal, no efeito dissuasório da pena e nas instâncias de controle social formal.
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Atualmente, podemos perceber os reflexos dessa “orientação prevencionista” voltada à ideia de um


viés retributivo da pena, nas nuances de um Direito Penal simbólico e midiático. A cada dia mais, há leis
prevendo condutas criminosas e promovendo o recrudescimento do tratamento penal, sobretudo no
contexto de discursos políticos e eleitoreiros.
souza -- CPF:

Nas palavras de Jeffery: “mais leis, mais policiais, mais penas = mais cárcere, sem que se reduza a
Marceli souza

criminalidade real”.
Registre-se que a teoria neoclássica propriamente dita é esta: opção racional + opção econômica.
Marceli

3. TEORIAS SITUACIONAIS DA CRIMINALIDADE (VIÉS PREVENCIONISTA)

3.1. Teoria das atividades rotineiras (teoria da oportunidade)

Em sede das teorias situacionais, trataremos agora da teoria das atividades rotineiras, tema afeto à
criminologia ambiental (teoria ecológica), que analisa a influência do meio ambiente no fenômeno da
criminalidade.
Para Antonio García-Pablos de Molina, teoria das atividades rotineiras é sinônimo de teoria da
oportunidade, posto que há uma vinculação da racionalidade da opção delitiva ao fator oportunidade.

OPÇÃO RACIONAL + OPORTUNIDADE

A teoria, portanto, confere relevância etiológica ao fator oportunidade, como condição favorável e
propícia à prática de delitos. Nesse contexto, apresenta três elementos que devem se fazer presentes em
convergência de tempo e espaço para que se crie a oportunidade às práticas delituosas:

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GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

• Infrator motivado e com habilidades necessárias: essa motivação pode estar vinculada a
diversos fatores, tais como: patologia individual; maximização de lucros; desorganização social;
ideia de criminoso como subproduto de um sistema social perverso ou deficiente etc.
• Alvo adequado: pode se referir tanto a uma pessoa quanto a um objeto ou um local. Assim, se
estivermos diante da hipótese de crime patrimonial não violento, a exemplo do furto, o alvo
adequado poderá ser uma pessoa distraída na guarda de seus objetos, um estabelecimento
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comercial que apresente facilidades ao ingresso noturno, um veículo que esteja estacionado em
local deserto e com as portas destrancadas etc.
• Ausência de um guardião: o termo guardião pode se referir a policiais, vigilantes privados,
testemunhas que passam pelo local, um cão de guarda na residência ou no estabelecimento,
câmeras de monitoramento, cercas, alarmes etc. Isto é, ausência de pessoas e/ou dispositivos
que, de alguma forma, inibam o indivíduo.
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Como estratégia de prevenção, a teoria destaca soluções pontuais aplicáveis a cada um dos
elementos que compõem os lados do triângulo (infrator motivado, alvo adequado e ausência de guardião),
os quais criam a oportunidade à prática delitiva. Nesse sentido, com a ideia de prevenir o crime, recomenda-
se que a polícia e a comunidade estejam atentas a três fatores:
souza -- CPF:

• Existência de um CONTROLADOR DO INFRATOR: alguém que exerça a influência necessária


Marceli souza

sobre o indivíduo, a ponto de evitar o crime. Ex.: pais, amigos, cônjuges, líderes religiosos etc.
Marceli

• Criação e manutenção de AMBIENTES RESPONSÁVEIS, isto é, alvos inadequados a práticas


delitivas.
• PRESENÇA de um guardião: intensificação de policiamento, instalação de dispositivos de
segurança em residências e estabelecimentos comerciais etc.

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GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

Para a teoria, a sociedade pós-industrial oferece mais ou melhores oportunidades ao delinquente,


já que a organização tempo-espacial das atividades cotidianas e dos estilos de vida atuais possibilitam ou
maximizam tais oportunidades. A título de ilustração, podemos citar as locomoções diárias dos cidadãos,
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lares vazios por longos espaços de tempo, saídas noturnas e de fins de semana, vitrine de bens valiosos,
necessidade de exposição de bens materiais (sociedade do espetáculo) etc.
Assim, o aumento da criminalidade guardaria relação direta com o perfil e com a organização das
atividades cotidianas lícitas de nossa sociedade.

3.2. Teoria do meio ou entorno físico (teoria espacial)


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A referida teoria considera que o espaço físico exerce papel de relevância para a gênese do
comportamento delitivo.

OPÇÃO RACIONAL + ESPAÇO FÍSICO


souza -- CPF:
Marceli souza

Teve como um de seus autores Oscar Newman, que criou a expressão defensible space, traduzindo a
ideia de “local seguro”, um modelo de ambiente residencial que teria o condão de afastar o delito, criando a
Marceli

expressão física de uma fábrica social que defende a si mesma.


Nesse espeque, fatores como o desenho arquitetônico e urbanístico de uma determinada região
podem favorecer a prática delitiva; em outras palavras, o meio ou o entorno físico influenciam diretamente
na motivação do criminoso.
Por exemplo, na hipótese de crimes patrimoniais: não raro, o criminoso busca locais ermos e com
pouca luminosidade, escolhendo vítimas desconhecidas e evitando a presença de testemunhas. Tem-se,
assim, o desenho arquitetônico das comunidades como ambiente propício à prática do tráfico de drogas,
considerando os becos e vielas que facilitam fugas e esconderijos.
Nesse sentido, haverá mais segurança naqueles locais onde as instâncias de controle social informal
atuarem de forma mais intensa e expressiva, a exemplo das cidades pequenas, nas quais a população acaba
estreitando os relacionamentos e participando da vida uns dos outros.
Ademais, a citada teoria se debruça de forma mais significativa sobre metas de prevenção à
criminalidade do que propriamente à explicação do fenômeno criminal.
Por derradeiro, citamos o estudo realizado por Lawrence Sherman que analisou dados relativos às
chamadas telefônicas realizadas para a polícia. Na ocasião, verificou- se que 50% das chamadas foram
direcionadas a apenas 3% das regiões da cidade.

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GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

4. SOCIOLOGIA CRIMINAL

O tema será estudado em capítulo próprio (Capítulo 5).

5. DIVERSAS CORRENTES DA MODERNA CRIMINOLOGIA

Conforme estudado, a Escola Clássica traçava uma análise racional ao delito, não oferecendo
explicações causais e etiológicas.
A seu turno, a Escola Positivista trabalhava com paradigmas etiológicos com vistas a traçar uma
explicação causal ao fenômeno criminoso.
Conforme ensinamentos de Molina, as correntes da Moderna Criminologia buscam a explicação do
delito seguindo um enfoque dinâmico, com uso de métodos preferencialmente longitudinais. Nesse sentido,
esses enfoques não pretendem fazer uma análise etiológica do delito, nem traçar uma teoria generalizada da
criminalidade.
O objetivo é descrever a gênese do comportamento delitivo de forma dinâmica, avaliando o processo
e a evolução dos padrões de conduta na vida do autor durante suas diversas etapas.
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Trata-se, pois, de um método de análise longitudinal, no sentido de representar um processo de


avaliação evolutiva da vida do autor, com base numa janela temporal de considerável extensão, dividida em
etapas (fases da vida do autor).
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Observe a representação exemplificativa abaixo:

Curva de idade: 0------5------10------15------20------30------40------50------60------70


souza -- CPF:

Maior tendência a crimes violentos.


As modernas correntes criminológicas analisam tudo o que acontece na vida do autor (influência do
Marceli souza

meio social, traumas vivenciados, espécies de crimes eventualmente praticados, punições sofridas, índice de
Marceli

reincidência), com vistas a verificar a(s) fase(s) de maior propensão às práticas delitivas, que tende a ser
maior na fase adulta.
A título de exemplificação, temos os estudos de trajetórias e carreiras criminais, teorias do curso da
vida e criminologia do desenvolvimento, que constituem três métodos voltados à análise do processo e
evolução dos padrões de conduta na vida do autor.
Em suma, busca-se uma explicação dinâmica, não etiológica e não generalizada do fenômeno
criminoso.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS


5
SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE
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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Como visto, a sociologia criminal foi uma das três tendências de modelos teórico-explicativos da
criminalidade que aportou após a luta das escolas (clássica x positivista).
Nos anos 1960, com ocorrência do chamado giro sociológico, a criminologia começa a observar
muito mais os processos de criminalização do que o crime em si, sendo certo que seus objetos de estudo
foram ampliados, passando a englobar a análise da vítima e do controle social.
O crime passa então a ser visto como um fenômeno social.
As teorias sociológicas buscam analisar o fenômeno delitivo valendo-se de uma análise macro da
sociedade, das suas instituições, dos membros que a compõem e de todo o complexo sistema de
funcionamento do corpo social, em busca da explicação acerca das causas da criminalidade, bem como as
reações sociais ao fenômeno criminoso.
Para fins didáticos, a doutrina separa as teorias da sociologia criminal em dois grupos: teorias do
consenso e teorias do conflito.

2. TEORIAS DO CONSENSO
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Também chamadas de teorias funcionalistas, de integração, teorias etiológicas ou epidemiológicas,


são teorias ligadas a movimentos conservadores.
Consoante ensinamentos de Sumariva5: “as teorias do consenso defendem a ideia de que os
objetivos da sociedade são atingidos quando há o funcionamento perfeito de suas instituições, com as
pessoas convivendo e compartilhando as metas sociais comuns, concordando com as regras estabelecidas
na sociedade de convívio”.
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Partem da premissa de que a sociedade é formada pelo consenso entre os indivíduos que a
compõem, bem como pela livre vontade e todo elemento integrante do corpo social tem sua função e
importância.
Nessa linha, se um sujeito infringe determinada regra e pratica um crime, o fez baseado na sua livre
souza -- CPF:

vontade em delinquir. Ele é a engrenagem que falhou na máquina social, de modo a merecer a
responsabilização pessoal e racional, ou seja, a retribuição pelo mal causado.
Marceli souza

Nesse grupo, estudaremos:


Marceli

ATENÇÃO!
Algumas linhas doutrinárias não alocam a teoria da associação diferencial como espécie de teoria da
subcultura, quando então teríamos a seguinte divisão:

5 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 5ª edição, p. 67.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

- Escola de Chicago;
- Teoria da Anomia;
- Teoria da Associação Diferencial;
- Teoria da Subcultura Delinquente.

Passemos, então, à análise pontual das Teorias do Consenso.

2.1. Escola de Chicago

A cidade de Chicago, nos Estados Unidos da América, foi o laboratório dessa linha teórica, isto porque
crescia de maneira exponencial e, como via de consequência, constatou-se o aumento nos índices de
criminalidade. Trata-se do berço da moderna sociologia americana, à luz do Departamento de Sociologia da
Universidade de Chicago, quando foi apresentada a “sociologia das grandes cidades”.
Tanto o Departamento de Sociologia como a Universidade de Chicago receberam valorosa ajuda
financeira do empresário norte-americano John Davison Rockefeller. Entre 1915 e 1940, a Escola de Chicago
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produziu um vasto e variado conjunto de pesquisas sociais, direcionado à investigação dos fenômenos sociais
que ocorriam especificamente no meio urbano da grande metrópole norte-americana.
Com um processo que abrange estudos e análises em antropologia urbana, a Escola de Chicago
constata a influência do meio ambiente na conduta criminosa, apresentando um paralelo entre o
crescimento populacional e o aumento da criminalidade.
O foco da Escola de Chicago, portanto, é a análise da comunidade local, ou seja, da cidade, posto
que, para seus defensores, a própria cidade produz a delinquência.
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Duas ideias centrais gravitam em torno desse modelo teórico, quais sejam: a desorganização
social e as áreas de delinquência. Nessa linha de raciocínio, sustenta-se que áreas superpovoadas são
desorganizadas socialmente, gerando, consequentemente, áreas de delinquência.
Frise-se que a escola de Chicago empregava um método empírico – baseado na observação e análise
souza -- CPF:

da cidade – e pragmático, estabelecendo um diagnóstico confiável acerca dos problemas sociais. Nessa linha,
ganharam destaque as ações preventivas.
Marceli souza

Contudo não há que se falar em determinismo ecológico, mas sim em desorganização social como
Marceli

fator potencializador da delinquência, um vetor criminógeno.


A Escola de Chicago defende que as cidades não são meros aglomerados de pessoas e coisas, mas
sim refletem um verdadeiro estado de espírito, possuindo sua cultura própria, seus estatutos, seus ditames,
uma organização formal e outra informal, seus usos e costumes, enfim, sua própria identidade.
A seu turno, as cidades modernas, em razão do grande índice de mobilidade urbana, acabam por
romper com os mecanismos tradicionais de controle (família, vizinhança) com consequente enfraquecimento
das instâncias de controle social informal, com predomínio do anonimato.
A família, o corpo religioso, a escola, o ambiente de trabalho, os clubes de serviço não conseguem
refrear as condutas humanas (fator potencializador da criminalidade). Por essa razão, o crescimento
exponencial das cidades é fator que contribui de forma significativa ao aumento da criminalidade.
Acerca do crescimento desordenado das cidades e seus impactos no fenômeno criminoso, destaque-
se que as classes mais ricas se fixam em áreas exclusivamente residenciais, ao passo que as classes mais
pobres convivem em áreas industriais, tolerando fumaça, sujeira, barulho, dentre outros fatores
desagradáveis. Decerto que esse cenário favorece o surgimento de zonas desabitadas ou superpovoadas,
gerando movimentos favoráveis à proliferação de atos delituosos decorrentes dessa desorganização social.
A par disso, a ausência completa do Estado (carência de hospitais, creches, escolas, parques,
delegacias, praças e outras áreas de lazer) gera uma sensação de anomia na população, potencializando a

50
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

criação de justiceiros, grupos armados e milícias, com a pretensão de “substituir” o Estado no exercício do
controle social.
No que se refere às áreas de delinquência, constatou-se que os trechos da cidade que apresentavam
índices de criminalidade mais significativos estavam ligados à degradação física, à segregação econômica,
étnica, racial etc.
O instrumento de estudo dos criminólogos consistia na utilização dos inquéritos sociais (social
surveys), que são realizados por meio de um interrogatório direto feito, normalmente, por uma equipe junto
a um universo determinado de pessoas, sobre certos aspectos de interesse do pesquisador e de estudos
biográficos de casos individuais, com objetivo de analisar aquela realidade social.
As principais teorias baseadas nas ideias e perspectivas da escola de Chicago são:

• Teoria ecológica;
• Teoria das janelas quebradas;
• Teoria da tolerância zero;
• Teoria dos testículos despedaçados (Breaking Balls Theory).
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2.1.1. Teoria Ecológica

A base da teoria ecológica busca explicar o efeito criminógeno dos grandes centros urbanos,
utilizando-se da desorganização dos modernos núcleos urbanos e, consequentemente, a degradação das
instâncias de controle social informal nesses ambientes.
Nesse sentido: a deterioração dos grupos primários (família etc.), a modificação qualitativa das
relações interpessoais que se tornam superficiais, a alta mobilidade e consequência perda de raízes no lugar
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de residência, a crise dos valores tradicionais e familiares, a superpopulação, a tentadora proximidade às


áreas comerciais e industriais, onde se acumula a riqueza e o citado enfraquecimento do controle social criam
um meio desorganizado e criminógeno6.
souza -- CPF:

2.1.2. Teoria das Janelas Quebradas


Marceli souza

A teoria das janelas quebradas pode ser sintetizada na seguinte ideia: se uma janela de um edifício
Marceli

for quebrada e tão logo não receba reparo, a tendência é que os indivíduos passem a arremessar pedras nas
outras janelas e, posteriormente, ocupar o edifício e destruí-lo.
De origem estadunidense, suas bases teóricas foram fincadas na Escola de Chicago por James Q.
Wilson e George Kelling. Os citados estudiosos estabeleceram, pela primeira vez, uma relação de causalidade
entre a desordem e a criminalidade.
A teoria das janelas quebradas, portanto, pretende estabelecer a repressão aos menores delitos
como forma de inibir a prática de crimes mais graves, consoante à conhecida política de tolerância zero
implementada pelo ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani.

2.1.3. Teoria da Tolerância Zero

A referida linha teórica preconiza que as autoridade policiais de uma organização atuem seguindo
padrões predeterminados naquilo que se refere à atribuição de punições, extirpando decisões discricionárias
decorrentes da atuação policial.
Baseada na teoria das janelas quebradas, trata-se de uma estratégia de manutenção da ordem
pública e prevenção a fatores criminógenos. Deflagrada pela consciência estatal em cumprir seus deveres

6 GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio García-Pablos. Criminologia, p. 343.

51
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

legais com a sociedade, despindo-se de corrupção e da venalidade com o intento de trazer a confiança da
população.
Em suma, a teoria tolerância zero tem como escopo introjetar o hábito à legalidade, corroborando
para que as ações policiais se mostrem intransigentes com delitos de menor gravidade, isto é, que as
pequenas práticas delitivas não sejam toleradas. Desta feita, a projeção é de que haja redução nos índices
de criminalidade, tanto dos crimes menos graves quanto dos crimes de maior gravidade.

2.1.4. Teoria dos Testículos Despedaçados

A teoria também defende a ideia de combate à pequena criminalidade, partindo da premissa de


que, se os responsáveis pelos delitos de pouca gravidade forem perseguidos de forma eficaz pelos agentes
policiais, normalmente se darão porvencidos, abandonando a região e se instalando em locais distantes,
com a intenção de violar a lei penal sem que sejam frequentemente molestados pelos agentes do Estado.
A Teoria dos Testículos Despedaçados, portanto, está ligada às ideias traçadas pela Teoria das Janelas
Quebradas.

2.1.5. Soluções propostas pela Escola de Chicago


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Partindo da premissa que a desorganização social favorece à potencialização das áreas de


criminalidade, a teoria busca traçar estratégias a serem implementadas nesses ambientes.

a. Macrointervenção na comunidade: mediante a criação de pequenos núcleos regionais,


oferecendo à população local uma gama de serviços sociais. Nesse contexto, o planejamento e
a administração dos projetos devem ser feitos por áreas delimitadas em vez de grandes núcleos
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centralizadores.
b. Criação de programas comunitários, de modo a propiciar melhorias das condições sociais,
econômicas e educacionais.
souza -- CPF:

c. Melhoria no aspecto físico/visual das cidades: as medidas de resgate da cidadania associadas


aos projetos ecológicos, especialmente em áreas muito carentes, podem fazer decrescer de
Marceli souza

forma imediata a criminalidade.


Marceli

2.1.6. Contribuições da Escola de Chicago

A Escola aplica métodos de pesquisa com o objetivo de compreender a realidade da cidade antes do
estabelecimento da política criminal adequada, o que favorece a elaboração de medidas preventivas.
Ademais, verifica-se o envolvimento de toda a comunidade por meio de seus diferentes canais com
vistas ao enfrentamento do problema. O foco é voltado para a comunidade local, com a mobilização das
instituições locais para a redução da desorganização social, denotando um envolvimento preventivo da
comunidade.
Depois da Escola de Chicago, não há como se conceber a ideia de qualquer política criminal séria que
não se baseie em estudos empíricos da criminalidade na região analisada. A própria criminalização da
pichação, por exemplo, é uma influência da Escola de Chicago.

2.1.7. Críticas à Escola de Chicago

Inicialmente, cumpre ressaltar que os estudos da Escola de Chicago não foram desconsiderados pelas
demais teorias; contudo, algumas críticas se levantaram em relação aos seus ensinamentos.

52
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

• Perspectiva limitadora na investigação criminal. Em outras palavras, a teoria oferece uma


explicação muito reduzida acerca da delinquência, atendo-se à criminalidade que ocorre dentro
das supostas áreas desorganizadas socialmente. Por essa ótica, a teoria não explica os crimes
patrimoniais ocorridos fora desses espaços de desorganização social; não explica a criminalidade
cometida por integrantes das classes sociais privilegiadas (crimes de colarinho branco) etc.
• A teoria ecológica não tem condições de explicar as condutas desviantes ocorridas fora das áreas
delitivas.
• A teoria ignorava as cifras negras, trabalhando apenas com dados oficiais.

ATENÇÃO!
Expressões que remetem à Escola de Chicago:
- Cidade como estado de espírito;
- Desorganização social /áreas de delinquência;
- Enfraquecimento do controle social informal
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2.2. Teoria da Anomia/Estrutural-Funcionalista

Na década de 1930, Robert King Merton desenvolveu a teoria funcionalista da anomia, teoria esta
que, segundo o criminólogo Alessandro Baratta, “representa uma etapa essencial no caminho percorrido
pela sociologia criminal contemporânea”.
Inicialmente, cumpre ressaltar que o termo anomia remete à ideia de ausência de leis ou, ainda, à
perspectiva de um Estado que, não obstante possua um corpo legislativo estabelecido, não possui adesão da
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sociedade em sua observância, ocasionando uma verdadeira crise de valores.


Merton inspirou-se nos ensinamentos de Émile Durkheim e apresenta ponderações de viés
sociológico em relação ao fenômeno da criminalidade. Nesse sentido, sustentava que a anomia, fomentadora
da criminalidade, advém do colapso na estrutura cultural, especialmente de uma bifurcação aguda entre
souza -- CPF:

normas e objetivos culturais e as capacidades (socialmente estruturadas) dos membros do grupode agirem
Marceli souza

de acordo com essas normas e objetivos. Anomia, portanto, se dá como manifestação comportamental em
que as normas sociais são ignoradas.
Marceli

A anomia, em palavras mais simples, ocorre quando há um desajuste daquilo que se “vende” como
modelo de sucesso (metas/fins culturais) com os meios institucionalizados voltados ao alcance dessas metas
culturais.
A título de ilustração, na realidade brasileira, o salário mínimo não comporta as necessidades básicas
de uma família, tampouco poderia se cogitar que se alcance as denominadas “metas de sucesso”. Esse
desajuste propicia o surgimento de condutas que vão desde a indiferença perante as metas culturais até a
tentativa de alcançar essas metas por meios diversos daqueles socialmente prescritos.
Em apertada síntese, entende-se como meta de sucesso/meta cultural o acúmulo de patrimônio e
a qualidade de vida no contexto de uma sociedade que elege esses valores como o padrão a ser alcançado.
Citamos como paradigma histórico o nominado American Dream, traduzindo a ideia de consumo e
acúmulo de patrimônio como sinônimos de prestígio.
Dentro dessa perspectiva, nos ensinamentos de Durkheim, o crime é um fenômeno normal de toda
estrutura social. O comportamento desviante é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o
desenvolvimento sociocultural.
O fato criminoso só terá relevância quando atingir a consciência coletiva na sociedade e quando
abandonar o viés de “normalidade” ao ultrapassar determinados limites, gerando a desorganização da
sociedade. O crime é, simplesmente, um ato proibido pela consciência coletiva.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Nessa linha intelectiva, se o crime fere a consciência coletiva, a pena tem a função de resgatar e
curar essa “ferida”. Isto é, a pena não tem a mera função de amedrontar ou dissuadir o infrator, e sim de
satisfazer a consciência comum. Nesse viés, surtiria mais efeito sobre as pessoas consideradas honestas,
demonstrando que está havendo uma “cura” desses sentimentos coletivos.
A partir dessa ideia de anomia traçada por Merton, o referido estudioso traçou cinco tipos de
comportamento do ser humano diante dessa relação “Metas de Sucesso X Meios Institucionalizados”, isto é,
cinco espécies de adaptação individual a essa realidade, a saber:

• Conformidade: conformidade entre os objetivos culturais e os meios institucionalizados. Em


outras palavras, com os meios que tem à sua disposição, o indivíduo consegue efetivamente
alcançar as metas de sucesso.
• Ritualismo: o indivíduo renuncia os fins culturais e as metas de sucesso, porque tem a
consciência de sua incapacidade em alcançá-los. Contudo continua seguindo as normas de
conduta e interagindo com a sociedade.
• Retraimento/apatia/evasão: o indivíduo renuncia tanto as metas de sucesso quanto os meios
institucionais e as normas de convivência. Exemplificando, citamos as pessoas que vivem em
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situação de rua, viciados em drogas etc.


• Inovação: é a delinquência propriamente dita. Trata-se da adoção de meios não ortodoxos com
vistas a alcançar as metas de sucesso, ou seja, o indivíduo se vale de meios ilegais para atingi-
las. Nessa linha, o sujeito cria atalhos, inova, esquivando-se dos meios institucionais tradicionais
e valendo-se de meios não socialmente indicados, com vistas a alcançar aquilo que se considera
um modelo de sucesso. Há adesão aos fins culturais, sem o respeito aos meios institucionais.
Exemplo: em busca de conforto e acúmulo patrimonial, o infrator substitui os meios tradicionais
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(emprego, trabalho, investimentos) por práticas delituosas (estelionato, tráfico de drogas etc.).
• Rebelião: comportamento característico de indivíduos que demonstram inconformismo e
revolta com aquilo que se estabeleceu como meta de sucesso. Nessa linha, refutam os padrões
souza -- CPF:

vigentes, propondo novas metas e institucionalização de novos meios para atingi-las.


Marceli souza

Como exemplo, o movimento hippie, que tem por objetivo rebelar-se contra os valores instituídos
pela sociedade e, por meio do descondicionamento, chegar à existência autêntica, embasada pela formação
Marceli

de uma “nova consciência”.


Toda vez que a sociedade acentua a importância de determinadas metas sem oferecer à maioria das
pessoas a possibilidade de atingi-las por meios legítimos, estamos diante de uma situação de anomia.
No quadro abaixo, esquematizamos a relação de cada modo de adaptação dos indivíduos com as
metas culturais e os meios institucionalizados voltados à sua obtenção:

METAS CULTURAIS MEIOS INSTITUCIONALIZADOS


MODOS DE ADAPTAÇÃO (status, poder, riqueza, (estudo, trabalho,investimentos
qualidade de vida) lícitos)
Conformidade Aceitação das metas Aceitação dos meios
Ritualismo Não aceitação das metas Aceitação dos meios
Retraimento/apatia/evasão Renúncia às metas Renúncia aos meios
Inovação Aceitação das metas Não aceitação dos meios
Rebelião Não aceitação das metas Não aceitação dos meios

54
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

2.3. Teoria da Associação Diferencial

Preliminarmente, vale destacar que, apesar de haver classificações em sentido diverso, Antonio
García-Pablos de Molina afirma que dentro do grupo “Teorias Subculturais” figuram como principais modelos
teóricos: a Teoria da Associação Diferencial de Sutherland e a Teoria da Subcultura Delinquente de Albert
Cohen, as quais estudaremos a partir de agora.
Embora influenciada pelos ideais traçados pela Escola de Chicago, a Teoria da Associação Diferencial
tece duras críticas a ela. Isto porque o modelo teórico de Chicago só busca a explicação da delinquência
ocorrida nos espaços territoriais socialmente desorganizados.
Os aportes iniciais da teoria vieram com Edwin Sutherland, que apresentou o conceito de crimes de
colarinho branco (white colar crime): crimes cometidos no âmbito profissional, por pessoas de elevado
estatuto social e respeitabilidade.
Por óbvio, os crimes de colarinho branco não podem ser explicados pela pobreza, falta de educação
e demais condições desfavoráveis. Contudo a dificuldade na obtenção de dados estatísticos se explica em
razão do fenômeno da cifra negra.
“Nesse viés, o crime não pode ser definido simplesmente como disfunção ou inadaptação de pessoas
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de classes menos favorecidas, não sendo, portanto, exclusividade destas.”7


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O homem, portanto, aprende a conduta desviada e associa-se com referência nela.


As condutas criminosas também podem ser cometidas (e, de fato, são) por pessoas integrantes
das classes mais favorecidas, a depender do processo de aprendizagem e interação ao qual estão submetidas.
O crime deriva de um processo de aprendizagem decorrente das interações sociais. Portanto, não há
que se falar em determismo biológico, mas sim num verdadeiro processo de aprendizagem decorrente das
interações sociais, que podem direcionar os indivíduos às práticas delitivas.
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O comportamento criminoso é um comportamento de aprendizado, mediante a interação com


outras pessoas, resultante de um processo de comunicação. A parte decisiva do processo de aprendizagem
ocorre no seio das relações sociais mais íntimas do indivíduo com seus familiares ou pessoas de seu meio.
Uma pessoa converte-se em delinquente quando as condições favoráveis à violação superam as
souza -- CPF:

desfavoráveis.
Da mesma forma que as pessoas podem se associar e viver com observância às regras sociais de
Marceli souza

conduta, também podem fazê-lo para infringi-las, a depender das influências que recebem e das interações
Marceli

sociais que praticam.


A nomenclatura “associação diferencial” nos conduz à ideia de que os princípios do processo de
associação pelo qual se desenvolve o comportamento criminoso são osmesmos princípios do processo pelo
qual se desenvolve o comportamento legal, mas os conteúdos dos padrões apresentados na associação
diferem. Ademais, a associação diferencial é possível porque a sociedade se compõe de vários grupos com
culturas diferentes.
Sutherland traz três fatores que impedem ou dificultam expressivamente a punição dos crimes de
colarinho branco:

• Os autores são pessoas respeitadas e temidas, a exemplo de grandes empresários e agentes


políticos, não sendo concebível tratá-los como delinquentes;
• Em geral, os tipos penais se revestem de maior abertura, conferindo maior espaço às
interpretações. As punições não são tão severas, admitem mecanismos de substituição da pena
privativa da liberdade e possuem o condão mais pecuniário que pessoal. Pensemos, por

7 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, Teoria e Prática. 4ª edição, p. 70

55
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

exemplo, no tratamento jurídico conferido aos crimes tributários em contraponto aos delitos
patrimoniais tradicionais.
• Os efeitos dos crimes de colarinho branco são complexos e difusos, não sendo diretamente
sentidos pela sociedade, embora possuam alto grau de nocividade.

Observe, portanto, que a Teoria da Associação Diferencial põe em descrédito vários argumentos de
teorias tradicionais, a exemplo das teorias antropológicas e positivistas.
Para a doutrina, temos uma influência moderna dessa teoria em nossa sociedade, qual seja, a
influência midiática como modeladora de comportamentos.
Outras nomenclaturas: Teoria da Aprendizagem Social/Teoria do Aprendizado/Social Learning.

2.4. Teoria da Subcultura Delinquente

Seu início foi marcado com a obra de Albert Cohen denominada Delinquent Boys, de 1955.
Seu contexto histórico remonta à sociedade americana dos idos de 1950 e a desilusão com o que se
chamou de American Dream: o sonho americano.
Com o fim da 2° Guerra Mundial e o crescimento econômico dos Estados Unidos, a população estava
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tomada por um sentimento de positividade, confiança, e marcada por ideais de prosperidade.


O sonho americano é um ethos nacional dos Estados Unidos, uma variedade de ideais de liberdade
que inclui a chance para o sucesso e prosperidade, maior mobilidade social para as famílias e crianças,
alcançada através de trabalho duro em uma sociedade sem obstáculos. Na definição do que é o "sonho
americano", por JamesTruslow Adams, em 1931, "a vida deveria ser melhor e mais rica e mais completa
para todos, com oportunidades para todos baseado em suas habilidades ou conquistas", independente de
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sua classe social ou circunstâncias do nascimento”8


Contudo, com a percepção de que não seria possível alcançar esse ideal, muitos jovens, sobretudo
negros, passaram a confrontar esses “padrões”. Nessa linha intelectiva, as subculturas delinquentes
constituem um movimento reacionário das classes sociais desfavorecidas, ou seja, aquelas que não dispõem
souza -- CPF:

dos mesmos recursos e oportunidades de crescimento dentro de uma estrutura social estabelecida, ante a
necessidade de sobreviver nesse cenário mesmo com exíguas possibilidades de estabelecerem um
Marceli souza

comportamento legítimo.
Marceli

A Teoria da Subcultura Delinquente trabalha, sobretudo, a delinquência juvenil e defende


exatamente o contrário das ideias trazidas pela Escola de Chicago, sustentando que nas áreas onde há
omissão do Estado, os grupos se organizam e criam suas próprias regras e valores: são as subculturas.
Em outras palavras, as áreas de delinquência não são vistas como regiões “desorganizadas
socialmente”, e sim áreas em que vigoram normas distintas das oficiais, de valores invertidos, como forma
de contestar aquilo que se estabeleceu como “ideal” da sociedade dominante.
Subcultura traduz a ideia de enfrentamento desviante de jovens em relação à sociedade adulta
tradicional, com a aceitação de certos aspectos dos sistemas de valores predominantes, mas que também
expressam sentimentos e crenças exclusivas de seu próprio grupo. Como exemplo, as gangues de periferia
nos Estados Unidos.
No Brasil, temos como exemplo as gangues de lutadores de jiu-jitsu formadas na década de 90, tão
somente com a finalidade de causar desconforto alheio mediante a prática de espancamentos gratuitos, bem
como os grupos de pichadores.

8 What is the American Dream? Biblioteca do Congresso. 4 de maio de 2017.

56
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Aqui, não estamos a tratar da delinquência generalizada, a qual possui um fim utilitarista em suas
ações, mas sim de pequenos grupos que criam suas próprias regras mas não atuam com uma finalidade bem
delineada.

FIQUE DE OLHO!
A subcultura delinquente pode ser resumida como um comportamento de transgressão que é determinado
por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou determinam
formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas.

Para Cohen, a subcultura delinquente caracteriza-se por três fatores:

• Não utilitarismo da ação: os crimes são realizados por puro prazer, sem um fim utilitarista ou
finalidade específica. Como exemplo, o brutal assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos
cometido por um grupo de cinco criminosos em Brasília, no ano de 1997.
• Malícia da conduta: as condutas são realizadas para causar desconforto alheio. Como exemplo,
a hostilidade gratuita contra jovens que não pertencem a gangues.
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• Negativismo: objetivo de mostrar o rechaço deliberado aos valores da classe dominante,


mediante a prática de atos de rebeldia que se contrapõem aos padrões sociais.

A teoria em apreço recebe críticas em razão de oferecer uma visão limitada e restrita da
criminalidade.

3. TEORIAS DO CONFLITO
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Em sentido oposto às ideias trabalhadas nas Teorias do Consenso, temos as Teorias do Conflito,
ligadas a movimentos revolucionários.
Como o próprio nome sugere, a ideia central das teorias do conflito perpassa pela linha
souza -- CPF:

argumentativa de que, para que haja equilíbrio nas relações sociais, necessariamente haverá uso de meios
coercitivos. Em outras palavras, a harmonia do corpo social decorreria da fórmula sujeição x imposição, na
Marceli souza

perspectiva de classe dominante e classe dominada.


Marceli

A sociedade não funciona como uma engrenagem conforme apregoam as teorias do consenso. Isso
porque, em verdade, o poder se concentra nas mãos de pequena parcela da sociedade que o impõe à classe
dominada.
O conflito surge, justamente, em função dessa divergência de interesses, sendo certo que o controle
social tem como finalidade a garantia do poder vigente.
Nessa linha, o conflito é algo natural e até mesmo desejado, desde que sob controle, para que haja
a progressão da sociedade frente aos desafios impostos.
As Teorias do Conflito tentam, de alguma forma, distribuir a responsabilidade pelo ato criminoso à
sociedade e não apenas à pessoa do infrator.
Em síntese, a teoria estabelece as seguintes premissas:

• Toda a sociedade está, a cada momento, sujeita a processos de mudança;


• Toda sociedade exibe, a cada momento, dissensão e conflito;
• O conflito social é ubíquo;
• Todo elemento em uma sociedade contribui de certa forma para sua desintegração e
mudança; e
• Toda sociedade é baseada na coerção de alguns de seus membros por outros.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

A doutrina apresenta a seguinte classificação acerca das teorias do conflito:

• Marxistas: as causas das criminalidade estão atreladas à luta de classes (dominante x


dominada), oriunda do capitalismo (vilão da sociedade);
• Não marxistas: a criminalidade relaciona-se com a tensão gerada por conta dadesigualdade na
distribuição de poder.

No grupo de Teorias do Conflito, estudaremos:

• Teoria do labelling approach (rotulação social, etiquetamento, reação social ou teoria


interacionista);
• Criminologia Crítica (Neorrealismo de esquerda, Direito Penal Mínimo, Abolicionismo Penal)

3.1. Labelling Approach

Também chamada de Teoria da rotulação social, teoria do etiquetamento, teoria da reação social,
teoria interacionista ou interacionismo simbólico.
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Trata-se da teoria inaugural das teorias do conflito, representando uma mudança no enfoque dos
estudos criminológicos, deixando de lado a ideia de paradigma etiológico.
A teoria em apreço surgiu nos Estados Unidos, na década de 60, num contexto social marcado por
movimentos estudantis, políticos, raciais, feministas, considerados fermentos de ruptura do pensamento
até então dominante.
Nesse contexto, o foco da análise criminológica passou a ser o controle exercido sobre os indivíduos
no seio social (controle social formal e informal) objetivando o entendimento acerca dos processos de
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criminalização, donde se extrai o aspecto crítico da teoria.


Os estudos, que outrora se debruçavam de forma centralizada na análise do crime e do criminoso,
passaram a analisar o sistema de controle social e suas consequências, deslocando as questões
souza -- CPF:

criminológicas do plano da ação para o plano da reação, sinalizando que uma característica comum entre os
delinquentes é a resposta das instâncias de controle social.
Marceli souza

Nas lições de Sumariva9: “um fato só é considerado criminoso a partir do momento em que adquire
Marceli

esse status por meio de uma norma criada de forma a selecionar certos comportamentos como desviantes
no interesse de um sistema social” (grifo nosso).
A sistemática seria a seguinte: ao delinquir pela primeira vez, o infrator recebe um rótulo, uma
etiqueta que o estigmatiza como criminoso. Essa rotulação pode advir tanto das agências de controle social
formal (polícias, Ministério Público, Poder Judiciário, sistema penitenciário) quanto das instâncias de controle
social informal (família, amigos, escola, ambientes acadêmicos etc). Ou seja, de que maneira Estado e
Sociedade reagirão à prática delitiva?
Para a doutrina, o Estado reage por meio das “cerimônias degradantes”, que são os processos
ritualizados aos quais se submetem os infratores envolvidos em um processo criminal, ocasião em que um
indivíduo é despojado da sua identidade original. Exemplificando, um indivíduo preso em situação
flagrancial é conduzido até uma Delegacia de Polícia e submetido a alguns procedimentos, tais como revista
pessoal, fotografia, aferição de altura, verificação de sinais particulares, exame pericial, dentre outros. Ao
ingressar no sistema penitenciário, recebe um uniforme, corte de cabelo padrão e fica vinculado a uma
numeração, além de ser colocado em estabelecimentos em condições desumanas e degradantes, como é o
caso da realidade brasileira. As agências estatais idealizadas com objetivo de inibir as condutas criminosas
acabam por fomentá-las, alimentando esse sistema por meio das cerimônias degradantes.

9 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 4ª edição, p.75.

58
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Por sua vez, a sociedade em geral também reage aos comportamentos desviantes de forma negativa
e tendenciosa, sendo certo que a pena gera uma marginalização no âmbito do mercado de trabalho e escolar.
A partir daí, o indivíduo carregará essa referência maculosa durante toda a sua vida, o que
certamente influenciará em suas futuras ações e nas relações sociais que pretenda estabelecer.
Note, portanto, que a reação social (formal ou informal) é decisiva no contexto da reiteração
delitiva, a traduzir a ideia de reação social como elo entre a desviação primária e a desviação secundária:
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A desviação primária pode ocorrer devido a uma série de fatores culturais, sociais, psicológicos e
sociológicos, ou seja, trata-se da primeira vez em que persecução penal recai sobre o indivíduo em razão da
prática de um delito.
souza -- CPF:

De outro giro, a desviação secundária é a resposta de adaptação aos problemas ocasionados pela
Marceli souza

reação social à desviação primária.


O controle social, portanto, é seletivo e define “quem entra e quem sai da rotulação”, pouco
Marceli

importando o tipo de crime e quais suas causas.


Nesse viés, a prisão não funciona como ferramenta de ressocialização do criminoso; ao contrário,
exerce um papel de socialização ao cárcere, num sistema de retroalimentação.

3.1.1. Modelo explicativo sequencial (Sérgio Shecaira)

Delinquência primária → resposta ritualizada e estigmatização → distância social e redução de


oportunidades → surgimento de uma subcultura delinquente com reflexo na autoimagem → estigma
decorrente da institucionalização → delinquência secundária.

3.1.2. Influências da Teoria em nosso ordenamento jurídico

A reflexão que se propõe é a seguinte: ora, se o cárcere é estigmatizante e reprodutor de


comportamentos criminais, qual seria a solução? Nessa senda, emergem os estudos atinentes à ideia de
descarcerização, não prisionização e, ainda, aideia de um Direito Penal Mínimo.
Dentro dessa perspectiva, podemos apontar a reforma penal ocorrida em 1984, com previsões
atinentes ao regime progressivo de cumprimento de pena, adoção das penas substitutivas (alternativas) à

59
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

prisão etc. Citamos, ainda, a Lei n.º 12.403/2011 que trouxe a previsão de medidas cautelares diversas da
prisão ao Código de Processo Penal, e a Lei n.º 9.099/1995, que instituiu os Juizados Especiais Criminais, com
a previsão de medidas despenalizadoras aplicáveis às infrações penais de menor potencial ofensivo.

3.1.3. Críticas à Teoria do Labelling Approach

A teoria em estudo não explica as causas da delinquência primária, ou seja, o porquê de o criminoso
delinquir pela primeira vez, deixando em segundo plano as causas primárias da criminalidade e focando na
desviação secundária.

ATENÇÃO!
Expressões que remetem à Teoria do Labelling Approach (reação social):
- Controle social seletivo, discriminatório, estigmatizante, gerador e constitutivo de criminalidade;
- Foco na reação social.

3.2. Criminologia Crítica/Radical/Marxista ou Nova Criminologia


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Tem origem nos EUA e na Inglaterra nos anos 70 e teve como dois grandes palcos a Escola de Berkeley
(EUA) e a National Deviance Conference (Inglaterra). Posteriormente ganhou espaço nos países europeus.
Modernamente, conta com defensores de destaque, como Alessandro Baratta (Itália), Eugênio Raul
Zaffaroni (América Latina).
Fundamentalmente, a criminologia crítica/radical apoia-se nos ideais marxistas acerca da
sociedade e seu ordenamento, sustentando ser o delito um fenômeno proveniente do modo de produção
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capitalista. Em outras palavras, num sistema capitalista e opressor, o crime é uma consequência natural.
Em apertada síntese, Karl Marx considerava o capitalismo a raiz de todos os males, apontando a luta
de classes (trabalhadores X empregadores) como a origem de conflitos econômicos, ideológicos e políticos.
O sistema capitalista seria instrumento das grandes elites, a punir somente a classe trabalhadora, enxergando
souza -- CPF:

o criminoso como um integrante do proletariado.


Marceli souza

Contudo, essa visão vem sofrendo algumas alterações, já que os próprios marxistas passaram a
reconhecer que os trabalhadores começaram a se aproximar do capitalismo, gerando renda e passando a
Marceli

ocupar uma posição no mercado de consumo. Sob essa ótica, o trabalhador não poderia mais ser
considerado um agente revolucionário, por isso o marxismo, sobretudo no Brasil, está caminhando para
enxergar no criminoso um novo agente revolucionário.
A criminologia crítica/radical trata da crítica “final” a todas as outras correntes criminológicas,
especialmente por se recusar a assumir esse papel tecnocrático de gerenciador do sistema, pois considera o
problema criminal insolúvel dentro dos marcos de uma sociedade capitalista. Em suma, apregoa que
determinados atos são considerados criminosos porque é do interesse da classe dominante assim defini-los.
Nesse sentido, critica as posturas tradicionais da criminologia do consenso, considerando-as incapazes de
entender a totalidade do fenômeno criminal. Sustenta, ainda, que o indivíduo não teria livre-arbítrio quando
pratica um delito, já que se encontra sujeito a um determinado sistema de produção, e a divisão de classes,
no sistema capitalista, funciona como fator propulsor à desigualdade e à violência.
Conclui que a norma penal surge como instrumento de controle social preconceituoso, recaindo
apenas sobre as classes trabalhadoras e menos favorecidas, não sendo aplicada da mesma forma às classes
abastadas.
O pensamento criminológico crítico/radical assevera que as leis penais existem para gerar uma
estabilidade temporária, encobrindo confrontações violentas entre as classes sociais de modo a reafirmar o
modelo de produção capitalista. Ou seja, em verdade, as leis penais não são concebidas com o escopo de

60
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

regular a convivência harmônica do corpo social, e sim de assegurar o poderio econômico do modelo
capitalista, sendo certo que a pena teria o condão de reafirmar esse modelo de produção.
Portanto, a finalidade do Direito Penal seria assegurar um modelo de realidade social, alimentando
as desigualdades sociais.
Pensemos, por exemplo: quando ocorre um crime, é nítido que a sociedade e a mídia se interessam
e se preocupam com os meandros da persecução penal, especialmente com o andamento das investigações
e o decurso do processo penal. Contudo, na fase executiva de eventual pena aplicada ao infrator, quando,
em tese, estaria ele sendo submetido à penalização com vistas a sua ressocialização, não percebemos essa
preocupação por parte da sociedade.
O Brasil possui a terceira maior população carcerária do mundo, atualmente em torno de 812 mil
pessoas (dados de JUL/2019).

A informação consolida o Brasil como a terceira maior população carcerária do mundo,


ficando atrás apenas dos Estados Unidos (com 2 milhões 100 mil pessoas atrás das
grades) e China (1 milhão e 600 mil pessoas encarceradas). Os dados fazem parte da
Luta antiprisional no mundo contemporâneo: um estudo sobre experiências em outras
nações de redução da população carcerária , lançada em setembro de 2018, em São
Paulo.10
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A reflexão que se faz é a seguinte: quem são esses presos? Quem são as pessoas que, efetivamente,
estão submetidas ao cárcere? Massivamente, são os integrantes das classes sociais menos favorecidas.

3.2.1. Características da Criminologia Crítica / Radical / Marxista / Nova


Criminologia

Principais características elencadas pela doutrina, às quais você deve se atentar por contemplarem
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palavras-chave que podem aparecer nas provas de concurso:

• Tece críticas à criminologia tradicional;



souza -- CPF:

Posiciona o modelo de produção capitalista como a base da criminalidade;


• Sustenta que o Direito Penal se preocupa com os interesses do grupo social dominante, de modo
Marceli souza

a assegurar o modelo de produção capitalista;



Marceli

Traça uma percepção do criminoso de modo a justificar suas ações, no sentido de compreendê-
lo e, até mesmo, enxergá-lo como agente revolucionário e transformador.

3.2.2. Críticas à Criminologia Crítica/Radical/Marxista/Nova Criminologia

• A teoria exime o indivíduo de qualquer tipo de responsabilização pela prática de atos criminosos,
atribuindo essa carga ao modo de produção capitalista, reservando ao criminoso o papel de
“vítima” da sociedade na qual se encontra inserido;
• Não apresenta uma explicação acerca da criminalidade praticada por indivíduos integrantes das
classes sociais mais abastadas nem em relação às pessoas que também integram as classes
desprivilegiadas, mas não cometem crimes;
• Chega à conclusão do reducionismo ou até mesmo do abolicionismo penal, contudo sem
apresentar uma explicação lógica: ora, se o criminoso é “vítima” da sociedade que o corrompeu,
como abolir o cárcere e reintegrá-lo ao convívio na mesma sociedade que o corrompeu?

10 https://ponte.org/com-812-mil-pessoas-presas-brasil-mantem-a-terceira-maior-populacao-carceraria- do-mundo/

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

3.2.3. Contribuições da Teoria Crítica

• Movimentação pela criminalização de condutas que atentem contra bens jurídicos difusos
(legislações protetivas do meio ambiente, da ordem econômica, financeira, tributária etc);
• Maximização da intervenção punitiva para os crimes de colarinho branco, racismo etc. e
minimização da intervenção punitiva, podendo chegar à descriminalização de condutas
tipicamente relacionadas a crimes praticados por integrantes das classes mais desprotegidas
(vadiagem, aplicação do princípio da insignificância em pequenos furtos etc.)

3.3. Tendências advindas da Criminologia Crítica: Neorrealismo de Esquerda,


Direito Penal Mínimo e Abolicionismo Penal

A partir das décadas de 1980/90, com o amadurecimento dos estudos da criminologia crítica,
surgiram basicamente três tendências:

3.3.1. Neorrealismo de Esquerda


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Surge como uma resposta intermediária entre o Direito Penal Máximo e oAbolicionismo Penal.
De acordo com o professor Paulo Sumariva:

A teoria admite que as frágeis condições econômicas dos pobres na sociedade


capitalista façam com que a pobreza tenha seus reflexos na criminalidade,
reconhecendo, contudo, que essa não é a única causa da atitude criminosa, também
gerada por fatores como: expectativa superdimensionada, individualismo exagerado,
competitividade, agressividade, ganância, anomalia sexuais, machismo etc.11
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Os neorrealistas defendem uma nova relação entre a polícia e a sociedade, com a finalidade de
contribuir para uma luta comum contra o delito. Sugerem a adoção de uma linha reducionista na política
criminal, descriminalizando certos comportamentos e criminalizando outros: os crimes graves merecem uma
souza -- CPF:

resposta enfática e o cárcere deve limitar-se a situações extremas.


O neorrealismo de esquerda, portanto, não se aparta de seu ideal socialista; todavia, trata do
Marceli souza

fenômeno da criminalidade sem olvidar daquilo que se mostra na realidade.


Marceli

3.3.2. Direito Penal Mínimo

A teoria defende a necessidade de limitação na aplicação do Direito Penal, já que aplicação irracional
da pena, em sua vertente mais rigorosa representada pelo cárcere, pode gerar consequências mais drásticas
que o próprio crime.
Nessa linha intelectiva, defende a aplicação do Direito Penal de forma excepcionalíssima e racional,
propondo, ainda, a redução de sua incidência em determinadas temáticas (criminalidade de massa) e atuação
de forma mais incisiva na criminalidade dos oprimidos (cometida pelas classes dominantes em detrimento
da classe dominada).
Consoante ensinamentos do professor Luiz Flávio Gomes: “o Direito Penal Mínimo ou Minimalismo
Penal propugna por um Direito Penal no qual se tenha mínima intervenção, com máximas garantias”. É o
que defendem Ferrajoli, Hassemer, Zaffaroni, Cervini e, principalmente Alessandro Baratta.
A proposta do abolicionismo moderado, leia-se, do minimalismo, não consiste em acabar com o
Direito Penal, senão minimizar sua utilização para a resolução dos conflitos penais, não só reduzindo seu
âmbito de aplicação (seja impedindo o quanto possível novas "criminalizações", seja, sobretudo,

11 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, Teoria e Prática. 4ª edição, p. 81.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

propugnando por uma ampla descriminalização), senão também a intensidade ou o grau da resposta estatal,
especialmente quando se trata de pena de prisão (nisso consiste o denominado processo de despenalização).
Os princípios informadores do Direito Penal Mínimo são:

• Princípio da Insignificância: somente os bens jurídicos mais relevantes é que devem ser tutelados
pelo Direito Penal.
• Princípio da Intervenção Mínima: o Estado, por meio do Direito Penal, não deve interferir em
demasia na vida do indivíduo, de forma a tirar-lhe a liberdade e autonomia; deve, sim, só fazê-lo
quando efetivamente necessário.
• Princípio da Fragmentariedade: pode ser entendido em dois sentidos: a) somente os bens
jurídicos mais relevantes merecem tutela penal; b) exclusivamente os ataques mais intoleráveis
devem ser punidos com sanção penal.
• Princípio da Adequação Social: preconiza a ideia de que, apesar de uma conduta se subsumir ao
tipo penal, é possível deixar de considerá-la típica quando socialmente adequada, isto é, quando
estiver de acordo com a ordem social.
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Em sua obra Direito Penal, v. 1, Introdução e Princípios Fundamentais, o professor Luiz Flávio Gomes
menciona ainda outros princípios como os da Ofensividade e da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos.

• Princípio da Ofensividade: somente podem ser erigidas à categoria de crime condutas que
efetivamente obstruam o satisfatório conviver em sociedade, e se foi de tal proporção que
justifique a intervenção penal,
• Princípio da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos: o Direito Penal deve se restringir à tutela de
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bens jurídicos, não estando legitimado a atuar quando se trata da tutela da moral, de funções
estatais, de ideologia, de dada concepção religiosa etc.12

3.3.3. Pensamento abolicionista/abolicionismo penal


souza -- CPF:

Trata-se da vertente mais crítica, pois defende a ideia de abolir o cárcere e a aplicação do Direito
Marceli souza

Penal, ao argumento de que o sistema penal só tem servido para legitimar e reproduzir as desigualdades e
Marceli

injustiças sociais, produzindo a marginalização. Propugna, ainda, que os danos causados pela intervenção
do Direito Penal são mais drásticos à sociedade do que o próprio mal que pretende solucionar.
No escólio de Zaffaroni:

O abolicionismo nega a legitimidade do sistema penal tal como atua na realidade social
contemporânea e, como princípio geral, nega legitimação de qualquer outro sistema penal
que se possa imaginar no futuro como alternativa a modelos formais e abstratos de
solução de conflitos, postulando a abolição radical dos sistemas penais e a resolução
dos conflitos por instâncias ou mecanismos informais.13

Consoante ensinamentos de Shecaira14, com redação adaptada: para os abolicionistas, nós já vivemos
numa sociedade sem Direito Penal. O sistema é anômico, já que as normas penais criadas não cumprem as
funções esperadas, bem como as pretensas finalidades do cárcere também não se verificam na prática.
Ademais, o sistema penal como um todo reveste-se de inquestionável seletividade e estigmatização,
devendo, pois, ser abolido.

12 Rede de ensino LFG: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/976055/principios-informadores-do-direito- penal-minimo


13 ZAFFARONI, Eugênio Raul. Em busca das penas perdidas, p. 89.
14 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. P.302/305.

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

1. SISTEMA PENAL E REPRODUÇÃO DA REALIDADE SOCIAL

Alessandro Baratta, em sua obra Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal, enfatiza que o sistema
escolar e o sistema penal reproduzem e reafirmam a seleção e a marginalidade social. Nesse contexto,
destacamos as principais frases e conclusões extraídas desta temática em sua obra:

1.1. O sistema escolar como primeiro segmento do aparato de seleção e de


marginalização na sociedade

O sistema escolar e o sistema penal reproduzem e asseguram as relações sociais existentes, baseadas
na polarização “ricos e pobres”.
Para Baratta, o sistema escolar, no conjunto que vai desde a instrução elementar à formação
superior, reflete a estrutura vertical da sociedade e contribui para criá-la e para conservá-la por meio de
mecanismos de seleção, discriminação e marginalização. O novo sistema global de controle social exerce,
portanto, função de seleção e marginalização, sendo significativa para o prosseguimento do processo de
criminalização.
Uma das razões do insucesso escolar consiste na dificuldade de crianças provenientes de classes
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proletárias de se adaptarem a um mundo estranho a eles e, por conseguinte, a escola reagiria com exclusão.

1.2. Função ideológica do princípio meritocrático na escola

As crianças integrantes de classe sociais desfavorecidas acabam sendo excluídase marginalizadas no


ambiente escolar e, não raro, são estereotipadas pelos próprios educadores, que acabam por reproduzir e
conferir um tratamento preconceituoso.
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Isto posto, Baratta critica os testes de coeficiente de inteligência (QI) e a ideia de “mérito escolar”.
Nesta linha, algumas pesquisas revelaram a correlação do rendimento escolar com a percepção
que o aluno tem acerca do juízo e das expectativas do educador em relação a ele, no sentido de que,
souza -- CPF:

percebendo que o mestre nada espera em relação a esse aluno, tem-se como resultado o absoluto déficit de
aprendizagem.
Marceli souza

A escola age, portanto, de forma discriminatória, ampliando os efeitos estigmatizantes.


Marceli

1.3. Funções seletivas e classistas da justiça penal

O sistema escolar e o sistema penal criam contraestímulos à integração dos setores mais baixos e
marginalizados.
Nesse contexto, o direito penal abstrato – criminalização primária – ocorre mediante a formulação
técnica dos tipos penais e a espécie de conexão entre agravantes e atenuantes favorece a punição dos mais
pobres. A seu turno, os processos de criminalização secundária acentuam o caráter seletivo do direito penal
abstrato (vide capítulo 8).
Na definição de Zaffaroni, criminalização primária “é o ato e o efeito de sancionar uma lei penal
material que incrimina ou permite a punição de certas pessoas” e a criminalização secundária “é a ação
punitiva exercida sobre pessoas concretas, que acontece quando as agências policiais detectam uma pessoa
que supõe-se tenha praticado certo ato criminalizado primariamente”.
Nos dizeres de Alessandro Baratta: “a distância linguística que separa julgadorese julgados, a menor
possibilidade de desenvolver um papel ativo no processo e de servir-se do trabalho de advogados
prestigiosos, desfavorecem os indivíduos socialmente mais débeis”.

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

1.4. A incidência dos estereótipos, dos preconceitos e das teorias de senso


comum na aplicação jurisprudencial da lei penal

Para Baratta, pode-se afirmar que existe uma tendência por parte dos juízes no sentido de esperar
um comportamento conforme a lei dos indivíduos pertencentes aosestratos médios e superiores. O inverso
ocorreria com os indivíduos dos estratos inferiores. Nesta linha intelectiva, os indivíduos pertencentes às
classes inferiores têm em seu desfavor a primazia na aplicação de penas privativas de liberdade, ao passo
que, aos indivíduos integrantes da camada favorecida da sociedade, aplicam-se sanções substitutivas e
pecuniárias.

1.5. Estigmatização penal e transformação da identidade social da população


criminosa

A nova sociologia criminal inspirada no labelling approach nos ensina que a criminalidade é uma
realidade social e que ação das instâncias oficiais é elemento constitutivo do fenômeno criminoso. Haveria,
portanto, uma construção social da população delinquente.
O mecanismo de marginalização é integrado e reforçado por processos de reação, por conseguinte.
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1.6. Nexo funcional entre sistema discriminatório escolar e sistema


discriminatório penal

A intervenção das instâncias de controle social é significativa para o prosseguimento do processo de


criminalização, segundo Baratta, posto que quando o Estado age para ressocializar o individuo, apenas
reafirma a polarização das camadas sociais, inspirado na teoria do labelling approach, a qual tem como
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fundamento os processos de criminalização.


Segundo Baratta: “temos uma ulterior série de mecanismos institucionais, os quais, inseridos entre
os dois sistemas (escolar e penal), asseguram a sua continuidade e transmitem, através de filtros
sucessivos, uma certa zona da população de um para outro sistema” (grifo nosso).
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Marceli souza

2. CÁRCERE E MARGINALIDADE SOCIAL


Marceli

Alessandro Baratta, em sua obra Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal, aborda a política
carcerária e sua relação com a marginalidade. Destacamos, a seguir, as principais nuances acerca da
temática:

2.1. Características constantes do “modelo” carcerário nas sociedades


capitalistas contemporâneas

Os institutos de detenção produzem efeitos contrários à reeducação e à reinserção do condenado e,


ainda, constituem efeitos favoráveis a sua inserção na população criminosa.
Uma longa pena carcerária não é capaz de transformar um delinquente antissocial violento em um
indivíduo adaptável.
Baratta afirma que as “cerimônias degradantes” impostas aos indivíduos encarcerados geram uma
verdadeira “socialização ao cárcere” e aculturação do preso. Sob esta perspectiva, surge o termo
“prisionalização”, que é a forma como a cultura carcerária é absorvida pelos internos, no sentido de
representar a “educação para o cárcere” e não para o retorno à sociedade. A prisionalização produz,
então, efeitos negativos à suposta ideia de ressocialização, sendo certo que todo o indivíduo que ingressa
em uma prisão sofrerá com seus efeitos, em maior ou menor escala.

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

2.2. Relação entre preso e sociedade

Para Alessandro Baratta, trata-se de uma relação entre quem exclui (sociedade) e quem é excluído
(preso). O erro central da nossa sociedade seria não encarar o crime como uma questão social, portanto, um
problema de todos.
Antes de mudar os excluídos, é preciso mudar a sociedade excludente. Por isso, o cárcere reflete a
sociedade capitalista: relações baseadas no egoísmo e na violência ilegal, onde indivíduos mais débeis são
constrangidos a papeis de exploração e submissão.

2.3. As leis de reforma penitenciária italiana e alemã e a perspectiva de


Rusche e Kirchheimer – as relações entre mercado de trabalho, sistema
punitivo e cárcere

A marginalização criminal revela um caráter impuro da acumulação capitalista, que implica


necessariamente os mecanismos econômicos e políticos do parasitismo e da renda. É impossível enfrentar o
problema da marginalização social sem incidir na estrutura da sociedade capitalista, que tem necessidade de
desempregados e da própria marginalização criminal.
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3. MODELO CONSENSUAL DE JUSTIÇA CRIMINAL

Trata-se de um modelo de justiça restaurador, integrador ou justiça restaurativa que tem como
preocupação central a figura da vítima.
O tema é extraído da obra de Luiz Flávio Gomes e Antonio García-Pablos de Molina, abordando o
modelo consensual de Justiça Criminal e as inovações trazidas pela Lei n.º 9.099/1995, extraindo a
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necessidade de separar a grande criminalidade da pequena e média criminalidade, com respostas


quantitativa e qualitativamente diferentes. Nessa linha, não faria sentido conferir igual tratamento e
reprimenda aos pequenos/médios criminosos em comparação aos grandes criminosos
À pequena criminalidade reservam-se espaços de consenso e diálogo. De outro giro, à grande
souza -- CPF:

criminalidade, um espaço de conflito.


Marceli souza

Ao traçar esse modelo consensual de justiça criminal temos uma nova filosofia político-criminal, com
maior relevância ao papel vítima no conflito, trazendo uma perspectiva voltada à reparação dos danos
Marceli

e aplicação do direito penal como ultima ratio.


A Lei n.º 9.099/1995, que instituiu a figura dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no Brasil,
representou uma quebra do modelo político-criminal palorepressivo – que se constitui num modelo
repressivo mais severo. A exemplo, a Lei de Crimes Hediondos que traz o recrudescimento do tratamento
penal. Ainda, representa o rompimento com a crença do full enforcement – modelo de repressão total.
Ademais, a Lei n.º 9.099/1995 contempla a autonomia da vontade das partes, a desnecessidade da
pena de prisão e presença dos institutos despenalizadores, a saber: representação, acordo civil, transação
penal, suspensão condicional do processo.

Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério


Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados
por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos
danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de
liberdade.

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada
pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no
juízo civil competente.
[...]

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública


incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser
especificada na proposta.
[...]
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o
Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em
reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício
no prazo de cinco anos.

Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial,


dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais
leves e lesões culposas.

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um
ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o
acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro
crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da
pena (art. 77 do Código Penal)
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[...]

Portanto, temos a adoção de um sistema que privilegiou a vítima, assim como a ressocialização do
infrator, por outras vias, distintas da prisão.
Em suma, temos a vítima como figura central com a ideia de reparação de danos; a primazia de penas
alternativas à prisão para a pequena e média criminalidade; a aplicação do Direito Penal como ultima ratio e
a aplicação de penas privativas de liberdade em caráter excepcionalíssimo.
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4. CRIMINOLOGIA FEMINISTA

O feminismo é um movimento social voltado à conquista de direitos civis protagonizado por


mulheres. Desde a sua origem, reivindica a igualdade de direitos entre homens e mulheres nos mais variados
souza -- CPF:

segmentos sociais (campo político, jurídico, social). Frise-se que sua atuação não é sexista, ou seja, não busca
impor algumtipo de superioridade feminina, mas sim a igualdade entre os sexos.
Marceli souza

Nos ensinamentos de Eduardo Fontes e Henrique Hoffman15:


Marceli

O feminismo pode ser compreendido como uma visão de mundo e também um


fenômeno como movimento social. Abarca conjecturas e crenças sobre as origense
consequências da organização social pautada no gênero, bem como fomenta ações e
traça estratégias para a mudança social. Desse modo, pode-se dizer que o feminismo é, ao
mesmo tempo, empírico e analítico. Inicialmente, tinha por foco unicamente a
condição das mulheres. Contudo, com o seu amadurecimento, o feminismo tornou-se
mais inclusivo, e passou a levar em consideração outros aspectos da cultura dos
relacionamentos humanos.

Tem como propósito desconstruir um ideal de masculinidade culturalmente imposto em nossa


sociedade, pugnando por ideais de igualdade entre homens e mulheres e conferindo maior projeção e
proteção à figura feminina.
Trata-se de um passo para a denominada Criminologia Queer, já que enfatiza as diferenças de
tratamento aos gêneros, impostos por uma sociedade machista.

15 FONTES, Eduardo & HOFFMANN Henrique. Criminologia. 1ª. Edição. Editora JusPodivm, 2018. p. 273.

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5. CRIMINOLOGIA QUEER

Queer significa “algo estranho, excêntrico, esquisito ou original” e a origem desta expressão está
umbilicalmente atrelada à homofobia.
É uma palavra inglesa usada para designar pessoas que, seja em razão do sexo biológico, da
orientação sexual, da identidade ou expressão de gênero, não correspondem a um padrão cis-
heteronormativo, um jeito único que, para a cis-heteronormatividade, inclui: 1 – ser heterossexual, ou seja,
sentir atração afetiva ou sexual somente pelo sexo/gênero diferente do seu; 2 – ser uma pessoa “cis”, ou
seja, estar em total acordo com o gênero atribuído no nascimento.
Pode ser entendida como aquilo que é “excêntrico”, “insólito”. Aquilo que é diferente e socialmente
anormal. E, em se tratando de algo que remonta à diversidade, a expressão também alerta para a
necessidade de proteção às minorias.
A Teoria Queer, de origem na década de 80, nos EUA, sustenta que o gênero não é uma verdade
biológica, e sim um sistema de captura social pautado na subjetividade, ou seja, gênero é diferente de
identidade.
Conforme ensinamentos do professor Christiano Gonzaga16:
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A atual sociedade é, por natureza, heterossexista e pautada na hegemonia do


comportamento tido como o tradicionalmente correto, restando totalmente
discriminado aquele que pensa de forma desviante do comum e que não aceita os dogmas
impostos pela maioria. Relacionar-se com uma pessoa do mesmo sexo é visto como
algo até mesmo doentio por certos segmentos sociais (Igreja etc.), o que enaltece ainda
mais a necessidade de se entender o atual estágio do queer e, por consequência, a
criminologia queer. O que se busca por meio da ideia queer é a oxigenação de novos
pensamentos em prol da desconstrução de vetustos dogmas do establishment,
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chamando a atenção da sociedade e daqueles que operam as leis (Poder Judiciário e


Poder Legislativo) para a existência de pessoas que pensam diferente e precisam de
proteção. Hoje, já existem vários movimentos que representam esse tipo de
pensamento, buscando-se implementar a proteção de direitos (dentro da expressão
“direitos humanos”) por meio dos legisladores (eleitos também por essas pessoas),
souza -- CPF:

julgadores e demais entidades civis. Podem ser citados os movimentos de gays, lésbicas,
bissexuais e transexuais. Tais movimentos devem ter voz ativa na sociedade moderna, não
Marceli souza

podendo mais a população fingir que eles não existem e são pessoas “estranhas”. Essa
é a expressão errada de queer que não se deve defender, mas sim a real ideia de que
Marceli

precisam de proteção, de voz e de implementação por meio das leis das suas formas
de pensar. [Grifo nosso]

Nesse sentido, a Teoria Queer promove análises acerca da heteronormatividade (cultura de


heterossexualidade como norma dominante) a qual promove privilégios, desigualdade e violência podendo
culminar no heterossexismo (opressão praticada por todo um grupo social ou instituição) com a ideia de
superioridade da heterossexualidade e uma possível subordinação da homossexualidade.
Um ponto em comum entre as duas teorias (feminista e queer) é a crítica àsujeição de gêneros ante
a heteronormatização, tanto em relação à opressão dasmulheres (misoginia), como em relação à opressão
em face da diversidade de gêneros.
Nessa linha intelectiva, os estudos da Teoria Queer objetivam desconstruir a hierarquia entre “hétero
e homo”, rompendo os conceitos fixos e superando essa lógica binária, além de desconstruir o falocentrismo,
que é a ideia de superioridade masculina.
Concluindo, a Criminologia Queer tem como objeto de estudo a violência homofóbica e, como
desafio, promover o rompimento do ideal de masculinidade heterossexual.

16 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição, 2018, p. 59.

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

6. A CRIMINOLOGIA NO ENFOQUE DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA

O fenômeno da criminalidade organizada é trabalhado por algumas escolas e teorias em criminologia.


No Brasil, quando falamos em Organização Criminosa, estamos a tratar de grupos estruturalmente
organizados voltados à prática de infrações penais conforme conceito trazido no Art. 1º da Lei n.º
12.850/2013.
A Lei n.º 12.850/2013 revogou integralmente a Lei n.º 9.034/95, dispondo sobre a definição de
organização criminosa, investigação criminal, meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e
procedimento criminal.

Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os
meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a
ser aplicado.
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer
natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores
a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
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Como visto, trata-se de grupo criminoso orquestrado e dotado de algumas características que o
diferenciam das demais associações criminosas previstas em nosso ordenamento penal (por exemplo: Art.
288 do Código Penal, Art. 35 da Lei n.º 11.343/2006).
Estamos falando de um grupo (mínimo de 04 pessoas) que possui uma estrutura de ações
coordenadas, no qual cada integrante tem suas funções delimitadas e divididas, como se fosse uma
verdadeira “empresa do crime”. Ademais, este grupo organizado pratica os delitos com a finalidade de obter
qualquer vantagem, de forma direta ou indireta.
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Apresenta-se como uma das modalidades criminosas mais complexas do ponto de vista investigativo
e probatório, justamente pelo fato de apresentar uma estrutura bem definida e organizada.
Sobre o tema, destacamos: “Em se tratando de criminalidade organizada, importante ressaltar a
classificação que existe entre dois grupos distintos, a depender da forma como praticam as suas condutas
souza -- CPF:

delituosas e da sua interação social”.17


Marceli souza

6.1. Criminalidade organizada do tipo mafiosa


Marceli

São grupos organizados estruturalmente ordenados, com divisão de tarefas entre seus membros que
agem com vistas à obtenção de lucro, empregando processos de intimidação, uso de violência e impondo a
lei do silêncio para alcançar os objetivos traçados.
No Brasil, podemos trazer como exemplos as facções criminosas Comando Vermelho (CV), Primeiro
Comando Capital (PCC), Terceiro Comando Puro (TCP), dentre outros. Ademais, podemos citar as milícias,
grupos paramilitares formados em sua maioria por ex-militares e militares da ativa, muitas vezes contando
com autoridades do alto escalão. Esses grupos exercem o domínio sobre determinada região, ao argumento
da prestação de serviços de ordenamento local e segurança, contudo, impondo à população local o
pagamento de determinadas taxas, o monopólio na prestação de serviços de internet, TV a cabo,
fornecimento de gás de cozinha, dentre outros. Mais recentemente, temos exemplos de grupos paramilitares
promovendo a invasão de terrenos não edificados, dividindo-os em lotes para venda e construção de
condomínios.

17 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª edição. Editora Saraiva, p. 47.

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6.2. Criminalidade organizada do tipo empresarial

Trata-se de grupo criminoso existente dentro de uma empresa, que atua com vistas à obtenção de
lucros ilícitos aos seus sócios. Para tanto, são cometidos uma variedade de crimes econômicos, tributários,
dentre outros. Uma de suas características é a manutenção do anonimato e não uso de violência.
Na realidade brasileira, podemos exemplificar este tipo de organização criminosacom as grandes
empresas de construção civil que, por meio de seus sócios, praticaram uma série de crimes em detrimentos
dos cofres públicos.

7. CRIMINOLOGIA CULTURAL

Na década de 90 surge a Criminologia Cultural, inicialmente nos Estados Unidos.


Seus principais expoentes foram Jeff Ferrel, Keith Hayward e Jock Young:

A ela, interessa um estado emocional que é denominado de "carregado", onde a real


experiência no cometimento de um crime tem pouca relação com as teorias da escolha
racional, mas adota a adrenalina, o prazer e o pânico envolvidos em verdadeiras
equações para a conduta delitiva. Raramente o crime é desinteressante, e sempre
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possui um grande significado.18

Perceba, portanto, que a Criminologia Cultural desenvolve-se no sentido de queo crime está ligado
às experiências culturais de uma sociedade.
Nesse contexto, deixa de analisar os tradicionais objetos de estudo da criminologia, para alcançar as
concepções culturais que orbitam o delito.
A criminologia cultural se atém à análise das qualidades emocionais e subjetividades que outrora
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eram deixadas de lado, até mesmo por conta da cientificidade que permeia os estudos criminológicos, com
o escopo de entender a convergência entre crime e cultura na vida contemporânea, enfatizando qualidades
emocionais e interpretativas da criminalidade e do desvio.
A compreensão de comportamento humano para a criminologia cultural é, portanto, reflexo das
souza -- CPF:

dinâmicas individuais do grupo, das tramas e dos traumas sociais e suas representações culturais.
A Criminologia Cultural, conforme ensinamentos de Eduardo Fontes e Henrique Hoffman: “Parte da
Marceli souza

premissa que a noção de cultura é fluida, e que a todo momento passa por transformações. Propõe que o
Marceli

crime e sua repressão são processos culturais, com significados e consequências inevitavelmente construídos
a partir de uma interpretação coletiva.” 19
Nessa linha, a mídia pode desempenhar um papel decisivo no desenvolvimento de comportamentos
criminosos, estimulando a ideia da sociedade de consumo, mediante a apresentação de determinados
padrões de sucesso que não podem ser alcançados por todos, o que pode instigar indivíduos a delinquir de
forma a alcançar esse padrão social elevado.
Ademais, os meios de comunicação veiculam sistematicamente notícias de fatos criminosos,
explorando seus personagens e transformando a matéria em produtos baratos, vendidos como forma de
entretenimento e definindo estereótipos.
A projeção cultural reflete no que se chama de cultura do punitivismo, sendo certo que a mídia exerce
um papel central para fortalecer esta cultura, noticiando a violência de forma exaustiva.
“Atualmente, a violência é vendida, assistida, reproduzida e gravada, sendo consumida como
entretenimento” (Strehlau, 2012).

18 FERRELL, Jeff. HAYWARD, Keith. YOUNG, Jock. Cultural Criminology: an invitation. 2008.
19 FONTES, Eduardo. HOFFMAN, Henrique. Criminologia. 1ª edição. Editora JusPodivm, p. 272.

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

8. TEORIA BEHAVIORISTA

O termo “behaviorista” deriva da palavra inglesa behavior, que significa comportamento. Desta
forma, centra seus estudos no comportamento dos seres vivos, contudo, valorizando os aspectos
observáveis, rejeitando as questões introspectivas, transcendentais e de aspecto subjetivo.
Ademais, trata-se de uma teoria psicológica que estuda o comportamento humano ou animal de
forma direta e com base na observação, tomando como base o ambiente onde vivem e sua forma de
condicionamento.
“O behaviorismo se preocupa com o estudo das interações entre o sujeito, o ambiente e suas ações,
isto é, o seu comportamento corresponde a uma resposta às causas que o levaram à prática do crime”.20
A doutrina apresenta a seguinte classificação:

8.1. Behaviorismo clássico

Sustenta que o comportamento constitui-se como uma resposta a algum estímulo.

8.2. Behaviorismo metodológico


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John Watson é considerado o principal expoente, desconsiderando os processos internos do


indivíduo e valorizando o processo de observação do comportamento, como forma de preveni-los e
controlá-los.

8.3. Behaviorismo radical


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Burrhus Frederic Skinner foi o principal expoente e trabalhava com a perspectiva de estímulos
ambientais, ou seja, sustentava que o meio ambiente no qual o homem está inserido é fator determinante
de seu comportamento. Ainda, considerava os aspectos observáveis do comportamento humano.
souza -- CPF:

9. TEORIA DO MIMETISMO
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O vocábulo “mimetismo” apresenta os seguintes significados, segundo o Dicionário Priberam21:


Marceli

semelhança que certos seres vivos tomam, ora com o meio em que habitam, ora com as espécies mais
protegidas, ora com as espécies à custa das quais vivem; adaptação a uma realidade ou ambiente social;
processo de imitação.
A teoria propugna a ideia de que o ser humano tende a reproduzir comportamentos criminosos por
meio de um processo de imitação.
Nessa linha, aponta que os indivíduos tendem a observar o comportamento de seus semelhantes,
agindo como eles e, muitas vezes, desejando o mesmo padrão de vida e status social dos indivíduos que o
cercam, cobiçando as conquistas alheias, fatores estes que podem gerar rivalidades, dando azo à violência.
Um de seus estudiosos, René Girard, afirma que “o desejo é imitativo ou mimético, e não inato: os
seres humanos copiam os desejos uns dos outros.”

20 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, Teoria e Prática. 5ª edição, p. 212.


21 https://dicionario.priberam.org/mimetismo

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

10. MOVIMENTO DE LEI E ORDEM

Trata-se de um movimento de política criminal e, assim sendo, trabalha com as estratégias de


combate à criminalidade. Como o próprio nome demonstra, um movimento voltado a elaboração e adoção
de medidas de enfrentamento ao crime em nome da lei e da ordem social.
Um dos estudiosos representantes do movimento foi Ralf Dahrendorf que considera o crime uma
espécie de doença contagiosa, devendo ser combatido de forma a não contaminar aqueles indivíduos que
não revelam propensão a práticas delitivas.
Em apertada síntese, os defensores do movimento reforçam a necessidade de repressão máxima,
recrudescimento do tratamento penal, expansão das leis penais incriminadoras e maior atuação dos órgãos
de segurança pública e persecução penal, com vistas a restaurar a ordem e reduzir os índices de
criminalidade.
Ainda, sustentam que, havendo tolerância à pequena criminalidade é que se chega às infrações
penais mais graves.

O movimento de Lei e Ordem – assim como o de Tolerância Zero – ficou conhecido


sobretudo por sua implementação nos Estados Unidos da América com o propósito de
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combater a crescente criminalidade, especialmente em grandes cidades. Trata - se de


movimento segundo o qual novos tipos penais devem ser criados e os tipos penais já
existentes devem ser aplicados com rigor para o efetivo restabelecimento da ordem.
Basicamente, parte-se do pressuposto de que a pena é sobretudo uma retribuição, que
crimes graves devem ser punidos com penas altas, privativas de liberdade, e que a
prisão provisória deve ser considerada como uma resposta imediata a práticas delitivas
de maior gravidade e que causam inquietude na população de bem.22

O movimento de lei e ordem deu azo à criação da nominada política de Tolerância Zero em Nova
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York, pelo então prefeito Rudolph Giuliani, que consistiu numa política de enfrentamento inflexível à
pequena criminalidade, com objetivo de promover o respeito às leis e reduzir os índices de criminalidade.

11. BULLYING
souza -- CPF:

A terminologia, de origem inglesa, é empregada para determinar comportamentos agressivos,


Marceli souza

vexatórios e humilhantes praticados por meninos e meninas no ambiente escolar. Uma das características
Marceli

deste tipo de agressão é seu caráter gratuito. Na maioria das vezes, as investidas ocorrem sem qualquer
motivação evidente, apenas com a intenção deliberada de inferiorizar a vítima, maltratando-a e colocando-
a numa situação de extremo desconforto.
Na língua portuguesa não existe definição ao termo bullying. Segundo a Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e a Adolescência (ABRAPIA) a definição de bullying estaria atrelada
ao seguinte conceito:

Todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem


motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor
e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos
repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características
essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima. (ABRAPIA apud NUNES,
HERMANN e AMORIM, 2009, p. 11932)

Nesta linha de intelecção, as vítimas, por sua vez, geralmente são pessoas mais passivas, que não
conseguem se impor perante os fatos.

22 https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/10/21/o-que-se-entende-em-criminologia- por-movimento-de-lei-e-
ordem/

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

O bullying escolar existe há muito tempo. Na década de 70, por conta de um significativo aumento
dos índices de violência nas escolas, profissionais da educação passaram a dispensar maior atenção ao
fenômeno.
O professor e pesquisador norueguês Dan Olweus foi o primeiro a relacionar a palavra bullying ao
fenômeno.
Em 1982, três crianças cometeram suicídio na Noruega. Tinham idade entre 10 e 14 anos e a
motivação para a tragédia foi justamente o fato de terem sido vítimas de constantes agressões no ambiente
escolar.
No Brasil, apenas em 2004 o tema se tornou mais evidente, devido ao grande número de casos que
vinham ocorrendo nas escolas.
Importante ressaltar que o bullying gera ou pode gerar consequências catastróficas na vida das
vítimas, chegando ao ápice do atentado contra a própria vida. Comumente associado às agressões físicas e
verbais praticadas no ambiente escolar, insta salientar que o fenômeno não se limita aos estabelecimentos
de ensino voltados a crianças e adolescentes. A verdade é que o bullying se encontra por toda parte,
podendo ocorrer em empresas, faculdades e outros locais onde haja relacionamento interpessoal.
Outrossim, não podemos confundir a prática do bullying com as brincadeiras corriqueiras entre
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crianças e adolescentes, como a atribuição de apelidos. O bullying se reveste de caráter mais agressivo,
muitas vezes persistente, impiedoso e revela certo desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.
Do ponto de vista dos estudos criminológicos, é importante perceber que a prática de bullying pode
estimular a delinquência e adoção de comportamentos desviantes por parte daqueles que sofreram os
ataques. Estas pessoas podem apresentar-se introspectivas, deprimidas, inseguras, revoltadas, com
sentimento de vingança, com déficit de autoestima e pouca capacidade de resistir às frustrações. Podem
apresentar também quadro de doenças psicossomáticas e transtornos psiquiátricos.
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Relembre o caso abaixo:

O MASSACRE DE REALENGO
Refere-se à chacina ocorrida em 7 de abril de 2011, por volta das 8h30min da manhã, na
Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no bairro de Realengo, no município do Rio de
souza -- CPF:

Janeiro. Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu a escola armado com dois
revólveres e começou a disparar contra os alunos presentes, sendo que matou doze deles,
Marceli souza

com idade entre 13 e 15 anos, e deixou mais de 22 feridos. O assassino foi interceptado por
policiais, mas cometeu suicídio antes de ser detido.
Marceli

A motivação do crime figura incerta, porém a nota de suicídio de Wellington e o testemunho


público de sua irmã adotiva e o de um colega próximo apontam que o atirador era
reservado, sofria bullying e pesquisava muito sobre assuntos ligados a atentados terroristas
e a grupos religiosos fundamentalistas.
[...]
Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, foi aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira
até a 8ª série (9.º ano atualmente) do ensino fundamental.
Wellington era filho adotivo de Dicéa Menezes de Oliveira, o caçula de cinco irmãos e foi
adotado ainda bebê. Sua mãe biológica sofria de problemas mentais e chegou a tentar se
matar. É descrito por familiares e conhecidos como um rapaz calado, tímido, introspectivo,
que não se metia em problemas nem desrespeitava regras. Sua mãe adotiva, que morreu
em 2010, era testemunha de Jeová; Wellington também chegou a frequentar a religião, mas
nunca havia se tornado adepto. Era uma pessoa calada, tímida e passava boa parte de seu
tempo navegando na internet.
Em entrevista concedida no dia 13 de abril, os familiares confirmaram que Wellington era
muito fechado e introspectivo, que só se relacionava com as pessoas pela internet, tinha
poucos amigos e não participava da vida familiar, passando quase todo o tempo diante do
computador.
[...]
Wellington se refere desta forma, em uma carta, ao bullying sofrido na escola: "Muitas
vezes aconteceu comigo de ser agredido por um grupo, e todos os que estavam por perto

74
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

debochavam, se divertiam com as humilhações que eu sofria, sem se importar com meus
sentimentos". E, conforme o depoimento de um ex-colega: "Certa vez no colégio pegaram
Wellington de cabeça para baixo, botaram dentro da privada e deram descarga. Algumas
pessoas instigavam as meninas: 'Vai lá, mexe com ele'. Ou até o incentivo delas mesmo:
'Vamos brincar com ele, vamos sacanear'. As meninas passavam a mão nele [...]. Esses
maus-tratos aconteceram em 2001. Naquele ano, em 11 de setembro, o maior ataque
terrorista de todos os tempos virou obsessão para Wellington".23

11.1. Marco legislativo no Brasil:

Em 2015 foi editada a Lei n.º 13.185/2015, que instituiu o programa de combate à intimidação
sistemática – bullying:
A lei atribuiu à palavra bullying o conceito de intimidação sistemática, além de elencar
comportamentos que a caracterizam (art. 2º). Ademais, traçou diretrizes de enfrentamento ao fenômeno
bullying e classificou os tipos de intimidação sistemáticaa depender da forma de cometimento (art. 3º).

11.1.1. Lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015


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Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying)


A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Fica instituído o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em
todo o território nacional.
§ 1º No contexto e para os fins desta Lei, considera-se intimidação sistemática (bullying)
todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem
motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com
o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação
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de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.


§ 2º O Programa instituído no caput poderá fundamentar as ações do Ministério da
Educação e das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, bem como de outros
órgãos, aos quais a matéria diz respeito.
souza -- CPF:

Art. 2º Caracteriza-se a intimidação sistemática (bullying) quando há violência física ou


psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda:
Marceli souza

I- ataques físicos;
Marceli

II- insultos pessoais;


III- comentários sistemáticos e apelidos pejorativos; IV - ameaças por quaisquer meios;
IV- grafites depreciativos;
V- expressões preconceituosas;
VI- isolamento social consciente e premeditado; VIII - pilhérias.
Parágrafo único. Há intimidação sistemática na rede mundial de computadores
( cyberbullying ), quando se usarem os instrumentos que lhe são próprios para
depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar
meios de constrangimento psicossocial.

Art. 3º A intimidação sistemática ( bullying ) pode ser classificada, conforme as ações


praticadas, como:
I - verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente;
II - moral: difamar, caluniar, disseminar rumores;
III - sexual: assediar, induzir e/ou abusar;IV - social: ignorar, isolar e excluir;
IV- psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular,
chantagear e infernizar;
V- físico: socar, chutar, bater;
VI- material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem;

23Massacre de Realengo. Wikipedia, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Realengo. Acesso 24


de novembro de 2021.

75
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

VII- virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar


fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar mei os de
constrangimento psicológico e social.

Art. 4º Constituem objetivos do Programa referido no caput do art. 1º :


I- prevenir e combater a prática da intimidação sistemática ( bullying ) em toda a
sociedade;
II- capacitar docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações dediscussão,
prevenção, orientação e solução do problema;
III- implementar e disseminar campanhas de educação, conscientização einformação;
IV- instituir práticas de conduta e orientação de pais, familiares e responsáveis diante
da identificação de vítimas e agressores;
V- dar assistência psicológica, social e jurídica às vítima s e aos agressores;
VI- integrar os meios de comunicação de massa com as escolas e a sociedade, como
forma de identificação e conscientização do problema e forma de preveni -lo e combatê-
lo;
VII- promover a cidadania, a capacidade empática e o respeito a terceiros, nos marcos
de uma cultura de paz e tolerância mútua;
VIII- evitar, tanto quanto possível, a punição dos agressores, privilegiando mecanismos
e instrumentos alternativos que promovam a efetiva responsabilização e a mudança de
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comportamento hosti l;
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IX- promover medidas de conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de


violência, com ênfase nas práticas recorrentes de intimidação sistemática( bullying ),
ou constrangimento físico e psicológico, cometidas por alunos, professores e outros
profissionais integrantes de escola e de comunidade escolar.

Art. 5º É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas


assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à
intimidação sistemática (bullying).
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Art. 6º Serão produzidos e publicados relatórios bimestrais das ocorrências de


intimidação sistemática ( ullying) nos Estados e Municípios para planejamento das
ações.
souza -- CPF:

Art. 7º Os entes federados poderão firmar convênios e estabelecer parcerias para a


implementação e a correta execução dos objetivos e diretrizes do Programa instituído
Marceli souza

por esta Lei.


Marceli

Art. 8º Esta Lei entra em vigor após decorridos 90 (noventa) dias da data de sua
publicação oficial.

11.2. Cyberbullyng

Destacamos alguns apontamentos sobre o tema, tendo em vista que vivemos numa sociedade
globalizada. Nesse viés, o surgimento de novas tecnologias traz, a reboque, novas formas de cometimento
de condutas ilícitas.
Assim, a prática de bullying passou a ocorrer de maneira muito frequente em ambientes virtuais,
por meio de sites, redes sociais, blogs, aplicativos, e-mails e etc. Isso se mostra como um grande desafio do
ponto de vista investigativo, considerando o dinamismo das operações virtuais.

12. ASSÉDIO MORAL

Consoante Dicionário online de Português:


“Assédio: insistência inconveniente, persistente e duradoura em relação a alguém, perseguindo,
abordando ou cercando essa pessoa.”

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

A seu turno, o assédio moral também conhecido por manipulação perversa ou


terrorismo psicológico, tema presente na criminologia e debatido por vários ramos do
direito, consiste no comportamento abusivo, reiterado e sistematizado, exteriorizado
por palavras, gestos, ações comissivas ou omissivas, que pode acarretar debilidade
física ou psíquica da vítima.24

Frise-se que essa prática abusiva pode ocorrer em vários tipos de ambiente, com destaque aos locais
de trabalho, nos quais há existência de relações baseadas na hierarquia, sem olvidar que a prática também
pode ocorrer entre os companheiros de labor.
No âmbito das relações trabalhistas, trata-se de um comportamento muitas vezes baseado em
intimidações implícitas, perseguições veladas, tratamento diferenciado conferido ao trabalhador sem que
haja justificativa plausível para tanto, reduções salariais imotivadas, transferência de setor com o intuito de
prejudicar o empregado, perseguições por colegas de trabalho, dentre outros. A coleta de elementos
probatórios é uma tarefa complexa, já que muitas destas ações são praticadas de forma dissimulada.
Tais conflitos podem levar o importunado a uma condição de impotência e incapacidade, podendo
gerar danos de ordem física e psicológica.

No âmbito das relações trabalhistas, tem-se o termo denominado mobbing, de origem


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alemã, que designa o comportamento de contínua e ostensiva perseguição perpetrada por


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empregadores, gerentes, administradores, superiores hierárquicos ou companheiros de


trabalho, que possa lesionar a integridade física, psíquica e moral da vítima.25

13. STALKING

Apresenta-se como uma das modalidades de assédio moral, porém com contornos mais graves, visto
que pode se caracterizar como ilícito penal.
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A terminologia stalking possui origem norte-americana e pode ser definida comouma espécie de
perseguição em caráter persistente a uma pessoa, quase uma obsessão. Esta espécie de perseguição pode
apresentar motivações das mais diversas. Trata-se de uma forma de importunação na qual o stalker
(perseguidor ou perseguidora) adentra na privacidade da vítima, efetivamente perseguindo-a das mais
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variadas formas - ligações telefônicas, envio de mensagens de texto ou por aplicativos, publicações na
internet (cyberstalking), monitoramento das redes sociais da vítima, acompanhamento e perseguição da
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vítima nos locais que costuma frequentar e passar. Ou seja, o agressor está sempre, de alguma forma, se
Marceli

fazendo “presente” na rotina da vítima, importunando-a como se estivesse a exercer controle sobre a sua
vida.
Por óbvio, isso pode gerar uma série de danos emocionais e psicológicos ao sujeito passivo de
tais ações, importando, muitas vezes, na necessidade de mudança de seu estilo de vida.
A Lei n.º 11.340/2006, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, trouxe a previsão, em seu art. 7º, das modalidades de violência que podem ser empregadas em
detrimento da mulher em situação de violência doméstica e familiar, quais sejam: violência física, psicológica,
sexual, patrimonial e moral.
Destacamos a violência psicológica trabalhada no referido diploma normativo, com a previsão de
determinadas ações que podem se configurar em stalking, senão vejamos:

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
[...]
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional
e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou
que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante

24 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 4ª edição, p. 195.


25 OLIVEIRA, Natacha Alves. Manual de Criminologia. Editora JusPodivm, 2018. Pg. 312.

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante,


perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo
à saúde psicológica e à autodeterminação. (grifo nosso)

14. A FIGURA DOS ASSASSINOS EM SÉRIE

Recebe essa denominação nos estudos criminológicos, aquela pessoa que pratica homicídios de
forma reiterada, dentro de um certo período de tempo entre um crime e outro, geralmente com coincidência
de modus operandi. Revela um perfil contumaz na prática de atentados contra a vida de vítimas, na maior
parte dos casos, “selecionadas” de acordo com um perfil de interesse.
Por vezes, o assassino também deixa sua “marca” no local do crime, ou seja, algo que faça presumir
que aqueles crimes foram cometidos pela mesma pessoa.
Como dito acima, este tipo de assassino seleciona suas vítimas de forma criteriosa, de acordo com
determinadas características físicas, comportamentais e sociais e, além disso, costuma infligir sofrimento às
vítimas, por vezes empregando meios cruéis para atingir o seu intento.
Geralmente, esses indivíduos podem apresentar predisposição a esse tipo de comportamento, em
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função de experiências traumáticas vivenciadas no período da infância ou adolescência.


No Brasil, podemos citar o caso do “maníaco do parque”, ocorrido em 1998, em São Paulo. Francisco
de Assis Pereira, também conhecido como “maníaco do parque”, é um assassino em série brasileiro.
Francisco estuprou e matou, pelo menos, seis mulheres e tentou assassinar outras nove em 1998. Seus crimes
ocorreram no Parque do Estado, situado na região sul da capital do estado de São Paulo. Nesse local, foram
encontrados os corpos de suas vítimas.
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15. PARAFILIAS

Parafilias são transtornos da sexualidade que se caracterizam pela busca contínua de formas de
prazer não habituais ou anormais, considerando os padrões de normalidade estabelecidos em uma
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sociedade.
Etimologicamente, o vocábulo apresenta o seguinte significado: “para” – paralelo; “filia” – de amor
Marceli souza

a; apego a.
Marceli

As parafilias podem se tornar uma compulsão, fazendo, inclusive, com que o indivíduo passe a
cometer atos criminosos em busca da satisfação de seus instintos.
A título de exemplificação, um indivíduo que sinta satisfação do seu apetite sexual com
cadáveres, com eles praticando atos libidinosos dos mais variados. Neste caso estamos diante de uma
parafilia denominada necrofilia.
Nossa legislação penal traz a previsão deste tipo de comportamento como crime de vilipêndio a
cadáver:

Vilipêndio a cadáver
Art. 212 Vilipendiar cadáver ou suas cinzas: Pena - detenção, de um a três anos, e
multa.

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GABRIELA ANDRADE FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE • 7

FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA


7
CRIMINALIDADE
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GABRIELA ANDRADE FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE • 7

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Tema de especial relevo e que não pode deixar de ser examinado nos estudos e abordagens
criminológicas são os fatores sociais da criminalidade. Isto é, quais são os elementos existentes na realidade
social que podem influenciar diretamente na criminalidade.
Insta salientar que esta abordagem sociológica contribui para a análise da criminalidade em sua
origem, na gênese delitiva, razão pela qual é mister entendermos que fatores são esses e identificá-los em
nossa sociedade.
Em caráter meramente exemplificativo, listamos abaixo alguns desses fatores.

2. SISTEMA ECONÔMICO

A ordem econômica nacional assenta-se no modelo de produção capitalista, adotando como


paradigmas a livre iniciativa e reforçando a propriedade privada. Nesse contexto, as condições econômicas
díspares das classes sociais, bem como a desigualdade na distribuição de renda em nosso país, podem
impactar no aumento das taxas de criminalidade. Além disso, citamos a questão da política salarial brasileira
e o baixo poder aquisitivo da maioria da população. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
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(Pnud), considera uma série de índices, e não apenas a distribuição de renda, para chegar ao conceito de
desigualdade social.

Brasil tem 2ª maior concentração de renda do mundo, diz relatório da ONU


O 1% mais rico concentra 28,3% da renda total do país, conforme ranking sobre o
desenvolvimento humano. Brasil perde apenas para o Catar em desigualdade de renda,
onde 1% mais rico concentra 29% da renda.
A concentração da renda no Brasil continua sendo uma das mais altas do mundo, conforme
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o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) da Organização das Nações Unidas (ONU),


divulgado nesta segunda-feira (9). O Brasil está em segundo lugar em má distribuição de
renda entre sua população, atrás apenas do Catar, quando analisado o 1% mais rico.
No Brasil, o 1% mais rico concentra 28,3% da renda total do país (no Catar essa proporção
é de 29%). Ou seja, quase um terço da renda está nas mãos dos mais ricos. Já os 10% mais
souza -- CPF:

ricos no Brasil concentram 41,9% da renda total.


Em terceiro lugar está o Chile, com 23,7% de concentração da renda total nas mãos da
Marceli souza

parcela 1% mais rica da população (veja a tabela abaixo com os 20 primeiros colocados
nesse quesito). Entre outros vizinhos do Brasil, no “top 20” está também a Colômbia, com
Marceli

20,5%. Os Estados Unidos e a Rússia concentram 20,2% da renda total nas mãos do 1% mais
rico
O relatório considera todos os países para os quais a ONU tem dados disponíveis no período
de 2010 a 2017 e adota a informação mais recente para cada país. Organizado pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o documento considera uma
série de índices, e não apenas a distribuição de renda, para chegar ao conceito de
desigualdade social.

Comparação com os BRICS


O Brasil é o país com maior concentração de renda quando comparado com os países do
grupo de países em desenvolvimento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
A Índia aparece no ranking com 21,3% da renda total nas mãos do 1% mais rico. A Rússia
está com 20,2% e a África do Sul deixa 19,2% da sua renda total com o 1% mais rico.
Enquanto isso, a China é o país dos Brics com menor concentração, nesse sentido, com
13,9%

Brasil perde posição em ranking do IDH


O Brasil ficou na 79ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Medido anualmente, o IDH vai de 0 a 1 – quanto maior, mais desenvolvido o país – e tem
como base indicadores de saúde, educação e renda. Neste ano, o Brasil alcançou o IDH de
0,761, com uma pequena melhora de 0,001 em relação ao ano passado.

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GABRIELA ANDRADE FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE • 7

Na classificação da ONU, o Brasil segue no grupo dos que têm alto desenvolvimento
humano. A escala classifica os países analisados com IDH muito alto, alto, médio e baixo.
Apesar do leve aumento, o Brasil caiu uma posição no ranking mundial em relação à
publicação anterior, passando da 78ª para 79ª.26

3. DESEMPREGO

Por sua vez, o desemprego também pode se constituir numa forma de interferência, impactando no
aumento dos índices de criminalidade. Isso não significa dizer que estamos buscando justificar as condutas
criminosas que tenham como pano de fundo o desemprego de seus autores. Contudo, não há como fechar
os olhos a esse indicador, considerando que a escassez de oportunidades a determinadas classes sociais pode
levar os indivíduos ao caminho do crime, mormente diante de dificuldades e privações básicas que
porventura estejam enfrentando.

4. POBREZA

Este fator apresenta estreita relação com o desemprego, o crescimento populacional desenfreado
e a má distribuição de renda no país.
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Estudos de Adolphe Quetelet demonstraram haver proximidade entre a pobreza e o avanço da


criminalidade.
Consoante lições de Nestor Sampaio Santiago Filho27: “As causas da pobreza notadamente
conhecidas, tais como: má distribuição de renda, desordem social, grandes latifundiários improdutivos etc.,
funcionam como fermento dos sentimentos de exclusão, revolta social e consequente criminalidade.”

Evidentemente, não se trata de fator determinista ou condicionante extremo, caso


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contrário não existiriam os crimes do colarinho branco. Mas não se pode negar que em
certas categorias delitivas, a exemplo dos crimes contra o patrimônio, a imensa maioria dos
delinquentes é pobre e com formação deficiente. Nesse sentido, a má distribuição de
renda atua como fator potencializador da delinquência.28
souza -- CPF:

5. ESTADO DE MISERABILIDADE
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Falar em miséria nada mais é do que elevar a pobreza ao seu estado extremo. O estado de miséria
Marceli

impinge ao ser humano uma condição daquele que não possui condições básicas de dignidade, naquilo que
se refere ao mínimo existencial – conjunto básico de direitos fundamentais que assegura a cada pessoa uma
vida digna, com alimentação, saúde e educação.
Por esta razão, estas pessoas que vivem em estado de miséria podem se tornar propensos a práticas
delitivas, tendo em vista o cenário caótico em que vivem, com carências de todas as ordens.

6. FOME

A fome pode ser a causa determinante de muitos delitos e pode impulsionar os indivíduos a delinquir
em busca de sua sobrevivência.

26 G1. Brasil tem a 2ª maior concentração de renda do mundo, diz relatório da ONU, 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/12/09/brasil-tem-segunda-maior-concentracao-de-renda-do-mundo-diz-relatorio-da-
onu.ghtml. Acesso em 24 de novembro de 2021.
27 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia, p. 102.
28 FONTES, Eduardo & HOFFMANN Henrique. Criminologia. 1ª. Edição. Editora JusPodivm, 2018, p. 259.

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GABRIELA ANDRADE FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE • 7

7. MAL-VIVÊNCIA

A mal-vivência está relacionada a um modo de vida e, como o próprio nome sugere, um modo “ruim”
de levar a vida. Nesse contexto, enquadram-se os indivíduos que vivem à margem da sociedade, como por
exemplo mendigos, andarilhos etc.
Tais indivíduos vivem em ambientes hostis e, na maioria dos casos, alheios a quaisquer
referências sociais positivas e construtivas, distantes de suas famílias, sem uma ocupação que lhes dê o
sustento e submetidos a condições subumanas.
Em função disso, podem se direcionar ao mundo do crime, representando um perigo social. Portanto,
o modo de vida desses indivíduos pode conduzi-los à delinquência.

8. DÉFICIT DE EDUCAÇÃO

A educação constitui-se em importante ferramenta na construção da personalidade humana,


contribuindo positivamente na formação de juízo crítico, exercício da cidadania e observâncias às regras de
convívio social.
Em contrapartida, sua ausência ou deficiência podem conduzir o indivíduo a um estado de ignorância
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e redução das oportunidades de se estabelecer de forma digna na sociedade, o que pode torná-lo suscetível
à prática de condutas desviantes, quiçá, criminosas.

9. MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Os meios de comunicação em massa ganham destaque naquilo que concerne à banalização de


práticas imorais e, até mesmo, delitivas. Nesse sentido, ganha destaque a televisão, com exibição de cenas
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violentas, cenas de sexo explícito, dentre outras .

10. POLÍTICA
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O cenário político estabelecido em uma sociedade pode refletir diretamente no comportamento dos
Marceli souza

indivíduos que a integram. Assim, os impactos na criminalidade podem ser percebidos na medida em que os
cidadãos adotem esse ou aquele comportamento, de acordo com a influência exercida pelos agentes
Marceli

políticos, numa espécie de imitação pelo povo do comportamento de seus governantes.

11. CRESCIMENTO POPULACIONAL

O crescimento populacional desenfreado e divorciado de políticas públicas de segurança, saúde e


assistência social, também se apresenta como um dos fatores sociais da criminalidade haja vista que não se
pode ignorar que a elevação das taxas da criminalidade em determinadas regiões é proporcional ao aumento
de sua população.

12. PRECONCEITO

A estigmatização e criação de estereótipos acerca dos indivíduos em função de sua cor, raça, religião
ou outras características geram um sentimento de revolta e desarmonia do conjunto social, podendo levar
a práticas delitivas.

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GABRIELA ANDRADE FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE • 7

13. CORRUPÇÃO

Corrupção corresponde à ideia de decomposição de valores éticos e morais em nome de algum


benefício indevido. Trata-se de um comportamento desonesto ou ilegal relacionado à obtenção de
vantagens indevidas em proveito próprio.
Decerto que a corrupção existe há muitos anos, encontrando-se presente em nossa sociedade desde
as pequenas práticas cotidianas até os grandes esquemas perpetrados por agentes públicos, autoridades
públicas e particulares.
Atualmente, temos presenciado diversos escândalos envolvendo corrupção em nosso cenário
político, realidade que aflorou e cresceu em nosso país por conta dos privilégios conferidos à classe e uma
certeza quase que absoluta da impunidade.
Dentro desta temática, duas teorias foram delineadas:

13.1. Teoria da graxa

A citada teoria defende a ideia de que podem existir práticas de corrupção positivas, ou seja, a
“corrupção boa”. Nesse sentido, seria aquela corrupção que, de alguma maneira, traz benefícios à
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sociedade, seja promovendo o crescimento econômico, aumentando a oferta de empregos, oferecendo


programas de cunho assistencialista e etc.
Ilustrando, temos o caso do político que justifica suas condutas ilícitas com os resultados positivos
em prol da população.

13.2. Teoria da bola de neve


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Na vigência de um Estado Democrático de Direito é certo que as condutas devem estar pautadas na
ideia legalidade, moralidade e probidade, não havendo que se falar em quaisquer justificativas a práticas de
atos de corrupção.
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Nessa linha de raciocínio temos a teoria da bola de neve, no sentido de que corrupção será sempre
corrupção, não havendo justificativa plausível para o ato. Ademais, a nomenclatura “bola de neve” faz alusão
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a uma condição que avança progressivamente gerando consequências que se sobrepõem, assim como uma
bola deneve que tem seu tamanho aumentado na medida em que rola por uma montanha nevada, ou seja:
Marceli

um ato corrupto gera outro ato corrupto e assim sucessivamente.

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GABRIELA ANDRADE A CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • 8

CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO


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GABRIELA ANDRADE A CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • 8

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Falar em criminologia no contexto de um Estado Democrático de Direito nos remete ao estudo de


quatro temas de especial importância, sobretudo para fins de concurso público:

• Prevenção Criminal;
• Modelos de Reação ao Delito;
• Finalidades da Pena; e
• Processos de Criminalização.

Na vigência de um Estado Democrático de Direito, as ciências criminais têm como norte o viés
prevencionista. Por óbvio, o Brasil não descarta o viés punitivo, mas a ideia principal a se perseguir é a
orientação prevencionista.
Nesse sentido, as atuais políticas públicas em segurança pública devem priorizar a prevenção de
crimes de forma integrada por todos os entes da Federação:

Art. 144, CF/88. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


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todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do


patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.
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2. PREVENÇÃO CRIMINAL

Devido à importância do tema “Prevenção Criminal”, tratamos o assunto num capítulo à parte
(capítulo 9), para onde remetemos o leitor.
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3. MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME


Marceli

Na vigência de um Estado Democrático de Direito, é preciso proteger os valores predominantes na


sociedade, logo, é preciso pensar e trabalhar os mecanismos de reação a um delito.
Nesta senda, o Estado deve elaborar e adotar medidas de política criminal pertinentes, eficientes e
capazes de alcançar a composição dos conflitos existentes na sociedade, com vistas à pacificação social.
Sobre o tema, três modelos de reação ao delito ganham destaque: dissuasório, ressocializador e
restaurador.
No Brasil, podemos verificar a coexistência dos três modelos. Remetemos o leitor ao Capítulo 2, título
6.

4. FINALIDADES DA PENA

Em que pese não constituir o único instrumento de controle e combate à criminalidade, a pena é
peça fundamental à aplicação do direito, na medida em que a norma penal dissociada de uma sanção não
apresentaria qualquer utilidade prática.
Afinal, o que se busca ao penalizar um criminoso? Qual é a finalidade da imposição de uma pena? A
resposta dependerá da teoria legitimadora da pena adotada.
Para fins de concurso público, importa analisarmos as teorias Absolutas, Relativas e Unificadoras.

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GABRIELA ANDRADE A CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • 8

Consoante ensinamentos de Paulo Sumariva29:

A Penalogia é disciplina integrante da Criminologia que cuida do conhecimento geral


das penas, isto é, das sanções impostas aos infratores da lei. A pena é uma espécie de
retribuição, de privação de seus bens jurídicos, aplicada ao criminoso em decorrência
do delito cometido.

4.1. Teorias Absolutas ou Retributivas

Fruto da Escola Clássica e fortemente influenciada pelas filosofias de Kant e Hegel, as teorias
retributivas buscam retribuir o mal causado pelo delinquente com base em sua culpa moral.
A pena passa a se justificar como quia peccatum est (pune-se porque pecou).
Importante frisar que a retribuição deve se dar em caráter personalíssimo, a traduzir o reflexo
humanista da teoria retributiva. Senão vejamos:

Art. 5º, CF/1988. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
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XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de


reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas
aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido;
[...]
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
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d) de banimento;
e) cruéis.

As teorias absolutas são divididas em três vertentes:


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• Teoria da retribuição divina (Bekker e Stahl): O Estado pune o “pecado” cometido pelo
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criminoso, apresentando-se como um representante da divindade.


• Teoria da retribuição moral (Kant): traz a ideia de pena como imperativo moral de justiça
Marceli

punindo o criminoso que optou pelo mal, com uma pena igualmente maléfica. O valor de justiça
está consubstanciado na lei de Talião com a máxima do “olho por olho, dente por dente”.
• Teoria da retribuição jurídica (Hegel): considera o crime um verdadeiro atentado contra o
direito. Nesse sentido, a pena como punição seria a resposta violenta contra tal comportamento,
justificando-se como exigência da razão. Ademais, considerando que o criminoso escolhe
racionalmente praticar crimes, a possibilidade de receber a pena prevista em lei já integraria sua
esfera de conhecimento e escolha.

4.2. Teorias Relativas, Preventivas ou Utilitaristas

As teorias relativas/preventivas/utilitaristas abandonam a ideia de punição do delinquente,


assentando a finalidade puramente preventiva da pena, por questões de utilidade social. A prevenção pode
ser geral e especial sendo certo que ambas se subdividem em positivas e negativas.
A prevenção geral, como o nome deixa a sugerir, é voltada à coletividade, ou seja, tem um caráter
de generalidade, no sentido de intimidação coletiva. A seu turno, a prevenção especial deseja alcançar a

29 SUMARIVA, Paulo. Crimonologia, Teoria e Prática. 4ª edição, p. 164.

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GABRIELA ANDRADE A CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • 8

pessoa do delinquente e sua reeducação, buscando seu retorno ao convívio em sociedade.

4.2.1. Prevenção geral negativa e positiva

• Negativa: a traduzir a ideia de intimidação psicológica à coletividade. Ou seja, a pena aplicada


ao criminoso visa desestimular a coletividade a praticar crimes, buscando conscientizar os
indivíduos sobre as consequências advindas de uma prática criminosa. Em outras palavras,
estimular a coletividade a não delinquir.
• Positiva: tem por escopo assegurar a vigência da norma e reafirmar a credibilidade dos
indivíduos no Estado, incutindo nas pessoas a ideia de respeito e observância aos valores sociais.

4.2.2. Prevenção especial negativa e positiva

• Negativa: tem como finalidade evitar o fenômeno da reincidência por parte do criminoso, que
se concretiza com sua retirada do convívio social, recolhendo-o ao cárcere. É vista como uma
espécie de neutralização do delinquente que, submetido à privação de liberdade, ao menos em
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tese, não será capaz de reiterar nas práticas delitivas.


• Positiva: traduz-se no caráter ressocializador e reeducativo da pena, com vistas a preparar o
criminoso para seu retorno ao convívio social.

4.3. Teoria mista, eclética, unitária ou unificadora

As finalidades da pena seriam, a um só tempo, a retribuição ao condenado do mal por ele causado
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(ideia retributiva), bem como o desestímulo à prática de novos ilícitos penais (ideia prevencionista). Há, em
verdade, uma tríplice finalidade:

• Retribuição (das teorias absolutas);


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• Prevenção (das teorias relativas); e


• Ressocialização (também das teorias relativas).
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Trata-se da teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, senão vejamos:

4.3.1. Código Penal

Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à


personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente
para reprovação e prevenção do crime: [...] (grifo nosso)

5. PROCESSOS DE CRIMINALIZAÇÃO

São os processos pelos quais se realizam a seleção de condutas que serão rotuladas como crime pela
legislação penal, isto é, quais condutas serão criminalizadas pelas agências do sistema penal.
Em ato seguinte, cuida da aplicação concreta das sanções penais sobre os sujeitos responsáveis pela
prática das condutas que se amoldam às figuras penais tipificadas em nossa legislação.
Nesta linha intelectiva, temos que este processo se desenvolve em duas etapas, quais sejam:
criminalização primária e criminalização secundária.

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GABRIELA ANDRADE A CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • 8

Para melhor compreensão de um instituto, procure estabelecer um raciocínio com base em sua
nomenclatura. Por mais que pareça uma afirmação óbvia, muitos estudantes não se atentam a isso e acabam
por tentar decorá-los quando, na verdade, o nome do instituto já é, por si só, esclarecedor.
A Criminalização Primária é o processo responsável por estabelecer a forma primeira pela qual um
comportamento social será rotulado como crime, no plano abstrato, formal e objetivo, mediante a edição
das leis penais.
Manifesta-se no processo legislativo até a sanção presidencial, na definição de condutas que serão
rotuladas como crime.
Nesse sentido, são agentes de criminalização primária: Poder Legislativo (Congresso Nacional) e
Poder Executivo da União (Presidente da República).
De outro giro, a Criminalização Secundária, refere-se de forma ampla ao exercício do poder punitivo
do Estado, manifestando-se de forma concreta a partir do momento em que alguém pratica um crime.
Importante destacar que o sistema de justiça penal não se limita (ou não deveria se limitar) à mera aplicação
das leis mas também e, especialmente, à efetivação dos direitos e garantias fundamentais dos presos.
São agentes de criminalização secundária: Delegados de Polícia, Promotores de Justiça, Juízes,
Agentes dos Sistema Prisional etc.
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PREVENÇÃO CRIMINAL

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1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Pensar na ideia de prevenção dos delitos é fundamental em um Estado Democrático de Direito, em


busca da manutenção da ordem pública, da paz e estabilidade das relações sociais.
Ora, é preciso pensar e trabalhar soluções voltadas à evitação do cometimento do delito, buscando
entender suas mais variadas causas.
No escólio de Newton Fernandes e Valter Fernandes30: “É dogma da Medicina que a prevenção é
sempre melhor que a cura”.
Por óbvio, a prevenção ao crime se mostra muito mais interessante do que a ideia de repressão, que
entra em cena depois que a prática criminosa já ocorreu, com a violação de bens jurídicos importantes e
toda aflição social inerente.
Nesse sentido, é preciso enxergar o cometimento de uma infração penal de forma mais ampla do
que o mero enfoque individualista voltado à ação de um indivíduo em específico (o criminoso). Isto porque
este indivíduo está inserido num contexto social, recebendo influxos valorativos das mais variadas ordens e
circulando nos espaços de convívio público.
Para alcançar a almejada prevenção criminal, deve haver o implemento de medidas diretas e
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indiretas de prevenção, que serão estudadas oportunamente.


Esta noção moderna de prevenção surge de maneira tímida nos estudos da Escola Clássica, todavia,
sua origem remonta ao final do século XIX, com a Escola Positivista.

2. CONCEITO DE PREVENÇÃO CRIMINAL

O saber criminológico, no Estado Democrático de Direito, orienta-se pela conduta


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prevencionista, posto que seu objetivo máximo é evitar o delito e não a simples repressão e punição.
Consoante ensinamentos de Henrique Hoffman31:

Reparar o dano, ressocializar o delinquente e reprimir o crime são focos centrais do


conteúdo científico da criminologia no cenário atual. Nesse panorama, a prevenção do
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delito é um assunto recorrente em todas as esferas do poder público. Estudam-se os


fatores inibidores e estimulantes da criminalidade para a elaboração de programas
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prevencionistas. Fatores como desemprego, miséria, falta de assistência social,


desigualdade e corrupção estimulam o fenômeno criminal, enquanto trabalho, educação,
Marceli

saúde, democracia, igualdade e justiça social inibem o crime (grifo nosso).

Mas o que se entende por prevenção criminal? Consoante ensinamentos de José Cesar Naves de
Lima Júnior32:

A prevenção do delito consiste no conjunto de ações destinadas a evitar sua prática. Neste
ponto, conforme afirmado por Nestor Sampaio Penteado Filho, dois tipos de medidas
são adotados para alcançar esta finalidade, aprimeira atingindo indiretamente o delito e
a segunda, diretamente.

Sintetizando:

30 FERNANDES, Newton; FERNANDES, Valter. Criminologia integrada, p. 340.


31 FONTES, Eduardo & HOFFMANN Henrique. Criminologia. 1ª edição. Editora JusPodivm, p. 216.
32 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª edição. Editora JusPodivm, p. 103.

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GABRIELA ANDRADE PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

2.1. Medidas indiretas

São medidas que agem sobre o delito indiretamente, buscando entender suas causas. Devem ter
como foco tanto o indivíduo, quanto o meio em que ele vive. A análise do indivíduo deve se pautar em
aspectos de sua personalidade e temperamento. Ademais, o meio social onde está inserido, cultura, valores,
oportunidades, referências que dispõe e outros fatores sociais (vide Capítulo 7) devem ser considerados.
Dentro desta ideia prevencionista, é cediço que a adoção de políticas públicas e medidas de cunho
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social, assistencial, educacional e econômico podem contribuir de maneira relevante à redução dos índices
de criminalidade.

2.2. Medidas diretas

De outro giro, as medidas diretas de prevenção criminal atuam por meio das legislações ora vigentes
relacionadas à repressão e punição dos delitos de maior gravidade, no sentido de inibir e desestimular os
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indivíduos a delinquir por conta das punições previstas. Ademais, propugna a ideia de repressão às infrações
penais de toda a natureza; o policiamento ostensivo e seu papel de prevenção e manutenção da ordem
pública; o investimento na polícia judiciária com vistas a potencializar a repressão criminal etc.
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3. PRINCÍPIOS BÁSICOS
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Conforme ensinamentos do professor Paulo Sumariva33, são princípios básicos doviés prevencionista
Marceli

da Criminologia:

33 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 4ª edição, p. 156.

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4. CATEGORIAS DE PREVENÇÃO AO DELITO PARA ANTONIO GARCÍA-


PABLOS DE MOLINA

Molina estabelece a sistematização das diferentes acepções empregadas à terminologia “prevenção”


em três categorias, conforme segue:

a. Prevenção como dissuasão: capacidade para demover do potencial infrator aquele intento, isto
é, dissuadi-lo, por meio do efeito intimidatório da pena.
b. Prevenção como intervenção seletiva no cenário do crime: espécie de dissuasão indireta, por
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meio de estratégias que alterem o cenário do crime, com a modificação de seus elementos e
condições, como por exemplo, a alteração dos espaços físicos, desenhos arquitetônicos,
condições de luminosidade, maior frequência de patrulhamento policial em determinados
locais, postura das vítimas etc. Pretende-se, com isso, obstaculizar a ação do infrator no
processo de execução do plano criminal, mediante uma intervenção seletiva no "cenário" do
crime que "encarece" os custos para o infrator, gerando o efeito inibitório.
c. Prevenção como ideia de prevenção especial: traz a ideia de prevenção como objetivo último a
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ser perseguido por políticas de ressocialização e reeducação. Dessa forma, o destinatário desta
orientação não seria o infrator em potencial, mas sim o apenado.

A crítica que se coloca refere-se à tardia intervenção deste modelo, agindo exclusivamente depois
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que o delito já aconteceu, com objetivo de evitar a reincidência.


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5. MODELOS TEÓRICOS DE PREVENÇÃO AO DELITO


Marceli

5.1. Modelo clássico

A ideia central que remete a este modelo de prevenção ao delito é: a pena e seu caráter intimidatório.
Em outras palavras, baseia-se na (suposta) eficácia da pena abstratamente prevista para o delito,
como geradora de um efeito “ameaçador” ao indivíduo.
No escólio de Molina34, “pena e delito constituem elementos de uma equação linear. Muitas políticas
criminais atuais identificam-se com este modelo falido e simplificado que manipula o medo do delito e que
trata de esconder o fracasso da política preventiva, apelando assim às leis”. (Grifo nosso)

5.2. Modelo neoclássico

De outro giro, o modelo neoclássico se debruça, especialmente, sobre a percepção do infrator acerca
do efetivo funcionamento do ordenamento jurídico.

34 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia, p. 404.

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GABRIELA ANDRADE PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

Um ordenamento jurídico que, para além de bem estruturado, demonstre, na prática, funcionar de
forma efetiva no combate à criminalidade se revelaria na estratégia mais eficaz dentro da ideia
prevencionista.
Na medida em que um potencial infrator verifique o efetivo funcionamento e aparelhamento
qualitativo e quantitativo dos órgãos de persecução penal (Polícias, Ministério Público, Poder Judiciário,
Sistema Penitenciário), sentir-se-á desestimulado a delinquir.
Para o modelo neoclássico, portanto, a gravidade das penas abstratamente impostas não teria tanta
relevância sob a ótica prevencionista.

6. PREVENÇÃO DO DELITO NA ÓTICA DA CRIMINOLOGIA MODERNA

6.1. Prevenção primária

Trata-se de medida de prevenção que se caracteriza pela implementação de umagama de prestações


sociais e elaboração de políticas públicas assistenciais, de modo a gerar na sociedade uma conscientização
acerca de seu comportamento diante de um conflito e/ou controle de tendências a práticas delitivas.
Neste sentido, tais prestações sociais visam assegurar ao indivíduo qualidade de vida, mediante
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acesso e excelência na prestação dos serviços básicos como saúde, segurança, educação, cultura, dentre
outros.
Percebe-se, portanto, que a prevenção primária busca atacar as origens da criminalidade, no sentido
de neutralizá-la antes mesmo de sua ocorrência. Desta forma, se mostra a medida de prevenção mais eficaz.
A ideia central neste tipo de prevenção é que o cidadão não se sentirá estimulado a delinquir na medida em
que não lhe faltem seus direitos elementares.
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Ocorre que sua operacionalização esbarra em alguns óbices de índole prática, revelando-se morosa
e enfrentando inúmeros entraves burocráticos. Como se sabe, para que a Administração Pública promova a
construção de escolas, hospitais, execute programas assistenciais voltados ao esporte, cultura, lazer, dentre
outros, em regra, deve se sujeitar a procedimento licitatório, obedecer à legislação e demais normativas
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pertinentes, dentre outras exigências. Podemos concluir então, que estamos diante de uma modalidade de
prevenção de implementação a médio ou longo prazo.
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No escólio de Nestor Sampaio Penteado Filho, a prevenção primária:


Marceli

Ataca a raiz do conflito (educação, emprego, moradia, segurança etc.); aqui desponta a
inelutável necessidade do Estado, de forma célere, implantar os direitos sociais progressiva
e unilateralmente, atribuindo a fatores exógenos a etiologia delitiva; a prevenção primária
liga-se à garantia de educação, saúde, trabalho, segurança e qualidade de vida do povo,
instrumentos preventivos de médio e longo prazo35. (grifo nosso)

6.2. Prevenção secundária

A prevenção secundária pode ser entendida como um conjunto de ações políticas, policiais e
legislativas implementadas depois que o crime já se instalou naquela sociedade ou se encontra em vias de
ocorrer.
Temos, portanto, que a prevenção secundária revela a exteriorização do conflito criminal, voltando-
se a grupos sociais que apresentam maior probabilidade de figurarem como autores ou vítimas de crimes,
tratando-se, portanto, de uma medida de atuação coletiva, e não individual.
Estamos falando de grupos socialmente vulneráveis, aqueles a quem o Estado falhou na entrega de
direitos sociais básicos.

35 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual esquemático de criminologia, p. 85.

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GABRIELA ANDRADE PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

As medidas de prevenção secundária são instituídas a curto e médio prazo e consistem, basicamente,
na implementação de ações policiais, controle dos meios de comunicação, políticas de segurança pública
etc.
Por esta ótica, podemos afirmar que a prevenção secundária entra em cena, em razão de a prevenção
primária não ter cumprido o seu propósito.

Nesse tipo de prevenção, impera o fortalecimento da Polícia, uma vez que qualquer crime
que ocorra deve ser por ela combatido, devendo isso dar-se nos chamados focos de
criminalidade. Em virtude disso, é que se tem a criação de certas equipes especiais de
policiamento, como aquelas destinadas a fazer rotas nas periferias, em locais onde o crime
já surgiu e é ali demasiadamente praticado.36 (Grifo nosso)

Como vimos, a prevenção primária se revela como medida preventiva mais eficaz. Contudo,
indubitavelmente, as ações de prevenção secundária são as que mais se fazem presentes em nossa
sociedade, o que demonstra que sucumbimos à criminalidade, sobretudo, pela falha na implementação de
políticas públicas.

6.3. Prevenção terciária


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A prevenção terciária também exsurge após a ocorrência do delito, todavia, volta-se aos condenados,
revelando caráter punitivo e ressocializador, com o objetivo de evitar a reiteração delitiva.
Suas ações consistem na aplicação das sanções penais concretizadas na fase da execução penal, tais
como as penas privativas de liberdade; adoção de medidas alternativas à prisão como, por exemplo, a
prestação de serviços à comunidade; incentivos atinentes à execução penal, por exemplo, a remição do
tempo de pena pelo trabalho e pelo estudo.
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Ora, como é sabido, grande parte da população carcerária voltará ao convívio social. Com base nisso,
mostra-se relevante pensar em alternativas e programas de incentivo e ressocialização destes indivíduos, a
fim de se tornarem aptos a retornarem à sociedade.
Contudo, sob a ótica prevencionista, a modalidade também é alvo de críticas:
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De todas as modalidades de prevenção ao delito, a terciária é a que possui o mais acentuado


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caráter punitivo. Como ela só surge após o cometimento do cri me, agindo apenas na
condenação, é insuficiente e parcial, pois não neutraliza as causas do problema
Marceli

criminal.37

Em suma:

Após ter dado errado a implementação de políticas públicas, bem como não ter sido
possível combater os focos de criminalidade, agora a única saída que se tem é a atuação
em cima do criminoso. Com base nisso, o Estado busca melhores formas de impedir que
ele volte a delinquir, seja por meio de sua neutralização numa penitenciária, seja por
métodos mais eficazes de ressocialização, como a já aplicada remição pelo estudo.38

36 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª edição. Editora Saraiva, p. 122.


37 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 4º edição. Editora Impetus, p. 159.
38 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª edição. Editora Saraiva, p. 122.

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7. PREVENÇÃO SITUACIONAL
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A prevenção situacional baseia-se na ideia da evitação dos crimes por meio da implementação de
mecanismos que atuem na redução de oportunidades ao pretenso criminoso. Em outras palavras,
aumentam-se os riscos e reduzem-se as chances de êxito na empreitada delitiva, mediante alteração no
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cenário do crime, de forma a desestimular o indivíduo a delinquir. Nesse sentido, a colocação de


ofendículos nas residências e estabelecimentos comerciais, tais como concertinas e cercas elétricas; a
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potencialização da vigilância humana; instalação de circuito de monitoramento por câmeras e etc são
exemplos de prevenção situacional.
Marceli

7.1. Prevenção situacional do sentimento de culpa do infrator

Atua na consciência do infrator criando um sentimento de culpa e reprovação, por meio da


divulgação de campanhas educativas voltadas à necessária conscientização acerca de determinadas
condutas criminosas. A ideia é que o infrator passe a interiorizar os preceitos exteriorizados nas campanhas,
percebendo os efeitos negativos do comportamento criminoso e os prejuízos irreparáveis que podem advir
de sua conduta. Desta forma, a intenção seria incutir na sua consciência a necessidade de observâncias às
leis e regras de conduta no bojo do convívio em sociedade.
Como exemplo, as campanhas de trânsito voltadas à questão da embriaguez ao volante, muitas vezes
expondo os efeitos danosos causados às vítimas e impactando, ao menos em tese, a consciência coletiva e
individual.

7.2. Prevenção situacional da recompensa

Ao perceber que sua conduta delituosa pode não trazer as ‘recompensas’esperadas, o infrator pode
se sentir desestimulado ao crime.

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GABRIELA ANDRADE PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

Nesse sentido, estratégias são utilizadas com vistas a evidenciar que a prática delitiva não será
frutífera, com o escopo de evitar o cometimento de certos delitos.
Ilustrando, o estabelecimento comercial que conta com dispositivos de detecçãode cédulas falsas,
de modo a desestimular o golpista que ali pretendesse atuar.
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VITIMOLOGIA
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GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Trata-se da ciência que estuda o comportamento e personalidade das vítimas dos delitos, seus
pontos de vulnerabilidade, os processos de vitimização, os efeitos psicológicos causados por conta do trauma
resultante do crime, bem como sua eventual responsabilidade no fenômeno delitivo.
Existe divergência acerca do enquadramento da vitimologia como um ramo da criminologia ou como
ciência autônoma. Prevalece, em doutrina, haver uma integração entre ambas, não havendo que se falar na
vitimologia como ciência autônoma.
Na Escola Clássica, a análise do delito era o foco dos estudiosos. Já nos estudos da Escola Positivista,
ganhou destaque a análise do delinquente. A seu turno, no Labelling Approach, a reação social surge como
protagonista da análise. A figura da vítima, por sua vez, ganhou importância como objeto de estudo da
Criminologia nos estudos da Teoria Crítica.
Desta forma, podemos concluir que, na medida em que a ciência criminológica avançou, com a
criação de novas teorias e perspectivas, houve também uma ampliação de seus objetos de estudo.
Sua origem histórica remonta aos estudos de Benjamim Mendelsohn, considerado o pai da
vitimologia, tendo como marco a realização de uma conferência denominada “Um novo horizonte na ciência
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biopsicossocial: a vitimologia”, no final da década de 40.


Outro estudioso de relevo foi Hans Von Hentig, com a publicação da obra The criminal and
his Victim.
À época, Hentig já observava a figura da vítima sob uma outra perspectiva. Falar da vítima na seara
penal nos remete, quase que automaticamente, à ideia de uma posição de completa passividade, ou seja,
alguém que figura num dos polos do conflito criminal de forma apática. Contudo, Henting sustentava a
necessidade de analisar o papel da vítima de forma mais abrangente e dinâmica, considerando que seu
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comportamento, personalidade e hábitos podem, de alguma forma, contribuir para a ocorrência dos crimes.
Mendelsohn trouxe o seguinte conceito de vitimologia: “ciência que se ocupa da vítima e da
vitimização, cujo objeto é a existência de menos vítimas na sociedade, quando esta tiver real interesse nisso”.
Partindo das premissas fixadas por Hans Von Hentig, o estudo da vitimologia se mostra de grande
souza -- CPF:

relevância. Ora, se de alguma forma o comportamento da vítima pode colaborar para a ocorrência do delito,
é preciso analisar qual o nível dessa contribuição, ainda que involuntária; qual a relação estabelecida entre
Marceli souza

vítima e criminoso, dentre outros aspectos. Isto porque tais fatores podem impactar na adequação típica do
Marceli

fato criminoso, bem como na aplicação da pena. Senão vejamos o art. 59, do Código Penal:

Fixação da pena
Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente
para reprovação e prevenção do crime: [...]

Conforme o referido artigo, podemos notar que o legislador brasileiro previu expressamente o
“comportamento da vítima” como um dos aspectos a serem observados pelo magistrado quando da fixação
da pena.
Nesta linha de intelecção, de acordo com os ensinamentos de Rogério Sanches39: o comportamento
da vítima antes e durante a prática do crime é objeto de extensos estudos na área da criminologia e
tem efeitos importantes no momento emque se analisa o quão reprovável foi o autor da conduta delituosa.
Como são inumeráveis as situações em que a análise do comportamento da vítima pode ter lugarno caso
concreto, os tribunais têm decidido com frequência, como veremos, quais delas podem ser consideradas
relevantes na aplicação da pena.

39 SANCHES, Rogério.

98
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

Com a evolução do estudo da vitimologia, abandonou-se a ideia de isolamento do autor do delito. A


vítima, em muitas das oportunidades, colabora para o início e para o deslinde da ação criminosa em que
está inserida. A partir de tais constatações, surge o que se denomina precipitação da vítima. É um conceito
que parte do pressuposto de que muitas vezes a vítima está intimamente ligada à sua situação de vitimização.
Nas situações em que existe uma correlação de culpas entre o agente e a vítima, a vitimologia
trabalha com três hipóteses:

• A vítima é menos culpada do que o agente: são os casos nos quais a vítima, apesar de não ter
nenhum tipo de relação com o agente, atua de forma imprudente, negligente ou sem
conhecimento da situação e acaba sendo atingida por um delito. É o exemplo do turista que
ingressa, por falta de atenção, em um bairro de alta criminalidade e é assaltado. A vítima atuou
sem cautela e foi atingida pela conduta criminosa. É fato que não pretendia que o crime ocorresse,
mas certamente colaborou para isso, ainda que involuntariamente. Teve culpa, mas certamente
muito menor do que a atribuível ao agente.
• A vítima é tão culpada quanto o agressor: neste caso, vítima e agente concorrem de maneira
praticamente idêntica para a ocorrência do crime. Exemplo que pode ser dado é a disputa dos
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famosos rachas, em que ocorre a morte culposa de um dos participantes por acidente com veículo
(art. 308, § 2º, da Lei n.º 9.503/1997). Neste caso, ambos os agentes concorrem com culpa de
maneira bastante proporcional.
• A vítima é mais culpada que o agressor: os exemplos clássicos para os casos em que a vítima é
mais culpada do que o agressor são os de lesão corporal privilegiada ou de homicídio privilegiado.
Em ambos os casos, a legislação estabelece uma causa de diminuição de pena se o agente comete
o crime sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Há,
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também, uma atenuante para as situações em que o agente atua não dominado, mas influenciado
pela violenta emoção. Neste caso, é a vítima quem desencadeia o processo agressor, sendo
portanto mais culpada do que o agente. Note-se que a expressão mais culpada do que o agente
deve ser lida no sentido próprio que lhe confere a vitimologia, não sob a ótica da teoria do delito,
souza -- CPF:

em que jamais o agente terá responsabilidade menor do que a da vítima.


Marceli souza

As correlações de culpas entre o agente e a vítima que interessam para a aplicação da pena são
Marceli

aquelas em que a vítima é tão culpada quanto o agressor e em que é mais culpada do que ele.
Segundo dispõe o art. 59 do Código Penal, a pena-base (1ª fase) deve ser aplicada em consonância
com as circunstâncias judiciais, dentre elas o comportamento da vítima.
No Direito Penal não existe compensação de culpas (ao contrário do Direito Civil). Assim, a culpa
concorrente da vítima não elide, não compensa a culpa do agente, mas pode atenuá-la, a depender das
circunstâncias. Fazemos a ressalva a respeito das circunstâncias porque há situações em que, em razão das
condições pessoais da vítima, seu comportamento não atenua a responsabilidade do agente. O STJ decidiu,
por exemplo, que nos crimes sexuais contra menores de catorze anos a experiência sexual anterior e a
suposta homossexualidade não podem servir para justificar a diminuição da pena em razão do
comportamento da vítima.
De qualquer forma, o comportamento da vítima só pode servir para favorecer o autor da conduta
criminosa, não para prejudicá-lo. É o que vem decidindo o STJ em incontáveis julgados nos quais estabelece
que esta circunstância judicial tem efeito favorável ou neutro. Daí porque estabelecemos acima que, para a
aplicação da pena, a situação em que a vítima é menos culpada do que o agente não tem relevância. Nas
situações em que a vítima se mantém inerte ou mesmo atua de forma a não prejudicar a empreitada
criminosa, não é possível aumentar a pena-base com fundamento em seu comportamento:

99
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

[...] O comportamento da vítima é circunstância judicial ligada à vitimologia, que deve


ser necessariamente neutra ou favorável ao réu, sendo inviável sua utilização de forma
desfavorável ao réu. Na hipótese em que não houver interferência da vítima no
desdobramento causal, como ocorreu na hipótese em análise, deve ser, pois,
neutralizada. Precedentes [...] [HC 345.409/MG, DJe 09/05/2017].

[...] Por derradeiro, o comportamento do ofendido, que “em nada contribuiu para o
cometimento do crime” (e-STJ fl. 19), não pode igualmente ser valorado em desfavor
do paciente. Nos termos da orientação do Superior Tribunal de Justiça, a mencionada
circunstância judicial somente apresenta relevância jurídica para reduzir a reprimenda
do réu. Assim, se o ofendido contribuiu para a prática do crime, a pena-base deverá ser
diminuída; se, ao contrário, a vítima não facilitou, incitou ou induziu o sentenciado a
cometer a infração penal, trata-se de circunstância judicial neutra. Precedentes [...] [HC
275.953/GO, DJe 21/03/2017].

De fato, o único sentido possível a se extrair da circunstância relativa ao comportamento da vítima é


de que se trata de algo a ser considerado a favor do agente. O comportamento neutro de quem é vítima de
um delito já é esperado, e, por esta razão, não pode justificar uma pena maior.

2. CONCEITO DE VÍTIMA
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Entende-se por vítima a pessoa ou entidade coletiva que suporta os danos e prejuízos oriundos de
uma conduta delitiva, figurando no polo passivo do conflito criminal.
A Declaração dos Princípios Fundamentais de Justiça Relativos à Vítimas da Criminalidade e de Abuso
de poder, das Nações Unidas (ONU- 1985), define como vítimas

As pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido um prejuízo, nomeadamente


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um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma perda
material, ou um gravo atentado aos seus direitos fundamentais, como consequência de atos
ou omissões violadores das leis penais em vigor num Estado membro, incluindo as que
proíbem o abuso de poder.
souza -- CPF:

3. AS FASES DA VÍTIMA AO LONGO DA HISTÓRIA


Marceli souza

Ao longo da história, a importância do papel da vítima sofreu algumas alterações, dividindo-se em


Marceli

três fases:

3.1. Protagonismo: “a idade de ouro”

Corresponde ao Período da Vingança Privada (vítima protagonista/idade de ouro da vítima). Como o


próprio nome sugere, a vítima protagonizava o direito de punir, sendo ela a responsável direta pela reparação
dos danos que sofreu bem como pela punição do crime, de acordo com as leis de talião.
Conclui-se, portanto, que a resposta a uma conduta delituosa consistia predominantemente em
vingança e punição.

3.2. Neutralização

Corresponde ao Período da Vingança Pública.


O direito de punir passa a ser monopólio estatal. Nesse sentido, o Direito Penal ganha contornos
publicísticos, sendo certo que a vítima, outrora protagonista do direito de punir, acaba neutralizada. A
resposta ao crime, portanto, deve ter caráter impessoal e imparcial.

100
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

A punição traria a ideia de prevenção geral – pena como uma coação psicológica – uma forma de
“ameaça” aos cidadãos que se recusam a observar e obedecer às ordens jurídicas da sociedade, motivando
os indivíduos a não prática de novos delitos.

3.3. Redescobrimento/Revalorização

Corresponde ao Período Humanista.


O redescobrimento/revalorização da vítima foi um movimento que eclodiu após a segunda guerra
mundial.

Com efeito, a partir da década de 1950, diante do sofrimento imposto aos grupos
vulneráveis (judeus, ciganos, homossexuais etc.), pelo movimento nazifasci sta durante
a Segunda Guerra Mundial, verificou-se um redescobrimento do papel da vítima, sendo
sua importância retomada com uma visão mais humanitária por parte do Estado,
voltada à tutela de seus direitos e garantias, destacando-se acriação das Nações Unidas
e da Declaração Universal dos Direitos do Homem.40

4. PROCESSOS DE VITIMIZAÇÃO
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A vitimização pode ser definida como a ação ou efeito que torna uma pessoa vítima em algum
acontecimento fático. Nesse contexto, vale ressaltar que uma pessoa pode ser vítima de uma conduta
praticada por terceiros (ex: lesão corporal), de uma conduta praticada por si própria (ex: suicídio) ou, ainda,
de um acontecimento natural (ex: desastres naturais).
A palavra processo possui, como definição, uma sequência contínua de fatos ou operações que
apresentam certa unidade ou que se reproduzem com certa regularidade, andamento, desenvolvimento.
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Nesse cenário, o processo de vitimização pode ser conceituado como um conjunto sucessivo de etapas que
ocorrem em face de uma vítima, ou seja, no desenvolvimento da vitimização.
Imaginemos que João foi vítima do crime de estelionato, por exemplo, e comparece à Delegacia de
Polícia ou ao Batalhão de Polícia Militar mais próximo em busca de auxílio e orientação. Ao chegar à
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Delegacia/Batalhão, não recebe o atendimento esperado, não consegue as orientações que necessita e,
ainda, ouve de um servidor público que “deveria deixar de ser otário e mané”. Além disso, ao narrar a
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situação criminosa no qual fora vitimado à sua família, é hostilizado e alvo de zombarias, não encontrando
Marceli

o apoio que esperava.


O exemplo acima ilustra as fases do processo de vitimização, objeto de nosso estudo: vitimização
primária, vitimização secundária e vitimização terciária.
Por derradeiro, vale ressaltar que a expressão iter victimae, consoante ensinamentos de Edmundo
de Oliveira, significa o caminho que um indivíduo percorre até que se converta em vítima de uma prática
criminosa.

4.1. Vitimização primária

É aquela que decorre diretamente da prática delitiva. Na vitimização primária, o indivíduo suporta os
danos que advém diretamente do delito, sejam eles físicos, psicológicos, patrimoniais etc. No exemplo acima,
o dano patrimonial experimentado por João.

40 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. p.69

101
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

4.2. Vitimização secundária ou sobrevitimização

Decorre do tratamento conferido pelas instâncias formais de controle social (Polícias, Ministério
Público, Poder Judiciário) à vítima do delito.
Além do dano já experimentado na ocasião do delito, desta vez, a vítima sofre com o descaso, com a
morosidade no atendimento pelos órgãos públicos e, até mesmo, pelo não atendimento de suas demandas,
gerando efeitos negativos em relação à imagem institucional destes órgãos. Ou, ainda, o sofrimento causado
às vítimas no curso das investigações, muitas vezes morosas e cansativas, rememorando os fatos a todo o
momento, assim como no curso do processo penal.
No exemplo citado, ao procurar orientação na Polícia, João foi “vitimado” pela segunda vez, uma vez
que não teve o atendimento adequado e, além disso, ainda foi hostilizado.
Em 2016, houve importante inovação legislativa relativa à proteção e assistência às vítimas do tráfico
de pessoas, estabelecendo, para tanto, diretrizes a serem observadas no atendimento destes casos. A Lei
n.º 13.344/2016, que dispõe sobre prevenção e repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas e
sobre medidas de atenção às vítimas, estabeleceu em seu artigo 6º um rol de medidas de assistência e
proteção às vítimas diretas ou indiretas do tráfico de pessoas, inclusive, dispondo sobre a prevenção à
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revitimização, conforme destaque legislativo abaixo:

Art. 6º A proteção e o atendimento à vítima direta ou indireta do tráfico de pessoas


compreendem:
I - assistência jurídica, social, de trabalho e emprego e de saúde;
II - acolhimento e abrigo provisório;
III - atenção às suas necessidades específicas, especialmente em relação a questões de
gênero, orientação sexual, origem étnica ou social, procedência, nacionalidade, raça,
religião, faixa etária, situação migratória, atuação profissional, diversidade cultural,
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linguagem, laços sociais e familiares ou outro status ;


IV - preservação da intimidade e da identidade;
V - prevenção à revitimização no atendimento e nos procedimentos investigatórios e
judiciais;
VI - atendimento humanizado;
souza -- CPF:

VII - informação sobre procedimentos administrativos e judiciais.


§ 1º A atenção às vítimas dar-se-á com a interrupção da situação de exploração ou violência,
Marceli souza

a sua reinserção social, a garantia de facilitação do acesso à educação, à cultura, à formação


profissional e ao trabalho e, no caso de crianças e adolescentes, a busca de sua reinserção
Marceli

familiar e comunitária.
§ 2º No exterior, a assistência imediata a vítimas brasileiras estará a cargo da rede consular
brasileira e será prestada independentemente de sua situação migratória, ocupação ou
outro status.
§ 3º A assistência à saúde prevista no inciso I deste artigo deve compreender os aspectos
de recuperação física e psicológica da vítima.

4.3. Vitimização terciária

Aquela provocada pelo meio social (família, sociedade em geral), normalmente em decorrência da
estigmatização vinculada ao delito, assim como pela omissão estatal no implemento e efetivação de medidas
voltadas a minimizar as consequências danosas advindas do crime, como por exemplo redes de apoio
psicológico e de assistência social às vítimas de determinados crimes.
Verifica-se, portanto, a ocorrência da vitimização terciária quando há uma omissão por parte das
instâncias de controle social informal (família, escola), bem como pelas instâncias de controle social formal
(órgãos públicos).
No exemplo de João, ao narrar à sua família situação criminosa em que fora vitimado, não teve o
acolhimento que esperava, ao contrário, foi alvo de zombarias e chacotas.

102
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

Mostra-se muito comum nos crimes sexuais, quando a vítima, em várias ocasiões, é alvo de
preconceito e humilhação. Além de sofrer as consequências diretas do crime e suportar o descaso e/ou
morosidade das instâncias formais de controlesocial, nesta etapa, a vítima é hostilizada, segregada, excluída
por seus grupos sociais. A vitimização terciária apresenta íntima ligação com a ocorrência da cifra negra, já
que a vítima não tem qualquer estímulo em denunciar o crime.
Sumariva41 traz, ainda, os conceitos de vitimização indireta e a heterovitimização:

• Vitimização indireta: sofrimento causado às pessoas intimamente ligadas à vítima de um crime.


Aquela que, embora não tenha sido vitimizada diretamente pelo criminoso, sofre com o
sofrimento de seu ente querido.
• Heterovitimização: é a autorrecriminação da vítima pela ocorrência do delito através da busca
por motivos que, provavelmente, tornaram-na responsável pela infração penal. Ou seja, a vítima
impõe a si mesma a responsabilidade de ter criado um cenário propício à prática do delito. Ex.:
deixar a porta do veículo destravada (facilitando a ação do furtador).

5. CLASSIFICAÇÕES DAS VÍTIMAS


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Dentro do estudo da vitimologia, as vítimas são analisadas e classificadas conforme seu nível de
colaboração à empreitada delitiva, isto é, de que forma podem ter contribuído à prática do ato criminoso.
Apresentaremos a seguir, as classificações mais badaladas, trazidas por Benjamin Mendelsohn e Hans Von
Henting.

5.1. Por Benjamin Mendelshon


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Em seus estudos, Benjamin Mendelsohn, adotando critério de classificação das vítimas conforme seu
nível de colaboração ou participação no crime elencou algumas categorias de vítimas. Nesta linha de
raciocínio, a divisão clássica delineada pelo autor foi: vítima inocente, vítima provocadora e vítima agressora.
souza -- CPF:

• Vítima inocente: como o nome sugere, é aquela vítima que não obra com qualquer participação
ou colaboração à ocorrência do fato criminoso. É a vítima ideal, inconsciente.
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• Vítima provocadora: aquela vítima que, com sua conduta, induz ou provoca a prática do ato
Marceli

criminoso de forma voluntária ou involuntária. E esse comportamento da vítima será considerado


pelo magistrado quando da fixação da pena, consoante previsão contida no Art. 59 do Código
Penal.
•Vítima agressora/simuladora/imaginária/pseudovítima: nesse caso, estamos a tratar da
hipótese da pseudovítima, isto é, aquela pessoa que acha ser vítima de uma ação criminosa, fato
que acaba por justificar alegítima defesa daquele que a agride.
Com base nas categorias acima elencadas, os estudos de Mendelsohn deram origem às seguintes
classificações de vítimas:

41 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 4ª edição. p. 107.

103
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

Note que as categorias elencadas por Mendelsohn apresentam-se numa escala crescente: desde a
menor até a maior colaboração da vítima à ocorrência do evento criminoso, senão vejamos:

5.1.1. Vítima completamente inocente


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Aquela a quem não pode ser atribuída qualquer colaboração ou participação à ocorrência do crime.
O criminoso seria, então, o único culpado.

5.1.2. Vítima menos culpada que o criminoso

É aquela que, em alguma medida, acaba colaborando ou favorecendo à práticado ato criminoso,
contudo, por mera ignorância. Ex: pessoa que passa por locais ermos com histórico de ocorrência de crimes
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patrimoniais.

5.1.3. Vítima tão culpada quanto o criminoso


souza -- CPF:

Nesse caso, estamos diante da vítima provocadora, sendo certo que, sem a sua colaboração o crime
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não teria ocorrido. Temos como um dos exemplos o caso de homicídio privilegiado por relevante valor moral
(eutanásia), em que há uma “reciprocidade de culpas” entre o moribundo e/ou sua família e o profissional
Marceli

de saúde que ministra a injeção letal.

5.1.4. Vítima mais culpada que o criminoso

Caso em que a conduta da vítima contribuiu de forma mais significativa à realização do crime do que
a conduta do autor. Ex: homicídio privilegiado praticado sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida
a injusta provocação da vítima.

5.1.5. Vítima exclusivamente culpada

Nesta hipótese, a vítima é a única culpada pela ocorrência do “crime”. Ilustrando, uma pessoa que,
após ingesta de álcool ou uso de drogas, com seus reflexos comprometidos, tenta fazer a travessia de
uma rodovia movimentada, vindo a ser atropelada e morta.

5.2. Por Hans Von Henting

O estudioso adotou a classificação das vítimas em três grupos 55:

104
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

CRIMINOSO-

que volta a delinquir justamente em


razão da repulsa social que encontra na sociedade.

CRIMINOSO-
Casos de usuários de drogas que migram para o
tráfico.

CRIMINOSO-
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6. PRINCIPAIS SÍNDROMES VITIMOLÓGICAS

6.1. Síndrome x Doença

Em breves apontamentos, entende-se por síndrome um conjunto de sinais esintomas observáveis


em vários processos patológicos diferentes e sem causaespecífica. Ainda, é um conjunto de sintomas que
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definem um determinado estadoclínico associado a problemas de saúde, que nem sempre tem as causas
descobertas42. Ao passo que a doença apresenta causa(s) definida(s), a síndrome revela uma condição
quase sempre sem causas diagnosticadas.
Nesta linha, existem algumas síndromes verificadas dentro do estudo davitimologia, pelas quais
souza -- CPF:

são acometidas determinadas vítimas.


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6.2. Síndrome da mulher de Potifar


Marceli

A base desta síndrome reside na rejeição afetiva daquele com quem a mulherdesejava se
relacionar.
Trata-se da figura da mulher que, desprezada e rejeitada, imputa falsamente àquele que a
rejeitou afetivamente a prática de alguma conduta que se enquadrenuma das modalidades de crimes
sexuais.
Esta síndrome tem origem na história bíblica de José, filho de Jacó, que foi vendido como escravo ao
egípcio Potifar. José virou o homem de confiança de Potifar, que era oficial da guarda do palácio real. Ocorre
que a mulher de Potifar passou a assediar José querendo relacionar-se sexualmente com ele. Diante da
negativa de José,a mulher de Potifar inventou ao seu marido que foi abusada sexualmente por José.
Frise-se que é necessário um olhar cauteloso e sensível na análise dos delitos sexuais pelas
autoridades integrantes do sistema de justiça criminal, como forma de evitar a responsabilização de
inocentes, bem como a impunidade de culpados. Não se trata de uma tarefa fácil já que, em grande parte
dos casos, a clandestinidade é um elemento presente neste tipo de crime, subsistindo como meio de prova
a palavra da vítima em confronto à palavra do agressor.

42 https://www.globalcare.com.br/br/blog/quais -e-a-diferenca-entre-doenca-sindrome-e-transtorno.

105
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

Por óbvio, à palavra da vítima deve ser conferida especial relevância, mas sem que se descuide de
outros elementos de prova acostados, buscando o julgador comprovar a verossimilhança de suas alegações.
Nesta linha de intelecção, segue tese esposada pelo STJ, atinente aos crimes praticados no contexto
de violência doméstica e familiar:

Nos delitos praticados em ambiente doméstico e familiar, geralmente praticados à


clandestinidade, sem a presença de testemunhas, a palavra da vítima possui especial
relevância, notadamente quando corroborada por outros elementos probatórios
acostados aos autos.43

6.3. Síndrome da mulher de Potifar x Síndrome da Barbie

Diferentemente, a Síndrome da Barbie rotula a mulher como objeto de desejo e não como sujeito de
direitos, trazendo a ideia de objetificação.
Em alusão à famosa boneca Barbie, que apresentava às crianças, sobretudo às meninas, um padrão
relativo ao jeito de se vestir, de arrumar os cabelos, de se maquiar, de se portar. E esta apresentação acaba
por ser determinante, em alguns casos, dos comportamentos futuros dessas meninas, como se fossem
tolhidas de vontade própria e independência.
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A consequência pode ser a colocação da mulher num espaço de submissão e aceitação, tornando-as
potenciais vítimas de delitos, sobretudo sexuais.

6.4. Síndrome de Estocolmo

Recebeu esta nomenclatura em virtude de um assalto ocorrido em Estocolmo, noano de 1973. Na


ocasião, as vítimas ficaram em poder dos raptores por cinco dias e desenvolveram vínculos afetivos com
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eles.
Trata-se de um estado psicológico desenvolvido por vítimas de sequestro ou outros crimes que
importem a restrição da liberdade ambulatorial das vítimas, inicialmente como meio de defesa ou medo de
sofrerem algum tipo de violência, ou seja, por uma questão de sobrevivência, como forma de conquistar a
souza -- CPF:

simpatia e compaixão de seus algozes.


Marceli souza

6.5. Síndrome de Londres


Marceli

A denominação “Síndrome de Londres” surgiu após o evento ocorrido na Embaixada Iraniana, em


Londres, na década de 80, no qual terroristas árabes iranianos tomaram como reféns dezesseis diplomatas e
funcionários iranianos, três cidadãos britânicos e um libanês, durante seis dias.
No grupo de reféns, havia um funcionário iraniano chamado Abbas Lavasani, que discutia, com
frequência, com os terroristas dizendo que jamais se dedicaria ao Aiatolá, e que seu compromisso era com a
justiça da revolução islâmica. O clima entre Lavasani e os terroristas era o pior possível até que, em
determinado momento do sequestro, quando decidiram que um dos reféns deveria ser morto para que
acreditassem nas suas ameaças, os sequestradores escolheram Lavasani e o executaram44.
Representa, portanto, ideia oposta à síndrome de Estocolmo, na medida em que a vítima passa a
cultivar sentimentos negativos em relação aos seus raptores, gerando discussões e embates que podem
levar a sua morte.

43 AgRg no AREsp 1236017/ES, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 05/04/2018, DJe 11/04/2018
44 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. p. 145.

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GABRIELA ANDRADE

CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS

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GABRIELA ANDRADE CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS • 11

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Inicialmente, vale ressaltar que existem várias classificações propostas por estudiosos em
criminologia, de modo a traçar determinadas características de perfis criminosos.
Avaliar e conhecer essas classificações mostra-se de fundamental relevância na análise de questões
criminológicas voltadas a estabelecer, por exemplo, as causas do crime, bem como estudar medidas de
prevenção, combate e reação ao fenômeno criminal.

Nesse sentido, é verdade que a classificação de criminosos oferece ampla utilidade


criminológica, sobretudo nos aspectos atinentes a um diagnóstico correto, como
também a um prognóstico delitivo, assumindo, portanto, papel preponderante na função
ressocializadora do direito penal.45

2. POR CESARE LOMBROSO

Como visto, Lombroso foi um dos expoentes da escola positiva. Para ele, o criminoso era um ser
atávico, pouco evoluído, que manifestava o caráter criminoso como algo natural de seu caráter evolutivo
primário. Inicialmente, propôs a teoria do criminoso nato, surgindo, posteriormente, outras classificações,
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a saber:
• Criminoso nato: é aquele indivíduo que “nasceu” criminoso, sendo essa condição a ele inerente
em razão de condições biológicas. Ademais, trata- se de um indivíduo estigmatizado e que possui
o criminoso forte instinto criminoso. Lombroso associava a figura dos delinquentes a
determinadas características físicas e traços de personalidade presentes nos indivíduos, com base
na fisionomia e cranioscopia.
• Criminoso louco: indivíduo portador de alguma alienação mental, podendo apresentar
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comportamento perverso.
• Criminoso de ocasião: este tipo de criminoso acaba por delinquir influenciado pelas
circunstâncias que o cercam. A título de exemplificação, o indivíduo que comete um furto em
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razão da facilidade encontrada à subtração do objeto, aliada à vontade de obter um acréscimo


patrimonial em seu favor.
Marceli souza

• Criminoso por paixão: este criminoso resolve seus problemas passionais de forma violenta e
Marceli

arbitrária, isto por conta de seu caráter impulsivo.

3. POR ENRICO FERRI

Também expoente da escola positiva, traçou as seguintes classificações:


• Criminoso nato: na mesma linha traçada por Lombroso, o criminoso nato é um indivíduo
estigmatizado, que apresenta instinto criminoso, dotado de degeneração moral.
• Criminoso louco: portador de alguma alienação mental, bem como os fronteiriços – aqueles que
se enquadram em zona fronteiriça entre a doença mental e a normalidade. Estes indivíduos
delinquem devido a distúrbios de personalidade, por exemplo, transtorno de personalidade
antissocial (psicopatia), transtornos sexuais etc. Em geral, são pessoas frias, sem valores éticos e
morais, que cometem crimes com extrema violência, a título gratuito.
• Criminoso ocasional: este tipo de criminoso acaba por delinquir influenciado pelas circunstâncias
que o cercam, praticando crimes de forma eventual. Nos ensinamentos de Enrico Ferri, “o delito
é que procura o indivíduo”.

45 FILHO, Nestor Sampaio Penteado. Manual Esquemático de Criminologia. 4ª edição. Editora Saraiva.

108
GABRIELA ANDRADE CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS • 11

• Criminoso habitual: é aquele que pratica crimes de forma reiterada, que faz do crime um hábito
e modo de viver.
• Criminoso passional: indivíduo impulsivo na resolução de suas tormentas.

4. POR RAFFAELE GARÓFALO

Outro representante da escola positiva, Garófalo apresentou classificação aseguir:


• Criminoso assassino: é o delinquente típico, egoísta, que segue o apetite instantâneo, ostenta
sinais exteriores e se aproxima dos selvagens.
• Criminoso enérgico ou violento: tem senso moral, mas é desprovido do sentimento de
compaixão.
• Ladrão ou neurastênico: não apresenta qualquer senso de moralidade.
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12
GABRIELA ANDRADE

ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS


ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS • 12

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GABRIELA ANDRADE ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS • 12

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES E TIPOS DE CRIMINALIDADE

A estatística criminal tem como escopo fornecer subsídios para o planejamento e execução de
políticas de segurança pública, em outras palavras, é utilizada para retratar a situação da segurança pública,
permitindo o planejamento de ações e investimentos no setor.
A análise de dados estatísticos voltados à segurança pública é um processo sistemático de produção
de conhecimento, que se realiza a partir da correlação entre os fatos criminosos ocorridos (conhecidos por
meio dos boletins ou registros de ocorrência policial) e os padrões/tendências da criminalidade num
determinado lugar.
Através dessa análise, as autoridades de segurança pública podem planejar suas ações, coordenando
e gerindo de forma eficiente os recursos destinados à área, com o propósito de controlar e neutralizar o
fenômeno da criminalidade e as manifestações de violência.
Nota-se, portanto, que os dados da estatística criminal se revelam de grande importância no aspecto
preventivo, posto que organizam e indicam os pontos de maiores índices de criminalidade, bem como as
espécies de crimes com maior incidência em determinado espaço geográfico, fornecendo subsídios às
autoridades para o planejamento de ações preventivas. Ademais, esses dados coletados também podem
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contribuir no aspecto investigativo, por exemplo, quando não há suspeitas em relação à autoria de um
determinado delito, mas sabe-se que o suspeito o pratica sempre no mesmo horário, em determinada rua e
com vítimas preferenciais (adolescentes em horário escolar, por exemplo).
Acredita-se, portanto, que a análise das estatísticas criminais pode contribuir na identificação do
vínculo entre os fatores de criminalidade e as infrações penais cometidas.
Contudo, a análise desses dados estatísticos deve ser feita de forma comedida, posto que, como é
sabido, o índice de subnotificação criminal é considerável e pode não revelar a realidade criminal em termos
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exatos.
Nesse contexto, surgem os conceitos de criminalidade real/genuína; criminalidade revelada/
registrada/aparente e cifra negra/oculta/zona escura/ciffre noir.
souza -- CPF:

1.1 Criminalidade real ou genuína


Marceli souza

Expressa a realidade, referindo-se ao número efetivo de crimes ocorridos em determinado tempo e


Marceli

local.

1.2. Criminalidade revelada, registrada ou aparente

Expressa a criminalidade que foi notificada às Autoridades e que, portanto, integram a esfera de
conhecimento do Poder Público.

1.3. Criminalidade oculta: cifra negra, cifra oculta, zona escura, ciffre noir

Revela o percentual de crimes que, por algum motivo, não chegaram ao conhecimento do Poder
Público.

2. CIFRA NEGRA

Como visto acima, a cifra negra expressa o percentual de crimes que, por algum motivo, não
chegaram ao conhecimento do Poder Público. Nesse sentido, pode-se afirmar que a cifra negra ou oculta
pode ser obtida pelo resultado da diferença entre a criminalidade real e a criminalidade revelada.

111
GABRIELA ANDRADE ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS • 12

Ademais, frise-se que o índice de cifra oculta pode variar a depender do delito e da classe social a
que pertença o criminoso.

A expressão cifra pode indicar o resultado de uma soma, um cálculo ou quantidade total de
algo. O Brasil é um país populoso e de proporções continentais, portanto, imaginar que
todos os crimes ocorridos em nosso território são apurados e investigados pela polícia é
uma ingenuidade. Muitos delitos praticados sequer chegam ao conhecimento das
autoridades policiais, e quando não são apurados nem punidos, passam a compor a
denominada cifra negra do Direito Penal46.

A terminologia cifra negra é empregada no contexto dos crimes denominados “crimes de colarinho
azul” ou blue collar crime. Sobre o tema, insta ressaltar o contraponto que se faz entre “crimes de colarinho
azul X crimes de colarinho branco”.
Os crimes de colarinho azul são aqueles praticados por integrantes das classes sociais desfavorecidas,
ou seja, refere-se à criminalidade de rua, que se manifesta mediante a prática de delitos patrimoniais, dentre
outros. A referência à cor azul está atrelada a cor da gola dos macacões utilizados por trabalhadores das
fábricas norte-americanas.
A seu turno, a terminologia “crimes de colarinho branco” ou white colar crime faz referência à
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criminalidade praticada por indivíduos integrantes das classes abastadas – a criminalidade da elite, dos ricos
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– numa referência às golas das camisas brancas utilizadas debaixo de impecáveis ternos. A expressão teve
origem nos estudos do sociólogo Edwin Sutherland, traduzindo, portanto, a ideia de criminalidade praticada
por indivíduos que ocupam posições sociais importantes e integram as classes mais favorecidas da sociedade.
A título de exemplificação, podemos citar a criminalidade econômica, na esteira das condutas
tipificadas na Lei n.º 7.492/1986 (crimes contra o sistema financeiro nacional); Lei n.º 8.317/1990 (crimes
contra a ordem tributária) e Lei n.º 9.613/1998 (lavagem de capitais).
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Nesse sentido, Christiano Gonzaga afirma:

Pelo que se percebe, claramente, os executivos sempre estão bem alinhados em ternos
caríssimos e com camisas com colarinho-branco impecável, daí surgindo a expressão white-
collar. De outro lado, os operários braçais que trabalham no chão da fábrica, bem como
souza -- CPF:

motoristas de ônibus e pessoas de baixa renda, usam uniformes azuis com colarinhos da
mesma cor, o que se convencionou chamar de blue-collar47.
Marceli souza

No contexto dos crimes de colarinho branco, surge a terminologia cifra dourada ou cifra de ouro,
Marceli

considerada espécie do gênero cifra negra/oculta, referindo-se aos delitos praticados pelas classes de elite e
que não chegam ao conhecimento do Poder Público.

A doutrina utiliza, em sentido amplo, a expressão cifra negra como sinônimo de cifra
oculta, significando o percentual de crimes não revelados ou não apurados pelo Estado.
Todavia, deve-se atentar que o termo cifra negra também é utilizado em sentido estrito
quando circunscrito à criminalidade do colarinho azul, em contraposição à cifra
dourada, que se refere à criminalidade do colarinho branco.48

3. CIFRA DOURADA OU DE OURO

Como vimos acima, refere-se aos delitos praticados pelas classes de elite e que não chegam ao
conhecimento do Poder Público, ou seja, não são revelados e/ou descobertos.
Podemos fazer um raciocínio acerca da expressão “cifra dourada”, que remete ao metal nobre tipo
ouro, símbolo de riqueza e ostentação, característico das classes mais abastadas.

46 FONTES, Eduardo & HOFFMANN, Henrique. Criminologia. 1ª. Edição. Ed. JusPodivm, 2018, p. 240.
47 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª edição, p. 47.
48 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 199.

112
GABRIELA ANDRADE ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS • 12

Os crimes praticados por estes indivíduos ditos “poderosos”, geralmente, estão relacionados a
transações ilícitas de cunho econômico, fiscal ou financeiro e revestem-se de alto grau de nocividade à
sociedade, embora essa percepção não seja tão clara.

4. CIFRA CINZA

Refere-se aos crimes que chegam ao conhecimento do Poder Público, por meio dos registros de
ocorrência e comunicações de fatos criminosos feitos nas Delegacias de Polícia ou demais órgãos com
atribuição, contudo, o conflito é resolvido nestes próprios órgãos e não prosperam. Como exemplo, o não
oferecimento de representação criminal nos crimes a ela condicionados.
Consoante ensinamentos do professor Christiano Gonzaga49:

Entende-se por essa expressão as infrações penais que ocorrem, mas são solucionadas no
âmbito da própria Delegacia de Polícia, por meio de não oferecimento de representação,
desistência da vítima de continuar o procedimento e ausência de testemunhas que queiram
falar sobre os fatos, ou seja, quando ocorre alguma solução extraprocessual que impede a
continuidade do feito. Assim, são as infrações penais que caem no vazio e no esquecimento,
como se fossem cinzas ao vento.
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5. CIFRA AMARELA

A cifra amarela diz respeito à violência policial praticada em detrimento de determinadas pessoas e
não reveladas às autoridades e/ou órgãos correicionais devido ao receio de exposição que possa levar a algum
tipo de represália ou vingança.
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6. CIFRA VERDE

Corresponde ao quantitativo de crimes praticados em detrimento do meio ambiente e que não


chega ao conhecimento do Poder Público.
souza -- CPF:

Exemplo muito comum é o crime de “maus tratos a animais” previsto no Art. 32 da Lei n.º
9.605/1998.
Marceli souza
Marceli

49 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. P, 203.

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GABRIELA ANDRADE

DIREITO PENAL DO INIMIGO

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DIREITO PENAL DO INIMIGO • 13
GABRIELA ANDRADE DIREITO PENAL DO INIMIGO • 13

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A ideia de Direito Penal do Inimigo traduz o tratamento a ser conferido àqueles que se apresentam
como inimigos da sociedade, no sentido de representar os indivíduos que não se comportam de acordo com
as normas estabelecidas. Ao contrário, tais indivíduos violam deliberada e sistematicamente as normas legais
causando intranquilidade social e desafiando o sistema de justiça criminal.
A teoria possui seu nascedouro nos estudos do jurista alemão Günther Jakobs que defende,
portanto, que o direito penal tem como função primordial a tutela e reafirmação da norma diante da prática
de uma conduta que a desafie. Nesse sentido, a finalidade de proteção aos bens jurídicos mais importantes
ficaria em segundo plano.

2. DIREITO PENAL DO CIDADÃO X DIREITO PENAL DO INIMIGO

A teoria sustenta que não se pode conferir o mesmo tratamento penal aos “cidadãos” e aos “inimigos
do Estado”. Nesse ponto vale destacar a distinção entre aquele indivíduo que se comporta de acordo com as
normas estabelecidas ao convívio social e que, eventualmente pode vir a infringir alguma norma, daquele
indivíduo que de forma sistemática e permanente se comporta de maneira contrária ao direito e sequer
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demonstra alguma garantia de que irá mudar sua conduta.


O Direito Penal aplicável aos cidadãos observa todos os direitos e garantias fundamentais inerentes
a um Estado Democrático de Direito, culminando na aplicação da norma penal de forma equilibrada, com
observância ao devido processo legal material e processual.
No escólio de Fredie Didier, há duas dimensões para o devido processo legal:

O devido processo legal formal ou processual exige o respeito a um conjunto de garantias


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processuais mínimas, como o contraditório, o juiz natural, a duração razoáveldo processo e


outras. A seu turno, o devido processo legal substancial ou material é uma forma de
controle de conteúdo das decisões. Se o processo tem seu trâmite garantido por impulso
oficial até o provimento final com uma sentença ou acórdão, daíé de se concluir que há
devido processo legal se esta decisão é devida/adequada, leia- se: proporcional e
souza -- CPF:

razoável.50
Marceli souza

Já o Direito Penal do Inimigo propugna pela aplicação da norma penal despida da observância aos
direitos e garantias fundamentais, posto que estamos tratando de indivíduos que se revelam verdadeiros
Marceli

inimigos do Estado, comportando-se de maneira a violar de forma permanente a lei penal, como por
exemplo a criminalidade organizada, terroristas, traficantes de drogas, armas e pessoas etc. Para esses
indivíduos, o único meio de contenção seria a aplicação de normas eminentemente coercitivas.
Nesta linha de raciocínio, para Günther Jakobs51: “aquele que se desvia da norma por princípio não
oferece qualquer garantia de que se comportará como pessoa; por isso, não pode ser tratado como cidadão,
mas deve ser combatido como inimigo”.

3. CARACTERÍSTICAS

Com base nos ensinamentos do professor Paulo Sumariva52, podemos elencar como características
do Direito Penal do Inimigo:

50 GOMES, Luiz Flávio. Devido processo legal formal e devido processo legal substancial. Jusbrasil, 2010. Disponível em:
https://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121916992/devido-processo-legal-formal-e-devido- processo-legal-substancial Acesso
em 25 de novembro de 2021.
51 JAKOBS, Günther. Direito Penal do Inimigo. Tradução Gercélia Batista de Oliveira Mendes. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2008.
52 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, Teoria e Prática. 4ª edição, p. 182-183.

115
GABRIELA ANDRADE DIREITO PENAL DO INIMIGO • 13

Ideia de substituição de pena por medida de segurança, considerando a


PENA duração indeterminada das medidas de segurança, de modo a retirar o
X
MEDIDA DE SEGURANÇA inimigo do seio social enquanto persistir sua propensão à prática
delituosa.

JUÍZO DE
Privilegia-se a periculosidade do inimigo em detrimento do juízo de
CULPABILIDADE
X culpabilidade que se faça sobre ele.
PERICULOSIDADE
ÓTICA ACERCA DO O inimigo é visto como objeto de coação e não comosujeito de direitos.
INIMIGO

STATUS DO INIMIGO X O cidadão mantém seu status de pessoa mesmo se vier a delinquir,
STATUS DO CIDADÃO
diferente do inimigo.

Antecipação da tutela penal de modo a atingir atos preparatórios à prática


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ANTECIPAÇÃO DA delitiva, sem que isso importe redução da quantidade de pena, pois a ideia
TUTELA PENAL éjustamente garantir a tranquilidade social em detrimento dos direitos do
inimigo.

O inimigo deve ser interceptado prévia e prontamente em suas ações, em


MOMENTO DE razão de sua periculosidade. Já em relação aos cidadãos, a reação penal
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INCIDÊNCIA DO DIREITO
incidirá a partir do momento quem que ele manifestar uma prática
PENAL
delitiva.
souza -- CPF:

4. MANIFESTAÇÃO DO DIREITO PENAL DO INIMIGO NO ORDENAMENTO


JURÍDICO BRASILEIRO
Marceli souza
Marceli

Ante o exposto, podemos perceber os reflexos da tese do Direito Penal do Inimigo em nosso
ordenamento jurídico, tanto no Código Penal, Código de Processo Penal, como na legislação penal
extravagante.
Como exemplo, citamos o art. 288 do Código Penal, a punir a conduta de “associação criminosa”,
criminalizando e sancionando uma conduta que, em tese, é meramente preparatória à eventual prática de
delitos futuros (que podem ocorrer ou não). Ademais, citamos o art. 312 do Código de Processo Penal, a
autorizar a custódia cautelar preventiva com a finalidade de garantir da ordem pública e assegurar a aplicação
da lei penal durante o processo.
Nas leis extravagantes, temos o exemplo do art. 1º, § único, inciso II da Lei n.º 8.072/1990, que erigiu
à categoria de crime hediondo o crime de “posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido”, previsto
no art. 16 da Lei n.º 10.826/2003, numa clara manifestação de promover tratamento penal mais severo a
uma conduta que vem afligindo, mormente a população do estado do Rio de Janeiro, mediante a ostentação
de armas de fogo de uso restrito (fuzis, submetralhadoras etc), por integrantes das facções criminosas ligadas
ao tráfico de drogas, revelando, assim, a ideia de combate ao “inimigo” da sociedade fluminense.

116
GABRIELA ANDRADE DIREITO PENAL DO INIMIGO • 13

5. CRÍTICAS À TEORIA DO DIREITO PENAL DO INIMIGO

A reflexão que se coloca é a seguinte: a teoria pode ser aplicada em nosso país sem que isso importe
ofensa aos princípios insculpidos em nossa Constituição Federal?
Sobre isso, vale ressaltar que há severas críticas referentes às premissas traçadas pela tese do Direito
Penal do Inimigo em contraponto com os direitos e garantias fundamentais previstos em nossa Constituição,
mormente, o princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Trata-se de princípio fundamental da República
Federativa do Brasil insculpido no Art. 1º, inciso III, CF/88, representando um postulado central do
ordenamento jurídico pátrio, que norteia e inspira a criação, aplicação e interpretação dos diversos diplomas
normativos, bem como a atividade estatal (eficácia vertical dos direitos fundamentais) e atividades inseridas
no âmbito privado (eficácia horizontal dos direitos fundamentais).
De acordo com os ensinamentos do professor Paulo Sumariva, com redação adaptada: nosso Código
Penal, em seu art. 2º, deixou clara a opção legislativa em adotarmos a ideia de “direito penal do fato” e a
tese do Direito Penal do Inimigo é umaclara manifestação do direito penal do autor, aquele que pune o
agente em razão do que ele é, e não do que ele fez. Ainda, só se pode conceber a ideia de um direito penal
verdadeiro, se vinculado aos ideais democráticos, o que não ocorre com a tese do inimigo que considera a
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periculosidade do agente e não sua culpabilidade, bem como não se preocupa com a questão da
proporcionalidade das penas em relação aos danos causados. Essa lógica de “guerra” e intolerância contra
o inimigo não se coaduna como Estado de Direito, revelando-se inconstitucional.53
De outro giro, existem posicionamentos no sentido de que a nossa Constituição Federal teria, de
certa forma, admitido certas nuances relacionadas ao Direito Penal do Inimigo, especialmente quando prevê
algumas supressões de direitos fundamentais em casos específicos, conferindo tratamento mais severo, por
exemplo, aos crimes de racismo, crimes hediondos e equiparados e a ação de grupos armados, civis ou
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militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático na inteligência do art. 5º, incisos XLII, XLIII
e XLIV da CF/88:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
souza -- CPF:

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:


[...]
Marceli souza

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena


de reclusão, nos termos da lei;
Marceli

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática


da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

Por derradeiro, vale o destaque à crítica traçada por Jakobs, em relação à adoção de sua teoria por
alguns ordenamentos jurídicos, contudo de forma fragmentada. Para o autor, a teoria, caso seja adotada,
deve ser aplicada na sua integralidade, sob pena de incorrermos no risco de que cidadãos em delinquência
eventual recebam tratamento que deveria ser dispensado apenas aos verdadeiros inimigos do Estado e da
sociedade.

6. AS VELOCIDADES DO DIREITO PENAL

Em apertada síntese, apresentamos as “velocidades do direito penal”, referindo- se ao tempo de


resposta dada pelo Estado quando da prática de um delito, a dependerde sua maior ou menor gravidade:

53 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, Teoria e Prática. 4ª edição, p. 184-185.

117
GABRIELA ANDRADE DIREITO PENAL DO INIMIGO • 13

No escólio do professor Rogério Sanches54:

a. 1ª velocidade: enfatiza as infrações penais mais graves, punidas com penas privativas de
liberdade, exigindo, por este motivo um procedimento mais demorado, que observa todas as
garantias penais e processuais penais;
b. 2ª velocidade: relativiza, flexibiliza direitos e garantias fundamentais, possibilitando punição
mais célere, mas, em compensação, prevê como consequência jurídica do crime sanção não
privativa de liberdade (penas alternativas);
c. 3ª velocidade: mescla as duas anteriores. defende a punição do criminoso com pena privativa
de liberdade (1ª velocidade), permitindo, para determinados crimes, tidos como mais graves, a
privação ou eliminação dos direitos e garantias constitucionais (2ª velocidade), caminho para
uma rápida punição. O Estado responde de forma intensa e célere (nem sempre sinônimo de
justiça). Eessa velocidade está presente na condução do direito penal do inimigo;
d. 4ª velocidade: ligado ao direito internacional. Àqueles que uma vez ostentaram uma posição de
chefes de Estado e, como tal, violaram gravemente tratados internacionais de tutela de direitos
humanos, serão aplicadas as normas internacionais, submetendo-se a jurisdição do TPI (Tribunal
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Penal Internacional).
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54 SANCHES, Rogério. Manual de Direito Penal, Parte Geral. 2013. P. 40.

118
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES •

QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÕES
1. (2014 - MPE-AC - Promotor de Justiça) Em relação às possibilidades de controle social formal, informal
a alternativo, assinale a opção correta.
a) O Estado laico limita a função de controle social informal dos poderes religiosos.
b) A educação representa forma de controle social informal.
c) A ação das polícias que extrapola seu rol legal de competência é exemplo de controle social alternativo.
d) O poder público é o único titular do controle social no âmbito do estado democrático de direito.
e) A família exerce função de controle social idêntica ao controle jurídico.
2. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) A Criminologia adquiriu autonomia e status de ciência quando o
positivismo generalizou o emprego de seu método. Nesse sentido, é correto afirmar que a criminologia é
uma ciência:
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a) do “dever ser”; logo, utiliza-se do método abstrato, formal e dedutivo, baseado em deduções lógicas e
da opinião tradicional.
b) empírica e teorética; logo, utiliza-se do método indutivo e empírico, baseado em deduções lógicas e
opinativas tradicionais.
c) do “ser”; logo, serve-se do método indutivo e empírico, baseado na análise e observação da realidade.
d) do “dever ser”; logo, utiliza-se do método indutivo e empírico, baseado na análise e observação da
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realidade.
e) do “ser”; logo, serve-se do método abstrato, formal e dedutivo, baseado em deduções lógicas e da
opinião tradicional.
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3. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) O estudo da pessoa do infrator teve seu protagonismo durante a
Marceli souza

fase positivista na evolução histórica da Criminologia. Assinale, dentre as afirmativas abaixo, a que descreve
corretamente como a criminologia tradicional o examina.
Marceli

a) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como uma realidade biopsicopatológica,


considerando o determinismo biológico e social.
b) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como um incapaz de dirigir por si mesmo sua
vida, cabendo ao Estado tutelá-lo.
c) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como uma unidade biopsicossocial, considerando
suas interdependências sociais.
d) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como um sujeito determinado pelas estruturas
econômicas excludentes, sendo uma vítima do sistema capitalista.
e) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como alguém que fez mau uso da sua liberdade
embora devesse respeitar a lei.
4. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) Na atualidade se observa uma generalização do sentimento coletivo
de insegurança nos cidadãos, caracterizado tanto pelo temor de tornarem-se vítimas, como pela
preocupação, ou estado de ânimo coletivo, com o problema do delito. Considere as afirmativas e marque
a única correta.

119
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES •

a) O incremento dos índices de criminalidade registrada (tese do volume constante do delito) mantém
correspondência com as demonstrações das pesquisas de vitimização já que seus dados procedem das
mesmas repartições do sistema legal.
b) A população reclusa oferece uma amostra confiável e representativa da população criminal real, já que
os agentes do controle social se orientam pelo critério objetivo do fato cometido e limitam-se a detectar o
infrator, qualquer que seja este.
c) O fenômeno do medo ao delito não enseja investigações empíricas na Criminologia por tratar-se de uma
consequência trivial da criminalidade diretamente proporcional ao risco objetivo.
d) O medo do delito pode condicionar negativamente o conteúdo da política criminal imprimindo nesta um
viés de rigor punitivo, contrário, portanto, ao marco político-constitucional do nosso sistema legal.
e) As pesquisas de vitimização constituem uma insubstituível fonte de informação sobre a criminalidade
real, já que seus dados procedem das repartições do sistema legal sendo condicionantes das estatísticas
oficiais.
5. (2018 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) A respeito dos objetos da Criminologia, analise as assertivas
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abaixo:
I - O conceito de delito para a Criminologia é o mesmo para o Direito Penal, razão pela qual tais disciplinas
se mostram complementares e interdependentes.
II - Desde os teóricos do pensamento clássico, o centro dos interesses investigativos da primitiva
Criminologia sempre esteve no estudo do criminoso, prisioneiro de sua própria patologia (determinismo
biológico), ou de processos causais alheios (determinismo social).
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III - O controle social consiste em um conjunto de mecanismos e sanções sociais que pretendem submeter
o indivíduo aos modelos e às normas comunitários. Para alcançar tais metas, as organizações sociais lançam
mão de dois sistemas articulados entre si: o controle social informal e o controle social formal.
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IV - A particularidade essencial da vitimologia reside em questionar a aparente simplicidade em relação à


vítima e mostrar, ao mesmo tempo, que o estudo da vítima é complexo, seja na esfera do indivíduo, seja
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na interrelação existente entre autor e vítima.


Marceli

São CORRETAS apenas as assertivas:


a) I, II e III.
b) II e IV.
c) II, III e IV.
d) III e IV.
6. (2018 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) A relação entre Criminologia e Direito
Penal está evidenciada de forma CORRETA em:
a) A Criminologia aproxima-se do fenômeno delitivo, sendo prescindível a obtenção de uma informação
direta desse fenômeno. Já o Direito Penal limita interessadamente a realidade criminal, mediante os
princípios da fragmentariedade e da seletividade, observando a realidade sempre sob o prisma do modelo
típico.
b) A Criminologia e o Direito Penal são disciplinas autônomas e interdependentes, e possuem o mesmo
objetivo com meios diversos. A Criminologia, na atualidade, erigese em estudos críticos do próprio Direito
Penal, o que evita qualquer ideia de subordinação de uma ciência em cotejo com a outra.

120
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES •

c) A Criminologia tem natureza formal e normativa. Ela isola um fragmento parcial da realidade, a partir de
critérios axiológicos. Por outro lado, o Direito Penal reclama do investigador uma análise totalizadora do
delito, sem mediações formais ou valorativas que relativizem ou obstaculizem seu diagnóstico.
d) A Criminologia versa sobre normas que interpretam em suas conexões internas, sistematicamente.
Interpretar a norma e aplicá-la ao caso concreto, a partir de seu sistema, são os momentos centrais da
Criminologia. Por isso, ao contrário do Direito Penal, que é uma ciência empírica, a Criminologia tem um
método dogmático e seu proceder é dedutivo sistemático.
7. (2018 - PC-SE - Delegado de Polícia) Acerca do conceito e das funções da criminologia, julgue o item
seguinte.
A criminologia é uma ciência dogmática que se preocupa com o ser e o dever ser e parte do fato para
analisar suas causas e buscar definir parâmetros de coerção punitiva e preventiva.
( ) Certo
( ) Errado
8. (2018 - TJ-CE - Juiz Substituto) A respeito da política criminal, da criminologia, da aplicação da lei penal
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e das funções da pena, julgue os itens subsequentes.


I - Criminologia é a ciência que estuda o crime como fenômeno social e o criminoso como agente do ato
ilícito, não se restringindo à análise da norma penal e seus efeitos, mas observando principalmente as
causas que levam à delinquência, com o fim de possibilitar o aperfeiçoamento dogmático do sistema penal.
II - A política criminal constitui a sistematização de estratégias, táticas e meios de controle social da
criminalidade, com o propósito de sugerir e orientar reformas na legislação positivada.
CPF: 073.496.444-77

III - O direito penal positivado no ordenamento penal brasileiro corrobora a teoria absoluta, porquanto
consagra a ideia do caráter retributivo da sanção penal.
IV - Considera-se o lugar da prática do crime aquele onde tenha ocorrido a ação ou omissão, e não onde se
souza -- CPF:

tenha produzido o seu resultado.


Marceli souza

Estão certos apenas os itens


Marceli

a) I e II.
b) I e IV
c) II e III.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.
9. (DPE-PE) Com relação às escolas e às teorias jurídicas do direito penal, assinale a opção correta.
a) Os positivistas conclamavam a justiça a olhar para o crime como uma entidade jurídica, enquanto os
clássicos encaravam o crime como fatos sociais e humanos.
b) Na primeira metade do século passado, floresceu, na Universidade de Chicago, a chamada teoria
ecológica ou da desorganização social, que considerava o crime um fenômeno ligado a áreas naturais.
c) A labelling approach enxerga o comportamento criminoso como motivado por razões ontológicas ou
intrínsecas, e não como decorrente do sistema de controle social.

121
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES •

d) A escola clássica ficou marcada pelo método de fundo dedutivo que empregava na ciência do direito
penal: o jurista deveria partir do concreto, ou seja, das questões jurídico-penais, para passar ao abstrato,
ou seja, ao direito positivo.
e) Os clássicos adotavam princípios relativos e que não se sobrepunham às leis em vigor, evitando leis
draconianas e excessivamente rigorosas, com penas desproporcionais.
10. (2019 - TJ-RO - Juiz de Direito Substituto) Dentre as escolas e doutrinas penais apresentadas a seguir,
a que adota como finalidade da pena exclusivamente a prevenção geral positiva é:
a) a Escola Positivista.
b) a Escola Correcionalista.
c) a Escola Técnico-jurídica.
d) o Funcionalismo de Günther Jakobs.
e) a Escola Clássica.
11. (2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Com relação às escolas e tendências penais, julgue os itens seguintes.
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I - De acordo com a escola clássica, a responsabilidade penal é lastreada na imputabilidade moral e no livre-
arbítrio humano.
II - A escola técnico-jurídica, que utiliza o método indutivo ou experimental, apresenta as fases
antropológica, sociológica e jurídica.
III - A escola correcionalista fundamenta-se na proposta de imposição de pena, com caráter intimidativo,
para os delinquentes normais, e de medida de segurança para os perigosos. Para essa escola, o direito penal
CPF: 073.496.444-77

é a insuperável barreira da política criminal.


IV - O movimento de defesa social sustenta a ressocialização do delinquente, e não a sua neutralização.
Nesse movimento, o tratamento penal é visto como um instrumento preventivo.
souza -- CPF:

Estão certos apenas os itens


Marceli souza

a) I e III.
Marceli

b) I e IV.
c) II e III.
d) II e IV.
12. (2018 – PC-GO - Delegado de Polícia) Para a criminologia positivista, a criminalidade é uma realidade
ontológica, pré-constituída ao direito penal, ao qual cabe tão somente reconhecê-la e positivá-la. Neste
sentido, tem-se o seguinte:
a) Em seus primeiros estudos, Cesare Lombroso encontrou no atavismo uma explicação para relacionar a
estrutura corporal ao que chamou de criminalidade habitual.
b) A periculosidade, ou temeritá, tal como conceituada por Enrico Ferri, foi definida como a perversidade
constante e ativa a recomendar que esta, e não o dano causado, a medida de proporcionalidade de
aplicação da pena.
c) Para Raffaele Garófalo (1851-1934), a defesa social era a luta contra seus inimigos naturais carecedores
dos sentimentos de piedade e probidade.

122
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES •

d) Nos marcos do pensamento criminológico positivista, Enrico Ferri, embora discípulo de Lombroso,
abandonou a noção de criminalidade centrada em causas de ordem biológica, passando a considerar como
centrais as causas ligadas à etiologia do crime, sendo estas: as individuais, as físicas e as sociais.
e) Enrico Ferri e Cesare Lombroso, recorrendo à metáfora da guerra contra o delito, sustentaram a
possibilidade de aplicação das penas de deportação ou expulsão da comunidade para aqueles que
carecessem do sentido de justiça ou o tivessem aviltado.
13. (2018 - PC-GO - Delegado de Polícia) Tendo a obra O Homem Deliquente, de Cesare Lombroso (1836-
1909), como fundante da Criminologia surgida a partir da segunda metade do século XIX, verifica-se que,
segundo a sistematização realizada por Enrico Ferri (1856-1929), o pensamento criminológico positivista
assenta-se, dentre outras, na tese de que:
a) o livre arbítrio é um conceito chave para o direito penal.
b) os chamados delinquentes poderiam ser classificados como loucos, natos, morais, passionais e de
ocasião.
c) a defesa social é tomada como o principal objetivo da justiça criminal.
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d) a responsabilidade social, tida como clássica, deveria ser substituída pela categoria da responsabilidade
moral para imputação do delito.
e) a natureza objetiva do crime, mais do que a motivação, deve ser base para medida da pena.
14. (2018 - PC-SP - Delegado de Polícia) No que concerne às Escolas Penais, é correto afirmar que a:
a) “Positiva” entende que o crime deriva de circunstâncias biológicas ou sociais, tendo sido defendida por
Feuerbach.
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b) “Clássica” funda-se no livre-arbítrio e tem em Carrara um de seus maiores expoentes.


c) “Lombrosiana” acredita que o homem é racional e nasce livre, sendo o crime fruto de uma escolha errada,
concepção hipotetizada por Lombroso e também por Ferri.
souza -- CPF:

d) “Clássica” entende que a pena é medida profilática, de cura, pensamento difundido por Carmignani.
Marceli souza

e) “Positiva” nasce em contraposição às ideias de Lombroso, defende o naturalismo racional e tem em


Marceli

Garófalo um de seus doutrinadores.


15. (MPE-GO - Promotor de Justiça - Reaplicação) Em sua obra "Criminologia" sobre duas visões principais
da macrossociologia que influenciaram o pensamento criminológico. À primeira delas, de corte
funcionalista, ele as denomina de teorias de consenso (escola de Chicago, teoria da associação diferencial,
teoria da anomia e teoria da subcultura delinquente). Por seu turno, a segunda visão, argumentativa, foi
conceituada como teorias do conflito (teorias do labelling approach e crítica). De acordo com as lições do
referido autor acerca das escolas sociológicas do crime, analise as proposições abaixo e marque a
alternativa correta:
I - A teoria da associação diferencial sugere que o crime não pode ser definido simplesmente como
disfunção ou inadaptação de pessoas de classes menos favorecidas, não sendo ele exclusividade destas.
Essa teoria assenta-se na consideração de que o processo de Comunicação é determinante para a prática
delitiva. Para ela, o comportamento criminal é um comportamento aprendido.
II - Para a teoria da anomia, o crime é visto como um fenômeno normal da sociedade e não necessariamente
ruim. Isto porque o criminoso pode desenvolver um útil papel para a sociedade, seja quando contribuiu
para o progresso social, criando impulsos para a mudança das regras sociais, seja quando os seus atos

123
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES •

oferecem a ocasião de afirmar a validade destas regras, mobilizando a sociedade em torno dos valores
coletivos.
III - A subcultura delinquente pode ser definida como um comportamento de transgressão que é
determinado por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou
determinam formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas.
IV - Para a teoria crítica, o fundamento imediato do ato desviado é a ocasião, a experiência ou o
desenvolvimento estrutural que fazem precipitar esse ato não em um sentido determinista, mas no sentido
de eleger, com plena consciência, o caminho da desviação como solução dos problemas impostos pelo fato
de viver em uma sociedade caracterizada por contradições.
a) apenas as proposições I e II são corretas.
b) apenas as proposições I e IV são corretas.
c) as proposições II e IV são incorretas.
d) todas as proposições são corretas.
16. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) Constitui um dos objetivos metodológicos da teoria do Labelling
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Approach (Teoria do Etiquetamento Social) o estudo detalhado da atuação do controle social na


configuração da criminalidade. Assinale a alternativa correta:
a) Para o labelling approach, o controle social penal possui um caráter seletivo e discriminatório gerando a
criminalidade.
b) O labelling approach é uma teoria da criminalidade que se aproxima do paradigma etiológico
convencional para explicar a distribuição seletiva do fenômeno criminal.
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c) Para o labelling approach, um sistemático e progressivo endurecimento do controle social penal


viabilizaria o alcance de uma prevenção eficaz do crime.
d) O labelling approach, como explicação interacionista do fato delitivo, destaca o problema hermenêutico
souza -- CPF:

da interpretação da norma penal.


Marceli souza

e) O labelling approach surge nos EUA nos anos 80, admitindo a normalidade do fenômeno delitivo e do
Marceli

delinquente.
17. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) O pensamento criminológico moderno, de viés macrossociológico,
é influenciado pela visão de cunho funcionalista (denominada teoria da integração, mais conhecida por
teorias do consenso) e de cunho argumentativo (denominada por teorias do conflito). É correto afirmar
que:
a) São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial, a teoria da
subcultura do delinquente e a teoria do etiquetamento.
b) São exemplos de teorias do conflito a teoria de associação diferencial a teoria da anomia, a teoria do
etiquetamento e a teoria crítica ou radical.
c) São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial, a teoria da
anomia e a teoria da subcultura do delinquente.
d) São exemplos da teoria do consenso a teoria de associação diferencial, a teoria da anomia, a teoria do
etiquetamento e a teoria crítica ou radical.
e) São exemplos da teoria do conflito a Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial, a teoria da
anomia e a teoria da subcultura do delinquente.

124
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES •

18. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) Os modelos sociológicos contribuíram decisivamente para um
conhecimento realista do problema criminal demonstrando a pluralidade de fatores que com ele
interagem. Leia as afirmativas a seguir, e marque a alternativa INCORRETA:
a) As teorias conflituais partem da premissa de que o conflito expressa uma realidade patológica da
sociedade sendo nocivo para ela na medida em que afeta o seu desenvolvimento e estabilidade.
b) As teorias ecológicas partem da premissa de que a cidade produz delinquência, valendo-se dos conceitos
de desorganização e contágio social inerentes aos modernos núcleos urbanos.
c) As teorias subculturais sustentam a existência de uma sociedade pluralista com diversos sistemas de
valores divergentes em torno dos quais se organizam outros tantos grupos desviados.
d) As teorias estrutural-funcionalistas consideram a normalidade e a funcionalidade do crime na ordem
social, menosprezando o componente biopsicopatológico no diagnóstico do problema criminal.
e) As teorias de aprendizagem social sustentam que o comportamento delituoso se aprende do mesmo
modo que o individuo aprende também outras atividades lícitas em sua interação com pessoas e grupos.
19. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) Leia o texto a seguir e responda ao que é solicitado.
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“Os irmãos Batista, controladores da JBS, tiveram vantagem indevida de quase R$73 milhões com a venda
de ações da companhia antes da divulgação do acordo de delação premiada que veio a público em
17/05/2017, conforme as conclusões do inquérito da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O caso analisa
eventual uso de informação privilegiada e manipulação de mercado por Joesley e Wesley Batista, e quebra
do dever de lealdade, abuso de poder e manipulação de preços pela FB Participações”. (Jornal Valor
Econômico, 13/08/2018):
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Com relação à criminalidade denominada de colarinho branco, pode-se afirmar que a teoria da associação
diferencial.
a) sustenta como causa da criminalidade de colarinho branco a proposição de que o criminoso de hoje era
souza -- CPF:

a criança problemática de ontem.


b) entende que o delito é derivado de anomalias no indivíduo podendo ocorrer em qualquer classe social.
Marceli souza

c) sustenta que o crime está concentrado na classe baixa, sendo associado estatisticamente com a pobreza.
Marceli

d) sustenta que a aprendizagem dos valores criminais pode acontecer em qualquer cultura ou classe social.
e) enfatiza os fatores sociopáticos e psicopáticos como origem do crime da criminalidade de colarinho
branco.
20. (2019 - TJ-PA - Juiz de Direito Substituto) Considerável parcela de doutrinadores compreende a política
criminal como o conjunto de princípios e atividades que tem por fim reagir contra o fenômeno delitivo,
através do sistema penal, determinando os meios mais adequados para o controle da criminalidade. A partir
dessa afirmação, julgue os itens a seguir.
I - Os movimentos sociais conhecidos por Tolerância Zero, Nova Defesa Social e Despenalização das
Contravenções são considerados instrumentos de endurecimento do Estado no combate ao crescimento
da criminalidade.
II - Os defensores do movimento Lei e Ordem reconhecem que o agravamento das penas é medida
necessária para combater a violência, embora acreditem que não faça justiça às vítimas.

125
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES •

III - O movimento Tolerância Zero parte da ideia de que o Estado não deve negligenciar fatos criminosos,
por mais insignificantes que sejam, já que esses fatos contêm em si uma fonte de irradiação da
criminalidade.
Assinale a opção correta.
a) Apenas o item I está certo.
b) Apenas o item II está certo.
c) Apenas o item III está certo.
d) Apenas os itens I e II estão certos.
e) Apenas os itens II e III estão certos.
21. (MPE-SC - Promotor de Justiça – Matutina) O garantismo penal de Ferrajoli é contrário à proposta de
eliminação do Direito Penal, que é denominada como abolicionismo. O motivo dessa posição é a
consideração de que a aplicação do Direito Penal pelo Estado pode ser um instrumento para a garantia do
respeito aos direitos do acusado.
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( ) Certo
( ) Errado
22. (MPE-SC - Promotor de Justiça – Matutina) A política de repressão implementada nos anos 90 pelo
então Prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, orientada pelo chamado “movimento da lei e da ordem”, é
criticada porque resultou no aumento da violência policial e não obteve redução dos índices de
criminalidade.
CPF: 073.496.444-77

( ) Certo
( ) Errado
23. (2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto) Sobre a relação entre o preso e a sociedade, segundo
souza -- CPF:

Alessandro Baratta, é CORRETO afirmar:


Marceli souza

a) A reinserção do preso na sociedade, após o cumprimento da pena, é assegurada a partir do momento


em que, no cárcere, o preso absorve um conjunto de valores e modelos de comportamento desejados
Marceli

socialmente.
b) É necessário primeiro modificar os excluídos, para que eles possam voltar ao convívio social na sociedade
que está apta a acolhê-los.
c) O cárcere não reflete as características negativas da sociedade, em razão do isolamento a que são
submetidos os presos.
d) São relações sociais baseadas no egoísmo e na violência ilegal, no interior das quais os indivíduos
socialmente mais débeis são constrangidos a papéis de submissão e de exploração.
24. (2018 - DPE-AP - Defensor Público) Considere a seguinte citação.
Trata-se das funções não declaradas da pena, que ampliam a ameaça punitiva para satisfazer a demanda
social de castigo. A norma penal não se dirige estritamente à sua aplicação, senão que segue encaminhada
aos possíveis eleitores e a opinião pública em geral, para demonstrar que os governantes fazem algo contra
o delito, procurando tranquilizar a sociedade mediante a ideia de uma eficaz atuação preventiva do Estado.
No Direito Penal, o trecho citado refere-se a
a) funções penais transcendentes.

126
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES •

b) esquerda punitivista.
c) movimento de lei e ordem.
d) direito penal simbólico.
e) direito penal do inimigo.
25. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) A dor causada à vítima, ao ter que reviver a cena do crime, ao ter
que declarar ao juiz o sentimento de humilhação experimentado, quando os advogados do acusado culpam
a vítima, argumentando que foi ela própria que, com sua conduta, provocou o delito. Os traumas que
podem ser causados pelo exame médico-forense, pelo interrogatório policial ou pelo reencontro com o
agressor em juízo, e outros, são exemplos da chamada vitimização.
a) indireta.
b) secundária.
c) primária.
d) terciária.
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e) direta.
26 . (2019 - DPE-DF - Defensor Público) A criminologia, diante do fenômeno do delito, na busca de conhecer
fatores criminógenos, traça um paralelo entre vítima e criminoso. Partindo dessa premissa dual, chamada
por Mendelsohn de “dupla-penal”, extraem-se importantes situações fenomenológicas. Acerca desses
estudos, julgue o item seguinte.
A criminologia classifica como vitimização secundária a coisificação, pelas esferas de controle formal do
CPF: 073.496.444-77

delito, da pessoa ofendida, ao tratá-la como mero objeto e com desdém durante a persecução criminal.
( ) Certo
( ) Errado
souza -- CPF:

27 (2018 - PC-SE - Delegado de Polícia) Texto associado:


Marceli souza

Texto: Sentença
Marceli

Ação: Medidas Protetivas de Urgência (Lei Maria da Penha)


Processo n.º: XXXXXXX
Ana de Jesus foi à polícia reclamar que Mário, seu ex-namorado, alcoólatra e usuário de drogas, lhe fez
ameaça de morte e ainda lhe deu umas refregas (sic), ao que seguiram a comunicação do fato e o pedido
de medida protetiva. É lamentável que a mulher não se dê ao respeito e, com isso, faça desmerecido o
poder público. Simplesmente decidir que o agressor deve manter determinada distância da vítima é um
nada. Depois que sujeito, sendinto só a debilidade do poder público, invadir a distância marcada, caberá à
vítima, mais uma vez, chamar a polícia, a qual, tendo ido ao local, o afastará dali. Mais que isso, legalmente,
pouco há que fazer. Enfim, enquanto a mulher não se respeitar, não se valorizar, ficará nesse ramerrão sem
fim – agressão, reclamação na polícia, falta de proteção. Por outro lado, ainda vige o instituto da legítima
defesa, muito mais eficaz que qualquer medidazinha (sic) de proteção. Intimem-se, inclusive ao MP.
No Brasil, a edição da Lei Maria da Penha retratou a preocupação da sociedade com a violência doméstica
contra a mulher, e a incorporação do feminicídio ao Código Penal refletiu o conhecimento de conduta
criminosa reiterada relacionada à questão de gênero. Mesmo com tais medidas, que visam reduzir a
violência contra as mulheres, as estatísticas nacionais apontam para um agravamento do problema. No

127
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES •

caso do estado de Sergipe, de acordo com dados do Panorâma da Violência contra as Mulheres no Brasil
(2016), a tava de violência letal contra mulheres é superior à taxa nacional, enquanto a taxa de estrupros é
inferior, o que pode ser resultado de uma subnotificação desse tipo de violência.
Internet: (com adaptações)
Considerando os textos apresentados, julgue o item que se segue, pertinentes aos objetos da criminologia.
De acordo com estudos vitimológicos, a diferença entre os crimes sexuais praticados e os comunicados às
agências de controle social é de aproximadamente 90%, o que estaria em consonância com os dados do
Panorama da Violência contra as Mulheres no Brasil (texto), que indica a ocorrência de subnotificação nos
casos de estupros praticados em Sergipe. Esse fenômeno, de apenas uma parcela dos crimes reais ser
registrada oficialmente pelo Estado, é o que a criminologia chama de cifra negra da criminalidade.
( ) Certo
( ) Errado
28. (2018 - PC-SP - Agente Policial) Assinale a alternativa que apresenta corretamente tipos ou definições
de vítimas, nos termos propostos por Benjamin Mendelsohn.
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a) Vítima depressiva, Vítima indefesa; Vítima falsa; Vítima imune; e Vítima reincidente.
b) Vítima isolada; Vítima por proximidade; Vítima com ânimo de lucro; Vítima com ânsia de viver; e Vítima
agressiva.
c) Vítima sem valor; Vítima pelo estado emocional; Vítima perverse; Vítima alcoólatra; e Vítima por
mudança da fase de existência.
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d) Vítima que se converte em autor; Vítima propensa; Vítima da natureza; Vítima resistente; e Vítima
reincidente.
e) Vítima completamente inocente ou vítima ideal; Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância; Vítima
voluntária ou tão culpada quanto o infrator; Vítima mais culpada que o infrator; e Vítima unicamente
souza -- CPF:

culpada.
Marceli souza

29. (2018 - PC-SP - Agente Policial) Assinale a alternativa correta no que diz respeito aos estudos
Marceli

desenvolvidos no âmbito da vitimologia.


a) Os estudos, as teorias e as classificações desenvolvidos no âmbito da vitimologia demonstram que a
conduta da vítima não pode ser indicada como fator que, de algum modo, contribui para a prática do crime.
b) Uma das grandes contribuições do atual estágio de desenvolvimento da vitimologia foi demonstrar que
o fênomeno da subnotificação é um mito e praticamente insignificante em termos quantitativos.
c) O aumento do número de crimes investigados e processados pode ocasionar uma maior vitimização
secundária.
d) O preconceito posterior à prática do crime que recai sobre a vítima, em crimes sexuais, por parte da
sociedade em geral e que contribui para a subnotificação deste tipo de crime é denominado de vitimização
primária.
e) Pesquisas de vitimização devem, paulatinamente, substituir os indicadores criminais baseados em
registros de crimes.
30. (2018 - PC-SP - Agente Policial) Assinale a alternativa correta no que diz respeito
aos estudos desenvolvidos no âmbito da vitimologia.

128
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES •

a) Os estudos, as teorias e as classificações desenvolvidos no âmbito da vitimologia demonstram que a


conduta da vítima não pode ser indicada como fator que, de algum modo, contribui para a prática do crime.
b) Uma das grandes contribuições do atual estágio de desenvolvimento da vitimologia foi demonstrar que
o fênomeno da subnotificação é um mito e praticamente insignificante em termos quantitativos.
c) O aumento do número de crimes investigados e processados pode ocasionar uma maior vitimização
secundária.
d) O preconceito posterior à prática do crime que recai sobre a vítima, em crimes sexuais, por parte da
sociedade em geral e que contribui para a subnotificação deste tipo de crime é denominado de vitimização
primária.
e) Pesquisas de vitimização devem, paulatinamente, substituir os indicadores criminais baseados em
registros de crimes.
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129
GABRIELA ANDRADE GABARITO •

GABARITO
1. B
2. C
3. A
4. D
5. D
6. B
7. Errado
8. A
9. B
10. D
11. B
12. C
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15. D
16. A
17. C
18. A
19. D
20. C
21. Certo
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22. Errado
23. D
24. D
25. B
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26. Certo
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27. Certo
28. E
Marceli

29. C
30. C

130
GABRIELA ANDRADE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS •

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Editora Revan,2011.

BRUNO, Anibal. Direito Penal, parte geral. Tomo 1. Rio de Janeiro: Forense.

FERNANDES, Newton; FERNANDES, Valter. Criminologia integrada. 2ª edição. São Paulo. Revista dos
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FERRELL, Jeff. HAYWARD, Keith. YOUNG, Jock. Cultural Criminology: an invitation. 2008.

FISCHER, Douglas. Delinquência Econômica e Estado Social e Democrático de Direito. Porto Alegre, Verbo
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FONTES, Eduardo & HOFFMANN Henrique. Criminologia. 1ª edição. Editora JusPodivm,2018.

GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio García-Pablos de. Criminologia. 6º edição. SãoPaulo, Revista dos
marceliangel@hotmail·com
073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com

Tribunais, 2008.

GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª edição. Editora Saraiva.

GRECO, Rogério. Direito penal do equilíbrio – uma visão minimalista do direito penal.2ª edição. Niterói.
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HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais. 10ª edição. Editora JusPodivm, 2018.
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JAKOBS, Günther. Direito Penal do Inimigo. Tradução Gercélia Batista de OliveiraMendes. Rio de Janeiro,
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Marceli souza

LOMBROSO, Cesare. L’Uomo delinquente. 5ª ed. Torino, Fratelli Boca, 1896.


Marceli

OLIVEIRA, Edmundo. Vitimologia e Direito Penal: o crime precipitado pela vítima. 2ªed. Rio de Janeiro:
Forense, 2001.

OLIVEIRA, Natacha Alves. Manual de Criminologia. Editora JusPodivm, 2018.

PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. São Paulo.Saraiva, 2010.

RODER, Carlos David Augusto, 1876 apud BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal, parte geral.
6ª edição, v. 1.

SANCHES, Rogério. Manual de Direito Penal: parte geral. Editora JusPodivm, 2013.

SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 4ª ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2012.

SUMARIVA, Paulo. Criminologia, Teoria e Prática. 4ª e 5ª edições. Editora Impetus,2017 e 2018.

TELES, Ney Moura. Direito Penal, parte geral.

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GABRIELA ANDRADE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS •

ZAFFARONI, Eugênio Raúl. A Questão Criminal. Rio de Janeiro: Revan, 2013.

__________. Em busca das penas perdidas. A perda da legitimidade dosistema penal. Editora Revan, 1991.

__________. Saberes críticos: A palavra dos mortos. São Paulo. Saraiva, 2012.

CADERNOS DE ESTUDO ELABORADOS COM BASE NOS SEGUINTES CURSOS


E VIDEOAULAS:

Curso isolado de Criminologia. Professor Murillo Ribeiro.

Conversa sobre Criminologia. SupremoCast #27. Murillo Ribeiro e Francisco Menezes. YouTube. Professor
Diego Pureza.
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