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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE ARQUITETURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO
URBANO E REGIONAL
PROPUR

Jussara Maria Basso

Dissertação de mestrado apresentada


como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Arquitetura

INVESTIGAÇÃO DE FATORES QUE AFETAM O


DESEMPENHO E APROPRIAÇÃO
DE ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS:

o caso de Campo Grande - MS

Orientador:
Maria Cristina Dias Lay, PhD

Porto Alegre, 2001


SUMÁRIO

Lista de Figuras........................................................................................................... VI
Lista de Tabelas........................................................................................................... IX
Resumo........................................................................................................................ X
Abstract....................................................................................................................... XI

O PAPEL DOS ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS.................................... 01

1.1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 01

1.2 ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS ................................................................ 01


1.2.1 Tipos de espaços públicos abertos ................................................................ 07

1.3 APROPRIAÇÃO DOS ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS......................... 10


1.3.1 Esvaziamento do espaço público: transformação ou declínio? ................ 11
1.3.2 Delimitação do problema ............................................................................ 15

1.4 OBJETIVOS DA PESQUISA............................................................................ 16

1.5 CONTEÚDO DO TRABALHO........................................................................ 16

CONDICIONANTES NA APROPRIAÇÃO DOS ESPAÇOS ABERTOS


PÚBLICOS...................................................................................................... 18

2.1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 18

2.2 FORMAÇÃO DA IMAGEM AMBIENTAL E AVALIAÇÃO DO


AMBIENTE CONSTRUÍDO.......................................................................... 19

2.3 AS NECESSIDADES HUMANAS RELACIONADAS AO AMBIENTE 22


2.3.1 Necessidades Fisiológicas .............................................................................. 24
2.3.2 Segurança ....................................................................................................... 24
2.3.3 Pertencimento ................................................................................................. 25
2.3.4 Reconhecimento ............................................................................................. 26
2.3.4.1 Status............................................................................................................. 27
2.3.4.2 Privacidade e territorialidade.......................................................................... 27
2.3.4.3 Territorialidade no espaço público................................................................. 28
2.3.5 Necessidades de amadurecimento, necessidades estéticas e necessidades
cognitivas ...................................................................................................... 29
2.3.6 O papel dos espaços públicos no preenchimento das necessidades
humanas ..................................................................................................... 30

2.4 FATORES QUE AFETAM O DESEMPENHO DOS ESPAÇOS


PÚBLICOS....................................................................................................... 33
2.4.1 Dimensões de desempenho ......................................................................... 33
2.4.2 Diversidade e intensidade de usos ............................................................. 35
2.4.2.1 O uso das ruas............................................................................................... 36
2.4.2.2 O uso das praças e parques........................................................................... 39
2.4.3 Aspectos relativos ao ambiente construído – fatores contextuais ......... 41
2.4.3.1 Adequação e conforto ambiental................................................................... 43
2.4.3.2 Aparência e agradabilidade .......................................................................... 46
2.4.3.3 Segurança e controle .................................................................................... 47
a) Controle Visual......................................................................................... 48
b) Definição de território.............................................................................. 49
c) Intensidade do tráfego de veículos / circulação de pedestres.................... 50
2.4.3.4 Acessibilidade ............................................................................................... 51
2.4.4 Aspectos relativos às características dos usuários
– fatores composicionais ............................................................................ 52
2.4.4.1 Ciclo da vida .................................................................................................. 54
2.4.4.2 Nível socio-econômico e estilo de vida.......................................................... 55
2.4.4.3 Interação entre usuários................................................................................. 59
2.4.4.4 Experiência prévia com espaços públicos .................................................... 61

2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 61

3 METODOLOGIA............................................................................................ 63

3.1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 63

3.2 PROBLEMA A SER INVESTIGADO, OBJETIVOS DA PESQUISA


E HIPÓTESE .................................................................................................... 63

3.3 ESTUDO DE CASO.......................................................................................... 65


3.3.1 Seleção do estudo de caso ............................................................................... 65
3.3.2 Breve histórico da cidade .............................................................................. 65
3.3.3 Seleção da amostra ........................................................................................ 71
3.3.3.1 Critérios para seleção das áreas .................................................................... 71
3.3.3.2 Características das áreas ............................................................................... 75
a) Área 1 – Itanhangá...................................................................................... 75
b) Área 2 – Copatrabalho................................................................................ 79
c) Área 3 – Horto............................................................................................ 83

3.4 ESCOLHA DOS MÉTODOS........................................................................... 87


3.4.1 Levantamentos de arquivo .......................................................................... 88
3.4.2 Entrevistas .................................................................................................... 88
3.4.3 Mapas mentais ............................................................................................. 89
3.4.4 Levantamento físico ..................................................................................... 90
3.4.5 Observações comportamentais .................................................................. 90
3.4.6 Questionários ............................................................................................... 92

3.5 ANÁLISE DOS DADOS................................................................................... 95

4. ANÁLISE DO DESEMPENHO DOS ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS 96

4.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 96

4.2 AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL : TIPO E INTENSIDADE DE USO


DOS ESPAÇOS ESTUDADOS..................................................................... 96
4.2.1 Características físico-espaciais e comportamentais das Áreas .................. 97
4.2.1.1 Área 1: Itanhangá........................................................................................... 97
4.2.1.2 Área 2: Copatrabalho..................................................................................... 104
4.2.1.3 Área 3: Horto ................................................................................................ 112
4.2.1.4 Comparação entre áreas................................................................................. 120
4.2.2 Características físico-espaciais e comportamentais dos Espaços Públicos
de Lazer (EPLs) .............................................................................................. 124
4.2.2.1 EPL 1: Praça Itanhangá.................................................................................... 125

4.2.2.2 EPL 2: Praça Copatrabalho............................................................................. 134


4.2.2.3 EPL 3: Parque Horto Florestal........................................................................ 141
4.2.2.4 Comparação entre os espaços públicos de lazer............................................. 151
4.3 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO E FATORES CONTEXTUAIS .............. 155
4.3.1 Adequação ambiental .................................................................................... 155
4.3.1.1 Atributos físicos das ruas ............................................................................... 156

a) Dimensionamento........................................................................................... 156
b) Pavimentação.................................................................................................. 156
c) Vegetação....................................................................................................... 157
d) Iluminação...................................................................................................... 158
e) Efeitos da avaliação das ruas sobre os usos................................................... 159
4.3.1.2 Atributos físicos dos EPLs........................................................................... 161
a) Dimensionamento.......................................................................................... 161
b) Equipamentos................................................................................................. 161
c) Vegetação....................................................................................................... 162
d) Pavimentação................................................................................................. 163
e) Iluminação..................................................................................................... 164
4.3.2 Aparência e agradabilidade ....................................................................... .. 165
4.3.3 Segurança ........................................................................................................ 169
4.3.3.1 Percepção de segurança nas ruas .................................................................... 169
4.3.3.2 Percepção de segurança nos EPLs.................................................................. 170
4.3.3.3 Segurança quanto ao tráfego........................................................................... 173
4.3.3.4 Controle visual nas ruas e EPLs..................................................................... 174
4.3.4 Acessibilidade ............................................................................................... 176
4.3.5 Comparação de desempenho das áreas e EPLs ......................................... 178

4.4 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO E FATORES COMPOSICIONAIS........ 179


4.4.1 Perfil do usuário ............................................................................................ 179
4.4.1.1 Ciclo de vida................................................................................................... 179
4.4.1.2 Nível sócio-econômico................................................................................... 182
4.4.1.3 Origem dos moradores.................................................................................... 183
4.4.1.4 Tempo de moradia.......................................................................................... 183
4.4.2 Estilo de vida .................................................................................................. 184
4.4.2.1 Meio de transporte mais utilizado.................................................................. 185
4.4.2.2 Lazer............................................................................................................... 186
4.4.2.3 Hábitos de compra........................................................................................ 189
4.4.2.4 Interação entre usuários................................................................................ 191
a) Caráter da vizinhança/rede de relações......................................................... 191
b) Privacidade.................................................................................................... 193
c) Conexão com os espaços públicos................................................................ 193
4.4.3 Comparação da influência dos fatores composicionais no uso das ruas
e EPLs.............................................................................................................. 194

4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 196

5. CONCLUSÕES................................................................................................ 201

5.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 201

5.2 PROBLEMA DE PESQUISA, OBJETIVOS E MÉTODOS............................. 201

5.3 HIPÓTESE......................................................................................................... 202

5.4 DISCUTINDO OS RESULTADOS................................................................... 203

5.5 RELEVÂNCIA DOS RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES ...................... 207

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 209

ANEXOS:
A: Freqüências das perguntas fechadas do questionário
B: Listagem das respostas a perguntas abertas do questionário
LISTA DE FIGURAS

Figura Descrição Pág.


2.1 Processo de avaliação ambiental expressa no uso do ambiente 19
3.1 Evolução da malhar urbana de Campo Grande 68
3.2 Planta de Campo Grande 69
3.3 Escolha das 3 áreas 72
3.4 Densidade nas sub-áreas 74
3.5 Foto aérea da Área 1 - Itanhangá 76
3.6 Planta geral da Área 1 77
3.7 Sub-área Sta Tereza 78
3.8 Sub-área Búzios 78
3.9 Praça Itanhangá 79
3.10 Foto aérea da Área 2 - Copatrabalho 80
3.11 Planta geral da Área 2 81
3.12 Avenida Florestal 82
3.13 Típica rua secundaria do conjunto 82
3.14 Praça Copatrabalho 83
3.15 Foto aérea da Área 3 - Horto 84
3.16 Planta geral da Área 3 85
3.17 Vila Carvalho sub-aérea 86
3.18 Sargento Amaral sub-aérea 86
3.19 Parque Horto Florestal 87
3.20 Origem dos moradores por área 94
4.1 Levantamento físico Área 1 98
4.2 Residência típica sub-área Búzios 99
4.3 Residência típica sub-área Sta Tereza 99
4.4 Fechamento espacial Búzios 100
4.5 Fechamento espacial Sta Tereza 100
4.6 Barreiras na Búzios 100
4.7a Mapa comportamental Área 1 - tardes 101
4.7b Mapa comportamental Área 1 - manhãs 102
4.8 Permanência: guardas particulares 103
4.9 Passagem pedestres 1 104
4.10 Passagem pedestres 2 104
4.11 Levantamento físico Área 2 105
4.l2 Residência típica Copatrabalho 106
4.13 Porta aberta para a rua 107
4.l4 Cadeiras nas varandas/abrigos 107
4.15 Barreiras físicas temporárias 108
4.16 Barreiras físicas permanentes 108
4.17a Mapa comportamental Área 2 - tardes 109
4.17b Mapa comportamental Área 2 - manhãs 110
4.18 Sentando nas calçadas 111
4.19 Brincando nas ruas 111
4.20 Caminhando nas ruas 111
4.21 Levantamento físico da Área 3 113
4.22 Residências típicas Vila Carvalho 115
4.23a Residência típica Sargento Amaral 115
4.23b Casa antiga com muro baixo 116
4.23c Reforma de muros antigos 116
4.24a Mapa comportamental Área 3 - tardes 117
4.24b Mapa comportamental Área 3 - manhãs 118
4.25 Feira- livre 119
4.26 Grupo na varanda 119
4.27 Tereré nas calçadas 120
4.28 Mulheres e crianças – fim de tarde 120
4.29 Utilização das calçadas 121
4.30 Freqüência de uso dos espaços abertos próximos a residências 122
4.31 Levantamento físico EPL1 - Praça Itanhangá 126
4.32 Portão Praça Itanhangá 127
4.33 Pista e córrego 127
4.34 Pergolado com bancos 128
4.35 Coreto 128
4.36 Proibições (placa) 129
4.37a Mapa comportamental EPL 1 - tardes 130
4.37b Mapa comportamental EPL 1 - manhãs 130
4.38 Olhando o córrego 132
4.39 Parquinho infantil 132
4.40 Exemplo de atividade programada (teatro no palco) 133
4.41 Acesso (praça Copatrabalho) desde a rua Pequi 134
4.42 Acesso pela avenida Florestal 134
4.43 Levantamento físico da EPL 2 - Praça Copatrabalho 135
4.44 Vista desde a avenida Florestal 136
4.45a Mapa comportamental EPL 2 - tardes 138
4.45b Mapa comportamental EPL 2 - manhãs 139
4.46 Uso do conjunto de mesas 140
4.47 Barraca de Sobá 140
4.48 Uso das quadras 140
4.49 Acesso rua Anhanduí 141
4.50 Elementos simbólicos 141
4.51 Levantamento físico EPL 3 – Parque Horto Florestal 142
4.52 Pista caminhadas 143
4.52b Vista geral do parque 143
4.53 Arena coberta multiuso 144
4.53b Parquinho infantil 144
4.54 Parquinho e lanchonete 144
4.55a Mapa comportametal EPL 3 – tardes 146
4.55b Mapa comportamental EPL 3 - manhãs 147
4.55c Mapa comportamental EPL 3 - domingo passe livre 148
4.55d Mapa comportamental EPL 3 - domingo normal 149
4.56 Área central durante show 150
4.57 Pista de bicicross 151
4.58 Atividades limitadas pela inadequação das calçadas 159
4.59 Atividades que aconteceriam se as calçadas fossem mais adequadas 160
4.60 Distribuição etária por domicilio 180
4.61 Faixas de renda 182
4.62 Tempo de moradia na cidade 184
4.63 Principal meio de locomoção 185
4.64 Atividades nas horas de lazer 187
4.65 Espaços utilizados nas horas de lazer x faixa etária 187
4.66 Atividades de lazer x faixa de renda 189
4.67 Hábitos de compras dos moradores 190
4.68 Percepção do caráter da vizinhança 191
4.69 Rede de relações 192

LISTA DE TABELAS

Tabela Descrição Pág.


3.1 Crescimento Populacional de Campo Grande 66
3.2 Intervalos de correlação 95
4.1 Características físicas predominantes das ruas - Área 1 99
4.2 Características físicas predominantes das ruas – Área 2 107
4.3 Características físicas predominantes das ruas – Área 3 116
4.4 Contagem de pessoas presentes nas ruas das 3 áreas 120
4.5 Comparação entre usos e características físicas das ruas 123
4.6 Adequação das calçadas 156
4.7 Agradabilidade do próprio bairro 165
4.8 Aparência dos espaços públicos de lazer 167
4.9 Número de ocorrências registras na PM/CG em 1999 169
4.10 Segurança nas ruas do bairro 170
4.11 Segurança nas EPLs 171
4.12 Segurança x fechamento do EPL 172
4.13 Fechamento espacial 174
4.14 Comparação de desempenho das áreas - fatores contextuais 178
4.15 Comparação de desempenho dos EPLs – fatores contextuais 179
4.16 Influência de fatores composicionais no uso das ruas 195
4.17 Influência de fatores composicionais no uso dos EPLs 195
RESUMO

Esta pesquisa investigou os fatores que afetam a apropriação de espaços abertos


públicos - ruas e espaços públicos de lazer -, adotando como estudo de caso a cidade de
Campo Grande – MS. Procurou entender as causas de diferentes níveis de apropriação de
espaços públicos abertos, através de uma abordagem perceptiva que utilizou a satisfação do
usuário e o comportamento ambiental como indicadores de desempenho dos espaços
estudados. Este é avaliado a partir das percepções dos moradores e usuários sobre as áreas
selecionadas, e da verificação do perfil comportamental dos espaços.

O objetivo principal deste trabalho é a investigação de quais aspectos afetam mais


fortemente os tipos e intensidade de uso diferenciados dos espaços abertos públicos, se fatores
composicionais ou fatores contextuais.

O levantamento de dados foi realizado através da aplicação de múltiplos métodos:


levantamentos de arquivos, levantamentos físicos, observações comportamentais, aplicação de
questionários e entrevistas. A análise destes dados possibilitou uma maior precisão e validade
da investigação.

A análise das relações entre características individuais dos usuários e nível de


apropriação dos espaços públicos e entre atributos ambientais e diferentes níveis de
apropriação dos espaços públicos, indicam que os aspectos composicionais de ordem socio-
econômica afetam fortemente o tipo e intensidade de uso das ruas residenciais. Em relação aos
espaços públicos de lazer, os resultados evidenciam a forte influência de aspectos de ordem
física no tipo e intensidade de uso.

As conclusões indicam que, se for desejável uma dinamização das ruas para atividades
sociais, é possível alcançar o objetivo, em certa medida (que depende especialmente de
valores relacionados com o nível socio-econômico da população atingida), criando condições
físicas que favoreçam o encontro e a permanência. Quanto aos espaços públicos de lazer as
conclusões indicam que investimentos no planejamento físico destes, embasados em
conhecimento real das necessidades da população alvo, darão retorno consistente em maior
uso.
ABSTRACT

This research aims at studying the factors that influence people’s appropriation of
open public areas – streets and public leisure places. It takes the city of Campo Grande in the
state of Mato Grosso do Sul, Brazil, for its case study. It seeks to understand the reasons for
the different levels of appropriation of open public areas by means of a perceptive approach
which takes user’s satisfaction and environmental behaviour as indicators of space
performance. This performance is evaluated from the viewpoint of the perceptions expressed
by the dwellers and users about the areas studied, and of a survey of the behavioural profile of
the areas studied.

The main goal of this study is to establish which aspects affect most strongly the types
and intensity of use of the open public areas, whether they are compositional or contextual.

Data collecting was carried out by using multiple methods: surveying existing files,
inspecting physical characteristics, observing behaviour, applying questionnaires and
interviewing. The analysis of these data enabled more precision and validity of the
investigation.

The analysis of the relationship between users’ individual characteristics and level of
appropriation of public areas and between environmental features and different levels of
appropriation of public areas indicate that the compositional socio-economic aspects strongly
influence the type and intensity of use of the residential streets. As to the public leisure areas,
results highlight the strong influence set by physical order in the type and intensity of use.

Conclusions point to the fact that if it is desirable that streets are made lively venues fit
for social activities, it is possible to reach that aim, to a certain extent (which depends
somehow on the values related to the targeted population’s socio-economic level), through
creating physical condition that favours meeting and lingering in the streets. As regards the
public leisure areas, conclusions indicate that investments on their physical planning, based on
actual knowledge of the needs of the targeted population, will, in the end, fulfil the
expectations in terms of increased use.
1. O PAPEL DOS ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS

1.1 INTRODUÇÃO

Este estudo se propõe a investigar fatores que afetam o desempenho de espaços abertos
públicos e procura determinar o grau de importância destes fatores na apropriação destes
espaços. Os conteúdos discutidos neste trabalho pretendem se constituir em uma contribuição
para um melhor entendimento das características dos espaços públicos que influenciam o seu
uso e, portanto, diretamente, a qualidade de vida urbana, traduzida na satisfação dos
moradores e na ligação destes com o ‘lugar’ em que o espaço urbano pode vir a se
transformar.

Neste capítulo, são apresentados, primeiramente, o tema sobre o qual versa este
trabalho, através de um breve histórico da evolução dos espaços públicos e de uma
classificação dos tipos de espaços abertos encontrados na literatura. A seguir, é colocada a
definição do problema de pesquisa, referente às transformações ocorridas quanto ao papel
social dos espaços abertos públicos urbanos que evidenciam as diferentes apropriações que
ocorrem nestes espaços. Posteriormente, são apresentados os objetivos da pesquisa e o
conteúdo do trabalho, através de uma descrição dos capítulos que o compõem.

1.2 ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS

Halprim (1963) classifica dois tipos de vida numa cidade - a vida pública e social,
extrovertida, que procura a inter-relação nos espaços públicos e a vida privada e introvertida,
individual, que ocorre em espaços quietos e reclusos.

Os espaços abertos e fechados alternam-se numa rede que compõe o espaço urbano e
que dá suporte à vitalidade da cidade. Tanto os espaços construídos fechados, quanto os
espaços abertos podem ser - quanto à possibilidade de acesso – classificados em domínio
público, semi-público, semi-privado ou privado. Nos espaços públicos o acesso é generalizado
e a responsabilidade pela manutenção é assumida coletivamente, enquanto que, nos espaços
semi-públicos, semi-privados e privados, o acesso é gradualmente limitado e a manutenção é
responsabilidade de pequenos grupos ou de um só indivíduo (Hertzberger, 1996). O interesse
deste trabalho volta-se para os espaços abertos públicos.

Conforme definição de Lynch (1991a), são considerados espaços abertos públicos


urbanos todos os espaços urbanos abertos à livre escolha e às ações espontâneas dos
indivíduos. São espaços dotados de acessibilidade pública e designados, construídos ou
apropriados para atividades funcionais, sociais ou de lazer.

Levando-se em consideração o espaço das ruas, o maior espaço público aberto


disponível, destinado à circulação de pedestres e veículos, e o espaço das praças e parques,
locais abertos projetados para a convivência e a permanência, tem-se a estrutura principal do
sistema de espaços públicos abertos da cidade. Este sistema forma um contínuo interligado,
palco de grande parte da vida pública urbana.

A partir de uma visão histórica, é possível notar a representação do tipo de vida pública
praticada por determinada sociedade, tanto na Ágora grega como no Fórum romano, na praça
medieval ou na praça contemporânea (Carr et al 1992).

A evolução das ruas, da sociedade e das cidades

A rua antecede a existência de assentamentos humanos permanentes, como rota de


comércio ou canal de trocas, de forma que o sentido de movimento ao longo de um caminho
está ligado à experiência humana, assim como a visão de que o caminho é lugar de troca e de
comunicação humana (Rykwert, 1991).

Mais tarde, já na Idade Média, as ruas das cidades eram estreitas e densamente usadas,
local de encontro das classes altas e baixas, x onde comerciantes e residentes compartilhavam
o espaço. Este padrão de rua modificou-se a partir do século XV, com as novas idéias trazidas
pelo Renascimento que propunha amplas perspectivas visuais, maior facilidade na passagem
de veículos movidos à tração animal e uma maior fluidez no movimento de tropas militares
pela cidade. Além destes aspectos práticos, as novas avenidas que espalharam-se desde a Itália
para toda a Europa, culminando, no século XIX, com a reforma de Paris por Haussmann,
transformaram-se, em muitas destas cidades, em pontos de encontro, principalmente de
pessoas das classes mais abastadas (Munford, 1982).

Portanto, se a cidade medieval dava expressão ao espaço fechado por muros e


heterogêneo, sem separação espacial de funções, de classes ou posição social (Rolnik, 1988), a
cidade do ‘boulevard’ do séc. XIX, se caracterizaria como cidade aberta, do movimento, da
separação e mobilidade social (Pesavento, 1999). No final do séc. XIX a cidade tinha a
aparência de um todo unificado polarizado pelo centro, que era compartilhado, espaço comum
a toda cidade (Teaford, apud Chidister, 1989).

A nova noção dos espaços amplos e de grande extensão foi exportada para todo o
mundo de influência européia, como o continente americano, mas nem sempre funcionaram
com o mesmo sucesso, possivelmente por não haver uma conexão direta com áreas adjacentes
de grande multiplicidade de usos e grande densidade, o que conferia aos ‘boulevards’
europeus uma vida pública vibrante (Carr et al, 1991; Pressman, 1987).

Até o advento da Revolução Industrial, as cidades do mundo ocidental poderiam ser


classificadas, conforme Goitia (1987), em: a) cidades clássicas, públicas, da cultura
mediterrânea; b) cidades domésticas ou campesinas, da cultura anglo-saxônica e c) cidades
religiosas e privadas, do mundo islâmico. Enquanto a primeira é a cidade onde desenvolve-se
a vida pública e que tem a praça como elemento definitivo e essencial, a segunda dá prioridade
à vida doméstica em detrimento da vida civil e a última é organizada a partir da vida privada e
religiosa. Estas características, ligadas a aspectos culturais das sociedades, influenciam as
características das cidades contemporâneas originárias destas culturas.

Durante o século XIX, aconteceu um grande movimento de populações campesinas em


direção às cidades, quando o mundo europeu deixou de ser agrário para se tornar
predominantemente urbano (Pallen, 1975). O grande afluxo de pessoas em direção à cidade
multiplicou os problemas destas e exigiu uma postura nova, uma tentativa de contornar ou se
antecipar aos problemas urbanos gerados pelo tamanho das cidades.

Chegado o século XX, a cidade planejada passa a ser produzida sob influência das
idéias modernistas ou funcionalistas1, que provocaram uma mudança profunda na produção do

1
Revolução funcionalista - a segunda vez, depois da Idade Média, em que as bases para o
planejamento da cidade mudaram radicalmente. A primeira mudança aconteceu na Renascença e a segunda, em
espaço urbano, principalmente até a década de 70. Pensava-se que grandes extensões de áreas
gramadas, colocadas entre os edifícios, seriam os locais óbvios para a realização de atividades
de recreação e para uma vida social dinâmica. Na realidade, passa-se o contrário, e as grandes
distâncias entre pessoas, eventos e funções, somadas a sistemas de transportes baseados no
automóvel, contribuíram, significativamente, para reduzir as atividades externas nas áreas
urbanas construídas sob a ótica modernista. A visão funcionalista introduz os grandes espaços
verdes sem função específica, a separação das funções urbanas, que demanda deslocamentos
diários de grandes distâncias, e os espaços urbanos públicos esvaziados de atividades e de
pessoas.
A cidade, produto destas idéias, é vista, hoje em dia, com muitas críticas, no sentido
de que, sem um entendimento real das necessidades e dos comportamentos humanos, foram
propostos - e construídos - edifícios isolados na paisagem, concorrentes entre si, e não como
parte de um tecido de ruas, quadras e espaços abertos viáveis, o que resultou, em muitos casos,
em espaços externos desagradáveis e de baixa utilização (Trancik, 1986; Holston, 1993).

A integridade da rua também ficou comprometida com o impulso de verticalidade


que se impôs às construções (Trancik, 1986), assim como a sua habitabilidade, pela tendência à
utilização de velocidade incompatíveis com a segurança e a circulação de pedestres, no
transporte de passageiros ou de mercadorias (Appleyard, 1981, apud Francis, 1987).

A partir da década de 70, novas idéias movem os pesquisadores e planejadores da


cidade contemporânea. No ato de projetar e de planejar a cidade, reaparece a preocupação com
o bem-estar social e intelectual do cidadão, relacionado à imagem que este tem de sua cidade;
cristaliza-se o interesse na “recuperação do prazer sensorial da arquitetura e do espaço
urbano” e volta-se a projetar ruas, quarteirões, praças e contínuos construídos (Lamas, 1990:
388). A reconquista das ruas como espaço de convívio social torna-se uma meta a guiar o
interesse de boa parte dos pesquisadores do fenômeno urbano. Passam a ser propostas áreas da
cidade reservadas para pedestres, controle de tráfego motorizado, a não separação espacial
entre diferentes funções e a atenção para a identificação do cidadão com o seu espaço e com a
sua comunidade (Arantes, 1993). Tentativas concretas têm sido implementadas,

torno de 1930, quando os aspectos fisico-funcionais da cidade passaram a prevalecer sobre os seus aspectos
estéticos (Gehl,1987, p.45).
principalmente em países do primeiro mundo, mas também entre nós, com resultados que
incentivam a continuação da busca de alternativas que tragam novamente o pedestre para os
espaços públicos (por exemplo, as ruas para pedestres em áreas centrais de muitas cidades
brasileiras).

A evolução das praças e parques como espaços públicos

A praça urbana foi criada quase que simultaneamente ao primeiro assentamento


humano, confundindo-se com a origem do conceito ocidental de urbano. Já o jardim, ou
parque público, só aparece como espaço público urbano a partir do séc. XVII (Segawa, 1996).
O parque era o lugar para caçadas e práticas militares, assembléias e celebrações simbólicas de
autoridade e de poder. Era localizado perto dos palácios dos governantes do mundo antigo2, e
em alguns países, considerado lugar sagrado ou lugar de graça e sabedoria (Lasdum, apud
Ribeiro, 1996).

Na Grécia e Roma antigas, as praças eram locais de assembléia dos cidadãos, onde
eram discutidas, ao ar livre, política e filosofia. Com a queda do Império Romano, decai a
importância das cidades, e a prática das discussões públicas foi, pouco a pouco, sendo
abandonada. Mais tarde, na Idade Média, as praças de mercado voltam a ser o coração das
cidades: local onde as pessoas faziam compras, ouviam as notícias, encontravam os amigos,
participavam de festas religiosas e divertiam-se vendo apresentações de artistas (Welch, apud
Ribeiro, 1996). A praça era o território próprio da cultura popular pública (Segawa, 1996), um
espaço heterogêneo, tanto em usuários como em atividades.

Entre a segunda metade do séc. XV e o séc. XVIII, acompanhando as mudanças


propostas nas perspectivas das ruas da cidade européia, já comentadas anteriormente, Segawa
(op.cit.) cita outras mudanças neste setor: o surgimento de espaços públicos, como a ‘piazza’
italiana; a praça maior espanhola; a praça real francesa; os recantos ajardinados, como os
passeios públicos, os ‘boulevards’, os jardins - todos espaços onde reinam a hierarquização, a
ordem e a elegância, em contraposição ao espaço da praça medieval, das festas desordenadas.

2
Nas antigas Assíria, Pérsia, Índia, Egito, Grécia e Roma
De acordo com Chadwick (apud Ribeiro, 1996), três estilos principais podem ser
encontrados entre os parques e praças de então: o estilo geométrico, o estilo natural e o estilo
pinturesco. O estilo geométrico pode ser encontrado tanto nos parques franceses quanto nos
italianos, e trabalha a simetria, a harmonia e um layout formal; mas, enquanto as praças
italianas usam os princípios da Renascença de geometria e proporção, os jardins franceses
buscam, através da mesma geometria, o domínio sobre a natureza e o monumentalismo. O
estilo natural ou informal – identificado com o parque inglês – dá ênfase a formas que imitam
a natureza. O estilo pinturesco tem, mais ou menos, os mesmos princípios que o estilo natural,
só que cria alguns lugares, recantos e construções mais formais, desenhados como pontos de
atração (Landsun, apud Ribeiro, 1996).

Apesar da existência, em cidades mais antigas, de alguns espaços abertos e parques que
podiam ser usados pelo público, somente no séc. XIX os parques arborizados foram
construídos para uso do público em geral. Até então, os jardins arborizados eram, na sua
maioria, de propriedade do rei, da nobreza ou da igreja. Nesta época, cresce, na Europa e nos
Estados Unidos, o ‘movimento dos parques’, que advoga a reserva de áreas públicas para lazer
e esportes nas áreas próximas aos centros das grandes cidades, de forma a melhorar as
condições de saúde da população destes centros e a promover a assimilação social (Cranz,
1982 apud Carr et al, 1992).

Camilo Sitte (1992) em seu livro do final do séc. XIX, “A construção da cidade
segundo seus princípios artísticos”, já lamentava que o urbanismo daquele século tivesse
perdido o domínio do sentido estético e social das praças antigas. Para ele, as praças são, antes
de tudo, um lugar público, como eram as praças tradicionais, que conseguiam ser um espaço
público aberto ao mesmo tempo em que eram arrumadas como o ambiente interno de uma
casa, conjugando interioridade e exterioridade no mesmo ambiente. Já nas praças criadas pelas
reurbanizações do século XIX, os espaços são considerados, por Sitte, como
superdimensionados, desérticos e sem pontos de referência – espaços impessoais e impróprios
para o uso coletivo.

Mais tarde, baseando-se nas formas das praças antigas, Rob Krier (apud Lang, 1994)
realizou estudo tipológico dos espaços abertos em termos de suas qualidades visuais
(composição espacial), classificando vários padrões geométricos que servem essencialmente
aos mesmos propósitos. Buscava identificar, nas formas do passado, os padrões de espaços
abertos agradáveis e com algum significado para os indivíduos.

Todo este processo de evolução das idéias sobre os espaços abertos públicos, não
deixou de influenciar a produção do espaço urbano para o lazer, no Brasil. A legislação
brasileira federal atual obriga a reserva de espaços públicos nas novas áreas urbanas e inclui
uma percentagem para áreas verdes. Evidentemente, a reserva é um passo inicial e a
qualificação daquelas áreas depende da vontade política dos estados e municípios ao definir o
nível de investimentos a elas destinados.

Porém, a existência de uma política para os espaços públicos de lazer dificilmente tem
sido encarada como uma prioridade para o poder público no Brasil, de acordo com Bartalini
(2000). Ao mesmo tempo, a debilidade de reivindicações organizadas por parte da sociedade,
exigindo e defendendo este direito, tem contribuído para a escassez de espaços que amenizem
gratuitamente a vida de quem mora na cidade.

1.2.1 Tipos de espaços abertos públicos

O espaço público pode ser percebido como um ambiente global contínuo e seu cenário
constitui-se, de maneira mais relevante, pelo traçado das ruas e praças e pelos elementos que
as compõem; pelas fachadas, vegetação e, ainda, espaços públicos interiores (como estações
de metrô e rodoviárias, por exemplo) (Lamas, 1990).

O estudo da evolução dos espaços urbanos, apresentado no item anterior, mostra que o
traçado das ruas, um dos elementos mais claramente identificáveis da forma de uma cidade,
relaciona-se diretamente com a formação e o crescimento desta, em função da importância
básica dos deslocamentos e da mobilidade das pessoas e das mercadorias. O traçado é de
importância vital para a orientação na cidade e o sistema de transportes, que o determina de
maneira predominante. De fato, parece ser “o sistema de infra-estrutura de maior impacto na
qualidade de uma cidade e na de sua vida urbana” (Lang, 1994: 208).

A rua é o espaço aberto público, por excelência. É no processo de socialização - no


qual o homem gasta grande parte de sua energia e que acontece, de maneira preponderante, no
espaço das ruas - que cria-se, desenvolve-se e mantém-se a cultura. A rua oferece, de forma
única, variedade social e experiências, necessárias aos indivíduos.

Morfologicamente, Rapoport (1987) descreve as ruas como espaços lineares, de


diversas larguras, margeados por construções e usados para circulação e, muitas vezes, para
outras atividades.

Do ponto de vista antropológico, a rua apresenta-se como uma expressão da estrutura


de relações da cultura em que aparece e serve como um instrumento através do qual estas
relações podem ser mantidas ou desafiadas (Levitas, 1991).

Halprin (1963) classifica, hierarquicamente, os diversos tipos de espaços urbanos que


estruturam o ambiente público aberto em: ruas, ruas de comércio, praças menores, praças
maiores, parques de vizinhança, parques centrais e margens d’água.

As ruas que tradicionalmente eram foco da atividade de vizinhança, tendem, na cidade


contemporânea, a tornar-se unicamente local de circulação. Porém, como as calçadas
representam espaços informais com um grande potencial de vitalidade, o estudo do seu uso
tem despertado um crescente interesse entre os pesquisadores de espaços abertos (por
exemplo, Appleyard, 1981).

As ruas de comércio são essencialmente locais para comércio - como os mercados, as


grandes galerias cobertas, o ‘bazzar’ árabe e as ruas centrais de muitas cidades, consideradas,
muitas vezes, como o próprio “coração da cidade”.

A praça é um elemento morfológico nascido na cidade ocidental como elemento


intencional, criado com o objetivo de proporcionar o encontro entre indivíduos, onde ocorrem
as práticas sociais e manifestações da vida urbana (Lamas, 1990).

As praças menores aparecem na confluência de ruas, quando acontecem espaços


alargados incidentais que se transformam em pequenas praças. Podem conter de maneira
casual esculturas, cafés, fontes, locais para sentar. São espaços que podem dar um sentido de
lugar e se transformar num foco referencial e de vitalidade para a vizinhança.

As praças maiores são grandes praças que se transformam em símbolos cívicos, pela
beleza e detalhamento do projeto e/ou pela força dos eventos cívicos que costumam nelas
acontecer.
Os parques de vizinhança, ao contrário das praças maiores e das menores, geralmente
muito pavimentadas, são locais com bastante área verde que provêm o necessário contato com
a natureza e a relação com as coisas vivas.

Os parques centrais são os grandes parques verdes das cidades, utilizados para funções
nos fins-de-semana e que podem ajudar a manter o balanço ecológico, essencial à biologia
humana .

Como a maioria das cidades desenvolveu-se próxima a cursos d’água, como rios, baías
ou oceanos, as margens aparecem como espaços abertos acessíveis a todos os moradores, e
podem ser exploradas para o lazer.

Francis (1987) aponta, além destes espaços abertos tradicionais, vários espaços abertos
inovadores que desenvolveram-se nas últimas décadas, entre eles:

Os espaços abertos comunitários desenvolvidos e administrados por seus proprietários,


ou seja, os residentes locais, e os espaços abertos de vizinhança - como calçadas, esquinas,
paradas de ônibus ou lotes vazios - muito usados por crianças e adolescentes. Ambos se
transformam em locais importantes, já que criam oportunidade para aprendizado e
socialização.

As feiras temporárias, que ocorrem em espaços abertos públicos, vêm crescendo em


popularidade, pois podem dinamizar parques, ruas ou estacionamentos e contribuir para a
vitalidade econômica das áreas urbanas onde se realizam.

E, por fim, os espaços vazios, remanescentes na malha urbana, que são vistos, hoje,
como espaços com grande potencial recreacional e ecológico.

Segundo Francis (op.cit), estes espaços, muitas vezes, vêm de encontro às necessidades
da população, suprindo faltas que os espaços abertos tradicionais não têm conseguido suprir

por inteiro.

Todos estes diferentes tipos de espaços públicos abertos são utilizados pela população
de várias maneiras e com maior ou menor intensidade, num quadro geral que será descrito a
seguir.
1.3 APROPRIAÇÃO DE ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS

Os espaços abertos públicos são palco para a realização de diversas atividades:


circulação, comércio, passeio, recreação, contato com a natureza, socialização ou
simplesmente observação da vida que neles acontece. E é basicamente através dessas
manifestações comportamentais que ocorre a apropriação desses espaços e, conseqüentemente,
da cidade (Lynch, 1985; Lang, 1994).

Segundo Carr et al (1992), o que molda os espaços públicos e a sua apropriação são as
forças que dão consistência à vida pública, sendo estas de naturezas diversas, decorrentes,
primeiramente, dos aspectos culturais, dentre os quais inclui-se as necessidades básicas
funcionais, a vida social comunitária e o sentido simbólico da vida pública. Num segundo
momento, estas forças se originam da tecnologia disponível, da estrutura física dos lugares, da
segurança, do fator da superestimulação disponível nas cidades, dos sistemas sociais, políticos
e econômicos e do grande interesse, hoje, por uma vida esportiva e saudável.

Sabe-se que cada cultura apresenta um balanço próprio entre vida pública e vida
privada. Este balanço depende da interação da realidade física, social, política e econômica da
sociedade. Mas, quando o balanço pende excessivamente para a vida privada, de modo que a
vida pública e os espaços públicos tornem-se rarefeitos para a comunidade, os moradores
podem tornar-se isolados uns dos outros (op.cit). Este isolamento é uma das características que
o senso comum mais freqüentemente relaciona com a vida contemporânea nas grandes
cidades.

Do sistema de espaços públicos e privados decorrentes de cada situação de


balanceamento em particular, surgem formas de apropriação que podem ser encaradas sob
pontos de vista diferenciados.

1.3.1 Esvaziamento do espaço público: transformações ou declínio ?

Do ponto de vista da sociologia, Sennet (1998) estudou as transformações nos valores


do público e do privado, com o surgimento da cidade industrial e a consolidação do modo de
produção capitalista. O autor coloca o esvaziamento da vida pública e a valorização
exacerbada da vida pessoal, prevalecente em certos grupos da sociedade contemporânea, como
decorrência da formação de uma nova cultura urbana, que vem sendo processada desde a
queda do Antigo Regime3, mas que explodiu, em expressões de destruição física do domínio
público - e no seu esvaziamento - , somente após a Segunda Guerra Mundial. Durante o
crescimento das cidades industriais européias, nos séc. XVIII e XIX, certas cidades cresceram
explosivamente para os parâmetros da época – por exemplo Londres e Paris. As pessoas
chegavam em levas migratórias e havia um aumento significativo do número de estranhos aos
moradores locais. As regras de sociabilidade - que eram construídas entre indivíduos que, de
alguma maneira, mantinham alguma relação - começaram a mudar. As regras de público e
privado também. Como defesa ao estranho, a personalidade individualizada e os encantos
morais da vida privada passam, aos poucos, a ser valorizados em oposição à devassidão,
heterogeneidade e civilidade da vida pública cosmopolita. Estas tendências vão se
consolidando mais e mais até explodir no pós-guerra, levando o foco da vitalidade da cidade a
passar dos espaços públicos abertos para os espaços mais íntimos e privados, principalmente a
casa de cada família.

Carr et al (1992) resumem as mudanças induzidas pelo aumento do tamanho das


cidades a partir da valorização da privatização da vida, introdução de novas tecnologias,
substituição de locais de compras da rua para locais fechados e insuficiência de espaços para
brincar e para socializar, como de grande perda, já que o sistema de espaços públicos pode ser
agregador de indivíduos e pode ajudar na conexão destes com a comunidade e com a natureza.

Para Levitas (1991) somente nos bairros populares ou nas favelas é que as ruas
parecem manter-se, parcialmente, como local de vida pública.

A ‘sociedade de consumo’4 que se impõe mais e mais na segunda metade do séc. XX


(Jameson, 1996) traz consigo a fragmentação e a superprodução de cultura para o consumo, de
tal forma que perde-se o sentido de tradição e de história e é criado um mundo sem

3
Antigo Regime: se refere ao século XVIII, período no qual a burocracia comercial e
administrativa se desenvolve nas nações, paralelamente à persistência de privilégios feudais (Sennet,1998:67)
4
Sociedade de consumo - sociedade onde o consumo não é mais considerado como reflexo da
produção, mas concebido como fundamental para a reprodução social (Featherstone, 1997:109)
profundidade e sem separação entre o real e o imaginário. Esta particularidade pode ser
observada principalmente no âmbito dos espaços destinados ao lazer, em locais muito em voga
como parques temáticos (a privatização do espaço público), locais turísticos e ‘shopping
centers’ – onde a sensação de brilho superficial e de prazer participativo transitório é essencial
- ou na maneira distraída e fragmentada em que, por exemplo, a televisão é assistida no dia-a-
dia. (Harvey, 1992; Featherstone, 1997). Esta sociedade, de certa maneira, parece não ter mais
tempo, interesse ou possibilidade de valorizar seus ‘lugares’ e precisa cria-los prontos para o
consumo.

Ao mesmo tempo que a fragmentação e o bombardeamento de imagens traz uma


ruptura no senso de identidade do indivíduo, o processo de globalização pelo qual o mundo
vem passando traz uma visão de que o mundo é progressivamente ‘um lugar só’
(Featherstone, 1997), um lugar sem ‘lugares’. Tudo isso favorece um desligamento emocional
do homem com o espaço em que vive.

Se autores como Sennet vêem o quadro atual de desvalorização da vida pública e de


valorização da privacidade, como de declínio e causa de esvaziamento das ruas, outros como
Brill (1989) apresentam uma análise diferente para a questão: existiria uma transformação da
vida pública, não um declínio, visto que esta passou a acontecer em outros espaços que não
mais no tradicional espaço da rua. Mudou-se para espaços abertos destinados mais
especificamente ao lazer, como praças, parques ou outros espaços especializados.

Considerando que o tempo disponível para lazer hoje é, para muitos, maior do que
antigamente, e que as informações do mundo chegam diariamente à casa dos cidadãos, a vida
pública parece estar relacionada muito mais à busca de lazer em ambientes abertos do que à
necessidade de contato pessoal para a troca de informações, como acontecia antigamente.

Outro raciocínio interessante é o de que o esvaziamento dos espaços públicos pode ser
decorrente da atual falta de dependência entre a pessoas. Não se necessita mais do outro para
questões de sobrevivência e de defesa, como acontecia no mundo antigo (Chidister, 1989).
Porém, para experenciar o mundo e para definir a si mesmo, o homem necessita da presença
de outros homens, necessita dos contatos humanos para manter sua sanidade mental (Levitas,
1991; Hillman, 1993). Atentando para o que chama de ‘alma da cidade’ - que está na relação
entre as pessoas, no olhar entre elas – Hillman (1993) explica a violência contra o patrimônio
construído de uma cidade como decorrência, em parte, do descuido da vida subjetiva em nível
pessoal e da comunidade. Assim, ainda são úteis e necessários os locais para o encontro, para
o contato dos olhares, para se criar a intimidade com a cidade e locais destinados ao lazer, para
relaxar - como em parques ou em banhos de mar ou de rio -, de maneira a manter a saúde
psíquica e o bem-estar na cidade.

Ao mesmo tempo que em muitas cidades contemporâneas constata-se uma tendência


ao esvaziamento dos espaços públicos de suas funções tradicionais de local de encontro e de
trocas - mais marcadamente em umas do que em outras cidades, e mais acentuadamente em
algumas regiões da cidade do que em outras -, cresce um movimento de interesse no
ressurgimento da vitalidade dos espaços públicos, através de planejamento que favoreça a
satisfação das necessidades de uma vida pública muito mais estratificada e especializada – é
dizer fragmentada - do que tradicionalmente costumava ser. Muitos dos espaços reestruturados
de forma a atrair o público (nas áreas centrais das grandes cidades e em bairros residenciais)
tem tido sucesso em seus propósitos, apresentando grande incremento no seu uso (Gehl, 1989;
Goodey, 1984; Cooper Marcus e Francis, 1990; Whyte, 1988).

No Brasil mesmo, existem programas voltados à revitalização ou requalificação de


centros urbanos ou de outras áreas, como por exemplo, o planejamento urbano de Curitiba
que, desde o inicio dos anos 60, considera o espaço urbano como o “cenário do encontro”
(Mazza Dourado, 1997: 25); o projeto ‘Viva Rio’, uma política de recuperação urbana e o
‘Favela Bairro’ que visa integrar, através de intervenções urbanísticas, as favelas e seus
bairros limítrofes, no Rio de Janeiro (op. cit.); o ‘Novo Centro’ que propõe requalificar o
centro de São Paulo com atividades diversas e permanentes, adequação e recuperação histórica
(op. cit.); o Eixo Tamanduatehy, em Santo André, que se propõe a criar uma nova centralidade
para a região do ABC paulista, usando o espaço público como fator estruturante (Pinto, 2000);
ou os ‘Corredores Culturais’ no Rio de Janeiro (Del Rio, 1990), ou em Porto Alegre
(Prefeitura de Porto Alegre, 1995), como parte dos denominados programas de revitalização
das áreas centrais destas cidades, através do resgate histórico, da dinamização econômica e da
animação cultural .

Falando especificamente sobre áreas centrais de cidades brasileiras, como São Paulo,
Regina Meyer (em Frugoli Jr., 1999) comenta a grande vitalidade daqueles espaços,
discordando do conceito de revitalização, muito usado quando se fala de áreas urbanas
centrais: “o que não falta ali é vitalidade: é uma coisa vibrante, pulsante. Hoje o centro é tão
ou mais vital que em outros momentos. Só que está apropriado por uma classe social
diferente”. O que coloca a requalificação do centro como uma palavra mais adequada para as
propostas que busquem uma melhor adequação e manutenção daqueles espaços.

Como diferentes áreas da cidade oferecem diferentes distribuições de serviços, tipos de


comércio, preços e amenidades, o espaço urbano vai sendo ocupado, gradativamente (com
exceção de alguns lugares atípicos), em função das classes em que se divide a sociedade
urbana (Santos, 1998). Neste quadro, constata-se que o uso dos espaços público nas áreas
apropriadas por distintas classes sociais pode se dar de maneira diferenciada. É freqüente a
observação de que “crescentes parcelas das classes sociais de maior poder aquisitivo se
refugiam em espaços excludentes, e boa parte das classes populares se move por um espaço
deteriorado, engendrando ocupações permeadas pela transgressão” (Frugoli Jr., 1995:116).
Os ‘shopping centers’ e os condomínios fechados são exemplos dos primeiros, enquanto a
periferia e a área central das grandes cidades, do último.

Existe no Brasil, devido ao processo de interiorizarão territorial do desenvolvimento


impulsionado, entre outras coisas, pela ação estatal da ‘marcha modernizadora do oeste’
lançada no período do Estado Novo (Cunha, 1999; Corrêa, 1999), uma grande quantidade de
cidades relativamente novas ou muito novas. Em cidades novas, com grande parte da
população vinda de fora, desenraizada e sem referências locais que favoreçam a criação de
uma imagem forte e estruturadora de cidade, faz-se importante a existência de elementos
unificadores que possam cumprir este papel. Como já foi colocado, a vida nos espaços
públicos pode ser o elemento que agrega os indivíduos, criando conexões com a comunidade e
com o lugar. Portanto, nas cidades de crescimento rápido e recente, é importante entender os
processos que influenciam na apropriação dos espaços públicos, de forma a poder - como
pensador ou planejador da cidade - atuar eficazmente na direção de um espaço aberto público
que seja mais responsivo às necessidades da população, favorecendo a interação e a criação
desta imagem forte.

1.3.2 Delimitação do problema


O problema desta pesquisa configura-se como sendo a investigação sobre o processo
de apropriação do espaço público. Parte-se da constatação de que a apropriação dos espaços
públicos em diversas cidades brasileiras acontece de maneira diferenciada, assim como em
setores dessas cidades são identificados diferentes níveis de apropriação de ruas e espaços
abertos públicos de lazer, seja por uma predisposição maior por parte da população ou por
uma oferta mais adequada destes espaços.

Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, é uma das cidades que
devem ao processo de interiorização do povoamento e de nacionalização da fronteira oeste
brasileira grande parte de seu desenvolvimento. Configura-se como uma cidade de bairros
claramente definidos em relação a características morfológicas e socio-econômicas: de um
lado áreas residenciais nobres com mansões, piscinas, lojas especializadas e toda sorte de
facilidades nas proximidades e do outro lado, em áreas mais distantes do centro da cidade e
servidas, praticamente, apenas por serviços básicos, os bairros residenciais populares (Ebner,
1999), lembrando, de certa forma, o quadro apresentado por Davis (1993) para a Los Angeles
dos anos 90 – cidade paradigma deste período. Neste cenário, foram observadas diferenças
marcantes de apropriação dos espaços abertos públicos entre diferentes regiões da cidade.

O problema aqui delimitado será investigado através do estudo de caso de espaços


abertos públicos específicos da cidade de Campo Grande - ruas e espaços públicos de lazer
(praças ou parques)-, que apresentem tipo e intensidade de uso diferenciados.

1.4 OBJETIVOS DA PESQUISA

O objetivo desta pesquisa é buscar uma compreensão maior sobre a relação do


comportamento humano com o ambiente construído no que se refere à apropriação de espaços
públicos das ruas e dos espaços públicos de lazer de zonas residenciais urbanas. Este estudo se
propõe a investigar quais fatores estão atuando de forma a produzir o tipo de interação
existente, seja ela freqüente ou muito esporádica.
Através do estudo das relações entre características físicas dos espaços, características
individuais dos moradores e grau de apropriação dos espaços investigados, pretende-se
identificar e medir a influência destes fatores no tipo e intensidade de uso daqueles espaços.

A possibilidade deste conhecimento vir a alimentar a discussão sobre o construir a


cidade e passar a fazer parte de um acervo que possa contribuir no processo de planejamento
dos espaços abertos públicos, é o objetivo mais amplo deste trabalho.

A seguir é descrito o conteúdo do trabalho através do resumo dos procedimentos


necessários para alcançar os objetivos expostos.

1.5 CONTEÚDO DO TRABALHO

O trabalho foi estruturado em cinco capítulos. Neste primeiro capítulo foi definido o
tema e o problema sobre o qual versará este estudo. Uma discussão maior sobre o problema
foi abordada. Os objetivos que norteiam este trabalho foram colocados.

O segundo capítulo estabelece a base teórico-conceitual do trabalho, através da revisão


da literatura, enfocando as variáveis que possam contribuir para esclarecer as hipóteses
levantadas. São apresentadas as questões relacionadas à vida social nas cidades, aos espaços
públicos necessários ao desenvolvimento deste tipo de vida e atributos ambientais que afetam
o desempenho dos espaços abertos públicos nas cidades.

O terceiro capítulo apresenta a estrutura metodológica, com a descrição detalhada do


estudo de caso, procedimentos e critérios definidos para a seleção da amostra e descrição dos
métodos de coleta e de análise de dados utilizados.

O quarto capítulo apresenta e discute os resultados obtidos na pesquisa, através dos


múltiplos métodos utilizados, visando a investigação e análise das relações contidas nas
hipóteses.

O quinto capítulo apresenta a conclusão do trabalho. Discute as hipóteses exploradas e


estabelece as implicações dos resultados obtidos para os estudos das relações ambiente-
comportamento e para o desenho e planejamento dos espaços públicos abertos das cidades.
2. CONDICIONANTES NA APROPRIAÇÃO DOS ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS

2.1 INTRODUÇÃO

No primeiro capítulo vimos que a existência de vida pública parece ser um pré-
requisito fundamental para o desenvolvimento dos espaços públicos. Estes espaços, criados
pelas sociedades ao longo dos tempos, servem como um espelho dos valores públicos e
privados dominantes numa sociedade (Carr et al 1992; Itelson et al 1974, em Bonnes e
Secchiaroli, 1995), assim como das transformações pelas quais estes valores têm passado. Por
outro lado, a existência de espaços públicos adequados pode ser um pré-requisito para o
florescimento da vida pública.

Dentro de uma mesma sociedade, diferentes espaços recebem diferentes respostas em


termos de uso – denominadas manifestações comportamentais - pelos indivíduos que
compõem aquela sociedade.

A área de estudos ambiente-comportamento, na qual esta pesquisa baseia-se,


concentra-se no estudo das relações entre indivíduos e o ambiente físico construído, tendo
como uma premissa a existência de um processo interativo em que o ambiente é
constantemente modificado pelas ações dos indivíduos, ao mesmo tempo que suas
experiências e comportamentos são modificados por este ambiente. O entendimento destas
relações visa facilitar a construção de espaços mais congruentes com as necessidades
humanas. (Lang, 1994; Gifford, 1997).

Neste capítulo, é apresentada um revisão dos estudos da área de ambiente-


comportamento no que se refere ao tema apropriação dos espaços públicos abertos. São
abordados os processos de apreensão da imagem ambiental, considerada fonte de informação
para a realização de avaliações de desempenho. É discutido o papel dos espaços públicos no
preenchimento das necessidades humanas relacionadas ao ambiente construído e dos diversos
aspectos que podem influenciar na intensidade de uso dos espaços.
2.2 FORMAÇÃO DA IMAGEM AMBIENTAL E AVALIAÇÃO DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO
O campo da percepção ambiental, no qual esta pesquisa baseia-se, tem como uma de
suas premissas que é possível entender melhor as ações, necessidades e aspirações dos
indivíduos em relação ao ambiente construído, a partir do conhecimento sobre como a imagem
mental é concebida (Golledge e Moore, 1976).

Para Lynch (1997), a criação da imagem ambiental é baseada no que é visto da forma
exterior e do modo como é interpretado. Isto é, resulta de um processo de percepção e
cognição do ambiente.

A percepção ambiental é um processo de apreensão, através dos sentidos, dos atributos


ambientais que estão imediatamente presentes no ambiente físico, enquanto a cognição
ambiental refere-se a processos de armazenagem, organização e uso destas informações
ambientais percebidas (Lay, 1992). A natureza deste processo de percepção/cognição é
dinâmica, não estática, resultado de um processo bilateral entre o observador e o ambiente, e
nela estão envolvidas, além dos atributos físicos do ambiente, a experiência prévia do
observador e suas concepções e expectativas, construídas e modificadas no tempo (Lynch,
1991b e 1997). Entende-se, portanto que ambos os processos - percepção e cognição - são
necessários para que os indivíduos elaborem uma imagem ambiental. Este processo pode ser
visualizado na figura 2.1 :

OBSERVADOR
(personalidade, estado afetivo, intenções,

ATRIBUTOS
AMBIENTAIS Percepção ambiental Cognição ambiental
ÎÐ

IMAGEM AMBIENTAL

Afeto (reação emocional) Avaliação afetiva/ Significados

ATITUDES e COMPORTAMENTO

Figura 2.1 Processo de avaliação ambiental expressa no uso do ambiente –


adaptada de gráfico de David Miller em Nasar, 1998:5 e de Lay, 1992:52

O modelo apresentado acima permite inferir que o indivíduo apreende a imagem do


ambiente construído e sobre ela realiza suas avaliações. Verifica-se que a resposta avaliativa
tem relação com os atributos físicos do ambiente e que a avaliação ambiental é permeada
pelos processos de percepção, cognição, formação de atitudes e afeto, manifestos através de
comportamento.

Portanto, a avaliação de desempenho ambiental pode ser efetuada a partir das respostas
- afetivas ou comportamentais - dos usuários, que podem ser medidas através dos critérios de
desempenho ‘nível de satisfação do usuário’ e ‘comportamento’.

Lynch (1997) identificou cinco elementos básicos que estruturam a imagem mental das
cidades: caminhos (os percursos), limites (barreiras físicas), bairros (partes da cidade com um
caráter homogêneo), nós (espaços usados mais intensamente como o encontro de ruas) e
marcos (pontos de referência por se destacarem tipológicamente na paisagem, por uma
especialidade de uso ou por representarem um valor simbólico para a população). Estudos
posteriores confirmaram a estabilidade destes cinco elementos estruturadores da imagem da
cidade, entre diversas populações e lugares, apesar de existirem, dependendo do contexto
sociocultural e físico, variações na proeminência dos elementos (Nasar, 1998).

Aos cinco elementos estruturadores da imagem citados por Lynch, Passini (1992) soma
três fatores informacionais muito importantes: a organização espacial (princípios pelos quais
os espaços são organizados); o fechamento espacial (as formas exteriores fechando os
espaços) e a correspondência espacial (a continuidade entre interior e exterior dos espaços
construídos). A facilidade com que as partes de um ambiente podem ser reconhecidas e
organizadas numa imagem coerente é uma qualidade visual que Lynch (1997) denominou
legibilidade.

O conceito de imagem de Lynch (1997) refere-se a qualidades físicas de um ambiente e


é composto por: identidade (o que permite ao lugar ser identificado como único), estrutura
(relação daquele lugar com o próprio observador e com outros espaços) e significado (conexão
da pessoa com o lugar através de ligações de ordem prática ou emocional). A qualidade destes
componentes facilita ou dificulta o processo de montagem da imagem ambiental e a avaliação
dessa imagem influencia nos padrões de comportamento.

Ao grau de facilidade com que o ambiente evoca uma imagem forte em qualquer
observador, Lynch denominou de imageabilidade. A este conceito, o autor relacionou o
trabalho de Stern, que discutiu este atributo como aparência (Stern, apud Lynch, 1997). Lay
(1992) apresenta a avaliação da percepção de aparência visual, como decorrência de
qualidades físicas e simbólicas percebidas pelos usuários, tais como variedade das
construções, materiais empregados, nível de manutenção das edificações e dos espaços ou tipo
de atividade que acontece no espaço. Estas qualidades influenciariam no grau de
agradabilidade, afetando a formação da imagem e a avaliação ambiental dos usuários e, em
decorrência, suas atitudes em relação àquele ambiente e seu comportamento naqueles espaços.

Complementando o conceito de imagem ambiental, Stokolos e Shumaker investigaram


a imageabilidade social de um lugar, como a capacidade de “evocar significados sociais
vividos e coletivamente compartilhados entre os ocupantes e usuários de um lugar” (Stokolos
e Shumaker, apud Bonnes e Secchiaroli, 1995:175-176) mostrando que significado – definido
por Lynch (1997) como conexão através de ligações práticas ou emocionais -, também tem
influência na moldagem do comportamento ambiental.

Para Michelson (1976b, apud Nasar, 1998) os significados e imagens ambientais são,
de maneira geral, compartilhados por grupos ou indivíduos de culturas ou características
econômicas similares.

Os aspectos considerados na formação da imagem ambiental influenciam, portanto, na


avaliação de desempenho do ambiente e na adoção de comportamentos neste ambiente. De
acordo com Marans e Fly (apud Lay, 1992), a avaliação ambiental, e logo o uso, depende de
quatro fatores: a) das características dos indivíduos, principalmente nível socio-econômico e
ciclo de vida; b) das oportunidades à disposição dos indivíduos; c) das percepções de atributos
ambientais que influenciem a intensidade de uso dos espaços, como percepções de densidades
ou de segurança; e d) de fatores físicos disponíveis no ambiente. A estes fatores devemos
acrescentar, de acordo com Lynch (1997), as percepções de conteúdo simbólico dos
ambientes, que lhes conferem significado.

Neste trabalho, serão utilizados como critérios de medição do desempenho ambiental, a


satisfação dos usuários com o espaço, ou com os atributos deste espaço, e o comportamento
adotado por eles no espaço. Estes dois critérios têm sido utilizados em diversos trabalhos (por
exemplo,. Lay, 1992; Reis 1992) para examinar as relações entre o usuário e os vários
aspectos do ambiente construído.

O nível de satisfação do usuário tem sido usado como critério de avaliação, apesar de
existirem diferenças de percepção entre os indivíduos: as pessoas percebem os atributos do
ambiente físico e os avaliam baseadas em certos parâmetros de comparação, especialmente
por aqueles definidos pelo que elas acreditam estar a seu alcance (Lay e Reis, 1993). A
satisfação do indivíduo com o seu ambiente é dependente da avaliação de uma série de
atributos contidos em tal ambiente e, considera-se que, ao existir um alto grau de satisfação
entre os usuários, existe um bom desempenho ambiental (Lay, 1992).

O comportamento ambiental indica, simultaneamente, de modo observável e


mensurável, as percepções, atitudes e avaliações dos usuários com relação àquele ambiente
(op.cit.).

2.3 AS NECESSIDADES HUMANAS RELACIONADAS AO AMBIENTE

Na busca da compreensão das forças que influenciam na formação da estrutura urbana,


é necessário conhecer as relações das pessoas com os seus ambientes – através de um
diagnóstico de suas necessidades e práticas culturais – de forma a poder projetar ambientes
coerentes para seus usuários.

Segundo Lang (1994), as necessidade humanas, no que se refere ao ambiente, motivam


consciente ou inconscientemente as demandas por facilidades físicas que lhes dêem suporte.
São vários os psicólogos que estudaram as categorias das necessidades humanas de maneira a
poder embasar um desenho urbano funcional, predominando, atualmente, a aceitação do
modelo de hierarquias das necessidades humanas de Maslow (apud Lang,1987), como a visão
mais compreensiva destas categorias de necessidades. A teoria de Maslow - uma teoria
holística dinâmica - identifica cinco grupos básicos de necessidades - desde a mais
fundamental até a mais sutil. Ao mesmo tempo, necessidades cognitivas e estéticas guiam e
dão forma ao processo de obtenção das demais necessidades.

A tabela abaixo apresenta uma correspondência entre as necessidades humanas


identificadas por Maslow, as funções do ambiente construído citadas por Fred Steele (apud
Lang,1987) e os mecanismos através dos quais o ambiente construído pode contribuir para
suprir as necessidades humanas.

Tabela 1.1 Correspondência entre necessidades humanas, funções do ambiente construído


e contribuições do ambiente construído
Necessidades humanas Funções do ambiente const. Contribuições do ambiente const.
(segundo Maslow)
Necessidade fisiológica Segurança e abrigo Abrigo, acesso a serviços
Segurança Contatos sociais Acesso a serviços, privacidade,
territorialidade, orientação, espaço
defensível
Pertencimento Contato social, Acesso a serviços, espaços comunais,
identificação/simbólica estética simbólica
Estima ou Prazer, crescimento Personalização, estética simbólica,
Reconhecimento controle
Amadurecimento ou Prazer, crescimento Acesso a oportunidades de
desenvolvimento pessoal desenvolvimento, controle, escolha
Necessidades cognitivas Prazer, crescimento Acesso a oportunidades de
desenvolvimento
Necessidades estéticas Prazer, crescimento Estética formal, arte pelo valor da
arte
Fonte: Lang, 1987

Maslow (apud Lang, 1994) argumenta que as necessidades humanas acontecem numa
hierarquia de preponderância, e uma vez que um nível básico de conforto é alcançado, a
percepção da necessidade passa para um nível mais alto. Individualmente, existem muitas
diferenças entre as prioridades relativas às necessidades, já que os valores não são ordenados
hierarquicamente da mesma maneira por diferentes indivíduos (Rapoport, 1978). Fatores
composicionais subjetivos, como tipo de personalidade, percepções, aspirações e crenças; e
objetivos, como nível socio-econômico, estágio de vida ou gênero a que pertence a pessoa,
influenciariam no estabelecimento da prioridade das necessidades (Reis, 1992). Por outro lado
os fatores contextuais – relacionados com as características físicas dos ambientes -,
contribuem para preencher estas necessidades de maneira mais ou menos adequada. Segundo
Lang (1994), quanto maior a intensidade e facilidade com que isto acontece, mais agradável
se torna o ambiente para o usuário, contribuindo para o sentimento de qualidade ambiental.

A seqüência de necessidades humanas que o ambiente pode suprir é melhor detalhada a


seguir.

2.3.1 Necessidades fisiológicas


A necessidade de sobrevivência é a mais básica necessidade do ser humano. Um teto,
infra-estrutura básica (água, luz, esgoto), canais de circulação que ofereçam acesso para
pedestres e motoristas, acesso a serviços, acesso a sol, brisa e sombra, são necessidades
comuns a todos os seres humanos, se bem que percepções de conforto apresentem variações
individuais, tanto por razões fisiológicas quanto psicológicas, pois muito depende dos níveis
de conforto a que o indivíduo está habituado (Lang, 1994).

2.3.2 Segurança

Uma vez que as necessidades básicas de sobrevivência estejam razoavelmente


satisfeitas, o homem passa a preocupar-se com questões de segurança. Quatro fontes de
insegurança física e psicológica são passíveis de se apresentarem no ambiente: poluição e
bactérias; eventos naturais, tais como inundações e terremotos; riscos impostos por elementos
do ambiente construído e as máquinas utilizadas e, finalmente, o comportamento anti-social de
segmentos da população (op. cit).

Dentre estas quatro fontes, Gumbert e Drucker (1996) colocam o medo da violência
nas ruas como a causa principal que leva as pessoas a, progressivamente, ficarem isoladas em
suas casas e conectadas com o mundo através da mídia ou da rede virtual.

Pesquisas mostram que, através de decisões de planejamento, é possível aumentar a


segurança e a sensação de segurança (Newman, 1973; Lynch, 1997; Passini, 1992).
Preocupações com i) o grau de segregação de usos incompatíveis; ii) o grau de vigilância,
natural e artificial; iii) os mecanismos para conseguir os níveis adequados de privacidade para
diferentes atividades, entre eles a territorialidade; iv) a busca por um senso de orientação no
lugar e no tempo e v) a busca de um sentido de lugar positivo, ajudariam a alcançar tal
objetivo (Newman, 1973).

Há dois tipos de segurança relacionados ao ambiente construído: um tipo, que refere-se


à saúde, crimes e acidentes de várias ordens, e o outro, o desejo de evitar o desconhecido, de
estar no controle e ter um sentido de lugar, geograficamente e socialmente falando.

Parece existir, nas sociedades urbanas contemporâneas, uma obsessão por segurança
física expressa através de soluções arquitetônicas e ambientais que delimitam e reforçam as
fronteiras sociais. Este é o quadro que Mike Davis (1993) coloca como emergente na Los
Angeles contemporânea: a defesa de um estilo de vida luxuoso, através da construção de um
ambiente segregado, e mesmo de uma “resposta armada”, que mantenha a separação. Para
ele, a busca “faraônica” por segurança residencial e comercial enterra a visão de espaços
públicos, com mistura de classes e etnias, como modo de abrandar a luta de classes através da
recreação e diversão comuns. Como conseqüência, é comum se constatar o esvaziamento dos
espaços públicos nas áreas habitadas por classes sociais mais abastadas5.

Exemplos similares podem ser encontrados em diversos lugares dentro da realidade


brasileira, tais como a Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro ou até mesmo o tipo de
vida urbana existente na cidade de Campo Grande.

2.3.3 Pertencimento

Segundo Maslow (apud Lang,1987), relacionado ao ambiente, uma vez que as


necessidades fisiológicas básicas de abrigo e de segurança tenham sido equacionadas, a
necessidade de pertencimento passa a ser valorizada e buscada pelas pessoas.

A necessidade de pertencimento é suprida pela existência de redes de relações que


levam o indivíduo a identificar-se com um ou mais grupos – desde o pequeno grupo familiar
até o sentimento de pertencer a uma nação.

Atividades regulares, como passeios por locais específicos – a ‘promenade’, há poucos


anos ainda tão comum em cidades do interior brasileiro – e eventos que levem estranhos a
ficarem juntos, como eventos esportivos, desfiles ou comemorações (por exemplo, a espera da
chegada do Ano Novo) estabelecem um senso de identidade de grupo e também dão um
sentimento de pertencer a uma cidade (Lang, 1994).

Além de fazer parte de um grupo, muitas pessoas sentem necessidade de pertencer a


um lugar – ter raízes em algum lugar. O sentido de ligação com o ‘lugar’ acontece através da
identificação simbólica com um local reconhecido como diferente de outros e que possui um
caráter próprio (Lynch, 1985).

5
Muito mais nos Estados Unidos do que na Europa, quando enfocados os países de onde provêm a
maior parte da bibliografia da área de Ambiente-Comportamento.
Tuan (apud Bonnes e Secchiaroli, 1995) investigou o tema do lugar de maneira a
entender o problema de laços afetivos estabelecidos com o ambiente físico. Para o autor, os
lugares não são resultado só das características físicas do ambiente, mas produto de atos
humanos intencionais (gestos, discursos, objetos e ações), numa criação e recriação
constantes. Para Canter (apud Bonnes e Secchiaroli, 1995), o ‘lugar’ é visto como o resultado
das relações entre as concepções, ações e atributos físicos daquele local.

Proshansky (apud Carr et al, 1992) aponta as experiências vividas em espaços públicos,
especialmente as interações sociais, como contribuintes na identidade do lugar e no
desenvolvimento da própria identidade do indivíduo. Por exemplo, os espaços ligados às
recordações de infância são espaços que podem dar um sentido de continuidade através dos
diferentes estágios da vida do indivíduo. De forma que, a alta mobilidade - possível através
das atuais tecnologias de transportes e presente em grupos de maior renda - pode trazer
consigo a perda deste sentido de ‘lugar’.

2.3.4 Reconhecimento

A necessidade de auto-estima e reconhecimento é comum à maioria das pessoas e


grupos, se bem sejam sentidas em diferentes graus tanto pelos indivíduos como pelos grupos
ou culturas e subculturas. Busca-se estima e reconhecimento através de caminhos como a
aquisição de conhecimento formal ou competência em algum campo, a demonstração de
controle sobre a própria vida ou a posse de bens materiais (Lang, 1994).

Na tentativa de obter reconhecimento, os espaços públicos abertos podem ser um palco


onde habilidades são mostradas para os outros, como em atividades de adolescentes, por
exemplo.

2.3.4.1 Status

Exibir status social é uma maneira de demonstrar a que grupo se pertence e de


conseguir estima e respeito por parte dos outros. O status relativo pode ser mostrado, entre
outras coisas, através de poder econômico, maneira de falar, volume de privacidade possuído,
coisas que a pessoa possui ou o lugar escolhido para viver. Assim a escolha do lugar para
viver – bairro ou construção - é influenciada por razões funcionais, mas também por razões de
demonstração de status relativo (Lang, 1994).

Coulson (1980) sugere, através de seus estudos, que a localização da residência numa
área de bom status e de caráter amigável, inclusive pela proximidade aos amigos, seria mais
importante na determinação da satisfação com o bairro do que a localização conveniente em
relação ao local de trabalho e às lojas.

Preferências por formas vinculadas a um conceito de renovação muitas vezes estão


ligadas a uma demonstração de status: quanto mais ‘novo’, mais alto o status aparente. O
imaginário brasileiro, segundo Goodey (1984), ainda é dominado pelo futuro, pela idéia de
crescimento como o ideal a ser alcançado: daí a preferência, muitas vezes encontrada entre
nós, por imagens, símbolos e ações que apontem para o novo, desvinculadas do passado, o que
dificulta a valorização e a preservação dos espaços existentes - sejam eles construídos ou
naturais.

2.3.4.2. Privacidade e controle

Paralelamente à necessidade de pertencer a um grupo, existe, no ser humano, a


necessidade de privacidade (Lang, 1994; Altman & Chemers, 1989). A privacidade é uma
parte importante do senso de identidade, pois muitas vezes não é fácil perceber e integrar o
sentido de todas as coisas que acontecem à pessoa num ambiente público: é necessário tempo
e espaço para poder refletir sobre tudo e formular respostas consistentes (Gibson, 1997). Por
isso, “os seres humanos precisam manter uma certa distância da observação íntima por parte
do outro para poderem sentir-se sociáveis” (Sennett, 1998:29).

A privacidade é um comportamento social que direciona os meios pelos quais os


indivíduos regulam seus contatos com o mundo social e fazem-se mais ou menos acessíveis
aos outros. As pessoas estabelecem o nível de privacidade desejado. Os grupos também. E
para conseguir este nível, adotam práticas de regulação da privacidade que afetam o desenho
dos espaços e da própria cidade. Os níveis desejados de privacidade variam com a cultura a
que pertence o indivíduo, com o sexo, a idade, com a classe social e o uso pretendido para o
local (Altman e Chemers, 1989).
A quantidade de privacidade que uma pessoa ou grupo possui está relacionada, além de
segurança, com status social. Quanto mais alto o status, mais privacidade é conferida às
pessoas – através de mecanismos como convenções sociais ou soluções arquitetônicas e de
urbanismo. Aumentar as oportunidades de privacidade é um meio de expressar controle, e
quanto maior controle alguém pode ter sobre sua vida e seu ambiente, maior a sua auto-estima
(Lang, 1994).

Assim, um balanço entre duas necessidades – participação e isolamento – é base para


dar ênfase aos espaços de interação ou de recolhimento. A relação correta com a vizinhança
pode depender da possibilidade de balancear o ter privacidade, sem estar isolado, e o ser
sociável sem ser forçado a um contato (Coulson, 1980).

A territorialidade faz parte do sistema com o qual o indivíduo ou grupo regula sua
privacidade. Território se refere a objetos, lugares ou áreas geográficas que podem ser
controlados por um indivíduo ou grupo, em bases permanentes ou temporárias (Altman e
Chemers, 1989). Através da definição e do controle de territórios também se regula as regras
de funcionamento social promovendo segurança, identidade, status, estabilidade social,
sentimento de pertencimento e sentido de lugar (Edney, apud Lay, 1998; Altman e Chemers,
1989).

2.3.4.3 Territorialidade no espaço público

A demarcação territorial pode se dar por barreiras simbólicas ou reais, mas o que é
importante para aumentar a segurança, no entender de Newman (1973), é a demarcação clara
de quais sejam as jurisdições públicas, semi-públicas, semi-privadas ou privadas, de forma a
estimular o controle sobre as áreas.

A territorialidade e o senso de controle sobre um espaço representam um direito do


indivíduo ou grupo de se apropriar dos espaços para usá-los, e um de seus valores é o de trazer
consigo a mensagem de que alguém se preocupa com tal espaço, que ele pertence a alguém.
Esta mensagem é, em geral, respeitada pelas pessoas. Porém, a demonstração de controle de
um território por parte de um grupo ou por um indivíduo quando em espaço público pode
restringir a liberdade dos outros. Portanto, pode existir conflito entre os direitos territoriais de
uma comunidade, ou de alguns membros desta, e os direitos de todos de usufruir do espaço
público e é necessário procurar um balanceamento entre a liberdade de usar um espaço que é
público e a necessidade de imposição de certas limitações e controles (Carr et al, 1992).

2.3.5 Necessidades de amadurecimento, necessidades estéticas e necessidades cognitivas

O ambiente pode oferecer oportunidades valiosas de aprendizado informal, seja através


da participação em atividades ou através da observação do ambiente e das pessoas. Um
ambiente rico em experiências estéticas e cognitivas tende a preencher as necessidades de
amadurecimento pessoal dos indivíduos. (Lang, 1994). Para as crianças, a dificuldade em
cidades grandes, com o uso da terra segregado e grupos convivendo separados de acordo com
seu estágio no ciclo de vida e nível sócio-econômico, a oferta de oportunidades de exploração
ambiental é proporcionalmente bem menor, do que em cidades pequenas ou no campo. Além
disso, a dependência do automóvel em certas classes sociais, tem tornado a acessibilidade ao
ambiente exterior limitada para crianças e adolescentes desses extratos, também dificultando o
processo cognitivo daqueles indivíduos (Carr et al, 1992).

Segundo Maslow (apud Lang, 1994) as pessoas necessitam, em certo grau, contemplar
a beleza, mas a definição de belo está muito ligada a questões culturais e individuais. Por
exemplo, algumas culturas são mais materialistas do que outras e as necessidades de
reconhecimento podem predominar sobre a necessidade de experenciar a beleza.

Características individuais como idade, experiência ou nível socio-econômico


influenciam nos padrões estéticos percebidos e preferidos. Apesar destas preferências
variarem com as condições socioculturais, estudos recentes têm confirmado um consenso
sobre elas entre indivíduos de um mesmo grupo. Isto sugere que a beleza do ambiente é menos
subjetiva e qualitativa do que se pensava anteriormente (Nasar, 1998).

Toda esta gama de necessidades humanas são demandas que os espaços públicos
podem suprir em alguma medida, como se discutirá a seguir.

2.3.6 O papel dos espaços públicos no preenchimento das necessidades humanas


De acordo com Carr et al (1992) são cinco os propósitos gerais pelos quais as pessoas
procuram os espaços abertos públicos: conforto (físico e psicológico), relaxamento,
engajamento passivo com o ambiente, engajamento ativo com o ambiente e descobertas. Estes
propósitos podem acontecer de maneira isolada ou combinados entre si.

Nos espaços abertos, alguns indivíduos buscam locais para relaxar, outros procuram
mudanças físicas e sociais, atividades que podem incluir a interação com os outros indivíduos,
compras, participação da vida das ruas, atividades físicas ou o simples flanar. Espaços
públicos abertos, entre outras coisas, dão acesso a ar fresco, sol e a locais tranqüilos dentro do
ambiente agitado da cidade (Carr et al, 1992; Lynch, 1985; Pesavento, 1999).

Os espaços públicos bem sucedidos, com suas características de espaço de encontro e


de troca, facilitam a participação em atividades de grupo e favorecem o sentimento de ser
parte da comunidade e da vida da cidade. São locais que expandem as possibilidades de
escolhas individuais e trazem satisfação com um mínimo de investimento social e econômico;
neles, o indivíduo tem a chance de encontrar desafios negados em outros ambientes mais
protegidos e mais dispendiosos do espaço urbano; possibilitam o engajamento em ações raras
nos espaços privados, mas possíveis de acontecerem nos espaços públicos, levando a uma
relação mais direta do indivíduo com o mundo (Lynch, 1991b). Os espaços públicos abertos
podem servir como local para novos contatos não especializados ou não usuais, livres das
restrições que a vida diária rotineira impõe. A quebra de barreiras sociais, mesmo que por
pouco tempo e superficialmente, é um aprendizado importante no processo de socialização.
Além disso, o espaço público urbano, quando adequado, oferece a oportunidade de olhar para
o outro de maneira protegida (Gumpert e Drucker 1996).

Lynch (1997) argumenta que os espaços abertos ajudam na compreensão da


organização e da natureza do ambiente urbano, facilitando a percepção e a criação da imagem
ambiental da cidade. Segundo o autor, como entender a estrutura espacial e temporal do
ambiente é fundamental na memorização do espaço, no sentido de orientação e na criação de
um sentimento de pertencimento e controle sobre este ambiente. Denota-se daí a importância
dos espaços públicos, já que a ampla visão da cidade que possibilitam, facilita esta
compreensão. O entendimento é fonte de segurança emocional e base para um sentimento de
auto-identificação e relação com a sociedade. Importante para tanto, além da legibilidade dos
marcos referenciais gerais, são as relações existentes entre os espaços públicos da cidade.

A configuração geral do espaço público e seus elementos tem um papel importante


também na percepção da beleza, de acordo com Lozanos (apud Lang, 1994). Se
apropriadamente arranjados, podem contribuir substancialmente para o efeito estético do
ambiente urbano.

Para Hester Jr.(1989) existem hoje seis caracterizações de uso em espaços abertos.
Além de local e máquina de recreação, um item de consumo ou uma ‘justaposição’ de
diferentes funções possíveis ou necessárias. Em certos casos, fonte de recurso econômico (isto
entre as classes de baixa renda), em outros, o espaço aberto como um meio de reconecção com
o ambiente natural e com a comunidade e finalmente a topofilia – o desejo de estar conectado
com os lugares físicos através da emoção, como foi investigado por Tuan (apud Bonnes e
Secchiaroli, 1995). A topofilia se refere a sentimentos positivos em relação aos lugares. Este
autor examinou também o fenômeno que ele define como ‘sentido de lugar’, como um produto
da capacidade intencional de refletir sobre aquele lugar e, portanto, de apropriar-se dele num
nível afetivo de uma maneira auto-consciente, o que implica em uma certa distância entre o ser
e o lugar, que permita ao ser a apreciação consciente daquele lugar.

Dependendo de como se configura, o espaço público pode dar uma identidade positiva
ou negativa a uma área ou bairro, atuando como marco e símbolo, e pode possibilitar, ou
restringir, oportunidades para as pessoas, amigos ou estranhos se encontrarem e
compartilharem a experiência de estar num ‘lugar’ (Lang,1994).

A busca de espaços públicos mais responsivos às necessidades humanas, mais


democráticos e significativos, pode levar a uma nova dimensão da cultura pública. Segundo
Carr et al (1992) o movimento pela dinamização dos espaços públicos pode incrementar a
tolerância entre as pessoas, pois ver gente diferente de si mesmo respondendo de modo
semelhante ao mesmo lugar cria uma ligação, mesmo que temporária, entre os indivíduos.

Altman e Chemers (1989) apresentam três teorias sociológicas sobre a vida nas
cidades, que podem ser úteis no entendimento do papel dos espaços públicos no ambiente
urbano:
a) As teorias deterministas, para as quais o tamanho da cidade e as altas densidades
populacionais produzem estímulos que levam, freqüentemente, a respostas como
desligamento, distanciamento e menosprezo pelas necessidades dos outros. Estas teorias vêem
o crime, a doença e a desorganização familiar, eventualmente, como resultado das pessoas
estarem mais isoladas e alienadas dos outros em cidades grandes e organizadas da maneira
como o são hoje em dia, diferente de como costumavam estar em suas cidades pequenas.

b) As teorias composicionais, que vêem os moradores das cidades relacionados à sua


vida em família, aos grupos estendidos e às vizinhanças locais, sendo a qualidade destes
grupos de maior influência no bem estar dos residentes do que o tamanho total da cidade. A
densidade e outros fatores afetariam, somente indiretamente, a vida dos moradores, através da
economia e da política.

c) As teorias sub-culturais, que combinam as posições das teorias deterministas e das


teorias composicionais. Conciliam a visão de que os diferentes grupos a que as pessoas
pertencem – étnicos, ocupacionais, religiosos - influenciam a vida na cidade, mas também que
aspectos tais como tamanho, densidade, heterogeneidade, têm um forte impacto sobre as
pessoas. O tamanho das cidades possibilita ainda a formação de novas sub-culturas – étnicas,
ocupacionais, de minorias, criminais, homossexuais, etc... - e aumenta a possibilidade de
conflitos entre subgrupos quando estes entram em contato e competem por espaço e por
recursos.

Da mesma forma que a vida social nas cidades parece depender da combinação de
aspectos composicionais e contextuais, o preenchimento das necessidades humanas
estabelecidas pela vida social depende da combinação de múltiplos e complexos aspectos de
ambas as ordens. A satisfação com o ambiente, e logo, o comportamento ambiental, depende
da eficiência com que este ambiente preenche as necessidades existentes.

Procura-se, a seguir, identificar, a partir da literatura, quais os fatores que afetam a


satisfação e o comportamento dos usuários dos espaços abertos públicos.

2.4 FATORES QUE AFETAM O DESEMPENHO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS


Vários fatores foram identificados como influentes no desempenho de espaços abertos
públicos oferecidos pela cidade e, conseqüentemente, nas interações sociais que neles
acontecem. Conforme mencionado anteriormente, aspectos relacionados a características dos
indivíduos - fatores composicionais - e aspectos ligados a características físicas dos espaços -
fatores contextuais - afetam o estabelecimento de prioridades de necessidades e, portanto,
afetam o uso dos espaços abertos públicos. Por outro lado, o próprio uso seria um dos fatores
que influencia na apropriação dos espaços, pois, de acordo com Whyte (1980), a presença de
pessoas é o que mais atrai outras pessoas para os espaços.

2.4.1 Dimensões de desempenho

Podemos considerar as mesmas dimensões de desempenho relacionadas à forma


espacial da cidade, que Lynch (1985) coloca como características básicas para a existência de
um bom assentamento, como desejáveis para o sistema de espaços abertos públicos, já que
estes estruturam a cidade e lhe dão feição. Estas características se desenvolveriam dentro de
conceitos gerais de continuidade, conexão e abertura. São elas: vitalidade (a forma com que o
espaço sustenta as funções vitais de sobrevivência: a funcionalidade); sentido (grau no qual o
espaço pode ser claramente percebido e mentalmente diferenciado através de estrutura,
congruência, transparência, legibilidade e significado); a adequação às atividades que se
deseja realizar no espaço; o acesso diversificado, igualitário e suscetível de controle local e,
finalmente, controle (o grau em que o uso e o acesso aos espaços e atividades são controlados
pelos que os usam). E isso tudo mediante justiça e eficácia interna para cada uma das
dimensões, o que remete à facilidade do exercício dos direitos dos usuários6, colocada por
Carr et al (1992) como necessária à dinamização dos espaços públicos.

Lynch argumenta que estas dimensões de desempenho funcionam em uma


interdependência mútua e podem variar, em grau de prioridade, de acordo com a cultura e o

6
Direitos dos usuários: a liberdade de usar e se apropriar do espaço e a possibilidade de exercer
certo controle sobre o lugar. As qualidades necessárias para promover os direitos dos usuários: acessibilidade
física, visual e simbólica, liberdade de uso e possibilidade de executar algumas mudanças no ambiente.
desenvolvimento da sociedade. Assim, o nível de recursos disponíveis, a homogeneidade ou
não de valores, o grau de concentração de poder e a estabilidade relativa da sociedade e do
entorno teriam influência na valorização das diferentes dimensões.

Para Gehl (1987), os pontos chaves para a animação dos espaços públicos são
facilidade de acesso, boas áreas de permanência e possibilidade de ter alguma coisa para
fazer naquele espaço. Para este autor, atividades opcionais e sociais7 acontecem nos espaços
públicos quando as qualidades do ambiente são favoráveis para o ‘ficar’ e para o ‘mover-se’,
quando um mínimo de desvantagens e um máximo de vantagens física, psicológicas e sociais
acontecem e quando o ambiente é agradável sob todos os aspectos. Um ambiente é agradável
sob todos os aspectos quando é protegido do crime, do tráfego, do clima, tem qualidades
estéticas e um sentido de lugar - que surge quando características visuais permitem um
sentimento de que aquele é um lugar especial, único, inspirando as pessoas a permanecerem
naquele espaço. Em resumo segurança, conforto, beleza e significado.

Semelhante às variáveis apontadas por Gehl, Francis (1987) apresentou, como


dimensões que influenciam no uso dos espaços abertos públicos, variáveis ligadas ao ambiente
físico: a imagem do local – a aparência -, a segurança, a acessibilidade, o conforto ambiental
e a variedade de usos e de usuários.

Entre os muitos aspectos que influenciam na apropriação dos espaços públicos,


destacamos com maior ênfase, através da revisão bibliográfica apresentada a seguir, além da
diversidade de usos, aspectos relacionados às características físicas dos espaços (fatores
contextuais) e aspectos culturais e sócio-econômicos dos indivíduos (fatores composicionais).

2.4.2 Diversidade e intensidade de usos

7
Atividades opcionais, são atividades que acontecem nos espaços abertos públicos quando existe
desejo de participar, tempo e lugar para acontecer: coisas como dar uma caminhada, tomar um sol ou apreciar a
paisagem. Atividades sociais são atividades que dependem da presença de outros no espaço para acontecer:
brincadeiras, conversas, olhar ou escutar as pessoas.
O uso de um espaço aberto é um indicador crítico de seu desempenho (Lay, 1992;
Whyte, 1980).

Quando vazio, ou vandalizado, um espaço público aberto simplesmente não funciona.


Por outro lado, como a presença de pessoas nos espaços é um processo auto-reforçado –
quando alguém começa a fazer alguma coisa, há uma tendência a que outros se juntem a ele
(Gehl, 1987; Whyte, 1980) - o nível de atividade de uma área pode ser estimulado quando
incentiva-se um maior número de usuários a utilizar os ambientes e encoraja-se permanências
individuais mais prolongadas nos espaços.

Espaços que acomodem usos mistos ou integrados apresentam maior riqueza e


vitalidade do que espaços de um único uso (Trancik, 1986). Portanto, atividades de várias
ordens acontecendo simultaneamente, em espaços próximos, com públicos diferenciados,
tenderiam a dinamizar o ambiente com a presença humana e a congregar um maior número de
usuários. É certo que algumas atividades são incompatíveis, mas muitas não o são, e se o
interesse é incentivar o uso dos espaços de forma mais intensa seria conveniente investir em
heterogeneidade de funções que sirvam a um público heterogêneo.

Num trabalho clássico, “Morte e vida das grandes cidades americanas”, Jane Jacobs
(1967) já advogava um princípio máximo para a cidade apresentar-se viva e saudável: uma
densa e intrincada diversidade de usos que se sustentem e apoiem uns nos outros, tanto
econômica quanto socialmente. A diversidade de usos traz a diversidade de usuários, tanto na
rua quanto na praça pública.

Atualmente, o uso misto das áreas da cidade, das suas ruas, é advogado por muitos
planejadores urbanos. No entanto, Lang (1994) chama a atenção para o fato de que muitas
pessoas estão dispostas, e mesmo desejosas de trocar os benefícios de áreas de usos mistos
pelas áreas vistas como de maior status – áreas mais homogêneas e segregadas, que são vistas
como locais de maior prestígio. Esta escolha reflete as necessidades de auto-estima e de
reconhecimento, já comentadas anteriormente.

O uso das ruas, praças e parques para atividades sociais, opcionais ou recreacionais
apresentam particularidades que serão discutidas a seguir.
2.4.2.1 O uso das ruas

Apesar da rua poder existir como um local de permanência além de local de passagem
e de, tradicionalmente, ser reconhecida como um local de interação social, hoje, em muitos
locais, deixou de ser um lugar de permanência para ser unicamente lugar de passagem
(Sennett, 1998).

Como discutido no capitulo 1, o processo de evolução das ruas acompanha a evolução


da organização social e tecnológica da humanidade. Desde a época em que a rua era centro de
informações passou por crescentes especializações, pelas ruas das corporações e depois zonas
de trabalho especializadas, zonas residenciais separadas e zonas só de entretenimento ou
comerciais, sempre no sentido de favorecer organizações e solidariedades que criaram e
ajudaram a desenvolver a sociedade humana. O desenvolvimento do sistema de classes
estratificado aumentou ainda mais a especialização das ruas, criando bairros de diferentes
classes espalhados pela cidade (Levitas, 1991). Neste processo, as especializações foram
determinantes no esvaziamento da diversidade que caracterizava tradicionalmente os espaços
públicos.

Avanços tecnológicos de toda as ordens concorrem para este quadro, mas os avanços
nas áreas de transportes e de comunicações são os mais definitivos como liberadores da
necessidade de se estar à rua para realizar muitas das atividades prioritárias da vida urbana.
Assim como as classes de renda mais altas têm maior acesso a estas tecnologias (com seus
custos), são as que podem dispensar com maior eficiência as relações de convivência de
vizinhança baseadas nas relações de dependência um do outro. Em conseqüência, as regiões
da cidade que servem a estas classes são as que apresentam menor índice de movimento nos
espaços das ruas (Rapoport, 1978).

Apesar das evidências em relação a um esvaziamento dos espaços das ruas em certas
partes da cidade, a possibilidade de ver outras pessoas nos espaços de circulação como base
para interações, amplia o senso de segurança e de pertencimento ao lugar (Lang, 1987). As
características de uso de uma área influenciam, de acordo com Jacobs (1967), a presença de
pessoas nas ruas, onde um uso misto entre residências e comércio/serviços dá maior
consistência ao movimento de pedestres, durante as várias horas do dia, do que um uso
homogêneo.
A proposta de requalificação da cidade como um objeto de desenho urbano, incluindo a
atenção aos espaços públicos, é uma resposta ao interesse crescente de muitos grupos por uma
vida de maior sociabilidade. Em muitas cidades, principalmente européias, o aumento de
tempo livre disponível na sociedade tem levado a uma adaptação de padrões da vida nas ruas:
ruas de pedestres foram criadas e a vitalidade destas, ano após ano, cresce em intensidade e
criatividade.

Por exemplo, em 1986, um estudo sobre a vida nas ruas centrais de Copenhague
revelou a triplicação das atividades sociais recreacionais em quinze anos pesquisados, nas
regiões onde foi investido esforços no sentido de incrementar a vida pública . Nesse estudo,
Gehl (1989) demonstra que a rua é o maior espaço livre da cidade e que não existe outro
espaço que, a tão baixo custo, possa oferecer tantas oportunidades de prazer a um tão amplo e
variado número de pessoas. Quanto mais as pessoas ficam na rua, mais elas se encontram, e
maior é o contato e a conversação observada.

Neste sentido foram propostos, inicialmente na Holanda e depois por outros países da
Europa, os “woonerfs”, como espaços onde se procura favorecer o uso social e recreacional
em ruas residenciais com prioridade para pedestres, com locais para crianças brincarem e
locais para sentar, mantendo o acesso veicular em baixa velocidade, para as residências. O
arranjo tem a intenção de transmitir a mensagem de que a ‘rua pertence ao morador’ e de
promover o seu uso em atividades sociais organizadas pelos residentes (Pressman, 1987),
demonstrando ser positivo, especialmente para a apropriação de um espaço maior por parte
das crianças, que são tão dependentes do espaço imediatamente próximo a suas casas
(Eubank-Ahrens, 1987) .

Mesmo no Brasil, tentativa semelhante foi esboçada em São Paulo, durante a


administração municipal do período 1988/92, quando era possível a uma vizinhança
reivindicar ações físicas para que o espaço daquela vizinhança tivesse o trânsito de passagem
dificultado, priorizando a movimentação dos pedestres através das baixas velocidades que
seriam induzidas na área.

O sucesso das tentativas de criação de espaços abertos especiais para convívio não é,
no entanto, generalizado. No caso da limitada aplicação, das idéias do movimento norte-
americano de ‘ruas de sociabilidade’, defendido por pesquisadores de desenho ambiental,
como Donald Appleyard e Willian Whyte, que reconhecem a importância da baixa velocidade
de tráfego e da qualidade ambiental para o nível de utilização dos ambientes públicos pelos
residentes, Francis (1987b) aponta a relutância de vários órgãos do poder público em devolver
aos usuários o controle das ruas. No estudo de experiências realizadas com ruas privadas,
Francis observou que a criação destes enclaves privilegiados contribui para alargar problemas
sociais e age contra um ideal de cidade democrática com diversidade econômica e social.
Quanto ao movimento de ‘ruas de pedestres’ nas áreas centrais urbanas, funcionaria, na maior
parte dos casos, para resolver problemas de relação entre comércio e circulação de veículos,
não atendendo questões como diversidade comercial, acesso público e vitalidade das ruas, o
que poderia estar contribuindo para esvaziar aqueles espaços.

Em sua proposta de ‘ruas democráticas’, Francis (1987b:29), mantém a visão da rua


como o local mais positivo e mais acessível para a vivência pública contemporânea. Para ele,
ruas democráticas são “as que são bem usadas, convidam à participação direta, oferecem
oportunidades de descoberta e aventuras, são localmente controladas e globalmente
acessíveis”, e são altamente desejáveis para manter o dinamismo da cidade. Na busca de
espaços públicos mais democráticos, o autor propõe uma política que seja negociada entre
aqueles diretamente interessados nos espaços e que incentive a participação pública. Para
Francis, um ingrediente fundamental para o sucesso das ruas como espaços públicos é a
existência de uma política que leve a um processo contínuo e aberto de participação.

A liberdade de usar um espaço aberto público é um fator importante na vitalidade


daquele espaços, mas tende a ser distribuído de maneira não uniforme pela população, por
restrições culturais e/ou por políticas de projeto e de manutenção. A falta de políticas de
inclusão nos espaços públicos pode encorajar conflitos entre grupos que passam a usar estes
espaços como campo de batalha e, com isso, afastam muitos dos potenciais usuários (Carr et
al, 1992).

2.4.2.2 O uso das praças e parques

As praças e os parques servem para vários propósitos: arejar e iluminar áreas urbanas
densas, criar um núcleo para uma vizinhança, ser um local de encontro ou de prática de
atividades físicas ou, simplesmente, permitir a uma pessoa estar ao sol ou à sombra.
A natureza de uma praça pública, segundo Sennett (1998), é condizente com a vocação
de mesclar pessoas e diversificar atividades. Hoje, porém, são encontradas muitas praças
contemporâneas projetadas de maneira a negar esta vocação: são locais vazios, que servem
somente como passagem. Nelas, o autor vê expressas as limitações da vida pública
contemporânea, resultado da especialização, homogeneização e isolamento, mesmo que no
meio da multidão.

Para Chidister (1989), faz-se necessário substituir a visão da praça e da rua como locais
públicos primários da cidade por uma visão mais ampla do que seja, hoje, uma paisagem
pública e dos seus propósitos e significados para a vida das pessoas. A grande quantidade de
oportunidades para o modo de vida privado, juntamente com a fragmentação da cidade
mudaram a imagem da área central como concentração heterogênea de atividades e ponto
focal da cidade. A vida pública se fragmentou em locais especializados e estes já não mantêm
as características de heterogeneidade e livre acesso que tradicionalmente os definiam. Os
espaços públicos de lazer parecem seguir o mesmo caminho, acontecendo de modo
hierarquizado no tecido da cidade e especializando-se em servir a quem mora ou trabalha nas
proximidades.

Frúgoli Jr. (1995) relata um uso observável, hoje, em muitas praças urbanas centrais de
grandes cidades: a sua utilização com ocupações ligadas à busca da sobrevivência por uma
população excluída do mercado de trabalho formal. São atividades que vão desde o pequeno
comércio informal até a marginalidade. E, conforme esta camada da população se apropria da
praça pública, outras camadas – médias e altas – desenvolvem aversão a estes espaços e
escolhem outros para suas atividades. Esta separação entre usuários da praça pode ser
traduzida, segundo Lang (1994), como receio. Para ele, a rejeição a certos usos, em certas
áreas, vem, principalmente, da percepção quanto ao tipo de pessoa que se utiliza do local. O
medo surge, geralmente, quando alguém se depara com pessoas diferentes de si mesmo. Neste
caso, é o desconhecido que perturba o sentimento de segurança.

Mas, de modo geral, praças e parques são, hoje, vistos e utilizados principalmente
como espaços para lazer. Via de regra, são ótimos lugares para tanto, pois neles o lazer é
gratuito e pode alcançar todas as classes, categorias e indivíduos. O lazer ativo possível de
acontecer na praça e no parque, com uma participação consciente e construtiva, trabalha as
relações sociais fazendo um balanceamento com as outras formas de lazer moderno – livros,
televisão, cinema - que induzem ao isolamento e à passividade (Yurgel, 1983).

O uso dos espaços públicos de lazer parece ser grandemente influenciado pela
qualidade do espaço externo, assim como a oportunidade de falar com outras pessoas. As
conversas nos ambientes públicos podem se desenrolar entre acompanhantes, pessoas que se
encontram no caminho ou com estranhos. Porém, com estranhos é mais difícil de acontecer e
precisa de incentivo, um catalisador, algo sobre o que se falar: o que Whyte (1980) chama de
triangulação - alguma coisa acontecendo no espaço sobre a qual possa-se iniciar uma
conversação. Crianças representam um grande catalisador para toda esta dinâmica, e
proporcionar espaços destinados a atividades infantis é incentivar o uso das praças e parques
públicos de forma multiplicada.

As características de uso do entorno também influenciam na forma de apropriação


destes espaços: se estiverem localizados dentro de uma zona altamente comercial, serão mais
usados como passagem ou para uma pausa mais tranqüila no dia de trabalho e se estiverem
localizados em área mais residencial, seu uso se dará mais nas horas que as pessoas retornam a
suas casas depois de seus afazeres (Cooper Marcus e Francis, 1990).

Como foi dito anteriormente, o uso dos espaços públicos de lazer está vinculado à
resposta física ao que foi percebido dos atributos do ambiente e da satisfação com aquele
ambiente, e é afetado pelas características físicas dos espaços e pelas características dos
indivíduos que os utilizam ou deixam de utilizar.

Aspectos relativos às características físicas dos espaços, e que influenciam no tipo e


intensidade de apropriação dos espaços públicos, são discutidas no próximo item.

2.4.3 Aspectos relativos ao ambiente construído – fatores contextuais

A configuração dos espaços públicos tem seu papel a desempenhar na questão da


apropriação destes espaços, já que, frente à influência de aspectos relativos às características
dos indivíduos em seu comportamento ambiental, vários autores concordam quanto à visão de
que o ambiente físico pode facilitar ou inibir este comportamento. (Lang, 1987; Rapoport,
1987; Gehl, 1987).

A leitura e a compreensão da estrutura do espaço urbano – a legibilidade, que


influencia a formação da imagem ambiental e, conseqüentemente, o comportamento - podem
ser feitas a partir de suas partes. Três escalas do espaço urbano, classificadas por hierarquia de
complexidade, podem ser usadas como base para a análise espacial: a rua, o bairro e a cidade
(Rossi, 1995; Lamas, 1990).

Os elementos morfológicos que caracterizam as ruas são as construções (com seus


volumes e fachadas), as relações que estas estabelecem entre si e com o espaço remanescente e
os detalhes como mobiliário, vegetação, pavimentos, etc. O traçado das ruas, as praças,
quarteirões com características comuns, os monumentos e, ainda, as áreas verdes são os
elementos que estruturam a escala do bairro. Na escala da cidade os elementos morfológicos
que facilitam a leitura da forma são os bairros, as grandes vias e as grandes áreas verdes, os
monumentos e outros elementos referenciais, como certos edifícios (Lamas, 1990).

Nesta estrutura, aparecem os atributos e ofertas dos espaços que favorecem certos
comportamentos e não outros – sejam estes atividades físicas ou mentais (Gibson, apud Lang,
1987 e 1994; Gifford, 1997). Dentre estes comportamentos estão incluídos os tipos de uso dos
espaços públicos abertos e a freqüência com que estes vão ser utilizados. Assim, para os
autores, através do estudo dos atributos físicos dos lugares onde ocorrem determinados
comportamentos, pode-se entender como estas unidades de espaço são percebidas pelos seus
usuários, dentro de diferentes estruturas culturais e para diferentes grupos de pessoas. Por
outro lado, para Lewin (apud Bonnes e Secchiaroli, 1995), o estudo dos processos de
atribuição de significado a ambientes específicos, dentro de um contexto de convenções
sociais, normas e valores culturais, complementa o conhecimento das razões para os
comportamentos nos espaços.

O entendimento das implicações das condições físicas dos espaços é importante


quando se acredita que é possível favorecer a criação de condições melhores, ou piores, para
eventos externos e criar cidades cheias de vida, ou cidades sem vida, através de decisões de
planejamento. É uma possibilidade valiosa porque a escolha de estar no ambiente externo
pode depender exatamente do quanto este ambiente responde às necessidades e expectativas
de quem o utiliza.

Porém, contra a tendência de exercer controle excessivo ao planejar os espaços,


Hough (1994) defende a prática de fazer ‘tão pouco quanto possível’, uma visão orgânica e
evolucionária de planejamento que incentivaria a intervenção democrática, a participação dos
usuários e a diversidade, com respeito aos processos sociais e ecológicos da região ou
comunidade em questão.

Os atos de andar, ficar, sentar, olhar, ouvir e falar necessitam de qualidades físicas no
espaço que os favoreçam. Por exemplo, andar demanda espaço, dimensionamento de ruas de
acordo com o fluxo de pessoas, pavimentação favorável e em boas condições, distâncias
aceitáveis e contrastes espaciais que tornem interessante a caminhada. Ficar nos locais
externos, já demanda detalhes que apresentem interesse (uma vista, pessoas ou atividades
para observar... ) - e que dêem suporte à atividade de ficar (locais para sentar, nichos, plantas,
árvores ...) (Gehl, 1987).

Como já foi dito, a rede de relações sociais pode ser afetada pela inadequação dos
espaços construídos. Por exemplo, o projeto pode ter influencia decisiva nas questões de
privacidade e, conseqüentemente, no isolamento entre os vizinhos (Coulson, 1980; Keller,
1979); ou a falta de ambientes onde as pessoas possam participar de grupos pode ser um
limitador na formação destes grupos (por exemplo, lugares próximos às residências para
adolescentes praticarem esportes ou se reunirem para conversar). Com isso, o grau de
interações face-a-face decresce e o número de ligações entre pessoas também. Lang (1994)
afirma que a cidade grande tem, proporcionalmente, menos ambientes onde as pessoas podem
participar, do que a cidade pequena, pois forças de mercado e aparentes preferências
individuais por não envolvimento levaram a instituições cada vez maiores e à
despersonalização de muitas interações entre pessoas.

Sintetizando, o escasso oferecimento de estrutura física ou suas ofertas pouco


apropriadas às necessidades reais da população ou à estruturação da imagem da cidade,
incentivaria o esvaziamento dos espaços de uso público.

A seguir serão discutidos fatores contextuais específicos que, segundo a literatura


(principalmente Francis, 1987) são necessários para suprir as necessidades humanas
relacionadas ao ambiente e influenciam na apropriação dos espaços abertos públicos:
adequação e conforto ambiental, aparência e agradabilidade, segurança e acessibilidade.

2.4.3.1 Adequação e conforto ambiental

Lynch (1985) define a adequação como o grau em que um espaço ou objeto se ajusta à
conduta habitual dos seus usuários e lembra que, além dos fatores fisiológicos ligados ao
corpo humano, o conforto necessário depende, intimamente, da cultura: das expectativas,
normas e formas de fazer as coisas.

Appleyard (1973) lista os confortos necessários aos ambientes como relativos a


necessidades de luz, limpeza, conforto climático, quietude, facilidade de movimento e
dimensões espaciais coerentes com as densidades (as pessoas não gostam de sensações de
espaços ‘apinhados’ ou de espaços muito ‘vazios’).

Para Jacobs (1997), os elementos básicos existentes nas boas ruas são, em princípio, a
existência de lugares para caminhar com conforto (sombreadas, quando for calor; ensolaradas,
quando frio), além de calma e segurança. É interessante que a rua seja definida por
construções ou por árvores, que tenha um senso de transparência do que ocorre nos espaços
interiores, que forneça coisas que distraiam os olhos e que tenha começo e final claros.

Assentos adequados e confortáveis, sol, proteção para o vento, chuva e outros


elementos climáticos foram apontados como importantes razões para o uso dos espaços
abertos e satisfação dos seus usuários (Francis, 1987; Whyte, 1980).

Densidades x Dimensionamentos

A densidade8, como o dimensionamento, pode ser percebida de modo diferenciado


pelos indivíduos ou grupos, dependendo do contexto e da expectativa de densidade correta,
que depende do nível de adaptação a densidades altas ou baixas e de fatores como idade e
sexo, entre outros. Em termos de interação social, a densidade percebida envolve fatores de

8
Densidade: aqui é usada como a relação entre o número de pessoas que vivem ou usam
determinada área (Rapoport, 1975).
controle do nível de interação desejado pelo grupo. Em geral, quanto mais pessoas por unidade
de área, mais interações, ou interações em potencial existem, mas vários fatores como o
relacionamento da residência com o espaço externo a ela, o desenho da área, do bairro e
mecanismos psicológicos, culturais e sociais podem influenciar na efetivação das interações
(Rapoport, 1975).

As densidades absolutas, no entanto, podem servir como um parâmetro para definir os


dimensionamentos necessários aos espaços abertos públicos, num contexto semelhante. Jacobs
e Appleyard (1987) sugerem que uma densidade mínima para dar suporte a uma vida urbana
gire em torno de 37 domicílios /ha (80-150 hab./ha) podendo ir até 475 hab./ha em grande
parte da cidade e ainda mantendo a qualidade urbana.

Uma crítica a zonas residenciais pouco densas está relacionada com a idéia de que
estas seriam lugares de pouca vitalidade. Porém, Lynch (1985) indica que existem lugares
anônimos, ou lugares cheios de significado, seja qual for a densidade dos mesmos.

O dimensionamento dos espaços deve ser adequado ao volume de usuários, de tal


forma que as densidades de pedestres sejam confortáveis: isto acontece quando é possível
caminhar rapidamente sem esbarrar nos outros (Jacobs,1997).

Densidades razoavelmente altas e construções razoavelmente baixas são


recomendadas, por Gehl (1987), como formas de investir na dinamização dos espaços das
ruas.

Nas praças, a escala proporcional à densidade e ao fluxo de pessoas é um fator


importante para a permanência, assim como a variedade de possibilidades de escolha, o que as
transformam em espaços socialmente confortáveis (Whyte, 1980).

Equipamentos, mobiliário, vegetação e iluminação

Como já foi comentado, a oferta de locais adequados e suficientes para sentar é um


importante fator para a permanência nas praças (Whyte, 1980).

Espaços destinados às atividades das diversas faixas etárias, mantendo uma certa
segregação a fim de evitar conflitos e apelos, tanto para homens quanto para mulheres,
também são fatores que, segundo Cooper Marcus e Francis (1990), aumentam o sucesso das
praças e parques, como por exemplo quadras de jogos, locais para recreação informal, além do
playground, locais para caminhadas, locais para skate, áreas com permissão para bicicletas e
locais para socialização informal e para descanso.

Quanto ao playground, pode conter, além dos equipamentos tradicionais (nos quais as
crianças escorregam, pulam, balançam e sobem), equipamentos mais maleáveis, como água e
lama, muito apreciados pelas crianças e outras opções que permitam desenvolver aspectos
cognitivos, sociais e emocionais, além de possibilidades de trabalhar o sistema motor-fino, que
muitas vezes é esquecido. Oportunidades de fazer pequenas modificações e adaptações da
disposição do material, também são muito valorizadas pelas crianças (op.cit.).

A vegetação é fundamental para o conforto ambiental: o uso adequado de plantas, além


do aspecto estético favorável, pode suprir necessidades de ventilação, proteção à insolação e
radiação e de conservação e drenagem do solo. Os tamanhos, formas e perenidade da
folhagem da vegetação são importantes como barreiras, maiores ou menores, relacionadas à
incidência do sol, à passagem das brisas e ao abaixamento da temperatura do ar e da alta
luminosidade (Machado et al, 1986). Assim como em locais de clima frio a insolação é
desejável, o inverso ocorre em locais de clima mais quente, onde espaços sombreados tendem
a ser mais utilizados.

Uma iluminação artificial adequada, além de aumentar a sensação de segurança dos


espaços, permite a sua utilização por períodos mais prolongados, como no caso de quadras
esportivas ou pistas nas praças e parques.

2.4.3.2 Aparência e agradabilidade

Um trabalho sobre satisfação com os espaços próximos à residência, realizado na


Inglaterra por Coulson (1980), apontou a aparência como responsável por 30% desta
satisfação - a aparência relacionada ao grau de espacialidade, à manutenção e às vistas desde
dentro dos domicílios, com preferências por vistas com verde, árvores e alguma atividade
humana.

A vegetação, a largura das ruas, uma certa variedade e alguma continuidade nas
edificações, além da manutenção dos espaços, são aspectos que compõem a aparência do
bairro. O balanço entre espaços construídos e não construídos, também. Nas praças e parques,
elementos como árvores, água, bancos e caminhos, as proporções dos espaços e algum tipo de
fechamento, quando sabiamente arranjados, ajudam a criar uma aparência positiva e, assim,
uma conexão também positiva com o lugar (Kaplan e Kaplan, 1998).

Lay (1992), conclui que o grau de imageabilidade do lugar - medido pelo caráter do
espaço que se expressa no grau de espacialidade do ambiente e no grau de clareza da estrutura
do lugar - somado à atratividade das construções e da paisagem, afetam a percepção da
aparência do lugar. As características morfológicas das edificações, através de detalhes que
expressem status, são valorizadas pelos usuários nas questões de avaliação da aparência. O
grau de espacialidade (adequação da quantidade de espaço disponível) e a estrutura do lugar,
expressa no grau de abertura ou fechamento do espaço (fechamento funcional mais que
fechamento físico), também o são.

Um dos meios mais apreciados para simular a vitalidade e a versatilidade, como


contraste com os elementos construídos rígidos da cidade, é a colocação de plantas nos
espaços públicos, apesar de que muitas vezes sejam utilizadas espécies inadequadas para o que
se pretende alcançar. Fatores como espaço adequado para as raízes, quantidade de sombra que
tal espécie pode ou não fornecer, beleza da floração ou cuidados que as plantas requerem,
precisam ser levados em consideração (Schmidt e Stahr, 1979).

A manutenção é um fator chave para a aparência positiva dos espaços. A boa


manutenção dos espaços abertos – conservação e limpeza - promove o orgulho pelo bairro e
indica um baixo nível de vandalismo. Espaços abertos bem cuidados são sinônimo de prestígio
para certa área da cidade, o que aumenta a satisfação com aquele lugar (Lang, 1994; Coulson,
1980; Lay 1992).

A aparência é um dos elementos que compõem a agradabilidade de um ambiente. A


agradabilidade pode ser afetada, além dos elementos físicos, pelos aspectos simbólicos ligados
a estes elementos, originados das interações entre indivíduos e/no ambiente. Os indivíduos
tendem a avaliar um ambiente – e portanto sua agradabilidade - baseados em seus valores e
atitudes sociais, somados às suas percepções das qualidades estéticas e formais daquele espaço
(Lay, 1992). A vida e as interações sociais que acontecem nos espaços também contribuem
para a impressão geral do lugar (Cullen, 1974; Gehl, 1987).
O impacto visual que o espaço da cidade produz nos seus moradores ou visitantes,
através de vários elementos e de seus relacionamentos, foi estudado por Cullen (1974). Para o
autor, este impacto gira em torno de: a) uma sensação de espaço, b) a sensação de caráter
(bonito, feio...) e de composição, c) a estrutura do lugar (perspectivas que se abrem e fecham)
e d) o uso e manipulação dos espaços e composições pelo usuário, através do entendimento de
sua organização.

2.4.3.3 Segurança e controle

O sentimento de segurança tem se mostrado um pré-requisito importante para o uso


dos lugares pelas pessoas. Certamente, a segurança tem muito a ver com a natureza da
organização social ou com comportamentos anti-sociais e, sobre estes aspectos, a configuração
física não tem influência. Mas, sobre outros - alguns processos sociais e cognitivos - certos
arranjos físicos do layout do lugar podem influir, produzindo maior segurança e sensação de
segurança para as pessoas. Algumas providências, como a segregação de usos não
compatíveis9, maior grau de acessibilidade visual, níveis desejados de privacidade, facilidade
de territorialização e o favorecimento da orientação no tempo e no espaço e do sentido de
lugar social e geográfico – alcançado através do sentido de associação com uma área
geográfica e/ou uma posição no tecido social - são alguns fatores apontados pelas pesquisas
como favoráveis à segurança física e psicológica dos usuários (Lang, 1994).

a) Controle visual

A acessibilidade visual facilita a vigilância natural dos espaços, aumentando a sua


segurança. Este tipo de vigilância envolve o olhar cotidiano sistemático sobre a vida que
acontece nos espaços públicos, principalmente nas ruas. É uma vigilância feita naturalmente
pelos residentes e usuários de uma área, e não por terceiros. Envolve ver, engajadas nas
atividades da vida diária, as outras pessoas, e vê-las como iguais (Jacobs, 1967; Newman,
1973).

9
Alguns usos são incompatíveis por causa do impacto negativo no conforto ou na auto-estima das
pessoas, por exemplo. Porém a segregação dos usos, quando desnecessária, esvazia os espaços (Lang, 1994).
Na sua proposta de espaço seguro, Oscar Newman (1973) trabalha com a idéia de um
‘espaço defensivo’ buscando uma maior segurança contra o crime num território com
aumento de oportunidades de vigilância, principalmente vigilância natural, o que criaria um
ambiente sob o controle dos residentes.

Jane Jacobs (1967) defendia o uso misto do solo e a vigilância natural das ruas em
quarteirões de dimensões curtas, como meio de trazer uma sensação de segurança a estas ruas.
Tal configuração, se mantida por bastante tempo, seria também a base para o desenvolvimento
de um senso de comunidade e de compromisso entre as pessoas, o que reforçaria ainda mais a
sensação de segurança.

Bill Hillier (1988), ao abordar o tema segurança, defende a idéia de que, quanto maior
a presença natural de pessoas, maior a vigilância natural do espaço, o que o leva a sugerir a
busca do incremento do movimento natural de pessoas nos espaços não privados. No texto em
que se posiciona contra a onda modernista de fechamento, repetição e hierarquização dos
espaços, o autor coloca algumas recomendações quanto à busca de uma rehumanização dos
espaços externos. Dentre estas, sobressaem: a necessidade da existência de linhas de visão que
permitam o reconhecimento da estrutura espacial maior, a existência de um núcleo de
integração que se relacione com todas as rotas e a existência de portas (passagens entre o
público e o privado) em todos os espaços externos ao sistema.

b) Definição e controle de território

O ‘espaço defensivo’ proposto por Oscar Newman (1973), seria um território marcado
por barreiras simbólicas ou reais, com as áreas de influencia fortemente definidas. Através da
definição e do controle de territórios, é possível regular as regras de funcionamento social,
promovendo, entre outras coisas, a segurança dos espaços e a percepção de segurança. (Edney,
1976, apud Lay, 1998; Altman e Chemers, 1989)

Os territórios podem ser limitados, marcados ou personalizados e serão defendidos por


aqueles que se sentem responsáveis pelos espaços sobre os quais tenham alguma medida de
controle contra intromissões indesejadas. Se ninguém sente-se responsável por um território, o
nível de controle e de manutenção deste tende a diminuir (Hall, 1974; Newman, 1973; Lay,
1992).

Os territórios precisam de limites marcados - fisicamente ou de maneira mais sutil -


para serem identificados como tal. Cercas, muros, símbolos ou sinais são maneiras de se
marcar os limites. O controle do espaço pode se dar pela manipulação do acesso através de
barreiras que impeçam o movimento ou pelo aumento da visibilidade do espaço, para o grupo
de controle. Se o espaço é pequeno, como o jardim de uma casa ou edifício, por exemplo, e
pode ser mantido com pequeno custo, torna-se mais fácil a um indivíduo ou pequeno grupo tê-
lo sob o controle. Mas se o espaço é grande, e/ou é dispendiosa a sua manutenção, só grandes
organizações podem controlá-lo (Lynch, 1985).
c) Intensidade do tráfego de veículos / Circulação de pedestres

A sensação de maior segurança decorrente do tráfego de veículos em baixa velocidade,


é um fator que favorece um maior uso das ruas residenciais por pedestres (Appleyard, 1981,
apud Carr et al, 1992; Gehl, 1987; Monheim, 1979). Já o uso intenso do automóvel particular
no interior da cidade, como principal meio de transporte e sem controle das velocidades, traz
consigo outras conseqüências negativas, além do perigo no uso das ruas. Dentre elas,
isolamento das pessoas, prejuízo do tecido social das comunidades, diminuição da beleza dos
espaços, grandes áreas reservadas a estacionamentos, barulho e poluição, todos fatores que
contribuem para a diminuição da vitalidade das ruas (Crawford, 2000).

O movimento por ‘ruas habitáveis’, através do qual se incentiva o uso de baixas


velocidades em zonas mistas residenciais, é um movimento bastante disseminado na Europa.
Como já foi comentado anteriormente, nos Estados Unidos idéias semelhantes são defendidas,
mas a sua aceitação não parece ser tão extensa quanto no ambiente europeu (Francis, 1987b).
Uma proposta destes movimentos é a adoção, dentro de bairros residenciais, de velocidades
veiculares baixas (25-30km/h), favorecendo ruas como caminhos para pedestres e bicicletas,
com bastante espaço verde e lugares para jogos de crianças. A prioridade de uso é para
pedestres, depois ciclistas e por último os automóveis. Separadas destas zonas internas
residenciais, as ruas de tráfego contínuo de veículos permitiriam velocidades de 50-70 km/h
(Eichenauer et al, 1979) .
No Brasil, o uso de automóvel como principal meio de transporte é generalizado
somente a partir da faixa de renda média para cima (em torno de 16% da população10 ).
Mesmo assim, a estrutura viária nas grandes metrópoles, como em São Paulo por exemplo,
está no nível da saturação, com o transporte individual dominando as ruas11. Se por um lado os
veículos são necessários para viabilizar as distâncias nas cidades de nossos dias, o uso do
automóvel particular em alta velocidade, é sinônimo de insegurança e isolamento, já que não
permite o olhar, o permanecer e o contato, tornando a experiência com a cidade muito
empobrecida para o seus usuários. (Wiedenhoeft, 1977). Já velocidades baixas, além de
favorecer a segurança dos pedestres, forçam o motorista a interagir com o que acontece no
entorno e o tornam parte integrante do que está se passando na rua (Eichenauer et al, 1979).

Buscando atenuar os problemas decorrentes da necessidade de uso de transporte


individual nas cidades, os autores (op. cit) propõem, além da redução da velocidade do
tráfego, o reforço do transporte coletivo e a renúncia à motorização total e à mobilidade sem
barreiras.

2.4.3.4 Acessibilidade

A acessibilidade é um ingrediente fundamental para o uso dos espaços públicos e,


fundamental, também, quando analisada a distribuição destes espaços, na qualidade de um
assentamento humano.

Como já conceituado anteriormente, o espaço aberto é aberto quando é acessível para


todos, sendo o controle do sistema de acesso um dos principais meios empregados para impor
um controle social. Para Lynch (1985), a diversidade das coisas a que se tem acesso e a
eqüidade de acesso para os diferentes grupos da população são aspectos importantes do
sistema de acesso aos espaços da cidade. Melhorar o sistema de acessibilidade aos espaços
inclui, entre outras coisas, abolição de barreiras sociais e físicas, melhora da legibilidade do
sistema de transportes e incremento deste sistema.

10
Estimado sobre dados do IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1999 -,
levando-se em conta famílias com faixa de renda de 10 salários para cima.
11
Folha de São Paulo, 7/7/00
A importância da acessibilidade é comprovada, por exemplo, entre famílias que
possuem crianças em áreas residenciais: o acesso fácil e seguro aos espaços abertos próximos
à residência é o fator de maior peso na satisfação com a área (Appleyard, 1981, apud Lang,
1994).

A redução das distâncias, criando uma rede de caminhos mais rápidos e cômodos para
os pedestres, é vista por Peters (1979), em contraposição à cidade planejada para o uso
preferencial do automóvel, como uma alternativa para incentivar a habitabilidade e a
utilização do espaço público em bairros residenciais.

Um sistema de espaços públicos tão compacto quanto possível e pequenas distâncias a


percorrer, são vistos por Gehl (1987) como forma de aumentar o contato entre as pessoas nos
espaços públicos. Além disso, pequenos locais de transição entre o espaço interno e externo
das residências - como pátios ou alpendres - localizados junto à entrada da residência e nas
fachadas voltadas para o espaço público, são locais que dão suporte à vitalidade das ruas
através da possibilidade de realização de diferentes atividades mantendo a acessibilidade
visual e funcional com o espaço público.

Localização dos espaços

Para Hillier (1988), somado ao fator cultural, o que cria um modelo de movimento
numa cidade é função de seu padrão de integração12 e da sua inteligibilidade13, resultados da
configuração espacial urbana. O padrão dos contatos sociais e como estes são gerados está
relacionado com a maneira pela qual o plano da cidade cria um modelo de integração geral e
uma forma de núcleo de integração particular. Assim, a localização de um espaço, o seu
relacionamento com os demais espaços da malha urbana e a clareza com que é possível
entender esta relação, influenciariam no padrão de movimento e, portanto, nos padrões de uso
daquele espaço.

A apropriação de uma praça é influenciada pela proximidade do fluxo de pessoas da


rua (acessibilidade física), pela facilidade de visualização (acessibilidade visual) e pela

12
integração: medida da menor quantidade de linhas necessárias para passar através de todas as linhas de um sistema
de linhas (Hillier, 1988:69), ou seja uma questão ligações e facilidade de acesso.
13
inteligibilidade: grau no qual uma informação espacial numa linha de visão, é guia da importância daquela linha
no sistema como um todo (Hillier, 1988: 76) ou seja, a parte fornecendo informações sobre o todo.
existência de uma certa concentração de pessoas na área (Whyte,1980). Portanto, de maneira a
não ficarem desertas, praças e caminhos de pedestres devem estar localizados onde as pessoas
estão ou querem estar. De modo geral, as pessoas tendem a usar lugares bem localizados,
seguros e que forneçam níveis apropriados de privacidade e de interesses (Lang, 1994).

2.4.4 Aspectos relativos às características dos usuários – fatores composicionais

É argumento encontrado na literatura o de que as características individuais dos


usuários influenciam no uso dos espaços públicos, pois diferentes pessoas têm percepções,
expectativas e avaliações diferentes dos espaços, de acordo, entre outras coisas, com seu
estágio no ciclo de vida, seu nível sócio-econômico, seu estilo de vida ou sua conexão com
aqueles espaços (Carr et al, 1992; Lang, 1994; Nasar, 1995; Rapoport, 1978).

Fatores culturais podem afetar a cognição e as avaliações afetivas do sistema de


espaços e, portanto, o seu uso. Para Rapoport (1978), entre eles se sobressaem a organização
da comunicação, a natureza das relações sociais, o caráter e justaposição dos diversos grupos
culturais e o próprio sistema de lugares existente. O autor estuda a tendência das pessoas
agruparem-se com outras que possuam estilo de vida semelhante ao seu. Os grupos dispõem
de uma rede homogênea de relações. Segundo ele, estas redes precisam ser reconhecidas e
entendidas no seu funcionamento para que o desenho dos espaços possa comportá-las e não
destruí-las.

Por definição, uma cultura compartilha um sistema de símbolos, valores, percepções e


normas, e um sistema de crenças sobre quais comportamentos são apropriados em diferentes
circunstâncias (Altman e Chemers, 1989). Por exemplo, em algumas culturas as pessoas
parecem ter uma necessidade maior de afiliação que em outras, ou há culturas nas quais é
maior a necessidade de reconhecimento, o que favorece a emergência de hábitos que trazem
este reconhecimento como, por exemplo, a quantidade de privacidade buscada ou a
preferência de uso do automóvel (numa demonstração de status), sempre que possível (Lang,
1994).
Rapoport (1978) discute o conceito de público e privado argumentando que, dentro de
uma mesma sociedade, esta noção pode ser diferenciada em função da classe, sexo ou idade.
Por exemplo, a classe trabalhadora tenderia a desejar uma interação e um estímulo que não
encontra no trabalho, enquanto as classes mais altas procurariam preservar uma maior
privacidade em favor de um isolamento maior. Por outro lado, os jovens teriam um conceito
de espaço interativo diferente do conceito de uma pessoa idosa. O mesmo serve para mulheres
e homens Assim, o conceito de público e privado, um aspecto ligado à cultura e à experiência
do indivíduo, afetaria de forma marcante, o tipo e intensidade de uso dos espaços.

2.4.4.1 Ciclo de vida

A faixa etária em que o indivíduo está inserido modifica sua forma de usar os espaços
públicos, pois suas necessidades, tempo disponível e preferências são diferenciadas pela etapa
no ciclo de vida em que se encontra.

As crianças são, potencialmente, os principais usuários de espaços com possibilidades


de lazer, pois passam uma boa parte do dia brincando (Eubank-Ahrens, 1987). Crianças abaixo
de 9 anos necessitam de oportunidades para brincar perto de casa, com a possibilidade de
vigilância dos pais, e crianças de todas as idades não se afastam muito de suas casas, usando
mais os espaços próximos à residência, quando disponíveis e adequados (Coulson, 1980).

Segundo Lang (1994), as necessidades de conhecimento e experienciação do mundo,


para as crianças, são melhor supridas em cidades pequenas ou em bairros que mantenham a
dinâmica de pequena cidade.

Os adolescentes, apesar de terem o ambiente da própria casa ainda como importante,


passam a valorizar sobremaneira o grupo de amizades. Os grupos de adolescentes necessitam
de espaços agradáveis onde se encontrar, participando de atividades, explorando o mundo e se
auto-testando, na sua natural busca de identidade e de territorialidade. Talvez estes espaços
possam se localizar na proximidade de suas casas, desde que preservada a tranqüilidade dos
outros grupos ou indivíduos (Eubank-Ahrens, 1987).

Os adultos são mais móveis e independentes que as outras faixas do ciclo de vida,
podendo escolher mais amplamente os lugares onde vão passar seu tempo. Muitos adultos, no
entanto, escolhem maneiras rotineiras de viver, segregados, em muitos aspectos, do contato de
pessoas diferentes deles mesmos (Lang, 1994).

As pessoas idosas, muitas vezes, têm sua mobilidade limitada e gostam de observar as
atividades da vizinhança, pois desejam estar expostas a novas experiências mas, ao mesmo
tempo, se sentir seguras (Cranz, 1987 apud Lang, 1994).

2.4.4.2 Nível sócio-econômico e estilo de vida

O nível sócio-econômico do indivíduo tem influencia sobre muitos aspectos de sua


vida, como a área da cidade em que reside, seu nível de instrução ou suas experiências e
expectativas. O estilo de vida adotado pelo indivíduo é também muito influenciado pelo seu
nível sócio-econômico. Estilo de vida pode ser entendido como as regras que as pessoas
adotam e os comportamentos específicos que elas tendem a exibir em determinados ambientes
(Lang, 1987) e, conforme estudo de diversos autores, influencia profundamente no uso dos
espaços públicos.

Existem diferenças marcantes entre os estilos de vida das culturas mediterrâneas, pró-
urbanas e das culturas anglo-saxônicas, com uma tendência anti-urbana (Rapoport, 1978)
expressa, por exemplo, na cultura norte-americana através de valores como o alto nível de
individualidade, a preferência por muito espaço aberto e por alta mobilidade individual
(Zelinsky, apud Lang,1994).

Estes valores favorecem uma situação habitacional de baixa densidade, voltada para os
espaços privados. O padrão de organização familiar nuclear com interação intensiva entre
adultos e crianças, as redes de relações com amigos e não tanto com parentes e um estilo de
vida centrado na família nuclear, somados a um nível de renda elevado, resultam em espaços
segregados com grandes quintais particulares que, segundo Michelson (1976, apud Lang,
1987) funcionam bem apesar das baixas densidades que induzem. Neste caso, a demanda por
carros é grande e os adolescentes, crianças e idosos que ficam mais restritos aos ambientes
próximos às residências, são particularmente afetados pela grandes distâncias e pela falta de
mobilidade.
No Brasil, solução semelhante é escolhida por famílias de maior poder aquisitivo,
quando as questões de violência urbana permitem. Quando não, a escolha, geralmente, passa a
ser viver em grandes condomínios verticais ou horizontais, atitude que nem sempre tem
garantido a segurança buscada.

Um ambiente com casas mais próximas, onde as aberturas oferecem uma oportunidade
para a vigilância natural da rua, numa área com ocupação mista, facilitaria interações e
movimento de pedestres. Este tipo de ambiente é coerente com um estilo de vida que dê mais
ênfase às interações de grupo do que às ações individuais (op.cit).

Como nas culturas ocidentais os padrões familiares mudaram e as condições de


trabalho também (mais pessoas têm mais tempo livre, mais aposentados com um bom tempo
de vida pela frente), aumentou a demanda por boas opções para atividades de lazer. Como já
foi comentado anteriormente, no tempo livre disponível, o espaço público pode servir como
um local importante – mesmo o mais importante espaço de lazer - mais facilmente acessível
que outros espaços para ir e para encontrar outras pessoas (Gehl, 1989).

No estilo de vida, também são influentes os padrões de comportamento culturalmente


diferenciados no que se refere a hábitos de compras, de trabalho e recreação (Lang, 1987).

A família nuclear se torna mais importante, quando as redes de parentes - que são as
redes básicas em muitas culturas - devido à alta mobilidade social e espacial de alguns grupos,
se torna dispersa (Lang, 1994). Este é o caso de parte da população brasileira que migra para
as novas regiões de ‘fronteira do capital’14, em busca de uma melhoria ou início de vida.

Pesquisas têm demonstrado que quando a mulher precisa trabalhar fora, o que acontece
freqüentemente nos dias de hoje, com grande influência no estilo de vida de toda a família,
aumenta a demanda por um ambiente que dê suporte físico e social à família, através de
facilidades urbanas próximas e maior infra-estrutura social (op.cit).

A influência da tecnologia

14
Fronteira de capital – novos espaços que o capital nacional busca para se expandir (entrevista
com Prof. Tito C. M. de Oliveira - UFMS)
A proliferação de verdadeiras redes de comunicação social e interativa significa que,
em alguns casos, alguns grupos sociais estão agora estabelecendo relações mais próximas via
redes eletrônicas do que via proximidade física (Gumbert e Drucker, 1996).

Reproduzindo a cidade real, a cidade virtual não inclui o grande grupo dos excluídos
no acesso à tecnologia de rede ou às informações que circulam por ela (Graham, 1996).
Somente 20% da população mundial têm real possibilidade de acesso ao mundo
informacional. A este fica mais fácil vincular-se, através das tecnologias de comunicação,
aqueles que compartilham dos mesmos interesses do que aqueles que compartilham a mesma
localização física. O mesmo não se aplica aos restantes 80% da população - em grande parte
os mesmos que não possuem automóvel particular. Portanto, para esta parcela da população, o
sistema tradicional de espaços públicos abertos – as ruas e os espaços públicos de lazer -
continua a manter seu papel primordial na construção da rede de relações.

É importante frisar que o contato humano não é abolido das suposições dos que
pensam positivamente a cidade virtual: um encontro iniciado via e-mail ou num ‘chat’, pode
ter continuidade na praça pública, ou vice-versa. Neste caso, a cidade virtual pode funcionar
como um vestíbulo para a cidade real (op.cit.).

A possibilidade de transcender tempo e espaço pela tecnologia traz uma reorganização


do sistema íntimo de valores. De acordo com Gumpert (1996), através desta mudança, as
percepções, os valores atribuídos e as demandas feitas aos ambientes físicos estão se
modificando, abrangendo o espaço público neste contexto. No entanto, concordando com
Levitas (1991), acredita-se que a tecnologia não pode substituir o diálogo humano, o círculo
de amigos, a sociedade de companheiros, pois são estas coisas que sustentam o crescimento
humano e a reprodução da cultura e sem elas toda uma complicada estrutura urbana passa a
perder seu significado.

Meio de locomoção

Rapoport (1987) caracteriza a atividade do caminhar nas ruas como função de


variáveis físicas e culturais. O desejo de usar ou não a rua tem a ver com regras não escritas de
costumes, tradições, hábitos, estilo de vida, atitudes de reserva ou sociabilidade e definição de
atividades apropriadas para aqueles espaços. Se existir o desejo a prior de caminhar ou ficar
nos espaços, então o desenho destes espaços passa a contar. O ambiente dá suporte às
atividades através do conforto, do grau de interesse que desperta e do sentimento de satisfação
que induz.

Para o psicanalista Hillman (1993), caminhando tornamos o espaço um lugar, uma


morada, um território. Além disso andar nos coloca em contato com a nossa natureza animal,
na verdade uma necessidade para o equilíbrio do homem como um todo. Hoje, porém, muitas
vezes é preciso o médico prescrever o caminhar, esta função básica que está sendo posta de
lado pelo homem moderno. Nas cidades novas, grandes e dispersas - como são a grande parte
das cidades norte-americanas e, também, em certa medida Campo Grande, com sua ocupação
espalhada e seus freqüentes vazios urbanos - cidades que parecem feitas só para o olhar,
eliminou-se a necessidade e a possibilidade de caminhar. Isto retira a vitalidade da cidade já
que esta está pelas ruas, no movimento das pessoas, nas possibilidades de encontros.
Dificultou-se também, com a falta do caminhar, a apropriação do território e a transformação
do local em um ‘lugar’.

É principalmente através do caminhar/circular que o indivíduo monta a imagem mental


de seu ambiente (Rapopport, 1987). Como os pedestres têm um conhecimento muito mais
detalhado dos lugares, do que os motoristas e os usuários de transportes coletivo, são os mais
aptos a ter uma idéia clara dos significados dos lugares da cidade e a aproveitar as atividades
ligadas ao ficar nos espaços. A tendência à extinção da espécie ‘pedestre’ entre os
componentes de algumas classes sociais mais favorecidas economicamente, dificulta o
conhecimento e a apropriação dos espaços públicos da cidade pelos indivíduos destas classes.

O possuir e usar automóvel, além de favorecer tanto a privacidade quanto o controle


sobre o próprio comportamento, é uma parte importante na busca de reconhecimento pelos
outros. Dentre os que necessitam deste reconhecimento com maior intensidade pode-se
encontrar forte valorização deste objeto (Lang, 1994), paralelamente a uma desvalorização do
hábito de caminhar.

O espaço urbano projetado prioritariamente para o automóvel alterou muito a


experiência dos indivíduos com a cidade, pois trafego (fluxo de veículos, dimensionamento de
ruas, etc.), quando intenso, é um impedimento tanto para a locomoção de pedestres como para
as interações sociais ordinárias. A territorialização do espaço da rua pelos seus moradores -
por onde eles circulam com maior liberdade e confiança - está diretamente ligada à intensidade
de tráfego na rua (Appleyard, 1981 apud Del Rio, 1990; Moudon, 1987; Gehl, 1987).

Na cidade planejada para a dinâmica do automóvel, existe uma dispersão de pessoas e


eventos, funcionalmente segregados pela própria estrutura da cidade, enquanto que numa
cidade estruturada conscientemente para a reunião de pessoas e eventos os espaços públicos
são os elementos mais importantes do plano da cidade e todas as funções são efetivamente
locadas olhando para as ruas (Gehl, 1987).

Além destes fatores que influenciam no estilo de vida adotado pelos indivíduos, a
vitalidade dos espaços públicos depende dos hábitos de interações pessoais adotados pelos
usuários, como será discutido a seguir.

2.4.4.3 Interação entre usuários

As redes sociais que estruturam o ambiente cultural são formadas por pessoas que
compartilham regras e códigos e se unem de duas maneiras. Uma, através da faixa etária,
parentesco, etnia, laços econômicos, políticos ou religiosos. Estes grupos se localizam em
espaços específicos - que são percebidos como bairros ou territórios definidos - têm
preferências particulares, atividades recreativas, locais de atividades específicos e diferentes
estilos de vida, que incluem a maneira de usar os espaços públicos. E outro tipo de rede de
relações, que se apoia em interesses comuns, mas não depende de proximidade física para
acontecer, como é o caso de grupos sociais de maior renda com mobilidade maior, que armam
sua rede de amizades independente da localização de suas residências (Lang, 1994; Hillier e
Hanson,1984; Brill, 1989).

As tecnologias de locomoção, como o automóvel, que facilitam que as pessoas estejam


perto com os mais variados propósitos, e as de comunicação, como o telefone, levaram a que a
proximidade de moradia não seja tão importante como era no convívio entre as pessoas (Lang,
1994). Hoje, as redes de relações de vizinhança dependem, para a sua existência, da
predisposição das pessoas que ali vivem e também da percepção dos moradores de que
existem oportunidades para tal – da imagem sobre o bairro. Quando a imagem é de uma
comunidade completa, grande número de atividades – morar, comprar, lazer, trabalhar –
acontecem a nível local (Suttles, apud Lang, 1994). Para existirem as interações sociais nos
espaços públicos, deve existir um denominador comum entre as pessoas: interesses em
comum, um passado em comum ou problemas em comum (Gehl, 1987; Lang, 1994).

A interação entre moradores também tem influência na percepção de segurança de


certas áreas. De acordo com Lay (1992), grupos de baixa renda freqüentemente dependem do
senso de comunidade entre residentes para superar problemas de segurança. Como não podem
contar com meios de controle e segurança mais onerosos, dependem uns dos outros para a
defesa de seus territórios. Assim, o nível de interação e de amizades em áreas de baixa renda
aumenta a sensação de segurança entre os residentes da área e logo o uso dos espaços
públicos.

O aumento da auto-suficiência em indivíduos ou famílias tende a promover a perda da


necessidade de laços de vizinhança (Keller, 1979). Nas classes altas de vida privada, as
relações primárias (familiares, amigos ou grupos especiais) são mais importantes do que a vida
da vizinhança, enquanto nos bairros da classe trabalhadora ocorrem muitos tipos de
dependências e de inter-relações na própria vizinhança (Rapoport, 1978), o que pode tornar o
espaço público destes bairros mais dinâmico do que os de classes mais altas, no que se refere
às atividades sociais.

É constatado que a organização política do mundo e o desenvolvimento tecnológico e


econômico levou a uma mudança do sistema de dependência entre as pessoas. Redes nacionais
suprem necessidades que antes eram supridas a nível comunitário (defesa, alimentação,
roupas, etc.), retirando a necessidade de suporte da comunidade, comum na era pré-industrial.
A rede social perdeu sua importância como fator de sobrevivência. Além disso, para as classes
mais favorecidas, a partir do avanço tecnológico a casa se torna muito especializada e passa a
ser o centro da sua vida, o foco da vitalidade. Estes fatores trazem um desejo de privacidade,
que caracteriza o modo de vida contemporâneo e, mesmo quando no meio da multidão, cria-se
uma área de isolamento através de uma linguagem do corpo que pede distanciamento.
(Chidister, 1989). Mas, sem as relações sociais, isolado, o homem, na visão de Levitas (1991),
pode se transformar de criatura criativa em vítima passiva de um sistema poderoso – neste
caso, o mundo globalizado. Portanto, para a autora, é preciso aumentar a interação social
através do reverso da centralização: investindo na organização local e criando ambientes que
encorajem os contatos. Para ela, é preciso manter a base da organização orgânica15 de
cooperação humana que dá consistência à interação social, e com isso trazer satisfação e
sentido aos usuários dos espaços públicos.

Na satisfação das pessoas com o seu ambiente de moradia, a importância de fatores


sociais, como a amizade entre vizinhos, não deve ser esquecido. É constatado, por Coulson
(1980), que áreas com vizinhanças amigáveis tendem a ser aquelas com mais atividade nos
espaços externos.

2.4.4.4 Experiência prévia com espaços públicos

Através das experiências vividas em determinados espaços, conexões simbólicas, a


nível de indivíduo, são criadas. Conexões individuais com o espaço público emergem de
várias maneiras – através das experiências pessoais que aquele espaço evoque, por uma
tradição de uso ou por eventos especiais que ali aconteçam - e, na maioria dos casos, repetidas
experiências diretas são necessárias para a criação desta conexão (Carr et al, 1992).

Ligações com um universo maior através da presença de natureza ou de elementos


construídos neste sentido, também são possíveis (op. cit.).

2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão da literatura demonstra que vários fatores influenciam os diferentes modos


de apropriação dos espaços abertos públicos:

• O próprio uso do espaço, que pode incrementar ou restringir a apropriação daquele espaço.

15
Organização orgânica - solidariedade ou coesão orgânica - baseada na interdependência através
das diferenças, como as resultantes da divisão do trabalho (Durdkhein, apud Hillier e Hanson, 1984:18) A
solidariedade orgânica requer um espaço densificado e integrado para existir enquanto o outro tipo de
solidariedade – a mecânica- que é baseada na integração pelas igualdades de crença e valores prefere os espaços
segregados e dispersos.
• Diferenças contextuais, relativas às características físicas dos espaços, como aparência,
agradabilidade, segurança, acessibilidade e adequação ambiental.

• Diferenças composicionais, relativas às características dos usuários, como idade, nível


socio-econômico, estilo de vida, interação entre usuários e experiência prévia com espaços
públicos.

Contudo, considerando os argumentos analisados, permanece aberta a questão sobre


quais fatores – se composicionais ou contextuais – estariam afetando mais intensamente o tipo
de apropriação dos espaços abertos públicos.

Para alcançar os objetivos deste estudo, ruas e espaços públicos de lazer da cidade de
Campo Grande serão investigados segundo os procedimentos metodológicos definidos no
próximo capítulo.
3. METODOLOGIA

3.1 INTRODUÇÃO

No capítulo anterior, foram discutidos aspectos relativos a tipos e intensidade de uso


dos espaços públicos abertos e identificadas variáveis que podem afetar este uso.

Neste capítulo, uma breve descrição do problema de pesquisa e seus objetivos são
colocados. A estrutura metodológica é apresentada e definidas as variáveis consideradas para
avaliar o desempenho dos espaços abertos públicos.

Aplicando a um estudo de caso a metodologia utilizada por pesquisadores da área


Ambiente-Comportamento, para avaliar o desempenho de ambientes construídos, pretende-se
avaliar quais os aspectos que influenciam mais fortemente o uso dos espaços abertos públicos.
A satisfação do usuário com o ambiente e o comportamento (Reis e Lay, 1995) serão os
critérios usados para medir o desempenho dos espaços abertos públicos investigados.

É apresentado o estudo de caso, acompanhado de um breve histórico sobre a cidade de


Campo Grande-MS, e descritas as principais características das três áreas que configuram a
amostra, assim como os critérios adotados para a sua escolha.

O trabalho empírico necessário é definido. São descritos os múltiplos métodos de


pesquisa adotados e relatada a aplicação e registro desses métodos.

É feita uma descrição dos métodos de análise de dados a serem utilizados.

3.2 PROBLEMA A SER INVESTIGADO, OBJETIVOS DA PESQUISA E HIPÓTESE

O problema deste estudo configura-se como sendo a investigação sobre o processo de


apropriação do espaço público: se é decorrente do declínio da própria vida pública, expresso
em fatores composicionais, ou de transformações físicas introduzidas nos espaços públicos -
fatores contextuais.
Conforme observações anteriores ao trabalho, constatou-se a marcante diferenciação de
tipos e intensidade de uso dos espaços públicos, entre diferentes cidades do país. O interesse
em identificar as razões da diferença de apropriação destes espaços - que pode ser entendida
como de apropriação da própria cidade e de uma conexão mais forte entre moradores e
ambiente urbano – foi o estímulo inicial do trabalho.

Partindo da premissa de que existe relação entre a apropriação dos espaços, aspectos de
ordem cultural e sócio-econômica (fatores composicionais) e aspectos de ordem física (fatores
contextuais), este estudo tem como objetivo investigar quais os fatores que afetam mais
fortemente os tipos e a intensidade diferenciados de uso de espaços abertos públicos urbanos –
ruas, praças e parques. Pretende-se identificar os aspectos culturais e sócio-econômicos mais
relevantes na apropriação dos espaços públicos da cidade e o papel que a estrutura física está
desempenhando na apropriação destes espaços.

A hipótese a ser investigada pressupõe que fatores composicionais (de ordem cultural e
sócio-econômica) influenciam no uso dos espaços públicos de maneira preponderante sobre os
fatores contextuais (de ordem física).

Por questões operacionais, a hipótese será investigada separadamente quanto a ruas e a


espaços públicos de lazer (praças e parques), pois estes espaços envolvem diferentes relações
entre as variáveis.

Através do estudo de caso da cidade de Campo Grande – MS, a investigação será


estruturada da seguinte forma:

‚ Medir e comparar o grau de apropriação dos espaços abertos públicos – espaços públicos
de lazer e ruas - em áreas residenciais diferenciadas; conhecer o perfil comportamental de
cada espaço estudado, em relação à faixa etária dos usuários, faixa de renda e ao tipo de
atividade ali desenvolvida;

‚ Conhecer a avaliação do usuário sobre o desempenho dos espaços estudados;

‚ Verificar o quanto o estilo de vida (em seus vários aspectos) e a interação entre usuários
ou moradores influenciam na apropriação destes espaços;

‚ Verificar se diferentes tipos e intensidade de uso são afetados por tempo de moradia e
origem dos usuários;
‚ Identificar os elementos ambientais que limitam, ou que dão suporte, ao uso.

‚ Verificar o quanto as variáveis físico-espaciais – aparência, agradabilidade, acessibilidade,


segurança e adequação ambiental (como dimensionamento, mobiliário, vegetação,
pavimentação e iluminação) - influenciam na apropriação dos espaços estudados.

3.3 ESTUDO DE CASO

3.3.1 Seleção do estudo de caso

Campo Grande, MS, caracteriza-se por apresentar marcantes diferenças de apropriação


de espaços abertos públicos. Assim, a cidade foi escolhida para estudo por apresentar casos de
áreas com pouca utilização dos espaços públicos abertos e, ao mesmo tempo, áreas onde
acontece um uso bem mais intenso destes espaços. Além disso, foi escolhida, também, por ser
uma cidade de crescimento rápido e recente e pelas características da população, com uma
grande proporção de moradores vindos de fora, de várias origens.

3.3.2 Breve histórico da cidade

Campo Grande é uma cidade que acaba de completar 100 anos. Seu crescimento e
desenvolvimento estão ligados ao processo de ocupação do território brasileiro em direção ao
interior e, nas ultimas décadas, da “marcha modernizadora do oeste” (Cunha, 1999). Sua
história é marcada por sua localização geográfica – fica no encontro dos caminhos que ligam o
leste com o oeste e o norte com o sul do estado de Mato Grosso. A passagem da Estrada de
Ferro Noroeste do Brasil, em 1914, determinou o futuro da cidade como ligação da região
Oeste com o resto do Brasil. A transformação do centro-oeste em nova fronteira agrícola
nacional, nas décadas de 50/70, e a designação de Campo Grande para capital do novo Estado
de Mato Grosso do Sul, em 1977, foram outros fatos marcantes no processo de crescimento da
cidade. Polo regional de uma vasta região agro-pastoril pobremente habitada, Campo Grande
concentra em si a grande maioria do movimento comercial do Estado e os serviços mais
sofisticados que este oferece.

A cidade, que sempre atraiu novos moradores, teve um crescimento rápido: a partir dos
anos 40, a cada década, duplicava sua população, até a década de 70.

Tabela 3.1 Crescimento populacional de Campo Grande

ANO POPULAÇÃO URBANA TAXA CRESCIM. ANUAL


1929 10.117 11,63
1939 23.054 8,58
1949 33.198 3,71
1959 61.287 7,33
1969 122.133 7,14
1979 265.593 8,06
1989 476.681 6,02
1999 645.046 3,07
Adaptada de Arruda e Martins, PLANURB, 1999

Se, inicialmente (no pós Guerra do Paraguai), foi povoada por brasileiros do interior,
principalmente por mineiros e paulistas em busca de terras, a pequena vila recebeu, desde o
inicio do séc. XX grande afluxo de indivíduos de origem árabe e, durante a construção da
ferrovia (a partir de 1911), de origem japonesa. Durante a década de 50/60, novo movimento
em busca de terras trouxe nova onda de migrantes, desta vez principalmente de gaúchos,
paranaenses e paulistas. A proximidade com a fronteira oeste brasileira também tem
favorecido a chegada de pessoas oriundas dos países vizinhos, principalmente do Paraguai
(Bittar, 1999).

Quando da divisão do Estado de Mato Grosso em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
(1977), o crescimento populacional de Campo Grande passa para médias de 8% ao ano, uma
das mais altas do Brasil. Atualmente este ritmo arrefeceu, mas ainda está acima das médias
nacionais. Em 1996, a cidade contava com uma população de 600.069 hab.16 , dos quais
praticamente 70% não naturais de Campo Grande. Ao mesmo tempo, a malha urbana da
cidade se expandia e pode-se ter uma idéia do seu rápido crescimento através dos mapas da

16
De acordo com a Contagem da População de 1996/IBGE.
evolução da malha (fig. 3.1), nos quais é possível notar que a explosão do tecido se dá a partir
da década de 60.

O ritmo rápido de crescimento não pode ter deixado de influenciar, de maneira


marcante, vários aspectos da cidade: o espírito de busca de progresso, a imagem de cidade de
grande mescla cultural ou a existência de expressiva quantidade de bairros muito novos e
ainda não totalmente estruturados.

Campo Grande - que teve seu desenho de cidade definido a partir de uma planta em
traçado xadrez, com ruas largas e grande lotes - é uma cidade espraiada (fig. 3.2), com uma
área muito grande se comparada ao seu tamanho populacional, de acordo com Ebner (1999).
Para a autora, são 33.400ha de área urbana, que comportariam uma população de 2.500.000
hab. e onde vivem 600.000 hab. Isto se deve a fatores como tipologia habitacional baseada em
residências unifamiliares, tamanhos de lotes utilizados, generoso perímetro urbano e grande
quantidade de vazios dentro deste perímetro. Na área urbana de Campo Grande, predominam
baixíssimas densidades (0 a 20 hab./ha) na periferia, com um adensamento para densidades
médias (de 20 até 60 hab./ha)17 na zona central e alguns bairros que a margeiam.

17
ainda abaixo do mínimo de 80 hab./ha caracterizador de uma densidade
urbana e muito abaixo do que a ONU recomenda, 450 hab./ha.
Fig. 3.1 Evolução da malha urbana de Campo Grande
Fig. 3.2 Mapa geral de Campo Grande

Ebner (op.cit.) descreve a estrutura urbana de Campo Grande, entre outras coisas,
como de grande segregação das classes de renda alta e média em bairros exclusivos (ou quase)
destinados a suas moradias, próximos entre si e com os serviços e comércio de conveniências
também nas proximidades. A tendência de localização destes bairros é a de ocupação do setor
leste da cidade, próximo ao centro, enquanto os bairros mais populares foram ocupando as
áreas mais distantes do centro e/ou de difícil acesso.

Os loteamentos e conjuntos populares encontram-se, predominantemente, entre os


setores sul e oeste da cidade. O acesso aos bairros periféricos se dá pelas saídas em direção a
outras cidades (saídas de São Paulo, Rochedo, Três Lagoas, Sidrolândia, Cuiabá e
Aquidauana). Estas saídas têm tratamento igual ao do centro da cidade: maior adensamento,
uso misto e maior coeficiente de aproveitamento do terreno. São avenidas com alta atividade
comercial, de serviços e de trânsito e que formam os principais eixos de transporte da cidade.

Outros elementos muito importantes da estrutura viária desta cidade são as principais
vias de circulação da área central, que formam o mini-anel rodoviário (fig 3.2), contornando a
região central e aliviando o tráfego na área ao fazer a ligação entre os bairros.

Campo Grande é uma cidade com grande concentração de veículos, 1 a cada 4


habitantes18, com uma média de automóveis particulares de 1 unidade a cada 2,5
domicílios19, concentrados, principalmente, nos bairros mais próximos ao centro. É uma
cidade onde se privilegia o uso de transporte individual, com transporte coletivo deficiente.

O trânsito na cidade é violento, sendo a 7 ª pior taxa de óbitos no trânsito do país (5,8
mortes a cada 100.000 hab.), com tendência crescente deste índice quando enfocados os
últimos dez anos20. A violência na cidade tem crescido também em outro aspecto: Campo
Grande é a 9 ª capital do Brasil em homicídio contra jovens (65,3 mortes em cada 100.000
hab., quando a média nacional é de 25,9 mortes por grupo de 100.000 hab.), tendo crescido
muito nos últimos 10 anos (63,6% de crescimento), a exemplo do que vem acontecendo nas
demais capitais da região21.

A cidade, localizada no cerrado da região Centro-Oeste brasileira, possui um clima


agradável, com médias de temperatura entre 23-24ºC, apresentando no meses mais frios
(maio, junho ou julho) médias em torno de 15ºC e nos meses mais quentes (qualquer outra
época) médias em torno de 33ºC22.

18
Fonte: Perfil sócio-econômico de Campo Grande – 1998. Prefeitura Municipal
de Campo Grande
19
Calculado a partir de dados do censo 1991, IBGE
20
Fonte: Mapa da Violência II, publicado pela UNESCO e divulgado no jornal
Correio do Estado do dia 20 de agosto de 2000.
21
Idem, divulgado no jornal Correio do Estado do dia 17 de agosto de 2000.
22
Fonte: perfil sócio-econômico de Campo Grande – 1998. Prefeitura
Municipal de Campo Grande.
3.3.3 Seleção da amostra

Com base nos principais argumentos mencionados na literatura e nos objetivos e


hipótese deste trabalho foram escolhidas três áreas residenciais da cidade com população de
diferentes níveis sócio-econômicos. As soluções arquitetônicas e urbanísticas e as densidades
das áreas são também diferenciadas.

3.3.3.1 Critérios para seleção das áreas

‚ Nível sócio-econômico diferenciado entre as áreas


‚ Uso do solo (predominantemente residencial)
‚ Existência de EPL (espaço público de lazer)
‚ Densidades diferenciadas
‚ Intensidade de uso dos espaços públicos diferenciados
‚ Época de ocupação
Fig. 3. 3 Mapa de Campo Grande com as três áreas
Nível sócio-econômico

Foram escolhidos, como objeto de estudo, três áreas residenciais da cidade, sendo a
Área 1, uma região de alto poder aquisitivo, a Área 2, um bairro popular, e a Área 3, uma
região de poder aquisitivo médio (fig. 3.3).

A escolha de três áreas com nível sócio-econômico diferenciado levou à eleição de três
áreas em locais específicos da malha urbana já que, de acordo com Ebner (1999), os bairros de
maior poder aquisitivo concentram-se no setor leste da cidade, próximos ao centro, e os
bairros populares estão em regiões afastadas do centro.

Dentro destas três áreas, foram estudadas ruas residenciais e espaços públicos de lazer.

Uso do solo e existência de espaço público de lazer (EPL)

As três áreas escolhidas são predominantemente residenciais, existindo nas três algum
comércio de abastecimento básico nas proximidades.

As três áreas possuem um EPL bem estruturado, seja uma praça de vizinhança, um
parque de vizinhança ou um parque central. Os EPLs estudados se localizam num raio de até
400m de caminhada de qualquer ponto das sub-áreas residenciais estudadas. .

Os EPLs foram escolhidos em função da sua localização na zona residencial, ou bem


próximos desta: dois deles (EPL 1 e EPL 2) estão relacionados diretamente à área residencial,
enquanto o EPL 3, além de próximo a bairros residenciais e ao Centro é um referencial para a
cidade toda. Na classificação de Halprim, o EPL 1 pode ser considerado um ‘parque de
vizinhança’, o EPL 2 uma ‘praça’ e o EPL 3, um ‘parque central’.

Densidade

A média de pessoas por residência, que na Área 2 é de 4,1 hab./unidade, nas áreas 1 e 3
é um pouco mais baixa, de 3,6 e 3,7 hab./unidade. Somada à variedade de tamanhos de
terrenos e de tipologias por áreas, chega-se a densidades bem desiguais. Dentro das três áreas
escolhidas, as sub-áreas selecionadas para estudo mais aprofundado das ruas apresentam
densidades diferenciadas (fig. 3.4). A Área 2 (bairro popular), apresenta as maiores densidades
(103 hab./ha). A Área 1 (alto poder aquisitivo) apresenta variações: a sub-área Santa Tereza,
tem uma densidade calculada em torno de 90 hab/ha, enquanto a sub-área Búzios aparece com
uma densidade bem menor (21 hab/ha) – a menor densidade entre as sub-áreas estudadas. A
Área 3 (poder aquisitivo médio) apresenta as densidades intermediárias deste estudo, sendo a
sub-área Sargento Amaral bem mais densa que a sub-área Vila Carvalho (73 e 44 hab/ha,

Sta. Tereza

Buzios
Sub-áreas

Á rea 1
Copatrabalho Á rea 2
Á rea 3
Sargento A maral

V ila Carvalho

0 20 40 60 80 100 120
Hab/h a

respectivamente).

Figura 3.4 Densidades nas sub-áreas

Intensidade de uso

A partir de observações preliminares, nota-se que as áreas apresentam diferenças


marcantes no volume de uso dos espaços públicos abertos - ruas e EPLs. As ruas da Área 2
são expressivamente mais utilizadas para atividades variadas do que as ruas da Área 1 e da
Área 3. Os EPLs 2 e 3 são muito utilizados, enquanto o EPL1 apresenta uma utilização fraca.

Para definir as áreas e sub-áreas a serem estudadas, foram utilizadas, além das
observações preliminares, entrevistas e mapas mentais com moradores e usuários, que
demonstraram ser, os três EPLs, importantes marcos referenciais para cada área e
esclareceram as percepções de limites de sub-áreas e, em parte, o funcionamento das mesmas.

Época de ocupação da área


As datas de urbanização e ocupação destas áreas representam diversas etapas da
evolução dos bairros residenciais da cidade, desde a década de 1920 até loteamentos ocupados
durante a última década, de 1990. A sub-área Vila Carvalho (Área 3) é a de ocupação mais
antiga; a Área 2 e as sub-áreas Santa Tereza (Área 1) e Sgto. Amaral (Área 3), de ocupação
simultânea na década de 70; e a sub-área Búzios, a de ocupação mais recente.

3.3.3.2 Características das áreas

a) Área 1 – Itanhangá

A Área 1 (fig. 3. 5, pg. 76) está localizada perto da área central da cidade e tem os
mesmos limites do setor urbano Itanhangá Park, um dos treze setores que compõem a Região
Urbana denominada Centro (ver fig. 3.3 - Área 1). Ao norte e nordeste da área existe uma
região recentemente incorporada à cidade, com grandes vazios.

Caracteriza-se por ser uma região com morfologias viárias diversificadas, e tipologias
habitacionais predominantes de grandes residências unifamiliares, construídas dentro de amplos
terrenos, de dimensões variadas, normalmente fechados por muros altos. A densidade deste
setor da cidade23 é de 35 hab/ha24. Na parte central da Área 1, encontra-se uma parte da área
mais densa, com conjuntos habitacionais construídos na década de 70 e condomínios verticais
mais recentes. Mais a oeste, voltam a predominar residências isoladas em terrenos, com
dimensões menores.

A Área 1 é delimitada por vias bastante movimentadas, como as ruas Joaquim


Murtinho, Av. Fernando Corrêa da Costa, e cruzada pela rua Chaadi Scaffi (fig. 3.6). No
cruzamento destas três ruas localiza-se o polo comercial da área.

23
Setor : corresponde a uma área territorial contínua que serve como base para
contagem populacional pelo IBGE.
24
Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Grande - PLANURB. População de
Campo Grande por distritos, regiões e setores: 1996.
Fig. 3.5 Foto aérea da Área 1
Fig. 3.6 Mapa geral da Área 1

As ruas são arborizadas com vegetação de grande porte, propiciando sombra e aspecto
agradável.

A leste da área encontram-se amplos lotes vazios, que se tornaram acessíveis há poucos
anos, através da continuação da Av. Fernando Corrêa da Costa. Os vazios existentes quebram
a continuidade da área com a cidade.

As ligações desta área com os outros bairros são feitas, geralmente, através de carro
particular pelas vias mencionadas e não a pé ou de ônibus. A área toda tem pouca ligação com
outras regiões da cidade através de transporte coletivo.
Dentro da área, quarteirões de grandes dimensões (como é o caso da sub-área Búzios,
fig 3.6) dificultam a circulação de pedestres.

Ruas

Nesta área, foram selecionadas duas sub-áreas (fig. 3.6), por apresentarem tipologias
residenciais diferenciadas entre si (em tamanho, nível sócio-econômico e densidade) e serem
características da área.

Da primeira sub-área fazem parte a rua Santa Tereza e adjacências (fig. 3.7). É
constituída por um grupo de sobrados inicialmente padronizados, muito apreciados pela
população, construídos na década de 70, pouco depois da construção do condomínio vertical
vizinho de 2 pavimentos – o Copamorena. Vários destes sobrados estão sofrendo
modificações, através de ampliações e reformas, destinadas a abrigar residências maiores e uns
poucos escritórios e consultórios.

A segunda sub-área é constituída pela rua Búzios e adjacências, onde predominam


residências grandes de alto padrão, fechadas por altos muros (fig. 3.8).

Figura 3.7 Sub-área Sta. Tereza Figura 3.8 Sub-área Búzios

As sub-áreas escolhidas para estudo estão claramente delimitadas pela tipologia


homogênea das habitações - no caso da Sta. Tereza - e pelo traçado orgânico das ruas e padrão
das habitações - no caso da sub-área Búzios.

A sub-área St. Tereza é mais densa que o restante da área pela tipologia de construções
adotada e tem uma densidade calculada de 90 hab./ha. A sub-área Búzios tem a densidade
baixa (21 hab./ha), semelhante à predominante no setor Itanhangá.
Espaço Público de Lazer

A Praça Itanhangá (fig. 3.9) é um parque de vizinhança, inaugurado em 1985. Em 1995


foi cercado por gradil durante uma remodelação, com acesso através de dois portões. Ocupa
uma área aproximada de 18.000m2.

Este espaço público de lazer era, anos atrás, um referencial da cidade como local de
paisagem primorosa, rica vegetação e córregos naturais, com raio de abrangência de vários
bairros. O projeto paisagístico não apresenta a mesma qualidade original, mas o local continua a
ser agradável pela presença do verde e pelo contato com os córregos. Os usuários, hoje, estão
mais restritos a moradores da área.

Fig. 3.9 Praça Itanhangá

A manutenção da praça Itanhangá está a cargo da Fundação FUNLEC.

b) Área 2 - Copatrabalho

A Área 2 de nosso estudo está localizada na região urbana do Ibirusú, dentro do setor
Santo Amaro (ver fig. 3.10, p. 80). É constituída por conjunto habitacional popular de casas
térreas isoladas, construído e ocupado na década de 70 – o Copatrabalho. Está localizada na
região Noroeste da cidade, próxima à saída para Rochedo e no limite urbanizado da cidade
(ver fig. 3.3). Seu acesso se dá através da Av. Presidente Vargas, uma via coletora de todo este
setor.

Fig. 3.10 Foto aérea da área 2 – Copatrabalho


O conjunto Copatrabalho é estruturado por uma avenida central - Av. Florestal (fig.
3.11) que concentra em sua extensão o comércio e os serviços oferecidos, gerando movimento
de pedestres. Por esta avenida passam as duas linhas de transporte coletivo, consideradas
satisfatórias. As demais ruas do conjunto são residenciais. Na Av. Presidente Café Filho,
existe algum comércio, mas é insipiente se comparado com o da Av. Florestal.

Fig. 3.11 Planta da área 2

O conjunto habitacional conta com equipamentos comunitários como a praça central, a


sede da Associação de Moradores, o salão da Associação de Moradores, a creche, a escola
municipal e o posto policial. Todos estes equipamentos se localizam na quadra central do
conjunto.
O Copatrabalho limita-se, ao norte e ao sul, por áreas residenciais bem menos
adensadas, e a leste por uma grande área de propriedade do exército. As áreas limítrofes ao
conjunto apresentam uma densidade média de 49 hab./ha, mas o próprio conjunto habitacional
tem densidade maior, aproximadamente 106 hab./ha, com uma população estimada em 5.700
habitantes.

A Área 2 está bem delimitada como bairro pelo fato de ser um conjunto habitacional
com características diferenciadas das áreas adjacentes, por conta da maior densidade, data de
construção e nível sócio-econômico dos moradores. Os limites se fazem naturalmente pelas
ruas de contorno do conjunto: Av. Presidente Café Filho, rua Bacaba e Av. Presidente Vargas.
A ligação com os bairros limítrofes está prejudicada pela falta de continuidade entre as ruas
da Copatrabalho e as do Sto. Amaro. A ligação com os demais bairros e com a área mais
central da cidade é feita pela rua Yocuama ou, na grande maioria dos casos, pela Av.
Presidente Vargas, de ônibus, automóvel, ou mesmo a pé, no caso de deslocamento para
bairros adjacentes.

Ruas

Do bairro, foram selecionadas para estudo a Av. Florestal e algumas ruas


perpendiculares a ela, desde a rua Guanandi até a rua Abiurena, (fig. 3.11). Estas ruas
apresentam diferenciação de uso – comércio e serviços na Av. Florestal (fig. 3.12) e
residencial nas demais (fig. 3.13). A densidade e o nível sócio-econômico mantém-se
aparentemente homogêneo por todo o conjunto.
Fig. 3.12 Av. Florestal Fig. 3. 13 Típica rua secundária do conj.

Espaço público de lazer

A Praça Copatrabalho (fig. 3.14) localiza-se no centro do conjunto residencial. A área


da praça é de aproximadamente 9.500 m2, sem gradis, e caracteriza-se por proporcionar local
de encontro, recreação e práticas sociais. É utilizada pelos moradores do bairro e de bairros
vizinhos.

A praça é facilmente percebida e alcançada por quem circula na avenida principal do


bairro, ou pela Av. Café Filho. Sendo uma praça aberta, fica acessível durante todos os
períodos.

Figura 3.14 Praça Copatrabalho

A manutenção é responsabilidade da Associação de Moradores do bairro.

c) Área 3 – Horto Florestal

A região do Horto Florestal (fig. 3.15, pg.84) está situada parte no setor urbano, Vila
Carvalho, e parte no setor urbano, Amambaí, na região urbana do Centro. Localiza-se no
limite do setor Centro (ver fig. 3.3; pg. 72), a região mais antiga da cidade.
É atravessada por algumas das principais vias de circulação do centro: a rua Calógeras
(rua de comércio intenso no setor de reposição de peças), Av. Ernesto Geisel (rua do córrego),
Av. Fernando Corrêa da Costa (rua do córrego) e rua 26 de Agosto (por onde passa grande
número de linhas de ônibus). É constituída de bairros de classe média antigos, com padrões de
parcelamento que trouxeram taxas de densidades maiores do que a média da cidade.
Fig. 3.15 Área 3 (foto aérea)

A Área 3 está localizada na interseção de três setores da região urbana do Centro: o


Centro, a Vila Carvalho e o Amambaí. A Vila Carvalho apresenta praticamente a mesma
densidade do Centro e a Sto. Amaro se apresenta bem mais densa (fig. 3.16).

Fig. 3.16 Mapa geral da Área 3 com sub-áreas


Ruas

Foram consideradas duas sub-áreas diferenciadas: uma parte da Vila Carvalho,


loteamento antigo que teve sua ocupação iniciada na década de 20, e um conjunto habitacional
- Sargento Amaral - da década de 70, que faz parte do Setor Amambaí, mas com uma
densidade maior que a daquele setor.

Foram selecionadas ruas características da região por apresentarem densidades


residenciais diferenciadas entre si (a Vila Sargento Amaral mais densa que a Vila Carvalho).
O nível sócio-econômico entre as duas vilas é semelhante.

A Vila Carvalho tem densidade média calculada em 43 hab/ha, com residências térreas,
isoladas, em vários casos com generosos quintais (fig. 3.17). As ruas percorridas são
predominantemente residenciais (com exceção de uma quadra na Av. Noroeste), mas o bairro
apresenta-se permeado por áreas de uso misto (pequenos serviços e comércio ao lado das
residências).

Na Sargento Amaral a densidade média é maior do que a da Vila Carvalho, 73 hab./ha.


As habitações são térreas, de alvenaria, em lotes pequenos, com muito pouco terreno livre nos
lotes (fig. 3.18). Esta sub-area é mais puramente residencial que a anterior.

Figura 3.17 Vila Carvalho Figura 3.18 Sgto. Amaral

A Área 3 apresenta limites bem definidos entre as partes, sub-áreas estudadas, e entre a
área toda e outros bairros, o que foi levantado através dos mapas mentais. O Parque Horto
Florestal faz parte do limite norte da área.

Estes limites são também barreiras que, de certo modo, dificultam o contato com as
áreas adjacentes, já que são ruas de tráfego intenso, largas e, no caso da Noroeste e da Ernesto
Geisel, com as barreiras adicionais dos trilhos ou do córrego, ambos com passagens
esporádicas. Não fossem estas barreiras, os bairros próximos seriam facilmente alcançados a
pé.

Espaço público de lazer

Inaugurado em 1995, o parque Horto Florestal (fig. 3.19) está localizado na área mais
central da cidade. Ocupa um espaço aproximado de 48.000m2. Este é o parque melhor
estruturado e mais dinâmico da cidade.

Está situado em local histórico, na


região onde cruzavam-se os córregos Prosa
e Segredo, que deram origem ao
povoamento inicial e que sempre
acompanharam o imaginário da população,
referenciados através de elementos
simbólicos e do espelho d’água construído
junto à entrada principal do parque. Figura 3.19 Parque Horto Florestal

O Horto Florestal é um parque com uma atividade programada intensa e é usado por
pessoas de toda a cidade, mesmo de bairros distantes. Sua reserva de árvores de grande porte é
valiosa como local que propicia tranqüilidade perto do centro.

Um equipamento importante é a Biblioteca Pública. Nas imediações do Horto


encontram-se vários equipamentos que atendem à cidade como um todo, como o SENAC, o
Mercado Público, o teatro do SESC. Está localizado a 10min. de caminhada do centro da
cidade e do terminal de integração do sistema de transporte coletivo.

A conservação do parque é feita, por convênio, pelo SENAC.

O acesso ao parque Horto Florestal é controlado através de gradil e cinco portões.

3.4 ESCOLHA DOS MÉTODOS


Buscando conhecer a realidade sobre a freqüência e a maneira como são usados os
espaços pesquisados, foram utilizados diversos métodos de coleta de dados. O uso simultâneo
de múltiplos métodos é importante para ressaltar a validade dos resultados e afirmar a
confiabilidade da pesquisa.

A análise qualitativa enfatiza o papel do pesquisador como instrumento de coleta de


dados no próprio local de estudo, já que está direcionada a entender e interpretar a situação do
ponto de vista da população estudada e do seu conhecimento pessoal daquela realidade (Low,
1987). Métodos qualitativos (como entrevistas ou observações) esclarecem certas questões que
os métodos quantitativos (questionários) podem deixar sem explicação. Os métodos
quantitativos possibilitam a generalização dos resultados, através da investigação de
fenômenos análogos que produzam resultados semelhantes.

Neste estudo, foi usada uma combinação de levantamentos de arquivo, mapas mentais,
entrevistas, levantamentos físicos, observações comportamentais e questionários com o
objetivo de cruzar as informações dos diferentes métodos e dar maior respaldo às análises.

3.4.1 Levantamentos de arquivo

Foram coletadas informações sobre a configuração das áreas residenciais e dos EPLs,
o histórico destas áreas e as densidades existentes.

Através das plantas e de fotografias aéreas, foi possível estabelecer a configuração das
áreas, entendida a estrutura viária, a relação entre espaços construídos e vazios urbanos.

Estas plantas também serviram de base para o levantamento físico.

3.4.2 Entrevistas

As entrevistas foram realizadas em duas etapas. Inicialmente foram realizadas


entrevistas informais com algumas pessoas chaves na estruturação dos espaços públicos da
cidade: políticos, administradores de órgãos relacionados com estes espaços, arquitetos e
alguns trabalhadores diretos dos espaços.

Numa segunda etapa, foram realizadas entrevistas informais com os usuários, durante e
após a aplicação dos questionários, com o objetivo de esclarecer sentimentos e motivos para
certas atitudes.

No decorrer dos levantamentos de dados ‘in loco’, as declarações dos usuários sempre
foram levadas em conta e anotadas quando referiam-se a pontos que não eram contemplados
nos questionários. Desta forma, coletou-se uma série de informações que esclarecem mais a
rotina de uso daqueles bairros. Após a aplicação dos questionários e das observações
sistemáticas, foram feitas entrevistas com alguns usuários para esclarecer as razões de algumas
atitudes que aquelas técnicas não puderam esclarecer.

3.4.3 Mapas mentais

Foram aplicados mapas mentais e entrevistas informais com usuários dos EPLs
escolhidos e/ou com moradores do entorno destes (num raio de 400m – um raio confortável de
caminhada), de forma a esclarecer a dinâmica da região.

O mapa mental consiste em croqui esquemático realizado pelo usuário, de memória,


sobre os elementos mais importantes que percebe num bairro, região ou cidade, com o
objetivo de auxiliar no entendimento da imagem ambiental percebida por este usuário, através
do esclarecimento dos elementos estruturadores daquela região, tais como limites, marcos e
caminhos.

Foram realizados cinco mapas por área. Estes foram sempre acompanhados de
entrevistas informais, que complementaram as informações. Os mapas ajudaram a definir os
limites das áreas de estudo e a escolha das ruas que seriam estudadas mais profundamente. As
informações preliminares, levantadas através das entrevistas e dos mapas, serviram de apoio
para a elaboração dos questionários que seriam aplicados posteriormente nestas áreas.
3.4.4 Levantamento físico

Tendo como base as plantas das ruas e praças e as fotos aéreas, os espaços abertos
selecionados foram levantados com o objetivo de produzir plantas atualizadas das áreas.
Foram levantados: vegetação de porte, tipo de pavimentação e barreiras físicas existentes nas
vias de pedestres; a largura das calçadas, o fechamento espacial, o tipo de contato visual
existente entre o interior dos lotes e a rua e entre o interior da residência e a rua
(correspondência espacial), os locais destinados para sentar e a iluminação. Os registros em
planta baixa foram digitados nas plantas bases das áreas, através do software Autocad, e
usados no cruzamento de informações quando da análise dos dados.

As plantas de projeto e fotos aéreas dos EPLs foram atualizadas através do


levantamento físico de equipamentos existentes, vegetação, tipos de piso, bancos e
iluminação.

3.4.5 Observações comportamentais

A fim de conhecer o comportamento dos usuários – um dos critérios adotados neste


trabalho para medir o desempenho dos espaços públicos – foram realizadas observações, em
duas etapas. O objetivo de obter informações sobre a regularidade dos comportamentos e
atividades, os usos dos lugares (novos usos, usos previstos e mal-uso) e as oportunidades e
restrições de uso decorrentes do projeto foi, assim, operacionalizado, conforme apresentado
por Reis e Lay (1995).

Numa primeira etapa, foram efetuadas observações preliminares para definir as áreas
de estudo. Depois de conhecer melhor as características particulares das áreas, definiu-se a
amostra e, finalmente, foram feitas observações a fim de reconhecer os comportamentos mais
marcantes nos espaços públicos e os horários de maior intensidade de uso. A partir destas
observações, foi possível montar uma estratégia para a segunda etapa das observações, com
horários e os percursos definitivos já definidos. Determinou-se dois períodos diários para a
observação dos espaços. Um, no período da manhã e outro, no fim de tarde, que foram os
momentos de maior intensidade de uso observado nas ruas daquelas áreas.

Foram definidos os comportamentos a serem observados in loco, em cada EPL e em


cada rua escolhida, com o objetivo de registrar os tipos de uso e a freqüência com que estes
ocorrem naqueles espaços. Os comportamentos observados foram classificados em seis
categorias : (1) caminhar; (2) sentar); (3) brincar; (4) trabalhar; (5) estar parado e (6) passear
de bicicleta.

Os usuários dos espaços foram observados levando-se em conta sua faixa etária: (a)
crianças (até 13 anos); (b) jovens (de 14 a 19 anos); (c) adultos (de 20 a 60 anos) e (d) idosos
(acima de 60 anos).

Para definição da faixa etária um tanto abrangente do grupo de adultos, usou-se o


critério de independência e autonomia que, em geral, as pessoas entre 20 e 60 anos possuem,
em decorrência do período de maior produtividade profissional.

Numa segunda etapa, os dados foram coletados de forma sistematizada, durante os sete
dias da semana, durante duas semanas consecutivas. As observações ocorreram no inicio do
verão, quando as temperaturas são altas (como o são durante praticamente o ano todo), e num
período em que aconteceram diversos dias com chuvas de verão. Foram feitas observações em
duas áreas, (1 e 3), durante o mês de dezembro de 1999, antes do término do ano escolar. Pela
dificuldade de realizar as observações nas três áreas no mesmo período (grande distância das
áreas e tempo necessário para anotar as observações), na Área 2 as observações foram feitas
durante o mês de janeiro de 2000, durante as férias escolares.

Foram apontadas as peculiaridades mais marcantes sobre as condições climáticas no


momento da observação e alguma particularidade do espaço (como a ligação a alguma função
comercial, algum evento especial acontecendo) que induzisse a algum uso específico.

As observações comportamentais foram efetuadas através de percursos pré-


determinados, pelas ruas escolhidas e pelos três EPLs, e foram registradas em mapas
codificados, tendo como base as plantas atualizadas dos espaços em estudo. Os mapas
comportamentais foram digitados no software Autocad, para melhor exploração dos dados.
Segundo a literatura, olhar o comportamento registrado em mapas pode dar ao investigador
uma visão geral do que está acontecendo no espaço como um todo, em determinado momento
ou, com a sobreposição das informações de diversos dias, ter a idéia do quanto as atividades se
repetem em lugares específicos. Esta informação facilita a análise da relação do
comportamento com o espaço físico.

3.4.6 Questionários

A aplicação de questionários é uma técnica utilizada para medir regularidade entre


pessoas através de relato verbal. Os questionários têm a característica de poderem ser
aplicados simultaneamente a grande número de usuários e de serem analisados
quantitativamente, o que torna os dados da pesquisa generalizáveis. Devido a estas
características, a aplicação de questionários tem sido um dos procedimentos mais comuns para
a coleta de informações sobre o grau de satisfação de usuários com o seu ambiente (Lay e
Reis, 1993).

Foram aplicados questionários estruturados com questões fechadas de escolha múltipla


e questões abertas. A construção do questionário foi orientada pelas variáveis a serem
investigadas e auxiliada pelas entrevistas realizadas com usuários, observações preliminares
nas áreas em questão e execução de um número reduzido de mapas mentais (cinco em cada
área, realizados junto à primeira etapa das entrevistas).

A clareza, estrutura e abrangência do questionário foi testada junto a um número


pequeno de pessoas, usuárias dos espaços selecionados, no que se denomina amostra piloto.
Com base nesta amostra, as questões foram reformuladas.

Os questionários foram aplicados diretamente pela pesquisadora, aos usuários das áreas
selecionadas que se dispusessem a respondê-los. O tempo médio de preenchimento do
questionário ficou entre 20 e 30min., o que foi considerado como excessivo por alguns
respondentes, principalmente entre os moradores e usuários das ruas.

Em cada área foram aplicados 30 questionários entre os usuários da praça, 25 entre as


pessoas encontradas nas calçadas das ruas em estudo e 25 entre pessoas que estivessem em
suas casas, moradores das ruas em estudo. O total de questionários aplicados foi de 240.
Perfil dos respondentes

A amostra de respondentes consistiu em 66,7% de adultos, 30% de jovens e 10% de


idosos. Do total de respondentes 56,7% eram mulheres.

Ocupação/Profissão

Dentre os respondentes, 20% exercem profissões com nível de 3º grau, 13,8%


profissões com nível de 2o grau, 11,3% profissões com nível de 1º grau e o restante em outras
profissões, sendo que 49% dos respondentes não exerce profissão formal, incluindo
estudantes, aposentados e do lar, os quais tendem a dispor de mais tempo para utilizar os
espaços públicos.

Nível sócio-econômico

A maioria dos respondentes situa-se em faixas de renda familiar entre 5 a 10 salários


(35%) e 3 a 5 salários (31,7%), sendo que a maioria - 52,5% - anda de carro. A maioria dos
respondentes mora em casa própria e faz parte de uma família com 3 ou 4 pessoas (57%). Mas
existem algumas particularidades quanto às faixas de renda salarial familiar, entre as três
áreas.

Respondentes com as mais altas faixas de renda aparecem mais na Área 1, onde 37%
dos moradores têm renda entre 5 e 10 salários e 33%, entre 10 e 20 salários, sendo a única das
áreas onde 10% dos moradores têm renda familiar maior que 20 salários. Apesar dos dados
obtidos através dos questionários, deduz-se, pelas características tipológicas das moradias, que
mais famílias da Área 1, do que as que declararam, tenham renda superior a 20 salários. A
Área 3, onde 70% dos moradores têm renda familiar de 5 a 10 salários, apresenta níveis de
renda intermediários entre as três áreas. As rendas mais baixas estão na Área 2, onde 50% dos
moradores têm renda familiar de 3 a 5 salários mínimos.
Origem dos moradores
Sobre a origem dos respondentes: 36,7% nasceram em Campo Grande e 26,3% vêm do
interior do estado, na maioria dos casos (55%) há mais de 10 anos. As regiões de origem mais
representativa, fora do Estado, são a Região Sul, (de onde vieram 13% dos respondentes) e a
Região Sudeste, (de onde provieram 11%); 40% dos sulistas chegaram entre 5 e 10 anos atrás
e 40%, há mais de 10 anos. Da região Sudeste, 53% vieram há mais de 10 anos (fig. 3.20).

Outras regiões

Nordeste

Região Centro-oeste
Área1
Região Sudeste Área 2
Área 3
Região Sul

interior MS

sempre morou CG
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

Figura 3.20 Origem dos moradores por área

Existe uma significativa diferença entre as três áreas quanto à origem de seus
moradores (Phi, Sig. = 0,02296). Nas Áreas 2 e 3, a grande maioria dos respondentes
moradores sempre morou na cidade de Campo Grande ou veio do interior do Estado, há mais
de 10 anos. Diferente destas, na Área 1 a maioria das pessoas veio de outras regiões, também
predominantemente chegadas há mais de 10 anos.

Sendo assim, o perfil dos moradores das três áreas caracteriza-se predominantemente
por ser o de moradores antigos (mais de 10 anos), vindos ou das regiões Sul ou Sudeste (mais
na Área 1), ou pessoas que sempre moraram na cidade ou chegaram do interior do Estado há
mais de 10 anos (mais nas Área 2 e 3).

3.5 ANÁLISE DOS DADOS


A análise dos dados obtidos através de métodos qualitativos – entrevistas, observações
e levantamentos físicos – foi feita pela interpretação das respostas de entrevistas e da análise
visual dos dados oriundos dos levantamentos físicos digitados em Autocad.

Os dados oriundos das observações foram interpretados pela freqüência dos


comportamentos nos espaços, através dos mapas comportamentais, já codificados no Autocad
e funcionando como gráficos de freqüência.

Os dados obtidos com os questionários - dados quantitativos - foram tabulados pelo


programa estatístico SPSS (Norussis, 1990) e, através deste, feitos testes estatísticos não
paramétricos25 descritivos, tais como freqüências, tabulação-cruzada (x2 e Phi) e Kruskal-
Wallis. Dos testes descontínuos foram considerados aqueles que apresentaram significância
estatística (Sig.) estabelecida como < 0.05 (op.cit.).

Foram feitas inferências através do teste de correlação Spearman. Para os testes de


correlação foram adotados os intervalos representados na tabela abaixo:

Tabela 3.2 Intervalos de correlação

Intervalos Correlação
0,0 a 0,3 Fraca
0,3 a 0,5 Moderada
0,5 a 0,7 Forte
0,7 a 0,9 Muito forte
0,9 a 1,0 Excepcional
adaptada por Kohler (1999)

Do cruzamento da análise destes dados (qualitativos e quantitativos) pretende-se


chegar a conclusões sobre a hipótese levantada.

25
Testes não-paramétricos, ou de livre distribuição, não dependem de formas
precisas de distribuição da amostra. Permitem inferências, independentemente das
características de distribuição da freqüência dos dados (Reis e Lay, 1995).
ANÁLISE DO DESEMPENHO DOS ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS

4.1 INTRODUÇÃO

Neste capitulo, são apresentados e analisados os resultados da investigação, obtidos


através dos diversos métodos utilizados (levantamentos físicos, questionários, entrevistas e
observações), com o propósito de explorar as relações existentes entre aspectos sócio-
econômicos, aspectos físicos e o tipo e intensidade de uso dos espaços públicos abertos – ruas
e espaços públicos de lazer.

A hipótese de que aspectos de ordem cultural e sócio-econômica influenciam no uso


dos espaços públicos, de maneira preponderante sobre os aspectos de ordem física, foi
explorada através da avaliação de desempenho dos espaços abertos públicos, considerando os
indicadores satisfação e comportamento nos espaços, e através da análise de como e quanto os
fatores composicionais, como o perfil dos usuários e seus estilos de vida, e os fatores
contextuais, como adequação ambiental, agradabilidade, aparência, segurança e acessibilidade,
estariam influenciando na apropriação dos espaços abertos públicos estudados.

Inicialmente, são apresentadas as características físicas e o perfil comportamental de


cada área. A seguir, é avaliado o desempenho dos espaços através do tipo e intensidade de uso,
nível de satisfação dos usuários e da análise dos fatores contextuais e composicionais
mencionados na revisão da literatura efetuada no Cap. II, buscando medir como e quanto estes
fatores influenciam na apropriação dos espaços abertos.

Uma investigação mais profunda sobre as conexões existentes entre os espaços


estudados e os demais espaços da cidade, apesar de considerada importante, não foi efetuada,
por limitações estruturais e temporais na execução do presente trabalho.

4.2 AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL: TIPO E INTENSIDADE DE USO DOS


ESPAÇOS

A avaliação comportamental será efetuada por tipo de espaço público estudado –


ruas e espaços públicos de lazer – sendo apresentada, em primeiro lugar, a descrição física de
cada área, seguida da descrição de uso (tipo e intensidade), de maneira a possibilitar e
comparar o nível de apropriação de cada espaço, relacionando-o com as características físicas
espaciais.

4.2.1 Características físico-espaciais e comportamentais das áreas

4.2.1.1 Área 1: Itanhangá

A Área 1(fig 4.1) é uma zona residencial estudada através de duas sub-áreas de
diferentes características morfológicas e sócio-econômicas: sub-área Búzios e sub-área Sta.
Tereza. A primeira, com alto nível de renda familiar, e a segunda, com renda familiar média –
alta e média.

A rua Chaadi Scaff (fig. 4.1 e 4.7 a), com 12 m de largura, separa as duas sub-áreas,
apresenta volume elevado e velocidade intensa de tráfego e atua como barreira entre a sub-
área Sta. Tereza, o polo comercial e a Praça Itanhangá. O interior da sub-área Búzios constitui-
se de uma única rua de 500m de comprimento, sem cruzamentos, tornando a acessibilidade
funcional limitada ao polo comercial e à Praça Itanhangá.

As edificações da sub-área Búzios são, em sua totalidade, residências recentes (menos


de 15 anos), de padrão alto, isoladas em terrenos generosos, com boa parte do terreno dedicada
a jardins internos (fig. 4.2). As da sub-área Sta.Tereza são originalmente sobrados idênticos,
construídos há 20 anos, em muitos casos adaptados, de bom padrão construtivo, mais
densamente implantados do que na sub-área anterior, mas mesmo assim mantendo pequeno
jardim ou pátio de fundos (fig. 4.3).

A área tem pouca ligação com outras regiões da cidade por meio de transporte coletivo,
sendo altamente generalizado o uso de automóveis pelos residentes. As linhas de ônibus
passam pela rua Joaquim Murtinho, onde está localizado o comércio básico (padaria, açougue,
revistaria, farmácia e lanchonetes) e estabelecimentos de maior porte, próximo à rua Chaadi
Scaff. Este pequeno polo comercial localiza-se, aproximadamente, a 300m da sub-área Sta.
Tereza e a 800m da sub-área Búzios.
Fig. 4.1 Área 1 - Itanhangá – levantamento físico
Esta área possui, ainda, uma escola particular de 1 º e 2 º grau ao lado da Praça
Itanhangá. Nos bairros vizinhos de São Bento e Bela Vista, existem outras escolas com toda a
grade curricular26.

Figura 4.2 Residência típica: Búzios Figura 4.3 Residência típica: Sta. Tereza

As ruas estudadas, nas duas sub-áreas, apresentam-se com as seguintes características :

Tabela 4.1 : Características físicas predominantes nas ruas, Área 1

Sub-área Búzios Sub-área Sta. Tereza


Largura ruas (carrossável) 10 m 7m
Fluxo de veículos Pequeno Pequeno
Largura calçadas 2,70m 1,50m
Pavimentação calçadas Lajotas, Cimento, Grama Lajotas, Cimento, Grama
Barreiras nas calçadas Canteiros, Desníveis Cant., Desn., Lixeiras, Árv.

Tamanho médio lotes 500 m2 250 m2


Tamanho médio casas 400 m2 120 m2
Tipo residência Sobrados Sobrados
Fechamento lotes 66% muros altos 50% muros altos
Arborização(espaç. aproximad.) 12m 27m
Iluminação públ. 33m 33m

26
Todas as séries do ensino fundamental e médio.
O fechamento espacial predominante, feito por muros altos (acima 2m), impede a
continuidade espacial entre dentro e fora do lote (fig. 4.4). Na sub-área Búzios, mesmo quando
o fechamento é por gradil, as soluções arquitetônicas não favorecem o contato visual com a
rua. Na sub-área Sta. Tereza, quando o fechamento é feito por gradis (50% dos casos), a
solução arquitetônica adotada, de janelas da sala e quartos voltadas para a rua, permite o
contato visual entre o interior da casa e o espaço público (fig. 4.5).

Figura 4.4 Fechamento espacial: Búzios Figura 4.5 Fechamento espacial: Sta.Ter.

A presença de barreiras nas calçadas


dificulta, e, em certos casos, impossibilita
totalmente a passagem de pedestres
(fig. 4.6).

Figura 4.6 Barreiras: Búzios

Os usos

De acordo com as observações sistemáticas efetuadas nas duas sub-áreas, as ruas são
muito pouco utilizadas para atividades sociais e são raras as pessoas caminhando (52% dos
respondentes moradores da área só usam a rua para deslocamentos – em grande parte de
automóvel – e somente 6% utilizam as calçadas para conversar com vizinhos).
Fig. 4.7a Mapa Comportamental das ruas Área 1, parte da tarde
Fig. 4.8b Mapa comportamental das ruas Área 1 –parte da manhã

Os mapas comportamentais (fig.4.7a e 7b) apresentam uma síntese das observações


feitas à tarde - horário mais movimentado do dia - e pela manhã, durante sete dias
consecutivos.

Não foram observadas crianças brincando pelas calçadas (somente 5% dos moradores
respondentes da área permitem que crianças brinquem nas calçadas).

Dos respondentes moradores desta área, 27% afirmam utilizar as calçadas para roda de
tereré27, apesar de tal comportamento não ter sido constatado durante os períodos de
observação.

Apesar da proximidade da sub-área Santa Tereza com o polo de abastecimento da


Joaquim Murtinho, não foram observadas pessoas caminhando com pacotes de compras nas
mãos. Também não foram observados pedestres com pacotes de compras na sub-área Búzios.

As poucas pessoas encontradas nas calçadas desta área são, na maioria, homens
trabalhando como guardas particulares em pontos estratégicos e empregados domésticos
lavando as calçadas. No período da manhã, foram observados somente adultos e, no período
da tarde, algumas crianças e adolescentes caminhavam na sub-área Santa Tereza, e, em menor
quantidade, na sub-área Búzios.

As pessoas em estado de
permanência estão localizadas nas
proximidades de seus locais específicos de
trabalho (na frente ou próximos a casa que
guardam) e sempre procurando a sombra
da árvore mais próxima (fig. 4.8).

27
Tereré: bebida de origem indígena, semelhante ao chimarrão, tomada
com água gelada.
Figura 4. 8 Permanência: Guardas particulares

Os guardas particulares utilizam, normalmente, cadeiras portáteis para sentar nas


calçadas.

As passagens de pedestres entre a rua Búzios e a Caioás (fig. 4.9), onde foram
observados problemas de erosão e falta de calçamento, e entre a rua Búzios e a rua sem saída
Puriú (fig. 4.10), são ladeadas pelos muros laterais das residências, não possuem iluminação e,
nelas, não foram observados usuários.

Figura 4.9 Passagem pedestres 1 Figura 4.10 Passagem pedestres 2

Na sub-área Sta. Tereza, adolescentes costumam sentar à sombra dos pilotis do


conjunto Copamorena, fechado por gradis, que não impedem a visão da rua, e com uma
mureta que serve de banco para os usuários. Externo à Praça Itanhangá, de frente para a rua
Porto Belo, um banco de madeira também serve de ponto de encontro.

4.2.1.2 Área 2 - Copatrabalho

A Área 2 é um bairro popular de periferia formado por um conjunto habitacional, com


predominância de famílias com rendas médias baixas.

O conjunto habitacional configura-se por uma rua central de acesso – a Av. Florestal –
que concentra o comércio local, os pontos referenciais do bairro e a distribuição do transporte
coletivo, e por ruas secundárias residenciais (fig. 4.11), de pequena distância até a rua
principal, o que favorece a locomoção a pé pelo bairro. A ligação com o centro da cidade é
muito clara, através da Av. Florestal e da Av. Presidente Getúlio Vargas, por duas linhas de
ônibus que percorrem as mesmas vias onde os moradores motorizados circulam
preferencialmente.
Figura 4.11 Levantamento físico Área 2

As casas foram originalmente


construídas com cobertura de telha de
fibrocimento, com áreas em torno de 30 a 60
m2, em padrão popular. Muitas destas
residências foram reformadas, com adição
de área construída no recuo frontal até o
limite do lote, utilizada como varanda ou
abrigo de carros (fig. 4.12). Figura 4.12 Residência típica Copatrabalho

Foram constatados alguns casos de subdivisão dos lotes resultando em mais de uma
residência por lote e aumentando a densidade da área. Quando os acréscimos não tomaram todo
o terreno, laterais, fundos ou recuo frontal formam pequenos pátios, geralmente pavimentados.

O comércio básico de alimentação, bares e lanchonetes, vestuário e pequenos serviços,


concentra-se na Av. Florestal. Existem alguns pequenos estabelecimentos nas ruas secundárias
e na Av. Pres. Café Filho – pequenos bares, institutos de beleza e outros serviços.

Apesar das dimensões da Av. Florestal (15m de largura, com canteiro central), o
movimento de veículos não interfere como barreira viária.

A área possui escolas públicas de 1 º grau (nos fundos da Praça Copatrabalho), de 2 º


grau (na entrada do conjunto, junto à Av. Presidente Getúlio Vargas) e ainda pequenas pré-
escolas particulares. O Colégio Militar localiza-se em frente à entrada do conjunto, na mesma
avenida.

As características das ruas do bairro estão sintetizadas na tabela abaixo:


Tabela 4.2 Características físicas predominantes das ruas Área 2

Av. Florestal Ruas laterais


Largura ruas 15 m(com cant. central arb.) 7m
Fluxo de veículos Médio Pequeno
Largura calçadas 8,5m(esq) e 4m (dir) 1,50m
Pavimentação calçadas Cimento e Grama Cimento
Barreiras nas calçadas Parte gramada dos 8,5m Canteiros, Lix, Árv, Mat/Const

Tamanho médio lotes Originalmente só lotes lat. 250 m2


Tamanho médio casas Só comércio e serviços 50 a 120 m2
Tipo residência Adaptações p/ comércio Térreas
Fechamentos lotes Só portas comerciais 86% gradis c/ visibilid.
Arborização 11m 25m
Iluminação 27m 35m

O contato visual desde o lote com as calçadas é feito através dos gradis e, em muitos
casos, através das portas das salas que são conservadas abertas (fig. 4.13).

Figura 4.13 Porta aberta para a rua Figura 4.14 Cadeiras varandas /abrigos

É freqüente a existência de cadeiras em varandas e abrigos de automóveis (fig. 4.14).


A presença de barreiras nas calçadas dificulta, e muitas vezes impede, a passagem. É
freqüente a presença de barreiras constituídas principalmente pela existência de árvores,
equipamentos (lixeiras, floreiras, postes), material de construção (fig. 4.15 e 4.16), portões de
garagem que abrem para fora e falta de manutenção da pavimentação das calçadas, que
causam estreitamento, chegando, em vários casos, a impedir a passagem.

Figura 4.15 Barreiras físicas temporária Figura 4.16 Barreiras físicas permanentes

Os usos

As observações na área Copatrabalho mostram uma alta freqüência de uso das ruas e
calçadas. É grande o número de pessoas caminhando, conversando, sentadas ou não, pessoas
jogando (cartas, bola, taco), tomando tererê, passando de bicicleta e crianças brincando nas
ruas perpendiculares à Av. Florestal.

Por toda a área, há uma grande variedade de usuários envolvidos em atividades


funcionais, sociais e recreacionais.

Os mapas comportamentais (fig. 4.17a e 4.17 b) das observações feitas na área nos
períodos da manhã e tarde são apresentados a seguir:
Fig. 4. 17a Mapa Comportamental Área 2 - tardes
Fig. 4.17b Mapa comportamental Área 2 – manhãs
Por ser a rua comercial e por onde passam os ônibus, a Av. Florestal apresenta um
movimento intenso de pessoas caminhando durante as horas de pico. São observadas atividades
como andar de bicicleta e sentar em bar ou similar. Nesta rua, muitas pessoas andando com
pequenos pacotes de compras nas mãos e, ainda, crianças com pacotes são freqüentemente
observadas, apontando para o hábito de compras na própria área.

Nas ruas residenciais, nota-se maior freqüência de atividades tais como sentar para
conversar e olhar o movimento – em cadeiras ou na própria calçada –, cuidar de crianças,
(fig. 4.18) ou brincar (fig. 4.19) , todas atividades relacionadas à frente das casas.

Figura 4.18 Sentando nas calçadas Figura 4.19 Brincando nas ruas

As pistas de rolagem das ruas são


muito utilizadas para brincar, muitas vezes
para sentar à sombra (em cadeiras,
próximo à calçada ou no meio fio, e muito
para caminhar (fig.4.20).

Figura 4.20 Caminhando nas ruas


As calçadas são mais utilizadas para sentar (em cadeiras portáteis, no meio fio, no
próprio chão, encostados ao muro) do que para caminhar. Isto confirma o fato das calçadas não
serem adequadas para a circulação de pedestres pela presença das barreiras apontadas
anteriormente, numa largura de 1,5m. Conseqüentemente, como o movimento de veículos é
pequeno, a circulação de pedestres ocorre mais intensamente nas pistas de rolagem das ruas do
que nas próprias calçadas.

De modo geral, as concentrações maiores de usuários são observadas em bares,


lanchonetes ou nas frentes das casas de certos moradores, talvez por serem mais populares, por
terem crianças para observar ou apreciarem estar à frente tomando tereré.

Nota-se que a existência de sombra na calçada favorece a escolha do local para sentar,
mas a sua falta não é empecilho definitivo para tanto, já que foram observadas várias pessoas
sentadas também ao sol.

As observações desta área foram feitas durante as férias escolares o que leva os
estudantes a terem mais tempo para freqüentar os espaços públicos. Porém, a presença de
adultos também é marcante. Dentre as três áreas, esta é a área com maior proporção de
crianças, adolescentes e jovens por domicílio.

O aspecto geral desta área lembra uma cidade do interior, com um ritmo de vida mais
relaxado e os relacionamentos de porta revelam-se visíveis nas observações efetuadas.

4.2.1.3 Área 3 - Horto

A Área 3 – Horto (fig. 4.21), localiza-se muito próxima ao centro, com distribuição de
usos comerciais e de serviços nas proximidades, de tal forma que podem ser percorridos a pé
desde as residências. Chega-se ao centro com uma caminhada de 10 minutos e ao parque
Laucídio Coelho (local de feiras agropecuárias tradicionais na cidade) com outros 10 ou 15
minutos de caminhada no sentido contrário ao centro. A proximidade de pontos de ônibus por
onde passa a maioria das linhas da cidade, também favorece os deslocamentos.

Desta área, foram escolhidas duas sub-áreas residenciais, diferenciadas por densidades,
tipo de loteamento e época de ocupação: Vila Carvalho e Sargento Amaral.
Figura 4. 21 Levantamento físico da Área 3
As duas sub-áreas estão separadas pela Av. Noroeste que atua como barreira física,
tanto pela largura (35m) quanto pelo canteiro central (de15m) ocupado pelos trilhos da
ferrovia, que é acidentado. A passagem de veículos entre as sub-áreas é efetuada somente pela
rua Henrique Vasquez.

Na Vila Carvalho, existe um fluxo de passagem de veículos de intensidade moderada,


tornando-se mais intenso nas ruas Joaquim Manoel de Carvalho, Bernardo Franco Baís e
Henrique Vasquez. A largura destas ruas (em torno de 15m) somada à largura das calçadas
(em média 3m), apesar do fluxo de veículos, não aparentam representar barreiras dentro do
bairro. O fluxo de veículos na Sgto. Amaral é o de acesso às residências, existindo algum
trânsito de passagem pelas ruas Tonico de Carvalho e rua Sodré.

A área possui escolas públicas e particulares dentro da própria Vila Carvalho, e nos
bairros próximos. Escolas tradicionais do centro estão ao alcance com uma rápida caminhada.

O comércio básico da área encontra-se concentrado na Av. Noroeste e na esquina desta


com a rua Tonico de Carvalho, mas nota-se que na Vila Carvalho os estabelecimentos se
espalham também no interior da sub-área. Já na Sgto. Amaral, existem poucos pontos de
comércio no interior da área (somente dois estabelecimentos de serviços). Na confluência da
Av. Presidente Geisel com a Av. Fernando Corrêa da Costa postam-se vários ambulantes nas
calçadas e canteiros centrais da Fernando Corrêa, em dias de maior movimento do parque
Horto Florestal.

Na Vila Carvalho as casas são geralmente de alvenaria (fig. 4.22), mas encontram-se
alguns exemplos de casas de madeira. Muitas são construções antigas para os padrões da cidade
(até década de 40/50), de acabamento simples e individualizado.
Figura 4.22 Residências típicas: Vila Carvalho

Nesta Vila Carvalho encontram-se, em alguns casos, soluções de casas geminadas ou


pequenas vilas com vários domicílios com entrada em comum. Varandas na parte frontal ou
outro tipo de espaço aberto e coberto são soluções muito freqüentes nas duas sub-áreas.

Na Vila Carvalho, os terrenos são amplos e muitas vezes observa-se a existência de


quintais com vegetação, diferente da Sgto. Amaral, onde os terrenos são menores, restando
pequenos pátios pavimentadas.

Na Sgto. Amaral, as casas são


padronizadas, pois foram construídas
simultaneamente como um conjunto
habitacional (década de 70). Posteriormente,
foram adaptadas pelos moradores (fig.
4.23a).
Figura 4.23a Residencia típica
Sgto. Amaral

O tipo de fechamento predominante, feito por gradil alto ou baixo, permite a


visualização das ruas. Nas residências mais antigas é onde são encontrados os fechamentos
mais baixos, e nota-se a tendência de optar por soluções de fechamentos mais altos, quando o
imóvel é reformado (fig. 4.23b e 4.23c).
Fig. 4.23b Casa antiga com muro baixo Fig. 4.23c Reforma de muros antigos

Algumas características das calçadas e das ruas são sintetizadas a seguir:

Tabela 4.3 Características físicas predominantes das ruas Área 3

Vila Carvalho Sgto. Amaral


Largura ruas (carrossável) 7 a 15 m 7 a 12 m
Fluxo de veículos Médio Médio/pequeno
Largura calçadas 1 a 3,5 m 1,5 m
Pavimentação calçadas Cimento Cimento
Barreiras nas calçadas Desníveis, falta de manutenção Desníveis

Tamanho médios lotes 500 m2 300 m2


Tamanho médio casas 40 a 130 m2 70 a 120 m2
Tipo residência Térreas Térreas
Fechamentos lotes 68% gradis alt./17% baixos 66% gradis alt./17% baixos
Arborização (esp. entre árv.) 8m (várias arvores antigas) 20 m
Iluminação(m rua entre postes) 25m 20m
O aspecto geral da Vila Carvalho é de região tranqüila, de ruas largas e sombreadas.
Na Sgto. Amaral as ruas mais estreitas e mais densas em edificações que na sub-área anterior,
também são tranqüilas.

Usos

Os mapas comportamentais da área do Horto (fig. 4.24a e 4.24b) mostram presença


predominante de adultos no período da manhã e presença bem mais diversificada em faixas
etárias, à tarde.
Fig. 4.24 a Mapa comportamental Área 3 – tardes
Fig. 4.24 b Mapa comportamental Área 3 – manhãs

Apresenta movimento de pessoas nas


calçadas, número que se avoluma em dias
de feira livre (fig. 4.25) – quartas e sábados
– que acontece no quarteirão da rua Joaquim
Manoel de Carvalho, identificado no mapa
comportamental (fig. 4.24b)
Figura 4.25 Feira livre

Apesar da conveniente localização do comércio local, os moradores desta área não têm
o hábito de fazer compras no próprio bairro (só 2% dos respondentes moradores o fazem). A
proximidade ao centro e a versatilidade de opções que este oferece parece atrair mais os
moradores da área para as compras (27%).

Sobre o tipo de uso que acontece nas ruas por parte dos moradores da área, as respostas
dos questionários indicam que mais da metade usa a rua para conversar com amigos (57%) e
muitos participam de rodas de tererê (45%).

As observações corroboram estes


dados em certa medida. É muito comum
encontrar pessoas sentadas, principalmente
nas varandas (fig.4.26), em contato visual
com as calçadas.

Figura 4.26 Grupo na varanda

De modo geral, nesta área, as pessoas tendem a se reunir no espaço público das ruas
mais nas barracas da feira-livre, a estar por perto de pontos de comércio básico (mercearia,
açougue ou padaria) e a sentar em frente à própria casa, sozinhos ou em grupos pequenos (fig.
4.27 e 4.28), para tomar tereré, conversar ou cuidar de crianças.

Figura 4.27 Tereré nas calçadas Figura 4.28 Mulheres/crianças-fim de tarde

4.2.1.4 Comparação de tipo e intensidade de uso das ruas das áreas

Na tabela abaixo estão sintetizados alguns dados das observações realizadas nas áreas:

Tabela 4.4 - Contagem de pessoas presentes nas ruas das três áreas

Sub-área/ Metros de A= B= C= Relação Relação


Área rua N º resid. N º moradores * Nº pessoa pess/res. pess/mor
analisados lindeiras obsev.** C:A C: B

Sta. Tereza 320m 58 208 67 1,16 32 %

Búzios 320m 28 100 30 1,07 30 %

ÁREA 1 640m 86 308 97 1,13 31,5%

ÁREA 2 610m 107 438 235 2,20 54 %

Sgto. Amaral 310m 43 159 74 1,72 46,5%

Vila Carvalho 310m 29 107 55 1,90 51 %

ÁREA 3 620m 72 266 129 1,79 48,5%


*Número de moradores da rua, em 300m (quando sub-área) e 600m (quando área). Contagem estimada entre a
média de pessoas por domicílio da área e o n º de domicílios existentes naquele trecho.
** N º de pessoas contadas no mapa síntese de 1 semana/tardes (maior movimento em todas as sub-áreas), em
aproximadamente 300m de rua (quando sub-área) ou 600m de rua (quando Área 1, 2 ou 3).
OBS.: As densidades das sub-áreas estão apresentadas nas figuras 3.6, 3.12 e 3.17

A análise da tabela 4.4, através da relação existente entre o número de pessoas


encontradas nas ruas e o número de residências existentes naquelas ruas, mostra com clareza
um uso maior das ruas por pedestres na Área 2 do que nas outras áreas (coluna C:A). Esta
relação na Áreas 2 é quase duas vezes a relação na Área 1 e 45% maior do que na Área 3.

Na tabela 4.4, comparando as três áreas, a relação entre o número de moradores de


determinada rua e as pessoas observadas naquela rua (C:B), evidencia-se que na Área 2 uma
maior proporção de pessoas é encontrada nas ruas. Um pouco menos na área 3 (10% menos) e
bem menos na Área 1 (42% menos).

Estes dados são corroborados pelos questionários. Foram identificadas diferenças


significantes entre o volume de uso dos espaços próximos à própria residência para atividades
sociais, entre as três áreas de estudo (Phi, Sig = 0,02889).

A percepção dos respondentes moradores sobre a quantidade de pessoas presentes nas


calçadas do próprio bairro, mostra uma diferença significativa para os moradores das três áreas
(Phi, Sig = 0,017): na Área 1, 80% dos moradores têm a percepção de que a presença de
pessoas na calçada é baixa, na Área 2, 57% e na Área 3, 61%. Isto confirma que a intensidade
de uso das áreas é diferenciada, sendo que a Área 2 apresenta um maior número de usuários,
seguida da Área 3.

Só deslocamentos

Passeios à pé
Área 1
Brincadeiras Área 2
Roda de tererê Área 3

Conversar

Sentar à sombra

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Figura 4.29 Utilização das calçadas


Quanto ao uso das calçadas para atividades sociais, as respostas dos questionários
aplicados aos moradores são bastante diferenciadas entre as áreas. Na figura 4.29 estão
expressas estas diferenças. É possível notar que a região do Horto (Área 3) apresenta sempre
maior freqüência de respostas com o uso das calçadas para atividades sociais; a Copatrabalho
(Área 2) tem valores intermediários; e o Itanhangá (Área 1), respostas muito baixas quanto a
atividades sociais nas calçadas e grande quantidade de pessoas que usa as calçadas só para
deslocamentos (57%).

No Itanhangá (Área 1) as respostas dos questionários corroboram as observações:


calçadas com baixa freqüência de uso em atividades sociais. Porém, entre as observações da
Copatrabalho (Área 2) e da região do Horto (Área 3), sintetizadas na tabela 4.4, e os dados
apresentados no gráfico acima existe uma discrepância: nas observações a Copatrabalho
apresenta maior densidade de pessoas pelas ruas, caminhando ou em atividades sociais, do que
na região do Horto; porém, a percepção dos moradores do Horto é de uma apropriação das
calçadas mais intensa do que a percepção dos moradores da Copatrabalho. Esta diferença de
percepção pode se explicar através da freqüência com que os espaços são usados, como
demonstrado na figura 4.30, sendo que a freqüência de uso dos espaços próximos à residência,
para atividades sociais, apresenta relação significativa com a área de moradia do indivíduo
(Phi, Sig. = 0,028).

nunca usam
Área1

esporadicamente Área 2

Área 3
usam bastante

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%


Figrua 4.30 Frequencia de uso dos espaços abertos próximos residencia

A maior parte dos respondentes moradores da Área 2 – Copatrabalho (56%) usam estes
espaços com freqüência, já a maioria dos respondentes da Área 3 – Horto (54%) usam os
espaços esporadicamente. A freqüência pode, na Área 2, ser diária, pois, nas entrevistas, ficou
claro que, ali, é hábito comum chegar do trabalho ou da escola, tomar um banho e sair para a
rua, o que não acontece nas duas outras áreas.

Na Área 1 – Itanhangá, o uso dos espaços próximos à residência para atividades sociais
é esporádico (por 49% dos respondentes moradores). Somando-se este fato ao dado de que a
maioria só usa a rua para deslocamentos (57%), e não para outras atividades, e que os
deslocamentos, na grande maioria das vezes, é feito de automóvel, explica-se o baixo uso
observado destas ruas.

Sintetizando as características físicas das rua, relacionando-as com os usos, temos:

Tabela 4.5 Comparação entre usos e características físicas das ruas

Sta.Tereza (A1) Búzios (A1) Copatrab. (A2) V.Carvalho(A3) Sgto. Amaral(A3)

Uso (relação nº Baixo (1,16) Baixo (1,07) Alto (2,20) Médio (1,90) Médio (1,72)
pessoas nº res./ tab.
4.8)
Visibilidade p/ rua média baixa alta alta alta

Fluxo de veículos pequeno pequeno pequeno médio médio e pequeno

Largura calçada estreita média estreita estreita e média estreita e média

Arborização insuficiente adequada insuficiente adequada insuficiente

Iluminação suficiente suficiente suficiente suficiente suficiente

Barreiras média média baixa muito média média


(quantidade)

Analisando os dados apresentados, nota-se que quanto maior a visibilidade desde


dentro dos lotes, maior é a intensidade de uso das ruas e quanto menor visibilidade menor esta
intensidade.

O fluxo de veículos, com intensidade semelhante dentro das diversas áreas, assim
como a largura das ruas e das calçadas, não estão diretamente relacionados à intensidade de
uso das ruas para atividades sociais.

A presença de barreiras é generalizada nas áreas, existindo de forma mais acentuada


na Área 2. Na Copatrabalho, o leito carroçavel da rua é utilizado para circulação de pedestres e
recreação, em função do reduzido fluxo de veículos, das barreiras existentes e da estreita
largura das calçadas.

A presença de árvores de sombra não é uma condição suficiente para garantir o uso
das ruas, pois a sub-área Búzios tem um dos melhores índices de arborização e o menor índice
de uso. Já a Área 2, nas ruas laterais tem um dos menores índices de arborização e o maior
índice de uso. Porém, os locais com sombra tendem a ser mais utilizados.

A iluminação, suficiente em todas as áreas, influencia na percepção de segurança que a


área transmite e favorece o uso noturno das ruas, fato observado no início de noites quentes,
nas Áreas 2 e 3.

A relação entre a área central da cidade e as áreas estudadas é diferenciada. A


localização periférica da Área 2 favorece a permanência e o uso dos equipamentos
comunitários e a rua comercial do bairro, pela dificuldade maior de acesso à área central.

Outro fator importante a ser considerado está relacionado ao conforto térmico


deficiente das moradias da Área 2. O calor intenso faz com que os moradores procurem
espaços mais ventilados fora da moradia, principalmente nos finais de tarde.

Foi observada grande quantidade de pessoas sentadas nas varandas para observar o
movimento das calçadas nas Áreas 2 e 3. O hábito de sentar na varanda, mais do que na
calçada, é mais freqüente na Área 3, enquanto que levar cadeiras para a calçada, ou sentar na
própria calçada, é mais observado na Área 2. Na Área 1, varandas com acesso visual para as
calçadas são raras.

4.2.2 Características físico-espaciais e comportamentais dos Espaços Públicos de Lazer


(EPLs)

A proposta expressa no projeto dos três espaços públicos de lazer (EPL) estudados é
diferenciada. O EPL 1 – Praça Itanhangá tem uma proposta de lazer passivo, com
predominância de área relvada, jardins, espaços de contemplação, relaxamento e caminhadas.
O EPL 2 – Praça Copatrabalho foi planejada para esportes e encontros da população local, e o
EPL 3 – Parque Horto Florestal, planejado e administrado como um grande espaço público da
cidade, com diversidade de atividades diárias e de eventos especiais.

O raio de influência destes EPLs parece estar relacionado a sua localização na cidade
(em função da acessibilidade), ao seu tamanho e às atividades desenvolvidas. Com exceção do
parque Horto Florestal que, além dos bairros adjacentes, serve à cidade inteira, as praças
Itanhangá e Copatrabalho servem ao próprio bairro e aos bairros próximos. O número de
moradores a que estas duas praças atendem é bem diferenciado, considerando-se um raio de
caminhada confortável (500m): número de possíveis usuários expressivamente maior na Área
2 do que na Área 1, (pelo menos três vezes mais), sendo que a Praça Copatrabalho possui
metade do tamanho da Praça Itanhangá.

4.2.2.1 EPL 1: Praça Itanhangá

A Praça Itanhangá (denominação corrente) é um parque de vizinhança de tamanho


médio (18.000m2) inserido na Área, próxima (50m) ao polo comercial. A leste, este EPL
limita-se com a rua Chaadi Scaff, o Conjunto Copa Morena – condomínio de pequenos
edifícios da sub-área Sta. Tereza. A oeste, com a rua Antonio Oliveira Lima, grandes
residências e alguns vazios urbanos. Ao norte, muros de fundos de lotes residenciais, com a
lateral da Escola Eduardo Santos Pereira, fechada por muros e com um bar bastante
movimentado, aberto para a Praça Itanhangá, mas separado desta pelo córrego que por alí
passa. O lado sul é fechado por altos muros de fundos de lotes residenciais.

As ruas Joaquim Murtinho, a Chaddi Scaff e a Av. Fernando Corrêa da Costa (com o
córrego central dando poucas oportunidades de passagem) (ver fig.4.1 na pg. 98 e fig. 3.6 na
pg.77), todas com fluxo intenso de veículos, configuram-se como barreiras para chegar ao
EPL.

Se por um lado, a falta de ligação com demais bairros da cidade, através de transporte
coletivo, desestimula o uso do EPL por quem mora um pouco distante, a sua localização em
relação ao bairros mais centrais da cidade, próxima à vias estruturais de circulação rápida
como a Av. Fernando Corrêa da Costa, facilita a chegada a ele por automóvel .
Fig. 4.31 Levantamento físico da Praça Itanhangá
A frente leste do EPL, paralela à Chaadi Scaff, não oferece uma visibilidade clara do
interior para o transeunte, pela existência de uma cerca viva já alta que impede a
transparência.

Como o EPL é cercado por gradil, o


acesso é feito através de dois portões, um
em cada lado (fig. 4.32). Os acesso são
claros e definidos através do desenho dos
pisos externos, desenho do gradil e portões.
Estes são fechados às 21:00hs. Um terceiro
portão, na Chaadi Scaff, está sempre
fechado. Figura 4.32 Portão Praça Itanhangá

A vigilância é feita sempre por dois funcionários, um em cada portão.

A maior parte deste EPL é revestida por gramados ou outro tipo de forração e sua
proposta paisagística de aproveitamento dos aspectos naturais do sítio, inclusive na manutenção
do relevo levemente inclinado, o transformam num jardim público.

Como oferta dominante deste EPL,


tem-se a pista de caminhada (fig. 4.33),
revestida de manta asfáltica e parcialmente
sombreada. A tranqüilidade e a paisagem
(vegetação e os córregos) são os aspectos
mais marcantes do espaço. O córrego
menor, que nasce na própria EPL, funciona
como um espelho d’água. Figura 4.33 Pista e córrego (ao fundo bar)

O córrego Vendas (fig. 4.33) corre num leito profundo, limitado por taludes de 2m; ele
apresenta problemas de limpeza e, atualmente, nenhum aproveitamento de suas potencialidades
idílicas.
Os estares sombreados formados
pelos pergolados, oferecem lugar para
sentar (fig. 4.34). O número de bancos
existentes no EPL reduz-se a seis.

Figura 4.34 Pergolado com bancos

Possui um espaço destinado a atividades múltiplas, com um palco aberto circundado por
gramado. Este EPL não possui sanitários.

A área em torno do coreto, parte


pavimentada e parte gramada, é a única área
plana, ampla, aberta oferecida no EPL1 (fig.
4.35). O coreto é uma estrutura ortogonal
com um raio de 3m. O piso que o contorna é
de blocos de concreto e ocupa uma área de
7m de raio em torno.
Figura 4.35 Coreto

O bar existente ao lado norte do EPL1 antigamente se interligava a este através de uma
ponte de madeira sobre o córrego. Como, atualmente, a ponte não existe mais, torna-se
impossível a apropriação do EPL pelos numerosos freqüentadores do bar

Observa-se que este EPL está bem cuidado nos aspectos de limpeza, iluminação e
segurança; porém, o parquinho infantil, com piso de areia, possui poucos brinquedos para o
seu tamanho, falta de manutenção dos brinquedos existentes e pouca sombra. Além disso,
cercado, sua entrada está localizada próxima ao portão do EPL que nunca é aberto, numa área
que fica muito isolada do restante do EPL.
Neste EPL, é proibido o acesso de
brinquedos como skate, bicicleta ou patins,
atividades que envolveriam adolescentes
(fig. 4.36). A falta de espaço destinado a
skate é uma das reclamações levantadas
através das entrevistas.
Figura 4.36 Placa de proibições

São previstas atividades programadas tais como, serestas, apresentações teatrais, de


dança, corais, etc., em tardes ou noites de fins de semana.

A Praça Itanhangá é bem iluminada, com postes de 4m sob as árvores e postes mais
altos, de 8m. A pista é iluminada, também, com uma iluminação auxiliar de 0,80cm, em placas,
colocadas ao longo de todo o percurso da pista.

Os usos

De acordo com as observações sistemáticas efetuadas na Praça Itanhangá (ver fig.


4.37a e 4.37b), este é um EPL usado predominantemente para caminhadas. Os períodos de
maior movimento acontecem pela manhã e no fim da tarde, tanto durante a semana como nos
fins-de-semana, mas este movimento fica restrito à pista. De modo geral, é pequeno o número
de usuários.

Porém, a partir das entrevistas, mapas mentais e questionários, é possível definir que a
praça Itanhangá é percebida pelos moradores da área como um marco referencial importante e
também limite entre bairros da área.
Fig 4.37a Mapa comportamental síntese da EPL 1 – Itanhangá
Fig 4.37a Mapa comportamental síntese da EPL 1 – Itanhangá
Em torno de 10 anos atrás, quando este EPL era o mais bem cuidado da cidade, em
termos de projeto paisagístico e de manutenção da vegetação, não era fechado por grades,
fornecia maior acessibilidade e uma dose maior de encanto e mistério (através de soluções
paisagísticas), fator importante no ‘enriquecimento’ do ambiente, como mencionado por
Kaplan e Kaplan (1983). Era comum a presença de grupos sentados nos gramados, observando
a paisagem ou fazendo piqueniques – prática que não se observa no presente período. A atual
pista de caminhadas, por exemplo, assemelhava-se a um caminho de jardim, revestido de
saibro.

Através das entrevistas e questionários, é


possível notar uma grande valorização do
contato com a água e com os peixes dos
córregos, especialmente pelas crianças que
vão à Praça Itanhangá. O córrego que
nasce neste espaço, e que corre dentro da
área circundada pela pista de caminhadas,
permite a contemplação, embora eventual,
de cardumes de pequenos peixes, sem Figura 4.38 Olhando o córrego
riscos (fig. 4.38).

Foi constatado que o parquinho


infantil não é utilizado (fig.4.39). A falta
de assentos confortáveis próximos, a pouca
sombra e a deficiência dos equipamentos,
somados à dificuldade de acesso ao
parquinho, pela localização de seu portão
de entrada, contribuem para este quadro.
Figura 4. 39 Parquinho infantil

Além da pista de caminhadas, os locais um pouco mais freqüentados estão na parte


central do EPL1, junto aos córregos, onde a vegetação criou um ambiente sombreado e foram
construídos alguns pequenos espaços de estar com pergolado e um estar equipado com chafariz,
com um número reduzido de bancos .

A área do coreto e o gramado em volta é subtilizada. Nenhuma atividade ou pessoas


foram observadas nesta área (a não ser o funcionário, sentado à sombra). A estrutura parece não
ter uma utilização efetiva.

Foram observados vários escolares realizando a travessia entre as ruas Antonio Oliveira
Lima e Chaadi Scaff através da praça.

As atividades que acontecem na


Praça Itanhangá, como as serestas nos
finais do mês, as apresentações teatrais ou
de dança, nos domingos à tarde ou os
shows musicais de final de tarde, nas
sextas-feiras são prestigiados por um
número pequeno de pessoas (em torno de
Figura 4.40
60 por evento) - muito menos do que
Exemplo de atividade programada: teatro no
comportaria o espaço. palco

Alguns adolescentes praticam skate na parte externa do EPL, no pequeno espaço


reservado a estacionamento junto à rua Chaadi Scaff. A proibição de entrada na Praça
Itanhangá de skates, induz a esta utilização.

A grande maioria das pessoas que freqüenta este EPL é do próprio bairro (70%), ou de
bairros próximos (11%), que chega a ele a pé. Não foram encontrados, de forma expressiva,
usuários de outros bairros vindos de automóvel, apesar da localização do espaço, próximo a
corredores de fluxo rápido de veículos, favorecer este tipo de acesso a ele.
Apesar do número reduzido de usuários registrados nos mapas comportamentais, 78%
dos respondentes moradores da área afirmam freqüentar o EPL1, provavelmente para
caminhar, sendo que das qualidades mais apreciadas citam a ‘natureza’ (vegetação, água,
animais), (73% dos usuários) e a ‘tranqüilidade do lugar’ (40% deles).

4.2.2.2 EPL 2: Praça Copatrabalho

A Praça Copatrabalho é uma pequena praça (9.700m2) localizada no centro da Área 2.


Seu entorno se compõe: a leste por rua residencial característica desta área, com as entradas de
treze dos lotes padrão abrindo-se para a rua. Alguns estabelecimentos comerciais surgem
acoplados às residências, como a sorveteria. A oeste, a praça faz limite com o terreno da
escola municipal e é fechada com muros. Ao norte, corre a Av. Florestal, com pontos
comerciais (‘sacolão’, mercado, etc.) e, ao sul, a Av. Presidente Café Filho, com pista
parcialmente asfaltada e acidentada (fig. 4.43).

Os acessos ao EPL2 ocorrem principalmente pela rua Pequi (fig. 4.41) e pela Av.
Florestal (através do pequeno corredor formado entre o posto policial e o parquinho infantil:
fig. 4.42). Na Av. Presidente Café Filho, um corredor entre o campo de futebol gramado e o
muro da escola serve como passagem para o interior do EPL.

Fig. 4.41 Acesso desde a rua Pequi Fig. 4.42 Acesso à praça pela Av.Florestal
Fig. 4.43 Levantamento físico do EPL 2 - Copatrabalho

O EPL2 conta com três quadras de esportes (grama, cimentada e areia), parquinho
infantil, áreas para conversação com mesas e bancos, cancha de bocha, pequeno palco voltado
para a área central do EPL, um posto policial e um salão da Associação de Moradores – o
Centro Comunitário. Não possui sanitários.

As quadras de esportes, futebol, basquete/futebol salão, vôlei – cercadas com tela - e a


cancha de bocha, ocupam pouco mais da metade da área do EPL.

O salão do Centro Comunitário esta localizado próximo ao muro divisório e não


interfere com a legibilidade do espaço. O posto de polícia (fig. 4.49), construído depois da
inauguração da Praça Copatrabalho, após reivindicação dos moradores em função de violências
ocorridas, consiste em barreira que limita a entrada na praça pela Av. Florestal.

A grande árvore localizada defronte ao


posto policial, na Av. Florestal, define o
ambiente de estar equipado com
mureta/banco que a circunda e marca a
entrada da Praça Copatrabalho (fig. 4.44).

Figura 4.44 Vista desde a Av. Florestal

A arborização, de plantio relativamente recente, já se encontra consolidada e fornecendo


sombra. A vegetação predominante localiza-se próxima à rua Pequi e no estar, com conjuntos
de mesas.
A colocação das mesas de jogos em baixo das árvores de sombra favorece o uso destas
mesmo com o sol mais quente da região. Nos fundos do palco, uma pequena área gramada
com sombra e bancos fornece alguma privacidade a quem senta nos bancos.

A pavimentação, do interior do EPL e das calçadas que ficam no seu entorno, é de


cimentado alisado decorado com pedra Miracema, que favorece o uso de artefatos como
bicicletas, triciclos e patins.

Nos fins de tarde das quintas-feiras e sábados, é montada uma barraca de sobá e de
pastéis, na calçada da Av. Florestal, em frente ao Centro Comunitário, e nos finais de semana
abre-se um trailer de lanches no interior da praça, atrás do Posto Policial.

A iluminação da Praça Copatrabalho é boa, com luminárias altas, potentes e bem


distribuídas na iluminação das quadras e luminárias mais baixas no restante dos espaços.

Os usos

A Praça Copatrabalho é um local de intenso movimento (fig. 4.45a e 4.45b) – atende a


uma população de aproximadamente 6.000 hab., se considerados só os moradores do bairro.

Através das entrevistas, mapas mentais e questionários é possível definir o papel deste
EPL como ponto focal do próprio bairro e dos bairros limítrofes. É local de atividades intensas
durante os fins de tarde, quando o calor do sol esmaeceu.

A maioria dos respondentes freqüentadores do EPL2 são do próprio bairro (78%) e


89% deles chegam a ele a pé (vários vêm de bairros próximos). Por outro lado, 84% dos
respondentes moradores da Área 2 declaram que costumam freqüentar a praça.

Os equipamentos mais apreciados na Praça Copatrabalho, pelos que responderam sobre


ela, por freqüentá-la ou por morar no bairro, são as quadras esportivas (21%), sendo realmente
estes os espaços mais utilizados.
Fig. 4.49 Mapa comportamental - Praça 2 – Copatrabalho - tardes
Fig. 4.50 Mapa comportametal Praça Copatrabalho - manhãs

As mesas fixas são muito disputadas


para bate papos ou jogos de bozó (fig. 4.46),
mas várias estão com problemas de
manutenção, desqualificando-as para uso.
Os usuários acreditam que quem estraga o
equipamento do EPL2 é sempre pessoal de
outros bairros, jovens de bairros vizinhos,
classificados como desordeiros. Figura 4. 46 Uso do conjunto de mesas

Os bancos são sempre motivo de


concentração de pessoas e o parquinho
infantil é também bastante utilizado.

A barraca de sobá (fig. 4.47) traz


bastante gente à praça, assim como a
sorveteria que fica na esquina da praça com
a Av. Florestal.
Figura 4.47 Barraca de sobá

As quadras esportivas são muito


utilizadas (fig. 4.48), assim como o
mobiliário existente Apenas existe a
limitação da areia considerada suja na
quadra de vôlei e no parquinho, o que inibe
um uso maior destes espaços.
Figura 4.48 Uso das quadras

Os degraus formados pela fundação ao longo do salão do Centro Comunitário, perto da


quadra de bocha, são usados como uma espécie de arquibancada à sombra.

4.2.2.3 EPL3: Parque Horto Florestal

Diferente dos outros dois EPLs estudados, o Horto Florestal é um grande espaço
central (48.000m2) que demonstrou ser referencial para os moradores de todas as partes da
cidade, e não só para os de sua área (fig. 4.51): classifica-se como um parque central.

O entorno do Parque Horto Florestal é composto por vias de intenso fluxo e


velocidade, tanto ao norte quanto ao sul e a leste. Somente a rua do Parque, onde localiza-se
uma das entradas do parque, é uma rua calma.

A Av. Fernando Corrêa da Costa, que cruza o parque, o separa da sub-área Sgto.
Amaral. Os dois lados do parque, cortados pela avenida, são interligados por uma passarela,
que possibilita a passagem de pedestres. A Av. Ernesto Geisel, larga e com fosso central,
separa o parque do bairro Amambaí.

As grandes vias distribuidoras de tráfego que o ladeiam e a localização próxima de


paradas de muitas linhas de ônibus facilitam o acesso ao EPL3 desde toda a cidade.

A visualização do parque desde longe é facilitada pela marcação de sua massa vegetal
de grande porte. É cercado por gradil que ao mesmo tempo fecha e permite a visualização do
seu interior. O acesso ao EPL3 é feito através de 5 portões, controlados por vigilantes,
distribuídos por diversos pontos (fig. 4.49). O portão da rua do Parque é o mais usado por quem
utiliza ônibus, já que está mais próximo das paradas da rua 26 de agosto. Os acessos são
marcados por elementos que representam, simbolicamente, a união dos dois córregos, Prosa e
Segredo. Este símbolo está repetido por todo o EPL numa proposta de marcar a imagem do
parque (fig. 4.50).
Figura 4.49 Acesso rua Anhanduí Fig. 4.50 Elementos simbólicos
Fig. 4.51 Levantamento físico do parque Horto Florestal – Praça 3

É um EPL que oferece oportunidades de atividades variadas.

Possui pista de caminhadas, bosque, quadras de bocha, pista de bicicross, orquidário,


uma lanchonete aberta, parquinho infantil temático, amplo espaço calçado usado para
apresentações de artes, espaço coberto multiuso, onde acontecem jogos, apresentações, aulas
públicas e eventos.

No EPL3 existem locais com muita


sombra onde estão localizados a pista de
caminhadas (fig. 4.52), estares com bancos
e mesinhas e as canchas de bocha e malha.
Ao longo desta pista, encontram-se
conjuntos de mesas e bancos.
Figura 4.52 Pista de caminhadas

E áreas de muito sol, como o grande espaço principal onde acontecem os shows
musicais, no palco com pergolado ou em palco montado especialmente para eventos, e onde
estão dispostos vários bancos. O parquinho infantil, a pista de bicicross e a pista de skate
também são áreas de sol. Esta ultima, apesar de ensolarada, tem uma boa sombra lateral, no
gramado ou nos bancos.

O espaço central pavimentado, ensolarado e com piso de pedra portuguesa, faz


contraponto com o espaço sombreado pelas grandes árvores da reserva, dando uma dimensão de
espacialidade e amplidão.
A grande massa vegetal, o espelho
d’água, o grande espaço aberto central e o
cuidado com o desenho de elementos do
próprio parque dão uma característica
agradável a este espaço público aberto (fig.
4.52b).

No centro do espelho d’água, foi


Figura 4.52b Vista geral do parque
criado um estar com bancos.

A arena coberta (fig 4.53), com área


aproximada de 600m2 e capacidade para,
aproximadamente, 400 pessoas sentadas,
recebe programação intensa por parte da
administração municipal. Aulas de tai-chi e
outras práticas, programas ligados ao
Centro da Terceira Idade, torneios
esportivos, eventos municipais, etc., Figura 4.53 Arena coberta multiouso
acontecem neste espaço

O parquinho infantil possui equipamentos temáticos (barco, labirinto ou casa) e


tradicionais (fig. 4.53b). Dispõe de pouca sombra. Foram colocados bancos, nas laterais do
parquinho e outros próximos, em área mais sombreada. Próximo desta área destinada às
crianças, está localizada a lanchonete, equipada com mesas e cadeiras móveis (fig. 4.54).
Figura 4.53b Parquinho infantil Figura 4.54 Parquinho e lanchonete

A pista de bicicross ocupa uma expressiva área do parque. É um espaço com muito
pouca sombra e o único espaço do parque onde é permitido o acesso de bicicletas.

O parque é bem iluminado, por postes de 4 m localizados em áreas arborizadas e postes


de 8m, localizados nos espaços mais abertos.

A segurança é feita por 8 funcionários. Nos domingos de passe livre28, como o volume
de visitantes quadruplica29, a vigilância passa para 30 a 40 homens da polícia militar.

Os usos

As observações efetuadas no Parque Horto Florestal demonstraram um uso intenso e


diversificado deste EPL (fig. 4.55a,b,c e d) tanto por atividades (caminhadas, brincadeiras,
piqueniques, comemorações municipais ou particulares, roda de pagode, descanso de almoço,
passeio dominical, cursos, concursos, etc), quanto por usuários, em relação ao local de
moradia, idade e faixa de renda.

O parque é bastante movimentado o dia todo (com exceção das horas de sol mais
quente do meio do dia), mas na parte da tarde observa-se mais pessoas, do que nas manhãs.
Como é um parque grande (aproximadamente 10.000m2), com várias opções de atividades,
boa manutenção, de localização central em relação a toda a cidade e com facilidade de acesso
através das grandes vias que o ladeiam, é muito utilizado na programação de escolas da rede
de ensino - o que movimenta permanentemente o parque nos horários e períodos escolares.

28
Dias em que a passagem no transporte coletivo urbano não é cobrada. Acontece no 2o
e 4o domingo de cada mês.
29
Conforme dados da área de administração do parque Horto Florestal, num domingo
normal visitam o parque de 2.000 a 3.000 pessoas e em dias de passe livre e de shows
musicais o número de visitantes pode chegar a 10.000/12.000.
Fig. 4.55 a Mapa comportamental do Horto Florestal - tardes
Fig. 4.55 b Mapa comportamental Horto Florestal – manhãs
Fig. 4.55 c Mapa comportamental parque Horto Florestal – Domingo tarde de passe livre
Fig. 4.55 d Mapa comportamental parque Horto Florestal – Domingo sem passe livre - tarde

O domingo é o dia em que o parque se


encontra mais movimentado, mesmo quando
não é dia de passe livre. Quando o passe é
livre, o movimento é muito intenso. No
horário dos shows musicais (final de tarde) o
parque fica muito cheio (fig. 4.56).
Figura 4.56 Área central durante show

Os locais cobertos como a arena, a cantina e as canchas de bocha e malha são bastante
procurados, não só devido às atividades a que são destinados mas também pela sombra e como
abrigo da chuva. Nas quadras de malha e bocha, foram observados casais de namorados a
procura de um local reservado onde sentar ou se recostar (usam os corrimões laterais como
assento).

A arena coberta é o local mais ativo do EPL3 (do ponto de vista da administração do
parque), pela programação que oferece. Porém, os horários das atividades não coincidiram com
o horários de nossas observações.

Os conjuntos de mesas e bancos localizados no bosque, ao longo da pista de


caminhadas, são intensamente usados para estudos, conversas ou lanches.

A lanchonete, localizada próximo ao parquinho infantil, permite aos adultos se


acomodarem ao seu gosto enquanto observam e cuidam das crianças brincando. Neste
bar/lanchonete acontecem, em fins-de-semana ou alguns finais de tarde, reuniões com música –
geralmente pagode - que movimentam o espaço.

O parquinho é um dos motivos mais recorrentes para as famílias procurarem o Parque


Horto Florestal e é sempre muito utilizado, a não ser nas horas mais quentes do dia (depois das
10hs manhã até às 3 ou 4 hs da tarde), devido à falta de sombra, tanto no próprio parquinho
quanto na área com bancos.
Perto da pista de skate, a sombra nos bancos e na grama é aproveitada pelos jovens
para sentar e assistir a prática do esporte, sendo este um dos espaços mais intensamente
utilizados neste EPL, por adolescentes.

Bancos localizados à sombra são


mais utilizados do que os localizados ao
sol, como é o caso dos bancos na área
central do EPL, onde não existem árvores
de sombra, sendo estes muito pouco
utilizados.

Observou-se baixíssima utilização da


Figura 4.57 Pista de bicicross
área de bicicross (fig. 4.57).

Dos moradores da Área 3, 70,5% freqüentam o parque Horto Florestal e no parque


93% dos freqüentadores vêm de outras áreas da cidade que não a área adjacente a ele. Os
usuários chegam, na maioria das vezes, de ônibus ou de carro (43% e 27%) ou a pé (27%),
demonstrando que só estes vêm de áreas suficientemente próximas.

4.2.2.4 Comparação entre os Espaços Públicos de Lazer

Entre os EPLs estudados, os mais usados são a Praça Copatrabalho e o Parque Horto
Florestal, enquanto a Praça Itanhangá apresenta um volume de uso bastante reduzido.

A Praça Copatrabalho, localizada numa área com grande demanda de espaços de lazer,
apresenta-se como um espaço de relativa qualidade, com atividades que suprem, em parte, a
demanda, devido ao tamanho reduzido em relação ao número potencial de usuários. Tem o
espaço dominante destinado a esportes de uso coletivo, em atividades que congregam grupos
maiores de usuários.

O Parque Horto Florestal com sua variedade de espaços, equipamentos e programação


intensa, facilidade de acesso em relação à grande parte da cidade e cuidado com o projeto,
atende, também, a diferentes demandas e transformou-se num forte referencial de lazer para a
cidade. Oferece possibilidades de atividades, sejam ativas, sejam passivas, em pequenos
grupos ou, em alguns casos, em grandes grupos. É notada, porém, a falta de quadras esportivas
que permitam outras alternativas para atividades grupais.

A Praça Itanhangá, apesar da beleza natural, oferece possibilidades de uso muito


restritas, tanto em atividades como em acesso (proibição de entrada de vários artefatos e
existência de grades com cerca viva; poucas linhas de transporte coletivo nas imediações),
e isto se reflete no volume de utilização do espaço. Além disso, localiza-se em área de baixa
densidade populacional e onde não existe uma demanda forte por espaço de lazer, pela
facilidade de acesso a outras alternativas por parte daquela população.

Os três EPLs são diferenciados quanto à acessibilidade, pois se o Parque Horto


Florestal, com uma área de 4,8ha, é fechado por gradis, estes não ‘fecham’ o espaço,
enquanto a Praça Itanhangá, com 1,8ha fechados por grades em duas frentes e por altos muros
nas laterais, transmite a sensação de um espaço mais ‘enclausurado’. Além disso, a
manutenção de um dos três portões, constantemente trancado, aumenta a falta de
acessibilidade a este EPL. A Praça Copatrabalho não é fechada por grades, tornando-a
localmente mais acessível do que os outros dois espaços.

A Praça Itanhangá é utilizada para caminhadas pelos moradores das proximidades, a


Praça da Copatrabalho é utilizada mais para esportes pelos moradores masculinos da área e o
Parque Horto Florestal é utilizado por moradores de toda a cidade, nas mais diversas
atividades de lazer. Caminhada é a atividade mais procurada no EPL 3, por moradores das
redondezas, conforme respostas aos questionários.

Não foram observadas atividades cívicas ou movimentos civis nos três EPLs. Porém,
pelos depoimentos colhidos em entrevistas, no Parque Horto Florestal são realizadas,
freqüentemente, comemorações ligadas ao poder municipal.

Os três EPLs são bem conservados – um pouco menos a Praça Copatrabalho, mais
desgastada pelo uso intenso – sendo a responsabilidade da manutenção destes espaços
decorrência de convênios da municipalidade com entidades da sociedade civil. A manutenção
indica ser um item que influencia positivamente no uso dos três espaços estudados.

Comparando os espaços mais utilizados nos três EPLs, na Praça Copatrabalho é


marcante a aglomeração em torno das cercas que delimitam as quadras. Com a altura de 90cm
nas laterais, tornam-se muito utilizadas como apoio para observar os jogos que estejam
acontecendo nas quadras. O espaço entre as quadras não seria suficiente para acomodar a
todos assentados.

Todos os espaços desta praça são utilizados e pontos de aglomeração acontecem nos
locais que forneçam assento ao mesmo tempo que estejam à sombra.

Ambientes com sombra são mais utilizados do que ambientes ensolarados, em todas os
três EPLs. Áreas sombreadas que têm bancos são, em geral, mais usadas do que áreas
sombreadas que não têm bancos, enquanto locais sombreados, mas sem equipamento, tendem
a ser pouco usados. Locais isolados são evitados, como, por exemplo, a área perto do portão
fechado na Praça Itanhangá, com o parquinho infantil totalmente isolado do restante do EPL.

No Parque Horto Florestal é grande o sucesso da lanchonete, com sua localização


próxima ao parquinho, com vista para o espaço central do parque e com as facilidades típicas
de um barzinho – alimentação, assentos, sombra e música A pista de skate é outro espaço de
uso concentrado. Neste caso, a existência do equipamento e a possibilidade de sentar à sombra
são os fatores que permitem o preenchimento desta demanda por parte dos jovens A pista de
caminhadas tem, espalhado ao longo de seu percurso, grande número de usuários. A existência
deste equipamento em condições de sombreamento é um fator que permite o seu uso também
em horários mais quentes do dia. Neste EPL, ainda, observa-se uso concentrado sempre que há
assentos à sombra.

A pista de caminhadas é o único equipamento que concentra um bom número de


usuários na Praça Itanhangá. As condições de manutenção e a vista agradável que a envolve
são fatores que influenciam positivamente no seu uso.

Nota-se, portanto, que a presença de equipamentos, arborização e atividades para


observar são os motivos mais recorrentes para aglomerar usuários nos EPLs estudados.

Sobre locais ociosos nestes EPLs, foram identificados vários na Praça Itanhangá e uma
parte razoável do espaço planejado no Parque Horto Florestal – a pista de bicicross. Na Praça
Itanhangá, a área em torno do coreto, o parquinho infantil e a área perto do 3º portão – que
permanece fechado -, além da faixa perto do córrego mais profundo - o que atravessa o EPL -,
são áreas onde não foram observados usuários.
A área que circunda o coreto, na Praça Itanhangá, caracteriza-se por ocupar um espaço
significativo da praça sem ter um destino claro: não foram propostas atividades para o coreto e
nem para a área circundante. O piso azul em blocos de concreto não se prestaria para
brinquedos como skate ou patins, mesmo que fossem permitidos, e a sua colocação no centro
de uma área gramada, sem sombra e sem mobiliário, desestimula o seu uso.

A falta de acesso pelo terceiro portão e a falta de alternativas de estares e locais para
sentar, mesmo que informais, também são fatores que esvaziam o EPL1, desencorajando o uso
da maior parte de sua área.

Enquanto os parquinhos infantis das EPLs Copatrabalho e Horto Florestal são bastante
utilizados, o da Praça Itanhangá é evitado. O fato de ter seu acesso segregado da vista e do
movimento de pessoas da praça; apresentar poucos equipamentos e os existentes estarem em
péssimas condições de manutenção; não ter sombra e não existirem locais para sentar em suas
proximidades, tem garantido o seu total fracasso como espaço atrator30.

No entanto, o parquinho da Praça Copatrabalho é visualizado por quem passa nas ruas
adjacentes, tem locais para sentar perto da sua entrada, e tem vários equipamentos em
condições suficientes de manutenção. Apesar de reclamações quanto à necessidade de troca da
areia, a demanda por atividades de lazer está garantindo o seu uso intenso.

O parquinho infantil do Parque Horto Florestal é um dos equipamentos deste EPL que
mais contribui como atrator de usuários para o espaço. Apresenta vários itens favoráveis ao
seu uso: está localizado num espaço relativamente central, portanto visível, do parque; não é
fechado por cerca podendo ser acessado e visualizado facilmente; tem equipamentos temáticos
interessantes para as crianças, embora exista a necessidade de um maior número de
brinquedos. Tem grande número de possibilidades de assento nas suas imediações, tanto na
lanchonete próxima (onde os adultos podem se ocupar enquanto observam a criança) quanto
em bancos distribuídos ao sol e à sombra. As árvores existentes não propiciam sombra
suficiente, fazendo com que o parquinho seja mais utilizado nas horas de sol menos intenso.

No Parque Horto Florestal, na área destinada a bicicross, o número de usuários


observados foi muito baixo, principalmente em função do tamanho desta área destinada a

30
Elemento que tem a propriedade de atrair usuários .
bicicletas. As possíveis razões desta sub-utilização podem ser identificadas no pequeno
comprimento do percurso e sua formalização; na falta de outras opções de atividades, na
mesma área, que sejam alternativas intermediárias e na dificuldade para aproveitar os demais
ambientes do parque estando-se de bicicleta, já que não é permitido o acesso deste artefato no
restante do parque e não existe como guardá-lo com segurança; e, ainda, a falta de vegetação
que torne o percurso mais agradável e possibilite o sentar à sombra.

Na Praça Copatrabalho não foram identificados espaços ociosos.

4.3 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO E FATORES CONTEXTUAIS

As relações entre os aspectos físicos e a intensidade de uso dos espaços abertos


investigados são analisadas a seguir, levando-se em conta fatores contextuais como adequação
ambiental, agradabilidade e aparência, percepção de segurança e acessibilidade, considerados
influentes para o tipo e intensidade de uso dos espaços abertos públicos.

4.3.1 Adequação ambiental

Neste item, são analisados os atributos físicos das ruas e EPLs que afetam a avaliação
de adequação ambiental. É analisada a adequação: da vegetação existente em proporcionar
sombreamento; do dimensionamento dos espaços existentes em relação ao número de usuários
e em relação ao tipo de atividades propostas; da pavimentação e da iluminação, nos espaços
estudados, e do mobiliário (bancos, mesinhas, brinquedos) quanto ao número e manutenção.

4.3.1.1 Atributos físicos das ruas


Buscando esclarecer a relação entre certos atributos físicos dos espaços públicos e o
tipo e a intensidade de uso, procurou-se conhecer a avaliação das calçadas do próprio bairro
pelos respondentes das três áreas estudadas, o que fica explicitada na tabela a seguir:

Tabela 4.6 – Adequação das calçadas

Largura Pavimentação Pouca Falta de Locais


insuficiente inadequada Sombra p/sentar

Área 1 24% 25% 27% 41%


Área 2 49% 31% 30% 37%
Área 3 23% 59% 7% 14%

a) Dimensionamento

A largura das calçadas é percebida como significativamente diferenciada entre as três


áreas (Phi, Sig. = 0,01).

A percepção de largura insuficiente das calçadas é maior na Área 2, onde todas as


calçadas, exceto a Av. Florestal, têm largura mínima de 1,50m. O uso dos espaços públicos
para atividades sociais demandaria larguras maiores, e o estreitamento adicional imposto por
barreiras nas calçadas que já são, em si, mínimas, influem nesta percepção.

No total da amostra, é identificada uma correlação entre a percepção da adequação da


largura das calçadas e o uso dos espaços próximos à residência para atividades sociais (Sig.
= 0,026; Spearman = 0,1433), sugerindo que uma maior largura das calçadas corresponderia a
um aumento de seu uso para atividades sociais.

b) Pavimentação

A inadequação da pavimentação foi mais ressaltada na Área 3, onde são encontradas


calçadas predominantemente cimentadas, mais antigas e que sofrem falta de manutenção em
vários pontos, com falhas de continuidade na pavimentação. Os desníveis também aparecem
ali, como nas demais áreas. A presença de barreiras nas calçadas, como canteiros, lixeiras,
raízes de árvores, materiais de construção, inexistência ou precariedade da pavimentação,
aparecem em todas as áreas estudadas e quanto mais estreita a calçada mais pungente fica o
problema das barreiras, dificultando e até impedindo a circulação.

Na amostra total é identificada correlação entre o uso dos espaços próximos à


residência para atividades sociais e a adequação das calçadas quanto à pavimentação (Sig. =
0,000; Spearman = 0,2648) e entre este uso e a existência de locais adequados para sentar
(Sig. = 0,000; Spearman = 0,2401), sugerindo que se a pavimentação fosse adequada, haveria
um aumento do uso das calçadas para atividades como conversar ou observar o movimento.

Contudo, o nível de satisfação com a própria rua não apresentou correlação com a
largura e a pavimentação das calçadas, assim como a intensidade de uso não parece estar
relacionada a características físicas positivas ou negativas das ruas. As calçadas da Área 2 são
as mais estreitas e com piores condições de circulação, devido à presença de barreiras e má
qualidade da pavimentação, no entanto esta é a área onde acontece a maior intensidade de uso
das ruas para todo o tipo de atividades sociais, além de grande volume de circulação de
pedestres.

c) Vegetação

O sombreamento é percebido de maneira significativamente diferenciada entre as três


áreas (Phi, Sig = 0,042).

A maior oferta de árvores para sombreamento, por metro de rua, é encontrada na Vila
Carvalho. Depois, na avenida principal da Área 2 e na sub-área Búzios.

No total da amostra, o grau de sombreamento das calçadas não apresenta correlação


significativa com o fato de serem ou não usadas para atividades como conversar ou observar o
movimento (atividades sociais), mas foi identificada uma relação entre a possibilidade de
desenvolver mais atividades nas calçadas e a adequação de sombreamento das mesmas (Phi,
Sig. = 0,002). O tipo de atividade que poderia ser intensificado, com a maior adequação do
sombreamento, seria brincar/jogar ( Phi, Sig. = 0,0002).

Particularmente na Área 3, foi identificada correlação entre o sombreamento e locais


considerados adequados para sentar (Sig. = 0,002; Spearman = 0,4635), indicando que
quanto mais sombreada a calçada, mais percebida como adequada para sentar.
O nível de satisfação com a própria rua apresentou correlação com o sombreamento
(Sig. = 0,027; Spearman = 0,1429) e a existência de bons locais para sentar nestas calçadas
(Sig. = 0,002; Spearman = 0,2430). Assim, evidencia-se a importância de um bom
sombreamento e de condições adequadas para sentar nos espaços públicos das calçadas, na
construção de um sentimento de satisfação com a própria rua.

Dentro das áreas de estudo, quando analisadas em separado, somente na Área 3 existe
correlação entre sombreamento da rua e satisfação com a rua, (Sig. 0,001; Spearman =
0,4650) e entre bons locais para sentar na calçada e satisfação com a rua, (Sig. 0,07;
Spearman = 0,3998). Fica evidente que, principalmente na Área 3 – Horto, os aspectos de
arborização da rua e as condições físicas favoráveis à permanência na calçada, levam à
satisfação com a rua.

d) Iluminação

O espaçamento médio entre os postes com luminárias para iluminação pública estão,
em média, distribuídos de maneira homogênea (30m), com exceção de uma maior
proximidade na Sgto. Amaral (20m). Esta, portanto é a sub-área mais bem iluminada entre as
estudadas.

Existe, porém, um resultado final de iluminação, pela relação do distanciamento entre


luminárias e a presença de vegetação de grande porte nas ruas das áreas. Por exemplo, entre as
sub-áreas Búzios e Sta. Tereza, o distanciamento entre as luminárias públicas é o mesmo, mas
o resultado final é de maior luminescência na Sta. Tereza, exatamente pela presença menor de
árvores naquela sub-área.

A Av. Florestal apresenta canteiro central arborizado que anula o efeito do menor
distanciamento entre as luminárias desta avenida; e a Vila Carvalho, com a arborização mais
densa e de maior porte, também tem o efeito da iluminação pública prejudicado, apresentando
um resultado final de iluminação semelhante ao da sub-área Búzios.

e) Efeitos da avaliação das ruas sobre os usos


Em relação às ruas estudadas, uma parte dos respondentes sente as condições das
calçadas como uma limitação para a realização de atividades. As diferenças entre estas
percepções, nas áreas estudadas, são significantes (Phi Sig = 0,00004) e distribuem-se
conforme a figura 4.58:

Área1

Área2

Área 3

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Figura 4. 58 Atividades limitadas pela inadequação das calçadas

Nota-se pela figura acima que na Área 3 – Horto a percepção das calçadas como
limitadoras de atividades é a mais intensa (61%), apesar de, nesta área, o levantamento físico
ter revelado calçadas mais largas e mais sombreadas. Porém, na avaliação de 59% dos
moradores, as calçadas são inadequadas quanto à pavimentação (falta de manutenção,
geralmente cimentada ou sua inexistência) e isto pode estar limitando o uso da calçada para
atividades sociais, apesar de não ter sido identificada correlação entre as duas variáveis para
está área.

Da amostra total, 64% dos respondentes não mudariam seus hábitos de uso das
calçadas, mesmo se elas fossem mais adequadas. Destes, 33 % são moradores da Área 1; 32%,
moradores da Área 2; 11%, moradores da Área 3 – o que mostra que na Área 3, onde é mais
sentida a inadequação da manutenção da pavimentação das calçadas, há uma maior disposição
de usá-las, caso se tornem mais adequadas.
As atividades mencionadas que seriam realizadas, caso as calçadas fossem mais
adequadas, são apresentadas na figura 4.59

Brincar
Área 1

caminhar/passear Área 2

Área 3
Tomar tererê/conversar

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Figura 4.59 Atividades que aconteceriam se calçadas fossem + adequadas

Nota-se aqui que, em todas as áreas, o que a inadequação das calçadas mais restringe é
a atividade de sentar na calçada, para conversar ou tomar tererê, principalmente na Área 3.

Na mostra total, é identificada a relação entre a possibilidade de desenvolver mais


atividades nas calçadas e a adequação da pavimentação das calçadas (Phi, Sig = 0,003) ou a
adequação de sombra nestas calçadas (Phi, Sig. = 0,002). O tipo de atividade brincar/jogar,
poderia ser intensificado quando as calçadas fossem adequadas quanto à sombra (Phi, sig. =
0,00002) e quanto à pavimentação (Phi, sig. = 0,01).

Da amostra total, entre todas as variáveis testadas, surge correlação negativa entre a
percepção de ruas desagradáveis para caminhar e o hábito de caminhar pelo bairro (Sig.-
0,035; Sperman = - 0,1361). Isto mostra que se as ruas de um bairro são consideradas
desagradáveis para caminhar diminui este hábito entre os moradores. Desagradável refere-se
aqui à pavimentação inadequada (Sig. = 0,000; Spearman = 0,03433) e ao sombreamento
inadequado (Sig. = 0,022; Spearman = 0,1477).

As expectativas em relação à adequação de um espaço são diferenciadas entre


diferentes níveis sócio-econômicos. Assim, na Área 2, apesar das condições menos adequadas
das calçadas, a avaliação de adequação é mais positiva do que na Área 3 e o uso da rua para
atividades sociais mais intenso. Na Área 1, a percepção de melhor adequação da calçada não é
suficiente para garantir um maior uso do espaço da rua para atividades sociais.
4.3.1.2 Atributos físicos das praças

a) Dimensionamento

O dimensionamento da Praça Itanhangá – EPL1(1,8 ha), projetada para atender bairros


de baixas densidades (médias de 35 hab./ha), em área com predominância de terrenos grandes,
com extensos jardins e casas e terrenos de tamanhos médios e condomínios verticais com
espaços internos comuns –, demonstra ser suficiente para os usos a que se propõe
(caminhadas e lazer contemplativo). É, porém, sub-utilizada em relação a seu tamanho e
possibilidades.

A Praça Copatrabalho – EPL2, foi projetada para atender a uma população aproximada
de 6.000 habitantes (população estimada do conjunto habitacional). Sendo uma área de,
aproximadamente, 1ha, pode ser considerada pequena perante a demanda, principalmente de
locais para esportes para jovens. Este pode ser um dos motivos pelos quais nota-se a presença
intensa de jovens usando os espaços das ruas para jogos, nesta área. A praça, assim como as
ruas desta área, é muito usada.

O Parque Horto Florestal – EPL3, uma área de aproximadamente 4,8ha, tendo como
proposta atender o âmbito da cidade, parece cumprir com seu papel, pois seu tamanho permite
uma apropriação diversificada.

b) Equipamentos

Analisando estatisticamente os resultados em relação ao costume de freqüentar os


EPLs de modo geral, encontra-se correlação entre o uso de EPLs e a oferta insuficiente de
locais adequados para sentar (Sig. = 0,045; Spearman = – 0,1296); o fato de o espaço possuir
ambientes tranqüilos adequados (Sig. = 0,000; Spearman = 0,2666) e o fato dos EPLs não
oferecerem opções suficientes de atividades (Sig. = 0,011; Spearman =. - 0,1647).

Quando enfocados separadamente, os três EPLs objeto deste estudo, em relação a


adequação dos mesmos, pode-se comentar que:
Na Praça Itanhangá – EPL1, apesar da pequena intensidade de uso, os ambientes de
estar com bancos ou similares são insuficientes. Opções informais de locais para sentar,
integradas à natureza, poderiam ser apresentadas como alternativas de estar. Equipamentos
que dessem suporte a atividades mais variadas são necessários para dinamizar a praça.

É identificada uma correlação entre a percepção de atividades insuficientes e a


freqüência de uso de EPLs (Praça Itanhangá – EPL1 : Sig. = 0,02; Spearman = – 0,3092 e
Horto Florestal – EPL2: Sig. = 0,018; Spearman = - 0,2684), indicando que uma maior oferta
de atividades aumentaria o uso destas praças. A praça Itanhangá, realmente, oferece poucas
alternativas de atividades, restringindo-se a caminhadas e à contemplação, faltando
principalmente locais e atividades para adolescentes. Já o Horto Florestal oferece atividades
programadas diferenciadas, mas durante a semana existe a percepção de falta de diversidade
de atividades para suprir as necessidades de usuários mais freqüentes.

Na Área 2, a grande demanda por espaços de lazer e o tamanho limitado da Praça


Copatrabalho – EPL2, fazem com que sejam considerados insuficientes os locais para sentar.
Nesta praça aparecem correlações entre diversas variáveis e o hábito de freqüentar os EPLs.
Entre eles, a oferta de bons ambientes de estar (Sig. = 0,005; Spearman = 0,3409) sugere que,
nesta área, o uso da praça aumentaria com a oferta de locais de estar adequados. Também
surge uma relação entre a oferta de coisas para fazer, tanto na semana (Phi, Sig = 0,2713)
quanto no fim de semana ( Phi, Sig. = 0,00745) e a freqüência de uso da praça sugere uma
tendência de aumento de uso com o aumento de alternativas oferecidas.

c) Vegetação

A vegetação é abundante na praça Itanhangá, em forma de gramados, arbustos e


árvores de médio porte – dominando a totalidade da praça -, e no parque Horto Florestal, com
árvores de grande porte – na reserva que forma um bosque -, além de canteiros, gramados e
algumas árvores no restante do parque. Na praça Copatrabalho, a vegetação, apesar de nova, já
apresenta porte suficiente para fornecer sombreamento e está presente sobre os ambientes de
estar.

As percepções de sombreamento nos EPLs são semelhantes (65% na Itanhangá, 64%


na Copatrabalho e 62% no Horto Florestal).
Não foi identificada correlação entre a percepção de sombreamento e a freqüência de
uso das praças públicas; contudo, com o clima quente e muito ensolarado da cidade, a sombra
é um requisito fundamental para o conforto.

d) Pavimentação

A Praça Itanhangá – EPL1 é predominantemente recoberta por gramados, o que lhe


confere um conforto térmico maior; porém, limita um pouco o uso, pois as pessoas resistem,
de certo modo, a pisar nos gramados. A pista de caminhadas, revestida com manta asfáltica,
funciona bem, e o espaço em torno do coreto, revestidos em blocos de concreto pintados de
azul, não é utilizado, provavelmente pela falta de alternativas de uso, pela proibição de entrada
de artefatos de rodas na praça e pelo excesso de sol que se reflete no pavimento.

A Praça Copatrabalho – EPL2 tem pavimentação em cimentado, piso que favorece o


uso de patins, triciclos e bicicletas. São brinquedos que se observa freqüentemente no espaço
da praça. As quadras são revestidas com grama, areia e cimento. A colocação de alguns
canteiros de grama, invadindo a calçada lateral da rua Pequi, com caminho de toras de
eucaliptos servindo de passeio, não demonstrou ser solução eficiente, pois as pessoas evitam
caminhar sobre as toras e caminham sobre o gramado, danificando-o. A limpeza das
pavimentações é um dos pontos que os usuários da praça Copatrabalho apontam como
deficiente.

O Parque Horto Florestal – EPL3 tem diversos tipos de pavimento revestindo sua
superfície tais como, pedra portuguesa (na praça central), chapas metálicas corrugadas (na
rampa), asfáltico (na pista de caminhadas), saibro (na pista de bicicross) e gramados. A pedra
portuguesa branca, em muitos dias de sol intenso, se torna incômoda, pelo reflexo da luz solar.
O piso asfáltico da pista de caminhadas está protegido pela sombra das árvores, que diminui a
irradiação de calor. No geral, a pavimentação deste parque é diversificada, eficiente e bem
mantida.

Não foi identificada correlação entre a manutenção da pavimentação e a freqüência de


uso das praças.

e) Iluminação
Todas as três praças possuem iluminação em postes altos (aproximadamente 8m) e nas
Praças 1 e 3 também em luminárias mais baixas (aproximadamente 4m), iluminando melhor
abaixo da vegetação de grande porte. No EPL1 a iluminação auxiliar da pista de caminhadas
reforça a luminescência daquele equipamento e da praça como um todo. O EPL2 tem
iluminação especial para as quadras e iluminação padrão para o restante da praça.

A adequação da iluminação dos EPLs é percebida como eficiente, na praça Itanhangá


(60%), na Copatrabalho (66%) e no Horto Florestal(78%).

Foi identificada uma correlação entre a percepção da iluminação da praça e o hábito


de freqüentar espaços públicos de lazer (Sig. = 0,045; Spearman = 0,1297), indicando que se
o EPL é percebido como bem iluminado, a tendência de freqüentá-lo é maior. A Praça
Copatrabalho é utilizada no início da noite para jogos e conversas em noites quentes e o
Parque Horto Florestal é utilizado para caminhadas até a hora de fechar os portões e para
programações variadas na arena multiouso.

4.3.2 Aparência e agradabilidade

De modo geral, o que os respondentes das três áreas mais apreciam na cidade é sua
tranqüilidade e sua aparência em relação à presença de uma vegetação exuberante na paisagem
urbana. Fica, também, constatado que a aparência negativa de certos lugares (questões
estéticas e de manutenção) afeta negativamente a avaliação de desempenho.

A agradabilidade percebida pelos respondentes não está relacionada exclusivamente a


aspectos contextuais. Quando questionados sobre esta qualidade, o nível de satisfação com o
bairro e com as ruas é fortemente afetado, além da tranqüilidade, também pelas relações de
amizade existentes. Os aspectos mencionados, prioritariamente, e que justificam a percepção
de agradabilidade do bairro e da rua foram: tranqüilidade na Área 1, amizades e tranqüilidade
na Área 2 e tranqüilidade e amizades na Área 3.

Nas Ruas
As percepções relativas à agradabilidade do bairro se distribuem da seguinte maneira
entre os moradores respondentes:

Tabela 4.7 Agradabilidade do próprio bairro

Área1 Área2 Área3


Seu bairro é agradável para viver 98% 100% 95%
É um dos locais mais agradáveis da cidade 46% 59% 20%
As pessoas se sentem bem em morar no bairro 82% 89% 91%
Há bastante árvore nas calçadas 71% 71% 79%

No Itanhangá - Área 1, a quase totalidade dos respondentes moradores acham o bairro


agradável para viver e 15% apontam aspectos relativos à aparência, tais como árvores,
limpeza, a praça, como causa desta satisfação. A presença de árvores no espaço público é
maior na sub-área Búzios (em relação à Sta.Tereza), assim como a largura das ruas e
calçadas, o que lhe confere amplitude; porém, a grande incidência de muros altos, sem visão
para as edificações, traz consigo uma certa monotonia. A sub-área Sta. Tereza apresenta
qualidades positivas particulares na congruência das edificações e nas relações espaços
construídos/espaços não construídos. A preocupação com a jardinagem na própria calçada, a
qualidade das edificações, a existência da praça Itanhangá nas proximidades, a manutenção
das pavimentações e a limpeza nas duas sub-áreas da Área 1 favorecem a aparência visual
destas sub-áreas.

Na Copatrabalho – Área 2, a totalidade dos respondentes moradores percebe o bairro


como agradável para viver. O fato de todas as ruas serem pavimentadas, haver ocupação de
todos os lotes, com edificações e com os fechamentos bem marcados e conservados, a rua
principal - Av. Florestal – ser larga e arborizada, existir um quarteirão central com
equipamentos comunitários do bairro (entre eles a praça) e uma razoável arborização nas
calçadas favorecem positivamente a aparência visual do bairro. As questões de obstrução e
falta de manutenção das calçadas e de várias edificações, a própria largura das calçadas,
bastante estreitas, não parece afetar a visão geral de agradabilidade do bairro. A alta
freqüência da percepção de que o bairro é um local muito agradável e um dos locais mais
agradáveis da cidade, entre os moradores desta área (59%), coincide com o fato desta ser a
área de estudo com maior grau de apropriação de suas ruas.
No Horto – Área 3, uma alta percentagem dos respondentes moradores consideram o
bairro agradável para viver. A arborização mais antiga, da Vila Carvalho, a proporção entre
espaços construídos e espaços não construídos com os quintais entrevistos pelos muros baixos,
a largura ampla de várias ruas e calçadas com o fluxo médio ou pequeno de veículos propicia
um aspecto agradável à sub-área. A variedade de formas das edificações, a própria idade
destas (antigas, para os padrões da cidade) e a grande proporção de fechamentos que permitem
a visão das edificações e dos quintais também contribuem neste sentido. Por outro lado, a
manutenção falha de várias calçadas e edificações prejudicam a imagem positiva do lugar. Na
Sgto. Amaral, uma certa homogeneidade do padrão das casas, dos tipos de fechamento,
somada a variedade introduzida pelas modificações das edificações originais, dão um caráter
positivo à aparência do conjunto.

Foi identificada uma correlação entre agradabilidade das ruas do próprio bairro e o
uso das ruas do bairro para caminhar (Sig. = 0,035; Spearman = 0,1361), indicando que
quanto mais agradável o bairro for aos olhos do usuário, mais ele caminha pelas suas ruas e
vice-versa.

Foi ainda identificada uma correlação entre a percepção de agradabilidade do bairro e


o uso dos espaços próximos à residência para atividades sociais (Sig. = 0,000, Spearman =
0,2496), da mesma maneira que existe uma correlação entre gostar do bairro e usar os
espaços próximos (Sig.=0,000, Spearman = 0,2492). Portanto, quanto mais as pessoas usam os
espaços abertos, mais tendem a achar o próprio bairro agradável e a gostar dele.

Apesar da presença de vegetação ser, isoladamente, um dos fatores mais apreciados na


cidade de Campo Grande (22% da amostra) e esta, sem dúvida, influenciar positivamente na
percepção da aparência da cidade, só 6% dos moradores respondentes das áreas mencionam a
aparência como fator importante para gostar de sua rua e 5% para gostar do próprio bairro.

Nos Espaços Públicos de Lazer

Algumas das percepções dos respondentes sobre aspectos relacionados à aparência dos
três EPLs estudados são apresentados na tabela 4.8:

Tabela 4.8 Aparência dos espaços públicos de lazer


Pr. ITANHANGÁ Pr. COPATRAB. Pq. HORTO
Bonita 98% 66% 96%
Sombra suficiente 65% 64% 62%
Boa manutenção 85% 24% 80%

As entrevistas, mapas mentais e questionários indicam ser os EPLs estudados


elementos marcantes em suas respectivas áreas de influência, sempre referidos como marco
referencial importante em imagem positiva.

A Praça Itanhangá, por ser um EPL com vegetação abundante e córregos mantidos em
seu aspecto “natural”, desperta sentimentos de agradabilidade nos usuários. O desenho
elaborado dos portões e a boa manutenção favorecem esta percepção. Na Praça Itanhangá foi
identificada uma relação entre a percepção de que o EPL é bonito e a freqüência com que o
indivíduo o utiliza (Phi, Sig. = 0,02456). Isto é, indivíduos que freqüentam o EPL mais
intensamente, o consideram bonito.

Na Praça Copatrabalho, também existe correlação entre o uso do EPL e sua aparência
(Sig. = 0,011; Spearman = 0,3018) e entre este uso e a oferta de estares convidativos (Sig. =
0,0002; Spearman = 0,3592), mostrando que para os usuários desta praça quanto mais positiva
a aparência maior seu uso. Justamente, este é o EPL considerado ‘bonito’ por uma proporção
menor de usuários, indicando que investimentos na aparência deste espaço incrementariam
ainda mais o seu uso. A manutenção deste EPL é a menos eficiente entre os três estudados
(principalmente na limpeza e conservação do mobiliário e equipamento do parquinho) e
alguns aspectos de seu planejamento, em especial a colocação do posto policial bem na
entrada do EPL, afetam a percepção da aparência. Por outro lado, o cuidado com alguns
aspectos de desenho (pavimentação, desenho dos conjuntos de mesas e bancos, equipamento e
fechamento do playground) e a vegetação em crescimento, já atingindo um porte médio, são
pontos positivos em relação à aparência.

O mais criticado é a manutenção deficiente (31%), principalmente a manutenção geral


(12%) e a manutenção do parquinho (10,5%). Porém, não foram identificadas relações entre a
percepção do nível de manutenção desta praça e o costume de freqüentar EPLs.

No Parque Horto Florestal não foram identificadas relações estatísticas entre a


aparência e a freqüência de uso do EPL, apesar de 96% dos respondentes usuários deste
parque o considerarem bonito e com estares convidativos. O morador do Horto tende a
perceber os EPLs em geral (lembradas por 50% dos respondentes moradores desta área) como
sendo os locais mais agradáveis da cidade.

A grande massa de vegetação de grande porte e o cuidado com o projeto de todos os


ambientes do parque, além do seu enriquecimento através de elementos simbólicos, colocação
de espelho d’água e manutenção dos espaços configuram a aparência positiva do parque. As
qualidades mais freqüentemente mencionadas como positivas pelos usuários do parque foram
‘aspectos da paisagem’ (vegetação, água, animais...) (46%) e tranqüilidade (26%), aqui
entendida como um espaço de silêncio no ambiente mais conturbado da região central da
cidade.

4.3.3 Segurança

O que mais desagrada na cidade, de maneira mais recorrente, é a sensação de


insegurança ou violência, apontada por 17% dos respondentes. Esta percepção é maior entre
os moradores da Área 3 - Horto - (29,5%) do que entre moradores das outras duas áreas (em
torno de 12%). Como a Área 3 é mais próxima ao centro e a equipamentos como a Rodoviária,
ao mesmo tempo que é limitada pela Av. Calógeras - rua comercial onde, à noite, funcionam
pontos de prostituição - , este percentual mais acentuado se explica.

4.3.3.1 Percepção de segurança nas ruas

Os dados computados pela Polícia Militar sobre ocorrências registradas num ano em
bairros da cidade, pode dar uma idéia da situação de segurança dos bairro:

Tabela 4.9 Número de ocorrências registradas na PM/CG em 1999*

Búzios ( A1) 28
Sta. Tereza ( A 1)
Copatrabalho (A 2) 178
Vila Carvalho** (A 251
Sgto. Amaral (A 3) 29
* Refere-se a 140 tipos diferentes de ocorrências
** os limites da Vila Carvalho para a PM são maiores do que os da sub-área deste estudo.

Conforme informações colhidas em entrevista, a Polícia Militar considera a Área


Itanhangá uma região de poucas ocorrências, provavelmente em decorrência da presença de
guardas particulares e de segurança eletrônica. A Copatrabalho, apesar da presença do posto
policial, que diminui as ocorrências, tem nos seus arredores bairros de maior violência que
acabam influenciando os índices. Na área do Horto, a Vila Carvalho sofre a influência
negativa dos pontos de prostituição e drogas da Av. Calógeras e proximidades.

As percepções quanto à segurança do próprio bairro se diferenciam significativamente


entre as áreas de estudo. A tabela 4.10 sintetiza as percepções dos moradores respondentes:

Tabela 4.10 Segurança das ruas do bairro

Área 1 Área 2 Área 3


Ruas seguras 49% 54% 77%
Ruas perigosas à noite 43% 40% 39%
Perigoso p/crianças de dia 44% 43% 34%
Poucas pessoas / pouco seguras 39% 40% 25%
Pessoas estranhas/ ruas inseguras 55% 44% 36%
Ruas seguras quanto ao tráfego 37% 39% 61%
Perigoso crianças calçadas/veloc. 81% 74% 48%
Visibilidade da rua/controle 41% 53% 77%
OBS.: O único item desta tabela que não apresentou diferença de percepção estatisticamente significante, entre as
áreas, foi ‘poucas pessoas nas ruas portanto ruas pouco seguras’.
Os dados da tabela indicam que a percepção de segurança na Área 3 é sempre maior do
que nas outras duas áreas, apesar desta ser a área que mais critica a falta de segurança da
cidade. A proximidade da Av. Calógeras, com seu histórico de ocorrências policiais, parece
não estar influenciando a percepção de segurança para estes moradores.

Uma percepção intermediária de segurança aparece na Área 2. Entre as três áreas, a


Área 1, com menos ocorrências policiais, maior número de guardas particulares nas ruas e
menor grau de apropriação pelos moradores é a que tem a percepção de ruas menos seguras,
em sua própria área.

O sentimento de segurança com o bairro aparece no fato de se deixar ou não as


crianças irem às compras sozinhas, brincarem nas ruas (como nas Áreas 2 e 3). Embora não
tenha sido identificada correlação entre freqüência de uso e percepção de segurança, nota-se
que a presença de moradores nas ruas (como ocorre nas Áreas 2 e 3) traz uma maior percepção
de segurança do que a presença de guardas particulares (como na Área1).

4.3.3.2 Percepção de segurança nos EPLs

As percepções dos respondentes usuários dos EPLs quanto à sua segurança estão
organizadas na tabela 4.11:

Tabela 4.11 Segurança nos EPLs


EPL 2
EPL 1 EPL 3
(sem grades)

Segura 84% 51% 77%


Perigosa à noite 24% 43% 46%
Aprovam grades 87% 54% 93%
Boa iluminação 60% 66% 78%

De modo geral, é identificada uma correlação entre a freqüência de uso dos EPLs e o
fato dos espaços serem bem iluminados (Sig. 0,045; Sperman = – 0,1297) e entre a falta de
hábito de freqüentar os EPLs e a percepção de insegurança (Sperman: Sig.0,015 e Corr.
0,1561), assim, se o EPL é percebido como inseguro ou mal iluminado - o que traz também
uma sensação de insegurança - , ele é menos freqüentado.
A abundante vegetação arbustiva, na Praça Itanhangá, que dificulta a visualização,
pode estar trazendo a sensação de deficiência de iluminação para uma parte dos usuários
(40%). Neste EPL existe uma correlação entre a percepção de iluminação deficiente e a
percepção da praça ser insegura à noite (Sig. = 0,040; Spearman = 0,2706). Mas este é o EPL
considerado mais seguro, entre os três analisados (84% dos usuários o considera seguro). A
existência de grades e a presença constante de seguranças parece estar favorecendo esta
percepção (apesar de não ter sido identificada relação estatística).

A insegurança atribuída à Praça Copatrabalho (49%), percebida como a mais insegura


entre os três EPLs, deve-se, em parte, ao uso da praça, durante a noite, por gangues de
adolescentes oriundos de outros bairros (dado de entrevistas). Neste EPL, a iluminação é
suficiente para permitir jogos noturnos nas quadras e para o espaço todo ser utilizado durante
as primeiras horas da noite.

O posto policial existente na praça permanece aberto toda a noite, o que inibe a
ocorrência de violências.

O Parque Horto Florestal é percebido como bastante seguro (77% dos usuários). A
colocação estratégica de guardas, a existência de grades e portões, o uso intenso e
diversificado do parque parecem contribuir para esta percepção. Conflitos entre usuários é
uma das críticas feitas de maneira mais insistente com relação a este parque, podendo este
aspecto estar influenciando a percepção de insegurança do parque.

Quanto ao uso dos EPLs, quando analisadas separadamente, foram identificadas


algumas correlações com fatores de segurança. Na Área 1 - Itanhangá, existe correlação entre
a percepção de insegurança noturna na Praça Itanhangá e a falta de hábito de usar a praça
(Sig. = 0,047; Spearman = 0,2693). Na Copatrabalho, correlação entre o uso da Praça
Copatrabalho e a percepção geral de segurança da praça (Sig. = 0,023; Spearman = 0,2774)
e também com a percepção de insegurança noturna (Sig. = 0,025; Spearman = - 0,2735). Na
Área 3, não foram identificadas estas relações. Assim, para o usuário da Praça Itanhangá e da
Praça Copatrabalho as questões de segurança estão diretamente relacionadas com a freqüência
de uso do EPL: quanto maior a percepção de segurança maior o uso do espaço. O EPL 2 é o
espaço de lazer considerado mais inseguro e ao mesmo tempo é o mais intensamente utilizado,
o que sugere que a percepção de insegurança refere-se unicamente ao período noturno.
Apesar da existência de grades e de guardas nos EPLs 1 e 3, a percepção de segurança
durante a noite diminui muito ficando, no EPL1, que durante o dia é percebido como o mais
seguro, menor do que no EPL 2. O uso do EPL 2 durante a noite não fica limitado por
fechamento de portões e a praça passa a ser freqüentada pelos grupos de adolescentes.

Foram encontradas algumas correlações entre a aprovação da existência de grades e o


sentimento de segurança do EPL e entre segurança diurna e segurança noturna:

Tabela 4.12 Segurança x fechamento do EPL

EPL 1 EPL 2 EPL 3

Aprovação Grade X Praça segura - - Sig = 0,025;


Sperman = 0,2547
Aprovação Grade X Insegurança - Sig. = 0,000 -
perc./ noite Sperman = 0,5088

De acordo com os dados, somente o parque Horto Florestal é percebido mais seguro
por ser fechado com grades. E, os resultados indicam que a Praça Copatrabalho seria
percebida como mais segura se fosse fechada com grades.

4.3.3.3 Segurança quanto ao tráfego

Na Área 1, a tranqüilidade da própria rua é o fator mais importante para a apreciação


das ruas (42%). Apesar das Áreas 1 e 2 não serem consideradas seguras quanto ao tráfego, o
bairro é considerado tranqüilo e, na Área 2, muitas crianças brincam nas ruas.

Não foi identificada correlação entre o uso das calçadas para atividades sociais ou para
caminhar pelo bairro e a segurança quanto ao tráfego que estas ruas possam apresentar, em
nenhuma das áreas.

A largura das calçadas de 1,5m nas Área 2 e sub-área Sta. Tereza (Área1), podem estar
ligadas à percepção de insegurança das ruas, pois, na verdade, estas duas áreas apresentam
pequeno fluxo de veículos em suas ruas internas31. Na Sta. Tereza, a proximidade da rua

31
Ruas internas, neste caso, se refere à ruas do interior da sub-área
estudada e não as ruas limites.
Chaadi Scaff pode estar influenciando, já que esta é uma rua de fluxo de veículos mais
intenso. Na Área 2, apesar de existir a percepção de insegurança quanto ao tráfego, as crianças
são encontradas nas ruas tanto caminhando quanto jogando.

Na Área 3, a largura ampla de certas ruas (15m), diminui a sensação de insegurança ao


tráfego que o fluxo existente de veículos de passagem pela área poderia trazer e deve estar
influenciando a maior percepção de segurança da área.

Em todas as áreas, a freqüência de uso dos espaços próximos à residência para


atividades sociais apresentou correlação com a percepção de que a rua é insegura por causa
de velocidade de veículos (Sig. 0,000; Spearman = - 0,4794). Diminui o uso da rua como
espaço para atividades sociais quando a rua é percebida como insegura.

É também identificada correlação negativa entre a percepção de perigo para as


crianças brincarem nas calçadas e o fato das ruas do bairro não serem seguras por causa da
velocidade dos automóveis (Sig. = 0,000; Spearman = 0,4044), indicando que a limitação
maior, no que concerne à segurança das calçadas é a percepção de perigo com o trânsito,
mesmo quando não exista trânsito intenso ou veloz, mais do que com o crime. A área onde
esta correlação é mais fortemente constatada é a Área 3 (Sig. = 0,000; Spearman = 0,5514),
seguida da Área 2 (Sig. = 0,030; Spearman = 0,2630). Na Área 1 não foi identificada está
correlação.

4.3.3.4 Controle visual nas ruas e EPLs

O fato de poder ver a rua de dentro do próprio lote, ou da própria casa – correspondência
espacial – é um fator que facilita o controle sobre o espaço próximo à residência trazendo,
com isso, maior sensação de segurança e maior uso. Foi identificada correlação entre a
visibilidade da rua e o seu uso só para deslocamentos (Sig. = 0,012; Spearman = - 0,1623) e
entre esta visibilidade e o hábito de usar as ruas para passeios (Sig. 0,019; Spearman =
0,1519) indicando que quanto mais se tem uma visão da rua de dentro do próprio lote, mais
esta é usada para outras atividades que não só deslocamentos. Esta relação sugere que a
percepção de segurança que a visibilidade traz, pode estar influenciando os hábitos de uso da
rua.
O levantamento físico mostra o controle visual existente, decorrente do fechamento
espacial, realizado sempre no limite do lote (uma constante na cidade de Campo Grande),
dentro das áreas de estudo:

Tabela 4.13 - Fechamento espacial

Muros altos Gradis altos Fechamentos baixos


Búzios (Área 1) 66% 29% 5%
Sta. Tereza (Área 1) 50% 40% 10%
Copatraba. (Área2) 14% 66% 20%
Vila Carvalho (Área 3) 15% 68% 17%
Sgto. Amaral (Área 3) 18% 66% 17%

A possibilidade de controle visual da rua apresenta-se, portanto, diferenciada entre as


áreas: maior controle possível nas Áreas 2 e 3, controle intermediário na sub-área Sta. Tereza
e menor controle na rua Búzios. Além disso, o hábito freqüente, observado nas Áreas 2 e 3, de
manter a porta aberta de frente para a rua, possibilita, através da continuidade espacial, um
controle maior daquele espaço. A intensidade de uso da rua é maior na Área 2 e intermediário
nas sub-áreas da Área 3, enquanto o grau de visibilidade é alto em todas as três áreas. Nas sub-
áreas da Área 1 a intensidade de uso das ruas é um pouco maior na Sta. Tereza do que na
Búzios e muito menor do que nas outras áreas.

Na sub-área Búzios, os lotes são fechados, geralmente por muros altos (acima de 2m),
o que impede o contato visual entre dentro e fora do lote e mesmo quando o fechamento é por
gradil as soluções arquitetônicas não favorecem o contato visual com a rua. Nesta sub-área,
proporcionalmente ao número de moradores da rua, foi encontrado o menor número de
pessoas nas calçadas. Na sub-área Sta. Tereza o fechamento dos lotes é feito, tanto por muros
quanto por gradis e, neste caso, a solução arquitetônica adotada de janelas da sala voltadas
para a rua permitem o contato visual entre o interior da casa e o espaço público. Nesta sub-
área, apesar da possibilidade maior de controle da rua pelos moradores, foi encontrado,
proporcionalmente, quase o mesmo número de pessoas nas calçadas que na sub-área Búzios.

Na Área 2, as soluções de fechamento permitem um controle visual maior do que na


Área 1 e o número de pessoas encontradas nas calçadas é, proporcionalmente, muito maior
(quase o dobro).
Na Área 3, as soluções de fechamento que possibilitam a visibilidade para a rua se
apresentam em quantidade semelhante as da Área 2 (fig. 4.4) e o número de pessoas
encontradas nas ruas é, proporcionalmente, 10% menor que naquela área.

É identificada uma relação entre a correspondência espacial (visão da rua desde dentro
da residência) e o volume de uso dos espaços próximos à residência (K-wallis, Sig. = 0,0589),
sugerindo uma tendência de maior uso das ruas para atividades sociais quando a visão destas é
ampla de dentro das residências.

Em relação aos EPLs, o controle visual, com a possibilidade de enxergar outras


pessoas, outros espaços, pode influenciar no uso do espaço. A grande predominância de zonas
de vegetação na praça Itanhangá dificulta, em certo grau, a visualização mais ampla da praça,
podendo desestimular a busca de outro espaço da própria praça. O fato desta praça ter parte de
seu limite com a rua Chaadi Scaff reforçado com cerca viva, além do gradil, dificulta a
transparência e a decisão de entrar na praça.

A praça Itanhangá, por apresentar cerca viva junto ao gradil na Rua Chaadi Scaff,
oferece alguma dificuldade de acesso visual para o seu interior.

A colocação do posto policial no limite frontal da praça Copatrabalho dificulta tanto o


acesso funcional, quanto o acesso visual ao interior da praça, para quem está na Av. Florestal.
No restante, a praça pode ser facilmente visualizada de qualquer ponto.

Devido à transparência do gradil e ausência de vegetação arbustiva, o parque Horto


Florestal apresenta uma boa acessibilidade visual, desde longe, para a praça como um todo e
da parte externa imediata para o seu interior. Há dificuldade de visualização através da
vegetação, no interior do bosque. Como esta parte é bastante procurada para caminhadas,
piqueniques e estudos, supõe-se que não esteja influenciando negativamente o uso.

4.3.4 Acessibilidade

As distribuições espaciais que dão maior ou menor facilidade de conexões dentro do


próprio bairro, entre os bairros ou com o centro da cidade influenciam o movimento de
circulação tanto de pedestres, quanto de veículos, dentro das áreas. O movimento de pedestres
é importante para este estudo já que são estes os que usam a rua para atividades sociais.
Na Área 1, a existência de barreiras representadas por vias de fluxo mais intenso de
veículos e as longas distâncias relativas para chegar a lugares no próprio bairro, desestimulam
o movimento de pedestres, enquanto que o acesso facilitado a estabelecimentos comerciais do
bairro na Área 2, favorece à movimentação de pedestres. A proximidade de bares e
lanchonetes atrai usuários, como observado na Área 2, onde as maiores aglomerações
acontecem nos estabelecimentos que possuem mesas nas calçadas.

A proximidade do centro da cidade e de outras áreas densas favorece a movimentação


de pedestres na Área 3; por outro lado, as vias de fluxo intenso de veículos nas imediações da
área representam barreiras importantes contra a locomoção do pedestre, e podem estar
influenciando a intensidade de uso das ruas desta área.

A existência de barreiras (acessibilidade funcional) nas próprias calçadas em todas as


áreas estudadas, não parece ser obstáculo importante ao uso da rua para circulação de
pedestres ou para atividades sociais na Área 2.

O acesso aos EPLs também ocorre de maneira marcante por indivíduos que estão a pé
(70% entre moradores das áreas de estudo e 38% a pé e 33% de ônibus, quando respondentes
moradores de fora das áreas).

Quando enfocados os três EPLs estudados, no Horto Florestal aparece correlação


negativa entre o uso dos espaços e a dificuldade de chegar ao EPL (provavelmente pela
existência de barreiras) (Sig. = 0,002; Spearman = – 0,3537); assim, quanto mais difícil o
acesso ao EPL menor o uso deste. Entre os usuários do Parque Horto Florestal, identifica-se a
correlação entre a oferta de transporte coletivo suficiente durante a semana e o uso do EPL
(Sig. = 0,032; Spearman = 0,2435), mostrando que a boa oferta de transportes públicos perto
deste EPL influencia diretamente em sua apropriação pela população da cidade. Nos outros
dois EPLs, que atendem principalmente moradores dos próprios bairros, as questões de
distâncias funcionais não demonstram ser tão marcantes quanto no Horto, que atende usuários
de toda a cidade (93% dos respondentes neste EPL moram em outra área que não a estudada).

Ainda, com relação aos respondentes moradores da Área 3 que afirmam freqüentar o
Horto (70%), as questões de acessibilidade se fazem presentes, pela existência das avenidas de
intenso tráfego que ladeiam a praça e que funcionam como barreiras entre o parque e as sub-
áreas estudadas (a não ser no acesso junto à arena coberta, que supera este entrave com o
recurso da passarela sobre a Av. Fernando Corrêa da Costa, oferecendo um acesso seguro ao
EPL para os moradores da Vila Carvalho e adjacências).

Na Área 1, a barreira representada pela rua Chaadi Scaff em relação à sub-área


Sta.Tereza e a distância (aproximadamente 800m) a percorrer até a praça desde a sub-área
Búzios podem estar desistimulando o uso da praça Itanhangá, pelos moradores, principalmente
crianças, destas sub-áreas.

Na Área 2, surge uma importante correlação para a questão de acessibilidade, pois a


possibilidade do EPL apresentar grades ou portões influenciaria diretamente, para os
respondentes da área, num menor uso da praça (aprovação do EPL com grades Sig. = 0,034;
Spearman = - 0,2597). Ao mesmo tempo, a praça seria percebida como mais segura à noite se
fosse fechada por grades (como demonstrado na tab. 4.12, pg. 172). Portanto, neste EPL, a
acessibilidade é mais influente para o uso do que a segurança noturna.
A proibição de acesso ao EPL 1 de artefatos como bicicletas, skates e patins limita
muito o acesso, principalmente de crianças e adolescentes à praça, contribuindo decisivamente
para a baixa intensidade de uso deste espaço.

4.3.5 Comparação de desempenho das áreas e EPLs

O alto nível de satisfação encontrado entre os moradores das áreas estudadas é


decorrência, em muitos casos, de atributos físicos que fazem com que as ruas destas áreas
sejam percebidas como tranqüilas, geralmente vinculados ao pouco fluxo de veículos e à
percepção de áreas seguras.
Os dados analisados são sumarizados a seguir, de forma a poder comparar o
desempenho das três áreas e dos três EPLs estudados:

Tabela 4.14 Comparação de desempenho das áreas – fatores contextuais

Sta. Tereza Búzios Copatrab. V.Carvalho Sgto. Amar.

Uso geral Fraco Fraco Intenso Médio Médio


Uso predominante Guardas Guardas Circulação/ped Circulação/ped Circulação/ped
particulares particulares Conversas Conversas Conversas
Roda tereré Roda tereré Roda tereré
Brincadeiras Brincadeiras Brincadeiras
Jogos
Bicicleta
Agradabilidade Alta Alta Alta Alta Alta
Segurança perceb. Média-baixa Média-baixa Média Alta Alta
Acessib.visual Média Muito baixa Alta Alta Alta
Acessib.funcional Média Média alta Muito baixa Média Média
(barreiras)
Sombreamento A A A A A
dequ dequ dequ dequ dequ
ado ado ado ado ado

Locais utilizados Cadeiras Cadeiras Cadeiras portát Cadeiras portát Cadeiras portát
p/sentar portáteis portáteis Meio-fio Desníveis Desníveis
Cadeira/bar Meio-fio
Suficiente Suficiente Suficiente Suficiente Suficiente
Iluminação
Satisfação Muito satisfat. Muito satisfat. Muito satisfat. Muito satisfat. Muito satisfat.

Tabela 4.15 Comparação de desempenho dos EPLs – fatores contextuais

EPL 1 EPL 2 EPL 3


Uso geral Baixo Intenso Intenso
Uso predominante Caminhadas Esportes Skate / Bar Caminhadas
Recreação/ infantil Recreação/infantil Estares
Estares
Aparência Muito positiva Positiva Muito positiva
Segurança perceb. Alta (84%) Média-baixa (51%) Média (77%)
Acessib.visual Média Boa Boa
Acessib. espacial Baixa Boa Média
Suficiente Suficiente
Sombreamento Insuficiente
Mal distribuído Mal distribuído
Mobiliário Existente/inadequado Adequado Existente/adequado
Insuficiente Insuficiente Insuficiente
Satisfação Muito satisfatório Satisfatório Muito satisfatório

4.4 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO E FATORES COMPOSICIONAIS


As características individuais dos usuários de espaços públicos foram identificadas, na
revisão da literatura, como aspectos que podem influenciar a apropriação destes espaços. A
seguir são apresentados fatores composicionais que, por serem relevantes para a questão
enfocada, foram analisados neste trabalho.

4.4.1 Perfil do usuário

4.4.1.1 Ciclo de vida

Como o tipo de atividades desenvolvidas e o montante de tempo livre disponível


modificam-se com o ciclo de vida do indivíduo, este aspecto particular dos potenciais usuários
influencia o tipo e intensidade de uso dos espaços abertos públicos.

Procurando compreender a predominância de diferentes faixas etárias nas áreas


estudadas, foram analisadas as composições domiciliares de cada área (fig. 4.60).

idosos

adultos Area 1
Área 2
jovens
Área 3

adolescentes

crianças

0 0,5 1 1,5 2 2,5

Figura 4.60 Distribuição etária por domicílio (pessoa por domícílio)

Na análise da composição familiar dos domicílios, encontra-se uma proporção maior


de crianças, adolescentes e jovens na Copatrabalho do que nas outras áreas. Isto pode ser
observado no gráfico comparativo das médias de faixa etária por domicílio (fig. 4.73) e na
distribuição etária dos moradores das respectivas áreas. Foram considerados: criança (0-
9anos); adolescentes (10-14); jovens (15-20); adultos (21-60) e idosos (+ 60 anos).

Estes dados confirmam as observações. Foi observado um maior número de jovens e


crianças nas ruas da Área 2 - Copatrabalho do que nas outras áreas e maior número de idosos
nas calçadas da Área 3 – Horto, em comparação às outras áreas, caracterizada por ser de
ocupação mais antiga e com famílias que tem permanecido na área por várias gerações.

É significante a diferença entre as áreas, de famílias sem crianças (Phi, Sig = 0,00001),
com 60% dos respondentes sem criança na família na Área 1, 43% na Área 2 e 70% sem
crianças na Área 3. A Área 2 apresenta, além do maior número de crianças por domicílio, o
menor número de famílias sem criança, o que leva a um maior número de crianças moradoras
nesta área do que nas demais.

A criança está numa fase da vida em que depende do adulto e, portanto, tem seu raio de
ação limitado aos espaços próximos da residência, aumentando a importância da possibilidade
de uso destes espaços, por esta faixa etária.

Apesar da grande maioria das crianças das áreas estudadas freqüentar a escola no
próprio bairro ou em bairro próximo, predomina o hábito de ir à escola a pé na Área 2 (70%).
Na Área 3, também uma boa parte das crianças caminha para ir à escola (42%), o que não
acontece na Área 1. O fato de caminhar até a escola movimenta as ruas, durante os horários
escolares de entrada e saída. Demonstra, também, uma segurança de que a criança caminhe no
bairro ou a conveniência deste hábito pela falta de opção de transporte, seja automóvel,
transporte escolar ou ônibus.

As crianças brincam em diversos lugares. Entre os moradores que têm crianças, existe
uma diferença significativa no hábito das crianças brincarem nas calçadas (Phi, Sig. =
0,00006). A Área do Horto é onde, proporcionalmente, são colhidas mais respostas
afirmativas sobre este item, com 85% das crianças podendo brincar nas calçadas. Na
Copatrabalho, 25% e no Itanhangá, 12%. A diferença entre estas respostas e o volume
realmente observado de crianças brincando nas calçadas, com maior volume de crianças nas
calçadas da Copatrabalho e não do Horto, deve estar relacionada com a quantidade de crianças
que vivem nas duas áreas (função da densidade e da composição familiar por domicílio), e
com a freqüência com que estas crianças freqüentam os espaços públicos.

A visibilidade e a facilidade de acesso entre a casa e o espaço é o mais importante


nesta fase, pela necessidade de supervisão dos adultos. As melhores condições de visibilidade
entre o lote e a calçada foram detectadas, através dos questionários, na Área 3, sugerindo que
esta é a área que oferece melhores condições neste sentido, que facilita que as crianças se
apropriem das calçadas para suas brincadeiras. Contudo, no levantamento físico, foram
levantadas condições semelhantes de visibilidade entre o interior do lote e a calçada, nas Áreas
2 e 3.

A adolescência, considerada a fase entre 10 - 14 anos neste estudo, é uma fase em que
cresce a independência da criança, quando ela já não precisa ser observada pelos pais, e seu
raio de ação também cresce. O tempo livre disponível ainda é grande. Na faixa dos jovens (15-
19 anos), amplia-se mais a independência, diminui o tempo livre. A maior incidência, por
domicílio, de adolescentes e jovens na Área 2, somada à densidade da área, estão
representados nas observações de muitos grupos nestas faixas etárias sentados conversando,
ou jogando pelas calçadas e praça da Área 2.

Apesar de, estatisticamente, não existir relação significante entre a existência de


crianças no domicílio e a freqüência de uso das praças, a existência de crianças na casa
aumenta a freqüência de uso da praça em todas as áreas, principalmente entre os moradores da
Área 3 e entre os moradores de fora das áreas.

4.4.1.2 Nível sócio-econômico

Área 3
Área 1 Área 2

menos 3 sal. 3 a 5 sal.


5 a 10 sal. 10 a 20 sal.
mais 20 sal.

Figura 4.61 Faixas de renda

Na Copatrabalho, metade das famílias recebe de 3 a 5 salários, e é onde existe maior


proporção de profissões de nível de 1º grau e 2º grau; diferente do Horto, com maior
concentração nas faixas de 5 a 10 salários, maior número de profissionais de nível de 1º grau.
Na área Itanhangá, predominam as faixas de 5 a 10 salários (36%) e 10 a 20 salários (33%) e
a maior concentração de profissões é de nível universitário. O
nível de renda não apresenta relação com a freqüência de uso da rua como espaço social,
porém, existe uma maior presença observada de pessoas nas ruas da Copatrabalho, uma
presença intermediária na região do Horto e uma menor presença na Área 1 – Itanhangá, que
acompanha, inversamente, os níveis de renda. Sobre o uso dos espaços da rua, uma relação
possível é levantada no item ‘Hábitos de compras’, (pg. 190).

Foi identificada relação entre a freqüência de uso das praças e a faixa de renda a que
pertence o indivíduo (Phi, Sig. 0,01057), com uma tendência a aumentar o uso dos EPLs com
o aumento da faixa de renda. No entanto, a amostra total é constituída somente de 1/3 de
usuários de baixa renda e de 2/3 pertencentes a classe média e média/alta, o que pode estar
influenciando os resultados. Soma-se a isto o fato da grande maioria dos EPLs bem
estruturados da cidade estarem localizados em bairros de maior poder aquisitivo, o que facilita
aos indivíduos de faixa de renda mais alta o acesso a estes espaços.

4.4.1.3 Origem dos moradores

Partindo do pressuposto que a origem dos moradores seja um dos fatores


composicionais passíveis de influenciar a apropriação dos espaços públicos, foram analisadas
as relações entre a origem dos atuais moradores de Campo Grande e o tipo e intensidade de
uso daqueles espaços.

Não foi identificada relação entre a origem dos moradores e o tipo e a intensidade de
uso dos espaços públicos próximos à residência, mas existe uma relação significante entre a
origem dos respondentes e o costume de freqüentar EPLs (Phi Sig. = 0,04257), mostrando
existir uma relação entre a região do país de onde provém o respondente com a freqüência
com que este usa os EPLs da cidade. Entre os respondentes oriundos da Região Sul, 59% usam
freqüentemente os EPLs sendo, proporcionalmente, os que mais usam as praças e parques.
Segue-se os vindos do interior do estado, de outras cidades da Região Centro-oeste e os
criados na própria cidade de Campo Grande (57% deles costuma freqüentar EPLs). Os que
menos usam, são os respondentes moradores oriundos da Região Nordeste (33% deles
costumam utilizar EPLs) e da Região Sudeste (35% deles).
4.4.1.4 Tempo de moradia

A amostra apresenta uma significativa percentagem de novos residentes na cidade


(15% estão na cidade há menos de 5 anos e 15 % chegaram entre 5 e 10 anos). Somente 35%
dos respondentes foram criados na cidade (ou seja, 65% vieram de fora), demonstrando o
crescimento de origem migratória da cidade.

Foram detectadas diferenças significativas entre as áreas (Phi, Sig = 0,03867), quanto
ao tempo de moradia dos respondentes:

criado cidade

mais 10 anos

Área 1
de 5 a 10 anos
Área 2
de 1 a 5 anos Área 3

menos de 1 ano

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

Figura 4.62 Tempo de moradia na cidade

Em torno de 41% dos respondentes moram há mais de 10 anos na sua própria


residência e as diferenças entre as áreas não são contrastantes.

A intensidade de uso da rua para atividades sociais não apresenta relação com o tempo
de moradia do respondente na cidade, mas apresentou uma relação com o tempo de moradia
no mesmo bairro (Phi, Sig. = 0,046), o que indica uma tendência a usar mais os espaços
próximos a sua residência conforme aumenta o tempo de moradia no mesmo bairro.

A intensidade de uso de EPLs apresentou uma relação significante com o tempo de


moradia na cidade (Phi, Sig. de 0,042), isto é, existe uma tendência de freqüentar mais os
EPLs conforme aumenta o tempo de moradia na cidade.

4.4.2 Estilo de vida


Esta variável composicional caracteriza-se por ser variável dependente das variáveis
que compõem o perfil do usuário, principalmente do nível sócio-econômico, e do estágio no
ciclo de vida, fatores que influenciam grandemente o estilo de vida adotado pelo indivíduo.

4.4.2.1 Meio de transporte mais utilizado

O transporte utilizado faz parte do estilo de vida adotado pelo indivíduo. Os meios de
locomoção mais utilizados pelos moradores, além de um indicativo de renda, está sendo
adotado como um indicador que facilita a compreensão da intensidade diferenciada de uso dos
espaços públicos observados.

Dependendo do estágio no ciclo de vida, pode existir uma variação de uso de meio de
transporte, já que crianças dependem de adultos para se locomoverem em maiores distâncias,
adolescentes já têm maior independência em relação ao meio de transporte podendo se
locomover por conta própria, a pé ou usando ônibus e idosos têm, muitas vezes, limitações
para usar ônibus ou andar a pé, quando se trata de maiores distâncias.

Entre as três áreas, a distribuição dos tipos de locomoção coloca-se a seguir:

à pé Área1
Área 2
bicicleta Área 3

ônibus

carro

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Figura 4.63 Principal meio de locomoção

Entre as três áreas, a distribuição dos tipos de locomoção coloca-se como no gráfico
acima. Grande parte dos moradores das três áreas utiliza o carro como meio de transporte. No
Itanhangá, o uso de carro é maior (76%), no Horto também é grande (68%) e menor na
Copatrabalho (40%), correspondendo a representação das distribuições de renda de cada área.
O uso do carro avoluma-se com o aumento da faixa de renda (k-wallis, Sig. = .0000) sendo
que 77,5% dos que andam de carro estão nas faixas de 5 a 10 salários para cima. O uso do
ônibus é mais significativo na Área 2, onde 36% dos respondentes moradores o utilizam como
meio de transporte. Na Área 1, 16% usam ônibus e na Área 3, 14% (nesta área é possível usar
as facilidades do centro a pé).

O hábito de caminhar pelo próprio bairro não apresenta relação com o meio de
transporte mais utilizado, mas é bastante lógico supor que o uso de transporte coletivo
favorece a presença de pessoas nas calçadas, enquanto o uso do automóvel desfavorece. Esta
suposição se confirma pelas observações das áreas, a Área 1 com pouquíssimos pedestres
presentes nas ruas, a Área 2 com a maior presença e a Área 3 com presença intermediária.

Mas o fato de caminhar pelo próprio bairro influencia o tipo de apropriação dos
espaços externos, pois existe correlação entre o hábito de caminhar pelo bairro e o hábito de
usar os espaços próximos à residência para, por exemplo, observar o movimento e conversar
(Sig. 0,000; Spearman = 0,4493). Assim, quem caminha pelo bairro também usa os espaços
próximos para atividades sociais, como observar o movimento ou conversar.

4.4.2.2 Lazer

Dados obtidos através dos questionários indicam que, de modo, geral a metade dos
respondentes usam muito os espaços privados em atividades de lazer (como ver TV, ler,
descansar, conversar, visitar ou receber amigos...). Uma quantidade maior de pessoas (60%)
freqüentam espaços abertos públicos ou semi-públicos em seu tempo de lazer (locais com
atividades esportivas, calçadas de áreas residenciais, praças, parques, avenidas com atividade
de ‘promenade’, feiras...), confirmando com isto a importância dos espaços públicos. Em
menor proporção (14%) indicou o uso de espaços fechados semi-públicos (Shopping, igrejas,
bares, cinema, teatro, locais p/ dançar,...).

As atividades realizadas em espaços públicos aparecem numa proporção maior nas


Áreas 1 e 3 e as atividades em espaços privados (no caso, a própria casa), mais na Área 2,
apesar do grande número observado de pessoas nos espaços das ruas e EPL desta área. Uma
explicação para este fato pode ser o de que na Área 2, mais do que nas outras áreas, as
atividades de lazer se realizem mais no próprio bairro, tanto no espaço privado da residência
quanto nos espaços das ruas e praça do bairro.

O fato de na Área 2 observar-se maior presença de pessoas nas ruas do que nas duas
outras áreas, traz novamente a questão da densidade, mas também a de tempo livre disponível
entre os moradores e a limitada gama de atividades (as que não demandem despesas), o que
pode levar a um aumento de uso dos espaços públicos próximos da moradia, nesta área.

As atividades realizadas durante o período de lazer dos respondentes das áreas


estudadas são apresentadas no gráfico abaixo:

P a ss e a r

P raça s Á rea1
E s p o r te s Á rea 2
Á rea 3
A tiv . e m c a s a

S e n ta r c a lç a d a s

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%


F ig u ra 4 .6 4 A t iv id a d e s n a s h o r a s d e la z e r

Em todas as áreas predominam atividades no espaço privado da residência. Entre as


diversas atividades realizadas nos espaços abertos públicos nas horas de lazer, pode-se
comentar a predominância de atividades preferidas nas três áreas: na Área 1, 21% dos
respondentes moradores ‘caminham/correm’ nos espaços públicos; na Área 2, praticam
esportes (17%) ou ‘sentar/tomar tererê’ nas calçadas (16%) e na Área 3, 27% saem para
‘passear’ nas suas horas de folga.

As atividades de lazer se diferenciam por etapa do ciclo de vida assim como os espaços

jovens
Parque/praças
adultos
Calçadas idosos

Casa amigos

Própria cas

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Figura 4. 65 Espaços utilizados horas lazer x faixa etária


utilizados:

É possível notar que os jovens são os que mais utilizam as calçadas para lazer. A falta
de freqüência de idosos utilizando as calçadas pode estar influenciada pela ambigüidade do
conceito de lazer, pois é freqüente a observação de idosos sentados nas calçadas da Área 3 e,
não tão freqüentes, mas visíveis também na Área 2. As crianças não estão relacionadas, neste
gráfico, porque não estavam entre os respondentes dos questionários.

As atividades relacionadas às faixas de renda distribuem-se da seguinte forma:

10 a 20 sal. Passear
Praças
5 a 10 sal.
Esportes
3 a 5 sal. Ativ. em casa
Sentar calçadas
ate 3salário

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Figura 4.66 Atividades lazer x faixa de renda

De modo geral, as atividades de lazer que predominam em todas as faixas de renda são
as atividades realizadas na residência ou no lote, um pouco mais acentuadamente nas faixas
de renda mais baixas. As atividades nas calçadas apresentam uma tendência a aumentar,
inversa à faixa de renda.

Analisando a escolha de espaços para atividades de lazer relacionadas às rendas


familiares, não aparece relação significante entre o uso dos espaços públicos ou privados e a
renda familiar, mas aparece uma predominância no tipo de esportes praticado: quem tem mais
renda (principalmente na faixa de 10 a 20 salários) caminha/corre e quem tem renda baixa,
(até cinco salários), costuma jogar futebol.

O raciocínio de que a falta de opções de lazer -- decorrente do baixo poder aquisitivo -


e a falta de conforto dentro da própria casa, sugerido através de entrevistas na Copatrabalho,
leve as pessoas a sair para a rua para suprir estas necessidades, reforça a idéia de que a baixa
renda tem influência sobre o uso da rua como espaço social.
Dentro das áreas deste estudo, praticamente todos os respondentes possuem pátio em
sua residência (96%) - mesmo que seja pátio coletivo do condomínio. Entre os respondentes
usuários dos espaços, mas que não moram nas áreas, aumenta a proporção de residências sem
pátio (27%). Isto poderia ser motivo para a procura de praças, mesmo que não estejam
localizadas nas proximidades da residência (67% dos que moram em outras áreas, que não as
deste estudo, apontam para a falta de praças em seus bairros).

Com relação à origem dos usuários, não foram encontradas diferenças significativas
nos hábitos de lazer. Foi detectada uma diferença quanto ao hábito de freqüentar casas de
amigos/parentes (Phi, Sig. = 0,508) com uma tendência maior entre moradores oriundos da
própria cidade e da Região Sul, enquanto as menores freqüências neste sentido foram
constatadas entre respondentes oriundos da Região Sudeste e Nordeste.

Em relação ao tempo de moradia, também não foram encontradas diferenças


significativas nos hábitos de lazer, a não ser uma tendência entre os moradores que moram na
cidade a menos de um ano, de fazerem seu lazer na própria casa.

4.4.2.3 Hábitos de compra

Foi identificada uma relação significante entre a região onde mora e o hábito de
compra do respondente ( Phi, Sig. 0,00000), ilustrada na figura 4.67.

shopping

grandes mercados

Área 1
centro
Área 2
bairro próximo Área 3

bairro

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Figura 4.67 Hábitos de compras dos moradores

Vê-se que o hábito de comprar no próprio bairro é muito expressivo somente na Área 2
– Copatrabalho. Esta área apresenta uma das maiores relações de estabelecimentos comerciais
x n º moradores, existindo inclusive um supermercado de tamanho médio na rua Café Filho,
além de estabelecimentos de vestuário.

Na Área 3 – Horto, o hábito da grande maioria dos moradores é comprar em grandes


mercados, apesar da proximidade do comércio básico oferecido. A facilidade de comprar em
grandes mercados, localizados em bairros próximos, aliada a um nível de exigência maior com
variedade de produtos, pode estar influenciando no hábito de compra. Nesta área, a relação de
estabelecimentos de comércio básico x n º de moradores é a maior entre as três áreas. Não
existem, porém, estabelecimentos de vestuário ou supermercados. A existência de bom
número de estabelecimentos de comércio básico na Área 3, indica que o abastecimento diário
pode estar sendo feito nestes locais, enquanto as compras de maior volume são feitas em
outros bairros ou no centro.

Na Área 1 – Itanhangá, o uso do solo unicamente residencial e o hábito de andar só de


automóvel, se reflete na falta de hábito de comprar nas imediações. O reduzido número de
estabelecimentos de gêneros básicos existente na área é um reflexo, entre outras coisas, desta
falta de hábito.

Como nas Área 1 e 3 as pessoas andam mais de carro, e este facilita percursos e
paradas alternativas, as compras tendem a ser feitas no caminho para casa. Sem dúvida, a falta
da prática de compras no próprio bairro limita as possibilidades de encontros casuais, fato
confirmado pelas observações na Área 1 e, em menor proporção, na Área 3.

Para quem se locomove de ônibus, as compras são feitas, com maior assiduidade, no
início ou no fim do percurso, o que favorece a presença de pedestres nas ruas do próprio
bairro, se este possui alternativas de abastecimento adequadas.

Não foi identificada relação estatística entre o hábito de compras e a freqüência de uso
dos espaços próximos à residência, mas existe uma tendência de maior uso destes espaços se
as compras forem feitas no centro ou no próprio bairro. Como são as famílias com rendas mais
baixas (até 5 salários) as que fazem compras no próprio bairro (72,5% dos casos), a tendência
de uso dos espaços das ruas para atividades sociais é maior nesta faixa de renda.
4.4.2.4 Interação entre usuários

a) Caráter da vizinhança/ rede de relações


Foram identificadas diferenças significantes entre a percepção do caráter da vizinhança
nas áreas estudadas ( Phi, Sig = 0,00012).

Comunidade

Amizade
Área 1
Indiferença Área 2
Área 3
Isolamento

Hostilidade

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%


Figura 4.68 Percepção do caráter da vizinhança

A percepção do caráter de vizinhança das próprias áreas é positiva, na grande maioria


dos casos (75%): de amizade ou comunidade. É possível notar uma diferença de percepção
entre os moradores da área do Horto, onde uma proporção bem maior do que nas duas outras
áreas entende o caráter da vizinhança como de comunidade (38,6 %), enquanto na área da
Copatrabalho e do Itanhangá a maioria considera sua vizinhança mais como caráter de
amizade (57% e 60%). É uma pequena nuança que aponta para uma percepção de maior união
entre os moradores da Área 3, que não pode ser explicada pelo tempo de moradia, pois o
tempo de moradia no próprio bairro, entre os respondentes, não é maior na Área 3 do que nas
demais áreas. É, porém, a área onde existem mais idosos, o que pode influenciar os
relacionamentos de ligação na vizinhança.

A relação entre o uso dos espaços próximos à residência para atividades sociais e a
percepção do caráter da vizinhança é identificada (K-wallis; Sig = 0,0000). Assim, tem-se
suporte estatístico para afirmar que ‘quem usa os espaços sociais próximos às residências para
atividades sociais têm a tendência a considerar o caráter de vizinhança como de comunidade
ou de amizade’.
A grande maioria dos moradores destas áreas tem amigos no seu bairro (91% deles),
mas existem diferenças significativas entre a área em que o indivíduo mora em relação ao fato
de ter amizades predominantemente no bairro ou fora dele. (Phi, Sig. 0,00000).

Os moradores da Área 3 têm maior número de amizades fora de seu bairro enquanto

mais amizades nos outros Área 1


bairros
Área 2
Área 3
mais amizades no bairro

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Figura 4.69 Rede de relações

na Área 1 e na Área 2 a prevalência é de amizades no próprio bairro.

Quando analisada a rede de relações predominante no próprio bairro ou fora dele, com
respeito à faixa etária do usuários, não é identificada relação significativa. O mesmo acontece
com relação à faixa de renda.

A semelhança de resultados entre Itanhangá e Copatrabalho, quando o enfoque é a


influência da rede de relações no uso dos espaços públicos abertos próximos à residência,
questiona a idéia de que seja a rede de relações de vizinhança que determine o uso social da
rua, pois se este uso aparece forte na Copatrabalho, não aparece no Itanhangá. Mas,
estatisticamente, existe relação entre o fato das amizades estarem predominantemente em
outros bairros e a menor intensidade de uso dos espaços próximos à residência para
atividades sociais (observar o movimento ou conversar) (K-wallis, sig. = 0,0001). Assim,
quando a rede de relações for mais ampla, não predominante do próprio bairro, as interações
entre os moradores diminui de freqüência e a tendência é a de pouco uso dos espaços da rua
para atividades sociais (conversar ou observar).

Na Área 1, a predominância de muros altos e do uso do automóvel - que dificultam


contatos visuais e casuais - e a declaração de uma rede de relações de amizade majoritária no
próprio bairro sugerem que estas relações desenvolvem-se dentro de suas residências ou em
ambientes compartilhados, externos à Área em que moram. Muito provavelmente em locais
tais como a escola dos filhos ou clubes. Enquanto a rede de relações de vizinhança no
Itanhangá - Área 1, tende a ocorrer nos espaços privados, na Copatrabalho – Área 2, ela ocorre
em espaços públicos.

Não foi identificada relação entre a percepção de movimento de pessoas nas calçadas
com o fato de usá-las para atividades como conversar, observar ou mesmo caminhar pelo
bairro. Apesar disso, a movimentação nas ruas que acontece na Copatrabalho é evidência
suficiente de que “o que mais atrai as pessoas para os espaços é a presença de outras pessoas”
como foi dito por Whyte (1980).

Com relação à origem do usuário, não foram identificadas diferenças significativas


quanto à rede de relações serem predominantes no próprio bairro, ou não. O mesmo com
relação ao tempo de moradia na cidade.

b) Privacidade

O hábito de deixar as portas das salas abertas, mantendo, desta forma, uma ligação
direta e fácil entre o interior das casas e as ruas, é observado somente nas Áreas 2 e 3,
normalmente nas residências menores e mais simples destas áreas. Este hábito demonstra uma
necessidade de ampliar o espaço de uso da residência, mas também uma menor necessidade de
privacidade em relação à vizinhança.

Por outro lado, as soluções arquitetônicas voltadas para o interior dos lotes adotadas na
Área 1, sub-área Búzios, acompanhadas de altos muros, demonstram uma maior necessidade
de privacidade ou proteção em relação ao espaço público, mesmo sendo a vizinhança
considerada ‘amigável’ (conforme respostas aos questionários).

Estes dois tipos de solução afetam fortemente o uso diferenciado do espaço público das
ruas adjacentes à residência.

c) Conexão com o ‘lugar’

As relações de vizinhança foram apontadas como um dos fatores que afetam a


agradabilidade da própria rua para 37% dos respondentes moradores das áreas (dos que
apreciam suas ruas), e por 42% dos que apreciam o próprio bairro. Existe correlação entre os
respondentes com maioria das amizades no próprio bairro e a percepção do bairro como
agradável (Sig. 0,000; Spearman = 0,3286) e entre os que gostam do próprio bairro e o uso
dos espaços próximos à residência para outras atividades além de deslocamentos (Sig. =
0,000; Spearman = 0,2492). Considerando que o uso leva a uma conexão simbólica entre o
usuário e o ‘lugar’ (Carr, 1992: 193), quando as relações de amizade são predominantes no
próprio bairro, aumenta a conexão do indivíduo com os espaços daquele bairro, que passa a
ser sentido como um ‘lugar’.

A rede de relações tem influência na ligação com o lugar, como por exemplo na Área
2, onde os respondentes apreciam seu bairro mais pela questão ‘amizade’ (39%). Este bairro
tem uma alta predominância de amizades no próprio bairro (89%). Esta rede de relações deve
influenciar a movimentação observada nas ruas, apesar de não ter sido identificada relação
estatística com a presente amostra.

Na Área 1, o sentimento de ‘segurança’ e ‘tranqüilidade’ – aspectos de maior


apreciação no bairro - não está induzindo o uso das ruas como espaço social, nem a alta
apreciação das amizades na Área 3 (39%), na mesma proporção que na Área 2.

Com relação à origem dos usuários, não foram identificadas diferenças significativas
quanto ao fato de usar ou não o espaço público da rua para atividades sociais, o que traria uma
conexão com o lugar. Como foi comentado anteriormente, o tempo de moradia no mesmo
bairro tem relação com o uso dos espaços das ruas para atividades sociais, e, portanto,
favorece a conexão com aquele ‘lugar’.

4.4.3 Comparação da influência dos fatores composicionais sobre o uso das ruas e EPLs

O alto nível de satisfação encontrado entre os moradores das áreas estudadas é


decorrência, em muitos casos, de fatores composicionais, já que muitos respondentes
expressam um nível positivo de satisfação com seu bairro quando estão satisfeitos com as
relações de amizade. A existência destas relações pode estar relacionada a fatores físicos (por
exemplo, falta de conforto na residência) e talvez a alguma característica de certas faixas de
renda que tendem a socializar mais na própria vizinhança.
Os dados analisados são sumarizados nas tabelas a seguir, de forma a poder comparar a
relação dos fatores composicionais predominantes nos usos das áreas e dos EPLs estudados:

Tabela 4.16 Influência de fatores composicionais no uso das ruas

Área 1 Área 2 Área 3


Uso geral das ruas Fraco Intenso Médio
Uso predominante Guardas particulares Circulação/ped. Circulação/ped.
Conversas/ Roda tereré Conversas
Brincadeiras e Jogos Roda tereré
Bicicleta Brincadeiras
Nível socio-econo. Alto e Médio-alto Médio-baixo Médio

Origem migrantes Região Sul (21%) Interior do Est. ( 27%) Interior Estado (36%)
Meio transporte Automóvel Automóvel e Ônibus Automóvel
Lazer predominante Atividades na casa Atividades na casa Atividades na casa
Esportes Passear
Hábitos de compras S L Su
upermercad ojas do permercados
os bairro

Privacidade Grande Média Média


Rede de relações No próprio bairro No próprio bairro Fora do bairro
Caráter/vizinhança Positivo Positivo Positivo
Satisfação / bairro Tranqüilidade Amizade/tranqüilidade Tranqüilidade/ amizade

Tabela 4.17 Relação de fatores composicionais dos usuários, no uso dos EPLs

EPL 1 EPL 2 EPL 3


Uso geral Baixo Intenso Intenso
Uso predominante Caminhadas Esportes, Estares Skate, Bar, Caminhadas
Recreação/ infantil, Recreação/infantil, Estares
Ciclo de vida Adultos Jovens Adultos durante semana
Jovens fins-de-semana de show
Nível Media-alta ( 5 a 10 Média-baixa Média-baixa
socio-econômico e 10 a 20 sal.) (3 a 5 salários) ( 3 a 5 salários)
Origem Região sul / Região Nascidos na cidade/ Nascidos na cidade /
centro-oeste Interior Estado Interior Estado
Chegar a praça a pé a pé Ônibus / carro / a pé
Satisfação c/ EPL Muito satisfatório Satisfatório Muito satisfatório
4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos permitem estabelecer as seguintes considerações a respeito de cada


um dos fatores investigados:

Considerações em relação à influência dos fatores contextuais no uso das ruas

Adequação ambiental

• Calçadas com dimensionamentos e pavimentação adequados à circulação e com locais


adequados à permanência podem intensificar o uso das ruas para atividades sociais.

• A presença de árvores, além de afetar positivamente o nível de satisfação com a aparência,


está relacionada com a percepção de existência de bons locais para sentar nas calçadas da
própria rua. Sombreamento inadequado e pavimentação inadequada inibem o hábito de
caminhar pelo bairro, além de limitar as atividades de sentar para conversar e observar, nas
calçadas.

Aparência e agradabilidade

• A vegetação exuberante é um dos fatores que mais influencia a percepção da aparência


positiva da cidade.

• A agradabilidade do bairro influencia no uso dos espaços próximos às residências para


atividades sociais e no hábito de caminhar pelo próprio bairro. Esta agradabilidade está
relacionada com a tranqüilidade do bairro e com as amizades.

• Quanto mais as pessoas usam os espaços públicos próximos para atividades sociais, mais
acham o bairro agradável e, portanto, mais criam ligações com os outros moradores e mais
sentem-se vinculadas ao lugar.

Segurança/Controle

• A percepção de insegurança quanto ao tráfego influencia a intensidade de uso das ruas


como espaço social.
• Pouca visibilidade da rua desde dentro dos lotes reforça o uso destas ruas como espaço só
para deslocamentos, mostrando que a segurança e controle que a visibilidade proporciona
influencia a intensidade de uso das ruas para atividades sociais e no hábito de passear pelo
bairro.

Acessibilidade

• O acesso a opções para compras, estudo e lazer pode favorecer a presença de usuários nas
ruas, mas não a garante (como na Área 1, onde as escolas utilizadas pela população não
são necessariamente as que podem ser alcançadas a pé, ou mesmo estando num raio de
caminhada o hábito desenvolvido é o de ir até elas de carro).

• O contato visual (direto ou indireto) entre a rua e a casa (por exemplo, através do uso de
portas abertas para a rua), influencia o uso do espaço da rua para a realização de atividades
sociais.

Considerações em relação à influência dos fatores composicionais no uso das ruas

Ciclo de vida

• Maior incidência de crianças, adolescentes e jovens no bairro aumenta a intensidade de uso


das ruas.

Tempo de moradia

• Tempo de moradia no mesmo bairro relaciona-se com o hábito de uso das ruas para
atividades sociais.

Origem do usuário

• A origem do usuário não influencia o uso das ruas para atividades sociais.

Nível sócio-econômico

• A intensidade de uso dos espaços das ruas para a realização de atividades sociais é
inversamente proporcional à faixa de renda familiar dos usuários: quanto mais renda,
menos intenso é o uso, e vice-versa.

Meio de locomoção
• Quem costuma caminhar pelo bairro também tem o hábito de utilizar os espaços próximos
à residência para atividades sociais.

Hábitos de lazer

• A falta de opções de lazer e a falta de conforto dentro da própria casa induz as famílias de
menor renda a utilizar a rua como espaço de lazer e, com o uso, a considerá-la como uma
extensão da própria casa.

Hábitos de compras

‚ Existe uma tendência de maior uso das ruas para atividades sociais quando os hábitos de
compra são desenvolvidos no próprio bairro. Os hábitos de compras são desenvolvidos no
próprio bairro por indivíduos de menor poder aquisitivo.

Relações de vizinhança

• Quanto mais utilizado o espaço público das ruas próximas à residência, mais positivo é
percebido o caráter de vizinhança.

• A predominância da rede de relações no próprio bairro não garante o uso dos espaços das
ruas do bairro para atividades sociais, mas quando a rede de relações está mais em outros
bairros, diminui a intensidade de uso dos espaços próximos para atividades sociais.

• A rede de relações no próprio bairro ou fora dele não se relaciona com a renda familiar.

• A rede de relações tem influência sobre a satisfação com o próprio bairro, a qual está
relacionada com o uso mais generalizado das ruas do bairro.

Considerações em relação à influência dos fatores contextuais sobre o uso dos espaços
públicos de lazer

Adequação ambiental

• A falta de diversidade de atividades destinadas a adolescentes e/ou indivíduos que dispõem


de mais tempo livre e demandam espaços para atividades ativas em grupos, desestimula o
uso do EPL por estas faixas.
• Falta de atividades adequadas para todas as faixas etárias e falta de atratores que
dinamizem os espaços são fatores que influenciam negativamente o uso dos EPLs .

• A presença de ambientes de estar com mobiliário (assentos e/ou mesas), arborizados e


tranqüilos, intensifica o uso dos EPLs.

Aparência

• Nos EPLs, a aparência influencia diretamente o uso, sendo, muitas vezes, o item mais
valorizado e trazendo, quando positiva, maior número de usuários a estes espaços. A
aparência, nestes casos, está relacionada à presença de vegetação e à manutenção dos
espaços.

Segurança

• A percepção de segurança aumenta o uso de espaços abertos públicos.

• A presença de grades nem sempre garante a percepção de segurança, pois se o EPL3, por
possuir grades é percebido como mais seguro, tanto de dia como à noite, no EPL 1 a
existência de grades não garantiu a percepção de segurança noturna.

Acessibilidade

• A existência de barreiras físicas ou visuais (vias de tráfego intenso, distâncias longas para
chegar ao EPL, gradis ou cerca viva), influenciam de maneira marcante uma separação
com o entorno e inibe o uso do EPL (como é o caso do EPL 1). Num espaço
suficientemente amplo (como no EPL 3), que possua atratores suficientes para superar
estes entraves - atividades e espaços variados, amplidão e transporte público acessível -, a
existência de barreiras parece não ter uma influência tão marcante.

Considerações em relação à influência dos fatores composicionais sobre o uso dos espaços
públicos de lazer

Ciclo de vida

• A existência de crianças na família aumenta a freqüência de uso de EPLs.

Origem do usuário
• A origem do usuário influencia o hábito de freqüentar EPLs, com um uso mais intenso por
parte de pessoas originárias da região Sul do país, seguidos da região Centro-oeste, do
interior do estado do Mato Grosso do Sul e da própria cidade de Campo Grande.

Nível sócio-econômico

• Apesar dos resultados indicarem que o uso dos EPLs aumenta com o aumento da faixa de
renda do usuário, leva-se em consideração que a localização de 2/3 dos EPLs da amostra (
assim como da maioria da cidade) estão em área de nível de renda entre médio e alto. Esta
distribuição dificulta o uso dos EPLs por parte da população de renda mais baixa,
influenciando os resultados.
5. CONCLUSÕES

5.1 INTRODUÇÃO

Este capítulo apresenta a conclusão geral do trabalho. Discute o problema de


pesquisa, objetivos, métodos, conclusões sobre as hipóteses exploradas e a relevância dos
resultados, estabelecendo as implicações destes resultados para os estudos das relações
Ambiente-Comportamento e para o planejamento dos espaços urbanos.

5.2 PROBLEMA DE PESQUISA, OBJETIVOS E MÉTODOS

Esta pesquisa investigou os fatores que afetam a apropriação de espaços abertos


públicos - ruas e espaços públicos de lazer - na cidade de Campo Grande – MS, representativa
de cidades novas, com evolução rápida e recente, e com grande parte da população de origem
migratória.

O desempenho dos espaços estudados é avaliado a partir das percepções dos moradores
e usuários sobre as áreas selecionadas, e da verificação do perfil comportamental das ruas
residenciais e dos espaços públicos de lazer.

O levantamento de dados foi realizado através da aplicação de múltiplos métodos:


levantamentos de arquivos, levantamentos físicos, observações comportamentais, aplicação de
questionários e entrevistas. A análise destes dados possibilitou uma maior precisão e validade
da investigação.

O objetivo principal deste trabalho – a investigação de quais aspectos afetam mais


fortemente os tipos e intensidade de uso diferenciados dos espaços abertos públicos, se fatores
composicionais ou fatores contextuais - foi alcançado.
5.3 HIPÓTESE

Esta pesquisa permite emitir algumas considerações conclusivas a respeito das


variáveis, dos processos e dos agentes que de forma articulada e interdependente contribuem
para a avaliação de desempenho de espaços urbanos públicos abertos.

Parte da hipótese foi corroborada: “Aspectos de ordem cultural e sócio-econômica


(fatores composicionais) influenciam o uso das ruas residenciais de maneira preponderante
sobre os aspectos de ordem física das ruas (fatores contextuais).”

E parte da hipótese não foi: “Aspectos de ordem cultural e sócio-econômica (fatores


composicionais) influenciam o uso dos espaços públicos de lazer de maneira preponderante
sobre os aspectos de ordem física destes espaços (fatores contextuais).”

A análise das relações entre as características individuais dos usuários e o nível de


apropriação dos espaços públicos, e entre atributos ambientais e diferentes níveis de
apropriação dos espaços públicos, indica que os fatores composicionais de ordem sócio-
econômica afetam fortemente o tipo e intensidade de uso das ruas residenciais. Em relação aos
espaços públicos de lazer, os resultados evidenciam a forte influência de fatores contextuais
sobre o tipo e intensidade de uso.

A hipótese testada a partir da definição das variáveis contextuais (adequação ambiental


e diversidade de ofertas, aparência, agradabilidade, segurança e acessibilidade), das variáveis
composicionais independentes (ciclo de vida, tempo de moradia, origem do usuário e nível
sócio-econômico) e das variáveis composicionais dependentes, que compõem o estilo de vida
do usuário, (meio de locomoção mais utilizado, hábitos de lazer, hábitos de compras e nível de
interação entre usuários), permitiu concluir que estas variáveis afetam a imagem ambiental
percebida, a avaliação de desempenho e o nível de apropriação de espaços abertos públicos.
5.4 DISCUTINDO OS RESULTADOS

Nos espaços públicos das ruas, as atividades sociais e opcionais, como descrito por
Gehl (1987), dependem da existência de qualidades ambientais favoráveis para a permanência
e o movimento: de proteção ao crime, ao tráfego e ao clima, qualidades estéticas e um sentido
de lugar. Conforme sugerem os resultados obtidos neste trabalho, dependem, principalmente,
da falta de conforto e de opções de atividades dentro dos espaços privados e da possibilidade
de acessar, ou não, opções de atividades no espaço mais disperso de toda a cidade.

No entendimento deste estudo, a presença de certas atividades nas calçadas deve-se,


como colocou Rapoport (1987), também à percepção diferenciada entre faixas da população
de quais atividades são consideradas convenientes de se desenvolver nas calçadas, pelo
significado, positivo ou negativo, destas atividades para aquele grupo.

Na cidade, os habitantes distribuem-se em territórios diferenciados por nível social e de


renda, como afirmou Santos (1998). A pressão de uma menor renda leva os moradores destas
áreas específicas a estruturar seus hábitos de vida de forma característica, o que normalmente
induz a um maior uso do espaço público da rua para atividades sociais, confirmando a
observação de Levitas (1991) de que somente em bairros populares ou favelas, a rua é
intensamente utilizada como espaço social. Nestas áreas observa-se:

‚ Uma maior dependência da vizinhança nas questões de segurança, comum em bairros de


menor renda, como salientou Lay (1992), trazendo consigo, no entender deste trabalho,
uma menor valorização de privacidade no espaço privado em relação ao espaço público da
rua. Esta característica é observável através da predominância de fechamentos que
permitem contato visual entre o interior da residência e a rua e no uso freqüente de portões
e portas de entrada abertos para a rua, durante o dia, favorecendo o contato direto entre o
espaço público e o privado.

‚ Uma maior procura do espaço externo pela falta de conforto no espaço interno.

‚ Locomoção freqüente a pé ou de ônibus, portanto número maior de pedestres em


movimento nas ruas.
‚ Restrição de locomoção para fora do bairro (pelo custo do transporte), o que aumenta a
densidade de pessoas presentes no bairro, principalmente em horas de lazer.

‚ Domicílios com maior número de crianças ou jovens, o que aumenta o número de usuários
com tempo de lazer disponível.

Já em áreas onde predominam famílias de rendas mais altas, encontra-se um estilo de


vida, possibilitado exatamente por estas rendas, que favorece o esvaziamento do espaço das
ruas para atividades sociais:

‚ A valorização da privacidade em contraposição à vida mais pública, como exposto por


Sennet (1998), foi encontrada de forma diferenciada entre as áreas estudadas: a
necessidade de privacidade varia, além de outras coisas, de acordo com a classe social,
como foi salientado por Altman & Chemers (1989) e por Lang (1994). A adoção de
soluções de fechamento espacial que não favorecem a visibilidade e de soluções
arquitetônicas voltadas para o interior dos lotes, é um fator que, de acordo com este
estudo, reforça o uso das ruas só para deslocamentos.

‚ A percepção de inadequação da rua como espaço de atividades sociais é considerado, por


este estudo, como sinônimo desta maior necessidade de privacidade.

‚ O uso intenso, e muitas vezes exclusivo, do automóvel particular como meio de


locomoção – mesmo em casos nos quais as distâncias não o tornam necessário -, além de
diminuir a necessidade de estar na rua, demonstraram dificultar a apropriação desta para
outras atividades que não só deslocamentos, intensificada pela insegurança que as
velocidades praticadas criam, confirmando os argumentos de vários autores, como Gehl
(1987), Appleyard (1981), Crawford (2000) ou Schidt e Stahr (1979).

‚ A facilidade de acesso a locais de compras, de estudo e de lazer, que o uso generalizado do


automóvel traz, induz a uma dispersão da presença de pessoas nos espaços públicos do
próprio bairro.

Nas três áreas estudadas, a adequação dos espaços públicos das ruas e calçadas quanto
à agradabilidade, segurança, dimensionamento, pavimentação ou sombreamento, não é
suficiente para garantir o seu uso com atividades outras que não só deslocamentos, enquanto a
inadequação destas, em bairros de menor renda, não é suficiente para abortar a tendência de
uso destes espaços para atividades sociais e opcionais. No entanto, conclui-se que, nos casos
estudados, a adequação da largura, da pavimentação e do sombreamento das calçadas afetam a
intensidade de uso da rua para a realização destas atividades. Isto é, condições melhores de
adequação dos espaços das ruas, com o planejamento de espaço destinados a permanência,
favoreceriam um maior uso das ruas como espaços sociais, possibilitando o desenvolvimento
de melhores relações de sociabilidade entre os moradores de uma área, ao mesmo tempo que
contribuiriam para a criação de uma conexão mais estreita com o ‘lugar’. Dentro da mesma
preocupação, os resultados obtidos indicam que o controle de velocidades em áreas
residenciais, a exemplo dos “woornefs”, influenciaria, positivamente, o uso das ruas como
espaços sociais.

Certamente, se nos bairros destinados à população de baixa renda as calçadas fossem


projetadas de forma a comportar melhor as atividades de permanência, o retorno seria
vigoroso. Já em bairros de populações de alta renda, talvez o resultado não fosse tão efetivo, e
a dinamização do espaço das ruas tivesse que ser visto como um problema de solução mais
complexa.

Quanto aos EPLs, os resultados deste trabalho mostram que seu uso é influenciado
diretamente pela percepção de sua aparência (vegetação e manutenção) e segurança, e pela
variedade de atividades que possibilita em seus espaços. Estes resultados reforçam afirmações
feitas por vários autores, como Carr et al (1992), Lynch (1985) ou Hester Jr.(1985), sobre o
papel dos espaços públicos, como de grande importância no que se refere à busca de amplidão
espacial, ar fresco, sol, atividades físicas ou locais tranqüilos.

A necessidade humana, ressaltada por Maslow (1987), de contemplação da beleza, fica


dependente, em muitas estruturas urbanas, da existência, e acessibilidade, de praças e parques,
onde o cuidado com aspectos de desenho e o contato com a natureza estão mais presentes que
em outros espaços da cidade.

Os três EPLs estudados, sejam muito ou pouco utilizados, são considerados seguros
por seus usuários e deve-se esta percepção à presença de guardas em todas os três espaços,
somada, nos EPL 1 e 3, ainda, ao fechamento por gradis. O controle do espaço através de
acesso controlado, apontado por Newman (1973) como forma de aumentar a segurança, é, no
caso dos EPLs cercados, facilitado. Já a complementação do controle dos usuários pelo
controle exercido por guardas ou policias demonstrou ser uma necessidade nos EPLs
estudados, para que estes sejam considerados seguros.

A diversidade de atividades ofertadas foi defendida por vários autores, como Jacobs
(1967) ou Trancik (1986), como dinamizadora do uso dos espaços, e este pensamento fica
corroborado nesta pesquisa, no que se refere ao volume de uso dos EPLs. Da mesma forma, a
existência de ambientes de estar em quantidade suficiente e com mobiliário adequado para
sentar foi detectada como necessária para um maior uso dos EPLs, como havia sido apontado
por Whyte (1980).

O estudo demonstra que, em Campo Grande, tende a aumentar o uso dos EPLs entre
faixas da população de melhor renda e entre pessoas originárias da região Sul do país e da
própria região Centro-oeste, indicando uma diferença de hábitos de origem sociocultural,
influenciando o uso destes espaços.

No entanto, há indicações de que os atributos físicos dos espaços influenciem mais


fortemente a intensidade de uso dos espaços públicos de lazer do que os fatores de ordem
composicional. A relação entre possibilidades de uso e proibições de acesso limita a livre
escolha e a ação espontânea dos indivíduos, como defendido por Lynch (1991a) e minimiza o
acesso geral aos EPLs, impedindo que diferentes grupos de usuários se apropriem daqueles
espaços.

De modo geral, apesar das deficiências identificadas, a avaliação de desempenho das


ruas e EPLs estudados é positiva no que se relaciona ao indicador ‘satisfação’ – tanto os
bairros estudados quanto os EPLs são classificados como muito satisfatórios pela maioria de
seus moradores e usuários. Já no indicador de avaliação ‘comportamento’, nas ruas da Área 1
e no EPL 1, a avaliação tanto das ruas quanto da Praça Itanhangá pode ser considerada como
fraca, pois o uso observado é muito restrito nas ruas, e bastante limitado no EPL. Nas ruas
desta área, a predominância de pouca visibilidade entre casa e rua e o uso intensivo do
automóvel como único meio de locomoção, e no EPL, a falta de acessibilidade, de diversidade
de atividades e de mobiliário, demonstraram ser eficientes no esvaziamento dos espaços.
5.5 RELEVÂNCIA DOS RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES

Este trabalho procurou entender as causas de diferentes níveis de apropriação de


espaços públicos abertos, através de uma abordagem perceptiva que utilizou a satisfação do
usuário e o comportamento ambiental como indicadores do desempenho dos espaços.

A metodologia foi utilizada como base estruturadora para descrever uma determinada
situação real e a partir desta, estabelecer parâmetros conclusivos com vistas a questionar as
causas do desempenho diferenciado existente. Os métodos de caráter empírico, utilizados
neste estudo, permitiram identificar as principais características socioculturais dos usuários e
suas expectativas, e as principais características espaciais, potencialidades e deficiências de
determinados espaços públicos.

O entendimento de quais aspectos influenciam positiva ou negativamente o uso dos


espaços públicos das ruas e espaços públicos de lazer, pode ser valioso no embasamento de
tomadas de decisões que orientem a produção do espaço urbano. A visão do usuário sobre o
desempenho dos espaços é um subsídio importante para o balizamento eficiente de decisões
técnicas e políticas referentes ao planejamento e funcionamento dos espaços públicos. Através
deste conhecimento, é possível ir de encontro às necessidades reais e prioritárias da população,
propondo novos enfoques, mantendo ou renovando conceitos e criando condições para
reorientação em situações indesejáveis que existam no ambiente urbano.

Porém, é importante ressaltar as limitações deste estudo no que se refere à


complexidade da medição de todas as variáveis que afetam o comportamento do usuário nos
espaços públicos e à generalização dos resultados para outros espaços devido a limitação
relativa do tamanho da amostra.

Este estudo mostra que o uso dos espaços das ruas para atividades diversificadas que
não só deslocamentos, deve-se, primordialmente, a aspectos sócio-econômicos, que induzem a
vários hábitos de vida e percepções de adequação de uso dos espaços. Mostra, também, a
importância de aspectos de ordem física destes espaços em influenciar a intensidade de uso
dos mesmos. Portanto, se for desejável uma dinamização das ruas para atividades sociais, é
possível alcançar o objetivo, em certa medida, criando condições físicas que favoreçam o
encontro e a permanência.

Estas condições se referem a controle de velocidade de tráfego de veículos em áreas


residenciais; cuidado com a largura das calçadas, de forma que suas dimensões não
transformem todo o equipamento urbano em um empecilho à circulação; exigências quanto à
diminuição de barreiras nas calçadas (manutenção deficiente ou falta de pavimentação,
existência de desníveis, elementos diversos que diminuam muito o espaço utilizável pelo
pedestre) e maior cuidado com a presença e a manutenção de árvores de sombra nas calçadas.
Muito importante é a conscientização de que soluções que mantenham a visibilidade da rua
desde dentro do lote são mais favoráveis à sociabilidade e ao uso mais dinâmico das ruas,
além de favorecerem a segurança destas – tanto que em certas cidades, como Porto Alegre, é
proibido construir fechamento frontal de lote com muro que impeça a visibilidade. Ainda, o
incentivo de criação e manutenção de locais dentro dos bairros residenciais que sejam
estímulo para uma pequena caminhada (por exemplo, pequenos mercados e locais de lazer que
mantenham a transparência e acessibilidade à calçada) possibilitaria os encontros casuais e a
multiplicação da presença de pedestres nas ruas do bairro.

Se existe uma tendência de faixas da população com melhores rendas utilizarem mais
freqüentemente os espaços públicos de lazer, isto pode estar relacionado ao fato destes espaços
estarem, majoritariamente, localizados próximos a áreas residenciais de população de maior
poder aquisitivo, apesar do estudo apontar para uma maior necessidade de espaços públicos de
lazer em áreas de menor renda. Estes espaços, no entanto, demonstraram ser utilizados de
forma generalizada, principalmente pelos seus atributos físicos, pela presença de diversidade
de atividades e pelo grau de acessibilidade que apresentam, indicando que investimentos no
planejamento físico dos espaços públicos de lazer, embasados em conhecimento real das
necessidades da população alvo, darão retorno consistente na forma de uso mais intenso.

O presente trabalho revela e sustenta a importância do espaço aberto público e pode


fazer parte de um conjunto de pesquisas que permitam aprofundar o entendimento do modo de
vida dos habitantes da cidade, formando um acervo confiável de informações sobre as
expectativas e necessidades de seus habitantes, trazendo clareza sobre acertos e erros de
soluções existentes e permitindo avançar em propostas concretas de intervenção no ambiente
urbano.
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