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FACULDADE DE ARQUITETURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO
URBANO E REGIONAL
PROPUR
Orientador:
Maria Cristina Dias Lay, PhD
Lista de Figuras........................................................................................................... VI
Lista de Tabelas........................................................................................................... IX
Resumo........................................................................................................................ X
Abstract....................................................................................................................... XI
1.1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 01
2.1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 18
3 METODOLOGIA............................................................................................ 63
3.1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 63
4.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 96
a) Dimensionamento........................................................................................... 156
b) Pavimentação.................................................................................................. 156
c) Vegetação....................................................................................................... 157
d) Iluminação...................................................................................................... 158
e) Efeitos da avaliação das ruas sobre os usos................................................... 159
4.3.1.2 Atributos físicos dos EPLs........................................................................... 161
a) Dimensionamento.......................................................................................... 161
b) Equipamentos................................................................................................. 161
c) Vegetação....................................................................................................... 162
d) Pavimentação................................................................................................. 163
e) Iluminação..................................................................................................... 164
4.3.2 Aparência e agradabilidade ....................................................................... .. 165
4.3.3 Segurança ........................................................................................................ 169
4.3.3.1 Percepção de segurança nas ruas .................................................................... 169
4.3.3.2 Percepção de segurança nos EPLs.................................................................. 170
4.3.3.3 Segurança quanto ao tráfego........................................................................... 173
4.3.3.4 Controle visual nas ruas e EPLs..................................................................... 174
4.3.4 Acessibilidade ............................................................................................... 176
4.3.5 Comparação de desempenho das áreas e EPLs ......................................... 178
5. CONCLUSÕES................................................................................................ 201
ANEXOS:
A: Freqüências das perguntas fechadas do questionário
B: Listagem das respostas a perguntas abertas do questionário
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
As conclusões indicam que, se for desejável uma dinamização das ruas para atividades
sociais, é possível alcançar o objetivo, em certa medida (que depende especialmente de
valores relacionados com o nível socio-econômico da população atingida), criando condições
físicas que favoreçam o encontro e a permanência. Quanto aos espaços públicos de lazer as
conclusões indicam que investimentos no planejamento físico destes, embasados em
conhecimento real das necessidades da população alvo, darão retorno consistente em maior
uso.
ABSTRACT
This research aims at studying the factors that influence people’s appropriation of
open public areas – streets and public leisure places. It takes the city of Campo Grande in the
state of Mato Grosso do Sul, Brazil, for its case study. It seeks to understand the reasons for
the different levels of appropriation of open public areas by means of a perceptive approach
which takes user’s satisfaction and environmental behaviour as indicators of space
performance. This performance is evaluated from the viewpoint of the perceptions expressed
by the dwellers and users about the areas studied, and of a survey of the behavioural profile of
the areas studied.
The main goal of this study is to establish which aspects affect most strongly the types
and intensity of use of the open public areas, whether they are compositional or contextual.
Data collecting was carried out by using multiple methods: surveying existing files,
inspecting physical characteristics, observing behaviour, applying questionnaires and
interviewing. The analysis of these data enabled more precision and validity of the
investigation.
The analysis of the relationship between users’ individual characteristics and level of
appropriation of public areas and between environmental features and different levels of
appropriation of public areas indicate that the compositional socio-economic aspects strongly
influence the type and intensity of use of the residential streets. As to the public leisure areas,
results highlight the strong influence set by physical order in the type and intensity of use.
Conclusions point to the fact that if it is desirable that streets are made lively venues fit
for social activities, it is possible to reach that aim, to a certain extent (which depends
somehow on the values related to the targeted population’s socio-economic level), through
creating physical condition that favours meeting and lingering in the streets. As regards the
public leisure areas, conclusions indicate that investments on their physical planning, based on
actual knowledge of the needs of the targeted population, will, in the end, fulfil the
expectations in terms of increased use.
1. O PAPEL DOS ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS
1.1 INTRODUÇÃO
Este estudo se propõe a investigar fatores que afetam o desempenho de espaços abertos
públicos e procura determinar o grau de importância destes fatores na apropriação destes
espaços. Os conteúdos discutidos neste trabalho pretendem se constituir em uma contribuição
para um melhor entendimento das características dos espaços públicos que influenciam o seu
uso e, portanto, diretamente, a qualidade de vida urbana, traduzida na satisfação dos
moradores e na ligação destes com o ‘lugar’ em que o espaço urbano pode vir a se
transformar.
Neste capítulo, são apresentados, primeiramente, o tema sobre o qual versa este
trabalho, através de um breve histórico da evolução dos espaços públicos e de uma
classificação dos tipos de espaços abertos encontrados na literatura. A seguir, é colocada a
definição do problema de pesquisa, referente às transformações ocorridas quanto ao papel
social dos espaços abertos públicos urbanos que evidenciam as diferentes apropriações que
ocorrem nestes espaços. Posteriormente, são apresentados os objetivos da pesquisa e o
conteúdo do trabalho, através de uma descrição dos capítulos que o compõem.
Halprim (1963) classifica dois tipos de vida numa cidade - a vida pública e social,
extrovertida, que procura a inter-relação nos espaços públicos e a vida privada e introvertida,
individual, que ocorre em espaços quietos e reclusos.
Os espaços abertos e fechados alternam-se numa rede que compõe o espaço urbano e
que dá suporte à vitalidade da cidade. Tanto os espaços construídos fechados, quanto os
espaços abertos podem ser - quanto à possibilidade de acesso – classificados em domínio
público, semi-público, semi-privado ou privado. Nos espaços públicos o acesso é generalizado
e a responsabilidade pela manutenção é assumida coletivamente, enquanto que, nos espaços
semi-públicos, semi-privados e privados, o acesso é gradualmente limitado e a manutenção é
responsabilidade de pequenos grupos ou de um só indivíduo (Hertzberger, 1996). O interesse
deste trabalho volta-se para os espaços abertos públicos.
A partir de uma visão histórica, é possível notar a representação do tipo de vida pública
praticada por determinada sociedade, tanto na Ágora grega como no Fórum romano, na praça
medieval ou na praça contemporânea (Carr et al 1992).
Mais tarde, já na Idade Média, as ruas das cidades eram estreitas e densamente usadas,
local de encontro das classes altas e baixas, x onde comerciantes e residentes compartilhavam
o espaço. Este padrão de rua modificou-se a partir do século XV, com as novas idéias trazidas
pelo Renascimento que propunha amplas perspectivas visuais, maior facilidade na passagem
de veículos movidos à tração animal e uma maior fluidez no movimento de tropas militares
pela cidade. Além destes aspectos práticos, as novas avenidas que espalharam-se desde a Itália
para toda a Europa, culminando, no século XIX, com a reforma de Paris por Haussmann,
transformaram-se, em muitas destas cidades, em pontos de encontro, principalmente de
pessoas das classes mais abastadas (Munford, 1982).
A nova noção dos espaços amplos e de grande extensão foi exportada para todo o
mundo de influência européia, como o continente americano, mas nem sempre funcionaram
com o mesmo sucesso, possivelmente por não haver uma conexão direta com áreas adjacentes
de grande multiplicidade de usos e grande densidade, o que conferia aos ‘boulevards’
europeus uma vida pública vibrante (Carr et al, 1991; Pressman, 1987).
Chegado o século XX, a cidade planejada passa a ser produzida sob influência das
idéias modernistas ou funcionalistas1, que provocaram uma mudança profunda na produção do
1
Revolução funcionalista - a segunda vez, depois da Idade Média, em que as bases para o
planejamento da cidade mudaram radicalmente. A primeira mudança aconteceu na Renascença e a segunda, em
espaço urbano, principalmente até a década de 70. Pensava-se que grandes extensões de áreas
gramadas, colocadas entre os edifícios, seriam os locais óbvios para a realização de atividades
de recreação e para uma vida social dinâmica. Na realidade, passa-se o contrário, e as grandes
distâncias entre pessoas, eventos e funções, somadas a sistemas de transportes baseados no
automóvel, contribuíram, significativamente, para reduzir as atividades externas nas áreas
urbanas construídas sob a ótica modernista. A visão funcionalista introduz os grandes espaços
verdes sem função específica, a separação das funções urbanas, que demanda deslocamentos
diários de grandes distâncias, e os espaços urbanos públicos esvaziados de atividades e de
pessoas.
A cidade, produto destas idéias, é vista, hoje em dia, com muitas críticas, no sentido
de que, sem um entendimento real das necessidades e dos comportamentos humanos, foram
propostos - e construídos - edifícios isolados na paisagem, concorrentes entre si, e não como
parte de um tecido de ruas, quadras e espaços abertos viáveis, o que resultou, em muitos casos,
em espaços externos desagradáveis e de baixa utilização (Trancik, 1986; Holston, 1993).
torno de 1930, quando os aspectos fisico-funcionais da cidade passaram a prevalecer sobre os seus aspectos
estéticos (Gehl,1987, p.45).
principalmente em países do primeiro mundo, mas também entre nós, com resultados que
incentivam a continuação da busca de alternativas que tragam novamente o pedestre para os
espaços públicos (por exemplo, as ruas para pedestres em áreas centrais de muitas cidades
brasileiras).
Na Grécia e Roma antigas, as praças eram locais de assembléia dos cidadãos, onde
eram discutidas, ao ar livre, política e filosofia. Com a queda do Império Romano, decai a
importância das cidades, e a prática das discussões públicas foi, pouco a pouco, sendo
abandonada. Mais tarde, na Idade Média, as praças de mercado voltam a ser o coração das
cidades: local onde as pessoas faziam compras, ouviam as notícias, encontravam os amigos,
participavam de festas religiosas e divertiam-se vendo apresentações de artistas (Welch, apud
Ribeiro, 1996). A praça era o território próprio da cultura popular pública (Segawa, 1996), um
espaço heterogêneo, tanto em usuários como em atividades.
2
Nas antigas Assíria, Pérsia, Índia, Egito, Grécia e Roma
De acordo com Chadwick (apud Ribeiro, 1996), três estilos principais podem ser
encontrados entre os parques e praças de então: o estilo geométrico, o estilo natural e o estilo
pinturesco. O estilo geométrico pode ser encontrado tanto nos parques franceses quanto nos
italianos, e trabalha a simetria, a harmonia e um layout formal; mas, enquanto as praças
italianas usam os princípios da Renascença de geometria e proporção, os jardins franceses
buscam, através da mesma geometria, o domínio sobre a natureza e o monumentalismo. O
estilo natural ou informal – identificado com o parque inglês – dá ênfase a formas que imitam
a natureza. O estilo pinturesco tem, mais ou menos, os mesmos princípios que o estilo natural,
só que cria alguns lugares, recantos e construções mais formais, desenhados como pontos de
atração (Landsun, apud Ribeiro, 1996).
Apesar da existência, em cidades mais antigas, de alguns espaços abertos e parques que
podiam ser usados pelo público, somente no séc. XIX os parques arborizados foram
construídos para uso do público em geral. Até então, os jardins arborizados eram, na sua
maioria, de propriedade do rei, da nobreza ou da igreja. Nesta época, cresce, na Europa e nos
Estados Unidos, o ‘movimento dos parques’, que advoga a reserva de áreas públicas para lazer
e esportes nas áreas próximas aos centros das grandes cidades, de forma a melhorar as
condições de saúde da população destes centros e a promover a assimilação social (Cranz,
1982 apud Carr et al, 1992).
Camilo Sitte (1992) em seu livro do final do séc. XIX, “A construção da cidade
segundo seus princípios artísticos”, já lamentava que o urbanismo daquele século tivesse
perdido o domínio do sentido estético e social das praças antigas. Para ele, as praças são, antes
de tudo, um lugar público, como eram as praças tradicionais, que conseguiam ser um espaço
público aberto ao mesmo tempo em que eram arrumadas como o ambiente interno de uma
casa, conjugando interioridade e exterioridade no mesmo ambiente. Já nas praças criadas pelas
reurbanizações do século XIX, os espaços são considerados, por Sitte, como
superdimensionados, desérticos e sem pontos de referência – espaços impessoais e impróprios
para o uso coletivo.
Mais tarde, baseando-se nas formas das praças antigas, Rob Krier (apud Lang, 1994)
realizou estudo tipológico dos espaços abertos em termos de suas qualidades visuais
(composição espacial), classificando vários padrões geométricos que servem essencialmente
aos mesmos propósitos. Buscava identificar, nas formas do passado, os padrões de espaços
abertos agradáveis e com algum significado para os indivíduos.
Todo este processo de evolução das idéias sobre os espaços abertos públicos, não
deixou de influenciar a produção do espaço urbano para o lazer, no Brasil. A legislação
brasileira federal atual obriga a reserva de espaços públicos nas novas áreas urbanas e inclui
uma percentagem para áreas verdes. Evidentemente, a reserva é um passo inicial e a
qualificação daquelas áreas depende da vontade política dos estados e municípios ao definir o
nível de investimentos a elas destinados.
Porém, a existência de uma política para os espaços públicos de lazer dificilmente tem
sido encarada como uma prioridade para o poder público no Brasil, de acordo com Bartalini
(2000). Ao mesmo tempo, a debilidade de reivindicações organizadas por parte da sociedade,
exigindo e defendendo este direito, tem contribuído para a escassez de espaços que amenizem
gratuitamente a vida de quem mora na cidade.
O espaço público pode ser percebido como um ambiente global contínuo e seu cenário
constitui-se, de maneira mais relevante, pelo traçado das ruas e praças e pelos elementos que
as compõem; pelas fachadas, vegetação e, ainda, espaços públicos interiores (como estações
de metrô e rodoviárias, por exemplo) (Lamas, 1990).
O estudo da evolução dos espaços urbanos, apresentado no item anterior, mostra que o
traçado das ruas, um dos elementos mais claramente identificáveis da forma de uma cidade,
relaciona-se diretamente com a formação e o crescimento desta, em função da importância
básica dos deslocamentos e da mobilidade das pessoas e das mercadorias. O traçado é de
importância vital para a orientação na cidade e o sistema de transportes, que o determina de
maneira predominante. De fato, parece ser “o sistema de infra-estrutura de maior impacto na
qualidade de uma cidade e na de sua vida urbana” (Lang, 1994: 208).
As praças maiores são grandes praças que se transformam em símbolos cívicos, pela
beleza e detalhamento do projeto e/ou pela força dos eventos cívicos que costumam nelas
acontecer.
Os parques de vizinhança, ao contrário das praças maiores e das menores, geralmente
muito pavimentadas, são locais com bastante área verde que provêm o necessário contato com
a natureza e a relação com as coisas vivas.
Os parques centrais são os grandes parques verdes das cidades, utilizados para funções
nos fins-de-semana e que podem ajudar a manter o balanço ecológico, essencial à biologia
humana .
Como a maioria das cidades desenvolveu-se próxima a cursos d’água, como rios, baías
ou oceanos, as margens aparecem como espaços abertos acessíveis a todos os moradores, e
podem ser exploradas para o lazer.
Francis (1987) aponta, além destes espaços abertos tradicionais, vários espaços abertos
inovadores que desenvolveram-se nas últimas décadas, entre eles:
E, por fim, os espaços vazios, remanescentes na malha urbana, que são vistos, hoje,
como espaços com grande potencial recreacional e ecológico.
Segundo Francis (op.cit), estes espaços, muitas vezes, vêm de encontro às necessidades
da população, suprindo faltas que os espaços abertos tradicionais não têm conseguido suprir
por inteiro.
Todos estes diferentes tipos de espaços públicos abertos são utilizados pela população
de várias maneiras e com maior ou menor intensidade, num quadro geral que será descrito a
seguir.
1.3 APROPRIAÇÃO DE ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS
Segundo Carr et al (1992), o que molda os espaços públicos e a sua apropriação são as
forças que dão consistência à vida pública, sendo estas de naturezas diversas, decorrentes,
primeiramente, dos aspectos culturais, dentre os quais inclui-se as necessidades básicas
funcionais, a vida social comunitária e o sentido simbólico da vida pública. Num segundo
momento, estas forças se originam da tecnologia disponível, da estrutura física dos lugares, da
segurança, do fator da superestimulação disponível nas cidades, dos sistemas sociais, políticos
e econômicos e do grande interesse, hoje, por uma vida esportiva e saudável.
Sabe-se que cada cultura apresenta um balanço próprio entre vida pública e vida
privada. Este balanço depende da interação da realidade física, social, política e econômica da
sociedade. Mas, quando o balanço pende excessivamente para a vida privada, de modo que a
vida pública e os espaços públicos tornem-se rarefeitos para a comunidade, os moradores
podem tornar-se isolados uns dos outros (op.cit). Este isolamento é uma das características que
o senso comum mais freqüentemente relaciona com a vida contemporânea nas grandes
cidades.
Para Levitas (1991) somente nos bairros populares ou nas favelas é que as ruas
parecem manter-se, parcialmente, como local de vida pública.
3
Antigo Regime: se refere ao século XVIII, período no qual a burocracia comercial e
administrativa se desenvolve nas nações, paralelamente à persistência de privilégios feudais (Sennet,1998:67)
4
Sociedade de consumo - sociedade onde o consumo não é mais considerado como reflexo da
produção, mas concebido como fundamental para a reprodução social (Featherstone, 1997:109)
profundidade e sem separação entre o real e o imaginário. Esta particularidade pode ser
observada principalmente no âmbito dos espaços destinados ao lazer, em locais muito em voga
como parques temáticos (a privatização do espaço público), locais turísticos e ‘shopping
centers’ – onde a sensação de brilho superficial e de prazer participativo transitório é essencial
- ou na maneira distraída e fragmentada em que, por exemplo, a televisão é assistida no dia-a-
dia. (Harvey, 1992; Featherstone, 1997). Esta sociedade, de certa maneira, parece não ter mais
tempo, interesse ou possibilidade de valorizar seus ‘lugares’ e precisa cria-los prontos para o
consumo.
Considerando que o tempo disponível para lazer hoje é, para muitos, maior do que
antigamente, e que as informações do mundo chegam diariamente à casa dos cidadãos, a vida
pública parece estar relacionada muito mais à busca de lazer em ambientes abertos do que à
necessidade de contato pessoal para a troca de informações, como acontecia antigamente.
Outro raciocínio interessante é o de que o esvaziamento dos espaços públicos pode ser
decorrente da atual falta de dependência entre a pessoas. Não se necessita mais do outro para
questões de sobrevivência e de defesa, como acontecia no mundo antigo (Chidister, 1989).
Porém, para experenciar o mundo e para definir a si mesmo, o homem necessita da presença
de outros homens, necessita dos contatos humanos para manter sua sanidade mental (Levitas,
1991; Hillman, 1993). Atentando para o que chama de ‘alma da cidade’ - que está na relação
entre as pessoas, no olhar entre elas – Hillman (1993) explica a violência contra o patrimônio
construído de uma cidade como decorrência, em parte, do descuido da vida subjetiva em nível
pessoal e da comunidade. Assim, ainda são úteis e necessários os locais para o encontro, para
o contato dos olhares, para se criar a intimidade com a cidade e locais destinados ao lazer, para
relaxar - como em parques ou em banhos de mar ou de rio -, de maneira a manter a saúde
psíquica e o bem-estar na cidade.
Falando especificamente sobre áreas centrais de cidades brasileiras, como São Paulo,
Regina Meyer (em Frugoli Jr., 1999) comenta a grande vitalidade daqueles espaços,
discordando do conceito de revitalização, muito usado quando se fala de áreas urbanas
centrais: “o que não falta ali é vitalidade: é uma coisa vibrante, pulsante. Hoje o centro é tão
ou mais vital que em outros momentos. Só que está apropriado por uma classe social
diferente”. O que coloca a requalificação do centro como uma palavra mais adequada para as
propostas que busquem uma melhor adequação e manutenção daqueles espaços.
Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, é uma das cidades que
devem ao processo de interiorização do povoamento e de nacionalização da fronteira oeste
brasileira grande parte de seu desenvolvimento. Configura-se como uma cidade de bairros
claramente definidos em relação a características morfológicas e socio-econômicas: de um
lado áreas residenciais nobres com mansões, piscinas, lojas especializadas e toda sorte de
facilidades nas proximidades e do outro lado, em áreas mais distantes do centro da cidade e
servidas, praticamente, apenas por serviços básicos, os bairros residenciais populares (Ebner,
1999), lembrando, de certa forma, o quadro apresentado por Davis (1993) para a Los Angeles
dos anos 90 – cidade paradigma deste período. Neste cenário, foram observadas diferenças
marcantes de apropriação dos espaços abertos públicos entre diferentes regiões da cidade.
O trabalho foi estruturado em cinco capítulos. Neste primeiro capítulo foi definido o
tema e o problema sobre o qual versará este estudo. Uma discussão maior sobre o problema
foi abordada. Os objetivos que norteiam este trabalho foram colocados.
2.1 INTRODUÇÃO
No primeiro capítulo vimos que a existência de vida pública parece ser um pré-
requisito fundamental para o desenvolvimento dos espaços públicos. Estes espaços, criados
pelas sociedades ao longo dos tempos, servem como um espelho dos valores públicos e
privados dominantes numa sociedade (Carr et al 1992; Itelson et al 1974, em Bonnes e
Secchiaroli, 1995), assim como das transformações pelas quais estes valores têm passado. Por
outro lado, a existência de espaços públicos adequados pode ser um pré-requisito para o
florescimento da vida pública.
Para Lynch (1997), a criação da imagem ambiental é baseada no que é visto da forma
exterior e do modo como é interpretado. Isto é, resulta de um processo de percepção e
cognição do ambiente.
OBSERVADOR
(personalidade, estado afetivo, intenções,
ATRIBUTOS
AMBIENTAIS Percepção ambiental Cognição ambiental
ÎÐ
IMAGEM AMBIENTAL
ATITUDES e COMPORTAMENTO
Portanto, a avaliação de desempenho ambiental pode ser efetuada a partir das respostas
- afetivas ou comportamentais - dos usuários, que podem ser medidas através dos critérios de
desempenho ‘nível de satisfação do usuário’ e ‘comportamento’.
Lynch (1997) identificou cinco elementos básicos que estruturam a imagem mental das
cidades: caminhos (os percursos), limites (barreiras físicas), bairros (partes da cidade com um
caráter homogêneo), nós (espaços usados mais intensamente como o encontro de ruas) e
marcos (pontos de referência por se destacarem tipológicamente na paisagem, por uma
especialidade de uso ou por representarem um valor simbólico para a população). Estudos
posteriores confirmaram a estabilidade destes cinco elementos estruturadores da imagem da
cidade, entre diversas populações e lugares, apesar de existirem, dependendo do contexto
sociocultural e físico, variações na proeminência dos elementos (Nasar, 1998).
Aos cinco elementos estruturadores da imagem citados por Lynch, Passini (1992) soma
três fatores informacionais muito importantes: a organização espacial (princípios pelos quais
os espaços são organizados); o fechamento espacial (as formas exteriores fechando os
espaços) e a correspondência espacial (a continuidade entre interior e exterior dos espaços
construídos). A facilidade com que as partes de um ambiente podem ser reconhecidas e
organizadas numa imagem coerente é uma qualidade visual que Lynch (1997) denominou
legibilidade.
Ao grau de facilidade com que o ambiente evoca uma imagem forte em qualquer
observador, Lynch denominou de imageabilidade. A este conceito, o autor relacionou o
trabalho de Stern, que discutiu este atributo como aparência (Stern, apud Lynch, 1997). Lay
(1992) apresenta a avaliação da percepção de aparência visual, como decorrência de
qualidades físicas e simbólicas percebidas pelos usuários, tais como variedade das
construções, materiais empregados, nível de manutenção das edificações e dos espaços ou tipo
de atividade que acontece no espaço. Estas qualidades influenciariam no grau de
agradabilidade, afetando a formação da imagem e a avaliação ambiental dos usuários e, em
decorrência, suas atitudes em relação àquele ambiente e seu comportamento naqueles espaços.
Para Michelson (1976b, apud Nasar, 1998) os significados e imagens ambientais são,
de maneira geral, compartilhados por grupos ou indivíduos de culturas ou características
econômicas similares.
O nível de satisfação do usuário tem sido usado como critério de avaliação, apesar de
existirem diferenças de percepção entre os indivíduos: as pessoas percebem os atributos do
ambiente físico e os avaliam baseadas em certos parâmetros de comparação, especialmente
por aqueles definidos pelo que elas acreditam estar a seu alcance (Lay e Reis, 1993). A
satisfação do indivíduo com o seu ambiente é dependente da avaliação de uma série de
atributos contidos em tal ambiente e, considera-se que, ao existir um alto grau de satisfação
entre os usuários, existe um bom desempenho ambiental (Lay, 1992).
Maslow (apud Lang, 1994) argumenta que as necessidades humanas acontecem numa
hierarquia de preponderância, e uma vez que um nível básico de conforto é alcançado, a
percepção da necessidade passa para um nível mais alto. Individualmente, existem muitas
diferenças entre as prioridades relativas às necessidades, já que os valores não são ordenados
hierarquicamente da mesma maneira por diferentes indivíduos (Rapoport, 1978). Fatores
composicionais subjetivos, como tipo de personalidade, percepções, aspirações e crenças; e
objetivos, como nível socio-econômico, estágio de vida ou gênero a que pertence a pessoa,
influenciariam no estabelecimento da prioridade das necessidades (Reis, 1992). Por outro lado
os fatores contextuais – relacionados com as características físicas dos ambientes -,
contribuem para preencher estas necessidades de maneira mais ou menos adequada. Segundo
Lang (1994), quanto maior a intensidade e facilidade com que isto acontece, mais agradável
se torna o ambiente para o usuário, contribuindo para o sentimento de qualidade ambiental.
2.3.2 Segurança
Dentre estas quatro fontes, Gumbert e Drucker (1996) colocam o medo da violência
nas ruas como a causa principal que leva as pessoas a, progressivamente, ficarem isoladas em
suas casas e conectadas com o mundo através da mídia ou da rede virtual.
Parece existir, nas sociedades urbanas contemporâneas, uma obsessão por segurança
física expressa através de soluções arquitetônicas e ambientais que delimitam e reforçam as
fronteiras sociais. Este é o quadro que Mike Davis (1993) coloca como emergente na Los
Angeles contemporânea: a defesa de um estilo de vida luxuoso, através da construção de um
ambiente segregado, e mesmo de uma “resposta armada”, que mantenha a separação. Para
ele, a busca “faraônica” por segurança residencial e comercial enterra a visão de espaços
públicos, com mistura de classes e etnias, como modo de abrandar a luta de classes através da
recreação e diversão comuns. Como conseqüência, é comum se constatar o esvaziamento dos
espaços públicos nas áreas habitadas por classes sociais mais abastadas5.
2.3.3 Pertencimento
5
Muito mais nos Estados Unidos do que na Europa, quando enfocados os países de onde provêm a
maior parte da bibliografia da área de Ambiente-Comportamento.
Tuan (apud Bonnes e Secchiaroli, 1995) investigou o tema do lugar de maneira a
entender o problema de laços afetivos estabelecidos com o ambiente físico. Para o autor, os
lugares não são resultado só das características físicas do ambiente, mas produto de atos
humanos intencionais (gestos, discursos, objetos e ações), numa criação e recriação
constantes. Para Canter (apud Bonnes e Secchiaroli, 1995), o ‘lugar’ é visto como o resultado
das relações entre as concepções, ações e atributos físicos daquele local.
Proshansky (apud Carr et al, 1992) aponta as experiências vividas em espaços públicos,
especialmente as interações sociais, como contribuintes na identidade do lugar e no
desenvolvimento da própria identidade do indivíduo. Por exemplo, os espaços ligados às
recordações de infância são espaços que podem dar um sentido de continuidade através dos
diferentes estágios da vida do indivíduo. De forma que, a alta mobilidade - possível através
das atuais tecnologias de transportes e presente em grupos de maior renda - pode trazer
consigo a perda deste sentido de ‘lugar’.
2.3.4 Reconhecimento
2.3.4.1 Status
Coulson (1980) sugere, através de seus estudos, que a localização da residência numa
área de bom status e de caráter amigável, inclusive pela proximidade aos amigos, seria mais
importante na determinação da satisfação com o bairro do que a localização conveniente em
relação ao local de trabalho e às lojas.
A territorialidade faz parte do sistema com o qual o indivíduo ou grupo regula sua
privacidade. Território se refere a objetos, lugares ou áreas geográficas que podem ser
controlados por um indivíduo ou grupo, em bases permanentes ou temporárias (Altman e
Chemers, 1989). Através da definição e do controle de territórios também se regula as regras
de funcionamento social promovendo segurança, identidade, status, estabilidade social,
sentimento de pertencimento e sentido de lugar (Edney, apud Lay, 1998; Altman e Chemers,
1989).
A demarcação territorial pode se dar por barreiras simbólicas ou reais, mas o que é
importante para aumentar a segurança, no entender de Newman (1973), é a demarcação clara
de quais sejam as jurisdições públicas, semi-públicas, semi-privadas ou privadas, de forma a
estimular o controle sobre as áreas.
Segundo Maslow (apud Lang, 1994) as pessoas necessitam, em certo grau, contemplar
a beleza, mas a definição de belo está muito ligada a questões culturais e individuais. Por
exemplo, algumas culturas são mais materialistas do que outras e as necessidades de
reconhecimento podem predominar sobre a necessidade de experenciar a beleza.
Toda esta gama de necessidades humanas são demandas que os espaços públicos
podem suprir em alguma medida, como se discutirá a seguir.
Nos espaços abertos, alguns indivíduos buscam locais para relaxar, outros procuram
mudanças físicas e sociais, atividades que podem incluir a interação com os outros indivíduos,
compras, participação da vida das ruas, atividades físicas ou o simples flanar. Espaços
públicos abertos, entre outras coisas, dão acesso a ar fresco, sol e a locais tranqüilos dentro do
ambiente agitado da cidade (Carr et al, 1992; Lynch, 1985; Pesavento, 1999).
Para Hester Jr.(1989) existem hoje seis caracterizações de uso em espaços abertos.
Além de local e máquina de recreação, um item de consumo ou uma ‘justaposição’ de
diferentes funções possíveis ou necessárias. Em certos casos, fonte de recurso econômico (isto
entre as classes de baixa renda), em outros, o espaço aberto como um meio de reconecção com
o ambiente natural e com a comunidade e finalmente a topofilia – o desejo de estar conectado
com os lugares físicos através da emoção, como foi investigado por Tuan (apud Bonnes e
Secchiaroli, 1995). A topofilia se refere a sentimentos positivos em relação aos lugares. Este
autor examinou também o fenômeno que ele define como ‘sentido de lugar’, como um produto
da capacidade intencional de refletir sobre aquele lugar e, portanto, de apropriar-se dele num
nível afetivo de uma maneira auto-consciente, o que implica em uma certa distância entre o ser
e o lugar, que permita ao ser a apreciação consciente daquele lugar.
Dependendo de como se configura, o espaço público pode dar uma identidade positiva
ou negativa a uma área ou bairro, atuando como marco e símbolo, e pode possibilitar, ou
restringir, oportunidades para as pessoas, amigos ou estranhos se encontrarem e
compartilharem a experiência de estar num ‘lugar’ (Lang,1994).
Altman e Chemers (1989) apresentam três teorias sociológicas sobre a vida nas
cidades, que podem ser úteis no entendimento do papel dos espaços públicos no ambiente
urbano:
a) As teorias deterministas, para as quais o tamanho da cidade e as altas densidades
populacionais produzem estímulos que levam, freqüentemente, a respostas como
desligamento, distanciamento e menosprezo pelas necessidades dos outros. Estas teorias vêem
o crime, a doença e a desorganização familiar, eventualmente, como resultado das pessoas
estarem mais isoladas e alienadas dos outros em cidades grandes e organizadas da maneira
como o são hoje em dia, diferente de como costumavam estar em suas cidades pequenas.
Da mesma forma que a vida social nas cidades parece depender da combinação de
aspectos composicionais e contextuais, o preenchimento das necessidades humanas
estabelecidas pela vida social depende da combinação de múltiplos e complexos aspectos de
ambas as ordens. A satisfação com o ambiente, e logo, o comportamento ambiental, depende
da eficiência com que este ambiente preenche as necessidades existentes.
6
Direitos dos usuários: a liberdade de usar e se apropriar do espaço e a possibilidade de exercer
certo controle sobre o lugar. As qualidades necessárias para promover os direitos dos usuários: acessibilidade
física, visual e simbólica, liberdade de uso e possibilidade de executar algumas mudanças no ambiente.
desenvolvimento da sociedade. Assim, o nível de recursos disponíveis, a homogeneidade ou
não de valores, o grau de concentração de poder e a estabilidade relativa da sociedade e do
entorno teriam influência na valorização das diferentes dimensões.
Para Gehl (1987), os pontos chaves para a animação dos espaços públicos são
facilidade de acesso, boas áreas de permanência e possibilidade de ter alguma coisa para
fazer naquele espaço. Para este autor, atividades opcionais e sociais7 acontecem nos espaços
públicos quando as qualidades do ambiente são favoráveis para o ‘ficar’ e para o ‘mover-se’,
quando um mínimo de desvantagens e um máximo de vantagens física, psicológicas e sociais
acontecem e quando o ambiente é agradável sob todos os aspectos. Um ambiente é agradável
sob todos os aspectos quando é protegido do crime, do tráfego, do clima, tem qualidades
estéticas e um sentido de lugar - que surge quando características visuais permitem um
sentimento de que aquele é um lugar especial, único, inspirando as pessoas a permanecerem
naquele espaço. Em resumo segurança, conforto, beleza e significado.
7
Atividades opcionais, são atividades que acontecem nos espaços abertos públicos quando existe
desejo de participar, tempo e lugar para acontecer: coisas como dar uma caminhada, tomar um sol ou apreciar a
paisagem. Atividades sociais são atividades que dependem da presença de outros no espaço para acontecer:
brincadeiras, conversas, olhar ou escutar as pessoas.
O uso de um espaço aberto é um indicador crítico de seu desempenho (Lay, 1992;
Whyte, 1980).
Num trabalho clássico, “Morte e vida das grandes cidades americanas”, Jane Jacobs
(1967) já advogava um princípio máximo para a cidade apresentar-se viva e saudável: uma
densa e intrincada diversidade de usos que se sustentem e apoiem uns nos outros, tanto
econômica quanto socialmente. A diversidade de usos traz a diversidade de usuários, tanto na
rua quanto na praça pública.
Atualmente, o uso misto das áreas da cidade, das suas ruas, é advogado por muitos
planejadores urbanos. No entanto, Lang (1994) chama a atenção para o fato de que muitas
pessoas estão dispostas, e mesmo desejosas de trocar os benefícios de áreas de usos mistos
pelas áreas vistas como de maior status – áreas mais homogêneas e segregadas, que são vistas
como locais de maior prestígio. Esta escolha reflete as necessidades de auto-estima e de
reconhecimento, já comentadas anteriormente.
O uso das ruas, praças e parques para atividades sociais, opcionais ou recreacionais
apresentam particularidades que serão discutidas a seguir.
2.4.2.1 O uso das ruas
Apesar da rua poder existir como um local de permanência além de local de passagem
e de, tradicionalmente, ser reconhecida como um local de interação social, hoje, em muitos
locais, deixou de ser um lugar de permanência para ser unicamente lugar de passagem
(Sennett, 1998).
Avanços tecnológicos de toda as ordens concorrem para este quadro, mas os avanços
nas áreas de transportes e de comunicações são os mais definitivos como liberadores da
necessidade de se estar à rua para realizar muitas das atividades prioritárias da vida urbana.
Assim como as classes de renda mais altas têm maior acesso a estas tecnologias (com seus
custos), são as que podem dispensar com maior eficiência as relações de convivência de
vizinhança baseadas nas relações de dependência um do outro. Em conseqüência, as regiões
da cidade que servem a estas classes são as que apresentam menor índice de movimento nos
espaços das ruas (Rapoport, 1978).
Apesar das evidências em relação a um esvaziamento dos espaços das ruas em certas
partes da cidade, a possibilidade de ver outras pessoas nos espaços de circulação como base
para interações, amplia o senso de segurança e de pertencimento ao lugar (Lang, 1987). As
características de uso de uma área influenciam, de acordo com Jacobs (1967), a presença de
pessoas nas ruas, onde um uso misto entre residências e comércio/serviços dá maior
consistência ao movimento de pedestres, durante as várias horas do dia, do que um uso
homogêneo.
A proposta de requalificação da cidade como um objeto de desenho urbano, incluindo a
atenção aos espaços públicos, é uma resposta ao interesse crescente de muitos grupos por uma
vida de maior sociabilidade. Em muitas cidades, principalmente européias, o aumento de
tempo livre disponível na sociedade tem levado a uma adaptação de padrões da vida nas ruas:
ruas de pedestres foram criadas e a vitalidade destas, ano após ano, cresce em intensidade e
criatividade.
Por exemplo, em 1986, um estudo sobre a vida nas ruas centrais de Copenhague
revelou a triplicação das atividades sociais recreacionais em quinze anos pesquisados, nas
regiões onde foi investido esforços no sentido de incrementar a vida pública . Nesse estudo,
Gehl (1989) demonstra que a rua é o maior espaço livre da cidade e que não existe outro
espaço que, a tão baixo custo, possa oferecer tantas oportunidades de prazer a um tão amplo e
variado número de pessoas. Quanto mais as pessoas ficam na rua, mais elas se encontram, e
maior é o contato e a conversação observada.
Neste sentido foram propostos, inicialmente na Holanda e depois por outros países da
Europa, os “woonerfs”, como espaços onde se procura favorecer o uso social e recreacional
em ruas residenciais com prioridade para pedestres, com locais para crianças brincarem e
locais para sentar, mantendo o acesso veicular em baixa velocidade, para as residências. O
arranjo tem a intenção de transmitir a mensagem de que a ‘rua pertence ao morador’ e de
promover o seu uso em atividades sociais organizadas pelos residentes (Pressman, 1987),
demonstrando ser positivo, especialmente para a apropriação de um espaço maior por parte
das crianças, que são tão dependentes do espaço imediatamente próximo a suas casas
(Eubank-Ahrens, 1987) .
O sucesso das tentativas de criação de espaços abertos especiais para convívio não é,
no entanto, generalizado. No caso da limitada aplicação, das idéias do movimento norte-
americano de ‘ruas de sociabilidade’, defendido por pesquisadores de desenho ambiental,
como Donald Appleyard e Willian Whyte, que reconhecem a importância da baixa velocidade
de tráfego e da qualidade ambiental para o nível de utilização dos ambientes públicos pelos
residentes, Francis (1987b) aponta a relutância de vários órgãos do poder público em devolver
aos usuários o controle das ruas. No estudo de experiências realizadas com ruas privadas,
Francis observou que a criação destes enclaves privilegiados contribui para alargar problemas
sociais e age contra um ideal de cidade democrática com diversidade econômica e social.
Quanto ao movimento de ‘ruas de pedestres’ nas áreas centrais urbanas, funcionaria, na maior
parte dos casos, para resolver problemas de relação entre comércio e circulação de veículos,
não atendendo questões como diversidade comercial, acesso público e vitalidade das ruas, o
que poderia estar contribuindo para esvaziar aqueles espaços.
As praças e os parques servem para vários propósitos: arejar e iluminar áreas urbanas
densas, criar um núcleo para uma vizinhança, ser um local de encontro ou de prática de
atividades físicas ou, simplesmente, permitir a uma pessoa estar ao sol ou à sombra.
A natureza de uma praça pública, segundo Sennett (1998), é condizente com a vocação
de mesclar pessoas e diversificar atividades. Hoje, porém, são encontradas muitas praças
contemporâneas projetadas de maneira a negar esta vocação: são locais vazios, que servem
somente como passagem. Nelas, o autor vê expressas as limitações da vida pública
contemporânea, resultado da especialização, homogeneização e isolamento, mesmo que no
meio da multidão.
Para Chidister (1989), faz-se necessário substituir a visão da praça e da rua como locais
públicos primários da cidade por uma visão mais ampla do que seja, hoje, uma paisagem
pública e dos seus propósitos e significados para a vida das pessoas. A grande quantidade de
oportunidades para o modo de vida privado, juntamente com a fragmentação da cidade
mudaram a imagem da área central como concentração heterogênea de atividades e ponto
focal da cidade. A vida pública se fragmentou em locais especializados e estes já não mantêm
as características de heterogeneidade e livre acesso que tradicionalmente os definiam. Os
espaços públicos de lazer parecem seguir o mesmo caminho, acontecendo de modo
hierarquizado no tecido da cidade e especializando-se em servir a quem mora ou trabalha nas
proximidades.
Frúgoli Jr. (1995) relata um uso observável, hoje, em muitas praças urbanas centrais de
grandes cidades: a sua utilização com ocupações ligadas à busca da sobrevivência por uma
população excluída do mercado de trabalho formal. São atividades que vão desde o pequeno
comércio informal até a marginalidade. E, conforme esta camada da população se apropria da
praça pública, outras camadas – médias e altas – desenvolvem aversão a estes espaços e
escolhem outros para suas atividades. Esta separação entre usuários da praça pode ser
traduzida, segundo Lang (1994), como receio. Para ele, a rejeição a certos usos, em certas
áreas, vem, principalmente, da percepção quanto ao tipo de pessoa que se utiliza do local. O
medo surge, geralmente, quando alguém se depara com pessoas diferentes de si mesmo. Neste
caso, é o desconhecido que perturba o sentimento de segurança.
Mas, de modo geral, praças e parques são, hoje, vistos e utilizados principalmente
como espaços para lazer. Via de regra, são ótimos lugares para tanto, pois neles o lazer é
gratuito e pode alcançar todas as classes, categorias e indivíduos. O lazer ativo possível de
acontecer na praça e no parque, com uma participação consciente e construtiva, trabalha as
relações sociais fazendo um balanceamento com as outras formas de lazer moderno – livros,
televisão, cinema - que induzem ao isolamento e à passividade (Yurgel, 1983).
O uso dos espaços públicos de lazer parece ser grandemente influenciado pela
qualidade do espaço externo, assim como a oportunidade de falar com outras pessoas. As
conversas nos ambientes públicos podem se desenrolar entre acompanhantes, pessoas que se
encontram no caminho ou com estranhos. Porém, com estranhos é mais difícil de acontecer e
precisa de incentivo, um catalisador, algo sobre o que se falar: o que Whyte (1980) chama de
triangulação - alguma coisa acontecendo no espaço sobre a qual possa-se iniciar uma
conversação. Crianças representam um grande catalisador para toda esta dinâmica, e
proporcionar espaços destinados a atividades infantis é incentivar o uso das praças e parques
públicos de forma multiplicada.
Como foi dito anteriormente, o uso dos espaços públicos de lazer está vinculado à
resposta física ao que foi percebido dos atributos do ambiente e da satisfação com aquele
ambiente, e é afetado pelas características físicas dos espaços e pelas características dos
indivíduos que os utilizam ou deixam de utilizar.
Nesta estrutura, aparecem os atributos e ofertas dos espaços que favorecem certos
comportamentos e não outros – sejam estes atividades físicas ou mentais (Gibson, apud Lang,
1987 e 1994; Gifford, 1997). Dentre estes comportamentos estão incluídos os tipos de uso dos
espaços públicos abertos e a freqüência com que estes vão ser utilizados. Assim, para os
autores, através do estudo dos atributos físicos dos lugares onde ocorrem determinados
comportamentos, pode-se entender como estas unidades de espaço são percebidas pelos seus
usuários, dentro de diferentes estruturas culturais e para diferentes grupos de pessoas. Por
outro lado, para Lewin (apud Bonnes e Secchiaroli, 1995), o estudo dos processos de
atribuição de significado a ambientes específicos, dentro de um contexto de convenções
sociais, normas e valores culturais, complementa o conhecimento das razões para os
comportamentos nos espaços.
Os atos de andar, ficar, sentar, olhar, ouvir e falar necessitam de qualidades físicas no
espaço que os favoreçam. Por exemplo, andar demanda espaço, dimensionamento de ruas de
acordo com o fluxo de pessoas, pavimentação favorável e em boas condições, distâncias
aceitáveis e contrastes espaciais que tornem interessante a caminhada. Ficar nos locais
externos, já demanda detalhes que apresentem interesse (uma vista, pessoas ou atividades
para observar... ) - e que dêem suporte à atividade de ficar (locais para sentar, nichos, plantas,
árvores ...) (Gehl, 1987).
Como já foi dito, a rede de relações sociais pode ser afetada pela inadequação dos
espaços construídos. Por exemplo, o projeto pode ter influencia decisiva nas questões de
privacidade e, conseqüentemente, no isolamento entre os vizinhos (Coulson, 1980; Keller,
1979); ou a falta de ambientes onde as pessoas possam participar de grupos pode ser um
limitador na formação destes grupos (por exemplo, lugares próximos às residências para
adolescentes praticarem esportes ou se reunirem para conversar). Com isso, o grau de
interações face-a-face decresce e o número de ligações entre pessoas também. Lang (1994)
afirma que a cidade grande tem, proporcionalmente, menos ambientes onde as pessoas podem
participar, do que a cidade pequena, pois forças de mercado e aparentes preferências
individuais por não envolvimento levaram a instituições cada vez maiores e à
despersonalização de muitas interações entre pessoas.
Lynch (1985) define a adequação como o grau em que um espaço ou objeto se ajusta à
conduta habitual dos seus usuários e lembra que, além dos fatores fisiológicos ligados ao
corpo humano, o conforto necessário depende, intimamente, da cultura: das expectativas,
normas e formas de fazer as coisas.
Para Jacobs (1997), os elementos básicos existentes nas boas ruas são, em princípio, a
existência de lugares para caminhar com conforto (sombreadas, quando for calor; ensolaradas,
quando frio), além de calma e segurança. É interessante que a rua seja definida por
construções ou por árvores, que tenha um senso de transparência do que ocorre nos espaços
interiores, que forneça coisas que distraiam os olhos e que tenha começo e final claros.
Densidades x Dimensionamentos
8
Densidade: aqui é usada como a relação entre o número de pessoas que vivem ou usam
determinada área (Rapoport, 1975).
controle do nível de interação desejado pelo grupo. Em geral, quanto mais pessoas por unidade
de área, mais interações, ou interações em potencial existem, mas vários fatores como o
relacionamento da residência com o espaço externo a ela, o desenho da área, do bairro e
mecanismos psicológicos, culturais e sociais podem influenciar na efetivação das interações
(Rapoport, 1975).
Uma crítica a zonas residenciais pouco densas está relacionada com a idéia de que
estas seriam lugares de pouca vitalidade. Porém, Lynch (1985) indica que existem lugares
anônimos, ou lugares cheios de significado, seja qual for a densidade dos mesmos.
Espaços destinados às atividades das diversas faixas etárias, mantendo uma certa
segregação a fim de evitar conflitos e apelos, tanto para homens quanto para mulheres,
também são fatores que, segundo Cooper Marcus e Francis (1990), aumentam o sucesso das
praças e parques, como por exemplo quadras de jogos, locais para recreação informal, além do
playground, locais para caminhadas, locais para skate, áreas com permissão para bicicletas e
locais para socialização informal e para descanso.
Quanto ao playground, pode conter, além dos equipamentos tradicionais (nos quais as
crianças escorregam, pulam, balançam e sobem), equipamentos mais maleáveis, como água e
lama, muito apreciados pelas crianças e outras opções que permitam desenvolver aspectos
cognitivos, sociais e emocionais, além de possibilidades de trabalhar o sistema motor-fino, que
muitas vezes é esquecido. Oportunidades de fazer pequenas modificações e adaptações da
disposição do material, também são muito valorizadas pelas crianças (op.cit.).
A vegetação, a largura das ruas, uma certa variedade e alguma continuidade nas
edificações, além da manutenção dos espaços, são aspectos que compõem a aparência do
bairro. O balanço entre espaços construídos e não construídos, também. Nas praças e parques,
elementos como árvores, água, bancos e caminhos, as proporções dos espaços e algum tipo de
fechamento, quando sabiamente arranjados, ajudam a criar uma aparência positiva e, assim,
uma conexão também positiva com o lugar (Kaplan e Kaplan, 1998).
Lay (1992), conclui que o grau de imageabilidade do lugar - medido pelo caráter do
espaço que se expressa no grau de espacialidade do ambiente e no grau de clareza da estrutura
do lugar - somado à atratividade das construções e da paisagem, afetam a percepção da
aparência do lugar. As características morfológicas das edificações, através de detalhes que
expressem status, são valorizadas pelos usuários nas questões de avaliação da aparência. O
grau de espacialidade (adequação da quantidade de espaço disponível) e a estrutura do lugar,
expressa no grau de abertura ou fechamento do espaço (fechamento funcional mais que
fechamento físico), também o são.
a) Controle visual
9
Alguns usos são incompatíveis por causa do impacto negativo no conforto ou na auto-estima das
pessoas, por exemplo. Porém a segregação dos usos, quando desnecessária, esvazia os espaços (Lang, 1994).
Na sua proposta de espaço seguro, Oscar Newman (1973) trabalha com a idéia de um
‘espaço defensivo’ buscando uma maior segurança contra o crime num território com
aumento de oportunidades de vigilância, principalmente vigilância natural, o que criaria um
ambiente sob o controle dos residentes.
Jane Jacobs (1967) defendia o uso misto do solo e a vigilância natural das ruas em
quarteirões de dimensões curtas, como meio de trazer uma sensação de segurança a estas ruas.
Tal configuração, se mantida por bastante tempo, seria também a base para o desenvolvimento
de um senso de comunidade e de compromisso entre as pessoas, o que reforçaria ainda mais a
sensação de segurança.
Bill Hillier (1988), ao abordar o tema segurança, defende a idéia de que, quanto maior
a presença natural de pessoas, maior a vigilância natural do espaço, o que o leva a sugerir a
busca do incremento do movimento natural de pessoas nos espaços não privados. No texto em
que se posiciona contra a onda modernista de fechamento, repetição e hierarquização dos
espaços, o autor coloca algumas recomendações quanto à busca de uma rehumanização dos
espaços externos. Dentre estas, sobressaem: a necessidade da existência de linhas de visão que
permitam o reconhecimento da estrutura espacial maior, a existência de um núcleo de
integração que se relacione com todas as rotas e a existência de portas (passagens entre o
público e o privado) em todos os espaços externos ao sistema.
O ‘espaço defensivo’ proposto por Oscar Newman (1973), seria um território marcado
por barreiras simbólicas ou reais, com as áreas de influencia fortemente definidas. Através da
definição e do controle de territórios, é possível regular as regras de funcionamento social,
promovendo, entre outras coisas, a segurança dos espaços e a percepção de segurança. (Edney,
1976, apud Lay, 1998; Altman e Chemers, 1989)
2.4.3.4 Acessibilidade
10
Estimado sobre dados do IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1999 -,
levando-se em conta famílias com faixa de renda de 10 salários para cima.
11
Folha de São Paulo, 7/7/00
A importância da acessibilidade é comprovada, por exemplo, entre famílias que
possuem crianças em áreas residenciais: o acesso fácil e seguro aos espaços abertos próximos
à residência é o fator de maior peso na satisfação com a área (Appleyard, 1981, apud Lang,
1994).
A redução das distâncias, criando uma rede de caminhos mais rápidos e cômodos para
os pedestres, é vista por Peters (1979), em contraposição à cidade planejada para o uso
preferencial do automóvel, como uma alternativa para incentivar a habitabilidade e a
utilização do espaço público em bairros residenciais.
Para Hillier (1988), somado ao fator cultural, o que cria um modelo de movimento
numa cidade é função de seu padrão de integração12 e da sua inteligibilidade13, resultados da
configuração espacial urbana. O padrão dos contatos sociais e como estes são gerados está
relacionado com a maneira pela qual o plano da cidade cria um modelo de integração geral e
uma forma de núcleo de integração particular. Assim, a localização de um espaço, o seu
relacionamento com os demais espaços da malha urbana e a clareza com que é possível
entender esta relação, influenciariam no padrão de movimento e, portanto, nos padrões de uso
daquele espaço.
12
integração: medida da menor quantidade de linhas necessárias para passar através de todas as linhas de um sistema
de linhas (Hillier, 1988:69), ou seja uma questão ligações e facilidade de acesso.
13
inteligibilidade: grau no qual uma informação espacial numa linha de visão, é guia da importância daquela linha
no sistema como um todo (Hillier, 1988: 76) ou seja, a parte fornecendo informações sobre o todo.
existência de uma certa concentração de pessoas na área (Whyte,1980). Portanto, de maneira a
não ficarem desertas, praças e caminhos de pedestres devem estar localizados onde as pessoas
estão ou querem estar. De modo geral, as pessoas tendem a usar lugares bem localizados,
seguros e que forneçam níveis apropriados de privacidade e de interesses (Lang, 1994).
A faixa etária em que o indivíduo está inserido modifica sua forma de usar os espaços
públicos, pois suas necessidades, tempo disponível e preferências são diferenciadas pela etapa
no ciclo de vida em que se encontra.
Os adultos são mais móveis e independentes que as outras faixas do ciclo de vida,
podendo escolher mais amplamente os lugares onde vão passar seu tempo. Muitos adultos, no
entanto, escolhem maneiras rotineiras de viver, segregados, em muitos aspectos, do contato de
pessoas diferentes deles mesmos (Lang, 1994).
As pessoas idosas, muitas vezes, têm sua mobilidade limitada e gostam de observar as
atividades da vizinhança, pois desejam estar expostas a novas experiências mas, ao mesmo
tempo, se sentir seguras (Cranz, 1987 apud Lang, 1994).
Existem diferenças marcantes entre os estilos de vida das culturas mediterrâneas, pró-
urbanas e das culturas anglo-saxônicas, com uma tendência anti-urbana (Rapoport, 1978)
expressa, por exemplo, na cultura norte-americana através de valores como o alto nível de
individualidade, a preferência por muito espaço aberto e por alta mobilidade individual
(Zelinsky, apud Lang,1994).
Estes valores favorecem uma situação habitacional de baixa densidade, voltada para os
espaços privados. O padrão de organização familiar nuclear com interação intensiva entre
adultos e crianças, as redes de relações com amigos e não tanto com parentes e um estilo de
vida centrado na família nuclear, somados a um nível de renda elevado, resultam em espaços
segregados com grandes quintais particulares que, segundo Michelson (1976, apud Lang,
1987) funcionam bem apesar das baixas densidades que induzem. Neste caso, a demanda por
carros é grande e os adolescentes, crianças e idosos que ficam mais restritos aos ambientes
próximos às residências, são particularmente afetados pela grandes distâncias e pela falta de
mobilidade.
No Brasil, solução semelhante é escolhida por famílias de maior poder aquisitivo,
quando as questões de violência urbana permitem. Quando não, a escolha, geralmente, passa a
ser viver em grandes condomínios verticais ou horizontais, atitude que nem sempre tem
garantido a segurança buscada.
Um ambiente com casas mais próximas, onde as aberturas oferecem uma oportunidade
para a vigilância natural da rua, numa área com ocupação mista, facilitaria interações e
movimento de pedestres. Este tipo de ambiente é coerente com um estilo de vida que dê mais
ênfase às interações de grupo do que às ações individuais (op.cit).
A família nuclear se torna mais importante, quando as redes de parentes - que são as
redes básicas em muitas culturas - devido à alta mobilidade social e espacial de alguns grupos,
se torna dispersa (Lang, 1994). Este é o caso de parte da população brasileira que migra para
as novas regiões de ‘fronteira do capital’14, em busca de uma melhoria ou início de vida.
Pesquisas têm demonstrado que quando a mulher precisa trabalhar fora, o que acontece
freqüentemente nos dias de hoje, com grande influência no estilo de vida de toda a família,
aumenta a demanda por um ambiente que dê suporte físico e social à família, através de
facilidades urbanas próximas e maior infra-estrutura social (op.cit).
A influência da tecnologia
14
Fronteira de capital – novos espaços que o capital nacional busca para se expandir (entrevista
com Prof. Tito C. M. de Oliveira - UFMS)
A proliferação de verdadeiras redes de comunicação social e interativa significa que,
em alguns casos, alguns grupos sociais estão agora estabelecendo relações mais próximas via
redes eletrônicas do que via proximidade física (Gumbert e Drucker, 1996).
Reproduzindo a cidade real, a cidade virtual não inclui o grande grupo dos excluídos
no acesso à tecnologia de rede ou às informações que circulam por ela (Graham, 1996).
Somente 20% da população mundial têm real possibilidade de acesso ao mundo
informacional. A este fica mais fácil vincular-se, através das tecnologias de comunicação,
aqueles que compartilham dos mesmos interesses do que aqueles que compartilham a mesma
localização física. O mesmo não se aplica aos restantes 80% da população - em grande parte
os mesmos que não possuem automóvel particular. Portanto, para esta parcela da população, o
sistema tradicional de espaços públicos abertos – as ruas e os espaços públicos de lazer -
continua a manter seu papel primordial na construção da rede de relações.
É importante frisar que o contato humano não é abolido das suposições dos que
pensam positivamente a cidade virtual: um encontro iniciado via e-mail ou num ‘chat’, pode
ter continuidade na praça pública, ou vice-versa. Neste caso, a cidade virtual pode funcionar
como um vestíbulo para a cidade real (op.cit.).
Meio de locomoção
Além destes fatores que influenciam no estilo de vida adotado pelos indivíduos, a
vitalidade dos espaços públicos depende dos hábitos de interações pessoais adotados pelos
usuários, como será discutido a seguir.
As redes sociais que estruturam o ambiente cultural são formadas por pessoas que
compartilham regras e códigos e se unem de duas maneiras. Uma, através da faixa etária,
parentesco, etnia, laços econômicos, políticos ou religiosos. Estes grupos se localizam em
espaços específicos - que são percebidos como bairros ou territórios definidos - têm
preferências particulares, atividades recreativas, locais de atividades específicos e diferentes
estilos de vida, que incluem a maneira de usar os espaços públicos. E outro tipo de rede de
relações, que se apoia em interesses comuns, mas não depende de proximidade física para
acontecer, como é o caso de grupos sociais de maior renda com mobilidade maior, que armam
sua rede de amizades independente da localização de suas residências (Lang, 1994; Hillier e
Hanson,1984; Brill, 1989).
• O próprio uso do espaço, que pode incrementar ou restringir a apropriação daquele espaço.
15
Organização orgânica - solidariedade ou coesão orgânica - baseada na interdependência através
das diferenças, como as resultantes da divisão do trabalho (Durdkhein, apud Hillier e Hanson, 1984:18) A
solidariedade orgânica requer um espaço densificado e integrado para existir enquanto o outro tipo de
solidariedade – a mecânica- que é baseada na integração pelas igualdades de crença e valores prefere os espaços
segregados e dispersos.
• Diferenças contextuais, relativas às características físicas dos espaços, como aparência,
agradabilidade, segurança, acessibilidade e adequação ambiental.
Para alcançar os objetivos deste estudo, ruas e espaços públicos de lazer da cidade de
Campo Grande serão investigados segundo os procedimentos metodológicos definidos no
próximo capítulo.
3. METODOLOGIA
3.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo, uma breve descrição do problema de pesquisa e seus objetivos são
colocados. A estrutura metodológica é apresentada e definidas as variáveis consideradas para
avaliar o desempenho dos espaços abertos públicos.
Partindo da premissa de que existe relação entre a apropriação dos espaços, aspectos de
ordem cultural e sócio-econômica (fatores composicionais) e aspectos de ordem física (fatores
contextuais), este estudo tem como objetivo investigar quais os fatores que afetam mais
fortemente os tipos e a intensidade diferenciados de uso de espaços abertos públicos urbanos –
ruas, praças e parques. Pretende-se identificar os aspectos culturais e sócio-econômicos mais
relevantes na apropriação dos espaços públicos da cidade e o papel que a estrutura física está
desempenhando na apropriação destes espaços.
A hipótese a ser investigada pressupõe que fatores composicionais (de ordem cultural e
sócio-econômica) influenciam no uso dos espaços públicos de maneira preponderante sobre os
fatores contextuais (de ordem física).
Medir e comparar o grau de apropriação dos espaços abertos públicos – espaços públicos
de lazer e ruas - em áreas residenciais diferenciadas; conhecer o perfil comportamental de
cada espaço estudado, em relação à faixa etária dos usuários, faixa de renda e ao tipo de
atividade ali desenvolvida;
Verificar o quanto o estilo de vida (em seus vários aspectos) e a interação entre usuários
ou moradores influenciam na apropriação destes espaços;
Verificar se diferentes tipos e intensidade de uso são afetados por tempo de moradia e
origem dos usuários;
Identificar os elementos ambientais que limitam, ou que dão suporte, ao uso.
Campo Grande é uma cidade que acaba de completar 100 anos. Seu crescimento e
desenvolvimento estão ligados ao processo de ocupação do território brasileiro em direção ao
interior e, nas ultimas décadas, da “marcha modernizadora do oeste” (Cunha, 1999). Sua
história é marcada por sua localização geográfica – fica no encontro dos caminhos que ligam o
leste com o oeste e o norte com o sul do estado de Mato Grosso. A passagem da Estrada de
Ferro Noroeste do Brasil, em 1914, determinou o futuro da cidade como ligação da região
Oeste com o resto do Brasil. A transformação do centro-oeste em nova fronteira agrícola
nacional, nas décadas de 50/70, e a designação de Campo Grande para capital do novo Estado
de Mato Grosso do Sul, em 1977, foram outros fatos marcantes no processo de crescimento da
cidade. Polo regional de uma vasta região agro-pastoril pobremente habitada, Campo Grande
concentra em si a grande maioria do movimento comercial do Estado e os serviços mais
sofisticados que este oferece.
A cidade, que sempre atraiu novos moradores, teve um crescimento rápido: a partir dos
anos 40, a cada década, duplicava sua população, até a década de 70.
Se, inicialmente (no pós Guerra do Paraguai), foi povoada por brasileiros do interior,
principalmente por mineiros e paulistas em busca de terras, a pequena vila recebeu, desde o
inicio do séc. XX grande afluxo de indivíduos de origem árabe e, durante a construção da
ferrovia (a partir de 1911), de origem japonesa. Durante a década de 50/60, novo movimento
em busca de terras trouxe nova onda de migrantes, desta vez principalmente de gaúchos,
paranaenses e paulistas. A proximidade com a fronteira oeste brasileira também tem
favorecido a chegada de pessoas oriundas dos países vizinhos, principalmente do Paraguai
(Bittar, 1999).
Quando da divisão do Estado de Mato Grosso em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
(1977), o crescimento populacional de Campo Grande passa para médias de 8% ao ano, uma
das mais altas do Brasil. Atualmente este ritmo arrefeceu, mas ainda está acima das médias
nacionais. Em 1996, a cidade contava com uma população de 600.069 hab.16 , dos quais
praticamente 70% não naturais de Campo Grande. Ao mesmo tempo, a malha urbana da
cidade se expandia e pode-se ter uma idéia do seu rápido crescimento através dos mapas da
16
De acordo com a Contagem da População de 1996/IBGE.
evolução da malha (fig. 3.1), nos quais é possível notar que a explosão do tecido se dá a partir
da década de 60.
Campo Grande - que teve seu desenho de cidade definido a partir de uma planta em
traçado xadrez, com ruas largas e grande lotes - é uma cidade espraiada (fig. 3.2), com uma
área muito grande se comparada ao seu tamanho populacional, de acordo com Ebner (1999).
Para a autora, são 33.400ha de área urbana, que comportariam uma população de 2.500.000
hab. e onde vivem 600.000 hab. Isto se deve a fatores como tipologia habitacional baseada em
residências unifamiliares, tamanhos de lotes utilizados, generoso perímetro urbano e grande
quantidade de vazios dentro deste perímetro. Na área urbana de Campo Grande, predominam
baixíssimas densidades (0 a 20 hab./ha) na periferia, com um adensamento para densidades
médias (de 20 até 60 hab./ha)17 na zona central e alguns bairros que a margeiam.
17
ainda abaixo do mínimo de 80 hab./ha caracterizador de uma densidade
urbana e muito abaixo do que a ONU recomenda, 450 hab./ha.
Fig. 3.1 Evolução da malha urbana de Campo Grande
Fig. 3.2 Mapa geral de Campo Grande
Ebner (op.cit.) descreve a estrutura urbana de Campo Grande, entre outras coisas,
como de grande segregação das classes de renda alta e média em bairros exclusivos (ou quase)
destinados a suas moradias, próximos entre si e com os serviços e comércio de conveniências
também nas proximidades. A tendência de localização destes bairros é a de ocupação do setor
leste da cidade, próximo ao centro, enquanto os bairros mais populares foram ocupando as
áreas mais distantes do centro e/ou de difícil acesso.
Outros elementos muito importantes da estrutura viária desta cidade são as principais
vias de circulação da área central, que formam o mini-anel rodoviário (fig 3.2), contornando a
região central e aliviando o tráfego na área ao fazer a ligação entre os bairros.
O trânsito na cidade é violento, sendo a 7 ª pior taxa de óbitos no trânsito do país (5,8
mortes a cada 100.000 hab.), com tendência crescente deste índice quando enfocados os
últimos dez anos20. A violência na cidade tem crescido também em outro aspecto: Campo
Grande é a 9 ª capital do Brasil em homicídio contra jovens (65,3 mortes em cada 100.000
hab., quando a média nacional é de 25,9 mortes por grupo de 100.000 hab.), tendo crescido
muito nos últimos 10 anos (63,6% de crescimento), a exemplo do que vem acontecendo nas
demais capitais da região21.
18
Fonte: Perfil sócio-econômico de Campo Grande – 1998. Prefeitura Municipal
de Campo Grande
19
Calculado a partir de dados do censo 1991, IBGE
20
Fonte: Mapa da Violência II, publicado pela UNESCO e divulgado no jornal
Correio do Estado do dia 20 de agosto de 2000.
21
Idem, divulgado no jornal Correio do Estado do dia 17 de agosto de 2000.
22
Fonte: perfil sócio-econômico de Campo Grande – 1998. Prefeitura
Municipal de Campo Grande.
3.3.3 Seleção da amostra
Foram escolhidos, como objeto de estudo, três áreas residenciais da cidade, sendo a
Área 1, uma região de alto poder aquisitivo, a Área 2, um bairro popular, e a Área 3, uma
região de poder aquisitivo médio (fig. 3.3).
A escolha de três áreas com nível sócio-econômico diferenciado levou à eleição de três
áreas em locais específicos da malha urbana já que, de acordo com Ebner (1999), os bairros de
maior poder aquisitivo concentram-se no setor leste da cidade, próximos ao centro, e os
bairros populares estão em regiões afastadas do centro.
Dentro destas três áreas, foram estudadas ruas residenciais e espaços públicos de lazer.
As três áreas escolhidas são predominantemente residenciais, existindo nas três algum
comércio de abastecimento básico nas proximidades.
As três áreas possuem um EPL bem estruturado, seja uma praça de vizinhança, um
parque de vizinhança ou um parque central. Os EPLs estudados se localizam num raio de até
400m de caminhada de qualquer ponto das sub-áreas residenciais estudadas. .
Densidade
A média de pessoas por residência, que na Área 2 é de 4,1 hab./unidade, nas áreas 1 e 3
é um pouco mais baixa, de 3,6 e 3,7 hab./unidade. Somada à variedade de tamanhos de
terrenos e de tipologias por áreas, chega-se a densidades bem desiguais. Dentro das três áreas
escolhidas, as sub-áreas selecionadas para estudo mais aprofundado das ruas apresentam
densidades diferenciadas (fig. 3.4). A Área 2 (bairro popular), apresenta as maiores densidades
(103 hab./ha). A Área 1 (alto poder aquisitivo) apresenta variações: a sub-área Santa Tereza,
tem uma densidade calculada em torno de 90 hab/ha, enquanto a sub-área Búzios aparece com
uma densidade bem menor (21 hab/ha) – a menor densidade entre as sub-áreas estudadas. A
Área 3 (poder aquisitivo médio) apresenta as densidades intermediárias deste estudo, sendo a
sub-área Sargento Amaral bem mais densa que a sub-área Vila Carvalho (73 e 44 hab/ha,
Sta. Tereza
Buzios
Sub-áreas
Á rea 1
Copatrabalho Á rea 2
Á rea 3
Sargento A maral
V ila Carvalho
0 20 40 60 80 100 120
Hab/h a
respectivamente).
Intensidade de uso
Para definir as áreas e sub-áreas a serem estudadas, foram utilizadas, além das
observações preliminares, entrevistas e mapas mentais com moradores e usuários, que
demonstraram ser, os três EPLs, importantes marcos referenciais para cada área e
esclareceram as percepções de limites de sub-áreas e, em parte, o funcionamento das mesmas.
a) Área 1 – Itanhangá
A Área 1 (fig. 3. 5, pg. 76) está localizada perto da área central da cidade e tem os
mesmos limites do setor urbano Itanhangá Park, um dos treze setores que compõem a Região
Urbana denominada Centro (ver fig. 3.3 - Área 1). Ao norte e nordeste da área existe uma
região recentemente incorporada à cidade, com grandes vazios.
Caracteriza-se por ser uma região com morfologias viárias diversificadas, e tipologias
habitacionais predominantes de grandes residências unifamiliares, construídas dentro de amplos
terrenos, de dimensões variadas, normalmente fechados por muros altos. A densidade deste
setor da cidade23 é de 35 hab/ha24. Na parte central da Área 1, encontra-se uma parte da área
mais densa, com conjuntos habitacionais construídos na década de 70 e condomínios verticais
mais recentes. Mais a oeste, voltam a predominar residências isoladas em terrenos, com
dimensões menores.
23
Setor : corresponde a uma área territorial contínua que serve como base para
contagem populacional pelo IBGE.
24
Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Grande - PLANURB. População de
Campo Grande por distritos, regiões e setores: 1996.
Fig. 3.5 Foto aérea da Área 1
Fig. 3.6 Mapa geral da Área 1
As ruas são arborizadas com vegetação de grande porte, propiciando sombra e aspecto
agradável.
A leste da área encontram-se amplos lotes vazios, que se tornaram acessíveis há poucos
anos, através da continuação da Av. Fernando Corrêa da Costa. Os vazios existentes quebram
a continuidade da área com a cidade.
As ligações desta área com os outros bairros são feitas, geralmente, através de carro
particular pelas vias mencionadas e não a pé ou de ônibus. A área toda tem pouca ligação com
outras regiões da cidade através de transporte coletivo.
Dentro da área, quarteirões de grandes dimensões (como é o caso da sub-área Búzios,
fig 3.6) dificultam a circulação de pedestres.
Ruas
Nesta área, foram selecionadas duas sub-áreas (fig. 3.6), por apresentarem tipologias
residenciais diferenciadas entre si (em tamanho, nível sócio-econômico e densidade) e serem
características da área.
Da primeira sub-área fazem parte a rua Santa Tereza e adjacências (fig. 3.7). É
constituída por um grupo de sobrados inicialmente padronizados, muito apreciados pela
população, construídos na década de 70, pouco depois da construção do condomínio vertical
vizinho de 2 pavimentos – o Copamorena. Vários destes sobrados estão sofrendo
modificações, através de ampliações e reformas, destinadas a abrigar residências maiores e uns
poucos escritórios e consultórios.
A sub-área St. Tereza é mais densa que o restante da área pela tipologia de construções
adotada e tem uma densidade calculada de 90 hab./ha. A sub-área Búzios tem a densidade
baixa (21 hab./ha), semelhante à predominante no setor Itanhangá.
Espaço Público de Lazer
Este espaço público de lazer era, anos atrás, um referencial da cidade como local de
paisagem primorosa, rica vegetação e córregos naturais, com raio de abrangência de vários
bairros. O projeto paisagístico não apresenta a mesma qualidade original, mas o local continua a
ser agradável pela presença do verde e pelo contato com os córregos. Os usuários, hoje, estão
mais restritos a moradores da área.
b) Área 2 - Copatrabalho
A Área 2 de nosso estudo está localizada na região urbana do Ibirusú, dentro do setor
Santo Amaro (ver fig. 3.10, p. 80). É constituída por conjunto habitacional popular de casas
térreas isoladas, construído e ocupado na década de 70 – o Copatrabalho. Está localizada na
região Noroeste da cidade, próxima à saída para Rochedo e no limite urbanizado da cidade
(ver fig. 3.3). Seu acesso se dá através da Av. Presidente Vargas, uma via coletora de todo este
setor.
A Área 2 está bem delimitada como bairro pelo fato de ser um conjunto habitacional
com características diferenciadas das áreas adjacentes, por conta da maior densidade, data de
construção e nível sócio-econômico dos moradores. Os limites se fazem naturalmente pelas
ruas de contorno do conjunto: Av. Presidente Café Filho, rua Bacaba e Av. Presidente Vargas.
A ligação com os bairros limítrofes está prejudicada pela falta de continuidade entre as ruas
da Copatrabalho e as do Sto. Amaro. A ligação com os demais bairros e com a área mais
central da cidade é feita pela rua Yocuama ou, na grande maioria dos casos, pela Av.
Presidente Vargas, de ônibus, automóvel, ou mesmo a pé, no caso de deslocamento para
bairros adjacentes.
Ruas
A região do Horto Florestal (fig. 3.15, pg.84) está situada parte no setor urbano, Vila
Carvalho, e parte no setor urbano, Amambaí, na região urbana do Centro. Localiza-se no
limite do setor Centro (ver fig. 3.3; pg. 72), a região mais antiga da cidade.
É atravessada por algumas das principais vias de circulação do centro: a rua Calógeras
(rua de comércio intenso no setor de reposição de peças), Av. Ernesto Geisel (rua do córrego),
Av. Fernando Corrêa da Costa (rua do córrego) e rua 26 de Agosto (por onde passa grande
número de linhas de ônibus). É constituída de bairros de classe média antigos, com padrões de
parcelamento que trouxeram taxas de densidades maiores do que a média da cidade.
Fig. 3.15 Área 3 (foto aérea)
A Vila Carvalho tem densidade média calculada em 43 hab/ha, com residências térreas,
isoladas, em vários casos com generosos quintais (fig. 3.17). As ruas percorridas são
predominantemente residenciais (com exceção de uma quadra na Av. Noroeste), mas o bairro
apresenta-se permeado por áreas de uso misto (pequenos serviços e comércio ao lado das
residências).
A Área 3 apresenta limites bem definidos entre as partes, sub-áreas estudadas, e entre a
área toda e outros bairros, o que foi levantado através dos mapas mentais. O Parque Horto
Florestal faz parte do limite norte da área.
Estes limites são também barreiras que, de certo modo, dificultam o contato com as
áreas adjacentes, já que são ruas de tráfego intenso, largas e, no caso da Noroeste e da Ernesto
Geisel, com as barreiras adicionais dos trilhos ou do córrego, ambos com passagens
esporádicas. Não fossem estas barreiras, os bairros próximos seriam facilmente alcançados a
pé.
Inaugurado em 1995, o parque Horto Florestal (fig. 3.19) está localizado na área mais
central da cidade. Ocupa um espaço aproximado de 48.000m2. Este é o parque melhor
estruturado e mais dinâmico da cidade.
O Horto Florestal é um parque com uma atividade programada intensa e é usado por
pessoas de toda a cidade, mesmo de bairros distantes. Sua reserva de árvores de grande porte é
valiosa como local que propicia tranqüilidade perto do centro.
Neste estudo, foi usada uma combinação de levantamentos de arquivo, mapas mentais,
entrevistas, levantamentos físicos, observações comportamentais e questionários com o
objetivo de cruzar as informações dos diferentes métodos e dar maior respaldo às análises.
Foram coletadas informações sobre a configuração das áreas residenciais e dos EPLs,
o histórico destas áreas e as densidades existentes.
Através das plantas e de fotografias aéreas, foi possível estabelecer a configuração das
áreas, entendida a estrutura viária, a relação entre espaços construídos e vazios urbanos.
3.4.2 Entrevistas
Numa segunda etapa, foram realizadas entrevistas informais com os usuários, durante e
após a aplicação dos questionários, com o objetivo de esclarecer sentimentos e motivos para
certas atitudes.
No decorrer dos levantamentos de dados ‘in loco’, as declarações dos usuários sempre
foram levadas em conta e anotadas quando referiam-se a pontos que não eram contemplados
nos questionários. Desta forma, coletou-se uma série de informações que esclarecem mais a
rotina de uso daqueles bairros. Após a aplicação dos questionários e das observações
sistemáticas, foram feitas entrevistas com alguns usuários para esclarecer as razões de algumas
atitudes que aquelas técnicas não puderam esclarecer.
Foram aplicados mapas mentais e entrevistas informais com usuários dos EPLs
escolhidos e/ou com moradores do entorno destes (num raio de 400m – um raio confortável de
caminhada), de forma a esclarecer a dinâmica da região.
Foram realizados cinco mapas por área. Estes foram sempre acompanhados de
entrevistas informais, que complementaram as informações. Os mapas ajudaram a definir os
limites das áreas de estudo e a escolha das ruas que seriam estudadas mais profundamente. As
informações preliminares, levantadas através das entrevistas e dos mapas, serviram de apoio
para a elaboração dos questionários que seriam aplicados posteriormente nestas áreas.
3.4.4 Levantamento físico
Tendo como base as plantas das ruas e praças e as fotos aéreas, os espaços abertos
selecionados foram levantados com o objetivo de produzir plantas atualizadas das áreas.
Foram levantados: vegetação de porte, tipo de pavimentação e barreiras físicas existentes nas
vias de pedestres; a largura das calçadas, o fechamento espacial, o tipo de contato visual
existente entre o interior dos lotes e a rua e entre o interior da residência e a rua
(correspondência espacial), os locais destinados para sentar e a iluminação. Os registros em
planta baixa foram digitados nas plantas bases das áreas, através do software Autocad, e
usados no cruzamento de informações quando da análise dos dados.
Numa primeira etapa, foram efetuadas observações preliminares para definir as áreas
de estudo. Depois de conhecer melhor as características particulares das áreas, definiu-se a
amostra e, finalmente, foram feitas observações a fim de reconhecer os comportamentos mais
marcantes nos espaços públicos e os horários de maior intensidade de uso. A partir destas
observações, foi possível montar uma estratégia para a segunda etapa das observações, com
horários e os percursos definitivos já definidos. Determinou-se dois períodos diários para a
observação dos espaços. Um, no período da manhã e outro, no fim de tarde, que foram os
momentos de maior intensidade de uso observado nas ruas daquelas áreas.
Os usuários dos espaços foram observados levando-se em conta sua faixa etária: (a)
crianças (até 13 anos); (b) jovens (de 14 a 19 anos); (c) adultos (de 20 a 60 anos) e (d) idosos
(acima de 60 anos).
Numa segunda etapa, os dados foram coletados de forma sistematizada, durante os sete
dias da semana, durante duas semanas consecutivas. As observações ocorreram no inicio do
verão, quando as temperaturas são altas (como o são durante praticamente o ano todo), e num
período em que aconteceram diversos dias com chuvas de verão. Foram feitas observações em
duas áreas, (1 e 3), durante o mês de dezembro de 1999, antes do término do ano escolar. Pela
dificuldade de realizar as observações nas três áreas no mesmo período (grande distância das
áreas e tempo necessário para anotar as observações), na Área 2 as observações foram feitas
durante o mês de janeiro de 2000, durante as férias escolares.
3.4.6 Questionários
Os questionários foram aplicados diretamente pela pesquisadora, aos usuários das áreas
selecionadas que se dispusessem a respondê-los. O tempo médio de preenchimento do
questionário ficou entre 20 e 30min., o que foi considerado como excessivo por alguns
respondentes, principalmente entre os moradores e usuários das ruas.
Ocupação/Profissão
Nível sócio-econômico
Respondentes com as mais altas faixas de renda aparecem mais na Área 1, onde 37%
dos moradores têm renda entre 5 e 10 salários e 33%, entre 10 e 20 salários, sendo a única das
áreas onde 10% dos moradores têm renda familiar maior que 20 salários. Apesar dos dados
obtidos através dos questionários, deduz-se, pelas características tipológicas das moradias, que
mais famílias da Área 1, do que as que declararam, tenham renda superior a 20 salários. A
Área 3, onde 70% dos moradores têm renda familiar de 5 a 10 salários, apresenta níveis de
renda intermediários entre as três áreas. As rendas mais baixas estão na Área 2, onde 50% dos
moradores têm renda familiar de 3 a 5 salários mínimos.
Origem dos moradores
Sobre a origem dos respondentes: 36,7% nasceram em Campo Grande e 26,3% vêm do
interior do estado, na maioria dos casos (55%) há mais de 10 anos. As regiões de origem mais
representativa, fora do Estado, são a Região Sul, (de onde vieram 13% dos respondentes) e a
Região Sudeste, (de onde provieram 11%); 40% dos sulistas chegaram entre 5 e 10 anos atrás
e 40%, há mais de 10 anos. Da região Sudeste, 53% vieram há mais de 10 anos (fig. 3.20).
Outras regiões
Nordeste
Região Centro-oeste
Área1
Região Sudeste Área 2
Área 3
Região Sul
interior MS
sempre morou CG
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%
Existe uma significativa diferença entre as três áreas quanto à origem de seus
moradores (Phi, Sig. = 0,02296). Nas Áreas 2 e 3, a grande maioria dos respondentes
moradores sempre morou na cidade de Campo Grande ou veio do interior do Estado, há mais
de 10 anos. Diferente destas, na Área 1 a maioria das pessoas veio de outras regiões, também
predominantemente chegadas há mais de 10 anos.
Sendo assim, o perfil dos moradores das três áreas caracteriza-se predominantemente
por ser o de moradores antigos (mais de 10 anos), vindos ou das regiões Sul ou Sudeste (mais
na Área 1), ou pessoas que sempre moraram na cidade ou chegaram do interior do Estado há
mais de 10 anos (mais nas Área 2 e 3).
Intervalos Correlação
0,0 a 0,3 Fraca
0,3 a 0,5 Moderada
0,5 a 0,7 Forte
0,7 a 0,9 Muito forte
0,9 a 1,0 Excepcional
adaptada por Kohler (1999)
25
Testes não-paramétricos, ou de livre distribuição, não dependem de formas
precisas de distribuição da amostra. Permitem inferências, independentemente das
características de distribuição da freqüência dos dados (Reis e Lay, 1995).
ANÁLISE DO DESEMPENHO DOS ESPAÇOS ABERTOS PÚBLICOS
4.1 INTRODUÇÃO
A Área 1(fig 4.1) é uma zona residencial estudada através de duas sub-áreas de
diferentes características morfológicas e sócio-econômicas: sub-área Búzios e sub-área Sta.
Tereza. A primeira, com alto nível de renda familiar, e a segunda, com renda familiar média –
alta e média.
A rua Chaadi Scaff (fig. 4.1 e 4.7 a), com 12 m de largura, separa as duas sub-áreas,
apresenta volume elevado e velocidade intensa de tráfego e atua como barreira entre a sub-
área Sta. Tereza, o polo comercial e a Praça Itanhangá. O interior da sub-área Búzios constitui-
se de uma única rua de 500m de comprimento, sem cruzamentos, tornando a acessibilidade
funcional limitada ao polo comercial e à Praça Itanhangá.
A área tem pouca ligação com outras regiões da cidade por meio de transporte coletivo,
sendo altamente generalizado o uso de automóveis pelos residentes. As linhas de ônibus
passam pela rua Joaquim Murtinho, onde está localizado o comércio básico (padaria, açougue,
revistaria, farmácia e lanchonetes) e estabelecimentos de maior porte, próximo à rua Chaadi
Scaff. Este pequeno polo comercial localiza-se, aproximadamente, a 300m da sub-área Sta.
Tereza e a 800m da sub-área Búzios.
Fig. 4.1 Área 1 - Itanhangá – levantamento físico
Esta área possui, ainda, uma escola particular de 1 º e 2 º grau ao lado da Praça
Itanhangá. Nos bairros vizinhos de São Bento e Bela Vista, existem outras escolas com toda a
grade curricular26.
Figura 4.2 Residência típica: Búzios Figura 4.3 Residência típica: Sta. Tereza
26
Todas as séries do ensino fundamental e médio.
O fechamento espacial predominante, feito por muros altos (acima 2m), impede a
continuidade espacial entre dentro e fora do lote (fig. 4.4). Na sub-área Búzios, mesmo quando
o fechamento é por gradil, as soluções arquitetônicas não favorecem o contato visual com a
rua. Na sub-área Sta. Tereza, quando o fechamento é feito por gradis (50% dos casos), a
solução arquitetônica adotada, de janelas da sala e quartos voltadas para a rua, permite o
contato visual entre o interior da casa e o espaço público (fig. 4.5).
Figura 4.4 Fechamento espacial: Búzios Figura 4.5 Fechamento espacial: Sta.Ter.
Os usos
De acordo com as observações sistemáticas efetuadas nas duas sub-áreas, as ruas são
muito pouco utilizadas para atividades sociais e são raras as pessoas caminhando (52% dos
respondentes moradores da área só usam a rua para deslocamentos – em grande parte de
automóvel – e somente 6% utilizam as calçadas para conversar com vizinhos).
Fig. 4.7a Mapa Comportamental das ruas Área 1, parte da tarde
Fig. 4.8b Mapa comportamental das ruas Área 1 –parte da manhã
Não foram observadas crianças brincando pelas calçadas (somente 5% dos moradores
respondentes da área permitem que crianças brinquem nas calçadas).
Dos respondentes moradores desta área, 27% afirmam utilizar as calçadas para roda de
tereré27, apesar de tal comportamento não ter sido constatado durante os períodos de
observação.
As poucas pessoas encontradas nas calçadas desta área são, na maioria, homens
trabalhando como guardas particulares em pontos estratégicos e empregados domésticos
lavando as calçadas. No período da manhã, foram observados somente adultos e, no período
da tarde, algumas crianças e adolescentes caminhavam na sub-área Santa Tereza, e, em menor
quantidade, na sub-área Búzios.
As pessoas em estado de
permanência estão localizadas nas
proximidades de seus locais específicos de
trabalho (na frente ou próximos a casa que
guardam) e sempre procurando a sombra
da árvore mais próxima (fig. 4.8).
27
Tereré: bebida de origem indígena, semelhante ao chimarrão, tomada
com água gelada.
Figura 4. 8 Permanência: Guardas particulares
As passagens de pedestres entre a rua Búzios e a Caioás (fig. 4.9), onde foram
observados problemas de erosão e falta de calçamento, e entre a rua Búzios e a rua sem saída
Puriú (fig. 4.10), são ladeadas pelos muros laterais das residências, não possuem iluminação e,
nelas, não foram observados usuários.
O conjunto habitacional configura-se por uma rua central de acesso – a Av. Florestal –
que concentra o comércio local, os pontos referenciais do bairro e a distribuição do transporte
coletivo, e por ruas secundárias residenciais (fig. 4.11), de pequena distância até a rua
principal, o que favorece a locomoção a pé pelo bairro. A ligação com o centro da cidade é
muito clara, através da Av. Florestal e da Av. Presidente Getúlio Vargas, por duas linhas de
ônibus que percorrem as mesmas vias onde os moradores motorizados circulam
preferencialmente.
Figura 4.11 Levantamento físico Área 2
Foram constatados alguns casos de subdivisão dos lotes resultando em mais de uma
residência por lote e aumentando a densidade da área. Quando os acréscimos não tomaram todo
o terreno, laterais, fundos ou recuo frontal formam pequenos pátios, geralmente pavimentados.
Apesar das dimensões da Av. Florestal (15m de largura, com canteiro central), o
movimento de veículos não interfere como barreira viária.
O contato visual desde o lote com as calçadas é feito através dos gradis e, em muitos
casos, através das portas das salas que são conservadas abertas (fig. 4.13).
Figura 4.13 Porta aberta para a rua Figura 4.14 Cadeiras varandas /abrigos
Figura 4.15 Barreiras físicas temporária Figura 4.16 Barreiras físicas permanentes
Os usos
As observações na área Copatrabalho mostram uma alta freqüência de uso das ruas e
calçadas. É grande o número de pessoas caminhando, conversando, sentadas ou não, pessoas
jogando (cartas, bola, taco), tomando tererê, passando de bicicleta e crianças brincando nas
ruas perpendiculares à Av. Florestal.
Os mapas comportamentais (fig. 4.17a e 4.17 b) das observações feitas na área nos
períodos da manhã e tarde são apresentados a seguir:
Fig. 4. 17a Mapa Comportamental Área 2 - tardes
Fig. 4.17b Mapa comportamental Área 2 – manhãs
Por ser a rua comercial e por onde passam os ônibus, a Av. Florestal apresenta um
movimento intenso de pessoas caminhando durante as horas de pico. São observadas atividades
como andar de bicicleta e sentar em bar ou similar. Nesta rua, muitas pessoas andando com
pequenos pacotes de compras nas mãos e, ainda, crianças com pacotes são freqüentemente
observadas, apontando para o hábito de compras na própria área.
Nas ruas residenciais, nota-se maior freqüência de atividades tais como sentar para
conversar e olhar o movimento – em cadeiras ou na própria calçada –, cuidar de crianças,
(fig. 4.18) ou brincar (fig. 4.19) , todas atividades relacionadas à frente das casas.
Figura 4.18 Sentando nas calçadas Figura 4.19 Brincando nas ruas
Nota-se que a existência de sombra na calçada favorece a escolha do local para sentar,
mas a sua falta não é empecilho definitivo para tanto, já que foram observadas várias pessoas
sentadas também ao sol.
As observações desta área foram feitas durante as férias escolares o que leva os
estudantes a terem mais tempo para freqüentar os espaços públicos. Porém, a presença de
adultos também é marcante. Dentre as três áreas, esta é a área com maior proporção de
crianças, adolescentes e jovens por domicílio.
O aspecto geral desta área lembra uma cidade do interior, com um ritmo de vida mais
relaxado e os relacionamentos de porta revelam-se visíveis nas observações efetuadas.
A Área 3 – Horto (fig. 4.21), localiza-se muito próxima ao centro, com distribuição de
usos comerciais e de serviços nas proximidades, de tal forma que podem ser percorridos a pé
desde as residências. Chega-se ao centro com uma caminhada de 10 minutos e ao parque
Laucídio Coelho (local de feiras agropecuárias tradicionais na cidade) com outros 10 ou 15
minutos de caminhada no sentido contrário ao centro. A proximidade de pontos de ônibus por
onde passa a maioria das linhas da cidade, também favorece os deslocamentos.
Desta área, foram escolhidas duas sub-áreas residenciais, diferenciadas por densidades,
tipo de loteamento e época de ocupação: Vila Carvalho e Sargento Amaral.
Figura 4. 21 Levantamento físico da Área 3
As duas sub-áreas estão separadas pela Av. Noroeste que atua como barreira física,
tanto pela largura (35m) quanto pelo canteiro central (de15m) ocupado pelos trilhos da
ferrovia, que é acidentado. A passagem de veículos entre as sub-áreas é efetuada somente pela
rua Henrique Vasquez.
A área possui escolas públicas e particulares dentro da própria Vila Carvalho, e nos
bairros próximos. Escolas tradicionais do centro estão ao alcance com uma rápida caminhada.
Na Vila Carvalho as casas são geralmente de alvenaria (fig. 4.22), mas encontram-se
alguns exemplos de casas de madeira. Muitas são construções antigas para os padrões da cidade
(até década de 40/50), de acabamento simples e individualizado.
Figura 4.22 Residências típicas: Vila Carvalho
Usos
Apesar da conveniente localização do comércio local, os moradores desta área não têm
o hábito de fazer compras no próprio bairro (só 2% dos respondentes moradores o fazem). A
proximidade ao centro e a versatilidade de opções que este oferece parece atrair mais os
moradores da área para as compras (27%).
Sobre o tipo de uso que acontece nas ruas por parte dos moradores da área, as respostas
dos questionários indicam que mais da metade usa a rua para conversar com amigos (57%) e
muitos participam de rodas de tererê (45%).
De modo geral, nesta área, as pessoas tendem a se reunir no espaço público das ruas
mais nas barracas da feira-livre, a estar por perto de pontos de comércio básico (mercearia,
açougue ou padaria) e a sentar em frente à própria casa, sozinhos ou em grupos pequenos (fig.
4.27 e 4.28), para tomar tereré, conversar ou cuidar de crianças.
Na tabela abaixo estão sintetizados alguns dados das observações realizadas nas áreas:
Tabela 4.4 - Contagem de pessoas presentes nas ruas das três áreas
Só deslocamentos
Passeios à pé
Área 1
Brincadeiras Área 2
Roda de tererê Área 3
Conversar
Sentar à sombra
nunca usam
Área1
esporadicamente Área 2
Área 3
usam bastante
A maior parte dos respondentes moradores da Área 2 – Copatrabalho (56%) usam estes
espaços com freqüência, já a maioria dos respondentes da Área 3 – Horto (54%) usam os
espaços esporadicamente. A freqüência pode, na Área 2, ser diária, pois, nas entrevistas, ficou
claro que, ali, é hábito comum chegar do trabalho ou da escola, tomar um banho e sair para a
rua, o que não acontece nas duas outras áreas.
Na Área 1 – Itanhangá, o uso dos espaços próximos à residência para atividades sociais
é esporádico (por 49% dos respondentes moradores). Somando-se este fato ao dado de que a
maioria só usa a rua para deslocamentos (57%), e não para outras atividades, e que os
deslocamentos, na grande maioria das vezes, é feito de automóvel, explica-se o baixo uso
observado destas ruas.
Uso (relação nº Baixo (1,16) Baixo (1,07) Alto (2,20) Médio (1,90) Médio (1,72)
pessoas nº res./ tab.
4.8)
Visibilidade p/ rua média baixa alta alta alta
O fluxo de veículos, com intensidade semelhante dentro das diversas áreas, assim
como a largura das ruas e das calçadas, não estão diretamente relacionados à intensidade de
uso das ruas para atividades sociais.
A presença de árvores de sombra não é uma condição suficiente para garantir o uso
das ruas, pois a sub-área Búzios tem um dos melhores índices de arborização e o menor índice
de uso. Já a Área 2, nas ruas laterais tem um dos menores índices de arborização e o maior
índice de uso. Porém, os locais com sombra tendem a ser mais utilizados.
Foi observada grande quantidade de pessoas sentadas nas varandas para observar o
movimento das calçadas nas Áreas 2 e 3. O hábito de sentar na varanda, mais do que na
calçada, é mais freqüente na Área 3, enquanto que levar cadeiras para a calçada, ou sentar na
própria calçada, é mais observado na Área 2. Na Área 1, varandas com acesso visual para as
calçadas são raras.
A proposta expressa no projeto dos três espaços públicos de lazer (EPL) estudados é
diferenciada. O EPL 1 – Praça Itanhangá tem uma proposta de lazer passivo, com
predominância de área relvada, jardins, espaços de contemplação, relaxamento e caminhadas.
O EPL 2 – Praça Copatrabalho foi planejada para esportes e encontros da população local, e o
EPL 3 – Parque Horto Florestal, planejado e administrado como um grande espaço público da
cidade, com diversidade de atividades diárias e de eventos especiais.
O raio de influência destes EPLs parece estar relacionado a sua localização na cidade
(em função da acessibilidade), ao seu tamanho e às atividades desenvolvidas. Com exceção do
parque Horto Florestal que, além dos bairros adjacentes, serve à cidade inteira, as praças
Itanhangá e Copatrabalho servem ao próprio bairro e aos bairros próximos. O número de
moradores a que estas duas praças atendem é bem diferenciado, considerando-se um raio de
caminhada confortável (500m): número de possíveis usuários expressivamente maior na Área
2 do que na Área 1, (pelo menos três vezes mais), sendo que a Praça Copatrabalho possui
metade do tamanho da Praça Itanhangá.
As ruas Joaquim Murtinho, a Chaddi Scaff e a Av. Fernando Corrêa da Costa (com o
córrego central dando poucas oportunidades de passagem) (ver fig.4.1 na pg. 98 e fig. 3.6 na
pg.77), todas com fluxo intenso de veículos, configuram-se como barreiras para chegar ao
EPL.
Se por um lado, a falta de ligação com demais bairros da cidade, através de transporte
coletivo, desestimula o uso do EPL por quem mora um pouco distante, a sua localização em
relação ao bairros mais centrais da cidade, próxima à vias estruturais de circulação rápida
como a Av. Fernando Corrêa da Costa, facilita a chegada a ele por automóvel .
Fig. 4.31 Levantamento físico da Praça Itanhangá
A frente leste do EPL, paralela à Chaadi Scaff, não oferece uma visibilidade clara do
interior para o transeunte, pela existência de uma cerca viva já alta que impede a
transparência.
A maior parte deste EPL é revestida por gramados ou outro tipo de forração e sua
proposta paisagística de aproveitamento dos aspectos naturais do sítio, inclusive na manutenção
do relevo levemente inclinado, o transformam num jardim público.
O córrego Vendas (fig. 4.33) corre num leito profundo, limitado por taludes de 2m; ele
apresenta problemas de limpeza e, atualmente, nenhum aproveitamento de suas potencialidades
idílicas.
Os estares sombreados formados
pelos pergolados, oferecem lugar para
sentar (fig. 4.34). O número de bancos
existentes no EPL reduz-se a seis.
Possui um espaço destinado a atividades múltiplas, com um palco aberto circundado por
gramado. Este EPL não possui sanitários.
O bar existente ao lado norte do EPL1 antigamente se interligava a este através de uma
ponte de madeira sobre o córrego. Como, atualmente, a ponte não existe mais, torna-se
impossível a apropriação do EPL pelos numerosos freqüentadores do bar
Observa-se que este EPL está bem cuidado nos aspectos de limpeza, iluminação e
segurança; porém, o parquinho infantil, com piso de areia, possui poucos brinquedos para o
seu tamanho, falta de manutenção dos brinquedos existentes e pouca sombra. Além disso,
cercado, sua entrada está localizada próxima ao portão do EPL que nunca é aberto, numa área
que fica muito isolada do restante do EPL.
Neste EPL, é proibido o acesso de
brinquedos como skate, bicicleta ou patins,
atividades que envolveriam adolescentes
(fig. 4.36). A falta de espaço destinado a
skate é uma das reclamações levantadas
através das entrevistas.
Figura 4.36 Placa de proibições
A Praça Itanhangá é bem iluminada, com postes de 4m sob as árvores e postes mais
altos, de 8m. A pista é iluminada, também, com uma iluminação auxiliar de 0,80cm, em placas,
colocadas ao longo de todo o percurso da pista.
Os usos
Porém, a partir das entrevistas, mapas mentais e questionários, é possível definir que a
praça Itanhangá é percebida pelos moradores da área como um marco referencial importante e
também limite entre bairros da área.
Fig 4.37a Mapa comportamental síntese da EPL 1 – Itanhangá
Fig 4.37a Mapa comportamental síntese da EPL 1 – Itanhangá
Em torno de 10 anos atrás, quando este EPL era o mais bem cuidado da cidade, em
termos de projeto paisagístico e de manutenção da vegetação, não era fechado por grades,
fornecia maior acessibilidade e uma dose maior de encanto e mistério (através de soluções
paisagísticas), fator importante no ‘enriquecimento’ do ambiente, como mencionado por
Kaplan e Kaplan (1983). Era comum a presença de grupos sentados nos gramados, observando
a paisagem ou fazendo piqueniques – prática que não se observa no presente período. A atual
pista de caminhadas, por exemplo, assemelhava-se a um caminho de jardim, revestido de
saibro.
Foram observados vários escolares realizando a travessia entre as ruas Antonio Oliveira
Lima e Chaadi Scaff através da praça.
A grande maioria das pessoas que freqüenta este EPL é do próprio bairro (70%), ou de
bairros próximos (11%), que chega a ele a pé. Não foram encontrados, de forma expressiva,
usuários de outros bairros vindos de automóvel, apesar da localização do espaço, próximo a
corredores de fluxo rápido de veículos, favorecer este tipo de acesso a ele.
Apesar do número reduzido de usuários registrados nos mapas comportamentais, 78%
dos respondentes moradores da área afirmam freqüentar o EPL1, provavelmente para
caminhar, sendo que das qualidades mais apreciadas citam a ‘natureza’ (vegetação, água,
animais), (73% dos usuários) e a ‘tranqüilidade do lugar’ (40% deles).
Os acessos ao EPL2 ocorrem principalmente pela rua Pequi (fig. 4.41) e pela Av.
Florestal (através do pequeno corredor formado entre o posto policial e o parquinho infantil:
fig. 4.42). Na Av. Presidente Café Filho, um corredor entre o campo de futebol gramado e o
muro da escola serve como passagem para o interior do EPL.
Fig. 4.41 Acesso desde a rua Pequi Fig. 4.42 Acesso à praça pela Av.Florestal
Fig. 4.43 Levantamento físico do EPL 2 - Copatrabalho
O EPL2 conta com três quadras de esportes (grama, cimentada e areia), parquinho
infantil, áreas para conversação com mesas e bancos, cancha de bocha, pequeno palco voltado
para a área central do EPL, um posto policial e um salão da Associação de Moradores – o
Centro Comunitário. Não possui sanitários.
Nos fins de tarde das quintas-feiras e sábados, é montada uma barraca de sobá e de
pastéis, na calçada da Av. Florestal, em frente ao Centro Comunitário, e nos finais de semana
abre-se um trailer de lanches no interior da praça, atrás do Posto Policial.
Os usos
Através das entrevistas, mapas mentais e questionários é possível definir o papel deste
EPL como ponto focal do próprio bairro e dos bairros limítrofes. É local de atividades intensas
durante os fins de tarde, quando o calor do sol esmaeceu.
Diferente dos outros dois EPLs estudados, o Horto Florestal é um grande espaço
central (48.000m2) que demonstrou ser referencial para os moradores de todas as partes da
cidade, e não só para os de sua área (fig. 4.51): classifica-se como um parque central.
A Av. Fernando Corrêa da Costa, que cruza o parque, o separa da sub-área Sgto.
Amaral. Os dois lados do parque, cortados pela avenida, são interligados por uma passarela,
que possibilita a passagem de pedestres. A Av. Ernesto Geisel, larga e com fosso central,
separa o parque do bairro Amambaí.
A visualização do parque desde longe é facilitada pela marcação de sua massa vegetal
de grande porte. É cercado por gradil que ao mesmo tempo fecha e permite a visualização do
seu interior. O acesso ao EPL3 é feito através de 5 portões, controlados por vigilantes,
distribuídos por diversos pontos (fig. 4.49). O portão da rua do Parque é o mais usado por quem
utiliza ônibus, já que está mais próximo das paradas da rua 26 de agosto. Os acessos são
marcados por elementos que representam, simbolicamente, a união dos dois córregos, Prosa e
Segredo. Este símbolo está repetido por todo o EPL numa proposta de marcar a imagem do
parque (fig. 4.50).
Figura 4.49 Acesso rua Anhanduí Fig. 4.50 Elementos simbólicos
Fig. 4.51 Levantamento físico do parque Horto Florestal – Praça 3
E áreas de muito sol, como o grande espaço principal onde acontecem os shows
musicais, no palco com pergolado ou em palco montado especialmente para eventos, e onde
estão dispostos vários bancos. O parquinho infantil, a pista de bicicross e a pista de skate
também são áreas de sol. Esta ultima, apesar de ensolarada, tem uma boa sombra lateral, no
gramado ou nos bancos.
A pista de bicicross ocupa uma expressiva área do parque. É um espaço com muito
pouca sombra e o único espaço do parque onde é permitido o acesso de bicicletas.
A segurança é feita por 8 funcionários. Nos domingos de passe livre28, como o volume
de visitantes quadruplica29, a vigilância passa para 30 a 40 homens da polícia militar.
Os usos
O parque é bastante movimentado o dia todo (com exceção das horas de sol mais
quente do meio do dia), mas na parte da tarde observa-se mais pessoas, do que nas manhãs.
Como é um parque grande (aproximadamente 10.000m2), com várias opções de atividades,
boa manutenção, de localização central em relação a toda a cidade e com facilidade de acesso
através das grandes vias que o ladeiam, é muito utilizado na programação de escolas da rede
de ensino - o que movimenta permanentemente o parque nos horários e períodos escolares.
28
Dias em que a passagem no transporte coletivo urbano não é cobrada. Acontece no 2o
e 4o domingo de cada mês.
29
Conforme dados da área de administração do parque Horto Florestal, num domingo
normal visitam o parque de 2.000 a 3.000 pessoas e em dias de passe livre e de shows
musicais o número de visitantes pode chegar a 10.000/12.000.
Fig. 4.55 a Mapa comportamental do Horto Florestal - tardes
Fig. 4.55 b Mapa comportamental Horto Florestal – manhãs
Fig. 4.55 c Mapa comportamental parque Horto Florestal – Domingo tarde de passe livre
Fig. 4.55 d Mapa comportamental parque Horto Florestal – Domingo sem passe livre - tarde
Os locais cobertos como a arena, a cantina e as canchas de bocha e malha são bastante
procurados, não só devido às atividades a que são destinados mas também pela sombra e como
abrigo da chuva. Nas quadras de malha e bocha, foram observados casais de namorados a
procura de um local reservado onde sentar ou se recostar (usam os corrimões laterais como
assento).
A arena coberta é o local mais ativo do EPL3 (do ponto de vista da administração do
parque), pela programação que oferece. Porém, os horários das atividades não coincidiram com
o horários de nossas observações.
Entre os EPLs estudados, os mais usados são a Praça Copatrabalho e o Parque Horto
Florestal, enquanto a Praça Itanhangá apresenta um volume de uso bastante reduzido.
A Praça Copatrabalho, localizada numa área com grande demanda de espaços de lazer,
apresenta-se como um espaço de relativa qualidade, com atividades que suprem, em parte, a
demanda, devido ao tamanho reduzido em relação ao número potencial de usuários. Tem o
espaço dominante destinado a esportes de uso coletivo, em atividades que congregam grupos
maiores de usuários.
Não foram observadas atividades cívicas ou movimentos civis nos três EPLs. Porém,
pelos depoimentos colhidos em entrevistas, no Parque Horto Florestal são realizadas,
freqüentemente, comemorações ligadas ao poder municipal.
Os três EPLs são bem conservados – um pouco menos a Praça Copatrabalho, mais
desgastada pelo uso intenso – sendo a responsabilidade da manutenção destes espaços
decorrência de convênios da municipalidade com entidades da sociedade civil. A manutenção
indica ser um item que influencia positivamente no uso dos três espaços estudados.
Todos os espaços desta praça são utilizados e pontos de aglomeração acontecem nos
locais que forneçam assento ao mesmo tempo que estejam à sombra.
Ambientes com sombra são mais utilizados do que ambientes ensolarados, em todas os
três EPLs. Áreas sombreadas que têm bancos são, em geral, mais usadas do que áreas
sombreadas que não têm bancos, enquanto locais sombreados, mas sem equipamento, tendem
a ser pouco usados. Locais isolados são evitados, como, por exemplo, a área perto do portão
fechado na Praça Itanhangá, com o parquinho infantil totalmente isolado do restante do EPL.
Sobre locais ociosos nestes EPLs, foram identificados vários na Praça Itanhangá e uma
parte razoável do espaço planejado no Parque Horto Florestal – a pista de bicicross. Na Praça
Itanhangá, a área em torno do coreto, o parquinho infantil e a área perto do 3º portão – que
permanece fechado -, além da faixa perto do córrego mais profundo - o que atravessa o EPL -,
são áreas onde não foram observados usuários.
A área que circunda o coreto, na Praça Itanhangá, caracteriza-se por ocupar um espaço
significativo da praça sem ter um destino claro: não foram propostas atividades para o coreto e
nem para a área circundante. O piso azul em blocos de concreto não se prestaria para
brinquedos como skate ou patins, mesmo que fossem permitidos, e a sua colocação no centro
de uma área gramada, sem sombra e sem mobiliário, desestimula o seu uso.
A falta de acesso pelo terceiro portão e a falta de alternativas de estares e locais para
sentar, mesmo que informais, também são fatores que esvaziam o EPL1, desencorajando o uso
da maior parte de sua área.
Enquanto os parquinhos infantis das EPLs Copatrabalho e Horto Florestal são bastante
utilizados, o da Praça Itanhangá é evitado. O fato de ter seu acesso segregado da vista e do
movimento de pessoas da praça; apresentar poucos equipamentos e os existentes estarem em
péssimas condições de manutenção; não ter sombra e não existirem locais para sentar em suas
proximidades, tem garantido o seu total fracasso como espaço atrator30.
No entanto, o parquinho da Praça Copatrabalho é visualizado por quem passa nas ruas
adjacentes, tem locais para sentar perto da sua entrada, e tem vários equipamentos em
condições suficientes de manutenção. Apesar de reclamações quanto à necessidade de troca da
areia, a demanda por atividades de lazer está garantindo o seu uso intenso.
O parquinho infantil do Parque Horto Florestal é um dos equipamentos deste EPL que
mais contribui como atrator de usuários para o espaço. Apresenta vários itens favoráveis ao
seu uso: está localizado num espaço relativamente central, portanto visível, do parque; não é
fechado por cerca podendo ser acessado e visualizado facilmente; tem equipamentos temáticos
interessantes para as crianças, embora exista a necessidade de um maior número de
brinquedos. Tem grande número de possibilidades de assento nas suas imediações, tanto na
lanchonete próxima (onde os adultos podem se ocupar enquanto observam a criança) quanto
em bancos distribuídos ao sol e à sombra. As árvores existentes não propiciam sombra
suficiente, fazendo com que o parquinho seja mais utilizado nas horas de sol menos intenso.
30
Elemento que tem a propriedade de atrair usuários .
bicicletas. As possíveis razões desta sub-utilização podem ser identificadas no pequeno
comprimento do percurso e sua formalização; na falta de outras opções de atividades, na
mesma área, que sejam alternativas intermediárias e na dificuldade para aproveitar os demais
ambientes do parque estando-se de bicicleta, já que não é permitido o acesso deste artefato no
restante do parque e não existe como guardá-lo com segurança; e, ainda, a falta de vegetação
que torne o percurso mais agradável e possibilite o sentar à sombra.
Neste item, são analisados os atributos físicos das ruas e EPLs que afetam a avaliação
de adequação ambiental. É analisada a adequação: da vegetação existente em proporcionar
sombreamento; do dimensionamento dos espaços existentes em relação ao número de usuários
e em relação ao tipo de atividades propostas; da pavimentação e da iluminação, nos espaços
estudados, e do mobiliário (bancos, mesinhas, brinquedos) quanto ao número e manutenção.
a) Dimensionamento
b) Pavimentação
Contudo, o nível de satisfação com a própria rua não apresentou correlação com a
largura e a pavimentação das calçadas, assim como a intensidade de uso não parece estar
relacionada a características físicas positivas ou negativas das ruas. As calçadas da Área 2 são
as mais estreitas e com piores condições de circulação, devido à presença de barreiras e má
qualidade da pavimentação, no entanto esta é a área onde acontece a maior intensidade de uso
das ruas para todo o tipo de atividades sociais, além de grande volume de circulação de
pedestres.
c) Vegetação
A maior oferta de árvores para sombreamento, por metro de rua, é encontrada na Vila
Carvalho. Depois, na avenida principal da Área 2 e na sub-área Búzios.
Dentro das áreas de estudo, quando analisadas em separado, somente na Área 3 existe
correlação entre sombreamento da rua e satisfação com a rua, (Sig. 0,001; Spearman =
0,4650) e entre bons locais para sentar na calçada e satisfação com a rua, (Sig. 0,07;
Spearman = 0,3998). Fica evidente que, principalmente na Área 3 – Horto, os aspectos de
arborização da rua e as condições físicas favoráveis à permanência na calçada, levam à
satisfação com a rua.
d) Iluminação
O espaçamento médio entre os postes com luminárias para iluminação pública estão,
em média, distribuídos de maneira homogênea (30m), com exceção de uma maior
proximidade na Sgto. Amaral (20m). Esta, portanto é a sub-área mais bem iluminada entre as
estudadas.
A Av. Florestal apresenta canteiro central arborizado que anula o efeito do menor
distanciamento entre as luminárias desta avenida; e a Vila Carvalho, com a arborização mais
densa e de maior porte, também tem o efeito da iluminação pública prejudicado, apresentando
um resultado final de iluminação semelhante ao da sub-área Búzios.
Área1
Área2
Área 3
Nota-se pela figura acima que na Área 3 – Horto a percepção das calçadas como
limitadoras de atividades é a mais intensa (61%), apesar de, nesta área, o levantamento físico
ter revelado calçadas mais largas e mais sombreadas. Porém, na avaliação de 59% dos
moradores, as calçadas são inadequadas quanto à pavimentação (falta de manutenção,
geralmente cimentada ou sua inexistência) e isto pode estar limitando o uso da calçada para
atividades sociais, apesar de não ter sido identificada correlação entre as duas variáveis para
está área.
Da amostra total, 64% dos respondentes não mudariam seus hábitos de uso das
calçadas, mesmo se elas fossem mais adequadas. Destes, 33 % são moradores da Área 1; 32%,
moradores da Área 2; 11%, moradores da Área 3 – o que mostra que na Área 3, onde é mais
sentida a inadequação da manutenção da pavimentação das calçadas, há uma maior disposição
de usá-las, caso se tornem mais adequadas.
As atividades mencionadas que seriam realizadas, caso as calçadas fossem mais
adequadas, são apresentadas na figura 4.59
Brincar
Área 1
caminhar/passear Área 2
Área 3
Tomar tererê/conversar
Nota-se aqui que, em todas as áreas, o que a inadequação das calçadas mais restringe é
a atividade de sentar na calçada, para conversar ou tomar tererê, principalmente na Área 3.
Da amostra total, entre todas as variáveis testadas, surge correlação negativa entre a
percepção de ruas desagradáveis para caminhar e o hábito de caminhar pelo bairro (Sig.-
0,035; Sperman = - 0,1361). Isto mostra que se as ruas de um bairro são consideradas
desagradáveis para caminhar diminui este hábito entre os moradores. Desagradável refere-se
aqui à pavimentação inadequada (Sig. = 0,000; Spearman = 0,03433) e ao sombreamento
inadequado (Sig. = 0,022; Spearman = 0,1477).
a) Dimensionamento
A Praça Copatrabalho – EPL2, foi projetada para atender a uma população aproximada
de 6.000 habitantes (população estimada do conjunto habitacional). Sendo uma área de,
aproximadamente, 1ha, pode ser considerada pequena perante a demanda, principalmente de
locais para esportes para jovens. Este pode ser um dos motivos pelos quais nota-se a presença
intensa de jovens usando os espaços das ruas para jogos, nesta área. A praça, assim como as
ruas desta área, é muito usada.
O Parque Horto Florestal – EPL3, uma área de aproximadamente 4,8ha, tendo como
proposta atender o âmbito da cidade, parece cumprir com seu papel, pois seu tamanho permite
uma apropriação diversificada.
b) Equipamentos
c) Vegetação
d) Pavimentação
O Parque Horto Florestal – EPL3 tem diversos tipos de pavimento revestindo sua
superfície tais como, pedra portuguesa (na praça central), chapas metálicas corrugadas (na
rampa), asfáltico (na pista de caminhadas), saibro (na pista de bicicross) e gramados. A pedra
portuguesa branca, em muitos dias de sol intenso, se torna incômoda, pelo reflexo da luz solar.
O piso asfáltico da pista de caminhadas está protegido pela sombra das árvores, que diminui a
irradiação de calor. No geral, a pavimentação deste parque é diversificada, eficiente e bem
mantida.
e) Iluminação
Todas as três praças possuem iluminação em postes altos (aproximadamente 8m) e nas
Praças 1 e 3 também em luminárias mais baixas (aproximadamente 4m), iluminando melhor
abaixo da vegetação de grande porte. No EPL1 a iluminação auxiliar da pista de caminhadas
reforça a luminescência daquele equipamento e da praça como um todo. O EPL2 tem
iluminação especial para as quadras e iluminação padrão para o restante da praça.
De modo geral, o que os respondentes das três áreas mais apreciam na cidade é sua
tranqüilidade e sua aparência em relação à presença de uma vegetação exuberante na paisagem
urbana. Fica, também, constatado que a aparência negativa de certos lugares (questões
estéticas e de manutenção) afeta negativamente a avaliação de desempenho.
Nas Ruas
As percepções relativas à agradabilidade do bairro se distribuem da seguinte maneira
entre os moradores respondentes:
Foi identificada uma correlação entre agradabilidade das ruas do próprio bairro e o
uso das ruas do bairro para caminhar (Sig. = 0,035; Spearman = 0,1361), indicando que
quanto mais agradável o bairro for aos olhos do usuário, mais ele caminha pelas suas ruas e
vice-versa.
Algumas das percepções dos respondentes sobre aspectos relacionados à aparência dos
três EPLs estudados são apresentados na tabela 4.8:
A Praça Itanhangá, por ser um EPL com vegetação abundante e córregos mantidos em
seu aspecto “natural”, desperta sentimentos de agradabilidade nos usuários. O desenho
elaborado dos portões e a boa manutenção favorecem esta percepção. Na Praça Itanhangá foi
identificada uma relação entre a percepção de que o EPL é bonito e a freqüência com que o
indivíduo o utiliza (Phi, Sig. = 0,02456). Isto é, indivíduos que freqüentam o EPL mais
intensamente, o consideram bonito.
Na Praça Copatrabalho, também existe correlação entre o uso do EPL e sua aparência
(Sig. = 0,011; Spearman = 0,3018) e entre este uso e a oferta de estares convidativos (Sig. =
0,0002; Spearman = 0,3592), mostrando que para os usuários desta praça quanto mais positiva
a aparência maior seu uso. Justamente, este é o EPL considerado ‘bonito’ por uma proporção
menor de usuários, indicando que investimentos na aparência deste espaço incrementariam
ainda mais o seu uso. A manutenção deste EPL é a menos eficiente entre os três estudados
(principalmente na limpeza e conservação do mobiliário e equipamento do parquinho) e
alguns aspectos de seu planejamento, em especial a colocação do posto policial bem na
entrada do EPL, afetam a percepção da aparência. Por outro lado, o cuidado com alguns
aspectos de desenho (pavimentação, desenho dos conjuntos de mesas e bancos, equipamento e
fechamento do playground) e a vegetação em crescimento, já atingindo um porte médio, são
pontos positivos em relação à aparência.
4.3.3 Segurança
Os dados computados pela Polícia Militar sobre ocorrências registradas num ano em
bairros da cidade, pode dar uma idéia da situação de segurança dos bairro:
Búzios ( A1) 28
Sta. Tereza ( A 1)
Copatrabalho (A 2) 178
Vila Carvalho** (A 251
Sgto. Amaral (A 3) 29
* Refere-se a 140 tipos diferentes de ocorrências
** os limites da Vila Carvalho para a PM são maiores do que os da sub-área deste estudo.
As percepções dos respondentes usuários dos EPLs quanto à sua segurança estão
organizadas na tabela 4.11:
De modo geral, é identificada uma correlação entre a freqüência de uso dos EPLs e o
fato dos espaços serem bem iluminados (Sig. 0,045; Sperman = – 0,1297) e entre a falta de
hábito de freqüentar os EPLs e a percepção de insegurança (Sperman: Sig.0,015 e Corr.
0,1561), assim, se o EPL é percebido como inseguro ou mal iluminado - o que traz também
uma sensação de insegurança - , ele é menos freqüentado.
A abundante vegetação arbustiva, na Praça Itanhangá, que dificulta a visualização,
pode estar trazendo a sensação de deficiência de iluminação para uma parte dos usuários
(40%). Neste EPL existe uma correlação entre a percepção de iluminação deficiente e a
percepção da praça ser insegura à noite (Sig. = 0,040; Spearman = 0,2706). Mas este é o EPL
considerado mais seguro, entre os três analisados (84% dos usuários o considera seguro). A
existência de grades e a presença constante de seguranças parece estar favorecendo esta
percepção (apesar de não ter sido identificada relação estatística).
O posto policial existente na praça permanece aberto toda a noite, o que inibe a
ocorrência de violências.
O Parque Horto Florestal é percebido como bastante seguro (77% dos usuários). A
colocação estratégica de guardas, a existência de grades e portões, o uso intenso e
diversificado do parque parecem contribuir para esta percepção. Conflitos entre usuários é
uma das críticas feitas de maneira mais insistente com relação a este parque, podendo este
aspecto estar influenciando a percepção de insegurança do parque.
De acordo com os dados, somente o parque Horto Florestal é percebido mais seguro
por ser fechado com grades. E, os resultados indicam que a Praça Copatrabalho seria
percebida como mais segura se fosse fechada com grades.
Não foi identificada correlação entre o uso das calçadas para atividades sociais ou para
caminhar pelo bairro e a segurança quanto ao tráfego que estas ruas possam apresentar, em
nenhuma das áreas.
A largura das calçadas de 1,5m nas Área 2 e sub-área Sta. Tereza (Área1), podem estar
ligadas à percepção de insegurança das ruas, pois, na verdade, estas duas áreas apresentam
pequeno fluxo de veículos em suas ruas internas31. Na Sta. Tereza, a proximidade da rua
31
Ruas internas, neste caso, se refere à ruas do interior da sub-área
estudada e não as ruas limites.
Chaadi Scaff pode estar influenciando, já que esta é uma rua de fluxo de veículos mais
intenso. Na Área 2, apesar de existir a percepção de insegurança quanto ao tráfego, as crianças
são encontradas nas ruas tanto caminhando quanto jogando.
O fato de poder ver a rua de dentro do próprio lote, ou da própria casa – correspondência
espacial – é um fator que facilita o controle sobre o espaço próximo à residência trazendo,
com isso, maior sensação de segurança e maior uso. Foi identificada correlação entre a
visibilidade da rua e o seu uso só para deslocamentos (Sig. = 0,012; Spearman = - 0,1623) e
entre esta visibilidade e o hábito de usar as ruas para passeios (Sig. 0,019; Spearman =
0,1519) indicando que quanto mais se tem uma visão da rua de dentro do próprio lote, mais
esta é usada para outras atividades que não só deslocamentos. Esta relação sugere que a
percepção de segurança que a visibilidade traz, pode estar influenciando os hábitos de uso da
rua.
O levantamento físico mostra o controle visual existente, decorrente do fechamento
espacial, realizado sempre no limite do lote (uma constante na cidade de Campo Grande),
dentro das áreas de estudo:
Na sub-área Búzios, os lotes são fechados, geralmente por muros altos (acima de 2m),
o que impede o contato visual entre dentro e fora do lote e mesmo quando o fechamento é por
gradil as soluções arquitetônicas não favorecem o contato visual com a rua. Nesta sub-área,
proporcionalmente ao número de moradores da rua, foi encontrado o menor número de
pessoas nas calçadas. Na sub-área Sta. Tereza o fechamento dos lotes é feito, tanto por muros
quanto por gradis e, neste caso, a solução arquitetônica adotada de janelas da sala voltadas
para a rua permitem o contato visual entre o interior da casa e o espaço público. Nesta sub-
área, apesar da possibilidade maior de controle da rua pelos moradores, foi encontrado,
proporcionalmente, quase o mesmo número de pessoas nas calçadas que na sub-área Búzios.
É identificada uma relação entre a correspondência espacial (visão da rua desde dentro
da residência) e o volume de uso dos espaços próximos à residência (K-wallis, Sig. = 0,0589),
sugerindo uma tendência de maior uso das ruas para atividades sociais quando a visão destas é
ampla de dentro das residências.
A praça Itanhangá, por apresentar cerca viva junto ao gradil na Rua Chaadi Scaff,
oferece alguma dificuldade de acesso visual para o seu interior.
4.3.4 Acessibilidade
O acesso aos EPLs também ocorre de maneira marcante por indivíduos que estão a pé
(70% entre moradores das áreas de estudo e 38% a pé e 33% de ônibus, quando respondentes
moradores de fora das áreas).
Ainda, com relação aos respondentes moradores da Área 3 que afirmam freqüentar o
Horto (70%), as questões de acessibilidade se fazem presentes, pela existência das avenidas de
intenso tráfego que ladeiam a praça e que funcionam como barreiras entre o parque e as sub-
áreas estudadas (a não ser no acesso junto à arena coberta, que supera este entrave com o
recurso da passarela sobre a Av. Fernando Corrêa da Costa, oferecendo um acesso seguro ao
EPL para os moradores da Vila Carvalho e adjacências).
Locais utilizados Cadeiras Cadeiras Cadeiras portát Cadeiras portát Cadeiras portát
p/sentar portáteis portáteis Meio-fio Desníveis Desníveis
Cadeira/bar Meio-fio
Suficiente Suficiente Suficiente Suficiente Suficiente
Iluminação
Satisfação Muito satisfat. Muito satisfat. Muito satisfat. Muito satisfat. Muito satisfat.
idosos
adultos Area 1
Área 2
jovens
Área 3
adolescentes
crianças
É significante a diferença entre as áreas, de famílias sem crianças (Phi, Sig = 0,00001),
com 60% dos respondentes sem criança na família na Área 1, 43% na Área 2 e 70% sem
crianças na Área 3. A Área 2 apresenta, além do maior número de crianças por domicílio, o
menor número de famílias sem criança, o que leva a um maior número de crianças moradoras
nesta área do que nas demais.
A criança está numa fase da vida em que depende do adulto e, portanto, tem seu raio de
ação limitado aos espaços próximos da residência, aumentando a importância da possibilidade
de uso destes espaços, por esta faixa etária.
Apesar da grande maioria das crianças das áreas estudadas freqüentar a escola no
próprio bairro ou em bairro próximo, predomina o hábito de ir à escola a pé na Área 2 (70%).
Na Área 3, também uma boa parte das crianças caminha para ir à escola (42%), o que não
acontece na Área 1. O fato de caminhar até a escola movimenta as ruas, durante os horários
escolares de entrada e saída. Demonstra, também, uma segurança de que a criança caminhe no
bairro ou a conveniência deste hábito pela falta de opção de transporte, seja automóvel,
transporte escolar ou ônibus.
As crianças brincam em diversos lugares. Entre os moradores que têm crianças, existe
uma diferença significativa no hábito das crianças brincarem nas calçadas (Phi, Sig. =
0,00006). A Área do Horto é onde, proporcionalmente, são colhidas mais respostas
afirmativas sobre este item, com 85% das crianças podendo brincar nas calçadas. Na
Copatrabalho, 25% e no Itanhangá, 12%. A diferença entre estas respostas e o volume
realmente observado de crianças brincando nas calçadas, com maior volume de crianças nas
calçadas da Copatrabalho e não do Horto, deve estar relacionada com a quantidade de crianças
que vivem nas duas áreas (função da densidade e da composição familiar por domicílio), e
com a freqüência com que estas crianças freqüentam os espaços públicos.
A adolescência, considerada a fase entre 10 - 14 anos neste estudo, é uma fase em que
cresce a independência da criança, quando ela já não precisa ser observada pelos pais, e seu
raio de ação também cresce. O tempo livre disponível ainda é grande. Na faixa dos jovens (15-
19 anos), amplia-se mais a independência, diminui o tempo livre. A maior incidência, por
domicílio, de adolescentes e jovens na Área 2, somada à densidade da área, estão
representados nas observações de muitos grupos nestas faixas etárias sentados conversando,
ou jogando pelas calçadas e praça da Área 2.
Área 3
Área 1 Área 2
Foi identificada relação entre a freqüência de uso das praças e a faixa de renda a que
pertence o indivíduo (Phi, Sig. 0,01057), com uma tendência a aumentar o uso dos EPLs com
o aumento da faixa de renda. No entanto, a amostra total é constituída somente de 1/3 de
usuários de baixa renda e de 2/3 pertencentes a classe média e média/alta, o que pode estar
influenciando os resultados. Soma-se a isto o fato da grande maioria dos EPLs bem
estruturados da cidade estarem localizados em bairros de maior poder aquisitivo, o que facilita
aos indivíduos de faixa de renda mais alta o acesso a estes espaços.
Não foi identificada relação entre a origem dos moradores e o tipo e a intensidade de
uso dos espaços públicos próximos à residência, mas existe uma relação significante entre a
origem dos respondentes e o costume de freqüentar EPLs (Phi Sig. = 0,04257), mostrando
existir uma relação entre a região do país de onde provém o respondente com a freqüência
com que este usa os EPLs da cidade. Entre os respondentes oriundos da Região Sul, 59% usam
freqüentemente os EPLs sendo, proporcionalmente, os que mais usam as praças e parques.
Segue-se os vindos do interior do estado, de outras cidades da Região Centro-oeste e os
criados na própria cidade de Campo Grande (57% deles costuma freqüentar EPLs). Os que
menos usam, são os respondentes moradores oriundos da Região Nordeste (33% deles
costumam utilizar EPLs) e da Região Sudeste (35% deles).
4.4.1.4 Tempo de moradia
Foram detectadas diferenças significativas entre as áreas (Phi, Sig = 0,03867), quanto
ao tempo de moradia dos respondentes:
criado cidade
mais 10 anos
Área 1
de 5 a 10 anos
Área 2
de 1 a 5 anos Área 3
menos de 1 ano
A intensidade de uso da rua para atividades sociais não apresenta relação com o tempo
de moradia do respondente na cidade, mas apresentou uma relação com o tempo de moradia
no mesmo bairro (Phi, Sig. = 0,046), o que indica uma tendência a usar mais os espaços
próximos a sua residência conforme aumenta o tempo de moradia no mesmo bairro.
O transporte utilizado faz parte do estilo de vida adotado pelo indivíduo. Os meios de
locomoção mais utilizados pelos moradores, além de um indicativo de renda, está sendo
adotado como um indicador que facilita a compreensão da intensidade diferenciada de uso dos
espaços públicos observados.
Dependendo do estágio no ciclo de vida, pode existir uma variação de uso de meio de
transporte, já que crianças dependem de adultos para se locomoverem em maiores distâncias,
adolescentes já têm maior independência em relação ao meio de transporte podendo se
locomover por conta própria, a pé ou usando ônibus e idosos têm, muitas vezes, limitações
para usar ônibus ou andar a pé, quando se trata de maiores distâncias.
à pé Área1
Área 2
bicicleta Área 3
ônibus
carro
Entre as três áreas, a distribuição dos tipos de locomoção coloca-se como no gráfico
acima. Grande parte dos moradores das três áreas utiliza o carro como meio de transporte. No
Itanhangá, o uso de carro é maior (76%), no Horto também é grande (68%) e menor na
Copatrabalho (40%), correspondendo a representação das distribuições de renda de cada área.
O uso do carro avoluma-se com o aumento da faixa de renda (k-wallis, Sig. = .0000) sendo
que 77,5% dos que andam de carro estão nas faixas de 5 a 10 salários para cima. O uso do
ônibus é mais significativo na Área 2, onde 36% dos respondentes moradores o utilizam como
meio de transporte. Na Área 1, 16% usam ônibus e na Área 3, 14% (nesta área é possível usar
as facilidades do centro a pé).
O hábito de caminhar pelo próprio bairro não apresenta relação com o meio de
transporte mais utilizado, mas é bastante lógico supor que o uso de transporte coletivo
favorece a presença de pessoas nas calçadas, enquanto o uso do automóvel desfavorece. Esta
suposição se confirma pelas observações das áreas, a Área 1 com pouquíssimos pedestres
presentes nas ruas, a Área 2 com a maior presença e a Área 3 com presença intermediária.
Mas o fato de caminhar pelo próprio bairro influencia o tipo de apropriação dos
espaços externos, pois existe correlação entre o hábito de caminhar pelo bairro e o hábito de
usar os espaços próximos à residência para, por exemplo, observar o movimento e conversar
(Sig. 0,000; Spearman = 0,4493). Assim, quem caminha pelo bairro também usa os espaços
próximos para atividades sociais, como observar o movimento ou conversar.
4.4.2.2 Lazer
Dados obtidos através dos questionários indicam que, de modo, geral a metade dos
respondentes usam muito os espaços privados em atividades de lazer (como ver TV, ler,
descansar, conversar, visitar ou receber amigos...). Uma quantidade maior de pessoas (60%)
freqüentam espaços abertos públicos ou semi-públicos em seu tempo de lazer (locais com
atividades esportivas, calçadas de áreas residenciais, praças, parques, avenidas com atividade
de ‘promenade’, feiras...), confirmando com isto a importância dos espaços públicos. Em
menor proporção (14%) indicou o uso de espaços fechados semi-públicos (Shopping, igrejas,
bares, cinema, teatro, locais p/ dançar,...).
O fato de na Área 2 observar-se maior presença de pessoas nas ruas do que nas duas
outras áreas, traz novamente a questão da densidade, mas também a de tempo livre disponível
entre os moradores e a limitada gama de atividades (as que não demandem despesas), o que
pode levar a um aumento de uso dos espaços públicos próximos da moradia, nesta área.
P a ss e a r
P raça s Á rea1
E s p o r te s Á rea 2
Á rea 3
A tiv . e m c a s a
S e n ta r c a lç a d a s
As atividades de lazer se diferenciam por etapa do ciclo de vida assim como os espaços
jovens
Parque/praças
adultos
Calçadas idosos
Casa amigos
Própria cas
É possível notar que os jovens são os que mais utilizam as calçadas para lazer. A falta
de freqüência de idosos utilizando as calçadas pode estar influenciada pela ambigüidade do
conceito de lazer, pois é freqüente a observação de idosos sentados nas calçadas da Área 3 e,
não tão freqüentes, mas visíveis também na Área 2. As crianças não estão relacionadas, neste
gráfico, porque não estavam entre os respondentes dos questionários.
10 a 20 sal. Passear
Praças
5 a 10 sal.
Esportes
3 a 5 sal. Ativ. em casa
Sentar calçadas
ate 3salário
De modo geral, as atividades de lazer que predominam em todas as faixas de renda são
as atividades realizadas na residência ou no lote, um pouco mais acentuadamente nas faixas
de renda mais baixas. As atividades nas calçadas apresentam uma tendência a aumentar,
inversa à faixa de renda.
Com relação à origem dos usuários, não foram encontradas diferenças significativas
nos hábitos de lazer. Foi detectada uma diferença quanto ao hábito de freqüentar casas de
amigos/parentes (Phi, Sig. = 0,508) com uma tendência maior entre moradores oriundos da
própria cidade e da Região Sul, enquanto as menores freqüências neste sentido foram
constatadas entre respondentes oriundos da Região Sudeste e Nordeste.
Foi identificada uma relação significante entre a região onde mora e o hábito de
compra do respondente ( Phi, Sig. 0,00000), ilustrada na figura 4.67.
shopping
grandes mercados
Área 1
centro
Área 2
bairro próximo Área 3
bairro
Vê-se que o hábito de comprar no próprio bairro é muito expressivo somente na Área 2
– Copatrabalho. Esta área apresenta uma das maiores relações de estabelecimentos comerciais
x n º moradores, existindo inclusive um supermercado de tamanho médio na rua Café Filho,
além de estabelecimentos de vestuário.
Como nas Área 1 e 3 as pessoas andam mais de carro, e este facilita percursos e
paradas alternativas, as compras tendem a ser feitas no caminho para casa. Sem dúvida, a falta
da prática de compras no próprio bairro limita as possibilidades de encontros casuais, fato
confirmado pelas observações na Área 1 e, em menor proporção, na Área 3.
Para quem se locomove de ônibus, as compras são feitas, com maior assiduidade, no
início ou no fim do percurso, o que favorece a presença de pedestres nas ruas do próprio
bairro, se este possui alternativas de abastecimento adequadas.
Não foi identificada relação estatística entre o hábito de compras e a freqüência de uso
dos espaços próximos à residência, mas existe uma tendência de maior uso destes espaços se
as compras forem feitas no centro ou no próprio bairro. Como são as famílias com rendas mais
baixas (até 5 salários) as que fazem compras no próprio bairro (72,5% dos casos), a tendência
de uso dos espaços das ruas para atividades sociais é maior nesta faixa de renda.
4.4.2.4 Interação entre usuários
Comunidade
Amizade
Área 1
Indiferença Área 2
Área 3
Isolamento
Hostilidade
A relação entre o uso dos espaços próximos à residência para atividades sociais e a
percepção do caráter da vizinhança é identificada (K-wallis; Sig = 0,0000). Assim, tem-se
suporte estatístico para afirmar que ‘quem usa os espaços sociais próximos às residências para
atividades sociais têm a tendência a considerar o caráter de vizinhança como de comunidade
ou de amizade’.
A grande maioria dos moradores destas áreas tem amigos no seu bairro (91% deles),
mas existem diferenças significativas entre a área em que o indivíduo mora em relação ao fato
de ter amizades predominantemente no bairro ou fora dele. (Phi, Sig. 0,00000).
Os moradores da Área 3 têm maior número de amizades fora de seu bairro enquanto
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Quando analisada a rede de relações predominante no próprio bairro ou fora dele, com
respeito à faixa etária do usuários, não é identificada relação significativa. O mesmo acontece
com relação à faixa de renda.
Não foi identificada relação entre a percepção de movimento de pessoas nas calçadas
com o fato de usá-las para atividades como conversar, observar ou mesmo caminhar pelo
bairro. Apesar disso, a movimentação nas ruas que acontece na Copatrabalho é evidência
suficiente de que “o que mais atrai as pessoas para os espaços é a presença de outras pessoas”
como foi dito por Whyte (1980).
b) Privacidade
O hábito de deixar as portas das salas abertas, mantendo, desta forma, uma ligação
direta e fácil entre o interior das casas e as ruas, é observado somente nas Áreas 2 e 3,
normalmente nas residências menores e mais simples destas áreas. Este hábito demonstra uma
necessidade de ampliar o espaço de uso da residência, mas também uma menor necessidade de
privacidade em relação à vizinhança.
Por outro lado, as soluções arquitetônicas voltadas para o interior dos lotes adotadas na
Área 1, sub-área Búzios, acompanhadas de altos muros, demonstram uma maior necessidade
de privacidade ou proteção em relação ao espaço público, mesmo sendo a vizinhança
considerada ‘amigável’ (conforme respostas aos questionários).
Estes dois tipos de solução afetam fortemente o uso diferenciado do espaço público das
ruas adjacentes à residência.
A rede de relações tem influência na ligação com o lugar, como por exemplo na Área
2, onde os respondentes apreciam seu bairro mais pela questão ‘amizade’ (39%). Este bairro
tem uma alta predominância de amizades no próprio bairro (89%). Esta rede de relações deve
influenciar a movimentação observada nas ruas, apesar de não ter sido identificada relação
estatística com a presente amostra.
Com relação à origem dos usuários, não foram identificadas diferenças significativas
quanto ao fato de usar ou não o espaço público da rua para atividades sociais, o que traria uma
conexão com o lugar. Como foi comentado anteriormente, o tempo de moradia no mesmo
bairro tem relação com o uso dos espaços das ruas para atividades sociais, e, portanto,
favorece a conexão com aquele ‘lugar’.
4.4.3 Comparação da influência dos fatores composicionais sobre o uso das ruas e EPLs
Origem migrantes Região Sul (21%) Interior do Est. ( 27%) Interior Estado (36%)
Meio transporte Automóvel Automóvel e Ônibus Automóvel
Lazer predominante Atividades na casa Atividades na casa Atividades na casa
Esportes Passear
Hábitos de compras S L Su
upermercad ojas do permercados
os bairro
Tabela 4.17 Relação de fatores composicionais dos usuários, no uso dos EPLs
Adequação ambiental
Aparência e agradabilidade
• Quanto mais as pessoas usam os espaços públicos próximos para atividades sociais, mais
acham o bairro agradável e, portanto, mais criam ligações com os outros moradores e mais
sentem-se vinculadas ao lugar.
Segurança/Controle
Acessibilidade
• O acesso a opções para compras, estudo e lazer pode favorecer a presença de usuários nas
ruas, mas não a garante (como na Área 1, onde as escolas utilizadas pela população não
são necessariamente as que podem ser alcançadas a pé, ou mesmo estando num raio de
caminhada o hábito desenvolvido é o de ir até elas de carro).
• O contato visual (direto ou indireto) entre a rua e a casa (por exemplo, através do uso de
portas abertas para a rua), influencia o uso do espaço da rua para a realização de atividades
sociais.
Ciclo de vida
Tempo de moradia
• Tempo de moradia no mesmo bairro relaciona-se com o hábito de uso das ruas para
atividades sociais.
Origem do usuário
• A origem do usuário não influencia o uso das ruas para atividades sociais.
Nível sócio-econômico
• A intensidade de uso dos espaços das ruas para a realização de atividades sociais é
inversamente proporcional à faixa de renda familiar dos usuários: quanto mais renda,
menos intenso é o uso, e vice-versa.
Meio de locomoção
• Quem costuma caminhar pelo bairro também tem o hábito de utilizar os espaços próximos
à residência para atividades sociais.
Hábitos de lazer
• A falta de opções de lazer e a falta de conforto dentro da própria casa induz as famílias de
menor renda a utilizar a rua como espaço de lazer e, com o uso, a considerá-la como uma
extensão da própria casa.
Hábitos de compras
Existe uma tendência de maior uso das ruas para atividades sociais quando os hábitos de
compra são desenvolvidos no próprio bairro. Os hábitos de compras são desenvolvidos no
próprio bairro por indivíduos de menor poder aquisitivo.
Relações de vizinhança
• Quanto mais utilizado o espaço público das ruas próximas à residência, mais positivo é
percebido o caráter de vizinhança.
• A predominância da rede de relações no próprio bairro não garante o uso dos espaços das
ruas do bairro para atividades sociais, mas quando a rede de relações está mais em outros
bairros, diminui a intensidade de uso dos espaços próximos para atividades sociais.
• A rede de relações no próprio bairro ou fora dele não se relaciona com a renda familiar.
• A rede de relações tem influência sobre a satisfação com o próprio bairro, a qual está
relacionada com o uso mais generalizado das ruas do bairro.
Considerações em relação à influência dos fatores contextuais sobre o uso dos espaços
públicos de lazer
Adequação ambiental
Aparência
• Nos EPLs, a aparência influencia diretamente o uso, sendo, muitas vezes, o item mais
valorizado e trazendo, quando positiva, maior número de usuários a estes espaços. A
aparência, nestes casos, está relacionada à presença de vegetação e à manutenção dos
espaços.
Segurança
• A presença de grades nem sempre garante a percepção de segurança, pois se o EPL3, por
possuir grades é percebido como mais seguro, tanto de dia como à noite, no EPL 1 a
existência de grades não garantiu a percepção de segurança noturna.
Acessibilidade
• A existência de barreiras físicas ou visuais (vias de tráfego intenso, distâncias longas para
chegar ao EPL, gradis ou cerca viva), influenciam de maneira marcante uma separação
com o entorno e inibe o uso do EPL (como é o caso do EPL 1). Num espaço
suficientemente amplo (como no EPL 3), que possua atratores suficientes para superar
estes entraves - atividades e espaços variados, amplidão e transporte público acessível -, a
existência de barreiras parece não ter uma influência tão marcante.
Considerações em relação à influência dos fatores composicionais sobre o uso dos espaços
públicos de lazer
Ciclo de vida
Origem do usuário
• A origem do usuário influencia o hábito de freqüentar EPLs, com um uso mais intenso por
parte de pessoas originárias da região Sul do país, seguidos da região Centro-oeste, do
interior do estado do Mato Grosso do Sul e da própria cidade de Campo Grande.
Nível sócio-econômico
• Apesar dos resultados indicarem que o uso dos EPLs aumenta com o aumento da faixa de
renda do usuário, leva-se em consideração que a localização de 2/3 dos EPLs da amostra (
assim como da maioria da cidade) estão em área de nível de renda entre médio e alto. Esta
distribuição dificulta o uso dos EPLs por parte da população de renda mais baixa,
influenciando os resultados.
5. CONCLUSÕES
5.1 INTRODUÇÃO
O desempenho dos espaços estudados é avaliado a partir das percepções dos moradores
e usuários sobre as áreas selecionadas, e da verificação do perfil comportamental das ruas
residenciais e dos espaços públicos de lazer.
Nos espaços públicos das ruas, as atividades sociais e opcionais, como descrito por
Gehl (1987), dependem da existência de qualidades ambientais favoráveis para a permanência
e o movimento: de proteção ao crime, ao tráfego e ao clima, qualidades estéticas e um sentido
de lugar. Conforme sugerem os resultados obtidos neste trabalho, dependem, principalmente,
da falta de conforto e de opções de atividades dentro dos espaços privados e da possibilidade
de acessar, ou não, opções de atividades no espaço mais disperso de toda a cidade.
Uma maior procura do espaço externo pela falta de conforto no espaço interno.
Domicílios com maior número de crianças ou jovens, o que aumenta o número de usuários
com tempo de lazer disponível.
Nas três áreas estudadas, a adequação dos espaços públicos das ruas e calçadas quanto
à agradabilidade, segurança, dimensionamento, pavimentação ou sombreamento, não é
suficiente para garantir o seu uso com atividades outras que não só deslocamentos, enquanto a
inadequação destas, em bairros de menor renda, não é suficiente para abortar a tendência de
uso destes espaços para atividades sociais e opcionais. No entanto, conclui-se que, nos casos
estudados, a adequação da largura, da pavimentação e do sombreamento das calçadas afetam a
intensidade de uso da rua para a realização destas atividades. Isto é, condições melhores de
adequação dos espaços das ruas, com o planejamento de espaço destinados a permanência,
favoreceriam um maior uso das ruas como espaços sociais, possibilitando o desenvolvimento
de melhores relações de sociabilidade entre os moradores de uma área, ao mesmo tempo que
contribuiriam para a criação de uma conexão mais estreita com o ‘lugar’. Dentro da mesma
preocupação, os resultados obtidos indicam que o controle de velocidades em áreas
residenciais, a exemplo dos “woornefs”, influenciaria, positivamente, o uso das ruas como
espaços sociais.
Quanto aos EPLs, os resultados deste trabalho mostram que seu uso é influenciado
diretamente pela percepção de sua aparência (vegetação e manutenção) e segurança, e pela
variedade de atividades que possibilita em seus espaços. Estes resultados reforçam afirmações
feitas por vários autores, como Carr et al (1992), Lynch (1985) ou Hester Jr.(1985), sobre o
papel dos espaços públicos, como de grande importância no que se refere à busca de amplidão
espacial, ar fresco, sol, atividades físicas ou locais tranqüilos.
Os três EPLs estudados, sejam muito ou pouco utilizados, são considerados seguros
por seus usuários e deve-se esta percepção à presença de guardas em todas os três espaços,
somada, nos EPL 1 e 3, ainda, ao fechamento por gradis. O controle do espaço através de
acesso controlado, apontado por Newman (1973) como forma de aumentar a segurança, é, no
caso dos EPLs cercados, facilitado. Já a complementação do controle dos usuários pelo
controle exercido por guardas ou policias demonstrou ser uma necessidade nos EPLs
estudados, para que estes sejam considerados seguros.
A diversidade de atividades ofertadas foi defendida por vários autores, como Jacobs
(1967) ou Trancik (1986), como dinamizadora do uso dos espaços, e este pensamento fica
corroborado nesta pesquisa, no que se refere ao volume de uso dos EPLs. Da mesma forma, a
existência de ambientes de estar em quantidade suficiente e com mobiliário adequado para
sentar foi detectada como necessária para um maior uso dos EPLs, como havia sido apontado
por Whyte (1980).
O estudo demonstra que, em Campo Grande, tende a aumentar o uso dos EPLs entre
faixas da população de melhor renda e entre pessoas originárias da região Sul do país e da
própria região Centro-oeste, indicando uma diferença de hábitos de origem sociocultural,
influenciando o uso destes espaços.
A metodologia foi utilizada como base estruturadora para descrever uma determinada
situação real e a partir desta, estabelecer parâmetros conclusivos com vistas a questionar as
causas do desempenho diferenciado existente. Os métodos de caráter empírico, utilizados
neste estudo, permitiram identificar as principais características socioculturais dos usuários e
suas expectativas, e as principais características espaciais, potencialidades e deficiências de
determinados espaços públicos.
Este estudo mostra que o uso dos espaços das ruas para atividades diversificadas que
não só deslocamentos, deve-se, primordialmente, a aspectos sócio-econômicos, que induzem a
vários hábitos de vida e percepções de adequação de uso dos espaços. Mostra, também, a
importância de aspectos de ordem física destes espaços em influenciar a intensidade de uso
dos mesmos. Portanto, se for desejável uma dinamização das ruas para atividades sociais, é
possível alcançar o objetivo, em certa medida, criando condições físicas que favoreçam o
encontro e a permanência.
Se existe uma tendência de faixas da população com melhores rendas utilizarem mais
freqüentemente os espaços públicos de lazer, isto pode estar relacionado ao fato destes espaços
estarem, majoritariamente, localizados próximos a áreas residenciais de população de maior
poder aquisitivo, apesar do estudo apontar para uma maior necessidade de espaços públicos de
lazer em áreas de menor renda. Estes espaços, no entanto, demonstraram ser utilizados de
forma generalizada, principalmente pelos seus atributos físicos, pela presença de diversidade
de atividades e pelo grau de acessibilidade que apresentam, indicando que investimentos no
planejamento físico dos espaços públicos de lazer, embasados em conhecimento real das
necessidades da população alvo, darão retorno consistente na forma de uso mais intenso.
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