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SEMANA 01
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PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO DE POLÍCIA

SEMANA 01/48

Sumário
META 1 .............................................................................................................................................................. 7
DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS (PARTE I) ............................................................................... 7
1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL ..................................... 8
2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS ......................................................................................................... 14
2.1 Direito Penal X Criminologia X Política Criminal ..................................................................................................... 15
2.2 Seletividade - Criminalização Primária e Secundária (Zaffaroni) ............................................................................ 15
3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO .............................................................................. 16
4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI)............................................................................................................... 17
4.1 Conceito ................................................................................................................................................................. 17
4.2. Garantias primárias e secundárias ........................................................................................................................ 18
4.3 Máximas do garantismo ......................................................................................................................................... 18
5. DIREITO PENAL DO INIMIGO ....................................................................................................................... 19
5.1 Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez) ..................................................................................... 20
6. FONTES DO DIREITO PENAL ........................................................................................................................ 21
7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ................................................................................................................... 26
7.1 Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal .................................................................. 27
7.1.1 Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos ........................................................................................... 27
7.1.2 Princípio da Intervenção Mínima ..................................................................................................................... 28
7.1.3 Princípio da Insignificância ou da Bagatela ...................................................................................................... 32
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................... 35
Questões ...................................................................................................................................................................... 35
Comentários ................................................................................................................................................................. 38
META 2 ............................................................................................................................................................ 47
DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS (PARTE II) ............................................................................ 47
7.2 Princípios Relacionados com o Fato do Agente ..................................................................................................... 62
7.2.1 Princípio da Ofensividade/Lesividade .............................................................................................................. 62
7.2.2 Princípio da Alteridade .................................................................................................................................... 64
7.2.3 Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato .................................................................................... 64
7.2.4 Princípio Da Legalidade Estrita Ou Reserva Legal ............................................................................................ 64
7.2.5 Princípio da Anterioridade ............................................................................................................................... 68
7.2.6 Princípio da Vedação ao Bis In Idem ................................................................................................................ 68
7.2.7 Princípio da Adequação Social ......................................................................................................................... 68
7.3 Princípios Relacionados com o Agente do Fato ..................................................................................................... 70
7.3.1 Princípio da Responsabilidade Pessoal / Da Pessoalidade / Da Intranscendência Da Pena ............................ 70
7.3.2 Princípio da Responsabilidade Subjetiva ......................................................................................................... 71
7.3.3 Princípio da Culpabilidade ............................................................................................................................... 71
7.3.4 Princípio da Proporcionalidade ........................................................................................................................ 72
7.3.5 Princípio da Limitação das Penas ou da Humanidade ..................................................................................... 73
7.2.6 Princípio da Confiança ..................................................................................................................................... 73
META 3 ............................................................................................................................................................ 76
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SEMANA 01/48

DIREITO CONSTITUTICIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (PARTE I) ........................................ 76


1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS.................................................................................................................... 77
2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS .................................................................................................... 82
2.1 Direitos x Garantias x Remédios Constitucionais ................................................................................................... 83
2.2 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos ........................................................................................................... 83
2.3 Geração dos direitos fundamentais ....................................................................................................................... 85
2.4 Características dos direitos fundamentais ............................................................................................................. 91
2.5 Dimensão dos Direitos Fundamentais .................................................................................................................... 94
2.5.1 Desdobramentos da dimensão objetiva dos Direitos Fundamentais .............................................................. 94
2.6 Direitos individuais implícitos e explícitos .............................................................................................................. 96
2.7 Destinatários .......................................................................................................................................................... 98
2.8 Os Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988.................................................................................. 99
2.8.1. Não taxatividade dos direitos fundamentais e tratados de direitos humanos............................................. 100
2.8.2. Hierarquia dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos ..................................................................... 100
2.9 Deveres Fundamentais ......................................................................................................................................... 101
2.10 Alguns direitos individuais – rol do art. 5º da CF/88 .......................................................................................... 102
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 115
Questões .................................................................................................................................................................... 115
Comentários ............................................................................................................................................................... 118
META 4 .......................................................................................................................................................... 127
DIREITO CONSTITUTICIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (PARTE II) ..................................... 127
3. DIREITOS SOCIAIS ...................................................................................................................................... 151
META 5 .......................................................................................................................................................... 161
DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ........................................................................ 161
1. ORIGEM, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................ 162
2. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................................... 162
3. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO .................................................................................................. 163
4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO:............................................................................................................... 164
5. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................................ 166
5.1 Administração Pública Extroversa e Introversa .................................................................................................... 166
5.2 Tendências atuais do Direito Administrativo ....................................................................................................... 167
5.3 Transadministrativismo ........................................................................................................................................ 167
6. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO..................................................................................................... 167
7. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ...................................................................................... 170
8. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA ....................................................................... 171
9. REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO ........................................................................................................ 171
9.1 Princípios x Regras ................................................................................................................................................ 172
9.2 Princípios Explícitos do Direito Administrativo .................................................................................................... 173
10. PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................................. 174
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10.1 Legalidade (Juridicidade) .................................................................................................................................... 174


10.2 Princípio Da Impessoalidade .............................................................................................................................. 176
10.3 Princípio da Moralidade ..................................................................................................................................... 178
10.4 Princípio da Publicidade ..................................................................................................................................... 181
10.5 Princípio da Eficiência ......................................................................................................................................... 183
11. OUTROS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS ................................................................................................ 184
11.1 Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade ................................................................................................ 184
11.2 Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o Privado (Princípio da Finalidade Pública) ..................... 185
11.3 Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade ........................................................................................................ 185
11.4 Princípio Da Continuidade Do Serviço Público ................................................................................................... 189
11.5 Princípio da Motivação ....................................................................................................................................... 194
11.6 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório ........................................................................................................ 196
11.7 Princípio da Segurança Jurídica e Legítima Confiança ........................................................................................ 197
11.8 Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções ........................................................................................ 198
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 201
Questões .................................................................................................................................................................... 201
Comentários ............................................................................................................................................................... 205
META 6 – REVISÃO SEMANAL........................................................................................................................ 212
Direito Penal: Noções Iniciais E Princípios .................................................................................................................. 212
Direito Constitucional: Direitos E Garantias Fundamentais ....................................................................................... 213
Direito Administrativo: Noções Iniciais E Princípios ................................................................................................... 215
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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA SEMANA 01


META DIA ASSUNTO
1 SEG DIREITO PENAL: Noções Iniciais e Princípios (Parte I)
2 TER DIREITO PENAL: Noções Iniciais e Princípios (Parte II)
3 QUA DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos e Garantias Fundamentais (Parte I)
4 QUI DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos e Garantias Fundamentais (Parte II)
5 SEX DIREITO ADMINISTRATIVO: Noções Iniciais e Princípios
6 SÁB/DOM [REVISÃO SEMANAL]

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Equipe DD

Prezado(a) aluno(a),

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META 1

Caro Aluno,
Apresentamos a você nossa Preparação Extensiva para Delegado de Polícia, disponível em duas modalidades
de cronogramas: 30 semanas, para aqueles alunos que possuem mais tempo disponível para estudos, e 48
semanas, com metas mais tranquilas, para aqueles alunos possuem uma carga horária menor de tempo
disponível para estudo. Mas fique tranquilo. Os cronogramas de ambos os cursos abordam as mesmas
disciplinas/temas, o que difere é a maneira como o estudo será dividido dentre as semanas do curso.
Liberamos para você tanto a semana 1 do curso de 30 semanas, quanto a semana 1 do curso de 48 semanas,
para que você possa avaliar qual preparação melhor se encaixa no seu perfil e escolher qual curso deseja
seguir.
Para tanto, é de extrema importância que você preencha corretamente o formulário que consta na área
do aluno, para que nossa equipe matricule você na turma escolhida (30 ou 48 semanas) e, assim, você
receba os materiais que serão disponibilizados semanalmente.
Informamos, desde já, que o prazo de liberação do curso escolhido é de até 24 horas úteis após o
preenchimento do formulário.
Qualquer dúvida estamos à disposição.
Vamos juntos.
Equipe DD.

DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS (PARTE I)

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, II
⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII
⦁ Art. 5º, XXXIX
⦁ Art. 5º, §3º
⦁ art. 7º, X
⦁ Art. 22, I e §único
⦁ art. 227, § 4º

CP
⦁ Art. 1º
⦁ Art. 59
⦁ Art. 71

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OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 8º, item 4 do Pacto de São José da Costa Rica

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII, CF/88


⦁ Art. 5º, XXXIX, CF/88
⦁ Art. 22, I e §único, CF/88
⦁ Art. 1º, CP

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.

1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL

A) CONCEITO
Conjunto de normas que objetiva definir os crimes, proibindo ou impondo condutas, sob a ameaça
de imposição de pena ou medida de segurança, e a criar normas de aplicação geral.
Segundo Cleber Masson (2017, p. 3) é “o conjunto de princípios e regras destinados a combater o
crime e a contravenção penal, mediante a imposição de sanção penal”.
Importa salientar que “sanção penal” é gênero, do qual são espécies as penas e as medidas de
segurança.

CAIEMPROVA: Diz-se que a pena é a 1ª via do direito penal, a medida de segurança é a 2ª e a reparação do
dano é a 3ª.

É um ramo do Direito Público, vez que suas normas são indisponíveis, impostas e dirigidas a todas as
pessoas.
Além disso, o Estado é o titular do direito de punir e por isso sempre figura como sujeito passivo das
infrações penais, ainda que de forma mediata.
Ainda sobre o conceito de direito penal:

● Aspecto Formal: o direito penal é um conjunto de normas que qualifica certos comportamentos
humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções as lhe serem aplicadas.
● Aspecto Material: o Direito Penal se refere a comportamentos considerados altamente reprováveis
ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e
progresso da sociedade.
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● Aspecto Sociológico: o direito penal é mais um instrumento do controle social de comportamentos


desviados, visando a assegurar a necessária disciplina social. Em suma, sob aspecto dinâmico, o
Direito Penal é mais um instrumento de controle social visando assegurar a necessária disciplina para
a harmônica convivência dos membros da sociedade (TJ/PR).

Aprofundando o enfoque sociológico


A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer diretrizes
(regras).
Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanções civis ou penais
(infrações).
Nessa tarefa de controle social atuam vários ramos do Direito.
Quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados, merece reação mais severa
por parte do Estado, valendo-se do Direito Penal (soldado de reserva).
O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de consequência jurídica (pena privativa de
liberdade).

B) CARACTERÍSTICAS
De acordo com Cleber Masson (2017, p. 5), o Direito Penal é uma ciência cultural, normativa,
valorativa, finalista, de natureza predominantemente sancionatória, e fragmentária.

⦁ I – Ciência: suas regras estão contidas em normas e princípios que, por sua vez, formam a dogmática
jurídico-penal;
⦁ II – Cultural: o Direito Penal é uma ciência do “dever ser”, ao contrário das ciências naturais, que
cultuam o “ser”;
⦁ III – Normativa: o objeto principal é o estudo da lei penal (Direito positivo);
⦁ IV – Valorativa: sua aplicação não está pautada em regras matemáticas de certo ou errado, mas sim
em uma escala de valores que são sopesados a partir de critérios e princípios próprios do Direito
Penal. Dessa forma, esse ramo do direito valoriza hierarquicamente as suas normas;
⦁ V – Finalista: o objetivo do direito penal é a proteção de bens jurídicos fundamentais, o que torna a
sua missão prática, e não simplesmente teórica;
⦁ VI – Sancionatória: o Direito Penal é predominantemente sancionador porque não cria bens
jurídicos, mas acrescenta proteção penal aos bens jurídicos disciplinados por outros ramos do
Direito. No entanto, é possível que ele seja também constitutivo, quando protege interesses não
regulados por outras áreas do Direito, como o uso indevido de drogas;
⦁ VII – Fragmentária: o Direito Penal não tutela todos os valores ou interesses, mas somente os mais
importantes para a manutenção e o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade.

C) OBJETO DE PROTEÇÃO DO DIREITO PENAL

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Bens Jurídicos penais

“é a coisa, o valor, o atributo espiritual ou intelectual cujo usufruto e gozo são


reconhecidos como significativamente relevantes. Primeiro, para o efetivo
desenvolvimento pessoal de seu titular e, depois e em consequência, para todo o
corpo social, de que é exemplo o meio ambiente ecologicamente equilibrado”
(PACELLI, 2017, p. 61).

O legislador seleciona os bens jurídicos a serem defendidos pelo Direito Penal. No entanto, NÃO se
pode falar em discricionariedade ampla e irrestrita, pois os bens jurídicos mais importantes são tratados na
Constituição. Logo, a Constituição possui a seguinte missão:
⦁ Orienta o legislador, ao eleger valores considerados indispensáveis à manutenção da sociedade;
⦁ Impede que o legislador viole direitos fundamentais atribuídos a toda pessoa humana (Visão
Garantista Do Direito Penal).

Segundo Luiz Regis Prado, bem jurídico é um ENTE MATERIAL ou IMATERIAL haurido do contexto social,
de titularidade individual ou metaindividual reputado como ESSENCIAL PARA A COEXISTÊNCIA E O
DESENVOLVIMENTO DO HOMEM EM SOCIEDADE e, por isso, jurídico-penalmente protegido.

D) FUNÇÕES DO DIREITO PENAL


Na atualidade, a doutrina divide a missão do direito penal em duas, quais sejam:

a) Missão mediatas:
● Instrumento de Controle Social ou de preservação da paz pública (Papel intimidador);
● Limitação ao poder de punir estatal ou Função de Garantia – garantia dos cidadãos contra o arbítrio
estatal, vez que só podem ser punidos por atos previstos como infração penal e por pena também
determinada em lei.
☞ Para Franz Von Liszt “o Código Penal é a Magna Carta do delinquente”.

Obs: Se, de um lado, o Estado controla o cidadão, impondo-lhe limites para a vida em sociedade, de outro
lado, é necessário também limitar o seu próprio poder de controle, evitando a punição abusiva (evitando a
hipertrofia da punição).

b) Missão imediata:
Aqui, é necessário lembrarmos do funcionalismo penal, que trará as duas correntes de mais destaque
acerca do tema (anote esses nomes na testa):
● Funcionalismo teleológico (moderado) – Claus Roxin (Predomina)
⋅ A missão do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos mais relevantes;
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⋅ Se a proteção de determinado bem jurídico não é indispensável ao indivíduo e à manutenção


da sociedade, não deve incidir o direito penal, mas outros ramos do direito;
⋅ Para Roxin, o Direito Penal não veio para trazer valores éticos, morais;
⋅ Ele entende que essa seria a função exclusiva;
⋅ É chamado teleológico porque busca a finalidade do direito penal.
● Funcionalismo sistêmico (radical) – Günter Jakobs
⋅ A missão do Direito Penal é assegurar a vigência do sistema, protegendo o império da
norma;
⋅ Ele discorda de Roxin por entender que, quando o indivíduo é punido pela infração penal
praticada, o bem jurídico já foi violado, ou seja, não está protegido, não sendo esta, portanto,
a função do direito penal. Sua função seria demonstrar que a norma continua vigorando e
deve ser obedecida;
⋅ Assim, “o bem não deve ser representado como um objeto físico ou algo do gênero, e sim,
como norma, como expectativa garantida”. (Direito Penal e Funcionalismo, 2005, p.33-34);
⋅ E ainda, entende ele que quem deliberada e reiteradamente viola a lei penal, de forma grave
e duradoura, deve ser tratado como “não-cidadão”, como inimigo da sociedade, por não
cumprir sua função no corpo social, não fazendo jus às garantias previstas pela norma a qual
tal sujeito infringe;
⋅ Ao delinquente-cidadão, seria aplicado o direito penal do cidadão, ao passo que ao
delinquente inimigo, seria aplicado o Direito Penal do Inimigo (tópico específico mais à
frente).

APROFUNDANDO: vamos a uma tabelinha com mais características das duas vertentes do
funcionalismo para fixarmos as diferenças?

FUNCIONALISMO PENAL

● Finalidade do Direito Penal: proteção de bens


jurídicos indispensáveis. Não veio para trazer
valores éticos, morais;
FUNCIONALISMO
● Moderado: o direito penal tem limites impostos
TELEOLÓGICO
pelo próprio direito penal e demais ramos do
(Características: Moderado,
direito;
dualista, de política criminal
● Dualista: convive em harmonia com os demais
ou racional teleológico)
ramos do Direito. Reconhece o sistema jurídico em
ROXIN
geral;
● De política criminal: aplica a lei de acordo com os
anseios da sociedade. Se adapta à sociedade em que

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ele se insere;
● Racional teleológico: movido pela razão e em busca
de sua finalidade.
● Finalidade do Direito Penal: é a proteção das
normas penais, assegurar o império da norma. É
punir. Aplicar a lei;
● A sociedade que deve se ajustar ao Direito Penal;
● Para ele, o Direito Penal é:
FUNCIONALISMO SISTÊMICO - Radical: só reconhece os limites impostos por ele
(Características: mesmo;
Radical, monista e sistêmico) - Monista: é um sistema próprio de regras e de
JAKOBS valores que independe dos demais;
Direito Penal do Inimigo - Sistêmico: é autônomo (independe dos demais
ramos), autorreferente (todas as referências e
conceitos que precisa buscar do próprio direito
penal) e se autoproduz;
● Quem viola reiterada e deliberadamente a norma =
não-cidadão / inimigo = não tem direitos.

Outras funções do Direito Penal (Masson):


● Função criadora ou modificadora de costumes. Disseminação ético-social de valores. Efeito
“moralizador”. Visa garantir o mínimo ético que deve existir em toda coletividade:
⋅ É uma função educativa, que visa estimular os cidadãos a se conscientizarem e protegerem
bens que ainda não foram tidos pela sociedade como fundamentais (ex: crimes contra o meio
ambiente).
⋅ Esta função é bastante discutida, pelo fato de a doutrina divergir se o estado deveria ou não
se utilizar do direito penal como meio de educação. Há quem entenda que tal objetivo deve
ser alcançado pela interação social e não por coação.

● Simbólica – não produz efeitos externos, mas somente na mente dos cidadãos e governantes, sendo
uma função inerente a todas as leis, não apenas ao Direito Penal;
⋅ Enquanto os governados pensam que a contenção da criminalidade e as medidas necessárias
para tanto estão sob o controle das autoridades, os governantes ficam com a sensação de
terem feito algo e adiam a efetiva resolução do problema, retirando, ao longo do tempo, a
credibilidade do direito penal.
⋅ Geralmente é manifestada pelo “direito penal do terror”, que se apresenta de duas formas:
* Inflação legislativa (direito penal de emergência) – em que são criados tipos penais
desnecessários para dar resposta a qualquer tipo de problema;
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* Hipertrofia do Direito Penal – aumentando desproporcional e injustificadamente as


penas em casos pontuais, como se isso, por si só, fosse impedir a prática do crime.
● Motivadora de comportamento conforme a norma – a ameaça de imposição de sanções motiva os
indivíduos a se comportarem de acordo com a lei, para que não sofram suas penalidades;
● Redução da violência estatal – pois, embora legítima e necessária, a pena não deixa de ser uma
agressão ao indivíduo, devendo, portanto, restringir-se aos casos necessários e legais.
● Promocional de transformação social – auxiliando em mudanças que garantirão a evolução da
comunidade.

B) CLASSIFICAÇÕES DO DIREITO PENAL


1. Direito Penal Fundamental (Primário): é o conjunto de normas e princípios do Direito Penal
aplicáveis genericamente, inclusive às leis penais especiais. É composto pelas normas da Parte Geral
do Código Penal e, excepcionalmente, algumas normas de amplo conteúdo previstas na Parte
Especial, como os conceitos de domicílio (art. 150, §§4º e 5º) e funcionário público (art. 327);
2. Direito Penal Complementar (Secundário): corresponde à legislação penal extravagante;

3. Direito Penal Comum: é o conjunto de normas penais aplicável indistintamente a todas as pessoas,
como o Código Penal;
4. Direito Penal Especial: é o conjunto de normas penais aplicável apenas a pessoas determinadas que
preencham certas condições legais. São exemplos o Código Penal Militar e o Decreto-lei nº 201/1967
(crimes de responsabilidade dos prefeitos);

5. Direito Penal Geral: é o conjunto de normas penais aplicáveis em todo o território nacional. Essas
normas são produzidas privativamente pela União (art. 22, I, da CF);
6. Direito Penal Local: é o conjunto de normas penais aplicáveis somente a determinada parte do
território nacional. A existência dessas normas somente é possível se houver autorização da União
por lei complementar para que os Estados legislem sobre questões específicas de Direito Penal (art.
22, parágrafo único, da CF);

7. Direito Penal Objetivo: é o conjunto de leis penais em vigor;


8. Direito Penal Subjetivo: é o direito de punir (ius puniendi), que pertence exclusivamente ao Estado
e nasce quando uma lei penal é violada;

9. Direito Penal Substantivo: é o direito penal material, propriamente dito. É o que consta no Código
Penal;
10. Direito Penal Adjetivo: também chamado de “formal” (grave as nomenclaturas), é o direito
processual penal.

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#SELIGA: Direito Penal de Intervenção


Abordado por Hassemer. Segundo ele, o direito penal deve se preocupar apenas com os bens jurídicos
individuais, tais como a vida, patrimônio, propriedade etc., bem como de infrações penais que causem perigo
concreto. Por outro lado, se o intuito da previsão da infração é proteger apenas bem jurídico difuso, coletivo
ou de natureza abstrata, não deveria ser considerada uma infração penal. Deveria ser regulada por um
sistema jurídico diverso, com sanções mais brandas que as do direito penal, sem risco de privação da
liberdade do infrator, mas aplicadas também por uma autoridade judiciária, de forma mais célere e ampla,
podendo ser até mais efetiva, para não tornar o direito penal inócuo e simbólico. Exemplo no BR: Lei 8429/92.
Este seria o direito de intervenção.
O direito de intervenção estaria acima do direito administrativo, mas abaixo do direito penal.
Para o autor, de um lado, o Direito Penal, dada sua gravidade, não pode ser utilizado para a tutela de bens
jurídicos difusos, coletivos, transindividuais etc. Por outro lado, sabe-se que as autoridades administrativas
não possuem a independência necessária para a aplicação das penalidades. Por isso, propõe o Direito de
Intervenção.
Há críticas acerca de tal posicionamento na doutrina, pela dúvida de como seria a legitimidade e como atuaria
o direito de intervenção, bem como se tais sanções seriam suficientes para tutelar bens importantes que se
caracterizam como coletivos, difusos ou de natureza abstrata.

2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS

O estudo do crime, do criminoso e da sanção penal é o objeto de várias ciências, tendo sido chamadas
por José Cerezo Mir de “enciclopédia de ciências penais”.
A doutrina não é uníssona acerca de quantas ou quais exatamente seriam elas, mas, para o nosso
estudo, as mais importantes são a dogmática, a criminologia e a política criminal.

I – DOGMÁTICA PENAL: tem por objetivo interpretar de forma sistemática o direito penal, entendendo o
sentido das normas e aplicando-o de forma lógico-racional (não emocional).

Obs.: Dogmática ≠ Dogmatismo: Dogmatismo é a aceitação cega de verdades tidas como absolutas e
imutáveis (deve ser desprezado). Se opõe à ideia de ciência, que admite flexibilização, na qual estaria
enquadrada a dogmática.

II – CRIMINOLOGIA: A criminologia, de acordo com Luiz Flávio Gomes e Antônio Molina, é uma ciência
empírica (estuda o que “é”, ao contrário do direito penal, que estuda o que “deve ser” – caracterizando-se
como uma ciência valorativa e normativa) e interdisciplinar (observa diversos fatores: econômicos, políticos,
sociais, religiosos etc.), a qual estuda o crime, a vítima, o criminoso e o controle social. Suas constatações se
dão a partir da observação daquilo que acontece na realidade social, na experiência.

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Ps.: Gravando as palavras-chave sobre as características da criminologia, que são diversas das do
direito penal, vocês já matam várias questões!

III – POLÍTICA CRIMINAL: trabalha com estratégias e mecanismos de controle social da criminalidade, para
que os bens jurídicos relevantes sejam protegidos. Possui a característica de vanguarda, pois orienta a criação
e a reforma das leis, a partir de uma análise crítica acerca destas estarem ou não cumprindo os fins a que se
propõem, considerando dados obtidos por outros ramos (como a criminologia).
Funciona como “filtro” entre a letra fria da lei e a realidade social. Revela as leis que “pegam” e as que não.

2.1 Direito Penal X Criminologia X Política Criminal

O ponto mais cobrado desse tópico é, sem dúvidas, a diferença entre direito penal, criminologia e
política criminal.

DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL


Ciência normativa e valorativa, que
Ciência empírica e
analisa os fatos humanos Trabalha as estratégias e meios
interdisciplinar, que estuda o
indesejados e define quais devem de controle social da
crime, o criminoso, a vítima e o
ser tipificados como crime ou criminalidade.
controle social.
contravenção.
Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto
norma. fato. valor.
Ex: Quais fatores contribuem Ex: Estuda como diminuir os
Ex: Define o crime de roubo.
para o crime de roubo. casos de roubo.

VAMOS LEMBRAR:
Vitimologia: é o estudo da vítima em seus diversos planos. Inicialmente, a análise era quanto às formas de
contribuição da vítima para a prática dos crimes. Modernamente, tal estudo preocupa-se também com a
proteção destas no momento posterior à prática do crime, como por exemplo com a sua reinserção na
sociedade. No direito brasileiro, temos o exemplo da composição dos danos civis (art. 74, parágrafo único,
Lei 9.099/95) - TERCEIRAVIA
Ademais, uma das circunstâncias judiciais que deve ser considerada na fixação da pena base é o
comportamento da vítima (art. 59, CP).

2.2 Seletividade - Criminalização Primária e Secundária (Zaffaroni)

Sobre a seletividade, define Zaffaroni:

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“Ao menos em boa medida, o sistema penal seleciona pessoas ou ações, como
também criminaliza certas pessoas segundo sua classe e posição social. [...] Há
uma clara demonstração de que não somos todos igualmente ‘vulneráveis’ ao
sistema penal, que costuma orientar-se por ‘estereótipos’ que recolhem os
caracteres dos setores marginalizados e humildes, que a criminalização gera
fenômeno de rejeição do etiquetado como também daquele que se solidariza ou
contata com ele, de forma que a segregação se mantém na sociedade livre. A
posterior perseguição por parte das autoridades com rol de suspeitos
permanentes, incrementa a estigmatização social do criminalizado (ZAFFARONI;
PIERANGELI, 2011, p. 73).” (Guarda relação com o movimento do labeling approach
/ teoria da reação social / da rotulação social / do etiquetamento social – tema que
deve ser estudado de modo mais aprofundado na matéria de criminologia.)

Nesse contexto, o processo de criminalização pode ser dividido em dois:


a) Criminalização primária: É a elaboração e sanção das leis penais, introduzindo formalmente no
ordenamento jurídico a tipificação de determinadas condutas.
b) Criminalização secundária: É a ação punitiva que recai sobre pessoas concretas. Quando recai sobre
o indivíduo a persecução penal após ser a ele atribuída a prática de um ato primariamente
criminalizado. É praticada pela Polícia e Poder Judiciário.

* ATENÇÃO: Além do momento da elaboração e aplicação da norma, a seletividade também vai se mostrar
presente no momento da execução da pena.

- SELIGA: Você sabe o que é Direito Penal Subterrâneo e Direito Penal Paralelo? Referem-se aos sistemas
penais paralelos e subterrâneos.
De acordo com Zaffaroni, “sistema penal é o conjunto das agências que operam a criminalização primária e
a criminalização secundária ou que convergem na sua produção”.
Direito Penal Paralelo: Como o sistema penal formal do Estado não obtêm êxito em grande parte da
aplicação e exercício do poder punitivo, outras agências apropriam-se desse espaço e o exercem de modo
paralelo ao estado (criando sistemas penais paralelos). Ex.:médico que aprisiona doentes mentais;
institucionalização pelas autoridades assistenciais dos morados de rua etc.).
Direito Penal Subterrâneo: ocorre quando as instituições oficiais atuam com poder punitivo ilegal,
acarretando abuso de poder. Ex.: institucionalização de pena de morte (execução sem processo),
desaparecimentos, torturas, extradições mediante sequestro, grupos especiais de inteligência que atuam
fora da lei etc.

3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO

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Direito Penal do Fato – Adotado pelo Ordenamento Penal Brasileiro – consiste que o direito penal
deve punir condutas, ou seja, fatos, praticados pelos indivíduos que sejam lesivas a bens jurídicos de
terceiros. Pune-se o fato. A base para esse princípio está no Estado de Direito.
Importante frisar que se considera circunstâncias relacionadas ao autor, especificamente quando da
análise da pena. Ex: art. 59 do CP; Reincidência.
Está atrelado ao Princípio da exteriorização ou materialização do fato, pelo qual o Estado só pode
incriminar condutas humanas voluntárias (fatos). Assim, ninguém pode ser castigado por seus pensamentos,
desejos ou meras cogitações ou estilo de vida.
O princípio da exteriorização serviu para o legislador acabar com as infrações penais que
desconsideravam esse mandamento. Ex: Mendicância (art. 60 L.C.P. – abolido), tal crime adotava o direito
penal do autor.
Por sua vez, o direito Penal do autor consiste na punição do indivíduo baseada em seus
pensamentos, desejos e estilo de vida, condições pessoais, do modo de ser, grau de culpabilidade
(reprovabilidade), antecedentes do autor, está interligado ao Direito Penal do Inimigo. Aqui teríamos uma
inobservância do princípio da exteriorização do fato.

Obs: Coculpabilidade e coculpabilidade às avessas (Zaffaroni)


Coculpabilidade é corresponsabilidade do Estado no cometimento de determinados delitos, praticados por
cidadãos que possuem menor âmbito de autodeterminação diante das circunstâncias do caso concreto,
principalmente no que se refere a condições sociais e econômicas do agente, o que enseja menor reprovação
social, segundo o princípio da coculpabilidade, o Estado-juiz haveria de considerar como atenuante as
condições socioeconômicas do réu no momento na aplicação da pena. Veja que o artigo 66 do Código Penal
autoriza ao Juiz esse postulado, através da, chamada pela doutrina, atenuante inominada. A outra face da
teoria da coculpabilidade pode ser identificada como a coculpabilidade às avessas, por meio da qual defende-
se a possibilidade de reprovação penal mais severa no tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de
elevado poder econômico, e que abusam desta vantagem para a execução de delitos, em regra
prevalecendo-se das facilidades proporcionadas pelo livre trânsito nos centros de controle político e
econômico.

4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI)

4.1 Conceito

Para Ferrajoli, “o garantismo é entendido no sentido do ESTADO CONSTITUCIONAL DE DIREITO, isto


é, aquele conjunto de vínculos e de regras racionais impostos a todos os poderes na tutela dos direitos de
todos, representa o único remédio para os poderes selvagens”.

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4.2. Garantias primárias e secundárias

O autor distingue as garantias em duas grandes classes: as garantias primárias e as garantias


secundárias:
● Garantias primárias – limites e vínculos normativos: Consistem nas proibições e obrigações, formais
e substanciais, impostos na tutela dos direitos, ao exercício de qualquer poder;
● Garantias secundárias – diversas formas de reparação: Subsequentes às violações das garantias
primárias, diz respeito à anulabilidade dos atos inválidos e a responsabilidade pelos atos ilícitos.
- Ex: a CF prevê como garantia primária que não haverá pena de banimento. O legislador não a
observa e comina tal pena a determinado crime. Neste caso, será utilizado o controle de
constitucionalidade, previsto na própria constituição como garantia secundária, julgando o ato nulo.

* ATENÇÃO: Para o garantismo de Ferrajoli, o juiz não é um mero aplicador da lei, um mero executor da
vontade do legislador ordinário. Ele é, antes de tudo, o guardião de direitos fundamentais.

4.3 Máximas do garantismo

☠ Questão cobrada na 2ª fase do concurso para o cargo de Delegado do Estado do


Mato Grosso do Sul em 2017

● Nulla poena sine crimine: somente será possível a aplicação de pena quando houver, efetivamente, a
prática de determinada infração penal;
● Nullum crimen sine lege: a infração penal deverá sempre estar expressamente prevista na lei penal;
● Nulla lex (poenalis) sine necessitate: a lei penal somente poderá proibir ou impor determinados
comportamentos, sob a ameaça de sanção, se houver absoluta necessidade de proteger determinados
bens, tidos como fundamentais ao nosso convívio em sociedade, (direito penal mínimo);
● Nulla necessitas sine injuria: as condutas tipificadas na lei penal devem, obrigatoriamente, ultrapassar
a sua pessoa, isto é, não poderão se restringir à sua esfera pessoa, à sua intimidade, ou ao seu
particular modo de ser, somente havendo possibilidade de proibição de comportamentos quando
estes vierem a atingir bens de terceiros;
● Nulla injuria sine actione: as condutas tipificadas só podem ser exteriorizadas mediante a ação do
agente, ou omissão, quando previsto em lei;
● Nulla actio sine culpa: somente as ações culpáveis podem ser reprovadas;
● Nulla culpa sine judicio: é necessário adoção de um sistema nitidamente acusatório, com a presença
de um juiz imparcial e competente para o julgamento da causa;
● Nullum judicium sine accusatione: o juiz que julga não pode ser responsável pela acusação;
● Nulla accusatio sine probatione: fica a cargo do acusador todo o ônus probatório, que não poderá ser
transferido para o acusado da prática de determinada infração penal;
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● Nulla accusatio sine defensione: deve ser assegurada ao acusado a ampla defesa, com todos os
recursos a ela inerentes.

#ATENÇÃO! Em que consiste o garantismo penal integral?


O Direito penal deve se prestar a garantir não somente os direitos e garantias dos acusados, mas todos os
direitos e deveres previstos na Constituição. Em que pese não se possa tolerar violações arbitrárias e
desproporcionais aos direitos daquele sob o qual recai o jus puniendi estatal, não se pode também deixar de
proteger outros bens que também são juridicamente relevantes para a sociedade.
Tudo isso deve passar pelo crivo da proporcionalidade.
Desse modo, o garantismo divide-se em:
a) Garantismo negativo: visa limitar a função punitiva do Estado, que deve ser aplicada estritamente aos
casos necessários e em medida adequada, consistindo na proibição de excesso.
b) Garantismo positivo: busca evitar a impunidade e garantir que os bens jurídicos relevantes à sociedade
sejam efetivamente protegidos, caracterizando-se pela proibição da proteção insuficiente.
Quando apenas o garantismo negativo é observado, surge o chamado “garantismo hiperbólico monocular”
(grave este nome). Hiperbólico: por ser aplicado de modo desproporcional e exagerado. Monocular: por
enxergar apenas um lado, opondo-se ao garantismo integral.

5. DIREITO PENAL DO INIMIGO

a) Conceito: Aquele que viola o sistema deve ser considerado e tratado como inimigo. O delinquente,
autor de determinados crimes, não é ou não deve ser considerado como cidadão, mas como um “cancro
societário”, que deve ser extirpado (Munhoz Conde).
Jakobs fomenta o Direito Penal do inimigo para o terrorista, traficante de drogas, de armas e de
seres humanos e para os membros de organizações criminosas transnacionais (vide lei 12.850/2013).
Destaque-se que nem todo criminoso é inimigo, apenas uma parcela reduzida de criminosos é que
entra neste rol.

b) Características do direito penal do inimigo:


● Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios: O legislador é impaciente, não
aguarda o início da execução para punir o agente);
● É um direito penal prospectivo e não retrospectivo, na medida em que se pune o inimigo pelo que
ele poderá fazer, em razão do perigo que representa;
● O inimigo não é visto como um sujeito de direitos, pois perdeu seu status de cidadão;
● Pune-se o inimigo pela sua periculosidade e não pela sua culpabilidade, como é no direito penal
comum;
● Criação de tipos de mera conduta;

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● Previsão de crimes de perigo abstrato: normalmente, pode haver crimes de perigo abstrato, mas
sem abusos, flexibilização o princípio da lesividade;
● As garantias processuais aplicadas ao inimigo são relativizadas ou até mesmo suprimidas.
● Flexibilização do Princípio da Legalidade: é a descrição vaga dos crimes e das penas. A descrição
genérica de um crime permite a punição de mais condutas/comportamentos;
● Inobservância dos Princípios da Ofensividade: relação com a criação de crimes de perigo abstrato)
e da Exteriorização do Fato (relação com o direito penal do autor);
● Preponderância do Direito Penal do autor: Flexibilização do princípio da exteriorização do fato;
● Desproporcionalidade das penas;
● Surgimento das chamadas “leis de luta ou de combate”: Exemplo - Lei 8.072/90 e Lei 12.850/2013.
Alguns doutrinadores sustentam que tais leis têm predicados de direito penal do inimigo;
● Endurecimento da Execução Penal: O regime disciplinar diferenciado é um resquício do direito penal
do inimigo;

*ATENÇÃO: O Direito Penal do inimigo também é conhecido como a “terceira velocidade do Direito Penal”.
Isto porque se aplica a pena de prisão e também por ser extremamente célere, já que suprime direitos e
garantias.

5.1 Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez)

Segundo, Cleber Masson (2017, p. 111) a teoria das velocidades do direito penal “parte do
pressuposto de que o Direito Penal, no interior de sua unidade substancial, contém dois grandes blocos,
distintos, de ilícitos: o primeiro das infrações penais às quais são cominadas penas de prisão (direito penal
nuclear), e o segundo, daqueles que se vinculam aos gêneros diversos de sanções penais (direito penal
periférico)”.

● Primeira velocidade: Direito Penal “da prisão”, aplicando-se penas privativas de liberdade como
resposta aos crimes praticados, com a rígida observância das garantias constitucionais e processuais.
Aplicada a delitos graves.
● Segunda velocidade: Direito penal reparador. São aplicadas aqui penas alternativas à prisão, como
restritivas de direitos ou pecuniárias, de forma mais rápida, sendo admissível, para tanto, uma
flexibilização proporcional dos princípios e regras processuais. Aplicável a delitos de menor
gravidade.
☠ Foi tema da prova discursiva do concurso de Delegado do Espírito Santo em 2019!
● Terceira velocidade: Novamente temos aqui a prisão por excelência. Contudo, difere-se da primeira
por permitir a flexibilização e até a supressão de determinadas garantias. Aplicada aos delitos de
maior gravidade.
Remete ao direto penal do inimigo, já explicado acima.
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Também poderiam constituir exemplos a Lei de Crimes Hediondos e a Lei de Organizações Criminosas
na legislação pátria.
● Quarta velocidade: Neopunitivismo. Ligada ao direito internacional. É o processamento e
julgamento pelo TPI de chefes de Estado que violarem tratados e convenções internacionais de tutela
de Direitos Humanos e praticarem crimes de lesa-humanidade, de modo que, por esta razão, se
tornarão réus perante o referido tribunal e terão, dentro do contexto, suas garantias penais e
processuais penais diminuídas.
● Quinta velocidade: hodiernamente, já se fala em Direito Penal de 5ª (quinta) velocidade, que trata
de uma sociedade com maior assiduidade do controle policial, o Estado com a presença maciça de
policiais na rua, no cenário onde o Direito Penal tem o escopo de responsabilizar os autores, diante
da agressividade presente em nossa sociedade de relações complexas e, muitas vezes,
(in)compreensíveis. #PERTINÊNCIATEMÁTICA

6. FONTES DO DIREITO PENAL

☠ Foi tema de prova oral do concurso de Delegado de Polícia de Minas Gerais em


2018

São as formas pelas quais o direito penal é criado e, posteriormente, manifestado.

a) Fonte Material: Diz respeito à criação do Direito Penal. Via de regra, é a União, art.22, I, da CF/88, pois
“compete privativamente à União legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”.

*Atenção: O artigo 22, parágrafo único, CF/88, prevê que “Lei Complementar poderá autorizar os Estados a
legislar sobre questões específicas relacionadas neste artigo”, o que permite entender que abarca, inclusive,
o Direito Penal. Então podemos ter uma lei complementar autorizando o estado a legislar sobre questões
específicas de direito penal. É chamada DELEGAÇÃO EM PRETO – pois essa lei complementar não pode
delegar genericamente. Têm que ser pontos específicos/questões específicas.

Obs.: Medida provisória pode versar sobre direito penal?


R.: A EC 32/01 inseriu dispositivo expresso na CF/88 vedando a edição de medida provisória versando
sobre direito penal. Até 2001 não existia regra expressa na CF/88 vedando a edição de medida provisória
sobre matéria penal. Tanto que o próprio STF, antes dessa EC 32, apreciou o RE 254.818/PR – 2000,
especificando que MP não poderia versar sobre direito penal, exceto se favorável ao réu.

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Esse julgado (2000), anterior à EC 32/2001, que estabeleceu ser possível a edição de medida
provisória quando favorável ao réu, subsistiria após a EC 32/01, considerando que, com essa EC, passou-se a
vedar, de forma abstrata, a edição de medida provisória sobre matéria penal?
R.: A doutrina e a jurisprudência são pacíficas no sentido de que é possível a edição de medida
provisória versando sobre direito penal quando favorável ao réu, de modo que o entendimento exarado no
bojo do RE 254.818 subsistiria após a edição da EC 32/01.

Segundo explica o autor Cleber Masson, "É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a
Direito Penal (CF, art. 62, § 1.º, I, alínea b), seja ela prejudicial ou mesmo favorável ao réu. Nada obstante, o
Supremo Tribunal Federal historicamente firmou jurisprudência no sentido de que as medidas provisórias
podem ser utilizadas na esfera penal, desde que benéficas ao agente". (MASSON, Cleber. Direito Penal.
Parte Geral. Volume 1. 13ª edição. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2019, p. 97).
STF no RE 254818/PR:
I. Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria penal - extraída pela doutrina consensual - da
interpretação sistemática da Constituição -, não compreende a de normas penais benéficas, assim, as que
abolirem crimes ou lhes restringem o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de isenção
de pena ou de extinção de punibilidade. II. Medida provisória: conversão em lei após sucessivas reedições,
com cláusula de "convalidação" dos efeitos produzidos anteriormente: alcance por esta de normas não
reproduzidas a partir de uma das sucessivas reedições. III. MPr 1571-6/97, art. 7º, § 7º, reiterado na reedição
subsequente (MPr 1571-7, art. 7º, § 6º), mas não reproduzido a partir da reedição seguinte (MPr 1571-8 /97):
sua aplicação aos fatos ocorridos na vigência das edições que o continham, por força da cláusula de
"convalidação" inserida na lei de conversão, com eficácia de decreto-legislativo.(STF - RE: 254818 PR, Relator:
SEPÚLVEDA PERTENCE, Data de Julgamento: 08/11/2000, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 19-12-2002
PP-00081 EMENT VOL-02096-07 PP-01480 RTJ VOL-00184-01 PP-00301).

b) Fonte Formal: Diz respeito à aplicação do Direito Penal. Esse ponto varia um pouco de doutrinador para
doutrinador.

DOUTRINA CLÁSSICA DOUTRINA MODERNA


Imediata: Imediata:
● Lei (Desdobramento do princípio da ● Lei
reserva legal, que prevê a criação de ● Constituição Federal
crime e cominação de penas como ● Tratados Internacionais de Direitos Humanos
um monopólio da lei. Aqui, estamos ● Jurisprudência
falando em lei ordinária). ● Princípios
● Atos administrativos (complementos de normas
penais em branco).

*Porém, até mesmo aqui, a única fonte formal que pode

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criar tipos penais e culminar penas é a lei (reserva legal).


O restante é fonte não-incriminadora.
Mediatas: Mediatas:
● Costumes ● Doutrina
● Princípios gerais do Direito
● *Alguns colocam atos
administrativos.
Fonte informal:
● Costumes

i. Lei - É o único instrumento normativo capaz de criar infração penal e cominar sanção penal (única
fonte formal imediata incriminadora).

ii. Constituição Federal – Não cria infração penal e não comina sanção penal (nem pena, nem medida
de segurança).

☞ Pergunta (fase oral MP/SP) – Se a lei pode criar crimes e cominar penas, por que a CF, que é uma norma
superior à lei, não pode fazer isso (afinal, quem pode o mais pode o menos)? Em razão de seu processo
moroso de alteração. Ademais, a CF não pode criar crime e nem alterar pena, pois o seu processo de
alteração é super rígido e incompatível com as necessidades do direito penal.

☞ CUIDADO! A Constituição Federal, porém, fixa alguns patamares abaixo dos quais a intervenção penal
não se pode reduzir. São os chamados “mandados constitucionais de criminalização” (patamares
mínimos). Exemplos de mandados constitucionais de criminalização:

Art.5º, XLI, CF – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e


liberdades fundamentais.
Art. 5º, XLII, CF – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. (Observe que o constituinte disse que
quem vai criar o crime de racismo é a lei, mas quando esse crime for criado, a lei
deve puni-lo com, no mínimo, reclusão, qualquer que seja a pena).
Art.5º, XLIII, CF – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

☞ Pergunta de Concurso: Existe mandado constitucional de criminalização implícito ou tácito?

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R: De acordo com a maioria, existem mandados constitucionais de criminalização implícitos, com a


finalidade de evitar a intervenção insuficiente do Estado (imperativo de tutela). No mais, sustenta a maioria
que sim, decorrente do nosso sistema jurídico de proteção dos direitos humanos. Por exemplo, a nossa
Constituição, ao garantir o direito à vida, está, implicitamente, determinando a criminalização do homicídio
(se todos têm direito à vida, não se pode permitir que o homicídio não seja crime).

iii. Tratados Internacionais de Direitos Humanos (TIDH)


Como é sabido, os TIDH entram no ordenamento interno podendo ostentar 02 status:
⦁ Se recepcionados com quórum de emenda constitucional, têm status de emenda;
⦁ Se o TIDH for recepcionado com quórum comum, terá status infraconstitucional, porém supralegal.

ATENÇÃO: Os tratados internacionais podem ser classificados como fonte do direito penal apenas quando
incorporados ao direito interno. Se versar sobre direitos humanos e for aprovado seguindo o rito de
emendas constitucionais, terá força normativa de emendas constitucionais (art. 5º, §3°, CF). Caso não siga
tal rito, terá força de norma supralegal.

iv. Jurisprudência
Não cria crime; não comina pena. Mas, na prática, às vezes, a jurisprudência cria o direito penal.
Ademais, revela Direito Penal podendo inclusive ter caráter vinculante. Um exemplo disso é o caso do crime
continuado, em que a jurisprudência define o que são condições de tempo e lugar para fim de definição da
continuidade delitiva. A condição de tempo é de 30 dias de intervalo entre as infrações; a condição de lugar
também é definida pela jurisprudência.

Art. 71, CP – Quando o agente, mediante mais de uma ação e omissão, pratica 2 ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou
a mais grave, se diversas, aumentada em qualquer caso, de 1/6 a 2/3.

Obs: Súmulas vinculantes – Elas também são fontes do direito penal.

a. Princípios - Não criam crime nem cominam pena. Mas vários são os julgados absolvendo ou
reduzindo pena com base em princípios. Ex: Princípio da Insignificância – causa de atipicidade
material.

Iremos aprofundar o estudo sobre os princípios mais adiante.

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b. Atos administrativos - Fonte formal imediata quando complementam norma penal em branco. Ex:
Lei de drogas é complementada por uma Portaria da ANVISA.

c. Doutrina: Para alguns autores, a doutrina não é fonte do direito penal por não ter força cogente, ou
seja, não ser revestida de obrigatoriedade.

d. Costumes
● Costume é a repetição de um comportamento (elemento objetivo) em face da crença na sua
obrigatoriedade (elemento subjetivo).
≠ de hábito, que consiste na mera repetição de comportamento (elemento objetivo), mas sem
a crença na sua obrigatoriedade.
● Costume não cria crime, não comina pena, só a Lei pode criar crimes e cominar penas, em razão do
princípio da legalidade (veda-se o costume incriminador).

Princípio da Legalidade x Costumes:


A lex scripta, uma das funções de garantia do princípio da legalidade – como veremos adiante - proíbe que
se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito penal (impossibilidade de utilizar costumes
para incriminar condutas ou cominar penas). Portanto, os costumes não têm o condão de criminalizar
condutas e nem cominar penas.
Qual a função dos costumes no direito penal?
De acordo com Nilo Batista e Zaffaroni, os costumes têm uma função integrativa ou integradora. Isso quer
dizer que os costumes desempenham a função de integrar a atribuição de sentidos de determinadas
expressões do tipo penal, em especial os elementos normativos do tipo. Trata-se de uma função
interpretativa/hermenêutica. Por exemplo: Art. 233, CPP – crime de ato obsceno. Quem vai determinar o
sentido de ato obsceno? Vai ser determinado pelo sentido compartilhado pela sociedade, de forma reiterada.
É um conceito normativo porque exige um juízo de valor, e esse juízo de valor é um juízo temperado e
contextualizado de acordo com a prática social da comunidade. Portanto, a função integrativa dos costumes
atua de forma muito mais efetiva nos elementos normativos do tipo (que exigem valoração).

● Espécies de costumes:
i. Costume secundum legem (costume interpretativo): possui a função de auxiliar o intérprete
a entender o conteúdo da lei. Por exemplo, ato obsceno (art. 233 do CP). Vai depender do
ambiente em que o ato foi praticado e dos costumes locais para que ele seja assim
considerado ou não.
ii. Costume contra legem (costume negativo): é chamado de DESUETUDO. É aquele que
contraria uma lei, mas não a revoga.Ex.: Venda de CDs piratas.
iii. Costume praeter legem (costume integrativo): é aquele usado para suprir as lacunas da lei.
É válido, mas só pode ser usado no campo das normas penais não incriminadoras e apenas
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para favorecer o agente. Ex.: a circuncisão em meninos de determinadas religiões não é


considerada crime.
Essa proteção dá-se por meio de lei, ou seja, a fonte formal ou de cognição do direito penal é só a
lei. Com isso, reafirma-se tanto a proibição de utilização dos costumes para a definição dos delitos e das
penas ou para seu agravamento como a proibição da analogia incriminadora.

#SELIGA: Existe costume abolicionista?


▪ 1ª Corrente: Admite-se o costume abolicionista, aplicado nos casos em que a infração penal não mais
contraria o interesse social. Defende a função derrogatória dos costumes. Ex. Para esta corrente, o
jogo do bicho não é mais contravenção penal.
▪ 2ª Corrente: Diz que não existe costume abolicionista. Quando o fato já não é mais indesejado pela
sociedade, o juiz não deve aplicar a lei. Ex: Para esta corrente, o jogo do bicho permanece
formalmente típico, porém não aplicável, sem eficácia social (não tem tipicidade material).
▪ 3ª Corrente (PREVALECE): Entende que não existe costume abolicionista. Enquanto não revogada
por outra lei, a norma tem plena eficácia. É a que prevalece e está de acordo com a lei de introdução
às normas do direito brasileiro. Ex: Jogo do bicho continua tipificado como contravenção penal,
sendo aplicável no caso concreto.

* ATENÇÃO: Para aqueles que não adotam a tese do costume abolicionista, é possível o uso do costume
segundo a lei (costume interpretativo), que vai servir para aclarar o significado de uma palavra, de um texto.

7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

Princípios são os valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema jurídico.
No caso dos princípios penais, eles vão orientar a atuação do legislador na elaboração da legislação penal e
do operador do direito em sua aplicação.
De acordo com o Professor Delegado Marcus Montez, esses princípios têm a chamada “força
normativa, força de impor ao legislador, intérprete, partes, particular. Nesse sentido, princípio não é apenas
aquele “princípio geral de direito”, pelo contrário, ele tem força cogente e impositiva”.
A função dos princípios é limitar o poder de punir do Estado. Isso porque, o Estado, por natureza, é
arbitrário, pois invade a esfera de liberdade do indivíduo. Então o Direito Penal é visto como instrumento de
contenção do Estado, que vai tolher o Estado ao máximo visando garantir a liberdade do sujeito, garantias
mínimas para que se possa desenvolver direitos de 1ª geração.
Por fim, vale relembrar que a maioria dos princípios está constitucionalizada, seja implícita ou
explicitamente, de modo que é possível utilizar tais princípios para efetuar controle de constitucionalidade.
💣 Além das questões de concursos que tratam diretamente dos princípios, o simples fato de entender
os valores que eles trazem nos orientam muito no raciocínio necessário para a solução de muitas outras, por
isso é um tema que não pode ser negligenciado, ok?
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7.1 Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal

7.1.1 Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos

O Direito Penal deve servir apenas e tão somente para proteger bens jurídicos relevantes (Roxin).
Ademais, nenhuma criminalização é legítima se não busca evitar a lesão ou o perigo de lesão a um bem
juridicamente determinado. Impede que o Estado utilize o Direito Penal para a proteção de bens ilegítimos.
Assim, não pode incriminar pensamentos ou intenções, questões morais, éticas, ideológicas,
religiosas ou finalidades políticas. Para a teoria constitucional do Direito Penal, aliás, a referida eleição de
bens jurídicos deve refletir os valores constitucionais, a exemplo do homicídio, que tutela o direito
fundamental à vida.
Dessa forma, o princípio da proteção aos bens jurídicos defende que o direito penal deve servir
apenas para proteger bens jurídicos relevantes, bens jurídicos indispensáveis ao convívio em sociedade.
Mas o que é bem jurídico?
R.: Trata-se de um tema extremamente controvertido, de modo que vamos tentar simplificá-lo para
melhor compreensão.
Para Luiz Regis Prado, bem jurídico é um ente material ou imaterial, haurido do contexto social, de
titularidade individual ou metaindividual, reputado como essencial para a coexistência e o desenvolvimento
do homem em sociedade.
Por sua vez, Luis Greco e Roxin se filiam ao mesmo conceito, mas usam expressões diferentes.
● Roxin – bem jurídico será a relação real da pessoa com um valor concreto, reconhecido pela
comunidade.
● Luis Greco – bem jurídico são dados fundamentais para a realização pessoal dos indivíduos ou para
a subsistência do sistema social nos limites da ordem constitucional
Nesse sentido, para conceituar bem jurídico, é imprescindível levar 2 pontos em consideração:
1) Fundamento do bem jurídico: o conceito de bem jurídico tem que ter como ponto central,
como fundamento, a importância do bem àquela pessoa. Tem que ser um bem de
importância vital, fundamental, de modo que a existência dessa pessoa ou seu bem-estar
estejam ameaçados sem a criminalização daquela conduta.
2) Titularidade do bem jurídico: É importante saber quem é o titular desse bem jurídico. Para
quem o BJ tem essa importância fundamental?

* ATENÇÃO: A espiritualização dos bens jurídicos no Direito Penal (Roxin) revela uma evolução quanto à
proteção dos bens jurídicos dentro do Direito Penal. Em um momento inicial, apenas os crimes de dano
contra bens jurídicos individuais possuíam relevância no âmbito penal. Modernamente, o Direito Penal
antecipou a tutela, assumindo um papel preventivo, passando a punir os crimes de perigo contra bens
supraindividuais (como por exemplo, a tipificação de crimes ambientais).
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- Parcela da doutrina critica essa expansão da tutela penal na proteção de bens jurídicos de caráter difuso ou
coletivo. Argumenta-se que tais bens são formulados de modo vago e impreciso, bem como, que não seria
esse o papel do direito penal, que deve ser utilizado apenas como última ratio, havendo outras searas que
poderiam solucionar tais questões, em razão dos princípios que estudaremos a seguir.

Confira a dica do professor Marcelo Veiga:

https://youtu.be/zE14JCcjH6g

Atenção! temática “bem jurídico” tem sido a “modinha” dos certames e, por isso, deve o candidato estar
atento as nuances.

De acordo com os autores João Paulo Martinelli e Leonardo Schmitt de Bem, na obra "Direito Penal - Lições
Fundamentais", da Editora D'Plácido, na página 171, “A noção de ‘bem jurídico aparente’ identifica-se com
as hipóteses nas quais, por meio do uso reificante da linguagem e da adoção de uma perspectiva distanciada,
acaba-se por ocultar a ausência de um efetivo bem jurídico tutelado pela norma.”
Explicam ainda os autores:
"... protege-se um somatório de integridades físicas individuais (...) no que tange à incolumidade pública
como um bem jurídico coletivo apenas na aparência significa dizer que a proteção desses bens jurídicos não
poderá ser realizada independentemente dos particulares, mas deverá ser instrumental ou dirigir-se à
realização dos interesses individuais de todos os membros sociais. Por outro lado, o meio ambiente, a
administração estatal da Justiça, a ordem econômica e a autenticidades das moedas são considerados
verdadeiros bens jurídicos coletivos, pois não podem ser fracionados em bens individuais somados. Em
síntese, é impossível, por exemplo, conceber o meio ambiente como a soma de vários bens
jurídicos individuais."

7.1.2 Princípio da Intervenção Mínima

a) Origem histórica: Declaração dos direitos do homem e do cidadão (1789)

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No art. 8º desse diploma, temos a imposição de que o direito penal deve estabelecer penas estrita e
evidentemente necessárias. Isso, de certa forma, traz a ideia originária do princípio da intervenção mínima:
pois o Direito Penal só deve intervir quando for estrita e evidentemente necessária

b) Introdução
O direito penal só deve ser aplicado quando a criminalização de um fato é estritamente necessária à
proteção de determinado bem ou interesse, não sendo suficientemente tutelado por outras searas do
direito. O direito penal é o último grau de proteção jurídica.
Em outras palavras: O direito penal em um Estado Democrático de Direito atua como ultima
ratio/ultima razão/ultima saída. Isso porque o direito penal só deve atuar quando os outros ramos do direito
já tenham fracassado na tentativa de solucionar aquele conflito. Não pode ser usado como prima ratio

ILÍCITOS EM GERAL

ILÍCITOS
PENAIS

Como na figura, nem tudo o que é ilícito caracteriza um ilícito penal, mas apenas uma pequena
parcela. Porém, todo ilícito penal será também ilícito perante as demais searas do direito.
Ex.: se um funcionário público pratica crime, isso sempre configurará também uma infração
administrativa. Porém, a recíproca não é verdadeira. Nem toda infração administrativa encontrará uma
correspondente tipificação penal.
Obs.: Trata-se de um princípio um implícito na CF/88, que pode ser retirado, principalmente, do
princípio da dignidade da pessoa humana. (art. 1º, III, CF/88)

c) Destinatários de finalidade: dois são os destinatários do referido princípio:


● Legislador (no plano abstrato);
● Aplicador do direito (no plano concreto).
Nessa linha, temos que a intervenção mínima deve ser observada tanto pelo legislador, no momento
de selecionar as condutas que passaram a ser tuteladas pelo Direito Penal, como também, deve ser
observado pelo aplicador do direito no caso em concreto.

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d) Finalidade do princípio da intervenção mínima: trata-se de um reforço ao princípio da reserva legal,


posto que não é suficiente que tenha lei prevendo aquela conduta como criminosa, é necessário
ainda que a intervenção penal cominada pela lei seja efetivamente necessária.

Rogério Sanches argumenta que “o princípio da intervenção mínima tem duas faces: orienta quando e onde
o direito penal deve intervir (neocriminalização); por outro lado, também orienta quando e onde o direito
penal deve deixar de intervir (abolitio criminis)”. A abolitio criminis é fenômeno verificado sempre que o
legislador, atento às mutações sociais (e ao princípio da intervenção mínima), resolve não mais incriminar
determinada conduta, retirando do ordenamento jurídico-penal a infração que a previa, julgando que o
Direito Penal não mais se faz necessário à proteção de determinado bem jurídico.

Do princípio da intervenção mínima decorrem dois outros princípios:

7.1.2.1 Fragmentariedade

O direito penal é fragmentário pois é visto como um sistema descontínuo de ilicitudes. Ou seja: o
direito penal não pode e nem tem como criminalizar todas a condutas existentes, mesmo que sejam ilícitos
do direito (não só ilícitos penais, mas ilícitos civis também)
Nesse contexto, a fragmentariedade prevê que somente devem ser tutelados pelo direito penal os
casos de relevante lesão ou perigo de lesão aos bens jurídicos fundamentais para a manutenção e o progresso
do ser humano e da sociedade.

O princípio da fragmentariedade deve ser utilizado no plano ABSTRATO, para o fim de permitir a criação de
tipos penais somente quando os demais ramos do Direito tiverem falhado na tarefa de proteção de um bem
jurídico. Refere-se, assim, à atividade legislativa.

Já caiu em prova essa passagem do Ferrajolli:


“A intervenção mínima tem como ponto de partida a característica da fragmentariedade do direito penal.
Este [fragmentariedade] se apresenta por meio de pequenos flashs, que são pontos de luz na escuridão do
universo. Trata-se de um gigantesco oceano de irrelevância, ponteado por ilhas de tipicidade, enquanto o
crime é um náufrago à deriva, procurando uma porção de terra na qual se possa achegar”

#SELIGA: Em que consiste a fragmentariedade às avessas? Ocorre nas situações em que o direito penal
perde o interesse em uma determinada conduta, inicialmente tida por criminosa, por entendê-la
desnecessária, com a evolução da sociedade e modificação de seus valores, ocorrendo a abolitio criminis,
sem prejuízo de sua tutela pelos demais ramos do direito. É um juízo negativo, o crime existia e deixa de
existir.

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Ex.: Adultério, que era crime tipificado no art. 240 do CP e deixou de ser em 2005, quando a Lei nº 11.106
revogou o tipo penal.

7.1.2.2 Subsidiariedade

A subsidiariedade é corolário da intervenção mínima e está ligada à autonomia do Direito Penal.


Somente após se constatar que outros meios de solução social dos conflitos não são aptos a dirimi-los, é que
serão utilizados modelos coercitivos de que dispõe o Direito Penal.
Assim, a intervenção penal fica condicionada ao fracasso dos demais ramos do direito, funcionando
como um soldado de reserva.
Direciona-se ao aplicador do direito, no plano concreto, devendo ser aplicado apenas quando todos
os demais ramos se revelarem impotentes. O crime já existe, mas precisamos saber se a aplicação da lei penal
é necessária no caso concreto.
Nas palavras do professor Cleber Masson:

A atuação do Direito Penal é cabível unicamente quando os outros ramos do Direito


e os demais meios estatais de controle social tiverem se revelado impotentes para
o controle da ordem pública. Projeta-se no plano concreto – em sua atuação prática
o Direito Penal somente se legitima quando os demais meios disponíveis já tiverem
sido empregados, sem sucesso, para proteção do bem jurídico. Guarda relação com
a tarefa de aplicação da lei penal.

Conceitos atrelados à subsidiariedade:


⦁ Roxin – direito penal seria o remédio sancionador extremo. Ou seja: o direito penal só deve atuar
após os outros ramos do direito. Quando os demais ramos atuam e não resolvem o conflito, seria
legítimo ao Direito Penal atuar sobre a característica da subsidiariedade, uma das faces da
intervenção mínima.
⦁ Muñoz Conde – direito penal é aplicável unicamente quando fracassam as demais barreiras
protetoras do bem jurídico pré-dispostas por outros ramos do direito.

STJ (HC 197.601/RJ) O Direito Penal deve ser encarado de acordo com a principiologia constitucional. Dentre
os princípios constitucionais implícitos figura o da subsidiariedade, por meio do qual a intervenção penal
somente é admissível quando os demais ramos do direito não conseguem bem equacionar os conflitos
sociais.

Aprofundando para uma discursiva...


Conflito aparente de normas: Segundo Rogério Greco, o conflito aparente de normas penais é aquele
que ocorre quando duas normas aparentam incidir sobre o mesmo fato. Ele é dito aparente, pois na verdade
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não existe conflito algum – efetivamente, não existe um conflito ao se aplicar a norma ao caso concreto.
Existem princípios, capazes de solucionar os conflitos aparentes de normas penais:
a) Subsidiariedade - Temos uma norma subsidiária e uma norma primária, e só se aplica a norma
subsidiária caso a norma primária não possa ser aplicada, ou seja, uma norma menos grave
(subsidiária), que descreve um crime autônomo, e uma norma mais grave (primária), que descreve
uma segunda conduta e que prevalecerá sobre aquela.
b) Especialidade - Estaremos diante de dois tipos penais, um específico e um genérico, ambos
aparentemente adequados para o caso concreto. Entretanto, pela regra da especialidade,
prevalecerá o tipo penal específico!
c) Consunção - O princípio da consunção está diretamente relacionado com a absorção de um delito
por outro. Ou seja, existe uma relação de fins e meios (um delito é o meio para que se chegue ao
outro) ou mesmo de necessidade (um crime é uma fase para o outro, sendo necessária sua execução
para que se pratique o segundo tipo penal).
d) Alternatividade - Temos o chamado princípio da alternatividade, que, por sua vez, é bastante
simples. Aqui temos um tipo penal chamado de misto alternativo (cuja conduta possui várias formas,
ou seja, vários verbos). Nesses casos, mesmo que o agente pratique vários dos núcleos em um
mesmo contexto, responderá por apenas um crime!

7.1.3 Princípio da Insignificância ou da Bagatela

☠ Caiu na prova de Delegado de Polícia do Mato Grosso do Sul em 2017

a) Introdução, Origem e Conceito

Inicialmente, cumpre destacarmos que o referido princípio não encontra previsão na legislação, mas
pacificamente admitido pela Jurisprudência do STF e do STJ.
Surge no Direito Romano. “De minimus nun curat praetor”. Os juízes e os tribunais não cuidam do
que é mínimo, insignificante. Porém no direito romano só era utilizado no tocante ao direito privado. No
direito penal é incorporado apenas na década de 1970, através dos estudos de Claus Roxin. Segundo Cleber
Masson (Direito Penal Esquematizado) “Em outras palavras, o Direito Penal não deve se ocupar de assuntos
irrelevantes, incapazes de lesar o bem jurídico legalmente tutelado. Na década de 70 do século passado, foi
incorporado ao Direito Penal pelos estudos de Claus Roxin”.
Ressalta-se que o princípio da Insignificância decorre da fragmentariedade, de modo que o Direito
Penal só vai intervir nos casos de relevante lesão, quando for indispensável para a proteção de determinado
bem jurídico, e quando não houver como proteger o bem jurídico como os outros ramos do direito.
Nesse sentido, o princípio da insignificância traduz a ideia de que não há crime quando a conduta
praticada pelo agente é insignificante, não é capaz de ofender ou colocar em perigo o bem jurídico tutelado
pela norma penal.
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b) Finalidade
O STF expressamente reconhece como finalidade desse princípio a “interpretação restritiva da lei
penal” (olha que termo bonito para aparecer na sua prova), ou seja, o princípio da insignificância deve
diminuir a intervenção penal, no sentido de ignorar as condutas irrisórias que não se revelam capazes de
ofender o bem jurídico tutelado pelo tipo penal.

c) Natureza Jurídica: Causa de Exclusão da tipicidade (atipicidade) material. Ou seja: torna o fato atípico
por ausência de tipicidade material.

TRADUZINDO:
TIPICIDADE PENAL = tipicidade formal + tipicidade material.
Tipicidade formal: juízo de adequação do fato à norma (analisa se o fato praticado na vida real, se amolda,
se encaixa ao modelo de crime descrito na lei penal).
Ex.: Sujeito subtrai um iogurte de um hipermercado. Como subtraiu coisa alheia móvel, o fato se adequa ao
tipo penal de furto.
Tipicidade material: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido.
No exemplo acima, em que pese tenha havido a tipicidade formal, o ato praticado não foi capaz de causar
lesão relevante ao bem protegido, vez que o valor de um iogurte não faria a menor diferença no patrimônio
de um hipermercado, não havendo, portanto, tipicidade material.

Mas atenção: NÃO É SÓ O VALOR que deve ser analisado para que seja reconhecida a insignificância
da conduta! Existem outros requisitos que devem ser observados, conforme jurisprudência consolidada da
Suprema Corte.
Ademais, valor insignificante e pequeno valor não são sinônimos. Por vezes, em casos de furto, por
exemplo, a questão apresenta um bem de um valor baixo, mas não irrisório/insignificante, que servirá apenas
para caracterizar a causa de diminuição de pena do furto privilegiado, mas não excluirá a tipicidade material,
seja pelo fato de o valor ser pequeno, mas não irrisório, seja por não preencher algum outro requisito. Então
fique de olho!
Sobre os valores, não há nenhuma tese fixa sobre. É necessário analisar o contexto. Porém,
analisando as decisões proferidas, o STF tem aceitado como insignificantes normalmente valores que que
giram em torno de 10% do salário-mínimo, com variações para mais e para menos (é só uma ideia). Já como
pequeno valor, para o privilégio, admite-se o valor de até 1 salário-mínimo integral (raciocínio aplicável aos
demais delitos que admitem o privilégio).

É inviável a aplicação do princípio da insignificância ao furto praticado quando,


para além do valor da res furtiva exceder o limite de 10% do valor do salário-
mínimo vigente à época dos fatos, o acusado é multirreincidente, ostentando

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diversas condenações anteriores por crimes contra o patrimônio.Processo sob


segredo de justiça. Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, por unanimidade,
julgado em 14/11/2022, DJe 22/11/2022.

2021 – NC UFPR – PC-PR – Delegado de Polícia


Se uma conduta não representa uma ofensa relevante ao bem jurídico contemplado no tipo penal, entende-
se que ela é materialmente atípica em razão do princípio da insignificância. Um exemplo de situação que
poderia ser abrangida pelo princípio seria a subtração de um pacote de batatas de um supermercado. São
requisitos estabelecidos pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal para a incidência do princípio da
insignificância, EXCETO:
a) mínima ofensividade da conduta do agente.
b) nenhuma periculosidade social da ação.
c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.
d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.
e) ausência de interesse da vítima na persecução penal.
Gabarito: Letra E

Confira a dica do professor Marcelo Veiga:

https://youtu.be/PIsJOsWA84c

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QUESTÕES PROPOSTAS

Caro Aluno,
As questões propostas serão disponibilizadas e deverão ser resolvidas dentro da plataforma (em
avaliações), de modo que, ao final, você terá acesso aos respectivos comentários.
As questões a seguir trata-se de um demonstrativo para que você possa conhecer o material do Dedicação
Delta. Mas, não se esqueça: dentro da plataforma temos muitas questões disponíveis e comentadas sobre
cada tema visto em cada meta estudada.
Vamos juntos.
Equipe DD.

Questões

https://www.qconcursos.com/questoes-de-
concursos/questoes?discipline_ids%5B%5D=9&exclude_nullified=true&exclude_outdated=true&job_ids%5
B%5D=169&subject_ids%5B%5D=16667&subject_ids%5B%5D=16668&subject_ids%5B%5D=16670

1 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RO - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RO - Delegado de Polícia
Assinale a opção correta, no que diz respeito às contravenções penais.

A-É aplicável o princípio da extraterritorialidade às contravenções penais.


B-Como regra, aplica-se o princípio da culpabilidade às contravenções penais.
C-O princípio da subsidiariedade é aplicável às contravenções penais.
D-São puníveis as contravenções praticadas nas formas tentada e consumada.
E-Nas contravenções penais, é possível a conversão da pena de multa em prisão simples.

2 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01


O princípio da insignificância é admitido na doutrina e na jurisprudência em relação ao delito de

A-descaminho.
B-uso de documento falso.
C-supressão de documento.
D-roubo simples.
E-contrabando.

3 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01

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O princípio da insignificância é compatível com o furto praticado

A-por escalada.
B-por arrombamento.
C-durante o repouso noturno.
D-em concurso de pessoas.
E-por clandestinidade.

4 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01


Assinale a opção que corresponde a bem jurídico coletivo aparente.

A-Meio ambiente equilibrado.


B-Administração estatal da justiça.
C-Incolumidade pública.
D-Ordem econômica.
E-Relações de consumo.

5 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01


Fruto da herança dos postulados iluministas, a partir da segunda metade dos anos 1970, um novo modelo
normativo de garantia aos direitos sociais, civis e políticos é lapidado na Itália como sinônimo de Estado
constitucional democrático, surgindo o garantismo.

Sobre esse modelo, é correto afirmar que

A-o princípio da legalidade exige a descrição da conduta proibida de maneira precisa e determinada, mas não
exerce influência na filtragem axiológica feita pelo juiz.
B-o princípio da culpabilidade, sob a lógica da análise jurisdicional focada somente na conduta praticada,
permite a aplicação do instituto da reincidência.
C-o princípio da materialidade da conduta exige que a conduta criminosa praticada gere alteração sensorial
no mundo dos fatos, impedindo um resultado meramente normativo.
D-o princípio da proteção suficiente, numa perspectiva garantista positiva, endossa a função estatal de
proteção suficiente de direitos fundamentais a partir do Direito Penal.
E-o princípio da lesividade reforça a vedação a abusos de um sistema estatal representado na concepção de
efetividade sem validade.

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1
Respostas1
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1: C 2: A 3: E 4: C 5: D
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Comentários

1 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RO - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RO - Delegado de Polícia

Assinale a opção correta, no que diz respeito às contravenções penais.

A-É aplicável o princípio da extraterritorialidade às contravenções penais.


B-Como regra, aplica-se o princípio da culpabilidade às contravenções penais.
C-O princípio da subsidiariedade é aplicável às contravenções penais.
D-São puníveis as contravenções praticadas nas formas tentada e consumada.
E-Nas contravenções penais, é possível a conversão da pena de multa em prisão simples.

COMENTÁRIO
A letra da lei de contravenções penais reponde a questão. Vejamos:

A – INCORRETA
A lei brasileira se aplica apenas às contravenções ocorridas no território nacional (Art. 2º).

B - INCORRETA
O art. 3º do Decreto-lei 3.688/41 dispõe que “Para a existência da contravenção, basta a ação ou omissão
voluntária. Deve-se, todavia, ter em conta o dolo ou a culpa, se a lei faz depender, de um ou de outra,
qualquer efeito jurídico”.
A doutrina critica tal dispositivo por justamente ferir o o princípio da culpabilidade.

“Essa postura não se liga, em hipótese alguma, à adoção do causalismo ou do


finalismo, nem de qualquer outra posição em relação ao conceito de crime e do
seu elemento subjetivo. Cuida-se de opção de política criminal, tomada no início
dos anos 40, em pleno Estado Novo, sem apego, portanto, aos princípios de um
Estado Democrático de Direito” (NUCCI, Leis Penais e Processuais Comentadas,
2017, vol. 1, p. 104).

C - CORRETA
O art. 1º do Decreto-lei 3.688/41 dispõe: “Aplicam-se as contravenções às regras gerais do Código Penal,
sempre que a presente lei não disponha de modo diverso.”

D – INCORRETA
O art. 4º do Decreto-lei 3.688/41 dispõe: “Não é punível a tentativa de contravenção.”

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E - INCORRETA
Esta é a assertiva mais complexa, pois a lei nº 9.268/96 alterou diversos dispositivos do Código Penal,
inclusive o artigo 51 que tratava sobre a conversão da pena de multa em prisão. Ocorre que, após a
alteração, a multa é considerada dívida de valor, aplicando as normas relativa à dívida ativa da Fazenda
Pública; não podendo de forma alguma a multa ser transmutada em prisão, como antes previa o artigo 9º
da LCP.
Art. 51, CP:
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução
penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública,
inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

GABARITO: C

2 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01


O princípio da insignificância é admitido na doutrina e na jurisprudência em relação ao delito de

A-descaminho.
B-uso de documento falso.
C-supressão de documento.
D-roubo simples.
E-contrabando.

COMENTÁRIO

A temática acerca da aplicação ou não do princípio da insignificância é recorrente em provas para o cargo
de Delegado de Polícia especialmente porque a jurisprudência vem sido muito cobrada nos certames e o
tema “princípios” é constantemente analisado, ainda que indiretamente, pelos Tribunais, sendo a
insignificância a com maior incidência.
Desta forma, é imprescindível o aluno conhecer os crimes nos quais se reconhece a aplicação; Crimes nos
quais se rejeita a aplicação; e Crimes nos quais existe divergência e, para que seja possível, deve o aluno
estar atento aos julgados.

DICA: Com maior incidência em prova, não se esqueça dos requisitos:


REQUISITOS OBJETIVOS (DICA DE MEMORIZAÇÃO: MARI):
Mínima Ofensividade da conduta do agente;
Ausência de Periculosidade social da ação;

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Reduzido grau de Reprovabilidade do comportamento;


Inexpressividade da Lesão jurídica provocada.

REQUISITOS SUBJETIVOS: Condições pessoais do agente e Condição da vítima

Obs.: Os requisitos, tanto de ordem objetiva e quanto de natureza subjetiva, devem ser avaliados no caso
concreto.

Ademais, é imprescindível conhecer a natureza jurídica que, para a posição majoritária, o princípio da
insignificância é uma causa supralegal de exclusão da tipicidade material.

A – CORRETA
Em regra, o princípio da insignificância se aplica aos crimes tributários federais e de descaminho [também
é um crime tributário] quando o crédito tributário não ultrapassar o limite de 20.000 reais, a teor do
disposto no art. 20 da Lei 10.522/02 com as atualizações efetivadas pelas portarias nº 75 e 130 do
Ministério da Fazenda.

Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de


descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$
20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002,
com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério
da Fazenda. STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo).

B - INCORRETA
Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública.

DICA DD: STF/STJ NÃO admitem o princípio da insignificância nos crimes contra
a fé pública, mais precisamente, nos crimes de moeda falsa (STF-HC105.829).

A jurisprudência do STF e do STJ é no sentido da inaplicabilidade do princípio da insignificância na hipótese


de crimes praticados contra a fé pública (ex: uso de atestado médico falso; introdução de moedas falsas),
em função do bem jurídico tutelado pela norma, que, no caso, a fé pública representa caráter
supraindividual.
STF. 2ª Turma. HC 117638, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/03/2014
STF. 1ª Turma. HC 187269, Rel. Min Roberto Barroso, decisão monocrática em 18/06/2020.
STJ. 6ª Turma. AgRg-AREsp 1.963.955, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 08/02/2022

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STJ. 5ª Turma. AgRg-RHC 155.201, Rel. Min. Jesuíno Rissato, julgado em 12/12/2021

EXCEPCIONALMENTE, admite-se o princípio da insignificância nos crimes contra


a fé pública (uso de atestado falso) em casos que o dolo do réu revela, de plano,
"a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social
da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a
inexpressividade da lesão jurídica provocada", a demonstrar a atipicidade
material da conduta e afastar a incidência do direito penal, sendo suficientes as
sanções previstas na Lei trabalhista.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1816993/B1, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado
em 16/11/2021.

C - INCORRETA
VIDE comentário da alínea “B” que se aplica aqui igualmente.

D - INCORRETA
O STF não admite a incidência do princípio da insignificância no caso de roubo em razão do bem jurídico
lesionado que vai de encontro aos quatro requisitos objetivos para a aplicação do princípio da
insignificância - idealizados pelo Min. Celso de Mello (HC 84.412-0/SP).

E - INCORRETA
Não se aplica o princípio da insignificância porque o objeto sobre o qual recai a conduta proibida no crime
de contrabando é “mercadoria proibida” - e não a mera sonegação. Assim, o bem jurídico tutelado não é
apenas a questão financeira do ente estatal, mas também a saúde pública/incolumidade pública, uma vez
que o estado, por motivos de saúde pública/incolumidade pública, proíbe a importação ou exportação de
determinada mercadoria. (Crime pluriofensivo).

Nesse sentido: STJ. 3ª Seção. REsp 1688878-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo).STF. 1ª Turma. HC 137595 AgR, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgado em 07/05/2018.STF. 2ª Turma. HC 155347/PR,
Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 17/4/2018 (Info 898).

Exceção: No STJ, temos um precedente ISOLADO em sentido contrário, admitindo a aplicação do princípio
da insignificância ao crime de contrabando de pequena quantidade de medicamento destinada a uso
próprio. Trata-se de um caso extremamente específico em que o STJ reconheceu a mínima ofensividade
da conduta do agente, ausência periculosidade da ação, reduzido grau de reprovabilidade do

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comportamento e inexpressividade da lesão jurídica provocada, autorizando excepcionalmente a


aplicação do princípio da insignificância. STJ, 5ª T, EDcl no AgRg no Resp 1708371/PR – 2018

GABARITO: A

3 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01

O princípio da insignificância é compatível com o furto praticado

A-por escalada.
B-por arrombamento.
C-durante o repouso noturno.
D-em concurso de pessoas.
E-por clandestinidade.

COMENTÁRIO
A questão se resolve com o conhecimento do seguinte julgado (IMPORTANTE CONHECER OS
ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS):

“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIME DE FURTO. PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. CONSTATAÇÃO DE HABITUALIDADE
CRIMINOSA. MAUS ANTECEDENTES E REINCIDÊNCIA. DELITO PRATICADO POR
ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. CONCURSO DE PESSOAS. REPOUSO NOTURNO.
REPROVABILIDADE DA CONDUTA. QUALIFICADORA DO ROMPIMENTO DE
OBSTÁCULO. DECISÃO MANTIDA.
(...)
2. A aplicação do princípio da insignificância, segundo a orientação do Supremo
Tribunal Federal, demanda a verificação da lesividade mínima da conduta, apta a
torná-la atípica, considerando-se: a) a mínima ofensividade da conduta do agente;
b) a inexistência de periculosidade social na ação; c) o reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento; e d) a inexpressividade da lesão jurídica
provocada. O Direito Penal não deve ocupar-se de condutas que, diante do
desvalor do resultado produzido, não representem prejuízo relevante para o
titular do bem jurídico tutelado ou para a integridade da própria ordem social.
3. Inviável a aplicação do princípio da insignificância quando constatada a
habitualidade criminosa do réu, representada pela reincidência e pelos maus

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antecedentes, pois fica evidenciada a acentuada reprovabilidade do


comportamento.
4. A PRÁTICA DE FURTO QUALIFICADO POR ESCALADA, ARROMBAMENTO OU
ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO, EM CONCURSO DE PESSOAS E DURANTE O
REPOUSO NOTURNO, INDICA A ESPECIAL REPROVABILIDADE DA CONDUTA,
RAZÃO SUFICIENTE PARA AFASTAR A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA.
(...) (STJ; AgRg no HC 707294/SC; Quinta Turma; Relator Ministro João Otávio
Noronha; Publicado no DJe de 13/05/2022)".

Vale, ainda, destacar que a Corte apresentou a Tese nº 6, constante da Edição nº 47 da Jurisprudência em
Teses do STJ que tem a seguinte redação:
"6) A prática do delito de furto qualificado por escalada, destreza, rompimento de
obstáculo ou concurso de agentes indica a reprovabilidade do comportamento do
réu, sendo inaplicável o princípio da insignificância".

Assim, as alternativas contidas nos itens (A), (B), (C) e (D) estão incorretas.
GABARITO: E

4 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01

Assinale a opção que corresponde a bem jurídico coletivo aparente.

A-Meio ambiente equilibrado.


B-Administração estatal da justiça.
C-Incolumidade pública.
D-Ordem econômica.
E-Relações de consumo.

COMENTÁRIO
A temática “bem jurídico” tem sido a “modinha” dos certames e, por isso, deve o candidato estar atento as
nuances.
De acordo com os autores João Paulo Martinelli e Leonardo Schmitt de Bem, na obra "Direito Penal - Lições
Fundamentais", da Editora D'Plácido, na página 171, “A noção de ‘bem jurídico aparente’ identifica-se com
as hipóteses nas quais, por meio do uso reificante da linguagem e da adoção de uma perspectiva distanciada,
acaba-se por ocultar a ausência de um efetivo bem jurídico tutelado pela norma.”
Explicam ainda os autores:

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DELEGADO DE POLÍCIA

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"... protege-se um somatório de integridades físicas individuais (...) no que tange


à incolumidade pública como um bem jurídico coletivo apenas na aparência
significa dizer que a proteção desses bens jurídicos não poderá ser realizada
independentemente dos particulares, mas deverá ser instrumental ou dirigir-se
à realização dos interesses individuais de todos os membros sociais. Por outro
lado, o meio ambiente, a administração estatal da Justiça, a ordem econômica e
a autenticidades das moedas são considerados verdadeiros bens jurídicos
coletivos, pois não podem ser fracionados em bens individuais somados. Em
síntese, é impossível, por exemplo, conceber o meio ambiente como a soma de
vários bens jurídicos individuais."

Assim, as alternativas contidas nos itens (A), (B), (D) e (E) estão incorretas.
GABARITO: C

5 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01

Fruto da herança dos postulados iluministas, a partir da segunda metade dos anos 1970, um novo modelo
normativo de garantia aos direitos sociais, civis e políticos é lapidado na Itália como sinônimo de Estado
constitucional democrático, surgindo o garantismo.

Sobre esse modelo, é correto afirmar que

A-o princípio da legalidade exige a descrição da conduta proibida de maneira precisa e determinada, mas não
exerce influência na filtragem axiológica feita pelo juiz.
B-o princípio da culpabilidade, sob a lógica da análise jurisdicional focada somente na conduta praticada,
permite a aplicação do instituto da reincidência.
C-o princípio da materialidade da conduta exige que a conduta criminosa praticada gere alteração sensorial
no mundo dos fatos, impedindo um resultado meramente normativo.
D-o princípio da proteção suficiente, numa perspectiva garantista positiva, endossa a função estatal de
proteção suficiente de direitos fundamentais a partir do Direito Penal.
E-o princípio da lesividade reforça a vedação a abusos de um sistema estatal representado na concepção de
efetividade sem validade.

COMENTÁRIO
Garantismo: Luigi Ferrajoli é o seu principal expoente. O autor, num modelo de “direito penal mínimo”,
limita a atuação punitiva estatal, tanto na cominação, quanto na aplicação da pena, visando consagrar o
direito de liberdade dos indivíduos”.

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A – INCORRETA
A alínea está correta com exceção do seguinte trecho “mas não exerce influência na filtragem axiológica
feita pelo juiz”. Isso porque o princípio da legalidade ainda exerce influência na filtragem axiológica feita
pelo juiz, pois impõe ao magistrado que verifique a validade da norma.

B - INCORRETA
Destaca-se que o garantismo traz como premissa o foco na conduta praticada e não o seu autor. Desta
forma, ao contrário do trazido na alínea, o garantismo rejeita o instituto da reincidência.
Veja:
(...) a teoria garantista de Ferrajoli reverencia o princípio da culpabilidade, sob a
lógica da análise jurisdicional focada somente na conduta praticada e não em
seu autor, refutando, por exemplo, o instituto da reincidência”. Esses princípios
se coadunam com o “direito penal mínimo”, pois, na esteira de Rogério Zeidan,
interpretando a construção de Ferrajoli, valorizam a proteção da liberdade dos
cidadãos em face do arbítrio punitivo estatal e reforçam um ideal de racionalidade
e certeza”
João Paulo Martinelli e Leonardo Schmitt de Bem, na obra "Direito Penal - Lições
Fundamentais", da Editora D'Plácido, na página 89.

C - INCORRETA
Conforme a teoria garantista trazida por Ferrajoli, é necessária a exteriorização da conduta, por ser
indiferente às ideias internas do autor. Assim sendo, no princípio da materialidade da conduta é analisada
a relação causal entre conduta e resultado não tendo afirmativa trazida na alínea “c” correspondência
verdadeira.

D - CORRETA
O princípio da proteção suficiente, ou da proibição da proteção deficiente, constitui como faceta do
garantismo positivo, sendo, ademais, este um dos desdobramentos do princípio da proporcionalidade junto
com o princípio da proibição do excesso. Portanto, está correta a assertiva "o princípio da proteção
suficiente, numa perspectiva garantista positiva, endossa a função estatal de proteção suficiente de direitos
fundamentais a partir do Direito Penal.”

E - INCORRETA
O princípio da lesividade NÃO (ao contrário do trazido na questão) reforça a vedação a abusos de um sistema
estatal representado na concepção de efetividade sem validade. Veja que o princípio da lesividade não
permite a” punição do agente por suas convicções ou pensamentos”. Em outros termos, é necessária a
exteriorização da conduta, por ser indiferente às ideias internas do autor.

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GABARITO: D
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META 2

DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS (PARTE II)

Vejamos algumas casuísticas importantes em relação ao princípio da insignificância:

a) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA x AGENTE REINCIDENTE


Em regra, o STF e o STJ afastam a aplicação do princípio da insignificância aos acusados reincidentes
ou de habitualidade delitiva comprovada. Vale ressaltar, no entanto, que a reincidência não impede, por si
só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto
(STF. Plenário. HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
3/8/2015; STJ. 5ª Turma EDcl-AgRg-AREsp 1.631.639- SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 19/05/2020)

Obs.: Ao criminoso habitual, tanto o STF como o STJ, costumam negar a aplicação

Informativo 575, STJ. A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da


insignificância nos crimes de descaminho, ressalvada a possibilidade de, no caso
concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a medida é socialmente
recomendável. Assim, pode-se afirmar que: Em regra, não se aplica o princípio da
insignificância para o agente que praticou descaminho se ficar demonstrada a sua
reiteração criminosa (criminoso habitual). Exceção: o julgador poderá aplicar o
referido princípio se, analisando as peculiaridades do caso concreto, entender
que a medida é socialmente recomendável. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.217.514-RS, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 9/12/2015 (Info 575).

Assim, de acordo com o caso concreto, é possível sim aplicar a insignificância mesmo para réus
reincidentes. Veja recentes julgados em que os Tribunais Superiores aplicaram o princípio da insignificância
mesmo havendo a reincidência e maus antecedentes:

(info 722 STJ) Admite-se reconhecer a não punibilidade de um furto de coisa com
valor insignificante, ainda que presentes antecedentes penais do agente, se não
denotarem estes tratar-se de alguém que se dedica, com habitualidade, a cometer
crimes patrimoniais. AgRg no REsp 1.986.729-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 28/06/2022, DJe 30/06/2022.

Em regra, a habitualidade delitiva específica (ou seja, o fato de o réu já responder


a outra ação penal pelo mesmo delito) é um parâmetro (critério) que afasta o
princípio da insignificância mesmo em se tratando de bem de reduzido valor.
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Excepcionalmente, no entanto, as peculiaridades do caso concreto podem justificar


o afastamento dessa regra e a aplicação do princípio, com base na ideia da
proporcionalidade. É o caso, por exemplo, do furto de um galo, quatro galinhas
caipiras, uma galinha garnizé e três quilos de feijão, bens avaliados em pouco mais
de cem reais. O valor dos bens é inexpressivo e não houve emprego de violência.
Enfim, é caso de mínima ofensividade, ausência de periculosidade social, reduzido
grau de reprovabilidade e inexpressividade da lesão jurídica. Mesmo que conste em
desfavor do réu outra ação penal instaurada por igual conduta, ainda em trâmite,
a hipótese é de típico crime famélico. A excepcionalidade também se justifica por
se tratar de hipossuficiente. Não é razoável que o Direito Penal e todo o aparelho
do Estado-polícia e do Estado-juiz movimente-se no sentido de atribuir relevância
a estas situações. STF. 2ª Turma. HC 141440 AgR/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado
em 14/8/2018 (Info 911).

É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias avaliadas


em R$ 29,15, mesmo que a subtração tenha ocorrido durante o período de repouso
noturno e mesmo que o agente seja reincidente. Vale ressaltar que os produtos
haviam sido furtados de um estabelecimento comercial e que logo após o agente
foi preso, ainda na porta do estabelecimento. Objetos furtados: R$ 4,15 em
moedas, uma garrafa de Coca-Cola, duas garrafas de cerveja e uma garrafa de pinga
marca 51, tudo avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª Turma. HC 181389 AgR/SP, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973).

É possível aplicar o princípio da insignificância para furto de bem avaliado em R$


20,00 mesmo que o agente tenha antecedentes criminais por crimes patrimoniais

É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou o


furto de um carrinho de mão avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo), mesmo
ele possuindo antecedentes criminais por crimes patrimoniais. STF. 1ª Turma. RHC
174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 11/2/2020 (Info 966).

Pergunta: e ao multirreincidente, é possível aplicação do princípio da insignificância?


Atenção ao informativo 746 (29/08/2022):

A multirreincidência específica somada ao fato de o acusado estar em prisão


domiciliar durante as reiterações criminosas são circunstâncias que inviabilizam
a aplicação do princípio da insignificância. REsp 1.957.218-M, G Rel. Min. Olindo
Menezes. Sexta Turma, por maioria, julgado em 23/08/2022.É certo que há
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precedentes do Supremo Tribunal Federal em que se afasta a tipicidade material


da conduta criminosa quando o furto é praticado para subtrair objeto de valor
irrelevante, ainda que o paciente seja reincidente na prática delitiva. Entretanto, a
Corte também tem precedentes que apontam a relevância da análise da
reincidência delitiva para afastar a tipicidade da conduta, conforme se verifica no
julgamento do Habeas Corpus 123.108/MG, da Relatoria do Ministro Roberto
Barroso, no qual, o Plenário do STF decidiu, por maioria de votos, que a "aplicação
do princípio da insignificância envolve um juízo amplo (conglobante), que vai
além da simples aferição do resultado material da conduta, abrangendo também
a reincidência ou contumácia do agente, elementos que, embora não
determinantes, devem ser considerados". Após a análise dos precedentes desta
Corte Superior e do STF, é razoável concluir que a reincidência não impede, por si
só, que se reconheça a insignificância penal da conduta à luz dos elementos do caso
concreto, mas pode ser um dos elementos que justificam a tipicidade material da
conduta.

Em regra, NÃO. Mas há julgado do STJ permitindo excepcionalmente (19/05/22):

1. A multirreincidência específica, via de regra, afasta a aplicação do princípio


da insignificância no crime de furto. Entretanto, em casos excepcionais, nos quais
é reduzidíssimo o grau de reprovabilidade da conduta, tem esta Corte Superior
admitido a incidência do referido princípio, ainda que existentes outras
condenações.
2. O furto simples, em um supermercado, de quatro barras de chocolate, avaliadas
em R$26,92 – quantia que corresponde a 2,77% do salário-mínimo vigente à época
-, restituídas à Vítima, traz excepcionalidade que autoriza o reconhecimento da
atipicidade material da conduta.3. Agravo regimental da Defesa provido para,
conhecendo do agravo, negar provimento ao recurso especial do Ministério
Público. (AgRg no AREsp 1899839/MG, Rel. Ministro OLINDO MENEZES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), Rel. p/ Acórdão Ministra
LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/04/2022, DJe 19/05/2022)

Obs.: É muito importante que você saiba as justificativas dos tribunais sobre a aplicação ou não do princípio
da insignificância, pois além de sempre cair em provas objetivas, são imprescindíveis para você responder
uma questão subjetiva e oral. Vamos rumo á aprovação!

É possível a aplicação ao réu reincidente quando o crime anterior tutelava bem jurídico distinto patrimônio,
é o que o STF chamou de TEORIA DA REITERAÇÃO NÃO CUMULATIVA DE CONDUTAS DE GÊNEROS
DISTINTOS (*termo de prova).

Entendendo a fonte da expressão acima que foi utilizada no seguinte julgado do STF:

TURMA HABEAS CORPUS 114.723, MINAS GERAIS


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

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FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. VALOR DOS BENS


SUBTRAÍDOS. INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO. CONTUMÁCIA DE INFRAÇÕES
PENAIS CUJO BEM JURÍDICO TUTELADO NÃO É O PATRIMÔNIO.
DESCONSIDERAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Segundo a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal, para se caracterizar hipótese de aplicação do denominado
“princípio da insignificância” e, assim, afastar a recriminação penal, é indispensável
que a conduta do agente seja marcada por ofensividade mínima ao bem jurídico
tutelado, reduzido grau de reprovabilidade, inexpressividade da lesão e nenhuma
periculosidade social. 2. Nesse sentido, a aferição da insignificância como requisito
negativo da tipicidade envolve um juízo de tipicidade conglobante, muito mais
abrangente que a simples expressão do resultado da conduta. Importa investigar o
desvalor da ação criminosa em seu sentido amplo, de modo a impedir que, a
pretexto da insignificância apenas do resultado material, acabe desvirtuado o
objetivo a que visou o legislador quando formulou a tipificação legal. Assim, há de
se considerar que “a insignificância só pode surgir à luz da finalidade geral que dá
sentido à ordem normativa” (Zaffaroni), levando em conta também que o próprio
legislador já considerou hipóteses de irrelevância penal, por ele erigidas, não para
excluir a tipicidade, mas para mitigar a pena ou a persecução penal. 3. Trata-se de
furto de um engradado que continha vinte e três garrafas vazias de cerveja e seis
cascos de refrigerante, também vazios, bens que foram avaliados em R$ 16,00 e
restituídos à vítima. Consideradas tais circunstâncias, é inegável a presença dos
vetores que autorizam a incidência do princípio da insignificância. 4. À luz da teoria
da reiteração não cumulativa de condutas de gêneros distintos, a contumácia de
infrações penais que não têm o patrimônio como bem jurídico tutelado pela
norma penal não pode ser valorada, porque ausente a séria lesão à propriedade
alheia (socialmente considerada), como fator impeditivo do princípio da
insignificância. 5. Ordem concedida para restabelecer a sentença de primeiro grau,
na parte em que reconheceu a aplicação do princípio da insignificância e absolveu
o paciente pelo delito de furto.

Ressalta-se ainda que, em 2018 e 2019, os Tribunais Superiores tinham encontrado uma espécie de
“meio termo” entre a aplicação do princípio da insignificância e a reincidência do agente.
Isso porque, no caso concreto, o juiz via que, pelo critério objetivo, o réu faria jus à insignificância,
mas que os critérios subjetivos não estariam preenchidos, em razão da reincidência. Então, considerando a
proporcionalidade, o STF criou um “meio termo”: ao invés de absolver por atipicidade material da conduta,
aplicou outros institutos mais benéficos, como a substituição da pena privativa de liberdade por pena
restritiva de direitos. Vejamos os julgados em que os Tribunais Superiores aplicaram esse entendimento:

Possibilidade de aplicar o regime inicial aberto ao condenado por furto, mesmo


ele sendo reincidente, desde que seja insignificante o bem subtraído. A
reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância
penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto. No entanto, com base no
caso concreto, o juiz pode entender que a absolvição com base nesse princípio é
penal ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas
utiliza a circunstância de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o regime
inicial aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância

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para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base
no princípio da proporcionalidade STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco
Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).

STF reconheceu que o valor econômico do bem furtado era muito pequeno, mas,
como o réu era reincidente, em vez de absolvê-lo aplicando o princípio da
insignificância, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a pena
restritiva de direitos
Em regra, o reconhecimento do princípio da insignificância gera a absolvição do réu
pela atipicidade material. Em outras palavras, o agente não responde por nada. Em
um caso concreto, contudo, o STF reconheceu a insignificância do bem subtraído,
mas, como o réu era reincidente em crime patrimonial, em vez de absolvê-lo, o
Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos. Em razão da reincidência, o STF
entendeu que não era o caso de absolver o condenado, mas, em compensação,
determinou que a pena privativa de liberdade fosse substituída por restritiva de
direitos. STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2018 (Info 913).

DISCURSIVA - Justificativas
A favor da aplicação da insignificância ao reincidente: se a natureza jurídica é de causa de exclusão de
tipicidade, deve ser analisado o FATO e não os atributos do agente, sob pena de se utilizar o direito penal do
autor. O fato não poderia ser típico para uma pessoa e atípico para outra. Ou é típico ou não é. O momento
de analisar as condições pessoais do agente é apenas em eventual e futura fixação de pena.
Contra a aplicação da insignificância ao reincidente: Se o agente é infrator contumaz, com personalidade
voltada a práticas delitivas, fazer uso da insignificância seria incentivá-lo ao contínuo descumprimento da
norma, fazendo do crime um meio de vida. O valor de um bem, isoladamente, até poderia ser insignificante,
mas o “todo” não seria e isso caracterizaria reprovabilidade e ofensividade. O intuito do princípio não é
legitimar esse tipo de conduta, mas afastar do campo de incidência do direito penal, desvios mínimos e
isolados.

b) INSIGNIFICÂNCIA x FURTO QUALIFICADO

STF/STJ: Via de regra, entendem não ser possível a aplicação do princípio da insignificância no furto
qualificado, pois falta o requisito do reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. No entanto,
recentemente, o Plenário do STF analisou a questão e entendeu que não há como fixar tese sobre isso, que
também deve ser analisado caso a caso. (STF-HC 123108/MG).
Ressalta-se que, em um julgado recente, o STJ entendeu pela aplicação do referido princípio, à luz da
análise do caso concreto. Veja:

Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto qualificado, salvo


quando presentes circunstâncias excepcionais que recomendam a medida. A

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despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista,


impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise conjunta
das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado,
recomendando a aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª Turma. HC
553872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info
665).

CASO CONCRETO JULGADO PELO STJ


(Situação hipotética) - Adriana e Janaína, em concurso de pessoas, subtraíram dois
pacotes de linguiça, um litro de vinho, uma lata de refrigerante e quatro salgados
de um supermercado. Os bens subtraídos foram avaliados em R$ 69,23. As duas
foram presas no estacionamento do supermercado e não houve prejuízo para o
estabelecimento.
Como regra, a aplicação do princípio da insignificância tem sido rechaçada nas
hipóteses de furto qualificado, tendo em vista que tal circunstância denota, em
tese, maior ofensividade e reprovabilidade da conduta. Deve-se, todavia,
considerar as circunstâncias peculiares de cada caso concreto, de maneira a
verificar se, diante do quadro completo do delito, a conduta do agente representa
maior reprovabilidade a desautorizar a aplicação do princípio da insignificância.
No caso concreto, a 5ª Turma do STJ aplicou o princípio da insignificância e absolveu
as acusadas. Afirmou-se que “muito embora a presença da qualificadora possa, à
primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a
análise conjunta das circunstâncias demonstra a ausência de lesividade do fato
imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância.”

(Sim, amigo concurseiro, nem o STF se entende! Você não está sozinho nessa! Mas a você, cabe entender a
situação e analisar a melhor alternativa, a forma como cada uma está descrita, na hora de marcar. Se for
prova discursiva ou oral, exponha ambos os posicionamentos.)

c) INSIGNIFICÂNCIA x BENS JURÍDICOS DIFUSOS/COLETIVOS


Em regra, se o bem jurídico é difuso ou coletivo, os tribunais superiores vêm entendendo pela NÃO
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, pois se estaria atingindo a coletividade e, portanto, não
caberia a insignificância da lesão.
Além disso, normalmente os crimes contra bens jurídicos difusos/coletivos são crimes de perigo
abstrato, motivo pelo qual, de “perigo presumido” pelo legislador.

▪ Tráfico de drogas – não aplicação do princípio, por se tratar de crime de perigo abstrato (perigo
presumido, de acordo com a jurisprudência do STJ), sendo irrelevante a quantidade de droga
apreendida. HC 318926, STJ – 2015
▪ A apreensão de munições em quantidade não considerada insignificante, aliada a condenação
concomitante pelo delito de tráfico de entorpecentes, impõe o afastamento da aplicação do princípio
da insignificância. REsp 1.978.284-GO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Quinta Turma, por
unanimidade, julgado em 14/06/2022, DJe 17/06/2022.

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QUESTÃODEPROVA: Delta ES-2019: Foi considerada correta a seguinte afirmativa: “ainda que com pouca
quantidade de droga o princípio da insignificância não incide no crime de tráfico de drogas, não sendo
fundamento para recomendação de arquivamento do inquérito policial por atipicidade”.

▪ Porte de drogas para consumo pessoal – tema controvertido.


· Amplamente majoritário + jurisprudência do STJ – impossibilidade da insignificância em razão de se
tratar de crime de perigo abstrato. STJ, 6ª T, RHC 35920-DF (INFO 541)
· STF tem um precedente isolado admitindo a aplicação da insignificância (o que não indica posição
consolidada do STF). (STF, 1ª T, HC 110475/2012)

▪ Crime de moeda falsa: Inaplicabilidade do princípio, AINDA QUE SEJA 1 ÚNICA NOTA DE PEQUENO
VALOR, uma vez que se trata de crime contra a fé pública, havendo o interesse do Estado e da
coletividade em não ter a fé pública abalada por aquela falsificação. Considerando que se trata de
um bem jurídico coletivo difuso “fé pública”, não se leva em consideração somente o aspecto
material/patrimonial do bem falsificado, mas sim um bem coletivo. Essa argumentação se aplica aos
outros crimes contra a fé pública.

▪ Crimes ambientais: Em regra, nos crimes com bem jurídico difuso/coletivo, não se aplica o princípio
da insignificância, pois a lesividade/exposição a perigo transcende o aspecto individual. No entanto,
nos crimes ambientais, essa regra é invertida, uma vez que os tribunais superiores adotam como
regra a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância em crimes ambientais, devendo
ser analisadas as circunstâncias específicas no caso concreto para verificar a atipicidade da conduta
em exame/verificar se aquela conduta não gerou efetivamente um perigo ao meio ambiente. (Info
816).

É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais,


devendo ser analisadas as circunstâncias específicas do caso concreto para se
verificar a atipicidade da conduta em exame. STJ. 5° Turma. AgRg no AREsp
654.321/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2015.
É possível aplicar o princípio da insignificância para crimes ambientais. STF. 2ª
Turma. Inq 3788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1°/3/2016 (Info 816).

· Exceção à regra específica dos crimes ambientais: pela jurisprudência amplamente


dominante, não se pode aplicar o princípio da insignificância ao crime de pesca ilegal. – STF,
1ª TURMA, HC 122560/SC (2018) – Info 901

O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art. 34, caput c/c
parágrafo único, II, da Lei 9.605/98: Art. 34. Pescar em período no qual a pesca

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seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção


de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo
único. Incorre nas mesmas penas quem: II - pesca quantidades superiores às
permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos
não permitidos; Caso concreto: realização de pesca de 7kg de camarão em período
de defeso com o uso de método não permitido. STF. 1ª Turma. HC 122560/SC, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 8/5/2018 (Info 901).
Outro caso concreto: realização de pesca com rede de oitocentos metros e
apreensão de oito quilos de pescados. STF. 2ª Turma. HC-AgR 163.907-RJ. Relª Min.
Cármen Lúcia, julgado em 17/03/2020.

Obs.: apesar de a redação utilizada no informativo original ter sido bem


incisiva (“O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art. 34,
caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98”), existem julgados tanto do STF
como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da insignificância para
o delito de pesca ilegal. Deve-se ficar atenta(o) para como isso será cobrado
no enunciado da prova.
Fonte: dizer o Direito

Veja as hipóteses em que a própria jurisprudência flexibiliza a exceção da pesca ilegal, como, por
exemplo:

● O STJ (Info 602 – 6ª Turma. RESP 1409051 – 2017) afirmou, de forma excepcional, pela aplicação do
princípio da insignificância no caso de pesca ilegal, na hipótese em que o indivíduo pescou 1 único
peixe e devolveu esse peixe vivo ao rio, não havendo um prejuízo efetivo ao meio ambiente.
● Se a pessoa é flagrada sem nenhum peixe efetivamente pescado, mas portando consigo
equipamentos de pesca, em um local onde essa atividade é proibida. Nessa hipótese
pontual/casuística, temos discussão nos tribunais superiores, pois há 2 julgados da mesma turma em
sentidos opostos:
· SIM (possibilidade de aplicação da insignificância) - STF (info 816) – STF, 2ª Turma, inq.
3788/DF (2016)
· NÃO – STF (info 845 – 2016) – não pode aplicar

Embora sejam julgados anteriores ao informativo 901, pode ser interessante abordar em uma prova
discursiva/oral.

d) INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES TRIBUTÁRIOS E DESCAMINHO

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Em regra, o princípio da insignificância se aplica aos crimes tributários federais e de descaminho


[também é um crime tributário] quando o crédito tributário não ultrapassar o limite de 20.000 reais, a teor
do disposto no art. 20 da Lei 10.522/02 com as atualizações efetivadas pelas portarias nº 75 e 130 do
Ministério da Fazenda.

Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho


quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00
(vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as
atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da
Fazenda. STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 28/02/2018 (recurso repetitivo).

Observações importantes:

1) O valor máximo para aplicar o princípio da insignificância é de 20 mil reais (e agora, tanto para o
STF como para o STJ).
Explicação para adotar o valor de 20 mil reais: (Fonte: Dizer o Direito)
⋅ Esse valor foi fixado pela jurisprudência tendo como base a Portaria MF nº 75, de 29/03/2012, na
qual o Ministro da Fazenda determinou, em seu art. 1º, inciso II, “o não ajuizamento de execuções
fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$
20.000,00 (vinte mil reais).”
⋅ Em outros termos, essa Portaria determina que, até o valor de 20 mil reais, os débitos inscritos como
Dívida Ativa da União não serão executados.
⋅ Com base nisso, a jurisprudência construiu o seguinte raciocínio: ora, não há sentido lógico permitir
que alguém seja processado criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que nem sequer
será cobrado no âmbito administrativo-tributário. Se a própria “vítima” não irá cobrar o valor, não
faz sentido aplicar o direito penal contra o autor desse fato.
⋅ Vale lembrar que o direito penal é a última ratio. Se a Administração Pública entende que, em razão
do valor, não vale a pena movimentar a máquina judiciária para cobrar a quantia, com maior razão
também não se deve iniciar uma ação penal para punir o agente.

2) O valor de 20 mil reais para aplicação do princípio da insignificância será somente aos crimes
tributários FEDERAIS!!! Não se aplica o parâmetro dos tributos federais aos crimes tributários estaduais,
devendo ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia do ente federativo!!!

Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos
crimes tributários estaduais o parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais),
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estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, devendo ser observada a lei estadual


vigente em razão da autonomia do ente federativo. STJ. 5ª Turma. AgRg-HC
549.428-PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.

Obs.: nada impede que o ente estadual adote o valor de 20 mil reais, o que a decisão quis dizer é que não se
aplica esse parâmetro automaticamente, devendo o próprio Estado em razão da sua autonomia decidir o
valor a ser observado (ex: 20, 10 ou 5 mil reais).

3) Não se aplica o princípio da insignificância ao crime de contrabando!!! (Somente se aplica ao crime


de descaminho!!!)
Não se aplica porque o objeto sobre o qual recai a conduta proibida no crime de contrabando é
“mercadoria proibida”, e não a mera sonegação. Assim, o bem jurídico tutelado não é apenas a questão
financeira do ente estatal, mas também a saúde pública/incolumidade pública, uma vez que o estado, por
motivos de saúde pública/incolumidade pública, proíbe a importação ou exportação de determinada
mercadoria. (Crime pluriofensivo):
Em regra, é inaplicável o princípio da insignificância ao crime de contrabando, uma
vez que o bem juridicamente tutelado vai além do mero valor pecuniário do
imposto elidido, alcançando também o interesse estatal de impedir a entrada e a
comercialização de produtos proibidos em território nacional. Trata-se, assim, de
um delito pluriofensivo. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1744739/RS, Rel. Min. Joel
Ilan Paciornik, julgado em 02/10/2018

Exceção: No STJ, temos um precedente ISOLADO em sentido contrário, admitindo a aplicação do


princípio da insignificância ao crime de contrabando de pequena quantidade de medicamento destinada a
uso próprio. Trata-se de um caso extremamente específico em que o STJ reconheceu a mínima ofensividade
da conduta do agente, ausência periculosidade da ação, reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e inexpressividade da lesão jurídica provocada, autorizando excepcionalmente a aplicação
do princípio da insignificância:

A importação de pequena quantidade de medicamento destinada a uso próprio


denota a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade
social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a
inexpressividade da lesão jurídica provocada, tudo a autorizar a excepcional
aplicação do princípio da insignificância STJ. 5ª Turma. EDcl no AgRg no REsp
1708371/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 24/04/2018.

INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

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● STF - Antes não admitia, mas possui decisões recentes admitindo, como por exemplo, em caso de
peculato.
● STJ – Possui entendimento sumulado negando a aplicação (súmula 599).
Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração
pública.

Porém, STF e STJ admitem nos crimes contra a Administração Pública praticados por particulares, a
exemplo do descaminho, que, apesar de ser um crime tributário, topograficamente, estão inseridos no título
dos Crimes contra a Administração Pública, então cuidado em prova!
ATENÇÃO:
Informativo 742 (01/08/2022) - Admite-se, excepcionalmente, a aplicação do princípio da insignificância a
crime praticado em prejuízo da administração pública quando for ínfima a lesão ao bem jurídico tutelado.
RHC 153.480-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 24/05/2022, DJe
31/05/2022. Logo, em determinadas hipóteses, nas quais for ínfima a lesão ao bem jurídico tutelado - como
na espécie -, admite-se afastar a aplicação do entendimento sedimentado na Súmula n. 599/STJ, pois "a
subsidiariedade do direito penal não permite tornar o processo criminal instrumento de repressão moral,
de condutas típicas que não produzam efetivo dano".

HC 642.831 - Segundo a 5ª turma do STJ, o alto grau de reprovabilidade da conduta do cidadão que oferece
dinheiro ao agente de trânsito para evitar o exame do bafômetro é suficiente para impedir a aplicação do
princípio da insignificância e a consequente absolvição por atipicidade da conduta. Ressalta-se uma
peculiaridade do caso em tela: Depois da tentativa de suborno, o exame de alcoolemia deu resultado
negativo. No entanto, tal circunstância também não foi suficiente para aplicar o princípio da insignificância
ao caso.

#QUESTÃODEPROVA: Na prova de Delta ES – 2019, foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa:


“Segundo o STJ, nenhum dos crimes contra a administração pública admite a incidência do princípio da
insignificância”. A questão foi objeto de vários recursos e a banca não anulou justamente por ter utilizado a
palavra “nenhum” e ser aplicável ao descaminho. Além disso, tinha outra que era “mais certa” que essa. É
como já havíamos falado. Tem que pensar na mais certa! Fique de olho nas palavras-chave ou se a banca
pediu o entendimento sumulado.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS:


1. STF/STJ: para aplicação do princípio da insignificância, considera-se a capacidade econômica da vítima
(STJ-Resp. 1.224.795).
2. STF/STJ: admitem a aplicação a atos infracionais.
3. STF: O princípio da insignificância pode ser reconhecido mesmo após o trânsito em julgado da

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sentença condenatória (STF-HC 95570).


4. “Flanelinha” e exercício da profissão sem registro competente: STF admite a aplicação (Info. 699).
5. STF/STJ NÃO admitem o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública, mais precisamente,
nos crimes de moeda falsa (STF-HC105.829).
6. STF/STJ: Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em situação de violência
doméstica (STJ-HC 33195/MS; STF-RHC 133043/MT).
7. STF/STJ: Ao Tráfico internacional de armas e munições não se aplica o princípio da insignificância (STF-
HC 97777), de igual modo é inaplicável aos crimes de posse e porte de arma de fogo (STJ-HC
338153/RS). Obs.: É atípica a conduta daquele que porta, na forma de pingente, munição
desacompanhada de arma. (STF - HC 133984/MG)
8. Crimes contra a vida, lesões corporais, crimes praticados com violência ou grave ameaça à pessoa,
crimes sexuais, tráfico de drogas – nenhum admite.
9. Porte de drogas para uso (art. 28 da LD) – Majoritariamente, o STF e o STJ não aplicam a
insignificância, nem mesmo em se tratando de quantidades ínfimas, pelo fato de ser crime de perigo
presumido e o bem tutelado ser a saúde pública. No entanto, há um antigo julgado isolado do STF
permitindo a aplicação.
10. Violação de direito autoral – não se aplica. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1380149/RS
11. Apropriação indébita previdenciária:
ANTES: havia divergência entre o STJ e o STJ.
AGORA: tanto o STF como o STJ afirmam que é inaplicável o princípio da insignificância ao crime de
apropriação indébita previdenciária.
Não se aplica o princípio da insignificância para o crime de apropriação indébita previdenciária. Não é
possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes de apropriação indébita previdenciária e de
sonegação de contribuição previdenciária, independentemente do valor do ilícito, pois esses tipos penais
protegem a própria subsistência da Previdência Social, de modo que é elevado o grau de reprovabilidade
da conduta do agente que atenta contra este bem jurídico supraindividual. O bem jurídico tutelado pelo
delito de apropriação indébita previdenciária é a subsistência financeira da Previdência Social. Logo, não
há como afirmar-se que a reprovabilidade da conduta atribuída ao paciente é de grau reduzido,
considerando que esta conduta causa prejuízo à arrecadação já deficitária da Previdência Social,
configurando nítida lesão a bem jurídico supraindividual. O reconhecimento da atipicidade material nesses
casos implicaria ignorar esse preocupante quadro. STF. 1ª Turma. HC 102550, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 20/09/2011. STF. 2ª Turma. RHC 132706 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/06/2016. STJ.
3ª Seção. AgRg na RvCr 4.881/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/05/2019
12. Crimes ambientais:
STJ: É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais, devendo ser analisadas as
circunstâncias específicas do caso concreto para se verificar a atipicidade da conduta em exame (STJ AgRg
no AREsp 654.321/SC).

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STF: Já negou em situação de pesca ilegal, a um indivíduo flagrado junto a outras três pessoas, POR TRÊS
VEZES CONSECUTIVAS, em embarcação motorizada, praticando pesca em local proibido e com redes de
arrasto de fundo (HC 137652).
- Já negou em caso de realização de pesca de 7kg de camarão em período de defeso com o uso de método
não permitido (HC 122560/SC).
- A partir do caso acima, publicou a seguinte redação no Info 901:: O princípio da bagatela não se aplica
ao crime previsto no art. 34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98 (pesca ilegal).
- No entanto, existem julgados tanto do STF como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da
insignificância para este delito. Atente-se ao comando da questão!
13. É possível aplicar o princípio da insignificância para a conduta de manter rádio clandestina?
• No STJ: é pacífico que NÃO.
Súmula 606-STJ: não se aplica o princípio da insignificância aos casos de transmissão clandestina de
sinal de internet via radiofrequência que caracterizam o fato típico previsto no artigo 183 da lei
9.472/97.

• No STF: o tema ainda é controverso.


-1ª Turma do STF: é inaplicável o princípio da insignificância no crime de transmissão clandestina de
sinal de internet, por configurar o delito previsto no art. 183 da Lei nº 9.472/97, que é crime formal, e,
como tal, prescinde de comprovação de prejuízo para sua consumação.STF. 1ª Turma. HC 124795 AgR,
Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23/08/2019.

-2ª Turma do STF:O princípio da insignificância também se aplica ao fornecimento clandestino de


internet tipificado no art. 183 da Lei nº 9.472/97 desde que (i) a conduta seja minimamente ofensiva
do agente, (ii) não haja risco social da ação, (iii) seja reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e (iv) inexpressiva a lesão jurídica. A expressividade da lesão jurídica deve ser
verificada in concreto à luz do alcance do alcance dos aparelhos consignado em laudo da autoridade
regulatória.Ausente laudo que ateste a expressividade concreta da lesão e havendo indícios de sua
inexpressividade, deve incidir o princípio da insignificância, a autorizar a concessão da ordem.
STF. 2ª Turma. HC 161483 AgR, Rel. Edson Fachin, julgado em 07/12/2020. STF. 2ª Turma. HC 165577
AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Rel. p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 08/09/2021.
14. STJ – Info 672/2020: Não se admite a incidência do princípio da insignificância na prática de
estelionato qualificado por médico que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira
do hospital.
Cinge-se a controvérsia a saber acerca da possibilidade do trancamento de ação penal pelo
reconhecimento de crime bagatelar no caso de médico que, no desempenho de seu cargo público, teria
registrado seu ponto e se retirado do local, sem cumprir sua carga horária. A jurisprudência desta Corte
Superior de Justiça não tem admitido, nos casos de prática de estelionato qualificado, a incidência do

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princípio da insignificância, inspirado na fragmentariedade do Direito Penal, em razão do prejuízo aos


cofres públicos, por identificar maior reprovabilidade da conduta delitiva. Destarte, incabível o pedido de
trancamento da ação penal, sob o fundamento de inexistência de prejuízo expressivo para a vítima,
porquanto, em se tratando de hospital universitário, os pagamentos aos médicos são provenientes de
verbas federais. AgRg no HC 548.869-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, por unanimidade,
julgado em 12/05/2020, DJe 25/05/2020

#ATENÇÃO: Delegado pode aplicar o princípio da insignificância?


Para o STJ NÃO! Apenas o juiz pode. HC 154.949/MG. Assim, a autoridade policial estaria obrigada a
efetuar a prisão em flagrante, submetendo a questão à análise de autoridade judiciária.
No entanto, parte da doutrina, a exemplo de Cleber Masson, posiciona-se contra tal entendimento,
pelo fato de tratar a insignificância de afastamento da tipicidade do fato. E ora, se o fato não é típico para
o juiz, também não será para delegado!
Para esta segunda corrente, principalmente na análise da legalidade da prisão em flagrante, o
delegado não só poderia, como DEVERIA analisar a presença dos elementos que traduzem a insignificância,
vez que não seria razoável ratificar a prisão de quem subtraiu um pão de queijo de uma padaria, por exemplo,
sob pena de inobservância de vários princípios, como lesividade, proporcionalidade, subsidiariedade,
intervenção mínima.
No estado de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, no Seminário Integrado de Polícia Judiciária,
foram aprovadas súmulas que orientam a atuação dos delegados nesse sentido. O estado do Paraná, embora
não possuam súmulas, utilizam as do Rio de Janeiro, de modo que os delegados de polícia lá aplicam o
princípio da insignificância!
A solução para que você, caro aluno, resolva a questão, é analisar a forma como isso está sendo
questionado. Se a pergunta for sobre o STJ, delegado não pode. Se a questão afirmar de forma mais próxima
ao entendimento doutrinário, for de um estado como o de São Paulo que já se posicionou sobre o tema ou
for silente sobre a fonte e essa opção “parecer a mais certa”, tome partido da carreira e marque a que
permite a análise pelo delegado.
Para finalizar o estudo deste princípio, precisamos ainda fazer uma última diferenciação: BAGATELA
PRÓPRIA X BAGATELA IMPRÓPRIA2, o que faremos com a ajuda do Dizer o Direito.

INFRAÇÃO BAGATELAR PRÓPRIA INFRAÇÃO BAGATELAR IMPRÓPRIA


= PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA = PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA PENAL DO FATO

A situação já nasce atípica.


A situação nasce penalmente relevante. O fato é
O fato é atípico por atipicidade material.
típico do ponto vista formal e material.

2
Fonte: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/01/ebook-princc3adpio-da-insignificc3a2ncia-vf.pdf

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Em virtude de circunstâncias envolvendo o fato e o


seu autor, consta-se que a pena se tornou
desnecessária.

O agente tem que ser processado (a ação penal


O agente não deveria nem mesmo ser processado deve ser iniciada) e somente após a análise das
já que o fato é atípico. peculiaridades do caso concreto, o juiz poderia
reconhecer a desnecessidade da pena.

Não tem previsão legal no direito brasileiro. Está previsto no art. 59 do CP, conforme a doutrina.

Enquanto para a infração bagatelar própria já nasce irrelevante por se tratar de conduta
materialmente atípica, “a infração bagatelar imprópria é aquela que nasce relevante para o Direito penal,
mas depois se verifica que a aplicação de qualquer pena no caso concreto apresenta-se totalmente
desnecessária” (GOMES, Luiz Flávio; Antonio Garcia-Pablos de Molina. Direito Penal Vol. 2, São Paulo: RT,
2009, p.305)”.
Em outras palavras, o fato é típico, tanto do ponto de vista formal como material. No entanto, em
um momento posterior à sua prática, percebe-se que não é necessária a aplicação da pena. Logo, a
reprimenda não deve ser imposta, deve ser relevada (assemelhando-se ao perdão judicial.
Porém, ao contrário do instituto mencionado, as situações em que a bagatela imprópria é aplicável
não estão expressamente previstas.
Segundo LFG, este instituto possui fundamento legal no direito brasileiro (porém, de forma implícita
e “genérica” – termos nossos). Trata-se do art. 59 do CP que prevê que o juiz deverá aplicar a pena “conforme
seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”.
Dessa forma, se a pena não for mais necessária, ela não deverá ser imposta (princípio da
desnecessidade da pena conjugado com o princípio da irrelevância penal do fato).
A bagatela imprópria foi acolhida pela 5ª Turma do STJ, confirmando decisão da 1ª e 2ª instâncias
judiciais no AgRg no AREsp 1423492 / RN (decisão publicada 29/05/2019)

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. POSSE ILEGAL


DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. CRIME SEM
VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA. DELITO COMETIDO HÁ MAIS DE 12 ANOS.
INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA BAGATELA IMPRÓPRIA. REQUISITOS PREENCHIDOS.
DESNECESSIDADE DA PENA. REEXAME DO CONJUNTO PROBATÓRIO. APLICAÇÃO
DA SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – STJ. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. 1. Entendo as instâncias ordinárias ser desnecessária a punição do
acusado, porque presentes os requisitos para a aplicação do princípio da bagatela
imprópria, para se concluir de forma diversa, seria imprescindível o reexame do

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conjunto probatório dos autos, o que não é viável em recurso especial. Incidente a
Súmula n. 7/STJ. 2. Agravo regimental desprovido.

SIMPLIFICANDO:
- Princípio da insignificância ou da bagatela própria – O fato já nasce atípico, por atipicidade material.
- Natureza jurídica bagatela própria: Causa Supralegal de extinção de tipicidade material, devendo ser
analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima.

- Princípio da insignificância imprópria: pressupõe uma análise do que ocorreu após a prática do crime até
o momento do julgamento. Exemplo: o réu se casou, teve filhos, tem uma empresa com mais de 50
funcionários. Nesses casos o juiz reconhece a existência do crime, mas conclui que a pena não é necessária.
Aqui não há causa supralegal de exclusão de tipicidade, há causa supralegal de extinção de punibilidade. O
Estado reconhece o crime, mas conclui pela desnecessidade da punição, ela não é mais vantajosa para a
sociedade.
A análise da pertinência da bagatela imprópria há de ser realizada, obrigatoriamente, na situação fática,
jamais no plano abstrato. Atente-se também para a necessidade de se observar que a bagatela imprópria
tem como pressuposto inafastável a não incidência do princípio da insignificância (próprio). Afinal, se o fato
não era merecedor da tutela penal em decorrência da sua atipicidade, descabe enveredar pela discussão
acerca da necessidade ou não da pena.
- Natureza jurídica bagatela imprópria: Causa supralegal de extinção de punibilidade. O estado reconhece o
crime, mas conclui pela desnecessidade da pena, a punição não é vantajosa para a sociedade.

CAIU NA PROVA PC-MS – 2021 – Delegado de Polícia! Apesar de serem conceituadas de maneira diferente,
a bagatela própria e a imprópria, sob o ponto de vista pragmático, geram a mesma consequência, que é a
exclusão da tipicidade material. (Item incorreto) Como mencionado acima, bagatela própria é causa de
exclusão de tipicidade material e bagatela imprópria causa da exclusão da punibilidade.

7.2 Princípios Relacionados com o Fato do Agente

7.2.1 Princípio da Ofensividade/Lesividade

Não pode haver crime sem que haja conteúdo ofensivo a bens jurídicos. A doutrina mais
especializada aponta uma fundamentação implícita ao princípio da lesividade na ideia de dignidade da
pessoa humana, no sentido de que não se pode instrumentalizar ou objetificar o homem. Então, quando o
Estado criminaliza condutas sem que haja ofensa ou ao menos perigo de ofensa a um bem jurídico tutelado,
está colocando o homem (que está recebendo aquela reprimenda) como instrumento para a consecução de
outra finalidade que não a proteção do próprio homem (ex.: um controle social que não é legítimo).

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Nesse contexto, para que ocorra o delito, é imprescindível a efetiva lesão ou perigo de lesão ao bem
jurídico tutelado.

Crime de dano: exige efetiva lesão ao bem jurídico. (Ex.: homicídio, exige a lesão morte).
Crime de perigo: contenta-se com o risco de lesão ao bem jurídico. (Ex. abandono de incapaz/omissão de
socorro).
a. crime de perigo concreto - o risco de lesão deve ser demonstrado.
b. perigo abstrato: o risco de lesão é absolutamente presumido por lei.
Temos doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato é inconstitucional, pois o perigo não pode ser
presumido, mas comprovado. Presumir-se prévia e abstratamente o perigo, significa, em última análise, que
o perigo não existe. Para os adeptos dessa corrente, os crimes de perigo abstrato violariam o princípio da
lesividade. Essa tese, no entanto, hoje não prevalece no STF. No HC 104.410, o Supremo decidiu que a
criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional, mas
proteção eficiente do Estado.
Ex.: Embriaguez ao volante – STF decidiu que o ébrio não precisa dirigir de forma anormal para configurar o
crime – bastando estar embriagado (crime de perigo abstrato).
Ex.: Arma desmuniciada – STF – jurisprudência atual – crime de perigo abstrato – demanda efetiva proteção
do Estado.

Nesse sentido, considerando que o princípio da ofensividade exige que, do fato praticado, ocorra
lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, é certo concluir que o direito penal não deve se ocupar de
questões éticas, morais, religiosas, políticas, filosóficas. Assim, em razão do princípio da lesividade, PROÍBE-
SE:
⋅ A criminalização de pensamentos e cogitações (direito à perversão)
⋅ A criminalização de condutas que não tenham caráter transcendental (vedação à autolesão)
⋅ A criminalização de meros estados existenciais (criminalização da pessoa pelo que ela é – ex:
revogação da contravenção de mendicância).

Aprofundando para prova discursiva...

O princípio da lesividade está diretamente ligado à ideia de bem jurídico, com a chamada: teoria do bem
jurídico. Na vertente do funcionalismo teleológico e racional (Roxin), a teoria do BJ ganha um destaque muito
grande em toda a sistemática penal como uma forma de limitar o poder de punir do estado, como uma forma
de limitar a incidência de tipos penais
São de 4 ordens/ funções e garantias do princípio da lesividade
1) Proibição de incriminar uma atitude interna – motivo pelo qual não se pune a cogitação (fase interna do
inter criminis)

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2) Proibição de incriminar condutas que não excedam o âmbito do autor – motivo pelo qual não se pune a
autolesão.
3) Proibição de incriminar simples estados ou condições existenciais - tendo em vista que nosso ordenamento
Jurídico adota o direito penal do fato – e não direito penal do autor.
4) Proibição de incriminar condutas desviadas que não afetam qualquer bem jurídico - motivo pelo qual não
se pune o crime impossível e, em regra, os atos preparatórios.

7.2.2 Princípio da Alteridade

Subprincípio do princípio da lesividade. Dispõe que a conduta deve necessariamente atingir, ou


ameaçar atingir, bem jurídico de terceiro para ser criminalizada. Deve transcender a esfera do próprio
agente. Por isso, o direito penal não pune a autolesão.
Ex.: o artigo 28 da Lei 11.343/06 NÃO tipifica o USO de drogas porque apenas afetaria o usuário.
Tipifica o porte ou similares (guardar, ter em depósito, transportar etc.).

7.2.3 Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato

O Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, fatos, atos lesivos. Ninguém pode ser
castigado por seus pensamentos, desejos ou meras cogitações ou estilo de vida. Esse princípio busca impedir
o direito penal do autor. Decorrência do princípio da lesividade.

7.2.4 Princípio Da Legalidade Estrita Ou Reserva Legal

Encontra previsão no art. 5º, XXXIX da CFRB/88 e no art. 1º do CP: “Não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Assim, a lei em sentido estrito tem o monopólio na
criação de crimes e cominação de penas – que só serão aplicados a condutas posteriores à sua vigência, não
podendo haver criação de crimes e penas por costumes ou analogias, tampouco tipificação de condutas
genéricas.
Ademais, a lei precisa ser anterior, escrita, estrita, certa (taxativa) e necessária.
A legalidade subdivide-se em:

o Legalidade formal: corresponde à obediência aos trâmites procedimentais previstos pela CF para
que determinado diploma legal possa vir a fazer parte do ordenamento jurídico.
o Legalidade material: pressupõe não apenas a observância das formas e procedimentos impostos
pela CF, mas também, e principalmente, o seu conteúdo, respeitando-se as suas proibições e
imposições para a garantia dos direitos fundamentais por ela previstos.

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A doutrina trabalha com uma dupla face do princípio da legalidade. Ora legitimando o Estado, ora
limitando esse poder de punir. Veja:

1) Funções constitutivas - em que eu garanto ao Estado a possibilidade de criminalizar condutas e


cominar penas. Aqui estou trabalhando com o plano da legalidade no sentido de legitimar o Estado
a exercer seu direito de punir através da criminalização de conduta e cominação de penas.
Quando falamos em legalidade na função constitutiva, estou abrangendo a legalidade não só na pena
cominada, mas na pena aplicada e pena executada também.
● Princípio da legalidade direcionado ao legislador – ao cominar as penas
● Princípio da legalidade direcionado ao aplicador do direito – quando o juiz veda que se aplique um
regime de cumprimento de pena mais severo do que o previsto pelo legislador, por exemplo.
● Princípio da legalidade direcionado à Administração Penitenciária - Os órgãos não podem executar
pena diversa daquela prevista em lei e aplicada pelo juiz.

Enunciado da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ


Enunciado 13: O princípio da legalidade impõe que se observe, quando da soma
das penas, o cálculo diferenciado para fins de progressão de regime.

2) Funções de garantia (face de garantia) – busca limitar o poder de punir do estado trazendo garantias
mínimas ao cidadão perante o estado. Exclui penas ilegais, por exemplo. Nesse ponto, o princípio da
legalidade se desdobra em 4 máximas:
I. Lex scripta: A lex scripta proíbe que se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito
penal
II. Lex stricta: proibição do emprego da analogia in malan partem
III. Lex Praevia: Representa o princípio da anterioridade penal: veda a criminalização ex post facto
IV. Lex certa (aspecto material do princípio da legalidade): A lex certa materializa a proibição de o
legislado formular tipos penais genéricos, vazios, vagos etc. (Princípio da taxatividade)

Confira a dica do professor Marcelo Veiga sobre princípio da legalidade:

https://youtu.be/NGC5PQ7VMOA

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Caiu em prova! - Dentre as proibições derivadas do princípio da legalidade, a fórmula lex scripta representa
a proibição do costume como fundamento de criminalização ou de punição de condutas, e a fórmula lex certa
representa a proibição de indeterminação, de forma a excluir a indefinição e a obscuridade de leis penais –
ASSERTIVA CORRETA!

CESPE/2019: A norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito, razão por que é proibida, em
caráter absoluto, a analogia no direito penal, seja para criar tipo penal incriminador, seja para fundamentar
ou alterar a pena. Item Errado.

Fundamentos do princípio da legalidade:


o Político: vinculação do executivo e do judiciário às leis, o que impede o exercício do poder punitivo
com base no livre arbítrio.
o Democrático: o parlamento, escolhido pelo povo, que é responsável pela criação dos tipos
definidores dos crimes.
o Jurídico: a lei deve ser prévia e clara, pois produz efeito intimidativo.
Segundo Masson, o princípio da reserva legal possui dois fundamentos, quais sejam:
- Fundamento jurídico: é a taxatividade, certeza ou determinação, pois implica, por parte do legislador, a
determinação precisa, ainda que mínima, do conteúdo do tipo penal e da sanção penal a ser aplicada, bem
como da parte do juiz, na máxima vinculação ao mandamento legal. Como desdobramento lógico da
taxatividade, o Direito Penal não tolera a analogia in malam partem.
- Fundamento político: é a proteção do ser humano em face do arbítrio do Estado no exercício do seu poder
punitivo. Enquadra-se, destarte, entre os direitos fundamentais de 1° geração (ou dimensão). (MASSON,
2017, p. 25).
* ATENÇÃO: Medida provisória não pode criar crimes nem penas, mas STF admite para favorecer o réu (RE
254818/PR).

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* ATENÇÃO²: os princípios da reserva legal (estrita legalidade) e o da legalidade são considerados como
sinônimos por parte da doutrina, enquanto outra corrente defende que se diferenciam nos seguintes
aspectos:

RESERVA LEGAL (estrita legalidade) LEGALIDADE


Art. 5°, XXXIX, CF, “não há crime sem lei Art. 5, II, CF, “ninguém será obrigado a fazer
anterior que o defina, nem pena sem prévia ou deixar de fazer alguma coisa senão em
cominação legal”. virtude de lei”.

Exige lei em sentido estrito (no caso do Exige lei em sentido amplo (abrange qualquer
direito penal, lei ordinária) - a lei deve ser espécie normativa, ou seja, lei delegada,
criada de acordo com o processo legislativo medida provisória, decreto, etc.).
previsto na CF e deve tratar de matéria
constitucionalmente reservada à lei

7.2.4.1 Mandados de Criminalização e Reserva Legal

Em que pese a criação de crimes e cominação de penas seja exclusiva da lei em sentido estrito, a
Constituição Federal estabelece mandados explícitos e implícitos de criminalização, ou seja, situações em
que é obrigatória a intervenção do legislador penal.
Conforme já afirmado pelo STF, “A Constituição de 1988 contém significativo elenco de normas que,
em princípio, não outorgam direitos, mas que, antes, determinam a criminalização de condutas (CF, art. 5º,
XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º)” (HC 102.087/MG).
Podem ser de duas espécies:

MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO EXPRESSOS MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO


IMPLÍCITOS/TÁCITOS
A ordem está explícita no texto constitucional. A ordem está implícita no texto constitucional. É
retirada da do “espírito” do texto da CF, de sua
interpretação sistemática.
Ex.: Art. 5º, XLII: “a prática do racismo constitui Ex: combate à corrupção no poder público.
crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena Embora a CF não tenha determinado
de reclusão, nos termos da lei”. expressamente a criminalização dessa conduta,
isso pode ser extraído dos valores que ela traz,
como por exemplo, do artigo 1º (por ser República,
que significa “coisa pública”) e do art. 37, dos
princípios da Adm. Pública (LIMPE).

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Tema recente: Até 2016, o crime de terrorismo ainda não tinha sido concretizado na legislação brasileira.
Pela Lei 13.260/16, houve o cumprimento desse mandado de criminalização.

#VAICAIR: O que seria mandado de criminalização por omissão? Consiste na hipótese do art. 5º, XLIII da CF,
que determina que a omissão, nos casos de crimes hediondos e equiparados, deve ser punida.

A título de conhecimento, há ainda os “mandados internacionais de criminalização”, que também podem


ser expressos, quando essa “ordem” está presente em tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil,
e implícitos, quando advém de uma decisão/sentença de tribunal internacional.

7.2.5 Princípio da Anterioridade

Exteriorizado nos mesmos dispositivos que podemos extrair o princípio da reserva legal.
De acordo com o princípio da anterioridade, a lei penal apenas se aplica a fatos praticados após a sua
entrada em vigor.
Daí, por consequência lógica, deriva a sua irretroatividade, não se aplicando a fatos pretéritos, nem
mesmo os praticados durante a vacatio legis, SALVO se benéfica ao acusado.
Nesse sentido, temos o art. 5º XL da CF, dispondo que “a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu”.

7.2.6 Princípio da Vedação ao Bis In Idem

Tem previsão no art. 8º, 4 do Pacto de São José da Costa Rica, incorporado ao nosso ordenamento
jurídico pelo Dec. 678/1992.
Proíbe que o agente seja punido duas vezes pelo mesmo fato, inclusive sopesando a mesma situação
ou circunstância para agravar a pena em mais de um momento da dosimetria. Como exemplo, temos a
Súmula 241 do STJ que proíbe o uso de uma única reincidência como circunstância judicial desfavorável e
como agravante, pois haveria violação a este princípio.

7.2.7 Princípio da Adequação Social

Idealizado por Hans Welzel, este princípio traz a ideia de que as condutas tidas por socialmente
adequadas não poderiam constituir delitos, pois o tipo penal implica em uma seleção de comportamentos
reprováveis cuja sociedade realiza um desvalor da ação e do resultado. Dessa forma, não caberia a
criminalização de comportamentos nos quais não há esse desvalor.
Comporta duas vertentes, reduzindo a abrangência do tipo penal.

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1. Se o fato está de acordo com a norma, mas não está de acordo com o interesse social, a conduta
deverá ser tida como atípica.
2. Também deve ser direcionado ao legislador. Isso porque, se a conduta está de acordo com a
sociedade, o legislador não pode criminalizar esta conduta, orientando o parlamentar a como
proceder na definição dos bens jurídicos a ser tutelados.

Há 3 correntes sobre a natureza jurídica do princípio da adequação social:

1. Excludente da tipicidade (doutrina majoritária): A adequação social exclui a tipicidade material


da conduta, não seria crime uma vez que a conduta não é socialmente reprovável/é socialmente
adequada. De acordo com Toledo, "a adequação social exclui desde logo a conduta em exame
do âmbito de incidência do tipo, situando-a entre os comportamentos normalmente permitidos,
isto é, materialmente atípicos". O autor cita o exemplo de lesões corporais causadas por um
pontapé em partidas de futebol.

Caiu em prova Delegado MG 2021!! O princípio da adequação social funciona como causa supralegal de
exclusão da tipicidade, não podendo ser considerado criminoso o comportamento humano socialmente
aceito e adequado, que, embora tipificado em lei, não afronte o sentimento social de justiça. (item correto).

2. Excludente da ilicitude - Há doutrinadores minoritários dizendo que seria uma excludente da


ilicitude (no plano da ilicitude material). O problema é que hoje não se divide mais ilicitude
material e ilicitude formal. Então a tipicidade material da conduta acaba antecipando algumas
análises que seriam feitas na ilicitude

3. Regra geral de hermenêutica/princípio geral de interpretação: A jurisprudência caminha de


forma tranquila e dominante no sentido de que a adequação social deve sofrer uma aplicação
restritiva no direito penal, comportando 2 vertentes:
● 1ª vertente – voltada ao legislador (função seletiva) – vertente meramente
orientadora, pois busca orientar o legislador para que esse não selecione condutas
socialmente adequadas para serem criminalizadas.
● 2ª vertente – voltada ao intérprete (função interpretativa limitadora) – traduz uma
regra geral de hermenêutica/ princípio geral de interpretação. Assim, em havendo várias
interpretações possíveis, pela adequação social, exclui a incidência do tipo penal das
hipóteses que são socialmente adequadas.

APROFUNDANDO PARA PROVA DISCURSIVA:

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Crítica da doutrina: Essa aplicação restritiva (solução dada pela jurisprudência) acaba esvaziando a própria
força normativa dos princípios em geral e, sobretudo, do princípio da adequação social. E uma vez esvaziando
a força normativa do princípio da adequação social, deixa-se de utilizar um princípio (mesmo implícito na
CF/88) como parâmetro para controle de constitucionalidade.

Há forte crítica na doutrina acerca deste princípio, pelo fato de adotar um critério impreciso,
inseguro e relativo.

Importante saber que, segundo o STJ, o princípio da adequação social não afasta a
tipicidade da conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas, como se verifica do
enunciado da Súmula 502 do STJ: Súmula 502 - "Presentes a materialidade e a
autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2°, do CP, a
conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas".

CESPE/2018 - A fim de garantir o sustento de sua família, Pedro adquiriu 500 CDs e DVDs piratas para
posteriormente revendê-los. Certo dia, enquanto expunha os produtos para venda em determinada praça
pública de uma cidade brasileira, Pedro foi surpreendido por policiais, que apreenderam a mercadoria e o
conduziram coercitivamente até a delegacia. Com referência a essa situação hipotética, julgue o item
subsequente. O princípio da adequação social se aplica à conduta de Pedro, de modo que se revoga o tipo
penal incriminador em razão de se tratar de comportamento socialmente aceito. (Item incorreto)

7.3 Princípios Relacionados com o Agente do Fato

7.3.1 Princípio da Responsabilidade Pessoal / Da Pessoalidade / Da Intranscendência Da Pena

De acordo com esse princípio, a responsabilidade penal é sempre uma responsabilidade pessoal, que
não pode ultrapassar a pessoa do autor do crime, motivo pelo qual se proíbe o castigo penal pelo fato de
outrem. Somente o condenado é que terá de se submeter à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado.
No entanto, os efeitos secundários extrapenais da sentença penal condenatória (obrigação de
reparar o dano e decretação de perdimento de bens), podem se estender aos sucessores até o limite da
herança.

Art. 5º, XLV da CF – “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a


obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos
da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido”.

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Desse princípio decorre:


● OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA ACUSAÇÃO: É proibida a denúncia genérica, vaga ou
evasiva, embora nos Crimes Societários, os Tribunais flexibilizam essa obrigatoriedade;
● OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA.

7.3.2 Princípio da Responsabilidade Subjetiva

Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, o agente somente pode ser
responsabilizado se o fato tiver sido querido, assumido ou previsto. Não há responsabilidade penal sem dolo
ou culpa.

Questão: Polícia Civil do DF – Concurso Delegado Civil 2ª Fase – temos doutrina anunciado dois CASOS de
responsabilidade penal objetiva (autorizados por lei):

● 1ª Embriaguez voluntária - Crítica: A teoria da actio libera in causa que permite a punição do agente
completamente embriagado, não sendo a embriaguez acidental, exige não somente uma análise
pretérita da imputabilidade, mas também da consciência e vontade do agente. Exige
responsabilidade subjetiva.
● 2ª Rixa qualificada. *qualificado pela lesão grave e morte. Independentemente de quem tenha
causado a lesão ou morte, todos responderão pela rixa qualificada. Crítica: só responde pelo
resultado agravador, isto é, o crime de lesão, quem atuou com dolo, evitando-se responsabilidade
penal objetiva.

7.3.3 Princípio da Culpabilidade

Só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável (penalmente capaz), com potencial
consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do comportamento), quando dele exigível
conduta diversa (podendo agir de outra forma).
Confira a dica do professor Marcelo Veiga:

https://youtu.be/0RP8wpUwu2M

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7.3.4 Princípio da Proporcionalidade


Exige que se faça um juízo de ponderação sobre a relação existente entre o bem que é lesionado ou
posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que alguém pode ser privado (gravidade da pena). Toda vez
que, nessa relação, houver um desequilíbrio acentuado, haverá desproporção. Ou seja, a pena deve ser
proporcional à gravidade do fato.
O presente princípio apresenta uma dupla face, pois de um lado proíbe o excesso (garantismo
negativo), enquanto de outro lado não admite a proteção insuficiente (garantismo positivo) – já estudamos
também no tópico do garantismo.

STJ (AI no HC 239.363/PR): A intervenção estatal por meio do Direito Penal deve
ser sempre guiada pelo princípio da proporcionalidade, incumbindo também ao
legislador o dever de observar esse princípio como proibição de excesso e como
proibição de proteção insuficiente.

Ressalta-se que o princípio da proporcionalidade incide no plano legislativo, judicial e no da execução


da pena. Segundo tal princípio, a sanção penal deve ser vantajosa para o corpo social, e trazer mais vantagens
do que desvantagens (proporcionalidade em sentido estrito); além disso, deve ser adequada e necessária à
finalidade do direito penal

Já caiu em prova: Delegado de Polícia Civil do Mato Grosso do Sul (2017) - Com relação aos princípios de
Direito Penal e à interpretação da lei penal, assinale a alternativa correta.
a) A interpretação autêntica contextual visa a dirimir a incerteza ou obscuridade da lei anterior.
b) Não se aplica o princípio da individualização da pena na fase da execução penal.
c) A interpretação quanto ao resultado busca o significado legal de acordo com o progresso da ciência.
d) O princípio da proporcionalidade tem apenas o judiciário como destinatário cujas penas impostas ao autor
do delito devem ser proporcionais à concreta gravidade.
e) A interpretação teleológica busca alcançar a finalidade da lei, aquilo que ela se destina a regular.

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Gab. E. No tocante a assertiva D, o equívoco da questão consiste em afirmar que tem como destinatário
apenas o judiciário. Em verdade, o princípio da proporcionalidade tem como destinatário o legislativo,
judiciário e o juízo da execução da pena

7.3.5 Princípio da Limitação das Penas ou da Humanidade

Princípio da humanidade ou princípio da humanidade das penas, nada mais é do que o princípio da
dignidade da pessoa humana no Direito Constitucional. Este princípio é transportado para o Direito Penal, e
ganha uma nomenclatura diferente: humanidade.
Assim, a CF prevê, em seu art. 5º, XLVII, que não haverá penas de morte (salvo em caso de guerra
declarada), de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento ou cruéis.

A Constituição da República proíbe as penas de morte (salvo em caso de guerra declarada) e as consideradas
cruéis (art. 5º, inc. XLVII, alíneas ‘a’ e ‘e’, respectivamente), além de assegurar às pessoas presas o respeito à
integridade física e moral (art. 5º, inc. XLIX). Tais preceitos constitucionais expressam o princípio penal da
HUMANIDADE
Segundo o autor Bitencourt (2018), “o princípio de humanidade do Direito Penal é o maior entrave para a
adoção da pena capital e da prisão perpétua. Esse princípio sustenta que o poder punitivo estatal não pode
aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico-psíquica
dos condenados”.

Caiu na Prova Delegado RR 2022 - (aplicação 25/09/22) O princípio da dignidade da pessoa humana, no
âmbito penal, implica vedação de tratamento degradante e cruel, servindo de fundamento, na jurisprudência
dos tribunais superiores, à concessão de prisão domiciliar a preso em estado terminal. (item correto)

7.2.6 Princípio da Confiança

O princípio da confiança, abordado por parte da doutrina, surgiu na Espanha, com aplicação inicial
aos crimes de trânsito. Segundo este princípio, quem atua observando as regras de trânsito, possui o direito
acreditar que as demais pessoas irão agir também de acordo com as normas. Assim, quando aquele que
continua avançando no sinal verde e acaba colidindo com outro veículo que avançou no sinal vermelho, agiu
amparado pelo princípio da confiança, não tendo culpa, já que dirigia na expectativa de que os demais
respeitariam as regras de sinalização.
Atualmente é aplicado no Brasil para os crimes em geral.

Princípio da fraternidade

O princípio da fraternidade é uma categoria jurídica e não pertence apenas às religiões ou a moral.
sua redescoberta apresenta-se como um fator de fundamental importância, tendo em vista a complexidade

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dos problemas sociais, jurídicos e estruturais ainda hoje enfrentados pelas democracias. a fraternidade não
exclui o direito e vice-versa, mesmo porque a fraternidade enquanto valor vem sendo proclamada por
diversas constituições modernas, ao lado de outros historicamente consagrados como a Liberdade e a
igualdade. o princípio da fraternidade é um macroprincípio dos direitos humanos e passa a ter uma nova
leitura prática, diante do constitucionalismo fraternal prometido na Constituição federal de 88. o princípio
da fraternidade é possível de ser concretizado também no âmbito penal, através da chamada justiça
Restaurativa, do respeito aos direitos humanos e da humanização da aplicação do próprio direito penal e do
correspondente processo penal.

Com base nesse princípio, o STJ já determinou a progressão de pena (STJ HC 562.452) julgado em
23/04/2020.
Recentemente, o princípio da Fraternidade foi usado como fundamentação para decidir pelo
cômputo da pena de maneira mais benéfica ao condenado que é mantido preso em local degradante. O
ministro João Otávio de Noronha observou que o voto “consagra um princípio já agasalhado na Constituição
Federal [o Princípio da Fraternidade], em que os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e princípios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte”, afirmou.
Pelo princípio da fraternidade, foi considerado computar pena em dobro para os presos que estão
em situação degradante. em maio de 2021, o ministro Reynaldo Soares da Fonseca do STJ concedeu habeas
corpus para que fosse contado em dobro todo o período em que um homem esteve preso no Instituto Penal
Plácido de Sá Carvalho, no Complexo Penitenciário de Bangu, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
“Não se mostra possível que a determinação de cômputo em dobro tenha seus efeitos modulados
como se o recorrente tivesse cumprido parte da pena em condições aceitáveis até a notificação e a partir de
então tal estado de fato tivesse se modificado. Em realidade, o substrato fático que deu origem ao
reconhecimento da situação degradante já perdurara anteriormente, até para que pudesse ser objeto de
reconhecimento, devendo, por tal razão, incidir sobre todo o período de cumprimento da pena. STJ. 5ª
Turma. AgRg no RHC 136.961/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares Da Fonseca, julgado em 15/06/2021.
Esse cômputo da pena em dobro se aplica para todo e qualquer crime? NÃO. O cômputo em dobro foi vedado
para os seguintes crimes: a) crimes contra a vida; b) crimes contra a integridade física; c) crimes sexuais. “O
Estado deverá arbitrar os meios para que, no prazo de seis meses a contar da presente decisão, se compute
em dobro cada dia de privação de liberdade cumprido no IPPSC, para todas as pessoas ali alojadas, que não
sejam acusadas de crimes contra a vida ou a integridade física, ou de crimes sexuais, ou não tenham sido
por eles condenadas, nos termos dos Considerandos 115 a 130 da presente resolução”. STJ. 5ª Turma. AgRg
no RHC 136961-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/06/2021, DJe 21/06/2021 (Info 701)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

- Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 13ª edição – Cleber Masson;


- Sinopse nº1 – Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo;
- Aulas do módulo do professor Delegado de Polícia Marcus Montez
- Dizer o Direito (https://www.dizerodireito.com.br/);

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META 3

DIREITO CONSTITUTICIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (PARTE I)

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 1º, III
⦁ Art. 3º
⦁ Art. 4º, 5º, 6º e 7º
⦁ Art. 8º a 11º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Lei nº 9.296/96 (Lei de interceptação telefônica)
⦁ Lei nº 9.455/97 (Lei de tortura)
⦁ Lei nº 7.716/90 (Lei de racismo)
⦁ Lei nº 12.037/2009 (Lei de Identificação criminal)
⦁ Lei nº 12.016/2009 (Lei do mandado de segurança)
⦁ Lei nº 13.300/2016 (Lei do mandado de injunção)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

PRINCIPAIS INCISOS DO ART. 5º, CF/88:


⦁ Inc. I, II, IV
⦁ Inc. III e XLII (leitura conjunta com a Lei nº 7.716/90)
⦁ Inc. VIII (leitura conjunta com o art. 15, IV, CF/88)
⦁ Inc. XI (leitura conjunta com os arts. 3-B, XI; 240, §1º e 243 do CPP)
⦁ Inc. XII (leitura conjunta com a Lei nº 9.296/96)
⦁ Inc. XVI a XXI (muito cobrados em prova objetiva!)
⦁ Inc. XXXIII a XXXV
⦁ Inc. XXXVII (leitura conjunta com o inc. LIII – princípio do juiz natural)
⦁ Inc. XXXIX e XL (leitura conjunta com o art. 1º e 2º do CP)
⦁ Inc. XLIII a LV (leitura obrigatória!)
⦁ Inc. LVI (leitura conjunta com o art. 157, CPP)
⦁ Inc. LVII e LX
⦁ Inc. LVIII (leitura conjunta com o art. 3º, 4º e 5º da Lei nº 12.037/2009)
⦁ Inc. LXI a LXVII (leitura conjunta com os art. 301 a 310, CPP)
⦁ Inc. LXVIII
⦁ Inc. LXIX e LXX (leitura conjunta com a Lei nº 12.016/2009)

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⦁ Inc. LXXI (leitura conjunta com a Lei nº 13.300/2016)


⦁ Inc. LXXII a LXXVIII
⦁ §§1º e 3º

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-
base.
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem
de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Súmula 2-STJ: Não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra "a") se não houve recusa de informações
por parte da autoridade administrativa.
Súmula vinculante 1-STF: Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem
ponderar as circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante do
termo de adesão instituído pela Lei Complementar nº 110/2001.
Súmula 654-STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição da
República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado.
Súmula 280-STJ: O art. 35 do Decreto-Lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão administrativa, foi
revogado pelos incisos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988.
Súmula vinculante 25-STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito.
Súmula 419-STJ: Descabe a prisão civil do depositário infiel.

1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

São decididos antes da elaboração do texto, no momento de construção das normas. Têm natureza
de vetores interpretativos que imprimem coesão, harmonia e unidade ao sistema.
Subdividem-se em:
a) princípios constitucionais sensíveis: aqueles expressos na Constituição, também denominados
princípios apontados/enumerados;
b) estabelecidos/organizatórios: limitam, vedam ou proíbem que o Poder Constituinte decorrente
atue de forma indiscriminada e podem ser extraídos a partir da interpretação do conjunto de normas
centrais, dispersas no texto constitucional;
c) extensíveis: de acordo com Bulos, são aqueles que integram a estrutura da federação brasileira,
relacionando-se, por exemplo, com a forma de investidura dos cargos eletivos, o processo legislativo,
orçamentos e preceitos ligados à Administração Pública.

O QUE É O PREÂMBULO E QUAL A SUA NATUREZA JURÍDICA?

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O preâmbulo é a parte precedente da CF. Segundo o STF, adotando a tese da irrelevância jurídica, é mero
vetor interpretativo do que se acha inscrito no texto constitucional. Não possui força normativa, logo, não
pode ser parâmetro nem objeto de controle de constitucionalidade.

“Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata de
norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa.” (ADI 2.076, Rel. Min.
Carlos Velloso, julgamento em 15-8-2002, Plenário, DJ de 8-8-2003.)

No preâmbulo da CF/88 foi instituído um Estado Democrático, destinado a assegurar os seguintes valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias: 1. o exercício dos
direitos sociais e individuais; 2. a liberdade; 3. a segurança; 4. o bem-estar; 5. o desenvolvimento; 6. a
igualdade; 7. a justiça.

Como o tema foi cobrado (CESPE/2022/PC-RJ/Delegado de Polícia):


Conforme expressamente previsto no art. 1.º da Constituição Federal de 1988, “A República Federativa do
Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito”. Além de elencar os princípios republicano e federativo, o referido dispositivo
constitucional aponta como um dos princípios fundamentais da Lei Maior o denominado princípio do Estado
democrático de direito. Considerando os princípios que fundamentam o Estado brasileiro e aspectos
relacionados a esse assunto, assinale a opção correta.
A Com o surgimento do liberalismo, os Estados passaram a ser criados por meio de constituições escritas,
com fixação de mecanismos de repartição e limitação do poder estatal, dando-se especial atenção à proteção
do indivíduo contra eventuais arbitrariedades; passou a ser comum aos Estados modernos a edição de
normas estabelecidas tanto pela constituição quanto pelos diplomas infraconstitucionais, não apenas para
reger as relações entre os particulares, mas também para vincular a atuação dos agentes públicos. Assim, é
correto afirmar que o Estado de direito pode ser conceituado, sinteticamente, como aquele que se mantém
baseado no império das leis

* ATENÇÃO – PRINCÍPIOS QUE REGEM AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS (ART. 4º):

CRFB, Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações


internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
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IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;


X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica,
política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações.

OUTROS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Os Princípios Constitucionais estão presentes não só no art. 5º, mas em diversos dispositivos, a
exemplo dos princípios tributários, previstos no art. 150, e dos princípios expressos da Administração Pública
(art. 37, caput). Assim, atente-se brevemente aos princípios da dignidade da pessoa humana, legalidade e
isonomia, sem prejuízo dos demais que se inserem na Carta Magna – e serão tratados nas matérias
específicas:

a) Dignidade da pessoa humana: Define Luís Roberto Barroso que o “princípio da dignidade humana
expressa um conjunto de valores civilizatórios que se pode considerar incorporado ao
patrimônio da humanidade. Dele se extrai o sentido mais nuclear dos direitos fundamentais, para tutela
do mínimo existencial e da personalidade humana, tanto na dimensão física como na moral”. Pode-se
acrescentar também que a dignidade humana possui um enfoque moral, consistente na máxima de Kant
segundo a qual o homem é um fim em si mesmo, e um enfoque material, relativo à manutenção do mínimo
existencial. Decorre do aludido princípio, por exemplo, a impenhorabilidade do bem de família e a união
estável entre pessoas do mesmo sexo. É considerado um “super-princípio”.
CESPE, Oral RO/2023 (espelho): O fato de a dignidade humana ser positivada na Constituição como
princípio fundamental da República confere-lhe a natureza de norma jurídica, seja como princípio ou como
regra, mas, de todo modo, como norma. A dignidade não é ali referida apenas como uma declaração retórica,
apenas como enunciado de importante conteúdo ético. Ela é também um valor constitucional relevante. Isso
significa que ela passa a ter ao menos eficácia negativa contra normas infraconstitucionais e contra atos que
se contraponham à dignidade humana, isto é, tais normas e atos podem ser reconhecidos como inválidos
(antijurídicos), no que forem contrários a ela. Além disso, como princípio fundamental da República, a
dignidade deve ser considerada na interpretação das demais normas do ordenamento jurídico, uma vez que
é também objetivo a ser alcançado na atuação do Estado brasileiro. A dignidade humana tem sido
frequentemente adotada com essas funções pelo Supremo Tribunal Federal, na interpretação do direito.

Fique atento à jurisprudência (tema cobrado na prova de Delegado de Polícia do Paraná – 2021):
+
b) Legalidade: o princípio da legalidade significa que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo
que não esteja previamente estabelecido na própria CF/88 e nas normas jurídicas dela derivadas. O princípio
da legalidade, desta forma, se converte em princípio da constitucionalidade (Canotilho), subordinando toda
atividade estatal e privada à força da Constituição. No direito brasileiro encontra-se previsto nos arts. 5º, II;
37; e 84, IV, da CF/88.

I. Legalidade x Reserva Legal: o princípio da reserva legal é um desdobramento da legalidade, que impõe e
vincula a regulação de determinadas matérias constantes na constituição à fonte formal do tipo lei.
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II. Acepções do princípio da legalidade:

1) Para particulares: somente a lei pode criar obrigações, de forma que a inexistência de lei proibitiva
de determinada conduta implica ser ela permitida. Vigora a autonomia da vontade.
2) Para a Administração Pública: O Estado se sujeita às leis, e deve atuar em conformidade à previsão
legal. O administrador público só poderá agir dentro daquilo que é previsto e autorizado por lei. Sob
esta acepção, o princípio da legalidade vem sofrendo uma releitura pela doutrina moderna, que
defende a necessidade de conformação da atividade do administrador ao Direito (e não apenas à
lei). Assim, fala-se atualmente em princípio da juridicidade (o assunto é aprofundado em Direito
Administrativo).

Atenção: de acordo com a doutrina, trata-se de princípio não absoluto, que pode sofrer algumas
restrições/mitigações, a exemplo das medidas provisórias, estado de defesa e estado de sítio.

c) Isonomia: Segundo bem definiu Rui Barbosa, “a regra da igualdade não consiste senão em quinhoar
desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à
desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade (...). Tratar com desigualdade a iguais, ou a
desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real”.

O princípio da igualdade compreende a igualdade formal e igualdade material, a


primeira abrange a igualdade na lei, isto é, que nas normas jurídicas não pode
haver distinções que não sejam autorizadas pela Constituição e que tem por
destinatário o legislador e a igualdade perante a lei tem como destinatário os
aplicadores da lei, segundo o qual deve se aplicar igualmente a lei, ainda que crie
uma desigualdade. (JUNIOR, 2020, p.p. 620/621)

Logo, é possível extrair:


● Isonomia formal: igualdade perante a lei;
● Isonomia material: tratar os desiguais na medida de sua desigualdade.

STF – São inconstitucionais as normas que proíbem homossexuais de doar sangue.


Viola o direito à igualdade e não discriminação proibir que homossexuais doem
sangue. Com esse entendimento, o Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou
a inconstitucionalidade de normas com esse teor. (ADI. 5.543/2020)

STF - A lei que veda o exercício da atividade de advocacia por aqueles que
desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o princípio
da isonomia. STF. Plenário. (ADI 3541/2014)

Como o tema foi cobrado (CESPE/2022/PC-RJ/Delegado de Polícia):

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O estudo dos princípios que regem a interpretação constitucional, em especial os da razoabilidade e da


proporcionalidade, estabelece que as normas da Constituição Federal de 1988 devem ser analisadas e
aplicadas de modo a permitir que os meios utilizados estejam adequados aos fins pretendidos, devendo o
intérprete buscar conceder aos bens jurídicos tutelados uma aplicação justa. Considerando isso, assinale a
opção correta.
C Em razão do que preceitua o princípio da concordância prática, pode-se dizer que, na ocorrência de conflito
entre bens jurídicos garantidos por normas constitucionais, o intérprete deve priorizar a decisão que melhor
os harmonize, de forma a conceder a cada um dos direitos a maior amplitude possível, sem que um deles
acabe por impor a supressão do outro.

É POSSÍVEL ESTABELECER CRITÉRIOS DIFERENCIADORES PARA ADMISSÃO DE CANDIDATO EM


CONCURSOS PÚBLICOS?

A jurisprudência vem admitindo algumas hipóteses de discriminação, podendo ocorrer em relação à idade,
sexo, altura, etc., desde que sejam observados dois requisitos:
1) Previsão legal anterior definindo os critérios de admissão para o cargo; e
2) Razoabilidade da exigência, decorrente da natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época de sua
realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público. STF. Plenário. RE
1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/11/2018 (repercussão geral).

AÇÕES AFIRMATIVAS

A Carta Magna busca a igualdade material. Para aplicação do princípio da isonomia, são necessárias as ações
afirmativas, também denominadas discriminações positivas, cuja finalidade é proteger certos grupos sociais
que demandam tratamento diverso. Tais ações consideram a realidade histórica de marginalização ou
hipossuficiência e, assim, funcionam como medidas de compensação com o fim de concretizar uma
igualdade de oportunidades. A exemplo, podemos citar: mercado de trabalho da mulher, cotas de vagas sem
serviços públicos, cotas em universidades (PROUNI), cotas, Lei Maria da Penha.

Segundo Dirley da Cunha Júnior:

As ações afirmativas, portanto, são medidas especiais e concretas para assegurar o desenvolvimento ou a
proteção de certos grupos, com o fito de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício dos
direitos do homem e das liberdades fundamentais. (...) A própria Constituição já determina algumas ações
afirmativas, que não podem ser negligenciadas pelo legislador ordinário, como, por exemplo, a proteção do
mercador de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos (art.7º, XX) e a determinação de reserva
de percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência (art.37, VIII). (2020,
p. 623)

Atenção ao julgado: Info. 1069 do STF – RESERVA DE VAGAS PARA IRMÃOS


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É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determina a reserva de vagas, no mesmo
estabelecimento de ensino, para irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo escolar, pois disciplina
medida que visa consolidar políticas públicas de acesso ao sistema educacional e do maior convívio familiar
possível.
STF. Plenário. ADI 7149/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/9/2022 (Info 1069).

Atenção ao julgado: Info. 973 do STF - PRINCÍPIO DA IGUALDADE E SISTEMA DE COTAS


É inconstitucional lei distrital que preveja percentual de vagas nas universidades públicas reservadas para
alunos que estudaram nas escolas públicas do Distrito Federal, excluindo, portanto, alunos de escolas
públicas de outros Estados da Federação. Veja que o STF não proibiu o sistema de cotas para alunos de escolas
públicas, mas sim para alunos somente do DF (determinada localidade) violando a isonomia. No mesmo
sentido: STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

Atenção ao julgado: Info 985 do STF – ISONOMIA E BENEFÍCIO DO BOLSA FAMÍLIA


O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda, voltado a famílias de todo o País, de modo
a fazer frente à situação de pobreza e vulnerabilidade; logo, não se pode fazer restrição em relação à região
ou ao Estado do beneficiário. Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio
Grande do Norte ajuizaram ação cível originária, em face da União, com pedido de tutela provisória,
questionando a redução de recursos do Programa Bolsa Família destinados à Região Nordeste. O Min. Marco
Aurélio (relator) deferiu medida cautelar determinando que: a) a União disponibilize dados que justifiquem
a concentração de cortes de benefícios do Programa Bolsa Família na Região Nordeste, bem assim dispense
aos inscritos nos Estados autores tratamento isonômico em relação aos beneficiários dos demais entes da
Federação. b) não haja cortes no Programa enquanto perdurar o estado de calamidade pública; c) a liberação
de recursos para novas inscrições seja uniforme considerados os Estados da Federação. O Plenário do STF
referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 5/8/2020 (Info 985).

2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS3

A CF/88 no Título II classifica o gênero direitos e garantias fundamentais em importantes grupos.


Veja:
- Direitos e Deveres individuais e coletivos;
- Direitos sociais;
- Direitos de nacionalidade;
- Direitos políticos;
- Partidos políticos.
-

3
Para aprofundamento no assunto, consultar:
http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portaltvjustica/portaltvjusticanoticia/anexo/joao_trindadade__teoria_geral_d
os_direitos_fundamentais.pdf

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2.1 Direitos x Garantias x Remédios Constitucionais

● Direitos: são normas de conteúdo declaratório da existência de um interesse, de uma vantagem, isto
é, imprimem a existência legal. Ex: direito à vida, à propriedade;
● Garantias: normas de conteúdo assecuratório, que servem para assegurar o direito declarado. As
garantias são estabelecidas pelo texto constitucional como instrumento de proteção dos direitos
fundamentais e writs constitucionais. São também chamadas de instrumentos de tutela das
liberdades e ações constitucionais.

DIREITOS FUNDAMENTAIS GARANTIAS FUNDAMENTAIS


NORMAS QUE PROTEGEM os bens jurídicos INSTRUMENTOS que buscam proteger os
fundamentais de uma sociedade direitos fundamentais
Tem valor intrínseco, nele mesmo Tem valor instrumental

Direitos são bens e vantagens prescritos na norma enquanto garantias são os instrumentos através
dos quais se assegura esse exercício.
Ilustrando: é inviolável a liberdade de consciência e de crença (direito), garantindo-se na forma da
lei a proteção aos locais de culto e suas liturgias (garantia).

● Remédios Constitucionais: embora todo remédio constitucional seja uma garantia, nem toda
garantia é um remédio constitucional, porque este é um instrumento processual que tem por
objetivo assegurar o exercício de um direito. Ex: Habeas Corpus, Mandado de Segurança. Pode-se
dizer que os remédios constitucionais são espécies do gênero garantia.

ATENÇÃO: alguns dispositivos constitucionais contêm direitos e garantias no mesmo enunciado. O art. 5º, X,
estabelece a inviolabilidade do direito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, assegurando,
em seguida, o direito à indenização em caso de dano material ou moral provocado pela sua violação.

Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes de
atos de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos durante o regime militar. STJ.
1ª Seção. Aprovada em 10/03/2021.

2.2 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos

Embora materialmente ambos objetivem a proteção e a promoção da dignidade da pessoa humana,


não se confundem. Assim, convém destacar que a doutrina estabelece duas distinções entre os direitos
humanos e os direitos fundamentais. A primeira delas relaciona-se ao locus de previsão, de modo que os
direitos humanos – intrinsecamente ligados ao Direito Internacional Público – estão previstos em normas
internacionais. Os direitos fundamentais, por sua vez, estão reconhecidos e positivados pelo Direito interno
de um Estado determinado.

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A segunda distinção apontada se relaciona com a exigibilidade. Assim, os direitos humanos nem
sempre seriam exigíveis internamente enquanto os direitos fundamentais, uma vez positivados no
ordenamento interno (matriz constitucional) podem ser cobrados judicialmente.
● Direitos Humanos: são direitos reconhecidos no âmbito internacional; nem sempre exigíveis
internamente.
● Direitos fundamentais: são direitos reconhecidos no plano interno de um determinado Estado.
Preferencialmente, positivados na CF; passíveis de cobrança judicial.

DIREITOS FUNDAMENTAIS DIREITOS HUMANOS


FORMAL Encontram previsão formal Encontram fundamento
FUNDAMENTO DE nas constituições nos Tratados
VALIDADE/JURÍDICO Internacionais;
Exemplo: Declaração
Universal dos Direitos
Humanos da ONU

MATERIAL Estabelecem o conjunto de Buscam a proteção da


LIGADA AO CONTEÚDO bens jurídicos básicos, pessoa humana
FINALIDADE DE CADA UM DOS essenciais de uma (exclusivamente).
INSTITUTOS sociedade, não se limitando Não há que se falar em
à proteção da pessoa física direito

Como se classificam as normas constitucionais de direitos fundamentais quanto à eficácia e aplicabilidade?


Pela classificação de José Afonso da Silva e considerando não haver direito fundamental absoluto, as
normas podem possuir eficácia plena, e podem apresentar, conforme a hipótese, eficácia contida (ou
restringível) ou limitada. Nesse sentido, a doutrina majoritária defende que a maioria das normas seriam de
eficácia contida, enquanto que a maior parte daquelas que reconhecem os direitos sociais seriam de eficácia
limitada.
O que significa os efeitos negativo e positivo das normas constitucionais de direitos fundamentais?

O efeito positivo diz respeito ao fato de que, pelo simples fato de surgir uma nova Constituição, ela
revoga tudo do ordenamento anterior que for contrário a ela. As normas constitucionais têm, assim, efeitos
positivos, no sentido de proativo, pois revogam (não recepcionam) tudo do ordenamento anterior que for
contrário a elas. Já o efeito negativo, por sua vez, tem o sentido de vedar/negar ao legislador ordinário a
possibilidade de produzir normas infraconstitucionais contrárias a ela (norma constitucional); e, acaso o
poder legiferante fizer, o judiciário, entendendo que houve contrariedade, extirpa a norma do ordenamento
jurídico por intermédio do controle de constitucionalidade.

A Carta Magna de 1988 é um marco na história constitucional brasileira, pois a sua abertura aos
direitos foi baseada também nos tratados internacionais celebrados pelo Brasil. Dessa forma, ela introduziu

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o mais extenso rol de direitos de diversas espécies, incluindo direitos civis, políticos, econômicos, sociais e
culturais, além de prever várias garantias constitucionais.
Ademais, o art. 5°, §2°, da CRFB/88 prevê o princípio da não exaustividade dos direitos
fundamentais, ou seja, que o rol desses direitos não é taxativo, ao afirmar que os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes: i) do regime e dos princípios por ela adotados
e ii) dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Caiu em prova (CESPE, PCRJ/2022) e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: A fundamentalidade
material dos direitos fundamentais decorre da circunstância de serem os direitos fundamentais elemento
constitutivo da Constituição material, contendo decisões fundamentais sobre a estrutura básica do Estado e
da sociedade.

A fundamentalidade material dos direitos fundamentais decorre da abertura da Constituição a


outros direitos fundamentais não expressamente constitucionalizados. O aspecto material dos
direitos fundamentais nasce da essência do seu conteúdo substancial normativo. CANOTILHO, José Joaquim
Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição . 4º ed. Coimbra: Almedina.

2.3 Geração dos direitos fundamentais

As dimensões ou gerações dos direitos humanos são cobrados com frequência nos Concursos
Públicos. O tema foi apresentado pela primeira vez por Karel Vasak, em sua forma clássica chamada de
Gerações dos Direitos Humanos, desdobrando-se em 1ª, 2ª e 3ª gerações. Em provas objetivas, a tendência
é que se cobre essas gerações, tendo em vista que não há controvérsias relevantes sobre elas.
Trata-se de classificação dos direitos fundamentais que tem como critério o contexto histórico em
que surgiram, a ordem cronológica de reconhecimento e afirmação dos direitos fundamentais.

DICA DD: Classificar os direitos em gerações sugere a ideia de superação de que as


gerações mais novas suplantam as anteriores. Assim, e visando afastar essa
concepção substitutiva de uma geração sobre a outra bem como a impressão de
que existe uma relação de antiguidade ou posteridade dos direitos, a doutrina
moderna entende que o mais adequado é falar em dimensões, uma vez que
inexiste cronologia nesses direitos.

Cespe, Oral RO, 2023 (espelho): Não existe sucessão cronológica precisa e definida na evolução dos
direitos individuais e coletivos, de modo que não é o mais correto falar em gerações de direitos fundamentais
ou direitos humanos. Por essa razão, muitos doutrinadores preferem falar em dimensões dos direitos
fundamentais e não em gerações. Esses direitos evoluem de forma cumulativa e somam-se à evolução dos
direitos precedentes. O termo “dimensão” dos direitos fundamentais dá uma noção mais clara dos valores
prevalecentes em cada uma dessas classificações de direitos, mas não de sucessividade ou de estanqueidade
entre eles.

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Direitos fundamentais são indivisíveis. Possuem relação entre si de fortalecimento mútuo e não de
exclusão mútua. O surgimento de uma nova geração de direitos tem o viés de fortalecer a geração já
existente. Ex.: direito à educação fortalece o direito de liberdade de expressão.
Explica o autor Dirley da Cunha:
Falar em “gerações” ou “dimensões” de direitos corresponde a uma sucessão
temporal de afirmação e acumulação de novos direitos fundamentais. Isso leva, por
conseguinte, a uma consequência fundamental: a irreversibilidade ou
irrevogabilidade dos direitos reconhecidos, aliada ao fenômeno da sua
complementariedade. O progressivo reconhecimento de novos direitos
fundamentais consiste num processo cumulativo, de complementariedade, onde
não há alternância, substituição ou supressão temporal de direitos anteriormente
reconhecidos.

1) DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO OU PRIMEIRA DIMENSÃO (individuais ou negativos):


Surgem no contexto histórico das revoluções liberais, burguesas, diante do nascimento do
constitucionalismo liberal – Séc. XIX. Marcam a passagem de um Estado autoritário para um Estado de
Direito. Grandes Marcos dos direitos de 1ª dimensão:
· Inglaterra – 1.215 – Magna Carta, assinada pelo Rei “João Sem Terra”
· EUA – 1.776 – Declaração de Independência Americana
· EUA – 1.787 – Constituição Americana
· França – 1.789 – Revolução Francesa
· França – 1.791 – Constituição Francesa

Estão relacionados à luta pela liberdade e segurança diante do Estado. Trata-se de impor ao Estado
obrigações de não-fazer (absenteísmo estatal) e se relacionam às pessoas, individualmente. Ex: propriedade,
igualdade formal (perante a lei), liberdade de crença, de manifestação de pensamento, direito à vida etc.
Obs.1: são chamados também de direitos negativos ou direitos de defesa.
Obs.2: o fundamento dos direitos de 1ª geração/dimensão é a IGUALDADE FORMAL.

2) DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO OU SEGUNDA DIMENSÃO (sociais, econômicos e culturais ou


direitos positivos):
Surgem no final do século XIX e início do século XX, diante do fenômeno do constitucionalismo social
(ligado ao movimento do socialismo). Grandes Marcos:
· Constituição Mexicana de 1917
· Constituição Alemã de Weimar de 1919
· Tratado de Versalhes, de 1919 (OIT)
· Rússia – 1.917/18 – Declaração do Povo Oprimido e Trabalhador – Revolução Russa
· Constituição Brasileira de 1934.

São os direitos de grupos sociais menos favorecidos, e que impõem ao Estado uma obrigação de
fazer, de prestar (por isso são chamados de direitos prestacionais). Buscam viabilizar, através do Estado, a

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satisfação das necessidades básicas dos indivíduos como forma de lhes proporcionar uma vida digna. Ex:
saúde, educação, moradia, segurança pública.
Os direitos sociais elencados no art. 6º da CF/88 são exemplos clássicos de direitos de 2ª
geração/dimensão:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.
DICA DD: O direito a transporte foi incluído no rol pela EC. 90/2015.

Observação: A teoria da reserva do possível é uma limitação fática e jurídica oponível à realização dos direitos
fundamentais, sobretudo os de cunho prestacional. Como é cediço, o Estado não possui recursos materiais
ilimitados, o que leva os administradores a realizarem escolhas trágicas, alocando esses recursos em ações
prioritárias. O limite da reserva do possível é o mínimo existencial, núcleo da dignidade da pessoa humana.
Nesse contexto, a reserva do possível deve ser analisada sob três aspectos:

I - Disponibilidade fática dos recursos para efetivação dos direitos fundamentais.


II - Disponibilidade jurídica dos recursos, mediante autorização orçamentária.
III - Razoabilidade e proporcionalidade da prestação, levando-se em consideração a universalização da
demanda, não apenas o indivíduo. Nesse sentido, não se pode exigir judicialmente do Estado uma prestação
que não possa ser concedida a todos os indivíduos que se encontrem em situação idêntica, sob pena de
violação do princípio da isonomia.

Contudo, conforme reiterada jurisprudência do STF, o fundamento da reserva do possível pelo Estado não é
tese apta a fundamentar a não execução de políticas públicas. Com efeito, prepondera-se a tese do mínimo
existencial. De forma atípica o Poder Judiciário atua, autorizado pela jurisprudência atual, com proatividade
intervindo nas políticas públicas não executadas pelo ente subnacional. A exemplo, é a ADPF de n° 347 que,
em seu bojo, aplicou a tese do estado de coisas inconstitucional em razão da massiva violação de direitos
fundamentais em seu sentido objetivo.

Inclusive, o STF no tema 365 da repercussão geral fixou a seguinte tese: “Considerando que é dever do
EStado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus presídios os padrões mínimos de humanidade
previsto no ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art. 37, §6°, da Constituição
Federal, a obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em
decorrência da falta de ou insuficiência das condições legais de encarceramento” (RE 580.252, 16.02.2017)

Assim, a Corte entendeu que não sendo assegurado o mínimo existencial, não se poderia sustentar a
aplicação da cláusula de reserva financeira do possível para o Estado deixar de indenizar.

Obs.1: o fundamento dos direitos de 2ª dimensão é a IGUALDADE MATERIAL.

Obs.2: o efeito bipolar dos direitos de 2ª dimensão e princípio da vedação ao retrocesso:


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Os direitos de 2ª dimensão (direitos sociais) não possuem apenas um viés positivo, mas também um
viés negativo.

● Viés negativo – Fruto da vedação ao retrocesso (efeito cliquet) → Uma vez implementado o direito
de 2ª dimensão por medida estatal, o próprio Estado passa a ter o dever de se abster de retornar ao
status quo de quando o direito ainda não tinha efetividade. O indivíduo também tem o direito de
exigir um não fazer estatal com o intuito de preservar o direito fundamental já efetivado. Em outras
palavras: não pode promover um retrocesso social, revogar ou enfraquecer normas que já
alcançaram o grau de densidade normativo adequado. Ex.: 13º salário.
● Viés positivo – Aqui a ideia não é só manter o status quo, mas também implementar/desenvolver
novos direitos sociais. E, enquanto não for implementado, o indivíduo possui o direito de exigir um
atuar do Estado com o intuito de realizá-lo (ideia de direitos prestacionais).

3) DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO OU TERCEIRA DIMENSÃO (difusos e coletivos):

Surgem na 2º metade do séc. XX, no pós 2ª Guerra, ligados aos movimentos de melhoria da qualidade
de vida dos cidadãos. São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, mas não
pertencem a ninguém isoladamente. Transcendem o indivíduo isoladamente considerado. Necessidade de
preservacionismo ambiental e as dificuldades para proteção dos consumidores. Possuem caráter indivisível
e são titularizados por toda a coletividade. Ex.: direito ao meio ambiente.
São também conhecidos como:
● DIREITOS DE FRATERNIDADE
● Direitos metaindividuais (estão além do indivíduo)
● Direitos supraindividuais (estão acima do indivíduo isoladamente considerado).

Vamos esquematizar?
Direitos de 1ª Direitos de 2ª Direitos de 3ª
GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO
Surgem com revoluções Surgem no final do século XIX e 2ª metade do séc. XX, no pós 2ª
CONTEXTO liberais, burguesas, diante do início do século XX, diante do Guerra, ligados aos
HISTÓRICO nascimento do fenômeno do movimentos de melhoria da
constitucionalismo liberal. – constitucionalismo social. qualidade de vida dos cidadãos
Séc. XIX.

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MARCOS Inglaterra – 1.215 – Magna Constituição Mexicana de 1917


Carta Constituição Alemã de Weimar
EUA – 1.776 – Declaração de de 1919
Independência Americana Rússia – 1.917/18 – Declaração
EUA – 1.787 – Constituição do Povo Oprimido e
Americana Trabalhador – Revolução Russa
França – 1.789 – Revolução Constituição Brasileira de
Francesa 1934.
França – 1.791 – Constituição
Francesa
SINÔNIMOS direitos negativos, direitos de direitos sociais, econômicos e difusos e coletivos
abstenção. culturais direitos metaindividuais
direitos positivos, direitos direitos supraindividuais
prestacionais
FUNDAMENTO Igualdade FORMAL Igualdade MATERIAL FRATERNIDADE
CONCEITO Buscam limitar o poder estatal, São direitos que impõem ao São direitos transindividuais,
impondo ao Estado obrigações Estado uma obrigação de fazer, isto é, titularizados por toda a
de não-fazer e se relacionam às de prestar. coletividade, não pertencendo
pessoas, individualmente. Buscam viabilizar, através do a uma pessoa isoladamente.
Estado, a satisfação das
necessidades básicas dos Possuem caráter indivisível.
indivíduos como forma de lhes
proporcionar uma vida digna.
EXEMPLOS Propriedade, igualdade formal Saúde, educação, moradia, Direito ao meio ambiente,
(perante a lei), liberdade de segurança pública. direito ao desenvolvimento,
crença, de manifestação de direito de propriedade sobre o
pensamento, direito à vida, patrimônio da humanidade,
direito de locomoção direito de comunicação

NOVAS GERAÇÕES/DIMENSÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS:

4) DIREITOS DE QUARTA GERAÇÃO OU QUARTA DIMENSÃO

Há autores que se referem a essa categoria, mas ainda não há consenso na doutrina sobre qual o
conteúdo desse tipo de direitos.
Segundo o autor Paulo Bonavides os direitos de quarta dimensão seriam fruto do processo de
globalização dos direitos fundamentais, no sentido de uma universalização desses direitos no plano
institucional, o que corresponde à última fase da institucionalização do Estado Social, de forma a sacramentar
a evolução democrática e social alcançada até então, ou seja, democracia (direta), informação e pluralismo4.

4
O Estado Social ou Estado do Bem-estar Social (Welfare State) surgiu como forma de reação à crise do Estado liberal,
notadamente em razão das desigualdades sociais vivenciadas à época. Os direitos sociais e econômicos passam a ser
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Assim, para Bonavides, os direitos de 4a dimensão decorrem da globalização dos direitos fundamentais, o
que significa universalizá-los no campo institucional. Para Bobbio, essa dimensão está ligada aos avanços no
campo da engenharia genética.

● Direito à democracia participativa – A democracia participativa ou semidireta é uma democracia


indireta, mas que conta com instrumentos de participação direta do povo no processo político. Esses
mecanismos de participação direta integrariam o rol dos direitos de quarta dimensão:
· Plebiscito; Referendo; Iniciativa popular de lei; Ação popular, etc.

● Direito à informação - consequência do próprio regime democrático, conjugado com a forma


republicana de governo. Garante o direito à transparência e, consequentemente, o direito à
informação (exemplo: lei de acesso à informação; art. 5º, XXXIII, CF/88)

● Direitos ligados às questões de bioética.

● Direitos ao pluralismo (art. 1º, CF/88)

5) DIREITOS DE QUINTA GERAÇÃO OU DIMENSÃO: direito à paz para Bonavides (para Karel Vasak a paz
está na 3a dimensão) .

Quadro sinóptico – Segundo Paulo Bonavides:

(Mazzuoli, 2018)
Obs.: Crítica doutrinária às “novas dimensões” de direitos fundamentais

contemplados de modo mais amplo, como corolários da igualdade material, sendo, posteriormente classificados como
direitos fundamentais de segunda geração.

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Parcela da doutrina critica a classificação de outras dimensões de direito, pois seriam direitos já
existentes aplicados, hoje, a um novo contexto social, diante da evolução da sociedade.

Ingo Salert – “trazer novas dimensões é dar destaque ao direito, não trata o direito
como um mero desdobramento de um outro direito que já está nas 3 dimensões
anteriores, de modo a facilitar a sua efetivação e proteção. Ex.: questões de bioética
trabalham com direitos básicos como direito à integridade, ao próprio corpo e
dignidade.”

2.4 Características dos direitos fundamentais

● Historicidade: o que se entende por direitos fundamentais varia de acordo com o momento histórico,
não são conceitos herméticos e fechados, variando no tempo e no espaço. Emergem progressivamente
das lutas que o homem trava por sua própria emancipação.
● Inalienabilidade: são direitos sem conteúdo econômico patrimonial, não podem ser comercializados ou
permutados.
● Imprescritibilidade: são sempre exigíveis, ainda que não exercidos.
● Irrenunciabilidade: o indivíduo pode não exercer os seus direitos, mas não pode renunciá-los, de modo
geral. OBS: O STF admite, excepcionalmente, a renúncia temporária aos direitos que não ferem o núcleo
da dignidade da pessoa humana, como no caso de participação em reality show.
● Relatividade: não são direitos absolutos. Se houver um choque entre os direitos fundamentais, serão
resolvidos por um juízo de ponderação à luz da razoabilidade e da concordância prática ou harmonização
levando em consideração a regra da máxima observância dos direitos fundamentais envolvidos
conjugando-a com a sua mínima restrição (limitabilidade).
Caiu em prova (CESPE, PCRJ/2022) e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: O método de solução
de conflitos entre direitos fundamentais constitucionalmente previstos, em caso de colisão, é a ponderação
de interesses; o legislador, contudo, por força do princípio democrático, pode resolver conflitos por meio
da lei, efetuando a ponderação em abstrato.

Técnica de Robert Alexy: a ponderação de interesses é considerada um método de solução de conflitos em


caso de colisão entre direitos fundamentais constitucionalmente previstos. Ademais, a CRFB assegura ao
Poder Legislativo a prerrogativa de estabelecer regras jurídicas em abstrato, como forma de resolver
conflitos por meio da lei, efetuando a ponderação em abstrato.

Não confunda com a teoria dos direitos imanentes: “A doutrina da imanência busca justificar
dogmaticamente o reconhecimento de limites não expressamente previstos no texto da Constituição,
tendo sido elaborada com base em duas premissas genericamente aceitas no pensamento jurídico: i) a ideia
de que os direitos fundamentais não são absolutos nem podem ser invocados em todas as situações; e ii) a
noção de que os direitos das pessoas devem ser harmonizados entre si”. Jane Reis Gonçalves Pereira,
Interpretação constitucional e direitos fundamentais, 2006, p. 182.

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Para Canotilho: "(...) os chamados ‘limites imanentes' são o resultado de uma ponderação de princípios
jurídico-constitucionais conducente ao afastamento definitivo, num caso concreto, de uma dimensão que
prima facie, cabia no âmbito prospectivo de um direito, liberdade e garantia." Nesse ponto, adota-se as
definições (e descrições) teóricas de Virgílio Afonso da Silva. In: SILVA, Virgílio Afonso. Direitos
Fundamentais, conteúdo essencial, restrições e eficácia, p. 166. Para o autor, em termos rigorosos, os
limites imanentes não se relacionam com a possibilidade de restrições aos direitos fundamentais e, com
isso a ponderação mediante a regra da proporcionalidade.

Apesar da limitabilidade inerente à natureza dos direitos humanos, a doutrina contemporânea


sustenta que existem 2 exceções a essa regra, as quais seriam direitos considerados absolutos: a vedação à
tortura (art. 5° da DUDH) e a vedação à escravidão (art. 4° da DUDH).
De acordo com o Professor Bruno Pinheiro, parte da doutrina aponta que existem Direitos
Fundamentais Absolutos:
a) Direito a Não Tortura (apontado por Norberto Bobbio)
b) Direito a Não Escravidão
c) Direito a Não Extradição do Brasileiro Nato (art. 5º, LI, CF/88) → apontado por Carlos Ayres Britto.

TEORIA DA RESTRIÇÃO DAS RESTRIÇÕES (= LIMITAÇÃO DAS LIMITAÇÕES)


- É teoria alemã, adotada no Brasil pelo STF;
- Uma das características dos direitos fundamentais é que eles são relativos, ou seja, podem sofrer limitações.
Porém, essas restrições devem ser feitas com critérios e de forma excepcional a não esvaziar o seu núcleo
essencial. Conclusão: Pode haver restrições aos direitos fundamentais, mas essas restrições devem ser
limitadas, não atingindo seu núcleo essencial.
- Só podem ser impostas restrições se obedecerem aos seguintes requisitos:
Requisito formal: os direitos fundamentais só podem ser restringidos em caráter geral por meio de normas
elaboradas por órgãos dotados de atribuição legiferante conferido pela CF/88. A restrição deve estar
expressa ou implicitamente autorizada.
Requisitos materiais: para a restrição ser válida, deve observar aos seguintes princípios:
- Não retroatividade;
- Proporcionalidade;
- Generalidade e abstração;
- Proteção do núcleo essencial.

A teoria dos limites dos limites (Schranhen- Schranken), ou seja, limites (com base em determinados
parâmetros) para a limitação (restrição) dos direitos fundamentais adota, portanto, critérios (limites) para
que tais limitações ocorram foram estabelecidos”. Em termos formais (requisitos formais) certo é que os
direitos fundamentais só podem ser restringidos por meio de normas elaboradas por órgãos dotados de
atribuição legiferante conferida pela Constituição. Portanto, a eventual restrição deve estar expressa ou
implicitamente autorizada nos ditames constitucionais. Já em termos materiais, temos os seguintes limites
(requisitos materiais).

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DICA DD: Os direitos fundamentais podem ser restringidos por atos normativos infraconstitucionais, desde
que seja respeitado o seu núcleo essencial.
Acerca do núcleo essencial: inclusive já caiu em prova que a construção do “conteúdo essencial” é uma
emanação da teoria externa dos direitos fundamentais, isto é a teoria externa dos direitos fundamentais é
aquela segundo a qual o conteúdo essencial dos direitos fundamentais não se esgota em si, espraiando-se,
de maneira irradiante, para todo o ordenamento jurídico.

Por fim, os direitos fundamentais podem ser restringidos, em primeiro lugar, pela própria Constituição, seja
em nome de outros direitos fundamentais (a liberdade de expressão não inclui o direito de caluniar alguém
– cf. art. 5º, IV e X) seja para promover valores e interesses coletivos (a liberdade de ir e vir pode ser limitada
no estado de sítio – art. 139, I). Podem ser restringidos, também, pela lei, tanto em hipóteses nas quais a
Constituição expressamente preveja a limitação (a inviolabilidade das comunicações telefônicas pode ser
excepcionada por lei para fins de investigação criminal ou instrução processual penal – art. 5º, XII –, e a
liberdade de trabalho pode estar sujeita a qualificações impostas por lei) quanto com base nos limites
imanentes.

● Personalidade: não se transmitem.


● Concorrência e cumulatividade: são direitos que podem ser exercidos ao mesmo tempo.
● Universalidade: são universais, destinando-se a todos os seres humanos, indiscriminadamente.
Independentemente de as nações serem signatárias da declaração universal dos direitos humanos,
devem ser reconhecidos em todo o planeta, independentemente, da cultura, política e sociedade.

De acordo com o Professor Bruno Pinheiro, é a característica da Universalidade que


fundamenta a interpretação extensiva e sistemática do art. 5º, caput da CF/88,
permitindo a aplicação dos direitos fundamentais aos apátridas, e aos estrangeiros
não residentes no país.
“Todo e qualquer ser humano é sujeito ativo desses direitos, podendo pleiteá-los
em qualquer foro nacional ou internacional (parágrafo 5° da Declaração e Programa
de Ação de Viena de 1993);”

Cespe, Oral RO/2023 (espelho): A universalidade dos direitos fundamentais significa que todo ser
humano os detém, apenas por sua condição humana, embora haja alguns desses direitos que não
necessariamente possam ser exercidos por todas as pessoas. Os direitos políticos, por exemplo, em alguns
casos pressupõem a condição de nacionalidade de um país, de modo que estrangeiros não podem exercê-
los plenamente.

● Proibição de retrocesso: não se pode retroceder nos avanços históricos conquistados. Os direitos
fundamentais são o resultado de um processo evolutivo, marcado por lutas e conquistas em prol da
afirmação de posições jurídicas concretizadoras da dignidade da pessoa humana e, por isso, uma vez
reconhecidos, não podem ser suprimidos, abolidos ou enfraquecidos. Destaca-se que há várias
manifestações no STF sobre esse princípio, especialmente do Min. Celso de Mello, para quem “o

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princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que
sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele
vive.” (STF, ARE n.º 639.337 AgR/SP, 2.ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23.08.2011, DJe 15.09.2011.).

2.5 Dimensão dos Direitos Fundamentais

a) Dimensão subjetiva: os direitos fundamentais conferem aos seus titulares o poder de exigir algo, seja
ação ou omissão.
Ex.: omissão - respeitar a autonomia da vontade, sem interferir na religião, política, etc.
Ex.: ação - exigir do Estado uma atuação comissiva, exigir ações para garantir educação, saúde, etc.

b) Dimensão objetiva: os direitos fundamentais encarnam valores que permeiam toda a ordem jurídica,
condicionam e inspiram a interpretação e aplicação de outras normas (EFICÁCIA IRRADIANTE) e criam
dever geral de proteção sobre os bens salvaguardados. Assim, a dimensão objetiva dos direitos
fundamentais consiste em atribuir a estes importância máxima dentro do ordenamento jurídico: eles
são a base, o eixo axiológico de todo o ordenamento jurídico.

2.5.1 Desdobramentos da dimensão objetiva dos Direitos Fundamentais

A dimensão objetiva atribui força aos direitos fundamentais, que passam a ser a diretriz para a
aplicação e interpretação das normas:

1) Eficácia interpretativa dos direitos fundamentais


Com a dimensão objetiva, os direitos fundamentais ganham um reforço na sua juridicidade,
ganhando força no ordenamento jurídico e, além disso, se tornam normas de eficácia irradiante, que, tendo
como base o princípio da dignidade da pessoa humana, se espalham para todo o ordenamento jurídico,
vinculando os 3 Poderes do Estado, seja para o Legislativo ao elaborar a lei, seja para a Administração
Pública ao “governar”, seja para o Judiciário ao resolver eventuais conflitos.
Valores morais incorporados nos princípios constitucionais que devem irradiar por todo o
ordenamento jurídico.
Gera o dever do intérprete de promover a filtragem constitucional

2) Eficácia horizontal dos direitos fundamentais:


Com a evolução da teoria dos direitos fundamentais, atualmente é reconhecida a incidência também
na relação entre particulares, em igualdade de armas. Logo, pode se definir a incidência e necessidade de
observância de todos os direitos fundamentais nas relações privadas (PARTICULAR X PARTICULAR). O STF já
reconheceu a aludida eficácia.
Em outras palavras: a eficácia horizontal dos direitos fundamentais consiste na possibilidade de
aplicação dos direitos fundamentais nas relações jurídicas estritamente privadas.
Em relação à eficácia horizontal dos direitos fundamentais, pode-se destacar 2 teorias:

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1) Eficácia indireta ou mediata: os direitos fundamentais são aplicados de maneira reflexa, tanto em
uma dimensão proibitiva e voltada para o legislador, que não poderá editar lei que viole direitos
fundamentais, como, ainda, positiva, voltada para que o legislador implemente os direitos
fundamentais, ponderando quais devem aplicar-se às relações privadas;
2) Eficácia direta ou imediata: alguns direitos fundamentais podem ser aplicados às relações privadas
sem que haja a necessidade de “intermediação legislativa” para a sua concretização.

Precedentes em que o STF reconheceu a eficácia horizontal dos direitos fundamentais:

· RE 160.222 – Entendeu que constitui constrangimento ilegal a revista íntima em mulheres em fábrica
de lingerie.
· RE 175.161 – Contrato de consórcio que prevê devolução nominal de valor já pago em caso de
desistência viola o devido processo legal substantivo - proporcionalidade e razoabilidade.
· RE 158.215 – Violação ao princípio do devido processo legal na hipótese de exclusão de associado de
cooperativa sem direito à defesa.
· RE 639.138 – É inconstitucional, por violação ao princípio da isonomia (art. 5º, I, da Constituição da
República), cláusula de contrato de previdência complementar que, ao prever regras distintas entre
homens e mulheres para cálculo e concessão de complementação de aposentadoria, estabelece
valor inferior do benefício para as mulheres, tendo em conta o seu menor tempo de contribuição.
· ADI 2572 – Constitucionalidade da reserva de vagas para pessoas obesas – O STF entendeu que não
há inconstitucionalidade material, tendo em vista que se trata de política inclusiva que não afronta
a liberdade de iniciativa, principalmente se considerada a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais.

A eficácia dos direitos fundamentais pode também pode ser:

● Vertical: aplica-se à tradicional ideia de limitação de poder do Estado e respeito aos direitos dos
indivíduos, conferindo direitos básicos e garantias aos indivíduos. Há um poder superior (Estado), em
face do indivíduo, em posições diferentes (ESTADO X PARTICULAR);

TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINEK


São as possíveis relações do indivíduo com o Estado:
● Passivo ou “subjectionis”: o indivíduo encontra-se em posição de subordinação com relação aos
poderes públicos;
● Ativo (direitos políticos): é o poder do indivíduo de interferir na formação da vontade do Estado,
sobretudo através do voto;
● Negativo: o indivíduo pode agir livre da atuação do Estado, podendo autodeterminar-se sem
ingerência estatal (abstenção estatal);

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● Positivo ou “civitatis”: é a possibilidade de o indivíduo exigir atuações positivas do Estado em seu


favor.

● Diagonal: teoria desenvolvida por Sérgio Gamonal, e consiste na incidência e observância dos
direitos fundamentais nas relações privadas marcadas por desigualdade de forças, ante a
vulnerabilidade de uma das partes. Na hipótese, embora as partes teoricamente estejam em posição
equivalente (PARTICULAR X PARTICULAR), na prática há império do poder econômico, por exemplo,
nas relações envolvendo crianças, pessoas com deficiência, trabalhadores, consumidores etc. O TST
já adotou a eficácia diagonal em alguns julgados, inclusive.

EFICÁCIA VERTICAL EFICÁCIA HORIZONTAL EFICÁCIA DIAGONAL

A aplicação dos direitos A aplicação dos direitos Há hipossuficiência de uma


fundamentais às relações entre fundamentais às das partes. É uma relação
Estado e particulares, a relação de relações entre os entre particulares onde não há
subordinação que o particular tem próprios particulares. uma igualdade fática.
com o Estado.

2.6 Direitos individuais implícitos e explícitos

Os direitos individuais podem ser explícitos ou implícitos.

● Explícitos: são aqueles previstos expressamente no texto da Constituição Federal. Como exemplo,
os contidos no art. 5° da CF/88 e seus incisos, em especial os previstos no caput do mencionado
artigo, como a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

● Implícitos: o reconhecimento decorre de interpretação do texto da Lei. Isto se evidencia pela leitura
do art. 5º, § 2º, da CF/88, que reconhece a existência de outros direitos individuais "decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais de que a República
Federativa do Brasil seja parte".

● Eventual novo direito individual criado por meio de emenda constitucional é considerado cláusula
pétrea?
NÃO. Segundo Gilmar Mendes, devemos ter em mente que as cláusulas pétreas “se fundamentam
na superioridade do poder constituinte originário sobre o de reforma”, de maneira que somente o primeiro
pode criar obstáculos à atuação do segundo. Não faz sentido, do ponto de vista lógico, permitir que o poder
reformador crie limites invencíveis a si mesmo.

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Assim, conclui Gilmar Mendes que “não é cabível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas.
Apenas o poder constituinte originário pode fazê-lo”. Caso EC crie um novo direito fundamental, este não
será cláusula pétrea.
É preciso distinguir, contudo, a situação em que uma EC apenas especifica, detalha ou incrementa
um direito fundamental já criado, sem inovar no rol de direitos. Nesse caso, ainda que introduzida por EC, a
novidade é considerada cláusula pétrea. Para Gilmar Mendes “é o que se deu, por exemplo, com o direito à
prestação jurisdicional célere somado ao rol do art. 5º da Constituição pela EC 45/04. Esse direito já existia,
como elemento necessário do direito de acesso à justiça – que há de ser ágil para ser efetiva – e do princípio
do devido processo legal, ambos assentados pelo constituinte originário”.

Classificação dos direitos fundamentais explícitos:


● Direitos individuais e coletivos: direitos ligados ao conceito de pessoa humana e sua própria
personalidade, com, por exemplo, vida, dignidade da pessoa humana, honra, liberdade, etc. Estão
espalhados pela CF/88, mas uma grande parte concentra no art. 5º;
● Direitos sociais: caracterizam-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória
em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria das condições de vida aos
hipossuficientes;
(Será especificado melhor no próximo tópico)

● Direitos de nacionalidade: nacionalidade é o vínculo jurídico-político que visa ligar um indivíduo a


certo e determinado Estado fazendo deste indivíduo um componente do povo, da dimensão pessoal
deste Estado, capacitando-o a exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento de deveres
impostos;
● Direitos políticos: conjunto de regras que disciplina as formas de atuação da soberania popular. São
direitos públicos subjetivos que permitem ao indivíduo o exercício concreto da liberdade de
participação nos negócios políticos do Estado;
● Direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos: a Constituição
Federal regulamentou os partidos políticos como instrumentos necessários e importantes para
preservação do Estado Democrático de Direito, assegurando-lhes autonomia e plena liberdade de
atuação, para concretizar o sistema representativo.

CAIU NA PROVA DELEGADO – PCGO (2022)!

- Os nascidos no estrangeiro são considerados brasileiros natos, desde que o pai brasileiro ou a mãe brasileira
esteja a serviço da República Federativa do Brasil.

- Aos partidos políticos é garantido o acesso, de forma gratuita, ao rádio e à televisão, na forma da lei, desde
que atenda a condições estabelecidas na constituição, sendo uma delas a de que tenham eleito em seus
quadros pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
Federação.

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- Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda básica familiar, garantida
pelo poder público em programa permanente de transferência de renda, na forma da lei.

- Os partidos políticos, que adquirem personalidade jurídica na forma da lei civil, devem registrar seus
respectivos estatutos perante o Tribunal Superior Eleitoral.

(Todos os itens corretos)

2.7 Destinatários

Os destinatários das normas dos direitos individuais, que são os direitos fundamentais, são os seres
humanos, os indivíduos. Isso porque os direitos fundamentais surgiram com o intuito de proteção do
indivíduo em face das arbitrariedades do Estado.
Segundo dispõe o art. 5º, caput, da CF/88, os destinatários dos direitos fundamentais elencados na
Carta Maior são: os brasileiros e os estrangeiros residentes no Brasil.

CF/88 Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

● E os estrangeiros não residentes no Brasil que apenas se encontram em trânsito no solo nacional?
R.: Para a doutrina, os estrangeiros não residentes no Brasil também são destinatários de direitos
fundamentais conforme interpretação sistemática. Veja:

Dirley da Cunha - “O artigo 5º, caput deve ser interpretado a partir da unidade da
Constituição, para se entender que todas as pessoas, físicas ou jurídicas, nacionais
ou estrangeiras, com residência ou não no Brasil, são destinatárias dos direitos e
garantias fundamentais previstas na CF, salvo quando a própria Carta Maior excluir
algumas delas”.

Professor Bruno Pinheiro - A característica da universalidade dos direitos


fundamentais fundamenta a interpretação extensiva do art. 5º, caput, da CF/88,
permitindo a aplicação dos direitos fundamentais aos apátridas, aos estrangeiros
não residentes no país.

Como o tema foi cobrado (CESPE/2022/PC-RJ/Delegado de Polícia):


Com relação ao direito à igualdade, expressamente previsto no art. 5.º da Constituição Federal de 1988,
assinale a opção correta.
E Analisando-se o princípio da igualdade com relação ao particular, verifica-se que este não poderá tratar os
demais membros da sociedade de maneira discriminatória, atingindo direitos fundamentais por meio de
condutas preconceituosas, sob pena de responsabilização civil e até mesmo criminal, quando o ato for

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tipificado como crime. Assim, é vedado ao particular, na contratação de empregados, por exemplo, utilizar
qualquer critério discriminatório com relação a sexo, idade, origem, raça, cor, religião ou estado civil.

Há, portanto, direitos que se asseguram a todos, independentemente da nacionalidade do


indivíduo, porquanto são considerados emanações necessárias do princípio da dignidade da pessoa
humana. Alguns direitos, porém, são dirigidos ao indivíduo enquanto cidadão, tendo em conta a situação
peculiar que o liga ao País. Assim, os direitos políticos pressupõem exatamente a nacionalidade brasileira.
Direitos sociais, como o direito ao trabalho, tendem a ser também não inclusivos dos estrangeiros sem
residência no País (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
Curso de Direito Constitucional, 5ª ed., pg.350-351. São Paulo: Saraiva, 2010).

● Pessoas jurídicas são titulares de direitos fundamentais?


R.: Para a maioria da doutrina e o STF, SIM! Pessoa Jurídica de Direito Privado e Pessoa Jurídica de
Direito Público podem ser titulares, bastando analisar casuisticamente quais direitos fundamentais se
compatibilizam com a condição de pessoa jurídica.
Naturalmente que o direito fundamental deve estar em harmonia com a natureza jurídica da pessoa
jurídica. Ex. podem sofrer dano moral (súmula 227 do STJ), mas não podem impetrar HC.
Atenção (1): existem direitos fundamentais catalogados na CF que são concebidos especificamente
para as pessoas jurídicas. – art. 5º, XIX, XXI, etc.

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas


atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
em julgado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

Atenção (2): pessoas jurídicas de direito público, apesar de integrarem o Estado (polo passivo dos
direitos fundamentais), gozam de direitos fundamentais, desde que compatíveis com a sua condição.

2.8 Os Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988

A CF de 88 estabeleceu um rol compromissório de direitos fundamentais que condensa diversas


ideologias consagradas em direitos de 1º, 2ª e 3ª dimensões.
Nos aproximamos do denominado liberalismo igualitário, que busca se equilibrar entre a proteção
das liberdades civis e a redução das desigualdades sociais.

Obs.1: princípio da indivisibilidade - os direitos das diferentes gerações não se excluem, na verdade,
se interpenetram, sofrendo influência mútua. Ou seja, uma geração fortalece o advento da outra. Isto porque
compõem um conjunto único de direitos que se relacionam entre si de forma harmônica. De acordo com
este princípio, todos os direitos humanos devem contar com a mesma proteção jurídica.
Obs.2: não há hierarquia entre os direitos fundamentais, pois a Constituição brasileira não permite
hierarquização prévia e abstrata entre os direitos fundamentais.

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2.8.1. Não taxatividade dos direitos fundamentais e tratados de direitos humanos

O ordenamento jurídico brasileiro adotou um sistema aberto de direitos fundamentais, não se


podendo considerar taxativo o rol do seu artigo 5º.

Art. 5º, § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem


outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Ingo Sarlet faz a seguinte divisão:


a) Direitos formalmente constitucionais → os incluídos pelo Poder Constituinte originário no catálogo
de direitos fundamentais (estão presentes no art. 5º ou no título II da CF/88).
b) Direitos materialmente constitucionais → direitos que não se encontram no rol formal da CF/88,
mas possuem status de fundamentais haja vista seu conteúdo jusfundamental (não importando o
local de positivação). A baliza para saber qual conteúdo confere à norma status de direito
fundamental é a dignidade da pessoa humana (princípio-matriz de todos os direitos fundamentais
e fundamento da República Federativa do Brasil). A fundamentalidade material dos direitos
fundamentais decorre da abertura da Constituição a outros direitos fundamentais não
expressamente constitucionalizados. O aspecto material dos direitos fundamentais nasce da
essência do seu conteúdo substancial normativo. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito
constitucional e teoria da constituição. 4º ed. Coimbra: Almedina.

Conforme ensina André de Carvalho Ramos, a abertura dos direitos humanos pode se dar de
forma nacional ou internacional. A abertura internacional ocorre quando são editados novos tratados ou
mesmo com os avanços na proteção internacional dos direitos humanos. Por sua vez, a abertura nacional
ocorre através da inclusão de novos direitos fundamentais em nosso ordenamento e também com a
interpretação evolutiva e ampliativa dos tribunais nacionais.
A cláusula materialmente aberta prevista no §2º do art. 5º da CF/88 decorre do reconhecimento da
dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado (art. 1º, III). A consequência disso é que o rol de
direitos fundamentais é meramente exemplificativo.

2.8.2. Hierarquia dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos

O art. 5º, §3º da CF/88 foi introduzido pela EC 45/2004 (conhecida como reforma do Poder
Judiciário).
Esse dispositivo prevê que os tratados internacionais sobre direitos humanos que observarem o
procedimento de incorporação análogo ao das Emendas Constitucionais terão paridade normativa, isto é:
terão status normativo de emendas constitucionais.
Que procedimento de incorporação é esse?
● Aprovação em cada Casa do Congresso Nacional;

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● Em 2 turnos de votação;
● Com pelo menos 3/5 dos votos dos respectivos membros.

● E os tratados internacionais de direitos humanos que não observarem o procedimento especial do


art. 5º, §3º da CF, não sendo aprovados pelo quórum constitucional?
R.: Segundo a doutrina majoritária e o Supremo Tribunal Federal, os Tratados Internacionais de
Direitos Humanos internalizados sem a observância do procedimento estabelecido no art. 5, §3º, da CF/88
terão hierarquia normativa supralegal: acima das leis e abaixo da Constituição.
Esse status normativo de supralegalidade tem o efeito de bloquear a legislação infraconstitucional
que com eles seja incompatível, análise de compatibilidade que é chamado de controle de convencionalidade
pela doutrina especializada.
O controle de convencionalidade pode ocorrer de forma concentrada ou difusa. O controle
concentrado se restringe ao STF e somente os tratados internacionais de direitos humanos incorporados nos
moldes do art. 5º, § 3º, CF/88 funcionam como paradigma. Acrescente-se que o autor Valério Mazzuoli
sustenta a utilização analógica das ações do controle concentrado em tais situações, de modo que é possível
a propositura de ação direta de “inconvencionalidade” ou ação declaratória de “convencionalidade”. O
controle difuso, por sua vez, pode (em verdade, deve) ser realizado por qualquer juiz ou tribunal e tem como
paradigma tanto os tratados de direitos humanos equivalentes às ECs quanto os demais tratados
internacionais de direitos humanos que sejam ratificados pelo Brasil.

Por fim, os Tratados Internacionais que não versam sobre direitos humanos terão hierarquia
infraconstitucional, com status normativo equivalente à lei ordinária.

RESUMINDO:
Tratado internacional SOBRE DIREITOS
HUMANOS, aprovado pelo mesmo rito da
Emenda Constitucional (art. 5º, §3º) Status normativo de emenda constitucional.

Tratado internacional SOBRE DIREITOS


HUMANOS, aprovado com quórum Status normativo de supralegalidade: superior
diverso das emendas constitucionais às leis e inferior à Constituição.

Tratados Internacionais QUE NÃO Independente do procedimento e quórum de


VERSAM SOBRE DIREITOS HUMANOS votação terão status normativo de leis
ordinária.

2.9 Deveres Fundamentais

Além de direitos fundamentais, há os deveres fundamentais. A doutrina é vasta em discorrer sobre


os direitos fundamentais, porém, pouca atenção se dá aos deveres fundamentais. Conforme o professor
Pedro Lenza “diante da vida em sociedade, devemos pensar, também, a necessidade de serem observados

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os deveres, pois muitas vezes o direito de um indivíduo depende do dever do outro em não violar ou impedir
a concretização do referido direito” (LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, pg. 1154).
Conforme o autor Bernardo Gonçalves
Porém, em detrimento dessa conduta, o Estado Social e o constitucionalismo social,
bem como o Estado Democrático de Direito e atual constitucionalismo do Estado
Democrático de Direito, vão buscar inspiração na tutela dos interesses da
comunidade (e não só do indivíduo considerado isoladamente). Esses ditos valores
sociais, que convivem (ou devem conviver em equilíbrio em uma democracia) com
os projetos e concepções individuais (de vida), devem ser respeitados e tutelados
pelo Estado e também pelos particulares. Nesses termos, "O reconhecimento de
deveres fundamentais diz respeito à participação ativa dos cidadãos na vida pública
e implica em um empenho solidário (de responsabilidade social) de todos na
transformação das estruturas sociais”. Surge, então, daí a noção de deveres
fundamentais.

Pode-se esquematizar alguns deveres fundamentais:


-Dever de efetivação dos direitos fundamentais Estado prestacionista;
-Deveres específicos do Estado diante dos indivíduos - ex. dever de indenizar o condenado por erro
judiciário;
-Deveres de criminalização do Estado - ex. art. 5°, XLIII, da CRFB;
- Deveres dos cidadãos e da sociedade - ex. serviço militar obrigatório;
- Dever de exercício do direito de forma solidária e levando em consideração os interesses da
sociedade - ex. direito de propriedade que se leva em consideração o exercício conforme a sua função social;
- Deveres implícitos - o direito de uma pessoa pressupõe o dever de todas as demais.

2.10 Alguns direitos individuais – rol do art. 5º da CF/88

A. DIREITO À VIDA:

CRFB, Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

Está relacionado à existência física de um ser humano. O art. 5º, caput, da CF assegura a
inviolabilidade do direito à vida em relação ao Estado e em relação aos demais indivíduos.
Inviolabilidade difere de irrenunciabilidade: a inviolabilidade diz respeito à proteção de um direito
em face de outras pessoas, enquanto que a irrenunciabilidade diz respeito à proteção de um direito em face
do próprio titular.
O direito à vida compreende o direito ao mínimo necessário a uma existência digna, que abrange:

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1. Direito à integridade física: direito à saúde, vedação de pena de morte, proibição do aborto,
etc;
2. Direito a condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma existência digna.

● Dupla acepção do direito à vida (NOVELINO, 2017, p. 325):

1. Acepção positiva: está associada ao direito à existência digna, que assegura o acesso a bens
e utilidades indispensáveis para isso. Ela não se limita ao mínimo existencial, pois garante
também pretensões de caráter material e jurídico, de modo que os poderes públicos devem
adotar medidas positivas de proteção da vida, de amparo material e de emissão de normas
protetivas;

2. Acepção negativa: é o direito assegurado a todo e qualquer ser humano de permanecer vivo.
É um direito de defesa e um pressuposto elementar para o exercício de todos os demais
direitos. Uma decorrência dessa acepção é a proibição da pena de morte (art. 5º, XLVII, “a”,
da CF).

Atenção! Não existe direito fundamental absoluto, todos são relativos, de modo que nenhum direito
fundamental está hierarquicamente em superioridade em relação a outro. Ora, se não existe direito
fundamental absoluto e se todos eles são relativos, não se pode admitir que o direito à vida esteja
hierarquicamente superior a qualquer outro, pelo simples fato de ser direito à vida.
A ponderação de direitos depende de uma análise no caso concreto (nunca em abstrato) que deve
sempre levar em consideração o princípio pro homine (pro persona), em que o intérprete prefira a
interpretação dos direitos humanos que seja mais favorável à pessoa e a máxima efetividade, de modo que
se alcance o maior proveito possível para o titular, com o menor sacrifício aos titulares dos demais direitos.
Contudo, considerando-se que são inevitáveis algumas colisões de direitos fundamentais, é possível
que estes sofram limitações diante de outros que sejam igualmente relevantes. Assim, de forma excepcional,
pode haver a restrição ou mesmo a derrogação de alguns direitos. Exemplo de que o direito à vida não é um
direito absoluto: existência da pena de morte no ordenamento jurídico brasileiro.
Contudo, vale ressaltar que nem mesmo o poder constituinte originário poderia ampliar as
hipóteses de pena de morte diante da observância do princípio da continuidade e proibição do retrocesso.

DESACORDOS MORAIS RAZOÁVEIS

Segundo o professor Pedro Lenza: Desacordos morais razoáveis surgem em razão de inexistência de consenso
em relação a temas polêmicos e com entendimentos antagônicos e diametralmente opostos e que se fundam
em conclusão racional, como, por exemplo, a interrupção da gravidez. Assumir uma das posições significa
negar a outra, e essa realidade é marca de uma sociedade plural, característica das democracias modernas
(posições religiosas, morais, filosóficas etc.).
Nessas matérias, como regra geral, o papel do direito e do Estado deve ser o de assegurar que cada pessoa
possa viver sua autonomia da vontade e suas crenças.

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Exemplos: interrupção de gestação, pesquisas com células-tronco embrionárias, eutanásia/ortotanásia,


uniões homoafetivas, etc.

JURISPRUDÊNCIA SOBRE DIREITO À VIDA:

1) ADI 3510 – Pesquisa em Células Tronco Embrionárias


O art. 5º da Lei de Biossegurança autoriza a utilização do material biológico para fins de pesquisa,
terapia, etc., desde que sejam embriões inviáveis, ou, ainda que embriões viáveis, com mais de três anos de
armazenamento. Veja:

Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco


embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e
não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:
I - sejam embriões inviáveis; ou
II - sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta
Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem
3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.
§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.
§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia
com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à
apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.
§ 3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e
sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro
de 1997.

O art.5º foi impugnado na sua constitucionalidade porque se chegou a cogitar eventual violação da
dignidade da pessoa humana, por considerar que o ser humano estaria sendo tratado como coisa.
Decisão do STF: o STF concluiu, por votação bastante apertada, que as pesquisas com célula-tronco
embrionária, nos termos da lei, não violam o direito à vida. A constatação de que a vida começa com a
existência do cérebro (segundo o STF e sem apresentar qualquer análise axiológica ou filosófica) estaria
estabelecida, também, no art. 3.º da Lei de Transplantes, que prevê a possibilidade de retirada de tecidos,
órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento depois da morte desde que se
constate a morte encefálica. Logo, para a lei, o fim da vida dar-se-ia com a morte cerebral, razão pela qual é
nessa linha que o conceito de vida está ligado (surgimento do cérebro).
Conclusão: O art. 5° da Lei nº 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) é plenamente constitucional, não
havendo qualquer violação ao direito à vida. Isso porque o art. 5° toma os cuidados necessários, usa
efetivamente as pesquisas científicas para fins terapêuticos, etc., sem trazer nenhum efeito deletério ou
coisificante para a pessoa que forneceu o material biológico.

2) ADPF 54 – Aborto de Feto Anencéfalo

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Desconsiderando os aspectos moral, ético ou religioso, tecnicamente, em relação à interrupção da


gravidez de feto anencéfalo, desde que se comprove, por laudos médicos, com 100% de certeza, que o feto
não tem cérebro e não há perspectiva de sobrevida.
Nessa linha de desenvolvimento, o STF, para seguir a lógica do julgamento anterior (célula-tronco),
teria de autorizar a possibilidade de antecipação terapêutica do parto. A imposição estatal da manutenção
de gravidez cujo resultado final será irremediavelmente a morte do feto vai de encontro aos princípios
basilares do sistema constitucional, mais precisamente à dignidade da pessoa humana, à liberdade, à
autodeterminação, à saúde, ao direito de privacidade, ao reconhecimento pleno dos direitos sexuais e
reprodutivos de milhares de mulheres.
Conforme o Ministro MArco Aurélio, “o ato de obrigar a mulher a manter a gestação, colocando-a
em uma espécie de cárcere privado em seu próprio corpo, desprovida de um mínimo essencial de
autodeterminação e liberdade, assemelha-se à tortura ou a um sacrifício que não pode ser pedido a qualquer
pessoa ou dela exigido.”
O STF, então, julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade de
interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta tipificada nos arts. 124,
126 e 128, I e II, todos do Código Penal. Assim, enalteceu o direito à dignidade da pessoa humana, à liberdade
no campo sexual, à autonomia, à privacidade, à integridade física, psicológica e moral e à saúde. Em outras
palavras: o STF excluiu qualquer interpretação no sentido de que a interrupção da gestação de feto
anencéfalo pudesse ser catalogada como aborto. Justamente por isso fala-se que não se trata de aborto, mas
sim de uma interrupção da gestação em razão da inexistência de uma vida possível. Os fundamentos foram,
dentre outros, direito à dignidade da pessoa humana, à liberdade no campo sexual, à autonomia, à
privacidade, à integridade física, psicológica e moral e à saúde.

3) HC 124.306 - Interrupção voluntária da gestação no primeiro trimestre


O STF conferiu interpretação conforme à Constituição aos arts. 124 a 126 do Código Penal para excluir
do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. Os
Ministros entenderam que a criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher,
bem como o princípio da proporcionalidade, nos termos do voto do Min. Barroso (HC 124.306, j. 29.11.2016,
DJE de 17.03.2017). Os fundamentos também foram, dentre outros, direito à dignidade da pessoa humana,
à liberdade no campo sexual, à autonomia, à integridade física, psicológica e moral e à saúde.
Mas atenção, diante do exposto, a interrupção da gravidez no primeiro trimestre não deixou de ser
considerada crime, já que a questão decidida pela 1 a Turma do STF foi na concessão de HC e, portanto, sem
caráter vinculante.

4) Distanásia, eutanásia, suicídio assistido e ortotanásia


Distanásia: também chamada de obstinação terapêutica ou medical futility, trata-se de conduta onde
não se prolonga a vida propriamente dita, mas o processo de morrer. No Brasil, a exposição de motivos da
Resolução nº 1.805/2006 do Conselho Federal de Medicina permite ao médico limitar ou suspender
procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal, de enfermidade grave e
incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal. De acordo com Jean Robert Debray,
são procedimentos terapêuticos cujos efeitos são mais nocivos do que o próprio mal a ser curado e acabam
por negar a dignidade da vida humana.

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Eutanásia: conhecida como “morte serena”, “morte doce” ou “boa morte”, tem o fim de abreviar a
vida do doente terminal. É uma ação médica intencional com exclusiva finalidade benevolente de pessoa que
se encontre em situação irreversível e incurável, padecendo de intensos sofrimentos físicos e psíquicos. De
acordo com Lenza:
“Atualmente, não tendo ainda o STF apreciado a matéria, a eutanásia enseja a
prática do crime previsto no art. 121, § 1.º, CP, qual seja, homicídio privilegiado, já
que praticado por motivo de relevante valor moral e, por esse motivo, a prescrição
normativa da causa de diminuição de pena. Alguns autores o denominam
‘homicídio por piedade’.”

Acrescente-se que a eutanásia ativa não se confunde com a eutanásia passiva. Esta última consiste
na omissão de um tratamento que poderia garantir a continuidade da vida ao passo que a primeira é a ação
deliberada de matar (seja ministrando medicamento ou suprimindo tratamento já iniciado).
Suicídio assistido: em algumas situações, a pessoa doente em estágio terminal quer pôr fim ao seu
sofrimento, contudo, em virtude das suas debilidades, não tem condições de o fazer sem auxílio.
Ortotanásia: é uma prática sensível ao processo de humanização da morte, consistindo em uma
aceitação desta, permitindo que ela siga seu curso. Visa aliviar as dores sem incorrer em prolongamentos
abusivos que imponham sofrimentos adicionais. Para a doutrina, seria uma forma de eutanásia ativa indireta
em que os mecanismos de sustentação artificial da vida são retirados ou de eutanásia passiva, onde não se
inicia uma ação médica. De acordo com Ingo Sarlet: “A ideia de bom senso, prudência e razoabilidade deve
ser considerada, deixando claro não haver, ao menos explicitamente, qualquer vedação constitucional ao
dito ‘direito de morrer com dignidade’ (...).”

B. DIREITO À IGUALDADE:

Está previsto no art. 5º, caput e inciso I, da CF/88:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...).

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta


Constituição;

a) Concepções da igualdade:
● Concepção formal: é a igualdade perante a lei e perante o Estado. Por essa concepção, a igualdade
impede que os indivíduos sejam tratados pelos poderes públicos de maneira diversa. Trata-se de
uma concepção estática e negativa, insuficiente para solucionar as desigualdades sociais;
● Concepção material: representa o tratamento igual dos iguais e o tratamento desigual daqueles em
situações desiguais. Por essa concepção, a igualdade deve adotar critérios distintivos justos e
razoáveis, de modo que os poderes públicos devem adotar medidas concretas para reduzir ou
compensar desigualdades.
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IGUALDADE FORMAL IGUALDADE MATERIAL


É a igualdade perante a lei e perante o É o tratamento igual dos iguais e o
Estado, impedindo que os indivíduos sejam tratamento desigual aos desiguais na medida
tratados pelos poderes públicos de maneira em que se desigualam.
diversa
Deve adotar critérios distintivos justos e
razoáveis, de modo que os poderes públicos
devem adotar medidas concretas para
reduzir ou compensar desigualdades

Confira a dica da Professora Thaianne:

https://youtu.be/f6uK8WsoSnM

b) Dimensões da igualdade (NOVELINO, 2017, p. 340):

● Dimensão objetiva: é a igualdade compreendida como princípio material estruturante do Estado


brasileiro que impõe o tratamento igual para os iguais e desigual para os desiguais, bem como ações
voltadas à redução das desigualdades sociais e regionais;
● Dimensão subjetiva: confere a indivíduos e grupos posições jurídicas de caráter negativo (proteção
contra diferenciações ou igualizações arbitrárias) e de caráter positivo (direito a exigir determinadas
prestações materiais e jurídicas destinadas à redução de desigualdades).

Certo é que, no atual Estado Democrático de Direito, deve-se buscar, não somente a igualdade formal
(consagrada no liberalismo clássico), mas, principalmente, a igualdade material. Isso porque, no Estado social
ativo, efetivador dos direitos humanos, imagina-se uma igualdade mais real perante os bens da vida, diversa
daquela apenas formalizada em face da lei.
Vejamos alguns exemplos de ações afirmativas (discriminações positivas/medidas de compensação)
reconhecidas pelo STF:

◘ Cotas raciais:

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O STF, na ADPF 186, considerou constitucional a política de cotas étnico-raciais para seleção de
estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Além disso, o STF declarou o reconhecimento da
proclamação na Constituição da igualdade material, sendo que, para assegurá-la, “o Estado poderia lançar
mão de políticas de cunho universalista — a abranger número indeterminado de indivíduos — mediante
ações de natureza estrutural; ou de ações afirmativas — a atingir grupos sociais determinados — por meio
da atribuição de certas vantagens, por tempo limitado, para permitir a suplantação de desigualdades
ocasionadas por situações históricas particulares.
Ainda, o STF declarou que “é constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos
públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública direta
e indireta. É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação,
desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa”. STF.
Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017 (Info 868).

◘ PROUNI – Programa Universidade para Todos:


O STF julgou constitucional o PROUNI, como importante fator de inserção social e cumprimento do
art. 205 da CF/88, que estabeleceu ser a educação direito de todos e dever do Estado e da família. Ainda, o
programa encontra-se em sintonia com diversos dispositivos da Constituição que estabelecem a redução de
desigualdades sociais.

◘ Lei Maria da Penha:


O STF julgou procedente a ADC 19, para declarar a constitucionalidade dos arts. 1.º, 33 e 41 da Lei n.
11.340/2006 (Lei Maria da Penha), tendo por fundamento o princípio da igualdade, bem como o combate ao
desprezo às famílias, sendo considerada a mulher a sua célula básica.
Na mesma assentada, por maioria e nos termos do voto do Relator, o STF julgou procedente a ADI
4.424, para, dando interpretação conforme os arts. 12, I, e 16, ambos da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da
Penha), declarar a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão, pouco importando a
extensão desta, praticado contra a mulher no ambiente doméstico.

C. DIREITO À DIGNIDADE HUMANA:


É um valor, um princípio, servindo como parâmetro para a definição dos direitos formal e
materialmente fundamentais.

ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL5


- Inspiração: Corte Constitucional Colombiana.
- Definição: Quadro insuportável de violação massiva de direitos fundamentais, agravado pela inércia
continuada das autoridades.
- Pressupostos:
● Violação generalizada e sistemática de direitos fundamentais;
● Inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a
conjuntura;

5
Para aprofundamento do julgado: http://www.dizerodireito.com.br/2015/09/entenda-decisao-do-stf-sobre-
o-sistema.html
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● Situação que exige a atuação de uma pluralidade de autoridades públicas.


Caiu em prova (CESPE, PCRJ/2022) e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: A respeito da figura
denominada Estado de coisas inconstitucional, é correto afirmar que: encontra fundamento nos casos de
inadimplemento reiterado de direitos fundamentais pelos poderes do Estado, sem que haja possibilidade
de remédio para vias tradicionais, ocasião em que o tribunal assume o papel de coordenador de políticas
públicas por meio da denominada tutela estruturante.

Análise pelo STF em ADPF (PSOL X União e Estados) – Concessão parcial de liminar para:
● Obrigar a União a liberar o saldo acumulado no FUNPEN;
● Implementação pelos juízes e Tribunais da audiência de custódia, no máximo em 90 (noventa) dias;

● Responsabilidade dos três poderes e de todos os entes Federativos.
● No julgado, entendeu-se que incumbiria ao STF retirar os demais poderes da inércia, coordenando ações
para resolver os problemas e monitorar resultados. Porém, NÃO cabe ao Judiciário definir o conteúdo
dessas políticas públicas (ex: medidas judiciais para abater o tempo de prisão).

IMPORTANTE: Transexuais e travestis com identificação com gênero feminino poderão optar por cumprir
pena em presídio feminino ou masculino.
Em 19.03.2021, o ministro Luís Roberto Barroso ajustou os termos de medida cautelar deferida em junho de
2019, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 527, de modo a determinar que
presas transexuais e travestis com identidade de gênero feminino podem optar por cumprir penas em
estabelecimento prisional feminino ou masculino. Nesse último caso, elas devem ser mantidas em área
reservada, como garantia de segurança.
De acordo com Barroso, e mencionando os Princípios de Yogyakarta (número 9), no Brasil, o direito das
transexuais femininas e travestis ao cumprimento de pena em condições compatíveis com a sua identidade
de gênero decorre, em especial, dos princípios constitucionais do direito à dignidade humana, à
autonomia, à liberdade, à igualdade, à saúde, e da vedação à tortura e ao tratamento degradante e
desumano. Decorre também da jurisprudência consolidada no STF no sentido de reconhecer o direito desses
grupos a viver de acordo com a sua identidade de gênero e a obter tratamento social compatível com ela.
Fonte: Site do STF

D. DIREITO À SAÚDE
A saúde é direito de todos e dever do Estado (art. 196 da CF/88), sendo assegurada por meio de
políticas sociais e econômicas que busquem:
● A redução do risco de doença e de outros agravos; e
● O acesso universal e igualitário às ações e serviços voltados à sua promoção, proteção e
recuperação.

Quando se fala na dimensão objetiva do direito à saúde, isso significa que, independentemente de
um caso concreto, existe um dever jurídico geral do Poder Público de concretizar medidas para garantir as
políticas públicas de saúde.

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De acordo com Lenza, assim como os demais direitos sociais, tal direito possui duas vertentes. Uma
positiva, onde se fomenta um Estado prestacionista para implementar o direito social; e outra negativa, onde
o Estado ou particular devem se abster da prática de atos que sejam prejudiciais a terceiros.
Cuidar da saúde da população é uma competência COMUM que deve ser exercida por todos os entes
federados.

CRFB, Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios:
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas
portadoras de deficiência;

Quando se fala em “cuidar da saúde” isso abrange, obviamente, adotar medidas para salvar vidas e
garantir a higidez física das pessoas ameaçadas ou acometidas pelo novo coronavírus (Covid-19). Vale
relembrar que, no plano administrativo, esse dever é materializado por meio do Sistema Único de Saúde –
SUS, previsto no art. 198, da CF/88:

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as
seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.

O SUS é compatível com o federalismo cooperativo, adotado pelo Brasil, segundo o qual existe um
entrelaçamento de competências e atribuições dos diferentes níveis governamentais. Veja a explicação do
Professor Márcio Cavalcante:

A União tem o papel de coordenar as atividades do setor: A União exerce aquilo que a doutrina
denomina de “competência de cooperação” e que consiste na obrigação constitucional de “planejar e
promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações”
(art. 21, XVIII, CF/88). Assim, compete à União assumir a coordenação das atividades do setor, incumbindo-
lhe, em especial, “executar ações de vigilância epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais, como
na ocorrência de agravos inusitados à saúde, que possam escapar do controle da direção estadual do SUS ou
que representem risco de disseminação nacional”, conforme estabelece o disposto no art. 16, III, “a”, e
parágrafo único, da Lei nº 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde).

Estados-membros, DF e Municípios também podem atuar para suprir lacunas ou omissões: Não
obstante constitua incumbência do Ministério da Saúde coordenar o PNI, tal atribuição não exclui a
competência dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios de também atuarem porque se trata,
conforme já explicado, de competência comum (art. 23, II, da CF/88). O ideal é que todas as vacinas seguras
e eficazes sejam incluídas no PNI e que a União coordene nacionalmente o programa, de maneira a imunizar
uniforme e tempestivamente toda a população. No entanto, o STF entende que é possível a atuação conjunta
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das autoridades estaduais e locais para o enfrentamento da covid, especialmente para suprir lacunas ou
omissões do governo federal.

Nesse sentido, considerando a imensa relevância sobre o tema, é importantíssimo ficar atento às
jurisprudências pertinentes:
◘ São atípicas as condutas de submeter-se à vacinação contra covid-19 em local diverso do
agendado e/ou com aplicação de imunizante diverso do reservado e/ou de submeter-se à
vacinação sem a realização de agendamento.

(Caso Wesley Safadão)


No caso, o Tribunal de origem considerou que as condutas de submeter-se à
vacinação contra covid-19 em local diverso do agendado, com aplicação de
imunizante diverso do reservado e sem a realização de agendamento subsumir-se-
iam, em tese, aos tipos penais previstos nos arts. 312 (peculato) e 317, § 2º
(corrupção passiva), do Código Penal.
Essas condutas não se amoldam aos tipos em questão, em especial porque
ausentes os elementos objetivos (verbos nucleares) contidos no art. 312 do Código
Penal. Não houve apropriação, tampouco desvio de doses de vacina contra a covid-
19, já que destinadas à população em geral, grupo em que se enquadram os
pacientes, uma vez que tinham o direito de ser vacinados (embora em local ou
momento diverso). A saúde é um direito de todos, direito social que é assegurado
pelo art. 6º da Carta Constitucional.
De igual forma, é atípica a conduta de corrupção passiva na forma do § 2º
(modalidade privilegiada) do art. 317 do Código Penal, porquanto, na modalidade
privilegiada do tipo em questão, criminaliza-se, de maneira mais branda, a conduta
do agente que pratica ato de ofício, com violação de dever funcional a pedido de
alguém que exerce algum tipo de influência sobre sua atuação, sem solicitação ou
recebimento de vantagem ilícita.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 160.947-CE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado
em 27/09/2022 (Info 752)

◘ Em ação que pretende o fornecimento de medicamento registrado na ANVISA, ainda que não
incorporado em atos normativos do SUS, é prescindível a inclusão da União no polo passivo da
demanda.

O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o Tema 793 da Repercussão Geral, fixou


tese no sentido de que "os entes da federação, em decorrência da competência
comum, são solidariamente responsáveis nas demandas prestacionais na área da
saúde, e diante dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização,
compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de
repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus

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financeiro" (STF, EDcl no RE 855.178/SE, Rel. p/ acórdão Ministro Edson Fachin,


Pleno, DJe 16/04/2020).
STJ. RMS 68.602-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, Segunda Turma, por
unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 29/04/2022.(Info 734)

◘ Não se pode utilizar verbas do Fundeb para combater à pandemia da Covid-19.


Ainda que se reconheça a gravidade da pandemia da Covid-19 e os seus impactos
na economia e nas finanças públicas, nada justifica o emprego de verba
constitucionalmente vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino básico
para fins diversos da que ela se destina.
STF. Plenário. ADI 6490/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2022 (Info
1044).

◘ Estados, Distrito Federal e Municípios podem importar vacinas?

Nas exatas palavras do STF: os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no caso


de descumprimento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra
a Covid-19 ou na hipótese de cobertura imunológica intempestiva e insuficiente,
poderão dispensar às respectivas populações: a) vacinas das quais disponham,
previamente aprovadas pela Anvisa; e b) no caso não expedição da autorização
competente, no prazo de 72 horas, vacinas registradas por pelo menos uma das
autoridades sanitárias estrangeiras e liberadas para distribuição comercial nos
respectivos países, bem como quaisquer outras que vierem a ser aprovadas, em
caráter emergencial. STF. Plenário. ADPF 770 MC-Ref/DF e ACO 3451 MC-Ref/MA,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/2/2021 (Info 1006).

◘ Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de
vacinação forçada)

A tese fixada foi a seguinte: (A) A vacinação compulsória não significa vacinação
forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário, podendo, contudo, ser
implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre
outras, a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de
determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes, e (i) tenham
como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, (ii) venham
acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações
dos imunizantes, (iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das
pessoas; (iv) atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, e (v)
sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente; e (B) tais medidas, com as
limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos
Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de

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competência. STF. Plenário. ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
17/12/2020.

◘ É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção filosófica

É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que,


registrada em órgão de vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa
Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei
ou (iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município,
com base em consenso médico-científico. Em tais casos, não se caracteriza violação
à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou responsáveis, nem
tampouco ao poder familiar. STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 16 e 17/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 1103) (Info 1003).

◘ União não pode requisitar seringas e agulhas que já foram contratadas pelo Estado-membro para o
plano estadual de imunização e que ainda estão na indústria, apesar de já terem sido empenhados

É incabível a requisição administrativa, pela União, de bens insumos contratados


por unidade federativa e destinados à execução do plano local de imunização, cujos
pagamentos já foram empenhados. A requisição administrativa não pode se voltar
contra bem ou serviço de outro ente federativo. Isso para que não haja indevida
interferência na autonomia de um sobre outro. STF. Plenário. ACO 3463 MC-Ref/SP,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 8/3/2021 (Info 1008).

◘ STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos grupos
prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário)

A pretensão de que sejam editados e publicados critérios e subcritérios de


vacinação por classes e subclasses no Plano de Vacinação, assim como a ordem de
preferência dentro de cada classe e subclasse, encontra arrimo: • nos princípios da
publicidade e da eficiência que regem a Administração Pública (art. 37, da CF/88);
• no direito à informação que assiste aos cidadãos em geral (art. 5º, XXXIII, e art.
37, § 2º, II); • na obrigação da União de “planejar e promover a defesa permanente
contra as calamidades públicas” (art. 21, XVII); • no dever incontornável cometido
ao Estado de assegurar a inviolabilidade do direito à vida (art. 5º, caput), traduzida
por uma “existência digna” (art. 170); e • no direito à saúde (art. 6º e art. 196). STF.
Plenário. ADPF 754 TPI-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 27/2/2021 (Info 1007).

◘ É dever do Poder Público elaborar e implementar plano para o enfrentamento da pandemia COVID-
19 nas comunidades quilombolas

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DELEGADO DE POLÍCIA

SEMANA 01/48

O STF determinou que a União elaborasse plano de combate à Covid-19 para


população quilombola, com a participação de representantes da Coordenação
Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – Conaq.
Além disso, o STF deferiu pedido para suspender os processos judiciais,
notadamente ações possessórias, reivindicatórias de propriedade, imissões na
posse, anulatórias de processos administrativos de titulação, bem como os recursos
vinculados a essas ações, sem prejuízo dos direitos territoriais das comunidades
quilombolas até o término da pandemia. STF. Plenário. ADPF 742/DF, Rel. Min.
Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2021 (Info
1006).

◘ STF determina que governo federal adote medidas para conter o avanço da Covid-19 entre indígenas

O Min. Roberto Barroso (relator) deferiu parcialmente a medida cautelar para que
a União implemente, em resumo, as seguintes providências: Quanto aos povos
indígenas em isolamento ou povos indígenas de recente contato: 1. Criação de
barreiras sanitárias, que impeçam o ingresso de terceiros em seus territórios; 2.
Criação de Sala de Situação, para gestão de ações de combate à pandemia quanto
aos Povos Indígenas em Isolamento e de Contato Recente. Quanto aos povos
indígenas em geral: 1. Inclusão de medida emergencial de contenção e isolamento
dos invasores em relação às comunidades indígenas ou providência alternativa,
apta a evitar o contato. 2. Imediata extensão dos serviços do Subsistema Indígena
de Saúde. 3. Elaboração e monitoramento de um Plano de Enfrentamento da
COVID-19 para os Povos Indígenas Brasileiros pela União. O Plenário do STF
referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 5/8/2020 (Info 985).

Ademais, o Poder Judiciário pode determinar, ante injustificável inércia estatal, que o Poder
Executivo adote medidas necessárias à concretização de direitos constitucionais dos indígenas:: Não
procede o argumento de ingerência indevida do Poder Judiciário nas diretrizes de políticas públicas,
notadamente quando se cuida de reconhecer a omissão estatal na adoção de providências específicas (arts.
26 e 27 da Lei n. 6.001/1973) para a concretização de direitos constitucionais dos indígenas (art. 231 da
CF/1988). Com efeito, segundo a jurisprudência do STJ, quando configurada hipótese de injustificável inércia
estatal e não houver comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira do ente público, o Poder
Judiciário pode determinar que o Poder Executivo adote medidas necessárias ao cumprimento dos direitos
e garantias fundamentais, nos termos previstos no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal. STJ. REsp 1.623.873-SE,
Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 28/04/2022. (Info 734)

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QUESTÕES PROPOSTAS

Caro Aluno,
As questões propostas serão disponibilizadas e deverão ser resolvidas dentro da plataforma (em
avaliações), de modo que, ao final, você terá acesso aos respectivos comentários.
As questões a seguir trata-se de um demonstrativo para que você possa conhecer o material do Dedicação
Delta. Mas, não se esqueça: dentro da plataforma temos muitas questões disponíveis e comentadas sobre
cada tema visto em cada meta estudada.
Vamos juntos.
Equipe DD.

Questões

https://www.qconcursos.com/questoes-de-
concursos/questoes?discipline_ids%5B%5D=3&exclude_nullified=true&exclude_outdated=true&job_ids%5
B%5D=169&my_questions=all&print=true&subject_ids%5B%5D=436&subject_ids%5B%5D=16249&subject
_ids%5B%5D=16321&subject_ids%5B%5D=16322&subject_ids
%5B%5D=16323&subject_ids%5B%5D=16324&subject_ids%5B%5D=16325&subject_ids%5B%5D=16327&s
ubject_ids%5B%5D=16328&subject_ids%5B%5D=18351

1 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-ES - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-ES - Delegado de Polícia
Assinale a opção correta a respeito dos direitos e garantias fundamentais.

A-A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas configura fundada razão a autorizar o
ingresso policial no domicílio do denunciado sem o seu consentimento ou sem determinação judicial.
B-É vedado ao Poder Judiciário impor à administração pública obrigação de executar obras emergenciais em
estabelecimentos prisionais, em razão do postulado da reserva do possível.
C-É inconstitucional o compartilhamento, sem autorização judicial, de procedimento fiscalizatório da Receita
Federal do Brasil com a polícia.
D-A omissão injustificada da administração pública em providenciar a disponibilização de banho quente nos
estabelecimentos prisionais fere a dignidade dos presos sob sua custódia.
E-Veículo de imprensa não possui direito líquido e certo a obter dados públicos sobre óbitos relacionados a
ocorrências policiais.

2 - 2022 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2022 - PC-SP - Delegado de Polícia

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DELEGADO DE POLÍCIA

SEMANA 01/48

À luz da Constituição Federal, da doutrina pátria e do entendimento jurisprudencial consolidado, tendo em


vista os mecanismos de proteção dos direitos fundamentais em procedimentos investigatórios comandados
por delegados de polícia, é correto afirmar que

A-é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos constantes de
inquérito policial, incluídas as informações concernentes a diligências investigatórias pendentes.
B-o fornecimento recíproco de dados investigatórios e o intercâmbio de informações entre a Polícia Federal
e as polícias estaduais são medidas que se legitimam em face do modelo constitucional de federalismo
cooperativo.
C-a autoridade policial pode negar vista do inquérito policial ao indiciado ou ao seu defensor, em feito que
tramita sob segredo de justiça.
D-é possível que a autoridade policial impeça o acesso aos autos do inquérito policial por um dos
interessados, objetivando assegurar o direito à intimidade dos demais investigados.
E-a liberdade de informação jornalística legitima a utilização de informações sigilosas, obtidas por meios
ilícitos, sobre inquéritos policiais em andamento.

3 - 2022 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2022 - PC-SP - Delegado de Polícia


A garantia constitucional da liberdade de locomoção

A-abrange apenas os brasileiros e os estrangeiros residentes no Brasil.


B-abrange o direito de permanência no território nacional.
C-é norma constitucional de aplicabilidade imediata, direta e integral.
D-pode ser tutelada por meio do recurso de habeas corpus.
E-não abrange o direito de saída de não residentes no país.

4 - 2022 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2022 - PC-SP - Delegado de Polícia


Nos termos do inciso II, do artigo 12-C, da Lei Federal n° 11.340 de 7 de agosto de 2006, verificada a existência
de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência
doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou
local de convivência com a ofendida pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca.
À luz da Constituição da República, é correto afirmar que

A-o ingresso no domicílio sem o consentimento do morador só pode ocorrer em caso de flagrante delito ou,
durante o dia, mediante autorização judicial, razão pela qual o dispositivo enunciado, ao tratar de hipóteses
de risco, é inconstitucional.
B-a autorização legal para que delegados de polícia atuem para interromper o ciclo de violência doméstica
não viola a prerrogativa constitucional do Judiciário de decretar medidas cautelares.

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DELEGADO DE POLÍCIA

SEMANA 01/48

C-o afastamento do suposto agressor pelo delegado de polícia, na hipótese legal descrita pelo enunciado, é
inconstitucional por ofensa ao postulado normativo do devido processo legal.
D-o dispositivo cria hipótese legal para que o delegado pratique atos de competência privativa do Poder
Judiciário, com ofensa ao princípio da reserva de jurisdição e da inviolabilidade do domicílio.
E-a Constituição permite a invasão do lar somente mediante prévia autorização judicial, em decorrência da
garantia de inviolabilidade do domicílio.

5 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01


João, brasileiro com vinte anos de idade e que jamais solicitara o seu alistamento eleitoral, requereu, à
Secretaria de Estado de Segurança Pública do Estado Alfa, informações a respeito de auditoria realizada pelo
órgão competente de controle interno nas contratações realizadas pelo órgão. Acresça-se que, no bojo desse
requerimento, João não indicou a finalidade em que essas informações seriam utilizadas.

À luz da sistemática vigente, é correto afirmar que o requerimento de João deve ser

A-indeferido, pois as informações solicitadas são exclusivas para o uso interno.


B-indeferido, pois somente o cidadão pode ter acesso às informações almejadas.
C-indeferido, já que não foi declinada em que finalidade as informações seriam utilizadas.
D-deferido, sendo irrelevante o fato de João não ser cidadão e de não indicar a finalidade das informações.
E-deferido, desde que João, após a devida provocação, indique em que finalidade as informações serão
utilizadas.

Respostas6

6
1: D 2: B 3: B 4: B 5: D
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Comentários

1 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-ES - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-ES - Delegado de Polícia
Assinale a opção correta a respeito dos direitos e garantias fundamentais.

A-A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas configura fundada razão a autorizar o
ingresso policial no domicílio do denunciado sem o seu consentimento ou sem determinação judicial.
B-É vedado ao Poder Judiciário impor à administração pública obrigação de executar obras emergenciais em
estabelecimentos prisionais, em razão do postulado da reserva do possível.
C-É inconstitucional o compartilhamento, sem autorização judicial, de procedimento fiscalizatório da Receita
Federal do Brasil com a polícia.
D-A omissão injustificada da administração pública em providenciar a disponibilização de banho quente nos
estabelecimentos prisionais fere a dignidade dos presos sob sua custódia.
E-Veículo de imprensa não possui direito líquido e certo a obter dados públicos sobre óbitos relacionados a
ocorrências policiais.

COMENTÁRIO

A-INCORRETA.
A denúncia anônima ou notitia criminis inqualificada, por si só, não é apta a fundamentar a busca
domiciliar. Neste caso, necessita-se de justa causa e a execução de diligências anteriores para verificar a
veracidade das informações (fundadas razões). Não é outro o entendimento do STF em sede de
repercussão geral tema n° 280:

“A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em


período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente
justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de
flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados.”

O STJ, em sede do informativo de n° 734:

“A denúncia anônima acerca da ocorrência de tráfico de drogas acompanhada


das diligências para a constatação da veracidade das informações prévias
podem caracterizar as fundadas razões para o ingresso dos policiais na
residência do investigado.”

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B-INCORRETA.
Neste caso, conforme reiterada jurisprudência do STF, o fundamento da reserva do possível pelo Estado
não é tese apta a fundamentar a não execução de políticas públicas. Com efeito, prepondera-se a tese
do mínimo existencial. De forma atípica o Poder Judiciário atua, autorizado pela jurisprudência atual,
com proatividade intervindo nas políticas públicas não executadas pelo ente subnacional. A exemplo, é
a ADPF de n° 347 que, em seu bojo, aplicou a tese do estado de coisas inconstitucional em razão da
massiva violação de direitos fundamentais em seu sentido objetivo. Desta forma autoriza-se a
proatividade do Poder Judiciário.

C-INCORRETA.
Neste caso, é possível o compartilhamento interno entre a UIF, RFB, Polícia Judiciária e o MP. Nesse
sentido:

Ementa Repercussão geral. Tema 990. Constitucional. Processual Penal.


Compartilhamento dos Relatórios de inteligência financeira da UIF e da íntegra
do procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil com os órgãos de
persecução penal para fins criminais. Desnecessidade de prévia autorização
judicial. Constitucionalidade reconhecida. Recurso ao qual se dá provimento
para restabelecer a sentença condenatória de 1º grau. Revogada a liminar de
suspensão nacional (art. 1.035, § 5º, do CPC). Fixação das seguintes teses: 1. É
constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira
da UIF e da íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita Federal do
Brasil - em que se define o lançamento do tributo - com os órgãos de
persecução penal para fins criminais SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL,
devendo ser resguardado o sigilo das informações em procedimentos
formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle jurisdicional; 2. O
compartilhamento pela UIF e pela RFB referido no item anterior deve ser feito
unicamente por meio de comunicações formais, com garantia de sigilo,
certificação do destinatário e estabelecimento de instrumentos efetivos de
apuração e correção de eventuais desvios. (RE 1055941, Relator(a): DIAS
TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 04/12/2019, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-243 DIVULG 05-10-2020 PUBLIC 06-10-
2020)

D-CORRETA.
De fato. O STJ, através da sua 2° Turma – informativo de n° 666 – decidiu que:

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“A omissão injustificada da Administração em providenciar a disponibilização


de banho quente nos estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos
sob sua custódia.”

E-INCORRETA.
Nos termos do informativo de n° 682, o STJ já decidiu sobre sua possibilidade:

“Veículo de imprensa jornalística possui direito líquido e certo de obter dados


públicos sobre óbitos relacionados a ocorrências policiais.”

RESPOSTA: D

2 - 2022 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2022 - PC-SP - Delegado de Polícia


À luz da Constituição Federal, da doutrina pátria e do entendimento jurisprudencial consolidado, tendo em
vista os mecanismos de proteção dos direitos fundamentais em procedimentos investigatórios comandados
por delegados de polícia, é correto afirmar que

A-é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos constantes de
inquérito policial, incluídas as informações concernentes a diligências investigatórias pendentes.
B-o fornecimento recíproco de dados investigatórios e o intercâmbio de informações entre a Polícia Federal
e as polícias estaduais são medidas que se legitimam em face do modelo constitucional de federalismo
cooperativo.
C-a autoridade policial pode negar vista do inquérito policial ao indiciado ou ao seu defensor, em feito que
tramita sob segredo de justiça.
D-é possível que a autoridade policial impeça o acesso aos autos do inquérito policial por um dos
interessados, objetivando assegurar o direito à intimidade dos demais investigados.
E-a liberdade de informação jornalística legitima a utilização de informações sigilosas, obtidas por meios
ilícitos, sobre inquéritos policiais em andamento.

COMENTÁRIO

A-INCORRETA.
A afirmação vai de encontro ao enunciado de Súmula Vinculante de n° 14:

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos


elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório

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realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao


exercício do direito de defesa.

B-CORRETA.
De fato. A razão disso encontra-se na forma de distribuição de competência dentro de uma forma de
estado federalista cooperativa. Isto é, há um ponto convergente entre a União e os entes estaduais
sobretudo em suas atividades investigativas (polícia civil e federal).
Neste sentido, informativo de n° 755 do STF:

“Cabe salientar que a mútua cooperação entre organismos policiais, o


intercâmbio de informações, o fornecimento recíproco de dados investigatórios
e a assistência técnica entre a Polícia Federal e as Polícias Estaduais, com o
propósito comum de viabilizar a mais completa apuração de fatos delituosos
gravíssimos, notadamente naqueles casos em que se alega o envolvimento de
policiais militares na formação de grupos de extermínio, encontram
fundamento, segundo penso, no próprio modelo constitucional de federalismo
cooperativo (RHC 116.000/GO, Rel. Min. CELSO DE MELLO), cuja
institucionalização surge, em caráter inovador, no plano de nosso ordenamento
constitucional positivo, na Constituição Federal de 1934, que se afastou da
fórmula do federalismo dualista inaugurada pela Constituição republicana de
1891, que impunha, por efeito da outorga de competências estanques, rígida
separação entre as atribuições federais e estaduais.”

C-INCORRETA.
Neste caso, não é possível a negativa ao defensor técnico. Enquanto o inquérito policial possui o sigilo
como uma de suas características, esta não alcança o defensor técnico nos termos do que dispõe o art. 7°,
inciso XIV, §§10, 11 e 12 do EOAB.

Art. 7º São direitos do advogado:


XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação,
mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer
natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo
copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;
§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para
o exercício dos direitos de que trata o inciso XIV.
§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar
o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em

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andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de


comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das
diligências.
§ 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento
incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de
peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização criminal
e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do
advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do
direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz
competente.

D-INCORRETA.
Aqui segue a mesma lógica da afirmação anterior.

E-INCORRETA.
A liberdade de informação encontra limites inadmitindo à imprensa o acesso ilícito aos autos de
procedimentos investigatórios. Nesse mesmo sentido é o STF:
A liberdade de informação jornalística não legitima a utilização de informações
sigilosas obtidas por meios ilícitos. 8. Agravo regimental interposto por
Infoglobo Comunicações Ltda. do qual não se conhece. 9 Agravo regimental
interposto por Globo Comunicação e Participações S/A ao qual se nega
provimento. (RE 638360 AgR-segundo, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Segunda
Turma, julgado em 27/04/2020, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-131 DIVULG 27-05-
2020 PUBLIC 28-05-2020 REPUBLICAÇÃO: DJe-161 DIVULG 25-06-2020 PUBLIC
26-06-2020)

RESPOSTA: B

3 - 2022 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2022 - PC-SP - Delegado de Polícia


A garantia constitucional da liberdade de locomoção

A-abrange apenas os brasileiros e os estrangeiros residentes no Brasil.


B-abrange o direito de permanência no território nacional.
C-é norma constitucional de aplicabilidade imediata, direta e integral.
D-pode ser tutelada por meio do recurso de habeas corpus.
E-não abrange o direito de saída de não residentes no país.

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COMENTÁRIO

A-INCORRETA.
Abrange toda e qualquer pessoa não se limitando a residentes ou não no país, à luz da Jurisprudência do
STF ampliando a interpretação do caput do art. 5° da CR/88.

B-CORRETA.
O direito de primeira dimensão (a liberdade de locomoção faz parte do rol dos direitos de liberdade,
constituindo-se os direitos civis e políticos) alcança o direito de ir, permanecer e voltar conforme a redação
do inciso XV do art. 5° da CR/88:

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo


qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com
seus bens;

C-INCORRETA.
Neste caso, trata-se de norma de eficácia CONTIDA, isto é, em que pese ter aplicabilidade imediata pode
ser restringida pela via infraconstitucional conforme denota a redação do inciso XV do art. 5° da CR/88.

D-INCORRETA.
O remédio constitucional “HC” não é recurso. Trata-se, em verdade, de ação autônoma de impugnação,
criando-se um processo distinto. Salienta-se que este remédio é IMPETRADO, assim como o mandado de
segurança. O recurso é mero desdobramento do direito de ação, como afirmava a professora Ada Pellegrini
Grinover, sendo INTERPOSTO. Ademais, em complementação embargos declaratórios são OPOSTOS já que
direcionados ao mesmo prolator da decisão.

E-INCORRETA.
O direito de primeira dimensão (a liberdade de locomoção faz parte do rol dos direitos de liberdade,
constituindo-se os direitos civis e políticos) alcança o direito de ir, permanecer e voltar conforme a redação
do inciso XV do art. 5° da CR/88:

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo


qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com
seus bens;

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Acrescentando que qualquer cerceamento ILEGAL neste direito deve ser atacado mediante Habeas
Corpus.

RESPOSTA: B

4 - 2022 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2022 - PC-SP - Delegado de Polícia


Nos termos do inciso II, do artigo 12-C, da Lei Federal n° 11.340 de 7 de agosto de 2006, verificada a existência
de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência
doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou
local de convivência com a ofendida pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca.
À luz da Constituição da República, é correto afirmar que

A-o ingresso no domicílio sem o consentimento do morador só pode ocorrer em caso de flagrante delito ou,
durante o dia, mediante autorização judicial, razão pela qual o dispositivo enunciado, ao tratar de hipóteses
de risco, é inconstitucional.
B-a autorização legal para que delegados de polícia atuem para interromper o ciclo de violência doméstica
não viola a prerrogativa constitucional do Judiciário de decretar medidas cautelares.
C-o afastamento do suposto agressor pelo delegado de polícia, na hipótese legal descrita pelo enunciado, é
inconstitucional por ofensa ao postulado normativo do devido processo legal.
D-o dispositivo cria hipótese legal para que o delegado pratique atos de competência privativa do Poder
Judiciário, com ofensa ao princípio da reserva de jurisdição e da inviolabilidade do domicílio.
E-a Constituição permite a invasão do lar somente mediante prévia autorização judicial, em decorrência da
garantia de inviolabilidade do domicílio.

COMENTÁRIO

O STF foi instado a se manifestar a respeito da constitucionalidade do disposto no art. 12-C incluído na
LMP que concede ao Delegado de Polícia a possibilidade, em síntese, de afastar o agressor do lar de forma
imediata. Com efeito, aquela Corte Excelsa decidiu pela validade daquela norma, veja:

É válida a atuação supletiva e excepcional de delegados de polícia e de policiais


a fim de afastar o agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a
ofendida, quando constatado risco atual ou iminente à vida ou à integridade da
mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes,
conforme o art. 12-C inserido na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). STF.
Plenário. ADI 6138/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/3/2022
(Info 1048).

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Portanto, a afirmação da letra “B” é a única correta.

RESPOSTA: B

05 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº001
João, brasileiro com vinte anos de idade e que jamais solicitara o seu alistamento eleitoral, requereu, à
Secretaria de Estado de Segurança Pública do Estado Alfa, informações a respeito de auditoria realizada pelo
órgão competente de controle interno nas contratações realizadas pelo órgão. Acresça-se que, no bojo desse
requerimento, João não indicou a finalidade em que essas informações seriam utilizadas.

À luz da sistemática vigente, é correto afirmar que o requerimento de João deve ser

A-indeferido, pois as informações solicitadas são exclusivas para o uso interno.


B-indeferido, pois somente o cidadão pode ter acesso às informações almejadas.
C-indeferido, já que não foi declinada em que finalidade as informações seriam utilizadas.
D-deferido, sendo irrelevante o fato de João não ser cidadão e de não indicar a finalidade das informações.
E-deferido, desde que João, após a devida provocação, indique em que finalidade as informações serão
utilizadas.

COMENTÁRIO
Verifica-se que João não é um cidadão, pois nunca solicitou o alistamento eleitoral. Ocorre que tal
informação constante da questão é irrelevante.

O art. 10 da Lei nº 12.527/2011 informa que


“Qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a
informações aos órgãos e entidades referidos no art. 1º desta Lei, por qualquer
meio legítimo, devendo o pedido conter a identificação do requerente e a
especificação da informação requerida".

Ou seja, João não precisa ser cidadão para fazer o requerimento, pois a lei apenas traz expressamente
“qualquer interessado".

Obs. A Secretaria de Estado de Segurança Pública, órgão requerido por João, encontra-se no art. 1º,
parágrafo único, inciso I, pois é um órgão da administração direta do Poder Executivo. E, ainda, o parágrafo
terceiro do dispositivo assevera que “São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos

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determinantes da solicitação de informações de interesse público". Ou seja, não há a necessidade de João


expor a finalidade no requerimento.
Sendo assim, o requerimento feito por João deve ser deferido, não havendo relevância a questão de João
não ser cidadão e de não expor a finalidade das informações.

GABARITO: D

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META 4

DIREITO CONSTITUTICIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (PARTE II)

E. DIREITO À INTEGRIDADE

A Carta Magna proíbe a prática de lesões, psíquica e moral (provocação de dor interna e sofrimento).
Ademais, veda a prática da tortura, bem como qualquer tipo de comercialização de órgãos, tecidos e
substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento (art. 199, §4º).

F. PROIBIÇÃO DA TORTURA
Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante
(art. 5º, XLIII, da CF/88).

● Não esquecer que parcela da doutrina defende que o direito de não ser torturado é um exemplo de
direito fundamental absoluto, sendo uma exceção à característica da relatividade dos direitos
fundamentais.

● Uso de algemas e a Súmula Vinculante 11: “o uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo de
natureza excepcional, a ser adotado nos casos e com as finalidades de impedir, prevenir ou dificultar a
fuga ou reação indevida do preso, desde que haja fundada suspeita ou justificado receio de que tanto
venha a ocorrer, e para evitar agressão do preso contra os próprios policiais, contra terceiros ou contra
si mesmo. O emprego dessa medida tem como balizamento jurídico necessário os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade” (HC 89.429, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 22.08.2006, DJ de
02.02.2007).

Súmula Vinculante nº 11: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de


fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte
do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade
da prisão ou do ato processo a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil
do Estado.

G. DIREITO À PRIVACIDADE – DIMENSÕES

Art. 5°, X, da CRFB - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;

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● Intimidade: é o direito de estar só (right to be alone) e o direito de ser deixado em paz.


● Vida privada: é o direito do indivíduo de ser do modo que quiser, sem a intervenção de outrem.
● Honra: ligada à honra objetiva (visão da sociedade) e honra subjetiva (visão da própria pessoa).
● Imagem: é a representação da pessoa, por meio de desenhos, fotografias.

É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim


entendido como o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação
de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios de
comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no
exercício da liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a
caso, a partir dos parâmetros constitucionais – especialmente os relativos à
proteção da honra, da imagem, da privacidade e da personalidade em geral – e as
expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível. STF. Plenário. RE
1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021 (Repercussão Geral –
Tema 786) (Info 1005).

O direito à retratação e ao esclarecimento da verdade possui previsão na


Constituição da República e na Lei Civil, não tendo sido afastado pelo Supremo
Tribunal Federal no julgamento da ADPF 130/DF. O princípio da reparação integral
(arts. 927 e 944 do CC) possibilita o pagamento da indenização em pecúnia e in
natura, a fim de se dar efetividade ao instituto da responsabilidade civil. Dessa
forma, é possível que o magistrado condene o autor da ofensa a divulgar a sentença
condenatória nos mesmos veículos de comunicação em que foi cometida a ofensa
à honra, desde que fundamentada em dispositivos legais diversos da Lei de
Imprensa. STJ. 3ª Turma. REsp 1771866-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 12/02/2019 (Info 642).
Fonte: Dizer o Direito

É legítimo, desde que observados alguns parâmetros, o compartilhamento de


dados pessoais entre órgãos e entidades da Administração Pública federal, sem
qualquer prejuízo da irrestrita observância dos princípios gerais e mecanismos de
proteção elencados na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº
13.709/2018) e dos direitos constitucionais à privacidade e proteção de dados.
STF. Plenário. ADI 6649/DF e ADPF 695/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em
15/9/2022 (Info 1068).

● Privacidade e sigilo bancário e fiscal: o STF admite a quebra do sigilo pelo Judiciário ou por CPI (federal
ou estadual, mas não municipal), mas resiste a que o MP possa requisitá-la diretamente, por falta de
autorização legal específica, salvo a hipótese de existir procedimento administrativo investigando
utilização indevida de patrimônio público.

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LC 105/2001 E QUEBRA DE SIGILO PELA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA7


- A Lei Complementar n.º 105/2001 atribui a agentes tributários, no exercício do poder de fiscalização, o
poder de requisitar informações referentes à operação e serviços das instituições financeiras,
independente de autorização judicial. Inicialmente, nos autos do RE 389808, o STF entendeu NÃO ser
possível o afastamento do sigilo.

- O STF entendeu possível o repasse das informações dos bancos para o Fisco, pelos seguintes argumentos,
pois as informações são remetidas ao Fisco em caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa na
Administração Tributária, inacessível a terceiros, não pode ser considerado violação do sigilo.

É constitucional a requisição, sem prévia autorização judicial, de dados bancários


e fiscais considerados imprescindíveis pelo Corregedor Nacional de Justiça para
apurar infração de sujeito determinado, desde que em processo regularmente
instaurado mediante decisão fundamentada e baseada em indícios concretos da
prática do ato. STF. Plenário. ADI 4709/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
27/5/2022 (Info 1056).

Dados obtidos com a quebra de sigilo bancário não podem ser divulgados
abertamente em site oficial.
Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem
ser mantidos sob reserva. Assim, a página do Senado Federal na internet não pode
divulgar os dados obtidos por meio da quebra de sigilo determinada por comissão
parlamentar de inquérito (CPI). STF. Plenário. MS 25940, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 26/4/2018 (Info 899).
Fonte: Dizer o direito.

● Privacidade, produção de relatórios de inteligência e vinculação ao interesse público – ADPF


722/DF:

Os órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência, conquanto necessários para a


segurança pública, segurança nacional e garantia de cumprimento eficiente dos
deveres do Estado, devem operar com estrita vinculação ao interesse público,
observância aos valores democráticos e respeito aos direitos e garantias
fundamentais. Nesse contexto, caracterizam desvio de finalidade e abuso de poder
a colheita, a produção e o compartilhamento de dados, informações e
conhecimentos específicos para satisfazer interesse privado de órgão ou de agente
público (1). Na hipótese, a utilização da máquina estatal para a colheita de
informações de servidores com postura política contrária ao governo caracteriza
desvio de finalidade e afronta aos direitos fundamentais da livre manifestação do

7
Para aprofundamento, sugerimos leitura do julgado comentado pelo Dizer o Direito:
http://www.dizerodireito.com.br/2016/02/a-receita-pode-requisitar-das.html
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pensamento, da privacidade, reunião e associação, aos quais deve ser conferida


máxima efetividade, pois essenciais ao regime democrático. Ademais, os órgãos de
inteligência de qualquer nível hierárquico de qualquer dos Poderes do Estado,
embora sujeitos ao controle externo realizado pelo Poder Legislativo (2),
submetem-se também ao crivo do Poder Judiciário, em respeito ao princípio da
inafastabilidade da jurisdição (3). Com base nesses entendimentos, o Plenário, por
maioria, julgou procedente o pedido para confirmar a medida cautelar e declarar
inconstitucionais atos do Ministério da Justiça e Segurança Pública de produção ou
compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e
políticas, e as práticas cívicas de cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e
municipais identificados como integrantes de movimento político, professores
universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade, exerçam
seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se. STF, ADPF 722,
Plenário, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento 13.5.2022.

H. INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO:

Art. 5°, XI, da CRFB - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial

● A casa é asilo inviolável. Qual é o conceito de casa?


R.: Segundo o STF e doutrina, casa abrange não só o domicílio como também todo lugar privativo,
ocupado por alguém, com direito próprio e de maneira exclusiva, mesmo sem caráter definitivo ou habitual.

STF - “Para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5.º, XI, da Constituição
da República, o conceito normativo de ‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-
se a qualquer aposento de habitação coletiva, desde que ocupado (CP, art. 150, §
4.º, II), compreende, observada essa específica limitação espacial, os quartos de
hotel (...)” (RHC 90.376)
A abrangência do conceito alcança:
▪ O escritório de trabalho
▪ O estabelecimento industrial
▪ Clube recreativo
▪ Quarto de hotel

É lícita a entrada de policiais, sem autorização judicial e sem o consentimento do


hóspede, em quarto de hotel, desde que presentes fundadas razões da ocorrência
de flagrante delito.
O STJ afirmou que, embora o quarto de hotel regularmente ocupado seja,
juridicamente, qualificado como “casa” para fins de tutela constitucional da
inviolabilidade domiciliar (art. 5º, XI), a exigência, em termos de standard
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probatório, para que policiais ingressem em um quarto de hotel sem mandado


judicial não pode ser igual às fundadas razões exigidas para o ingresso em uma
residência propriamente dita, a não ser que se trate (o quarto de hotel) de um local
de moradia permanente do suspeito. STJ. 6ª Turma. HC 659.527-SP, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/10/2021 (Info 715).

▪ Quarto de motel
▪ Automóveis quando usados para fins de moradia
▪ Barcos quando usados para fins de moradia.

Atenção:
O STJ possui jurisprudência recentíssima entendendo que a habitação em prédio
abandonado de escola municipal pode caracterizar o conceito de domicílio em que
incide a proteção disposta no art. 5º, inciso XI da Constituição Federal (AgRg no HC
712.529-SE).

STJ: A abordagem policial em estabelecimento comercial, ainda que a diligência


tenha ocorrido quando não havia mais clientes, é hipótese de local aberto ao
público, que não recebe a proteção constitucional da inviolabilidade do domicílio.
Consoante decidido no RE 603.616/RO, pelo Supremo Tribunal Federal, "a entrada
forçada em domicílio sem mandado judicial é lícita, mesmo em período noturno,
quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que
indiquem que, dentro da casa, ocorre situação de flagrante delito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil, e penal do agente ou da autoridade e de nulidade
dos atos praticados". Todavia, no caso, verifica-se que os policiais afirmaram que
"havia uma investigação em andamento relativa a um roubo de carga, tendo sido
veiculada denúncia anônima dando conta de que parte do carregamento subtraído
estava nas dependências da borracharia pertencente ao réu, diante do que
procederam à diligência local".Desse modo, como se trata de estabelecimento
comercial - em funcionamento e aberto ao público - não pode receber a proteção
que a Constituição Federal confere à casa. Assim, não há violação à garantia
constitucional da inviolabilidade do domicílio, a caracterizar a ocorrência de
constrangimento ilegal (HC 754.789-RS, Rel. Ministro Olindo Menezes
(Desembargador convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 6/12/2022).

▪ Bens públicos de uso especial não abertos ao público como gabinetes de prefeitos, gabinete do
delegado de polícia

Inf. 549 do STJ (2014):Afirmou que o gabinete do delegado de polícia encontra-se


inserido no conceito de “casa” previsto no inciso III do §4º do art. 150 do CP. Logo,
invasão ao seu gabinete constitui crime de violação de domicílio.

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CP, Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a


vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências:
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade

* ATENÇÃO - Exceções ao direito à inviolabilidade do domicílio:


(1) Em caso de flagrante delito, a qualquer momento;
(2) Em caso de desastre ou para prestar socorro;
(3) Através de autorização judicial, durante o dia.

Fique atento à jurisprudência:

O ingresso regular da polícia no domicílio, sem autorização judicial, em caso de


flagrante delito, para que seja válido, necessita que haja fundadas razões (justa
causa) que sinalizem a ocorrência de crime no interior da residência. A mera
intuição acerca de eventual traficância praticada pelo agente, embora pudesse
autorizar abordagem policial, em via pública, para averiguação, não configura, por
si só, justa causa a autorizar o ingresso em seu domicílio, sem o seu consentimento
e sem determinação judicial. STJ. 6ª Turma. REsp 1574681-RS, Rel. Min. Rogério
Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 606). Fonte: Dizer o Direito
C) Direito às Liberdades

Abrange as liberdades física, de pensamento, de locomoção.

I. LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO – Art. 5º, IV e V, da CRFB

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;


V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;

A Constituição assegurou a liberdade de manifestação do pensamento, vedando o anonimato. Se


durante a manifestação do pensamento se cause dano material, moral ou à imagem, assegura-se o direito
de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização.
Conforme salienta o autor Pedro Lenza, o inciso IV estabelece uma espécie de “cláusula geral” que,
em conjunto com outros dispositivos, asseguram a liberdade de expressão nas suas diversas manifestações:
a) liberdade de manifestação do pensamento (incluindo a liberdade de opinião);
b) liberdade de expressão artística;

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c) liberdade de ensino e pesquisa;


d) liberdade de comunicação e de informação (liberdade de “imprensa”);
e) liberdade de expressão religiosa.

● “Hate speech” (discurso de ódio)– a liberdade de expressão não é absoluta. O modelo, portanto, de
solução é a ponderação, pautada pelo princípio da proporcionalidade. O STF, embora adote a tese
preferencial pela liberdade de expressão, certo é que não se trata de direito absolutamente infenso a
limites e restrições, desde que eventual restrição tenha caráter excepcional, seja promovido por lei e/ou
decisão judicial e tenha por fundamento a salvaguarda da dignidade da pessoa humana (que aqui se
opera como limite e aos limites de direitos fundamentais) e de direitos e bens jurídicos-constitucionais
individuais e coletivos fundamentais observados o critério da proporcionalidade e da preservação do
núcleo essencial dos direitos em conflito - LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, pg. 1183.

CAIU EM PROVA (FAPEC, PCMS/2021) e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: O discurso de ódio
(hate speech) configura abuso do direito fundamental à liberdade de expressão, e o STF entende que a
imunidade parlamentar material não pode ser utilizada para atentar frontalmente contra a manutenção do
Estado Democrático de Direito.

● Marcha da Maconha (ADPF 187) – as marchas da maconha vinham sendo reprimidas pela polícia, sob a
ótica de que elas geravam apologia ao crime, vez que o uso de maconha é criminalizado. Este
entendimento viola a liberdade de expressão, porque não se confunde a apologia à droga e o seu uso
com a defesa da descriminalização ou ainda da inconstitucionalidade da criminalização. Em um Estado
Democrático de Direito se entender que o povo não possa se manifestar pela descriminalização de
uma conduta, evidentemente é se viver em um Estado que não pode ser chamado de Democrático de
Direito. Em um regime que preza pela liberdade de expressão tem que dar a opção da população se
manifestar pela descriminalização de determinada conduta. Fundamentos trazidos pelo STF: livre
manifestação de pensamento, reunião e direito das minorias . Ademais, nas garantias dos direitos à
informação e de liberdade de expressão, viabilizados pelo direito de reunião e como emanação da
dignidade da pessoa humana, da democracia e da cidadania.

● Delação anônima (Inq. 1957) – o STF já decidiu não ser possível a utilização da denúncia anônima, pura
e simples, para a instauração de procedimento investigatório, por violar a vedação ao anonimato,
prevista no art. 5.º, IV, da CRFB. Nada impede, contudo, que o Poder Público provocado por delação
anônima adote medidas informais - com prudência e discrição - destinadas a apurar, previamente, em
averiguação sumária, a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com
o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem a promover, então, em
caso positivo, a formal instauração da persecutio criminis, mantendo-se, assim, completa desvinculação
desse procedimento estatal em relação às peças apócrifas”.

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● Tatuagem e o concurso público – “as pigmentações de caráter permanente inseridas voluntariamente


em partes dos corpos dos cidadãos configuram instrumentos de exteriorização da liberdade de
manifestação do pensamento e de expressão, valores amplamente tutelados pelo ordenamento jurídico
brasileiro (CRFB/88, art. 5.°, IV e IX)”. Assim, “o Estado não pode desempenhar o papel de adversário da
liberdade de expressão, incumbindo-lhe, ao revés, assegurar que minorias possam se manifestar
livremente”

Tema 838 da repercussão geral, fixou as seguintes teses: “(i) os requisitos do edital
para o ingresso em cargo, emprego ou função pública devem ter por fundamento
lei em sentido formal e material; (ii) os editais de concurso público não podem
estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais em
razão de conteúdo que viole valores constitucionais” (RE 898.450, Plenário, Rel.
Min. Luiz Fux, j. 17.08.2016, DJE de 31.05.2017).

● Liberdade de expressão e imunidade parlamentar – Ressalta-se que os direitos fundamentais não


possuem caráter absoluto. A Segunda Turma do STF reafirmou esse entendimento ao entender que
a liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos, com intuito manifestamente
difamatório ou injurioso:

A liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos, com intuito


manifestamente difamatório, de juízos depreciativos de mero valor, de injúrias
em razão da forma ou de críticas aviltantes. É possível vislumbrar restrições à livre
manifestação de ideias, inclusive mediante a aplicação da lei penal, em atos,
discursos ou ações que envolvam, por exemplo, a pedofilia, nos casos de discursos
que incitem a violência ou quando se tratar de discurso com intuito
manifestamente difamatório. A garantia da imunidade parlamentar não alcança
os atos praticados sem claro nexo de vinculação recíproca entre o discurso e o
desempenho das funções parlamentares. Isso porque as garantias dos membros
do Parlamento são vislumbradas sob uma perspectiva funcional, ou seja, de
proteção apenas das funções consideradas essenciais aos integrantes do Poder
Legislativo, independentemente de onde elas sejam exercidas. No caso, os
discursos proferidos pelo querelado teriam sido proferidos com nítido caráter
injurioso e difamatório, de forma manifestamente dolosa, sem qualquer hipótese
de prévia provocação ou retorsão imediata capaz de excluir a tipificação, em tese,
dos atos descritos nas queixas-crimes. Com base nesses entendimentos, a Segunda
Turma, por maioria, ao dar provimento a agravos regimentais, recebeu queixas-
crimes pelos delitos dos arts. 139 e 140 do Código Penal. Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259
AgR/DF, Pet 8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF e Pet 8366 AgR/DF,
relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgamento
em 3.5.2022.

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● A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas,


satíricas e até mesmo errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou
atentados contra o Estado Democrático de Direito e a democracia. STF. AP 1044/DF, relator
Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 20.4.2022 (Info 1051).

II. LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E CULTO – ART 5º, VI a VIII, da CRFB)

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas


entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de


convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Assegura-se a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, sendo garantido o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

▪ Liberdade de crença: é a liberdade de pensamento de foro íntimo em questões de natureza


religiosa, incluindo o direito de professar ou não uma religião, de acreditar ou não na existência
de um, em nenhum ou em vários deuses (art. 5º, VI); e
▪ Liberdade de consciência em sentido estrito: é a liberdade de pensamento de foro íntimo em
questões não religiosas.

Obs.: o art. 5º, VII, da CF/88 também assegura, nos termos da lei, a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.

É constitucional a instituição, por lei municipal, de feriado local para a


comemoração do Dia da Consciência Negra, a ser celebrado em 20 de novembro,
em especial porque a data representa um símbolo de resistência cultural e
configura ação afirmativa contra o preconceito racial. ADPF 634/SP, relatora
Ministra Cármen Lúcia, julgamento finalizado em 30.11.2022

É inconstitucional norma que proíbe proselitismo em rádios comunitárias


É inconstitucional o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98. Esse dispositivo proíbe, no
âmbito da programação das emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de
proselitismo, ou seja, a transmissão de conteúdo tendente a converter pessoas a
uma doutrina, sistema, religião, seita ou ideologia.

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O STF entendeu que essa proibição afronta os arts. 5º, IV, VI e IX, e 220, da
Constituição Federal. A liberdade de pensamento inclui o discurso persuasivo, o uso
de argumentos críticos, o consenso e o debate público informado e pressupõe a
livre troca de ideias e não apenas a divulgação de informações.
STF. Plenário. ADI 2566/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min.
Edson Fachin, julgado em 16/5/2018 (Info 902).

A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode
configurar o crime de racismo
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus
seguidores não está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade
de expressão.
STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli,
julgado em 6/3/2018 (Info 893).

É inconstitucional lei estadual que obriga que as escolas e bibliotecas públicas


tenham um exemplar da Bíblia. No Amazonas, foi editada lei estadual obrigando
as escolas e bibliotecas públicas a terem pelo menos uma Bíblia disponível para
consulta. Esta lei é inconstitucional. Isso porque o art. 19, I, da CF/88 prevê a
laicidade estatal. STF. Plenário. ADI 5258/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
12/4/2021. (Info 1012)

DICA DD: Não confundir- o STF entendeu que a CF/88 não proíbe que sejam
oferecidas aulas de uma religião específica, que ensine os dogmas ou valores
daquela religião. Não há qualquer problema nisso, desde que se garanta
oportunidade a todas as doutrinas religiosas. STF. Plenário. ADI 4439/DF, rel. orig.
Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
27/9/2017 (Info 879). Lembre-se que a “neutralidade do ensino religioso não
existe. O que deve existir é o respeito às diferenças”.

É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade


religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz
africana. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson
Fachin, julgado em 28/3/2019. (Info 935)

Transfusão de sangue nas Testemunhas de Jeová


Tema que gera muita discussão. O Ministro Barroso sustenta que a dignidade da pessoa humana
apresenta duas acepções:
- Dignidade como autonomia: tutela a capacidade de autodeterminação e a responsabilidade moral
do indivíduo por suas escolhas, notadamente as de catéter existencial, dentre as quais se inclui a
liberdade religiosa;

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- Dignidade como heteronomia: envolve a imposição de padrões sociais externos ao indivíduo, o que,
no caso concreto, significa a proteção objetiva da vida humana, mesmo contra a vontade do titular
do direito.
As acepções se complementam, mas é possível afirmar a prevalência da dignidade como autonomia,
o que significa dizer que devem prevalecer as escolhas individuais (LENZA, Pedro. Direito constitucional
esquematizado, pg. 1195). Assim, a escolha da pessoa - e aqui inclui a recusa pela transfusão de sangue - é
válida desde que o consentimento seja dado pelo titular do direito, manifestado de forma válida e inequívoca
por pessoa capaz e com discernimento, ou seja, consentimento inequívoco, personalíssimo, expresso e atual.
Ademais, deverá também ser livre e informado.
Apesar do tema ser polêmico, acerca de necessidade de transfusão de sangue em menores com risco
de vida, como não se pode exigir que exprimem consentimento, o médico deverá realizar todos os
tratamentos médicos alternativos sem sangue e, se mesmo assim não resolver, diante da vida ou morte do
menor, poderá então realizar a transfusão de sangue não respondendo o médico por constrangimento ilegal.
Cespe, oral RO/2023 (espelho): A liberdade de culto e de crença, como a quase totalidade dos
direitos fundamentais, não é ilimitada. Portanto, alguns limites estatais podem ser impostos, alguns sem
grande polêmica, como a necessidade de observância a limites de produção de ruído definidos por
autoridades municipais e a outras posturas municipais (como alvarás para construção e funcionamento de
templos). Outros limites mais delicados também podem ser impostos, como ocorreu durante a pandemia de
covid-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), quando o Supremo Tribunal Federal considerou
constitucional a restrição a atos religiosos presenciais, por motivos sanitários.
Por outro lado, a liberdade de culto e de crença não autoriza as pessoas a cometer delitos e outros
atos juridicamente inválidos, embora cada ato deva ser examinado de forma cuidadosa, exatamente para
não anular a liberdade de culto nem outras garantias, como a liberdade de expressão. A liberdade de culto e
de crença não autoriza, por exemplo, prática de ofensa a minorias ou a grupos sociais vulneráveis nem
propagação de discurso de ódio. Portanto, praticantes de determinada religião, incluindo padres, pastores e
outros sacerdotes e membros do grupo religioso, podem ser punidos por atos ligados à prática da religião.

III. LIBERDADE DE ATIVIDADE INTELECTUAL, ARTÍSTICA, CIENTÍFICA OU DE COMUNICAÇÃO – ART. 5º, IX,
CF/88

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença;

É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença.
Veda-se a censura de natureza política, ideológica e artística (art. 220, § 2.º), porém, apesar da
liberdade de expressão acima garantida, lei federal deverá regular as diversões e os espetáculos públicos,
cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais
e horários em que sua apresentação se mostre inadequada.

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Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,


sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
§ 3º Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar
sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários
em que sua apresentação se mostre inadequada;
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de
se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem
o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços
que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.

IV. LIBERDADE DE PROFISSÃO – ART. 5º, XIII da CRFB

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as


qualificações profissionais que a lei estabelecer;

Assegura a liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as


qualificações profissionais que a lei estabelecer. Trata-se de norma constitucional de eficácia contida,
podendo a legislação infraconstitucional limitar o seu alcance, fixando condições ou requisitos para o pleno
exercício da profissão.

O STF entendeu desnecessária a exigência de diploma de jornalista (RE 70563), bem


como a exigência de inscrição em Conselho Profissional, como condição ao
exercício de profissão artística de músico (RE 635023).

A exigência de que o leiloeiro preste caução para o exercício da profissão é


compatível com a Constituição, não havendo ofensa ao art. 5º, XIII, tendo em
vista que a garantia é necessária para resguardar eventuais danos ao patrimônio
de terceiros. A exigência de garantia para o exercício da profissão de leiloeiro,
prevista nos arts. 6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o art. 5º, XIII,
da Constituição Federal de 1988. Isso porque o leiloeiro lida diariamente com o
patrimônio de terceiros, de forma que a prestação de fiança como condição para o
exercício de sua profissão busca reduzir o risco de dano ao proprietário, o que
reforça o interesse social da norma protetiva, bem como justifica a limitação para
o exercício da profissão. STF. Plenário. RE 1263641/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral
– Tema 455) (Info 994).

A restrição imposta pela Lei 13.021/2014, no sentido de que apenas


farmacêuticos legalmente habilitados podem figurar como responsáveis técnicos

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de farmácias e drogarias, não é incompatível com o 5º XIII, da Constituição


Federal
Surgem constitucionais os artigos 5º e 6º, inciso I, da Lei nº 13.021/2014, no que
previsto ser do farmacêutico a responsabilidade técnica por drogaria. STF.
Plenário.RE 1156197, Rel. Marco Aurélio, julgado em 24/08/2020 (Repercussão
Geral – Tema 505) (Info 991 – clipping).

Cuidado - a jurisprudência do STF admite a regulamentação por lei de atividades que possam trazer danos a
terceiros, atividades profissionais cuja falta de técnica traga o risco de “atingir negativamente a esfera pública
de outros indivíduos ou de valores ou interesses da própria sociedade” (ADI 3.870, 2019). Nessas situações,
a lei poderá disciplinar, restritivamente, impondo regras ao exercício da profissão.

E) LIBERDADE DE INFORMAÇÃO – ART. 5º, XIV e XXXIII da CRFB

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,


quando necessário ao exercício profissional;

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado;

▪ Liberdade de informação jornalística:


A CF/88 consagrou expressamente o princípio da publicidade como um dos vetores imprescindíveis
à Administração Pública, conferindo-lhe absoluta prioridade na gestão administrativa e garantindo pleno
acesso às informações a toda a sociedade.
A consagração constitucional de publicidade e transparência corresponde à obrigatoriedade do
Estado em fornecer as informações necessárias à sociedade. O acesso às informações consubstancia-se em
verdadeira garantia instrumental ao pleno exercício do princípio democrático.
Assim, salvo situações excepcionais, a Administração Pública tem o dever de absoluta transparência
na condução dos negócios públicos, sob pena de desrespeito aos arts. 37, caput, e 5º, XXXIII e LXXII,CF/88,
pois “o modelo político-jurídico, plasmado na nova ordem constitucional, rejeita o poder que oculta e o poder
que se oculta”.

A irresponsabilidade da imprensa ao exibir, em rede nacional, programa que


veicule matéria ofensiva à honra e à dignidade de cidadão enseja dano moral
indenizável e este deve ser suficiente para reparar o dano, servir de sanção da
conduta praticada e coibir novos abusos. STJ. Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro
Antonio Carlos Ferreira, Rel. para acórdão Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, por maioria, julgado
em 22/11/2022, DJe 2/2/2023. (Info 762).

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É necessária a manutenção da divulgação integral dos dados epidemiológicos


relativos à pandemia da Covid-19. A interrupção abrupta da coleta e divulgação de
importantes dados epidemiológicos, imprescindíveis para a análise da série
histórica de evolução da pandemia (Covid-19), caracteriza ofensa a preceitos
fundamentais da Constituição Federal, nomeadamente o acesso à informação, os
princípios da publicidade e da transparência da Administração Pública e o direito à
saúde. STF. Plenário. ADPF 690/DF, ADPF 691/DF e ADPF 692 /DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgados em 13/03/2021 (Info 1009).

STF determina que Ministério da Saúde faça a divulgação integral de dados sobre
Covid-19 A redução da transparência dos dados referentes à pandemia de COVID-
19 representa violação a preceitos fundamentais da Constituição Federal,
nomeadamente o acesso à informação, os princípios da publicidade e transparência
da Administração Pública e o direito à saúde. STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF,
ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020,


porque ele impõe uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a
informações
É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020,
porque ele impõe uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a informações.
O art. 6º-B não estabelece situações excepcionais e concretas impeditivas de acesso
à informação. Pelo contrário, transforma a regra constitucional de publicidade e
transparência em exceção, invertendo a finalidade da proteção constitucional ao
livre acesso de informações a toda sociedade. STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF,
ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgados em 30/4/2020 (Info 975).

Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de materiais de cunho eleitoral e a


suspensão de atividades de divulgação de ideias em universidades públicas e
privadas. São inconstitucionais os atos judiciais ou administrativos que determinem
ou promovam:
• o ingresso de agentes públicos em universidades públicas e privadas;
• o recolhimento de documentos (ex: panfletos);
• a interrupção de aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes
universitários;
• a realização de atividade disciplinar docente e discente e a coleta irregular de
depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de ideias e
divulgação do pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob
a administração de universidades públicas e privadas.
STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
31/10/2018 (Info 922).
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Cabe reclamação contra decisão judicial que determina retirada de matéria


jornalística de site
A retirada de matéria de circulação configura censura em qualquer hipótese, o que
se admite apenas em situações extremas.
Assim, em regra, a colisão da liberdade de expressão com os direitos da
personalidade deve ser resolvida pela retificação, pelo direito de resposta ou pela
reparação civil.
Diante disso, se uma decisão judicial determina que se retire do site de uma revista
determinada matéria jornalística, esta decisão viola a orientação do STF, cabendo
reclamação.
STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/3/2018 (Info
893).

Cabe reclamação contra decisão judicial que determina retirada de matéria


jornalística de blog
A ADPF 130/DF pode ser utilizada como parâmetro para ajuizamento de reclamação
que verse sobre conflito entre a liberdade de expressão e de informação e a tutela
das garantias individuais relativas aos direitos de personalidade.
A determinação de retirada de matéria jornalística afronta a liberdade de expressão
e de informação, além de constituir censura prévia. Essas liberdades ostentam
preferência em relação ao direito à intimidade, ainda que a matéria tenha sido
redigida em tom crítico.
O Supremo assumiu, mediante reclamação, papel relevante em favor da liberdade
de expressão, para derrotar uma cultura censória e autoritária que começava a se
projetar no Judiciário.
STF. 1ª Turma. Rcl 28747/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ ac. Min. Luiz
Fux, julgado em 5/6/2018 (Info 905).
Sobre o mesmo tema: STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 6/3/2018 (Info 893).

Jornal poderá acessar dados sobre mortes registradas em ocorrências policiais


De acordo com o STJ, não cabe à administração pública ou ao Poder Judiciário
discutir o uso que se pretende dar à informação de natureza pública. A informação,
por ser pública, deve estar disponível ao público, independentemente de
justificações ou considerações quanto aos interesses a que se destina. Não se pode
vedar o exercício de um direito – acessar a informação pública – pelo mero receio
do abuso no exercício de um outro e distinto direito – o de livre comunicar. Em
suma: veículo de imprensa jornalística possui direito líquido e certo de obter dados
públicos sobre óbitos relacionados a ocorrências policiais. STJ. 2ª Turma. REsp
1852629-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 06/10/2020 (Info 682).

▪ Liberdade de informação x direito ao esquecimento


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O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato, ainda que
verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe
sofrimento ou transtornos. Veja a definição dada por Anderson Schreiber:

“(...) o direito ao esquecimento é, portanto, um direito (a) exercido


necessariamente por uma pessoa humana; (b) em face de agentes públicos ou
privados que tenham a aptidão fática de promover representações daquela pessoa
sobre a esfera pública (opinião social); incluindo veículos de imprensa, emissoras
de TV, fornecedores de serviços de busca na internet etc.; (c) em oposição a uma
recordação opressiva dos fatos, assim entendida a recordação que se caracteriza, a
um só tempo, por ser desatual e recair sobre aspecto sensível da personalidade,
comprometendo a plena realização da identidade daquela pessoa humana, ao
apresentá-la sob falsas luzes à sociedade.” (Anderson SCHREIBER. Direito
ao esquecimento e proteção de dados pessoais na Lei 13.709/2018. In: TEPEDINO,
G; FRAZÃO, A; OLIVA, M.D. Lei geral de proteção de dados pessoais e suas
repercussões no direito brasileiro. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p.
376).

A discussão quanto ao direito ao esquecimento envolve um conflito aparente entre a liberdade de


expressão/informação e atributos individuais da pessoa humana, como a intimidade, privacidade e honra,
passando por recente evolução jurisprudencial. Veja:
O STJ reconheceu o direito ao esquecimento em dois julgados principais: O caso “Aída Curi” (REsp
1.335.153-RJ) e a situação da “chacina da Candelária” (REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgados em 28/5/2013), hipótese em que entendeu que tal direito que deveria ser exercido de forma
compatível com a intimidade e da honra das pessoas. Ressalta-se, contudo, que o deferimento ou não do
direito ao esquecimento sempre dependeu da análise do caso concreto e da ponderação dos interesses
envolvidos.

O direito ao esquecimento, também é chamado de “direito de ser deixado em paz”


ou o “direito de estar só”. Nos EUA, é conhecido como the right to be let alone e,
em países de língua espanhola, é alcunhado de derecho al olvido. É o caso, por
exemplo, da apresentadora Xuxa que, no passado fez um determinado filme do
qual se arrepende e que ela não mais deseja que seja exibido ou rememorado por
lhe causar prejuízos profissionais e transtornos pessoais. Sem dúvida nenhuma, o
principal ponto de conflito quanto à aceitação do direito ao esquecimento reside
justamente em como conciliar esse direito com a liberdade de expressão e de
imprensa e com o direito à informação.

Em março de 2013, na VI Jornada de Direito Civil do CJF/STJ, foi aprovado um


enunciado defendendo a existência do direito ao esquecimento como uma
expressão da dignidade da pessoa humana. Veja: “Enunciado 531: A tutela da
dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao
esquecimento”.
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Vale ressaltar, ainda, que o STJ possui o entendimento no sentido de que, quando os registros da
folha de antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de sua análise desfavorável, em
aplicação à teoria do direito ao esquecimento. Isso porque não se pode tornar perpétua a valoração negativa
dos antecedentes, nem perenizar o estigma de criminoso para fins de aplicação da reprimenda, pois a
transitoriedade é consectário natural da ordem das coisas. STJ. 6ª Turma. HC 452.570/PR, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, julgado em 02/02/2021.

No entanto, o tema passou por uma EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL. Isso porque o STJ passou a
relativizar o direito ao esquecimento, ao passo que o STF passou a entender pela sua incompatibilidade
com a Constituição Federal. Confira:

O chamado direito ao esquecimento, apesar de ser reconhecido pela


jurisprudência, não possui caráter absoluto.
Em caso de evidente interesse social no cultivo à memória histórica e coletiva de
delito notório, não se pode proibir a veiculação de matérias jornalísticas
relacionados com o fato criminoso, sob pena de configuração de censura prévia,
vedada pelo ordenamento jurídico pátrio. Em tal situação, não se aplica o direito
ao esquecimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).

Atenção ao julgado do STF, Plenário. Repercussão Geral – Tema 786 (11/02/2021)


É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim
entendido como o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação
de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios de
comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no
exercício da liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a
caso, a partir dos parâmetros constitucionais – especialmente os relativos à
proteção da honra, da imagem, da privacidade e da personalidade em geral – e as
expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível. STF. Plenário. RE
1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021 (Repercussão Geral –
Tema 786) (Info 1005).

Também importante:

O direito ao esquecimento não justifica a exclusão de matéria jornalística


O direito ao esquecimento é considerado incompatível com o ordenamento
jurídico brasileiro. Logo, não é capaz de justificar a atribuição da obrigação de
excluir a publicação relativa a fatos verídicos. STJ. 3ª Turma. REsp 1961581-MS, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/12/2021 (Info 723).

Jurisprudências pertinentes:

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◘ É inconstitucional a resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe a comercialização e o uso


dos testes psicológicos para indivíduos que não sejam psicólogos

Ao restringirem a comercialização e o uso de testes psicológicos aos profissionais


regularmente inscritos no Conselho Federal de Psicologia (CFP), o inciso III e os §§
1º e 2º do art. 18 da Resolução 2/2003-CFP acabaram por instituir disciplina
desproporcional e ofensiva aos postulados constitucionais relativos à liberdade de
manifestação do pensamento (art. art. 5º, IV, IX e XIV, da CF/88) e de liberdade de
acesso à informação (art. 220, da CF/88). STF. Plenário. ADI 3481/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 6/3/2021 (Info 1008).

◘ Viola a liberdade de expressão a decisão de retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos Fundos
porque seu conteúdo satiriza crenças e valores do cristianismo

Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de


“streaming” apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda
que majoritária, não encontra fundamento em uma sociedade democrática e
pluralista como a brasileira. STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 3/11/2020 (Info 998).

◘ A proibição da entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro, não significou
censura nem restrição indevida à liberdade de imprensa

A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor da
facada contra Jair Bolsonaro, não significa restrição indevida à liberdade de
imprensa nem representa censura prévia. Logo, essa decisão não configura ofensa
ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que julgou não recepcionada a Lei
de Imprensa (Lei nº 5.250/67). A decisão judicial impediu a entrevista com o
objetivo de proteger as investigações e evitar possíveis prejuízos processuais,
inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado. Além disso, a decisão teve
como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a entrevista, mas
cuja sanidade mental era discutível na época, tendo sido, posteriormente,
declarado inimputável em razão de “transtorno delirante persistente”. STF. 1ª
Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info
973).

◘ Biografias não autorizadas

O STF entendeu na ADI 4815 que, para ser publicada uma biografia, NÃO é
necessária autorização prévia do indivíduo biografado, das demais pessoas
retratadas, nem de seus familiares, porque a autorização prévia seria uma forma
de censura, incompatível com a liberdade de expressão consagrada pela CF/88.
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Se o biografado ou qualquer outra pessoa retratada entenda ter os seus direitos


violados, terá direito à reparação, não apenas por meio de indenização pecuniária,
mas também por outras formas, a exemplo da publicação de ressalva, de nova
edição com correção, de direito de resposta etc.

▪ Liberdade artística e os veículos de comunicação social: É ampla liberdade na produção da arte.

* ATENÇÃO: Embora exista a liberdade artística, o Poder Público poderá estabelecer faixas etárias
recomendadas, locais e horários para a apresentação. Ao mesmo tempo, lei federal deverá estabelecer meios
para que qualquer pessoa ou família possa defender-se de programações de rádio e televisão que atentem
contra os valores éticos vigentes (art. 220, §3º, I e II).

V. LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO:

É o direito de ir e vir, amparado por habeas corpus

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer


pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

Perceba que a liberdade de locomoção no território nacional é livre NOS TEMPOS DE PAZ.

Existem 4 hipóteses de exceção a liberdade de locomoção:


(1) Em caso de prisão em flagrante ou prisão por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar (art. 5º, LXI,
CF/88)
(2) Durante o estado de defesa (art. 136, 3º, I, CF/88) o decreto poderá estabelecer restrição ao direito
de reunião, ainda que exercida no seio das associações.
(3) Durante o estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I,CF/88, poderão ser tomadas
contra as pessoas as medidas de obrigação de permanência em localidade determinada (art. 139, I,
CF/88); detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns (art. 139,
II, CF/88); suspensão da liberdade de reunião (art. 139, IV, CF/88).
(4) Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira (hipóteses de
decretação de estado de sítio – art. 137, II, CF/88), a liberdade de locomoção também poderá ser
restringida ou suspensa (art. 138, caput, CF/88).

VI. LIBERDADE DE REUNIÃO:

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Art. 5°, XVI, CRFB - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais
abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido
prévio aviso à autoridade competente;

É o agrupamento organizado de pessoas de caráter transitório, com uma determinada finalidade.


O exercício válido do direito de reunião deve satisfazer os requisitos constitucionais, a saber:
✔ Reunião pacífica
✔ Sem armas
✔ Em locais abertos ao público
✔ Dispensa autorização, mas deve haver aviso prévio aviso à autoridade competente
✔ Não pode frustrar outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local
O que se entende por aviso prévio para os fins do direito de reunião do art. 5º,
XVI, da CF/88?
O STF fixou a seguinte tese: A exigência constitucional de aviso prévio
relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de informação
que permita ao poder público zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica
ou para que não frustre outra reunião no mesmo local. STF. Plenário. RE 806339,
Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral –
Tema 855).

O entendimento foi fixado porque não se pode exigir o aviso prévio como condicionante ao exercício
do direito de reunião.

VII. LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO:


Agrupamento de pessoas, organizado e permanente, para fins lícitos. Abrange:
∘ Direito de associar-se a outras pessoas para a formação de uma entidade;
∘ Aderir a uma associação já formada;
∘ Desligar-se da associação;
∘ Autodissolução das associações.

Atenção (1): o direito de associação somente é livre se:


● For para fins lícitos
● Não tiver caráter paramilitar.

Art. 5°, XVII, CRFB - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de
caráter paramilitar;

Atenção (2):

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● Associações são criadas independentemente de autorização, já as cooperativas devem ser criadas na


forma da lei, mas independem de autorização;

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem


de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

Atenção (3): A CF/88 veda qualquer interferência estatal no funcionamento das associações e cooperativas.

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem


de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

Atenção (4): As associações:


● Podem ser dissolvidas de forma compulsória por decisão judicial, mas apenas após o trânsito em
julgado.
● Podem ter suas atividades suspensas por decisão judicial, não sendo exigido o trânsito em julgado.

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas


atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
em julgado;

XX - Ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;


XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente;

Obs.: É inconstitucional o condicionamento da desfiliação de associado à quitação de débito referente a


benefício obtido por intermédio da associação ou ao pagamento de multa. STF. Plenário. RE 820823/DF, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 30/9/2022 (Repercussão Geral – Tema 922) (Info 1070).

VIII. DIREITO DE PROPRIEDADE

XXII - é garantido o direito de propriedade;


XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

É garantido pela Constituição, mas não é absoluto, uma vez que a propriedade poderá ser
desapropriada. É necessário também que a propriedade cumpra sua função social, atendendo aos interesses
da coletividade e não apenas do proprietário.
● É garantido o direito de propriedade (art. 5º, XXII).
● A propriedade atenderá a sua função social (art. 5º, XXIII).
● A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos na
Constituição (art. 5º, XXIV).

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● No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano (art. 5º, XXV).

Obs.: Impenhorabilidade da pequena propriedade rural.


Dispõe o art. 5º, XXVI da CRFB que “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”
Quanto ao tema, decidiu o STJ que a pequena propriedade rural é impenhorável mesmo que o imóvel
não sirva de moradia ao executado e a sua família. Ou seja, o devedor não precisa morar lá, bastando que
sua família ali labore. Tal impenhorabilidade se presta não apenas a garantir o direito à moradia, mas também
tem por objetivo assegurar o direito fundamental de acesso aos meios geradores de renda, porquanto a
pequena propriedade
Ademais, também entendeu-se que a pequena propriedade é impenhorável, mesmo que a dívida
executada não seja oriunda da atividade produtiva do imóvel. Se o sujeito usar o dinheiro para comprar um
carro ou financiar outra atividade, ainda assim permanece a impenhorabilidade. Entendeu o Tribunal que,
por se tratar de direito fundamental, deve ser dada a interpretação que garanta a máxima efetividade do
direito discutido. Se a CF não permite a penhora para dívidas oriundas da própria atividade produtiva, com
mais razão também será impenhorável com débitos de outra natureza (REsp 1.591.298/RJ – 2015).

IX. DIREITO DE PETIÇÃO E DE OBTENÇÃO DE CERTIDÕES

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:


a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade
ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Caso o pedido de certidão não seja atendido, o remédio constitucional cabível será o mandado de
segurança e não o habeas data.
O direito de certidão não é absoluto, pois pode ser negado em caso de o sigilo ser imprescindível à
segurança da sociedade ou do Estado.

X. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO

A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art.
5º, XXXV, CF/88).

Não se confunde com o direito de petição, já que este consiste em um direito de participação política
que não demanda a demonstração de interesse processual ou lesão a direito pessoal.
Exceção à regra da inafastabilidade da jurisdição: O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à
disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em
lei (art. 217, §1º, da CF).

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XI. IRRETROATIVIDADE DA LEI

A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada
(art. 5º, XXXVI,CF/88).

Conceitos (art. 6º da LINDB):


I- Direito adquirido: direito que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aquele cujo
começo do exercício tenha termo prefixo ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem;
II- Ato jurídico perfeito: ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou;
III- Coisa julgada: decisão judicial de que não caiba mais recurso.

Súmula 654-STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da


Constituição da República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha
editado.

Quanto à coisa julgada em matéria tributária, veja a recente tese fixada pelo STF no julgamento do
RE 955.227/BA (Tema 885 RG) e RE 949.297/CE (Tema 881 RG):

Tese fixada: “1. As decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade,


anteriores à instituição do regime de repercussão geral, não impactam
automaticamente a coisa julgada que se tenha formado, mesmo nas relações
jurídicas tributárias de trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta
ou em sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos
temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas
a irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade
nonagesimal, conforme a natureza do tributo.” (Info 1082, STF).

XII. PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE

Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a


decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido (art. 5º XLV, CF/88).

O princípio da pessoalidade tem duas dimensões:


1) Dimensão negativa: impede que sanções de natureza penal extrapolem o âmbito estritamente
pessoal do infrator, vedando a imposição de pena a terceiros;
2) Dimensão positiva: impõe o dever de expor circunstancialmente as condutas responsáveis pelo
ilícito, bem como de narrar com clareza o grau de participação dos acusados.

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A veiculação de matéria jornalística sobre delito histórico que expõe a vida


cotidiana de terceiros não envolvidos no fato criminoso, em especial de criança e
de adolescente, representa ofensa ao princípio da intranscendência
Matéria jornalística que, sob o pretexto de noticiar crime histórico, expõe a
intimidade do atual marido e dos filhos da condenada, pessoas que não têm relação
direta com o fato, ofende o princípio da intranscendência ou da pessoalidade da
pena, descrito no art. 5º, XLV, da CF/88 e no art. 13 do Código Penal. Isso porque,
ao expor publicamente a intimidade dos referidos familiares em razão do crime
ocorrido, a reportagem compartilhou dimensões evitáveis e indesejáveis dos
efeitos da condenação então estendidas à atual família da ex-condenada.
Especificamente quanto aos filhos, menores de idade, ressalta-se a Opinião
Consultiva n. 17, de 28 de agosto de 2002 da Corte Interamericana de Direitos
Humanos, que entende que o melhor interesse das crianças e dos adolescentes é
reconhecido como critério regente na aplicação de normas em todos os aspectos
da vida dos denominados “sujeitos em desenvolvimento”. STJ. 3ª Turma. REsp
1736803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).

É inconstitucional lei estadual que proíba a Administração Pública de contratar


empresa que tenha tido empregado condenado por crime ou contravenção
relacionados com a prática de atos discriminatórios
É inconstitucional lei estadual que proíba que a Administração Pública contrate
empresa cujo diretor, gerente ou empregado tenha sido condenado por crime ou
contravenção relacionados com a prática de atos discriminatórios. Essa lei viola os
princípios da intransmissibilidade da pena, da responsabilidade pessoal e do devido
processo legal. STF. Plenário. ADI 3092, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020
(Info 987 – clipping).

XIII. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA:

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:


a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

A aplicação do princípio ocorre em três âmbitos:

● Plano legislativo: dirige-se ao legislador no momento da fixação dos limites mínimos e máximos da pena,
do regime de cumprimento e dos benefícios que podem ser concedidos ao infrator.
● Plano judicial: o magistrado, ao aplicar a pena, deve definir, fundamentadamente, a sua quantidade
conforme os parâmetros legais, o regime inicial e os benefícios aplicáveis;

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● Plano executório: no momento da execução penal, deverá ser definido o estabelecimento prisional de
cumprimento da pena, tendo em conta a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado (art. 5º, XLVIII,
CF/88).

* Obs.: Súmula Vinculante nº 56 A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados
no RE 641.320/RS.

3. DIREITOS SOCIAIS

São direitos de 2ª geração/dimensão. A Constituição define no art. 6º quais são os direitos sociais:

CRFB, Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.

● Direitos dos trabalhadores: os direitos relativos aos trabalhadores são de duas ordens:
● Direitos dos trabalhadores nas suas relações individuais de trabalho: são os direitos dos
trabalhadores do art. 7º da CF, cujo dispositivo recomendamos leitura atenta. Dentre esses direitos,
destacamos:
· Direito ao trabalho: infere-se do valor social do trabalho como fundamento da República
(art. 2º) e demais dispositivos constitucionais;
· Garantia do emprego: é a proteção da relação de emprego contra despedida arbitrária ou
sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória,
entre outros direitos, impedindo-se, dessa forma, a dispensa injustificada, sem motivo
socialmente relevante. É norma de eficácia contida.

ATENÇÃO: A EC 72/2013 ampliou os direitos dos empregados domésticos!

● É possível a efetivação de direitos sociais pelo poder judiciário?


R.: Embora seja prerrogativa dos Poderes Legislativo e Executivo formular e executar políticas
públicas, o STF entende possível a efetivação de direitos sociais via Poder Judiciário, excepcionalmente,
sobretudo nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição.

Vejamos algumas jurisprudências (importantíssimas) sobre o tema:

◘ STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos grupos
prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário)

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O Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode determinar que a Administração Pública adote
medidas concretas, assecuratórias de direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais, como é o
caso da saúde.
A pretensão de que sejam editados e publicados critérios e subcritérios de
vacinação por classes e subclasses no Plano de Vacinação, assim como a ordem de
preferência dentro de cada classe e subclasse, encontra arrimo: • nos princípios da
publicidade e da eficiência que regem a Administração Pública (art. 37, da CF/88);
• no direito à informação que assiste aos cidadãos em geral (art. 5º, XXXIII, e art.
37, § 2º, II); • na obrigação da União de “planejar e promover a defesa permanente
contra as calamidades públicas” (art. 21, XVII); • no dever incontornável cometido
ao Estado de assegurar a inviolabilidade do direito à vida (art. 5º, caput), traduzida
por uma “existência digna” (art. 170); e • no direito à saúde (art. 6º e art. 196). STF.
Plenário. ADPF 754 TPI-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 27/2/2021 (Info 1007).

◘ Judiciário pode determinar a realização de obras de acessibilidade em prédios públicos

O Poder Judiciário pode condenar universidade pública a adequar seus prédios às


normas de acessibilidade a fim de permitir a sua utilização por pessoas com
deficiência. No campo dos direitos individuais e sociais de absoluta prioridade, o
juiz não deve se impressionar nem se sensibilizar com alegações de conveniência e
oportunidade trazidas pelo administrador relapso. Se um direito é qualificado pelo
legislador como absoluta prioridade, deixa de integrar o universo de incidência da
reserva do possível, já que a sua possibilidade é obrigatoriamente, fixada pela
Constituição ou pela lei. STJ. 2ª Turma. REsp 1607472-PE, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 592).
Fonte: Dizer o Direito

◘ Judiciário pode determinar a realização de obras emergenciais em estabelecimento prisional

É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer,


consistente na promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em
estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao postulado da dignidade da
pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral,
nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF, não sendo oponível à decisão o
argumento da reserva do possível nem o princípio da separação dos poderes. STF.
Plenário. RE 592581/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/8/2015
(repercussão geral) (Info 794).
Fonte: Dizer o Direito

◘ Judiciário pode obrigar administração pública a manter quantidade mínima de medicamento em


estoque

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A Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a


manter estoque mínimo de determinado medicamento utilizado no combate a
certa doença grave, de modo a evitar novas interrupções no tratamento. Não há
violação ao princípio da separação dos poderes no caso. Isso porque com essa
decisão o Poder Judiciário não está determinando metas nem prioridades do
Estado, nem tampouco interferindo na gestão de suas verbas. O que se está
fazendo é controlar os atos e serviços da Administração Pública que, neste caso, se
mostraram ilegais ou abusivos já que, mesmo o Poder Público se comprometendo
a adquirir os medicamentos, há falta em seu estoque, ocasionando graves prejuízos
aos pacientes. Assim, não tendo a Administração adquirido o medicamento em
tempo hábil a dar continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma
ilegítima, violando o direito à saúde daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência
do Poder Judiciário. STF. 1ª Turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 25/6/2014 (Info 752).
Fonte: Dizer o Direito

PRAZO PRESCRICIONAL PARA COBRANÇA EM JUÍZO DO FGTS


- A jurisprudência entendia que o prazo prescricional era de 30 anos, conforme súmula 362 do TST:
Súmula 362-TST: É trintenária a prescrição do direito de reclamar contra o não-recolhimento da contribuição
para o FGTS, observado o prazo de 2 (dois) anos após o término do contrato de trabalho.
- No entanto, em 2014, o STF alterou o seu posicionamento e passou a adotar o prazo prescricional de 05
(cinco) anos, ao reconhecer a natureza trabalhista da verba, pelo art. 7º, XXIX, CF/88:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
(...)
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de CINCO anos
para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de DOIS anos após a extinção do contrato de trabalho;

DIREITOS COLETIVOS DOS TRABALHADORES: Exercidos pelos trabalhadores coletivamente ou no interesse


de uma coletividade deles, previstos nos arts. 8-11. Destacamos:

▪ Organização sindical: o art. 8º, CF/88, institui ampla autonomia coletiva para a fundação e direção
desse ente associativo, não podendo o Estado intervir ou condicionar o exercício desse direito. Pode,
contudo, ser exigida a inscrição do sindicato em órgão próprio (Ministério do Trabalho), bem como
admite-se que a lei disponha genericamente sobre regras básicas de organização sindical.

O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo de empregados que podem ser
dirigentes sindicais, é compatível com a CF/88 e não viola a garantia da liberdade
sindical
O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não podem ser demitidos,
salvo se cometerem falta grave. O art. 522 da CLT prevê um número máximo de

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empregados que podem ser dirigentes sindicais. Assim que a CF/88 foi promulgada,
alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 522 da CLT não
teria sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso porque o inciso I do art. 8º
da Constituição prevê que a liberdade sindical, ou seja, proíbe que o poder público
interfira na organização dos sindicatos. O TST e o STF não concordaram com essa
tese. A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter
absoluto. A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de
estabilidade de emprego não esvazia a liberdade sindical. Essa garantia
constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade sindical,
mas não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem
a razoabilidade e a finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Logo,
o art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário.
ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020.

▪ Direito de substituição processual: a CF/88 previu a possibilidade de os sindicatos ingressar em em


juízo na defesa de direitos e interesses coletivos e individuais da categoria, em hipótese de
substituição processual, pois o sindicato ingressa em nome próprio na defesa de interesses alheios.

▪ Greve: previsto no art. 9º, cabe aos trabalhadores decidir a oportunidade de exercê-lo e os interesses
que devam por meio dele defender. Outrossim, prevê que a lei definirá os serviços ou atividades
essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, inclusive
responsabilizando os abusos cometidos.

Cuidado! Policial civil não pode fazer greve!!!


O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos
policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de
segurança pública. É obrigatória a participação do Poder Público em mediação
instaurada pelos órgãos classistas das carreiras de segurança pública, nos termos
do art. 165 do CPC, para vocalização dos interesses da categoria.
STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

ATENÇÃO - Para servidores públicos civis: como não existe lei específica sobre o assunto para servidores
públicos civis, o STF conferiu efeitos concretos aos Mandados de Injunção ajuizados pelos Sindicatos de
Servidores Civis. Por maioria, conheceu dos mandados de injunção e propôs a solução para a omissão
legislativa com a aplicação, no que couber, da Lei nº 7.783/89, que dispõe sobre o exercício do direito de
greve na iniciativa privada.

IMPORTANTE:
O estudo da jurisprudência acerca do tema: “Direitos Fundamentais” é imprescindível, diante da elevada
cobrança em provas. Nesse sentido, abaixo algumas jurisprudências cuja leitura é importantíssima!

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Informativo 163 do STF: não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou


garantias que se revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões de relevante
interesse público ou exigências derivadas do princípio de convivência das
liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos
estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde
que respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição.

Cota de tela para filmes nacionais nos cinemas é constitucional


O Plenário do STF entendeu que a norma é um mecanismo que protege a indústria
nacional do audiovisual e amplia o acesso à cultura. Por maioria de votos, o Plenário
do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou constitucionais as normas que reservam
um número mínimo de dias para a exibição de filmes nacionais nos cinemas
brasileiros, a chamada “cota de tela”, e a regra que determina que 5% dos
programas culturais, artísticos e jornalísticos sejam produzidos no município para
o qual foram outorgados os serviços de radiodifusão. RE 627432 e RE 1070522, com
repercussão geral (Temas 704 e 1013).

Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a benefício social e os


respectivos critérios de admissão
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário
mínimo vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe
que o salário mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras
finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou
que seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e dizer que o
dispositivo previu que o valor do benefício seria igual ao salário mínimo vigente na
época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso, mesmo o salário mínimo
aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar
automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que
ele não pode servir como indexador. STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

A EC 20/98 ampliou a proibição do trabalho infantil ao elevar de 14 para 16 anos


a idade mínima permitida para o trabalho; essa alteração é constitucional e tem
por objetivo proteger as crianças e adolescentes
A norma fundada no art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal, na alteração que lhe
deu a Emenda Constitucional 20/1998, tem plena validade constitucional. Logo, é
vedado “qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de
aprendiz, a partir de quatorze anos”. STF. Plenário. ADI 2096/DF, Rel. Min. Celso de
Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

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O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo empregados que podem ser
dirigentes sindicais, é compatível com a CF/88 e não viola a garantia da liberdade
sindical
A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade
de emprego não esvazia a liberdade sindical. Essa garantia constitucional existe
para que possa assegurar a autonomia da entidade sindical, mas não serve para
criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem a razoabilidade e a
finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Logo, o art. 522 da CLT
foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário. ADPF 276, Rel.
Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020.

É inconstitucional lei municipal que proíba a divulgação de material com


referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais
Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação
nacional (art. 22, XXIV, da CF), de modo que os Municípios não têm competência
para editar lei proibindo a divulgação de material com referência a “ideologia de
gênero” nas escolas municipais. Existe inconstitucionalidade formal. Há também
inconstitucionalidade material nessa lei. Lei municipal proibindo essa divulgação
viola: • a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte
e o saber (art. 206, II, CF/88); e • o pluralismo de ideias e de concepções
pedagógicas (art. 206, III). Essa lei contraria ainda um dos objetivos fundamentais
da República Federativa do Brasil, que é a promoção do bem de todos sem
preconceitos (art. 3º, IV, CF/88). Por fim, essa lei não cumpre com o dever estatal
de promover políticas de inclusão e de igualdade, contribuindo para a manutenção
da discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero. STF.
Plenário. ADPF 457, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.

Essa jurisprudência foi cobrada na última prova de Delegado de Polícia do Paraná:

Caiu na prova Delegado PR/2021! Atendendo ao interesse local, os municípios podem editar lei que proíba
a divulgação de materiais com menção à ideologia de gênero nas escolas municipais. (item incorreto).

É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determina a reserva de


vagas, no mesmo estabelecimento de ensino, para irmãos que frequentem a
mesma etapa ou ciclo escolar, pois disciplina medida que visa consolidar políticas
públicas de acesso ao sistema educacional e do maior convívio familiar possível.
STF. Plenário. ADI 7149/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/9/2022
(Info 1069).

A educação básica em todas as suas fases — educação infantil, ensino


fundamental e ensino médio — constitui direito fundamental de todas as crianças
e jovens, assegurado por normas constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade
direta e imediata.
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DELEGADO DE POLÍCIA

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A educação infantil compreende creche (de zero a 3 anos) e a pré-escola (de 4 a 5


anos). Sua oferta pelo Poder Público pode ser exigida individualmente, como no
caso examinado neste processo.
O Poder Público tem o dever jurídico de dar efetividade integral às normas
constitucionais sobre acesso à educação básica.
STF. Plenário. RE 1008166/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 22/9/2022
(Repercussão Geral – Tema 548) (Info 1069).

Se o indivíduo possui contra si uma condenação criminal transitada em julgado,


ele não poderá ser vigilante, mesmo que já tenha cumprido a pena há mais de 5
anos
Viola o princípio da presunção de inocência o impedimento de participação ou
registro de curso de formação ou reciclagem de vigilante, por ter sido verificada a
existência de inquérito ou ação penal não transitada em julgado. Assim, não
havendo sentença condenatória transitada em julgado, o simples fato de existir um
processo penal em andamento não pode ser considerado antecedente criminal
para o fim de impedir que o vigilante se matricule no curso de reciclagem. STJ. 2ª
Turma. REsp 1597088/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/08/2017. A
existência de condenação criminal transitada em julgado impede o exercício da
atividade profissional de vigilante por ausência de idoneidade moral. STJ. 2ª Turma.
REsp 1666294-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/09/2019 (Info 658).

Quando o delito imputado envolve o emprego de violência contra a pessoa ou


demonstre comportamento agressivo incompatível com as funções de vigilante,
é válida a recusa de pedido de inscrição em curso de reciclagem para vigilantes
profissionais, porquanto configurada, em regra, a ausência de idoneidade do
indivíduo. STJ. 1ª Turma.REsp 1952439-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em
26/04/2022 (Info 734).

A existência de condenação criminal transitada em julgado impede o exercício da


atividade profissional de vigilante por ausência de idoneidade moral, mesmo que
tenha cumprido a pena há mais de 5 anos.

Nota: É válida a recusa pela Polícia Federal de pedido de inscrição em curso de


reciclagem para vigilantes profissionais, quando configurada a ausência de
idoneidade do indivíduo em razão da prática de delito que envolve o emprego de
violência contra a pessoa ou da demonstração de comportamento agressivo
incompatível com as funções do cargo. REsp 1.952.439-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina,
Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 28/04/2022.

O STJ, através da sua 2° Turma – informativo de n° 666 – decidiu que: “A omissão


injustificada da Administração em providenciar a disponibilização de banho

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quente nos estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob sua


custódia.”

O fornecimento recíproco de dados investigatórios e o intercâmbio de


informações entre a Polícia Federal e as polícias estaduais são medidas que se
legitimam em face do modelo constitucional de federalismo cooperativo.
A razão disso encontra-se na forma de distribuição de competência dentro de uma
forma de estado federalista cooperativa. Isto é, há um ponto convergente entre a
União e os entes estaduais sobretudo em suas atividades investigativas (polícia civil
e federal).
Neste sentido, informativo de n° 755 do STF: “Cabe salientar que a mútua
cooperação entre organismos policiais, o intercâmbio de informações, o
fornecimento recíproco de dados investigatórios e a assistência técnica entre a
Polícia Federal e as Polícias Estaduais, com o propósito comum de viabilizar a mais
completa apuração de fatos delituosos gravíssimos, notadamente naqueles casos
em que se alega o envolvimento de policiais militares na formação de grupos de
extermínio, encontram fundamento, segundo penso, no próprio modelo
constitucional de federalismo cooperativo (RHC 116.000/GO, Rel. Min. CELSO DE
MELLO), cuja institucionalização surge, em caráter inovador, no plano de nosso
ordenamento constitucional positivo, na Constituição Federal de 1934, que se
afastou da fórmula do federalismo dualista inaugurada pela Constituição
republicana de 1891, que impunha, por efeito da outorga de competências
estanques, rígida separação entre as atribuições federais e estaduais.”

Caiu na prova Delegado BA/2022! A Constituição Federal de 1988 dispõe que todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Com relação aos
direitos fundamentais e o entendimento jurisprudencial dos Tribunais Superiores, assinale a alternativa
correta.

a) As pesquisas com célula-tronco embrionária violam, via de regra, o direito à vida.


b) É possível a interrupção da gravidez quando houver diagnóstico de anencefalia do feto.
c) Diante do princípio da igualdade, não é possível política de cotas étnico-raciais para seleção de estudantes
em universidade pública.
d) As ações indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes de atos de perseguição política com
violação de direitos fundamentais ocorridos durante o regime militar prescrevem no prazo de 05 (cinco) anos.
e) A liberdade de expressão é um direito absoluto e a sua limitação é passível de nulidade.

Resposta: Alternativa ‘B’.

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IBFC – PCBA/2022 – Delegado de Polícia: O direito à liberdade, previsto como direito fundamental no caput
do art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada no dia 05 de outubro de 1988, está
presente também no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13/07/1990 - ECA), que em seu
art. 16, dispõe que o direito à liberdade compreende os determinados aspectos. Considerando os a liberdade
garantida às crianças e aos adolescentes pelo referido estatuto, analise as afirmativas abaixo:

I. brincar, praticar esportes e divertir-se; participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação.
II. ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais. III. opinião
e expressão; crença e culto religioso.
IV. participar da vida política, na forma da lei; buscar refúgio, auxílio e orientação.

Estão corretas as afirmativas:

a) I, II, III e IV
b) I, III e IV apenas
c) II, III e IV apenas
d) III e IV apenas
e) I, II e IV apenas

Resposta: Alternativa ‘A’

CEBRASPE – PCES/2022 – Delegado de Polícia: Assinale a opção correta a respeito dos direitos e garantias
fundamentais.

A) A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas configura fundada razão a autorizar o
ingresso policial no domicílio do denunciado sem o seu consentimento ou sem determinação judicial.
B) É inconstitucional o compartilhamento, sem autorização judicial, de procedimento fiscalizatório da Receita
Federal do Brasil com a polícia.
C) A omissão injustificada da administração pública em providenciar a disponibilização de banho quente nos
estabelecimentos prisionais fere a dignidade dos presos sob sua custódia.
D) Veículo de imprensa não possui direito líquido e certo a obter dados públicos sobre óbitos relacionados a
ocorrências policiais.
E) É vedado ao Poder Judiciário impor à administração pública obrigação de executar obras emergenciais em
estabelecimentos prisionais, em razão do postulado da reserva do possível.

Resposta: Alternativa ‘C’

CEBRASPE – PCES/2022 – Delegado de Polícia: Com base no disposto na Constituição Federal de 1988
(CF/88) e no entendimento do Supremo Tribunal Federal, assinale a opção correta acerca dos direitos sociais.

A) O servidor público que seja pai monoparental faz jus à licença maternidade e ao salário maternidade pelo
prazo de 180 dias.
B) Exige-se a autorização do Estado para a fundação de sindicato.
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C) Policial civil tem direito a receber seguro desemprego, em caso de desemprego involuntário.
D) É vedada a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, ainda que inexistam reajustes
automáticos.
E) É vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro de sua candidatura a cargo de direção
ou representação sindical e, se eleito, até seis meses após o final do mandato, salvo na hipótese de falta
grave.

Resposta: A alternativa ‘A’ está correta.

Referência Bibliográficas:

Pedro Lenza. Direito Constitucional Esquematizado.


Marcelo Novelino. Curso de Direito Constitucional.
Dirley da Cunha Junior. Curso de Direito Constitucional.
Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino. Direitos Constitucional Descomplicado
Bruno Del Preti e Paulo Lépore. Manual de Direitos Humanos
João Trindade. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portaltvjustica/portaltvjusticanoticia/anexo/joao_trindadade__teori
a_geral_dos_direitos_fundamentais.pdf
Julgados comentados do site Dizer o Direito. http://www.dizerodireito.com.br/

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META 5

DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, X, XXXIII e LX
⦁ Art. 5º, LV
⦁ Art. 37, caput e §1º
⦁ Art. 37, VII
⦁ Art. 93, IX
⦁ Art. 41
⦁ Art. 169, §3º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 11, IV, Lei 8429/92
⦁ Art. 6º, 32 e 37 da lei 8987/95
⦁ Art. 3º e 58, da Lei 8666/93 c.c. art. 5º e 104 da Lei 14133/21
⦁ Art. 2º, 50, 53 e 54 da Lei 9784/99

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 37, caput e §1º, CF/88 (importantíssimo!)
⦁ Art. 5º, LV e LX
⦁ Art. 6º, §1º e §3º lei 8987/95
⦁ Art. 2º, caput da Lei 9784/99 (análise comparativa com o art. 37, caput, da CF/88 e art. 3º da Lei
8666/93 c.c. art. 5º da Lei 14133/21)
⦁ Art. 53 da Lei 9784/99

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 633-STJ: A Lei nº 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo decadencial para a revisão
de atos administrativos no âmbito da Administração Pública federal, pode ser aplicada, de forma
subsidiária, aos Estados e municípios, se inexistente norma local e específica que regule a matéria.
Súmula vinculante 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou
por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa
jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão
ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta em qualquer

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dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a Constituição Federal.
Súmula 473-STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Súmula 346-STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
Súmula 6-STF: A revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato
aprovado pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de aprovada por aquele tribunal, ressalvada a
competência revisora do judiciário.

1. ORIGEM, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

O Direito Administrativo compõe o ramo do Direito Público, pois tem como características e
princípios marcantes a supremacia do interesse público (relações jurídicas verticalizadas), a
indisponibilidade do interesse público e a legalidade.
Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro, o Direito Administrativo nasceu no fim do século XVIII e início
do século XIX, não significando que inexistia, anteriormente, normas administrativas, uma vez que, onde quer
que exista o Estado, há órgãos encarregados do exercício de funções administrativas.
Rafael Carvalho aponta que o nascimento do Direito Administrativo se relaciona diretamente à
consagração dos ideais da Revolução Francesa de 1789 e ao surgimento do Estado de Direito. A partir dos
ideais liberais revolucionários da burguesia (separação de poderes, princípio da legalidade e Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão), o poder estatal é limitado e o Direito Administrativo é concebido como
ramo especial do Direito, ao lado do Direito Privado, regulador das relações envolvendo o Estado e o exercício
das atividades administrativas.
Nesse sentido, o Estado é pessoa jurídica de direito público, ainda quando atue na seara do direito
privado. Logo, o Estado pode atuar tanto no direito público quanto no direito privado, no entanto, sempre
ostenta a qualidade de PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.
O Direito Administrativo tem por objeto as relações por ele disciplinadas, a saber:
a) relações internas entre órgãos e entidades administrativas;
b) relações entre a administração e seus agentes;
c) relações entre a administração e os seus administrados;
d) atividades administrativas exercidas por prestadores de serviços públicos.

2. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

● Administração Patrimonialista: Não havia diferença entre os interesses pessoais dos agentes
públicos e os interesses da própria administração.

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● Administração Burocrática: Superou o patrimonialismo ao adotar o princípio da impessoalidade.


Foram criados rígidos controles sobre a atuação dos agentes públicos. Formou-se a burocracia, em
que os agentes públicos devem obedecer aos procedimentos determinados, à rígida hierarquia e à
separação de funções.
● Administração Gerencial: É o modelo adotado na Administração moderna. Busca superar o modelo
burocrático por meio da adoção do princípio da eficiência, que tem as seguintes consequências
principais:
∘ Utilização do controle de resultados substituindo o controle de meios;
∘ Maior autonomia dos agentes/órgãos/entidades públicas;
∘ Serviço orientado para o cidadão;
∘ Utilização de indicadores de desempenho.

Administração Pública Dialógica: Segundo Ronny Charles, Administração pública dialógica é uma tendência
identificada em algumas atividades administrativas, notadamente na prestação de serviços públicos e
contratações de grandes empreendimentos, que consiste na abertura de diálogo com os administrados,
permitindo que eles colaborem para o aperfeiçoamento ou a legitimação da atividade administrativa.

3. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO

Às vezes cai em prova e ajuda a resolver determinadas questões, motivo pelo qual é importante abrir
um tópico rápido acerca das influências do direito estrangeiro no direito administrativo brasileiro.

● Direito alemão - o direito administrativo brasileiro herdou a inspiração para aplicação do princípio da
segurança jurídica, especialmente sob o aspecto subjetivo da proteção à confiança.

● Direito francês - herdou o conceito de serviço público, a teoria dos atos administrativos com o atributo
da executoriedade, as teorias sobre responsabilidade civil do Estado, o princípio da legalidade, a teoria
dos contratos administrativos, as formas de delegação da execução de serviços públicos, a ideia de que
a Administração Pública se submete a um regime jurídico de direito público, derrogatório e exorbitante
do direito comum, que abrange o binômio autoridade/liberdade.

● Direito italiano - recebeu o conceito de mérito, o de autarquia e entidade paraestatal (dois vocábulos
criados no direito italiano). Os autores italianos (ao lado dos alemães) também contribuíram para a
adoção de um método técnico-científico.

● Direito inglês (sistema da common law) - o direito administrativo brasileiro herdou o princípio da
unidade de jurisdição, o mandado de segurança e o mandado de injunção, o princípio do devido
processo legal, inclusive, mais recentemente, em sua feição substantiva, e que praticamente se
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confunde com o princípio da razoabilidade. No fim do século XX, também herdou do sistema common
law o fenômeno da agencificação e a própria ideia de regulação.

4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO:

O direito administrativo é ramo jurídico, e como tal, se dedica ao estudo das regras e normas, sendo
caracterizada como ciência normativa e impositiva, que define os limites dentro dos quais a gestão pública
pode ser executada. Várias foram as correntes/teorias que buscaram definir o direito administrativo. Nessa
linha, vejamos as principais delas:

a) Corrente Legalista/Exegética/Empírica: O direito administrativo seria o conjunto da legislação


administrativa existente no país. Limitava-se a fazer compilação de leis que tratassem da função
administrativa e desconsiderava doutrina e jurisprudência.

Crítica: A grande crítica do critério legalista foi desconsiderar a carga normativa dos princípios. Dessa forma,
só era valorado o que estivesse em lei.

b) Critério do Poder Executivo/Italiano/Subjetivista: O Direito Administrativo seria um complexo de leis


disciplinadoras da atuação do poder executivo. Assim, o objeto do direito administrativo seria toda
atuação do Poder Executivo.

Crítica: O Direito Administrativo não se resume à disciplina do Poder Executivo, afinal, todos os Poderes
administram, embora, para alguns, isso constitua missão atípica. E mais: no Poder Executivo, nem tudo é
objeto do Direito Administrativo, a exemplo das funções de governo, regidas pelo Direito Constitucional.

c) Critério das Relações Jurídicas: O Direito Administrativo é a disciplina das relações jurídicas entre a
Administração e o particular. Assim, todas as relações entre o Estado e o administrado seriam função
administrativa.

Crítica: Outros ramos do direito, de igual modo, regulam a relação jurídica entre particular e Estado, por
exemplo, os contratos privados pactuados que são regidos pelo direito civil.

d) Critério do Serviço Público (França): O Direito Administrativo teria por objetivo a disciplina jurídica dos
serviços públicos. Ou seja, a função administrativa seria a instituição, organização e prestação do serviço
público. → Escola do Serviço Público (Leon Duguit).
● Sentido amplo (Leon Duguit): Inclui todas as atividades do Estado;

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● Sentido estrito (Gaston Jeze): Inclui apenas atividades materiais (leia-se: aquelas de dentro para
fora, com a finalidade de satisfação das necessidades coletivas).

Crítica: Referido conceito é bastante restrito, porque, na atualidade, a ideia de prestação de serviço público
vem sofrendo restrições, de modo que a administração pública não se limita tão somente à execução dessa
prestação. O Estado faz muitas atividades além da mera prestação do serviço público, sendo este último
apenas uma das facetas. Por exemplo, atua na exploração de atividade econômica na busca do interesse
público.

e) Critério Teleológico ou Finalístico: O Direito Administrativo é sistema de princípios jurídicos que regula
as atividades do Estado para o cumprimento dos seus fins. Assim, o Direito Administrativo deve ser
conceituado como toda atuação do Estado com finalidade pública.

Crítica: Essa posição apresenta-se como a mais correta, porém não consegue abranger integralmente o
conceito da matéria, de forma que não é adotada de forma majoritária.

f) Critério Negativista: Esse critério surgiu da dificuldade de identificar o objeto do Direito Administrativo.
Assim, o Direito Administrativo seria conceituado por exclusão, abrangendo tudo que não era função
legislativa e jurisdicional.

Crítica: Não é adequado definir algo pelo que ele não é. Embora não tenha um erro grosseiro, este critério
não pode ser usado como forma de conceituação do direito administrativo

g) Critério Funcional: O Direito Administrativo é ramo jurídico que estuda e analisa a disciplina da função
administrativa, esteja ela sendo exercida pelo Executivo, Legislativo, Judiciário ou por delegação estatal.

Segundo Hely Lopes Meirelles, o direito administrativo pode ser definido como conjunto harmônico
de princípios que regem os órgãos, os agentes e a atividade pública para realização dos fins desejados pelo
Estado de forma DIRETA, CONCRETA e IMEDIATA.
● Direta: Não se confunde com a função jurisdicional, que é indireta por depender de provocação.
Desse modo, ao se falar que a atuação é direta, quer-se dizer que ela atua de ofício, não dependendo
de provocação. Reitero: NÃO depende de provocação para que haja atuação administrativa, ela é
DIRETA.
● Concreta: Diferente da legislativa, que é geral e abstrata (não atinge pessoas específicas), a função
administrativa é concreta porque se materializa em casos concretos.
● Imediata: Realiza os fins do Estado (necessidades do Estado). Quem define os fins do Estado, por sua
vez, é o Direito Constitucional.

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5. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO

A expressão Administração Pública pode ser analisada sob seu aspecto formal/subjetivo/orgânico ou
sob seu aspecto material/objetivo/funcional.

a) Formal, Orgânico ou Subjetivo: É o conjunto de órgãos, agentes públicos e pessoas jurídicas no


exercício da função administrativa. Importa apenas quem realiza a atividade, sendo irrelevante qual
a atividade por eles desempenhada. É a máquina administrativa.

b) Material, Funcional ou Objetivo: Se confunde com função administrativa, sendo a atividade


administrativa exercida pelo Estado, designando a atividade consistente na defesa concreta do
interesse público.

● A Administração Pública, em sentido amplo, objetivamente considerada, compreende a função


política + função administrativa. Já em sentido estrito, envolve tão somente a função administrativa
propriamente dita.

TAREFAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:


➢ Prestação de serviços públicos;
➢ Exercício do Poder de Polícia;
➢ Regulação de atividades de interesse público (fomento);
➢ Intervenção no domínio econômico e controle da atuação do Estado.

Resumindo...
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO
FORMAL, ORGÂNICO OU SUBJETIVO MATERIAL, FUNCIONAL OU OBJETIVO
Conjunto de órgãos e agentes no exercício da É a própria atividade administrativa
função administrativa. desempenhada pelo Estado.

5.1 Administração Pública Extroversa e Introversa

Diogo de Figueiredo Moreira Neto diferencia esses termos da seguinte forma:


I- Administração Introversa: corresponde à atividade-meio da Administração. É instrumental, atende
ao interesse público secundário e não atinge diretamente os cidadãos. Logo, envolve as relações entre a
Administração e seus agentes. Também é atribuída a todos os órgãos administrativos;

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II- Administração Extroversa: corresponde à atividade-fim da Administração. É finalística, atende ao


interesse público primário e atinge diretamente os cidadãos. Logo, envolve as relações entre a Administração
e os particulares. É atribuída apenas aos entes políticos. Exemplo: poder de polícia.

Vamos Aprofundar um pouco?

5.2 Tendências atuais do Direito Administrativo

Para Rafael Oliveira (2018, p. 58), o Direito Administrativo tem sofrido profundas transformações,
cabendo destacar as seguintes mutações e tendências:
a) Constitucionalização e aplicação do princípio da juridicidade (vinculação positiva do administrador à
Constituição e ao ordenamento como um todo e não somente à lei);
b) Relativização de formalidades e ênfase nos resultados (ideia de substituição da Administração
burocrática pela Administração Gerencial);
c) Elasticidade do Direito Administrativo, mediante o diálogo com outras disciplinas;
d) Consensualidade e participação (busca pela legitimidade democrática da Administração, com
instrumentos de participação dos cidadãos na tomada de decisões administrativas);
e) Processualização e contratualização da atividade administrativa;
f) Publicização do Direito Civil e privatização do Direito Administrativo; e
g) Aproximação entre a Civil Law e a Common Law.

5.3 Transadministrativismo

Diogo de Figueiredo Moreira Neto adota a tese de que existe um novo ramo do Direito Administrativo
denominado transadministrativismo.
O transadministrativismo é a disciplina jurídica das relações assimétricas de poder que se
institucionaliza consensualmente fora e além do Estado.
Trata-se de um direito administrativo transnacional, fenômeno semelhante ao
transconstitucionalismo.
Para Diogo de Figueiredo, o direito administrativo global é um gênero, do qual o direito
administrativo transestatal (transadministrativismo) é espécie. O transadministrativismo refere-se
exclusivamente ao produto normativo desses centros de poder transestatais: aqueles que se originam de
necessidades ordinatórias das diversas sociedades, que não são providas pelos Estados.

6. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A doutrina costuma apontar a existência de cinco fontes principais deste ramo do Direito, quais
sejam: a lei, a jurisprudência, a doutrina, os princípios gerais e os costumes.
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▪ LEI – Fonte Primária – qualquer espécie normativa (lei em sentido amplo);


· A lei é a fonte primária do direito administrativo, pois inova no ordenamento jurídico. A
atuação administrativa tem que ser pautada pela lei, pois só existe a atuação do
administrador se houver permissivo legal nesse sentido (princípio da legalidade).
· Em se tratando de Direito Administrativo, a lei deve ser interpretada em sentido amplo, de
modo a abarcar não só a lei em sentido estrito, mas também as normas constitucionais, os
regulamentos administrativos e os tratados internacionais. O administrador público deve
obediência à lei e ao Direito (princípio da juridicidade).

▪ JURISPRUDÊNCIA – Fonte Secundária – julgamentos reiterados no mesmo sentido. Súmula é a


consolidação da jurisprudência.
· A jurisprudência se traduz na reiteração de julgados dos órgãos do judiciário, travando uma
orientação acerca de determinada matéria. Trata-se de fonte secundária do Direito
Administrativo, de grande influência na construção e consolidação desse ramo.

▪ DOUTRINA – Fonte Secundária – forma o sistema teórico de princípio aplicável ao Direito Positivo.
· É fonte secundária. Refere-se à lição dos mestres e estudiosos da matéria, ensejando a
formação de arcabouço teórico. É fonte interpretativa. Expõe uma interpretação sobre
determinada matéria ou lei, ao estabelecer o que provavelmente buscava, ou seja, sua
razão/sentido.

▪ PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO – estão na base da disciplina (alicerce). Exs.: Ninguém pode causar
dano a outrem. É vedado o enriquecimento ilícito. Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.

▪ COSTUMES – Práticas reiteradas da autoridade administrativa. Lembre-se que o costume não cria e
nem exime obrigação.
· Elementos do costume:
- Elemento objetivo: repetição de condutas;
- Elemento subjetivo: convicção de sua obrigatoriedade.
· Espécies de costumes:
- Secundum legem: previstos ou admitidos pela lei;
- Praeter legem: preenchem as lacunas normativas, possuindo caráter subsidiário;
- Contra legem: se opõem à norma legal.

Obs.: Para o autor Rafael Carvalho, “ressalvado o costume contra legem, o costume é fonte
autônoma do Direito Administrativo. A releitura do princípio da legalidade, com a superação do positivismo,
a textura aberta de algumas normas jurídicas e a necessidade de consideração da realidade social na
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DELEGADO DE POLÍCIA

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aplicação do Direito demonstram que os costumes devem ser considerados como fontes do Direito
Administrativo”, pg. 25.

CAIU EM PROVA:

(Delegado da PCRJ 2022): Os princípios constitucionais do direito administrativo podem ser aplicados
diretamente pelo gestor público, mas não em sentido contrário à lei (contra legem), ainda que o interesse
público aponte neste sentido (item considerado incorreto).

COSTUME SOCIAL COSTUME ADMINISTRATIVO


De acordo com Matheus Carvalho, “os Na dicção de Matheus Carvalho: “o costume
costumes sociais se apresentam como um administrativo é caracterizado como prática
conjunto de regras não escritas, que são, reiteradamente observada pelos agentes
todavia, observadas de modo uniforme por administrativos diante de determinada situação
determinada sociedade, que as considera concreta. A prática comum na Administração Pública é
obrigatórias. Ainda considera-se fonte admitida em casos de lacuna normativa e funciona como
relevante do Direito Administrativo, tendo em fonte secundária de Direito Administrativo, podendo
vista a deficiência legislativa na matéria”. gerar direitos para os administrados, em razão dos
princípios da lealdade, boa-fé, moralidade
administrativa, entre outros”.

▪ PRECEDENTES ADMINISTRATIVOS – Pressupõem a prática reiterada e uniforme de atos


administrativos em situações similares. A teoria dos precedentes administrativos é aplicada em
relações jurídicas que, apesar de distintas, apresentam identidade subjetiva e objetiva.
A força vinculante do precedente administrativo decorre da segurança jurídica, e pode ser afastada
pela Administração em duas situações em que se pode aplicar a TEORIA DO PROSPECTIVE OVERRULING:
● Quando o ato invocado pelo precedente for ilegal;
● Quando o interesse público, devidamente motivado, justificar a alteração do entendimento
administrativo.
O precedente administrativo, em princípio, só é exigível quando estiver em compatibilidade com a
legislação. Porém, excepcionalmente, mesmo em relação a atos ilegais, os precedentes administrativos
retiram a sua força vinculante dos princípios da legítima confiança, segurança jurídica e boa-fé.
Importante mencionar, quanto aos precedentes administrativos, o disposto no art. 30 da LINDB, com
a redação dada pela Lei 13.655/2018:

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DELEGADO DE POLÍCIA

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Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica
na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas
administrativas e respostas a consultas.
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter
vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.

Resumindo...
FONTE PRIMÁRIA 1) Lei - em sentido material/amplo: qualquer espécie normativa
1) Jurisprudência
FONTES 2) Doutrina
SECUNDÁRIAS 3) Costumes - secundum legem e praeter legem
4) Princípios Gerais do Direito.

1) Constituição
FONTES FORMAIS 2) Lei
3) Regulamento e outros atos normativos da Administração
Pública.
5) Jurisprudência (sem efeito vinculante)
FONTES MATERIAIS 6) Doutrina
7) Costumes - secundum legem e praeter legem
8) Princípios Gerais do Direito.

7. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A interpretação do Direito Administrativo deve se pautar em 3 (três) pressupostos básicos, quais


sejam:

(1) Desigualdade entre a administração e o particular (desigualdade jurídica) - Toda vez que se
interpreta uma norma do direito administrativo, devemos recordar que existe uma desigualdade
jurídica, visto que a Administração atua com supremacia em face ao particular (princípio da
supremacia do interesse público sobre o privado).
(2) Presunção de legitimidade dos atos praticados pela Administração - Os atos praticados pela
Administração são presumivelmente legítimos, ou seja, presume-se que foram praticados em
conformidade com o ordenamento jurídico (lembre-se: a presunção de legitimidade e veracidade é
atributo do ato administrativo). Trata-se de presunção relativa.
(3) Necessidade de discricionariedade – A discricionariedade é indispensável para que o administrador
possa concretizar a norma geral e abstrata prevista. Contudo, é uma discricionariedade
regrada/mitigada, pois exercida dentro dos limites da lei.
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Obs.: Analogia NÃO pode ser utilizada para fundamentar a aplicação de sanções ou gravames aos
particulares, especialmente no campo do poder de polícia e do poder disciplinar.
* Para Diogo de Figueiredo Moreira Neto, a analogia não é permitida no Direito Administrativo, em razão do
princípio da legalidade. Admitir a analogia seria permitir que a Administração impusesse uma obrigação não
prescrita em lei.
* Para Alexandre Santos de Aragão, é possível a utilização da analogia no Direito Administrativo quando a
aplicação da regra com base na analogia for suficiente para regular determinado caso concreto e ao mesmo
tempo atender às finalidades da Constituição. No entanto, a analogia com base em outra disciplina jurídica
não é possível, tendo em vista o princípio da legalidade.

8. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA

a) Sistema Francês (contencioso administrativo)


● Dualidade de jurisdição;
● Proíbe o conhecimento, pelo Poder Judiciário, de atos ilícitos praticados pela Administração, ficando
os atos sujeitos à jurisdição especial do contencioso administrativo.

b) Sistema Inglês (jurisdição única)


● Todos os litígios podem ser resolvidos na justiça comum;
● Sistema adotado pelo Brasil (princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, art. 5º, XXXV, da
CF/88). Obs. Já houve a previsão do tribunal constitucional de contencioso no Brasil na EC 7/77, mas
nunca foi implementado.

9. REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO

É o conjunto de regras e princípios que regem a Administração Pública. Celso Antônio Bandeira de
Mello defende a existência de verdadeiras “PEDRAS DE TOQUE” no Direito Administrativo, quais sejam:

● Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado: Os interesses coletivos devem


prevalecer ao interesse particular;
● Princípio da indisponibilidade do interesse público: O interesse público não se encontra à livre
disposição do administrador.

Vamos aprofundar um pouco?


Conforme Rafael Carvalho, o fenômeno da constitucionalização do ordenamento jurídico abalou alguns dos
mais tradicionais dogmas do Direito Administrativo, a saber a redefinição da ideia de supremacia do

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interesse público sobre o privado e a ascensão do princípio da ponderação de direitos fundamentais. A


partir dessa distinção, a doutrina tradicional sempre apontou para a superioridade do interesse público
primário (e não do secundário) sobre o interesse privado. Atualmente, no entanto, com a relativização da
dicotomia público x privado, a democratização da defesa do interesse público e a complexidade
(heterogeneidade) da sociedade atual, entre outros fatores, vem ganhando força a ideia de “desconstrução”
do princípio da supremacia do interesse público em abstrato. Portanto, não existe um interesse público
único, estático e abstrato, mas sim finalidades públicas normativamente elencadas que não estão
necessariamente em confronto com os interesses privados, razão pela qual seria mais adequado falar em
“princípio da finalidade pública”, em vez do tradicional “princípio da supremacia do interesse público”, o
que reforça a ideia de que a atuação estatal deve sempre estar apoiada em finalidades públicas, não
egoístas, estabelecidas no ordenamento jurídico. A atuação do Poder Público não pode ser pautada pela
supremacia do interesse público, mas, sim, pela ponderação e máxima realização dos interesses envolvidos.

Interesse público primário x Interesse público secundário


O interesse público primário é aquele relacionado à satisfação das necessidades coletivas (justiça,
segurança, bem comum do grupo social etc.), perseguido pelo exercício das atividades-fim do Poder Público,
enquanto o interesse público secundário corresponde ao interesse individual do próprio Estado, estando
relacionado à manutenção das receitas públicas e à defesa do patrimônio público, operacionalizadas
mediante exercício de atividades-meio do Poder Público (Ricardo Alexandre, 2018).

9.1 Princípios x Regras

a) Princípios: Hoje são considerados normas jurídicas primárias. Assim, seu estudo ganhou força e
importância nos últimos anos.
· Possuem grau de abstração maior do que as regras, pois admitem uma série indefinida de
aplicações.
· São mandamentos de otimização, que determinam a realização de algo na maior medida
possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes, admitindo aplicação
gradativa.
· Colisão de princípios: ponderação de interesses no caso concreto.
· Condensam os valores fundamentais da ordem jurídica e se irradiam sobre todo o sistema
jurídico, garantindo-lhe harmonia e coerência.
· Categorias:
✔ Princípios fundamentais: Representam decisões políticas estruturais do Estado,
servindo de matriz para todas as demais normas constitucionais.

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✔ Princípios gerais: Em regra, são importantes especificações dos princípios


fundamentais, possuindo menor grau de abstração e irradiando-se sobre todo
ordenamento jurídico. Ex: Princípio da isonomia e da legalidade.
✔ Princípios setoriais ou especiais: Aplicam-se a determinado tema, capítulo ou título
da Constituição. Ex: L.I.M.P.E – Art. 37 CF (princípios explícitos da Constituição/88).
b) Regras:
· Direcionam-se a situações determinadas.
· O conflito de regras é resolvido na dimensão da validade (“tudo ou nada”), ou seja, a regra é
válida ou inválida, a partir dos critérios de especialidade, hierarquia e cronológico (Dworkin).
· Em alguns casos, o conflito entre regras pode ser resolvido pela dimensão do peso e, não
necessariamente, pelo critério de validade. Ex: vedação à concessão de liminar contra a
Fazenda que esgote o objeto do litígio.

9.2 Princípios Explícitos do Direito Administrativo

São denominados de princípios explícitos do Direito Administrativo aqueles que constam


expressamente no art. 37 da CF/88. São eles: [LIMPE]
● Legalidade
● Impessoalidade
● Moralidade
● Publicidade
● Eficiência

CAIU EM PROVA!

Delegado de Polícia. PC/ES 2019.


Legalidade, publicidade, impessoalidade, moralidade e eficiência são classificadas, pela doutrina, como
princípios expressos da administração pública por possuírem previsão normativa inserta no texto da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 com aplicação direta ao campo do direito
administrativo. Item correto.
Obs.: Além dos princípios expressos pelo Direito Administrativo, existem princípios implícitos extraídos pela
interpretação sistemática e reconhecidos pela jurisprudência e doutrina.

PRINCÍPIOS EXPRESSOS PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS


● Legalidade ● Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade
● Impessoalidade ● Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o
● Moralidade Privado (Princípio da Finalidade Pública)
● Publicidade ● Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade

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● Eficiência ● Princípio Da Continuidade Do Serviço Público


● Princípio da Motivação
● Princípio da Ampla Defesa e Contraditório
● Princípio da Segurança Jurídica e Legítima Confiança
● Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções

10. PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

10.1 Legalidade (Juridicidade)

Pelo princípio da legalidade, a atuação da administração pública subordina-se à lei, de modo que o
agente público somente poderá fazer o que proclama a lei. Assim, não havendo previsão legal, está proibida
a atuação do ente público e qualquer conduta praticada de forma arbitrária por ele.
Ressalta-se que a legalidade no âmbito do direito administrativo não se confunde com a legalidade
privada em que é permitido fazer tudo que não é proibido (autonomia privada). Ex.: O princípio da legalidade
veda à administração a prática de atos inominados, embora estes sejam permitidos aos particulares.

LEGALIDADE ADMINISTRATIVA LEGALIDADE PRIVADA


A atuação da administração pública subordina- Vigora a autonomia privada. Por isso, o particular
se à lei, de modo que o agente público somente pode fazer tudo aquilo que a lei não proibir. Só deve
poderá fazer o que proclama a lei. deixar de fazer se estiver expressamente proibido
em lei.

Note a flagrante diferença entre os regimes jurídicos de direito público e direito privado, uma vez
que, neste último, é possível realizar tudo o que a lei não proíbe, ao passo que, no primeiro, o administrador
somente pode atuar mediante prévia autorização legal.
O princípio da legalidade comporta dois desdobramentos:
(1) Supremacia da lei: A lei prevalece e tem preferência sobre os atos da Administração.
· Relaciona-se com a doutrina da NEGATIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO NEGATIVA), segundo a
qual a lei representa uma limitação à vontade do Administrador.
(2) Reserva de lei: o tratamento de certas matérias deve ser formalizado necessariamente pela
legislação.
· Relaciona-se com a POSITIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO POSITIVA), que condiciona a validade
da atuação dos agentes públicos à prévia autorização legal.
Atualmente, prevalece a ideia da vinculação positiva da Administração à lei, ou seja, a atuação do
administrador depende de prévia habilitação legal para ser legítima.

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CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022): Os princípios constitucionais do direito administrativo não se limitam à lista do art.
37 da CF, embora impliquem, ontologicamente, comandos genéricos incapazes de vincular positivamente a
ação administrativa (item considerado incorreto).

Considerações importantes:
● A legalidade deve ser reinterpretada a partir da constitucionalização do Direito Administrativo.
● Por ser submissa ao princípio da legalidade, a Administração não pode levar a termo interpretação
extensiva ou restritiva de direitos, quando a lei assim não o prever de modo expresso.
● A legalidade encontra-se inserida no denominado PRINCÍPIO DA JURIDICIDADE, que exige a
submissão da atuação administrativa à lei e ao Direito → Exige-se compatibilidade com o BLOCO DE
LEGALIDADE. Pelo princípio da juridicidade, deve-se respeitar, inclusive, a noção de legitimidade do
Direito.

ATENÇÃO AOS CONCEITOS:

I) Juridicidade: Compatibilidade com todo ordenamento jurídico;


II) Legalidade: Compatibilidade com as exigências formais ou padrões materiais da lei;
III) Legitimidade: É o ato que observa não só as formalidades prescritas ou não defesas em lei, mas se há
adequação aos princípios da boa administração, dentro de padrões razoáveis e morais, e aos princípios
constitucionalmente reconhecidos.
IV) Economicidade: Foco no binômio custo/ benefício em face do meio utilizado para satisfação social, junto
ao controle de eficiência da gestão financeira, para atingir melhor índice de resultado.

O que é o PRINCÍPIO DA RESPONSIVIDADE?


Consoante entendimento de Diogo de Figueiredo, a responsividade é um dos princípios modernos que
norteia a atuação da Administração Pública. Determina que, ao atuar, a Administração não obedeça apenas
à legalidade, mas também à legitimidade e ao princípio democrático, ou seja, que atue de modo a atender
os anseios da população. É, então, inegavelmente, um dever jurídico autônomo dos agentes do Poder
Público para, ao perfazerem suas escolhas discricionárias, observarem as demandas da sociedade.

Há exceções ao princípio da legalidade administrativa?


Segundo o Prof. Celso Antônio Bandeira de Melo (Curso de Direito Administrativo, 26ª Ed., pág. 105
e 126-136), é possível apontar três restrições excepcionais ao princípio da legalidade:
a) Estado de defesa;
b) Estado de sítio e

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c) Medida provisória.
Nesses três casos, deve a Administração atuar, mesmo que não haja lei regulamentando sua atuação,
o que revela a mitigação da obrigatoriedade do princípio da legalidade.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022): Os princípios constitucionais do direito administrativo podem justificar decisões
administrativas sem a intermediação da lei, tal como aconteceu com a interpretação feita pelo Conselho
Nacional de Justiça acerca de nepotismo (item considerado correto).

10.2 Princípio Da Impessoalidade

Pelo princípio da impessoalidade, a atuação da administração pública deve ser imparcial, não visando
beneficiar ou prejudicar pessoa determinada, tendo em vista que a sua atuação está voltada à busca do
interesse público em geral.

Obs.: Para o professor Hely Lopes Meirelles (doutrina minoritária), o princípio da impessoalidade nada mais
é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para
atingir o objetivo indicado expressa ou virtualmente pela norma de direito, de forma impessoal. Cuidado!
Em que pese não ser a doutrina que prevalece atualmente, visto que a doutrina moderna entende que os
princípios da impessoalidade e da finalidade não se confundem (são autônomos), tal questão já foi cobrada
para prova de Delegado de Polícia, motivo pelo qual devemos ficar atentos.

O princípio da impessoalidade possui duas acepções:

i. Igualdade ou Isonomia: A Administração deve dispensar tratamento impessoal e isonômico aos


particulares para atender a finalidade pública, vedada a discriminação odiosa ou desproporcional.
Ex.: realização de concurso público é uma forma de observar o princípio da igualdade ou isonomia e
o princípio republicano*.

*APROFUNDANDO: Desde a edição da Constituição da República Federativa do Brasil, efetivou-se, dentro da


ordem constitucional jurídica vigente, o princípio republicano, que, no âmbito do concurso público, consagra
a igualdade de acesso aos cargos e empregos públicos a todos os brasileiros natos e naturalizados, bem como
aos estrangeiros na forma da lei, conforme dicção do art. 37, I, da CRFB.

ii. Proibição de promoção pessoal: Vedação do exercício da máquina pública para atingir interesses
particulares. Veja o art. 37, §1º da CF/88 (Atenção! Esse artigo despenca em prova!):

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“A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos


públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não
podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção
pessoal de autoridades ou serviços públicos”.

JURISPRUDÊNCIA. STF. RE. 191668. Supremo entendeu que a inclusão de slogan de partido político na
publicidade dos atos governamentais também ofende o art. 37, §1º, da Constituição Federal.

CAIU EM PROVA!
Delegado de Polícia PC/ES 2019. Campanhas ou informes de órgãos públicos que apresentem slogans de
promoção pessoal do agente público violam diretamente o princípio constitucional da moralidade
administrativa. Item considerado errado. Viola diretamente o princípio da impessoalidade e, indiretamente,
o da moralidade.

Sobre o tema, destaca-se a jurisprudência do STF:

O § 1º do art. 37 da CF/88 não admite flexibilização por norma infraconstitucional


ou regulamentar. Está em desconformidade com a Constituição Federal a previsão
contida na Lei Orgânica do Distrito Federal que autoriza que cada Poder defina, por
norma interna, as hipóteses pelas quais a divulgação de ato, programa, obra ou
serviço públicos não constituirá promoção pessoal. Essa delegação conferida viola
o § 1º do art. 37 da CF/88, que não admite flexibilização por norma
infraconstitucional ou regulamentar. É de se conferir interpretação conforme a
Constituição ao § 6º do art. 22 da Lei Orgânica do Distrito Federal para que a
divulgação de atos e iniciativas de parlamentares seja tida como legítima apenas
quando efetuada nos ambientes de divulgação do mandatário ou do partido
político, não se havendo de confundi-la com a publicidade do órgão público ou
entidade. STF. Plenário. ADI 6522/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
14/5/2021 (Info 1017).

Obs.: Segundo Odete Medauar, os princípios da impessoalidade, moralidade e publicidade têm ligação
profunda. Mais que isso, há uma instrumentalização recíproca. Dessa forma, a impessoalidade é considerada
um meio para atuações dentro da moralidade, enquanto a publicidade vai dificultar medidas contrárias à
moralidade e impessoalidade, além de a moralidade administrativa implicar observância da impessoalidade
e da publicidade.

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10.3 Princípio da Moralidade

O princípio da moralidade traduz a ideia de honestidade, obediência a princípios éticos, boa-fé,


lealdade, boa administração, correção de atitudes. É diferente da moralidade comum (certo e errado do
convívio social) por ser mais rígida, exigindo a correção de atitudes e a boa administração. Trata-se, portanto,
da atuação segundo padrões éticos de probidade e decoro.
Nessa esteira, segundo Matheus Carvalho (Manual de D. Administrativo, 2014), “trata-se de princípio
que exige a honestidade, legalidade, boa-fé de conduta no exercício da função administrativa, ou seja, a
atuação não corrupta dos gestores públicos, ao tratar com a coisa de titularidade do Estado”.
Odete Medauar aponta que a ação popular é um dos instrumentos constitucionais para sancionar a
inobservância da moralidade, uma vez que pode ser proposta por qualquer cidadão para anular ato lesivo à
moralidade administrativa.

A prática do nepotismo na Administração Pública viola o princípio da moralidade?


R.: De acordo com o STF, nepotismo significa “proteção”, “apadrinhamento”, que é dado pelo
superior para um cônjuge, companheiro ou parente seu, contratado para o cargo ou designado para a função
em virtude desse vínculo. Isso ofende a moralidade. Ressalta-se que o nepotismo é vedado em qualquer dos
Poderes da República por força dos princípios constitucionais da impessoalidade, eficiência, igualdade e
moralidade, independentemente de previsão expressa em diploma legislativo. Assim, o nepotismo não exige
a edição de uma lei formal proibindo a sua prática, uma vez que tal vedação decorre diretamente dos
princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88 (STF Rcl 6.702/PR-MC-Ag).
No entanto, o STF tem afastado a aplicação da SV 13 (que veda o nepotismo) a cargos públicos de
natureza política. Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido
a permanência de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento de que tal prática
não configura nepotismo. Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo, mesmo em se tratando de cargo
político, em 2 casos:
1) Caso fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta ausência de
qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado. STF. 1ª Turma. Rcl 28024 AgR, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.
2) Em casos de fraude à lei.

CAIU EM PROVA!
Delegado de Polícia PC/AC 2017 (IBADE). O Supremo Tribunal Federal já possui pacífica jurisprudência no
sentido de que o Chefe do Poder Executivo Estadual pode nomear parentes em linha reta, a exemplo de uma
filha, para o cargo de Secretária de Estado, porque se trata de uma escolha política e o fato do cargo de
Secretário de Estado ser de natureza política torna esta nomeação insuscetível de controle. Item considerado
incorreto. O fato de afastar a aplicação da SV 13 a cargos de natureza política não significa a insindicabilidade
da referida nomeação pelo Poder Judiciário.

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Súmula vinculante 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em


linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade
nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção,
chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança
ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta em
qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição
Federal. (MUITO IMPORTANTE!)

Dissecando a Súmula Vinculante 13 para facilitar a memorização:

Quem não pode ser nomeado?


R: Cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive,
da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou
assessoramento.

Não haverá nepotismo se a pessoa nomeada possui um parente no órgão, mas


sem influência hierárquica sobre a nomeação. A incompatibilidade da prática
enunciada na SV 13 com o art. 37 da CF/88 não decorre diretamente da existência
de relação de parentesco entre pessoa designada e agente político ou servidor
público, mas de presunção de que a escolha para ocupar cargo de direção, chefia
ou assessoramento tenha sido direcionado à pessoa com relação de parentesco
com quem tenha potencial de interferir no processo de seleção. STF. 2ª Turma. Rcl
18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado
em 23/2/2016 (Info 815).

Não pode ser nomeado para o que?

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SEMANA 01/48

R.: Para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração
Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
municípios.

Vamos relembrar...
CARGO EM COMISSÃO CARGO EM CONFIANÇA ou FUNÇÃO DE
CONFIANÇA
Cargo baseado na confiança, de livre Cargo também baseado na confiança,
nomeação e livre exoneração para atividades de direção, chefia e
(exoneração ad nutum), para assessoramento. No entanto, somente
atividades de direção, chefia e quem ocupa cargo efetivo pode ser
assessoramento. Pode ser ocupado por nomeado.
qualquer pessoa, mas deve ser
guardado um percentual para quem já
é de carreira.

CF, Art. 37, V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores


ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por
servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei,
destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

E o nepotismo cruzado? Também é vedado?


A parte final da súmula proíbe o nepotismo no ajuste mediante designações recíprocas. Não pode na mesma
pessoa jurídica, mas também não pode trocar de parentes, não pode nepotismo cruzado. A União concede
um cargo comissionado para um primo do governador, e o governador para um irmão do presidente.
Designações recíprocas é o nepotismo cruzado, o que é vedado.
A Lei nº 14.230/2021 passou a prever expressamente que a prática do nepotismo configura ato de
improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios
da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os deveres de
honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada por uma das
seguintes condutas: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
(...)
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da
mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento,
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para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função


gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste
mediante designações recíprocas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRN 2021): A Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado Alfa foi alterada pela Assembleia
Legislativa, de maneira que foi inserido um artigo dispondo que é vedado ao servidor público ocupante de
cargo efetivo ou comissionado servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil.
De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a norma mencionada é inconstitucional em
relação aos ocupantes de cargos efetivos, eis que normas inibitórias do nepotismo não têm como campo
próprio de incidência os cargos efetivos, sob pena de violação ao concurso público (item considerado
correto).

10.4 Princípio da Publicidade

O princípio da publicidade impõe a divulgação e exteriorização dos atos do poder público,


guardando relação com o princípio democrático, ao possibilitar o controle social sobre os atos públicos. Em
outras palavras: a atuação da Administração pública deve ser sempre o mais transparente possível!
Inclusive, nos moldes da LIA – Lei de Improbidade Administrativa, constitui-se em ato de
improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública negar publicidade
aos atos oficiais (art. 11, IV, da Lei 8.429/92).
Ressalta-se, ainda, que a publicidade também representa condição de eficácia dos atos
administrativos, de modo que estes só começam a produzir efeitos a partir de sua publicidade. Assim,
enquanto o ato não é publicado, o particular não toma conhecimento deste, e sem tomar ciência, não pode
praticar e/ou observá-lo. Daí porque se fala que a publicidade é um pressuposto de eficácia.

Requisito de eficácia dos atos administrativos = capacidade de produção de seus efeitos

Excepcionalmente, é possível restringir a publicidade em determinados casos, conforme preceitua o


art. 5º da CF/88:
● Art. 5º, X (são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas). O
administrador não pode, com fundamento na publicidade, violar tais valores, sob pena de indenizar
os lesados.
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
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● Art. 5º, XXXIII (segurança do Estado ou da sociedade).


XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

● Art. 5º, LX (processos que correm em sigilo). Em processos tanto judiciais quanto administrativos.
Ex. Em processo administrativo no âmbito do CRM sobre erro médico, só há publicação quando se
tem o resultado.
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa
da intimidade ou o interesse social o exigirem;

Frise-se que a Lei nº 12.527/11 (Lei de Acesso à informação) prevê a possibilidade de restrição ao
fornecimento de informações, se imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado.
Por fim, com fundamento no princípio da publicidade, o STF decidiu ser legítima a possibilidade de
divulgação de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal. Veja:

STF (Info 782): É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela
Administração Pública, dos nomes de seus servidores e do valor dos
correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias. A divulgação dos
vencimentos dos servidores, a ser realizada oficialmente, constitui informação de
interesse público que não viola a intimidade e a segurança deles, uma vez que esses
dados dizem respeito a agentes públicos em exercício nessa qualidade.

Enunciado 15 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: A administração


pública promoverá a publicidade das arbitragens da qual seja parte, nos termos da
Lei de Acesso à Informação.

Mazza afirma que a publicidade dos atos administrativos tem a finalidade de: exteriorizar a vontade
da Administração Pública, divulgando seu conteúdo para conhecimento público; presumir o conhecimento
do ato pelos interessados; tornar exigível o conteúdo do ato; desencadear a produção de efeitos do ato
administrativo; dar início ao prazo para interposição de recursos; indicar a fluência dos prazos de prescrição
e decadência; impedir a alegação de ignorância quanto ao conteúdo do ato, e; permitir o controle de
legalidade do comportamento.

CAIU EM PROVA!

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Delegado de Polícia PCRJ/2022 (CEBRASPE): Determinada empresa de mídia solicita que o governo do
Estado do Rio de Janeiro forneça informações relacionadas a mortes registradas pela polícia em boletins de
ocorrência. No entanto, o governador do RJ se recusa a compartilhar as informações. Além disso, a
companhia de jornal informa que irá cobrir determinada manifestação a ser realizada em prol de maior
transparência e publicidade na administração pública. Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção
correta. Resposta: Não cabe à administração pública analisar o uso que se pretende dar à informação de
natureza pública; a censura prévia inviabiliza até mesmo a apuração jornalística. Assim sendo, a recusa do
governador não se justifica. Fundamento: STJ. 2ª Turma. REsp 1.852.629-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado
em 06/10/2020 (Info 682).

10.5 Princípio da Eficiência

O princípio da eficiência foi inserido pela EC 19/98 para substituir a Administração Pública burocrática
pela gerencial, tendo em vista a necessidade de efetivação célere das finalidades públicas elencadas no
ordenamento jurídico.
Nesse sentido, o princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com
presteza, perfeição e rendimento funcional. Sua aplicação orienta e serve de fundamento para a construção
de uma concepção de Administração Pública Gerencial.
A eficiência ganhou roupagem de direito expresso, mas ela já era exigida como princípio implícito e
já existia de forma expressa no art. 6º da Lei 8987/95, que trata de serviço público. Esse art. 6º traz o conceito
de serviço adequado, exigindo a sua eficiência. Vejamos:

Art. 6º - Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado


ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas
pertinentes e no respectivo contrato.
§1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,
eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas.

A concretização dos resultados deve ser realizada por:


(1) Planejamento: plano de ação, orçamento e prioridades;
(2) Execução: medidas concretas para satisfação dos resultados;
(3) Controle: órgãos controladores não devem se restringir à legalidade formal na análise da juridicidade
da ação administrativa, devendo levar em conta os demais princípios e alcance dos resultados.
Obs: trata-se de norma de aplicabilidade imediata.

A concretização dos resultados, na medida do possível, deve ser realizada por meio de processo
político-participativo. A implementação da eficiência administrativa depende, por exemplo, da adoção de
medidas de desburocratização, de inovação, de transformação digital e da participação do cidadão, na forma
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indicada na Lei 14.129/2021 que dispõe princípios, regras e instrumentos para o Governo Digital e para o
aumento da eficiência pública.
Exemplos de aplicação determinando a observância da aplicação da eficiência: O art. 41 da CF
demonstra a exigência da eficiência na atividade administrativa, ao exigir avaliação especial de desempenho,
assim como a avalição periódica, que depende de regulamentação por lei, pendente ainda.
- avaliação especial de desempenho (art. 41, §4º): “como condição para aquisição da estabilidade, é
obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída para esse fim”.
- avaliação periódica de desempenho (art. 41, III, da CF): “mediante procedimento de avaliação
periódica de desempenho, na forma da lei complementar, assegurada ampla defesa”.
- regra limitadora com gastos de pessoal (art. 169 da CF).

11. OUTROS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

11.1 Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade

O princípio da razoabilidade surgiu no direito norte-americano a partir da evolução jurisprudencial


da cláusula do devido processo legal, a qual deixou de lado seu caráter apenas procedimental (procedural
due process of law – garantias processuais do contraditório, ampla defesa etc.) para incluir seu caráter
substantivo (substantive due process of law – proteção das liberdades e direitos dos indivíduos contra abusos
do Estado).
A razoabilidade é a coerência, lógica, congruência, equilíbrio, tendo sempre por base o padrão do
homem médio. O administrador tem que agir com bom senso, com equilíbrio. Ela proíbe os excessos, mas
também veda a proteção deficiente.
Para os administrativistas, o princípio da proporcionalidade está embutido no princípio da
razoabilidade, pois prevalece a tese de fungibilidade dos princípios.

Obs.: Não se esqueça que estamos diante de um princípio implícito, muito embora, em âmbito federal,
constem do art. 2º da Lei 9.784/99 (regula o processo administrativo federal).

A proporcionalidade subdivide-se em 03 subprincípios:


i. Adequação ou idoneidade: o ato estatal deverá contribuir para a realização do resultado pretendido.
ii. Necessidade ou exigibilidade: caso existam duas medidas adequadas para alcançar o fim perseguido,
o Poder Público deve adotar a medida menos gravosa aos direitos fundamentais (ex. invalidade da
sanção de demissão ao servidor que pratica infração leve).
iii. Proporcionalidade em sentido estrito: é a ponderação, no caso concreto, entre o ônus imposto pela
atuação estatal e o benefício por ela produzido, razão pela qual a restrição ao direito fundamental
deve ser justificada pela importância do princípio ou direito que se quer efetivar.

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ATENÇÃO!
O princípio da proporcionalidade é, ainda, um limite à discricionariedade do legislador, que, muitas vezes,
ultrapassa uma linha tênue e se torna arbitrariedade (a qual é vedada no ordenamento jurídico brasileiro).
Assim, mesmo que se trate de um ato administrativo discricionário, se tal ato não obedecer ao princípio da
proporcionalidade/razoabilidade, será possível a interferência do Poder Judiciário sem que isso acarrete
violação à Separação de Poderes. Isso porque tais princípios, embora implícitos, são princípios
constitucionais que decorrem do devido processo legal. Nesse caso, o Poder Judiciário realiza o controle de
legalidade em sentido amplo, isto é, o controle do ato em relação a leis infraconstitucionais e à própria CF.
Por esse motivo, a doutrina trata desses princípios como limitadores da liberdade e discricionariedade do
administrador.

11.2 Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o Privado (Princípio da Finalidade Pública)

O interesse público divide-se em (doutrina italiana):

i. Interesse público primário: Necessidade de satisfação das necessidades coletivas. É o interesse em


dar cabo às necessidades sociais;
ii. Interesse público secundário: É o interesse do próprio Estado, enquanto sujeito de direitos e
obrigações, ligando-se à noção de interesse do erário. É o interesse do Estado com si próprio, como
pessoa jurídica de direito público que é.

Assim, pelo princípio, há uma primazia de soluções e decisões que atendam ao interesse coletivo, em
detrimento do interesse de um único indivíduo ou grupo seleto de indivíduos.
Parcela da doutrina sustenta a desconstrução do referido princípio pelos seguintes fundamentos: a)
a CF, em diversas passagens, protege a esfera individual (art. 1º, III), não sendo lícito afirmar que o interesse
público irá sempre prevalecer sobre o privado; b) “interesse público” é conceito indeterminado e abstrato;
c) o interesse público é indissociável do interesse privado, sendo ambos consagrados pela CF e incluídos nas
finalidades do Estado; d) incompatibilidade da supremacia do interesse público com postulados normativos
como o da proporcionalidade e o da concordância prática; e) não há um confronto dicotômico entre interesse
público e privado. A ponderação deve, portanto, ser sempre efetuada em concreto.

11.3 Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade

Pelo princípio da autotutela, também denominado de sindicabilidade, a administração pública tem a


prerrogativa de rever os seus próprios atos independentemente de provocação, seja para revogá-los ou para
anulá-los. Este controle pode ser de legalidade ou de mérito. Quando ilegal, o ato será anulado; quando
inoportuno ou inconveniente, será revogado.

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Ressalta-se que o princípio da autotutela não afasta a possibilidade de controle de legalidade pelo
Poder Judiciário, em razão do Sistema de Jurisdição Una.

- Ato ilegal → ANULAÇÃO → efeitos ex tunc;


- Ato inconveniente/inoportuno → REVOGAÇÃO → efeitos ex nunc;

Art. 53 da Lei 9.784/99: A Administração deve anular seus próprios atos, quando
eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

Súmula 346 STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos.

Súmula 473 STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados
de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-
los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Enunciado 20 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: O exercício da


autotutela administrativa, para o desfazimento do ato administrativo que produza
efeitos concretos favoráveis aos seus destinatários, está condicionado à prévia
intimação e oportunidade de contraditório aos beneficiários do ato.

CAIU EM PROVA

Delegado PC/RO 2022 – CEBRASPE. A administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios
que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. O
princípio da administração pública apresentado anteriormente, referente à Súmula n.º 473 do Supremo
Tribunal Federal (STF), é o da: autotutela (resposta correta).

Cuidado (1): Não confundir autotutela com autoexecutoriedade!


● Autotutela: Designa o poder-dever de corrigir ilegalidades e de garantir o interesse público dos atos
editados pela própria Administração;
● Autoexecutoriedade: Prerrogativa de imposição da vontade administrativa, independentemente de
recurso ao Poder Judiciário.

Cuidado (2): Não confundir autotutela com tutela!

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● Autotutela: o princípio da autotutela autoriza a administração a realizar controle dos seus atos,
podendo anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportunos, independentemente de
decisão do Poder Judiciário.
● Tutela: pelo princípio da tutela, a administração exerce controle sobre pessoa jurídica por ela
instituída, com o objetivo de garantir a observância de suas finalidades institucionais. (= supervisão
ministerial = controle finalístico).

A Administração Pública deve observar algum requisito quando for anular atos ilegais?
O STF possui entendimento no sentido de que, a despeito deste poder-dever de anular os atos ilegais,
se a invalidação do ato administrativo repercutir no campo de interesses individuais, faz-se necessária a
instauração de processo administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa (Informativo
763 do STF).

A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais.
No entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de
interesses individuais, faz-se necessária a instauração de procedimento
administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa. Assim, a
prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa
a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo.
STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/12/2013
(Info 732). STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
15/10/2014 (Info 763).

Além disso, o art. 54 da lei 9.784/99 estipula que o direito da Administração de anular os atos
administrativos de que decorram efeitos favoráveis aos destinatários decai em 5 anos, contados da data em
que foram praticados, salvo comprovada má fé.

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que


decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da
data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

Trata-se, portanto, de um prazo para o exercício da autotutela. Ressalta-se que, em princípio, a Lei
nº 9.784/99 deveria regular apenas e unicamente o processo administrativo no âmbito da Administração
Federal direta e indireta. O processo administrativo na esfera dos Estados e dos Municípios deve ser tratado
por meio de legislação a ser editada por cada um desses entes, em virtude da autonomia legislativa que
gozam para regular a matéria em seus territórios.
No entanto, o STJ entende que, se o Estado ou o Município não possuir em sua legislação previsão
de prazo decadencial para a anulação dos atos administrativos, deve-se aplicar, por analogia integrativa, o
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art. 54 da Lei nº 9.784/99. Essa conclusão é baseada nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
O entendimento acima resultou na edição da Súmula 633 do STJ. Vejamos:

Súmula 633 STJ: A Lei 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo
decadencial para revisão de atos administrativos no âmbito da administração
pública federal, pode ser aplicada de forma subsidiária aos Estados e Municípios se
inexistente norma local e específica regulando a matéria.

Há, contudo, julgados que mitigam esse prazo decadencial de 5 anos, a exemplo:

Mesmo depois de terem se passado mais de 5 anos, a Administração Pública pode


anular a anistia política concedida quando se comprovar a ausência de
perseguição política, desde que respeitado o devido processo legal e assegurada
a não devolução das verbas já recebidas.
No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os
atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria
1.104/1964, quando se comprovar a ausência de ato com motivação
exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento
administrativo, o devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas.
Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica, recebeu anistia política, concedida por
meio de portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica
fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo
concedidas anistias políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o
Ministro da Justiça determinou que fossem revistas as concessões de anistia de
inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto processo administrativo
para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação da anistia
política. Mesmo tendo-se passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível,
seja por força da parte final do art. 54 da Lei nº 9.784/99, seja porque o prazo
decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado
afronta diretamente a Constituição Federal. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839) (Info 956). É
possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública, evidenciada a
violação direta do art. 8º do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial
contido na Lei nº 9.784/99. STJ. 1ª Seção. MS 19070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).

Ademais, o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado
afronta diretamente a Constituição Federal. Veja:
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Não existe direito adquirido à efetivação na titularidade de cartório quando a


vacância do cargo ocorre na vigência da CF/88, que exige a submissão a concurso
público (art. 236, § 3º). O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se
aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal. O
art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes
da edição da Lei 8.935/1994, ela já tinha plena eficácia e o concurso público era
obrigatório como condição para o ingresso na atividade notarial e de registro. STF.
Plenário. MS 26860/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/4/2014 (Info 741).

Além disso, o STF decidiu que, em regra, o prazo decadencial para que a Administração anule atos
administrativos inválidos é de 5 anos, aplicável a todos os entes federativos, por força do princípio da
isonomia, ou seja:

É inconstitucional lei estadual que estabeleça prazo decadencial de 10 (dez) anos


para anulação de atos administrativos reputados inválidos pela Administração
Pública estadual. STF. Plenário. ADI 6019/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do
acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12/4/2021 (Info 1012).

Por fim, em decisão na qual se evidencie não acarretar lesão ao interesse público nem prejuízo a
terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria
Administração.

11.4 Princípio Da Continuidade Do Serviço Público

A atuação administrativa, buscando atender da melhor forma o interesse público, preconiza que a
atividade do Estado deve ser prestada de forma contínua, ou seja, sem interrupções, motivo pelo qual o
princípio da continuidade veda a interrupção na prestação dos serviços públicos.
Está expressamente previsto no art. 6º, § 1º, da Lei n. 8.987/95 (Lei de Serviços Públicos), e seu
fundamento reside no fato de a prestação de serviços públicos ser um dever constitucionalmente
estabelecido (art. 175 da CF/88), localizando-se, portanto, acima da vontade da Administração Pública, que
não tem escolha entre realizar ou não a prestação.

Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado


ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas
pertinentes e no respectivo contrato.

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§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,


eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas.

CF, Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.

Entretanto, o art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/95, de acordo com o entendimento doutrinário majoritário
e da jurisprudência do STJ, autoriza o corte no fornecimento do serviço em caso de emergência ou, após
prévio aviso, nas hipóteses de:
a) razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e
b) inadimplemento do usuário.

§3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em


situação de emergência ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.

§4º A interrupção do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste artigo


não poderá iniciar-se na sexta-feira, no sábado ou no domingo, nem em feriado ou
no dia anterior a feriado. (Incluído pela Lei nº 14.015, de 2020)

Obs.: O aviso prévio dado através de comunicado em rádio de amplo alcance satisfaz as condições de aviso
prévio, haja vista se tratar de um dos meios mais populares e o de maior alcance público, motivo pelo qual
há de se reconhecer a validade e eficácia do ato administrativo. Veja a jurisprudência do STJ nesse sentido:

Em regra, o serviço público deverá ser prestado de forma contínua, ou seja, sem
interrupções (princípio da continuidade do serviço público). Excepcionalmente,
será possível a interrupção do serviço público nas seguintes hipóteses previstas
no art. 6º, § 3º da Lei n.º 8.987/95: a) Em caso de emergência (mesmo sem aviso
prévio); b) Por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que
o usuário seja previamente avisado; c) Por causa de inadimplemento do usuário,
desde que ele seja previamente avisado. Se a concessionária de energia elétrica
divulga, por meio de aviso nas emissoras de rádio do Município, que haverá, daqui
a alguns dias, a interrupção do fornecimento de energia elétrica por algumas horas
em virtude de razões de ordem técnica, este aviso atende a exigência da Lei nº
8.987/95? SIM. A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia
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elétrica por meio de emissoras de rádio, dias antes da interrupção, satisfaz a


exigência de aviso prévio, prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95. STJ. 1ª
Turma. REsp 1270339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 15/12/2016 (Info
598).

Obs.: A interrupção por inadimplemento do usuário não pode paralisar serviços essenciais, como, por
exemplo, corte de energia elétrica do hospital público/iluminação pública. Nos chamados “serviços
essenciais”, mantém-se o serviço e prossegue com a cobrança paralelamente.

Nesse sentido, vale destacar que, recentemente, o STJ entendeu que é possível o corte de energia
elétrica por fraude no medidor, DESDE que sejam observados alguns requisitos.

Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no


aparelho medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos
princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do
fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor,
pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período de 90
(noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte
em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de
a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida,
inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação. STJ. 1ª
Seção. REsp 1412433-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/04/2018
(recurso repetitivo) (Info 634).

Podem ser apontados diversos desdobramentos normativos decorrentes do princípio da


continuidade dos serviços públicos, dentre os quais:

a. O direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica (art. 37, VII, da CF). Lembre-se que o policial civil não pode fazer greve!

Policias civis são proibidos de fazer greve. O exercício do direito de greve, sob
qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os servidores
públicos que atuem diretamente na área de segurança pública. STF. Plenário. ARE
654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

Explicação via Dizer o Direito (muito importante para fundamentar em uma prova discursiva!)

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Direito de greve é incompatível com a carreira policial


Não é possível compatibilizar que o braço armado do Estado faça greve porque isso
colocaria em risco a segurança pública, a ordem e a paz social. Os integrantes das
carreiras policiais possuem o dever de fazer intervenções e prisões em flagrante,
sendo isso inconciliável com o exercício da greve. Como já afirmado, não há
possibilidade de nenhum outro órgão da iniciativa privada suprir a atividade
policial. Se esta entra em greve, não há como sua função ser substituída.
Vale ressaltar que a atividade policial, além de ser importantíssima por si só, se for
paralisada, afetará também as atribuições do Ministério Público e do próprio Poder
Judiciário.

Greve não é direito absoluto


A greve não é um direito absoluto e, neste caso, deverá ser feito um balanceamento
entre o direito de greve e o direito de toda a sociedade à segurança pública e à
manutenção da ordem pública e paz social.
Neste caso, há a prevalência do interesse público e do interesse social sobre o
interesse individual de uma categoria. Por essa razão, em nome da segurança
pública, os policiais não podem fazer greve.
Importante destacar que a ponderação de interesses aqui não envolve direito de
greve X continuidade do serviço público. A greve dos policiais é proibida não por
causa do princípio da continuidade do serviço público (o que seria muito pouco),
mas sim por conta do direito de toda a sociedade à garantia da segurança pública,
à garantia da ordem pública e da paz social.

b. Restrição à aplicabilidade da exceptio non adimpleti contractus, pois o contratado só pode


interromper a execução do contrato após atraso superior a 2 (dois) meses, contado da emissão da
nota fiscal, dos pagamentos ou de parcelas de pagamentos devidos pela Administração por despesas
de obras, serviços ou fornecimentos (art. 137, §2º, IV, da Lei n. 14.133/2021);
c. Possibilidade de intervenção na concessionária para garantia de continuidade na prestação do serviço
(art. 32 da Lei n. 8.987/95);

Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, com o fim de assegurar
a adequação na prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento das normas
contratuais, regulamentares e legais pertinentes.
Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decreto do poder concedente, que
conterá a designação do interventor, o prazo da intervenção e os objetivos e limites
da medida

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d. Ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços vinculados ao objeto do
contrato nas hipóteses de: i) risco à prestação de serviços essenciais; ii) necessidade de acautelar
apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, inclusive após extinção do contrato.
(art. 104, V, da Lei n. 14.133/2021);

Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei
confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:
V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis,
pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade de
acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como
na hipótese de rescisão do contrato administrativo.

e. Reversão de bens do concessionário indispensáveis à continuidade do serviço (art. 36 da Lei n.


8.987/95);

Art. 36. A reversão no advento do termo contratual far-se-á com a indenização das
parcelas dos investimentos vinculados a bens reversíveis, ainda não amortizados
ou depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo de garantir a
continuidade e atualidade do serviço concedido

f. Encampação do contrato de concessão mediante a retomada do serviço pelo concedente (art. 37 da


Lei n. 8.987/95);

Art. 37. Considera-se encampação a retomada do serviço pelo poder concedente


durante o prazo da concessão, por motivo de interesse público, mediante lei
autorizativa específica e após prévio pagamento da indenização, na forma do artigo
anterior.

g. Necessidade de institutos como a suplência, a delegação e a substituição para preencher as funções


públicas temporariamente vagas.

JURISPRUDÊNCIA EM TESE – STJ

É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando


inadimplente o usuário, desde que precedido de notificação.

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É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por razões de


ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que precedido de
notificação.

É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica quando puder afetar o


direito à saúde e à integridade física do usuário.

É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando


inadimplente pessoa jurídica de direito público, desde que precedido de notificação
e a interrupção não atinja as unidades prestadoras de serviços indispensáveis à
população.

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando


inadimplente unidade de saúde, uma vez que prevalecem os interesses de proteção
à vida e à saúde.

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando a


inadimplência do usuário decorrer de débitos pretéritos, uma vez que a interrupção
pressupõe o inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo.

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por débitos de


usuário anterior, em razão da natureza pessoal da dívida.

É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito irrisório,


por configurar abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, sendo cabível a indenização ao consumidor por danos morais.

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando o débito


decorrer de irregularidade no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica,
apurada unilateralmente pela concessionária.

O corte no fornecimento de energia elétrica somente pode recair sobre o imóvel


que originou o débito, e não sobre outra unidade de consumo do usuário
inadimplente.

11.5 Princípio da Motivação

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Impõe à Administração Pública o dever de indicação dos pressupostos de fato e de direito que
determinaram a prática do ato (art. 2º, parágrafo único, VII, da Lei n. 9.784/99). Assim, a validade do ato
administrativo está condicionada à apresentação por escrito dos fundamentos fáticos e jurídicos
justificadores da decisão adotada.
Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os
critérios de:
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão;

Trata-se de um mecanismo de controle sobre a legalidade e legitimidade das decisões da


Administração Pública.
Está previsto no art. 93, X, da CF/88 e no art. 50 da Lei 9.784/99. Apesar de haver divergência, a
corrente majoritária defende que a motivação é obrigatória tanto nos atos vinculados quanto nos atos
discricionários.
A motivação deve ser apresentada simultaneamente ou no instante seguinte à prática do ato.
Motivação intempestiva (posterior) ou extemporânea (anterior) causa nulidade do ato administrativo. Ainda,
a motivação deve ser explícita, clara e congruente.
O princípio da motivação comporta exceção, por exemplo, nomeação ou exoneração (exoneração
"ad nutum") de cargos comissionados. A exoneração "ad nutum" refere-se àquela aplicável aos ocupantes
de cargo em comissão, e prescinde (abstrai/não precisa) de motivação da Administração.
No entanto, se mesmo essa motivação sendo “desnecessária”, a Administração optar por motivá-la,
estará vinculada aos motivos que explicitou no ato, em decorrência da chamada: TEORIA DOS MOTIVOS
DETERMINANTES. Isso porque os motivos vinculam todo o ato, e se não forem respeitados, o ato torna-se
nulo.

Observações importantes:
● Motivação aliunde ou per relationem – É aquela indicada fora do ato, consistente em concordância com
fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas. Ocorre todas as vezes que
a motivação de um determinado ato remete à motivação de ato anterior que embasa sua edição. Ex.:
parecer opina pela possibilidade de prática de ato de demissão de servidor; ao demitir o servidor, a
autoridade não precisa repetir os fundamentos explicitados pelo parecer, bastando, na fundamentação
do ato de demissão, declarar a concordância com os argumentos expedidos no ato opinativo.

● Motivação x Motivo x Móvel:


· Motivo = fato que autoriza a realização do ato administrativo;
· Motivação = exigência de enunciação dos motivos.
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· Móvel = intenção declarada pelo agente como justificativa para a prática do ato.

11.6 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório

Por força do princípio do contraditório, as decisões administrativas devem ser tomadas considerando
a manifestação dos interessados. Para isso, é necessário dar oportunidade para que os afetados pela decisão
sejam ouvidos antes do resultado final do processo.
O princípio da ampla defesa assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, a
utilização dos meios de prova, dos recursos e dos instrumentos necessários para defesa de seus interesses
perante o Judiciário e a Administração.

Art. 5º, LV, CF.: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes.

Ao garantir o direito à ampla defesa “com os meios e recursos a ela inerentes”, o art. 5º, LV, da
Constituição Federal incluiu, no bojo do dispositivo, o princípio do duplo grau, verdadeiro desdobramento da
ampla defesa.
Sobre os princípios do contraditório e da ampla defesa, foi editada a Súmula Vinculante 3 do STF:

“Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o


contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e
pensão”.

Veja a jurisprudência sobre o tema:

Em caso de irregularidades do Estado-membro em convênio federal, a União


somente poderá inscrever o ente no SIAFI, no CADIN e no CAUC após o término
do processo de prestação de contas especial, observados os princípios
constitucionais da ampla defesa e do contraditório
O cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à ampla
defesa e ao contraditório. Isso porque, muitas vezes, a inscrição pode ter, além de
motivação meramente financeira, razões políticas. Assim, ao poder central (União)
é possível suspender imediatamente o repasse de verbas ou a execução de
convênios, mas o cadastro deve ser feito nos termos da lei, ou seja, mediante a
verificação da veracidade das irregularidades apontadas. Isso porque o cadastro
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tem consequências, como a impossibilidade da repartição constitucional de verbas


das receitas voluntárias. A tomada de contas especial, procedimento por meio do
qual se alcança o reconhecimento definitivo das irregularidades, com a devida
observância do contraditório e da ampla defesa, tem suas regras definidas em lei.
Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida e certa, e a decisão tem
eficácia de título executivo extrajudicial. STF. Plenário. ACO 2892 AgR/DF, rel. orig.
Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/9/2019
(Info 951).

11.7 Princípio da Segurança Jurídica e Legítima Confiança

Segundo Maria Di Pietro, o direito administrativo brasileiro herdou do direito alemão (já caiu em
prova) a inspiração para aplicação do princípio da segurança jurídica, especialmente sob o aspecto subjetivo
da proteção à confiança.

● Segurança jurídica: abarca dois sentidos:


· Objetivo: estabilização do ordenamento jurídico (proteção à coisa julgada, ao direito
adquirido e ao ato jurídico perfeito).
· Subjetivo: proteção à confiança das pessoas em relação às expectativas geradas por
promessas e atos estatais. É princípio autônomo.

● Segurança jurídica x Legítima confiança


· Segurança jurídica: possui caráter amplo, aplicado às relações públicas e privadas;
· Legítima confiança: tutela apenas a esfera jurídica do particular, protegendo-o da atuação
arbitrária do Estado.

A noção de proteção da confiança legítima aparece como uma reação à utilização abusiva de normas
jurídicas ou atos administrativos que surpreendam bruscamente o seu destinatário. Um exemplo de
aplicação do princípio da legítima confiança diz respeito à impossibilidade de devolução de valores recebidos
de boa-fé por servidores públicos, em virtude de errônea interpretação de lei pela Administração:

STJ (Info 579): Os herdeiros devem restituir os proventos que, por erro operacional
da Administração Pública, continuaram sendo depositados em conta de servidor
público após o seu falecimento. Não se analisa aqui se o herdeiro estava ou não de
boa-fé. O herdeiro é obrigado a devolver porque ele não tem qualquer razão
jurídica para ficar com aquele dinheiro em prejuízo da Administração Pública. Não
havia nenhuma relação jurídica entre o herdeiro e o Estado. O fundamento aqui é
o princípio que veda o enriquecimento sem causa (art. 884 do CC).
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Requisitos para configurar a confiança legítima:


● Ato da administração suficientemente conclusivo para gerar no administrado confiança:
· De que a Administração atuou corretamente;
· De que a conduta do afetado é lícita na relação jurídica que mantém com a Administração;
· De que as suas expectativas são razoáveis.
● Presença de signos externos que orientam o cidadão a adotar determinada conduta;
● Ato da administração que reconhece ou constitui uma situação jurídica individualizada, cuja
durabilidade é confiável;
● Causa idônea para provocar a confiança do afetado;
● Cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e obrigações no caso.

Quando NÃO se aplica o princípio da confiança legítima:


● Hipóteses de má-fé do administrado;
● Quando existir mera expectativa de direitos pelo interessado (ex. concessão de liminar, de caráter
precário, que possa ser revista).

11.8 Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções

O princípio da intranscendência subjetiva significa que não podem ser impostas sanções e restrições
que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as
causadoras do ato ilícito.
Na jurisprudência do STF, encontramos dois exemplos de aplicação desse princípio em casos
envolvendo inscrição de Estados e Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:

● 1ª acepção: quando a irregularidade foi praticada pela gestão anterior.


Existem julgados do STF afirmando que se a irregularidade no convênio foi praticada pelo gestor
anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e corrigir as
falhas (ex: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de ressarcimento contra o
antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser incluído nos cadastros de
inadimplentes da União.
Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a
aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações
anteriores.
Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito
democraticamente e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que acarretaram a
inscrição combatida”. Logo, deve-se aplicar o princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo
que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou recebimento de
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repasses federais. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux,
julgados em 23/6/2015 (Info 791).
O STJ comunga também desse entendimento, exigindo sempre que a gestão sucessora tenha tomado
as providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos. Por isso, editou a súmula 615.
Vejamos:
Súmula 615 STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em
cadastros restritivos fundada em irregularidades na gestão anterior quando, na
gestão sucessora, são tomadas as providências cabíveis à reparação dos danos
eventualmente cometidos.

● 2ª acepção: quando a irregularidade foi praticada por uma entidade do Estado/Município ou pelos
outros Poderes que não o Executivo
Além do caso acima explicado, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções pode ser
aplicado também nas situações em que uma entidade estadual/municipal (ex: uma autarquia) descumpriu
as regras do convênio e a União inscreve não apenas essa entidade, como também o próprio ente
(Estado/Município) nos cadastros restritivos.
Nesse sentido: (...) O postulado da intranscendência impede que sanções e restrições de ordem
jurídica superem a dimensão estritamente pessoal do infrator. Em virtude desse princípio, as limitações
jurídicas que derivam da inscrição, em cadastros públicos de inadimplentes, das autarquias, das empresas
governamentais ou das entidades paraestatais não podem atingir os Estados-membros, projetando, sobre
estes, consequências jurídicas desfavoráveis e gravosas, pois o inadimplemento obrigacional – por revelar-
se unicamente imputável aos entes menores integrantes da administração descentralizada – só a estes pode
afetar.

Os Estados-membros e o Distrito Federal, em consequência, não podem sofrer


limitações em sua esfera jurídica, motivadas pelo só fato de se acharem
administrativamente vinculadas a eles as autarquias, as entidades paraestatais, as
sociedades sujeitas a seu poder de controle e as empresas governamentais
alegadamente inadimplentes e que, por tal motivo, hajam sido incluídas em
cadastros federais (CAUC, SIAFI, CADIN, v.g.). (...) STF. Plenário. ACO 1848 AgR, Rel.
Min. Celso de Mello, julgado em 06/11/2014.

Poder Executivo não pode ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União
por irregularidades praticadas pelos outros Poderes ou órgãos autônomos
A imposição de sanções ao Poder Executivo estadual em virtude de pendências de
órgãos dotados de autonomia institucional e orgânico-administrativa, tais como o
Ministério Público estadual, constitui violação do princípio da intranscendência, na
medida em que o Governo do Estado não tem competência para intervir na esfera
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orgânica dessa instituição autônoma. O Poder Executivo não pode ser impedido de
contratar operações de crédito em razão do descumprimento dos limites setoriais
de despesa com pessoal por outros poderes e órgãos autônomos (art. 20, II, e 23, §
3º, da Lei de Responsabilidade Fiscal). STF. Plenário. ACO 3072, Rel. Ricardo
Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que Estado-
membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de
restrição de crédito
Caso concreto: O Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o IBAMA,
duas autarquias federais. Em razão desses débitos, o Estado foi inserido no SIAFI,
no CADIN e no CAUC, cadastros de inadimplência mantidos pela União. Tanto o
INCRA como o IBAMA ajuizaram execução fiscal para cobrar os débitos e o Estado
expediu precatórios, que, no entanto, ainda estão pendentes de pagamento. O
Estado do Amapá ajuizou ação cível originária contra a União pedindo a exclusão
do Estado dos cadastros restritivos. Legitimidade da União para figurar no polo
passivo A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que
Estado-membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de
restrição de crédito, mesmo que os débitos sejam decorrentes de dívidas com
entidades federais (e não com a administração direta). Isso porque os Sistemas
SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União, conforme suas leis de
regência, do que decorre a legitimidade desta para figurar no polo passivo.
Manutenção nos cadastros viola o princípio da razoabilidade É indevida a inscrição
do Estado-membro nos cadastros desabonadores em decorrência de pendências
administrativas relativas a débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso
porque a CF/88 já previu que, em caso de descumprimento do pagamento do
precatório, existe a possibilidade de intervenção federal no ente inadimplente.
Logo, é incompatível com o postulado da razoabilidade onerar duplamente o
Estado-membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a
sua inscrição em cadastros desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo
Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

Referências bibliográficas:

- Rafael Carvalho Resende Oliveira. Curso de Direito Administrativo.


- Matheus Carvalho: Manual de Direito Administrativo.
- José Santos Carvalho Filho. Curso de Direito Administrativo.

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QUESTÕES PROPOSTAS

Caro Aluno,
As questões propostas serão disponibilizadas e deverão ser resolvidas dentro da plataforma (em
avaliações), de modo que, ao final, você terá acesso aos respectivos comentários.
As questões a seguir trata-se de um demonstrativo para que você possa conhecer o material do Dedicação
Delta. Mas, não se esqueça: dentro da plataforma temos muitas questões disponíveis e comentadas sobre
cada tema visto em cada meta estudada.
Vamos juntos.
Equipe DD.

Questões

https://www.qconcursos.com/questoes-de-
concursos/questoes?discipline_ids%5B%5D=2&exclude_nullified=true&exclude_outdated=true&job_ids%5
B%5D=169&subject_ids%5B%5D=896&subject_ids%5B%5D=15938&subject_ids%5B%5D=15939&subject_i
ds%5B%5D=15940&subject_ids%5B%5D=16163&subject_ids%5B%5D=16164&subject_ids%5B%5D=16165

1 - 2022 -CESPE / CEBRASPE -PC-RJ -CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia
Os princípios constitucionais do direito administrativo

A-podem ser aplicados diretamente pelo gestor público, mas não em sentido contrário à lei (contra legem),
ainda que o interesse público aponte neste sentido.
B-podem justificar decisões administrativas sem a intermediação da lei, tal como aconteceu com a
interpretação feita pelo Conselho Nacional de Justiça acerca de nepotismo.
C-são enumerados taxativamente no caput do art. 37 da CF, que define seus limites e possibilidades.
D-não se limitam à lista do art. 37 da CF, embora impliquem, ontologicamente, comandos genéricos
incapazes de vincular positivamente a ação administrativa.
E-são imponderáveis, porquanto enunciam máximas fundamentais para a compreensão do direito
administrativo.A

2 - 2021 - FAPEC -PC-MS -FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado de Polícia


Dos cenários abaixo apresentados, assinale a alternativa correta que informa os princípios que fundamentam
a prática do ato delineado.
I - O Secretário do Estado de Saúde, quando do recebimento do processo licitatório deflagrado para fins de
aquisição de medicamento, na modalidade pregão, identificou que fora exigido como requisito de habilitação

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técnica o Certificado de Boas Práticas de Distribuição e/ou Armazenagem, o qual não encontra amparo legal,
hipótese em que declarou nulo o procedimento desde a publicação do ato convocatório, determinando, por
conseguinte, a exclusão desse requisito. II - Em determinado procedimento licitatório, o pregoeiro,
verificando equívocos na composição da planilha de custo da prestação de serviço com dedicação de mão de
obra, com fundamento no artigo 43, §3º, da Lei nº 8.666/1993, solicitou à empresa classificada na licitação
por menor preço o refazimento da planilha de custo, condicionando a observação do valor global proposto
(valor final ofertado). III - A Empresa Canarinho Ltda. apresenta recurso contra ato de habilitação da Empresa
Cenourinha Eireli, sob a fundamentação de que esta possui contrato com o Município de Campo Grande para
a prestação de serviço de limpeza e jardinagem, hipótese em que recebeu, no período compreendido entre
1 de janeiro de 2021 e 30 de setembro de 2021 (data da realização da sessão pública da abertura de certame),
a importância de R$ 6.000.000,00 (seis milhões). Em que pese não ter juntado documento comprovando esse
fato, o Estado de Mato Grosso do Sul realizou diligência e identificou a procedência da alegação. IV - A
Administração Pública que tenha realizado determinado pagamento a servidor público, em razão de
interpretação equivocada de lei, não poderá exigir a restituição do respectivo valor.
Assinale a alternativa correta.

A-Princípio da autotutela – princípio do formalismo extremado – princípios da oficialidade e da verdade


material – princípio da boa-fé.
B-Princípio do devido processo legal – princípio do formalismo exacerbado – princípios da oficialidade e da
verdade material – princípio da boa-fé.
C-Princípio da autotutela – princípio do formalismo moderado – princípios da oficialidade e da verdade
material – princípio da participação.
D-Princípio da autotutela – princípio do formalismo moderado – princípios da oficialidade e verdade material
– princípio da boa-fé.
E-Princípio do devido processo legal – princípio do formalismo moderado – princípios da oficialidade e
verdade material – princípio da boa-fé.

3 - 2021 - FGV - PC-RN - FGV - 2021 - PC-RN - Delegado de Polícia Civil Substituto
A Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado Alfa foi alterada pela Assembleia Legislativa, de maneira que foi
inserido um artigo dispondo que é vedado ao servidor público ocupante de cargo efetivo ou comissionado
servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil. De acordo com a jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, a norma mencionada é:

A-constitucional, porque existe presunção de ofensa aos princípios expressos da administração pública da
impessoalidade e da moralidade;
B-constitucional, porque está de acordo com os princípios da administração pública e a súmula vinculante
que veda o nepotismo,e é aplicável para todos os entes federativos;

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C-constitucional,porque cada Estado da Federação tem autonomia para ampliar livremente as hipóteses de
nepotismo previstas em súmula vinculante;
D-inconstitucional, porque os ocupantes de cargos efetivos ou comissionados no âmbito da polícia civil são
considerados agentes políticos e, por isso, não incide a súmula vinculante que proíbe o nepotismo;
E-inconstitucional em relação aos ocupantes de cargos efetivos eis que normas inibitórias do nepotismo não
têm como campo próprio de incidência os cargos efetivos sob pena de violação ao concurso público.

4 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado
“O Direito Administrativo, como é entendido e praticado entre nós, rege efetivamente não só os atos do
Executivo, mas também os do Legislativo e os do Judiciário, praticados como atividade paralela e
instrumental das que lhe são específicas e predominantes, isto é, a de legislação e a de jurisdição. O conceito
de Direito Administrativo Brasileiro, para nós, sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios jurídicos que
regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente
os fins desejados pelo Estado.” (MEIRELLES, Hely Lopes. O Direito Administrativo Brasileiro. 29ª ed., São
Paulo: Malheiros Editora, 2004.)

Assinale a alternativa INCORRETA:

A-Autorização, permissão e concessão são formas de o Estado autorizar, permitir e conceder aos particulares
a exploração de bens e serviços públicos.
B-A legalidade administrativa é diferente da legalidade civil, uma vez que aquela dita o limite da atuação do
administrador público, conforme imposto pela lei e esta permite ao particular aquilo que a lei não proíbe.
C-O poder de polícia decorre da capacidade administrativa e concede também a prerrogativa de função
legislativa para a positivação de tipos penais em âmbito de direito penal aos agentes de estado que possuem
esse poder.
D-O princípio da supremacia do interesse público, não desconsidera os interesses particulares/individuais,
não obstante informa ao agente administrativo que o interesse público prevalece sobre interesses privados.
E-São princípios de direito administrativo a moralidade administrativa, a supremacia do interesse público, a
motivação, a publicidade e transparência, a proporcionalidade e razoabilidade administrativas.

5- 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado
A administração pública, no Brasil, é regida por uma série de princípios. Tendo em vista a natureza jurídica
destes princípios, leia as afirmativas a seguir.

I - Legalidade, publicidade, impessoalidade, moralidade e eficiência são classificadas, pela doutrina, como
princípios expressos da administração pública por possuírem previsão normativa inserta no texto da

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Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 com aplicação direta ao campo do direito
administrativo.
II - O princípio da eficiência da administração se aplica ao servidor, para efeito de sua aptidão ao cargo,
durante o estágio probatório e ao logo do exercício de sua vida funcional.
III - Campanhas ou informes de órgãos públicos que apresentem slogans de promoção pessoal do agente
público violam diretamente o princípio constitucional da moralidade administrativa.
IV - A supremacia do interesse público é considerada, pela doutrina, como um princípio implícito da
administração pública
V - Um princípio é considerado implícito ao direito administrativo em razão de este ser aplicável ao campo
da administração pública, ainda que tal princípio seja próprio a um outro campo do direito.

Marque a alternativa correta:

A-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da III.


B-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da I.
C-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da V.
D-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da IV.
E-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da II.

Respostas8

8
1: B 2: D 3: E 4: C 5: A
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Comentários

1 - 2022 -CESPE / CEBRASPE -PC-RJ -CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia
Os princípios constitucionais do direito administrativo

A-podem ser aplicados diretamente pelo gestor público, mas não em sentido contrário à lei (contra legem),
ainda que o interesse público aponte neste sentido.
B-podem justificar decisões administrativas sem a intermediação da lei, tal como aconteceu com a
interpretação feita pelo Conselho Nacional de Justiça acerca de nepotismo.
C-são enumerados taxativamente no caput do art. 37 da CF, que define seus limites e possibilidades.
D-não se limitam à lista do art. 37 da CF, embora impliquem, ontologicamente, comandos genéricos
incapazes de vincular positivamente a ação administrativa.
E-são imponderáveis, porquanto enunciam máximas fundamentais para a compreensão do direito
administrativo.

COMENTÁRIO
A – INCORRETA
Os princípios constitucionais podem, sim, ser aplicados até mesmo contra legem.
Isso porque não são os princípios constitucionais que devem respeito à lei, mas sim o inverso: ou seja, É A
LEI QUE DEVE ESTAR EM CONSONÂNCIA COM AS NORMAS CONSTITUCIONAIS. Do contrário, a lei
é inconstitucional.

B - CORRETA
Os princípios da Administração pública definem a organização e a forma de atuar do ente estatal,
estabelecendo o sentido geral de sua atuação. Logo, podem justificar decisões administrativas sem a
intermediação da lei.

C - INCORRETA
O Rol é exemplificativo.

D - INCORRETA
Os princípios, com o pós-positivismo, ostentam natureza normativa e força cogente, de modo que vinculam,
sim, positivamente a ação administrativa.

E - INCORRETA
São ponderáveis por meio da aplicação do princípio da proporcionalidade (e sua máxima) no caso concreto
- técnica da ponderação de interesses.

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GABARITO: B

2 - 2021 - FAPEC -PC-MS -FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado de Polícia


Dos cenários abaixo apresentados, assinale a alternativa correta que informa os princípios que fundamentam
a prática do ato delineado.
I - O Secretário do Estado de Saúde, quando do recebimento do processo licitatório deflagrado para fins de
aquisição de medicamento, na modalidade pregão, identificou que fora exigido como requisito de habilitação
técnica o Certificado de Boas Práticas de Distribuição e/ou Armazenagem, o qual não encontra amparo legal,
hipótese em que declarou nulo o procedimento desde a publicação do ato convocatório, determinando, por
conseguinte, a exclusão desse requisito. II - Em determinado procedimento licitatório, o pregoeiro,
verificando equívocos na composição da planilha de custo da prestação de serviço com dedicação de mão de
obra, com fundamento no artigo 43, §3º, da Lei nº 8.666/1993, solicitou à empresa classificada na licitação
por menor preço o refazimento da planilha de custo, condicionando a observação do valor global proposto
(valor final ofertado). III - A Empresa Canarinho Ltda. apresenta recurso contra ato de habilitação da Empresa
Cenourinha Eireli, sob a fundamentação de que esta possui contrato com o Município de Campo Grande para
a prestação de serviço de limpeza e jardinagem, hipótese em que recebeu, no período compreendido entre
1 de janeiro de 2021 e 30 de setembro de 2021 (data da realização da sessão pública da abertura de certame),
a importância de R$ 6.000.000,00 (seis milhões). Em que pese não ter juntado documento comprovando esse
fato, o Estado de Mato Grosso do Sul realizou diligência e identificou a procedência da alegação. IV - A
Administração Pública que tenha realizado determinado pagamento a servidor público, em razão de
interpretação equivocada de lei, não poderá exigir a restituição do respectivo valor.
Assinale a alternativa correta.

A-Princípio da autotutela – princípio do formalismo extremado – princípios da oficialidade e da verdade


material – princípio da boa-fé.
B-Princípio do devido processo legal – princípio do formalismo exacerbado – princípios da oficialidade e da
verdade material – princípio da boa-fé.
C-Princípio da autotutela – princípio do formalismo moderado – princípios da oficialidade e da verdade
material – princípio da participação.
D-Princípio da autotutela – princípio do formalismo moderado – princípios da oficialidade e verdade material
– princípio da boa-fé.
E-Princípio do devido processo legal – princípio do formalismo moderado – princípios da oficialidade e
verdade material – princípio da boa-fé.

COMENTÁRIO
Para responder a questão, vamos abordar os princípios:

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Princípio da autotutela, que é o princípio que determina que a administração pública pode rever seus
próprios atos, devendo anulá-los quando eivados de vício de legalidade e podendo revogá-los por
motivos de oportunidade e conveniência.
Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos;
ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Princípio do formalismo moderado é o princípio que determina que nos procedimentos administrativos
deve prevalecer a informalidade e só devem ser exigidas as formalidades necessárias ao exercício do
direito dos administrados e comprovação da veracidade dos atos.

Princípio da oficialidade, que determina que, nos procedimentos administrativos, as autoridades


públicas podem agir de ofício determinando a produção de provas e impulsionando o processo, mesmo
quando não provocadas por interessados. A ação do Estado é também amparada pelo princípio da
verdade real.

Princípio da boa-fé, já que os pagamentos indevidos aos servidores públicos decorrentes de erro
administrativo (operacional ou de cálculo), não embasado em interpretação errônea ou equivocada da
lei pela Administração, estão sujeitos à devolução, ressalvadas as hipóteses em que o servidor, diante do
caso concreto, comprova sua boa-fé objetiva, sobretudo com demonstração de que não lhe era possível
constatar o pagamento indevido (STF 2021). Frisa-se que tal exemplo também se relaciona com o
princípio da legítima confiança.

Com a explicação fica fácil identificar a resposta sendo a alínea “D” a correta.

GABARITO: D

3 - 2021 - FGV - PC-RN - FGV - 2021 - PC-RN - Delegado de Polícia Civil Substituto
A Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado Alfa foi alterada pela Assembleia Legislativa, de maneira que foi
inserido um artigo dispondo que é vedado ao servidor público ocupante de cargo efetivo ou comissionado
servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil. De acordo com a jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, a norma mencionada é:

A-constitucional, porque existe presunção de ofensa aos princípios expressos da administração pública da
impessoalidade e da moralidade;

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B-constitucional, porque está de acordo com os princípios da administração pública e a súmula vinculante
que veda o nepotismo,e é aplicável para todos os entes federativos;
C-constitucional,porque cada Estado da Federação tem autonomia para ampliar livremente as hipóteses de
nepotismo previstas em súmula vinculante;
D-inconstitucional, porque os ocupantes de cargos efetivos ou comissionados no âmbito da polícia civil são
considerados agentes políticos e, por isso, não incide a súmula vinculante que proíbe o nepotismo;
E-inconstitucional em relação aos ocupantes de cargos efetivos eis que normas inibitórias do nepotismo não
têm como campo próprio de incidência os cargos efetivos sob pena de violação ao concurso público.

COMENTÁRIO
A Súmula Vinculante 13 se refere até o parente em 3º grau (tio e sobrinho), portanto o primo (4º grau)
não está sob a incidência da súmula (STF, Rcl 9.013). Ainda segundo a Corte, essa vedação ao nepotismo
não pode alcançar os servidores admitidos mediante prévia aprovação em concurso público, ocupantes
de cargo de provimento efetivo, haja vista que isso poderia inibir o próprio provimento desses cargos,
violando, dessa forma, o art. 37, I e II da CF/1988, que garante o livre acesso aos cargos, funções e
empregos públicos aos aprovados em concurso público (Inf. 786 do STF).

O princípio da moralidade é a exigência de que a atuação da administração Pública seja ética. Destaca-se
que a moralidade, juntamente com o da impessoalidade, justifica a Súmula Vinculante n. 13 do STF que
veda o nepotismo:

Súmula Vinculante 13: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em


linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade
nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção,
chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança
ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em
qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição
Federal.”

GABARITO: E

4 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado
“O Direito Administrativo, como é entendido e praticado entre nós, rege efetivamente não só os atos do
Executivo, mas também os do Legislativo e os do Judiciário, praticados como atividade paralela e
instrumental das que lhe são específicas e predominantes, isto é, a de legislação e a de jurisdição. O conceito
de Direito Administrativo Brasileiro, para nós, sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios jurídicos que

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regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente
os fins desejados pelo Estado.” (MEIRELLES, Hely Lopes. O Direito Administrativo Brasileiro. 29ª ed., São
Paulo: Malheiros Editora, 2004.)

Assinale a alternativa INCORRETA:

A-Autorização, permissão e concessão são formas de o Estado autorizar, permitir e conceder aos particulares
a exploração de bens e serviços públicos.
B-A legalidade administrativa é diferente da legalidade civil, uma vez que aquela dita o limite da atuação do
administrador público, conforme imposto pela lei e esta permite ao particular aquilo que a lei não proíbe.
C-O poder de polícia decorre da capacidade administrativa e concede também a prerrogativa de função
legislativa para a positivação de tipos penais em âmbito de direito penal aos agentes de estado que possuem
esse poder.
D-O princípio da supremacia do interesse público, não desconsidera os interesses particulares/individuais,
não obstante informa ao agente administrativo que o interesse público prevalece sobre interesses privados.
E-São princípios de direito administrativo a moralidade administrativa, a supremacia do interesse público, a
motivação, a publicidade e transparência, a proporcionalidade e razoabilidade administrativas.

Questão tranquila sem maiores explicações:


O poder de polícia é uma ferramenta administrativa e não penal. O poder de polícia se refere à
prerrogativa que a Administração Pública possui de condicionar ou limitar bens, direitos e atividades com
fim a resguardar o interesse público.

GABARITO: C

5- 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado
A administração pública, no Brasil, é regida por uma série de princípios. Tendo em vista a natureza jurídica
destes princípios, leia as afirmativas a seguir.

I - Legalidade, publicidade, impessoalidade, moralidade e eficiência são classificadas, pela doutrina, como
princípios expressos da administração pública por possuírem previsão normativa inserta no texto da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 com aplicação direta ao campo do direito
administrativo.
II - O princípio da eficiência da administração se aplica ao servidor, para efeito de sua aptidão ao cargo,
durante o estágio probatório e ao logo do exercício de sua vida funcional.
III - Campanhas ou informes de órgãos públicos que apresentem slogans de promoção pessoal do agente
público violam diretamente o princípio constitucional da moralidade administrativa.

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IV - A supremacia do interesse público é considerada, pela doutrina, como um princípio implícito da


administração pública
V - Um princípio é considerado implícito ao direito administrativo em razão de este ser aplicável ao campo
da administração pública, ainda que tal princípio seja próprio a um outro campo do direito.

Marque a alternativa correta:

A-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da III.


B-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da I.
C-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da V.
D-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da IV.
E-Todas as afirmativas estão corretas, à exceção da II.

COMENTÁRIO
Veja a redação do art. 37 da CRFB:

CRFB, “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
[...]".

Campanhas ou informes de órgãos públicos que apresentem slogans de promoção pessoal do agente
público violam diretamente o princípio constitucional da IMPESSOALIDADE administrativa.
As demais estão corretas.

GABARITO: A

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META 6 – REVISÃO SEMANAL

Direito Penal: Noções Iniciais E Princípios

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, II
⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII
⦁ Art. 5º, XXXIX
⦁ Art. 5º, §3º
⦁ art. 7º, X
⦁ Art. 22, I e §único
⦁ art. 227, § 4º

CP
⦁ Art. 1º
⦁ Art. 59
⦁ Art. 71

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 8º, item 4 do Pacto de São José da Costa Rica

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII, CF/88


⦁ Art. 5º, XXXIX, CF/88
⦁ Art. 22, I e §único, CF/88
⦁ Art. 1º, CP

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.

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Direito Constitucional: Direitos E Garantias Fundamentais

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 1º, III
⦁ Art. 3º
⦁ Art. 4º, 5º, 6º e 7º
⦁ Art. 8º a 11º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Lei nº 9.296/96 (Lei de interceptação telefônica)
⦁ Lei nº 9.455/97 (Lei de tortura)
⦁ Lei nº 7.716/90 (Lei de racismo)
⦁ Lei nº 12.037/2009 (Lei de Identificação criminal)
⦁ Lei nº 12.016/2009 (Lei do mandado de segurança)
⦁ Lei nº 13.300/2016 (Lei do mandado de injunção)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

PRINCIPAIS INCISOS DO ART. 5º, CF/88:


⦁ Inc. I, II, IV
⦁ Inc. III e XLII (leitura conjunta com a Lei nº 7.716/90)
⦁ Inc. VIII (leitura conjunta com o art. 15, IV, CF/88)
⦁ Inc. XI (leitura conjunta com os arts. 3-B, XI; 240, §1º e 243 do CPP)
⦁ Inc. XII (leitura conjunta com a Lei nº 9.296/96)
⦁ Inc. XVI a XXI (muito cobrados em prova objetiva!)
⦁ Inc. XXXIII a XXXV
⦁ Inc. XXXVII (leitura conjunta com o inc. LIII – princípio do juiz natural)
⦁ Inc. XXXIX e XL (leitura conjunta com o art. 1º e 2º do CP)
⦁ Inc. XLIII a LV (leitura obrigatória!)
⦁ Inc. LVI (leitura conjunta com o art. 157, CPP)
⦁ Inc. LVII e LX
⦁ Inc. LVIII (leitura conjunta com o art. 3º, 4º e 5º da Lei nº 12.037/2009)
⦁ Inc. LXI a LXVII (leitura conjunta com os art. 301 a 310, CPP)
⦁ Inc. LXVIII
⦁ Inc. LXIX e LXX (leitura conjunta com a Lei nº 12.016/2009)
⦁ Inc. LXXI (leitura conjunta com a Lei nº 13.300/2016)
⦁ Inc. LXXII a LXXVIII
⦁ §§1º e 3º

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SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-
base.
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem
de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Súmula 2-STJ: Não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra "a") se não houve recusa de informações
por parte da autoridade administrativa.
Súmula vinculante 1-STF: Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem
ponderar as circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante do
termo de adesão instituído pela Lei Complementar nº 110/2001.
Súmula 654-STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição da
República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado.
Súmula 280-STJ: O art. 35 do Decreto-Lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão administrativa, foi
revogado pelos incisos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988.
Súmula vinculante 25-STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito.
Súmula 419-STJ: Descabe a prisão civil do depositário infiel.

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Direito Administrativo: Noções Iniciais E Princípios

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, X, XXXIII e LX
⦁ Art. 5º, LV
⦁ Art. 37, caput e §1º
⦁ Art. 37, VII
⦁ Art. 93, IX
⦁ Art. 41
⦁ Art. 169, §3º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 11, IV, Lei 8429/92
⦁ Art. 6º, 32 e 37 da lei 8987/95
⦁ Art. 3º e 58, da Lei 8666/93
⦁ Art. 2º, 50, 53 e 54 da Lei 9784/99

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 37, caput e §1º, CF/88 (importantíssimo!)
⦁ Art. 5º, LV e LX
⦁ Art. 6º, §1º e §3º lei 8987/95
⦁ Art. 2º, caput da Lei 9784/99 (análise comparativa com o art. 37, caput da CF/88 e art. 3º da Lei
8666/93)
⦁ Art. 53 da Lei 9784/99

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 633-STJ: A Lei nº 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo decadencial para a revisão
de atos administrativos no âmbito da Administração Pública federal, pode ser aplicada, de forma
subsidiária, aos estados e municípios, se inexistente norma local e específica que regule a matéria.
Súmula vinculante 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou
por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa
jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão
ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta em qualquer
dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

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Súmula 473-STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Súmula 346-STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
Súmula 6-STF: A revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato
aprovado pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de aprovada por aquele tribunal, ressalvada a
competência revisora do judiciário.

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