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SUMÁRIO
Introdução .......................................................................................................... 7

Módulo 1 – Princípios ....................................................................................... 8


Seção 1 – Princípios dos Recursos Trabalhistas .................................................. 8
1.1 Conceito e Importância dos Princípios no Sistema Recursal Trabalhista ...................... 8
1.2 Princípios Recursais em Espécie ................................................................................... 9
1.2.1 Duplo Grau de Jurisdição ...................................................................................... 10
1.2.2 Taxatividade .......................................................................................................... 11
1.2.3 Singularidade ou Unirrecorribilidade ..................................................................... 11
1.2.4 Fungibilidade ......................................................................................................... 11
1.2.5 Proibição da reformatio in pejus ............................................................................ 12
1.2.6 Dialeticidade .......................................................................................................... 12
1.2.7 Irrecorribilidade em separado das Decisões Interlocutórias ................................. 13
1.2.8 Princípio da Voluntariedade .................................................................................. 14
1.2.9 Lealdade e Boa-Fé ................................................................................................ 14
1.2.10 Duração Razoável do Processo na Esfera Recursal .......................................... 15

Seção 2 – Pressupostos Recursais ...................................................................... 16


2.1 Conceito ....................................................................................................................... 16
2.1.1 Pressupostos Recursais ........................................................................................ 17
2.1.2 Cabimento ............................................................................................................. 17
2.1.3 Legitimidade .......................................................................................................... 17
2.1.3.1 Legitimidade de Terceiro ................................................................................ 18
2.1.3.2 Legitimidade do INSS ..................................................................................... 18
2.1.3.3 Legitimidade do Perito Advogado................................................................... 18
2.1.3.4 Legitimidade do Ministério Público ................................................................. 18
2.1.3.5 Capacidade das Partes .................................................................................. 19
2.1.3.6 Representação ............................................................................................... 19
2.1.3.7 Regularização da Representação Processual ............................................... 19
2.1.3.8 Capacidade Postulatória (jus postulandi) ....................................................... 21
2.1.4 Interesse ................................................................................................................ 21
2.1.4.1. Interesse recursal da parte que fora beneficiada pela extinção do processo
sem resolução de mérito ............................................................................................ 22
2.1.5. Inexistência de fatos extintivos ou modificativos do direito de recorrer ............... 22
2.2 Preparo ......................................................................................................................... 23
2.2.1 Depósito Recursal ................................................................................................. 24
2.2.2 Constitucionalidade do Depósito Recursal ............................................................ 25

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2.2.3 Possibilidade de dispensa do depósito recursal ao litigante beneficiário da justiça
gratuita............................................................................................................................ 26
2.3 Instrução Normativa nº 03/93 TST ........................................................................... 26
2.4 Regularidade Formal .................................................................................................... 27
2.5 Recurso interposto por meio de fax e eletrônicos ........................................................ 29
2.6 Instrução Normativa n° 30/07 TST ............................................................................... 30
2.7 Tempestividade ............................................................................................................ 30
2.8 Privilégios de Prazo ...................................................................................................... 31

Seção 3 – Os Efeitos dos Recursos Trabalhistas................................................ 32


3.1 Conceito ....................................................................................................................... 32
3.2 Efeito Devolutivo .......................................................................................................... 32
3.2.1 Extensão e Profundidade do Efeito Devolutivo ..................................................... 33
3.3 Efeito Translativo .......................................................................................................... 33
3.4 Efeito Regressivo ......................................................................................................... 33
3.5 Efeito Substitutivo ......................................................................................................... 34
3.6 Efeito Suspensivo ......................................................................................................... 34
3.7 Efeito Expansivo ........................................................................................................... 34

Módulo 2 – recursos em espécie ................................................................... 36


Seção 1 – Recurso Ordinário ................................................................................. 36
1.1 Introdução............................................................................................................... 36
1.2 Juízo de Retratação ............................................................................................... 37
1.3 Julgamento do Mérito diretamente pelo Tribunal ................................................... 38
1.4 Recurso Ordinário no Rito Sumaríssimo ................................................................ 39

Seção 2 – Embargos e Agravos ............................................................................ 40


2.1 Embargos de Declaração ............................................................................................. 40
2.1.1 Competência ......................................................................................................... 40
2.1.2 Prazo para interposição......................................................................................... 40
2.1.3 Hipóteses de Cabimento ....................................................................................... 41
2.2 Embargos de Divergência e Embargos Infringentes .................................................... 42
2.2.1 Embargos de Divergência ..................................................................................... 42
2.2.2.1 Competência .................................................................................................. 42
2.2.1.2 Prazo para interposição.................................................................................. 42
2.2.1.3 Hipóteses de Cabimento ................................................................................ 42
2.2.2. Embargos Infringentes ......................................................................................... 43
2.2.2.1 Competência .................................................................................................. 43
2.2.2.2 Prazo para Interposição ................................................................................. 43
2.2.2.3 Hipóteses de Cabimento ................................................................................ 43
2.2.2.4 Pressupostos Recursais ................................................................................. 44
2.3 Agravo de Instrumento ................................................................................................. 44
2.3.1 Competência ......................................................................................................... 44

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2.3.2 Prazo para Interposição ........................................................................................ 45
2.3.3 Hipóteses de Cabimento ....................................................................................... 45
2.4 Agravo de Petição ........................................................................................................ 45
2.4.1 Competência ......................................................................................................... 45
2.4.2 Prazo para Interposição ........................................................................................ 45
2.4.3 Hipóteses de Cabimento ....................................................................................... 45
2.5 Agravo Regimental e Agravo Interno ........................................................................... 46

Seção 3 – Recursos aos Tribunais Superiores .................................................... 46


3.1 Recurso de Revista ...................................................................................................... 46
3.1.1 Introdução.............................................................................................................. 46
3.1.2 Prazo ..................................................................................................................... 47
3.1.3 Preparo .................................................................................................................. 48
3.1.4 A Regularidade Formal do Recurso de Revista .................................................... 49
3.1.6 Pressupostos Específicos de Admissibilidade ...................................................... 51
3.1.7 Prequestionamento ............................................................................................... 52
3.1.8 Transcendência ..................................................................................................... 54
3.1.9 Direito Intertemporal .............................................................................................. 56
3.1.10 Hipóteses de Cabimento ..................................................................................... 56
3.1.10.1 Divergência Jurisprudencial ......................................................................... 57
3.1.10.2 Incidente de Uniformização Trabalhista ....................................................... 60
3.1.10.3 Direito Intertemporal ..................................................................................... 63
3.1.10.4 Violação literal de disposição de lei federal ou afronta direta e literal à
Constituição Federal................................................................................................... 64
3.1.11 Rito Sumaríssimo ................................................................................................ 65
3.1.12 Fase de Execução ............................................................................................... 65
3.1.13 Quadro resumido das hipóteses de cabimento do recurso de revista ................ 66

Módulo 3 – Teoria Geral dos Precedentes .................................................... 67


Seção 1 – Cenário Pró-Aplicação dos Precedentes ............................................ 67
1.1 Introdução............................................................................................................... 67
1.2 Conceito, estrutura, preocupações e vantagens dos precedentes judiciais........... 69
1.3 Efeitos dos Precedentes......................................................................................... 70
1.4 Distinção do precedente e técnicas de superação do precedente: overruling e
overriding ............................................................................................................................ 71

Seção 2 – Precedentes no Processo do Trabalho ............................................... 72


2.1 Introdução .................................................................................................................... 72
2.2 Incidente de resolução de demandas repetitivas no âmbito dos Tribunais do Trabalho
........................................................................................................................................... 72
2.2.1. Conceito e pressupostos ...................................................................................... 73
2.2.2. Legitimidade e Admissibilidade ............................................................................ 73
2.2.3. Competência, seleção de causas, instrução e processamento ........................... 74

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2.2.4. Efeitos do julgamento ........................................................................................... 75
2.3 Incidente de assunção de competência ....................................................................... 76
2.4. Incidente de uniformização de jurisprudência ............................................................. 77

Seção 3 – Recursos de revista repetitivos ........................................................... 77


3.1 Pressupostos e processamento dos Recursos de Revista Repetitivos ....................... 77
3.1.1 Tratamento na origem antes de subir para o TST ................................................ 78
3.1.2 Decisão de afetação e suspensão dos processos ................................................ 78
3.1.3 Assunção de competência em recursos de revista repetitivos ............................. 80
3.1.4 Trâmite de julgamento ........................................................................................... 80
3.1.5 Após decisão do repetitivo e aplicação do precedente ......................................... 81

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INTRODUÇÃO

A impugnação dos provimentos judiciais não se restringe aos recursos. Ao lado


deles, existem outros mecanismos previstos no ordenamento jurídico para atacar as
decisões proferidas pelos órgãos jurisdicionais. Nesse contexto, as impugnações dos
provimentos jurisdicionais compreendem, por exemplo: as ações autônomas de impug-
nação, que buscam impugnar a decisão judicial criando uma nova relação processual.

Por seu turno, os sucedâneos recursais são todos os meios de impugnação que
não se incluem no conceito de recurso ou de ação autônoma de impugnação. Trata-se,
portanto, de conceito residual, podendo ser providências corretivas, como exemplo, erro
de grafia, ou providências ordenadoras do procedimento, como exemplo, uma correição
parcial. Finalmente, temos ainda os recursos em espécie.

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MÓDULO 1 – PRINCÍPIOS

Seção 1 – Princípios dos Recursos Trabalhistas

1.1 Conceito e Importância dos Princípios no Sistema Recursal


Trabalhista

Os recursos trabalhistas possuem algumas peculiaridades em relação aos de-


mais recursos. Basicamente, são elas:

(I) Irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias;

(II) Inexigibilidade de fundamentação;

(III) Efeito devolutivo dos recursos e

(IV) Instância única nos dissídios de alçada.

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Conceitualmente, os princípios, são enunciados amplos, máximas ou assertivas
que no seu todo servem como base e sustentáculo de informação ao legislador na ela-
boração de uma norma. No seu bojo, trazem também meios para orientação ao Juiz
quando da sua interpretação e clarificação de uma norma, na fase em que o Magistrado
fundamenta as suas decisões.

Essas assertivas servem para o suprimento de lacunas e possíveis omissões da


lei, atuando, dessa forma, como uma maneira de integrar a norma à lei. No que concerne
especificamente aos princípios dos recursos trabalhistas, é importante destacar que,
além dos princípios que norteiam o processo em geral, existem outros que são aplicá-
veis, com maior ênfase, aos recursos inerentes aos processos trabalhistas e que de
certa forma estão presentes no rol apresentado pelos estudiosos do tema.

Via de regra, são considerados os seguintes princípios para os recursos traba-


lhistas:

(I) Taxatividade dos recursos;

(II) Instrumentalidades das formas;

(III) Duplo grau de jurisdição;

(IV) Irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias;

(V) Substituição;

(VI) Do non reformatio in pejus e;

(VII) Da unirrecorribilidade.

É importante destacar que, alguns autores também citam nesse rol o princípio
da voluntariedade, em face da necessidade de manifestação de vontade do interessado
em submeter a demanda a novo julgamento. A única exceção a esse princípio seria a
hipótese de reexame necessário das decisões contrárias à Fazenda Pública.

1.2 Princípios Recursais em Espécie

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1.2.1 Duplo Grau de Jurisdição

O duplo grau de jurisdição é uma previsão normativa, explícita ou implícita, con-


tida em um sistema jurídico com o intuito de que, as decisões judiciais de um processo
possam ser submetidas, por intermédio de um recurso voluntário ou de ofício, a um novo
julgamento por um órgão judicial, geralmente colegiado, e hierarquicamente superior.

Em suma, tal princípio visa estabelecer a possibilidade de a sentença definitiva


ser reapreciada por órgão de jurisdição, geralmente de hierarquia superior à daquele
que a proferiu, o que se faz necessário pela interposição de recurso.

O duplo grau de jurisdição foi previsto expressamente no art. 158 da Constituição


brasileira de 1824. As demais Cartas republicanas, inclusive a CF de 1988 (art. 5º, LIV,
LV, LVI, §§ 2º e 3º), não o apresentam de forma explícita, o que propicia divergências
doutrinárias e jurisprudenciais acerca não somente de sua existência, como também do
seu status constitucional.

É preciso destacar, contudo, que a Convenção Americana sobre Direitos Huma-


nos de 1969, ratificada pelo Brasil por meio do Decreto nº 678/1992, assegura, no art.
8º (Garantias Judiciais), § 10, a toda pessoa o “direito de recorrer da sentença para juiz
ou tribunal superior”.

Dessa forma, é possível afirmar que duplo grau de jurisdição é um direito hu-
mano conferido a toda pessoa de interpor recurso das decisões judiciais para um juiz
ou um tribunal superior. Ademais, é também um direito fundamental, já que foi recepci-
onado pelos §§ 2º e 3º do art. 5º da CF/1988.

No entanto, embora seja humano e fundamental, o direito de recorrer não é ab-


soluto. Nesse sentido, o STF (HC n. 88.420/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, ª 1T.,
DJe-032, divulg. 6-6-2007, publ. 8-6-2007) já deixou assentado que o “acesso à instân-
cia recursal superior consubstancia direito que se encontra incorporado ao sistema pá-
trio de direitos e garantias fundamentais (...) Ainda que não se empreste dignidade cons-
titucional ao duplo grau de jurisdição, trata-se de garantia prevista na Convenção Inte-
ramericana de Direitos Humanos, cuja ratificação pelo Brasil deu-se em 1992, data pos-
terior à promulgação do Código de Processo Penal (...) A incorporação posterior ao

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ordenamento brasileiro de regra prevista em tratado internacional tem o condão de mo-
dificar a legislação ordinária que lhe é anterior”.

A Súmula 303 do TST também mitiga o princípio do duplo grau de jurisdição ao


desobrigar a remessa necessária ex officio nas sentenças desfavoráveis às pessoas
jurídicas de direito público “quando a condenação não ultrapassar o valor correspon-
dente a: a) 1.000 (mil) salários mínimos para a União e as respectivas autarquias e
fundações de direito público; b) 500 (quinhentos) salários mínimos para os Estados, o
Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municí-
pios que constituam capitais dos Estados; c) 100 (cem) salários mínimos para todos os
demais Municípios e respectivas autarquias e fundações de direito público.

1.2.2 Taxatividade

De acordo com o princípio da taxatividade dos recursos, as partes só podem


pedir a revisão dos atos decisórios por intermédio de remédios processuais admitidos
como recurso pela legislação processual, inclusive de caráter regimental.

1.2.3 Singularidade ou Unirrecorribilidade

O princípio em comento não permite a interposição de mais de um recurso contra


a mesma decisão. Logo, em um único processo trabalhista, não podem ser utilizados
vários recursos simultaneamente, mas, tão somente, sucessivamente.

1.2.4 Fungibilidade

Respeitada a tempestividade e atenuada a adequação, aceita-se um recurso por


outro, nos moldes do art. 283 do CPC.

É importante destacar que o STF só admite a fungibilidade quando haja funda-


das dúvidas sobre o recurso aplicado, descartando dessa forma, o erro grosseiro no
manejo do recurso pertinente.

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1.2.5 Proibição da reformatio in pejus

Pelo princípio da non reformatio in pejus, é vedado ao tribunal, no julgamento de


um recurso, proferir decisão mais desfavorável ao recorrente do que aquela recorrida.

Nos moldes do art. 1002 do CPC, a sentença pode ser impugnada total ou par-
cialmente, sendo que o recurso devolve ao tribunal o conhecimento da matéria impug-
nada conforme artigo 1.013 do CPC.

Nesse sentido, se a sentença for objeto de recurso por uma das partes, o julga-
mento pelo tribunal não pode agravar a condenação que não foi objeto de recurso, sob
pena de violação ao princípio em comento.

Por outro lado, o art. 1008 do CPC também aplicado subsidiariamente ao Pro-
cesso do Trabalho, esclarece que o julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sen-
tença ou decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso.

Logo, a parte da sentença que não foi objeto de recurso transitará em julgado,
sendo irreformável pelo tribunal, não podendo ser atingida pelo julgamento da outra
parte devolvida no recurso à instância superior, sob pena de ofensa ao princípio da non
reformatio in pejus.

É importante salientar que tal princípio protege tanto o recorrente quanto recor-
rido. Ademais, o Supremo Tribunal de Justiça, por meio da Súmula 45, firmou entendi-
mento de que, no caso de reexame necessário, é defeso ao tribunal agravar a conde-
nação imposta à Fazenda Pública.

1.2.6 Dialeticidade

O recorrente, pelo princípio da dialeticidade, deve fundamentar a sua irresigna-


ção especificamente quanto à motivação adotada pela decisão, com a indicação das
razões de fato e de direito com que pretende modificá-la ou anulá-la.

Dessa forma, vedam-se os recursos genéricos e sem fundamentação específica.


Esse princípio é aplicado ao processo do trabalho, apesar do artigo 899 da CLT admitir
a possibilidade de interposição de recurso por simples petição.

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1.2.7 Irrecorribilidade em separado das Decisões Interlocutórias

O processo do trabalho caracteriza-se pelo elevado grau de celeridade em sua


tramitação. Nesse sentido, vários procedimentos foram adotados para atender a esse
comando implícito ou explícito na legislação trabalhista, dentre eles a impossibilidade
de recurso direto contra as decisões interlocutórias que não sejam terminativas do feito.

O referido princípio pode ser extraído por meio da leitura do artigo 893, § 1º da
CLT que dispõe que “os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio juízo ou
Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões interlocutórias so-
mente em recurso da decisão definitiva.

Ademais, importa destacar o entendimento do TST, que é revelado pela Súmula


nº214:

Súmula nº 214 do TST

DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. IRRECORRIBILIDADE (nova


redação) - Res. 127/2005, DJ 14, 15 e 16.03.2005

Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as


decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo
nas hipóteses de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho
contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal
Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante re-
curso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incom-
petência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Re-
gional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado,
consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT.

Salienta-se as exceções à regra geral da irrecorribilidade imediata das decisões


interlocutórias. São exceções em relação às decisões: (I)de TRT contrário a Súmula ou
OJ do TST, (II) impugnáveis mediante recursos para o próprio tribunal e (III) decisões
de acolhimento de exceção de incompetência em razão do lugar, com remessa dos
autos para outro Tribunal distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado.

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1.2.8 Princípio da Voluntariedade

O direito de recorrer participa do caráter dispositivo do próprio direito de ação. O


Poder Judiciário não toma, na matéria, a iniciativa. Portanto, sem a provocação da parte,
não há prestação jurisdicional (CPC, art. 2º).

Logo, sem a formulação do recurso pela parte, não é possível que o tribunal o
aprecie. O juiz não tem o poder de, ex oficio, recorrer pela parte, ainda que se trate de
incapaz.

Vale dizer: sem o recurso, não se devolve ao juiz ou ao tribunal a possibilidade


de rejulgar as questões já decididas, dentro da sistemática própria dos recursos civis e
trabalhistas. Nesse sentido, só às partes e aos terceiros prejudicados (e eventualmente
o Ministério Público) é concedido pela lei o direito de recorrer. Ademais, ainda em de-
corrência do mesmo princípio, não é dado ao tribunal prosseguir no processamento do
recurso se a parte dele desiste (art. 998).

1.2.9 Lealdade e Boa-Fé

Lealdade é probidade, honestidade e boa-fé. A probidade e a honestidade são


exigidas das partes durante o curso do processo em relação ao juiz e ao seu adversário,
enquanto a boa-fé é uma consequência das primeiras e significa que as partes devem
realmente acreditar na justiça e na procedência das suas postulações. Embora o legis-
lador se preocupe com esses deveres especialmente em relação às partes, na verdade
eles se aplicam a todos os sujeitos processuais, inclusive ao juiz, conforme disposição
do art. 5º do CPC/2015.

Em suma, a lealdade processual, enquanto honestidade e boa-fé, se concretiza


numa série de regras que estão consagradas na lei processual em vários artigos, espe-
cialmente nos artigos 77 a 81 do Código de 2015, que tratam dos deveres das partes e
da sua responsabilidade por dano processual.

Em prol desse princípio, veracidade é um dever das partes. A lealdade também


se impõe às partes e, consequentemente, aos seus advogados o dever de respeitar a
posição da outra e a autoridade do juiz, não praticando atos que possam dificultar o
exercício dos seus direitos e poderes.

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Importa destacar que o princípio da lealdade é um princípio geral do processo e
um princípio informador do sistema das nulidades. Nesse último sentido, se a parte deu
causa a uma nulidade relativa, ela não pode argui-la a seu favor porque isso seria o
mesmo que premiar a sua deslealdade. A consequência do princípio da lealdade com
relação à nulidade relativa é a sua convalidação, ou seja, o fato de o ato, apesar do
prejuízo sofrido pela parte que o praticou e posteriormente alegou o seu vício, ser repu-
tado válido.

Dessa maneira, o princípio da lealdade, no tocante às nulidades absolutas, é


aplicado através das sanções à litigância de má-fé e o ressarcimento dos danos causa-
dos pela nulidade. Na verdade, o princípio da lealdade se aplica às nulidades absolutas
de uma forma indireta, não pela convalidação do ato absolutamente nulo, mas pela im-
posição à parte desleal de sanções pela litigância de má-fé.

As condutas impostas pelo princípio da lealdade, que constituem deveres pro-


cessuais das partes, são resguardadas por uma série de sanções, que, apesar da di-
versidade, estão muito longe de criar um autêntico interesse da parte, em agir em con-
formidade com a lei, são exemplos: ineficácia da alienação (CPC de1973, art. 592, inc.
V; CPC de 2015, art. 790, inc. V); multas pecuniárias (CPC de 1973, arts. 601, 538,
parágrafo único, 746, parágrafo único, e 475-J; CPC de 2015, arts. 774, parágrafo único,
1.026, § 2º, e 523, § 1º); penas criminais (Código Penal, arts. 179 e 347); indenização
das perdas e danos (CPC de1973, arts. 18 e 881, parágrafo único; CPC de 2015, art.
81) etc.

1.2.10 Duração Razoável do Processo na Esfera Recursal

Trata-se de garantia fundamental acrescida pela Emenda Constitucional nº


45/2004, com a instituição do inciso LXXVIII adicionado ao art. 5º da CRFB/1988, que
conduz a observância de medidas de aceleração da prestação jurisdicional.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros resi-
dentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

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LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são asse-
gurados a razoável duração do processo e os meios que garan-
tam a celeridade de sua tramitação.

§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais


têm aplicação imediata.

§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não


excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos hu-


manos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Na-
cional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Interna-


cional a cuja criação tenha manifestado adesão

Seção 2 – Pressupostos Recursais

2.1 Conceito

A admissibilidade dos recursos está condicionada à satisfação, pelo recorrente,


de pressupostos (ou requisitos) previstos em lei para que o recurso interposto possa ser
conhecido.

O não atendimento desses pressupostos recursais gera a inadmissibilidade (ou


não conhecimento) do recurso pelo mesmo órgão judicial prolator da decisão ou por
outro órgão hierarquicamente superior.

A ausência de satisfação dos pressupostos de admissibilidade impede o exame


do mérito do recurso pelo órgão competente para sua apreciação. A doutrina classifica

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os pressupostos recursais, também chamados de requisitos de admissibilidade recursal
em subjetivos e objetivos.

Destaca-se que além desses pressupostos genéricos, há também pressupostos


específicos comuns aos recursos de natureza extraordinária como o prequestiona-
mento, a delimitação de matéria, a existência de divergência jurisprudencial etc.

2.1.1 Pressupostos Recursais

Os pressupostos subjetivos ou intrínsecos dizem respeito aos atributos do recor-


rente, ademais, são legitimidade, capacidade e interesse.

Em contrapartida, os pressupostos objetivos são: a recorribilidade do ato, a ade-


quação, a tempestividade, a representação, o preparo e a inexistência de fato extintivo
ou impeditivo do direito de recorrer.

2.1.2 Cabimento

É necessário verificar se o ato judicial atacado é recorrível, pois o recurso so-


mente poderá ser admitido, se inexistir, no ordenamento jurídico, óbice ao exercício do
direito de recorrer. Com efeito, há alguns pronunciamentos judiciais que não são passí-
veis de ataque por via recursal, como, por exemplo, as sentenças proferidas nas causas
de alçada, salvo se o recurso versar matéria constitucional (Lei n. 5.584/70, art. 2º, §
4º), os despachos de mero expediente (NCPC, art. 1.001) e, salvo situações excepcio-
nais, as decisões interlocutórias (CLT, art. 893, § 1º, e Súmula 214 do TST).

Destarte, verificando o órgão julgador a existência de veto legal ao exercício da


pretensão recursal, não poderá admitir (juízo de admissibilidade a quo) ou não conhecer
do recurso (juízo de admissibilidade ad quem), por não ser recurso cabível na espécie,
uma vez que o pronunciamento judicial atacado é irrecorrível.

2.1.3 Legitimidade

Como já observado, trata-se de pressuposto recursal subjetivo. O artigo 996 do


CPC institui que o recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudi-
cado e pelo Ministério público como parte ou como fiscal da ordem jurídica.

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Nessa ótica, se o recurso for interposto por parte ilegítima ele não será conhe-
cido por ausência de pressuposto recursal subjetivo.

Cabe ressaltar que o Ministério Público do Trabalho possui legitimidade recursal


nos processos em que figura como parte, bem como naqueles em que atua como fiscal
da lei custos legis conforme previsão do artigo 83, VI, da LC 75/93.

2.1.3.1 Legitimidade de Terceiro

Depreende-se da leitura do artigo 996 do NCPC que, em alguns casos, permite-


se que outras pessoas que não tenham participado da relação processual, mas que
tenham sido atingidas pelo julgado, possam recorrer da decisão.

2.1.3.2 Legitimidade do INSS

No caso do acordo homologado, a autorização para recorrer se encontra consig-


nada na própria norma, de conformidade com o artigo 832, §4º da CLT.

2.1.3.3 Legitimidade do Perito Advogado

O perito não tem legitimidade para recorrer contra a parte da decisão que fixa
seus honorários. Para expressar seu inconformismo, pode, tão somente, valer-se do
mandado de segurança.

Isso ocorre porque, enquanto auxiliar do juízo, exerce uma função pública, que
não se identifica com o interesse necessário para a interposição do recurso.

2.1.3.4 Legitimidade do Ministério Público

Também possui legitimidade ad recursum o Ministério Público do Trabalho, tanto


nos processos em que figura como parte, como naqueles em que oficia como custos
legis, segundo o disposto no art. 83, VI, da Lei Complementar n. 75/1993.

No que concerne ao Ministério Público do Trabalho é importante destacar que


ele tem legitimidade para recorrer tanto nos processos nos quais figura como parte,

18
quanto naqueles que atuou como fiscal da lei. No entanto, a referida legitimação do MPT
não se aplica aos casos em que a sentença preferida não afronta o interesse público,
conforme preceitua a OJ nº 237, I, da SDI-1, do TST.

OJ nº 237.MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. LEGITIMI-


DADE PARA RECORRER. SOCIEDADE DE ECONOMIA
MISTA. EMPRESA PÚBLICA (incorporada a Orientação Ju-
risprudencial nº 338 da SBDI-I) - Res. 210/2016, DEJT divul-
gado em 30.06.2016 e 01 e 04.07.2016
I - O Ministério Público do Trabalho não tem legitimidade para
recorrer na defesa de interesse patrimonial privado, ainda que
de empresas públicas e sociedades de economia mista.
II – Há legitimidade do Ministério Público do Trabalho para re-
correr de decisão que declara a existência de vínculo emprega-
tício com sociedade de economia mista ou empresa pública,
após a Constituição Federal de 1988,
sem a prévia aprovação em concurso público, pois é matéria de
ordem pública.

2.1.3.5 Capacidade das Partes

O recurso deve ser subscrito por quem detenha capacidade postulatória.

2.1.3.6 Representação

A representação, como requisito de admissibilidade objetivo do recurso, diz res-


peito à regularidade da representação processual, ou seja, para a prática de atos pro-
cessuais privativos de advogado.

Acerca da regularização da representação do advogado quando da interposição


do recurso, o TST se manifestou por meio da Súmula 383.

2.1.3.7 Regularização da Representação Processual

O recurso deve ser subscrito pela própria parte (jus postulandi), salvo se for diri-
gida ao TST (exceto habeas corpus), ou mesmo por advogado com procuração nos

19
autos ou portador de mandato tácito (advogado que, embora não possua instrumento
procuratório nos autos, compareceu à audiência e requereu o verbalmente que fosse
consignado em ata sua constituição como procurador da parte, nos moldes do artigo
791, § 3º da CLT.

No que concerne à representação processual das pessoas jurídicas direito pú-


blico em geral é importante a Súmula 436 do TST:

SÚMULA N.º 436 - REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. PRO-


CURADOR DA UNIÃO, ESTADOS, MUNICÍPIOS E DISTRITO
FEDERAL, SUAS AUTARQUIAS E FUNDAÇÕES PÚBLICAS.
JUNTADA DE INSTRUMENTO DE MANDATO

I - A União, Estados, Municípios e Distrito Federal, suas autar-


quias e fundações públicas, quando representadas em juízo,
ativa e passivamente, por seus procuradores, estão dispensa-
das da juntada de instrumento de mandato e de comprovação
do ato de nomeação.

II - Para os efeitos do item anterior, é essencial que o signatário


ao menos declare-se exercente do cargo de procurador, não
bastando a indicação do número de inscrição na Ordem dos Ad-
vogados do Brasil.

O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo para
evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente.
Assim, deverá exibir a procuração no prazo de 15 dias, prorrogável por igual período
por despacho do juiz. O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente
àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o advogado pelas despesas e por per-
das e danos nos termos do art. 104, §§ 1º e 2º do CPC.

Ressalte-se que, ao estabelecer que é admitido postular em juízo sem procura-


ção para evitar a preclusão, o atual Código de Processo Civil consagrou a possibilidade
de juntada a posteriori da procuração na fase recursal.

Por sua vez, o artigo 76, § 2º do CPC prevê também expressamente a possibili-
dade de regularização processual na fase recursal em prazo razoável previsto pelo juiz.

20
O TST, no artigo 3º, I, da IN 39/2016, deixou claro que entende que o artigo 76
do CPC é aplicável ao Processo do Trabalho.

Dessa forma, o CPC prevê duas situações distintas: (I) ausência de procuração,
caso em que se aplica o artigo 104 do CPC; (II) procuração juntada aos autos com
irregularidade, hipótese em que se aplica o artigo 76 do CPC.

Em ambos os casos, o TST entende que o prazo para juntada de procuração e


regularização da representação é de 5 dias, ainda que o artigo 104 do CPC contemple
prazo de 15 dias, como se extrai da Súmula 383 do TST.

Nos termos da OJ 120 da SBDI-1, do TST, é válido recurso assinado, ao menos,


na petição de apresentação ou nas razões recursais. Entretanto, verificada a total au-
sência de assinatura no recurso, o juiz ou o relator concederá prazo de 5 (cinco) dias
para que seja sanado o vício. Descumprida a determinação, o recurso será reputado
inadmissível os moldes do artigo 932, parágrafo único do CPC.

2.1.3.8 Capacidade Postulatória (jus postulandi)

No processo do trabalho, o jus postulandi é facultado aos próprios sujeitos da


lide, independentemente de representação por advogados (CLT, art. 791). Esta regra,
porém, não alcança a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os
recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho (TST, Súmula 425), nem as
ações que migraram, por força da EC n. 45/2004, para a Justiça do Trabalho (IN/TST n.
27/2005).

2.1.4 Interesse

O recurso tem que ser útil é necessário a parte sob pena de não conhecimento.

O interesse ou a sucumbência, constituem fundamento material de qualquer re-


curso que, nada mais é do que o prejuízo ou perda que a parte sofre em consequência
da prolação da sentença ou acórdão. Assim, o litigante que tenha obtido êxito total em
uma demanda judicial, em tese, não pode recorrer da decisão nela proferida, pela au-
sência de interesse jurídico.

21
Dessa forma, a sucumbência constitui requisito subjetivo de admissibilidade que
limita a interposição do recurso à parte que não teve sua pretensão acolhida pelo juiz,
no todo ou em parte.

2.1.4.1. Interesse recursal da parte que fora beneficiada pela extinção do processo sem
resolução de mérito

Suponhamos a hipótese de o reclamante recorrer de um pedido que lhe foi favo-


rável. Nesse caso, o recurso interposto não será o útil nem necessário ao recorrente,
não sendo, portanto, admitido, por ausência de um pressuposto recursal subjetivo, qual
seja a ausência de interesse.

Todavia, o interesse pelo recurso não necessariamente está relacionado com a


sucumbência, pois há casos em que, mesmo sendo vencedor na lide, tem a parte inte-
resse no apelo. Um exemplo cabível seria quando o processo é extinto sem julgamento
do mérito, o que, sem dúvidas, beneficia o reclamado, mas não impede de recorrer do
julgado.

2.1.5. Inexistência de fatos extintivos ou modificativos do direito de recor-


rer

Diz respeito à renúncia, à desistência do direito de recorrer ou à aceitação do


ato decisório. Uma vez praticado o ato, opera-se a preclusão lógica, o que por si só
impede o direito de recorrer.

O art. 502 do CPC informa que a renúncia ao direito de recorrer não depende da
anuência da outra parte, se consubstanciando numa ação potestativa.

A renúncia ao direito de recorrer é a manifestação da parte vencida no sentido


de não interpor o recurso. Nesse diapasão, caso ela venha a ser feita por procurador,
este deve ter poderes especiais para renunciar. Pode ser expressa, quando a parte
declara que abre mão do direito de impugná-la, após a decisão que lhe é desfavorável;
ou tácita, quando deixa o prazo do recurso se exaurir.

A desistência do recurso pressupõe recurso já interposto e pode se fazer sem


a anuência da parte adversária. Em caso de litisconsorte unitário, a desistência só será
eficaz se todos os litisconsortes desistirem. Esta manifestação de vontade pode ser

22
expressa por escrito ou oralmente até a prolação da decisão. Não precisa ser ratificada
por termo nos autos nem depende de homologação judicial.

Por fim, a aceitação do ato decisório ocorre quando a parte se conformar com
o julgamento desfavorável. Manifesta-se expressa ou tacitamente, ao praticar ato in-
compatível com o direito de recorrer (art. 503 do CPC).

2.2 Preparo

Determinados recursos para serem conhecidos, na sistemática do processo tra-


balhista, exigem preparo e a sua respectiva comprovação, representada pelo recolhi-
mento das custas processuais e do depósito recursal.

O Código de Processo Civil trata da matéria no seu artigo 1007 e seus parágra-
fos:

Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente com-


provará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo
preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de
deserção.

§ 1º São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e


de retorno, os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela
União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e
respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal.

§ 2º A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de re-


messa e de retorno, implicará deserção se o recorrente, intimado
na pessoa de seu advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5
(cinco) dias.

§ 3º É dispensado o recolhimento do porte de remessa e de re-


torno no processo em autos eletrônicos.

§ 4º O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do


recurso, o recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa
e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para
realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção.

23
§ 5º É vedada a complementação se houver insuficiência parcial
do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, no recolhi-
mento realizado na forma do § 4º.

§ 6º Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará


a pena de deserção, por decisão irrecorrível, fixando-lhe prazo
de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo.

§ 7º O equívoco no preenchimento da guia de custas não impli-


cará a aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na
hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o recorrente
para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias.

Inclusive, o TST, por meio do artigo 10, da sua IN nº 39/16, manifesta-se no


sentido de reconhecer a aplicabilidade dos parágrafos 2º e 7º do referido artigo 1007 do
CPC ao processo do trabalho, com a seguinte particularidade descrita no parágrafo
único: “A insuficiência no valor do preparo do recurso, no Processo do Trabalho, para
efeitos do §2º do artigo 1007 do CPC concerne unicamente às custas processuais, não
ao depósito recursal.

2.2.1 Depósito Recursal

Objetiva garantir o juízo para o pagamento de futura execução a ser movida pelo
autor.

Exige-se depósito recursal das seguintes espécies recursais: recurso ordinário,


recurso de revista, embargos ao TST e agravo de instrumento.

O parágrafo único do art. 2º da IN 27/2005 estabeleceu que o depósito recursal


a que se refere o art. 899 da CLT é sempre exigível como requisito extrínseco do re-
curso, quando houver condenação em pecúnia. Logo, mesmo nas ações que envolvam
relação de trabalho distintas da relação de emprego, em caso de eventual condenação
em pecúnia será necessário que o recorrente realize o depósito recursal, sob pena de
não conhecimento do recurso.

O agravo de instrumento terá depósito recursal do montante de 50% do seu va-


lor, efetuado quando da interposição do recurso que não foi conhecido (artigo 899, § 7º

24
da CLT). Posteriormente, a Lei 13.015/2014 trouxe uma exceção ao depósito recursal
ao acrescentar § 8º ao artigo 899 da CLT.

Não haverá obrigatoriedade de se efetuar o depósito para interposição do agravo


de instrumento para destrancar recurso de revista interposto em face de decisão do
TRT, em recurso ordinário, com fundamento em contrariedade à súmula ou à orientação
jurisprudencial do TST.

Caso a arguição de contrariedade à súmula ou à orientação jurisprudencial seja


infundada, temerária ou artificiosa, o agravo de instrumento será considerado deserto.
Contudo, a dispensa do § 8º do artigo 899 da CLT não será aplicável aos casos em que
o agravo de instrumento se refira a uma parcela da condenação, pelo menos, que não
seja objeto de arguição de contrariedade à súmula ou à orientação jurisprudencial do
TST.

Somente haverá depósito recursal quando houver decisão condenatória em que


a parte tenha sido condenada a pagar certa quantia, nos moldes da Súmula 161 do TST,
sendo devido também em caso de interposição de recurso adesivo. Ademais, o depósito
recursal poderá ser substituído por fiança bancária ou seguro garantia judicial, conforme
artigo 899, § 11 da CLT.

O valor do depósito recursal será reduzido pela metade para entidades sem fins
lucrativos, empregadores domésticos, microempreendedores individuais, microempre-
sas e empresas de pequeno porte (artigo 899, § 9, CLT).

2.2.2 Constitucionalidade do Depósito Recursal

Alguns autores sustentam a inconstitucionalidade do depósito recursal, sob o


argumento de que ele impeça o exercício do amplo direito de defesa com os meios e
recursos a ela inerentes (CF, art. 5º, LV).

Na visão do processualista Carlos Henrique Bezerra Leite (2018, p. 906), não há


que se falar em inconstitucionalidade do art. 899 da CLT, uma vez que o duplo grau de
jurisdição não é princípio absoluto, nem está previsto expressamente na Constituição,
já que esta admite até mesmo a existência de causas julgadas em instância única (CF,
art. 102, III).

O TST já enfrentou a questão, como se vê no julgado abaixo:

25
AGRAVO DE INSTRUMENTO – DEPÓSITO RECURSAL –
CONSTITUCIONALIDADE. A exigência do depósito prévio para
a interposição de recurso, a que alude o art. 899, parágrafos, da
CLT, não é incompatível com a ordem constitucional vigente.
Conquanto a Constituição da República assegure o contraditório
e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, tam-
bém impõe aos jurisdicionados a observância das normas

legais pertinentes. Como se sabe, o depósito recursal tem por


escopo garantir futura e eventual execução (garantia do juízo),
consubstanciando verdadeira proteção legislativa à parte hipos-
suficiente na relação processual trabalhista. Não impede, con-
tudo, a interposição de recursos. Tampouco cerceia o acesso ao
Poder Judiciário, ao contrário, apenas o disciplina. Não há falar,
portanto, na aventada inconstitucionalidade, mormente diante
do princípio da celeridade processual (art. 5º, LXXVIII, da Cons-
tituição), fator que reforça a fixação do depósito recursal como
pressuposto objetivo de recorribilidade, coibindo, assim, a indis-
criminada interposição de recursos. Agravo de instrumento a
que se nega provimento (TST-AIRR 1706/2001-071-01-40, 3ª T.,
Rel. Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, DJ 13-4-2007).

2.2.3 Possibilidade de dispensa do depósito recursal ao litigante benefici-


ário da justiça gratuita

São isentos do depósito recursal os beneficiários da justiça gratuita, as entidades


filantrópicas e as empresas em recuperação judicial, conforme disposição do art. 899, §
10º, CLT.

2.3 Instrução Normativa nº 03/93 TST

Também são isentas as pessoas jurídicas de direito público (art. 1º, IV, do De-
creto-lei 779/1969 e item X da IN 3/1993 do TST e o Ministério Público do Trabalho.

26
Todavia, as empresas públicas e sociedades de economia mista, em caso de
recurso, deverão recolher o respectivo depósito recursal (Súmula 170 do TST).

2.4 Regularidade Formal

O art. 899, caput, da CLT dispõe que os “recursos serão interpostos por simples
petição” e a partir dessa redação, surgiram divergências na doutrina e na jurisprudência
a respeito da existência, no processo do trabalho, do pressuposto recursal da regulari-
dade formal.

O princípio da discursividade ou dialeticidade informa todo o sistema recursal


trabalhista, de modo que qualquer recurso, seja no processo civil, trabalhista, tributário
ou administrativo, deve ser fundamentado, logo, deve apontar fundamentadamente os
pontos, questões ou capítulos da decisão que o recorrente pretenda anular, reformar,
integrar ou esclarecer.

Em prol da possibilidade do jus postulandi (CLT, art. 791), não se exige funda-
mentação legal, nem formalismos exagerados, como razões recursais anexas ou preci-
são na pretensão recursal (reforma ou anulação), apenas exige-se que o recorrente
apresente alguma argumentação que justifique a interposição do seu recurso, além de
possibilitar o amplo direito de defesa do recorrido.

Com efeito, dispõe o art. 1.002 do NCPC que “é norma da teoria geral dos recur-
sos que qualquer “decisão pode ser impugnada no todo ou em parte”. De outra parte,
se o recurso é um prolongamento do exercício do direito de ação, então os fundamentos
jurídicos devem ser exigidos tanto para a ação quanto para a interposição de recursos.
Nesse sentido, recurso sem motivação é inepto, assim como a petição inicial sem causa
de pedir é inepta.

Nessa lógica, a Súmula 422 do TST deve ser aplicada tanto ao recurso de revista
como a qualquer outro recurso dentro da seara processual trabalhista. Sendo assim, o
jus postulandi, não é motivo legal para a ausência de fundamentação dos recursos de
natureza ordinária.

O item III da Súmula 422 do TST já demonstra interpretação evolutiva do art. 899
da CLT, na medida em que, embora continue entendendo inaplicável a exigência do
item I (não se conhece do recurso de revista quando as razões do recorrente não

27
impugnam os fundamentos da decisão recorrida, nos termos em que proferida) relativa-
mente ao recurso ordinário da competência do Tribunal Regional do Trabalho, abre uma
exceção no “caso de recurso cuja motivação é inteiramente dissociada dos fundamentos
da sentença”.

É importante destacar que a própria CLT exige fundamentação no agravo de


petição, recurso de natureza ordinária, como se infere do art. 897, § 1º: “O agravo de
petição só será recebido quando o agravante delimitar, justificadamente, as matérias se
os valores impugnados, permitida a execução imediata da parte remanescente até o
final, nos próprios autos ou por carta de sentença”.

De maneira semelhante, o art. 897-A da CLT exige, nos embargos de declara-


ção, também considerado recurso de natureza ordinária, que o embargante fundamente
o recurso, apontando omissão, contradição ou obscuridade da decisão embargada, in-
clusive cabendo ao embargante postular “efeito modificativo da decisão nos casos de
omissão e contradição no julgado e manifesto equívoco no exame dos pressupostos
extrínsecos do recurso”.

A ausência de impugnação recursal específica sobre os pontos, questões ou


capítulos da decisão ou a mera repetição da petição inicial ou da contestação sem ata-
car os fundamentos da decisão recorrida, implicam o não conhecimento do recurso por
irregularidade formal ou por ausência de dialeticidade.

No entanto, é importante destacar que o parágrafo único do art. 932 do NCPC


dispõe que: “Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de
5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documen-
tação exigível”.

Essa regra, segundo o disposto no art. 10 da IN 39/2016 do TST, aplica-se ao


processo do trabalho, o que, na visão de Carlos Henrique Bezerra Leite (2018, p. 921),
poderá mudar a jurisprudência do TST a respeito da exigência da regularidade formal
da fundamentação como pressuposto de admissibilidade de todos os recursos no âm-
bito da Justiça do Trabalho, pois o relator deverá conceder prazo para que o recorrente
apresente os fundamentos pelos quais impugna, no todo ou em parte, a decisão recor-
rida.

28
2.5 Recurso interposto por meio de fax e eletrônicos

O STF uniformizou o seu entendimento para aceitar a petição recursal interposta


via fax, desde que a peça original fosse protocolada dentro do prazo alusivo ao recurso.

O Tribunal Superior do Trabalho adotou a posição da Suprema Corte:

RECURSO INTERPOSTO VIA FAX. O entendimento de que o


original do recurso interposto via fax deve vir aos autos antes de
esgotado o octídio legal não viola o art. 374 do CPC (TST RR n.
141647/94.5, Ac. 2ª T. 5158/96, Rel.Min. Moacyr R. Tesch Au-
ersvald, DJU 25-10-1996).

Ademais, com a edição da Lei n. 9.800/99 houve a permissão para que às partes
pudessem utilizar o sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro
similar para a prática de atos processuais que dependam de petição escrita.

Sobre a interposição de recurso via fac-símile, dispõe a Súmula 387 do TST:

RECURSO. FAC-SÍMILE. LEI N. 9.800/1999 (atualizada em


decorrência do CPC de 2015, Res. 208/20D16E, JT divulgado
em 22, 25 e 26-4-2016). I – A Lei n. 9.800, de 26-5-1999, é apli-
cável somente a recursos interpostos após o início de sua vigên-
cia. II – A contagem do quinquídio para apresentação dos origi-
nais de recurso interposto por intermédio de fac-símile começa
a fluir do dia subsequente ao término do prazo recursal, nos ter-
mos do art. 2º da Lei n. 9.800, de 26-5-1999, e não do dia se-
guinte à interposição do recurso, se esta se deu antes do termo
final do prazo. III – Não se tratando a juntada dos originais de
ato que dependa de notificação, pois a parte, ao interpor o re-
curso, já tem ciência de seu ônus processual, não se aplica a
regra do art. 224 do CPC de 2015 (art. 184 do CPC de 1973)
quanto ao dies a quo, podendo coincidir com sábado, domingo
ou feriado. IV – A autorização para utilização do fac-símile, cons-
tante do art. 1º da Lei n. 9.800, de 26-5-1999, somente alcança
as hipóteses em que o documento é dirigido diretamente ao ór-
gão jurisdicional, não se aplicando à transmissão ocorrida entre
particulares.

29
Por fim, destaca-se que, nos termos do art. 50 da Resolução CSJT n. 136/2014,
a “partir da implantação do PJe-JT em unidade judiciária, fica vedada a utilização do e-
DOC ou qualquer outro sistema de peticionamento eletrônico para o envio de petições
relativas aos processos que tramitam no PJe-JT”.

Ademais, o parágrafo único do referido artigo dispõe que o “descumprimento da


determinação constante do caput implicará no descarte dos documentos recebidos, que
não constarão de nenhum registro e não produzirão qualquer efeito legal”.

No que concerne ao recurso interposto por meio eletrônico é importante destacar


a publicação da Lei nº 11.419/2016, que dispõe sobre a informatização do processo
judicial, cujo art. 1º, § 1º, determina expressamente que tal lei é aplicável “indistinta-
mente, aos processos civil, penal e trabalhista, bem como aos juizados especiais, em
qualquer grau de jurisdição”.

2.6 Instrução Normativa n° 30/07 TST

No que concerne ao recurso interposto por meio eletrônico, o TST editou a Ins-
trução Normativa nº 30/2007, que regulamenta a Lei nº 11.419 no âmbito da Justiça do
Trabalho, que dispõe sobre informatização do processo judicial.

2.7 Tempestividade

O recurso deve ser interposto no prazo legal sob pena de não conhecimento do
apelo. O Código de Processo Civil também determina que é considerado tempestivo o
recurso interposto antes do termo inicial do prazo, ou seja, antes de publicado o acórdão
impugnado nos termos do artigo 218, § 4º do CPC. Nessa mesma linha, encontra-se o
posicionamento atual do TST com o cancelamento da Súmula 434.

30
A Lei nº 5.010/96, em seu artigo 62, estabeleceu como feriado, entre outros, o
recesso forense anual, no período compreendido entre 20 de dezembro e 6 de janeiro.

Portanto, durante o recesso forense, a Justiça do trabalho assim como a Justiça


não especializada, suspende o expediente forense e assim o atendimento ao público,
garantindo atendimento aos casos urgentes.

À Luz do artigo 775 da CLT, os prazos são contados em dias úteis, nos mesmos
moldes do artigo 219 do CPC que determina que “na contagem de prazo em dias, esta-
belecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os úteis.

Incumbe à parte comprovar, apenas quando da interposição do recurso, a exis-


tência de feriado local que leve à prorrogação do prazo recursal, nos termos do artigo
1003, § 6º, do CPC. Caso não o faça, o relator deverá conceder o prazo de 5 dias para
que seja sanado o vício, sob pena de não conhecer o recurso por intempestividade,
como determina o artigo 932 parágrafo único do CPC que consagra o princípio da pri-
mazia da decisão de mérito disposto na Súmula 385, I, do TST.

2.8 Privilégios de Prazo

As pessoas jurídicas de direito público (União, Estados, Municípios, Distrito Fe-


deral, e suas respectivas autarquias e fundações de direito público) têm prazo em dobro
para todas as manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação
pessoal nos moldes do artigo 183 do CPC.

Da mesma forma, nos moldes do artigo 180 do CPC, o Ministério Público tem
prazo em dobro para todas as manifestações, cuja contagem terá início a partir de sua
intimação pessoal, a qual será feita por carga, remessa ou meio eletrônico.

Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de


forma expressa, prazo próprio para o Ministério Público (Artigo 180, § 2º do CPC), como
é o caso do artigo 12 da Lei 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança, que prevê
que o representante do Ministério Público tem o prazo improrrogável de 10 dias para
opinar.

31
Seção 3 – Os Efeitos dos Recursos Trabalhistas

3.1 Conceito

A interposição de recurso, assim como todo ato processual, gera efeitos que são
classificados em: devolutivo, suspensivo, obstativo, translativo, regressivo extensivo e
substitutivo.

Os primeiros são mencionados expressamente no CPC. Os demais encontram-


se inseridos implicitamente na legislação processual e são citados pela doutrina e pela
jurisprudência.

Há autores que ainda citam os efeitos diferido e expansivo. O efeito diferido,


também excepcional, seria observado quando, para o conhecimento de um recurso,
fosse exigido a interposição de outro, como acontece com o recurso adesivo.

Já o efeito expansivo permitiria ao Tribunal julgar o mérito da causa nas hipóte-


ses em que a demanda tenha sido extinta sem resolução do mérito, nos casos que
envolvam matéria de direito e/ou com provas produzidas nos autos.

3.2 Efeito Devolutivo

A interposição de recurso devolve à instância ad quem o julgamento da preten-


são do reclamante deduzida em juízo, no todo ou em parte. Isso é o que caracteriza o
efeito devolutivo, presente em todos os recursos previstos no sistema recursal traba-
lhista, salvo nos embargos declaratórios para aqueles que classificam essa medida
como recurso.

A devolução é parcial quando o inconformismo se volta contra alguns pontos


abordados na sentença, o que ocorre quando ela é fruto de uma reclamação trabalhista
com cumulação de pedidos. Total é o efeito devolutivo do recurso quando se pretende
reformar a sentença do juízo a quo na sua totalidade.

32
3.2.1 Extensão e Profundidade do Efeito Devolutivo

A extensão do efeito devolutivo significa que o órgão ad quem só apreciará aquilo


que foi impugnado pelo recorrente. Já profundidade diz respeito às questões que foram
ou não apreciadas pelo juízo ad quo.

3.3 Efeito Translativo

Em relação às questões de ordem pública, as quais devem ser conhecidas de


ofício, não se opera a preclusão, podendo o juiz ou tribunal decidir tais questões ainda
que não constem das razões recursais ou das contrarrazões, gerando o denominado
efeito translativo do recurso.

Portanto, é possível afirmar que o ordenamento jurídico vigente permite a auto-


ridade julgadora do apelo conhecer de questões não ventiladas no recurso ou contrar-
razões, sem que isto consista num julgamento ultra ou extra petita, como, por exemplo,
nas hipóteses dos arts. 485, § 3º e 337, § 5º, ambos do CPC.

3.4 Efeito Regressivo

Trata-se da possibilidade de o próprio juiz que proferiu a sentença modificá-la


após a interposição do recurso, no exercício do juízo de retratação.

Só é admitido esse efeito quando a lei assim o determinar expressamente, como


ocorre nas hipóteses de embargos declaratórios, indeferimento da petição inicial, julga-
mento de improcedência antecipada, agravo de instrumento, agravo regimental e re-
curso ordinário.

É importante destacar que só será permitida a retratação do juiz em sede de


recurso ordinário quando a sentença reconhecer a ausência de pressupostos processu-
ais ou no caso de improcedência liminar do pedido.

33
3.5 Efeito Substitutivo

O conteúdo da sentença originária é substituído pela nova decisão, no todo ou


em parte.

Importa destacar que, não há como admitir a substituição da sentença pelo acór-
dão quando não há provimento sequer parcial do recurso ou quando este não é conhe-
cido, apesar da literalidade do artigo 1.008 do CPC, salvo para efeito de determinação
temporal da formação da coisa julgada.

3.6 Efeito Suspensivo

O efeito suspensivo implica a paralisação do feito, ou seja, impede que se dê


cumprimento ao comando sentencial objeto da irresignação do recorrente, mesmo a
título provisório, e, consequentemente, que adquira qualidade de coisa julgada. No en-
tanto, no processo laboral em regra, os recursos não são dotados de efeito suspensivo.

3.7 Efeito Expansivo

O efeito expansivo do recurso foi significativamente ampliado no CPC de 2015,


nos termos dos §§ 3º, 4º e5º do art. 1.013:

(...) § 3º Se o processo estiver em condições de imediato julga-


mento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito

quando:

I – reformar sentença fundada no art. 485;

II – decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente


com os limites do pedido ou da causa de pedir;

III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese


em que poderá julgá-lo;

34
IV – decretar a nulidade de sentença por falta de fundamenta-
ção.

§ 4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou


a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, exami-
nando as demais questões, sem determinar o retorno do pro-
cesso ao juízo de primeiro grau.

§ 5º O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a


tutela provisória é impugnável na apelação.

O item II da Súmula 393 do TST reconhece, implicitamente, a


aplicabilidade do efeito expansivo no recurso

ordinário:

(...) II – Se o processo estiver em condições, o tribunal, ao julgar


o recurso ordinário, deverá decidir desde logo o mérito da causa,
nos termos do § 3º do art. 1.013 do CPC de 2015, inclusive
quando constatar a omissão da sentença no exame de um dos
pedidos.

35
MÓDULO 2 – RECURSOS EM
ESPÉCIE

Os Recursos em Espécie são a maneira pela qual as partes demonstram a sua


insatisfação e discordância em relação a uma decisão proferida. Podem ser conceitua-
dos como remédio jurídico necessário e suficiente para provocar o reexame de uma
determinada decisão.

A intenção é que o aluno compreenda como a causa deve ser levada a uma nova
apreciação. Em geral, após uma decisão desfavorável do pleito, deve-se ingressar com
o recurso cabível para a modificação pretendida, seja ela com a finalidade de anular a
decisão ou apenas reformá-la.,

O recurso interposto deverá ser apreciado por um órgão diferente e de nível hi-
erárquico superior ao que proferiu a decisão.

Seção 1 – Recurso Ordinário

1.1 Introdução

O recurso ordinário é cabível:

(I) das decisões definitivas ou terminativas das Varas do Trabalho;

(II) das decisões definitivas ou terminativas dos Tribunais Regionais, em pro-


cessos de sua competência originária, quer nos dissídios individuais, quer
nos dissídios coletivos (CLT, art. 895).

36
Em regra, o recurso ordinário tem cabimento das decisões definitivas com reso-
lução do mérito) ou terminativas (sem resolução do mérito) das Varas do Trabalho.

No entanto, ele também será cabível das decisões de competência originária dos
TRTs, como é o caso, por exemplo, do dissídio coletivo, do mandado de segurança e
da ação rescisória. Nesse caso, sendo recurso ordinário de dissídio coletivo, a compe-
tência para julgamento é do TST por meio da SDC. Por outro lado, no caso de mandado
de segurança, ação rescisória e demais ações individuais de competência originária do
TRT, o julgamento do recurso ordinário é de competência da SDI-II do TST.

O que precisa ficar claro é que o recurso ordinário caberá das decisões tomadas
em primeira instância, seja pela Vara do Trabalho ou pelo Tribunal Regional.

1.2 Juízo de Retratação

Como regra, após proferida a decisão, o juiz não poderá alterá-la, salvo se inter-
postos os embargos de declaração.

37
No entanto, em três hipóteses será possível o juiz retratar-se. São elas:

(I) indeferimento da petição inicial;

(II) extinção do processo sem resolução do mérito.

(III) improcedência liminar.

1.3 Julgamento do Mérito diretamente pelo Tribunal

O recurso ordinário pode almejar a reforma ou a anulação da decisão impug-


nada.

Na reforma, invoca-se erro de julgamento, buscando que seja proferida decisão


de mérito que substitua a anterior. Já na anulação, visa-se ao erro de procedimento.
Nesse último caso, sendo provido o recurso, a decisão impugnada será anulada, e, em
regra, se postula o retorno dos autos ao juízo de origem para uma nova decisão. Pre-
tende-se, com essa sistemática, não suprir instâncias, preservando -se o duplo grau de
jurisdição.

No entanto, o art. 1.013, parágrafo 3º, do CPC/2015, aplicável subsidiariamente


ao processo do trabalho, alterou sistematicamente a ideologia de supressão de instân-
cia, ao estabelecer que, se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o
tribunal deve decidir desde logo o mérito quando:

(I) reformar sentença fundada no art. 485;

(II) decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites
do pedido ou da causa de pedir;

(III) constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá


julgá-lo;

(IV) decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.

38
O referido parágrafo, com base nos princípios da economia, celeridade proces-
sual, duração razoável do processo e primazia da decisão de mérito, passou a permitir
que, quando o processo estiver em condições de imediato julgamento e se enquadrar
em alguma das hipóteses mencionadas, o tribunal possa entrar diretamente na análise
do mérito da causa, não necessitando retornar ao juízo de origem. É o que se denomina
de teoria da causa madura.

O Tribunal também poderá julgar o mérito quando reformar sentença que reco-
nheça a decadência ou a prescrição, examinando as demais questões, sem que haja
necessidade de determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau (art.1.013,
§4º; TST-IN nº 39/2016, art. 3º, XXVIII).

1.4 Recurso Ordinário no Rito Sumaríssimo

No rito sumaríssimo, o recurso ordinário é cabível nas mesmas hipóteses e no


mesmo prazo do rito ordinário.

Difere, porém, quanto ao processamento do recurso que, nos termos do art. 895,
§1º, da CLT, terá as seguintes peculiaridades:

(I) recebido no tribunal, o recurso ordinário será imediatamente distribuído;

(II) o relator deve liberá-lo no prazo máximo de dez dias, e a Secretaria do Tri-
bunal ou Turma colocá-lo imediatamente em pauta para julgamento;

(III) não terá revisor;

(IV) terá parecer oral do representante do Ministério Público presente à sessão


de julgamento, se este entender necessário o parecer, com registro na cer-
tidão.

(V) terá acórdão consistente unicamente na certidão de julgamento, com a indi-


cação suficiente do processo e parte dispositiva, e das razões de decidir do
voto prevalente.

(VI) se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a certidão de jul-


gamento, registrando tal circunstância, servirá de acórdão.

39
Ademais, nos tribunais regionais, divididos em Turmas, poderão designar Turma
para o julgamento dos recursos ordinários interpostos das sentenças prolatadas nas
demandas sujeitas ao procedimento sumaríssimo (CLT, art. 895, §2º).

Seção 2 – Embargos e Agravos

2.1 Embargos de Declaração

2.1.1 Competência

Nos embargos de declaração, a competência para julgamento é do próprio juízo


que prolatou a decisão embargada. É diferente, portanto, dos demais recursos em que
os autos são encaminhados para outro juízo, em regra, de grau superior.

Desse modo, a competência é do mesmo órgão jurisdicional que proferiu a de-


cisão embargada e não necessariamente do mesmo magistrado que prolatou a decisão.

2.1.2 Prazo para interposição

Os embargos de declaração fogem à regra dos prazos recursais do processo


trabalhista, tendo o prazo de 5 dias úteis para interposição. A Fazenda Pública, o Minis-
tério Público do Trabalho e a Defensoria Pública têm o prazo em dobro, ou seja, 10 dias.

Ademais, sua interposição não produz efeito suspensivo, mas gera o efeito de
interromper os prazos dos recursos posteriores.

No entanto, esse efeito não ocorrerá quando se tratar de embargos de declara-


ção:

(I) intempestivos;
(II) com irregularidade na representação da parte; ou
(III) ausente de assinatura (CLT, art. 897-A, §3º).

40
2.1.3 Hipóteses de Cabimento

(I) Omissão: quando a decisão deixar de apreciar ponto ou questão (ponto


controvertido) sobre o qual devia pronunciar o juiz de ofício ou a requeri-
mento (CPC/2015, art. 1.022, caput).

(II) Contradição: quando houver incoerência interna na decisão.

A contradição poderá ocorrer na fundamentação, no dispositivo, entre a fun-


damentação e o dispositivo, bem como entre a ementa e o corpo do acórdão

(III) Obscuridade: quando a decisão não for clara. Embora esse vício não esteja
presente no art. 897-A da CLT, é majoritariamente aceita a sua incidência
no processo do trabalho.

(IV) Manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do re-


curso.

O manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso não é


um vício elencado no art. 1.022 do CPC/2015, tendo previsão apenas no processo do
trabalho, por força do art. 897-A da CLT.

Destaca-se que, nesse caso, serão cabíveis os embargos de declaração quando


houver dois requisitos cumulativos:

a) possuir manifesto equívoco e;

b) tratar-se de pressupostos extrínsecos (tempestividade, representação, pre-


paro, depósito recursal e regularidade formal).

41
2.2 Embargos de Divergência e Embargos Infringentes

Analisando a competência do TST, é possível concluir que ele tem competência


para julgar duas modalidades de embargos: 1) os embargos infringentes; e 2) os em-
bargos de divergência (embargos à SDI). Passa-se à análise:

2.2.1 Embargos de Divergência

2.2.2.1 Competência

A competência para julgar os embargos de divergência é da Subseção de Dissí-


dios Individuais I do TST (SDI-1), nos termos do art. 3°, III, "b", da Lei no 7.701/88.

2.2.1.2 Prazo para interposição

O prazo do recurso é de oito dias úteis, de acordo com o artigo 894, II da CLT.

2.2.1.3 Hipóteses de Cabimento

Apesar de este recurso não estar mais presente com essa nomenclatura no Có-
digo de Processo Civil, sua previsão na CLT continua mantida, no artigo 894 e no artigo
232 do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho. Seu objetivo é estimular o
consenso da jurisprudência do Tribunal e sua natureza é extraordinária.

Havendo divergência entre tribunais regionais diferentes, é cabível o recurso de


revista com o objetivo de unificar o entendimento em âmbito nacional. É cabível quando
houver decisões conflitantes entre as turmas do TST. Os embargos de divergência, tam-
bém denominados de embargos para a SDI têm a finalidade de acabar com a divergên-
cia interna do TST (CLT, art. 894, II e Lei n' 7.701/88, art. 3', lll, "b").

42
2.2.2. Embargos Infringentes

2.2.2.1 Competência

A competência para julgamento dos embargos infringentes é da Seção Especi-


alizada em Dissídios Coletivos (SDC), no TST.

2.2.2.2 Prazo para Interposição

O prazo é de oito dias úteis, de acordo com o artigo 894, I, alínea a da CLT e no
art. 2°, II, da Lei n° 7. 701/88.

2.2.2.3 Hipóteses de Cabimento

Diferente dos embargos de divergência, os embargos infringentes têm natureza


ordinária, apesar de serem de competência do Tribunal Superior do Trabalho. Isso
ocorre em razão de ser uma espécie de duplo grau interno de jurisdição, em casos de
dissídios coletivos que tenham extensão territorial que ultrapasse mais de um TRT,
sendo, portanto, de competência originária do TST.

Nesse caso, como a decisão é proferida em primeira instância pelo TST, o re-
curso cabível são os embargos infringentes.

O cabimento do recurso será em face de decisão não unânime em dissídio co-


letivo de competência do TST, de competência originária deste tribunal. A intenção é
levar ao colegiado o voto minoritário, a fim de que o reanalise.

Pressupõem os seguintes requisitos cumulativos: 1) dissídio coletivo; 2) compe-


tência originária do TST; 3) decisão não unânime. A necessidade de decisão não unâ-
nime se justifica, porque, considerando que o julgamento do dissídio coletivo e do re-
curso é feito pela mesma seção, não haverá lógica em admiti-lo quando a decisão for
unânime.

Da decisão unânime é cabível, em tese, somente os embargos de declaração e


o recurso extraordinário, desde que preenchidos os requisitos legais.

43
Os embargos infringentes pressupõem acórdão não unânime proferido pela
SDC, nas seguintes hipóteses: 1) julgamento do dissídio coletivo; 2) extensão ou revisão
de sentença normativa; 3) homologação de conciliação.

2.2.2.4 Pressupostos Recursais

Como um recurso de natureza ordinária, os embargos infringentes devem pre-


encher todos os pressupostos extrínsecos e intrínsecos típicos de recursos dessa natu-
reza.

Porém, quanto à representação, nos termos da Súmula 425 do TST, a capaci-


dade postulatória nos embargos é restrita ao advogado, não se aplicando o jus postu-
landi, por ser de competência do TST.

Não é exigido depósito recursal nesse recurso, visto que oriundo de um dissídio
coletivo, com sentença normativa e o depósito só é exigido em sentenças condenatórias
(Súmula 161 do TST).

2.3 Agravo de Instrumento

2.3.1 Competência

O agravo de instrumento será apreciado pelo órgão competente para julgar o


recurso denegado (trancado), de acordo com o artigo 897, § 4º da CLT. O agravo deverá
ser interposto e processado no órgão recorrido e somente após remetido ao órgão a
que caberá julgar o recurso.

Nesse tipo de processo, o depósito recursal corresponderá a 50% do valor do


depósito do recurso ao qual se pretenda destrancar. No caso de gratuidade de justiça
são isentos do depósito recursal os beneficiários da justiça gratuita, as entidades filan-
trópicas e as empresas em recuperação judicial.

Na hipótese desse agravo ser interposto em decorrência de denegação de se-


guimento a Recurso Extraordinário para o Supremo Tribunal Federal, não é devido de-
pósito recursal, pois para tal recurso aplica-se o Código de Processo Civil e não a CLT.

44
2.3.2 Prazo para Interposição

De acordo com o art. 775 da CLT o prazo para interposição do agravo de instru-
mento é oito dias úteis.

2.3.3 Hipóteses de Cabimento

O Agravo de Instrumento é usado para destrancar outros recursos, que forem


denegados através de despachos dos juízos.

2.4 Agravo de Petição

2.4.1 Competência

O § 3º do art. 897 da CLT define que a competência para processar e julgar


Agravo de Petição depende de quem proferiu a decisão que se busca impugnar.

Se a decisão agravada for proferida por um juiz da vara do trabalho de primeiro


grau, o Agravo de Petição deverá ser dirigido ao TRT e julgado por uma de suas turmas.

2.4.2 Prazo para Interposição

O prazo para interposição do recurso do agravo de petição trabalhista é de oito


dias úteis, sendo o mesmo para contrarrazões.

2.4.3 Hipóteses de Cabimento

O agravo de petição trabalhista encontra seu fundamento no artigo 897 da CLT,


que determina que será cabível nos processos de execuções trabalhistas, em face

45
das decisões proferidas por juiz ou presidente. O agravo de petição trabalhista não
depende de depósito recursal.

Esse recurso é cabível em face de sentença de embargos de execução, embar-


gos de adjudicação ou embargos à arrematação; em face de sentenças em ações de
Embargos de Terceiros e; em face de incidentes na execução ou decisão que extinga a
execução.

2.5 Agravo Regimental e Agravo Interno

Tanto o agravo interno e o agravo regimental decorrem de decisão monocrática


e buscam levar ao conhecimento do colegiado a decisão proferida pelo relator. Os dois
agravos têm prazo de oito dias úteis.

O agravo regimental é cabível quando não houver qualquer outro recurso com
previsão legal, mas estiver disciplinado no regimento interno do tribunal. Ex.: concessão
de efeito suspensivo pelo Presidente do TST em recurso ordinário no dissídio coletivo
(TST·RI, art. 235, V). Por outro lado, havendo previsão legal, o agravo será interno (arts.
894, § 3°, da CLT e 932 do CPC.).

A competência de ambos os recursos é do órgão colegiado a que o prolator da


decisão monocrática integra, por exemplo, a Turma do Tribunal.

Seção 3 – Recursos aos Tribunais Superiores

3.1 Recurso de Revista

3.1.1 Introdução

Conforme já estudamos, os recursos podem ser classificados em: ordinários e


extraordinários. O que os diferencia é o direito que buscam tutelar.

46
Os recursos ordinários visam à tutela do direito subjetivo, de modo que permitem
a rediscussão ampla da matéria, seja de direito, seja de fato. Tais recursos podem estar
fundamentados no mero inconformismo com a decisão judicial (injustiça da decisão),
citando-se como exemplo, na seara trabalhista, os recursos: ordinário, agravo de peti-
ção, embargos de declaração, agravo interno, revisão e agravo de instrumento.

Por outro lado, os recursos de natureza extraordinária fundam-se na tutela do


direito objetivo, buscando sua exata aplicação. Por visar à exata aplicação do direito,
tais recursos impedem a verificação fática, inclusive o reexame de provas, ficando res-
tritos à análise de direito (Súmula nº 126 do TST). Podemos citar como exemplo de
recursos de natureza extraordinária, no processo do trabalho, os recursos de revista e
embargos para a SDI.

Além disso, a doutrina divide os recursos, levando em conta a sua fundamenta-


ção, podendo ser de fundamentação livre ou vinculada.

Os recursos de fundamentação livre são aqueles que não se ligam a determina-


dos defeitos ou vícios das decisões, ou seja, a lei não exige que, no recurso, aponte-se
especificamente determinado vício, havendo necessidade apenas de que a parte não
se conforme com a decisão impugnada. E o que ocorre, por exemplo, no recurso ordi-
nário.

Já os recursos de fundamentação vinculada são aqueles em que a lei exige que


o recorrente indique algum vício específico da decisão impugnada, como ocorre com o
recurso de revista que está vinculado à demonstração de divergência ou de violação
literal de dispositivo de lei federal ou afronta direta e literal à Constituição Federal.

O recurso de revista é, portanto, um recurso de natureza extraordinária com fun-


damentação vinculada, sendo disciplinado no art. 896 da CLT.

3.1.2 Prazo

O recurso de revista observa a regra geral dos recursos trabalhistas, devendo


ser interposto no prazo de 8 dias úteis, tendo o mesmo prazo para as contrarrazões, A
Fazenda Pública, o Ministério Público do Trabalho e a Defensoria Pública têm o prazo
em dobro, ou seja, 16 dias (CPC/2015, arts. 180, 183 e 186), inclusive para as contrar-
razões.

47
3.1.3 Preparo

O preparo das custas processuais para fins de interposição de recurso de revista


poderá ser alterado em função do resultado do julgamento do recurso ordinário em dis-
sídios individuais. Assim, nos termos da Súmula 25 do TST:

CUSTAS PROCESSUAIS. INVERSÃO DO ÔNUS DA SUCUM-


BÊNCIA.

I – A parte vencedora na primeira instância, se vencida na se-


gunda, está obrigada, independentemente de intimação, a pagar
as custas fixadas na sentença originária, das quais ficará isenta
parte então vencida;

II – No caso de inversão do ônus da sucumbência em segundo


grau, sem acréscimo ou atualização do valor das custas e se
estas já foram devidamente recolhidas, descabe um novo paga-
mento pela parte vencida, ao recorrer. Deverá ao final, se su-
cumbente, reembolsar a quantia;

III – Não caracteriza deserção a hipótese em que, acrescido o


valor da condenação, não houve fixação ou cálculo do valor de-
vido a título de custas e tampouco intimação da parte para o pre-
paro do recurso, devendo ser as custas pagas ao final;

IV – O reembolso das custas à parte vencedora faz-se necessá-


rio mesmo na hipótese em que a parte vencida for pessoa isenta
do seu pagamento, nos termos do art. 790-A, parágrafo único,
da CLT.

No que tange ao depósito recursal, o recurso de revista está sujeito às mesmas


regras do recurso ordinário. O valor do teto do depósito recursal como pressuposto de
admissibilidade do recurso de revista é o dobro do fixado para o recurso ordinário. Sobre
o depósito recursal, relevante o conteúdo do enunciado de Súmula 128 do TST, confira-
se:

48
I – É ônus da parte recorrente efetuar o depósito legal, em rela-
ção a cada novo recurso interposto, sob pena de deserção. Atin-
gido o valor da condenação, nenhum depósito mais é exigido
para qualquer recurso.

II – Garantido o juízo, na fase executória, a exigência de depó-


sito para recorrer de qualquer decisão viola os incisos II e LV do
art. 5º da CF/1988. Havendo, porém, elevação do valor do dé-
bito, exige-se a complementação da garantia do juízo.

III – Havendo condenação solidária de duas ou mais empresas,


o depósito recursal efetuado por uma delas aproveita as demais,
quando a empresa que efetuou o depósito pleiteia sua exclusão
da lide.

As pessoas jurídicas de direito público, bem como o Ministério Público do Tra-


balho, são isentos de preparo.

Também são isentos do pagamento das custas e do depósito recursal os bene-


ficiários da justiça gratuita (art. 790-A da CLT), os que litigam sob o pálio da assistência
judiciária sindical (art.14 da Lei n. 5.584/70), a massa falida (Súmula 86 do TST), a ECT
– Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (OJ 247, II da SBDI-1 do TST), o MPT
(art.790-A, II da CLT). Além desses, as entidades filantrópicas e as empresas em recu-
peração judicial (art.899, §10 da CLT).

Destaca-se que o valor do depósito recursal será reduzido pela metade para
entidades sem fins lucrativos, empregadores domésticos, microempreendedores indivi-
duais, microempresas e empresas de pequeno porte, conforme consignado no artigo
899, §9º da CLT.

3.1.4 A Regularidade Formal do Recurso de Revista

O recurso de revista ilustra via recursal extremamente técnica.

A Instrução Normativa n.23/03 do TST recomenda que sejam indicadas as folhas


dos autos em que se encontram

49
(I) a procuração;

(II) o depósito recursal e as custas; e

(III) os documentos que comprovam a tempestividade do recurso.

Ademais, é preciso que a peça recursal explicite:

(I) qual o trecho da decisão recorrida que consubstancia o prequestionamento


da controvérsia trazida no recurso; e

(II) qual o dispositivo de lei, súmula, orientação jurisprudencial do TST ou


ementa (com todos os dados que permitam identificá-la) que atrita com a
decisão regional.

Para comprovação da divergência justificadora do recurso, é necessário


que o recorrente:

(I) cite a fonte oficial ou repositório em que foi publicado; e

(II) transcreva, nas razões recursais, as ementas e/ ou trechos dos acórdãos


trazidos à configuração do dissídio, demonstrando os conflitos de teses que
justifiquem o conhecimento do recurso.

50
3.1.6 Pressupostos Específicos de Admissibilidade

O recurso de revista deve preencher todos os pressupostos genéricos direcio-


nados aos demais recursos como, por exemplo, cabimento, tempestividade, represen-
tação, preparo etc., ressaltando-se que, nesse recurso, não é aplicável o jus postulandi,
por força da Súmula nº 425 do TST.

Deve conter ainda os pressupostos específicos de admissibilidade, a saber:

a) o prequestionamento; e

b) a transcendência.

Além disso, ele somente será cabível quando invocar a divergência jurispruden-
cial ou a violação da lei federal ou da Constituição Federal.

51
3.1.7 Prequestionamento

Surge aqui o chamado prequestionamento, que consiste na obrigatoriedade de


que haja decisão prévia acerca do direito objetivo supostamente violado ou aplicado
de forma divergente.

Noutras palavras, "diz-se prequestionada a matéria ou questão quando na deci-


são impugnada haja sido adotada, explicitamente, tese a respeito" (Súmula nº 297, 1,
do TST).

Por tese explícita deve-se entender a tese jurídica apreciada e decidida pelo
tribunal a quo, independentemente de ter constado, no acórdão impugnado, referência
ao dispositivo legal.

O que se impõe, portanto, é juízo de valor proferido expressamente pelo tribunal


a quo. Isso quer dizer que a matéria estará prequestionada se, por exemplo, o acórdão
impugnado explanar que não há violação ao princípio do contraditório, sem que haja
necessidade de especificar o art. 5º, LV, da CF/88 (OJ nº 118 da SDI-I do TST).

Somente haverá prequestionamento, portanto, se houver tese jurídica expressa-


mente adotada na fundamentação do acórdão.

E importante destacar que, com o Novo CPC, a tese jurídica poderá estar decla-
rada inclusive no voto vencido, como se depreende do art. 941, 3º, in verbis:

§3º O voto vencido será necessariamente declarado e conside-


rado parte integrante do acórdão para todos os fins legais, inclu-
sive de pré-questionamento.

Ademais, atenta-se para o fato de que, no momento da interposição do recurso


de revista, o recorrente deverá indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia
o prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista, ou seja, o recorrente
deverá destacar no seu recurso o trecho da decisão que diz respeito à sua insurgência
(CLT, art. 896, §1-A), sob pena de não conhecimento.

Desse modo, não haverá tese jurídica e, portanto, prequestionamento, se a de-


cisão do TRT simplesmente adota os fundamentos da decisão de primeiro grau (OJ nº
151 da SDI-I do TST), vez que falta juízo de valor sobre a matéria.

52
Pode ocorrer de a parte invocar a matéria no seu recurso principal (por exemplo,
recurso ordinário), mas o tribunal não se manifestar sobre ela. Nesse caso, incumbe-
lhe opor embargos declaratórios objetivando o pronunciamento sobre o tema, sob pena
de preclusão (Súmula nº 297, II, do TST).

Sendo opostos os embargos de declaração, caso o tribunal, ainda assim, não se


pronuncie sobre o tema, será considerada prequestionada a matéria (Súmula nº 297,
III, do TST). Tem-se aqui o chamado prequestionamento ficto.

O CPC/2015 adota a tese do TST, reconhecendo o prequestionamento ficto,


conforme se observa em seu art. 1.025 (TST-IN no 39/2016, art. 90, parágrafo único),
in verbis:

Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos


que o embargante suscitou, para fins de pré-questionamento,
ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou re-
jeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omis-
são, contradição ou obscuridade.

De qualquer maneira, é de extrema importância atentar para o fato de que o


prequestionamento ficto tem incidência para o C. TST apenas na hipótese de questão
jurídica, mantendo a rigidez do prequestionamento no tocante à matéria de fato,97 já
que esta deve ser esgotada na instância ordinária.

Desse modo, se o Tribunal Regional for provocado a se manifestar sobre deter-


minado fato, por meio de embargos de declaração, e negar a existência de omissão,
não haverá prequestionamento ficto, admitindo-se o recurso de revista por negativa de
prestação jurisdicional, ou seja, por violação do art. 832 da CLT, do art. 489 do
CPC/2015 e do art. 93, IX, da CF/88 (Súmula nº 459 do TST).

O art. 896, §1º-A, inciso IV, da CLT, acrescentado pela Lei nº 13.467/2017, trata
exatamente dessa hipótese, ou seja, da omissão de pronunciamento do Tribunal refe-
rente à matéria de fato ou de prova. De acordo com o dispositivo, no caso de suscitar
preliminar de nulidade de julgado por negativa de prestação jurisdicional, o recorrente
deverá transcrever na peça recursal o trecho dos embargos declaratórios em que foi
pedido o pronunciamento do tribunal sobre questão veiculada no recurso ordinário e o

53
trecho da decisão regional que rejeitou os embargos quanto ao pedido, para cotejo e
verificação, de plano, da ocorrência da omissão.

Em resumo, havendo embargos de declaração para suprir omissão do TRT e


caso este não se pronuncie expressamente acerca da matéria impugnada, as conse-
quências serão as seguintes:

a) tratando-se de matéria de direito (questão jurídica), estará preenchido o pre-


questionamento ficto e o TST poderá examinar a matéria;

b) tratando-se de matéria de fato ou prova, haverá a possibilidade de conheci-


mento da nulidade da prestação jurisdicional pelo TST, determinando-se o
retorno dos autos ao TRT para manifestação acerca de tais matérias.

Consigne, ainda, que entende o TST que, nascendo a violação na própria deci-
são recorrida (por exemplo, julgamento extra petita no TRT), não será exigível o pre-
questionamento (OJ nº 119 da SDI-I do TST).

Na seara trabalhista, o prequestionamento é exigido nos recursos de revista, e


extraordinário para o STF.

3.1.8 Transcendência

O recurso de revista será analisado se oferecer transcendência com relação aos


reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica (CLT, art., 896-A), isso
significa que a causa não pode produzir reflexos apenas para as partes, mas ultrapassar
(transcender) aquela relação processual.

Aproxima-se da repercussão geral exigida no recurso extraordinário para o STF


(CPC/2015, art. 1.035, §1º), sendo um pressuposto intrínseco do recurso de revista.
É o último pressuposto a ser verificado pelo C. TST.

De acordo com o art. 896-A, §1º, da CLT, são indicadores de transcendência:

54
(i) econômica, o elevado valor da causa;

(ii) política, o desrespeito da instância recorrida à jurisprudência sumulada do


Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal;

(iii) social, a postulação, por reclamante-recorrente, de direito social constitu-


cionalmente assegurado;

(iv) jurídica, a existência de questão nova em torno da interpretação da legisla-


ção trabalhista.

A análise da existência ou não da transcendência é exclusiva do TST, vedando


sua verificação pelo presidente do TRT (CLT, art. 896-A, §6º).

Nesse contexto, o art. 896-A, 2º, da CLT declina que o relator do recurso de
revista, monocraticamente, poderá denegar seguimento ao recurso que não demonstrar
transcendência, cabendo agravo da decisão ao colegiado. O prazo do agravo é de 8
dias úteis (TST-IN nº 39, art. §1º, §2º).

Interposto o agravo da decisão monocrática que denegou seguimento ao recurso


de revista por ausência de transcendência, no julgamento do agravo o recorrente poderá
realizar sustentação oral sobre a questão da transcendência durante 5 minutos em ses-
são 100 (CLT, art. 896-A, §1º §3 º).

Mantido o voto do relator quanto à não transcendência do recurso, será lavrado


acórdão com fundamentação sucinta, que constituirá decisão irrecorrível no âmbito
do tribunal (CLT, art. 896-A, §4º).

Impede, portanto, a interposição dos embargos de divergência para a SDI.

Esse dispositivo, porém, não obsta a interposição dos embargos de declaração,


vez que todas as decisões, inclusive a em análise, estão sujeitas aos embargos. Do
mesmo modo, caberá recurso extraordinário para o STF, desde que presentes seus
pressupostos.

Por fim, o art. 896-A, §5º, da CLT declina que é irrecorrível a decisão monocrática
do relator que, em agravo de instrumento em recurso de revista, considerar ausente a
transcendência da matéria.

55
3.1.9 Direito Intertemporal

O pressuposto recursal da transcendência foi inserido no art. 896-A da CLT, por


meio da Medida Provisória nº 2.226, de 4.9.2001. Embora já estivesse no ordenamento
celetista desde 2001, não havia regulamentação acerca dos indicadores da transcen-
dência, afastando a necessidade de sua observância até a chegada da Lei nº 13.467/17,
a qual definiu referidos indicadores.

Desse modo, o C. TST no art. 19 da Instrução Normativa nº 41 estabelece que


o exame de transcendência incidirá apenas nos "acórdãos proferidos pelos Tribunais
Regionais do Trabalho publicados a partir de 11 de novembro de 2017, excluídas as
decisões proferidas em embargos de declaração".

Vê-se que a Corte trabalhista excluiu as decisões proferidas nos embargos de


declaração. Nesses casos, o C. TST entende que deverá ser observada a data da pu-
blicação da sentença ou do acórdão embargados e não da decisão proferida nos em-
bargos, quando estes não tiverem efeito modificativo. Por outro lado, sendo acolhidos
os embargos de declaração com efeito modificativo, entende o Tribunal Superior do
Trabalho que deve incidir a norma vigente na data da publicação da decisão dos em-
bargos.

3.1.10 Hipóteses de Cabimento

O recurso de revista serve para impugnar acórdão dos TRTs proferidos em grau
de recurso ordinário. Isso significa que o recurso de revista somente caberá depois do
julgamento do recurso ordinário, impondo dessa forma que a demanda tenha se iniciado
na Vara do Trabalho.

É por isso que não cabe, como regra, recurso de revista de ação de competência
originária dos tribunais (exemplo: ação rescisória, dissídio coletivo etc.). Da mesma
forma, para o C. TST, não cabe recurso de revista de decisão proferida em agravo de
instrumento (Súmula nº 218 do TST).

O recurso de revista será cabível quando demonstrada a:

a) divergência jurisprudencial; ou

b) violação literal de disposição de lei federal ou afronta direta e literal à Cons-


tituição Federal.

56
3.1.10.1 Divergência Jurisprudencial

Divergência jurisprudencial é entendida como a existência de decisões confli-


tantes, ou seja, quando analisado um dispositivo legal, embasado em fatos idênticos
ou semelhantes 104 cada tribunal interpreta o dispositivo de modo diverso.

A divergência jurisprudencial a legitimar o recurso de revista, nos termos das


alíneas "a" e "b" do art. 896 da CLT, ocorre quando:

a) os Tribunais Regionais do Trabalho derem ao mesmo dispositivo de lei


federal interpretação diversa da que lhe houver dado outro Tribunal Re-
gional do Trabalho, no seu Pleno ou Turma, ou a Seção de Dissídios In-
dividuais do Tribunal Superior do Trabalho, ou contrariarem súmula de
jurisprudência uniforme dessa Corte ou súmula vinculante do Su-
premo Tribunal Federal;

b) os Tribunais Regionais do Trabalho derem ao mesmo dispositivo de lei es-


tadual, convenção coletiva de trabalho, acordo coletivo, sentença nor-
mativa ou regulamento empresarial de observância obrigatória em área
territorial que exceda a jurisdição do tribunal regional prolator da deci-
são recorrida, interpretação divergente, na forma da alínea “a”.

Nesse ponto, é necessário frisar que a divergência deve ser entre tribunais re-
gionais diferentes, não servindo a divergência existente entre Turmas de um mesmo
TRT (OJ nº 111 da SDI-I do TST). Isso ocorre porque o TST tem a função de unificar a
jurisprudência nacional em sede de matéria trabalhista, afastando a dissidência entre
os Tribunais Regionais.

Já a divergência dentro do mesmo tribunal é resolvida, internamente, por meio


do incidente de uniformização e não diretamente pelo recurso de revista.

Por outro lado, será cabível o recurso de revista quando contrariar decisões da
SDI (I ou II), assim como as súmulas e as orientações jurisprudenciais e precedentes
normativos. Nesse sentido, a OJ nº 219 da SDI - I do TST:

57
OJ nº 219 da SDI — I do TST. Recurso de Revista ou de Em-
bargos fundamentado em Orientação Jurisprudencial do TST

É válida, para efeito de conhecimento do recurso de revista ou


de embargos, a invocação de Orientação Jurisprudencial do Tri-
bunal Superior do Trabalho, desde que, das razões recursais,
conste o seu número ou conteúdo.

Ademais, pode ocorrer de uma empresa estar sediada em mais de um regional,


de modo que uma norma estadual, convenção coletiva, acordo coletivo, sentença nor-
mativa e regulamento de empresa sejam interpretados de forma divergente pelos tribu-
nais regionais.

Agora precisa ficar claro:

Somente tem cabimento o recurso de revista por divergência se a norma


extrapolar o âmbito de, pelo menos, um tribunal regional (OJ no 147 da 91-1 do
TST).

Portanto, o recurso de revista terá cabimento quando houver divergência de in-


terpretação das seguintes normas:

(I) lei federal;

(II) lei estadual;

(III) convenção coletiva de trabalho quando extrapolar o


âmbito de pelo menos um
(IV) acordo coletivo; TRT

(V) sentença normativa; ou

(VI) regulamento empresarial

58
Divergências autorizadoras:

A divergência apta a ensejar o recurso de revista deve ser atual, não se consi-
derando como tal a ultrapassada por súmula, ou superada por iterativa e notória juris-
prudência do Tribunal Superior do Trabalho (CLT, art. 896, §7º).

Quanto à comprovação da divergência jurisprudencial, ela vem disposta no 8º


do art. 896 da CLT, bem como na Súmula n o 337 do TST, in verbis:

Súmula nº 337 do TST. Comprovação de divergência jurispru-


dencial. Recursos de revista e de embargos

I. Para comprovação da divergência justificadora do recurso,


é necessário que o recorrente:

a. Junte certidão ou cópia autenticada do acórdão paradigma


ou cite a fonte oficial ou o repositório autorizado em que foi pu-
blicado; e

b. Transcreva, nas razões recursais, as ementas e/ou tre-


chos dos acórdãos trazidos à configuração do dissídio, demons-
trando o conflito de teses que justifique o conhecimento do

59
recurso, ainda que os acórdãos já se encontrem nos autos ou
venham a ser juntados com o recurso;

II. A concessão de registro de publicação como repositório


autorizado de jurisprudência do TST torna válidas todas as suas
edições anteriores;

III. - A mera indicação da data de publicação, em fonte oficial,


de aresto paradigma é inválida para comprovação de divergên-
cia jurisprudencial, nos termos do item I, "a", desta súmula,
quando a parte pretende demonstrar o conflito de teses medi-
ante a transcrição de trechos que integram a fundamentação do
acórdão divergente, uma vez que só se publicam o dispositivo e
a ementa dos acórdãos;

IV. É válida para a comprovação da divergência jurispruden-


cial justificadora do recurso a indicação de aresto extraído de
repositório oficial na internet, desde que o recorrente: (a) trans-
creva o trecho divergente; (b) aponte o sítio de onde foi extraído;
e (c) decline o número do processo, o órgão prolator do acórdão
e a data da respectiva publicação no Diário Eletrônico da Justiça
do Trabalho.

V. A existência do código de autenticidade na cópia, em for-


mato pdf, do inteiro teor do aresto paradigma, juntada aos autos,
torna-a equivalente ao documento original e também supre a au-
sência de indicação da fonte oficial de publicação.

Por fim, consigne-se que, se a decisão recorrida resolver determinado item do


pedido por diversos fundamentos, a jurisprudência transcrita deve abranger a todos (Sú-
mula nº 23 do TST).

3.1.10.2 Incidente de Uniformização Trabalhista

Os Tribunais são fragmentados em seções especializadas, turmas, câmaras


etc., com a finalidade de agilizar a prestação jurisdicional. Contudo, essa fragmentação
pode levar a entendimentos conflitantes, ganhando relevância o incidente de

60
uniformização consistente em mecanismo de resolução das divergências jurisprudenci-
ais existentes dentro do Tribunal (interna corporis).

Nesse contexto, estabelecia o art. 896, §3º, da CLT, que:

§3ºOs Tribunais Regionais do Trabalho procederão, obrigatoria-


mente, à uniformização de sua jurisprudência e aplicarão, nas
causas da competência da Justiça do Trabalho, no que couber,
o incidente de uniformização de jurisprudência previsto nos ter-
mos do Capítulo I do Título IX do Livro I da Lei no 5.869, de 11
de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

Poderia ocorrer, no entanto, de o Tribunal Regional não realizar espontanea-


mente tal uniformização. Nesse caso, ganhavam relevância os 40 e 50 do art. 896 da
CLT, inseridos pela Lei no 13.015/14. Melhor explicando:

Antes da Lei no 13.015/14, o incidente de uniformização já era aplicável ao pro-


cesso do trabalho, de modo que o art. 896, 30, da CLT contemplava a obrigatoriedade
de os Tribunais Regionais uniformizarem seu entendimento, mas como não existia um
controle superior, a uniformização passava a ser "faculdade" dos tribunais. Contudo,
após o advento da referida lei, criou-se um mecanismo de imposição da uniformização,
além de dar origem a um incidente de uniformização diferenciado' que denominávamos
incidente de uniformização trabalhista.

Assim, estabelecia o art. 896, §§ 4º e 5º, da CLT:

§4º Ao constatar, de ofício ou mediante provocação de qualquer


das partes ou do Ministério Público do Trabalho, a existência de
decisões atuais e conflitantes no âmbito do mesmo Tribunal Re-
gional do Trabalho sobre o tema objeto de recurso de revista, o
Tribunal Superior do Trabalho determinará o retorno dos autos
à Corte de origem, a fim de que proceda à uniformização da ju-
risprudência.

§5º A providência a que se refere o 40 deverá ser determinada


pelo Presidente do Tribunal Regional do Trabalho, ao emitir juízo
de admissibilidade sobre o recurso de revista, ou pelo Ministro
Relator, mediante decisões irrecorríveis.

61
Caso o TRT não fizesse a uniformização, espontaneamente, o TST, de ofício ou
a requerimento da parte ou do Ministério Público do Trabalho, poderia determinar o re-
torno dos autos à origem para que se procedesse à uniformização, quando existissem
decisões atuais e conflitantes no âmbito do mesmo Tribunal Regional do Trabalho sobre
o tema objeto de recurso de revista (CLT, art. 896, §4º). criou-se, assim, um mecanismo
de controle pelo C. TST, impondo a efetivação do §3º do art. 896 da CLT.

No retorno dos autos ao Tribunal regional, a sedimentação do entendimento po-


deria ocorrer de duas formas: 1) súmulas: quando o entendimento fosse tomado pela
maioria absoluta dos membros que integram o tribunal; 2) tese jurídica prevalente:
quando o entendimento decorrer da maioria simples.

Após a sedimentação, o §6º do art. 896 declinava que:

6º Após o julgamento do incidente a que se refere o 3 0, unica-


mente a súmula regional ou a tese jurídica prevalecente no Tri-
bunal Regional do Trabalho e não conflitante com súmula ou ori-
entação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho servirá
como paradigma para viabilizar o conhecimento do recurso de
revista, por divergência.

O referido dispositivo buscava restringir o cabimento do recurso de revista, obs-


tando a utilização de acórdãos regionais para demonstrar a divergência, quando o tema
já estivesse pacificado em súmula regional ou tese jurídica prevalente.

Era, pois, um pressuposto de admissibilidade do recurso de revista.

Embora essa sistemática tivesse sido criada em 2014, pela Lei 13.015/14, o le-
gislador, depois de 3 anos, simplesmente revogou os §§3º a 6º do art. 896 da CLT,
eliminando esse mecanismo de controle exercido pelo TST, bem como o referido pres-
suposto para o cabimento do recurso de revista.

Conquanto a Lei no 13.467/17 tenha revogado o incidente de uniformização de


jurisprudência trabalhista, evidentemente, não afastou o dever de os tribunais uniformi-
zarem sua jurisprudência, incidindo, subsidiariamente ao processo trabalho, o art. 926
do CPC/2015, o qual incumbiu os tribunais de uniformizar "sua jurisprudência e mantê-
la estável, íntegra e coerente", como advertiu o TST no art. 18, caput, da IN nº 41/2018.

62
O mecanismo para implementar a uniformização deverá estar contemplado no
regimento interno do tribunal, o que vem previsto no art. 926, §1º / do CPC/2015, de
modo que o incidente de uniformização de jurisprudência deverá observar especial-
mente as diretrizes do art. 926, §2º e do art. 927, §1º a 5º ambos do CPC/2015.

3.1.10.3 Direito Intertemporal

A Lei no 13.467/17 revogou os §§3º a 6º do art. 896 da CLT que versavam sobre
o incidente de uniformização trabalhista. Tais regras estavam ligadas, portanto, aos re-
cursos.

Na hipótese de recursos, o direito intertemporal é aplicado da seguinte forma:


todos os pressupostos recursais, inclusive o cabimento, serão analisados à luz da lei
velha (vigente na data da publicação da decisão), mas os trâmites processuais posteri-
ores de processamento e julgamento seguirão a lei nova, em decorrência da aplicação
imediata da norma.

Desse modo, como o incidente de uniformização é trâmite processual, a revoga-


ção promovida pela Lei n. 13.467/17 deveria ter aplicação imediata. No entanto, o C.
TST adotou duas sistemáticas diferentes acerca da aplicação da Lei no 13.467/17 no
presente caso:

1. se o incidente de uniformização foi suscitado ou iniciado antes


da vigência da Lei nº 13.467/17, no âmbito dos Tribunais Regi-
onais do Trabalho ou por iniciativa de decisão do Tribunal Su-
perior do Trabalho, continuam a ser observados os dispositivos
que eram vigentes na data da interposição do recurso, ou seja,
os §§3º a 6º do art. 896 serão aplicados, tendo eficácia obriga-
tória a tese jurídica prevalente ou a súmula criadas em decor-
rência do incidente (TST-IN nº 41, art. 18, §§1º e 3º ); A siste-
mática idealizada pelo C. TST é que, já tendo sido iniciado ou
suscitado o incidente, ele não perde seu objeto com a chegada
da Lei no 13.467/17 devendo ser julgado.

2. caso o recurso de revista ou o agravo de instrumento no âmbito


do TST estivesse concluso com o relator e ainda não tinha sido
julgado até a entrada em vigor da Lei nº 13.467/17, não se apli-
cam as disposições dos §§3º a 6º do art. 896 da CLT.

63
3.1.10.4 Violação literal de disposição de lei federal ou afronta direta e literal à Consti-
tuição Federal

Além da divergência jurisprudencial, o recurso de revista será cabível quando a


decisão do tribunal regional for proferida em violação literal à disposição de lei federal
ou afrontar direta e literalmente a Constituição Federal.

No processo do trabalho, o recurso de revista poderá abranger legislação infra-


constitucional e norma constitucional. Difere, portanto, do processo civil em que o re-
curso é bifurcado, vez que as violações à legislação infraconstitucional são remetidas
ao STJ, por meio do recurso especial, enquanto as afrontas à Constituição Federal são
encaminhadas ao STF, por meio do recurso extraordinário.

Na seara laboral, porém, primeiro se exaure toda a jurisdição trabalhista e, so-


mente após, caso persista a violação à Constituição Federal, será admitido o recurso
extraordinário ao STF.

Nessa hipótese o recorrente deverá indicar expressamente o dispositivo de lei


ou da Constituição tido como violado (Súmula nº 221 do TST). Não se exige, porém,
que a parte utilize as expressões "contrariar", "ferir", "violar", etc. (OJ nº 257 da SDI-I do
TST).

É importante destacar que, tratando de violação de norma constitucional, o re-


corrente deverá demonstrar a afronta direta ao comando legal, vedando-se a ofensa
indireta ou reflexa da norma constitucional.

A ofensa indireta ou reflexa ocorre quando o recorrente tiver que invocar uma
norma infraconstitucional para chegar à norma constitucional. Nesse caso, não será ad-
mitido o recurso de revista, bem como o extraordinário (Súmula nº 636 do STF).

Portanto, caso ocorra a violação reflexa da norma constitucional, o recorrente


deverá invocar o dispositivo infraconstitucional tido por violado para que seu recurso
seja cabível, sendo insuficiente (ou desnecessária) a indicação do dispositivo constitu-
cional.

64
3.1.11 Rito Sumaríssimo

Nas causas sujeitas ao rito sumaríssimo, somente será admitido o recurso de


revista por:

a) contrariedade à súmula do TST;

b) contrariedade à súmula vinculante do STF; e

c) violação direta da Constituição da República (CLT, art. 896, §9º).

Desse modo, não caberá recurso de revista no rito sumaríssimo quando:

a) violar lei federal;

b) houver divergência jurisprudencial;

c) contrariar orientação jurisprudencial do TST (Súmula 442 do TST).

3.1.12 Fase de Execução

Na fase de execução, o cabimento do recurso de revista é ainda mais restrito,


sendo admitido apenas quando houver ofensa direta e literal de norma da Constituição
Federal (CLT, art. 896, §2º). No mesmo sentido, a Súmula nº 266 do TST:

Súmula nº 266 do TST. Recurso de revista. Admissibilidade.


Execução de sentença. A admissibilidade do recurso de revista
interposto de acórdão proferido em agravo de petição, na liqui-
dação de sentença ou em processo incidente na execução, in-
clusive os embargos de terceiro, depende de demonstração ine-
quívoca de violência direta à Constituição Federal.

65
Essa é a regra. Porém, é importante observar que a Lei nº 13.015/14 ampliou o
cabimento do recurso de revista na fase de execução em duas hipóteses:

(I) execução fiscal;

(II) controvérsias da fase de execução que envolvam a Certidão Negativa de


Débitos Trabalhistas (CNDT).

Nesses dois casos, o recurso de revista será cabível:

a) por violação à lei federal;

b) divergência jurisprudencial;

3.1.13 Quadro resumido das hipóteses de cabimento do recurso de revista

Rito ordinário Rito sumaríssimo Fase de execução*

Afrontar a
Afrontar a Constituição Afrontar a
Constituição
Federal Constituição Federal
Federal

Contrariar súmula do
Contrariar súmula do TST
TST

Contrariar súmula vinculante Contrariar súmula


do STF vinculante do STF

Violar lei federal


Contrariar Orientação
Jurisprudencial
Divergência jurisprudencial

* Apenas nas hipóteses de execução fiscal e controvérsias da fase de execução que envolvam a
Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT), o recurso de revista será cabível quando: violar
a lei federal, por divergência jurisprudencial e por ofensa à Constituição Federal (CLT, art. 896,
§10).

66
MÓDULO 3 – TEORIA GERAL DOS
PRECEDENTES
O precedente é decisão judicial tomada à luz de um caso concreto, cujo núcleo
essencial pode servir como diretriz para o julgamento posterior de casos análogos.

O Brasil, país de civil law, não dava tanta importância aos precedentes até a
significativa modificação dada ao tema pelo Novo Código de Processo Civil – CPC. Por-
tanto, é fundamental que o operador do Direito compreenda a criação do precedente, a
conceituação, a aplicação e a sua superação, além da dinâmica do sistema de prece-
dentes e recursos de revista repetitivos.

Isso permitirá:

(I) estabelecer de forma precisa a extensão da eficácia vinculante dos julgados,


bem como hipóteses em que será possível a distinção do caso concreto ou
a superação do precedente;

(II) perceber os contornos que o Direito e o Processo do Trabalho vêm assu-


mindo, e se há coerência na evolução jurisprudencial dos Tribunais;

(III) compreender de que forma o sistema pode ser aperfeiçoado.

Seção 1 – Cenário Pró-Aplicação dos Precedentes

1.1 Introdução

A preocupação com o inchaço de demandas judiciais e a preocupação com a


segurança jurídica das decisões para que seja evitada a prolação de decisões conflitan-
tes não é uma novidade.

67
A sociedade de massa com relações jurídicas com extratos parecidos ou até
mesmo idênticos, o elevado número de processos, a fragilidade da atuação individual e
formato atomizado de solução de conflitos se mostrou insuficiente, com necessidade de
técnicas mais eficientes para o quadro de problemas em bloco.

Desde o antigo CPC já se verificava a previsão de incidentes de uniformização


de jurisprudência – CPC antigo (art. 476-479), assim como na própria Constituição Fe-
deral em que há o Incidente de julgamento de inconstitucionalidade com a cláusula de
reserva de plenário (art. 97 CF), além da Lei n. 10.259/2001 que se preocupou com a
criação da turma nacional de uniformização dos Juizados Especiais Federais.

A solução conjunta de processos com pretensões isomórficas e o próprio requi-


sito da Repercussão geral no Recurso Extraordinário, além da previsão do Recurso Es-
pecial Repetitivo, no CPC antigo, nos artigos 543-C e 543-B, evidenciam que o legisla-
dor do Código de Processo Civil de 2015 deu ênfase àquilo que já vinha sendo uma
preocupação antiga.

O artigo 926 do CPC brasileiro inovou ao dispor que “os tribunais devem unifor-
mizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente”. Com isso, impõe de-
veres gerais para os tribunais no âmbito da construção e manutenção de um sistema
de precedentes (jurisprudência e súmula), persuasivos e obrigatórios, sendo eles:

a) o dever de uniformizar sua jurisprudência;

b) o dever de manter essa jurisprudência estável;

c) o dever de integridade; e d) o dever de coerência.

O dever de uniformização de jurisprudência pressupõe que o tribunal não possa


se omitir diante de divergência interna, entre seus órgãos fracionários, sobre a mesma
questão jurídica. Um dos aspectos desse dever é a necessidade de a jurisprudência dos
tribunais ser organizada e sintetizada, razão pela qual as súmulas e orientações juris-
prudenciais ganharam bastante relevância nas últimas décadas.

O dever de manter a jurisprudência estável se relaciona com o princípio da se-


gurança jurídica. Qualquer mudança de posicionamento exige forte carga argumenta-
tiva.

Já o dever de integridade e de coerência consiste na interpretação dos disposi-


tivos no sentido de dar-lhe máxima efetividade, sendo importante garantir a sua

68
consistência, ou seja, a robustez da racio decidenci. A coerência impõe o dever de au-
torreferência, portanto: o dever de dialogar com os precedentes anteriores, até mesmo
para superá-los e demonstrar eventual distinguishing.

Passa-se, portanto, ao tema dos precedentes judiciais propriamente ditos.

1.2 Conceito, estrutura, preocupações e vantagens dos precedentes


judiciais

O precedente judicial é a decisão proferida por órgão do Poder Judiciário em um


caso concreto, cujo elemento normativo pode servir como diretriz para o julgamento
posterior de casos parecidos.

Típico da família da common law, em que as questões são menos reguladas por
leis e mais por posicionamentos dos tribunais, o precedente passou a ter importância
mais elevada com o advento do Código de Processo Civil de 2015, em especial em seu
artigo 926, em que se objetivou a diminuição de processos repetidos no Judiciário bra-
sileiro, com, por exemplo, a criação do Incidente de resolução de demandas repetitivas,
os recursos repetitivos e o incidente de assunção de competência.

Todo precedente é composto de duas partes: as circunstâncias de fato que em-


basam a controvérsia; e a tese ou o princípio jurídico assentado na motivação (ratio
decidendi) do provimento decisório.

O precedente judicial está inserido na fundamentação da decisão e não no seu


dispositivo e consiste no fundamento determinante para que o dispositivo da decisão
seja confeccionado em determinado sentido.

Assim, embora comumente se faça referência à eficácia obrigatória ou persua-


siva do precedente, deve-se entender que o tem caráter obrigatório ou persuasivo é a
sua ratio decidendi, sendo apenas um dos elementos que compõem o precedente.

A ratio decidendi são os fundamentos jurídicos que sustentam a decisão, quais


sejam, a indicação dos fatos relevantes da causa (statement of material facts), do raci-
ocínio lógico-jurídico da decisão (legal reasoning) e do juízo decisório (judgement).

Já o obiter dictum (obiter dicta, no plural), em tradução livre “argumentos ditos


de passagem, laterais”, consiste nos argumentos que são expostos apenas de

69
passagem na motivação da decisão, consubstanciando juízos acessórios, provisórios,
secundários, impressões ou qualquer outro elemento que não tenha influência relevante
e substancial para a decisão ("prescindível para o deslinde da controvérsia").

As vantagens da aplicação dos precedentes consistem em coletivizar a solução,


preservar as individualidades, facilitar a aferição da vinculação à decisão final, repartir
equanimemente custos, verticalizar a jurisdição sem mutilar a competência dos tribunais
locais e penetrar em espaços não solucionados pelas ações coletivas.

1.3 Efeitos dos Precedentes

Os efeitos dos precedentes podem ser classificados em:

(I) vinculante obrigatório (art. 927 CPC), o qual abrange todos os demais efei-
tos;

(II) persuasivo, que é mecanismo de convencimento;

(III) autorizante (arts. 311, II e 932, V CPC) e rescindentes (art. 525, par. 12; 535,
par. 5º; 966, V CPC).

A previsão de vinculação dos precedentes estabelecida pelo CPC deve ser in-
terpretada a luz da Constituição Federal, pois somente a Constituição Federal pode dis-
ciplinar o caráter vinculante, ou não, da jurisprudência dos Tribunais. Não há questiona-
mentos acerca do caráter vinculante das súmulas vinculantes do STF e para as deci-
sões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em controle direto de constitucionali-
dade, únicas situações em que há autorização constitucional de vinculação da jurispru-
dência (art. 103-A C.F.).

70
1.4 Distinção do precedente e técnicas de superação do precedente:
overruling e overriding

As hipóteses de distinguish, overruling e overriding são relativas a não aplicação


dos precedentes. Notando o magistrado que há distinção (distinguishing) entre o caso
sub judice e aquele que ensejou o precedente, pode seguir um desses caminhos:

a) dar à ratio decidendi uma interpretação restritiva, por entender que peculia-
ridades do caso concreto impedem a aplicação da mesma tese jurídica ou-
trora firmada (restrictive distinguishing), caso em que julgará o processo li-
vremente, sem vinculação ao precedente;

b) ou estender ao caso a mesma solução conferida aos casos anteriores, por


entender que, a despeito das peculiaridades concretas, aquela tese jurídica
lhe é aplicável (ampliative distinguishing).

Já o overruling é técnica através da qual um precedente perde a sua força vin-


culante e é substituído (overruled) por um outro precedente.

O próprio tribunal que firmou o precedente pode abandoná-lo em julgamento fu-


turo. Essa substituição pode ser (i) expressa (express overruling), quando um tribunal
resolve, expressamente, adotar uma nova orientação, abandonando a anterior; ou (ii)
tácita (implied overruling), quando uma orientação é adotada em confronto com posição
anterior, embora sem expressa substituição desta última.

As hipóteses mais comuns de superação do precedente são quando o prece-


dente está obsoleto e desfigurado ou quando é absolutamente injusto e/ou incorreto; ou
ainda quando se revelar inexequível na prática.

O overriding é técnica através da qual o tribunal apenas limita o âmbito de inci-


dência de um precedente, em função da superveniência de uma regra ou princípio legal.
Nele, portanto, não há superação total do precedente, mas apenas uma superação par-
cial.

Esses institutos estão previstos no artigo 489, inciso VI do CPC.

71
Seção 2 – Precedentes no Processo do Trabalho

2.1 Introdução

Apesar do grande incentivo à aplicação dos precedentes judiciais pelo CPC de


2015, o § 2º do artigo 8º da CLT dispõe que “Súmulas e outros enunciados de jurispru-
dência editados pelo Tribunal Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Tra-
balho não poderão restringir direitos legalmente previstos nem criar obrigações que não
estejam previstas em lei.”

De certa forma, tal redação restringiria a capacidade dos tribunais do trabalho


de produzir precedentes, tratando-os como meros “órgãos aplicadores de leis”.

Ocorre que, no modelo constitucional de processo, todas as leis devem ser in-
terpretadas em conformidade aos valores democráticos e republicanos e aos princípios
albergados na Constituição Federal, em especial o princípio da dignidade da pessoa
humana.

Desse modo, o § 2º do art. 8º da CLT, inserido pela Lei n. 13.467/2017, deve ser
interpretado conforme a Constituição, a fim de se permitir a plenitude da atividade juris-
dicional (CF, art. 5º, XXXV) da Justiça do Trabalho, cabendo aos órgãos da Justiça do
Trabalho, ao aplicar o ordenamento jurídico, atender “aos fins sociais e às exigências
do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e obser-
vando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência”
(CPC, artigos 1º e 8°).

Feita essa observação, adentraremos nas técnicas de julgamento e peculiarida-


des dos precedentes trabalhistas.

2.2 Incidente de resolução de demandas repetitivas no âmbito dos


Tribunais do Trabalho

72
2.2.1. Conceito e pressupostos

O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) consiste em técnica


de julgamento destinado à criação de uma tese jurídica que será aplicada a todos os
processos em que se discute a mesma questão, no âmbito da jurisdição do Tribunal
prolator, sendo cabível tanto para os TRTs, quanto para o TST.

Os pressupostos (art. 976 e art.896-C da CLT) são cumulativos: (i) é necessário


alegar e demonstrar a efetiva repetição de processos, ou seja, de demandas baseadas
na mesma questão controversa de direito, sendo importante destacar que não há parâ-
metro quantitativo; (ii) é necessário haver risco à segurança jurídica e à isonomia.

2.2.2. Legitimidade e Admissibilidade

A legitimidade para o pleito de instauração do IRDR é do juiz ou relator do pro-


cesso ou recurso, das partes e/ou do MPT e da DPU, no âmbito trabalhista e será diri-
gido ao presidente do Tribunal que deve distribuir e inserir o pleito nos registros eletrô-
nicos do Conselho Nacional de Justiça (art. 979 CPC), com ampla publicidade do con-
teúdo do incidente em prol da identificação do objeto, fundamental para gestão dos re-
petitivos.

A admissibilidade do incidente é realizada através do Órgão competente colegi-


ado, estabelecido pelo Regimento Interno do Tribunal correspondente, vedada decisão
unipessoal, ainda que pelo Presidente do Tribunal. Verifica-se, portanto, a preocupação
com o contraditório qualificado.

Não pode ser admitido o requerimento de decisão já afetada nos Tribunais Su-
periores (art. 976, par. 4º do CPC).

A admissão suspende os processos, com automática (ex lege) comunicação aos


órgãos competentes, sendo permitida impugnação à suspensão (art. 982 do CPC).

Todas as medidas de urgência são direcionadas ao juízo onde o processo está


suspenso e a extensão dos efeitos do IRDR restringem-se à abrangência territorial do
tribunal (art. 982, par. 3º do CPC).

O Tribunal Superior do Trabalho, por meio do art. 8º da Instrução Normativa


n.39/16 entendeu aplicável o IRDR ao Processo do Trabalho. Importante destacar que
do julgamento do mérito do incidente pelo regional caberá recurso de revista para o

73
Tribunal Superior do Trabalho, dotado de efeito meramente devolutivo, nos termos dos
artigos 896 e 899 da CLT, que indica eficácia vinculante da tese adotada pelo TST a
todos os processos com a mesma a causa jurídica no país.

2.2.3. Competência, seleção de causas, instrução e processamento

A competência para processar e julgar Incidente de Resolução de Demandas


Repetitivas está prevista nos artigos 978, 982, I, 985, I do CPC determinando ser do
órgão que o regimento interno do respectivo Tribunal indicar, sendo sempre necessário
que seja um órgão colegiado (no caso trabalhista, um TRT).

A seleção de causas consiste na afetação dos processos selecionados, con-


forme artigos 1036 par. 1º e 1037 do CPC, podendo não ser afetado o processo em que
tenha sido o incidente suscitado, sendo necessário, no mínimo, dois processos para o
processamento na forma de IRDR, de acordo com o artigo 1036, parágrafos 1º e 5º do
CPC.

Os critérios definidores para a seleção de causas estão ventilados no art. 1036,


par. 6º do CPC, sendo

(I) a amplitude do contraditório na origem, ou seja, a completude e diversidade


dos argumentos, a qualidade da argumentação (clareza, logicidade e conci-
são), o efetivo contraditório, a inexistência de restrições à cognição e à prova

(II) a pluralidade e representatividade dos sujeitos, tendo preferência para ca-


sos que envolvam litisconsórcio e intervenção de terceiros, Amicus curiae,
audiência pública e ações coletivas cujas partes sejam o Ministério Público
do Trabalho e associações de âmbito nacional.

O processamento do incidente apresenta uma série de peculiaridades. Primeiro


que é permitida audiência pública, com manifestação do Ministério Público do Trabalho
(destacando-se que neste tópico se trata do incidente no âmbito da Justiça do Trabalho),
com posterior sessão de julgamento (art. 984 do CPC), com previsão de sustentação
oral, cujo tempo é repartido, inclusive com presença e direito de fala para o amicus

74
curiae. Por último, o Ministério Público do Trabalho encerra a sessão com sua fala, antes
do julgamento final.

Instaurado o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, o órgão julgador


tem prazo de um ano para proferir decisão, com preferência sobre os demais feitos, de
acordo com o artigo 980 do CPC, estando os demais processos cuja questão de direito
é a mesma suspensos durante esse período. A suspensão cessa quando o referido
prazo não é cumprido, porém o relator pode fundamentar decisão em sentido contrário
determinando a manutenção da suspensão.

Destaca-se que o interesse público é prevalecente em casos submetidos a técnica


de julgamento de IRDR e em razão dele há restrições ao princípio dispositivo como, por
exemplo, a desistência ineficaz (art. 976, parágrafo 1º do CPC).

Outra diferença significativa do procedimento do IRDR é a manifestação obrigató-


ria do Ministério Público, se não for ele o requerente, devendo assumir a titularidade do
processo em caso de desistência do abandono da parte (Art. 976, parágrafo 2º do CPC).
O requerimento de processamento via incidente não acarreta custas próprias (art. 976,
parágrafo 5º do CPC).

É cabível recurso da decisão que julga o IRDR, conforme o art. 987 do CPC c/c
artigo 8º, parágrafo 3º da IN 39 do TST, podendo ser recurso de revista, no âmbito
trabalhista, além de embargos de declaração e tem legitimidade para propô-lo o amicus
e as partes.

Interessante que o legislador se preocupou em disciplinar a revisão da tese (art.


986 do CPC) em razão de inconstitucionalidade formal (legitimados do inciso III do art.
977 CPC), impondo a necessidade de explicitar os elementos novos e o estabeleci-
mento de Amicus curiae e audiência pública durante o processo.

2.2.4. Efeitos do julgamento

Importante destacar os efeitos do julgamento sob a técnica do IRDR. Primeiro


verifica-se a aplicação da questão comum aos processos julgados pelo mesmo órgão
em que a questão esteja sendo discutida no processo afetado.

75
Não há como evitar a aplicação da tese estabelecida nos casos afetados. Quem
ajuíza ação se submete a qualquer técnica para seu julgamento.

O processo não precisa estar suspenso para se submeter aos efeitos do julga-
mento de casos sob IRDR.

O julgamento de IRDR pode acarretar a improcedência liminar do pleito de novas


demandas com pretensões contrárias ao precedente (art. 332, III do CPC).

Não respeitada a tese prevalecente em IRDR cabe reclamação (art. 985, par. 1º,
art. 988, IV e par. 4º do CPC).

No caso de recursos baseados na mesma questão de direito julgada em IRDR,


pode o relator julgar monocraticamente o mérito do recurso e conflitos de competência
(art. 932, IV, c; art. 955, parágrafo único do CPC).

A decisão proferida em sede de IRDR é comunicada aos órgãos de fiscalização,


como agências reguladoras.

Outro efeito é a inaplicabilidade da remessa necessária nos casos que envolvem


o Poder Público como condenado (art. 496, par. 4º, III CPC) quando já houver decisão
transitada em julgado em sede de IRDR.

Os casos cuja questão de mérito seja objeto de IRDR terão presunção de reper-
cussão geral em recurso extraordinário (art. 1035, par. 3º, II CPC).

Por fim, salientam-se os impactos na desistência de pedidos com base em ma-


téria de direito que, durante o curso da demanda, fora decidida em IRDR, quais sejam,
a isenção de custas e a dispensa de consentimento do réu (art. 1040 par. 1º, a 3º CPC).

2.3 Incidente de assunção de competência

Previsto no artigo 947 CPC é aplicável ao processo trabalhista por força da IN


39 TST. Consiste em técnica de julgamento quando a matéria envolver relevante ques-
tão de direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos,
sendo esta última característica a principal diferença para o IRDR.

76
O objetivo é evitar a proliferação de demandas futuras envolvendo a mesma tese
jurídica. Poderá instaurar o referido incidente o relator, de ofício, a requerimento da
parte, do Ministério Público ou da Defensoria Pública.

2.4. Incidente de uniformização de jurisprudência

A uniformização de jurisprudência é um incidente processual que visa a manter


a unidade de jurisprudência interna de um Tribunal, evitando a desarmonia nos julga-
mentos proferidos pelas diversas turmas que o compõem. É suscitado quando há dis-
crepância subsistente de julgados entre órgãos fracionários de um mesmo Tribunal Re-
gional do Trabalho ou entre os órgãos e o tribunal Pleno ou o Órgão Especial em decisão
uniformizadora, de acordo com o art. 1º c/c o art. 896, §§ 4º e 5º, da CLT.

O incidente sempre decorre de um recurso de revista e, nos termos do § 4º do


art. 896 da CLT, o ministro relator no TST, ao constatar, de ofício ou mediante provoca-
ção de qualquer das partes ou do Ministério Público do Trabalho, a existência de deci-
sões atuais e conflitantes no âmbito do mesmo Tribunal Regional do Trabalho de origem
sobre o tema objeto de recurso de revista, determinará o retorno dos autos à Corte de
origem, a fim de que proceda à uniformização da jurisprudência.

Seção 3 – Recursos de revista repetitivos

3.1 Pressupostos e processamento dos Recursos de Revista


Repetitivos

Os Recursos Repetitivos apresentam dupla função: é técnica de gestão e julga-


mento de casos repetitivos e de formação concentrada de precedentes obrigatórios.

Sem adentrar nos pressupostos do Recurso de Revista em si, analisar-se-á os


pressupostos para o processamento de Recurso de Revista Repetitivo.

O julgamento dos recursos extraordinário e especial repetitivos estão previstos


nos artigos 1.036 a 1.041 do Código de Processo Civil e são aplicáveis, de acordo com

77
o art. 896-B da CLT e no artigo 1º da Instrução Normativa 38/2015 do TST ao recurso
de revista, no que couber.

Nesse sentido, aplicando o art. 1.036 do CPC, sempre que houver multiplicidade
de recursos de revista, com fundamento em idêntica questão de direito, deve haver afe-
tação para julgamento de acordo com as disposições do CPC e da CLT, observado o
disposto no regimento interno do Tribunal Superior do Trabalho.

3.1.1 Tratamento na origem antes de subir para o TST

Os Tribunais Regionais do Trabalho procederão, obrigatoriamente, à uniformiza-


ção de sua jurisprudência via incidente de uniformização de jurisprudência, ou seja, se
no TRT houver decisões conflitantes sobre o tema objeto de recurso de revista, o Tribu-
nal Superior do Trabalho determinará o retorno dos autos à Corte de origem, a fim de
que proceda à uniformização da jurisprudência.

Uniformizado o entendimento no tribunal de origem, passa-se para o cabimento


do recurso de revista, em especial, o repetitivo.

O presidente ou vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho deve selecio-


nar dois ou mais recursos representativos da controvérsia, que serão encaminhados ao
TST para fins de afetação, determinando a suspensão do processamento de todos os
processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região,
conforme o caso (art. 1.036, § 1º, do CPC).

A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do TRT não vincula o relator


no TST, que pode selecionar outros recursos representativos da controvérsia, inclusive
sem que tenha havido iniciativa do presidente ou vice-presidente do tribunal de origem.
Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que contenham abrangente ar-
gumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.

3.1.2 Decisão de afetação e suspensão dos processos

O Presidente da Turma ou da Seção Especializada do TST, por indicação dos


relatores, afetará um ou mais recursos representativos da controvérsia para julgamento
pela Seção Especializada em Dissídios Individuais ou pelo Tribunal Pleno, sob o rito
dos recursos repetitivos.

78
O relator deve proferir decisão de afetação, na qual:

(I) identificará com precisão a questão a ser submetida a julgamento;

(II) determinará a suspensão do processamento de todos os processos penden-


tes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no ter-
ritório nacional;

(III) poderá requisitar aos presidentes ou vice-presidentes de todos os TRTs a


remessa de um recurso representativo da controvérsia (art. 1.037 do CPC).

Após a verificação da hipótese de recurso repetitivo, comunicar-se-á aos demais


Presidentes de Turma ou de Seção Especializada do TST, que poderão afetar outros
processos sobre a questão para julgamento conjunto, a fim de conferir ao órgão julgador
visão global da questão.

O Presidente do TST oficiará os Presidentes dos TRTs para que suspendam os


recursos interpostos em casos idênticos aos afetados como recursos repetitivos, até o
pronunciamento definitivo do Tribunal Superior do Trabalho. O Presidente do Tribunal
de origem pode admitir um ou mais recursos representativos da controvérsia, os quais
serão encaminhados ao Tribunal Superior do Trabalho, ficando suspensos os demais
recursos de revista até o pronunciamento definitivo do TST.

O relator no TST poderá determinar a suspensão dos recursos de revista ou de


embargos que tenham como objeto controvérsia idêntica a do recurso afetado como
repetitivo.

O requerimento fundamentado de um dos Ministros da Subseção de Dissídios


Individuais I de afetação da questão a ser julgada em incidente de recursos repetitivos
deve indicar um ou mais recursos de revista ou de embargos representativos da contro-
vérsia e ser formulado por escrito diretamente ao Presidente da SBDI-I ou, oralmente,
em questão preliminar suscitada quando do julgamento de processo incluído na pauta
de julgamentos da Subseção. De forma concorrente, quando a Turma do Tribunal Su-
perior do Trabalho entender necessária a adoção do procedimento de julgamento de
recursos de revista repetitivos, seu Presidente deve submeter ao Presidente da Subse-
ção de Dissídios Individuais I a proposta de afetação do recurso de revista, para os
efeitos dos arts. 896-B e 896-C da CLT.

79
Sendo assim, conforme o art. 3º da Instrução Normativa 38/2015 do TST, o Pre-
sidente da Subseção de Dissídios Individuais I que afetar processo para julgamento sob
o rito dos recursos repetitivos deve expedir comunicação aos demais Presidentes de
Turma, que podem afetar outros processos sobre a questão para julgamento conjunto,
a fim de conferir ao órgão julgador visão global da questão.

O art. 4º da Instrução Normativa 38/2015 do TST prevê que somente podem ser
afetados recursos representativos da controvérsia que sejam admissíveis e que, a cri-
tério do relator do incidente de julgamento dos recursos repetitivos, contenham abran-
gente argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.

3.1.3 Assunção de competência em recursos de revista repetitivos

A princípio, o recurso de revista é julgado pelas Turmas do Tribunal Superior do


Trabalho (art. 896, caput, da CLT). Entretanto, no caso de recursos de revista repetiti-
vos, a questão pode ser afetada à Seção Especializada em Dissídios Individuais ou ao
Tribunal Pleno, do TST, por decisão da maioria simples de seus membros, por meio de
requerimento de um dos Ministros que compõem a Seção Especializada, considerando
a relevância da matéria ou a existência de entendimentos divergentes entre Ministros
dessa Seção ou das Turmas do Tribunal Superior do Trabalho (art. 896-C, caput, da
CLT).

3.1.4 Trâmite de julgamento

Os recursos afetados devem ser julgados no prazo de um ano e ter preferência


sobre os demais feitos. As partes devem ser intimadas da decisão de suspensão de seu
processo, a ser proferida pelo respectivo juiz ou relator, quando informado da decisão a
que se refere o inciso II do caput do art. 1.037 do CPC.

Demonstrando distinção entre a questão a ser decidida no processo e aquela a


ser julgada no recurso de revista afetado, a parte pode requerer o prosseguimento do
seu processo.

O recurso repetitivo deve ser distribuído entre um dos ministros membros da


Seção Especializada ou do Tribunal Pleno e a um ministro revisor (art. 896-C, § 6º, da
CLT). O ministro relator pode solicitar informações, a serem prestadas no prazo de 15
dias, aos Tribunais Regionais do Trabalho a respeito da controvérsia (art. 896-C, § 7º,

80
da CLT). O ministro relator pode admitir manifestações de pessoas, órgãos ou entidades
com interesse na controvérsia, inclusive como assistente simples, na forma do Código
de Processo Civil (art. 896-C, § 8º, da CLT). Trata-se de previsão que tem como objetivo
concretizar o contraditório no incidente em questão, dando maior legitimidade à decisão
a ser proferida pelo TST.

Além da assistência simples, é cabível Amicus curiae e dar-se-á vista ao Minis-


tério Público do Trabalho por 15 dias (art. 896-C, § 9º, da CLT). Transcorrido o prazo
para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais Ministros, o processo
será incluído em pauta na Seção Especializada ou no Tribunal Pleno, devendo ser jul-
gado com preferência sobre os demais feitos.

Frise-se que os recursos afetados devem ser julgados no prazo de um ano e


terão preferência sobre os demais feitos (art. 11 da Instrução Normativa 38/2015 do
TST). O conteúdo do acórdão paradigma deve abranger a análise de todos os funda-
mentos da tese jurídica discutida (art. 12 da Instrução Normativa 38/2015 do TST).

3.1.5 Após decisão do repetitivo e aplicação do precedente

Os processos sobrestados terão seguimento denegado na hipótese de o acór-


dão recorrido coincidir com a orientação a respeito da matéria no Tribunal Superior do
Trabalho ou serão novamente examinados pelo Tribunal de origem na hipótese de o
acórdão recorrido divergir da orientação do Tribunal Superior do Trabalho a respeito da
matéria e se mantida a decisão divergente pelo Tribunal de origem, far-se-á o exame
de admissibilidade do recurso de revista.

Publicado o acórdão paradigma, seguirá o disposto no art. 14 da Instrução Nor-


mativa 38/2015 do TST. Para fundamentar a decisão de manutenção do entendimento,
o órgão que proferiu o acórdão recorrido deve demonstrar a existência de distinção, por
se tratar de caso particularizado por hipótese fática distinta ou questão jurídica não exa-
minada, a impor solução diversa (art. 15 da Instrução Normativa 38/2015 do TST).
Nessa situação, o recurso de revista deve ser submetido a novo exame de sua admis-
sibilidade pelo Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal Regional, retomando o pro-
cesso o seu curso normal.

A parte pode desistir da ação em curso no primeiro grau de jurisdição, antes de


proferida a sentença, se a questão nela discutida for idêntica à resolvida pelo recurso
representativo da controvérsia (art. 16 da Instrução Normativa 38/2015 do TST). Se a
desistência ocorrer antes de oferecida a defesa, a parte, se for o caso, fica dispensada

81
do pagamento de custas e de honorários de advogado. Nesse caso específico, a desis-
tência apresentada independe de consentimento do reclamado, ainda que apresentada
contestação.

A decisão firmada em recurso repetitivo não será aplicada aos casos em que se
demonstrar que a situação de fato ou de direito é distinta das presentes no processo
julgado sob o rito dos recursos repetitivos (art. 896-C, § 16, da CLT).

Caberá revisão da decisão firmada em julgamento de recursos repetitivos


quando se alterar a situação econômica, social ou jurídica, caso em que será respeitada
a segurança jurídica das relações firmadas sob a égide da decisão anterior, podendo o
Tribunal Superior do Trabalho modular os efeitos da decisão que a tenha alterado (art.
896-C, § 17, da CLT c/c art. 17 da Instrução Normativa 38/2015 do TST).

Todo o processamento dos Recursos de Revista Repetitivos segue o fluxo pre-


visto no Ato n. 491 SEGJUD.GP/2014 + IN 38 TST + ART. 896-B E 896-C CLT.

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