1
APRESENTAÇÃO.............................................................................................................................. 21
DOS CRIMES CONTRA A VIDA ....................................................................................................... 22
1. HOMICÍDIO................................................................................................................................. 22
1.1. PREVISÃO LEGAL ............................................................................................................. 22
1.2. CONCEITO.......................................................................................................................... 23
1.3. TOPOGRAFIA DO CRIME .................................................................................................. 23
1.4. SUJEITO ATIVO ................................................................................................................. 23
1.5. SUJEITO PASSIVO ............................................................................................................ 24
1.6. OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 24
1.7. TIPO OBJETIVO ................................................................................................................. 24
1.8. MEIOS DE EXECUÇÃO ..................................................................................................... 25
1.9. TIPO SUBJETIVO ............................................................................................................... 25
1.10. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 25
1.11. HOMICÍDIO DOLOSO PRIVILEGIADO (ART. 121 §1º) .................................................... 26
1.11.1. Previsão legal............................................................................................................... 26
1.11.2. “Privilegiadoras” (na realidade são minorantes especiais) ......................................... 26
1.11.3. Privilegiadoras e erro na execução ............................................................................. 28
1.11.4. Comunicabilidade das privilegiadoras ......................................................................... 28
1.12. HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFICADO (art. 121, §2º) ....................................................... 29
1.12.1. Previsão legal............................................................................................................... 29
1.12.2. Compatibilidade entre qualificadora e dolo eventual .................................................. 29
1.12.3. Qualificadoras do homicídio em espécie (análise do art. 121, §2º)............................ 30
1.12.4. Ocorrência de duas ou mais qualificadoras ................................................................ 48
1.13. HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO .................................................................... 48
1.14. HOMICÍDIO CULPOSO (ART. 121 §3º) ............................................................................. 49
1.15. MAJORANTES DO HOMICÍDIO (ART. 121 § 4º) .............................................................. 50
1.15.1. Previsão legal............................................................................................................... 50
1.15.2. Majorantes do homicídio culposo ................................................................................ 51
1.15.3. Majorante do homicídio doloso .................................................................................... 54
1.15.4. Majorante do homicídio doloso praticado por grupo de extermínio ............................ 54
1.15.5. Majorante do feminicídio .............................................................................................. 55
1.16. PERDÃO JUDICIAL (ART. 121 §5º) ................................................................................... 57
1.16.1. Previsão legal e conceito ............................................................................................. 57
1.16.2. Ônus da prova.............................................................................................................. 58
1.16.3. Natureza jurídica da sentença concessiva do perdão judicial .................................... 58
2. PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO ................................................................................................. 59
2.1. PREVISÃO LEGAL ............................................................................................................. 59
2.2. CONCEITO DE SUICÍDIO .................................................................................................. 59
2.3. OBJETO JURÍDICO ............................................................................................................ 59
Olá!
O Caderno Sistematizado de Direito Penal Parte Especial possui como base as aulas do
Prof. Cleber Masson (G7) e do Prof. Rogério Sanches, com o intuito de deixar o material mais
completo, utilizados as seguintes fontes complementares: a) Código Penal para Concursos, 2017,
(Rogério Sanches); b) Manual de Direito Penal – Parte Especial, 2018, (Rogério Sanches).
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você faça uma
boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.
1. HOMICÍDIO
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição e pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social
ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime:
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela
Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o
crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº
13.104, de 2015)
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime
resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo
doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta)
anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a
pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma
1.2. CONCEITO
Nelson Hungria: É o tipo central de crimes contra a vida e é o ponto culminante na orografia
(montanha) dos crimes. O homicídio é o crime por excelência.
Conceito moderno: Destruição da vida extrauterina de alguém praticada por outra pessoa.
Concurso: onde está o homicídio preterdoloso? NÃO está aqui no art. 121. Está no art. 129,
§3º, lesão corporal seguida de morte.
E no caso dos irmãos Xifópagos (siameses), onde um deles comete homicídio? A doutrina
diverge:
1ª C: O irmão criminoso deve ser absolvido. No conflito entre o interesse de punir e o estado
de liberdade do irmão inocente, prevalece este último (Euclides da Silveira).
2ª C: O irmão criminoso deve ser condenado, mas só vai cumprir pena quando o irmão
inocente praticar crime sujeito à pena de prisão (FMB). Prevalece o direito à liberdade.
Magalhães Noronha entende que o Estado é tão vítima quanto a pessoa que morreu. “A vida
humana é condição de existência do próprio Estado”.
Novamente os irmãos siameses: Se o agente quer matar apenas um dos irmãos, responderá
quanto a este com dolo direto de 1º grau, e em face do segundo responderá com dolo direto de 2º
grau, pois a morte de um irmão era evento necessário para a morte do outro (ver acima).
Se for pessoa morta, trata-se de crime impossível, por absoluta impropriedade do objeto
material do crime.
O momento no qual a vida passa a ser extrauterina refere-se ao início do parto. Antes é
aborto; após é homicídio ou infanticídio.
IMPORTANTE: É importante lembrar que existe homicídio mesmo que a vida extrauterina
não seja viável.
OBS: Rogério Greco afirma que, adotando-se a teoria da imputação objetiva seria possível sustentar
que o fato seria atípico, pois não haveria incremento de risco, uma vez que o resultado morte
ocorreria de qualquer forma.
- Por meios físicos, psicológicos ou emocionais. Exemplo: meios mecânicos ou susto, riso,
emoção violenta.
O homicídio admite tanto a forma dolosa (dolo direto ou eventual), como a forma culposa,
nos termos do §3º do art. 121.
Trata-se de uma causa de diminuição da pena (minorante) devendo ser levada em conta na
3ª fase da aplicação da pena. Em razão da pena do homicídio, a redução não é muito alta. A
expressão PODE, prevista no §1º, deve ser lida como DEVE. O privilégio faz parte da votação dos
quesitos pelos jurados. A sua votação antecede as penas acusatórias, sob pena de nulidade.
Matar para atender aos interesses da coletividade. Exemplo: Matar um traidor da pátria; matar
perigoso bandido que aterroriza a vizinhança.
Valor individual do homicida, que deve ser analisado a fim de que se perquira se é relevante
do ponto de vista da sociedade em que se vive. Matar para atender interesses pessoais, porém
ligados ao sentimento de compaixão, misericórdia ou piedade. Exemplo: Eutanásia; pai que mata
estuprador da filha.
OBS: Nesses casos de pai que mata estuprador ou marido que mata a mulher adúltera não
há que se falar em legítima defesa da honra. Trata-se de fato típico, ilícito e culpável, porém com
causa de diminuição de pena.
A eutanásia pode ser ativa ou passiva. Será ativa quando presentes atos positivos com o
fim de matar alguém, eliminando ou aliviando seu sofrimento. A passiva se dá com a omissão de
tratamento ou de qualquer meio capaz de prolongar a vida humana, irreversivelmente
comprometida, acelerando o processo morte. Não se pode confundir com a ortotanásia e a
distanásia. Como bem esclarece Regis Prado: “A ortotanásia tem certa relação com a eutanásia
passiva, mas apresenta significado distinto desta e oposto da distanásia. O termo ortotanásia indica
morte certa, justa, em momento oportuno. Destarte, corresponde à supressão de cuidados de
OBS1: Deve ser impelido, ou seja, o motivo único ou mais forte deve ser o relevante valor
moral ou social. Se o sujeito mata pelo relevante motivo, mas não impelido pelo motivo, é sinal que
concorreram outros fatores determinantes para a conduta. Nesse caso, responderá pelo homicídio
simples com a atenuante genérica do art. 65, III, ‘a’.
OBS2: O valor deve ser relevante, ou seja, deve ser tão importante que de certa forma explique a
conduta. Na hora do julgamento o critério da relevância deve ser aferido de forma objetiva, ou seja,
não deve ser analisado somente na órbita de consciência do réu.
3) Homicídio Emocional
Domínio não se confunde com mera influência (que configura atenuante genérica do art. 65
do CP). O domínio da violenta emoção é mais contundente, significando uma perda de autocontrole,
levando o agente a praticar o homicídio. É a chamada emoção-choque.
A expressão “logo após” indica que a reação deve ser imediatamente ao conhecimento do
réu da injusta provocação, não sendo necessário ter presenciado ao ato.
Não traduz necessariamente um fato típico (exemplo: adultério, injusta provocação que não
corresponde a um fato típico).
OBS: Na quesitação, a privilegiadora vem após a pergunta se o jurado absolve o réu e antes das
qualificadoras.
OBS: Vale lembrar que essas causas privilegiadoras são aplicadas mesmo que o agente atue
em erro na execução (“aberratio ictus”), ou seja, em vez de matar o estuprador da filha, mata o filho
deste. Nesse caso, responderá por homicídio privilegiado porque agiu impelido por motivo de
relevante valor moral (art. 73 - consideram-se as circunstâncias ligadas à vítima virtual).
Como as privilegiadoras não são elementares (são circunstâncias), e não são objetivas (são
subjetivas), não há que se falar em sua comunicabilidade entre os coautores do homicídio.
Prevalece que é direito subjetivo do réu, ou seja, preenchidos os requisitos o juiz DEVE
diminuir a pena. A expressão ‘pode’ do dispositivo se refere ao quantum de diminuição de pena.
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime:
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela
Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
STF: O dolo eventual pode coexistir com a qualificadora do motivo torpe do crime de
homicídio. Nada impediria que o agente — médico —, embora prevendo o resultado e assumindo
o risco de levar os seus pacientes à morte, praticasse a conduta motivado por outras razões, tais
como torpeza ou futilidade (no caso concreto, o lucro - RHC-92571).
- No caso das qualificadoras do motivo fútil e/ou torpe: SIM (posição do STJ e do STF)
Para que incida a qualificadora da surpresa é indispensável que fique provado que o agente
teve a vontade de surpreender a vítima, impedindo ou dificultando que ela se defendesse. Ora, no
caso do dolo eventual, o agente não tem essa intenção, considerando que não quer matar a vítima,
mas apenas assume o risco de produzir esse resultado. Como o agente não deseja a produção do
resultado, ele não direcionou sua vontade para causar surpresa à vítima. Logo, não pode responder
por essa circunstância (surpresa).
OBS: matar por favor sexual é tão torpe quanto, só não configura o exemplo da vantagem
econômica.
- Em outras palavras, o mandante poderá responder pelo inciso I do § 2º do art. 121 do CP,
desde que a sua motivação, ou seja, o que o levou a encomendar a morte da vítima seja algo torpe.
Ex: encomendou a morte para ficar com a herança da vítima.
- Por outro lado, o mandante, mesmo tendo encomendado a morte, não responderá pela
qualificadora caso fique demonstrado que sua motivação não era torpe. Ex: homem que contrata
pistoleiro para matar o estuprador de sua filha. Neste caso, o executor responderá por homicídio
qualificado (art. 121, § 2º, I) e omandante por homicídio simples, podendo até mesmo ser
beneficiado com o privilégio do § 1º.
O resto das vinganças nem sempre qualificam o homicídio: quanto mais torpe for a ação que
causou o sentimento de vingança, menos torpe será a vingança.
O ciúme não é considerado motivo torpe (e nem fútil). O motivo torpe é infamante e não se
pode considerar infamante algo que resulta de um sentimento bom como o amor.
É o motivo insignificante, frívolo. Ocorre aqui uma grande desproporção entre a causa moral
da conduta e o resultado morte por ela operado. Exemplo: Briga de trânsito.
Motivo fútil não se confunde com motivo injusto. Injusto todo crime é.
Todo motivo fútil é injusto, mas nem sempre o motivo injusto pode ser considerado fútil.
Ex: Maria anuncia que vai se separar de Abel após 10 anos de casamento em razão de ter
se apaixonado por Pedro, vizinho do casal. Inconformado, Abel mata Maria.
- O móvel fútil tem que ser o único que influencia o agente em seu desiderato. Se concorrer
outro motivo, acabará por diminuir a futilidade do motivo.
- Para incidir a qualificadora, o móvel fútil deve advir de pessoas em estado de normalidade
psíquica. Exemplo: Pessoa em estado embriaguez não pode responder por homicídio qualificado
pela futilidade, porquanto é privada de senso de proporção caracterizador do motivo fútil.
2ª C: O crime será qualificado quando o motivo é pequeno, que não se confunde com
ausência de motivos. Querer abranger a ausência é analogia in malam partem. Logo, o homicídio
será simples (Cezar Bitencourt, Damásio). Afirma que, apesar de ser ilógico, pelo respeito ao
princípio da legalidade, a ausência de motivos não se equipara ao motivo fútil. Equiparar “ausência
de motivo” a “motivo fútil” é fazer uma analogia in mallan partem.
No caso concreto: A vítima iniciou uma discussão com algumas outras pessoas por causa
de uma mesa de bilhar. Tal discussão é boba, insignificante e, matar alguém por isso, é homicídio
fútil. No entanto, segundo restou demonstrado nos autos, o crime não teria decorrido da discussão
sobre a ocupação da mesa de bilhar, mas sim do comportamento agressivo da vítima. Isso porque
a vítima, no início do desentendimento, poderia deixar o local, mas preferiu enfrentar os oponentes,
ameaçando-os e inclusive, dizendo que chamaria terceiros para resolverem o problema. Logo, a
partir daí os agentes mataram a vítima, não mais por causa da mesa de sinuca e sim por conta dos
fatos que ocorreram em seguida.
Vale ressaltar, no entanto, que “a discussão anterior entre vítima e autor do homicídio, por
si só, não afasta a qualificadora do motivo fútil” (AgRg no REsp 1113364/PE, Rel. Ministro Sebastião
Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 06/08/2013). Assim, é preciso verificar a situação no caso
concreto.
É possível que o homicídio seja qualificado por motivo fútil (art. 121, § 2º, II) e, ao mesmo
tempo, privilegiado (art. 121, § 1º)? NÃO. A jurisprudência somente admite que um homicídio seja
Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois ocorreu uma briga e, no contexto
desta, houve o homicídio, tal circunstância pode vir a descaracterizar o motivo fútil.
Cleber Masson fornece um exemplo: “Depois de discutirem futebol, “A” e “B” passam a
proferir diversos palavrões, um contra o outro. Em seguida, “A” cospe na face de “B”, que, de
imediato, saca um revólver e contra ele atira, matando-o. Nada obstante o início do problema seja
fútil (discussão sobre futebol), a razão que levou à prática da conduta homicida não apresenta essa
característica.
III – Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum
Veneno: Substância mineral, vegetal ou animal, que, introduzida no corpo da vítima, é capaz
de perturbar ou destruir as funções vitais de seu organismo. Exemplo de Hungria: Açúcar para o
diabético é veneno.
Exemplo: pessoa coloca arma na cabeça da pessoa e diz “beba este veneno”. A pessoa
bebe sabendo que era veneno. O homicídio é simples ou qualificado? É qualificado não pelo
emprego de veneno, pois a pessoa sabia que estava bebendo veneno, mas não deixa de ser
qualificado pela impossibilidade de defesa a vítima.
• Meio cruel: Aquele que aumenta inutilmente o sofrimento da vítima. Exemplo: tortura,
asfixia, fogo.
Tortura: Não se confunde o homicídio qualificado pela tortura (art. 121, § 3º, III do CP), com
o crime de tortura qualificada pela morte (art. 1º, § 3º da Lei 9.455/97). Nesta a intenção do agente
é torturar, ocorrendo a morte de forma culposa (crime preterdoloso). Naquela, a intenção é matar,
sendo a tortura o meio de execução eleito.
Traição: Quebra de confiança. Exemplo: Marido que mata a mulher durante a conjunção
carnal. Tiro pelas costas.
OBS: Conforme Damásio, a premeditação, per si, não constitui circunstância qualificadora
do homicídio. Muitas vezes significa até mesmo uma resistência do agente à prática delituosa.
Apesar de não constituir uma qualificadora, deve ser valorada pelo juiz na fixação da pena-base.
Para que essa qualificadora (uso de meio que dificulte ou impossibilite defesa) exista é
necessário que a vítima tenha alguma possibilidade de defesa numa situação normal. Exemplo
onde não se configura: Vítima em coma.
OBS: Vale lembrar que essas circunstâncias relativas ao meio e modo de execução (objetivas) são
comunicáveis aos partícipes do crime, desde que, é claro, sejam de seu conhecimento.
Sempre que for reconhecida essa qualificadora, o homicídio deverá ter relação com outro
crime, ou seja, deverá existir uma conexão entre os crimes, que pode ocorrer de duas formas:
Conexão objetiva teleológica: O agente mata para assegurar a execução de outro crime
(futuro). Exemplo: Matar o segurança da Gisele para estuprá-la. Assegurar a execução.
OBS: Mesmo que o segundo crime não se consume, ou mesmo seja impossível, é
qualificado o primeiro, pois basta que a finalidade do homicídio tenha sido a garantia da execução
(a censurabilidade da conduta daquele que age com esse fim é maior). Ocorrendo o segundo crime,
ocorrerá concurso de delitos.
Vantagem: Homicídio de coautor de furto para ficar com a totalidade da ‘res furtiva’.
Conexão temporal (conexão ocasional): O agente mata por ocasião de outro crime, sem
vínculo finalístico. Ex.: Estava matando uma pessoa e aproveitei para matar o meu desafeto que
passava no local. NÃO CONFIGURA UMA QUALIFICADORA.
OBS1: Não se exige coincidência de sujeitos ativos para configurar a qualificadora. O crime
conexo ao homicídio pode ter como autor qualquer outra pessoa. Ex.: Pai mata a testemunha de
crime cometido pelo filho.
O que é feminicídio?
Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo
feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto
mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo
masculino.
Feminicídio X femicídio
• Feminicídio significa praticar homicídio contra mulher por “razões da condição de sexo
feminino” (por razões de gênero).
A nova Lei trata sobre FEMINICÍDIO, ou seja, pune mais gravemente aquele que mata
mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por razões de gênero). Não basta a vítima ser
mulher.
Antes da Lei n. 13.104/2015, não havia nenhuma punição especial pelo fato de o homicídio
ser praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. Em outras palavras, o
feminicídio era punido, de forma genérica, como sendo homicídio (art. 121 do CP).
A depender do caso concreto, o feminicídio (mesmo sem ter ainda este nome) poderia ser
enquadrado como sendo homicídio qualificado por motivo torpe (inciso I do § 2º do art. 121) ou fútil
(inciso II) ou, ainda, em virtude de dificuldade da vítima de se defender (inciso IV). No entanto, o
certo é que não existia a previsão de uma pena maior para o fato de o crime ser cometido contra a
mulher por razões de gênero.
A Lei n. 13.104/2015 veio alterar esse panorama e previu, expressamente, que o feminicídio,
deve agora ser punido como homicídio qualificado.
NÃO. A Lei Maria da Penha não traz um rol de crimes em seu texto. Esse não foi seu objetivo.
A Lei n. 11.340/2006 trouxe regras processuais instituídas para proteger a mulher vítima de
violência doméstica, mas sem tipificar novas condutas, salvo uma pequena alteração feita no art.
129 do CP.
Desse modo, o chamado feminicídio não era previsto na Lei n. 11.340/2006, apesar de a
Sra. Maria da Penha Maia Fernandes, que deu nome à Lei, ter sido vítima de feminicídio duas vezes
(tentado).
Vale ressaltar que as medidas protetivas da Lei Maria da Penha poderão ser aplicadas à
vítima do feminicídio (obviamente, desde que na modalidade tentada).
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
(...)
Feminicídio
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Sujeito ativo
O sujeito ativo do feminicídio normalmente é um homem, mas também pode ser mulher.
Sujeito passivo
Obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa, desde que
do sexo feminino).
Homem que mata seu companheiro homoafetivo: não haverá feminicídio porque a vítima
deve ser do sexo feminino. Esse fato continua sendo, obviamente, homicídio.
Importante, ainda, esclarecer que transexual não é o mesmo que homossexual ou travesti.
A definição de cada uma dessas terminologias ainda está em construção, sendo ponto polêmico,
mas em simples palavras, a homossexualidade (não se fala homossexualismo) está ligada à
orientação sexual, ou seja, a pessoa tem atração emocional, afetiva ou sexual por pessoas do
mesmo gênero. O homossexual não possui nenhuma incongruência de identidade de gênero. A
travesti (sempre se utiliza o artigo no feminino), por sua vez, possui identidade de gênero oposta ao
seu sexo biológico, mas, diferentemente dos transexuais, não deseja realizar a cirurgia de
redesignação sexual.
Vítima homossexual (sexo biológico masculino): não haverá feminicídio, considerando que
o sexo físico continua sendo masculino.
Vítima travesti (sexo biológico masculino): não haverá feminicídio, considerando que o sexo
físico continua sendo masculino.
NÃO. A transexual, sob o ponto de vista estritamente genético, continua sendo pessoa do
sexo masculino, mesmo após a cirurgia.
Não se discute que a ela devem ser assegurados todos os direitos como mulher, eis que
esta é a expressão de sua personalidade. É assim que ela se sente e, por isso, tem direito, inclusive
de alterar seu nome e documentos, considerando que sua identidade sexual é feminina. Trata-se
de um direito seu, fundamental e inquestionável.
Deve-se salientar, contudo, que, em sentido contrário, a Prof. Alice Bianchini, maior
especialista do Brasil sobre o tema, defende, em palestra disponível no Youtube, que a transexual
que realizou a cirurgia pode sim ser vítima de feminicídio.
No projeto de lei, a locução prevista para o tipo era: se o homicídio é praticado “contra a
mulher por razões de gênero”. Ocorre que, durante os debates, a bancada de parlamentares
evangélicos pressionou para que a “gênero” da proposta inicial fosse substituída por “sexo
feminino”, com objetivo de afastar a possibilidade de que transexuais fossem abarcados pela lei. A
bancada feminina acabou aceitando a mudança para viabilizar a aprovação do projeto.
Melhor seria se tivesse sido mantida a redação original, que, aliás, é utilizada na Lei Maria
da Penha: “configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
omissão baseada no gênero” (art. 5º) e nas legislações internacionais.
O legislador previu, no § 2º-A do art. 121, uma norma penal interpretativa, ou seja, um
dispositivo para esclarecer o significado dessa expressão.
Ao afirmar isso, o legislador ampliou bastante o conceito de feminicídio, já que, pela redação
literal do inciso I não seria necessário discutir os motivos que levaram o autor a cometer o crime.
Pela interpretação literal, não seria indispensável que o delito tivesse relação direta com razões de
gênero. Tendo sido praticado homicídio (consumado ou tentado) contra pessoa do sexo feminino
envolvendo violência doméstica, haveria feminicídio.
Ocorre que a interpretação literal e isolada do inciso I não me parece a melhor. É preciso
contextualizar o tema e buscar a interpretação sistemática, socorrendo-se da definição de “violência
doméstica e familiar” encontrada no art. 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que assim
a conceitua:
Desse modo, conclui-se que, mesmo no caso do feminicídio baseado no inciso I do § 2º-A
do art. 121, será indispensável que o crime envolva motivação baseada no gênero (“razões de
condição de sexo feminino”). Ex.1: marido que mata a mulher porque acha que ela não tem “direito”
de se separar dele; Ex.2: companheiro que mata sua companheira porque quando ele chegou em
casa o jantar não estava pronto.
Por outro lado, ainda que a violência aconteça no ambiente doméstico ou familiar e mesmo
que tenha a mulher como vítima, não haverá feminicídio se não existir, no caso concreto, uma
motivação baseada no gênero (“razões de condição de sexo feminino”). Ex: duas irmãs, que vivem
na mesma casa, disputam a herança do pai falecido; determinado dia, uma delas invade o quarto
da outra e a mata para ficar com a totalidade dos bens para si; esse crime foi praticado com violência
doméstica, já que envolveu duas pessoas que tinha relação íntima de afeto, mas não será
feminicídio porque não foi um homicídio baseado no gênero (não houve violência de gênero,
menosprezo à condição de mulher), tendo a motivação do delito sido meramente patrimonial.
Para ser enquadrado neste inciso, é necessário que, além de a vítima ser mulher, fique
caracterizado que o crime foi motivado ou está relacionado com o menosprezo ou discriminação à
condição de mulher.
Ex.: funcionário de uma empresa que mata sua colega de trabalho em virtude de ela ter
conseguido a promoção em detrimento dele, já que, em sua visão, ela, por ser mulher, não estaria
capacitada para a função.
Tentado ou consumado
Tipo subjetivo
Natureza da qualificadora
Competência
Se o feminicídio ocorre com base no inciso I do § 2º-A do art. 121, ou seja, se envolveu
violência doméstica, a competência para processar este crime será da vara do Tribunal do Júri ou
do Juizado Especial de Violência Doméstica (“Vara Maria da Penha”)?
Situação 1: existem alguns Estados que, em sua Lei de Organização Judiciária preveem
que, em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de violência doméstica, a Vara
de Violência Doméstica será competente para instruir o feito até a fase de pronúncia. A partir daí, o
processo será redistribuído para a Vara do Tribunal do Júri.
Segundo já decidiu o STF, essa previsão é válida. Assim, a Lei de Organização Judiciária
poderá prever que a 1ª fase do procedimento do júri seja realizada na Vara de Violência Doméstica
em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de violência doméstica. Não haverá
usurpação da competência constitucional do júri. Apenas o julgamento propriamente dito é que,
obrigatoriamente, deverá ser feito no Tribunal do Júri (STF. 2ª Turma. HC 102150/SC, Rel. Min.
Teori Zavascki, julgado em 27/5/2014. Info 748).
Crime hediondo
O que muda no fato de o feminicídio tornar-se crime hediondo? Quais são as diferenças
entre o crime comum e o crime hediondo?
Constitucionalidade
NÃO. O STF enfrentou diversos questionamentos nesse sentido ao julgar a ADC 19/DF
proposta em relação à Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006) e na oportunidade decidiu que é
possível que haja uma proteção penal maior para o caso de crimes cometidos contra a mulher por
razões de gênero (STF. Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012).
Assim, não há violação do princípio constitucional da igualdade pelo fato de haver uma
punição maior no caso de vítima mulher.
Trata-se, dessa forma, de uma ação afirmativa (discriminação positiva) em favor da mulher.
VII – Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função
ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição
PONTOS IMPORTANTES
1) O homicídio cometido contra integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra seus
familiares) passa a ser considerado como homicídio qualificado, se o delito tiver relação com a
função exercida.
O art. 142 da CF/88 trata sobre as Forças Armadas (Marinha, Exército ou Aeronáutica).
O art. 144, por sua vez, elenca os órgãos que exercem atividades de segurança pública. O
caput desse dispositivo tem a seguinte redação:
Como se vê pela redação do caput do art. 144 da CF/88, não há menção às guardas
municipais. Diante disso, indaga-se: o homicídio praticado contra um guarda municipal no exercício
de suas funções pode ser considerado qualificado, nos termos do inciso VII do § 2º do art. 121 do
CP? Essa nova qualificadora aplica-se também para os guardas municipais?
O inciso VII fala em “autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal”. Repare que o legislador não restringiu a aplicação da qualificadora ao caput do art. 144
da CF/88. As guardas municipais estão descritas no art. 144, não em seu caput, mas sim no § 8º,
que tem a seguinte redação:
Desse modo, a interpretação literal do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP não exclui a sua
incidência no caso de guardas municipais. Vale aqui aplicar o vetusto brocardo jurídico “ubi lex non
distinguir nec nos distinguere debemus”, ou seja, “onde a lei não distingue, não pode o intérprete
distinguir”.
Ressalte-se que não se trata de interpretação extensiva ou ampliativa contra o réu. A lei fala
no art. 144 da CF/88, sem qualquer restrição ou condicionante. O art. 144 é composto não apenas
pelo caput, mas também por parágrafos. Ao se analisar todo o artigo para cumprir a remissão feita
pela lei (e não apenas o caput) não se está ampliando nada, mas apenas dando estreita obediência
à vontade do legislador.
O mesmo raciocínio acima penso que pode ser aplicado para os agentes de segurança
viária, disciplinados no § 10 do art. 144 da CF/88:
e) Servidores aposentados
Não estão abrangidos pelo inciso VII do § 2º do art. 121 do CP os servidores aposentados
dos órgãos de segurança pública, considerando que, para haver essa inclusão, o legislador teria
que ter sido expresso já que, em regra, com a aposentadoria o ocupante do cargo deixa de ser
autoridade, agente ou integrante do órgão público.
O filho adotivo está abrangido na proteção conferida por este inciso VII? Se um filho adotivo
do policial é morto como retaliação por sua atuação funcional haverá homicídio qualificado com
base no art. 121, § 2º, VII, do CP?
O tema certamente suscitará polêmica na doutrina e jurisprudência, mas penso que não.
c) parentesco civil (decorrente de uma outra origem que não seja biológica nem por
afinidade).
De acordo com essa classificação, a adoção gera uma espécie de parentesco civil entre
adotando e adotado. O filho adotivo possui parentesco civil com seu pai adotivo.
Tivesse o legislador utilizado apenas a expressão “parente”, sem qualquer outra designação,
poderíamos incluir todas as modalidades de parentesco. Ocorre que ele, abraçando a classificação
acima explicada, escolheu proteger apenas os parentes consanguíneos.
É certo que a CF/88 equipara os filhos adotivos aos filhos consanguíneos, afirmando que
não poderá haver tratamento discriminatório entre eles. Isso está expresso no § 6º do art. 227:
Não estão abrangidos os parentes por afinidade, ou seja, aqueles que a pessoa adquire em
decorrência do casamento ou união estável, como cunhados, sogros, genros, noras etc. Assim, se
o traficante mata a sogra do Delegado que o investigou não cometerá o homicídio qualificado do
art. 121, § 2º, VII, do CP. A depender do caso concreto, poderá ser enquadrado como motivo torpe
(art. 121, § 2º, I, do CP).
• Polícia Federal;
• Polícias Civis;
• Polícias Militares;
• Guardas Municipais*;
OU
Não basta que o crime tenha sido cometido contra as pessoas acima listadas. É
indispensável que o homicídio esteja relacionado com a função pública desempenhada pelo
integrante do órgão de segurança pública.
Ex.: Delegado de Polícia é morto pelo bandido como vingança por ter prendido a quadrilha
que ele chefiava.
Ex.: filho de Delegado de Polícia Federal é morto por organização criminosa como retaliação
por ter conduzido operação policial que apreendeu enorme quantidade de droga.
De outro lado, não haverá a qualificadora do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP se o crime
foi praticado contra um agente de segurança pública (ou contra seus familiares), mas este homicídio
não tiver qualquer relação com sua função.
Ex.: policial civil, em seu período de folga, está em uma boate e paquera determinada moça
que ele não viu estar acompanhada. O namorado da garota, com ciúmes, saca uma arma e dispara
tiro contra o policial. Não haverá a qualificadora do inciso VII, mas o crime, a depender do conjunto
probatório, poderá ser qualificado com base no motivo fútil (inciso II).
Em suma, a novel qualificadora não protege a pessoa do militar, do policial, do delegado etc.
A nova qualificadora tutela a FUNÇÃO desempenhada por esses indivíduos. Esse é o bem jurídico
protegido.
OUTRAS OBSERVAÇÕES
a) Tentado ou consumado
b) Elemento subjetivo
c) Natureza da qualificadora
A qualificadora do inciso VII é de natureza subjetiva, ou seja, está relacionada com a esfera
interna do agente (ele mata a vítima no exercício da função, em decorrência dela ou em razão da
condição de familiar do agente de segurança pública).
Ademais, não se trata de qualificadora objetiva porque nada tem a ver com o meio ou modo
de execução.
Por ser qualificadora subjetiva, em caso de concurso de pessoas, essa qualificadora não se
comunica aos demais coautores ou partícipes, salvo se eles também tiverem a mesma motivação.
Ex.: João, por vingança, deseja matar o Delegado que lhe investigou e, para tanto, contrata o
pistoleiro profissional Pedro, que não se importa com os motivos do mandante, já que seu intuito é
apenas lucrar com a execução; João responderá por homicídio qualificado do art. 121, § 2º, VII e
Pedro por homicídio qualificado mediante paga (art. 121, § 2º, I); a qualificadora do inciso VII não
se estende ao executor, por força do art. 30 do CP:
Quadro-resumo:
Requisito 1: Requisito 2:
Condição da vítima Relação com a função
1) autoridade, agente ou integrante da (o)(s): ...desde que o homicídio
• Forças Armadas; tenha sido praticado no
• Polícia Federal; exercício das funções ao
• Polícia Rodoviária Federal;
Qualquer das causas qualificadoras pode servir para qualificar o homicídio, mas apenas uma
delas. As demais causas qualificadoras devem ser valoradas no cálculo da pena, no entanto, a
doutrina diverge quanto ao momento em que tais circunstâncias devem ser valoradas.
1ª C: Devem ser utilizadas como circunstâncias agravantes (2ª fase), nos termos do art. 61
do CP;
2ª C: Devem ser utilizadas como circunstâncias judiciais desfavoráveis (1ª Fase), nos termos
do art. 59 do CP.
O homicídio pode ser qualificado e privilegiado, mas somente quando a qualificadora for
referente a circunstâncias objetivas (inciso III e IV).
Ex.: Não pode um homicídio ser qualificado por motivo torpe e privilegiado pela violenta
emoção. Ocorre uma contradição.
STF Sumula 162 "É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, quando os
quesitos da defesa não precedem aos das circunstâncias agravantes.
1ª C (PREVALECE, inclusive STF e STJ) → NÃO é hediondo. Esta corrente faz uma
analogia “in bonam partem” com o art. 67 do CP, segundo o qual na concomitância de circunstâncias
atenuantes e agravantes prevalecem as de caráter subjetivo, pois dizem respeito aos motivos
determinantes do crime. Assim, como na figura híbrida do homicídio qualificado-privilegiado as
privilegiadoras são subjetivas em face das qualificadoras necessariamente objetivas, afasta-se a
hediondez. Ademais, há clara incompatibilidade entre a hediondez e o crime cometido por motivos
‘nobres’.
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um (admite suspensão condicional do processo) a
três anos.
▪ Imprudência: Afoiteza.
A culpa concorrente da vítima não exime o agente de responsabilidade. O direito penal não
admite compensação de culpas. Porém, a culpa concorrente da vítima pode atenuar a condenação
do agente, nos termos do art. 59 do CP (comportamento da vítima).
Homicídio culposo na direção de veículo automotor se subsumi ao art. 302 do CTB (detenção
de 02 a 04) e não ao art. 121, §3º do CP (detenção de 01 a 03).
OBS: O CTB é aplicado sempre que o agente estiver na direção do veículo (dando direção ao
veículo), mesmo que o motor esteja desligado.
Apesar de crimes com mesmo desvalor de resultado (morte culposa), percebe-se que as
penas são distintas. Por conta disso, há quem defenda (doutrina minoritária) a inconstitucionalidade
do art. 302 do CTB, por violação à proporcionalidade.
2ªC: Não se confunde com imperícia, pois nesta FALTA aptidão técnica (o sujeito não
conhece a regra técnica). Aqui, o sujeito tem aptidão técnica (conhece a regra), mas não a observa.
Na realidade, o que ocorre aqui é uma negligência profissional. É aqui que poderia ser incluído o
erro médico.
2ª C: Não ocorrência do bis in idem, pois inobservância de regra técnica não é a essência
do crime culposo (STJ HC 63.929, julgado em 13/03/2007, STF RHC 17.530/RS → Prevalecia).
Nessa situação, não há que se falar em bis in idem. Isso porque o legislador, ao estabelecer
a circunstância especial de aumento de pena prevista no referido dispositivo legal, pretendeu
reconhecer maior reprovabilidade à conduta do profissional que, embora tenha o necessário
conhecimento para o exercício de sua ocupação, não o utilize adequadamente, produzindo o evento
criminoso de forma culposa, sem a devida observância das regras técnicas de sua profissão. De
fato, caso se entendesse caracterizado o bis in idem na situação, ter-se-ia que concluir que essa
majorante somente poderia ser aplicada se o agente, ao cometer a infração, incidisse em pelo
menos duas ações ou omissões imprudentes ou negligentes, uma para configurar a culpa e a outra
para a majorante, o que não seria condizente com a pretensão legal.
2) Omissão de socorro
OBS2: Não incide o aumento quando a vítima é imediatamente socorrida por terceiros.
STF: Se o autor do crime, apesar de reunir condições de socorrer a vítima (ainda com vida)
não o faz, por concluir pela inutilidade da ajuda, ainda assim sofrerá o aumento de pena.
Por que no CTB haverá um NOVO CRIME (art. 304) quando a pessoa foge para evitar o
flagrante, por exemplo, se omitindo de prestar socorro? A doutrina critica isso, pois em comparação
com outros delitos mais graves e inclusive dolosos, não há esse tipo de tratamento, pois ninguém
é obrigado a produzir prova contra si mesmo.
Essa causa agrava a pena do agente que demonstra insensibilidade de espírito e moral,
ausência de escrúpulo, além de prejudicar as investigações.
No entanto, não há que se falar em agravante quando o agente foge do local como forma
de autodefesa, como no caso de correr o risco de ser linchado por populares (nesse caso, há
espécie de estado de necessidade).
Rogério Sanches e doutrina moderna: Essa majorante viola o princípio do “nemu tenetur se
detegere”. A doutrina moderna diz que essa causa de aumento obriga a produzir prova contra si
mesmo e sucumbir ao seu instinto natural de liberdade.
Rogério Greco: O sujeito que presta socorro à vítima não pode ser preso em flagrante, numa
aplicação analógica do art. 301 do CTB, que impede essa forma de prisão cautelar àquele que
presta socorro à vítima de trânsito.
ATENÇÃO: Idade maior de 60. No dia que faz 60 anos não se aplica a majorante.
Por milícia privada entende-se o agrupamento armado e estruturado de civis – inclusive com
a participação de militares fora de suas funções - com a pretensa de restaurar a segurança de locais
controlados pela criminalidade, diante da inércia do Poder Público.
1ªC: o número de agentes deve coincidir com o número da associação criminosa, qual seja:
três ou mais pessoas.
Vamos comparar:
A pena imposta ao feminicídio será aumentada de 1/3 a 1/2 se, no momento do crime, a
mulher (vítima) era portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental. Como exemplo, podemos citar a esclerose lateral amiotrófica.
A vítima, nesse caso, apresenta uma fragilidade (debilidade) maior, de forma que a conduta
do agente se revela com alto grau de covardia.
A pena imposta ao feminicídio será aumentada se o delito foi praticado na presença (física
ou virtual) de descendente ou de ascendente da vítima.
Aqui a razão do aumento está no intenso sofrimento que o autor provocou aos descendentes
ou ascendentes da vítima que presenciaram o crime, fato que irá gerar graves transtornos
psicológicos.
Semanticamente, quando se fala que foi praticado “na presença de alguém”, isso não
significa, necessariamente, que a pessoa que presenciou estava fisicamente no local.
Desse modo, poderá haver a causa de aumento de pena do inciso III do § 7º do art. 121 do
CP mesmo que o ascendente ou descendente não esteja fisicamente no mesmo ambiente onde
ocorre o homicídio. É o caso, por exemplo, em que o filho da vítima presencia, por meio de webcam,
o agente matar sua mãe; ele terá presenciado o crime, mesmo sem estar fisicamente no local do
homicídio.
• Ascendente: é o pai, mãe, avô, avó, bisavô, bisavó e assim por diante.
Diante disso, Carla procurou a Delegacia pedindo que fossem tomadas providências.
O juiz deferiu o pedido da ofendida e determinou, como medidas protetivas de urgência, que
Pedro mantivesse distância mínima de 500 metros de Maria e não tentasse nenhum contato com
ela por qualquer meio de comunicação, conforme autoriza o art. 22, III, “a” e “b”, da Lei nº
11.340/2006:
Pedro foi regularmente intimado. Apesar disso, uma semana depois procurou Carla em sua
casa pedindo para que ela retomasse o relacionamento. Como ela não aceitou, Pedro a matou com
uma faca.
Neste caso, Pedro responderá por feminicídio e incidirá a causa de aumento de pena
prevista no art. 121, § 7º, IV, do CP.
NÃO. Isso porque o delito do art. 24-A do CP é absorvido pela conduta mais grave, qual
seja, a prática do art. 121, § 7º, IV, do CP.
Fazer incidir o art. 24-A da Lei nº 11.340/2006 e também pelo inciso IV do § 7º do art. 121
do CP representaria punir duas vezes o agente pelo mesmo fato (bis in idem), o que é vedado.
Perdão judicial é um instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um fato típico e ilícito,
por um sujeito comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar a pena nas hipóteses taxativamente
previstas em lei, levando em consideração determinadas circunstâncias que concorrem para o
evento. O Estado perde o interesse de punir.
“Forma tão grave”: sequelas de ordem físicas ou morais. Exemplo: ficar tetraplégico e/ou
perder um filho.
OBS: Não é necessária qualquer relação entre agente e vítima. Exemplo: Homicídio
culposo onde o agente fica tetraplégico. É errado aquele falso dogma de que a vítima fatal deve ser
o filho da vítima ou coisa que o valha.
Presentes os requisitos legais o juiz DEVE perdoar. Hoje, prevalece o entendimento segundo
o qual o perdão judicial é um direito público subjetivo de liberdade do agente, e não uma
faculdade do magistrado.
- Interrompe prescrição;
- Não serve como título executivo, ou seja, vai precisar de um processo de conhecimento.
- Cabe na fase de inquérito policial, pois o juiz pode reconhecer a extinção da punibilidade a
qualquer tempo.
Entretanto, como se trata de sentença que reconhece culpa, sempre pressupõe o devido
processo legal. Entendendo ser sentença declaratória extintiva da punibilidade, ainda que haja
perdão, o sujeito tem o direito de se defender em juízo.
O art. 300 do CTB previa o perdão judicial, porém foi vetado pelo Presidente. Apesar disso,
é possível o perdão judicial, com fundamento nas razões do veto. Ao vetar, o presidente disse que
o artigo era desnecessário, pois já havia previsão no art. 121 do CP, e este era mais benéfico que
aquele, por ser mais abrangente.
OBS1: A sentença que concede o perdão judicial é conhecida como uma sentença
autofágica. O juiz condena e automaticamente extingue a punibilidade.
2. PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO
Genérico: Pessoa.
Indaga-se: Suicídio é fato típico e ilícito? Não. Por razões ligadas à impossibilidade de punir
o agente (entre elas o princípio da alteridade ou transcendência) e à política criminal, o suicídio,
apesar de constituir uma injusta agressão, não constitui crime.
Porque os núcleos da participação são elementares do tipo. O art. 122 não está punindo
uma atividade acessória, mas sim uma atividade principal.
PROVA: ‘A’ induz ‘B’ a auxiliar ‘C’ a se suicidar. ‘A’ é partícipe do art. 122. ‘B’ é o autor do
art. 122.
Qualquer pessoa capaz de ser induzido, instigado ou auxiliado, ou seja, qualquer pessoa
capaz de resistir à conduta do sujeito ativo. Se o agente induz um incapaz, se diz que a incapacidade
passará a ser um instrumento de que se vale o agente para realizar um homicídio, logo, responde
pelo art. 121 na forma de autor mediato.
A vítima deve ser determinada. Pessoas incertas e indeterminadas não configuram o crime.
Exemplo: Autor de livro que incita seus leitores a se suicidarem não é sujeito ativo do crime em
análise. O fato é atípico pela indeterminação da vítima.
OBS MP: para que haja este delito é preciso que a vítima tenha um RESQUÍCIO de
capacidade, pois se o agente ativo reduz a vítima a uma incapacidade completa, ele pratica
homicídio.
1ª C: Não, pois a expressão ‘prestar auxílio’ indica uma ação, jamais omissão (Frederico
Marques).
O auxílio deve ser sempre acessório, não podendo intervir diretamente nos atos executórios,
sob pena de transformar-se em homicídio.
OBS: O suicida arrependido que pede auxílio para aquele que o assessorou, se não obtiver
socorro, será vítima de homicídio, pois no momento em que auxilia o suicida, o agente do crime se
transforma em garante, motivo pelo qual sua omissão será penalmente relevante (CP, art. 13, §2º,
‘c’).
OBS2: O suicídio é um fato atípico, porém configura uma agressão injusta. Tanto é assim que a
coação exercida sobre o suicida, com o fim de impedi-lo de se auto exterminar, configura hipótese
de legítima defesa de terceiro, nos termos do art. 146, §3º, II do CP.
Que crime comete quem deixa, negligentemente, veneno de rato perto de pessoa suicida?
Duas correntes:
1ª C: Homicídio culposo.
2.10. MAJORANTES
Art. 122
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade
de resistência.
Causa de aumento de pena, a ser considerada pelo juiz na 3ª fase do cálculo da pena.
I - Motivo Egoístico
Para satisfazer interesses pessoais do agente. Exemplo: Induzir o irmão ao suicídio para
ficar com a totalidade da herança.
Para ser considerada menor a vítima não pode ter atingido 18 anos. Discute-se qual a idade
mínima limite para que ainda seja considerado menor e não passe a ser considerado incapaz.
Nesse sentido, duas correntes:
1ª C: Nucci, Luiz Régis Prado. Uma primeira corrente faz analogia com o art. 217-A do CP,
considerando que o limite de idade do menor é 14 anos, ou seja, em tendo idade inferior a essa,
será considerado incapaz, e, portanto, aquele que induz será autor mediato de homicídio.
Fundamento: Se o menor de 14 anos não tem, presumidamente, discernimento para consentir
validamente para a conjunção carnal, também não terá discernimento para resistir ao induzimento
ao suicídio (será homicídio).
2ª C: Mirabete, Nelson Hungria. Depende do caso concreto. Será menor enquanto tiver
capacidade de discernimento. Menor é todo aquele com idade inferior a 18 anos, que não tenha
suprimida, por completo, a sua capacidade de resistência, devendo o juiz analisar o caso concreto.
Casuística
Vítima de 19 anos?
Presume-se a capacidade de discernimento (responde pelo art. 122, caput). Se não tiver
capacidade, por qualquer causa, responde o agente por homicídio.
Vítima de 17 anos?
Presume-se a capacidade de discernimento, mas por ter menos de 18, o agente responde
com a pena majorada.
Vítima de 13 anos?
2ª C: Depende do caso concreto. Se tiver capacidade, responde pelo art. 122 com pena
majorada. Se não tiver capacidade, responde pelo art. 121.
Duas armas. Apenas uma municiada. Cada participante pega uma arma e atira contra a
própria cabeça.
Apenas uma arma. O tambor com apenas uma bala. O vencedor (sobrevivente) responde pelo
art. 122.
Duas pessoas pactuam as próprias mortes (namorado e namorada se trancam num carro e
ele liga uma mangueira com gás).
ELE: Responde por homicídio tentado. Executou o crime que só não se consumou por
circunstâncias alheias a sua vontade.
ELA: Depende. Se o namorado sofreu lesão grave, responde pelo art. 122. Se o namorado
sofreu lesão leve ou sequer lesão sofre, trata-se de fato atípico (seguindo a corrente de que não
existe tentativa de participação em suicídio).
3. INFANTICÍDIO
Nada mais é que um homicídio privilegiado, praticado pela mãe contra o próprio filho, nascente
ou neonato, durante ou logo após o parto, sob influência do estado puerperal (critério fisiopsíquico).
Puerpério: É o período que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições
pré-gravidez.
Como veremos a seguir, para que se trate de infanticídio e não de homicídio, não basta que
a agente esteja no período de puerpério (se bastasse, estaríamos diante de um critério meramente
biológico), tampouco é suficiente que esteja em estado puerperal. É imprescindível que sua conduta
tenha sido influenciada por esse estado. Diz-se, por isso, que o Brasil adotou o critério
fisiopsíquico ou biopsíquico na definição do delito de infanticídio.
Nucci chega a dizer que é uma hipótese de semi-imputabilidade tratada de forma especial.
Prevalece que, dependendo do grau de desequilíbrio fisiopsíquico ela pode ser tratada como
semi-imputável (CP, art. 26, parágrafo único) ou até mesmo inimputável (CP, art. 26, caput).
Ou seja, existindo esses três elementos, o crime deixa de ser homicídio e passa a ser
infanticídio. Ausente qualquer deles, o sujeito ativo responde pelo art. 121 do CP.
É crime doloso contra a vida, logo é julgado pelo Tribunal do Júri. Não é crime hediondo,
tampouco equiparado, pois não consta do rol taxativo da Lei 8.072/90.
Concurso de pessoas
ELA: Infanticídio.
ELA: Infanticídio.
Tecnicamente, ambos deveriam responder por homicídio, visto que a parturiente instiga o
médico a realizar a conduta prevista no art. 121, caput do CP.
1ª C (PREVALECE): Ambos respondem por infanticídio, com base na Teoria Monista (Nucci,
Rogério Greco).
2ª C: Ela responde pelo art. 123; ele responde pelo art. 121, numa exceção pluralista à teoria
monista (Flávio Monteiro de Barros). Essa corrente leva em conta a justiça.
Sujeito passivo também é próprio. Por isso, fala-se que o infanticídio é um crime bipróprio.
OBS: Mesmo nascente ou neonato inviável é sujeito passivo (e objeto material) do delito de
infanticídio.
O que ocorre se a mãe, sob influência do estado puerperal, mata por engano outra criança
recém-nascida no lugar de seu filho?
Art. 20, §3º do CP. Responde levando em conta as características da vítima virtual. É o
chamado infanticídio putativo.
E se a vítima virtual já estivesse morta? Continua sendo infanticídio. O crime sempre é real,
simplesmente consideram-se as qualidades da vítima virtual. Apenas hipoteticamente são trocadas
as qualidades.
A forma omissiva será a imprópria, quando a mãe, na condição de garante e sob influência
do estado puerperal, deixa de realizar ações necessárias à sobrevivência do filho.
Prevê o art. 123 que a conduta deve ser realizada durante ou logo após o parto. Ou seja,
antes desse interregno, tratar-se-á de aborto; após, tratar-se-á de homicídio.
A jurisprudência diz que haverá “logo após” enquanto perdurar o estado puerperal.
OBS: é preciso, também, que haja uma relação de causa e efeito entre o estado puerperal
e o crime, pois nem sempre ele produz perturbações psíquicas na parturiente.
Que crime pratica a mãe (sob estado puerperal) que culposamente mata o filho?
Duas correntes:
Admite-se a tentativa.
3.9.1. Infanticídio (art. 123) X Abandono de recém-nascido com resultado morte (art. 134,
§2º)
4. ABORTO
4.1. CONCEITO
Essa discussão é válida porque há meios que impedem a fecundação. Exemplo: DIU, pílula
do dia seguinte.
Para o Direito Penal, a vida intrauterina só tem relevância a partir da nidação. Se fosse a
partir da fecundação, a pílula do dia seguinte seria considerada instrumento abortivo.
Art. 20 da LCP.
Até que momento a vida intrauterina é protegida pelo tipo penal do aborto?
Até o início do parto, que é momento a partir do qual a vida passa a ser extrauterina.
Veja que há dois agentes concorrendo para o mesmo fato, cada um respondendo por um
tipo diferente: exceção pluralista à teoria monista.
Exemplo de dolo eventual: Gestante suicida que não consegue eliminar a própria vida, mas
consuma o abortamento. Rogério Greco defende que se nem mesmo o aborto é consumado, deve
a agente responder pela tentativa deste.
2ª C: Não sendo o feto titular de direitos, salvo aqueles expressamente previstos na lei civil,
o sujeito passivo é apenas o Estado. No caso de aborto praticado contra a gestante sem seu
consentimento, também ela figurará como sujeito passivo do delito.
Para a primeira corrente, em caso de aborto de gêmeos, seriam dois crimes em concurso
formal. Para a segunda corrente seria um único crime.
Adotando a primeira corrente: Se o médico não sabe que a mulher é grávida de gêmeos,
trata-se de erro de tipo. Logo responderá somente por um crime.
OBS: O CP NÃO EXIGE que o feto seja viável para que reste configurado o crime de aborto.
Que crime ocorre se a gestante toma remédio abortivo, expele o feto – ainda vivo – e
vem a matá-lo com uma facada? Como a morte decorreu da facada desferida contra uma vida
EXTRA-UTERINA, não se trata de aborto, mas sim de homicídio ou infanticídio (dependendo se
com influência ou não do estado puerperal).
Os crimes de aborto são comissivos, entretanto, nos casos do art. 13, §2º (omissão
penalmente relevante dos garantidores), pode ocorrer na forma omissiva (Rogério Greco).
Exemplo: Gestante sofre grave sangramento e não toma nenhuma atitude, de forma que o
feto vem a morrer. Como ela era garante, deverá responder pelo aborto.
Não é crime comum, pois exige condição especial do sujeito ativo. No entanto, trata-se de
crime próprio ou de mão própria?
CRIME COMUM Não exige condição especial do agente. Admite coautoria e participação.
1ª C: Trata-se de crime próprio, admitindo coautoria (porém o executor responde pelo art.
126 do CP - exceção pluralista à teoria monista). Luiz Régis Prado.
2ª C: Trata-se de crime de mão própria, não admitindo coautoria (a gestante responde pelo
art. 124 e o terceiro provocador pelo art. 126, cada um na condição de autor). Bitencourt.
Condutas
Auto-aborto
OBS: Nesse caso do consentimento, o terceiro provocador responde pelo art. 126 do CP
(aborto consensual), numa exceção pluralista à teoria monista.
Como já vimos, prevalece que o crime do art. 124 é de mão própria, logo não se admite
coautoria.
Admite-se, no entanto, participação em sentido estrito, bastando para tanto que alguém
induza, instigue ou auxilie a gestante a praticar o crime.
Ocorre autoria mediata quando o auto-aborto é praticado sob coação moral irresistível?
Não. Nesse caso o coator responde pelo crime específico do parágrafo único do art. 126
(aborto provocado por terceiro sem consentimento).
Gestante que realiza as condutas do tipo sem estar grávida → Crime impossível (crime oco).
a) Previsão legal
b) Formas de dissenso
OBS: Na hipótese do dissenso presumido, o provocador deve saber das circunstâncias da vítima
(exemplo: deve saber que a vítima era menor de 14 anos). Se não souber, responde pelo art. 126,
para não se incorrer em responsabilidade penal objetiva.
c) Tipo subjetivo
Quem desfere violento pontapé no ventre de mulher sabidamente grávida pratica crime de
aborto do art. 125 do CP, a título de dolo eventual.
Se não ficar configurado o dolo (direito ou eventual), responderá o agente pela lesão corporal
qualificada pelo aborto (crime preterdoloso).
a) Conduta
Art. 126
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é
maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento
é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
Assim, o consentimento dado por menor de 14 anos é inválido, respondendo o autor pela
pena de aborto provocado sem consentimento.
Se o consentimento for dado por maior de 14 anos, é válido, devendo a gestante responder
pelo ato infracional correspondente ao crime de auto aborto, enquanto o provocador responderá por
aborto consensual.
Se o consentimento for dado sob fraude com capacidade plena de iludir: é inválido, ou seja,
para ela o fato é atípico.
Se o consentimento for dado sob fraude sem capacidade plena de iludir: é válido.
4.11. CASUÍSTICA
d) Namorado paga o terceiro provocador para realizar aborto consentido pela namorada.
TIPO Art. 125 - Provocar aborto, sem o Art. 126 - Provocar aborto com o
consentimento da gestante: consentimento da gestante:
PENA Pena - reclusão, de três a dez Pena - reclusão, de um a quatro
anos. anos.
Inafiançável. Infração de médio potencial ofensivo
– admite suspensão condicional do
processo.
SUJEITOS SA: Crime comum. SA: Crime comum.
SP: Gestante e Feto SP: Feto
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas
de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para
b) Gestante morre
Por que as causas só se aplicam ao art. 125 (terceiro sem consentimento) e 126 (terceiro
com consentimento)? Porque o direito penal não pune autolesão (princípio da alteridade).
Os resultados lesão grave e morte são culposos, ou seja, estamos diante de crimes
preterdolosos (ou preterintencionais). O dolo é dirigido ao aborto e não à lesão corporal e morte. É
o único crime contra a vida preterdoloso.
Se o agente desejava a produção do resultado morte (ou lesão grave), além do resultado
aborto, deverá responder por ambos os crimes em concurso formal impróprio (desígnios
autônomos).
Para incidir a majorante é imprescindível a consumação do aborto? Não. Pode ser que
as causas majorantes não decorram do aborto, mas dos meios utilizados para provocá-lo, conforme
prevê expressamente o caput do art. 127.
Que crime pratica o médico que, durante as manobras abortivas, causa lesão grave na
gestante sem conseguir realizar o abortamento?
1ª C: Responde por aborto majorado consumado, pois se trata de figura preterdolosa não
admitindo tentativa. Exatamente o mesmo raciocínio que o STF esposou na súmula 610 em relação
ao latrocínio. Fernando Capez.
STF Súmula 610 - há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não
realize o agente a subtração de bens da vítima.
Inciso I - Aborto necessário: A doutrina quase unânime entende ser uma causa especial de
estado de necessidade. Paulo José da Cosa Jr. chega a considerar um dispositivo desnecessário,
em virtude da regra geral prevista no art. 24 do CP (estado de necessidade). LFG concorda em ser
uma descriminante.
2ª C: Como a honra é menos valiosa que a vida, estamos diante de um estado de necessidade
exculpante (teoria diferenciadora) ou diante de inexigibilidade de conduta diversa, em ambos
os casos excluindo a culpabilidade do agente.
5ªC: LFG diz ser excludente de tipicidade (ele adota a teoria da tipicidade conglobante).
Não se aplica o art. 128, mas também não responde pelo crime, porquanto agiu em estado
de necessidade de terceiro.
E se for praticado por enfermeiro? Não lhe é aplicado o art. 128. O enfermeiro pratica crime
de aborto.
Anencéfalo: Embrião, feto ou recém-nascido que, por malformação congênita, não possui
uma parte do sistema nervoso central, ou melhor, faltam-lhe os hemisférios cerebrais e tem uma
parcela do tronco encefálico.
OBS: Cezar Roberto Bitencourt diz que é dirimente exclusiva da gestante (do médico não).
- Feto anencefálico não tem vida intrauterina (não morre juridicamente). A doutrina liga o
começo da vida ao funcionamento da atividade encefálica, seguindo o parâmetro fixado pela Lei de
Transplantes, que fixa o momento da morte como aquele onde a atividade cerebral é cessada.
A interrupção da gravidez de feto anencefálico não pode, portanto, ser classificada como
“aborto eugênico”, “eugenésico” ou mesmo “antecipação eugênica da gestação”. Segundo o Min.
Relator, a interrupção da gestação de feto anencéfalo não poderia ser considerado aborto eugênico,
compreendido no sentido negativo em referência a práticas nazistas. Descreveu que anencéfalo
não teria vida em potencial, de sorte que não se poderia cogitar de aborto eugênico, o qual
pressuporia a vida extrauterina de seres que discrepassem de padrões imoralmente eleitos.
Discorreu que não se trataria de feto ou criança com deficiência grave que permitisse sobrevida fora
do útero, mas tão somente de anencefalia. Exprimiu, pois, que a anencefalia mostrar-se-ia
incompatível com a vida extrauterina, ao passo que a deficiência, não.
Não há conflito entre o direito à vida dos anencéfalos e o direito da mulher à dignidade. Isso
porque, segundo o Min. Relator, direito à vida de anencéfalo seria um termo antitético considerando
que o anencéfalo, por ser absolutamente inviável, não seria titular do direito à vida. Assim, o alegado
conflito entre direitos fundamentais seria apenas aparente. Assentou que o feto anencéfalo, mesmo
que biologicamente vivo, porque feito de células e tecidos vivos, seria juridicamente morto, de
maneira que não deteria proteção jurídica, principalmente a jurídico-penal. Corroborou esse
entendimento ao inferir o conceito jurídico de morte cerebral da Lei 9.434/97, de modo que seria
impróprio falar em direito à vida intra ou extrauterina do anencéfalo, natimorto cerebral. Destarte, a
interrupção de gestação de feto anencefálico não configuraria crime contra a vida, porquanto se
revelaria conduta atípica.
A primeira turma do STF, no HC 124306/RJ, entendeu que o aborto, até o terceiro mês da
gestação, não é crime.
Novamente, o caso chegou ao STF, que decidiu, especificamente, para o caso concreto que
não configurava a caracterização de crime, tendo em vista que os abortos foram realizados nas
fases iniciais do desenvolvimento gestacional, no entender do Min. Barroso.
b) Homem não engravida. Assim, somente haverá igualdade plena, quando for conferido à
mulher o direito de decidir acerca da manutenção ou não do estado gestacional;
d) O sistema nervoso central do feto, nos estágios iniciais da gestação, ainda não está
formado. Portanto, não existe nenhum dano a prática do procedimento abortivo.
Assim, como os abortos foram realizados no início da fase gestacional, até o terceiro mês,
não há crime algum.
Por fim, ressalta-se que para que a decisão seja válida erga omnes será necessário decisão
do pleno.
DA LESÃO CORPORAL
1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica
e moral.
E se for policial militar? Responde por abuso de autoridade em concurso com lesão corporal.
Quem julga esse sujeito?
O abuso é crime comum. A lesão é crime militar (impróprio). Ocorrerá a cisão do processo.
Abuso na Justiça Comum e a lesão corporal na JM.
Motivo? O simples fato de o abuso de autoridade não ter previsão na lei militar.
O que se entende por outrem? Qualquer ser humano vivo. Em regra, o sujeito passivo é
comum.
c) Art. 129, §9º (violência doméstica e familiar): Sujeito passivo → Familiares ou pessoas
com quem o agente mantenha ou tenha mantido relação doméstica, de coabitação ou
de hospitalidade.
d) Art. 129, §12 (agente de segurança): Sujeito passivo → autoridade ou agente descrito
nos arts. 142 e 144 da CF, no exercício das funções, bem como seus familiares.
Discute-se a partir de que momento o ser humano poderia ser sujeito passivo da lesão
corporal, ou seja, se desde sua vida intrauterina ou se somente a partir do parto.
1ªC: Luiz Régis Prado e Mirabete: Somente a partir do parto a pessoa pode ser vítima de
lesões corporais.
Sim, pelo crime de lesão corporal. A queda é uma concausa relativamente independente,
superveniente, que não, por si só, produziu o resultado. Conclusão: O agressor responde pela
fratura do braço (CP, art. 13, §1º, a “contrario sensu”).
SOCO
(CAUSA)
CS – DIREITO PENAL PARTE ESPECIAL 2019.1 82
Ver teoria do fato típico/nexo causal/concausas.
Trata-se de delito de execução livre, podendo ser praticado por ação ou omissão (imprópria),
por meio de violência física (ex.: soco) ou moral (ex.: susto).
Configura-se o crime não só com a criação pelo agente de ofensa à incolumidade da vítima,
mas também com o agravamento de uma enfermidade já existente.
1ªC: Pode configurar lesão corporal, mas é indispensável que a ação provoque uma
alteração desfavorável no aspecto exterior do indivíduo.
3ªC: pode configurar qualquer um dos dois crimes, dependendo do dolo do agente.
Para a doutrina moderna, a integridade física é um bem relativamente disponível (por todos:
Bitencourt).
O legislador concordou com a doutrina moderna, haja vista o art. 88 da Lei 9.099/95, que
prevê a necessidade de representação na ação penal do crime de lesão corporal leve.
Nesse sentido, vale mencionar o art. 13 do Código Civil, presente no capítulo referente aos
direitos da personalidade, que assim dispõe:
Prevalece que se trata de exercício regular de direito, desde que sejam obedecidos os
ditames legais. Essa conclusão se baseia na Resolução 1652/2002 do Conselho Federal de
Medicina, na qual ficou definido que o transexualíssimo, por se tratar de uma patologia psíquica,
autoriza a intervenção cirúrgica como uma necessidade terapêutica.
b) Para Assis Toledo, não é crime pela ausência de dolo de ofender a saúde.
f) Zaffaroni diz que o fato é atípico, pois não é antinormativo (atos não determinados ou
não incentivados - tipicidade conglobante).
Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, cuja ação penal pública depende de
representação (Lei 9.099/95, art. 88). Cabe suspensão condicional do processo e transação.
Admite prisão em flagrante? A captura é possível, o que não se admite é a lavratura do APF,
caso o autor do fato se comprometa a comparecer ao Juizado.
Quando uma lesão é leve? Quando não for grave, gravíssima ou seguida de morte. É um
conceito residual.
As formas de lesão corporal grave não são infrações de menor potencial ofensivo, porém
admitem suspensão condicional do processo.
Art. 129,
§ 1º Se resulta:
Essa consequência qualificadora pode se originar tanto do dolo quanto da culpa do agente
(produzindo um crime preterdoloso).
Prostituta pode ser vítima dessa forma qualificada? Sim. É atividade de trabalho e lícita,
embora imoral.
Recém-nascido pode ser vítima dessa forma? Sim, basta que fique privado da atividade de
mamar, por exemplo.
Mulher com olho roxo que deixa de trabalhar é vítima dessa forma qualificada? Não! É a
lesão que tem que incapacitar a vítima e não seu sentimento de vergonha, ou seja, a simples
relutância em não trabalhar por VERGONHA não qualifica a lesão.
Por se tratar de crime não transeunte (que deixa vestígios), o exame pericial é indispensável,
sob pena de nulidade do processo, salvo quando impossível realizá-lo, nos termos do art. 564, III,
‘a’ do CPP.
CPP Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
CPP Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver
sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da
autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério
Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.
§ 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de
delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
§ 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, §
1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias,
contado da data do crime.
§ 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova
testemunhal.
Esse prazo é penal ou processual penal? O erro pode ocasionar nulidade do laudo.
O PRAZO é PENAL, até porque presente no próprio tipo. Logo, se inclui na contagem o dia
da ocorrência do crime.
II - Perigo de vida;
Perigo de vida não se presume! Comprova-se por meio de perícia. Ou seja, a região da lesão
(exemplo: cabeça) não autoriza presumir perigo de vida.
Permanente → Duradoura, sem prazo determinado de recuperação. Não deve ser entendida
no sentido de perpetuidade.
Depende de perícia, que vai atestar se a perda do dente gera debilidade da função digestiva.
Perda de um dedo?
IV - Aceleração de parto:
O sentido da lei é o de antecipação do parto, uma vez que só se pode acelerar aquilo que já
teve início.
É um resultado necessariamente culposo, no qual o feto é expulso com vida. Aqui o agente
jamais quis ou assumiu o risco da expulsão do feto; se assim não fosse, responderia pelo crime de
aborto tentado ou consumado.
É imprescindível que o agressor soubesse ou pudesse saber que a vítima era mulher
grávida, evitando-se assim responsabilidade penal objetiva.
Não admite suspensão condicional do processo, mas admite ‘sursis’ (se a pena ficar no
mínimo).
Para o CP, a lesão grave abrange tanto o §1º quanto o §2º do art. 129.
PREVALECE que para incidir essa qualificadora, o sujeito deve ficar incapacitado para todo
o tipo de trabalho, e não apenas para aquele realizado antes do fato (Hungria e Damásio) (absurdo!).
A minoria entende que basta ficar incapacitada para o trabalho anterior, do contrário o
dispositivo seria quase que inaplicável. Até um tetraplégico pode desenvolver inúmeros trabalhos.
II - Enfermidade incurável;
Trata-se de um processo patológico em curso que afeta a saúde em geral, para o qual não
existe cura na medicina.
Para o STJ, não. Trata-se de tentativa de homicídio, pois é uma doença de caráter letal.
Jurisprudência dá o exemplo da lesão que deixa a vítima manca. Rogério não concorda, pois
não seria por processo patológico.
No §1º (lesão grave) a lei fala em mera debilidade. Aqui se trata de inutilização ou perda.
Não. Tratando-se de órgãos duplos, para a lesão ser gravíssima deve atingir os dois. Do
contrário, gera ‘mera’ debilidade de função, produzindo uma lesão de natureza grave.
IV - Deformidade permanente;
Dano estético, aparente, considerável, irreparável pela própria força da natureza e capaz de
provocar impressão vexatória para a vítima (Desconforto para quem olha; humilhação para a
vítima).
OBS: A idade, o sexo e a condição social podem ser determinantes para a conclusão dessa
qualificadora.
Exemplo de Hungria: Uma cicatriz no rosto de modelo pode ser considerada uma
deformidade permanente, ao passo que a mesma cicatriz no rosto de septuagenário torna-se quase
insignificante.
CUIDADO! A grande maioria dos livros defende posição contrária ao que foi decidido pelo
STJ. Assim, muita atenção para o tipo de pergunta que será feita na hora da prova para não se
lembrar do que leu no livro e errar a questão, especialmente em concursos CESPE.
V - Aborto:
Ressalte-se que a gravidez deve ser de conhecimento do agente (ou pelo menos de possível
conhecimento), sob pena de incorrer-se em responsabilidade penal objetiva.
A qualificadora mais grave é usada como tal (ponto de partida do cálculo da pena), enquanto
a menos grave é valorada na fixação da pena-base.
1.10. LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE - HOMICÍDIO PRETERDOLOSO (art. 129, §3º)
Não há que se falar em dolo de matar. A morte, aqui, é sempre culposa. Trata-se de um
crime preterdoloso por excelência.
c) Nexo causal.
Caso fortuito ou força maior não permitem imputar o resultado morte ao agente. Responde
apenas por lesão.
O art. 129, §4º prevê uma causa especial de diminuição de pena aplicável a TODAS as
figuras típicas anteriores. Rogério Greco estende a aplicação também às lesões domésticas e
familiares.
Art. 129, § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a
pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, cuja ação penal pública depende de
representação (Lei 9.099/95, art. 89). Cabe suspensão condicional do processo e transação.
É o crime do art. 303 do CTB, com pena que varia de 06 meses a 02 anos.
No homicídio culposo de trânsito (que também tem pena maior) justifica-se a aparente
‘desproporcionalidade’ pela diferença no desvalor da conduta do agente, sendo a do trânsito mais
perigosa, exigindo um maior cuidado, e consequentemente justificando uma pena maior.
Entretanto, na lesão corporal esse argumento não tem sustento, tendo em vista a flagrante
desproporcionalidade das penas. A lesão CULPOSA de trânsito tem pena mais grave que a lesão
corporal DOLOSA do CP (3 meses a 1 ano).
É mais grave o sujeito agir sem intenção do que com dolo de lesionar.
PORÉM, ainda prevalece que é constitucional o dispositivo que pune mais severamente a
lesão culposa no trânsito.
Art. 129 § 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das
hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei
nº 12.720, de 2012)
Art. 121§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime
for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.
Sabendo que o grupo (em especial, as milícias privadas) explora o terror, pode querer impor
seu “poder” paralelo por meio de “surras”, sem buscar (num primeiro momento) a morte das vítimas.
Nesses casos, a pena de lesão corporal também será majorada.
Art. 121§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime
for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.
Quantas pessoas devem, no mínimo, integrar esse “GRUPO”? O texto é totalmente silente.
1ªC: o número de agentes deve coincidir com o de associação criminosa (art. 288 do CP),
qual seja, três ou mais pessoas.
“Art. 121§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime
for praticado por MILÍCIA PRIVADA, sob o pretexto de prestação de serviço
de segurança, ou por grupo de extermínio.”
Por MILÍCIA ARMADA entende-se grupo de pessoas (civis ou não, repetindo a discussão
acima quanto ao número mínimo) armado, tendo como finalidade (anunciada) devolver a segurança
retirada das comunidades mais carentes, restaurando a paz. Para tanto, mediante coação, os
agentes ocupam determinado espaço territorial. A proteção oferecida nesse espaço ignora o
monopólio estatal de controle social, valendo-se de violência e grave ameaça.
A Assembleia Geral das Nações Unidas, em dezembro de 1989, por meio da resolução
44/162, aprovou os princípios e diretrizes para a prevenção, investigação e repressão às execuções
extralegais, arbitrárias e sumárias, anunciando: “Os governos proibirão por lei todas as execuções
extralegais, arbitrárias ou sumárias, e zelarão para que todas essas execuções se tipifiquem como
delitos em seu direito penal, e sejam sancionáveis com penas adequadas que levem em conta a
gravidade de tais delitos. Não poderão ser invocadas, para justificar essas execuções,
circunstâncias excepcionais, como por exemplo, o estado de guerra ou o risco de guerra, a
instabilidade política interna, nem nenhuma outra emergência pública. Essas execuções não se
Até 1990, a violência no Brasil era tratada num círculo comum. A partir de então, começou-
se a especializar os tipos penais de violência, baseado em estatísticas. Surgiram então:
- Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), especializando a violência doméstica e familiar contra
a mulher.
Entretanto, apesar de a Lei Maria da Penha proteger a mulher, ela alterou os §§9º, 10 e 11,
que também protegem o homem, desde que no âmbito familiar ou doméstico.
1.15.1. Art. 129, §9º - Lesão corporal leve qualificada (âmbito doméstico e familiar)
Art. 129, §9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão,
cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade:
Pena - 03 meses a 03 anos.
OBS: Essa qualificadora abrange SOMENTE a lesão leve, vale dizer, em se tratando de
lesão grave, gravíssima ou seguida de morte, praticada no ambiente doméstico ou familiar, incidem
as penas dos §§1º a 3º do art. 129, c/c o §10.
-Sujeito ativo
Somente alguém que tenha com a vítima alguma das relações domésticas ou familiares
previstas no tipo.
-Sujeito passivo
Pode-se dizer que o crime é bipróprio, não obstante boa parte da doutrina entenda se tratar
de crime comum.
a) Ascendente/descendente/irmão/Cônjuge/companheiro
Doutrina Majoritária: É um grupo autônomo de vítimas, de forma que não se exige dos
familiares a coabitação com o agente.
Exemplo de sujeitos com quem o agente conviva ou tenha convivido, mas que não fazem
parte do ambiente familiar: Amantes; república de estudantes etc.
Esse terceiro grupo de vítimas se refere às Visitas, hóspedes, empregados domésticos etc.
Art. 129, § 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º (lesão grave, gravíssima e
seguida de morte) deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9º
deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
Como exemplo, o art. 129, §1º (lesão grave), que tem pena prevista de 01 a 05 anos, terá a
pena majorada de 1/3, se o crime for cometido em ambiente doméstico ou familiar.
O mesmo ocorrendo com os §§2º (lesão gravíssima - pena de 02 a 08) e 3º (lesão seguida
de morte - pena 04 a 12).
1.15.3. Art. 129, § 11 – Causa especial de aumento de pena dos crimes cometidos contra
deficientes (âmbito doméstico e familiar)
Prevalece que é uma majorante exclusiva da lesão corporal leve qualificada do §9º. Se o
deficiente for vítima de lesão grave em ambiente doméstico e familiar, somente se aplica a
majorante do §10.
Em suma:
Para que incida essa causa de aumento, serão necessários também dois requisitos:
Em resumo:
Requisito 1: Requisito 2:
Condição da vítima Relação com a função
1) autoridade, agente ou integrante da (o)(s): ...desde que o crime tenha
• Forças Armadas; sido praticado contra a
A pena da • Polícia Federal; pessoa no exercício das
LESÃO • Polícia Rodoviária Federal; funções ao lado listadas ou
CORPORAL • Polícia Ferroviária Federal; em decorrência dela.
será aumentada • Polícias Civis;
de 1/3 a 2/3 se • Polícias Militares;
ela tiver sido • Corpos de Bombeiros Militares;
praticada • Guardas Municipais;
contra... • Agentes de segurança viária*;
• Sistema Prisional
• Força Nacional de Segurança Pública.
2) cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até 3º grau de algumas das
pessoas acima listadas.
Regra: Ação penal pública incondicionada (até 1995 não admitia exceções).
NÃO. Qualquer lesão corporal, mesmo que leve ou culposa, praticada contra mulher no
âmbito das relações domésticas é crime de ação penal INCONDICIONADA, ou seja, o Ministério
Público pode dar início à ação penal sem necessidade de representação da vítima.
O art. 88 da Lei nº 9.099/95 NÃO vale para as lesões corporais praticadas contra a mulher
no âmbito de violência doméstica.
Por quê?
Porque a Lei nº 9.099/95 NÃO se aplica aos crimes de violência doméstica e familiar contra
a mulher. Veja o que diz o art. 41 da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006):
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de
26 de setembro de 1995.
Observações:
• Se uma mulher sofrer lesões corporais no âmbito das relações domésticas, ainda que
leves, e procurar a delegacia relatando o ocorrido, o delegado não precisa fazer com que ela assine
uma representação, uma vez que a lei não exige representação para tais casos. Bastará que a
autoridade policial colha o depoimento da mulher e, com base nisso, havendo elementos indiciários,
instaure o inquérito policial;
• Em caso de lesões corporais leves ou culposas que a mulher for vítima, em violência
doméstica, o procedimento de apuração na fase pré-processual é o inquérito policial e não o termo
circunstanciado. Isso porque não se aplica a Lei nº 9.099/95, que é onde se prevê o termo
circunstanciado;
• Se a mulher que sofreu lesões corporais leves de seu marido, arrependida e reconciliada
com o cônjuge, procura o Delegado, o Promotor ou o Juiz dizendo que gostaria que o inquérito ou
o processo não tivesse prosseguimento, esta manifestação não terá nenhum efeito jurídico,
devendo a tramitação continuar normalmente;
• É errado dizer que todos os crimes praticados contra a mulher, em sede de violência
doméstica, serão de ação penal incondicionada. Continuam existindo crimes praticados contra a
mulher (em violência doméstica) que são de ação penal condicionada, desde que a exigência de
representação esteja prevista no Código Penal ou em outras leis, que não a Lei n. 9.099/95. Assim,
por exemplo, a ameaça praticada pelo marido contra a mulher continua sendo de ação pública
condicionada porque tal exigência consta do parágrafo único do art. 147 do CP.
O que a Súmula nº 542-STJ afirma é que o delito de LESÃO CORPORAL praticado com
violência doméstica contra a mulher, é sempre de ação penal incondicionada.
O art. 135-A foi inserido no Capítulo III do Título I do Código Penal. Esse capítulo trata dos
crimes que envolvem “periclitação da vida e da saúde”.
Periclitar significa “correr perigo”. Este Capítulo III, portanto, traz diversos crimes de perigo.
Desse modo, prevalece que o art. 135-A, pelo menos em sua forma simples (caput), é um crime de
perigo.
Assim, para a consumação do delito basta a prática da conduta típica pelo agente, sem ser
necessário demonstrar que houve, concretamente, a produção de uma situação de perigo.
Pela simples redação do tipo percebe-se que não se exige a demonstração de perigo,
havendo uma presunção absoluta (juris et de jure) de que ocorreu perigo pela simples exigência
indevida.
Vale ressaltar que, apesar de haver polêmica na doutrina, o STF entende que:
Trata-se de crime próprio considerando que somente pode ser praticado pelos responsáveis
(sócios, administradores etc.) ou prepostos (atendentes, seguranças, médicos, enfermeiras etc.) do
serviço médico-hospitalar emergencial.
Imaginemos o seguinte exemplo: O diretor geral do hospital edita uma norma interna
determinando que todas as recepcionistas somente podem aceitar a internação, ainda que de
emergência, de pessoas que apresentem cheque-caução.
Quem cometeu o crime, o diretor geral ou a recepcionista? Os dois. Pela teoria do domínio
do fato, o diretor-geral seria o autor intelectual e a recepcionista a autora executora.
Atenção: se a exigência de caução foi feita a um parente da pessoa que seria internada, a
vítima é apenas a pessoa que seria internada e não o seu parente. Isso porque o bem jurídico
protegido é a vida e a saúde da pessoa em estado de emergência. Desse modo, não se trata de
crime patrimonial, pouco importando de quem se exigiu a caução.
1.7.1. Exigir
1.7.2. Cheque-caução
Consiste em um título de crédito (documento escrito) no qual uma pessoa (sacador) faz a
promessa, por escrito, de pagar certa quantia em dinheiro em favor de outra (beneficiário). A nota
promissória, neste caso, também funcionaria como um instrumento de garantia de que as despesas
médicas seriam pagas.
Exs: fiança prestada por um parente do paciente; uma joia dada em penhor; a exigência de
que se passe o cartão de crédito para desconto futuro, como é feito na locação de veículos.
Deve-se alertar, contudo, que é possível imaginar que, em alguns casos, seja lícita a
exigência de prévio preenchimento de formulários administrativos, nas hipóteses em que essa
imposição for imprescindível para a saúde e a vida do paciente ou para resguardar a equipe médica
que faz o atendimento.
O crime somente pode ser praticado de forma COMISSIVA (por ação), não sendo possível
ser perpetrado por OMISSÃO. No entanto, trata-se de crime de execução livre, podendo ser
realizado de modo verbal, gestual ou escrito.
1.12. CONSUMAÇÃO
1.13. TENTATIVA
“A” está sofrendo um ataque cardíaco e é levado por seu irmão “B”, ao hospital. “B” para o
veículo na porta do hospital para que “A” desça e dê entrada o mais rápido possível na emergência,
enquanto ele vai estacionar o veículo.
Nesse exemplo hipotético, haverá o crime do art. 135-A (tentado ou consumado)? Haverá
desistência voluntária? Haverá arrependimento eficaz?
O fato de logo depois a funcionária do hospital ter permitido a internação não importa para
fins de consumação considerando que a exigência já foi feita, completando o tipo penal.
Na desistência voluntária (1ª parte do art. 15, CP), o agente inicia a execução do crime e,
antes dele se consumar, desiste de continuar os atos executórios.
No arrependimento eficaz (2ª parte do art. 15, CP), o agente, após ter consumado o crime,
resolve adotar providências para que o resultado não se consuma.
Ocorre que o resultado de que trata o art. 15 do CP é o resultado naturalístico. Desse modo,
somente existe arrependimento eficaz no caso de crimes materiais, isto é, naqueles que exigem a
produção de resultado naturalístico. O delito do art. 135-A é, como disse, formal, portanto,
incompatível com o arrependimento eficaz.
1.16. PENA
Consequências:
O parágrafo único do art. 135-A prevê duas causas especiais de aumento de pena (obs: não
se trata de qualificadora, mas sim de majorante):
A Lei n. 12.653/2012 previu ainda que o estabelecimento de saúde que realize atendimento
médico-hospitalar emergencial fica obrigado a afixar, em local visível, cartaz ou equivalente, com a
seguinte informação:
A conduta punida por este novo tipo penal já era sancionada pelos demais ramos do direito.
O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) prevê que é prática abusiva o fato
do fornecedor de serviços se prevalecer da fraqueza do consumidor diante de um problema de
saúde. Confira-se:
O Código Civil de 2002, por sua vez, prevê o estado de perigo como vício de consentimento,
apto a gerar a anulabilidade do negócio jurídico. A doutrina civilista em peso classifica a exigência
1. RIXA
1.1. CONCEITO
Rixa é a briga perigosa entre mais de duas pessoas agindo cada uma por sua conta e risco,
acompanhada de vias de fato ou violências recíprocas.
B C
Antigamente, como há dois grupos distintos, não haveria rixa se as torcidas brigassem entre
si.
Agora, porém, em ambos os casos se enquadra no art. 41-B da lei 10.671/03 (Estatuto do
Torcedor).
Estatuto do Torcedor
Art. 41-B. Promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local
restrito aos competidores em eventos esportivos:
Pena - reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa.
§ 1o Incorrerá nas mesmas penas o torcedor que:
OBS2: Eventuais inimputáveis ou até mesmo briguentos não identificados são computados
na contagem do mínimo de três necessários para configuração do delito.
Qualquer pessoa, não só os briguentos, mas também qualquer pessoa atingida pelo tumulto.
Para Rogério Greco, o crime de rixa é um caso excepcional em que o sujeito ativo é também
passivo, em virtude das mútuas agressões.
1.5. CONDUTA
“Participar de rixa”.
Vontade consciente de tomar parte na luta ou incentivar os briguentos. Ou seja, quem entra
para separar os contendores não tem dolo de participar da rixa.
O crime se consuma com o início do conflito. Para a maioria trata-se de perigo abstrato.
Entretanto, para uma minoria o crime de perigo abstrato é inconstitucional por violar o princípio da
ofensividade ou lesividade e o princípio da ampla defesa; para esta minoria, o crime é de perigo
concreto.
¹CP Art. 137, Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza
grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de
seis meses a dois anos.
Casuística:
a) A, B, C, e D em uma rixa. D sofre lesão grave, não se identificou o autor do golpe fatal.
Agora já temos uma rixa qualificada.
‘D’ → não podemos esquecer que ‘D’ foi a vítima, apesar de briguento. Mas também
responde por rixa qualificada. A qualificadora considera o maior perigo da luta e D, de qualquer
modo, concorreu para o maior perigo, mesmo que tenha sofrido a lesão grave.
1ªC: rixa simples + 121 (rixa qualificada geraria um claro bis in idem).
2ªC: rixa qualificada + 121 (não há bis in idem). Responde pela qualificada por conta do
maior perigo da briga e o homicídio em razão da morte. PREVALECE.
‘C’→ rixa qualificada. Isto porque C, de qualquer modo, contribuiu para o maior perigo da
luta.
‘E’→ rixa simples. Isso porque não contribuiu de nenhuma forma para morte de D.
Leis especiais
• Código Eleitoral (aqui todos os crimes contra a honra são de ação penal pública
incondicionada);
CALÚNIA (ART. 138 CP) Imputação de determinado fato, Ofende honra objetiva
previsto como crime, sabidamente (reputação). O que a
falso. sociedade pensa do sujeito.
DIFAMAÇÃO (ART. 139 Imputação de determinado fato, Ofende a honra objetiva
CP) desonroso, em regra não importando se (reputação).
verdadeiro ou falso.
INJÚRIA (ART. 140 CP) Atribuição de qualidade negativa. Ofende a honra subjetiva
(dignidade, decoro). O que o
sujeito pensa de si mesmo.
Exemplo2: dizer que pessoa x roubou banco x tal dia e hora, quando sabe que não
aconteceu é calúnia
OBS2: Atentar para os crimes militares, cuja imputação falsa implica em calúnia.
2.1. CONCEITO
Caluniar consiste em imputar falsamente a alguém a prática de fato previsto como crime.
Crime comum.
OBS: Advogados não têm imunidade quanto à calúnia, mas apenas quanto à injúria e
difamação (EAOAB, art. 7º).
EAOAB
§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria,
difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no
exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções
disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer. (Vide ADIN 1.127-
8)
Informativo 539 STJ:
Assim, o advogado somente cometerá calúnia se ficar demonstrado que ele preencheu todos
os requisitos necessários para a configuração do delito, dentre eles o elemento subjetivo, ou seja,
o dolo.
Qualquer pessoa.
Observações:
1ª C: Considerando que o menor de 18 anos não pratica crime, não pode ser vítima de
calúnia. A imputação falsa configura difamação (Hungria).
2ªC – Mirabete: diz que não pode ser vítima de crime contra a honra, pois o CP só protege
a honra de pessoa física.
3ªC – Silvio Maciel: pode ser vítima de calúnia, pois em tese, pode ser autora de crime
ambiental. Ver crimes ambientais.
NÃO. Apesar de ser punível a calúnia contra os mortos (art. 138, §2º), nesses casos quem
figura como vítima é a família, interessada na reputação do defunto.
SIM, porém configura o crime de autoacusação falsa (art. 341 do CP). Não é crime contra a
honra, mas sim crime contra a administração da Justiça.
Ou seja, o caput pune o criador da calúnia enquanto o §1º pune o divulgador (vulgo
fofoqueiro).
OBS: O fato deve ser previsto como crime. Se for previsto como mera contravenção penal,
tratar-se-á de difamação.
Ambas configuram a calúnia. Haverá calúnia quando o fato imputado jamais ocorreu
(falsidade que recai sobre o fato) ou, quando real o acontecimento, não foi a pessoa apontada o
seu autor (falsidade que recai sobre a autoria do fato).
A tentativa é admissível quando a calúnia é realizada por meio escrito e interceptada pela
própria vítima, antes que terceiros tomassem conhecimento.
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando- Art. 339. Dar causa à instauração de
lhe falsamente fato definido como crime. investigação policial, de processo judicial,
instauração de investigação administrativa,
inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa contra alguém, imputando-
lhe crime de que o sabe inocente
a) Calúnia explícita ou inequívoca: a ofensa é direta, manifesta. Não deixa dúvida nenhuma
acerca da vontade do agente em atacar a honra alheia.
CP Art. 138
Exceção da verdade
I - Se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por
sentença irrecorrível
Ex.: ‘A’ imputa a ‘B’ o cometimento do delito de ‘exercício arbitrário das próprias razões’ (art.
345) contra ‘C’.‘B’ ingressa com queixa crime contra ‘A’ (por calúnia). ‘A’ pode buscar prova da
verdade? NÃO, pois ‘A’ não tem o direito de provar um fato (delito de exercício) ao qual cabe
somente a ‘C’ dar publicidade (princípio da disponibilidade da ação privada).
A razão de impedir a prova da verdade consiste em não admitir que terceiro prove a verdade
de um crime do qual a própria vítima preferiu o silêncio (evitando o strepitus judicii).
III - Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível
Ex.: ‘A’ imputou a ‘B’ o homicídio de ‘C’. ‘B’, absolvido definitivamente deste homicídio
ingressa com queixa por calúnia contra ‘A’. ‘A’ pode provar a verdade? Não, pois facultar a prova
da verdade, nesse caso, equivale a permitir a exumação de um fato acobertado pela coisa julgada.
Previsto no CPP, trata-se outro meio de defesa indireta, porém com objetivo diverso.
Rogério Sanches: Aqui, busca-se provar que o fato, verdadeiro ou falso, é público e notório.
A procedência dessa exceção gera absolvição por crime impossível (atipicidade). Não é possível
macular a honra que já está notoriamente maculada.
3. DIFAMAÇÃO
3.2. CONCEITO
Difamar é imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação (honra objetiva), não importando
se verdadeiro ou não.
Observações:
1ª C: Os crimes contra a honra só protegem a honra de pessoa física (Mirabete). Não é por
outro motivo que os crimes contra a honra estão no capítulo dos crimes contra a pessoa (natural).
2ª C: Pessoa jurídica tem reputação a zelar, podendo ser vítima de difamação (STF RHC
83.091). PREVALECE.
Morto pode ser vítima de difamação? NÃO. Morto não pode ser vítima de nenhum crime.
E nem mesmo é punível a difamação contra os mortos.
A conduta punível é “imputar fato ofensivo à sua reputação”. A imputação pode ser implícita
ou explícita. É crime de execução livre.
Ex. de difamação implícita: “Eu pelo menos nunca rodei a bolsinha na esquina”.
O tipo penal não faz expressa menção ao divulgador/propalador da difamação, como ocorre
na calúnia. Apesar disso, prevalece que tal conduta também é punível, pois está implícita no caput.
Entende-se que o verbo difamar abrange o tanto o criador da imputação como o propalador.
Crime punido somente título de dolo (direto ou eventual), sendo imprescindível a intenção
de ofender a honra (finalidade específica). “Animus diffamandi”. Ver acima os animus que excluem
a calúnia, eles se aplicam aqui.
Cuidado com o telegrama e fonograma, pois mesmo que interceptado pela vítima, já está
consumado (o funcionário que deve elaborar, toma conhecimento da difamação).
Em regra, não se admite, uma vez que, mesmo verdadeira, a imputação realizada pode
configurar ofensa à reputação da vítima, configurando a difamação (o tipo penal da difamação não
exige a falsidade do fato imputado).
Tem-se entendido que se o funcionário não mais ostenta essa posição não é cabível a
“exceptio veritatis”, MESMO que os fatos tenham relação com o exercício da função pública.
Não. A exposição de motivos do CP, no seu item 49, alerta que a exceção da verdade na
difamação não alcança o Presidente da República ou Chefe de governo em visita ao país, pelos
mesmos motivos que já vimos não ser admissível a exceptio na calúnia contra esses personagens
(razões políticas e diplomáticas).
Não configura difamação, pois terceiros não tiveram conhecimento do fato desonroso
imputado, não alterando o panorama se a própria vítima divulgar a ofensa a ela dirigida a terceiros.
Dependendo do caso, essa ofensa dirigida diretamente à vítima pode configurar injúria, se
lhe atingiu a honra subjetiva.
Resumo:
4. INJÚRIA
A auto injúria não existe como fato típico, porém, excepcionalmente, pode constituir crime
se a expressão utilizada ultrapassar a órbita da personalidade do indivíduo, atingindo a honra de
terceiros. Exemplo: O sujeito dizer que é corno. Nesse caso, estará ofendendo a honra da mulher.
Mirabete: É crime de injúria alguém afirmar que é filho de uma prostituta (PUTA). Nesse
caso, o sujeito passivo é a mãe do agente.
A expressão filho da puta ofende quem? O filho, pois a ele está sendo dirigida a ofensa. É
ele o objeto da ofensa. É a chamada “injúria oblíqua”.
Pessoa jurídica pode ser vítima de injúria? NÃO, pois pessoa jurídica não tem honra
subjetiva (dignidade ou decoro).
OBS: Mirabete entende que as pessoas jurídicas não podem ser vítimas de nenhum crime
contra a honra.
A injúria contra os mortos também não é prevista pela lei (A não-recepcionada lei de
imprensa previa), podendo o fato, conforme o caso, configurar o delito de vilipêndio a cadáver
(Mirabete).
A injúria cometida contra funcionário público no exercício das suas funções constitui crimes
de desacato (Mirabete).
Dignidade: Sentimento que tem o indivíduo sobre seu próprio valor moral ou social.
É um crime de execução livre, vale dizer, pode ser praticado por palavras, escritos, gestos
ou até mesmo por omissão.
IMPORTANTE
INJÚRIA. Conclusão: A imputação de fato pode configurar injúria, desde que seja vago,
genérico, impreciso.
Injúria absoluta - A expressão tem por si mesma, e para qualquer pessoa, significado
ofensivo, constante e unívoco.
-Geográfica (diatópicas).
Crime punido apenas a título de dolo, exigindo-se a finalidade específica de ofender a honra
subjetiva da vítima (“animus injuriandi”). Todos animus comentados na calúnia, repetem-se aqui
como excludentes do dolo.
A tentativa é cabível?
1ª C: NÃO se admite tentativa na injúria, pois no momento em que o sujeito ajuíza a queixa
é porque ele já tomou conhecimento da imputação e, portanto, o crime já se consumou.
OBS: Zaffaroni admite a tentativa até mesmo na forma verbal (quando alguém tapa a boca
do sujeito).
E a exceção da notoriedade é possível (art. 523 CPP)? NÃO, por duas razões:
A notoriedade está ligada à honra objetiva, enquanto a injúria ofende a honra subjetiva.
O art. 523 do CPP fala em fato imputado, enquanto a injúria não se trata de imputação de
fato, e sim de qualidade.
O perdão judicial, ato unilateral realizado pelo juiz (que dispensa a concordância do acusado),
é previsto no art. 140, §1º, in verbis:
I – Provocação: ‘A’ provoca ‘B’, que responde com uma injúria. Aqui a provocação é diversa
de uma injúria. Exemplo: A dá um tapa e ‘B’ responde com injúria.
II – Retorsão imediata: ‘A’ provoca ‘B’, que responde com uma injúria. Aqui a provocação
constitui uma injúria.
PROVOCAÇÃO (art. 140, §1º, I) RETORSÃO IMEDIATA (art. 140, §1º, II)
Ex.: tapa no rosto →injúria. Ex.: xingamento (injúria) → injúria.
Perdão só beneficia o que foi provocado. Perdão beneficia os dois.
Art. 140, § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua
natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
Trata-se de uma forma qualificada de injúria onde o agente se utiliza de vias de fato ou
violência para ofender a honra subjetiva da vítima.
Frise-se: A violência ou vias de fato não são utilizados como meio de ofender a integridade
física da vítima, mas sim como forma de humilhá-la.
Consequência
Percebe-se, no entanto, que as vias de fato ficam absorvidas (não recebem punição
autônoma), vale dizer, somente há concurso de delitos quando a injúria for praticada mediante
violência.
Prevalece na doutrina que se trata de concurso material necessário (art. 69 do CP), haja
vista a previsão de cumulação de penas. Nesse sentido, Mirabete.
DEFENSORIA: Crítica à soma das penas: Bis in idem. A violência é usada para configurar
a forma qualificada da injúria e também para configurar o delito correspondente à violência.
Injúria qualificada (art. 140, §3º CP) “Racismo impróprio” Racismo (Lei 7.716/89)
O agente atribui qualidades negativas, fazendo referência O agente segrega a vítima do convício social.
a algum tipo de preconceito.
Ex’: Seu albino imundo! Ex’: Você não trabalha na minha escola porque é um albino!
Não se confunde com os delitos de RACISMO previstos na Lei 7.716/89, nos quais o
preconceito é exteriorizado através de atos de segregação à vítima.
Fundamentos:
a) A posição topográfica do perdão judicial permite concluir não se aplicar ao §3º (Se o
legislador quisesse estender o perdão à injúria qualificada teria o colocado como
disposição de encerramento).
b) A injúria preconceito consiste em violação séria à honra da vítima, ferindo uma das metas
fundamentais do Estado Democrático de Direito, qual seja, a dignidade da pessoa
humana, logo incompatível com o perdão judicial.
Não basta ofender o funcionário; a ofensa deve ser relacionada ao exercício a função
(propter officium).
OBS: Mirabete entende que o funcionário público para esses fins abrange tanto art. 327,
caput, quanto o art. 327, §1º.
Pela televisão, telefone etc.: crime contra a honra, o funcionário não está presente.
III - Na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da
difamação ou da injúria.
Exemplo: Caso onde o agente ofende ao mesmo tempo 04 pessoas. Três dessas pessoas
são computadas como testemunhas em cada ofensa isoladamente considerada. (Bento de Faria se
contenta com 02).
OBS: O crime contra a honra que antes era disciplinado pela Lei de Imprensa agora
configura forma qualificada do CP.
Motivo da exceção: Evitar bis in idem com a injúria qualificada pelo preconceito.
Lembrando que o dolo do agente deve abranger todas essas circunstâncias pessoais
(responsabilidade penal subjetiva). Em não sabendo das qualidades da vítima, o agente age em
erro de tipo.
Greco: Somente o executor deve ter a pena majorada, até porque nada impede que o
mandante haja impelido por algum motivo relevante, o que se tornaria totalmente incompatível com
a torpeza do crime mercenário.
I - A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
É imprescindível que a ofensa tenha conexão com a causa discutida. Não pode a parte usar
de uma petição ao juízo para chamar a outra parte de corno, por exemplo.
Greco e Nucci dizem que só tem imunidade quanto atuam como parte; respondendo por
ofensas quando atua como fiscal da lei.
Greco entende que não, pois aquele que tem o dever de conduzir uma audiência não pode
se deixar influenciar pelo calor das discussões.
Essa excludente se baseia, diretamente, na falta de dolo de ofender do agente, sendo, por
isso, causa de atipicidade.
Hungria e Fragoso: É uma imunidade absoluta, ilimitada, irrestrita. Não é o que prevalece.
Entretanto, prevalece que essa imunidade não agasalha o funcionário quando presente o
excesso.
A retratação só é cabível nos crimes contra a honra processados por ação penal privada (o
dispositivo é claro ao mencionar QUERELADO). Como veremos a seguir, existem casos
excepcionais onde o crime de processa por ação penal pública condicionada.
Momento da retratação
Prevalece que deve ser realizada até a publicação da sentença (decisão de 1º grau). A
retratação em grau de recurso gera no máximo a atenuante do art. 65, III, ‘b’ do CP.
E na denunciação caluniosa (art. 339 CP) a retratação extingue a punibilidade? Não. Isso
porque aqui não ofendemos somente a honra, mas a administração da justiça que já foi movida
inútil e criminosamente.
Não, pois o artigo fala em QUERELADO é isento de pena. É uma circunstância subjetiva
incomunicável.
Desse modo, a Lei nº 13.188/2015 acrescenta mais um requisito para que a retratação tenha
efeitos penais: exige-se agora, de forma expressa, que a retratação ocorra, se assim desejar o
ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.
Se a parte ofendida deseja perseguir a pena do ofensor deverá ingressar com a ação penal,
que deverá seguir todo o devido processo, até que o juiz decida se houve ou não a ofensa à honra.
O juiz do rito das explicações sequer aprecia ou julga as explicações dadas. Somente o juiz
da eventual ação penal poderá valorar as explicações, caso no qual poderá rejeitar a peça
acusatória por inépcia (falta de justa causa) se entender que as explicações foram suficientemente
esclarecedoras no sentido de afastar a tipicidade da conduta.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante
queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º (injúria real), da violência
resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no
caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código (presidente da república e
governo estrangeiro), e mediante representação do ofendido, no caso do
inciso II do mesmo artigo (funcionário público), bem como no caso do § 3o do
art. 140 (injúria preconceito) deste Código.
• Crime contra a honra do Presidente da República ou chefe estrangeiro (ação pública condicionada à
requisição do Ministro da Justiça, salvo de crime político, caso em que é incondicionada).
• Crime contra a honra de funcionário público, em razão da sua função (ação pública condicionada à
representação).
OBS: Súmula 714: Legitimidade concorrente entre o ofendido e o MP.
Injúria preconceito (ação penal privada) Injúria preconceito (agora é pública condicionada)
OBS: A opção pela representação torna preclusa a queixa-crime (STF HC 84.659-9). Ver
processo penal: legitimidade concorrente. Preclusão lógica e consumativa.
Queixa Representação
a) Cabe perdão do ofendido. a) Não cabe perdão do ofendido;
b) É possível perempção. b) Não é possível perempção;
c) Cabe renúncia. c) Em regra, não cabe renúncia.
Ocorre aqui o mesmo que com os crimes sexuais, bem como o delito de sequestro
qualificado pela motivação libidinosa (antigo rapto violento).
João, síndico do prédio, brigou com Pedro em virtude de desavenças quanto à prestação de
contas.
Pedro escreveu, então, uma carta, distribuída a todos os demais condôminos, na qual dizia
que João:
• Que, no dia da assembleia ocorrida em 22/10/2014, estava tão bêbado que não
conseguia parar em pé (difamação); e
João, por intermédio de advogado, ajuizou ação penal privada (queixa-crime) contra Pedro,
imputando-lhe os delitos de calúnia (art. 139), difamação (art. 140) e injúria (art. 141 do CP).
Em sua defesa, Pedro alegou que João, ao imputar-lhe três crimes por conta de um mesmo
fato (uma mesma carta) estaria incorrendo em bis in idem e que a acusação de calúnia, por ser
mais grave, deveria absorver as demais. A tese do querelado (Pedro) está correta?
NÃO. É possível que se impute, de forma concomitante, a prática dos crimes de calúnia, de
difamação e de injúria ao agente que divulga, em uma única carta, dizeres aptos a configurar os
referidos delitos, sobretudo no caso em que os trechos utilizados para caracterizar o crime de
calúnia forem diversos dos empregados para demonstrar a prática do crime de difamação.
A situação não caracteriza ofensa ao princípio que proíbe o bis in idem, já que os crimes
previstos nos arts. 138, 139 e 140 do CP tutelam bens jurídicos distintos, não se podendo asseverar,
de antemão, que o primeiro absorveria os demais. Ademais, constatado que diferentes afirmações
constantes da missiva atribuída ao réu foram utilizadas para caracterizar os crimes de calúnia e de
difamação, não se pode afirmar que teria havido dupla persecução pelos mesmos fatos. De mais a
OBS: Se o sujeito ativo for funcionário público, pode ocorrer crime de abuso de autoridade.
Prevalece que qualquer pessoa pode ser vítima, incluindo menores de idade, insanos e
deficientes físicos.
OBS: Tem uma minoria doutrinária que diz que a vítima somente pode ser pessoa com
liberdade própria de movimento.
Cárcere privado: Privação da liberdade com confinamento. Exemplo: Vítima fica privada da
liberdade de locomoção no cômodo de um imóvel.
- A privação da liberdade pode ser realizada através de violência, grave ameaça, fraude ou
qualquer outro meio apto a produzir o resultado.
- O crime pode ser cometido por ação (detenção) ou omissão (retenção). Exemplo de
sequestro por omissão: médico que se recusa a liberar paciente já curado.
c) Se a finalidade for fazer justiça privada → Exercício arbitrário das próprias razões.
OBS: O delito de sequestro NÃO EXIGE, para sua consumação, o deslocamento da vítima
de um local para outro.
Ascendente ou descendente: Abrange também o vínculo afetivo, nos termos do art. 227, VII,
§ 6º da CF/88.
Vítima maior de 60 anos: Incluída pelo Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03). A qualificadora
incide mesmo que a maioridade ocorra somente no decorrer da privação da liberdade.
OBS1: Esses predicados da vítima têm que fazer parte do dolo do agente, sob pena de
responsabilidade penal objetiva.
OBS2: O rol é taxativo. Nota-se que não estão abrangidos os parentes colaterais e os afins.
A vítima é internada sem necessidade para tal, mas sim com a disfarçada finalidade de
afastá-la do convívio social. É a chamada Internação fraudulenta ou simulada.
É uma prova de que a corrente que exige prazo razoável de privação está errada.
Os dias de privação são contados até o momento em que a vítima efetivamente estiver livre.
Trata-se de prazo material.
Finalidade específica que qualifica o crime. Essa qualificadora foi acrescentada pela Lei
11.106/05. Antes da referida Lei, a conduta analisada configurava o extinto crime de rapto violento,
previsto no art. 219 do CP.
1.8.3. Penas
Fato ocorrido na Lei Velha. Processo na Lei Nova. Qual Lei se aplica?
Lembrar a Súmula 711 do STF: Ao sequestro que começou na Lei anterior e continuou na
lei posterior é aplicável esta última, ainda que seja mais maléfica ao agente.
Fato ocorrido na Lei Velha. Relatório do inquérito ocorrido na Lei Nova. A ação deve ser
intentada por queixa ou denúncia?
A queixa permite: renúncia, perdão, decadência e perempção. A denúncia não permite nada
disso.
Ou seja, se aplicar a Lei nova, quatro causas extintivas da punibilidade estão sendo
subtraídas do réu, vale dizer, o poder de punir estatal é ampliado.
Conclusão: Para os fatos ocorridos na Lei Velha, a ação continua sendo privada, sob pena
de retroatividade maléfica ao acusado.
Isso é o que tem prevalecido (exatamente o que ocorreu com os crimes sexuais e com a
injúria qualificada pelo preconceito).
Não basta causar sofrimento físico ou moral; o sofrimento deve ser GRAVE e em decorrência
dos maus-tratos ou da natureza da detenção. Se dessas condutas resultar lesão corporal ou morte,
haverá concurso material de delitos.
2. TRÁFICO DE PESSOAS
Aqui, analisaremos apenas os aspectos penais do referido crime, o qual foi introduzido no
CP pela Lei 13.344/2016.
Até o advento da referida lei, o tráfico de pessoas, no Brasil, estava relacionado à exploração
sexual, apenas e tão somente, previsto no art. 231 do CP (tráfico internacional de pessoal) e art.
231-A do CP (tráfico interno de pessoas).
A Lei 13.344/2016 revogou os artigos 231 e 231-A do CP e criou o art. 149-A, sendo o tráfico
de pessoas um crime contra a liberdade individual.
d) Adoção ilegal
e) Exploração sexual
Como se percebe, o art. 149-A é um crime de conduta mista, formado por oito verbos
nucleares, alguns, inclusive, são sinônimos (visto acima).
Destaca-se que o crime só estará caracterizado quando o agente agir com grave ameaça,
violência, coação, fraude ou abuso, com as finalidades constantes nos itens acima.
Não se exige qualidade especial da vítima, trata-se de crime comum. Aliás, a depender da
vítima (criança, adolescente, pessoa com deficiência, idoso), ter-se-á uma causa de aumento.
i) Adoção ilegal
j) Exploração sexual
Admite-se tentativa.
A pena será reduzida, de 1/3 a 2/3, quando o traficante de seres humanos for primário e não
integrar organização criminosa.
Como não houve a fixação de patamar para a diminuição, Rogério Sanches afirma que o
juiz deve considerar o grau de submissão da vítima ou a maior ou menor colaboração do agente na
apuração do crime, com a efetiva libertação da vítima.
2.10. COMPETÊNCIA
2.11. PRESCRIÇÃO
Segundo Rogério Sanches (posição defendida em seu livro), tratando de tráfico de pessoas
para exploração sexual, aplica-se o art. 111, V do CP, quando a vítima for criança ou adolescente.
Houve a tentativa de colocá-lo como hediondo ou, pelo menos, equipará-lo a crime hediondo.
Não foi admitido, tendo em vista a falta de proporcionalidade e razoabilidade (no entender do SF).
Violação de domicílio
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a
vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o
emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente
à violência.
§ 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário
público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades
estabelecidas em lei, ou com abuso do poder.
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em
suas dependências:
I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão
ou outra diligência;
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali
praticado ou na iminência de o ser.
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade.
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto
aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
Para o STJ, sendo a sala de um servidor público um compartimento com acesso restrito e
dependente de autorização, e, por isso, um local fechado ao público, onde determinado indivíduo
exerce suas atividades laborais, há o necessário enquadramento no conceito de “casa” previsto no
art. 150 do CP.
Se tal situação fosse permitida, o próprio serviço público ficaria inviabilizado, pois qualquer
cidadão que quisesse protestar poderia ingressar no prédio público, inclusive nos espaços restritos
à população, sem que tal conduta caracterizasse ilícito.
Justiça Federal, por ter sido praticado contra bem e serviço da União (art. 109, IV, da CF/88).
*Dizer o Direito.
1.1. INTRODUÇÃO
Foi publicada a Lei n. 12.737/2012, chamada pela imprensa de “LEI CAROLINA
DIECKMANN”, por tratar da tipificação do crime de invasão de computador alheio, situação da qual
a atriz foi vítima à época, quando tal conduta não era prevista, de forma específica, como infração
penal.
Esta Lei altera o Código Penal, trazendo a tipificação criminal do que ela chama de “delitos
informáticos”.
c) Inseriu o parágrafo único ao art. 298 estabelecendo que configura também o crime de
falsidade de documento particular (art. 298) a conduta de falsificar ou alterar cartão de
crédito ou de débito.
Pode ser qualquer pessoa (crime comum). Obviamente que não será sujeito ativo desse
crime a pessoa que tenha autorização para acessar os dados constantes do dispositivo.
É o titular do dispositivo.
É o caso, por exemplo, de um computador utilizado por vários membros de uma casa ou no
trabalho, onde cada um tem perfil e senha próprios. Outro exemplo é o da pessoa que mantém um
contrato com uma empresa para armazenagem de dados de seus interesses em servidores para
acesso por meio da internet (“computação em nuvem”, mais conhecida pelo nome em inglês, qual
seja, cloud computing).
2.5.1. Invadir
Ingressar, sem autorização, em determinado local. A invasão de que trata o artigo é “virtual”,
ou seja, no sistema ou na memória do dispositivo informático.
Em informática, dispositivo é o equipamento físico (hardware) que pode ser utilizado para
rodar programas (softwares) ou ainda para ser conectado a outros equipamentos, fornecendo uma
2.5.3. Alheio
O dispositivo no qual o agente ingressa deve pertencer a terceiro. É prática comum entre os
hackers o desbloqueio de alguns dispositivos informáticos para que eles possam realizar certas
funcionalidades originalmente não previstas de fábrica. Como exemplo comum tem-se o
desbloqueio do IPhone ou do IPad por meio de um software chamado “Jailbreak”. Caso o hacker
faça o invada o sistema de seu próprio dispositivo informático para realizar esse desbloqueio, não
haverá o crime do art. 154-A porque o dispositivo invadido é próprio (e não alheio).
Apesar do modo mais comum de invasão em dispositivos ocorrer por meio da internet, a Lei
admite a possibilidade de ocorrer o crime mesmo que o dispositivo não esteja conectado à rede de
computadores. É o caso, por exemplo, do indivíduo que, na hora do almoço, aproveita para acessar,
sem autorização, o computador do colega de trabalho, burlando a senha de segurança.
Também não haverá crime se alguém encontra o pen drive (não protegido por senha) de
seu colega de trabalho e decide vasculhar os documentos e fotos ali armazenados.
Trata-se de uma falha da Lei porque a privacidade continua sendo violada, mas não receberá
punição penal.
2.5.6. Com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do titular do dispositivo.
Ex.: hacker que ingressa no computador de uma atriz para obter suas fotos lá armazenadas.
Atenção: se houver autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo, não haverá crime.
Ex.: determinado banco contrata uma empresa especializada em segurança digital para que faça
testes e tente invadir seus servidores.
É o caso, por exemplo, do indivíduo que invade o computador e instala programa espião que
revela as senhas digitadas pela pessoa ao acessar sites de bancos.
É o dolo, que deve ser acrescido de um especial fim de agir (“dolo específico”). Qual é o
ESPECIAL FIM DE AGIR desse tipo penal?
2.7. CONSUMAÇÃO
Essa posição deve ser alterada com o novo art. 154-A? A referida conduta pode ser
classificada como invasão de dispositivo informático?
Reputo que NÃO. O art. 154-A prevê como crime invadir computador, mediante violação
indevida de mecanismo de segurança, com o fim de instalar vulnerabilidades para obter vantagem
ilícita. O art. 155, § 4º, por sua vez, pune a conduta de subtrair coisa alheia móvel (dinheiro, p. ex.)
mediante fraude (inclusive por meio VIRTUAL).
Desse modo, parece que a conduta narrada se amolda, de forma mais específica e
completa, no art. 155, § 4º, sendo o delito do art. 154-A o crime meio para a obtenção da finalidade
do agente, que era a subtração. Aplica-se, no caso, o princípio da consunção, punindo o agente
apenas pelo furto, ficando a invasão absorvida. Em suma, essa conduta NÃO DEIXOU de ser furto.
Para a consumação do crime do art. 154-A não se exige que o invasor tenha obtido qualquer
vantagem. Basta que tenha havido a INVASÃO. No entanto, se houver prejuízo econômico por
parte da vítima, haverá causa de aumento prevista no § 2º do art. 154-A:
Atenção: se a vítima sofreu prejuízo econômico porque o invasor dela SUBTRAIU valores,
não haverá o crime do art. 154-A, com essa causa de aumento do § 2º, mas sim o delito de furto
qualificado. Isso porque, conforme explicado acima, o furto é mais específico que o delito de
invasão.
Ex.: incidirá essa causa de aumento se, por conta da invasão, a vítima teve sua máquina
danificada, precisando de consertos.
2.10. TENTATIVA
2.11. PENA
A pena é irrisória e representa proteção insuficiente para um bem jurídico tão importante.
CP. Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede
de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e
com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Lei 9.099. Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência
lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado,
com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames
periciais necessários.
Entretanto, nos casos do art. 154-A do CP muito provavelmente o termo circunstanciado não
será suficiente para apurar a autoria e materialidade do delito, sendo quase que imprescindível a
instauração de inquérito policial, considerando que, na grande maioria dos casos, será necessária
Vale ressaltar que a Lei n. 12.735/2012, publicada na mesma data desta Lei, determinou
que os órgãos da polícia judiciária (Polícia Civil e Polícia Federal) deverão estruturar setores e
equipes especializadas no combate à ação delituosa em rede de computadores, dispositivo de
comunicação ou sistema informatizado (art. 4º).
É o caso, por exemplo, do indivíduo que desenvolve um programa do tipo “cavalo de troia”
(trojan horse), ou seja, um malware (software malicioso) que, depois de instalado no computador,
libera uma porta para que seja possível a invasão da máquina.
Segundo o § 1º, tanto quem produz, como quem oferece, distribui, vende ou divulga o
programa ou dispositivo é punido. Nesse sentido, existem inúmeras páginas na internet que
divulgam softwares espiões e invasores. Deve-se ter cuidado com a divulgação de tais conteúdos
porque essa conduta passa a ser crime pela nova Lei se ficar provado que a finalidade do agente
ao disponibilizar esse programa, era o de permitir que o usuário do software possa invadir
dispositivo informático para “obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”.
Essa causa de aumento, que já foi explicada acima, refere-se apenas ao caput do art. 154-
A, não podendo ser aplicada para o § 3º.
Haverá a qualificadora prevista neste § 3º se, com a invasão, o agente conseguir obter o
conteúdo de:
c) Informações sigilosas (o sigilo que qualifica o crime é aquele assim definido em lei).
Assim, o agente responderá pela pena aumentada se, além de obter, DIVULGAR,
COMERCIALIZAR ou TRANSMITIR a outros o conteúdo contido em:
Entendo que essa causa de aumento incide tanto para o crime cometido no caput do art.
154-A como também para a figura qualificada do § 3º.
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante
representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública
direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal
ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos.
Dessa forma, é indispensável que a vítima ofereça representação para que seja iniciada
qualquer investigação sobre o fato (art. 5º, § 4º, do CPP), bem como para que seja proposta a
denúncia por parte do Ministério Público.
3.1. OBSERVAÇÃO
A Lei n. 12.737/2012 inseriu o § 1º ao art. 266 do Código Penal, renumerando o antigo
parágrafo único, que agora passa a ser o § 2º. O caput não foi modificado. Desse modo, a única
inovação está no § 1º, que será agora analisado.
O art. 266, em seu caput, prevê que é crime interromper (paralisar) ou perturbar (atrapalhar):
a) Serviço TELEGRÁFICO;
b) Serviço RADIOTELEGRÁFICO ou
c) Serviço TELEFÔNICO.
Dessa feita, o art. 266 encontrava-se desatualizado, considerando que não previa como
crime a interrupção do serviço telemático. O objetivo da alteração foi, portanto, o de trazer essa
nova incriminação.
Com o novo § 1º, pratica o crime do art. 266 do Código Penal quem interromper:
a) Serviço TELEMÁTICO; ou
Vejamos a comparação:
INTERROMPER É crime
Serviço TELEGRÁFICO, RADIOTELEGRÁFICO ou
TELEFÔNICO;
PERTURBAR É crime
Serviço TELEGRÁFICO, RADIOTELEGRÁFICO ou
TELEFÔNICO;
NÃO é crime
Serviço TELEMÁTICO ou de INFORMAÇÃO DE
UTILIDADE PÚBLICA;
IMPEDIR ou É crime
DIFICULTAR o Serviço TELEGRÁFICO, RADIOTELEGRÁFICO ou
restabelecimento TELEFÔNICO;
A Lei n. 12.737/2012 inseriu o parágrafo único ao art. 298 do Código Penal.
A alteração no art. 298, com o acréscimo do parágrafo único, teve como objetivo fazer com
que o cartão de crédito ou débito, para fins penais, seja considerado como “documento particular”.
Se o agente faz a CLONAGEM do cartão e, com ele, realiza SAQUES na conta bancária do
titular, qual crime pratica?
A jurisprudência do STJ ENTENDIA tratar-se de furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II).
Confira:
E qual será o delito se o agente faz a CLONAGEM do cartão e, com ele, realiza COMPRAS
em estabelecimentos comerciais?
Penso que não. Apesar de se tratarem de bens jurídicos diferentes (a falsidade protege a fé
pública, enquanto que o furto e o estelionato o patrimônio), entendo ser o caso de aplicação do
princípio da consunção, por razões de política criminal. Logo, é de se aplicar o raciocínio que
motivou a edição da Súmula 17 do STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais
potencialidade lesiva, é por este absorvido.
De igual sorte, se o sujeito faz a clonagem do cartão e, com ele, realiza compras em
estabelecimentos comerciais incorre em estelionato, sendo absorvida a falsidade, se não houver
mais potencialidade lesiva (Súmula 17 do STJ).
Uma última indagação: se o cartão de crédito ou de débito for emitido por uma empresa
pública, como por exemplo, a Caixa Econômica Federal, ele será considerado DOCUMENTO
PÚBLICO?
Não. Quando a CEF emite um cartão de crédito/débito ela está atuando no exercício de uma
atividade privada concernente à exploração de atividade econômica. Logo, não há sentido de se
considerar como documento público. Além disso, o cartão de crédito e débito é equiparado a
documento particular, pelo parágrafo único do art. 298, sem qualquer ressalva quanto à natureza
da instituição financeira que o emitiu.
5. VACATIO LEGIS
A Lei n. 12.737/2012 teve vacatio legis de 120 (cento e vinte) dias. Como foi publicada em
03/12/2012, somente entrou em vigor no dia 02/04/2013.
1) Furto;
2) Roubo;
3) Extorsão;
5) Estelionato;
6) Receptação.
1. FURTO
§1º: Majorante;
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: (furto simples)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o
repouso noturno. (Majorante)
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois
terços, ou aplicar somente a pena de multa. (Furto privilegiado, “furto
mínimo”)
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que
tenha valor econômico. (Cláusula de equiparação)
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
(Qualificadora)
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Ladrão que furta de ladrão (posse ilegítima), que crime comete? Vale dizer, ladrão que furta
ladrão, tem perdão?!
Comete furto, mas a vítima não será o ladrão, e sim proprietária legítima da ‘res furtiva’.
Consequência prática: Não entrará no rol de testemunhas.
O crime é comum, pode ser praticado por qualquer pessoa, salvo o proprietário ou possuidor
da coisa.
Não existe furto de coisa própria, uma vez que consta do tipo penal a elementar “coisa
alheia”.
1.4.1. Comete algum crime o proprietário que subtrai coisa sua na LEGÍTIMA posse de
terceiro?
É o exemplo do devedor que empenhou uma coisa e resolve furtá-la do credor pignoratício.
Prevalece que não se trata do crime de furto, exatamente pela falta da elementar “alheia”. Trata-se
do crime de exercício arbitrário das próprias razões, previsto no art. 346 do CP.
1.4.2. E o credor pignoratício, que tinha posse legítima, ao se apoderar da coisa quando
deveria devolvê-la, comete algum crime?
Sim, mas não furto, pois ele era o legítimo possuidor. Nesse caso, trata-se do crime de
apropriação indébita.
1.4.3. Funcionário público que subtrai coisa em poder da Administração pratica qual crime?
DEPENDE.
1ª hipótese: Se a subtração foi facilitada pela condição de agente público → Art. 312, §1º
(peculato-furto).
Art. 312
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a
posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja
subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário.
2ª hipótese: Se a subtração não foi facilitada pela condição de agente → Art. 155 (furto
comum).
1.4.4. E o proprietário que subtrai coisa comum de condômino, coerdeiro ou sócio, que
crime comete?
O sujeito passivo pode ser tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica.
1.6.1. Conduta
“Subtrair”: Tem o sentido de retirar, sacar a coisa de outrem. Essa subtração pode ser
direta (apreensão manual) ou indireta (valendo-se de interposta pessoa, instrumentos ou animais).
Tem jurisprudência que não admite furto de talão de cheques, pois não tem valor econômico.
Tratar-se-ia de meio ou ato preparatório para o crime de estelionato.
Não, pois o ser humano não é coisa. A subtração de pessoa pode configurar outros crimes,
como o sequestro e o cárcere privado.
Cuidado, aqui se trata de tirar a criança ou adolescente do poder familiar ou pessoa que
detenha sua guarda.
“Coisa alheia”: É a coisa que pertence a alguém que não aquele que a subtrai.
Coisa ABANDONADA?
Coisa PERDIDA?
É coisa alheia, mas não é objeto material de furto, pois não há subtração.
Art. 169 - Apropriar-se alguém de COISA ALHEIA vinda ao seu poder por
erro, caso fortuito ou força da natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre:
...
II - quem acha COISA ALHEIA PERDIDA e dela se apropria, total ou
parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de
entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.
EXCEÇÃO: A coisa comum pode se objeto do furto quando destacada do local de origem
para adquirir significado econômico.
Exemplo1: Subtração de areia da praia não é furto. Mas se o sujeito que subtrai dá um
significado econômico à areia, essa areia pode ser objeto material de furto.
Exemplo2: tirar toneladas de areia com uma retroescavadeira pode configurar crime
ambiental.
“Coisa móvel”: Para o direito penal, coisa móvel é aquela que pode ser transportada de
um local para outro sem perder sua identidade. Não se confunde com o conceito de coisa móvel do
Direito Civil, que adota algumas ficções jurídicas. Exemplo: materiais provisoriamente destacados
do imóvel para ser novamente empregados, no direito civil por ficção jurídica são imóveis, no direito
penal, não perdem a qualidade de coisa móvel.
Duas correntes:
1ª C: Não é furto. Essas coisas não pertencem a ninguém, logo não se trata de furto. Podem
ocorrer dois crimes: art. 210 ou do art. 211 (crimes contra o respeito aos mortos).
2ª C (PREVALECE): É furto. Não existe dolo de desrespeito aos mortos. O dolo aqui é de
enriquecer, logo se trata de furto. Tem prevalecido essa corrente.
Além do dolo de subtrair, exige-se a finalidade específica de ter a coisa para SI ou para
OUTREM.
Subtrair para uso momentâneo é fato atípico, pela ausência do elemento subjetivo do tipo.
É o que a doutrina denomina de furto de uso.
b) Coisa não consumível (não existe furto de uso de dinheiro, por exemplo);
Há quem negue essa possibilidade pelo consumo da gasolina, óleo etc. Mas a gasolina é
simplesmente um acessório, que é imprescindível para o uso da coisa. A doutrina moderna não se
apega a esses dados periféricos; só se apega à coisa principal, permitindo o furto de uso de
automóvel, desde que presente os requisitos supramencionados.
Trata-se do furto movido pela necessidade de o agente mitigar sua fome. Tal conduta não é
considerada crime, pela ocorrência da excludente do estado de necessidade, desde que:
Quando se diz que a coisa passou para o poder do agente, isso significa que houve a
inversão da posse. Por isso, ela é também conhecida como teoria da inversão da posse. Vale
ressaltar que, para esta corrente, o furto se consuma mesmo que o agente não fique com a posse
mansa e pacífica. A coisa é retirada da esfera de disponibilidade da vítima (inversão da posse), mas
não é necessário que saia da esfera de vigilância da vítima (não se exige que o agente tenha posse
desvigiada do bem).
5ª C: ‘ILLACTIO’: Para ocorrer a consumação a coisa deve ser levada ao local desejado pelo
agente, e lá mantida a salvo.
STF/STJ: ‘AMOTIO’. Dispensa posse mansa e pacífica, bem como que a coisa saia da
esfera de vigilância da vítima. Exemplo: Empregada doméstica que guarda as joias embaixo do
sofá. Ainda está na esfera de vigilância da vítima, porém ela não mais tem disponibilidade sobre a
coisa.
OBS: Existem vários Tribunais, bem como doutrinadores, que ainda exigem a posse mansa
e pacífica da ‘res furtiva’ – ou seja, ILLACTIO.
• Para a consumação do furto, basta que ocorra a inversão da posse, ainda que a coisa
subtraída venha a ser retomada em momento imediatamente posterior (STF. 1ª Turma.
HC 114329, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 1/10/2013).
Agente que TENTA furtar carteira da vítima, porém não há carteira nenhuma no bolso. Há
crime/tentativa?
2C-Bitencourt/Mirabete: Se no outro bolso a vítima também não trazia carteira, será crime
impossível por absoluta impropriedade do objeto material. Caso houvesse coisa a ser furtada em
outro bolso, aí sim estaremos diante de tentativa.
Repouso noturno
Esse horário de repouso noturno, varia conforme os costumes da localidade. Aplica-se, aqui,
o costume interpretativo.
Para a maioria da doutrina, a incidência da majorante exige que o crime seja praticado no
local da moradia (onde a pessoa costumeiramente repousa). Ou seja, a subtração de um carro
estacionado na rua, na calada da noite, não geraria a majorante.
Há quem defenda, inclusive, que seja necessário para a configuração da majorante que o
imóvel onde ocorre o furto esteja habitado e com os moradores em repouso noturno
(Bitencourt/Hungria).
Entretanto, não é essa posição que tem prevalecido nas cortes superiores. Tanto o STJ
quanto o STF dispensam a habitação do local onde ocorre o furto, permitindo a incidência da
majorante até mesmo em furtos de estabelecimentos comerciais. Essa também é a posição de
Noronha, que diz ser esse o entendimento apresentado na exposição de motivos do CP.
Primário: É aquele que não é reincidente, ainda que tenha condenações no passado.
Coisa de pequeno valor: Coisa de até 01 Salário-Mínimo (ao tempo do fato). Lesão mínima.
No caso deste último, não estamos diante de lesão mínima, mas sim de lesão ÍNFIMA; no
caso do furto insignificante, não há limite de valor pré-definido para sua configuração; dependerá
da análise das circunstâncias do caso concreto.
Para o STF:
O delito do art. 155 do CP prevê a figura do furto privilegiado ou mínimo no § 2º, com a
seguinte redação:
A jurisprudência, em geral, afirma que “pequeno valor”, para os fins do § 2º do art. 155,
ocorre quando a coisa subtraída não ultrapassa a importância de um salário mínimo.
Desse modo, se a coisa subtraída é inferior a um salário mínimo, esta conduta poderá
receber dois tipos de valoração pelo juiz:
b) Ser considerada furto privilegiado: continuando a ser crime, mas com os benefícios do §
2º do art. 155 do CP.
Em geral:
Se a coisa subtraída é inferior a um salário mínimo, mas não é ínfima, chegando perto do
valor do salário mínimo, a jurisprudência entende que não deve ser aplicado o princípio da
insignificância, mas tão somente o furto privilegiado.
Se o bem subtraído é bem inferior a um salário mínimo, sendo de valor ínfimo, estando longe
do valor do salário mínimo, há de ser aplicado o princípio da insignificância, que é mais benéfico
que o furto privilegiado.
Trata-se de uma diferenciação que, na prática, acaba sendo muito subjetiva, variando de
acordo com o caso concreto. O importante é que eu saiba que, para a jurisprudência, pequeno valor
e valor insignificante não são sinônimos
a) Qualificadoras objetivas (materiais, reais): são aquelas que estão relacionadas com o
fato criminoso, ou seja, com o seu modo de execução, tempo e lugar do crime,
instrumentos utilizados etc.
Ex1: se o furto for qualificado por concurso de pessoas (qualificadora de índole objetiva),
será possível o privilégio (STJ. 6ª Turma. REsp 1370395/DF, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado
em 12/11/2013).
Ex2: se o furto for qualificado por abuso de confiança (qualificadora subjetiva), não será
possível o privilégio (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1392678/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
17/12/2013).
Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra forma de energia que tenha
valor econômico (energia radioativa, térmica, mecânica e genética).
2ª C: Sinal de TV é uma forma de energia, equiparando-se à coisa móvel (Nucci). Foi adotada
pelo STJ.
FURTO ESTELIONATO
Praticado mediante ligação clandestina. Praticado mediante alteração do medidor de
energia.
Agente não está autorizado a consumir energia. Agente está autorizado (contratualmente) a
consumir energia elétrica, porém adultera o quanto
gastou.
Pena 01 a 04. Pena 01 a 05.
Pode se tornar qualificado.
Conforme o art. 155, §4º, a pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o furto é
cometido:
A violência deve recair sobre o obstáculo que separa o agente da coisa. Exemplo: Destruir
o vidro do veículo para roubar o som.
Se a violência recai sobre a própria coisa a ser subtraída não incide a qualificadora. Exemplo:
Destruir o vidro do veículo para subtraí-lo.
Não gera qualificadora, pois não houve destruição ou rompimento. Simples REMOÇÃO de
obstáculo não configura furto qualificado.
Agente rasga fundo da bolsa para que caia os objetos e possa furtar.
Capez: a bolsa não é obstáculo para coisa, a bolsa serve apenas para carregar o que está
dentro, um obstáculo seria um cadeado na bolsa.
A violência contra o obstáculo deve ocorrer antes, durante ou após a subtração, porém
SEMPRE ANTES DA CONSUMAÇÃO, pois, do contrário, ocorrerá crime de furto (simples ou
qualificado por outra circunstância), em concurso material com o delito de dano.
1.14.2. Inciso II: furto com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
a) Abuso de confiança
O agente viola a confiança INCOMUM nele depositada. Essa confiança pode advir de
relação de amizade, parentesco ou atividade laboral. Frise-se: Não é uma confiança ordinária
nessas relações, mas sim incomum se comparada às demais relações de mesma natureza.
Para incidir a qualificadora os tribunais exigem que a confiança traga facilidade à execução
do delito.
b) Fraude
O agente se utiliza de artifício, ardil ou qualquer outro meio enganoso como forma de induzir
ou manter a vítima em erro, e, assim, ter facilitada a tarefa de subtrair a coisa.
Troca de embalagem:
Que crime comete aquele que no mercado bota uma vodka caríssima em garrafa de água?
Furto mediante fraude, pois a posse do conteúdo da garrafa foi alterada unilateralmente,
através da fraude do agente.
Furto mediante fraude. Agente que, a pretexto de auxiliar a vítima a operar caixa eletrônico,
apossa-se de seu cartão, trocando-o por outro.
Falso test-drive:
Prevalece que é furto mediante fraude, pois o sujeito da concessionária não dá a posse
desvigiada da coisa.
É o mesmo caso da mulher que prova a roupa na loja e some com ela.
c) Escalada
É o uso de via ANORMAL para ingressar ou sair do local em que se encontra a coisa visada.
OBS: A escalada, não necessariamente é uma subida. Exemplo: Acesso por meio de túnel
também configura a escalada, pois é uma via de acesso ANORMAL.
A jurisprudência exige que essa via anormal provoque um esforço incomum para o agente,
demonstrando audácia que conduzem a maior reprovabilidade da conduta.
3ª C: A perícia é sempre indispensável, pois ainda que o delito não deixe vestígios, deve
atestar o obstáculo para a análise do desforço incomum.
O furto é simples, pois a subida no poste é a via normal para o acesso à coisa.
d) Destreza
Peculiar habilidade, física ou manual, fazendo com que a vítima seja despojada dos seus
bens, sem que perceba. É o famoso caso dos punguistas ou batedores de carteira.
Se o agente que tentava realizar o furto é preso em flagrante próprio, significa que não
poderá incidir a qualificadora da destreza, devendo responder por tentativa de furto simples. Isso
porque se ele foi descoberto tentando subtrair o bem da vítima, conclui-se que ele não tem
habilidade excepcional para furtar. Logo, não há destreza.
Chave falsa deve ser entendida como todo o instrumento, com ou sem a forma de chave,
destinado a abrir fechaduras (exemplo: grampo, chave mixa, gazua etc.).
OBS: o STJ, no HC 152.079 decidiu que a utilização de mixa para abrir fechadura de
automóvel configura a qualificadora do inciso III.
Um julgado do TRF4 e Noronha dizem que sim, porém não é o que prevalece. Ora, uma
chave verdadeira jamais será falsa, pouco importando como tenha sido obtida.
Rogério Greco: Qualquer chave, que não seja verdadeira, configura a qualificadora, inclusive
a cópia da chave verdadeira.
O STJ, até 2007, entendia que não configurava, pois, o emprego da chave deveria se dar
sobre o obstáculo que protegia a ‘res furtiva’ (REsp. 284.385-DF,).
Em junho de 2007, mudou o entendimento. Chave falsa para ACIONAR o motor é suficiente
para configurar a qualificadora (REsp. 906.685/RS).
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para
móvel: outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa,
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência:
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa,
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
se o crime é cometido:
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
Concurso de agentes: 02 a 08 (qualificadora). Concurso de agentes: Pena aumentada de 1/3 a ½ -
metade (majorante).
Ou seja, DOBRA a pena. Ou seja, aumenta no máximo de METADE.
Solução: empresta o aumento do roubo para o furto.
Crítica: a pena do roubo já é de 4 a 10 anos, com o aumento fica de 6 a 15 anos. É proporcional sim (o furto fica
com 02 a 08 anos).
STJ: “A norma penal incriminadora tipifica o quantum do crime de furto qualificado pelo
concurso de agentes (2 a 8 anos), inexistindo razão para que se aplique, por analogia, a previsão
da majorante do roubo em igual condição”.
O juiz não pode realizar essa analogia, pois inexiste lacuna legal. Assim agindo estaria
legislando.
STJ: “Não configura bis in idem a condenação por crime de formação de quadrilha e furto
qualificado pelo concurso de agentes, ante a autonomia e independência dos delitos”.
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou o § 4º-A ao art. 155 do Código Penal prevendo uma nova
QUALIFICADORA para o crime de furto. Veja a redação do parágrafo inserido:
Objetivo
O objetivo declarado desse novo parágrafo foi o de punir com mais rigor os furtos realizados
em caixas eletrônicos localizados em agências bancárias ou em estabelecimentos comerciais (ex:
drogarias, postos de gasolina etc.).
Isso porque tem sido cada vez mais comum que grupos criminosos, durante a noite,
explodam caixas eletrônicos para dali retirar o dinheiro depositado.
Dessa forma, o objetivo da lei foi o de, em tese, punir mais severamente o réu.
O entendimento que prevalecia era o de que o agente respondia por furto qualificado pelo
rompimento de obstáculo à subtração da coisa, nos termos do art. 155, § 4º do CP em concurso
formal impróprio com o crime de explosão majorada (art. 251, § 2º do CP):
(...) Quanto ao crime de explosão (art. 251 do Código Penal): Não há falar em
Princípio da Consunção: O crime de explosão majorada pela finalidade de
obtenção de vantagem pecuniária previsto no art. 251, § 2º do CP não pode
ser absorvido pelo crime menos grave ( de furto, art. 155,§4º, I e IV do CP) .
o crime de explosão tem apenação inicial de três anos, além de haver causa
Desse modo, perceba o contrassenso: o objetivo do legislador ao criar o novo § 4º-A foi o
de aumentar a pena dos agentes que praticam furto mediante explosão de caixas eletrônicos. No
entanto, o que a Lei fez foi tornar mais branda a situação dos réus. Vamos comparar:
Com a previsão específica do art. 155, § 4º-A não se pode mais falar em concurso porque
seria bis in idem. Logo, por mais absurdo que pareça, a Lei 13.654/2018 melhorou a situação penal
dos indivíduos que praticam ou que praticaram furto a bancos mediante explosão dos caixas
eletrônicos.
Vale ressaltar, inclusive, que os réus que, antes da Lei nº 13.654/2018, foram condenados
por furto qualificado (art. 155, § 4º, I) em concurso formal com explosão majorada (art. 251, § 2º)
poderão pedir a redução da pena imposta, nos termos do art. 2º, parágrafo único do CP:
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais
da sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente,
aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória
transitada em julgado.
Para ser considerado artefato explosivo, é necessário que ele seja capaz de
gerar alguma destruição. Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. REsp 1627028/SP,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/02/2017 (Info 599).
Se o agente, durante a noite, explode o caixa eletrônico para furtar o numerário, ele também
responderá pela causa de aumento do repouso noturno (art. 155, § 1º)? É possível aplicar o art.
155, § 4º-A e mais a causa de aumento do art. 155, § 1º?
SIM. É legítima a incidência da causa de aumento de pena por crime cometido durante o
repouso noturno (art. 155, § 1º) no caso de furto praticado na forma qualificada (art. 155, § 4º ou §
4º-A do CP).
Assim, é possível que o agente seja condenado por furto qualificado e, na terceira fase da
dosimetria, o juiz aumente a pena em 1/3 se a subtração ocorreu durante o repouso noturno.
A posição topográfica do § 1º (vem antes dos §§ 4º e 4º-A) não é fator que impede a sua
aplicação para as situações de furto qualificado.
STF. 2ª Turma. HC 130952/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/12/2016 (Info 851).
STJ. 6ª Turma. HC 306.450-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
4/12/2014 (Info 554).
Entretanto, para os que adotam a teoria da ‘amotio’ (sem exigência de posse mansa e
pacífica para a configuração do delito) não é possível a tentativa. No exemplo acima, responderia o
agente pelo crime consumado.
2ª Situação: ‘B’ não concorre para o furto, mas sabe que a coisa que transporta é produto
de crime.
‘B’: Pratica receptação (busca vantagem para si ou para outrem - art. 180) ou favorecimento
real (busca vantagem para o autor do crime anterior - art. 349).
4ª Situação: ‘A’ e ‘B’ em concurso de pessoas (§4º - 2 a 8 anos) transportando veículo para
outro país (§5º - 3 a 8 anos). O concurso será considerado pelo juiz na fixação da pena-base, pois
quando há duas qualificadoras considera-se a mais grave, que no caso é a da §5º.
OBS: Se o furto já está qualificado pelo §5º, não há se falar nas qualificadoras do §4º, pois
aquela é mais grave em relação a estas.
A Lei nº 13.330/2016 acrescentou o § 6º ao art. 155 do Código Penal prevendo uma nova
QUALIFICADORA para o crime de furto. Veja a redação do parágrafo inserido:
Abigeato
O § 6º do art. 155 pune mais gravosamente o abigeato, que é o nome dado pela doutrina
para o furto de gado.
Importante destacar que o abigeato abrange não apenas o furto de bovinos, mas também
de outros animais domesticáveis, como caprinos, suínos etc.
Não se pode confundir o abigeato com o abacto, que consiste no roubo de bovinos, ou seja,
na subtração mediante violência.
Vale ressaltar que haverá a incidência da referida qualificadora ainda que o larápio mate o
semovente ou venha a dividi-lo em partes no local da subtração. Destarte, pouco importa seja
subtraído o animal vivo ou morto, integralmente ou somente uma das suas partes. Em qualquer
situação terá incidência a figura qualificada prevista no art. 155, § 6º, do CP.
Caso o animal tenha sido legitimamente dividido pelo seu proprietário e suas diversas partes
tenham seguido destinos diferentes, não se pode dizer que ainda exista aí um semovente. Uma
peça de picanha, de costela, de maminha etc., isoladamente considerada, não pode ser equiparada
a um semovente.
Uma das consequências mais gravosas decorrentes da Lei nº 13.330/2016 é que agora o
agente que subtrair um boi, uma cabra, um bode ou mesmo uma galinha, desde que o animal seja
dotado de relevante valor econômico, não terá mais direito ao benefício da suspensão condicional
do processo, previsto no art. 89 da Lei nº 9.099/95, pois a pena mínima cominada é de 2 anos.
Cuida-se de crime de elevado potencial ofensivo.
O § 1º do art. 155 do CP prevê que a pena do furto deve ser aumentada em um terço, se o
crime é praticado durante o repouso noturno. Essa causa de aumento de pena do § 1º, além de se
aplicar para os casos de furto simples (caput), pode também incidir no caso de furto qualificado de
semoventes (§ 5º)? Se o agente, durante o repouso noturno, furta um semovente domesticável de
produção, deverá ter sua pena aumentada em um terço?
Para o STJ, a resposta é positiva, pois a causa de aumento de pena prevista no § 1º pode
ser aplicada tanto para os casos de furto simples (caput) como para as hipóteses de furto
qualificado.
Assim, é possível que o agente seja condenado por furto qualificado (§§ 4º ou 6º do art. 155)
e, na terceira fase da dosimetria, o juiz aumente a pena em um terço se a subtração ocorreu durante
o repouso noturno. Nesse sentido: STJ - 5ª Turma. AgRg no AREsp 741.482/MG, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/09/2015; STJ. 6ª Turma. HC 306.450-SP, Rel. Min.
Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2014 (Info 554).
SIM. É o que acontece, por exemplo, no caso do agente que, mediante o rompimento cerca
do curral, furta uma vaca (art. 155, § 4º, I c/c § 6º).
A pena em abstrato será a prevista no § 4º do art. 155 (de dois a oito anos) e a qualificadora
descrita no § 6º será utilizada pelo magistrado como circunstância judicial desfavorável na primeira
fase da dosimetria da pena (art. 59 do CP).
SIM. Em regra, o STJ não aplica o princípio da insignificância para o furto qualificado. É o
caso, por exemplo, do art. 155, § 4º, I do CP (furto com rompimento de obstáculo). Afirma-se que o
rompimento de obstáculo para a prática do crime de furto denota a maior reprovabilidade da conduta
do agente e afasta, por conseguinte, a incidência do princípio da insignificância (STJ. 6ª Turma.
AgRg no AREsp 746.011/MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/11/2015).
Esta justificativa do STJ, contudo, não se aplica para a nova qualificadora do § 6º do art.
155.
A qualificadora do § 6º não existe porque o modo de execução do crime seja mais grave
nestes casos. A nova previsão foi inserida unicamente com o objetivo de conferir “maior proteção”
A conduta descrita no § 6º do art. 155, a depender do caso concreto, pode ser compatível
com os requisitos acima listados, não havendo proibição, em abstrato, para a aplicação do referido
princípio.
Desse modo, se um agente, primário, com bons antecedentes, furta, com o objetivo de
alimentar-se, uma galinha de uma enorme granja, por exemplo, não vemos dúvidas em se aplicar
o princípio da insignificância. Inúmeros outros exemplos podem ser imaginados.
Aqui o agente é punido por furtar uma substância explosiva ou acessório que, conjunta ou
isoladamente, possibilite sua fabricação, montagem ou emprego. Ex: sujeito que furta uma banana
de dinamite.
2. ROUBO
Art. 157, caput: Roubo simples próprio (por violência própria ou imprópria);
§2º: Majorantes (concurso de pessoas, transporte de valores, transporte para outro estado
ou exterior e restringir a liberdade da vítima);
Trata-se, assim, de um crime pluriofensivo, ou seja, com mais de um bem jurídico tutelado.
Sujeito passivo: É o proprietário, possuidor ou mero detentor da coisa, bem como a pessoa
contra quem se dirige a violência ou grave ameaça.
OBS: A pessoa afetada no patrimônio não necessariamente é a mesma que sofre a violência
ou grave ameaça (ainda que alheia à lesão patrimonial).
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
Conduta: Subtrair coisa alheia móvel mediante violência, grave ameaça ou qualquer outro
meio que prive a vítima do poder de agir.
Observações:
Uso de psicotrópicos, hipnose etc. Ocorre aqui o que a doutrina denomina de violência
imprópria (que nada tem a ver com o roubo impróprio – aquele que a violência é após/para garantir
a subtração).
-Fins políticos
-Arrependimento posterior
Para a minoria, violência imprópria não admite arrependimento posterior, pois não deixa de
ser espécie de violência.
Percebe-se que no roubo próprio os meios de execução (violência e grave ameaça) são
condutas antecedentes à subtração da coisa.
Conduta: Emprego de violência física ou grave ameaça, APÓS a subtração da coisa, como
forma de assegurar a detenção da coisa ou a impunidade do crime.
Percebe-se que aqui, a conduta criminosa é o oposto do roubo próprio: Primeiro ocorre a
subtração (ato antecedente), depois a violência ou grave ameaça (atos subsequentes).
Exemplo: agente simula estar armado (grave ameaça) após a subtração da coisa.
Como a lei não prevê, entende-se que no roubo impróprio não se admite violência imprópria,
sob pena de analogia in malam partem. Assim, o emprego de violência imprópria APÓS a subtração
da coisa não transforma o furto em roubo.
Como a violência não foi empregada com o fim de subtrair a coisa, mas sim fugir, estaremos
diante de tentativa de furto em concurso com o crime contra a pessoa (lesão corporal,
provavelmente).
¹“Logo depois”: Elemento normativo que significa que a conduta violenta (emprego de
violência ou grave ameaça) deve ser realizada LOGO DEPOIS de o agente ter a posse precária da
coisa, tão precária que o necessita da violência ou grave ameaça para assegurá-la. Se decorrer um
intervalo razoável entre a consumação da subtração e a violência, estaremos diante de concurso
de delitos: furto + crime contra a pessoa.
ROUBO PRÓPRIO
ATO ANTECEDENTE ATO SUBSEQUENTE
-Violência física (violência própria) -Subtração
-Grave ameaça
-Qualquer outro meio capaz de impossibilitar
resistência (violência imprópria).
SITUAÇÃO 1:
Ana subtraiu maliciosamente determinada peça de roupa de alto valor de uma amiga, com
a intenção tão só de utilizá-la em uma festa de casamento. Após o evento, Ana, tendo atingido seu
objetivo, devolveu a vestimenta.
NÃO. Para que se configure o crime de furto, é necessário que o agente tenha o fim de
assenhoreamento definitivo, ou seja, a vontade de não mais devolver o bem, agindo como se fosse
o dono. Em outras palavras, é indispensável que fique demonstrado o animus rem sibi habendi. No
direito, quando alguém age com a intenção de ter a coisa para si, dizemos que essa pessoa possui
animus rem sibi habendi.
No exemplo dado, Ana não tinha animus rem sibi habendi. Sua intenção era apenas a de
usar momentaneamente a coisa e restitui-la à real proprietária. Logo, Ana praticou o chamado “furto
de uso”, que não se configura como crime de furto (art. 155 do CP), não sendo punido pelo Direito
Penal comum.
Segundo Cleber Masson (Direito Penal esquematizado. Vol. 2, p. 345), o furto de uso
depende dos seguintes requisitos:
SITUAÇÃO 2:
João estava dirigindo seu veículo quando, ao parar no sinal, foi abordado por um homem
armado que, mediante grave ameaça, exigiu que ele saísse do carro. O agente ficou meia hora
andando com o carro e depois o abandonou.
SIM. Prevalece que o chamado “roubo de uso” é figura típica, sendo punida como roubo (art.
157 do CP). Entende-se que o “roubo de uso” não pode ser aceito, já que a grave ameaça ou
violência empregada para a realização do ato criminoso não se compatibilizam com a intenção de
restituição, como bem explica
“O agente, para roubar - diferentemente do que ocorre com o furto -, é levado a usar violência
ou grave ameaça contra a pessoa, de forma que a vítima tem imediata ciência da conduta e de que
seu bem foi levado embora. Logo, ainda que possa não existir, por parte do agente, a intenção de
ficar com a coisa definitivamente (ex; quer um carro somente para praticar um assalto, pretendendo
devolvê-lo, por exemplo), consumou-se a infração penal.” (in Manual de direito penal: parte gral;
parte especial. 4.ª ed., São Paulo RT, p. 700).
Dolo de subtrair e de empregar violência física ou grave ameaça à vítima, com a finalidade
especial de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa (elemento subjetivo).
Admite-se tentativa.
Importante, relembrar, as quatro teorias acerca da consumação do delito de roubo, são elas:
1ª) Contrectacio: segundo esta teoria, a consumação se dá pelo simples contato entre o
agente e a coisa alheia. Se tocou, já consumou.
4ª) Ilatio: a consumação só ocorre quando a coisa é levada ao local desejado pelo ladrão
para tê-la a salvo.
O STJ, ao apreciar o tema sob a sistemática do recurso especial repetitivo, fixou a seguinte
tese: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem, mediante emprego de
violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida a perseguição imediata ao
Exemplo concreto:
João apontou a arma de fogo para a vítima e disse: “perdeu, passa a bolsa”. A vítima
entregou o aparelho e o assaltante subiu em cima de uma moto e fugiu. Duas ruas depois, João foi
parado em uma blitz da polícia e, como não conseguiu explicar o motivo de estar com uma bolsa
feminina e uma arma de fogo, acabou confessando a prática do delito.
Assim, por ter havido a inversão, ainda que breve, da posse do bem subtraído, o fato em
tela configura roubo consumado.
Para a consumação do crime de roubo, basta a inversão da posse da coisa subtraída, sendo
desnecessária que ela se dê de forma mansa e pacífica, como argumenta a impetrante. STF. 2ª
Turma. HC 100.189/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe 16/4/2010.
Esta Corte tem entendimento firmado no sentido de que a prisão do agente, ocorrida logo
após a subtração da coisa furtada, ainda sob a vigilância da vítima ou de terceira pessoa, não
descaracteriza a consumação do crime de roubo. STF. 1ª Turma. HC 94.406/SP, Rel. Min. Menezes
Direito, DJe 05/09/2008
Roubo privilegiado? STF e STJ não admitem a aplicação do privilégio do furto ao roubo.
Não seria caso de analogia, mas sim de atividade legiferante do magistrado.
STJ: Se um maior de idade pratica o roubo juntamente com um inimputável, esse roubo será
majorado pelo concurso de pessoas (art. 157, §2º do CP). A participação do menor de idade pode
ser considerada com o objetivo de caracterizar concurso de pessoas para fins de aplicação da causa
de aumento de pena no crime de roubo.
2.8.2. Inciso III: Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância
É imprescindível que a vítima esteja prestando serviços para alguém. Ou seja, quando a
vítima está transportando seus próprios valores, não há que se falar em causa de aumento de
pena, pois não haverá serviço de transporte.
Valores: Há doutrina que limita a valores bancários (carro-forte). No entanto, prevalece que
abrange qualquer tipo de valor (exemplo: caminhão transportando carne; bebida; cigarros etc.).
2.8.4. Inciso V: Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade
Este era um dos tipos penais no qual poderia ser enquadrada a conduta do “sequestro-
relâmpago” (antes da Lei 11.923/09).
João e Pedro ingressaram em uma loja e, com armas de fogo, ameaçaram o vendedor e o
trancaram em uma sala até que conseguissem subtrair o dinheiro existente no local.
O Ministério Público denunciou os agentes pela prática do crime de roubo majorado (art.
157, § 2º, I, II e V):
Sentença:
Na segunda fase de aplicação da pena, o juiz nada considerou, uma vez que não havia
atenuantes ou agravantes.
Logo, no caso concreto, como havia três causas de aumento, a pena foi majorada em 5/12.
Indaga-se: a dosimetria feita pelo juiz foi correta? Você consegue apontar algum equívoco?
1º) O fato de a vítima ter tido a sua liberdade restringida foi utilizado duas vezes para piorar
a situação do réu: na primeira fase da aplicação da pena (como circunstância negativa do crime) e
também na terceira etapa da dosimetria (como causa de aumento). Logo, ocorreu bis in idem, isto
é, o réu foi punido duas vezes pelo mesmo fato (privação da liberdade).
2º) Essa tabela mencionada pelo juiz já foi realmente utilizada em precedentes antigos do
STJ, mas atualmente encontra-se completamente superada, sendo rechaçada pela jurisprudência
do STJ e do STF:
Qual é, então, o critério que deve ser utilizado pelo juiz para fazer o incremento da pena na
hipótese em que houver pluralidade de causas de aumento no crime de roubo?
O fato de haver mais de uma causa de aumento faz com que o juiz, obrigatoriamente, tenha
que aumentar a pena acima de 1/3?
NÃO. A presença de mais de uma majorante no crime de roubo não é causa obrigatória de
aumento da reprimenda em patamar acima do mínimo previsto, a menos que o magistrado,
Conforme vimos acima, o art. 157 do Código Penal tipifica o crime de roubo:
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
O § 2º do art. 157, por sua vez, prevê causas de aumento de pena para o roubo. Desse
modo, se ocorre alguma dessas hipóteses, tem-se o chamado “roubo circunstanciado” (também
conhecido como “roubo agravado” ou “roubo majorado”).
O aumento se justificava por “haver maior risco à integridade física e à vida do ofendido e
de outras pessoas e pela facilitação na execução do crime” (MASSON, Cleber. ob. cit., p. 644).
O que podia ser considerado “arma” para os fins do art. 157, § 2º, I, do CP?
• a arma de fogo;
• e quaisquer outros “artefatos” capazes de causar dano à integridade física do ser humano
ou de coisas, como por exemplo uma garrafa de vidro quebrada, um garfo, um espeto de churrasco,
uma chave de fenda etc.
NÃO. A Lei nº 13.654/2018 acrescentou um novo parágrafo ao art. 157 prevendo duas novas
hipóteses de roubo circunstanciado, com pena maior. Veja:
O roubo com emprego de arma de fogo deixou de ser previsto no inciso I do § 2º, mas
continua a ser punido agora no inciso I do § 2º-A. Desse modo, quanto à arma de fogo não
houve abolitio criminis, mas sim continuidade normativo-típica.
O princípio da continuidade normativa ocorre “quando uma norma penal é revogada, mas a
mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua
tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário.”
(Min. Gilson Dipp, em voto proferido no HC 204.416/SP).
Logo, para as pessoas que foram condenadas por roubo com emprego de arma de
fogo antes da Lei nº 13.654/2018, nada muda.
Novatio legis in mellius para roubo com emprego de arma que não seja de fogo
Como vimos, o roubo “com emprego de arma” deixou de ser uma hipótese de roubo
circunstanciado no art. 157, § 2º.
O roubo com emprego de arma de fogo continua sendo punido como roubo circunstanciado
no art. 157, § 2º-A, inciso I:
Ocorre que o roubo com o emprego de arma “branca” não é mais punido como roubo
circunstanciado. Trata-se, em princípio, de roubo simples (art. 157, caput).
Assim, a Lei nº 13.654/2018 deixou de punir com mais rigor o agente que pratica o roubo
com arma branca. Pode-se, portanto, dizer que a Lei nº 13.654/2018, neste ponto, é mais benéfica.
Isso significa que ela, neste tema, irá retroagir para atingir todos os roubos praticados mediante
arma branca.
Exemplo: em 2017, João, usando um canivete, ameaçou a vítima, subtraindo dela o telefone
celular. O juiz, na 1ª fase da dosimetria, fixou a pena-base em 4 anos. Não havia agravantes ou
atenuantes (2ª fase). Na 3ª fase (causas de aumento ou de diminuição), o magistrado aumentou a
pena em 1/3 pelo fato de o crime ter sido cometido com emprego de arma branca (canivete), nos
termos do art. 157, § 2º, I, do CP. 1/3 de 4 anos é igual a 1 ano e 4 meses. Logo, João foi condenado
a uma pena final de 5 anos e 4 meses (pena-base mais 1/3). O processo transitou em julgado e
João está cumprindo pena. A defesa de João pode pedir ao juízo das execuções penais (Súmula
611-STF) que aplique a Lei nº 13.654/2018 e que a sua pena seja diminuída em 1 ano e 4 meses
em virtude do fato de que o emprego de arma branca na prática do roubo ter deixado de ser causa
de aumento de pena.
Tabelas comparativas
O roubo e a extorsão são figuras penais muito parecidas e, portanto, sempre mereceram do
legislador um tratamento muito semelhante. A pena básica dos dois crimes é, inclusive, a mesma:
de 4 a 10 anos.
Com a mudança promovida pela Lei nº 13.654/2018, existe agora uma grande diferença
entre esses dois delitos no que tange ao emprego de arma:
Como fica a dosimetria da pena em caso de roubo com emprego de arma de fogo (art. 157,
§ 2º-A, I) em caso de também incidir alguma majorante do § 2º do art. 157?
Imagine a seguinte situação: João e Pedro, com o emprego de arma de fogo, subtraem os
pertences da vítima. Vale ressaltar que os dois combinaram juntos e que nenhum deles pode ser
considerado líder.
O que fazer?
Art. 68 (...)
1ª) Aumentar a pena em 2/3 com fundamento no inciso I do § 2º-A do art. 157 e utilizar a
circunstância do inciso II do §2º (concurso de pessoas) como circunstância judicial desfavorável
(art. 59 do CP). Obs: se o concurso de pessoas fosse previsto como agravante (arts. 61 e 62), então,
assim deveria ser considerado.
2ª) Aplicar as duas causas de aumento de pena. Neste caso, o segundo aumento irá incidir
sobre a pena já aumentada pela primeira causa. Ex: o juiz fixa a pena-base em 4 anos; depois
aumenta 1/3 por força do inciso I do § 2º, chegando a uma pena de 5 anos e 4 meses; sobre esse
resultado, aumenta mais 2/3, totalizando 8 anos, 10 meses e 20 dias.
Essa faculdade judicial de escolher uma das duas opções acima é criticada por vários
doutrinadores, mas já foi acolhida pelo STF:
(...) 4. Na espécie, o paciente teve sua pena majorada duas vezes ante a
incidência concomitante dos incisos I e II do art. 226 do Código Penal, uma
vez que, além de ser padastro da criança abusada sexualmente, consumou
o crime mediante concurso de agentes. Inexistência de arbitrariedade ou
excesso que justifique a intervenção corretiva do Supremo Tribunal Federal.
5. É que art. 68, parágrafo único, do Código Penal, estabelece, sob o ângulo
literal, apenas uma possibilidade (e não um dever) de o magistrado, na
hipótese de concurso de causas de aumento de pena previstas na parte
especial, limitar-se a um só aumento, sendo certo que é válida a incidência
concomitante das majorantes, sobretudo nas hipóteses em que sua previsão
é desde já arbitrada em patamar fixo pelo legislador, como ocorre com o art.
226, I e II, do CP, que não comporta margem para a extensão judicial do
quantum exasperado. (...) STF. 1ª Turma. HC 110960, Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 19/08/2014.
Conforme já explicado, o § 2º do art. 157 prevê causas de aumento de pena para o roubo.
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou uma nova hipótese de roubo majorado no inciso VI. Veja:
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou um novo parágrafo ao art. 157 prevendo duas novas
hipóteses de roubo circunstanciado, com pena maior. Veja:
Inciso I
O inciso I já foi analisado acima. O destaque para o inciso I é, repetindo, o fato de que agora,
para haver roubo circunstanciado pelo emprego de arma, é necessário que seja arma de fogo. Arma
branca, arma imprópria não é mais suficiente para caracterizar causa de aumento de pena no roubo.
Inciso II
b) essa destruição ou rompimento foi causado pelo fato de o agente ter utilizado explosivo
ou artefato análogo que cause perigo comum.
Vale ressaltar que, como o § 2º-A do art. 157, por se tratar de roubo, exige obrigatoriamente
violência ou grave ameaça à pessoa, na grande maioria dos casos essa violência ou grave ameaça
será feita mediante emprego de arma de fogo. Isso porque não é crível imaginar que uma
organização criminosa que irá utilizar explosivos para abrir um caixa eletrônico cometa o roubo sem
utilizar arma de fogo. Assim, o emprego da arma de fogo já seria suficiente para aumentar a pena
em 2/3, sendo “desnecessário” o inciso II para os fins do § 2º-A do art. 157.
Vou dar um exemplo sobre o que estou tentando dizer: João e seus comparsas entram em
uma drogaria e, portando arma de fogo, rendem os funcionários e clientes e os trancam em uma
sala. Com a utilização de uma dinamite, explodem o caixa eletrônico para dali subtrair o dinheiro.
Neste exemplo, os agentes já responderiam pelo roubo com pena aumentada em 2/3 pelo
simples fato de empregarem arma de fogo (inciso I do § 2º-A do art. 157 do CP).
Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não
constituem ou qualificam o crime:
(...)
II - ter o agente cometido o crime:
2) aumentou a pena do roubo com resultado lesão corporal grave. Antes era de 7 a 15 anos.
Agora é de 7 a 18 anos.
Confira:
Crítica à Súmula (Rogério Greco): Conforme o art. 14, I do CP o crime só se consuma quanto
nele se reúnem todos os seus elementos. O latrocínio é um crime complexo, cujos elementos são
subtração e morte. Não se reunindo um deles, não há que se falar em consumação. A súmula ignora
a definição de crime consumado trazida pelo art. 14, I do CP.
Essa corrente tira o caso do júri e joga para o rol dos crimes hediondos.
Conta com decisão do STF (1ª T. HC 94.775, de 04/04/2009, Rel. Min. Marco Aurélio).
Conta com decisão do STF (2ª T. HC 91.585/2008). Nesse HC ficou evidenciado o animus
necandi do agente, daí a configuração do concurso dos delitos de roubo consumado e homicídio
tentado.
Havendo apenas uma subtração, porém com pluralidade de mortes, quantos crimes há?
3. EXTORSÃO
Extorsão
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com
o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a
fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: (extorsão simples)
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de
arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. (majorante)
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do
artigo anterior. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (extorsão qualificada pelo
resultado lesão grave ou morte = pena da lesão no roubo/ latrocínio)
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e
essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena
é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão
corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e
3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009) (extorsão
Constrangimento Ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou
depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa
Dupla objetividade jurídica: patrimônio e liberdade individual da vítima, sem falar também da
sua incolumidade pessoal e da própria vida, que também são protegidas pelo tipo penal.
É exatamente esse fim especial que diferencia o art. 158 do art. 146 (constrangimento ilegal).
O que está em negrito é o constrangimento ilegal do art. 146. O que está em sublinhado é a
finalidade específica que diferencia a extorsão (elemento especializante).
O dono da coisa não pode praticar, a não ser que a coisa esteja em legítima posse de
terceiro.
Rogério: Cuidado quando o sujeito ativo for funcionário público: pode ocorrer o crime de
concussão.
Não parece muito correto, tendo em vista que a concussão não decorre da violência ou grave
ameaça, mas sim da condição pessoal do agente (funcionário público). Inclusive, se o funcionário
público faz a exigência mediante violência ou grave ameaça, pode ocorrer crime de extorsão em
vez de concussão.
A vítima é a pessoa ferida no patrimônio, bem como aquela que, alheia ao patrimônio, sofreu
violência ou grave ameaça.
Rogério Sanches e Rogério Greco: Quanto ao sujeito passivo que tem seu patrimônio
afetado, pode-se incluir as pessoas jurídicas.
Esse constrangimento deve ser praticado mediante violência (física) ou grave ameaça. A
violência IMPRÓPRIA não é admitida. Exemplo de grave ameaça: Chantagem.
Roubo X Extorsão
A doutrina apresenta alguns critérios de diferenciação entre roubo e extorsão. Quatro deles:
ROUBO EXTORSÃO
O ladrão subtrai. O extorsionário faz com que se lhe entregue
a vantagem indevida.
O agente busca vantagem imediata. O agente busca vantagem mediata, futura.
A colaboração da vítima é dispensável, embora possa A colaboração da vítima é indispensável.
ocorrer.
O mal prometido à vítima é iminente. O mal prometido é futuro.
Ex.: Arma na cabeça. Passa a carteira! Roubo ou extorsão? Roubo, pois se a vítima não
entrega a carteira o sujeito a subtrairia à força. Ou seja, a colaboração é dispensável e a vantagem
é imediata.
É possível que haja os dois crimes no caso concreto. Ex.: Arma na cabeça. Passa o carro
(roubo); passa o cartão com a senha (extorsão: se não der a senha não há vantagem indevida). Há
concurso material de delitos (STJ).
Defensoria: não concordar com isso. A extorsão fica absorvida porque protege o mesmo
bem jurídico. Existe jurisprudência não admitindo o concurso.
Note-se que a vantagem econômica tem um sentido mais amplo que a coisa alheia móvel
dos delitos de furto e roubo.
E se a vantagem não for econômica? Não se trata de extorsão. Outro será o crime, como
por exemplo, constrangimento ilegal, no caso de não haver finalidade específica na conduta.
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão,
embora legítima, salvo quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena
correspondente à violência.
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede
mediante queixa.
Consequências:
1) Crime material
2) Crime formal
Tentativa: Crime formal ou material, a extorsão sempre admite tentativa quando o ‘iter
criminis’ puder ser fracionado (crime plurissubsistente). Exemplo: carta extorsionária interceptada.
Art. 158
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do
artigo anterior (art. 157§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a
pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte,
a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa).
É o caso quando da violência (um dos ‘modus operandis’ do constrangimento) resulte lesão
grave ou morte. Aplica-se aqui tudo o que foi discutido quanto às qualificadoras do roubo.
Lembrando que a extorsão qualificada pela morte faz parte do rol de crimes hediondos.
Extorsão indireta é o ato de exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação
de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra
terceiro.
Extorsão indireta
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação
de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a
vítima ou contra terceiro:
Esse parágrafo foi acrescentado pela Lei 11.923/09. Antes da Lei, o tal “sequestro-
relâmpago”, a depender do caso, poderia ser tipificado de três formas diferentes:
Em qualquer dos casos, em havendo morte como resultado da violência, trata-se de crime
hediondo, sendo que no caso do art. 159 sequer é exigível a morte para configurar a hediondez.
Sucede que ao alterar o CP, acrescentando a extorsão qualificada do §3º do art. 158, que
também prevê o resultado morte, o legislador não acrescentou essa hipótese ao rol taxativo de
crimes hediondos da Lei 8.072/90. Por conta disso, tem prevalecido na doutrina que o sequestro-
relâmpago com resultado morte (art. 158, §3º, in fine) não configura crime hediondo, uma vez que
entendimento contrário implicaria em analogia in malam partem.
ROUBO (ART. 157, §2º, V) EXTORSÃO (ART. 158, CAPUT) EXTORSÃO MEDIANTE
SEQUESTRO (ART. 159)
O agente subtrai a coisa. O agente constrange a entregar a Sequestro com privação de curta
vantagem econômica. duração, como meio de extorquir.
Colaboração da vítima é dispensável. Colaboração indispensável da vítima. Colaboração de terceiro é
indispensável para o sucesso da
empreitada.
OBS: No caso de morte vira hediondo OBS: No caso de morte vira hediondo OBS: Sempre hediondo.
(latrocínio, art. 157, §3º, in fine). (art. 158, §2º).
ROUBO (ART. 157, §2º, V) EXTORSÃO (ART. 158, §3º) EXTORSÃO MEDIANTE
SEQUESTRO (ART. 159)
O agente subtrai a coisa. O agente constrange a entregar a Sequestro com privação de curta
vantagem econômica. duração, como meio de extorquir.
Colaboração da vítima é dispensável. Colaboração indispensável da vítima. Colaboração de terceiro é
indispensável para o sucesso da
empreitada (pagamento do
resgate).
A privação da liberdade é majorante A restrição da liberdade agora é A privação era elementar do tipo.
(§2º, V → aumenta pena de 1/3 a ½) qualificadora.
.
OBS: No caso de morte vira hediondo OBS: Hediondo? Não alteraram a LCH, OBS: Sempre hediondo.
(latrocínio, art. 157, §3º, in fine). assim, essa forma qualificadora não
consta lá. Ver abaixo.
LCH
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:
[...]
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§
lo, 2o e 3o);
Sucede que ao alterar o CP, acrescentando a extorsão qualificada do §3º, que também prevê
o resultado morte, o legislador não acrescentou essa hipótese ao rol taxativo de crimes hediondos
da Lei 8.072/90. Ou seja, em se tratando de extorsão com resultado morte, somente figura na LCH
o §2º do art. 158 do CP. Por conta disso surge a dúvida:
1ª C: Prevalece que não é hediondo, pois é fato que se subsumi ao art. 158, §3º, que NÃO
CONSTA DO ROL TAXATIVO DA Lei 8.072/90 (Nucci, Bitencourt, Greco, Cleber Masson). O
2ª C (Rogério Sanches): O que fez o legislador com a Lei 11.923/09 foi apenas especificar
uma das várias formas de execução do delito de extorsão. Ele não criou novo delito. Sem o §3º já
era possível encaixar o sequestro-relâmpago com resultado morte na Lei dos Crimes hediondos.
Conclusão: Sequestro-relâmpago do §3º do art. 158 com resultado morte é hediondo, tratando-se
de interpretação extensiva, única forma de chegar a real intenção do legislador.
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate (extorsão mediante
sequestro simples):
Pena: Reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado
é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é
cometido por bando ou quadrilha. (qualificadora)
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: (qualificadora)
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte: (qualificadora)
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida
de um a dois terços. (Minorante)
O art. 159 é mais um exemplo de crime complexo, tratando-se, na realidade, de uma forma
especializada de extorsão, qual seja, aquela cujo meio de execução utilizado é a privação da
liberdade de uma pessoa.
Não apenas a pessoa privada de locomoção, mas também o sujeito que paga o resgate é
vítima do delito.
Tal como no delito de extorsão (art. 158), também pode ser sujeito passivo a Pessoa Jurídica
que paga o resgate e, consequentemente é atingida em seu patrimônio.
Exemplo.: Sequestro do Sílvio Santos. Resgate pago pelo SBT. Nesse caso, a Pessoa
Jurídica do SBT será o sujeito passivo.
PROVA: Sequestro de animal com o fim de obter vantagem indevida como resgate. Quem
crime configura? EXTORSÃO do art. 158 do CP. Animal não é vítima de sequestro. O tipo fala em
‘pessoa’.
Apesar de o tipo penal não mencionar a figura do cárcere privado (privação com
confinamento), a doutrina entende que o verbo sequestrar foi utilizado em seu sentido amplo,
abrangendo também aquele delito.
O efetivo sequestro pode ser antecedido de violência, grave ameaça, fraude ou qualquer
outro modo.
A vítima não precisa ser removida de um local para outro para que se configure o delito. Ex.:
Vítima que fica confinada em sua própria casa.
Percebe-se que, diferentemente do art. 158 do CP (extorsão), o tipo do art. 159 não faz
referência à vantagem indevida e econômica. Apesar disso, prevalece na doutrina que esses
elementos estão implícitos no tipo penal.
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
QUALQUER VANTAGEM, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
De acordo com Nelson Hungria, a vantagem buscada no delito do art. 159 deve ser
indevida e econômica (pois o delito pertence ao título dos crimes contra o patrimônio). Se o
sequestro visa obter vantagem devida o crime será o de exercício arbitrário das próprias razões em
concurso formal com o delito de sequestro.
Contra: Damásio e Bitencourt, entendendo que o delito do art. 159 se configura com a
exigência de qualquer vantagem (devida ou indevida; econômica ou não).
Consumação:
Prevalece (STF) que o crime se consuma com a realização do núcleo do tipo, ou seja, com
a efetiva privação da liberdade. Dispensa-se, assim, a exigência do resgate, bem como a
obtenção de indevida vantagem. Trata-se de crime formal.
Prevalece que não importa o tempo de privação da liberdade para que reste configurado o
crime. A maior ou menor duração do sequestro influirá apenas na fixação da pena.
Tal qual o delito de sequestro e cárcere privado, o art. 158 é exemplo de crime permanente,
cuja consumação se protrai no tempo. Consequências:
É mais uma prova de que não importa o tempo de privação para que se consume o crime.
Frise-se: Se o resgate foi pago em 5 minutos, mas a privação dura 25 horas, incide a qualificadora.
Senilidade: Raciocínio inverso. Para configurar a qualificadora basta que a vítima tenha mais
de 60 anos no momento do fim do sequestro (frise-se não pode trocar a expressão “maior de 60
anos” por idoso, isso porque se trata de idosos MAIORES de 60 anos, enquanto o Estatuto do Idoso
considera idosos pessoas com idade IGUAL ou MAIOR de 60 anos).
Estatuto do Idoso
Art. 1o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos
assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
OBS: O agente do crime deve ter conhecimento da idade da vítima, sob pena de
responsabilidade penal objetiva. Se não tiver conhecimento, não responderá pela forma qualificada,
pois terá agido em erro de tipo.
A doutrina diverge quanto a possibilidade de punição também pelo crime do art. 288 do CP.
4.8.2. §§2º e 3º - Cinco observações sobre a extorsão mediante sequestro qualificada pelo
resultado lesão grave ou morte:
• Prevalece que o resultado morte ou lesão grave deve recair necessariamente sobre a
vítima do sequestro, uma vez que o tipo menciona “se do fato (sequestro) ocorrer o
Contra: Bitencourt, que entende que a morte de qualquer pessoa envolvida é capaz de gerar
a qualificadora.
• Ao contrário dos delitos de roubo e extorsão, aqui não se exige que o resultado
qualificador advenha de violência real (“do fato”). Naqueles delitos o artigo se refere
“se da VIOLÊNCIA resulta...” aqui, como dito refere “se do FATO resulta...”.
Requisitos cumulativos:
A delação é possível desde que seja cometido por duas ou mais pessoas. Não mais se exige
o cometimento do crime por meio de associação criminosa.
Há doutrina que exige essa condição, porém não prevalece. Não existe na lei essa condição.
Ao assim agir o intérprete sequer está fazendo analogia, mas efetivamente está legislando.
Redução de pena:
5. ESTELIONATO
Patrimônio.
Pode ser a pessoa enganada e a pessoa prejudicada economicamente (OBS: nem sempre
coincidem nas mesmas pessoas a fraude e a lesão patrimonial).
Observações
- A vítima enganada deve ser capaz, com capacidade de discernimento. Se for vítima
incapaz, estaremos diante do crime do art. 173 do CP (abuso de incapazes). Ainda, se tratar-se de
vítima sem qualquer capacidade de ser iludida (exemplo: débil mental), estaremos diante de furto.
A vítima deve ser determinada. Se a vítima for indeterminada, poderá tratar-se de crime
contra a economia popular (Lei 1.521/51) ou crime contra a relação de consumo (CDC).
Lei nº 8.176/91
Art. 1° Constitui crime contra a ordem econômica:
I - adquirir, distribuir e revender derivados de petróleo, gás natural e suas
frações recuperáveis, álcool etílico, hidratado carburante e demais
combustíveis líquidos carburantes, em desacordo com as normas
estabelecidas na forma da lei;
II - usar gás liquefeito de petróleo em motores de qualquer espécie, saunas,
caldeiras e aquecimento de piscinas, ou para fins automotivos, em desacordo
com as normas estabelecidas na forma da lei.
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Conduta: Empregar meio fraudulento para conseguir vantagem ilícita, em prejuízo alheio.
1-Fraude;
3-Prejuízo alheio.
Senão, vejamos:
5.5.1. Fraude
Induzir a vítima em erro: É o agente quem cria na vítima a falsa percepção da realidade.
-Artifício (uso de objetos ou aparatos aptos a enganar - falso bilhete premiado; documento
falso; disfarce),
-Ardil (conversa enganosa, lábia) ou qualquer outro meio fraudulento (abrange aqui o silêncio
- estelionato por omissão - muito comum para manter a vítima em erro).
A conduta do agente (emprego da fraude) deve ser dirigida à obtenção de vantagem ilícita,
para si ou para terceiro.
O terceiro beneficiado não precisa ter conhecimento da origem ilícita da vantagem; em não
sabendo que aquilo que recebe é produto de crime, não responderá por nenhum delito.
O emprego de fraude para obtenção de vantagem devida (lícita) não configura estelionato,
mas sim exercício arbitrário das próprias razões.
1ª C: pode ser qualquer vantagem, haja vista não ter o legislador especificado a natureza
econômica (como o fez na extorsão, por exemplo). Luiz Régis Prado.
Por isso que o STF já entendeu que a “cola eletrônica” – “o ponto no ouvido” – para
realização de vestibulares, concursos públicos e tal é atípico – infração administrativa.
Trata-se de crime contra a fé pública, cujos sujeitos são: ativo – qualquer pessoa, sendo que
na hipótese de ser praticado por funcionário público há aumento de pena (§3º); passivo –
vislumbramos o Estado, a coletividade e, possivelmente uma vítima imediata que pode ser
prejudicada pela divulgação do conteúdo sigiloso do certame.
Atentos aos parâmetros estabelecidos pelo preceito secundário do novo crime (pena mínima
cominada igual a um ano), notamos a possibilidade de suspensão condicional do processo (art. 89,
da Lei 9.099/95).
A conduta o agente, dirigida à obtenção da vantagem ilícita, deve gerar algum prejuízo à
vítima. Esse prejuízo pode se traduzir tanto na perda de patrimônio como no fato de a vítima deixar
de ganhar alguma vantagem patrimonial em decorrência da fraude empregada pelo estelionatário.
Fraude bilateral (ou torpeza bilateral) exclui o crime de estelionato? (Quando a vítima
também age com má-fé)? Duas correntes:
1ª C (PREVALECE): Como a boa-fé da vítima não é elementar do crime, mesmo que esta
aja com ganância, não apaga o crime. Lembrar as pessoas da TV que são severamente enganadas
por golpistas por serem gananciosas.
2ª C: O crime deixa de existir, pois o direito não pode amparar a má-fé da vítima (Hungria e
Greco).
Motivos: Os tipos penais protegem bens jurídicos diversos, além de o delito de falso se
consumar anteriormente à consumação do estelionato. Como existem duas condutas produzindo
dois resultados, trata-se de concurso material.
ATENÇÃO: O próprio STJ admite uma exceção a esse entendimento: Súmula 17 → Quando
o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. Exemplo:
Ou seja, se o falso não se exaure no estelionato, o sujeito responde pelos dois crimes em
concurso material. Exemplo: Uso de CPF ou cartão de crédito falso para obter vantagem ilícita em
prejuízo alheio.
Motivos: Responde pelos dois, pois há bens jurídicos diversos. Concurso formal, pois há
uma única conduta dividida em dois atos produzindo dois resultados. O uso do documento falso é
apenas o meio utilizado para fraudar.
3ª C: Se o documento for público, o falso (por ser mais grave) absorve o estelionato
(MINORIA), post factum impunível.
A fraude é a causa da entrega da vantagem pela A fraude, se existir, é para dissimular a posse da
vítima. coisa.
Objeto material: Qualquer vantagem Objeto material: Coisa alheia móvel.
econômica.
Quando o agente, mediante fraude, consegue obter da vítima um título de crédito, o crime
está consumado?
1ªC: considerando que a obrigação assumida pela vítima já é um proveito adquirido pelo
agente, o delito está consumado (crítica: ainda não houve proveito).
Se o meio utilizado pelo fraudador não tiver NENHUMA aptidão para enganar a vítima (como
no caso de uma nota de 03 reais), estaremos diante de crime impossível por absoluta ineficácia do
meio utilizado.
171 “caput” → estelionato propriamente dito (fraude, vantagem indevida, prejuízo alheio).
a) Sujeito ativo
Prevalece que sim. (Não confundir com furto de coisa comum, em que ele subtrai a coisa
comum para si ou para outrem)
b) Sujeito passivo
c) Tipo objetivo
d) Objeto material
e) Consumação e tentativa
Admite-se a tentativa.
Se o adquirente é cientificado pelo alienante sobre a situação da coisa, não há que se falar
em estelionato, pela falta de fraude.
A tradição não é exigida para configurar o delito. Assim como também é dispensável a
alteração da escritura, no caso de disposição de coisa imóvel. Inclusive, neste último caso, se
ocorrer a alteração da escritura o agente responderá também pelo delito de falsidade documental
(ignorar direito civil).
O furtador que vende o carro como se fosse dele, responde por estelionato (disposição de
coisa alheia)?
1ªC: Prevalece que o estelionato é um ‘post factum’ impunível do furto. O juiz enfia essa
conduta na fixação da pena.
2ªC: Assis Toledo e minoria: Como são vítimas diferentes, trata-se de concurso material de
delitos.
OBS: Efetivada a alienação, ainda que o agente regularize posteriormente o domínio (ex.:
comprando a coisa do verdadeiro dono), o crime permanecerá. O juiz pode, no máximo, considerar
como arrependimento posterior.
Art. 171, 2º
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria
inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a
terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer
dessas circunstâncias;
a) Objeto material
b) Sujeito ativo
c) Sujeito passivo
Adquirente de boa-fé.
d) Tipo objetivo
Entretanto, se o alienante avisa sobre os gravames, não ocorrerá o crime pela falta de fraude
(elemento constitutivo do tipo). Nesse caso, poderá configurar, no máximo, ilícito civil.
e) Consumação
a) Sujeito ativo
b) Sujeito passivo
Credor pignoratício.
c) Tipo objetivo
Meios de execução: alienar a coisa sem consentimento do credor ou por outro modo
defraudar a garantia (ex.: destruir a coisa), também sem o consentimento do credor (interpretação
analógica).
d) Objeto material
e) Consumação
Não se exige aqui a obtenção de vantagem ilícita ao agente (exemplo do caso onde o
devedor destrói a coisa empenhada).
ATENÇÃO
- Coisa empenhada;
- Coisa penhorada;
- Garantia da execução.
Resposta: Depende.
Se com a frustração da penhora o devedor ficou insolvente: Crime do art. 179 do CP (fraude
à execução);
Se com a frustração da penhora o devedor continua solvente: Mero ilícito civil (depositário
infiel).
Art. 171, 2º
IV - defrauda substância (natureza da coisa. Ex.: substituir diamantes por
vidro), qualidade (atributo da coisa. Ex.: entregar arroz de segunda como se
fosse de primeira) ou quantidade (relacionada a números. Ex.: agente entrega
menos do que está obrigado) de coisa que deve entregar a alguém;
a) Sujeito ativo
b) Sujeito passivo
c) Objeto material
A defraudação da coisa pode ocorrer em relação à sua substância (natureza da coisa. Ex.:
substituir diamantes por vidro), qualidade (atributo da coisa. Ex.: Entregar arroz de segunda como
se fosse de primeira) ou quantidade (relacionada a peso, dimensão, número. Ex.: agente entrega
menos do que está obrigado).
e) Consumação
O crime consuma-se com a efetiva entrega da coisa defraudada, momento em que ocorre o
prejuízo à vítima. Crime de duplo resultado.
OBS: Esse inciso não se aplica às fraudes no comércio. Quanto às fraudes no comércio,
três tipos incriminadores podem ser aplicados, conforme o caso concreto: art. 175 do CP, CDC, Lei
8.137/90 (Ordem tributária).
Há quem diga que o art. 175 CP foi revogado. Ou aplica-se o CDC ou a Lei 8.137/90 (delitos
contra a ordem tributária e relações de consumo). E agora?
Apesar de a lei tributária ter sido publicada posteriormente, a vigência do CDC é posterior.
Art. 171, 2º
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio
corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o
intuito de haver indenização ou valor de seguro;
Esse crime pressupõe um contrato de seguro vigente e válido. Se não for vigente ou válido,
trata-se de crime impossível (crime oco) por absoluta impropriedade do objeto material do delito.
a) Sujeito ativo
b) Sujeito passivo
c) Objeto material
d) Consumação
NÃO é crime material de duplo resultado. Prevalece que é crime formal (consumação
antecipada), consumando-se com o emprego da fraude, independentemente da obtenção de
vantagem pelo agente e prejuízo da seguradora.
Caso o agente destrua deliberadamente seu próprio carro com o fim de receber o seguro e
pleiteie essa indenização, estaremos diante de crime consumado, independentemente de o pedido
indenizatório ser ou não atendido pela seguradora.
*E se quem aplica a fraude é terceiro sem conhecimento do segurado, sabendo que ele
(terceiro) vai ser o beneficiado pelo valor da apólice?!
a) Sujeito ativo
Emitente/Sacador do cheque.
1ª C: PREVALECE que não se inclui o endossante, pois este não emite o título e não se
admite analogia in malam partem (pode, no entanto, figurar como partícipe ou como autor do
estelionato do caput). Nucci, Damásio, Mirabete, Greco.
2ª C: Inclui-se o endossante, pois a lei toma a expressão “emitir” no seu sentido amplo,
abrangendo o endosso. Magalhães Noronha.
b) Sujeito passivo
c) Tipo objetivo
SÚMULA 246 DO STF “comprovado não ter havido fraude, não se configura
o crime de emissão de cheque sem fundos”.
d) Tipo subjetivo
Somente responde pelo delito aquele que intencionalmente emite cheque sem provisão de
fundos ou intencionalmente frustra seu pagamento, com a finalidade específica de obter vantagem
indevida.
Em regra, não configura crime, mas mero ilícito civil, pois a cártula, aos olhos do direito
penal, deixou de ser ordem de pagamento à vista, revestindo-se de mera garantia de crédito.
CUIDADO: Se a emissão do cheque pós-datado for fraudulenta, vale dizer, com o objetivo
de locupletamento ilícito, estaremos diante do estelionato do art. 171, caput.
No que tange ao cheque sem fundos, a reparação do dano realizada ANTES do recebimento
da denúncia obsta a ação penal (Súmula 554 do STF a contrário sensu). É causa supralegal de
extinção da punibilidade.
e) Consumação
CPP Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que
se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for
praticado o último ato de execução.
STF Súmula 521 o foro competente para o processo e julgamento dos crimes
de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão
de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
Observações finais:
Emitir cheque e depois encerrar a conta → Frustrar pagamento (art. 171, §2º, VI). Aplica-se
a súmula 554 do STF (causa de exclusão do crime).
Encerrar a conta e depois emitir cheque → Estelionato do art. 171, caput. Não se aplica a
Súmula 554 do STF, mas sim o art. 16 (arrependimento posterior).
Emissão de cheque sem fundos para pagar dívida de jogo configura estelionato?
Não configura estelionato, pois se trata de dívida não exigível, nos termos do art. 814 do
Código Civil. Entretanto, se o cheque sem fundos serviu como pagamento de uma indevida
vantagem obtida pelo jogador trapaceiro, nesse caso há estelionato, uma vez que essa dívida é
exigível.
Estelionato contra Banco do Brasil NÃO SOFRE essa majorante. Trata-se de sociedade de
economia mista, pessoa jurídica de Direito Privado.
STF: o privilégio do art. 171§1º (que remete ao furto mínimo) é compatível com esta
majorante.
Exemplo: Uma pessoa apresenta atestado falso junto ao INSS em janeiro de 2014. Em
fevereiro de 2014, começa a receber mensalmente um benefício previdenciário.
1ª C: O crime é instantâneo de efeitos permanentes para quem pratica a fraude para outrem.
O crime se consuma com o recebimento da primeira vantagem indevida. Os demais recebimentos
nada mais são do que exaurimento do crime. Para o fraudador-beneficiário é crime permanente.
Terceiro que implementa a fraude para que pessoa diferente receba o benefício: crime
instantâneo de efeitos permanentes. Para o terceiro a prescrição começa a contar a partir do 1º
pagamento.
A Lei nº 13.228/2015, alterou o Código Penal para estabelecer causa de aumento de pena
para o caso de estelionato cometido contra idoso.
Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez
contos de réis.
Idoso é a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos (art. 1º da Lei nº 10.741/2003).
5.14.2. Natureza do § 4º
Com esse novo § 4º, fica vedado o sursis processual no caso de estelionato contra idoso
Agora, depois da Lei nº 13.228/2015, quem comete estelionato contra idoso não terá direito
à suspensão condicional do processo. Isso porque a pena mínima para o caso de estelionato contra
idoso passa a ser de 2 anos em razão do § 4º do art. 171.
Para que incida essa causa de aumento, é indispensável que o agente saiba que a vítima é
idosa. Se o agente desconhecer essa circunstância, ele responderá por estelionato na modalidade
fundamental (art. 171, caput).
Importante esclarecer que o agente não precisa conhecer formalmente a condição de idosa
da vítima, incidindo a causa de aumento quando isso for evidente. Assim, se o aspecto físico da
vítima indicar claramente que se trata de pessoa idosa, não será admissível que o autor do delito
alegue que não sabia dessa condição.
Cuidado para não confundir com o crime do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003)
Se o agente induz pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para
fins de administração de bens ou deles dispor livremente, neste caso ele comete o crime do art. 106
do Estatuto do Idoso (e não o estelionato). Veja:
Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar
procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
5.14.5. Vigência
Vale ressaltar, no entanto, que, como se trata de norma penal incriminadora, o novo § 4º do
art. 171 não se aplica para situações ocorridas antes da sua vigência. Assim, esta causa de aumento
só vale para quem praticar estelionato contra idoso a partir de 29/12/2015.
Art. 41-E. Fraudar, por qualquer meio, ou contribuir para que se fraude, de
qualquer forma, o resultado de competição esportiva ou evento a ela
associado: (Redação dada pela Lei nº 13.155, de 2015)
Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.
6. RECEPTAÇÃO
Patrimônio.
Qualquer pessoa, DESDE QUE não tenha concorrido de qualquer modo para o delito
anterior. Se a pessoa é autora, coautora ou partícipe do delito antecedente, responderá somente
por este, sendo considerada a receptação um ‘post factum’ impunível.
Excepcionalmente pode figurar como sujeito ativo o proprietário do bem, caso o objeto esteja
na legítima posse de terceiro. Exemplo: Sujeito que compra do furtador o seu próprio relógio que
estava empenhado como garantia de uma dívida.
Crime principal: É um crime que não depende (ou pressupõe) de outro para a sua existência.
Receptação própria: É uma relação entre o autor do delito pressuposto e o receptador, que
adquire, recebe, transporta, conduz, ou oculta a coisa produto de crime.
A receptação se dá sempre por título injusto? Nem sempre a receptação se dá por título
injusto. Exemplo: o advogado cobra x para defender o ladrão. É pago com coisa que sabe que é
produto de crime a título de honorários.
Ocorre quando o intermediário, que passa a influir, para que terceiro de boa-fé
receba/adquira a coisa produto de crime. Ou seja, nessa receptação, o criminoso não é aquele que
adquire a coisa, mas sim aquele que incentiva ao terceiro de boa-fé a adquirir a coisa criminosa.
Se o terceiro não estiver de boa-fé, ele responderá por receptação própria. Nesse caso, o
intermediário será partícipe da receptação própria (induz o terceiro a praticar o crime).
Lembrando: No caso do próprio furtador influir para que terceiro de boa-fé compre a ‘res
furtiva’, não ocorrerá o delito do art. 180, porquanto essa receptação é considerada ‘post factum
impunível’.
NÃO. Exemplo: Adquirir coisa produto de peculato. Nesse caso, o crime antecedente é
contra a Administração Pública.
SIM, é perfeitamente possível que o crime antecedente seja receptação, desde que não seja
quebrada a má-fé da cadeia.
1ª C: NÃO, pois a lei refere-se à coisa produto de CRIME (e não de fato definido como crime).
Menor não pratica crime. Fragoso. Defensoria Pública.
2ª C: SIM, pois quando a lei refere-se à coisa produto de crime quer dizer coisa produto de
fato PREVISTO como crime (ato que corresponda a um injusto penal). Menor pratica fato previsto
como crime, chamado ato infracional. Noronha e MAIORIA.
1ª C: Da simples leitura do tipo percebe-se que o legislador não limitou o objeto material à
coisa móvel, sendo possível o crime quando a coisa é imóvel (Fragoso). Ex.: Venda de apartamento
produto de estelionato.
2ª C (STF): NÃO. O significado léxico da palavra receptação indica que a coisa deve ser
capaz de ser deslocada, não abrangendo objeto imóvel (Hungria).
f) O sujeito que compra medalha feita com o ouro de coisa furtada pratica receptação?
SIM, pois não importa seja a coisa genuína, transformada ou alterada, sempre perdurará
sua qualificação como produto de crime.
O dolo superveniente não configura o crime. A má-fé tem que ser precedente ou
contemporânea a qualquer das condutas previstas no tipo.
Contra: Nelson Hungria - diz que dolo superveniente configura receptação sim.
Receptação própria: Consuma-se com a prática de qualquer um dos núcleos do tipo. CRIME
MATERIAL.
Receptação imprópria: Consuma-se com o ato de influir para que terceiro de boa-fé adquira
a coisa. CRIME FORMAL. O fato de o terceiro efetivamente adquirir, receber ou ocultar a coisa é
mero exaurimento.
A maioria da doutrina não admite a tentativa. No entanto, por meio escrito é plenamente
possível a tentativa.
a) Sujeitos do crime
O sujeito ativo não é qualquer pessoa, mas somente aquele que está no exercício de
atividade comercial ou industrial. O crime é próprio.
Deve haver nexo entre a atividade comercial e a receptação, ou seja, deve estar no exercício
da atividade.
ATENÇÃO: Não basta o sujeito ser comerciante. É imprescindível que a coisa objeto do
crime seja ligada à atividade por ele exercida.
Ex.: Não responde por receptação qualificada o dono de padaria que compra um relógio
roubado.
Esse novo tipo penal surgiu com a nítida intenção de coibir a indústria de desmanche de
veículos furtados ou roubados.
b) Tipo subjetivo
O tipo penal usa a expressão “coisa que DEVE SABER ser produto de crime”. Essa
terminologia tem gerado alguma divergência na doutrina.
Art. 180, § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua NATUREZA ou pela
DESPROPORÇÃO entre o valor e o preço, ou pela CONDIÇÃO DE QUEM A
OFERECE, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.
É uma hipótese excepcional de crime culposo previsto em tipo fechado: o próprio tipo define
a conduta a ser considerada negligente, imprudente ou imperita. É uma exceção, pois como vimos,
a maioria dos crimes culposos (quase todos) são previstos em tipos abertos (Parte Geral).
Ocorrendo qualquer das circunstâncias do tipo, deveria presumir o agente a origem ilícita da
coisa, motivo pelo qual responderá pelo crime.
a) Natureza
Em suma:
Receptação culposa – 180, §3º (PERDÃO JUDICIAL) Receptação dolosa – 180 caput e §1º (PRIVILÉGIO)
O Benefício previsto é o perdão judicial. O benefício previsto é o privilégio do furto.
Requisitos: Requisitos:
a) Primariedade do agente; a) Primariedade do agente;
b) Circunstâncias da fato favoráveis (culpa b) Pequeno valor da coisa.
levíssima).
OBS: Não importa o valor da coisa. OBS: Entende a maioria ser cabível também na
receptação qualificada.
Art. 155, § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno
valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois
terços, ou aplicar somente a pena de multa.
# Qual é a natureza jurídica desse § 6º do art. 180 do CP? Trata-se de causa de aumento
ou de qualificadora?
1ª corrente: causa de aumento de pena. Posição de Luiz Régis Prado e Rogério Sanches.
“(...) o dispositivo contém uma verdadeira qualificadora. A lei é clara: a pena é aplicada em
dobro. Não se fala no aumento da pena até o dobro, mas na sua obrigatória duplicação. Portanto,
a pena da receptação simples – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa – é alterada. Continua
a ser de reclusão, mas seus limites mínimo e máximo passam a ser, respectivamente, de 2 (dois) a
8 (oito) anos, sem prejuízo da multa.”
NÃO. O § 6º menciona expressamente o caput do art. 180 do CP. Logo, esta majorante
somente é aplicada à receptação simples, própria ou imprópria, prevista no art. 180, caput do CP.
SIM. No delito de receptação, os bens pertencentes aos Correios (ECT) recebem o mesmo
tratamento que os da União e, por isso, caso a receptação envolva tais bens, é cabível a majoração
da pena prevista no § 6º do art. 180 do CP
7. RECEPTAÇÃO DE ANIMAL
O delito de receptação de animal foi introduzido pela Lei 13.330/2016 ao CP, que passa a
contar com o art. 180-A.
7.2. CONDUTA
O art. 180-A pune aquele que adquire, recebe, transporta, conduz, oculta, tem em depósito
ou vende semovente domesticável de produção, mesmo que não tenha sido abatido ou divido em
partes.
Art. 181 - É ISENTO de pena quem comete qualquer dos crimes previstos
neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo,
seja civil ou natural.
Natureza jurídica:
1ªC: causa de EXTINÇÃO da punibilidade: o que quer dizer que em algum momento essas
condutas foram passíveis de punição, vindo a ser posteriormente extinta a punibilidade.
PREVALECE
Natureza jurídica:
Essa “escusa” garante a transformação da ação penal pública incondicionada em ação penal
condicionada à representação da vítima.
Bitencourt critica a expressão “imunidade”, pois, a rigor, não existe qualquer imunidade. O
agente responderá igualmente pelo delito.
A doutrina processual penal chama esta ação penal de “AÇÃO PENAL SECUNDÁRIA”.
Ocorre quando as circunstâncias do caso concreto fazem variar a modalidade de ação penal a ser
ajuizada. Outro exemplo: Crimes contra a honra, crimes contra a dignidade sexual.
Regra: ação penal privada ou condicionada, que pode virar pública condicionada ou até
mesmo incondicionada, respectivamente.
Hipóteses: