Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Lei Especial
Abuso de Autoridade
(Lei 13.869/2019)
@cadernossistematizados contato@cadernossistematizado.com
.
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 3
PARTE GERAL .................................................................................................................................... 4
1. ORIGEM DA NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ............................................................ 4
2. BEM JURÍDICO TUTELADO ....................................................................................................... 4
3. ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL .......................................................................................... 5
PREJUDICAR OUTREM ....................................................................................................... 5
BENEFICIAR A SI MESMO OU A TERCEIRO .................................................................... 6
MERO CAPRICHO OU SATISFAÇÃO PESSOAL ............................................................... 6
ESPECIAL FIM DE AGIR DO ART. 29 DA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ................. 6
INDICAÇÃO DO ELEMENTO SUBJETIVO.......................................................................... 7
CRIMES DE INTENÇÃO ....................................................................................................... 7
ESPECIAL FIM DE AGIR x DOLO EVENTUAL ................................................................... 7
4. VEDAÇÃO DO CRIME DE HERMENÊUTICA............................................................................. 8
5. SUJEITOS DOS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE ....................................................... 10
SUJEITO ATIVO ................................................................................................................. 10
5.1.1. Concurso de agentes públicos com particulares (extraneus) ..................................... 11
SUJEITO PASSIVO ............................................................................................................ 11
6. COMPETÊNCIA CRIMINAL ....................................................................................................... 11
7. AÇÃO PENAL ............................................................................................................................. 12
8. EFEITOS DA CONDENAÇÃO ................................................................................................... 13
9. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO ......................................................................................... 14
10. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE....................................................................................... 15
11. SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA ...................................................... 15
CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE .......................................................................................... 17
1. DECRETAÇÃO DE MEDIDA DE PRIVAÇÃO DA LIBERDADE EM MANIFESTA
DESCONFORMIDADE COM AS HIPÓTESES LEGAIS .................................................................. 17
PREVISÃO LEGAL ............................................................................................................. 17
SUJEITO ATIVO ................................................................................................................. 17
MEDIDA DE PRIVAÇÃO DA LIBERDADE ......................................................................... 17
MANIFESTA DESCONFORMIDADE COM AS HIPÓTESES LEGAIS.............................. 18
PENA ................................................................................................................................... 18
CONDUTAS EQUIPARADAS ............................................................................................. 20
NÃO REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA ........................................................ 21
2. DECRETAÇÃO DE CONDUÇÃO COERCITIVA DE TESTEMUNHA OU INVESTIGADO
MANIFESTAMENTE INCABÍVEL OU SEM PRÉVIA INTIMAÇÃO .................................................. 22
PREVISÃO LEGAL ............................................................................................................. 22
CONCEITO DE CONDUÇÃO COERCITIVA ...................................................................... 22
SUJEITO ATIVO ................................................................................................................. 22
SUJEITO PASSIVO ............................................................................................................ 23
INCONSTITUCIONALIDADE DA CONDUÇÃO COERCITIVA PARA INTERROGATÓRIO
24
PRÉVIA NOTIFICAÇÃO ..................................................................................................... 24
3. OMISSÃO QUANTO À COMUNICAÇÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE À AUTORIDADE
JUDICIÁRIA NO PRAZO LEGAL E FIGURAS EQUIPARAS ........................................................... 25
4. CONSTRANGIMENTO DE PRESO OU DETENTO .................................................................. 26
5. CONSTRANGIMENTO AS DEPOR, SOB AMEAÇA DE PRISÃO, DE PESSOA QUE DEVA
GUARDAR SEGREDO OU RESGUARDAR SIGILO EM RAZÃO DE FUNÇÃO, MINISTÉRIO OU
PROFISSÃO, E FIGURAS EQUIPARADAS ..................................................................................... 28
6. OMISSÃO DE IDENTIFICAÇÃO OU IDENTIFICAÇÃO FALSA AO PRESO ........................... 29
7. SUBMISSÃO DE PRESO A INTERROGATÓRIO POLICIAL DURANTE O PERÍODO DE
REPOUSO NOTURNO ...................................................................................................................... 30
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 1
.
8. IMPEDIMENTO OU RETARDAMENTO DO ENVIO DE PLEITO DO PRESO À AUTORIDADE
JUDICIÁRIA COMPETENTE ............................................................................................................. 31
9. RESTRIÇÃO, SEM JUSTA CAUSA, DA ENTREVISTA PESSOAL OU RESERVADA COM
SEU ADVOGADO .............................................................................................................................. 31
10. MANUTENÇÃO DE PRESOS DE AMBOS OS SEXOS NA MESMA CELA OU ESPAÇO DE
CONFINAMENTO .............................................................................................................................. 32
11. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO EM UM CONTEXTO DE ABUSO DE AUTORIDADE .............. 33
12. FRAUDE PROCESSUAL EM ESPECIAL CASO DE ABUSO DE AUTORIDADE ............... 35
13. CONSTRANGIMENTO DE FUNCIONÁRIO OU EMPREGADO DE INSTITUIÇÃO
HOSPITALAR PÚBLICA OU PRIVADA A ADMITIR PARA TRATAMENTO PESSOA MORTA ..... 36
14. OBTENÇÃO DE PROVA POR MEIO MANIFESTAMENTE ILÍCITO .................................... 36
15. REQUISIÇÃO OU INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO SEM
QUAISQUER INDÍCIOS .................................................................................................................... 37
16. DIVULGAÇÃO DE GRAVAÇÃO SEM RELAÇÃO COM A PROVA QUE SE PRETENDA
PRODUZIR, EXPONDO A INTIMIDADE OU A VIDA PRIVADA DO INVESTIGADO OU ACUSADO
38
17. FALSA INFORMAÇÃO SOBRE PROCEDIMENTO JUDICIAL, POLICIAL, FISCAL OU
ADMINISTRATIVO ............................................................................................................................ 38
18. DEFLAGRAÇÃO DE PERSECUÇÃO PENAL, CIVIL OU ADMINISTRATIVA SEM JUSTA
CAUSA FUNDAMENTADA OU CONTRA QUEM SABE INOCENTE .............................................. 39
19. PROCRASTINAÇÃO INJUSTIFICADA DE INVESTIGAÇÃO EM PREJUÍZO DO
INVESTIGADO................................................................................................................................... 39
20. NEGATIVA DE ACESSO AOS AUTOS DE PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO E DE
EXTRAÇÃO DE CÓPIAS DE DOCUMENTOS ................................................................................. 40
21. EXIGÊNCIA DE INFORMAÇÃO OU DO CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO SEM
EXPRESSO AMPARO LEGAL .......................................................................................................... 41
22. DECRETAÇÃO DA INDISPONIBILIDADE DE ATIVOS FINANCEIROS EM QUANTIA QUE
EXTRAPOLA EXACERBADAMENTE O VALOR ESTIMADO PARA A SATISFAÇÃO DA DÍVIDA E
SUBSEQUENTE NEGATIVA DE CORREÇÃO DO EXCESSO ....................................................... 41
23. DEMORA DEMASIADA E INJUSTIFICADA NO EXAME DE PROCESSO DE QUE TENHA
REQUERIDO VISTA EM ÓRGÃO COLEGIADO .............................................................................. 42
24. ANTECIPAÇÃO DE ATRIBUIÇÃO DE CULPA POR MEIO DE COMUNICAÇÃO,
INCLUSIVE REDE SOCIAL, ANTES DE CONCLUÍDAS AS APURAÇÕES E FORMALIZADA A
ACUSAÇÃO ....................................................................................................................................... 42
25. APLICAÇÃO DO CÓDIGO PENAL, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E DA LEI N.
9.099/95 AOS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE .................................................................. 42
26. DEFESA OU RESPOSTA PRELIMINAR ............................................................................... 43
27. VIOLAÇÃO DE DIREITOS E PRERROGATIVAS DO ADVOGADO ..................................... 43
28. VIGÊNCIA DA NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE .................................................... 44
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 2
.
APRESENTAÇÃO
Olá!
A Lei Especial Abuso de Autoridade possui como base as aulas do Professor Renato
Brasileiro, bem como as explicações do Professor Márcio Cavalcante (Dizer o Direito) e, ainda, o
Livro Nova Lei de Abuso de Autoridade (Renato Brasileiro)
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 3
.
PARTE GERAL
A Nova Lei de Abuso de Autoridade está relacionada à Operação Lava-Jato, foi sancionada
com 33 vetos, sendo que 18 vetos foram derrubados pelo Congresso Nacional, com o claro intuito
de “frear” a Polícia, o Ministério Público e o Poder Judiciário.
Importante consignar que a antiga Lei de Abuso de Autoridade, vigente desde 1965, já
estava ultrapassada, previa apenas pena de detenção de 10 dias a seis meses. Portanto, perceba
que eram infrações de menor potencial ofensivo, consequentemente, a competência era dos
Juizados Especiais Criminais. Além disso, como a pena prevista era inferior a um ano, a prescrição
ocorria em apenas três anos, nos termos do art. 109, VI do CP. Por isso, a maioria dos crimes de
abuso de autoridade prescrevia, sem que fosse imposta uma sanção penal.
Segundo Renato Brasileiro, por mais que a intenção do Congresso Nacional tenha sido
barrar a Operação Lava-Jato, a lei é bem-vinda e serve para otimizar o trabalho de todo agente
público.
Perceba, então, que crime pluriofensivo é aquele que tutela mais de um bem jurídico.
Importante consignar que o primeiro bem jurídico tutelado SERÁ SEMPRE o dever de
lealdade/probidade do agente público. Em outras palavras, ao desempenhar a função pública, o
agente público deverá respeitar os princípios basilares (legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência).
a) Liberdade de locomoção
c) Liberdade individual
d) Assistência de advogado
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 4
.
3. ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL
Os crimes de abuso de autoridade são compostos por um elemento subjetivo geral do tipo
(dolo genérico) e um elemento subjetivo especial do tipo (dolo específico ou especial fim de agir). A
ausência do elemento subjetivo especial é causa de atipicidade da conduta.
Com isso, fica fácil perceber que, assim como na prevaricação usada em nosso exemplo,
os crimes previstos na Lei de Abuso de Autoridade também são dotados de um especial fim de agir.
ESPECIAL FIM DE AGIR
Prejudicar outrem
Beneficiar a si ou
a terceiro
Mero capricho
Satisfação pessoal
PREJUDICAR OUTREM
A conduta de um agente público, em regra, irá prejudicar alguém. Por isso, a doutrina
entende que o prejuízo deve transcender/ir além do exercício regular da função do agente público.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 5
.
BENEFICIAR A SI MESMO OU A TERCEIRO
Obs.: a depender do benefício em questão, pode-se estar diante de uma vantagem indevida quando
o agente público exigir algo. Por exemplo, o Desembargador pede vistas do processo e demora
para analisar, está incorrendo no crime previsto no art. 37 da Lei da Abuso de Autoridade e, ao
mesmo tempo, exige uma vantagem indevida para dar prosseguimento ao processo. Neste caso,
haverá concurso de crimes, responderá tanto pelo art. 37 da Lei 13.869/2019 quanto pelo crime de
corrupção passiva (art. 317 do CP).
Salienta-se que a satisfação pessoal não pode ser a causa da conduta do agente público,
mas sim a consequência.
Importante consignar que o art. 1º, §1º da Lei de Abuso de Autoridade é considerada uma
regra geral, ou seja, será aplicada para todos os crimes previstos na referida lei (em tese). Assim,
por exemplo, o crime previsto no art. 9º deve ser conjugado com o §1º do art. 1º ambos da Lei
13.869/19.
Contudo, a doutrina aponta situações específicas, a exemplo do crime previsto no art. 29,
em que haverá outra finalidade específica (elemento subjetivo do tipo), mais restrita, diversa da
“prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação
pessoal”.
Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal
ou administrativo com o fim de prejudicar interesse de investigado:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Neste caso, considera-se o art. 29 uma norma especial quando comparada ao art. 1º, §1º,
fica restrito ao “prejudicar”. Por isso, por exemplo, quando prestar informação falsa sobre
procedimento judicial, policial, fiscal ou administrativo com o fim de beneficiar o interesse de
investigado não haverá a incidência da Lei de Abuso de Autoridade, mas sim do crime de
prevaricação previsto no art. 319 do Código Penal.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 6
.
parte do agente a finalidade única de prejudicar interesse do investigado.
Agindo com finalidade de beneficiar, pode responder por outro delito, como
prevaricação (art. 319 do CP), a depender das circunstâncias do caso
concreto.
Ressalta-se que o elemento subjetivo especial deve constar na denúncia, sob pena de
inépcia e, consequentemente, rejeição. Além disso, deve constar nos casos de representação
(notitia criminis), sob pena da configuração do crime de denunciação caluniosa.
CRIMES DE INTENÇÃO
Como todos os crimes da Lei de Abuso de Autoridade demandam um especial fim de agir,
pode-se afirmar que são crimes de intenção (delito de tendência interna transcendente). Ou seja,
são crimes que requerem um agir com ânimo, uma intenção de obter um resultado ulterior distinto
do tipo penal.
Perceba, portanto, que no abuso de autoridade a conduta deve ser praticada com a
finalidade específica, mas a finalidade em si não precisa ser alcançada.
Salienta-se que NÃO prevalece. Os crimes de abuso de autoridade, em regra, podem ser
punidos a título de dolo direto ou de dolo eventual, não há restrição, salvo nos casos expressamente
previsto em lei, como ocorre com os art. 19, parágrafo único, art. 25, parágrafo único e art. 30 todos
da Lei 13.869/19 em que serão punidos apenas a título de dolo direto.
Art. 19. Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente
do impedimento ou da demora, deixa de tomar as providências tendentes a
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 7
.
saná-lo ou, não sendo competente para decidir sobre a prisão, deixa de
enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja.
Art. 25. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em
desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua
ilicitude.
O agente público, no desempenho de suas funções, ora fará uma interpretação da norma
ora fará uma avaliação de fatos e de provas. Perceba que, inevitavelmente, em ambos os casos
haverá subjetivismo e poderá haver interpretações distintas, principalmente quando os dispositivos
legais possuem conceitos jurídicos indeterminados, bem como em relação aos princípios.
Diante disso, o art. 1ª, §2º da Lei 13.869/19 é expresso ao afirmar que interpretações legais
e avaliações de fatos e provas de maneiras diversas, por si só, não caracterizam abuso de
autoridade.
Trata-se de normal geral, devendo ser aplicada a todos os crimes da lei de abuso de
autoridade.
Observe os exemplos trazidos pelo Professor Márcio Cavalcante1, do site Dizer o Direito, ao
comentar a Lei de Abuso de Autoridade:
Exemplo 1: Membro do Ministério Público denuncia o acusado afirmando que sua conduta
configura o crime “X”. Ocorre que existe uma segunda corrente – diversa daquela sustentada pelo
MP – que defende que essa conduta é atípica. O juiz adota essa segunda posição e rejeita a
denúncia por entender que a situação não se amolda àquele tipo penal. O simples fato de haver
essa divergência de interpretação não gera a conclusão de que o integrante do Parquet tenha agido
com abuso de autoridade.
Exemplo 2: Promotor de Justiça denuncia o acusado por furto por entender que ele é o único
que estava no local quando o bem foi subtraído, tendo ele sido visto pelas testemunhas com um
objeto escondido debaixo da camisa. Durante a instrução ficou demonstrado que o acusado não
estava com a res furtiva e que, portanto, ele era inocente. A simples divergência na avaliação dos
1
Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2019/11/lei-de-abuso-de-autoridade-parte-1.html
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 8
.
fatos e das provas não gera a conclusão de que o membro do MP tenha agido com abuso de
autoridade.
Salienta-se que não é toda interpretação divergente que será causa de atipicidade da
conduta de abuso de autoridade, deverá haver razoabilidade e não poderá haver limitação literal ou
limitação jurisprudencial.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 9
.
5. SUJEITOS DOS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE
SUJEITO ATIVO
Os crimes previstos na Lei de Abuso de Autoridade só podem ser praticados por AGENTES
PÚBLICOS. Como exigem uma qualidade especial do seu autor (ser agente público), são chamados
de crimes PRÓPRIOS.
Importante consignar que para configurar o crime de abuso de autoridade é necessário nexo
funcional (crime propter officium), ou seja, o agente público deve estar no exercício de suas funções
ou a pretexto de exercê-la. Portanto, os arts. 1º e 2º da Lei 13.869/2019 devem sempre ser
conjugados.
Imagine, por exemplo, que Fernando, policial militar, realiza um “bico” de segurança no
Supermercado JC. Determinado dia, percebe que Guilherme está furtando alguns produtos do
estabelecimento comercial e resolve prendê-lo, mas extrapola os limites da força. Neste caso, não
haverá o crime de abuso de autoridade, tendo em vista que Fernando não estava no exercício de
suas funções.
Destaca-se que, apesar da redação do parágrafo único do art. 2º da Lei 13.869/2019 ser
semelhante à redação do caput do art. 327 que define funcionário público, a figura do funcionário
público por equiparação (art. 327, §1º do CP) não será considerada como agente público para fins
de incidência da Lei de Abuso de Autoridade, tendo em vista que seria uma analogia in malam
partem.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 10
.
De acordo com Márcio Cavalcante, embora sejam crimes próprios, os delitos previstos na
Lei 13.869/2019 admitem a coautoria e a participação. Isso porque a qualidade de “agente público”,
por ser elementar (dados essenciais da figura típica, cuja ausência poderá produzir uma atipicidade
absoluta ou relativa) do tipo, comunica-se aos demais agentes, nos termos do art. 30 do CP, desde
que eles tenham conhecimento dessa condição pessoal do autor:
SUJEITO PASSIVO
Sujeito passivo secundário ou mediato – é o Estado (Poder Público), já que sua imagem,
sua credibilidade e, até mesmo, o seu patrimônio pode ser lesado pela conduta do agente público.
Sujeito passivo principal ou imediato – pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta.
6. COMPETÊNCIA CRIMINAL
• Se o delito foi praticado por autoridade (agente público) federal no exercício dessa
função: o crime será de competência da Justiça Federal, considerando que, neste caso,
o delito terá sido praticado em detrimento de um serviço público federal, nos termos do
art. 109, IV, da CF/88.
Obviamente, para a competência ser da Justiça Federal, o crime deve estar relacionado
com as funções federais exercidas pelo agente público, conforme se aprende pela
súmula 147 do STJ.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 11
.
• Se o delito foi praticado por autoridade (agente público) estadual ou municipal no
exercício dessa função: o crime será, em regra, de competência da Justiça Estadual, que
é residual.
Contudo, ficando demostrado que o crime foi praticado durante o exercício funcional e em
razão das funções por agente público com foro por prerrogativa, a competência será dos tribunais
(competência originária).
STF Info 900 - O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes
cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas.
Obs.: A Súmula 172 do STJ previa a competência da justiça comum para processar e julgar o militar
que praticasse abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço. Contudo, após o advento da
Lei 13.491/2017 este entendimento encontra-se superado, tendo em vista que a conduta praticada
pelo agente, para ser crime militar com base no inciso II do art. 9º, pode estar prevista no Código
Penal Militar ou na legislação penal “comum”. Dessa forma, o abuso de autoridade, mesmo não
estando previsto no CPM pode agora ser considerado crime militar (julgado pela Justiça Militar) com
base no art. 9º, II, do CPM. Portanto, a Justiça Militar poderá julgar o crime de abuso de autoridade.
Importante consignar que segundo o atual entendimento do STF, a Justiça Eleitoral possui
força atrativa “universal”, o que autoriza julgar, inclusive, crimes que são da competência da Justiça
Federal quando conexos com crimes eleitorais. Portanto, em tese, poderá julgar crime de abuso de
autoridade quando praticado em conexão ou continência com um crime eleitoral.
7. AÇÃO PENAL
Conforme previsto no art. 3º da Lei 13.869/2019, a ação penal nos crimes de abuso de
autoridade é pública incondicionada. Além disso, no caso de inércia do Ministério Público será
admitida ação penal subsidiária da pública.
Salienta o Professor Márcio Cavalcante que “para que o ofendido possa ajuizar a ação
privada subsidiária, é necessário que o membro do MP fique completamente inerte no prazo legal
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 12
.
do art. 46 do CPP, ou seja, que não adote nenhuma dessas quatro providências. Assim, se o
Promotor de Justiça/Procurador da República pedir o arquivamento do inquérito policial, o ofendido,
mesmo que discorde disso, não poderá ajuizar a ação privada subsidiária considerando que não
houve inércia do MP. Se o ofendido oferecer ação privada subsidiária neste caso, o juiz deverá
rejeitar a queixa substitutiva por ilegitimidade de parte”.
8. EFEITOS DA CONDENAÇÃO
A Lei de Abuso de Autoridade regula os efeitos da condenação em seu art. 4º. Observe:
EFEITOS DA CONDENAÇÃO
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 13
.
A perda do cargo, do mandato ou da função
A perda de cargo, função pública ou mandato pública.
eletivo: a) quando aplicada pena privativa de
Não é efeito automático, deve ser declaro na
liberdade por tempo igual ou superior a um ano,
sentença
nos crimes praticados com abuso de poder ou
violação de dever para com a Administração Além disso, aqui, não há exigência de
Pública; b) quando for aplicada pena privativa condenação a pena privativa de liberdade e
de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) nem tempo de pena. Contudo, o agente público
anos nos demais casos. deverá ser reincidente em crime de abuso de
autoridade.
Por outro lado, a Lei de Abuso de autoridade nada dispõe sobre os requisitos de aplicação
das penas restritivas de direito, o que enseja a aplicação do art. 44 do CP, já que as regras gerais
do Código Penal se aplicam à legislação especial quando esta nada dispor e houver
compatibilidade.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 14
.
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime
não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que
seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente.
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita
por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena
privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos
e multa ou por duas restritivas de direitos.
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição,
desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente
recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática
do mesmo crime.
§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando
ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da
pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da
pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de
detenção ou reclusão.
§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime,
o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de
aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior.
a) Se o juízo criminal decidir sobre a existência ou a autoria do fato, essas questões não
poderão mais ser questionadas nas esferas civil e administrativa.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 15
.
Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da
criminal, não se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do
fato quando essas questões tenham sido decididas no juízo criminal.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 16
.
CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE
PREVISÃO LEGAL
SUJEITO ATIVO
1ª C – apenas o juiz poderá ser o sujeito passivo, tendo em vista que é o único capaz de
decretar uma medida de privação de liberdade.
2ª C – para o caput do art. 9º qualquer agente público, a lei não restringe. Entende que
decretar foi utilizado em sentindo amplo, devendo ser entendido como determinar, decidir, ordenar.
Ademais, apenas o parágrafo único se refere à autoridade judiciária, não houve restrição no
caput. Nesse sentindo, o Enunciado 5 do CNPG e do GNCCRIM:
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 17
.
• Internação (art. 121 do ECA);
Imagine, por exemplo, que Amanda é chefe de uma organização criminosa. O juiz, a
requerimento do MP, decreta a prisão preventiva de Amanda. O Tribunal, no julgamento do habeas
corpus impetrado por Amanda, entende que a prisão é desnecessária pois os indícios são fracos.
Neste caso, não está configurado o crime do art. 9º da Lei 13.869/2019, já que se trata de
divergência de interpretação (veda-se o crime de hermenêutica).
Por outro lado, quando o juiz de ofício decreta prisão temporária durante o processo criminal
pela prática de furto simples. Neste caso, presente o especial fim de agir, estará caracterizado o
crime do art. 9º, uma vez que a prisão temporária não pode ser decretada de ofício e, muito mesmo,
durante o processo (com o pacote anticrime, nem a prisão preventiva pode ser decretada de ofício
na fase processual), bem como não cabe temporária em caso de furto simples. Perceba que a
prisão está completamente em desconformidade com as hipóteses legais.
PENA
Em tese, será cabível acordo de não persecução penal (art. 28-A do CPP), desde que o
crime não tenha sido praticado com violência.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 18
.
tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério
Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal
imputada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere
o caput deste artigo, serão consideradas as causas de aumento e
diminuição aplicáveis ao caso concreto. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes
hipóteses: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais
Criminais, nos termos da lei; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que
indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se
insignificantes as infrações penais pretéritas; (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao
cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação
penal ou suspensão condicional do processo; e (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou
praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor
do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será
firmado pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu
defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada
audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da
oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua
legalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições
dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao
Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com
concordância do investigado e seu defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz
devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução
perante o juízo de execução penal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos
requisitos legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o
§ 5º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público
para a análise da necessidade de complementação das investigações ou o
oferecimento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução
penal e de seu descumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não
persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins
de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 19
.
§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado
também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o
eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não
constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins
previstos no inciso III do § 2º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo
competente decretará a extinção de punibilidade. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo
de não persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos
a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.
Não sendo cabível o acordo de não persecução penal, poderá haver suspensão condicional
do processo, já que requisito básico é a pena mínima de 1 ano.
Lei 9.099/95 - Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual
ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao
oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a
quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não
tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que
autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
CONDUTAS EQUIPARADAS
Perceba que se trata de um crime omisso próprio, tendo em vista que o verbo do tipo é
“deixar de”, a autoridade deveria ter praticado determinada conduta, mas se omitiu.
Apenas o juiz poderá ser sujeito ativo, podendo ser o juiz das garantias (decisão proferida
na fase investigatória – embora esteja com eficácia suspensa) ou o juiz da instrução e do
julgamento.
Por exemplo, o réu está preso preventivamente a 90 dias sem que tenha sido reavaliada a
necessidade da restrição de liberdade, o que poderá acarretar uma prisão manifestamente ilegal.
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão
preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de
motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 20
.
sobrevierem razões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da
decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias,
mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão
ilegal.
Em relação ao PRAZO RAZOÁVEL, na doutrina aponta algumas soluções, uma vez que se
trata de um termo indeterminado.
Caso não tenha ocorrido audiência de custódia, a doutrina entende que o prazo será de
até 48h, nos termos do art. 322, parágrafo único do CPP, já que a fiança é uma das
cautelares diversas da prisão, portanto, seria possível aplicar para as demais hipóteses.
CPP
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até
24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover
audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído
ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa
audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019)
I - relaxar a prisão ilegal; ou
(...)
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de
infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4
(quatro) anos.
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que
decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.
O art. 310 do CPP, com a redação dada pelo pacote anticrime, prevê a realização da
audiência de custódia. Por sua vez, o §3º determina que a autoridade que deixar de realizar a
audiência de custódia, sem motivação idônea, responderá administrativa, civil e penalmente.
Vejamos:
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até
24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover
audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 21
.
ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa
audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
(...).
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da
audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo
responderá administrativa, civil e penalmente pela omissão.
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo
estabelecido no caput deste artigo, a não realização de audiência de
custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a
ser relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de
imediata decretação de prisão preventiva.
Diante disso, indaga-se: a não realização de audiência de custódia configura crime de abuso
de autoridade?
1ªC – o parágrafo único do art. 9º da Lei 13.869/2019 não previu a não realização de custódia
como crime de abuso de autoridade, por isso não poderá ser tipificado. Além disso, é possível
conceder liberdade provisória, o que não causará prejuízo à pessoa presa.
2ªC – de fato a Lei de Abuso de Autoridade não previu a não realização de audiência de
custódia. Contudo, o §4º prevê que transcorrido o prazo de 24h após o decurso do prazo em que
deveria ter sido realizada a audiência de custódia (24h da prisão), a prisão passa a ser ilegal,
devendo ser relaxada. Perceba, portanto, que estaremos diante da hipótese prevista no inciso I, do
parágrafo único, do art. 9º da Lei 13.869/2019.
Conclui-se, assim, que o crime, em si, não seria a não realização da audiência de custódia,
mas sim o fato da não realização da audiência de custódia acarretar a ilegalidade da prisão, e o juiz
se omitir quanto ao dever de relaxamento.
PREVISÃO LEGAL
SUJEITO ATIVO
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 22
.
O STF, em julgado antigo, entendeu que o Delegado de Polícia poderia decretar condução
coercitiva. Consequentemente, poderia ser sujeito ativo do crime do art. 10 da Lei 13.869/2019.
Contudo, Renato Brasileiro afirma que este entendimento isolado do STF é errôneo, uma
vez que, por se tratar de uma medida cautelar pessoal, à luz do art. 282, §2º do CPP, com redação
dada pelo Pacote Anticrime, apenas o juiz poderá determinar a condução coercitiva, portanto, será
o único sujeito ativo.
SUJEITO PASSIVO
• O ofendido
• O perito
• As testemunhas
• O investigado
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 23
.
Entretanto, de acordo com a Lei de Abuso de Autoridade o crime do art. 10 só estará
caracterizado quando a condução coercitiva for determinada contra o investigado ou contra as
testemunhas.
Salienta-se que o STF, na ADPF 395/DF, firmou entendimento de que não é válida a
condução coercitiva do investigado ou do réu para interrogatório no âmbito da investigação ou da
ação penal.
O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não foi
recepcionada pela Constituição Federal, tendo em vista o princípio do nemo tenetur se detegere
(ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo), o acusado possui direito ao silêncio.
Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório,
tal conduta poderá ensejar:
PRÉVIA NOTIFICAÇÃO
A condução coercitiva só poderá ser determinada com a notificação prévia, sua ausência
poderá ensejar abuso de autoridade.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 24
.
3. OMISSÃO QUANTO À COMUNICAÇÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE À AUTORIDADE
JUDICIÁRIA NO PRAZO LEGAL E FIGURAS EQUIPARAS
Trata-se de crime omisso próprio, que tutela a liberdade de locomoção, com pena de 06
meses a 2 anos e multa. Portanto, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, a competência
será do JECrim, caberá transação penal e suspensão condicional do processo.
O sujeito ativo será o Delegado de Polícia que possui a obrigação de comunicar a prisão em
flagrante à autoridade judiciária.
Obs.: A comunicação deverá ser feita ao juiz das garantias, nos termos do art. 3º-B, II do CPP
(atualmente está com a eficácia suspensa em razão da decisão do Min. Fux)
(Eficácia suspensa) Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle
da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos
individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder
Judiciário, competindo-lhe especialmente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
I - receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII
do caput do art. 5º da Constituição Federal;
II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da
prisão, observado o disposto no art. 310 deste Código;
Importante consignar que o caput do art. 12 da Lei 13.869/2019 é uma norma penal em
branco homogênea heterovitelina, tendo em vista que a expressão “prazo legal” é complementada
pelo art. 306, §1º do CPP.
Portanto, de acordo com a doutrina, o prazo legal a que se refere o art. 12 da Lei 13.869/2019
será de 24h.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 25
.
Obs.: Em relação a expressão “imediatamente”, contida nos incisos I e II, do art. 12 da Lei
13.869/2019, há na doutrina quem sustente que seriam 24h (mesmo período do caput). De acordo
com Renato Brasileiro, não é a melhor interpretação, devendo ser feita sem interrupção, uma vez
que o legislador utilizou outro termo.
A Constituição garante ao preso o direito de identificação dos responsáveis por sua prisão,
visando inibir a tortura e abusos, através do recebimento da nota de culpa nos casos de prisão em
flagrante.
Salienta-se que a Lei 7.960/89 em seu art. 2ª, §4ª-A (com redação dada pela Lei de Abuso
de Autoridade) prevê que o mandado de prisão deverá conter o seu período de duração, incluindo
o dia de cumprimento do mandado de prisão, e a data específica em que haverá a soltura do
investigado.
O verbo “constranger” significa obrigar alguém a fazer algo que não deseja, seja mediante
violência, grave ameaça ou reduzindo sua capacidade de resistência.
Perceba que a lei utilizou duas palavras “preso” ou “detento” há diferença entre elas ou são
sinônimas?
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 26
.
PRESO DETENTO
Em regra, não há nenhuma finalidade pública que justifique a exibição do preso. Visa evitar
o “show midiático” promovido por determinados programas de televisão e por certos agentes
públicos que, até pouco tempo, faziam publicações em suas redes sociais particulares sobre a
prisão de algumas pessoas.
Obs.: Apesar de não haver na Lei de Abuso de Autoridade o crime autônomo de uso de algemas
(foi vetado), pode configurar um constrangimento não autorizado por lei (art. 13, II).
Como exemplo, cita-se o constrangimento do preso para fornecer a senha do celular para
que o agente público tenha acesso as suas mensagens.
Importante consignar que o art. 3º-F, do CPP (eficácia suspensa pelo Min. Fux), confere ao
juiz das garantias a obrigação de assegurar o cumprimento das regras de tratamento dos presos,
inclusive em relação a exibição de imagens na imprensa.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 27
.
Por fim, o crime do art. 13, III da Lei 13.869/2019 não se confunde com o art. 1º, I da Lei de
Tortura.
Crime próprio, nos termos do art. 2º, ou Crime comum (pode ser praticado por
seja, praticado por agente público. qualquer pessoa)
Praticado com violência, grave ameaça ou Praticado com violência ou grave ameaça.
violência imprópria (retira a capacidade de
resistência da vítima).
Deve estar presente o especial fim de agir Deve estar presente o especial fim de
de prejudicar outrem ou beneficiar a si obter informação, declaração ou confissão
mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero da vítima ou de terceira pessoa.
capricho ou satisfação pessoal.
Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão
de função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou
resguardar sigilo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o
interrogatório:
I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor
público, sem a presença de seu patrono.
O Código de Processo Penal, em seu art. 207, lista as pessoas que são proibidas de depor.
Observe:
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 28
.
CPP - Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se,
desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.
O crime do art. 15 da Lei 13.869/2019 reforça a proibição contida no art. 207 do CPP.
As figuras equiparadas do parágrafo único são autônomas em relação ao caput, uma vez
que não há constrangimento. O tipo penal refere-se apenas ao interrogatório, que poderá ser policial
(fase investigatória) ou judicial (fase processual), configurando crime de abuso de autoridade
quando:
Por exemplo, na primeira pergunta a pessoa afirma que fará uso do seu direito ao silêncio
e, mesmo assim, continuam sendo feitas outras indagações e em todas é necessário reafirmar que
não irá responder.
Portanto, presente o especial fim de agir, ao prosseguir com o interrogatório de pessoa que
invocou o seu direito ao silêncio estará configurado o crime de abuso de autoridade.
b) A pessoa optou por ser assistida por advogado ou defensor público, mas o interrogatório
prossegue sem a presença do patrono
O Estatuto da OAB, em seu art. 7º, XXI, prevê que o advogado possui o direito de assistir
os seus clientes no interrogatório.
Perceba que há no caput uma conduta omissiva, quando o agente público deixa de
identificar-se, e uma conduta comissiva, nos casos em que o agente público se identifica
falsamente.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 29
.
Assemelha-se a conduta prevista no art. 307 do CP.
Importante consignar, ainda, que o art. 16 da Lei 13.869/2019 reforça a ideia contida na
Constituição Federal (art. 5º, LXIV) que garante ao preso conhecer os responsáveis por sua prisão.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 30
.
8. IMPEDIMENTO OU RETARDAMENTO DO ENVIO DE PLEITO DO PRESO À
AUTORIDADE JUDICIÁRIA COMPETENTE
Impedir significa criar um obstáculo instransponível, fazendo com que o pleito (demanda)
não chegue à autoridade judiciário. Por outro lado, retardar é demorar para levar as solicitações.
De acordo com Renato Brasileiro, o pleito poderia ser equiparado a uma verdadeira petição
de habeas corpus, tendo em vista que é o instrumento de proteção à liberdade de locomoção.
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso
com seu advogado:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto
ou o investigado de entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu
advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de audiência judicial, e de
sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no
curso de interrogatório ou no caso de audiência realizada por
videoconferência.
Apesar de não haver ressalva no art. 20 da Lei 13.869/2019, o art. 217 do CPP deve ser
observado, permanece possível a retirada do acusado da audiência para que a testemunha preste
seu depoimento.
CPP - Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar
humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido,
de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por
videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a
retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 31
.
10. MANUTENÇÃO DE PRESOS DE AMBOS OS SEXOS NA MESMA CELA OU ESPAÇO DE
CONFINAMENTO
O art. 21, de certa forma, foi uma resposta do legislador ao caso de Abaetetuba/PA, em que
uma menina de 15 anos ficou 26 dias em uma cela com mais 20 presos do sexo masculino, sendo
estuprada diversas vezes para que tivesse acesso à comida e a materiais de higiene.
Tal dispositivo reforça o art. 5º, XLVIII da CF que garante o cumprimento de pena em
estabelecimentos distintos, considerando-se o sexo e a idade das pessoas custodiadas. Previsão
semelhante há na Lei de Execução Penal (art. 82, §1º).
A jurisprudência entende que deve ser levada a identidade de gênero, inclusive para fins de
cumprimento de pena nos estabelecimentos penais. Observe a notícia retirada do site do Supremo
Tribunal Federal.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 32
.
instâncias anteriores. No entanto, o ministro Barroso concedeu a ordem de
ofício para que L.F. seja colocada em estabelecimento prisional compatível
com sua identidade de gênero e estendeu a decisão a M.E.L., condenada no
mesmo processo. Em sua decisão, o ministro Barroso citou a Resolução
Conjunta nº 1, de 15/04/2014, do Conselho Nacional de Combate à
Discriminação, que trata do acolhimento de pessoas LGBT em privação de
liberdade no Brasil e estabelece, entre outros direitos, que a pessoa travesti
ou transexual deve ser chamada pelo seu nome social, contar com espaços
de vivência específicos, usar roupas femininas ou masculinas, conforme o
gênero, e manter os cabelos compridos e demais características de acordo
com sua identidade de gênero. A resolução também garante o direito à visita
íntima. O ministro também citou a Resolução SAP nº 11, de 30/01/2014, do
Estado de São Paulo, que dispõe sobre a atenção a travestis e transexuais
no âmbito do sistema penitenciário paulista.
Por fim, a redação do paragrafo único visa coibir a colocação de criança ou de adolescente
junto de maiores de idade, pouco importando se o maior de idade é ou não do mesmo sexo.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 33
.
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali
praticado ou na iminência de o ser.
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade.
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto
aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
Por imóvel alheio, parte da doutrina entende que deve ser retirado do Direito Civil; já Renato
Brasileiro sustenta que equivale a casa, conceito retirado do art. 150, §§4º e 5º do CP.
A entrada em domicílio está sujeita à reserva de jurisdição, ou seja, somente pode ser
realizada com autorização judicial, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro.
O caput do art. 22 da Lei de Abuso de Autoridade é uma norma penal em branco homogênea
heterovitelina, tendo em vista que se busca em outra normal legal os requisitos para o cumprimento
de um mandado judicial, ou seja, as condições para que a polícia possa ingressar na casa de
alguém. Em regra, estão nos arts. 243 e seguintes do CP.
Obs.: O STJ entende que é indispensável que o mandado de busca e apreensão tenha objetivo
certo e pessoa determinada, não se admitindo ordem judicial genérica e indiscriminada de busca e
apreensão para a entrada da polícia em qualquer residência
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 34
.
Quando o inciso III, do §1º, do art. 22 da Lei 13.869/2019 determina o período que o
mandado de busca e apreensão não poderá ser cumprido, remete ao entendimento constitucional
de que só será possível entrar no domicílio durante o dia. Havia na doutrina três correntes acerca
do que se entende por dia. Vejamos:
Com a Nova Lei de Abuso de Autoridade o legislador trouxe o conceito de noite (período
entre às 21h até às 5h), qual é o período, a partir de agora, considerado como dia? Novamente,
temos três correntes:
2ª C – o inciso III é válido, mas desde que submetido a uma interpretação conforme a
Constituição. Assim, havendo luminosidade solar é possível o cumprimento do mandado.
3ª C – Renato Brasileiro entende que dia é o período compreendido entre 5h às 21h, sem
necessidade de luminosidade solar, o inciso III é constitucional. A ideia não está relacionada à
luminosidade solar, mas sim ao repouso noturno.
Por fim, destaca-se que se o mandado não for de busca e apreensão não haverá crime. Cita-
se, como exemplo, mandado de exploração local para colocação de grampos, em que o STF
entendeu que seria possível no período noturno. Além disso, nada impede que respeitado o horário
o cumprimento se estenda (começou às 18h e termina às 22:30).
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 35
.
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado
no curso de diligência;
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações
incompletos para desviar o curso da investigação, da diligência ou do
processo.
Trata-se da reprodução do art. 347 do CP, que trata da fraude processual. Quando praticado
com abuso de autoridade, o art. 23 da Lei 13.869/2019 prevalecerá sobre o Código Penal.
Ocorre, por exemplo, quando agentes públicos levam ao hospital pessoa que já está morta,
para fins de ocultar o momento do óbito e o local em que ocorreu, dificultando a apuração do crime
de homicídio.
Por outro lado, não estão abrangidas pelo conceito a prova ilícita pro reo (grampo sem
autorização judicial que comprava a inocência de acusado por homicídio, por exemplo), Teoria da
Fonte Independente, Teoria da Mancha Purgada etc.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 36
.
Enunciado n. 16 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos
Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e do Grupo Nacional de
Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “Ressalvadas
situações excepcionais pacificadas, o uso da prova derivada da ilícita está
abrangido pelo tipo penal incriminador do art. 25 da Lei de Abuso de
Autoridade, devendo o agente ter conhecimento inequívoco da sua origem e
do nexo de relação entre a prova ilícita e aquela dela derivada”.
O Pacote Anticrime incluiu o §5º ao art. 157 do CPP determinado que o juiz que conhecer o
conteúdo de uma prova que foi declarada inadmissível não poderá proferir sentença ou acordão,
encontra-se com sua eficácia suspensa pelo Ministro Fux. Trata-se da descontaminação do julgado.
A lei trata de procedimento investigatório, não se refere apenas ao inquérito policial. Além
disso, o crime estará caracterizado quando a requisição for feita sem qualquer indício, lembre-se
que indício pode ser utilizado como:
Há vozes no Ministério Público que sustentam a inconstitucionalidade do art. 27, pois violaria
os poderes do MP, previstos no art. 129 da CF. Renato Brasileiro entende que não nenhuma
inconstitucionalidade, já que os poderes do Parquet não podem ser ilimitados, é exercício da
requisição deve ser legítimo.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 37
.
abuso de autoridade pela deflagração de investigação criminal com base em
matéria jornalística, necessariamente, há de ser avaliada a partir dos critérios
interpretativos trazidos pela Lei (art. 1º, §1º) e da flagrante ausência de
standard probatório mínimo que a justifique”.
Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova
que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo
a honra ou a imagem do investigado ou acusado:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal
ou administrativo com o fim de prejudicar interesse de investigado:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Aqui, há uma norma especial, pois restringe o especial fim de agir, conforme já analisado.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 38
.
beneficiar, pode responder por outro delito, como prevaricação (art. 319 do
CP), a depender das circunstâncias do caso concreto”.
O Professor Renato Brasileiro discorda, ressaltando que o dispositivo deve ser corretamente
interpretado.
O prazo para a investigação, previsto no Código de Processo Penal, para investigado preso
é de 30 dias (prorrogáveis) e de 10 dias (podendo ser prorrogado por mais 15 dias uma única vez,
nos termos do art. 3º-B, §2º do CPP).
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 39
.
o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até
15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída,
a prisão será imediatamente relaxada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
É possível afirmar que o art. 31 da Lei 13.769/2019 tutela a garantia da duração razoável do
processo, que se aplica para o inquérito policial.
Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos
de investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a
qualquer outro procedimento investigatório de infração penal, civil ou
administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o
acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que indiquem a realização
de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 40
.
(...)
§10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para
o exercício dos direitos de que trata o inciso XIV.
§11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá
delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a
diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando
houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade
das diligências
§12. A inobservância dos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento
incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de
peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização
criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o
acesso do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem
prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao
juiz competente
Exigir significa impor uma obrigação, o agente público aproveita-se das suas funções
públicas.
Incorrerá nas mesmas penas o agente público que utilizar o seu cargo ou função pública ou
invocar sua condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou obter vantagem ou
privilégio indevido. Cita-se, como exemplo, a famosa “carteirada”.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 41
.
Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos
financeiros em quantia que extrapole exacerbadamente o valor estimado para
a satisfação da dívida da parte e, ante a demonstração, pela parte, da
excessividade da medida, deixar de corrigi-la:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Trata-se de um crime que possui duas condutas que devem ser praticadas de maneira
cumulativa, assim praticada apenas a primeira conduta não haverá crime.
Trata-se de infração de menor potencial ofensivo e, como tal, será processado e julgado no
JECRIM.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 42
.
As disposições do JECRIM serão aplicadas ao processo e julgamento de abuso de
autoridade, desde que não haja incompatibilidade. Portanto, há crimes de abuso de autoridade que
são infrações de menor potencial ofensivo, quando a pena máxima não for superior a dois anos.
Apesar de o abuso de autoridade não estar previsto no Código Penal, trata-se de crime
funcional que só pode, em regra, ser praticado por quem ostente a qualidade de funcionário público.
Logo, a defesa preliminar aplica-se para os crimes previstos na Lei 13.769/2019.
A Lei de Abuso de Autoridade alterou o Estatuto da OAB para considerar crime a violação
de direito ou prerrogativa do advogado, no exercício da advocacia, nos casos de:
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 43
.
• a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos
de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde
que relativas ao exercício da advocacia; (Redação dada pela Lei nº 11.767, de 2008)
• ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado
ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e,
nos demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB;
• não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de
Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela
OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar;
Importante consignar que a Lei de Abuso de Autoridade possui três datas de vigência.
Diante da derrubada de vetos pelo Congresso Nacional, os arts. 3º, 9º, 13, III, 15 § único, I
e II, 16, 20, 30, 32, 38 e 43, entraram em vigor no 25 de janeiro de 2020.
CS – ABUSO DE AUTORIDADE 44