Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 3
1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ................................................................................................... 4
DENOMINAÇÕES IMPORTANTES .................................................................................. 4
BEM JURÍDICO ................................................................................................................ 5
CRIMES DE DANO VS CRIMES DE PERIGO.................................................................. 6
2. DISPOSIÇÕES GERAIS .......................................................................................................... 6
ARTIGO 291 DO CTB....................................................................................................... 6
2.1.1. Exemplo de aplicação do CP ..................................................................................... 6
2.1.2. Exemplo de aplicação do CPP................................................................................... 7
2.1.3. Exemplo de aplicação da Lei nº 9.099/95 .................................................................. 7
EXCEÇÕES AOS INSTITUTOS DESPENALIZADORES PREVISTOS NO ARTIGO 291
DO CTB....................................................................................................................................... 7
SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO: PERMISSÃO OU HABILITAÇÃO (COMO PENA) .......... 8
2.3.1. Duração e comprimento das penas de Suspensão e Proibição ................................. 9
2.3.2. Suspensão ou Proibição como Medida Cautelar...................................................... 10
2.3.3. Eficácia da Medida Cautelar na tutela da ordem pública .......................................... 11
EFEITO EXTRAPENAL E AUTOMÁTICO DA CONDENAÇÃO ...................................... 11
MULTA REPARATÓRIA ................................................................................................. 11
2.5.1. Natureza jurídica...................................................................................................... 12
2.5.2. Necessidade do pedido expresso da Multa Reparatória .......................................... 12
2.5.3. Multa Reparatória: 3ª via do Direito Penal ............................................................... 13
2.5.4. Multa Reparatória e os prejuízos imateriais ............................................................. 13
2.5.5. Valor da Multa Reparatória ...................................................................................... 14
2.5.6. Procedimento de Execução da Multa Reparatória ................................................... 14
3. AGRAVANTES DOS CRIMES DE TRÂNSITO ...................................................................... 15
4. PERDÁO JUDICIAL ............................................................................................................... 17
5. IMUNIDADE AO FLAGRANTE .............................................................................................. 18
CABIMENTO DE PRISÃO TEMPORÁRIA ...................................................................... 18
CABIMENTO DE PRISÃO PREVENTIVA EM CRIME CULPOSO .................................. 18
6. HOMICÍDIO CULPOSO DE TRÂNSITO ................................................................................ 19
ELEMENTOS DO CRIME CULPOSO (CLÉBER MASSON) ........................................... 20
VIAS TERRESTRES....................................................................................................... 20
6.2.1. Denominação .......................................................................................................... 21
6.2.2. Ampliação legislativa ............................................................................................... 21
6.2.3. Locais dos crimes .................................................................................................... 21
6.2.4. Observações ........................................................................................................... 21
ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................... 22
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA ................................................................................ 22
6.4.1. Confusão legislativa ................................................................................................. 24
6.4.2. Procedimento adotado para comprovar o estado de embriaguez do autor do
Homicídio Culposo Qualificado .............................................................................................. 26
7. LESÃO CORPORAL CULPOSA DE TRÂNSITO ................................................................... 27
OBSERVAÇÕES SOBRE O ARTIGO 303, CAPUT ........................................................ 27
8. OMISSÃO DE SOCORRO ..................................................................................................... 28
ATIPICIDADE ................................................................................................................. 29
SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 29
CONSUMAÇÃO.............................................................................................................. 29
Olá!
O Caderno Legislação Penal Especial – Crimes de Trânsito possui como base as aulas do
professor Vinícius Marçal, do Curso G7 Jurídico.
Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2017 e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2018, ambos da Editora
Juspodivm.
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.
De acordo com o conceito extraído do Anexo, veículo automotor é “todo veículo a motor de
propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para transporte viário de
pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e
coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre
trilhos (ônibus elétrico).”
Portanto:
Automóveis
Caminhões
Caminhonetes
Motocicletas
Ônibus
Ônibus elétricos
DENOMINAÇÕES IMPORTANTES
Crime em trânsito: “São aqueles em que somente uma parte da conduta ocorre em um
país, sem lesionar ou expor a situação de perigo bens jurídicos de pessoas que nele vivem.” (Cléber
Masson)
Exemplo: “A”, da Argentina, envia para os Estados Unidos uma missiva com ofensas a “B”,
e essa carta passa pelo território brasileiro.
O CTB cuidará, tão somente, dos crimes de trânsito praticados com culpa.
BEM JURÍDICO
Contudo, há um bem jurídico comum previsto para todos os tipos do CTB que é a proteção
da segurança viária, conforme preveem os arts. 1º, §2º do CTB e art. 28 do CTB:
Art. 28. O condutor deverá, a todo momento, ter domínio de seu veículo,
dirigindo-o com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do trânsito.
Para a maioria da doutrina somente existem dois crimes de dano descritos no CTB: o art.
302 do CTB (homicídio culposo de trânsito) e art. 303 do CTB (lesão corporal culposa de trânsito).
A maioria dos tipos previstos no CTB é constituída por delitos de perigo (que podem ser de
perigo abstrato ou de perigo concreto).
Exemplos: entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada (art. 310 do
CTB) e embriaguez ao volante (art. 306 do CTB).
Exemplo: dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida permissão para dirigir ou
habilitação, gerando perigo de dano (art. 309 do CTB).
2. DISPOSIÇÕES GERAIS
- Reincidência: apesar de citada pelo CTB, não foi, por ele, conceituada. Assim, vale aqui a
definição trazida pelo CP.
- Fixação da pena base – o legislador, através da Lei nº 13.546/17 (que acrescentou o §4º
ao art. 291 do CTB), determinou que o juiz, ao fixar a pena base, observe não apenas o disposto
- Processamento do RESE
O texto legal, propositalmente, não cita o art. 89 da Lei 9.099/95 (suspensão condicional do
processo), porque a suspensão condicional do processo se aplica a todos os crimes de menor e
médio potencial ofensivo.
O que é importante para sua incidência é a pena mínima prevista, portanto, preenchidas as
condições, também será adotado no CTB.
ATENÇÂO: Nessas hipóteses, ainda que de menor potencial ofensivo, deverá ser,
obrigatoriamente, instaurado Inquérito Policial para apuração das infrações.
A Proibição, pelo contrário, é destinada àquele que nunca obteve nem Permissão, tampouco
Habilitação.
Em alguns casos, o próprio CTB prevê de forma expressa as referidas penas conjuntamente
com a pena privativa de liberdade e/ou pena de multa.
Assim, tem-se que o artigo 292 do CTB somente será aplicado aos demais crimes, que não
estabelecem previsão específica da pena de Suspensão ou Proibição de obter a Permissão ou
Habilitação.
Para mais, apesar da redação do art. 292, não se vislumbra a hipótese de aplicação isolada
das penas nele previstas (não se podem desconsiderar os preceitos secundários de cada tipo
penal).
Ainda analisando o texto legal, nota-se a expressão “pode”, que remete à opção facultativa
de aplicação de pena. No entanto, se houver reincidência, a adoção da pena de Suspensão
(somente ela) será obrigatória. Vide art. 296 do CTB:
ATENÇÃO: O art. 296 do CTB não cita as hipóteses de penalidade de Proibição. Portanto, havendo
reincidência, somente será obrigatória a imposição da pena de Suspensão.
*(CESPE – PC-ES – 2011) No caso de réu reincidente em crime de trânsito, é obrigatório que o magistrado,
ao julgar a nova infração, fixe a pena prevista no tipo, associada à suspensão da permissão ou habilitação de
dirigir veículo automotor.
Uma vez imposta a pena, cabe ao Poder Judiciário intimar o condenado para entregar em
48 horas a Permissão ou Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e comunicar os órgãos de trânsito
competentes.
Se não atendida à intimação, o condenado incorrerá no crime previsto no art. 307, §único
do CTB, como aconteceu no exemplo abaixo colacionado:
Se o réu intimado a entregar sua CNH estiver preso, a penalidade não será iniciada,
conforme prevê o art. 293, §2º do CTB:
A comunicação aos órgãos de trânsito competente é necessária por duas razões: a primeira
é oportunizar a fiscalização pelos órgãos administrativos da medida imposta ao condenado; a
segunda é evitar a má-fé.
Exemplo de má-fé: Sujeito que é intimado para entregar CHN ao Poder Judiciário e que,
depois de concedida, solicita 2ª via do documento em Departamento de Trânsito.
Fundamento: o art. 312 do CPP prevê quatro fundamentos para a Prisão Preventiva. Nada
obstante, apenas um deles será invocado para a aplicação da Proibição ou Suspensão como
Medida Cautelar, qual seja: a garantia da ordem pública.
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para
assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria.
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso
de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras
medidas cautelares (art. 282, § 4o).
*(FCC – DPE-AP – 2018) Nos crimes de trânsito previstos na Lei nº 9.503/1997, em qualquer fase da
investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como
medida cautelar, ainda que de ofício, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da
habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção
Da decisão que decretar ou indeferir a Medida Cautelar caberá Recurso em Sentido Estrito
(RESE) sem efeito suspensivo.
Na jurisprudência, tem se entendido que a Medida Cautelar será cabível contra investigados
com histórico criminal ruim nos delitos de trânsito.
ATENÇÃO: Após a reforma do CPP, dada pela Lei nº 12.403/2011, tem-se que a Cautelar na fase
da Ação Penal pode ser efeutada pelo juiz ex officio. Já na fase de Investigação, o magistrado
poderá fazê-la somente por provocação.
Art. 160. O condutor condenado por delito de trânsito deverá ser submetido a
novos exames para que possa voltar a dirigir, de acordo com as normas
estabelecidas pelo CONTRAN, independentemente do reconhecimento da
prescrição, em face da pena concretizada na sentença.
§ 1º Em caso de acidente grave, o condutor nele envolvido poderá ser
submetido aos exames exigidos neste artigo, a juízo da autoridade executiva
estadual de trânsito, assegurada ampla defesa ao condutor.
§ 2º No caso do parágrafo anterior, a autoridade executiva estadual de
trânsito poderá apreender o documento de habilitação do condutor até a sua
aprovação nos exames realizados.
MULTA REPARATÓRIA
A classificação da natureza jurídica da Multa Reparatória sempre deu margem para polêmica
na doutrina. Atualmente, assevera-se que por guardar semelhanças com a fixação do quantum
indenizatório mínimo do CPP, tem natureza jurídica de efeito da sentença.
Renato Brasileiro de Lima e Andrey Borges de Mendonça têm entendido que não é
necessário pedido expresso da Multa Reparatória. Para eles, a Multa Reparatória tem efeito
automático.
Esse entendimento, todavia, não convenceu a jurisprudência dos Tribunais Superiores. STJ
e STF preconizam que o pedido expresso para que o juiz fixe o valor devido é fundamental, sob
pena de eventual decisão extra petita.
Dada a similitude dos institutos previstos nos artigos 297 do CTB e 63, §único, com incurso
no artigo 387, inciso IV, ambos do CPP, pode-se concluir que, para a multa reparatória, também se
faz de rigor expresso pedido.
Segundo Cléber Masson, o Sistema de Dupla Via admite as penas (1ª via) e as medidas de
segurança (2ª via) como respostas estatais aos violadores das suas regras.
Rogério Greco, por seu turno, defende que “a introdução da relação autor-vítima-reparação
no sistema de sanções penais nos conduz a um modelo de três vias, onde a reparação surge como
uma terceira função da pena conjuntamente com a retribuição e a prevenção.”
ATENÇÃO: note que Multa Reparatória não se confunde com os institutos da Multa Penal e/ou da
Prestação Pecuniária.
EM SUMA:
No entanto, o CTB foi expresso ao citar que a penalidade de Multa Reparatória seria aplicada
apenas os prejuízos MATERIAIS:
Nada obstante, nada impede a fixação de dano moral (quantum indenizatório) ao CTB por
força do artigo 387, inciso IV, do CPP, em obediência à determinação de aplicação subsidiária do
Direito Processual Penal ao CTB.
A propósito, Guilherme de Souza Nucci afirma que “a referência feita ao art. 49, §1º, do CP,
é equivocada. Não se pode imaginar a fixação de uma reparação civil de dano com base em 1/30
do salário mínimo até o máximo de 5 salários. Seria, nitidamente, insuficiente em várias situações.
Logo, o correto é interpretar ser cabível a fixação da multa reparatória nos termos do art. 49, caput
e §1º do CP. O magistrado escolhe um montante de 10 a 360 dias-multa. Após, estabelece o valor
do dia-multa.”
Conforme se extrai dos artigos 50 a 52 do CP, tem-se que o pagamento da Multa Reparatória
será realizado dentro 10 dias depois de transitada a sentença, bem como que será admitido o seu
parcelamento.
Vejamos:
A ação, no CTB, é movida pela própria vítima ou sucessor, e não pela Procuradoria da
Fazenda. Não teria sentido retirar a legitimidade do ofendido, já que essa multa, ao contrário da
penal, tem nítido caráter indenizatório e somente interessa à vítima ou seus sucessores.
Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes
de trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:
I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de
grave dano patrimonial a terceiros;
Esse inciso é criticado porque, nos crimes de dano (homicídio culposo ou lesão corporal
culposa de trânsito), se o autor comete o crime contra mais de uma pessoa, será aplicada a regra
do artigo 70 do CP (concurso formal).
1ª corrente: defende que a ora agravante é aplicada também aos crimes de perigo.
2ª corrente: a agravante não é aplicada aos crimes de perigo, pois o dano potencial a
pessoas ou o risco de grave dano patrimonial a terceiros configura bis in idem, haja vista que o
perigo já serviu para a tipificação da infração penal.
Atenção: se for o próprio condutor do veículo que falsificou as placas, responderá ele em concurso
material com o artigo 311 do CP, sem, contudo, a presença da agravante para não configurar bis in
idem.
Em algumas situações, não incidirá. Especialmente, a dos artigos 302 e 303 do CTB. Nesses
crimes, a circunstância já funciona como causa de aumento de pena:
Não será aplicada também ao crime do artigo 309 do CTB, pois já constitui elementar do
delito (Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação
ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano).
Igualmente, não será aplicada ao artigo 310 do CTB (Permitir, confiar ou entregar a direção
de veículo automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir
suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não
esteja em condições de conduzi-lo com segurança).
Incidirá nos demais casos, como, por exemplo, embriaguez ao volante (artigo 306 do CTB)
e crime de racha (artigo 308).
A primeira parte do inciso “quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais
com o transporte de passageiros” não será aplicada aos delitos dos artigos 302, §1º, inciso IV do
CTB e artigo 303, §único da Lei nº 9.503/97.
No caso do homicídio culposo (artigo 302 do CTB), já funciona como causa de aumento de
pena. Assim, incidirá a agravante apenas se a profissão exigir cuidados especiais cm o transporte
de carga.
Pouco importa se o veículo está vazio (ou não), se existem passageiros (ou não), se existe
carga (ou não), o que é relevante é o fato de o veículo ser destinado ao transporte de passageiros
ou de cargas (José Almeida Sobrinho e STJ).
Essas faixas visam aumentar a segurança dos pedestres nos locais especificamente a eles
destinados.
Não incide nos crimes dos artigos 302, §1º, inciso II, do CTB e artigo 303, §único da Lei nº
9.503/97, pois já é considerada causa de aumento de pena, que não se restringi às faixas
temporárias ou permanentes, como alcança também as calçadas.
4. PERDÁO JUDICIAL
Art. 300. Nas hipóteses de homicídio culposo e lesão corporal culposa, o juiz
poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem,
exclusivamente, o cônjuge ou companheiro, ascendente, descendente, irmão
ou afim em linha reta, do condutor do veículo.
Essa corrente é demonstrada, tão somente, com finalidade histórica, já que não mais
adotada por absolutamente ninguém.
2ª corrente: É admissível a aplicação do Perdão Judicial, seja por analogia, seja pela
previsão artigo 291 do CTB ou pelas razões do veto.
Prevê o artigo 291 do CTB: “Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores,
previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do CP e do CPP, se este Capítulo não dispuser
de modo diverso, (...).”
Foram razões do veto: “O artigo trata do perdão judicial, já consagrado pelo Direito Penal.
Deve ser vetado, porém, porque as hipóteses previstas no §5º do art. 121 e §8º do art. 129 do
Código Penal disciplinam o instituto de forma mais abrangente”.
Atualmente, inexistem dúvidas de que incide o Perdão Judicial aos delitos de trânsito.
5. IMUNIDADE AO FLAGRANTE
Excetuada a ocorrência do presente tipo, nos demais casos de acidentes culposos que
resultem vítimas, a omissão constitui causa de aumento de pena tanto do Homicídio Culposo quanto
da Lesão Corporal Culposa.
Não será cabível a Prisão Temporária nos crimes de trânsito, pois o rol que prevê suas
possibilidades é restrito (artigo 1º, inciso III da Lei nº 7.960/89) e não traz em seu bojo qualquer
possibilidade no contexto dos crimes do CTB.
Em relação à Prisão Preventiva, a priori, não há falar em sua decretação em crime culposo.
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação
da prisão preventiva:
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima
superior a 4 (quatro) anos;
(...)
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver
dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer
elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado
imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese
recomendar a manutenção da medida.
Eugênio Pacceli e Domingos Barroso da Costa assim o defendem “(...) é de se dizer que
não restam dúvidas quanto à existência de possíveis exceções, a justificar tratamento mais rigoroso
em relação às infrações penais culposas, como ocorre, por exemplo, em delitos de trânsito, com ou
sem embriaguez, mas com comprovada reiteração de comportamento imprudente. Quantas vidas
foram e poderão ser ceifadas pela contumaz inobservância das regras exigidas para um tráfego
seguro, sobretudo em casos em que o agente é pilhado, repetidas vezes, em velocidade superior
àquela permitida no local, ou, com mesmo grau de risco, em estado de embriaguez ao volante?”
Antes do CTB, a provocação da morte culposa por condução de veículo era abarcada pelo
CP, em seu artigo 121, §3º. Não havia um diploma específico a respeito do assunto.
Na época antecedente à edição do CTB, verificou-se alto índice de mortes no trânsito que
colocou o Brasil como recordista mundial. Assim, o legislador atendeu a um apelo social a respeito
do tema e criminalizou de forma mais grave e especial o Homicídio Culposo no Trânsito dentro do
CTB.
Atualmente, portanto, existem dois Homicídios Culposos: um descrito no CTB e outro no CP.
Em qualquer das hipóteses, deve-se examinar o que prevê artigo 18, inciso II, do CP:
VIAS TERRESTRES
Artigo 1º do CTB:
6.2.1. Denominação
Artigo 2º do CTB:
O crime do artigo 302 do CTB, conforme aponta o caput, não ocorrerá somente em via
públicas.
Ao contrário, os crimes inscritos nos artigos 308 e 309 apenas serão consumados se
praticados em via pública.
6.2.4. Observações
Questiona-se: É possível haver morte culposa no trânsito sem a incidência do artigo 302 do
CTB? É possível.
Para que ocorra o delito descrito no artigo 302 do CTB, o agente deve estar dirigindo veículo
automotor.
c) Pessoa que:
• Abre a porte de um carro sem olhar para trás e causa a morte de um motociclista;
ELEMENTO SUBJETIVO
Tanto é que se, na direção de veículo automotor, Fulano acelerar seu carro para atropelar e
matar seu desafeto tem-se o crime de Homicídio Doloso (CP).
Note que a embriaguez + direção que ocasiona morte não rende ensejo necessariamente
ao dolo eventual.
Por outro lado, a embriaguez + direção que gerou morte, somada a outros elementos, pode,
eventualmente, caracterizar o dolo eventual.
Vejamos:
Não responderá pelo artigo 309 do CTB, que fica absorvido pelo artigo 302 do CTB (HC
128.921, STF, 2015).
*CESPE: Cláudia, penalmente responsável, ao dirigir veículo automotor sem habilitação, em via pública,
atropelou e matou um pedestre. Nessa situação hipotética, Cláudia responderá por homicídio culposo em
concurso material com o delito de falta de habilitação – FALSO!!!
A conduta é mais grave nesse caso, uma vez que a vítima é atingida justamente em local
destinado a lhe dar segurança.
Crime praticado em faixa de pedestre: sai a agravante do artigo 298 do CTB e entra a
presente causa de aumento de pena.
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
vítima do acidente;
Nos precedentes acima, o STJ considerou que, no instante do acidente, o condutor não
poderia “supor” que as lesões causadas na vítima foram de tal monta que redundaram sua morte.
Note-se: esses casos não se tratam de morte evidente!
EM SUMA:
- O condutor do veículo que omitiu socorro, é - O condutor do veículo, que omitiu socorro,
culpado (imprudência, negligência ou não é culpado pelo acidente.
imperícia) pelo acidente.
- Ele deve prestar o socorro mesmo cabendo
a culpa do sinistro à vítima ou a terceiro. Se
não o fizer: art. 304 do CTB.
*(PCDF – 2005 – Delegado de Polícia) Quando conduzia veículo automotor, sem culpa, Fulano atropela um
pedestre, deixando de prestar-lhe socorro, constituindo tal conduta, em tese, a prática de OMISSÃO DE
SOCORRO, prevista no artigo 304 do CTB.
Não é necessário que o condutor esteja conduzindo alguém. Basta que o veículo seja
destinado ao transporte de passageiros.
“A majorante do art. 302, parágrafo único, inciso IV, do CTB, exige que se
trate de motorista profissional, que esteja no exercício de seu mister e
conduzindo veículo de transporte de passageiros, mas não refere à
necessidade de estar transportando clientes no momento da colisão e não
distingue entre veículos de grande ou pequeno porte.” (AgRg no REsp
1255562/RS, STJ, Dje 17/03/2014).
Previa como causa de aumento de pena o fato de o autor estar sob a influência de álcool ou
substância tóxica ou entorpecente de efeitos análogos.
PORTANTO, a morte culposa decorrente de racha configura o crime do artigo 308, §2º do
CTB.
Sobre a 1ª parte do extinto §2º do artigo 302 (se o agente conduz veículo automotor com a
capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa
que determine dependência), a revogação abriu a discussão sobre a possibilidade de concurso
entre os delitos do artigo 302 e 306 do CTB:
A divergência, no entanto, não tem mais razão de ser, eis porque fora acrescentado o §3º
ao artigo 302 do CTB:
Esse §3º é mal escrito, pois dá a (falsa) impressão de que está a punir a embriaguez ao
volante.
A Resolução 432/13 do CONTRAN prevê como meios técnicos para comprovação do estado
de embriaguez:
- Exame de sangue;
- Também poderão ser utilizados prova testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio
de prova em direito admitido.
Trata-se de infração de menor potencial ofensivo compatível, pois, com transação penal.
A figura majorada do §1º do artigo 303, do CTB, ao contrário, não é infração de menor
potencial ofensivo. Acolá, não caberá composição civil e transação penal. Porém, continua sendo
válida a suspensão condicional do processo e será apurado por Ação Penal Condicionada à
Representação, por força do artigo 88 da Lei 9.099/95:
ATENÇÃO: não perder de vista a previsão do artigo 291, §1º do CTB, hipóteses em que o fato,
apesar de crime de menor potencial ofensivo, será investigado por Inquérito Policial:
Somente incidirá o §2º se o crime resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima.
Como o CTB não conceitua no que consistem as referidas lesões, atenta-se às previsões
dos artigos 129, §1º e §2º, do CP:
8. OMISSÃO DE SOCORRO
Somente considera-se a segunda forma (deixar de solicitar auxílio da autoridade pública) se,
por justa causa, a pessoa não puder prestar o socorro.
ATIPICIDADE
SUJEITO ATIVO
Se houver culpa: haverá tipificação do artigo 302 ou artigo 303, ambos do CTB.
ATENÇÃO: O artigo 135 do CP (Omissão de Socorro do Código Penal) incidirá para aqueles que
não foram envolvidos no acidente, tais como: outros condutores e pessoas que passaram pelo
acidente e não prestaram socorro.
CONSUMAÇÃO
Só há tipificação em caso de omissão suprida por terceiro. Não haverá crime se o terceiro
foi mais ágil ou mais gabaritado (médico, por exemplo) pois, nesses casos, não há omissão.
Conforme afirma Guilherme de Souza Nucci: “Se a vítima morrer instantaneamente, situação
nítida e clara, torna-se ilógico exigir que o condutor do veículo preste socorro. (...) Haveria condições
de punir o condutor se o ofendido (morto instantaneamente) deixar de ser socorrido, mas não houver
certeza acerca da sua morte.”
CRÍTICAS
→ A fuga com o intuito de evitar a responsabilização civil afronta o artigo 5º, inciso LXVII, da
CF/88 (prisão por dívida).
→ Não se pode obrigar o sujeito a se auto incriminar, permanecendo no local do crime para
sofrer as consequências de sua conduta.
→ Não há dispositivo semelhante em relação à prática de outros crimes (o ladrão que foge
não é responsabilizado por crime autônomo por ter se evadido).
→ Tanto é que vários TJ’s e TRF’s têm decidido pela inconstitucionalidade incidental do
artigo 305 do CTB.
O STF, no julgamento do RE 971.959, com repercussão geral, entendeu que o art. 305 do
CTB é constitucional, firmando a seguinte tese:
STF - A regra que prevê o crime do artigo 305 do CTB é constitucional posto
não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e
as hipóteses de exclusão de tipicidade e de antijuridicidade.
FORMAS DE CONSTATAÇÃO
Exemplo: condutor recusa o bafômetro e não cede material para exame de sangue. Mesmo
assim, foi preso em flagrante por apresentar sinais de que há alteração na capacidade psicomotora
em razão da influência do álcool, o que se fez baseado em vídeo e no testemunho de policiais.
O preso poderá então solicitar a contraprova, que se dará exatamente pela realização dos
exames anteriores (de sangue ou bafômetro). Se tais exames resultarem negativos, a prisão deverá
ser relaxada.
STJ: “O delito previsto no art. 306 do CTB é de perigo abstrato, sendo que
suficiente para a sua caracterização que o condutor do veículo esteja com a
capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou outra
substância entorpecente, dispensada a demonstração da potencialidade
lesiva da conduta. (HC 342.422, Dje 09/03/2016)
“(...) o delito de perigo abstrato (CTB, art. 306) dispensa a demonstração de
direção anormal do veículo.” (AgInt no REsp 1675592/RO, Dje 06/11/2017)
Trata-se de crime próprio, pois quem pode violar a permissão ou a proibição de se obter a
habilitação será somente aquele que foi condenado às referidas penas.
O delito engloba tanto a suspensão ou proibição judicial como pena ou como medida
cautelar, além da suspensão administrativa.
O sujeito ativo será aquele que foi regularmente intimado para fazer a entrega no prazo de
48 horas e não fez.
12. RACHA
Todavia, não será necessário provar que pessoa certa e determinada tenha sido exposta a
perigo. Na imensa maioria das vezes, por si só, o racha rebaixará o nível de segurança viária, de
modo a caracterizar a infração penal.
FORMAS QUALIFICADAS
EM SUMA,
Racha doloso + lesão corporal grave – dolo direito ou eventual = artigo 308, §1º do CTB.
EM SUMA,
Conquanto a legislação tenha previsto a não ocorrência do delito, no caso de dolo eventual,
a jurisprudência tende a reconhecer que, quando advém morte do racha, há dolo eventual.
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão
para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando
perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Súmula 720 O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra
do fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais
no tocante à direção sem habilitação em vias terrestres.
No caso de habilitação falsa, o crime será verificado em concurso material com o artigo 304
do CTB.
Já na hipótese de habilitação vencida, para o STJ, inexiste o crime do artigo 309 do CTB.
“II. Se o bem jurídico tutelado pela norma é a incolumidade pública, para que
exista o crime é necessário que o condutor do veículo não possua Permissão
para Dirigir ou Habilitação, o que não inclui o condutor que, embora habilitado,
esteja com a Carteira de Habilitação vencida. IIII. Não se pode equiparar a
situação do condutor que deixou de renovar o exame médico com a daquele
que sequer prestou exames para obter a habilitação.” (Resp 11888333/SC,
STJ, Dje 01/02/2011).
Ademais, para que ocorra a consumação típica não será necessária a identificação de
determinada pessoa exposta a risco. Basta demonstrar que o agente conduzia veículo sem
habilitação e de forma anormal, de modo a rebaixar o nível de segurança de trânsito.
*CESPE – 2017: Configura crime de perigo abstrato o ato de dirigir veículo automotor, em via pública, sem a
devida permissão ou habilitação para dirigir ou após cassação do direito de dirigir – FALSO!
Se o motorista estiver com o direito de dirigir suspenso cometerá o crime do artigo 307 do
CTB.
Se o motorista não habilitado/com habilitação cassada dirigir gerando perigo de dano incidirá
no tipo do artigo 309 do CTB.
*CESPE – 2017: Confiar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada ou em estado de embriaguez
constitui delito que tem natureza de infração penal de perigo abstrato – VERDADEIRO!
*CESPE – 2017: Constitui crime de perigo abstrato trafegar em velocidade incompatível com a segurança
próximo a escolas, hospitais e estações de embarque e desembarque de passageiros – FALSO!
O sujeito ativo não será apenas o causador do acidente, mas também todo aquele que,
eventualmente, alterar a cena do crime.
Exemplos:
- alterar a posição dos veículos ou o local do corpo da vítima do artigo 302 do CTB.
ATENÇÃO: A simples fuga do local do acidente NÃO configura esse tipo. Será considerada causa
de aumento de pena dos artigos 302 e 303 ambos do CTB ou até crime autônomo (artigos 304 ou
305, todos do CTB).
Observação: há, por óbvio, autonomia do crime de fraude processual em relação ao delito
previamente cometido.
Art. 312-A. Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312 deste Código,
nas situações em que o juiz aplicar a substituição de pena privativa de
liberdade por pena restritiva de direitos, esta deverá ser de prestação de
serviço à comunidade ou a entidades públicas, em uma das seguintes
atividades:
O dispositivo não manda que o juiz sempre substitua a pena, apenas diz qual o procedimento
a ser adotado, caso decida ele pela substituição – a observância dessa sistemática é que será
obrigatória.
Em suma: não é imposta a substituição de pena. Substituiu? Cumpra com o que manda o
artigo 312-A do CTB.
2) O fato de a infração ao art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro - CTB ter sido praticada
por motorista profissional não conduz à substituição da pena acessória de suspensão do
direito de dirigir por outra reprimenda, pois é justamente de tal categoria que se espera
maior cuidado e responsabilidade no trânsito.
8) O indivíduo não pode ser compelido a colaborar com os referidos testes do 'bafômetro'
ou do exame de sangue, em respeito ao princípio segundo o qual ninguém é obrigado a
se autoincriminar (nemo tenetur se detegere). (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do
CPC/1973 - TEMA 446)
10) Com o advento da Lei n. 12.760/2012, que modificou o art. 306 do CTB, foi reconhecido
ser dispensável a submissão do acusado a exames de alcoolemia, admite-se a
comprovação da embriaguez do condutor de veículo automotor por vídeo, testemunhos
ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.
11) Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor
a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das situações
previstas no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo
de dano concreto na condução do veículo. (Súmula n. 575/STJ) (Tese julgada sob o rito
do art. 543-C do CPC/1973 - TEMA 901)
12) A desobediência a ordem de parada dada pela autoridade de trânsito ou por seus
agentes, ou por policiais ou outros agentes públicos no exercício de atividades
relacionadas ao trânsito, não constitui crime de desobediência, pois há previsão de
sanção administrativa específica no art. 195 do CTB, o qual não estabelece a
possibilidade de cumulação de punição penal.