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340/2006)
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 4
1. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL E CONVENCIONAL ......................................................... 5
2. ORIGEM DA LEI MARIA DA PENHA .......................................................................................... 5
3. FINALIDADES DA LEI MARIA DA PENHA ................................................................................. 6
4. INAPLICABILIDADE DA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ÀS INFRAÇÕES
PENAIS PRATICADAS COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ......... 7
5. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA .............................................................................................. 7
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA X PRINCÍPIO DA BAGATELA IMPRÓPRIA ............... 8
6. INTERPRETAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA .......................................................................... 9
7. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER .................................................. 9
PRESSUPOSTOS PARA APLICAÇÃO DA LEI ................................................................... 9
7.1.1. Vítima mulher ............................................................................................................... 10
7.1.2. Presença alternativa de um dos incisos do art. 5º ...................................................... 10
7.1.3. Prática da violência ...................................................................................................... 10
SUJEITO PASSIVO ............................................................................................................ 11
7.2.1. Mulher exclusivamente ................................................................................................ 11
7.2.2. Aplicação ao homem ................................................................................................... 11
7.2.3. Aplicação ao transexual ............................................................................................... 12
7.2.4. Violência de gênero ..................................................................................................... 12
SUJEITO ATIVO ................................................................................................................. 15
ELEMENTO SUBJETIVO ................................................................................................... 15
ÂMBITO DA UNIDADE DOMÉSTICA ................................................................................ 15
ÂMBITO FAMILIAR ............................................................................................................. 16
QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO ..................................................................... 16
FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER .............................................................. 17
7.8.1. Violência física ............................................................................................................. 18
7.8.2. Violência psicológica.................................................................................................... 18
7.8.3. Violência sexual ........................................................................................................... 19
7.8.4. Violência patrimonial .................................................................................................... 19
7.8.5. Violência moral............................................................................................................. 19
8. MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DURANTE A PANDEMIA DA
COVID-19 ........................................................................................................................................... 19
SERVIÇOS DE ATENDIMENTO A ESSAS PESSOAS SÃO CONSIDERADOS
ESSENCIAIS .................................................................................................................................. 20
PODER PÚBLICO DEVERÁ ADOTAR MEDIDAS PARA GARANTIR O ATENDIMENTO
PRESENCIAL ................................................................................................................................. 21
REALIZAÇÃO PRIORITÁRIA DO EXAME DE CORPO DE DELITO ................................ 22
DISPONIBILIZAÇÃO DE CANAIS DE COMUNICAÇÃO ................................................... 22
CONCESSÃO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA DE FORMA ELETRÔNICA
23
PRORROGAÇÃO AUTOMÁTICA DAS MEDIDAS PROTETIVAS .................................... 23
DENÚNCIAS RECEBIDAS DEVERÃO SER REPASSADAS PARA OS ÓRGÃOS
COMPETENTES ............................................................................................................................ 23
AUTORIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA DEVERÁ ASSEGURAR ATENDIMENTO
ÁGIL 24
REALIZAÇÃO DE CAMPANHAS INFORMATIVAS ........................................................... 24
9. ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL ..................................................................... 24
Olá!
O Caderno Legislação Penal Especial possui como base as aulas do professor Renato
Brasileiro.
Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2021 e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2022, ambos da Editora
Juspodivm.
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante! As bancas costumam repetir certos temas.
A ideia de coibir a violência contra a mulher pode ser extraída da própria Constituição
Federal, nos termos do seu art. 226, § 8º, o qual garante a criação de mecanismos com o intuito de
coibir a violência no âmbito familiar:
Igualmente, vários tratados internacionais foram criados de modo a dar uma maior proteção
a mulher:
1) 1975: I Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada na cidade do México, a qual deu
origem à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra
as Mulheres, que foi promulgada pelo Brasil através do Decreto 4.377/2002;
A Lei Maria da Penha entrou em vigor apenas em 22 de setembro de 2006, apesar das
diversas Convenções Internacionais que tratavam de violência doméstica.
Recebeu este nome em razão da vítima Maria da Penha Maia Fernandes que, em 29 de
maio de 1983, enquanto dormia, foi atingida com um disparo de arma de fogo, desferido pelo seu
então marido, ficando paraplégica. Contudo, a violência não cessou, uma semana após o fato,
sofreu nova violência (descarga elétrica enquanto tomava banho). Em 28 de setembro de 1984, o
agressor foi denunciado, mas sua prisão somente aconteceu em 2002, dezenove anos após as
duas tentativas de homicídio.
Inicialmente, destaca-se que a Lei 11.340/2006 possui inúmeras finalidades. Não se trata de
uma Lei estritamente penal, pois possui dispositivos relacionados à segurança pública, cria
mecanismos de proteção à mulher, traz elementos de natureza cível, por isso se diz que é uma Lei
multidisciplinar.
O art. 41 da Lei Maria da Penha afirma que a Lei 9.099/95 não é aplicada:
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099,
de 26 de setembro de 1995.
Entende-se que a promoção da igualdade entre os sexos passa não apenas pelo combate
à discriminação contra a mulher, mas também pela adoção de políticas compensatórias capazes
de acelerar a igualdade de gênero.
5. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Assim, o STJ e o STF não admitem a aplicação dos princípios da insignificância aos crimes
e contravenções praticados com violência ou grave ameaça contra a mulher, no âmbito das relações
domésticas, dada a relevância penal da conduta.
Surgiu uma tese defensiva afirmando que se o casal se reconciliasse durante o curso do
processo criminal, o juiz poderia absolver o réu com base no chamado “princípio da bagatela
imprópria”. Essa tese é aceita pelos Tribunais Superiores?
NÃO. Assim como ocorre com o princípio da insignificância, também não se admite a
aplicação do princípio da bagatela imprópria para os crimes ou contravenções penais praticadas
contra mulher no âmbito das relações domésticas, tendo em vista a relevância do bem jurídico
tutelado (STJ. 6ª Turma. AgInt no HC 369.673/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
14/02/2017).
Segundo o doutrinador Luiz Flávio Gomes, infração bagatelar imprópria é aquela que nasce
relevante para o Direito penal, mas depois se verifica que a aplicação de qualquer pena no caso
concreto apresenta-se totalmente desnecessária.
Em outras palavras, o fato é típico, tanto do ponto de vista formal como material. No entanto,
em um momento posterior à sua prática, percebe-se que não é necessária a aplicação da pena.
Logo, a reprimenda não deve ser imposta, deve ser relevada (assim como ocorre nos casos de
perdão judicial).
Dessa forma, se a pena não for mais necessária, ela não deverá ser imposta (princípio da
desnecessidade da pena conjugado com o princípio da irrelevância penal do fato).
1 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não se aplica o princípio da insignificância. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/edb947f2bbceb132245fdde9c59d3f59>. Acesso em: 28/12/2022.
A Lei 11.340/2006 foi pensada para proteger a mulher em um cenário de violência doméstica
e familiar. Assim, obviamente, deve ser interpretada levando em consideração as condições
peculiares da mulher e os fins sociais a que se destina, nos termos do art. 4º:
A Lei 11.340/2006 regulamentou o tratamento que deve ser dado quando ocorrer violência
doméstica e familiar contra a mulher. Contudo, não é toda violência que poderá ser caracterizada
como doméstica e familiar contra mulher.
Há, ao menos, 3 pressupostos cumulativos que podem ser elencados para que seja possível
aplicar a Lei Maria da Penha, sendo eles:
A vítima (sujeito passivo) deve ser necessariamente mulher. Trata-se de violência de gênero.
A violência deve ser praticada em um dos contextos do art. 5º da Lei Maria da Penha:
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e (OU) familiar
contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:
1) Física;
2) Patrimonial;
3) Sexual;
4) Moral;
5) Psicológica.
SUJEITO PASSIVO
Trata-se, exclusivamente, da mulher (esposa, amante, namorada, mãe, avó, sogra, irmã)
que se encontra em situação de vulnerabilidade.
Destaca-se que o STJ reconheceu que uma figura pública também pode ser vítima de
violência doméstica e familiar, consoante o Info 539:
Uma mulher trans é uma pessoa que nasceu com o sexo físico masculino,
mas que se identifica como uma pessoa do gênero feminino. O conceito de
sexo está relacionado aos aspectos biológicos que servem como base para
a classificação de indivíduos entre machos, fêmeas e intersexuais. Utilizamos
a palavra gênero quando queremos tratar do conjunto de características
socialmente atribuídas aos diferentes sexos. Muitas vezes, uma pessoa pode
se identificar com um conjunto de características não alinhado ao seu sexo
designado. Ou seja, é possível nascer do sexo masculino, mas se identificar
com características tradicionalmente associadas ao que culturalmente se
atribuiu ao sexo feminino e vice-versa, ou então, não se identificar com
gênero algum. STJ. 6ª Turma. REsp 1977124/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 5/4/2022 (Info 732).
Segundo Renato Brasileiro, o objetivo da Lei Maria da Penha não foi o de conferir uma
proteção indiscriminada a toda e qualquer mulher, mas apenas àquelas que efetivamente se
encontrarem em uma situação de vulnerabilidade. É indispensável, portanto, que a vítima esteja em
uma situação de hipossuficiência física ou econômica e que a infração tenha como motivação a
opressão à mulher. Ausente esta violência de gênero, não se aplica a Lei Maria da Penha.
Nesse sentido:
2 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Constatada situação de vulnerabilidade, aplica-se a Lei Maria da Penha no caso de violência do
neto praticada contra a avó. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/dce4eef05fb6a56fa54b1a36e6b1fce7>. Acesso em: 28/12/2022.
SUJEITO ATIVO
O agressor pode ser tanto um homem quanto uma mulher, nos termos do art. 5º, parágrafo
único, da Lei 11.340/2006:
ELEMENTO SUBJETIVO
Para fins de incidência da Lei Maria da Penha, a conduta desenvolvida pelo agente deve ser
movida pelo dolo exclusivamente. Assim, eventuais condutas culposas não caracterizam violência
doméstica e familiar contra a mulher.
Nota-se que a Lei faz referência a qualquer ação ou omissão. Assim, a violência poderá
ocorrer mesmo que não haja crime ou contravenção penal.
Ademais, não é necessária a caracterização do vínculo familiar. Por isso, por exemplo, a Lei
será aplicada aos casos em que a empregada doméstica for vítima de violência. Leva-se em
consideração o aspecto espacial, ou seja, o local em que a violência é perpetrada.
Exige-se convívio permanente entre as pessoas. Desse modo, por exemplo, a agressão de
uma decoradora ou diarista não iria incidir a Lei Maria da Penha, pois não há um espaço de convívio
permanente.
ÂMBITO FAMILIAR
Destaca-se que a violência praticada em âmbito familiar independe do local, ou seja, não
precisa ser praticada no âmbito da unidade doméstica. Ademais, não exige coabitação.
Art. 5º, III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva
ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Nesse liame, tanto a amante quanto a namorada (ou ex-namorada) podem ser vítimas da
Lei Maria da Penha, a depender do caso concreto, de acordo com o entendimento atual do STJ.
Além disso, entende o STJ (HC 542.828/AP), que nos casos em que a conduta delitiva está
vinculada à relação íntima de afeto mantida entre as partes, é irrelevante o lapso temporal da
dissolução do vínculo conjugal para se firmar a competência do Juizados Especiais de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher.
As formas de violência devem ser praticadas a título de dolo. Além disso, não
necessariamente precisam tipificar infração penal.
Na Lei Maria da Penha, a palavra “violência” é utilizada em sentido amplo, não apenas como
violência física do CP. Nesse sentido, questiona-se: as formas de violência do art. 7º estão
previstas em um rol taxativo ou exemplificativo? Há 2 correntes:
2) 2ª corrente (majoritária): afirma que se trata de um rol exemplificativo, eis que visa uma
maior proteção à mulher.
Abrange qualquer conduta, desde vias de fato até o feminicídio, que ofenda a integridade ou
saúde corporal.
Ressalta-se que não é crime, mas sim uma forma de violência. Assim, não poderá ser
oferecida denúncia com base no art. 7º, I da Lei Maria da Penha. O juízo de tipicidade deve ser feito
com base no CP.
É aquela entendida como qualquer conduta que cause danos emocionais, diminuição da
autoestima, ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou
controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça (é crime),
constrangimento (é crime), humilhação (em si, não é crime. É exemplo o adultério) , manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua
intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.
É aquela entendida como qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter
ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça
de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.
É aquela entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.
Indaga-se: é possível aplicar as imunidades absolutas e relativas (arts. 181 e 182 do CP)
aos crimes patrimoniais praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher
sem o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa? Há 2 correntes:
2) 2ª corrente (majoritária): é possível, eis que não há proibição na Lei (uma vez que o
art. 181 do CP não proíbe).
É aquela entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
Pensando nisso, foi editada a Lei 14.022/2020, que prevê medidas para enfrentamento da
violência doméstica e familiar contra essas pessoas durante a pandemia da Covid-19.
O § 8º do art. 3º faz, contudo, uma ressalva e afirma que essas medidas previstas nos
incisos, quando adotadas, deverão resguardar o exercício e o funcionamento de serviços públicos
e atividades essenciais.
2) O registro de ocorrências relacionadas com essas infrações penais poderá ser feito por
telefone ou meio eletrônico.
A Lei 14.022/2020 prevê que o poder público deverá adotar as medidas necessárias para
que, mesmo durante a pandemia, seja mantido o atendimento presencial de mulheres, idosos,
crianças ou adolescentes em situação de violência.
Se for necessário, poderá haver a adaptação dos procedimentos estabelecidos na Lei Maria
da Penha às circunstâncias emergenciais do período de pandemia.
Se, por razões de segurança sanitária, não for possível manter o atendimento presencial a
todas as demandas relacionadas à violência doméstica e familiar contra a mulher e à violência
contra idosos, crianças ou adolescentes, o poder público deverá, obrigatoriamente, garantir o
atendimento presencial para situações que possam envolver, efetiva ou potencialmente, os ilícitos
previstos:
3) No ECA;
4) No Estatuto do Idoso.
Nos casos de crimes de natureza sexual, se houver a adoção de medidas pelo poder público
que restrinjam a circulação de pessoas, os órgãos de segurança deverão estabelecer equipes
móveis para realização do exame de corpo de delito no local em que se encontrar a vítima.
Nos casos de violência doméstica e familiar, a ofendida poderá solicitar quaisquer medidas
protetivas de urgência à autoridade competente por meio dos dispositivos de comunicação de
atendimento on-line.
É possível ainda que o Poder Judiciário faça a intimação da ofendida e do ofensor da decisão
judicial por meio eletrônico.
1) Se for autoridade judicial, comunicar à unidade de polícia judiciária competente para que
proceda à abertura de investigação criminal para apuração dos fatos;
O juiz competente providenciará a intimação do ofensor, que poderá ser realizada por meios
eletrônicos, cientificando-o da prorrogação da medida protetiva.
Obviamente, essas medidas poderão ser revistas ou cessadas pelo Poder Judiciário caso
se entenda necessário.
O prazo máximo para o envio dessas informações é de 48 horas, salvo impedimento técnico.
A mulher que esteja em situação de violência doméstica e familiar tem o direito de receber
atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores previamente
capacitados. Os servidores responsáveis por esse atendimento deverão ser preferencialmente do
sexo feminino.
Assim, existem algumas diretrizes e cuidados que deverão ser adotados para a inquirição
da vítima e das testemunhas de crimes de violência doméstica contra a mulher:
2) Em nenhuma hipótese deverá ser permitido o contato direto da vítima (mulher), de seus
familiares e das testemunhas com os investigados/suspeitos ou com as pessoas que
tenham relação com eles;
3) Não se deve permitir a “revitimização” da depoente. Para isso, deve-se evitar que a
vítima seja sucessivas vezes ouvida sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e
administrativo. Também se deve evitar questionamentos sobre a sua vida privada.
Para evitar a revitimização, o Poder Público deverá adotar providências a fim de que a vítima
não seja ouvida repetidas vezes sobre o mesmo tema. Além disso, deve-se fazer com que o
ambiente em que os depoimentos são prestados seja acolhedor. Por fim, deve-se evitar perguntas
que invadam a vida privada da vítima ou que induzam à ideia de que ela teve “culpa” pelo fato,
transformando a investigação ou o processo em um “julgamento” sobre o comportamento da vítima.
Alguns autores afirmam que a revitimização é uma forma de “violência institucional” cometida
pelo Estado contra a vítima.
1) A inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá
os equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência
doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida;
Destaca-se que a vara especializada irá concentrar competências penais e cíveis, a exemplo
do divórcio. Ademais, terão competência para o processo e julgamento de crimes e contravenções
penais no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher.
Importante consignar que a Lei 13.894/2019 acrescentou o art. 14-A à Lei Maria da Penha
possibilitando a propositura da ação de divórcio ou de dissolução de união estável no Juizado de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher:
COMARCA X
JUIZADO DE
VIOLÊNCIA
1ª VARA CRIMINAL 2ª VARA CRIMINAL 3ª VARA CRIMINAL
DOMÉSTICA E
FAMILIAR
Contudo, o próprio legislador sabe que não é possível a criação dos juizados em todas as
comarcas, seja por falta de estrutura física seja por falta de pessoal. Assim, a Lei Maria da Penha
determina que uma vara criminal poderá cumular a competência dos juizados, nos termos do art.
33 da referida Lei:
Os Tribunais Superiores há muito estão lidando com o seguinte questionamento: quem julga
o crime de estupro de vulnerável praticado por pai contra filha de 4 anos: vara criminal “comum” ou
vara de violência doméstica e familiar contra a mulher?
Se o fator determinante que ensejou a prática do crime foi a tenra idade da vítima fica
afastada a vara de violência doméstica e familiar? Ex.: estupro de vulnerável praticado
por pai contra a filha, de 4 anos
SIM NÃO
5 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Quem julga o crime de estupro de vulnerável praticado por pai contra filha de 4 anos: vara criminal
“comum” ou vara de violência doméstica e familiar contra a mulher?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/2fe2a9d4c06124698de449b12aeb6249>. Acesso em: 28/12/2022.
1) Nas comarcas em que não houver juizado ou vara especializada nos moldes do art. 23
da Lei 13.431/2017 (Lei que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do
adolescente vítima ou testemunha de violência), as ações penais que tratam de crimes
praticados com violência contra a criança e o adolescente, distribuídas até a data de
publicação do acórdão do julgamento (inclusive), tramitarão nas varas às quais foram
distribuídas originalmente ou após determinação definitiva do Tribunal local ou superior,
sejam elas juizados/varas de violência doméstica, sejam varas criminais comuns;
2) Nas comarcas em que não houver juizado ou vara especializada nos moldes do art. 23
da Lei 13.431/2017, as ações penais que tratam de crimes praticados com violência
contra a criança e o adolescente, distribuídas após a data de publicação do acórdão do
julgamento, deverão ser obrigatoriamente processadas nos juizados/varas de violência
doméstica e, somente na ausência destas, nas varas criminais comuns.
Tanto o STJ quanto o STF, na análise de casos oriundos de SC, entendem que a primeira
fase, no caso de crimes dolosos contra a vida, pode tramitar nas varas especializadas de violência
doméstica, caso a lei de organização judiciária assim preveja, conforme julgados abaixo
colacionados:
O depoimento especial foi introduzido na Lei Maria da Penha pela Lei 13.505/2017. Observe:
11. AÇÃO PENAL NOS CRIMES DE LESÃO CORPORAL LEVE E LESÃO CORPORAL
CULPOSA PRATICADOS NO CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER
Nos crimes de lesão leve e lesão culposa, a ação penal é pública condicionada à
representação, nos termos do art. 88 da Lei 9.099/95:
Antes da Lei 9.099/95, tanto a lesão leve quanto a lesão culposa eram crimes de ação penal
pública incondicionada.
Contudo, o art. 41 da Lei Maria da Penha é claro ao afirmar que a Lei dos Juizados Especiais
não é aplicada para os crimes praticados no contexto da Lei Maria da Penha. Assim, segundo o
Importante verificar, por fim, algumas observações feitas pelo prof. Márcio Cavalcante, do
Dizer o Direito6:
1) Se uma mulher sofrer lesões corporais no âmbito das relações domésticas, ainda que
leves, e procurar a delegacia relatando o ocorrido, o delegado não precisa fazer com que
ela assine uma representação, uma vez que a lei não exige representação para tais
casos. Bastará que a autoridade policial colha o depoimento da mulher e, com base
nisso, havendo elementos indiciários, instaure o inquérito policial;
2) Em caso de lesões corporais leves ou culposas que a mulher for vítima, em violência
doméstica, o procedimento de apuração na fase pré-processual é o inquérito policial e
não o termo circunstanciado. Isso porque não se aplica a Lei 9.099/95, que é onde se
prevê o termo circunstanciado;
3) Se a mulher que sofreu lesões corporais leves de seu marido, arrependida e reconciliada
com o cônjuge, procura o Delegado, o Promotor ou o Juiz dizendo que gostaria que o
inquérito ou o processo não tivesse prosseguimento, esta manifestação não terá nenhum
efeito jurídico, devendo a tramitação continuar normalmente;
5) É errado dizer que todos os crimes praticados contra a mulher, em sede de violência
doméstica, serão de ação penal incondicionada. Continuam existindo crimes praticados
contra a mulher (em violência doméstica) que são de ação penal condicionada, desde
que a exigência de representação esteja prevista no Código Penal ou em outras leis, que
não a Lei 9.099/95. Assim, por exemplo, a ameaça praticada pelo marido contra a mulher
continua sendo de ação pública condicionada porque tal exigência consta do parágrafo
único do art. 147 do CP. O que a Súmula 542 do STJ afirma é que o delito de LESÃO
CORPORAL praticado com violência doméstica contra a mulher, é sempre de ação penal
6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é crime de ação pública
incondicionada. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a714ec6796f638ba4d5792f78dccd134>. Acesso em: 28/12/2022.
Alguns crimes, como ameaça, mesmo que praticados no contexto da Lei Maria da Penha
são condicionados à representação, aplicando-se o art. 16 da Lei:
Salienta-se que não se trata de renúncia, como diz o artigo, mas sim de uma retratação da
representação, que só pode ser feita até o recebimento da denúncia (no CPP é até o oferecimento).
Contudo, de acordo com o STJ, não se deve designar a audiência de que trata o art. 16 da
LMP se a mulher manifesta interesse de desistir da representação somente após o recebimento da
denúncia:
Antes da Lei 11.340/2006 a violência doméstica e familiar contra a mulher era julgada pelo
JECrim e, com isso, aplicava-se muito a pena de cesta básica e de prestações pecuniárias.
Portanto, no âmbito da Lei Maria da Penha, poderá haver a substituição quando o crime não
for praticado com violência (física) ou grave ameaça a pessoa, a exemplo de um crime de calúnia
ou difamação, conforme posicionamento adotado pelo STJ:
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz,
a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério
Público, devendo este ser prontamente comunicado.
§ 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou
cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de
maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaçados ou violados.
§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da
ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já
concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus
familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas
observando-se a:
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução
criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de
infrações penais;
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e
condições pessoais do indiciado ou acusado.
§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente.
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das
partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da
autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público.
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida,
o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da
parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada
de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos
em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e
fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que
justifiquem essa medida excepcional.
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o
juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do
querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em
último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo único do
art. 312 deste Código.
§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida
cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que
subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem.
§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for
cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319
Quando a Lei Maria da Penha entrou em vigor, as medidas protetivas só eram aplicadas às
mulheres.
Com o advento da Lei 12.403/11 (Lei das Cautelares), por uma questão de analogia e por
se tratar de medida cautelar (poder geral de cautela), as medidas protetivas passaram a ser usadas
para as pessoas do sexo masculino, nos termos do art. 313, III do CPP:
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação
da prisão preventiva:
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência.
Art. 308. Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser formulado
pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será apresentado nos
mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela cautelar, não dependendo
do adiantamento de novas custas processuais.
§ 1º O pedido principal pode ser formulado conjuntamente com o pedido de
tutela cautelar.
§ 2º A causa de pedir poderá ser aditada no momento de formulação do
pedido principal.
§ 3º Apresentado o pedido principal, as partes serão intimadas para a
audiência de conciliação ou de mediação, na forma do art. 334, por seus
advogados ou pessoalmente, sem necessidade de nova citação do réu.
1) 1ª corrente: deve ser observado o art. 308 do CPC. Portanto, a demanda deve ser
ajuizada em até 30 dias, sob pena de eficácia da medida.
2) 2ª corrente: o STJ entende que não é necessária a observância do art. 308 do CPC,
conforme julgado abaixo:
Tal previsão foi, contudo, vetada pelo Presidente da República sob o argumento de que a
prerrogativa de impor medidas protetivas de urgência é privativa do Poder Judiciário, não podendo
ser estendida à Polícia.
Dessa forma, com o veto, a competência para impor medidas protetivas de urgência
continuava sendo privativa da autoridade judicial, cabendo ao delegado de polícia apenas remeter
ao juiz pedido da ofendida para a concessão de medidas protetivas de urgência (art. 12, III, da Lei
11.340/2006).
Ocorre que em 2019, a Lei 13.827/2019 incluiu o art. 12-C à Lei Maria da Penha, prevendo
que o agressor poderá ser imediatamente afastado do domicílio pelo delegado de polícia e pelo
policial. Em 2021, a Lei 14.188/2021 alterou a redação do caput do art. 12-C para dizer que não
apenas o risco à integridade física enseja a medida, de modo que se houver risco à integridade
psicológica, também acarretará o afastamento do agressor:
Por fim, importante evidenciar que a Lei 14.188/2021 também acrescentou um novo crime
no art. 147-B do Código Penal, o delito de violência psicológica contra a mulher:
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu
pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde
psicológica e autodeterminação:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não
constitui crime mais grave.
ESPÉCIES
Em regra, a utilização ou a fruição da coisa comum indivisa com exclusividade por um dos
coproprietários, impedindo o exercício de quaisquer dos atributos da propriedade pelos demais
consortes, enseja o pagamento de indenização àqueles que foram privados do regular domínio
sobre o bem, tal como o percebimento de aluguéis. É o que prevê o art. 1.319 do Código Civil.
A imposição judicial de uma medida protetiva de urgência - que procure cessar a prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher e implique o afastamento do agressor do seu lar -
constitui motivo legítimo a que se limite o domínio deste sobre o imóvel utilizado como moradia
conjuntamente com a vítima, não se evidenciando, assim, eventual enriquecimento sem causa, que
legitime o arbitramento de aluguel como forma de indenização pela privação do direito de
propriedade do agressor.
No caso que chegou ao STJ, foram deferidas medidas protetivas pelo prazo de 6 meses. Ao
término desse prazo, as medidas foram prorrogadas por mais 6 meses. Todavia, apesar de as
medidas protetivas terem sido devidamente fundamentadas, ocorreu a conclusão do inquérito
policial sem indiciamento do investigado.
Segundo o STJ, não há previsão de procedimento específico para concessão das medidas
protetivas de urgência, restringindo-se a Lei Maria da Penha a determinar, em seu art. 18, que
caberá ao juiz, a requerimento do Ministério Público ou da ofendida, no prazo de 48 horas, decidir
sobre as medidas protetivas, entre outras providências. Dessa feita, não cabe a instauração de um
processo, com citação do requerido para ciência e contestação, sob pena de decretação de sua
revelia, nos moldes do estabelecido na lei processual civil.
Além disso, é aplicável o regramento do Código Processual Penal que, em caso de risco à
efetividade da medida, determina a intimação do suposto agressor após a decretação da cautelar,
facultando-lhe a possibilidade de manifestar-se nos autos a qualquer tempo, sem a aplicação dos
efeitos da revelia.
O parágrafo único do art. 21 também reforça a não adoção do regramento previsto no CPC,
porquanto determina que “a ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor”,
nada mencionando sobre citação.
No caso concreto que deu origem ao julgado, o companheiro ameaçou a vítima e o juiz
decretou, como medida protetiva de urgência, a proibição de contato e de aproximação com a
ofendida. Ao final da instrução, o magistrado condenou o réu pelo crime de ameaça a 1 mês de
detenção. Além disso, na parte final da sentença, o magistrado afirmou: “torno definitiva a medida
protetiva deferida em favor da ofendida”.
Diante disso, o STJ concedeu parcialmente a ordem no habeas corpus para revogar a
definitividade da medida protetiva, dizendo que ela tem prazo indeterminado e que o Juízo de
primeiro grau deverá avaliar, a cada 90 dias e mediante a prévia oitiva das partes, a necessidade
da manutenção da cautela, aplicando-se, por analogia, o parágrafo único do art. 316 do CPP.
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitário de proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos
relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos;
V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição
de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência
deles para essa instituição, independentemente da existência de vaga.
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar,
liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra,
venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização
judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas
e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo.
Além das medidas acima expostas, o art. 9º da Lei Maria da Penha garante o afastamento
do local de trabalho, por até 6 meses, quando necessário, mantendo-se o vínculo trabalhista, dentre
outras medidas de assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar:
O art. 9º, § 2º da Lei Maria da Penha prevê que: O juiz assegurará à mulher
em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade
física e psicológica, manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o
afastamento do local de trabalho, por até seis meses. A competência para
determinar essa medida é do Juiz da Vara de Violência Doméstica ou do Juiz
do Trabalho? Juiz da Vara de Violência Doméstica. O juiz da vara
especializada em Violência Doméstica (ou, caso não haja na localidade,
o juízo criminal) tem competência para apreciar pedido de imposição de
medida protetiva de manutenção de vínculo trabalhista, por até seis
meses, em razão de afastamento do trabalho de ofendida decorrente de
violência doméstica e familiar. Isso porque o motivo do afastamento não
advém da relação de trabalho, mas sim da situação emergencial que
visa garantir a integridade física, psicológica e patrimonial da mulher.
Qual é a natureza jurídica desse afastamento? Sobre quem recai o ônus do
pagamento? A natureza jurídica do afastamento por até seis meses em
razão de violência doméstica e familiar é de interrupção do contrato de
trabalho, incidindo, analogicamente, o auxílio-doença, devendo a
empresa se responsabilizar pelo pagamento dos quinze primeiros dias,
ficando o restante do período a cargo do INSS. STJ. 6ª Turma. REsp
1757775-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/08/2019 (Info
655).
PRISÃO PREVENTIVA
Possibilidade de decretação de prisão ex officio Com o Pacote Anticrime, não é mais possível
tanto na fase investigatória quanto durante o que o juiz decrete a prisão ex officio, durante o
processo. processo.
De acordo com Renato Brasileiro, não se trata de princípio da especialidade, mas sim que
não é possível o juiz decretar qualquer cautelar de ofício durante a fase investigatória e nem
judicial/processual (após o Pacote Anticrime), pois se revela incompatível com a imparcialidade do
juiz, desdobramento da reserva legal e com o próprio sistema acusatório.
Para o STJ, não há crime de desobediência quando a pessoa desatende a ordem e existe
alguma lei prevendo uma sanção civil, administrativa ou processual penal para esse
descumprimento, sem ressalvar que poderá haver também a sanção criminal.
1) Regra: se uma ordem é dada e na Lei existe a previsão de uma sanção civil ou
administrativa para o caso de descumprimento dessa ordem, não se configura o crime
de desobediência.
Ex. 1: Marcelo foi parado em uma blitz. O agente de trânsito determinou que ele
apresentasse a habilitação e o documento do veículo, tendo Marcelo se recusado a fazê-lo.
Marcelo não cometeu crime de desobediência porque o art. 238 do Código de Trânsito já prevê
punições administrativas para essa conduta (infração gravíssima, multa e apreensão do veículo),
sem ressalvar a possibilidade de aplicação de sanção penal.
Ex. 2: Gutemberg foi intimado para testemunhar em uma ação penal, tendo, no entanto, sem
justificativa, deixado de comparecer ao ato processual. Gutemberg cometeu o crime de
desobediência. O CPP determina que o juiz poderá aplicar multa e condená-lo a pagar as custas
da diligência, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência (art. 219). Assim, a Lei
Ex. 3: Leôncio foi intimado para testemunhar em uma ação de indenização por danos morais,
tendo, no entanto, sem justificativa, deixado de comparecer ao ato processual.
Leôncio não cometeu o crime de desobediência. O CPC prevê que a testemunha faltosa será
conduzida coercitivamente e condenada a pagar as despesas do adiamento do ato (art. 455, § 5º).
Contudo, a Lei (no caso, o CPC) não prevê a possibilidade de tais sanções cíveis serem aplicadas
juntamente com a punição pelo crime de desobediência.
Apesar do exposto, a Lei 13.641/2018 incluiu na Lei Maria da Penha um tipo penal específico
para essa conduta:
Salienta-se, a priori, que este item foi elaborado com base na excelente explicação do prof.
Márcio Cavalcante8.
A Lei 13.641/2018, publicada em 04 de abril de 2018, alterou a Lei Maria da Penha e tornou
crime a conduta do autor da violência que descumpre as medidas protetivas de urgência impostas
pelo juiz.
Ao contrário do que muitos pensam, a Lei Maria da Penha não previa crimes. Este diploma
traz uma série de disposições processuais e também de direito civil. Assim sendo, o art. 24-A, agora
inserido, é o único delito tipificado na Lei 11.340/2006.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Colaciona-se, a seguir, o exemplo trazido pelo prof. Márcio Cavalcante, a fim de que o tema
seja compreendido.
João foi regularmente intimado. Apesar disso, uma semana depois procurou Maria em seu
local de trabalho, fazendo novas ameaças.
Isto posto, questiona-se: quais consequências poderão ser impostas a João pelo
descumprimento da medida protetiva?
A questão tem que ser analisada antes e depois da Lei nº 13.641/2018. Assim, tem-se o
seguinte cenário:
SUJEITO ATIVO
Comete este delito a pessoa que descumpre a medida protetiva de urgência imposta com
base na Lei Maria da Penha.
Ao contrário do que muitos imaginam, o autor da violência doméstica não precisa ser
necessariamente um homem. Assim, existem casos de violência doméstica praticados por
mulheres. Ex.: filha contra mãe (STJ HC 277.561/AL).
A exigência é de que a vítima seja mulher, mas o agressor pode ser homem ou mulher.
Isso significa que o sujeito ativo do crime do art. 24-A da Lei Maria da Penha pode ser homem
ou mulher. É o caso, por exemplo, da nora que agride a sogra. Se o juiz impuser que a nora não se
aproxime da sogra e a nora descumprir essa ordem, responderá pelo crime do art. 24-A.
O indivíduo poderá responder por este delito, na qualidade de partícipe, mesmo sem ser o
autor da violência doméstica.
Ex.: o juiz determina que João mantenha distância mínima de 500 metros de Maria (sua ex-
esposa) e não tente nenhum contato com ela por qualquer meio de comunicação (art. 22, III, “a” e
“b”). O irmão de João, mesmo sabendo dessa proibição, envia para Maria, pelo seu número do
WhatsApp, um áudio do agressor no qual ele tenta a reconciliação com a vítima.
SUJEITO PASSIVO
O sujeito passivo é o Estado. A vítima mediata ou secundária é o juiz que expediu a ordem.
É preciso ter muita atenção porque a vítima do crime do art. 24-A não é a vítima da violência
doméstica.
TIPO OBJETIVO
2) Ação ou omissão: vale ressaltar que esse crime poderá ser praticado mediante conduta
comissiva (ex.: aproximar-se da vítima mesmo havendo uma proibição) ou omissiva (ex.:
não pagar os alimentos provisórios fixados pelo juiz como medida protetiva).
TIPO SUBJETIVO
O dolo, no caso, consiste na vontade livre e consciente de descumprir decisão judicial que
defere medida protetiva de urgência baseada na Lei Maria da Penha.
Obviamente, para que haja o crime, é indispensável que o agente saiba da existência da
decisão judicial deferindo a medida protetiva.
Não há crime se o sujeito age com culpa. Ex.: vai a uma festa de aniversário de amigos em
comum e ali encontra a ex-mulher sendo que havia uma ordem de não aproximação.
CONSUMAÇÃO
A medida protetiva pode consistir em uma ordem para que o agente faça alguma coisa ou
para que não faça (não adote determinado comportamento).
Desse modo, o crime se consuma no momento em que o agente faz a conduta proibida na
decisão judicial (ex.: entra em contato com a ex-mulher, mesmo isso tendo sido proibido) ou, então,
no instante em que termina o prazo que havia sido fixado para que o sujeito adotasse determinado
comportamento (ex.: juiz fixou o prazo de 24h para que o agressor deixasse a casa; após isso, sem
cumprimento, o crime já terá se consumado).
O crime do art. 24-A pode se consumar mesmo que o sujeito ativo não tenha agido com
violência ou grave ameaça. Ex.: o juiz determinou que João, acusado de violência doméstica, não
se aproxime menos que 500m da ex-mulher. O autor do fato, arrependido, procura a vítima
chorando e com um buquê de rosas. Ele terá cometido o crime do art. 24-A.
Se houver violência ou grave ameaça, o agente poderá responder pelo delito do art. 24-A
em concurso com outros delitos. Ex.: se, o agente, que estava proibido de se aproximar da ex-
mulher, procura-a e a ameaça de morte, ele responderá pelo delito do art. 24-A da Lei nº
11.340/2006 em concurso com o art. 147 do Código Penal.
TENTATIVA
AÇÃO PENAL
HABEAS CORPUS
Cabe habeas corpus para apurar eventual ilegalidade na fixação de medida protetiva de
urgência (STJ. 5ª Turma. HC 298.499-AL, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
1º/12/2015). Esse entendimento ganha força agora com a inclusão do art. 24-A à Lei Maria da
Penha.
COMPETÊNCIA
A Lei Maria da Penha foi editada com o objetivo de ampliar os mecanismos jurídicos e
estatais de proteção da mulher vítima de violência doméstica.
A referida Lei não se preocupa apenas com o viés da punição penal do agressor, sendo
voltada também para a prevenção da violência, fornecendo, para tanto, instrumentos de natureza
civil e administrativa.
Desse modo, para que a Lei consiga atender seus propósitos de prevenção, é possível que
sejam determinadas medidas judiciais de natureza não criminal, mesmo porque a resposta penal
estatal só é desencadeada depois que, concretamente, o ilícito penal é cometido, muitas vezes com
consequências irreversíveis, como no caso de homicídio ou de lesões corporais graves ou
gravíssimas.
Vale ressaltar que a definição de violência doméstica presente na Lei engloba situações que
nem constituem crime, como o caso de “sofrimento psicológico”, “dano moral”, “diminuição da
autoestima”, “manipulação” etc. Assim, fica ainda mais claro que a Lei não tem objetivos
exclusivamente penais.
Confirmando essa natureza e a fim de que não houvesse dúvidas quanto à tipificação, o
legislador previu expressamente que também haverá o crime do art. 24-A se o sujeito descumprir
medida protetiva imposta em processo cível.
Fiança é uma caução em dinheiro ou outros bens (garantia real), prestada em favor do
indiciado ou réu para que ele possa responder ao inquérito ou o processo em liberdade, devendo
cumprir determinadas obrigações processuais sob pena de a fiança ser considerada quebrada e ele
ser preso cautelarmente.
A fiança pode ser fixada isoladamente ou em conjunto com outras medidas cautelares
previstas no art. 319 do CPP, a fim de que seja evitada a prisão preventiva.
Além disso, a fiança pode ser concedida durante o inquérito policial ou no curso do processo
criminal, enquanto não tiver transitado em julgado a sentença condenatória (art. 334).
Assim, em regra, se a pessoa for presa em flagrante e o crime tiver pena máxima de 4 anos,
o próprio Delegado poderá arbitrar fiança e o flagranteado será solto. Vale mencionar que não
importa se o crime é punido com detenção ou reclusão. Tanto faz. Sendo a pena de até 4 anos, a
autoridade policial tem legitimidade para arbitrar a fiança.
Por outro lado, se o crime tiver pena superior a 4 anos, o flagranteado deverá requerer a
concessão da fiança ao juiz, que decidirá o pedido em até 48 horas.
Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de
infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4
(quatro) anos.
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que
decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.
Há, contudo, uma exceção. A Lei 13.641/2018, ao incluir o § 2º, criou exceção à regra do
art. 322 do CPP. Isso porque o § 2º proíbe que o Delegado de Polícia conceda fiança para o crime
do art. 24-A a despeito desse delito ter pena máxima de 2 anos.
Ante o exposto, tem-se que o delegado de polícia pode conceder fiança, desde que para
crimes cuja pena máxima prevista seja de até 4 anos. Todavia, há a exceção do crime do art. 24-A
da Lei Maria da Penha que tem pena máxima de 2 anos, mas não admite fiança concedida pela
autoridade policial.
DEMAIS SANÇÕES
O que este § 3º explicita é que tais consequências continuam acontecendo mesmo agora
com a existência de um tipo penal específico para essa conduta.
A pena máxima do art. 24-A não ultrapassa 2 anos, razão pela qual se trata de infração de
menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei 9.099/95). Diante disso, indaga-se: é possível a da
transação penal, da suspensão condicional do processo e dos demais benefícios da Lei 9.099/95
para o autor do crime do art. 24-A da Lei 11.340/2006?
Deve-se relembrar que o réu que pratica violência doméstica ou familiar contra mulher não
pode ser beneficiado com transação penal ou com suspensão condicional do processo. Isso porque
a suspensão condicional do processo e a transação penal estão previstas na Lei 9.099/95 e a Lei
Maria da Penha expressamente proíbe que se aplique a Lei 9.099/95 para os crimes praticados
com violência doméstica e familiar contra a mulher:
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de
26 de setembro de 1995.
Ocorre que o art. 24-A pode ser praticado sem violência contra a mulher. Desse modo, para
o prof. Márcio Cavalcante, não há óbice à aplicação da Lei 9.099/95 para os autores deste delito.
Vale ressaltar, ainda, que a intenção do legislador, ainda que não expressa, parece ter sido
a de não considerar o crime do art. 24-A como sendo infração de menor potencial ofensivo e de
excluí-la do âmbito de incidência da Lei 9.099/95, em razão do § 2º do art. 24-A, que preconiza o
seguinte:
Art. 69, Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em
caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de
cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
vítima.
1) Admite-se a prisão em flagrante pela prática do crime do art. 24-A da Lei 11.340/2006;
2) Deverá ser instaurado inquérito policial para apurar essa infração (não sendo suficiente
termo circunstanciado);
É mister ressaltar que a Lei 13.641/2018 é uma lei posterior mais gravosa. Isso porque, antes
da sua edição, entendia-se que a conduta de descumprir medida protetiva de urgência não era
considerada crime.
Assim, se o agente descumpriu a medida protetiva até o dia 03/04/2018, ele não cometeu
delito. No entanto, se esse descumprimento ocorreu no dia 04/04/2018 ou em data posterior, o
sujeito incide no crime tipificado no art. 24-A da Lei Maria da Penha.
3) Não se aplica o art. 308 do CPC/2015, que exige o ajuizamento de ação principal no
prazo de trinta dias, à medida protetiva de alimentos deferida com fundamento na Lei
11.340/2006, que possui natureza satisfativa, e não cautelar.
10) Compete à Justiça Federal apreciar pedido de medida protetiva de urgência decorrente
de crime de ameaça contra mulher, iniciado no estrangeiro com resultado no Brasil e
cometido por meio de rede social de grande alcance.
11) A posterior reconciliação entre a vítima e o agressor não é fundamento suficiente para
afastar a necessidade de fixação do valor mínimo previsto no art. 387, inciso IV, do CPP,
seja porque não há previsão legal nesse sentido, seja porque compete à própria vítima
decidir se irá promover a execução ou não do título executivo, sendo vedado ao Poder
Judiciário omitir-se na aplicação da legislação processual penal que determina a fixação
do valor mínimo em favor da ofendida.