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Crimes de Preconceito
Lei 7.716/1989
Edição 2023.1
Revisada
Atualizada
Ampliada
Olá!
O Caderno Legislação Penal Especial – Crimes de Preconceito possui como base as aulas
do professor Vinícius Marçal, do Curso G7 Jurídico.
Três livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial –
Crimes de Preconceito: a) Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e
Rosmar Rodrigues Alencar), ano 2017, b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano
2018, ambos da Editora Juspodivm e c) Esquematizado - Legislação Penal Especial (Victor Eduardo
Rios Gonçalves), ano 2022, da Editora Saraiva.
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante! As bancas costumam repetir certos temas.
2. TUTELA CONSTITUCIONAL
O preâmbulo, apesar de não ser lei, possui relevante caráter político-ideológico, uma vez
que possui a seguinte redação legal:
DISPOSITIVOS DA CF/88
É de extrema importância a referida previsão, porque o bem jurídico tutelado pela Lei nº
7.716/89 é a “dignidade da pessoa humana”.
No mesmo sentido, tem-se o objetivo fundamental elencado no art. 3º, IV, da CF/88:
Sexo, idade e outras formas de discriminação (cláusula aberta) não estão contempladas
pela Lei 7.716/89.
Além disso, preveem os arts. 4º, II e VIII; art. 5º, VI; art. 7º, XXXI, todos da CF/88 que:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
Ressalta-se que o art. 7º, XXXI, é tão importante que se tornou crime na Lei 7.716/89, em
seu art. 4º, § 1º, III:
Art. 5º, XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais.
Ademais, os incisos XLII, XLIV, XLIII do art. 5º, da CF/88 afirmam que:
Doutrinadores de peso – tais como Sergio Salomão Shecaira e Guilherme de Souza Nucci
– são radicalmente contra a imprescritibilidade, pois entendem que, no caso do racismo, trata-se de
algo desproporcional, marcado por indícios autoritários.
Esse deve ser o posicionamento adotado em provas, uma vez que representa o
entendimento consolidado nas cortes superiores.
Importante salientar, a priori, que no dia 1º de janeiro de 2023 foi publicada a Lei
14.532/2023, que alterou a Lei 7.716/89 e o Código Penal, para tipificar como crime de racismo a
injúria racial, prever pena de suspensão de direito em caso de racismo praticado no contexto de
atividade esportiva ou artística e prever pena para o racismo religioso e recreativo e para o praticado
por funcionário público.
Depois da Lei 14.532/2023, essa conduta passou a ser um crime autônomo tipificado no art.
2º-A da Lei 7.716/89:
Era conduta punida no art. 140, § 3º do CP. Passou a ser punida pelo art. 2º-A da Lei 7.716/89.
De acordo com o prof. Márcio Cavalcante, a substituição da palavra “origem” pela expressão
“procedência nacional” não tem relevância jurídica, tendo sido feita apenas para manter a coerência
com a terminologia que já era empregada no art. 20 da Lei 7.716/89.
Procedência nacional é o lugar de onde a pessoa veio, o lugar onde ela nasceu ou morava.
Em outras palavras, é a sua origem.
Vale ressaltar, ainda, que o § 3º do art. 140 do CP não foi inteiramente revogado. Ele
continua punindo a injúria envolvendo elementos referentes:
1) À religião;
Art. 140, § 3º Se a injúria consiste na utilização Art. 140, § 3º Se a injúria consiste na utilização
de elementos referentes a raça, cor, etnia, de elementos referentes a religião ou à
religião, origem ou a condição de pessoa idosa condição de pessoa idosa ou com deficiência:
ou portadora de deficiência:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e
Pena - reclusão de um a três anos e multa. multa.
1) Houve um aumento da pena, que passou a ser de 2 a 5 anos (antes era de 1 a 3 anos);
2) Há agora uma causa de aumento de metade (1/2) se o crime for cometido em concurso
de pessoas;
3) Antes da Lei 14.532/2023, a injúria racial era um crime de ação penal pública
condicionada à representação da vítima (art. 145, parágrafo único, do CP). Agora, trata-
se de crime de ação penal pública incondicionada;
4) A injúria racial está formalmente inserida dentro da Lei do Crime Racial, sendo
considerada uma espécie de racismo.
Em continuidade, salienta-se que é muito comum haver a confusão entre o crime de injúria
racial com o delito de racismo. Verifica-se, para tanto, as diferenças que, tradicionalmente, a
doutrina faz entre as 2 infrações:
Art. 2º-A Injuriar alguém, ofendendo- Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a
lhe a dignidade ou o decoro, em discriminação ou preconceito de raça,
razão de raça, cor, etnia ou cor, etnia, religião ou procedência
procedência nacional. nacional.
Salienta-se, por fim, que a Lei 14.532/2023 passou a prever causa de aumento de pena para
condutas racistas do art. 2º-A praticadas por funcionário público:
Art. 20-B. Os crimes previstos nos arts. 2º-A e 20 desta Lei terão as penas
aumentadas de 1/3 (um terço) até a metade, quando praticados por
funcionário público, conforme definição prevista no Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 (Código Penal), no exercício de suas funções ou a
pretexto de exercê-las.
a) a declarar como delitos puníveis por lei qualquer difusão de ideias que
estejam fundamentadas na superioridade ou ódio raciais, quaisquer
incitamentos à discriminação racial, bem como atos de violência ou
provocação destes atos, dirigidos contra qualquer raça ou grupo de
pessoas de outra cor ou de outra origem étnica, como também a
assistência prestada a atividades racistas, incluindo seu financiamento.
Tratam-se de ações afirmativas com prazo, justamente para não gerar discriminação reversa
ou inversa. Ex.: cotas raciais para negros em universidades públicas.
Art. 1º Ficam reservadas aos negros 20% (vinte por cento) das vagas
oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e
empregos públicos no âmbito da administração pública federal, das
autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades
de economia mista controladas pela União, na forma desta Lei.
Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação e terá vigência pelo
prazo de 10 (dez) anos.
Segundo Leon Fredja Szklarowski, racismo é a teoria segundo a qual certos povos ou
nações são dotados de qualidades psíquicas e biológicas que os tornam superiores a outros seres
humanos.
Nesse sentido, a Lei 14.532/2023 inseriu o art. 20-C na Lei 7.716/89 prevendo o que deverá
ser considerado como discriminação:
Importante destacar, a priori, que a Lei 7.716/89 não traz, expressamente, previsão para
punição de condutas homofóbicas e transfóbicas.
A doutrina e a jurisprudência, por sua vez, afirmavam que o rol de elementos de preconceito
e discriminação do art. 20 era taxativo. Nesse sentido, segue entendimento superado do STF:
Cerca de um ano depois, em 2013, o Partido Popular Socialista (PPS) ajuizou ação direta
de inconstitucionalidade por omissão (ADO), na qual pediu que o STF declarasse a omissão do
Congresso Nacional por não ter votado projeto de lei que criminaliza atos de homofobia.
2) Existe um dever imposto pelo art. 5º, incisos XLI e XLII da CF/88 ao Congresso Nacional
para que se crie normas de punição das condutas discriminatórias;
4) A ação direta de inconstitucionalidade por omissão deve ser vista como instrumento de
concretização das cláusulas constitucionais frustradas pela inaceitável omissão do poder
público;
10) Para o Min. Celso de Mello, o julgamento reflete a função contramajoritária que o STF
possui de, no Estado Democrático de Direito, conferir efetiva proteção às minorias.
1 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A Lei nº 7.716/89 pode ser aplicada para punir as condutas homofóbicas e
transfóbicas. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ae581798565c3b1c587905bff731b86a>. Acesso em:
31/03/2023.
STF. Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min.
Edson Fachin, julgados em em 13/6/2019 (Info 944).
É de extrema importância conhecer o julgado, eis que se trata de tema altamente cobrado
em provas.
5. CONCEITOS
RAÇA
A raça pode ser explicada sob o viés tradicional e sob o viés atual.
Esse conceito está superado. O STF entendeu que a diferenciação de raça em nada diz, por
existir uma única: a raça humana.
COR
Isto posto, a cor evidencia a discriminação/preconceito fundados na cor da pele. Ex.: negros,
brancos, amarelos (asiáticos) etc.
ETNIA
São os grupos humanos que apresentam aspectos comuns, tais como língua, religião e
maneiras de agir. Trata-se do conceito mais adotado e recomendado pela sociologia hodiernamente
para designar o que antes era entendido por “raça”, conforme apontado previamente. Ex.: índios,
árabes, judeus, quilombolas.
RELIGIÃO
Religião pode ser conceituada como conjunto de crenças relacionadas ao divino e sagrado,
permeada por uma série de rituais e códigos morais derivados de tais convicções. Ex.: católica,
espírita, protestante etc.
PROCEDÊNCIA NACIONAL
É o lugar de onde a pessoa veio, ou seja, o lugar onde ela nasceu ou morava.
Interessante ressaltar que, segundo a doutrina, este conceito abrange tanto os estrangeiros
como também os nacionais que se deslocam dentro do país.
2) Contra pessoas de região diversa dentro do mesmo estado ou cidade, ainda que de
mesma naturalidade (dono do badalado restaurante no Leblon x cliente morador da
cidade de Deus);
Em sequência, importante verificar que existe um tipo específico na Lei 12.984/2014, que
define o crime de discriminação dos portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e
doentes de AIDS:
Art. 1º. Constitui contravenção, punida nos termos desta lei, a prática de atos
resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
A Lei 7.437/85 intitula todas as condutas presentes na Lei 7.716/89, até então, crimes, como
contravenções. Ante essa divergência, existem 2 entendimentos.
O primeiro entendimento advoga que, com relação à raça e cor, a Lei 7.437/85 está
derrogada porque é de 1985, enquanto a Lei 7.716 é de 1989. Portanto, está derrogada pelo critério
cronológico. Entretanto, continua em vigor no que concerne a “sexo” e “estado civil”. Tal tese é
defendida pelo doutrinador Gabriel Habib e, aparentemente, não é o melhor entendimento.
Por outro lado, Guilherme de Souza Nucci e Vinícius Marçal, fundados na ideia de que a Lei
7.437/85 está ab-rogada, conforme a previsão do artigo 5º, inciso XLII, da CF/88, no sentido de que
“a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
termos da lei”, fomentam que qualquer lei que diga respeito a racismo, deve necessariamente
prever crimes, sem a possibilidade de concessão de liberdade provisória com fiança,
imprescritíveis e, muito importante, sujeitos à pena de reclusão.
Assim, para eles, não há qualquer possibilidade, por força de mandamento constitucional,
de se tolerar leis penais voltadas à punição de atos de discriminação racial com figuras típicas de
1) 1ª corrente (minoritária): Fábio Medina Osório entende que não é preciso especial fim
de agir. Para ele, a consciência e a vontade de produzir atos discriminatórios e
preconceituosos não são incompatíveis com o formato das “brincadeiras”. Inadmissível,
assim, a publicidade de manifestações jocosas, em qualquer de suas formas, versando
discriminações e preconceitos vedados na lei penal. Ressalta que as manifestações
jocosas penetram mais sutilmente no inconsciente coletivo, perfectibilizando o suporte
fático da norma proibitiva.
A lei fala em pessoa “devidamente habilitada”, ou seja, esse é um elemento normativo. Além
disso, “alguém” é pessoa determinada, não havendo crime no impedimento coletivo ou dirigido a
grupo indeterminado.
Outrossim, se a conduta tiver por objeto emprego público ou função pública, perfazem 2
entendimentos:
Art. 8º. Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público civil ou militar,
por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Conforme Gabriel Habib, a Lei 7.716/89 prevalece perante a Lei 7.437/85 pelo critério da
sucessividade.
Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano
e multa:
Apesar de a Lei não escrever, obviamente, a vítima deve estar habilitada para a promoção.
7.2.1. Consumação
Trata-se de crime próprio, porque somente quem pode figurar como sujeito ativo é o superior
hierárquico da vítima.
O núcleo do tipo do § 1º, art. 4º da referida Lei, engloba: raça, cor, descendência ou origem
nacional ou étnica. Quanto à “religião”, é amplamente majoritário que esse crime também tem que
ser lido como todos os demais da Lei, em consonância com o art. 1º da Lei 7.716/89.
7.4.1.3. Consumação
7.4.1.4. Tentativa
Não é punível, porque é crime omissivo próprio. Assim, crimes omissivos não são
compatíveis com o conatus (tentativa).
Crime próprio.
Somente haverá crime quando as atividades não justificarem as exigências de raça ou etnia.
Exemplo de exigência justificada seria a contratação de ator ou figurante para interpretar o papel
de um personagem que tenha determinadas características raciais.
Da redação do dispositivo, conclui-se que o tipo é alternativo, de modo que o crime será
reconhecido não só na negativa ou impedimento do acesso, mas também na negativa do serviço,
atendimento ou recebimento, ou seja, quando permitido o acesso, mas o cliente for discriminado
em função do preconceito.
Crime próprio. Somente pratica o crime quem detém poder suficiente para recusar ou impedir
o acesso. Ex.: proprietário, gerente etc.
7.6.1.3. Consumação
Crime formal.
Não haverá crime na negativa quando baseada em outro critério, como, por exemplo, caso
o local seja destinado a pouso de empregados de uma determinada empresa, membros de uma
associação ou servidores públicos, como se dá em relação aos hotéis de trânsito mantidos pelas
Forças Armadas.
Crime próprio (quem detém poder suficiente para impedir o acesso ou recusar a
hospedagem. Ex.: proprietário, gerente etc).
7.6.2.3. Consumação
Crime formal.
Aqui a incriminação se refere a locais públicos destinados à alimentação, sendo que, uma
vez mais, há possibilidade de interpretação analógica, pela menção a locais semelhantes abertos
ao público. Assim, se a recusa acontecer em sorveteria, cafeteria, o tipo também incidirá.
Crime próprio.
7.6.3.3. Consumação
Impedir o acesso não significa apenas proibir a entrada, como também impedir que seja
comprada cota/ação social. Esse entendimento é consagrado na doutrina de Cristiano Jorge Santos
e pelo STJ:
Frisa-se, contudo, que não haverá crime quando aquele que pretende o ingresso não atende
à política do estabelecimento em relação a vestimenta ou mesmo em casos de embriaguez
evidente.
Crime próprio (quem detém poder suficiente para impedir o acesso ou recusar o
atendimento. Ex.: sócio-diretor do estabelecimento).
7.6.4.3. Consumação
Cita-se, como exemplo, o caso emblemático do Presidente do Uirapuru Iate Clube da cidade
de Uberaba, que foi denunciado pelo crime do artigo 9º, pois o casal Luiza e Marcos teria sido
impedido de adquirir cotas do clube e, consequentemente, de compor o seu quadro social, por ser
ela negra.
A defesa alegou a atipicidade da conduta, defendendo que o Uirapuru não é um clube social
aberto ao público, mas sim uma entidade fechada, que somente pode ser frequentada por seus
Crime próprio (quem detém poder suficiente para impedir o acesso ou recusar o
atendimento. Ex.: proprietário, administrador do estabelecimento etc.).
7.6.7. Consumação
Crime formal.
DISCRIMINAÇÃO NA EDUCAÇÃO
No parágrafo único, o legislador diz que a pena é agravada. Entretanto, não se trata de
agravante e sim de causa de aumento de pena, que incide na terceira etapa de fixação/dosimetria
da pena.
O termo “grau” está desatualizado, pois o artigo 21 da Lei 9.394/96 não agasalha mais essa
terminologia:
II - educação superior.
Crime próprio (quem detém poder suficiente para recusar, negar ou impedir a inscrição ou
ingresso de aluno).
7.7.3. Consumação
Ocorrerá se o impedimento e acesso operar por raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional.
Note que o crime não ocorrerá se houver uma placa num determinado edifício contendo
“empregadas domésticas, apenas no elevador de serviço”. Isso porque inexiste na Lei 7.716/89
amparo a discriminação de classe social ou discriminação profissional. Diferente seria se a placa
contivesse “negros, apenas no elevador de serviço”, caso em que incidiria no art.11 da predita Lei.
São permitidas restrições de acesso com base em critérios como mudanças, carrinhos de
compras, animais, trajes de banho.
Em relação aos edifícios comerciais, ainda que a discriminação ocorra com base em critérios
racistas, não será o caso abarcado pelo art. 11 da Lei 7.716/89, pois deverá ser aplicado o art. 20
da mesma Lei.
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios
barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte
concedido.
Se for impedido o uso de táxi e mototáxi, será enquadrado nesse artigo, porque a previsão
diz “qualquer outro meio de transporte concedido”.
Não haverá crime se a pessoa impedir o acesso do serviço de transporte público baseado
em critérios como lotação ou ausência de dinheiro para pagar a passagem.
Crime próprio (quem detém poder suficiente para controlar o acesso ao transporte público.
Ex.: funcionário do balcão do check in).
1) 1ª corrente (minoritária): entende que sim, calcada no art. 144, § 6º da CF/88 (“as
polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do
Exército...”).
Sujeito ativo é aquele que possui a incumbência de admitir o ingresso de alguém ao serviço
militar.
Pode ser tanto um funcionário subalterno, encarregado da seleção, como um alto dirigente
das Forças Armadas.
7.10.3. Consumação
7.10.4. Tentativa
Meio é o expediente ou recurso utilizado para atingir um fim ou objetivo, tais como a
separação física, o impedimento de frequência a casa ou a imposição de condições que impeçam
o casamento ou convívio.
Já a forma é o modo, jeito ou maneira, admitindo-se, então, que o delito poderá ocorrer
mediante violência ou ameaça, coação física ou moral, engodo ou fraude e, mesmo, remoção física,
como no caso em que a vítima é levada por familiares a outro país, de modo a impedir o casamento
ou o convívio com pessoa de etnia diversa.
1) O casamento;
3) Convivência social (qualquer forma de contato mais próximo, fora do âmbito familiar,
como a amizade).
Crime comum.
7.11.3. Consumação
Contempla a maioria das situações. Nesse liame, o bem jurídico tutelado é a pretensão ao
respeito inerente à personalidade humana, a própria dignidade da pessoa, considerada não só
individualmente, como coletivamente.
Em razão disso, o STJ, no REsp 1569850, julgado em 24/04/2018, entendeu que NÃO é
aplicável o princípio da insignificância.
Na prática, o art. 20 da referida lei representa conduta que se confunde, em muitos casos,
com as práticas já descritas nos demais tipos penais, de modo que somente restará caracterizado
o crime do art. 20 em caso de prática de preconceito ou discriminação que não esteja prevista nos
demais tipos da lei, aplicando-se, então, de forma subsidiária.
É mister evidenciar, ademais, que assim como no art. 2º-A, o delito do art. 20 possui uma
causa de aumento de pena caso seja praticado por funcionário público:
Art. 20-B. Os crimes previstos nos arts. 2º-A e 20 desta Lei terão as penas
aumentadas de 1/3 (um terço) até a metade, quando praticados por
funcionário público, conforme definição prevista no Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 (Código Penal), no exercício de suas funções ou a
pretexto de exercê-las.
7.12.1. Hipóteses em que a jurisprudência entendeu pela configuração (ou não) do delito
1) Pastor de uma determinada igreja evangélica, publicou, em seu blog, vídeos e posts de
conteúdo religioso nos quais ofendeu líderes e seguidores de outras crenças religiosas
O pastor afirmou, por exemplo, que os seguidores dessas outras crenças “sofrem” e
“padecem”, sendo “estuprados”, “violentados” e “destruídos” por seguirem “caminhos de podridão”.
A defesa do pastor interpôs uma série de recursos até que o caso chegou ao STF. No
Supremo, alegou a atipicidade da conduta. Segundo a defesa, a condenação ideológica de outras
crenças é inerente à prática religiosa, e se trataria de exercício de uma garantia constitucionalmente
assegurada.
Todavia, a tese não foi acolhida pelo STF, que manteve a condenação e afirmou que:
Por outro lado, entendeu-se NÃO configurado o delito nos seguintes casos:
1) Determinado padre escreveu um livro, voltado ao público da Igreja Católica, no qual ele
faz críticas ao espiritismo e a religiões de matriz africana, como a umbanda e o
candomblé.
Assim, o STF entendeu que o réu apenas fez comparações entre as religiões, procurando
demonstrar que a sua deveria prevalecer e que não houve tentativa de subjugar os adeptos do
espiritismo, não configurando, portanto, o crime de racismo, conforme julgado abaixo:
Contudo, o STF entendeu que não ficou configurado o conteúdo discriminatório das
declarações do acusado. Afirmou que as palavras por ele proferidas estão dentro da liberdade de
expressão prevista no art. 5º, IV, da CF/88, além de também estarem cobertas pela imunidade
parlamentar (art. 53 da CF/88), nos seguintes termos:
STF. 1ª Turma. Inq 4694/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2018
(Info 915).
Ante os casos acima expostos, é importante ressaltar que a condenação com base no art.
20 da Lei 7.716/89 dependerá especificamente de cada caso concreto e, sobretudo, das
palavras que foram proferidas e da intenção do agente.
7.12.2. Qualificadora
Art. 20, § 2º Se qualquer dos crimes previstos neste artigo for cometido por
intermédio dos meios de comunicação social, de publicação em redes
sociais, da rede mundial de computadores ou de publicação de qualquer
natureza:
A Lei 14.532/2023 acrescentou o § 2º-A no art. 20 prevendo nova qualificadora nos seguintes
termos:
Art. 20, § 2º-A Se qualquer dos crimes previstos neste artigo for cometido no
contexto de atividades esportivas, religiosas, artísticas ou culturais
destinadas ao público:
Este dispositivo pune, por exemplo, os torcedores que, em um estádio, pratiquem, induzam
ou incitem a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Neste caso, além de pena de 2 a 5 anos, os torcedores que forem condenados por essa conduta
ficarão proibidos, por 3 anos, de frequentar locais destinados a práticas esportivas. Verifica-se,
portanto, que existe a cumulação da pena privativa de liberdade com uma pena restritiva de direitos.
Esse mesmo exemplo vale para pessoas em um culto ou cerimônia religiosa, em um evento
artístico ou cultural.
É importante esclarecer que esse § 2º-A somente se aplica para as condutas do art. 20 da
Lei 7.716/89. Assim, se um torcedor praticar injúria racial (art. 2º-A da Lei 7.716/89) dentro de um
estádio, ele não sofrerá as penas deste § 2º-A do art. 20.
A Lei 14.532/2023 também inseriu o § 2º-B no art. 20 prevendo uma forma equiparada de
racismo:
Art. 20, § 2º-B Sem prejuízo da pena correspondente à violência, incorre nas
mesmas penas previstas no caput deste artigo quem obstar, impedir ou
empregar violência contra quaisquer manifestações ou práticas
religiosas.
Essa figura equiparada tem por objetivo principal punir as manifestações de intolerância
religiosa contra determinadas religiões, em especial as de matriz africana, que sofrem preconceito
histórico em no país.
Vale ressaltar que essa violência de que trata o novo § 2º-B do art. 20 não se restringe à
violência física, podendo ser também violência psicológica, como no caso de ameaça.
Destaca-se, por fim, que não se pode confundir o racismo religioso com a injúria religiosa:
Obstar, impedir ou empregar violência contra Ofender a vítima com a utilização de elementos
quaisquer manifestações ou práticas religiosas. referentes a religião.
Trata-se de delito legitimamente construído, uma vez que não pune a pessoa por ser nazista
(poia seria direito penal do autor), mas sim a conduta de fabricar, comercializar, distribuir ou veicular
símbolos nazistas (representando, portanto, direito penal do fato).
Crime comum.
Humanidade.
7.13.3. Consumação
Crime formal.
Dolo + “especialíssimo fim de agir” (ou “dois especiais fins de agir”) = Para fins de divulgação
(disseminação) do nazismo (que possui acentuado caráter racista).
A Lei 14.532/2023 inseriu a previsão de que haverá crime mesmo que a conduta racista seja
praticada “em contexto ou com intuito de descontração, diversão ou recreação”. Aliás, não apenas
será considerada crime como também haverá uma causa de aumento de pena:
Art. 20-A. Os crimes previstos nesta Lei terão as penas aumentadas de 1/3
(um terço) até a metade, quando ocorrerem em contexto ou com intuito de
descontração, diversão ou recreação.
Assim, em tese, uma piada de cunho homofóbico ou envolvendo negros, judeus, argentinos,
portugueses etc. pode, a depender do caso concreto, enquadrar-se como manifestação racista
gerando a punição pelos crimes do art. 2º-A ou do art. 20 com a causa de aumento de pena do art.
20-A da Lei 7.716/89.
Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são
automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos,
devendo ser motivadamente declarados na sentença.
A Lei 14.532/2023 inseriu o art. 20-D na Lei 7.716/89 exigindo que a vítima dos crimes de
racismo esteja acompanhada de advogado ou defensor público:
Será da Justiça Estadual nos casos dos delitos dos arts. 4º, 5º, 7º a 12 e 14, que se dão,
necessariamente, no âmbito de relações privadas.
4) No caso do art. 20, quando praticado contra indígenas em razão de disputas sobre
direitos indígenas (CF/88, art. 109, XI) reconhecidos no art. 231 da CF/88;
5) No caso de internacionalidade do delito (CF/88, art. 109, V), uma vez que se trata de
crime que o Brasil se obrigou a reprimir, nos termos do art. IV, “a”, da Convenção
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial,
veiculada pelo Decreto 65.810/69.
Salienta-se, por fim, que para que o delito seja de competência da Justiça Federal com base
no inciso V do art. 109 da CF/88, são necessários 3 requisitos:
Desse modo, não basta que o crime esteja previsto em tratado ou convenção internacional
para ser julgado pela Justiça Federal.
Para a segunda, exige-se demonstração concreta de que tenha havido acesso no exterior
do conteúdo veiculado no Brasil, ou vice-versa, não sendo suficiente a mera utilização de
provedores ou redes sociais mantidas no estrangeiro, conforme definiu o STF no CC 145.935,
julgado em 27/04/2016.
Em caso de várias mensagens remetidas por agentes diversos, de locais também diversos,
a competência será determinada pelos critérios apontados pelo CPP, arts. 76, III, e 78, II, de acordo
posicionamento do STJ no CC 102.454, julgado em 25/03/2009.