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JURÍDICA
CARREIRAS JURÍDICAS
DIREITO CIVIL
CAPÍTULO 12
Recado para você que está assistindo às videoaulas
Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:
Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;
A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se
o capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é
baseada no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público,
por isso, nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou
legislativa;
1
CAPÍTULOS
2
SOBRE ESTE CAPÍTULO
Prezados alunos,
Muitos conceitos deste capítulo estão relacionados com o que estudamos no capítulo
referente aos direitos da personalidade. Isso porque o dano moral é aquele imposto quando
há violação de direitos fundamentais e desarrazoada agressão à direitos da personalidade,
conforme veremos. Assim, caso não se lembre muito do que foi exposto no Capítulo 4, volte
nele e revise principalmente o tópico acerca da tutela jurídica reparatória dos direitos da
personalidade.
Os artigos do Código Civil referentes a esse capítulo são bastante cobrados nas provas
tanto objetivas quando subjetivas de todas as carreiras jurídicas. No entanto, o aluno deve dar
mais atenção aos julgados dos tribunais superiores, para entender como os conceitos
estudados ao longo do capítulo são aplicados na prática.
Apesar de sua grande extensão, o tema a ser estudado é muito relevante dentro do
Direito Civil. Ousamos dizer que este é o capítulo mais importante dessa matéria, pois a
responsabilidade civil, bem como o termo inicial dos juros e da correção monetária são
incidentes em provas de todas as carreiras jurídicas, além de permear outras disciplinas, como
Esse capítulo é essencial também para o estudo para a fase de provas subjetivas, sendo
a responsabilidade civil o tema mais incidente, por exemplo, em provas de sentenças cíveis
Por último, ressaltamos que o aluno perceberá, no futuro, em sua vida prática de
concursado, a elevada expressão que o presente tema possui no dia a dia forense.
Note que não há motivos para deixar de ler esse capítulo, pelo contrário! Então, mãos à
obra!
3
SUMÁRIO
Capítulo 12 ................................................................................................................................................ 7
12.5.1.1.1 Origem........................................................................................................................................................ 21
4
12.6.1 Danos Patrimoniais ou Materiais ............................................................................................................... 32
GABARITO ............................................................................................................................................... 69
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 77
6
DIREITO CIVIL
Capítulo 12
Aluno(a), esse capítulo é o único que tratará o instituto da responsabilidade civil. Ele é
muito relevante e deve ser lido caso você realmente busque a aprovação em qualquer carreira
jurídica.
Além da responsabilidade civil, ele traz os termos iniciais dos juros e da correção
monetária, bem como o tema da indenização pelo seguro obrigatório DPVAT. Tais temas
também são importantes e não podem passar batidos.
É primordial que você estude os julgados dos tribunais superiores selecionados, bem
como as súmulas transcritas.
O tema da responsabilidade civil encontra-se presente nos artigos 927 a 954 do Código
lesado ou o dano moral sofrido por este desencadeiam uma reação legal. Assim, todo aquele
que causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo, restabelecendo o equilíbrio rompido. É o
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo”.
A responsabilidade civil consiste na obrigação que uma pessoa tem de reparar o dano
causado à outra, decorrente da violação de uma norma jurídica preexistente, contratual ou
7
extracontratual. Neste sentido, os artigos 927 a 965 do CC regulam as hipóteses causadoras
de responsabilidade civil, bem como a forma pela qual será feito o pagamento da indenização.
Sempre que alguém, mediante a prática de um ato ilícito, causar dano a outrem, ficará
obrigado a repará-lo.
O ato ilícito resulta da ação ou omissão voluntária, negligente ou imprudente, que viola
direito e causa dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. Aquele que se excede
manifestamente em seus direitos, também pratica ato ilícito.
Não constituem atos ilícitos os danos causados em virtude de: legítima defesa e
exercício regular de um direito ou quando há destruição/deterioração de coisa ou lesão à
pessoa, com finalidade de remover perigo iminente.
criminal. O indivíduo poderá não ser penalmente responsabilizado, mas ser obrigado a reparar
o dano civil ou, por outra ótica, a pessoa poderá ser civilmente responsável, sem ter que
8
No entanto, art. 935 estabelece duas exceções a esse princípio: no que diz respeito à
existência do fato ou de quem seja o seu autor, se tais questões já estiverem decididas na
esfera criminal, não se pode mais questioná-las na esfera civil1.
Por último, atente-se ao que determina o art. 200, CC, que cai bastante em prova:
Art. 200. “Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado
no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva
sentença definitiva”.2
Ato ilícito é aquele praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direitos
e causando prejuízos a outrem. Diante da sua ocorrência, a norma jurídica cria o dever de
reparar o dano, o que justifica o fato de ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional.
O ato ilícito é considerado um fato jurídico em sentido amplo, uma vez que produz
efeitos jurídicos impostos pela lei, mas, muitas vezes, indesejados pelo agente.3
Logo, conforme se dispõe o art. 186 do CC (muito incidente em prova) comete ato
ilícito “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
1 Vide questão 9.
2 Vide questão 9.
3 Flávio Tartuce. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2018, p. 468.
9
Violação
Ato
de um Dano
Ilícito
direito
A responsabilidade civil subjetiva, prevista nos artigos 186 e 927 do CC, exige a
verificação de culpa (em sentido amplo, dolo ou culpa), havendo duas modalidades de culpa:
civil, uma vez que nos termos dos artigos 187 e 927 do CC, a responsabilidade civil pode ser
objetiva, como no caso de abuso de direito.
O abuso de direito é o ato originariamente lícito, mas exercido fora dos limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes, ou
seja, é um ato praticado em exercício irregular ou imoderado de um direito.
É assim que prevê o art. 187 do CC: “Também comete ato ilícito o titular de um direito
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”
4 Vide questão 7.
10
No art. 186, CC, o legislador, ao definir ato ilícito, utilizou o critério subjetivo, baseado na
culpa. No entanto, ao definir o que é abuso de direito, no art. 187, utilizou o elemento de
ilicitude objetivo, qual seja, o elemento finalístico ou critério funcional. Isto significa que, na
forma do artigo 187, para provar o abuso de direito, não é necessário provar que houve a
intenção de prejudicar outrem ou descuido (dolo ou culpa), visto que foi utilizado o critério
finalístico. Em outros termos, se ocorreu o desvio de finalidade (podendo esta ser: fim social;
Para que o abuso de direito reste configurado, a pessoa deve, em sua conduta, exceder
um direito que possui, atuando em exercício irregular de direito. Dessa forma, não há que
se cogitar o elemento culpa em sua configuração, bastando que o comportamento da
trabalho;
O abuso no processo, a lide temerária e o assédio judicial, no âmbito do direito
11
A aquisição de um direito via surrectio, face oposta da supressio, não traduz abuso de
Para que uma pessoa seja responsabilizada civilmente são necessários quatro
12.3.1 Conduta
A conduta humana deve ser um fato lesivo voluntário. Acontece quando o agente, por
ação ou omissão, ocasiona dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. O ato pode ser
próprio ou de terceiro que esteja sob guarda.
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Conforme dito, mas vale frisar, a conduta humana pode ser causada tanto por uma
ação (conduta positiva ou culpa in comittendo) quanto por uma omissão (conduta
negativa ou culpa in omittendo), dolosa ou por negligência, imprudência ou imperícia.
dever jurídico de o indivíduo praticar determinado ato, bem como a prova de que a
conduta não foi praticada. É necessária, ainda, a demonstração de que caso a conduta fosse
Não é apenas a conduta humana ilícita que gera a responsabilidade civil, essa pode
decorrer também de um ato lícito. O exemplo clássico é o de um agente que age em estado
de necessidade; nessa situação ele age licitamente, mas tem o dever de indenizar a vítima.
Acerca dessa situação, é relevante observar que a indenização deve ser proporcional ao dano
causado, sem onerar o agente que agiu licitamente5.
Desapropriação;
Direito de Passagem Forçada (previsto no art. 1285, CC, pertence ao direito de
vizinhança, que estudaremos no capítulo sobre Direitos Reais);
Estado de necessidade agressivo em que se prejudica terceiro.
A culpabilidade, no campo do Direito Civil, envolve tanto a culpa stricto sensu, quanto o
dolo.
preexistente, não havendo propriamente uma intenção de violar o dever jurídico. A culpa
stricto sensu, no Direito Civil, é relacionada ao modelo de culpa retirado do inciso II do art. 18
do Código Penal, podendo acontecer por:
O art. 945 do CC estabelece a culpa concorrente. Ela ocorre quando tanto o agente
quanto a vítima agem com culpa. Nesse caso, a culpa da vítima acaba por diminuir a culpa
do agente. Assim, se a vítima também concorreu para o evento danoso, com sua própria
cooperaram para o evento, não seria justo que apenas uma respondesse pelos prejuízos.
14
Art. 927. (...) Parágrafo único. “Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.”
Por meio da leitura do dispositivo acima, podemos perceber que são duas as situações
que dão ensejo à chamada responsabilidade civil objetiva:
vontade do indivíduo, não haverá sua imputabilidade. Exemplos de casos que afastam a
imputabilidade:
15
12.3.3 Dano
O dano pode ser material (patrimonial) ou moral (extrapatrimonial). Sendo assim, não
pode haver responsabilidade civil sem a existência de um dano. Em outras palavras,
podemos dizer que o dano é pressuposto da responsabilidade civil; sem dano não há que se
falar em indenização. Além disso, também é imprescindível que exista prova, real e concreta,
da lesão. O dano pode ser patrimonial ou moral.
patrimônio presente da vítima, como também o futuro; provocar sua diminuição ou impedir
seu crescimento.
6
Art. 948, CC: “No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima”.
16
Perda de uma chance (perte d’une chance): de acordo com o STJ, para existir, a
vítima deve perder um direito que tinha chances atuais, sérias e reais de ganhar na
situação futura esperada.
Por sua vez, o dano moral representa uma lesão aos direitos da personalidade, de
pessoa natural ou jurídica. Vale lembrar, conforme vimos no Capítulo dos Direitos da
Personalidade, que o dano moral não está necessariamente vinculado a alguma reação
psíquica da vítima. A indenização por dano moral encontra respaldo na Constituição Federal
em seu art. 5º, incisos V e X. Trataremos de forma mais específica sobre esta espécie de dano
em tópico posterior.
agente.
17
No momento da consumação do fato lesivo surge, para o lesado, a pretensão de
indenização, mas seu direito de crédito apenas se concretiza com a decisão judicial.
causador do dano. Ela resulta, portanto, de uma ação direta da pessoa violadora do direito ou
ao prejuízo ao patrimônio, por ato culposo ou doloso.
responsável.
Como se deve mensurar o redutor indenizatório de dano previsto no art. 944, CC?
quando o juiz verificar um descompasso entre o dano e a culpa do seu causador, ele pode
reduzir, por equidade, o valor da indenização.
magistrado verificar que o agente atuou com culpa leve, pode, por equidade, reduzir a
indenização, e fixá-la em R$18.000,00, com base em evidências do caso concreto.
Essa redução pelo juiz (art. 944, §único, CC) é viável nas demandas de
responsabilidade objetiva, em que a culpa não é discutida? Conforme o Enunciado
18
46 da I Jornada de Direito Civil, essa redução do montante da indenização somente
deve ser aplicada em demandas de apuração de responsabilidade civil subjetiva7.
direto e indireto).
Dano REFLEXO ou em RICOCHETE: desenvolvido no direito francês, consiste no
prejuízo sofrido por uma segunda vítima ligada à vítima direta do ato danoso.
Assim, há duas ou mais vítimas (a do dano direto e a do dano reflexo).
Exemplo: um pai de família, que sustenta a sustenta, é roubado na rua, leva um
tiro e é levado ao hospital, onde fica internado por alguns meses. O pai é a
vítima direta, por sua vez, seu o filho e sua esposa são as vítimas indiretas. Como
o pai está fisicamente incapacitado, sem poder trabalhar por meses e,
consequentemente, manter sua família, o filho e a esposa sofrem o dano reflexo
ou em ricochete.
o “Prejuízo de afeição”: consiste em expressão utilizada na jurisprudência
7 JDC 46 – Art. 944: “A possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente, estabelecida
no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente, por representar uma exceção ao
princípio da reparação integral do dano [,] não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva”. (Alterado pelo
Enunciado 380 – IV Jornada)
19
O que é dano “IN RE IPSA”?8
situação de dano que dispensa prova da dor em juízo para ser indenizado. Trata-se de
dano presumido. A classificação de um dano como in re ipsa, ocorre por causa de sua
motivos, configura dano moral in re ipsa. Mas atente-se: nesse caso, são devidos danos
morais apenas se o nome da pessoa ainda não estava negativado9!
configuração.
8 Vide questão 2.
9 Para mais exemplos práticos de danos morais in re ipsa, veja os julgados comentados.
20
A regra continua sendo a responsabilidade civil subjetiva (art. 927 do CC), que depende de
culpa.
probabilidade de dano. Portanto, aquele que desenvolve uma atividade perigosa deve
assumir os riscos e reparar os danos dela decorrentes. Está ligada à violação do dever de
segurança, que se contrapõe ao risco. Onde há risco, tem que haver segurança.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
12.5.1.1.1 Origem
Preconiza que o responsável é aquele que tira proveito da atividade danosa, com base
no princípio de que, onde está o ganho, reside o encargo – ‘ubi emolumentum, ibis onus’.
21
Assim, o dano deve ser reparado por aquele que retira algum proveito ou vantagem do
fato lesivo.
causadora do dano não é fonte de ganho. Ademais, a vítima teria o ônus de provar o
proveito econômico.
Sustenta que o dever de indenizar tem lugar sempre que o fato prejudicial é uma
decorrência da atividade ou profissão do lesado. Foi especificamente criada para
fundamentar a reparação de acidentes ocorridos com os empregados no trabalho ou por
ocasião dele, independentemente da culpa do empregador, pois antes, a responsabilidade
estranho ao trabalho que normalmente exerça, independente de culpa. Exemplo: rede elétrica
de alta tensão.
Aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um perigo, está sujeito à
reparação do dano que causar, salvo prova de haver adotado todas as medidas idôneas a
evitá-lo.
Mas e qual a diferença entre a Teoria do Risco Criado e a Teoria do Risco Proveito,
se ambas podem decorrer do exercício da profissão? Na Teoria do Risco Criado não se
22
dano resultou de uma vantagem ou benefício obtido pelo causador do dano. O agente
fortuito ou força maior. É aplicável em casos restritos, como nos danos ambientais (mas não
é pacífico) e danos nucleares.
Poderá ser:
relação jurídica.
Vimos no capítulo referente aos institutos da prescrição e decadência, que, quando se tratar
de controvérsia que diga respeito à responsabilidade CONTRATUAL, deve-se aplicar o prazo
previsto no artigo 205 do CC (10 anos de prazo prescricional). No entanto, quando envolver
responsabilidade civil EXTRACONTRATUAL, deve ser aplicado o prazo de 3 anos, do art. 206,
23
parágrafo 3º, inciso V, do CC (STJ. 2 Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi,
ou de responsabilidade sobre animais (fato de animal) e objetos que estão sob sua
guarda.
O art. 932 do CC nos apresenta aqueles que são responsáveis por fato de terceiro:
I. Os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia10;
II. O tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas
condições;
10 Vide questão 9.
24
III. O empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no
dos responsáveis pelos atos dos terceiros, ou seja, “ainda que não haja culpa de sua parte,
responderão pelos atos praticados pelos terceiros”. No entanto, para a configuração da
responsabilidade por atos dos terceiros, é necessário provar a culpa daqueles pelos quais
O fato de terceiro não exclui a sua responsabilidade, mas aquele que ressarcir o dano
causado por outrem, se este não for seu descendente, absoluta ou relativamente incapaz,
poderá reaver o que pagou. Esse entendimento decorre do chamado direito de regresso do
11 Vide questão 5.
25
No caso de prática de ato ilícito por incapaz, se os seus pais não tiverem condições de
arcar com os prejuízos causados pela atividade danosa, este responderá subsidiariamente,
desde que tenha condições financeiras para tanto. Assim, a indenização a ser paga pelo
Importante destacar que, a norma prevista no artigo 932, I determina que os pais
respondam objetivamente pelos danos causados pelos filhos. Tenha atenção, pois, para chegar
ao resultado que conduz à responsabilidade, são dois aspectos a se analisar: a comprovação
A culpa não está ligada à responsabilidade dos pais, que é objetiva, mas à comprovação
do ato ilícito. Comprovado este, os pais responderão independentemente de culpa.
Ainda, com relação ao que determina o inciso I, do artigo 932, há jurisprudência que
busca identificar o termo “sob sua autoridade e em sua companhia”. Assim, nas palavras de
Márcio André, segundo o STJ:
Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por seu filho
menor de idade, residia permanentemente em local distinto daquele no
qual morava o menor – sobre quem apenas o pai exercia autoridade de
fato – não pode ser responsabilizada pela reparação civil advinda do ato
ilícito, mesmo considerando que ela não deixou de deter o poder
familiar.12
12 CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017 - Página: 238.
26
Diante do exposto, para que um dos pais compartilhe a responsabilidade com o outro,
não basta que detenha o poder familiar, sendo indispensável que tenha condições
permanentes de controle sob os atos do filho. Isso, todavia, merece atenção especial, para
que o candidato não se confunda na prova. No caso julgado, a mãe residia permanentemente
em município distinto do de seu filho, que morava com o pai.
Isto é importante, uma vez que a justificativa de não estar presente no momento do ato
Por fim, sobre o incapaz, ainda vale apresentar decisão interessante do STJ acerca da
discernimento para entender o caráter ilícito da conduta. O dano moral é a ofensa ao direito
de personalidade, sendo o sofrimento, a dor, consequência deste ato, mas não essencial à sua
caracterização.13
detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou
força maior”14.
Esclareça-se que a responsabilidade do preposto é objetiva por fato do animal (art. 936, CC),
enquanto, a do dono, é objetiva indireta, desde que comprovada a culpa do seu preposto
28
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo
Tal artigo é claro ao estabelecer que o responsável será o habitante, não o proprietário. Se
estiver locado, a responsabilidade será do locatário.
condomínio, e que internamente, esse pode buscar o regresso contra a unidade autônoma
(o apartamento) que efetivamente causou o dano.
A Banca FGV, para AL-RO, Advogado, em 2018, considerou correta a seguinte assertiva:
“Se um objeto cai de uma janela de um apartamento edifício e não é possível identificar a
unidade de onde o mesmo foi lançado, a vítima do dano pode demandar do condomínio,
15 Vide questão 6.
29
Art. 734. “O transportador responde pelos danos causados às
será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo
ou culpa grave”.
30
Mudando de assunto, se houver coautoria ou cumplicidade no fato lesivo, responderão
que lhe é devido e instaura o direito de reembolso ao devedor, que, demandado pelo débito
solidário, satisfez a dívida por inteiro.
12.6 Reparação
Patrimonial. Significa que a pessoa deve responder com seu patrimônio pelos prejuízos
causados a terceiros. A reparação deve ser total, cobrindo o dano em todos os seus aspectos,
de modo que todos os bens do devedor, com exceção dos inalienáveis, respondam pelo
ressarcimento.
Para que haja pagamento de indenização, além da prova de culpa ou dolo na conduta,
é necessário comprovar o dano patrimonial ou extrapatrimonial suportado por alguém. Em
regra, não há responsabilidade civil sem dano, cabendo o ônus de sua prova ao autor da
demanda (art. 373, I, do CPC).
poderá demandar o espólio até onde se alcançar o saldo positivo deixado pelo de cujus aos
seus sucessores. Ou seja, os herdeiros responderão até o valor de seus montantes deixados
31
Em tese, apenas o lesado ou seus herdeiros teriam legitimação para exigir a indenização do
prejuízo, porém, atualmente, tem-se admitido que a indenização possa ser reclamada também
não poderá exceder o valor do dano causado por não se permitir enriquecimento
indevido. Ao credor se deve dar aquilo que baste para restaurar a situação ao status quo
Para se chegar ao quantum devido, de acordo com os arts. 944 e 945 do CC deverá o
magistrado analisar o grau de culpa do lesante e se houve participação (culpa) do lesado. O
patrimônio corpóreo de alguém. Pelo que consta dos arts. 186 e 403 do CC, não cabe
reparação de dano hipotético ou eventual, necessitando tais danos de prova efetiva, em
regra.
Nos termos do art. 402 do CC, os danos materiais podem ser assim subclassificados:
32
Danos emergentes ou danos positivos: o que efetivamente se perdeu. Como
deixou de receber valores com tal evento, fazendo-se o cálculo dos lucros cessantes
de acordo com a tabela fornecida pelo sindicato da classe e o tempo de
impossibilidade de trabalho. Como outro exemplo de lucros cessantes, cite-se, no
Alerte-se que para a sua reparação não se requer a determinação de um preço para a
Cumpre esclarecer que não há, no dano moral, uma finalidade de acréscimo
patrimonial para a vítima, mas sim de compensação pelos males suportados.
33
Na prova da banca VUNESP, para o cargo de Procurador da UNICAMP, aplicada em
2018, foi considerada incorreta a seguinte assertiva: “são cumuláveis as indenizações por dano
material e dano moral oriundos do mesmo fato, mas não são cumuláveis as indenizações de
A primeira parte da alternativa está de acordo com a Súmula 37, STJ, a qual reza que:
“São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”.
No entanto, a segunda parte está incorreta, pois em desacordo com a Súmula 387, STJ: “É
É possível a ocorrência de dano moral para a pessoa jurídica, pois se aplica à pessoa
jurídica, no que couber, o disposto quanto aos direitos da personalidade. Em verdade, o dano
moral da pessoa jurídica atinge a sua honra objetiva, que é a repercussão social da honra,
sendo certo que uma empresa tem uma reputação perante a coletividade 16.
No caso de corte de energia elétrica, a pessoa jurídica tem de comprovar o dano moral
para receber indenização (ou seja, não é dano in re ipsa, ao contrário do que se tem
entendido para pessoas naturais): “1. A pessoa jurídica pode sofrer dano moral desde que haja
ferimento à sua honra objetiva, ao conceito de que goza no meio social. 2. O mero corte no
da reputação da empresa. ” (STJ, REsp 1298689/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA
16 Vide questões 2 e 3.
34
12.6.2.2 Natureza Jurídica do Dano Moral
desenvolvida por Boris Starck (1947, França), é muito aplicada na Europa e especialmente
nos EUA.
Preconiza que a indenização por dano moral não tem apenas caráter compensatório
ilícito.
A teoria do desestímulo pouco a pouco vem ganhando espaço em nosso país, embora
não tenha sido totalmente abraçada pela jurisprudência, principalmente no que diz respeito
à tutela individual. O próprio projeto de reforma do Código Civil, em sua redação original,
pretende alterar o art. 944 para estabelecer que a indenização deve compensar a vítima e
desestimular o lesante.
Além disso, o Enunciado 37917 da IV Jornada reforça a teoria. E o próprio STJ vem
Os danos estéticos são tratados atualmente tanto pela doutrina quanto pela
jurisprudência como uma modalidade separada de dano extrapatrimonial. Basta à pessoa ter
sofrido uma “transformação” para que o referido dano esteja caracterizado. Tais danos, em
regra, estão presentes quando a pessoa sofre feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou
profundos em sua pele, lesão ou perda de órgãos internos ou externos do corpo, aleijões,
amputações, entre outras anomalias que atingem a própria dignidade humana.
Os danos estéticos, por serem autônomos, podem ser cumulados com os danos
materiais e com os danos morais (Súmula 387 STJ: “É lícita a cumulação das indenizações de
dano estético e dano moral”).18
17 Enunciado 379, JDC: “O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou
pedagógica da responsabilidade civil”.
18 Vide questões 2 e 9.
35
12.6.4 Perda de uma Chance19
A teoria da perda de uma chance tem origem francesa. Segundo ela, são reparáveis os
prejuízos que decorrem da frustração de uma expectativa, que possivelmente se concretizaria
em circunstâncias normais. Não é qualquer chance que é reparável. Segundo alguns autores,
ela é assim considerada quando tem mais de 50% de chance de acontecer.
Conforme o Enunciado 444 das Jornadas de Direito Civil, a responsabilidade civil pela
chance deve ser séria e real, não ficando adstrita a percentuais apriorísticos.
A teoria da perda de uma chance é aplicada pelo STJ20, que exige, no entanto, que o
dano seja REAL, ATUAL e CERTO, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera
9/6/2009).
Se do ato ilícito resultar lesão que impeça a vítima de exercer seu ofício habitual, ou lhe
diminua a capacidade para tanto, além da indenização, serão devidos alimentos na proporção
do prejuízo sofrido com a perda do ofício.
O dano moral difuso está previsto no CDC, art. 6º, VI e Lei de Ação Civil Pública,
art. 1º. Somente pode ser caracterizado como uma lesão ao direito de toda e qualquer
pessoa (e não de um direito específico de personalidade).
Esse dano moral coletivo reverte em favor do fundo previsto no art. 13 da LACP. Esse
fundo é gerido por um Conselho, com participação do MP, e tem como objetivo recompor o
dano causado.
21 Vide questão 3.
37
Houve mudança no entendimento do STJ, passando a admitir o dano moral coletivo.
Como exemplo, no caso de uma agência bancária em que para ter atendimento preferencial
(idosos, gestantes) era necessário o deslocamento, por meio de escadas, ao piso superior, o
que é incompatível. Na ocasião, foi fixado dano moral em 50 mil reais22.
danoso e do nexo de causalidade. Não importa para o Direito Ambiental que o dano tenha
origem em uma atividade lícita, ainda que esta tenha se constituído sob a égide da
regulamentação estatal, pois não seria justo para com a sociedade que a regulamentação da
exploração da atividade fosse entendida como uma licença para poluir e degradar livremente.
A Banca CESPE, na prova para Procurador do Município de Manaus (AM), em 2018 considerou
correta a seguinte assertiva: “De acordo com o STJ, a responsabilidade por dano ambiental
A ação civil pública não se presta apenas para esse fim. A Ação Civil Pública se presta à defesa
de (CDC, art. 81): (i) Interesses transindividuais (direitos difusos e coletivos); (ii) Interesses
individuais homogêneos.
propor a liquidação de seu próprio dano. Ou seja, a ACP se presta não apenas a interesses
difusos e coletivos, mas também a interesses individuais, DESDE SEJAM HOMOGÊNEOS.
Em um ilícito comum (sem ser dano moral: dano material, por exemplo) a correção
São lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu
23 Vide questão 2.
39
O que se percebe é que esses danos podem gerar repercussões materiais ou morais.
Nesse ponto, diferenciam-se os danos sociais dos danos morais coletivos, pois os últimos são
apenas extrapatrimoniais.
Danos sociais são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de
seu patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na
qualidade de vida. Os danos sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou
culpa grave, especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas de
segurança, e de indenização dissuasória.
O dano social é, portanto, uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde
com os danos materiais, morais e estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente
reprováveis, que diminuem o nível social de tranquilidade.
Alguns exemplos: o pedestre que joga papel no chão, o passageiro que atende ao
celular no avião, o pai que solta balão com seu filho. Tais condutas socialmente reprováveis
podem gerar danos como o entupimento de bueiros em dias de chuva, problemas de
40
Conforme explica Flávio Tartuce24, os danos sociais são difusos e a sua indenização deve
ser destinada não para a vítima, mas sim para um fundo de proteção ao consumidor, ao
meio ambiente etc., ou mesmo para uma instituição de caridade, a critério do juiz.
12.7 Indenização
É medida pela extensão do dano causado, mas, se a vítima tiver concorrido para o
resultado causado, a medida de sua culpa será levada em consideração para a fixação do
quantum devido.
Se do ato ilícito resultar lesão que impeça a vítima de exercer seu ofício habitual, ou
lhe diminua a capacidade para tanto, além da indenização, serão devidos alimentos na
DANOS MATERIAIS26
Juros MORATÓRIOS
DANOS MORAIS
Resolvemos tratar do seguro DPVAT no presente capítulo e não junto da análise dos
contratos de seguro, pois ele está muito ligado ao tema da responsabilidade civil.
Não houve a extinção do seguro DPVAT, pois foi ajuizada ação direta de
CF). O sistema de seguros integra o sistema financeiro nacional, subordinado ao Banco Central
do Brasil, e de acordo com o art. 192 da CF, é necessário lei complementar para tratar dos
aspectos regulatórios do sistema financeiro.
automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não. Ele tem por
objetivo mitigar os danos advindos da circulação de veículos automotores.
Tal seguro indeniza três categorias de danos: morte, invalidez permanente e despesas
médicas e suplementares. Abrange, de modo geral, os motoristas, os passageiros, os
discussões envolvendo o DPVAT, já que se trata de um seguro obrigatório por força de lei,
custeado pelos próprios motoristas, quando do pagamento do IPVA de seus veículos.
De acordo com o art. 188, I, do CC, não constituem atos ilícitos os praticados em
Podemos utilizar o Código Penal, no seu art. 25, para conceituar a legítima defesa:
Para a apuração da legítima defesa, cabe uma análise caso a caso. O agente não pode
Por outro lado, existe a figura da legítima defesa putativa, que ocorre quando o
agente imagina estar defendendo um direito seu, mas, na realidade, não está. A pessoa
imagina um perigo que, na realidade, não existe e, por isso, age imoderadamente, o que não
Prescreve o art. 188, II, do CC que não constitui ato ilícito a deterioração ou destruição
da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes a acontecer.
44
Em complemento, o parágrafo único do dispositivo disciplina que o ato será legítimo
Se, quando agir em estado de necessidade, o agente atingir terceiro inocente (que não
tiver sido responsável pelo dano), deverá indenizá-lo, com direito de regresso contra o
causador do dano, na forma dos arts. 929 e 930 do CC, à luz do princípio da solidariedade
social.
Interessante notar que o CC não consagrou uma regra específica para o estrito
cumprimento do dever legal. O art. 188, I, do CC, enuncia que não constitui ato ilícito o
A maioria da doutrina conceitua força maior como um evento inevitável, ainda que
previsível (um terremoto pode ser previsto, mas não pode ser evitado). Já o caso fortuito, é
marcado pela imprevisibilidade (um sequestro relâmpago não pode ser previsto). Anote-se
ainda, que o CC, ao tratar da matéria, no parágrafo único do art. 393, não distingue os
institutos:
45
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de
execução do serviço, de maneira que, não exclui responsabilidade civil do réu (em tese).
fortuito interno são capazes de excluir a responsabilidade civil da empresa automotiva por
eventuais danos.
Exemplo1: “A” se joga sob as rodas do veículo dirigido por “B”. Afasta-se o próprio
avisando que a sua voltagem é de 110v. A empresa pode alegar a culpa exclusiva da vítima.
Terceiro é qualquer pessoa além da vítima e do responsável: alguém que não tem
nenhuma ligação com o causador aparente do dano e o lesado. Mas, o fato de terceiro só
exclui a responsabilidade quando rompe o nexo causal entre o agente e o dano sofrido
pela vítima.
Nesses casos, o fato de terceiro equipara-se ao caso fortuito ou força maior, por ser
uma causa estranha à conduta do agente aparente, imprevisível ou inevitável.
Veja este exemplo: uma mulher ajuizou ação contra empresa de ônibus porque seu
marido foi atropelado e morto quando trafegava de bicicleta. Durante a ação ficou
comprovado que o ciclista caiu em um buraco existente na pista, e, no momento, foi atingido
na cabeça pelo ônibus. O buraco foi aberto por uma empresa prestadora de serviços
públicos, que, imprudentemente, deixou o buraco aberto. Assim, podemos concluir que a
ação foi mal endereçada.
47
Há casos em que a jurisprudência não admite a exclusão por fato de terceiros, como
do transportador, por acidente com passageiro, não se admite alegação de fato de terceiro.
acidente. A empresa deve indenizar o passageiro que sofreu alguma lesão, cabendo-lhe
exercer o direito de regresso contra o verdadeiro culpado.
A cláusula de não indenizar traduz-se na previsão contratual pela qual a parte exclui
49
QUADRO SINÓTICO
RESPONSABILIDADE CIVIL
Art. 935, CC “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
Responsabilidade questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu
civil X criminal autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”
= Princípio da independência relativa.
Art. 927, CC “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo”.
ATO ILÍCITO Ato ilícito é o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica,
(violação de violando direitos e causando prejuízos a outrem. Diante da sua
um direito + ocorrência, a norma jurídica cria o dever de reparar o dano, o que
dano) justifica ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional. O ato ilícito é
ATO ILÍCITO X
considerado como fato jurídico em sentido amplo, uma vez que produz
ABUSO DE
efeitos jurídicos que não são desejados pelo agente, mas somente
DIREITO aqueles impostos pela lei.
Já o abuso de direito é o ato que originariamente lícito, mas exercido
ABUSO DE fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-
DIREITO fé objetiva ou pelos bons costumes, ou seja, é um ato praticado em
exercício irregular ou imoderado de um direito.
A conduta humana ou fato lesivo voluntário acontece quando o
agente, por ação ou omissão, ocasiona dano a outrem, ainda que
CONDUTA exclusivamente moral. O fato poderá estar relacionado tanto a ato
próprio como a ato de terceiro e que esteja sob a guarda da pessoa.
A culpa sticto sensu pode ser conceituada como sendo o desrespeito
a um dever preexistente, não havendo propriamente uma intenção de
CULPA violar o dever jurídico (negligência, imprudência e imperícia). Já o
dolo ocorre quando o agente pratica violação intencional do dever
jurídico com o objetivo de prejudicar outrem.
PRESSUSPOSTOS
DANO O dano pode ser material (patrimonial, lesão concreta a um
interesse relativo ao patrimônio da vítima) ou moral
(extrapatrimonial, é lesão aos direitos da personalidade, de pessoa
natural ou jurídica).
NEXO É o nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do
CAUSAL agente. É uma ligação virtual entre a ação e o dano resultante. A causa
do dano deve ser o comportamento do agente.
50
É medida pela extensão do dano causado, mas, se a vítima tiver concorrido para o
INDENIZAÇÃO
resultado causado, a medida de sua culpa será levada em consideração para a fixação
do quantum devido.
Art. 944. “A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único - Se houver
excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitativamente, a indenização”. O redutor do parágrafo único do art. 944, somente
deverá ser aplicado em demandas de responsabilidade civil subjetiva.
Questões
Dano indireto X Dano reflexo ou em ricochete: no dano indireto, a vítima sofre
especiais sobre o
dois ou mais danos; já no dano reflexo ou em ricochete, temos duas ou mais
DANO
vítimas. Os dois tipos de dano geram responsabilidade/indenização. O que não gera
responsabilidade é o dano remoto.
Dano in re ipsa: caracteriza uma situação de dano que dispensa prova da dor em
juízo para ser indenizado.
51
doutrina do risco destinada a justificar o dever de indenizar
até nos casos de inexistência do nexo causal.
QUANTO AO FATO GERADOR
CONTRATUAL Quando oriunda de inexecução de negócio jurídico bilateral ou
OU NEGOCIAL unilateral. Prazo prescricional de 10 anos (art. 205, CC).
52
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei
especial, os empresários individuais e as empresas
respondem independentemente de culpa pelos
PELO FATO danos causados pelos produtos postos em
DA COISA circulação. (responsabilidade objetiva).
Art. 937. O dono de edifício ou construção
responde pelos danos que resultarem de sua
ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja
necessidade fosse manifesta.
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele,
responde pelo dano proveniente das coisas que
dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
Não precisa ser proprietário, basta habitar!
Os danos patrimoniais ou materiais constituem prejuízos ou
perdas que atingem o patrimônio corpóreo de alguém.
DANOS DANOS
PATRIMONIA EMERGENTES OU O que efetivamente se perdeu.
IS OU DANOS
MATERIAIS POSITIVOS
LUCROS
CESSANTES OU O que razoavelmente se deixou de lucrar.
DANOS
NEGATIVOS
É a lesão a direitos da personalidade.
DANOS DANOS MORAIS É possível a ocorrência de dano moral para a
MORAIS DA PESSOA pessoa jurídica, pois se aplica à pessoa
REPARAÇÃO JURÍDICA jurídica, no que couber, o disposto quanto
aos direitos da personalidade.
Os danos estéticos são tratados atualmente como uma
modalidade separada de dano extrapatrimonial. Estão presentes
quando a pessoa sofre feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou
DANOS profundos em sua pele, lesão ou perda de órgãos internos ou
ESTÉTICOS externos do corpo, aleijões, amputações, entre outras anomalias que
atingem a própria dignidade humana. Esse dano, nos casos em
questão, será também presumido (in re ipsa), como ocorre com o
dano moral objetivo.
TEORIA DA Tem origem francesa. são reparáveis os prejuízos que decorrem da
PERDA DE frustração de uma expectativa, que possivelmente se
UMA concretizaria em circunstâncias normais. Assim, ela é aplicada pelo
CHANCE STJ , que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e CERTO,
53
dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade.
DANOS É o dano que atinge, ao mesmo tempo, direitos individuais
MORAIS homogêneos e coletivos em sentido estrito, e as vítimas são
COLETIVOS determinadas ou determináveis. Por isso, a indenização deve ser
destinada para elas, as vítimas.
DANO São lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por
SOCIAIS OU rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito
DIFUSOS da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida.
JUROS TANTO NO CASO DE DANOS MATERIAIS QUANTO DE DANOS
MORATÓRIO MORAIS:
S Responsabilidade extracontratual: os juros fluem a partir do
TERMO INICIAL DOS EVENTO DANOSO (art. 398 do CC e Súmula 54 do STJ).
JUROS E CORREÇÃO Responsabilidade contratual:
MONETÁRIA Obrigação líquida (mora ex re): contados a partir do
VENCIMENTO.
Obrigação ilíquida (mora ex persona): contados a partir da
CITAÇÃO.
CORREÇÃO NO CASO DE DANOS MATERIAIS: incide correção monetária a
MONETÁRIA partir da data do efetivo PREJUÍZO (Súmula 43 do STJ).
NO CASO DE DANOS MORAIS: a correção monetária incide desde a
data do ARBITRAMENTO (Súmula 362 do STJ).
Não houve a É um seguro obrigatório contra danos pessoais causados por
extinção do veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas
seguro transportadas ou não. Se a vítima estava praticando um crime com
SEGURO DPVAT
DPVAT o veículo no momento do acidente, ela não tem direito ao seguro
DPVAT.
Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor.
LEGÍTIMA “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
DEFESA meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a
direito seu ou de outrem”.
ESTADO DE
EXCLUDENTES DE
NECESSIDADE
RESPONSABILIDADE
OU Não constitui ato ilícito a deterioração ou destruição da coisa alheia,
REMOÇÃO DE ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes a
PERIGO acontecer.
IMINENTE
54
EXERCÍCIO
REGULAR DE Não constitui ato ilícito o praticado no exercício regular de um
DIREITO OU direito reconhecido. O estrito cumprimento do dever legal afasta a
DAS responsabilização, desde que não haja abuso.
PRÓPRIAS
FUNÇÕES
CULPA OU FATO Lembre-se: a culpa concorrente NÃO exclui a
EXCLUDENTE EXCLUSIVO DA responsabilidade, havendo apenas a redução da
S DE NEXO VÍTIMA indenização devida, com base na conduta de
DE ambas as partes.
CAUSALIDAD CULPA OU FATO Só exclui a responsabilidade quando rompe o
E EXCLUSIVO DE nexo causal entre o agente e o dano sofrido
TERCEIRO pela vítima. Nesses casos, o fato de terceiro
equipara-se ao caso fortuito ou força maior.
Exceção: STF, Súmula 187: “A responsabilidade
contratual do transportador, pelo acidente com
o passageiro, não é elidida por culpa de
terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
CASO FORTUITO Não já consenso quanto à definição. São
E FORÇA MAIOR eventos: totalmente imprevisíveis ou
previsíveis, mas inevitáveis.
CLÁUSULA A cláusula de não indenizar constitui a previsão contratual pela
DE NÃO qual a parte exclui totalmente a sua responsabilidade. Essa
INDENIZAR cláusula é também denominada cláusula de irresponsabilidade ou
cláusula excludente de responsabilidade.
A cláusula de não indenizar é nula no contrato de transporte.
55
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
que causarem a terceiros, pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que
autorizarem, assegurado o direito de regresso. II. Independe de culpa a responsabilidade civil
do empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do
trabalho que lhes competir, ou em razão dele. III. É objetiva a responsabilidade civil do
fornecedor de bens ou serviços pelos danos decorrentes do fato do produto ou serviço. IV. A
B) I e IV, apenas.
C) II e III, apenas.
D) I, II e III, apenas.
Comentário:
Atenção: a responsabilidade civil dos notários e registradores é SUBJETIVA. Segundo art. 22, da
Lei 8935/94: “Os notários e oficiais de registro são civilmente responsáveis por todos os
prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que
designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso”.
56
ser afastada por fato de terceiro. Segundo o art. 735, do CC: “A responsabilidade contratual do
transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o
qual tem ação regressiva”.
As assertivas II e III estão conformes ao art. 932, III c.c. art. 933, do CC e art. 14, do CDC,
respectivamente.
Questão 2
respeito da indenização:
II. Em caso de ofensa à liberdade pessoal, a indenização consistirá no pagamento das perdas e
III. Ocorrendo usurpação ou esbulho do alheio, a indenização consistirá em pagar o valor das
suas deteriorações e o devido a título de lucros cessantes, sem prejuízo da restituição da
coisa.
A) I.
B) II e III.
C) II.
D) III.
Comentário:
57
É cabível indenização no caso de homicídio, tanto pelos danos emergentes (inc. I do art.
948, do CC), quanto pelos lucros cessantes (inc. II). Trata-se de dano reflexo (por ricochete), ou
seja, de um prejuízo sofrido por um terceiro em decorrência dos danos iniciais sofridos pela
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: I
- no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II -
Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das
perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo, tem
aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.
Questão 3
sentido estrito.
58
E) Para a caracterização do abuso do direito, há a necessidade da demonstração da existência
Comentário:
O abuso de direito está previsto no art. 187, do CC, segundo o qual: “Também comete ato
Tartuce ensina que: “o art. 187 do CC traz uma nova dimensão de ilícito, consagrando a teoria
do abuso de direito como ato ilícito, também conhecida por teoria dos atos emulativos.
Amplia-se a noção de ato ilícito, para considerar como precursor da responsabilidade civil
aquele ato praticado em exercício irregular de direitos, ou seja, o ato é originariamente lícito,
mas foi exercido fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
objetiva ou pelos bons costumes (...) para que o abuso de direito esteja configurado, nos
termos do que está previsto na atual codificação privada, é importante que tal conduta seja
praticada quando a pessoa exceda um direito que possui, atuando em exercício irregular de
direito (...) não há que se cogitar o elemento culpa na sua configuração, bastando que a
conduta exceda os parâmetros que constam do art. 187 do CC. Portanto, conforme o
entendimento majoritário da doutrina nacional, presente o abuso de direito, a
responsabilidade é objetiva, ou independentemente de culpa.” (Manual de direito civil: volume
único / Flávio Tartuce. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2017). Neste sentido, ainda, o enunciado 37 da CJF: “A responsabilidade civil decorrente do
Questão 4
59
de uma cirurgia, amputou a perna de Maria, que, muito abalada, ajuizou uma ação contra o
pudesse ser a ele atribuída necessitaria de comprovação da culpa. Por sua vez, o hospital
sustentou não ter nenhuma responsabilidade no caso em discussão, que decorreu de conduta
exclusiva do médico.
Considerando que tenha sido comprovado o dano suportado pela paciente e causado pela
conduta do médico, assinale a opção correta acerca da relação jurídica estabelecida entre as
jurídica.
E) A relação jurídica estabelecida entre Maria e o médico é uma relação jurídica de consumo.
Comentário:
O art. 932, III c.c. art. 933, do CC do CC, prevê a responsabilidade objetiva do
empregador por atos de seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que
lhes competir, ou em razão dele, cabendo-lhe ação regressiva (Art. 934, do CC). A propósito é
interessante o julgado que sintetiza um entendimento do STJ sobre demandas relativas aos
danos causados pelos médicos no interior dos hospitais, no exercício de sua atividade:
60
“(…). A responsabilidade das sociedades empresárias hospitalares por dano causado ao
paciente-consumidor pode ser assim sintetizada: (i) as obrigações assumidas diretamente pelo
complexo hospitalar limitam-se
(art. 14, caput, do CDC); (ii) os atos técnicos praticados pelos médicos sem vínculo de
emprego ou subordinação com o hospital são imputados ao
responsabilidade (art. 14, § 4.º, do CDC), se não concorreu para a ocorrência do dano; (iii)
quanto aos atos técnicos praticados de forma defeituosa pelos profissionais da saúde
responsabilizado indiretamente por ato de terceiro, cuja culpa deve ser comprovada pela
vítima de modo a fazer emergir o dever de indenizar da instituição, de natureza absoluta
(arts. 932 e 933 do CC), sendo cabível ao juiz, demonstrada a hipossuficiência do paciente,
determinar a inversão do ônus da prova (art. 6.º, VIII, do CDC). (…)” (STJ, REsp 1145728/MG, 4.ª
Turma, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, Rel. p/ Acórdão Min. Luis Felipe Salomão, j. 28.06.2011, DJe 08.09.2011)..
Questão 5
trafegava e foi surpreendido pela travessia de Pedro, que caminhava fora da faixa destinada
aos pedestres. Naquele momento, Pedro utilizava o telefone móvel para o envio de uma
mensagem de texto e não observou a aproximação do veículo conduzido por Mário. Para
61
evitar o atropelamento, Mário teve de efetuar uma manobra brusca, o que culminou na
A) A conduta de Mário foi ilícita, razão pela qual surge a obrigação de indenizar Ana.
B) A responsabilidade civil pelo acidente deve ser imputada diretamente a Pedro.
E) Mário agiu no exercício regular do direito, razão pela qual não será obrigado a indenizar
Ana.
Comentário:
Se a pessoa age estado de necessidade (para remoção de perigo iminente), em situação não
causada por aquele que sofreu o prejuízo, permanece o dever de indenizar, embora não
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra
este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao
lesado.
62
Questão 6
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.
( ) Somente gera direito a indenização o ato que transgrediu uma norma jurídica, sendo,
portanto, o ato ilícito.
ressalvado o comitente.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo.
A) V – F – F – F.
B) V – F – V – F.
C) V – V – V – V.
D) F – V – F – V.
E) F – F – V – V.
Comentário:
A primeira assertiva trata do abuso de direito, previsto no art. 187, do CC: ”Também
comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
63
Embora não seja a regra, é possível que um ato lícito gere dever de indenizar, como no
caso daquele que agindo em estado de necessidade (para remoção de perigo iminente), causa
dano a outrem, em situação não causada por este que sofreu o prejuízo, conforme art. 188, II
Segundo o art. 927, parágrafo único, do CC: “Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.”
Não há ressalva do comitente, conforme art. 932, III do CC: “São também responsáveis
pela reparação civil o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos,
no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele”.
Questão 7
II. A cláusula penal deve ser estipulada conjuntamente com a obrigação e nunca em ato
posterior, devendo referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula
64
Analisando as proposições, pode-se afirmar:
Comentário:
Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas
ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de
lucrar.
ou simplesmente à mora.
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e
as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos
postos em circulação.
Questão 8
a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem
decididas no juízo criminal.
B) Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
C) Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele
por quem pagou, mesmo que o causador do dano for descendente seu, absoluta ou
relativamente incapaz.
D) O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.
Comentário:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver
pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta
ou relativamente incapaz.
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele
66
Questão 9
Comentário:
Segundo o art. 393, do CC, “O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso
fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado”. Cabe
relembrar, todavia, que conforme ensina Flávio Tartuce, “a validade da cláusula de não
indenizar fica restrita para a responsabilidade civil contratual, envolvendo contratos civis,
paritários (aqueles que não são de adesão), que não sejam de transporte ou de guarda”
(Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017).
Questão 10
A) um ano.
67
B) dois anos.
C) três anos.
D) cinco anos.
E) dez anos.
Comentário:
A questão exigia do candidato conhecimento do Código Civil, bem como da Lei 8.935/94,
senão vejamos:
CC, Art. 206. Prescreve: (...) § 3º Em três anos: (...) V - a pretensão de reparação civil; (...)
Lei 8.935/94, art. 22. Os notários e oficiais de registro são civilmente responsáveis por todos
os prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que
68
GABARITO
Questão 1 - C
Questão 2 - B
Questão 3 - B
Questão 4 - D
Questão 5 - D
Questão 6 - B
Questão 7 - A
Questão 8 -C
Questão 9 - D
Questão 10 - C
69
QUESTÃO DESAFIO
70
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
praticado em estado de necessidade não é ato ilícito, nem por isso libera quem o pratica
de reparar o prejuízo que causou, como estabelecem os arts. 929 e 930 do CC.
Estado de Necessidade
Previsto no inciso II, do art. 188 do CC, o Estado de necessidade consiste na situação de
agressão a um direito alheio, de valor jurídico igual ou inferior àquele que se pretende
proteger, para remover perigo iminente, quando as circunstâncias do fato não autorizarem
outra forma de atuação.
Ademais, o parágrafo único do art. 188 do CC prevê que o estado de necessidade “somente
será considerado legítimo quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não
excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo”.
Assim, nas palavras dos doutrinadores Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho: “Com isso,
quer-se dizer que o agente, atuando em estado de necessidade, não está isento do dever de
atuar nos estritos limites de sua necessidade, para a remoção da situação de perigo. Será
responsabilizado, pois, por qualquer excesso que venha a cometer.” (Gagliano, Pablo Stolze;
Pamplona Filho, Rodolfo. Novo curso de direito civil, v. 3: responsabilidade civil – 17. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 165).
De acordo com os art. 929 e 930 do CC, se o terceiro atingido não for o causador da situação
de perigo, poderá exigir indenização do agente que houvera atuado em estado de
necessidade, cabendo a este ação regressiva contra o verdadeiro culpado. Ora, conforme pode
ser observado, mesmo o agente atuando em uma causa de excludente de responsabilidade
civil, continua tendo o dever de reparar, apenas possuindo o direito de regresso caso se
descubra quem foi o terceiro causador do perigo.
Essa regra é bastante criticada pela doutrina, pois, conforme aduz o doutrinador Carlos
Roberto Gonçalves: “A solução dos arts. 929 e 930 não deixa de estar em contradição com o
71
art. 188, II, pois, enquanto este considera lícito o ato, aqueles obrigam o agente a indenizar a
deterioração da coisa alheia para remover perigo iminente. (...) Tal solução pode desencorajar
muitas pessoas a tomar certas atitudes necessárias para a remoção de perigo iminente.”
(Gonçalves, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 4: responsabilidade civil – 14. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 618).
Desse modo, mesmo João agindo em estado de necessidade, ele deverá indenizar o dono do
imóvel pelo arrombamento da porta, já que não se tem notícia de quem foi o responsável
pelo incêndio.
72
LEGISLAÇÃO COMPILADA
RESPONSABILIDADE CIVIL
Súmula 37 - STJ
São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
Súmula 43 - STJ
Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.
Súmula 54 - STJ
A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorrido em seu
estacionamento.
A ausência de registro da transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante
de acidente que envolva o veículo alienado.
No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos
causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.
São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor
do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.
73
Súmula 246 - STJ
A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.
Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando
preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais.
As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e
delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.
No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta
e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.
O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a
responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco
legitimidade passiva para as ações de reparação de danos fundadas na ausência de prévia comunicação.
As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela
realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e
adequada informação.
É possível cumular a indenização do dano moral com a reparação econômica da Lei n. 10.559/2002 (Lei da
Anistia Política).
Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada
com a de indenizar.
É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de instituição financeira pelos danos decorrentes
de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito de contrato de penhor civil.
Súmula 642-STJ
O direito à indenização por danos morais transmite-se com o falecimento do titular, possuindo os herdeiros da
vítima legitimidade ativa para ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória.
Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil.
Para a ação de indenização, em caso de avaria, é dispensável que a vistoria se faça judicialmente.
É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado.
75
Súmula 492 - STF
A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados
a terceiro, no uso do carro locado.
Na indenização de danos materiais decorrentes de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, para
esse fim, dentre outros critérios, dos índices de correção monetária.
76
JURISPRUDÊNCIA
STJ. 4ª Turma. REsp 1374735-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/8/2014 (Info 545).
Comentário:
De acordo com esse julgado, caso o magistrado não definir, na fase de
conhecimento, o termo inicial para a contabilização dos juros moratórios, deve-se
STJ. 3ª Turma. REsp 1513262-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/8/2015 (Info
567).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. MENSALIDADES ESCOLARES. JUROS
MORATÓRIOS. TERMO INICIAL. VENCIMENTO. MORA EX RE. ART. 397 DO CÓDIGO CIVIL. PRECEDENTES.
77
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO EDUCACIONAL. PROCESSUAL CIVIL. 1. A controvérsia diz respeito ao termo inicial dos
juros de mora em cobrança de mensalidades escolares: se deve ser a data de vencimento de cada prestação
ou da citação da devedora. 2. Os artigos 219 do CPC e 405 do CC/2002 devem ser interpretados à luz do
ordenamento jurídico, tendo aplicação residual para casos de mora ex persona - evidentemente, se ainda não
houve a prévia constituição em mora por outra forma legalmente admitida. 3. A mora ex re independe de
qualquer ato do credor, como interpelação ou citação, porquanto decorre do próprio inadimplemento de
obrigação positiva, líquida e com termo implementado. Precedentes. 4. Se o contrato de prestação de serviço
educacional especifica o valor da mensalidade e a data de pagamento, os juros de mora fluem a partir do
vencimento das prestações, a teor do artigo 397 do Código Civil. 5. Recurso especial provido.” (negritamos)
Comentário:
Lembre-se do que determina o caput do art. 397, CC:
Art. 397. “O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de
pleno direito em mora o devedor.”
A partir da leitura desse artigo depreendemos quando um documento traz a data de
vencimento, os juros de mora, no caso de não pagamento, começam a contar a partir dela.
No caso, tratam-se de mensalidades escolares, que tinham data certa de vencimento.
O STJ determinou que a mora é ex re (ou automática), ou seja, não é necessária mais
nenhuma providência adicional por parte do credor para constituir o devedor em mora. Assim,
os juros de mora fluem a partir do vencimento das prestações (e não da data da citação).
STJ. 4ª Turma. REsp 1270983-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/3/2016 (Info 580).
78
do valor indenizatório - sobre o qual incidirá os juros de mora, a partir do evento danoso - corresponde a
uma única prestação pecuniária. 5. No tocante ao pensionamento fixado pelo Tribunal de origem, por ser
uma prestação de trato sucessivo, os juros moratórios não devem iniciar a partir do ato ilícito - por não ser
uma quantia singular -, tampouco da citação - por não ser ilíquida -, mas devem ser contabilizados a partir
do vencimento de cada prestação, que ocorre mensalmente. 6. Quanto às parcelas vincendas, não há razões
para mantê-las na relação estabelecida com os juros de mora. Sem o perfazimento da dívida, não há como
imputar ao devedor o estigma de inadimplente, tampouco o indébito da mora, notadamente se este for
pontual no seu pagamento. 7. Recurso especial parcialmente provido para determinar o vencimento mensal da
pensão como termo inicial dos juros de mora, excluindo, nesse caso, as parcelas vincendas.” (negritamos)
Comentário:
Na responsabilidade civil extracontratual, se houver a fixação de pensionamento
mensal, os juros moratórios deverão ser contabilizados a partir do vencimento de cada
prestação, e não da data do evento danoso ou da citação.
Sobre as parcelas que ainda irão vencer (vincendas), não há a incidência do juros de
mora. Portanto, a súmula 54, STJ aplica-se apenas às condenações por responsabilidade
civil extracontratual em parcela única.
STJ. 3ª Turma. REsp 1291247-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/8/2014 (Info
549).
79
no futuro, fazer uso em tratamento de saúde. 6. Arbitramento de indenização pelo dano extrapatrimonial sofrido
pela criança prejudicda. 7. Doutrina e jurisprudência acerca do tema. 8. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.”
(negritamos)
Comentário:
De acordo com este julgado, a criança tem direito a indenização com base na teoria
da perda de uma chance se não tiver recolhidas suas células-tronco embrionárias no
momento de seu parto.
No caso, os pais da criança, antes de seu nascimento, contrataram os serviços de uma
empresa de coleta e armazenamento de células-tronco do cordão umbilical. No entanto, no
dia do parto, nenhum representante da empresa conpareceu e a coleta do cordão umbilical
não foi mais possível.
Diante disso, o recém-nascido do casal, representado por seus pais, ajuizou ação de
indenização por danos morais contra a empresa.
O caso chegou ao STJ, que sedimentou ser cabível a indenização pelo fato de
a criança ter frustrada a chance de, no futuro, usar suas células embrionárias em algum
tratamento de saúde.
A chance perdida foi indenizada em R$60.000,00 (sessenta mil reais).
Sempre se lembre que, no caso do uso da teoria da perda de uma chance, a
indenização se dá pela chance perdida e não pelo dano causado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1254141-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012 (Info 513).
EMENTA: “DIREITO CIVIL. CÂNCER. TRATAMENTO INADEQUADO. REDUÇÃO DAS POSSIBILIDADES DE CURA.
ÓBITO. IMPUTAÇÃO DE CULPA AO MÉDICO. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA TEORIA DA
RESPONSABILIDADE CIVIL PELA PERDA DE UMA CHANCE. REDUÇÃO PROPORCIONAL DA INDENIZAÇÃO.
RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O STJ vem enfrentando diversas hipóteses de responsabilidade
civil pela perda de uma chance em sua versão tradicional, na qual o agente frustra à vítima uma
oportunidade de ganho. Nessas situações, há certeza quanto ao causador do dano e incerteza quanto à
respectiva extensão, o que torna aplicável o critério de ponderação característico da referida teoria para a
fixação do montante da indenização a ser fixada. Precedentes. 2. Nas hipóteses em que se discute erro
médico, a incerteza não está no dano experimentado, notadamente nas situações em que a vítima vem a
óbito. A incerteza está na participação do médico nesse resultado, à medida que, em princípio, o dano é
causado por força da doença, e não pela falha de tratamento. 3. Conquanto seja viva a controvérsia, sobretudo
no direito francês, acerca da aplicabilidade da teoria da responsabilidade civil pela perda de uma chance nas
80
situações de erro médico, é forçoso reconhecer sua aplicabilidade. Basta, nesse sentido, notar que a chance,
em si, pode ser considerado um bem autônomo, cuja violação pode dar lugar à indenização de seu
equivalente econômico, a exemplo do que se defende no direito americano. Prescinde-se, assim, da difícil
sustentação da teoria da causalidade proporcional. 4. Admitida a indenização pela chance perdida, o valor do
bem deve ser calculado em uma proporção sobre o prejuízo final experimentado pela vítima. A chance, contudo,
jamais pode alcançar o valor do bem perdido. É necessária uma redução proporcional. 5. Recurso especial
conhecido e provido em parte, para o fim de reduzir a indenização fixada .” (negritamos)
Comentário:
De acordo com o STJ, pode a teoria da perda de uma chance ser aplicada em casos de
erro médico.
Deve o magistrado analisar o caso concreto e aplicar tal teoria caso restar provado que
STJ. 4ª Turma. EDcl no AgRg no Ag 1196957/DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
10/04/2012 (Info 495).
81
de informar, a tempo, a autora do segundo sorteio. Não é conseqüência inerente a qualquer dano material a
existência de dano moral indenizável. Não foram descritas nos autos consequências extrapatrimoniais passíveis de
indenização em decorrência do aborrecimento de se ver a autora privada de participar do segundo sorteio. 6.
Embargos de declaração acolhidos com efeitos modificativos.” (negritamos)
Comentário:
Aluno, leia os trechos da ementa por nós grifados para entender o caso concreto.
Destacamos que o STJ entendeu haver a violação, pelo hipermercado, do regulamento
de um sorteio, o que fez com que uma das 900 sorteadas ficasse impedida de participar do
segundo sorteio e, portanto, de concorrer, efetivamente, a uma das trinta casas.
Foi discutido como deve ser calculado o quantum da indenização quando for baseado
na teoria da perda de uma chance.
O STJ entende que a quantia a ser dimensionada pelo juiz não deve se basear no valor
do resultado final que deixou de ser obtido devido a perda da oportunidade. Assim, no
caso, a consumidora não merece o valor de uma casa sorteada (pois não foi a casa que ela
perdeu), mas sim uma indenização pela chance séria e real de ganhar a casa.
Como a consumidora foi informada que seriam 900 pessoas concorrendo a 30 casas, a
probabilidade de que ela ganhasse seria de 1/30. Logo a indenização a ser paga pelo
STJ. 3ª Turma. REsp 1637375-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 17/11/2020 (Info
683)
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MATERIAIS. PERDA DE PRAZO. EMBARGOS
MONITÓRIOS. DESÍDIA DO ADVOGADO. ART. 535 DO CPC/1973. VIOLAÇÃO. INEXISTÊNCIA. REPARAÇÃO
CIVIL. SÚMULAS NºS 283 E 284/STF. REVELIA. INDENIZAÇÃO. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Recurso especial
interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados
Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia dos autos (i) a definir se houve julgamento extra
petita decorrente da condenação pela perda de uma chance e (iii) a verificar a existência de dano decorrente
da perda de prazo para oposição de defesa em ação monitória. 3. O princípio da congruência ou da adstrição
determina que o magistrado deve decidir a lide dentro dos limites fixados pelas partes (arts. 128 e 460 do
CPC/1973). 4. Os pedidos formulados devem ser examinados a partir de uma interpretação lógico-
sistemática, não podendo o magistrado se esquivar da análise ampla e detida da relação jurídica posta,
mesmo porque a obrigatória adstrição do julgador ao pedido expressamente formulado pelo autor pode ser
82
mitigada em observância aos brocardos da mihi factum dabo tibi ius (dá-me os fatos que te darei o direito) e
iura novit curia (o juiz é quem conhece o direito). 5. Na hipótese, a causa de pedir está fundada na
oposição intempestiva dos embargos monitórios e na ausência de informações acerca da revelia
decretada nos autos, enquanto o pedido é de indenização por danos materiais. 6. Inexiste o alegado
julgamento extra petita, pois o autor postulou indenização por danos materiais e as instâncias ordinárias
condenaram o réu em conformidade com o pedido ao fundamento da perda de uma chance, apenas
concedendo a reparação em menor extensão. 7. O recurso não ataca os fundamentos do acórdão recorrido,
motivo pelo qual incidem, por analogia, as Súmulas nºs 283 e 284/STF. 8. Rever as conclusões da Corte local,
inclusive aquelas referentes aos efeitos da revelia na ação monitória, demandaria o revolvimento do conjunto
fático-probatório carreado aos autos, procedimento que atrai o óbice da Súmula nº 7/STJ. 9. Recurso especial
não provido.” (negritamos)
Comentário:
No caso, o autor fez o pedido de indenização por danos materiais devido ao fato de
seu advogado ter perdido o prazo para apresentar embargos monitórios. O juiz condenou o
advogado por indenização baseada na teoria da perda de uma chance. O juiz agiu
corretamente ou seu julgamento foi extra petita? Conforme o STJ, o juiz agiu de maneira
correta, não ferindo o princípio da congruência.
Conforme lemos na ementa acima, o juiz decidiu a lide dentro dos limites fixados
pelo autor, apenas modificou o fundamento jurídico. Aplica-se ao caso os brocardos da mihi
factum dabo tibi ius (dá-me os fatos que te darei o direito) e iura novit curia (o juiz é quem
conhece o direito).
STJ. 4ª Turma, REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/11/2010
EMENTA: “RESPONSABILIDADE CIVIL. ADVOCACIA. PERDA DO PRAZO PARA CONTESTAR. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS FORMULADA PELO CLIENTE EM FACE DO PATRONO. PREJUÍZO MATERIAL PLENAMENTE
INDIVIDUALIZADO NA INICIAL. APLICAÇÃO DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE. CONDENAÇÃO EM DANOS
MORAIS. JULGAMENTO EXTRA PETITA RECONHECIDO. 1. A teoria da perda de uma chance (perte d'une
chance) visa à responsabilização do agente causador não de um dano emergente, tampouco de lucros
cessantes, mas de algo intermediário entre um e outro, precisamente a perda da possibilidade de se buscar
posição mais vantajosa que muito provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado. Nesse
passo, a perda de uma chance - desde que essa seja razoável, séria e real, e não somente fluida ou hipotética -
é considerada uma lesão às justas expectativas frustradas do indivíduo, que, ao perseguir uma posição
83
jurídica mais vantajosa, teve o curso normal dos acontecimentos interrompido por ato ilícito de terceiro. 2.
Em caso de responsabilidade de profissionais da advocacia por condutas apontadas como ‘, e diante do aspecto
relativo à incerteza da vantagem não experimentada, as demandas que invocam a teoria da "perda de uma
chance" devem ser solucionadas a partir de uma detida análise acerca das reais possibilidades de êxito do
processo, eventualmente perdidas em razão da desídia do causídico. Vale dizer, não é o só fato de o advogado
ter perdido o prazo para a contestação, como no caso em apreço, ou para a interposição de recursos, que
enseja sua automática responsabilização civil com base na teoria da perda de uma chance. É absolutamente
necessária a ponderação acerca da probabilidade - que se supõe real - que a parte teria de se sagrar
vitoriosa. 3. Assim, a pretensão à indenização por danos materiais individualizados e bem definidos na inicial,
possui causa de pedir totalmente diversa daquela admitida no acórdão recorrido, de modo que há julgamento
extra petita se o autor deduz pedido certo de indenização por danos materiais absolutamente identificados na
inicial e o acórdão, com base na teoria da "perda de uma chance", condena o réu ao pagamento de indenização
por danos morais. 4. Recurso especial conhecido em parte e provido.” (negritamos)
Comentário:
Em caso de responsabilidade de profissionais da advocacia por condutas apontadas
como no caso em apreço, ou para a interposição de recursos, que enseja sua automática
responsabilização civil com base na teoria da perda de uma chance. É absolutamente
necessária a ponderação acerca da probabilidade — que se supõe real — que a parte teria
de se sagrar vitoriosa. Portanto, em casos similares, deve haver a análise de cada caso
concreto.
De acordo com o STJ, a teoria da perda de uma chance insere-se em uma terceira
categoria, visando à responsabilização do agente causador não por dano emergente e nem
por lucros cessantes, mas sim por algo intermediário entre eles. Analisa-se a perda de uma
posição mais vantajosa que, provavelmente, o lesado alcançaria no caso de não ser sido
84
Abuso de direito
STJ. 3ª Turma. REsp 1467888-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/10/2016 (Info 592).
EMENTA: “Controvérsia: dizer se o manejo de habeas corpus, pelo recorrido, com o fito de impedir a
interrupção da gestação da primeira recorrente, que tinha sido judicialmente deferida, caracteriza-se como
abuso do direito de ação e/ou ação passível de gerar responsabilidade civil de sua parte, pelo manejo
indevido de tutela de urgência. Diploma legal aplicável à espécie: Código Civil - arts. 186, 187, 188 e 927.
Inconteste a existência de dano aos recorrentes, na espécie, porquanto a interrupção da gestação do feto com
síndrome de Body Stalk, que era uma decisão pensada e avalizada por médicos e pelo Poder Judiciário, e
ainda assim, de impactos emocionais incalculáveis, foi sustada pela atuação do recorrido. Necessidade de
perquirir sobre a ilicitude do ato praticado pelo recorrido, buscando, na existência ou não - de amparo legal ao
procedimento de interrupção de gestação, na hipótese de ocorrência da síndrome de body stalk e na
possibilidade de responsabilização, do recorrido, pelo exercício do direito de ação - dizer da existência do ilícito
compensável; Reproduzidas, salvo pela patologia em si, todos efeitos deletérios da anencefalia, hipótese para
qual o STF, no julgamento da ADPF 54, afastou a possibilidade de criminalização da interrupção da
gestação, também na síndrome de body-stalk, impõe-se dizer que a interrupção da gravidez, nas
circunstâncias que experimentou a recorrente, era direito próprio, do qual poderia fazer uso, sem risco de
persecução penal posterior e, principalmente, sem possibilidade de interferências de terceiros, porquanto, ubi
eadem ratio, ibi eadem legis dispositio. (Onde existe a mesma razão, deve haver a mesma regra de Direito) Nessa
linha, e sob a égide da laicidade do Estado, aquele que se arrosta contra o direito à liberdade, à intimidade e
a disposição do próprio corpo por parte de gestante, que busca a interrupção da gravidez de feto sem
viabilidade de vida extrauterina, brandindo a garantia constitucional ao próprio direito de ação e à defesa
da vida humana, mesmo que ainda em estágio fetal e mesmo com um diagnóstico de síndrome
incompatível com a vida extrauterina, exercita, abusivamente, seu direito de ação. A sôfrega e imprudente
busca por um direito, em tese, legítimo, que, no entanto, faz perecer no caminho, direito de outrem, ou
mesmo uma toldada percepção do próprio direito, que impele alguém a avançar sobre direito alheio, são
considerados abuso de direito, porque o exercício regular do direito, não pode se subverter, ele mesmo, em
uma transgressão à lei, na modalidade abuso do direito, desvirtuando um interesse aparentemente legítimo,
pelo excesso. A base axiológica de quem defende uma tese comportamental qualquer, só tem terreno fértil,
dentro de um Estado de Direito laico, no campo das próprias ideias ou nos Órgãos legislativos competentes,
podendo neles defender todo e qualquer conceito que reproduza seus postulados de fé, ou do seu imo, havendo
aí, não apenas liberdade, mas garantia estatal de que poderá propagar o que entende por correto, não
possibilitando contudo, essa faculdade, o ingresso no círculo íntimo de terceiro para lhe ditar, ou tentar ditar,
seus conceitos ou preconceitos. Esse tipo de ação faz medrar, em seara imprópria, o corpo de valores que
defende - e isso caracteriza o abuso de direito - pois a busca, mesmo que por via estatal, da imposição de
85
particulares conceitos a terceiros, tem por escopo retirar de outrem, a mesma liberdade de ação que
vigorosamente defende para si. Dessa forma, assentado que foi, anteriormente, que a interrupção da gestação da
recorrente, no cenário apresentado, era lídimo, sendo opção do casal - notadamente da gestante - assumir ou
descontinuar a gestação de feto sem viabilidade de vida extrauterina, há uma vinculada remissão à proteção
constitucional aos valores da intimidade, da vida privada, da honra e da própria imagem dos recorrentes
(art. 5º, X, da CF), fato que impõe, para aquele que invade esse círculo íntimo e inviolável, responsabilidade
pelos danos daí decorrentes. Recurso especial conhecido e provido.” (negritamos)
Comentário:
Aluno, leia pelo menos os trechos por nós negritados na ementa acima, pois ela está
muito didática.
gravidez em que o feto tem síndrome irreversível, incompatível com a vida extrauterina.
No caso, um padre que impetrou o HC em favor de um feto que portava uma má
formação conhecida como "Síndrome de Body Stalk". Algum tempo depois, os pais do
nascituro, ajuizaram ação de indenização por danos morais contra o padre, alegando que a
sua conduta foi abusiva, que resultou em sofrimento e angústia para o casal, já que tiveram
que prosseguir com a gravidez, sendo que houve o nascimento da criança, que faleceu poucos
minutos depois.
O caso chegou ao STJ, que definiu estar caracterizado o abuso de direito, fixando
consequente indenização por danos morais. Houve clara violação ao direito de intimidade,
vida privada, honra e imagem do casal e principalmente da mãe (art. 5º, X, da CF/88).
STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/3/2020 (repercussão
geral – Tema 932) (Info 969).
86
CÓDIGO CIVIL. APLICABILIDADE PELA JUSTIÇA DO TRABALHO. 1. A responsabilidade civil subjetiva é a regra no
Direito brasileiro, exigindo-se a comprovação de dolo ou culpa. Possibilidade, entretanto, de previsões
excepcionais de responsabilidade objetiva pelo legislador ordinário em face da necessidade de justiça plena
de se indenizar as vítimas em situações perigosas e de risco como acidentes nucleares e desastres
ambientais. 2. O legislador constituinte estabeleceu um mínimo protetivo ao trabalhador no art. 7º, XXVIII,
do texto constitucional, que não impede sua ampliação razoável por meio de legislação ordinária . Rol
exemplificativo de direitos sociais nos artigos 6º e 7º da Constituição Federal. 3. Plena compatibilidade do art.
927, parágrafo único, do Código Civil com o art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal, ao permitir hipótese
excepcional de responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho, nos
casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor implicar, por sua
natureza, outros riscos, extraordinários e especiais. Possibilidade de aplicação pela Justiça do Trabalho. 4. Recurso
Extraordinário desprovido. TEMA 932. Tese de repercussão geral: "O artigo 927, parágrafo único, do Código
Civil é compatível com o artigo 7º, XXVIII, da Constituição Federal, sendo constitucional a responsabilização
objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua natureza, apresentar exposição habitual a risco
especial, com potencialidade lesiva e implicar ao trabalhador ônus maior do que aos demais membros da
coletividade". (negritamos)
Comentário:
O STF decidiu, em sede de repercussão geral, que o art. 927, § único, do CC é
compatível com o art. 7º, XXVIII da CF. Julgou, portanto, constitucional a responsabilização
objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho nos casos
STJ. 4ª Turma. REsp 1436401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599).
EMENTA: “DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE OUTREM - PAIS PELOS ATOS PRATICADOS
PELOS FILHOS MENORES. ATO ILÍCITO COMETIDO POR MENOR. RESPONSABILIDADE CIVIL MITIGADA E
SUBSIDIÁRIA DO INCAPAZ PELOS SEUS ATOS (CC, ART. 928). LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INOCORRÊNCIA. 1.
A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária e mitigada (CC, art. 928). 2. É
subsidiária porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima; é
condicional e mitigada porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio mínimo do
infante (CC, art. 928, par. único e En. 39/CJF); e deve ser equitativa, tendo em vista que a indenização deverá
87
ser equânime, sem a privação do mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz (CC, art. 928, par.
único e En. 449/CJF). 3. Não há litisconsórcio passivo necessário, pois não há obrigação - nem legal, nem por
força da relação jurídica (unitária) - da vítima lesada em litigar contra o responsável e o incapaz. É possível, no
entanto, que o autor, por sua opção e liberalidade, tendo em conta que os direitos ou obrigações derivem do
mesmo fundamento de fato ou de direito (CPC,73, art. 46, II) intente ação contra ambos - pai e filho -, formando-
se um litisconsórcio facultativo e simples. 4. O art. 932, I do CC ao se referir a autoridade e companhia dos pais
em relação aos filhos, quis explicitar o poder familiar (a autoridade parental não se esgota na guarda),
compreendendo um plexo de deveres como, proteção, cuidado, educação, informação, afeto, dentre outros,
independentemente da vigilância investigativa e diária, sendo irrelevante a proximidade física no momento
em que os menores venham a causar danos. 5. Recurso especial não provido”. (negritamos)
Comentário:
A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária,
condicional, mitigada e equitativa. Os incapazes (ex: filhos menores), quando praticarem atos
que causem prejuízos, terão responsabilidade subsidiária, condicional, mitigada e equitativa,
nos termos do art. 928 do CC.
Subsidiária: porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para
ressarcir a vítima.
Condicional e mitigada: porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do
patrimônio mínimo do infante.
Equitativa: tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação do
mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz.
A responsabilidade dos pais dos filhos menores será substitutiva, exclusiva e não
solidária.
Ressalta-se que o litisconsórcio entre o pai (ou mãe) e filho não é necessário (art. 932,
I, CC). O autor da ação (vítima do dano), se quiser, pode intentá-la contra ambos. E, caso o
fizer, evidencia-se um litisconsórcio passivo facultativo e simples.
Por último, o STJ também destacou que o responsável pelo filho não se isentará das
obrigações derivadas do poder familiar, apenas pelo fato de não viver companhia do menor.
É, portanto, irrelevante a proximidade física no momento em que o menor venha a causar
danos.
88
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1414776-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/02/2020 (Info 666)
EMENTA: “AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS.
FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS HOSPITALARES. DEMORA PARA AUTORIZAÇÃO DE CIRURGIA DE
URGÊNCIA. ÓBITO DA PACIENTE. HOSPITAL E PLANO DE SAÚDE PERTENCENTES À MESMA REDE.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. NEXO CAUSAL ENTRE CONDUTA E RESULTADO. AGRAVO INTERNO NÃO
PROVIDO. 1. Se o contrato é fundado na prestação de serviços médicos e hospitalares próprios e/ou
credenciados, no qual a operadora de plano de saúde mantém hospitais e emprega médicos ou indica um
rol de conveniados, não há como afastar sua responsabilidade solidária pela má prestação do serviço. 2. A
operadora do plano de saúde, na condição de fornecedora de serviço, responde perante o consumidor pelos
defeitos em sua prestação, seja quando os fornece por meio de hospital próprio e médicos contratados ou por
meio de médicos e hospitais credenciados, nos termos dos arts. 2º, 3º, 14 e 34 do Código de Defesa do
Consumidor, art. 1.521, III, do Código Civil de 1916 e art. 932, III, do Código Civil de 2002. Essa
responsabilidade é objetiva e solidária em relação ao consumidor, mas, na relação interna, respondem o
hospital, o médico e a operadora do plano de saúde nos limites da sua culpa. (REsp 866.371/RS, Rel. Ministro
RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe de 20/08/2012). 3. Hipótese em que a paciente,
tendo sofrido uma queda em 20/05/2013, foi diagnosticada com trauma grave na coluna cervical, com indicação
de cirurgia de urgência, e somente foi operada em 12/06/2013, vindo a óbito no dia seguinte, em virtude de
tromboembolia pulmonar. Nos termos do consignado pelas instâncias ordinárias, o estado de saúde da paciente,
idosa e portadora de patologias de alto risco, agravou-se em decorrência da demora injustificada - 22 (vinte e
dois) dias - para a autorização da cirurgia, resultando na evolução para o quadro de choque fatal. 4. A demora
para a autorização da cirurgia indicada como urgente pela equipe médica do hospital, sem justificativa plausível,
caracteriza defeito na prestação do serviço da operadora do plano de saúde, resultando na sua responsabilização.
5. Agravo interno a que se nega provimento.” (negritamos)
Comentário:
A operadora de plano de saúde tem responsabilidade solidária por defeito na
prestação de serviço médico, quando o presta por meio de hospital próprio e médicos
contratados, ou por meio de médicos e hospitais credenciados.
No caso, houve uma grande demora (22 dias) para a autorização de uma cirurgia
considerada urgente pela equipe médica do hospital credenciado ao plano, resultando no
óbito da paciente. Isso caracterizou defeito na prestação do serviço, devendo o plano ser
responsabilizado solidariamente com o hospital e os médicos em relação ao consumidor.
No entanto, preste atenção no seguinte detalhe: se o plano de saúde houver pago ao
consumidor ou aos seus herdeiro a dívida toda, pode, em ação regressiva, averiguar a culpa
do médico ou do hospital, que responderão pelos danos no limite de suas culpas. Assim
89
entendeu o STJ também no seguinte julgado: STJ. 4ª Turma. REsp 866371-RS, Rel. Min. Raul
Araújo, julgado em 27/3/2012 (Info 494).
Danos morais
STJ. 4ª Turma. REsp 1.760.943-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/03/2019 (Info 647).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AIDS. RELAÇÃO DE FAMÍLIA. TRANSMISSÃO DO VÍRUS
HIV. COMPANHEIRO QUE INFECTOU A PARCEIRA NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL. CARACTERIZAÇÃO
DA CULPA. OCORRÊNCIA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E DANOS MORAIS. CABIMENTO. 1. A
família deve cumprir papel funcionalizado, servindo como ambiente propício para a promoção da dignidade e a
realização da personalidade de seus membros, integrando sentimentos, esperanças e valores, servindo como
alicerce fundamental para o alcance da felicidade. No entanto, muitas vezes este mesmo núcleo vem sendo
justamente o espaço para surgimento de intensas angústias e tristezas dos entes que o compõem, cabendo ao
aplicador do direito a tarefa de reconhecer a ocorrência de eventual ilícito e o correspondente dever de
indenizar. 2. O parceiro que suspeita de sua condição soropositiva, por ter adotado comportamento
sabidamente temerário (vida promíscua, utilização de drogas injetáveis, entre outros), deve assumir os
riscos de sua conduta, respondendo civilmente pelos danos causados. 3. A negligência, incúria e
imprudência ressoam evidentes quando o cônjuge/companheiro, ciente de sua possível contaminação, não
realiza o exame de HIV (o Sistema Único de Saúde - SUS disponibiliza testes rápidos para a detecção do
vírus nas unidades de saúde do país), não informa o parceiro sobre a probabilidade de estar infectado nem
utiliza métodos de prevenção, notadamente numa relação conjugal, em que se espera das pessoas,
intimamente ligadas por laços de afeto, um forte vínculo de confiança de uma com a outra . 4. Assim,
considera-se comportamento de risco a pluralidade de parceiros sexuais e a utilização, em grupo, de drogas
psicotrópicas injetáveis, e encontram-se em situação de risco as pessoas que receberam transfusão de sangue ou
doações de leite, órgãos e tecidos humanos. Essas pessoas integram os denominados "grupos de risco" em razão
de seu comportamento facilitar a sua contaminação. 5. Na hipótese dos autos, há responsabilidade civil do
requerido, seja por ter ele confirmado ser o transmissor (já tinha ciência de sua condição), seja por ter
assumido o risco com o seu comportamento, estando patente a violação a direito da personalidade da
autora (lesão de sua honra, de sua intimidade e, sobretudo, de sua integridade moral e física), a ensejar
reparação pelos danos morais sofridos. 6. Na espécie, ficou constatado o liame causal entre a conduta do réu
e o contágio da autora, diante da vida pregressa do causador do dano, que, numa cadeia epidêmica,
acarretou a transmissão do vírus HIV. Não se verificou, por outro lado, culpa exclusiva ou, ao menos,
concorrente da vítima, não tendo sido demonstrado que ela tivesse conhecimento da moléstia e ainda assim
mantivesse relações sexuais, nem que ela houvesse utilizado mal ou erroneamente o preservativo. Logo, não se
90
apreciou a questão à luz da participação da vítima para o resultado no sentido de considerar eventual exclusão
do nexo causal ou redução da indenização. Concluir de forma diversa do acórdão recorrido ensejaria o
revolvimento fático-probatório dos autos, o que encontra óbice na Súmula n. 7 do STJ. 7. No que toca aos danos
materiais, a indenização, em regra, deverá ter em vista os custos para manter certas resistências contra a
propensão de infecções, o que se consegue por meio de coquetéis de medicamentos (ou drogas poderosas), em
combinação com medicações antivirais comuns, mais de finalidade inibidora, a serem ingeridos ciclicamente, mas
em constante repetição. Deverá compreender as despesas médico-hospitalares e as exigidas para a assistência
terapêutica e psicológica, bem como aquilo que a pessoa contaminada deixou de ganhar, se interrompida a
atividade que exercia. No caso, justamente com base na causa de pedir e do pedido, delimitantes da
controvérsia, é que foi indeferido o pleito indenizatório quanto ao dano material, haja vista a ausência de provas
de que a vítima estaria incapacitada para o trabalho. Decidir fora da pretensão autoral ensejaria julgamento extra
petita. Por outro lado, chegar a conclusão diversa do acórdão recorrido em relação à capacidade para o exercício
da atividade laboral demandaria o revolvimento fático-probatório dos autos, o que encontra óbice na súmula 7
do STJ. 8. Em relação aos danos morais, o acórdão recorrido utilizou o critério bifásico - inclusive se valendo de
precedentes do STJ a respaldar o quantum indenizatório -, além de ter ponderado as peculiaridades do caso com
o interesse jurídico lesado. Dessarte, somente com a demonstração de que a quantia arbitrada se revelou ínfima
ou irrisória ante valores comumente estabelecidos em situações análogas por este STJ é que se poderia ensejar
nova análise por esta Corte, o que não ocorreu na espécie. 9. Recursos especiais não providos.” (negritamos)
Comentário:
Conforme lemos na ementa do presente julgado, o STJ decidiu que o cônjuge deve
indenizar o outro por danos materiais e morais no caso de transmissão de HIV sem ter
lhe avisado da possibilidade de estar infectado.
No caso concreto, o transmissor de HIV não sabia que era soropositivo, no entanto,
tinha um comportamento sabidamente temerário (vida promíscua, utilização de drogas
injetáveis, entre outros). Não se verificou, por outro lado, culpa exclusiva ou, ao menos,
concorrente da vítima, não tendo sido demonstrado que ela tivesse conhecimento da moléstia
e ainda assim mantivesse relações sexuais, nem que ela houvesse utilizado mal ou
erroneamente o preservativo.
Se existentes, os danos materiais podem abarcar despesas médico-hospitalares, as
exigidas para a assistência terapêutica e psicológica e também o que a pessoa infectada
deixou de ganhar caso tenha interrompido a atividade que exercia.
O mais importante é lembrar o seguinte: deve haver a responsabilidade civil do cônjuge
(ou companheiro), seja por ter ele confirmado ser o transmissor de HIV (já tinha ciência de sua
condição), seja por ter assumido o risco com o seu comportamento, estando patente a
91
violação a direito da personalidade de seu cônjuge (lesão de sua honra, de sua intimidade
e, sobretudo, de sua integridade moral e física), a ensejar reparação pelos danos morais
sofridos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.786-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/10/2018 (Info
637)
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AGRESSÕES. FÍSICAS E VERBAL.
MORAL. ÁRBITRO. PARTIDA DE FUTEBOL. RESPONSABILIDADE CIVIL. JOGADOR. ATO ILÍCITO. CONFIGURAÇÃO.
CONDUTA. DESPROPORCIONALIDADE. DANO À HONRA E IMAGEM. CONFIGURAÇÃO. REPARAÇÃO DEVIDA.
JUSTIÇA COMUM. CONDENAÇÃO. JUSTIÇA DESPORTIVA. IRRELEVÂNCIA. 1. Recurso especial interposto contra
acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. A controvérsia a ser dirimida no recurso especial reside em verificar se as agressões físicas e verbais
perpetradas por jogador profissional contra árbitro de futebol, na ocasião de disputa da partida final de
importante campeonato estadual de futebol, constituem ato ilícito indenizável na Justiça Comum,
independentemente de eventual punição aplicada na esfera da Justiça Desportiva. 3. Nos termos da Constituição
Federal e da Lei nº 9.615/1998 (denominada "Lei Pelé"), a competência da Justiça Desportiva limita-se a
transgressões de natureza eminentemente esportivas, relativas à disciplina e às competições desportivas. 4.
O alegado ilícito que o autor da demanda atribui ao réu, por não se fundar em transgressão de cunho
estritamente esportivo, pode ser submetido ao crivo do Poder Judiciário Estatal, para que seja julgado à luz da
legislação que norteia as relações de natureza privada, no caso, o Código Civil. 5. A conduta do jogador,
mormente a sorrateira agressão física pelas costas, revelou-se despropositada e desproporcional,
transbordando em muito o mínimo socialmente aceitável em partidas de futebol, apta a ofender a honra e
a imagem do árbitro, que estava zelando pela correta aplicação das regras esportivas. 6. O evento no qual as
agressões foram perpetradas, final do Campeonato Paulista de Futebol, envolvendo dois dos maiores clubes do
Brasil, foi televisionado para todo o país, o que evidencia sua enorme audiência e, em consequência, o número
de pessoas que assistiram o episódio. 7. Recurso especial conhecido e provido .” (negritamos)
Comentário:
Agressões físicas e verbais perpetradas por jogador profissional contra árbitro de
futebol, na ocasião de disputa de partida de futebol, constituem ato ilícito indenizável na
Justiça Comum, independentemente de eventual punição aplicada na esfera da Justiça
Desportiva.
Caso concreto: na final do campeonato paulista de 2015, o jogador do Palmeiras, após
ser expulso, empurrou as costas do árbitro e proferiu xingamentos contra ele. Vale ressaltar
92
que a conclusão acima exposta não é a regra, ou seja, não é toda agressão em uma partida
de futebol que gerará indenização por danos morais.
O STJ entendeu, na situação concreta, que a conduta do jogador transbordou o
mínimo socialmente aceitável em partidas de futebol. Além disso, o evento no qual as
agressões foram perpetradas, final do Campeonato Paulista de Futebol, envolvendo dois dos
maiores clubes do Brasil, foi televisionado para todo o país, o que evidencia sua enorme
audiência e, em consequência, o número de pessoas que assistiram o episódio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1689074-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 16/10/2018 (Info 636).
EMENTA: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. IRRESIGNAÇÃO SUBMETIDA AO NCPC. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTROS DE INADIMPLENTES. DANO MORAL CONFIGURADO.
MULTA COMINATÓRIA FIXADA EM DEMANDA PRETÉRITA. DESCUMPRIMENTO. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. 1.
As disposições do NCPC são aplicáveis ao caso concreto ante os termos do Enunciado n.º 3, aprovado pelo
Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a
decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na
forma do novo CPC. 2. Cinge-se a controvérsia em definir se é possível prosperar o pedido de indenização
por danos morais em razão de descumprimento de ordem judicial em demanda pretérita, na qual foi fixada
multa cominatória. 3. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a inscrição indevida em
cadastro de inadimplentes gera dano moral passível de indenização, salvo constatada a existência de outras
anotações preexistentes àquela que deu origem a ação reparatória (Súmula nº 385 do STJ). 4. Referida
indenização visa a reparar o abalo moral sofrido em decorrência da verdadeira agressão ou atentado contra
dignidade da pessoa humana. 5. A multa cominatória, por outro lado, tem cabimento nas hipóteses de
descumprimento de ordens judiciais, sendo fixada justamente com o objetivo de compelir a parte ao
cumprimento daquela obrigação. Encontra justificativa no princípio da efetividade da tutela jurisdicional e na
necessidade de se assegurar o pronto cumprimento das decisões judiciais cominatórias. 6. Considerando,
portanto, que os institutos em questão têm natureza jurídica e finalidades distintas, é possível a cumulação.
7. Recurso especial provido.” (negritamos)
Comentário:
O presente julgado também está no campo do Direito Processual Civil. Nele, o STJ
decidiu que é possível a fixação de indenização por danos morais devido ao descumprimento
de ordem judicial, mesmo se o juiz já tiver fixado multa cominatória (coercitiva) para compelir
a parte ao seu cumprimento (art. 537, CPC). Portanto, é possível a cumulação de ambos
institutos.
93
Essa decisão justifica-se no fato de que a multa coercitiva tem natureza diversa da
indenização extrapatrimonial. Enquanto a multa tem a finalidade de forçar, indiretamente, o
pagamento pelo condenado, a indenização por danos morais tem a finalidade de reparar um
abalo aos direitos da personalidade, sofrido pelo credor.
No caso, além de não pagar a dívida determinada em ação revisional de contrato, o
devedor (banco) incluiu o nome do credor no SERASA, restando justificada a cobrança
também de danos morais, conforme a súmula 385, STJ e o seguinte julgado: STJ, 3ª Turma.
AgRg no AgRg no AREsp 727.829/SC, Rel. Min. Marco Aurélio bellizze, julgado em 3/12/2015,
julgado (comentado no tópico abaixo, acerca dos danos morais in re ipsa).
STJ. 3ª Turma.REsp 1631329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 24/10/2017 (Info 614).
EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. REPORTAGEM JORNALÍSTICA. DIVULGAÇÃO DE IMAGEM SEM
AUTORIZAÇÃO. SÚMULA 403/STJ. FATOS HISTÓRICOS DE REPERCUSSÃO SOCIAL. DIREITO À MEMÓRIA. PRÉVIA
AUTORIZAÇÃO. DESNECESSIDADE. INTERPRETAÇÃO DO ART. 20 DO CÓDIGO CIVIL. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS RECURSAIS. MAJORAÇÃO. 1. Ação ajuizada em 18/12/2012. Recurso especial interposto em
07/06/2016. Julgamento: CPC/15. 2. O propósito recursal é definir se a veiculação não autorizada da imagem
da filha da autora em programa televisivo configura dano moral indenizável, além de ensejar a reparação
por danos materiais. 3. É inexigível a autorização prévia para divulgação de imagem vinculada a fato
histórico de repercussão social. Nessa hipótese, não se aplica a Súmula 403/STJ. 4. Ao resgatar da memória
coletiva um fato histórico de repercussão social, a atividade jornalística reforça a promessa em sociedade de que
é necessário superar, em todos os tempos, a injustiça e a intolerância, contra os riscos do esquecimento dos
valores fundamentais da coletividade. 5. Eventual abuso na transmissão do fato, cometido, entre outras
formas, por meio de um desvirtuado destaque da intimidade da vítima ou do agressor, deve ser objeto de
controle sancionador. A razão jurídica que atribui ao portador da informação uma sanção, entretanto, está
vinculada ao abuso do direito e não à reinstituição do fato histórico. 6. Na espécie, a Rádio e Televisão Record
veiculou reportagem acerca de trágico assassinato de uma atriz, ocorrido em 1992, com divulgação de sua
imagem, sem prévia autorização. De acordo com a conjuntura fática cristalizada pelas instâncias ordinárias, há
relevância nacional na reportagem veiculada pela emissora, sem qualquer abuso na divulgação da imagem
da vítima. Não há se falar, portanto, em ato ilícito passível de indenização. 7. Recurso especial conhecido e
não provido, com majoração dos honorários advocatícios.” (negritamos)
Comentário:
94
A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada
a fato histórico de repercussão social.
Súmula 403-STJ: “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não
autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”.
Caso concreto: a TV Record fez matéria sobre o assassinato da atriz Daniela Perez,
entrevista com Guilherme de Pádua, sem prévia autorização da família, fotos da vítima Daniela.
STJ. 4ª Turma. REsp 1245550-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/3/2015 (Info 559).
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. SAQUE INDEVIDO EM CONTA- CORRENTE. FALHA NA PRESTAÇÃO
DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. SUJEITO ABSOLUTAMENTE INCAPAZ. ATAQUE
A DIREITO DA PERSONALIDADE. CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL. IRRELEVÂNCIA QUANTO AO ESTADO DA
PESSOA. DIREITO À DIGNIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL. PROTEÇÃO DEVIDA. 1. A instituição bancária é
responsável pela segurança das operações realizadas pelos seus clientes, de forma que, havendo falha na
prestação do serviço que ofenda direito da personalidade daqueles, tais como o respeito e a honra, estará
configurado o dano moral, nascendo o dever de indenizar. Precedentes do STJ. 2. A atual Constituição Federal
deu ao homem lugar de destaque entre suas previsões. Realçou seus direitos e fez deles o fio condutor de todos
os ramos jurídicos. A dignidade humana pode ser considerada, assim, um direito constitucional subjetivo,
essência de todos os direitos personalíssimos e o ataque àquele direito é o que se convencionou chamar
dano moral. 3. Portanto, dano moral é todo prejuízo que o sujeito de direito vem a sofrer por meio de violação
a bem jurídico específico. É toda ofensa aos valores da pessoa humana, capaz de atingir os componentes da
personalidade e do prestígio social. 4. O dano moral não se revela na dor, no padecimento, que são, na
verdade, sua consequência, seu resultado. O dano é fato que antecede os sentimentos de aflição e angústia
experimentados pela vítima, não estando necessariamente vinculado a alguma reação psíquica da vítima. 5.
Em situações nas quais a vítima não é passível de detrimento anímico, como ocorre com doentes mentais, a
configuração do dano moral é absoluta e perfeitamente possível, tendo em vista que, como ser humano,
aquelas pessoas são igualmente detentoras de um conjunto de bens integrantes da personalidade . 6.
Recurso especial provido.” (negritamos)
Comentário:
Conforme estudamos durante o capítulo, o dano moral é a ofensa a determinados
direitos ou interesses, bastando isso para caracterizá-lo.
Assim, o STJ determinou que mesmo se o indivíduo for portador de doença mental
grave e não entender seus atos e nem atos de terceiros, ele pode sofrer danos morais.
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O sofrimento e a humilhação não caracterizam os danos morais, podendo ser apenas
suas consequências.
STJ. 4ª Turma. REsp 1087561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609).
Comentário:
A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo material do filho gera
danos morais, passíveis de compensação pecuniária.
O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de
prestar assistência material ao filho, não proporcionando a este condições dignas de
sobrevivência e causando danos à sua integridade física, moral, intelectual e psicológica,
configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1840463-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/11/2019 (Info 663).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO E PROTEÇÃO À CRIANÇA E
A ADOLESCENTE. RESPONSABILIDADE CIVIL DA EMISSORA DE TELEVISÃO. EXIBIÇÃO DE FILME EM HORÁRIO
DIVERSO DAQUELE RECOMENDADO PELA CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA. AUSÊNCIA DE OBSERVÂNCIA
OBRIGATÓRIA (ADI N. 2.404/DF). DANOS MORAIS COLETIVOS POR ABUSO DE DIREITO. POSSIBILIDADE, EM TESE.
HIPÓTESE NÃO VERIFICADA NO CASO DOS AUTOS. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. O propósito recursal
cinge-se em saber se é possível a condenação de emissora de televisão ao pagamento de indenização por danos
morais coletivos em razão da exibição de filme fora do horário recomendado pelo órgão competente. 2. No
julgamento da ADI n. 2.404/DF, o STF reconheceu a inconstitucionalidade da expressão "em horário diverso do
96
autorizado", contida no art. 254 do ECA, asseverando, ainda, que a classificação indicativa não pode ser vista
como obrigatória ou como uma censura prévia dos conteúdos veiculados em rádio e televisão, haja vista seu
caráter pedagógico e complementar ao auxiliar os pais a definir o que seus filhos podem, ou não, assistir e ouvir.
3. A despeito de ser a classificação da programação apenas indicativa e não proibir a sua veiculação em horários
diversos daqueles recomendados, cabe ao Poder Judiciário controlar eventuais abusos e violações ao direito à
programação sadia. 4. O dano moral coletivo se dá in re ipsa, contudo, sua configuração somente ocorrerá
quando a conduta antijurídica afetar, intoleravelmente, os valores e interesses coletivos fundamentais,
mediante conduta maculada de grave lesão, para que o instituto não seja tratado de forma trivial,
notadamente em decorrência da sua repercussão social. 5. É possível, em tese, a condenação da emissora de
televisão ao pagamento de indenização por danos morais coletivos, quando, ao exibir determinada
programação fora do horário recomendado, verificar-se uma conduta que afronte gravemente os valores e
interesse coletivos fundamentais. 6. A conduta perpetrada pela ré no caso vertente, a despeito de ser irregular,
não foi capaz de abalar, de forma intolerável, a tranquilidade social dos telespectadores, de modo que não
está configurado o ato ilícito indenizável. 7. Recurso especial desprovido.” (negritamos)
Comentário:
É possível, em tese, a condenação da emissora de televisão ao pagamento de
indenização por danos morais coletivos, quando, ao exibir determinada programação fora
STJ. 3ª Turma. REsp 1737412/SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/02/2019.
Comentário:
Aluno, leia os trechos grifados da ementa, eles são fundamentais para você conhecer a
definição e as características dos danos morais coletivos.
Nesse julgado o STJ decidiu que houve violação pela instituição financeira aos
deveres de qualidade do atendimento presencial, ao exigir do consumidor tempo muito
superior aos limites fixados pela legislação municipal pertinente. Isso afronta valores
essenciais da sociedade, sendo conduta grave e intolerável, de forma que se mostra
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Danos morais in re ipsa
STJ. 3ª Turma. REsp 1628700/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/02/2018.
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS MORAIS. PEDIDO ILÍQUIDO. SENTENÇA LÍQUIDA.
POSSIBILIDADE. REPORTAGEM JORNALÍSTICA. IMAGEM DE CRIANÇAS. DIVULGAÇÃO. AUTORIZAÇÃO DOS
REPRESENTANTES LEGAIS. INEXISTÊNCIA. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. VIOLAÇÃO.
MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. É possível a sentença determinar
valor certo quando apoiada nos elementos probatórios dos autos, ainda que o pedido tenha sido genérico. 3. O
dever de indenização por dano à imagem de criança veiculada sem a autorização do representante legal é in
re ipsa. 4. Na hipótese, as fotos veiculadas na reportagem retrataram simulação de trabalho infantil, situação
manifestamente vexatória. 5. O ordenamento pátrio assegura o direito fundamental da dignidade das
crianças (art. 227 do CF), cujo melhor interesse deve ser preservado de interesses econômicos de veículos
de comunicação. 6. O bem jurídico tutelado, no caso, interesse de crianças, está atrelado à finalidade
institucional do Ministério Público, em conformidade com os artigos 127 e 129, III, da Constituição Federal e arts.
1º e 5º da Lei nº 7.347/1985 7. Recursos não providos.” (negritamos)
Comentário:
Nesse julgado o STJ frisou que se a imagem de uma criança for usada em uma revista
sem a autorização do seu representante e de forma vexatória, o dever de indenizar por
dano à imagem é in re ipsa, em conformidade com o art. 227, CF e com o ECA, que
protegem a dignidade da criança e do adolescente.
Obs.: nesse caso concreto, a revista utilizou fotos de crianças imitando trabalho infantil em
minas de talco.
STJ. 3ª Turma. REsp 1642318-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/2/2017 (Info 598).
EMENTA: “CIVIL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CARÁTER
INFRINGENTE. POSSIBILIDADE. AGRESSÃO VERBAL E FÍSICA. INJUSTIÇA. CRIANÇA. ÔNUS DA PROVA. DANO
MORAL IN RE IPSA. ALTERAÇÃO DO VALOR. IMPOSSIBILIDADE. 1. Ação de compensação por dano moral
ajuizada em 01.04.2014. Agravo em Recurso especial atribuído ao gabinete em 04.07.2016. Julgamento: CPC/2015.
2. Cinge-se a controvérsia a definir ocorrência de violação do art. 535 do CPC; e, se as alegadas agressões físicas
e verbais sofridas pela recorrida lhe geraram danos morais passíveis de compensação. 3. Admite-se,
excepcionalmente, que os embargos de declaração, ordinariamente integrativos, tenham efeitos infringentes
desde que constatada a presença de um dos vícios do artigo 535 do CPC/73, cuja correção importe alterar a
99
conclusão do julgado. Precedente. 4. As crianças, mesmo da mais tenra idade, fazem jus à proteção irrestrita
dos direitos da personalidade, assegurada a indenização pelo dano moral decorrente de sua violação, nos
termos dos arts. 5º, X, in fine, da CF e 12, caput, do CC/02. 5. A sensibilidade ético-social do homem comum
na hipótese, permite concluir que os sentimentos de inferioridade, dor e submissão, sofridos por quem é
agredido injustamente, verbal ou fisicamente, são elementos caracterizadores da espécie do dano moral in
re ipsa. 6. Sendo presumido o dano moral, desnecessário o embate sobre a repartição do ônus probatório.
7. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais somente é possível, em recurso
especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada. 8.
Recurso especial parcialmente conhecido, e nessa parte, desprovido.” (negritamos)
Comentário:
O art. 227 da CF/88 dispõe que é dever da família, da sociedade e do Estado “assegurar
à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
Corroborando com esse dispositivo, podemos citar o art. 17 do ECA: “o direito ao
respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente”.
Diante de tal proteção à criança, o STJ solidificou que resta evidenciada conduta ilícita,
causadora de dano moral in re ipsa, as agressões de um adulto praticadas contra uma
criança, mesmo se de pouca idade.
STJ. 3ª Turma.REsp 1675015-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/9/2017 (Info 612).
EMENTA: “DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRISÃO
EFETUADA POR POLICIAL MILITAR FORA DO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES. OFENSA À LIBERDADE PESSOAL.
DANO MORAL CONFIGURADO. VALOR ARBITRADO. MÉTODO BIFÁSICO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO
COMPROVAÇÃO. 1. Ação de compensação por danos morais ajuizada em 17/10/2014, de que foi extraído o
presente recurso especial, interposto em 02/03/2016 e concluso ao Gabinete em 08/06/2017. Julgamento pelo
CPC/73. 2. O propósito recursal é dizer sobre a ocorrência de dano moral e sobre a proporcionalidade do valor
arbitrado a título compensatório. 3. Constitui grave violação da integridade física e psíquica do indivíduo, e,
portanto, ofensa à sua dignidade enquanto ser humano, a privação indevida da liberdade, sobretudo por
preposto do Estado e fora do exercício das funções, caracterizando dano moral in re ipsa. 4. O contexto
delineado no acórdão recorrido revela que, ao largo da discussão acerca da prática de eventual crime de
desacato, houve, por parte do recorrente, uma atuação arbitrária, ao algemar o recorrido, pessoa idosa, no
100
interior do condomínio onde moram, em meio à uma discussão, e ainda lhe causar severas lesões corporais,
caracterizando-se, assim, a ofensa a sua liberdade pessoal e, consequentemente, a sua dignidade; causadora,
portanto, do dano moral. 5. As Turmas da Seção de Direito Privado têm adotado o método bifásico como
parâmetro para valorar a compensação dos danos morais. 6. No particular, o TJ/DFT levou em conta a gravidade
do fato em si, tendo em vista o interesse jurídico lesado, bem como as condições pessoais do ofendido e do
ofensor, de modo a arbitrar a quantia considerada razoável, diante das circunstâncias concretas, para compensar
o dano moral suportado pelo recorrido. 7. Assim sopesadas as peculiaridades dos autos, o valor de R$ 10.000,00
(dez mil reais), arbitrado no acórdão recorrido para compensar o dano moral, não se mostra exorbitante. 8. Não
se conhece do recurso pela divergência jurisprudencial nas hipóteses em que o recorrente se limita à transcrição
de ementas, sem promover o cotejo analítico a que se refere o art. 541, parágrafo único, do CPC/73. 9. Recurso
especial desprovido.” (negritamos)
Comentário:
A privação da liberdade por policial fora do exercício de suas funções e com
reconhecido excesso na conduta caracteriza dano moral in re ipsa. Durante uma discussão
no condomínio, um morador, que é policial, algemou e prendeu seu vizinho, após ser por ele
ofendido verbalmente.
STJ, 3ª Turma. REsp 1292141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012 (Info 513).
EMENTA: “DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACIDENTE EM
OBRAS DO RODOANEL MÁRIO COVAS. NECESSIDADE DE DESOCUPAÇÃO TEMPORÁRIA DE RESIDÊNCIAS.
DANO MORAL IN RE IPSA. 1. Dispensa-se a comprovação de dor e sofrimento, sempre que demonstrada a
ocorrência de ofensa injusta à dignidade da pessoa humana. 2. A violação de direitos individuais relacionados
à moradia, bem como da legítima expectativa de segurança dos recorrentes, caracteriza dano moral in re ipsa a
ser compensado. 3. Por não se enquadrar como excludente de responsabilidade, nos termos do art. 1.519 do
CC/16, o estado de necessidade, embora não exclua o dever de indenizar, fundamenta a fixação das
indenizações segundo o critério da proporcionalidade. 4. Indenização por danos morais fixada em R$ 500,00
(quinhentos reais) por dia de efetivo afastamento do lar, valor a ser corrigido monetariamente, a contar dessa
data, e acrescidos de juros moratórios no percentual de 0,5% (meio por cento) ao mês na vigência do CC/16 e de
1% (um por cento) ao mês na vigência do CC/02, incidentes desde a data do evento danoso. 5. Recurso especial
provido.” (negritamos)
Comentário:
No caso, aplicou-se a Teoria do Sacrifício, que consiste em: diante de uma colisão
entre os direitos da vítima e os do autor do dano, estando os dois na faixa de licitude (os dois
101
comportamentos são lícitos), o ordenamento jurídico opta por proteger o mais inocente
dos interesses em conflito (o da vítima), sacrificando o outro (o do autor do dano).
Apesar de o ato praticado em estado de necessidade ser lícito (art. 188, II, CC), a vítima
deve ser indenizada por quem o praticou, caso ela não seja a criadora do perigo (art. 929).
Assim, o autor do dano, que agiu em estado de necessidade, deve indenizar a vítima.
Mas pode, posteriormente, cobrar do autor do perigo a quantia que pagou (art. 930).
Ressalta-se que o valor da indenização deve ser fixado com base no princípio da
proporcionalidade, considerando que como a pessoa agiu de forma lícita, dela não deve ser
cobrado um valor abusivo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.465-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638).
EMENTA: “DIREITO DO CONSUMIDOR E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS
E COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF. ATRASO EM VOO
INTERNACIONAL. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. EXTRAVIO DE BAGAGEM. ALTERAÇÃO DO VALOR
FIXADO A TÍTULO DE DANOS MORAIS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 1. Ação de reparação de danos materiais
e compensação de danos morais, tendo em vista falha na prestação de serviços aéreos, decorrentes de atraso de
voo internacional e extravio de bagagem. 2. Ação ajuizada em 03/06/2011. Recurso especial concluso ao gabinete
em 26/08/2016. Julgamento: CPC/73. 3. O propósito recursal é definir i) se a companhia aérea recorrida deve ser
condenada a compensar os danos morais supostamente sofridos pelo recorrente, em razão de atraso de voo
internacional; e ii) se o valor arbitrado a título de danos morais em virtude do extravio de bagagem deve ser
majorado. 4. A ausência de decisão acerca dos argumentos invocados pelo recorrente em suas razões recursais
impede o conhecimento do recurso especial. 5. Na específica hipótese de atraso de voo operado por companhia
aérea, não se vislumbra que o dano moral possa ser presumido em decorrência da mera demora e eventual
desconforto, aflição e transtornos suportados pelo passageiro. Isso porque vários outros fatores devem ser
considerados a fim de que se possa investigar acerca da real ocorrência do dano moral, exigindo-se, por
conseguinte, a prova, por parte do passageiro, da lesão extrapatrimonial sofrida. 6. Sem dúvida, as
circunstâncias que envolvem o caso concreto servirão de baliza para a possível comprovação e a consequente
constatação da ocorrência do dano moral. A exemplo, pode-se citar particularidades a serem observadas: i) a
averiguação acerca do tempo que se levou para a solução do problema, isto é, a real duração do atraso; ii) se a
companhia aérea ofertou alternativas para melhor atender aos passageiros; iii) se foram prestadas a tempo e
modo informações claras e precisas por parte da companhia aérea a fim de amenizar os desconfortos inerentes à
ocasião; iv) se foi oferecido suporte material (alimentação, hospedagem, etc.) quando o atraso for considerável; v)
se o passageiro, devido ao atraso da aeronave, acabou por perder compromisso inadiável no destino, dentre
outros. 7. Na hipótese, não foi invocado nenhum fato extraordinário que tenha ofendido o âmago da
personalidade do recorrente. Via de consequência, não há como se falar em abalo moral indenizável. 8. Quanto
102
ao pleito de majoração do valor a título de danos morais, arbitrado em virtude do extravio de bagagem, tem-se
que a alteração do valor fixado a título de compensação dos danos morais somente é possível, em recurso
especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada, o
que não ocorreu na espécie, tendo em vista que foi fixado em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 9. Recurso especial
parcialmente conhecido e, nessa extensão, não provido.” (negritamos)
Comentário:
O STJ pacificou que na hipótese de atraso de voo, não se admite a configuração do
dano moral in re ipsa. Assim, deve o magistrado analisar cada caso concreto para constatar a
possível presença de requisitos da responsabilidade civil por danos morais, os quais não são
automáticos.
Corrobora com tal entendimento o art. 251-A do do Código Brasileiro de Aeronáutica:
“A indenização por dano extrapatrimonial em decorrência de falha na execução do contrato
de transporte fica condicionada à demonstração da efetiva ocorrência do prejuízo e de sua
extensão pelo passageiro ou pelo expedidor ou destinatário de carga”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.955-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619).
EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. PROTESTO INDEVIDO. PAGAMENTO EM ATRASO.
DANOS MORAIS. PESSOA JURÍDICA. 1. Ação ajuizada em 14/01/2011. Recurso especial interposto em 11/02/2015
e atribuído a este gabinete em 25/08/2016. 2. Para a pessoa jurídica, o dano moral não se configura in re ipsa,
por se tratar de fenômeno muito distinto daquele relacionado à pessoa natural. É, contudo, possível a
utilização de presunções e regras de experiência no julgamento. 3. Afigura-se a ilegalidade no protesto de
título cambial, mesmo quando pagamento ocorre em atraso. 4. Nas hipóteses de protesto indevido de cambial
ou outros documentos de dívida, há forte presunção de configuração de danos morais. Precedentes. 5. Recurso
especial provido.” (negritamos)
Comentário:
Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja considerado como in re
ipsa, sendo necessária a comprovação nos autos do prejuízo sofrido.
Apesar disso, é possível a utilização de presunções e regras de experiência para a
configuração do dano, mesmo sem prova expressa do prejuízo, o que sempre comportará
a possibilidade de contraprova pela parte ou de reavaliação pelo julgador. Ex: caso a pessoa
jurídica tenha sido vítima de um protesto indevido de cambial, há uma presunção de que ela
sofreu danos morais.
103
Cuidado: existem julgados em sentido contrário, ou seja, dizendo que pessoa
jurídica pode sofrer dano moral in re ipsa. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 1327773/MG,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017; STJ. 4ª Turma. AgInt-AREsp 1.328.587/
DF. Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 07/05/2019. STJ. 3ª Turma AgInt-AREsp 1.345.802/ MT.
Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 25/02/2019.
STJ. 3ª Turma. REsp 1653413-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018 (Info 627).
Comentário:
Nesse julgado o STJ esclareceu que, no caso de acidente de carro sem vítimas, os
danos morais devem ser provados, não sendo, portanto, in re ipsa.
O lesado deve demonstrar que os danos por ele sofridos foram além da esfera
patrimonial.
Fixação da indenização
STJ. 3ª Turma. REsp 1.152.541 – RS. Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/09/2011.
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO
RESTRITIVO DE CRÉDITO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. CRITÉRIOS DE
ARBITRAMENTO EQUITATIVO PELO JUIZ. MÉTODO BIFÁSICO. VALORIZAÇÃO DO INTERESSE JURÍDICO LESADO E
DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO. 1. Discussão restrita à quantificação da indenização por dano moral sofrido
104
pelo devedor por ausência de notificação prévia antes de sua inclusão em cadastro restritivo de crédito
(SPC). 2. Indenização arbitrada pelo tribunal de origem em R$ 300,00 (trezentos reais). 3. Dissídio jurisprudencial
caracterizado com os precedentes das duas turmas integrantes da Segunda Secção do STJ. 4. Elevação do valor
da indenização por dano moral na linha dos precedentes desta Corte, considerando as duas etapas que devem
ser percorridas para esse arbitramento. 5. Na primeira etapa, deve-se estabelecer um valor básico para a
indenização, considerando o interesse jurídico lesado, com base em grupo de precedentes jurisprudenciais que
apreciaram casos semelhantes. 6. Na segunda etapa, devem ser consideradas as circunstâncias do caso, para
fixação definitiva do valor da indenização, atendendo a determinação legal de arbitramento equitativo pelo
juiz. 7. Aplicação analógica do enunciado normativo do parágrafo único do art. 953 do CC/2002. 8.
Arbitramento do valor definitivo da indenização, no caso concreto, no montante aproximado de vinte salários
mínimos no dia da sessão de julgamento, com atualização monetária a partir dessa data (Súmula 362/STJ). 9.
Doutrina e jurisprudência acerca do tema. 10. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.” (negritamos)
Comentário30:
Esse julgado trouxe o detalhamento do método bifásico, que é o método a ser usado
pelo magistrado quando da fixação do quantum dos danos morais.
No caso concreto, uma mulher havia sido incluída em cadastro de devedores sem aviso
prévio. O tribunal de segunda instância reconheceu o direito da consumidora à indenização,
fixada em R$ 300,00. No STJ, os ministros aumentaram o valor para 20 salários mínimos.
Na ocasião, o ministro relator destacou a necessidade de elevar a indenização na
linha dos precedentes da corte, considerando as duas etapas que devem ser percorridas
para o arbitramento do valor.
Conforme o Ministro: “Na primeira etapa, deve-se estabelecer um valor básico para a
indenização, considerando o interesse jurídico lesado, com base em grupo de precedentes
jurisprudenciais que apreciaram casos semelhantes. Na segunda etapa, devem ser
consideradas as circunstâncias do caso, para fixação definitiva do valor da indenização,
atendendo à determinação legal de arbitramento equitativo pelo juiz”, justificou.
Especificando, ainda de acordo com o relator, na primeira etapa assegura-se uma
exigência da justiça comutativa, que é uma razoável igualdade de tratamento para casos
semelhantes, da mesma forma como situações distintas devem ser tratadas desigualmente na
medida em que se diferenciam.
STJ. 3ª Turma. REsp 1120971-RJ. Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 28/2/2012.
EMENTA: “DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. PUBLICAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA
OFENSIVA À HONRA. MODIFICAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL.
ELEVAÇÃO NECESSÁRIA, COMO DESESTÍMULO AO COMETIMENTO DE INJÚRIA. CONSIDERAÇÃO DAS
CONDIÇÕES ECONÔMICAS DOS OFENSORES, DA CONCRETIZAÇÃO POR INTERMÉDIO DE VEÍCULOS DE
COMUNICAÇÃO DE GRANDE CIRCULAÇÃO E RESPEITABILIDADE E DAS CONDIÇÕES PESSOAIS DO OFENDIDO.
PREVALECIMENTO DE VALOR MAIOR, ESTABELECIDO PELA MAIORIA JULGADORA EM R$ 500.000,00. 1.- Matéria
jornalística publicada em revista semanal de grande circulação que atribui a ex-Presidente da República a
qualidade de "corrupto desvairado". 2.- De rigor a elevação do valor da indenização por dano moral, com
desestímulo ao cometimento da figura jurídica da injúria, realizada por intermédio de veículos de grande
circulação e respeitabilidade nacionais e consideradas as condições econômicas dos ofensores e pessoais do
ofendido, Ex-Presidente da República, que foi absolvido de acusação de corrupção cumpriu suspensão de
direitos políticos e veio a ser eleito Senador da República. 3. Por unanimidade elevado o valor da
indenização, fixado em R$ 500.000,00 pelo entendimento da D. Maioria, vencido, nessa parte, o voto do Relator,
acompanhado de um voto, que fixavam a indenização em R$ 150.000,00. 4. Recurso Especial provido para fixação
do valor da indenização em R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) .” (negritamos)
Comentário:
Nesse julgado a revista “Veja” foi condenada a R$500.000,00 por ter chamado o ex-
presidente F. Collor de “corrupto desvairado”. A maioria da Terceira Turma do STJ considerou
que foi um termo injurioso e não apenas uma crítica.
Quais os elementos que basearam o cálculo da indenização? Foram considerados: (i) as
consequências da ofensa; (ii) a capacidade econômica do ofensor; (iii) a pessoa do
106
ofendido. Nesse âmbito, foi levado em conta que o ex-presidente já havia sido sancionado
com o impeachment, e já havia cumprido seu período legal de suspensão dos direitos
políticos.
Também, como o termo ofensivo foi veiculado em uma revista famosa, a indenização
foi elevada pela turma, com base no punitive dammage ou teoria do desestímulo do direito
anglo-americano.
Então esse julgado traz um exemplo de influência da teoria do desestímulo, o que não
significa, no entanto, que ela é amplamente aplicada (veja o julgado abaixo)
Quanto à aplicação do punitive dammage, ainda há muita polêmica no Brasil. Por isso,
fiquem atentos, principalmente quando forem realizar provas subjetivas, ao posicionamento
dos examinadores de Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Ambiental ou Direitos
Difusos e Coletivos. O posicionamento pode mudar em cada Estado e não está solidificado no
STJ.
STJ. 2ª Seção. REsp 1354536-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/3/2014 (recurso
repetitivo) (Info 538).
107
não havendo falar em indenização por lucros cessantes dissociada do dano efetivamente demonstrado nos autos;
assim, se durante o interregno em que foram experimentados os efeitos do dano ambiental houve o período de
"defeso" - incidindo a proibição sobre toda atividade de pesca do lesado -, não há cogitar em indenização por
lucros cessantes durante essa vedação; f) no caso concreto, os honorários advocatícios, fixados em 20% (vinte por
cento) do valor da condenação arbitrada para o acidente - em atenção às características específicas da demanda
e à ampla dilação probatória -, mostram-se adequados, não se justificando a revisão, em sede de recurso
especial. 2. Recursos especiais não providos.” (negritamos)
Comentário:
Apesar de estar no campo do Direito Ambiental, trouxemos esse julgado para expor
dois entendimentos.
1) Com fundamento nos artigos 225, parágrafos 2º e 3º da CF e 14, §1º, da Lei 6.938/1981, a
responsabilidade por dano ambiental é objetiva, com base na teoria do risco integral.
2) Nesse julgado o STJ não considerou pertinente conferir à reparação civil dos danos
ambientais caráter punitivo imediato. Isso porque outros ramos do direito já possuem
função punitiva, como o Direito Administrativo e o Direito Penal. Ademais, não foi aplicada a
teoria do desestímulo (punitive damages) pois como não é preciso averiguar a culpa na
responsabilidade civil por dano ambiental, caso ela fosse avaliada, haveria evidente bis in
idem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1677773/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/06/2019.
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO.
FALECIMENTO DE FILHO. PROPOSITURA DA AÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL. PENÚLTIMO DIA. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. DECURSO DE TEMPO. DESINFLUÊNCIA. CPC/20015. NOVO REGRAMENTO NORMATIVO.
REPARAÇÃO CIVIL. RELAÇÃO EXTRACONTRATUAL. PRAZO PRESCRICIONAL DIMINUÍDO. TRÊS ANOS.
RAZOABILIDADE. REVISÃO. QUANTIA. SÚMULA 7/STJ. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na
vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. A controvérsia a ser
dirimida reside em verificar se o lapso temporal decorrido entre o acidente de trânsito que vitimou o filho
dos autores e o ajuizamento da demanda reparatória de danos morais deve ser considerado na fixação do
valor da indenização. 3. Na vigência do Código Civil de 1916, a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça consolidou-se no sentido de que a demora na busca da reparação do dano moral deveria ser
considerada na fixação do valor da indenização. Esse entendimento baseia-se em fatos ocorridos na
vigência do Código Civil de 1916 e, portanto, sofreram os influxos do dilatado prazo prescricional vintenário
previsto no art. 177 da referida lei substantiva para ajuizamento de pretensões reparatórias. 4. O prazo
prescricional muito longo previsto no Código Civil anterior resultava em situações extremas, nas quais o período
108
decorrido entre o evento danoso e a propositura da ação indenizatória se revelava nitidamente exagerado ou
desproporcional. 5. Em casos julgados com base no Código de Civil de 2002, que prevê, no art. 206, § 3º, V, o
prazo prescricional de 3 (três) anos para a pretensão de reparação civil fundamentada em relação extracontratual,
as situações extremas não mais persistem. 6. O prazo de 3 (três) anos, aplicável às relações de natureza
extracontratual, revela-se extremamente razoável para que o titular de pretensão indenizatória decorrente de
falecimento de ente familiar promova a demanda. 7. No atual panorama normativo, o momento em que a
ação será proposta, desde que na fluência do prazo prescricional, mostra-se desinfluente para aferição do
valor da indenização, tendo em vista o novo prazo prescricional previsto no art. 206, § 3º, V, Código Civil de
2002 (três anos), extremamente reduzido em comparação ao anterior (vintenário). 8. No ordenamento
jurídico brasileiro inexiste previsão legal de prescrição gradual da pretensão. Ainda que ajuizada a demanda no
dia anterior ao término do prazo prescricional, a parte autora faz jus ao amparo judicial de sua pretensão
por inteiro. 9. Não se mostra razoável presumir que o abalo psicológico suportado por aquele que perde um
ente familiar é diminuído pela não manifestação imediata do seu inconformismo por intermédio de uma
demanda judicial. 10. O Superior Tribunal de Justiça, afastando a incidência da Súmula nº 7/STJ, tem reexaminado
o montante fixado pelas instâncias ordinárias a título de danos morais apenas quando irrisório ou abusivo,
circunstâncias inexistentes na espécie. 11. Recurso especial conhecido e não provido .” (negritamos)
Comentário:
O STJ pacificou o entendimento de que na vigência do Código Civil de 2002, mesmo
se o indivíduo que sofreu um abalo ajuizar ação de indenização por danos morais no
último dia do prazo, tal fato não irá influenciar no decréscimo do valor de sua
indenização.
Isso porque o prazo prescricional para ação de reparação civil (extracontratual) é de 3
anos (art. 206, §3º, V, CC) e o abalo psicológico sofrido dificilmente irá diminuir nesse tempo.
Em sua, o tempo que a pessoa demora para ajuizar a ação (desde que dentro dos três
anos) não influência no quantum indenizatório.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1833847-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020
(Info 671).
109
assinatura do acordo e desconhecimento da integralidade dos danos - constitui exceção à regra de que a
quitação plena e geral desautoriza o ajuizamento de ação para ampliar a verba indenizatória aceita e
recebida. 3. Agravo interno a que se nega provimento.” (negritamos)
Comentário:
O curto espaço de tempo entre o acidente e a assinatura do acordo e o
desconhecimento da integralidade dos danos podem excepcionar a regra de que a
quitação plena e geral desautoriza o ajuizamento de ação para ampliar a verba indenizatória
aceita e recebida.
Explicando melhor: em regra, a quitação realizada por meio de um acordo em âmbito
não judicial é considerada válida. Assim, o credor não pode ajuizar uma ação pedindo o que
já foi quitado.
No entanto, há exceções a essa regra e o caso ora analisado é uma delas. No caso,
houve um acidente de trânsito e o acordo entre a vítima e o causador do dano foi realizado
aproximadamente quinze dias após o sinistro. Nessa época, por ser muito próximo do
acidente, a vítima não conhecia realmente a extensão do dano que sofreu. Algum tempo
depois, tomou ciência de que necessitaria de um tratamento médico mais amplo. Devido a tal
peculiaridade, o STJ entendeu que é possível ajuizar ação cobrando o que não foi coberto
pelo acordo inicial.
Assim, nesse caso específico, a indenização pôde ser ampliada mesmo após a
citação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1354346-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/9/2015 (Info 572).
EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. MORTE POR DISPARO DE
ARMA DE FOGO. CONDENAÇÃO POR HOMICÍDIO CULPOSO NA ESFERA CRIMINAL. SENTENÇA QUE TORNA
CERTO O DEVER DE INDENIZAR. POSSIBILIDADE DE O JUÍZO CIVIL RECONHECER A CULPA CONCORRENTE.
PRECEDENTES DO STJ. VÍTIMA QUE PRATICA FURTO EM PROPRIEDADE ALHEIA NO MOMENTO EM FOI
ALVEJADA POR TIRO. RELEVÂNCIA DA CONDUTA DA VÍTIMA. CIRCUNSTÂNCIA QUE INTERFERE
DECISIVAMENTE NA FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO. PENSÃO CIVIL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. 1. "A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o autor, quando estas questões se acharem
decididas no juízo criminal" (art. 935 do Código Civil). 2. A sentença penal condenatória decorrente da mesma
situação fática geradora da responsabilidade civil provoca incontornável dever de indenizar, não podendo o
aresto impugnado reexaminar os fundamentos do julgado criminal, sob pena de afronta direta ao art. 91, I, do
CP. 3. Apesar da impossibilidade de discussão sobre os fatos e sua autoria, nada obsta que o juízo cível, após o
110
exame dos autos e das circunstâncias que envolveram as condutas do autor e da vítima, conclua pela
existência de concorrência de culpa em relação ao evento danoso. 4. Diante das peculiaridades do caso,
especialmente a prática de crime de furto pela vítima, invasão em propriedade alheia e idade avançada da parte
autora, a indenização deve ser fixada em R$ 10.000,00 (dez mil reais). 5. Incide, por analogia, a Súmula 284/STF
na hipótese em que o recorrente não deduz nenhum argumento sobre o cabimento da pensão civil, limitando-se
a formular pedido genérico de condenação ao final do recurso. 6. Recurso especial parcialmente provido.”
(negritamos)
Comentário:
Nesse caso o STJ deixou claro que a concorrência de culpas entre o autor do crime e a
vítima não serve como argumento para afastar a obrigação de reparar o dano na esfera cível.
No entanto, a concorrência de culpas pode influenciar no quantum da indenização, o
que ocorreu no caso concreto.
DPVAT
STF. Plenário virtual. ADI 6262/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/12/2019.
Comentário:
O STF acolheu a liminar de ADI interposta contra a MP 904/2019, a qual pretendia
extinguir o DPVAT e o DPEM, a partir de 1º de janeiro de 2020. De acordo com o STF, essa
MP violaria os arts 62, § 1º, III e 192 da CF/88.
111
Como o sistema de seguros é um subsistema do sistema financeiro nacional e a CF
determina, no art. 192, que matérias a ele atinentes devem ser tratadas por lei complementar,
inconstitucional é a MP que dispôs sobre os seguros (DPVAT e DPEM).
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1844330/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2020.
EMENTA: “DIREITO CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DPVAT.
SINISTRO ENVOLVENDO VEÍCULO AGRÍCOLA OCORRIDO NUM CONTEXTO DE ACIDENTE DE TRABALHO.
IRRELEVÂNCIA. SEGURO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. 1. Cuida-se, na origem, de ação de cobrança relativa ao seguro
DPVAT, ajuizada em razão de sinistro que levou a vítima a óbito. 2. A cobertura do seguro obrigatório do
DPVAT não está condicionada à caracterização de acidente de trânsito, mas sim, à ocorrência de dano
pessoal causado por veículo automotor de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não,
nos exatos termos do art. 2º da Lei 6.194/74. 3. Consoante orienta a jurisprudência desta Corte, a
caracterização do infortúnio como acidente de trabalho não impede, necessariamente, que esse também
seja considerado como um acidente causado por veículo automotor e, portanto, coberto pelo seguro
DPVAT. Precedentes. 4. Ademais, tampouco o fato de o sinistro envolver veículo agrícola afasta a cobertura do
seguro. Precedentes. 5. Agravo interno não provido.” (negritamos)
Comentário:
De acordo com esse entendimento recente do STJ, um acidente pode ao mesmo
tempo ser de trabalho e ser coberto pelo seguro DPVAT. Conforme o art. 2º da Lei
6.194/74, a cobertura do seguro obrigatório do DPVAT não está condicionada à
caracterização de acidente de trânsito, mas sim, à ocorrência de dano pessoal causado por
veículo automotor de via terrestre, ou por sua carga.
STJ. 3ª Turma. REsp 1635398-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/10/2017 (Info 614).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). OBRIGAÇÃO IMPOSTA
POR LEI. AUSÊNCIA DE QUALQUER MARGEM DE DISCRICIONARIEDADE NO TOCANTE AO OFERECIMENTO E ÀS
REGRAS DA INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA PELAS RESPECTIVAS SEGURADORAS, NÃO HAVENDO SEQUER A OPÇÃO
DE CONTRATAÇÃO, TAMPOUCO DE ESCOLHA DO FORNECEDOR E/OU DO PRODUTO PELO SEGURADO.
INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO. IMPOSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA COM BASE
NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RECURSO DESPROVIDO. 1. Diversamente do que se dá no âmbito
da contratação de seguro facultativo, as normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor não se
aplicam ao seguro obrigatório (DPVAT). 1.1. Com efeito, em se tratando de obrigação imposta por lei, na
112
qual não há acordo de vontade entre as partes, tampouco qualquer ingerência das seguradoras componentes
do consórcio do seguro DPVAT nas regras atinentes à indenização securitária (extensão do seguro; hipóteses de
cobertura; valores correspondentes; dentre outras), além de inexistir sequer a opção de contratação ou escolha
do produto ou fornecedor pelo segurado, revela-se ausente relação consumerista na espécie, ainda que se
valha das figuras equiparadas de consumidor dispostas na Lei n. 8.078/90. 2. Recurso especial desprovido.”
(negritamos)
Comentário:
De acordo com esse entendimento do STJ, as normas protetivas do Código de Defesa
do Consumidor não se aplicam ao seguro obrigatório (DPVAT).
STJ. 3ª Turma.REsp 1661120-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 9/5/2017 (Info 604).
EMENTA: “CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. INDENIZAÇÃO SECURTIÁRIA. SEGURO OBRIGATÓRIO
- DPVAT. FILHOS MENORES DA VÍTIMA QUE PLEITEAM O RECEBIMENTO DA INDENIZAÇÃO. VÍTIMA QUE SE
ENVOLVEU EM ACIDENTE DE TRÂNSITO NO MOMENTO DA PRÁTICA DE ILÍCITO PENAL. TENTATIVA DE ROUBO
A CARRO-FORTE. 1. Ação ajuizada em 08/04/2011. Recurso especial concluso ao gabinete em 26/08/2016.
Julgamento: CPC/73. 2. O propósito recursal é determinar se os recorrentes fazem jus ao recebimento da
indenização relativa ao seguro obrigatório - DPVAT, em virtude de acidente de trânsito - ocorrido no momento
de prática de ilícito penal (tentativa de roubo a carro-forte) - que teria vitimado seu pai. 3. Não é obstáculo ao
conhecimento do recurso o fato de o recorrente ter interposto o recurso especial com fundamento na alínea "c",
e fundamentado a insurgência na ofensa à lei federal, demonstrando ter apenas se equivocado na indicação da
alínea fundamentadora do recurso. Precedentes. 4. Embora a Lei 6.194/74 preveja que a indenização será
devida independentemente da apuração de culpa, é forçoso convir que a lei não alcança situações em que o
acidente provocado decorre da prática de um ato doloso (como, na hipótese, em que o acidente de trânsito
ocorreu em meio a tentativa de roubo a carro-forte). 5. Recurso especial conhecido e não provido.” (negritamos)
Comentário:
Nesse julgado o STJ firmou o entendimento de que é indevida a indenização relativa
ao seguro DPVAT, no caso em que o acidente de trânsito que vitimou o segurado tenha
ocorrido no momento de prática de ilícito penal doloso.
Apesar de o art. 5º da Lei 6.194/1974 determinar que o pagamento do DPVAT não
depende do aferimento de culpa, o STJ entendeu que caso haja dolo, ou seja, caso a vítima
do acidente esteja agindo em uma prática criminosa, não terá direito à indenização.
113
Responsabilidade civil do fornecedor
Além de julgados esparsos acima, neste tópico, trouxemos também alguns julgados referentes ao campo
do Direito do Consumidor. Resolvemos também abordá-lo no presente capítulo devido a sua grande relevância.
STJ. 3ª Turma. REsp 1786722-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info 673).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS. ACIDENTE EM LINHA FÉRREA.
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. ART. 734 DO CC/02. TEORIA DO RISCO
CRIADO. ART. 927, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC/02. CONCRETIZAÇÃO DO RISCO EM DANO. EXCLUDENTES DA
RESPONSABILIDADE. ROMPIMENTO DO NEXO CAUSAL. FORTUITOS INTERNOS. PADRÕES MÍNIMOS DE
QUALIDADE NO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE DE RISCO. FORTUITOS EXTERNOS. INOCORRÊNCIA. FATO DE
TERCEIRO. CAUSA EXCLUSIVA DO DANO. NÃO DEMONSTRAÇÃO. EXONERAÇÃO DA RESPONSABILIDADE.
HIPÓTESE CONCRETA. IMPOSSIBILIDADE. 1. Ação de compensação de danos morais, em virtude de explosão
elétrica no vagão da recorrente durante o transporte entre a Estação de Guaianases e Ferraz de Vasconcelos que
gerou tumulto e pânico entre os passageiros. 2. Recurso especial interposto em: 17/11/2017; conclusos ao
gabinete em: 10/12/2018; aplicação do CPC/15. 3. O propósito recursal cinge-se a determinar se, na hipótese
concreta, o evento causador do dano moral sofrido pelo recorrido se enquadra nos riscos inerentes aos
serviços de transporte de passageiros prestados pela recorrente, ou se, alternativamente, se encontra fora
desses riscos, caracterizando um fortuito externo, apto a afastar sua responsabilidade objetiva. 4. Na
responsabilidade civil objetiva, os danos deixam de ser considerados acontecimentos extraordinários, ocorrências
inesperadas e atribuíveis unicamente à fatalidade ou à conduta (necessariamente no mínimo) culposa de alguém,
para se tornarem consequências, na medida do possível, previsíveis e até mesmo naturais do exercício de
atividades inerentemente geradoras de perigo, cujos danos demandam, por imperativo de solidariedade e
justiça social, a adequada reparação. 5. Para a responsabilidade objetiva da teoria do risco criado, adotada
pelo art. 927, parágrafo único, do CC/02, o dever de reparar exsurge da materialização do risco - da inerente
e inexorável potencialidade de qualquer atividade lesionar interesses alheios - em um dano; da conversão do
perigo genérico e abstrato em um prejuízo concreto e individual. Assim, o exercício de uma atividade obriga a
reparar um dano, não na medida em que seja culposa (ou dolosa), porém na medida em que tenha sido
causal. 6. A exoneração da responsabilidade objetiva ocorre com o rompimento do nexo causal, sendo que, no
fato de terceiro, pouco importa que o ato tenha sido doloso ou culposo, sendo unicamente indispensável que ele
tenha sido a única e exclusiva causa do evento lesivo, isto é, que se configure como causa absolutamente
independente da relação causal estabelecida entre o dano e o risco do serviço. 7. Ademais, na teoria do risco
criado, somente o fortuito externo, a impossibilidade absoluta - em qualquer contexto abstrato, e não
unicamente em uma situação fática específica - de que o risco inerente à atividade tenha se concretizado no
dano, é capaz de romper o nexo de causalidade, isentando, com isso, aquele que exerce a atividade da
114
obrigação de indenizar. 8. O conceito de fortuito interno reflete um padrão de comportamento, um standard de
atuação, que nada mais representa que a fixação de um quadrante à luz das condições mínimas esperadas do
exercício profissional, que deve ser essencialmente dinâmico, e dentro dos quais a concretização dos riscos em
dano é atribuível àquele que exerce a atividade. 9. Se a conduta do terceiro, mesmo causadora do evento
danoso, coloca-se nos lindes do risco do transportador, se relacionando, mostrando-se ligada à sua
atividade, então não configura fortuito externo, não se excluindo a responsabilidade. 10. O contrato de
transporte de passageiros envolve a chamada cláusula de incolumidade, segundo a qual o transportador
deve empregar todos os expedientes que são próprios da atividade para preservar a integridade física do
passageiro, contra os riscos inerentes ao negócio, durante todo o trajeto, até o destino final da viagem.
Precedente. 11. Na hipótese dos autos, segundo a moldura fática delimitada pelo acórdão recorrido, o ato de
vandalismo não foi a causa única e exclusiva da ocorrência do abalo moral sofrido pelo autor, pois outros
fatores, como o tumulto decorrente da falta de informações sobre a causa, gravidade e precauções a serem
tomadas pelos passageiros diante das explosões elétricas no vagão de trem que os transportava, aliada à
falta de socorro às pessoas que se jogavam às vias férreas, contribuíram para as lesões reportadas nos
presentes autos. 12. Não o suficiente, a incolumidade dos passageiros diante de eventos inesperados, mas
previsíveis, como o rompimento de um cabo elétrico, encontra-se indubitavelmente inserido nos fortuitos
internos da prestação do serviço de transporte, pois o transportador deve possuir protocolos de atuação para
evitar o tumulto, o pânico e a submissão dos passageiros a mais situações de perigo, como ocorreu com o
rompimento dos lacres das portas de segurança dos vagões e o posterior salto às linhas férreas de altura
considerável e entre duas estações de parada. 13. Recurso especial desprovido .” (negritamos)
Comentário:
Nesse julgado o STJ discutiu se o vandalismo em um trem que causou explosões
elétricas, tumulto e pânico dos passageiros é abarcado pelos riscos da atividade de transporte
ou se ele caracteriza um fortuito externo. Caso fosse considerada a última hipótese, a
responsabilidade civil objetiva do transportador seria afastada.
No entanto, o STJ entendeu que mesmo sendo o vandalismo praticado por terceiro, o
transportador está obrigado a proteger a integridade física dos passageiros até o local do
destino (cláusula de incolumidade). No caso, a concessionária responsável pelo transporte
deveria ter adotado de maneira mais eficaz os protocolos para evitar o tumulto, socorrer,
acalmar e preservar a saúde dos passageiros. O vandalismo em si foi apenas um dos fatores
desse caso concreto.
Assim, não foi afastada a responsabilidade civil do transportador, que respondeu
objetivamente com base na teoria do risco criado (art. 927, CC).
115
Cabe ao magistrado analisar cada caso concreto para pondenar se o ocorrido insere-se
em hipótese de fortuito interno ou externo e se o transportador agiu conforme os protocolos
de segurança.
STJ. 4ª Turma. REsp 1611915-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/12/2018 (Info 642).
116
Comentário:
Companhia aérea é civilmente responsável por não promover condições dignas de
acessibilidade de pessoa cadeirante ao interior da aeronave. A sociedade empresária
atuante no ramo da aviação civil possui a obrigação de providenciar a acessibilidade do
cadeirante no processo de embarque quando indisponível ponte de conexão ao terminal
aeroportuário (“finger”). Se não houver meio adequado (com segurança e dignidade) para o
acesso do cadeirante ao interior da aeronave, isso configura defeito na prestação do serviço,
ensejando reparação por danos morais. Assim, caso a pessoa com deficiência (“cadeirante”)
tenha que ser carregado pelos funcionários da companhia aérea para entrar no avião, este
fato configura defeito na prestação do serviço, gerando indenização por danos morais. A
companhia aérea não se exime do pagamento da indenização alegando que o dever de
fornecer o equipamento para a entrada da pessoa com deficiência na aeronave seria da ANAC.
Isso porque a companhia aérea integra a cadeia de fornecimento, de forma que possui
responsabilidade solidária em caso de fato do serviço, nos termos do art. 14 do CDC. Ademais,
tal alegação não se amolda à excludente de responsabilidade por fato de terceiro (art. 14, §
3º, II, do CDC).
STJ. 3ª Turma.REsp 1431606-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 15/08/2017 (Info 613).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS E MATERIAIS. ROUBO DE MOTOCICLETA.
EMPREGO DE ARMA DE FOGO. ÁREA EXTERNA DE LANCHONETE. ESTACIONAMENTO GRATUITO. CASO
FORTUITO OU FORÇA MAIOR. FORTUITO EXTERNO. SÚMULA Nº 130/STJ. INAPLICABILIDADE AO CASO. 1.
Ação indenizatória promovida por cliente, vítima do roubo de sua motocicleta no estacionamento externo e
gratuito oferecido por lanchonete. 2. Acórdão recorrido que, entendendo aplicável à hipótese a inteligência da
Súmula nº 130/STJ, concluiu pela procedência parcial do pedido autoral, condenando a requerida a reparar a
vítima do crime de roubo pelo prejuízo material por ela suportado. 3. A teor do que dispõe a Súmula nº 130/STJ,
a empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículos ocorridos no seu
estacionamento. 4. Em casos de roubo, a jurisprudência desta Corte tem admitido a interpretação extensiva
da Súmula nº 130/STJ para entender configurado o dever de indenizar de estabelecimentos comerciais
quando o crime for praticado no estacionamento de empresas destinadas à exploração econômica direta da
referida atividade (hipótese em que configurado fortuito interno) ou quando esta for explorada de forma
indireta por grandes shopping centers ou redes de hipermercados (hipótese em que o dever de reparar
resulta da frustração de legítima expectativa de segurança do consumidor). 5. No caso, a prática do crime de
roubo, com emprego inclusive de arma de fogo, de cliente de lanchonete fast-food, ocorrido no
117
estacionamento externo e gratuito por ela oferecido, constitui verdadeira hipótese de caso fortuito (ou
motivo de força maior) que afasta do estabelecimento comercial proprietário da mencionada área o dever de
indenizar (art. 393 do Código Civil). 6. Recurso especial provido”. (negritamos)
Comentário:
Lanchonete não tem o dever de indenizar consumidor vítima de roubo ocorrido no
estacionamento externo e gratuito do estabelecimento.
Fornecedor
Situação Explicação
responde?
31 Como o tema está no campo do Direito do Consumidor, optamos por não trazer a ementa de todas as
situações citada no quadro.
118
1250997/SP, DJe 14/02/2013).
119
No serviço de manobrista em via pública não existe
exploração de estacionamento cercado com grades, mas
Roubo ocorrido em veículo
simples comodidade posta à disposição do cliente. Logo,
sob a guarda de vallet
NÃO as exigências de garantia da segurança física e patrimonial
parking que fica localizado
do consumidor são menos contundentes do que aquelas
em via pública.
atinentes aos estacionamentos de shopping centers e
hipermercados (REsp 1.321.739-SP, DJe 10/09/2013).
STJ. 3ª Turma. REsp 1279173-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/4/2013 (Info
519).
EMENTA: “RECURSOS ESPECIAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE FERROVIÁRIO. MORTE. DANO MORAL.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. PENSÃO POR MORTE DE FILHO COM 17 ANOS. 13º
SALÁRIO. TAXA DE JUROS LEGAIS MORATÓRIOS APÓS O ADVENTO DO NOVO CÓDIGO CIVIL. TAXA SELIC.
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. 1. Ação de indenização por danos materiais e morais movida pela mãe de
120
adolescente morto em acidente em estação de trem, em razão de falha na prestação de serviço da ré,
acarretando a morte de seu filho, com apenas 17 anos (queda da composição ferroviária, em razão de uma
porta que se encontrava indevidamente aberta). 2. Majoração do valor da indenização por dano moral na linha
dos precedentes desta Corte, considerando as duas etapas que devem ser percorridas para esse arbitramento,
para o montante correspondente a 400 salários mínimos. Método bifásico. 3. Concessão de pensão por morte
em favor da mãe da vítima adolescente, fixada inicialmente em dois terços do salário mínimo, a partir da
data do óbito até o dia em que completaria 65 anos de idade, reduzindo-se para um terço do salário
mínimo a partir do momento em que faria 25 anos de idade. Aplicação da Súmula 491 do STF na linha da
jurisprudência do STJ. 4. Fixação da taxa dos juros legais moratórios, a partir da entrada em vigor do artigo 406
do Código Civil de 2002, com base na taxa Selic, seguindo os precedentes da Corte Especial do STJ (REsp.
1.102.552/CE e EREsp 267.080/SC, em ambos o rel. Min. Teori Zavascki). 5. Exclusão da parcela relativa ao 13ª
salário por não ter sido demonstrado que a vítima trabalhava na época do fato. 6. Sucumbência redimensionada,
sendo reconhecido o decaimento mínimo da autora. 7. RECURSOS ESPECIAIS PROVIDOS .” (negritamos)
Comentário:
O STJ, nesse julgado, aplicou sua súmula 491: “É indenizável o acidente que cause a
morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado”.
De acordo com o STJ, os valores da pensão mensal indenizatória devida aos pais pela
morte do filho menor deve ser fixada em valor equivalente a 2/3 do salário mínimo, dos 14
até os 25 anos de idade da vítima. Depois, será reduzido para 1/3 até a data em que o de
cujus completaria 65 anos.
121
MAPA MENTAL
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos – 10. ed. –
São Paulo: Atlas, 2010.
FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil - Volume Único - 2. ed. atual. e ampl. - Salvador:
JusPodivm, 2018.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações - 14. ed. - São Paulo: Saraiva,
2017.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Salvador:
Juspodvim, 2017
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