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1. Conceito ................................................................................................................................................. 6
2. Amplitude da advocacia extrajudicial ....................................................................................... 6
2
3. Serviços extrajudiciais ...................................................................................................................... 7
4. Da deontologia dos notários e registradores ..................................................................... 10
4.1 Obrigações documentais ................................................................................................................. 10
5. Da representação ............................................................................................................................. 15
5.1. Espécies de representação ............................................................................................................. 16
6.2. Classificação.......................................................................................................................................... 32
7.3. Classificação.......................................................................................................................................... 56
8.7. Inventariante......................................................................................................................................... 62
12.4. Da ilegalidade dos emolumentos da ata notarial para fins de usucapião ............ 85
Por isso, eu, Professor Marcus Kikunaga, preparei esse material com muito carinho a
LEMBRE-SE:
(Walter Burke)
ADVOCACIA EXTRAJUDICIAL
6
1. Conceito
A advocacia extrajudicial pode ser definida como a atividade essencialmente jurídica
prestada pelo advogado na esfera consensual, orientando os clientes nas decisões de
atos e negócios jurídicos, elaborando pareceres e prestando assessoria.
JUDICIAL
(Litígio) PAZ
SOCIAL
EXTRAJUDICIAL
(Consenso)
A representação acima demonstra que nosso sistema jurídico tem como objetivo a
paz social.
No campo da esfera litigiosa, a busca é pela promoção de meios de solução dos
litígios até alcançar a pacificação das relações jurídicas, enquanto na esfera consensual
a intenção é a manutenção da estabilidade das relações jurídicas.
3. Serviços extrajudiciais
A Lei nº 8.935/94, conhecida como Lei dos Notários e Registradores, é uma lei
estrutural deste microssistema, a qual demonstra o objetivo de operacionalizar o direito 7
artes. 6º a 13, será exercida pelo juízo competente, assim definido na órbita
estadual e do Distrito Federal, sempre que necessário, ou mediante representação
de qualquer interessado, quando da inobservância de obrigação legal por parte
de notário ou de oficial de registro, ou de seus prepostos.
Art. 38. O juízo competente zelará para que os serviços notariais e de registro
sejam prestados com rapidez, qualidade satisfatória e de modo eficiente,
1
MARCUS KIKUNAGA, Direito Notarial e Registral à luz do Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Editorial Lepanto,
2019, p. 16
Para a Lei nº 8.935/94, a atividade notarial e a registral são caracterizadas pela
organização técnica e administrativa para operacionalização dos institutos jurídicos.
Ademais, é notório que a atividade notarial e registral é definida como um exercício
9
de serviço público prestado por um particular, de forma delegada, pelo Poder Público
para dar maior acessibilidade à sociedade à efetividade do Direito, quando a lei assim o
exigir.
Essa organização técnica da atividade notarial e registral tem como ponto
fundamental o dever de amplo conhecimento em Direito de todos os profissionais que
prestam esse serviço, desde o particular delegado até seus prepostos, permitindo à
sociedade a utilização de seus serviços da forma mais ampla possível, de acordo com os
preceitos constitucionais e legais.
Ademais, a organização administrativa da serventia notarial e registral deve ser
organizada de modo a permitir que os serviços sejam prestados de forma eficiente e
segura, possibilitando a pronta busca de informações acerca de seus serviços, ou seja, a
metodologia laboral deve ser logicamente organizada para que a população seja
atendida prontamente, sem maiores transtornos, devendo a informação ser prestada de
forma adequada e segura.
Enfim, podemos sintetizar o conceito da atividade notarial e registral como “a forma
instrumental de operacionalização dos institutos jurídicos, outorgando-lhes efetividade,
segurança, autenticidade e publicidade”.
4. Da deontologia dos notários e registradores
As obrigações ou deveres a todos os delegatários da atividade notarial e registral
decorrem do art. 30 da Lei Federal nº 8.935/94, devendo o titular observá-las sob pena 10
obtidos. § 3º – Deve o programa facilitar a busca pelo nome, apelido de família e, quando disponível, nº de
inscrição no CPF-MF, nº do registro geral da cédula de identidade, entre outros dados, visando a facilitar o
acesso e a fiscalização. § 4º – O salvamento dos lançamentos deve ocorrer através de duas cópias: uma
diária, guardados os disquetes na própria sede do Serviço, e outra, semanal, a ser armazenada em local
distinto, com as cautelas devidas. § 5º – O sistema informatizado não poderá ficar desativado por mais de
três dias, face ao fornecimento de certidões, ficando o titular responsável pela substituição do equipamento,
se necessário.
5 Lei nº 10.257/01 - Art. 25. O direito de preempção confere ao Poder Público municipal preferência para
10Conselho Superior da Magistratura - Apelação Cível nº 28.382-0/7 Rel. Des. Antônio Carlos Alves Braga j.
28.9.1995 Localidade: São Paulo – Dúvida - Formal de partilha extraída de autos de arrolamento -
Verificação, pelo Oficial, do recolhimento do imposto, mas não de seu valor - Recurso provido – No mesmo
sentido: CSM/SP – Apelação Cível nº 268.549 Localidade: São Bernardo do Campo – j. 05.5.1978 Rel.
Andrade Junqueira e CSM/SP – Apelação Cível nº 12.062-0/5 Localidade: Espírito Santo do Pinhal – j.
22.1.1991 Rel. Des. Onei Raphael.
11 Lei dos Notários e dos registradores comentada, p. 218.
12 Ibid., p. 224.
3º) Encaminhar ao juízo competente as dúvidas levantadas pelos interessados, obedecida
a sistemática processual fixada pela legislação respectiva – significa que deve o
delegatário encaminhar o procedimento de dúvida administrativa quando requerido pelo
15
interessado, sendo que este procedimento está previsto no art. 198 da Lei nº 6.015/73.
Art. 198 - Havendo exigência a ser satisfeita, o oficial indicá-la-á por escrito. Não
se conformando o apresentante com a exigência do oficial, ou não a podendo
satisfazer, será o título, a seu requerimento e com a declaração de dúvida,
4º) Observar as normas técnicas estabelecidas pelo juízo competente – esse dever tem
a finalidade de obrigar o titular da serventia a cumprir os atos definidos em provimentos,
resoluções dos entes reguladores, como a Corregedoria Geral da Justiça, o Conselho
Superior da Magistratura e o Conselho Nacional de Justiça.
5. Da representação
O verbo representar significa estar no lugar de alguém, substituir uma pessoa,
fazer o papel que lhe incumbia, projetar sua vontade em uma relação jurídica13.
Historicamente, no direito romano, o vínculo obrigacional nas relações jurídicas
tinha o caráter personalíssimo e solene, haja vista o pressuposto da manifestação da
vontade diretamente de seu emissor (interessado)14.
13
Rizzardo, Arnaldo, 1942 – Parte Geral do Código Civil – 7. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 401
14
Pereira, Caio Mário da Silva – Instituições de Direito Civil, vol. I, 27. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 513
Nas palavras de Roberto Ruggiero, há representação quando “alguém pratica um
ato jurídico em lugar de uma outra pessoa com a intenção de que esse ato valha como
se fosse praticado por essa outra e produzindo realmente para ela os seus efeitos”15.
16
Objetivamente, Pontes de Miranda obtempera que na representação, o
representante manifesta ou apenas comunica a vontade, o conhecimento ou sentimento
de outrem16.
15
Ruggiero, Roberto de – Instituições de Direito Civil – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 1974, vol. I, p. 214 apud Rizzardo,
Arnaldo, 1942 – Parte Geral do Código Civil – 7. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 402
16
Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado – Rio de Janeiro: Borsoi, 194, vol. III, p. 241 apud Rizzardo, Arnaldo,
1942 – Parte Geral do Código Civil – 7. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 402
17
Pereira, Caio Mário da Silva – Instituições de Direito Civil, vol. I, 27. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 516
bens, enquanto não for feita a partilha da herança18, ou ainda o caso da massa falida,
herança jacente e liquidante da sociedade.
Por outro lado, a representação convencional ou voluntária é aquela que se
17
manifesta com a autorização do representado, o qual outorga, transfere ou aceita que
o representante possa manifestar a vontade, praticar atos ou administrar interesses em
seu nome, como no mandato, preposição ou nunciação.
Nesse passo, os critérios impostos em cada espécie seria o grau de confiança do
representado no representante e o grau de discricionariedade para a manifestação de
vontade do representante, cujos limites devem ser expressos no instrumento de
representação, quando for o caso.
Outrossim, necessário se faz enaltecer que o grau de confiança e de
discricionariedade são fundamentais para a segurança dos negócios jurídicos, onde se
fará necessária a representação do interessado.
No caso do mandato, o grau de confiança e de discricionariedade em geral é
elevado, pois a natureza jurídica do mandato é contratual pura, estabelecendo-se entre
o mandante (representado) e o mandatário (representante), uma relação, em geral,
técnica e profissional, como é o caso da advocacia. A confiança no advogado é
fundamental para haver a representação processual numa demanda judicial, pela qual,
no contrato de honorários, é ajustado a extensão do objeto (até qual instância haverá a
representação processual, o valor dos honorários advocatícios, os direitos e obrigações
do cliente (representado) e os direitos e obrigações do advogado (representante).
Na hipótese da preposição, em linhas bem simples, há confiança, porém, esta se
dá pela subordinação laboral do contrato de trabalho, como é o caso da representação
18
Pereira, Caio Mário da Silva – Instituições de Direito Civil, vol. I, 27. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 517
notarial ou registral, cujos delegatários nomeiam e autorizam a extensão na prática de
atos operacionais do serviço. Nesta situação, o grau de discricionariedade e confiança
podem ser classificados como médios, pois cada funcionário possui sua característica e
18
experiência profissional, que os diferenciam.
Porém, no caso da nunciação, a confiança e o grau de discricionariedade são
bastante restritos ou quase nenhum. Nesta espécie de representação, entendemos que
o representado outorga poderes extremamente vinculados ao representante, para que
este, em seu nome, pratique atos, como é o caso da procuração em causa própria e
mandato em causa própria. Discordamos, com o natural respeito, da opinião, do Prof.
Caio Mário da Silva Pereira, sobre esta espécie, pois em suas palavras, é “... indispensável,
excluir da representação a figura do mensageiro ou núncio, que não emite uma
declaração de vontade própria, porém, se limita a ser o portador da manifestação volitiva
de outrem, que transmite como recebe, e não comparece no negócio jurídico, mas é
mero porta-voz do interessado”19.
19
Clóvis Beviláqua, Teoria Geral, §61; Ruggiero e Maroi, Istituzioni, §28; Enneccerus, loc. cit; Oertmann, loc. cit. apud
Pereira, Caio Mário da Silva – Instituições de Direito Civil, vol. I, 27. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 514
Sendo assim, apesar da representação ser a atuação de terceiro em nome do
representado, na nova sistemática civil foi expressamente autorizada a dupla
representação, na hipótese de haver apenas um representante para dois representados,
19
com interesses convergentes, não havendo envolvimento do representante no negócio,
mas com efeitos jurídicos apenas aos representados20.
Na outra hipótese, o representante é autorizado pelo representado a negociar
consigo mesmo, pela impossibilidade de se formalizar o contrato negocial de forma
imediata, pela ausência de documentos ou ainda pela dinâmica dos negócios jurídicos.
Apesar de a doutrina denominar este negócio jurídico de contrato consigo mesmo
ou autocontratação, este autor discorda desta falsa ideia de um contrato sem a presença
da outra parte, que na verdade é um instrumento de nunciação, pelo qual o negócio é
estabelecido em todos os seus elementos previamente, e em momento diverso e
superveniente o representante (e interessado), obedece às formalidades legais, como no
caso a lavratura de uma escritura pública translativa de propriedade.
Na mesma toada, Athos Gusmão Carneiro preleciona que “é necessário de início
precisar que não se cuida da hipótese, de todo impossível, de contrato entre uma pessoa
e a própria pessoa”, afirmando ainda que parece ser majoritário o entendimento de que
este tipo de contrato só é admitido nas hipóteses em que rigorosamente esteja afastado
o conflito atual ou virtual de interesses.21
Sendo assim, o contrato consigo mesmo é na verdade o instrumento definitivo
do negócio jurídico entabulado entre as partes, representado e interessado
(representante do primeiro).
20
Gonçalves, Carlos Roberto – Direito civil esquematizado, vol. 1, 2. ed. – São Paulo: Saraiva, 2012, p. 293
21
Carneiro, Athos Gusmão, Revista dos Tribunais – ano 3 – n. 11 –abr-jun/1995 – Cadernos de Direito Tributário e
Finanças Públicas, p. 256
Nesse ponto, essa representação é materializada pela procuração em causa
própria, a qual iremos tratar com mais profundidade logo a seguir.
20
5.3. Do mandato
A etimologia da palavra mandato origina-se do verbo mandare (de manu + dare), cujo
significado seria “dar as mãos”, ou “dar cargo...cometer, ordenar, mandar”22, nos orienta melhor
no sentido de “dar poder”.
Jones Figueiredo Alves afirma que “o traço característico do mandato, portanto, é a
representação decorrente da fidúcia, da confiança, possibilitando ao mandante agir como se
estivesse a um só tempo em dois lugares”.23
Outrora, nas palavras de Pontes de Miranda, mandato seria “o contrato pelo qual se criam
a alguém o dever e a obrigação, perante outrem, da gestão de negócios que se lhe entregam,
com ou sem poder de representar”.24
Imperioso se faz o alerta de Pontes de Miranda sobre a distinção do contrato de mandato
com o negócio jurídico unilateral da outorga de poderes, contidos na procuração.25
Dessa perspectiva, Pontes de Miranda afirma ser o mandato um contrato unilateral ou
bilateral, em que há prestação de serviços, ou de obra, e poder de representação ou outro poder,
além da necessidade de que o ato seja praticado em nome do mandante.26
22
Limongi França, Rubens – Instituições de Direito Civil, 4.ed.atual. – São Paulo: Saraiva, 1996, p. 809
23
Código Civil Comentado, coord. Ricardo Fiuza, 6 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p.599
24
Miranda, Pontes de, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Tomo XLIII – Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1963, p.
04
25
Miranda, Pontes de, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Tomo XLIII – Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1963, p.
04
26
Miranda, Pontes de, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Tomo XLIII – Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1963, p.
04
Assim, ao analisarmos o mandato, temos que enquadrá-lo como um contrato pelo qual
o mandatário age em nome do mandante, considerando o grau de discricionariedade do
mandatário.
21
5.4. Da Procuração
Como comentamos anteriormente, a procuração se caracteriza por sua instrumentalidade
ou materialização da outorga de poder de representação, sendo abstrata.
Para Pontes de Miranda, a procuração é dação de poder, é negócio jurídico unilateral,
que se constitui pela manifestação de vontade receptícia do representando.27
Interessante notar, que a materialização dos poderes decorrentes da representação se dá
com a outorga da procuração, a qual Pontes de Miranda assevera: “tem-se de atender a que a
outorga de poder de representação, que vai no instrumento, é por declaração unilateral,
receptícia, de outorga, e não se confunde com o negócio jurídico bilateral do mandato”.28
Diferenciar o mandato e a procuração é fundamental para se esclarecer que os efeitos
do mandato em causa própria e da procuração em causa própria são idênticos, porém, sua
operacionalização é diferenciada, no momento em que o primeiro engloba o segundo, o que
não acontece na situação oposta.
Referenda nosso alerta Pontes de Miranda, ao afirmar: “é da maior relevância distinguir-
se, sempre, do mandato a procura. Mesmo se, no caso, as regras jurídicas são as mesmas, é
preciso que se saiba, com exatidão, de que é que se está falando: se de mandato, ou se de
procuração, se do contrato, ou se do negócio jurídico unilateral de outorga”.29
27
Miranda, Pontes de, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Tomo XLIII – Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1963, p.
09
28
Miranda, Pontes de, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Tomo XLIII – Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1963, p.
13
29
Miranda, Pontes de, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Tomo XLIII – Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1963, p.
21
É importante esclarecer que enquanto a procuração exige forma escrita, seja particular
ou pública, o mandato não exige forma prescrita, podendo ser expresso (verbal ou escrito) ou
até mesmo tácito.
22
No entanto, se o objeto do mandato exigir forma escrita, não será possível o mandato
verbal, como determina o art. 657, 2ª parte, do Código Civil Brasileiro. Da mesma forma, se a lei
exigir forma prescrita única (forma pública) ou plúrima (admissão da forma particular ou pública),
assim o será a representação, conforme dispõe o princípio da simetria, previsto no art. 657 do
Código Civil Brasileiro.
O princípio da simetria se fundamenta na exigência de requisitos formais previstos no art.
104, inciso III do Código Civil, no momento em que a lei exige forma especial em determinadas
situações, seja por instrumento particular, feito e assinado pelas partes integrantes do negócio,
ou por instrumento público, elaborado, lido e conferido pelo Tabelião de Notas ou Oficial do
Registro Civil das Pessoas Naturais30.
30
Lei Federal nº 8.935/94, conhecida como Lei dos Notários e Registradores - Art. 52. Nas unidades federativas onde
já existia lei estadual específica, em vigor na data de publicação desta lei, são competentes para a lavratura de
instrumentos traslatícios de direitos reais, procurações, reconhecimento de firmas e autenticação de cópia
reprográfica os serviços de Registro Civil das Pessoas Naturais.
A esse propósito, é fundamental o entendimento real da redação do art. 661 do Código
Civil, haja vista a redação confusa e exemplificativa, a qual provoca muitas discussões no meio
jurídico de seu alcance e sentido.
23
Nesse diapasão, necessário se faz mencionar a divisão existente no art. 661, em relação
aos poderes do representante.
Art. 661. O mandato em termos gerais só confere poderes de administração.
especiais e expressos.
§ 2o O poder de transigir não importa o de firmar compromisso.
No caput do art. 661, do Código Civil, está disposto: “O mandato em termos gerais só
confere poderes de administração.” Nele, estão previstos os poderes gerais, os quais são
determinados para os atos de mera administração de interesses, sejam patrimoniais ou não.
Podemos afirmar que o mandato ou a procuração em termos gerais, é hipótese em que,
em relação ao seu conteúdo e à sua extensão, só confere poderes de administração ordinária,
envolvendo, portanto, poderes para tratar da generalidade de interesses do representado,
assumindo, então, o representante de poderes genéricos, não claramente delineados.
Para Pontes de Miranda, o mandato em termos gerais não é para todos os negócios do
mandante, de modo que a cláusula “para quaisquer negócios”, sem maior explicitude, não passa
da outorga de poderes de administração.31
Porém, no parágrafo primeiro do mesmo artigo está prescrito que: “Para alienar,
hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer atos que exorbitem da administração ordinária,
depende a procuração de poderes especiais e expressos.”
31
Miranda, Pontes de, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Tomo XLIII – Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1963, p.
33
Para se compreender a ratio juris deste dispositivo, é necessário classificar os poderes.
Isso significa que a ideia transmitida pelo parágrafo primeiro do art. 661, é situar que serão
poderes especiais, em sentido amplo ou lato sensu, todos aqueles que extrapolarem os de mera
24
administração, isto é, qualquer ato diferente da administração ordinária se exigirá poderes
expressos e poderes especiais em sentido estrito ou stricto sensu, como por exemplo, a extinção
de dívidas, a fiança, confissão de dívida, reconhecimento de filho, a celebração de matrimônio,
a alienação ou oneração de bens imóveis, entre outros.
A distinção dos poderes especiais lato sensu e os poderes expressos e especiais stricto
sensu se faz necessário no momento em que a limitação dos poderes determina a relação de
confiança do representado com o representante.
Enquanto os poderes especiais lato sensu, determinam-se como sendo todos aqueles que
exorbitam da administração comum, são na verdade o resultado da conjugação dos poderes
expressos e especiais stricto sensu.
Isso significa que para que eu possa representar alguém em negócio jurídico imobiliário,
são requisitos mínimos dessa representação, a outorga de poderes de alienação e especialização
do imóvel.
Quando se trata dos poderes expressos, Pontes de Miranda ensina que esses poderes
são aqueles manifestados com explicitude, sendo expresso o mandato em que se diz: com
poderes para alienar, hipotecar, prestar fiança, não podendo ser considerado como especial.32
Com o devido respeito ao renomado jurista Pontes de Miranda, ousamos esclarecer que
poderes expressos são, na verdade, todos aqueles que determinam a abrangência da ação do
representante, cuja limitação se dá com os verbos declarados no instrumento de representação.
Isso se demonstra com a exemplificação que faz o parágrafo primeiro do art. 661 do Código
32
Miranda, Pontes de, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Tomo XLIII – Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1963, p.
35
Civil, ao apresentar apenas alguns verbos, como alienar, transigir e hipotecar33, para demonstrar
a extensão ou limites dos poderes do representante (mandatário ou outorgado ou procurador).
Chegamos a essa conclusão justamente porque a função do verbo na gramática é definir
25
ações do sujeito da frase.
Outrossim, Pontes de Miranda conceitua os poderes especiais como os poderes
outorgados para a prática de algum ato determinado ou de alguns atos determinados,
exemplificando, que não poderá hipotecar o imóvel o mandatário que tem procuração para
hipotecar, sem se dizer qual o imóvel, pois nesse caso, haveria presente o poder expresso, mas
poder geral, e não especial.34
No entanto, quando se trata dos poderes especiais stricto sensu, entendemos que a lei
pretende que na outorga dos poderes de representação, o representado (mandante ou
outorgante) deva ainda definir a estrutura jurídica dos atos ou negócios que ficarão sob
responsabilidade do representante. Objetivamente, os poderes especiais stricto sensu são
aqueles que determinam a especialização ou individualização dos sujeitos, do objeto e da forma
de cumprimento e execução dos poderes outorgados.
Os poderes especiais stricto sensu possuem ainda outras duas classificações: (i) podem
ser genéricos ou; (ii) específicos.
Os poderes especiais stricto sensu serão genéricos quando houver a determinação de
qualquer dos elementos da estrutura jurídica do ato ou negócio a ser realizado pelo
representante.
Podemos exemplificar essa situação com o Enunciado 183 da III Jornada de Direito Civil
do Conselho da Justiça Federal, ao assentar: “Para os casos em que o parágrafo primeiro do art.
661 exige poderes especiais, a procuração deve conter a identificação do objeto.”
33
Nosso entendimento em relação ao verbo hipotecar diz respeito apenas aos direitos reais sobre coisas alheias de
garantia imobiliária, quando deveria o legislador ter utilizado o verbo “onerar”.
34
Miranda, Pontes de, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Tomo XLIII – Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1963, p.
35
Como vimos, essa espécie ocorrerá na hipótese em que houver, no mínimo, a
determinação do objeto da representação, como por exemplo, o imóvel que será objeto de
alienação.
26
Outrora, quando se trata dos poderes especiais stricto sensu específicos, o legislador
exige que o instrumento de representação se faça determinar todos os elementos da estrutura
jurídica do ato ou negócio em que o representante se fará realizar. Na linguagem mais direta,
essa situação ocorrerá naquelas hipóteses em que os poderes outorgados vinculam
completamente a especialização dos partícipes e objeto do ato ou negócio, como por exemplo,
comprador, vendedor e eventual interveniente, e imóvel a ser alienado, bem como a estipulação
da forma de execução dos poderes na procuração.
Nessa hipótese, o representante encontra-se totalmente vinculado aos poderes
conferidos, não havendo discricionariedade para agir, como nas outras situações, configurando,
na verdade, um instrumento de nunciação35.
O instrumento de nunciação, pode ser exemplificado nas procurações para casamento,
separação, divórcio, inventário e na procuração em causa própria.
Conclui-se que o notário ou registrador civil das pessoas naturais, que tenham essa
atribuição36, no momento da confecção do instrumento de representação deve ter cautela para
não permitir mais poderes do que os necessários e permitidos pelo representado.
35
O instrumento de nunciação seria aquele em que se retira grande parte ou toda discricionariedade do
representante, devido a relevância no negócio, eventual exigência legal ou pela vontade do representado nos atos
que possam comprometer o consentimento e possa gerar conflito de interesses.
36
Lei nº 8.935/94 - Art. 52. Nas unidades federativas onde já existia lei estadual específica, em vigor na data de
publicação desta lei, são competentes para a lavratura de instrumentos translatícios de direitos reais, procurações,
reconhecimento de firmas e autenticação de cópia reprográfica os serviços de Registro Civil das Pessoas Naturais.
5.6. Da procuração em causa própria
A cláusula em causa própria esta positivada em nosso sistema jurídico no art. 685
do Código Civil:
27
“Conferido o mandato com a cláusula "em causa própria", a sua revogação não
terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o
mandatário dispensado de prestar contas, e podendo transferir para si os bens
móveis ou imóveis objeto do mandato, obedecidas as formalidades legais.”
O art. 685 do Código Civil de 2002 tratou de forma explicita o que o Código
anterior era pontual, ao admitir que o mandato que contenha a cláusula em causa
própria, além de ser irrevogável, também o é ineficaz, se for revogado, além de não se
extinguir pela morte de qualquer das partes, e a dispensa de prestação de contas pelo
representante.
Claudio Luiz Bueno de Godoy, ao interpretar este artigo, assevera que a cláusula
em causa própria é, na realidade, instituída no interesse do representante.37
A cláusula em causa própria tem apoio na proteção geral do art. 117 do Código
Civil, o qual permite ao representante agir em seu interesse se assim o autorizar a lei ou
o próprio representado, conforme comentamos anteriormente.
mesmo.
37
Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência – coordenador Cezar Peluso – 8.ed.rev. e atual – Barueri, SP:
Manole, 2014, p. 673
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o
negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido
subestabelecidos.
28
38
Marcus Kikunaga, Direito Notarial e Registral à luz do Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Editorial Lepanto,
2019, p. 302
A cláusula em causa própria deve exigir a segurança da relação entre
representante e representado, excluindo de tal modo, eventual conflito de interesses, e
para tanto, é lógica a exigência de outorga de poderes vinculados, que demonstrem a
29
natureza de nunciação.
Interessante notar que no dispositivo legal do art. 685 do Código Civil, a
nomenclatura utilizada “MANDATO COM A CLÁUSULA EM CAUSA PRÓPRIA” deve ser
interpretada levando em consideração as advertências de Pontes de Miranda sobre a
distinção do mandato da procuração.
Nosso singelo conceito de mandato em causa própria, seria o contrato pelo qual
o mandante, por meio de representação, ajusta com o mandatário um negócio jurídico
determinado, com a permissão da cláusula “em causa própria”, administrar e concluir a
relação jurídica negocial, em nome do mandante, porém em benefício próprio,
assumindo todos os encargos, obrigações e direitos que seriam do mandante, apesar de
agir em nome deste.
No mandato em causa própria, o mandatário age em nome do mandante, mas
assume todos os direitos e obrigações do negócio, cuja ideia central é transferir ao
mandatário a propriedade de um objeto ou a titularidade de um negócio.
Em que pese a proibição do Código Civil de 1916, no art. 1.133, inciso II39, ao
determinar que os mandatários não podiam adquirir bens cuja alienação estivessem
encarregados, era certo que esse dispositivo era o fundamento utilizado pelos tabeliães
de notas em negar a realização de negócios imobiliários meio de procurações e
mandatos com a cláusula em causa própria.
39
Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916 - Art. 1.133. Não podem ser comprados, ainda em hasta publica:
(...)
II - Pelos mandatarios, os bens, de cuja administração ou alienação estejam encarregados.
Não obstante, tal dispositivo foi expressamente revogado no Código Civil atual,
que retirou do atual rol do artigo 497 a referida previsão inclusive por força do comando
do art. 2.045.
30
Nesse passo, os notários estão autorizados a realizar e orientar referidos negócios
nas hipóteses em que formalizarem juridicamente a vontade das partes e a situação
assim o exigir.
ATENÇÃO: Cuidado com nomenclatura utilizada nas diversas legislações que tratam do
mandato e da procuração, pois temos que lembrar que o mandato é espécie de contrato
6. ESCRITURAS PÚBLICAS
6.1. Conceito
Escritura Pública é o ato notarial mediante o qual o tabelião recebe manifestações
de vontade reduzindo-as a termo em seu livro de notas, de forma legal, a fim de que
produza efeitos jurídicos conhecidos ou não.
40
Poderes expressos são aqueles que determinam os limites ou a abrangência de atuação do representante,
geralmente exemplificados por verbos que permita a constituição, transferência, modificação ou extinção de um
direito.
41
Poderes especiais lato sensu ou em sentido amplo são aqueles que exorbitam a administração ordinária, previsto no
art. 661, caput do Código Civil Brasileiro.
42
Poderes especiais scricto sensu ou em sentido estrito são determinados com a indicação da estrutura jurídica do ato
ou negócio jurídico objeto do mandato, como a especialização dos sujeitos da relação jurídica, do objeto ou da forma
de execução dos poderes.
43
Poderes especiais scricto sensu ou em sentido estrito específicos são aqueles em que se determinam todos os
sujeitos, o objeto e a forma de execução dos poderes de forma cumulativa, excluindo do mandato a discricionariedade
do representante, assemelhando-se à nunciação.
6.2. Classificação
A classificação das escrituras pode ser feita da seguinte forma:
a) Escritura Pública – dotada de fé pública de seu conteúdo, de sua data, indestrutível e
32
fazendo prova plena.
b) Escritura particular com força de escritura pública – dotada de maior liberdade,
inseguro e perecível, a qual por autorização legal, se permite a realização para
transferência e constituição de direitos reais.
6.3 Características
1ª) Perpetuidade — a escritura pública, ao ser lavrada pelo tabelião de notas, tem-
se assegurada a sua perpetuidade no mundo jurídico, pois ela fica guardada em arquivos
próprios do acervo do Tabelião de Notas, tornando-se praticamente indestrutível, pois
o delegado da serventia notarial por ela se responsabilizará, por ser um dever da
atividade notarial conforme dispõe o art. 30, inciso I, da Lei nº 8.935/94 o qual impõe
ao notário manter em ordem os livros, papéis e documentos de sua serventia,
guardando-as em locais seguros.
2ª) Fé pública — o instrumento público, é dotado de fé pública por força legal
decorrente do art. 3º da Lei Federal nº 8.935/94 que regulamentou o art. 236 da
Constituição Federal. Podemos conceituar a fé pública como a força estatal dada ao
tabelião que outorga AUTENTICIDADE aos atos e negócios jurídicos por ele tutelados.
3ª) Imparcialidade — o tabelião tem como dever-poder exercer o seu oficio de
forma a dignificar a atividade notarial de forma que ele exerce uma magistratura cautelar
ao evitar possíveis litígios, conforme reza o art. 30, incisos V, VI e XIV da Lei Federal nº
8.935/94, ao atribuir o dever de proceder de forma a dignificar a função exercida, tanto
nas atividades profissionais como na vida privada, guardar sigilo sobre a documentação
e os assuntos de natureza reservada de que tenham conhecimento em razão do exercício
de sua profissão e observar as normas técnicas estabelecidas pelo juízo competente.
4ª) Juridicidade — essa característica tem como fundamento o art. 6º, inciso II da
34
Lei Federal nº 8.935/94, ao atribuir a competência ao notário de intervir nos atos e
negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade,
autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados, conservando os
originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo. Isso significa dizer que o
notário tem como obrigação conhecer e dar ao Direito efetividade, ou seja,
operacionalidade aos fatos apresentados pelas partes.
5ª) Segurança — a segurança dos atos notariais, assim como os de registro, estão
previstos no sistema notarial e registral decorrente do princípio com mesmo nome
previsto no art. 1º da Lei Federal nº 8.935/94, o qual reza que os serviços notariais e de
registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a
publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos. Essa segurança é
sistemática, pois o art. 30, incisos I, IV, VI, X da Lei Federal nº 8.935/94.
a) Se pessoa natural:
- nome;
- nacionalidade;
- estado civil, com indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento e
38
indicando o assento;
- expressa referência ao pacto antenupcial e seus ajustes, número de seu registro e
cartório do Registro de Imóveis, quando o ato disser respeito a objeto de convenção
antenupcial;
- profissão;
- domicílio e residência das partes;
- demais comparecentes, com as mesmas características acima;
- nome do outro cônjuge;
- filiação, dependendo do caso concreto;
- verificar se as partes e demais interessados acham-se munidos dos documentos
necessários de identificação, nos respectivos originais, em especial cédula de identidade,
vedada a apresentação destes documentos replastificados, conforme dispõe a alínea “a”
do item 12 das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São
Paulo;
- porém, se as partes não forem conhecidas do tabelião, e este não puder se identificar
por algum documento, é lícito ao tabelião aceitar que 2 testemunhas, devidamente
identificadas, compareçam ao ato notarial para identificar o comparecente, conforme
dispõe o §5º do art. 215 do Código Civil. Contudo, no meio prático da atividade notarial,
o notário deve agir com cautela e informar dos efeitos das declarações falsas emitidas
pelo comparecente, inclusive de eventual cometimento do crime de falsidade ideológica
prevista no art. 299 do Código Penal, que reza:
“Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
39
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão
de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-
se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil,
aumenta-se a pena de sexta parte.”
Nessa linha de raciocínio, o Estado do Rio Grande do Sul, admite em seu art. 856,
inciso I, do Código de Normas, que o tabelião poderá identificar o sujeito por qualquer
meio admitido em Direito. Isso significa que o tabelião poderá utilizar-se de qualquer
documento público admitido, inclusive pelos documentos arrolados na Lei Federal nº
12.037, de 1º de outubro de 2009, no art. 2º:
b) Se pessoa jurídica:
- denominação social;
- número do CNPJ/MF;
c) Se houver representação
c.1) Procuração
No caso de utilização de procuração, o notário deve acautelar-se para sua validade
e autenticidade.
Cabe ressaltar que a procuração se sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser
praticado, conforme redação da 1ª parte do art. 657 do Código Civil.
Dessa forma, é obrigação do notário analisar com atenção nas Procurações
Nacionais:
- se as procurações obedecem à forma pública ou particular correspondente ao ato a
ser praticado;
- se outorgam os poderes competentes;
- se os nomes das partes coincidem com os correspondentes ao ato a ser lavrado;
- nas situações de utilização de procuração pública lavrada em outra serventia, o notário
deve certificar-se se a firma de quem subscreveu o traslado ou certidão está reconhecida
na comarca onde está produzindo efeitos, conforme dispõe a alínea “c” do item 12
das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo;
Nas procurações de origem estrangeira, o notário deve ter atenção:
- se a procuração teve origem no Consulado Brasileiro no estrangeiro;
- se a procuração foi lavrada por notário estrangeiro, deve ser consularizada ou
apostilada;
- deve ainda ser traduzida ao vernáculo nacional;
- deve enfim, ser registrada no Ofício de Títulos e Documentos; cumprindo assim o art.
42
129 da Lei Federal nº 6.015/73;
c.2) Substabelecimento
Se for o caso de utilização de substabelecimento de procuração, o notário deve
ter a certeza que o substabelecimento decorreu de procuração não extinta, ou seja, essa
certificação de prescindir de certidão da procuração mais atualizada possível, ou ainda,
confirmação pelo responsável na lavratura da procuração que ela permanece válida,
inclusive com a certificação que o sujeito da procuração continua vivo.
c.3) Alvarás
O notário deve por prudência, nas apresentações de alvarás, como forma de
representação de:
43
- espólio;
- massa falida;
- incapazes, no qual é obrigação do notário informar a idade, conforme item 42, alínea
“e” do Capítulo XVI, Tomo II, do Provimento 58/89 da Corregedoria Geral da Justiça de
CUIDADO: Em São Paulo, no Cap. XVI, item 42.1 exige-se para a alienação (gratuita ou
onerosa) de bens de menores, ainda que relativamente incapazes, por meio de escritura
pública, é necessária apresentação de alvará judicial. Assim como, a apresentação de
alvará judicial é necessária, igualmente, para aquisição onerosa de bens (móveis ou
OLHA LÁ: Em São Paulo, o Cap. XVI, Tomo II, das Normas de Serviço, é desnecessária a
apresentação de autorização judicial, na hipótese da doação do respectivo numerário
c.6) Nascituro
Nos casos de escritura pública, cujo beneficiário seja um nascituro, o notário deve
prevenir-se da sua existência com os seguintes documentos:
- apresentação de declaração médica informando a gestação e estado de saúde
do nascituro;
- documentos dos pais do nascituro;
- se houver dúvidas quanto à paternidade, é prudente o exame de DNA.
Apesar da grande celeuma em face do nascituro ser parte em negócio jurídico,
devemos lembrar que a ele há uma proteção de sua capacidade constitucional de nascer
vivo e de alimentos, em conformidade com o art. 2º do Código Civil ao prever que a lei
põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Direitos esses, condicionados
ao nascimento com vida da criança. Lembrando ainda a proteção aos alimentos
gravídicos, previstos na Lei Federal nº 11.804, de 5 de novembro de 2008.
Contudo, no âmbito registral, o assento de qualquer título envolvendo um
nascituro deveria ter efeito suspensivo até o termo final que seria o nascimento com
vida, pois sem personalidade jurídica, ao nascituro não lhe é conferido a capacidade
45
material, ou seja, não tem aderência econômica de direitos e deveres.
- aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
- os pródigos.
- A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada 46
Sendo obrigação nos casos em que envolver imóveis verificar e conferir, a prova
praticar;
- Que tenha dúvidas sobre a integridade das faculdades mentais dos participantes,
salvo se no ato intervierem, a seu pedido ou a instância dos outorgantes, 2 (dois) peritos
médicos que, através de atestado ou laudo, abonem a sanidade mental das partes;
Contudo o notário não pode recusar a sua intervenção com fundamento na
anulabilidade ou ineficácia do ato, devendo, contudo, advertir os interessados da
existência do vício e consignar no instrumento a advertência feita em cumprimento ao
49
princípio da transparência e o dever da informação, tutelados pelo Código de Defesa do
responsabilidade civil, informar em seus atos, qualquer situação que venha a maculá-lo.
Por outro lado, quando o objeto da escritura for imóveis, o notário deve:
Certidão Negativa de Débitos de Imóvel Rural; demais certidões exigidas por lei.
Federal nº 93.240/86;
adquirente.
SAIBA MAIS: Em São Paulo, a Corregedoria, no item 44 do Cap. XVI, Tomo II do Prov.
58/89, determina ao Tabelião de Notas, antes da prática de qualquer ato notarial que
tenha por objeto bens imóveis, direitos a eles relativos ou quotas de participação no
capital social de sociedades simples, deve promover prévia consulta à base de dados da
Central Nacional de Indisponibilidade de Bens (CNIB), consignando no ato notarial o
resultado da pesquisa e o respectivo código gerado (hash), dispensado o arquivamento
do resultado da pesquisa em meio físico ou digital. Porém, a existência de comunicação
de indisponibilidade não impede a lavratura de escritura pública representativa de
negócio jurídico tendo por objeto a propriedade ou outro direito real sobre imóvel ou
quotas de participação no capital social de sociedade simples de que seja titular a pessoa
atingida pela restrição, nessa incluída a escritura pública de procuração, devendo constar
na escritura pública, porém, que as partes foram expressamente comunicadas da
existência da ordem de indisponibilidade que poderá implicar a impossibilidade de
registro (lato sensu) do direito no Registro de Imóveis ou, então, conforme o caso, no
7.3. Classificação
No mesmo passo, antes da Emenda Constitucional nº 66, classificava-se o divórcio
em:
a) Divórcio Indireto Litigioso;
b) Divórcio Indireto Consensual;
c) Divórcio Direto Litigioso;
d) Divórcio Direto Consensual.
A Emenda Constitucional diminuiu as modalidades de divórcio para apenas dois,
ou seja, ou o divórcio é litigioso, operando-se nas Varas de Família ou é divórcio
consensual, operando-se nas Varas de Família ou nas Serventias Notariais, perante um
Tabelião de Notas, desde que ausente filhos menores ou incapazes.
7.4. Legitimidade
A legitimidade para requerer o divórcio é privativa dos cônjuges, conforme art.
1.582 do Código Civil. Contudo, de forma excepcional, o parágrafo único do mesmo
57
artigo possibilita, se o cônjuge for incapaz, ao curador, o ascendente ou o irmão, para
propor a ação ou defende-lo.
44
Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil Brasileiro, 20ª edição, 2005, 5º volume, p. 330
ATENÇÃO: Nas escrituras de separação, é preciso ter atenção, de que é possível
58
Justiça.
8. Escrituras de inventários
8.1. Conceito de Sucessão
Um conceito bastante simples seria o conjunto de regras que disciplinam a
transmissão de bens do de cujus para os herdeiros ou legatários ou, simplesmente, a
passagem dos bens do falecido para seus sucessores legais ou convencionais, cujo fato
gerador seria a morte do proprietário.
A palavra suceder, nas relações jurídicas, significa tomar o lugar de outra pessoa.
Seu sentido vem da etimologia da palavra sub cedere que tem, justamente, esse
significado.
Washington de Barros afirma que, em sentido amplo, o termo sucessão, no sistema
jurídico, refere-se ao ato pela qual uma pessoa ocupa o lugar de outra, investindo-se, a
qualquer título, no todo ou em parte, nos direitos que lhe competem.45
45
Washington de Barros Monteiro. Curso de Direito Civil: Direito das Sucessões. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 1
8.2. Natureza Jurídica
A natureza jurídica da herança seria:
1º) garantia fundamental; (art. 5º, XXX, CF)
59
2º) bem imóvel; (art. 80, II, C.C.)
3º) condomínio indivisível de bens ou universalidade de bens (art. 1.791, parágrafo
único, C.C.)
Saiba Mais:
Qual é a importância do princípio de saisine?
1º) Fixa o momento da morte.
2º) Fixa a lei aplicável. (art. 1.787, C.C.)
3º) É o princípio da continuidade dos bens.
4º) Fixa o valor dos bens.
5º) Fixa o local da morte (art. 1.785, C.C.)
8.5. Transmissão da Herança
A transmissão da herança, em nosso ordenamento jurídico, se dá de forma imediata,
no momento da morte e abertura da sucessão
61
VII - prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe 63
determinar;
VIII - requerer a declaração de insolvência.
bens do espólio.
Entretanto, sua figura está presente não apenas no inventário solene, como também
no arrolamento sumário, no arrolamento comum e no inventário e partilha extrajudicial.
Para sua nomeação, a Lei dispõe de uma ordem de preferência que será respeitada
no inventário solene. O artigo 617 do CPC, in verbis, dispõe:
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
Atenção:
“O Relator recordou que, na linha do art. 5° da LINDB e dos arts. 3°, § 2°, 4° e 8° do CPC, o fim social
65
em relação ao inventário extrajudicial é a redução de formalidades e burocracias, com o incremento do
Atenção:
O § 2º do artigo 1.792 dispõe que é ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito
hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente, ou seja, não
pode o herdeiro celebrar compromisso de compra e venda de imóvel, sem autorização
judicial, integrante da herança.
Outro efeito importante é o direito de preferência que pode ser exercido pelo co-
herdeiro, no caso de cessão de direitos da quota hereditária, conforme o artigo 1.794
do C.C.
Finalmente, o último efeito é que até o compromisso do inventariante, a
administração da herança caberá, sucessivamente:
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da
sucessão;
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de
um nessas condições, ao mais velho;
III - ao testamenteiro;
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos
antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao
conhecimento do juiz.
Obs.: hoje, é possível que o documento não tenha data, porém o próprio reconhecimento
de firma traz a data.
O problema da antedata só teve solução com a lei 97347 de 02/01/1903, que foi a lei
que criou o primeiro ofício de RTD do Brasil e trazendo garantias legais, sendo elas:
46
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-79-23-agosto-1892-541321-publicacaooriginal-
44810-pl.html
47
http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaNormas.action?numero=973&tipo_norma=LEI&data=19030102&link=s
1) autenticidade;
2) conservação;
3) data dos documentos.
67
Código Civil de 1916, art. 135 – o instrumento particular, para gerar efeito inter partes
precisa ser assinado por duas testemunhas e para gerar efeitos contra terceiros precisa
ser registrado.
48
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-4775-16-fevereiro-1903-517698-
publicacaooriginal-1-pe.html
Atualidade – art. 221, CC x art. 221, LRP.
Compatibilização – sendo a mesma matéria prevalece o Código Civil que é lei mais
nova (antinomia). Existe precedente do Conselho Superior da Magistratura de São Paulo
que dispensa as duas testemunhas, porém, tem que apresentar reconhecimento de firma
que tem previsão expressa apenas na lei 6.015/73.
Obs.: mesmo sem duas testemunhas é possível fazer o registro de uma promessa de
compra e venda, tanto no RTD, quanto no Registro de imóveis.
Elementos do conceito:
1º) função suplementar – tudo que não for das outras serventias poderá ser feito no
RTD. Dá suporte ao instrumento particular que não tem previsão, principalmente nos
contratos de execução continuada – ex.: locação – o RTD é fundamental para a execução
do contrato particular e boa-fé (notificação).
2º) fato ou ato – dentro do RTD é possível registrar eventuais fatos que não tenham
serventia própria (ex.: carta, certificado de mestrado).
4º) notificação.
5º) constituição ou declaração – a lei determina que tenha registro de determinados
contratos.
71
6º) existência e data.
Nosso título translativo, todavia, não tem natureza abstrata como no sistema
alemão, tratando-se de negócio jurídico causal, gerando, portanto, presunção relativa de
veracidade.
O próprio art. 1.245, § 2º, do CC autoriza a decretação de invalidade do registro
e o seu respectivo cancelamento, por não ter o nosso sistema presunção absoluta de
73
veracidade. Nosso sistema, portanto, é de registro obrigatório com verdade relativa.
A matrícula surgiu com o advento da Lei Federal nº 6.015/73, de 31 de dezembro
de 1973, com “vacatio legis” até o dia 31 de dezembro de 1975, ou seja, entrou em vigor
no 1º dia de janeiro de 1976, conforme previsto no art. 298 desta lei.
Surgiu então o novo sistema registral, conhecido como Sistema Matricular, cujo
bem jurídico era individualizar o objeto do registro, que é o imóvel.
O sistema matricular é a base de todo assentamento registral imobiliário,
individualizando os imóveis, devendo ser feita a sua abertura no 1º ato praticado da
propriedade.
No novo sistema a matrícula é objeto do Livro nº 2.
título;
b) indicação ou atualização de confrontação;
c) alteração de denominação de logradouro público, comprovada por documento
oficial;
averbará a retificação.
§ 2o Se a planta não contiver a assinatura de algum confrontante, este será
mesmo prazo fixado no § 2o, publicado por duas vezes em jornal local de grande
circulação.
§ 4o Presumir-se-á a anuência do confrontante que deixar de apresentar
impugnação no prazo da notificação
§ 5o Findo o prazo sem impugnação, o oficial averbará a retificação requerida; se
Comissão de Representantes.
§ 11. Independe de retificação:
I - a regularização fundiária de interesse social realizada em Zonas Especiais de
Interesse Social, promovida por Município ou pelo Distrito Federal, quando os
de 10 (dez) anos;
II - a adequação da descrição de imóvel rural às exigências dos arts. 176, §§ 3 o e
4o, e 225, § 3o, desta Lei.
III - a adequação da descrição de imóvel urbano decorrente de transformação de
coordenadas geodésicas entre os sistemas de georreferenciamento oficiais;
78
49
Marcus Kikunaga, Direito Notarial e Registral à luz do Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Editorial Lepanto,
2019, p. 379
preocupa em tutelar o consentimento das partes, o oficial de registros públicos se limita
a verificar, na exímia qualificação dos títulos que lhe são apresentados, a presença dos
elementos de validade requeridos por lei para poder assenta-los em seus livros.
79
No processo de usucapião extrajudicial, o Oficial do Registro de Imóveis, não
apenas analisará os requisitos do pedido, mas também verificará as declarações das
partes e testemunhas, em claro prejuízo à fé pública notarial.
Pela Lei 8.935/94, é de competência do tabelião de notas a compreensão,
formalização e legitimação da vontade das partes, devendo qualificar o aspecto subjetivo
do negócio jurídico, assegurando assim a autenticidade material ou de conteúdo do ato,
bem como seus aspectos formais, enquanto o registrador se pauta apenas na análise de
elementos extrínsecos do título, conferindo se o ato foi confeccionado na forma prescrita
em lei.
Nesta nova atribuição, o Oficial não qualificará um título, mas sim, o confeccionará
durante o processo, e de forma imprópria, usurpando a imediação “notarial” na apuração
da verdade real manifestada pelas partes de forma exclusiva e direta, como o faz na
esfera judicial, pelo juiz de direito, no convencimento da verdade.
Assim, foi-se o tempo, em que o registrador, ao qualificar o título que lhe era
apresentado, examinava, apenas seus aspectos formais50 ou extrínsecos51-52.
50
Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo. Apelação Cível: 9000004-16.2012.8.26.0210 relator Des.
Elliot Akel, j. 3.3.2015 Disponível em: <http://www.kollemata.com.br/kollemata/integra.php?id=26821> acesso em 4
junho 2015.
51
Sentença da 1ª Vara dos Registros Públicos de São Paulo. Processo: 000973/81, julgado pelo Juiz de Direito Narciso
Orlandi Neto em 28.10.1981 Disponível em: <http://www.kollemata.com.br/kollemata/integra.php?id=6095> acesso
em 4 junho 2015.
52
Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo. Apelação Cível: 0909846-85.2012.8.26.0037 relator Des.
José Renato Nalini, j. 7.3.2013 Disponível em: <http://www.kollemata.com.br/kollemata/integra.php?id=24138>
acesso em 4 junho 2015.
Pensamos que fez mal o legislador atribuir ao Registrador o poder de
convencimento jurisdicional da usucapião, pela impropriedade existente entre as
serventias extrajudiciais e o Poder Jurisdicional de reconhecer um direito naturalmente
80
conflituoso.
modalidades de usucapião.
Por outro lado, vimos que a ata notarial stricto sensu tem eficácia probatória
relativa de fatos presenciados pelo Tabelião de Notas, não sendo possível prosperar uma
ata notarial ou até mesmo por uma escritura pública meramente declaratória.
extrajudicial.54
53
Código Civil - Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum
dos poderes inerentes à propriedade
54
KIKUNAGA, Marcus Vinicius, Ata Notarial e seus benefícios na perpetuidade da prova. In Provas no novo CPC, 1ª ed.
São Paulo : Instituto dos Advogados - IASP, 2007, p. 252
consciência moral, da qual é imprescindível o juízo de caráter prático de seus atos, na
Esse dever, impõe ao Notário se abster de praticar atos que não produzam efeitos 82
Justiça56.
55
DIP, Ricardo – Prudência Notarial – São Paulo: Quinta Editorial, 2012, p. 85-86
56
Resolução nº 35/2017 do Conselho Nacional de Justiça - Art. 18. O(A) companheiro(a) que tenha direito à sucessão é
parte, observada a necessidade de ação judicial se o autor da herança não deixar outro sucessor ou não houver
consenso de todos os herdeiros, inclusive quanto ao reconhecimento da união estável. (g.n)
Geral da Justiça, Des. Manoel de Queiroz Pereira Calças, o qual ratifica a impossibilidade
57
A lavratura de escritura pública de união estável não passa por qualquer qualificação quanto ao conteúdo do ato,
tratando-se apenas de formalização de declaração desse estado de fato. Não são verificados pelo Tabelião os
impedimentos legais (art. 1.723, parágrafo Io c.c. art. 1.521, ambos do Código Civil). O Tabelião se limita a checar a
identidade dos declarantes e a transcrever as declarações por ele prestadas acerca da configuração de união estável,
início do convívio marital e regime de bens adotado. (g.n.)
Contraditório é Leonardo Brandelli, em afirmar que na “ata notarial, o Notário não
faz juízo de valor, mas apenas transcreve o que percebe por seus sentidos, de modo
que deve ele narrar o que verificar e que possa colaborar para esclarecer sobre a
84
qualidade e o tempo da posse existente por aquele que pretende usucapir certo bem
imóvel. Em outras palavras, o notário, na ata notarial, limitar-se-á a narrar com fé
pública o que puder verificar sobre a posse daquele que pretende usucapir. Não lhe
cabe decidir a respeito.58
ATESTAR O TEMPO, quando lhe é vedado emitir juízo de valor nas atas notariais.
58
BRANDELLI, Leonardo. Usucapião administrativa: De acordo com o novo código de processo civil – São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 75
59
BRANDELLI, Leonardo. Usucapião administrativa: De acordo com o novo código de processo civil – São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 76
12.4. Da ilegalidade dos emolumentos da ata notarial para fins de
usucapião
Serve-se como premissa, que a definição dos emolumentos da atividade
85
extrajudicial se dá pelo valor destinado ao delegatário do custo total do ato que foi
praticado na serventia, cuja finalidade é a manutenção do serviço (custo de aquisição de
impressos de segurança, como livros, selos, etiquetas, papeis de certidão, aluguel ou
aquisição de local de fácil acesso para instalação da serventia, todos os custos
administrativos, como o consumo de energia elétrica, água e esgoto, informatização do
A Constituição Federal em seu art. 236, §2º determinou que apenas Lei Federal
poderia dispor sobre a fixação de emolumentos, ou seja, a Lei 10.169/00 trouxe a
previsão de diretrizes de fixação dos emolumentos, atribuindo a cada Estado
60
Proc. STF-RE 116.208-2 (Estado de Minas vs. Áurea Maria Ameno), de 20.4.1990. Relator: Min. Moreira Alves. DJU
de 8.6.90, dispondo a ementa: CUSTAS E EMOLUMENTOS. NATUREZA JURÍDICA. NECESSIDADE DE LEI PARA SUA
INSTITUIÇÃO OU AUMENTO – Esta Corte já afirmou o entendimento, sob a vigência da Emenda Constitucional n. 1/69,
de que as custas e os emolumentos têm natureza de taxas, razão por que só podem ser fixadas por lei, dado o
princípio constitucional da reserva legal para a instituição ou aumento de tributo. Portanto, as normas dos artigos
702, I, g, e 789, § 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho não foram recebidas pela Emenda Constitucional n. 1/69, o
que implica dizer que estão revogadas. Recurso extraordinário conhecido e provido.
Assim, firmou-se na jurisprudência61 do Supremo Tribunal Federal a orientação no
sentido de que os emolumentos possuem natureza tributária, qualificando-se como taxas
remuneratórias de serviços públicos, ou seja, nas hipóteses de instituição e majoração,
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o regime jurídico aplicável tem como garantia a reserva de competência impositiva do
61
STF – ADI 1.378-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 30.11.1995, Plenário, DJ de 30.05.1997. No mesmo
sentido: ADI 3.826, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 12.05.2010, Plenário, DJE de 20.08.2010.
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Conselho Nacional de Justiça - Provimento nº 65, de 14 de dezembro de 2017 - Art. 26. Enquanto não for editada,
no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, legislação específica acerca da fixação de emolumentos para o
procedimento da usucapião extrajudicial, serão adotadas as seguintes regras:
I – no tabelionato de notas, a ata notarial será considerada ato de conteúdo econômico, devendo-se tomar por base
para a cobrança de emolumentos o valor venal do imóvel relativo ao último lançamento do imposto predial e
territorial urbano ou ao imposto territorial rural ou, quando não estipulado, o valor de mercado aproximado; (g.n.)
representado pelo valor venal aplicável ou atribuído pelo possuidor ao bem imóvel, o
que for maior, aplicando-se a Tabela 1 dos emolumentos notariais, previsto na Lei
11.331/2002.
87
Interessante notar, que não há nenhuma previsão legal para tal justificativa, haja
vista a natureza jurídica da ata notarial no que tange seu plano da eficácia.
30/10/2018.63
Nesse passo, não se pode prosperar a permissão de se lavrar atos notariais que
não garantem sua eficácia, por serem vazios e pela impossibilidade de se cumprir o seu
mister.
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Conselho Superior da Magistratura de São Paulo - Registro de Imóveis Usucapião extrajudicial – Necessidade de
instrução do requerimento com ata notarial – Art. 216, inciso I, da Lei nº 6.015/73 e art. 4º, inciso I, do Provimento nº
65, de 14 de dezembro de 2017, da Corregedoria Nacional de Justiça Alegação de incompatibilidade da exigência
formulada com a natureza jurídica e a finalidade da ata notarial Exigência legal e normativa que não pode ser
afastada, em procedimento de natureza administrativa, pelos fundamentos apresentados pelo apelante Dúvida
julgada procedente Recurso não provido.
A posse e o tempo são fatos impossíveis de serem captados por ata notarial e
sua constatação se dará perante o Oficial de Registro de Imóveis que se convencerá de
Admitir a cobrança da ata notarial como escritura pública confere um Estado que
não respeita seus próprios princípios fundamentais, ao admitir a cobrança ilegal de
Em suma, nos resta lutar para que a sociedade compreenda que a ata notarial
tem muitas outras utilidades fora do processo de usucapião extrajudicial e inadmissível
pensar que ela seja requisito de um Direito que somente o tempo provará.
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