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DIREITO CIVIL
CAPÍTULO 12
CAPÍTULOS
1
SOBRE ESTE CAPÍTULO
Além de abranger um grande número de artigos do Código Civil, também traz a análise
cobrará algo desse capítulo. É muito comum a incidência de questões sobre a posse e a
usucapião.
Caso não se sinta motivado a ler o presente capítulo, lembre-se que ele também tem
Acompanhe o capítulo com o seu Código Civil, pois as bancas costumam cobrar
primordialmente seu texto (principalmente se for um tema novo, como o direito de laje). No
entanto, leia também a jurisprudência dos tribunais superiores, pois ela pode fazer diferença
para sua aprovação, já que a maioria dos candidatos que passam no concurso acertam as
Também, no que diz respeito ao conceito dos institutos, será abrangida a doutrina, mas
ela não é o foco do capítulo, servindo apenas de base para compreensão e diferenciação dos
temas.
2
SUMÁRIO
Capítulo 12 ................................................................................................................................................ 7
12.1 Posse........................................................................................................................................................................... 7
3
12.1.10 Composse ou Compossessão............................................................................................................... 25
12.3.8.6 Tradição.......................................................................................................................................................... 60
12.5.1.3.1 Introdução................................................................................................................................................. 73
12.6.3 Usufruto.................................................................................................................................................................. 84
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................ 128
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DIREITO CIVIL
Capítulo 12
Estude muito bem o instituto da usucapião, que despenca em provas (tanto a letra de
lei quanto a jurisprudência dos tribunais superiores). Fixe bem as principais diferenças entre
seus tipos e os seus prazos.
O direito das coisas traduz um conjunto de normas reguladoras das relações jurídicas
referentes às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem, segundo uma finalidade social.
Ele divide-se no instituito da posse e nos direitos reais, sendo a propriedade o direito real
por excelência.
Não pule a posse, ela ajuda a entender o restante do capítulo e abrange poucos artigos
do Código Civil.
12.1 Posse
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12.1.1 Conceito de posse e teorias
De acordo com o art. 1196, CC, a posse é exercida por todo aquele que tem de fato o
exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade (usar, fruir, gozar e
dispor).
O Código Civil traz a posse como uma situação de fato, como um título à parte,
demonstrando explicitamente que esse instituto não faz parte dos direitos reais, o que
também entende a doutrina majoritária (use esse posicionamento em prova). Conforme será
explicado em tópico posterior, o rol dos direitos reais, previsto no art. 1225, do CC, é taxativo.
Há três teorias que buscam justificar a natureza jurídica da posse (as primeiras duas
se proprietários.
O grande mérito de Savigny foi conceber a autonomia da posse, já que antes a
posse era subordinada à propriedade (caráter dependente).
O maior discípulo de Savigny, Ihering, critica esse elemento subjetivo e cria outra
teoria.
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Teoria Simplificada da Posse (de Ihering) ou Teoria Objetiva: a posse se concretiza
com a mera conduta do possuidor, de agir como se dono fosse pouco importando a
sua vontade em relação à propriedade.
Então, posse = corpus
É a teoria adotada pelo Código Civil brasileiro (Art. 1.196. “Considera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade”).
Obs.: não obstante o CC/02 adote a Teoria Objetiva, por vezes traz aspectos
subjetivos. Ex.: usucapião (exige-se a posse com animus domini).
12.1.2 Detenção
Fâmulo da posse ou detentor ou servidor de posse é aquele que tem a posse não
em nome próprio, mas em nome daquele ao qual ele está subordinado, seguindo ordens e
usado), etc.
A detenção não se confunde com a posse, pois aquela se caracteriza quando alguém,
achando-se em relação de dependência para com o outro, conserva a posse em nome deste
1
Vide questão 03
9
Porém, conforme o Enunciado 301, CJF, caso rompida a relação de subordinação, a
detenção pode ser convertida em posse. Por exemplo, João decide não mais caseiro do sítio
de Alberto, mas quer continuar morando dentro dele. Alberto, então, aluga a parte do sítio
para João, que se torna locatário. João passará, assim, a ter a posse direta de parte do sítio, e
o proprietário do sítio terá apenas a posse indireta de tal espaço.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este
artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o
contrário”.
Apesar de não ser possuidor do bem, o detentor pode defender a posse alheia por
meio da autotutela, conforme reconhece o Enunciado 493, da V Jornada de Direito Civil: “O
detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do
bem sob seu poder” (Enunciado n. 493).
No entanto, o detendor não é parte legitima para defender a posse por meio de ações
possessórias típicas previstas no CPC. Também não pode ser sujeito passivo.
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O que acontece se o detentor, mesmo sendo parte ilegítima, for citado pelo autor
de uma ação possessória? Nesse caso, o réu (detentor), em contestação, pode alegar sua
ilegitimidade, indicando o réu correto. O autor terá o prazo de 15 dias para se manifestar,
optar por incluir o novo legitimado como litisconsorte passivo (arts. 338 e 339, CPC)2.
particulares também representa ato de mera detenção. Essa posição é adotada pelo STJ que
editou duas súmulas tratando sobre o tema.
A primeira, súmula 619 do STJ aduz que “a ocupação indevida de bem público
configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou
indenização por acessões e benfeitorias”.
Por sua vez, a súmula 637 do STJ, afirmar que: “o ente público detém legitimidade e
interesse para intervir, incidentalmente, na ação possessória entre particulares, podendo
deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o domínio”.
Em regra, o proprietário não pode alegar seu domínio em ação em que é
discutida a posse do bem. No entanto, o Poder Público, devido à inafastabilidade
do interesse público, pode alegar o seu domínio.
Ademais, conforme o STJ, particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar
o livre exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída
como servidão de passagem. Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está
2
Art. 338, CPC: “Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz
facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu.
Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários ao procurador do réu
excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, §8º”.
Art. 339, CPC: “Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre
que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da
falta de indicação.
§ 1º O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15 (quinze) dias, à alteração da petição inicial para a substituição
do réu, observando-se, ainda, o parágrafo único do art. 338.
§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar a petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o
sujeito indicado pelo réu”.
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invadindo a via de acesso (rua) que liga a avenida principal à uma comunidade de moradores
locais. Os moradores possuem legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse contra
a empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa uma servidão de
passagem. STJ. 3ª Turma. REsp 1582176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016,
Info 590.
Sujeito capaz;
Forma livre;
Devido ao fato de o nosso sistema adotar, em regra, a Teoria Objetiva, pode ser objeto
Os bens intangíveis não são passíveis de posse, logo, descabe o manejo de tutela
possessória para a proteção de bens incorpóreos. Ex.: para proteger direitos autorais3.
Mas o que o titular deve usar para a tutela de bens incorpóreos? Ação de perdas
e danos ou tutela específica.
Também é inadmissível usucapião de bem incorpóreo, pois a usucapião induz posse,
logo, se ela não existe, não haverá usucapião.
Exceção: Súmula 193, STJ: “o direito de uso de linha telefônica pode ser
adquirido por usucapião”.
3
Súmula 228, STJ: “É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral”.
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12.1.4.1 Quanto ao Desdobramento ou Quanto ao Exercício
Direta ou imediata: é exercida por quem mantém contato físico com a coisa, existindo
um poder físico imediato. Como exemplos podemos citar o locatário, o depositário, o
comodatário e o usufrutuário.
Indireta ou mediata: é exercida por quem não está em contato com a coisa. É a
posse exercida através de outra pessoa. Na locação o locatário (inquilino) tem a posse
direta (exerce a posse em nome próprio) e o locador (proprietário) tem a posse indireta
(ele a exerce através do inquilino).
Importante! A posse direta não anula a indireta. Ambas coexistem, de forma que o
titular pode transferir a qualidade de possuidor, por força de contrato, e não perder tal
Art. 1.197, CC. “A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem
aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto”.
O Enunciado 76, da I Jornada de Direito Civil prevê que “o possuidor direto tem direito de
defender a sua posse contra o indireto, e este contra aquele (art. 1.197, parte final, do
Código Civil) ”. Em suma, tanto o possuidor direto quanto o indireto podem invocar a
• Composse: ocorre quando duas pessoas tem a posse sobre coisa indivisível.
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Vide questão 02
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Art. 1.199, CC: “Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma
exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros
compossuidores”.
Art. 1.200, CC: “É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária”.
Posse violenta: obtida por meio de esbulho, for força física ou violência moral.
É a posse que se adquire pelo uso da força (vis absoluta) ou pela ameaça
(vis compulsiva). A doutrina tem o costume de, a fim de exemplificá-la,
decorrente de violência.
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Basta apenas a existência de um vício para ser considerada a posse injusta, não havendo
exigência de cumulação.
A posse, mesmo que injusta, ainda é posse e pode ser defendida por meio de ações
possessórias em face de terceiros, mas não contra aquele de quem se tirou a coisa.
Aluno, atente-se a essa classificação, ela cai muito em prova! O examinador costuma
misturar as definições de prova de má-fé com prova injusta (classificação vista acima).
Posse de Boa-fé: o possuidor ignora os vícios que impedem ou os obstáculos que lhe
impedem a aquisição da coisa, ou quando tem um justo título que fundamente a sua
posse.
De que boa-fé estamos nos referindo, da objetiva ou da subjetiva? Trata-se,
aqui, da boa-fé subjetiva, ou seja, estado anímico de inocência ou
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Art. 1.208, CC: “Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos
violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”.
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A corrente contemporânea prega a análise dessa cessação caso a caso, de acordo com a finalidade social da posse (função
social da posse), prevendo, portanto, que a posse injusta por precariedade também pode ser convalidada. Esse entendimento
foi reconhecido na III Jornada de Direito Civil, com a aprovação do Enunciado n. 237, in verbis: “É cabível a modificação do título
da posse – interversio possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior inequívoco de
oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini”.
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desconhecimento de vício. Exemplo: sujeito com formal de partilha, de onde
recebe uma fazenda por herança. Só que a escritura da fazenda tinha sido
falsificada pelo de cujus e o herdeiro de nada sabia.
Parágrafo único. O possuidor com justo título7 tem por si a presunção de boa-fé, salvo
prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que
as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente”.
Posse de Má-fé: o possuidor sabe do vício que acomete a coisa, mas mesmo assim
pretende exercer o domínio fático sobre esta.
A primeira vista, toda posse justa deveria ser de boa-fé e toda posse de boa-fé deveria ser
justa. No entanto, é possível tanto a posse injusta de boa-fé quanto posse justa de má-fé.
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Acerca do justo título, é importante ressaltar dois enunciados do CJF:
En. 302, CJF: “Pode ser considerado justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico capaz de transmitir a posse ad
usucapionem, observado o disposto no art. 113 do Código Civil.”
En. 303, CJF: “Considera-se justo título, para a presunção relativa da boa-fé do possuidor, o justo motivo que lhe autoriza a
aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da
função social da posse”.
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Vide questão 06
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O exemplo clássico de posse injusta, mas de boa-fé, ocorre no caso de compra de um bem
roubado, sem que se saiba que o bem foi retirado de outrem com violência. Ou, por exemplo,
quando o indivíduo herda um bem roubado, desconhecendo tal crime.
Por outro lado, terá posse justa, mas de má-fé, o locatário que pretende adquirir o bem por
Também terá posse justa e de má-fé aquele que adquire a posse de um terreno por meio
da prática de um vício de consentimento, mas consegue obter a sua propriedade
mediante um título aquisitivo. Veja que, nesse caso, o indivíduo não prevaleceu de
clandestinidade, violência ou precariedade para iniciar a posse, mas sabe que o bem tinha
dono originalmente.
Posse nova: posse exercida a menos de um ano e um dia, ou seja, com até um ano.
Posse velha: posse exercida a mais de um ano e um dia.
processo civil. Elas estão previstas entre os artigos 554 a 568, do CPC.
O possuidor atual não perde a posse depois de um ano e dia. O que acontece após
esse período é a maior dificuldade de sua defesa rápida perante ao antigo possuidor. Veja o
que diz o Enunciado n. 238, da III Jornada de Direito Civil: “se a ameaça, turbação ou esbulho
forem novos, a ação segue rito especial e cabe liminar; se forem velhos, a ação é de força
velha, o rito é ordinário, não cabe liminar, mas cabe tutela antecipada”.
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Sem título ou ius possessionis: quando não há uma causa representativa, pelo menos
propriedade pela usucapião, desde que obedecidos os parâmetros legais. Deve ser
mansa, pacífica, duradoura por lapso temporal previsto em lei, ininterrupta e com
Resumo:
Posse própria é a daquele que tem animus domini (intenção de submeter a coisa ao
exercício de um direito real). Exemplo: se “X” compra um imóvel e passa a morar nele,
tem a posse própria.
Posse imprópria é a daquele que tem posse subordinada a de outra pessoa, que tem
posse própria. Exemplo: locatário (inquilino).
O art. 1210, § 1º, do CC aduz que “o possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-
se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de
desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse”.
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A legítima defesa da posse e o desforço imediato constituem formas de autotutela,
Nos casos de ameaça e turbação, em que o atentado à posse não foi definitivo, cabe a
legítima defesa.
Para que a defesa ou o desforço imediato sejam considerados lícitos, se faz necessário a
atuação imediata, ou seja, incontinenti do possuidor (ou detentor). O magistrado deve
analisar, em cada caso concreto, se ocorreu esse imediatismo da defesa. Sobre esse requisito,
há o Enunciado 495 na V Jornada de Direito Civil, que propõe uma interpretação restritiva:
“no desforço possessório, a expressão ‘contanto que o faça logo’ deve ser entendida
restritivamente, apenas como a reação imediata ao fato do esbulho ou da turbação, cabendo
Por fim, lembre-se: o possuidor que toma as medidas de autotutela não pode ir além do
indispensável para a recuperação de sua posse. Deve agir nos limites do exercício regular
desse direito. Além disso, pode fazer uso de apoio de empregados ou prepostos para exercer
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12.1.6 Formas de Aquisição da Posse
CC apenas dispõe que “adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”.
no ato de apreensão de bem móvel, quando a coisa não tem dono (res nullius) ou for
abandonada (res derelictae).
pessoal. O exemplo mais comum é a tradição, que vem a ser a entrega da coisa.
12.1.7 Adquirente
O art. 1.205, do CC, preconiza que a posse pode ser adquirida: pela própria pessoa que
a pretende ou por seu representante; ou, por terceiro sem mandato, dependendo de
ratificação.
Em outras palavras, a posse pode ser adquirida pelo próprio sujeito que a apreende,
desde que capaz; por seu representante legal ou convencional (caso do herdeiro e do
mandatário); ou até por terceiro que não tenha mandato, desde que haja confirmação
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12.1.8 Efeitos
São as ações possessórias, que devem ser estudadas com mais detalhes em Processo
Civil. São divididas conforme o tipo de intimidação à posse:
O art. 554, do CPC, prevê a possibilidade de fungibilidade das 3 ações possessórias, vejamos:
“A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do
pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam
provados”.
e um dia, caberá a ação de força nova: o respectivo interdito possessório seguirá o rito
especial, cabendo liminar nessa ação.
dia, caberá ação de força velha, que segue o ora procedimento comum, não cabendo a
respectiva liminar. Todavia, será possível, no último caso, uma tutela de urgência ou de
21
12.1.8.2 Percepção dos Frutos
Possuidor de boa-fé: tem direito aos frutos percebidos, ao uso e gozo da coisa, às
despesas de produção. Não tem direito aos frutos pendentes quando cessa a boa-fé,
Possuidor de má-fé: responde pelos frutos colhidos e percebidos, bem como pelos
que, por culpa sua, deixou de colher desde o momento em que se constituiu a má-fé.
O possuidor de má-fé só tem direito à restituição pelas despesas de produção e de
custeio.
visam à conservação da coisa principal), úteis (aumentam ou facilitam o uso da coisa principal)
e voluptuárias (de mero luxo ou deleite, pois tornam mais agradável o uso da coisa
principal).
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Art. 96. “As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.
§ 1 o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais
agradável ou sejam de elevado valor.
§ 2 o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
§ 3 o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore”.
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10
Leia os art. 1.219 a 1.222 do CC, que disciplinam o acima mencionado:
Art. 1.219. “O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e
úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o
puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das
10
Vide questão 01
11
Vale observar o que prevê o Enunciado 81, CJF: “o direito de retenção previsto no art. 1.219 do Código Civil, decorrente da
realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas
circunstâncias”.
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Devemos tomar cuidado, pois a Lei de Locações (arts. 35 e 36) difere-se do disposto na
tabela acima acerca da relação entre possuidor de boa-fé e ressarcimento pelas benfeitorias.
Lembremos as regras da Lei 8.245/1991, para contrastar com as previstas acima. E, no caso de
um contrato de locação de imóvel urbano, deve prevalecer a Lei 8.245/1991, por ser mais
Possuidor de boa-fé: não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der
causa. Assim, para o possuidor ser responsabilizado pela perda ou deterioração da coisa
Art. 1.217, CC: “O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa,
a que não der causa”.
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Possuidor de má-fé: responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que
acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do
reivindicante. Nesse caso, a responsabilidade será objetiva, a não ser que haja prova de
Art. 1.218, CC: “O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa,
ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na
posse do reivindicante”.
Assim como as formas de aquisição da posse, o legislador não estabeleceu quais são
bem, ao qual se refere o art. 1.196. ” Em resumo, perde a posse aquele que vê cessar os
elementos da propriedade.
Conforme já visto anteriormente, a composse ocorre quando uma coisa indivisa (mesma
25
herança de uma casa por duas pessoas, onde ambas, antes da partilha, terão a posse
Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela
atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. Com isso, desde
que não haja exclusão do direito alheio, qualquer um dos possuidores poderá fazer uso das
ações possessórias, no caso de atentado praticado por terceiro, inclusive exercer a autotutela.
Pro indiviso ou indivisível: cada possuidor tem uma parcela ideal do bem, não sendo
possível determinar, no plano fático e corpóreo, a parte de cada um. O bem é
indivisível.
pessoa.
26
Previsão de um direito de preferência a favor do titular de um direito real.
Regência pelo princípio da publicidade dos atos, o que se dá pela entrega da coisa ou
tradição (no caso de bens móveis) e pelo registro (no caso de bens imóveis).
Os Direitos Reais só existem se tipificados em lei (são numerus clausus). Podem ser
estabelecidos pelo CC ou por outras leis. Assim, não é dado às partes criarem, por livre
pactuação, novas espécies de direitos reais. Isso porque, em razão das várias garantias
12.3 Propriedade
12.3.1 Conceito
A propriedade é o mais importante dos direitos reais. Refere-se ao direito que a pessoa
física ou jurídica tem de usar, fruir ou gozar, dispor de um bem ou reavê-lo de quem
A propriedade deve ser exercida com base na função social e socioambiental a ela
destinada, as quais estudaremos posteriormente.
Usar: como o próprio nome diz, é a faculdade de usar a coisa, o titular tem acesso aos
frutos naturais da coisa. Exemplo: morar. O uso pode ser direto ou indireto (nesse
27
Fruir ou gozar: trata-se da faculdade de explorar economicamente a coisa, mediante
gratuita.
subjetivo de excluir terceiros de indevida ingerência sobre a coisa. Pode ser exercido
por meio de ação petitória, fundada na propriedade, sendo a mais comum a ação
reivindicatória, principal ação real fundada no domínio. Ex: ajuizar ação judicial contra
quem detiver a posse de forma injusta.
coisa.
Limitada ou Restrita: quando algum ônus recai sobre a propriedade, casos da hipoteca,
servidão ou usufruto; ou quando a propriedade for resolúvel, dependente de condição
ou termo. Quando alguns desses elementos passam a ser de outrem, temos o direito
real sobre coisa alheia, fazendo com que o direito de propriedade seja composto por
duas partes:
Dependendo do (s) atributo (s) que detém, a pessoa recebe uma denominação
diferente: superficiário, usufrutuário, usuário, habitante, promitente comprador
copropriedade (essa última hipótese que também não retira o seu caráter de
exclusividade).
Direito perpétuo: o direito de propriedade não se extingue pelo lapso temporal (pelo
Mitigações à perpetuidade:
29
o A usucapião mitiga a perpetuidade, já que se ocorrer, o bem passa a ter
novo dono.
Direito elástico: a propriedade pode ser distendida ou contraída, sem perder a sua
essência. Um ou alguns dos poderes inerentes ao direito de propriedade podem ser
cedidos (exemplo: no usufruto, onde se cedem o uso e gozo). Depois os poderes
poderes dominiais.
A – absoluta,
P – perpétua,
30
ELA – elástica.
Tal instituto foi desenvolvido por Duguit, na clássica obra “As Transformações Gerais do
Direito Privado”. Além de atuar como um título justificativo, é vetor limitativo da
A função social da propriedade visa estabelecer que o direito de propriedade, por todas
lucro e a improdutividade.
Comete ato ilícito aquele que não usar a propriedade de acordo com a sua da função
social (art. 187, CC) e também o proprietário que praticar atos que não lhe tragam utilidade
Observe a redação dos arts. 5º, XXIII, CF, 187, CC e 1.228, CC (principalmente os §§1º e 2º):
Art. 5º, CF: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
31
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (…)
Art. 187, CC: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.
Art. 1.228, CC: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito
de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
A função social da propriedade também está disciplinada nos artigos 182 (áreas
urbanas) e 186 (áreas rurais) da Constituição Federal. Veja a tabela comparativa abaixo:
32
proprietários e dos trabalhadores.
Atualmente, diz-se que a função da propriedade não é apenas social, mas sim
socioambiental. Isso se dá devido à previsão do art. 1228, §1º, CC e, principalmente, à
proteção ambiental conferida pela CF (arts. 186 e 225). Exemplo: o novo proprietário do
imóvel é obrigado a fazer recuperação ambiental do terreno, mesmo não sendo o causador
do dano.
1.230 do Código Civil. Leia-os abaixo (o art. 1.230, § único, CC cai às vezes em provas):
33
proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou
profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las”.
Art. 1.230, CC: “A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos
minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens
referidos por leis especiais.
a hipoteca estará extinta, uma vez que a aquisição é originária. O mesmo não pode ser dito
quanto à compra e venda, forma de aquisição derivada.
FORMAS DE
AQUISIÇÃO DA
PROPRIEDADE
IMÓVEL
FORMAS FORMAS
ORIGINÁRIAS DERIVADAS
REGISTRO SUCESSÃO
ACESSÃO USUCAPIÃO
IMOBILIÁRIO HEREDITÁRIA
34
12.3.7.1 Acessão
A benfeitoria é sempre artificial (há intervenção humana), já a acessão pode ser tanto artificial
quanto natural.
A benfeitoria não tem como característica o aumento do volume da coisa principal, diferente
da acessão.
acessório.
35
O inciso I estabelece que “as (ilhas) que se formarem no meio do rio
álveo em duas partes iguais”. A primeira regra prevê, portanto, o caso de uma
ilha formada no meio do rio com duas propriedades ribeirinhas em ambos os
12
Como se observa pela ilustração, a ilha formou-se bem no meio do rio, tendo
que ser dividida em duas partes iguais, metade pertencendo a “X” e metade a
“Y”.
A segunda regra, prevista no inciso II, aduz que “as (ilhas) que se formarem entre
a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos
ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado”. Assim, se a ilha se formar de um lado
do meridiano do rio, pertencerá ao proprietário daquela margem, conforme a
figura:
12
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce: Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018, p. 934.
36
13
Nesse caso, como a ilha se formou mais próxima de uma das margens do rio, a
sua propriedade será adquirida apenas pelo proprietário do terreno ribeirinho
que estiver mais perto da ilha. A primeira ilha será 100% de “X”, e a segunda
será 100% de “Y”.
Já a terceira regra, encontrada no inciso III, determina que “as (ilhas) que se
formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer
aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram”. Nesse caso, a
ilha é formada diante de um novo curso de água que se abre, vejamos:
Assim, se isso ocorrer, a ilha pertencerá ao proprietário que margeia esse novo
desdobramento, que, no caso, é o proprietário “Y”.
13
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce: Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018, p. 935.
37
Somente pertencem aos particulares as ilhas formadas em rios não navegáveis ou
costeiras pertencem à União, aos Municípios (art. 20, IV, da CF) ou aos Estados Federados
(art. 26, II e III, da CF).
12.3.7.1.2 Aluvião
Art. 1.250, CC: “Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos
e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas,
pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização.
Aluvião própria: acréscimo paulatino de terra que o rio deixa naturalmente nos
terrenos ribeirinhos. Esses acréscimos pertencem aos donos dos terrenos marginais,
seguindo a regra de que o acessório segue o principal. Didaticamente, pode-se dizer
que na aluvião própria “a terra vem”. Vejamos:
14
Vide questão 9.
38
15
16
12.3.7.1.3 Avulsão
Art. 1.251, CC: “Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de
um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se
indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver
reclamado.
15
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce: Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018, p. 936.
16
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce: Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018, p. 936.
39
Assim, a avulsão é o desprendimento, por força natural, violenta e abrupta, de uma
17
Pelo que pode ser observado no exemplo da figura, em razão da força natural do rio, o
proprietário “A” ganhou um pedaço de terra que anteriormente pertencia a “B”. Nesse caso,
“B” poderá pleitear reparação de danos pela parte perdida, no prazo decadencial de um
ano, a contar da sua ocorrência. No entanto, “A” poderá optar entre indenizar “B” (regra) pelo
Aluno (a), cuidado! O examinador costuma misturar os conceitos de aluvião com avulsão!
Fixe-os bem.
Álveo é a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o solo natural e
ordinariamente enxuto (art. 9º do Código de Águas). Nesse sentido, álveo abandonado é o rio
ou a corrente de água que seca.
Para sua aquisição, o art. 1252, do CC, prevê que “o álveo abandonado de corrente
pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os
donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios
marginais se estendem até o meio do álveo”. Nesse caso, será traçado um meridiano no rio,
17
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce: Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018, p. 937.
40
verificando-se quais as distâncias das margens, para ser dividido entre os proprietários
ribeirinhos, vejamos:
18
Como pode ser observado, a distribuição será igual entre “A” e “B”, eis que a distância
de suas margens ao centro do rio é a mesma.
As construções e as plantações têm natureza acessória, uma vez que constituem bens
imóveis por acessão física do ser humano, seguindo a sorte do principal. Tanto é assim, que
o art. 1253, do CC, dispõe que “toda construção ou plantação existente em um terreno
presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário”.
Para estudar o tema, faz-se importante a leitura dos artigos 1254 a 1259 do CC, já que
suas regras decorrem diretamente do texto legal. Atente-se principalmente aos arts. 1254,
1258 e 1259 do CC:
Art. 1.254, CC: “Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes,
plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-
lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé”.
18
Imagem retirada do livro de Flávio Tartuce: Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018, p. 938.
41
Art. 1.258, CC: “Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio
em proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a
propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa
parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a
desvalorização da área remanescente.
Art. 1.259, CC: “Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a
vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde
por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o
da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a
demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos
em dobro”.
12.3.7.2 Usucapião
A usucapião é uma forma de prescrição, mas que não extingue direitos. Pelo contrário,
cria direitos, sendo também chamada de prescrição aquisitiva. Por isso, submete-se a todas
42
Posse mansa e pacífica;
Posse contínua e duradoura, em regra; e com determinado lapso temporal: essa posse
deve ser sem intervalos, sem interrupção;
Posse de boa-fé e com justo título, em regra. Na usucapião ordinária a posse de boa-fé
e com justo título é necessária; para outras modalidades de usucapião, tais
características da posse são dispensáveis.
Quais coisas são passíveis de serem usucapíveis? Em geral, são as coisas que estejam no
Área comum do condomínio: existe forte entendimento (JTJ 157/198) no sentido de que
condômino pode usucapir área comum, desde que esteja exercendo posse exclusiva sobre
ela.
Bens gravados com cláusula de inalienabilidade: são passíveis de usucapião
extraordinário, isto porque é um modo de aquisição originária que independe de justo
título e boa-fé.
Bem de família (tanto o voluntário quanto o legal): pode ser usucapido. Isso porque
é um modo de aquisição originário, que não envolve qualquer ato de transmissão
patrimonial. Lembre-se que, no bem de família legal nem ao menos se cogita sua
inalienabilidade, apenas sua impenhorabilidade.
Súmula 449, STJ: “A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de
imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora”.
43
De acordo com o STJ, é possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigido
por lei se completa no curso do processo judicial, conforme a previsão do art. 493, do
CPC/2015, ainda que o réu já tenha apresentado contestação. (3ª Turma. REsp 1.361.226-MG,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/06/2018 (Info 630)
“Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um
imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo
requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro
no Cartório de Registro de Imóveis”.
propriedade:
19
Vide questão 9.
44
Posse ininterrupta;
“Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido,
onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada
posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou
realizado investimentos de interesse social e econômico”.
Como pode ser observado, o parágrafo único traz um requisito ao lado da posse-trabalho,
20
Vide questão 8.
45
Ininterrupta;
Animus domini;
Essa modalidade está prevista no art. 183, da CF, no art. 1240, do CC, e no art. 9º, da
Art. 183. “Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
Sem oposição;
Animus domini;
21
Vide questão 4
46
Não pode ser deferida mais de uma vez.
redação de é igual):
“Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por
cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a
cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela
sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade”.
Animus domini;
Mesmo que o pedido se restrinja ao espaço que se quer usucapir, não seria possível o
deferimento, pois não se quer deixar a outra parte da área sem utilização.
En. 313: “Arts. 1.239 e 1.240: Quando a posse ocorre sobre área superior aos limites legais,
não é possível a aquisição pela via da usucapião especial (constitucional), ainda que o
pedido restrinja a dimensão do que se quer usucapir”.
47
12.3.7.2.5 Usucapião conjugal ou por abandono do lar
Pode ser considerada uma usucapião especial urbana, regulamentada pelo art. 1240-A,
do CC, que dispõe:
“Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta,
com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros
quadrados) cuja propriedade dividia com ex-cônjuge ou ex-companheiro que
abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”.
2 anos ininterruptos;
“Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja
área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta
metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente,
desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural”.
48
Não precisa ser população de baixa renda;
Núcleos urbanos informais cuja área total dividida pelo número de possuidores
seja inferior a 250m² por possuidor;
“O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trecho
de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena”.
Ademais, o parágrafo único prevê que a usucapião indígena “não se aplica às terras do
domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei, nem
49
12.3.7.2.8 Desapropriação judicial ou forma especial de
usucapião?
O art. 1228 do CC, que trata sobre a propriedade, em seus §§4º e 5º, determina que:
Atente-se a dois pontos acerca desapropriação judicial indireta que caem em prova:
Não precisa ser população de baixa renda. Ex.: favela. Basta que um
considerável número de pessoas se instale na área e cumpra os outros requisitos
contidos no art. 1.228, §4º, CC.
Pode ser alegada em ação autônoma ou em contestação.
50
Por último, leia abaixo os enunciados do CJF sobre o assunto e, em seguida, a tabela
Resumo:
PODER PÚBLICO PAGA A INDENIZAÇÃO SE:
Enunciado 311, CJF: “Caso não seja pago o preço fixado para a desapropriação judicial,
e ultrapassado o prazo prescricional para se exigir o crédito correspondente, estará
autorizada a expedição de mandado para registro da propriedade em favor dos
possuidores”.
Enunciado 305, CJF: “Tendo em vista as disposições dos §§ 3º e 4º do art. 1.228 do
Código Civil, o Ministério Público tem o poder-dever de atuar nas hipóteses de
desapropriação, inclusive a indireta, que encerrem relevante interesse público,
determinado pela natureza dos bens jurídicos envolvidos”.
Enunciado 240, do CJF: “A justa indenização a que alude o § 5º do art. 1.228 não tem
como critério valorativo, necessariamente, a avaliação técnica lastreada no mercado
imobiliário, sendo indevidos os juros compensatórios”.
Enunciado 241, do CJF: “O registro da sentença em ação reivindicatória, que opera a
transferência da propriedade para o nome dos possuidores, com fundamento no
51
interesse social (art. 1.228, § 5º), é condicionada ao pagamento da respectiva
indenização, cujo prazo será fixado pelo juiz”.
Enunciado 84, do CJF: “A defesa fundada no direito de aquisição com base no interesse
social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser arguida pelos réus da ação
reivindicatória, eles próprios responsáveis pelo pagamento da indenização”.
Art. 1.228, §4º e 5º do CC/02 – Art. 10-12 do Estatuto da Cidade (alterado pela Lei
DESAPROPRIAÇÃO JUDICAL INDIRETA 13.465/2017) – USUCAPIÃO ESPECIAL URBANO
COLETIVO
Não precisa ser população de baixa renda Não precisa ser população de baixa renda (antes da
alteração de 2017 precisava)
Pode ser alegada em Ação Autônoma ou em Pode ser alegada em Ação Autônoma ou em Defesa
Defesa
Extensa área rural ou urbana Núcleos urbanos informais cuja área total dividida pelo
número de possuidores seja inferior a duzentos e
cinquenta metros quadrados por possuidor.
Pode incidir sobre bens públicos (dominicais), Não há usucapião de bem público
porque aqui não se trata de usucapião (que não
incide sobre bens públicos).
52
12.3.7.3 Registro Imobiliário
a trinta salários mínimos, está dispensada a escritura pública, podendo o contrato ser
celebrado por instrumento particular, eis que em regra a forma é livre (art. 107 do CC).
Esse esclarecimento inicial é útil para apontar que a escritura pública não serve para a
aquisição da propriedade imóvel, sendo apenas uma formalidade que está no plano da
validade dos contratos de constituição ou transmissão de bens (art. 104, inc. III, do CC —
menção à forma prescrita e não defesa em lei). O registro imobiliário, que se situa no plano
da eficácia do contrato, é que gera a aquisição da propriedade imóvel, e deve ocorrer no
Cartório de Registro de Imóveis do local de situação da coisa (arts. 1.°, IV, e 167 a 171 da Lei
6.015/1973).
contrato, que gera a aquisição da propriedade imóvel. Esse entendimento está presente no
art. 1245, do CC.
Art. 1.245, CC: “Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título
translativo no Registro de Imóveis”.
Assim, o registro está para os bens imóveis, assim como a tradição está para os bens
móveis.
Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como
53
Enunciado n. 87 do CJF: “Considera-se também título translativo, para fins do art. 1.245 do
novo Código Civil, a promessa de compra e venda devidamente quitada (arts. 1.417 e 1.418
Atributos do registro:
tunc.
PRIORIDADE ou PREFERÊNCIA: dá-se proteção a quem registrou primeiro.
PUBLICIDADE: tem por fim tornar conhecidas pela sociedade as mutações no cadastro
imobiliário e proteger os atos praticados com boa-fé.
54
12.3.7.4 Sucessão Hereditária
Dá-se por ato mortis causa, em que o herdeiro legítimo ou testamentário ocupa o lugar
do de cujus em todos os seus direitos e deveres. Ocorrendo a morte, a herança transmite-
se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários, em razão do princípio da saisine.
OCUPAÇÃO
FORMAS ACHADO DO
ORIGINÁRIAS TESOURO
USUCAPIÃO
COMISTÃO
FORMAS
DERIVADAS
ADJUNÇÃO
TRADIÇÃO
SUCESSÃO
12.3.8.1 Ocupação
Aquele que se declarar proprietário de coisa sem dono, logo lhe adquire a propriedade,
não sendo essa ocupação proibida em lei.
A ocupação pode ocorrer tanto em razão de a coisa nunca ter pertencido a ninguém
(res nullius) quanto no caso de a coisa ter sido abandonada (res derelictae).
55
Atente-se, é possível a ocupação de coisa abandonada, mas nunca de coisa perdida. No
caso da coisa perdida há apenas um afastamento temporário do corpus, mas é mantido o
Inclusive, apropriar-se de coisa alheia perdida pode configurar o crime do art. 169, parágrafo
único, inciso II do Código Penal, caso o indivíduo não entregue a coisa em 15 dias:
“Apropriação de coisa achada II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou
parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à
O Código Civil define o tesouro como o depósito antigo de coisas preciosas, oculto e
de cujo dono é desconhecido.
O art. 1264 prevê a regra de divisão igualitária entre o proprietário do prédio e o que
achar o tesouro de maneira casual (de boa-fé).
O art. 1265 aduz a regra do tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio
nos seguintes casos: se for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não
autorizado.
56
Desse modo, se o descobridor que penetrar no prédio alheio, sem autorização, com o
propósito de encontrar o tesouro, não terá direito a nada, pois não se permite a obtenção de
vantagem quando praticado o esbulho, já que no caso estaria agindo de má-fé.
prédio pode configurar o crime do art. 169, parágrafo único, inciso I do Código Penal (pena:
detenção, de um mês a um ano, ou multa):
“Apropriação de tesouro
12.3.8.3 Usucapião
O Código Civil estabeleceu apenas duas formas de usucapião de bens móveis, quais
sejam:
Art. 1.260. “Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente
durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade”.
Três anos;
Justo título e boa-fé;
57
Art. 1.261, CC: “Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá
usucapião, independentemente de título ou boa-fé”.
Logo, perceba que o bem objeto de furto pode ser adquirido por usucapião
extraordinária pelo próprio autor do furto, caso ele se mantiver na posse do bem.
Conforme já estudamos, a Súmula 193, STJ determina que: “O direito de uso de linha
telefônica pode ser adquirido por usucapião.
exercício ostensivo do bem é suficiente para caracterizar a posse mesmo que o objeto
tenha sido proveniente de crime. Exemplo: um indivíduo adquiriu licitamente caminhão por
da aquisição. Pode-se reconhecer que houve a aquisição por usucapião, sendo irrelevante se
analisar se houve a inércia do anterior proprietário (vítima do furto) ou se o usucapiente
conhecia a ação criminosa anterior à sua posse. (3ª Turma. REsp 1.637.370-RJ, Rel. Min. Marco
22
Art. 1.208. “Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos
violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”.
58
12.3.8.4 Especificação
modificação do bem, que se torna um novo bem. Como exemplos, podemos citar uma pedra
que se transforma em uma estátua, ou uma tela que se torna um quadro.
Caso não seja possível retornar à situação anterior, a coisa nova será de propriedade
do especificador. Isso ocorre mesmo se a matéria-prima pertencesse a um terceiro.
Por meio dessa regra, o legislador valorizou o trabalho do especificador, em detrimento
do proprietário da matéria-prima.
Se toda a matéria prima for alheia, e não se puder reduzir à forma precedente, será do
especificador de boa-fé a espécie nova. Entretanto, o escultor deverá indenizar o dono
da pedra pelo seu valor.
A terceira regra induz que sendo possível a redução ao estado anterior; ou, quando
impraticável, se a espécie nova se obteve de má-fé, pertencerá ao dono da matéria-
prima. Nesse caso, a atuação de má-fé prejudica a aquisição da propriedade. Inclusive,
o especificador não tem direito sequer qualquer indenização pelo trabalho realizado.
Mesmo havendo má-fé, porém, sempre que o preço da mão de obra exceder
consideravelmente o valor da matéria-prima, será a coisa nova do especificador, que
deve apenas indenizar o dono daquela por seu valor.
Apesar de serem três categorias diferentes, suas regras são as mesmas, por isso a
junção em um só tópico. Primeiro vamos às definições:
59
Comistão é a mistura de coisas sólidas ou secas. Exemplos: misturas de areia e
cimento ou de cereais de safras diferentes.
Adjunção é justaposição ou sobreposição de uma coisa sobre outra. Exemplos: tinta
em relação à parede; selo valioso em álbum de colecionador.
12.3.8.6 Tradição
A tradição pode ser real (entrega material da coisa ao adquirente), simbólica (não será
necessariamente a entrega da coisa, mas de alguma coisa que a representa, como a entrega
das chaves de um veículo) ou consensual (acordo de vontade dos interessados, por aposição
60
12.3.8.7 Sucessão
Esse tema será melhor tratado quando abordarmos o Direito das Sucessões.
O Código Civil de 2002 não incluiu a descoberta (antiga invenção) como modo de
aquisição da propriedade, visto que quem acha o bem perdido não adquire a sua
propriedade. A descoberta na parte geral da propriedade. Para fins didáticos, vamos tratar
sobre tal ponto neste momento.
Por meio da descoberta, alguém encontra coisa alheia perdida (art. 1.233, CC). Ela
gera para o descobridor uma obrigação de fazer: entregar a coisa que saiu da esfera de
proteção do titular. Cuida-se de obrigação que se origina de um ato jurídico stricto sensu.
hasta pública. A apreciação do valor a ser pago a título de recompensa será feita pelo
61
magistrado. Após a venda em leilão, e retirado o valor do achádego, o restante do valor é
concedido ao Município em que o bem houver sido descoberto. Tanto o proprietário quanto
o Município podem deliberar por abandonar a coisa para exonerar-se da obrigação de custear
o achádego.
Aos objetos deixados em hotéis, lavanderias, etc., também se aplica esse processo de
arrecadação, sendo considerada abusiva a cláusula que permite, após certo prazo, que o
e desapropriação.
Renúncia: ato unilateral pelo qual o proprietário declara, de forma expressa, a sua
vontade de abrir mão de seu direito sobre a coisa. Só se aplica a bens imóveis, com
Abandono (derrelição): é um ato material, pelo qual o proprietário deixa a coisa com
62
inadimplemento dos tributos reais (art. 1.276, §2º), privilegiando-se a função
desuso relacionado com o não pagamento dos tributos seja considerado uma
presunção relativa de abandono da coisa.
En. 242: “Art. 1276: A aplicação do art. 1.276 depende do devido processo legal, em que
seja assegurado ao interessado demonstrar a não-cessação da posse”.
En. 243: “Art. 1276: A presunção de que trata o §2º do art. 1.276 não pode ser
interpretada de modo a contrariar a norma-princípio do art. 150, IV, da CF.” (trata-se da
proibição de tributo com efeito de confisco).
Perecimento da coisa: dá-se pela perda das qualidades essenciais da coisa, a coisa
A propriedade resolúvel é aquela que pode ser extinta pelo advento de condição
(evento fururo e incerto) ou pelo termo (evento futuro e certo). Assim, a duração da
propriedade se subordina a um acontecimento futuro certo ou incerto, que será previsto no
63
Condição Resolutiva: a condição subordina o efeito do negócio jurídico a um evento
futuro e incerto. A condição ser resolutiva significa que o seu implemento (realização)
extingue os efeitos do ato (resolver = extinguir).
evento futuro e certo. Termo final: há uma data determinada para a cessação dos
efeitos do negócio jurídico.
capítulo do Direito das Sucessões), retrovenda, doação com cláusula de reversão, compra e
venda com reserva de domínio, alienação fiduciária e direitos autorais.
1.360 do CC23). Nesta inexiste cláusula contratual de limitação temporal quando de sua
constituição, eis que a extinção do direito de propriedade decorre de um evento
superveniente. Nestes casos pode haver a resolução, mas esta não pode prejudicar direitos
adquiridos por terceiros, já que eles não podiam prevê-la. Casos: revogação de doação por
impostas são consideradas propter rem e acompanham a coisa onde quer que ela esteja,
independente da vontade do proprietário ou do possuidor.
23
Art. 1.360. “Se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o possuidor, que a tiver adquirido por título anterior
à sua resolução, será considerado proprietário perfeito, restando à pessoa, em cujo benefício houve a resolução, ação contra
aquele cuja propriedade se resolveu para haver a própria coisa ou o seu valor”.
64
Trata-se do conjunto de regras que disciplina a convivência harmônica entre vizinhos,
Nos termos do art. 1.277, CC, o direito de propriedade deve ser exercido conforme uma
Como pode ser observado, a primeira norma do direito da vizinhança protege tanto o
proprietário, como o possuidor, buscando a ampla proteção relacionada com a segurança, o
repressivas. O que é ação de dano infecto? Dano infecto é o dano iminente. Essa ação visa
resguardar o proprietário ou o possuidor de uma probabilidade de dano (art. 1.280, CC).
Busca-se aqui uma tutela específica inibitória, que visa a evitar a ocorrência do dano.
Art. 1.280, CC: “O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio
vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe
preste caução pelo dano iminente”.
65
Enunciado n. 319 do CJF, aprovado na IV Jornada de Direito Civil: “A condução e a solução
das causas envolvendo conflitos de vizinhança devem guardar estreita sintonia com os
ao meio ambiente”.
Árvores limítrofes
Árvore limítrofe é aquela cujo tronco está na linha divisória de dois prédios,
presumindo-se de forma relativa pertencer em comum aos donos dos prédios confinantes.
O dono do prédio que não tiver acesso à via pública, nascente ou porto, pode,
mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo
rumo será judicialmente fixado, se necessário. Essa passagem é obrigatória diante da função
social da propriedade.
66
Para efetivação da passagem forçada, sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel
Além disso, em caso de alienação parcial do prédio serviente, de modo que uma das
partes perca o acesso à via pública, nascente ou porto, o proprietário da outra deve tolerar
Art. 1.285, CC: “O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente ou porto,
pode, mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar
passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário.
§ 2 o Se ocorrer alienação parcial do prédio, de modo que uma das partes perca o acesso
a via pública, nascente ou porto, o proprietário da outra deve tolerar a passagem.
Águas
a receber as águas que correm naturalmente do superior, não podendo realizar obras que
67
embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser
O art. 1.290 do CC trata das nascentes das águas e do escoamento das águas pluviais,
prevendo que o proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais, satisfeitas as
necessidades de seu consumo, não pode impedir, ou desviar, o curso natural das águas
remanescentes pelos prédios inferiores, já que o curso de água do imóvel surge a água tem
de arame ou de madeira, valas ou banquetas. Assim, devem concorrer, em partes iguais, para
as despesas de sua construção e conservação.
determinar-se-ão de acordo com a posse justa. Caso a posse justa não seja provada, o
terreno contestado dividir-se-á em partes iguais entre os prédios, ou, não sendo possível a
Direito de construir
68
Entre algumas das restrições específicas ao direito de construir, nós temos a proibição
de construção de maneira que o seu prédio não despeje águas, diretamente, sobre o prédio
vizinho. Além dessa, temos a proibição de abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a
menos de metro e meio do terreno vizinho, para respeitar o direito à privacidade (imóveis
urbanos). Nas áreas rurais, a limitação é de três metros.
Art. 1.301. “É defeso abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a menos de metro e meio
do terreno vizinho.
§ 1 o As janelas cuja visão não incida sobre a linha divisória, bem como as perpendiculares, não
poderão ser abertas a menos de setenta e cinco centímetros.
§ 2 o As disposições deste artigo não abrangem as aberturas para luz ou ventilação, não maiores
de dez centímetros de largura sobre vinte de comprimento e construídas a mais de dois metros
de altura de cada piso”.
Súmula 120 do STF: “Parede de tijolos de vidro translúcido pode ser levantada a menos de
Art. 1.312. “Todo aquele que violar as proibições estabelecidas nesta Seção é obrigado a
demolir as construções feitas, respondendo por perdas e danos”.
Art. 1.313. “O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar que o vizinho entre
no prédio, mediante prévio aviso, para:
69
I - dele temporariamente usar, quando indispensável à reparação, construção,
reconstrução ou limpeza de sua casa ou do muro divisório;
§ 2 o Na hipótese do inciso II, uma vez entregues as coisas buscadas pelo vizinho, poderá
ser impedida a sua entrada no imóvel.
12.5Condomínio ou Compropriedade
pode pertencer a várias pessoas, cabendo a cada uma, igual direito sobre o todo.
direitos reais)? Não, pois no condomínio duas ou mais pessoas exercem o mesmo direito
sobre a mesma coisa. O direito de propriedade continua sendo um só. Inclusive, contra
frações ideais).
24
A concepção romana de condomínio contrapõe-se à concepção germânica ou medieval. Nessa o condomínio também é
chamado de “mão junta”, e todos os condôminos são proprietários de todo o bem de forma simultânea. Não há a divisão em
partes ideais.
70
Sob o prisma subjetivo (sob o ângulo dos sujeitos) o condomínio é uma comunhão;
objetivamente (sob o ângulo do objeto) é uma indivisão. Se fosse divisível, cada um teria sua
própria propriedade.
Art. 1.314. “Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela
exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender
a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.
Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum,
nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros”.
Essa divisão não é estanque, as regras gerais do condomínio aplicam-se, em regra, a todas.
71
No entanto, vale frisar que, cada condômino tem a propriedade plena e total sobre a
coisa. Tal propriedade é limitada apenas pelos direitos dos demais. Sendo assim, não cabe
reintegração de posse por um dos condôminos contra os demais.
Lemos no parágrafo único do art. 1.314, do CC, que, se não houver consenso dos
demais, nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem dar posse,
uso ou gozo dela a estranhos.
Ocorre quando imposto pela lei. As situações típicas de condomínio legal ou necessário
envolvem o direito de vizinhança, quando existir as meações de paredes, cercas, muros e
O proprietário que tiver direito a estremar um imóvel com paredes, cercas, muros, valas
ou valados, terá direito também a adquirir a meação da parede, muro, valado ou cerca do
vizinho, embolsando-lhe metade do que atualmente valer a obra e o terreno por ela ocupado
(art. 1328, do CC). Em caso de não haver acordo sobre o preço da obra, este será a arbitrado
por peritos.
72
12.5.1.3 Condomínio Edilício
12.5.1.3.1 Introdução
partes comuns. Faltando qualquer desses elementos, cessa o condomínio edilício. Por
exemplo, se todas as unidades autônomas passam a pertencer ao mesmo titular, ocorre a
E ainda, o CC exige que todo condômino tenha acesso à via pública. Assim, não se
admite encravamento de uma unidade autônoma, mesmo que não se goste do condômino.
Leia dos arts. 1131 ao art. 1358 do CC e os arts. 1º a 27 da Lei 4.591/64. Estes são os
dispositivos que, juntos, regulam o condomínio edilício. Atenção: a Lei 4.591/1964 é aplicada
apenas naquilo que não houver disposição específica no CC.
dano moral.
Entretanto, possui capacidade jurídica: ele pode ser titular de obrigações, pode ser
sujeito de direitos, pode ser contribuinte, consumidor, pode ter CNPJ e ajuizar ações para
73
Entretanto, a fim de proteger os condôminos, o STJ solidificou, em sua Súmula 308, o
Súmula 308, STJ: “A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior
ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os
adquirentes do imóvel.”
As partes do imóvel que são propriedades exclusivas de cada condômino são as áreas
autônomas, que são os apartamentos, escritórios, salas, lojas, sobrelojas ou abrigos para
Já as partes que são de propriedade comum dos condôminos são chamadas de áreas
comuns, que podem ser o solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede geral de distribuição
Veja o que determina o art. 1.331, CC, principalmente no tocante aos abrigos para
veículos (§1º) e o terraço de cobertura (§5º):
Art. 1.331. “Pode haver, em edificações, partes que são propriedade exclusiva, e partes que
são propriedade comum dos condôminos.
74
§ 2º O solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede geral de distribuição de água, esgoto,
gás e eletricidade, a calefação e refrigeração centrais, e as demais partes comuns, inclusive
o acesso ao logradouro público, são utilizados em comum pelos condôminos, não
podendo ser alienados separadamente, ou divididos.
§ 3º A cada unidade imobiliária caberá, como parte inseparável, uma fração ideal no solo
e nas outras partes comuns, que será identificada em forma decimal ou ordinária no
instrumento de instituição do condomínio.
De acordo com recente entendimento do STJ, que rediscutiu o tema, não é possível o
Trechos retirados da ementa: “No âmbito das Turmas que compõem a Segunda Seção do STJ,
prevalece a corrente de que os condomínios são entes despersonalizados, pois não são
titulares das unidades autônomas, tampouco das partes comuns, além de não haver, entre os
condôminos, a affectio societatis, tendo em vista a ausência de intenção dos condôminos de
estabelecerem, entre si, uma relação jurídica, sendo o vínculo entre eles decorrente do direito
exercido sobre a coisa e que é necessário à administração da propriedade comum.
Caracterizado o condomínio como uma massa patrimonial, não há como reconhecer que seja
ele próprio dotado de honra objetiva, senão admitir que qualquer ofensa ao conceito que
possui perante a comunidade representa, em verdade, uma ofensa individualmente dirigida a
75
(STJ - Resp: 1736.593 - SP 2017/0235980-8, Relatora: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de
III - não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas;
IV - dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar
de maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou
aos bons costumes.
§ 1º O condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros
moratórios convencionados ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês
e multa de até dois por cento sobre o débito.
76
Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado
comportamento antissocial, gerar incompatibilidade de convivência com os
demais condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a pagar multa
correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas
condominiais, até ulterior deliberação da assembleia.
tenha pago os “condomínios”, deve o novo proprietário ou possuidor arcar com tal débito, já
que se vinculam ao imóvel e não à pessoa:
De acordo com o art. 1.348, §2º, CC, “o síndico pode transferir a outrem, total ou
parcialmente, os poderes de representação ou as funções administrativas, mediante
aprovação da assembleia, salvo disposição em contrário da convenção”.
o No entanto, a assembleia, especialmente convocada para o fim estabelecido
acima, poderá, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, destituir o
síndico que praticar irregularidades, não prestar contas, ou não administrar
convenientemente o condomínio (art. 1.349, CC).
77
haverá segunda convocação da assembleia. Na segunda convocação, a assembleia
poderá decidir apenas pela maioria dos votos dos condôminos presentes.
sobre a multipropriedade. Apesar disso, o STJ já reconhecia a sua validade. Agora, contudo,
essa lacuna foi preenchida pelo legislador, nos arts. 1.358-B a 1.358-U do CC. Também
regulam o instituto, mas subsidiariamente, os demais artigos do Código Civil, a Lei 4.591/64 e
o CDC.
Não deixe de ler os artigos 1.358-B a 1.358-U do CC. Por enquanto, não há muitos
por turno ou direito real de habitação periódica. Trata-se do regime de condomínio em que
cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é titular de uma fração de tempo,
25
Vide questão 7.
78
Esse tipo de condomínio é adotado por indivíduos que querem usufruir de um imóvel
apenas durante parte do ano, normalmente uma casa de veraneio praia, e não precisam
desembolsar o preço total, nem terão que arcar sozinhos com os custos da manutenção.
seguidos ou intercalados, podendo ser fixo e determinado, flutuante ou misto (art. 1.358-E,
§1º, CC).
26
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado
em 26/4/2016 (Info 589).
79
Como se opera a transferência da multipropriedade? A transferência do direito de
Quando o indivíduo for adquirir uma fração de tempo, ele deverá exigir do alienante
uma declaração de que não há débitos. Caso não obtenha essa declaração, o adquirente será
considerado solidariamente responsável com o alienante pelas obrigações do
A Lei 6.015/1973 (Registros Públicos) também foi alterada pela Lei 13.777/2018, para
disciplinar como ocorre o registro da multipropriedade. Conforme o art. 176, §10, Lei
6.015/1973, “quando o imóvel se destinar ao regime da multipropriedade, além da matrícula
80
12.6.1 Enfiteuse
Trata-se a enfiteuse de um direito real sobre a coisa alheia (o mais amplo de todos),
pelo qual ocorre a transmissão, para um terceiro não proprietário (chamado ENFITEUTA ou
situações:
O atual Código Civil proíbe a constituição de novas enfiteuses, bem como a cobrança
de laudêmios nas transmissões do bem aforado. As atuais enfiteuses ficam mantidas,
subordinando-se às disposições do antigo Código (arts. 678 e seguintes) e leis especiais, até
sua paulatina extinção (art. 2.038, CC).
As enfiteuses podem ser constituídas por meio de negócio jurídico entre as partes
(inter vivos ou causa mortis) ou por meio de usucapião (é possível usucapir enfiteuse).
Conforme estudamos, a terra pública não admite prescrição aquisitiva. O que se admite,
no caso, é a usucapião de enfiteuse de terra pública e, aliás, admite-se a usucapião de
direito real na coisa alheia de qualquer coisa pública. Isso porque, nesse caso, o usucapiente
não está a propriedade e sim a enfiteuse. O particular vai ser o enfiteuta, e o Poder Público
81
12.6.2 Servidão Predial
Servidão predial é o direito real na coisa alheia através do qual um imóvel (edificação)
sofre uma restrição para gerar um benefício/utilidade/vantagem a outro prédio.
proprietário de outro prédio. Como a servidão predial recai somente sobre bens imóveis,
necessita de registro:
Art. 1.378, CC: “A servidão proporciona utilidade para o prédio dominante, e grava o
prédio serviente, que pertence a diverso dono, e constitui-se mediante declaração
expressa dos proprietários, ou por testamento, e subsequente registro no Cartório de
Registro de Imóveis”.
prédio não pode dispor da servidão, pois ela não o pertence, mas pertence ao prédio.
Exemplo: não pode dar servidão em garantia; hipoteca etc.
Quanto à natureza: rústica (em áreas rurais) ou urbana (em áreas urbanas);
Quanto às condutas das partes: positiva (exercida por ato positivo ou comissivo) ou
82
Súmula 415 do STF: “Servidão de trânsito, não titulada, mas tornada permanente pela
natureza das obras, considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória”. Essa
Súmula está de acordo com o que determina o caput do art. 1.379, CC:
“Art. 1.379. O exercício incontestado e contínuo de uma servidão aparente, por dez anos, nos termos do art.
1.242, autoriza o interessado a registrá-la em seu nome no Registro de Imóveis, valendo-lhe como título a
sentença que julgar consumado a usucapião.
Parágrafo único. Se o possuidor não tiver título, o prazo da usucapião será de vinte anos”.
Quanto ao exercício das servidões, dispõe o art. 1380, do CC, que o dono de uma
servidão pode fazer todas as obras necessárias à sua conservação e uso. Pertencendo a mais
de um prédio, serão as despesas rateadas entre os respectivos donos.
O art. 1.384 do CC aduz que a servidão pode ser removida, de um local para outro,
pelo dono do prédio serviente e à sua custa, se em nada diminuir as vantagens do prédio
dominante. Também pode ser removida pelo dono deste e à sua custa, se houver considerável
incremento da utilidade e não prejudicar o prédio serviente. No entanto, tal mudança somente
é permitida se mantida a função social do direito real de fruição.
83
Não confunda servidão com passagem forçada, que é instituto de direito de vizinhança
(limitação ao direito de propriedade decorrente de lei), onde uma das propriedades está
encravada.
Obrigatória Facultativa
Por último, cabe ressaltar que se o prédio dominante retira mais utilidades do que o
contrato de servidão lhe permite, ele pratica um ato ilícito subjetivo. Exemplo: servidão de
retirada de água que permite ao prédio dominante retirar 10 mil litros por dia. Se o sujeito
retira 100 mil litros ele comete um ato ilícito subjetivo (pois houve violação da norma-
contrato), devendo ser provada sua culpa para a responsabilização. No entanto, se o sujeito
retira 10 mil litros (dentro dos limites pactuados), quando necessita de apenas mil, pratica ato
12.6.3 Usufruto
É o direito real que uma pessoa tem de usar (ex: morar) e fruir (ex.: alugar) a coisa
alheia, temporariamente, sem alterar-lhe a substância.
As partes são denominadas de usufrutuário (aquele que tem direito de usar ou fruir a
Nos termos do art. 1390, do CC, o usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis
ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em parte,
84
os frutos e utilidades. Se for bem imóvel, será mediante registro no Cartório de Registro de
Imóveis.
O usufruto pode recair, inclusive, sobre títulos de crédito, veja o que dispõe o art.
1.395, CC:
Art. 1.395. “Quando o usufruto recai em títulos de crédito, o usufrutuário tem direito a
perceber os frutos e a cobrar as respectivas dívidas.
O usufruto pode ser constituído por meio da lei, convenção das partes (por meio de
Se a usufrutuária for a pessoa jurídica, seu termo máximo de duração será de 30 anos.
85
Usufruto simultâneo vs. usufruto sucessivo:
Em outras palavras podemos dizer que o direito brasileiro não admite o usufruto de
segundo grau. Veja o que dispõe o art. 1.411, CC:
III - pela extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o usufruto foi constituído, ou, se
ela perdurar, pelo decurso de trinta anos da data em que se começou a exercer;
V - pela destruição da coisa, guardadas as disposições dos arts. 1.407, 1.408, 2ª parte, e
1.409;
VI - pela consolidação;
VII - por culpa do usufrutuário, quando aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, não
lhes acudindo com os reparos de conservação, ou quando, no usufruto de títulos de
86
crédito, não dá às importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo único do art.
1.395;
VIII - Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai (arts. 1.390 e
1.399).”
Registro Imobiliário (CRI), quando se tratar de bem imóvel, já que inscrição também consta
registrado no Cartório.
12.6.4 Uso
O direito real de uso pode ser constituído de forma gratuita ou onerosa, havendo a
necessidades suas e de sua família. Assim, a fruição somente é possível para atender às
necessidades básicas da família.
12.6.5 Habitação
O direito real de habitação constitui o mais restrito dos direitos reais de fruição, eis que
apenas é cedida uma parte do atributo de usar, qual seja: o direito de habitar o imóvel.
Quando o uso consistir no direito de habitar gratuitamente casa alheia, o titular deste
direito não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la com sua família. Se
descumprir essa norma, o imóvel poderá ser retomado por desvio de função.
87
Observamos que tanto o uso quanto a habitação são chamados, por muitos autores, de
‘usufruto em miniatura’. No entanto, conforme visto, são mais restritos e jamais podem ser
constituídos em favor de pessoa jurídica.
12.6.6 Superfície
O superficiário deve zelar pelo imóvel como se fosse seu, respondendo pelos encargos
Pode haver transferência da superfície a terceiros, bem como sua transmissão aos
herdeiros do superficiário, com falecimento deste. Não se permitindo, porém, a estipulação de
(direito de preferência recíproco). Por exemplo, se o proprietário alienou sem ter notificado o
superficiário no prazo mínimo de 30 dias, terá este 180 dias para exercer o seu direito de
adjudicar o bem.
88
Com a extinção da superfície, o proprietário passa a ter a propriedade plena sobre o
Eles têm por finalidade garantir ao credor recebimento de seu crédito, por vincular
determinado bem pertencente ao devedor. Se a dívida for assegurada por uma garantia real e
o devedor não a pagar, o bem dado em garantia poderá ser penhorado e vendido
judicialmente.
27
STJ. 3ª Turma. REsp 1.408.861-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/10/2015 (Info 572).
89
Preferência: o credor hipotecário e o pignoratício têm preferência no pagamento a
afeta em nada a garantia real dada, ainda que compreenda vários bens (dados em
garantia). Exceção: o contrato pode conter cláusula em sentido contrário, prevendo a
divisibilidade do direito.
existente sobre o imóvel deixará de existir, pois surge um novo direito de propriedade
(a usucapião é modo originário de aquisição da propriedade).
Direito de retenção: o credor anticrético tem direito a reter em seu poder o bem
enquanto a dívida não for paga. Este direito será extinto se decorridos 15 anos da sua
constituição (perempção da anticrese)
90
garantia em caso de inadimplemento. Essa cláusula é totalmente proibida no Brasil, sem
Além dessas características, o art. 1424, do CC, consagra requisitos específicos para o
negócio jurídico constitutivo de penhor, anticrese ou hipoteca. Tais elementos devem estar
presentes, sob pena de ineficácia do negócio:
O art. 1425, do CC, traz as hipóteses em que a dívida garantida torna-se vencida:
Se as prestações não forem pontualmente pagas, toda vez que deste modo se achar
28
Vimos que na alienação fiduciária/propriedade fiduciária, o credor fiduciário é obrigado a promover a venda do bem (o bem já
está com ele, só que ele vai vender para ficar com o valor correspondente a ele. O credor fiduciário é obrigado a vender o bem –
não pode simplesmente ficar com o bem – quitando a dívida do devedor e restituindo o resto a ele).
91
Se perecer o bem dado em garantia, e não for substituído;
Não se pode esquecer que os direitos reais de garantia não se confundem com as
garantias pessoais ou fidejussórias, eis que no primeiro caso um bem garante a dívida por
vínculo real e efeitos erga omnes (art. 1.419 do CC); enquanto que, no último, a dívida é
garantida por uma pessoa, presentes efeitos inter partes (exemplo: fiança).
12.7.1 Penhor
É o direito real de garantia sobre coisa alheia constituído, em regra, por meio da
devedor. Deriva de um ato de força do credor com fundamento na lei (arts. 1.467 a
1.472, CC). Exemplo: o penhor dos donos de hotéis sobre os bens móveis dos
hóspedes. Isso também acontece com os restaurantes, em que a pessoa não paga a
conta e o dono do restaurante pode ficar com os bens móveis do devedor (celular,
relógio, etc).
Convencional comum: forma ordinária de penhor, que tem por objeto bens móveis
92
Industrial e Mercantil: têm por objeto máquinas, aparelhos, materiais, instrumentos,
Renunciando o credor;
93
Dando-se a adjudicação judicial, a remição (resgate pelo pagamento) ou a venda da
12.7.2 Hipoteca
É direito real de garantia que grava coisa imóvel pertencente ao devedor sem
transmissão de posse ao credor.
direito de preferência (preferir aos outros credores quirografários) nem sequela (buscar o bem
com quem quer que esteja).
Os bens imóveis e os acessórios dos imóveis conjuntamente com eles, caso dos frutos,
O domínio direto;
As estradas de ferro;
Os navios, que constituem bens móveis especiais ou sui generis, eis que podem ser
hipotecados;
94
O direito de uso especial para fins de moradia;
A propriedade superficiária.
a penhora dessa embarcação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.705.222-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
Hipoteca convencional: criada pela autonomia privada, ou por convenção das partes;
Hipoteca legal: decorre da norma jurídica, nas hipóteses do art. 1.489 do CC;
95
Pela extinção da obrigação principal, pois se repise que a hipoteca não pode existir
12.7.3 Anticrese
É o direito pelo qual o credor retém o imóvel do devedor e recebe seus frutos para
pagamento da dívida. Em outras palavras, é o direito real de garantia sobre coisa alheia pelo
qual o devedor ou terceiro garantidor cede os frutos produzidos por um bem imóvel como
forma de pagamento da dívida. O credor pode explorar economicamente o bem até o
O art. 1.507, CC afirma que o credor anticrético pode administrar o imóvel dado em
anticrese e fruir seus frutos e utilidades. Para tanto, deverá o credor administrador
apresentar balanço anual, exato e fiel, de sua administração. Se o devedor anticrético não
concordar com o que se contém no balanço, por ser inexato, ou ruinosa a administração,
poderá impugná-lo, e, se o quiser, requerer a transformação em arrendamento, fixando o juiz
o valor mensal do aluguel, o qual poderá ser corrigido anualmente.
96
Ademais, o credor anticrético responde pelas deteriorações que, por culpa sua, o
imóvel vier a sofrer, e pelos frutos e rendimentos que, por sua negligência, deixar de
perceber.
Por último, é importante destacar que o bem dado em anticrese pode ser objeto de
hipoteca, assim como o bem hipotecado também pode ser objeto de anticrese. Não há
ordem: pode constituir primeiro a anticrese e depois a hipoteca e vice-versa.
Aduz o art. 1.417 do CC que, mediante promessa de compra e venda, em que não se
do imóvel. Esse direito real possibilita a reivindicação da coisa em face de qualquer terceiro
que eventualmente a adquiriu indevidamente.
97
Resolução judicial.
de baixa renda, tais direitos reais referem-se a áreas públicas, geralmente invadidas e
urbanizadas por favelas. Existiu a vontade de regularização jurídica das áreas favelizadas para
que a situação de antidireito passe a ser tratada pelo Direito.
dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até
duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área com
características e finalidade urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua família, tem o
direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse,
desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano
ou rural.”
98
Os dois institutos anteriormente estudados ainda não têm a efetiva concreção prática.
A laje é um direito real (art. 1.225, XIII, CC). Consiste no espaço aéreo ou o subsolo de
terrenos públicos ou privados, tomados em projeção vertical, como unidade imobiliária
Em outras palavras, o Código Civil passa a permitir algo que já existia na prática:
alguém tem um imóvel (uma casa, p. ex.) e cede a outra pessoa a parte de cima deste imóvel
(a "laje") para que lá ela construa outra edificação autônoma em relação à construção
Partes:
29
Vide questão 10.
99
Em caso de alienação de qualquer das unidades sobrepostas, terão direito de
Não deixe de ler a integralidade dos arts. 1.510-A CC a 1.510-E, principalmente o art.
1.510-A!
30
Vide questão 10.
100
QUADROS SINÓTICOS
POSSE
A posse é exercida por todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de um dos
poderes inerentes à propriedade (usar, fruir, gozar e dispor).
CONCEITO Não é um direito real.
101
precariedade, sendo uma “posse limpa” (art. 1.200, CC)
QUANTO AO TEMPO
NOVA Exercida a menos de um ano e um dia.
VELHA Exercida a mais de um ano e um dia.
LEGÍTIMA DEFESA DA POSSE E DESFORÇO IMEDIATO
Constituem formas de autotutela, independentemente de ação judicial, cabíveis ao
possuidor direto ou indireto contra as agressões de terceiro.
-Nos casos de ameaça e turbação, em que o atentado à posse não foi definitivo, cabe a
legítima defesa.
-Havendo esbulho, a medida cabível é o desforço imediato, visando à retomada do bem
esbulhado.
As ações possessórias são divididas para cada tipo de intimidação:
Se ameaça, cabe interdito proibitório. Se turbação cabe ação de
INVOCAR
manutenção de posse. Se esbulho: cabe ação de reintegração de
INTERDITOS
posse. Há fungibilidade entre as ações possessórias.
102
- Não tem direito aos frutos. Só tem direito a
RESPONSA- POSSUIDOR DE restituição pelas despesas de produção e de custeio.
BILIDADE MÁ-FÉ - Tem direito a indenização apenas pelas
benfeitorias necessárias.
- Não tem direito de retenção.
- Não pode levantar as voluptuárias.
- Responde pela deterioração da coisa, ainda que
acidental, salvo se provar que de igual modo teria
ocorrido, estando ela na posse do reivindicante.
Quando a mesma coisa é partilhada por uma pluralidade de sujeitos. Origem: inter
COMPOSSE
vivos ou mortis causa. Podem ser pro indiviso ou pro diviso (quando o é bem divisível).
DIREITOS REAIS
CONCEITO
É o direito que a pessoa física ou jurídica tem de usar, fruir ou gozar, dispor de um bem ou
reavê-lo de quem injustamente o possua ou detenha (art. 1.228, CC).
ELEMENTOS
USAR O titular tem acesso aos frutos naturais da coisa. Ex: morar.
FRUIR OU Faculdade de explorar economicamente a coisa, mediante extração de
GOZAR frutos e produtos, que ultrapassam a percepção de frutos naturais. Ex:
alugar.
DISPOR Possibilidade de alterar a substância da coisa.
103
FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL
ACESSÃO (NATURAIS OU ARTIFICIAIS)
Adquire a propriedade de tudo aquilo foi incorporado de forma natural ou artificial.
FORMAÇÃO DE Ilha é uma faixa de terra cercada de água por todos os lados.
ILHAS
ALUVIÃO Acréscimo de terra paulatino nas margens do rio.
USUCAPIÃO
Forma de aquisição originária da propriedade. É necessário o cumprimento dos requisitos:
Posse com intenção de dono (animus domini);
Posse mansa e pacífica;
Posse contínua e duradoura, em regra, e com determinado lapso temporal.
Posse de boa-fé e com justo título na usucapião ordinária.
REGISTRO IMOBILIÁRIO
O registro imobiliário, que se situa no plano da eficácia do contrato, é que gera a
aquisição da propriedade imóvel. Bens imóveis: pelo registro. Bens móveis: pela tradição.
SUCESSÃO HEREDITÁRIA
Ocorrendo a morte, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários, em razão do princípio da saisine.
FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL
OCUPAÇÃO A ocupação pode ocorrer em razão da coisa nunca ter pertencido a
ninguém, que no caso seria res nullius, como pode acontecer no caso da
coisa ser abandonado, que seria res derelictae.
ACHADO DO Tesouro é o depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono é
TESOURO desconhecido.
104
Justo título e boa-fé;
105
VOLUNTÁRIO Não cabe reintegração de posse por um dos condôminos contra os
demais.
106
onerosamente, a outrem o direito de construir ou plantar em seu terreno.
Depende de escritura pública e registro no CRI. Partes: fundieiro (aquele
que cede o uso do imóvel) e superficiário (aquele que recebe o imóvel).
Finalidade: garantir ao credor recebimento de seu crédito. Se o devedor não pagar a
dívida, o bem dado em garantia poderá ser penhorado e vendido judicialmente.
CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS
PREFERÊNCIA O credor hipotecário e o pignoratício têm preferência no pagamento em
relação a outros credores.
INDIVISIBILI- O pagamento de uma ou mais prestações da dívida não importa
DADE exoneração correspondente da garantia.
ESPÉCIES
HIPOTECA usufrutuário;
As estradas de ferro;
As jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de
energia hidráulica e os monumentos arqueológicos;
Os navios, que constituem bens móveis especiais ou sui generis,
As aeronaves;
O direito de uso especial para fins de moradia;
O direito real de uso;
A propriedade superficiária.
ANTICRESE O credor retém o imóvel do devedor e recebe seus frutos até o
pagamento da dívida.
107
-Contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos públicos ou privados, tomados em
projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma.
DIREITO REAL
-Partes - lajeiro: o cedente ou proprietário da construção-base e lajeário: o titular do
DE LAJE
direito real de laje ou cessionário.
- Não há existência de um condomínio entre as partes envolvidas.
108
QUESTÕES COMENTADAS
Futuro delegado, devido à escassez de questões atualizadas que versam sobre este
Questão 1
afirmar:
e úteis. Quanto às voluptuárias, estas, se não forem pagas, poderão ser levantadas, desde que
não prejudiquem a coisa.
D) Sendo possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
Comentário:
109
outro meio de interpelação judicial do possuidor que resulte, posteriormente, na
dispõe o art. 1.196 do CC, mas é possível adquirir a posse mediante representação, com
previsão expressa no art. 1.205, inciso I do CC, com mandato ou sem mandato.
Questão 2
(VUNESP – 2018 – PC/BA – DELEGADO DE POLÍCIA):Com relação à posse, assinale a
alternativa correta.
A) A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de
direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor
direto defender a sua posse contra o possuidor indireto.
B) Tendo em vista que a posse somente é defendida por ser um indício de propriedade, obsta
à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre
a coisa.
C) Não autorizam a aquisição da posse justa os atos violentos, senão depois de cessar a
violência; entretanto, se a coisa obtida por violência for transferida, o adquirente terá posse
justa e de boa-fé, mesmo ciente da violência anteriormente praticada.
110
D) É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição
da coisa. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, mesmo após a
ciência inequívoca que possui indevidamente.
E) O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força,
a qualquer tempo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à
Comentário:
A assertiva trata da redação do art. 1.197 do CC. É o caso da relação jurídica estabelecida
entre locador e locatário, em que temos a denominada posse paralela, ou seja, a posse direta
do locatário e a posse indireta do locador, onde uma não anula a outra, convivendo as duas
de forma harmônica. Naturalmente, a posse do locatário será temporária, enquanto durar o
contrato de locação. O legislador dispõe que o possuidor direto poderá defender a sua posse
contra o possuidor indireto. Ressalte-se que a recíproca também é verdadeira, ou seja, poderá
locador defender a sua posse contra o locatário. Desse modo, está correta a alternativa A.
Questão 3
(FAPEMS – 2017 – PC/MS – DELEGADO DE POLÍCIA):Sobre a posse e a propriedade, sua
classificação, formas de aquisição, efeitos e perda, assinale a alternativa a correta.
B) O fâmulo da posse não pode fazer uso dos interditos possessórios, mas nada impede que
ele utilize o desforço imediato para proteger o bem daquele que recebe ordens.
C) O proprietário pode ser privado da coisa, no caso de requisição por perigo público
iminente. Tal privação enseja indenização ulterior, independentemente da existência de dano.
111
D) A usucapião especial urbana (pro misero) estará caracterizada somente se a área urbana
com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados a flora, a
fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem
como evitada a poluição do ar e das águas. A posse, de sua feita, é um poder de fato sobre a
coisa cuja configuração não exige o elemento "função social".
Comentário:
A assertiva está em consonância com o Art. 1.198 do CC.: “Considera-se detentor aquele que,
achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e
em cumprimento de ordens ou instruções suas.” Embora não seja o possuidor direto ou
indireto da coisa, o fâmulo é o gestor, servo da posse, que detém a coisa, mas em nome de
outrem, conservando-a para o verdadeiro proprietário. Nesse sentido, pode-se dizer que o
fâmulo é um detentor, podendo exercer a autodefesa do bem sob seu poder, a fim de
conservar e proteger em nome daquele que recebe ordens. locatário. Desse modo, está correta
a alternativa B.
Questão 4
(IBADE – 2017 – PC/AC – DELEGADO DE POLÍCIA):Sobreo instituto da usucapião especial
urbana, é correto afirmar que:
C) necessita do consentimento do cônjuge para ser requerida, mesmo nos casos de separação
de fato.
112
D) o prazo de cinco anos de posse ininterrupta pode começar a ser contado em período
Comentário:
O art. 1.071 do novo CPC alterou a Lei de Registros Públicos para constar o artigo 216-A que
prevê a usucapião extrajudicial. Passa a vigorar acrescida da seguinte redação: “Sem prejuízo
Questão 5
(CESPE/CEBRASPE – 2017 – PC/GO – DELEGADO DE POLÍCIA):Em cada uma das opções
seguintes, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada, a
respeito de posse, propriedade e direitos reais sobre coisa alheia. Assinale a opção que
apresenta assertiva correta conforme a legislação e a doutrina pertinentes.
113
C) Caio realizou a doação de um bem para Fernando. No contrato celebrado entre ambos,
consta cláusula que determina que o bem doado volte para o patrimônio do doador se ele
sobreviver ao donatário. Nessa situação, a cláusula é nula, pois o direito brasileiro não admite
D) Roberto possui direito real de superfície de bem imóvel e deseja hipotecar esse direito pelo
prazo de vigência do direito real. Nesse caso, a estipulação de direito real de garantia é ilegal
porque a hipoteca somente pode ser constituída pelo proprietário do bem.
Comentário:
A assertiva está em consonância com o Art. 1.255 do CC, que prevê: “Aquele que semeia,
fixada judicialmente, se não houver acordo.” Desse modo, está correta a alternativa B.
Questão 6
(FUNCAB – 2016 – PC/PA – DELEGADO DE POLÍCIA):Sobre a posse, é correto afirmar que:
114
E) Aposse injusta pode ser de boa-fé.Errado
Comentário:
Não há coincidência necessária entre a posse justa e a posse de boa-fé. À primeira vista, toda
posse justa deveria ser de boa-fé e toda posse de boa-fé deveria ser justa. Mas a transmissão
dos vícios de aquisição permite que um possuidor de boa-fé tenha posse injusta, se a adquiriu
de quem a obteve pela violência, pela clandestinidade ou pela precariedade, ignorante da
ocorrência. Também é possível que alguém possua de má-fé, embora não tenha posse
Questão 7
A multipropriedade somente poderá ser instituída por ato entre vivos registrado em cartório
de registro de imóveis, com a necessária indicação da duração dos períodos de cada fração de
tempo.
( ) Certo
( ) Errado
Comentário:
Gabarito: ERRADO.
Conforme o art. 1.358-F do CC, a multipropriedade pode ser instituída por ato entre
vivos ou por testamento, registrado no competente cartório de registro de imóveis, devendo
constar daquele ato a duração dos períodos correspondentes a cada fração de tempo. Assim,
pode ser instituída tanto por ato entre vivos (contrato), quanto por ato mortis causa.
115
Questão 8
(CESPE - TJ-PA - Juiz de Direito Substituto - 2019) Paulo mora e detém a posse mansa e
pacífica de imóvel, com animus domini, justo título e boa-fé, há cinco anos e seis meses. O
imóvel havia sido adquirido, de forma onerosa, com base em registro constante em cartório,
mas esse registro foi posteriormente cancelado. Nessa situação hipotética, Paulo cumpre os
A) tabular.
B) especial urbana.
C) extraordinária.
D) especialíssima.
E) especial rural.
Comentário:
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido
adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada
Para Mário Luiz Delgado e Jones Figueirêdo Alves (in Código Civil anotado, São Paulo,
Protege-se, assim, o proprietário aparente, ou seja, aquele que já possuía uma inscrição
dominial que fora cancelada por vício de qualquer natureza. Essa modalidade de aquisição é
também chamada usucapião documental ou tabular. De qualquer forma, lembra Silvio Venosa,
'a hipótese é de usucapião ordinário e, mesmo sob as condições expostas, não se dispensará
o justo título e a boa-fé. Destarte, essa usucapião não pode beneficiar aquele que obteve o
título com vício e o registrou, para poder ocupar o imóvel. Nessa premissa, ao ocupante
Questão 9
B) Adquire a propriedade de área de terra em zona rural não superior a 50 hectares aquele
que a possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, tornando-a produtiva por
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, desde que não seja proprietário de
imóvel rural ou urbano.
C) Aquele que, por dez anos, sem interrupção nem oposição, possuir como seu um imóvel
urbano adquire-lhe a propriedade, desde que tenha boa-fé, mesmo sem justo título.
D) O aumento que o rio acresce às terras de modo vagaroso recebe o nome de aluvião, e
estes acréscimos pertencem aos donos dos terrenos marginais, mediante indenização.
117
E) Adquire-se a propriedade por abandono de álveo quando houver acréscimo de terras às
margens de um rio, provocado pelo desvio de águas por força natural violenta, desde que
sejam indenizados os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso.
Comentário:
parágrafo único do citado artigo, caso o possuidor tenha estabelecido no imóvel a sua
moradia habitual OU nele tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que
tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso,
natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono
deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem
118
Questão 10
(VUNESP - PGE-SP - Procurador do Estado - 2018) Sobre o direito real de laje, é correto
afirmar:
de sua construção a outrem para que ali construa unidade distinta daquela originalmente
construída sobre o solo.
B) a ruína da construção-base não implica extinção do direito real de laje se houver sua
C) as unidades autônomas constituídas em matrícula própria poderão ser alienadas por seu
titular sem necessidade de prévia anuência do proprietário da construção-base.
E) contempla espaço aéreo e subsolo, tomados em projeção vertical, atribuindo ao seu titular
Comentário:
Gabarito: C
Alternativa A - INCORRETA. Conforme o art. 1.510, §1º, CC, o erro está em “autônomas ou
não”. A laje sempre é unidade autônoma em relação a outras lajes e à construção-base. E ela
não contempla as demais áreas.
Art. 1.510-A, § 1º : “O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos
públicos ou privados, tomados em projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma,
119
não contemplando as demais áreas edificadas ou não pertencentes ao proprietário da
construção-base”.
Alternativa B - INCORRETA, pois a ruína da construção base implica extinção do direito real
de laje. Ademais, o prazo não é de 10 anos, e sim de 5 anos:
Art. 1.510-E, CC: “A ruína da construção-base implica extinção do direito real de laje, salvo:
Art. 1.510-A, § 3º: “Os titulares da laje, unidade imobiliária autônoma constituída em matrícula
própria, poderão dela usar, gozar e dispor.
Art. 1.510-D: “Em caso de alienação de qualquer das unidades sobrepostas, terão direito de
preferência, em igualdade de condições com terceiros, os titulares da construção-base e da
laje, nessa ordem, que serão cientificados por escrito para que se manifestem no prazo de
Explicação: Lendo os dois artigos, não podemos fazer confusão entre a possibilidade de
vender a laje (dispor), sem pedir "permissão" (anuência) do dono da construção base com o
seu direito de preferência em comprar a laje. Como a laje tem matrícula propria poderá ser
vendida quando seu dono quiser, mas ele é obrigado a cientificar os titulares da construção-
Art. 1.510-A, §6º, CC: “O titular da laje poderá ceder a superfície de sua construção para a
instituição de um sucessivo direito real de laje, desde que haja autorização expressa dos
120
Alternativa E – INCORRETA (o dispositivo cobrado cai muito em prova!). O direito real de laje
Art. 1.510-A, §4º, CC: “A instituição do direito real de laje não implica a atribuição de
fração ideal de terreno ao titular da laje ou a participação proporcional em áreas já
edificadas”.
121
GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 – A
Questão 3 - B
Questão 4 - A
Questão 5 - B
Questão 6 - E
Questão 7 - ERRADO
Questão 8 - A
Questão 9 - B
Questão 10 - C
122
QUESTÃO DESAFIO
possui uma aérea de 150m² e a família não possui qualquer outro imóvel.
Fundamente.
123
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
Sim, é possível a alegar a Usucapião Especial Urbana, tendo em vista que foram
A usucapião especial urbana ou constitucional ou “pro misero” está previsto no art. 183 da
Constituição Federal, pelo qual: “Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a
para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário
de outro imóvel urbano ou rural”. Ademais, essa redação também está reproduzida no art.
1.240 do CC e no art. 9.º da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade).
Desse modo, são requisitos para a usucapião especial urbana: 1 – imóvel na área urbana de
no máximo 250m²; 2 – posse mansa e pacífica por 5 anos; 3 - utilizado para a moradia da
pessoa ou de sua família; 4 – não ser proprietária de outro imóvel. Ademais, importante
observar que para esse tipo de usucapião não são necessários o justo título e a boa-fé.
Além disso, o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves dispõe que: “Tal espécie não se aplica à
posse de terreno urbano sem construção, pois é requisito a sua utilização para moradia do
possuidor ou de sua família.” (Gonçalves, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 5:
direito das coisas – 14. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 242).
De acordo com STJ, no informativo 671: “O uso misto da área a ser adquirida por meio de
usucapião especial urbana não impede seu reconhecimento judicial, se a porção utilizada
comercialmente é destinada à obtenção do sustento do usucapiente e de sua família. É
124
necessário que a área pleiteada seja utilizada para a moradia do requerente ou de sua família,
mas a lei não proíbe que o autor a utilize também para seu sustento.
Assim, o fato de o autor da ação de usucapião utilizar uma parte do imóvel para uma
atividade comercial que serve ao sustento da família domiciliada no imóvel não inviabiliza a
prescrição aquisitiva buscada.” (STJ. 3ª Turma. REsp 1.777.404-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 05/05/2020).
Ora, conforme pode ser observado, em nenhuma das legislações (arts. 183 da CF; art. 1.240 do
CC; e no art. 9.º da Lei 10.257/2001) exigem o uso exclusivo residencial. O que as legislações
falam é em “utilizando-a para sua moradia ou de sua família”, mas não se proíbe que essa
área seja produtiva, especialmente quando é utilizada para o sustento do próprio requerente.
Portanto, a destinação de parte do imóvel para fins comerciais não impede o reconhecimento
125
LEGISLAÇÃO COMPILADA
POSSE
DIREITOS REAIS
1.314, 1.319, 1.320, 1.331, 1.347, 1.348, 1.359, 1.360. 1.365, 1.369, 1.371, 1.372,
1.375, 1.378, 1.379, 1.393, 1.414, 1.424, 1.428, 1.448, 1.452, 1474.
Súmula 237-STF
Súmula 263-STF
Súmula 340-STF
Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos
por usucapião.
Súmula 391-STF
31
Vide questão 05
126
Súmula 415-STF
Servidão de trânsito, não titulada, mas tornada permanente pela natureza das obras, considera-se aparente,
conferindo direito à proteção possessória.
Súmula 11-STJ
A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta a competência do
foro da situação do imóvel.
Súmula 193-STJ
Súmula 260-STJ
A convenção de condomínio aprovada, ainda que sem registro, é eficaz para regular as relações entre os
condôminos.
Súmula 308-STJ
A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de
compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.
Súmula 619-STJ
A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou
indenização por acessões e benfeitorias.
Súmula 637-STJ
O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação possessória entre
particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o domínio.
Súmula 638-STJ
É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de instituição financeira pelos danos decorrentes
de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito de contrato de penhor civil.
127
JURISPRUDÊNCIA
Posse
STJ, REsp 1582176/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/09/2016,
DJe 30/09/2016
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. DIREITO DAS COISAS. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POSSESSÓRIA. ESBULHO.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. REGULARIDADE
DA REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. HARMONIA ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ.
PRESENÇA DOS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DA LIMINAR. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
INADMISSIBILIDADE. POSSIBILIDADE DO PEDIDO E LEGITIMIDADE AD CAUSAM. CONDIÇÕES DA AÇÃO. TEORIA
DA ASSERÇÃO. POSSE DE BEM PÚBLICO DE USO COMUM. DESPROVIMENTO. 1. Ação ajuizada em 20/10/2010.
Recurso especial interposto em 09/05/2011. Conclusão ao gabinete em 25/08/2016. 2. Trata-se de afirmar se i)
teria ocorrido negativa de prestação jurisdicional; ii) a representação processual das recorridas estaria regular e se
competiria ao recorrente a prova da irregularidade; iii) particulares podem requerer a proteção possessória de
bens públicos de uso comum; e iv) estariam presentes os requisitos necessários ao deferimento da liminar de
reintegração de posse. 3. Ausentes os vícios do art. 535 do CPC, rejeitam-se os embargos de declaração. 4. O
reexame de fatos e provas em recurso especial é inadmissível. 5. As condições da ação devem ser averiguadas
segundo a teoria da asserção, sendo definidas da narrativa formulada inicial e não da análise do mérito da
demanda. 6. O Código Civil de 2002 adotou o conceito de posse de Ihering, segundo o qual a posse e a
detenção distinguem-se em razão da proteção jurídica conferida à primeira e expressamente excluída para a
segunda. 7. Diferentemente do que ocorre com a situação de fato existente sobre bens públicos dominicais
- sobre os quais o exercício de determinados poderes ocorre a pretexto de mera detenção -, é possível a
posse de particulares sobre bens públicos de uso comum, a qual, inclusive, é exercida coletivamente, como
composse. 8. Estando presentes a possibilidade de configuração de posse sobre bens públicos de uso
comum e a possibilidade de as autoras serem titulares desse direito, deve ser reconhecido o preenchimento
das condições da ação. 9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido.
Comentário:
O STJ possui inúmeros julgados afirmando que a ocupação irregular de bem público
dominical não caracteriza posse, mas mera detenção, hipótese que afasta o reconhecimento
de direitos em favor do particular com base em alegada boa-fé.
128
Assim, por exemplo, se o particular invade um bem público que não é utilizado para
nada (ex: um terreno baldio), a jurisprudência entende que ele não é considerado possuidor,
mas mero detentor. Logo, não poderá invocar proteção possessória contra o Poder Público.
Esse entendimento, porém, não se aplica para o caso de um particular que está
defendendo seu direito de usar um bem público de uso comum do povo. O que se entende
do julgado é que particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício
do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como servidão de
passagem.
STJ, REsp 1442440/AC, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/12/2017,
DJe 15/02/2018
129
ação quando uma parte do imóvel já foi afetada ao domínio público, mediante apossamento administrativo,
sendo a outra restante ocupada de forma precária por inúmeras famílias de baixa renda com a intervenção
do Município e do Estado, que implantaram toda a infraestrutura básica no local, tornando-se a área bairros
urbanos. 6. Não há se falar em violação ao princípio da congruência, devendo ser aplicada à espécie a teoria
da substanciação, segundo a qual apenas os fatos vinculam o julgador, que poderá atribuir-lhes a
qualificação jurídica que entender adequada ao acolhimento ou à rejeição do pedido, como fulcro nos
brocardos iura novit curia e mihi factum dabo tibi ius e no art. 462 do CPC/1973. 7. Caso em que, ao tempo
do julgamento do primeiro grau, a lide foi analisada à luz do disposto no art. 1.228, §§ 4º e 5º, do CC/2002, que
trata da desapropriação judicial, chamada também por alguns doutrinadores de desapropriação por posse-
trabalho ou de desapropriação judicial indireta, cujo instituto autoriza o magistrado, sem intervenção prévia de
outros Poderes, a declarar a perda do imóvel reivindicado pelo particular em favor de considerável número de
pessoas que, na posse ininterrupta de extensa área, por mais de cinco anos, houverem realizado obras e serviços
de interesse social e econômico relevante. 8. Os conceitos abertos existentes no art. 1.228 do CC/2002 propiciam
ao magistrado uma margem considerável de discricionariedade ao analisar os requisitos para a aplicação do
referido instituto, de modo que a inversão do julgado, no ponto, demandaria o reexame do conjunto fático-
probatório, providência vedada no âmbito do recurso especial, em face do óbice da Súmula 7 do STJ. 9. Não se
olvida a existência de julgados desta Corte de Justiça no sentido de que "inexiste desapossamento por parte do
ente público ao realizar obras de infraestrutura em imóvel cuja invasão já se consolidara, pois a simples invasão
de propriedade urbana por terceiros, mesmo sem ser repelida pelo Poder Público, não constitui desapropriação
indireta" (AgRg no REsp 1.367.002/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em
20/06/2013, DJe 28/06/2013). 10. Situação em que tal orientação não se aplica ao caso estudado, pois, diante dos
fatos delineados no acórdão recorrido, não há dúvida de que os danos causados à proprietária do imóvel
decorreram de atos omissivos e comissivos da administração pública, tendo em conta que deixou de fornecer a
força policial necessária para o cumprimento do mandado reintegratório, ainda na fase inicial da invasão,
permanecendo omissa quanto ao surgimento de novas habitações irregulares, além de ter realizado obras de
infraestrutura no local, com o objetivo de garantir a função social da propriedade, circunstâncias que
ocasionaram o desenvolvimento urbano da área e a desapropriação direta de parte do bem.. 11.O Município de
Rio Branco, juntamente com o Estado do Acre, constituem sujeitos passivos legítimos da indenização prevista no
art. 1.228, § 5º, do CC/2002, visto que os possuidores, por serem hipossuficientes, não podem arcar com o
ressarcimento dos prejuízos sofridos pelo proprietário do imóvel (ex vi do Enunciado 308 Conselho da Justiça
Federal). 12. Diante da procedência parcial da ação indenizatória contra a Fazenda Pública municipal, tem-se
aplicável, além do recurso voluntário, o reexame necessário, razão pela qual não se vislumbra a alegada ofensa
aos arts. 475 e 515 do CPC/1973, em face da reinclusão do Estado do Acre no polo passivo da demanda, por
constituir a legitimidade ad causam matéria de ordem pública, passível de reconhecimento de ofício, diante do
efeito translativo. 13. A solução da controvérsia exige que sejam levados em consideração os princípios da
proporcionalidade, da razoabilidade e da segurança jurídica, em face das situações jurídicas já consolidadas no
tempo, de modo a não piorar uma situação em relação à qual se busca a pacificação social, visto que "é fato
público e notório que a área sob julgamento, atualmente, corresponde a pelo menos quatro bairros dessa cidade
(Rio Branco), onde vivem milhares de famílias, as quais concedem função social às terras em litígio, exercendo
seu direito fundamental social à moradia". 14. Os critérios para a apuração do valor da justa indenização serão
analisados na fase de liquidação de sentença, não tendo sido examinados pelo juízo da primeira instância, de
130
modo que não podem ser apreciados pelo Tribunal de origem, tampouco por esta Corte Superior, sob pena de
supressão de instância. 15. Recursos especiais parcialmente conhecidos e, nessa extensão, desprovidos.
Comentário:
STJ, EREsp 1134446/MT, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, CORTE ESPECIAL, julgado em
21/03/2018, DJe 04/04/2018
131
Comentário:
STJ, REsp 1836846/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/09/2020,
DJe 28/09/2020
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. APLICAÇÃO DO CPC/15. AÇÃO DE RESOLUÇÃO DE CONTRATO
C/C REINTEGRAÇÃO DE POSSE COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.
VIOLAÇÃO DO ART. 489 DO CPC/15. NÃO OCORRÊNCIA. INDENIZAÇÃO POR BENFEITORIAS EM AÇÃO
POSSESSÓRIA. NECESSIDADE DE FORMULAÇÃO DE PEDIDO AINDA QUE APÓS A CONTESTAÇÃO. PROVA DA
EXISTÊNCIA E DISCRIMINAÇÃO DAS BENFEITORIAS. NECESSIDADE. 1. Ação de resolução de contrato c/c
reintegração de posse com pedido de antecipação de tutela c/c indenização por danos materiais, ajuizada em
09/08/2016. Autos conclusos para esta Relatora em 12/09/2019. Julgamento sob a égide do CPC/15. 2. Ausentes
os vícios do art. 1.022 do CPC/15, rejeitam-se os embargos de declaração. 3. Devidamente analisadas e discutidas
as questões de mérito, e fundamentado corretamente o acórdão recorrido, de modo a esgotar a prestação
jurisdicional, não há que se falar em violação do art. 489 do CPC/15. 4. Nas ações possessórias e considerando
a natureza dúplice dessas, não é possível afastar a ocorrência de julgamento extra petita (fora do pedido)
da indenização por benfeitorias, em benefício do réu revel, ante a não apresentação de contestação ou da
ausência de formulação de pedido indenizatório em momento posterior. 5. O deferimento do pleito de
indenização por benfeitorias pressupõe a necessidade de comprovação da existência delas e da
discriminação de forma correta. A fase de liquidação de sentença não é momento processual adequado para
o reconhecimento da existência de benfeitorias a serem indenizadas, tendo o objetivo - apenas - de
especificar o quantum debeatur (apuração do valor da indenização). 6. Recurso especial conhecido e
parcialmente provido.
Comentário:
O STJ entendeu que o juiz estava equivocado no caso do julgado, uma vez que não é
possível o reconhecimento, de ofício, do direito à indenização por benfeitorias úteis ou
Propriedade
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STJ, REsp 1458741/GO, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
14/04/2015, DJe 17/04/2015
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. TERCEIRO ADQUIRENTE. BOA-FÉ. EFICÁCIA SUBJETIVA
DA COISA JULGADA. BEM OU DIREITO LITIGIOSO. MARCO INICIAL. LITISPENDÊNCIA. PROPOSITURA DA AÇÃO.
CITAÇÃO VÁLIDA. 1. Na origem, cuida-se de embargos de terceiro opostos por adquirente de bem imóvel
que busca a proteção possessória tendo em vista ordem de reintegração emanada do cumprimento de
sentença oriunda de ação da qual não fez parte. 2. Segundo a regra geral disposta no artigo 472 do Código
de Processo Civil, a coisa julgada só opera efeito entre as partes integrantes da lide. 3. O artigo 42, § 3º, do
Código de Processo Civil, por exceção, dispõe que, em se tratando de aquisição de coisa ou direito litigioso,
a sentença proferida entre as partes originárias estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário. 4.
Segundo a doutrina especializada, o bem ou direito se torna litigioso com a litispendência, ou seja, com a
lide pendente. 5. A lide é considerada pendente, para o autor, com a propositura da ação e, para o réu, com
a citação válida. 6. Para o adquirente, o momento em que o bem ou direito é considerado litigioso varia de
acordo com a posição ocupada pela parte na relação jurídica processual que sucederia. 7. Se o bem é
adquirido por terceiro de boa-fé antes de configurada a litigiosidade, não há falar em extensão dos efeitos
da coisa julgada ao adquirente. 8. Recurso especial conhecido e não provido.
Comentário:
Caso terceiro de boa-fé tenha adquirido imóvel, objeto de litígio, os efeitos da sentença de
reintegração de posse não surtirão efeitos contra esse terceiro de boa-fé. Isso significa que, a
decisão reintegratória de posse não alcançará aquele que comprou o imóvel antes do início
do litígio.
STJ, REsp 1616038/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/09/2016,
DJe 07/10/2016
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO,
CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. DIREITO ÀS ÁGUAS. ART. 1.293 DO CC/02. DIREITO DE
VIZINHANÇA. PROPRIEDADE. FUNÇÃO SOCIAL. RESTRIÇÕES INTERNAS. PASSAGEM DE ÁGUAS.
OBRIGATORIEDADE. REQUISITOS. ÁGUA. BEM DE DOMÍNIO PÚBLICO. USO MÚLTIPLO. ART. 1º, I E IV, DA LEI
9.433/05. PRÉVIA INDENIZAÇÃO. DESPROVIMENTO. 1. Ação ajuizada em 12/11/2009. Recurso especial interposto
em 10/02/2015. Conclusão ao gabinete em 25/08/2016. 2. Trata-se de afirmar se i) ocorreu negativa de prestação
jurisdicional; e ii) o proprietário de um imóvel tem o direito de transportar a água proveniente de outro imóvel
através do prédio vizinho, e qual a natureza desse eventual direito. 3. Ausentes os vícios do art. 535 do CPC,
rejeitam-se os embargos de declaração. 4. O direito de propriedade, de acordo com o constitucionalismo
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moderno, deve atender a sua função social, não consistindo mais, como anteriormente, em um direito absoluto e
ilimitado, já que a relação de domínio, agora, possui uma configuração complexa - em tensão com outros
direitos igualmente consagrados no ordenamento jurídico. 5. Os direitos de vizinhança são manifestação da
função social da propriedade, caracterizando limitações legais ao próprio exercício desse direito, com viés
notadamente recíproco e comunitário. O que caracteriza um determinado direito como de vizinhança é a
sua imprescindibilidade ao exercício do direito de propriedade em sua função social. 6. O direito à água é
um direito de vizinhança, um direito ao aproveitamento de uma riqueza natural pelos proprietários de
imóveis que sejam ou não abastecidos pelo citado recurso hídrico, haja vista que, de acordo com a previsão
do art. 1º, I e IV, da Lei 9.433/97, a água é um bem de domínio público, e sua gestão deve sempre
proporcionar o uso múltiplo das águas. 7. Se não existem outros meios de passagem de água, o vizinho
tem o direito de construir aqueduto no terreno alheio independentemente do consentimento de seu
vizinho; trata-se de imposição legal que atende ao interesse social e na qual só se especifica uma
indenização para evitar que seja sacrificada a propriedade individual. 8. Recurso especial desprovido.
Comentário:
STJ, REsp 1582177/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/10/2016,
DJe 09/11/2016
EMENTA: CIVIL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. VEÍCULO. VIOLAÇÃO AO ART. 535, I E II DO CPC/73. NÃO
OCORRÊNCIA. FALTA DE TRANSFERÊNCIA NO ÓRGÃO ADMINISTRATIVO CORRESPONDENTE. LIMITAÇÃO DO
EXERCÍCIO DE PROPRIEDADE PLENA. SUCESSÃO DE PROPRIETÁRIOS. INTERESSE DE AGIR. EXISTÊNCIA. 1. Ação de
usucapião extraordinária ajuizada em 20.10.2011. Recurso especial atribuído ao gabinete em 25.08.2016. 2. Cinge-
se a controvérsia a definir se a recorrente possui interesse de agir para propor ação de usucapião extraordinária,
com a finalidade de reconhecimento do domínio de veículo e regularização do registro de propriedade junto ao
órgão de trânsito correspondente. 3. Inviável o reconhecimento de violação ao art. 535 do CPC quando não
verificada no acórdão recorrido omissão, contradição ou obscuridade apontadas pela recorrente. 4. A ação de
usucapião extraordinária, fundamentada no art. 1.261 do Código Civil, pressupõe posse da coisa móvel por
cinco anos independentemente de justo título ou boa fé, e tem por objeto a declaração de aquisição de
propriedade. 5. Apesar da regra geral de que o domínio de bens móveis se transfere pela tradição, em se
tratando de veículo, a falta de transferência da propriedade no órgão de trânsito correspondente limita o
exercício da propriedade plena, uma vez que torna impossível ao proprietário que não consta do registro tomar
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qualquer ato inerente ao seu direito de propriedade, como o de alienar ou de gravar o bem. 6. Possui interesse
de agir para propor ação de usucapião extraordinária aquele que tem a propriedade de veículo registrado
em nome de terceiros nos Departamentos Estaduais de Trânsito competentes. 7. Recurso especial conhecido
e provido.
Comentário:
extraordinária (art. 1.261 do CC) já que, com a sentença favorável, poderá regularizar o bem
no órgão de trânsito.
Condomínio Comum
STJ, REsp 1207129/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
16/06/2015, DJe 26/06/2015
EMENTA: DIREITO CIVIL. CONDOMÍNIO. ART. 504 DO CÓDIGO CIVIL. DIREITO DE PREFERÊNCIA DOS DEMAIS
CONDÔMINOS NA VENDA DE COISA INDIVISÍVEL. IMÓVEL EM ESTADO DE INDIVISÃO, MAS PASSÍVEL DE
DIVISÃO. MANUTENÇÃO DO ENTENDIMENTO EXARADO PELA SEGUNDA SEÇÃO TOMADO À LUZ DO ART. 1.139
DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. 1. O condômino que desejar alhear a fração ideal de bem em estado de
indivisão, seja ele divisível ou indivisível, deverá dar preferência ao comunheiro da sua aquisição.
Interpretação do art. 504 do CC/2002 em consonância com o precedente da Segunda Seção do STJ (REsp n.
489.860/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi), exarado ainda sob a égide do CC/1916. . 2. De fato, a comparação do
art. 504 do CC/2002 com o antigo art. 1.139 do CC/1916 permite esclarecer que a única alteração substancial foi
a relativa ao prazo decadencial, que - de seis meses - passou a ser de cento e oitenta dias e, como sabido, a
contagem em meses e em dias ocorre de forma diversa; sendo que o STJ, como Corte responsável pela
uniformização da interpretação da lei federal, uma vez definida tese sobre determinada matéria, deve prestigiá-la,
mantendo sua coesão. 3. Ademais, ao conceder o direito de preferência aos demais condôminos, pretendeu
o legislador conciliar os objetivos particulares do vendedor com o intuito da comunidade de
coproprietários. Certamente, a função social recomenda ser mais cômodo manter a propriedade entre os
titulares originários, evitando desentendimento com a entrada de um estranho no grupo. 4. Deve-se levar
em conta, ainda, o sistema jurídico como um todo, notadamente o parágrafo único do art. 1.314 do
CC/2002, que veda ao condômino, sem prévia aquiescência dos outros, dar posse, uso ou gozo da
propriedade a estranhos (que são um minus em relação à transferência de propriedade), somado ao art. 504
do mesmo diploma, que proíbe que o condômino em coisa indivisível venda a sua parte a estranhos, se
outro consorte a quiser, tanto por tanto. 5. Não se pode olvidar que, muitas vezes, na prática, mostra-se
extremamente difícil a prova da indivisibilidade. Precedente: REsp 9.934/SP, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo
Teixeira, Quarta Turma. 6. Na hipótese, como o próprio acórdão reconhece que o imóvel sub judice se encontra
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em estado de indivisão, apesar de ser ele divisível, há de se reconhecer o direito de preferência do condômino
que pretenda adquirir o quinhão do comunheiro, uma vez preenchidos os demais requisitos legais. 7. Recurso
especial provido.
Comentário:
Cabe ressaltar que o STJ já decidiu que este direito de preferência somente pode ser
utilizado caso a venda da fração ideal do bem seja feita a terceiro estranho ao condomínio.
Caso haja um condomínio de 4 pessoas, cada uma com 25% da propriedade, e um dos
condôminos venda sua parte a outro, sem notificar os demais, esta venda é válida.
STJ, REsp 1628478/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em
03/11/2020, DJe 17/11/2020
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. CIVIL. VENDA DE QUINHÃO DE COISA COMUM INDIVISA. DIREITO DE
PREFERÊNCIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. INOBSERVÂNCIA AO DIREITO DE
PREEMPÇÃO DOS DEMAIS CONDÔMINOS. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. CIÊNCIA INEQUÍVOCA QUE SE
DEU APENAS COM O REGISTRO DA ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA. DISSONÂNCIA ENTRE O PREÇO
DO NEGÓCIO E AQUELE ESTAMPADO NO TÍTULO TRANSLATIVO REGISTRADO EM CARTÓRIO. PRÁTICA DE
PREÇO SIMULADO. ABUSO DO DIREITO. OFENSA À BOA-FÉ OBJETIVA. PREVALÊNCIA DO DOCUMENTO
LAVRADO PELO TABELIÃO E LEVADO A REGISTRO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. O
propósito recursal consiste em definir, além da negativa de prestação jurisdicional: i) a forma pela qual deve se
dar a notificação que viabilize o direito de preferência do condômino na aquisição de parte ideal de coisa
comum indivisa; e ii) o parâmetro do valor do negócio a ser considerado para tal fim. 2. Verifica-se que o
Tribunal de origem analisou todas as questões relevantes para a solução da lide, de forma fundamentada, não
havendo falar em negativa de prestação jurisdicional. 3. Nos termos do art. 504 do CC/2002, é garantido ao
condômino o direito de preferência na aquisição de fração ideal de coisa comum indivisa, em iguais
condições ofertadas ao terceiro estranho à relação condominial, desde que o exerça no prazo de 180 (cento
e oitenta) dias a contar da ciência. Tal conhecimento deve ser possibilitado pelo coproprietário alienante,
em decorrência de imposição legal, através de prévia notificação, judicial, extrajudicial ou outro meio que
confira aos demais comunheiros ciência inequívoca da venda e dos termos do negócio, consoante o
previsto nos arts. 107 do CC/2002 e 27, in fine, da Lei n. 8.245/1991, este último aplicado por analogia. 4.
Aperfeiçoada a venda (no caso imobiliária) ao terceiro, com a lavratura de escritura pública e o respectivo
registro no Cartório de Registro de Imóveis, sem a devida observância ao direito de preempção, surge para
os coproprietários preteridos o direito de ajuizamento de ação anulatória ou de direito de preferência c/c
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adjudicação compulsória, desde que o faça dentro do prazo decadencial de 180 (cento e oitenta) dias,
contados do registro da escritura, cuja publicidade implica a presunção de ciência acerca da venda e das
condições do negócio estampadas no título. 5. Praticado preço simulado pelas partes, fazendo constar da
escritura pública preço a menor, que não reflita o valor real do negócio, deve prevalecer aquele exarado na
escritura devidamente registrada para fins do direito de preferência, sendo que o registro do título (que tem
como atributo dar publicidade da alienação imobiliária a toda a sociedade, conferindo efeito erga omnes) é o ato
substitutivo da notificação, que deveria ter sido anteriormente remetida ao coproprietário, mas não foi, não
podendo o condômino alienante valer-se da própria torpeza, a qual denota o abuso do direito infringente da
boa-fé objetiva. 6. Recurso especial conhecido e desprovido.
Comentário:
Este julgado de 2020 completou o julgado acima, uma vez que estabeleceu o prazo e
desde quando deve ser contado para que os condomínios preteridos possam exigir seu direito
de preferência. O prazo é de 180 (cento e oitenta) dias a partir do registro da escritura, uma
STJ, REsp 1483930/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
23/11/2016, DJe 01/02/2017
Comentário:
Comentário:
do imóvel.
STJ, REsp 1473484/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
21/06/2018, DJe 23/08/2018
138
condomínio, que gozam de prevalência sobre interesses individuais de um condômino, nos termos da
ressalva inserta na Lei n. 8.009/1990 (art. 3º, IV). 6. Recurso especial não provido.
Comentário:
danos a terceiros.
STJ, REsp 1699022/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
28/05/2019, DJe 01/07/2019
EMENTA: DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONDOMÍNIO. REGULAMENTO INTERNO. PROIBIÇÃO DE USO DE
ÁREA COMUM, DESTINADA AO LAZER, POR CONDÔMINO INADIMPLENTE E SEUS FAMILIARES.
IMPOSSIBILIDADE. SANÇÕES PECUNIÁRIAS TAXATIVAMENTE PREVISTAS NO CÓDIGO CIVIL. 1. No condomínio
edilício, o titular da unidade autônoma, cotitular das partes comuns, exerce todos os poderes inerentes ao
domínio, mas, em contrapartida, sujeita-se à regulamentação do exercício destes mesmos direitos, em razão das
necessidades impostas pela convivência em coletividade 2. O Código Civil, ao estabelecer um regramento mínimo
sobre o condomínio edilício (arts. 1.332 e 1.334), determinou que a convenção deverá definir, entre outras
cláusulas, "as sanções a que estão sujeitos os condôminos, ou possuidores" (art. 1.334, IV, do CC), tendo como
contraponto, para tal mister, os deveres destes. 3. Segundo a norma, é direito do condômino "usar das partes
comuns, conforme a sua destinação, e contanto que não exclua a utilização dos demais compossuidores" (CC, art.
1.335, II). Portanto, além do direito a usufruir e gozar de sua unidade autônoma, têm os condôminos o direito de
usar e gozar das partes comuns, já que a propriedade da unidade imobiliária abrange a correspondente fração
ideal de todas as partes de uso comum. 4. É ilícita a prática de privar o condômino inadimplente do uso de
áreas comuns do edifício, incorrendo em abuso de direito a disposição condominial que proíbe a utilização
como medida coercitiva para obrigar o adimplemento das taxas condominiais. Em verdade, o próprio
Código Civil estabeleceu meios legais específicos e rígidos para se alcançar tal desiderato, sem qualquer
forma de constrangimento à dignidade do condômino e dos demais moradores. 5. O legislador, quando quis
restringir ou condicionar o direito do condômino, em razão da ausência de pagamento, o fez expressamente (CC,
art. 1.335). Ademais, por questão de hermenêutica jurídica, as normas que restringem direitos devem ser
interpretadas restritivamente, não comportando exegese ampliativa. 6. O Código Civil estabeleceu meios legais
específicos e rígidos para se alcançar tal desiderato, sem qualquer forma de constrangimento à dignidade
do condômino inadimplente: a) ficará automaticamente sujeito aos juros moratórios convencionados ou,
não sendo previstos, ao de um por cento ao mês e multa de até dois por cento sobre o débito (§ 1°, art.
1.336); b) o direito de participação e voto nas decisões referentes aos interesses condominiais poderá ser
restringido (art. 1.335, III); c) é possível incidir a sanção do art. 1.337, caput, do CC, sendo obrigado a pagar
multa em até o quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme a
139
gravidade da falta e a sua reiteração; d) poderá haver a perda do imóvel, por ser exceção expressa à
impenhorabilidade do bem de família (Lei n° 8.009/90, art. 3º, IV). 7. Recurso especial provido.
Comentário:
que destinadas apenas a lazer. Assim, é ilícita a disposição condominial que proíbe a utilização
de áreas comuns do edifício por condômino inadimplente e seus familiares como medida
STJ, REsp 1816039/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
04/02/2020, DJe 06/02/2020
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. CONDOMÍNIO. ART. 1.022 DO CPC/2015. VIOLAÇÃO. INEXISTÊNCIA. CONVENÇÃO.
OUTORGA. CONSTRUTORA. TAXA CONDOMINIAL. REDUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Recurso especial interposto
contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia a discutir se a convenção de condomínio pode estabelecer, apenas para
unidades imobiliárias ainda não comercializadas, o correspondente a 30% (trinta por cento) do valor integral da
taxa condominial devida. 3. A convenção outorgada pela construtora/incorporadora não pode estabelecer
benefício de caráter subjetivo a seu favor com a finalidade de reduzir ou isentar do pagamento da taxa
condominial. 4. A taxa condominial é fixada de acordo com a previsão orçamentária de receitas e de despesas,
bem como para constituir o fundo de reserva com a finalidade de cobrir eventuais gastos de emergência. 5. A
redução ou isenção da cota condominial a favor de um ou vários condôminos implica oneração dos demais,
com evidente violação da regra da proporcionalidade prevista no inciso I do art. 1.334 do CC/2002 6.
Recurso especial provido.
Comentário:
Esse julgado determinou que é nula cláusula que estabeleça benefício de caráter
demais condôminos, o que viola a proporcionalidade prevista do CC, em seu artigo 1334, I.
STJ, REsp 1736593/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/02/2020,
DJe 13/02/2020
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EMENTA: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO DE DANO
MORAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA DO CONDOMÍNIO.
PRETENSÃO EXERCIDA PARA DEFENDER INTERESSE PRÓPRIO. NATUREZA JURÍDICA DO CONDOMÍNIO. ENTE
DESPERSONALIZADO. VIOLAÇÃO DA HONRA OBJETIVA. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. JULGAMENTO:
CPC/15. 1. Ação de indenização por danos materiais e compensação de dano moral ajuizada em 07/12/2011, da
qual foi extraído o presente recurso especial, interposto em 09/09/2016 e atribuído ao gabinete em 09/10/2017.
2. O propósito recursal é decidir sobre a negativa de prestação jurisdicional; a legitimidade ativa do condomínio
para pleitear, em favor próprio, a compensação de dano moral; a caracterização do dano moral do condomínio; o
valor da condenação a título compensatório do dano moral. 3. Devidamente analisadas e discutidas as questões
de mérito, e suficientemente fundamentado o acórdão recorrido, de modo a esgotar a prestação jurisdicional,
não há falar em violação dos arts. 489, II, e 1.022 do CPC/15. 4. O condomínio tem legitimidade ativa para
pleitear, em favor próprio, indenização por dano moral, não podendo fazê-lo em nome dos condôminos. 5.
No âmbito das Turmas que compõem a Segunda Seção do STJ, prevalece a corrente de que os condomínios são
entes despersonalizados, pois não são titulares das unidades autônomas, tampouco das partes comuns, além de
não haver, entre os condôminos, a affectio societatis, tendo em vista a ausência de intenção dos condôminos de
estabelecerem, entre si, uma relação jurídica, sendo o vínculo entre eles decorrente do direito exercido sobre a
coisa e que é necessário à administração da propriedade comum. 6. Caracterizado o condomínio como uma
massa patrimonial, não há como reconhecer que seja ele próprio dotado de honra objetiva, senão admitir
que qualquer ofensa ao conceito que possui perante a comunidade representa, em verdade, uma ofensa
individualmente dirigida a cada um dos condôminos, pois quem goza de reputação são os condôminos e
não o condomínio, ainda que o ato lesivo seja a este endereçado. 7. Diferentemente do que ocorre com as
pessoas jurídicas, qualquer repercussão econômica negativa será suportada, ao fim e ao cabo, pelos
próprios condôminos, a quem incumbe contribuir para todas as despesas condominiais, e/ou pelos
respectivos proprietários, no caso de eventual desvalorização dos imóveis no mercado imobiliário. 8.
Hipótese em que se afasta o dano moral do condomínio, ressaltando que, a par da possibilidade de cada
interessado ajuizar ação para a reparação dos danos que eventualmente tenha suportado, o ordenamento
jurídico autoriza o condomínio a impor sanções administrativas para o condômino nocivo e/ou antissocial,
defendendo a doutrina, inclusive, a possibilidade de interdição temporária ou até definitiva do uso da
unidade imobiliária. 9. Recurso especial conhecido e provido.
Comentário:
O STJ caracterizou o condomínio como uma massa patrimonial, não havendo como
reconhecer que seja dotado de honra objetiva e não podendo sofrer dano moral.
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Ademais, entendeu o STJ que o condomínio tem legitimidade ativa para pleitear, em
favor próprio, indenização por dano moral, não podendo fazê-lo em nome dos condôminos.
Cuidado para não confundir! O condomínio tem a legitimidade ativa para propor uma ação
pleiteando eventual danos extrapatrimoniais, contudo, o STJ entendeu que o mérito de tal
ação será improcedente, pois o condomínio não possui honra objetiva, conforme já explicado
acima.
STJ, REsp 1683419/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/02/2020,
DJe 26/02/2020
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sentido de se utilizar a técnica processual não como um entrave, mas como um instrumento para a
realização do direito material. Afinal, se o débito condominial possui caráter ambulatório, não faz sentido
impedir que, no âmbito processual, o proprietário possa figurar no polo passivo do cumprimento de
sentença. 10. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, não provido, com majoração de
honorários advocatícios.
Comentário:
Vamos entender o julgado juntos! Algumas coisas são importantes de serem lembradas
aqui: (i) as obrigações das despesas condominiais são propter rem, ou seja, trata-se das
obrigações que acompanham a coisa em todas as mudanças subjetivas (de donos); (ii) as
despesas condominiais são solidárias, podendo, assim, o credor cobrá-las somente de um dos
proprietários presentes na matrícula do imóvel; (iii) sendo uma responsabilidade solidária, não
há litisconsórcio necessário passivo.
citada na ação de conhecimento, é a atual única dona do imóvel, ela pode ser incluída no
polo passivo do cumprimento de sentença. Não se pode esquecer que, em última análise, o
Condomínio Edilício
STJ, REsp 1366175/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/06/2013,
DJe 25/06/2013
EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. COTAS CONDOMINIAIS. PRAZO PRESCRICIONAL
APLICÁVEL. INCIDÊNCIA DO 206, § 5º, I, DO CC/02. 1. Na vigência do CC/16, o crédito condominial prescrevia em
vinte anos, nos termos do seu art. 177, por se tratar de ação pessoal sem prazo prescricional específico previsto.
2. Com a entrada em vigor do novo Código Civil, houve a ampliação das hipóteses de prazos específicos para
prescrição, reduzindo por consequência a incidência do prazo prescricional ordinário, que foi também reduzido
para 10 anos. 3. A pretensão de cobrança de cotas condominiais, por serem líquidas desde sua definição em
assembleia geral de condôminos, bem como lastreadas em documentos físicos, adequa-se com perfeição à
previsão do art. 206, § 5º, I, do CC/02, razão pela qual aplica-se o prazo prescricional quinquenal. 4. Recurso
especial provido.
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Comentário:
Foi definido nesse julgado que, nos termos do artigo 206, §5º, I do CC/02, o prazo
prescricional da pretensão de cobrança de cotas condominiais é de 5 (cinco) anos.
STJ, REsp 1185061/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
16/09/2014, DJe 30/09/2014
Comentário:
O condômino que tenha sido demandado pelo condomínio em ação de cobrança deve
participar do rateio das despesas advindas do litígio contra si proposto.
STJ, REsp 1345331/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
08/04/2015, DJe 20/04/2015
EMENTA: PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC.
CONDOMÍNIO. DESPESAS COMUNS. AÇÃO DE COBRANÇA. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA NÃO LEVADO
A REGISTRO. LEGITIMIDADE PASSIVA. PROMITENTE VENDEDOR OU PROMISSÁRIO COMPRADOR.
PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. IMISSÃO NA POSSE. CIÊNCIA INEQUÍVOCA. 1. Para efeitos do art. 543-C
do CPC, firmam-se as seguintes teses: a) O que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações
condominiais não é o registro do compromisso de compra e venda, mas a relação jurídica material com o
imóvel, representada pela imissão na posse pelo promissário comprador e pela ciência inequívoca do
condomínio acerca da transação. b) Havendo compromisso de compra e venda não levado a registro, a
responsabilidade pelas despesas de condomínio pode recair tanto sobre o promitente vendedor quanto
sobre o promissário comprador, dependendo das circunstâncias de cada caso concreto. c) Se ficar
comprovado: (i) que o promissário comprador se imitira na posse; e (ii) o condomínio teve ciência
inequívoca da transação, afasta-se a legitimidade passiva do promitente vendedor para responder por
despesas condominiais relativas a período em que a posse foi exercida pelo promissário comprador. 2. No
caso concreto, recurso especial não provido.
Comentário:
144
Em sede de recurso repetitivo, o STJ definiu as seguintes teses:
(i) O que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações condominiais não é
o registro do compromisso de compra e venda, mas a relação jurídica material com o imóvel,
representada pela imissão na posse pelo promissário comprador e pela ciência inequívoca do
(iii) Se ficar comprovado: (a) que o promissário comprador se imitira na posse; e (b) o
condomínio teve ciência inequívoca da transação, afasta-se a legitimidade passiva do
promitente vendedor para responder por despesas condominiais relativas a período em que a
posse foi exercida pelo promissário comprador.
STJ, REsp 1280871/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Rel. p/ Acórdão Ministro
MARCO BUZZI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/03/2015, DJe 22/05/2015
Comentário:
Julgado em repercussão geral que, posteriormente, teve tese também do STF (2020), e
Lei nº 13.465/2017, ou de anterior lei municipal que discipline a questão, a partir da qual se
torna possível a cotização dos proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em
loteamentos de acesso controlado, que:
145
i) já possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das entidades equiparadas a
administradoras de imóveis; ou
ii) sendo novos adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação esteja registrado
no competente Registro de Imóveis.
STF. Plenário. RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020 (Repercussão
Geral – Tema 492)
STJ, REsp 1247020/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
15/10/2015, DJe 11/11/2015
Comentário:
3/4 (três quartos) dos condôminos, ser obrigado a pagar multa em até o quíntuplo do valor
atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme a gravidade da falta e a sua
reiteração.
146
STJ, REsp 1783076/DF, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
14/05/2019, DJe 24/05/2019
Comentário:
Usucapião
STJ, REsp 620.610/DF, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 03/09/2013, DJe
19/02/2014
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. HIPOTECA JUDICIAL DE GLEBA DE TERRAS. POSTERIOR PROCEDÊNCIA DE AÇÃO
DE USUCAPIÃO DE PARTE DAS TERRAS HIPOTECADAS. PARTICIPAÇÃO DO CREDOR HIPOTECÁRIO NA AÇÃO DE
USUCAPIÃO COMO ASSISTENTE DO RÉU. AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA. PREVALÊNCIA DA
USUCAPIÃO. EFEITOS EX TUNC DA SENTENÇA DECLARATÓRIA. CANCELAMENTO PARCIAL DA HIPOTECA
JUDICIAL. RECURSO DESPROVIDO. 1 - Assegurada ao primitivo credor hipotecário participação na posterior
ação de usucapião, não se pode ter como ilegal a decisão que reconhece ser a usucapião modo originário
de aquisição da propriedade e, portanto, prevalente sobre os direitos reais de garantia que anteriormente
gravavam a coisa. Precedentes. 2 - Recurso especial desprovido.
Comentário:
147
A decisão que reconhece a aquisição da propriedade de bem imóvel por usucapião
prevalece sobre a hipoteca judicial que anteriormente tenha gravado o referido bem.
STJ, AgRg no REsp 1010665/MS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA,
julgado em 16/10/2014, DJe 21/10/2014
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. FUNDAMENTAÇÃO, APENAS,
NA ALÍNEA "C" DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL. USUCAPIÃO. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. INTERRUPÇÃO DO
RESPECTIVO PRAZO NÃO VERIFICADA. AÇÃO POSSESSÓRIA JULGADA IMPROCEDENTE. JURISPRUDÊNCIA.
ENUNCIADO N. 83 DA SÚMULA DO STJ. 1. Impõe-se o não conhecimento do presente recurso especial,
assentado apenas no art. 105, III, "c", da CF/1988, porquanto a jurisprudência atual desta Corte,
diversamente da tese invocada pelos agravantes, converge no sentido de que a citação efetuada em ação
possessória julgada improcedente não interrompe o prazo para a prescrição aquisitiva (usucapião).
Incidência do enunciado n. 83 do STJ. 2. Agravo regimental desprovido.
Comentário:
STJ, REsp 1106809/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro MARCO BUZZI,
QUARTA TURMA, julgado em 03/03/2015, DJe 27/04/2015
148
anterior proprietário, consubstanciando o exercício da posse ad usucapionem pelo interregno temporal exigido
por lei. A presunção de legitimidade do registro, associada à boa-fé do adquirente, culmina por excepcionar a
intransigência da regra geral de que o negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, tampouco
convalesce pelo decurso do tempo. Na hipótese, é irrefutável a boa-fé dos adquirentes dos lotes 9 e 10, pois,
além dessa ser presumida por expressa disposição legal (art. 490, parágrafo único, do Código Civil de 1916),
verifica-se que foram enganados por falsários mediante a utilização de título aparentemente justo capaz de iludir
qualquer pessoa naquela situação. 2. No ordenamento jurídico brasileiro, existem duas formas de prescrição: a
extintiva e a aquisitiva. 2.1 A prescrição extintiva, prescrição propriamente dita, conduz à perda do direito de ação
por seu titular negligente, ao fim de certo lapso de tempo. A prescrição aquisitiva, por sua vez, faz com que
um determinado direito seja adquirido pela inércia e pelo lapso temporal, sendo também chamada de
usucapião. Ambas têm em comum os elementos tempo e inércia do titular, mas enquanto na primeira eles
dão lugar à extinção do direito, na segunda produzem a sua aquisição. A legislação que instituiu o § 5º do
artigo 219 do Código de Processo Civil não estabeleceu qualquer distinção em relação à espécie de
prescrição. Contudo, tal diferenciação é imprescindível sob pena de ocasionar insegurança jurídica, além de
violação aos princípios do contraditório e ampla defesa, pois, no processo de usucapião, o direito de defesa
assegurado ao confinante é impostergável, eis que lhe propicia oportunidade de questionar os limites
oferecidos ao imóvel usucapiendo. O dispositivo constante do art. 219, § 5º está intimamente ligado às causas
extintivas, conforme expressamente dispõe o art. 220 do CPC: "o disposto no artigo anterior aplica-se a todos os
prazos extintivos previstos na lei", sendo que a simples leitura dos arts. 219 e 220 do CPC demonstra a
impropriedade de se pretender projetar os ditames do § 5º do art. 219 para as hipóteses de usucapião.
Usucapião e prescrição constituem institutos díspares, sendo inadequada a aplicação da disciplina de um deles
frente ao outro, vez que a expressão prescrição aquisitiva tem vínculos mais íntimos a fundamentos
fáticos/históricos do que a contornos meramente temporais. 2.2 Na prescrição aquisitiva, ou usucapião, é
indispensável que o postulante alegue seu direito, quer por via de ação própria, quer por exceção de
domínio, nos termos da súmula 237/STF, "o usucapião pode ser arguido em defesa", não sendo dado ao
magistrado declará-lo de ofício mediante a invocação do art. 219, § 5º, do CPC. O momento para a arguição
da prescrição aquisitiva, sob pena de preclusão, é na contestação, uma vez que ante o princípio da
igualdade das partes no processo, consoante o art. 128 do CPC, deve o juiz decidir a lide nos limites em
que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige a
iniciativa da parte. 2.3 No caso, apenas no tocante ao lote 10 houve pedido para a declaração do direito à
usucapião, o que denota a impossibilidade da declaração de ofício, pelo Tribunal de origem, a respeito da
prescrição aquisitiva do lote 9. No que concerne ao lote 10, em razão de existir a alegação, na contestação, do
direito à usucapião, imprescindível a esta Corte Superior promover a verificação dos requisitos legais utilizados
pelo Tribunal de origem para a constatação da prescrição aquisitiva, especificamente o prazo legal (art. 551 do
CC/1916) a ser aplicado na hipótese, uma vez que a presente ação foi proposta em 31/10/1995, o prazo legal
utilizado pela Corte a quo foi o de 10 anos e a data considerada como termo inicial da posse dos réus
13/12/1983. Tribunal a quo que não observa ter o legislador civilista de 1916, no artigo 551, previsto prazos de
prescrição aquisitiva distintos para as hipóteses de estarem as partes ausentes (15 anos) ou presentes (10 anos).
Necessidade de retorno dos autos ao Tribunal de origem para a verificação da adequada ocorrência de
prescrição aquisitiva relativa ao lote 10. 3. Recurso especial parcialmente provido para declarar incabível a
aplicação da prescrição aquisitiva de ofício, com a consequente procedência da ação anulatória no tocante ao
149
lote 9, e, relativamente ao lote 10, determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem para que analise
detidamente a efetiva ocorrência da prescrição aquisitiva alegada como matéria de defesa.
Comentário:
O STJ decidiu que o artigo do CPC (na época do CPC/73) quanto a possibilidade da
decretação da prescrição de ofício pelo juiz, somente se aplica à prescrição extintiva e, não, à
aquisitiva.
Assim, para que o juiz possa declarar que o usucapião ocorreu, a parte deve pedir.
Mesmo que o julgado seja referente ao CPC antigo, quanto a isso nada mudou no CPC/15,
continuando sendo vedado ao juiz declarar a prescrição aquisitiva de ofício.
STF, RE 422349, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 29/04/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-153 DIVULG 04-08-2015 PUBLIC 05-08-2015
Comentário:
Em sede de repercussão geral, o STF decidiu que, uma vez preenchidos os requisitos
STJ, REsp 1517822/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
21/02/2017, DJe 24/02/2017
150
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA. ART. 12 DA
LEI Nº 10.257/2001. BENEFÍCIO DA JUSTIÇA E DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. PRESUNÇÃO RELATIVA DE
HIPOSSUFICIÊNCIA. 1. O art. 12, §2º, da Lei nº 10.257/2001 - que assegura aos autores da ação de usucapião
especial urbana os benefícios da justiça e da assistência judiciária, incluindo-se aí as despesas perante o cartório
de registro imobiliário - deve ser interpretado em conjunto e harmonia com as disposições da Lei nº 1.060/1950
e, a partir de 18 de março de 2016, do Código de Processo Civil de 2015. 2. A Lei nº 10.257/2001 concede ao
autor da ação de usucapião especial urbana espécie de presunção relativa de hipossuficiência que, por isso,
é ilidida a partir da comprovação inequívoca de que o autor não pode ser considerado "necessitado" nos
termos do § 2º da Lei nº 1.060/1950. 3. No caso, o próprio autor reconheceu, em sua petição inicial, não
preencher os requisitos da Lei nº 1.060/1950 para fins de obtenção dos benefícios da justiça gratuita, o que
afasta qualquer possibilidade de concessão destes, sendo irrelevante para tanto que tenham sido requeridos com
esteio no § 2º do art. 12 do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001). 4. Recurso especial não provido.
Comentário:
O Estatuto da Cidade, ao tratar sobre a ação de usucapião especial urbana, prevê que
"o autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o
cartório de registro de imóveis." Isso significa que o autor da ação de usucapião especial
urbana gozará sempre da gratuidade da justiça? Há uma presunção absoluta de que este
autor não tem recursos suficientes para pagar as custas? NÃO. O art. 12, § 2º da Lei nº
10.257/2001 (Estatuto da Cidade) estabelece uma presunção relativa de que o autor da ação
de usucapião especial urbana é hipossuficiente. Isso significa que essa presunção pode ser
ilidida (refutada) a partir da comprovação inequívoca de que o autor não é considerado
"necessitado".
STJ, REsp 1680357/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/10/2017,
DJe 16/10/2017
151
um só patrimônio afetado na decretação da falência, correspondente à massa falida objetiva. Assim, o curso
da prescrição aquisitiva da propriedade de bem que compõe a massa falida é interrompido com a
decretação da falência, pois o possuidor (seja ele o falido ou terceiros) perde a posse pela incursão do
Estado na sua esfera jurídica. 6. A suspensão do curso da prescrição a que alude o art. 47, do DL 7.661/45
cinge-se às obrigações de responsabilidade do falido para com seus credores, e não interfere na prescrição
aquisitiva da propriedade por usucapião, a qual é interrompida na hora em que decretada a falência devido à
formação da massa falida objetiva. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
Comentário:
de um ato de “penhoramento abstrato”. Isso quer dizer que, com a decretação da falência, é
como se todos os bens do falido ficassem automaticamente vinculados ao pagamento das
dívidas.
jurídica.
STJ, REsp 1432579/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
24/10/2017, DJe 23/11/2017
152
especial, denominada de litisconsórcio sui generis. 5. Em verdade, na espécie, tem-se uma cumulação de ações:
a usucapião em face do proprietário e a delimitação contra os vizinhos, e, por conseguinte, a falta de citação de
algum confinante acabará afetando a pretensão delimitatória, sem contaminar, no entanto, a de usucapião, cuja
sentença subsistirá, malgrado o defeito atinente à primeira. 6. A sentença que declarar a propriedade do imóvel
usucapiendo não trará prejuízo ao confinante (e ao seu cônjuge) não citado, não havendo efetivo reflexo sobre a
área de seus terrenos, haja vista que a ausência de participação no feito acarretará, com relação a eles, a
ineficácia da sentença no que concerne à demarcação da área usucapienda. 7. Apesar da relevância da
participação dos confinantes (e respectivos cônjuges) na ação de usucapião, inclusive com ampla recomendação
de o juízo determinar eventual emenda à inicial para a efetiva interveniência - com citação pessoal - destes no
feito, não se pode olvidar que a sua ausência, por si só, apenas incorrerá em nulidade relativa, caso se constate o
efetivo prejuízo. 8. Na hipótese, apesar da citação dos titulares do domínio e dos confinantes, com a declaração
da usucapião pelo magistrado de piso, entendeu o Tribunal a quo por anular, indevidamdente, o feito ab initio,
em razão da falta de citação do cônjuge de um dos confrontantes. 9. Recurso especial provido.
Comentário:
Ao propor uma ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos confinantes,
ou seja, dos vizinhos que fazem fronteira com o imóvel que ele almeja. E o que acontece caso
não haja a citação dos confinantes? Haverá nulidade absoluta do processo? Não. Apesar de
amplamente recomendável, a falta de citação dos confinantes não acarretará, por si, ou seja,
STJ, REsp 1361226/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
05/06/2018, DJe 09/08/2018
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. PRESCRIÇÃO
AQUISITIVA. PRAZO. IMPLEMENTAÇÃO. CURSO DA DEMANDA. POSSIBILIDADE. FATO SUPERVENIENTE. ART. 462
DO CPC/1973. CONTESTAÇÃO. INTERRUPÇÃO DA POSSE. INEXISTÊNCIA. ASSISTENTE SIMPLES. ART. 50 DO
CPC/1973. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de
1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia a definir se é possível o
reconhecimento da usucapião de bem imóvel na hipótese em que o requisito temporal (prazo para usucapir)
previsto em lei é implementado no curso da demanda. 3. A decisão deve refletir o estado de fato e de direito no
momento de julgar a demanda, desde que guarde pertinência com a causa de pedir e com o pedido.
Precedentes. 4. O prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso do processo, em
conformidade com o disposto no art. 462 do CPC/1973 (correspondente ao art. 493 do CPC/2015). 5. A
contestação não tem a capacidade de exprimir a resistência do demandado à posse exercida pelo autor, mas
153
apenas a sua discordância com a aquisição do imóvel pela usucapião. 6. A interrupção do prazo da prescrição
aquisitiva somente poderia ocorrer na hipótese em que o proprietário do imóvel usucapiendo conseguisse reaver
a posse para si. Precedentes. 7. Na hipótese, havendo o transcurso do lapso vintenário na data da prolação
da sentença e sendo reconhecido pelo tribunal de origem que estão presentes todos os demais requisitos
da usucapião, deve ser julgado procedente o pedido autoral. 8. O assistente simples recebe o processo no
estado em que se encontra, não podendo requerer a produção de provas e a reabertura da fase instrutória nesta
via recursal (art. 50 do CPC/1973). Precedente. 9. Recurso especial provido.
Comentário:
no curso do processo judicial, conforme a previsão do art. 493, do CPC/2015, ainda que o réu
tenha apresentado contestação. Em março de 2017, João ajuizou ação pedindo o
reconhecimento de usucapião especial urbana, nos termos do art. 1.240 do CC (que exige
posse ininterrupta e sem oposição por 5 anos). Em abril de 2017, o proprietário apresentou
contestação pedindo a improcedência da demanda. As testemunhas e as provas documentais
atestaram que João reside no imóvel desde setembro de 2012, ou seja, quando o autor deu
entrada na ação, ainda não havia mais de 5 anos de posse. Em novembro de 2017, os autos
foram conclusos ao juiz para sentença. O magistrado deverá julgar o pedido procedente
considerando que o prazo exigido por lei para a usucapião se completou no curso do
processo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
05/06/2018
STJ, REsp 1641038/CE, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/11/2018,
DJe 12/11/2018
154
para as pessoas estrangeiras - sejam naturais, jurídicas ou equiparadas - devem ser observadas na usucapião
desses imóveis. 6. Recurso especial provido para afastar a impossibilidade jurídica do pedido.
Comentário:
É juridicamente possível a usucapião de imóveis rurais por pessoa jurídica brasileira com
naturais, jurídicas ou equiparadas. A Lei nº 5.709/71 impõe uma série de condições para que
estrangeiros adquiram terras rurais no Brasil. Uma pessoa jurídica nacional que tenha seu
capital social controlado por estrangeiros também está sujeita às mesmas restrições, por força
do art. 1º, § 1º, da Lei nº 5.709/71. Isso não significa que ela não possa adquirir imóveis rurais
no Brasil. Podem sim, inclusive mediante usucapião. No entanto, precisam cumprir as regras
da Lei nº 5.709/71. STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.038-CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
06/11/2018
STJ, REsp 1726292/CE, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
12/02/2019, DJe 15/02/2019
155
demonstre a posição de confinante da recorrente, inviável a inversão do julgado, por força da Súmula nº 7/STJ. 8.
Recurso especial conhecido em parte e não provido.
Comentário:
STJ, REsp 1637370/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em
10/09/2019, DJe 13/09/2019
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA DE BEM MÓVEL. PRESSUPOSTOS DE
DIREITO MATERIAL. BOA-FÉ IRRELEVANTE. VEÍCULO FURTADO. OBJETO HÁBIL. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE.
POSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. Recurso no qual se discute a possibilidade de aquisição da
propriedade de bem móvel furtado por terceiro que o adquiriu de boa-fé e exerceu a posse ininterrupta e
incontestadamente por mais de 20 (vinte) anos. 2. A usucapião é instituto destinado a dar segurança e
estabilidade à propriedade, bem como consolidar as aquisições e facilitar a prova do domínio, de modo que,
entre os requisitos materiais, não há nenhuma menção à conduta ou inércia do proprietário. Doutrina. 3. Nos
termos do art. 1.261 do CC/2002, aquele que exercer a posse de bem móvel, interrupta e
incontestadamente, por 5 (cinco) anos, adquire a propriedade originária do bem, fazendo sanar todo e
qualquer vício anterior. 4. A apreensão física da coisa por meio de clandestinidade (furto) ou violência
(roubo) somente induz a posse após cessado o vício (art. 1.208 do CC/2002), de maneira que o exercício
ostensivo do bem é suficiente para caracterizar a posse mesmo que o objeto tenha sido proveniente de
crime. 5. As peculiaridades do caso concreto, em que houve exercício da posse ostensiva de bem adquirido por
meio de financiamento bancário com emissão de registro perante o órgão público competente, ao longo de mais
de 20 (vinte) anos, são suficientes para assegurar a aquisição do direito originário de propriedade, sendo
irrelevante se perquirir se houve a inércia do anterior proprietário ou se o usucapiente conhecia a ação criminosa
anterior à sua posse. 6. Recurso especial desprovido.
Comentário:
Bem furtado pode ser objeto de usucapião, desde que tenha cessado a clandestinidade
ou a violência. Nos termos do art. 1.261 do cc/2002, aquele que exercer a posse de bem
1.208 do cc/2002), de maneira que o exercício ostensivo do bem é suficiente para caracterizar
a posse mesmo que o objeto tenha sido proveniente de crime.
156
STJ, REsp 1528626/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO,
QUARTA TURMA, julgado em 17/12/2019, DJe 16/03/2020
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE USUCAPIÃO DE BEM MÓVEL. AUTOMÓVEL OBJETO DE
CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL FIRMADO POR TERCEIRO. DÍVIDA PRESCRITA (CC/2002, ART. 206, §
5º, I). USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO: POSSE MANSA, PACÍFICA E COM ANIMUS DOMINI POR MAIS DE CINCO
ANOS. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA (CC/2002, ART. 1.261). RECURSO NÃO PROVIDO. 1. A existência de contrato de
arrendamento mercantil do bem móvel impede a aquisição de sua propriedade pela usucapião, em vista da
precariedade da posse exercida pelo devedor arrendatário. Contudo, verificada a prescrição da dívida, inexiste
óbice legal para prescrição aquisitiva. 2. A pretensão de cobrança de dívida líquida constante de instrumento
público ou particular, conforme o art. 206, § 5º, I, do Código Civil, prescreve em cinco anos. 3. No caso, apesar
do contrato de arrendamento que tornava possível o manejo da ação para a cobrança das prestações em
atraso e ensejava, concomitantemente, a reintegração de posse, permaneceu inerte o credor arrendante.
Após o transcurso do prazo de cinco anos, no qual se verificou a prescrição do direito do credor arrendante,
a autora da ação de usucapião permaneceu com a posse do veículo, que adquirira do devedor arrendatário,
por mais de cinco anos, fato que ensejou a ocorrência da prescrição aquisitiva. 4. Nos termos do art. 1.261 do
Código Civil: "Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião independentemente
de título ou boa-fé." 5. A usucapião, nesses casos, independe de justo título ou de boa-fé. Logo, os vícios que
inicialmente maculavam a posse, após o decurso de cinco anos, qualificados pela inação do titular do direito de
propriedade, aqui a entidade arrendante e recorrente, desapareceram. A lei torna irrelevantes aqueles vícios
inicialmente ocorrentes e passa a proteger a posse e legitimar a propositura da ação de usucapião do bem
móvel. 6. Recurso especial não provido.
Comentário:
STJ, REsp 1824133/RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
11/02/2020, DJe 14/02/2020
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CPC/2015. AÇÃO DE USUCAPIÃO. INTERESSE
PROCESSUAL. EXIGÊNCIA DE PRÉVIO PEDIDO NA VIA EXTRAJUDICIAL. DESCABIMENTO. EXEGESE DO ART. 216-A
DA LEI DE REGISTROS PÚBLICOS. RESSALVA EXPRESSA DA VIA JURISDICIONAL. 1. Controvérsia acerca da
exigência de prévio pedido de usucapião na via extrajudicial para se evidenciar interesse processual no
ajuizamento de ação com o mesmo objeto. 2. Nos termos do art. 216-A da Lei 6.015/1973: "Sem prejuízo da via
jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado
diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo
[...]". 3. Existência de interesse jurídico no ajuizamento direto de ação de usucapião, independentemente de
prévio pedido na via extrajudicial. 4. Exegese do art. 216-A da Lei 6.015/1973, em âmbito doutrinário. 5.
157
Determinação de retorno dos autos ao juízo de origem para que prossiga a ação de usucapião. 6. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO.
Comentário:
STJ, REsp 1777404/TO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/05/2020,
DJe 11/05/2020
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. CIVIL. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA. REQUISITOS PREENCHIDOS. UTILIZAÇÃO
MISTA, RESIDENCIAL E COMERCIAL. OBJEÇÃO NÃO EXISTENTE NA LEGISLAÇÃO DE REGÊNCIA. ANÁLISE
PROBATÓRIA. DESNECESSIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Ação ajuizada em 20/01/2003, recurso especial
interposto em 28/06/2018, atribuído a este gabinete em 27/11/2018. 2. O propósito recursal consiste em
determinar se, a área de imóvel objeto de usucapião extraordinária, nos termos do art. 1.240 do CC/2002 e art.
183 da CF/1988, deve ser usada somente para fins residenciais ou, ao contrário, se é possível usucapir imóvel
que, apenas em parte, é destinado para fins comerciais. 3. A usucapião especial urbana apresenta como
requisitos a posse ininterrupta e pacífica, exercida como dono, o decurso do prazo de cinco anos, a dimensão da
área (250 m² para a modalidade individual e área superior a esta, na forma coletiva), a moradia e o fato de não
ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 4. O art. 1.240 do CC/2002 não direciona para a necessidade
de destinação exclusiva residencial do bem a ser usucapido. Assim, o exercício simultâneo de pequena
atividade comercial pela família domiciliada no imóvel objeto do pleito não inviabiliza a prescrição
aquisitiva buscada. 5. Recurso especial provido.
Comentário:
O STJ decidiu que uma vez preenchidos os requisitos para a usucapião especial urbana,
ela pode ocorrer. São eles: (i) posse ininterrupta e pacífica como dono; (ii) durante 5 anos; (iii)
até 250m2 (individual), maior se coletiva; (iv) função de moradia; (v) não ter outro imóvel
urbano ou rural.
O fato do imóvel ter utilização mista, isto é, residencial e comercial, não impede o
reconhecimento da totalidade da área como aquisição originária, se a porção utilizada
158
STJ, REsp 1693732/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/05/2020,
DJe 11/05/2020
EMENTA: CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA. PRESCRIÇÃO EXTINTIVA. ESCOAMENTO DO
PRAZO PARA DEDUÇÃO DE PRETENSÃO. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. FORMA DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE.
DISTINÇÕES. CAUSA IMPEDITIVA DE FLUÊNCIA DA PRESCRIÇÃO. APLICABILIDADE ÀS PRESCRIÇÕES EXTINTIVAS E
AQUISITIVAS. CONSTÂNCIA DA SOCIEDADE CONJUGAL E FLUÊNCIA DO PRAZO PRESCRICIONAL. CAUSA
IMPEDITIVA DA PRESCRIÇÃO QUE CESSA COM A SEPARAÇÃO JUDICIAL, COM O DIVÓRCIO E TAMBÉM COM A
SEPARAÇÃO DE FATO POR LONGO PERÍODO. TRATAMENTO ISONÔMICO PARA SITUAÇÕES DEMASIADAMENTE
SEMELHANTES. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA CONFIGURADA. APURAÇÃO DOS DEMAIS REQUISITOS
CONFIGURADORES DA USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA. NECESSIDADE DE REJULGAMENTO DA APELAÇÃO. 1-
Ação distribuída em 31/07/2014. Recurso especial interposto em 31/03/2017 e atribuído à Relatora em
15/09/2017. 2- O propósito recursal consiste em definir se a separação de fato do casal é suficiente para cessar a
causa impeditiva da fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC/2002, e, assim, para deflagrar o
cômputo do prazo para a prescrição aquisitiva do imóvel previsto no art. 1.240 do CC/2002. 3- Duas espécies
distintas de prescrição são reguladas pelo CC/2002: a extintiva, relacionada ao escoamento do lapso temporal
para que se deduza judicialmente pretensão decorrente de violação de direito (arts. 189 a 206) e a aquisitiva,
relacionada a forma de aquisição da propriedade pela usucapião (arts. 1.238 a 1.244). Precedente. 4- A causa
impeditiva de fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC/2002, conquanto topologicamente
inserida no capítulo da prescrição extintiva, também se aplica às prescrições aquisitivas, na forma do art. 1.244 do
CC/2002. 5- A constância da sociedade conjugal, exigida para a incidência da causa impeditiva da prescrição
extintiva ou aquisitiva (art. 197, I, do CC/2002), cessará não apenas nas hipóteses de divórcio ou de
separação judicial, mas também na hipótese de separação de fato por longo período, tendo em vista que
igualmente não subsistem, nessa hipótese, as razões de ordem moral que justificam a existência da referida
norma. Precedente. 6- Sendo incontroverso o transcurso do lapso temporal quinquenal entre a separação
de fato e o ajuizamento da ação de usucapião, mas não tendo havido a apuração, pelas instâncias
ordinárias, acerca da presença dos demais pressupostos configuradores da usucapião, impõe-se a devolução
do processo para rejulgamento da apelação, afastada a discussão acerca da prescrição aquisitiva. 7- Recurso
especial conhecido e provido, para determinar que seja rejulgada a apelação e examinada a eventual presença
dos demais requisitos da usucapião especial urbana.
Comentário:
Nos termos do artigo 197, I do CC, a prescrição não corre entre cônjuges na constância
do casamento, ou seja, até a separação judicial ou o divórcio. Assim, um cônjuge não pode
adquirir por usucapião um bem imóvel de outro durante o casamento. Ocorre que, para o STJ,
a separação de fato por um longo período de um casal é suficiente para cessar a causa
impeditiva da fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC. Logo, estando o
159
casal separado de fato, é possível iniciar a contagem do prazo para a prescrição aquisitiva do
imóvel (usucapião).
USUFRUTO
STJ, REsp 950.663/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
10/04/2012, DJe 23/04/2012
EMENTA: PROCESSO CIVIL. DIREITO CIVIL. EXECUÇÃO. LEI 8.009/90. PENHORA DE BEM DE FAMÍLIA. DEVEDOR
NÃO RESIDENTE EM VIRTUDE DE USUFRUTO VITALÍCIO DO IMÓVEL EM BENEFÍCIO DE SUA GENITORA. DIREITO
À MORADIA COMO DIREITO FUNDAMENTAL. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ESTATUTO DO IDOSO.
IMPENHORABILIDADE DO IMÓVEL. 1. A Lei 8.009/1990 institui a impenhorabilidade do bem de família como
um dos instrumentos de tutela do direito constitucional fundamental à moradia e, portanto, indispensável à
composição de um mínimo existencial para vida digna, sendo certo que o princípio da dignidade da pessoa
humana constitui-se em um dos baluartes da República Federativa do Brasil (art. 1º da CF/1988), razão pela
qual deve nortear a exegese das normas jurídicas, mormente aquelas relacionadas a direito fundamental. 2.
A Carta Política, no capítulo VII, intitulado "Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso",
preconizou especial proteção ao idoso, incumbindo desse mister a sociedade, o Estado e a própria família, o que
foi regulamentado pela Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), que consagra ao idoso a condição de sujeito de
todos os direitos fundamentais, conferindo-lhe expectativa de moradia digna no seio da família natural, e
situando o idoso, por conseguinte, como parte integrante dessa família. 3. O caso sob análise encarta a
peculiaridade de a genitora do proprietário residir no imóvel, na condição de usufrutuária vitalícia, e aquele,
por tal razão, habita com sua família imóvel alugado. Forçoso concluir, então, que a Constituição Federal alçou
o direito à moradia à condição de desdobramento da própria dignidade humana, razão pela qual, quer por
considerar que a genitora do recorrido é membro dessa entidade familiar, quer por vislumbrar que o amparo à
mãe idosa é razão mais do que suficiente para justificar o fato de que o nu-proprietário habita imóvel alugado
com sua família direta, ressoa estreme de dúvidas que o seu único bem imóvel faz jus à proteção conferida pela
Lei 8.009/1990. 4. Ademais, no caso ora sob análise, o Tribunal de origem, com ampla cognição fático-probatória,
entendeu pela impenhorabilidade do bem litigioso, consignando a inexistência de propriedade sobre outros
imóveis. Infirmar tal decisão implicaria o revolvimento de fatos e provas, o que é defeso a esta Corte ante o teor
da Súmula 7 do STJ. 5. Recurso especial não provido.
STJ; AgRg-REsp 1.052.223; Proc. 2008/0092004-0; MG; Sexta Turma; Rel. Min. Rogério
Schietti Cruz; DJE 11/12/2014
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
PENHORA. BEM DE FAMÍLIA. ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7 DO STJ. AUSÊNCIA
DE IMPUGNAÇÃO DE FUNDAMENTO SUFICIENTE. SÚMULA Nº 283 DO STF. 1. Hipótese em que a constrição
judicial recaiu sobre a nua propriedade de bem imóvel do executado, sobre o qual fora constituída cláusula
de usufruto vitalício em favor de sua genitora. 2. Em situação semelhante, esta corte superior estendeu a
160
proteção legal conferida pela Lei n. 8.009/90 ao único imóvel no qual residia a genitora do proprietário, na
condição de usufrutuária vitalícia (resp 950.663/sc). 3. Impossibilidade de se constatar que se trata, no caso, do
único imóvel de propriedade do executado, sem o reexame do contexto fático-probatório dos autos. Incidência
da Súmula nº 7 do STJ. 4. Em observância ao princípio da dialeticidade recursal, é dever do recorrente impugnar
todos os fundamentos do acórdão recorrido, suficientes para mantê-lo, sob pena de incidir o óbice da Súmula nº
283 do STF. 5. Agravo regimental não provido.
STJ; AREsp 1.102.632; Proc. 2017/0122151-8; SP; Terceira Turma; Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino; DJE 04/09/2017
Direito de Vizinhança
STJ, REsp 1531094/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
18/10/2016, DJe 24/10/2016
Comentário:
A proibição prevista no art. 1.301, caput, do Código Civil – de não construir janelas a
menos de 1,5m do terreno vizinho – possui caráter objetivo e traduz verdadeira presunção de
devassamento ("invasão"). Logo, esta vedação não tem por objetivo limitar apenas a visão do
imóvel sobre seu vizinho. Ela também protege o vizinho de outras espécies de invasão, como
161
a auditiva, olfativa e, principalmente, física (ex: busca impedir que objetos caiam ou sejam
janela a menos de 1,5m do terreno vizinho), não importando a aferição de aspectos subjetivos
relativos à eventual atenuação do devassamento visual.
STJ, REsp 1582178/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
11/09/2018, DJe 14/09/2018
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DIREITO DAS SUCESSÕES. DIREITO REAL DE
HABITAÇÃO. ART. 1.831 DO CÓDIGO CIVIL. UNIÃO ESTÁVEL RECONHECIDA. COMPANHEIRO SOBREVIVENTE.
PATRIMÔNIO. INEXISTÊNCIA DE OUTROS BENS. IRRELEVÂNCIA. 1. Recurso especial interposto contra acórdão
publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cinge-
se a controvérsia a definir se o reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o artigo 1.831 do
Código Civil, pressupõe a inexistência de outros bens no patrimônio do cônjuge/companheiro sobrevivente. 3. Os
dispositivos legais relacionados com a matéria não impõem como requisito para o reconhecimento do
direito real de habitação a inexistência de outros bens, seja de que natureza for, no patrimônio próprio do
cônjuge/companheiro sobrevivente. 4. O objetivo da lei é permitir que o cônjuge/companheiro sobrevivente
permaneça no mesmo imóvel familiar que residia ao tempo da abertura da sucessão como forma, não
apenas de concretizar o direito constitucional à moradia, mas também por razões de ordem humanitária e
social, já que não se pode negar a existência de vínculo afetivo e psicológico estabelecido pelos
cônjuges/companheiros com o imóvel em que, no transcurso de sua convivência, constituíram não somente
residência, mas um lar. 5. Recurso especial não provido.
Comentário:
outros bens, ele terá direito real de habitação. Isso se justifica porque o objetivo da lei é
permitir que o cônjuge/companheiro sobrevivente permaneça no mesmo imóvel familiar que
residia ao tempo da morte como forma, não apenas de concretizar o direito constitucional à
moradia, mas também por razões de ordem humanitária e social, já que não se pode negar a
162
existência de vínculo afetivo e psicológico estabelecido pelos cônjuges/companheiros com o
imóvel em que, no transcurso de sua convivência, constituíram não somente residência, mas
um lar.
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA
STJ, REsp 1740911/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/08/2019, DJe 22/08/2019
Comentário:
Esse julgado é relevante, pois julgado em sede de Recurso Repetitivo (tema 1002).
Por sua vez, nos contratos celebrados a partir da Lei nº 13.786/2018 (28/12/2018), os
juros de mora incidem a partir da citação válida, nos termos dos arts. 397 e 405 do Código
Civil.
STJ, REsp 1478814/DF, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado
em 06/12/2016, DJe 15/12/2016
163
eficácia de uma alienação fiduciária em garantia instituída pela construtora após o pagamento integral pelo
adquirente da unidade habitacional. 2. Existência de afetação ao rito dos recursos especiais repetitivos da
controvérsia acerca do "alcance da hipoteca constituída pela construtora em benefício do agente financeiro,
como garantia do financiamento do empreendimento, precisamente se o gravame prevalece em relação aos
adquirentes das unidades habitacionais" (Tema 573, DJe 04/09/2012). 3. Inviabilidade de se analisar a
aplicação da Súmula 308/STJ aos casos de alienação fiduciária, enquanto pendente de julgamento o recurso
especial repetitivo. 4. Particularidade do caso concreto, em que o gravame foi instituído após a quitação do
imóvel e sem a ciência do adquirente. 5. Violação ao princípio da função social do contrato, aplicando-se a
eficácia transubjetiva desse princípio. Doutrina sobre o tema. 6. Contrariedade ao princípio da boa-fé
objetiva, especificamente quanto aos deveres de lealdade e cooperação, tendo em vista a recusa do banco
em substituir a garantia, após tomar ciência de que a unidade habitacional se encontrava quitada. 7.
Ineficácia do gravame em relação ao adquirente, autor da demanda. 8. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
Comentário:
Outros temas
STJ, REsp 1256825/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em
05/03/2015, DJe 16/03/2015
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. TIRANTES. LOCALIZAÇÃO
NO SUBSOLO. IMPOSSIBILIDADE DE REMOÇÃO. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO OU DEMONSTRAÇÃO DE UTILIDADE.
1. O art. 1.229 do Código Civil, ao regular o direito de propriedade, ampara-se especificamente no critério
de utilidade da coisa por seu titular. 2. A titularidade do proprietário sobre o imóvel não é plena, estando
satisfeita e completa apenas em relação ao espaço físico sobre o qual emprega efetivo exercício sobre a
coisa. 3. Não tem o proprietário do imóvel o legítimo interesse em impedir a utilização do subsolo onde
estão localizados os tirantes que se pretende remover, pois sobre referido espaço não exerce ou demonstra
quaisquer utilidades. 4. Recurso especial provido para se restabelecer a sentença de primeiro grau.
Comentário:
No caso em que o subsolo de imóvel tenha sido invadido por tirantes (pinos de
concreto) provenientes de obra de sustentação do imóvel vizinho, o proprietário do imóvel
invadido não terá legítimo interesse para requerer, com base no art. 1.229 do CC, a remoção
164
dos tirantes nem indenização por perdas e danos, desde que fique constatado que a invasão
não acarretou prejuízos comprovados a ele, tampouco impossibilitou o perfeito uso, gozo e
fruição do seu imóvel.
STJ, REsp 1408861/RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
20/10/2015, DJe 06/11/2015
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. EXTINÇÃO DA HIPOTECA. PRESCRIÇÃO DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL.
INTERPRETAÇÃO DO ART. 1499, I, DO CC/2002. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE CANCELAMENTO. 1 - Pedido de
cancelamento da hipoteca em face da declaração judicial de extinção da obrigação principal pelo
implemento da prescrição. 2 - Prescrita a pretensão derivada da obrigação principal, não persiste a garantia
hipotecária, em face da sua natureza acessória. 3 - Inteligência do art. 1499, inciso I, do CC/2002. 4 - Doutrina
e jurisprudência acerca do tema. 5 - RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
Comentário:
derivada da obrigação principal, não persiste a garantia hipotecária (art. 1.499 do CC).
STJ, REsp 1501549/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/05/2018,
DJe 11/05/2018
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE ALIENAÇÃO JUDICIAL DE BEM IMÓVEL, EXTINÇÃO DE CONDOMÍNIO E
ARBITRAMENTO DE ALUGUEIS ENTRE EX-CÔNJUGES. DO PEDIDO DE ALIENAÇÃO JUDICIAL DE BEM OBJETO DE
COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. VIABILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. DIREITO REAL DO PROMITENTE
COMPRADOR. DIREITO À AQUISIÇÃO SUBORDINADO AO ADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO, INOCORRENTE NA
HIPÓTESE. ALIENAÇÃO CONDICIONADA A CONCORDÂNCIA DA PROMITENTE VENDEDORA. INEXISTÊNCIA.
ARBITRAMENTO DE ALUGUEL AO EX-CÔNJUGE POR USO DE IMÓVEL QUE SERVE TAMBÉM A PROLE.
POSSIBILIDADE, EM TESE. ARBITRAMENTO CONDICIONADO À PARTILHA OU IDENTIFICAÇÃO DA FRAÇÃO IDEAL
DE CADA CÔNJUGE. CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA DOS CÔNJUGES EM AÇÃO DE COBRANÇA AJUIZADA PELA
PROMITENTE VENDEDORA. REFLEXOS NA PARTILHA ANTERIORMENTE REALIZADA. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.
AUSÊNCIA DE COTEJO ANALÍTICO. 1- Ação distribuída em 24/09/2010. Recurso especial interposto em
01/10/2014 e atribuído à Relatora em 25/08/2016. 2- O propósito recursal consiste em definir se é juridicamente
possível a alienação judicial de bem imóvel sobre o qual apenas houve compromisso de compra e venda e se é
admissível o arbitramento de alugueis em favor de ex-cônjuge, em decorrência da ocupação exclusiva de imóvel
comum, seja em razão da necessidade de preservação do direito à moradia da prole menor, seja em virtude de
as partes serem somente promitentes compradoras do bem. 3- É juridicamente possível o pedido de alienação
165
judicial de bem imóvel objeto de compromisso de compra e venda, especialmente diante da possibilidade,
em tese, de aquiescência da promitente vendedora quanto aos termos da pretendida alienação. 4- O direito
real de propriedade não se confunde com o direito real do promitente comprador, que se consubstancia em
um direito à aquisição do imóvel condicionado ao cumprimento da obrigação de pagar a quantia
contratualmente estabelecida. 5- Na hipótese, ausentes quaisquer elementos que demonstrem a aquiescência
da promitente vendedora para com a pretendida alienação e tendo em vista a possibilidade, em tese, da
retomada da coisa após o trânsito em julgado da ação em que se reconheceu a culpa dos promitentes
compradores, é inviável a alienação judicial do bem em nome de terceiro. 6- O simples fato de a prole residir
com um dos ex-cônjuges não é suficiente, por si só, para impedir o arbitramento de aluguel devido ao outro que
se vê privado da fruição do bem comum. 7- É admissível o arbitramento de alugueis após a partilha de bens do
casal ou, antes dessa, se houver meio de identificação da fração ideal a que fazem jus cada um dos cônjuges.
Precedentes. 8- Na hipótese, ausente direito real de propriedade das partes sobre o bem imóvel e tendo sido a
partilha do direito decorrente do compromisso de compra e venda diretamente impactada pela condenação
solidária dos promitentes compradores em ação de cobrança ajuizada pela promitente vendedora, não há que se
falar em arbitramento de alugueis. 9- Não se conhece do recurso especial interposto ao fundamento de dissídio
jurisprudencial se ausente o cotejo analítico dos julgados supostamente divergentes. 10- Recurso especial
conhecido em parte e, nessa extensão, desprovido.
Comentário:
STJ, REsp 1400607/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
17/05/2018, DJe 26/06/2018
Comentário:
O credor hipotecário tem interesse de agir para propor ação em face do mutuário
ainda um pacto adjeto (contrato acessório) de mútuo feneratício com garantia hipotecária, que
foi firmado entre João e a sociedade empresária Habitac Crédito Imobiliário S.A. Por força
deste pacto adjeto, João recebeu da Habitac um empréstimo (mútuo) para adquirir o imóvel e,
como garantia de que iria pagar a dívida, deu o bem em hipoteca. A ideia deste loteamento
era a de que todas as casas ali construídas fossem parecidas e mantivessem uma qualidade
mínima. Assim, no contrato havia cláusulas dizendo os padrões que deveriam ser respeitados
no momento da construção (ex: construção toda em alvenaria, fachada com mármore ou
granito etc). João construiu a sua casa no loteamento, mas não respeitou os padrões previstos
no contrato. O estilo da fachada não estava igual ao que determinava o projeto e os materiais
empregados eram de menor qualidade que o exigido. Diante disso, a empresa Habitac Crédito
Imobiliário S.A. ajuizou ação de obrigação de fazer contra João pedindo que ele fosse
condenado a reformar a casa a fim de deixá-la dentro dos padrões previstos no contrato. O
STJ afirmou que a credora hipotecária tem interesse de agir para propor esta ação. Isso
porque ela tem interesse jurídico na valorização do bem dado em garantia. Se o devedor não
pagar a dívida, o bem dado em hipoteca será alienado. Logo, o credor hipotecário tem
interesse em que o imóvel seja construído de acordo com os padrões estabelecidos para o
loteamento a fim de que ele se mantenha valioso e, em caso de inadimplemento, possa ser
vendido por um bom preço, pagando a dívida.
167
STJ, REsp 1721731/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/11/2018,
DJe 06/12/2018
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE EXECUÇÃO HIPOTECÁRIA. ADJUDICAÇÃO
DIRETA AO CREDOR HIPOTECÁRIO PELO VALOR DA AVALIAÇÃO DO IMÓVEL, INDEPENTEMENTE DA
REALIZAÇÃO DE HASTA PÚBLICA. POSSIBILIDADE. 1. Ação de execução hipotecária, na qual o credor hipotecário
requer a adjudicação do imóvel penhorado pelo valor constante do laudo de avaliação, independentemente da
realização de hasta pública. 2. Ação ajuizada em 12/02/2008. Recurso especial concluso ao gabinete em
26/08/2016. Julgamento: CPC/73. 3. O propósito recursal é definir se pode ocorrer a adjudicação direta do imóvel
ao credor hipotecário que oferece o preço da avaliação judicial do bem, independentemente da realização de
hasta pública. 4. O art. 10 da Lei 5.741/71 preceitua, de forma expressa, que o Código de Processo Civil será
aplicado, subsidiariamente, à ação executiva de que trata referida lei. 5. De fato, em um primeiro momento, o
confronto entre os arts. 6º e 7º da Lei 5.741/71 e o art. 685-A do CPC/73 (introduzido pela Lei 11.382/06)
sugere um possível conflito entre as suas redações, de forma a induzir o julgador à aplicação imediata do
que previsto na lei especial. 6. Ressoa nítido que a lei especial prevê a realização de hasta pública (art. 6º),
admitindo a adjudicação direta ao credor hipotecário apenas na hipótese de não haver qualquer licitante na
praça (art. 7º), situação que, quando verificada, e após a adjudicação do bem, exonerará o devedor da
obrigação de pagar o restante da dívida. De outra banda, o CPC/73 (art. 685-A) prevê a possibilidade de a
adjudicação ao credor dar-se pela simples oferta de preço não inferior ao da avaliação, independentemente
da prévia realização de hasta pública. 7. Entretanto, pode-se constatar que a suposta incompatibilidade entre os
dispositivos legais é meramente aparente, não se circunscrevendo à mera aplicação do princípio da especialidade
das normas. Isso porque dois escopos da legislação específica devem ser sempre considerados na sua
interpretação: o fim social com que foram criadas todas as regras que tratam do Sistema Financeiro da Habitação
e a rápida recuperação do crédito para a reintrodução do capital investido no fluxo do sistema para novos
financiamentos, o que não deixa de traduzir, em certa medida, esse fim social. 8. Analisando-se a específica
situação versada nos presentes autos, não há como se vedar o pleito do recorrente de adjudicação direta do
imóvel pelo valor da avaliação judicial do bem, quando o mesmo expressamente curva-se à previsão da
legislação especial de exoneração dos devedores ao pagamento do valor remanescente da dívida. A
realização de hasta pública, na espécie, apenas comprometeria a celeridade da própria execução, ou seja,
tardando a própria satisfação da dívida. 9. Recurso especial conhecido e provido.
Comentário:
STJ, REsp 1576651/SE, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em
09/06/2020, DJe 25/06/2020
168
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL. LEI 10.188/2001. NATUREZA
JURÍDICA. 1. O arrendamento residencial não tem natureza jurídica de compra e venda, ou de promessa de
compra e venda (Lei 10.188/2001, arts. 9º e 10), não se aplicando aos arrendatários as disposições do art.
1.333 do Código Civil. Condômino é o proprietário da unidade e, a despeito do elastério do art. 1.334, § 2º,
do Código Civil - para considerar como tal também o compromissário comprador e o cessionário - o
conceito não pode abranger o arrendatário de imóvel cuja administração está regulada em lei específica. 2.
Nos termos da Convenção e do Regimento Interno do Condomínio, com os quais os arrendatários concordaram,
enquanto o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) detiver a propriedade de, no mínimo, dois terços das
unidades autônomas, o Síndico, obrigatoriamente pessoa jurídica, será indicado e contratado pela Caixa
Econômica Federal, representante daquele Fundo. 3. Recurso especial a que se nega provimento.
Comentário:
O arrendamento residencial instituído pela Lei nº 10.188/2001 não tem natureza jurídica
de compra e venda nem de promessa de compra e venda.
STJ, REsp 1797027/PB, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/09/2020,
DJe 18/09/2020
169
31/08/2011. Recurso especial interposto em 27/09/2018 e atribuído à Relatora em 22/02/2019. 2- O propósito
recursal consiste em definir se a hipoteca firmada na vigência do CC/2002, exclusivamente por cônjuge casado
sob o regime da separação total de bens na vigência do CC/1916, é nula pela ausência da respectiva obtenção
da autorização conjugal. 3- Conceitualmente, o art. 2.039 do CC/2002, ao estabelecer uma regra de transição
quanto ao regime de bens, teve por finalidade específica disciplinar as relações familiares entre os cônjuges na
perspectiva patrimonial, ditando o modo pelo qual se dará, por exemplo, a partilha de seus bens por ocasião da
dissolução do vínculo conjugal, bem como a possibilidade de alteração motivada e judicial do regime de bens
posteriormente consagrada pela jurisprudência desta Corte. 4- Dessa forma, a referida regra de direito transitório
não deve influenciar, na perspectiva da definição da legislação aplicável, as hipóteses em que deveria ser dada a
autorização conjugal, pois esse instituto, a despeito de se relacionar com o regime de bens, é, na realidade, uma
condição de eficácia do negócio jurídico cuja validade se examina. 5- Assim, em se tratando de casamento
celebrado na vigência do CC/1916 sob o regime da separação convencional de bens, somente aos negócios
jurídicos celebrados na vigência da legislação revogada é que se poderá aplicar a regra do art. 235, I, do
CC/1916, que previa a necessidade de autorização conjugal como condição de eficácia da hipoteca,
independentemente do regime de bens. 6- Contudo, aos negócios jurídicos celebrados após a entrada em
vigor do CC/2002, deverá ser aplicada a regra do art. 1.647, I, do CC/2002, que prevê a dispensa de
autorização conjugal como condição de eficácia da hipoteca quando o regime de bens for o da separação
absoluta, ainda que se trate de casamento celebrado na vigência da legislação civil revogada. 7- O
provimento do recurso especial por um dos fundamentos torna despiciendo o exame dos demais suscitados pela
parte (na hipótese, divergência jurisprudencial). Precedentes. 8- Recurso especial conhecido e provido, a fim de
julgar improcedente o pedido de nulidade de garantia hipotecária, invertendo-se a sucumbência.
Comentário:
regra do seu art. 1.647, I, que prevê a dispensa da autorização conjugal como condição de
eficácia da hipoteca no regime da separação absoluta de bens, mesmo que o casamento
perspectiva patrimonial, ditando o modo pelo qual se dará, por exemplo, a partilha de seus
bens por ocasião da dissolução do vínculo conjugal, bem como a possibilidade de alteração
A referida regra de direito transitório não deve influenciar as hipóteses em que deveria
ser dada a autorização conjugal. Deste modo, é válida hipoteca firmada na vigência do
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CC/2002 exclusivamente por cônjuge casado sob o regime da separação total de bens na
vigência do CC/1916.
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MAPAS MENTAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.
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