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Olá! Boas-Vindas!

Cada material foi preparado com muito carinho para que


você possa absorver da melhor forma possível, conteúdos de
qualidade!
Lembre-se: o seu sonho também é o nosso!
Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação!

Com carinho,
Equipe Ceisc. ♥

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2ª FASE OAB | CIVIL | 39º EXAME

Direito Civil
Prof.ª Tatiane Kipper

Sumário
1. Recursos – parte geral .................................................................................... 9
1.1 Cabimento .................................................................................................. 9
1.2 Características dos recursos ...................................................................... 9
1.3 Da classificação dos recursos .................................................................. 10
1.4 Das decisões recorríveis .......................................................................... 11
1.5 Dos objetivos dos recursos ...................................................................... 13
1.6 Dos requisitos de admissibilidade dos recursos ....................................... 14
1.7 Dos princípios dos recursos ..................................................................... 25
1.8 Dos efeitos dos recursos .......................................................................... 28
2. Recursos cabíveis no novo CPC .................................................................... 32
3. Recurso Adesivo .......................................................................................... 33
4. Apelação ..................................................................................................... 39
4.1 Previsão legal ........................................................................................... 39
4.2 Cabimento ................................................................................................ 39
4.3 Do prazo ................................................................................................... 43
4.4 Estrutura da petição do recurso de apelação ........................................... 43
4.5 Efeitos do recurso de apelação ................................................................ 44
4.5.1 Efeito devolutivo: ................................................................................... 44
4.5.2 Efeito Suspensivo: ................................................................................. 46
4.6 Procedimento da apelação ....................................................................... 47
4.7 Das alegações de novas matérias ........................................................... 50
4.8 Pedir a reforma ou invalidação? ............................................................... 50
4.9 APELAÇÃO: QUERIDINHA DA FGV ....................................................... 55
4.10 MODELO CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO ........... 80
5. Agravo de Instrumento .................................................................................. 83
5.1 Tutelas provisórias ................................................................................... 84
5.2 Mérito do processo ................................................................................... 85
5.3 Rejeição da alegação de convenção de arbitragem ................................. 86
5.4 Incidente de desconsideração da personalidade jurídica ......................... 87
5.5 Rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de
sua revogação ................................................................................................ 88
5.6 Exibição ou posse de documento ou coisa .............................................. 89
5.7 Exclusão de litisconsorte .......................................................................... 90
5.8 Rejeição do pedido de limitação de litisconsórcio .................................... 90

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5.9 Admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros ............................. 90


5.10 Concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos
embargos à execução .................................................................................... 91
5.11 Redistribuição do ônus da prova nos termos do artigo 373, §1º do CPC 91
5.12 Parágrafo único do artigo 1.015 do CPC: ............................................... 92
5.13 Outros casos expressamente referidos em lei ....................................... 92
5.14 Prazo para interposição do agravo de instrumento ................................ 93
5.15 Efeitos do agravo de instrumento ........................................................... 94
5.16 Da petição de agravo de instrumento .................................................. 95
5.17 Do preparo no agravo de instrumento .................................................... 97
5.18 Forma de interposição e procedimento do Agravo de Instrumento ........ 97
5.19 Agravo de instrumento no XX exame ................................................... 104
6. Agravo Interno............................................................................................ 107
6.1 Previsão legal: ........................................................................................ 107
6.2 Cabimento .............................................................................................. 107
6.3 Estrutura e processamento do recurso de Agravo Interno ..................... 111
6.4 Prazo ...................................................................................................... 112
6.5 Reprodução dos fundamentos ............................................................... 112
6.6 Multa ...................................................................................................... 112
6.7 Retratação: ............................................................................................. 113
7. Embargos de Declaração (aula gravada) ...................................................... 117
7.1 Previsão legal ......................................................................................... 117
7.2 Cabimento .............................................................................................. 117
7.3 Legitimidade e Prazo para oposição dos Embargos de Declaração: ..... 121
7.4 Prazo para interposição dos embargos: 05 dias. ................................... 121
7.5 Do Preparo nos Embargos de Declaração ............................................. 122
7.6 Efeitos .................................................................................................... 122
7.7 Processamento ...................................................................................... 123
7.8 Do julgamento dos Embargos de Declaração ........................................ 125
7.9 Dos recursos interpostos antes do julgamento dos embargos de
declaração .................................................................................................... 126
7.10 Dos embargos para fins de pré-questionamento.................................. 127
8. Recurso Ordinário (aula gravada)................................................................. 131
8.1 Previsão legal ......................................................................................... 131
8.2 Cabimento .............................................................................................. 131
8.3 Objetivo .................................................................................................. 133
8.4 Interposição ............................................................................................ 134
8.5 Prazo para interposição do Recurso Ordinário:...................................... 135
8.6 Da previsão do artigo 1.027, §2º do CPC:.............................................. 135
8.7 Do efeito suspensivo: ............................................................................. 136
8.8 Da estrutura do Recurso: ....................................................................... 136
9. Recurso Especial........................................................................................ 140
9.1 Previsão legal ......................................................................................... 140
9.2 Importância............................................................................................. 140
9.3 Cabimento do Recurso Especial ............................................................ 141
9.4 Requisitos de admissibilidade: ............................................................... 143
9.5 Efeito DEVOLUTIVO E SUSPENSIVO do Recurso Especial ................. 147
9.6 Petição ................................................................................................... 148

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9.7 Recurso Especial e do Recurso Extraordinário interpostos contra mesma


decisão: ........................................................................................................ 151
9.8 Da previsão dos artigos 1.032 e 1.033 do CPC: .................................... 151
10. Recurso Extraordinário ......................................................................... 160
10.1 Previsão legal ....................................................................................... 160
10.2 Cabimento ............................................................................................ 160
10.3 Da admissibilidade do recurso extraordinário....................................... 161
10.4 Efeito DEVOLUTIVO e SUSPENSIVO do Recurso Extraordinário ...... 165
10.5 Prazo para interposição ....................................................................... 166
10.6 Processamento do recurso extraordinário ............................................ 166
10.7 Petição de interposição e Petição das razões ...................................... 167
11. Agravo em Recurso Especial e Extraordinário (Aula Gravada) .................. 173
11.1 Previsão legal: ...................................................................................... 173
11.2 Cabimento ............................................................................................ 173
11.3 Processamento .................................................................................... 175
12. Embargos de Divergência (Aula Gravada) .............................................. 180
12.1 Previsão legal ....................................................................................... 180
12.2 Cabimento ............................................................................................ 180
12.3 Comprovação da divergência ............................................................... 182
12.4 Prazo dos embargos de divergência .................................................... 183
12.5 Processamento dos embargos ............................................................. 183
12.6 Efeito interruptivo dos embargos de divergência.................................. 183
13. Repercussão Geral e Suspensão de todos os processos pendentes (Aula
Gravada) ....................................................................................................... 191
14. Processamento dos Recursos Especial e Extraordinário .......................... 193
15. Julgamento dos Recursos Extraordinário e Especial Repetitivos (Aula
Gravada) ....................................................................................................... 197
16. Ordem dos Processos no Tribunal ......................................................... 201
17. Da Técnica de Julgamento prevista no Art. 942 do CPC .......................... 210
18. Incidente de Assunção de Competência/IAC........................................... 212
18.1 Fundamento legal: ................................................................................ 212
18.2 Cabimento: ........................................................................................... 212
18.3 Procedimento: ...................................................................................... 213
19. Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade........................................ 215
20. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas .................................. 217
21. Procedimentos Especiais - Introdução .................................................... 222
22. Ação de Consignação em Pagamento ................................................... 224
22.1 Previsão ............................................................................................... 224
22.2 Finalidade ............................................................................................. 224
22.3 Legitimados na ação de consignação em pagamento ......................... 225
22.4 O Direito Material na ação de Consignação ......................................... 226
22.5. Das hipóteses legais para a consignação: .......................................... 226
22.6 Da Consignação em Pagamento Extrajudicial ..................................... 228
22.7 Ação de Consignação em Pagamento na VIA JUDICIAL .................... 231
23. Ação Monitória ..................................................................................... 244
23.1 Previsão Legal...................................................................................... 244
23.2 Conceito e Cabimento .......................................................................... 244
23.4 Legitimados a propor a ação ................................................................ 246

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23.5 Da prova escrita: ................................................................................. 246


23.6 Da Monitória em face da Fazenda Pública: .......................................... 247
23.7 Competência da Ação Monitória: ......................................................... 247
23.8 Da petição inicial .................................................................................. 247
23.9 Do indeferimento da Petição Inicial: ..................................................... 248
23.10 Emenda da Petição Inicial: ................................................................. 248
23.11 Meios de citação na ação monitória: .................................................. 249
23.12 Procedimento na ação monitória: ....................................................... 249
23.13 Do parcelamento: ............................................................................... 251
23.14 Dos embargos à ação monitória......................................................... 251
23.15 Da Reconvenção: ............................................................................... 253
23.16 Dos embargos parciais: ...................................................................... 254
23.17 Da sentença: ...................................................................................... 254
24. Dissolução Parcial da Sociedade ........................................................... 265
24.1 Conceito ............................................................................................... 265
24.2 Do objeto da ação de dissolução parcial da sociedade ........................ 266
24.3 Legitimados para propor a Ação de Dissolução Parcial ....................... 268
24.4 Do procedimento .................................................................................. 269
24.5 Da apuração dos haveres .................................................................... 270
24.6 Da data da resolução da sociedade ..................................................... 271
25. Embargos de Terceiro .......................................................................... 276
25.1 Previsão Legal:..................................................................................... 276
25.2 Conceito ............................................................................................... 276
25.3 Cabimento dos embargos de terceiro: ................................................. 276
25.4 Partes nos Embargos de Terceiro: ....................................................... 277
25.6 Prazo: ................................................................................................... 280
25.7 Competência: ....................................................................................... 281
25.8 Da petição Inicial: ................................................................................. 282
25.9 Liminar:................................................................................................. 283
25.10 Citação do Embargado ....................................................................... 283
25.11 Contestação: ...................................................................................... 283
25.12 Do julgamento dos embargos de terceiro: .......................................... 284
26. Ações Possessórias ............................................................................. 294
26.1 FUNDAMENTO LEGAL:....................................................................... 294
26.2 CARACTERÍSTICAS: ........................................................................... 294
26.3 FUNGIBILIDADE DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS: .............................. 296
26.4 CUMULAÇÃO DE PEDIDOS: .............................................................. 297
26.5 CARÁTER DÚPLICE: ........................................................................... 298
26.6 DISCUSSÃO ACERCA DA PROPRIEDADE NA PENDÊNCIA DE AÇÃO
POSSESSÓRIA: .......................................................................................... 298
26.7 AÇÃO DE FORÇA NOVA E AÇÃO DE FORÇA VELHA: ..................... 298
26.8 PREVISÃO DOS PARÁGRAFOS DO ARTIGO 554 DO CPC:............. 299
26.10 DA AÇÃO DE MANUTENÇÃO E DA REINTEGRAÇÃO DE POSSE: 301
26.11 DO INTERDITO PROIBITÓRIO: ........................................................ 304
27. Ação de Exigir Contas .......................................................................... 317
27.1 Previsão legal: ...................................................................................... 317
27.2 Cabimento: ........................................................................................... 317
27.3 Legitimidade: ........................................................................................ 318

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27.4 Procedimento ....................................................................................... 319


27.5 Apresentação das contas pelo Réu ...................................................... 322
27.6 Apresentação das contas pelo Autor .................................................... 322
27.7 Sentença .............................................................................................. 323
27.8 Das contas pelo inventariante, curador, tutor, depositário ................... 323
27.9 Pedidos básicos da ação de exigir contas............................................ 324
28. Da Oposição........................................................................................ 325
27.1 Previsão Legal:..................................................................................... 325
28.2 Conceito: .............................................................................................. 325
28.3 Cabimento ............................................................................................ 325
28.4 Prazo .................................................................................................... 326
28.5 Requisitos da oposição ........................................................................ 327
28.6 Petição Inicial ....................................................................................... 327
28.7 Partes na Oposição .............................................................................. 328
28.8 Procedimento ....................................................................................... 328
29. Homologação do Penhor Legal (Aula Gravada) ...................................... 330
29.1 Previsão legal ....................................................................................... 330
29.2 Conceito de penhor legal...................................................................... 330
29.3 Cabimento do procedimento especial de homologação do penhor legal330
29.4 Legitimidade para requerer o penhor legal ........................................... 331
29.5 Finalidade ............................................................................................. 332
29.6 Procedimento ....................................................................................... 332
30. Regulação de Avaria Grossa (Aula Gravada) .......................................... 337
30.1 Previsão legal ....................................................................................... 337
30.2 Conceito de Avaria Grossa................................................................... 337
31. Divisão e Demarcação de Terras Particulares (Aula Gravada) .................. 343
31.1 Previsão legal ....................................................................................... 343
31.2 Disposições gerais previstas nos art. 569 a 573 do CPC ..................... 343
31.3 Da ação de demarcação: previsões específicas .................................. 346
31.4 Da ação de divisão de terras particulares ............................................ 351
32. Restauração de Autos .......................................................................... 357
32.1 Previsão Legal...................................................................................... 357
32.2 Do cabimento ....................................................................................... 357
32.3 Autos suplementares ............................................................................ 357
32.4 Legitimidade ......................................................................................... 358
32.5 Da petição inicial .................................................................................. 358
32.6 Da Citação............................................................................................ 359
32.7 Da Contestação.................................................................................... 359
32.8 Das provas e do momento ................................................................... 360
32.9 Do julgamento da restauração ............................................................. 361
32.10 Competência e desaparecimento dos autos no Tribunal ................... 361
32.11 Da culpa e Responsabilidade ............................................................. 362
33. Da Habilitação (Aula Gravada)............................................................... 363
33.1 Previsão legal ....................................................................................... 363
33.2 Cabimento ............................................................................................ 363
33.3 Legitimidade ......................................................................................... 364
33.4 Procedimento ....................................................................................... 365

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34. Divórcio e Separação Consensuais, Extinção Consensual de União Estável e


Alteração do Regime de Bens do Matrimônio (Aula Gravada) ............................. 367
34.1 Previsão legal ....................................................................................... 367
34.2 Cabimento ............................................................................................ 367
34.3 Requisitos da petição inicial ................................................................. 367
34.4 Previsão expressa de aplicação das regras à extinção consensual da
união estável ................................................................................................ 367
34.5 Possibilidade de realização do divórcio, separação e extinção da união
estável por meio de escritura pública ........................................................... 367
34.6 Partilha de bens após o divórcio .......................................................... 368
34.7 Alteração do regime de bens do casamento ........................................ 368
35. Ações de Família ................................................................................. 369
36. JEC .................................................................................................... 372

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório
para a 2ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso,
recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em setembro de 2023.

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1. Recursos – parte geral

Prof.ª Tatiane Kipper


@profetatiane_kipper

1.1 Cabimento
Os recursos são cabíveis quando uma decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença,
seja ela definitiva, resolve o mérito ou não, bem como uma decisão oriunda de um acórdão ou
monocrática não agradar a uma ou a ambas as partes (CHACON, 2020). De forma, que, a parte
que não está satisfeita com o resultado que lhe foi desfavorável poderá tentar rever a decisão
por meio de um recurso.
Pode-se concluir que o pressuposto básico para interpor o recurso é a sucumbência, que
nada mais é do que a desconformidade entre o que foi pedido e o que foi concedido pelo Estado-
juiz. (ARAUJO JUNIOR, 2016).
Nesse sentido, entende Medina (2016, p. 1.258): “Consideramos recursos os meios de
impugnação às decisões judiciais provocados no mesmo processo. Distinguem-se, pois, das
ações autônomas de impugnação, que constituem nova relação processual”.
Recurso então é o “meio ou instrumento destinado a provocar o reexame da decisão
judicial, no mesmo processo em que proferida, com a finalidade de obter-lhe a invalidação, a
reforma, o esclarecimento ou a integração”. (DIDIER JR.; CUNHA, 2018, p. 111).

ATENÇÃO! Lembre-se que o recurso é voluntário e não é de ofício.

1.2 Características dos recursos


a. Os recursos não possuem natureza jurídica de ação. Segundo Lourenço (2017, p. 443)
o recurso surge dentro do mesmo processo em que foi proferida a decisão impugnada. O recurso
é um meio de impugnação que NÃO instaura processo novo: pelo contrário, o recurso prolonga
o estado de litispendência, produzindo o chamado efeito obstativo, por formar um obstáculo à
coisa julgada. Aquele que recorre busca impugnar uma decisão no mesmo processo em que ela
foi proferida, sendo essa uma das suas características essenciais, capaz de distingui-lo das

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ações autônomas de impugnação. OBSERVAÇÃO: Ação rescisória, que não é recurso, é na


verdade uma verdadeira ação.
b. O recurso é remédio voluntário, pois depende da manifestação de vontade das partes,
tratando-se de ônus processual, uma vez que não se dirige ao benefício de outrem, mas, sim,
ao próprio interesse da parte satisfeita. O recurso é uma manifestação de insatisfação. Ainda,
não se deve confundir recurso com a remessa necessária, também denominada de reexame
necessário (art. 496 do CPC), justamente pelo fato de que no reexame necessário inexiste
voluntariedade, tempestividade características presentes nos recursos. (LOURENÇO, 2017, p.
442)
c. Além disso, os recursos não se confundem com as ações autônomas de impugnação,
pois nestas, diferente dos recursos, o objetivo é alterar a decisão por meio de uma nova relação
processual. Como exemplos de ações autônomas de impugnação podem ser citados o mandado
de segurança e a ação rescisória.
d. Mesmo que haja sentença, se for interposto Recurso não se fala em coisa julgada.
Somente ocorre coisa julgada quando houver o trânsito em julgado da decisão, ou seja, não for
mais possível recorrer, não sendo possível mais nenhum recurso ou porque perdeu o prazo para
recorrer.
e. De acordo com o NOVO CPC, em seu artigo 995 do CPC, via de regra, os recursos
NÃO possuem efeito suspensivo automático, ou seja, não suspendem o andamento e os efeitos
da decisão recorrida, o que permite a execução fundada em título provisório, salvo se a parte
requerer que o recurso tenha efeito suspensivo, conforme artigo 995 e parágrafo único do CPC.
Observa-se, porém, que conforme o artigo 1.012, caput do CPC, a apelação terá efeito
suspensivo.

1.3 Da classificação dos recursos


a) Quanto à extensão da matéria: recurso parcial e recurso total
Conforme o artigo 1.002 do CPC, a decisão poderá ser impugnada no todo ou em parte.
Segundo Didier Junior e Cunha (2018, p. 119) recurso parcial é aquele que, em virtude de
limitação voluntária, não compreende a totalidade do conteúdo impugnável da decisão. Ou seja,
o recorrente impugna apenas uma parcela ou um capítulo da decisão. Já o recurso total seria
aquele que abrange todo o conteúdo impugnável da decisão recorrida.

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b) Quanto à fundamentação: fundamentação livre e fundamentação vinculada:


O recurso de fundamentação livre seria aquele em que o recorrente está livre para nas
razões recursais fazer qualquer tipo de crítica em relação à decisão que está recorrendo, sem
que isso tenha qualquer influência na sua admissibilidade. Assim, a causa de pedir do recurso
não estaria delimitada pela lei, podendo o recorrente impugnar a decisão alegando qualquer
vício. Ex: apelação, agravo de instrumento, recurso ordinário, são exemplos. Já o recurso de
fundamentação vinculada teria limitação pela lei quanto ao tipo de crítica que se pode fazer
contra a decisão impugnada. O recurso se caracteriza por ter fundamentação típica. O recurso
não pode ser utilizado para veicular qualquer espécie de crítica à decisão recorrida. Exemplo:
embargos de declaração, recurso especial, recurso extraordinário são exemplos. (DIDIER
JUNIOR; CUNHA, 2018, p. 122)

1.4 Das decisões recorríveis


As decisões recorríveis são as que possuem algum conteúdo decisório, excetuando-se,
assim, os despachos e os atos meramente ordinatórios.
Conforme o artigo 1.001 do CPC, dos despachos não cabe recurso: “Art. 1.001. Dos
despachos não cabe recurso”. (BRASIL, 2015)
Observar nesse sentido o conceito trazido pelo artigo 203 do CPC, que estabelece quais
são os pronunciamentos do juiz:

Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e


despachos.
§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à
fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução.
§ 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não
se enquadre no § 1o.
§ 3º São despachos todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de
ofício ou a requerimento da parte.
§ 4º Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de
despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando
necessário. (BRASIL, 2015)

Visto isso, o conceito de sentença está elencado no artigo 203, §1º do CPC: § 1º
Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos artigos 485 e 487, põe fim à fase
cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução.

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O fim do processo pode ser com resolução de mérito (art. 487) ou sem resolução de
mérito (art. 485).
Já as decisões interlocutórias são decisões no curso do processo por meio das quais o
juiz resolve questões incidentes, como por exemplo: conceder ou não uma tutela provisória de
urgência.
Segundo Didier Junior e Cunha (2018, p. 123) as decisões que podem ser proferidas pelo
juízo singular são a decisão interlocutória e a sentença. Interlocutória é a decisão que não
encerra o procedimento em primeira instancia, por sua vez, sentença é a decisão judicial que,
enquadrando-se em uma das hipóteses do artigo 485 ou 487 do CPC, encerra o procedimento
na primeira instancia, ultimando a fase de conhecimento ou de execução.
Em sede de Tribunal, as decisões podem ser classificadas a partir do órgão prolator.
Podem ser UNIPESSOAIS (monocráticas) ou acórdãos (colegiadas). Ambas as decisões podem
ou não encerrar o procedimento, não sendo este aspecto que as diferencia; acórdãos e decisões
unipessoais podem ser interlocutórias e finais. AS DECISÕES UNIPESSOAIS PODEM SER
PROFERIDAS PELO RELATOR OU PELO PRESIDENTE OU VICE-PRESIDENTE DO
TRIBUNAL. (DIDIER JUNIOR; CUNHA, 2018, p. 123).
O artigo 204 do CPC traz o conceito de acórdão:
Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais. (BRASIL, 2015)

Constitui o acórdão, portanto, no julgamento proferido por um órgão colegiado dos


Tribunais, como por exemplo, uma turma, uma câmara etc.
* Para todos verem: esquema

Sentença

Decisão interlocutória

Decisões recorríveis

Decisão monocrática

Acórdão

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1.5 Dos objetivos dos recursos


Os recursos podem ser definidos como o meio processual com o objetivo de ANULAR,
REFORMAR, INTEGRAR ou ACLARAR uma decisão judicial dentro de um mesmo processo,
evitando que essa decisão seja acobertada pela preclusão ou coisa julgada. (DONOSO; SERAU
JUNIOR, 2017, p. 33)
É de se apontar então, que o recorrente pode requerer a reforma ou invalidação da
decisão. Poderá, conforme o caso do enunciado, ter que requerer ambos os objetivos.
É de se apontar ainda a possibilidade do Recorrente requerer que a decisão omissa,
contraditória ou obscura tenha o vício sanado. Neste caso, trata-se dos Embargos de declaração.
Viana (2018, p. 331) apresenta o seguinte resumo:
a) REFORMA DA DECISÃO: o recurso interposto pela parte vencida tem o objetivo de
reformar a decisão que considera injusta, por isso pleiteia ao órgão superior que reveja a decisão
para posterior reforma.
b) INVALIDAÇÃO DA DECISÃO: neste caso, requer-se ao órgão julgador que a decisão
seja considerada inválida, pois ela não teria preenchidos os requisitos legais. Trata-se de um
ataque contra a própria decisão judicial em razão de um vício processual. Se um ato no
processo foi considerado nulo todos os demais serão, inclusive a sentença que se
originou de atos processuais nulos.
Especificando mais, DONOSO e SERAU JUNIOR (2017, p. 70) colocam que quando o
recurso tem por objetivo a reforma da decisão é porque se está diante de um vício de juízo,
denominado de ERROR IN JUDICANDO, de natureza substancial e que leva à injustiça do ato
judicial. Assim, no ERROR IN JUDICANDO ter-se-ia um vício de fundo e não de forma. Exemplo:
em uma ação de usucapião o pedido é julgado improcedente, embora estejam suficientemente
provados os requisitos que autorizam o reconhecimento do domínio. Dessa forma, inconformado,
o autor pode apelar justamente pedindo a reforma da sentença, para que se troque a decisão de
desacolhimento por outra de acolhimento da pretensão.
Por sua vez, o pedido de anulação/nulidade tem cabimento sempre que o ato judicial haja
incorrido em algum vício de atividade, ao que se chama ERROR IN PROCEDENDO. Neste caso,
a decisão foi prolatada em desconformidade com as normas processuais, devendo ser anulada.
(ARAUJO JUNIOR, 2016)
No que tange à integração da decisão é o pedido nos casos para sanar a obscuridade,
contradição, omissão e erro material. (ARAUJO JUNIOR, 2016)

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1.6 Dos requisitos de admissibilidade dos recursos


Os recursos devem preencher alguns requisitos/exigências para que sejam conhecidos e
possam assim ser julgados.
É de se observar que podem ter requisitos genéricos, que são aplicáveis aos recursos de
modo geral e alguns requisitos específicos, que são exigidos somente para determinado recurso.
Nesse sentido CHACON (2020, p. 217) esclarece que todo recurso precisa ser admitido
antes de ter seu mérito apreciado. Os requisitos de admissibilidade são definidos pela legislação
e pelas normativas dos Tribunais. A verificação do prazo de interposição, o recolhimento de
custas e do porte de remessa e de retorno, a juntada de peças obrigatórias no agravo de
instrumento, o apontamento do prequestionamento em recursos perante os Tribunais Superiores
etc., são exemplos de pontos que vão ser avaliados antes de o recurso ser admitido. É matéria
de ordem pública e pode realmente impedir o prosseguimento e análise do recurso.
A doutrina aponta que os pressupostos de admissibilidade dos recursos é matéria de
ordem pública, de forma que poderão ser analisadas a qualquer momento pelos órgãos
julgadores, sendo que não estão sujeitas à preclusão. Há na doutrina uma certa divergência
sobre quais são os requisitos de admissibilidade dos recursos. Como regra, são apontados os
seguintes:

* Para todos verem: esquema

Pressupostos objetivos (extrínsecos) Pressupostos subjetivos (intrínsecos)

• Recorribilidade da decisão • Legitimidade


• Adequação do recurso • Interesse
• Tempestividade • Inexistência de fato impeditivo
• Preparo
• Forma
• Motivação

Há justamente quem faça a divisão em requisitos subjetivos ou objetivos. Os subjetivos


estariam relacionados ao sujeito que recorre e os objetivos ao recurso em si mesmo. (VIANA,
2018).
Diante disso, passa-se à análise de alguns dos requisitos de admissibilidade.

a) Legitimidade para recorrer:

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De acordo com o artigo 996 do CPC/15, possuem legitimidade para recorrer: as partes
(vencido, mesmo que parcial), o terceiro prejudicado e o Ministério Público.

Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo
Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica.
Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a
relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou
que possa discutir em juízo como substituto processual. (BRASIL, 2015)

Quando o artigo 996 do CPC/15 se refere à legitimidade da parte, deve-se entender não
só o autor ou réu quando saíram vencidos da relação, ou seja, quando não tiveram atendidos os
seus pedidos, seja total ou parcialmente, mas também os assistentes, denunciados, chamados,
o litisconsorte, ou seja, aqueles que integraram a relação processual. (ARAUJO JUNIOR, 2016)
Da mesma forma menciona Viana (2018) que quem participou da relação processual tem
legitimidade para recorrer, isto é, as partes, bem como os intervenientes e o Ministério Público.
O terceiro prejudicado também possui legitimidade para recorrer, quando os efeitos da decisão
o atingir.
Assim, terceiro prejudicado é uma pessoa estranha ao processo, isto é, que não fazia
parte da relação processual, mas que de alguma forma é atingida pela decisão judicial.
Exemplo: adquirente de direito material litigioso, fiador, avalista, etc. (ARAUJO JUNIOR,
2016)
O terceiro para recorrer deve demonstrar o nexo entre o seu interesse de recorrer e a
decisão, ou seja, sobre a possibilidade de a decisão atingir direito que afirma ser titular ou que
possa discutir em juízo como substituto processual.
É de se destacar, ainda, que conforme DIDIER JUNIOR e CUNHA (2018, p. 137) no
conceito de parte vencida também se inclui o sujeito processual que é parte em apenas de alguns
incidentes, como exemplo: o juiz no caso da arguição de impedimento e suspeição, o terceiro
desobediente, no caso da multa do artigo 77, §2º do CPC.
E se o recurso for interposto por uma pessoa fora das hipóteses do artigo 996 do CPC?
O recurso não será conhecido, diante da falta de legitimidade.
Então, possuem legitimidade para recorrer:

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* Para todos verem: esquema

Parte vencida
Parte
Podem recorrer Ministério Público
Fisca da ordem jurídica
Terceiro prejudicado

b) Interesse recursal

Tem interesse recursal a pessoa que precisa reformar ou invalidar a decisão impugnada.
A sucumbência pode ser total ou parcial.
Exemplo de sucumbência total: autor ingressa com ação de reparação de danos
materiais e morais, sendo que o juiz julga totalmente improcedente a ação. Neste caso o autor
foi sucumbente de forma total, pois perdeu ambos os pedidos, seja de dano moral, seja de dano
material. Agora, caso o juiz julgasse parcialmente procedente a ação, condenando em danos
materiais, mas não em morais, há uma sucumbência parcial, pois, o autor ganhou os danos
materiais, mas perdeu os danos morais.
Então, o interesse recursal surge com a necessidade de recorrer, seja para reformar,
invalidar ou aclarar a decisão judicial.
Nesse sentido, estabelece ARAUJO JUNIOR (2016, p. 22) que independente de quem
seja o recorrente, deve ser demonstrado o seu interesse recursal, devendo demonstrar a
ocorrência do binômio utilidade e necessidade: utilidade da providência judicial pleiteada e
necessidade da via que se escolhe para obter essa providência.
Haveria, assim, interesse em recorrer quando o recorrente puder esperar, em tese, do
julgamento do recurso situação jurídica e pragmaticamente mais vantajosa que aquela conferida
na decisão que está recorrendo, quando seja necessário utilizar do recurso para alcançar esse
objetivo. Essa concepção abrangente tem a vantagem de considerar interesse recursal não
apenas quando o que se pediu não foi concedido, mas também quando embora vencedora a
parte tem perspectiva de melhorar sua situação jurídica. (MEDINA, 2016)
Dessa forma, a sucumbência é vista como a desconformidade entre aquilo que foi pedido
e aquilo que foi concedido na decisão judicial.

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* Para todos verem: esquema

Do que foi
Sucumbência Pedido Algum prejuízo
concedido

A. Inexistência de fato impeditivo


A inexistência de fato impeditivo significa que não pode aquele que quer recorrer praticar
algum ato incompatível com a vontade de recorrer, tal como a renúncia ao direito de recorrer, a
aceitação da decisão ou a desistência.
Diz-se, portanto, que se trata de um requisito negativo, pois não podem estar presentes.

* Para todos verem: esquema

Há existência de fato impeditivo em três situações

• Renúncia do direito de recorrer


• Desistência do recurso
• Concordância com a decisão

Renúncia ao direito de recorrer ocorre antes da interposição do recurso e não depende da


aceitação da outra parte, conforme dispõe o artigo 999 do CPC/15:
Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte.
(BRASIL, 2015)

Viana (2018, p. 336) considera que pode haver duas espécies de renúncia: a tácita e a
expressa. A expressa quando a parte peticiona, consignando seu desejo que não irá recorrer. Já
a tácita decorreria da simples decadência do prazo recursal, ou seja, a parte deixa fluir o prazo
do recurso sem interpor;
A desistência ocorre quando a parte recorreu, mas posteriormente decide desistir, ou seja,
não continuar mais com o recurso interposto.
A desistência pode ocorrer a qualquer momento do processo, mas a desistência não
impede a análise da questão quando se trata de repercussão geral e julgamento de recursos
especiais ou extraordinários repetitivos (Führer e Führer, 2016, p. 194).
Para desistir do recurso não há necessidade de concordância da parte contrária, conforme
previsão do artigo 998 do CPC/15:

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Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do recurso. (BRASIL, 2015)

Observar ainda, que a desistência do recurso não impede a análise de questão, cuja
repercussão geral já tenha sido reconhecida, bem como, daquele objeto de julgamento de
recursos (extraordinário ou especial) repetitivos, consoante prevê o parágrafo único do artigo 998
do CPC.
Conforme destacam DIDIER JUNIOR e CUNHA (2018, p. 125): “A desistência pressupõe
recurso já interposto; se o recurso ainda não foi interposto, e o interessado manifesta vontade
de o não interpor, o caso é de renúncia”.
A concordância com a decisão significa que a parte aceitou a decisão, sendo que essa
aceitação pode ser expressa (por meio de uma petição) ou tácita, por meio de ato incompatível
com a vontade de recorrer. Neste caso, cabe verificar a previsão do artigo 1.000 do CPC/15:
Art. 1.000. A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer.
Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato
incompatível com a vontade de recorrer. (BRASIL, 2015)
Observar, no entanto, a previsão do artigo 520,§3º do CPC: § 3º Se o executado
comparecer tempestivamente e depositar o valor, com a finalidade de isentar-se da multa, o ato
não será havido como incompatível com o recurso por ele interposto.

B. Recorribilidade da decisão
Como dito anteriormente, nem todo pronunciamento do juiz vai ser passível de recurso.
Consoante previsão do CPC, em seu artigo 1.001, dos despachos não cabe recurso.
Observar ainda que nem toda decisão interlocutória será passível de impugnação por
meio de Agravo de instrumento.
Para o recurso ser admitido, portanto, a decisão deve ser passível de recurso. Podem ser
apontadas as seguintes decisões recorríveis:

C. Adequação
O recurso interposto deve ser o adequado. A adequação significa que o recurso interposto
deve ser aquele previsto na lei para a decisão atacada. EXEMPLO: da sentença cabe apelação
e não Agravo de Instrumento.

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Da mesma forma, no âmbito dos tribunais, se diferencia o recurso se a decisão é


monocrática, ou seja, proferida por apenas um relator, ou se a decisão é proferida por um órgão
colegiado. Excepcionalmente, se houver situação que justifica a dúvida sobre a natureza do
provimento jurisdicional, se admite a fungibilidade dos recursos, ou seja, que seja recebido um
recurso por outro, a depender do caso.
Segundo Medina (2016) não cabe recurso quando o pronunciamento é irrecorrível e no
caso de embora ser recorrível a parte interpõe recurso inadequado contra a decisão.

D. Tempestividade
O legitimado a recorrer não pode interpor o recurso quando quiser, deve obedecer aos
prazos estabelecidos na lei. O recurso interposto fora do prazo é considerado intempestivo, não
sendo conhecido. No CPC/15, QUASE TODOS os recursos possuem prazo de 15 dias para
serem protocolados, conforme previsão do §5º do artigo 1.003 do CPC:

Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados,
a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério
Público são intimados da decisão.
§1º Os sujeitos previstos no caput considerar-se-ão intimados em audiência quando nesta
for proferida a decisão.
§2º Aplica-se o disposto no art. 231, incisos I a VI, ao prazo de interposição de recurso
pelo réu contra decisão proferida anteriormente à citação.
§3º No prazo para interposição de recurso, a petição será protocolada em cartório ou
conforme as normas de organização judiciária, ressalvado o disposto em regra especial.
§4º Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo correio, será considerada
como data de interposição a data de postagem.
§5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para
responder-lhes é de 15 (quinze) dias.
§6º O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do
recurso. (BRASIL, 2015)

Ou seja, a EXCEÇÃO é no caso dos Embargos de Declaração, cujo prazo para o recurso
é de 05 dias, conforme o artigo 1.023 do CPC. Cuidar também o prazo do Recurso Inominado
no JEC que é 10 dias. O prazo é fatal e peremptório. Tratando-se de prazos fixados em dias,
contam-se apenas os dias úteis, de acordo com o artigo 219 do CPC.

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PRAZO DOS RECURSOS:


* Para todos verem: esquema.

Regra 15 dias

Exceção Embargos de declaração: 05 dias

OBSERVAÇÃO:
O prazo do §5º do art. 1003 do CPC é prazo para interposição dos recursos segundo
o CPC. Uma lei específica poderia prever um prazo específico. Exemplo: 10 dias para o recurso
inominado – art. 42 da Lei 9099/05:

Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença,
por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente. (Brasil, 1995)

Caso seja hipótese de feriado local o que acaba por modificar o prazo final do recurso, o
recorrente deverá comprovar a sua ocorrência. Essa é a previsão do artigo 1.003, §6º do CPC:

§ 6º O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do


recurso. (BRASIL, 2015)

De acordo com o caput do artigo 1.003 do CPC/15, o início do prazo para interposição de
recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia
Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão. Ou seja, a
intimação será do advogado e não da parte, isso porque é o advogado quem deverá praticar o
ato em nome da parte, ou seja, interpor o recurso.
Conforme aduz Medina (2016, p. 1284) os critérios devem ser levados em consideração
para se contar o final do prazo para a interposição do recurso, nada impedindo que, tendo a parte
ciência da decisão, interponha o recurso antes de publicada a decisão.
O §1º do artigo 1.003 por sua vez, estabelece que as partes serão intimadas no próprio
ato quando a decisão for proferida em audiência.
É de se apontar ainda a questão do prazo em dobro:

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* Para todos verem: esquema.

PRAZOS EM DOBRO

• Ministério Público (art. 180 do CPC)


• Fazenda Pública (art. 183 do CPC)
• Defensoria Pública (art. 186 do CPC)
• Escritórios de Prática Jurídica das Faculdades de Direito (art. 186, §3º do CPC)
• Litisconsortes com diferentes advogados pertencentes a escritórios de advocacia diferentes na forma do art.
229 do CPC

Art. 180. O Ministério Público gozará de prazo em dobro para manifestar-se nos autos,
que terá início a partir de sua intimação pessoal, nos termos do art. 183, § 1o. (BRASIL,
2015)

Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas


autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas
manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.
(BRASIL, 2015)

Art. 186. A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas
manifestações processuais.
§3º O disposto no caput aplica-se aos escritórios de prática jurídica das faculdades de
Direito reconhecidas na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica
gratuita em razão de convênios firmados com a Defensoria Pública. (BRASIL, 2015)

Da mesma forma, consoante previsão do §3º do artigo 186, os escritórios de prática


jurídica, bem como as entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de convênios
com a Defensoria Pública também possuem prazo em dobro.
Por fim, de acordo com o artigo 229 do CPC/15, há prazo em dobro também na hipótese
de litisconsorte com advogados pertencentes a escritório de advocacia diferentes, desde que
não sejam autos eletrônicos nesta situação:

Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia


distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer
juízo ou tribunal, independentemente de requerimento.
§1º Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida
defesa por apenas um deles.
§2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos. (BRASIL, 2015)

Além disso, de acordo com a previsão do § 2º do artigo 1.003 que diz que “aplica-se o
disposto no art. 231, incisos I a VI, ao prazo de interposição de recurso pelo réu contra decisão
proferida anteriormente à citação”, deve ser observado o seguinte: o prazo para interposição do
recurso pelo réu contra uma decisão que foi proferida antes mesmo da sua citação deve observar
a previsão dos incisos do artigo 231 do CPC.

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ATENÇÃO
Observar que se aplica o marco inicial do art. 231 do Código de Processo Civil no
caso dos recursos quando o Réu recorrer da decisão proferida antes da sua citação.

O artigo 1.004 do CPC estabelece que:

Se, durante o prazo para a interposição do recurso, sobrevier o falecimento da parte ou


de seu advogado ou ocorrer motivo de força maior que suspenda o curso do processo,
será tal prazo restituído em proveito da parte, do herdeiro ou do sucessor, contra quem
começará a correr novamente depois da intimação. (BRASIL, 2015)

E. Custas (preparo e porte de remessa e de retorno)


O preparo recursal significa o recolhimento das custas e despesas processuais referentes
ao processamento do recurso, consistindo, ainda, no pagamento de taxa pela prestação do
serviço jurisdicional.
Observa-se que nem todo recurso vai ter preparo recursal e/ou porte de remessa e de
retorno. O porte de remessa e de retorno se refere ao pagamento para encaminhar o recurso a
outro órgão, cuidando que conforme o §3º do artigo 1.007 do CPC, se o processo for em autos
eletrônicos é dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno: “§ 3º É dispensado
o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em autos eletrônicos”. (BRASIL,
2015)
Assim, cabe ao recorrente quando da interposição do recurso comprovar o recolhimento
do preparo recursal, juntado as guias de recolhimento. Caso haja o recolhimento insuficiente do
preparo, bem como do porte de remessa e de retorno, o recorrente deve ser intimado na pessoa
do seu advogado para completá-lo no prazo de 05 dias, sob pena de deserção.
Por sua vez, o §4º do artigo 1.007 do CPC menciona que caso não tenha havido a
comprovação do recolhimento do preparo, a parte será intimada, também na pessoa do seu
advogado para o recolhimento em dobro.

ATENÇÃO: O não pagamento do preparo recursal trará como consequência o não conhecimento
do recurso, ou seja, a deserção.

Observar que existem aqueles que estão isentos, tais como a Fazenda Pública, as partes
assistidas pela Defensoria Pública, bem como os beneficiários da Justiça Gratuita, pelo Ministério
Público. Previsão do artigo 1.007 do CPC/15:

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Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido


pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno,
sob pena de deserção.
§1º São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos
interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos
Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal.
§2º A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, implicará
deserção se o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não vier a supri-lo no
prazo de 5 (cinco) dias.
§3º É dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em autos
eletrônicos.
§4º O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do
preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu
advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção.
§5º É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo, inclusive porte
de remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma do § 4º.
§6º Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção, por
decisão irrecorrível, fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo.
§7º O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplicação da pena de
deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o
recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias. (BRASIL, 2015)

Observar:
* Para todos verem: quadro esquemático

Comprovar o preparo, inclusive de porte de


No ato de interposição
remessa e retorno
Deserção: se o recorrente, intimado na
Insuficiência do valor do preparo, inclusive de
pessoa de seu advogado, não suprir no prazo
ponte de remessa e retorno
de 05 dias
Será intimado, na pessoa de seu advogado,
Se não houver a comprovação do recolhimento para recolher em dobro sob pena de
do preparo, inclusive de porte de remessa e deserção, - caso não recolha em dobro
retorno mesmo intimado, não poderá suprir; (vide §4º
e 5º do artigo 1.007 do CPC)

H. Forma

Os recursos devem ser interpostos de acordo com a forma prevista em lei. EXEMPLO: no
caso da Apelação, deve haver a petição de interposição ao juiz de primeiro grau que proferiu a
sentença já acompanhada com as razões dirigida ao Tribunal. Outro EXEMPLO, é no que se
refere ao Agravo de Instrumento que exige a juntada de certas cópias obrigatórias.
Conforme aduzem Donoso e Serau Junior (2017, p. 108) a regularidade formal significa que
o recurso interposto deve obedecer às regras formais de imposição exigidas pela legislação
especificamente para cada recurso.

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Algumas regras formais são comuns a todos recursos. Como exemplo, a exigência de que
o recurso seja interposto na forma escrita, utilizando-se a língua portuguesa. (DONOSO; SERAU
JUNIOR, 2017, p. 108).
A forma pode ser vista também no que tange à forma de interposição, se o recurso é
interposto de forma independente ou de forma adesiva.

I. Motivação

A motivação significa trazer as razões pelas quais a decisão deve ser


modificada/invalidade.
O recorrente deve trazer os motivos pelos quais entende que a decisão está errada e
merece ser alterada/invalidada. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 108)

J. Do juízo de admissibilidade dos recursos

O juízo de admissibilidade significa que o recurso precisa ser admitido antes de ter o seu
mérito analisado.
Portanto, seria uma forma de controle exercido pelo órgão jurisdicional a fim de verificar se
o recurso preenche os requisitos/pressupostos de admissibilidade.
Se não forem preenchidos os requisitos de admissibilidade, o recurso pode não ser
admitido, ou seja, não ter o seu seguimento e não haver a análise do mérito do recurso.

* Para todos verem: esquema

Exemplos de requisitos de admissibilidade

• Interpor o recurso no prazo, ou seja, ser tempestivo


• Comprovar o recolhimento do preparo recursal, inclusive porte
de remessa e de retorno quando for exigido;
• Em casos específicos, como no caso dos recursos especial e
extraordinário, apontamento do pré-quesitonamento;
• Ser parte legítima;
• Utilizar o recurso adequado;
• A decisão deve ser recorrível, ou seja, passível de recurso;
• Motivação e forma respeitadas.

O recorrido poderá na resposta ao recurso, que são as CONTRARRAZÕES, impugnar a


inexistência/inobservância dos pressupostos recursais, justamente para que o recurso interposto
não seja conhecido.

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1.7 Dos princípios dos recursos


Os recursos são orientados por alguns princípios específicos. O que não afasta a incidência
de outros princípios processuais gerais como o da isonomia, contraditório, etc. (DONOSO;
SERAU JUNIOR, 2017, p. 41)

A. Princípio do Duplo Grau de Jurisdição:


O princípio do duplo grau de jurisdição confere a possibilidade de uma causa ser decidida
ao menos por dois órgãos diferentes do Poder Judiciário. Com isso, tem-se a concepção de que
uma decisão que foi proferida pelo órgão a quo (ou seja, o juízo inferior) seja revista pelo órgão
ad quem (juízo superior), de forma a evitar o abuso de poder por parte do julgador, bem como
em razão da falibilidade humana (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 42)
Porém, “não se trata de princípio absoluto, todavia. De fato, não só há decisões irrecorríveis
no nosso sistema, como também, em algum momento, determinada decisão judicial deve ser a
última do processo, pois, do contrário, esse jamais teria fim, rompendo com o próprio objetivo da
jurisdição”. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 42)
Ensinam Donoso e Serau Junior (2017, p. 43) que em alguns casos o duplo grau acaba
sendo mitigado, como naquelas situações em que se permite expressamente a chamada
supressão de instancia, ou seja, situações em que o próprio Tribunal aprecia de forma imediata
determinada matéria que não foi apreciada pela instância inferior, como por exemplo no caso
dos §§3º e 4º do art. 1.013 do CPC.

B. Princípio da Taxatividade:

Somente seriam recursos aqueles previstos na lei. As partes não poderiam criar algum
recurso.
Assim, o ordenamento jurídico não deixa para as partes a autonomia de criarem os meios
para impugnar as decisões que forem proferidas, nem mesmo decorrente do negócio jurídico
processual. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 44)

C. Princípio da Unirrecorribilidade ou Singularidade:

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Pelo princípio da singularidade ou unirrecorribilidade caberá por cada parte que recorrer
um recurso, o adequado. Isso não impede que ambas as partes recorram da mesma decisão
caso ambas estejam insatisfeitas com a decisão e tenham o respectivo interesse recursal.
Nesse sentido, DIDIER JUNIOR e CUNHA (2018, p. 135) de acordo com a regra da
unicidade, unirrecorribilidade ou singularidade não seria possível a interposição simultânea de
dois recursos contra a mesma decisão, pois para cada caso há um recurso adequado. Logo,
ressalvadas as exceções, a interposição de mais de um recurso pela mesma parte contra uma
mesma decisão implica inadmissibilidade do recurso interposto por último. Destaca situações
dignas de nota, sendo que uma delas é justamente que contra acórdão objetivamente complexo
(mais de um capítulo) é possível imaginar o cabimento simultâneo do recurso especial e do
recurso extraordinário.
Ou seja, neste caso, por exemplo, se o acórdão proferido pelo TJ ferisse tanto lei federal
quanto norma constitucional teriam que ser interposto o recurso especial para a parte que fere a
lei federal e o recurso extraordinário para a parte que fere a norma constitucional, constituindo,
portanto, um exemplo de exceção à regra.

D. Princípio da Proibição da Reformatio In Pejus:

Se somente uma parte recorrer não pode no recurso ser piorada sua situação. Pode
melhorar ou simplesmente não mudar nada, mas piorar não pode.
Exemplo: Autor ingressa com a ação pleiteando 50 mil reais a título de danos materiais.
Após o transcurso do processo, o juiz julga parcialmente procedente o pedido do Autor,
condenando o Réu em 30 mil reais. Se apenas o Autor apelar para majorar a condenação de R$
30 mil reais para R$ 50 mil reais conforme requerido na Inicial, o Tribunal pode não majorar para
o valor de R$ 50 mil reais, pode não alterar nada, mas não pode piorar a situação do Autor se
somente ele recorreu, afastando os danos materiais que já teriam sido concedidos pelo juiz de
primeiro grau.
Um exemplo também é apontado por DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 48): “A
promove ação judicial em face de B, do qual busca indenização equivalente a R$ 100.000,00
(cem mil reais). Em sentença, há parcial procedência do pedido, condenando o réu B ao
pagamento de indenização de R$ 65.000,00 (sessenta e cinco mil reais). Inconformado com a
condenação, mesmo que parcial, o réu B interpõe recurso de apelação. Ao julgar tal recurso, no

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entanto, o tribunal terá dois caminhos apenas. O primeiro deles é acolher o recurso do réu
(apelante) para reduzir ou afastar completamente a condenação. O segundo é manter a decisão,
que condenou ao pagamento de indenização de R$ 65.000,00 (sessenta e cinco mil reais). Não
poderá, em hipótese alguma, majorar a indenização, ainda que entenda que sua fixação ficou
aquém do adequado.
Nesse sentido explicam DIDIER JUNIOR E CUNHA (2018, p. 169) que se somente um
litigante parcialmente vencido interpor recurso da decisão, a parte dessa que lhe foi favorável
transitará normalmente em julgado, não sendo lícita ao órgão ad quem exercer sobre ela
atividade cognitiva, muito menos retirar, no todo ou em parte a vantagem que foi obtida
anteriormente com o julgamento pelo grau inferior.
Destaca-se, ainda, que conforme DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 49) uma exceção
que a doutrina costuma apontar ao princípio da proibição da reformatio in pejus é aquela ligada
às matérias que devem ser conhecidas de ofício pelo órgão julgador, como é o caso, por
exemplo, das condições da ação e da prescrição, dentre outros. Mas, segundo os autores, é de
se reconhecer que o que se opera aqui não é efetivamente o efeito devolutivo, mas sim o efeito
translativo dos recursos.

E. Princípio da Fungibilidade:

A regra nos recursos é de que tem que ser interposto o recurso adequado, sob pena do
recurso que foi interposto de forma errada não ser admitido, não ser julgado. Porém, pelo
princípio da fungibilidade um recurso poderia ser recebido como outro. No entanto, isso é
exceção.
Conforme DONOSO e SERAU JUNIOR (2017, p. 46) tal princípio, em determinadas
condições, permite que um recurso possa ser recebido como se fosse outro, sem que isso
acarrete julgamento extra ou ultra petita. A fungibilidade seria exceção ao cabimento recursal,
afastando, assim, a correspondência. Partiria da premissa que podem existir dúvidas sobre qual
o recurso cabível, apesar de o legislador tentar deixar claro.
Sobre o referido princípio destacam DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 46):

Fundada em outro princípio – o da instrumentalidade das formas (art. 283 do CPC), ligado
à teoria geral do processo – a fungibilidade era expressamente prevista no CPC de 1939
(art. 810), mas não no CPC de 1973, embora não houvesse dúvidas de sua aplicação,
desde que atendidos certos requisitos. No CPC de 2015, pode-se dizer que existem
previsões específicas de aplicação da fungibilidade recursal, o que não afasta a sua

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incidência em casos não específicos, mas desde que os tais requisitos estejam presentes.
(...)

Exemplos de previsões do princípio da fungibilidade segundo DONOSO E SERAU JUNIOR


(2017, p. 46-47):

A fungibilidade entre os embargos de declaração e o agravo interno, conforme artigo 1024,


§3º do CPC: “O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo
interno se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a
intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões
recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º do CPC”. (BRASIL, 2015)

Ainda, segundo DONOSO e SERAU JUNIOR (2017, p. 47) ainda que fora destas hipóteses
legalmente previstas, se preenchidos determinados requisitos, pode haver a aplicação da
fungibilidade. Estes requisitos seriam basicamente, DÚVIDA OBJETIVA SOBRE QUAL O
RECURSO CABÍVEL, de modo que não será aplicada a fungibilidade se houver erro grosseiro
do recorrente.

1.8 Dos efeitos dos recursos

Um dos primeiros efeitos que se pode apontar dos recursos é o adiamento da coisa julgada.
Ou seja, quando o recurso for interposto, tal interposição impossibilita o trânsito em julgado da
decisão, conforme previsão do artigo 502 do CPC:

Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível
a decisão de mérito não mais sujeita a recurso. (BRASIL, 2015)

A) Efeito devolutivo

Significa a devolução da matéria impugnada ao Tribunal ad quem. Assim, via de regra, os


recursos consistem no encaminhamento do conhecimento da matéria impugnada ao Tribunal ad
quem.
No que tange ao referido efeito (MEDINA, 2016, p. 1299) menciona que se usa a “expressão
‘efeito devolutivo’ para designar esse efeito do recurso, consistente em submeter ao órgão que
o julgará o conhecimento da matéria impugnada”.
Sobre o efeito devolutivo ARAÚJO JUNIOR estabelece que:

Comum a todos os recursos, o “efeito devolutivo” consiste na transferência para o juízo ad


quem do conhecimento de toda a matéria impugnada e, por óbvio, no limite da impugnação
(tantum devolutum quantum apellatum), consoante norma do art. 1002 do CPC, que
declara que “a decisão pode ser impugnada no todo ou em parte”. Destarte, o juízo ad

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quem não pode piorar a situação do recorrente, princípio da proibição da reformatio in


pejus, dado que só pode conhecer a matéria efetivamente impugnada, dando ou negando
provimento à pretensão. (ARAUJO JUNIOR, 2016, p. 27)

Como um dos exemplos de exceção à regra geral, aponta-se um dado por ARAUJO
JUNIOR (2016, p. 27) como os embargos de declaração, pois estes DEVOLVEM O
CONHECIMENTO DA MATÉRIA PARA O PRÓPRIO JUÍZO PROLATOR DA DECISÃO
IMPUGNADA (art. 1.023 do CPC).
Assim, via de regra, os recursos possuem o efeito devolutivo de forma que o conhecimento
da matéria é devolvido novamente ao Judiciário com o fim de confirmar ou reformar a decisão
impugnada. Führer e Führer apontam ainda que de regra a devolução é ampla possibilitando o
juízo ad quem o conhecimento de toda matéria impugnada (2016, p. 192).
Observar que os Embargos de declaração não possuem o efeito de transferir o
conhecimento da matéria ao Tribunal ad quem, pois devolvem o conhecimento da matéria
impugnada para o próprio órgão que proferiu a decisão.

B) Efeito suspensivo

Significa que a decisão seja cumprida enquanto o recurso não for julgado. No novo CPC,
com exceção da Apelação, os demais recursos como regra NÃO POSSUEM O EFEITO
SUSPENSIVO, conforme o caput do artigo 995 do CPC. Verificar a previsão do artigo 987, §1º
quando o recurso especial e extraordinário terão efeito suspensivo do julgamento do incidente
de resolução de demandas repetitivas.
Porém, poderá ser requerido o efeito suspensivo com base no parágrafo único do art.
995 do CPC.
Segundo Medina (2016, p. 1307) o efeito suspensivo impede a produção de forma imediata
dos efeitos da decisão, situação que, em princípio perduraria até o julgamento do recurso
interposto, de forma que com o efeito suspensivo, ocorre a inexequibilidade imediata da decisão.
Portanto, alteração em relação ao CPC antigo, pois no novo CPC, a regra é que os recursos
não impedem a eficácia da decisão, de acordo com o artigo 995:

Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou
decisão judicial em sentido diverso.
Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do
relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou
impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso.
(BRASIL, 2015)

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▪ Quais os requisitos para ser atribuído o efeito suspensivo aos recursos, conforme o
parágrafo único do artigo 995 do CPC?
* Para todos verem: esquema

Requisitos para ser requerido o efeito


suspensivo (parágrafo único do art. 995
do CPC)

Risco de Dano Grave, de difícil ou


Impossível reparação;

Ficar demonstrada a probabilidade de


provimento do recurso;

C) Efeito translativo

Significa a possibilidade do Tribunal ad quem reavaliar questões de ordem pública, de


ofício.

D) Efeito expansivo

Significa a possibilidade de em alguns casos o Tribunal ad quem determinar que a decisão


do recurso atinja partes que não recorreram da decisão. Da mesma forma, o efeito expansivo
permite que o julgamento do recurso abranja outros pedidos do processo que não foram objeto
de impugnação, mas que guardam alguma relação, tais como os pedidos subsidiários ou
alternativos.
Nesse sentido, Medina (2016, p. 1305) coloca que o efeito expansivo pode ser objetivo
(interno ou externo) ou subjetivo. Ocorre o “efeito expansivo subjetivo quando o recurso
interposto por apenas um dos litisconsortes é provido e, no caso, aplica-se o regime da
unitariedade, ainda que apenas em relação a uma determinada questão ou fundamento (cf. art.
1.005 do CPC/2015)”.
A previsão do art. 1.005 do CPC é a seguinte:

Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se
distintos ou opostos os seus interesses.
Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um devedor
aproveitará aos outros quando as defesas opostas ao credor lhes forem comuns. (BRASIL,
2015)

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E) Efeito regressivo

Significa a possibilidade de o próprio julgador se retrate, ou seja, reconsidere a decisão


impugnada. EXEMPLO: juízo de retratação no Agravo de Instrumento.
A apelação de regra não terá o efeito regressivo, salvo nas hipóteses legais. No CPC se
permite a retratação do juiz diante da apelação no caso dos artigos 331 do CPC (Indeferimento
da Petição Inicial), Improcedência liminar do pedido (artigo 332 do CPC) e quando houver
extinção do processo sem resolução de mérito (art. 485, §7º do CPC).

F) Efeito substitutivo:

Uma vez julgado o mérito do recurso, a decisão recorrida é substituída na sua extensão de
acordo com o que foi modificado pelo Tribunal. (MEDINA, 2016, p. 1304)
Na concepção de LOURENÇO (2017, p. 474) o artigo 1.008 do CPC estabelece que o
julgamento do recurso substitui a decisão recorrida naquilo que tiver sido objeto do recurso.
Porém, conforme o referido doutrinador não se deve prestigiar uma interpretação literal, uma vez
que a substituição ocorre somente na hipótese de julgamento do mérito dos recursos.

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2. Recursos cabíveis no novo CPC

Os recursos cabíveis no CPC/15 estão elencados no artigo 994:

Art. 994. São cabíveis os seguintes recursos:


I - apelação;
II - agravo de instrumento;
III - agravo interno;
IV - embargos de declaração;
V - recurso ordinário;
VI - recurso especial;
VII - recurso extraordinário;
VIII - agravo em recurso especial ou extraordinário;
IX - embargos de divergência. (BRASIL, 2015)

Observar o princípio da taxatividade, de forma que foram apontados os recursos cabíveis


no processo civil.
Isso não inibe que haja recurso previsto em lei específica. Exemplo: recurso inominado do
juizado especial.

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3. Recurso Adesivo

Segundo o CPC, o recurso poderá ser interposto de forma independente ou de forma


adesiva. Ou seja, o recurso poderá ser principal ou adesivo.
O recurso será interposto de forma independente quando a parte fizer uso do recurso
adequado no prazo previsto para impugnar a referida decisão. Nos casos em que há
sucumbência recíproca, ou seja, trazer a ambas as partes alguma inconformidade com a decisão,
qualquer uma delas poderá recorrer no prazo em comum. Se ambas as partes recorrerem no
prazo comum, os recursos serão considerados de forma individual, ou seja, independentes.
Porém, caso ocorra a situação de haver sucumbência recíproca e somente uma das partes
recorra no prazo estabelecido para interpor o recurso e a outra não, haverá uma segunda
oportunidade para a parte que não recorreu, desde que seja admitido o recurso adesivo. Ou seja,
a parte que não recorreu poderá aderir ao recurso da parte que interpôs no prazo estabelecido
pela lei.
Dessa forma Lourenço (2017, p. 479) justamente ensina que pelo CPC se verificam duas
formas de interposição de um recurso: independente ou adesiva. Na forma independente, o
recurso é interposto de forma autônoma pela parte, e na segunda, tem-se o recurso subordinado
ao da parte adversa, interposto por quem não se dispôs a impugnar a decisão, mas veio a ataca-
la porque o outro litigante veio fazê-la.
O artigo 997 estabelece que cabe o recurso adesivo na situação de sucumbência recíproca:

Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com observância
das exigências legais.
§1º Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir o
outro. (BRASIL, 2015)

Como exemplo pode-se citar o caso de o Autor ingressar com uma ação de Reparação de
danos materiais e morais. No entanto, o juiz condena apenas em danos materiais. Porém, o autor
decide não recorrer para pleitear os danos morais. Por sua vez, o Réu sucumbente nos danos
materiais decide apelar. Como o Autor não apelou para pedir os danos morais, mas o Réu
Apelou, o Autor poderá no prazo das contrarrazões aderir ao recurso interposto pelo Réu
para pleitear os danos morais.

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O recurso adesivo se reveste de importância, pois no caso do exemplo, caso o Autor não
aderisse ao Recurso interposto pelo Réu, em razão do princípio da proibição da reformatio in
pejus, não poderia o Tribunal condenar o Réu nos danos morais.
Outro exemplo fornecido por Viana (2018, p. 337): “O recurso adesivo pode ser interposto
pela parte sucumbente que havia se conformado com a condenação, no entanto, foi surpreendida
com o recurso da outra parte também sucumbente que não concorda com a condenação”.
E mais: “Imagine-se que o autor proponha ação indenizatória por danos morais pleiteando
R$ 20.000,00, e o juiz de direito condena o Réu em R$ 10.000,00. Embora o autor não tenha
concordado com o valor da condenação, não interpôs o recurso de apelação, porque entendeu
que o recurso de apelação poderia estender o prazo do trânsito em julgado da sentença. Nesse
ínterim, é surpreendido com o recurso de apelação da parte contrária que visa reformar a
decisão. Ao ser intimado para apresentar contrarrazões recursais, é lícito ao autor interpor
também recurso adesivo”. (VIANA, 2018, p. 337-338).
Entende-se que o Recurso Adesivo não constitui nova espécie de recurso, mas, sim, forma
de interposição.
Nesse sentido explanam DIDIER JUNIOR e CUNHA (2018, p. 180): “O recurso adesivo não
é espécie de recurso, mas sim forma de interposição, já que o recurso pode ser interposto de
forma independente e de forma adesiva. Dessa forma, o recurso adesivo é exatamente o mesmo
recurso que poderia ter sido interposto de forma principal”.
Ainda, é de se destacar que nem todos os recursos permitem a interposição de forma
adesiva. É permitido o recurso adesivo nos seguintes recursos, conforme o artigo 997, §2º, II do
CPC: no recurso de apelação, no recurso especial e no recurso extraordinário.

* Para todos verem: esquema

É admissível o recurso adesivo


(art. 997, §2º, CPC)

• Apelação
• Recurso Especial
• Recurso Extraordinário

§ 2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe aplicáveis as


mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal,
salvo disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte:
I - será dirigido ao órgão perante o qual o recurso independente fora interposto, no prazo
de que a parte dispõe para responder;

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II - será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial;


III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele
considerado inadmissível. (BRASIL, 2015)

Além disso, o inciso I do §2º do artigo 997 do CPC/15 estabelece que o Recurso Adesivo
será interposto no prazo para resposta do recurso principal, ou seja, no prazo das contrarrazões.
A interposição do recurso adesivo não substitui as contrarrazões, ou seja, a resposta do
recurso principal.
O recurso adesivo somente será conhecido se o recurso principal também o for. Assim,
caso haja desistência, ou inadmissão do recurso principal, o recurso adesivo também estará
prejudicado.
A forma do recurso adesivo é a mesma do recurso principal. Com isso, se entende que
será endereçado ao juiz que proferiu a decisão, caso seja Apelação, por exemplo. Da mesma
forma, o recurso adesivo deverá ter preparo próprio.
Importante mencionar na petição de interposição que se trata de recurso adesivo para
deixar claro que ainda é tempestivo (pois não foi interposto no prazo do recurso, e sim no da
resposta ao recurso principal interposto pela outra parte). EXEMPLO: Recurso Adesivo ao
recurso de Apelação; Apelação adesiva; Apelação na modalidade adesiva.

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MODELO DE RECURSO ADESIVO (no caso do recurso independente ser a apelação)

DOUTO JUÍZO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE SANTA CRUZ DO SUL


ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (Conforme enunciado da FGV)

Processo número...

NOME DE QUEM ESTÁ RECORRENDO, nacionalidade..., estado civil..., profissão...,


portador da Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado
na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador
constituído (procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com escritório profissional
na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe intimações, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 997, §1º e 2º
do Código de Processo Civil, interpor o presente

RECURSO ADESIVO AO RECURSO DE APELAÇÃO


Que fora interposto pelo NOME DA PARTE CONTRÁRIA, nacionalidade..., estado
civil..., profissão..., portador da Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico...,
residente e domiciliado na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas
razões que segue em anexo.
Requer, inicialmente, a intimação do Apelante para oferecer contrarrazões ao recurso
interposto de forma adesiva, conforme artigo 1.010, §2º do Código de Processo Civil.

Requer, também, que após o prazo das contrarrazões do Apelante, os autos sejam
encaminhados ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, na forma do
§3º do artigo 1.010 do Código de Processo Civil.
Requer o Apelado o benefício da gratuidade da justiça, nos termos dos artigos 98 e
99 do Código de Processo Civil.
Termos em que,
Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...OAB...

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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


RAZÕES DO RECURSO ADESIVO

Processo...
Recorrente...
Recorrido...

EGRÉGIO TRIBUNAL,
COLENDA CÂMARA,
NOBRES JULGADORES

I – DO CABIMENTO DO PRESENTE RECURSO ADESIVO:

O presente recurso adesivo tem cabimento, conforme previsão dos parágrafos 1º e 2º


do artigo 997 do Código de Processo Civil. Isso porque, apesar de ter havido sucumbência
recíproca, haja vista o Recorrente ter sido sucumbente quanto aos danos morais, não
interpôs a Apelação de forma independente no prazo legal de 15 dias a contar da intimação
da sentença, conforme preceitua o caput do artigo 997 do Código de Processo Civil. Porém,
quando intimado para oferecimento das contrarrazões ao recurso de Apelação interposto
pelo Apelante, ora Recorrido, aderiu ao recurso do mesmo, cabendo o recurso adesivo do
recurso de Apelação, consoante disposição do artigo 997, §2º, inciso II do Código de
Processo Civil.

II – DA TEMPESTIVIDADE:
O presente recurso adesivo é tempestivo, eis que interposto dentro do prazo legal de 15
dias para oferecimento das contrarrazões ao recurso de apelação, eis que o §2º, inciso I do
artigo 997 do Código de Processo Civil preconiza que o recurso adesivo será interposto no
prazo para oferecimento das contrarrazões, sendo este de 15 dias, conforme o artigo 1.010,
§1º e 1.003, §5º, ambos do Código de Processo Civil, computados somente os dias úteis, na
forma do artigo 219 do Código de Processo Civil, excluindo o dia do início e incluindo o dia
do vencimento, consoante o caput do artigo 224 do Código de Processo Civil.

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III – SÍNTESE DA DEMANDA:


Fazer uma síntese da demanda, conforme o enunciado da FGV.

IV – RAZÕES RECURSAIS:
Atacar a sentença na parte que foi sucumbente. Apresentar as teses em tópicos.

V – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Recorrente:
a) A admissibilidade, conhecimento e processamento do presente recurso na forma
adesiva ao recurso de apelação, uma vez que preenchidos os pressupostos de
admissibilidade;
b) O total provimento do recurso adesivo para o fim de reformar a sentença de primeiro
grau na parte que deixou de condenar o Recorrido aos danos morais, para o fim de
condenar o mesmo no valor de R$ 50.000,00 a títulos de danos morais;
c) A inversão do ônus de sucumbência, condenado o Recorrido em custas e
honorários advocatícios;
d) A juntada do comprovante de recolhimento do preparo recursal, inclusive porte de
remessa e de retorno OU a concessão do benefício da gratuidade da justiça;

Termos em que,
Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...
OAB...

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4. Apelação

4.1 Previsão legal


A apelação tem previsão legal no art. 994, I e art. 1.009 a 1.014 do CPC/15.

4.2 Cabimento
O recurso de apelação ataca a sentença de primeiro grau, seja sentença terminativa ou
definitiva, conforme previsão do caput do artigo 1.009 do CPC/15:

Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. (BRASIL, 2015)

O CPC define sentença no artigo 203, §1º do CPC como “§ 1º Ressalvadas as disposições
expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz,
com fundamento nos arts. 485 e 487 , põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem
como extingue a execução.” (BRASIL, 2015)
O objetivo do recurso de apelação é devolver o reexame da decisão judicial ao órgão
superior, com o objetivo de sua reforma, total ou parcial ou sua invalidação;

Art. 1.002. A decisão pode ser impugnada no todo ou em parte. (BRASIL, 2015)

O recurso de Apelação buscará a reforma ou invalidação da sentença.

NA REFORMA → o apelante busca uma nova decisão a ser proferida pelo tribunal, pois
nesse caso o juiz de direito não analisou detidamente as provas carreadas aos autos do processo
ou teve um entendimento equivocado. Por isso, o apelante requer uma nova decisão sobre o
processo. (VIANA, 2018, p. 353)
NA INVALIDAÇÃO → o apelante busca obter do tribunal a declaração de que a sentença
é inválida, porque houve um ato nulo no curso do processo e por esse motivo invalidou os atos
processuais que o sucederam, atingindo, inclusive, a sentença. Assim, o apelante pode pleitear
que o tribunal declare aquele ato absolutamente nulo, determinando que o processo seja refeito
e que o processo se reinicie a partir daquele momento processual. (VIANA, 2018, p. 353).

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Para cabimento da Apelação não importa se a sentença resolveu o mérito ou não, bem
como o procedimento em que a sentença foi prolatada (se procedimento comum ou especial),
nem se se trata de jurisdição voluntária ou contenciosa.
Ou seja, tanto faz se for uma sentença definitiva ou terminativa. A sentença definitiva ou
de mérito é aquela que põe fim ao procedimento de primeiro grau julgando o mérito, ou seja,
indicando quem tem razão na demanda: SE O AUTOR OU O RÉU. Já a sentença terminativa
ou processual é aquela que encerra a demanda sem julgar o mérito, porque houve uma nulidade
ou vício processual. Nesse caso, a ação poderá ser ajuizada novamente, uma vez que não houve
julgamento do mérito. (VIANA, 2018, p. 354).

NA SENTENÇA TERMINATIVA → o juiz extingue o processo sem resolução de mérito,


tendo o autor duas opções: apelar ou distribuir novamente a demanda depois de corrigir o vício
processual que ocasionou a extinção do processo. (VIANA, 2018, p. 354)

NA SENTENÇA DEFINITIVA → O autor tem apenas uma opção: interpor o recurso de


apelação. Isso porque a sentença definitiva julga o mérito da causa e essa sentença faz coisa
julgada material, enquanto que a sentença terminativa não enfrenta o mérito da causa. (VIANA,
2018, p. 354)
Segundo DIDIER e CUNHA (2018, p. 195) a “apelação pode ser interposta contra toda e
qualquer sentença, tenha ou não sido apreciado o mérito, em jurisdição contenciosa ou voluntária
(art. 724, CPC), em processo de conhecimento ou de execução”.
No entanto, se o processo envolver de um lado o Estado Estrangeiro ou organismo
internacional, e de outro, município ou pessoa residente ou domiciliada no país, será cabível
recurso ordinário para o STJ, o qual se equipara, neste caso, ao recurso de apelação, conforme
previsão do art. 1.027, II, “b”, do CPC/15:

Art. 1.027. Serão julgados em recurso ordinário:


II - pelo Superior Tribunal de Justiça:
b) os processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.(BRASIL,
2015)

Cabe, ainda, apelação contra sentença proferida em Mandado de Segurança, conforme


previsão do artigo 14 da Lei 12.016/2009.

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Observar, porém, caso a decisão do juiz seja a de julgar parcialmente o mérito, não
acabando assim com o processo, nestes casos, o recurso cabível é o de Agravo de Instrumento.
Exemplo: se o juiz antes da instrução já julgou procedente o pedido quanto ao dano material,
mas determinou prova quanto ao dano moral, houve julgamento parcial do mérito. Neste caso,
o recurso quanto ao dano material já julgado será o de agravo de instrumento. Verificar os artigos
356 e §5º e o artigo 487, I do CPC/15:

Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados
ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.
§5º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento.
(BRASIL, 2015)
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção; (BRASIL, 2015)

Portanto, é de atentar para o fato de que sentença é a decisão do juiz de Primeiro Grau
que encerra uma fase do procedimento (art. 203, §1º do CPC). Já, a decisão interlocutória
também é decisão do juiz de Primeiro Grau, mas que não encerra o procedimento na instancia.
Ambas podem ter por conteúdo alguma situação dos artigos 485 e 487 do CPC. Porém, se for
decisão interlocutória e tiver por conteúdo uma das situações dos artigos 485 ou 487 do CPC a
decisão interlocutória será uma decisão parcial impugnável por meio de agravo de instrumento
(conforme art. 354, parágrafo único e artigo 1.015, II do CPC). (DIDIER JUNIOR; CUNHA, 2018,
p. 195-196)

Preliminares de Apelação: §1º do art. 1009 do CPC


Observar que também serão impugnadas na Apelação as decisões interlocutórias proferidas na
fase de conhecimento que não sejam passíveis de Agravo de Instrumento.
Assim sendo, serão alegadas na Apelação, em preliminares, inclusive nas contrarrazões,
as questões resolvidas na fase de conhecimento sobre as quais não cabe Agravo de Instrumento,
consoante previsão do §1º do artigo 1.009 do CPC.
Caso sejam arguidas as matérias não sujeitas ao Recurso de Agravo de Instrumento nas
contrarrazões, conforme previsão do §1º, o Apelante será intimado para no prazo de 15 dias,
manifestar-se sobre elas:

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Art. 1.009
§1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não
comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser
suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou
nas contrarrazões. (BRASIL, 2015)
§2º Se as questões referidas no § 1º forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente será
intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas. (BRASIL, 2015)

Matérias do art. 1015 decididas na sentença: art. 1.009, §3º do CPC


Ainda, conforme previsão do §3º do artigo 1.009 do CPC se na sentença o juiz se manifestar
sobre alguma matéria do artigo 1.015 do CPC será impugnado no recurso de apelação:

§ 3º O disposto no caput deste artigo aplica-se mesmo quando as questões mencionadas


no art. 1.015 integrarem capítulo da sentença. (BRASIL, 2015)

Se na sentença o juiz confirma, concede ou revoga a tutela provisória: art. 1.013, §5º do
CPC: Se na sentença o juiz confirmar, conceder ou revogar a tutela provisória, isso será
impugnável na apelação. Então, se a decisão da tutela provisória for através de decisão
interlocutória (antes da sentença) caberá agravo de instrumento, conforme art. 1.015, I do CPC,
mas se na sentença o juiz se manifestar sobre tutela provisória, impugna na apelação, conforme
o §5º do art. 1.013 do CPC:

§5º O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é


impugnável na apelação. (BRASIL, 2015)

* Para todos verem: esquema

Cabe da sentença

Preliminar de apelação: decisão interlocutória


APELAÇÃO

que não coube agravo de instrumento

Matérias do rol do art. 1015 desde que


decididas na SENTENÇA

Capítulo da sentença que concede, confirma


ou revoga TUTELA PROVISÓRIA é
impugnável na apelação

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4.3 Do prazo

O prazo para interposição da Apelação é de 15 dias, bem como para as contrarrazões.


Regra do artigo 1.003, §5º do CPC. Valem as regras dos prazos para os recursos (Prazo em
dobro, intimação, suspensão, prazo em dias úteis, ...)

NÃO ESQUECER: O prazo para interposição de apelação e contrarrazões é de 15 dias.

4.4 Estrutura da petição do recurso de apelação

A apelação será interposta por meio de duas petições:


* Para todos verem: esquema
Petição de interposição Petição de razões
•Dirigida ao juiz de primeiro grau •Dirigida ao Tribunal

Ambas as petições acabam com pedido, local, data e assinatura do advogado, PORÉM EM
SE TRATANDO DE FGV ESSES DADOS DEVEM SER DE FORMA GENÉRICA COM OS ...
De acordo com o artigo 1.010 do CPC/15, a Apelação terá os seguintes elementos:

Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá:
I - os nomes e a qualificação das partes;
II - a exposição do fato e do direito;
III - as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade;
IV - o pedido de nova decisão. (BRASIL, 2015)

Portanto, a Apelação será INTERPOSTA POR MEIO DE PETIÇÃO DIRIGIDA AO JUIZ DA


CAUSA, sendo que a peça vai ter duas partes: uma chamada de petição de interposição que vai
conter o endereçamento ao juiz da causa, os dados de identificação da causa SEGUIDA DA
PETIÇÃO COM AS RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO, QUE É DIRIGIDA AO
TRIBUNAL, onde estão os fundamentos de fato e de direito e o pedido de reforma da decisão.
Portanto, conforme o art. 1.010 devem ser preenchidos os seguintes requisitos:

I - os nomes e a qualificação das partes;


II - a exposição do fato e do direito;
III - as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade;
IV – o pedido de nova decisão;

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4.5 Efeitos do recurso de apelação

Como regra, a apelação é recebida nos efeitos devolutivo e suspensivo, ou seja, no duplo
efeito, consoante previsão do artigo 1.012 do CPC/15.

4.5.1 Efeito devolutivo:

O efeito devolutivo (Araújo Junior, 2016) consiste na transferência para o Tribunal do


conhecimento de toda a matéria impugnada pelo recorrente e no LIMITE DA IMPUGNAÇÃO
(tantum devolutum quantum apellatum).
Segundo o autor (Araújo Junior, 2016), o efeito devolutivo permite que o Tribunal possa
conhecer de todas as questões suscitadas no processo, mesmo que a sentença de primeiro grau
não as tenha apreciado por inteiro.
O recorrente poderá recorrer parcialmente quanto à questão de mérito, sendo que a matéria
não impugnada transitará em julgado. (ARAÚJO JUNIOR, 2016, p. 32).
O efeito devolutivo é estudado sob duas vertentes: profundidade e extensão.
A extensão liga-se à ideia daquilo que é ou não impugnado pelo Apelante. Assim, a matéria
impugnada, e apenas esta, é devolvida ao conhecimento do tribunal, cabendo ressaltar que o
órgão ad quem fica adstrito a examinar somente a matéria que foi objeto do recurso (tantum
devolutum quantum apellatum). É o apelante que definirá qual o capítulo da sentença apelada
que pretende que seja reexaminada pelo tribunal, até porque nada impede que o recurso seja
parcial, conforme previsão do art. 1002 do CPC. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 162)
A extensão do efeito devolutivo é, assim, limitada pelo pedido do apelante (DONOSO;
SERAU JURNIO, 2017, p. 162).
Dessa forma, matérias que não foram impugnadas não serão devolvidas ao tribunal. Nesse
sentido é a previsão do art. 1.013 do CPC: “Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o
conhecimento da matéria impugnada”. (BRASIL, 2015)
No que tange à profundidade do efeito devolutivo, esta se refere aos fatos e fundamentos
que serão analisados na apelação, ainda que não considerados pela decisão recorrida. Assim,
o tribunal ao julgar a apelação, apreciará todas as questões suscitadas e discutidas no processo,
ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado.
(DONOSO; SERAU JURNIO, 2017, p. 163). Conforme previsão do art. 1.013, §1º do CPC:

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§1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões
suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que
relativas ao capítulo impugnado. (BRASIL, 2015)

A doutrina aponta atenção especial à parte final do art. 1.013, §1º do CPC “desde que
relativas ao capítulo impugnado”. Ou seja, deve ser deixado claro que é vedado ao Tribunal
conhecer de matérias vinculadas ao capítulo não impugnado, porque se considera que o
respectivo pedido transitou em julgado exatamente pela ausência de impugnação. (DONOSO;
SERAU JUNIOR, 2017, p. 163). No mesmo sentido está o enunciado 100 do FPPC: “100. (art.
1.013, § 1º, parte final) Não é dado ao tribunal conhecer de matérias vinculadas ao pedido
transitado em julgado pela ausência de impugnação”.
Possibilita-se o conhecimento pelo Tribunal de todos os elementos que estavam à
disposição do juízo de primeiro grau no momento em que este proferiu a decisão, até mesmo o
pedido subsidiário (art. 326) não apreciado pelo juiz, já que este teria acolhido o principal.
Enunciado 102 do FPPC: “102. (arts. 1.013, § 1º, e 326) O pedido subsidiário (art. 326) não
apreciado pelo juiz –que acolheu o pedido principal – é devolvido ao tribunal com a apelação
interposta pelo réu”. (DONOSO; SERAU JURNIO, 2017, p. 163).
Segundo os autores, também pegam carona no efeito devolutivo todos os fundamentos do
pedido ou da defesa, embora o juiz tenha acolhido apenas um deles (art. 1.013, §2º). É o caso
da multiplicidade de fundamentos para o pedido ou para a defesa. (DONOSO; SERAU JUNIOR,
2017, p. 163).
§ 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas
um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. (BRASIL, 2015)

Por fim, destaca-se, no entanto, que em se tratando de profundidade, que somente


integrarão o efeito devolutivo da apelação aquelas questões ligadas ao capítulo impugnado, de
acordo com o que prevê o art. 1.013 do CPC. (DONOSO; SERAU JURNIO, 2017, p. 163).
Para exemplificar: “A” propõe uma ação contra “B” elaborando dois pedidos: (1) a rescisão
de um contrato tendo como fundamento uma infração contratual (culpa) e uma causa qualquer
de anulabilidade (vício de consentimento) e (2) indenização por danos morais. A sentença acolhe
ambos os pedidos, sendo que o pedido de rescisão é julgado procedente porque reconhecido o
vício de consentimento (sem adentrar na análise da culpa contratual). “B” interpõe recurso de
apelação apenas quanto ao pedido de rescisão, mas não quanto à indenização.
Consequentemente, quanto à extensão apenas se devolve o pedido de rescisão contratual. No
entanto, no que se refere à profundidade, todos os argumentos do pedido de rescisão devem ser

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considerados, até mesmo aquele referente à culpa contratual, que não havia sido considerada
na sentença. (DONOSO; SERAU JURNIO, 2017, p. 164).

4.5.2 Efeito Suspensivo:

Via de regra a apelação terá efeito suspensivo, conforme previsão do artigo 1.012, caput
do CPC. Ou seja, na apelação o efeito suspensivo decorre direta e automaticamente da lei, não
dependendo de requerimento do Apelante.
No entanto, o próprio §1º do artigo 1.012 estabelece as situações em que não terá efeito
suspensivo a Apelação:
Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo.
§ 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente
após a sua publicação a sentença que:
I - homologa divisão ou demarcação de terras;
II - condena a pagar alimentos;
III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado;
IV - julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;
V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;
VI - decreta a interdição. (BRASIL, 2015)

Conforme ensinam Donoso e Sarau Junior (2017, p. 169) conforme se verifica no §1º do
art. 1.012 do CPC o rol não é exaustivo, podendo haver outras situações que a apelação não
terá efeito suspensivo.
Não tendo efeito suspensivo, isso traz como consequência o fato de que uma vez publicada
a sentença, a parte desde já poderá pleitear o cumprimento provisório. No entanto, o apelante
poderá formular pedido de concessão de efeito suspensivo ao Tribunal:
§2º Nos casos do § 1o, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório
depois de publicada a sentença.
§3º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1o poderá ser
formulado por requerimento dirigido ao:
I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição,
ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la;
II - relator, se já distribuída a apelação.
§4º Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o
apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a
fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação. (BRASIL, 2015)

Os requisitos para o apelante requerer o efeito suspensivo são:


1. Demonstrar a probabilidade de provimento da apelação, ou seja, o fumus boni juris no
âmbito recursal; e

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2. Fundamentação relevante, acompanhada de um risco de dano grave ou de difícil ou


impossível reparação resultante da não concessão do efeito suspensivo. (DONOSO; SARAU
JUNIOR, 2017, p. 170).
É de se ressaltar que tais requisitos não são alternativos, mas sim cumulativos.

Possibilidade de retratação pelo juiz de Primeiro Grau:

É de se apontar ainda que o juiz ao receber a Apelação não pode se retratar. No entanto,
há 03 exceções no CPC:

1º. NOS CASOS EM QUE O JUIZ INDEFERE A INICIAL → ART. 331 DO CPC:

Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de
5 (cinco) dias, retratar-se. (BRASIL, 2015)

2º. NO CASO DE EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO → ART.


485, §7º

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


§7º Interposta a apelação em qualquer dos casos de que tratam os incisos deste artigo, o
juiz terá 5 (cinco) dias para retratar-se. (BRASIL, 2015)

3º. NO CASO DE IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO → ART. 332, §3º DO CPC:

Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da
citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça
em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde
logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
§2º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença,
nos termos do art. 241.
§3º Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias. (BRASIL, 2015)

--> Cuidar a possibilidade de retratação na apelação em eventual lei específica.

4.6 Procedimento da apelação

Uma vez interposta a Apelação perante o juiz de primeiro grau, este intimará o Apelado
para querendo oferecer contrarrazões no prazo de 15 dias, conforme artigo 1.010, §1º do CPC.

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É de se destacar, que, conforme o §3º do artigo 1.010 do CPC, no novo CPC, o juiz de
primeiro grau não faz mais o exame de admissibilidade do recurso de Apelação. Ou seja, cabe
ao relator tão somente verificar se estão presentes os pressupostos de admissibilidade da
Apelação.
§1º O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias.
§2º Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar
contrarrazões.
§3º Após as formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal
pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade. (BRASIL, 2015)

Portanto, apresentadas ou não as contrarrazões, o julgador de primeiro grau determinará a


subida dos autos ao Tribunal ad quem, onde o relator declarará os efeitos pelos quais a apelação
é recebida, emitindo o juízo de admissibilidade.
Dessa forma, a apelação sendo interposta perante o juízo de primeiro grau, o apelado será
intimado para oferecer contrarrazões no prazo de 15 dias úteis, bem como pode haver a
intimação do apelante se o apelado interpuser apelação na forma adesiva, remetendo-se os
autos ao tribunal, independentemente do juízo de admissibilidade, conforme artigo 1.010, §§1º a
3º do CPC. (LOURENÇO, 2017, p. 485)
Já no Tribunal, distribuída a Apelação, será sorteado um relator que poderá tomar uma
das decisões referidas no artigo 932 do CPC.
O relator poderá, conforme artigo 1.011 do CPC, decidir a apelação de forma monocrática
apenas nas hipóteses do artigo 932, III a V do CPC, ou, se não for o caso, elaborar o seu voto
para o julgamento do recurso pelo órgão colegiado. (LOURENÇO, 2017, p. 486)
É de se analisar ainda a previsão do artigo 1.013, §3º e 4º do CPC, chamada de TEORIA
DA CAUSA MADURA:
§ 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir
desde logo o mérito quando:
I - reformar sentença fundada no art. 485;
II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido
ou da causa de pedir;
III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;
IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.
§ 4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal,
se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno
do processo ao juízo de primeiro grau. (BRASIL, 2015)

Tal dispositivo refere que em tais situações, se o processo estiver apto para julgamento, o
Tribunal deverá desde logo decidir o mérito, sem devolver o processo à origem. Ou seja, em tais
situações, não haverá a anulação da decisão, mas o julgamento imediato do mérito pelo tribunal.

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Isto é, excepcionalmente, a lei reconhece competência para o Tribunal julgar de forma


inédita determinadas questões que não foram objeto de julgamento pela instancia inferior. As
hipóteses são as previstas no §3º do art. 1.013 do CPC. Ou seja, o tribunal possui autorização
nessas hipóteses de julgar o próprio mérito da causa, que por alguma razão não foi julgada pelo
juiz, mas poderá ser feito agora. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 164-165). Havendo na
verdade uma supressão de instancia para julgamento do mérito da causa.
E quando então poderá haver esse julgamento pelo Tribunal?
Se o processo estiver em condições de imediato julgamento: Ou seja, tem que estar
presente a desnecessidade de se praticar qualquer ato processual antes do julgamento da
apelação, daí o nome TEORIA DA CAUSA MADURA. (DONOSO, SERAU JUNIOR, 2017, p.
166).
Assim, se for necessária qualquer produção de prova, contraditório não caberá o
julgamento pelo Tribunal. Pode ser julgamento de matéria de fato ou de direito, desde que não
dependem mais de qualquer tipo de prova. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 166)
Nesse sentido, para que haja então a situação da teoria da causa madura, se faz necessário
preencher alguns requisitos, conforme apontam DONOSO E SERAU JUNIOR, 2017, p. 166-167:
Situação legal autorizadora:
Não basta que o processo esteja maduro para julgamento, é necessário ainda que esteja-
se diante de alguma das situações que permitam esse julgamento pelo Tribunal, previstas no §3º
e §4º do art. 1.013 do CPC:
I - reformar sentença fundada no art. 485: Ou seja, quando o tribunal reformar sentença
que não resolveu o mérito, sendo esse mérito analisado com o recurso diretamente pelo
tribunal.
II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido
ou da causa de pedir: nas hipóteses em que a sentença for extra ou ultra petita, a atuação
do Tribunal não se limitará em anulação a decisão para então o juiz proferir nova decisão.
O próprio Tribunal que anula a sentença já proferirá nova decisão adequada aos limites
do pedido ou causa de pedir. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 166-167).
III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo:
neste caso a sentença é citra petita, hipótese em que o próprio tribunal poderá julgar o
pedido, sem necessidade de remeter os autos ao juízo de primeiro grau.
IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação: quando o juízo de
primeiro grau não cumpre o dever de ter a fundamentação completa, sendo nula a decisão,
nos casos do art. 489, §1º do CPC;
V- Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se
possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do
processo ao juízo de primeiro grau. Previsão do §4º do art. 1.013 do CPC.

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4.7 Das alegações de novas matérias

Não pode haver inovação na Apelação, via de regra. No entanto, o artigo 1014 do CPC/15
permite que a parte faça alegações sobre matéria ainda não deduzidas no Primeiro Grau, desde
que comprove que deixou de fazer oportunamente por motivo de força maior.
Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na
apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior. (BRASIL,
2015)
Assim, caso o Apelante deseje manifestar questão nova deverá comprovar o motivo de
força maior. Mesmo entendimento no caso de pretender juntar novos documentos em sede de
Apelação.

4.8 Pedir a reforma ou invalidação?

Segundo Aguirre e Sá (2017, p. 83) a reforma da decisão possui caráter substitutivo, visto
que o acordão da apelação vai substituir a decisão de primeiro grau.
Nesse sentido é a previsão do artigo 1.008 do CPC:

Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que
tiver sido objeto de recurso. (BRASIL, 2015)
Já, segundo os autores mencionados, a invalidação tem o objetivo de anular a decisão de
primeiro grau para que seja proferida outra sentença. Neste caso, o pedido deve ser de
anular/nulidade a decisão de primeiro grau, com retorno dos autos ao juiz de primeiro grau para
a prolação de uma nova sentença.
Observar ainda a previsão do artigo 938, §1º do CPC: § 1 o “Constatada a ocorrência de
vício sanável, inclusive aquele que possa ser conhecido de ofício, o relator determinará a
realização ou a renovação do ato processual, no próprio tribunal ou em primeiro grau de
jurisdição, intimadas as partes”. Ou seja, de acordo com Tartuce e Dellore (2016, p. 382) → se
houver vício que possa ser sanado por providencias no próprio Tribunal, isso deverá ser feito,
em respeito ao princípio da celeridade processual.
Assim, nos casos de invalidação, o Tribunal não pode apenas reformar a decisão e sim
remeter os autos ao juiz de primeiro grau novamente para que seja proferida nova decisão
(Aguirre e Sá, 2017, p. 84). Ressalva quando o tribunal poderá desde já proferir nova decisão →
§3º e 4º do artigo 1.013 do CPC, inclusive quando julgar improcedente o pedido do autor por
acolher prescrição e decadência.

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EXEMPLO DE APELAÇÃO

DOUTO JUÍZO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE SANTA CRUZ DO SUL


(conforme enunciado da FGV)

Processo número...

NOME DO APELANTE, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da


Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador
constituído (procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com escritório
profissional na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe
intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento
nos artigos 994, I e 1.009, caput e seguintes do Código de Processo Civil interpor o
presente

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RECURSO DE APELAÇÃO,
contra a sentença de total procedência proferida nos autos da ação de reparação
de danos movida pelo NOME DO APELADO, nacionalidade..., estado civil..., profissão...,
portador da Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e
domiciliado na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões
anexas.
Requer a intimação do Apelado para oferecer contrarrazões no prazo de 15 dias,
conforme previsão dos artigos 1.003, §5º e 1.010, §1º, ambos do Código de Processo
Civil.
Requer também que após o prazo do oferecimento das contrarrazões, os autos
sejam encaminhados ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado... para admissão,
processamento e julgamento, independente do juízo de admissibilidade, consoante
artigo 1.010, §3º do Código de Processo Civil;
Como se trata de decisão que julgou improcedente o pedido do Autor de
forma liminar, fundada no artigo 332, I do Código de Processo Civil requer
também o juízo de retratação pelo Juiz de Primeiro Grau, no prazo de 05 dias,
consoante previsão do §3º do CPC. (SOMENTE SE FOR HIPÓTESE DE
REQUERER ESSE JUÍZO DE RETRATAÇÃO).
Por fim, requer o Apelante a juntada do comprovante de preparo recursal, inclusive
porte de remessa e de retorno, na forma do artigo 1.007 do Código de Processo Civil.

Termos em que,
Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado... OAB...

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO

Apelante...
Apelado...

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Processo...
Egrégio Tribunal,
Colenda Câmara,
Nobres Julgadores,
I – CABIMENTO:
Demonstrar com fundamentação legal que cabe o respectivo recurso. Exemplo:
Justifica-se a interposição do recurso de Apelação, vez que a decisão atacada tem
natureza de sentença, na forma do artigo 203, §1º do Código de Processo Civil, pois
proferida por juiz de primeiro grau e que colocou fim à fase de conhecimento do
procedimento comum com resolução de mérito, tal qual previsão do artigo 487, II do
CPC, vez que reconheceu a prescrição do direito do Autor.
Dessa forma, prevê o artigo 994, I do CPC o cabimento do recurso de Apelação,
sendo que da sentença cabe apelação, tal qual reza o artigo 1.009, caput do Código de
Processo Civil.

II – TEMPESTIVIDADE:
Demonstrar que o recurso está sendo interposto dentro do prazo legal.
Exemplo: O presente recurso é tempestivo, eis que interposto dentro do prazo
legal de 15 dias, na forma do artigo 1003, §5º do CPC, cujo termo inicial é a intimação
do advogado, consoante artigo 1.003, caput do Código de Processo Civil, computando-
se somente os dias úteis, tal qual previsão do artigo 219 do Código de Processo Civil,
excluindo o dia do início e incluindo o dia do vencimento, conforme artigo 224, caput do
Código de Processo Civil.

III – SÍNTESE DA DEMANDA:


Demonstrar em um ou dois parágrafos um resumo do que ocorreu CONFORME
OS DADOS DO ENUNCIADO.

IV – PRELIMINARMENTE:
Aqui caso haja de acordo com o enunciado alguma decisão interlocutória que foi
proferida e que não cabe Agravo de Instrumento deve ser atacada em preliminar de

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Apelação, consoante previsão do §1º do artigo 1009 do Código de Processo Civil.


Exemplo:
a) Da decisão interlocutória que...: tem que fundamentar.

V – DAS RAZÕES RECURSAIS:


Aqui devem ser trazidas as teses. Ou seja, os fundamentos jurídicos pelos quais
deve ser anulada/reformada uma determinada decisão judicial.

VI – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Apelante:
a) A admissibilidade, recebimento e conhecimento do presente Recurso de
Apelação, determinando seu devido processamento, eis que preenchidos os
pressupostos de admissibilidade;
b) O recebimento da Apelação no seu duplo efeito, suspensivo e devolutivo,

conforme os artigos 1.012, caput e 1.013 do Código de Processo Civil,


respectivamente;
c) O acolhimento da preliminar de Apelação suscitada com o fim de reformar a
decisão interlocutória não passível de Agravo de Instrumento com o fim de ...
d) Requer o total provimento do recurso com o fim de reformar a sentença de
primeiro grau...
e) A inversão do ônus de sucumbência determinando ao Recorrido o pagamento
das custas e honorários de advogado e a majoração dos honorários em sede de
recurso, consoante previsão do artigo 85, §11º do Código de Processo Civil;
f) A concessão do benefício da gratuidade da justiça por ser o Apelante pessoa
pobre nos termos da lei, conforme artigos 98 e 99 do Código de Processo Civil ou a
juntada do comprovante do recolhimento do preparo recursal, inclusive porte de
remessa e de retorno, conforme previsão do artigo 1.007 do Código de Processo Civil;

Termos em que,
Pede deferimento.

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Local..., data...
Advogado...
OAB...

4.9 APELAÇÃO: QUERIDINHA DA FGV

APELAÇÃO NO XXXII EXAME DA FGV:


PROVA PRÁTICO-PROFISSIONAL Aplicada em 08/08/2021 ÁREA: DIREITO CIVIL

ENUNCIADO:
Acácia celebrou com o Banco XXG contrato de empréstimo, no valor de R$ 480.000,00
(quatrocentos e oitenta mil reais), a ser quitado em 48 parcelas mensais de R$ 10.000,00 (dez
mil reais), para aquisição de um apartamento situado na cidade de Vitória, Espírito Santo,
concedendo em garantia, mediante alienação fiduciária, o referido apartamento, avaliado em R$
420.000,00 (quatrocentos e vinte mil reais). Após o pagamento das primeiras 12 parcelas
mensais, totalizando R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais), Acácia parou de realizar os
pagamentos ao Banco XXG, que iniciou o procedimento de execução extrajudicial da garantia
fiduciária, conforme previsto na Lei nº 9.514/97. Acácia foi intimada e não purgou a mora, e o
imóvel foi a leilão em duas ocasiões, não havendo propostas para sua aquisição, de modo que
houve a consolidação da propriedade do imóvel ao Banco XXG, com a quitação do contrato de
financiamento. Acácia ajuizou, em seguida, ação condenatória em face do Banco XXG,
distribuída para a 1ª Vara Cível de Vitória e autuada sob o nº 001234, sob a alegação de que,

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somados os valores do imóvel e das parcelas pagas, o Banco XXG teria recebido R$ 540.000,00
(quinhentos e quarenta mil reais), mais do que o valor concedido a título de empréstimo. Acácia
formulou pedido condenatório pretendendo o recebimento da diferença, ou seja, R$ 60.000,00
(sessenta mil reais), assim como postulou a concessão dos benefícios da justiça gratuita,
alegando não possuir condições financeiras para arcar com as custas processuais e os
honorários sucumbenciais. O Banco XXG, citado, apresentou sua contestação, afirmando que a
pretensão não encontraria respaldo jurídico, à luz do regime previsto na Lei nº 9.514/97,
requerendo a improcedência da pretensão. Demonstrou que Acácia possuiria 4 (quatro) imóveis,
além de participação societária em 3 (três) empresas, e condição financeira apta ao pagamento
das custas e dos honorários, requerendo o indeferimento da justiça gratuita à Acácia. O juiz
concedeu o benefício da justiça gratuita que havia sido postulado na inicial em decisão
interlocutória e, após, julgou procedentes os pedidos, condenando o Banco XXG a restituir o
valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) e a arcar com as custas processuais e os honorários
sucumbenciais em 10% do valor da condenação. A sentença foi publicada em 03/05/2021,
segunda-feira, sendo certo que não possui omissão, obscuridade ou contradição. Considerando
apenas as informações expostas, elabore, na qualidade de advogado(a) do Banco XXG, a peça
processual cabível para defesa dos interesses de seu cliente, que leve o tema à instância
superior, indicando seus requisitos e fundamentos, nos termos da legislação vigente. O recurso
deverá ser datado no último dia do prazo para apresentação. Desconsidere a existência de
feriados nacionais ou locais. (Valor: 5,00) Obs.: o(a) examinando(a) deve abranger todas os
fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar respaldo à pretensão. A mera citação
do dispositivo legal não confere pontuação.

GABARITO COMENTADO PELA FGV:

A peça processual cabível é o recurso de apelação (Art. 1.009 do CPC), interposto no prazo
de 15 dias úteis, ou seja, em 24/05/2021.
O examinando deverá interpor o recurso em petição dirigida ao juízo de primeiro grau (Art.
1.010), contendo o nome e a qualificação das partes, além de requerer a intimação para
apresentação de contrarrazões e a remessa ao tribunal independentemente do juízo de
admissibilidade.
Nas razões recursais, deverá indicar os fatos ocorridos, bem como fundamentar
juridicamente seu pleito. Inicialmente, caberá formular pedido de revogação do benefício da

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justiça gratuita (Art. 1.009, §1º), porque não sujeita a recurso de Agravo (Art. 1.015). Deverá
indicar que Acácia possui 4 imóveis e participação societária em 3 empresas, possuindo
condições de arcar com custas e honorários, não sendo hipótese de incidência do Art. 98 do
CPC. No mérito, o examinando deverá alegar que o Banco XXG seguiu estritamente o
procedimento previsto no Art. 26 e no Art. 27, ambos da Lei nº 9.514/97, que prevê
expressamente o “perdão legal” no Art. 27, §§ 5º e 6º, in verbis: § 5º Se, no segundo leilão, o
maior lance oferecido não for igual ou superior ao valor referido no § 2º, considerar-se-á extinta
a dívida e exonerado o credor da obrigação de que trata o § 4º. § 6º Na hipótese de que trata o
parágrafo anterior, o credor, no prazo de cinco dias a contar da data do segundo leilão, dará ao
devedor quitação da dívida, mediante termo próprio.
O examinando deverá formular o pedido de reforma da decisão que concedeu a justiça
gratuita e da sentença, para julgar improcedente o pedido, com a condenação de Acácia ao
pagamento integral das custas e honorários, majorados para fase recursal (Art. 85 do CPC).
Deve, a seguir, proceder ao encerramento da peça.

DOUTO JUÍZO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE VITÓRIA DO ESTADO DE


ESPÍRITO SANTO

Processo número 001234

BANCO XXG, pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CNPJ sob o


número..., endereço eletrônico..., com sede na Rua..., número..., Bairro..., Cidade...,
Estado..., CEP..., neste ato representado nos termos do artigo 75, inciso VIII do
Código de Processo Civil pelo... por intermédio de seu procurador constituído
(procuração em anexo), OAB..., endereço eletrônico..., com endereço profissional na
Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe intimações,
vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento legal nos
artigos 994, inciso I e 1.009, caput e seguintes do Código de Processo Civil, interpor
o presente
RECURSO DE APELAÇÃO
em razão da sentença de procedência na ação condenatória ajuizada por ACÁCIA,
nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portadora da Cédula de Identidade

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número..., CPF..., com endereço eletrônico.... residente e domiciliada na Rua....


número.... Bairro..., Cidade.... Estado.... CEP..., pelas razões anexas.
Requer a intimação da Apelada para oferecer contrarrazões no prazo de 15 dias,
conforme artigos 1.010, §1º e 1.003, §5º, ambos do Código de Processo Civil.
Requer, ainda, a remessa dos autos ao respectivo Egrégio Tribunal de Justiça
do Estado de Espírito Santo para sua admissão, processamento e julgamento,
conforme o artigo 1.010, §3º do Código de Processo Civil.
Por fim, requer a juntada do comprovante de recolhimento do preparo recursal,
inclusive porte de remessa e de retorno, conforme previsão do artigo 1.007 do
Código de Processo Civil.
Termos em que, pede deferimento.
Local..., data 24/05/2021
Advogado... OAB…

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE ESPÍRITO SANTO


RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

Processo número 001234


Apelante: BANCO XXG
Apelado: Acácia
Egrégio Tribunal, Colenda Câmara, Nobres julgadores,
I- DO CABIMENTO:
O recurso de apelação é o recurso adequado, pois conforme o caput do artigo
1.009 do Código de Processo Civil, da sentença cabe apelação, sendo tal recurso
previsto no artigo 994, inciso I do Código de Processo Civil. A decisão recorrida tem
natureza de sentença na forma do artigo 203, §1º do Código de Processo Civil, pois
proferida pelo juiz da 1ª Vara Cível da Comarca de Vitória, sendo decisão que
colocou fim à fase de conhecimento do procedimento comum, com resolução de
mérito, consoante previsão do artigo 487, inciso I e 490, ambos do Código de
Processo Civil, julgando procedente a ação condenatória ajuizada pela Apelante.
II- DA TEMPESTIVIDADE:

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O presente recurso é tempestivo, eis que interposto dentro do prazo legal de 15


dias, conforme previsão do art. 1.003, §5º do Código de Processo Civil, computados
somente os dias úteis, tal qual preceitua o artigo 219 do Código de Processo Civil,
cujo termo inicial é a data do dia 03 de maio de 2021, uma segunda-feira, sendo que
excluindo o dia do início e incluindo o dia do vencimento, conforme preceitua o caput
do artigo 224 do Código de Processo Civil, tal recurso pode ser interposto até o último
dia do prazo, qual seja, dia 24/05/2021.
III- DA SÍNTESE DA DEMANDA:
A Apelada celebrou com o Apelante contrato de empréstimo, no valor de R$
480.000.00 (quatrocentos e oitenta mil reais), a ser quitado em 48 parcelas mensais
de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para aquisição de um apartamento situado na cidade
de Vitória, Espírito Santo, concedendo em garantia, mediante alienação fiduciária, o
referido apartamento, avaliado em R$ 420.000,00 (quatrocentos e vinte mil reais).

Ocorre que houve o pagamento por parte da apelada das primeiras 12 parcelas
mensais, totalizando R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais), sendo que a Apelada
parou de realizar os pagamentos ao Apelante, o qual, por sua vez, iniciou o
procedimento de execução extrajudicial da garantia fiduciária, conforme previsto na
Lei nº 9.514/97.
Intimada, a apelada Acácia não purgou a mora, e o imóvel foi a leilão em duas
ocasiões, e não havendo propostas para sua aquisição, ocorreu a consolidação da
propriedade do imóvel ao Banco Apelante, com a quitação do contrato de
financiamento. A Apelada, por sua vez, ajuizou, em seguida, ação condenatória em
face do Banco Apelante, a qual foi distribuída para a 1ª Vara Cível de Vitória e
autuada sob o nº 001234. Na referida ação, a Apelada alegou que, somados os
valores do imóvel e das parcelas pagas, o Apelante teria recebido R$ 540.000,00
(quinhentos e quarenta mil reais), mais do que o valor concedido a título de
empréstimo. A Apelada formulou pedido condenatório pretendendo o recebimento
da diferença, ou seja, R$60.000,00 (sessenta mil reais), e postulou a concessão dos
benefícios da justiça gratuita, sob a alegação de que não possuía condições
financeiras para arcar com as custas processuais e os honorários sucumbenciais.

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O Apelante na condição de Réu foi citado e apresentou sua contestação,


afirmando que a pretensão não encontraria respaldo jurídico, à luz do e previsto na
Lei nº 9.514/97, requerendo a improcedência da pretensão. Ainda, demonstrou o
Apelante que a Apelada possuiria 4 (quatro) imóveis, além de participação societária
em 3 (três) empresas, e condição financeira apta ao pagamento das custas e dos
honorários, requerendo o indeferimento da justiça gratuita à Acácia.
O juiz concedeu o benefício da justiça gratuita postulado na inicial em decisão
interlocutória e, após, julgou procedentes os pedidos, condenando o Apelante a
restituir o valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) e a arcar com as custas
processuais e os honorários sucumbenciais em 10% do valor da condenação. A
referida sentença, no entanto, deve ser reformada pelas razões que seguem.
IV- PRELIMINARMENTE:
a) Da concessão do benefício da gratuidade da justiça à Autora, ora Apelada:

A decisão interlocutória que concedeu o benefício à gratuidade da justiça à


Apelada, deve ser reformada. De início, é de se destacar que, conforme previsão do
§1º do artigo 1.009 do Código de Processo Civil justifica-se a impugnação da referida
decisão interlocutória em sede de preliminar de apelação, pois as questões
resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar
agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em
preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final.
Dessa forma, a decisão que concede o benefício da gratuidade da justiça
mediante decisão interlocutória proferida na fase de conhecimento não cabe agravo
de instrumento, pois somente cabe agravo de instrumento da que rejeita o pedido de
gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação, tal qual previsão
do inciso V do artigo 1.015 do Código de Processo Civil.
Assim sendo, o benefício da gratuidade da justiça deferido à Autora, ora
Apelada, deve ser revogado vez que foi concedido de forma indevida, haja vista que
a Apelada não é pessoa com insuficiência de recursos para pagar as custas, as
despesas processuais e os honorários de advogado, não possuindo assim direito à
gratuidade da justiça, na forma da lei, tal qual exigido pelo artigo 98 do Código de

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Processo Civil e artigo 5º, inciso LXXIV da Constituição Federal. Portanto, requer-se
a revogação da concessão do benefício da gratuidade da Justiça e a intimação da
Apelada para recolher as custas sob pena de extinção do processo sem resolução
de mérito, forte no artigo 102 do Código de Processo Civil.
V-DAS RAZÕES PARA REFORMA DA DECISÃO:
A decisão merecer ser reformada, conforme demonstra a seguir. Isso porque
a apelada Acácia está inadimplente, não tendo realizado os pagamentos devidos ao
Banco XXG, ora apelante, mesmo tendo sido notificada e constituída em mora.
A apelada havia concedido garantia da dívida, mediante alienação fiduciária de
imóvel, o qual, nos termos previstos no art. 26 da lei 9.514/97, em face da não
purgação da mora, consolidou a propriedade nas mãos do credor fiduciário, o Banco
XXG, ora apelante. Diante disto, o Banco apelante cumpriu integralmente a previsão
legislativa, nos termos do art. 27 da lei 9.514/97, promovendo leilão do imóvel

referido, por duas oportunidades, sem que, contudo, houvesse qualquer proposta
para aquisição do imóvel.
Com isto, o procedimento do art. 27, §5º, da lei 9.514/97 foi adotado, ou seja, não
tendo havido lance no segundo leilão, considera-se extinta a dívida e exonerado o
credor da obrigação de que trata o §4º, que seria a devolução ao devedor dos valores
que restarem após a dedução dos valores da dívida, despesas e encargos.
Desta forma, verifica-se a total observância ao procedimento previsto na lei
9.514/97, de forma que o apelante não tem obrigação de devolver a diferença
postulada pela apelada, devendo a decisão ser reformada, a fim de julgar totalmente
improcedente a demanda.
VI-DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Apelante:
a) A admissibilidade e conhecimento do presente recurso de apelação, eis que
preenchidos todos os pressupostos recursais;
b) Preliminarmente, o acolhimento da preliminar de apelação para reformar a decisão
interlocutória e revogar a concessão do benefício da gratuidade da justiça à Autora;

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c) A intimação da Autora, ora Apelada, para recolher as custas no prazo fixado sob
pena de extinção do processo sem resolução de mérito, em razão da revogação do
benefício da gratuidade da justiça, consoante artigo 102 do Código de Processo Civil;
d) O total provimento do recurso de Apelação para o fim de reformar a sentença de
procedência e assim julgar totalmente improcedente os pedidos formulados pela
Apelada na Inicial;
e) A inversão do ônus de sucumbência e majoração dos honorários advocatícios em
sede recursal condenando a Apelada no pagamento das custas e honorários de
sucumbência.
Termos em que,
pede deferimento.
Local.... Data 24/05/2021,
Advogado...
OAB...

ITEM PONTUAÇÃO

Endereçamento

1. Interposição da apelação por petição dirigida ao juízo da 1ª. Vara Cível de


0,00/0,10
Vitória (0,10).

2. Endereçamento das razões recursais ao Tribunal de Justiça (0,10). 0,00/0,10

3. Apelante: Banco XXG. (0,10); Apelada: Acácia (0,10), número do processo


0,00/0,10/0,20/0,30
(001234) (0,10).

4. Cabimento: recurso cabível para reforma de sentença é a apelação (0,10),


0,00/0,10/0,20
nos termos do Art. 1009, do CPC (0,10).

5. Tempestividade: apelação interposta tempestivamente, a saber, no dia


0,00/0,20
24/05/2021, último dia do prazo para recurso (0,20)

6. Recolhimento do devido preparo recursal (0,10) conforme Art. 1007 do


0,00/0,10/0,20
CPC (0,10)

7. Intimação da Apelada, para, querendo, apresentar contrarrazões (0,10),


0,00/0,10/0,20
nos termos do Art. 1.010, § 1º, do CPC (0,10);

8. Exposição dos Fatos (0,10) 0,00/0,10

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Razões Recursais

9. Revogação da justiça gratuita, considerando a situação financeira de


Acácia (0,80), não se enquadrando no benefício da gratuidade, constante do 0,00/0,80/0,90
Art. 98 do CPC ou do Art. 5º, inciso LXXIV, da CRFB (0,10).

10. Requerimento de intimação da parte autora para pagamento das custas


em virtude da revogação da gratuidade (0,40), sob pena de extinção do 0,00/0,40/0,50/0,60/0,70
processo sem análise do mérito (0,20), na forma do Art. 102, do CPC (0,10).

11. Fundamentação da improcedência do pedido formulado por Acácia,


considerando a ocorrência da extinção da obrigação (0,80), conforme o Art. 0,00/0,80/0,90
27, § 5º, da Lei nº 9.514/97 (0,10).

Pedidos

12. Pedido de reforma da decisão interlocutória que deferiu a justiça gratuita


0,00/0,30
(0,30).

13. Pedido de reforma da sentença (0,10), para julgar improcedente o pedido


0,00/0,10/0,40/0,50
(0,40).

14. Condenação da recorrida ao pagamento integral das custas processuais 0,00/0,10/0,20


(0,10) e honorários de sucumbência (0,10).

Fechamento

15. Local, data (24/05/2021) e assinatura por advogado (0,10) 0,00/0,10

APELAÇÃO NO XXIII EXAME DA FGV

ENUNCIADO:
Ricardo, cantor amador, contrata Luiz, motorista de uma grande empresa, para transportá-
lo, no dia 2 de março de 2017, do Município Canto Distante, pequena cidade no interior do Estado
do Rio de Janeiro onde ambos são domiciliados, até a capital do Estado. No referido dia, será
realizada, na cidade do Rio de Janeiro, a primeira pré-seleção de candidatos para participação
de um concurso televisivo de talentos musicais, com cerca de vinte mil inscritos. Os mil melhores
candidatos pré-selecionados na primeira fase ainda passarão por duas outras etapas
eliminatórias, até que vinte sejam escolhidos para participar do programa de televisão.
Luiz costuma fazer o transporte de amigos nas horas vagas, em seu veículo particular, para
complementar sua renda; assim, prontamente aceita o pagamento antecipado feito por Ricardo.
No dia 2 de março de 2017, Luiz se recorda de que se esquecera de fazer a manutenção
periódica de seu veículo, motivo pelo qual não considera seguro pegar a estrada. Assim,
comunica a Ricardo que não poderá transportá-lo naquele dia, devolvendo-lhe o valor que lhe
fora pago.

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Ricardo acaba não realizando a viagem até o Rio de Janeiro e, assim, não participa da pré-
seleção do concurso. Inconformado, Ricardo ingressa com ação indenizatória em face de Luiz
menos de um mês após o ocorrido, pretendendo perdas e danos pelo inadimplemento do
contrato de transporte e indenização pela perda de uma chance de participar do concurso.
A ação foi regularmente distribuída para a Vara Cível da Comarca de Canto Distante do
Estado do Rio de Janeiro. Citado, o réu alegou em contestação que Ricardo errou ao não tomar
um ônibus na rodoviária da cidade, o que resolveria sua necessidade de transporte. Ao final da
instrução processual, é proferida sentença de total procedência do pleito autoral, tendo o juízo
fundamentado sua decisão nos seguintes argumentos:
i) o inadimplemento contratual culposo foi confessado por Luiz, devendo ele arcar com
perdas e danos, nos termos do Art. 475 do Código Civil, arbitrados no montante de cinco vezes
o valor da contraprestação originalmente acordada pelas partes;
ii) o fato de Ricardo não ter contratado outro tipo de transporte para o Rio de Janeiro não
interrompe o nexo causal entre o inadimplemento do contrato por Luiz e os danos sofridos;
iii) Ricardo sofreu evidente perda da chance de participar do concurso, motivo pelo qual
deve ser indenizado em montante arbitrado pelo juízo em um quarto do prêmio final que seria
pago ao vencedor do certame.
Na qualidade de advogado(a) de Luiz, indique o meio processual adequado à tutela integral
do seu direito, elaborando a peça processual cabível no caso, excluindo-se a hipótese de
embargos de declaração, indicando os seus requisitos e fundamentos nos termos da legislação
vigente. (Valor: 5,00)

Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados
para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere
pontuação.

GABARITO COMENTADO PELA FGV:


A decisão tem natureza jurídica de sentença, na forma do Art. 203, § 1º, do Art. 487, inciso
I, e do Art. 490, todos do CPC/15. Com efeito, extinguiu-se o processo, com resolução do mérito,
para deferir integralmente os pedidos formulados na ação. Em virtude disso, o meio processual
adequado à impugnação do provimento judicial, a fim de evitar que faça coisa julgada, é o
Recurso de Apelação, segundo o Art. 1.009 do CPC/15.

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Deve-se buscar a tutela integral do interesse do réu, pugnando-se ao final pela integral
reforma da sentença. O recurso deve impugnar especificamente os três fundamentos da
sentença, nos seguintes termos:
i) A hipótese é de responsabilidade contratual, isto é, oriunda do inadimplemento do negócio
firmado entre as partes, motivo pelo qual o Art. 475 do Código Civil reconhece ao credor
inadimplido o direito de pedir a resolução e cobrar perdas e danos. No entanto, essa indenização
depende da demonstração de algum prejuízo efetivamente sofrido pelo credor, não decorrendo
do simples fato da resolução. Não se justifica, assim, o arbitramento realizado pelo juízo
sentenciante, desamparado por qualquer elemento probatório, até porque Ricardo aceitou
espontaneamente o preço pago como forma de resolução do contrato.
ii) O fato de Ricardo não ter tomado nenhuma medida para, minorando as consequências
do inadimplemento, realizar a viagem para o Rio de Janeiro configura fato concorrente da vítima,
nos termos do Art. 945 do Código Civil. Assim, caso se reconheça algum dano imputável a Luiz,
o montante indenizatório deverá ser reduzido proporcionalmente ao fato concorrente de Ricardo.
iii) Nos moldes de seu desenvolvimento doutrinário e jurisprudencial, a figura da perda de
uma chance exige, para a sua configuração, que exista a probabilidade séria e real de obtenção
de um benefício, o que não restou demonstrado no presente caso, tendo em vista que não havia
certeza mínima sequer quanto à participação de Ricardo do concurso televisivo.
Por fim, o fechamento da peça: local, data, assinatura e OAB.

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS:

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APELAÇÃO NO XXI EXAME DA FGV


ENUNCIADO:

Em junho de 2009, Soraia, adolescente de 13 anos, perde a visão do olho direito após
explosão de aparelho de televisão, que atingiu superaquecimento após permanecer 24 horas
ligado ininterruptamente. A TV, da marca Eletrônicos S/A, fora comprada dois meses antes pela
mãe da vítima.
Exatos sete anos depois do ocorrido, em junho de 2016, a vítima propõe ação de
indenização por danos morais e estéticos em face da fabricante do produto.
Na petição inicial, a autora alegou que sofreu dano moral e estético em razão do acidente
de consumo, atraindo a responsabilidade pelo fato do produto, sendo dispensada a prova da
culpa, razão pela qual requer a condenação da ré ao pagamento da quantia de R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais) a título de danos morais e R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) pelos danos
estéticos sofridos.
No mais, realizou a juntada de todas as provas documentais que pretende produzir,
inclusive laudo pericial elaborado na época, apontando o defeito do produto, destacando, desde
já, a desnecessidade de dilação probatória. Recebida a inicial, o magistrado da 1ª Vara Cível da

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Comarca Y, determinou a citação da ré e após oferecida a contestação, na qual não se requereu


produção de provas, decidiu proferir julgamento antecipado, decretando a improcedência dos
pedidos da autora, com base em dois fundamentos: (i) inexistência de relação de consumo, com
consequente inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, pois a vítima/autora da ação
já alegou, em sua inicial, que não participou da relação contratual com a ré, visto que foi sua mãe
quem adquiriu o produto na época; e (ii) prescrição da pretensão autoral em razão do transcurso
do prazo de três anos, previsto no Art. 206, § 3º, inciso V, do Código Civil.
Na qualidade de advogado(a) de Soraia, elabore a peça processual cabível para a defesa
imediata dos interesses de sua cliente, no último dia do prazo recursal, indicando seus requisitos
e fundamentos nos termos da legislação vigente. Não deve ser considerada a hipótese de
embargos de declaração. (Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados
para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere
pontuação.

GABARITO COMENTADO PELA FGV


A decisão em questão tem natureza jurídica de sentença, na forma do Art. 203, § 1º, do Art.
487, incisos I e II, e do Art. 490, todos do CPC/15.
Com efeito, extinguiu-se o processo, com resolução do mérito, rejeitando o pedido de
indenização pelo fato do produto, ao entender que a vítima não se qualificava como consumidora,
na forma da lei, decidindo, também, de ofício, pelo reconhecimento da prescrição da pretensão
autoral.
Em virtude disso, o meio processual adequado à impugnação do pronunciamento
jurisdicional, a fim de evitar que faça coisa julgada, é o recurso de apelação, de acordo com o
Art. 1.009 do CPC/15.
Deve-se, para buscar a tutela integral ao interesse da autora, impugnar cada um dos
capítulos da sentença, isto é, tanto a inexistência da relação de consumo quanto o
reconhecimento de ofício da prescrição.
Ademais, como a autora já produziu toda a prova pré-constituída que julga adequada, deve
devolver toda a matéria, pugnando pelo provimento total do recurso de apelação, para que o

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Tribunal examine as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro
grau, na forma do Art. 1.013, §4º, do CPC/15.
Quanto ao primeiro ponto, deve-se sustentar a existência de relação de consumo entre a
autora da ação, vítima de acidente de consumo, e a ré, fabricante do produto defeituoso que lhe
causou dano moral e estético.
Nesse caso, a despeito de não ter participado, como parte, da relação contratual de compra
e venda do produto, a autora é qualificada como consumidora, pois, nas hipóteses de
responsabilidade pelo fato do produto, é consumidor toda pessoa que "utiliza o produto ou
serviço como destinatário final" (art. 2º, caput, do CDC), assim como “equiparam-se aos
consumidores todas as vítimas do evento” (Art. 17 do CDC).
Presente a relação de consumo, deve-se postular pelo julgamento do mérito, sem
necessidade de retorno dos autos à instância inferior, alegando que a fabricante responde,
independentemente de culpa, pelos danos causados por defeitos de fabricação de produtos que
ponham em risco a segurança dos consumidores, como ocorreu no caso vertente (Art. 12, caput
e §1º, do CDC).
Quanto ao segundo capítulo da sentença, deve-se pretender o afastamento da prescrição.
Isso porque não corre prescrição contra absolutamente incapaz (Art. 198, inciso I, do CC), razão
pela qual o termo inicial de contagem do prazo prescricional de 5 (cinco) anos (Art. 27 do CDC)
efetivou-se apenas em 2012, quando a autora completou 16 anos, tornando-se relativamente
capaz. Dessa forma, a prescrição de sua pretensão ocorreria apenas em 2017.
Nessa linha, deve-se requerer a reforma da sentença para que o pedido seja julgado, desde
logo, procedente, mediante o reconhecimento da relação de consumo e o afastamento da
prescrição, dando provimento integral ao recurso de apelação, com o julgamento do mérito da
demanda, na medida em que o feito se encontra maduro para julgamento.

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS:

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DOUTO JUÍZO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA Y

Processo...

SORAIA, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portadora da Cédula de


Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliada na Rua..., número...,
Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador constituído
(procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com escritório profissional na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, com fundamento legal nos artigos 994, I e 1.009, caput e seguintes do Código
de Processo Civil, interpor o presente
RECURSO DE APELAÇÃO
Em razão da sentença proferida nos autos da ação de indenização proposta em face
de ELETRÔNICOS S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o número...,

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endereço eletrônico..., com sede na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP...,
pelas razões que seguem em anexo.
Inicialmente, requer a intimação do Apelado para oferecer contrarrazões no prazo legal
de 15 dias, conforme previsão dos artigos 1.003, §5º e 1.010, §1º, ambos do Código de
Processo Civil.
Requer, também, que após o prazo das contrarrazões sejam os autos remetidos ao
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado...
Por fim, requer a juntada do comprovante de recolhimento do preparo recursal, inclusive
porte de remessa e de retorno, na forma do artigo 1.007, caput, do Código de Processo Civil.
Termos em que,
Pede deferimento.
Local..., Data...
Advogado... OAB...

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO...


RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO
Processo Número...
Apelante: SORAIA
Apelado: ELETRÔNICOS S.A

Egrégio Tribunal,
Colenda Câmara,
Nobres Julgadores.

I – DO CABIMENTO:
O presente recurso de Apelação é o adequado, pois a decisão recorrida tem força de
sentença, uma vez que o juiz de Primeiro Grau proferiu julgamento antecipado, colocando

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fim à fase cognitiva do procedimento comum, conforme previsão do artigo 203, §1º do
Código de Processo Civil, extinguindo o processo com resolução de mérito, pois decretou
a improcedência dos pedidos da Apelante reconhecendo a prescrição, tal qual previsão dos
artigos 487, inciso I e II e 490, ambos do Código de Processo Civil. Nesse sentido, dispõe
o artigo 1.009, caput do Código de Processo Civil que da sentença cabe Apelação, sendo
este recurso previsto no artigo 994, inciso I do Código de Processo Civil.

II – DA TEMPESTIVIDADE:
O presente recurso é tempestivo, eis que interposto dentro do prazo legal de 15 dias,
na forma do artigo 1.003, §5º do Código de Processo Civil, contados da intimação do
Advogado, consoante determina o caput do artigo 1.003 do Código de Processo Civil,
computando-se somente os dias úteis na forma do artigo 219 do Código de Processo Civil,
excluindo-se o dia do início e incluindo o dia do vencimento, tal qual preceitua o artigo 224,
caput do Código de Processo Civil.
III – DA SÍNTESE DA DEMANDA:
A Apelante ingressou com ação de indenização por danos morais e estéticos em face
da Empresa Apelada pelo fato de ter perdido a visão do olho direito, pois em junho de 2009,
quando a Apelante tinha 13 anos de idade o aparelho de televisão da marca ELETRÔNICOS
S.A explodiu em razão de um superaquecimento pelo fato de ter permanecido ligado 24
horas ininterruptamente. A referida TV fora comprada pela mãe da Apelante, dois meses
antes do ocorrido.
Em razão desse fato, a Apelante sofreu danos morais e estéticos, requerendo na
Inicial a condenação da Apelada ao pagamento da quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil
reais) a título de danos morais e R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a título de danos estéticos
sofridos, sendo dispensada a prova da culpa, uma vez que se trata de responsabilidade pelo
fato do produto.
A Apelante juntou todas as provas documentais necessárias, dentre as quais, o laudo
pericial realizado na época, que apontou defeito no produto, indicando, ainda, a
desnecessidade de maior dilação probatória.

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Ao receber a Inicial, o juiz da 1ª Vara Cível da Comarca Y, determinou a citação da


Empresa Ré, ora Apelada, que mesmo apresentando sua contestação, não requereu a
produção de provas.
Diante disso, o juiz de primeiro grau proferiu julgamento antecipado, decretando a
improcedência dos pedidos da Autora, ora Apelante, por dois fundamentos, quais sejam, a
inexistência da relação de consumo, por não ter a Apelante participado da relação contratual
com a Apelada, pois foi a genitora da Apelante que adquiriu o aparelho de televisão, e, ainda,
por ter havido a prescrição da pretensão autoral em razão do transcurso do prazo de 03
anos, previsto no artigo 206, §3º, inciso V do Código Civil.
No entanto, tal sentença não deve prosperar, devendo ser reformada, conforme
razões que seguem.

IV – DAS RAZÕES RECURSAIS:


a) Da configuração da relação de consumo e da aplicação do Código de Defesa do
Consumidor
A Apelante foi vítima de um acidente de consumo e perdeu a visão de um olho
após a explosão de um aparelho de televisão. Tal situação configura fato de produto e a
análise deve se dar a partir dessa constatação.
Ao contrário do afirmado pelo julgador, a Apelante qualifica-se como consumidora,
pois a Lei 8.078/1990 não protege apenas o contratante, mas todas as pessoas lesadas
em decorrência de um ato de consumo. A Apelante é consumidora por força do artigo 2º,
que determina que, além do adquirente, o usuário de produto ou serviço também é
consumidor. Se não bastasse, o artigo 17 equipara a consumidor todas as vítimas do evento
danoso.
Por fim, a configuração da relação de consumo é relacional e depende, igualmente,
da presença de um fornecedor. O fabricante do produto qualifica-se como fornecedor pois
desenvolve atividade de fabricação de televisores.
Desta forma, reconhecida a relação de consumo devem ser aplicadas as disposições
do Código de Defesa do Consumidor;

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b) Da responsabilidade objetiva pelo fato do produto


A responsabilidade civil nas relações de consumo subdivide-se em por fatos e vícios
dos produtos ou serviços. A explosão da TV demonstra que a mesma era defeituosa, ou
seja, não oferecia a segurança que dela legitimamente o consumidor poderia esperar.
Dessa forma, responde o fabricante, nos termos do artigo 12, independentemente da
existência de culpa (responsabilidade objetiva), pelos danos causados à consumidora
Apelante.
c) Do necessário afastamento da prescrição
O dano sofrido pela Apelante decorre de fato do produto e, conforme disposto no
artigo 27 do CDC, a pretensão a sua reparação submete-se ao prazo prescricional de 5
anos. Contudo, não corre prescrição contra absolutamente incapaz, conforme art. 198,
inciso I, do CC, razão pela qual o termo inicial de contagem do prazo prescricional de 5
(cinco) anos (art. 27 do CDC) efetivou-se apenas em 2012, quando a autora, ora Apelante

completou 16 anos, tornando-se relativamente capaz.


Diante disso, a prescrição aplicada pelo douto julgador de primeiro grau deve ser
afastada.

V- DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer a Apelante:
a) A admissibilidade e o conhecimento do presente recurso de Apelação, pois
preenchidos os requisitos de admissibilidade;
b) O recebimento do presente recurso nos seus efeitos devolutivo e suspensivo,
conforme previsão dos artigos 1.013, caput e 1.012, caput, ambos do Código de
Processo Civil;
c) O total provimento do recurso para o fim de reconhecer a relação de Consumo
entre as partes e afastar a prescrição aplicada pelo juízo de primeiro grau, com a
procedência dos pedidos deduzidos pela Apelante na Inicial;
d) O julgamento pelo Tribunal do mérito do recurso, sem necessidade de retorno dos
autos ao primeiro grau, na forma do artigo 1.013, §4º do Código de defesa do
Consumidor;

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e) A inversão do ônus da prova, condenando o Apelado nas custas e honorários de


advogado;
Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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4.10 MODELO CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO

DOUTO JUÍZO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA ALFA (endereçamento


conforme o enunciado da FGV)

Processo número...

NOME DO APELADO, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula


de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., número...,
Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador constituído
(procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com endereço profissional na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe intimações, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 1.010, §1º
e 1.003, §5º, ambos do Código de Processo Civil, apresentar

CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE APELÇÃO interposto pelo

NOME DO APELANTE, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula


de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., número...,
Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões a seguir expostas.
Isto posto, requer a juntada das presentes contrarrazões aos presentes autos, para que
delas possa se conhecer quando do julgamento do recurso de Apelação.
Requer, também, que após a juntada das referidas contrarrazões os autos sejam
encaminhados ao respectivo Tribunal de Justiça do Estado ...

OBSERVAÇÃO: Caso (mas somente se for o caso) de impugnar nas contrarrazões


alguma decisão interlocutória que não foi objeto de recurso de agravo de instrumento no
curso do processo de primeiro grau, deve ser feito o pedido para que o Apelante se manifeste
sobre essa matéria alegada em contrarrazões, conforme previsão do artigo 1.010, §2º do
CPC. Aí muda o pedido acima: Que após a juntada das contrarrazões e intimação do
Apelante para se manifestar sobre a impugnação do Apelado acerca da decisão interlocutória
sobre... , que os autos sejam encaminhados ao respectivo Tribunal de Justiça do Estado...

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Termos em que,
Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...
OAB...

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO...


CONTRARRAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO

Processo...
Apelante: NOME DO APELANTE
Apelado: NOME DO APELADO

EGRÉGIO TRIBUNAL,
COLENDA CÂMARA,
NOBRES JULGADORES.

I – DA TEMPESTIVIDADE:
Demonstrar a tempestividade das contrarrazões, destacando que são
apresentadas dentro do prazo legal de 15 dias, na forma do artigo 1.010, §1º e 1.003,
§5º do CPC, computados somente os dias úteis na forma do artigo 219 do CPC, e
excluindo o dia do início e incluindo o dia do vencimento, na forma do artigo 224, caput
do CPC.

II – CABIMENTO:
Demonstrar o cabimento da peça, que é a peça de resposta ao recurso. Usar como
fundamento a previsão. Ex: 1.010, §1º do CPC, se fosse o recurso de apelação
III – SÍNTESE DA DEMANDA:

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Fazer um resumo do processo e das alegações do Apelante no recurso de


Apelação.
IV – DA INADMISSIBILIDADE DO RECURSO:
Pode atacar algum requisito de admissibilidade que faltou no recurso interposto,
conforme enunciado da FGV.
V – DAS PRELIMINARES:
Se tiver alguma preliminar a ser atacada em contrarrazões de apelação, conforme §1º
do artigo 1.009 do CPC.

VI – CONTRARRAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO:


Trazer a fundamentação jurídica, atacando o que o Apelante trouxe em sede de recurso,
reforçando a manutenção da decisão recorrida.
Podem ser as teses divididas em tópicos:
Da alegação de irresponsabilidade do Apelante:
Da alegação de inexistência do dano material;
VII – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Apelado:
a) O não conhecimento do recurso de Apelação interposto pelo Apelante, eis que
intempestivo; (ver se há alguma causa de inadmissibilidade pelo enunciado)
b) Caso conhecido o recurso do Apelante, requer o Apelado, preliminarmente, a
reforma da decisão interlocutória que... para o fim de...;
c) Que seja negado de forma total o provimento do recurso (ou improvido) mantendo
a sentença na sua integralidade com o fim de...
d) A manutenção do ônus de sucumbência, que condenou o Apelante em custas e
honorários de advogado;
e) A majoração dos honorários em razão do recurso interposto na forma do artigo
85, §11º do CPC;
Termos em que, pede deferimento.
Local..., data...
Advogado... OAB...

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5. Agravo de Instrumento

Previsão legal:
Art. 994, II e 1.015 a 1.020 do CPC/15.

Cabimento:
O recurso de agravo de instrumento ataca as decisões interlocutórias, conforme disposição do
caput do artigo 1.015 do CPC. Porém, é de se ressaltar que nem toda decisão interlocutória seria
passível
A decisão interlocutória está definida no artigo 203, §2º do CPC, e justamente é um
conceito por exclusão, ou seja, que não se enquadra em sentença.
As decisões interlocutórias são aquelas proferidas no curso do processo pelo juiz, mas
que não implicam no seu encerramento, tampouco finalizam uma de suas fases.
No que tange à decisão interlocutória TARTUCE e DELLORE (2016, p. 351) esclarecem:
“como demonstra a própria formação da palavra, inter significa “entre” e “locutório” vem de
locutus, fala. A decisão interlocutória é a proferida entre falas: entre a primeira fala do processo
(que é do autor na petição inicial) e a última (que será do juiz, na sentença), muitas decisões
deverão ser proferidas”.
As decisões interlocutórias que não são recorríveis por agravo de instrumento deverão ser
impugnadas em sede de preliminar do recurso de Apelação ou nas contrarrazões, conforme
preceitua o art. 1.009, §1º, do CPC/15:

§1o As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não


comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser
suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou
nas contrarrazões (BRASIL, 2015).

Nesse sentido, destaca ARAÚJO JUNIOR (2016, p. 35): “O agravo de instrumento é o


recurso cabível contra decisões interlocutórias, mas não todas. Com efeito, como muitas leis
antes, o novo CPC também promoveu alterações no antigo recurso de agravo, começando por
acabar com o ‘agravo retido” (...) As questões apreciadas por decisões judiciais, na fase de
conhecimento, que não sejam impugnáveis por meio do agravo de instrumento, podem, segundo
novo regime, ser reiteradas quando do recurso de apelação (art. 1.009, §1º, CPC).

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ATENÇÃO: quando for possível interpor agravo de instrumento → e não for interposto preclui.

SE NÃO FOR POSSÍVEL INTERPOR AGRAVO → MATÉRIA OBJETO DA DECISÃO


INTERLOCUTÓRIA NÃO PRECLUI;

Segundo o artigo 1.015 cabe Agravo de Instrumento das seguintes decisões:

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem
sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, §1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo
de execução e no processo de inventário. (BRASIL, 2015)

5.1 Tutelas provisórias


A disciplina da tutela provisória está elencada nos artigos 294 até 311 do CPC/15. Tem-
se as tutelas provisórias de evidência e de urgência, sendo estas últimas divididas na tutela
antecipada e cautelar, podendo cada uma destas duas últimas serem requeridas de forma
antecedente ou incidental.
As tutelas provisórias visam evitar ou amenizar prejuízos que poderia advir com a demora
da prestação jurisdicional. Lembrando que a tutela provisória de urgência será concedida quando
estiver presente os requisitos do perigo de dano ou risco ao resultado útil ao processo e
probabilidade do direito. (ARAUJO JUNIOR, 2016, p. 36)
A tutela provisória da evidência será concedida nas hipóteses do artigo 311 do CPC/15.
A tutela provisória da evidência é concedida não porque há urgência, mas porque é
provável a procedência do pedido final. Destaca ARAÚJO JUNIOR (2016, p. 36): “Por sua vez,
a tutela provisória de evidência dispensa a presença dos elementos do perigo da demora se
caracterizando, conforme norma do art. 311 do CPC, pelo alto grau de probabilidade de
provimento do pedido principal (direito material)”.

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A decisão judicial acerca das tutelas provisórias, concedendo, negando, revogando ou


modificando-a é atacada por meio de agravo de instrumento, salvo quando for decidida na
sentença, quando caberá apelação. Caberia de qualquer tipo de decisão, pois o inciso I não faz
referência ao tipo de decisão acerca da tutela provisória.
Lembrar que nessa hipótese em que cabe sustentação oral no caso do Agravo de
Instrumento, conforme previsão do art. 937, VIII do CPC:

VIII - no agravo de instrumento interposto contra decisões interlocutórias que versem sobre
tutelas provisórias de urgência ou da evidência; (BRASIL, 2015)

→ Observar que, conforme previsão do art. 1.013, §5º do CPC, se a decisão acerca da
tutela provisória for proferida na sentença → cabe apelação e não agravo de instrumento:

§ 5º O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é


impugnável na apelação. (BRASIL, 2015)

5.2 Mérito do processo


De acordo com o artigo 356 do CPC, o juiz poderá julgar parcialmente o mérito do
processo. Os requisitos para o julgamento parcial do mérito estão estabelecidos no artigo 356
do CPC:

Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados
ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.
§5º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento.
(BRASIL, 2015)

Conforme a previsão do §5º do artigo 356 quando houver essa decisão PARCIAL acerca
do mérito, o recurso cabível é o de Agravo de Instrumento.
O artigo 354, parágrafo único também estabelece que naquelas situações será cabível
AGRAVO DE INSTRUMENTO.
Vide artigo 354, parágrafo único do CPC:

Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III ,
o juiz proferirá sentença.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela
do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento. (BRASIL, 2015)

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Como exemplo pode ser citado: “Imagina-se determinada ação, em que o autor formula
em cumulação simples dois pedidos: pedido 01 e pedido 02. O pedido 01 prescreveu, porém, o
pedido 02 pode ser processado normalmente até a decisão final de acolhimento ou rejeição. No
caso, por decisão interlocutória, será pronunciada a prescrição do pedido 01, prosseguindo-se o
processo com relação ao pedido 02”. Assim, é inegável que tal decisão é interlocutória, porque
simplesmente não encontra encaixe no conceito de sentença. Também, trata-se de decisão que
versa sobre o mérito do processo, consoante previsão do art. 487, II do CPC. (DONOSO; SERAU
JUNIOR, 2017, p. 203).
Na mesma linha há o entendimento acerca da ação de exigir contas, no que tange à
decisão do §5º do art. 550 do CPC, no sentido do Enunciado 177 do FPPC: “177. (arts. 550, § 5º
e 1.015, inc. II) A decisão interlocutória que julga procedente o pedido para condenar o réu a
prestar contas, por ser de mérito, é recorrível por agravo de instrumento”. (DONOSO; SERAU
JUNIOR, 2017, p. 203)
Ressalta-se que é indiferente o conteúdo da decisão de mérito, se conceder ou rejeitar o
pedido relativo ao mérito no curso do processo, basta que a decisão seja interlocutória e de
mérito para que caiba o Agravo de Instrumento. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 203).

5.3 Rejeição da alegação de convenção de arbitragem


Quando as partes estipularem a convenção de arbitragem, mas mesmo assim algumas
delas ingressar com a ação perante o Poder Judiciário, cabe ao réu alegar em preliminar de
contestação, a existência da convenção de arbitragem;

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


X - convenção de arbitragem; (BRASIL, 2015)

Caso o réu não alegue em preliminar de contestação, implicará na aceitação da prestação


da atividade jurisdicional e renúncia ao juízo arbitral, conforme previsão do §6º do artigo 337 do
CPC/15:
§ 6º A ausência de alegação da existência de convenção de arbitragem, na forma prevista
neste Capítulo, implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral.
(BRASIL, 2015)

Nesse sentido, verifica-se o entendimento de ARAÚJO JUNIOR (2016, p. 36): “Cabe ao


réu alegar, em preliminar na contestação, a existência de convenção de arbitragem (negócio
jurídico firmado entre as partes que afasta a jurisdição estatal). Eventual inércia quanto ao tema
implica a aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral (art. 337, X, §6º, CPC). Se o

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juiz acata a alegação de convenção de arbitragem e sentencia o feito, que neste caso é extinto
sem resolução de mérito (art. 485, VII, CPC), o recurso cabível contra esta decisão é apelação;
contudo, se o juiz rejeitar a alegação, esta decisão poderá ser impugnada por meio de agravo
de instrumento”.
Então, podem ocorrer duas situações:
1°. Se o juiz aceitar a alegação de existência da convenção de arbitragem e proferir
sentença extinguindo o processo sem resolução de mérito, com base no artigo 485, VII do CPC
→ o recurso é APELAÇÃO.

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo
arbitral reconhecer sua competência;
§7º Interposta a apelação em qualquer dos casos de que tratam os incisos deste artigo, o
juiz terá 5 (cinco) dias para retratar-se. (BRASIL, 2015)

2º. Se o juiz não acatar a alegação de convenção de arbitragem → o processo continua,


então essa decisão é atacada por meio de AGRAVO DE INSTRUMENTO.

* Para todos verem: esquema

Alegação de convenção de arbitragem feita pelo réu em


preliminar na contestação

Se o juiz acolher Se o juiz rejeitar a alegação

Processo extinto sem


Processo continua
resolução de mérito

Recurso de Apelação Agravo de Instrumento

5.4 Incidente de desconsideração da personalidade jurídica


O incidente de desconsideração da personalidade jurídica é previsto no artigo 134 do
CPC/15:
Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de
conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial. (BRASIL, 2015)

87
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Ao direito material cabe definir em quais situações vai caber a desconsideração da


personalidade jurídica. Ao CPC regulamentar o procedimento da desconsideração, conforme
previsão dos arts. 133 a 137 do CPC. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 205)

ATENÇÃO!
Lembre-se que a desconsideração da personalidade jurídica pode ser requerida:

Qualquer que seja a decisão do juiz acerca do incidente, seja rejeitando o pedido ou
acatando à cabe agravo de instrumento. (ARAÚJO JUNIOR, 2016, p. 37)
Observar, no entanto, se o incidente se deu no tribunal – seja em razão da competência
originária, seja porque o incidente foi deflagrado somente em âmbito recursal, neste caso a
decisão será de competência do relator (art. 932, VI do CPC) contra a qual caberá agravo interno
(art. 136, parágrafo único e 1.021, ambos do CPC). (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 205).

5.5 Rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação


A previsão do benefício da Gratuidade da Justiça está fundamentada no artigo 98 do CPC:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de


recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios têm
direito à gratuidade da justiça, na forma da lei. (BRASIL, 2015)

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o pedido poderá ser
formulado por petição simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu
curso. (BRASIL, 2015)

Ou seja, o Autor poderá fazer o pedido do benefício da Gratuidade da Justiça na Inicial, o


Réu na Contestação e o terceiro interessado em simples petição. Ainda poderá haver o pedido
em sede de recurso.
Se já houve manifestação da parte no processo, o pedido poderá ser formulado por pedido
superveniente. Caso deferido o pedido, a parte poderá oferecer impugnação, conforme previsão
do artigo 100 do CPC/15:

Art. 100. Deferido o pedido, a parte contrária poderá oferecer impugnação na contestação,
na réplica, nas contrarrazões de recurso ou, nos casos de pedido superveniente ou
formulado por terceiro, por meio de petição simples, a ser apresentada no prazo de 15
(quinze) dias, nos autos do próprio processo, sem suspensão de seu curso. (BRASIL,
2015)

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Então acerca de onde se requerer e onde se impugnar o benefício da gratuidade da justiça


pode ser vislumbrado o seguinte esquema:
* Para todos verem: esquema
Onde requerer?
Onde impugnar? Art. 100 do CPC
Art. 99 do CPC

• Petição inicial • Contestação


• Contestação • Réplica
• Petição para ingresso de terceiros • Simples petição - 15 dias
• Simples petição (superveniente) • Simples petição - 15 dias
• Razões de recurso • Contrarrazões

O agravo de instrumento ataca a decisão interlocutória que REJEITA OU QUE REVOGA o


benefício é Agravo de Instrumento, conforme previsão do artigo 101 do CPC/15:

Art. 101. Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou a que acolher pedido de sua
revogação caberá agravo de instrumento, exceto quando a questão for resolvida na
sentença, contra a qual caberá apelação. (BRASIL, 2015)

Lembrar, então, que se a decisão for conceder o benefício → não cabe agravo de
instrumento, somente se rejeitar o pedido ou revogar.

Somente cabe recurso se for rejeitado benefício ou se for revogado:


* Para todos verem: esquema

Rejeição ou revogação do benefício da gratuidade da justiça

Agravo de instrumento Apelação

Se for decisão interlocutória Se for decidido na sentença

5.6 Exibição ou posse de documento ou coisa


De acordo com o artigo 396 do CPC, o juiz pode determinar que a outra parte do processo
exiba documento ou coisa que esteja sob sua posse:

Contra essa decisão que determina ou rejeita a exibição de documento ou coisa cabe o
recurso de Agravo de Instrumento. (ARAÚJO JUNIOR, 2016, p. 37)

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5.7 Exclusão de litisconsorte


Ocorre litisconsórcio quando houver pluralidade em um ou em ambos os polos da relação
jurídica. Quando houver decisão acerca de exclusão de litisconsórcio, caberá agravo de
instrumento, POIS O PROCESSO CONTINUA EM RELAÇÃO AO OUTRO OU DEMAIS
LITISCONSORTES.

5.8 Rejeição do pedido de limitação de litisconsórcio


O número excessivo de litisconsortes pode ao invés de agilizar a prestação jurisdicional,
causar maior complexidade e lentidão ao processo. (ARAÚJO JUNIOR, 2016, p. 38).
Previsão dos §1º e 2º do artigo 113 do CPC/15:

§1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase
de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer
a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.
§2º O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que
recomeçará da intimação da decisão que o solucionar. (BRASIL, 2015)

Portanto, é cabível Agravo de Instrumento contra a decisão que nega o pedido de limitação
do número de litisconsortes.
5.9 Admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros
No Código de Processo Civil de 2015, cinco são as formas de intervenção de terceiros.

* Para todos verem: esquema

Assistência
Formas de intervenção de terceiros

Denunciação a lide

Chamamento ao processo

Amicus curiae

Incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica

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A decisão que admite ou inadmite uma das formas de intervenção de terceiros é


atacada por meio de Agravo de Instrumento. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 208)

Observar, no entanto, a exceção prevista no art. 138 do CPC:

Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do


tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão
irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se,
solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade
especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua
intimação.

5.10 Concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução


Os embargos à execução é o meio pelo qual o executado (devedor) defende-se na
execução de título extrajudicial (ARAÚJO JUNIOR, 2016, p. 38). De acordo com o artigo 919 do
CPC/15, os embargos à execução não terão efeito suspensivo:

Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.


§ 1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos
quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a
execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.
§ 2º Cessando as circunstâncias que a motivaram, a decisão relativa aos efeitos dos
embargos poderá, a requerimento da parte, ser modificada ou revogada a qualquer tempo,
em decisão fundamentada. (BRASIL, 2015)
(...)

Ou seja, via de regra, os embargos não possuem efeito suspensivo, mas o juiz poderá, a
requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos, quando verificar que
estão presentes os requisitos para concessão da tutela provisória, e desde que a execução esteja
garantia por penhora, deposito ou caução. (ARAÚJO JUNIOR, 2016, p. 38)

5.11 Redistribuição do ônus da prova nos termos do artigo 373, §1º do CPC
O artigo 373 estabelece o ônus da prova:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
autor.
§1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou
à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da
prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá
dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
§2º A decisão prevista no § 1o deste artigo não pode gerar situação em que a
desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.

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§3º A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por convenção das
partes, salvo quando:
I - recair sobre direito indisponível da parte;
II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.
§4º A convenção de que trata o § 3o pode ser celebrada antes ou durante o processo.
(BRASIL, 2015)

Então, caberá agravo de instrumento dessa decisão do juiz que inverte o ônus da prova
com base no artigo 373, §1º do CPC. Ou seja, que inverte a determinação estabelecida nos
incisos do artigo 373 do CPC.

5.12 Parágrafo único do artigo 1.015 do CPC:


Conforme o parágrafo único do artigo 1.015 do CPC, o recurso de agravo de instrumento
também terá cabimento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de
sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.

5.13 Outros casos expressamente referidos em lei


Além das hipóteses previstas nos incisos do artigo 1.015 do CPC/15, são apontadas
outras previsões, em que cabem Agravo de Instrumento. Uma lei pode prever o cabimento do
agravo de instrumento.
Exemplos de situações estabelecidas no próprio CPC:
1. Artigo 354, parágrafo único do CPC:

Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III,
o juiz proferirá sentença.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela
do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento. (BRASIL, 2015)

2. Artigo 356, §5º do CPC:

Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados
ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.
§5º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de
instrumento.(BRASIL, 2015)

3. Artigo 1.037, §13, I do CPC:

Art. 1.037. Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a


presença do pressuposto do caput do art. 1.036, proferirá decisão de afetação, na qual:

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§13. Da decisão que resolver o requerimento a que se refere o § 9o caberá:


I - agravo de instrumento, se o processo estiver em primeiro grau;
II - agravo interno, se a decisão for de relator. (BRASIL, 2015)

Ou seja, conforme o artigo 1.037, §13º do CPC/15, cabe agravo de instrumento contra a
decisão que indefere pedido de distinção do processo sobrestado em incidente de recursos
repetitivos quando o processo estiver em primeiro Grau. (ARAÚJO JUNIOR, 2016, p. 39)

Outras leis podem prever o cabimento do agravo de instrumento;

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE NO QUE TANGE AO CABIMENTO DO AGRAVO DE


INSTRUMENTO E A TESE DA TAXATIVIDADE MITIGADA:
O STJ entendeu em dezembro de 2018 pela taxatividade mitigada do rol do artigo 1.015
do CPC à admitindo a interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência
decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação. REsp 1.696.396
REsp 1.704.520. Fonte: https://www.conjur.com.br/2018-dez-05/stj-admite-agravo-casos-
nao-listados-artigo-1015-cpc.
Consoante consta no site do Conjur:

O STJ, porém, afetou o Tema 988 ao procedimento dos recursos repetitivos, para enfim
uniformizar o entendimento acerca da melhor interpretação do artigo 1.015. Assim, em
5/12/2018, firmou precedente de eficácia vinculante no sentido de que o agravo de
instrumento também pode ser interposto nos casos em que, não obstante ausente
disposição expressa no rol disposto pelo artigo 1.015 do CPC/2015, haja urgência
consubstanciada na inutilidade da medida quando da impugnação à decisão interlocutória
somente via apelação. Com isso, a corte declarou que o rol do artigo 1.015 é de
“taxatividade mitigada”, a ser aferida em cada caso. (LUZ, Eduardo Calich. A modulação
dos efeitos da decisão vinculante do STJ sobre admissão do agravo. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2019-abr-09/eduardo-luz-efeitos-decisao-stj-admissao-
agravo).
5.14 Prazo para interposição do agravo de instrumento
Prazo de 15 dias para interposição do agravo de instrumento, mesmo prazo para
oferecimento das contrarrazões.

ATENÇÃO!
O prazo para a interposição do agravo de instrumento e contrarrazões é de 15 dias.

Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados,
a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério
Público são intimados da decisão.

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§5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para


responder-lhes é de 15 (quinze) dias. (BRASIL, 2015)

Observar, as mesmas observações do prazo (forma de contagem, prazo em dobro,


restituição, etc). (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 215)
ATENÇÃO: No tópico da tempestividade, lembre-se de observar os art. 1.003 do CPC/15
e todas as suas atribuições específicas, além dos art. 219 e 224 do CPC/15 e as circunstâncias
de eventuais prazos em dobro.

5.15 Efeitos do agravo de instrumento


De acordo com a regra contida no artigo 995 do CPC/15, o Agravo de Instrumento possui
apenas, via de regra, o efeito devolutivo, ou seja, não possui o efeito suspensivo:

Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou
decisão judicial em sentido diverso.
Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do
relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou
impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso.
(BRASIL, 2015)

Porém, o Agravante poderá, com base no artigo 1.019, I do CPC, requerer que o relator, ao
receber o Agravo de Instrumento, atribua efeito suspensivo ou deferir, em antecipação de tutela,
total ou parcialmente, a pretensão recursal:

Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, se


não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco)
dias:
I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total
ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; (BRASIL, 2015)

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* Para todos verem: quadro comparativo

EFEITO SUSPENSIVO ANTECIPAÇÃO DE TUTELA RECURSAL (TAMBÉM


CHAMADA DE EFEITO SUSPENSIVO ATIVO)

Será requerido toda vez que o juiz der uma decisão Será requerida toda vez que o juiz der uma decisão
POSITIVA apta a prejudicar os interesses da parte a NEGATIVA apta a prejudicar os interesses da parte a ser
ser defendida. Há, na decisão, uma determinação no defendida. Há, na decisão, uma denegação de algo que
sentido de que algo seja cumprido; o magistrado lhe é necessário; o juiz nega algo que a parte por você
concede algo que lhe trará prejuízos. Efeito defendida precisa com urgência. O efeito ativo é concedido
suspensivo é requerido porque a outra parte pleiteou porque a própria parte requereu algo que foi negado.
algo e o juiz concedeu. FUNDAMENTO: ARTIGO 300 E 1.019, I, AMBOS DO
FUNDAMENTO: 995, PARÁGRAFO ÚNICO E 1.019, I CPC;
AMBOS DO CPC;

FONTE: AGUIRRE, João; SÁ, Renato Montans de. Prática Civil. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 95.

Ainda, poderá haver a retratação pelo juiz de primeiro grau. Ou seja, conforme Führer e
Führer (2016, p. 199): “Ao tomar conhecimento do agravo, pela juntada de cópia do mesmo aos
autos, pode o juiz reformar sua decisão, comunicando o fato ao tribunal. A reforma integral da
decisão pelo juiz da causa prejudica o agravo de instrumento no tribunal (art. 1.018, §1º).

5.16 Da petição de agravo de instrumento


Previsão no artigo 1.016 e 1.017 do CPC/15:

Art. 1.016. O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente, por
meio de petição com os seguintes requisitos:
I - os nomes das partes;
II - a exposição do fato e do direito;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido;
IV - o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo. (BRASIL,
2015)

Conforme o artigo 1.016 do CPC/15 o recurso DEVERÁ SER DIRIGIDO AO TRIBUNAL


competente.
O Artigo 1.016, inciso IV do CPC/15 exige que o Agravante indique no recurso de Agravo
de Instrumento o nome e endereço completo dos advogados do Agravante e do Agravado, a fim
de possibilitar a comunicação. (TARTUCE; DELLORE, 2016, p. 358)
Porém, caso tais dados ainda não estejam disponíveis, essa informação deve constar na
petição do Agravo. EXEMPLO: se foi negada uma tutela provisória com liminar, antes mesmo

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da citação do Réu, e o Autor quiser agravar, deve mencionar tal situação no recurso. (TARTUCE;
DELLORE, 2016, p. 358)
Além do artigo 1.016 do CPC/15, o Agravante deve cumprir os requisitos do artigo 1.017 do
CPC/15:
Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou
a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou
outro documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas
aos advogados do agravante e do agravado;
II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita
pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;
III - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis.
§1º Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas e do
porte de retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais. (BRASIL,
2015)

Conforme Lourenço (2017, p. 496) o nome do recurso de agravo de instrumento justamente


vem da necessidade de uma instrução probatória imediata, de forma que na interposição do
recurso devem ser apresentados uma série de documentos, que irão se dividir em obrigatórios e
facultativos, além do comprovante de recolhimento do preparo e do porte de retorno, quando
devidos.
No caso de alguma peça exigida pelo artigo 1.017 não constar no processo, deverá o
advogado do Agravante informar sob sua responsabilidade, pessoa, conforme previsão o inciso
II do artigo 1.017 do CPC/15. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 217)
Ainda, conforme o §5º do artigo 1.017 do CPC/15, sendo eletrônico o processo, não
precisarão ser juntadas as peças referidas nos incisos I e II do artigo 1.017:

§5º Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças referidas nos incisos
I e II do caput, facultando-se ao agravante anexar outros documentos que entender úteis
para a compreensão da controvérsia.
Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou
a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou
outro documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas
aos advogados do agravante e do agravado;
II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita
pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal; (BRASIL, 2015)

O artigo 1.106, nos incisos II e III refere que o Agravo de Instrumento trará a exposição de
fato e de direito, bem como as razões do pedido de reforma ou invalidação da decisão agravada.

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Ou seja, deve indicar o recorrente o que pretende ver modificado, indicando os fundamentos
para tanto.
As peças que acompanham o agravo de instrumento não precisam ser autenticadas em
cartório, bastando que o advogado, sob sua responsabilidade pessoal, declare a sua
autenticidade, conforme previsão do art. 425, IV, do CPC:

Art. 425. Fazem a mesma prova que os originais:


IV - as cópias reprográficas de peças do próprio processo judicial declaradas autênticas
pelo advogado, sob sua responsabilidade pessoal, se não lhes for impugnada a
autenticidade; (BRASIL, 2015)

O artigo 1.106, nos incisos II e III refere que o Agravo de Instrumento trará a exposição de
fato e de direito, bem como as razões do pedido de reforma ou invalidação da decisão agravada.
Ou seja, deve indicar o recorrente o que pretende ver modificado, indicando os fundamentos
para tanto.

5.17 Do preparo no agravo de instrumento


No agravo de instrumento deve haver o preparo, inclusive porte de retorno, sob pena de
deserção, salvo as exceções previstas no artigo 1.007, §1º do CPC:

Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido


pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno,
sob pena de deserção.
§1º São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos
interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos
Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. (BRASIL, 2015)

É a exigência constante no §1º do artigo 1.017 do CPC/15:

§1º Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas e do


porte de retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais. (BRASIL,
2015)

5.18 Forma de interposição e procedimento do Agravo de Instrumento


Quanto à forma de interposição do recurso, “o agravante, dentro do prazo de 15 dias, deve
interpor o agravo de instrumento, dirigido diretamente ao tribunal, acompanhado das peças
consideradas obrigatórias bem como daquelas que se mostrem úteis para o julgamento do
recurso (peças facultativas). (FÜHRER; FÜHRER, 2016, p. 197-198)
Interposto o Agravo de Instrumento, o Agravante deverá no prazo de 03 dias requerer a
juntada da cópia do Agravo no processo de 1º Grau, conforme prevê o artigo 1.018 do CPC.

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Art. 1.018. O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da
petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos
documentos que instruíram o recurso. (BRASIL, 2015)

A referida previsão visa possibilitar o juízo de retratação pelo juiz de primeiro grau, bem
como possibilitar a ciência do Agravado sobre o recurso interposto.
Caso não seja atendida essa previsão, acarreta a inadmissibilidade do recurso pelo
Tribunal, desde que seja arguido pelo Agravado e provada por este.

§2º Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no caput,
no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento.
§3º O descumprimento da exigência de que trata o § 2o, desde que arguido e provado
pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento.

Caso ocorra a interposição do Agravo com a falta de alguma peça obrigatória, ou haja algum
vício que comprometa que o Agravo seja recebido, deve o relator antes de considerar
inadmissível o Agravo de Instrumento, deve o relator conceder ao Agravante o prazo de 05 dias
para que seja sanado o vício ou complementada a documentação.
Então, protocolado o Agravo, o Recurso será imediatamente encaminhado ao Tribunal,
distribuído e concluso ao relator para, não sendo o caso de aplicação do artigo 932, incisos III a
IV do CPC, aplicar:
Art. 932. Incumbe ao relator:
III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida;
IV - negar provimento a recurso que for contrário a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça
em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência; (BRASIL, 2015)

Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, se


não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco)
dias:
I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total
ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão;
II - ordenará a intimação do agravado pessoalmente, por carta com aviso de recebimento,
quando não tiver procurador constituído, ou pelo Diário da Justiça ou por carta com aviso
de recebimento dirigida ao seu advogado, para que responda no prazo de 15 (quinze)
dias, facultando-lhe juntar a documentação que entender necessária ao julgamento do
recurso;
III - determinará a intimação do Ministério Público, preferencialmente por meio eletrônico,
quando for o caso de sua intervenção, para que se manifeste no prazo de 15 (quinze) dias.
I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total
ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; (BRASIL, 2015)

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Conforme o artigo 1.019, II do CPC o agravado deve ser intimado para responder caso já
tenha sido citado. “Caso o réu não tenha advogado constituído nos autos, deverá ser intimado
pessoalmente (...). De acordo com o §1º do art. 1.018 do CPC/2015, se o juiz informar que
reformou inteiramente a decisão agravada, o relator considerará prejudicado o agravo de
instrumento. Realizado juízo de retratação, o agravo de instrumento interposto perde o objeto”.
(MEDINA, 2016, p. 1341-1342)
Ainda, segundo Medina (2016, p. 1342) caso o relator profira decisão no sentido de não
conhecer ou julgando o mérito do agravo de forma monocrática, caberá o agravo interno, o
mesmo ocorrendo, por exemplo, no que se refere à decisão que aprecie o requerimento de
concessão do efeito suspensivo ou de antecipação dos efeitos da tutela.
O efeito suspensivo deverá ser requerido quando o agravante entender que a decisão
recorrida deve ser suspensa porque é capaz de gerar dano grave de difícil ou impossível
reparação e, então além desse requisito deve demonstrar a probabilidade de provimento do
recurso, conforme o parágrafo único do artigo 995 do CPC:
A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se dá imediata
produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar
demonstrada a probabilidade de provimento do recurso. (BRASIL, 2015)
O pedido de antecipação de tutela no recurso tem cabimento quando o juiz no primeiro
grau indeferir uma medida pleiteada. Neste sentido, DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 220)
ensinam: “o efeito ativo é uma antecipação de tutela recursal (total ou parcial) e se justifica nas
hipóteses em que o agravante pretende exatamente que a pretensão seja não apenas acolhida
imediatamente, mas que também seja desde logo exigível”.
Conhecido o Agravo de Instrumento e não tendo sido o caso de julgamento antecipado,
apresentadas ou não as contrarrazões, o relator irá solicitar dia para seu julgamento no prazo de
01 mês da intimação do Agravado:

Art. 1.020. O relator solicitará dia para julgamento em prazo não superior a 1 (um) mês
da intimação do agravado. (BRASIL, 2015)

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MODELO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO COM UMA FOLHA SÓ

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE... (Conforme o enunciado da FGV)

Processo n...

NOME DO AGRAVANTE, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da


Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador
constituído (procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com endereço
profissional na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe
intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento
nos artigos 994, II e 1.015, inciso..., ambos do Código de Processo Civil, interpor o
presente

RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE EFEITO


SUSPENSIVO

Contra a decisão interlocutória proferida nos autos da ação de... movida por NOME
DO AGRAVADO, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula de
Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., número...,
Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões a seguir expostas:

I – DO CABIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO:


Demonstrar que está atacando decisão interlocutória, conforme o artigo 203, §2º do
CPC, que é decisão do juiz de primeiro grau e que julgou tal situação... prevista no inciso
tal do artigo 1.015 do CPC, o que justifica a interposição do Agravo de Instrumento,
recurso previsto no artigo 994, II do Código de Processo Civil

II – DA TEMPESTIVIDADE:

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Demonstrar que o recurso é tempestivo, pois interposto dentro do prazo de legal de


15 dias, conforme artigo 1.003, §5º do CPC, cuidar o início da contagem conforme o
caput, ou o §1º ou o §2º do artigo 1.003 do CPC. Utilizar ainda o artigo 219 e o 224 do
CPC.

III – DO NOME E ENDEREÇO DOS ADVOGADOS DO AGRAVANTE E DO


AGRAVADO: (pode ser aqui ou antes dos pedidos)
O Agravante, em atenção ao disposto no artigo 1.016, IV do Código de Processo
Civil vem informar o nome e endereço completo dos advogados do Agravante e do
Agravado:
Pelo Agravante: Nome do Advogado..., OAB..., endereço eletrônico..., com
endereço na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP...
Pelo Agravado: Nome do Advogado..., OAB..., endereço eletrônico..., com
endereço na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP...

IV – DAS PEÇAS OBRIGATÓRIAS E FACULTATIVAS:


Das pelas obrigatórias: Na forma do artigo 1.017, I do CPC indica o Agravante a
juntada das referidas peças obrigatórias: I - cópias da petição inicial, da contestação,
da petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão
da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e
das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;
Das peças facultativas: Na forma do inciso III do artigo 1.017 do CPC, junta o
Agravante as seguintes peças facultativas... (conforme o enunciado)
Se não tiver peça obrigatória, fazer declaração na forma do inciso II do artigo 1.017
do CPC, por exemplo: Deixa o Agravante de juntar cópia da contestação e da
procuração outorgada ao advogado do agravado porque ainda não constantes no
processo, vez que o Agravado ainda não foi citado. Declaração essa feita pelo
advogado do Agravante, na forma do inciso II do artigo 1.017 do CPC, sob pena de sua
responsabilidade pessoal.
V – SÍNTESE DA DEMANDA:

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Fazer um resumo, conforme o enunciado (um ou dois parágrafos, informando


inclusive a decisão agravada).

VI – DAS RAZÕES RECURSAIS (RAZÕES PARA REFORMA OU INVALIDAÇÃO


CONFORME O CASO)
Aqui são expostas as teses, atacando a decisão interlocutória de primeiro grau.

VII – DO PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO: (PODE SER ANTECIPAÇÃO DE


TUTELA RECURSAL)
Fundamentar, conforme o caso, o pedido de efeito suspensivo ou antecipação
de tutela recursal, demonstrando a presença desses requisitos no caso.
Não esquecer de usar no efeito suspensivo (art. 1019, I e parágrafo único do
artigo 995, ambos do CPC)
Não esquecer de usar na antecipação de tutela recursal o artigo 1.019, I e 300,
ambos do CPC);

VII – DOS PEDIDOS:


Diante do exposto, requer o Agravante:
a) A admissibilidade e o conhecimento do presente recurso, eis que preenchidos
os requisitos de admissibilidade;
b) A concessão do efeito suspensivo para o fim de ....
c) A intimação do agravado para oferecer contrarrazões no prazo legal de 15 dias,
conforme previsão dos artigo 1.003, §5º e 1.019, inciso II, ambos do CPC;
d) O total provimento do recurso para o fim de...
e) A juntada das peças obrigatórias na forma do artigo 1.017, inciso I do CPC e
facultativas na forma do inciso II do artigo 1.017 do CPC;
f) A juntada do comprovante de preparo recursal, inclusive porte de retorno, nos
termos do artigo 1.007, caput e artigo 1.017, §1º, ambos do CPC;
g) Informa o Agravante, na forma do artigo 1.018 do CPC, que no prazo de 03 dias a
contar da interposição do Agravo de Instrumento juntará nos autos do processo de

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primeiro grau: comprovante de sua interposição, rol de documentos e cópia da petição


do agravo de instrumento.

Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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5.19 Agravo de instrumento no XX exame

ENUNCIADO:
Em 2015, Rafaela, menor impúbere, representada por sua mãe Melina, ajuizou Ação de
Alimentos em Comarca onde não foi implantado o processo judicial eletrônico, em face de
Emerson, suposto pai.
Apesar de o nome de Emerson não constar da Certidão de Nascimento de Rafaela, ele
realizou, em 2014, voluntária e extrajudicialmente, a pedido de sua ex-esposa Melina, exame de
DNA, no qual foi apontada a existência de paternidade de Emerson em relação a Rafaela.
Na petição inicial, a autora informou ao juízo que sua genitora encontrava-se
desempregada e que o réu, por seu turno, não exercia emprego formal, mas vivia de “bicos” e
serviços prestados autônoma e informalmente, razão pela qual pediu a fixação de pensão
alimentícia no valor de 30% (trinta por cento) de 01 (um) salário mínimo.
A Ação de Alimentos foi instruída com os seguintes documentos: cópias do laudo do exame
de DNA, da certidão de nascimento de Rafaela, da identidade, do CPF e do comprovante de
residência de Melina, além de procuração e declaração de hipossuficiência para fins de
gratuidade.
Recebida a inicial, o juízo da 1ª Vara de Família da Comarca da Capital do Estado Y
indeferiu o pedido de tutela antecipada inaudita altera parte, rejeitando o pedido de fixação
de alimentos provisórios com base em dois fundamentos: (i) inexistência de verossimilhança
da paternidade, uma vez que o nome de Emerson não constava da certidão de nascimento e
que o exame de DNA juntado era uma prova extrajudicial, colhida sem o devido processo legal,
sendo, portanto, inservível; e (ii) inexistência de “possibilidade” por parte do réu, que não tinha
como pagar pensão alimentícia pelo fato de não exercer emprego formal, como confessado pela
própria autora.
A referida decisão, que negou o pedido de tutela antecipada para fixação de alimentos
provisórios, foi publicada no Diário da Justiça Eletrônico em 01/12/2015, segunda-feira.
Considere-se que não há feriados no período.
Na qualidade de advogado(a) de Rafaela, elabore a peça processual cabível para a defesa
imediata dos interesses de sua cliente, indicando seus requisitos e fundamentos nos termos da
legislação vigente. (Valor: 5,00)

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Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

GABARITO COMENTADO PELA FGV


Em Ação de Alimentos, é plenamente possível a fixação liminar de alimentos provisórios,
medida que desfruta da natureza jurídica de tutela provisória de urgência antecipada.
Para a concessão de alimentos provisórios, embora a necessidade do menor seja
presumida, deve ser apontada a necessária comprovação de dois requisitos (“verossimilhança
da alegação” e “risco de dano irreparável”) a respeito do dever alimentar (presunção de
paternidade por meio de realização de prova extrajudicial) o binômio necessidade-possibilidade
(necessidade pelo alimentando e possibilidade de pagamento pelo alimentante).
No caso vertente, há verossimilhança do dever de prestar alimentos, uma vez que foi
apresentado exame de DNA realizado extrajudicialmente, que apontou o réu como o pai da
autora, menor.
Há, ainda, possibilidade de pagamento de alimentos pelo réu (que, apesar de não ter
emprego formal, realiza atividade informal remunerada) e risco de dano irreparável (necessidade
de percepção de alimentos pela autora, que vive com a mãe, desempregada).
A decisão do juiz, que indefere o pedido de tutela provisória de urgência antecipada para
fixação dos alimentos provisórios, tem natureza de decisão interlocutória, a qual deve ser
recorrida por agravo de instrumento.
Deve a autora interpor recurso de agravo de instrumento, com pedido de tutela antecipada
recursal (“efeito suspensivo ativo”) por parte do relator, a fim de ser reformada a decisão que
indeferiu o pagamento de alimentos provisórios, até que venha a ser proferida a decisão final,
colegiada, pelo órgão julgador do agravo, confirmando a reforma do conteúdo da decisão
agravada, para que seja mantido o deferimento de pensão alimentícia provisória.

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DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS:

DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS

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6. Agravo Interno

6.1 Previsão legal:


O agravo interno tem previsão legal no art. 994, III e art. 1.021 do Código de Processo
Civil.
Ainda, conforme o próprio caput do artigo 1.021 do CPC, devem ser observadas, quanto
ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.

6.2 Cabimento
O recurso de agravo interno ataca decisão monocrática no âmbito dos tribunais, conforme
art. 1.021 do Código de Processo Civil, que dispõe:

Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo
órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno
do tribunal. (BRASIL, 2015)

Sobre o cabimento do agravo interno ensina DIDIER E CUNHA (2018, p. 339): “é o recurso
cabível contra as decisões unipessoais proferidas em tribunal, sejam elas proferidas pelo relator,
sejam elas proferidas por Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal”.
Consoante TARTUCE E DELLORE (2016, p. 369): “Trata-se de recurso interposto no
Tribunal, a ser processado nos próprios autos do processo em trâmite. Assim, não é necessário
formar instrumento (não se exigem peças para sua interposição) (...)”.
Tem-se que o agravo interno faz com que o órgão colegiado se manifeste acerca daquela
decisão que foi proferida pelo relator de forma monocrática, o que possibilita também o
esgotamento das vias recursais.
Nesse sentido, com o agravo interno, há a possibilidade de que a parte submeta a análise
do recurso aos demais integrantes da Turma ou da Câmara. Isto é, se o relator decidir de forma
monocrática, para que haja a manifestação dos demais desembargadores, se faz necessária a
interposição do agravo interno. (TARTUCE; DELLORE, 2016, p. 370)
Ou seja, em certas hipóteses o relator decide sozinho, porém, o respectivo colegiado
poderá rever essa decisão unipessoal a partir da interposição do Agravo Interno, preservando a
colegialidade que é a regra em termos de duplo grau de jurisdição. (DONOSO; SERAU JUNIOR,
2017, p. 239)

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Segundo Lourenço (2017, p. 501), o Novo CPC fez com que acabasse a polêmica que
existia entre agravo interno e o regimental, pois denominou no artigo 1.021 de Agravo Interno,
sendo o recurso a ser utilizado contra a decisão monocrática do relator para o órgão a
que este relator pertença.

EXEMPLOS DE CABIMENTO: É cabível o agravo interno quando o relator, em decisão


monocrática, avaliar previamente o recurso e não admitir seu processamento/negar provimento,
justamente para destrancar o recurso e fazer com que a decisão monocrática seja avaliada por
órgão colegiado. (CHACON, 2.020, p. 234)
Exemplos de cabimento do agravo interno segundo Medina (2016, p. 1342): “pode tratar-
se de decisão monocrática que não conheceu do recurso, ou que lhe deu ou negou provimento,
ou, ainda, que tenha apreciado requerimento do efeito suspensivo ou de antecipação dos efeitos
da tutela, ou decidido outra questão, como, por exemplo, o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica (cf. art. 932, VI, do CPC/2015)”.
Da mesma, cabe agravo interno quando o relator negar ou conceder efeito suspensivo ou
a antecipação de tutela recursal→ Enunciado 142 do FPPC:

142. (art. 298; art. 1.021) Da decisão monocrática do relator que concede ou nega o efeito
suspensivo ao agravo de instrumento ou que concede, nega, modifica ou revoga, no todo
ou em parte, a tutela jurisdicional nos casos de competência originária ou recursal, cabe o
recurso de agravo interno nos termos do art. 1.021 do CPC”. (Grupo: Tutela Antecipada)

Segundo DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 240), o recurso de agravo interno é cabível
para atacar decisão em qualquer recurso, ação originária de Tribunal (como a ação rescisória)
ou mesmo no reexame necessário previsto no art. 496, do CPC. O art. 1.021 não faz qualquer
tipo de distinção em relação ao tipo de procedimento onde o agravo interno é aplicável”.
Cabe, portanto, de decisões singulares do relator. Observar, no entanto, outras hipóteses
de cabimento do agravo interno e que estão estabelecidas no próprio CPC:

1º) Previsão do Parágrafo único do art. 136 do CPC:


Caso a decisão sobre a desconsideração da personalidade jurídica seja do relator, caberá
o agravo interno:
Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão
interlocutória.
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno. (BRASIL,
2015)

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2º) Previsão do artigo 1.037, §13º, II do CPC:

Art. 1.037. Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a


presença do pressuposto do caput do art. 1.036, proferirá decisão de afetação, na qual:
§9º Demonstrando distinção entre a questão a ser decidida no processo e aquela a ser
julgada no recurso especial ou extraordinário afetado, a parte poderá requerer o
prosseguimento do seu processo.
§13. Da decisão que resolver o requerimento a que se refere o § 9o caberá:
I - agravo de instrumento, se o processo estiver em primeiro grau;
II - agravo interno, se a decisão for de relator. (BRASIL, 2015)

3º) Previsão do artigo 1.030, I e III C/C §2º do CPC:

Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos
serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que
deverá:
I – negar seguimento:
a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal
Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso
extraordinário interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento
do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral; b) a
recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em
conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos
repetitivos; II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do
juízo de retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal
Federal ou do Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de
repercussão geral ou de recursos repetitivos;
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não
decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se
trate de matéria constitucional ou infraconstitucional;
IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou
infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036;
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal
Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que:
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de
julgamento de recursos repetitivos;
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia;
ou
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
§1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V caberá agravo
ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042.
§2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos
termos do art. 1.021. (BRASIL, 2015)

Sobre essa previsão de cabimento do agravo interno, DONOSO e SERAU JUNIOR (2017,
p. 240) explicam que cabe agravo interno contra a decisão de não admissão de recurso especial
ou recurso extraordinário, direcionado ao próprio Tribunal de origem, quando verificadas as
situações do artigo 1.030, incisos I e III c/c §2º do CPC, ou seja, quando o Presidente ou Vice-

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Presidente do Tribunal Recorrido inadmitir o recurso especial ou recurso extraordinário fundado


no julgamento de recursos repetitivos ou repercussão geral.

4º) Previsão do art. 1.035, §7º do CPC:

Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do


recurso extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão
geral, nos termos deste artigo.
§6º O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de
origem, que exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso extraordinário que
tenha sido interposto intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para
manifestar-se sobre esse requerimento.
§7º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º ou que aplicar entendimento
firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos caberá
agravo interno. (BRASIL, 2015)

5º) Previsão do art. 1.036, §3º do CPC:

Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com
fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo
com as disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.
§1º O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal
selecionará 2 (dois) ou mais recursos representativos da controvérsia, que serão
encaminhados ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça para fins
de afetação, determinando a suspensão do trâmite de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região, conforme o caso.
§2º O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente, que exclua da
decisão de sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o recurso extraordinário que
tenha sido interposto intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para
manifestar-se sobre esse requerimento.
§3º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 2º caberá apenas agravo
interno. (BRASIL, 2015)

6º) Caberia contra qualquer decisão do art. 932 do CPC: condutas do relator, segundo
DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 240);

Segundo Donoso e Serau Junior (2017, p. 240) em razão de qualquer regra em sentido
contrário é cabível contra qualquer tipo de decisão proferida monocraticamente pelos relatores
em sede de Tribunal: decisões interlocutórias, decisões que resolvam o mérito da demanda.
Observar ainda que em muitos casos, a interposição do agravo interno é mecanismo
processual exigido para efetuar o esgotamento das instâncias recursais ordinárias, condição
essa para interposição e admissibilidade dos recursos especiais e extraordinários
SÚMULA 281 do STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na Justiça
de origem, recurso ordinário da decisão impugnada”. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 239)

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Observar que, segundo DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 240) o agravo interno é
cabível em qualquer recurso, ação originária de tribunal (como ação rescisória) ou mesmo no
reexame necessário previsto no artigo 496 do CPC, isso porque o art. 1.021 do CPC não faz
qualquer tipo de distinção em relação ao tipo de procedimento em que o agravo interno é
aplicável.

6.3 Estrutura e processamento do recurso de Agravo Interno


O agravo interno segue as regras previstas no regimento interno de cada tribunal.
O Recorrente, no Agravo Interno, deve impugnar especificamente os fundamentos da
decisão Agravada, ou seja, da decisão monocrática do relator, consoante previsão do §1º do
artigo 1.021 do CPC:
§ 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os
fundamentos da decisão agravada. (BRASIL, 2015)

Com essa previsão, está expresso que o Recorrente não poderá repetir o recurso que
ensejou a decisão monocrática. Segundo DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 243) essa
previsão traduz o princípio da dialeticidade recursal e está atrelado à exigência contida no art.
1.021, §3º do CPC.
A petição do Recurso de Agravo Interno deverá ser dirigida ao Relator que proferiu a
decisão, indicando o ponto que não concorda e os motivos que ensejam a reforma da decisão,
consoante previsão do §2º do artigo 1.021 do CPC:

§ 2º O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o
recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator
levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta. (BRASIL, 2015)

Ou seja, o agravo interno apesar de ser dirigido ao próprio relator que proferiu a decisão
monocrática agravada será julgado pelo órgão colegiado competente para o julgamento do
próprio recurso onde se originou a decisão agravada. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p.
241).
No que tange ao processamento do agravo interno, é de se destacar, ainda, que o agravo
interno é dirigido ao relator, sendo que este então poderá se retratar diante da interposição do
recurso. Porém, antes de se retratar, o relator deve ouvir a parte contrária que apresentará suas
contrarrazões no prazo. (DIDIER JUNIOR; CUNHA, 2018, p. 342)
É admissível a retratação pelo relator, e, caso não haja retratação pelo relator, este deverá
encaminhar a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta. Como é processado nos

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mesmos autos do processo que está em tramite, não é necessário formar um instrumento, ou
seja, cópia das peças do processo.
Caso haja retratação por parte do Relator, o recurso, ação originária ou reexame necessário
onde se deu a decisão agravada volta a ter seu curso regular e o agravo interno perde seu objeto,
restando prejudicado. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 242).

6.4 Prazo
Conforme o artigo 1.003, §5º do CPC, o prazo para interposição de recurso pelo CPC (com
exceção dos embargos de declaração) é de 15 dias, sendo igual prazo para o Agravado oferecer
contrarrazões.
▪ OBSERVAR AS REGRAS DE PRAZO EM DOBRO;

6.5 Reprodução dos fundamentos


É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para
julgar improcedente o agravo interno, devendo rebater os argumentos apresentados. Essa é a
previsão do §3º do artigo 1.021 do CPC:

§ 3º É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada


para julgar improcedente o agravo interno. (BRASIL, 2015)

6.6 Multa
Caso o Agravo Interno seja declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em
votação unânime, o órgão colegiado poderá condenar o agravado a pagar multa fixada entre um
e cinco por cento do valor atualizado da causa e mais, qualquer interposição de outro recurso
está condicionada ao pagamento da multa.

ATENÇÃO
A interposição de qualquer outro recurso fica condicionado ao depósito prévio do
valor da multa, em conformidade ao art. 1.021, §5º, do CPC/15.

§ 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente


em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o
agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado
da causa.
§ 5º A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do
valor da multa prevista no § 4o, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de
gratuidade da justiça. (BRASIL, 2015)

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6.7 Retratação:
Conforme previsão do art. 1.021, §2º, do Código de Processo Civil, há possibilidade de o
relator se retratar. No entanto, caso não haja a retratação por parte do relator, ele deverá
encaminhar o recurso de agravo interno para julgamento perante o órgão colegiado, com
inclusão em pauta.

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MODELO DE AGRAVO INTERNO


MODELO DE AGRAVO INTERNO COM UMA FOLHA SÓ

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR RELATOR DA ...


CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO...

Processo...

NOME DO AGRAVANTE, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da


Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador constituído
(procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com endereço profissional na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe intimações, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 1.021 e 994,
inciso III, ambos do Código de Processo Civil, interpor o presente
RECURSO DE AGRAVO INTERNO
Em face da decisão monocrática proferida no recurso de Apelação interposto pelo
NOME DO AGRAVADO, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula de
Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., número...,
Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões a seguir expostas.

I – DA TEMPESTIVIDADE:
O presente recurso é tempestivo, eis que interposto dentro do prazo legal de 15 dias,
na forma do artigo 1.003, §5º do Código de Processo Civil, cujo termo inicial é a partir da
intimação do advogado da decisão, na forma do caput do artigo 1.003 do Código de Processo
Civil, computados somente os dias úteis na forma do artigo 219 do Código de Processo Civil,
excluindo o dia do início e incluindo o dia do vencimento, tal qual preceitua o artigo 224 do
Código de Processo Civil.

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II – DO CABIMENTO:
O presente recurso é adequado, pois ataca decisão monocrática proferida pelo relator
que ...., consoante previsão do artigo 1.021 do Código de Processo Civil, o qual reza que
da decisão monocrática do relator cabe o recurso de Agravo Interno, recurso previsto
também no artigo 994, III do Código de Processo Civil.

III – SÍNTESE DA DEMANDA:


Fazer um resumo conforme o enunciado da FGV;

IV – RAZÕES PARA REFORMA DA DECISÃO:


Trazer os argumentos que atacam a decisão monocrática do relator. Lembrar da
previsão do §1º do artigo 1.021 do CPC;

VI – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Agravante:
a) O conhecimento, admissibilidade e processamento do presente recurso de Agravo
de Interno;
b) A intimação do Agravado para oferecer contrarrazões no prazo legal de 15 dias,
conforme previsão do artigo 1.021, §2º e 1.003, §5º, ambos do Código de Processo Civil;
c) Requer a retratação do relator quanto à decisão monocrática para o fim de...,
consoante disposição do artigo 1.021, §2º do Código de Processo Civil;
d) Caso não haja retratação pelo relator, requer-se que seja levado o presente recurso
de agravo interno a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta;
e) O provimento do presente recurso para o fim de reformar a decisão monocrática
para...
f) O benefício da gratuidade da justiça, na forma dos artigos 98 e 99 do Código
de Processo Civil;

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Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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7. Embargos de Declaração (aula gravada)

7.1 Previsão legal


Art. 994, IV, art. 1.022 a 1.026 do CPC.

7.2 Cabimento
Conforme o artigo 1.022 do CPC, os embargos de declaração atacam qualquer decisão
judicial quando esta for obscura, omissa ou contraditória ou quando contiver erro material (art.
1.022 do CPC).
Diz-se que a fundamentação dos embargos de declaração é vinculada (DONOSO; SERAU
JUNIOR, 2017, p. 250 e 254), pois não aceitam qualquer fundamentação ou crítica, e sim os
fundamentos relativos aos vícios enumerados na lei.
Segundo Sá e Aguirre (2017, p. 102) os embargos de declaração não possuem como
função principal a modificação de uma decisão. A finalidade principal dos embargos de
declaração é esclarecer ou integrar uma decisão judicial que possui um dos vícios mencionados
no artigo 1.022 do CPC.
Nesse sentido se manifestam Führer e Führer (2016, p. 199-200) sobre o objetivo dos
embargos de declaração: “não visa à reforma da decisão, mas o esclarecimento de obscuridade,
contradição ou omissão nela contidas ou à correção de erro material”.
Justamente por isso a apreciação dos Embargos de Declaração é feita pelo próprio órgão
que proferiu a decisão. Assim, os embargos de declaração possuem como objetivo emitir
pronunciamento judicial que integra a sentença, acordão, decisão interlocutória, aperfeiçoando-
os, abrindo o caminho para irresignação principal (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 250).
O entendimento é de que cabe Embargos de Declaração contra qualquer decisão
judicial, e não apenas contra sentença, inclusive quanto às decisões interlocutórias e
decisão monocráticas ou acórdão.
As hipóteses de cabimento estão no art. 1.022 do CPC:

Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:
I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;

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II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de


ofício ou a requerimento;
III - corrigir erro material. (BRASIL, 2015)

I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição:


Obscuridade se caracteriza pela falta de clareza, pela confusão de ideias, pela dificuldade
no entendimento da decisão. A própria letra ilegível pode tornar uma decisão obscura, quando
for escrita a mão. A decisão deve ser vista como um todo e deve ser compreensível ao homem
médio, se não for será obscura. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 254).
Sobre obscuridade e contradição ensina Viana (2018, p. 392): “obscuridade é a ausência
de clareza no texto da sentença. Impede a compreensão exata daquilo que foi decidido”. E no
que tange à contradição: “a contradição se caracteriza na decisão judicial, quando há incoerência
entre uma afirmação anterior e uma posterior registrada no mesmo texto. A decisão contraditória
é aquela que afirma algo e decide contra a própria afirmação, tornando o texto incoerente.

II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de


ofício ou a requerimento:
Decisão omissa é aquela em que o julgador deixa de apreciar alguma matéria sobre a qual
teria de manifestar-se de ofício ou a requerimento, proferindo uma decisão citra petita.
(DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 257).
Essa omissão pode se referir a ponto ou questão sobre o qual deveria se pronunciar o
julgador. Ou seja, pode ser sobre um ponto ventilado pela parte sem que tenha havido
impugnação pelo adversário (como exemplo: o pedido de gratuidade da justiça) ou a um ponto
que tenha sido objeto de impugnação pela parte contrária (como exemplo: quando o autor diz
que conduzia seu veículo em velocidade compatível, mas o réu impugna dizendo que estava em
excesso de velocidade). (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 257).
A omissão, segundo Viana (2018, p. 392) ocorre quando há a lacuna, ou seja, o julgador
deixa de mencionar. Quando há a omissão, é porque a decisão não faz referência a algum pedido
ou alguma questão jurídica que é importante para o julgamento da causa.
Além disso, a omissão pode se referir a ponto ou questão que o pronunciamento judicial
deveria se dar de ofício ou a requerimento da parte. Ou seja, mesmo que a matéria não tenha
sido ventilada pelas partes, sendo uma daquelas que o julgador deve se pronunciar de ofício,
caberão embargos de declaração diante de eventual omissão. Neste caso estariam incluídas não

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apenas aquelas matérias de ordem pública, mas também os chamados pedidos implícitos, que
embora não tenham sido expressamente articulados, devem ser objeto de apreciação na decisão
(ex: juros legais, correção monetária, verbas de sucumbência, conforme previsão do art. 322,
§1º do CPC). (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 257-258).
Além da previsão genérica dos embargos de declaração em caso de omissão, o parágrafo
único do artigo 1.022 vem trazer três hipóteses específicas de presunção de omissão (DONOSO;
SERAU JUNIOR, 2017, p. 258):

Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:


I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou
em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento;
II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, §1º. (BRASIL, 2015)

Uma vez firmada uma tese em julgamento de casos repetitivos, cria-se um dever de ofício
ao julgador de se manifestar a seu respeito, desde que tal tese seja aplicável ao caso concreto.
Não o fazendo, serão cabíveis os embargos de declaração. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017,
p. 259).
Da mesma forma, cabe embargos de declaração no caso de incidente de assunção de
competência aplicável ao caso. Ou seja, o acórdão proferido em assunção de competência é
vinculativo a todos os juízes e órgãos fracionários do tribunal (art. 947, §3º do CPC), sendo assim
se a decisão proferida no incidente de assunção de competência for aplicável ao caso, é dever
do julgador se manifestar a seu respeito, não o fazendo caberão os embargos de declaração.
(DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 259).
Observar que o comando se dirige tanto ao próprio tribunal que criou a tese, quanto aos
órgãos hierarquicamente inferiores. (DONOSO; SERAU JUN IOR, 2017, p. 259).
No que tange ao inciso II do parágrafo único do art. 1.022 do CPC, que faz remissão ao
artigo 489, §1º do CPC, este último prevê a exigência da necessidade de se fundamentar as
decisões judiciais, trazendo situações em que não há a devida motivação.
Segundo Führer e Führer (2016, p. 200) sobre o parágrafo único do artigo 1.022 do CPC:
“a falta de fundamentação adequada (art. 489, §1º) é equiparada a omissão. Note-se, ainda, que
o erro material é reparável de ofício pelo juiz, independentemente da interposição de embargos
de declaração (art. 494, I)”.

Art. 489. (...)


§1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:

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I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua


relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação
do entendimento. (BRASIL, 2015)

III - corrigir erro material: Erros materiais podem ser inexatidões materiais ou erros de
cálculo. A correção do erro material pode se dar a requerimento da parte ou até mesmo de ofício
pelo juiz, conforme previsão do artigo 494, I do CPC. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 261)

Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:


I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de
cálculo;
II - por meio de embargos de declaração. (BRASIL, 2015)

Donoso e Serau Junior (2017, p. 261) mencionam que não se pode confundir erro material
com erro de julgamento. Apenas o primeiro desafia embargos de declaração, pois o erro de
julgamento deverá ser objeto de recurso próprio (ex: apelação).
No entanto, mencionam os autores que percebe-se uma tendência no alargamento do
cabimento dos embargos de declaração, no sentido de serem admitidos diante de erros
evidentes, assim entendidos aqueles resultantes de premissas fáticas evidentemente
equivocadas. Mencionam DONOSO E SERAU JUNIOR que o STJ já se firmou nesse sentido.
(DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 261).
Sobre o erro material, DIDIER JUNIOR E CUNHA (2018, p.296) mencionam que o erro
material é quando não há correspondência entre o que está escrito na decisão e a intenção do
juiz, sendo que isso pode ser percebido por qualquer homem médio.
Como exemplo, citam DIDIER JUNIOR E CUNHA (2018, p. 296):

Assim ocorre, por exemplo, quando o juiz, na decisão, refere-se ao réu como uma pessoa
jurídica, só que, em verdade, se trata de uma pessoa natural. Outro exemplo: o juiz afirma
que a ação é de reintegração de posse, quando, na realidade, a ação é de alimentos.
Também se configura a hipótese de permitir a correção pelo próprio juiz, quando há erros
de cálculos ou erros aritméticos, como, por exemplo, quando o juiz condena o réu a pagar
R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de danos materiais e R$ 30.000,00 (trinta mil reais) à
guisa de danos morais, estabelecendo uma condenação total de R$ 50.000,00 (cinquenta
mil reais). Nesse caso, há evidente erro de cálculo, pois a soma deve importar um total de
R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), e não R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

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7.3 Legitimidade e Prazo para oposição dos Embargos de Declaração:


Os embargos podem ser opostos por qualquer uma das partes, vencedor e vencido.
Observar ainda a legitimidade do Amicus Curiae (art. 138, §1º do CPC) para oposição dos
Embargos de Declaração.

7.4 Prazo para interposição dos embargos: 05 dias.


Deve ser dirigida ao órgão julgador, conforme o caso. Não há preparo a ser recolhido. O
próprio §5º do artigo 1.003 excepciona os embargos de declaração e o artigo 1.023 especifica
que o prazo é de 05 dias:

§5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para


responder-lhes é de 15 (quinze) dias. (BRASIL, 2015)
Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao
juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a
preparo. (BRASIL, 2015)
§1º Aplica-se aos embargos de declaração o art. 229 .
§2º O juiz intimará o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias,
sobre os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a modificação da
decisão embargada. (BRASIL, 2015)

Vale todas as regras de prazo em dobro (229, 180, 183 e 186 do CPC);

ATENÇÃO: O prazo para interposição dos embargos de declaração é de 05 DIAS.

No que tange ao prazo dos embargos de declaração, DONOSO E SERAU JUNIOR (2018,
p. 264) acrescentam que o §1º do artigo 1.023 do CPC prevê expressamente que o artigo 229
do CPC se aplica aos embargos de declaração. Dessa forma, haverá prazo em dobro para os
litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, desde que pertençam a escritórios de
advocacia diferentes. Observando-se, porém, as exceções à regra, isto é, a primeira no que diz
respeito ao §2º do artigo 229 do CPC, no sentido de que não haverá esse prazo em dobro quando
os autos forem eletrônicos, bem como referente à necessária atuação do litisconsorte, conforme
o §1º do artigo 229 do CPC. Conforme previsão do art. 229 do CPC:

Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de


advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações,
em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento.
§1º Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida
defesa por apenas um deles.

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§2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos. (BRASIL,
2015)

7.5 Do Preparo nos Embargos de Declaração


Não há preparo nos embargos de declaração, conforme previsão do art. 1.023 do CPC,
parte final.
Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida
ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a
preparo. (BRASIL, 2015)

7.6 Efeitos
Quanto ao efeito suspensivo:
Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo, conforme previsão do caput
do art. 1.026 do CPC:
Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o
prazo para a interposição de recurso. (BRASIL, 2015)

No entanto, conforme previsão do §1º do artigo 1.026 do CPC, tal efeito poderá ser
concedido:
§1º A eficácia da decisão monocrática ou colegiada poderá ser suspensa pelo respectivo
juiz ou relator se demonstrada a probabilidade de provimento do recurso ou, sendo
relevante a fundamentação, se houver risco de dano grave ou de difícil reparação
(BRASIL, 2015).

Quanto ao efeito interruptivo:


Os embargos de declaração interrompem o prazo para interposição do recurso. A
interrupção constitui na concessão de novo prazo para a interposição de outro recurso da decisão
embargada, que só começará a correr depois da intimação da decisão embargada.
Nesse sentido DONOSO E SERAU JUNIOR (2018, p. 270) explicam: “Na prática, isso
significa o seguinte: opostos os embargos de declaração, o prazo para a apresentação de
qualquer outro recurso fica interrompido devendo sua contagem ser retomada integralmente
após a intimação de seu julgamento”.
Como interrompe os prazos para interposição de outros recursos, a fim de evitar manobras
com o intuito meramente proletários, o legislador previu nestes casos a multa de 2%, conforme
previsão do artigo 1.026, §2º do CPC (ARAÚJO JUNIOR, 2016, p. 51):

§ 2º Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o tribunal,


em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não
excedente a dois por cento sobre o valor atualizado da causa. (BRASIL, 2015)

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Quanto ao efeito infringente (modificativo)


Quanto ao efeito modificativo dos embargos de declaração significa que com o julgamento
dos embargos de declaração pode acarretar a modificação da decisão embargada. Ou seja, ao
suprir uma omissão, eliminar uma contradição, esclarecer uma obscuridade ou corrigir um erro
material, o juiz ou o tribunal, podem, consequentemente, modificar a decisão embargada. Neste
caso, os embargos de declaração teriam efeitos infringentes ou modificativos. (DIDIER JUNIOR;
CUNHA, 2018, p. 322)
Neste caso, quando os embargos puderem alterar a decisão embargada, necessário se faz
observar o contraditório, intimando-se a parte embargada para oferecer contrarrazões, conforme
previsão do §2º do art. 1.023 do CPC.
No que tange aos efeitos infringentes DONOSO E SERAU JUNIOR (2018, p. 273)
esclarecem: “os embargos de declaração não terão como objetivo imediato modificar a decisão
embargada, mas apenas corrigir os defeitos referidos no art. 1.022 do CPC supostamente
presentes. Em outras palavras, não se embarga de declaração para se reformar ou invalidar uma
decisão, alterando-a no seu conteúdo substancial, mas tão-só para esclarecer uma obscuridade,
eliminar uma contradição, suprir uma omissão ou corrigir um erro material que nela se contenha.
Ocorre que, como consequência da correção do vício, pode acontecer que a decisão embargada
seja modificada. Este resultado, entretanto, é uma decorrência indireta dos embargos de
declaração”.

7.7 Processamento

Os embargos devem ser opostos perante o próprio órgão que proferiu a decisão, na forma
do art. 1.023 do CPC. Poderão ser admitidos ou não, conforme forem preenchidos os seus
requisitos de admissibilidade.
Ademais, nem sempre vai haver a intimação da parte contrária para oferecer resposta aos
embargos de declaração. Ou seja, somente vai haver essa intimação se os embargos tiverem
efeitos infringentes, conforme previsão do art. 1.023, §2º do CPC:

§ 2º O juiz intimará o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco)


dias, sobre os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a modificação
da decisão embargada. (BRASIL, 2015)

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Quanto ao procedimento dos embargos de declaração, se, no primeiro grau, recebidos os


embargos e verificando o juiz a possibilidade de modificação da decisão embargada em caso de
acolhimento, determinará a intimação do embargado para responder no prazo de 5 dias, caso
em que, com ou sem manifestação do embargado, o juiz deve decidir no prazo de 5 dias.
(ARAÚJO JUNIOR, 2016, p. 52)
Caso seja no tribunal, recebidos os embargos e verificado que o acolhimento do recurso
implique em reforma da decisão embargada, determinará a intimação do embargado para se
manifestar no prazo de 5 dias. Assim, em seguida, com ou sem manifestação do embargado, os
apresentará em mesa na sessão subsequente proferindo voto. (ARAÚJO JUNIOR, 2016, p. 52)
Cabe ressaltar ainda, que, caso a decisão tenha sido proferida monocraticamente pelo
próprio relator, cabe a ele unicamente proferir decisão acerca dos embargos. (ARAÚJO JUNIOR,
2016, p. 52)
Art. 1.024. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias.
§2o Quando os embargos de declaração forem opostos contra decisão de relator ou outra
decisão unipessoal proferida em tribunal, o órgão prolator da decisão embargada decidi-
los-á monocraticamente. (BRASIL, 2015)

Em qualquer situação, a decisão acerca dos embargos vai integrar a decisão embargada e
o seu conteúdo poderá ser impugnado no mesmo recurso interposto contra a decisão original.
(ARAÚJO JUNIOR, 2016, p. 52)
Sobre o procedimento dos embargos de declaração, observar então o artigo 1.024 do CPC:
Art. 1.024. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias.
§1º Nos tribunais, o relator apresentará os embargos em mesa na sessão subsequente,
proferindo voto, e, não havendo julgamento nessa sessão, será o recurso incluído em
pauta automaticamente.
§2º Quando os embargos de declaração forem opostos contra decisão de relator ou outra
decisão unipessoal proferida em tribunal, o órgão prolator da decisão embargada decidi-
los-á monocraticamente.
§3º O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se
entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do
recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo
a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1o.
§4º Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da decisão
embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão originária
tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação,
no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da decisão dos embargos de
declaração.
§5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do
julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do
julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente
de ratificação. (BRASIL, 2015)

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Especificando mais, no que tange ao processamento dos embargos de declaração ensinam


Führer e Führer (2016, p. 200): “Modificada a decisão embargada, o embargado poderá
complementar ou alterar as razões do recurso que já tiver interposto. (...) Não há efeito
suspensivo, mas o juiz ou o relator podem concedê-lo. Os embargos de declaração interrompem
o prazo para interposição de outro recurso por qualquer das partes”.
Os embargos devem ser opostos perante o próprio órgão que proferiu a decisão, na forma
do art. 1.023 do CPC.
Após serão analisados seus requisitos de admissibilidade, sendo admitidos ou não.
Poderá ou não haver contraditório nos embargos de declaração. Somente haverá se
tiverem efeitos infringentes, conforme previsão do art. 1.023, §2º do CPC:

§2º O juiz intimará o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias,
sobre os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a modificação da
decisão embargada. (BRASIL, 2015)

O procedimento dos embargos de declaração está previsto nos parágrafos do artigo 1.024
do CPC:
Art. 1.024. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias.
§1º Nos tribunais, o relator apresentará os embargos em mesa na sessão subsequente,
proferindo voto, e, não havendo julgamento nessa sessão, será o recurso incluído em
pauta automaticamente.
§2º Quando os embargos de declaração forem opostos contra decisão de relator ou outra
decisão unipessoal proferida em tribunal, o órgão prolator da decisão embargada decidi-
los-á monocraticamente.
(...) (BRASIL, 2015)

Em qualquer situação, a decisão acerca dos embargos vai integrar a decisão embargada e
o seu conteúdo poderá ser impugnado no mesmo recurso interposto contra a decisão original.
Ou seja, no tocante a sentença o juiz não poderá modificar o conteúdo da decisão, a não
ser no sentido de corrigir a falha. De forma excepcional, ao suprir o vício na decisão embargada
poderá acarretar a modificação do resultado. Neste caso, fala-se nos embargos de declaração
com efeitos infringentes.
EXEMPLO: complementa a decisão acerca do dano material que não mencionou.

7.8 Do julgamento dos Embargos de Declaração


Conforme a previsão do art. 1.024 do CPC, opostos os embargos de declaração e oferecida
a resposta (se for o caso de terem efeitos infringentes) se forem contra decisão do juiz de primeiro
grau, este deverá julgar os embargos de declaração no prazo de 05 dias.

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Observar que se os embargos atacarem decisão monocrática, o julgamento também será


monocrático, conforme previsão do art. 1.024, §2º do CPC. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017,
p. 276).
Da mesma forma se a decisão embargada for decisão colegiada, a decisão dos embargos
deverá também se dar por órgão colegiado, conforme previsão do art. 1.024, §1º do CPC.

7.9 Dos recursos interpostos antes do julgamento dos embargos de declaração


Previsão dos §4º e §5º do art. 1.024 do CPC:

§4º Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da decisão


embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão originária
tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação,
no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da decisão dos embargos de
declaração.
§5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do
julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do
julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente
de ratificação. (BRASIL, 2015)

Especificando a situação do §4º do art. 1024 do CPC, Viana (2018, p. 397) ensina que em
razão da oposição dos embargos de declaração, a decisão recorrida seja modificada. E mais,
pode ocorrer que o embargado (parte contrária) já tenha interposto recurso contra a decisão
originária. Exemplo: o embargado interpôs contra a decisão originária o recurso de Apelação. Se
ocorrer tal situação, o embargado tem o direito de complementar ou alterar as razões recursais
nos exatos limites da modificação da decisão, no prazo de 15 dias a contar da data da intimação
da decisão dos embargos de declaração.
Pode ocorrer, no entanto, a situação do §5º do artigo 1.024 do CPC. Isto é, os embargos
de declaração podem ser rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior (da
decisão originária), de forma que o recurso interposto pelo embargado antes da publicação do
julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado sem necessidade de
ratificação. (VIANA, 2018, p. 397).
Por isso, a sumula 418 do STJ que dizia: É inadmissível o recurso especial interposto antes
da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação foi
CANCELADA valendo agora a sumula 579 do STJ: “Não é necessário ratificar o recurso especial
interposto na pendência do julgamento dos embargos de declaração, quando inalterado o
resultado anterior.

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7.10 Dos embargos para fins de pré-questionamento

Conforme Tartuce e Dellore (2016, p. 398) os embargos de declaração podem ser opostos
para fins de prequestionamento cumprindo, assim, requisito para o recurso especial e/ou
extraordinário, isto é, “provocar a manifestação do Tribunal sobre certo dispositivo, para fins de
preenchimento desse requisito de admissibilidade dos recursos excepcionais”. Ou seja, se o
acórdão é omisso no que se refere aos dispositivos de lei que são apontados como violados, os
embargos de declaração possuem tal cabimento para que haja manifestação do Tribunal nesse
sentido. E mais, os embargos de declaração para fins de prequestionamento, segundo a Súmula
98 do STJ não podem ser considerados recursos protelatórios.

Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou,


para fins de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos
ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou
obscuridade. (BRASIL, 2015)

Sobre a oposição dos embargos de declaração para fins de prequestionamento, Didier


Junior e Cunha (2018, p. 333) ensinam: “há pré-questionamento quando a matéria foi
efetivamente examinada no acórdão ou na decisão que julgou a causa em última ou única
instancia”.
Assim, complementam os autores acima referidos que, caso a matéria não tenha sido
tratada no acórdão, haverá a omissão, o que enseja a oposição dos embargos de declaração
para suprir a omissão e obter o prequestionamento. (DIDIDER JUNIOR; CUNHA, 2018, p. 333)

7.11 Da fungibilidade:
Previsão do art. 1.024, §3º do CPC, quando estabelece:

§ 3º O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se


entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do
recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo
a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º . (BRASIL, 2015)

Sobre tal previsão, DONOSO E SERAU JUNIOR (2018, p. 279) ensinam: “trata-se
inegavelmente da aplicação do princípio da fungibilidade (...)”.
Neste caso, os embargos de declaração serão recebidos como agravo interno, desde que
se intime previamente o recorrente para no prazo de 05 dias complementar as razões do recurso,
adaptando-as ao que exige o §1º do art. 1.021 do CPC.

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MODELO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

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8. Recurso Ordinário (aula gravada)

8.1 Previsão legal


O Recurso Ordinário encontra respaldo nos arts. 994, V e 1.027 a 1.028 do Código de
Processo Civil. Encontra previsão também nos artigos 102, II e 105, II da Constituição Federal.
O Recurso ordinário é julgado pelo STF ou pelo STJ, conforme for situação do inciso I ou II
do art. 1.027 do CPC.

8.2 Cabimento
As hipóteses de cabimento do recurso ordinário estão previstas no artigo 1.027, incisos I e
II do Código de Processo Civil e artigo 102, II e artigo 105, II, ambos da Constituição Federal.
O recurso ordinário possibilita que o recorrente tenha o reexame das decisões que são de
competência originária dos tribunais. Algumas ações são de competência originária dos
Tribunais, não podendo ser distribuídas na primeira instância. (VIANA, 2018, p. 406)
É cabível contra determinadas decisões proferidas em ações cuja competência originária
seja dos Tribunais. Julgado pelo STJ ou pelo STF. Tem previsão constitucional nos artigos 102,
II e 105, II DA CF.
Segundo Haroldo Lourenço (2017, p. 521): “cabe àqueles tribunais exercer competência
recursal, funcionando como segundo grau de jurisdição, não havendo qualquer espécie de
limitação em relação à matéria fática, havendo devolução ampla da matéria a ser apreciada ao
STF/STJ, abrangendo tanto matéria de fato como reexame de provas e cláusulas contratuais,
bem como matéria de direito, como constitucional, federal e local, dispensando-se, ainda, o
prequestionamento”.
Importante ainda mencionar o entendimento de DONOSO E SERAU JUNIOR (2018, P.
291) no sentido de que se o mandado de segurança FOI IMPETRADO INICIALMENTE
PERANTE A PRIMEIRA INSTÂNCIA, contra o qual tenha sido interposto o competente recurso
de apelação (porque da sentença cabe apelação) perante o Tribunal de Justiça ou Tribunal
Regional Federal caberá contra o acórdão desse recurso de apelação, recurso extraordinário ou
recurso especial, conforme o caso. Ou seja, é incabível o recurso ordinário neste caso.

Recurso ordinário a ser julgado pelo STF:

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No artigo 1.027, inciso I do CPC está estabelecido o cabimento do recurso ordinário a ser
julgado pelo STF:
Art. 1.027. Serão julgados em recurso ordinário:
I - pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os
mandados de injunção decididos em única instância pelos tribunais superiores, quando
denegatória a decisão; (BRASIL, 2015)

Observar que somente caberá neste caso o recurso ordinário quando for competência
originária daqueles tribunais superiores, como por exemplo do STJ, de forma que se tais meios
de impugnação chegarem aos tribunais superiores por meio do manejo de apelação, por
exemplo, não será cabível o recurso ordinário, consoante entendimento de HAROLDO
LOURENÇO (2017, p. 522).
Haroldo Lourenço (2017, p. 522) apresenta os seguintes requisitos para interposição do
recurso ordinário para o STF (art. 1.027, I do CPC):
▪ Decisões denegatórias;
▪ Competência originária dos tribunais superiores;

É de se destacar que a Constituição Federal, no artigo 102, II da CF, também prevê o


cabimento do recurso ordinário:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
II - julgar, em recurso ordinário:
o habeas corpus , o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção
decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;
b) o crime político; (BRASIL, 1988)

Recurso ordinário a ser julgado pelo STJ:


O recurso ordinário também poderá ser julgado pelo STJ, caso ocorra uma das situações
previstas no artigo 1.027, II, alíneas “a” e “b” do CPC, e do artigo 105, II, alíneas “a”, “b” e “c” da
Constituição Federal.
Conforme previsão do Código de Processo Civil:
Art. 1.027. Serão julgados em recurso ordinário:
(...)
II - pelo Superior Tribunal de Justiça:
a) os mandados de segurança decididos em única instância pelos tribunais regionais
federais ou pelos tribunais de justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territórios,
quando denegatória a decisão;
b) os processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País. (BRASIL,
2015)

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Conforme previsão da Constituição Federal:


Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
II - julgar, em recurso ordinário:
a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão
for denegatória;
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando
denegatória a decisão;
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um
lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País; (BRASIL, 1988)

EXEMPLO: decisão denegatória de Mandado de segurança interposto diretamente no tribunal


contra ato do juiz de primeiro grau.

Ou seja, aqui também somente caberia recurso ordinário quando o MS for interposto
diretamente no tribunal de justiça ou Tribunal regional federal e não chegando lá em caso de
eventual recurso de apelação. (LOURENÇO, 2017, p. 523).
Observar que na hipótese do inciso II, alínea b, entende-se que o recurso ordinário se
equipara a apelação, inclusive o §1º faz a ressalva de que nestes processos, as decisões
interlocutórias serão impugnadas por meio de agravo de instrumento dirigidas ao STJ, nas
hipóteses do artigo 1.015 do CPC:
II - pelo Superior Tribunal de Justiça:
b) os processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.
§1º Nos processos referidos no inciso II, alínea “b”, contra as decisões interlocutórias
caberá agravo de instrumento dirigido ao Superior Tribunal de Justiça, nas hipóteses
do art. 1.015. (BRASIL, 2015)
Segundo Lourenço (2017, p. 526) no caso da alínea “b” tais processos são de competência
dos juízes federais de primeira instancia, nos termos do artigo 109, II da CF, competência
definida em razão da pessoa. Sendo irrelevante se for pessoa física ou jurídica, bem como em
qual dos polos estão os sujeitos, basta que estejam em polos adversários. RECURSO QUE
CABE DA SENTENÇA.

8.3 Objetivo
O recurso ordinário (também chamado de ROC) permite o duplo grau de jurisdição para as
decisões denegatórias de ações constitucionais. É considerado semelhante ao recurso de
apelação pelo seu processamento.

133
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Destaca-se que, somente das decisões denegatórias é que será admitido o recurso
ordinário, conforme inciso I e inciso II, alínea “a” do art. 1.027 do CPC, de forma que trata-se de
recurso secundum eventum litis, ou seja, o recurso será ou não cabível de acordo com o
resultado do processo. (LOURENÇO, 2017, p. 524)
O recurso ordinário exercerá competência recursal sem qualquer limitação quanto à matéria
de fato. Dessa forma, pelo recurso ordinário se admite, por exemplo, o reexame de prova. Ainda,
o recurso ordinário dispensa o prequestionamento. Os tribunais superiores funcionariam aqui
como segundo grau de jurisdição. (DIDER JUNIOR; CUNHA, 2018, p. 348)

8.4 Interposição
Conforme Aguirre e Montans de Sá (2017, p. 105), o recurso ordinário é interposto perante
o presidente do Superior Tribunal de Justiça, do Tribunal Regional Federal ou do Tribunal de
Justiça, ou ainda perante o juiz federal da causa que prolatou a decisão recorrida, com as razões
dirigidas ao STF ou STJ, dependendo do caso.

Interposição no caso do art. 1.027, II, alínea “b” do CPC:


Na hipótese da alínea B do inciso II do art. 1.027 do CPC, a interposição do Recurso
ordinário vai seguir os requisitos de admissibilidade e o procedimento, os relativos à APELAÇÃO
e o regimento interno do STJ, conforme previsão do art. 1.028 do CPC:
Art. 1.028. Ao recurso mencionado no art. 1.027, inciso II, alínea “b”, aplicam-se, quanto
aos requisitos de admissibilidade e ao procedimento, as disposições relativas à apelação
e o Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. (BRASIL, 2015)

Os processos que envolvam de um lado estado estrangeiro ou organismo internacional e,


de outro, município ou pessoa residente ou domiciliada no país são de competência dos juízes
federais de primeira instância, nos termos do art. 109, II da CF.”E, das sentenças prolatadas por
tais juízos, será cabível recurso ordinário para o STJ. Observe-se que é rara hipótese de recurso
per saltun em nosso ordenamento, em que a causa, por meio do recurso ordinário constitucional,
sairá de um juízo federal e irá diretamente para o STJ (...)”. (LOURENÇO, 2017, p. 526)
Ainda, é de se destacar a previsão do §1º do art. 1.027 do CPC quando menciona que
nos processos referidos na alínea “b” do inciso II do artigo 1.027 do CPC, contra as decisões
interlocutórias CABERÁ AGRAVO DE INSTRUMENTO DIRIGIDO AO STJ:

§ 1º Nos processos referidos no inciso II, alínea “b”, contra as decisões interlocutórias
caberá agravo de instrumento dirigido ao Superior Tribunal de Justiça, nas hipóteses
do art. 1.015 . (BRASIL, 2015)

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Interposição no caso do art. 1.027, I e inciso II, alínea “b” do CPC:


No mais, o CPC não indica expressamente quais os requisitos específicos do recurso
ordinário previsto no inciso I e alínea “a” do inciso II do artigo 1.027, indicando apenas parte do
seu procedimento no §2º do art. 1.028 do CPC:

§2º O recurso previsto no art. 1.027, incisos I e II, alínea “a”, deve ser interposto perante
o tribunal de origem, cabendo ao seu presidente ou vice-presidente determinar a intimação
do recorrido para, em 15 (quinze) dias, apresentar as contrarrazões. (BRASIL, 2015)
§3º Findo o prazo referido no § 2o, os autos serão remetidos ao respectivo tribunal
superior, independentemente de juízo de admissibilidade (BRASIL, 2015).

Em tais situações, o recurso ordinário vai ser interposto perante o tribunal de origem,
devendo o presidente ou vice-presidente determinar a intimação do recorrido para apresentar as
contrarrazões no prazo de 15 dias. Findo o prazo das contrarrazões, os autos serão remetidos
ao tribunal (STJ OU STF, conforme o caso) independentemente do juízo de admissibilidade.

8.5 Prazo para interposição do Recurso Ordinário:


O prazo do recurso ordinário é de 15 dias, devendo a parte contrária ser intimada no prazo
de 15 dias para apresentar contrarrazões, conforme previsão do art. 1.028, §2º do CPC:
§2º O recurso previsto no art. 1.027, incisos I e II, alínea “a”, deve ser interposto perante
o tribunal de origem, cabendo ao seu presidente ou vice-presidente determinar a intimação
do recorrido para, em 15 (quinze) dias, apresentar as contrarrazões. (BRASIL, 2015)

8.6 Da previsão do artigo 1.027, §2º do CPC:


O art. 1.027, §2º do CPC estabelece que se aplica ao recurso ordinário a previsão do §3º
do art. 1.013 do CPC: “§ 2º Aplica-se ao recurso ordinário o disposto nos arts. 1.013, § 3º ,
e 1.029, § 5º .
Por sua vez o §3º do art. 1013 do CPC prevê que o tribunal poderá desde logo julgar o
mérito nas seguintes situações:

§3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir


desde logo o mérito quando:
I - reformar sentença fundada no art. 485 ;
II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido
ou da causa de pedir;
III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;
IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. (BRASIL, 2015)

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8.7 Do efeito suspensivo:


No que tange ao efeito suspensivo no recurso ordinário, é de se mencionar que o artigo
1.027, §2º do CPC se reporta à previsão do artigo 1.029, §5º do CPC, o qual regula a
possibilidade da concessão do efeito suspensivo ao recurso especial e ao recurso extraordinário.
Dessa forma, o recurso ordinário não teria efeito suspensivo, mas seria possível a concessão de
tal efeito, seguindo a regra geral do artigo 995 do CPC. (LOURENÇO, 2017, p. 524-525)
Ainda, no que tange ao efeito suspensivo, ensina DIDIER JUNIOR E CUNHA (2018, p.
350): “Embora não ostente efeito suspensivo automático, ao recurso ordinário é possível haver
a agregação de tal efeito, aplicando-se o disposto no §5º do art. 1.029 do CPC. Em outras
palavras, o meio para concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso
especial é igualmente aplicável ao recurso ordinário”.

8.8 Da estrutura do Recurso:


Petição de interposição + petição das razões:
A petição de interposição será dirigida ao PRESIDENTE DO TRIBUNAL RECORRIDO. Já
a petição das razões do recurso ordinário será dirigida ao STF ou STJ, de acordo com a hipótese
de cabimento do recurso ordinário. Cuidar ainda a situação do artigo 1.027, II, alínea “b” do CPC
porque no caso a interposição vai ser perante o juiz de primeiro grau e com a folha das razões
ao STJ;
* Para todos verem: esquema

RECURSO ORDINÁRIO

Petição de interposição
Petição de razões
Dirigida ao Presidente ou Vice-
Dirigida ao STF ou STJ
Presidente do Tribunal Recorrido

136
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EXEMPLO DE RECURSO ORDINÁRIO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
(exemplo, cuidando o enunciado da FGV)

Processo número...

NOME DO RECORRENTE..., nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador


da Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na
Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador
constituído (procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com endereço
profissional na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe
intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento
nos artigos 994, V, artigo 1.027, inciso II, alínea a, ambos do Código de Processo Civil e
artigo 105, inciso II, alínea b da Constituição Federal (fundamentação de acordo com o
problema da FGV E CABIMENTO DO RECURSO), interpor o presente

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL

Em face da decisão denegatória de Mandado de Segurança impetrado em face


de NOME DO RECORRIDO, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da
Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões a seguir expostas.
Requer, inicialmente, a intimação do Recorrido para oferecer contrarrazões no
prazo legal de 15 dias, conforme previsão do artigo 1.028, §2º e 1.003, §5º, ambos do
Código de Processo Civil.
Após o prazo das contrarrazões que o presente recurso seja encaminhado ao
Superior Tribunal de Justiça para processamento e julgamento (ver se não será STF,
conforme o problema).

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Requer, por fim, a juntada do comprovante de recolhimento do preparo recursal,


inclusive porte de remessa e de retorno, na forma do artigo 1.007 do Código de Processo
Civil.

Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (OU STF CONFORME O CASO)


RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO

Processo...
Recorrente...
Recorrido...
I – DO CABIMENTO DO PRESENTE RECURSO:
Demonstrar que é uma hipótese do artigo 1.027 do CPC, por exemplo: O presente
recurso ordinário é adequado, pois ataca acórdão, ou seja, decisão proferida pelo órgão
colegiado, conforme artigo 204 do Código de Processo Civil, a qual denegou o Mandado
de Segurança proferido em única instancia pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul, conforme previsão do artigo 1.027, inciso II, alínea a do Código de
Processo Civil e artigo 105, inciso II alínea b da Constituição Federal, sendo este recurso
previsto no inciso V do Código de Processo Civil.

II – DA TEMPESTIVIDADE:
O presente recurso ordinário é tempestivo, eis que interposto dentro do prazo legal
de 15 dias, na forma do artigo 1.003, §5º do Código de Processo Civil, cujo termo inicial
é a intimação do advogado, de acordo com o caput do artigo 1.003 do Código de

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Processo Civil, computando-se somente os dias úteis, conforme o artigo 219 do Código
de Processo Civil, excluindo o dia do início e incluindo o dia do vencimento, consoante
artigo 224, caput do Código de Processo Civil.

III – SÍNTESE DA DEMANDA:


Trazer um resumo do que ocorreu, conforme enunciado da FGV.

IV- RAZÕES RECURSAIS:


Trazer as teses para reforma ou invalidação da decisão;

V – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Recorrente:
a) A admissibilidade, conhecimento e processamento do presente recurso,
eis que preenchidos os pressupostos de admissibilidade;
b) O recebimento no efeito...
c) O total provimento do recurso para o fim de reformar a decisão
denegatória de Mandado de Segurança para o fim de ...
d) A inversão do ônus de sucumbência, condenando o Recorrido em custas
e honorários de advogado (se for o caso de fazer esse pedido);
e) A juntada do comprovante do recolhimento do preparo recursal, inclusive
porte de remessa e de retorno, conforme artigo 1.007 do Código de Processo Civil;
Termos em que,
Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...
OAB...

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9. Recurso Especial

9.1 Previsão legal


Art. 994, VI do CPC; Art. 105, III da CF; e Art. 1.029 a 1.035 do CPC.

9.2 Importância
O recurso especial, assim como o extraordinário são recursos excepcionais, visando
primeiramente a preservação das normas constitucionais e infraconstitucionais, motivos pelos
quais são conhecidos como recursos de estrito direito, ou seja, voltados à tutela do direito
objetivo e não do direito subjetivo. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 300) e (MEDINA, 2016,
p. 1362)
Dentro do Novo CPC, os recursos especial e extraordinário assumiram ainda mais
importância dentro de um contexto maior, denominado direito jurisprudencial, que é aquele que
emerge da força dos precedentes, pois conforme o artigo 926 do CPC: “Art. 926. Os tribunais
devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente”. (DONOSO;
SERAU JUNIOR, 2017, p. 300).
Assim sendo, o Novo CPC estabelece aos magistrados não apenas a função jurisdicional,
mas também lhes atribui a ideia de responsabilidade pela gestão processual, onde a sistemática
dos recursos repetitivos com força vinculante, da repercussão geral e o Incidente de Resolução
de Demandas Repetitivas são elementos muito importantes, sendo que o recurso especial e o
extraordinário muitas vezes serão apreciados nesse contexto e nessa modalidade (gestão de
recursos repetitivos). (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 300).
Nesse sentido também expressam AGUIRRE E MONTANS DE SÁ (2017, p. 108) de que o
recurso especial e o recurso extraordinário objetivam, com outros institutos do ordenamento
jurídico, como o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas e a Assunção de
Competência, à preservação do princípio da unidade do ordenamento jurídico. Ou seja, a
finalidade de tais recursos seria assegurar que tanto a Lei Federal quanto a Constituição Federal
sejam aplicadas de maneira uniforme em todos os casos que precisam de sua incidência.
DESTACA-SE QUE O CPC NÃO PREVÊ O CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL E DO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO E SIM A CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O CABIMENTO DO
RECURSO ESPECIAL ESTÁ PREVISTO NO ART. 105, III DA CF/88 E O CABIMENTO DO

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO ESTÁ PREVISTO NO ART. 102, III DA CF. O CPC PREVÊ O
PROCEDIMENTO DO RECURSO ESPECIAL E DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO A PARTIR
DO ARTIGO 1.029 DO CPC

9.3 Cabimento do Recurso Especial


Julgado pelo STJ nas causas decididas em única ou última instância pelos tribunais
regionais ou pelos tribunais de justiça e do distrito federal, quando a decisão recorrida:

* Para todos verem: esquema


Decisão recorrida

Contrariar tratado ou lei federal


OU lhes negar vigência;

Julgar válido ato de governo


local contestado em face de lei
federal;

Dar a lei federal interpertação


divergente da que lhe haja
atribuído outro tribunal

III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;(Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
(BRASIL, 1988)

Quanto às três hipóteses estabelecidas no inciso III do artigo 105 da CF, Araújo Junior
(2016, p. 57) aponta que é evidente que o pressuposto fundamental para interposição do recurso
especial é a existência da questão federal, isto é, divergência quanto à correta interpretação ou
aplicação de tratado ou lei federal, devendo o recorrente, a fim de ter o seu recurso admitido,

141
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indicar de forma expressa quais os dispositivos legais que foram violados, e, ainda, quando o
recurso especial for fundamentado em interpretação divergente de tribunais, demonstrar que as
circunstancias que envolvem os acórdãos são as mesmas. Salienta o autor, que não cabe por
meio de recurso especial, a impugnação de questões de fato e de direito local.
Fica assim evidente que para interpor o Recurso Especial é necessária a existência de
questão federal. Ou seja, divergência quanto à interpretação ou aplicação de tratado ou lei
federal.
Observar a diferença entre contrariar e negar vigência:
CONTRARIAR significa decidir em sentido contrário à finalidade da norma; já negar
vigência se aproxima da ideia de deixar de aplicar a norma correta ao caso concreto. Em ambos
os casos, a lei federal deixa de ser aplicada como deveria, atraindo a competência do STJ.
(DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 303).
Portanto, no recurso especial deve o examinando indicar quais os dispositivos legais que
foram violados e quando embasar na alínea “c”, demonstrar as divergências dos tribunais e que
se referem às mesmas situações.
Ou seja, no caso do inciso III do art. 105 há a situação do dissidio jurisprudencial:
divergência entre dois ou mais tribunais de segundo grau, ou entre um destes e o próprio STJ, o
STJ será chamado para unificar a interpretação. (Donoso; Serau Junior, 2017, p. 303).

▪ Não cabe no Recurso Especial impugnação de questões de fato ou de direito local.

Nesse sentido é a Súmula 7 do STJ, estabelecendo que só pode veicular matéria de direito:
“a pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”.
Segundo Aguirre e Sá (2017, p. 108), o Recurso Especial e o Recurso Extraordinário
objetivam, com outros institutos do ordenamento como o incidente de Resolução das Demandas
Repetitivas e a Assunção de Competência, a preservação do princípio da unidade do
ordenamento jurídico.
A finalidade do recurso especial e do recurso extraordinário é assegurar que a lei federal e
a Constituição Federal sejam aplicadas de maneira uniforme em todos os casos que necessitam
de sua incidência. (AGUIRRE; SÁ, 2017, p. 108).

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→ Verificar Súmula 203 do STJ: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida
por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais”.

ATENÇÃO
Verificar súmulas do STJ: 07, 13, 83, 126, 207 e 211!

9.4 Requisitos de admissibilidade:


Deve preencher os requisitos gerais de admissibilidade de qualquer recurso: legitimidade,
interesse recursal, inexistência de fato impeditivo, adequação, forma, preparo, motivação,
tempestividade e recorribilidade da decisão.
Porém, há ainda os requisitos específicos.
PRAZO: 15 DIAS, CONFORME PREVISÃO DO ART. 1003, §5º DO CPC;
Aplicam-se as regras do prazo em dobro;
Observar que se um acórdão contrariar tanto norma federal, quanto norma constitucional
→ tanto o recurso especial, quanto o extraordinário devem ser interpostos no mesmo prazo de
15 dias.
Observar que a sumula 418 do STJ está superada e foi editada nova sumula 579 do STJ.
(DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 305):

SUMULA 418 DO STJ. É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação


do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação. (A Corte Especial, na
sessão de 1º de julho de 2016, determinou o CANCELAMENTO da Súmula n. 418-STJ.
CANCELADAAAA!!!!!
SUMULA 579 DO STJ: “Não é necessário ratificar o recurso especial interposto na
pendência do julgamento dos embargos de declaração, quando inalterado o resultado
anterior”. VIGORANDO!!!

Isso, em razão da previsão do art. 1.024, §4º e §5º do Novo CPC, sobre o recurso interposto
antes do julgamento dos embargos de declaração:
§4º Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da decisão
embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão originária
tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação,
no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da decisão dos embargos de
declaração.

§5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do


julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do
julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente
de ratificação. (BRASIL, 2015)

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Ou seja, conforme ensinam Donoso e Serau Junior (2017, p. 305), de acordo com a
previsão do §5º do art. 1.024 do CPC, se os embargos de declaração forem rejeitados ou não
alterarem a decisão anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do
julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente de
ratificação.
Porém, caso o julgamento dos embargos de declaração acarrete a modificação do
julgamento, será o caso de intimar a parte contrária para que complemente ou altere suas razões
recursais, nos exatos limites da mudança no prazo de 15 dias, tal qual preconiza o §4º do art.
1.014 do CPC. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 305)
Aplicam-se ao recurso especial e extraordinário as regras referentes ao recolhimento do
preparo recursal na forma do art. 1.007 do CPC, podendo inclusive haver a concessão do
benefício da gratuidade da justiça nos termos do artigo 98 e seguintes do CPC. (DONOSO;
SERAU JUNIOR, 2017, p. 306)

Requisitos específicos do Recurso Especial:


▪ Esgotamento das instancias recursais ordinárias: (“causa decidida”):
Ou seja, se houver a possibilidade de se interpor um recurso ainda, este deverá ser
interposto, esgotando os mecanismos rotineiros de impugnação. Aí então, somente depois de
esgotadas as vias ordinárias de recursos, se poderá discutir se permanece violação à norma
constitucional ou infraconstitucional; (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 308).
Colombo e Silva quando comentam esse requisito expressam: “por decisão de última
instância, deve-se entender o prévio esgotamento das vias recursais, o que significa dizer que
antes da interpretação do recurso especial ou do recurso extraordinário, a parte deverá esgotar
todos os recursos possíveis, sob pena de não admitido. Em contrapartida, por decisão de última
instância, deve se entender as causas de competência originária dos tribunais (v.g. ação
rescisória). (COLOMBO; SILVA, 2017, p. 187)
Essa exigência decorre da própria CF, mais especificamente da expressão “causa
decidida”, que consta tanto no artigo 102, III, como no artigo 105, III, ambos da CF. Porém,
segundo os autores Donoso e Serau Junior, há algumas diferenças no que se exige para o
recurso especial e para o recurso extraordinário. Isso porque, para que caiba o recurso especial,
a Constituição Federal menciona causa decidida em última ou única instancia pelos TRIBUNAIS,
o que limita a amplitude do recurso especial. No caso do recurso extraordinário, de forma
diferente, a Constituição Federal exige apenas decisão proferida em única ou última instancia,

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sem a exigência que tal decisão tenha sido proferida pelos Tribunais, o que possibilita, por
exemplo, a interposição de recurso extraordinário também de decisões das Turmas Recursais
dos Juizados especiais. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 308).
Então, nos Tribunais caso seja proferida decisão monocrática pelo desembargador relator,
nos termos do art. 932 do CPC, deverá primeiro ser interposto o respectivo agravo interno,
conforme art. 1021 do CPC, a fim de que as possibilidades recursais ordinárias estejam
esgotadas para daí sim interpor recurso especial ou extraordinário. Mesma coisa se houver
embargos de declaração opostos contra decisão monocrática, sendo julgados também por
decisão monocrática, sendo necessário primeiro a interposição do agravo interno. (DONOSO;
SERAU JUNIOR, 2017, p. 309)

▪ Proibição do reexame de matéria fática:


O recurso especial e o recurso extraordinário são recursos de estrito direito, voltados a
tutelar o direito objetivo, sem preocupação com a justiça do caso concreto. (DONOSO; SERAU
JUNIOR, 2017, p. 309). Diante da condição essencial desse tipo de recurso, não se prestam ao
reexame de provas ou de matéria de fato, conforme Sumulas 279 do STF e 7 do STJ:

SUMULA 279 DO STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”.
SUMULA 7 DO STJ: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso
especial”.
Da mesma forma, aponta-se a importância das proibições contidas nas sumulas 454 do
STF e 5 do STJ:
SUMULA 05 DO STJ: “A simples interpretação de clausula contratual não enseja recurso
especial”.
SUMULA 454 DO STF: “Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá lugar a
recurso extraordinário”.

▪ Prequestionamento:
O prequestionamento é entendido como a exigência de que a matéria impugnada pelo
recurso especial ou extraordinário já tenha sido objeto de decisão pelas instâncias inferiores,
acentuando a função constitucional do STJ e do STF como recursos excepcionais. (DONOSO;
SERAU JUNIOR, 2017, p. 310).
Assim veda que tais recursos veiculem matéria inédita, ainda não discutidas nas
instâncias inferiores, justamente em razão da necessidade de ser causa decidida. (DONOSO;
SERAU JUNIOR, 2017, p. 310)
Nesse sentido é a Sumula 282 STF, aplicável também no âmbito do STJ, em relação ao
recurso especial, segundo DONOSO E SERAU JUNIOR, (2017, p. 31):

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SUMULA 282 DO STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na


decisão recorrida, a questão federal suscitada”.
SÚMULA 356 DO STF: “O ponto omisso da decisão, sôbre o qual não foram opostos
embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o
requisito do prequestionamento”.

→ É de se observar que os embargos de declaração podem ser opostos para fins de


prequestionamento, conforme previsão do artigo 1.025 do CPC:

Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou,


para fins de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos
ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou
obscuridade. (brasil, 2015)

De acordo com DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 311) o conceito de


prequestionamento vai além do que a mera exigência de que apareça no acórdão recorrido, a
indicação expressa do dispositivo legal violado, sendo necessário, mais do que tudo, que a
matéria constitucional ou infraconstitucional tenha sido debatida pela decisão recorrida.
Ainda, salientam DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 311) o artigo 941, §3º do CPC,
no sentido de que a matéria contida no voto vencido integra também o acórdão recorrido,
inclusive para efeito de prequestionamento, inovação trazida pelo novo CPC:

Art. 941. Proferidos os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento,


designando para redigir o acórdão o relator ou, se vencido este, o autor do primeiro voto
vencedor.
§3º O voto vencido será necessariamente declarado e considerado parte integrante do
acórdão para todos os fins legais, inclusive de pré-questionamento. (BRASIL, 2015)

▪ Dissidio de jurisprudência entre tribunais:


Previsão contida no artigo 105, III da CF, exigindo divergência jurisprudencial entre dois ou
mais tribunais de segunda instancia ou entre estes e o próprio STJ. Divergências internas dentro
de um mesmo tribunal não suscitam a interposição de recurso especial, conforme Sumula 13 do
STJ: “a divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja recurso especial”. (DONOSO;
SERAU JUNIOR, 2017, p. 315)
Além disso, para que seja admitido o recurso especial fundado no dissidio jurisprudencial
deve ser demonstrada a divergência jurisprudencial entre o acórdão recorrido e o acórdão tido
como paradigma, conforme determina o art. 1.029, §1º do CPC:
§1º Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da
divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou

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credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão


divergente, ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de
computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso,
mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.
(BRASIL, 2015)

▪ Relevância das questões de direito federal infraconstitucional:


A Emenda Constitucional 125 de 14 de julho de 2022 alterou o art. 105 da Constituição
Federal para instituir no recurso especial o requisito da relevância das questões de direito federal
infraconstitucional.
É o texto da Emenda Constitucional 125/2022:
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60
da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:
Art. 1º O art. 105 da Constituição Federal passa a vigorar com as seguintes alterações:
"Art. 105. ......................................................................................................
§ 1º ...............................................................................................................
§ 2º No recurso especial, o recorrente deve demonstrar a relevância das questões de
direito federal infraconstitucional discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que a
admissão do recurso seja examinada pelo Tribunal, o qual somente pode dele não
conhecer com base nesse motivo pela manifestação de 2/3 (dois terços) dos membros do
órgão competente para o julgamento.
§ 3º Haverá a relevância de que trata o § 2º deste artigo nos seguintes casos:
I - ações penais;
II - ações de improbidade administrativa;
III - ações cujo valor da causa ultrapasse 500 (quinhentos) salários mínimos;
IV - ações que possam gerar inelegibilidade;
V - hipóteses em que o acórdão recorrido contrariar jurisprudência dominante o Superior
Tribunal de Justiça;
VI - outras hipóteses previstas em lei."(NR)
Art. 2º A relevância de que trata o § 2º do art. 105 da Constituição Federal será exigida
nos recursos especiais interpostos após a entrada em vigor desta Emenda Constitucional,
ocasião em que a parte poderá atualizar o valor da causa para os fins de que trata o inciso
III do § 3º do referido artigo.
Art. 3º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.

Assim, além dos requisitos gerais de admissibilidade e do pré-questionamento, deve o


recorrente demonstrar a relevância da matéria de lei federal infraconstitucional debatida no
recurso especial, nos termos do §2º e 3º do artigo 105 da Constituição Federal que restou
alterado pela EC 125/2022.

9.5 Efeito DEVOLUTIVO E SUSPENSIVO do Recurso Especial


Via de regra é recebido somente no efeito devolutivo, porém, pode ser buscado o efeito
suspensivo ao Recurso Especial. Isso, porque, conforme previsão do artigo 995 do CPC os
recursos não terão efeito suspensivo, com exceção da Apelação, mas poderá ser requerido
conforme previsão do parágrafo único do artigo 995 do CPC:

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Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou
decisão judicial em sentido diverso.
Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do
relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou
impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso.
(BRASIL, 2015)

Além disso, no caso específico do recurso especial e extraordinário, havendo necessidade


de se requerer o efeito suspensivo, aplica-se o disposto no artigo 1.029, §5 º do CPC:

Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na


Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do
tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
§5º O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso
especial poderá ser formulado por requerimento dirigido:
I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão
de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame
prevento para julgá-lo;
II - ao relator, se já distribuído o recurso;
III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido
entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim
como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037. (BRASIL, 2015)

Observar que o recurso especial e extraordinário possuem efeito suspensivo na hipótese do


artigo 987, §1º do CPC!

9.6 Petição
O recurso especial deve ser interposto por petição endereçada ao presidente ou vice-
presidente do tribunal que proferiu a decisão. Deve conter, segundo o artigo 1.029 do CPC:

Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos


na Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do
tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
I - a exposição do fato e do direito;
II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida. (BRASIL,
2015)

* Para todos verem: esquema

RECURSO ESPECIAL

PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO
Dirigida ao Presidente ou Vice- PETIÇÃO DE RAZÕES:
Presidente do Tribunal que proferiu a Dirigida ao Superior Tribunal de Justiça
decisão

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Em caso de divergência jurisprudencial, deve o recorrente cumprir as exigências do §1º do


artigo 1.029 do CPC:

§ 1o Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da


divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou
credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão
divergente, ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de
computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso,
mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.
(BRASIL, 2015)

O prazo para interposição do recurso especial é de 15 dias, sendo o mesmo prazo para
apresentar as contrarrazões.

Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos
serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá:
(BRASIL, 2015)
Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados,
a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério
Público são intimados da decisão.
§5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para
responder-lhes é de 15 (quinze) dias. (BRASIL, 2015)

Vale todas as regras de prazos que foram vistas (em dobro, contagem, artigo 1.004 do
CPC, etc). Via de regra, o recurso especial tem apenas o efeito devolutivo, consoante previsão
do artigo 995 do CPC. No entanto, o recorrente poderá requerer o efeito suspensivo, com base
no §5º do artigo 1.029 do CPC.
Deverá também no ato de interposição do recurso, comprovar o recolhimento do preparo
recursal, inclusive porte de remessa e de retorno, conforme exigência do artigo 1.007 do CPC.
(ARAUJO JUNIOR, 2016, p. 58)
Interposto o recurso especial perante o Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal recorrido,
deverá ser determinada a intimação do Recorrido para que apresente as contrarrazões no prazo
de 15 dias, findo o qual os autos serão conclusos ao Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal
Recorrido que deverá tomar uma das condutas do artigo 1.030 do CPC. (ARAUJO JUNIOR,
2016, p. 59)
Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos
serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que
deverá: (BRASIL, 2015)
I – negar seguimento: (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal
Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso
extraordinário interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento

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do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral; (Incluída


pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em
conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos
repetitivos; (Incluída pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação, se o
acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão geral ou de
recursos repetitivos; (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não
decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se
trate de matéria constitucional ou infraconstitucional; (Incluído pela Lei nº 13.256, de
2016) (Vigência)
IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou
infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036; (Incluído pela Lei nº 13.256,
de 2016) (Vigência)
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal
Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que: (Incluído pela Lei nº 13.256,
de 2016) (Vigência)
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de
julgamento de recursos repetitivos; (Incluída pela Lei nº 13.256, de
2016) (Vigência)
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia;
ou (Incluída pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação. (Incluída pela Lei nº
13.256, de 2016) (Vigência)
§1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V caberá agravo
ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042. (Incluído pela Lei nº 13.256, de
2016) (Vigência)
§2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos
termos do art. 1.021. (BRASIL, 2015)

Sobre o juízo de admissibilidade nos recursos especiais e extraordinários, a tradição


sempre foi o dúplice ou bipartido, de forma que o exame prévio pelas cortes inferiores era um
eficiente mecanismo de filtro. O CPC de 2015 em sua redação original, rompia essa tradição
jurídica e estabelecia que o recurso especial e o recurso extraordinário seriam remetidos aos
Tribunais Superiores independente do juízo de admissibilidade. Contudo, a Lei 13.256/16 alterou
o CPC ainda durante o prazo de vacatio, retomando o modelo processual anterior, onde há o
exame prévio de admissibilidade do recurso especial e extraordinário, e caso não admitidos
assegura-se a interposição do agravo em recurso especial ou extraordinário seja da inadmissão
(ART. 1042 DO CPC) ou em algumas hipóteses o agravo interno (art. 1030 do CPC). (DONOSO;
SERAU JUNIOR, 2017, p. 320-321).
Lembrar também que cabe recurso adesivo no âmbito do recurso especial e extraordinário,
conforme previsão do art. 997, §2º do CPC, e, neste caso, deverá o recorrente ser intimado para
oferecer resposta ao recurso adesivo.

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9.7 Recurso Especial e do Recurso Extraordinário interpostos contra mesma decisão:


O Recurso Especial é o recurso interposto contra acórdão que desrespeitou matéria
infraconstitucional. Por sua vez, o Recurso Extraordinário é interposto contra acórdão que viola
a Constituição Federal. O Recurso Especial possui previsão no artigo 105, III da Constituição
Federal, já o Recurso Extraordinário possui previsão no artigo 102, III da CF. Ambos os recursos
não possuem a finalidade de examinar fatos controvertidos nem provas existentes no processo.
Ambos são interpostos perante o presidente ou vice-presidente do Tribunal Recorrido e quando
ambos forem interpostos, devem ser em petições distintas, no prazo de 15 dias. (VIANA, 2018,
p. 413)
E SE O ACÓRDÃO IMPUGNADO CONTRARIAR TANTO NORMA FEDERAL, COMO
PRECEITO CONSTITUCIONAL?
Deverá a parte neste caso, interpor, simultaneamente, por meio de petições diferentes,
RECURSO ESPECIAL AO STJ E RECURSO EXTRAORDINÁRIO AO STF, sob pena da matéria
que não foi impugnada transitar em julgado (ARAUJO JUNIOR, 2016, p. 62), conforme súmula
126 do STJ: “É inadmissível recurso especial, quando o acordão recorrido assenta em
fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-
lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário”.
Sobre interposição conjunta de recurso especial e recurso extraordinário, explica ARAÚJO
JUNIOR (2016, p. 59) os autos primeiro serão remetidos ao STJ, sendo que concluído o
julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos ao STF para apreciação do recurso
extraordinário, se este não estiver prejudicado.
LEMBRAR QUE NO CASO DA PEÇA DE SEGUNDA FASE DO EXAME DA OAB VAI SER
UM OU OUTRO PORQUE É A PEÇA PRÁTICO PROFISSIONAL.

9.8 Da previsão dos artigos 1.032 e 1.033 do CPC:


Segundo DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 318) uma das mais relevantes inovações
no CPC de 2015 refere-se aos artigos 1.032 e 1.033 que permitem a fungibilidade no âmbito dos
recursos excepcionais.

Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial
versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que
o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão
constitucional.
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso
ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao
Superior Tribunal de Justiça. (BRASIL, 2015)

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Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à


Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação
de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para julgamento
como recurso especial. (BRASIL, 2015)

Segundo DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 318) esses dispositivos estabelecem que,
caso o relator do STJ, entenda que o recurso especial discute, na realidade, questão
constitucional, abrirá o prazo de 15 dias para que o recorrente demonstre a repercussão geral
(requisito de admissibilidade exclusivo do recurso extraordinário) e se manifeste sobre a questão
constitucional. Uma vez cumprido esse requisito, os autos serão remetidos ao STF para análise
desse recurso extraordinário. Entretanto, poderá o STF, em juízo de admissibilidade devolver o
recurso ao STJ, para que volte a examinar a insurgência como recurso especial.
Do mesmo modo, o artigo 1.033 do CPC estabelece possibilidade similar para o recurso
extraordinário, ou seja, se o STF entender que a questão tratada no apelo é ofensa meramente
reflexa à CF, ao invés de não admitir o recurso, remetê-lo-á ao STJ, para julgamento como se
fosse recurso especial. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 319).
A operação de conversão do recurso extraordinário em recurso especial pode ocorrer
mesmo nos casos em que a matéria não seja dotada de repercussão geral, conforme enunciado
550 do FPPC. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 318-319)
Observar, ainda, no caso os enunciados 565 e 566 do FPPC, que lecionam que a conversão
de um recurso excepcional em outro, nos termos dos arts. 1.032 e 1.033 exige que a parte
adversa seja intimada para complementação de suas contrarrazões. (DONOSO; SERAU
JUNIOR, 2017, p. 319).

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MODELO DE RECURSO ESPECIAL


EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
(conforme provlema da FGV)

Processo número...

NOME DO RECORRENTE..., nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da


Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador
constituído (procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com endereço
profissional na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe
intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos
artigos 105, inciso III, alínea a da Constituição Federal e 994, inciso VI e 1.029 e seguintes,
ambos do Código de Processo Civil, interpor o presente

RECURSO ESPECIAL

Em face do acórdão proferido no recurso de Apelação interposto pelo NOME DO


RECORRIDO, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula de
Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., número...,
Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões a seguir expostas.
Requer a intimação do Recorrido para oferecer contrarrazões no prazo legal de 15
dias, conforme previsão do artigo 1.030, caput e 1.003, §5º, ambos do Código de
Processo Civil;
Após o prazo das contrarrazões, requer que o presente recurso seja admitido e
encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça para processamento e julgamento.
Requer, por fim, a juntada do comprovante de recolhimento do preparo recursal,
inclusive porte de remessa e de retorno, na forma do artigo 1.007 do Código de Processo
Civil.

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Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


RAZÕES DE RECURSO ESPECIAL

Processo...
Recorrente... (não pode qualificar de novo)
Recorrido... (não pode qualificar de novo)

I – DO CABIMENTO DO PRESENTE RECURSO:


Demonstrar que é uma hipótese do artigo 105, inciso III da Constituição Federal e
em qual alínea se encaixa. Demonstrar ainda que o recurso ataca acórdão na forma do
artigo 204 do Código de Processo Civil sendo decisão proferida pelo órgão colegiado do
Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal. Mencionar que o presente recurso
encontra previsão no artigo 994, VI do Código de Processo Civil e no artigo 1.029 e
seguintes do Código de Processo Civil.

II – DA TEMPESTIVIDADE:
O presente recurso especial é tempestivo, eis que interposto dentro do prazo legal
de 15 dias, na forma do artigo 1.003, §5º do Código de Processo Civil, cujo termo inicial
é a intimação do advogado, de acordo com o caput do artigo 1.003 do Código de
Processo Civil, computando-se somente os dias úteis, conforme o artigo 219 do Código
de Processo Civil, excluindo o dia do início e incluindo o dia do vencimento, consoante
artigo 224, caput do Código de Processo Civil.

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III – DO PREQUESTIONAMENTO:
Demonstrar que o artigo de lei federal que se alega violação foi objeto de análise
pelo tribunal de origem quando do julgamento do acórdão. Ou que foi oposto embargos
de declaração para fins de prequestionamento, conforme artigo 1.025 do CPC.

IV – DA VIOLAÇÃO À LEI FEDERAL:


Demonstrar qual lei federal foi violada, o que justifica a interposição do recurso
especial, conforme artigo 105, Inciso III, alínea a da Constituição Federal.

V – DA RELEVÂNCIA DAS QUESTÕES DE DIREITO FEDERAL


INFRACONSTITUCIONAL:
Demonstrar conforme exigido no §2º e §3º do artigo 105 da CF, a relevância das
questões de direito federal infraconstitucional discutidas no caso, a fim de que o recurso
especial seja admitido.

VI - SÍNTESE DA DEMANDA:
Trazer um resumo do que ocorreu, conforme enunciado da FGV.

VII- RAZÕES RECURSAIS:


Trazer as teses para reforma ou invalidação/nulidade da decisão;

VIII – DO PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO:


Caso haja pedido de efeito suspensivo. Fundamentar no artigo 1.029, §5º e parágrafo
único do artigo 995 do Código de Processo Civil, demonstrando os requisitos para tanto.

IX – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Recorrente:
a) A admissibilidade, conhecimento e processamento do presente recurso, eis que
preenchidos os pressupostos de admissibilidade;
b) A concessão do efeito suspensivo para o fim de...

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c) O total provimento do recurso especial para o fim de reformar o acórdão proferido


pelo Tribunal de Justiça do Estado para o fim de...
d) A inversão do ônus de sucumbência, condenando o Recorrido em custas e
honorários de advogado;

Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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RECURSO ESPECIAL JÁ FOI OBJETO DE COBRANÇA PELA FGV!


XXV – EXAME – ENUNCIADO:
Em uma determinada ação indenizatória que tramita na capital do Rio de Janeiro, o
promitente comprador de um imóvel, Serafim, pleiteia da promitente vendedora, Incorporadora
X, sua condenação ao pagamento de quantias indenizatórias a título de (i) lucros cessantes em
razão da demora exacerbada na entrega da unidade imobiliária e (ii) danos morais. Todas as
provas pertinentes e relevantes dos fatos constitutivos do direito do autor foram carreadas nos
autos.
Na contestação, a ré suscitou preliminar de ilegitimidade passiva, apontando como
devedora de eventual indenização a sociedade Construtora Y contratada para a execução da
obra.
Alegou, no mérito, o descabimento de danos morais por mero inadimplemento contratual e,
ainda, aduziu que a situação casuística não demonstrou a ocorrência dos lucros cessantes
alegados pelo autor.
O juízo de primeira instância, transcorridos regularmente os atos processuais sob o rito
comum, acolheu a preliminar de ilegitimidade passiva. Da sentença proferida já à luz da vigência
do CPC/15, o autor interpôs recurso de apelação, mas o acórdão no Tribunal de Justiça
correspondente manteve integralmente a decisão pelos seus próprios fundamentos, sem motivar
específica e casuisticamente a decisão.
O autor, diante disso, opôs embargos de declaração por entender que havia omissão no
Acórdão, para préquestionar a violação de norma federal aplicável ao caso em tela.
No julgamento dos embargos declaratórios, embora tenha enfrentado os dispositivos legais
aplicáveis à espécie, o Tribunal negou provimento ao recurso e também aplicou a multa prevista
na lei para a hipótese de embargos meramente protelatórios.
Na qualidade de advogado(a) de Serafim, indique o meio processual adequado para a tutela
integral do seu direito em face do acórdão do Tribunal, elaborando a peça processual cabível no
caso, excluindo-se a hipótese de novos embargos de declaração, indicando os seus requisitos e
fundamentos nos termos da legislação vigente. (Valor: 5,00) Obs.: a peça deve abranger todos
os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar respaldo à pretensão.
A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere pontuação

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GABARITO COMENTADO FGV


A medida cabível para Serafim, em seu processo, é a interposição do Recurso Especial
para o STJ, cujas razões recursais devem rechaçar a ilegitimidade passiva da incorporadora
imobiliária, visto que é ela responsável solidária pelos danos ocasionados, na forma do Art. 25,
§ 1º, do Código de Defesa do Consumidor, do Art. 942 do Código Civil ou do Art. 30 da Lei nº
4.591/64.
Além disso, o examinando deve abordar a prática do ilícito contratual e os danos sofridos.
Ao final, o pedido recursal deve ser no sentido de obter a anulação do acórdão em razão da falta
de fundamentação específica e, caso o STJ entenda que a invalidação será excessivamente
prejudicial ao recorrente, deve ser pedida reforma integral do julgado, com base no Art. 282, §
2º, do CPC.
Em relação à multa aplicada em razão do entendimento do Tribunal (embargos
protelatórios), esta também deve ser rechaçada pelo examinando, por se tratar de recurso com
finalidade de pré-questionamento, o que resulta na inaplicabilidade do Art. 1026, § 2º, do CPC/15
e na violação ao enunciado de Súmula de Jurisprudência predominante do STJ (Súmula 98)

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10. Recurso Extraordinário

10.1 Previsão legal


Art. 102, III da CF; 994, VII e 1.029 e seguintes do CPC.

10.2 Cabimento
O recurso extraordinário, assim como o Recurso Especial, sendo um recurso de “estrito
direito” apresenta diversos pontos em comum com o Recurso Especial. Assim, grande parte do
que é exposto para o Recurso Especial aplica-se também ao Recurso Extraordinário. O objetivo
do Recurso Extraordinário não é a simples rediscussão da matéria objeto do recurso (como no
caso da apelação e dos demais recursos, ditos ordinários). No Recurso Extraordinário o objetivo
é a observância e unidade da aplicação dos ditames constitucionais por todos os Tribunais
pátrios. Assim, com o Recurso Extraordinário, o STF busca zelar pela supremacia da
Constituição em todo o território nacional. Somente o STF é que julga o recurso extraordinário.
(TARTUCE; DELLORE, 2016, P. 419)
Para verificar o cabimento do recurso extraordinário, verificar o art. 102 da
Constituição Federal.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última
instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004) (BRASIL, 1988)

Entende-se que como não fala Tribunais, cabe Recurso Extraordinário das decisões
proferidas pelas Turmas Recursais do JEC.
Não se admite Recurso Especial contra decisão proferida pela Turma Recursal dos
Juizados Especiais Cíveis, porém se admite o Recurso Extraordinário, pois não há tal restrição
no artigo 102, III da CF, sendo admitido recurso extraordinário contra decisão proferida por
quaisquer órgãos jurisdicionais, ou seja, de tribunais superiores, como o próprio STJ.
(LOURENÇO, 2017, p. 543)

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Ainda, o Recurso Extraordinário é julgado pelo STF e para sua interposição, deve-se ter
esgotado anteriormente os recursos cabíveis, portanto, não cabe de decisão monocrática
proferida pelo relator.
Verificar Súmula 281 do STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na
Justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada”.
Da mesma forma, é de se observar que assim como no Resp, no Recurso Extraordinário
também não se pode discutir matéria de fato → Súmula 279 do STF: “Para simples reexame de
prova não cabe recurso extraordinário”.

10.3 Da admissibilidade do recurso extraordinário


Além dos requisitos de admissibilidade gerais dos recursos, que já vimos anteriormente, o
recurso extraordinário ainda apresenta requisitos específicos.
Assim, como requisitos específicos de admissibilidade do Recurso Extraordinário podem
ser apontados os seguintes:
* Para todos verem: esquema

REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Pré-questionamento.

Esgotamento das vias recursais – não se discute matéria de fato.

A decisão deve ser prolatada em única ou última instância.

Repercussão geral.

Prequestionamento:
Deve haver o prequestionamento. Ou seja, que a matéria objeto do recurso extraordinário
tenha sido objeto de análise pelas instâncias inferiores.

SÚMULA 282 do STF: É inadmissível Recurso Extraordinário quando não ventilada, na decisão
recorrida, a questão federal suscitada.
SÚMULA 356 do STF: O ponto omisso da decisão sobre o qual não foram opostos embargos
declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento.

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Ainda, destaca-se que os Embargos de Declaração podem ser opostos com o fim de
prequestionamento, conforme o artigo 1.025 do CPC. Dessa forma, caso não tenha havido o
prequestionamento na decisão recorrida, deverão ser opostos os Embargos de Declaração com
o fim de cumprir esse requisito.

Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou,


para fins de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos
ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou
obscuridade. (BRASIL, 2015)

Esgotamento das vias recursais e não se discute matéria de fato:


Deve ter havido o esgotamento das vias recursais ordinárias e não se discute matéria de
fato.

SÚMULA 281 do STF: É inadmissível Recurso Extraordinário quando couber na Justiça de


origem, recurso ordinário da decisão impugnada.

SÚMULA 279 do STF: Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.

Ou seja, assim como o Recurso especial, o Recurso extraordinário se destina à revisão de


acórdãos, não se prestando a revisar fatos, mas somente questão de direito. No caso do recurso
extraordinário, eventual violação da Constituição Federal.
Conforme ensinam Tartuce e Dellore (2016, p. 419) da mesma forma que o Recurso
Especial, para que se possa interpor o Recurso Extraordinário devem ter sido esgotados os
recursos na origem. Logo, a decisão monocrática não dá ensejo à interposição do Recurso
Extraordinário.

Decisão deve ser prolatada em única ou última instância:


O inciso III do artigo 102 da CF refere que cabe ao STF julgar, mediante recurso
extraordinário, as causas decididas em única ou última instância.
Além disso, como já referido ao contrário do artigo 105 da CF (que trata do recurso
especial), o recurso extraordinário não menciona que o julgamento da causa decidida em única
ou última instância seja proferida por Tribunal, do que se extrai ser possível o cabimento do
recurso extraordinário das decisões proferidas pelas Turmas Recursais. (DONOSO; SERAU
JUNIOR, 2017, p. 308-309)

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Observar neste caso a Súmula 640 do STF: “É cabível recurso extraordinário contra decisão
proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado
especial cível e criminal.
Assim sendo, para caber recurso extraordinário deve ter havido o esgotamento das vias
recursais, não sendo possível a interposição de outros recursos ainda.

Repercussão geral:
Como requisito de admissibilidade específico do recurso extraordinário, de acordo com o
§3º do artigo 102 da CF, ainda deve haver a repercussão geral das questões constitucionais
§3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das
questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal
examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois
terços de seus membros. (BRASIL, 2015)

A repercussão geral significa que o recurso deve ser importante não somente para as
partes, mas para a sociedade como um todo.
Nesse sentido ensina Viana (2018, P. 415): “A lei entende que repercussão geral é aquela
que se origina de questões que ultrapassem os interesses subjetivos da causa, por envolver
controvérsias que vão além do direito individual das partes. É preciso que as questões
repercutem fora do processo e se mostrem relevantes do ponto de vista econômico, político,
social ou jurídico”.
Assim sendo, não basta o Recorrente demonstrar que a decisão recorrida viola a CF/88, é
necessário ainda que haja a repercussão geral para que o Recurso Extraordinário seja admitido.
(COLOMBO; SILVA, 2017, p. 187)
A necessidade de repercussão geral foi regulamentada no art. 1.035 do CPC:

Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso
extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral,
nos termos deste artigo.
§1º Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões
relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os
interesses subjetivos do processo.
§2º O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação
exclusiva pelo Supremo Tribunal Federal. (BRASIL, 2015)

Sobre o conceito de repercussão geral, DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 312)


ressaltam que o conceito é bem amplo, pois é dotada de repercussão geral a causa que
apresente questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico.

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Ainda, segundo DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 312) o CPC de 2015 apresenta
avanço em relação ao CPC de 1973 ao dispor que há uma repercussão geral presumida nas
hipóteses do §3º do artigo 1.035 do CPC, que haverá repercussão geral sempre que o recurso
impugnar acórdão que:
§3º Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que:
I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;
II - tenha sido proferido em julgamento de casos repetitivos;
II – (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos do
art. 97 da Constituição Federal.

É do STF a competência para apreciar a questão da repercussão geral. Neste caso, a


competência para apreciar se há ou não a repercussão geral é do STF. Se 2/3 dos Ministros do
STF, ou seja 8 de 11, julgarem que não há a repercussão geral → o recurso extraordinário não
será conhecido. (TARTUCE; DELLORE, 2016, p. 421)
Conforme o artigo 1.035 do CPC, a decisão acerca da repercussão geral é irrecorrível.
Portanto, de acordo com a previsão do §2º do artigo 1.035 do CPC, deve o recorrente demonstrar
a existência de repercussão geral, disso decorre que no Recurso Extraordinário deve ser
demonstrado claramente a existência da repercussão geral, sob pena de não ser conhecido.
Há quem defenda a possibilidade de Amicus Curiae no que se refere à repercussão geral,
em razão da previsão do §4º do artigo 1.035 do CPC: “§ 4 o O relator poderá admitir, na análise
da repercussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos
termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017,
p. 313)
Se for reconhecida a repercussão geral, será determinada pelo relator no STF a suspensão
de todos os processos, sejam individuais ou coletivos que tratam daquele tema objeto do recurso
em todo o país, conforme previsão do §5º do artigo 1.035 do CPC (DONOSO; SERAU JUNIOR,
2017, p. 313):
§5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará
a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou
coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional. (BRASIL, 2015)

Ainda, o recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no prazo de
01 ano, tendo preferência sobre os demais feitos, ressalvados aqueles que envolvam réu preso
e os pedidos de habeas corpus. (COLOMBO; SILVA, 2017, p. 188)

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É neste sentido a previsão do §9º do artigo 1.035 do CPC o recurso que tiver reconhecida
a repercussão geral deverá ser julgado no prazo de 01 ano:

§9º O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no prazo de
1 (um) ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu
preso e os pedidos de habeas corpus. (BRASIL, 2015)

E se for negada a repercussão geral? Aplica-se o §8º do artigo 1.035 do CPC:

§8º Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do tribunal de origem


negará seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na origem que versem sobre
matéria idêntica. (BRASIL, 2015)

Ou seja, conforme a previsão do §8º do artigo 1.035 do CPC, se for negada a repercussão
geral, a presidência do Tribunal intermediário negará seguimento aos recursos extraordinários
sobrestados na origem que versam sobre a matéria.
Silva e Colombo (2017, p. 188) ainda ensinam sobre a repercussão geral “que o interessado
poderá requerer, ao presidente ou vice-presidente do tribunal de origem, que exclua da decisão
de sobrestamento e inadmita o recurso extraordinário que tenha sido interposto
intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 05 dias para manifestar-se acerca desse
requerimento (art. 1035, §6º). Da decisão que indeferir o requerimento ou que aplicar
entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos
caberá agravo interno”.

10.4 Efeito DEVOLUTIVO e SUSPENSIVO do Recurso Extraordinário


Via de regra é recebido somente no efeito devolutivo, porém, pode ser buscado o efeito
suspensivo ao Recurso Extraordinário. Isso, porque, conforme previsão do artigo 995 do CPC os
recursos não terão efeito suspensivo, com exceção da Apelação, mas poderá ser requerido
conforme previsão do parágrafo único do artigo 995 do CPC:

Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou
decisão judicial em sentido diverso.
Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do
relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou
impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso.
(BRASIL, 2015)

Além disso, no caso específico do recurso especial e extraordinário, havendo necessidade


de se requerer o efeito suspensivo, aplica-se o disposto no artigo 1.029, §5 º do CPC:

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Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na


Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do
tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
§5º O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso
especial poderá ser formulado por requerimento dirigido:
I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão
de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame
prevento para julgá-lo;
II - ao relator, se já distribuído o recurso;
III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido
entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim
como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037. (BRASIL, 2015)

Observar que no caso do artigo 987, §1º do CPC o RECURSO EXTRAORDINÁRIO TERÁ
EFEITO SUSPENSIVO QUANDO INTERPOSTO DO JULGAMENTO DO INCIDENTE DE
RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS.

10.5 Prazo para interposição


O prazo para interposição do Recurso Extraordinário é de 15 dias, conforme a regra do
artigo 1.003, §5º do CPC. O mesmo prazo é para a parte contrária oferecer as contrarrazões.

10.6 Processamento do recurso extraordinário


Conforme o artigo 1.029 do CPC, tanto o recurso especial, quanto o recurso extraordinário
serão interpostos perante o presidente ou vice-presidente do Tribunal de origem:

Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos


na Constituição Federal , serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do
tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:

Após o prazo das contrarrazões, oferecidas estas ou não, o recurso será encaminhado ao
STF.
Caso admitido o Recurso Extraordinário → os autos serão remitidos ao STF. E se o Recurso
Extraordinário não for admitido na origem? Cabe Agravo em Recurso Extraordinário, consoante
previsão do artigo 1.042 do CPC, salvo se a decisão que inadmitir o recurso especial ou o
extraordinário estiver fundada em julgamento de recursos repetitivos ou repercussão geral.

Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal


recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada
na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento
de recursos repetitivos. (BRASIL, 2015)

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Ou seja, a redação original do artigo 1.030 do CPC teve alteração com a Lei 13.256/16,
tendo tanto o recurso especial, quanto extraordinário duplo exame de admissibilidade, como
ocorria já no CPC antigo.

Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos
serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá:
I – negar seguimento:
a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal
Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso
extraordinário interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento
do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral;
b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em
conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos;
II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação, se o
acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão geral ou de
recursos repetitivos;
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não
decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se
trate de matéria constitucional ou infraconstitucional;
IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou
infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036;
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal
Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que:
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de
julgamento de recursos repetitivos;
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia; ou
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
§1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V caberá agravo
ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042.
§2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos
termos do art. 1.021. (BRASIL, 2015)

Observar ainda que, conforme previsão do artigo 1.031 do CPC na hipótese de interposição
conjunta de Recurso Especial e Recurso Extraordinário, os autos serão remetidos primeiro ao
STJ.
Além disso, o STF não está vinculado ao que decidiu o Tribunal de origem, podendo realizar
novo exame de admissibilidade, podendo conhecer ou não o Recurso Extraordinário.

10.7 Petição de interposição e Petição das razões


A petição de interposição é dirigida ao Presidente do Tribunal de Origem. Já a petição das
razões é dirigida ao STF.
* Para todos verem: esquema

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO

PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO
PETIÇÃO DE RAZÕES
Dirigida ao Presidente do Tribunal de
Dirigida ao Supremo Tribunal Federal
Origem

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MODELO EXEMPLIFICATIVO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE...

Processo número...

NOME DO RECORRENTE, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da


Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador
constituído (procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com escritório
profissional na Rua..., número..., Bairro..., cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe
intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento
legal nos artigos 102, III, alínea a da Constituição Federal e artigos 994, VII e 1.029 e
seguintes do Código de Processo Civil, interpor o presente

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Em razão do acórdão proferido no julgamento do recurso de Apelação interposto em


face de NOME DO RECORRIDO, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador
da Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na
Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões de fato e de direito
a seguir expostas.
Requer a intimação do Recorrido para oferecer contrarrazões no prazo legal de 15
dias, conforme previsão dos artigos 1.003, §5º e 1.030, ambos do Código de Processo
Civil.
Após o prazo das contrarrazões, requer a admissão do presente recurso
extraordinário e a remessa dos autos ao Supremo Tribunal Federal.
Por fim, junta o Recorrente o comprovante do recolhimento do preparo recursal,
inclusive porte de remessa e de retorno, na forma do artigo 1.007 do CPC.
Termos em que, Pede deferimento.
Local..., data...

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Advogado...
OAB...

EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


RAZÕES DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Processo...
Recorrente... (não pode qualificar de novo)
Recorrido... (não pode qualificar de novo)

COLENDO TRIBUNAL,
EGRÉGIA TURMA,
NOBRES JULGADORES,

I – CABIMENTO:
O presente recurso extraordinário é o adequado, uma vez que impugna acórdão,
pois trata-se de decisão proferida pelo órgão colegiado do Tribunal de Justiça do Estado
de..., na forma do artigo 204 do CPC, que ao julgar o recurso de Apelação negou
provimento ao mesmo. Além disso, no julgamento do recurso de Apelação, o Tribunal
recorrido contrariou o artigo... da Constituição Federal. Dessa forma, sendo decisão
proferida em última instancia pelo Tribunal de Justiça do Estado ... cabe recurso
extraordinário, nos termos do artigo 102, III, alínea... da CF.

II – DA TEMPESTIVIDADE:
Verifica-se que o recurso extraordinário é tempestivo, pois interposto dentro do prazo
legal de 15 dias, a contar da intimação do advogado do Recorrente, nos termos do artigo
1003, caput e §5º, do Código de Processo Civil, computando-se somente os dias úteis,
conforme previsão do artigo 219 do CPC, excluindo o dia do início e incluindo o dia do
vencimento, consoante disposição do artigo 224, caput do CPC.

170
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III – DO PREQUESTIONAMENTO:
O RECURSO EXTRAORDINÁRIO possui esse requisito do prequestionamento.
Ou seja, tem que ser demonstrado que a matéria impugnada já foi objeto de apreciação
no Tribunal de origem.
Exemplo: que no julgamento da apelação o Tribunal Recorrido proferiu
entendimento que contraria o artigo ... da CF. OBSERVAR QUE O ENUNCIADO DA FGV
PODE MENCIONAR QUE O PREQUESTIONAMENTO FOI REALIZADO VIA
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (art. 1.025 do CPC).

IV – DA REPERCUSSÃO GERAL:
Mencionar que o recurso possui repercussão geral, pois isso é requisito do Recurso
Extraordinário, inclusive destacando as previsões dos artigos 102, §3º da CF e artigo
1.035 do CPC.
Exemplo: Nos termos do artigo 102, §3º da CF e artigo 1.035 do CPC, a matéria
objeto do presente recurso extraordinário possui repercussão geral, pois possui
importância...(econômica, jurídica, social, política) requisito exigido para admissão do
recurso extraordinário.
No caso, verifica-se a repercussão geral pelos seguintes motivos: ...

V- DA SÍNTESE DA DEMANDA:
Dizer o que ocorreu no processo, conforme enunciado da FGV.

VI – DAS RAZÕES RECURSAIS:


Trazer aqui as teses, devidamente com fundamentação legal.
a) Da ofensa ao dispositivo constitucional:
Trazer qual dispositivo constitucional que foi violado. Ou seja, o entendimento do
tribunal recorrido está contrário, por exemplo, a qual artigo da CF?
TRAZER AS DEMAIS TESES!

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VII – DO PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO:


Caso seja situação de pedir o efeito suspensivo, fundamentar no artigo 995,
parágrafo único e 1.029, §5º, ambos do CPC, dizendo as razões de ser concedido o
efeito no caso.

VII – DOS PEDIDOS:


Diante do exposto, requer o Recorrente:
a) Que o presente recurso seja conhecido e admitido, eis que preenchidos os
requisitos de admissibilidade;
b) Requer-se, ainda, a concessão do efeito suspensivo com fundamento nos artigos
995, parágrafo único e 1.029, §5º, ambos do CPC, com fim de...(especificar o que
pretende com o efeito suspensivo);
c) O total provimento do recurso extraordinário com o fim de (por exemplo: reformar
o acórdão do julgamento da Apelação e...)
d) A inversão do ônus de sucumbência, a fim de condenar o Recorrido nas custas
e honorários de advogado de sucumbência;

Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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11. Agravo em Recurso Especial e Extraordinário (Aula


Gravada)

11.1 Previsão legal:


Art. 994, VIII e 1.042 do CPC/15.

11.2 Cabimento
O Novo Código de Processo civil foi alterado antes mesmo de entrar em vigor. Assim, no
que tange ao agravo em recurso especial e extraordinário, em razão da Lei 13.256/2016, o
entendimento é que se trouxe de volta, nesta parte, a sistemática do antigo CPC/1973.

CABIMENTO: o agravo em recurso especial e extraordinário é utilizado quando o recurso


especial ou extraordinário for inadmitido na forma do artigo 1.042 do CPC;

No Código revogado de 1973, o juízo de admissibilidade no Recurso Especial e


Extraordinário era feito no Tribunal de Origem. Na versão original do CPC (antes da lei
13.256/2016), o juízo de admissibilidade do Recurso Especial e Extraordinário não seria mais
feito na origem e, sim, no Tribunal Superior, contudo, com a Lei 13.256/2016 o juízo de
admissibilidade voltou a ser do tribunal de origem. (TARTUCE; DELLORE, 2016, p. 376-377)
Cabe, portanto, quando o Tribunal de Origem não admitir o Recurso Especial ou
Extraordinário, conforme previsão do art. 1.042 do CPC/15:

Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal


recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada
na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento
de recursos repetitivos. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (BRASIL,
2015)

Portanto, com o Agravo em Recurso Especial o que se pretende é justamente fazer com
que o Recurso Especial seja julgado pelo STJ e o Recurso Extraordinário pelo STF, caso tenham
sido inadmitidos. (TARTUCE; DELLORE, 2016, p. 377)
Ocorre que, uma vez interposto o recurso especial ou extraordinário, e findo o prazo para
contrarrazões, os autos vão ser conclusos ao presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido,
o qual poderá tomar uma das condutas do artigo 1.030 do CPC:

173
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Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos
serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que
deverá:
I – negar seguimento
a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal
Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso
extraordinário interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento
do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral;
b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em
conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos
repetitivos;
II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação, se o
acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão geral ou de
recursos repetitivos;
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não
decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se
trate de matéria constitucional ou infraconstitucional;
IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou
infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036;
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal
Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que:
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de
julgamento de recursos repetitivos
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia;
ou
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
§1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V caberá agravo
ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042.
§2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos
termos do art. 1.021.

Conforme Medina (2016, p. 1.400) em relação ao Recurso de Agravo em Recurso Especial


ou Extraordinário, o presidente ou vice-presidente do tribunal local então realiza o juízo de
admissibilidade: sendo que se positivo, encaminhará os autos ao tribunal superior respectivo
(STJ, se for recurso especial, ou STF se for recurso extraordinário, conforme art. 1.030, V do
CPC); porém, se o juízo de admissibilidade for negativo, caberá o agravo em recurso especial
ou extraordinário do art. 1.042 do CPC, interposto perante o órgão a quo, a ser julgado pelo
tribunal superior competente.
Observar, portanto, que cabe agravo em recurso especial ou extraordinário contra decisão
do presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso especial ou
extraordinário, salvo quando fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de
repercussão geral ou em julgamento de recurso repetitivo, situação que cabe agravo interno (art.
1.030, §2º).
Nesse sentido, segue entendimento de Medina (2016, p. 1401):

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Se a decisão proferida pelo presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido for “fundada


na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento
de recurso repetitivos”, não cabe o agravo previsto no art. .1042 do CPC/2015 (cf. parte
final do caput desse artigo), mas agravo interno (cf. §7º do art. 1.015 do CPC/2015, na
redação da Lei 13.256/2016; v. também art. 1.030, caput, I e III e §2º do CPC/2015).

11.3 Processamento
O Agravo em Recurso Especial ou Extraordinário será interposto nos autos do processo
(não há necessidade de se formar um instrumento) perante o Tribunal de Origem, no prazo de
15 dias. (TARTUCE; DELLORE, 2016, p. 377)
Sobre o procedimento Viana (2018, p. 445) explica que “a petição de agravo será dirigida
ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de origem e independe do pagamento de custas
e despesas postais, aplicando-se a ela o regime de repercussão geral e de recursos repetitivos,
inclusive quanto à possibilidade de sobrestamento e do juízo de retratação”.
Não há recolhimento de preparo recursal, nem porte de remessa ou de retorno, conforme
art. 1.042, §2º, do CPC/15:

§2º A petição de agravo será dirigida ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de


origem e independe do pagamento de custas e despesas postais, aplicando-se a ela o
regime de repercussão geral e de recursos repetitivos, inclusive quanto à possibilidade de
sobrestamento e do juízo de retratação.

O Agravado será intimado para oferecer contrarrazões no prazo de 15 dias, conforme


previsto no art. 1.042, §3º, do CPC/15:

§3º O agravado será intimado, de imediato, para oferecer resposta no prazo de 15 (quinze)
dias. (BRASIL, 2015)

Poderá haver retratação. Se não houver retratação, após o prazo de resposta, o agravo
será remetido ao Tribunal competente, ou seja, STJ ou STF:

§4º Após o prazo de resposta, não havendo retratação, o agravo será remetido ao tribunal
superior competente. (BRASIL, 2015)

Como pode haver retratação diante da interposição do agravo em recurso especial ou


extraordinário, caso não haja retratação, os próprios autos serão encaminhados para julgamento
do agravo, contudo, se houver retratação, os autos serão encaminhados ao respectivo tribunal
(STJ ou STF). (TARTUCE; DELLORE, 2016, p. 378)

175
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Explicando o procedimento Viana (2018, p. 445) escreve: “O prazo para interposição do


agravo será de quinze dias. O agravado será intimado para oferecer resposta também no prazo
de quinze dias. Após o prazo de resposta, não havendo retratação, o agravo será remetido ao
tribunal superior competente”.
Sobre o procedimento do agravo em recurso especial e extraordinário DONOSO E SERAU
JUNIOR (2018, p. 358) ensinam:

A petição de agravo será dirigida ao presidente ou vice-presidente do tribunal de origem


(art. 1.042, §2º, do CPC) (...). Em termos de processamento, o §3º do art. 1.042 do CPC,
indica que o agravado será intimado, de imediato, para, no mesmo prazo de 15 dias,
oferecer sua resposta. O CPC/2015, ao contrário do regime processual anterior, permite
expressamente ao juízo de segundo grau a possibilidade de retratação. Caso não ocorra
a reconsideração da decisão o agravo será imediatamente à instancia superior (art. 1.042,
§4º).

E na hipótese de a parte interpor RESP e REXT ao mesmo tempo e nenhum deles ser
admitido? Deverá interpor 2 recursos de agravo, conforme previsão do §6º do artigo 1.042 do
CPC/15:

§6º Na hipótese de interposição conjunta de recursos extraordinário e especial, o


agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido. (BRASIL, 2015)

Inclusive é esse o entendimento de DELLORE E TARTUCE (2016, p. 378): “Se forem


interpostos dois recursos concomitantes (REsp e RE) e ambos não forem admitidos, deverá o
recorrente interpor dois agravos, sendo, neste caso, os autos remetidos em primeiro lugar ao
STJ e, após, ao STF (CPC/2015, art. 1.042, §§7º e 8º)
Diante da interposição de dois recursos de Agravo, primeiro os autos serão remetidos ao
STJ e depois ao STF:

§7º Havendo apenas um agravo, o recurso será remetido ao tribunal competente, e,


havendo interposição conjunta, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.
§8º Concluído o julgamento do agravo pelo Superior Tribunal de Justiça e, se for o caso,
do recurso especial, independentemente de pedido, os autos serão remetidos ao Supremo
Tribunal Federal para apreciação do agravo a ele dirigido, salvo se estiver prejudicado.
(BRASIL, 2015)

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EXEMPLO DE AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE...

Processo nº...

NOME DO AGRAVANTE, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da


Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na
Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu
procurador constituído (procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com
endereço profissional na Rua..., número..., Bairro..., cidade..., Estado..., CEP..., onde
recebe intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com
fundamento legal nos artigos 994, VIII e 1.042, ambos do Código de Processo Civil,
interpor o presente

RECURSO DE AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL

Em razão da decisão que não admitiu o recurso especial interposto em face do


NOME DO AGRAVADO, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da
Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na
Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões de fato e de direito
a seguir expostas.
Requer a intimação do Recorrido para oferecer contrarrazões no prazo legal de 15
dias, conforme previsão dos artigos 1.003, §5º e 1.042, §3ºambos do CPC.
Requer, ainda, que haja retratação da decisão que inadmitiu o recurso especial, na
forma do artigo 1.042, §4º do Código de Processo Civil.
Após o prazo das contrarrazões, não havendo retratação, requer a remessa dos
autos ao Superior Tribunal de Justiça.
Por fim, deixa o Recorrente de juntar o comprovante do recolhimento do preparo
recursal, inclusive porte de remessa e de retorno, pois o recurso de agravo em recurso

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especial independe do recolhimento de custas, consoante disposição do artigo 1.042,


§2º do Código de Processo Civil.

Termos em que,
Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...
OAB...

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


RAZÕES DO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL

Processo...
Recorrente...
Recorrido...

COLENDO TRIBUNAL,
EGRÉGIA TURMA,
NOBRES JULGADORES,

I – CABIMENTO:
Demonstrar que o presente recurso de agravo em recurso especial é o adequado
por se tratar de decisão do presidente ou vice-presidente do Tribunal de origem que
negou seguimento ao recurso especial, conforme previsão do artigo 1.042 do Código
de processo Civil, sendo o recurso previsto no artigo 994, VIII do CPC.

II – DA TEMPESTIVIDADE:
Verifica-se que o Agravo em Recurso Especial é tempestivo, pois interposto dentro
do prazo legal de 15 dias, a contar da intimação do advogado do Agravante, nos termos
do artigo 1003, caput e §5º, do Código de Processo Civil, computando-se somente os

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dias úteis, conforme previsão do artigo 219 do CPC, excluindo o dia do início e incluindo
o dia do vencimento, consoante disposição do artigo 224, caput do CPC.

III- DA SÍNTESE DA DEMANDA:


Dizer o que ocorreu no processo, conforme enunciado da FGV.

VI – DAS RAZÕES RECURSAIS:


Trazer aqui as teses, devidamente com fundamentação legal. Trazer as teses,
demonstrando os motivos pelos quais a decisão recorrida deve ser reformada;

VII – DOS PEDIDOS:


Diante do exposto, requer o Agravante:
a) Que o presente recurso seja conhecido e admitido, eis que preenchidos os
requisitos de admissibilidade;
b) O total provimento do agravo em recurso especial para o fim de reformar a
decisão que negou seguimento ao recurso especial, com o fim de que o presente
recurso especial seja admitido e processado para...

Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

179
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12. Embargos de Divergência (Aula Gravada)

12.1 Previsão legal


Os embargos de divergência encontram respaldo legal nos artigos 994, IX, 1.043 e 1.044
do Código de Processo Civil. Ainda, importante observar o regimento interno do tribunal para
qual o recurso é direcionado.

12.2 Cabimento
Cabem embargos de divergência com o objetivo de uniformizar a jurisprudência interna do
STJ ou do STF. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2018, p. 374)
Ensina Medina (2016, p. 1402-1403) que os embargos de divergência possuem por função
uniformizar a jurisprudência dos próprios tribunais superiores, não se tratando de recurso que
tenha por finalidade corrigir erro de acórdão proferido em julgamento do STJ ou STF.
No CPC/15, o cabimento tem previsão no art. 1.043:

Art. 1.043. É embargável o acórdão de órgão fracionário que:


I - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer
outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de mérito;
II - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer
outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado e paradigma, relativos ao
juízo de admissibilidade;
III - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer
outro órgão do mesmo tribunal, sendo um acórdão de mérito e outro que não tenha
conhecido do recurso, embora tenha apreciado a controvérsia;
IV - nos processos de competência originária, divergir do julgamento de qualquer outro
órgão do mesmo tribunal (BRASIL, 2015)

Sobre o cabimento dos embargos de divergência Viana (2018, p. 446) ensina que tal
recurso será admitido perante o STF e STJ, inexistindo nas instâncias inferiores. Tem como
objetivo extinguir a divergência interna sobre determinada questão jurídica existente na própria
Corte. Essas questões jurídicas controvertidas dizem respeito à interpretação de norma
constitucional e infraconstitucional.
Comentando o aludido artigo DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 374) mencionam que
cabe embargos de divergência em decisões proferidas por colegiados, afastando a oposição dos
embargos de divergência contra decisões monocráticas dos relatores. Nesse caso, será
necessário, inicialmente, interpor agravo interno, ou agravo regimental, conforme o caso.

180
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Assim, segundo o inciso I do art. 1043 do CPC estabelece que cabem embargos de
divergência contra acórdão de órgão fracionário do STF (suas Turmas) ou do STJ (Turmas ou
Seções) que sejam divergentes do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo Tribunal,
estabelecendo também que o acórdão deve ser de mérito. (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017,
p. 374).
O inciso III do art. 1043 assegura a interposição dos embargos de divergência na hipótese
da divergência ocorrer entre um acórdão de “mérito” e outra que não tenha conhecido do recurso
especial ou recurso extraordinário, mas, de alguma forma, tenha analisado a controvérsia.
(DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 374).
Observar que a divergência pode ocorrer no julgamento de RECURSO ESPECIAL OU
EXTRAORDINÁRIO, ou seja, no JULGAMENTO DE MÉRITO ou no caso de
ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL ou EXTRAORDINÁRIO.
Também nesse sentido Medina (2016, p. 1403) explica que “o recurso de embargos de
divergência é cabível contra acórdãos de órgãos fracionários que divirjam, em se tratando de
decisão de mérito ou, ainda, que o outro acórdão não tenha conhecido o recurso, tenha apreciado
a controvérsia (cf. inc. III do art. 1.043 do CPC/2015)”.
Observar que não cabem embargos de divergência com fundamento em acórdão
paradigma de outra turma que, no passado, detinha competência para julgar aquela matéria,
mas atualmente não tem, estando válida a súmula 158 do STJ. (DONOSO; SERAU JUNIOR,
2017, p. 375).
Ainda, conforme o §3º do artigo 1.043 cabe Embargos de divergência de decisão (julgado)
da mesma turma, se houver tido mudança de composição em mais da metade dos membros:

§ 3o Cabem embargos de divergência quando o acórdão paradigma for da mesma turma que
proferiu a decisão embargada, desde que sua composição tenha sofrido alteração em mais da
metade de seus membros. (BRASIL, 2015)

Os Embargos de divergência são utilizados, portanto, quando houver divergência entre os


órgãos do STJ ou STF, de modo que se a divergência ocorrer entre entendimentos de tribunais
diferentes é cabível o recurso especial ao STJ. EXEMPLO: se o STJ tiver julgado de forma
diferente a questão impugnada, por qualquer outro órgão interno do STJ → cabe Embargos de
divergência, buscando justamente uniformizar a matéria. (TARTUCE; DELLORE, 2016, p. 432)

181
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Segundo DONOSO E SERAU JUNIOR (2017, p. 375) o §1º do art. 1.043 inova em relação
ao regime processual anterior, e prevê que a divergência na interpretação pode ser comparada
entre recursos e também ações de competência originárias dos Tribunais:

§1º Poderão ser confrontadas teses jurídicas contidas em julgamentos de recursos e de ações
de competência originária. (BRASIL, 2015)

Por ausência de previsão legal, não cabem embargos de divergência de acórdãos


proferidos em sede de recurso ordinário constitucional. Da mesma forma, tendo em vista que
apenas o acórdão de órgão fracionário é embargável, não comportam embargos de divergência
acórdãos proferidos pela corte especial no STJ, e pelo tribunal pleno no STF. (DONOSO E
SERAU JUNIOR, 2017, p. 376).
Observar ainda o §2º do artigo 1.043: § 2o A divergência que autoriza a interposição de
embargos de divergência pode verificar-se na aplicação do direito material ou do direito
processual.
Em relação à divergência sobre questão meramente processual, entende-se que a
similitude fática que dá suporte à causa pode ser relevada, desde a divergência se trate de
idêntica questão processual (por exemplo, a forma de realização da citação, requisitos de
admissibilidade recursal, etc.). (DONOSO; SERAU JUNIOR, 2017, p. 376).
Os embargos de declaração opostos contra acórdão proferido em recurso especial e
extraordinário integram o julgamento anterior e, portanto, é cabível o recurso de embargos de
divergência contra o acórdão proferido neste tipo de embargos de declaração. (DONOSO;
SERAU JUNIOR, 2017, p.376.
No mesmo sentido observar também a previsão da súmula 316 do STJ.

12.3 Comprovação da divergência


Quanto aos requisitos dos embargos de divergência, destaca-se o art. 1.043, §4º que traz
a necessidade de comprovação da divergência, devendo o embargante juntar cópia do acórdão
paradigma com declaração de autenticidade.

§4º O recorrente provará a divergência com certidão, cópia ou citação de repositório oficial ou
credenciado de jurisprudência, inclusive em mídia eletrônica, onde foi publicado o acórdão
divergente, ou com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de computadores,
indicando a respectiva fonte, e mencionará as circunstâncias que identificam ou assemelham os
casos confrontados. (BRASIL, 2015)

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Ainda, conforme o art. 1.043, §4º, o embargante deve fazer uma comparação entre o
acórdão embargado e o acórdão paradigma, justamente demonstrando que se tratam de
situações semelhantes, mas foi dado o entendimento diverso.

ATENÇÃO
Observar a súmula 168 do STJ, no sentido de que o recurso deve trazer dissidio atual:
“Não cabem embargos de divergência quando a jurisprudência do tribunal se firmou no mesmo
sentido do acórdão embargado”.

12.4 Prazo dos embargos de divergência


O prazo para interposição dos embargos de divergência é de 15 dias, conforme previsão
do art. 1.003, §5º, do CPC.

12.5 Processamento dos embargos


De acordo com o artigo 1.044 do CPC, os embargos de divergência seguem o previsto nos
regimentos internos dos tribunais:

Art. 1.044. No recurso de embargos de divergência, será observado o procedimento


estabelecido no regimento interno do respectivo tribunal superior. (BRASIL, 2015)

12.6 Efeito interruptivo dos embargos de divergência


Previsão do art. 1.044, §1º, do CPC/15:

§ 1o A interposição de embargos de divergência no Superior Tribunal de Justiça interrompe


o prazo para interposição de recurso extraordinário por qualquer das partes. (BRASIL,
2015)

Conforme Viana (2018, p. 448) a interposição dos embargos de divergência no STJ


interrompe o prazo para interposição do recurso extraordinário por qualquer das partes.
Isso porque do acórdão proferido pelo STJ podem caber três recursos: 1) Recurso
Extraordinário ao STF. 2) Embargos de declaração 3) Embargos de Divergência. Caso então
opostos os Embargos de Divergência no STJ seria interrompido o prazo para interposição do
Recurso Extraordinário.
Por fim a previsão do §2º do artigo 1.044 do CPC, que diz que não precisa o embargante
reiterar o recurso extraordinário interposto antes do julgamento dos embargos de divergência se
não houver alteração na decisão:

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§ 2o Se os embargos de divergência forem desprovidos ou não alterarem a conclusão do


julgamento anterior, o recurso extraordinário interposto pela outra parte antes da
publicação do julgamento dos embargos de divergência será processado e julgado
independentemente de ratificação. (BRASIL, 2015)

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MODELO EXEMPLIFICATIVO

Modelo 01 – ROCHA; THAMAY; GARCIA JUNIOR (2019, p. 174-175) – COM ALGUMAS


MODIFICAÇÕES

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL (OU SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA)

Processo número...

NOME DO EMBARGANTE, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da


Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador constituído
(procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com escritório profissional na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe intimações, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 1.043,
inciso... do Código de Processo Civil opor o presente
RECURSO DE EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
Em razão do acórdão proferido... pela ... no julgamento do recurso especial interposto
em face de NOME DO EMBARGADO, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador
da Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões que seguem anexas.

Termos em que,
Pede deferimento.
Local..., data...,
Advogado...
OAB...

RAZÕES DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA


Recorrente...

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Recorrido...
Processo...
Egrégio Supremo Tribunal Federal (ou Superior Tribunal de Justiça)
Ínclitos Ministros,

I – DO CABIMENTO DO PRESENTE RECURSO:


Demonstrar, com base no art. 1.043, I, III ou §3º, do CPC, que cabem embargos de
divergência contra o acórdão de órgão fracionado que, em recurso extraordinário, ou em
recurso especial, divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal,
sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de mérito; que em recurso extraordinário ou
em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal,
sendo um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha
apreciado a controvérsia; ou, ainda, quando o acórdão paradigma for da mesma turma
que proferiu a decisão embargada, desde que sua composição tenha sofrido alteração em
mais da metade dos seus membros.

II – TEMPESTIVIDADE:
Demonstrar a tempestividade do presente recurso, sendo interposto no prazo de
15 dias, na forma do §5º do artigo 1.003 do Código de processo Civil, computados
somente os dias úteis, conforme artigo 219 do Código de Processo Civil, cujo termo inicial
é..., excluindo o dia do início e incluindo a data do vencimento, conforme o artigo 224,
caput do Código de processo Civil.

III – SÍNTESE DA DEMANDA:


Narrar os fatos ocorridos desde a propositura da ação até a prolação da decisão
recorrida, demonstrando as questões relevantes para a reforma da decisão recorrida.

IV – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS – DA DIVERGÊNCIA EXISTENTE:


Na narrativa das questões jurídicas que dão ensejo à compreensão de que há a
divergência, conforme acórdão paradigma, pois casos de evidente cabimento. O
recorrente deverá provar a divergência com certidão, cópia ou citação de repositório oficial

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ou credenciado de jurisprudência, inclusive em mídia eletrônica, onde foi publicado o


acórdão divergente, ou com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de
computadores, indicando a respectiva fonte, e mencionará as circunstâncias que
identifiquem ou assemelham os casos confrontados.

V – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o recebimento e conhecimento dos Embargos de
Divergência, no sentido de fazer prevalecer o entendimento apresentado no acórdão
paradigma, a respeito do tema (colocar o tema da divergência).

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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Modelo 02 – DONOSO; SERAU JUNIOR (2017, p. 380-383) com algumas adaptações

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DA ... SEÇÃO DO


EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Recurso Especial número...
EMBARGANTE, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula
de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador
constituído (procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com escritório
profissional na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe
intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento
legal no artigo 1.043, inciso... do Código de Processo Civil interpor o presente

RECURSO DE EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

não se conformando com a decisão de fls... que negou provimento ao seu recurso
especial interposto em face de NOME DO EMBARGADO, nacionalidade..., estado
civil..., profissão..., portador da Cédula de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico...,
residente e domiciliado na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP...,
pelas razões que seguem anexas.
Requer sua remessa com as inclusas razões à Colenda ...Seção do Superior
Tribunal de Justiça, para que seja admitido e ocorra a uniformização da jurisprudência
interna, com a consequente reforma do acórdão recorrido.
A intimação do Embargado para, querendo, oferecer contrarrazões, no prazo de
15 dias, conforme previsão dos artigos 1.003, §5º do Código de Processo Civil.

Termos em que,
Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...
OAB...

188
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RAZÕES DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA


Egrégio Tribunal,
Colenda Seção,
Eméritos Ministros Julgadores,

I – TEMPESTIVIDADE:
Demonstrar a tempestividade do recurso.

II– HISTÓRICO DA DEMANDA:


O recorrente propôs ação ordinária de... (OBS: EXPLICAR BREVEMENTE A
DEMANDA, INDICAR O QUE FOI DISCUTIDO NOS AUTOS), que foi julgada
improcedente, tendo sido desprovido também seu recurso de apelação. Foi interposto
o competente recurso especial que foi admitido pelo Tribunal de origem e remetido ao
STJ.
O recurso especial, porém, foi equivocadamente desprovido. Recorrente mais
uma vez teve seus direitos afrontados através da decisão de fls. ..., que desproveu o
recurso especial através de acórdão que diverge frontalmente da jurisprudência
consagrada na ... Turma deste mesmo Superior Tribunal de Justiça, o que enseja a
necessidade de interposição dos presentes embargos de divergência.

III – DO CABIMENTO DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA


Dizer o porquê cabem embargos de divergência, não esquecer de fundamentar
nos artigos 1.043, 1044 e 204 do CPC.

IV – DAS RAZÕES DE REFORMA:


Fundamentar trazer as teses.

V – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Embargante:

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a) A remessa dos presentes embargos de divergência à respectiva Seção do STJ


e o recebimento do recurso, nos termos do art. 1.043 do CPC/15;
b) A intimação da parte contrária para, querendo, oferecer resposta no prazo legal;
c) A uniformização da jurisprudência interna, com a reforma do acórdão recorrido,
posto que em dissonância da jurisprudência predominante no Egrégio Superior
Tribunal de Justiça, sinalizada no acórdão de outra Turma indicado como paradigma;

Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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13. Repercussão Geral e Suspensão de todos os


processos pendentes (Aula Gravada)

Sobre a repercussão geral exigida para o recurso extraordinário Silva e Colombo (2017, p.
187) ensinam: “A repercussão geral, introduzida na Constituição Federal, pela emenda
constitucional n. 45/2004, que acrescentou o §3º no art. 102, e, regulamentada posteriormente,
pela Lei 11.418/06, é um filtro ou “marco divisor” no recurso extraordinário. Hoje, não basta mais
o recorrente afirmar em sua petição de recurso extraordinário a violação ou negativa de vigência
da constituição federal. Além da violação ou negativa de vigência à Constituição Federal deverá
demonstrar a existência de repercussão geral. Esse requisito foi regulamentado no NCPC no art.
1.035 do NCPC”.
Disso decorre que, no recurso extraordinário, o recorrente deverá demonstrar que o
julgamento do mesmo não interessa somente às partes envolvidas, mas também para uma
coletividade, não havendo necessidade de que esta envolva todos os habitantes do país, mas
pode estar restrita a determinado grupo determinado ou não. Nesse caso, a não demonstração
do preenchimento do requisito da repercussão geral acarreta a inadmissão do recurso. (SILVA;
COLOMBO, 2017, p. 187)
Complementam Silva e Colombo (2017, p. 187-88) que “a repercussão geral é presumida,
nos termos do §3º do art. 1.035 do NCPC, que acrescentou novas hipóteses àquelas já
mencionadas no CPC/1973. Assim, presume-se a repercussão geral sempre o acórdão:
contrariar sumula ou jurisprudência dominante do STF ou tenha reconhecido a
inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, nos termos do artigo 97 da Constituição Federal”.
No que tange à repercussão geral e a suspensão de todos os processos pendentes, é de
se verificar a previsão do §5º do artigo 1.035 do CPC:

§5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará


a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou
coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional. (BRASIL, 2015)

Ainda, Silva e Colombo (2017, p. 188) ensinam: “Não é demasiado referir que, o recurso
que tiver a repercussão geral reconhecida, deverá ser julgado no prazo de 1 (um ano) e terá
preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de
habeas corpus (art. 1035, §9º do NCPC).

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Então, esse recurso em que ficar reconhecida a repercussão geral deverá ser julgado no
prazo de 01 ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvem réu
preso e os pedidos de habeas corpus, conforme previsão do §9º do artigo 1.035 do CPC:

§9º O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no prazo de
1 (um) ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu
preso e os pedidos de habeas corpus. (BRASIL, 2015)

Conforme ensinam Silva e Colombo (2017, p. 188) cabe frisar que o interessado poderá
requerer, ao presidente ou vice-presidente do tribunal de origem, que exclua da decisão de
sobrestamento e inadmita recurso extraordinário que tenha sido interposto intempestivamente,
tendo o recorrente o prazo de 05 dias para manifestar-se sobre esse requerimento, conforme
previsão do §6º do artigo 1.035 do CPC:

§6º O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de


origem, que exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso extraordinário que
tenha sido interposto intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para
manifestar-se sobre esse requerimento. (BRASIL, 2015)

E, dessa decisão que indeferir o requerimento ou que aplicar entendimento firmado em


regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos, caberá agravo interno
(SILVA; COLOMBO, 2017, p. 188):

§7º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º ou que aplicar entendimento


firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos caberá
agravo interno. (BRASIL, 2015)

E se for negada a repercussão geral no recurso extraordinário?

§8º Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do tribunal de origem


negará seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na origem que versem sobre
matéria idêntica.

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14. Processamento dos Recursos Especial e


Extraordinário

Sobre a interposição dos recursos especial e extraordinário, ensinam Silva e Colombo


(2017, p. 189) que tais recursos devem ser interpostos no Tribunal de origem, ou seja, nos
Tribunais de Justiça ou Tribunais Regionais Federais, havendo duplo exame de admissibilidade,
conforme previsão do artigo 1.030 do CPC.

Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos
serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que
deverá: (...) (BRASIL, 2015)

Ou seja, interposto o Recurso Especial ou Extraordinário perante o presidente ou Vice


Presidente do Tribunal de origem (conforme artigo 1.029 do CPC), a parte contrária será intimada
para oferecer suas contrarrazões no prazo de 15 dias. Lembrar que cabe recurso adesivo no
recurso especial e no recurso extraordinário. Terminado o prazo, os autos serão conclusos sendo
que o presidente ou vice-presidente do Tribunal recorrido poderá tomar uma serie de
providencias, e, segundo Lourenço (2017, p. 534) poderá realizar um JUÍZO PROVISÓRIO DE
ADMISSIBILIDADE, que deverá segundo o inciso V do art. 1.030 do CPC, se positivo, remeter
ao STF OU STJ, desde que:

V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal


Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que:
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de
julgamento de recursos repetitivos;
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia;
ou
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.

Lourenço (2017, p. 534) ensina que é no Tribunal Superior que será feito um juízo de
admissibilidade definitivo, de forma que o realizado no tribunal inferior não vincula o tribunal
superior. Ensina ainda o autor que, ao rever o juízo de admissibilidade realizado pela Presidência
ou Vice-Presidência do Tribunal, incumbe ao STJ ou STF relevar vícios formais de recursos
tempestivos que não sejam graves, conforme a previsão do artigo 1.029, §3º, em prestígio ao
princípio da primazia de mérito, conforme previsão do artigo 4º do CPC:

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§3º O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar


vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute
grave.

O mencionado autor (Lourenço, 2017, p. 534) menciona que tal expediente somente poderá
ser realizado para recursos tempestivos. Além disso, poderá o presidente ou vice-presidente do
Tribunal recorrido: (inciso I do artigo 1.030 do CPC):
Negar seguimento:

a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal


Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso extraordinário
interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal
Federal exarado no regime de repercussão geral;
b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em
conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos
repetitivos;
Ainda, podem ocorrer as seguintes situações, conforme previsão do inciso II, III e IV do
artigo 1.030:
▪ Encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação, se o
acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão geral ou de
recursos repetitivos;
▪ Sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida
pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de
matéria constitucional ou infraconstitucional;
▪ Selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou
infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036;

§1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V caberá agravo


ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042.
§2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos
termos do art. 1.021.

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Da decisão do Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal Recorrido que inadmitir Recurso


Especial ou Recurso Extraordinário, caberá o Agravo em Recurso Especial ou Extraordinário
(previsto no artigo 1.042 do CPC), salvo quando a decisão que inadmitir estiver fundada na
aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de
recurso repetitivo, que daí caberá agravo interno, conforme previsto no artigo 1.030, §1º do CPC.
No caso de decisão proferida com base nos incisos I e III caberá agravo interno, conforme
previsão do artigo 1.030, §2º do CPC.
Além disso, pode ser necessário interpor um recurso especial e um recurso extraordinário
contra um mesmo acórdão. Não basta interpor um só quando o acórdão ferir tanto norma federal,
quanto norma constitucional. Previsão do artigo 1.031 do CPC:

Art. 1.031. Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso


especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.
§1º Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos ao Supremo
Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se este não estiver
prejudicado.
§2º Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso extraordinário, em
decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo Tribunal
Federal.
§3º Na hipótese do § 2o, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível,
rejeitar a prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o
julgamento do recurso especial.

VER SÚMULA 126 DO STJ: e inadmissível recurso especial, quando o acordão recorrido
assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só,
para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário.
VER SÚMULA 283 DO STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão
recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.
Se apenas um dos recursos for admitido, este segue para o tribunal superior, cabendo ao
recorrente interpor agravo em relação ao que não foi admitido.
Se ambos os recursos forem inadmitidos – deverão ser interpostos dois agravos – cada um
para cada inadmissão – conforme previsão do §6º do artigo 1.042 do CPC, indo primeiro para o
STJ e, após concluído o julgamento do recurso especial, os autos irão para o STF, conforme
previsão do artigo 1.042, §7º e 8º do CPC:

§6º Na hipótese de interposição conjunta de recursos extraordinário e especial, o


agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido.
§7º Havendo apenas um agravo, o recurso será remetido ao tribunal competente, e,
havendo interposição conjunta, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.

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§8º Concluído o julgamento do agravo pelo Superior Tribunal de Justiça e, se for o caso,
do recurso especial, independentemente de pedido, os autos serão remetidos ao Supremo
Tribunal Federal para apreciação do agravo a ele dirigido, salvo se estiver prejudicado.

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15. Julgamento dos Recursos Extraordinário e Especial


Repetitivos (Aula Gravada)

Os recursos especiais e extraordinários repetitivos são abarcados nos artigos 1.036 a 1.041
do CPC e traduzem a adoção de uma técnica a fim de viabilizar a criação de precedentes
vinculantes para serem utilizados como padrões decisórios. (LOURENÇO, 2017, p. 539).
Assim, havendo multiplicidades de recursos especial e extraordinário, com fundamento na
mesma questão de direito, deverá ser aplicada tal técnica, para se permitir um julgamento por
amostragem. (LOURENÇO, 2017, p. 539).
Conforme a doutrina, o incidente pode iniciar tanto pelo PRESIDENTE OU VICE-
PRESIDENTE DO TRIBUNAL RECORRIDO (art. 1.036, §1º) ou no próprio STJ ou STF (art.
1.036, §5º do CPC), ainda verificar a hipótese do artigo 1.036, §1º na hipótese de recurso
extraordinário:
Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais
com fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de
acordo com as disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno
do Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.
§1º O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal
selecionará 2 (dois) ou mais recursos representativos da controvérsia, que serão
encaminhados ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça para fins
de afetação, determinando a suspensão do trâmite de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região, conforme o caso.
§5º O relator em tribunal superior também poderá selecionar 2 (dois) ou mais recursos
representativos da controvérsia para julgamento da questão de direito independentemente
da iniciativa do presidente ou do vice-presidente do tribunal de origem.

VERIFICAR SUMULA 640 DO STF.


Assim, ensina Lourenço (2017, p. 539) que interpostos diversos recursos versando sobre a
mesma questão de direito, a Presidência ou Vice-presidência selecionará DOIS OU MAIS
RECURSOS dentre aqueles que melhor representam as discussões sobre a questão ou que se
apresentem como representativos da controvérsia, para encaminhá-los ao STJ ou STF com o
fim de serem afetados, determinando a suspensão do tramite de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos que tramitem no ESTADO (TJ) OU NA REGIÃO (TRF), conforme o caso,
na forma do artigo 1.036, §1º do CPC.

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Tal escolha não vincula o STJ OU STF (LOURENÇO, 2017, p. 539), podendo o relator de
tais tribunais superiores selecionar outros recursos que melhor representa a controvérsia,
conforme prevê o §4 º do art. 1.036 do CPC:

§4º A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do tribunal de justiça ou do tribunal


regional federal não vinculará o relator no tribunal superior, que poderá selecionar outros
recursos representativos da controvérsia.

Feita a escolha pelo Tribunal recorrido (LOURENÇO, 2017, p. 540), será possível que o
interessado requeira à autoridade que determinou a suspensão a exclusão de recursos
intempestivos, devendo ser ouvido o recorrente no prazo de 05 dias, cabendo de tal decisão
somente agravo interno:

§2º O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente, que exclua da


decisão de sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o recurso extraordinário que
tenha sido interposto intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para
manifestar-se sobre esse requerimento.
§3º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 2º caberá apenas agravo
interno.

Os parâmetros para solucionar os recursos representativos estão no §6º do artigo 1.036 do


CPC:
§6º Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que contenham abrangente
argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.

Ou seja, admissível no sentido do STJ ou STF poder adentrar no mérito, bem como que
permitam o exame aprofundado de todos os argumentos invocados no exame daquelas questões
de direito. (Lourenço, 2017, p. 540).
Uma vez selecionado pelo órgão jurisdicional de origem ou pelo próprio STJ ou STF,
CABERÁ AO RELATOR proferir decisão no sentido de afetar ou não a matéria. Negada a
afetação, tal decisão será comunicada ao Presidente ou Vice-Presidente que tenha enviado os
recursos, para fins de rever sua decisão de sobrestamento, conforme previsão do artigo 1.037 e
§1º: (Lourenço, 2017, p. 540)

Art. 1.037. Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a


presença do pressuposto do caput do art. 1.036, proferirá decisão de afetação, na qual:
I - identificará com precisão a questão a ser submetida a julgamento;
II - determinará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional;
III - poderá requisitar aos presidentes ou aos vice-presidentes dos tribunais de justiça ou
dos tribunais regionais federais a remessa de um recurso representativo da controvérsia.

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§1º Se, após receber os recursos selecionados pelo presidente ou pelo vice-presidente de
tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, não se proceder à afetação, o relator, no
tribunal superior, comunicará o fato ao presidente ou ao vice-presidente que os houver
enviado, para que seja revogada a decisão de suspensão referida no art. 1.036, §1º.

Do sobrestamento serão intimadas as partes, conforme previsão do §8º do art. 1.036 do


CPC:

§8º As partes deverão ser intimadas da decisão de suspensão de seu processo, a ser
proferida pelo respectivo juiz ou relator quando informado da decisão a que se refere o
inciso II do caput.

Assim, o interessado poderá requerer a declaração de que não era para ser suspenso,
estabelecendo uma distinção entre os casos afetados para julgamento repetitivo e o seu caso
concreto. Daí a necessidade de o relator identificar precisamente, o que será julgado sob a
técnica repetitiva (art. 1.037, I do CPC), pois nessa hipótese estará provando que o julgamento
por amostragem não se aplicará ao caso concreto indevidamente suspenso, devendo o feito
tramitar normalmente (LOURENÇO, 2017, p. 540), conforme previsão do §9º:

§ 9º Demonstrando distinção entre a questão a ser decidida no processo e aquela a ser


julgada no recurso especial ou extraordinário afetado, a parte poderá requerer o
prosseguimento do seu processo (BRASIL, 2015).

O requerimento poderá ser formulado ao:

§10. O requerimento a que se refere o § 9o será dirigido:


I - ao juiz, se o processo sobrestado estiver em primeiro grau;
II - ao relator, se o processo sobrestado estiver no tribunal de origem;
III - ao relator do acórdão recorrido, se for sobrestado recurso especial ou recurso
extraordinário no tribunal de origem;
IV - ao relator, no tribunal superior, de recurso especial ou de recurso extraordinário cujo
processamento houver sido sobrestado. (BRASIL, 2015)

Contra tal decisão proferida caberá, conforme o §13º do artigo 1.037 do CPC:

§13. Da decisão que resolver o requerimento a que se refere o §9º caberá:


I - agravo de instrumento, se o processo estiver em primeiro grau;
II - agravo interno, se a decisão for de relator. (BRASIL, 2015)

Conforme ensina Lourenço (2017, p. 541) poderá haver mais de uma decisão de afetação,
sendo prevento o relator que primeiro tiver proferido a decisão. Da mesma forma, proferida a
afetação, o julgamento deverá ocorrer no prazo de 01 ano, tendo preferência sobre os demais
processos, com exceção daqueles envolvendo réus presos e os habeas:

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§3º Havendo mais de uma afetação, será prevento o relator que primeiro tiver proferido a
decisão a que se refere o inciso I do caput.
§4º Os recursos afetados deverão ser julgados no prazo de 1 (um) ano e terão preferência
sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas
corpus. (BRASIL, 2015)

Pontua Lourenço (2017, p. 541) que antes de proferir a decisão poderão ser ouvidos
pessoas, órgãos e entidades que possuem interesse na controvérsia, atuando nessa hipótese
como amicus curiae, consoante disposições do artigo 1.038 do CPC:
Art. 1.038. O relator poderá:
I - solicitar ou admitir manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na
controvérsia, considerando a relevância da matéria e consoante dispuser o regimento
interno;

Além disso, também é possível a realização de audiências públicas, além de requisitar


informações: (incisos II e III do artigo 1.038 do CPC):

II - fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência
e conhecimento na matéria, com a finalidade de instruir o procedimento;
III - requisitar informações aos tribunais inferiores a respeito da controvérsia e, cumprida
a diligência, intimará o Ministério Público para manifestar-se.
§1º No caso do inciso III, os prazos respectivos são de 15 (quinze) dias, e os atos serão
praticados, sempre que possível, por meio eletrônico.
§2º Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais
ministros, haverá inclusão em pauta, devendo ocorrer o julgamento com preferência sobre
os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.
(BRASIL, 2015)

▪ Ver ainda as consequências do julgamento, conforme artigos 1.039, 1.040 e 1.041 do CPC.

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16. Ordem dos Processos no Tribunal

a) Fundamento legal:
Art. 929 e seguintes do CPC.

b) Da ordem dos processos no Tribunal:


O artigo 929 do CPC estabelece regra sobre o registro e distribuição dos autos no Tribunal:
Art. 929. Os autos serão registrados no protocolo do tribunal no dia de sua entrada,
cabendo à secretaria ordená-los, com imediata distribuição.
Parágrafo único. A critério do tribunal, os serviços de protocolo poderão ser
descentralizados, mediante delegação a ofícios de justiça de primeiro grau.
(BRASIL, 2015)

Conforme Medina (2022, p. 1.103) o artigo 929, caput do CPC estabelece sobre a
necessidade de distribuição imediata no âmbito dos Tribunais.

Sobre o parágrafo único do artigo 929 ensinam Didier Júnior e Cunha (2018, p. 41): “os
serviços de protocolo poderão, a critério do tribunal, ser descentralizados, mediante delegação
a ofícios de justiça de primeiro grau (art. 929, par. Ún. do CPC), facilitando o acesso aos tribunais,
sobretudo para os que se localizam em comarcas mais distantes de sua sede”.

O artigo 930 do CPC traz regra sobre a alternatividade e publicidade da distribuição:

Art. 930. Far-se-á a distribuição de acordo com o regimento interno do tribunal,


observando-se a alternatividade, o sorteio eletrônico e a publicidade.

Parágrafo único. O primeiro recurso protocolado no tribunal tornará prevento o relator para
eventual recurso subsequente interposto no mesmo processo ou em processo conexo.
(BRASIL, 2015)

Acerca do artigo 930 do CPC, Didier Junior e Cunha (2018, p. 43) lecionam que a
distribuição deve ser alternada entre os membros do tribunal, observando a igualdade, visando
assim uma equânime divisão do trabalho. Além disso, a publicidade da distribuição consagra o
princípio constitucional da publicidade.

Comentando o artigo 930 do CPC, Medina (2022, p. 1.104) ensina que a alternatividade
da distribuição possibilita a isonomia, devendo ser dada a publicidade. A distribuição será
realizada por sorteio eletrônico, sendo que as regras regimentais devem observar tais princípios.

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Sobre a prevenção ainda ensina o autor: “Com a primeira distribuição dá-se a prevenção,
fixando-se a competência do órgão colegiado e do relator, para recurso subsequente, que a eles
serão atribuídos (ou, como se costuma dizer, distribuídos por prevenção)”. (MEDINA, 2022, p.
1.104)

Da mesma forma Didier Junior e Cunha (2018, p. 43): “como o tribunal é, essencialmente,
um órgão colegiado, a distribuição desponta como um ato importantíssimo. É pela distribuição
que se define se o processo deverá encaminhar-se ao pleno ou a algum outro órgão do tribunal,
estabelecendo, ainda, quem será o relator”.

c) Da conclusão ao relator:
O artigo 931 do CPC estabelece a regra que, uma vez distribuídos, os autos serão
imediatamente conclusos ao relator:

Art. 931. Distribuídos, os autos serão imediatamente conclusos


ao relator, que, em 30 (trinta) dias, depois de elaborar o voto, restituí-los-á, com relatório,
à secretaria. (BRASIL, 2015)
O que o artigo prevê é que os autos devem ser encaminhados de imediato ao relator, e
o artigo 931 do CPC “estabelece prazo de trinta dias para que o relator elabore seu voto e restitua
os autos com relatório à secretaria. (...)”. (MEDINA, 2002, p. 1.105)

d) Poderes do relator:
O artigo 932 do CPC traz uma série de condutas que incumbem ao relator no âmbito dos
tribunais. Conforme ensinam Didier Junior e Cunha (2018, p. 59) “para que possa cumprir a sua
função, ao relator atribui-se uma série de poderes. Há poderes de toda natureza: ordenação e
gestão do processo, instrutório e decisório. Esses poderes estão espalhados ao longo do Código,
em diversos dispositivos. O art. 932 é o mais importante, pois nele se concentra boa parte desses
poderes. Mas o art. 932 do CPC não exaure os poderes do relator”.

Art. 932. Incumbe ao relator:


I - dirigir e ordenar o processo no tribunal, inclusive em relação à produção de prova, bem
como, quando for o caso, homologar autocomposição das partes;
II - apreciar o pedido de tutela provisória nos recursos e nos processos de competência
originária do tribunal;
III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida;
IV - negar provimento a recurso que for contrário a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça
em julgamento de recursos repetitivos;

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c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de


assunção de competência;
V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a
decisão recorrida for contrária a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça
em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
VI - decidir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, quando este for
instaurado originariamente perante o tribunal;
VII - determinar a intimação do Ministério Público, quando for o caso;
VIII - exercer outras atribuições estabelecidas no regimento interno do tribunal.
Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo
de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a
documentação exigível. (BRASIL, 2015)

No que tange ao inciso I do artigo 932 do CPC, “ao relator incumbe a direção formal e
material do processo, no Tribunal”. (MEDINA, 2022, p. 1.105). Deve o relator dirigir e ordenar o
processo no tribunal, inclusive no que se refere à produção de prova, bem como, quando for o
caso, homologar autocomposição das partes.

O inciso II do artigo 932 diz que incumbe ao relator apreciar o pedido de tutela provisória
realizado em recurso ou nas ações de competência originária dos Tribunais.

O inciso III do artigo 932 se refere ao juízo de admissibilidade a ser realizado pelo relator
nos recursos, podendo não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha
impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida.

Além disso, de acordo com o inciso IV do artigo 932 do CPC, é permitido ao relator negar
provimento ao recurso, quando o próprio recurso for contrário a a) súmula do Supremo Tribunal
Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo
Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência.

Já o inciso V do artigo 932 do CPC permite que o relator dê provimento ao recurso,


quando a próprio DECISÃO RECORRIDA for contrária à a) súmula do Supremo Tribunal Federal,
do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo
Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c)

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entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de


competência.

Salienta Medina (2022, p. 1.108) que o provimento do recurso pelo relator “só é
admissível, diz a lei processual, depois de facultada a apresentação de contrarrazões. Tal
disposição encontra-se em conformidade com o princípio do contraditório.

Ainda, conforme o inciso VI do artigo 932 do CPC incumbe ao relator decidir o incidente
de desconsideração da personalidade jurídica, quando este for instaurado originariamente
perante o tribunal, bem como na forma do inciso VII do artigo 932, determinar a intimação do
Ministério Público, quando for o caso, e, ainda, exercer outras atribuições estabelecidas no
regimento interno do tribunal.

Por fim, quanto ao parágrafo único do artigo 932 do CPC, Didier Junior e Cunha (2018,
p. 64) referem que “traz regra que concretiza dois princípios do processo civil brasileiro: primazia
da decisão de mérito (art. 4º, CPC) e cooperação (art. 6º, CPC). Determina o dispositivo que,
antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 dias ao recorrente
para que seja sanado o vício ou complementada a documentação exigível, desde que o vício
seja sanável”.

O artigo 933 faz referencia sobre fato superveniente à decisão recorrida ou existência de
questão apreciável de ofício, nos seguintes termos:

Art. 933. Se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida ou


a existência de questão apreciável de ofício ainda não examinada que devam ser
considerados no julgamento do recurso, intimará as partes para que se manifestem no
prazo de 5 (cinco) dias.
§ 1º Se a constatação ocorrer durante a sessão de julgamento, esse será imediatamente
suspenso a fim de que as partes se manifestem especificamente.
§ 2º Se a constatação se der em vista dos autos, deverá o juiz que a solicitou encaminhá-
los ao relator, que tomará as providências previstas no caput e, em seguida, solicitará a
inclusão do feito em pauta para prosseguimento do julgamento, com submissão integral
da nova questão aos julgadores. (BRASIL, 2015)

Sobre o aludido dispositivo Medina (2022, p. 1.110) ensina que “notando-se ter ocorrido
fato superveniente à decisão recorrida, deverá o Tribunal manifestar-se, a respeito. (...) Antes de
decidir a respeito, deverá o órgão jurisdicional das às partes oportunidade para se manifestar.
(...) Logo, deduz-se que o propósito da lei é que as partes tenham prazo para se manifestar nos
autos, por escrito, nos termos descritos no caput do mesmo artigo, isto é, no prazo de 05 dias.

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Seguindo as disposições do CPC, o artigo 934 estabelece: “ Art. 934. Em seguida, os


autos serão apresentados ao presidente, que designará dia para julgamento, ordenando, em
todas as hipóteses previstas neste Livro, a publicação da pauta no órgão oficial”.

Sobre o aludido dispositivo, Medina (2022, p. 1.110) ensina que “após a devolução dos
autos pelo relato à secretaria (art. 931 do CPC/2015), estes são apresentados ao presidente,
que designa o dia de julgamento e a publicação da pauta no órgão oficial (art. 934 do CPC/2015),
observando o que dispõe o art. 935 do CPC”.

O artigo 935 do CPC prevê sobre a publicação da pauta:

Art. 935. Entre a data de publicação da pauta e a da sessão de julgamento decorrerá,


pelo menos, o prazo de 5 (cinco) dias, incluindo-se em nova pauta os processos que não
tenham sido julgados, salvo aqueles cujo julgamento tiver sido expressamente adiado para
a primeira sessão seguinte.
§ 1º Às partes será permitida vista dos autos em cartório após a publicação da pauta de
julgamento.
§ 2º Afixar-se-á a pauta na entrada da sala em que se realizar a sessão de julgamento.
(BRASIL, 2015)

Assim, o que prevê o artigo 935 do CPC é a regra que entre a data de publicação da
pauta e a data da sessão de julgamento, decorrerá no mínimo o prazo de 05 dias. Conforme
ensina Medina (2022, p. 1.111) “viola o devido processo legal, caso não haja publicação prévia
da pauta”. Ainda, “de acordo com o art. 935, caput, devem ser incluídos em nova pauta os
processos que não tenham sido julgados, salvo aqueles cujo julgamento tiver sido
expressamente adiado para a primeira sessão seguinte”.

No artigo 936 do CPC está a previsão acerca da ordem de preferência dos julgamentos:

Art. 936. Ressalvadas as preferências legais e regimentais, os recursos, a remessa


necessária e os processos de competência originária serão julgados na seguinte ordem:
I - aqueles nos quais houver sustentação oral, observada a ordem dos requerimentos;
II - os requerimentos de preferência apresentados até o início da sessão de julgamento;
III - aqueles cujo julgamento tenha iniciado em sessão anterior; e
IV - os demais casos. (BRASIL, 2015)

De acordo com o artigo 936, os recursos, a remessa necessária e os processos de


competência originária, devem ser julgados na ordem do artigo 936, ressalvadas as preferencias
legais e regimentais.

Sobre a possibilidade de sustentação oral, o artigo 937 do CPC traz a seguinte previsão:

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Art. 937. Na sessão de julgamento, depois da exposição da causa pelo relator, o


presidente dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente, ao recorrido e, nos casos de
sua intervenção, ao membro do Ministério Público, pelo prazo improrrogável de 15 (quinze)
minutos para cada um, a fim de sustentarem suas razões, nas seguintes hipóteses, nos
termos da parte final do caput do art. 1.021 :
I - no recurso de apelação;
II - no recurso ordinário;
III - no recurso especial;
IV - no recurso extraordinário;
V - nos embargos de divergência;
VI - na ação rescisória, no mandado de segurança e na reclamação;
VII - (VETADO);
VIII - no agravo de instrumento interposto contra decisões interlocutórias que versem sobre
tutelas provisórias de urgência ou da evidência;
IX - em outras hipóteses previstas em lei ou no regimento interno do tribunal.
§ 1º A sustentação oral no incidente de resolução de demandas repetitivas observará o
disposto no art. 984 , no que couber.
§ 2º O procurador que desejar proferir sustentação oral poderá requerer, até o início da
sessão, que o processo seja julgado em primeiro lugar, sem prejuízo das preferências
legais.
§ 3º Nos processos de competência originária previstos no inciso VI, caberá sustentação
oral no agravo interno interposto contra decisão de relator que o extinga.
§ 4º É permitido ao advogado com domicílio profissional em cidade diversa daquela onde
está sediado o tribunal realizar sustentação oral por meio de videoconferência ou outro
recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que o
requeira até o dia anterior ao da sessão. (BRASIL, 2015)

Sobre o direito de sustentação oral, Medina (2022, p. 1.113) ensina que “o direito à
sustentação oral em sessões de julgamento nos tribunais é manifestação do direito de influir
decisivamente no resultado do processo, também visto como manifestação do princípio do
contraditório”.
Ainda, importante destacar que no caso de interesse em realizar a sustentação oral de
forma presencial deverá requerer até o início da sessão de julgamento, a fim de que o caso seja
julgado de forma preferencial em relação aos demais.

e) Da questão preliminar:

Previsão do artigo 938 do CPC:

Art. 938. A questão preliminar suscitada no julgamento será decidida antes do mérito,
deste não se conhecendo caso seja incompatível com a decisão.
§ 1º Constatada a ocorrência de vício sanável, inclusive aquele que possa ser conhecido
de ofício, o relator determinará a realização ou a renovação do ato processual, no próprio
tribunal ou em primeiro grau de jurisdição, intimadas as partes.
§ 2º Cumprida a diligência de que trata o § 1º, o relator, sempre que possível, prosseguirá
no julgamento do recurso.
§ 3º Reconhecida a necessidade de produção de prova, o relator converterá o julgamento
em diligência, que se realizará no tribunal ou em primeiro grau de jurisdição, decidindo-se
o recurso após a conclusão da instrução.

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§ 4º Quando não determinadas pelo relator, as providências indicadas nos §§ 1º e 3º


poderão ser determinadas pelo órgão competente para julgamento do recurso. (BRASIL,
2015)

O artigo 938 faz referencia à existência de eventual questão preliminar. Sobre o aludido
dispositivo ensina Medina (2022, p. 1.115):

Antes de julgar o mérito, deverá o relator (ou o órgão colegiado respectivo, §4º do art. 938
do CPC/2015) identificar se há alguma questão preliminar a ser resolvida. Não se
conhecerá do mérito, caso sua análise seja incompatível com o que se tiver decidido, em
relação à questão preliminar. Deve-se, porém, antes de se não se conhecer do recurso
(juízo de admissibilidade negativo), verificar se sua correção ou saneamento de outro vício
processual que impeça o exame do mérito é possível. Rejeitada a preliminar ou não sendo
ela incompatível com o mérito, seguir-se-á o julgamento, com o exame da questão
principal.

Medina (2022, p. 1.115) refere que com base nos §§1º e 2º do artigo 938 do CPC, adota-
se como princípio de que não apenas os vícios processuais em geral, mas também os vícios que
podem impedir a admissibilidade do recurso, devem ser sempre que possível, sanados.

Por sua vez, o artigo 939 do CPC traz disposição sobre o julgamento do mérito do
recurso:

Art. 939. Se a preliminar for rejeitada ou se a apreciação do mérito for com ela compatível,
seguir-se-ão a discussão e o julgamento da matéria principal, sobre a qual deverão se
pronunciar os juízes vencidos na preliminar. (BRASIL, 2015)

Vai haver o julgamento da matéria principal, caso a preliminar tenha sido rejeitada ou se
a apreciação do mérito for com ela compatível.

O artigo 940 estabelece regra sobre pedido de vista e prosseguimento do julgamento:

Art. 940. O relator ou outro juiz que não se considerar habilitado a proferir imediatamente
seu voto poderá solicitar vista pelo prazo máximo de 10 (dez) dias, após o qual o recurso
será reincluído em pauta para julgamento na sessão seguinte à data da devolução.
§ 1º Se os autos não forem devolvidos tempestivamente ou se não for solicitada pelo juiz
prorrogação de prazo de no máximo mais 10 (dez) dias, o presidente do órgão fracionário
os requisitará para julgamento do recurso na sessão ordinária subsequente, com
publicação da pauta em que for incluído.
§ 2º Quando requisitar os autos na forma do § 1º, se aquele que fez o pedido de vista
ainda não se sentir habilitado a votar, o presidente convocará substituto para proferir voto,
na forma estabelecida no regimento interno do tribunal. (BRASIL, 2015)
Consoante ensina Medina (2022, p. 1.116) os votos do relator e demais julgadores do
órgão colegiado são de regra proferidos na mesma sessão de julgamento. Porém, pode ocorrer,
que um dos julgadores não se considere habilitado a votar desde logo, podendo, desta forma,
solicitar vistas pelo prazo de 10 dias. Devolvido os autos, o recurso será reincluído em pauta.

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Pode inclusive o julgador que pediu vista requerer prorrogação do prazo por mais 10 dias, findo
os quais, o presidente do órgão requisitará os autos.
Por fim, conforme o §2º do artigo 940, caso o julgador que pediu vista ainda não se
considerar habilitado para julgar, o presidente do órgão convocará substituto para proferir voto.
(MEDINA, 2022, p. 1.116)

Proferidos os votos, observa-se a previsão do artigo 941 do CPC:

Art. 941. Proferidos os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento,


designando para redigir o acórdão o relator ou, se vencido este, o autor do primeiro voto
vencedor.
§ 1º O voto poderá ser alterado até o momento da proclamação do resultado pelo
presidente, salvo aquele já proferido por juiz afastado ou substituído.
§ 2º No julgamento de apelação ou de agravo de instrumento, a decisão será tomada, no
órgão colegiado, pelo voto de 3 (três) juízes.
§ 3º O voto vencido será necessariamente declarado e considerado parte integrante do
acórdão para todos os fins legais, inclusive de pré-questionamento. (BRASIL, 2022)

Ao comentar o artigo 941, Medina (2022, p. 1.116) refere que “o direito brasileiro adota
o princípio da colegialidade. (...) À luz desse mesmo princípio, tem-se que as decisões proferidas
pelos tribunais devem, tanto quanto possível, resultar de manifestação do órgão colegiado, o que
impõe a adoção de práticas tendentes a que haja coesão entre as manifestações proferidas pelos
membros desse órgão. Isso não significa, necessariamente, que as manifestações oriundas dos
órgãos colegiados dos tribunais devam ser, necessariamente, unanimes – ainda que isso seja
desejável”.

f) Do registro dos atos processuais:

O artigo 943 do CPC assim estabelece:


Art. 943. Os votos, os acórdãos e os demais atos processuais podem ser registrados em
documento eletrônico inviolável e assinados eletronicamente, na forma da lei, devendo ser
impressos para juntada aos autos do processo quando este não for eletrônico.
§ 1º Todo acórdão conterá ementa.
§ 2º Lavrado o acórdão, sua ementa será publicada no órgão oficial no prazo de 10 (dez)
dias. (BRASIL, 2015)

Ao dispor sobre o artigo 943 do CPC, Medina (2022, p. 1.122) ensina que “os atos
processuais realizados no Tribunal, dentre os quais encontram-se os votos e os acórdãos, podem
ser registrados em documento eletrônico. (...) É necessário que se lavre acórdão e que dele
conste ementa, isso é, a síntese do que foi julgado, que será publicada no órgão oficial. A ementa
deve ser publicada em 10 dias”.

Por fim, observa-se a previsão do artigo 944 do CPC:

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Art. 944. Não publicado o acórdão no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data da sessão
de julgamento, as notas taquigráficas o substituirão, para todos os fins legais,
independentemente de revisão.
Parágrafo único. No caso do caput, o presidente do tribunal lavrará, de imediato, as
conclusões e a ementa e mandará publicar o acórdão. (BRASIL, 2015)

g) Do julgamento do agravo e da apelação:


Caso haja a interposição do recurso de agravo de instrumento e apelação no mesmo
processo, observar-se-á a previsão do artigo 946 do CPC:

Art. 946. O agravo de instrumento será julgado antes da apelação interposta no mesmo
processo.
Parágrafo único. Se ambos os recursos de que trata o caput houverem de ser julgados na
mesma sessão, terá precedência o agravo de instrumento.(BRASIL, 2015)

Assim, o agravo de instrumento deverá em princípio ser julgado antes do recurso de


apelação interposto no mesmo processo. E, se porventura, ambos os recursos devam ser
julgados na mesma sessão, primeiro se julga o agravo de instrumento.

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17. Da Técnica de Julgamento prevista no Art. 942 do CPC

Conforme entendimento de Lourenço (2017, p. 515), o artigo 942 do CPC cria inovadora
técnica de julgamento com o propósito bem semelhante dos embargos infringentes (que não
existem mais no novo CPC), mas com natureza jurídica de um incidente processual, não de
recurso, o qual será instaurado, inclusive, independentemente de provocação das partes, o
que ocasionará um aumento no número de julgadores almejando uma maior segurança.
Hipóteses de aplicação: Previsão do artigo 942 e §3º do CPC:

Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá
prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que
serão convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em número
suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às
partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os
novos julgadores.
§3º A técnica de julgamento prevista neste artigo aplica-se, igualmente, ao julgamento não
unânime proferido em:
I - ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, devendo, nesse caso,
seu prosseguimento ocorrer em órgão de maior composição previsto no regimento interno;
II - agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar parcialmente o
mérito. (BRASIL, 2015)

Então, conforme Lourenço (2017, p. 516) as possibilidades para o cabimento da técnica de


julgamento do artigo 942:
1) Não sendo unânime o julgamento da apelação, o julgamento terá prosseguimento
em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos
termos previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a
possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o
direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores.
2) Não sendo unânime o julgamento da ação rescisória, quando o resultado for a
rescisão da sentença, devendo, nesse caso, seu prosseguimento ocorrer em órgão de maior
composição previsto no regimento interno.
3) No julgamento não unanime no agravo de instrumento, quando houver reforma da
decisão que julgar parcialmente o mérito. Neste caso, Lourenço (2017, p. 516) cita como exemplo
as hipóteses do art. 354, parágrafo único e 356, §5º do CPC.

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PORÉM, EXISTEM SITUAÇÕES EM QUE NÃO SE ADMITE A TÉCNICA DO ARTIGO 942 DO


CPC.
Previsão do artigo 942, §4º do CPC:

§ 4º Não se aplica o disposto neste artigo ao julgamento:


I - do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;
II - da remessa necessária;
III - não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.

No caso da remessa necessária ver ainda a Súmula 390 do STJ;


Ver, ainda, enunciado 552 do FPPC: 552. (art. 942; Lei n.º 9.099/1995) Não se aplica a
técnica de ampliação do colegiado em caso de julgamento não unânime no âmbito dos Juizados
Especiais. (Grupo: Impacto nos Juizados e nos procedimentos especiais da legislação
extravagante)
POSSIBILIDADE DE REVISÃO DO VOTO JÁ PROFERIDO: Conforme previsão do §2º do
artigo 942 do CPC, o relator que já tiver proferido seu voto, poderá rever em razão do
prosseguimento do julgamento final.

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18. Incidente de Assunção de Competência/IAC

18.1 Fundamento legal:


Art. 947 do CPC;

18.2 Cabimento:

Art. 947. É admissível a assunção de competência quando o julgamento de recurso, de


remessa necessária ou de processo de competência originária envolver relevante questão
de direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos.
§ 1º Ocorrendo a hipótese de assunção de competência, o relator proporá, de ofício ou a
requerimento da parte, do Ministério Público ou da Defensoria Pública, que seja o recurso,
a remessa necessária ou o processo de competência originária julgado pelo órgão
colegiado que o regimento indicar.
§ 2º O órgão colegiado julgará o recurso, a remessa necessária ou o processo de
competência originária se reconhecer interesse público na assunção de competência.
§ 3º O acórdão proferido em assunção de competência vinculará todos os juízes e órgãos
fracionários, exceto se houver revisão de tese.
§ 4º Aplica-se o disposto neste artigo quando ocorrer relevante questão de direito a
respeito da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre
câmaras ou turmas do tribunal. (BRASIL, 2015)

Estabelecido no artigo 947 do CPC: “É admissível a assunção de competência quando


o julgamento de recurso, de remessa necessária ou de processo de competência originária
envolver relevante questão de direito, com grande repercussão social, sem repetição em
múltiplos processos”.
Quanto ao cabimento do Incidente de Assunção de Competência ensina Medina (2022,
p. 1.125) este é admitido quando a questão de direito pelo fato de ter grande relevância social
não se repetir em múltiplos processos.
Segundo Medina (2022, p. 1.125) “o incidente de assunção de competência proposto em
qualquer recurso (assim como em remessa necessária) ou processo de competência originária,
logo em qualquer tribunal, ex officio ou por provocação cf. §1º do art. 947 do CPC)”.
Também comentando acerca do IAC, Didier Junior e Cunha (2018, p. 775) referem que
o “incidente de assunção de competência é admissível em qualquer causa que tramite no
tribunal. Não é sem razão, aliás, que o art. 947 do CPC estabelece ser ele admissível ‘quando o
julgamento de recurso, da remessa necessária ou de processo de competência originária’
envolver relevante questão de direito, com grande repercussão geral, sem repetição em múltiplos
processos”.

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Como requisito para a instauração do incidente Didier Junior e Cunha (2018, p. 783)
ensinam o artigo 947 traz como pressuposto a existência de relevante questão de direito. Essa
questão de direito além de relevante, pode ser de direito material ou de direito processual, de
forma a transferir o julgamento para um órgão de maior composição que, ao julgar caso, irá firmar
um precedente obrigatório. Complementam:

Não basta, porém, que a questão seja relevante. É preciso, ainda, que haja grande
repercussão social. (...) Ao lado disso, há também um pressuposto negativo. Não cabe o
incidente de assunção de competência se houver repetição da discussão em múltiplos
processos. A existência de múltiplos processos convoca a instauração de instrumentos
destinados ao julgamento de causas repetitivas, que compreendem o incidente de
resolução de demandas repetitivas ou os recursos repetitivos. (...)

Segundo Führer & Führer (2016, p. 186) o mesmo pode ocorrer sempre que seja
conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre órgãos do mesmo tribunal,
conforme previsão do §4º do artigo 947 do CPC:

§4º Aplica-se o disposto neste artigo quando ocorrer relevante questão de direito a respeito
da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre câmaras ou
turmas do tribunal.

18.3 Procedimento:
O incidente tem início por proposta do relator, de ofício ou mediante requerimento da
parte ou do Ministério Público, para que o feito seja remetido para julgamento pelo órgão
colegiado que o Regimento Interno do tribunal indicar. (FÜHRER & FÜHRER, 2016, p. 186).
Previsão do §1º do artigo 947 do CPC:

§1º Ocorrendo a hipótese de assunção de competência, o relator proporá, de ofício ou a


requerimento da parte, do Ministério Público ou da Defensoria Pública, que seja o recurso,
a remessa necessária ou o processo de competência originária julgado pelo órgão
colegiado que o regimento indicar.

Conforme ensina Medina (2022, p. 1.125) o julgamento proferido com base no incidente
de assunção de competência vinculará todos os juízos e órgãos fracionários, exceto se houver
revisão de tese, inclusive cabendo reclamação contra a decisão que não respeitar, consoante
artigo 988, inciso IV do CPC.
Sobre o incidente, Diddier Junior e Cunha (2018, p. 786-787) referem que “o incidente
de assunção de competência provoca a transferência da competência. O recurso, a remessa

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necessária ou o processo de competência originária, que seria julgado por um órgão fracionário,
passará, em razão da assunção de competência, a ser julgado por um órgão de maior
composição, indicado no regimento interno (...)”.

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19. Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade

a) Fundamento legal:
Previsão dos artigos 948 a 950 do CPC.

b) Conceito e procedimento:
Para explicar o incidente de arguição de inconstitucionalidade, Medina (2022, p. 1.126)
faz referência ao artigo 97 da CF, que traz:

Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do
respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo do Poder Público. (BRASIL, 1988)

Segundo Medina (2022, p. 1.126) tal regra constitucional afirma o princípio da presunção
de validade dos atos normativos, sendo que tal somente poderia ser desfeita nos termos do artigo
97 da CF. Logo, conforme ensina o autor “os artigos 948 a 950 do CPC/2015 dispõem sobre o
procedimento a ser observado a fim de que se concretize o comando previsto no art. 947 da
Constituição. O incidente de arguição de inconstitucionalidade tem lugar quando se alegar,
incidentalmente, a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo (evidentemente, não tem lugar o
incidente, em se tratando de controle concentrado de constitucionalidade (...)”.
No mesmo sentido, lecionam Didier Junior e Cunha (2018, p. 793): “trata-se de regra que
estabelece um quórum qualificado para o reconhecimento da inconstitucionalidade no âmbito
dos tribunais (...)”. O incidente de arguição de inconstitucionalidade em tribunal é o meio
processual previsto para regulamentar esse dispositivo constitucional. Esse incidente serve ao
controle difuso de constitucionalidade (art. 948, CPC) e aplica-se em todos os tribunais
brasileiros”.
Verifica-se a previsão do artigo 948 do CPC:
Art. 948. Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo
do poder público, o relator, após ouvir o Ministério Público e as partes, submeterá a
questão à turma ou à câmara à qual competir o conhecimento do processo. (BRASIL,
2015)

O artigo 949 do CPC estabelece se a arguição for admitida ou rejeitada:

Art. 949. Se a arguição for:


I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão especial,
onde houver.

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Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao


órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento
destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão. (BRASIL, 2015)

O artigo 950 do CPC estabelece por sua vez acerca do julgamento do incidente de
arguição de inconstitucionalidade:

Art. 950. Remetida cópia do acórdão a todos os juízes, o presidente do tribunal designará
a sessão de julgamento.
§ 1º As pessoas jurídicas de direito público responsáveis pela edição do ato questionado
poderão manifestar-se no incidente de inconstitucionalidade se assim o requererem,
observados os prazos e as condições previstos no regimento interno do tribunal.
§ 2º A parte legitimada à propositura das ações previstas no art. 103 da Constituição
Federal poderá manifestar-se, por escrito, sobre a questão constitucional objeto de
apreciação, no prazo previsto pelo regimento interno, sendo-lhe assegurado o direito de
apresentar memoriais ou de requerer a juntada de documentos.
§ 3º Considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, o
relator poderá admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou
entidades. (BRASIL, 2015)

No que tange ao julgamento do incidente, Medina (2022, p. 1.130) ensina: “o julgamento


do incidente observará o procedimento previsto no art. 950 do CPC/2015, que admite a
manifestação dos entes responsáveis pelo ato normativo questionado, dos legitimados para a
propositura de ação direta de inconstitucionalidade ou declaratória de inconstitucionalidade e de
outros órgãos ou entidades, como amici curiae (cf. §§1º a 3º do art. 950 do CPC/2015)”.
Complementa Medina (2022, p. 1.130) que decidido o incidente de arguição de
inconstitucionalidade pelo órgão competente, a solução encontrada será observada pelo órgão
fracionário perante o qual a questão foi arguida, havendo prosseguimento do feito.

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20. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas

a) Fundamento legal:
Art. 976 a 987 do CPC.

b) Do cabimento:
Previsão do artigo 976 do CPC:

Art. 976. É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas


quando houver, simultaneamente:
I - efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão
unicamente de direito;
II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.
§ 1º A desistência ou o abandono do processo não impede o exame de mérito do incidente.
§ 2º Se não for o requerente, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no incidente e
deverá assumir sua titularidade em caso de desistência ou de abandono.
§ 3º A inadmissão do incidente de resolução de demandas repetitivas por ausência de
qualquer de seus pressupostos de admissibilidade não impede que, uma vez satisfeito o
requisito, seja o incidente novamente suscitado.
§ 4º É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos tribunais
superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para
definição de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.
§ 5º Não serão exigidas custas processuais no incidente de resolução de demandas
repetitivas. (BRASIL, 2015)

Sobre a definição do incidente de resolução de demanda repetitiva, ensina Medina


(2022, p. 1.175): “trata-se de instituto sui generis, plasma-se como incidente, não sendo recurso,
nem ação; não serve, diretamente, ao interesse dos litigantes (embora também estes podem
pedir sua instauração); mas à concretização da segurança jurídica, evitando instabilidade e
proporcionando previsibilidade”.
Continua o autor sobre o cabimento do IRDR: “O incidente é cabível quando a mesma
questão for objeto de controvérsia (art. 976, I do CPC/2015) em grande quantidade de processos.
Para que se possa dizer que a questão é a mesma, em muitos processos, é necessário que
sejam elas idênticas, e não apenas semelhante. É indispensável que uma mesma solução seja
uniformemente aplicável, em todos os processos, por tratar-se da mesma questão”. (MEDINA,
2022, p. 1.176-1.177)
Importante mencionar, considerando as disposições do artigo 976 do CPC, que a solução
da questão que permite o cabimento do Incidente deve dizer respeito a grande número de
processos, em que a questão de direito se repete, de modo que havendo solução diversa em

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cada um desses processos restaria ofendida a segurança e a isonomia jurídica. (MEDINA, 2022,
p. 1.177)
c) o pedido de instauração do incidente:

Art. 977. O pedido de instauração do incidente será dirigido ao presidente de tribunal:


I - pelo juiz ou relator, por ofício;
II - pelas partes, por petição;
III - pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, por petição.
Parágrafo único. O ofício ou a petição será instruído com os documentos necessários à
demonstração do preenchimento dos pressupostos para a instauração do incidente.
(BRASIL, 2015)

Segundo ensina Medina (2022, p. 1.178) podem requerer a instauração do incidente de


resolução de demandas repetitivas: o juiz ou relator, de ofício, as partes, o Ministério Público ou
a Defensoria Pública, sendo que as partes, o Ministério Público e a Defensoria Pública farão por
petição. “O ofício ou a petição são endereçados ao tribunal competente (cf. art. 981 do
CPC/2015). O parágrafo único do artigo 976 ainda menciona que o ofício ou a petição devem ser
instruídos com os documentos necessários para a demonstração dos requisitos para a
instauração do incidente.

d) Competência para julgamento do incidente:

Art. 978. O julgamento do incidente caberá ao órgão indicado pelo regimento interno dentre
aqueles responsáveis pela uniformização de jurisprudência do tribunal.
Parágrafo único. O órgão colegiado incumbido de julgar o incidente e de fixar a tese
jurídica julgará igualmente o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência
originária de onde se originou o incidente. (BRASIL, 2015)

O artigo 978, caput do CPC estabelece que o IRDR deve ser julgado pelo órgão
responsável pela uniformização de jurisprudência o tribunal.

e) Da publicidade:
Previsão do artigo 979 do CPC:

Art. 979. A instauração e o julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla e


específica divulgação e publicidade, por meio de registro eletrônico no Conselho Nacional
de Justiça.
§ 1º Os tribunais manterão banco eletrônico de dados atualizados com informações
específicas sobre questões de direito submetidas ao incidente, comunicando-o
imediatamente ao Conselho Nacional de Justiça para inclusão no cadastro.
§ 2º Para possibilitar a identificação dos processos abrangidos pela decisão do incidente,
o registro eletrônico das teses jurídicas constantes do cadastro conterá, no mínimo, os
fundamentos determinantes da decisão e os dispositivos normativos a ela relacionados.

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§ 3º Aplica-se o disposto neste artigo ao julgamento de recursos repetitivos e da


repercussão geral em recurso extraordinário. (BRASIL, 2015)

O artigo 979 do CPC estabelece a publicidade do julgamento do incidente, para o fim de


viabilizar o conhecimento de todos aqueles que, de alguma forma possam ser afetados pela
decisão. Medina (2022, p. 1.179) ensina ainda que a publicidade permite ainda a participação de
pessoas que possam de alguma forma contribuir com a solução da questão.

f) Prazo para julgamento do incidente:

Art. 980. O incidente será julgado no prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os
demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus .
Parágrafo único. Superado o prazo previsto no caput , cessa a suspensão dos processos
prevista no art. 982 , salvo decisão fundamentada do relator em sentido contrário.
(BRASIL, 2015)

Conforme ensina Medina (2022, p. 1.186) justifica que o incidente terá preferencia de
julgamento em razão da ampla repercussão que terá, em relação aos demais processos em que
a questão se repetir. Ainda, o referido incidente deverá ser julgado no prazo de 01 ano. Passado
o prazo, cessa, em princípio, a suspensão dos processos consoante previsão do artigo 982 do
CPC. Porém, a manutenção da suspensão poderá ser determinada pelo relator, por decisão
fundamentada, de acordo com o parágrafo único do artigo 980 do CPC.

g) Da admissibilidade do incidente:
O artigo 981 do CPC fala sobre o juízo de admissibilidade do incidente:

Art. 981. Após a distribuição, o órgão colegiado competente para julgar o incidente
procederá ao seu juízo de admissibilidade, considerando a presença dos pressupostos do
art. 976. (BRASIL, 2015)

Sobre o juízo de admissibilidade do Incidente, Medina (2022, p. 1.180) refere que o


exame de admissibilidade será feito pelo órgão colegiado e não pelo relator de forma
monocrática.
O artigo 982 do CPC menciona sobre as consequências da admissão do incidente:

Art. 982. Admitido o incidente, o relator:


I - suspenderá os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado
ou na região, conforme o caso;
II - poderá requisitar informações a órgãos em cujo juízo tramita processo no qual se
discute o objeto do incidente, que as prestarão no prazo de 15 (quinze) dias;
III - intimará o Ministério Público para, querendo, manifestar-se no prazo de 15 (quinze)
dias.

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§ 1º A suspensão será comunicada aos órgãos jurisdicionais competentes.


§ 2º Durante a suspensão, o pedido de tutela de urgência deverá ser dirigido ao juízo onde
tramita o processo suspenso.
§ 3º Visando à garantia da segurança jurídica, qualquer legitimado mencionado no art.
977, incisos II e III , poderá requerer, ao tribunal competente para conhecer do recurso
extraordinário ou especial, a suspensão de todos os processos individuais ou coletivos em
curso no território nacional que versem sobre a questão objeto do incidente já instaurado.
§ 4º Independentemente dos limites da competência territorial, a parte no processo em
curso no qual se discuta a mesma questão objeto do incidente é legitimada para requerer
a providência prevista no § 3º deste artigo.
§ 5º Cessa a suspensão a que se refere o inciso I do caput deste artigo se não for
interposto recurso especial ou recurso extraordinário contra a decisão proferida no
incidente. (BRASIL, 2015)

Uma vez admitido o incidente, o relator deliberará sobre a suspensão dos processos
pendentes, nos quais poderá vir a ser adotada a tese firmada no IRDR.
Outra conduta a ser tomada pelo relator é a contida no artigo 983 do CPC:

Art. 983. O relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos e
entidades com interesse na controvérsia, que, no prazo comum de 15 (quinze) dias,
poderão requerer a juntada de documentos, bem como as diligências necessárias para a
elucidação da questão de direito controvertida, e, em seguida, manifestar-se-á o Ministério
Público, no mesmo prazo.
§ 1º Para instruir o incidente, o relator poderá designar data para, em audiência pública,
ouvir depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento na matéria.
§ 2º Concluídas as diligências, o relator solicitará dia para o julgamento do incidente.
(BRASIL, 2015)

No que tange à previsão do artigo 983 do CPC, Medina (2022, p. 1.182) aduz que antes
de o incidente ser decidido, deve ser dada a ampla publicidade referida no artigo 979 do CPC,
“sendo imprescindível que se levem em consideração todos os argumentos suscitados não
apenas pelas partes, mas, também, por pessoas que podem contribuir para que seja dada
solução segura à questão. Por isso, a realização de audiência pública e a participação de amicus
curiae será importante para que se colham elementos, antes de se decidir sobre a matéria”.
O artigo 984 estabelece a ordem a ser observada no julgamento do incidente de
resolução de demandas repetitivas:

Art. 984. No julgamento do incidente, observar-se-á a seguinte ordem:


I - o relator fará a exposição do objeto do incidente;
II - poderão sustentar suas razões, sucessivamente:
a) o autor e o réu do processo originário e o Ministério Público, pelo prazo de 30 (trinta)
minutos;
b) os demais interessados, no prazo de 30 (trinta) minutos, divididos entre todos, sendo
exigida inscrição com 2 (dois) dias de antecedência.
§ 1º Considerando o número de inscritos, o prazo poderá ser ampliado.
§ 2º O conteúdo do acórdão abrangerá a análise de todos os fundamentos suscitados
concernentes à tese jurídica discutida, sejam favoráveis ou contrários. (BRASIL, 2015)

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Seguindo, o artigo 985 do CPC fala da aplicação da tese jurídica fixada no julgamento
do IRDR. Conforme o dispositivo legal:

Art. 985. Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada:


I - a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de
direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive àqueles que
tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado ou região;
II - aos casos futuros que versem idêntica questão de direito e que venham a tramitar no
território de competência do tribunal, salvo revisão na forma do art. 986 .
§ 1º Não observada a tese adotada no incidente, caberá reclamação.
§ 2º Se o incidente tiver por objeto questão relativa a prestação de serviço concedido,
permitido ou autorizado, o resultado do julgamento será comunicado ao órgão, ao ente ou
à agência reguladora competente para fiscalização da efetiva aplicação, por parte dos
entes sujeitos a regulação, da tese adotada. (BRASIL, 2015)

Discorrendo acerca do artigo 985 do CPC, Medina (2022, p. 1.183) aduz: “Ao julgar o
incidente, deverá o tribunal fixar a tese a ser observada no julgamento dos processo que ficaram
suspensos, bem como em processos em que, posteriormente, vier a se discutir a mesma questão
de direito (art. 985, I e II, do CPC/2015). Caso não observada a tese fixada no julgamento do
incidente, caberá reclamação (cf. arts. 985, §1º e 988, IV, do CPC/2015).
No que tange à revisão da tese jurídica fixada no incidente, preceitua o artigo 986 do
CPC: “ Art. 986. A revisão da tese jurídica firmada no incidente far-se-á pelo mesmo tribunal, de
ofício ou mediante requerimento dos legitimados mencionados no art. 977, inciso III “. (BRASIL,
2015)
Por fim, o artigo 987 do CPC traz previsão acerca dos recursos contra a decisão proferida
no julgamento do incidente de resolução de demanda repetitiva:

Art. 987. Do julgamento do mérito do incidente caberá recurso extraordinário ou especial,


conforme o caso.
§ 1º O recurso tem efeito suspensivo, presumindo-se a repercussão geral de questão
constitucional eventualmente discutida.
§ 2º Apreciado o mérito do recurso, a tese jurídica adotada pelo Supremo Tribunal Federal
ou pelo Superior Tribunal de Justiça será aplicada no território nacional a todos os
processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito. (BRASIL,
2015)

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21. Procedimentos Especiais - Introdução

Para entender o que são procedimentos especiais, necessário se faz, de início, traçar
alguns conceitos sobre procedimentos.
De acordo com TARTUCE e DELLORE (2016, p. 303): “procedimento é a sequência de
atos processuais que levam à decisão final, constituindo a manifestação exterior do processo;
em síntese, é o modo pelo qual o processo se desenvolve”.
Ainda, segundo os autores mencionados, os procedimentos especiais foram concebidos
pelo legislador em observância a peculiares situações de direito material, objetivando, assim,
promover mais eficiência e racionalidade na tramitação de determinados processos. (TARTUCE;
DELLORE, 2016, p. 303) Ainda, completam os autores:

Como o legislador processual entendeu que o procedimento comum não seria apto a gerar
proveitosas atuações em todas as hipóteses, previu diferenciados procedimentos para
contemplar sequencias variadas de atos processuais com condutas a serem observadas
pelas partes e pelo juiz. (TARTUCE; DELLORE, 2016, p. 303)

Disso tudo se extrai, que, procedimentos especiais são algumas ações específicas que
possuem uma sequência de atos processuais determinada e diferenciada.
Dessa forma, procedimento especial seria, conforme lição de TARTUCE E DELLORE
(2016, p. 304) como aquele previsto pelo legislador a fim de que o processo se movimente de
modo que melhor atenda à proteção de certos interesses e direitos eleitos como dignos de
alteração em certas diretrizes. Assim, se for procedimento especial, serão aplicadas as regras
pertinentes ao procedimento especial, e de forma subsidiárias, as disposições gerais do
procedimento comum.
O CPC estabelece os procedimentos especiais a partir do artigo 539 a 770 do CPC,
podendo ser citados como exemplos: ação de consignação em pagamento (art. 539 a 549 do
CPC); ação de exigir contas (art. 550 a 553 do CPC); Oposição (arts. 682 a 686 do CPC);
Embargos de terceiros (arts. 674 a 681 do CPC); dentre outros.
Ainda, a partir do artigo 719, o CPC trouxe procedimentos especiais de jurisdição voluntária,
como exemplo: o do Divórcio e da Separação Consensuais, da Extinção Consensual de União
Estável e da Alteração do Regime de Bens do Matrimônio;

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Assim, conforme ensina Medina (2016, p. 805) além do procedimento comum previsto no
artigo 318 e seguintes do CPC, há uma série de procedimentos especiais (previstos a partir do
artigo 539 e seguintes do CPC), bem como o processo de execução de títulos executivos
extrajudiciais (arts. 771 e seguintes do CPC de 2015), procedimento para o caso das tutelas
provisórias de urgência antecipada ou cautelar REQUERIDAS EM CARÁTER ANTECEDENTE
(arts. 303 e 305 e seguintes do CPC/2015), etc.
Da mesma forma, existem procedimentos especiais previstos em leis extravagantes, como
a Lei dos Juizados Especiais Cíveis (Lei 9099/95, por exemplo), Lei do Mandado de Segurança
(Lei nº 12.016/2009). (MEDINA, 2016, p. 805)
Segundo Führer e Führer (2015, p. 151) existem diversos procedimentos especiais, que
são previstos não somente no Código de Processo Civil, mas também em outras leis especiais,
como ocorre com as falências, alimentos, por exemplo.
Passa-se a analisar alguns dos procedimentos especiais previstos no CPC, a iniciar pela
ação de consignação em pagamento.

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22. Ação de Consignação em Pagamento

22.1 Previsão
A previsão legal da ação de consignação em pagamento está nos art. 539 a 549 do Novo
CPC e 334 a 345 do Código Civil. Verifica-se, ainda, que há previsão acerca da consignação em
pagamento judicial ou extrajudicial.
Ressalta-se de início, que se for consignação de coisa somente admite-se na via judicial. A
consignação de quantia em dinheiro pode ser tanto judicial quanto extrajudicial:
* Para todos verem: esquema
Consignação em pagamento

Extrajudicial Judicial

Somente em dinheiro Dinheiro ou coisa

Além disso, conforme ensinam (MARINONI, ARENHART E MITIDIERO, 2017, P. 139) têm-
se vários mecanismos de consignação, alguns previstos no procedimento disciplinado pelos arts.
539 a 549 do CPC, outros disciplinados em leis especiais, como ocorre com a consignação de
aluguéis tratada no artigo 67 da Lei 8.245/91 ou com a consignação tributária (art. 164 do CTN).

22.2 Finalidade
O objetivo da consignação em pagamento é justamente extinguir a obrigação, porque
ocorreu, por exemplo, uma situação do artigo 335 do Código Civil, e o devedor precisa se liberar
da obrigação, então, poderá consignar a coisa ou quantia devida:

Art. 335. A consignação tem lugar:


I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em
lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento. (BRASIL, 2002)

Quanto ao cabimento da consignação em pagamento, Colombo e Silva (2017, p. 216)


ensinam que o pagamento ou adimplemento, que acarreta a extinção da obrigação, normalmente
ocorre com o cumprimento voluntário da obrigação pelo devedor, conforme ajustado previamente

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entre as partes. No entanto, “haverá situações em que o devedor não conseguirá efetuar o
pagamento de forma direta. Caso em que caberá a Ação de Consignação de Pagamento. É um
direito do devedor o adimplemento da obrigação, portanto, se não conseguir efetuar o pagamento
da quantia devida diretamente, poderá adimplir por meio do instituto da consignação,
consignando com efeito de pagamento/adimplemento a quantia ou da coisa devida”.
Segundo Medina (2016, p. 807) “a consignação em pagamento é forma de adimplemento
indireto, modalidade de extinção do vínculo obrigacional que se realiza através do depósito
(judicial ou extrajudicial) do bem objeto da prestação (cf. art. 334 do CC/2002). Tem por finalidade
obter a liberação do devedor diante da mora do credor (mora creditoris), de dúvida sobre quem
seja o credor ou de pendência de litígio sobre o objeto do pagamento (cf. art. 335 do CC/2002
(...).
Da mesma forma ensinam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 135) que a consignação
consiste no depósito judicial ou extrajudicial tendo a mesma força liberatória que o pagamento.
Ainda, embora o pagamento seja a forma normal de extinção das obrigações, haverão situações
em que essa solução não será possível. Dessa forma, sempre que se estiver diante de mora do
credor em aceitar o cumprimento da obrigação ou então quando for impossível o pagamento por
motivos não imputados ao devedor, poderá este se exonerar da obrigação por meio da
consignação em pagamento.
Logo, a função precípua da consignação em pagamento é permitir que o devedor se libere
da obrigação, evitando assim que permaneça com o encargo de responder pelos juros e pelos
riscos sobre a coisa, bem como para que possa se desonerar da própria prestação devida.
(MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 135-136)

22.3 Legitimados na ação de consignação em pagamento

NO POLO ATIVO:
Próprio devedor e o terceiro que seja interessado no pagamento, conforme art. 304 do CC.
Colombo e Silva (2017, p. 216) também mencionam que a legitimidade ativa da
consignação em pagamento pode ser constituída tanto pelo devedor, quanto pelo juridicamente
interessado no pagamento da dúvida. Disso decorre, que, não somente o devedor originário,
mas igualmente, terceiros podem figurar no polo ativo.

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Ainda, conforme ressaltam MARINONI; ARENHART E MITIDIERO (2017, p. 140) o terceiro


não interessado poderá realizar o pagamento, desde que o faça em nome e à conta do devedor,
na forma do artigo 304 do CC;

NO POLO PASSIVO:

CREDOR - De acordo com o artigo 335 do Código Civil.


Segundo MARINONI; ARENHART E MITIDIERO (2017, p. 140) no polo passivo da ação
poderá figurar o credor conhecido, aquele que se afirma credor, ou ainda, se ele é desconhecido,
o credor incerto a ser citado por edital. e, em havendo o concurso de supostos credores (art. 335,
IV do CPC), todos os pretendentes deverão figurar como litisconsortes passivos necessários (art.
547 do CPC).
Sobre a legitimidade ativa e passiva na ação de consignação em pagamento ainda
complementam Aguirre e Montans de Sá (2017, p. 141) no sentido de que possuem legitimidade
ativa para a ação de consignação em pagamento o devedor ou o terceiro, nos termos do artigo
539 do CPC, em consonância com a legislação de direito material que permite o pagamento por
terceiro interessado ou não, conforme dispõem os artigos 304 e seguintes do CC. Já a
legitimidade passiva será do credor, mas se houver dúvida sobre quem deva legitimamente
receber, deve ser realizada a consignação em pagamento nos termos do artigo 547 do CPC.

22.4 O Direito Material na ação de Consignação


Conforme previsão do artigo 334 do Código Civil, a consignação, que consiste no depósito
judicial ou extrajudicial, possui a mesma força de liberatória que o pagamento. (MARINONI,
ARENHART, MITIDIERO, 2017)
O objetivo assim da consignação em pagamento é liberar o devedor da obrigação, evitando
que permaneça com o encargo de responder pelos juros e pelos riscos da coisa, bem como para
que possa desonerar-se da obrigação devida. (MARINONI, ARENHART, MITIDIERO, 2017)

22.5. Das hipóteses legais para a consignação:


O Código de Processo Civil ao estabelecer o procedimento especial da consignação em
pagamento não traz as hipóteses em que a mesma tem cabimento, e sim, de que pode ser
consignação de coisa, quanto de quantia em dinheiro, bem como que em se tratando de quantia
em dinheiro, a consignação pode ser tanto extrajudicial quanto judicial, e, consignação de coisa,
somente na via judicial

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As hipóteses de consignação em pagamento são previstas no Código Civil, no seu artigo


335:
Art. 335. A consignação tem lugar:
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em
lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento. (BRASIL, 2002)

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma:
Neste caso se refere à dívida portável, no caso em que oferecida a prestação, o credor não
possa ou se recuse a recebe-la ou dar quitação. Dívidas portáveis são aquelas em que compete
ao devedor oferecer a prestação no domicílio do credor (ou no local por este indicado). Assim
sendo, em havendo essa oferta, mas não tendo o credor aceitado a prestação, ou, sem justo
motivo, recusado a quitação, autoriza-se a consignação. (MARINONI, ARENHART E
MITIDIERO, 2017, P. 138).

II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição
devidos:
Aqui trata-se de hipótese referente às dívidas quesíveis, em que cabe ao credor buscar o
pagamento da dívida no domicílio do devedor. Assim se o credor não comparece no momento e
segundo as condições estipuladas, seja pessoalmente ou por representante para receber a
prestação que lhe é devida, pode o devedor liberar-se da obrigação por meio da consignação.
(MARINONI, ARENHART E MITIDIERO, 2017, P. 138).

III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou


residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil:
Exemplos dados por Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 139): em se tratando de credor
incapaz, por exemplo, caberá ao seu curador o dever de dar quitação à prestação; se porém, o
devedor não sabe quem é o curador do credor ou desconhece sobre a existência de poderes
outorgados a este para dar quitação, poderá consignar a prestação. Já quando o credor reside
em local de acesso difícil ou perigoso, ou ainda incerto, e sendo a dívida portável, não se justifica

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imputar ao devedor a mora, já que não lhe seria razoável exigir o cumprimento da prestação no
local indicado pelo credor, razão pela qual se autoriza a consignação como forma de pagamento.

IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do


pagamento:
Neste caso, há uma multiplicidade de pessoas que pretendem receber a prestação, ou,
ainda há a dúvida sobre quem deve realmente receber, ou ainda, se aquele que se apresenta a
receber possui poderes para tanto. Diante disso, ensinam os autores Marinoni, Arenhart e
Mitidiero de que se difere tal situação da hipótese anterior (inciso III – credor desconhecido), já
que naquela situação não se tem ideia sobre quem é a pessoa do credor, e não comparece
ninguém para receber a prestação devida. Dessa forma, se o devedor estiver ciente do litigio,
deve consignar a prestação, sob pena de, em pagando a qualquer dos pretendentes, assumir o
risco pelo pagamento, conforme reza o artigo 344 do CC. Ou seja, conforme ensinam os autores,
a dúvida que permite o emprego da ação de consignação em pagamento é a dúvida fundada e
não resultante de culpa do devedor. (MARINONI, ARENHART E MITIDIERO, 2017, P. 139).

Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se


pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o
risco do pagamento. (BRASIL, 2002)

V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento;


Quando houver litígio sobre o próprio crédito. (MARINONI, ARENHART E MITIDIERO,
2017, p. 139).

22.6 Da Consignação em Pagamento Extrajudicial


Segundo Aguirre e Montans de Sá (2017, p. 141) a consignação em pagamento pode se
dar na via extrajudicial e judicial. O depósito na via extrajudicial somente é permitido quando se
tratar de obrigação de pagar em dinheiro, hipótese que será feito em estabelecimento bancário
oficial no local do pagamento, conforme art. 539, §1º do CPC:

Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de
pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.
§1º Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em
estabelecimento bancário, oficial onde houver situado no lugar do pagamento,
cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, assinado o prazo de 10
(dez) dias para a manifestação de recusa.
§2º Decorrido o prazo do §1º, contado do retorno do aviso de recebimento, sem a
manifestação de recusa, considerar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à
disposição do credor a quantia depositada.

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§3º Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, poderá ser
proposta, dentro de 1 (um) mês, a ação de consignação, instruindo-se a inicial com a prova
do depósito e da recusa.
§4º Não proposta a ação no prazo do §3º, ficará sem efeito o depósito, podendo levantá-
lo o depositante. (BRASIL, 2015)

Da mesma forma ensinam Colombo e Silva (2017, p. 217) que a consignação em


pagamento exclusivamente de obrigação em dinheiro pode ser promovida pelo devedor de forma
extrajudicial, constituindo uma faculdade. Tal faculdade, alertam os autores, é somente para
obrigações em dinheiro, sendo que a consignação de coisas será feita sempre de forma judicial.
Sobre a possibilidade de haver a consignação na via extrajudicial, Marinoni, Arenhart e
Mitidiero (2017, p. 142) ensinam que quando se tratar de prestação em quantia em dinheiro,
poderá haver a opção pelo depósito extrajudicial da importância devida, até como forma de evitar
a demanda judicial (art. 539, §1º do CPC). É UMA FACULDADE dada ao interessado, e não de
obrigação, de modo que, entendendo como medida inútil, inadequada ou inviável, pode o
interessado optar diretamente pelo ajuizamento da ação.
Ainda, conforme os mencionados autores, é certo que somente prestações pecuniárias
podem utilizar-se da consignação extrajudicial. Ou seja, em se tratando de outra espécie de
prestação, deverá ser depositada em juízo, mediante a competente ação judicial. (MARINONI;
ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 142)
Importante destacar que houve alteração no Novo CPC no que tange ao prazo para
propositura da ação de consignação caso o devedor tenha optado em fazer primeiro na via
extrajudicial e houve recusa por parte do credor. Para computar o depósito feito na via judicial,
conforme o §3º do Artigo 539 do Novo CPC, hoje o prazo é 01 mês para ingressar com a referida
ação, juntando o comprovante do depósito e da recusa.
Como ocorre o procedimento da consignação na via extrajudicial? Conforme o §1º do artigo
539 do CPC, sendo a obrigação a ser cumprida obrigação em dinheiro, poderá o valor ser
depositado em estabelecimento bancário, oficial onde houver, no local do pagamento, devendo
o credor ser cientificado por carta com aviso de recebimento, assinado o prazo de 10 (dez) dias
para a manifestação de recusa, caso não concorde com o depósito.
De acordo com o §2º do artigo 539 do CPC, uma vez decorrido o prazo do § 1º (ou seja, 10
dias) a contar do retorno do aviso de recebimento, sem a manifestação de recusa, considerar-
se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à disposição do credor a quantia que foi depositada
no estabelecimento bancário.

229
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Porém, se o credor recusar o depósito dentro do prazo de forma expressa, ou seja, de forma
escrita ao estabelecimento bancário, poderá ser proposta, dentro de 1 (um) mês, a ação de
consignação, instruindo-se a petição inicial com a prova do depósito e da recusa. Agora, por
mais que tenha havido a recusa do credor no procedimento extrajudicial e o devedor não
ingressar com a ação no prazo de 01 mês, ficará sem efeito o depósito, podendo levantá-lo o
depositante. Isto é, passado 01 mês o devedor poderá ingressar com a ação, mas deverá
requerer novo depósito.
Sobre o procedimento da consignação extrajudicial explicam Führer e Führer (2016, p. 152-
153):
Se a obrigação for em dinheiro, o devedor pode depositar o valor em estabelecimento
bancário, oficial, no lugar do pagamento, cientificando o credor por carta com Aviso de
Recebimento/AR para, no prazo de 10 dias, a contar do retorno do AR, apresentar sua
recusa. Esgotado o prazo sem manifestação, o devedor é liberado da obrigação, ficando
à disposição do credor a quantia depositada. Ocorrendo recusa escrita apresentada no
estabelecimento bancário, o devedor poderá propor a consignatória em juízo, no prazo de
um mês. A perda do prazo não impede a ação, mas torna insubsistente o depósito (art.
539, §4º), devendo ser realizado outro em juízo, quando autorizado.

Da mesma forma, explicitando o procedimento da consignação extrajudicial, Aguirre e


Montans de Sá (2017, p. 141) ensinam que uma vez feito o depósito extrajudicial da quantia em
dinheiro, o credor deve ser cientificado por carta com aviso de recebimento, sendo assinalado o
prazo de 10 dias para formalizar sua recusa. Passado o prazo de 10 dias contado do retorno do
aviso de recebimento, sem a manifestação de recusa por parte do credor de forma expressa,
considera-se liberado o devedor do vínculo obrigacional, ficando à disposição do credor a quantia
depositada. Porém, se o credor oferecer recusa expressa, dentro do prazo de 10 dias,
manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, o devedor poderá propor a ação de
consignação em pagamento dentro do prazo de 01 mês. Se a ação de consignação não for
proposta no prazo de 01 mês, ficará sem efeito o depósito, podendo levantar a quantia o
depositante.
Também esclarece MARINONI, ARENHART E MITIDIERO (2017, p. 143) sobre as
condutas do credor e suas consequências: “Compete ao credor, então, manifestar-se
expressamente sua recusa em receber o valor depositado, sob pena de, diante de seu silencio,
presumir-se aceita a consignação, com a consequente liberação do devedor da obrigação (art.
539, §2º, do CPC)”.
Ainda, conforme ensinam MARINONI, ARENHART E MITIDIERO (2017, p. 143) caso o
credor recuse expressamente o depósito realizado, de forma escrita, caberá àquele que efetuou

230
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o depósito apresentar dentro do prazo de 01 mês a ação judicial de consignação em pagamento,


instruindo a inicial com o comprovante do depósito e da recusa (art. 539, §3º do CPC). O prazo
não é peremptório, no sentido de inviabilizar a propositura da ação após seu escoamento. Ou
seja, é evidente que o interessado poderá ajuizar a ação consignatória mesmo depois do prazo
de 01 mês. Ocorre que, a ação ajuizada dentro do prazo de 01 mês acarreta a manutenção da
situação anterior, criada com o depósito, da elisão dos efeitos da mora do devedor. Em outras
palavras segundo os autores mencionados: “pode-se dizer que, efetuado o depósito extrajudicial
da quantia devida, o devedor passa a não (mais) sofrer os efeitos da mora; estes efeitos voltarão
a incidir depois do prazo designado, salvo se o interessado ajuizar, nesse período, a competente
ação consignatória, caso em que a supressão desses efeitos restará mantida. Desse modo, o
ajuizamento da medida judicial consignatória no prazo de um mês faz manter o estado impeditivo
da mora que havia sido inaugurado com o depósito extrajudicial da quantia devida. Em conta
disso, escoado o prazo de um mês a que se refere o dispositivo legal, o depósito realizado perde
sua eficácia, de modo que pode ser livremente levantado pelo depositante, uma vez pagas as
despesas pertinentes (art. 539, §4º do CPC)”.

22.7 Ação de Consignação em Pagamento na VIA JUDICIAL


De início, destaca-se o entendimento de Aguirre e Montans de Sá (2017, p. 141) que a
“opção pela via judicial não está condicionada ao prévio procedimento do depósito extrajudicial”

a) Competência: Prevista no artigo 540 do CPC/15:

Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor,


à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente.
(BRASIL, 2015)

Ou seja, a consignação deve ser realizada no local do pagamento, repetindo o comando


previsto no artigo 337 do código civil, que trata do problema de direito material, consistente no
lugar em que se deva realizar o cumprimento das obrigações. (Marinoni; Arenhart, Mitidiero,
2017, p. 141):
Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue,
para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente.
(BRASIL, 2002)

231
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b) Da inclusão das prestações periódicas: Quando a obrigação envolver prestações


sucessivas (há quem denomine de periódicas), ou seja, aquelas que se decompõem em mais de
uma prestação, é de se observar a previsão do artigo 541 do CPC:

Art. 541. Tratando-se de prestações sucessivas, consignada uma delas, pode o devedor
continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem
vencendo, desde que o faça em até 5 (cinco) dias contados da data do respectivo
vencimento (BRASIL, 2015).

De acordo com o artigo 541 do CPC pode o devedor consignando uma delas, continuar a
depositar no mesmo processo (sem necessidade, então, de uma ação para cada prestação) as
que forem vencendo, desde que deposite em até 05 dias a contar da data do vencimento de cada
prestação.
Sobre tal previsão Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 145) ensinam que quando a
obrigação envolver prestações sucessivas, é possível que, realizada a consignação da primeira,
podem as demais serem realizadas no curso da demanda. Assim, o artigo 541 do CPC
estabelece essa faculdade, sem maiores formalidades, desde que o seu depósito ocorra no prazo
de 05 dias a contar do vencimento de cada parcela.
Sobre essa faculdade, ainda explicam os autores: “A faculdade harmoniza-se claramente
com a garantia de economia processual, já que não faria sentido impor-se ao devedor ajuizar
tantas demandas consignatórias quantas fossem as prestações devidas em razão da obrigação.
Para evitar essa situação, faculta-se ao devedor proceder aos depósitos sucessivos no mesmo
processo, usando do mesmo parâmetro para a consignação inicial – ou seja, a imposição de que
seja realizado no prazo de cinco dias”. (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 145)

c) Da Petição Inicial: Conforme Medina (2016, p. 809) na petição inicial, o autor da ação
de consignação em pagamento deve requerer o depósito da quantia ou da coisa devida, bem
como a citação do Réu para levantar o depósito ou oferecer contestação. Deve ser observado
ainda o disposto no artigo 319 do CPC.
Em se tratando de procedimento especial, a petição inicial da ação de consignação em
pagamento vai observar os requisitos do artigo 319 + 320 + devendo, ainda, conter pedido
expresso para que o juiz autorize o depósito da coisa ou quantia devida + deverá conter o pedido
de citação do réu para que levante o depósito ou ofereça contestação. E, caso autorizado o
depósito, este deverá ser realizado no prazo de 5 dias a contar do deferimento do pedido (art.
542, I). (COLOMBO; SILVA, 2017, p. 218)

232
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Sobre os requisitos da petição inicial Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 144) ensinam:

A petição inicial da ação de consignação preencherá todos os requisitos dos arts. 319 e
320 do CPC, devendo ainda o autor requerer: (a) o depósito da prestação (quantia ou
coisa devidas), a ser realizado no prazo de cinco dias a contar do deferimento (...); e (b) a
citação do réu para levantar o depósito ou apresentar resposta (...). Evidentemente, caso
o autor tenha usado a faculdade da consignação extrajudicial, descaberá novo depósito
em dinheiro, de modo que bastará ele instruir a petição inicial com o comprovante do
depósito e da recusa (arts. 539, §3º, do CPC), no prazo de um mês (...).

* Para todos verem: quadro comparativo


REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO
AMBAS DEVEM CUMPRIR 319 + 320 DO CPC + 542 do CPC
DIRETO NA VIA JUDICIAL (OU DEPOIS SE PRIMEIRO FEZ O PROCEDIMENTO
DA RECUSA EXPRESSA DO CREDOR NA EXTRAJUDICIAL à HOUVE RECUSA DO
VIA EXTRAJUDICIAL DEVEDOR NÃO CREDOR NO PRAZO à MAS O DEVEDOR
INGRESSOU COM A AÇÃO NO PRAZO INGRESSOU COM A AÇÃO NO PRAZO DE
DE 01 MÊS) 01 MÊS
1. Requerer o depósito da coisa ou 1. Juntar o comprovante do depósito e da
quantia devida (art. 542, I do CPC) à deve recusa (art. 542, I e 539, §3º do CPC);
ser realizado no prazo de 05 dias a contar do 2. Requerer a citação do réu para levantar
deferimento do juiz, sob pena de extinção do o depósito ou oferecer contestação (art. 542,
processo sem resolução de mérito II do CPC);
(Parágrafo único do artigo 542 do CPC);
2. Requerer a citação do réu para
levantar o depósito ou oferecer contestação
(art. 542, II do CPC);

Ainda, de acordo com o artigo 542 do CPC/15 o Autor deve realizar o depósito no prazo de
05 dias contados do deferimento, sob pena de extinção do processo sem resolução de mérito:

Art. 542. Na petição inicial, o autor requererá:


I - O depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 5 (cinco) dias
contados do deferimento, ressalvada a hipótese do art. 539, § 3º;
II - A citação do réu para levantar o depósito ou oferecer contestação. Parágrafo único.
Não realizado o depósito no prazo do inciso I, o processo será extinto sem resolução do
mérito.
Parágrafo único. Não realizado o depósito no prazo do inciso I, o processo será extinto
sem resolução do mérito. (BRASIL, 2015)

Cuidar que se a ação de consignação for oriunda do depósito extrajudicial não vai ser
requerido o depósito, pois já foi realizado. Então, vai ser juntado com a inicial o comprovante do

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depósito e da recusa, conforme art. 542, II e 539, §3º do CPC, desde que o devedor ingresse
com a ação no prazo de 01 mês, porque se passar o prazo, por mais que possa ingressar com
a ação, o depósito feito na via extrajudicial fica sem efeito.

d) Coisa indeterminada e escolha pelo Credor: Previsão no artigo 543 do CPC/15.

Art. 543. “Se o objeto da prestação for coisa indeterminada e a escolha couber ao credor,
será este citado para exercer o direito dentro de 5 (cinco) dias, se outro prazo não constar
de lei ou do contrato, ou para aceitar que o devedor a faça, devendo o juiz, ao despachar
a petição inicial, fixar lugar, dia e hora em que se fará a entrega, sob pena de depósito”.
(BRASIL, 2015)

No que à previsão do artigo 543 do CPC, ou seja, consignação de coisa indeterminada e a


escolha couber ao credor, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, P. 145) ensinam que nesta
situação, se a escolha coubesse ao devedor, este fará o depósito da coisa já individualizada,
segundo a escolha que realizou. Agora, se a escolha couber ao credor, então, deve ser dado
antes da consignação, momento para que possa realizar a eleição da coisa que prefere. Neste
caso, conforme estabelece o artigo 543 do CPC, antes do depósito, deverá o credor ser citado
para em 05 dias (ou em outro prazo, estipulado pelo contrato ou pela lei), realizar a escolha ou
aceitar que o devedor o faça, devendo o magistrado fixar o lugar, dia e hora para a entrega da
coisa, sob pena de depósito judicial. Então, nestes casos, o depósito somente ocorre após a
tentativa de entrega do bem já individualizado, nas condições estabelecidas pelo magistrado.

e) Contestação pelo réu:

Em se tratando de procedimento especial, deve ser seguido o procedimento específico


previsto. No caso da ação de consignação em pagamento, conforme previsão do inciso II do art.
542, o réu será citado para levantar o depósito ou oferecer contestação. Portanto, diante disso,
o réu poderá ter 3 condutas.
De acordo com Colombo e Silva (2017, p. 219), o autor requerer na petição inicial a citação
do réu, para este levantar o depósito ou oferecer resposta (contestação). Assim sendo, uma vez
citado, o réu poderá permanecer revel, aceitar a prestação ou oferecer contestação.
Com isso se extrai 03 condutas do réu:
* Para todos verem: esquema

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Pode oferecer
contestação

Citado o réu Pode ser revel

Pode levantar o
depósito

Segundo MARINONI, ARENHART E MITIDIERO (2017, p. 147) a defesa do réu não é o


único caminho que poderá ser tomado. Ele poderá aceitar o valor depositado sem qualquer
ressalva, gerando extinção do processo com resolução de mérito, por reconhecer juridicamente
o pedido. Poderá se manter omisso e ser decretada revelia, gerando, provavelmente a liberação
do devedor, ante a aceitação tácita da prestação. Ou, o réu poderá oferecer contestação.
Se oferecer contestação, poderá alegar, conforme o art. 544 do CPC:

Art. 544. Na contestação, o réu poderá alegar que:


I - Não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida;
II - Foi justa a recusa;
III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento;
IV - O depósito não é integral.
Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação somente será admissível se o réu indicar
o montante que entende devido. (BRASIL, 2015)

Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017,p. 147) mencionam em relação ao artigo 544 do CPC
que o conteúdo da defesa é limitado, mas que não se cinge somente àquelas hipóteses do artigo
544, podendo o réu alegar defesas processuais (337 do CPC).
Exemplo do inciso III (no caso de contratar a entrega do vestido para uma festa que ocorreu
no dia 05/09/2017 e o vestido chegar somente no dia 06/09).

f) Do depósito insuficiente: Caso o réu alegue em sua Contestação a hipótese do inciso


IV, essa alegação somente será admitida se o réu alegar qual é o montante devido.
Além disso, conforme o artigo 545 do CPC, caso o réu alegue em sede de contestação que
o depósito feito pelo autor (devedor) não é integral, será permitido a este complementar o
depósito no prazo de 10 dias.

Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em 10 (dez)


dias, salvo se corresponder a prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do
contrato.

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§1º No caso do caput, poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a coisa depositada,
com a consequente liberação parcial do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela
controvertida.
§2º A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre que
possível, o montante devido e valerá como título executivo, facultado ao credor promover-
lhe o cumprimento nos mesmos autos, após liquidação, se necessária. (BRASIL, 2015)

Assim, se o credor alegar em contestação que o depósito não foi integral deverá indicar o
valor que entende devido e o devedor poderá completá-lo no prazo de dez dias.
Explicando o dispositivo Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 148) comentam: “quando
a impugnação do credor diga respeito à insuficiência do depósito realizado pelo devedor, deve o
magistrado facultar ao autor a complementação do depósito no prazo de dez dias, salvo no caso
em que a mora implica, de imediato, inadimplemento absoluto da prestação (art. 545, caput, do
CPC). É exatamente para viabilizar essa providencia que o Código determina que, em sendo
esse o fundamento da defesa, deve o réu indicar com precisão o montante que entende devido
(art. 544, parágrafo único, do CPC”.
Como ensinam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017) há situações em que essa
complementação do depósito se mostra inviável, como no caso, por exemplo, que o
descumprimento gera a inutilidade, de modo que não há mais interesse do credor em receber o
produto. Assim, se os bens a serem depositados não possuem mais utilidade porque se passou
o momento em que seriam utilizados, então descabe a complementação do depósito, porque a
prestação se tornou inútil ao credor.
Ainda, importante mencionar, que realizado ou não o depósito complementar pelo autor
(devedor), o credor tem a faculdade de levantar a prestação parcial consignada, com a
consequente liberação parcial do devedor, conforme prevê o §1º do art. 545 do CPC. Dessa
forma, o litigio continuaria para discutir apenas a diferença buscada pelo credor. (MARINONI;
ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 149).
Frisa-se que, caso o devedor (autor) não complemente o valor pretendido pelo credor, a
demanda prosseguirá. Em tal situação, se a ação for julgada procedente (porque o juiz entende
que o valor originalmente depositado pelo devedor estava correto – dará por extinta a obrigação,
condenando o credor na sucumbência). Porém, se o juiz entender que era insuficiente a
consignação feita pelo devedor, então o magistrado deve determinar (sempre que possível) na
sentença, o montante devido, de modo que esta decisão será considerada título executivo judicial
em favor do réu (credor) para buscar judicialmente a diferença que lhe toca. (MARINONI;
ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 149)

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g) Do julgamento procedente: Previsão do art. 546 do CPC/15.


Conforme visto, o réu será citado na ação de consignação em pagamento para levantar o
depósito ou oferecer contestação. Caso ocorra de o réu não oferecer contestação e ocorrer
revelia, o juiz julgará procedente o pedido, declarando extinta a obrigação e condenará o réu nas
custas e honorários.
Será procedido da mesma forma se o credor receber e der quitação.

Art. 546. Julgado procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação e condenará o
réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios. Parágrafo único. Proceder-se-á
do mesmo modo se o credor receber e der quitação. (BRASIL, 2015)

h) Dúvida de quem deve receber o pagamento: Previsão do art. 547 do CPC/15:

Art. 547. Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o pagamento, o autor
requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do crédito para provarem o seu
direito. (BRASIL, 2015)
Art. 548. No caso do art. 547:
I - Não comparecendo pretendente algum, converter-se-á o depósito em arrecadação de
coisas vagas;
II - Comparecendo apenas um, o juiz decidirá de plano;
III - comparecendo mais de um, o juiz declarará efetuado o depósito e extinta a obrigação,
continuando o processo a correr unicamente entre os presuntivos credores, observado o
procedimento comum. (BRASIL, 2015)

De acordo com o artigo 547 do CPC, se houver dúvida sobre quem deve receber a quantia
ou a coisa devida, deverá o autor requerer a citação de todos os possíveis titulares, formando-
se um litisconsórcio passivo.
No que tange ao artigo 547 do CPC, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 149) explicam
que a ação de consignação em pagamento pode ter como fundamento a dúvida sobre quem
possa legitimamente receber a prestação devida ou dar quitação. Em tal situação, deve o autor
(devedor) ajuizar a ação contra todos os possíveis titulares do crédito. Ainda:
Duas serão as situações em que isso poderá ocorrer. No primeiro dos casos, há vários
pretendentes, de forma que o processo apresentará situação particular, pois o litigio
possivelmente cingir-se-á à relação entre os litisconsortes. Outro caso em que isso é possível é
aquele em que sequer se saiba quem é o verdadeiro credor da prestação. (MARINONI;
ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 149)
Além disso, o artigo 548 do CPC estabelece a consequência caso não compareça nenhum
possível credor, compareça somente um dos credores ou compareça mais de um.

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Por fim, observar ainda os artigos 338 e 339 do CC:

Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá
o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a
obrigação para todas as consequências de direito. (BRASIL, 2002)
Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o
credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores. (BRASIL, 2002)

238
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EXEMPLO: AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

DOUTO JUÍZO DA ... VARA CÍVEL DA COMARCA DE...

NOME DO AUTOR, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula


de Identidade número..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador
constituído (procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com escritório
profissional na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe
intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento
legal nos artigos 334 e 335, inciso ... ambos do Código Civil e artigo 539 e seguintes do
Código de Processo Civil, ajuizar a presente

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO em face de

NOME DO RÉU, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula de


Identidade número..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões de fato e de direito a seguir
expostas:

I - TEMPESTIVIDADE:
Somente se for hipótese de o devedor ter feito o procedimento extrajudicial primeiro
e houver recusa de forma expressa do credor e o devedor ingressar com a ação no prazo
de 01 mês.
II – DOS FATOS:
Narrar o que aconteceu no mundo dos fatos que ensejou a propositura da ação,
conforme o enunciado da FGV. NÃO PODEM SER INVENTADOS FATOS. Não
esquecer de narrar que o Autor é devedor do réu e que não conseguiu cumprir a
obrigação.

III – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:

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Aqui se traz a fundamentação legal da ação. As teses. Não esquecer dos artigos 334
e 335 do Código Civil que trazem o cabimento da consignação e nem do 539 e seguintes
do CPC que trazem o procedimento especial.

IV – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Autor:
a) O recebimento da presente ação;
b) Liminarmente, a concessão da tutela provisória... para o fim de... (verificar se é
o caso de pedir tutela provisória e se é caso de liminar);
c) Requer que Vossa Excelência determine o depósito da quantia R$... conforme
previsão do artigo 542, inciso I do Código de Processo Civil a ser efetivado no prazo de
05 dias, cessando para o devedor os riscos e a mora a data do depósito, (observar que
esse pedido somente vai ser feito se não foi realizado o depósito na via extrajudicial
antes e houve recusa por parte do credor e o devedor ingressou com a ação no prazo
de 01 mês porque daí neste caso não há o pedido de depósito e sim da juntada do
comprovante do depósito e da recusa);
d) A citação do Réu para levantar o depósito ou oferecer contestação, consoante
previsão do artigo 542, inciso II do Código de Processo Civil, sob pena de revelia;
e) A total procedência da presente ação de consignação em pagamento para
declarar cumprida a obrigação de... com a sua consequente extinção, liberando o Autor
devedor;
f) A condenação do Réu no ônus da sucumbência condenando em custas e
honorários de advogado, conforme artigos 85 e 546, ambos do Código de Processo Civil;
g) A concessão do benefício da gratuidade da justiça por ser o Autor pessoa pobre
nos termos da lei, conforme previsão dos artigos 98 e 99 do Código de Processo Civil
OU a juntada do comprovante de recolhimento das custas iniciais, conforme artigo 82 do
Código de Processo Civil;
h) Requer a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em
especial...

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Valor da causa: Atribui-se à causa o valor de R$...

Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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A AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO JÁ FOI OBJETO DE COBRANÇA NO XXX EXAME DA OAB:

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23. Ação Monitória

23.1 Previsão Legal


Art. 700, 701 e 702 do CPC;

23.2 Conceito e Cabimento


O cabimento da ação monitória está previsto no art. 700 do CPC, e é a ação que pode ser
ajuizada pelo credor que afirmar COM BASE EM PROVA ESCRITA SEM EFICÁCIA DE TÍTULO
EXECUTIVO, TER O DIREITO DE EXIGIR DO DEVEDOR CAPAZ, o cumprimento da obrigação
de pagar quantia em dinheiro, a entrega de coisa fungível ou infungível, bem móvel ou imóvel,
bem como o adimplemento da obrigação de fazer ou não fazer.
Nesse sentido é a previsão do artigo 700, caput e incisos I, II e III do CPC:

Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova
escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
I - o pagamento de quantia em dinheiro;
II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.

No que tange ao cabimento da ação monitória, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p.


247) ensinam:
O procedimento monitório foi pensado como alternativa para uma maior tempestividade
do processo, podendo ser usado por quem tem prova escrita, sem eficácia executiva do
seu crédito, e pretende obter soma em dinheiro, a entrega de coisa ou prestação de fazer
ou não fazer. Diante da petição inicial devidamente acompanhada com a prova escrita,
deve o juiz mandar expedir mandado de satisfação da prestação. O devedor, no prazo de
15 (quinze) dias, poderá cumprir o mandado – caso em que ficará isento do pagamento
de custas e arcará com honorários de sucumbência no valor de cinco por cento do valor
da causa -, restar inerte ou apresentar embargos ao mandado. Não apresentados ou
rejeitados os embargos, o título executivo judicial será constituído definitivamente.

Explicando a ação monitória Führer e Führer (2016, p. 163) referem que a ação monitória
tem dupla finalidade sucessiva. Ou seja, em um primeiro momento serviria para buscar o
pagamento em dinheiro, entrega de coisa fungível ou infungível ou de coisa móvel ou imóvel, ou
o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, COM BASE EM PROVA ESCRITA, sem
eficácia de título executivo. Ainda, aduzem que na forma do §1º do art. 700 do CPC, a prova
escrita pode consistir em prova oral documentada, produzida antecipadamente. Porém, caso não
alcançado o cumprimento da obrigação, a monitória serve também como meio para se obter o
título executivo correspondente à obrigação constante da prova escrita.

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Sobre o cabimento da ação monitória destaca-se também o entendimento de Chacon


(2020, p. 158) no sentido de que cabe ação monitória sempre que o credor afirmar com base em
prova escrita sem eficácia de título executivo o direito de exigir do devedor capaz alguma
obrigação, conforme incisos I a III do art. 700 do CPC. Destaca o autor que não se trata apenas
de obrigação pecuniária.
E continua o referido autor: “o objetivo desta ação é facilitar a cobrança de obrigação
inadimplida por quem não tem título executivo, mas tem prova escrita da dívida. O foco do
procedimento é permitir da expedição de ordem condenatória contra o devedor (de pagamento
ou entrega de coisa, de fazer ou não fazer), sob pena de conversão do mandado de pagamento
em mandado executivo”. (CHACON, 2020, p. 158)
Logo, verifica-se que o procedimento especial da ação monitória não é tão célere quanto à
execução, mas muito mais simplificado que um processo pelo procedimento comum, tais como
a ação de cobrança, obrigação de fazer, por exemplo.
Inclusive é esse o entendimento de Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 247): “o
legislador infraconstitucional concebe o procedimento monitório como técnica destinada a
propiciar a aceleração da realização dos direitos e assim como instrumento capaz de evitar o
custo inerente à demora do procedimento comum. (...) o procedimento monitório objetiva, através
da inversão do ônus de instaurar a discussão a respeito da existência ou inexistência do direito,
desestimular as defesas infundadas e permitir a tutela do direito sem as delongas do
procedimento comum”.

Quando cabe ação monitória?


A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em PROVA
ESCRITA SEM EFICÁCIA DE TÍTULO EXECUTIVO, ter direito de exigir do devedor capaz:

▪ Pagamento de quantia em dinheiro;


▪ Entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
▪ Adimplemento de obrigação de fazer ou não fazer.

SÚMULAS IMPORTANTES

Art. 247 do STJ. O contrato de abertura de crédito em conta corrente, acompanhado do


demonstrativo de débito, constitui documento hábil para ajuizamento da ação monitória.

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Art. 299 do STJ. É admissível a ação monitória fundada em chegue prescrito.

23.4 Legitimados a propor a ação


NO POLO ATIVO: O CREDOR DA OBRIGAÇÃO;
NO POLO PASSIVO: O DEVEDOR;

23.5 Da prova escrita:


Sobre a necessidade de o credor ter prova escrita para ingresso da ação monitória,
Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 248) explicam:

Todavia, será sempre fundamental que a parte que pretenda ajuizar a ação monitória
possua prova escrita da obrigação que pretende ver realizada. (...) a ausência dessa prova
inviabiliza o emprego desse rito especial. Assim, se o autor não tiver prova escrita, deve
exigir seu interesse por meio de ação que tramite pelo rito comum. A par disso, se o autor
entender que precisa de maior dilação probatória para demonstrar seu direito, poderá
optar pelo procedimento comum, ainda que possua a prova escrita exigida pela lei. Por
outras palavras, pode-se dizer que a ação monitória é uma opção para o autor, que pode
preferir sujeitar-se ao rito comum, se entender que ele é mais vantajoso para seus
interesses.

Não esquecer: Precisa de prova escrita sem eficácia de título executivo.

Como exemplos de prova escrita, podem ser citados o cheque prescrito, como prevê a
Súmula 299 do STJ: “É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito”. Além disso,
o contrato de abertura de crédito em conta corrente, acompanhado do demonstrativo de débito,
é prova escrita admitida para ação monitória, inclusive conforme previsão da Súmula 247 do
STJ: “O contrato de abertura de crédito em conta corrente, acompanhado do demonstrativo de
débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória”.
Verifica-se que é possível que a prova escrita, o que é indispensável na monitória, seja
proveniente de prova oral que foi produzida antecipadamente; Ou seja, se produz uma prova oral
reduzindo ela por escrito, com finalidade de servir de arrimo à propositura da monitória;
Ex: produzir prova oral para comprovar um contrato verbal;
Inclusive no que tange a tal possibilidade Chacon (2020, p. 158) ensina: “Atualmente até a
prova oral reduzida a termo (prova oral documentada) mediante produção antecipada de prova
(art. 381 do CPC) permitirá o ingresso com a ação monitória”.
Exemplos de prova escrita fornecidos por Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 251):
cheque prescrito (súmula 299 do STJ), duplicata sem aceite, extrato autêntico dos escritos

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contábeis. Ainda, na ótica jurisprudencial segundo os autores: contrato de abertura de crédito


em conta corrente acompanhado do demonstrativo de débito (súmula 247 do STJ). Rol não
taxativo.

23.6 Da Monitória em face da Fazenda Pública:


O novo CPC consagrou a possibilidade da ação monitória ser proposta em face da Fazenda

Pública, conforme previsão do §6º do art. 700 do CPC: “§ 6o É admissível ação monitória em
face da Fazenda Pública”. (BRASIL, 2015)
Inclusive, é esse o entendimento da Súmula 339 do STJ: “É cabível ação monitória contra
a Fazenda Pública”.
No que tange à possibilidade de a ação monitória ser ajuizada em face da Fazenda
Pública, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 262) ensinam: “(...) a ação monitória pode ser
proposta contra a Fazenda Pública. Nesse caso, porém, a lei exige certa adaptação
procedimental, atendendo às peculiaridades das ações que envolvem o Poder Público. (...) Caso
não opostos os embargos, a decisão que concedeu o mandado monitório. Antes de tornar-se
definitiva, e, assim, de autorizar o imediato cumprimento da prestação, exige-se sujeição a
reexame necessário, exceto nos casos indicados nos §§2º e 3º do art. 496 do CPC (art. 701,
§4º)”.

23.7 Competência da Ação Monitória:


Segue as regras de competência comum do Código de Processo Civil. Observar se for
proposta por ou em face de pessoa jurídica de direito público federal a ação deverá ser proposta
na justiça federal.

23.8 Da petição inicial


Segundo ensinam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 253) “a ação monitória é espécie
de ação de conhecimento – não de execução – de modo que tem início com petição inicial, que
observa os requisitos gerais dos arts. 319 e 320, do CPC. Constitui, como já observado,
documento essencial para a propositura desta demanda, a prova escrita da obrigação”.
O artigo 700, §2º do Novo CPC estabelece que a petição inicial da ação monitória deve
explicitar os valores, conforme o tipo de obrigação que está sendo buscada:

§ 2º Na petição inicial, incumbe ao autor explicitar, conforme o caso:

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I - a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo;


II - o valor atual da coisa reclamada;
III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido.

Ainda, conforme o §3º do art. 700 do CPC, o valor da causa que deve constar na petição
inicial deve ser de acordo com um dos valores dos incisos do §2º do art. 700 do CPC: “O valor
da causa deverá corresponder à importância prevista no § 2o, incisos I a III”. (BRASIL, 2015)
No que tange aos valores explicitam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 253): “E,
para a determinação desse valor econômico da demanda, deve o autor pautar-se: a) no caso de
prestação de pagar, pelo valor da importância buscada, devendo instruir a inicial com memória
de cálculo; b) em se tratando de prestação de entrega de coisa, pelo valor atual da coisa
postulada; e c) na hipótese de prestação de fazer ou não fazer, pelo conteúdo patrimonial dessa
prestação ou pela vantagem econômica dela decorrente”.

23.9 Do indeferimento da Petição Inicial:


Conforme previsão do §4º do art. 700 do CPC, a petição inicial da ação monitória será
indeferida nas hipóteses do art. 330 do CPC, bem como se não for atendido o disposto no §2º
do artigo 700 do CPC, ou seja, se o autor não explicitar na Petição Inicial da ação monitória os
referidos valores: “§ 4o Além das hipóteses do art. 330, a petição inicial será indeferida quando
não atendido o disposto no § 2o deste artigo”. (BRASIL, 2015)

23.10 Emenda da Petição Inicial:


Por sua vez, o §5º do art. 700 do CPC prevê situação de emenda da petição inicial,
quando houver dúvida quanto à idoneidade da prova documental que instrui a petição inicial da
ação monitória, de forma que o juiz deve intimar o autor para, querendo, emendar a petição inicial
e adaptar ao procedimento comum. Ex: se for obrigação de pagar, a uma ação de cobrança.

§5º Havendo dúvida quanto à idoneidade de prova documental apresentada pelo autor, o
juiz intimá-lo-á para, querendo, emendar a petição inicial, adaptando-a ao procedimento
comum. (BRASIL, 2015)

No mesmo sentido, referem Führer e Führer (2016, p. 163) de que se houver dúvida quanto
à idoneidade da prova documental apresentada com a Inicial da ação monitória, o autor é
intimado PARA EMENDAR a inicial, adaptando-a ao procedimento comum.

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Medina (2016, p. 872) também explicita sobre o procedimento da monitória: “Deve a petição
inicial conter elementos que discriminem o objeto da obrigação (§2º do art. 700 do CPC/2015);
não os havendo o juiz determinará sua emenda, sob pena de indeferimento (cf. §4º do art. 700
do CPC/2015)”.

23.11 Meios de citação na ação monitória:


O §7º do art. 700 do CPC admite a citação do Réu na ação monitória por qualquer dos
meios admitidos ao procedimento comum:

“§7º Na ação monitória, admite-se citação por qualquer dos meios permitidos
para o procedimento comum”. (BRASIL, 2015)

Sobre a forma de citação na ação monitória, esta pode ser feita sob qualquer forma
comum, conforme disposto no §7º do art. 700 do CPC. Daí que se admite a citação por hora
certa, no procedimento monitório, desde que presentes as hipóteses legais, consoante previsão
do artigo 252 do CPC. Do mesmo modo, caberia citação por edital. (MARINONI; ARENHART;
MITIDERO, 2017, p. 254-255)
Inclusive, no que tange à citação por edital, tem-se a Súmula 282 do STJ que diz: “Cabe
a citação por edital em ação monitória”.

23.12 Procedimento na ação monitória:


De acordo com o artigo 701 do CPC, ao receber a inicial da monitória, sendo evidente o
direito do autor, o juiz expede mandado de pagamento ou para entrega de coisa, ou para
execução de obrigação de fazer ou não fazer, concedendo o prazo ao réu de 15 dias para
cumprir. Caso haja o cumprimento no prazo, o réu estará isento do pagamento de custas (§1º do
art. 701 do CPC) e os honorários de advogado são fixados em 5% do valor da causa:

Art. 701. Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de
pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer,
concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de
honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa.
§1º O réu será isento do pagamento de custas processuais se cumprir o mandado no
prazo. (BRASIL, 2015)

Para melhor compreensão do aludido dispositivo, citam-se Führer e Führer (2016, p. 163)
que explicam: “(...) se considerado evidente o direito do autor, é expedido mandado de
pagamento, de entrega de coisa ou de execução de obrigação de fazer ou não fazer, concedendo

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ao réu prazo de 15 dias para o cumprimento, mais o pagamento de honorários de 5% do valor


atribuído à causa. Se o réu atender ao mandado, fica ele isento do pagamento das custas,
encerrando-se o processo. Mas, se quiser, e no mesmo prazo de 15 dias, poderá o réu opor
embargos, independentemente de pagamento ou de prévia segurança do juízo”.
Medina (2016, p. 873) ensina sobre o artigo 701 do CPC que a expedição do mandado
de pagamento vai ser deferida pelo juiz se for evidente o direito do autor. Ou seja, exige-se para
tanto, que inexista dúvida quanto à idoneidade da prova documental, pois se a prova documental
juntada seja considerada insuficiente o juiz pode determinar a emenda da petição inicial.
No que tange ao mandado monitório e citação do réu, Marinoni, Arenhart e Mitidiero
(2017, p. 254) ensinam:

Ao deferir a expedição do mandado, o juiz deve determinar a citação do devedor,


advertindo-o de que, em caso de cumprimento, estará isento do pagamento de custas
processuais e sujeito a honorários de sucumbência no importe de cinco por cento do valor
da causa (art. 701, caput e §1º); e que, no caso de não cumprimento no prazo de quinze
dias, o mandado poderá ser convertido em título executivo judicial.

As consequências e andamento da ação monitória vai depender de uma das condutas


tomadas pelo Réu.
Conforme ensinam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 255) uma vez deferido o
mandado de citação na ação monitória, o réu poderá:
a) CUMPRIR A ORDEM → nesta hipótese, ficará isento do pagamento de custas e arcará
com honorários de sucumbência de forma reduzida, ou seja, no valor de 5% do valor da causa;
b) FICAR INERTE → neste caso haverá a constituição, de pleno direito, do título executivo
judicial;
c) APRESENTAR EMBARGOS → ou seja, defesa, hipótese em que a demanda se
converterá em um procedimento de cognição plena e exauriente para se discutir o direito
afirmado pelo credor.
Referente a tais condutas do réu e consequências, no que tange ao cumprimento
espontâneo da prestação, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 255-256) referem que então
caso o réu cumpra no prazo de 15 dias a prestação buscada pelo autor, prevê a lei um benefício
a ser concedido ao réu, ou seja, a isenção das custas e a redução nos honorários de
sucumbência, os quais devem ser fixados no patamar de 5% do valor da causa. Conforme os
autores, estar-se-ia diante de uma sanção premiativa, com a finalidade de estimular o réu a
cumprir com a decisão judicial.

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No que tange à constituição de pleno direito do título executivo judicial, caso o réu fique

inerte, prevê o §2º do art. 701 do CPC: “§ 2o Constituir-se-á de pleno direito o título executivo
judicial, independentemente de qualquer formalidade, se não realizado o pagamento e não
apresentados os embargos previstos no art. 702, observando-se, no que couber, o Título II do
Livro I da Parte Especial. (BRASIL, 2015)
Da mesma forma afirma Medina (2016, p. 875): “o título executivo, no caso, nasce da
conjugação de dois fatos processuais: (a) a decisão do juiz, fundada em cognição sumária, que
defere o mandado; (b) a inércia do réu”.

§ 3o É cabível ação rescisória da decisão prevista no caput quando ocorrer a hipótese do § 2o.

23.13 Do parcelamento:
De acordo com a previsão do §5º do art. 701 do CPC, “aplica-se à ação monitória, no
que couber, o art. 916”. (BRASIL, 2015)
Assim sendo, “reconhecendo a procedência do pedido inicial, o réu pode, uma vez
depositado o montante de trinta por cento do valor da dívida pretendida, somado às custas e aos
honorários do advogado, postular o parcelamento do restante em até seis parcelas mensais,
somadas a correção monetária e juros de um por cento”. (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO,
2017, p. 256)
No mesmo sentido afirma Medina (2016, p. 874) que conforme o §5º do artigo 701 do
CPC se aplica a regra que permite o pagamento pelo réu em parcelas, requerido no prazo para
apresentação dos embargos, conforme artigo 916 do CPC.

23.14 Dos embargos à ação monitória


O meio de defesa do Réu na ação monitória dar-se-á por meio de embargos à ação
monitória, também chamado de embargos monitórios. O oferecimento dos embargos independe
de prévia segurança do juízo, consoante disposição do artigo 702 do CPC: “Art. 702.
Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos próprios autos, no
prazo previsto no art. 701, embargos à ação monitória”. (BRASIL, 2015)
Sobre a defesa do réu na ação monitória, Medina (2016, p. 876) ensina: “o réu se
defende, na ação monitória, através de embargos, que ‘podem se fundar em matéria passível de
alegação como defesa no procedimento comum’ (cf. art. 702, caput e §1º, do CPC/2015)”.

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Importante destacar que “de acordo com o art. 702, §4º, do CPC, o mandado monitório
terá a sua eficácia suspensa diante da apresentação dos embargos. Na verdade, a admissão
dos embargos impede que o processo caminhe para a fase executiva. Como os embargos não
dependem de prévia garantia do juízo (art. 702, do CPC), a expedição do mandado, fundada em
cognição sumária, não traz gravame algum ao devedor”. (MARINONI; ARENHART; MITIDERO,
2017, p. 256)
Os embargos monitórios são oferecidos nos próprios autos da ação monitória, porém,
pode o magistrado, ao verificar que eles só impugnam parte da prestação buscada, atuar os
mesmos em apartado, de modo a permitir o prosseguimento imediato da realização da parte
incontroversa, consoante previsão do art. 702, §7º do CPC. (MARINONI; ARENHART;
MITIDIERO, 2017, p. 256)
Ainda, sobre a consequência à monitória do oferecimento dos embargos à ação
monitória, impede destacar:

Apresentados embargos, dar-se-ão às partes todas as possibilidades de alegações e


provas. Os embargos permitem que o juiz chegue a um juízo de cognição exauriente,
capaz de permitir a declaração da existência ou da inexistência do direito afirmado pelo
credor. Assim, o procedimento monitório, quando analisado na perspectiva da cognição,
assume uma dupla face, pois tem uma primeira fase (até a expedição do mandado) em
que a cognição é sumária, e uma segunda (até a sentença dos embargos) em que a
cognição é exauriente. A realização plena do contraditório, que faz surgir cognição
exauriente, é condicionada à instauração de embargos por parte do réu. (MARINONI;
ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 257)

Quanto à matéria de defesa que pode ser alegada nos embargos à ação monitória, o §1º
do artigo 702 permite que “Os embargos podem se fundar em matéria passível de alegação
como defesa no procedimento comum”. (BRASIL, 2015)
Porém, se o réu ALEGAR QUE O AUTOR PLEITEIA QUANTIA SUPERIOR À DEVIDA,
o réu tem que indicar qual então o valor que entende correto, apresentando demonstrativo
discriminado e atualizado do débito, porque se fizer tal alegação e não indicar o valor correto e
nem juntar o demonstrativo e for o único argumento de defesa, os embargos vão ser rejeitados
liminarmente. Agora, se o réu alegar excesso de cobrança e não indicar o valor correto e nem
juntar o demonstrativo, mas cumula com outro argumento de defesa, o juiz recebe os embargos,
mas deixa de examinar a alegação de excesso, consoante disposição dos §§2º e 3º do art. 702
do CPC:
§2º Quando o réu alegar que o autor pleiteia quantia superior à devida, cumprir-lhe-á
declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo
discriminado e atualizado da dívida.

252
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§3º Não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, os embargos serão
liminarmente rejeitados, se esse for o seu único fundamento, e, se houver outro
fundamento, os embargos serão processados, mas o juiz deixará de examinar a alegação
de excesso. (BRASIL, 2015)

Nesse sentido, ensinam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, P. 257):

De todo modo, sempre que o réu alegar, em seus embargos, que o autor pretende valor
superior ao efetivamente devido, deve fixar a quantia que entende realmente adequada,
apresentando demonstrativo discriminado e atualizado da dívida (art. 702, §2º), sob pena
de indeferimento liminar dos embargos ou de não conhecimento dessa alegação, se
houver outros fundamentos a serem apreciados (art. 702, §3º).

Oferecidos os embargos à ação monitória, o autor será intimado para oferecer resposta aos
embargos no prazo de 15 dias, conforme previsto no §5º do art. 702 do CPC:

“§5º O autor será intimado para responder aos embargos no prazo de 15 (quinze)
dias”. (BRASIL, 2015)

Assim, uma vez oferecidos os embargos à ação monitória no prazo regular, o autor é
intimado na pessoa do seu advogado para responder aos embargos no prazo de 15 dias,
consoante previsão do §5º do art. 702 do CPC. “Após esse momento, a tramitação da ação
monitória, acoplada aos embargos à monitória, será a do procedimento comum, a ser concluída
por sentença, que examina a exigibilidade ou não da prestação buscada pelo autor”. (MARINONI;
ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 260)

Atenção: A DEFESA NA AÇÃO MONITÓRIA NÃO É CONTESTAÇÃO E SIM EMBARGOS À


AÇÃO MONITÓRIA.

23.15 Da Reconvenção:
O §6º do art. 702 do CPC permite o oferecimento da reconvenção, vendando, porém, o

oferecimento da reconvenção à reconvenção: “§ 6º Na ação monitória admite-se a


reconvenção, sendo vedado o oferecimento de reconvenção à reconvenção”. (BRASIL,
2015)
Sobre a possibilidade do oferecimento da reconvenção, Marinoni, Arenhart e Mitidiero
(2017, p. 258) expressam: “deve-se admitir o cabimento de reconvenção na ação monitória, seja
porque ela é expressamente admitida pela lei (art. 702, §6º), seja porque seu emprego é
compatível com o rito da monitória. Evidentemente, porém, esse cabimento só é viável no caso

253
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em que tenha havido o oferecimento de embargos na ação, pois só nessa hipótese é que a ação
seguirá o rito ordinário”.

23.16 Dos embargos parciais:


Se os embargos forem parciais, constituir-se-á o título executivo judicial em relação à
parcela incontroversa, ou seja, não impugnada pelo réu da ação monitória, observando-se o
disposto no artigo 701, §2º do CPC, e prosseguindo o procedimento em relação à parte
embargada, nos termos do artigo 702 do CPC. Neste caso, o juiz poderá determinar a tramitação
dos embargos parciais em autos apartados, conforme previsão do §7º do artigo 702 do CPC.
(MEDINA, 2016, p. 876)
§7º A critério do juiz, os embargos serão autuados em apartado, se parciais, constituindo-se de
pleno direito o título executivo judicial em relação à parcela incontroversa.

23.17 Da sentença:
Uma vez rejeitados os embargos à ação monitória, será constituído o título executivo

judicial, conforme previsão do §8º do artigo 702 do CPC: “§ 8o Rejeitados os embargos,


constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, prosseguindo-se o processo em
observância ao disposto no Título II do Livro I da Parte Especial, no que for cabível”. (BRASIL,
2015)
Ainda, conforme o §9º do artigo 702 do CPC, cabe o recurso de APELAÇÃO contra a
sentença, seja a que acolhe ou a que rejeita os embargos monitórios:

“§9º Cabe apelação contra a sentença que acolhe ou rejeita os embargos”. (BRASIL,
2015)

E mais, de acordo com o que prevê o §10º do artigo 702 do CPC, o juiz condenará o AUTOR
em favor do réu a multa de até 10% do valor da causa se proposta de forma indevida e de má-
fé a ação monitória. Da mesma forma, o juiz condenará o RÉU ao pagamento de multa de até
10% do valor da causa em favor do autor, se opuser embargos à ação monitória de má-fé:

§ 10. O juiz condenará o autor de ação monitória proposta indevidamente e de má-fé ao


pagamento, em favor do réu, de multa de até dez por cento sobre o valor da causa.
§ 11. O juiz condenará o réu que de má-fé opuser embargos à ação monitória ao
pagamento de multa de até dez por cento sobre o valor atribuído à causa, em favor do
autor. (BRASIL, 2015)

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Nesse sentido, manifestam-se Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 260): “Caso o


magistrado, ao decidir a causa, conclua que a oposição dos embargos à monitória é eivada de
má-fé, possuindo exclusivo intuito protelatório, deverá condenar o réu a pagar multa de até dez
por cento do valor da causa, em favor do autor (art. 702, §11). Do mesmo modo, concluindo o
juiz que o oferecimento da ação monitória se deu de má-fé, sem qualquer fundamento razoável,
imporá ao autor multa de até dez por cento sobre o valor da causa, em favor do réu (art. 702,
§10)”.

255
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MODELO AÇÃO MONITÓRIA

DOUTO JUÍZO DA ... VARA CÍVEL DA COMARCA ...

NOME DO AUTOR, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula


de Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador
constituído (procuração em anexo) OAB..., endereço eletrônico..., com escritório
profissional na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento legal no artigo 700,
caput e inciso... do Código de Processo Civil ajuizar a presente

AÇÃO MONITÓRIA, em face de

NOME DO RÉU, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula de


Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., número...,
Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões de fato e de direito a seguir expostos:

I – DA TEMPESTIVIDADE:
Verificar se é caso de alegar que está sendo ajuizada antes de prescrita. Somente
se for o caso.

II – DOS FATOS:
Trazer os fatos de acordo com o enunciado da FGV;

III – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:


Dentre outros argumentos jurídicos não esquecer:

1. DA PROVA ESCRITA:
Abrir um tópico para falar da prova escrita. Não esquecer que pode ser oriunda da
prova oral documentada, CONFORME O 700, §1º DO CPC.

256
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2. DA MEMÓRIA DE CÁLCULO ATUALIZADA (OU OUTRO INCISO DO §2º DO


ARTIGO 700 DO CPC):
Cuidar para cumprir o §2º do artigo 700 do CPC QUE REFERE QUE na petição
inicial, incumbe ao autor explicitar, conforme o caso:
I - a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo;
II - o valor atual da coisa reclamada;
III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido.
Ou seja, se for em razão de importância de débito, deve informar que segue memória
de cálculo atualizada.

Ver demais argumentos jurídicos conforme o caso.

IV – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Autor:
a) O recebimento da presente ação monitória com a expedição do mandado de
citação do Réu para que pague o montante devido de R$ ... no prazo de 15 dias, e
honorários de 5%, conforme previsão do artigo 701 do Código de Processo Civil ou
ofereça embargos à monitória, sob pena de constituir-se de pleno direito o título
executivo judicial, independente de qualquer formalidade;
b) A total procedência da ação para decretar a constituição, de pleno direito, de
título executivo judicial, independente de qualquer formalidade, se não realizado o
pagamento e nem oferecido os embargos à monitoria, no prazo de 15 dias;
c) Requer a juntada da prova escrita sem eficácia de título executivo e a memória
de cálculo;
d) Em caso de descumprimento do mandado, a condenação do Réu ao pagamento
de custas judiciais e honorários de advogado, na forma do §1º do artigo 701 do Código
de Processo Civil;
e) Na hipótese de oposição dos embargos à monitória pelo Réu, requer-se que seja
deferido prazo à Autora para impugnar e produção de todos os meios de prova em direito
admitidos;

257
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f) Requer a juntada do comprovante de recolhimento das custas judiciais ou


concessão do benefício da gratuidade da justiça, nos termos dos artigos 98 e 99 do
Código de processo Civil, por ser a Autora pessoa pobre nos termos da lei;

Valor da causa: atribui-se à causa o valor de R$... (cuidar o §3º do artigo 700 do
CPC);

Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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AÇÃO MONITÓRIA JÁ FOI OBJETO DE COBRANÇA PELA FGV NO XXI


EXAME/EMPRESARIAL!

ENUNCIADO:
Em 31/10/2012, quarta-feira, Peçanha, domiciliado e residente na Rua X, casa Y, nº 1, na
cidade de São Lourenço/MG, adquiriu eletrodomésticos no valor de R$ 100.000,00 (cem mil
reais), do Lojão Chalé Ltda., EPP, tendo sido emitida, na mesma data, uma nota promissória em
caráter pro solvendo no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), com vencimento para o dia
25/01/2013, sexta-feira, dia útil no lugar do pagamento.
Em 05/01/2017, quinta-feira, o Sr. Fabriciano Murta, administrador e representante legal da
credora, procura você munido de toda a documentação pertinente ao negócio jurídico
mencionado.
A cliente pretende a cobrança judicial do valor atualizado e com consectários legais de R$
280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais) por não ter sido adimplida a obrigação no vencimento
pelo devedor e restadas infrutíferas as tentativas de cobrança amigável.
Elabore a peça adequada, eficaz e pertinente para a defesa do interesse da cliente e
considere que a Comarca de São Lourenço/MG tem duas varas com competência concorrente
para julgamento de matérias cíveis. (Valor: 5,00) Obs.: a peça deve abranger todos os
fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar respaldo à pretensão. A simples
menção ou transcrição do dispositivo legal não confere pontuação.

GABARITO COMENTADO:

O(A) examinando(a) deverá demonstrar conhecimento da disciplina relativa às notas


promissórias, especialmente o conhecimento do prazo prescricional trienal para a ação de
execução e sua necessária e umbilical relação com o cabimento da ação monitória, caso esse
prazo tenha expirado. Dentre as ações cabíveis para a cobrança judicial da nota promissória
(cambial ou executiva, monitória e ordinária), aquela que se revela a mais adequada, eficaz e
pertinente para a defesa dos interesses da credora é a Ação Monitória, com base nas
informações contidas no enunciado, considerando-se que houve a prescrição da pretensão à
execução da nota promissória, a partir da análise das datas de vencimento e da consulta feita

259
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ao advogado. De acordo com o Art. 77 do Decreto nº 57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra -


LUG), aplicam-se à nota promissória as disposições relativas à prescrição da letra de câmbio.
Por sua vez, o Art. 70 do mesmo diploma estatui o prazo de 3 (três) anos para a propositura
da ação por falta de pagamento em face do aceitante, contados do vencimento da cártula. A nota
promissória não tem aceitante e sim subscritor, portanto é necessário o fundamento no Art. 78
da LUG, que equipara o subscritor da nota promissória ao aceitante. Pelas datas citadas no
enunciado (25/01/2013 e 05/01/2017), verifica-se o decurso de mais de 3 anos entre a data do
vencimento e a data da solicitação de cobrança judicial. Assim sendo, é patente a ocorrência da
prescrição da pretensão à execução da nota promissória.
O examinando deverá reconhecer a prescrição e relacionar tal fato ao cabimento da ação
monitória.
Com base nessas considerações, a peça a ser elaborada pelo(a) examinando(a) é uma
Ação Monitória, com fundamento no Art. 700, inciso I, do CPC/15, tendo em vista que o
título (prova escrita) perdeu sua eficácia executiva e a credora pretende pagamento de
quantia em dinheiro. Por esta razão, é indispensável que o examinando mencione em sua
resposta o inciso I do Art. 700 do CPC/15, pois deverá precisar que o autor pretende o pagamento
de quantia em dinheiro e não a entrega de coisa ou de bem, ou ainda o cumprimento de
obrigação de fazer ou de não fazer.
O Juízo competente será a 1ª OU a 2ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço/MG, lugar
do pagamento e domicílio do subscritor da nota promissória (Art. 53, inciso III, alínea d, do
CPC/15).
A vara onde tramitará a ação não estará determinada no momento da elaboração da
petição. Assim, não cabe sua indicação prévia na petição inicial.
O(A) examinando(a) deve demonstrar a tempestividade no ajuizamento da ação, com base
no Art. 206, § 5º, inciso I, do Código Civil (prazo quinquenal) OU na Súmula 504 do STJ (“O
prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força
executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título”, STJ, Segunda Seção,
julgada em 11/12/2013, DJe 10/02/2014).
Considerando-se que o vencimento ocorreu em 25/01/2013, não decorreram ainda 5 (cinco)
anos, portanto há tempestividade para a propositura da ação monitória. Na petição inicial da ação
monitória, o autor deve explicitar o conteúdo patrimonial em discussão, de modo que devem
constar no texto da resposta na parte referente aos fundamentos jurídicos:

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a) a origem do crédito: aquisição de eletrodomésticos pelo devedor, ora réu;


b) o crédito está representado em nota promissória emitida pelo réu;
c) não houve novação na emissão da nota promissória em relação ao crédito por ter sido
emitida em caráter pro solvendo;
d) do dia seguinte ao do vencimento da nota promissória até a data da propositura da ação,
decorreram mais de 3 (três) anos, verificando-se a prescrição da pretensão à execução, nos
termos do Art. 77 c/c os artigos 70 e 78, todos do Decreto nº 57.663/66;
e) com a perda da eficácia executiva do título ainda é cabível a cobrança por via de ação
monitória, nos termos do Art. 700, inciso I, do CPC/15.
A razão jurídica para o cabimento da ação monitória está, necessariamente, relacionada à
prescrição em 3 anos da pretensão à execução da nota promissória. Por esta razão, a pontuação
do item “e” da Fundamentação Jurídica depende que o examinando reconheça a prescrição em
3 anos em sua resposta, e, dessa forma, atinja o conteúdo mínimo avaliado.
Nos pedidos, o(a) examinando(a) deve requerer:
a) a expedição de mandado de citação (admite-se a citação por qualquer dos meios
permitidos para o procedimento comum, Art. 700, § 7º, CPC/15) E de pagamento contra o réu, a
ser cumprido no prazo de 15 dias, nos termos do Art. 701, caput, do CPC/15;
b) o pagamento de honorários advocatícios de 5% (cinco por cento) do valor de R$
280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais), correspondentes ao valor da causa, OU o pagamento
de honorários advocatícios no valor de R$ 14.000,00 (catorze mil reais), correspondente a 5%
do valor da causa (o simples pedido de honorários não pontua);
c) a condenação do réu ao pagamento de custas processuais em caso de descumprimento
do mandado monitório, em conformidade com o Art. 701, § 1º, do CPC/15 (o simples pedido de
condenação em custas não pontua);
d) a procedência do pedido para decretar a constituição, de pleno direito, de título executivo
judicial, independentemente de qualquer formalidade, se não realizado o pagamento E não
apresentados embargos pelo réu (Art. 701, § 2º, do CPC/15);
e) em obediência ao Art. 318, parágrafo único c/c o Art. 319, inciso VII, ambos do CPC/15,
a indicação de ter interesse (ou não) pela realização de audiência de conciliação ou de mediação.
Das provas: a petição deverá estar necessariamente instruída com a prova escrita sem
eficácia de título executivo (nota promissória), nos termos do Art. 700, caput, do CPC/15.

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Portanto, o examinando deverá fazer referência expressa a ela, bem como à memória de cálculo
que serviu de base para apuração da importância devida (Art. 700, § 2º, inciso I, do CPC/15).
Valor da causa: Nos termos do Art. 700, § 3º, do CPC/15, o(a) examinando(a) deverá fazer
menção expressa ao valor da causa de R$ 280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais), que
corresponde à importância devida prevista no Art. 700, § 2º, inciso I, do CPC/15.
Fechamento da peça: o(a) examinando(a) deverá proceder conforme o item 3.5.9 do Edital
(Local ... ou Município (São Lourenço/MG), Data..., Advogado(a)... e OAB...), abstendo-se de
inserir dado ou informação não contidos no enunciado (ex: dia, mês e ano definidos) para não
identificar sua peça. Cabe lembrar que, em hipótese alguma, a peça deve ser datada, pois não
há este comando no enunciado da questão.

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24. Dissolução Parcial da Sociedade

24.1 Conceito
O procedimento especial da dissolução parcial da sociedade encontra-se previsto no
Código de Processo Civil nos artigos 599 a 609 do CP.
Tal procedimento especial é utilizando quando um ou mais de um sócio sai da sociedade,
sendo que esta continua. A ideia é continuar a sociedade, com base no no princípio da
preservação da empresa e de sua função social, visando evitar a dissolução e liquidação da
sociedade quando ocorre a quebra da affectio societatis.
Nesse sentido expressam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 194): “(...) sob a premissa
de que há o interesse na preservação da sociedade, ainda quando um dos sócios manifesta sua
vontade de retirar-se dela, ou não pode mais vincular-se a ela, mostrou-se necessário
estabelecer regime para que essa extinção parcial do vínculo com a sociedade possa fazer-se
sem maiores percalços e sem prejuízo à continuidade das atividades da pessoa jurídica”.
Assim, com a dissolução parcial, ocorre apenas a resolução da sociedade em relação a um
ou alguns sócios, desfazendo-se os respectivos vínculos.
Sobre a dissolução parcial da sociedade ensina Medina (2016, p. 836): “A dissolução parcial
da sociedade abrange as variadas hipóteses em que, à luz do direito substantivo, dá-se a
extinção do vínculo societário em relação a um (ou alguns) dos sócios, liquidando-se a respectiva
quota social. A sociedade, a rigor, não se dissolve; o que se dissolve é o vínculo que liga (ou
ligava) um dos sócios aos demais – e, como consequência, à sociedade. A sociedade, pois,
persiste, após o desligamento do sócio”.
O CPC não estabelece as hipóteses de dissolução parcial. Ou seja, estas causas de
dissolução parcial da sociedade encontram-se elencadas no Código Civil, em seus artigos 1.028,
1.029 e 1.030.
Observa-se que quando for dissolução total da sociedade, não se aplica o procedimento
especial. Cuida-se, então, de serem examinadas as causas previstas no Código Civil:

Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:


I - Se o contrato dispuser diferentemente;
II - Se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade;
III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido. (BRASIL,
2002)

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Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se
da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com
antecedência mínima de sessenta dias; se de prazo determinado, provando judicialmente
justa causa.
Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à notificação, podem os demais sócios
optar pela dissolução da sociedade. (BRASIL, 2002)

Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser
excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave
no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.
Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado falido, ou
aquele cuja quota tenha sido liquidada nos termos do parágrafo único do art. 1.026.
(BRASIL, 2002)

Frisa-se que as causas de dissolução não são taxativas, pois conforme previsão do artigo
1.035 do Código Civil, o contrato poderá prever outras causas:

Art. 1.035. O contrato pode prever outras causas de dissolução, a serem verificadas
judicialmente quando contestadas. (BRASIL, 2002)

No que se refere às sociedades anônimas, a dissolução é regulada pela lei 6.404/76. Com
a dissolução parcial ocorre a liquidação da quota do sócio retirante, excluído ou dos sucessores,
que se tornam credores da sociedade.
Assim, o valor da quota desse sócio ou sucessor será liquidada com base na situação
patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado,
salvo disposição contratual em contrário.
Disso decorre que o capital social sofrerá a correspondente redução. Porém, podem os
demais sócios suprirem o respectivo valor.

Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da
sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo
disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data
da resolução, verificada em balanço especialmente levantado.
§1º O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem
o valor da quota.
§2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da
liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário. (BRASIL, 2002)
Art. 1.032. A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da
responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a
resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo,
enquanto não se requerer a averbação. (BRASIL, 2002)

24.2 Do objeto da ação de dissolução parcial da sociedade


Observar que, conforme entendimento de Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 194) as
regulações do CPC se destinam a regular duas espécies diferentes de ação: DISSOLUÇÃO
PARCIAL DA SOCIEDADE E A APURAÇÃO DE HAVERES, que podem ser cumuladas em um

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só processo ou podem ser deduzidas de forma autônoma. Assim sendo, há preceitos que se
destinam tão somente à dissolução e outros tão somente à apuração de haveres.
Previsão no artigo 599 do CPC:
Art. 599. A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto:
I - A resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio
falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; e
II - A apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada
ou recesso; ou
III - somente a resolução ou a apuração de haveres. (BRASIL, 2015)

* Para todos verem: esquema

OBJETO DA DISSOLUÇÃO PARCIAL DA SOCIEDADE


•A resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio
falecido, excluído ou que exerceu direito de retirada (imotivada) ou recesso (retirada
motivada)
•A apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de
retirada ou recesso.
•Somente a resolução ou a apuração de haveres.

A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter também por objeto a sociedade
anônima de capital fechado quando demonstrado que não pode preencher o seu fim.

§2º. “A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter também por objeto a sociedade
anônima de capital fechado quando demonstrado, por acionista ou acionistas que
representem cinco por cento ou mais do capital social, que não pode preencher o seu fim”.
(BRASIL, 2015)

Verifica-se que as hipóteses dos incisos I, II e III do artigo 599 do CPC/15 são as previstas
no Código Civil em seus artigos 1.028 a 1.030 do Código Civil.
Já o § 2º do artigo 599 se relaciona a alínea b do inciso II do artigo 206 da lei 6.404/76, Lei
das S.A.
Quanto ao objeto da ação de dissolução parcial de sociedade Marinoni, Arenhart e Mitidiero
(2017, p. 195) ensinam: “em que pesem as divergências doutrinárias a respeito do tema, a lei
processual limitou, em princípio, o procedimento em exame às sociedades empresariais
contratuais ou simples (art. 599, I do CPC). Assim, podem valer-se do procedimento especial
aqui examinado a sociedade limitada, a em nome coletivo, a em comandita simples e as
sociedades civis não empresariais aí a incluída a cooperativa”. E mais:
Depreende-se que as sociedades abrangidas pelo artigo 599 são as sociedades limitadas,
simples, anônimas fechadas, em nome coletivo e em comandita simples.

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Importante destacar que “atendendo ainda à jurisprudência brasileira já consolidada, o


Código também estendeu a possibilidade da dissolução parcial às sociedades anônimas de
capital fechado, sempre que se demonstre, por acionistas que representem ao menos cinco por
cento do capital social, que ela não pode preencher seu fim (art. 599, §2º do CPC)”. (MARINONI;
ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 195)

24.3 Legitimados para propor a Ação de Dissolução Parcial


Previsão no artigo 600 do CPC/15:
Art. 600. A ação pode ser proposta:
I - Pelo espólio do sócio falecido, quando a totalidade dos sucessores não ingressar na
sociedade;
II - Pelos sucessores, após concluída a partilha do sócio falecido;
III - pela sociedade, se os sócios sobreviventes não admitirem o ingresso do espólio ou
dos sucessores do falecido na sociedade, quando esse direito decorrer do contrato social;
IV - Pelo sócio que exerceu o direito de retirada ou recesso, se não tiver sido
providenciada, pelos demais sócios, a alteração contratual consensual formalizando o
desligamento, depois de transcorridos 10 (dez) dias do exercício do direito;
V - Pela sociedade, nos casos em que a lei não autoriza a exclusão extrajudicial; ou
VI - pelo sócio excluído.
Parágrafo único. O cônjuge ou companheiro do sócio cujo casamento, união estável ou
convivência terminou poderá requerer a apuração de seus haveres na sociedade, que
serão pagos à conta da quota social titulada por este sócio. (BRASIL, 2015)

No que tange à legitimidade para propositura da ação, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017,
p. 196) ensinam:
MORTE DE SÓCIO: no caso de dissolução parcial da sociedade em virtude de morte de
sócio, a legitimação para a causa é atribuída ao espólio ou sucessores do sócio. Será do espólio
quando a totalidade dos sucessores não ingressar na sociedade e, sempre antes de concluída a
partilha dos bens do falecido (art. 600, I do CPC). Homologada a partilha dos bens, a ação poderá
ser ajuizada pelos sucessores, em especial por aqueles a quem for atribuída a quota da
sociedade em questão, e não havendo interesse em ingressar na sociedade (art. 600, II, do
CPC). (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 196)
Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 196) ensinam que quanto à morte do sócio como
causa à propositura da referida ação “havendo previsão no contrato nesse sentido, os sócios
remanescentes não aceitem o ingresso do espólio ou dos sucessores na sociedade, oferece-se
a legitimação para apuração de haveres à própria sociedade (art. 600, III, do CPC)”.
Ainda, quando o fundamento da ação seja o exercício do direito de se retirar da pessoa
jurídica, seja motivada ou não, a legitimidade seria atribuída ao próprio sócio que pretende sair
da sociedade (art. 600, IV, do CPC). (MARINONI, ARENHART, MITIDIERO, 2017, p. 196)

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No caso de ser o motivo da ação a exclusão do sócio, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017,
p. 196) “a legitimidade é atribuída tanto ao sócio excluído (para a apuração dos haveres), como
ainda à própria sociedade para que possa exercer o direito à exclusão, nos casos em que é
vedada a exclusão extrajudicial (art. 600, V e VI do CPC)”.
O cônjuge ou companheiro do sócio cujo casamento, união estável ou convivência terminou
para requerer a apuração de seus haveres na sociedade, que serão pagos à conta da quota
social titulada por este sócio.
Ou seja, com a definição da meação ao final do casamento, união estável ou convivência
e, obviamente, desde que tenha o ex-cônjuge ou ex-companheiro direito sobre as quotas sociais
tituladas pelo outro, o ex-cônjuge ou ex-companheiro possuirá legitimidade ativa para a apuração
de haveres.

24.4 Do procedimento
Observar de início a previsão do §1º do artigo 599 do CPC/15: § 1o A petição inicial será
necessariamente instruída com o contrato social consolidado.
Os réus terão direito a contestar, conforme preceitua o artigo 601 do Novo CPC:

Art. 601. Os sócios e a sociedade serão citados para, no prazo de 15 (quinze) dias,
concordar com o pedido ou apresentar contestação.
Parágrafo único. A sociedade não será citada se todos os seus sócios o forem, mas ficará
sujeita aos efeitos da decisão e à coisa julgada. (BRASIL, 2015)

Presume-se que a citação da sociedade tenha ocorrido no caso de citação de todos os seus
sócios, o que certamente deve ocorrer. No caso de ação de apuração de haveres, não há
necessidade de participação dos sócios, mas apenas da sociedade, que responde com seu
patrimônio pelo pagamento dos haveres apurados.
Segundo apontam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 197) a colocação da sociedade
e dos sócios no polo passivo dependerá sempre da hipótese em que se funda a ação. de modo
que se a demanda for ajuizada pela sociedade, ela não figurará no polo passivo também, sob
pena de configurar confusão processual.
Citados, os réus possuem o prazo de 15 dias para concordar com o pedido ou contestar a
ação.
Pode haver a possibilidade de indenização na forma do artigo 602 do CPC/15:

Art. 602. A sociedade poderá formular pedido de indenização compensável com o valor
dos haveres a apurar. (BRASIL, 2015)

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Previsão citada pela doutrina: artigo 368 do Código Civil:

Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as
duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.
Art. 603. Havendo manifestação expressa e unânime pela concordância da dissolução, o
juiz a decretará, passando-se imediatamente à fase de liquidação.
§1º Na hipótese prevista no caput, não haverá condenação em honorários advocatícios de
nenhuma das partes, e as custas serão rateadas segundo a participação das partes no
capital social.
§2º Havendo contestação, observar-se-á o procedimento comum, mas a liquidação da
sentença seguirá o disposto neste Capítulo.

Se houver concordância não haverá condenação em honorários advocatícios. Se houver


contestação segue o procedimento comum.
Havendo a apresentação de contestação ao pedido de dissolução parcial da sociedade o
feito seguirá pelo procedimento comum e, após julgamento deste, a apuração de haveres (e não
liquidação de sentença) deverá seguir o procedimento especial.
Sobre o procedimento da ação de dissolução parcial de sociedade Führer e Füherer (2016,
p. 156-157) ensinam: “Recebida a inicial, os sócios e a sociedade são citados para concordar
com o pedido ou apresentar contestação em 15 dias. Havendo concordância expressa e unanime
pela dissolução, esta será decretada, passando-se imediatamente à fase de liquidação. Se
houver contestação, segue-se o procedimento comum. Superada a primeira fase do
procedimento, a liquidação é realizada nos moldes dos arts. 604 e ss. É fixada a data da
resolução da sociedade para efeito também de apuração de participação nos lucros e juros sobre
o capital. Se o contrato social for omisso, o juiz estabelece a forma de apuração de haveres,
seguindo-se nomeação de perito, se necessário. Deve ser depositada imediatamente pelos
sócios remanescentes a parte incontroversa dos haveres devidos, permitindo o levantamento
desde logo pelo ex-sócio, espólio ou sucessores. Os haveres do sócio retirante são pagos
conforme disciplinar o contrato social e, no silencio, nos termos do §2º do art. 1.031 do CC”.

24.5 Da apuração dos haveres


Previsão no artigo 604 do CPC/15:

Art. 604. Para apuração dos haveres, o juiz:


I - Fixará a data da resolução da sociedade;
II - Definirá o critério de apuração dos haveres à vista do disposto no contrato social; e
III - nomeará o perito.
§1º O juiz determinará à sociedade ou aos sócios que nela permanecerem que depositem
em juízo a parte incontroversa dos haveres devidos.

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§2º O depósito poderá ser, desde logo, levantando pelo ex-sócio, pelo espólio ou pelos
sucessores.
§3º Se o contrato social estabelecer o pagamento dos haveres, será observado o que nele
se dispôs no depósito judicial da parte incontroversa.

O artigo 604 estabelece os elementos para a apuração dos haveres. Ou seja, antes de
iniciar a perícia visando à apuração dos haveres, deverá o juiz estabelecer quais são os principais
elementos desta:
▪ A Data da resolução da sociedade;
▪ O critério de apuração, respeitando-se o disposto no contrato social acerca do tema,
os quis devem ser observados pelo perito.
A partir deste momento vai ocorrer a nomeação do perito.
Além disso, se houver controvérsia relacionada somente à parte dos valores dos haveres,
a parte incontroversa deve ser depositada em juízo e, desde logo, poderá ser levantada pelo
credor, respeitando-se o estipulado no contrato social da sociedade.

24.6 Da data da resolução da sociedade


Conforme se verificou no artigo 604 do CPC/15, o juiz deve fixar a data de resolução da
sociedade.
* Para todos verem: esquema

A DATA DE RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE SERÁ

No caso de falecimento do sócio e não aceitação de ingresso do espólio ou dos sucessores, a do


óbito.
No caso de retirada imotivada, o sexagésimo dia ao do recebimento da notificação pela
sociedade

No caso de recesso, o dia do recebimento da notificação pela sociedade

No caso da exclusão extrajudicial, a data da assembleia ou reunião que a tiver liberado

OBSERVAR SEMPRE EM PRIMEIRO LUGAR A PREVISÃO DO CONTRATO SOCIAL →


art. 606 do CPC/15:
Art. 606. “Em caso de omissão do contrato social, o juiz definirá, como critério de apuração
de haveres, o valor patrimonial apurado em balanço de determinação, tomando-se por
referência a data da resolução e avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e
intangíveis, a preço de saída, além do passivo também a ser apurado de igual forma.
Parágrafo único. Em todos os casos em que seja necessária a realização de perícia, a
nomeação do perito recairá preferencialmente sobre especialista em avaliação de
sociedades”. (BRASIL, 2015)

271
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ATENÇÃO: Conforme o art. 607 do CPC, os critérios podem ser revisados pelo juiz a
pedido da parte, a qualquer tempo antes do início da perícia.

Ou seja, se houver previsão contratual acerca do critério de apuração dos haveres e desde
que referido critério apresente-se razoável. Por exemplo, não pode acarretar enriquecimento sem
causa nem da sociedade que pagará valor irrisório e nem do ex-sócio que receberá um valor
exorbitante em detrimento da sociedade, o juiz deve observar o que está disposto no contrato
social. Porém, se houver omissão do contrato, o juiz deve determinar a elaboração de um
balanço de determinação que demonstra o valor patrimonial real da sociedade.
O momento de revisar os critérios é antes do início da perícia. O juiz não pode de ofício, e
sim a pedido de qualquer das partes. Pode ser revista a data da resolução e o critério de
apuração.
Observar os direitos a que fazem jus em razão da resolução: previsão do art. 608 do
CPC/15.
Art. 608. Até a data da resolução, integram o valor devido ao ex-sócio, ao espólio ou aos
sucessores a participação nos lucros ou os juros sobre o capital próprio declarados pela
sociedade e, se for o caso, a remuneração como administrador.
Parágrafo único. Após a data da resolução, o ex-sócio, o espólio ou os sucessores terão
direito apenas à correção monetária dos valores
apurados e aos juros contratuais ou legais.

ATÉ A DATA DA RESOLUÇÃO: O ex-sócio, o espólio ou os sucessores fazem jus à


participação nos lucros ou aos juros sobre o capital próprio declarados pela sociedade.

DEPOIS DA RESOLUÇÃO: A partir da resolução, uma vez que não são mais sócios, terão
direito apenas à correção monetária dos valores apurados e aos juros contratuais ou legais.
DO PAGAMENTO DOS HAVERES → PREVISÃO DO ARTIGO 609 DO CPC:

Art. 609. Uma vez apurados, os haveres do sócio retirante serão pagos conforme
disciplinar o contrato social e, no silêncio deste, nos termos do §2º do art. 1.031 da Lei no
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).

Prevalece a vontade dos sócios estipuladas no contrato, porém, devem ser observados
os limites legais e os princípios gerais do direito. E se não houver previsão? Os haveres devem
ser pagos em dinheiro, no prazo de 90 dias, a partir da liquidação (CC, art. 1.031, § 2º). Deve
ser descontado o valor incontroverso já depositado.

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AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL JÁ FOI OBJETO DE COBRANÇA PELA FGV!

XXII EXAME/EMPRESARIAL – ENUNCIADO:


Ana Arquitetos Associados S/S é uma sociedade simples com contrato arquivado no
Registro Civil de Pessoas Jurídicas da Comarca de Guarapuava/PR, capital de R$ 40.000,00
(quarenta mil reais) e sede no mesmo município.
A sociedade é composta pela sócia Ana, detentora de 40% do capital social, e pelos sócios
Braga, Telêmaco e Guaraci, detentores, cada um, de 20% do capital social.
A administração da sociedade é exercida, cumulativamente, pelos sócios Braga e Guaraci.
Os sócios são domiciliados no lugar da sede social. Decorridos nove anos da constituição da
sociedade, Ana vem tentando dissolvê-la por distrato, sem sucesso, por não concordar com
certas decisões administrativas de Braga e Guaraci, apoiadas pelo sócio Telêmaco.
Ana, em vez de exercer seu direito de retirada, passou a atuar de modo velado em projetos
de arquitetura com sociedades concorrentes nas cidades de Cascavel e Ponta Grossa, dentro
da área de atuação da sociedade simples. Além disso, ela passou a atrasar, deliberadamente, a
entrega de projetos aos clientes de Guarapuava e Prudentópolis, bem como a disseminar
mensagens de correio eletrônico com notícias inverídicas sobre a vida particular dos sócios e
sobre os administradores estarem dilapidando o patrimônio social, bem como se apropriando de
bens da sociedade para uso próprio.
Os demais sócios conseguiram algumas dessas mensagens de correio eletrônico e
confrontaram Ana, que confirmou a autoria e disse que não mudaria sua atitude.
Além da insustentabilidade da harmonia entre os sócios e total desaparecimento de affectio
societatis em relação a Ana, o faturamento da pessoa jurídica foi sensivelmente reduzido, porque
os principais clientes já estavam cancelando contratos ou devolvendo propostas de serviços
confirmadas, como provam as notificações recebidas pelos sócios e correspondências.
Com base nos dados do enunciado, elabore a peça processual adequada considerando
que o Código de Organização e Divisão Judiciárias do Estado do Paraná determina ser de
entrância final a Comarca de Guarapuava, composta por 03 (três) Varas Cíveis e da Fazenda
Pública, competindo aos respectivos Juízes processar e julgar os feitos de natureza comercial.
(Valor: 5,00)

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Obs.: a peça processual deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser
utilizados para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal
não confere pontuação.

GABARITO COMENTADO PELA FGV:


Com base no relato do enunciado a peça adequada é a AÇÃO DE DISSOLUÇÃO
PARCIAL, com fundamento no Art. 599, incisos I e II, do CPC/15. O fundamento legal de direito
material é o Art. 1.030 do Código Civil, que autoriza a exclusão judicial de sócio, mediante
iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, que
é o caso narrado. A petição deve ser endereçada ao Juiz de Direito de uma das Varas Cíveis e
da Fazenda Pública da Comarca de Guarapuava, consoante informação contida no enunciado.
O examinando deverá qualificar a parte autora, Ana Arquitetos Associados S/S,
representada pelos sócios administradores Braga e Guaraci, [qualificação da sociedade] – Art.
600, inciso V, do CPC/15 – e o réu Ana. Nos fundamentos jurídicos, o examinando deverá indicar:
i) os fatos imputados a Ana constituem falta grave no cumprimento de suas obrigações
(concorrência velada com a sociedade pela atuação em projetos de concorrentes, deslealdade,
atraso deliberado na entrega dos projetos, disseminação de correspondência inverídica sobre os
sócios e administradores);
ii) os sócios autores constituem a maioria no quadro social e no capital (três dos quatro
sócios e 60% do capital social);
iii) quebra da affectio societatis em relação a Ana;
iv) redução do faturamento da sociedade (os principais clientes já estão cancelando
contratos ou devolvendo propostas de serviços confirmadas); e v) impossibilidade de
manutenção do sócio na sociedade OU necessidade de sua exclusão por via judicial.
Nos pedidos deverão ser requeridos:
a) a procedência do pedido para decretar a exclusão do réu da sociedade OU a resolução
da sociedade em relação ao réu OU a dissolução parcial;
b) a apuração de haveres da sócia Ana, com base no Art. 1.031 do Código Civil OU Art.
599, inciso II, do CPC/15;
c) indenização compensável com o valor dos haveres a apurar, com fundamento no Art.
602 do CPC/15;
d) fixação da data da resolução da sociedade (Art. 604, inciso I, do CPC/15);

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e) definição do critério de apuração dos haveres (Art. 604, inciso II, do CPC/15);
f) nomeação de perito (Art. 604, inciso III, do CPC/15).
g) a condenação do réu ao pagamento das custas dos honorários advocatícios, caso não
haja manifestação expressa e unânime pela concordância da dissolução (Art. 603, § 1º, do
CPC/15, a contrario sensu)
Em relação às provas com as quais o autor pretende demonstrar a veracidade dos fatos e
seu direito, deve ser expressamente mencionado como anexos:
1) contrato social (Art. 599, § 1º, do CPC/15);
2) mensagens de correio eletrônico enviadas por Ana com notícias e fatos inverídicos sobre
os sócios;
3) notificações dos clientes cancelando contratos e propostas, que estão reduzindo o
faturamento da sociedade.
O examinando deve fazer menção ao valor da causa, com fundamento no Art. 319, inciso
V, do CPC/15.
No fechamento da peça o examinando deverá proceder em conformidade com o item 3.5.9
do Edital: Local... (ou Guarapuava/PR), Data..., Advogado.... e OAB...

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25. Embargos de Terceiro

25.1 Previsão Legal:


Arts. 674 a 681 do CPC;

25.2 Conceito
Os embargos de terceiro são utilizados pelo terceiro (quem não é parte no processo) no
caso de haver constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais
tenha direito incompatível com o ato constritivo. Logo, por meio desse procedimento especial, o
terceiro poderá requerer o desfazimento ou a inibição dessa constrição.

25.3 Cabimento dos embargos de terceiro:


Sobre o cabimento dos embargos de terceiro Chacon (2020, p. 154) ensina que “este
procedimento tem a finalidade de proteger a posse e/ou a propriedade de bens ou direitos de
quem verifica que seu bem foi indevidamente apreendido por ato originário de processo do qual
não fez ou faz parte; geralmente o bem é apreendido por penhora, depósito, arresto, etc.,
causando verdadeiro esbulho ou turbação (...)”.
O artigo 674 do CPC deixa claro que o terceiro deve ser entendido amplamente como
aquele que não é parte do processo. (CHACON, 2020, p. 154)
Previsão do artigo 674 do Novo CPC:

Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição
sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo,
poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro.
(BRASIL, 2015)

Os embargos de terceiro podem ter natureza repressiva ou preventiva voltada contra a


constrição ou ameaça de constrição decorrente de ato judicial sobre o patrimônio do lesado ou
ameaçado de lesão. (MEDINA, 2016, p. 860)
No que tange à natureza jurídica dos embargos de terceiro, Marinoni, Arenhart e Mitidiero
(2017, p. 230) mencionam que possuem natureza jurídica de AÇÃO PRÓPRIA, mesmo quando
se ligam ao processo de execução. Os embargos de terceiro são, segundo os autores referidos,
AÇÃO E PROCESSOS AUTÔNOMOS. Complementam ainda: “Essa forma de proteção dos
interesses do terceiro constitui processo de conhecimento, com predominante função

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mandamental – já que sua finalidade é fazer cessar a eficácia do outro mandado judicial, que
gerou a constrição indevida. Possui nítido caráter acessório: os embargos de terceiro só existem
e se justificam diante de uma outra demanda anterior, de onde tenha sido emitida ordem de
apreensão do patrimônio do terceiro”.
Quanto ao cabimento dos embargos de terceiro Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p.
230) ensinam que:
a ação de embargos de terceiro é admitida sempre que alguém sofrer ameaça ou efetiva
constrição sobre bem que possua ou sobre os quais ostente direito incompatível com o
ato de constrição (art. 674, caput, do CPC). Em que pese a omissão, no texto legal, à
‘constrição judicial’ é certo que somente ela – e não a administrativa ou a privada –
subsidiam os embargos de terceiros. Para os demais casos, socorrem o interessado as
vias tradicionais de proteção da posse ou da propriedade.

Continuam ainda os autores:

Em princípio, a proteção se dá sobre a posse do bem, mas pode ser postulada por quem
seja possuidor (apenas) ou também pelo proprietário-possuidor. A isso contribui a
constatação de que também pode valer-se dos embargos de terceiro quem tenha ‘direito
incompatível’ com o ato judicial de constrição”. (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO,
2017, p. 230-231)

Os embargos de terceiro no Novo CPC, possuem a mesma natureza jurídica do CPC de


1973, ou seja, procedimento especial de jurisdição contenciosa;

25.4 Partes nos Embargos de Terceiro:

Embargante:
quem promove a
Partes dos ação
embargos de
terceiro Embargado:
quem sofre a
ação

▪ Chama-se de Embargante: quem promove a ação;


▪ Chama-se de Embargado: quem sofre a ação;

Chama-se embargos de terceiro, porque justamente são opostos por quem quer se

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defender e não faz parte do processo principal no qual há a ameaça ou há a constrição indevida
do bem.
Sobre a legitimidade Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 231) mencionam que “os
embargos de terceiro podem ser ajuizados, em princípio, por qualquer pessoa que ostente a
condição de terceiro em relação à demanda de onde provém a decisão judicial que ordena a
constrição do bem. Esse terceiro, porque teve seu patrimônio atingido pela decisão judicial, está
sempre habilitado a insurgir-se contra a indevida apreensão do bem por meio dos embargos de
terceiro”.

CARÁTER PREVENTIVO: Pretende tutelar não só a ofensa, mas a ameaça ao direito.


EXEMPLO: bem que por indicação do exequente esteja na iminência de penhora. Ou seja, não
é necessário que o bem seja penhorado para que o titular do direito possa opor os Embargos a
fim de que a medida não ocorra.
Os embargos de terceiro possuem essa denominação uma vez que são opostos justamente
por pessoa que não faz parte do processo no qual ocorreu a constrição indevida. Ou seja, por
terceiro:
O §1º do art. 674 do Novo CPC elenca quem são os legitimados:

§1º. Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor.


(BRASIL, 2015)

No entanto, apesar de não ser parte no processo, o terceiro deve ter algum vínculo com a
coisa que foi objeto ou será de constrição judicial. Deve ser:
* Para todos verem: esquema

Proprietário,
incluindo o
credor fiduciário
O terceiro deve
ser
Possuidor

No entanto, apesar de não ser parte no processo, o terceiro deve ter algum vínculo com a
coisa que foi objeto ou será de constrição judicial. Deve ser:
▪ Proprietário, incluindo o credor fiduciário;
▪ Possuidor;

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Segundo Medina (2016, p. 861) “pode-se opor embargos fundados em posse ou em


propriedade, ainda que se trate de propriedade fiduciária. (...) A posse pode decorrer de contrato
de compromisso de compra e venda (cf. Súmula 84 do STJ)”.
Nesse sentido, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 232) colocam que “a condição de
terceiro possuir do bem, para ser aferida, evidentemente dispensa a formalização de eventual
transferência do bem, no caso de alienação. Assim, pouco importa se o compromisso de
comprova e venda encontra-se devidamente registrado, para configurar (para o promissário-
comprador) a condição de terceiro com legitimidade para opor os embargos de terceiro”. Vide
sumula 84 do STJ.
No que tange à legitimidade ativa para ajuizamento dos embargos de terceiro é de se
observar, ainda, a previsão do §2º do art. 674 do CPC:

§ 2º “Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:


- o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação,
ressalvado o disposto no art. 843;
- o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da
alienação realizada em fraude à execução;
– quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da
personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte;
- o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de
garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios
respectivos”. (BRASIL, 2015)

▪ Hipótese do Inciso I:
I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua
meação, ressalvado o disposto no art. 843;

Art. 843. “Tratando-se de penhora de bem indivisível, o equivalente à quota-parte do


coproprietário ou do cônjuge alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do
bem”.

O CÔNJUGE OU COMPANHEIRO terão legitimidade para opor os embargos para defender


a posse de bens próprios ou apenas a meação. No entanto, é de se observar a ressalva contida
no final do inciso I referente à previsão do artigo 843 do CPC. Com isso, quando se tratar de bem
indivisível, os embargos opostos pelo cônjuge ou companheiro não desconstituirão a penhora e
nem a alienação do bem → O bem será alienado, sendo reservado do valor arrecadado a parte
do cônjuge que não é o devedor;
Ainda, o juiz verificando que há algum terceiro que tenha condição de embargar alguma
constrição efetuada deverá providenciar sua intimação pessoal, conforme previsão do parágrafo

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único do artigo 675 do CPC, a fim de que o terceiro possa, caso entender adequado, ajuizar os
embargos de terceiro. (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 232).
No que tange à legitimidade passiva nos embargos de terceiro Marinoni, Arenhart e
Mitidiero (2017, p. 233) mencionam que embora o ato objeto da demanda seja judicial, nos
embargos de terceiro deve assumir a condição de réu A PARTE BENEFICIÁRIA da decisão
judicial guerreada. OU SEJA, EM REGRA, SERÁ RÉU NOS EMBARGOS DE TERCEIRO O
AUTOR DA AÇÃO EM QUE TENHA SIDO PROFERIDA A DECISÃO QUE DETERMINOU A
CONSTRIÇÃO JUDICIAL.
O polo passivo nos embargos de terceiro é composto pelo exequente, mesmo quando não
tenha dado diretamente causa à apreensão. (CHACON, 2020, p. 155)
Ainda, sobre o réu nos embargos de terceiro, complementam os referidos autores:

Se, porém, a apreensão dos bens se deu por iniciativa do requerido de algum processo
(por exemplo, no caso em que o devedor nomeia bens à penhora) então os embargos de
terceiro deverão conter litisconsórcio passivo necessário entre autor e réu (da demanda
primeira), já que de ambos resulta o ato inquinado e a ambos prejudica a decisão dos
embargos de terceiro. Por isso também, sempre que o provimento dos embargos de
terceiro puder afetar o exequente e o executado, deve haver a formação de litisconsórcio
passivo necessário. Nesse sentido, estabelece o art. 677, §4º do CPC, que se consideram
legitimados passivos para os embargos de terceiro aquela a quem o ato de constrição
aproveita e ainda o seu adversário no processo, sempre que tiver sido sua a iniciativa de
indicação do bem para constrição. (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 233)

Quanto ao legitimado passivo, ensina Medina (2016, p. 863) que “o pedido deverá ser
dirigido contra quem deu causa à constrição, que, normalmente, é aquele a quem o ato constritivo
aproveita, ainda que indiretamente (cf. §4º do art. 677 do CPC/2015). O §4º do art. 677 do CPC
dispõe que será citado também o ‘adversário no processo principal (àquele a quem aproveita o
ato constritivo) quando for sua a indicação do bem para a constrição judicial”.

25.6 Prazo:
Previsão do artigo 675 do CPC:

Art. 675. Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento
enquanto não transitada em julgado a sentença e, no cumprimento de sentença ou no
processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da adjudicação, da alienação por iniciativa
particular ou da arrematação, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta.
Parágrafo único. Caso identifique a existência de terceiro titular de interesse em embargar
o ato, o juiz mandará intimá-lo pessoalmente. (BRASIL, 2015)

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Verifica-se não o termo inicial, mas até quando podem ser opostos os embargos de terceiro,
a depender se é processo de conhecimento ou execução ou fase de cumprimento de sentença:
1) Até o trânsito em julgado da sentença → QUANDO O PROCESSO FOR DE
CONHECIMENTO;
2) No cumprimento de sentença ou no processo de execução → até 5 (cinco) dias depois
da adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas sempre antes da
assinatura da respectiva carta;
Ainda no que tange ao prazo, Medina (2016, p. 862) ensina que “Em observância ao dever
de prevenção, deve o juiz intimar terceiro que, potencialmente, tenha interesse em opor
embargos (cf. parágrafo único do art. 675 do CPC/2015), contando-se de tal intimação o prazo,
caso o terceiro não tivesse, antes, conhecimento do ato constritivo”.
Explicando sobre o prazo dos embargos de terceiro, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017,
p. 233) esclarecem que a lei brasileira prevê prazo preclusivo para os embargos de terceiro,
sendo que de acordo com o artigo 675 do CPC, os embargos de terceiro podem ser opostos a
qualquer tempo enquanto não transitar em julgado o processo em que ocorra a constrição
judicial, ou, em processo de execução, até 05 dias depois da adjudicação, alienação por iniciativa
particular ou da arrematação, mas sempre antes que se conclua a assinatura da respectiva carta.
Justamente por isso haveriam duas formas distintas para se contar o prazo para
oferecimento dos embargos de terceiro, a considerar se tratar de processo de conhecimento ou
execução/cumprimento de sentença:

Há, portanto, duas formas distintas de contar o prazo para a oposição dos embargos de
terceiro. No processo de conhecimento – antes de iniciada a fase de cumprimento da
sentença, se houver – a medida pode ser ajuizada a qualquer momento ANTES DO
TRÂNSITO EM JULGADO. Já em se tratando de ato constritivo originário de processo de
execução – ou da fase de cumprimento de sentença – então o prazo para a oposição dos
embargos de terceiro será de até cinco dias depois da arrematação, da adjudicação ou da
remição dos bens, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta, O Código, porém,
curiosa e assistematicamente, prevê, no art. 792, §4º, que ‘antes de declarar a fraude à
execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor
embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias’”. (MARINONI; ARENHART;
MITIDIERO, 2017, p. 233)

25.7 Competência:
Conforme Aguirre e Montans de Sá (2017, p. 158) os embargos serão distribuídos por
DEPENDÊNCIA ao juízo que ordenou a constrição e AUTUADOS em apartado, conforme
previsão do artigo 676, caput do CPC.

281
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Porém, nos casos de ato de constrição realizado por carta, os embargos de terceiro devem
ser oferecidos no JUÍZO DEPRECADO → Salvo se indicado pelo juízo deprecante o bem
constrito, ou se já devolvida a carta → previsão do artigo 676, parágrafo único do CPC.

Art. 676. Os embargos serão distribuídos por dependência ao juízo que ordenou a
constrição e autuados em apartado.
Parágrafo único. Nos casos de ato de constrição realizado por carta, os embargos serão
oferecidos no juízo deprecado, salvo se indicado pelo juízo deprecante o bem constrito ou
se já devolvida a carta. (BRASIL, 2015)

Explicando a competência dos embargos de terceiro Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017,


p. 235) ensinam:
A ação de embargos de terceiro será ajuizada por dependência, perante o mesmo juízo
que ordenou a apreensão do bem (art. 676 do CPC). Caso o processo original – de onde
originou o ato inquinado – tenha tramitação perante vários juízos, como ocorre, por
exemplo, na execução por carta, será competente para examinar os embargos o juízo de
onde provém a ordem de apreensão atacada. Assim, se a apreensão foi ordenada pelo
juízo deprecado – por sua iniciativa – perante ele devem processar-se os embargos de
terceiro. Se, ao contrário, a ordem de apreensão teve origem no juízo deprecante – ou no
juízo deprecado, mas por decisão do juízo deprecante – então este será o juízo
competente para processar os embargos de terceiro (art. 674, parágrafo único, do CPC).

25.8 Da petição Inicial:

Quanto à petição inicial, observa-se o artigo 677 do Novo CPC:

Art. 677. “Na petição inicial, o embargante fará a prova sumária de sua posse ou de seu
domínio e da qualidade de terceiro, oferecendo documentos e rol de testemunhas.
§1º É facultada a prova da posse em audiência preliminar designada pelo juiz.
§2º O possuidor direto pode alegar, além da sua posse, o domínio alheio.
§3º A citação será pessoal, se o embargado não tiver procurador constituído nos autos da
ação principal.
§4º Será legitimado passivo o sujeito a quem o ato de constrição aproveita, assim como o
será seu adversário no processo principal quando for sua a indicação do bem para a
constrição judicial”. (BRASIL, 2015)

Sobre o procedimento dos embargos de terceiro, consoante ensinam Marionini, Arenhart e


Mitidiero (2017, p. 235), os embargos de terceiro por constituírem processo autônomo, possuem
início por meio de petição escrita, dirigida ao juiz competente, devendo ser observados os
requisitos dos artigos 319 e 320 do CPC. Ainda, o requerente deve fazer prova sumária de sua
posse ou do domínio e a condição de terceiro, apresentando desde logo a prova documental que
tenha e trazendo rol de testemunhas, conforme art. 677, caput do CPC.
Ainda, caso o requerente não tenha como demonstrar de forma documental a sua posse,
poderá fazer por meio de audiência preliminar, designada pelo juiz, conforme artigo 677, §1º do

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CPC. A participação do requerido na audiência preliminar “limita-se a acompanhar a produção


da prova sumária pelo autor, podendo contraditar testemunhas ou oferecer reperguntas”.
(MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 236)
Assim, já na petição inicial dos embargos de terceiro, o Embargante deve trazer todos os
documentos para comprovar a sua legitimidade; E, caso não tenha consigo comprovar por meio
de documentos, o possuidor pode, conforme a previsão do §1º requerer a designação de
audiência preliminar, ou seja, de justificação a fim de demonstrar o seu direito caso não tenha
conseguido por meio dos documentos;
Consoante o §2º do art. 677 do CPC, “O possuidor direto pode alegar, além da sua posse,
o domínio alheio”. (BRASIL, 2015).

25.9 Liminar:
No que tange à liminar nos embargos de terceiro, Medina (2016, p. 863) refere que caso o
juiz não se convença sobre a existência da posse e de sua turbação ou esbulho, deverá designar
audiência de justificação, conforme previsão do §1º do art. 677 do CPC.
E, ainda, conforme a previsão do art. 678 do CPC, “a concessão de liminar depende da
demonstração suficiente da posse pelo embargante, e pode ser condicionada à prestação de
caução”. (MEDINA, 2016, p. 863)
Sobre a liminar nos embargos de terceiro, estabelece o artigo 678 do CPC:

Art. 678. A decisão que reconhecer suficientemente provado o domínio ou a posse


determinará a suspensão das medidas constritivas sobre os bens litigiosos objeto dos
embargos, bem como a manutenção ou a reintegração provisória da posse, se o
embargante a houver requerido.
Parágrafo único. O juiz poderá condicionar a ordem de manutenção ou de reintegração
provisória de posse à prestação de caução pelo requerente, ressalvada a impossibilidade
da parte economicamente hipossuficiente. (BRASIL, 2015)

25.10 Citação do Embargado


De início é de se verificar se o embargado possui ou não procurador constituído nos autos.
Isso porque, conforme o art. 677, §3º do CPC, a citação será pessoal se o embargado NÃO
tiver procurador constituído nos autos da ação principal. (MEDINA, 2016, p. 863)

25.11 Contestação:
Precisão do artigo 679 do CPC:

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Art. 679. Os embargos poderão ser contestados no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual
se seguirá o procedimento comum. (BRASIL, 2015)

Uma vez que houve contestação → segue o procedimento comum;


Conforme Medina (2016, p. 864) de acordo com o contexto do CPC de 2015, deve-se
observar, após a resposta, o procedimento comum, consoante previsão do art. 679 do CPC.
Nesse sentido, mencionam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 237) que “terminada a
fase postulatória – com ou sem a apresentação de resposta pelo réu o processo seguirá, como
dito, o rito comum, de modo que admitirá o julgamento antecipado da lide ou a designação de
audiência de conciliação e, posteriormente, de instrução e julgamento, quando haja prova oral a
ser produzida”.
O artigo 680 do CPC, trata por sua vez, da contestação no caso dos embargos do credor
com garantia real:
Art. 680. Contra os embargos do credor com garantia real, o embargado somente poderá
alegar que:
- o devedor comum é insolvente;
- o título é nulo ou não obriga a terceiro; III - outra é a coisa dada em garantia. (BRASIL,
2015)

O artigo 680 trata da defesa no caso dos Embargos opostos pelo credor com garantia real;
No que tange ao aludido dispositivo ensinam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 238):

Quando os embargos de terceiro tiverem por fundamento o direito real de garantia de


credor, a resposta do embargado está limitada às alegações enumeradas no art. 680 do
CPC, ou seja, (a) o devedor comum é insolvente; (b) o título é nulo ou não obriga a terceiro;
(c) outra é a coisa dada em garantia. A existência de garantia real sobre certo bem sujeita-
o a regime especial, que confere ao credor prioridade na satisfação de seu crédito.
Ademais, por se tratar de direito real de garantia, o bem é gravado com o ônus,
independentemente de quem esteja na posse ou na propriedade. Por isso, justifica-se a
limitação dos emas que podem ser deduzidos.

25.12 Do julgamento dos embargos de terceiro:

Artigo 681. Acolhido o pedido inicial, o ato de constrição judicial indevida será cancelado,
com o reconhecimento do domínio, da manutenção da posse ou da reintegração definitiva
do bem ou do direito ao embargante. (BRASIL, 2015)

Se os Embargos forem julgados procedentes a constrição judicial estará cancelada, com o


consequente reconhecimento do domínio, manutenção da posse ou reintegração definitiva do
bem ao embargante;

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ESTRUTURA BÁSICA DOS EMBARGOS DE TERCEIRO


* Para todos verem: quadro esquemático
Requisitos Arts. 319 e 677 do CPC/2015
Os embargos de terceiro são distribuídos por dependência ao
juízo que ordenou a constrição e autuados em apartado (art. 676,
caput, do CPC/2015).
Competência
Nos casos de ato de constrição realizado por carta os embargos
serão oferecidos no juízo deprecado, salvo se indicado pelo juízo
deprecante o bem constrito ou se já devolvida a carta (art. 676,
parágrafo único, do CPC/2015)
Tratamento: embargante/embargado
➔ Dica: será legitimado passivo a quem o ato de constrição
Partes aproveita, assim como o será seu adversário no processo
principal quando for sua a indicação do bem para a constrição
judicial (art. 677, §4º, do CPC/2015)
Fundamento legal Arts. 674 e ss. do CPC/2015
a) Discorrer sobre o ocorrido nos autos principais e sobre a
constrição ou ameaça de constrição sobre bens que se
encontravam na posse do embargante ou sobre os quais tenha
direito incompatível com o ato constritivo (art. 674 do CPC/2015)
b) Demonstração da condição de terceiro proprietário,
inclusive fiduciário, ou possuidor, do embargante (art. 674, 1º, do
CPC/2015)
Dica: Nos termos do §2º do art. 674 do CPC/2015, considera-se
terceiro para ajuizamento dos embargos: I – o cônjuge ou
companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de
Fatos e sua meação, ressalvado o disposto no art. 843; II – o adquirente
Fundamentos de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a
jurídicos do ineficácia da alienação realizada em fraude à execução; III –
pedido quem sofre constrição judicial de seus bens por força de
desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não
fez parte; IV – o credor com garantia real para obstar
expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso
não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos
expropriatórios respectivos.
c) Fazer a prova sumária da posse do embargante ou de seu
domínio e da qualidade de terceiro, oferecendo documentos e rol
de testemunhas (art. 677, caput, do CPC/2015);
Dica: O possuidor direto pode alegar, além de sua posse, o
domínio alheio.

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d) Abrir um tópico sobre a concessão da liminar e falar da


suspensão das medidas constritivas sobre os bens litigiosos
objeto dos embargos, bem como a manutenção ou a reintegração
provisória da posse, se o embargante a houver requerido (art.
678, caput, do CPC/2015).
Direito Indicação dos artigos da lei material ou processual que incidem
sobre a hipótese fática.
a) A concessão da liminar pleiteada para o fim de determinar
a suspensão das medidas constritivas sobre os bens litigiosos
objeto dos embargos, bem como a manutenção ou a reintegração
provisória da posse (art. 678 do CPC/2015);
b) Caso contrário, requer a designação de audiência de
justificação para que o embargante possa fazer a prova de sua
posse (art. 677, § 1º, do CPC/2015);
c) Oferecer caução para a concessão da ordem de
manutenção ou de reintegração de posse, caso assim entenda o
Digno Juízo (art. 678, parágrafo único, do CPC/2015);
d) A citação do embargado na pessoa de seu procurador ou
sua citação pessoal se o embargado não tiver procurador
constituído nos autos da ação principal, para que apresente sua
Pedido
contestação em 15 dias (arts. 677, §3º e 679 do CPC/2015);
e) A procedência do pedido para que o ato de constrição
judicial indevida seja cancelado, com o reconhecimento do
domínio, da manutenção da posse ou da reintegração definitiva
do bem ou do direito ao embargante (art. 681 do CPC/2015);
f) A condenação do réu ao pagamento das custas
processuais e dos honorários a serem arbitrados pelo Digno
Juízo;
g) A opção do autor pela realização ou não de audiência de
coniclição ou de mediação;
h) A juntada da guia de custas devidamente recolhida; e
i) Que as intimações sejam dirigidas ao advogado...no
endereço...
Protestar por provas que poderão demonstrar a veracidade dos
Provas
fatos alegados.
Valor da causa Valor do bem*** (cuidar)

FONTE: AGUIRE, João; SÁ Renato Montans de. Prática Civil. 7ªed. São Paulo: Saraiva,
2017, p. 158-159

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EMBARGOS DE TERCEIRO JÁ FOI OBJETO DE COBRANÇA PELA FGV NO XVIII


EXAME!

ENUNCIADO:
Fernando e Lara se conheceram em 31/12/2011 e, em 02/05/2014, celebraram seu
casamento civil pelo regime de comunhão parcial de bens.
Em 09/07/2014, Ronaldo e Luciano celebraram contrato escrito de compra e venda de bem
móvel obrigando-se Ronaldo a entregar o bem em 10/07/2014 e Luciano a pagar a quantia de
R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) em 12/07/2014.
O contrato foi assinado pelos seguintes sujeitos: Ronaldo, Luciano, duas testemunhas
(Flávia e Vanessa) e Fernando, uma vez que do contrato constou cláusula com a seguinte
redação: “pela presente cláusula, fica estabelecida fiança, com renúncia expressa ao benefício
de ordem, a qual tem como afiançado o Sr. Luciano e, como fiador, o Sr. Fernando, brasileiro,
casado pelo regime de comunhão parcial de bens, economista, portador da identidade X, do
CPF-MF Y, residente e domiciliado no endereço Z”. No dia 10/07/2014, Ronaldo entregou o bem
móvel, enquanto Luciano deixou de realizar o pagamento em 12/07/2014.
Em 15/07/2014, Ronaldo iniciou execução de título extrajudicial apenas em face do fiador,
Fernando, distribuída automaticamente ao juízo da MM. 2ª Vara Cível da Comarca da Capital do
Estado do Rio de Janeiro. O executado é citado para realizar o pagamento em 03 dias.
Fernando apresentou embargos, os quais são rejeitados liminarmente, porquanto
manifestamente improcedentes. Não foi interposto recurso contra a decisão dos embargos. A
execução prosseguiu, vindo o juiz a determinar, em 08/11/2014, a penhora de bens, a serem
escolhidos pelo Oficial de Justiça, para que, uma vez penhorados e avaliados, sejam vendidos
em hasta pública, a ser realizada em 01/03/2015.
Em 11/12/2014, foi penhorado o único apartamento no qual Fernando e Lara residem —
avaliado, naquela data, em R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) —, bem imóvel esse
adquirido exclusivamente por Lara em 01/03/2000. Na mesma data da penhora, Fernando e Lara
foram intimados, por Oficial de Justiça, sobre a penhora do bem e sobre a data fixada para a
expropriação (01/03/2015).
Em 12/12/2014, Lara compareceu ao seu Escritório de Advocacia, solicitando
aconselhamento jurídico.

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Na qualidade de advogado (a) de Lara, elabore a peça processual cabível para a defesa
dos interesses de sua cliente, indicando seus requisitos e fundamentos nos termos da legislação
vigente. (Valor: 5,00)
Obs.: o examinando deve apresentar os argumentos jurídicos apropriados e a
fundamentação legal pertinente ao caso. A mera citação do dispositivo legal não confere
pontuação.

GABARITO COMENTADO PELA FGV – ATENÇÃO NESTE ENUNCIADO A FGV


UTILIZOU O CPC/73:
A peça processual cabível é a de Embargos de Terceiro, nos termos do Art. 1.046, caput e
§§ 1º e 3º, do CPC/1973, direcionada à 2ª Vara Cível da Comarca da Capital do Estado do Rio
de Janeiro, por dependência, na forma do disposto no Art. 1.049 do CPC.
Como Lara e Fernando são casados pelo regime da comunhão parcial de bens uma de
suas consequências é a não comunicação dos bens anteriores à união matrimonial,
permanecendo seus respectivos bens como de sua propriedade exclusiva (Art. 1.658 do CC).
Sendo assim, penhorado indevidamente bem exclusivo — que não se comunica pelo
regime de bens do casamento — de cônjuge de fiador que não anuiu ao contrato de fiança (Lara),
faz-se cabível o ajuizamento de embargos de terceiros, por parte do cônjuge de fiador em face
exclusivamente do exequente, Ronaldo, cujo termo final do prazo é até 05 dias após
arrematação, adjudicação ou remição, mas antes da assinatura da respectiva carta, na forma do
Art. 1.048 do CPC/1973.
O pedido formulado nos embargos deve ser o de suspensão do processo principal quanto
aos atos de expropriação do bem imóvel de sua propriedade, na forma do Art. 1.053 do
CPC/1973, com a consequente desconstituição da penhora.

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Peça do 37º Exame da Ordem

Ana celebrou, em 01/03/2022, com a revendedora de automóveis Velocidade, em Maceió,


contrato de compra e venda de seu primeiro veículo, pelo valor de R$ 50.000,00. Na data da
alienação, foram efetuados o pagamento integral da quantia devida e a entrega do bem, tudo
mediante recibo.

Em virtude de estar assoberbada de afazeres, Ana somente procurou o Detran/AL para realizar
a transferência de registro de propriedade do automóvel em 10/12/2022, tendo sido impedida de
fazê-lo por constar uma penhora desse bem, promovida em 20/11/2022 nos autos da Execução
por título extrajudicial nº 12345, em trâmite na 5ª Vara Cível de Maceió.

Tal ação havia sido ajuizada em 15/07/2022 pela financeira XYZ em face de Velocidade, na qual
a exequente buscava a satisfação de uma dívida de R$10.000,00, contraída em abril de 2022 e
não quitada em seu vencimento, fixado para 10/05/2022.

Em consulta aos autos da execução, Ana constatou que foi a executada Velocidade quem indicou
à penhora o automóvel por ela adquirido.

Tendo em vista a constrição existente em seu automóvel e o impedimento de transferência desse


bem para seu nome, Ana busca uma solução jurídica para seu caso.

Na qualidade de advogado(a) de Ana, elabore a peça processual cabível para a defesa dos
interesses de sua cliente, indicando seus requisitos e fundamentos, nos termos da
legislação vigente. (Valor: 5,00)

Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar
respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere
pontuação.

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26. Ações Possessórias

26.1 FUNDAMENTO LEGAL:


Arts. 554 a 568 do CPC. Cuidar também as previsões no Código Civil;

26.2 CARACTERÍSTICAS:
Colombo e Silva (2017) apontam como característica para as ações possessórias: A
POSSE. A posse está definida no artigo 1.196 do CC:

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não,
de algum dos poderes inerentes à propriedade. (BRASIL, 2002)

Segundo Colombo e Silva (2017), o ordenamento jurídico brasileiro e as ações


possessórias adotam a tese objetiva de Ihering, sendo regra que a exteriorização do domínio, o
poder de fato sobre a coisa, gera posse. As exceções, segundo os Autores, estariam no
ordenamento, são os chamados casos de detenção, como no caso, por exemplo, dos caseiros:

Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência


para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou
instruções suas. (BRASIL, 2002)

Ver ainda previsão do artigo 1.028 do CC:

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não
autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a
violência ou a clandestinidade. (BRASIL, 2002)

Colombo e Silva (2017) destacam que somente a posse enseja a propositura das ações
possessórias, de forma que é imprescindível identificar qual é a relação jurídica que o sujeito
mantém com a coisa, pois se for mera detenção, não será possível seu ajuizamento.
O juízo possessório não se confunde com o juízo petitório (dominial, propriedade), conforme
colombo e silva (2017, p. 237).
As ações possessórias buscam proteger o fato jurídico “posse”. (COLOMBO E SILVA,
2017, p. 238).
Colombo e Silva (2017, p. 238) mencionam que para defender sua posse o possuidor
utilizará AS AÇÕES POSSESSÓRIAS OU A AUTOTUTELA.

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Para utilizar a autotutela o artigo 1.210 do CC exige:

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído
no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria
força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do
indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
§2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de
outro direito sobre a coisa. (BRASIL, 2002)

Assim, a proteção da posse via judicial é feita mediante o uso das três ações possessórias,
não sendo permitido, de regra, a interferência na questão dominial (propriedade): (Colombo e
Silva, 2017, p. 238):
* Para todos verem: esquema

Utilizada quando ocorrer o


ESBULHO, sendo que o
REINTEGRAÇÃO DE POSSE
possuidor fica provado da
posse.

Utilizada quando ocorrer


TURBAÇÃO, sendo que o
possuidor é molestado, mas
MANUTENÇÃO DE POSSE
continua na posse. É
efetivado um incômodo no
exercício da posse.

Utilizada quando ocorrer


INTERDITO PROIBITÓRIO AMEAÇA de esbulho ou
turbação.

No que tange à aplicabilidade das ações possessórias, Chacon (2020, p. 140) afirma que
a posse é direito distinto da propriedade, exercitável de maneira autônoma, sendo protegida pelo
ordenamento jurídico. Assim, “além da possibilidade da legítima defesa da posse (defesa direta
e desforço imediato), o CC traz, entre os efeitos da posse, o direito de o possuidor propor as
ações possessórias típicas de proteção: reintegração, manutenção e interdito proibitório (...)”.
Resumidamente, a ação de reintegração de posse é utilizada por aquele que perdeu a
posse para outrem, e assim, precisa recuperá-la de quem a injustamente a detenha. Nesse
sentido, o CPC em seu artigo 560 refere que o possuidor tem direito a ser reintegrado na posse
em caso de esbulho.
A escolha de uma ou outra espécie de ação possessória vai depender da espécie de
agressão praticada contra a posse. E o procedimento variará conforme o tempo que tenha
decorrido desde a data da agressão. (COLOMBO E SILVA, 2017, p. 238).

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Ainda no que tange às características das ações possessórias, Führer e Führer (2016, p.
154) ensinam que as ações possessórias são fungíveis e dúplices pelos seguintes motivos:

Fungíveis porque a propositura equivocada de uma ação possessória em vez de outra não
impede o conhecimento do pedido e que seja conferida a proteção legal correta (art. 554).
Dúplices porque o réu tem o direito de também alegar na contestação que o autor praticou
esbulho ou turbação, pedindo para si a proteção possessória e a indenização pelos
prejuízos (art. 556). (FÜHRER; FÜHRER, 2016, p. 154)

Sobre as características das ações possessórias Chacon (2020, p. 140 - 141) resume:

(...) compreendendo as particularidades processuais aplicadas aos procedimentos


possessórios, principalmente: a fungibilidade dos interditos – 554; a possibilidade de
cumulação do pedido possessório com o de perdas e danos, multa cominatória e
desfazimento de obras ou construções, bem como a indenização dos frutos e imposição
de medida necessária e adequada para evitar novo esbulho ou para cumprir-se a tutela
provisória ou final – art. 555 do CPC; direito de o réu fazer pedidos em face do autor na
contestação, nos termos do art. 556 do CPC; a regra de que os procedimentos
possessórios só se aplicam quando a ação for intentada antes de ano e dia da agressão
à posse; sendo superior, deverá seguir o rito comum – art. 558 do CPC (só cabe o
procedimento especial para as “ações de força nova espoliativa”).

Justamente sobre o cabimento das ações possessórias, Marinoni, Arenhart e Mitidiero


(2017, p. 165) referem que tais ações competem a quem tem como objetivo proteger a posse de
seus bens, sem discutir o domínio sobre os mesmos.

26.3 FUNGIBILIDADE DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS:


Previsão do artigo 554 do CPC:

Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o
juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos
pressupostos estejam provados. (BRASIL, 2015)

Essa fungibilidade entre as ações possessórias decorre, segundo Colombo e Silva (2017)
pela dificuldade em identificar a espécie de agressão à posse e pela possibilidade que essa
agressão venha a ser alterada no curso da demanda.
Assim, conforme menciona Alvim (2017, p. 20), pode ocorrer de que o autor ajuíze
corretamente uma ação de manutenção de posse, quando haja apenas turbação da posse, mas,
já tenha sido despojado por inteiro dela, sendo cabível a ação de reintegração de posse, caso
em que o remédio possessório para tutelar a posse não será mais aquele que foi pedido na inicial
(manutenção de posse), mas outro diverso, qual seja, reintegração de posse. Pode ocorrer,
ainda, conforme cita o doutrinador, que tendo o autor justo receio de ser molestado na sua posse,

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ajuíze, corretamente, a ação de interdito proibitório, mas, venha a ocorrer a turbação ou o


esbulho na posse, caso em que não teria mais cabimento a concessão do mandado proibindo a
lesão, porque está já teria ocorrido, sendo o remédio adequado, agora, uma das duas outras
opções: de manutenção (no caso de turbação), ou de reintegração, no caso de esbulho. ALVIM
(2017, p. 21) refere que não se aplica a fungibilidade, porém, caso o autor equivocadamente
ajuizar uma ação de imissão na posse que tem fundamento petitório na propriedade ou domínio,
vindo a se dar conta, depois de contestada a ação, que deveria ter ajuizado uma ação de
reintegração fundada na posse. Nesse caso, não pode o juiz jungir uma ação petitória numa ação
possessória, ressalvadas as hipóteses previstas no artigo 329 do CPC.
Explicando o artigo 554 do CPC, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 167) ensinam:

Pelo art. 554 do CPC, está autorizada a fungibilidade entre as formas de tutela
possessória. Por isso, ainda que pleiteada a manutenção de posse, poderá ser concedida
a reintegração, se essa for a proteção adequada; poderá ser oferecida a reintegração de
posse, se pleiteado o interdito proibitório, mas a tutela demorar a ser prestada etc. Vale
dizer que basta a descrição da violação possessória apresentada para que o Estado tenha
a obrigação de conferir a tutela adequada.

26.4 CUMULAÇÃO DE PEDIDOS:


Previsão do artigo 555 do CPC:
Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:
I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e
adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final. (BRASIL, 2015)

Na doutrina não há unanimidade se se trata de cumulação de ações ou de cumulação de


pedidos. Portanto, os pedidos podem ser cumulados sem desnaturar a ação possessória, sem
prejuízo do rito especial, sem óbice no que tange a concessão da liminar possessória. Os Autores
(Colombo e Silva, 2017) mencionam como exemplo do parágrafo único do artigo 555 do CPC, a
imposição de multa coercitiva e o auxílio de força policial para inibir novo esbulho ou turbação.
No que tange ao artigo 555 do CPC, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 168) explicitam:
“O art. 555 do CPC admite a cumulação do pedido possessório aos pedidos de perdas e danos,
indenização de frutos e inibição de novo esbulho ou turbação, a par do requerimento de medidas
judiciais tendentes ao cumprimento da ‘tutela provisória ou final’”.

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26.5 CARÁTER DÚPLICE:


Previsão do artigo 556 do CPC:

Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse,
demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação
ou do esbulho cometido pelo autor. (BRASIL, 2015)

O caráter dúplice significa que é permitido ao réu formular pedido na contestação,


permitindo assim que o mesmo realize sua defesa, bem como pedido.
Segundo Alvim (2017, p. 41), essa previsão contém regra de espírito simplificador, ao
concentrar na contestação, não apenas a defesa do Réu contra o autor, mas também as
pretensões que tenha contra este, imprimindo à ação possessória aspecto de ação dúplice,
permitindo também a formulação de pedido pelo Réu.

26.6 DISCUSSÃO ACERCA DA PROPRIEDADE NA PENDÊNCIA DE AÇÃO POSSESSÓRIA:


Previsão do artigo 557 do CPC:

Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu,
propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face
de terceira pessoa.
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de
propriedade ou de outro direito sobre a coisa. (BRASIL, 2015)

Colombo e Silva (2017, p. 240) ensinam que como regra o juiz deve decidir a ação
possessória exclusivamente em favor daquele que provar a melhor posse, sem qualquer
indagação a respeito da propriedade, a qual deverá ser discutida na via própria. Assim o juízo
possessório não se confunde com o juízo petitório.
Ainda, Führer e Führer (2016, p. 154) ensinam: “Proibição de ação de domínio. Na
pendência de ação possessória não podem autor e réu propor ação de propriedade um contra o
outro (art. 557). A alegação de propriedade não impede a proteção possessória”.

26.7 AÇÃO DE FORÇA NOVA E AÇÃO DE FORÇA VELHA:


Previsão do artigo 558 do CPC:

Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas


da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou
do esbulho afirmado na petição inicial.

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Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não
perdendo, contudo, o caráter possessório. (BRASIL, 2015)

Nesse sentido, especificam Colombo e Silva (2017, p. 241):


* Para todos verem: esquema

Agressão ocorrida até um ano


e um dia

FORÇA NOVA
Rito especial: existe
possibilidade de concessão de
liminar possessória, provados
os requisitos do art. 562 do
CPC.

Agressão ocorrida há mais de


ano e dia

FORÇA VELHA

Rito comum: não é admitida a


concessão de liminar
possessória, mas no rito
comum o Autor poderá valer-
se da tutela provisória.

Ou seja, consoante ensinam também Führer e Führer (2016, p. 154) que ocorre força nova
quando o esbulho ou turbação ocorreu há menos de ano e dia, sendo que nessa situação poderá
ser concedida a medida liminar de reintegração ou de manutenção de posse sem ouvir
previamente o réu. Já, a força velha segue o procedimento comum, tal qual preceitua o artigo
558 do CPC.
Seguindo o procedimento comum tem que observar o que prevê as disposições acerca da
tutela provisória, inclusive no que se refere à liminar.

26.8 PREVISÃO DOS PARÁGRAFOS DO ARTIGO 554 DO CPC:


Previsão dos Parágrafos do artigo 554 do CPC:

§1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de
pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e
a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público
e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública.
§2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1o, o oficial de justiça procurará os ocupantes
no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados.

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§3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação prevista
no §1º e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios
em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito e de outros
meios. (BRASIL, 2015)

Assim, além da ampla publicidade, bem como da facilitação da Citação, apontam Colombo
e Silva (2017, p. 241) que o Novo CPC INSERE A AUDIÊNCIA DE MEDIAÇÃO, para agressão
possessória ocorrida há mais de ano e dia, almejando assim, além de uma melhor verificação
dos fatos, a análise sobre eventual cumprimento de da decisão de reintegração ou manutenção,
em atenção à efetividade da tutela.
Conforme ensina Alvim (2017, p. 23) o §1º do artigo 554 do CPC estabelece que, no caso
de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a
citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais,
determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação
de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública.
Portanto, para os casos em que fica difícil citar por exemplo todos os invasores, com o
propósito de viabilizar a citação de todos, e cumprir assim o devido processo legal,
especialmente, os princípios do contraditório e da ampla defesa (CF, ART. 5º, LV). (ALVIM, 2017,
p. 25).
Assim, Alvim (2017, p. 25) menciona que nas ações possessórias envolvendo litisconsórcio
multitudinário, com grande número de pessoas envolvidas, as citações serão feitas
pessoalmente aos ocupantes, por exemplo, que forem encontrados no local, sendo os demais
citados por edital, na qualidade de terceiros incertos e desconhecidos, dado não ter sido possível
obter a sua qualificação, indispensável para uma citação pessoal.
Da mesma forma, o §1º do artigo 554 ao prever a participação do Ministério Público, da
Defensoria Pública (havendo beneficiário da justiça gratuita), bem como a previsão de inspeção
judicial, restam por conferir tratamento mais adequado à realidade social. De igual forma, a
previsão de participação do Poder Executivo, por meio de seus órgãos responsáveis pela política
agrária e urbana, revelam pontos importantes para a solução dos litígios. (Colombo e Silva, 2017,
p. 242).
No que tange ao §2º, Alvim (2017, p. 28) menciona que serão citados por mandado através
de oficial de justiça todos os ocupantes do local objeto da ação possessória, na primeira e única
vez em que o oficial de justiça for lá com essa finalidade, o que não impede de o juiz determinar
que a citação seja realizada em mais de um dia, para que sejam citados por essa forma o maior

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número, sendo todos os demais que lá não estiverem, mas forem interessados na demanda,
citados pela via do edital.

26.9 PREVISÃO DO 565 DO CPC:


Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado
na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido
de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se
em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2o e 4o.
§1º Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da
data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos termos dos §§
2o a 4o deste artigo.
§2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria
Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça.
§3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer
necessária à efetivação da tutela jurisdicional.
§4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de
Estado ou do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão
ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo
e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório.
§5º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel. (BRASIL,
2015)

Sobre o litígio coletivo de posse Führer e Führer (2016, p. 154) expressam:

Figurando no polo passivo grande número de pessoas, o Ministério Público deve intervir
no feito. Da mesma forma a Defensoria Pública, se a situação envolver pessoas com
hipossuficiência econômica. O juiz deve determinar que se dê ampla publicidade da
existência desta ação, podendo fazer uso de anúncios em jornal ou rádio locais, publicação
de cartazes na região do conflito e de outros meios. O juiz poderá comparecer à área
objeto do litigio quando sua presença se fizer necessária à efetivação da tutela
jurisdicional. (FÜHRER; FÜHRER, 2016, p. 154)

26.10 DA AÇÃO DE MANUTENÇÃO E DA REINTEGRAÇÃO DE POSSE:


Previsão a partir do artigo 560 do CPC: “Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na
posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho”. (BRASIL, 2015)
Ou seja, conforme o artigo 560 do CPC, O POSSUIDOR TEM DIREITO A:
* Para todos verem: esquema

MANUTENÇÃO DE
Turbação
POSSE

REINTEGRAÇÃO DE Esbulho
POSSE

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Para Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 165) “a distinção entre a ação de reintegração
de posse e a ação de manutenção de posse tem íntima relação com a intensidade da agressão
à posse. Para que alguém possa pedir reintegração, deve ter ocorrido a perda da posse –
chamada de esbulho; para que possa exigir manutenção, basta o incomodo no exercício da
posse – chamado de turbação (art. 560, do CPC). (...) o interdito proibitório por sua vez é
conferido àquele que, temendo o esbulho ou a turbação iminentes, objetiva impedir agressão à
sua posse (art. 567 do CPC). Para o cabimento do interdito possessório, o autor deve provar a
probabilidade de iminente agressão à posse. (...) Assim, além de evidenciar que é possuidor, o
autor deve também demonstrar que a sua posse está sendo ameaçada de turbação ou esbulho”.
Segundo Alvim (2017, p. 63) essa regra do 560 do CPC repete, quase literalmente, o artigo
1.210 do CC.

ATENÇÃO: Polo ativo das possessórias: o autor da ação é o possuidor esbulhado, turbado
ou ameaçado.

ATENÇÃO: O art. 73, §2º do CPC prevê a participação do cônjuge do Autor ou do Réu:

Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse
sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta
de bens.
§1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de
separação absoluta de bens;
II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles;
III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre
imóvel de um ou de ambos os cônjuges.
§2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é
indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado. (BRASIL, 2015)

Requisitos da petição inicial:


▪ Art. 319 do CPC
▪ Art. 561 do CPC

Art. 561. Incumbe ao autor provar:


I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da
posse, na ação de reintegração. (BRASIL, 2015)

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O Autor deve comprovar que TEM OU TEVE POSSE, assim pretende manter ou reaver a
mesma (Colombo e Silva, 2017, p. 243).
DA MEDIDA LIMINAR: Previsão do artigo 562 do CPC:

Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu,
a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário,
determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para
comparecer à audiência que for designada.
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a
manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos
representantes judiciais. (BRASIL, 2015)

No que tange à petição inicial das ações possessórias, Chacon (2020, p. 141) refere que o
pedido da ação possessória, é de que, além da citação, seja deferida, sem a oitiva do réu, a
expedição de mandado de reintegração de posse, ou, sendo necessária, que seja expedido após
a audiência de justificação, conforme previsão do artigo 562 do CPC.
Frisa-se, no entanto, que a audiência se torna obrigatória se o réu for pessoa jurídica de
direito público, consoante previsão do parágrafo único do artigo 562 do CPC. (CHACON, 2020,
p. 141)
O juiz somente poderá conceder a medida liminar específica do art. 562, possessória de
reintegração ou manutenção de posse nas AÇÕES DE FORÇA NOVA (ano e dia), sendo
importante, portanto, a data do ato molestador. (Colombo e Silva, 2017, p. 243). Na petição
inicial, é fundamental que o examinando discorra sobre a força nova, quando tratar da liminar.
Ainda, poderá ser necessária a audiência de justificação para que o Autor possa produzir
provas necessárias a fim de obter a medida liminar, sendo que essa audiência ocorre após a
citação. Previsão do artigo 563 do CPC:

Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de
manutenção ou de reintegração.(brasil, 2015)

RECURSO CABÍVEL CONTRA A DECISÃO DE LIMINAR: agravo de instrumento. (SILVA


E COLOMBO, 2017, p. 243)
CITAÇÃO DO RÉU: Previsão do artigo 564 do CPC:

Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor


promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a
ação no prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será
contado da intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar.

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26.11 DO INTERDITO PROIBITÓRIO:


Previsão a partir do artigo 567 do CPC:

Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse
poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado
proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o
preceito. (BRASIL, 2015)

A ação de interdito proibitório cabe quando HOUVER JUSTO RECEIO DE SER


MOLESTADO EM SUA POSSE, SENDO UMA AÇÃO PREVENTIVA, TUTELA PREVENTIVA
DA POSSE. Por sua vez, o justo receio, a probabilidade de agressão deve ser provada. Possui
finalidade preventiva, diante de uma ameaça. (COLOMBO E SILVA, 2017, p. 243).
Sobre o interdito proibitório ensinam Führer e Führer (2016, p. 155): “Presta-se a proteger
contra ameaça de turbação ou esbulho iminente. O pedido é para expedição de mandado
proibitório (interdito proibitório), com a cominação de pena pecuniária caso haja desobediência
da ordem. Tem a mesma dinâmica da reintegração e manutenção de posse. Contestada a ação,
segue-se o procedimento comum”.
Então, diferentemente da turbação da posse, que supõe atos de perturbação, em que o
possuidor continua possuindo a coisa (móvel, imóvel, semovente), e do esbulho possessório,
que supõe a perda da posse pelo possuidor, o interdito proibitório tem por pressuposto uma
AMEAÇA À POSSE, devendo o autor alegar e provar justo receio de ser molestado na posse.
(ALVIM, 2017, p. 101).
É assim que o artigo 567 do CPC prevê que o possuidor direto ou indireto, que tenha justo
receio de ser molestado na posse, poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho
iminente, mediante mandado proibitório, que se comine ao réu determinada pena pecuniária,
caso transgrida o preceito. (ALVIM, 2017, p. 101).
Assim, diferente do que ocorre nas ações de manutenção ou reintegração de posse, que
possuem natureza REPRESSIVA, cujo objetivo é fazer cessar a turbação ou o esbulho, a ação
de interdito proibitório tem natureza PREVENTIVA, buscando evitar que a turbação ou o esbulho
ocorram. (ALVIM, 2017, p. 101).
O JUSTO RECEIO a que se refere o artigo 567, ensina Alvim (2017, p. 102) traduz uma
situação de risco ou de perigo, pelo que deve vir acompanhado de circunstâncias fáticas
objetivas, a demonstrar que o juiz que a falta de liminar poderá ensejar a efetiva turbação ou
esbulho da posse.

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O novo CPC não estabelece critérios para a fixação da pena pecuniária, devendo a decisão
ser regada pela razoabilidade, de modo que não seja um valor tão baixo que não tenha influência
no ânimo do réu, e nem tão alto que o réu não tenha condições de adimplir. (ALVIM, 2017, p.
104).
A cominação da pena pecuniária, que não passa de uma multa, nada tem a ver com a
eventual indenização pelos prejuízos decorrentes da turbação ou esbulho da posse. (ALVIM,
2017, p. 105).

REINTEGRAÇÃO DE POSSE NO XXVI EXAME DE ORDEM

ENUNCIADO:
Aline é proprietária de uma pequena casa situada na cidade de São Paulo, residindo no
imóvel há cerca de 5 anos, em terreno constituído pela acessão e por um pequeno pomar. Pouco
antes de iniciar obras no imóvel, Aline precisou fazer uma viagem de emergência para o interior
de Minas Gerais, a fim de auxiliar sua mãe que se encontrava gravemente doente, com previsão
de retornar dois meses depois a São Paulo. Aline comentou a viagem com vários vizinhos, dentre
os quais, João Paulo, Nice, Marcos e Alexandre, pedindo que “olhassem” o imóvel no período.
Ao retornar da viagem, Aline encontrou o imóvel ocupado por João Paulo e Nice, que nele
ingressaram para fixar moradia, acreditando que Aline não retornaria a São Paulo. No período,
João Paulo e Nice danificaram o telhado da casa ao instalar uma antena “pirata” de televisão a
cabo, o que, devido às fortes chuvas que caíram sobre a cidade, provocou graves infiltrações no
imóvel, gerando um dano estimado em R$ 6.000,00 (seis mil reais). Além disso, os ocupantes
vêm colhendo e vendendo boa parte da produção de laranjas do pomar, causando um prejuízo
estimado em R$ 19.000,00 (dezenove mil reais) até a data em que Aline, 15 dias após tomar
ciência do ocorrido, procura você, como advogado.
Na qualidade de advogado(a) de Aline, elabore a peça processual cabível voltada a permitir
a retomada do imóvel e a composição dos danos sofridos no bem. (Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados
para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere
pontuação.

GABARITO COMENTADO:
A peça processual cabível na espécie é uma Petição Inicial. Considerando que ocorreu

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esbulho possessório, na forma do Art. 1.210 do CC, deve ser proposta Ação de Reintegração
de Posse. Como o esbulho ocorreu há menos de ano e dia da propositura da demanda (Art.
558 do CPC), pois Aline tomou conhecimento do esbulho dentro deste prazo, deve ser
requerida a adoção do procedimento previsto no Art. 560 e seguintes do CPC.

A peça deve ser endereçada a um dos juízos cíveis da Comarca de São Paulo,
considerando a competência absoluta do foro de situação do imóvel para a ação possessória
imobiliária (Art. 47, § 2º, do CPC).
No mérito, deve ser afirmada a existência de esbulho possessório, bem como a
caracterização da posse de João Paulo e Nice como posse de má-fé, nos termos do Art. 1.201
do CC, considerando sua clandestinidade. Também deve ser demonstrada a extensão dos danos
sofridos no imóvel.

Deve ser formulado requerimento de concessão de liminar em ação possessória, na forma


do Art. 562 do CPC, eis que preenchidos os requisitos do Art. 561 do CPC.

Deve ser requerida, além da reintegração de posse, a condenação dos réus ao pagamento
de indenização por perdas e danos e pelos frutos colhidos, na forma do Art. 1.216 e do Art. 1.218,
ambos do CC, considerando a caracterização da posse como posse de má-fé. Tal cumulação
objetiva é possível com fulcro no Art. 555, caput, incisos I e II, do CPC/15.

Quanto às provas, deve ser requerida a produção de prova testemunhal, a fim de


demonstrar a clandestinidade da posse. Da mesma forma, deve ser requerida a produção de
prova pericial, para comprovação da ocorrência dos danos sofridos no imóvel, e em razão da
coleta e alienação dos frutos naturais do imóvel.

O valor da causa deve corresponder a R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), nos termos
do Art. 292, inciso VI, do CPC.

Por fim, o fechamento, com a indicação de local, data, assinatura e inscrição OAB.

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ITEM PONTUAÇÃO
Endereçamento
1. A petição deve ser endereçada a um dos juízos cíveis da 0,00/0,10
Comarca de São Paulo (0,10).
Nome e qualificação das partes: autora Aline (0,10); réus João 0,00/0,10/0,20
Paulo e Nice (0,10)
Cabimento da ação possessória
2. Indicar que é uma ação de reintegração de posse (0,30), com 0,00/0,30/0,40
base no Art. 560 do CPC
OU no Art. 1210 do CC (0,10).
3. Adoção do procedimento especial para a tutela da posse, pois 0,00/0,30/0,40
o esbulho ocorreu há
menos de ano e dia (0,30), segundo o artigo 558 do CPC (0,10),
Fundamentação Jurídica/Legal
4. Afirmação de esbulho possessório OU perda da posse OU 0,00/0,40/0,50
que Aline era possuidora do
bem anteriormente (0,40), cumprindo-se o disposto no Art. 561
do CPC (0,10).
5. Direito à reintegração na posse (0,20) em razão da posse de
má-fé dos réus (0,40), nos 0,00/0,20/0,40/0,
termos do Art. 1.201 do CC (0,10) OU injusta (0,40), nos termos 50/0,60/0,70
do Art. 1200 do CC (0,10).
6. Direito à indenização pela ocorrência dos danos ao imóvel e
sua indicação (0,30), na 0,00/0,30/0,40
forma do Art. 1.218 do CC (0,10)
7. Direito à indenização pela perda dos frutos (0,30), por força
0,00/0,30/0,40
do Art. 1.216 do CC (0,10).
8. Direito à reintegração provisória liminar na posse (0,40), com
base no Art. 562 do CPC 0,00/0,40/0,50
(0,10).
Formular corretamente os pedidos:
9. Pedido de concessão de liminar em ação possessória,
determinando a reintegração provisória de Aline na posse do imóvel 0,00/0,30
(0,30).
10. Pedido de produção de prova testemunhal (0,10). 0,00/0,10
11. Pedido de produção de prova pericial (0,10). 0,00/0,10
12. Pedido de reintegração definitiva na posse do imóvel (0,30). 0,00/0,30
13. Pedido de condenação dos réus ao pagamento de
indenização de R$ 6.000,00 em razão dos danos materiais 0,00/0,20

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ocasionados ao telhado do imóvel (0,20).

14. Pedido de condenação dos réus ao pagamento de


indenização de R$19.000,00, pelos frutos colhidos e percebidos 0,00/0,20
(0,20).
15. Dar à causa o valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) 0,00/0,10
(0,10).
Fechamento
16. Local, data, assinatura e OAB (0,10) 0,00/0,10

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Estrutura da Peça | Ação de Reintegração de Posse

DOUTO JUÍZO DA ... VARA CÍVEL DA COMARCA DE SÃO PAULO

ALINE..., nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portadora da cédula de


identidade número..., inscrita no CPF número..., com endereço eletrônico..., residente
e domiciliada na Rua..., número..., Bairro..., Cidade de São Paulo, Estado..., CEP...,
por intermédio de seu procurador constituído (procuração em anexo), OAB...,
endereço eletrônico..., com endereço profissional na Rua..., número..., Bairro....,
Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe intimações, vem à presença de Vossa
Excelência, com fundamento no artigo 560 do Código de Processo Civil e art. 1.210
do Código Civil, propor pelo procedimento especial, a presente
AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE COM PEDIDO LIMINAR, em face de
JOÃO PAULO..., nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da cédula de
identidade número..., inscrito no CPF número.., com endereço eletrônico..., residente
e domiciliado na Rua..., número..., Bairro..., Cidade de São Paulo, Estado..., CEP...,
e NICE, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portadora da cédula de identidade
número..., inscrita no CPF número..., com endereço eletrônico..., residente e
domiciliada na Rua..., número..., Bairro..., Cidade de São Paulo, Estado..., CEP...,
pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

I - DOS FATOS:
A autora é proprietária de uma pequena casa situada na cidade de São Paulo,
local onde reside há cerca de 05 anos em um terreno constituído por acessão e por
um pequeno pomar. Pouco antes de iniciar obras no imóvel, a Autora precisou fazer
uma viagem de emergência com previsão de duração de dois meses para o interior
de Minas Gerais, a fim de auxiliar sua mãe que se encontrava gravemente doente.
A viagem foi comunicada a vários vizinhos da Autora, dentre os quais os Réus e,
também, Marcos e Alexandre, solicitando que olhassem o imóvel durante o período
da viagem. Contudo, ao retornar de viagem, a Autora encontrou o imóvel ocupado
pelos Réus João Paulo e Nice, que nele ingressaram para fixar moradia acreditando

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que a Autora não retornaria a São Paulo.


Ocorre, Excelência, que a permanência dos Réus na residência da Autora
causaram prejuízos no montante de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), advindos
do fato de os Réus terem danificado o telhado da casa da Autora ao instalarem uma
antena pirata de televisão, o que, devido às fortes chuvas que caíram sobre a cidade,
provocou graves infiltrações no imóvel, gerando um dano no valor de R$ 6.000,00
(seis mil reais) e, ainda, os Réus vêm colhendo e vendendo boa parte da produção de
laranjas do pomar, causando um prejuízo estimado em R$ 19.000,00 (dezenove mil
reais).
Diante de tudo o que foi exposto, a Autora deve ser reintegrada na posse do imóvel
e indenizada pelos prejuízos sofridos, conforme exposto a seguir.
II - DO CABIMENTO DA AÇÃO POSSESSÓRIA
A ação de reintegração de posse é cabível quando ocorrido o esbulho possessório,
neste caso, evidenciado pela perda da posse do imóvel da Autora diante da ocupação
de seus vizinhos enquanto a Autora realizava uma viagem de emergência para auxiliar
sua mãe que padece de uma doença grave.
O artigo 1.210 do Código Civil prevê que o possuidor tem direito de ser restituído
em posse em caso de esbulho e, por sua vez, o artigo 560 do Código de Processo
Civil prevê que o possuidor tem direito de ser reintegrado na posse em caso de
esbulho. Portanto, adequada a propositura da presente demanda.
III - DA ADOÇÃO DO PROCEDIMENTO ESPECIAL
Conforme se verifica dos fatos, a perda da posse ocorreu há no máximo 2 meses,
período em que a Autora esteve em viagem, tendo o esbulho ocorrido nesse prazo,
estando caracterizada, desta forma, a ação por força nova.
Assim sendo, tendo em vista que a presente demanda foi proposta dentro de ano
e dia da data do esbulho, pois Aline tomou conhecimento do esbulho dentro deste
prazo, requer a adoção do procedimento especial previsto nos artigos 560 e seguintes
do Código de Processo Civil, consoante previsão do art. 558 do Código de Processo
Civil.

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IV - FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
a) COMPROVAÇÃO DA POSSE E DO ESBULHO POSSESSÓRIO
Conforme narrado anteriormente, a Autora é proprietária de um imóvel onde
reside há cerca de cinco anos. Devido ao estado de saúde de sua genitora, precisou
realizar uma viagem de emergência com duração prevista de dois meses para o
estado de Minas Gerais, comunicando o fato aos seus vizinhos e requerendo,
inclusive, que esses olhassem o imóvel durante o período da viagem.
Contudo, ao retornar de sua viagem, a Autora deparou-se com seu imóvel ocupado
pelos vizinhos João Paulo e Nice, ora Réus, que acreditando que a Autora não
retornaria de sua viagem, resolveram ocupar indevidamente o imóvel com intuito de
fixar moradia.
Destaca-se que a ocupação do imóvel pelos Réus foi totalmente de má-fé visto que
tinham ciência da viagem emergencial da Autora e da data de seu retorno, de modo
que ocuparam o imóvel de forma injusta, caracterizado pela clandestinidade, na forma
dos artigos 1.200 e 1.201 do Código Civil. A Clandestinidade justamente ocorreu pelo
fato dos Réus ingressarem de forma escondida no imóvel, sem autorização da Autora.
Assim, resta demonstrado os requisitos previstos no artigo 561 do Código de
Processo Civil, quais sejam: a posse da autora; o esbulho praticado pelo réu; a data
do esbulho; perda da posse da autora.
b) DO DIREITO À REINTEGRAÇÃO DA POSSE:
Deste modo, comprovado a posse anterior da Autora bem como o esbulho
possessório, requer a reintegração da autora na posse do imóvel.
Isso, porque, o artigo 1.210 do Código Civil estabelece que é direito do possuidor
a reintegração da posse quando houver esbulho caracterizado pela posse injusta ou
de má-fé como se deu no caso dos Réus, consoante previsto nos artigos 1.200 e 1.201
do Código Civil, uma vez que obtida mediante clandestinidade.
c) DO DIREITO A INDENIZAÇÃO PELOS DANOS AO IMÓVEL:
Além de ser reintegrada, a Autora faz jus à indenização pelos danos que os Réus
causaram no imóvel. Isso, porque, no período em que os Réus permaneceram
no imóvel fizeram a instalação de uma antena “pirata” de televisão a cabo, o que,

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devido às fortes chuvas que caíram sobre a cidade, provocou infiltrações no imóvel,
gerando um dano à Autora no valor de R$ 6.000,00 (seis mil reais).
Tendo em vista a posse de má-fé dos ocupantes, esses devem responder pela
deterioração do imóvel, ainda que acidentais, na forma do artigo 1.218 do Código Civil.
d) DO DIREITO À INDENIZAÇÃO PELA PERDA DOS FRUTOS:
A Autora faz jus também à indenização pela perda dos frutos. Ou seja, os Réus vêm
colhendo e vendendo boa parte da produção de laranjas do pomar, causando um
prejuízo estimado em R$ 19.000,00 (dezenove) mil reais.
Assim sendo, conforme preconiza o artigo 1.216 do Código Civil, a Autora faz jus à
indenização pelos frutos colhidos pelos Réus, visto que o possuidor de má-fé
responde por todos os frutos colhidos e percebidos.
Diante disso, requer a condenação dos demandados ao pagamento do total de
R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais) a título de indenização pelos danos causados.
Verifica-se que a cumulação da reintegração de posse com indenização pelos danos
e pelos frutos é cumulativa, consoante previsão do artigo 555, incisos I e II do Código
de Processo Civil.
V - DA LIMINAR DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE
Com a comprovação da posse anterior da Autora e do esbulho possessório sem
oitiva dos Réus a fim de possibilitar que a Autora seja reintegrada na posse do imóvel,
na forma do art. 562 do Código de Processo Civil, eis que o esbulho se deu menos de
ano e dia da propositura da presente ação.
VI - DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer a Autora:
a) O recebimento da presente ação de reintegração de posse pelo procedimento
especial;
b) A concessão de liminar em ação possessória, na forma do artigo 562 do CPC,
determinando a reintegração provisória da autora na posse do imóvel, eis que o
esbulho se deu menos de ano e dia;
c) A total procedência da ação, com a reintegração definitiva da Autora na posse do
imóvel, confirmando-se a liminar concedida, na forma do artigo 562 do CPC;

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d) A total procedência da ação para condenar ainda os Réus ao pagamento de


indenização no valor de R$ 6.000,00 em razão dos danos materiais cumulado com a
condenação na indenização no valor de R$ 19.000,00 pelos frutos colhidos e
percebidos (ambos na forma do art. 555, I e II do CPC);
e) A produção de todos os meios de prova em direito admitidas, em especial a prova
testemunhal e pericial, na forma do art. 319, VI, do CPC;
e) Requer a concessão do benefício da justiça gratuita a autora, na forma do art. 98 e
99 do Código de Processo Civil;
f) Condenação dos Requeridos nas custas processuais e honorários advocatícios,
consoante previsão do art. 85 do Código de Processo Civil.

Valor da causa: R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais).

Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Local..., Data...
Advogado...
OAB...

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MODELO DE AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO – DISPONIVEL EM: ROCHA, Marcelo


Hugo da; THAMAY, Rennan Faria Krüger. Passe na OAB: 2ª fase FGV: prática civil
(Completaço). São Paulo: Saraiva, 2017, p. 80.

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27. Ação de Exigir Contas

27.1 Previsão legal:


Arts. 550 a 553 do CPC;

27.2 Cabimento:
A ação de exigir contas no “regime processual atual, se destina a veicular a pretensão
daquele que pretende que as contas lhe sejam prestadas (art. 550 do CPC). Já quanto à
pretensão daquele que busca prestar as contas (...) é hoje submetida ao regime do procedimento
comum”. (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 157-158)
No que tange ao dever de prestar contas e o direito de exigi-las, Marinoni, Arenhart e
Mitidiero (2017, p. 157) mencionam: “em regra, as pessoas, a quem é submetida a administração
de certos bens ou interesses, estão obrigadas a dar satisfação de seus atos de gestão. Essa
obrigação pode ser imposta ao administrador mediante pedido do interessado, podendo ainda
ser prestada voluntariamente por aquele. Há várias circunstâncias que determinam o dever de
prestar contas de seus atos (...)”. E complementam: “as contas a serem prestadas devem ser
demonstradas e justificadas, exatamente para que se possa conferir a destinação dada ao
patrimônio do administrado e a razoabilidade da atividade do administrador”. (MARINONI;
ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 157)
Da mesma forma entende Chacon (2016, p. 128) no sentido de que “os atos de gestão ou
administração de bens, negócios ou interesses alheios gera o dever de prestar contas do que
ocorreu e se efetuou. O vínculo não precisa ser contratual ou expresso, bastando que, de fato, a
gestão ou administração ocorra, mesmo que diante do mero controle de dinheiro alheio. Cita
como exemplos: o presidente de um clube associativo, o sócio administrador de uma pessoa
jurídica ou até mesmo o inventariante em relação ao inventário”.
Sobre o cabimento da ação de exigir contas leciona Adede Y Castro (2016, p. 15): “O autor,
convencido de que o réu deveria ter feito um relatório das atividades desenvolvidas em seu
nome, desde o recebimento ou utilização de valores até recebimento e utilização de coisas,
objetos, animais, etc., e não o obtendo ou não concordando com aquele que lhe é apresentado,
pode ingressar em juízo para exigir as contas”.
Como exemplos cita Adede Y Castro (2016, p. 15): “Quase sempre as contas exigidas têm
a ver com valores em dinheiro recebidos por advogados, contadores, administradores de bens e

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negócios em nome de outrem, mas também podem se referir a atos praticados, comprovas e
vendas feitas etc”.
Outros exemplos também são citados por Medina (2016, p. 813): “pode tratar-se, p.ex., da
prestação de contas de advogado ao seu constituinte, de condomínio contra síndico (CC, art.
1.328, VIII), ou relativa a conta corrente bancária”.
A ação de exigir contas encontra previsão legal no art. 550 do CPC:

Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do
réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias.
§1º Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões pelas quais exige
as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem.
§2º Prestadas as contas, o autor terá 15 (quinze) dias para se manifestar, prosseguindo-
se o processo na forma do Capítulo X do Título I deste Livro.
§3º A impugnação das contas apresentadas pelo réu deverá ser fundamentada e
específica, com referência expressa ao lançamento questionado.
§4º Se o réu não contestar o pedido, observar-se-á o disposto no art. 355.
§5º A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as contas no
prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor
apresentar.
§6º Se o réu apresentar as contas no prazo previsto no § 5o, seguir-se-á o procedimento
do § 2º, caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15 (quinze) dias, podendo o
juiz determinar a realização de exame pericial, se necessário. (BRASIL, 2015)

Então, se verifica que o procedimento especial da ação de exigir contas é utilizado quando
alguém quer exigir/forçar que a outra pessoa, o réu, forneça as contas.
Importante ainda mencionar sobre o cabimento da ação de exigir contas, conforme ensina
Medina (2016, p. 814):
A ação de exigir contas é considerada cominatória, sendo que a parte contrária terá que
apresentar as contas, sob pena de aceitar aquela apresentada pelo autor (art. 550, §5º,
do CPC/2015). Em razão da consequência prevista no art. 5º do art. 550, não se admite a
fixação de multa coercitiva. A ação pode ter também natureza condenatória, quanto ao
saldo existente (cf. art. 552 do CPC/2015), seja este saldo favorável ao autor ou ao réu, o
que revela o caráter dúplice da ação.

27.3 Legitimidade:
Conforme o Novo CPC, tem legitimidade para propor a ação de exigir contas pelo
procedimento especial aquele que possui legitimidade para exigi-las e não para prestá-las. Isso
de acordo com a previsão do artigo 550 do CPC: “Aquele que afirmar ser titular do direito de
exigir contas requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de
15 (quinze) dias”. (BRASIL, 2015)
Segundo Chacon (2020, p. 137) “a ação na atual conjuntura do CPC só pode ser
apresentada por quem tem o direito de exigir contas (art. 550 do CPC)”. Ainda, “para todos os

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casos da ação de exigir contas, é preciso provar o vínculo existente, ou seja, de onde surge a
obrigação do Réu prestar contas ou o direito de exigir”. (CHACON, 2020, p. 137)

Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do
réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias.

Segundo Chacon (2020) para todos os casos da ação de exigir contas, é preciso provar o
vínculo existente, ou seja, de onde surge a obrigação do Réu prestar contas ou o direito de exigir.

27.4 Procedimento
Conforme Marinoni; Arenhart e Mitidiero (2017, p. 158), o objetivo da ação de exigir contas
é apurar a existência ou não da pretensão às contas. Não há necessidade assim, que o autor
da ação invoque algum suposto crédito existente ou desfalque efetuado pelo Requerido. Basta
que ostente o direito de exigir contas para que a ação seja julgada procedente. Assim, caso
verificando a existência de saldo, o feito continuará para impor ao réu o ressarcimento dos
prejuízos gerados.
Diante disso, segundo Marinoni; Arenhart e Mitidiero (2017, p. 158) a ação de exigir contas
desenvolve-se, em geral, em duas fases. A primeira busca apurar a existência do direito de exigir
contas. Na segunda, avalia-se a adequação das contas prestadas, impondo, quando for o caso,
condenação ao administrador para restituir o atual saldo credor.
Complementam os autores: “Há, neste processo, dois atos jurisdicionais distintos que
diretamente lidam com o mérito da demanda: um primeiro que impõe ao réu a prestação de
contas; e outro que analisará se as contas prestadas estão corretas ou não, e,
consequentemente, poderá impor ao administrador o ressarcimento de possíveis prejuízos por
ele ocasionados”. (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 158)
No §1º do artigo 550 do CPC/15 estão dispostos os requisitos da Inicial:

§1º Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões pelas quais exige
as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem.
(BRASIL, 2015)

A ação de exigir contas tem por início uma petição escrita, dirigida ao juiz da causa,
observando-se os artigos 319 e 320 do CPC, devendo o autor requerer a citação do réu para no
prazo de 15 dias, apresentar as contas devidas ou oferecer contestação (MARINONI;
ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 160)

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Sobre a petição inicial da ação de exigir contas, Chacon (2020, p. 137) ensina: “O art. 550,
caput e parágrafo primeiro, do CPC, estabelece os critérios da petição inicial para quem pretende
exigir a prestação de contas: requererá a citação do réu para que apresente as contas ou
conteste a ação no prazo de 15 dias, especificando detalhadamente as razões pelas quais exige
as contas instruindo a inicial com documentos comprobatórios desta necessidade”.
Conforme o caput do artigo 550 o autor deve requerer a citação do réu para que este:

* Para todos verem: esquema

Prestar contas

O réu será citado


para
Oferecer
contestação

Nesse sentido, Medina (2016, p. 815) ensina que no prazo de 15 dias, o réu poderá
contestar o pedido ou oferecer as contas exigidas, bem como permanecer revel. Assim,
dependendo da conduta que o réu tomar na ação, decorrerão as etapas na ação de exigir contas:

Ordinariamente, funda-se a ação na existência do direito de exigir as contas, que, uma vez
prestadas, se concluirá com o exame de sua correção (das contas) e apuração do saldo.
Nesse caso, prestadas as contas e ouvido o autor, produzem-se provas, se necessário, e
julgam-se as contas (art. 550, §2º e 3º, do CPC/2015) e, apurando-se saldo, valerá a
decisão como título executivo judicial (cf. art. 552 do CPC/2015). Caso, no entanto, o réu
não preste as contas de imediato, mas conteste tal pedido, afirmando que o autor não tem
direito à prestação de contas, ou, ainda, se permanecer revel, deverá o juiz decidir sobre
o direito à prestação de contas. Se reconhecido o direito de exigir contas, o réu deverá
fazê-lo em quinze dias, sob pena de não poder impugnar as que o autor apresentar (cf.
§5º do art. 550 do CPC/2015). (BRASIL, 2015)

E se as contas forem prestadas pelo réu no prazo de 15 dias? Caso o autor não concorde
com as contas prestadas pelo réu e queira impugnar deverá ser feita de fundamentada e
específica, com referência expressa ao lançamento que fora questionado. (Medina, 2016, p. 816)
Complementam os autores que em qualquer das hipóteses, determinada a apresentação
das contas, será iniciada a segunda fase do procedimento. Com isso, o processo dedicar-se-á a
examinar as contas que foram apresentadas pelo réu, e, se for o caso, condenar o mesmo em
eventual saldo devedor. (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 161)

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Sobre a conduta do réu ensina Adede Y Castro (2016, p. 15): “Ocorrendo a prestação de
contas pelo réu, o juiz intimará o autor para que, no prazo de quinze dias, se manifeste, dizendo
se concorda ou não com as contas prestadas. Concordando o autor com a prestação de contas,
o processo será extinto com julgamento de mérito. Discordando, o juiz instruirá o processo nos
termos do §2º desse artigo. Discordando o autor com as contas prestadas as impugnará,
referindo com exatidão as razões para tanto, manifestando-se expressamente sobre cada item
questionado. Ou seja, assim como não pode exigir contas de forma genérica, também não as
pode impugnar genericamente”.
E se o réu não prestar contas e nem contestar? Observa-se o disposto no artigo 355 do
CPC, ou seja, haverá julgamento antecipado do mérito:

Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de
mérito, quando:
I - Não houver necessidade de produção de outras provas;
II - O réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova,
na forma do art. 349. (BRASIL, 2015)

No que tange à revelia do réu na ação de exigir contas Führer e Führer (2016, p. 153)
ensinam: “Não contestado o pedido, tem lugar o julgamento antecipado do mérito (art. 355, II).
Procedente o pedido, o réu é condenado a prestar contas em 15 dias, sob pena de não lhe ser
lícito impugnar as que o autor apresentar (art. 550, §5º)”.
Na sua contestação, o Réu, por exemplo, poderá prestar as contas exigidas pelo Autor,
alegar que as prestou já, ou que não tem contas a prestar, uma vez que não mantém com o
Autor qualquer relação negocial de representação ou administração de interesses que possa
gerar a obrigação de prestar contas. (ADEDE; CASTRO, 2016, p. 15).

SE FOR JULGADA IMPROCEDENTE → O réu fica desobrigado a prestar contas exigidas


pelo Autor, sendo que o Autor responderá pelo ônus da sucumbência;
SE FOR JULGADA PROCEDENTE → previsão do §5º do artigo 550 do CPC/15. Decisão
vai condenar o réu a prestar as contas no prazo de 15 dias, se não fizer, não poderá impugnar
as contas apresentadas pelo autor;

§5º A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as contas no
prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor
apresentar. (BRASIL, 2015)

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Ou seja, conforme Adede Y Castro (2016, p. 16), com ou sem contestação, se o juiz se
convencer de que o réu deve prestar contas porque não ou fez ou porque as apresentadas são
efetivamente insuficientes, proferirá sentença de mérito determinando que as contas sejam
apresentadas em 15 dias, sob pena de julgar procedentes as apresentadas pelo autor.
E se o réu apresentar as contas no prazo de 15 dias se condenado?

§6º Se o réu apresentar as contas no prazo previsto no § 5o, seguir-se-á o procedimento


do § 2o, caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15 (quinze) dias, podendo o
juiz determinar a realização de exame pericial, se necessário. (BRASIL, 2015)

Ou seja, o autor poderá se manifestar no prazo de 15 dias, ou se o réu não fizer, o autor
poderá apresentá-las no prazo de 15 dias, podendo o juiz determinar exame pericial se for
necessário.

27.5 Apresentação das contas pelo Réu


Previsão do artigo 551 do Novo CPC:

Art. 551. As contas do réu serão apresentadas na forma adequada, especificando-se as


receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver.
§1º Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz estabelecerá prazo
razoável para que o réu apresente os documentos justificativos dos lançamentos
individualmente impugnados.
§2º As contas do autor, para os fins do art. 550, §5º, serão apresentadas na forma
adequada, já instruídas com os documentos justificativos, especificando-se as receitas, a
aplicação das despesas e os investimentos, se houver, bem como o respectivo saldo.
(BRASIL, 2015)

De acordo com o que prevê o artigo 551 as contas prestadas pelo réu deverão ter as
receitas especificadas, inclusive as despesas e os investimentos, caso tenham ocorrido.
Por sua vez, o § 1o estabelece que se houver impugnação específica e fundamentada pelo
autor, deverá ser fixado um prazo razoável pelo juiz para que o réu apresente os documentos
justificativos dos lançamentos que foram individualmente impugnados.
Ou seja, apresentadas as contas pelo Réu, o juiz dará ao Autor a oportunidade de impugnar,
também de forma específica, sendo que volta os autos ao Réu para que este possa apresentar
documentos que comprovam que a impugnação do Autor não se sustenta.

27.6 Apresentação das contas pelo Autor


Previsão no §2º do artigo 551 do CPC/15:

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§2º As contas do autor, para os fins do art. 550, § 5o, serão apresentadas na forma
adequada, já instruídas com os documentos justificativos, especificando-se as receitas, a
aplicação das despesas e os investimentos, se houver, bem como o respectivo saldo.
(BRASIL, 2015)

27.7 Sentença
De acordo com a previsão do artigo 552 do CPC: “A sentença apurará o saldo e constituirá
título executivo judicial”. (BRASIL, 2015). Ou seja, se for apurado eventual saldo, será constituído
título executivo judicial.
Segundo ADEDE Y CASTRO (2016, p. 17), ao final, se houver saldo a pagar ou devolver,
deverá constar especificamente, sendo essa sentença título executivo judicial.
E, caso, o saldo não puder ser declarado na sentença, a sentença deverá pelo menos ter
elementos que permitam a liquidação. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 17)

27.8 Das contas pelo inventariante, curador, tutor, depositário


No que tange ao artigo 553 do CPC, Medina (2016, p. 813) de acordo com o artigo 553 do
CPC, as pessoas indicadas no referido caput prestam contas em apenso aos autos do processo
em que foram nomeadas:

Art. 553. As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de qualquer


outro administrador serão prestadas em apenso aos autos do processo em que tiver sido
nomeado.
Parágrafo único. Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar o saldo e não
o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda, glosar
o prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas executivas
necessárias à recomposição do prejuízo. (BRASIL, 2015)

Sobre o artigo 553 do CPC, Adede Y Castro (2016, p. 17) leciona: “Todos os referidos no
caput do art. 553 são administradores de interesses alheios, uns em processos de inventário,
outros em função de relação familiar, o curador em razão de incapacidade do interdito, o
depositário e o administrador (como nos processos de falência), em razão de nomeação pelo juiz
em autos específicos de ação judicial. Dessa forma, nesses mesmos autos poderão ser exigidas
as contas que, não prestadas, poderão implicar em destituição e substituição, sequestro de bens
e valores, glosa de remuneração e qualquer outra medida necessária para recomposição do
patrimônio do lesado”.

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27.9 Pedidos básicos da ação de exigir contas


Esquema fornecido por AGUIRRE; SÁ, 2017, P.147-148

* Para todos verem: quadro esquemático

Discorrer sobre a relação jurídica que envolve o


autor e réu e sobre o dever deste último de prestar
contas ao primeiro.
FATOS E FUNDAMENTOS
O autor deve especificar, detalhadamente, as
JURÍDICOS
razões pelas quais exige as contas, instruindo-a
com documentos comprobatórios dessa
necessidade, se existirem – 550, §1º do CPC.
Indicação dos artigos da lei material ou processual
DIREITO
que incidem sobre a hipótese fática.
Citação para que o Réu preste as contas ou
ofereça contestação no prazo de 15 dias, sob pena
de julgamento antecipado do mérito, conforme
artigo 550 do CPC;
Procedência do pedido para condenar o Réu a
prestar contas no prazo de 15 dias, sob pena de
não lhe ser lícito impugnar as que o Autor
PEDIDO apresentar, conforme artigo 550, §5º do CPC;
Condenação do réu em eventual saldo credor, para
que se constitua o título executivo judicial nos
termos do artigo 552 do CPC;
A condenação do Réu ao pagamento de custas e
honorários advocatícios;
Produção de provas gerais e específicas;
A juntada de guia de custas devidamente recolhida;
Protestar por provas que poderão demonstrar a
PROVAS
veracidade dos fatos alegados.
Proveito econômico, valor discutido

VALOR DA CAUSA

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28. Da Oposição

27.1 Previsão Legal:


Arts. 682 a 686 do CPC;

28.2 Conceito:
Hoje, pelo Novo CPC, a oposição não é mais forma de intervenção de terceiros, mas, sim,
procedimento especial.
A oposição no antigo CPC (CPC de 1973) era tratada como forma de intervenção de
terceiros, explicando Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 241) que a inclusão como forma de
intervenção de terceiros antigamente era amplamente criticada pela doutrina. Segundo os
autores “de fato, a oposição jamais poderia ser qualificada como uma intervenção de terceiro –
realizada no processo – na medida em que o opoente, quando participa do processo, formula
ação própria, tendente a excluir a pretensão dos sujeitos iniciais sobre o objeto litigioso do
processo. Ora, quem formula ação no processo jamais pode ser considerado como terceiro,
exercendo o opoente, portando, nítido papel de parte”.
Portanto, o Novo CPC restaurou o regime adequado, considerando a oposição como uma
AÇÃO AUTÔNOMA, ainda que veiculada a outra causa. “Haverá, entre a ação original e a
oposição, uma relação de subordinação legal, em que a lei estabelece uma relação de
prejudicialidade entre a oposição e a ação ‘principal’ (art. 686 do CPC)”. (MARINONI;
ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 241)
São formas de intervenção de terceiros pelo Novo CPC: a assistência, a denunciação à
lide, o chamamento ao processo, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e o
amicus curiae.
Segundo Medina (2016, p. 866) “não se confunde a oposição com as formas de intervenção
de terceiros, tendo o CPC/2015, acertadamente, tratado tal figura entre os procedimentos
especiais”.

28.3 Cabimento
Através do procedimento especial da oposição, o terceiro ajuíza ação contra os litigantes
(autor e réu) da ação originária, com o objetivo de haver para si a coisa ou o direito sobre que
estes controvertem. (MEDINA, 2016, p. 865)

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Sobre a oposição, ensinam Führer e Führer (2016, p. 161): “trata-se de ação autônoma
distribuída por dependência. É própria para quem pretende para si, no todo ou em parte, a coisa
ou o direito controvertido debatido na ação principal (art. 682)”.
Da mesma forma, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 241) mencionam que a função
da ação de oposição vem estabelecida no artigo 682 do CPC, “servindo para veicular o pedido
daquele que pretende, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e
réu”. Complementam ainda os autores:

A intenção da oposição, portanto, é a de excluir as ‘pretensões’ dos autor e réu da


demanda original, fazendo prevalecer seu interesse sobre o bem ou direito objeto daquela
demanda. Trata-se da situação daquele que entende que nenhum dos sujeitos da primeira
relação processual tem razão quanto à demanda, de modo a concluir que o interesse ali
discutido na realidade lhe pertence. Essa é a tônica da oposição e é também sua função:
acoplar ao processo instaurado outro processo, conexo ao primeiro, em que esse terceiro
sujeito pretende, da mesma forma como fez o autor do primeiro processo, a coisa ou o
direito objeto deste. (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 241)

Dessa forma, “trata-se de hipótese especial de conexão de causas, que não implica apenas
a reunião dos processos para julgamento por um só juízo, mas impõe, em princípio, uma
tramitação simultânea dos processos e pode gerar, como dito, uma relação de prejudicialidade
entre as causas”. (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 241)
Previsão no artigo 682 do Novo CPC:

Art. 682. “Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que
controvertem autor e réu poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra
ambos”. (BRASIL, 2015)

Então podemos apontar → Ação de oposição: Art. 682 a 686 do CPC


Procedimento especial: proposta por terceiro (quem não é parte de um processo principal
em curso)
Quando? Quando o terceiro pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que
controvertem autor e réu poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.
Terceiro que propõe a oposição é chamado de opoente. Autor e réu do processo principal
são os opostos na oposição.
A oposição deve ser proposta contra o autor e réu do processo principal.

28.4 Prazo
Conforme ensina Medina (2016, p. 866) não se admite a oposição após a sentença,

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conforme artigo 682 do CPC.


Além dos demais requisitos, a ação de oposição deve ser ajuizada dentro de determinado
prazo, ou seja, até a sentença do processo já instaurado.
Nesse sentido, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 242) ensinam que “é fundamental
que este processo ainda esteja em curso. Se o processo já foi concluído, então o interessado
em deduzir oposição deverá propor uma demanda comum, em face do ganhador do primeiro
processo, para fazer prevalecer seu interesse sobre aquele reconhecido judicialmente”.

28.5 Requisitos da oposição


Quanto aos requisitos para propositura da ação de oposição, Marinoni, Arenhart e Mitidiero
(2017, p. 242) apontam que em primeiro lugar se faz necessário que HAJA UM PROCESSO
JUDICIAL JÁ INSTAURADO, JUSTAMENTE NO QUAL SE DISCUTA SOBRE DIREITO OU
COISA QUE SEJA DO INTERESSE DO OPOENTE.
Ainda, se faz necessário “que esse terceiro (opoente) se afirme titular de uma relação
jurídica, em face da coisa ou do direito, incompatível com a relação jurídica objeto do primeiro
processo. De fato, se a relação jurídica de que se afirma titular o opoente não é incompatível
com aquela adjacente ao primeiro processo, então não há interesse na oposição”. (MARINONI;
ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 242)

28.6 Petição Inicial


Conforme aduz Medina (2016, p. 866) “a oposição, de acordo com o art. 683, caput, do
CPC/2015, deve observar todos os requisitos de admissibilidade comuns a outras ações de
conhecimento (p. ex., quanto à petição inicial, arts. 319 e 320 do CPC/2015), bem como os
específicos, que correspondem ao procedimento previsto nos arts. 682 ss do CPC/2015”.
Também nesse mesmo sentido, Marinoni, Arenart e Mitidiero (2017, p. 243) expressam que
como é uma nova ação, a ação de oposição deve ser feita em petição inicial observando-se os
requisitos expressos nos artigos 319 e 320 do CPC, obedecendo as condições da ação e os
pressupostos processuais.
Nesse sentido é a previsão do artigo 683 do CPC: “O opoente deduzirá o pedido em
observação aos requisitos exigidos para propositura da ação”. (BRASIL, 2015)

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28.7 Partes na Oposição


As partes na ação de oposição são:
▪ Opoente: terceiro que ajuíza a ação de oposição;
▪ Opostos: polo passivo da ação de oposição, sendo o autor e réu do processo
principal.
No que tange às partes da ação de oposição Medina (2016, p. 866) explica: “os litigantes
no processo originário figurarão, obrigatoriamente, como réus (cf. art. 683, parágrafo único do
CPC/2015), assumindo a posição de litisconsortes passivos necessários em relação à ação
ajuizada pelo opoente”.
Passa a ser distribuída por dependência, sendo as partes citadas para contestar no prazo
COMUM de 15 dias;
Previsão do parágrafo único do artigo 683, Parágrafo único:

Parágrafo único. Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados,


na pessoa de seus respectivos advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15
(quinze) dias (BRASIL, 2015).

28.8 Procedimento
No que tange ao procedimento da oposição, Führer e Führer (2016, p. 161) ensinam que
uma vez proposta a inicial da ação de oposição, procede-se à citação dos denominados opostos
por meio dos respectivos advogados para contestar no prazo de 15 dias, sendo que se um deles
reconhecer o pedido contra o outro prosseguirá o opoente (autor da oposição).

Assim, distribuída a oposição por dependência, deve ela tramitar apensada aos autos do
primeiro processo. Recebida a petição inicial, deverão os opostos (autor e réu da primeira
ação) ser citados, para responder à nova ação em prazo comum de quinze dias (art. 683,
parágrafo único, do CPC). A citação dos réus se dá na pessoa dos seus advogados (no
processo original). Obviamente, porém, se algum deles não tiver advogado constituído
neste primeiro processo, deverá ser citado pessoalmente, na forma comum. (MARINONI;
ARENART; MITIDIERO, 2017, p. 244)

E se uma das partes reconhecer a procedência do pedido? A oposição continua contra a


outra;
Previsão do artigo 684 do Novo CPC:
Art. 684. Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro
prosseguirá o opoente. (BRASIL, 2015)

A oposição ficará em apenso à ação originária sendo julgada juntamente com esta,
conforme previsão do artigo 685 do Novo CPC:

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Art. 685. “Admitido o processamento, a oposição será apensada aos autos e tramitará
simultaneamente à ação originária, sendo ambas julgadas pela mesma sentença”.
(BRASIL, 2015)

Além disso, se a oposição for proposta após o início da audiência de instrução, o juiz
suspenderá o curso do processo ao fim da produção das provas, salvo se concluir que a unidade
da instrução atende melhor ao princípio da duração razoável do processo;
Previsão do parágrafo único do artigo 685:

Parágrafo único. Se a oposição for proposta após o início da audiência de instrução, o juiz
suspenderá o curso do processo ao fim da produção das provas, salvo se concluir que a
unidade da instrução atende melhor ao princípio da duração razoável do processo.
(BRASIL, 2015)

Ainda, é de se observar quanto ao julgamento da oposição, a previsão do artigo 686 do


CPC: “Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação originária e a oposição, desta conhecerá
em primeiro lugar”. (BRASIL, 2015)
Sobre o artigo 686 comentam Marinoni, Arenhart e Mitidiero:

Sempre que se decidir conjuntamente o processo originário e a oposição, cabe ao juiz


julgar, em primeiro lugar, a oposição (art, 686). Julgada procedente a oposição, fica
prejudicada a análise do processo original. Do contrário, julgada improcedente aquela,
será examinada a ação, definindo-se a quem pertence o bem ou o direito em litigio.
(MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 244)

Como a ação originária e a oposição devem ser julgadas de forma conjunta (mesma
sentença), deverá o juiz conhecer a oposição em primeiro lugar, tendo em vista que a sua solução
interfere diretamente no resultado que terá a primeira ação;

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29. Homologação do Penhor Legal (Aula Gravada)

29.1 Previsão legal

A previsão legal da homologação do penhor legal está nos art. 1.467 a 1.472 do Código
Civil e art. 703 a 706 do Código de Processo Civil.

29.2 Conceito de penhor legal

Segundo Adede Y Castro (2016, P. 127) penhor é, via de regra, uma garantia escrita,
representada por um instrumento público ou particular, dada pelo devedor ao credor, de que
entregará a este último, um determinado BEM MÓVEL, caso não pague a dívida.

OBS: PENHOR → BEM MÓVEL;

Com o penhor, o credor que era quirografário, ou seja, sem garantia real, passa a ser
credor pignoratício, isto é, com garantia real.
O Código Civil nos artigos 1.467 ao 1.472 descreve e regulamenta o penhor legal.

29.3 Cabimento do procedimento especial de homologação do penhor legal

Tal procedimento ocorre por interesse do Requerente em chancelar o penhor legal, haja
vista este se tratar de ato extrajudicial.
Referente ao procedimento de homologação do penhor legal ensinam Marinoni, Arenhart
e Mitidiero (2017, p. 265): “neste procedimento, basicamente, o juiz limita-se a apurar se o
procedimento do suposto credor está correto e a estabilizar o apossamento por este realizado.
No modelo atual, em face de sua simplicidade, essa providência poderá até mesmo ter caráter
extrajudicial, dispensando a participação do Judiciário nessa atividade (art. 703, §§2º e 3º)”.
O penhor é um direito real de garantia. Há diferenças entre o penhor: fala-se em penhor
convencional ou penhor legal.

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Sobre a diferença entre penhor legal e convencional cabe destacar: “em regra, o penhor
é convencional, decorrendo de relação jurídica mantida pelas partes. Por vezes, porém, é
imposto pela própria lei, nascendo então o chamado o penhor legal”. (MARINONI; ARENHART;
MITIDIERO, 2017, p. 265)
O penhor legal é previsto no Código Civil, nos artigos 1467 a 1.472.

Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente de convenção:


I - Os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as bagagens, móveis,
jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas
casas ou estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito;
II - O dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis que o rendeiro ou inquilino
tiver guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas.
Art. 1.468. A conta das dívidas enumeradas no inciso I do artigo antecedente será extraída
conforme a tabela impressa, prévia e ostensivamente exposta na casa, dos preços de
hospedagem, da pensão ou dos gêneros fornecidos, sob pena de nulidade do penhor.
Art. 1.469. Em cada um dos casos do art. 1.467, o credor poderá tomar em garantia um
ou mais objetos até o valor da dívida.
Art. 1.470. Os credores, compreendidos no art. 1.467, podem fazer efetivo o penhor, antes
de recorrerem à autoridade judiciária, sempre que haja perigo na demora, dando aos
devedores comprovantes dos bens de que se apossarem.
Art. 1.471. Tomado o penhor, requererá o credor, ato contínuo, a sua homologação judicial.
Art. 1.472. Pode o locatário impedir a constituição do penhor mediante caução idônea.

Nestes casos, o credor de hospedagem e o locador ou arrendador de prédio rústico ou


urbano possuem o direito de reter a bagagem do hóspede ou os móveis e utensílios do locatário
ou arrendatário.
De acordo com o CC, podem os hotéis e hospedarias reterem a bagagem dos hóspedes
se estes não efetuarem o pagamento. Já de acordo com o II do artigo 1.467 do CC, o dono do
prédio rústico ou urbano poderá penhorar os móveis pelo valor dos aluguéis e rendas.
Complementam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 266): “Seja como for, estabelece
o Código Civil, nos casos indicados no art. 1.467 (...) poderá o credor apossar-se de bens em
montante suficiente para garantir a dívida existente. A obtenção dessa garantia – em forma de
penhor – porque é feita pelo credor, como forma de autotutela, exige posterior apreciação judicial.
Para tanto é que a lei impõe que, depois de tomados os bens em penhor, deva o credor sujeitar-
se à homologação judicial desse procedimento”.

29.4 Legitimidade para requerer o penhor legal

O penhor legal poderá ser requerido (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 127-128):


- HOSPEDEIROS OU FORNECEDORES DE BAGAGENS OU ALIMENTOS → SOBRE
AS BAGAGENS, MÓVEIS, JÓIAS OU DINHEIRO QUE OS SEUS CONSUMIDORES TIVEREM

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CONSIGO OU NAS SUAS RESPECTIVAS CASAS OU ESTABELECIMENTOS → PARA


PAGAMENTO DAS DESPESAS OU CONSUMO QUE AÍ TIVERAM;

- DONOS DO PRÉDIO RÚSTICO OU URBANO → SOBRE BENS MÓVEIS QUE O


RENDEIRO OU INQUILINO ESTIVER GUARNECENDO O MESMO PRÉDIO → PELOS
ALUGUÉIS OU RENDA;

Outra situação: artigo 31 da Lei 6.533/78 → Dispõe sobre a regulamentação das


profissões de Artistas e de técnico em Espetáculos de Diversões, e dá outras providências:

Art. 31. Os profissionais de que trata esta Lei têm penhor legal sobre o equipamento e
todo o material de propriedade do empregador, utilizado na realização de programa,
espetáculo ou produção, pelo valor das obrigações não cumpridas pelo empregador.

Ou seja, a referida lei concede o direito desses artistas e técnicos de reterem o


equipamento até receberem o seu crédito. Nestes casos, reter os equipamentos constitui
garantia legal para receberem.

29.5 Finalidade

Observa-se, assim, que a finalidade de retenção em ambos os casos é a garantia de


pagamento.
Assim o bem objeto de penhor legal deve ter conteúdo econômico para servir para
posterior alienação. Observar ainda que de acordo com o artigo 1.469 do CC há um limite para
o penhor, qual seja o limite da dívida.
Assim o credor somente poderá tomar os bens em garantia até o valor da dívida. Se
ultrapassar será considerado excesso.

29.6 Procedimento

Na homologação do penhor legal a função do juiz é limitada. Ou seja, o juiz deve verificar
se o procedimento realizado pelo credor está correto. Se estive correto, deverá o juiz
estabilizar o apossamento realizado pelo credor.
Ou seja, nas hipóteses previstas no CC, o próprio credor, em caso de inadimplemento do
devedor, poderá tomar de mão própria os objetos descritos no artigo 1.469 do CC, e requerer
em ato contínuo a sua homologação (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 128). Previsão a partir do
artigo 703 CPC/15:

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Art. 703. Tomado o penhor legal nos casos previstos em lei, requererá o credor, ato
contínuo, a homologação.

A homologação do penhor legal vai conferir legitimidade ao penhor realizado pela parte
nas hipóteses previstas no artigo 1.467 do CC. Alteração em relação ao CPC de 1973, pois
naquele a homologação era tratada como medida cautelar. De acordo com o artigo 703 não há
prazo para requerer a homologação do penhor legal → “ato contínuo”.

29.6.1 Requisitos da Inicial

Requisitos da homologação do penhor legal → Previsão do §1º do art. 703 do CPC:

§1o Na petição inicial, instruída com o contrato de locação ou a conta pormenorizada das
despesas, a tabela dos preços e a relação dos objetos retidos, o credor pedirá a citação
do devedor para pagar ou contestar na audiência preliminar que for designada.

A petição inicial deverá ser instruída com:

Contrato de locação ou a conta


pormenorizada das despesas;

A tabela dos preços;

A relação dos objetos retidos;

Citação: para pagar ou contestar na


audiência preliminar que for designada.

No que tange aos requisitos da Petição Inicial da Homologação do penhor legal, esta deve
conter conforme Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 268): “a homologação do penhor legal
se inicia por petição inicial dirigida pelo credor ao juiz. Esse documento deve conter, como
determina o art. 703, §1º, a relação especificada das despesas ou o contrato de locação (com o
vakir da locação não paga), a tabela de preços do estabelecimento (somente para o caso de
penhora de dívidas de despesas e consumos de estabelecimentos de hospedagem ou
alimentação – art. 1.467, I do CC) e o rol de bens retidos em garantia. Pedirá o requerente a
citação do devedor para pagar ou ofecerer defesa em audiência preliminar designada”.

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29.6.2 Homologação do Penhor Legal Extrajudicial

Previsão dos §§2º ao 4º do art. 703 do CPC:

§2o A homologação do penhor legal poderá ser promovida pela via extrajudicial mediante
requerimento, que conterá os requisitos previstos no § 1o deste artigo, do credor a notário
de sua livre escolha.
§3o Recebido o requerimento, o notário promoverá a notificação extrajudicial do devedor
para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar o débito ou impugnar sua cobrança, alegando por
escrito uma das causas previstas no art. 704, hipótese em que o procedimento será
encaminhado ao juízo competente para decisão.
§4o Transcorrido o prazo sem manifestação do devedor, o notário formalizará a
homologação do penhor legal por escritura pública.

A Homologação poderá ser ocorrer via extrajudicial perante notário. Mesmo sendo
extrajudicial deve preencher os requisitos do §1º. Recebido o requerimento pelo notário, este
deverá promover a notificação extrajudicial do devedor.
O devedor terá o prazo de 05 dias para pagar o débito ou impugnar a cobrança. Na
impugnação que deverá ser por escrito poderá alegar uma das causas previstas no artigo 704
do CPC/15.
Se for pago o débito, a dívida estará quitada, extinguindo-se o feito extrajudicial e os bens
devolvidos ao devedor.
Havendo essa impugnação na via extrajudicial, o procedimento será encaminhado ao juiz
competente para este decidir.
Vai para a justiça porque daí ganha litigiosidade. E se não houver manifestação do
devedor neste prazo de 05 dias? O notário deverá homologar o penhor legal por escritura pública,
na forma do art. 703, §4º do CPC.
29.6.3 Conteúdo da defesa do devedor

Previsão do artigo 704 do CPC/15:

Art. 704. A defesa só pode consistir em:


I - Nulidade do processo;
II - Extinção da obrigação;
III - não estar a dívida compreendida entre as previstas em lei ou não estarem os bens
sujeitos a penhor legal;
IV - Alegação de haver sido ofertada caução idônea, rejeitada pelo credor;

O artigo 704 enumera as hipóteses de defesa que o Réu poder alegar em sua defesa:

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29.6.4 Do procedimento após a Audiência Preliminar

Observar que o §1º do artigo 703 do CPC estabelece que o devedor será citado para
pagar ou oferecer contestação na audiência preliminar a ser designada.
Art. 705 do Código de Processo Civil
Art. 705. A partir da audiência preliminar, observar-se-á o procedimento comum.

O artigo 705 do CPC/15 estabelece o procedimento após recebida a inicial.


RECEBIDA A INICIAL → requerido será citado para comparecer na audiência preliminar.
Após esta audiência será observado o procedimento comum, ou seja, podem ser realizadas
perícias, ouvidas testemunhas, até ser encerrada a instrução processual e ser proferida
sentença.

29.6.5 Da homologação do Penhor Legal


E se for homologado o penhor legal? Previsão do artigo 706 do CPC/15:
Art. 706. Homologado judicialmente o penhor legal, consolidar-se-á a posse do autor sobre
o objeto.
§1o Negada a homologação, o objeto será entregue ao réu, ressalvado ao autor o direito
de cobrar a dívida pelo procedimento comum, salvo se acolhida a alegação de extinção
da obrigação.
§2o Contra a sentença caberá apelação, e, na pendência de recurso, poderá o relator
ordenar que a coisa permaneça depositada ou em poder do autor.

Uma vez homologado o penhor legal judicialmente a posse dos bens será consolidada em
favor do autor. Reconhece-se a legitimidade dos bens que foram tomados.
Adede Y Castro (2016, p. 130) menciona ainda que ao homologar o penhor legal o juiz
estará declarando que o débito existe, sendo sentença título executivo que poderá ser executado
judicialmente, caso não pago o débito.

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29.6.6 Da não homologação do Penhor Legal

E se for negada a homologação?

Art. 706, §1º do Código de Processo Civil

§1o Negada a homologação, o objeto será entregue ao réu, ressalvado ao autor o direito
de cobrar a dívida pelo procedimento comum, salvo se acolhida a alegação de extinção
da obrigação.

O bem objeto de penhor será devolvido ao Réu, sendo que o autor poderá cobrar a dívida
ainda pelo procedimento comum, salvo se for acolhida a alegação de extinção da obrigação do
réu.

29.6.7 Do Recurso

Contra a sentença de penhor legal o recurso cabível é APELAÇÃO.


E ainda, caberá ao relator decidir se na pendência do recurso o bem ficará depositado em
juízo ou sob a posse do credor.
Nesse sentido ensinam Adede Y Castro (2016, p. 130): “A sentença de homologação ou
negatória de homologação do penhor legal é de mérito, de forma que contra ela cabe recurso de
apelação. Cabe ao relator do recurso decidir se os objetos tomados pelo credor ficarão
depositados em juízo até o trânsito em julgado da sentença ou se serão devolvidos ao devedor”.

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30. Regulação de Avaria Grossa (Aula Gravada)

30.1 Previsão legal

A regulação de avaria grossa está prevista nos arts. 707 a 711 do Código de Processo
Civil e Lei 55/1.850 (Código Comercial) a partir do art. 761.

30.2 Conceito de Avaria Grossa

O termo avaria tem origem árabe e vem da expressão: “awâr”, que significa dano.
O Código Comercial define avaria no seu artigo 761:

Art. 761 - Todas as despesas extraordinárias feitas a bem do navio ou da carga, conjunta
ou separadamente, e todos os danos acontecidos àquele ou a esta, desde o embarque e
partida até a sua volta e desembarque, são reputadas avarias.

O novo CPC trouxe algumas regras que interessam ao Direito Marítimo. Há, assim, o
procedimento especial que trata da regulação da avaria grossa. A avaria grossa já era tratada
no CPC/73 e também no Código Comercial, na parte de direito Marítimo que não restou
revogada. As inovações foram poucas, porém consideráveis.
Constitui uma das modalidades de dano em transporte marítimo de cargas, caracterizando
o inadimplemento contratual do transportador.

HÁ DUAS ESPÉCIES DE AVARIA: A GROSSA E A SIMPLES.

No direito marítimo, existem dois tipos básicos de avarias: avaria simples, conhecida ainda
por particular, e avaria grossa, também denominada avaria comum.
Sobre as diferenças ensina Adede Y Castro (2016, p. 131): “São duas as espécies de
avarias, ou seja, despesas extraordinárias e danos ao navio ou à carga: as avarias grossas ou
comuns, e as avarias simples e particulares, referidas no art. 766 do Código Comercial (...) sendo
essas suportadas ou só pelo navio ou só pela coisa que sofreu o dano ou deu causa à despesa”.
O Código Comercial prevê essas duas espécies de avarias em seu artigo 763:
Art. 763 - As avarias são de duas espécies: avarias grossas ou comuns, e avarias simples
ou particulares. A importância das primeiras é repartida proporcionalmente entre o navio, seu
frete e a carga; e a das segundas é suportada, ou só pelo navio, ou só pela coisa que sofreu o

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dano ou deu causa à despesa.

Art. 763 - As avarias são de duas espécies: avarias grossas ou comuns, e avarias simples
ou particulares. A importância das primeiras é repartida proporcionalmente entre o navio,
seu frete e a carga; e a das segundas é suportada, ou só pelo navio, ou só pela coisa que
sofreu o dano ou deu causa à despesa.

O art. 764 do Código Comercial traz o rol do que se considera avaria grossa.
Conforme aduz Adede Y Castro (2016, p. 131) “já as avarias grossas ou comuns, cujo
processo de regulação é esse do art. 707, serão repartidas, proporcionalmente, entre o navio,
seu frete e a carga, de forma que daí nasce a necessidade de ser identificada e classificada”.

Portanto, os elementos da avaria grossa que devem estar todos presentes, são:

Nelson Nery Junior:

“(...) A avaria comum ou grossa é suportada em comum pelo proprietário do navio e pelos
proprietários das cargas, e representa toda despesa ou dano que procede da vontade do homem,
e feitos extraordinariamente em benefício comum, para salvação do navio e de seu
carregamento, com resultado útil, enquanto a avaria simples é aquela que deve ser suportada
apenas pelo navio ou proprietário da coisa que sofreu o dano ou deu causa à sua despesa”.

30.4 Procedimento

Inicia com o artigo 707 do Novo CPC:

Art. 707. Quando inexistir consenso acerca da nomeação de um regulador de avarias, o


juiz de direito da comarca do primeiro porto onde o navio houver chegado, provocado por
qualquer parte interessada, nomeará um de notório conhecimento.

Isso porque de acordo com o artigo 783 do Código Comercial:

Art. 783 - A regulação, repartição ou rateio das avarias grossas serão feitos por árbitros,
nomeados por ambas as partes, as instâncias do capitão.

A avaria grossa envolve o conflito de interesses entre os do navio e os dos donos das
cargas. Por isso, as partes podem não concordar com a escolha de um regulador, impondo a
presença do juiz para designar alguém de sua confiança e presumidamente qualificado e idôneo
para presidir os trabalhos de regulação.

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a. Competência:
É o juiz de direito da comarca do primeiro porto em que o navio houver chegado provocado
por qualquer parte interessada nomeará um regulador de notório conhecimento, quando inexistir
consenso acerca da nomeação do regulador de avarias.

b. Do Regulador de Avarias:
O juiz de direito estadual da primeira Comarca onde o navio aportar deve nomear um
perito para identificar, classificar e repartir as avarias, ou seja, dizer se elas realmente ocorreram,
se são avarias grossas ou simples e quanto do dano caberá ao dono do navio transportador e
ao dono da carga (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 131).

c. Declaração do Regulador de Avarias:

Art. 708 do Código de Processo Civil


Art. 708. O regulador declarará justificadamente se os danos são passíveis de rateio na
forma de avaria grossa e exigirá das partes envolvidas a apresentação de garantias
idôneas para que possam ser liberadas as cargas aos consignatários.
§1o A parte que não concordar com o regulador quanto à declaração de abertura da avaria
grossa deverá justificar suas razões ao juiz, que decidirá no prazo de 10 (dez) dias.

Segundo Adede Y Castro (2016, p. 131) a declaração do regulador é um laudo pericial


onde o regulador informará se houve a avaria e se ela está entre aquelas que a lei considera que
devem ser rateadas, por ser grossa, além de dizer qual é o seu valor.
O artigo 708 não havia correspondência no CPC/73. Justamente com o fim de precisar se
se trata de caso de avaria grossa, cabe ao regulador identificar com precisão os danos próprios
da avaria grossa e àqueles que são próprios das chamadas avarias simples, à serem suportadas
exclusivamente pelo transportador marítimo.
Assim o CPC/15 traz as funções do regulador de avarias, quais sejam:

a) Declarar, justificadamente, se os danos são passíveis de rateio na forma da avaria


grossa;
b) Exigir das partes envolvidas garantias idôneas para que possam ser liberadas as
cargas dos consignatários;

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Assim, conforme o artigo 708 do CPC/15, o legislador processual civil explicitou a


necessidade de o regulador declarar, mediante detalhada justificativa, se os danos são ou não
passíveis da chancela da avaria grossa.
Para que os danos sejam considerados como próprios de avaria grossa, o regulador terá
que os apontar, detalhar e justificar de forma detalhada, depois disso, sendo aceita declaração,
exigir as garantias idôneas devidas.

d. Apresentação de Garantias Idôneas:

Previsão do §2º do art. 708 do CPC:

§2o Se o consignatário não apresentar garantia idônea a critério do regulador, este fixará
o valor da contribuição provisória com base nos fatos narrados e nos documentos que
instruírem a petição inicial, que deverá ser caucionado sob a forma de depósito judicial ou
de garantia bancária.
§3o Recusando-se o consignatário a prestar caução, o regulador requererá ao juiz a
alienação judicial de sua carga na forma dos arts. 879 a 903.
§4o É permitido o levantamento, por alvará, das quantias necessárias ao pagamento das
despesas da alienação a serem arcadas pelo consignatário, mantendo-se o saldo
remanescente em depósito judicial até o encerramento da regulação.

Na declaração do Regulador de Avaria deve constar a exigência de apresentação de


garantias idôneas que permitam a liberação da carga. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 132).
E SE NÃO OCORRER A PRESTAÇÃO DESSA GARANTIA IDONÊA? Caberá ao
regulador de avarias fixar o valor da contribuição em dinheiro ou garantia bancária para caução,
sendo o primeiro depositado em juízo (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 132). O valor da contribuição
provisória com base nos fatos narrados e nos documentos que instruírem a petição inicial.
E SE NÃO HOUVER A CAUÇÃO? a carga poderá ser alienada judicialmente, nos termos
dos arts. 879 a 903 do CPC.
Ou seja, segundo o §2º se não for apresentada garantia idônea, o regulador fixará o valor
da contribuição provisória com base nos fatos narrados e nos documentos que instruíram a
inicial, que deverá ser caucionado através de depósito judicial ou garantia bancária. E se a parte
se recusar a prestar a caução? Previsão no §3º. O regulador requererá ao juiz a alienação judicial
de sua carga.
O parágrafo 4º, por sua vez, permite o levantamento através de alvará das quantias
necessárias ao pagamento das despesas da alienação que deverão ser pagas pelo

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consignatário, devendo o saldo remanescente ser mantido em depósito judicial até o fim da
regulação.

e. Não concordância com a Declaração de Abertura de Avaria Grossa:


Previsão do §1º do art. 708 do CPC:

§1º A parte que não concordar com o regulador quanto à declaração de abertura da avaria
grossa deverá justificar suas razões ao juiz, que decidirá no prazo de 10 (dez) dias.

A parte, no entanto, poderá não concordar com o regulador quanto à declaração de


abertura de avaria grossa.

f. Prazo para as partes apresentar documentos:

Previsão do art. 709 do CPC:

Art. 709. As partes deverão apresentar nos autos os documentos necessários à regulação
da avaria grossa em prazo razoável a ser fixado pelo regulador.

Observa-se, de início, que o legislador processual civil não fixou um prazo específico,
estabelecendo a vontade do regulador, seja ele ou não nomeado pelo juiz para apresentar os
documentos.
Observar que no antigo CPC o prazo era fixo. O prazo de 60 dias para embarcadores
domiciliados no Brasil e 120 dias para os domiciliados no estrangeiro.
As partes deverão apresentar documentos e informações suficientes para que a regulação
possa ocorrer, tais como notas fiscais, fotografias, filmes, declarações etc. Cabe assim, ao
regulador fixar o prazo para a apresentação desses documentos.

g. Prazo para apresentar o Regulamento de Avaria:

Previsão do art. 710 do CPC:

Art. 710. O regulador apresentará o regulamento da avaria grossa no prazo de até 12


(doze) meses, contado da data da entrega dos documentos nos autos pelas partes,
podendo o prazo ser estendido a critério do juiz.
§1o Oferecido o regulamento da avaria grossa, dele terão vista as partes pelo prazo
comum de 15 (quinze) dias, e, não havendo impugnação, o regulamento será homologado
por sentença.
§2o Havendo impugnação ao regulamento, o juiz decidirá no prazo de 10 (dez) dias, após
a oitiva do regulador.

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No prazo de 12 meses a contar da apresentação dos documentos nos autos pelas partes,
podendo o prazo ser estendido pelo Juiz, o regulador apresentará o regulamento de avaria
grossa.
Uma vez oferecido as partes terão vista dele pelo prazo comum de 15 dias e não havendo
impugnação será homologado por sentença.
Havendo impugnação ao regulamento, o Juiz decidirá no prazo de 10 dias, após oitiva do
regulador.

h. Aplicação dos arts. 156 a 158 do CPC ao regulador:

Art. 711. Aplicam-se ao regulador de avarias os arts. 156 a 158, no que couber.

Tais artigos tratam da função do perito, e aplicam-se ao regulador no que couber.

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31. Divisão e Demarcação de Terras Particulares (Aula


Gravada)

31.1 Previsão legal

A previsão legal da divisão e demarcação de terras particulares está nos arts. 569 a 598
do Código de Processo Civil.

31.2 Disposições gerais previstas nos art. 569 a 573 do CPC

Art. 569. Cabe:


I - ao proprietário a ação de demarcação, para obrigar o seu confinante a
estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites entre eles ou
aviventando-se os já apagados;
II - ao condômino a ação de divisão, para obrigar os demais consortes a estremar os
quinhões.

31.2.1 Ação de demarcação

Observar a previsão no art. 1297 do CC:

Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o
seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à
demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos
destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as
respectivas despesas.

Somente cabe para terras particulares e não terras públicas;

Legitimidade para requerer a ação de demarcação: previsão do artigo 579, I do CPC.

Polo ativo:
I - Proprietário do terreno a ser demarcado. Entende ADEDE Y CASTRO (2016, p. 29) que o
possuidor e o detentor não possui legitimidade, pois não se trata de ação possessória.
Polo passivo:
Deverá ser ocupado pelo outro ou outros proprietários de terrenos que façam divisa, limite,
estremem, confinem diretamente com o do Autor. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 29).

Objeto da ação de demarcação: segundo ADEDE Y CASTRO (2016, p. 29) o objeto da ação

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de demarcação é o estabelecimento de marcos, sinais, cercas, muros ou valas entre dois ou


mais terrenos confinantes, de forma que não haja dúvida onde termina um e começa o outro.

31.2.2 Da Ação de Divisão

Previsão do artigo 1.320 do CC:

Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum,
respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão.

Segundo ADEDE Y CASTRO (2016, p. 29) evidente que cada condômino sabe qual é o
tamanho ou percentual que o seu quinhão representa dentro da área total existente em comum
com outra ou outras pessoas, mas a ação pretende justamente localizá-lo no universo do bem.
Assim, com a ação de divisão, o condômino passa a saber exatamente onde, dentro do
todo, se localiza seu quinhão, podendo utilizá-lo livremente sem interferência dos demais
(ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 29).

Legitimidade para a ação de divisão: previsão no inciso II do art. 569 do CPC:

II - ao condômino a ação de divisão, para obrigar os demais consortes a estremar os


quinhões.

Segundo ADEDE Y CASTRO (2016, p. 29) como não se trata de ação possessória,
somente os proprietários podem ajuizar a ação contra os outros proprietários com quem mantém
o bem em comunhão. Tanto o polo ativo quanto o passivo devem ser ocupados por condôminos.

Objeto da ação de divisão: segundo ADEDE Y CASTRO (2016, P. 30) podem ser objeto da
ação de divisão os bens divisíveis. Somente cabe nas terras particulares e não públicas.

Cumulação das ações de demarcação e divisão: previsão do art. 570 do CPC:

Art. 570. É lícita a cumulação dessas ações, caso em que deverá processar-se
primeiramente a demarcação total ou parcial da coisa comum, citando-se os confinantes
e os condôminos.

Possibilidade da demarcação e divisão serem realizadas por escritura pública: previsão do

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art. 571 do CPC:


Art. 571. A demarcação e a divisão poderão ser realizadas por escritura pública, desde
que maiores, capazes e concordes todos os interessados, observando-se, no que couber,
os dispositivos deste Capítulo.

Poderão serem realizadas por meio de escritura pública, desde que preenchidos certos
requisitos:
- AS PARTES SEJAM MAIORES E CAPAZES.
-HAJA ACORDO ENTRE AS PARTES, OU SEJA, ENTRE OS CONFITENTES OU
CONDOMINOS.

Confinantes como terceiros interessados na ação de divisão: previsão do art. 572 do CPC:

Art. 572. Fixados os marcos da linha de demarcação, os confinantes considerar-se-ão


terceiros quanto ao processo divisório, ficando-lhes, porém, ressalvado o direito de
vindicar os terrenos de que se julguem despojados por invasão das linhas limítrofes
constitutivas do perímetro ou de reclamar indenização correspondente ao seu valor.

Diferente do que ocorre na ação de demarcação, na qual os conflitantes são partes no


processo, na ação de divisão que ocorre entre os condôminos, a posição dos conflitantes é
de terceiros interessados (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 31).
Isso porque os Confinantes podem acompanhar o andamento da ação de divisão com o
fim de observar se a divisão feita entre os condôminos não implicará em invasão de terras de
suas propriedades, mantendo-se nos estreitos limites da área que lhe pertence.

Conflitantes como vindicantes na ação de divisão: previsão da segunda parte do art. 572 do
CPC.
Ou seja, os confinantes ao acompanharem o processo de divisão como terceiros
interessados poderão verificar que os atos praticados pelas partes na ação de divisão implicam
em invasão da propriedade dos conflitantes, nascendo assim o direito de vindicar, ou seja,
reclamar judicialmente, com o fim de buscar o desfazimento da invasão ou a indenização
pecuniária pela invasão indevida da área.
Nesse caso deve haver a citação dos condôminos em caso de vindicação, conforme prevê
o §1º do art. 572:
§1o No caso do caput, serão citados para a ação todos os condôminos, se a sentença
homologatória da divisão ainda não houver transitado em julgado, e todos os quinhoeiros
dos terrenos vindicados, se a ação for proposta posteriormente.

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Caso o confinante promova essa vindicação de área, aqueles condôminos que não
tiverem participado da ação de divisão deverão ser citados, caso a sentença homologatória ainda
não tiver transitado em julgado.
Porém, se a vindicação ocorrer após o trânsito em julgado da sentença da ação de divisão,
todos os condôminos dos terrenos vindicados deverão ser citados, inclusive aqueles que
participaram da ação de divisão (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 32).

Sentença condenatória: previsão do art. 572, §2º do CPC:

§2o Neste último caso, a sentença que julga procedente a ação, condenando a restituir os
terrenos ou a pagar a indenização, valerá como título executivo em favor dos quinhoeiros
para haverem dos outros condôminos que forem parte na divisão ou de seus sucessores
a título universal, na proporção que lhes tocar, a composição pecuniária do desfalque
sofrido.

Desnecessidade de perícia: hipótese do art. 573 do CPC:

Art. 573. Tratando-se de imóvel georreferenciado, com averbação no registro de imóveis,


pode o juiz dispensar a realização de prova pericial.

31.3 Da ação de demarcação: previsões específicas

a) Previsão legal: arts. 574 a 587 do CPC.

b) Requisitos da Petição Inicial da Ação de Demarcação:

Art. 574 do Código de Processo Civil

Art. 574. Na petição inicial, instruída com os títulos da propriedade, designar-se-á o imóvel
pela situação e pela denominação, descrever-se-ão os limites por constituir, aviventar ou
renovar e nomear-se-ão todos os confinantes da linha demarcanda.

A petição Inicial deverá ser instruída com os seguintes documentos:


- Títulos da propriedade, ou seja, certidões dos cartórios atualizadas, justamente para
comprovar a sua legitimidade, bem como permitem a identificação do bem, localização e os
confitentes;

O que deverá ainda conter a Petição Inicial?


- O autor deverá designar-se-á o imóvel pela situação e pela denominação, descrever-se-
ão os limites por constituir, aviventar ou renovar e nomear-se-ão todos os confinantes da linha
demarcanda.

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O que se busca é a descrição perfeita do imóvel a ser objeto de demarcação.

c) Legitimidade ATIVA na Ação Demarcatória:

Art. 575 do Código de Processo Civil

Art. 575. Qualquer condômino é parte legítima para promover a demarcação do imóvel
comum, requerendo a intimação dos demais para, querendo, intervir no processo.

Ou seja, qualquer um dos condôminos poderá promover a ação de demarcação.


A ideia é de que todos podem promover a ação de demarcação, mas poderá haver
desinteresse de um dos condôminos.
Então, se somente um ou mais de um dos condôminos se sentir prejudicado (s) pela falta
de aviventação dos limites NÃO PODERÁ SER PREJUDICADO pela falta de interesse dos
demais, podendo somente um então requerer a ação, sendo os demais intimados para
participarem do processo, se quiserem. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 33).

d) Da citação dos Réus:

Art. 576 do Código de Processo Civil

Art. 576. A citação dos réus será feita por correio, observado o disposto no art. 247.
Parágrafo único. Será publicado edital, nos termos do inciso III do art. 259.

O parágrafo único do art. 576 do CPC, prevê que a citação dos interessados incertos e
desconhecidos será realizada por edital.

e) Prazo comum para contestar a ação de demarcação:

Art. 577 do Código de Processo Civil

Art. 577. Feitas as citações, terão os réus o prazo comum de 15 (quinze) dias para
contestar.

Ou seja, depois da citação, terão os réus o prazo comum de 15 dias para contestar a
ação.
f) Procedimento da ação de demarcação após o prazo da contestação:

Após o prazo da contestação será observado o procedimento comum, conforme previsão

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do art. 578 do CPC:


Art. 578. Após o prazo de resposta do réu, observar-se-á o procedimento comum.

g) Da nomeação de perito (s):

Antes de proferir a sentença na ação de demarcação, o juiz nomeará perito ou peritos


para levantar o traçado da linha demarcanda.

Art. 579 do Código de Processo Civil

Art. 579. Antes de proferir a sentença, o juiz nomeará um ou mais peritos para levantar o
traçado da linha demarcanda.

Observar a previsão do art. 573 do CPC (DISPOSIÇÕES GERAIS) no sentido de que se


o imóvel já possuir registro cartorial de georreferenciamento, o juiz poderá dispensar a realização
da perícia (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 34). Caso não tenha esse georreferenciamento o juiz
não poderá dispensar a perícia sob pena de violar expressamente o art. 579 do CPC.

h) Do laudo dos peritos:


Segundo ADEDE Y CASTRO (2016, p. 35) os peritos constituem-se em auxiliares do juiz,
de forma que nessa ação devem produzir um laudo que represente a verdade dos fatos e daquilo
que viram e constaram em visitas ao local, informações de antigos moradores, os sinais físicos,
como marcas, cercas, valas, trilhas, rumos, cursos d’agua e quaisquer outros.

Art. 580 do Código de Processo Civil

Art. 580. Concluídos os estudos, os peritos apresentarão minucioso laudo sobre o traçado
da linha demarcanda, considerando os títulos, os marcos, os rumos, a fama da vizinhança,
as informações de antigos moradores do lugar e outros elementos que coligirem.

Além disso, os peritos examinarão os lugares considerando os documentos juntados pelas


partes aos autos, como títulos de propriedade, fotografias, filmes, desenhos ou outras
reproduções gráficas existentes. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 35). Então, deverão os peritos
apresentar esse laudo ao juiz.

i) Sentença e determinação do traçado da linha demarcanda:


Art. 581 do Código de Processo Civil
Art. 581. A sentença que julgar procedente o pedido determinará o traçado da linha

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demarcanda.
Parágrafo único. A sentença proferida na ação demarcatória determinará a restituição da
área invadida, se houver, declarando o domínio ou a posse do prejudicado, ou ambos.

Se o juiz julgar procedente a ação de demarcação de terras, ele estará declarando que os
limites apresentados pelo Autor são os adequados. Porém, poderá o juiz julgar parcialmente
procedente a ação, entendendo pelo direito de demarcar, mas fixar outros limites que no seu
pensar são os adequados. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 35).
Além disso, o parágrafo único do artigo 581 estabelece a restituição da área invadida.

j) Demarcação e colocação dos marcos após o trânsito em julgado da sentença:


Art. 582 do Código de Processo Civil

Art. 582. Transitada em julgado a sentença, o perito efetuará a demarcação e colocará os


marcos necessários.
Parágrafo único. Todas as operações serão consignadas em planta e memorial descritivo
com as referências convenientes para a identificação, em qualquer tempo, dos pontos
assinalados, observada a legislação especial que dispõe sobre a identificação do imóvel
rural.

De acordo com o caput do art. 582 caberá ao próprio perito efetuar a demarcação e colocar
os marcos necessários.

k) Da consignação em plantas e memoriais:


Consoante ensina ADEDE Y CASTRO (2016, p. 36) quando o perito apresentar seu laudo,
antes da sentença (art. 580 do CPC), é de se concluir que ele já tenha incluído um mapa ou
planta e memoriais dizendo exatamente onde devem ser estabelecidos os limites.
Assim, se a sentença acatar o que o perito recomendou, a obrigação de consignar em
plantas ou memoriais as operações de demarcação já estaria cumprida, bastando atestar que
foram executadas exatamente como aprovadas na sentença. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 36).
Deve ser observado ainda o que determina o art. 583 do CPC:

Art. 583. As plantas serão acompanhadas das cadernetas de operações de campo e do


memorial descritivo, que conterá:
I - o ponto de partida, os rumos seguidos e a aviventação dos antigos com os respectivos
cálculos;
II - os acidentes encontrados, as cercas, os valos, os marcos antigos, os córregos, os rios,
as lagoas e outros;
III - a indicação minuciosa dos novos marcos cravados, dos antigos aproveitados, das
culturas existentes e da sua produção anual;
IV - a composição geológica dos terrenos, bem como a qualidade e a extensão dos
campos, das matas e das capoeiras;
V - as vias de comunicação;

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VI - as distâncias a pontos de referência, tais como rodovias federais e estaduais, ferrovias,


portos, aglomerações urbanas e polos comerciais;
VII - a indicação de tudo o mais que for útil para o levantamento da linha ou para a
identificação da linha já levantada.

Ou seja, não basta que o perito estabeleça nas plantas os limites encontrados, sendo
necessário descrever minuciosamente todos os passos que deu para encontrar o resultado
obtido, descrevendo pontos de partida, rumos seguidos, cálculos que fez, acidentes geográficos
encontrados, extensão de campos e matos, distancias, pontos de referências e tudo mais o que
for útil para o processo. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 37).
Consoante ADEDE Y CASTRO (2016, p. 37) essa descrição constitui em uma memória
de atuação que permitirá ao juiz avaliar se o trabalho realizado pelo perito seguiu ou não todas
as exigências da lei e da realidade factual, rejeitando ou aceitando com fundamentação.

l) Colocação de marcos:
Art. 584 do Código de Processo Civil

Art. 584. É obrigatória a colocação de marcos tanto na estação inicial, dita marco
primordial, quanto nos vértices dos ângulos, salvo se algum desses últimos pontos for
assinalado por acidentes naturais de difícil remoção ou destruição.

O perito deverá marcar com madeira, pedras o ponto inicial da medição, bem como os
ângulos referidos, deixando bem claro de onde partiu e para onde se dirigiu para efeitos de
estabelecer as linhas divisórias. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 37).
Poderá um desses pontos ser assinalado por algum acidente natural de difícil remoção ou
destruição, de forma que não servem como marcação.

m) Exame dos marcos pelos peritos e o auto de demarcação:


Fixados os marcos, a linha divisória estabelecida será examinada pelo perito, de forma a
certificar que foi ou não colocada nos exatos termos e locais determinados pela sentença. Se
ocorrer divergência entre o determinado pela sentença e as linhas fisicamente encontradas
deverá o perito comunicar ao juiz, para que este tome as providencias necessárias com o fim de
corrigir.
Art. 585 do Código de Processo Civil
Art. 585. A linha será percorrida pelos peritos, que examinarão os marcos e os rumos,
consignando em relatório escrito a exatidão do memorial e da planta apresentados pelo

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agrimensor ou as divergências porventura encontradas.

Após juntado aos autos o relatório dos peritos, o juiz determinará que as partes se
manifestem no prazo de 15 dias:

Art. 586. Juntado aos autos o relatório dos peritos, o juiz determinará que as partes se
manifestem sobre ele no prazo comum de 15 (quinze) dias.

As partes serão intimadas justamente para dizer se concordam ou não com o relatório
feito pelo perito, sendo que no caso de haver discordância, as mesmas deverão dar os motivos
e o juiz deverá terminar as correções:

Art. 586, § único do Código de Processo Civil


Parágrafo único. Executadas as correções e as retificações que o juiz determinar, lavrar-
se-á, em seguida, o auto de demarcação em que os limites demarcandos serão
minuciosamente descritos de acordo com o memorial e a planta.

Ou seja, depois de realizadas eventuais correções, será determinada a lavratura de um


auto de demarcação, com a descrição minuciosa das linhas estabelecidas.
Por fim, esse auto será assinado pelo juiz e pelo perito, cabendo ao juiz homologá-lo.
(ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 38).

Art. 587. Assinado o auto pelo juiz e pelos peritos, será proferida a sentença
homologatória da demarcação.

31.4 Da ação de divisão de terras particulares

a) Previsão legal: arts. 588 a 598 do CPC.

b) Requisitos da Petição Inicial: previsão do art. 588 do Código de Processo Civil:

Art. 588. A petição inicial será instruída com os títulos de domínio do promovente e
conterá:
I - a indicação da origem da comunhão e a denominação, a situação, os limites e as
características do imóvel;
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência de todos os condôminos,
especificando-se os estabelecidos no imóvel com benfeitorias e culturas;
III - as benfeitorias comuns.

Deverá então a petição inicial conter:


- Títulos de domínio do promovente;

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- A indicação da origem da comunhão e a denominação, a situação, os limites e as


características do imóvel;
- O nome, o estado civil, a profissão e a residência de todos os condôminos, especificando-
se os estabelecidos no imóvel com benfeitorias e culturas;
- As benfeitorias comuns;
Entendimento é que não basta mencionar quais as benfeitorias existentes, mas localizá-
las o mais precisamente o possível a fim de que a divisão não implique em prejuízo ou vantagem
para nenhuma das partes.

c) Das citações, intimações e adoção do procedimento comum: previsão do art. 589


do CPC:
Art. 589. Feitas as citações como preceitua o art. 576, prosseguir-se-á na forma dos arts.
577 e 578.

Nesse caso, remete-se às disposições previstas na ação de demarcação de terras.

d) Da nomeação de peritos: previsão do art. 590 do Código de Processo Civil:

Art. 590. O juiz nomeará um ou mais peritos para promover a medição do imóvel e as
operações de divisão, observada a legislação especial que dispõe sobre a identificação
do imóvel rural.
Parágrafo único. O perito deverá indicar as vias de comunicação existentes, as
construções e as benfeitorias, com a indicação dos seus valores e dos respectivos
proprietários e ocupantes, as águas principais que banham o imóvel e quaisquer outras
informações que possam concorrer para facilitar a partilha.
Como envolve conhecimento técnico específico o juiz nomeará um ou mais peritos para
que estes realizem a operação de medição e divisão dos imóveis.
Todos os elementos existentes no imóvel, tais como ruas, construções, benfeitorias, lagos,
rios, etc, assim como o valor de cada segmento do imóvel deve ser indicado pelo perito. (ADEDE
Y CASTRO, 2016, p. 39).
O imóvel poderá apresentar valores diversos em razão de áreas planas, morros, alagados,
terras férteis e desertos, etc, assim é necessário que o perito descreva todas as áreas que
formam o imóvel a ser dividido, justamente para dar ao juiz condições de atribuir a cada
condômino bem de valor proporcional. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 39).

e) Intimação dos Condôminos: previsão do art. 591 do Código de Processo Civil:

Art. 591. Todos os condôminos serão intimados a apresentar, dentro de 10 (dez) dias, os
seus títulos, se ainda não o tiverem feito, e a formular os seus pedidos sobre a constituição

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dos quinhões.

Se porventura o Autor ao ingressar com a ação não juntou aos autos todos os títulos de
todos os condôminos, estes condôminos serão intimados para que dentro do prazo de 10 dias
para apresentar tais títulos, justamente para facilitar a instrução do processo.
Além disso, caso os demais condôminos não formulem seus pedidos sobre a constituição
dos quinhões no referido prazo, valerá o que foi referido pelo Autor na Inicial. (ADEDE Y
CASTRO, 2016, p. 40).

f) Oitiva das Partes: Previsão do art. 592 do Código de Processo Civil:

Art. 592. O juiz ouvirá as partes no prazo comum de 15 (quinze) dias.


§1o Não havendo impugnação, o juiz determinará a divisão geodésica do imóvel.
§2o Havendo impugnação, o juiz proferirá, no prazo de 10 (dez) dias, decisão sobre os
pedidos e os títulos que devam ser atendidos na formação dos quinhões.

Segundo ADEDE Y CASTRO (2016, p. 40) após a intimação dos condôminos para
apresentar no prazo de 10 dias seus títulos e formular pedidos sobre a constituição dos quinhões,
conforme previsão do art. 591, o juiz dará às partes o prazo comum de 15 dias para que se
manifestem sobre o interesse em impugnar ou não os pedidos do autor e dos demais
condôminos.
Caso ocorra ausência de impugnação, o juiz determinará a divisão geodésica do imóvel;
Se ocorrer a impugnação de um ou mais condôminos, o juiz no prazo de 10 dias examinará
suas alegações e decidirá sobre os pedidos e os títulos que devam ser atendidos na formação
dos quinhões.

g) Da existência de benfeitorias antigas: previsão do art. 593 do Código de Processo


Civil:

Art. 593. Se qualquer linha do perímetro atingir benfeitorias permanentes dos confinantes
feitas há mais de 1 (um) ano, serão elas respeitadas, bem como os terrenos onde
estiverem, os quais não se computarão na área dividenda.

Quando a linha do perímetro fixado vier a atingir imóveis de confinantes, há que se


respeitar situações consolidadas, de forma que benfeitorias permanentes com mais de ano e dia
e terrenos onde moram os confinantes não serão considerados na área dividenda. Ou seja, serão
subtraídos da área dividenda. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 41).

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h) Restituição de terrenos usurpados: previsão do art. 594 do Código de Processo Civil:

Art. 594. Os confinantes do imóvel dividendo podem demandar a restituição dos terrenos
que lhes tenham sido usurpados.
§1o Serão citados para a ação todos os condôminos, se a sentença homologatória da
divisão ainda não houver transitado em julgado, e todos os quinhoeiros dos terrenos
vindicados, se a ação for proposta posteriormente.
§2o Nesse último caso terão os quinhoeiros o direito, pela mesma sentença que os obrigar
à restituição, a haver dos outros condôminos do processo divisório ou de seus sucessores
a título universal a composição pecuniária proporcional ao desfalque sofrido.

É pouco provável que ocorra a usurpação de terrenos lindeiros quando da divisão,


justamente porque essa ocorre internamente ao bem, mas se isso ocorrer os prejudicados devem
ser protegidos mediante o direito de reivindicar a restituição do bem invadido. (ADEDE Y
CASTRO, 2016, p. 41).
Aponta ADEDE Y CASTRO (2016, p. 41) que haverá assim conexão entre a ação de
reivindicação de terrenos usurpados e a ação de divisão ainda em andamento, de forma que
deverá ser distribuída à mesma vara por dependência, sendo assim proferida sentença que
atenda ao interesse de todos.
Caso a sentença de homologação de divisão ainda não tiver transitado em julgado, os
lindeiros prejudicados serão os legitimados ATIVOS, e deverão promover a citação de todos os
condôminos, que são os legitimados passivos. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 41).
Os condôminos que forem beneficiados com a divisão, após o trânsito em julgado da
sentença de homologação da divisão, passam a ser chamados quinhoeiros, e esses serão,
todos, citados para figurarem como réus na ação de restituição de terrenos usurpados. (ADEDE
Y CASTRO, 2016, p. 41).
Além disso, conforme previsão do §2º, se um ou mais quinhoeiros não tiver sido citado
para a ação movida pelo lindeiro, é evidente que sofrerá sozinho o desfalque o poderá acionar
os demais quinhoeiros, de forma a não responder individualmente por usurpação que todos
cometeram. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 41).

i) Dos peritos e da divisão cômoda e racional das áreas: previsão do art. 595 do Código de
Processo Civil:

Art. 595. Os peritos proporão, em laudo fundamentado, a forma da divisão, devendo


consultar, quanto possível, a comodidade das partes, respeitar, para adjudicação a cada
condômino, a preferência dos terrenos contíguos às suas residências e benfeitorias e
evitar o retalhamento dos quinhões em glebas separadas.

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Os peritos na condição de auxiliares do juiz deverão sugerir qual é a divisão mais cômoda
e racional entre os condôminos, considerando as situações de ocupação consolidadas, evitando-
se ao máximo deslocá-los e obrigá-los a destruir e construir em outro local. (ADEDE Y CASTRO,
2016, p. 42).
Ainda deverão os peritos cuidarem para que um dos condôminos não fique com toda a
testada do terreno e os outros sem saída para a via pública, por exemplo. (ADEDE Y CASTRO,
2016, p. 42).
Ainda, um dos cuidados que deverão ter os peritos é de que cada condômino receba área
contígua à sua residência, que as fontes de água sejam divididas de forma equânime e os pastos
e as lavouras férteis também, de maneira que reste bom para todos. (ADEDE Y CASTRO, 2016,
p. 42).

J) Oitiva das partes acerca da proposta do perito: previsão do art. 596 do Código de Processo
Civil:

Art. 596. Ouvidas as partes, no prazo comum de 15 (quinze) dias, sobre o cálculo e o
plano da divisão, o juiz deliberará a partilha.
Parágrafo único. Em cumprimento dessa decisão, o perito procederá à demarcação dos
quinhões, observando, além do disposto nos arts. 584 e 585, as seguintes regras:
I - as benfeitorias comuns que não comportarem divisão cômoda serão adjudicadas a um
dos condôminos mediante compensação;
II - instituir-se-ão as servidões que forem indispensáveis em favor de uns quinhões sobre
os outros, incluindo o respectivo valor no orçamento para que, não se tratando de
servidões naturais, seja compensado o condômino aquinhoado com o prédio serviente;
III - as benfeitorias particulares dos condôminos que excederem à área a que têm direito
serão adjudicadas ao quinhoeiro vizinho mediante reposição;
IV - se outra coisa não acordarem as partes, as compensações e as reposições serão
feitas em dinheiro.

k) Organização do Memorial Descritivo: previsão do art. 597 do Código de Processo Civil:

Art. 597. Terminados os trabalhos e desenhados na planta os quinhões e as servidões


aparentes, o perito organizará o memorial descritivo.
§1o Cumprido o disposto no art. 586, o escrivão, em seguida, lavrará o auto de divisão,
acompanhado de uma folha de pagamento para cada condômino.
§2o Assinado o auto pelo juiz e pelo perito, será proferida sentença homologatória da
divisão.
§3o O auto conterá:
I - a confinação e a extensão superficial do imóvel;
II - a classificação das terras com o cálculo das áreas de cada consorte e com a respectiva
avaliação ou, quando a homogeneidade das terras não determinar diversidade de valores,
a avaliação do imóvel na sua integridade;
III - o valor e a quantidade geométrica que couber a cada condômino, declarando-se as
reduções e as compensações resultantes da diversidade de valores das glebas
componentes de cada quinhão.
§4o Cada folha de pagamento conterá:
I - a descrição das linhas divisórias do quinhão, mencionadas as confinantes;

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II - a relação das benfeitorias e das culturas do próprio quinhoeiro e das que lhe foram
adjudicadas por serem comuns ou mediante compensação;
III - a declaração das servidões instituídas, especificados os lugares, a extensão e o modo
de exercício.

Cumpridas as determinações do art. 596 do CPC, caberá aos peritos apresentarem


PLANTA em que fique desenhado de forma clara, onde ficam os quinhões de cada condômino,
com as confrontações, vértices, medidas de distância etc., além de apresentar memorial
descritivo de cada lote, com suas confrontações, vértices, medidas de distância, pontos de
amarração, existência de acidentes geográficos (rios, pontos, morros, estrada etc.), de forma que
não reste dúvida. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 44).
Depois de juntado aos autos as plantas e o memorial descritivo referidos no caput do art.
597, o juiz determinará que as partes se manifestem no prazo comum de 15 dias, e feitas as
devidas retificações, determinará o auto de divisão. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 44).
O auto de divisão será lavrado pelo tabelião, acompanhado de uma folha de pagamento
para cada condômino. Ou seja, cada condômino receberá um documento próprio onde consta
exatamente a localização de seu quinhão, como se fosse um formal de partilha. (ADEDE Y
CASTRO, 2016, p. 44).

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32. Restauração de Autos

32.1 Previsão Legal

Arts. 712 a 718 do Código de Processo Civil;

32.2 Do cabimento

Previsto a partir do artigo 712 do CPC, tal procedimento especial tem cabimento, quando
houver o desaparecimento dos autos, sejam eletrônicos ou físicos:

Art. 712. Verificado o desaparecimento dos autos, eletrônicos ou não, pode o juiz, de ofício,
qualquer das partes ou o Ministério Público, se for o caso, promover-lhes a restauração.

O objetivo do procedimento especial da restauração de autos, é que o processo que


desapareceu/extraviou tenha o devido prosseguimento, devolvendo às partes do processo
original o referido processo no estado em que se encontrava ao tempo do extravio.
No que tange ao desaparecimento dos autos, Adede Y Castro (2016, p. 134) menciona:

32.3 Autos suplementares

“O desaparecimento de autos físicos implica em extravio do processo, por furto, incêndio


ou alagamentos, mas, não é impossível que a parte ou seu advogado o elimine, o que
determinaria a instauração de inquérito policial pelo deleito do art. 314 do Código Penal. Já o
desaparecimento de autos eletrônicos deve ser bem mais raro, pois necessitaria de
conhecimentos profundos em informática que atingissem as cópias de segurança, chamados
backup, eliminando-os definitivamente do sistema. Tal acontecendo e não sendo possível
recuperar os dados, cabe ao juiz intimar as partes, peritos, servidores e todos que possam ter
participado do processo para reencaminhar os dados que, reorganizados, restaurariam o
processo”.

Porém, segundo a previsão do parágrafo único do artigo 712 do CPC, o procedimento da


restauração de autos é dispensado quando houver autos suplementares: “Parágrafo único.
Havendo autos suplementares, nesses prosseguirá o processo”. (BRASIL, 2015)
Sobre os autos suplementares Adede Y Castro (2016, p. 134) ensina:

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“O art. 159 do CPC de 1973 determinava a formação de autos suplementares, que só


poderiam sair do cartório para conclusão ao juiz, na falta dos autos originais, de maneira
a garantir a continuidade do processo mesmo com o extravio dos autos. O certo é que a
formação de autos suplementares sempre foi letra morta, em vista do desinteresse e da
falta de condições de controle e depósito, determinando que, quando do desaparecimento
dos autos originais, se intimasse as partes para entregar em cartório as cópias de
documentos e atos que dispusessem para restauração”.

Ensina ainda Adede Y Castro (2016, p. 135) que quanto aos autos suplementares, o
Código de Processo Civil não determina a formação de autos suplementares, mas no parágrafo
único do artigo 712 do CPC refere que se houver autos suplementares, nesses prosseguirá o
processo, o que sugere que eles possam existir. Dessa forma, no que se refere aos autos
suplementares, se já existirem quando da entrada em vigor do Novo CPC, podem e devem ser
usados no desaparecimento dos autos originais. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 135)

32.4 Legitimidade

No que tange à legitimidade ativa, ou seja, quem pode requerer a restauração de autos,
Adede Y Castro (2016, p. 134) ensina que: “pode o juiz, de ofício, determinar a restauração dos
autos, com a juntada de cópias de despachos, atas de audiência e outros documentos
disponíveis, além de intimar as partes a colaborar com as peças que dispõe”.
Da mesma forma, as partes e o próprio Ministério Público, que possuem interesse na
continuidade do processo, podem requerer ao juiz a restauração de autos, fazendo-o na forma
do artigo 713 do CPC. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 135)

Então a restauração de autos pode ser promovida pelo:


• Juiz, de ofício;
• Ministério Público;
• Qualquer das Partes;

32.5 Da petição inicial

No que tange à petição inicial da ação de restauração de autos, Führer & Führer (2016, p.
166) ensinam: “A petição inicial deve informar o estado do processo ao tempo do
desaparecimento, juntando certidões cartorárias, cópia das peças que estejam em poder do
autor e qualquer outro documento útil”.
O artigo 713 do CPC dispõe sobre a petição inicial da ação e restauração e autos, trazendo

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exigências específicas:

Art. 713. Na petição inicial, declarará a parte o estado do processo ao tempo do


desaparecimento dos autos, oferecendo:
I - certidões dos atos constantes do protocolo de audiências do cartório por onde haja
corrido o processo;
II - cópia das peças que tenha em seu poder;
III - qualquer outro documento que facilite a restauração.

Referente à petição inicial, Adede Y Castro (2016, p. 135) complementa:

“Como não se conhece o paradeiro do processo originário, trata-se a medida de verdadeiro


processo, de forma que a petição inicial deve atender as exigências gerais do art. 319 do
CPC e mais as exigências específicas do art. 713. Na petição, o requerente informará
acerca do desaparecimento do processo, através da juntada de certidão fornecida pelo
cartório ou secretaria de que os autos não foram encontrados. O requerente juntará toda
a documentação acerca do processo de que dispõe, como cópia de atas de audiências,
de laudos periciais, de fotografias, de filmes, etc”.

32.6 Da Citação

Na restauração de autos, a parte contrária será citada para oferecer contestação no prazo
de 05 dias, trazendo também as peças e cópias que dispuser. E, caso haja concordância com a
restauração, será lavrado um auto, que homologado pelo juiz supre a falta do processo que
desapareceu. E, caso, não haja contestação ou a concordância seja parcial, seguir-se-á o
procedimento comum. (FÜHRER; FÜHRER, 2016, p. 166)

32.7 Da Contestação

O meio de defesa do réu é a contestação, porém Adede Y Castro (2016, p. 135) refere se
os autos desapareceram, não haveria outra solução, senão restaurar.
Quanto ao procedimento da restauração de autos, o artigo 714 do CPC estabelece que a
parte contrária será citada para oferecer contestação no prazo de 05 dias, podendo inclusive
juntar documentos:
l
Art. 714. A parte contrária será citada para contestar o pedido no prazo de 5 (cinco) dias,
cabendo-lhe exibir as cópias, as contrafés e as reproduções dos atos e dos documentos
que estiverem em seu poder.
§1º Se a parte concordar com a restauração, lavrar-se-á o auto que, assinado pelas partes
e homologado pelo juiz, suprirá o processo desaparecido.
§2º Se a parte não contestar ou se a concordância for parcial, observar-se- á o
procedimento comum.

No que tange ao conteúdo de defesa, Adede Y Castro (2016, p. 135) ensina: “não cabe a

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discussão, nos autos da restauração, de matéria própria do processo restaurando, ou seja, a


contestação deve limitar-se ao procedimento de restauração”.
Quanto à concordância ou não da parte contrária, Adede Y Castro (2016, p. 136) refere:
Concordância da parte contrária: se a parte contrária concordar e o pedido preencher
as exigências legais, o juiz mandará celebrar o termo e o homologará, restaurando o processo
desaparecido. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 136)
Discordância da parte contrária: não concordando a parte contrária, o processo de
restauração prosseguirá sendo possível a oitiva de testemunhas, realização de perícias, etc., até
final sentença. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 136)

32.8 Das provas e do momento

O artigo 715 prevê a repetição de produção de prova testemunhal. No entanto, somente


haverá a repetição da prova testemunhal se não for possível na restauração juntar cópia dos
depoimentos que já foram prestados, o que é improvável, segundo Adede Y Castro (2016, p.
136) vez que alguns são impressos, assinados e juntados à pasta física, depositada em juízo,
porém outros são gravados em áudio e vídeo e salvos no sistema eletrônico geral.
Assim sendo, consoante previsão do artigo 715 do CPC, as provas somente serão
repetidas, caso houver necessidade:

Art. 715. Se a perda dos autos tiver ocorrido depois da produção das provas em audiência,
o juiz, se necessário, mandará repeti-las.
§1º Serão reinquiridas as mesmas testemunhas, que, em caso de impossibilidade,
poderão ser substituídas de ofício ou a requerimento.
§2º Não havendo certidão ou cópia do laudo, far-se-á nova perícia, sempre que possível
pelo mesmo perito.
§3º Não havendo certidão de documentos, esses serão reconstituídos mediante cópias
ou, na falta dessas, pelos meios ordinários de prova.
§4º Os serventuários e os auxiliares da justiça não podem eximir-se de depor como
testemunhas a respeito de atos que tenham praticado ou assistido.
§5º Se o juiz houver proferido sentença da qual ele próprio ou o escrivão possua cópia,
esta será juntada aos autos e terá a mesma autoridade da original.

Sobre a repetição desnecessária da prova testemunhal, Adede Y Castro (2016, p. 136)


refere que: “repetir corriqueiramente e sem justificativa a oitiva das testemunhas pode causar
prejuízo para uma das partes e vantagem para outra, uma vez que sabemos da dificuldade de
manter, inteiramente, o conteúdo do que foi dito”.
Quanto à prova pericial, Adede Y Castro (2016, p. 136) refere que é improvável que o
perito não tenha cópia do seu trabalho, ou seja, da perícia que foi feita, bastando assiná-lo e

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entregar novamente em juízo. Porém, caso não tenha cópia da perícia, estava deverá ser
repetida.
O mesmo ocorre com os demais documentos juntados pelas partes, de forma cautelosa,
guardam os originais consigo ou nos escritórios de advogado. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p.
136)
Ainda: “Certidões públicas, como casamento, nascimento, morte, registro de imóveis ou
veículos podem ser novamente obtidos sem grande dificuldade junto às repetições públicas
competentes”. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 136)
Referente aos depoimentos dos servidores judiciais, Adede Y Castro (2016, p. 137) ensina
“a oitiva de servidores judiciais acerca de atos que tenham assistido, para dizer de seu conteúdo,
é absolutamente raro, mas não proibido. Afinal, os servidores públicos gozam de presunção de
honestidade, de forma que seu depoimento não é desprezível como prova”.
Quanto ao objetivo da restauração, Adede Y Castro (2016, p. 137) afirma que o objetivo
deste procedimento especial é permitir o prosseguimento do processo extraviado.

32.9 Do julgamento da restauração

Se o pedido de restauração de autos for julgado procedente, de regra, o processo que


desapareceu/foi extraviado terá prosseguimento nos autos da restauração.
Assim, quanto ao julgamento do procedimento da restauração de autos, o artigo 716 do
CPC dispõe:
Art. 716. Julgada a restauração, seguirá o processo os seus termos.
Parágrafo único. Aparecendo os autos originais, neles se prosseguirá, sendo-lhes
apensados os autos da restauração.

O juízo competente para a ação de restauração de autos é o mesmo “onde


desapareceram os autos originais, ou seja, perante o juiz de primeiro grau, ou de segundo grau,
caso tenham desaparecido no Tribunal. Os autos praticados em juízo deprecado serão nele
restaurados e juntados nos autos da restauração”. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 137)

32.10 Competência e desaparecimento dos autos no Tribunal

O juízo competente para a ação de restauração de autos é o mesmo onde desapareceram


os autos originais, ou seja, perante o juízo de primeiro grau, ou de segundo grau, caso tenham
desaparecido no tribunal.

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Art. 717 do Código de Processo Civil

Art. 717. Se o desaparecimento dos autos tiver ocorrido no tribunal, o processo de


restauração será distribuído, sempre que possível, ao relator do processo.
§1º A restauração far-se-á no juízo de origem quanto aos atos nele realizados.
§2º Remetidos os autos ao tribunal, nele completar-se-á a restauração e proceder-se-á
ao julgamento.

Quando o desaparecimento ou extravio ocorrer no Tribunal Extravio, quem será


competente para a restauração será o relator do processo, sempre que possível. Observar a
previsão do parágrafo primeiro: “§ 1º A restauração far-se-á no juízo de origem quanto aos atos
nele realizados”.
Assim, atos que dependem de instrução, como aqueles realizados em audiência deverão
acarretar a remessa do procedimento ao juízo de origem para a coleta das provas. Depois de
realizadas as diligências necessárias, aplica-se a previsão do §2º, com a remessa do
procedimento ao Tribunal para que o relator continue com o procedimento de restauração: “§ 2º
Remetidos os autos ao tribunal, nele completar-se-á a restauração e proceder-se-á ao
julgamento”.

32.11 Da culpa e Responsabilidade

Art. 718 do Código de Processo Civil


Art. 718. Quem houver dado causa ao desaparecimento dos autos responderá pelas
custas da restauração e pelos honorários de advogado, sem prejuízo da responsabilidade
civil ou penal em que incorrer.

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33. Da Habilitação (Aula Gravada)

33.1 Previsão legal


Arts. 687 a 692 do CPC;

33.2 Cabimento
A habilitação tem cabimento justamente para suceder qualquer das partes que vierem a
falecer no curso de um processo em andamento, conforme previsão do artigo 687 do CPC.
Dessa forma, conforme aduzem Führer e Führer (2016, p. 161) “a morte ou a perda da
capacidade da parte suspendem o processo (art. 313, I). Assim, é necessário que a parte
sobrevivente traga os sucessores do falecido para o processo ou que eles mesmos façam pedido
neste sentido. Para este efeito, há o procedimento de habilitação”.
Sobre a morte da parte no processo Adede Y Castro (2016, p. 113) menciona que
conforme o art. 313, I do CPC seria causa de suspensão do processo. E, que, conforme os §§
1º e 2º do artigo 313 do CPC tem-se que o juiz suspenderá o processo, nos termos do artigo 689
do CPC, sendo que, se não ajuizada a ação de habilitação, ao tomar conhecimento da morte, o
juiz determinará a suspensão do processo e observará uma das situações dos incisos I ou II do
§2º, conforme falecer o réu ou o autor do processo.
Observar ainda a previsão do artigo 313 do CPC:

Art. 313. Suspende-se o processo:


I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu
representante legal ou de seu procurador;
(...)
§1o Na hipótese do inciso I, o juiz suspenderá o processo, nos termos do art. 689.
§2o Não ajuizada ação de habilitação, ao tomar conhecimento da morte, o juiz determinará
a suspensão do processo e observará o seguinte:
I - falecido o réu, ordenará a intimação do autor para que promova a citação do respectivo
espólio, de quem for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, no prazo que designar,
de no mínimo 2 (dois) e no máximo 6 (seis) meses;
II - falecido o autor e sendo transmissível o direito em litígio, determinará a intimação de
seu espólio, de quem for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, pelos meios de
divulgação que reputar mais adequados, para que manifestem interesse na sucessão
processual e promovam a respectiva habilitação no prazo designado, sob pena de
extinção do processo sem resolução de mérito.
§3o No caso de morte do procurador de qualquer das partes, ainda que iniciada a
audiência de instrução e julgamento, o juiz determinará que a parte constitua novo
mandatário, no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual extinguirá o processo sem
resolução de mérito, se o autor não nomear novo mandatário, ou ordenará o
prosseguimento do processo à revelia do réu, se falecido o procurador deste.

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Da mesma forma a previsão do artigo 110 do CPC:

Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio
ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1o e 2o.

Então, a habilitação cabe quando houver o falecimento de qualquer das partes no


processo tal qual previsão do artigo 687 do CPC:

Artigo 687. A habilitação ocorre quando, por falecimento de qualquer das partes, os
interessados houverem de suceder-lhe no processo.

Nesse mesmo sentido ensina Medina (2016, p. 866): “com a habilitação, regulariza-se a
relação processual, em razão da morte de uma das partes, que deverá ser sucedida pelo espólio
ou seus sucessores (cf. art. 110 do CPC/2015).

33.3 Legitimidade

Os legitimados, ou seja, quem pode requerer a habilitação estão previstos no art. 688 do
CPC/15:
Art. 688. A habilitação pode ser requerida:
I - Pela parte, em relação aos sucessores do falecido;
II - Pelos sucessores do falecido, em relação à parte.

No que tange à legitimidade ativa na ação de habilitação, Adede Y Castro (2016, p. 113)
afirma que:
A regularidade da representação em processo em que se discute direito transmissível deve
ser mantida para efeitos de dar validade ao feito, o que deve ser preocupação do autor, do
réu e do juiz. Dessa forma, falecendo o autor ou o réu, cabe ao sobrevivente pedir a
intimação dos sucessores do outro para que promovam a ação de habilitação. Mas, também
os sucessores do falecido têm legitimidade para promover ação de habilitação no processo
onde se discuta direito transmissível.

Ainda, Medina (2016, p. 868) refere que o artigo 688 do CPC pode ser observado
tanto quando falecer o autor do processo, quanto o réu. Ou seja, pode se dar a habilitação ativa
quando requerida pela parte em relação aos sucessores da parte que faleceu, ou habilitação
passiva, quando os sucessores do falecido tomam a iniciativa de promover a ação de habilitação.
Independentemente de quem requereu a habilitação, deve ser oportunizado o
contraditório: “tratando-se de habilitação ativa ou passiva, deve-se oportunizar o contraditório,

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citando-se pessoalmente o espólio ou os sucessores do falecido, ou intimando-se a parte


(quando requerida a habilitação por espólio ou sucessores). (...) Decidirá nos próprios autos o
juiz, imediatamente, caso desnecessária prova além da documental. Caso contrário, o pedido
será autuado em apenso, decidindo-se após a instrução probatória (cf. art. 691 do CPC/2015)”.

33.4 Procedimento

O procedimento está previsto no art. 689 do CPC/15:

Art. 689. Proceder-se-á à habilitação nos autos do processo principal, na instância em que
estiver, suspendendo-se, a partir de então, o processo.

O procedimento especial da habilitação ocorre de regra no processo em que ocorreu o


falecimento da parte, ficando suspenso o referido processo principal. Dessa forma, ocorre onde
estiver tramitando o processo.
Ou seja, conforme entendimento de ADEDE Y CASTRO (2016, p. 114), somente haverá
formação de novos autos, apartados e apensados à ação principal no caso do artigo 690.
Conforme o doutrinador, o artigo 690 do CPC determina que o juiz mande citar os requeridos, o
que significa dizer que a lei considera a ação de habilitação como autônoma, mesmo que a
petição seja juntada aos autos do processo onde figurava a pessoa que faleceu, seja ela autora
ou ré.
Nesse sentido, é a previsão do artigo 690 do CPC:

Art. 690. Recebida a petição, o juiz ordenará a citação dos requeridos para se
pronunciarem no prazo de 5 (cinco) dias.
Parágrafo único. A citação será pessoal, se a parte não tiver procurador constituído nos
autos.

Com isso, se verifica que a parte ré na habilitação será citada para se pronunciar no prazo
de 05 dias acerca da habilitação. E, caso ainda não tenha procurador constituído, a citação deve
ocorrer de forma pessoal.
Os requeridos podem se manifestar no prazo de 05 dias, podendo ser contrários ou
favoráveis à ação de habilitação. Podem alegar que não houve a morte noticiada, que a certidão
de óbito apresentada é falsa, que não se trata de direito transmissível, que os requerentes não
possuem a qualidade de herdeiros. Da mesma forma, podem os requeridos alegar defeito de
representação, uma vez que com a morte, a procuração outorgada ao advogado pelo falecido
extinguiu-se, devendo os requerentes providenciar outro mandato. (ADEDE Y CASTRO, 2016,

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p. 114).
Sobre o julgamento da habilitação prevê o artigo 691 do CPC:

Art. 691. O juiz decidirá o pedido de habilitação imediatamente, salvo se este for
impugnado e houver necessidade de dilação probatória diversa da documental, caso em
que determinará que o pedido seja autuado em apartado e disporá sobre a instrução.

SE NÃO HOUVER IMPUGNAÇÃO:


Citados os requeridos e não havendo impugnação no prazo de 05 dias, pelo silencio ou
pela concordância expressa, o juiz julgará habilitando ou não os requerentes. (ADEDE Y
CASTRO, 2016, p. 115).

SE HOUVER IMPUGNAÇÃO:
Se houver impugnação por parte dos requeridos que forem citados, e em caso de
necessidade de provas que não a documental, o juiz determinará que sejam formados autos
próprios, indicando quais as provas serão produzidas. (ADEDE Y CASTRO, 2016, p. 115)
Ainda, conforme o artigo 692 do CPC, uma vez transitada em julgado a sentença de
habilitação, o processo principal toma o seu curso:

Art. 692. Transitada em julgado a sentença de habilitação, o processo principal retomará


o seu curso, e cópia da sentença será juntada aos autos respectivos.

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34. Divórcio e Separação Consensuais, Extinção


Consensual de União Estável e Alteração do Regime de
Bens do Matrimônio (Aula Gravada)

34.1 Previsão legal

Arts. 731 a 734 do CPC.

34.2 Cabimento

Regras aplicáveis quando houver o divórcio ou a separação de forma consensual, ou a


extinção consensual de união estável, bem como a alteração do regime de bens do matrimônio.

34.3 Requisitos da petição inicial

O art. 731 do CPC determina que a homologação do divórcio ou da separação


consensuais, observados os requisitos legais, poderá ser requerida em petição assinada por
ambos os cônjuges, da qual constarão:
• as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;
• as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
• o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e
• o valor da contribuição para criar e educar os filhos.

34.4 Previsão expressa de aplicação das regras à extinção consensual da união estável

Aplicam‑se as regras contidas referentes ao divórcio e separação consensuais também à


extinção consensual de união estável:
Art. 732 do Código de Processo Civil

34.5 Possibilidade de realização do divórcio, separação e extinção da união estável por meio
de escritura pública

Ou seja, o divórcio, a separação e a extinção da união estável poderão ser realizados por
meio de ESCRITURA PÚBLICA, da qual constarão as disposições do art. 731 (por exemplo,

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partilha dos bens, alimentos, guarda, visitas), desde que preenchidos os seguintes requisitos:
• que a mulher não esteja grávida, isto é, não pode haver nascituro;
• que não tenham filhos incapazes;
• que seja consensual.
Na forma do § 1o do art. 733 do CPC, a escritura não depende de homologação judicial e
constitui título hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância
depositada em instituições financeiras.
Além disso, haverá necessidade de as partes estarem assistidas por advogado ou
defensor públicos, pois conforme disposição do § 2o do art. 733 do CPC, o tabelião somente
lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por esses profissionais, cuja
qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

34.6 Partilha de bens após o divórcio

Possibilidade de acordo com a previsão do parágrafo único do art. 731:

Art. 731, §único do Código de Processo Civil


Parágrafo único. Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far‑se‑á esta
depois de homologado o divórcio, na forma estabelecida nos arts. 647 a 658.

34.7 Alteração do regime de bens do casamento

A alteração do regime de bens do casamento, observados os requisitos legais, poderá ser


requerida, motivadamente, em petição assinada por ambos os cônjuges, na qual serão expostas
as razões que justificam a alteração, ressalvados os direitos de terceiros.
Conforme determina o Código de Processo Civil, o juiz, ao receber a petição inicial,
determinará a intimação do Ministério Público e a publicação de edital que divulgue a pretendida
alteração de bens, somente podendo decidir depois de decorrido o prazo de 30 dias da
publicação do edital.
Ainda, os cônjuges, na petição inicial ou em petição avulsa, podem propor ao juiz meio
alternativo de divulgação da alteração do regime de bens, a fim de resguardar direitos de
terceiros.
Após o trânsito em julgado da sentença, serão expedidos mandados de averbação aos
cartórios de registro civil e de imóveis e, caso qualquer dos cônjuges seja empresário, ao
Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins.

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35. Ações de Família

35.1 Previsão legal e cabimento

As regras contidas a partir do art. 693 do CPC são aplicadas quando houver litígio, ou
seja, aos processos contenciosos de divórcio, separação, reconhecimento e extinção de união
estável, guarda, visitação e filiação. No que tange à ação de alimentos e ao que versar sobre
interesse de criança ou de adolescente, observar-se-á o procedimento previsto em legislação
específica, aplicando-se, no que couber, as disposições do procedimento especial previsto no
CPC.

Observa-se, assim, o artigo 693 do CPC:

Art. 693. As normas deste Capítulo aplicam-se aos processos contenciosos de divórcio,
separação, reconhecimento e extinção de união estável, guarda, visitação e filiação.
Parágrafo único. A ação de alimentos e a que versar sobre interesse de criança ou de
adolescente observarão o procedimento previsto em legislação específica, aplicando-se,
no que couber, as disposições deste Capítulo.

35.2 Objetivo de obter a solução consensual da controvérsia


Nas ações de família, conforme o art. 694 do CPC, todos os esforços serão empreendidos
para a solução consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de
outras áreas de conhecimento para a mediação e conciliação. Ainda, a requerimento das partes,
o juiz pode determinar a suspensão do processo enquanto os litigantes se submetem a mediação
extrajudicial ou a atendimento multidisciplinar:

Art. 694. Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para a solução
consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras
áreas de conhecimento para a mediação e conciliação.
Parágrafo único. A requerimento das partes, o juiz pode determinar a suspensão do
processo enquanto os litigantes se submetem a mediação extrajudicial ou a atendimento
multidisciplinar.

35.3 Petição e procedimento


Recebida a petição inicial e tomadas providências referentes à tutela provisória o juiz
ordena a citação do réu para comparecer à audiência de mediação ou conciliação.

O mandado de citação deverá estar desacompanhado de cópia da petição inicial,


assegurado ao réu o direito de examinar seu conteúdo a qualquer tempo.

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A citação do réu ocorrerá com antecedência mínima de 15 (quinze) dias da data designada
para a audiência.

A citação será feita na pessoa do réu.

Na audiência, as partes deverão estar acompanhadas de seus advogados ou de


defensores públicos.

A audiência de mediação e conciliação poderá dividir-se em tantas sessões quantas


sejam necessárias para viabilizar a solução consensual, sem prejuízo de providências
jurisdicionais para evitar o perecimento do direito.

Se não for realizado o acordo, passam a incidir as normas do procedimento comum –


prazo para o réu em testar observado o art. 335. Isso conforme previsão do artigo 695 do CPC:

Art. 695. Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as providências referentes à
tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à audiência de
mediação e conciliação, observado o disposto no art. 694.
§ 1º O mandado de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá
estar desacompanhado de cópia da petição inicial, assegurado ao réu o direito de
examinar seu conteúdo a qualquer tempo.
§ 2º A citação ocorrerá com antecedência mínima de 15 (quinze) dias da data designada
para a audiência.
§ 3º A citação será feita na pessoa do réu.
§ 4º Na audiência, as partes deverão estar acompanhadas de seus advogados ou de
defensores públicos.

35.4 Intervenção do Ministério Público

A intervenção do Ministério Público vai ocorrer em duas situações nas ações de família:

1) Envolver interesse de incapaz (art. 698, caput) –sendo necessária a oitiva do MP


antes de homologar acordo;

2) A ação de família envolver parte que é vítima de violência doméstica e familiar.


Art. 698. Nas ações de família, o Ministério Público somente intervirá quando houver
interesse de incapaz e deverá ser ouvido previamente à homologação de acordo.
Parágrafo único. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas ações de família
em que figure como parte vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº
11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha).

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35.5 Alienação Parental


Se o processo envolver discussão sobre fato relacionado a abuso ou a alienação parental, o juiz,
ao tomar o depoimento do incapaz, deverá estar acompanhado por especialista, conforme
previsão do artigo 699 do CPC:

Art. 699. Quando o processo envolver discussão sobre fato relacionado a abuso ou a
alienação parental, o juiz, ao tomar o depoimento do incapaz, deverá estar acompanhado
por especialista.

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36. JEC

Previsão legal: Lei 9.099/95; Lei 10.259/2001; Lei 12.153/2009;


▪ JUIZADO ESPECIAL CÍVEL ESTADUAL – LEI 9099/95
▪ JUIZADO ESPECIAL CÍVEL FEDERAL – LEI 10.259/2001;
▪ JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA – LEI 12.153/2009

DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA


Competência e Partes do Juizado Especial da Fazenda Pública:

Competência definida no artigo 2º da Lei 12.153/2009 à causas até 60 salários mínimos.


INTERESSE DOS ESTADOS E MUNICÍPIOS;

Art. 2º É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar, conciliar


e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos.
§ 1º Não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública:
I – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação,
populares, por improbidade administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre
direitos ou interesses difusos e coletivos;
II – as causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios,
autarquias e fundações públicas a eles vinculadas;
III – as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a
servidores públicos civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares.
§ 2º Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de competência do
Juizado Especial, a soma de 12 (doze) parcelas vincendas e de eventuais parcelas
vencidas não poderá exceder o valor referido no caput deste artigo.
§ 3º (VETADO)
§ 4º No foro onde estiver instalado Juizado Especial da Fazenda Pública, a sua
competência é absoluta. (BRASIL, 2009)

Quem pode ser parte no juizado especial da FAZENDA PÚBLICA? Previsão do artigo
5º da Lei 12.153/09

Art. 5º Podem ser partes no Juizado Especial da Fazenda Pública:


I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pequeno porte,
assim definidas na Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006;
II – como réus, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios, bem como
autarquias, fundações e empresas públicas a eles vinculadas. (BRASIL, 2009)

--> Conforme o §4º do artigo 2º da Lei 12153/09, a competência é ABSOLUTA.

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Das prestações Vincendas


Quando a causa envolver prestações que se vencerem no curso do processo, observa-se
a previsão do artigo 2º, parágrafo 2º da Lei 12153/09: “§ 2º Quando a pretensão versar sobre
obrigações vincendas, para fins de competência do Juizado Especial, a soma de 12 (doze)
parcelas vincendas e de eventuais parcelas vencidas não poderá exceder o valor referido no
caput deste artigo.

Medidas provisórias:
Consoante previsão do artigo 3º da Lei 12153/09 o juiz pode deferir medidas provisórias:

Art. 3o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir quaisquer


providências cautelares e antecipatórias no curso do processo, para evitar dano de difícil
ou de incerta reparação.

Art. 4o Exceto nos casos do art. 3o, somente será admitido recurso contra a sentença.

Do prazo
No âmbito dos Juizados Especiais da Fazenda Pública, esta não possui prazo
diferenciado para a prática de qualquer ato processual, consoante previsão do artigo 7º da Lei
12153/09:
Art. 7o Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas
pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para
a audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de 30 (trinta) dias. (BRASIL,
2009)
- Observação: citação da Ré para a audiência de conciliação com antecedência mínima
de 30 dias;
Dos Representantes Judiciais dos Réus:
Conforme o artigo 8º da Lei 12.153/09, os representantes judiciais dos réus presentes à
audiência poderão conciliar, transigir ou desistir nos processos da competência dos Juizados
Especiais, nos termos e nas hipóteses previstas na lei do respectivo ente da Federação.
Além disso, a entidade ré deverá fornecer ao Juizado a documentação de que disponha
para o esclarecimento da causa, apresentando-a até a instalação da audiência de conciliação.

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Da vedação ao reexame necessário


Mesmo que a Fazenda Pública seja parte vencida, não há reexame necessário no âmbito
dos juizados especiais da Fazenda Pública, conforme artigo 11 da Lei 12.153/09: “Art. 11. Nas
causas de que trata esta Lei, não haverá reexame necessário”. (BRASIL, 2009)

Do cumprimento do acordo ou da sentença:


O artigo 12 da Lei 12.153/09 aborda a forma do cumprimento de acordo ou da sentença
com trânsito em julgado envolvendo OBRIGAÇÃOD E FAZER, NÃO FAZER OU ENTREGA DE
COISA CERTA:

Art. 12. O cumprimento do acordo ou da sentença, com trânsito em julgado, que


imponham obrigação de fazer, não fazer ou entrega de coisa certa, será efetuado mediante
ofício do juiz à autoridade citada para a causa, com cópia da sentença ou do acordo.
(BRASIL, 2009)

Já, por sua vez, o artigo 13 da lei 12.153/09 quando tratar-se de obrigação de PAGAR
QUANTIA CERTA, após o transito em julgado:

Art. 13. Tratando-se de obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em julgado da
decisão, o pagamento será efetuado:
I – no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da entrega da requisição do juiz à
autoridade citada para a causa, independentemente de precatório, na hipótese do § 3 o do
art. 100 da Constituição Federal; ou
II – mediante precatório, caso o montante da condenação exceda o valor definido como
obrigação de pequeno valor.
(...)
(BRASIL, 2009)

Dos Conciliadores e Juízes Leigos


No âmbito dos juizados especiais da Fazenda Pública, além do juiz de Direito, tem-se as
figuras do conciliador e do juiz leigo, sendo que os conciliadores e juízes leigos são considerados
auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em Direito,
e os segundos, entre advogados com mais de 2 (dois) anos de experiência.
Observa-se ainda, que consoante o §2º do artigo 15 da Lei 12.153/09, os juízes leigos
ficarão impedidos de exercer a advocacia perante todos os Juizados Especiais da Fazenda
Pública instalados em território nacional, enquanto no desempenho de suas funções.
No que tange ao conciliador, a este cabe, sob a supervisão do juiz, conduzir a audiência
de conciliação.

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Do pedido de uniformização
O artigo 18 da Lei 12.153/09 aborda o pedido de UNIFORMIZAÇÃO DE
INTERPRETAÇÃO DE LEI quando houver DIVERGÊNCIA ENTRE DECISÕES proferidas por
TURMAS RECURSAIS sobre questões de direito material:
Art. 18. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei quando houver
divergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais sobre questões de direito material.
§ 1o O pedido fundado em divergência entre Turmas do mesmo Estado será julgado em
reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência de desembargador indicado pelo
Tribunal de Justiça.
§ 2o No caso do § 1o, a reunião de juízes domiciliados em cidades diversas poderá ser
feita por meio eletrônico.
§ 3o Quando as Turmas de diferentes Estados derem a lei federal interpretações
divergentes, ou quando a decisão proferida estiver em contrariedade com súmula do Superior
Tribunal de Justiça, o pedido será por este julgado. (BRASIL, 2009)

Se por ventura a orientação acolhida pelas Turmas de Uniformização (na forma do §1º do
artigo 18) for contrária a Súmula do STJ, observa-se a previsão do artigo 19 da Lei 12.153/09:
Art. 19. Quando a orientação acolhida pelas Turmas de Uniformização de que trata o § 1 o do
art. 18 contrariar súmula do Superior Tribunal de Justiça, a parte interessada poderá provocar
a manifestação deste, que dirimirá a divergência.
§ 1o Eventuais pedidos de uniformização fundados em questões idênticas e recebidos
subsequentemente em quaisquer das Turmas Recursais ficarão retidos nos autos, aguardando
pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça.
§ 2o Nos casos do caput deste artigo e do § 3o do art. 18, presente a plausibilidade do direito
invocado e havendo fundado receio de dano de difícil reparação, poderá o relator conceder, de
ofício ou a requerimento do interessado, medida liminar determinando a suspensão dos
processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida.
§ 3o Se necessário, o relator pedirá informações ao Presidente da Turma Recursal ou
Presidente da Turma de Uniformização e, nos casos previstos em lei, ouvirá o Ministério
Público, no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 4o (VETADO)
§ 5o Decorridos os prazos referidos nos §§ 3o e 4o, o relator incluirá o pedido em pauta na
sessão, com preferência sobre todos os demais feitos, ressalvados os processos com réus
presos, os habeas corpus e os mandados de segurança.
§ 6o Publicado o acórdão respectivo, os pedidos retidos referidos no § 1 o serão apreciados
pelas Turmas Recursais, que poderão exercer juízo de retratação ou os declararão
prejudicados, se veicularem tese não acolhida pelo Superior Tribunal de Justiça.(BRASIL,
2009)

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Da aplicação subsidiária da Lei 9099/95 e do CPC:

O artigo 27 da Lei 12.153/09 menciona que se aplica de forma subsidiária o Código de


Processo Civil, bem como as leis 9099/95 e 10.259/01 ao juizado especial da Fazenda Pública.

3 DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL FEDERAL

Competência e partes do Juizado Especial Cível Federal:

Competência definida no artigo 3º da Lei 10.259/2001 → Causas até 60 salários mínimos.


INTERESSE DA UNIÃO, AUTARQUIAS, FUNDAÇÕES E EMPRESAS PÚBLICAS FEDERAIS;

Art. 3º Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de
competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como
executar as suas sentenças.
§ 1º Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:
I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado
de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais
e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos,
coletivos ou individuais homogêneos;
II - sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;
III - para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza
previdenciária e o de lançamento fiscal;
IV - que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores
públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares.
§ 2º Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de competência do
Juizado Especial, a soma de doze parcelas não poderá exceder o valor referido no art. 3o,
caput.
§ 3º No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é
absoluta. (BRASIL, 2001)

OBSERVAÇÃO
APLICAÇÃO SUBISIDÁRIA DA LEI 9099/95 AOS DEMAIS JUIZADOS, inclusive com
previsão expressa no artigo 1º da Lei 10.259/2001: “Art. 1º São instituídos os Juizados Especiais
Cíveis e Criminais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no que não conflitar com esta Lei, o
disposto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995”. (BRASIL, 2001)

▪ Quem pode ser parte nos juizados especiais cíveis federais? Previsão do artigo 6º da Lei
10.259/2001;
Art. 6º Podem ser partes no Juizado Especial Federal Cível:
I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pequeno porte,
assim definidas na Lei no 9.317, de 5 de dezembro de 1996;
II – como rés, a União, autarquias, fundações e empresas públicas federais. (BRASIL,
2001)

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a) Competência definida no artigo 3º da Lei 9099/95:

Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento
das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
III - a ação de despejo para uso próprio;
IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso
I deste artigo. (BRASIL, 1995)

O §1º do artigo 3º da Lei 9099/95 prevê ainda sobre a execução no âmbito dos juizados,
referindo que pode haver a execução dos próprios julgados (cumprimento de sentença) ou de
execução de título executivo extrajudicial, desde que fique no valor de 40 salários mínimos:

§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:


I - dos seus julgados;
II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário mínimo,
observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei. (BRASIL, 1995)
§ 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de natureza
alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a
acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de
cunho patrimonial.
§ 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito
excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.
(BRASIL, 1995)

Além disso, no artigo 4º da Lei 90995/95 está definida a competência territorial, ou seja,
onde a ação deve ser proposta, sendo de regra, o domicílio do réu:

Art. 4º É competente, para as causas previstas nesta Lei, o Juizado do foro:


I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde aquele exerça atividades
profissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou
escritório;
II - do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações para reparação de dano de
qualquer natureza.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a ação ser proposta no foro previsto no
inciso I deste artigo. (BRASIL, 1995)

E quem pode ser parte no âmbito dos juizados especiais? O artigo 8º da Lei 90995/95
deixa expresso que não podem ser partes nos juizados (seja no polo passivo ou ativo): O
INCAPAZ, O PRESO, AS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO, AS EMPRESAS
PÚBLICAS DA UNIÃO, A MASSA FALIDA E O INSOLVENTE CIVIL. Apenas cuidar que quanto
às pessoas jurídicas de direito público e empresas públicas da União tem-se os demais juizados.

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Regra está definida no artigo 8º da Lei 9099/95:

Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o
preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa
falida e o insolvente civil. (BRASIL, 1995)

Ainda, no que tange às partes, o §1º do artigo 8º da Lei 9099/95 estabelece que PODEM
SER AUTORAS NO JUIZADO:

§ 1º Somente serão admitidas a propor ação perante o Juizado


Especial: (Redação dada pela Lei nº 12.126, de 2009)
I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direito de pessoas
jurídicas; (Incluído pela Lei nº 12.126, de 2009)
II - as pessoas enquadradas como microempreendedores individuais, microempresas e
empresas de pequeno porte na forma da Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro
de 2006; (Redação dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
III - as pessoas jurídicas qualificadas como Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público, nos termos da Lei no 9.790, de 23 de março de 1999; (Incluído pela
Lei nº 12.126, de 2009)
IV - as sociedades de crédito ao microempreendedor, nos termos do art. 1o da Lei
no 10.194, de 14 de fevereiro de 2001. (Incluído pela Lei nº 12.126, de 2009)
(BRASIL, 1995)

b) Critérios orientadores dos Juizados:


Chamados por alguns de princípios, orientam os juizados os seguintes critérios:
* Para todos verem: esquema

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c) Da intervenção do Ministério Público:


O artigo 11 da Lei 9099/95 permite a intervenção do Ministério Público no âmbito dos
juizados nos casos previstos em lei:

Art. 11. O Ministério Público intervirá nos casos previstos em lei. (BRASIL, 2015)

d) Da possibilidade de não ter advogado no âmbito dos juizados:


O artigo 9º da Lei 9099/95 refere que nas causas até 20 salários mínimos, no primeiro
grau de jurisdição não há necessidade de advogado. Porém, se o valor da causa ultrapassar 20
salários mínimos, a assistência por advogado é obrigatória.
Ademais, mesmo sendo facultativa a assistência de advogado, deve se observar o
seguinte: SE UMA DAS PARTES COMPARECER ASSISTIDA POR ADVOGADO, ou se o RÉU
FOR PESSOA JURÍDICA OU FIRMA INDIVIDUAL, terá a parte contrária, se quiser, a assistência
judiciária por advogado.
E, mesmo sendo facultativa a assistência por advogado nas causas até 20 salários
mínimos, o juiz alertará as partes sobre a conveniência de ter advogado quando a causa assim
recomendar.
Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão
pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência
é obrigatória.
§ 1º Sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida por
advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser,
assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma da
lei local.
§ 2º O Juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por advogado, quando a causa
o recomendar.
§ 3º O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo quanto aos poderes especiais.
§ 4o O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado
por preposto credenciado, munido de carta de preposição com poderes para transigir, sem
haver necessidade de vínculo empregatício. (Redação dada pela Lei nº 12.137, de 2009)
(BRASIL, 1995)

e) Dos atos processuais:


OS ATOS PROCESSUAIS NO ÂMBITO DOS JUIZADOS COMPUTAM-SE SOMENTE
OS DIAS ÚTEIS, tal qual previsão do artigo 12-A da lei 9099/95:

Art. 12. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em horário noturno,
conforme dispuserem as normas de organização judiciária. (BRASIL, 1995)
Art. 12-A. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, para a prática
de qualquer ato processual, inclusive para a interposição de recursos, computar-se-ão
somente os dias úteis. (Incluído pela Lei nº 13.728, de 2018) (BRASIL, 1995)

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f) Da petição inicial:
O artigo 14 da Lei 9099/95 estabelece os requisitos para a Petição Inicial no âmbito dos
juizados.
Observar que neste caso o endereçamento será:
Douto juízo do ... juizado especial cível estadual da Comarca de ...
Além disso, a petição inicial no âmbito dos juizados pode ser apresentada de forma oral,
inclusive em respeito aos critérios que a orientam o juizado.
Conforme o artigo 15 da Lei 9099/95: PODE HAVER PEDIDOS CUMULADOS OU
ALTERNATIVOS desde que não ultrapasse o valor de 40 salários mínimos.
E, caso haja pedido genérico na petição inicial, a sentença deve ser líquida:

Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido, escrito ou oral, à


Secretaria do Juizado.
§ 1º Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem acessível:
I - o nome, a qualificação e o endereço das partes;
II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta;
III - o objeto e seu valor.
§ 2º É lícito formular pedido genérico quando não for possível determinar, desde logo, a
extensão da obrigação.
§ 3º O pedido oral será reduzido a escrito pela Secretaria do Juizado, podendo ser utilizado
o sistema de fichas ou formulários impressos. (BRASIL, 1995)

Art. 15. Os pedidos mencionados no art. 3º desta Lei poderão ser alternativos ou
cumulados; nesta última hipótese, desde que conexos e a soma não ultrapasse o limite
fixado naquele dispositivo. (BRASIL, 1995)

g) Da conciliação e do juízo arbitral:


O artigo 21 da Lei 9099/95 estabelece que aberta a audiência de conciliação as partes
presentes serão esclarecidas sobre as vantagens da conciliação, mostrando-lhes os riscos e as
consequências do litígio, especialmente quanto ao disposto no § 3º do art. 3º desta Lei, pois o
referido artigo 3º, §3º prevê que se ultrapassar 40 salários mínimos, a opção pelo procedimento
previsto na Lei 9099/95 importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste
artigo, excetuada a hipótese de conciliação. Isto é, pode haver conciliação sobre valor acima de
40 salários mínimos.
Ainda, referente à conciliação, é de se ressaltar que houve alteração legislativa em 2020,
passando os artigos 22 e 23 da Lei 9099/95 passarem a ter a seguinte redação:
Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado ou leigo ou por conciliador sob sua
orientação.

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§ 1º Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada pelo Juiz togado
mediante sentença com eficácia de título executivo. (Incluído pela Lei nº 13.994, de
2020).
§ 2º É cabível a conciliação não presencial conduzida pelo Juizado mediante o emprego
dos recursos tecnológicos disponíveis de transmissão de sons e imagens em tempo real,
devendo o resultado da tentativa de conciliação ser reduzido a escrito com os anexos
pertinentes. (Incluído pela Lei nº 13.994, de 2020). (BRASIL, 1995)

Art. 23. Se o demandado não comparecer ou recusar-se a participar da tentativa de


conciliação não presencial, o Juiz togado proferirá sentença. (Redação dada pela Lei
nº 13.994, de 2020) (BRASIL, 1995)

O artigo 24 da Lei 9099/95 prevê que não for obtida a conciliação, as partes de comum
acordo poderão optar pelo juízo arbitral, observando-se as disposições a seguir:

Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de comum acordo, pelo juízo
arbitral, na forma prevista nesta Lei.
§ 1º O juízo arbitral considerar-se-á instaurado, independentemente de termo de
compromisso, com a escolha do árbitro pelas partes. Se este não estiver presente, o Juiz
convocá-lo-á e designará, de imediato, a data para a audiência de instrução.
§ 2º O árbitro será escolhido dentre os juízes leigos. (BRASIL, 1995)
Art. 25. O árbitro conduzirá o processo com os mesmos critérios do Juiz, na forma dos
arts. 5º e 6º desta Lei, podendo decidir por eqüidade. (BRASIL, 1995)

Art. 26. Ao término da instrução, ou nos cinco dias subseqüentes, o árbitro apresentará o
laudo ao Juiz togado para homologação por sentença irrecorrível. (BRASIL, 1995)

h) Da Contestação:
Não se admite a reconvenção no âmbito dos juizados, mas sim o pedido contraposto:

Art. 30. A contestação, que será oral ou escrita, conterá toda matéria de defesa, exceto
argüição de suspeição ou impedimento do Juiz, que se processará na forma da legislação
em vigor. (BRASIL, 1995)

Art. 31. Não se admitirá a reconvenção. É lícito ao réu, na contestação, formular pedido
em seu favor, nos limites do art. 3º desta Lei, desde que fundado nos mesmos fatos que
constituem objeto da controvérsia.
Parágrafo único. O autor poderá responder ao pedido do réu na própria audiência ou
requerer a designação da nova data, que será desde logo fixada, cientes todos os
presentes. (BRASIL, 1995)

i) Das provas no âmbito dos juizados:


Todas as provas são produzidas na audiência de instrução e julgamento: “Art. 33. Todas
as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas
previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou
protelatórias”. (BRASIL, 1995)

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TESTEMUNHAS NO MÁXIMO DE 03 PARA CADA PARTE. As testemunhas comparecem


à audiência independentemente de intimação. Se a parte quer a intimação, tem que apresentar
o requerimento em até 05 dias antes:

Art. 34. As testemunhas, até o máximo de três para cada parte, comparecerão à audiência
de instrução e julgamento levadas pela parte que as tenha arrolado, independentemente
de intimação, ou mediante esta, se assim for requerido.
§ 1º O requerimento para intimação das testemunhas será apresentado à Secretaria no
mínimo cinco dias antes da audiência de instrução e julgamento.
§ 2º Não comparecendo a testemunha intimada, o Juiz poderá determinar sua imediata
condução, valendo-se, se necessário, do concurso da força pública. (BRASIL, 1995)

Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz poderá inquirir técnicos de sua confiança,
permitida às partes a apresentação de parecer técnico.
Parágrafo único. No curso da audiência, poderá o Juiz, de ofício ou a requerimento das
partes, realizar inspeção em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça pessoa de sua
confiança, que lhe relatará informalmente o verificado. (BRASIL, 1995)

j) Da sentença e do Recurso Inominado:


A sentença no âmbito dos juizados dispensa o relatório. Além disso, por mais que o pedido
seja genérico não se admite sentença condenatória por quantia ilíquida.
O parecer do juiz leigo deve ser submetido ao juiz togado. O juiz tomado PODE
HOMOLOGAR O PARECER, PROFERIR OUTRA DECISÃO EM SUBSTITUIÇÃO AO
PARECER OU AINDA, DETERMINAR A REALIZAÇÃO DE ATOS PROBATÓRIOS
INDISPENSÁVEIS;
Conforme o artigo 41 da Lei 9099/95: “Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória
de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o próprio Juizado”. O recurso contra a
sentença é O RECURSO INOMINADO E NÃO APELAÇÃO.

k) Dos embargos de declaração:


Cabem embargos de declaração no âmbito dos juizados, sendo que os embargos de
declaração devem ser opostos no prazo de 05 dias e interrompem o prazo para qualquer recurso:

Art. 48. Caberão embargos de declaração contra sentença ou acórdão nos casos
previstos no Código de Processo Civil.
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício. (BRASIL, 1995)

Os embargos de declaração podem ser opostos de forma ORAL OU ESCRITA. O recurso


inominado somente escrito.

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Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por escrito ou oralmente, no prazo
de cinco dias, contados da ciência da decisão. (BRASIL, 1995)
Art. 50. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de
recurso. (BRASIL, 1995)

l) Das hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito:


O artigo 51 da Lei 9099/95 estabelece situações em que o processo no âmbito dos
juizados vai ser extinto sem resolução de mérito:

Art. 51. Extingue-se o processo, além dos casos previstos em lei:


I - quando o autor deixar de comparecer a qualquer das audiências do processo;
II - quando inadmissível o procedimento instituído por esta Lei ou seu prosseguimento,
após a conciliação;
III - quando for reconhecida a incompetência territorial;
IV - quando sobrevier qualquer dos impedimentos previstos no art. 8º desta Lei;
V - quando, falecido o autor, a habilitação depender de sentença ou não se der no prazo
de trinta dias;
VI - quando, falecido o réu, o autor não promover a citação dos sucessores no prazo de
trinta dias da ciência do fato.

Os parágrafos do artigo 51 da Lei 9099/95 ainda estabelecem:

§ 1º A extinção do processo independerá, em qualquer hipótese, de prévia intimação


pessoal das partes.
§ 2º No caso do inciso I deste artigo, quando comprovar que a ausência decorre de força
maior, a parte poderá ser isentada, pelo Juiz, do pagamento das custas. (BRASIL, 2015)

m) Da execução no âmbito dos juizados:


O artigo 52 da Lei 9099/95 estabelece sobre a execução no âmbito dos juizados especiais:

Art. 52. A execução da sentença processar-se-á no próprio Juizado, aplicando-se, no que


couber, o disposto no Código de Processo Civil, com as seguintes alterações:
I - as sentenças serão necessariamente líquidas, contendo a conversão em Bônus do
Tesouro Nacional - BTN ou índice equivalente;
II - os cálculos de conversão de índices, de honorários, de juros e de outras parcelas serão
efetuados por servidor judicial;
III - a intimação da sentença será feita, sempre que possível, na própria audiência em que
for proferida. Nessa intimação, o vencido será instado a cumprir a sentença tão logo ocorra
seu trânsito em julgado, e advertido dos efeitos do seu descumprimento (inciso V);
IV - não cumprida voluntariamente a sentença transitada em julgado, e tendo havido
solicitação do interessado, que poderá ser verbal, proceder-se-á desde logo à execução,
dispensada nova citação;
V - nos casos de obrigação de entregar, de fazer, ou de não fazer, o Juiz, na sentença ou
na fase de execução, cominará multa diária, arbitrada de acordo com as condições
econômicas do devedor, para a hipótese de inadimplemento. Não cumprida a obrigação,
o credor poderá requerer a elevação da multa ou a transformação da condenação em
perdas e danos, que o Juiz de imediato arbitrará, seguindo-se a execução por quantia
certa, incluída a multa vencida de obrigação de dar, quando evidenciada a malícia do
devedor na execução do julgado;

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VI - na obrigação de fazer, o Juiz pode determinar o cumprimento por outrem, fixado o


valor que o devedor deve depositar para as despesas, sob pena de multa diária;
VII - na alienação forçada dos bens, o Juiz poderá autorizar o devedor, o credor ou terceira
pessoa idônea a tratar da alienação do bem penhorado, a qual se aperfeiçoará em juízo
até a data fixada para a praça ou leilão. Sendo o preço inferior ao da avaliação, as partes
serão ouvidas. Se o pagamento não for à vista, será oferecida caução idônea, nos casos
de alienação de bem móvel, ou hipotecado o imóvel;
VIII - é dispensada a publicação de editais em jornais, quando se tratar de alienação de
bens de pequeno valor; (...) (BRASIL, 1995)

O inciso IX do artigo 52 da Lei 9099/95 fala da defesa do devedor, quais as matérias que
pode alegar quando for execução do próprio julgado:

a) falta ou nulidade da citação no processo, se ele correu à revelia;


b) manifesto excesso de execução;
c) erro de cálculo;
d) causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, superveniente à sentença.

Por fim, o artigo 53 da Lei 9099/95 trata da execução de título executivo extrajudicial no
limite de até 40 salários mínimos:

Art. 53. A execução de título executivo extrajudicial, no valor de até quarenta salários
mínimos, obedecerá ao disposto no Código de Processo Civil, com as modificações
introduzidas por esta Lei.
§ 1º Efetuada a penhora, o devedor será intimado a comparecer à audiência de
conciliação, quando poderá oferecer embargos (art. 52, IX), por escrito ou verbalmente.
§ 2º Na audiência, será buscado o meio mais rápido e eficaz para a solução do litígio, se
possível com dispensa da alienação judicial, devendo o conciliador propor, entre outras
medidas cabíveis, o pagamento do débito a prazo ou a prestação, a dação em pagamento
ou a imediata adjudicação do bem penhorado.
§ 3º Não apresentados os embargos em audiência, ou julgados improcedentes, qualquer
das partes poderá requerer ao Juiz a adoção de uma das alternativas do parágrafo
anterior.
§ 4º Não encontrado o devedor ou inexistindo bens penhoráveis, o processo será
imediatamente extinto, devolvendo-se os documentos ao autor. (BRASIL, 1995)

n) Da Rescisória
Não é admitida ação rescisória no âmbito dos juizados especiais cíveis:

Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento instituído
por esta Lei. (BRASIL, 1995)
Da Estrutura do Recurso Inominado - JEC
Previsão legal:
Arts. 41 e seguintes da Lei 9.099/95;

2 Cabimento:

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Cabe recurso inominado conforme o artigo 41 da Lei 9099/95 contra a sentença proferida
no Juizado Especial, exceto a sentença homologatória de conciliação ou laudo arbitral: “Art. 41.
Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o
próprio Juizado”. (BRASIL, 2015)

3 Prazo:
10 dias, conforme caput do artigo 42 da Lei 9099/95:

Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença,
por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.
§ 1º O preparo será feito, independentemente de intimação, nas quarenta e oito horas
seguintes à interposição, sob pena de deserção.
§ 2º Após o preparo, a Secretaria intimará o recorrido para oferecer resposta escrita no
prazo de dez dias. (BRASIL, 1995)

4 Preparo:
Deverá ser feito até 48 horas seguintes à interposição independentemente de intimação,
sob pena de deserção, conforme previsão do §1º do art. 1.042 da Lei 9099/95;

5 Prazo das contrarrazões:


10 dias, conforme §2º do art. 42 da Lei 9099/95;

6 Efeito:
Somente devolutivo, mas poderá ser atribuído efeito suspensivo, conforme artigo 43 da
Lei 9099/95:
Art. 43. O recurso terá somente efeito devolutivo, podendo o Juiz dar-lhe efeito suspensivo,
para evitar dano irreparável para a parte. (BRASIL, 1995)

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DOUTO JUÍZO DO 1º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE SANTA CRUZ


DO SUL (Verificar conforme enunciado)

Processo número...

NOME DO RECORRENTE, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula de

Identidade..., CPF..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., número..., Bairro..., Cidade...,

Estado..., CEP..., por intermédio de seu procurador constituído (procuração em anexo) OAB..., endereço

eletrônico..., com escritório profissional na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde

recebe intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 41

e seguintes da lei 9.099/95 interpor o presente

RECURSO INOMINADO,

contra a sentença de total procedência proferida nos autos da ação de... movida pelo NOME DO

RECORRIDO, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador da Cédula de Identidade..., CPF...,

endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., número..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP...,

pelas razões anexas.

Requer a intimação do Recorrido oferecer contrarrazões no prazo de 10 dias após o preparo, conforme

previsão do §2º do artigo 42 da Lei 9099/95.

Requer também que após o prazo do oferecimento das contrarrazões, os autos sejam encaminhados

para Egrégia Turma Recursal do Estado do ... para admissão, processamento e julgamento.

Por fim, informa o Recorrente que no prazo de 48 horas a contar da interposição do Recurso Inominado

fará o recolhimento do preparo recursal na forma do artigo 42, §1º da Lei 9.099/95 OU requer a concessão

do benefício da gratuidade da justiça por ser o Recorrente pessoa pobre nos termos da lei, conforme artigos

98 e 99 do Código de Processo Civil.

Termos em que,

Pede deferimento

Local..., data...

Advogado... OAB...

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EGRÉGIA TURMA RECURSO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


RAZÕES DE RECURSO DE RECURSO INOMINADO

Recorrente...
Recorrido...
Processo...

Egrégia Turma Recursal,


Nobres Julgadores,

I – CABIMENTO:
Demonstrar com fundamentação legal que cabe o respectivo recurso. Exemplo: Justifica-
se a interposição do presente Recurso Inominado, vez que a decisão atacada tem natureza
de sentença, na forma do artigo 203, §1º do Código de Processo Civil, pois proferida por
juiz do Juizado Especial Cível Estadual e que colocou fim à fase de conhecimento com
resolução de mérito, tal qual previsão do artigo 487, I do CPC, pois...
Dessa forma, prevê o artigo 41 da Lei 9099/95 que da sentença caberá recurso ao próprio
juizado, excetuado a sentença homologatória de conciliação ou laudo arbitral, o que não é
o caso.

II – TEMPESTIVIDADE:
Demonstrar que o recurso está sendo interposto dentro do prazo legal.
Exemplo: O presente recurso é tempestivo, eis que interposto dentro do prazo legal de 10
dias contados da ciência da sentença, conforme caput do artigo 42 da Lei 9099/95
computando-se somente os dias úteis, tal qual previsão do artigo 12-A da Lei 9099/95,
excluindo o dia do início e incluindo o dia do vencimento, conforme artigo 224, caput do
Código de Processo Civil.

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III – SÍNTESE DA DEMANDA:


Demonstrar em um ou dois parágrafos um resumo do que ocorreu CONFORME OS DADOS
DO ENUNCIADO.

IV – DAS RAZÕES RECURSAIS:


Aqui devem ser trazidas as teses. Ou seja, os fundamentos jurídicos pelos quais deve ser
anulada/reformada uma determinada decisão judicial.

V – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Recorrente:
a) O recebimento e conhecimento do presente Recurso Inominado, determinando seu devido
processamento, eis que preenchidos os pressupostos de admissibilidade;
b) Requer o total provimento do recurso com o fim de reformar a sentença de primeiro grau...

Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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Referências:

ADEDE Y CASTRO, João Marcos. Novo código de processo civil comentado para
concursos: procedimentos especiais – arts. 539 a 770. Curitiba: Juruá, 2016.

AGUIRRE, João; MONTANS DE SÁ. Prática Civil. 7. Ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

ALVIM, J.E. Carreira. Ações possessórias no Novo CPC: manutenção de posse,


reintegração de posse e interdito proibitório. 2. Ed. Curitiba: Juruá, 2017.

ARAUJO JUNIOR, Gediel Claudino. Prática de Recursos no Processo Civil. 3. Ed. São
Paulo: Atlas, 2015.

BATISTA, Antenor. Posse, possessória, usucapião e ação rescisória: manual prático e


teórico. 6. Ed. São Paulo: Edipro, 2015.

BRASIL, 1988. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.

BRASIL, 2002. Código Civil. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm.

BRASIL, 1850. Código Comercial. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LIM/LIM556compilado.htm.

BRASIL, 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm.

BRASIL, 1995. Lei 9099/95. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá
outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm.

BRASIL, 2001. Lei 10.259/01. Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais no âmbito da Justiça Federal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10259.htm

BRASIL, 2003. Lei 12.153/09. Dispõe sobre os Juizados Especiais da Fazenda Pública no
âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12153.htm

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