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RESPONSABILIDADE CIVIL
MÓDULO I
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SUMÁRIO
MÓDULO I
1 APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO AO CURSO
1.1 APRESENTAÇÃO
1.2 ORIGEM DO TERMO
1.3 ORIGEM HISTÓRICA
1.4 A RESPONSBILIDADE CIVIL
1.5 A RESPONSABILIDADE CIVIL NA TEORIA GERAL DO DIREITO
1.6 OS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL
1.7 CAUSAS EXCLUDENTES
1.8 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE
1.8.1 Responsabilidade Civil e Penal
1.8.2 Responsabilidade Administrativa
1.8.3 Responsabilidade Contratual e Extracontratual
1.8.4 Responsabilidade Direta ou Indireta
1.8.5 Responsabilidade nas Relações de Consumo
1.9 RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO COMPARADO
MÓDULO II
2 AS TEORIAS E SEUS PRESSUPOSTOS
2.1 INTRODUÇÃO
2.2 TEORIA DA CULPA
2.2.1 Conduta Humana
2.2.2 Nexo Causal
2.2.3 Dano
2.2.3.1 Dano patrimonial
2.2.3.2 Dano moral
2.2.3.3 Culpa
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2.3 TEORIA DO RISCO
2.3.1 Introdução
2.3.2 A Teoria do Risco
2.3.3 As Relações de Consumo
2.4 EXCLUDENTES
MÓDULO III
3 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL
3.1 QUANTO AO FATO GERADOR
3.2 EM RELAÇÃO AO SEU FUNDAMENTO
3.3 QUANTO AO AGENTE
MÓDULO IV
4 DAS MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE QUANTO AO AGENTE
4.1 DAS RESPONSABILIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
4.2 DAS RESPONSABILIDADES DO TRANSPORTADOR
4.3 DAS RESPONSABILIDADES DO CONSTRUTOR
4.4 DAS RESPONSABILIDADES DOS PROFISSIONAIS
4.5 DAS RESPONSABILIDADES DOS PROVEDORES DA INTERNET
4.6 OUTRAS MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE
MÓDULO V
5 DA LIQUIDAÇÃO DO DANO E AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MÓDULO I
1.1 APRESENTAÇÃO
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Segundo Soibelman1 (1979):
1 SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do Advogado. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1979.
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Continuamos na viagem histórica e encontramos as legislações antigas –
Código de Hamurabi (1.780 a. C.) e o Código de Manu (Ur Manu - século II a. C.) –
onde prevalecia a tipicidade das condutas, ou seja, previsão de um comportamento
com resultado danoso. Continuávamos com a responsabilidade objetiva, que não
exige o elemento culpa, o importante era a causalidade entre a conduta e o dano
para configuração da responsabilidade.
Chegamos ao Direito Romano, que serviu de base para a maioria dos
Institutos do Direito Civil de nossos dias. A Responsabilidade Civil originada no
Direito Romano consistia, também, em uma vingança privada. A responsabilidade,
porém, não atingia somente o patrimônio do agressor, mas também o seu próprio
corpo. Os danos e prejuízos causados tinham sua compensação através de atos
violentos contra o agente causador dos mesmos. Não havia diferenciação entre a
responsabilidade penal e a responsabilidade civil.
Como o Direito evoluía, começava a preocupação de se evitar a
instabilidade social. Buscava-se resguardar a segurança, partindo-se para não mais
permitir a justiça privada. É nesta época que se inicia a diferenciação entre pena e
reparação, delineando uma distinção entre os delitos públicos e delitos privados. Os
delitos públicos eram ofensas consideradas mais graves e perturbadoras da ordem,
o ofensor se obrigava a recolher a pena a favor dos cofres públicos, enquanto nos
delitos privados ocorria apenas a intervenção da autoridade, buscando a
composição entre as partes.
Neste mesmo período temos uma mudança considerável, surgindo a
chamada composição voluntária, na qual o ofendido tem a possibilidade de substituir
a retaliação ao ofensor por uma compensação de ordem patrimonial. É o patrimônio
do ofensor substituindo o castigo físico. Tal mudança se deve à modificação da
estrutura estatal, pois surge a autoridade soberana. Encerra-se, assim, a chamada
justiça com as próprias mãos e ao Estado cabe dosar a pena ao agente causador do
dano. A composição deixa de ser voluntária e passa a ser obrigatória, criando-se
uma tarifação dos danos, havendo um valor para cada tipo de lesão.
A Lei das XII Tábuas (449 a. C.) foi de suma importância para os romanos,
pois representa a passagem da norma consuetudinária para a lei escrita. As penas
impostas por ela iam desde a multa até o exílio, da prisão até a morte, sendo certo
que, ainda, muitas delas tinham por base a sanção da retaliação (pena de Talião).
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A Lei Poetelia Papiria (428 a. C) é considerada o marco divisório da
responsabilidade civil, uma vez que através dela se deixa de aplicar a pena do
pagamento com o próprio corpo. O que responde pelo ato do ofensor é apenas o
seu patrimônio. Com a Lex Aquila (289 a. C.) surge a Damnum injuria datum (dano
produzido pela injúria), o nosso atual dano moral.
Ocorre no momento em que uma pessoa se considera afetada em seu
ânimo psíquico, moral e intelectual, seja por ofensa à sua honra, na sua privacidade,
intimidade, imagem, nome, ou em seu próprio corpo físico, podendo estender-se ao
dano patrimonial se a ofensa de alguma forma impedir ou dificultar a atividade
profissional da vítima. Corresponde às lesões sofridas pela pessoa humana e
consiste em violações de natureza não econômica.
Para os romanos, consistia num delito onde alguém causava dano à coisa
alheia, animada ou inanimada, e o ressarcimento previsto não era tarifado, mas
devia corresponder a um valor proporcional ao dano causado. É com a Lex Aquila
que surge o princípio geral da reparação do dano, advindo as ideias iniciais sobre a
noção de culpa. Inicia-se a responsabilidade civil subjetiva (culpa subjetiva), em que
há a necessidade de se averiguar a culpa do agente, caracterizando a obrigação de
ressarcir. Ela é importante para a responsabilidade extracontratual, tornando-se
comum designá-la de responsabilidade aquiliana. Podemos afirmar que é a evolução
da responsabilidade civil.
Já na Idade Média, continuando nosso estudo, mais precisamente na
França, o pensamento romano vai se aperfeiçoando. Gradualmente, evolui quanto à
enumeração dos casos de possibilidade de composição obrigatória, chegando à
consagração do princípio aquiliano, segundo o qual a culpa, ainda que levíssima,
obriga a indenizar. Na Revolução Francesa (1789), já na Idade Contemporânea,
surge o Código de Napoleão (Código Civil Francês de 1804), que prevê a
responsabilidade contratual e a distinção entre a responsabilidade penal e a civil.
Encontramos em seu artigo 1.382 a responsabilidade civil subjetiva, baseada na
culpa do agente. Este Código exerceu grande influência sobre as codificações que
se seguiram, inclusive sobre o Código Civil Brasileiro de 1916.
As Ordenações do Reino, aplicadas no Brasil à época, não distinguiam o
ilícito civil e necessário se fazia recorrer subsidiariamente ao Direito Romano e à Lei
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de Boa Razão (Lei de 18 de Agosto de 1769). Já o Código Criminal de 1830 previu o
instituto da satisfação, que estabelecia o dever de reparação do dano causado.
Chegamos ao Código Civil Brasileiro de 1916 e encontramos o artigo 159,
que determinava: “aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o
dano”. A culpa foi adotada pela legislação civil pátria como fundamento da
responsabilidade civil, a responsabilidade civil subjetiva. Não precisava ser a
conduta do agente dolosa, imprudente, negligente ou imperita, quaisquer das
espécies de culpa eram suficientes para caracterizar a responsabilidade civil,
independentemente da gravidade do ato. Bastava a existência de culpa levíssima
para determinar a obrigação de reparar.
Por fim, encontramos o Código Civil de 2002, que mantém a regra do Código
antecessor, e para tanto basta combinarmos os preceitos do artigo 927, caput, com
o artigo 186. Enquanto o caput do artigo 927 estipula que “aquele que, por ato ilícito
(arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”, o disposto no
artigo 186 nos mostra que a culpa é exigida para a configuração da responsabilidade
civil: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
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autônoma, porém eletiva para o curso de Direito. Ao final da década, dada a
importância do instituto, surgiu como disciplina autônoma e parte integrante do
estudo do Direito Civil.
Podemos ver que no nosso Código Civil vigente, diferentemente da
legislação anterior, a responsabilidade civil recebeu um Título (IX) com dois
capítulos. Hoje, vemos que a responsabilidade civil permeia todas as relações
jurídicas, atingindo o direito público e o direito privado, quer no campo contratual,
extracontratual, transportes aéreos e terrestres, interesses individuais, coletivos,
sociais, ambientais, nacionais ou internacionais, dentre outros.
Encontramos atualmente uma série de artigos e doutrinas sobre o assunto,
além da contribuição jurisprudencial. Mas vamos analisar o porquê desta evolução
no direito pátrio. Primeiramente, tomemos os ensinamentos de San Tiago Dantas2
quanto aos atos ilícitos. Diz o grande jurista que “toda conduta do homem que fere o
direito, objetivamente considerado, é uma conduta ilícita. De maneira que inúmeras
e comuníssimas são as formas sob que pode deparar-se a ilicitude” (DANTAS, 1977,
p. 341).
Diz o mestre que o fundamento da ordem jurídica tem um duplo sentido, que
é proteger o lícito e reprimir o ilícito, ou seja, proteger a atividade do homem que se
comporta de acordo com o direito, reprimindo aquele que se comporta em
contrariedade com o direito. Honeste vivere, alterum non ladere (viver honestamente
e não lesar a ninguém).
Como podemos ver, a violação de um dever jurídico gera o ilícito, e este
pode gerar um dano: é o chamado de dever jurídico originário ou primário. Se ocorre
o dano temos um novo dever jurídico, que é o de repará-lo. É o chamado dever
jurídico sucessivo ou secundário. Como nos ensina Cavalieri Filho3: “... toda
conduta humana que, violando dever jurídico originário, causa prejuízo a outrem, é
fonte geradora de responsabilidade civil” (CAVALIERI FILHO, 1997, p. 20).
A obrigação é um dever jurídico originário, enquanto a responsabilidade é
um dever jurídico sucessivo, podendo ser da mesma natureza, acrescido de outros
elementos – obrigação de dar – ou de natureza diferente – obrigação de fazer.
2 DANTAS, San Tiago. Programa de Direito Civil – Parte Geral. Rio de Janeiro: Editora Rio,1977.
3 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
1997.
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1.5 A RESPONSABILIDADE CIVIL NA TEORIA GERAL DO DIREITO
Para darmos continuidade, devemos verificar alguns conceitos que irão nos
ajudar no desenvolvimento de nossos estudos. Eles estão relacionados à teoria
geral do direito. Iniciamos pelo Fato Jurídico – que é todo acontecimento, natural ou
humano e suscetível de produzir efeitos jurídicos. Stricto senso, inclui eventos
puramente naturais e atos humanos que geram efeitos jurídicos – atos jurídicos e
atos ilícitos.
Podem ser naturais quando os acontecimentos decorrem da própria
natureza, como o nascimento, a morte, a tempestade, entre outras, ou voluntários,
quando a origem é a conduta humana capaz de gerar efeitos jurídicos. Estes podem
ser lícitos, quando de acordo com a lei vigente, ou ilícitos, quando afrontam o Direito,
ou seja, a violação do dever contido na norma jurídica.
Ato Jurídico – também chamado de ato lícito. São atos de mera conduta
(não negocial), que existem independentemente da vontade do agente, ou seja, não
têm o fim de produzir um determinado efeito jurídico, ou negócio jurídico, cuja
característica é ser uma declaração de vontade do agente destinada a criar direitos
e obrigações (contratos, testamentos e outros).
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dano, e que é imposto pelo ordenamento jurídico. Enquanto no direito penal o ato
ilícito afeta a liberdade da pessoa (infrator), no direito civil atingirá seu patrimônio.
Em resumo:
Ato Ilícito
4 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. São Paulo:
Saraiva, 2003.
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Afirma a autora que a responsabilidade decorrente de ato ilícito baseia-se na
ideia de culpa, enquanto a responsabilidade sem culpa baseia-se no risco.
Comissivo é o ato que não deveria efetivar, enquanto a omissão é a não
observância de um dever.
Dano – para que haja responsabilidade civil, a conduta do agente tem de ser
danosa ou levar prejuízo à vítima. Desta forma, dano é o prejuízo que resulta da
lesão de um bem ou direito, podendo ser a perda ou redução de um patrimônio, quer
seja material ou moral de uma pessoa. Ocorre pela conduta do agente, que irá
originar o direito ao ressarcimento do lesado, restituindo a situação original ou,
quando não possível, a reparação do dano, a não ser que haja a excludente de
responsabilidade.
Podemos dividir o dano em patrimonial e extrapatrimonial. O primeiro,
também conhecido como material, é aquele que causa a destruição ou diminuição
de um bem de valor econômico (mensurável). O segundo, também chamado de
moral, é aquele que está afeto a um bem que não tem caráter econômico
(pecuniário), não é mensurável e não pode retornar ao estado anterior. São os bens
inerentes aos direitos da personalidade – direito à vida e à integridade moral, física
ou psíquica. São de difícil reparação.
A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, X, determina: “são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
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negligência ocorre quando o agente deveria tomar conta para que uma situação não
acontecesse, mas não presta a devida atenção e a deixa acontecer. A imprudência
ocorre quando o agente não se cerca dos cuidados que uma pessoa normal tomaria.
E a imperícia está ligada ao perito, ou seja, a alguém que deveria dominar uma
técnica, mas acaba por não dominá-la.
Ensina-nos José de Aguiar Dias5 que a negligência encontra-se intimamente
relacionada com o conceito de desídia, enquanto a imprudência liga-se ao de
temeridade, e a imperícia à falta de habilidade. Na verdade, a culpa não é um
elemento essencial para a responsabilidade civil, pois o próprio artigo 927 do Código
Civil afirma que “haverá obrigação de reparar o dano independentemente de culpa”.
Somente os três anteriores que são fundamentais para a responsabilidade civil.
Para a responsabilidade civil a culpa é caracterizada quando o agente
causador do dano não tinha a intenção de provocá-lo, mas, por negligência,
imprudência ou imperícia, causa dano a outrem, tendo o dever de repará-lo.
Em resumo:
Pressuposto
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consideradas causas que eliminam o dever de reparação do dano, uma vez que
excluem o nexo causal pressuposto importante da responsabilidade civil.
Culpa da vítima – acontece quando o dano é decorrente de ato da própria
vítima, ou seja, quando o agente não contribui em nenhum momento para o evento
danoso. Na realidade, o ato culposo da própria vítima elimina o nexo causal e, com
ele, a responsabilidade civil. Mas existem casos em que a vítima e o agente
concorrem na culpa (culpa concorrente). Nestes casos, cada um responde por sua
participação no dano.
Caso fortuito e força maior - ocorrem quando o dano advém de causas de
efeitos imprevistos ou inevitáveis, exonerando o agente da responsabilidade pelos
danos causados à vítima, não havendo ação ou omissão culposa por parte do
agente. É o fato imprevisível e incapaz de ser evitado, quer pelo agente, quer por
qualquer outro. O Código Civil, em seu artigo 393, determina:
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Fato de terceiro – ocorre quando o agente causador do dano fica exonerado
do dever de reparação, tendo em vista a causa alheia, pois o dano é causado por
ação ou omissão de um terceiro, seja dolosa ou culposamente. Quebra-se, assim, o
nexo de causalidade entre a conduta do agente e o resultado, tendo em vista que a
conduta atípica não parte do agente, e sim de um terceiro. Esta conduta, porém,
deve ser o fator predominante da lesão ocasionada. Lembramos que o terceiro não
pode ter nenhuma relação com o agente.
Alguns autores citam como excludente a “cláusula de não indenizar”, que é a
combinação através da qual o devedor, contratualmente, se exonera do dever de
indenizar quando do acontecimento de um dano. Ocorre que tal cláusula é limitada
aos contratos, não sendo aceita nos demais casos. É considerada como não escrita,
principalmente no CDC.
Em resumo:
Excludentes
Culpa da Vítima
Caso Fortuito e Força Maior
Fato de Terceiro
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através do mesmo ato (dupla ilicitude). O exemplo mais comum está no acidente de
trânsito, onde uma pessoa atropela alguém que vem a falecer. O agente causador
do acidente irá responder pelo ilícito penal (crime de homicídio culposo) e também
responderá pelo ilícito civil, o dever de indenizar a família (reparação do dano) pela
morte da vítima.
O ilícito penal está afeto aos atos ilícitos de maior gravidade, que estão
diretamente ligados ao interesse público, enquanto o ilícito civil aos de menor
gravidade. Lembramos que a sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível
quanto ao dever de indenizar.
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1.8.2 Responsabilidade Contratual e Extracontratual
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Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
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6º São direitos básicos do consumidor:
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de experiências;
Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes
de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da
legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades
administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios
gerais do direito, analogia, costumes e equidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de
consumo.
CAPÍTULO IV
Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos
Danos
SEÇÃO II
Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e
riscos.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,
permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são
obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos
essenciais, contínuos.
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Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das
obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas
compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma
prevista neste código.
Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por
inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de
termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.
Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que
impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta
e nas seções anteriores.
§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos
responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções
anteriores.
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos
causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste
Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do
dano e de sua autoria.
Em resumo:
Espécies
Civil ou Penal
Administrativa
Contratual ou Extracontratual
Direta ou Indireta
Relações de Consumo
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Argentina – Pela leitura do Código Civil Argentino6 vigente, podemos deduzir
que ele utiliza, como regra geral, da responsabilidade subjetiva, em que o autor deve
provar a culpa do ofensor. Assemelha-se ao nosso direito e trata da
responsabilidade civil junto das obrigações.
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para a responsabilidade civil, que vai do art. 483 ao 510, abrangendo diversos
assuntos sobre a matéria. Também está filiado à corrente da responsabilidade
subjetiva, exigindo a culpa e sua prova.
Civil liability gives a person rights to obtain redress from another person e.g.
the ability to sue for damages for personal injury. There is also the right to
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obtain an injunction. For there to be an award of damages, the injured party
has to have suffered an actual loss, be it personal injury, damage to
property, or financial loss.
The burden of proof is "the balance of probability" which is much lower than
for criminal matters.
If there has been a relevant criminal conviction in a particular matter, then
the burden of proof in any related civil action is reversed, so that the
defendant has to prove he is not liable. An example of this would be a
conviction of a company for breach of health and safety legislation, followed
by the injured employee suing the company for damages for personal injury.
A disincentive to suing is that the losing party pays the winners costs. In fact,
this works out as a substantial proportion of the costs, rather than 100%, so
a successful plaintiff has his award of damages diminished in practical
terms. As a matter of public policy, it is not possible to have an enforceable
insurance policy in relation to criminal penalties.8
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FIM DO MÓDULO I
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DIREITO CIVIL –
RESPONSABILIDADE CIVIL
MÓDULO II
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MÓDULO II
2.1 INTRODUÇÃO
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diretamente o elemento culpa – introduzido o elemento subjetivo para permitir a
reparação do dano.
Com base no Direito Romano, precursor do nosso Direito, e através do
Direito Francês, que recepcionou a responsabilidade civil fundada na culpa, o Brasil
adotou a teoria geral da responsabilidade civil subjetiva – teoria da culpa. Como
vimos, é a regra geral, enquanto a responsabilidade objetiva é a exceção, sendo
esta possível se prevista em lei.
Necessitamos, para que haja o dever de indenizar, de quatro pressupostos,
a saber: conduta humana (ação ou omissão), nexo causal, dano e a culpa. Cabe à
vítima provar o dano experimentado e que este dano partiu de uma ação ou omissão
culposa do agente.
Quanto ao agente, poderá se eximir do dever de indenizar, se provar a
inexistência de um dos pressupostos, ou através das excludentes. Se provar que foi
prudente, diligente e observou as leis vigentes, inexistirá o elemento culpa. Se o
prejuízo suportado pela vítima não se relaciona com seu ato, inexistirá o elemento
nexo causal. E se não ocorreu nenhum prejuízo para a vítima, quer patrimonial quer
moral, inexistirá o elemento dano.
Antes de apresentarmos os pressupostos, necessária se faz a apresentação
de um elemento básico para a existência da responsabilidade civil, que é o ato ilícito.
É preciso provar a conduta culposa (culpa) do agente para que haja o dever de
indenizar, que se origina do ato ilícito. A culpa aqui referida é a voluntariedade de
conduta do agente.
Para se caracterizar o ato ilícito, necessitamos de dois pressupostos: a
imputabilidade do agente, que é o elemento subjetivo, e a conduta culposa, que é o
elemento objetivo. Sem estes elementos não existirá o ato ilícito. A imputabilidade
do agente define-se como o conjunto de condições pessoais que concede ao agente
a capacidade de responder pelas consequências de sua conduta contrária à norma
jurídica.
A imputabilidade está ligada à responsabilidade, a capacidade de entender
que o fato é ilícito, e de agir em conformidade com esse entendimento. A nossa
legislação não define o que imputabilidade, apenas enumera os casos que a
excluem, os considerados inimputáveis. Desta forma, estes são considerados
incapazes, não sendo responsáveis pelos atos cometidos. Porém, de conformidade
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com a lei, pelos atos dos incapazes, responde aquele que detém sua guarda, sendo
exceção o contido no art. 928 e seu parágrafo único do Código Civil:
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Esta conduta tem de ser voluntária, podendo ser positiva ou negativa (ação
ou omissão). Neste caso, o agente tem consciência daquilo que faz. Para que haja o
dever de indenizar sua conduta, a princípio deve ser ilícita, mas também pode haver
responsabilidade civil decorrente de ato lícito. A conduta humana tem de ocorrer
através da prática de uma conduta culposa, positiva ou negativa (ação ou omissão)
senão não haverá o dever de reparação.
1 GONÇAVES, Carlos Alberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2003.
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mostrar de todo indiferente para a verificação do dano, tendo-o provocado só por
virtude das circunstâncias excepcionais, anormais, extraordinárias ou anômalas, que
intercederam no caso concreto.
A teoria dos danos diretos e imediatos dispõe que o dever de reparar surge
quando o evento danoso é efeito direto e imediato de certa causa. À causa serviria
apenas o antecedente fático ligado necessariamente ao resultado danoso como uma
consequência direta e imediata. Como exemplo, temos o do acidentado que, ao ser
conduzido em uma ambulância para o hospital, vem a falecer em virtude de
tremenda colisão da ambulância com outro veículo. Responderia o autor do dano
primeiro da vítima, o responsável pelos seus ferimentos, apenas pelos prejuízos de
tais ferimentos oriundos.
Pelos danos da morte dessa mesma vítima em decorrência do abalroamento
da ambulância na qual era transportada ao hospital com outro veículo, responderia o
motorista da ambulância ou o do carro abalroador, ou ambos. Mas o agente do
primeiro evento não responderia por todos os danos, isto é, pelos ferimentos e pela
morte. O nosso Código Civil vigente adotou esta teoria, como podemos verificar pela
leitura do art. 403:
Surge outro problema que torna mais difícil o estudo e aplicação do nexo
causal: é quando várias causas concorrem para a ocorrência de um dano –
concorrência de causas ou concausas. Sabemos que um dano pode ser gerado por
várias causas, ocorrer de diversas formas, subsequentes, complementares,
cumulativas ou alternativas.
Na subsequente, temos que o fato praticado por uma pessoa gera a causa
do fato praticado por outra. Como exemplo temos o depositário que, por negligência,
deixa a coisa abandonada em local que facilita o furto, cometido por outra pessoa.
Nas complementares, temos duas ou mais causas que concorrem para a
produção de um resultado que não seria alcançado de forma isolada por nenhuma
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delas. Como exemplo, um veículo colide com outro, deixando-o apenas danificado.
Em seguida, outro veículo colide com ele e o deixa sem condições de uso.
Na cumulativa, temos que os fatos praticados pelos agentes não
necessitariam somar-se um ao outro para a ocorrência do dano, pois qualquer um
dos agentes produziria o resultado isoladamente. Como exemplo, um grupo de seis
pessoas briga no interior de boate e a depredam. Bastava a briga de dois para que o
fato ocorresse.
A alternativa ocorre na situação em que não se pode definir exatamente qual
dos vários participantes causou o dano. Isto é, o agente de um grupo causou um
dano, mas não é possível determinar qual agente. Como exemplo, o mesmo caso da
boate, mas a briga não iria gerar prejuízos para o dono do estabelecimento, porém,
um dos partícipes não identificado joga uma cadeira contra o espelho, vindo a
destruí-lo.
As concausas podem ainda ser: preexistentes; concomitantes ou
supervenientes. São preexistentes quando não são hábeis para eliminar a relação
causal. Por exemplo, a preexistência de uma doença fatal é irrelevante para uma
lesão leve do agente. A vítima sofre do autor, após uma briga, uma lesão leve, mas
ele é portador de diabetes e acaba em óbito. O agente responderá pela causa mais
grave, que é o óbito. Não será necessário que a parte conheça a preexistência da
doença.
São concomitantes aquelas que ocorrem simultaneamente ao fato gerador
do dano e são supervenientes aquelas que ocorrem após o evento danoso. As duas
últimas seguem os mesmos preceitos da preexistente, porém, na superveniente
necessário se faz a ocorrência de um novo acontecimento, rompedor do nexo causal
anterior.
2.2.3 Dano
AN02FREV001/REV 4.0
33
dano. No caso do dano moral, ele tem de ser certo e deve haver a subsistência do
dano.
Assim, quando ocorre um prejuízo em face do descumprimento de um dever
jurídico, surge a obrigação de indenizar. Tal fato se dá com o intuito de recolocar a
vítima na situação em que estaria sem a ocorrência do fato danoso. A definição mais
consagrada é a que define o dano como sendo a subtração ou diminuição de um
bem jurídico, de qualquer natureza, quer seja ele patrimonial ou a integridade da
própria personalidade da vítima. Desta forma, dividimos o dano em patrimonial ou
material e moral.
Para que haja a indenização de um dano, ele deve ser certo, baseado sobre
um fato preciso, e não somente sobre uma hipótese. É atual porque ele já existiu ou
existe no momento da ação da responsabilidade civil. Como exceção, e passível de
indenização, temos o dano futuro, o que razoavelmente a vítima deixou de lucrar
(lucros cessantes), conforme determina o art. 402: “salvo as exceções
expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem,
além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”.
AN02FREV001/REV 4.0
34
Consideramos como lucro cessante a frustração da expectativa de ganho,
ou seja, são os benefícios que o lesado deixou de obter tendo em vista o dano
sofrido. Como exemplo, temos o caso acima, em que o taxista tira seu sustento com
as corridas que faz, e com o carro na oficina irá deixar de ganhar. Cabe ao motorista
causador do acidente indenizá-lo pelos dias que ficará sem o veículo. Em ambos os
casos, a indenização deve ser justa, correspondente ao valor realmente indenizável,
principalmente quanto aos lucros cessantes, não devendo nem podendo o valor ser
hipotético.
Ainda podemos citar quanto aos danos patrimoniais os chamados danos
reflexos. A doutrina e jurisprudência os aceitam, nos quais temos os danos diretos,
que são os efeitos imediatos do fato ilícito, e os danos indiretos, que são as
consequências mediatas ou remotas do dano direto. Ocorrem na hipótese dos
prejuízos reflexamente sofridos por terceiros, titulares de relações jurídicas que são
afetadas pelo dano, não na sua substância, mas na sua consistência prática, como
por exemplo o devedor de pensão alimentícia que sofre uma lesão na sua
capacidade de trabalhar. Os alimentados teriam legitimidade para demandar em
face do causador do dano.
Ainda no estudo do dano patrimonial, encontramos a figura da perda da
chance, que se assemelha ao lucro cessante, pois diz respeito a uma situação
futura. Neste caso, não temos a existência de uma certeza absoluta de que o ganho
se daria, ocorrendo quando o lesado é privado da oportunidade de obter
determinada vantagem ou evitar um prejuízo, tendo em vista a conduta do ofensor,
ou seja, ocorre quando, em virtude da conduta de outrem, desaparece a
probabilidade de um evento que possibilitaria um benefício futuro para a vítima.
Na realidade, não está se indenizando o que hipoteticamente se deixou de
ganhar, mas a oportunidade existente no patrimônio da vítima no momento do dano,
admitindo-se um valor patrimonial da chance por si só considerada.
AN02FREV001/REV 4.0
35
O dano moral é um dos temas mais controvertidos no estudo da
responsabilidade civil, havendo discussões sobre seu conceito, efeitos e critérios de
fixação da indenização. Comprova-se, porém, a existência do instituto há muitos
anos, como no Código de Hamurabi em seu art. 127: “se um homem livre estendeu
um dedo contra uma sacerdotisa ou contra a esposa de outro e não comprovou, o
arrastarão diante do Juiz e raspar-lhe-ão a metade do seu cabelo”; na Lei das XII
Tábuas - na Tábua 7 - 2 - “se alguém causa um dano premeditadamente, que o
repare”; no Alcorão “AN NUR – 24ª SURATA – 3, “o adúltero não poderá casar-se,
senão com uma adúltera ou uma idólatra; a adúltera não poderá desposar senão um
adúltero ou um idólatra. Tais uniões estão vedadas aos fiéis.
Na Antiga Roma, onde a cada ofensa moral correspondia uma reparação
em dinheiro aplicada pelo Juiz, quantia essa que desse para aliviar ou minorar o
dano. Como vimos, todos os casos se referem ao dano moral e à forma de
reparação. Até a promulgação da Constituição Federal de 1988, não tínhamos na
legislação pátria a figura do dano moral, a não ser em algumas legislações esparsas
como o Código Brasileiro de Telecomunicações, a Lei de Imprensa e a Lei dos
Direitos Autorais, mas que não tratavam diretamente do assunto.
É a partir da Constituição Federal de 1988 que, em seu art. 5º, X,
encontramos amparo para o dever de indenizar: “são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação”.
A posteriori, veio o CDC, que em seu art. 6, VI, também assegura a
reparação do dano moral: “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos e difusos”. Por fim, o Código Civil de 2002, em seu art.
186, trouxe o direito à indenização por danos morais, dizendo: “aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Ainda restam três problemas a serem ultrapassados quanto ao direito à
indenização por danos morais: como avaliar rigorosamente os danos materiais e
moralmente, ou como compensar a dor com dinheiro; como transpor a
impossibilidade e a dificuldade da reparação; e, por fim, o arbitramento do valor, que
fica a critério dos juízes.
AN02FREV001/REV 4.0
36
No primeiro caso, embora para muitos seja imoral a troca da dor pelo
dinheiro, a indenização poderá ajudar a vítima ou a seus herdeiros, diminuindo,
assim, a sua dor. No segundo caso, a solução é bem mais difícil, pois se torna uma
tarefa árdua buscar o equivalente ao dano, ou chegar a um valor que realmente
repare integralmente o dano sofrido. Busca-se chegar o mais próximo.
Quanto à terceira, alguns doutrinadores sustentam que arbitramento não é
sinônimo de arbitrariedade, sabendo que o juiz buscará critérios objetivos para a
valoração do dano a ser indenizado, podendo contar com a doutrina e a
jurisprudência. É regra em nossos tribunais, quando da avaliação do dano moral
pelo juiz, ele medir o grau de sequela que a ação ou omissão produziu à vítima.
Claro que tal grau irá divergir de pessoa a pessoa.
A humilhação, vergonha, situações vexatórias, posição social da vítima
(ofendido), o cargo exercido por ele e a repercussão negativa em suas atividades,
quer profissionais quer sociais, devem somar-se nos laudos avaliatórios, permitindo
que o juiz dose com justiça a condenação do ofensor.
A indenização a ser paga a uma pessoa de conduta ilibada, profissional
conhecido internacionalmente, deve ser diferente de uma pessoa comum que não
atende aos requisitos mostrados pelo primeiro. Não se quer dizer com isso que um
mereça mais que o outro, o que se quer mostrar é que, na avaliação para dosar o
valor, tais requisitos devem ser levados em conta.
Ultrapassada a premissa quanto à existência do dano moral e sua
indenização, apresentamos um conceito atual em que o dano moral consiste na
lesão de interesse que visa à satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial
pertencente aos direitos da personalidade, à dignidade da pessoa humana ou aos
atributos da pessoa.
Quanto à natureza da indenização por dano moral, podemos dizer que tem
dupla natureza – é compensatória e punitiva – devendo ser levados em conta, no
momento da fixação, critérios de proporcionalidade e razoabilidade, atendendo às
condições do autor, do lesado, e do bem jurídico lesado.
Quanto à prova da ocorrência do dano moral, na doutrina e jurisprudência, é
pacífica e já aceita a configuração independente da prova. De acordo com a Súmula
227 do STJ, também cabe dano moral à pessoa jurídica.
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37
STJ Súmula nº 227 - 08/09/1999 - DJ 20.10.1999
Pessoa Jurídica - Dano Moral
A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
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38
Podemos afirmar que nosso judiciário está atento a tais ações, indeferindo
as que não atingem o objetivo esperado pelo dano moral.
2.2.3.3 Culpa
AN02FREV001/REV 4.0
39
Pode-se ainda graduar a culpa de acordo com a gravidade da conduta do
agente. A nossa legislação pátria não menciona esta graduação, mas ela tem
respaldo na doutrina e jurisprudência, principalmente quando da fixação da
indenização, no dano moral.
Desta forma, encontramos três graus de culpa: grave, leve e levíssima. A
primeira é aquela imprópria ao comum dos homens, o erro grosseiro, que ocorre
com o descuido injustificável. Equipara-se ao dolo. A segunda é a falta que poderia
ser evitada com a atenção comum, com o cuidado próprio do homem comum. A
terceira caracteriza-se por uma falta de atenção acima do normal, com especial
habilidade ou conhecimento singular. Todas elas levam à obrigação de reparar o
dano.
Tendo em vista que o Código Civil de 2002 recepcionou a responsabilidade
objetiva, passamos a ter três espécies de culpa nas quais o responsável não é o
causador do dano, mas responde pelo resultado danoso. É o caso do fato de
outrem, que abrange o fato de terceiro, o fato da coisa, substituindo o que
determinava a legislação anterior quando tratava da culpa in eligendo, in vigilando e
in custodiando.
Como afirmado anteriormente, existem situações em que o agente irá
responder por fato de outrem, quando se irá imputar ao responsável o dever de
indenizar mesmo que não tenha sido ele o causador do dano. Temos desta forma
três possibilidades: responsabilidade por fato de terceiro; responsabilidade por fato
dos animais; e responsabilidade por fato da coisa.
AN02FREV001/REV 4.0
40
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes,
moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a
concorrente quantia.
AN02FREV001/REV 4.0
41
Outro ponto importante a ser visto está relacionado com a evolução das
tecnologias e das próprias atividades humanas, que levam os riscos a se
multiplicarem, e buscam-se soluções para todos os tipos de casos. Isto porque, cada
vez mais as vítimas têm dificuldades para provar a culpa do agente, sendo-lhes
negada a reparação do dano. A doutrina e a jurisprudência passaram a admitir o
recurso da inversão do ônus da prova. Desta forma, surge a culpa presumida.
Embora ainda seja imprescindível a culpa para fins indenizatórios, passa a existir
uma presunção, passando para o agente a obrigação de provar que sua conduta
não foi culposa.
2.3.1 Introdução
AN02FREV001/REV 4.0
42
complexas, leva à existência de danos, quer ao patrimônio, quer à personalidade
humana, provocados por conflitos de interesses e direitos, os quais somente a
responsabilidade subjetiva não poderia sanar.
Assim, surge a responsabilidade objetiva, independente de culpa e baseada
no risco, buscando reparar todo e qualquer dano, independentemente de sua causa.
Podemos afirmar que hoje, no Brasil, temos um sistema de responsabilidade civil
dualista, coexistindo a responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva.
Embora anteriormente ao Código Civil de 2002 a lei vigente só permitisse a
existência da responsabilidade objetiva quando prevista em lei, algumas legislações
já consagravam sua existência, como a Lei das Estradas de Ferro (Dec. nº
2.681/1912) e o Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei nº 7.565/1986). A teoria do
risco só foi realmente adotada com a Constituição Federal de 1988, em seu art. 37,
§ 6º e com o Código de Defesa do Consumidor.
AN02FREV001/REV 4.0
43
Risco excepcional: ocorre quando a reparação é devida sempre que o dano
for consequência de um risco excepcional, que escapa à atividade comum da vítima,
ainda que estranho ao trabalho que normalmente exerça.
Risco criado: ocorre quando aquele que, em razão de sua atividade ou
profissão, cria um perigo, estando assim a reparar o dano que causar, salvo prova
de haver obedecido a todas as medidas idôneas a evitá-lo.
AN02FREV001/REV 4.0
44
provocado por veículo desconhecido ou não identificado, e ainda que tenha havido
culpa exclusiva da vítima.
Danos nucleares – sabe-se que a exploração de atividades nucleares traz
uma gama de riscos. Desta forma, a CF88, na alínea “d”, que foi incluída pela EC nº
49/2006, do inciso XXIII do art. 21, determina: “a responsabilidade civil por danos
nucleares independe da existência de culpa”. A Lei nº 6.453/1977, em seu art. 8º,
apresenta uma exceção, quando preceitua: “O operador não responde pela
reparação do dano resultante de acidente nuclear causado diretamente por conflito
armado, hostilidades, guerra civil, insurreição ou excepcional fato da natureza”.
Concluímos dizendo que, além da teoria do risco, a responsabilidade
objetiva tem hoje outros fundamentos que legitimam o dever de reparação do dano,
ou seja, consiste na responsabilização pelo resultado, e não pela causa.
AN02FREV001/REV 4.0
45
Podemos afirmar que, para os consumidores, foi uma importante conquista
em defesa de seus direitos. A importância da adoção da teoria do risco pelo nosso
direito está no fato de que os fornecedores ou prestadores de serviços passaram a
responder pelos danos causados, independentemente de agirem com culpa, tendo
responsabilidade direta por seus produtos ou serviços, ainda mais quando a
atividade desenvolvida por eles implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.
2.4 EXCLUDENTES
AN02FREV001/REV 4.0
46
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim
de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando
as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os
limites do indispensável para a remoção do perigo.
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Como podemos verificar os três casos acima são considerados como
excludente de ilicitude. Mas e quanto ao dever de indenizar, nos casos de legítima
defesa e estado de necessidade, também fica excluído? Não. Basta uma leitura
atenta aos arts. 929 e 930 do Código Civil para confirmar que preserva o dever de
indenizar, senão vejamos:
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48
Fato de terceiro – ocorre quando o dano é ocasionado não em razão da
conduta do agente ou da vítima, mas da conduta de um terceiro, isentando o agente
da responsabilidade. O terceiro pode ser qualquer pessoa que não seja o agente ou
a vítima e não pode ter nenhuma ligação com ambos. Claro que nem todo fato de
terceiro é suficiente para excluir a responsabilidade do agente, nem a obrigação de
indenizar, mas permite a ação de regresso em face do terceiro.
O fato de terceiro só irá exonerar o dever de indenizar quando realmente
constituir causa estranha ao causador aparente do dano, ou seja, quando ocorrer a
eliminação total da relação de causalidade entre o dano e o desempenho do agente.
No caso de culpa concorrente do terceiro e do agente causador direto do
dano, passa a existir a solidariedade quanto à responsabilidade, podendo a vítima
acionar qualquer um deles pela totalidade do prejuízo, como se depreende do art.
942 e seu parágrafo único do Código Civil vigente.
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49
impedir os seus efeitos. O terceiro é a imprevisibilidade, onde o fato deve ser
imprevisível para o agente.
Existe ainda uma teoria que divide o caso fortuito em interno e externo,
ligada à ideia de atividade do agente. Será interno o fato imprevisível e inevitável
ligado à organização da atividade do agente. Será externo o fato imprevisível e
inevitável, porém estranho à organização do agente. Somente o externo pode eximir
a responsabilidade.
Além das excludentes apresentadas acima, ainda temos como forma de
defesa do agente a cláusula de não indenizar, no campo contratual, e a prescrição.
Cláusula de não indenizar – não se pode considerar como uma causa legal
de exclusão da responsabilidade, uma vez que é uma estipulação prévia pela qual
os contratantes, de comum acordo, afastam a aplicação de uma norma legal. Ela
não exclui o cumprimento da obrigação, e sim a sanção pelo descumprimento. Na
realidade, esta cláusula só pode ser utilizada nas obrigações contratuais.
Ela não é aceita de bom grado pelo nosso direito, sendo exceção à regra,
buscando-se saber se é possível sua admissibilidade. Pode-se afirmar que ela não
será aceita quando o seu conteúdo destina-se a exonerar o devedor da
responsabilidade que ele incorreria no caso de dolo ou culpa grave, como também
não é admissível quando se tratar de violação a interesse de ordem pública.
Como o contrato faz lei entre as partes, a presente cláusula só terá efeito
nestes casos, excetuando o afirmado no parágrafo anterior. A não aceitação ocorre
principalmente quando se tratar de partes hipossuficientes ou vulneráveis, como se
pode verificar no estabelecido no art. 424 do nosso Código Civil: “Nos contratos de
adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a
direito resultante da natureza do negócio”.
Quanto aos contratos de transportes, o Código Civil, em seu art. 734,
estipula a nulidade da cláusula de não indenizar – “O transportador responde pelos
danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força
maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade”. O Código de
Defesa do Consumidor (Lei 8.078/80) e o Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei
7.565/86) também abominam a cláusula de não indenizar.
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Prescrição - é a extinção da ação pela inércia continuada de seu titular,
durante certo lapso de tempo fixado pela lei. Esse prazo está configurado no Código
Civil, art. 206: “Prescreve o § 3º – em três anos – inciso V – a pretensão de
reparação civil”. A prescrição está afeta à possibilidade de se propor a devida ação
no intuito de requerer a reparação do direito violado.
No nosso caso, a reparação pelo dano causado. Se a vítima não propõe a
referida ação no prazo estipulado na lei, perde o direito de fazê-lo, motivo pelo qual
está sendo a prescrição colocada como forma de defesa do agente, pois este pode
alegar que o pedido feito pelo lesado está prescrito. Como a responsabilidade civil
perpassa as causas de reparação civil, atingindo as relações de consumo,
contratuais e outras, necessário se faz a observância do prazo para cada um dos
casos.
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FIM DO MÓDULO II
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DIREITO CIVIL –
RESPONSABILIDADE CIVIL
MÓDULO III
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MÓDULO III
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necessidade de provar a culpa do inadimplente para se obter a reparação das
perdas e danos, basta a existência do inadimplemento, conforme preceitua o artigo
389. “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos...”.
Chamamos a atenção para o fato de se estar discutindo aqui a possibilidade
de responsabilidade civil pelo inadimplemento da obrigação uma vez que a simples
cobrança da multa e correção monetária faz parte da obrigação de cumprir o
contratado em data certa, mesmo que a dívida seja gerada por ato ilícito, conforme
determina a Súmula do STJ nº 43: “Incide correção monetária sobre dívida por ato
ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.”
O ônus da prova é do devedor, que deverá mostrar a inexistência da
obrigação, ou indicar a existência de qualquer excludente do dever de indenizar,
sendo as mais comuns o caso fortuito e a força maior, conforme preconiza o artigo
393:
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56
O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora
essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes
ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o
dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente
desempenhada.
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A ruptura desta boa-fé nos leva à ilicitude contratual e, por conseguinte, ao
dever de reparar o prejuízo causado, ensejando os eventuais danos ocasionados.
Concluindo este assunto, podemos dizer que a responsabilidade subjetiva já não
estava satisfazendo a necessidade hodierna quanto à aplicação da tutela
jurisdicional, pois havia casos em que o ofendido não tinha como provar a conduta
ilícita do ofensor, como nos casos dos acidentes de trabalho, onde o empregado
dificilmente comprovava a negligência do patrão, quer pela falta de provas
documentais quer pela falta de testemunhas. Desta forma, a responsabilidade
subjetiva fica adstrita à responsabilidade contratual.
Hoje, e de acordo com o direito civil vigente, vemos que a tendência é a da
adoção da responsabilidade objetiva como regra, mesmo em alguns casos da
responsabilidade contratual como no Código de Direito do Consumidor.
Vejamos o que diz o artigo 927 e seu parágrafo único:
Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, é obrigado
a repará-lo.
Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
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A segunda, a responsabilidade extracontratual conhecida, também, como
aquiliana, advém do inadimplemento normativo, que é a prática de um ato ilícito por
pessoa capaz ou incapaz, ou da violação de um dever que esteja fundamentado em
um princípio geral do direito, conforme artigo 186: “Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Basta a violação da lei ou de um princípio geral do direito para ensejar o
dever de indenizar, haja vista que não existe vínculo anterior entre as partes
(ofensor e ofendido) e inexiste relação obrigacional. Neste caso cabe ao ofendido
(vítima) provar a culpa do ofensor (agente).
Necessário se faz para que alguém tenha o dever de indenizar ao outro,
alguns pressupostos se tornam necessários, como: ação ou omissão do agente
quanto ao ato ilícito; relação de causalidade entre a ação do ofensor e dano causado
por ele; existência de dano, quer seja moral ou material, pois tem que ocorrer um
prejuízo para que haja o dever de indenizar; e por fim o dolo ou culpa do ofensor.
A responsabilidade extracontratual tem como princípio a culpa, desta forma
o ofendido terá que provar que o ofensor agiu com imprudência ou negligência (a
imperícia está implícita). Lembramos que, embora um tanto controvertido o assunto,
temos a responsabilidade com base no risco, que não exige a culpa, que atinge a
tutela coletiva dos prejudicados e a prevenção de danos ao meio social. É a nova
tendência social, ligada aos direitos individuais homogêneos, coletivos e difusos.
Ocorrendo juros moratórios em face da obrigação extracontratual temos o
consignado na Súmula do STJ de nº 54: “Os juros moratórios fluem a partir do
evento danoso em caso de responsabilidade extracontratual”.
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estudado artigo 186, tratando-se da Teoria da Culpa. A segunda, no artigo 927,
tratando-se da Teoria do Risco.
Como no Módulo II já fizemos o estudo destas duas teorias, cabe aqui
trazermos algumas considerações importantes. Não é mais a culpa e sim o fato o
elemento mais importante para que emirja o dever de reparar o dano causado.
Assim, uma atividade lícita, porém potencialmente perigosa, que cause dano, poderá
resultar em responsabilidade do agente, mesmo que tenha agido sem culpa. Tal fato
nos leva a crer numa evolução dos conceitos de responsabilidade civil.
Anteriormente alegamos a existência de controvérsia na responsabilidade
baseada no risco, uma vez quanto a empresas não resta dúvida, pois elas se
constituem e assumem o risco de seu negócio. A tarefa maior é saber se existe ou
não o risco quanto a profissionais liberais, como o caso do médico, dentista,
advogado entre outros, já que sua profissão é de risco e muitas vezes independe da
vontade do profissional o resultado, como determinar se é ou não devida a
indenização.
E não é só isso, ainda temos o caso dos motoristas que guiam seus
automóveis todos os dias. Não será uma atividade de risco? Sabemos que ele não
sai em seu veículo tendo o intuito de atropelar alguém ou participar de um acidente,
mas e se atropelar um transeunte? Será obrigado a indenizar sem a comprovação
de sua culpa? Ou seja, a expressão “atividade de risco” está aberta a qualquer
possibilidade e interpretação.
Voltando ao parágrafo único do artigo 927, encontramos “(...) ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem”. (grifo nosso). Precisamos buscar a melhor
interpretação para a palavra “normalmente”, o que o legislador quis dizer? Parece-
nos que está se referindo àqueles que exercem atividades com regularidade,
podendo ser nocivas ou danosas aos direitos de terceiros e desta atividade tenham
proveito, geralmente de natureza econômica. Somente a elas seria consignada a
atividade de risco, ensejando a responsabilidade objetiva.
Parece-nos que aos outros, como os profissionais e o motorista citados
acima, necessário se faz a apuração de sua culpa para ensejar a indenização. Cabe
ressaltar que os princípios que influenciam a responsabilidade objetiva são a boa-fé
e a equidade, buscando uma tutela jurisdicional mais justa. Desta forma, a
AN02FREV001/REV 4.0
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responsabilidade objetiva busca suporte na teoria do risco, que se orienta nos
princípios e valores sociais, como a boa-fé e a equidade, haja vista o preceituado na
Constituição Federal de 1988 quanto à proteção à dignidade da pessoa humana (art.
1º, III), que se tornou fundamento do Estado Democrático de Direito.
Baseado neste princípio – boa-fé e equidade – para alguns doutrinadores o
parágrafo único do artigo 927 do CC na realidade estabeleceu a teoria do risco
criado, uma vez que deixou em aberto sua interpretação, ou seja, a obrigação de
indenizar ainda que a conduta não seja culposa.
Desta forma, a responsabilidade irá incidir em todos os casos que a
atividade normalmente desenvolvida implicar, por sua natureza, em risco para o
direito de outrem, porém será necessária a presença dos demais requisitos – a
ação, nexo de causalidade e dano.
1 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Malheiros, 1997.
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61
Desta forma, podemos concluir que a responsabilidade civil indireta
proporciona mais uma garantia à vítima, uma vez que se o causador do dano não
puder arcar com sua responsabilidade buscasse outros responsáveis que, por lei,
têm a obrigação de vigiar a conduta do agente, conforme vemos nos artigos abaixo:
O Código Civil, nos artigos seguintes, nos mostra as exceções a este dever
de indenizar:
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por
ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de
meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser
equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas
que dele dependem.
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do
art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização
do prejuízo que sofreram.
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Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de
terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a
importância que tiver ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de
quem se causou o dano (art. 188, inciso I).
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os
empresários individuais e as empresas respondem independentemente de
culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.
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lançadas coisas de seu apartamento. Diz o artigo: “Aquele que habitar prédio, ou
parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem
lançadas em lugar indevido.”
A princípio o condomínio, na pessoa do síndico, é o responsável pela
reparação do dano, dado a ele o direito de ação regressiva contra o morador, a não
ser quando fica evidente quem foi o autor do lançamento. Desta forma, o morador
não pode colocar nada no peitoril das janelas, pois corre o risco delas caírem e
ocasionar danos, da mesma forma que não deve lançar nada pelas suas janelas,
inclusive pontas de cigarro, como é comum se verificar, pois pode ocasionar
incêndio nos andares abaixo.
Já os artigos protegem contra danos ocasionados pela cobrança indevida de
uma dívida antes de seu vencimento, ou já paga:
Art. 939. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora
dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que
faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora
estipulados, e a pagar as custas em dobro.
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte,
sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará
obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver
cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver
prescrição.
Art. 941. As penas previstas nos arts. 939 e 940 não se aplicarão quando o
autor desistir da ação antes de contestada a lide, salvo ao réu o direito de
haver indenização por algum prejuízo que prove ter sofrido.
AN02FREV001/REV 4.0
64
tenha cometido o dano, porém outras concorreram para que ele ocorresse. Desta
forma, todas serão civilmente responsáveis.
A responsabilidade solidária (indireta) está contida na legislação, mas temos
ainda a chamada responsabilidade subsidiária, que não está expressamente
prevista em lei, mas sim na jurisprudência. Ela ocorre nos casos em que embora a
vítima possa exigir de um dos coobrigados a prestação inteira, ela não terá a
liberdade de escolha, devendo obedecer a uma ordem de preferência.
Primeiramente ingressará contra um ou uns coobrigados e caso não tenha êxito
postulará com os demais. Daí ser subsidiária, pois só poderá ser proposta depois de
exauridas as forças dos patrimônios dos responsáveis principais.
Corroborando com o exposto vejamos os artigos abaixo:
Outra situação de dúvida está contida no artigo 944 e seu parágrafo único:
AN02FREV001/REV 4.0
65
partes. A primeira referente ao dano extrapatrimonial (moral) e a segunda quanto ao
dano patrimonial (financeiro).
Como já foi estudado, o dano moral possui uma natureza dúplice, pois tanto
serve para compensar financeiramente o prejuízo psíquico da vítima, quanto
provocar uma sanção, através de um ônus financeiro, ao ofensor, para que ele não
volte a prejudicar outras pessoas.
O problema maior será a tarefa de medir a extensão do dano e o valor a
condenatória a ser atribuído. Como se vê no parágrafo único, deve-se levar em
consideração a gravidade da culpa e do dano. Quanto ao primeiro – gravidade da
culpa – será menos difícil determinar, o problema maior será quanto ao dano
ocasionado.
Quanto ao prejuízo psíquico da vítima, como se pode medir este dano? O
que se pode avaliar sobre o valor moral? O que é moral para um pode não ser para
outro. E a dor, como mensurá-la? Diferentemente da sanção, que será bem mais
fácil verificar o quanto deve ser o ônus para que o ofensor não mais aja da maneira
como agiu. Dependendo da condição financeira do autor da ação e sua culpa,
haverá uma forma de ser atribuído um valor que o faça sentir-se punido pelo que
ocasionou.
E quanto ao segundo, o dano material, como deverá ser o procedimento do
juiz? Será que podemos aplicar o presente artigo e seu parágrafo único? A meu ver
não, haja vista que o dano material pode ser mensurado sem maiores problemas,
pois temos como saber o que efetivamente ele perdeu (danos emergentes) com a
ação e o que efetivamente deixou de ganhar (lucros cessantes).
Lembramos que no caso do dano moral o juiz deverá verificar o grau de
culpa do agente no momento de arbitrar o valor indenizatório, principalmente no
tocante ao fator punição. No caso do dano material, menos que a culpa seja
levíssima, o juiz não poderá condenar a um valor inferior ao que realmente vale o
que foi destruído ou inutilizável. Por exemplo: uma pessoa se aproxima de uma
estátua de arte e tropeça vindo a derrubá-la e quebrá-la.
Em uma proposta de reparação do dano promovida pelo proprietário da
estátua, o valor a ser pedido na condenação será o valor real do objeto de arte.
Mesmo sabendo o juiz que o autor tropeçou sem querer, não poderá determinar
valor diferente do que cabe ao objeto.
AN02FREV001/REV 4.0
66
Como já vimos, a função primordial da responsabilidade civil é a completa
satisfação da vítima, procurando-se fazer com que esta retorne ao “status quo” ao
evento danoso, ou seja, como se ele nunca tivesse ocorrido. Desta forma, quando
for impossível a reparação direta será compensado o prejudicado com uma
reparação indireta, ou seja, através de uma indenização monetária correspondente
ao dano sofrido.
Diante do exposto acima, não podemos esquecer que pode ocorrer o
requerimento de indenização pelo dano material e pelo dano moral em uma mesma
ação, como preceitua a Súmula 37 do STJ: “São cumuláveis as indenizações por
dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.”
De acordo com o raciocínio elaborado acima, teríamos a aplicação da
indenização pura e simples para o dano material e que a possibilidade de se
empregar o artigo 944 e seu parágrafo único para o dano moral. Concluindo a
discussão, trago algumas súmulas que nos ajudam a entender melhor a aplicação
da responsabilidade civil nestes casos.
Ementa
AN02FREV001/REV 4.0
67
RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE DE SIMPLES CORTESIA (OU
BENÉVOLO). DOLO OU CULPA GRAVE. QUEM OFERECE TRANSPORTE POR
SIMPLES CORTESIA SOMENTE RESPONDE PELOS DANOS CAUSADOS AO
PASSAGEIRO EM CASO DE DOLO OU CULPA GRAVE. JURISPRUDÊNCIA DO
STJ. ART. 1057 DO CC. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
Acórdão
POR UNANIMIDADE, CONHECER DO RECURSO E DAR-LHE PROVIMENTO.
Resumo Estruturado
IMPOSSIBILIDADE, INDENIZAÇÃO, RESPONSABILIDADE CIVIL, DECORRÊNCIA,
DANO, PASSAGEIRO, TRANSPORTE GRATUITO, INEXISTÊNCIA, DOLO, CULPA
GRAVE, MOTORISTA.
AN02FREV001/REV 4.0
68
Ementa
DANO MORAL. LEI DE IMPRENSA. LEGITIMIDADE PASSIVA. PRECEDENTE DA
CORTE.
1. Na linha de precedente da Corte, a regra do art. 49, § 2º, da Lei de Imprensa não
comporta interpretação que exclua a legitimidade passiva daquele que, diretamente,
usou as expressões apontadas como violadoras do direito fundamental do autor.
Identificado o autor da ofensa à honra, pode o ofendido acioná-lo diretamente, não
colhendo fruto a alegada ilegitimidade passiva.
2. Recurso especial não conhecido.
Acórdão
Por unanimidade, não conhecer do recurso especial.
Resumo Estruturado
LEGITIMIDADE PASSIVA, AÇÃO DE INDENIZAÇÃO, DANO MORAL, AUTOR,
ARTIGO, PUBLICAÇÃO, JORNAL, OFENSA, HONRA, TERCEIRO,
INDEPENDÊNCIA, RESPONSABILIDADE, EMPRESA JORNALÍSTICA, AUSÊNCIA,
VIOLAÇÃO, LEI DE IMPRENSA.
Quanto à emissão de cheques e sua apresentação, o STJ também já
pacificou conforme vemos a seguir: Súmula 370 - Caracteriza dano moral a
apresentação antecipada de cheque pré-datado. Há algum tempo o comércio, para
incrementar suas vendas, passou a aceitar o chamado cheque pré-datado, figura
inexistente em nosso sistema jurídico, uma vez que o cheque é uma ordem de
pagamento à vista.
O emissor do cheque tem a responsabilidade de ter em depósito o valor
suficiente de fundos para suprir o pagamento na data aprazada, não antes e desta
forma se o credor apresenta o cheque antes da data poderá causar prejuízos para o
emissor, devendo repará-los.
Vejamos um dos Acórdãos que serviram de base para a presente Súmula:
AN02FREV001/REV 4.0
69
Data do Julgamento - 03/03/2005
Data da Publicação/Fonte - DJ 21/03/2005 p. 382 RDDP vol. 26 p. 194 RNDJ vol. 66
p. 102
Ementa
Civil. Recurso especial. Cheque pré-datado. Apresentação antes do prazo.
Compensação por danos morais.
- Não ataca o fundamento do acórdão o recurso especial que discute apenas a
natureza jurídica do título cambial emitido e desconsidera o posicionamento do
acórdão a respeito da existência de má-fé na conduta de um dos contratantes.
- A apresentação do cheque pré-datado antes do prazo estipulado gera o dever de
indenizar, presente, como no caso, a devolução do título por ausência de provisão
de fundos. Recurso especial não conhecido.
Acórdão
(...)
Resumo Estruturado
(ENTENDIMENTO DO ÓRGÃO JULGADOR). NÃO CONHECIMENTO, RECURSO
ESPECIAL, ALEGAÇÃO, VIOLAÇÃO, NATUREZA JURÍDICA, CHEQUE,
HIPOTESE, ACÓRDÃO RECORRIDO, FUNDAMENTAÇÃO, EXISTÊNCIA, MÁ-FÉ,
RECORRENTE, APRESENTAÇÃO, CHEQUE PRÉ-DATADO, ANTERIORIDADE,
DATA, PREVISÃO, CONTRATO VERBAL, DECORRÊNCIA, FALTA,
IMPUGNAÇÃO, INTEGRALIDADE, FUNDAMENTAÇÃO, ACÓRDÃO RECORRIDO.
(RESSALVA DE ENTENDIMENTO)
CABIMENTO, TOMADOR, CHEQUE, INDENIZAÇÃO, DANO MORAL, EMITENTE,
HIPÓTESE, BANCO, DEVOLUÇÃO, CHEQUE SEM FUNDOS, MOTIVO,
APRESENTAÇÃO, CHEQUE PRÉ-DATADO, ANTERIORIDADE, DATA,
PREVISÃO, CONTRATO VERBAL, EXISTÊNCIA, MÁ-FÉ, TOMADOR, VIOLAÇÃO,
RELAÇÃO DE CONFIANÇA, OCORRÊNCIA, PREJUÍZO, EMITENTE,
CARACTERIZAÇÃO, RESPONSABILIDADE CIVIL.
AN02FREV001/REV 4.0
70
que ser motivada, pois se devolvido sem qualquer razão poderá trazer danos ao
emissor do cheque, cabendo assim o pedido de indenização pelo dano moral que
lhe ocasionou a devolução.
Vejamos um dos Acórdãos que serviram de base para a presente Súmula:
Ementa
CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS.
EXTRAVIO E ROUBO DE TALONÁRIO DE CHEQUES PERTENCENTES AO
AUTOR. EMISSÃO DE UM CHEQUE DEVOLVIDO POR INSUFICIÊNCIA DE
FUNDOS. OCORRÊNCIA POSTERIOR DE INCLUSÃO EM ÓRGÃO DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. NEGLIGÊNCIA DO BANCO CARACTERIZADA.
FIXAÇÃO DO VALOR INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL.
1. Dissídio jurisprudencial comprovado, nos termos dos artigos 541, § único, do
CPC, e 255, § 2º, do Regimento Interno desta Corte.
2. No presente pleito, o Tribunal de origem – ao concluir pela conduta ilícita do
banco-recorrente, que, mesmo alertado do extravio/roubo de talonário, deixou de
anotar no verso do cheque, emitido por terceiro, o motivo correto da devolução,
acarretando, assim, a devolução do título por insuficiência de provisão, e a posterior
indevida inscrição do autor no SERASA – majorou o quantum indenizatório dos
danos morais, fixado na sentença em R$ 6.000,00, para valor equivalente a 100
(cem) salários mínimos.
3. Inobstante a comprovada ocorrência do dano, mas diante dos princípios de
moderação e de razoabilidade, o montante fixado pelo Tribunal mostra-se excessivo,
não se limitando à compensação dos prejuízos advindos do evento danoso. Assim,
para assegurar ao lesado justa reparação, sem incorrer em enriquecimento ilícito, e
AN02FREV001/REV 4.0
71
ajustando o valor indenizatório aos parâmetros adotados usualmente nesta Corte em
casos semelhantes, fixo a indenização na quantia certa de R$ 6.000,00 (seis mil
reais), restabelecendo-se, assim, o quantum fixado na sentença de primeiro grau.
4. Recurso conhecido e provido.
Acórdão (...)
AN02FREV001/REV 4.0
72
Data do Julgamento 10/12/2008
Data da Publicação/Fonte DJe 12/05/2009
Ementa
Direito processual civil e bancário. Recurso especial. Ação de compensação por
danos morais. Inscrição em cadastro de proteção ao crédito sem prévia notificação.
Dano moral reconhecido, salvo quando já existente inscrição desabonadora
regularmente realizada, tal como ocorre na hipótese dos autos.
I - Julgamento com efeitos do art. 543-C, § 7º, do CPC.
- Orientação: A ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição do seu
nome em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, § 2º do CDC, enseja
o direito à compensação por danos morais, salvo quando preexista inscrição
desabonadora regularmente realizada. Vencida a Min. Relatora quanto ao ponto.
II- Julgamento do recurso representativo.
- Não se conhece do recurso especial quando o entendimento firmado no acórdão
recorrido se ajusta ao posicionamento do STJ quanto ao tema. Súmula n.º 83/STJ.
Recurso especial não conhecido.
Acórdão
(...)
Informações Complementares
NECESSIDADE, FIXAÇÃO, LIMITE, EXTENSÃO, EFEITO JURÍDICO,
JULGAMENTO, RECURSO JUDICIAL, APENAS, PARA, MATÉRIA, PREVISÃO,
ÂMBITO, DECISÃO, INSTAURAÇÃO, INCIDENTE PROCESSUAL, RECURSO
REPETITIVO; HIPÓTESE, RECURSO REPRESENTATIVO, DISCUSSÃO, OUTRA,
MATÉRIA, SEM, PREVISÃO, ÂMBITO, DESPACHO; DECORRÊNCIA,
DIVERSIDADE, MATÉRIA, RECURSO ESPECIAL, NÃO, EXTENSÃO, EFEITO
JURÍDICO, PREVISÃO, CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, REFERÊNCIA,
RECURSO REPETITIVO. DESCABIMENTO, CONDENAÇÃO, ASSOCIAÇÃO DE
LOJISTAS, ESTADO, RIO GRANDE DO SUL, PAGAMENTO, INDENIZAÇÃO, POR,
DANO MORAL, PELA, INSCRIÇÃO, NOME, DEVEDOR, EM, CADASTRO DE
INADIMPLENTES, SEM, NOTIFICAÇÃO PRÉVIA; HIPÓTESE, EXISTÊNCIA,
ANTERIOR, REGISTRO, COM, NOME, DEVEDOR, ÂMBITO, CADASTRO;
AN02FREV001/REV 4.0
73
DECORRÊNCIA, DANO MORAL, CARACTERIZAÇÃO, PELA, IMPUTAÇÃO,
INADIMPLEMENTO, PARA, NÃO, DEVEDOR; EXISTÊNCIA, ANTERIOR,
REGISTRO, NOME, DEVEDOR, EM, CADASTRO DE INADIMPLENTES,
CARACTERIZAÇÃO, SITUAÇÃO FÁTICA, INADIMPLEMENTO; REALIZAÇÃO,
NOVO, REGISTRO, NÃO, CRIAÇÃO, MAIOR, SOFRIMENTO MENTAL, PARA,
DEVEDOR; NECESSIDADE, APENAS, CANCELAMENTO, INSCRIÇÃO;
APLICABILIDADE, PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA, PREVISÃO, ÂMBITO,
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR; OBSERVÂNCIA, JURISPRUDÊNCIA,
STJ.
(VOTO VENCIDO EM PARTE) (MIN. NANCY ANDRIGHI)
CABIMENTO, CONDENAÇÃO, ASSOCIAÇÃO DE LOJISTAS, ESTADO, RIO
GRANDE DO SUL, PAGAMENTO, INDENIZAÇÃO, POR, DANO MORAL, PELA,
INSCRIÇÃO, NOME, DEVEDOR, EM, CADASTRO DE INADIMPLENTES, SEM
NOTIFICAÇÃO PRÉVIA; INDEPENDÊNCIA, EXISTÊNCIA, ANTERIOR,
REGISTRO, COM, NOME, DEVEDOR, ÂMBITO, CADASTRO; DECORRÊNCIA,
ARTIGO, CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, EXIGÊNCIA,
COMUNICAÇÃO, ANTERIOR; SUFICIÊNCIA, INSCRIÇÃO, CADASTRO DE
INADIMPLENTES, PARA, CARACTERIZAÇÃO, OCORRÊNCIA, DANO MORAL;
IMPOSSIBILIDADE, EXIGÊNCIA, CONSUMIDOR, COMPROVAÇÃO,
ILEGALIDADE, ANTERIOR, REGISTRO, COMO, CONDIÇÃO, PARA, DEFESA,
ÂMBITO, PROCESSO JUDICIAL, DISCUSSÃO, OUTRO, REGISTRO;
OBSERVÂNCIA, ARTIGO, CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, PREVISÃO,
NECESSIDADE, FACILITAÇÃO, DEFESA, DIREITO, CONSUMIDOR; RESTRIÇÃO,
ABRANGÊNCIA, DISCUSSÃO, PROCESSO JUDICIAL, SOBRE,
IRREGULARIDADE, PRÓPRIA, INSCRIÇÃO, E, NÃO, SOBRE, ANOTAÇÃO,
ANTERIOR; OBSERVÂNCIA, INTENÇÃO, LEGISLAÇÃO, PROTEÇÃO,
CONSUMIDOR, E, AFASTAMENTO, REITERAÇÃO, OCORRÊNCIA, INSCRIÇÃO,
COM, ILEGALIDADE; NECESSIDADE, MAGISTRADO, CONSIDERAÇÃO,
ANTERIOR, REGISTRO, APENAS, MOMENTO, FIXAÇÃO, VALOR,
INDENIZAÇÃO, POR, DANO MORAL; CARACTERIZAÇÃO, INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA, E, DELITO, NATUREZA PENAL.
AN02FREV001/REV 4.0
74
Por fim temos a Súmula 387: É lícita a cumulação das indenizações de dano
estético e dano moral. Em diversas discussões doutrinárias verificamos a existência
de correntes que discutiam a acumulação de indenizações, respeitando as
determinadas pela legislação – dano emergente e lucros cessantes – ou no dano
moral – compensação financeira e sanção. O dano estético leva ao constrangimento
moral da vítima, ficando ela muitas das vezes impedida de continuar a se relacionar
socialmente. Neste caso acreditam alguns que a indenização pelo dano moral já
seria suficiente, enquanto outros queriam um plus devido ao dano estético. O STJ
pacificou permitindo a cumulação das indenizações.
Vejamos um dos Acórdãos que serviram de base para a presente Súmula:
Ementa
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE
AUTOMOBILÍSTICO. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 165, 458, II e 535, I e II, DO CPC.
INEXISTÊNCIA. CUMULAÇÃO DE DANO MORAL E DANO ESTÉTICO.
CABIMENTO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. VALOR MODERADO.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO. SÚMULA N. 7/STJ. CORREÇÃO MONETÁRIA.
TERMO INICIAL. EXCLUSÃO DO 13° SALÁRIO E FÉRIAS.
1. Inexiste violação dos arts. 165, 458, II e 535, I e II, do CPC quando o aresto
impugnado decide, de forma objetiva e fundamentada, as questões que delimitam a
controvérsia.
2. Aplicam-se os óbices previstos nas Súmulas n. 282 e 356/STF quando as
questões suscitadas no recurso especial não tenham sido debatidas no acórdão
recorrido nem, a respeito, tenham sido opostos embargos declaratórios.
3. É cabível a cumulação de danos morais com danos estéticos quando, ainda que
decorrentes do mesmo fato, são passíveis de identificação em separado.
AN02FREV001/REV 4.0
75
4. A ausência de prova de que a vítima possuía, ao tempo do acidente, vínculo
empregatício, constitui óbice à inclusão do décimo terceiro salário e da gratificação
de férias no montante da indenização.
5. O termo inicial da correção monetária da indenização por danos materiais é a data
da apuração do dano.
6. A revisão do valor da indenização por danos morais apresenta-se inviável em
sede de recurso especial quando arbitrado com moderação na instância ordinária, a
teor da Súmula n. 7/STJ.
7. Recurso especial conhecido em parte e provido.
Acórdão
(...)
Informações Complementares
POSSIBILIDADE, ACUMULAÇÃO, INDENIZAÇÃO, POR, DANO ESTÉTICO, COM,
INDENIZAÇÃO, POR, DANO MATERIAL, DECORRÊNCIA, REALIZAÇÃO,
CIRURGIA ESTÉTICA; HIPÓTESE, TRIBUNAL A QUO, CONDENAÇÃO,
SOCIEDADE EMPRESÁRIA, VIAÇÃO RODOVIÁRIA, PAGAMENTO,
INDENIZAÇÃO, POR, DANO MATERIAL, MORAL, E, DANO ESTÉTICO, PARA,
VÍTIMA, PASSAGEIRO, EM, ÔNIBUS, PELA, DEFORMIDADE PERMANENTE, EM,
DECORRÊNCIA, ACIDENTE DE TRÂNSITO, COM, ENTENDIMENTO,
IMPOSSIBILIDADE, CIRURGIA ESTÉTICA, PRODUÇÃO, DESAPARECIMENTO,
DANO, COM, INTEGRALIDADE; NÃO CARACTERIZAÇÃO, ACUMULAÇÃO,
INDENIZAÇÃO, DANO MATERIAL, REFERÊNCIA, DESPESA, COM, CIRURGIA,
COM, DANO ESTÉTICO, COMO, BIS IN IDEM; POSSIBILIDADE, FIXAÇÃO,
VALOR, INDENIZAÇÃO, EM, CARÁTER ESPECÍFICO, PARA, DANO ESTÉTICO.
IMPOSSIBILIDADE, STJ, REDUÇÃO, VALOR, INDENIZAÇÃO, POR, DANO
ESTÉTICO, E, MORAL; HIPÓTESE, TRIBUNAL A QUO, CONDENAÇÃO,
SOCIEDADE EMPRESÁRIA, VIAÇÃO RODOVIÁRIA, PAGAMENTO,
INDENIZAÇÃO, POR, DANO MATERIAL, MORAL, E, DANO ESTÉTICO, PARA,
VÍTIMA, PASSAGEIRO, EM, ÔNIBUS, PELA, DEFORMIDADE PERMANENTE, EM,
DECORRÊNCIA, ACIDENTE DE TRÂNSITO, E, FIXAÇÃO, INDENIZAÇÃO, COM,
OBSERVÂNCIA, PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE; POSSIBILIDADE,
ALTERAÇÃO, VALOR, INDENIZAÇÃO, APENAS, HIPÓTESE, EXCESSO, VALOR,
AN02FREV001/REV 4.0
76
OU, VALOR IRRISÓRIO, CONDENAÇÃO; NÃO OCORRÊNCIA,
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA, VÍTIMA; OCORRÊNCIA, MANUTENÇÃO,
PROPORCIONALIDADE, ENTRE, GRAVIDADE, DANO, E, GRAU DE CULPA, OU,
CONDIÇÃO ECONÔMICA, CAUSADOR DO DANO; OBSERVÂNCIA,
JURISPRUDÊNCIA, STJ.
AN02FREV001/REV 4.0
77
DIREITO CIVIL –
RESPONSABILIDADE CIVIL
MÓDULO IV
AN02FREV001/REV 4.0
79
MÓDULO IV
1 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Maleiros, 2009.
AN02FREV001/REV 4.0
80
Como podemos ver, o princípio da responsabilidade civil da Administração
Pública está contido neste preceito. O Brasil adota a teoria do risco administrativo –
teoria da responsabilidade objetiva – bastando evidenciar a existência da ação ou
omissão injusta, nexo causal e dano. Para se configurar o dever de indenizar,
porém, faz-se necessária a verificação da causa excludente de responsabilidade,
pois quando a Administração causar danos a alguém, exercendo sua função
institucional, não há o que se falar de dano a ser ressarcido.
Desta forma, exige-se a concorrência dos seguintes requisitos:
- Ocorrência do dano;
- Ação ou omissão administrativa;
- Existência de nexo causal entre o dano e a ação ou omissão
administrativa;
- Ausência de causa excludente da responsabilidade estatal.
O princípio da responsabilidade objetiva do Estado não é de caráter
absoluto, admitindo-se o abrandamento ou a exclusão da própria responsabilidade
civil do Estado, em hipóteses excepcionais como o caso fortuito e a força maior, ou
pela ocorrência de culpa atribuível à própria vítima.
Os danos indenizáveis são os materiais e os morais, e a Administração tem
direito de regresso contra o agente causador do dano, podendo ocorrer o regresso
mesmo com a aposentadoria ou exoneração do agente. Deve-se salientar que a
responsabilidade civil do Estado não se confunde com as responsabilidades
criminais e com as administrativas dos agentes públicos, pois são instâncias
independentes. A absolvição do servidor no juízo criminal não afastará a
responsabilidade civil do Estado.
Quanto à indenização do dano, ela deve abranger o que a vítima
efetivamente perdeu (dano emergente), o que deixou de ganhar (lucros cessantes) e
o que despendeu (honorários advocatícios) em consequência direta e imediata do
ato lesivo do poder público, acrescentando-se a correção monetária e juros de mora,
se houver atraso no pagamento. A obrigação se estende aos atos legislativos e
judiciários, sendo que este último é considerado o maior dano que o Estado pode
causar ao cidadão.
No direito privado, o dever de indenizar provém da prática de um ato ilícito,
enquanto no direito público é essencial a ocorrência de um dano que possa ser
AN02FREV001/REV 4.0
81
atribuído a um agente estatal, mesmo que venha a ser praticado na conformidade da
lei, mas que imponha ao cidadão a necessidade de suportar um sacrifício maior do
que o imposto a todo o restante da sociedade.
O Código Civil diz, em seu art. 43:
O Estado não age por si, ele é representado por agentes que respondem
pelas ações inerentes a ele. Desta forma, a legislação acertadamente utiliza o termo
agente para designar seus representantes, que podem ser servidores públicos
concursados, servidor contratado, funcionário de fato ou temporário.
Encontramos no CDC, em seu art. 14 c/c o 3º, a atribuição do Estado como
fornecedor de serviço público e a responsabilidade de indenizar caso haja a falta
destes serviços. O art. 22 do CDC dispõe que os Órgãos Públicos, diretamente ou
não, são obrigados a fornecer os serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto
aos essenciais, contínuos, sendo que a responsabilidade pelo fornecimento
inadequado ou ineficaz do serviço público será regida pelas regras deste código.
AN02FREV001/REV 4.0
82
em que ambas as partes (passageiro e transportador ou proprietário da mercadoria
e transportador) assumem obrigações.
Cabe ao transportador a obrigação de transportar pessoas ou mercadorias,
de um lugar para outro, e do passageiro e proprietário da mercadoria pagar o preço
ajustado pelo serviço prestado pelo transportador. A responsabilidade do
transportador pode ser contratual ou extracontratual, sendo que esta se configura
quando o causador do dano é um terceiro. Neste caso, permanece a obrigação de
indenizar do transportador, porém com direito de regresso (Ação Regressiva) contra
o causador do dano, conforme podemos depreender da Súmula 187 do STF: “A
responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com passageiro, não é
elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva”.
Os serviços prestados pelas empresas de ônibus, transportadora de
passageiros, são consideradas concessão do Estado – pessoa jurídica de direito
privado prestadora de serviços públicos. Desta forma, a obrigação de indenizar é
objetiva, independente da culpa do transportador, verificada a existência de
excludentes (caso fortuito ou força maior e culpa exclusiva da vítima), e garantido o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa ao causador do
dano.
Lembramos ainda que, com o advento do CDC, temos o preceituado no art.
14, que atribui ao fornecedor de serviços a responsabilidade objetiva, e em seu art.
17 equipara todas as vítimas dos eventos danosos a consumidores, não importando
se existe ou não relação contratual. Destacamos aqui a cláusula de incolumidade
(isenção de perigo ou danos, segurança). Esta cláusula está implícita e determina a
obrigação do transportador, que é de resultado esperado ou de finalização, e não de
meio, a garantir aos passageiros uma viagem boa e segura, não permitindo que
ocorra um fato estranho que possa causar dano aos passageiros.
Quanto às empresas de ônibus, cabe ressaltar que o contrato se inicia com
o início da viagem pelo passageiro, mesmo que o pagamento seja feito antes,
durante ou depois do percurso pretendido, e termina quando ele chega ao seu
destino final. Durante o percurso se caracteriza a responsabilidade civil do
transportador.
Basta para o direito de indenização que o passageiro prove que a
incolumidade não lhe foi assegurada, excetuando-se as cláusulas excludentes
AN02FREV001/REV 4.0
83
especificadas acima. No campo da responsabilidade civil do transportador, ainda
encontramos outro fator inerente ao transporte de passageiros, qual seja, o
transporte aparentemente gratuito e o puramente gratuito. Este último já foi estudado
por nós anteriormente.
Quanto ao transporte aparentemente gratuito, que é aquele oferecido por
empresas para atender seus funcionários ou levar o cliente a algum lugar, entre
outros, ocorrendo qualquer fato danoso para com o passageiro, a responsabilidade
será do transportador, ressalvadas as excludentes.
Quanto ao transporte de mercadorias (coisas), temos a recente Lei nº
11.442/2007, que dispõe sobre o transporte rodoviário de cargas por conta de
terceiros e mediante remuneração, revogando a Lei n o 6.813/1980. Nela
encontramos:
AN02FREV001/REV 4.0
84
Parágrafo único. A responsabilidade do transportador cessa quando do
recebimento da carga pelo destinatário, sem protestos ou ressalvas.
Art. 12. Os transportadores e seus subcontratados somente serão liberados
de sua responsabilidade em razão de:
I - ato ou fato imputável ao expedidor ou ao destinatário da carga;
II - inadequação da embalagem, quando imputável ao expedidor da carga;
III - vício próprio ou oculto da carga;
IV - manuseio, embarque, estiva ou descarga executados diretamente pelo
expedidor, destinatário ou consignatário da carga ou, ainda, pelos seus
agentes ou prepostos;
V - força maior ou caso fortuito;
VI - contratação de seguro pelo contratante do serviço de transporte, na
forma do inciso I do art. 13 desta Lei.
Parágrafo único. Não obstante as excludentes de responsabilidades
previstas neste artigo, o transportador e seus subcontratados serão
responsáveis pela agravação das perdas ou danos a que derem causa.
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85
Art. 15. Quando não definida no contrato ou conhecimento de transporte, a
responsabilidade por prejuízos resultantes de atraso na entrega é limitada
ao valor do frete.
Art. 16. Os operadores de terminais, armazéns e quaisquer outros que
realizem operações de transbordo são responsáveis, perante o
transportador que emitiu o conhecimento de transporte, pelas perdas e
danos causados às mercadorias no momento da realização das referidas
operações, inclusive de depósito.
Art. 17. O expedidor, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei,
indenizará o transportador pelas perdas, danos ou avarias:
I - resultantes de inveracidade na declaração de carga ou de inadequação
dos elementos que lhe compete fornecer para a emissão do conhecimento
de transporte, sem que tal dever de indenizar exima ou atenue a
responsabilidade do transportador, nos termos previstos nesta Lei; e
II - quando configurado o disposto nos incisos I, II e IV do caput do art. 12
desta Lei.
Em suma, vemos que a nova lei ratificou o que já dispunha o Código Civil e
a jurisprudência, desta forma o transportador responde pela carga desde do
momento que a recebe até a entrega definitiva no destino especificado. Quanto ao
transporte ferroviário, ainda é regido pelo Decreto nº 2.681/1912, que regula a
responsabilidade civil das estradas de ferro, promulgada como decreto na parte do
Poder Legislativo. Nele, já encontrávamos diversos artigos inerentes à
responsabilidade civil, dos quais destacamos alguns:
AN02FREV001/REV 4.0
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4ª - que a perda ou avaria foi devida ao mau acondicionamento da
mercadoria ou a ter sido entregue para transportar sem estar encaixotada,
enfardada ou protegida por qualquer outra espécie de envoltório;
5ª - que foi devido a ter sido transportada em vagões descobertos, em
consequência de ajuste ou expressa determinação do regulamento;
6ª - que o carregamento e descarregamento foram feitos pelo remetente ou
pelo destinatário ou pelos seus agentes e disto proveio a perda ou avaria;
7ª - que a mercadoria foi transportada em vagão ou plataforma
especialmente fretada pelo remetente, sob a sua custódia e vigilância, e que
a perda ou avaria foi consequência do risco que essa vigilância devia
remover.
Art. 2º - Se nos casos dos n/s 2, 3, 4, 5, 6 e 7 do artigo anterior concorrer a
culpa da estrada de ferro com a do remetente ou destinatário, será
proporcionalmente dividida a responsabilidade.
Art. 3º - A responsabilidade começará ao ser recebida a mercadoria na
estação pelos empregados da estrada de fero, antes mesmo do despacho,
e terminará ao ser efetivamente entregue ao destinatário.
Art. 6º - A indenização pelas estradas de ferro, nos casos de perda ou furto,
será equivalente ao preço corrente da mercadoria no tempo e no lugar em
que devia ter sido entregue; no caso de avaria, será proporcional à
depreciação por ela sofrida. Deverão ser deduzidas as despesas que
deixaram de ser feitas pelo fato da perda da mercadoria. Excetua-se o caso
de dolo, em que a estrada responderá por todos os prejuízos que tenham
diretamente ocorrido.
Parágrafo único. Se na declaração o remetente diminuir com culpa ou dolo o
valor da mercadoria, será o valor declarado a base da indenização.
Art. 7º - Nos casos de atraso da entrega das mercadorias, a estrada de ferro
perderá, em favor do proprietário da mercadoria, uma parte do preço do
transporte, proporcional ao tempo de atraso. Se pelo particular for provado
que a demora causou-lhe um dano maior, por ele responderá a estrada de
ferro, até a importância máxima correspondente ao valor da mercadoria.
Serão excetuados os casos de força maior e culpa do remetente ou
destinatário. No caso de dolo por parte dos agentes ou empregados da
estrada de ferro, este responderá por todo o prejuízo causado.
Art. 11 – A perda ou avaria das bagagens não despachadas que
acompanham os passageiros e ficam sob a sua guarda não dará lugar à
indenização, salvo se provar culpa ou dolo por parte dos agentes ou
empregados da estrada de ferro.
Art. 12 – A cláusula da não garantia das mercadorias, bem como a prévia
determinação do máximo de indenização a pagar, nos casos de perda ou
AN02FREV001/REV 4.0
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avaria, não poderão ser estabelecidas pelas estradas de ferro senão de modo
facultativo e correspondendo a uma diminuição de tarifa. Serão nulas
quaisquer outras cláusulas, diminuindo a responsabilidade das estradas de
ferro estabelecida na presente lei.
Art. 14 – Quando mais de uma estrada de ferro tiver concorrido para o
transporte de uma mercadoria, a ação de indenização por perda, furto ou
avaria, terá lugar contra a estrada que aceitou a expedição, ou contra a que
entregou a mercadoria avariada, ou contra qualquer das estradas
intermediárias em cuja linha se provar que teve lugar a perda, furto ou avaria.
Art. 15 – No caso do artigo anterior, o direito reversivo das estradas de ferro,
umas em relação às outras, será regulado pelas seguintes disposições:
§ 1º - Será responsável da perda, furto ou avaria da mercadoria a estrada em
cuja linha se der o fato.
§ 2º - Se, porém, provar que foi culpa de outra, esta responderá pelas suas
consequências jurídicas.
§ 3º - Se concorrer a culpa de mais de uma, a responsabilidade será dividida
proporcionalmente ao grau da culpa, atentas as circunstâncias que
acompanharem o fato.
§ 4º - Se não puder provar qual a estrada em cuja linha se deu a perda ou
avaria, responderão todas, proporcionalmente ao preço do transporte que
cada uma percebeu ou teria o direito de perceber, dada a execução regular
do contrato.
§ 5º - No caso de insolvabilidade de alguma das estradas, o prejuízo que
desse fato possa resultar para a que pagou a indenização será repartido por
todas as que tiverem cooperado no transporte, guardada a mesma proporção
do parágrafo anterior.
Art. 17 – As estradas de ferro responderão pelos desastres que nas suas
linhas sucederem aos viajantes e de que resulte a morte, ferimento ou lesão
corpórea. A culpa será sempre presumida, só se admitindo em contrário
alguma das seguintes provas:
1ª - Caso fortuito ou força maior;
2ª - Culpa do viajante, não concorrendo culpa da estrada.
Art. 18 – Serão solidários entre si e com as estradas de ferro os agentes por
cuja culpa se der o acidente. Em relação a estes, terão as estradas direito
reversivo.
Art. 19 – Se o desastre acontecer nas linhas de uma estrada de ferro por
culpa de outra, haverá em relação a esta direito reversivo por parte da
primeira.
Art. 20 – No caso de ferimento, a indenização será equivalente às despesas
do tratamento e aos lucros cessantes durante ele.
AN02FREV001/REV 4.0
88
Art. 21 – No caso de lesão corpórea ou deformidade, à vista da natureza da
mesma e de outras circunstâncias, especialmente a invalidade para o
trabalho ou profissão habitual, além das despesas com o tratamento e os
lucros cessantes, deverá pelo juiz ser arbitrada uma indenização conveniente.
Art. 22 – No caso de morte, a estrada de ferro responderá por todas as
despesas e indenizará, a arbítrio do juiz, todos aqueles aos quais a morte do
viajante privar de alimento, auxílio ou educação.
Art. 23 – No caso de desastre, a estrada de ferro também responderá pela
perda ou avaria das bagagens que os passageiros levarem consigo, embora
não despachadas.
Art. 26 – As estradas de ferro responderão por todos os danos que a
exploração das suas linhas causarem aos proprietários marginais.
Cessará, porém, a responsabilidade se o fato danoso for consequência direta
da infração, por parte do proprietário, de alguma disposição legal ou
regulamentar relativa a edificações, plantações, escavações, depósito de
materiais ou guarda de gado à beira das estradas de ferro.
AN02FREV001/REV 4.0
89
não se aplica aos casos de transporte aéreo, embora possa se configurar uma
relação de consumo.
A Convenção de Varsóvia dispõe sobre inúmeras situações de
responsabilidade do transportador aéreo, conforme arts. 17, 20, 21, 22, 23 e 25.
Uma leitura atenta destes dispositivos nos leva a entender que, para que a
responsabilidade do transportador se caracterize, basta que sobrevenha o acidente
e que a vítima se encontre a bordo da aeronave ou em operações de embarque e
desembarque. Em contrapartida, poderá eximir-se da responsabilidade, se provar
que foram tomadas todas as medidas necessárias para evitar o dano, ou que lhe foi
impossível fazê-lo.
Ela criou uma presunção de responsabilidade contra o transportador,
invertendo o ônus da prova. O transportador deverá demonstrar que tomou todas as
medidas necessárias para evitar o acidente. Chamamos a atenção para o fato de
que, pela Convenção, a responsabilidade do transportador aéreo é subjetiva. Uma
peculiaridade da responsabilidade do transportador aéreo é que a indenização é
limitada a um valor máximo, conforme seu art. 22, n. I. Esta limitação deixa de existir
e passa a ser fixada com base no Direito Comum, se houver dolo ou culpa grave por
parte do transportador, conforme art. 25, n. I da Convenção, mas neste caso o ônus
da prova caberá à vítima.
AN02FREV001/REV 4.0
90
clara transformação dos materiais utilizados, que após se conjugarem darão ensejo
à obra pronta.
Ensina-nos Meirelles (2009) que:
AN02FREV001/REV 4.0
91
responsabilidades quanto a terceiros. A sua obrigação é de resultado, devendo
responder pela segurança e perfeição da obra.
As determinações legais quanto à empreitada estão contidas no Código Civil
nos arts. 610 usque 626. Já no contrato por administração, temos que o construtor
se encarregará da execução de um projeto, recebendo pelo serviço uma
remuneração, que pode ser fixa ou proporcional ao valor da obra, correndo por conta
do dono da obra os encargos.
Necessário se faz aqui um parêntese para falarmos da obrigação ser de
meio ou de resultado. A primeira está afeta ao dever de desempenho, com
diligência, zelo e perícia em uma determinada atividade contratada, buscando
alcançar um resultado pretendido, porém não se obrigando quanto à ocorrência
deste resultado. Age-se na intenção de que ele aconteça. A segunda está afeta à
obrigação de se alcançar um fim específico. Desta forma, a obrigação do construtor
é de resultado.
Podemos afirmar quanto à responsabilidade civil do construtor que ela é
complexa, uma vez que têm de ser respeitadas as normas civis como também as
disposições éticas e administrativas decorrentes do exercício da Engenharia e da
Arquitetura. Desta forma, não fica somente adstrito ao dono da obra, mas também a
terceiros como os vizinhos da obra e a Administração Pública, atendendo aos
preceitos das normas de posturas do Município, ao Código de Obras, ao Código
Sanitário, e inclusive quanto ao licenciamento referente ao meio ambiente.
A responsabilidade do construtor pode ser contratual, quando desrespeita as
cláusulas do contrato culposamente, ensejando a reparação em consonância com o
Código Civil, conforme estudado. Pode ser extracontratual, quando se
responsabiliza pela solidez e segurança da obra. É o dever de não lesar terceiros.
O CDC, em seu art. 3º, define fornecedor como pessoa física ou jurídica que
desempenha determinadas atividades, dentre as quais a construção. Desta forma, o
diploma legal enquadrou a atividade de construção nas relações de consumo.
Podemos depreender que, a partir do advento do direito consumentista, as relações
jurídicas inerentes à empreitada passaram a ser regidas por este diploma legal,
sendo que o Código Civil deverá ser empregado subsidiariamente, desde que não
contrarie as normas editadas no CDC.
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92
Desta forma, é o artigo 12 do CDC que determina a responsabilidade civil do
construtor, a saber:
AN02FREV001/REV 4.0
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médico, venha, por causa deste tratamento, sofrer um prejuízo, quer de ordem
material (patrimonial), quer de ordem imaterial (moral e/ou estético), terá o direito à
reparação.
Para entendermos melhor a condição da relação do médico e paciente,
devemos entender se esta relação é subjetiva ou objetiva, se é contratual ou
extracontratual e, por fim, se é obrigação de meio ou de resultado. Consideramos a
atividade médica de responsabilidade subjetiva, tendo em vista o preceito do art. 186
do CC: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito”, e o CDC determina em no § 4º do art. 14: “A responsabilidade pessoal dos
profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa”.
Descartamos a possibilidade de a responsabilidade do médico ser objetiva,
mesmo quando se trata de cirurgião plástico em face de cirurgia estética, uma vez
que é uma obrigação de resultado. Havendo a presunção de culpa, deve o médico,
se for o caso, fazer prova em contrário, demonstrando que não agiu com
imprudência, negligência ou imperícia. Neste caso, há a inversão do ônus da prova.
Segundo Cavalieri (1997):
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94
A doutrina e jurisprudência brasileiras consideram a relação paciente-médico
como um contrato sui generis. Já vimos anteriormente que a obrigação de meio é
aquela em que o profissional contratado não tem comprometimento com um objetivo
específico ou determinado. Apenas se obriga a utilizar no seu cumprimento toda
diligência e prudência, de acordo com as técnicas usuais daquele momento. Já na
obrigação de resultado, há um compromisso do contratado com um resultado
específico ou determinado.
Nos casos de obrigações de meio, o ônus da prova cabe a quem acusa,
enquanto nas de resultado, devido à presunção de culpa, ocorre a inversão do ônus
da prova, passando ao acusado o dever de provar que é inverdade o alegado pela
vítima. Quanto à responsabilidade do médico, podemos afirmar que ela é de meio,
cabendo a ele agir com diligência e prudência, isto é, deve atuar dentro da melhor
técnica compatível com o local e tempo do atendimento médico que realizar.
É claro e evidente que a cura não pode ser o objetivo maior ou final, haja
vista a imprevisibilidade do organismo humano. Resta apenas um porém,
relacionado à cirurgia plástica estética, que para a doutrina e jurisprudência é
considerada como de resultado, diferentemente da cirurgia plástica reparadora, que
se caracteriza como uma obrigação de meio.
Os hospitais, clínicas e estabelecimentos de saúde em geral respondem
solidariamente pelos danos causados por erro médico de seus empregados e
prepostos aos pacientes que atenderem. Desta forma, respondem solidariamente o
estabelecimento e o profissional, excetuando-se os casos em que o médico e/ou sua
equipe se utilizem apenas da estrutura do estabelecimento, desonerando este da
responsabilidade.
Vale salientar que os planos de saúde vêm sendo responsabilizados pelos
erros médicos praticados por sua rede conveniada, haja vista o dever de assegurar
a qualidade dos serviços por estes prestados, excetuando-se os casos em que
apenas exista o reembolso, parcial ou total, das despesas.
Quanto à responsabilidade civil dos dentistas, ela praticamente tem os
mesmos aspectos e fundamentos da responsabilidade civil do médico, apenas muda
em um fator: o da obrigação de resultado. Diferentemente dos casos médicos, o
dentista tem por obrigação atingir o resultado, haja vista que os tratamentos
dentários são mais regulares e específicos, sendo de menor complexidade. Exige do
AN02FREV001/REV 4.0
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profissional uma técnica específica, mas permite a obtenção do resultado esperado.
Desta forma, se ocorre erro, ele responderá pelos danos que ocasionar.
Quanto aos advogados, temos que dentre as profissões existentes,
regulamentadas ou não, a do advogado é a única que tem respaldo constitucional,
conforme art. 133: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo
inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da
lei”. Desta forma espera-se que ele atue com competência, ética e zelo. Afirma-se
que a função do advogado é de munus público (o que procede de autoridade pública
ou da lei, e obriga o indivíduo a certos encargos em benefício da coletividade ou da
ordem social).
Os advogados, além de estarem sujeitos, atualmente, ao CDC, em função
da sua prestação de serviços, sujeitam-se ao Estatuto da Advocacia e da Ordem dos
Advogados do Brasil. Sua conduta profissional pode gerar responsabilidade civil
pelos danos que causarem a seus clientes. A responsabilidade civil do advogado é
contratual, haja vista a necessidade de um mandato para defender os interesses do
cliente.
Mesmo que não se tenha um contrato assinado, o mandato servirá de elo
entre o profissional e seu cliente. Assim, a culpa será presumida, cabendo ao autor
demonstrar apenas o descumprimento contratual, cabendo ao advogado o ônus de
provar que não agiu com culpa, ou que ocorreu alguma causa excludente do próprio
nexo causal.
As obrigações principais do mandatário, oriundas do próprio contrato, são de
agir em nome do mandante com cautela e atenção, repassando-lhe as vantagens
que obtiver em seu nome e, no final de sua gestão, prestar contas dos atos
praticados. Com efeito, o advogado tem a obrigação de utilizar todos os meios de
defesa e os recursos previstos em lei que sejam cabíveis e convenientes aos
interesses do cliente.
Sua responsabilidade é subjetiva, derivada da culpa, sendo necessária a
existência de todos os elementos para dar ensejo à reparação. A obrigação é de
meio e não de resultado. O advogado se compromete a dedicar-se com afinco à
causa contratada, buscando alcançar sucesso na pretensão, mas sem se vincular
efetivamente ao resultado.
AN02FREV001/REV 4.0
96
O advogado poderá ser responsabilizado civilmente pelo erro de direito; pelo
erro de fato; pelas omissões de providências necessárias para ressalvar direitos do
seu constituinte; pela perda de prazo; pela desobediência às instruções do
constituinte; pelos pareceres que der contrários à lei, à jurisprudência e à doutrina;
pela omissão de conselho; pela violação de segredo profissional; pelo dano causado
a terceiro; pelo fato de não representar o constituinte, para evitar-lhe, durante os dez
dias seguintes à notificação de sua renúncia ao mandato judicial (CPC, art. 45); pela
circunstância de ter feito publicações desnecessárias sobre alegações forenses ou
relativas a causas pendentes; por ter servido de testemunha nos casos arrolados no
art. 7º, XIX, da Lei 8.906/94; por reter ou extraviar autos que se encontravam em seu
poder; pela violação ao disposto no art. 34, XV, XX, XXI, da Lei 8.906/94.
Quanto às demais profissões, podemos afirmar que, quando prestadoras de
serviço, estão afetas ao CDC, além de, em todos os casos, quando a profissão é
regulamentada e existindo um Conselho da Classe (OAB, CREA, CRC, CREFITO,
CRM, etc.), os profissionais também responderem por sua conduta ética.
AN02FREV001/REV 4.0
97
dos acessos, sobre os hábitos de navegação do usuário. Tal fato se torna
necessário para que ele possa prevenir a ocorrência de violação a direito de outrem.
Ocorre que existe uma impossibilidade de se efetivar este monitoramento,
favorecendo a não responsabilidade do provedor de acesso, e decorrendo daí a
compreensão da inexistência de responsabilidade para os provedores de acesso.
O provedor de acesso só responde civilmente pelos danos causados aos
seus usuários cadastrados em decorrência de descumprimento do contrato, sendo
ele responsabilizado pelos danos causados por sua conduta. Quanto aos
provedores de serviços na internet, podemos dizer que eles desempenham
atividades de múltiplas naturezas na web, como o provimento de serviços de correio
eletrônico (e-mail), de hospedagem de sítios (páginas eletrônicas) e de chaves de
busca.
Os provedores de serviço de correio eletrônico disponibilizam aos seus
usuários uma caixa postal para que possam enviar e receber mensagens (e-mails).
Os de hospedagem concedem os meios técnicos para a veiculação de página
eletrônica na web, podendo oferecer espaço para armazenamento dos arquivos que
as compõem. Os de chaves de busca operam um serviço de especial importância
para o desenvolvimento da internet, pois é através de suas páginas eletrônicas que
se tem a possibilidade de localizar a informação desejada.
Voltamos ao fato de se apurar a responsabilidade desses provedores quanto
à conduta de seus usuários. Nos serviços de correio eletrônico, o provedor não tem
condições de verificar o conteúdo de cada mensagem enviada sem que prejudique a
velocidade na comunicação eletrônica, inclusive nem poderia fazê-lo, tendo em vista
preceito constitucional de violação de sigilo de correspondência.
Nos serviços de hospedagem e chaves de busca, inexiste, ainda, tecnologia
que permita o monitoramento preventivo e eficiente sobre os sites produzidos e
hospedados, ou menos quanto às informações armazenadas em seus bancos de
dados. Acresce um outro fator, que é se os provedores têm condições de saber se a
página ou a hospedagem estão violando algum direito de outrem.
Continuamos na condição da impossibilidade técnica de controle preventivo
sobre a conduta dos usuários. Não resta dúvida, diante dos argumentos
apresentados, de que os provedores não podem ser responsabilizados pelos seus
usuários, e a pessoa lesionada deve buscar a indenização daquele que efetivamente
AN02FREV001/REV 4.0
98
lhe ofendeu. Os provedores podem, sempre que possível, ajudar a localizar o autor
do ato ilícito.
Devemos ressaltar que, nos casos em que o provedor for notificado judicial
ou extrajudicialmente, um ato ilícito está sendo realizado ou irá se realizar através de
seus serviços, tendo ele o dever de providenciar as medidas cabíveis para cessar o
ato evitando o dano, pois, se não o fizer, aí sim será corresponsável pelo ato ilícito,
passando a ter o dever de indenizar a vítima.
Por fim, temos os provedores de informações ou conteúdo, que podem ser
pessoas físicas ou jurídicas que disponibilizam informações na Internet através de
um site. Neste caso, podemos concluir que a inserção é voluntária e de um
determinado conteúdo a ser exibido no site, mas as informações contidas
pressupõe-se terem sido previamente analisadas.
Esta disponibilização de informações pode ser direta (próprios) ou indireta
(de terceiros). São conteúdos próprios quando a informação é gerada pelo próprio
provedor, ex: site de notícias. São informações de terceiros quando não são da
autoria do provedor. Ela sofre a análise prévia pelo provedor, e só deve ser
disponibilizada se atender às determinações legais.
Quanto à responsabilidade do provedor sobre o conteúdo das informações
contidas em seu próprio site, compara-se à dos meios de comunicação, respeitando
o disposto na Súmula 211 do STJ: “São civilmente responsáveis pelo ressarcimento
de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o
proprietário do veículo de divulgação”. Desta forma, o provedor irá responder
solidariamente pelo conteúdo ofensivo divulgado em sua página em conjunto com o
autor.
No caso dos chats (salas de bate papo) e dos fóruns de discussão,
disponibilizados pelo provedor para a troca de mensagens de forma síncrona ou
assíncrona, o conteúdo das mensagens é de responsabilidade direta do usuário.
AN02FREV001/REV 4.0
99
seria impossível descrever todas neste trabalho. A princípio todas as empresas,
públicas ou privadas, prestadoras de serviços públicos, terão o mesmo tratamento
que a Administração Pública.
Os profissionais de saúde assumem responsabilidade idêntica às dos
médicos. Os meios de comunicação, de conformidade com os provedores da
internet, lembrando que esta se equipara a um meio de comunicação. As
construtoras servem de base para a responsabilização dos empreiteiros,
incorporadores e dos profissionais ligados à área de construção. Os demais
profissionais são responsabilizados na forma do CDC. As empresas em geral ficam
responsabilizadas por seus atos baseados no Código Civil e no CDC, entre outras
modalidades e possibilidades.
Não gostaria de encerrar este Módulo antes de fazer uma pequena
apresentação da responsabilidade civil ambiental, que considero de suma
importância, pois o direito ao meio ambiente é um direito coletivo, ou seja, um direito
pertencente a todos e ao mesmo tempo a cada um, sendo que todos têm o direito de
viver em um meio ambiente ecologicamente equilibrado e com qualidade de vida
possível.
Iniciamos pela Carta Magna:
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100
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais à crueldade.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o
meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados,
por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas
naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
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101
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade
para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados
ao meio ambiente.
Por fim, temos a Lei dos Crimes Ambientais (nº 9.605/1998), que dispõe
sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Quanto à responsabilidade civil
ambiental, temos o citado § 1º do art. 14 da Lei 6.938/1981, que diz ser a
responsabilidade pelos danos ambientais objetiva, devendo indenizar independente
de culpa, ou seja, basta a existência da ação lesiva, do dano e do nexo com a fonte
poluidora ou degradante para atribuição do dever de reparar.
Igualmente, mesmo a conduta sendo lícita, ela é irrelevante se da atividade
resultar algum dano ao meio ambiente (teoria do risco da atividade ou da empresa).
No dano ambiental, a reparação pode se feita de modo que se tenha a condição
anterior ao dano do bem ambiental afetado e através da reparação pecuniária.
Mas lembramos que, muitas das vezes, a reparação pecuniária fica sem
valor, quando não se pode ter o status a quo do bem, como na extinção de uma
forma de vida, na contaminação de um lençol freático ou na devastação de uma
floresta. Em suma, o dano ambiental é de responsabilidade civil objetiva, na qual
AN02FREV001/REV 4.0
102
aquele que, através de sua atividade, cria um risco de dano para terceiro deve ser
obrigado a repará-lo, ainda que sua atividade e seu comportamento sejam isentos
de culpa.
Também é necessário que se responsabilize pelo dano ambiental, tanto para
que haja reparação do dano causado, como também no intuito de coibir a ação
desordenada do homem, pois uma vez causado o dano difícil será sua reparação.
FIM DO MÓDULO IV
AN02FREV001/REV 4.0
103
DIREITO CIVIL –
RESPONSABILIDADE CIVIL
MÓDULO V
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105
MÓDULO V
AN02FREV001/REV 4.0
106
Quem deve suportar o dano causado?
A partir daí, podemos verificar qual deve ser o valor da indenização,
utilizando três critérios:
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107
considerada uma exceção, devendo ser aplicada com cautela pelo magistrado, a fim
de não prejudicar a vítima.
Ainda no tocante à redução da indenização, encontramos o preceito do art.
945: “Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto
com a do autor do dano”. Este preceito, que trata da culpa concorrente, tem como
justificativa que o autor só irá responder pelo dano que causou.
O valor indenizatório no que tange aos danos materiais não nos traz
dificuldades em seu arbitramento, pois não será difícil quantificar seus valores
econômicos. Basta uma simples operação aritmética baseada na relação de causa e
efeito entre o prejuízo e o evento culposo. No Brasil, a doutrina e a jurisprudência,
aplicam o princípio da restitutio in integrum (restituição por inteiro, recuperação no
estado original da coisa), o que permite uma ampla e justa reparação.
O problema maior para se encontrar o valor indenizatório que seja real e
justo está nos casos dos danos extrapatrimoniais (dano moral), não havendo um
consenso na doutrina e jurisprudência, por não existir uma fórmula segura que
possa orientar o juiz a determinar a verdadeira extensão do dano.
Procura-se usar a analogia, com base nos arts. 4º e 5º da Lei de Introdução
ao Código Civil, para determinar alguns parâmetros ao arbitramento das
indenizações, partindo do Código Brasileiro de Telecomunicações, Lei nº 4.117/62,
arts. 81 a 88 (alguns suprimidos e derrogados pelo Decreto-Lei nº 236, de
28/02/1967); Código Eleitoral, Lei nº 4.737/65, art. 243; Lei de Imprensa, Lei nº
5.250/67, arts. 49 e 51 a 57; e Lei de Direitos Autorais, Lei nº 5.988/73, arts. 25 a 28
e 126, além dos artigos inerentes à indenização do Código Civil aqui estudados.
Ademais, o dano moral ocorre na esfera da subjetividade e alcança as
características mais íntimas da personalidade humana, ou da própria valoração da
pessoa no seu meio. A jurisprudência estabeleceu alguns critérios para os danos
morais: a extensão do dano; o grau de culpa do autor; a capacidade econômica do
autor e a capacidade econômica da vítima.
Quanto à extensão do dano e ao grau de culpa do autor, os critérios são os
mesmos estudados acima quanto ao dano patrimonial. Quanto à capacidade
econômica do autor e à capacidade econômica da vítima é que se encontra o
problema maior. A doutrina não tem aceitado a aplicação deste critério, haja vista
AN02FREV001/REV 4.0
108
que pode ocorrer uma redução do quantum em face de vedação do enriquecimento
sem causa.
Chegamos à dicotomia do sistema jurídico, que é a relação entre a natureza
e extensão do dano moral conjugada com a situação econômica do autor. O
arbitramento indenizatório deverá levar em consideração a posição social e cultural
do autor e da vítima, partindo-se do padrão normal e ético-social do homem médio.
Mas qual é o padrão normal e ético-social do homem médio?
É um assunto extremamente delicado, tendo em vista que vários fatores
podem influenciar na definição do homem médio, como por exemplo, sua posição
social, econômica, religiosa, precedentes familiares, entre tantos outros. Tal assunto
realmente nos leva a algumas indagações. Como podemos valorar o dano moral?
Qual é a importância e valor de cada pessoa? Poderemos afirmar que a dor de uma
pessoa é maior ou menor do que de outra? Será que a dor da perda de um ente
querido de uma família de classe econômica alta é diferente da dor da família de
classe economicamente menor? A importância de um pai pode ser diferente para as
famílias? Estas e muitas outras perguntas pairam no ar no momento em que
pensamos em dano moral.
Vejamos o acórdão do STJ abaixo:
Terceira Turma
INDENIZAÇÃO. MORTE. CONDIÇÃO ECONÔMICA. VÍTIMA. RÉU.
AN02FREV001/REV 4.0
109
951.777-DF, Rel. originário Min. Humberto Gomes de Barros, Rel. para
acórdão Min. Ari Pargendler, julgado em 19/6/2007.
Mas, se fosse ao contrário, a vítima rica e o autor uma pessoa pobre, como
se poderia quantificar o valor indenizatório? Apenas como exemplo, uma vez que
estamos aqui estudando o dano moral, mas o exemplo serve de base para o
alegado no parágrafo anterior. Eu era conciliador do Juizado Especial e recebi uma
ação de indenização por danos causados, o fato era o seguinte: um cidadão adquiriu
um veículo do ano, um FIAT, e colocou o que possuía, um automóvel mais antigo,
uma Brasília, para reformar. No dia em que o veículo ficou pronto, ele e a esposa
foram à oficina para retirar a Brasília. A esposa veio dirigindo o FIAT na frente, e
atrás, seguindo a esposa, o cidadão dirigindo o carro recém-reformado.
A esposa parou no sinal, e logo atrás o cidadão. Neste momento, um veículo
não conseguiu frear, vindo a colidir com a Brasília, que por sua vez colidiu com o
FIAT. Ocorre que o causador do dano recebia um salário mínimo por mês, e seu
carro era um FUSCA bem antigo. Não restava dúvida que o motorista/proprietário do
FUSCA era culpado pelos danos causados nos demais veículos, e o valor do dano
patrimonial era muito superior ao que poderia suportar o autor. Desta forma, como
condenar o autor ao ressarcimento dos danos causados sem que ele ficasse sem
condições de sustentar sua família?
Da mesma forma, indago o que ocorreria se uma pessoa de classe
econômica alta, com um salário expressivo, casado, pai de dois filhos e único a
trabalhar na família, viesse a falecer por ação de uma pessoa de classe média
pobre? Como ficaria o valor do dano moral a ser indenizado? Como aplicar o critério
da capacidade econômica do autor versus a capacidade econômica da vítima?
Posso aceitar e entender que a dor sofrida será a mesma, quer seja rico ou pobre,
mas como aceitar que, além da perda do esposo e pai, a família tenha de se
desestruturar face à nova condição imposta pelo autor ao tirar a vida da pessoa?
Como aplicar o preceito do artigo 944, que diz que a indenização está
limitada à extensão do dano? Ademais, podemos asseverar que não se pode medir
a dor em valores monetários. Na realidade, o valor da condenação não visa reparar
o dano no sentido literal, pois a dor, a alegria, a vida, a liberdade, a honra e a beleza
são valores inestimáveis.
AN02FREV001/REV 4.0
110
O que se busca é a fixação de um valor compensatório que amenize as
consequências do dano sofrido. A razão da reparação não está no patrimônio, mas
na dignidade ofendida ou na honra afrontada. Encontramos um posicionamento
doutrinário que coloca como limite da indenização a situação econômica do ofensor,
ou seja, o valor da indenização não poderá privar o autor dos bens necessários à
manutenção de uma vida digna. Esta posição está afeta ao princípio constitucional
da dignidade da pessoa humana.
Corrobora com este posicionamento o art. 928 e seu parágrafo único, a
saber:
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por
ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de
meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser
equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as
pessoas que dele dependem. (grifo nosso)
AN02FREV001/REV 4.0
111
Na realidade, o juiz deve valer-se do seu bom-senso e sentido de equidade
para determinar o cumprimento da lei, procurando restabelecer o equilíbrio social.
Tal medida se faz necessária para evitar que as ações de reparação de dano moral
se transformem em expedientes de extorsão ou de espertezas maliciosas e
injustificáveis.
Continuando nosso estudo, temos o caso da liquidação de uma obrigação
indeterminada, onde não encontramos dispositivo legal nem contrato que determine
o valor indenizatório. A apuração dos prejuízos seguirá na forma que a lei
processual indicar, conforme preceito abaixo:
Vejam: o artigo não determina que, não havendo prova do quantum a ser
indenizado, ficará o autor isento da indenização, e sim que, se não tivermos o valor
real, o juiz deverá liquidar a condenação. Quanto à indenização por morte,
encontramos o seguinte preceito:
AN02FREV001/REV 4.0
112
desta indenização, cabe ainda a indenização pelos danos matérias sofridos pela
vítima, como preceitua o Súmula nº 37 do STJ permissiva à cumulação dos danos.
Quanto aos lucros cessantes, encontramos o seguinte preceito:
Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa
exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de
trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros
cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à
importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele
sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização
seja arbitrada e paga de uma só vez.
AN02FREV001/REV 4.0
113
que a deixa inabilitada para a dança, um pianista profissional que em acidente perde
sua mão, ficaram inabilitados para o trabalho, fazendo jus à pensão.
A contrário senso, trago um caso no qual atuei como advogado, defensor do
autor. Uma moça foi atropelada, sofrendo fratura do osso da perna. Foi operada e
ficou com uma cicatriz que realmente mudou sua estética, ainda mais por ser uma
pessoa jovem. Foi requerida a indenização por danos estéticos, tendo em vista a
condição da vítima de ficar constrangida de usar um short ou ir à praia, em face da
cicatriz.
Cumulado com o dano estético, requereu o dano moral, acrescido de uma
pensão vitalícia por estar inabilitada para o trabalho. Sua profissão era de
telefonista. Na sentença, o juiz condenou o autor ao pagamento dos danos morais e
estéticos, e deu por improcedente o pedido de pensão, uma vez que o dano
causado não impediria a vítima de continuar a trabalhar como telefonista.
Temos ainda o artigo 951, que estende a aplicação dos artigos 948, 949 e
950 às pessoas que, em função de sua atividade profissional, causarem danos a
vítima:
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional,
por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente,
agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.
AN02FREV001/REV 4.0
114
Parágrafo único. Para se restituir o equivalente, quando não exista a própria
coisa, estimar-se-á ela pelo seu preço ordinário e pelo de afeição, contanto
que este não se avantaje àquele.
De acordo com uma leitura atenta ao presente artigo, podemos concluir que
a liberdade aqui protegida é a física da pessoa, que também é assegurada por
preceito constitucional (art. 5º, LIV). No entendimento doutrinário, os incisos do
parágrafo único são enunciativos e não numerus clausus, podendo abranger outros
casos de liberdade física.
AN02FREV001/REV 4.0
115
Concluindo este tópico, temos ainda um ponto a ser visto, que se refere ao
caráter punitivo da indenização, como já estudado anteriormente. A doutrina atual
tem entendido que a reparação, além de seu efeito compensatório, tem também
efeitos repressivos, punitivos.
No ato de se reparar o dano moral com a condenação do autor, além do
ressarcimento quanto ao prejuízo ocasionado ao seu psiquismo, que busca atenuar
o sofrimento havido, estaria também sendo aplicada uma sanção contra o culpado,
no intuito de inibir ou desestimular a repetição de situações semelhantes; motivo
pelo qual o valor indenizatório deverá ser maior quando a culpa do autor for
excessiva.
Em contrapartida, ela deve ser menor à medida que seja mais leve a sua
culpa. Porém, esta indenização não deverá vir em separado, apenas ser levada em
conta no arbitramento da indenização. Em suma, podemos entender que, apesar de
prevalecer na doutrina o entendimento de que a reparação pecuniária do dano moral
tem duplo caráter: compensatório para a vítima e punitivo para o ofensor,
entendemos que a finalidade precípua do ressarcimento do dano não é punir o
responsável, e sim recompor o patrimônio do lesado.
Quanto à ação indenizatória, podemos dizer que ela é afeta à esfera do
processo civil, devendo ser proposta de acordo com o fato no juízo competente. Tem
por objetivo assegurar a alguém o ressarcimento de algum dano causado por
outrem, sendo por um ato, abstenção de um ato, ou de algum fato que possa ter
ocasionado prejuízo ao patrimônio da vítima.
A pretensão do autor da ação é ter uma reparação, geralmente pecuniária.
Seu intuito é buscar o restabelecimento de seu patrimônio. Quanto à ação
indenizatória, se tiver por base o dano moral, a pretensão do autor é de receber um
valor que possa ajudá-lo a mitigar sua dor e dar continuidade à sua vida.
Apresento a seguir algumas ementas referentes a acórdãos que corroboram
com o assunto aqui estudado.
AN02FREV001/REV 4.0
116
Data do Julgamento 29/09/2009
Ementa
1. Danos Morais. Acórdão fundado nos elementos fáticos: ao firmar a conclusão da
razoabilidade da condenação por danos morais, o Tribunal recorrido tomou em
consideração os elementos fáticos carreados aos autos. Incidência da Súmula
07/STJ.
2. Não é condicional o acórdão que admite a prova do fato culposo e a existência
dos danos dele decorrentes, assim como enumerados pela autora nos autos, mas
relega para a fase da liquidação da sentença a definição do seu valor. Precedentes.
3. A definição do quantum debeatur na fase de liquidação do título judicial
condenatório não impedirá o condenado, no momento oportuno, de exercer a
fiscalização e pleitear o controle jurisdicional do valor fixado. Precedentes.
4. Agravo regimental não provido.
Ementa
1. Refoge ao recurso especial o exame de suposta afronta a dispositivos
constitucionais, por se tratar de competência reservada à Suprema Corte, nos
termos do art. 102, III, da Constituição da República.
2. A indicação genérica de ofensa ao art. 535, II, do CPC, sem particularizar qual
seria a suposta omissão do Tribunal de origem que teria implicado ausência de
prestação jurisdicional, importa em deficiência de fundamentação, nos termos da
Súmula 284/STF.
3. “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial” (Súmula
7/STJ).
4. O militar temporariamente incapacitado em razão de acidente em serviço ou,
ainda, de doença, moléstia ou enfermidade, cuja eclosão se deu no período de
AN02FREV001/REV 4.0
117
prestação do serviço, tem o direito de permanecer integrado às fileiras de sua
respectiva Força até que se restabeleça ou, caso constatada a incapacidade
definitiva, seja transferido para a reserva remunerada. Precedente do STJ.
5. É ultra petita a decisão que, malgrado inexista pedido expresso na inicial,
condena a parte ré ao pagamento de indenização por danos morais em face do
licenciamento do autor do serviço ativo das Forças Armadas.
6. O dano moral diz respeito a um prejuízo que atinge o patrimônio incorpóreo de
uma pessoa natural ou jurídica, os direitos da personalidade.
7. Os militares das Forças Armadas, no exercício de suas atividades rotineiras de
treinamento, constantemente encontram-se expostos a situações de risco que
ultrapassam a normalidade dos servidores civis.
8. As lesões sofridas em decorrência de acidente ocorrido durante sessão de
treinamento somente gerarão direito à indenização por dano moral quando
comprovado que o militar foi submetido a condições de risco que ultrapassem
àquelas consideradas razoáveis ao contexto militar ao qual se insere.
9. Nas condenações impostas à Fazenda Pública nas ações ajuizadas após a
edição da MP 2.180-35, de 24/8/01, devem os juros moratórios ser fixados em 6%
ao mês, nos termos do art. 3º do Decreto-Lei 2.322/87.
10. Referindo-se a indenização por danos materiais às despesas efetuadas pelo
autor com seu tratamento, efetuadas após seu licenciamento, deve o termo a quo
dos juros moratórios ser a data de realização de cada uma destas despesas,
respectivamente, a serem apuradas na fase de liquidação, e não da data do
acidente.
11. Recurso especial conhecido e parcialmente provido para excluir da condenação
à indenização por danos morais, assim como para fixar os juros moratórios em 6%
ao ano, contados a partir da realização de cada uma das despesas efetuadas pelo
autor.
AN02FREV001/REV 4.0
118
Data do Julgamento: 20/08/2009
1. Hipótese em que o Tribunal a quo, soberano no exame da prova, entendeu
configurada a existência de nexo causal entre o ato lesivo imputado à Administração
(encaminhamento do contrato social da empresa Guararapes Conservação e
Limpeza ao Juízo do Trabalho, sem a informação relativa à retirada do autor do
quadro societário da empresa) e o evento danoso (transtornos decorrentes da
penhora dos bens e da conta-corrente do demandante, além dos gastos efetuados
com a contratação de escritório de advocacia para proceder à sua defesa em
inúmeras reclamações trabalhistas).
2. A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que, caracterizada a
responsabilidade subjetiva do Estado, mediante a conjugação concomitante de três
elementos – dano, negligência administrativa e nexo de causalidade entre o evento
danoso e o comportamento ilícito do Poder Público –, é inafastável o direito do autor
à indenização ou reparação civil dos prejuízos suportados.
3. O valor dos danos morais, fixado em R$ 106.517,54 (cento e seis mil, quinhentos
e dezessete reais e cinquenta e quatro centavos) não se mostra exorbitante ou
irrisório. Portanto, modificar o quantum debeatur implicaria, in casu, reexame da
matéria fático-probatória, obstado pela Súmula 7/STJ.
4. Provada a existência de prejuízo material, não há óbice legal à transferência de
sua quantificação para a fase de liquidação de sentença. Precedentes do STJ.
5. Recurso Especial não provido.
Ementa
1. Hipótese em que o acórdão embargado entendeu que significativa parte da
reparação do dano perseguido na ação intentada pelos autores restou precisa e
AN02FREV001/REV 4.0
119
expressamente determinada na petição inicial, remanescendo apenas outra parcela
a ser apurada em liquidação da sentença, mas com indicação de patamar mínimo.
Assim, decidiu a Eg. Turma Julgadora negar provimento ao Recurso Especial, para
manter a fixação do valor da causa no patamar correspondente ao “benefício
econômico pretendido na demanda, ainda que de forma mínima”.
2. Os acórdãos paradigmas, por seu turno, em nada discreparam desse
entendimento. Aliás, o ratificam. Consoante jurisprudência mansa e pacífica deste
Superior Tribunal de Justiça tem-se que, se há indicação clara na petição inicial do
benefício econômico pretendido na demanda, ainda que em patamar mínimo, é este
que deve figurar como valor da causa, sendo que “a impossibilidade de avaliar a
dimensão integral desse benefício não justifica a fixação do valor da causa em
quantia muito inferior ao de um valor mínimo desde logo estimável” (REsp
642.488/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 28/09/2006).
3. Agravo desprovido.
Ementa
CIVIL. PRESCRIÇÃO. DIREITO DE IMAGEM. Violação continuada. Para fins
prescricionais, o termo a quo, envolvendo violação continuada ao direito de imagem,
conta-se a partir do último ato praticado. Ausência de elementos probatórios quanto
à autorização anterior para a publicação da fotografia. Exploração de imagem, sem
contrato escrito, limita-se ao prazo máximo de cinco anos. Art. 49, III da Lei 9610/98.
Valor moral arbitrado em consonância com jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça.
RECURSO IMPROVIDO.
Notas
AN02FREV001/REV 4.0
120
Indenização por dano moral mantida em R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais).
Civil. Ação de indenização por danos materiais e compensação por danos morais
movida por mãe de jovem falecida em acidente de trânsito. Atropelamento à beira de
estrada por ônibus que havia sido abalroado por caminhão, em ultrapassagem
temerária deste. Fato ocorrido em 1990. Reconhecimento de culpa concorrente do
motorista do ônibus. Discussão a respeito da possibilidade de indenização ainda
quando reconhecido o estado de necessidade. Análise das relações intertemporais
entre o Código Civil de 1916 e o Código Civil de 2002. Comparação entre os arts.
188, II, e 929 do CC/02 e 159, 160, II, e 1.519 do CC/16.
- Em análise soberana dos fatos e provas, o TJ/RS vislumbrou a ocorrência de culpa
concorrente do motorista do ônibus. Tal ponto é impossível de ser revisto, em face
da Súmula nº 7/STJ.
- O acórdão reconheceu dever de indenizar mesmo em face do estado de
necessidade. Para tanto, fez menção expressa apenas a dispositivos do Código Civil
de 2002, apesar de o acidente ter ocorrido em 1990.
- Não há, a rigor, nenhum óbice a referência a dispositivos do Código atualmente em
vigor no julgamento de lides vinculadas ao CC/16, quando é patente a similitude
existente entre os dispositivos atuais e os revogados. O próprio STJ vem,
costumeiramente, indicando as respectivas correspondências legislativas em seus
acórdãos.
Precedentes.
- Na presente hipótese, porém, alega-se a existência de diferenças substanciais na
redação dos dispositivos referentes à reparação de danos causados em estado de
necessidade. Nesse sentido, o CC/16 teria previsto apenas a indenização por danos
AN02FREV001/REV 4.0
121
a coisas, enquanto que o CC/02 a teria previsto, também, para lesão à pessoa,
como ocorre na hipótese.
- Não houve, porém, retroação de disciplina jurídica, pois o exame do CC/16 indica
que existe apenas uma diferença de sistematização da matéria entre os dois
Códigos. Com efeito, o CC/16 também previa a reparação da lesão a pessoa por
‘crime justificável’; porém, o fazia apenas no art. 1.540, contido no capítulo referente
à liquidação das obrigações resultantes de atos ilícitos. É essencial notar, para o
correto deslinde da controvérsia, que a presente ação está sendo movida pela mãe
da falecida, que pleiteia direito pessoal próprio em face da morte da filha.
- A diferença entre os Códigos, portanto, se limita à sistematização da matéria,
porque o CC/02 condensou as hipóteses de lesão à pessoa e a coisas no mesmo
dispositivo (art. 188, II).
- Não há, portanto, óbice à citação exclusiva do CC/02 no julgamento. Mesmo
quando analisado isoladamente o art. 160, II, do CC/16, a doutrina questionava a
aparente inversão de valores do dispositivo, que parecia privilegiar a defesa do
patrimônio em detrimento da pessoa.
- Pela via interpretativa, portanto, o resultado do julgamento seria o mesmo; o CC/02
apenas adotou sistemática mais simples e, nessa condição, foi citado como reforço
de argumentação, sem que houvesse qualquer desrespeito à aplicação da lei
vigente ao tempo do fato.
Recurso especial não conhecido.
Ementa
AÇÃO COLETIVA. ASSOCIAÇÃO DE MORADORES. PRODUTOS TÓXICOS.
CONTAMINAÇÃO. ÁGUA. DANOS MORAIS E MATERIAIS. DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. CARACTERIZAÇÃO.
AN02FREV001/REV 4.0
122
1 - A quantificação dos danos morais e materiais fica relegada à liquidação de
sentença e, por isso mesmo, não impede a subsunção da espécie à definição legal
de direitos individuais homogêneos, caracterizados por um fato comum, no caso
específico o vazamento de produtos tóxicos e a contaminação da água consumida
pelos associados.
2 - Recurso especial conhecido e provido para reconhecer a legitimidade ativa ad
causam da recorrente.
Ementa
CIVIL. CONTRATO. Rompimento unilateral do contrato antes do término do
respectivo prazo; indenização dos lucros cessantes.
Ementa
Civil e processo civil. Recurso especial. Ação de indenização por danos materiais e
compensação por danos morais. Recusa do plano de saúde em arcar com custos de
cirurgia e implante de 'Stent Cypher', ao argumento de que tal aparelho seria, ainda,
experimental. Alegação negada pelas provas dos autos e pela própria conduta
posterior da seguradora, que nenhuma objeção impôs a idêntico pedido, em data
posterior. Danos morais configurados, de acordo com pacífica jurisprudência do STJ.
AN02FREV001/REV 4.0
123
Perdas e danos. Possibilidade de pedido específico já na inicial, não realizado pelo
autor. Impossibilidade de delegação da questão à liquidação da sentença em tal
circunstância.
- Na esteira de diversos precedentes do STJ, verifica-se que a recusa indevida à
cobertura médica pleiteada pelo segurado é causa de danos morais, já que agrava a
situação de aflição psicológica e de angústia no espírito daquele.
- Na presente hipótese, acrescente-se ainda que a conduta do plano de saúde
assumiu contornos bastante abusivos que vão muito além do mero descumprimento
contratual, na medida em que houve uma negativa inicial e, a seguir, uma
autorização para um segundo procedimento idêntico alguns meses depois, sem que
qualquer alteração nas bases fáticas ou contratuais tivesse se operado. Evidente,
portanto – conforme reconheceu o acórdão – que a primeira negativa da seguradora
se resumiu a um verdadeiro ato de discricionariedade, praticado em desfavor do
segurado e completamente desconectado do mínimo de razoabilidade.
- O acórdão entendeu que o autor, por conveniência, deixou de precisar o valor
material de um de seus pedidos relativos a perdas e danos, quando tal providência
era perfeitamente possível. Nessa perspectiva, é irrelevante que, em alguns casos
específicos, seja possível relegar a fixação do 'quantum' à liquidação de sentença,
porque tal só se dá em face de dificuldades inerentes ao próprio julgamento e não
como decorrência de mera escolha do autor em assim descrever o pedido.
- Não se conhece de recurso especial na parte em que este se encontra
deficientemente fundamentado.
Recurso especial parcialmente provido.
AN02FREV001/REV 4.0
124
com excesso de poder ou violação ao estatuto da cooperativa. III. Para que fique
configurada a obrigação de indenizar, torna-se indispensável a presença de três
requisitos ensejadores da mesma, a saber: a) o ato ilícito (omissivo ou comissivo e
culposo ou doloso), b) o dano vivenciado pela vítima e c) nexo de causalidade entre
o dano sofrido e a conduta ilícita. (AC 2006.34.00.022199-9/DF, Rel.
Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida, Quinta Turma, e- DJF1 de
11/04/2008, p. 174). Não configurada a ilicitude do ato, resta afastada a obrigação
de reparar o dano. IV. Apelação parcialmente provida. (TRF1. APELAÇÃO CÍVEL
1998.36.00.001948-5/MT Relator: Desembargador Federal Leomar Barros Amorim
de Sousa Julgamento: 11/09/09).
AN02FREV001/REV 4.0
125
RESPONSABILIDADE CIVIL. LANÇAMENTO DAS INFORMAÇÕES BANCÁRIAS
NO CADASTRO DE RISCO DO BANCO CENTRAL. RESOLUÇÃO Nº 2.724/00 DO
BACEN. OBRIGAÇÃO IMPOSTA ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. DANO
MORAL. INOCORRÊNCIA. I. Por imposição da Resolução nº 2.724/00 do BACEN,
todas as instituições financeiras são obrigadas a prestarem informações ao Banco
Central do Brasil sobre o montante dos débitos e responsabilidades por garantias de
seus clientes. O cadastro não implica em nenhuma restrição ao crédito, apenas traz
informações acerca do estado de endividamento do cliente. II. O lançamento das
operações de crédito firmadas entre o autor e a CEF, no Sistema de Informações de
Crédito do Banco Central do Brasil, dá-se por imposição normativa, não ensejando
constrangimento passível de indenização por danos morais, uma vez que à
instituição financeira não é facultada a opção de informar ou não informar. III. Apelo
do autor improvido. (TRF1. APELAÇÃO CÍVEL 2003.34.00.005283-0/DF Relatora:
Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida Julgamento: 18/06/08).
FIM DO MÓDULO V
AN02FREV001/REV 4.0
126
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Ideia Jurídica, 1998.
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THEODORO JUNIOR, Humberto. Dano Moral. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2009.
AN02FREV001/REV 4.0
129
-----------------------FIM DO CURSO!-----------------------------
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