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DIREITO CIVIL –

RESPONSABILIDADE CIVIL

MÓDULO I

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SUMÁRIO

MÓDULO I
1 APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO AO CURSO
1.1 APRESENTAÇÃO
1.2 ORIGEM DO TERMO
1.3 ORIGEM HISTÓRICA
1.4 A RESPONSBILIDADE CIVIL
1.5 A RESPONSABILIDADE CIVIL NA TEORIA GERAL DO DIREITO
1.6 OS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL
1.7 CAUSAS EXCLUDENTES
1.8 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE
1.8.1 Responsabilidade Civil e Penal
1.8.2 Responsabilidade Administrativa
1.8.3 Responsabilidade Contratual e Extracontratual
1.8.4 Responsabilidade Direta ou Indireta
1.8.5 Responsabilidade nas Relações de Consumo
1.9 RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO COMPARADO

MÓDULO II
2 AS TEORIAS E SEUS PRESSUPOSTOS
2.1 INTRODUÇÃO
2.2 TEORIA DA CULPA
2.2.1 Conduta Humana
2.2.2 Nexo Causal
2.2.3 Dano
2.2.3.1 Dano patrimonial
2.2.3.2 Dano moral
2.2.3.3 Culpa

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2.3 TEORIA DO RISCO
2.3.1 Introdução
2.3.2 A Teoria do Risco
2.3.3 As Relações de Consumo
2.4 EXCLUDENTES

MÓDULO III
3 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL
3.1 QUANTO AO FATO GERADOR
3.2 EM RELAÇÃO AO SEU FUNDAMENTO
3.3 QUANTO AO AGENTE

MÓDULO IV
4 DAS MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE QUANTO AO AGENTE
4.1 DAS RESPONSABILIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
4.2 DAS RESPONSABILIDADES DO TRANSPORTADOR
4.3 DAS RESPONSABILIDADES DO CONSTRUTOR
4.4 DAS RESPONSABILIDADES DOS PROFISSIONAIS
4.5 DAS RESPONSABILIDADES DOS PROVEDORES DA INTERNET
4.6 OUTRAS MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE

MÓDULO V
5 DA LIQUIDAÇÃO DO DANO E AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MÓDULO I

1 APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO AO CURSO

1.1 APRESENTAÇÃO

O ser humano é de natureza racional/sentimental e dependendo de cada


momento se sobressai. Um dos princípios que traz em si é zelar pelo que é seu, ou
seja, o que lhe pertence, ou pelos que lhe são afetos. Quando verifica que alguém
está violando seu patrimônio, age de imediato, defendendo-o em busca da
preservação, evitando assim um prejuízo. Se este já ocorreu, busca retornar ao seu
estado a quo, ou ser compensado pela perda.
Busca-se assegurar e tutelar o normal desenvolvimento dos atos jurídicos,
nascendo o instituto e a noção conceitual de responsabilidade civil, por ser uma
importante exigência social. Desta forma, através dos tempos, evoluiu o instituto da
Responsabilidade Civil, em busca da aplicação justa e eficiente do Direito.
O ato ilícito que causa prejuízo a outrem ou o descumprimento de uma
obrigação contratual deve ser reparado. Assim, a responsabilidade civil, quer seja
contratual, quer seja extracontratual, impõe ao autor do dano, decorrente de culpa
ou do risco assumido, uma obrigação de reparação, objetivando a prestação de uma
indenização. Nosso objetivo é, através deste curso, dar subsídios ao ensino da
Responsabilidade Civil aos graduandos, especializando-os e aos demais
profissionais.

1.2 ORIGEM DO TERMO


Necessário iniciarmos nosso estudo buscando a origem da palavra
responsabilidade, que vem do vocábulo respondere, cujo significado é a obrigação
de alguém de assumir as consequências de sua atividade.

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Segundo Soibelman1 (1979):

RESPONSABILIDADE – Obrigação de responder por seus


próprios atos ou palavras. Obrigação de responder por atos de
outrem, a isso estando vinculado por lei ou contrato. Obrigação
de suportar as consequências da violação de um preceito legal:
pena, multa, reparação por perdas e danos. Dever jurídico.
Obrigação legal ou contratual. Submissão ao direito. Dever de
indenizar. Dever de restabelecer a situação anterior
comprometida por conduta irregular ou ilegal. Dever de
obediência à lei.

No sentido jurídico, responsabilidade designa o dever que alguém tem de


reparar o prejuízo (dano) decorrente da violação de outro dever jurídico. Desta
forma, podemos concluir que a responsabilidade civil é a obrigação de reparar o
dano por todo aquele que, por ação ou omissão voluntária, imprudência, negligência
ou imperícia, violar direito ou causar prejuízo a outrem (SOIBELMAN, 1979).

1.3 ORIGEM HISTÓRICA

No início era a vingança privada que prevalecia, na qual o ofendido reagia a


um dano sofrido imediata e brutalmente. Era por puro instinto, sem que houvesse
justiça pública. Era a Lei de Talião, do Velho Testamento (1.550/1.300 a. C.), com os
preceitos que são conhecidos por nós como “olho por olho, dente por dente”, “quem
com ferro fere com ferro será ferido”. Tínhamos a reparação de um mal por outro
mal. Não se analisava a culpa, apenas o dano ocasionado. Era a responsabilidade
objetiva.

1 SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do Advogado. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1979.

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Continuamos na viagem histórica e encontramos as legislações antigas –
Código de Hamurabi (1.780 a. C.) e o Código de Manu (Ur Manu - século II a. C.) –
onde prevalecia a tipicidade das condutas, ou seja, previsão de um comportamento
com resultado danoso. Continuávamos com a responsabilidade objetiva, que não
exige o elemento culpa, o importante era a causalidade entre a conduta e o dano
para configuração da responsabilidade.
Chegamos ao Direito Romano, que serviu de base para a maioria dos
Institutos do Direito Civil de nossos dias. A Responsabilidade Civil originada no
Direito Romano consistia, também, em uma vingança privada. A responsabilidade,
porém, não atingia somente o patrimônio do agressor, mas também o seu próprio
corpo. Os danos e prejuízos causados tinham sua compensação através de atos
violentos contra o agente causador dos mesmos. Não havia diferenciação entre a
responsabilidade penal e a responsabilidade civil.
Como o Direito evoluía, começava a preocupação de se evitar a
instabilidade social. Buscava-se resguardar a segurança, partindo-se para não mais
permitir a justiça privada. É nesta época que se inicia a diferenciação entre pena e
reparação, delineando uma distinção entre os delitos públicos e delitos privados. Os
delitos públicos eram ofensas consideradas mais graves e perturbadoras da ordem,
o ofensor se obrigava a recolher a pena a favor dos cofres públicos, enquanto nos
delitos privados ocorria apenas a intervenção da autoridade, buscando a
composição entre as partes.
Neste mesmo período temos uma mudança considerável, surgindo a
chamada composição voluntária, na qual o ofendido tem a possibilidade de substituir
a retaliação ao ofensor por uma compensação de ordem patrimonial. É o patrimônio
do ofensor substituindo o castigo físico. Tal mudança se deve à modificação da
estrutura estatal, pois surge a autoridade soberana. Encerra-se, assim, a chamada
justiça com as próprias mãos e ao Estado cabe dosar a pena ao agente causador do
dano. A composição deixa de ser voluntária e passa a ser obrigatória, criando-se
uma tarifação dos danos, havendo um valor para cada tipo de lesão.
A Lei das XII Tábuas (449 a. C.) foi de suma importância para os romanos,
pois representa a passagem da norma consuetudinária para a lei escrita. As penas
impostas por ela iam desde a multa até o exílio, da prisão até a morte, sendo certo
que, ainda, muitas delas tinham por base a sanção da retaliação (pena de Talião).

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A Lei Poetelia Papiria (428 a. C) é considerada o marco divisório da
responsabilidade civil, uma vez que através dela se deixa de aplicar a pena do
pagamento com o próprio corpo. O que responde pelo ato do ofensor é apenas o
seu patrimônio. Com a Lex Aquila (289 a. C.) surge a Damnum injuria datum (dano
produzido pela injúria), o nosso atual dano moral.
Ocorre no momento em que uma pessoa se considera afetada em seu
ânimo psíquico, moral e intelectual, seja por ofensa à sua honra, na sua privacidade,
intimidade, imagem, nome, ou em seu próprio corpo físico, podendo estender-se ao
dano patrimonial se a ofensa de alguma forma impedir ou dificultar a atividade
profissional da vítima. Corresponde às lesões sofridas pela pessoa humana e
consiste em violações de natureza não econômica.
Para os romanos, consistia num delito onde alguém causava dano à coisa
alheia, animada ou inanimada, e o ressarcimento previsto não era tarifado, mas
devia corresponder a um valor proporcional ao dano causado. É com a Lex Aquila
que surge o princípio geral da reparação do dano, advindo as ideias iniciais sobre a
noção de culpa. Inicia-se a responsabilidade civil subjetiva (culpa subjetiva), em que
há a necessidade de se averiguar a culpa do agente, caracterizando a obrigação de
ressarcir. Ela é importante para a responsabilidade extracontratual, tornando-se
comum designá-la de responsabilidade aquiliana. Podemos afirmar que é a evolução
da responsabilidade civil.
Já na Idade Média, continuando nosso estudo, mais precisamente na
França, o pensamento romano vai se aperfeiçoando. Gradualmente, evolui quanto à
enumeração dos casos de possibilidade de composição obrigatória, chegando à
consagração do princípio aquiliano, segundo o qual a culpa, ainda que levíssima,
obriga a indenizar. Na Revolução Francesa (1789), já na Idade Contemporânea,
surge o Código de Napoleão (Código Civil Francês de 1804), que prevê a
responsabilidade contratual e a distinção entre a responsabilidade penal e a civil.
Encontramos em seu artigo 1.382 a responsabilidade civil subjetiva, baseada na
culpa do agente. Este Código exerceu grande influência sobre as codificações que
se seguiram, inclusive sobre o Código Civil Brasileiro de 1916.
As Ordenações do Reino, aplicadas no Brasil à época, não distinguiam o
ilícito civil e necessário se fazia recorrer subsidiariamente ao Direito Romano e à Lei

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de Boa Razão (Lei de 18 de Agosto de 1769). Já o Código Criminal de 1830 previu o
instituto da satisfação, que estabelecia o dever de reparação do dano causado.
Chegamos ao Código Civil Brasileiro de 1916 e encontramos o artigo 159,
que determinava: “aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o
dano”. A culpa foi adotada pela legislação civil pátria como fundamento da
responsabilidade civil, a responsabilidade civil subjetiva. Não precisava ser a
conduta do agente dolosa, imprudente, negligente ou imperita, quaisquer das
espécies de culpa eram suficientes para caracterizar a responsabilidade civil,
independentemente da gravidade do ato. Bastava a existência de culpa levíssima
para determinar a obrigação de reparar.
Por fim, encontramos o Código Civil de 2002, que mantém a regra do Código
antecessor, e para tanto basta combinarmos os preceitos do artigo 927, caput, com
o artigo 186. Enquanto o caput do artigo 927 estipula que “aquele que, por ato ilícito
(arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”, o disposto no
artigo 186 nos mostra que a culpa é exigida para a configuração da responsabilidade
civil: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

1.4 A RESPONSABILIDADE CIVIL

Já tendo conhecido a procedência da palavra responsabilidade e a


historicidade da responsabilidade civil, passemos a uma breve introdução ao tema a
ser estudado. Podemos afirmar que o instituto da responsabilidade civil tornou-se
importante para o Direito hodierno, levando-se em conta que o presente instituto
passou a ser visto de outra forma a partir da Constituição Federal de 1988, e ganhou
força a partir da promulgação do Código de Proteção e Defesa do Consumidor de
1990.
Até os idos dos anos 1980, a responsabilidade civil era estudada na parte
referente às Obrigações, uma vez que estava afeta à parte contratual. A partir daí,
passou a ser oferecida pelas Instituições de Ensino Superior (IES) como disciplina

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autônoma, porém eletiva para o curso de Direito. Ao final da década, dada a
importância do instituto, surgiu como disciplina autônoma e parte integrante do
estudo do Direito Civil.
Podemos ver que no nosso Código Civil vigente, diferentemente da
legislação anterior, a responsabilidade civil recebeu um Título (IX) com dois
capítulos. Hoje, vemos que a responsabilidade civil permeia todas as relações
jurídicas, atingindo o direito público e o direito privado, quer no campo contratual,
extracontratual, transportes aéreos e terrestres, interesses individuais, coletivos,
sociais, ambientais, nacionais ou internacionais, dentre outros.
Encontramos atualmente uma série de artigos e doutrinas sobre o assunto,
além da contribuição jurisprudencial. Mas vamos analisar o porquê desta evolução
no direito pátrio. Primeiramente, tomemos os ensinamentos de San Tiago Dantas2
quanto aos atos ilícitos. Diz o grande jurista que “toda conduta do homem que fere o
direito, objetivamente considerado, é uma conduta ilícita. De maneira que inúmeras
e comuníssimas são as formas sob que pode deparar-se a ilicitude” (DANTAS, 1977,
p. 341).
Diz o mestre que o fundamento da ordem jurídica tem um duplo sentido, que
é proteger o lícito e reprimir o ilícito, ou seja, proteger a atividade do homem que se
comporta de acordo com o direito, reprimindo aquele que se comporta em
contrariedade com o direito. Honeste vivere, alterum non ladere (viver honestamente
e não lesar a ninguém).
Como podemos ver, a violação de um dever jurídico gera o ilícito, e este
pode gerar um dano: é o chamado de dever jurídico originário ou primário. Se ocorre
o dano temos um novo dever jurídico, que é o de repará-lo. É o chamado dever
jurídico sucessivo ou secundário. Como nos ensina Cavalieri Filho3: “... toda
conduta humana que, violando dever jurídico originário, causa prejuízo a outrem, é
fonte geradora de responsabilidade civil” (CAVALIERI FILHO, 1997, p. 20).
A obrigação é um dever jurídico originário, enquanto a responsabilidade é
um dever jurídico sucessivo, podendo ser da mesma natureza, acrescido de outros
elementos – obrigação de dar – ou de natureza diferente – obrigação de fazer.

2 DANTAS, San Tiago. Programa de Direito Civil – Parte Geral. Rio de Janeiro: Editora Rio,1977.
3 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
1997.

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1.5 A RESPONSABILIDADE CIVIL NA TEORIA GERAL DO DIREITO

Para darmos continuidade, devemos verificar alguns conceitos que irão nos
ajudar no desenvolvimento de nossos estudos. Eles estão relacionados à teoria
geral do direito. Iniciamos pelo Fato Jurídico – que é todo acontecimento, natural ou
humano e suscetível de produzir efeitos jurídicos. Stricto senso, inclui eventos
puramente naturais e atos humanos que geram efeitos jurídicos – atos jurídicos e
atos ilícitos.
Podem ser naturais quando os acontecimentos decorrem da própria
natureza, como o nascimento, a morte, a tempestade, entre outras, ou voluntários,
quando a origem é a conduta humana capaz de gerar efeitos jurídicos. Estes podem
ser lícitos, quando de acordo com a lei vigente, ou ilícitos, quando afrontam o Direito,
ou seja, a violação do dever contido na norma jurídica.

Ato Jurídico – também chamado de ato lícito. São atos de mera conduta
(não negocial), que existem independentemente da vontade do agente, ou seja, não
têm o fim de produzir um determinado efeito jurídico, ou negócio jurídico, cuja
característica é ser uma declaração de vontade do agente destinada a criar direitos
e obrigações (contratos, testamentos e outros).

Ato Ilícito – são aqueles que contrariam o ordenamento jurídico, lesando o


direito subjetivo de alguém. Para que existam, necessário se faz que ocorra um
dano moral ou material ao ofendido (vítima), uma conduta culposa do ofensor (autor)
e um nexo causal entre o dano e a conduta ilícita. Chamamos a atenção para o fato
de o ato ilícito ser um comportamento voluntário e consciente de um ser humano
que infringe um dever jurídico, e não uma simples manifestação de vontade, pois
não existe ilícito no fato de alguém prometer causar prejuízo a outrem. Divide-se em
ato ilícito penal, ato ilícito civil e ato ilícito administrativo.
É de suma importância para nosso estudo sobre responsabilidade civil o
conceito de ato ilícito, haja vista que é ele que faz nascer a obrigação de reparar o

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dano, e que é imposto pelo ordenamento jurídico. Enquanto no direito penal o ato
ilícito afeta a liberdade da pessoa (infrator), no direito civil atingirá seu patrimônio.

Em resumo:

Teoria Geral do Direito


 Fato Jurídico : Naturais
Voluntários: Lícitos
Ilícitos

 Ato Jurídico: Mera Conduta


Negócio Jurídico

 Ato Ilícito

1.6 OS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Encontramos quatro pressupostos para a ocorrência da responsabilidade


civil: a conduta humana (ação ou omissão), o nexo causal, o dano e a culpa.

Conduta humana – é o ato (ação ou omissão) pelo qual o agente,


pessoalmente ou por terceiro(s) sob sua responsabilidade, irá causar dano ou
prejuízo a alguém, seja por dolo, negligência, imprudência ou imperícia, gerando a
obrigação de reparar.
Apropriamos da definição de Maria Helena Diniz4 para a conduta humana:
“O ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente
imputável, do próprio agente ou de terceiro (...) que cause dano a outrem, gerando o
dever de satisfazer os direitos do lesado.” (DINIZ, 2003, p. 37).

4 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. São Paulo:
Saraiva, 2003.

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Afirma a autora que a responsabilidade decorrente de ato ilícito baseia-se na
ideia de culpa, enquanto a responsabilidade sem culpa baseia-se no risco.
Comissivo é o ato que não deveria efetivar, enquanto a omissão é a não
observância de um dever.

Nexo causal (nexo de causalidade) – é um dos principais pressupostos para


configurar a responsabilidade civil e o dever de indenizar, é a ligação entre o ato
lesivo do agente e o dano ou prejuízo sofrido pela vítima. Não é suficiente que a
vítima apenas sofra o dano, necessário se faz que esta lesão passe a existir a partir
do ato do agente para que haja o dever de compensação. O agente, por omissão ou
comissão, tem de ser o causador do dano.

Dano – para que haja responsabilidade civil, a conduta do agente tem de ser
danosa ou levar prejuízo à vítima. Desta forma, dano é o prejuízo que resulta da
lesão de um bem ou direito, podendo ser a perda ou redução de um patrimônio, quer
seja material ou moral de uma pessoa. Ocorre pela conduta do agente, que irá
originar o direito ao ressarcimento do lesado, restituindo a situação original ou,
quando não possível, a reparação do dano, a não ser que haja a excludente de
responsabilidade.
Podemos dividir o dano em patrimonial e extrapatrimonial. O primeiro,
também conhecido como material, é aquele que causa a destruição ou diminuição
de um bem de valor econômico (mensurável). O segundo, também chamado de
moral, é aquele que está afeto a um bem que não tem caráter econômico
(pecuniário), não é mensurável e não pode retornar ao estado anterior. São os bens
inerentes aos direitos da personalidade – direito à vida e à integridade moral, física
ou psíquica. São de difícil reparação.
A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, X, determina: “são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

Culpa – é o ato do agente que age com negligência, imprudência ou


imperícia, não fazendo a lei distinção entre elas. Nessa modalidade, pressupõe-se
que o agente não desejava o resultado, mas não agiu de forma precavida. A

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negligência ocorre quando o agente deveria tomar conta para que uma situação não
acontecesse, mas não presta a devida atenção e a deixa acontecer. A imprudência
ocorre quando o agente não se cerca dos cuidados que uma pessoa normal tomaria.
E a imperícia está ligada ao perito, ou seja, a alguém que deveria dominar uma
técnica, mas acaba por não dominá-la.
Ensina-nos José de Aguiar Dias5 que a negligência encontra-se intimamente
relacionada com o conceito de desídia, enquanto a imprudência liga-se ao de
temeridade, e a imperícia à falta de habilidade. Na verdade, a culpa não é um
elemento essencial para a responsabilidade civil, pois o próprio artigo 927 do Código
Civil afirma que “haverá obrigação de reparar o dano independentemente de culpa”.
Somente os três anteriores que são fundamentais para a responsabilidade civil.
Para a responsabilidade civil a culpa é caracterizada quando o agente
causador do dano não tinha a intenção de provocá-lo, mas, por negligência,
imprudência ou imperícia, causa dano a outrem, tendo o dever de repará-lo.
Em resumo:

Pressuposto

 Conduta Humana Ação


Omissão
 Nexo Causal
 Dano
 Culpa Negligência
Imprudência
Imperícia

1.7 CAUSAS EXCLUDENTES

Encontramos três excludentes para a responsabilidade civil do agente: culpa


exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior, e o fato de terceiro. São

5 DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

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consideradas causas que eliminam o dever de reparação do dano, uma vez que
excluem o nexo causal pressuposto importante da responsabilidade civil.
Culpa da vítima – acontece quando o dano é decorrente de ato da própria
vítima, ou seja, quando o agente não contribui em nenhum momento para o evento
danoso. Na realidade, o ato culposo da própria vítima elimina o nexo causal e, com
ele, a responsabilidade civil. Mas existem casos em que a vítima e o agente
concorrem na culpa (culpa concorrente). Nestes casos, cada um responde por sua
participação no dano.
Caso fortuito e força maior - ocorrem quando o dano advém de causas de
efeitos imprevistos ou inevitáveis, exonerando o agente da responsabilidade pelos
danos causados à vítima, não havendo ação ou omissão culposa por parte do
agente. É o fato imprevisível e incapaz de ser evitado, quer pelo agente, quer por
qualquer outro. O Código Civil, em seu artigo 393, determina:

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes


de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se
houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se
no fato necessário, cujos efeitos não eram possíveis evitar ou
impedir.

Força maior entende-se como a ocorrência fora da relação entre agente e


vítima, e que não poderia ser evitada pela ação do agente. Provém de um fato da
natureza, como uma inundação que provoca danos a equipamentos. Caso fortuito é
inerente à ação humana e não é esperado nem previsto, não podendo ser evitado. A
sua ocorrência independe da conduta do agente ou da vítima. Provém de um fato
que, embora humano, é desconhecido e inevitável, como o rompimento de tubulação
que inunda uma fábrica, não permitindo que o agente cumpra o prazo de entrega.
Lembramos que, mesmo ocorrendo o caso fortuito ou a força maior, se o
agente de alguma forma contribuir culposamente para agravar a situação,
responderá por sua culpa.

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Fato de terceiro – ocorre quando o agente causador do dano fica exonerado
do dever de reparação, tendo em vista a causa alheia, pois o dano é causado por
ação ou omissão de um terceiro, seja dolosa ou culposamente. Quebra-se, assim, o
nexo de causalidade entre a conduta do agente e o resultado, tendo em vista que a
conduta atípica não parte do agente, e sim de um terceiro. Esta conduta, porém,
deve ser o fator predominante da lesão ocasionada. Lembramos que o terceiro não
pode ter nenhuma relação com o agente.
Alguns autores citam como excludente a “cláusula de não indenizar”, que é a
combinação através da qual o devedor, contratualmente, se exonera do dever de
indenizar quando do acontecimento de um dano. Ocorre que tal cláusula é limitada
aos contratos, não sendo aceita nos demais casos. É considerada como não escrita,
principalmente no CDC.

Em resumo:
Excludentes
 Culpa da Vítima
 Caso Fortuito e Força Maior
 Fato de Terceiro

1.8 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE

1.8.1 Responsabilidade Civil e Penal

A contrariedade entre a conduta e a norma jurídica gera a ilicitude, e está


contida em diversos ramos do Direito. Ela é penal quando o agente viola uma norma
do Direito Penal, pertencente ao Direito Público, enquanto o ilícito civil é a violação
de uma norma pertencente ao Direito Privado.
Na realidade, não existe uma diferença substancial entre estes dois ilícitos,
podendo existir casos em que tanto o Direito Público quanto o Privado são violados

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através do mesmo ato (dupla ilicitude). O exemplo mais comum está no acidente de
trânsito, onde uma pessoa atropela alguém que vem a falecer. O agente causador
do acidente irá responder pelo ilícito penal (crime de homicídio culposo) e também
responderá pelo ilícito civil, o dever de indenizar a família (reparação do dano) pela
morte da vítima.
O ilícito penal está afeto aos atos ilícitos de maior gravidade, que estão
diretamente ligados ao interesse público, enquanto o ilícito civil aos de menor
gravidade. Lembramos que a sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível
quanto ao dever de indenizar.

1.8.2 Responsabilidade Administrativa

Primeiramente, temos de conceituar o Direito Administrativo, que é o


conjunto de princípios jurídicos harmônicos regentes dos órgãos públicos, seus
agentes e as atividades públicas que levam à realização concreta, quer direta ou
indiretamente, aos fins desejados pelo Estado. A responsabilidade administrativa, ou
responsabilidade da administração, é a obrigação imposta ao poder público de
reparar os danos causados a terceiros por atos praticados por seus agentes ou em
seu nome, no exercício de suas atribuições.
É o que determina nossa Constituição Federal no parágrafo 6º do art. 37:

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.

Na responsabilidade administrativa emprega-se a teoria objetiva, ou seja,


independe da intenção do agente para haver responsabilização. É a teoria do risco
ou da solidariedade social, pois decorre de uma atividade ou função pública.

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1.8.2 Responsabilidade Contratual e Extracontratual

O principal pressuposto da responsabilidade civil, de acordo com a teoria


clássica, é a culpa, também chamada de responsabilidade subjetiva. Assim,
pressupõe-se sempre a existência de culpa lato sensu, que abrange o dolo –
conhecimento do ilícito e intenção de praticá-lo, e a culpa stricto sensu, que é a
violação de um dever que o agente deveria conhecer e acatar. O nosso Código Civil
filia-se a esta teoria, como regra, conforme se verifica no art. 186, exigindo a culpa
com fundamento para a obrigação de reparação do dano. Desta forma, o ofendido
só poderá ter a reparação do dano se comprovar a culpa do ofensor, o que muitas
das vezes se torna impossível.
Passou-se, então, em países como Itália, Bélgica e França a se buscar
fundamentação para a responsabilidade objetiva (sem culpa), que se baseia na
teoria do risco. A responsabilidade objetiva é exceção e ocorre nas hipóteses em
que, embora não se exija a culpa, seja ela presumida, invertendo-se o ônus da
prova, ou seja, o agente é que deverá provar sua não culpa. O Brasil aceitou a
responsabilidade objetiva, principalmente nas relações de consumo.
A responsabilidade contratual é aquela que está afeta à inexecução de um
negócio jurídico bilateral ou unilateral, ou seja, o descumprimento de uma obrigação
contratual. Como se baseia no dever de resultado acarretará na presunção de culpa.
Já a responsabilidade extracontratual ou aquiliana provém de um ilícito
extracontratual, ou seja, da prática de um ato ilícito por pessoa capaz ou incapaz,
não havendo vínculo anterior entre as partes, pois não existe uma obrigação
contratual. Nesta espécie temos a que é fundamentada na culpa do agente, ou seja,
a responsabilidade subjetiva, que é a norma geral e, como norma específica, a que
não se baseia na culpa, chamada de responsabilidade objetiva, em conformidade
com o parágrafo único do artigo 927:

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Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

1.8.3 Responsabilidade Direta ou Indireta

Na aplicação dos preceitos da responsabilidade civil, o que se avalia é a


conduta do agente, ou seja, o(s) ato(s) ou fato(s) que leva(m) ao ilícito. O interesse
maior é o de identificar a conduta que leva à obrigação de indenizar. Desta forma,
uma pessoa é responsável quando suscetível de ser sancionada, quer tenha sido o
ato antijurídico cometido pessoalmente – responsabilidade direta – ou por terceiro(s)
que com ele tenham relação – responsabilidade indireta.
Como exemplo, temos o motorista, proprietário do veículo que se envolve
em acidente de trânsito, respondendo aos prejuízos ocasionados a outro veículo. Se
este mesmo veículo está sendo dirigido por um terceiro, continua o proprietário a ser
responsável pela indenização, mesmo que não tenha participado do acidente.

1.8.4 Responsabilidade nas Relações de Consumo

Com o advento do Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC) de


1990, veio um novo marco para o estudo da responsabilidade civil. Por ser de
origem constitucional, o CDC, em seu artigo 1º, determina que suas normas são de
ordem pública e de interesse social, ou seja, de aplicação necessária e observância
obrigatória. A responsabilidade adotada é a objetiva, com fundamento no risco do
empreendimento.
À guisa de informação, uma vez que o tema não está relacionado
diretamente ao nosso estudo, seguem abaixo os artigos relacionados à
responsabilidade civil e à reparação do dano constantes do CDC:

AN02FREV001/REV 4.0

19
6º São direitos básicos do consumidor:
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de experiências;
Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes
de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da
legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades
administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios
gerais do direito, analogia, costumes e equidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de
consumo.
CAPÍTULO IV
Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos
Danos
SEÇÃO II
Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e
riscos.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,
permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são
obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos
essenciais, contínuos.

AN02FREV001/REV 4.0

20
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das
obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas
compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma
prevista neste código.
Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por
inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de
termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.
Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que
impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta
e nas seções anteriores.
§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos
responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções
anteriores.
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos
causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste
Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do
dano e de sua autoria.

Em resumo:
Espécies
 Civil ou Penal
 Administrativa
 Contratual ou Extracontratual
 Direta ou Indireta
 Relações de Consumo

1.9 RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO COMPARADO

É importante que tenhamos uma noção de como outros países se utilizam


do instituto da responsabilidade civil. Para não alongar nosso Módulo, apresento a
posição da Argentina (América do Sul), Portugal (Europa) e Estados Unidos
(América do Norte).

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21
Argentina – Pela leitura do Código Civil Argentino6 vigente, podemos deduzir
que ele utiliza, como regra geral, da responsabilidade subjetiva, em que o autor deve
provar a culpa do ofensor. Assemelha-se ao nosso direito e trata da
responsabilidade civil junto das obrigações.

Vejamos alguns dos artigos:

Art. 506: El deudor, es responsable al acreedor de los daños e intereses


que a éste resultaren por dolo suyo en el cumplimiento de la obligación. (O
devedor, é responsável perante o credor por perdas e danos que a ele
resultar por dolo seu no cumprimento de sua obrigaçõe.)
Art. 519: Se llaman daños e intereses el valor de la pérdida que haya
sufrido, y el de la utilidad que haya dejado de percibir el acreedor de la
obligación, por la inejecución de ésta a debido tiempo. (Chama-se perdas e
danos o valor que o credor haja perdido, e a utilidade de tenha deixado de
perceber com a obrigação, por sua inexecução no devido tempo.)
Art. 1068: Habrá daño siempre que se causare a otro algún perjuicio
susceptible de apreciación pecuniaria, o directamente en las cosas de su
dominio o posesión, o indirectamente por el mal hecho a su persona o a sus
derechos o facultades. (Haverá dano sempre que causar a outro algum
prejuízo suscetível de apreciação pecuniária, diretamente nas coisas de seu
domínio e posse, indiretamente por um mal feito a sua pessoa e aos seus
direitos ou faculdades.)
Art. 1074: Toda persona que por cualquier omisión hubiese ocasionado un
perjuicio a otro, será responsable solamente cuando una disposición de la
ley le impusiere la obligación de cumplir el hecho omitido. (Toda pessoa que
por qualquer omissão houvesse causado prejuízo a outra, será responsável
somente quando uma disposição da lei lhe impuser a obrigação de cumprir
o feito omitido.)

Portugal – O Código Civil Português7 (Decreto-Lei nº 47.344/1966, com


atualização da Lei nº 59/1999), da mesma forma que o brasileiro, reserva uma seção

6 CÓDIGO CIVIL ARGENTINO. Disponível em: < http://www.redetel.gov.ar/framedeabajo.htm >.


.
7 CÓDIGO CIVIL PORTUGUÊS. Disponível em:
<http://www.stj.pt/nsrepo/geral/cptlp/Portugal/CodigoCivil.pdf>.

AN02FREV001/REV 4.0

22
para a responsabilidade civil, que vai do art. 483 ao 510, abrangendo diversos
assuntos sobre a matéria. Também está filiado à corrente da responsabilidade
subjetiva, exigindo a culpa e sua prova.

Vejamos alguns artigos:

ARTIGO 483º - (Princípio geral)


1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de
outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios
fica obrigado a indenizar o lesado pelos danos resultantes da violação.
2. Só existe obrigação de indenizar independentemente de culpa nos casos
especificados na lei.
ARTIGO 487º - (Culpa)
1. É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo
havendo presunção legal de culpa.

Estados Unidos – Diferentemente do Brasil, Argentina e Portugal, os EUA


seguem o princípio da Common Law (do inglês “direito comum”). Nesse sistema,
quando não existe um precedente, os juízes possuem a autoridade para criar o
direito, estabelecendo um precedente. Em regra, o americano se utiliza dos seguros
para cobrir as ações propostas contra eles no que tange à responsabilidade civil.
Apresentamos um texto que fala sobre a responsabilidade civil americana,
no qual podemos ver que a condenação criminal, como no Brasil, faz coisa julgada
para o cível. Um fato interessante é que não existe a indenização pelo ato ilícito e,
sim, a reparação dos danos causados.
Vejamos:

Civil liability gives a person rights to obtain redress from another person e.g.
the ability to sue for damages for personal injury. There is also the right to

AN02FREV001/REV 4.0

23
obtain an injunction. For there to be an award of damages, the injured party
has to have suffered an actual loss, be it personal injury, damage to
property, or financial loss.
The burden of proof is "the balance of probability" which is much lower than
for criminal matters.
If there has been a relevant criminal conviction in a particular matter, then
the burden of proof in any related civil action is reversed, so that the
defendant has to prove he is not liable. An example of this would be a
conviction of a company for breach of health and safety legislation, followed
by the injured employee suing the company for damages for personal injury.
A disincentive to suing is that the losing party pays the winners costs. In fact,
this works out as a substantial proportion of the costs, rather than 100%, so
a successful plaintiff has his award of damages diminished in practical
terms. As a matter of public policy, it is not possible to have an enforceable
insurance policy in relation to criminal penalties.8

(O instituto da responsabilidade civil confere a uma pessoa o direito


de obter uma compensação financeira de outra pessoa, isto é, o direito
de processá-la por danos causados a ela. Para que o dano possa ser
compensado, a parte ofendida tem de ter sofrido uma perda real, seja
um dano pessoal à sua propriedade ou uma perda financeira. O ônus da
prova é conhecido como “equilíbrio da probabilidade”, é muito menor
que o existente na responsabilidade criminal.
Se houver uma condenação criminal relevante em uma ação em particular,
o ônus da prova na responsabilidade civil é invertido, ou seja, o
pleiteante é que deve provar que não é culpado. (...)
Como desestímulo ao processo, é determinado que a parte perdedora
pague os gastos que o vencedor teve com o processo. Na realidade, não
são pagos 100% dos gastos, mas uma parte substancial dos mesmos,
então a parte vencedora tem, na prática, uma diminuição do valor total que
receberia. Em se tratando de políticas públicas, não é possível haver
política de redução de ações na esfera criminal).

8 THE DIFFERENCE BETWEEN CRIMINAL AND CIVIL LIABILITY. Disponível em:


<http://www.rsc.org/images/2_Difference_tcm18-17644.pdf>.

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24
FIM DO MÓDULO I

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25
DIREITO CIVIL –
RESPONSABILIDADE CIVIL

MÓDULO II

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27
MÓDULO II

2 AS TEORIAS E SEUS PRESSUPOSTOS

2.1 INTRODUÇÃO

No Módulo I delineamos a responsabilidade subjetiva e a responsabilidade


objetiva e indicamos os pressupostos da responsabilidade civil através de uma breve
introdução. Agora, faremos um estudo mais aprofundado sobre o tema.
Lembramos que a teoria da responsabilidade civil está construída sobre a
reparação do dano, pois emerge do art. 186 do Código Civil de 2002, recepcionando
o art. 159 do Código Civil de 1916, pois “aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. O Código Civil de 1916 dizia: “aquele
que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência violar direito ou
causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”.
Existem duas vertentes no estudo da responsabilidade civil: a “Teoria da
Culpa” e a “Teoria do Risco”. A primeira pertence à responsabilidade subjetiva,
enquanto a segunda à responsabilidade objetiva. Iremos neste Módulo estudá-las e
a seus pressupostos.

2.2 TEORIA DA CULPA

A teoria da culpa, também chamada de responsabilidade subjetiva, é a regra


geral de nossa legislação pátria, em que se faz necessária a existência da culpa
para gerar o dever de indenizar. Como já mostramos no Módulo I, foi a Lei Aquiliana
o divisor e transformador da responsabilidade civil, tendo – senão trazido

AN02FREV001/REV 4.0

28
diretamente o elemento culpa – introduzido o elemento subjetivo para permitir a
reparação do dano.
Com base no Direito Romano, precursor do nosso Direito, e através do
Direito Francês, que recepcionou a responsabilidade civil fundada na culpa, o Brasil
adotou a teoria geral da responsabilidade civil subjetiva – teoria da culpa. Como
vimos, é a regra geral, enquanto a responsabilidade objetiva é a exceção, sendo
esta possível se prevista em lei.
Necessitamos, para que haja o dever de indenizar, de quatro pressupostos,
a saber: conduta humana (ação ou omissão), nexo causal, dano e a culpa. Cabe à
vítima provar o dano experimentado e que este dano partiu de uma ação ou omissão
culposa do agente.
Quanto ao agente, poderá se eximir do dever de indenizar, se provar a
inexistência de um dos pressupostos, ou através das excludentes. Se provar que foi
prudente, diligente e observou as leis vigentes, inexistirá o elemento culpa. Se o
prejuízo suportado pela vítima não se relaciona com seu ato, inexistirá o elemento
nexo causal. E se não ocorreu nenhum prejuízo para a vítima, quer patrimonial quer
moral, inexistirá o elemento dano.
Antes de apresentarmos os pressupostos, necessária se faz a apresentação
de um elemento básico para a existência da responsabilidade civil, que é o ato ilícito.
É preciso provar a conduta culposa (culpa) do agente para que haja o dever de
indenizar, que se origina do ato ilícito. A culpa aqui referida é a voluntariedade de
conduta do agente.
Para se caracterizar o ato ilícito, necessitamos de dois pressupostos: a
imputabilidade do agente, que é o elemento subjetivo, e a conduta culposa, que é o
elemento objetivo. Sem estes elementos não existirá o ato ilícito. A imputabilidade
do agente define-se como o conjunto de condições pessoais que concede ao agente
a capacidade de responder pelas consequências de sua conduta contrária à norma
jurídica.
A imputabilidade está ligada à responsabilidade, a capacidade de entender
que o fato é ilícito, e de agir em conformidade com esse entendimento. A nossa
legislação não define o que imputabilidade, apenas enumera os casos que a
excluem, os considerados inimputáveis. Desta forma, estes são considerados
incapazes, não sendo responsáveis pelos atos cometidos. Porém, de conformidade

AN02FREV001/REV 4.0

29
com a lei, pelos atos dos incapazes, responde aquele que detém sua guarda, sendo
exceção o contido no art. 928 e seu parágrafo único do Código Civil:

O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele


responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios
suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser
equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas
que dele dependem.

O outro elemento, a conduta culposa, será estudado adiante.

2.2.1 Conduta Humana

Não resta mais dúvida de que para a existência da responsabilidade civil é


preciso que o ato seja realizado ou pelo próprio agente ou por ato de terceiro, como
vimos no Módulo I. Como regra, temos o ato praticado pelo próprio agente e, como
exceção, embora produza os mesmos efeitos, por ato de terceiro. É o caso, por
exemplo, do dono de um estacionamento que responde pelos atos praticados por
seus empregados, quando da manobra dos veículos.
Mas o importante é a conduta do agente ou do terceiro. Também não
podemos esquecer que, de acordo com a responsabilidade objetiva, além do fato de
terceiro, ainda temos o fato da coisa ou do animal, que chamamos de
responsabilidade civil indireta.
Para analisar esta conduta, precisamos saber qual é o padrão por que se
afere uma conduta do agente. Que conduta é esta? Uma conduta diligente do
próprio agente ou a conduta diligente de um homem normal (homem médio), que é
prudente e cuidadoso? A doutrina declina que a conduta deve ser aferida através da
culpa em abstrato, que é aquela em que o agente falta com a atenção que natural e
comumente deve dispensar na administração de seus negócios.

AN02FREV001/REV 4.0

30
Esta conduta tem de ser voluntária, podendo ser positiva ou negativa (ação
ou omissão). Neste caso, o agente tem consciência daquilo que faz. Para que haja o
dever de indenizar sua conduta, a princípio deve ser ilícita, mas também pode haver
responsabilidade civil decorrente de ato lícito. A conduta humana tem de ocorrer
através da prática de uma conduta culposa, positiva ou negativa (ação ou omissão)
senão não haverá o dever de reparação.

2.2.2 Nexo Causal

O dever de indenizar começa a surgir no momento em que se forma o liame


entre a conduta do agente e o dano. Não é muito fácil, porém, determinar este liame.
É neste ponto que encontramos o nexo causal. Foram criadas três teorias para
estabelecer o nexo causal: a da equivalência das condições, a da causalidade
adequada e a dos danos diretos e imediatos.
A equivalência das condições (conditio sine qua non), segundo Gonçalves1,
(2003, p. 521) diz que “toda e qualquer circunstância que haja ocorrido para produzir
o dano é considerada uma causa. A sua equivalência resulta de que, suprimida uma
delas, o dano não se verifica”. Ou seja, todos os antecedentes fáticos que
contribuírem para o resultado são causa dele.
A causalidade adequada foi formulada em 1871 por Ludwig von BAR e
desenvolvida por Johannes von KRIES, por volta de 1888, onde somente se
considera como causadora do dano a condição por si só apta a produzi-lo
(GONÇALVES, 2003, p. 522). Tal teoria nos diz que o critério eliminatório consiste
em estabelecer que, mesmo na sua ausência, o prejuízo ocorreria (juízo de
probabilidade).
Essa doutrina se dividiu em duas correntes. A positiva entendia que será
causa adequada do dano sempre que este constitua uma consequência normal ou
típica daquele. Já a negativa entende que o fato que atuou como condição do dano
só deixará de ser considerado como causa adequada se, dada a natureza geral, se

1 GONÇAVES, Carlos Alberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2003.

AN02FREV001/REV 4.0

31
mostrar de todo indiferente para a verificação do dano, tendo-o provocado só por
virtude das circunstâncias excepcionais, anormais, extraordinárias ou anômalas, que
intercederam no caso concreto.
A teoria dos danos diretos e imediatos dispõe que o dever de reparar surge
quando o evento danoso é efeito direto e imediato de certa causa. À causa serviria
apenas o antecedente fático ligado necessariamente ao resultado danoso como uma
consequência direta e imediata. Como exemplo, temos o do acidentado que, ao ser
conduzido em uma ambulância para o hospital, vem a falecer em virtude de
tremenda colisão da ambulância com outro veículo. Responderia o autor do dano
primeiro da vítima, o responsável pelos seus ferimentos, apenas pelos prejuízos de
tais ferimentos oriundos.
Pelos danos da morte dessa mesma vítima em decorrência do abalroamento
da ambulância na qual era transportada ao hospital com outro veículo, responderia o
motorista da ambulância ou o do carro abalroador, ou ambos. Mas o agente do
primeiro evento não responderia por todos os danos, isto é, pelos ferimentos e pela
morte. O nosso Código Civil vigente adotou esta teoria, como podemos verificar pela
leitura do art. 403:

Ainda que da inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só


incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direito e
imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.

Surge outro problema que torna mais difícil o estudo e aplicação do nexo
causal: é quando várias causas concorrem para a ocorrência de um dano –
concorrência de causas ou concausas. Sabemos que um dano pode ser gerado por
várias causas, ocorrer de diversas formas, subsequentes, complementares,
cumulativas ou alternativas.
Na subsequente, temos que o fato praticado por uma pessoa gera a causa
do fato praticado por outra. Como exemplo temos o depositário que, por negligência,
deixa a coisa abandonada em local que facilita o furto, cometido por outra pessoa.
Nas complementares, temos duas ou mais causas que concorrem para a
produção de um resultado que não seria alcançado de forma isolada por nenhuma

AN02FREV001/REV 4.0

32
delas. Como exemplo, um veículo colide com outro, deixando-o apenas danificado.
Em seguida, outro veículo colide com ele e o deixa sem condições de uso.
Na cumulativa, temos que os fatos praticados pelos agentes não
necessitariam somar-se um ao outro para a ocorrência do dano, pois qualquer um
dos agentes produziria o resultado isoladamente. Como exemplo, um grupo de seis
pessoas briga no interior de boate e a depredam. Bastava a briga de dois para que o
fato ocorresse.
A alternativa ocorre na situação em que não se pode definir exatamente qual
dos vários participantes causou o dano. Isto é, o agente de um grupo causou um
dano, mas não é possível determinar qual agente. Como exemplo, o mesmo caso da
boate, mas a briga não iria gerar prejuízos para o dono do estabelecimento, porém,
um dos partícipes não identificado joga uma cadeira contra o espelho, vindo a
destruí-lo.
As concausas podem ainda ser: preexistentes; concomitantes ou
supervenientes. São preexistentes quando não são hábeis para eliminar a relação
causal. Por exemplo, a preexistência de uma doença fatal é irrelevante para uma
lesão leve do agente. A vítima sofre do autor, após uma briga, uma lesão leve, mas
ele é portador de diabetes e acaba em óbito. O agente responderá pela causa mais
grave, que é o óbito. Não será necessário que a parte conheça a preexistência da
doença.
São concomitantes aquelas que ocorrem simultaneamente ao fato gerador
do dano e são supervenientes aquelas que ocorrem após o evento danoso. As duas
últimas seguem os mesmos preceitos da preexistente, porém, na superveniente
necessário se faz a ocorrência de um novo acontecimento, rompedor do nexo causal
anterior.

2.2.3 Dano

Considerara-se dano a lesão a um interesse jurídico tutelado, material ou


moral. Para que seja indenizável, são necessários alguns requisitos, como a
violação de um interesse jurídico material ou moral, e a certeza da existência do

AN02FREV001/REV 4.0

33
dano. No caso do dano moral, ele tem de ser certo e deve haver a subsistência do
dano.
Assim, quando ocorre um prejuízo em face do descumprimento de um dever
jurídico, surge a obrigação de indenizar. Tal fato se dá com o intuito de recolocar a
vítima na situação em que estaria sem a ocorrência do fato danoso. A definição mais
consagrada é a que define o dano como sendo a subtração ou diminuição de um
bem jurídico, de qualquer natureza, quer seja ele patrimonial ou a integridade da
própria personalidade da vítima. Desta forma, dividimos o dano em patrimonial ou
material e moral.
Para que haja a indenização de um dano, ele deve ser certo, baseado sobre
um fato preciso, e não somente sobre uma hipótese. É atual porque ele já existiu ou
existe no momento da ação da responsabilidade civil. Como exceção, e passível de
indenização, temos o dano futuro, o que razoavelmente a vítima deixou de lucrar
(lucros cessantes), conforme determina o art. 402: “salvo as exceções
expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem,
além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”.

2.2.3.1 Dano patrimonial

Também chamado de dano material, é o que é suscetível de avaliação


pecuniária, ou seja, incide sobre interesses de natureza material ou econômica,
refletindo no patrimônio do lesado. São divididos em duas espécies: os danos
emergentes (o que efetivamente se perdeu) e os lucros cessantes (o que
razoavelmente se deixou de lucrar).
Consideramos o dano emergente aquele que é representado pela
diminuição do patrimônio da vítima, ou porque diminuiu o seu ativo ou aumentou o
seu passivo. Corresponde à perda ou diminuição de valores que fazem parte do
patrimônio do lesado. Como exemplo, temos um acidente de automóvel que envolve
um motorista de táxi e um particular. A consequência do acidente é que o veículo do
taxista ficou 15 dias na oficina para conserto. O prejuízo pelo conserto deverá ser
arcado pelo motorista particular, causador do acidente.

AN02FREV001/REV 4.0

34
Consideramos como lucro cessante a frustração da expectativa de ganho,
ou seja, são os benefícios que o lesado deixou de obter tendo em vista o dano
sofrido. Como exemplo, temos o caso acima, em que o taxista tira seu sustento com
as corridas que faz, e com o carro na oficina irá deixar de ganhar. Cabe ao motorista
causador do acidente indenizá-lo pelos dias que ficará sem o veículo. Em ambos os
casos, a indenização deve ser justa, correspondente ao valor realmente indenizável,
principalmente quanto aos lucros cessantes, não devendo nem podendo o valor ser
hipotético.
Ainda podemos citar quanto aos danos patrimoniais os chamados danos
reflexos. A doutrina e jurisprudência os aceitam, nos quais temos os danos diretos,
que são os efeitos imediatos do fato ilícito, e os danos indiretos, que são as
consequências mediatas ou remotas do dano direto. Ocorrem na hipótese dos
prejuízos reflexamente sofridos por terceiros, titulares de relações jurídicas que são
afetadas pelo dano, não na sua substância, mas na sua consistência prática, como
por exemplo o devedor de pensão alimentícia que sofre uma lesão na sua
capacidade de trabalhar. Os alimentados teriam legitimidade para demandar em
face do causador do dano.
Ainda no estudo do dano patrimonial, encontramos a figura da perda da
chance, que se assemelha ao lucro cessante, pois diz respeito a uma situação
futura. Neste caso, não temos a existência de uma certeza absoluta de que o ganho
se daria, ocorrendo quando o lesado é privado da oportunidade de obter
determinada vantagem ou evitar um prejuízo, tendo em vista a conduta do ofensor,
ou seja, ocorre quando, em virtude da conduta de outrem, desaparece a
probabilidade de um evento que possibilitaria um benefício futuro para a vítima.
Na realidade, não está se indenizando o que hipoteticamente se deixou de
ganhar, mas a oportunidade existente no patrimônio da vítima no momento do dano,
admitindo-se um valor patrimonial da chance por si só considerada.

2.2.3.2 Dano moral

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35
O dano moral é um dos temas mais controvertidos no estudo da
responsabilidade civil, havendo discussões sobre seu conceito, efeitos e critérios de
fixação da indenização. Comprova-se, porém, a existência do instituto há muitos
anos, como no Código de Hamurabi em seu art. 127: “se um homem livre estendeu
um dedo contra uma sacerdotisa ou contra a esposa de outro e não comprovou, o
arrastarão diante do Juiz e raspar-lhe-ão a metade do seu cabelo”; na Lei das XII
Tábuas - na Tábua 7 - 2 - “se alguém causa um dano premeditadamente, que o
repare”; no Alcorão “AN NUR – 24ª SURATA – 3, “o adúltero não poderá casar-se,
senão com uma adúltera ou uma idólatra; a adúltera não poderá desposar senão um
adúltero ou um idólatra. Tais uniões estão vedadas aos fiéis.
Na Antiga Roma, onde a cada ofensa moral correspondia uma reparação
em dinheiro aplicada pelo Juiz, quantia essa que desse para aliviar ou minorar o
dano. Como vimos, todos os casos se referem ao dano moral e à forma de
reparação. Até a promulgação da Constituição Federal de 1988, não tínhamos na
legislação pátria a figura do dano moral, a não ser em algumas legislações esparsas
como o Código Brasileiro de Telecomunicações, a Lei de Imprensa e a Lei dos
Direitos Autorais, mas que não tratavam diretamente do assunto.
É a partir da Constituição Federal de 1988 que, em seu art. 5º, X,
encontramos amparo para o dever de indenizar: “são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação”.
A posteriori, veio o CDC, que em seu art. 6, VI, também assegura a
reparação do dano moral: “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos e difusos”. Por fim, o Código Civil de 2002, em seu art.
186, trouxe o direito à indenização por danos morais, dizendo: “aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Ainda restam três problemas a serem ultrapassados quanto ao direito à
indenização por danos morais: como avaliar rigorosamente os danos materiais e
moralmente, ou como compensar a dor com dinheiro; como transpor a
impossibilidade e a dificuldade da reparação; e, por fim, o arbitramento do valor, que
fica a critério dos juízes.

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36
No primeiro caso, embora para muitos seja imoral a troca da dor pelo
dinheiro, a indenização poderá ajudar a vítima ou a seus herdeiros, diminuindo,
assim, a sua dor. No segundo caso, a solução é bem mais difícil, pois se torna uma
tarefa árdua buscar o equivalente ao dano, ou chegar a um valor que realmente
repare integralmente o dano sofrido. Busca-se chegar o mais próximo.
Quanto à terceira, alguns doutrinadores sustentam que arbitramento não é
sinônimo de arbitrariedade, sabendo que o juiz buscará critérios objetivos para a
valoração do dano a ser indenizado, podendo contar com a doutrina e a
jurisprudência. É regra em nossos tribunais, quando da avaliação do dano moral
pelo juiz, ele medir o grau de sequela que a ação ou omissão produziu à vítima.
Claro que tal grau irá divergir de pessoa a pessoa.
A humilhação, vergonha, situações vexatórias, posição social da vítima
(ofendido), o cargo exercido por ele e a repercussão negativa em suas atividades,
quer profissionais quer sociais, devem somar-se nos laudos avaliatórios, permitindo
que o juiz dose com justiça a condenação do ofensor.
A indenização a ser paga a uma pessoa de conduta ilibada, profissional
conhecido internacionalmente, deve ser diferente de uma pessoa comum que não
atende aos requisitos mostrados pelo primeiro. Não se quer dizer com isso que um
mereça mais que o outro, o que se quer mostrar é que, na avaliação para dosar o
valor, tais requisitos devem ser levados em conta.
Ultrapassada a premissa quanto à existência do dano moral e sua
indenização, apresentamos um conceito atual em que o dano moral consiste na
lesão de interesse que visa à satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial
pertencente aos direitos da personalidade, à dignidade da pessoa humana ou aos
atributos da pessoa.
Quanto à natureza da indenização por dano moral, podemos dizer que tem
dupla natureza – é compensatória e punitiva – devendo ser levados em conta, no
momento da fixação, critérios de proporcionalidade e razoabilidade, atendendo às
condições do autor, do lesado, e do bem jurídico lesado.
Quanto à prova da ocorrência do dano moral, na doutrina e jurisprudência, é
pacífica e já aceita a configuração independente da prova. De acordo com a Súmula
227 do STJ, também cabe dano moral à pessoa jurídica.

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37
STJ Súmula nº 227 - 08/09/1999 - DJ 20.10.1999
Pessoa Jurídica - Dano Moral
A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

Cabe ressaltar, ainda neste item, um problema que atordoa o nosso


judiciário, o excesso de ações com fulcro na existência de dano moral, quando na
realidade trata-se de mero aborrecimento. Vamos explicar melhor. Como vimos, a
CF1988 consagrou a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da
imagem das pessoas, e a respectiva indenização pelo dano moral que decorre da
sua violação.
Quando a pessoa sofre um mero aborrecimento ou um desconforto, ou um
desgosto, ou até um mero constrangimento, que pode ser frequente no cotidiano,
não está a merecer a reparação, uma vez que inexiste o dano moral.
Exemplificando, podemos citar o caso das pessoas que ficam presas na porta
giratória de um banco.
Primeiro, porque a existência da porta giratória é determinada por lei e serve
para melhorar a segurança do estabelecimento. Segundo, porque é de
conhecimento de todos a existência da porta giratória e da não permissão de passar
por ela com materiais metálicos. Terceiro, porque serve à própria segurança da
pessoa que utiliza o banco. Assim, uma determinada pessoa, ao tentar entrar no
estabelecimento, fica retida na porta. O segurança geralmente pergunta se a pessoa
não está portando algum objeto metálico, e ela se sente constrangida, diante das
demais, por estar presa na porta giratória.
Podemos considerar tal fato apenas um mero aborrecimento, pois
dificilmente a ação está ligada à honra da pessoa, já que até aquele momento,
ninguém a acusou injustamente de ser um ladrão. Só caberia ressarcimento se o
segurança exceder em sua abordagem. Ademais, determinados fatos que não
merecem acolhida judicial são utilizados por pessoas inescrupulosas e
desafortunadas, que buscam se locupletar às custas de pessoas jurídicas, quer de
direito público, quer de direito privado.

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38
Podemos afirmar que nosso judiciário está atento a tais ações, indeferindo
as que não atingem o objetivo esperado pelo dano moral.

2.2.3.3 Culpa

Não basta apenas a imputabilidade do agente para gerar o ato ilícito,


necessário se faz que tenha agido com culpa. Sua conduta deve ser reprovável,
sendo este o segundo pressuposto. No estudo da responsabilidade civil a culpa
assume duas concepções. A primeira se desdobra em dolo e culpa, chamada de lato
sensu. A segunda, stricto sensu, tem fundamento numa determinada posição ou
situação psicológica do agente para com o fato.
Quanto à concepção lato sensu, o dolo surge como tipo mais grave da culpa,
definindo-se como a infração consciente do dever preexistente, ou o propósito de
causar dano a outrem. Assevera-se a existência de outros tipos de dolo, como o
dolo direto, que ocorre quando o agente atua para atingir o fim ilícito; o dolo
necessário, quando o agente tem a pretensão de atingir o fim lícito, mas tem
conhecimento de que sua ação inevitavelmente terá um resultado ilícito; e o dolo
eventual, que ocorre quando o agente visa um fim lícito, mas conscientemente sabe
que pode eventualmente advir do seu ato um resultado ilícito, e quer que este se
produza.
Quanto à concepção stricto sensu – culpa em sentido estrito – se refere à
vontade do agente, que é dirigida ao fato causador da lesão. O agente não queria o
resultado, mas este ocorre pela falta de diligência na observância da lei ou norma de
conduta. Não tinha o objetivo, mas este era previsível. É a omissão da diligência
exigível do agente. A mera culpa ocorre pela violação de um dever jurídico por
negligência, imprudência ou imperícia, podendo consistir numa ação ou numa
omissão.
Como já estudamos, a negligência se relaciona com a desídia, ou seja, a
falta de cuidado por conduta omissiva. A imprudência está ligada à temeridade, ou
seja, é o atrevimento no agir, faltando a cautela por conduta comissiva. A imperícia é
decorrente da falta de habilidade no exercício de atividade técnica.

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39
Pode-se ainda graduar a culpa de acordo com a gravidade da conduta do
agente. A nossa legislação pátria não menciona esta graduação, mas ela tem
respaldo na doutrina e jurisprudência, principalmente quando da fixação da
indenização, no dano moral.
Desta forma, encontramos três graus de culpa: grave, leve e levíssima. A
primeira é aquela imprópria ao comum dos homens, o erro grosseiro, que ocorre
com o descuido injustificável. Equipara-se ao dolo. A segunda é a falta que poderia
ser evitada com a atenção comum, com o cuidado próprio do homem comum. A
terceira caracteriza-se por uma falta de atenção acima do normal, com especial
habilidade ou conhecimento singular. Todas elas levam à obrigação de reparar o
dano.
Tendo em vista que o Código Civil de 2002 recepcionou a responsabilidade
objetiva, passamos a ter três espécies de culpa nas quais o responsável não é o
causador do dano, mas responde pelo resultado danoso. É o caso do fato de
outrem, que abrange o fato de terceiro, o fato da coisa, substituindo o que
determinava a legislação anterior quando tratava da culpa in eligendo, in vigilando e
in custodiando.
Como afirmado anteriormente, existem situações em que o agente irá
responder por fato de outrem, quando se irá imputar ao responsável o dever de
indenizar mesmo que não tenha sido ele o causador do dano. Temos desta forma
três possibilidades: responsabilidade por fato de terceiro; responsabilidade por fato
dos animais; e responsabilidade por fato da coisa.

Responsabilidade por fato de terceiros – está determinada pelo art. 932 do


Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas
mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

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IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes,
moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a
concorrente quantia.

Em todos os casos, exige-se a existência de um vínculo jurídico anterior


entre o agente e o autor do ato ilícito, resultando, daí, um dever de guarda, vigilância
ou custódia.

Responsabilidade pelo fato da coisa – é admitida pela doutrina e


jurisprudência, uma vez que inexiste dispositivo legal explícito em nosso Código
Civil. Tem fundamento na teoria da guarda, em que quem tem a obrigação de
guardar deve responsabilizar-se pelos danos causados sobre a coisa e seu uso.
Deriva, assim, da falta de vigilância sobre ela. Na realidade, o dano não é causado
pela coisa, e sim pela má utilização dela, haja vista que a “coisa” não tem
capacidade para cometer dano.
Encontramos no Código Civil dois artigos que expressam a responsabilidade
pelo fato da coisa.

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que


resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja
necessidade fosse manifesta.
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar
indevido.

Responsabilidade por fato de animais – está regulada no Código Civil no


artigo 936: “O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se
não provar culpa da vítima ou força maior”. Desta forma, aquele que possui o
comando sobre um animal tem o dever de evitar que ela cause danos a terceiros.

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41
Outro ponto importante a ser visto está relacionado com a evolução das
tecnologias e das próprias atividades humanas, que levam os riscos a se
multiplicarem, e buscam-se soluções para todos os tipos de casos. Isto porque, cada
vez mais as vítimas têm dificuldades para provar a culpa do agente, sendo-lhes
negada a reparação do dano. A doutrina e a jurisprudência passaram a admitir o
recurso da inversão do ônus da prova. Desta forma, surge a culpa presumida.
Embora ainda seja imprescindível a culpa para fins indenizatórios, passa a existir
uma presunção, passando para o agente a obrigação de provar que sua conduta
não foi culposa.

2.3 TEORIA DO RISCO

2.3.1 Introdução

Tendo em vista a evolução da responsabilidade civil, a regra geral


determinada é a da responsabilidade subjetiva (teoria da culpa), estudada
anteriormente, porque no Brasil o Código Civil de 1916 previa, em seu artigo 159,
que para ocorrer a indenização necessário se fazia demonstrar os seguintes
requisitos: ação ou omissão; culpa ou dolo do agente; nexo causal (relação de
causalidade entre o dano e a conduta); e o dano ocasionado.
Porém, o Código Civil de 2002 recepcionou a teoria da responsabilidade
objetiva (teoria do risco), determinando, no parágrafo único do artigo 927, que
“haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” (grifo nosso)
A responsabilidade subjetiva ainda é importante para nosso Direito, mas se
tornou insuficiente para atender a todas as possibilidades e demandas de
ressarcimento de dano, haja vista a sociedade moderna e em evolução constante.
Essa sociedade moderna, desenvolvida e provida de avanços tecnológicos e
científicos, na qual os interesses pessoais se tornam mais intensos, com relações

AN02FREV001/REV 4.0

42
complexas, leva à existência de danos, quer ao patrimônio, quer à personalidade
humana, provocados por conflitos de interesses e direitos, os quais somente a
responsabilidade subjetiva não poderia sanar.
Assim, surge a responsabilidade objetiva, independente de culpa e baseada
no risco, buscando reparar todo e qualquer dano, independentemente de sua causa.
Podemos afirmar que hoje, no Brasil, temos um sistema de responsabilidade civil
dualista, coexistindo a responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva.
Embora anteriormente ao Código Civil de 2002 a lei vigente só permitisse a
existência da responsabilidade objetiva quando prevista em lei, algumas legislações
já consagravam sua existência, como a Lei das Estradas de Ferro (Dec. nº
2.681/1912) e o Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei nº 7.565/1986). A teoria do
risco só foi realmente adotada com a Constituição Federal de 1988, em seu art. 37,
§ 6º e com o Código de Defesa do Consumidor.

2.3.2 A Teoria do Risco

Os juristas, em busca da fundamentação para o estudo da responsabilidade


objetiva, criaram a teoria do risco, que compreende que se alguém exerce uma
atividade criadora de perigos especiais deve responder pelos danos que ocasionar a
outrem. No estudo da teoria do risco encontramos algumas modalidades trazidas
pela doutrina, uma vez que o Código Civil, em seu art. 927, não faz qualquer
distinção, como:

Risco proveito – responsabiliza aquele que busca tirar proveito da atividade


danosa, baseando-se no preceito de que quem aufere o bônus deve suportar o ônus
(Ubi emolumentum, ibi et onus esse debet).
Risco profissional – em que o dever de indenizar ocorre sempre que o fato
prejudicial decorre da atividade ou profissão do lesado. Justifica a reparação dos
acidentes de trabalho.

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43
Risco excepcional: ocorre quando a reparação é devida sempre que o dano
for consequência de um risco excepcional, que escapa à atividade comum da vítima,
ainda que estranho ao trabalho que normalmente exerça.
Risco criado: ocorre quando aquele que, em razão de sua atividade ou
profissão, cria um perigo, estando assim a reparar o dano que causar, salvo prova
de haver obedecido a todas as medidas idôneas a evitá-lo.

Além dos casos acima mencionados, encontramos a teoria do risco


integral, considerada uma modalidade extremada da teoria do risco, onde o agente
se obriga a reparar o dano causado até quando inexiste o nexo causal, ou seja, o
dever de indenizar surge tão-somente em face do dano, ainda que oriundo de culpa
exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou força maior.
Fazem parte do nosso ordenamento jurídico três hipóteses de risco integral:

Dano ambiental – aquele que provoca dano ambiental fica obrigado a


repará-lo, independentemente de culpa. Tal regra vem do preceito contido na CF 88,
no § 3º do art. 225 - “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”,
combinado com a lei da Política Nacional do Meio Ambiente – Lei nº 6.938 – no § 1º
do art. 14 - “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar
os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O
Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de
responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente”.

Seguro obrigatório (DPVAT) - a Lei nº 6.194/74 (alterada pela Lei nº


8.441/92) em seu art. 5º determina: “O pagamento da indenização será efetuado
mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente da
existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida qualquer franquia de
responsabilidade do segurado”. Assim, a indenização pelo seguro obrigatório para
os proprietários de veículos automotores é devida, mesmo que o acidente tenha sido

AN02FREV001/REV 4.0

44
provocado por veículo desconhecido ou não identificado, e ainda que tenha havido
culpa exclusiva da vítima.
Danos nucleares – sabe-se que a exploração de atividades nucleares traz
uma gama de riscos. Desta forma, a CF88, na alínea “d”, que foi incluída pela EC nº
49/2006, do inciso XXIII do art. 21, determina: “a responsabilidade civil por danos
nucleares independe da existência de culpa”. A Lei nº 6.453/1977, em seu art. 8º,
apresenta uma exceção, quando preceitua: “O operador não responde pela
reparação do dano resultante de acidente nuclear causado diretamente por conflito
armado, hostilidades, guerra civil, insurreição ou excepcional fato da natureza”.
Concluímos dizendo que, além da teoria do risco, a responsabilidade
objetiva tem hoje outros fundamentos que legitimam o dever de reparação do dano,
ou seja, consiste na responsabilização pelo resultado, e não pela causa.

2.3.3 As Relações de Consumo

Não iremos adentrar no estudo do Direito do Consumidor, mas faz-se


necessária a colocação destes parágrafos para completarmos o estudo da teoria do
risco. Além da recepção pelo Código Civil de 2002 da teoria do risco no direito
pátrio, tivemos um momento anterior da aceitação desta teoria para formalizar a
ocorrência do dano e sua indenização.
Trata-se do Código de Defesa do Consumidor – Lei nº 8.078 de 1990,
anterior ao nosso Código Civil vigente, que em seu art. 12 se apropria da teoria do
risco:

O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o


importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes
de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

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45
Podemos afirmar que, para os consumidores, foi uma importante conquista
em defesa de seus direitos. A importância da adoção da teoria do risco pelo nosso
direito está no fato de que os fornecedores ou prestadores de serviços passaram a
responder pelos danos causados, independentemente de agirem com culpa, tendo
responsabilidade direta por seus produtos ou serviços, ainda mais quando a
atividade desenvolvida por eles implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.

2.4 EXCLUDENTES

Para buscar o justo equilíbrio entre as relações ligadas à responsabilidade,


que geram a obrigação de indenizar, o legislador criou algumas regras que permitem
a defesa do ofensor. São causas que isentam ou exoneram o autor da
responsabilidade, exceções ao dever ou obrigação de indenizar.
Essas exceções recebem o nome de excludentes ou excludentes do nexo
causal, que são a culpa da vítima (exclusiva ou concorrente) e o caso fortuito e a
força maior. Elas têm por escopo quebrar o liame entre a conduta do agente e o
dano.
Lembramos que as exceções podem ser divididas em excludente de
ilicitude, que são a legítima defesa, o exercício regular de um direito e o estado de
necessidade, próprias do Direito e que também serve à responsabilidade civil, e as
excludentes do nexo causal, citadas acima. Para alguns autores, além dos casos
mencionados anteriormente, funciona também como meio de defesa a cláusula de
não indenizar, no campo contratual, e a prescrição.
Iniciamos discorrendo sobre as excludentes de ilicitude. Elas estão contidas
no Código Civil de 2002, no Título III, que fala sobre os atos ilícitos, determinando os
atos que não constituem ilicitude, como vemos no art. 188:

Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito
reconhecido;

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46
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim
de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando
as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os
limites do indispensável para a remoção do perigo.

Legítima defesa - na lei civil não encontramos um conceito, desta forma, o


buscamos no direito penal, contido no art. 25 do Código Penal com redação dada
pela Lei nº 7.209/84 – “Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente,
a direito seu ou de outrem”.
Alguns pontos devem ser destacados, como: não é qualquer tipo de
resposta ao comportamento de outrem, há de haver a iniciativa da parte contrária; a
agressão tem de ser atual ou eminente, se já ocorrida não se justifica; a reação tem
de ser proporcional à agressão sofrida, não se pode exceder ao limite do necessário
para repelir o ato, se houver excesso, este será punível.

Exercício regular de um direito - consiste no desempenho de uma atividade


ou prática de uma conduta autorizada pelo ordenamento jurídico, que torna lícito um
fato típico. Chamamos a atenção para o abuso do direito, constante do art. 187 do
Código Civil: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes”. Vemos que o exercício regular de um direito deverá
ter uma medida para ser considerado como lícito; se ultrapassada esta medida, têm-
se o abuso do direito, ensejando o ato ilícito, passível de indenização.

Estado de necessidade - ocorre quando o agente deteriora ou destrói coisa


alheia ou causa lesão a uma pessoa, com o intuito de afastar perigo iminente. Da
mesma forma que a legítima defesa, um ponto deve ser destacado: o ato só será
legítimo quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, sendo
vedado o excesso ao indispensável para a remoção do perigo, conforme preceitua o
parágrafo único do art. 188 do Código Civil.

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Como podemos verificar os três casos acima são considerados como
excludente de ilicitude. Mas e quanto ao dever de indenizar, nos casos de legítima
defesa e estado de necessidade, também fica excluído? Não. Basta uma leitura
atenta aos arts. 929 e 930 do Código Civil para confirmar que preserva o dever de
indenizar, senão vejamos:

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do


art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização
do prejuízo que sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de
terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a
importância que tiver ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de
quem se causou o dano (art. 188, inciso I).

Quanto às excludentes do nexo causal, temos:

Culpa da vítima – pode ser exclusiva ou concorrente – é lógico que ninguém


será obrigado a indenizar por um resultado que não tenha causado, desta forma a
conduta da vítima irá interferir ou na exclusão da responsabilidade, ou na atenuação
do dever de indenizar.
Alguns autores discutem se o termo culpa estaria correto para o caso,
acreditando ser mais correta a utilização do termo causa, uma vez que a conduta é
oriunda da vítima e não de sua culpa, pois é a efetiva participação na produção do
evento danoso que deve determinar o dever de indenizar, embora a maioria dos
doutrinadores utilize o mesmo termo (culpa) encontrado na lei.
Quando exclusiva, somente a vítima obrou para a ocorrência do ato; se o
agente teve alguma participação, passa a ser concorrente. Neste caso, não será
excluída a responsabilidade, mas apenas atenuada, como vemos no art. 945 do
Código Civil de 2002: “Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento
danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa
em confronto com a do autor do dano”.

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Fato de terceiro – ocorre quando o dano é ocasionado não em razão da
conduta do agente ou da vítima, mas da conduta de um terceiro, isentando o agente
da responsabilidade. O terceiro pode ser qualquer pessoa que não seja o agente ou
a vítima e não pode ter nenhuma ligação com ambos. Claro que nem todo fato de
terceiro é suficiente para excluir a responsabilidade do agente, nem a obrigação de
indenizar, mas permite a ação de regresso em face do terceiro.
O fato de terceiro só irá exonerar o dever de indenizar quando realmente
constituir causa estranha ao causador aparente do dano, ou seja, quando ocorrer a
eliminação total da relação de causalidade entre o dano e o desempenho do agente.
No caso de culpa concorrente do terceiro e do agente causador direto do
dano, passa a existir a solidariedade quanto à responsabilidade, podendo a vítima
acionar qualquer um deles pela totalidade do prejuízo, como se depreende do art.
942 e seu parágrafo único do Código Civil vigente.

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de


outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver
mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os
coautores e as pessoas designadas no art. 932.

Caso Fortuito e Força Maior - ambas as causas de exclusão terão o mesmo


efeito, ou seja, a liberação do agente. Nós já vimos seus conceitos no Módulo I, mas
para a responsabilidade civil é irrelevante distinguir o caso fortuito da força maior,
haja vista o que preceitua o art. 393 do Código Civil de 2002, que não faz distinção
entre elas, tendo ambos a mesma consequência – exoneração do dever de
indenizar. “O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou
força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado”.
A doutrina nos traz três requisitos para a existência do caso fortuito e da
força maior. O primeiro é que o fato deve ser necessário e causador do dano, ou
seja, tem de ser suficiente para gerar o dano por si só. O segundo, a inevitabilidade,
diz que o dano deve ser inevitável, que não existam meios hábeis de evitar ou

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49
impedir os seus efeitos. O terceiro é a imprevisibilidade, onde o fato deve ser
imprevisível para o agente.
Existe ainda uma teoria que divide o caso fortuito em interno e externo,
ligada à ideia de atividade do agente. Será interno o fato imprevisível e inevitável
ligado à organização da atividade do agente. Será externo o fato imprevisível e
inevitável, porém estranho à organização do agente. Somente o externo pode eximir
a responsabilidade.
Além das excludentes apresentadas acima, ainda temos como forma de
defesa do agente a cláusula de não indenizar, no campo contratual, e a prescrição.

Cláusula de não indenizar – não se pode considerar como uma causa legal
de exclusão da responsabilidade, uma vez que é uma estipulação prévia pela qual
os contratantes, de comum acordo, afastam a aplicação de uma norma legal. Ela
não exclui o cumprimento da obrigação, e sim a sanção pelo descumprimento. Na
realidade, esta cláusula só pode ser utilizada nas obrigações contratuais.
Ela não é aceita de bom grado pelo nosso direito, sendo exceção à regra,
buscando-se saber se é possível sua admissibilidade. Pode-se afirmar que ela não
será aceita quando o seu conteúdo destina-se a exonerar o devedor da
responsabilidade que ele incorreria no caso de dolo ou culpa grave, como também
não é admissível quando se tratar de violação a interesse de ordem pública.
Como o contrato faz lei entre as partes, a presente cláusula só terá efeito
nestes casos, excetuando o afirmado no parágrafo anterior. A não aceitação ocorre
principalmente quando se tratar de partes hipossuficientes ou vulneráveis, como se
pode verificar no estabelecido no art. 424 do nosso Código Civil: “Nos contratos de
adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a
direito resultante da natureza do negócio”.
Quanto aos contratos de transportes, o Código Civil, em seu art. 734,
estipula a nulidade da cláusula de não indenizar – “O transportador responde pelos
danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força
maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade”. O Código de
Defesa do Consumidor (Lei 8.078/80) e o Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei
7.565/86) também abominam a cláusula de não indenizar.

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50
Prescrição - é a extinção da ação pela inércia continuada de seu titular,
durante certo lapso de tempo fixado pela lei. Esse prazo está configurado no Código
Civil, art. 206: “Prescreve o § 3º – em três anos – inciso V – a pretensão de
reparação civil”. A prescrição está afeta à possibilidade de se propor a devida ação
no intuito de requerer a reparação do direito violado.
No nosso caso, a reparação pelo dano causado. Se a vítima não propõe a
referida ação no prazo estipulado na lei, perde o direito de fazê-lo, motivo pelo qual
está sendo a prescrição colocada como forma de defesa do agente, pois este pode
alegar que o pedido feito pelo lesado está prescrito. Como a responsabilidade civil
perpassa as causas de reparação civil, atingindo as relações de consumo,
contratuais e outras, necessário se faz a observância do prazo para cada um dos
casos.

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51
FIM DO MÓDULO II

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52
DIREITO CIVIL –
RESPONSABILIDADE CIVIL

MÓDULO III

AN02FREV001/REV 4.0

54
MÓDULO III

3 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

No primeiro Módulo alinhávamos o estudo das espécies de responsabilidade


civil, agora passaremos a aprofundar o assunto. Podemos afirmar que a
responsabilidade civil se apresenta sob diferentes espécies. Para encontrarmos as
espécies devemos levar em consideração a sua perspectiva, podendo ser através
do fato gerador, em relação ao seu fundamento, ou quanto ao agente.

3.1 QUANTO AO FATO GERADOR

Encontramos duas espécies: a responsabilidade contratual e a


responsabilidade extracontratual. A primeira é a que pertence ao mundo das
obrigações e está afeta à inexecução dos contratos. No Código Civil de 1916 não
tínhamos um capítulo próprio para a responsabilidade civil e a parte referente à
responsabilidade civil pela inexecução das obrigações estava consignada nos
artigos alusivos a perdas e danos.
Com a chegada do Código Civil de 2002, passamos a ter um capítulo próprio
para a responsabilidade civil, mas a responsabilidade contratual continua com seu
fundamento no título que trata do inadimplemento das obrigações e das perdas e
danos, contidas nos artigos 402 usque 405.
Sabemos que o contrato é um negócio jurídico bilateral ou unilateral, e seu
descumprimento gera o ilícito contratual, como também que o contrato, em regra, faz
lei entre as partes. É falta de adimplemento (cumprir a obrigação) ou da mora
(atrasar) no cumprimento da obrigação que gera as perdas e danos.
Para a existência da responsabilidade contratual necessário se faz a
existência de uma obrigação e a capacidade das partes para contratar. Não existe a

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necessidade de provar a culpa do inadimplente para se obter a reparação das
perdas e danos, basta a existência do inadimplemento, conforme preceitua o artigo
389. “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos...”.
Chamamos a atenção para o fato de se estar discutindo aqui a possibilidade
de responsabilidade civil pelo inadimplemento da obrigação uma vez que a simples
cobrança da multa e correção monetária faz parte da obrigação de cumprir o
contratado em data certa, mesmo que a dívida seja gerada por ato ilícito, conforme
determina a Súmula do STJ nº 43: “Incide correção monetária sobre dívida por ato
ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.”
O ônus da prova é do devedor, que deverá mostrar a inexistência da
obrigação, ou indicar a existência de qualquer excludente do dever de indenizar,
sendo as mais comuns o caso fortuito e a força maior, conforme preconiza o artigo
393:

O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou


força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único: O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato
necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

Embora a simples mora não enseje a responsabilidade civil, seus efeitos


podem levar o devedor a arcar com perdas e danos. Porém, devemos considerar
que a mora pode ser ocasionada tanto pelo credor quanto o devedor, conforme
artigo 394: “Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o
credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção
estabelecer”.
Desta forma preconiza o artigo 395: “Responde o devedor pelos prejuízos a
que sua mora der causa...”. Como podemos ver, a mora pode gerar o direito de
indenizar os prejuízos ocasionados ao credor, principalmente no tocante a se tornar
inútil o adimplemento da obrigação, conforme nos mostra o parágrafo único do artigo
395: “Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-
la, e exigir a satisfação das perdas e danos”.
Chamamos a atenção para o artigo 399:

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56
O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora
essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes
ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o
dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente
desempenhada.

Não basta apenas a alegação da existência de caso fortuito ou força maior,


estas excludentes têm que ter ocorrido no momento ou pouco antes do vencimento
da obrigação, a não ser que prove a isenção de culpa ou que o dano sobreviria, de
qualquer forma, tendo ou não cumprido a obrigação, caso contrário terá que arcar
com a indenização.
Quanto às perdas e danos iniciamos citando o artigo 402: “Salvo as
exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor
abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de
lucrar”, ou seja, abrange os prejuízos efetivos e os lucros cessantes, conforme
preconiza o artigo 403.
O juiz, de conformidade com o parágrafo único do artigo 404, poderá
conceder ao credor uma indenização suplementar se os juros de mora não cobrirem
o prejuízo ocasionado pelo devedor, desde que não exista no contrato pena
convencional. Ainda nesta discussão, não podemos deixar de mencionar a boa-fé
contratual que se não respeitada pode gerar o dever de indenizar.
Ela contém em si a boa-fé objetiva, que significa o dever de cada parte agir
de forma a não lesar a confiança da outra. Requer um dever de agir objetivamente
de boa-fé, que no campo contratual se traduz numa postura em todas as fases do
contrato, ou seja, nas várias etapas das relações entre as partes, quer seja na fase
pré-contratual, nas negociações preliminares até a declaração de oferta, ou na fase
pós-contratual, espera-se que os contraentes ajam com lealdade recíproca,
apresentando as informações necessárias, não criando expectativas que podem
levar ao fracasso das negociações, mantendo o sigilo necessário ao negócio entre
outras.

AN02FREV001/REV 4.0

57
A ruptura desta boa-fé nos leva à ilicitude contratual e, por conseguinte, ao
dever de reparar o prejuízo causado, ensejando os eventuais danos ocasionados.
Concluindo este assunto, podemos dizer que a responsabilidade subjetiva já não
estava satisfazendo a necessidade hodierna quanto à aplicação da tutela
jurisdicional, pois havia casos em que o ofendido não tinha como provar a conduta
ilícita do ofensor, como nos casos dos acidentes de trabalho, onde o empregado
dificilmente comprovava a negligência do patrão, quer pela falta de provas
documentais quer pela falta de testemunhas. Desta forma, a responsabilidade
subjetiva fica adstrita à responsabilidade contratual.
Hoje, e de acordo com o direito civil vigente, vemos que a tendência é a da
adoção da responsabilidade objetiva como regra, mesmo em alguns casos da
responsabilidade contratual como no Código de Direito do Consumidor.
Vejamos o que diz o artigo 927 e seu parágrafo único:

Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, é obrigado
a repará-lo.
Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

Como vemos o Código Civil de 2002 admite as duas formas, subjetiva e


objetiva, de conformidade com o artigo citado. No caput encontramos a subjetiva,
enquanto no parágrafo único a objetiva.
Corrobora com o explicitado acima o Enunciado nº 38:

Art. 927: A responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na


segunda parte do parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil, configura-
se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar
a pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da
coletividade.

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A segunda, a responsabilidade extracontratual conhecida, também, como
aquiliana, advém do inadimplemento normativo, que é a prática de um ato ilícito por
pessoa capaz ou incapaz, ou da violação de um dever que esteja fundamentado em
um princípio geral do direito, conforme artigo 186: “Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Basta a violação da lei ou de um princípio geral do direito para ensejar o
dever de indenizar, haja vista que não existe vínculo anterior entre as partes
(ofensor e ofendido) e inexiste relação obrigacional. Neste caso cabe ao ofendido
(vítima) provar a culpa do ofensor (agente).
Necessário se faz para que alguém tenha o dever de indenizar ao outro,
alguns pressupostos se tornam necessários, como: ação ou omissão do agente
quanto ao ato ilícito; relação de causalidade entre a ação do ofensor e dano causado
por ele; existência de dano, quer seja moral ou material, pois tem que ocorrer um
prejuízo para que haja o dever de indenizar; e por fim o dolo ou culpa do ofensor.
A responsabilidade extracontratual tem como princípio a culpa, desta forma
o ofendido terá que provar que o ofensor agiu com imprudência ou negligência (a
imperícia está implícita). Lembramos que, embora um tanto controvertido o assunto,
temos a responsabilidade com base no risco, que não exige a culpa, que atinge a
tutela coletiva dos prejudicados e a prevenção de danos ao meio social. É a nova
tendência social, ligada aos direitos individuais homogêneos, coletivos e difusos.
Ocorrendo juros moratórios em face da obrigação extracontratual temos o
consignado na Súmula do STJ de nº 54: “Os juros moratórios fluem a partir do
evento danoso em caso de responsabilidade extracontratual”.

3.2 EM RELAÇÃO AO SEU FUNDAMENTO

No caso da responsabilidade civil extracontratual, encontramos duas


modalidades. A primeira é a responsabilidade subjetiva, que se baseia na culpa, e a
segunda é a objetiva, que se baseia no risco. A primeira tem fundamento no já

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estudado artigo 186, tratando-se da Teoria da Culpa. A segunda, no artigo 927,
tratando-se da Teoria do Risco.
Como no Módulo II já fizemos o estudo destas duas teorias, cabe aqui
trazermos algumas considerações importantes. Não é mais a culpa e sim o fato o
elemento mais importante para que emirja o dever de reparar o dano causado.
Assim, uma atividade lícita, porém potencialmente perigosa, que cause dano, poderá
resultar em responsabilidade do agente, mesmo que tenha agido sem culpa. Tal fato
nos leva a crer numa evolução dos conceitos de responsabilidade civil.
Anteriormente alegamos a existência de controvérsia na responsabilidade
baseada no risco, uma vez quanto a empresas não resta dúvida, pois elas se
constituem e assumem o risco de seu negócio. A tarefa maior é saber se existe ou
não o risco quanto a profissionais liberais, como o caso do médico, dentista,
advogado entre outros, já que sua profissão é de risco e muitas vezes independe da
vontade do profissional o resultado, como determinar se é ou não devida a
indenização.
E não é só isso, ainda temos o caso dos motoristas que guiam seus
automóveis todos os dias. Não será uma atividade de risco? Sabemos que ele não
sai em seu veículo tendo o intuito de atropelar alguém ou participar de um acidente,
mas e se atropelar um transeunte? Será obrigado a indenizar sem a comprovação
de sua culpa? Ou seja, a expressão “atividade de risco” está aberta a qualquer
possibilidade e interpretação.
Voltando ao parágrafo único do artigo 927, encontramos “(...) ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem”. (grifo nosso). Precisamos buscar a melhor
interpretação para a palavra “normalmente”, o que o legislador quis dizer? Parece-
nos que está se referindo àqueles que exercem atividades com regularidade,
podendo ser nocivas ou danosas aos direitos de terceiros e desta atividade tenham
proveito, geralmente de natureza econômica. Somente a elas seria consignada a
atividade de risco, ensejando a responsabilidade objetiva.
Parece-nos que aos outros, como os profissionais e o motorista citados
acima, necessário se faz a apuração de sua culpa para ensejar a indenização. Cabe
ressaltar que os princípios que influenciam a responsabilidade objetiva são a boa-fé
e a equidade, buscando uma tutela jurisdicional mais justa. Desta forma, a

AN02FREV001/REV 4.0

60
responsabilidade objetiva busca suporte na teoria do risco, que se orienta nos
princípios e valores sociais, como a boa-fé e a equidade, haja vista o preceituado na
Constituição Federal de 1988 quanto à proteção à dignidade da pessoa humana (art.
1º, III), que se tornou fundamento do Estado Democrático de Direito.
Baseado neste princípio – boa-fé e equidade – para alguns doutrinadores o
parágrafo único do artigo 927 do CC na realidade estabeleceu a teoria do risco
criado, uma vez que deixou em aberto sua interpretação, ou seja, a obrigação de
indenizar ainda que a conduta não seja culposa.
Desta forma, a responsabilidade irá incidir em todos os casos que a
atividade normalmente desenvolvida implicar, por sua natureza, em risco para o
direito de outrem, porém será necessária a presença dos demais requisitos – a
ação, nexo de causalidade e dano.

3.3 QUANTO AO AGENTE

No caso do agente, que é o devedor da indenização, podemos dizer que a


responsabilidade pode ser direta ou indireta. A responsabilidade direta ou simples é
aquela do próprio ofensor, provêm de seu próprio ato, enquanto a indireta ou
complexa resulta de ato de terceiro, desde que o agente tenha algum vínculo legal
com o terceiro, podendo ser por fato de terceiro; por fato dos animais; e por fato da
coisa, como estudado no Módulo II.
Nos ensinamentos de Cavalieri1 quanto à responsabilidade civil indireta,
temos:

Isso, entretanto, não ocorre arbitrária e indiscriminadamente. Para que a


responsabilidade desborde do autor material do dano, alcançando alguém
que não concorreu diretamente para ele, é preciso que esse alguém esteja
ligado por algum vínculo jurídico ao autor do ato ilícito, de sorte a resultar-lhe,
daí, um dever de guarda, vigilância ou custódia (CAVALIERI, 1997, p. 110).

1 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Malheiros, 1997.

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61
Desta forma, podemos concluir que a responsabilidade civil indireta
proporciona mais uma garantia à vítima, uma vez que se o causador do dano não
puder arcar com sua responsabilidade buscasse outros responsáveis que, por lei,
têm a obrigação de vigiar a conduta do agente, conforme vemos nos artigos abaixo:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas
mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes,
moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a
concorrente quantia.
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente,
ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados
pelos terceiros ali referidos.

O Código Civil, nos artigos seguintes, nos mostra as exceções a este dever
de indenizar:

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por
ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de
meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser
equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas
que dele dependem.
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do
art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização
do prejuízo que sofreram.

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Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de
terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a
importância que tiver ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de
quem se causou o dano (art. 188, inciso I).
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os
empresários individuais e as empresas respondem independentemente de
culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.

Uma vez responsabilizado pelo fato a legislação permite que, em certos


casos, o responsabilizado tenha o direito de se ressarcimento contra o autor da
ação, conforme determina o art. 934: “Aquele que ressarcir o dano causado por
outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o
causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz”.
Complementando este estudo ainda temos como regra que a
responsabilidade civil é independente da criminal, não mais podendo ser discutida
na esfera cível o fato, conforme determina o art. “A responsabilidade civil é
independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do
fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas
no juízo criminal”.
Trazemos à colação alguns artigos que complementam o dever de indenizar
indiretamente, como: art. 936: “O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por
este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.” O artigo é incisivo
determinando o dever de reparar o dano ocasionado por animal, exceto se a culpa
for da vítima ou por força maior. Exemplificando: se a vítima instigou o animal e este
se voltou contra ele, a culpa passa do dono do animal para a vítima, ou se por fato
alheio à vontade do dono do animal este vier a se desprender e atacar a vítima.
O artigo 937 determina a responsabilidade civil daquele que tem o dever de
conservar a coisa e, não o fazendo, assume a responsabilidade de indenizar pelos
danos causados: “O dono de edifício ou construção responde pelos danos que
resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse
manifesta.”
O artigo 938 trata de um assunto interessante referente à responsabilidade
do morador de um prédio, que é responsável pelo dever de não permitir que sejam

AN02FREV001/REV 4.0

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lançadas coisas de seu apartamento. Diz o artigo: “Aquele que habitar prédio, ou
parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem
lançadas em lugar indevido.”
A princípio o condomínio, na pessoa do síndico, é o responsável pela
reparação do dano, dado a ele o direito de ação regressiva contra o morador, a não
ser quando fica evidente quem foi o autor do lançamento. Desta forma, o morador
não pode colocar nada no peitoril das janelas, pois corre o risco delas caírem e
ocasionar danos, da mesma forma que não deve lançar nada pelas suas janelas,
inclusive pontas de cigarro, como é comum se verificar, pois pode ocasionar
incêndio nos andares abaixo.
Já os artigos protegem contra danos ocasionados pela cobrança indevida de
uma dívida antes de seu vencimento, ou já paga:

Art. 939. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora
dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que
faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora
estipulados, e a pagar as custas em dobro.
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte,
sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará
obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver
cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver
prescrição.
Art. 941. As penas previstas nos arts. 939 e 940 não se aplicarão quando o
autor desistir da ação antes de contestada a lide, salvo ao réu o direito de
haver indenização por algum prejuízo que prove ter sofrido.

Além da responsabilidade direta e indireta, no tocante ao agente, temos que


destacar a responsabilidade solidária e a subsidiária. Como visto acima, o legislador
procurou alargar a responsabilidade para permitir a reparação do dano,
determinando em casos excepcionais, a permissão da responsabilização por atos de
terceiros, conforme artigo 933.
Desta forma, a responsabilidade é solidária, o que possibilita que vários
agentes sejam, simultaneamente, responsabilizados, mesmo que apenas uma delas

AN02FREV001/REV 4.0

64
tenha cometido o dano, porém outras concorreram para que ele ocorresse. Desta
forma, todas serão civilmente responsáveis.
A responsabilidade solidária (indireta) está contida na legislação, mas temos
ainda a chamada responsabilidade subsidiária, que não está expressamente
prevista em lei, mas sim na jurisprudência. Ela ocorre nos casos em que embora a
vítima possa exigir de um dos coobrigados a prestação inteira, ela não terá a
liberdade de escolha, devendo obedecer a uma ordem de preferência.
Primeiramente ingressará contra um ou uns coobrigados e caso não tenha êxito
postulará com os demais. Daí ser subsidiária, pois só poderá ser proposta depois de
exauridas as forças dos patrimônios dos responsáveis principais.
Corroborando com o exposto vejamos os artigos abaixo:

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de


outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver
mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os
coautores e as pessoas designadas no art. 932.
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmite-
se com a herança.

Outra situação de dúvida está contida no artigo 944 e seu parágrafo único:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.


Parágrafo único Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da
culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

O presente preceito tem seu embasamento na Constituição Federal de 1988.


A indenização pela extensão do dano – restitutio in integrum – tem o escopo de
atingir a equidade nas decisões judiciais, a sua valoração dever ser medida de
acordo com a extensão do dano – experimentado e comprovado – pela vítima.
Necessário se faz para entendermos melhor este assunto, dividirmos em duas

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partes. A primeira referente ao dano extrapatrimonial (moral) e a segunda quanto ao
dano patrimonial (financeiro).
Como já foi estudado, o dano moral possui uma natureza dúplice, pois tanto
serve para compensar financeiramente o prejuízo psíquico da vítima, quanto
provocar uma sanção, através de um ônus financeiro, ao ofensor, para que ele não
volte a prejudicar outras pessoas.
O problema maior será a tarefa de medir a extensão do dano e o valor a
condenatória a ser atribuído. Como se vê no parágrafo único, deve-se levar em
consideração a gravidade da culpa e do dano. Quanto ao primeiro – gravidade da
culpa – será menos difícil determinar, o problema maior será quanto ao dano
ocasionado.
Quanto ao prejuízo psíquico da vítima, como se pode medir este dano? O
que se pode avaliar sobre o valor moral? O que é moral para um pode não ser para
outro. E a dor, como mensurá-la? Diferentemente da sanção, que será bem mais
fácil verificar o quanto deve ser o ônus para que o ofensor não mais aja da maneira
como agiu. Dependendo da condição financeira do autor da ação e sua culpa,
haverá uma forma de ser atribuído um valor que o faça sentir-se punido pelo que
ocasionou.
E quanto ao segundo, o dano material, como deverá ser o procedimento do
juiz? Será que podemos aplicar o presente artigo e seu parágrafo único? A meu ver
não, haja vista que o dano material pode ser mensurado sem maiores problemas,
pois temos como saber o que efetivamente ele perdeu (danos emergentes) com a
ação e o que efetivamente deixou de ganhar (lucros cessantes).
Lembramos que no caso do dano moral o juiz deverá verificar o grau de
culpa do agente no momento de arbitrar o valor indenizatório, principalmente no
tocante ao fator punição. No caso do dano material, menos que a culpa seja
levíssima, o juiz não poderá condenar a um valor inferior ao que realmente vale o
que foi destruído ou inutilizável. Por exemplo: uma pessoa se aproxima de uma
estátua de arte e tropeça vindo a derrubá-la e quebrá-la.
Em uma proposta de reparação do dano promovida pelo proprietário da
estátua, o valor a ser pedido na condenação será o valor real do objeto de arte.
Mesmo sabendo o juiz que o autor tropeçou sem querer, não poderá determinar
valor diferente do que cabe ao objeto.

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66
Como já vimos, a função primordial da responsabilidade civil é a completa
satisfação da vítima, procurando-se fazer com que esta retorne ao “status quo” ao
evento danoso, ou seja, como se ele nunca tivesse ocorrido. Desta forma, quando
for impossível a reparação direta será compensado o prejudicado com uma
reparação indireta, ou seja, através de uma indenização monetária correspondente
ao dano sofrido.
Diante do exposto acima, não podemos esquecer que pode ocorrer o
requerimento de indenização pelo dano material e pelo dano moral em uma mesma
ação, como preceitua a Súmula 37 do STJ: “São cumuláveis as indenizações por
dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.”
De acordo com o raciocínio elaborado acima, teríamos a aplicação da
indenização pura e simples para o dano material e que a possibilidade de se
empregar o artigo 944 e seu parágrafo único para o dano moral. Concluindo a
discussão, trago algumas súmulas que nos ajudam a entender melhor a aplicação
da responsabilidade civil nestes casos.

Súmula 145: No transporte desinteressado, de simples cortesia, o


transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado
quando incorrer em dolo ou culpa grave. Neste caso o Superior Tribunal de Justiça
pacificou o entendimento quanto à indenização devida pelo transportador aos
transportados sem pagamento de passagem e a meu ver estendendo aos chamados
“caronas”. Só será cabível indenizar se ocorrer dolo ou culpa grave do agente.
Vejamos um dos Acórdãos que serviram de base para a presente Súmula:

Processo REsp 54658/ SP


RECURSO ESPECIAL 1994/0029441-7
Relator(a) Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR (1102)
Órgão Julgador T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento: 12/12/1994
Data da Publicação/Fonte DJ 13/03/1995 p. 5307; LEXJTACSP vol. 155 p. 473;
RSTJ vol. 74 p. 395; RSTJ vol. 80 p. 349; RTJE vol. 147 p. 209.

Ementa

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67
RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE DE SIMPLES CORTESIA (OU
BENÉVOLO). DOLO OU CULPA GRAVE. QUEM OFERECE TRANSPORTE POR
SIMPLES CORTESIA SOMENTE RESPONDE PELOS DANOS CAUSADOS AO
PASSAGEIRO EM CASO DE DOLO OU CULPA GRAVE. JURISPRUDÊNCIA DO
STJ. ART. 1057 DO CC. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

Acórdão
POR UNANIMIDADE, CONHECER DO RECURSO E DAR-LHE PROVIMENTO.
Resumo Estruturado
IMPOSSIBILIDADE, INDENIZAÇÃO, RESPONSABILIDADE CIVIL, DECORRÊNCIA,
DANO, PASSAGEIRO, TRANSPORTE GRATUITO, INEXISTÊNCIA, DOLO, CULPA
GRAVE, MOTORISTA.

Súmula 221 - São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano,


decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o
proprietário do veículo de divulgação. Esta Súmula está afeta ao explicado acima
quanto à solidariedade, determinado quanto à mídia que tanto o autor quanto o
proprietário do veículo de comunicação são responsáveis pelos danos que venham
ocasionar a terceiros com a divulgação de notícias ou fatos sobre a vítima.
Esta Súmula se faz necessária tendo em vista que o repórter é considerado
responsável pelas notícias, porém o veículo de divulgação deve saber quem são
seus repórteres e qual a confiabilidade que merecem, assumindo o risco pela má
escolha.
Vejamos um dos Acórdãos que serviram de base para a presente Súmula:

Processo REsp 184232/ SP


RECURSO ESPECIAL 1998/0043257-4
Relator(a) Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO (1108)
Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento 05/11/1998
Data da Publicação/Fonte DJ 22/02/1999 p. 110 JSTJ vol. 6 p. 469 LEXSTJ vol. 124
p. 176 RSTJ vol. 125 p. 325

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68
Ementa
DANO MORAL. LEI DE IMPRENSA. LEGITIMIDADE PASSIVA. PRECEDENTE DA
CORTE.
1. Na linha de precedente da Corte, a regra do art. 49, § 2º, da Lei de Imprensa não
comporta interpretação que exclua a legitimidade passiva daquele que, diretamente,
usou as expressões apontadas como violadoras do direito fundamental do autor.
Identificado o autor da ofensa à honra, pode o ofendido acioná-lo diretamente, não
colhendo fruto a alegada ilegitimidade passiva.
2. Recurso especial não conhecido.

Acórdão
Por unanimidade, não conhecer do recurso especial.
Resumo Estruturado
LEGITIMIDADE PASSIVA, AÇÃO DE INDENIZAÇÃO, DANO MORAL, AUTOR,
ARTIGO, PUBLICAÇÃO, JORNAL, OFENSA, HONRA, TERCEIRO,
INDEPENDÊNCIA, RESPONSABILIDADE, EMPRESA JORNALÍSTICA, AUSÊNCIA,
VIOLAÇÃO, LEI DE IMPRENSA.
Quanto à emissão de cheques e sua apresentação, o STJ também já
pacificou conforme vemos a seguir: Súmula 370 - Caracteriza dano moral a
apresentação antecipada de cheque pré-datado. Há algum tempo o comércio, para
incrementar suas vendas, passou a aceitar o chamado cheque pré-datado, figura
inexistente em nosso sistema jurídico, uma vez que o cheque é uma ordem de
pagamento à vista.
O emissor do cheque tem a responsabilidade de ter em depósito o valor
suficiente de fundos para suprir o pagamento na data aprazada, não antes e desta
forma se o credor apresenta o cheque antes da data poderá causar prejuízos para o
emissor, devendo repará-los.
Vejamos um dos Acórdãos que serviram de base para a presente Súmula:

Processo REsp 707272/ PB


RECURSO ESPECIAL - 2004/0169322-6
Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
Órgão Julgador - T3 - TERCEIRA TURMA

AN02FREV001/REV 4.0

69
Data do Julgamento - 03/03/2005
Data da Publicação/Fonte - DJ 21/03/2005 p. 382 RDDP vol. 26 p. 194 RNDJ vol. 66
p. 102

Ementa
Civil. Recurso especial. Cheque pré-datado. Apresentação antes do prazo.
Compensação por danos morais.
- Não ataca o fundamento do acórdão o recurso especial que discute apenas a
natureza jurídica do título cambial emitido e desconsidera o posicionamento do
acórdão a respeito da existência de má-fé na conduta de um dos contratantes.
- A apresentação do cheque pré-datado antes do prazo estipulado gera o dever de
indenizar, presente, como no caso, a devolução do título por ausência de provisão
de fundos. Recurso especial não conhecido.

Acórdão
(...)
Resumo Estruturado
(ENTENDIMENTO DO ÓRGÃO JULGADOR). NÃO CONHECIMENTO, RECURSO
ESPECIAL, ALEGAÇÃO, VIOLAÇÃO, NATUREZA JURÍDICA, CHEQUE,
HIPOTESE, ACÓRDÃO RECORRIDO, FUNDAMENTAÇÃO, EXISTÊNCIA, MÁ-FÉ,
RECORRENTE, APRESENTAÇÃO, CHEQUE PRÉ-DATADO, ANTERIORIDADE,
DATA, PREVISÃO, CONTRATO VERBAL, DECORRÊNCIA, FALTA,
IMPUGNAÇÃO, INTEGRALIDADE, FUNDAMENTAÇÃO, ACÓRDÃO RECORRIDO.
(RESSALVA DE ENTENDIMENTO)
CABIMENTO, TOMADOR, CHEQUE, INDENIZAÇÃO, DANO MORAL, EMITENTE,
HIPÓTESE, BANCO, DEVOLUÇÃO, CHEQUE SEM FUNDOS, MOTIVO,
APRESENTAÇÃO, CHEQUE PRÉ-DATADO, ANTERIORIDADE, DATA,
PREVISÃO, CONTRATO VERBAL, EXISTÊNCIA, MÁ-FÉ, TOMADOR, VIOLAÇÃO,
RELAÇÃO DE CONFIANÇA, OCORRÊNCIA, PREJUÍZO, EMITENTE,
CARACTERIZAÇÃO, RESPONSABILIDADE CIVIL.

Continuando, Súmula 388 - A simples devolução indevida de cheque


caracteriza dano moral. Esta Súmula determinou que a devolução do cheque tem

AN02FREV001/REV 4.0

70
que ser motivada, pois se devolvido sem qualquer razão poderá trazer danos ao
emissor do cheque, cabendo assim o pedido de indenização pelo dano moral que
lhe ocasionou a devolução.
Vejamos um dos Acórdãos que serviram de base para a presente Súmula:

Processo - REsp 888987 / SP


RECURSO ESPECIAL - 2006/0209764-0
Relator(a) - Ministro JORGE SCARTEZZINI (1113)
Órgão Julgador - T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento - 15/02/2007
Data da Publicação/Fonte - DJ 12/03/2007 p. 257

Ementa
CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS.
EXTRAVIO E ROUBO DE TALONÁRIO DE CHEQUES PERTENCENTES AO
AUTOR. EMISSÃO DE UM CHEQUE DEVOLVIDO POR INSUFICIÊNCIA DE
FUNDOS. OCORRÊNCIA POSTERIOR DE INCLUSÃO EM ÓRGÃO DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. NEGLIGÊNCIA DO BANCO CARACTERIZADA.
FIXAÇÃO DO VALOR INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL.
1. Dissídio jurisprudencial comprovado, nos termos dos artigos 541, § único, do
CPC, e 255, § 2º, do Regimento Interno desta Corte.
2. No presente pleito, o Tribunal de origem – ao concluir pela conduta ilícita do
banco-recorrente, que, mesmo alertado do extravio/roubo de talonário, deixou de
anotar no verso do cheque, emitido por terceiro, o motivo correto da devolução,
acarretando, assim, a devolução do título por insuficiência de provisão, e a posterior
indevida inscrição do autor no SERASA – majorou o quantum indenizatório dos
danos morais, fixado na sentença em R$ 6.000,00, para valor equivalente a 100
(cem) salários mínimos.
3. Inobstante a comprovada ocorrência do dano, mas diante dos princípios de
moderação e de razoabilidade, o montante fixado pelo Tribunal mostra-se excessivo,
não se limitando à compensação dos prejuízos advindos do evento danoso. Assim,
para assegurar ao lesado justa reparação, sem incorrer em enriquecimento ilícito, e

AN02FREV001/REV 4.0

71
ajustando o valor indenizatório aos parâmetros adotados usualmente nesta Corte em
casos semelhantes, fixo a indenização na quantia certa de R$ 6.000,00 (seis mil
reais), restabelecendo-se, assim, o quantum fixado na sentença de primeiro grau.
4. Recurso conhecido e provido.

Acórdão (...)

Muitas vezes encontramos casos em que o pedido de indenização,


principalmente por dano moral, não tem um precedente legítimo. Por exemplo: um
aluno entrou contra uma universidade particular pedindo indenização por danos
morais por ter sido impedido de participar das provas. A legislação não permite que
a instituição prive seus alunos dos atos escolares e do requerimento de documentos
durante o período letivo, porém permite que a instituição não renove a matrícula do
aluno que está inadimplente, uma vez que ele descumpriu o contrato de prestação
de serviços entre ele e a instituição.
Em juízo ficou provado que naquele semestre o aluno estava sem matrícula
e, por conseguinte, não poderia frequentar as aulas nem participar dos atos
escolares, sendo a ação considerada improcedente. A preexistência de um fato legal
não permite que ocorra um ilícito posterior nestes casos, conforme a Súmula 385:
Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por
dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao
cancelamento.
O devedor teve seu nome incluído no SPC irregularmente, mas ele já estava
cadastrado no órgão anteriormente por não ter honrado seus compromissos, neste
caso não cabe o pedido de indenização, só o direito ao cancelamento. Se não for
cumprido pela empresa o cancelamento, aí sim, caracteriza um ilícito passível de
indenização.
Vejamos um dos Acórdãos que serviram de base para a presente Súmula:

Processo - REsp 1062336 / RS


RECURSO ESPECIAL - 2008/0115487-2
Relator(a) - Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
Órgão Julgador - S2 - SEGUNDA SEÇÃO

AN02FREV001/REV 4.0

72
Data do Julgamento 10/12/2008
Data da Publicação/Fonte DJe 12/05/2009

Ementa
Direito processual civil e bancário. Recurso especial. Ação de compensação por
danos morais. Inscrição em cadastro de proteção ao crédito sem prévia notificação.
Dano moral reconhecido, salvo quando já existente inscrição desabonadora
regularmente realizada, tal como ocorre na hipótese dos autos.
I - Julgamento com efeitos do art. 543-C, § 7º, do CPC.
- Orientação: A ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição do seu
nome em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, § 2º do CDC, enseja
o direito à compensação por danos morais, salvo quando preexista inscrição
desabonadora regularmente realizada. Vencida a Min. Relatora quanto ao ponto.
II- Julgamento do recurso representativo.
- Não se conhece do recurso especial quando o entendimento firmado no acórdão
recorrido se ajusta ao posicionamento do STJ quanto ao tema. Súmula n.º 83/STJ.
Recurso especial não conhecido.

Acórdão
(...)
Informações Complementares
NECESSIDADE, FIXAÇÃO, LIMITE, EXTENSÃO, EFEITO JURÍDICO,
JULGAMENTO, RECURSO JUDICIAL, APENAS, PARA, MATÉRIA, PREVISÃO,
ÂMBITO, DECISÃO, INSTAURAÇÃO, INCIDENTE PROCESSUAL, RECURSO
REPETITIVO; HIPÓTESE, RECURSO REPRESENTATIVO, DISCUSSÃO, OUTRA,
MATÉRIA, SEM, PREVISÃO, ÂMBITO, DESPACHO; DECORRÊNCIA,
DIVERSIDADE, MATÉRIA, RECURSO ESPECIAL, NÃO, EXTENSÃO, EFEITO
JURÍDICO, PREVISÃO, CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, REFERÊNCIA,
RECURSO REPETITIVO. DESCABIMENTO, CONDENAÇÃO, ASSOCIAÇÃO DE
LOJISTAS, ESTADO, RIO GRANDE DO SUL, PAGAMENTO, INDENIZAÇÃO, POR,
DANO MORAL, PELA, INSCRIÇÃO, NOME, DEVEDOR, EM, CADASTRO DE
INADIMPLENTES, SEM, NOTIFICAÇÃO PRÉVIA; HIPÓTESE, EXISTÊNCIA,
ANTERIOR, REGISTRO, COM, NOME, DEVEDOR, ÂMBITO, CADASTRO;

AN02FREV001/REV 4.0

73
DECORRÊNCIA, DANO MORAL, CARACTERIZAÇÃO, PELA, IMPUTAÇÃO,
INADIMPLEMENTO, PARA, NÃO, DEVEDOR; EXISTÊNCIA, ANTERIOR,
REGISTRO, NOME, DEVEDOR, EM, CADASTRO DE INADIMPLENTES,
CARACTERIZAÇÃO, SITUAÇÃO FÁTICA, INADIMPLEMENTO; REALIZAÇÃO,
NOVO, REGISTRO, NÃO, CRIAÇÃO, MAIOR, SOFRIMENTO MENTAL, PARA,
DEVEDOR; NECESSIDADE, APENAS, CANCELAMENTO, INSCRIÇÃO;
APLICABILIDADE, PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA, PREVISÃO, ÂMBITO,
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR; OBSERVÂNCIA, JURISPRUDÊNCIA,
STJ.
(VOTO VENCIDO EM PARTE) (MIN. NANCY ANDRIGHI)
CABIMENTO, CONDENAÇÃO, ASSOCIAÇÃO DE LOJISTAS, ESTADO, RIO
GRANDE DO SUL, PAGAMENTO, INDENIZAÇÃO, POR, DANO MORAL, PELA,
INSCRIÇÃO, NOME, DEVEDOR, EM, CADASTRO DE INADIMPLENTES, SEM
NOTIFICAÇÃO PRÉVIA; INDEPENDÊNCIA, EXISTÊNCIA, ANTERIOR,
REGISTRO, COM, NOME, DEVEDOR, ÂMBITO, CADASTRO; DECORRÊNCIA,
ARTIGO, CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, EXIGÊNCIA,
COMUNICAÇÃO, ANTERIOR; SUFICIÊNCIA, INSCRIÇÃO, CADASTRO DE
INADIMPLENTES, PARA, CARACTERIZAÇÃO, OCORRÊNCIA, DANO MORAL;
IMPOSSIBILIDADE, EXIGÊNCIA, CONSUMIDOR, COMPROVAÇÃO,
ILEGALIDADE, ANTERIOR, REGISTRO, COMO, CONDIÇÃO, PARA, DEFESA,
ÂMBITO, PROCESSO JUDICIAL, DISCUSSÃO, OUTRO, REGISTRO;
OBSERVÂNCIA, ARTIGO, CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, PREVISÃO,
NECESSIDADE, FACILITAÇÃO, DEFESA, DIREITO, CONSUMIDOR; RESTRIÇÃO,
ABRANGÊNCIA, DISCUSSÃO, PROCESSO JUDICIAL, SOBRE,
IRREGULARIDADE, PRÓPRIA, INSCRIÇÃO, E, NÃO, SOBRE, ANOTAÇÃO,
ANTERIOR; OBSERVÂNCIA, INTENÇÃO, LEGISLAÇÃO, PROTEÇÃO,
CONSUMIDOR, E, AFASTAMENTO, REITERAÇÃO, OCORRÊNCIA, INSCRIÇÃO,
COM, ILEGALIDADE; NECESSIDADE, MAGISTRADO, CONSIDERAÇÃO,
ANTERIOR, REGISTRO, APENAS, MOMENTO, FIXAÇÃO, VALOR,
INDENIZAÇÃO, POR, DANO MORAL; CARACTERIZAÇÃO, INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA, E, DELITO, NATUREZA PENAL.

AN02FREV001/REV 4.0

74
Por fim temos a Súmula 387: É lícita a cumulação das indenizações de dano
estético e dano moral. Em diversas discussões doutrinárias verificamos a existência
de correntes que discutiam a acumulação de indenizações, respeitando as
determinadas pela legislação – dano emergente e lucros cessantes – ou no dano
moral – compensação financeira e sanção. O dano estético leva ao constrangimento
moral da vítima, ficando ela muitas das vezes impedida de continuar a se relacionar
socialmente. Neste caso acreditam alguns que a indenização pelo dano moral já
seria suficiente, enquanto outros queriam um plus devido ao dano estético. O STJ
pacificou permitindo a cumulação das indenizações.
Vejamos um dos Acórdãos que serviram de base para a presente Súmula:

Processo REsp 659715 / RJ


RECURSO ESPECIAL 2004/0096845-6
Relator(a) - Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA (1123)
Órgão Julgador - T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento - 14/10/2008
Data da Publicação/Fonte - DJe 03/11/2008

Ementa
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE
AUTOMOBILÍSTICO. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 165, 458, II e 535, I e II, DO CPC.
INEXISTÊNCIA. CUMULAÇÃO DE DANO MORAL E DANO ESTÉTICO.
CABIMENTO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. VALOR MODERADO.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO. SÚMULA N. 7/STJ. CORREÇÃO MONETÁRIA.
TERMO INICIAL. EXCLUSÃO DO 13° SALÁRIO E FÉRIAS.
1. Inexiste violação dos arts. 165, 458, II e 535, I e II, do CPC quando o aresto
impugnado decide, de forma objetiva e fundamentada, as questões que delimitam a
controvérsia.
2. Aplicam-se os óbices previstos nas Súmulas n. 282 e 356/STF quando as
questões suscitadas no recurso especial não tenham sido debatidas no acórdão
recorrido nem, a respeito, tenham sido opostos embargos declaratórios.
3. É cabível a cumulação de danos morais com danos estéticos quando, ainda que
decorrentes do mesmo fato, são passíveis de identificação em separado.

AN02FREV001/REV 4.0

75
4. A ausência de prova de que a vítima possuía, ao tempo do acidente, vínculo
empregatício, constitui óbice à inclusão do décimo terceiro salário e da gratificação
de férias no montante da indenização.
5. O termo inicial da correção monetária da indenização por danos materiais é a data
da apuração do dano.
6. A revisão do valor da indenização por danos morais apresenta-se inviável em
sede de recurso especial quando arbitrado com moderação na instância ordinária, a
teor da Súmula n. 7/STJ.
7. Recurso especial conhecido em parte e provido.

Acórdão
(...)
Informações Complementares
POSSIBILIDADE, ACUMULAÇÃO, INDENIZAÇÃO, POR, DANO ESTÉTICO, COM,
INDENIZAÇÃO, POR, DANO MATERIAL, DECORRÊNCIA, REALIZAÇÃO,
CIRURGIA ESTÉTICA; HIPÓTESE, TRIBUNAL A QUO, CONDENAÇÃO,
SOCIEDADE EMPRESÁRIA, VIAÇÃO RODOVIÁRIA, PAGAMENTO,
INDENIZAÇÃO, POR, DANO MATERIAL, MORAL, E, DANO ESTÉTICO, PARA,
VÍTIMA, PASSAGEIRO, EM, ÔNIBUS, PELA, DEFORMIDADE PERMANENTE, EM,
DECORRÊNCIA, ACIDENTE DE TRÂNSITO, COM, ENTENDIMENTO,
IMPOSSIBILIDADE, CIRURGIA ESTÉTICA, PRODUÇÃO, DESAPARECIMENTO,
DANO, COM, INTEGRALIDADE; NÃO CARACTERIZAÇÃO, ACUMULAÇÃO,
INDENIZAÇÃO, DANO MATERIAL, REFERÊNCIA, DESPESA, COM, CIRURGIA,
COM, DANO ESTÉTICO, COMO, BIS IN IDEM; POSSIBILIDADE, FIXAÇÃO,
VALOR, INDENIZAÇÃO, EM, CARÁTER ESPECÍFICO, PARA, DANO ESTÉTICO.
IMPOSSIBILIDADE, STJ, REDUÇÃO, VALOR, INDENIZAÇÃO, POR, DANO
ESTÉTICO, E, MORAL; HIPÓTESE, TRIBUNAL A QUO, CONDENAÇÃO,
SOCIEDADE EMPRESÁRIA, VIAÇÃO RODOVIÁRIA, PAGAMENTO,
INDENIZAÇÃO, POR, DANO MATERIAL, MORAL, E, DANO ESTÉTICO, PARA,
VÍTIMA, PASSAGEIRO, EM, ÔNIBUS, PELA, DEFORMIDADE PERMANENTE, EM,
DECORRÊNCIA, ACIDENTE DE TRÂNSITO, E, FIXAÇÃO, INDENIZAÇÃO, COM,
OBSERVÂNCIA, PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE; POSSIBILIDADE,
ALTERAÇÃO, VALOR, INDENIZAÇÃO, APENAS, HIPÓTESE, EXCESSO, VALOR,

AN02FREV001/REV 4.0

76
OU, VALOR IRRISÓRIO, CONDENAÇÃO; NÃO OCORRÊNCIA,
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA, VÍTIMA; OCORRÊNCIA, MANUTENÇÃO,
PROPORCIONALIDADE, ENTRE, GRAVIDADE, DANO, E, GRAU DE CULPA, OU,
CONDIÇÃO ECONÔMICA, CAUSADOR DO DANO; OBSERVÂNCIA,
JURISPRUDÊNCIA, STJ.

FIM DO MÓDULO III

AN02FREV001/REV 4.0

77
DIREITO CIVIL –
RESPONSABILIDADE CIVIL

MÓDULO IV

AN02FREV001/REV 4.0

79
MÓDULO IV

4 DAS MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE QUANTO AO AGENTE

Neste Módulo, iremos estudar as diversas modalidades de responsabilidade


quanto ao agente. Veremos a responsabilidade da Administração Pública, do
transportador, do construtor, dos profissionais e dos provedores da internet.

4.1 DAS RESPONSABILIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Tomemos os ensinamentos de Meirelles1 para entender o significado da


expressão Administração Pública. Segundo ele, o vocábulo tem três sentidos: ... em
sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para a consecução dos objetivos
do Governo; em sentido material, é o conjunto das funções necessárias aos serviços
públicos em geral; em acepção operacional, é o desempenho perene e sistemático,
legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício
da coletividade e Administração é, pois, todo o aparelhamento do Estado
preordenado à realização dos seus serviços, visando a satisfação das necessidades
coletivas...
Desta forma, prevê o § 6º do artigo 37 da Constituição Federal que:

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras


de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.

1 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Maleiros, 2009.

AN02FREV001/REV 4.0

80
Como podemos ver, o princípio da responsabilidade civil da Administração
Pública está contido neste preceito. O Brasil adota a teoria do risco administrativo –
teoria da responsabilidade objetiva – bastando evidenciar a existência da ação ou
omissão injusta, nexo causal e dano. Para se configurar o dever de indenizar,
porém, faz-se necessária a verificação da causa excludente de responsabilidade,
pois quando a Administração causar danos a alguém, exercendo sua função
institucional, não há o que se falar de dano a ser ressarcido.
Desta forma, exige-se a concorrência dos seguintes requisitos:
- Ocorrência do dano;
- Ação ou omissão administrativa;
- Existência de nexo causal entre o dano e a ação ou omissão
administrativa;
- Ausência de causa excludente da responsabilidade estatal.
O princípio da responsabilidade objetiva do Estado não é de caráter
absoluto, admitindo-se o abrandamento ou a exclusão da própria responsabilidade
civil do Estado, em hipóteses excepcionais como o caso fortuito e a força maior, ou
pela ocorrência de culpa atribuível à própria vítima.
Os danos indenizáveis são os materiais e os morais, e a Administração tem
direito de regresso contra o agente causador do dano, podendo ocorrer o regresso
mesmo com a aposentadoria ou exoneração do agente. Deve-se salientar que a
responsabilidade civil do Estado não se confunde com as responsabilidades
criminais e com as administrativas dos agentes públicos, pois são instâncias
independentes. A absolvição do servidor no juízo criminal não afastará a
responsabilidade civil do Estado.
Quanto à indenização do dano, ela deve abranger o que a vítima
efetivamente perdeu (dano emergente), o que deixou de ganhar (lucros cessantes) e
o que despendeu (honorários advocatícios) em consequência direta e imediata do
ato lesivo do poder público, acrescentando-se a correção monetária e juros de mora,
se houver atraso no pagamento. A obrigação se estende aos atos legislativos e
judiciários, sendo que este último é considerado o maior dano que o Estado pode
causar ao cidadão.
No direito privado, o dever de indenizar provém da prática de um ato ilícito,
enquanto no direito público é essencial a ocorrência de um dano que possa ser

AN02FREV001/REV 4.0

81
atribuído a um agente estatal, mesmo que venha a ser praticado na conformidade da
lei, mas que imponha ao cidadão a necessidade de suportar um sacrifício maior do
que o imposto a todo o restante da sociedade.
O Código Civil diz, em seu art. 43:

As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis


por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros,
ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por
parte destes, culpa ou dolo.

O Estado não age por si, ele é representado por agentes que respondem
pelas ações inerentes a ele. Desta forma, a legislação acertadamente utiliza o termo
agente para designar seus representantes, que podem ser servidores públicos
concursados, servidor contratado, funcionário de fato ou temporário.
Encontramos no CDC, em seu art. 14 c/c o 3º, a atribuição do Estado como
fornecedor de serviço público e a responsabilidade de indenizar caso haja a falta
destes serviços. O art. 22 do CDC dispõe que os Órgãos Públicos, diretamente ou
não, são obrigados a fornecer os serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto
aos essenciais, contínuos, sendo que a responsabilidade pelo fornecimento
inadequado ou ineficaz do serviço público será regida pelas regras deste código.

4.2 DAS RESPONSABILIDADES DO TRANSPORTADOR

Neste item, temos duas possibilidades diferentes, o transporte de


passageiros e transporte de mercadorias. Podemos destacar ainda que o transporte
pode ser feito por sistema rodoviário, ferroviário, hidroviário ou aéreo. Por ser uma
relação jurídica, a responsabilidade civil do transportador se apresenta através de
um contrato – contrato de transportes – sendo o meio pelo qual uma parte se obriga
a conduzir, de um lugar para outro, pessoas ou coisas, mediante uma retribuição
previamente estabelecida. Desta forma, possui natureza jurídica bilateral, na medida

AN02FREV001/REV 4.0

82
em que ambas as partes (passageiro e transportador ou proprietário da mercadoria
e transportador) assumem obrigações.
Cabe ao transportador a obrigação de transportar pessoas ou mercadorias,
de um lugar para outro, e do passageiro e proprietário da mercadoria pagar o preço
ajustado pelo serviço prestado pelo transportador. A responsabilidade do
transportador pode ser contratual ou extracontratual, sendo que esta se configura
quando o causador do dano é um terceiro. Neste caso, permanece a obrigação de
indenizar do transportador, porém com direito de regresso (Ação Regressiva) contra
o causador do dano, conforme podemos depreender da Súmula 187 do STF: “A
responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com passageiro, não é
elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva”.
Os serviços prestados pelas empresas de ônibus, transportadora de
passageiros, são consideradas concessão do Estado – pessoa jurídica de direito
privado prestadora de serviços públicos. Desta forma, a obrigação de indenizar é
objetiva, independente da culpa do transportador, verificada a existência de
excludentes (caso fortuito ou força maior e culpa exclusiva da vítima), e garantido o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa ao causador do
dano.
Lembramos ainda que, com o advento do CDC, temos o preceituado no art.
14, que atribui ao fornecedor de serviços a responsabilidade objetiva, e em seu art.
17 equipara todas as vítimas dos eventos danosos a consumidores, não importando
se existe ou não relação contratual. Destacamos aqui a cláusula de incolumidade
(isenção de perigo ou danos, segurança). Esta cláusula está implícita e determina a
obrigação do transportador, que é de resultado esperado ou de finalização, e não de
meio, a garantir aos passageiros uma viagem boa e segura, não permitindo que
ocorra um fato estranho que possa causar dano aos passageiros.
Quanto às empresas de ônibus, cabe ressaltar que o contrato se inicia com
o início da viagem pelo passageiro, mesmo que o pagamento seja feito antes,
durante ou depois do percurso pretendido, e termina quando ele chega ao seu
destino final. Durante o percurso se caracteriza a responsabilidade civil do
transportador.
Basta para o direito de indenização que o passageiro prove que a
incolumidade não lhe foi assegurada, excetuando-se as cláusulas excludentes

AN02FREV001/REV 4.0

83
especificadas acima. No campo da responsabilidade civil do transportador, ainda
encontramos outro fator inerente ao transporte de passageiros, qual seja, o
transporte aparentemente gratuito e o puramente gratuito. Este último já foi estudado
por nós anteriormente.
Quanto ao transporte aparentemente gratuito, que é aquele oferecido por
empresas para atender seus funcionários ou levar o cliente a algum lugar, entre
outros, ocorrendo qualquer fato danoso para com o passageiro, a responsabilidade
será do transportador, ressalvadas as excludentes.
Quanto ao transporte de mercadorias (coisas), temos a recente Lei nº
11.442/2007, que dispõe sobre o transporte rodoviário de cargas por conta de
terceiros e mediante remuneração, revogando a Lei n o 6.813/1980. Nela
encontramos:

Art. 7. Com a emissão do contrato ou conhecimento de transporte, a ETC e


o TAC assumem perante o contratante a responsabilidade:
I - pela execução dos serviços de transporte de cargas, por conta própria ou
de terceiros, do local em que as receber até a sua entrega no destino;
II - pelos prejuízos resultantes de perda, danos ou avarias às cargas sob
sua custódia, assim como pelos decorrentes de atraso em sua entrega,
quando houver prazo pactuado.
Art. 8. O transportador é responsável pelas ações ou omissões de seus
empregados, agentes, prepostos ou terceiros contratados ou
subcontratados para a execução dos serviços de transporte, como se essas
ações ou omissões fossem próprias.
Parágrafo único. O transportador tem direito à ação regressiva contra os
terceiros contratados ou subcontratados, para se ressarcir do valor da
indenização que houver pago.

A responsabilidade do transportador é solidária, tendo o direito de


regresso.

Art. 9. A responsabilidade do transportador cobre o período compreendido


entre o momento do recebimento da carga e o de sua entrega ao
destinatário.

AN02FREV001/REV 4.0

84
Parágrafo único. A responsabilidade do transportador cessa quando do
recebimento da carga pelo destinatário, sem protestos ou ressalvas.
Art. 12. Os transportadores e seus subcontratados somente serão liberados
de sua responsabilidade em razão de:
I - ato ou fato imputável ao expedidor ou ao destinatário da carga;
II - inadequação da embalagem, quando imputável ao expedidor da carga;
III - vício próprio ou oculto da carga;
IV - manuseio, embarque, estiva ou descarga executados diretamente pelo
expedidor, destinatário ou consignatário da carga ou, ainda, pelos seus
agentes ou prepostos;
V - força maior ou caso fortuito;
VI - contratação de seguro pelo contratante do serviço de transporte, na
forma do inciso I do art. 13 desta Lei.
Parágrafo único. Não obstante as excludentes de responsabilidades
previstas neste artigo, o transportador e seus subcontratados serão
responsáveis pela agravação das perdas ou danos a que derem causa.

A lei elencou os casos de excludente da responsabilidade.

Art. 13. Sem prejuízo do seguro de responsabilidade civil contra danos a


terceiros previsto em lei, toda operação de transporte contará com o seguro
contra perdas ou danos causados à carga, de acordo com o que seja
estabelecido no contrato ou conhecimento de transporte, podendo o seguro
ser contratado:
I - pelo contratante dos serviços, eximindo o transportador da
responsabilidade de fazê-lo;
II - pelo transportador, quando não for firmado pelo contratante.
Parágrafo único. As condições do seguro de transporte rodoviário de cargas
obedecerão à legislação em vigor.
Art. 14. A responsabilidade do transportador por prejuízos resultantes de
perdas ou danos causados às mercadorias é limitada ao valor declarado
pelo expedidor e consignado no contrato ou conhecimento de transporte,
acrescido dos valores do frete e do seguro correspondentes.
Parágrafo único. Na hipótese de o expedidor não declarar o valor das
mercadorias, a responsabilidade do transportador será limitada ao valor de
2 (dois) Direitos Especiais de Saque - DES por quilograma de peso bruto
transportado.

AN02FREV001/REV 4.0

85
Art. 15. Quando não definida no contrato ou conhecimento de transporte, a
responsabilidade por prejuízos resultantes de atraso na entrega é limitada
ao valor do frete.
Art. 16. Os operadores de terminais, armazéns e quaisquer outros que
realizem operações de transbordo são responsáveis, perante o
transportador que emitiu o conhecimento de transporte, pelas perdas e
danos causados às mercadorias no momento da realização das referidas
operações, inclusive de depósito.
Art. 17. O expedidor, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei,
indenizará o transportador pelas perdas, danos ou avarias:
I - resultantes de inveracidade na declaração de carga ou de inadequação
dos elementos que lhe compete fornecer para a emissão do conhecimento
de transporte, sem que tal dever de indenizar exima ou atenue a
responsabilidade do transportador, nos termos previstos nesta Lei; e
II - quando configurado o disposto nos incisos I, II e IV do caput do art. 12
desta Lei.

Em suma, vemos que a nova lei ratificou o que já dispunha o Código Civil e
a jurisprudência, desta forma o transportador responde pela carga desde do
momento que a recebe até a entrega definitiva no destino especificado. Quanto ao
transporte ferroviário, ainda é regido pelo Decreto nº 2.681/1912, que regula a
responsabilidade civil das estradas de ferro, promulgada como decreto na parte do
Poder Legislativo. Nele, já encontrávamos diversos artigos inerentes à
responsabilidade civil, dos quais destacamos alguns:

Art. 1. As estradas de ferro serão responsáveis pela perda total ou parcial,


furto ou avaria das mercadorias que receberem para transportar. Será
sempre presumida a culpa e contra esta presunção só se admitirá alguma
das seguintes provas:
1ª - caso fortuito ou força maior;
2ª - que a perda ou avaria se deu por vício intrínseco da mercadoria ou
causas inerentes à sua natureza;
3ª - tratando-se de animais vivos, que a morte ou avaria foi consequência de
risco que tal espécie de transporte faz naturalmente correr;

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4ª - que a perda ou avaria foi devida ao mau acondicionamento da
mercadoria ou a ter sido entregue para transportar sem estar encaixotada,
enfardada ou protegida por qualquer outra espécie de envoltório;
5ª - que foi devido a ter sido transportada em vagões descobertos, em
consequência de ajuste ou expressa determinação do regulamento;
6ª - que o carregamento e descarregamento foram feitos pelo remetente ou
pelo destinatário ou pelos seus agentes e disto proveio a perda ou avaria;
7ª - que a mercadoria foi transportada em vagão ou plataforma
especialmente fretada pelo remetente, sob a sua custódia e vigilância, e que
a perda ou avaria foi consequência do risco que essa vigilância devia
remover.
Art. 2º - Se nos casos dos n/s 2, 3, 4, 5, 6 e 7 do artigo anterior concorrer a
culpa da estrada de ferro com a do remetente ou destinatário, será
proporcionalmente dividida a responsabilidade.
Art. 3º - A responsabilidade começará ao ser recebida a mercadoria na
estação pelos empregados da estrada de fero, antes mesmo do despacho,
e terminará ao ser efetivamente entregue ao destinatário.
Art. 6º - A indenização pelas estradas de ferro, nos casos de perda ou furto,
será equivalente ao preço corrente da mercadoria no tempo e no lugar em
que devia ter sido entregue; no caso de avaria, será proporcional à
depreciação por ela sofrida. Deverão ser deduzidas as despesas que
deixaram de ser feitas pelo fato da perda da mercadoria. Excetua-se o caso
de dolo, em que a estrada responderá por todos os prejuízos que tenham
diretamente ocorrido.
Parágrafo único. Se na declaração o remetente diminuir com culpa ou dolo o
valor da mercadoria, será o valor declarado a base da indenização.
Art. 7º - Nos casos de atraso da entrega das mercadorias, a estrada de ferro
perderá, em favor do proprietário da mercadoria, uma parte do preço do
transporte, proporcional ao tempo de atraso. Se pelo particular for provado
que a demora causou-lhe um dano maior, por ele responderá a estrada de
ferro, até a importância máxima correspondente ao valor da mercadoria.
Serão excetuados os casos de força maior e culpa do remetente ou
destinatário. No caso de dolo por parte dos agentes ou empregados da
estrada de ferro, este responderá por todo o prejuízo causado.
Art. 11 – A perda ou avaria das bagagens não despachadas que
acompanham os passageiros e ficam sob a sua guarda não dará lugar à
indenização, salvo se provar culpa ou dolo por parte dos agentes ou
empregados da estrada de ferro.
Art. 12 – A cláusula da não garantia das mercadorias, bem como a prévia
determinação do máximo de indenização a pagar, nos casos de perda ou

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avaria, não poderão ser estabelecidas pelas estradas de ferro senão de modo
facultativo e correspondendo a uma diminuição de tarifa. Serão nulas
quaisquer outras cláusulas, diminuindo a responsabilidade das estradas de
ferro estabelecida na presente lei.
Art. 14 – Quando mais de uma estrada de ferro tiver concorrido para o
transporte de uma mercadoria, a ação de indenização por perda, furto ou
avaria, terá lugar contra a estrada que aceitou a expedição, ou contra a que
entregou a mercadoria avariada, ou contra qualquer das estradas
intermediárias em cuja linha se provar que teve lugar a perda, furto ou avaria.
Art. 15 – No caso do artigo anterior, o direito reversivo das estradas de ferro,
umas em relação às outras, será regulado pelas seguintes disposições:
§ 1º - Será responsável da perda, furto ou avaria da mercadoria a estrada em
cuja linha se der o fato.
§ 2º - Se, porém, provar que foi culpa de outra, esta responderá pelas suas
consequências jurídicas.
§ 3º - Se concorrer a culpa de mais de uma, a responsabilidade será dividida
proporcionalmente ao grau da culpa, atentas as circunstâncias que
acompanharem o fato.
§ 4º - Se não puder provar qual a estrada em cuja linha se deu a perda ou
avaria, responderão todas, proporcionalmente ao preço do transporte que
cada uma percebeu ou teria o direito de perceber, dada a execução regular
do contrato.
§ 5º - No caso de insolvabilidade de alguma das estradas, o prejuízo que
desse fato possa resultar para a que pagou a indenização será repartido por
todas as que tiverem cooperado no transporte, guardada a mesma proporção
do parágrafo anterior.
Art. 17 – As estradas de ferro responderão pelos desastres que nas suas
linhas sucederem aos viajantes e de que resulte a morte, ferimento ou lesão
corpórea. A culpa será sempre presumida, só se admitindo em contrário
alguma das seguintes provas:
1ª - Caso fortuito ou força maior;
2ª - Culpa do viajante, não concorrendo culpa da estrada.
Art. 18 – Serão solidários entre si e com as estradas de ferro os agentes por
cuja culpa se der o acidente. Em relação a estes, terão as estradas direito
reversivo.
Art. 19 – Se o desastre acontecer nas linhas de uma estrada de ferro por
culpa de outra, haverá em relação a esta direito reversivo por parte da
primeira.
Art. 20 – No caso de ferimento, a indenização será equivalente às despesas
do tratamento e aos lucros cessantes durante ele.

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Art. 21 – No caso de lesão corpórea ou deformidade, à vista da natureza da
mesma e de outras circunstâncias, especialmente a invalidade para o
trabalho ou profissão habitual, além das despesas com o tratamento e os
lucros cessantes, deverá pelo juiz ser arbitrada uma indenização conveniente.
Art. 22 – No caso de morte, a estrada de ferro responderá por todas as
despesas e indenizará, a arbítrio do juiz, todos aqueles aos quais a morte do
viajante privar de alimento, auxílio ou educação.
Art. 23 – No caso de desastre, a estrada de ferro também responderá pela
perda ou avaria das bagagens que os passageiros levarem consigo, embora
não despachadas.
Art. 26 – As estradas de ferro responderão por todos os danos que a
exploração das suas linhas causarem aos proprietários marginais.
Cessará, porém, a responsabilidade se o fato danoso for consequência direta
da infração, por parte do proprietário, de alguma disposição legal ou
regulamentar relativa a edificações, plantações, escavações, depósito de
materiais ou guarda de gado à beira das estradas de ferro.

Verificamos que, embora o Decreto seja de 1912, ele já trazia inovações na


área da responsabilidade civil, como por exemplo: determinava a responsabilidade
objetiva da estrada de ferro, elencava os casos de excludente, tratava do transporte
de passageiros e cargas, protegia as pessoas que de alguma forma pudessem
sofrer danos ocasionados pela empresa, determinava a responsabilidade solidária e
a subsidiária, entre outras.
Quanto ao transporte hidroviário, por não ser comum no Brasil, sendo
utilizado somente em alguns Estados, não temos uma legislação própria. Os casos
de responsabilidade civil para o transporte hidroviário serão dirimidos com a
utilização do Código Civil. Os casos especificados acima estão afetos ao transporte
rodoviário, ferroviário e hidroviário, mas não ao transporte aéreo, conforme veremos
a seguir.
O transportador aéreo se baseia em duas regulamentações, uma na esfera
jurídica nacional e outra na internacional. Na esfera nacional, é regulada pelo Código
Brasileiro da Aeronáutica (Lei nº 7.565/1986), que regulamenta todo transporte
aéreo interno do país. No âmbito internacional, temos a Convenção de Varsóvia,
regulamentada em 12 de outubro de 1929 e ratificada pelo Brasil através do Decreto
de nº 20.704/1931. Lembramos que, por decisão do STJ, o Código do Consumidor

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89
não se aplica aos casos de transporte aéreo, embora possa se configurar uma
relação de consumo.
A Convenção de Varsóvia dispõe sobre inúmeras situações de
responsabilidade do transportador aéreo, conforme arts. 17, 20, 21, 22, 23 e 25.
Uma leitura atenta destes dispositivos nos leva a entender que, para que a
responsabilidade do transportador se caracterize, basta que sobrevenha o acidente
e que a vítima se encontre a bordo da aeronave ou em operações de embarque e
desembarque. Em contrapartida, poderá eximir-se da responsabilidade, se provar
que foram tomadas todas as medidas necessárias para evitar o dano, ou que lhe foi
impossível fazê-lo.
Ela criou uma presunção de responsabilidade contra o transportador,
invertendo o ônus da prova. O transportador deverá demonstrar que tomou todas as
medidas necessárias para evitar o acidente. Chamamos a atenção para o fato de
que, pela Convenção, a responsabilidade do transportador aéreo é subjetiva. Uma
peculiaridade da responsabilidade do transportador aéreo é que a indenização é
limitada a um valor máximo, conforme seu art. 22, n. I. Esta limitação deixa de existir
e passa a ser fixada com base no Direito Comum, se houver dolo ou culpa grave por
parte do transportador, conforme art. 25, n. I da Convenção, mas neste caso o ônus
da prova caberá à vítima.

4.3 DAS RESPONSABILIDADES DO CONSTRUTOR

A construção civil é de suma importância para o país, haja vista a


necessidade de novas moradias e melhorias nas cidades. Não atinge somente o
setor privado, mas também o setor de obras públicas. Envolve um grande número
de empresas e pessoas, quer físicas quer jurídicas, e necessário se faz que
tenhamos uma proteção para aqueles que são partes nesta área.
Quanto ao construtor, podemos asseverar que demanda profissionais do
ramo para tarefas de ordem técnica e industrial, uma vez que exige tino e perícia,
mas também é um trabalho de ordem física, pois a atividade de construir demanda

AN02FREV001/REV 4.0

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clara transformação dos materiais utilizados, que após se conjugarem darão ensejo
à obra pronta.
Ensina-nos Meirelles (2009) que:

Todo ajuste para execução de obra certa e determinada, sob direção e


responsabilidade do construtor, pessoa física ou jurídica legalmente
habilitada a construir, que se incumbe dos trabalhos especificados no
projeto, mediante as condições avençadas com o proprietário ou comitente.

Podemos depreender que:


 Existe uma relação contratual, quer escrita quer oral.
 Observação de requisitos técnicos e de normas de ordem pública
 Pode o construtor ser pessoa física ou jurídica

O contrato de construção objetiva a execução de uma obra previamente


contratada entre as partes. Não é um contrato aleatório, e sim certo e determinado,
pois a obra já foi previamente discutida e negociada. No contrato, devem constar as
especificações, obedecendo às normas técnicas e legais relativas à construção civil,
a execução por profissional habilitado, o prazo para seu encerramento e o valor a
ser pago pelos serviços e materiais.
Podemos dizer que o contrato gera obrigações para ambas as partes, como
todo contrato bilateral. No caso do construtor, a obrigação é de levar a efeito a
edificação da obra, atendendo às condições especificadas previamente pelas partes,
com o intuito de se chegar ao resultado pretendido pelo dono. Quanto ao dono da
obra, responde pelo pagamento do preço ajustado, abarcando a atividade intelectual
– desenvolvimento do projeto – e a de indústria – execução da obra.
Necessário se faz que o contrato não viole determinados requisitos de
ordem pública, como a legislação urbanística, as posturas municipais, o plano diretor
do Município, entre outros. A doutrina divide o contrato de construção em duas
modalidades: contrato de empreitada e de administração. No primeiro, temos
obrigações recíprocas às partes, podendo da execução da obra surgir

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responsabilidades quanto a terceiros. A sua obrigação é de resultado, devendo
responder pela segurança e perfeição da obra.
As determinações legais quanto à empreitada estão contidas no Código Civil
nos arts. 610 usque 626. Já no contrato por administração, temos que o construtor
se encarregará da execução de um projeto, recebendo pelo serviço uma
remuneração, que pode ser fixa ou proporcional ao valor da obra, correndo por conta
do dono da obra os encargos.
Necessário se faz aqui um parêntese para falarmos da obrigação ser de
meio ou de resultado. A primeira está afeta ao dever de desempenho, com
diligência, zelo e perícia em uma determinada atividade contratada, buscando
alcançar um resultado pretendido, porém não se obrigando quanto à ocorrência
deste resultado. Age-se na intenção de que ele aconteça. A segunda está afeta à
obrigação de se alcançar um fim específico. Desta forma, a obrigação do construtor
é de resultado.
Podemos afirmar quanto à responsabilidade civil do construtor que ela é
complexa, uma vez que têm de ser respeitadas as normas civis como também as
disposições éticas e administrativas decorrentes do exercício da Engenharia e da
Arquitetura. Desta forma, não fica somente adstrito ao dono da obra, mas também a
terceiros como os vizinhos da obra e a Administração Pública, atendendo aos
preceitos das normas de posturas do Município, ao Código de Obras, ao Código
Sanitário, e inclusive quanto ao licenciamento referente ao meio ambiente.
A responsabilidade do construtor pode ser contratual, quando desrespeita as
cláusulas do contrato culposamente, ensejando a reparação em consonância com o
Código Civil, conforme estudado. Pode ser extracontratual, quando se
responsabiliza pela solidez e segurança da obra. É o dever de não lesar terceiros.
O CDC, em seu art. 3º, define fornecedor como pessoa física ou jurídica que
desempenha determinadas atividades, dentre as quais a construção. Desta forma, o
diploma legal enquadrou a atividade de construção nas relações de consumo.
Podemos depreender que, a partir do advento do direito consumentista, as relações
jurídicas inerentes à empreitada passaram a ser regidas por este diploma legal,
sendo que o Código Civil deverá ser empregado subsidiariamente, desde que não
contrarie as normas editadas no CDC.

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92
Desta forma, é o artigo 12 do CDC que determina a responsabilidade civil do
construtor, a saber:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o


importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes
de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
(...)
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Depreende-se que a responsabilidade do construtor é objetiva. Para


finalizar, e a título de recordação, elencamos as responsabilidades do construtor:
 Pela perfeição da obra
 Pela solidez e segurança da obra
 Por danos a vizinhos
 Por danos a terceiros
 Ético-Profissional

4.4 DAS RESPONSABILIDADES DOS PROFISSIONAIS

Neste item, iremos estudar a responsabilidade dos profissionais, como o


caso dos médicos, dentistas, advogados, e faremos uma menção a outras
profissões, haja vista não ser possível, neste trabalho, elencar todas elas. Iniciamos
pelo médico, incluindo os hospitais.
Sabemos que aquele que causar dano a outrem deve ressarci-lo pelos
prejuízos causados. Esta regra abrange a todos, quer pessoas físicas, jurídicas ou
profissionais como o médico. Assim, aquele que, submetido a um tratamento

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93
médico, venha, por causa deste tratamento, sofrer um prejuízo, quer de ordem
material (patrimonial), quer de ordem imaterial (moral e/ou estético), terá o direito à
reparação.
Para entendermos melhor a condição da relação do médico e paciente,
devemos entender se esta relação é subjetiva ou objetiva, se é contratual ou
extracontratual e, por fim, se é obrigação de meio ou de resultado. Consideramos a
atividade médica de responsabilidade subjetiva, tendo em vista o preceito do art. 186
do CC: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito”, e o CDC determina em no § 4º do art. 14: “A responsabilidade pessoal dos
profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa”.
Descartamos a possibilidade de a responsabilidade do médico ser objetiva,
mesmo quando se trata de cirurgião plástico em face de cirurgia estética, uma vez
que é uma obrigação de resultado. Havendo a presunção de culpa, deve o médico,
se for o caso, fazer prova em contrário, demonstrando que não agiu com
imprudência, negligência ou imperícia. Neste caso, há a inversão do ônus da prova.
Segundo Cavalieri (1997):

A responsabilidade médica é, de regra, contratual, em razão da forma como


se constitui a relação médico-paciente. Normalmente o paciente procura o
médico, escolhe o profissional de sua confiança, constituindo com ele um
vínculo contratual. Resta, todavia, uma vasta área para a responsabilidade
médica extracontratual, como, por exemplo, nos casos de atendimento de
emergência, estando o paciente inconsciente, ou quando o médico se
recusa a atender ao paciente nesse estado emergencial; tratamento
desnecessário, cirurgias sabidamente indevidas, experiências médicas
arriscadas, etc.

Conforme ensinamento acima, temos um momento que podemos considerar


como uma obrigação contratual, regida assim pelo Código Civil, conforme estudado,
caso ocorra a inadimplência da obrigação. Mas a doutrina e a jurisprudência
determinam a necessidade de o paciente provar que o médico agiu com culpa. Nos
demais casos, geralmente de atendimento emergencial, a relação é extracontratual.

AN02FREV001/REV 4.0

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A doutrina e jurisprudência brasileiras consideram a relação paciente-médico
como um contrato sui generis. Já vimos anteriormente que a obrigação de meio é
aquela em que o profissional contratado não tem comprometimento com um objetivo
específico ou determinado. Apenas se obriga a utilizar no seu cumprimento toda
diligência e prudência, de acordo com as técnicas usuais daquele momento. Já na
obrigação de resultado, há um compromisso do contratado com um resultado
específico ou determinado.
Nos casos de obrigações de meio, o ônus da prova cabe a quem acusa,
enquanto nas de resultado, devido à presunção de culpa, ocorre a inversão do ônus
da prova, passando ao acusado o dever de provar que é inverdade o alegado pela
vítima. Quanto à responsabilidade do médico, podemos afirmar que ela é de meio,
cabendo a ele agir com diligência e prudência, isto é, deve atuar dentro da melhor
técnica compatível com o local e tempo do atendimento médico que realizar.
É claro e evidente que a cura não pode ser o objetivo maior ou final, haja
vista a imprevisibilidade do organismo humano. Resta apenas um porém,
relacionado à cirurgia plástica estética, que para a doutrina e jurisprudência é
considerada como de resultado, diferentemente da cirurgia plástica reparadora, que
se caracteriza como uma obrigação de meio.
Os hospitais, clínicas e estabelecimentos de saúde em geral respondem
solidariamente pelos danos causados por erro médico de seus empregados e
prepostos aos pacientes que atenderem. Desta forma, respondem solidariamente o
estabelecimento e o profissional, excetuando-se os casos em que o médico e/ou sua
equipe se utilizem apenas da estrutura do estabelecimento, desonerando este da
responsabilidade.
Vale salientar que os planos de saúde vêm sendo responsabilizados pelos
erros médicos praticados por sua rede conveniada, haja vista o dever de assegurar
a qualidade dos serviços por estes prestados, excetuando-se os casos em que
apenas exista o reembolso, parcial ou total, das despesas.
Quanto à responsabilidade civil dos dentistas, ela praticamente tem os
mesmos aspectos e fundamentos da responsabilidade civil do médico, apenas muda
em um fator: o da obrigação de resultado. Diferentemente dos casos médicos, o
dentista tem por obrigação atingir o resultado, haja vista que os tratamentos
dentários são mais regulares e específicos, sendo de menor complexidade. Exige do

AN02FREV001/REV 4.0

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profissional uma técnica específica, mas permite a obtenção do resultado esperado.
Desta forma, se ocorre erro, ele responderá pelos danos que ocasionar.
Quanto aos advogados, temos que dentre as profissões existentes,
regulamentadas ou não, a do advogado é a única que tem respaldo constitucional,
conforme art. 133: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo
inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da
lei”. Desta forma espera-se que ele atue com competência, ética e zelo. Afirma-se
que a função do advogado é de munus público (o que procede de autoridade pública
ou da lei, e obriga o indivíduo a certos encargos em benefício da coletividade ou da
ordem social).
Os advogados, além de estarem sujeitos, atualmente, ao CDC, em função
da sua prestação de serviços, sujeitam-se ao Estatuto da Advocacia e da Ordem dos
Advogados do Brasil. Sua conduta profissional pode gerar responsabilidade civil
pelos danos que causarem a seus clientes. A responsabilidade civil do advogado é
contratual, haja vista a necessidade de um mandato para defender os interesses do
cliente.
Mesmo que não se tenha um contrato assinado, o mandato servirá de elo
entre o profissional e seu cliente. Assim, a culpa será presumida, cabendo ao autor
demonstrar apenas o descumprimento contratual, cabendo ao advogado o ônus de
provar que não agiu com culpa, ou que ocorreu alguma causa excludente do próprio
nexo causal.
As obrigações principais do mandatário, oriundas do próprio contrato, são de
agir em nome do mandante com cautela e atenção, repassando-lhe as vantagens
que obtiver em seu nome e, no final de sua gestão, prestar contas dos atos
praticados. Com efeito, o advogado tem a obrigação de utilizar todos os meios de
defesa e os recursos previstos em lei que sejam cabíveis e convenientes aos
interesses do cliente.
Sua responsabilidade é subjetiva, derivada da culpa, sendo necessária a
existência de todos os elementos para dar ensejo à reparação. A obrigação é de
meio e não de resultado. O advogado se compromete a dedicar-se com afinco à
causa contratada, buscando alcançar sucesso na pretensão, mas sem se vincular
efetivamente ao resultado.

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O advogado poderá ser responsabilizado civilmente pelo erro de direito; pelo
erro de fato; pelas omissões de providências necessárias para ressalvar direitos do
seu constituinte; pela perda de prazo; pela desobediência às instruções do
constituinte; pelos pareceres que der contrários à lei, à jurisprudência e à doutrina;
pela omissão de conselho; pela violação de segredo profissional; pelo dano causado
a terceiro; pelo fato de não representar o constituinte, para evitar-lhe, durante os dez
dias seguintes à notificação de sua renúncia ao mandato judicial (CPC, art. 45); pela
circunstância de ter feito publicações desnecessárias sobre alegações forenses ou
relativas a causas pendentes; por ter servido de testemunha nos casos arrolados no
art. 7º, XIX, da Lei 8.906/94; por reter ou extraviar autos que se encontravam em seu
poder; pela violação ao disposto no art. 34, XV, XX, XXI, da Lei 8.906/94.
Quanto às demais profissões, podemos afirmar que, quando prestadoras de
serviço, estão afetas ao CDC, além de, em todos os casos, quando a profissão é
regulamentada e existindo um Conselho da Classe (OAB, CREA, CRC, CREFITO,
CRM, etc.), os profissionais também responderem por sua conduta ética.

4.5 DAS RESPONSABILIDADES DOS PROVEDORES DA INTERNET

É bem recente o assunto a ser estudado, mas podemos afirmar que as


atividades desempenhadas pelos provedores (diversas atividades desenvolvidas no
âmbito da rede mundial de computadores) na internet estão sujeitas a obrigações e
responsabilidades. Podemos classificar os provedores em três categorias:
provedores de acesso; provedores de serviços e provedores de informações (ou
conteúdo). Por ser um assunto ainda novo, a legislação ainda não é completa, e os
estudos doutrinários estão se iniciando.
Podemos dizer que as decisões judiciais acerca do assunto têm sido
diversificadas, dada a complexidade do tema. Quanto ao provedor de acesso, é
responsável pela conexão de um usuário (pessoa física ou jurídica) à rede mundial
de computadores.
A questão maior a ser verificada quanto à responsabilidade do provedor está
afeta ao fato de se determinar a existência de um dever de monitoramento prévio

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dos acessos, sobre os hábitos de navegação do usuário. Tal fato se torna
necessário para que ele possa prevenir a ocorrência de violação a direito de outrem.
Ocorre que existe uma impossibilidade de se efetivar este monitoramento,
favorecendo a não responsabilidade do provedor de acesso, e decorrendo daí a
compreensão da inexistência de responsabilidade para os provedores de acesso.
O provedor de acesso só responde civilmente pelos danos causados aos
seus usuários cadastrados em decorrência de descumprimento do contrato, sendo
ele responsabilizado pelos danos causados por sua conduta. Quanto aos
provedores de serviços na internet, podemos dizer que eles desempenham
atividades de múltiplas naturezas na web, como o provimento de serviços de correio
eletrônico (e-mail), de hospedagem de sítios (páginas eletrônicas) e de chaves de
busca.
Os provedores de serviço de correio eletrônico disponibilizam aos seus
usuários uma caixa postal para que possam enviar e receber mensagens (e-mails).
Os de hospedagem concedem os meios técnicos para a veiculação de página
eletrônica na web, podendo oferecer espaço para armazenamento dos arquivos que
as compõem. Os de chaves de busca operam um serviço de especial importância
para o desenvolvimento da internet, pois é através de suas páginas eletrônicas que
se tem a possibilidade de localizar a informação desejada.
Voltamos ao fato de se apurar a responsabilidade desses provedores quanto
à conduta de seus usuários. Nos serviços de correio eletrônico, o provedor não tem
condições de verificar o conteúdo de cada mensagem enviada sem que prejudique a
velocidade na comunicação eletrônica, inclusive nem poderia fazê-lo, tendo em vista
preceito constitucional de violação de sigilo de correspondência.
Nos serviços de hospedagem e chaves de busca, inexiste, ainda, tecnologia
que permita o monitoramento preventivo e eficiente sobre os sites produzidos e
hospedados, ou menos quanto às informações armazenadas em seus bancos de
dados. Acresce um outro fator, que é se os provedores têm condições de saber se a
página ou a hospedagem estão violando algum direito de outrem.
Continuamos na condição da impossibilidade técnica de controle preventivo
sobre a conduta dos usuários. Não resta dúvida, diante dos argumentos
apresentados, de que os provedores não podem ser responsabilizados pelos seus
usuários, e a pessoa lesionada deve buscar a indenização daquele que efetivamente

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lhe ofendeu. Os provedores podem, sempre que possível, ajudar a localizar o autor
do ato ilícito.
Devemos ressaltar que, nos casos em que o provedor for notificado judicial
ou extrajudicialmente, um ato ilícito está sendo realizado ou irá se realizar através de
seus serviços, tendo ele o dever de providenciar as medidas cabíveis para cessar o
ato evitando o dano, pois, se não o fizer, aí sim será corresponsável pelo ato ilícito,
passando a ter o dever de indenizar a vítima.
Por fim, temos os provedores de informações ou conteúdo, que podem ser
pessoas físicas ou jurídicas que disponibilizam informações na Internet através de
um site. Neste caso, podemos concluir que a inserção é voluntária e de um
determinado conteúdo a ser exibido no site, mas as informações contidas
pressupõe-se terem sido previamente analisadas.
Esta disponibilização de informações pode ser direta (próprios) ou indireta
(de terceiros). São conteúdos próprios quando a informação é gerada pelo próprio
provedor, ex: site de notícias. São informações de terceiros quando não são da
autoria do provedor. Ela sofre a análise prévia pelo provedor, e só deve ser
disponibilizada se atender às determinações legais.
Quanto à responsabilidade do provedor sobre o conteúdo das informações
contidas em seu próprio site, compara-se à dos meios de comunicação, respeitando
o disposto na Súmula 211 do STJ: “São civilmente responsáveis pelo ressarcimento
de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o
proprietário do veículo de divulgação”. Desta forma, o provedor irá responder
solidariamente pelo conteúdo ofensivo divulgado em sua página em conjunto com o
autor.
No caso dos chats (salas de bate papo) e dos fóruns de discussão,
disponibilizados pelo provedor para a troca de mensagens de forma síncrona ou
assíncrona, o conteúdo das mensagens é de responsabilidade direta do usuário.

4.6 OUTRAS MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE

Concluímos o presente Módulo com a apresentação de algumas


modalidades de responsabilidade quanto ao agente. Existem muitas outras, mas

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seria impossível descrever todas neste trabalho. A princípio todas as empresas,
públicas ou privadas, prestadoras de serviços públicos, terão o mesmo tratamento
que a Administração Pública.
Os profissionais de saúde assumem responsabilidade idêntica às dos
médicos. Os meios de comunicação, de conformidade com os provedores da
internet, lembrando que esta se equipara a um meio de comunicação. As
construtoras servem de base para a responsabilização dos empreiteiros,
incorporadores e dos profissionais ligados à área de construção. Os demais
profissionais são responsabilizados na forma do CDC. As empresas em geral ficam
responsabilizadas por seus atos baseados no Código Civil e no CDC, entre outras
modalidades e possibilidades.
Não gostaria de encerrar este Módulo antes de fazer uma pequena
apresentação da responsabilidade civil ambiental, que considero de suma
importância, pois o direito ao meio ambiente é um direito coletivo, ou seja, um direito
pertencente a todos e ao mesmo tempo a cada um, sendo que todos têm o direito de
viver em um meio ambiente ecologicamente equilibrado e com qualidade de vida
possível.
Iniciamos pela Carta Magna:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização
que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

AN02FREV001/REV 4.0

100
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais à crueldade.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o
meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados,
por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas
naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

Anteriormente à Constituição Federal já existia a Lei nº 6.938/1981, que


dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, e dá outras providências. Nela encontramos o seguinte
artigo inerente à responsabilidade civil:

Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal,


estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela
degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:

AN02FREV001/REV 4.0

101
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade
para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados
ao meio ambiente.

E na Lei nº 7.347/1985, que disciplina a ação civil pública de


responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras
providências, encontramos:

Art. 1º - Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação


popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais
causados: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
l - ao meio ambiente;

Por fim, temos a Lei dos Crimes Ambientais (nº 9.605/1998), que dispõe
sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Quanto à responsabilidade civil
ambiental, temos o citado § 1º do art. 14 da Lei 6.938/1981, que diz ser a
responsabilidade pelos danos ambientais objetiva, devendo indenizar independente
de culpa, ou seja, basta a existência da ação lesiva, do dano e do nexo com a fonte
poluidora ou degradante para atribuição do dever de reparar.
Igualmente, mesmo a conduta sendo lícita, ela é irrelevante se da atividade
resultar algum dano ao meio ambiente (teoria do risco da atividade ou da empresa).
No dano ambiental, a reparação pode se feita de modo que se tenha a condição
anterior ao dano do bem ambiental afetado e através da reparação pecuniária.
Mas lembramos que, muitas das vezes, a reparação pecuniária fica sem
valor, quando não se pode ter o status a quo do bem, como na extinção de uma
forma de vida, na contaminação de um lençol freático ou na devastação de uma
floresta. Em suma, o dano ambiental é de responsabilidade civil objetiva, na qual

AN02FREV001/REV 4.0

102
aquele que, através de sua atividade, cria um risco de dano para terceiro deve ser
obrigado a repará-lo, ainda que sua atividade e seu comportamento sejam isentos
de culpa.
Também é necessário que se responsabilize pelo dano ambiental, tanto para
que haja reparação do dano causado, como também no intuito de coibir a ação
desordenada do homem, pois uma vez causado o dano difícil será sua reparação.

FIM DO MÓDULO IV

AN02FREV001/REV 4.0

103
DIREITO CIVIL –
RESPONSABILIDADE CIVIL

MÓDULO V

AN02FREV001/REV 4.0

105
MÓDULO V

5 DA LIQUIDAÇÃO DO DANO E AÇÃO DE INDENIZAR

Entendida a responsabilidade civil, com suas especificidades, principalmente


no tocante a ser contratual ou extracontratual, subjetiva ou objetiva, se é utilizada a
teoria da culpa ou a teoria do risco, e se estão presentes todos os elementos que
ensejam o dever de indenizar, passamos à fase da liquidação dos danos e da ação
de indenização.
É neste momento que se irá fixar o valor da indenização – quantum debeatur
– devido pelo dano causado. A princípio, o desejo do legislador é o de que o autor
pudesse fazer com que se voltasse ao estado anterior ao dano provocado, e não
aplicar uma punição. Porém, muitas das vezes isso se torna impossível, e só uma
indenização poderá permitir à vítima a compensação pelo prejuízo sofrido.
Isto porque a responsabilidade civil tem como escopo o reequilíbrio
econômico-jurídico que foi modificado face ao dano ocasionado. O que é necessário,
neste caso, é restituir à vítima a condição na qual ela se encontrava antes da lesão
sofrida. Apresentam-se duas formas para fazê-lo, a reparação in natura, chamada
de tutela específica, onde será possível retornar à situação anterior, e a reparação
pecuniária, quando já não é mais possível o retorno.
Como vimos, a função da responsabilidade civil é de restituir, ou seja,
permitir que a vítima receba o que lhe é justo por direito, e não de enriquecer a
vítima com a indenização, pois, se tal fato fosse permitido, estaríamos diante do
enriquecimento sem causa. Desta forma, precisamos entender o critério para a
fixação da indenização.
Iniciamos o estudo do critério através do nexo de causalidade, pois é ele que
liga a conduta do autor ao dano, possuindo ainda outra função, a de estabelecer a
exata extensão da indenização. Podemos nos utilizar de algumas perguntas para
chegar a esta extensão:
 Qual a conduta do autor que deu causa ao dano?

AN02FREV001/REV 4.0

106
 Quem deve suportar o dano causado?
A partir daí, podemos verificar qual deve ser o valor da indenização,
utilizando três critérios:

a) O da paridade – é o critério que determina se todos que contribuíram para o


dano irão responder igualmente, ou seja, será dividido o dano em partes
iguais entre os autores.
Crítica a este critério: Pode gerar confusão uma vez que não analisa as
circunstâncias concretas de como o dano foi produzido.
b) O da culpabilidade – é o critério que levará em conta a gravidade da culpa,
para depois fixar e distribuir os prejuízos. Assim, quanto maior o grau de
culpa, maior será sua responsabilidade.
Crítica a este critério: Nem sempre o que atuou com maior grau de culpa foi o
que teve maior participação no dano.
c) o da culpabilidade e da causalidade – é o critério que determina que cada um
dos autores deve suportar o dano na medida em que o tenha produzido, ou
seja, na proporção em que sua conduta interferiu no evento. Nesse caso não
se leva em consideração se o autor agiu com dolo ou culpa, mas se verifica
qual foi a extensão do dano causado através do nexo causal. O autor
responderá pelo dano que, na realidade, deu causa.

O Brasil adota o terceiro critério – da causalidade. Encontramos no caput do


art. 944 o primeiro e principal critério para fixação da indenização: “A indenização
mede-se pela extensão do dano”, e em seu parágrafo único: “Se houver excessiva
desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitativamente, a indenização”. Esta determinação legal vai ao encontro dos
princípios da responsabilidade civil, principalmente no tocante à solidariedade social
e reparação integral da vítima.
Ainda quanto ao parágrafo único, verificamos que o legislador fala em
reduzir, equitativamente, a indenização, ou seja, ele permitiu que o juiz, de acordo
com o caso a ser julgado, pudesse reduzir a indenização e não aumentá-la, uma vez
que o limite da indenização é a extensão do dano causado. Esta determinação é

AN02FREV001/REV 4.0

107
considerada uma exceção, devendo ser aplicada com cautela pelo magistrado, a fim
de não prejudicar a vítima.
Ainda no tocante à redução da indenização, encontramos o preceito do art.
945: “Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto
com a do autor do dano”. Este preceito, que trata da culpa concorrente, tem como
justificativa que o autor só irá responder pelo dano que causou.
O valor indenizatório no que tange aos danos materiais não nos traz
dificuldades em seu arbitramento, pois não será difícil quantificar seus valores
econômicos. Basta uma simples operação aritmética baseada na relação de causa e
efeito entre o prejuízo e o evento culposo. No Brasil, a doutrina e a jurisprudência,
aplicam o princípio da restitutio in integrum (restituição por inteiro, recuperação no
estado original da coisa), o que permite uma ampla e justa reparação.
O problema maior para se encontrar o valor indenizatório que seja real e
justo está nos casos dos danos extrapatrimoniais (dano moral), não havendo um
consenso na doutrina e jurisprudência, por não existir uma fórmula segura que
possa orientar o juiz a determinar a verdadeira extensão do dano.
Procura-se usar a analogia, com base nos arts. 4º e 5º da Lei de Introdução
ao Código Civil, para determinar alguns parâmetros ao arbitramento das
indenizações, partindo do Código Brasileiro de Telecomunicações, Lei nº 4.117/62,
arts. 81 a 88 (alguns suprimidos e derrogados pelo Decreto-Lei nº 236, de
28/02/1967); Código Eleitoral, Lei nº 4.737/65, art. 243; Lei de Imprensa, Lei nº
5.250/67, arts. 49 e 51 a 57; e Lei de Direitos Autorais, Lei nº 5.988/73, arts. 25 a 28
e 126, além dos artigos inerentes à indenização do Código Civil aqui estudados.
Ademais, o dano moral ocorre na esfera da subjetividade e alcança as
características mais íntimas da personalidade humana, ou da própria valoração da
pessoa no seu meio. A jurisprudência estabeleceu alguns critérios para os danos
morais: a extensão do dano; o grau de culpa do autor; a capacidade econômica do
autor e a capacidade econômica da vítima.
Quanto à extensão do dano e ao grau de culpa do autor, os critérios são os
mesmos estudados acima quanto ao dano patrimonial. Quanto à capacidade
econômica do autor e à capacidade econômica da vítima é que se encontra o
problema maior. A doutrina não tem aceitado a aplicação deste critério, haja vista

AN02FREV001/REV 4.0

108
que pode ocorrer uma redução do quantum em face de vedação do enriquecimento
sem causa.
Chegamos à dicotomia do sistema jurídico, que é a relação entre a natureza
e extensão do dano moral conjugada com a situação econômica do autor. O
arbitramento indenizatório deverá levar em consideração a posição social e cultural
do autor e da vítima, partindo-se do padrão normal e ético-social do homem médio.
Mas qual é o padrão normal e ético-social do homem médio?
É um assunto extremamente delicado, tendo em vista que vários fatores
podem influenciar na definição do homem médio, como por exemplo, sua posição
social, econômica, religiosa, precedentes familiares, entre tantos outros. Tal assunto
realmente nos leva a algumas indagações. Como podemos valorar o dano moral?
Qual é a importância e valor de cada pessoa? Poderemos afirmar que a dor de uma
pessoa é maior ou menor do que de outra? Será que a dor da perda de um ente
querido de uma família de classe econômica alta é diferente da dor da família de
classe economicamente menor? A importância de um pai pode ser diferente para as
famílias? Estas e muitas outras perguntas pairam no ar no momento em que
pensamos em dano moral.
Vejamos o acórdão do STJ abaixo:

Terceira Turma
INDENIZAÇÃO. MORTE. CONDIÇÃO ECONÔMICA. VÍTIMA. RÉU.

O Tribunal local diminuíra bastante a indenização fixada pela sentença em


razão da morte causada por preposto, ao considerar muito a condição
econômica do réu (pequena sociedade dedicada ao comércio de hortaliças
e frutas) e a condição social da vítima, tida por pessoa pobre. Diante disso,
a Turma entendeu, por maioria, restabelecer a sentença e o valor original da
indenização fixada em R$ 45.000,00. O Min. Ari Pargendler, que capitaneou
a divergência, firmou que o Tribunal local incorreu em gravíssimo erro ao ter
preconceito contra pessoa pobre. O Min. Carlos Alberto Menezes Direito
aduziu que, no trato de indenização por morte, seria abusivo de um lado
reconhecer a incapacidade da empresa em suportar a indenização e do
outro discriminar a pobreza da vítima, pois tanto pobres quanto ricos sofrem
o mesmo dano, pois o valor da vida não está na condição social. REsp

AN02FREV001/REV 4.0

109
951.777-DF, Rel. originário Min. Humberto Gomes de Barros, Rel. para
acórdão Min. Ari Pargendler, julgado em 19/6/2007.

Mas, se fosse ao contrário, a vítima rica e o autor uma pessoa pobre, como
se poderia quantificar o valor indenizatório? Apenas como exemplo, uma vez que
estamos aqui estudando o dano moral, mas o exemplo serve de base para o
alegado no parágrafo anterior. Eu era conciliador do Juizado Especial e recebi uma
ação de indenização por danos causados, o fato era o seguinte: um cidadão adquiriu
um veículo do ano, um FIAT, e colocou o que possuía, um automóvel mais antigo,
uma Brasília, para reformar. No dia em que o veículo ficou pronto, ele e a esposa
foram à oficina para retirar a Brasília. A esposa veio dirigindo o FIAT na frente, e
atrás, seguindo a esposa, o cidadão dirigindo o carro recém-reformado.
A esposa parou no sinal, e logo atrás o cidadão. Neste momento, um veículo
não conseguiu frear, vindo a colidir com a Brasília, que por sua vez colidiu com o
FIAT. Ocorre que o causador do dano recebia um salário mínimo por mês, e seu
carro era um FUSCA bem antigo. Não restava dúvida que o motorista/proprietário do
FUSCA era culpado pelos danos causados nos demais veículos, e o valor do dano
patrimonial era muito superior ao que poderia suportar o autor. Desta forma, como
condenar o autor ao ressarcimento dos danos causados sem que ele ficasse sem
condições de sustentar sua família?
Da mesma forma, indago o que ocorreria se uma pessoa de classe
econômica alta, com um salário expressivo, casado, pai de dois filhos e único a
trabalhar na família, viesse a falecer por ação de uma pessoa de classe média
pobre? Como ficaria o valor do dano moral a ser indenizado? Como aplicar o critério
da capacidade econômica do autor versus a capacidade econômica da vítima?
Posso aceitar e entender que a dor sofrida será a mesma, quer seja rico ou pobre,
mas como aceitar que, além da perda do esposo e pai, a família tenha de se
desestruturar face à nova condição imposta pelo autor ao tirar a vida da pessoa?
Como aplicar o preceito do artigo 944, que diz que a indenização está
limitada à extensão do dano? Ademais, podemos asseverar que não se pode medir
a dor em valores monetários. Na realidade, o valor da condenação não visa reparar
o dano no sentido literal, pois a dor, a alegria, a vida, a liberdade, a honra e a beleza
são valores inestimáveis.

AN02FREV001/REV 4.0

110
O que se busca é a fixação de um valor compensatório que amenize as
consequências do dano sofrido. A razão da reparação não está no patrimônio, mas
na dignidade ofendida ou na honra afrontada. Encontramos um posicionamento
doutrinário que coloca como limite da indenização a situação econômica do ofensor,
ou seja, o valor da indenização não poderá privar o autor dos bens necessários à
manutenção de uma vida digna. Esta posição está afeta ao princípio constitucional
da dignidade da pessoa humana.
Corrobora com este posicionamento o art. 928 e seu parágrafo único, a
saber:

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por
ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de
meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser
equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as
pessoas que dele dependem. (grifo nosso)

Outro ponto a ser levado em consideração é o de que se deve, para evitar


excessos e abusos, reputar como dano moral apenas a dor, o vexame, o sofrimento
ou a humilhação que escapam à normalidade e interfiram intensamente no
comportamento psicológico da vítima, causando-lhe aflição, angústia e desequilíbrio
em seu bem-estar. O mero dissabor, aborrecimento ou sensibilidade exacerbada
devem estar fora da esfera do dano moral, uma vez que fazem parte da normalidade
do nosso dia a dia, quer no trabalho, no trânsito, até entre os amigos ou no ambiente
familiar.
Trazemos à colação o acórdão da 1ª Câmara do Tribunal de Justiça de São
Paulo:

Dano moral. Banco. Pessoa presa na porta detectora de metais. Hipótese


de mero aborrecimento que faz parte do quotidiano de qualquer cidadão de
uma cidade grande. Ação improcedente (Ap. 101.697-4, 1ª Câm.).

AN02FREV001/REV 4.0

111
Na realidade, o juiz deve valer-se do seu bom-senso e sentido de equidade
para determinar o cumprimento da lei, procurando restabelecer o equilíbrio social.
Tal medida se faz necessária para evitar que as ações de reparação de dano moral
se transformem em expedientes de extorsão ou de espertezas maliciosas e
injustificáveis.
Continuando nosso estudo, temos o caso da liquidação de uma obrigação
indeterminada, onde não encontramos dispositivo legal nem contrato que determine
o valor indenizatório. A apuração dos prejuízos seguirá na forma que a lei
processual indicar, conforme preceito abaixo:

Art. 946. Se a obrigação for indeterminada, e não houver na lei ou no


contrato disposição fixando a indenização devida pelo inadimplente, apurar-
se-á o valor das perdas e danos na forma que a lei processual determinar.

Vejam: o artigo não determina que, não havendo prova do quantum a ser
indenizado, ficará o autor isento da indenização, e sim que, se não tivermos o valor
real, o juiz deverá liquidar a condenação. Quanto à indenização por morte,
encontramos o seguinte preceito:

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras


reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o
luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia,
levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

De acordo com o artigo, a indenização abarcará as despesas com o


tratamento da vítima, seu funeral, o luto da família e a prestação de alimentos,
sendo que esta última pela estimativa de vida da vítima. Lembramos que, além

AN02FREV001/REV 4.0

112
desta indenização, cabe ainda a indenização pelos danos matérias sofridos pela
vítima, como preceitua o Súmula nº 37 do STJ permissiva à cumulação dos danos.
Quanto aos lucros cessantes, encontramos o seguinte preceito:

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o


ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da
convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver
sofrido.

Através dele, se embasa o cálculo da indenização por defeito físico,


temporário ou permanente, que incapacita a atividade laborativa da vítima (lucros
cessantes). Cabe ressaltar que se pode cumular o dano moral com o dano estético.
Embora haja divergência doutrinária a este respeito, o STJ já pacificou, entendendo
que o dano moral é a violação aos direitos da personalidade, e o dano estético é a
deformidade corporal.
Quanto à capacidade laborativa, temos:

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa
exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de
trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros
cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à
importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele
sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização
seja arbitrada e paga de uma só vez.

As despesas de tratamento incluem a assistência médica, remédios,


aparelhos ortopédicos, próteses, órteses, fisioterapia, psicólogo, dentre outros. Os
lucros cessantes envolvem os valores que a vítima deixou de receber em face da
convalescência. Porém, se ocorrer a incapacidade para o trabalho ou a diminuição
desta capacidade, terá direito à pensão, de acordo com o valor de seu trabalho e a
estimativa de vida. Por exemplo: uma bailarina profissional que é vítima de acidente

AN02FREV001/REV 4.0

113
que a deixa inabilitada para a dança, um pianista profissional que em acidente perde
sua mão, ficaram inabilitados para o trabalho, fazendo jus à pensão.
A contrário senso, trago um caso no qual atuei como advogado, defensor do
autor. Uma moça foi atropelada, sofrendo fratura do osso da perna. Foi operada e
ficou com uma cicatriz que realmente mudou sua estética, ainda mais por ser uma
pessoa jovem. Foi requerida a indenização por danos estéticos, tendo em vista a
condição da vítima de ficar constrangida de usar um short ou ir à praia, em face da
cicatriz.
Cumulado com o dano estético, requereu o dano moral, acrescido de uma
pensão vitalícia por estar inabilitada para o trabalho. Sua profissão era de
telefonista. Na sentença, o juiz condenou o autor ao pagamento dos danos morais e
estéticos, e deu por improcedente o pedido de pensão, uma vez que o dano
causado não impediria a vítima de continuar a trabalhar como telefonista.
Temos ainda o artigo 951, que estende a aplicação dos artigos 948, 949 e
950 às pessoas que, em função de sua atividade profissional, causarem danos a
vítima:

Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional,
por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente,
agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.

Já no artigo 952, o legislador se preocupou com a violação da propriedade


alheia, tratando da indenização por esbulho ou usucapião alheio.

Art. 952. Havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da


coisa, a indenização consistirá em pagar o valor das suas deteriorações e o
devido a título de lucros cessantes; faltando a coisa, dever-se-á reembolsar
o seu equivalente ao prejudicado.

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114
Parágrafo único. Para se restituir o equivalente, quando não exista a própria
coisa, estimar-se-á ela pelo seu preço ordinário e pelo de afeição, contanto
que este não se avantaje àquele.

Inicialmente, deve-se restituir o bem, é a reparação natural. Caso não seja


possível, então incidirá a indenização. Porém, mesmo que haja a reparação natural,
é cabível a condenação em lucros cessantes. Quanto à indenização por injúria,
difamação ou calúnia, temos:

Art. 953. A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na


reparação do dano que delas resulte ao ofendido.
Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá
ao juiz fixar, equitativamente, o valor da indenização, na conformidade das
circunstâncias do caso.

A presente norma abrange a reparação por dano material e moral, e é


independente do resultado na esfera criminal. Por fim, temos a indenização por
ofensa à liberdade pessoal.

Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no


pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não
puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo
antecedente.
Parágrafo único. Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal:
I - o cárcere privado;
II - a prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé;
III - a prisão ilegal.

De acordo com uma leitura atenta ao presente artigo, podemos concluir que
a liberdade aqui protegida é a física da pessoa, que também é assegurada por
preceito constitucional (art. 5º, LIV). No entendimento doutrinário, os incisos do
parágrafo único são enunciativos e não numerus clausus, podendo abranger outros
casos de liberdade física.

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115
Concluindo este tópico, temos ainda um ponto a ser visto, que se refere ao
caráter punitivo da indenização, como já estudado anteriormente. A doutrina atual
tem entendido que a reparação, além de seu efeito compensatório, tem também
efeitos repressivos, punitivos.
No ato de se reparar o dano moral com a condenação do autor, além do
ressarcimento quanto ao prejuízo ocasionado ao seu psiquismo, que busca atenuar
o sofrimento havido, estaria também sendo aplicada uma sanção contra o culpado,
no intuito de inibir ou desestimular a repetição de situações semelhantes; motivo
pelo qual o valor indenizatório deverá ser maior quando a culpa do autor for
excessiva.
Em contrapartida, ela deve ser menor à medida que seja mais leve a sua
culpa. Porém, esta indenização não deverá vir em separado, apenas ser levada em
conta no arbitramento da indenização. Em suma, podemos entender que, apesar de
prevalecer na doutrina o entendimento de que a reparação pecuniária do dano moral
tem duplo caráter: compensatório para a vítima e punitivo para o ofensor,
entendemos que a finalidade precípua do ressarcimento do dano não é punir o
responsável, e sim recompor o patrimônio do lesado.
Quanto à ação indenizatória, podemos dizer que ela é afeta à esfera do
processo civil, devendo ser proposta de acordo com o fato no juízo competente. Tem
por objetivo assegurar a alguém o ressarcimento de algum dano causado por
outrem, sendo por um ato, abstenção de um ato, ou de algum fato que possa ter
ocasionado prejuízo ao patrimônio da vítima.
A pretensão do autor da ação é ter uma reparação, geralmente pecuniária.
Seu intuito é buscar o restabelecimento de seu patrimônio. Quanto à ação
indenizatória, se tiver por base o dano moral, a pretensão do autor é de receber um
valor que possa ajudá-lo a mitigar sua dor e dar continuidade à sua vida.
Apresento a seguir algumas ementas referentes a acórdãos que corroboram
com o assunto aqui estudado.

Processo AgRg no Ag 1140198 / RJ


AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO - 2008/0282734-5
Relator(a) Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
Órgão Julgador - T4 - QUARTA TURMA

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116
Data do Julgamento 29/09/2009

Ementa
1. Danos Morais. Acórdão fundado nos elementos fáticos: ao firmar a conclusão da
razoabilidade da condenação por danos morais, o Tribunal recorrido tomou em
consideração os elementos fáticos carreados aos autos. Incidência da Súmula
07/STJ.
2. Não é condicional o acórdão que admite a prova do fato culposo e a existência
dos danos dele decorrentes, assim como enumerados pela autora nos autos, mas
relega para a fase da liquidação da sentença a definição do seu valor. Precedentes.
3. A definição do quantum debeatur na fase de liquidação do título judicial
condenatório não impedirá o condenado, no momento oportuno, de exercer a
fiscalização e pleitear o controle jurisdicional do valor fixado. Precedentes.
4. Agravo regimental não provido.

Processo: REsp 1021500 / PR


RECURSO ESPECIAL: 2008/0003702-4
Relator(a) Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA (1128)
Órgão Julgador - T5 - QUINTA TURMA
Data do Julgamento: 10/09/2009

Ementa
1. Refoge ao recurso especial o exame de suposta afronta a dispositivos
constitucionais, por se tratar de competência reservada à Suprema Corte, nos
termos do art. 102, III, da Constituição da República.
2. A indicação genérica de ofensa ao art. 535, II, do CPC, sem particularizar qual
seria a suposta omissão do Tribunal de origem que teria implicado ausência de
prestação jurisdicional, importa em deficiência de fundamentação, nos termos da
Súmula 284/STF.
3. “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial” (Súmula
7/STJ).
4. O militar temporariamente incapacitado em razão de acidente em serviço ou,
ainda, de doença, moléstia ou enfermidade, cuja eclosão se deu no período de

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117
prestação do serviço, tem o direito de permanecer integrado às fileiras de sua
respectiva Força até que se restabeleça ou, caso constatada a incapacidade
definitiva, seja transferido para a reserva remunerada. Precedente do STJ.
5. É ultra petita a decisão que, malgrado inexista pedido expresso na inicial,
condena a parte ré ao pagamento de indenização por danos morais em face do
licenciamento do autor do serviço ativo das Forças Armadas.
6. O dano moral diz respeito a um prejuízo que atinge o patrimônio incorpóreo de
uma pessoa natural ou jurídica, os direitos da personalidade.
7. Os militares das Forças Armadas, no exercício de suas atividades rotineiras de
treinamento, constantemente encontram-se expostos a situações de risco que
ultrapassam a normalidade dos servidores civis.
8. As lesões sofridas em decorrência de acidente ocorrido durante sessão de
treinamento somente gerarão direito à indenização por dano moral quando
comprovado que o militar foi submetido a condições de risco que ultrapassem
àquelas consideradas razoáveis ao contexto militar ao qual se insere.
9. Nas condenações impostas à Fazenda Pública nas ações ajuizadas após a
edição da MP 2.180-35, de 24/8/01, devem os juros moratórios ser fixados em 6%
ao mês, nos termos do art. 3º do Decreto-Lei 2.322/87.
10. Referindo-se a indenização por danos materiais às despesas efetuadas pelo
autor com seu tratamento, efetuadas após seu licenciamento, deve o termo a quo
dos juros moratórios ser a data de realização de cada uma destas despesas,
respectivamente, a serem apuradas na fase de liquidação, e não da data do
acidente.
11. Recurso especial conhecido e parcialmente provido para excluir da condenação
à indenização por danos morais, assim como para fixar os juros moratórios em 6%
ao ano, contados a partir da realização de cada uma das despesas efetuadas pelo
autor.

Processo REsp 967446 / PE


RECURSO ESPECIAL: 2007/0155689-4
Relator(a) Ministro HERMAN BENJAMIN (1132)
Órgão Julgador - T2 - SEGUNDA TURMA

AN02FREV001/REV 4.0

118
Data do Julgamento: 20/08/2009
1. Hipótese em que o Tribunal a quo, soberano no exame da prova, entendeu
configurada a existência de nexo causal entre o ato lesivo imputado à Administração
(encaminhamento do contrato social da empresa Guararapes Conservação e
Limpeza ao Juízo do Trabalho, sem a informação relativa à retirada do autor do
quadro societário da empresa) e o evento danoso (transtornos decorrentes da
penhora dos bens e da conta-corrente do demandante, além dos gastos efetuados
com a contratação de escritório de advocacia para proceder à sua defesa em
inúmeras reclamações trabalhistas).
2. A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que, caracterizada a
responsabilidade subjetiva do Estado, mediante a conjugação concomitante de três
elementos – dano, negligência administrativa e nexo de causalidade entre o evento
danoso e o comportamento ilícito do Poder Público –, é inafastável o direito do autor
à indenização ou reparação civil dos prejuízos suportados.
3. O valor dos danos morais, fixado em R$ 106.517,54 (cento e seis mil, quinhentos
e dezessete reais e cinquenta e quatro centavos) não se mostra exorbitante ou
irrisório. Portanto, modificar o quantum debeatur implicaria, in casu, reexame da
matéria fático-probatória, obstado pela Súmula 7/STJ.
4. Provada a existência de prejuízo material, não há óbice legal à transferência de
sua quantificação para a fase de liquidação de sentença. Precedentes do STJ.
5. Recurso Especial não provido.

Processo: AgRg nos EREsp 713800 / MA


AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO
ESPECIAL - 2008/0160674-8
Relator(a) Ministra LAURITA VAZ (1120)
Órgão Julgador - CE - CORTE ESPECIAL
Data do Julgamento: 28/05/2009

Ementa
1. Hipótese em que o acórdão embargado entendeu que significativa parte da
reparação do dano perseguido na ação intentada pelos autores restou precisa e

AN02FREV001/REV 4.0

119
expressamente determinada na petição inicial, remanescendo apenas outra parcela
a ser apurada em liquidação da sentença, mas com indicação de patamar mínimo.
Assim, decidiu a Eg. Turma Julgadora negar provimento ao Recurso Especial, para
manter a fixação do valor da causa no patamar correspondente ao “benefício
econômico pretendido na demanda, ainda que de forma mínima”.
2. Os acórdãos paradigmas, por seu turno, em nada discreparam desse
entendimento. Aliás, o ratificam. Consoante jurisprudência mansa e pacífica deste
Superior Tribunal de Justiça tem-se que, se há indicação clara na petição inicial do
benefício econômico pretendido na demanda, ainda que em patamar mínimo, é este
que deve figurar como valor da causa, sendo que “a impossibilidade de avaliar a
dimensão integral desse benefício não justifica a fixação do valor da causa em
quantia muito inferior ao de um valor mínimo desde logo estimável” (REsp
642.488/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 28/09/2006).
3. Agravo desprovido.

Processo: REsp 1014624 / RJ


RECURSO ESPECIAL 2007/0219810-7
Relator(a) Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO
DO TJ/RS) (8155)
Órgão Julgador - T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento 10/03/2009

Ementa
CIVIL. PRESCRIÇÃO. DIREITO DE IMAGEM. Violação continuada. Para fins
prescricionais, o termo a quo, envolvendo violação continuada ao direito de imagem,
conta-se a partir do último ato praticado. Ausência de elementos probatórios quanto
à autorização anterior para a publicação da fotografia. Exploração de imagem, sem
contrato escrito, limita-se ao prazo máximo de cinco anos. Art. 49, III da Lei 9610/98.
Valor moral arbitrado em consonância com jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça.
RECURSO IMPROVIDO.
Notas

AN02FREV001/REV 4.0

120
Indenização por dano moral mantida em R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais).

Processo: REsp 1030565 / RS


RECURSO ESPECIAL 2008/0027156-9
Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
Órgão Julgador - T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento: 05/11/2008

Civil. Ação de indenização por danos materiais e compensação por danos morais
movida por mãe de jovem falecida em acidente de trânsito. Atropelamento à beira de
estrada por ônibus que havia sido abalroado por caminhão, em ultrapassagem
temerária deste. Fato ocorrido em 1990. Reconhecimento de culpa concorrente do
motorista do ônibus. Discussão a respeito da possibilidade de indenização ainda
quando reconhecido o estado de necessidade. Análise das relações intertemporais
entre o Código Civil de 1916 e o Código Civil de 2002. Comparação entre os arts.
188, II, e 929 do CC/02 e 159, 160, II, e 1.519 do CC/16.
- Em análise soberana dos fatos e provas, o TJ/RS vislumbrou a ocorrência de culpa
concorrente do motorista do ônibus. Tal ponto é impossível de ser revisto, em face
da Súmula nº 7/STJ.
- O acórdão reconheceu dever de indenizar mesmo em face do estado de
necessidade. Para tanto, fez menção expressa apenas a dispositivos do Código Civil
de 2002, apesar de o acidente ter ocorrido em 1990.
- Não há, a rigor, nenhum óbice a referência a dispositivos do Código atualmente em
vigor no julgamento de lides vinculadas ao CC/16, quando é patente a similitude
existente entre os dispositivos atuais e os revogados. O próprio STJ vem,
costumeiramente, indicando as respectivas correspondências legislativas em seus
acórdãos.
Precedentes.
- Na presente hipótese, porém, alega-se a existência de diferenças substanciais na
redação dos dispositivos referentes à reparação de danos causados em estado de
necessidade. Nesse sentido, o CC/16 teria previsto apenas a indenização por danos

AN02FREV001/REV 4.0

121
a coisas, enquanto que o CC/02 a teria previsto, também, para lesão à pessoa,
como ocorre na hipótese.
- Não houve, porém, retroação de disciplina jurídica, pois o exame do CC/16 indica
que existe apenas uma diferença de sistematização da matéria entre os dois
Códigos. Com efeito, o CC/16 também previa a reparação da lesão a pessoa por
‘crime justificável’; porém, o fazia apenas no art. 1.540, contido no capítulo referente
à liquidação das obrigações resultantes de atos ilícitos. É essencial notar, para o
correto deslinde da controvérsia, que a presente ação está sendo movida pela mãe
da falecida, que pleiteia direito pessoal próprio em face da morte da filha.
- A diferença entre os Códigos, portanto, se limita à sistematização da matéria,
porque o CC/02 condensou as hipóteses de lesão à pessoa e a coisas no mesmo
dispositivo (art. 188, II).
- Não há, portanto, óbice à citação exclusiva do CC/02 no julgamento. Mesmo
quando analisado isoladamente o art. 160, II, do CC/16, a doutrina questionava a
aparente inversão de valores do dispositivo, que parecia privilegiar a defesa do
patrimônio em detrimento da pessoa.
- Pela via interpretativa, portanto, o resultado do julgamento seria o mesmo; o CC/02
apenas adotou sistemática mais simples e, nessa condição, foi citado como reforço
de argumentação, sem que houvesse qualquer desrespeito à aplicação da lei
vigente ao tempo do fato.
Recurso especial não conhecido.

Processo: REsp 1011463 / PR


RECURSO ESPECIAL 2007/0285388-2
Relator(a): Ministro FERNANDO GONÇALVES (1107)
Órgão Julgador - T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento: 02/10/2008

Ementa
AÇÃO COLETIVA. ASSOCIAÇÃO DE MORADORES. PRODUTOS TÓXICOS.
CONTAMINAÇÃO. ÁGUA. DANOS MORAIS E MATERIAIS. DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. CARACTERIZAÇÃO.

AN02FREV001/REV 4.0

122
1 - A quantificação dos danos morais e materiais fica relegada à liquidação de
sentença e, por isso mesmo, não impede a subsunção da espécie à definição legal
de direitos individuais homogêneos, caracterizados por um fato comum, no caso
específico o vazamento de produtos tóxicos e a contaminação da água consumida
pelos associados.
2 - Recurso especial conhecido e provido para reconhecer a legitimidade ativa ad
causam da recorrente.

Processo: REsp 704384 / MG


RECURSO ESPECIAL 2004/0127292-4
Relator(a): Ministro ARI PARGENDLER (1104)
Órgão Julgador - T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento: 18/12/2007

Ementa
CIVIL. CONTRATO. Rompimento unilateral do contrato antes do término do
respectivo prazo; indenização dos lucros cessantes.

Processo: REsp 993876 / DF


RECURSO ESPECIAL 2007/0234308-6
Relator(a): Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento: 06/12/2007

Ementa
Civil e processo civil. Recurso especial. Ação de indenização por danos materiais e
compensação por danos morais. Recusa do plano de saúde em arcar com custos de
cirurgia e implante de 'Stent Cypher', ao argumento de que tal aparelho seria, ainda,
experimental. Alegação negada pelas provas dos autos e pela própria conduta
posterior da seguradora, que nenhuma objeção impôs a idêntico pedido, em data
posterior. Danos morais configurados, de acordo com pacífica jurisprudência do STJ.

AN02FREV001/REV 4.0

123
Perdas e danos. Possibilidade de pedido específico já na inicial, não realizado pelo
autor. Impossibilidade de delegação da questão à liquidação da sentença em tal
circunstância.
- Na esteira de diversos precedentes do STJ, verifica-se que a recusa indevida à
cobertura médica pleiteada pelo segurado é causa de danos morais, já que agrava a
situação de aflição psicológica e de angústia no espírito daquele.
- Na presente hipótese, acrescente-se ainda que a conduta do plano de saúde
assumiu contornos bastante abusivos que vão muito além do mero descumprimento
contratual, na medida em que houve uma negativa inicial e, a seguir, uma
autorização para um segundo procedimento idêntico alguns meses depois, sem que
qualquer alteração nas bases fáticas ou contratuais tivesse se operado. Evidente,
portanto – conforme reconheceu o acórdão – que a primeira negativa da seguradora
se resumiu a um verdadeiro ato de discricionariedade, praticado em desfavor do
segurado e completamente desconectado do mínimo de razoabilidade.
- O acórdão entendeu que o autor, por conveniência, deixou de precisar o valor
material de um de seus pedidos relativos a perdas e danos, quando tal providência
era perfeitamente possível. Nessa perspectiva, é irrelevante que, em alguns casos
específicos, seja possível relegar a fixação do 'quantum' à liquidação de sentença,
porque tal só se dá em face de dificuldades inerentes ao próprio julgamento e não
como decorrência de mera escolha do autor em assim descrever o pedido.
- Não se conhece de recurso especial na parte em que este se encontra
deficientemente fundamentado.
Recurso especial parcialmente provido.

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. PROCEDIMENTO ORDINÁRIO.


RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. COOPERATIVA. ARTS. 47 E 49 DA LEI
5.764/71 DANO MORAL E MATERIAL. AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO. I. Em
conformidade com o disposto nos arts. 47 e 49 da Lei 5.764/71 são responsáveis
tributários pelas dívidas contraídas pela Cooperativa, a Diretoria ou o Conselho de
Administração, formado por associados eleitos para mandato de quatro anos. II. No
caso em apreço, no período dos fatos geradores, o autor era mero empregado do
contribuinte, exercendo cargo técnico e limitando-se a declarar tributos referentes
aos anos-base de 1990 e 1991. Tal conduta não constitui ato ultra vires praticado

AN02FREV001/REV 4.0

124
com excesso de poder ou violação ao estatuto da cooperativa. III. Para que fique
configurada a obrigação de indenizar, torna-se indispensável a presença de três
requisitos ensejadores da mesma, a saber: a) o ato ilícito (omissivo ou comissivo e
culposo ou doloso), b) o dano vivenciado pela vítima e c) nexo de causalidade entre
o dano sofrido e a conduta ilícita. (AC 2006.34.00.022199-9/DF, Rel.
Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida, Quinta Turma, e- DJF1 de
11/04/2008, p. 174). Não configurada a ilicitude do ato, resta afastada a obrigação
de reparar o dano. IV. Apelação parcialmente provida. (TRF1. APELAÇÃO CÍVEL
1998.36.00.001948-5/MT Relator: Desembargador Federal Leomar Barros Amorim
de Sousa Julgamento: 11/09/09).

CIVIL E PROCESSO CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRESTADORA


DE SERVIÇO EM EMPRESA PÚBLICA. SUPOSTO FURTO. CONSTRANGIMENTO
GRAVE. I. A Infraero é uma empresa pública federal e como tal sua
responsabilidade civil é objetiva, dentro do comando expresso no art. 37, § 6º, da
Constituição. II. Caso concreto em que o conjunto de provas aponta para grave
vexame ao qual foi exposta a Autora, a saber: faxineira que prestava serviços para a
Ré e que foi obrigada a se despir perante terceiros estranhos para verificação se
portava a quantia de R$ 60,00 (sessenta reais), supostamente furtada nas
dependências da Apelada, o que demonstra que os seus agentes extrapolaram toda
medida do razoável, expondo a Autora ao ridículo de ter que se despir, ficando
apenas com as roupas de baixo, sem a parte superior, na frente de pessoas
estranhas. III Dano moral dedutível do fato provado (grave vexame), sendo o valor
do dano elevado para R$ 20.000,00, tendo em vista a condição social e conduta da
vítima e da empresa ofensora, o fato em si e sua repercussão e a necessidade de
compensar a vítima, além de punir o ofensor, mas sem gerar enriquecimento ilícito.
IV. Apelação da Ré desprovida. V. Recurso adesivo da Autora provido, em parte,
para elevar o valor da indenização para R$ 20.000,00 (vinte mil reais). (TRF1.
APELAÇÃO CÍVEL 2001.32.00.013422-2/AM Relator: Juiz Federal Cesar Augusto
Bearsi (convocado) Julgamento: 16/06/08).

AN02FREV001/REV 4.0

125
RESPONSABILIDADE CIVIL. LANÇAMENTO DAS INFORMAÇÕES BANCÁRIAS
NO CADASTRO DE RISCO DO BANCO CENTRAL. RESOLUÇÃO Nº 2.724/00 DO
BACEN. OBRIGAÇÃO IMPOSTA ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. DANO
MORAL. INOCORRÊNCIA. I. Por imposição da Resolução nº 2.724/00 do BACEN,
todas as instituições financeiras são obrigadas a prestarem informações ao Banco
Central do Brasil sobre o montante dos débitos e responsabilidades por garantias de
seus clientes. O cadastro não implica em nenhuma restrição ao crédito, apenas traz
informações acerca do estado de endividamento do cliente. II. O lançamento das
operações de crédito firmadas entre o autor e a CEF, no Sistema de Informações de
Crédito do Banco Central do Brasil, dá-se por imposição normativa, não ensejando
constrangimento passível de indenização por danos morais, uma vez que à
instituição financeira não é facultada a opção de informar ou não informar. III. Apelo
do autor improvido. (TRF1. APELAÇÃO CÍVEL 2003.34.00.005283-0/DF Relatora:
Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida Julgamento: 18/06/08).

FIM DO MÓDULO V

AN02FREV001/REV 4.0

126
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129
-----------------------FIM DO CURSO!-----------------------------

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