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Edição 2022

Lei 11.343/2006
Lei de Drogas

Edição 2023.1
Revisada
Atualizada
Ampliada

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LEI 11.343/2006 – LEI DE DROGAS
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 3
LEI DE DROGAS – 11.343/2006 ......................................................................................................... 4
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................................................... 4
2. OBJETIVIDADE JURÍDICA .......................................................................................................... 4
3. OBJETO MATERIAL .................................................................................................................... 5
4. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................................... 6
5. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................................... 6
6. ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................................. 6
7. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO .............................................................................................. 6
8. AÇÃO PENAL ............................................................................................................................... 7
9. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA .............................................................................................. 7
10. PORTE E CULTIVO PARA CONSUMO PESSOAL ................................................................ 8
PREVISÃO LEGAL ............................................................................................................... 8
FUGA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE .................................................................... 9
CONSUMO PESSOAL X USO PRÓPRIO ........................................................................... 9
PRINCÍPIO DA ALTERIDADE ............................................................................................ 10
NATUREZA JURÍDICA ....................................................................................................... 10
CRITÉRIOS PARA DIFERENCIAÇÃO COM O TRÁFICO ................................................ 11
PENAS................................................................................................................................. 12
PRESCRIÇÃO ..................................................................................................................... 14
RITO PROCESSUAL .......................................................................................................... 15
11. ART. 33 - TRÁFICO DE DROGAS ......................................................................................... 15
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................. 15
SUJEITO ATIVO ................................................................................................................. 16
ELEMENTO NORMATIVO.................................................................................................. 17
FLAGRANTE PREPARADO ............................................................................................... 17
DOSIMETRIA DA PENA ..................................................................................................... 17
11.5.1. Pena privativa de liberdade ......................................................................................... 17
11.5.2. Pena de multa .............................................................................................................. 18
CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA .................................................................................. 19
11.6.1. Previsão legal............................................................................................................... 19
11.6.2. Vedação de penas restritivas de direitos .................................................................... 19
11.6.3. Tráfico privilegiado X Crime Hediondo ........................................................................ 19
11.6.4. Requisitos cumulativos ................................................................................................ 20
11.6.5. Diminuição da pena e quantidade da droga................................................................ 21
11.6.6. Exercício de atividade criminosa ................................................................................. 22
11.6.7. “Mulas” do tráfico ......................................................................................................... 22
11.6.8. Causa de diminuição e histórico de ato infracional ..................................................... 23
FIGURAS EQUIPARADAS ................................................................................................. 25
11.7.1. Inciso I .......................................................................................................................... 25
11.7.2. Inciso II ......................................................................................................................... 27
11.7.3. Inciso III ........................................................................................................................ 29
11.7.4. Inciso IV........................................................................................................................ 29
12. INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO USO INDEVIDO DE DROGAS................ 29
13. CEDENTE EVENTUAL ........................................................................................................... 30
14. ART. 34 – MAQUINISMO E OBJETOS DESTINADOS AO TRÁFICO ................................. 31

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FINALIDADE DO TIPO PENAL .......................................................................................... 31
OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 31
CONFLITO DE NORMAS COM O ART. 33, CAPUT, E PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO .. 32
CONCURSO DE CRIMES: ART. 33, CAPUT E ART. 34 .................................................. 33
15. ART. 35 – ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO ....................................................................... 34
INADMISSIBILIDADE DE TENTATIVA .............................................................................. 34
OUTRAS FORMAS DE ASSOCIAÇÃO .............................................................................. 34
REITERAÇÃO NA INTENÇÃO DE COMETER CRIMES .................................................. 35
CONCURSO DE CRIMES .................................................................................................. 35
16. ART. 36 – FINANCIAMENTO AO TRÁFICO ......................................................................... 35
FINANCIAMENTO OU CUSTEIO SEM TRÁFICO ............................................................. 35
AUTOFINANCIAMENTO E ART. 40, VII DA LD ................................................................ 36
17. ART. 37 – INFORMANTE COLABORADOR ......................................................................... 37
COLABORADOR FUNCIONÁRIO PÚBLICO ..................................................................... 37
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E SUBSIDIARIEDADE ............................................... 37
18. CAUSAS DE AUMENTO DA PENA ....................................................................................... 38
APLICABILIDADE ............................................................................................................... 38
TRANSNACIONALIDADE (INC. I) ...................................................................................... 39
18.2.1. Transposição da fronteira ............................................................................................ 39
18.2.2. Competência ................................................................................................................ 39
AGENTES (INC. II) .............................................................................................................. 41
LOCAL EM QUE O CRIME FOR COMETIDO (INC. III) .................................................... 41
18.4.1. Fundamento ................................................................................................................. 41
18.4.2. Estabelecimento prisional ............................................................................................ 42
18.4.3. Transporte público ....................................................................................................... 42
18.4.4. Imediações de estabelecimento de ensino ................................................................. 42
18.4.5. Imediações de Igreja.................................................................................................... 43
MODO COMO O CRIME FOI PRATICADO (INC. IV) ........................................................ 44
TRÁFICO INTERESTADUAL.............................................................................................. 44
ENVOLVENDO CRIANÇAS E ADOLESCENTES ............................................................. 45
19. COLABORAÇÃO EFICAZ (ART. 41) ..................................................................................... 46
20. CRIME CULPOSO (ART. 38) ................................................................................................. 46
21. CONDUÇÃO DE EMBARCAÇÃO OU AERONAVE APÓS O CONSUMO DE DROGA ...... 47
22. PROCEDIMENTO POLICIAL ................................................................................................. 47
LAVRATURA DO APF ........................................................................................................ 47
CONCLUSÃO DO INQUÉRITO .......................................................................................... 48
23. DESTRUIÇÃO DAS DROGAS APREENDIDAS .................................................................... 48
COM PRISÃO EM FLAGRANTE (ART. 50) ....................................................................... 48
SEM PRISÃO EM FLAGRANTE (ART. 50-A) .................................................................... 49
24. PROCEDIMENTOS INVESTIGATÓRIOS ESPECIAIS (ART. 53) ........................................ 49
AGENTE INFILTRADO (INC. I) .......................................................................................... 49
AÇÃO CONTROLADA (INC. II) .......................................................................................... 50
25. INTERROGATÓRIO DO RÉU ................................................................................................ 50
26. APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO DE BENS DO ACUSADO .................... 52
27. JURISPRUDÊNCIA EM TESE ............................................................................................... 54

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APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno Legislação Penal Especial possui como base as aulas dos professores Renato
Brasileiro, Cleber Masson e Vinícius Marçal, complementadas com as aulas do Professor Fábio
Roque (CERS).

Três livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2018, b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2020, ambos da Editora
Juspodivm e c) Lei de Drogas - Aspectos Penais e Processuais (Cleber Masson e Vinícius Marçal,
ano 2021, da Editora Gen.

Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito


(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito).
Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da
semana para ler no site do Dizer o Direito.

Ademais, no Caderno constam os principais artigos da lei, mas, ressaltamos, que é


necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos! Bons estudos!

Equipe Cadernos Sistematizados.

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LEI DE DROGAS – 11.343/2006

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Lei 11.343/2006, também denominada de Lei de Drogas (LD), trata de forma integral
(material e processual) toda a sistemática penal envolvendo drogas. Além disso, revogou
expressamente as Leis 6.368/76 e 10.409/2002:

Art. 75. Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, e a Lei


no 10.409, de 11 de janeiro de 2002.

Destaca-se que, anteriormente, a Lei 6.368/76 regulava a sistemática das drogas, sendo
editada em 2002 a Lei 10.409/2002, a qual teve sua parte material (crimes e penas) integralmente
vetada pelo Presidente da República, prevalecendo apenas sua parte processual. Assim, havia, até
a edição da Lei 11.343/2006, duas leis que tratavam sobre o tema, uma dispondo sobre o direito
material penal e a outra contendo a parte procedimental.

A nova Lei de Drogas criou o SISNAD - Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas:

Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas
- Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e
reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas
para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e
define crimes.

A finalidade do SISNAD é articular, integrar, organizar e coordenar as atividades


relacionadas com a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e
dependentes de drogas e a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.

Em 2019, a Lei 13.840/2019 incluiu os §§ 1º e 2º ao art. 3º da Lei de Drogas, observe:

Art. 3º, § 1º Entende-se por Sisnad o conjunto ordenado de princípios, regras,


critérios e recursos materiais e humanos que envolvem as políticas, planos,
programas, ações e projetos sobre drogas, incluindo-se nele, por adesão, os
Sistemas de Políticas Públicas sobre Drogas dos Estados, Distrito Federal e
Municípios. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
§ 2º O Sisnad atuará em articulação com o Sistema Único de Saúde - SUS,
e com o Sistema Único de Assistência Social - SUAS. (Incluído pela Lei
nº 13.840, de 2019)

Outrossim, destaca-se que a Lei de Drogas substituiu a expressão “substâncias


entorpecentes” por DROGAS.

2. OBJETIVIDADE JURÍDICA

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Por meio da objetividade jurídica analisa-se o bem jurídico protegido pelo Direito Penal. Por
exemplo, no delito de furto o bem jurídico protegido é o patrimônio, no crime de homicídio protege-
se a vida.

A Lei 11.343/2006, por sua vez, visa tutelar a saúde pública. Ressalta-se, assim, que na
parte penal a referida lei não se preocupa com a saúde individual (de cada usuário), mas sim com
a saúde de toda a coletividade, pois enquanto há a circulação de drogas, “toda a sociedade corre
perigo”.

3. OBJETO MATERIAL

Por objeto material entende-se a coisa ou pessoa sobre a qual recai a conduta criminosa do
agente.

A droga é o objeto material da Lei 11.343/2006 e sua definição está prevista no art. 1º,
parágrafo único da referida lei, in verbis:

Art. 1º, Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as
substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim
especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente
pelo Poder Executivo da União.

Percebe-se, assim, que para determinada substância ser considerada uma droga é
necessário que:

1) Cause dependência física ou psíquica;

2) Esteja prevista em uma lei ou ato administrativo (lista) da União.

Obs.: os crimes da Lei de Drogas estão previstos em norma penal em


branco, uma vez que necessitam de complemento em seu preceito
primário. Pela redação do parágrafo único do art. 1º, infere-se que os
crimes podem ser complementados tanto por uma norma penal em
branco homogênea (complemento em lei) quanto heterogênea
(complemento está em ato administrativo, a exemplo de uma portaria).
Atualmente no Brasil, os crimes previstos na Lei de Drogas estão
dispostos em normas penais heterogêneas, eis que a relação de
drogas está contida em atos administrativos da União.

A Portaria SVS/MS nº 344/1998 é que disciplina as substâncias consideradas como droga,


sendo atualizada de forma contínua, conforme preleciona o art. 66 da LD:

Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1o desta Lei, até que
seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-
se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob
controle especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998.

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Ressalta-se que para ser considerada como droga basta a presença do princípio ativo,
pouco importando a nomenclatura utilizada (maconha, cocaína, LSD etc.). Há, inclusive, diversos
medicamentos que possuem seu princípio ativo na Portaria.

A prova da materialidade, constatação do princípio ativo, será feita por meio de um exame
químico-toxicológico (perícia).

4. SUJEITO ATIVO

Em regra, os crimes previstos na Lei de Drogas são crimes comuns ou gerais, isto é, são
crimes que podem ser cometidos por qualquer pessoa, não se exigindo situação especial.

Há, contudo, uma exceção prevista no art. 38 da LD, eis que as condutas de prescrever
(médico ou dentista) ou ministrar (farmacêutico ou profissional de enfermagem) drogas,
culposamente, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, exigem qualidade especial, tratando-se de
crime próprio ou especial.

5. SUJEITO PASSIVO

Obs.: sempre que se estudar o sujeito passivo, de qualquer crime,


deve-se relacionar com a objetividade jurídica (bem jurídico protegido),
pois o sujeito passivo é o titular do bem protegido.

Como o bem jurídico protegido pela Lei de Drogas é a coletividade, o sujeito passivo de tais
crimes será a coletividade, por isso são classificados como crimes vagos.

Frisa-se que o crime vago possui como sujeito passivo um ente destituído de personalidade
jurídica (crimes de trânsito, crimes contra a família, crimes da Lei de Drogas).

6. ELEMENTO SUBJETIVO

Os crimes da Lei 11.343/2006 são DOLOSOS, salvo o crime previsto no art. 38.

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas


necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50
(cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa.

7. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO

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Inicialmente, salienta-se que crime de perigo é aquele em que a consumação ocorre com a
exposição do bem jurídico a um risco de dano. Não se exige a efetiva lesão ao bem jurídico,
bastando a probabilidade de dano.

Por sua vez, no crime de perigo abstrato, também chamado de crime de perigo presumido,
a prática da conduta descrita em lei acarreta a presunção absoluta do perigo ao bem jurídico, não
se exigindo prova concreta.

Cita-se, como exemplo, o caso do traficante de drogas, que não se exige prova de que a
coletividade, efetivamente, estava em perigo com a sua conduta.

8. AÇÃO PENAL

Todos os crimes da Lei de Drogas são de ação penal pública incondicionada.

9. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Como se sabe, o princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão da


tipicidade material do crime. No tráfico de drogas NÃO se aplica tal princípio, uma vez que há
incompatibilidade lógica entre ambos, já que o tráfico é um crime de alta periculosidade (crime de
máximo potencial ofensivo), equiparado a hediondo.

Contudo, em relação ao art. 28 da Lei (consumo próprio), o STF (Info 655) já admitiu a
aplicação de tal princípio, com base nos seguintes argumentos1:

a) A privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificam


quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de
outros bens jurídicos que lhes fossem essenciais, notadamente naqueles casos em que
os valores penalmente tutelados são expostos a dano, efetivo ou potencial, impregnado
de significativa lesividade;

b) Deste modo, o Direito Penal não deve se ocupar de condutas que produzam resultados
cujo desvalor – por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes – não
representam, por isso mesmo, expressivo prejuízo, seja ao titular do bem jurídico
tutelado, seja à integridade da própria ordem social.

Assim, estão preenchidos os requisitos de aplicação do princípio da insignificância: a)


mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma periculosidade social da ação; c) reduzido
grau de reprovabilidade do comportamento; e d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.

A decisão do STF é de 2012, e apenas da 1ª Turma, levando em consideração o caso


concreto.

Outrossim, a 2ª Turma do STF, no HC 202883, de relatoria do Min. Gilmar Mendes e julgado


em 15/09/2021, no caso em que o Réu portava 1,8g de maconha para consumo próprio, também

1 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Porte de droga para consumo pessoal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/68b1fbe7f16e4ae3024973f12f3cb313>. Acesso em: 29/11/2022.

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houve possibilidade de aplicação do princípio da insignificância em porte de drogas para consumo
pessoal com a concessão de habeas corpus.

No referido caso, os argumentos favoráveis à concessão do remédio constitucional foram,


em síntese:

a) Entende-se que a razão para a recusa da aplicação do princípio da insignificância em


crimes relacionados a entorpecentes está muito mais ligada a uma decisão político-
criminal do que propriamente a uma impossibilidade dogmática;

b) O comportamento do paciente pode não ser capaz de lesionar ou colocar em perigo o


bem jurídico protegido ou colocar em perigo a paz social, a segurança ou a saúde
pública, sendo afastada a tipicidade material do tipo penal imputado. Trata-se de um
caso exemplar em que não há qualquer demonstração da lesividade material da conduta,
apesar da subsunção desta ao tipo formal.

Entretanto, vale registrar que o caso foi empatado com 2 votos favoráveis dos Ministros
Gilmar Mendes e Edson Fachin e com 2 votos contrários dos Ministros Ricardo Lewandowski e
Nunes Marques, bem como que o tema aguarda posicionamento do STF (Tema 506).

O STJ, em sentido diverso, entende que NÃO é possível a aplicação do princípio da


insignificância ao delito do art. 28. Nesse sentido:

STJ (Jurisprudência em Tese) - O princípio da insignificância não se aplica


aos delitos do art. 33, caput, e do art. 28 da Lei de Drogas, pois trata-se de
crimes de perigo abstrato ou presumido.

Ressalta-se que é importante conhecer os precedentes acima mencionados para eventual


segunda fase e prova oral, mas em provas objetivas é recomendado ficar com o entendimento de
que não é possível que seja aplicado o princípio da insignificância à Lei de Drogas.

10. PORTE E CULTIVO PARA CONSUMO PESSOAL

PREVISÃO LEGAL

O porte e cultivo para consumo pessoal é delito previsto no art. 28 da Lei de Drogas, com a
seguinte redação legal:

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer


consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal,
semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena
quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou
psíquica.

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§ 2o Para determinar se a droga se destinava a consumo pessoal, o juiz
atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às
condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e
pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.
§ 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão
aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.
§ 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput
deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.
§ 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas
comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais,
estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que
se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação
de usuários e dependentes de drogas.
§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o
caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente,
poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:
I - admoestação verbal;
II - multa.
§ 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator,
gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial,
para tratamento especializado.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE/PE - FCC - 2022): O autor da conduta de trazer drogas consigo para
consumo pessoal (art. 28, da Lei de Drogas) deve ser encaminhado
diretamente ao juiz, que irá lavrar o termo circunstanciado e fará a requisição
dos exames e perícias; somente se não houver juiz é que tais providências
serão tomadas pela autoridade policial. Correto.

(PC/SP - VUNESP - 2022): Nos termos da Lei n° 11.343/2006 (Lei


Antidrogas), é correto afirmar que para garantia do cumprimento da medida
educativa de prestação de serviço à comunidade, havendo recusa
injustificada, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a admoestação verbal
e multa. Correto.

FUGA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

É consenso que o problema do usuário de drogas não é de justiça penal, mas sim um
problema de saúde pública que necessita de políticas públicas.

A atual Lei de Drogas abrandou muito a situação do usuário (na antiga lei tal delito era punido
com pena de detenção de até um ano), prevendo penas de advertência, prestação de serviço à
comunidade e medidas socioeducativas, acabando com a pena privativa de liberdade. Portanto,
não caberá prisão provisória (preventiva e temporária) e nem prisão definitiva.

CONSUMO PESSOAL X USO PRÓPRIO

O tipo penal do art. 28 faz referência ao porte e à posse para consumo pessoal,
diferentemente da legislação antiga, que se falava em uso próprio.

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PRINCÍPIO DA ALTERIDADE

Idealizado por Claus Roxin, o princípio da alteridade defende que não há crime na conduta
que prejudica somente quem a praticou. O crime, portanto, deve ultrapassar a esfera pessoal do
agente, causando danos ou perigo a terceiros.

Os crimes da Lei de Drogas são crimes contra saúde pública, não havendo preocupação
com a saúde do usuário. Justamente por isso que não há no art. 28 a expressão “uso” e,
consequentemente, não há crime no uso pretérito da droga.

NATUREZA JURÍDICA

Quando a Lei de Drogas entrou em vigor (2006), o saudoso Luiz Flávio Gomes afirmou que
o art. 28 não era crime e nem contravenção penal, com base no art. 1º da Lei de Introdução ao CP,
considerando que o gênero “infração penal” subdivide-se em 2 espécies:

1) Crime: espécie de infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção,
isolada ou cumulativamente com a pena de multa;

2) Contravenção penal: espécie de infração penal a que a lei comina prisão simples ou
multa, de forma isolada ou cumulativa.

Como não há nenhuma dessas penas cominadas ao art. 28, para Luiz Flávio Gomes o
referido tipo penal não seria crime e muito menos contravenção, mas sim uma infração penal sui
generis. Contudo, há uma crítica: não basta afirmar que não se trata de crime e nem de
contravenção penal, precisa definir o que é, não simplesmente dizer que é algo sui generis.

Assim, de acordo com o decidido pelo STF no RE 430.105, trata-se de CRIME, eis que:

a) A lei, ao tratar do tema, classificou a conduta como crime;

b) Estabeleceu o rito processual junto ao Juizado Especial Criminal;

c) No tocante à prescrição, o art. 30 determina a aplicação do art. 107 do CP;

d) A finalidade do art. 1º da Lei de Introdução ao CP era apenas diferenciar, em 1942, os


crimes das contravenções penais, uma vez que o CP e a LICP entraram em vigor
simultaneamente (01 de janeiro de 1942);

e) A LICP pode ser modificada por outra lei ordinária, como aconteceu com a Lei de Drogas.
Ou seja, o art. 1º da LICP traz um conceito legal de crime, de natureza genérica, aplicado
aos crimes em geral, ao passo que o art. 28 da Lei de Drogas também traz um conceito
de crime, mas de forma restrita, pois aplicado apenas à Lei de Drogas;

f) Não existiam penas alternativas quando a LICP entrou em vigor.

No mesmo sentido, tem-se o entendimento do STJ:

STJ (Jurisprudência em Tese nº. 131) - 6) A conduta de porte de substância


entorpecente para consumo próprio, prevista no art. 28 da Lei n. 11.343/2006,
foi apenas despenalizada pela nova Lei de Drogas, mas não
descriminalizada, não havendo, portanto, abolitio criminis.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 10

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Importante consignar que por caracterizar crime doloso, quando praticado no interior de
estabelecimento prisional, será considerado como falta grave, conforme entendimento do STJ:

STJ – Jurisprudência em Tese, Edição 131: 10) A posse de substância


entorpecente para uso próprio configura crime doloso e quando cometido no
interior do estabelecimento prisional constitui falta grave, nos termos do art.
52 da Lei de Execução Penal - LEP (Lei n. 7.210/1984).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(TJ/GO - FCC - 2021): É desproporcional que condenações anteriores pelo
delito do art. 28 da Lei n° 11.343/2006 configurem reincidência e, por isso,
quando cometido no interior de estabelecimento prisional, não constitui falta
grave. Errado.

Em continuidade, trata-se do cultivo de drogas para o consumo pessoal, prevista no § 1º do


art. 28 da Lei de Drogas, vejamos:

Art. 28, § 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo


pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de
pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência
física ou psíquica.

As mesmas medidas são:

1) Advertência sobre os efeitos das drogas;

2) Prestação de serviços à comunidade;

3) Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

A figura equiparada solucionou um problema que existia com a legislação anterior. Sempre
que era caso de cultivo para consumo pessoal, o fato era considerado atípico ou, dependendo do
juiz, enquadrado como tráfico de drogas, não havia coerência.

Obs.: não confunda o § 1º do art. 28 com o art. 33, § 1º, II que trata de
figura equiparada ao tráfico, cuja finalidade do agente é entregar
matéria prima, para preparação de drogas, a terceiros.

Art. 33, 1º, II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em


desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se
constituam em matéria-prima para a preparação de drogas.

Art. 28, § 1º Art. 33, § 1º, II

Infração de menor potencial ofensivo Equiparado a crime hediondo

Plantio destinado ao consumo pessoal e em Plantio destinado ao tráfico


pequena quantidade

CRITÉRIOS PARA DIFERENCIAÇÃO COM O TRÁFICO

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 11

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O § 2º do art. 28 da Lei de Drogas traz os critérios que irão diferenciar a droga que se destina
ao consumo pessoal e a que se destina ao tráfico de drogas, quais sejam:

a) Natureza e quantidade da droga;

b) Local e condições em que foi apreendida;

c) Circunstâncias pessoais e sociais do agente;

d) Conduta e os antecedentes do agente.

Havendo dúvida entre tráfico e porte de drogas para consumo pessoal, o juiz deve condenar
pelo crime menos grave (in dubio pro reo).

De acordo com o STJ (AgRg no AREsp 1740201/AM), não é apenas a quantidade de drogas
que constitui fator determinante para a conclusão de que a substância se destinava a consumo
pessoal, mas também o local e as condições em que se desenvolveu a ação, as circunstâncias
sociais e pessoais, bem como a conduta e os antecedentes do agente.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(TJ/AP - FGV - 2022): A prisão do agente em local conhecido por venda de
drogas não afasta a possibilidade de aplicação de tráfico privilegiado. Correto.

(MPE/SC - CESPE - 2021): Agente denunciado por tráfico de drogas que


confesse o porte da substância para consumo próprio, caso venha a ser
condenado pela conduta imputada, não terá a seu favor o benefício da
atenuante da confissão. Correto.

(MPE/SC CESPE - 2021): No entendimento dos tribunais superiores, a


conduta de posse ou porte ilegal de droga para consumo pessoal e em
desacordo com determinação legal e regulamentar não constitui infração
penal, pois, nos termos da LICP, constitui infração penal apenas as condutas
que sejam sancionadas com pena privativa de liberdade ou de multa. Errado.

PENAS

Há 3 penas cominadas ao crime do art. 28 da Lei de Drogas.

Nos termos do art. 28, § 3º, a prestação de serviços à comunidade e a medida educativa
terão prazo máximo de 5 meses. Caso o réu seja reincidente específico, o prazo máximo passa a
ser de 10 meses, de acordo com o § 4º do referido artigo:

Art. 28, § 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão
aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.
§ 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput
deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.

Conforme entendimento do STJ, a reincidência deve ser específica. Assim, se um indivíduo


já condenado definitivamente por roubo, pratica o crime do art. 28, ele não se enquadra no § 4º,
isso porque se trata de reincidente genérico.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 12

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A reincidência de que trata o § 4º do art. 28 da Lei nº 11.343/2006 é a
específica. Segundo a interpretação topográfica (que leva em consideração
à posição dos artigos, parágrafos, incisos), os parágrafos não são unidades
autônomas, estando vinculadas ao caput do artigo a que se referem. Logo,
quando o § 4º fala em reincidência, quer se referir à nova prática do mesmo
crime previsto no caput do art. 28. STJ. 6ª Turma. REsp 1.771.304-ES, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

Destaca-se que a prestação de serviço à comunidade será cumprida em estabelecimentos


que se ocupem, preferencialmente, com a recuperação de usuários e dependentes de drogas (art.
28, § 5º):

Art. 28, § 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em


programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais,
estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que
se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação
de usuários e dependentes de drogas.

Além disso, as penas poderão ser aplicadas de forma isolada ou de forma cumulativa, sendo
possível sua substituição, ouvido o MP e a defesa, a qualquer tempo (art. 27). Assim, por exemplo,
o juiz poderá aplicar a pena de advertência e a de prestação de serviço à comunidade
cumulativamente, bem como substituí-las, a qualquer tempo, pela pena de medida educativa, após
ouvir o MP e a defesa.

Importante salientar, ainda, que caso o condenado não cumpra as penas impostas, o agente
não poderá ser conduzido à prisão. O juiz deverá utilizar o § 6º do art. 28 da Lei de Drogas que
prevê a admoestação verbal e, após, multa.

Obs.: destaca-se que admoestação verbal e multa NÃO são penas,


mas sim medidas coercitivas para que o cumprimento da pena seja
efetivado.

Art. 28, § 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se


refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o
agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:
I - admoestação verbal;
II - multa.

Em relação à multa, destaca-se que irá para o Fundo Nacional Antidrogas (art. 29) e que
será fixada em 2 fases, quais sejam:

1) 1ª fase: o juiz irá calcular quantidade de dias-multa (entre 40 e 100). Aqui, leva-se em
conta a reprovabilidade da conduta;

2) 2ª fase: o juiz irá fixar o valor de cada dia-multa (entre 1/30 até 3x o valor do salário-
mínimo). Aqui, considera-se a capacidade econômica do agente.

Salienta-se que a condenação anterior pelo crime do art. 28 da Lei de Drogas, conforme
entendimento do STJ, não enseja reincidência.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 13

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Para tanto, vislumbram-se os argumentos utilizados pelo STJ, de acordo com a excelente
explicação do Professor Márcio Cavalcante2:

1) A condenação anterior por contravenção penal não gera reincidência, ou seja, um


indivíduo condenado por contravenção penal, se praticar em seguida um crime, quando
for julgado, não se aplicará a ele a agravante da reincidência. Isso porque o art. 63 do
Código Penal é expresso ao se referir à prática de novo crime ao dispor:

Art. 63. Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois
de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha
condenado por crime anterior. (veja que o agente tem que ter sido condenado
por crime anterior)

2) Em outras palavras, se a pessoa é condenada definitivamente por CONTRAVENÇÃO e,


depois desta condenação, pratica um CRIME, ao ser julgada por esta segunda infração
não sofrerá os efeitos da reincidência. Se a primeira infração praticada foi uma
contravenção, não há reincidência.

3) A contravenção é punida com prisão simples e/ou multa (art. 5º, do DL 3688/41).

4) O art. 28 da LD é punido apenas com “advertência sobre os efeitos das drogas”,


“prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa de comparecimento à
programa ou curso educativo”. Em nenhuma hipótese, a prática do crime do art. 28 da
LD poderá gerar condenação que leve à prisão.

5) Desse modo, comparando a pena das contravenções penais com a do crime do art. 28
da LD, chega-se à conclusão de que as penas previstas para as contravenções são mais
gravosas (mais duras) do que as sanções cominadas para o art. 28 da LD.

6) Diante disso, se as sanções do art. 28 da LD são menos graves que a das


contravenções, não se mostra proporcional considerar que o art. 28 da LD gera
reincidência se a contravenção penal não tem esse efeito negativo.

Evidencia-se, por fim, que a 2ª Turma do STF comungou do mesmo entendimento e decidiu
que:

Viola o princípio da proporcionalidade a consideração de condenação anterior


pelo delito do art. 28 da Lei nº 11.343/2006, “porte de droga para consumo
pessoal”, para fins de reincidência. STF. 2ª Turma. RHC 178512 AgR/SP,
Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/3/2022 (Info 1048).

PRESCRIÇÃO

A prescrição é fixa e não poderá ser calculada com base na quantidade da pena imposta.
Por isso, o art. 30 fixou o prazo de 2 anos, tanto para a pretensão punitiva quanto para a pretensão
executória, aplicando-se o art. 107 do CP para os casos de interrupção do prazo.

2 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A condenação pelo art 28 da Lei 11.343/2006(porte de droga para uso próprio) não configura
reincidência. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4d215ab7508a3e089af43fb605dd27d1>. Acesso em: 29/11/2022.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 14

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Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas,
observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e
seguintes do Código Penal

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC/RJ - CESPE - 2022): Prescrevem em dois anos a imposição e a
execução das penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o
disposto no art. 107 e seguintes do Código Penal e, quando houver concurso
material com outro delito específico previsto nessa lei, deverão ser
observados os ditames do art. 109 do Código Penal. Errado.

(TJ/MS - FCC - 2020): No que concerne à lei de drogas, é de dois anos o


prazo de prescrição no crime de posse de droga para consumo pessoal, não
se aplicando, contudo, as causas de interrupção previstas no Código Penal.
Errado.

RITO PROCESSUAL

Para encerrar a análise do art. 28 da Lei de Drogas, é importante observar o rito processual
do referido delito. Por se tratar de uma infração de menor potencial ofensivo, seguirá o rito da Lei
9.099/95.

Nesse sentido, o item 8 da Jurisprudência em Tese do STJ (Edição 131):

STJ (Jurisprudência em Tese) 8) O crime de uso de entorpecente para


consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei n. 11.343/2006, é de menor
potencial ofensivo, o que determina a competência do Juizado Especial
estadual, já que ele não está previsto em tratado internacional e o art. 70 da
Lei n. 11.343/2006 não o inclui dentre os que devem ser julgados pela justiça
federal.

Portanto, é um crime de competência do Juizado Especial Criminal (para aprofundamento


recomendamos nosso CS sobre o JECrim, baseado nas aulas do Prof. Renato Brasileiro).

11. ART. 33 - TRÁFICO DE DROGAS

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,


vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda,
oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 15

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legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado
à preparação de drogas;
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em
matéria-prima para a preparação de drogas;
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade,
posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se
utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300
(trezentos) dias-multa.
§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700
(setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas
previstas no art. 28.
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão
ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas
restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012)

Os crimes previstos na Lei de Drogas não possuem um nome específico, não há uma
“rubrica marginal” como ocorre no CP, por exemplo, que chama o art. 121 de homicídio, o art. 155
de furto, o art. 157 de roubo. Aqui, o nome dos crimes é dado pela doutrina e pela jurisprudência.

O entendimento dominante, hoje, é que a expressão “tráfico de drogas” abrange os delitos


previstos no art. 33, caput, e § 3º, bem como o art. 34 da referida lei. Há doutrina que também inclui
os arts. 35 e 37 como tráfico.

O caput do art. 33 contém 18 núcleos. É chamado de tipo misto alternativo, de crime de ação
múltipla ou crime de conteúdo variável. Assim, mesmo que o agente pratique 2 ou mais condutas
contra o mesmo objeto material (mesma droga) irá responder por um único crime.

Contudo, se as drogas forem diversas haverá concurso de crime. Ex.: o agente importou
cocaína, guardou maconha, vendeu LSD.

SUJEITO ATIVO

Trata-se de crime comum ou geral, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa. Não se
exige qualidade especial do agente.

Obs.: caso o agente pratique o tráfico de drogas prevalecendo-se de


sua função pública, no desempenho de missão de educação, poder
familiar, guarda ou vigilância, a pena será aumentada, nos termos do
art. 40, II.

Art. 40 - As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de


um sexto a dois terços, se:

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 16

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II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no
desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância.

ELEMENTO NORMATIVO

É necessário que a conduta seja praticada sem “autorização ou em desacordo com


determinação legal”. Portanto, havendo autorização para a prática de algum dos 18 núcleos, não
haverá o crime de tráfico de drogas.

Assim, é perfeitamente possível o comércio lícito de drogas, desde que haja autorização
legal.

Art. 31. É indispensável a licença prévia da autoridade competente para


produzir, extrair, fabricar, transformar, preparar, possuir, manter em depósito,
importar, exportar, reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender,
comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou matéria-prima
destinada à sua preparação, observadas as demais exigências legais.

FLAGRANTE PREPARADO

O típico exemplo de flagrante preparado é o caso do policial à paisana que procura um


traficante para comprar drogas. Após a efetiva entrega da droga, o policial efetua a prisão.

Para saber se o flagrante preparado é válido ou não, importante conhecer a Súmula 145 do
STF, vejamos:

Súmula 145 STF – Não há crime, quando a preparação do flagrante pela


polícia torna impossível a sua consumação.

A súmula trata do crime de ensaio ou experiência ou delito putativo por obra do agente
provocador. Segundo Nelson Hungria, neste caso, o traficante será um “protagonista inconsciente
de uma comédia criminosa“.

Para determinar se há ou não crime, importante separar as condutas, com base nos
seguintes critérios:

1) Em relação à conduta de vender, o flagrante é preparado. Portanto, deve-se observar o


enunciado da Súmula 145 do STF. No exemplo acima, não haveria crime, eis que o
policial forçou a situação de flagrante.

2) Em relação à conduta de ter em depósito, não há flagrante preparado, pois,


independentemente da ação do policial o agente já tinha a droga em depósito (crime
permanente).

DOSIMETRIA DA PENA

11.5.1. Pena privativa de liberdade

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 17

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Para a fixação da pena, o juiz irá considerar a natureza e a quantidade do produto, a
personalidade e a conduta social do agente, as quais serão preponderantes sobre as circunstâncias
judiciais do art. 59 do CP.

Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre
o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da
substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente.

Aqui, também, segue-se o critério trifásico para a fixação da pena.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(TJ/MS - FCC - 2020): O juiz, na fixação das penas, em igualdade de
condições com todas as circunstâncias previstas no Código Penal para
estabelecimento das sanções básicas, considerará a natureza e a quantidade
da substância ou do produto. Errado.

11.5.2. Pena de multa

Para fixar a pena de multa, após observar o art. 42 da Lei Drogas, o juiz irá fixar os dias-
multas (500 até 1500). Posteriormente, irá calcular o valor de cada dia-multa, o qual não poderá ser
menor do que 1/30 avos do salário-mínimo e nem ultrapassar o valor de 5 vezes o salário-mínimo.

Aqui, utiliza-se o sistema bifásico.

Caso o valor da multa seja insuficiente, o juiz poderá aumentar em até 10x o seu valor.

Obs.: havendo concurso de crimes, as multas são impostas


cumulativamente.

Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o


juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei, determinará o número de
dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições econômicas dos
acusados, valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes
o maior salário-mínimo.
Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão
impostas sempre cumulativamente, podem ser aumentadas até o décuplo se,
em virtude da situação econômica do acusado, considerá-las o juiz
ineficazes, ainda que aplicadas no máximo.

Foi questionada no STF a constitucionalidade da multa mínima prevista no art. 33 da Lei de


Drogas (500 dias-multa), pois violaria os princípios da proporcionalidade, da isonomia e da
individualização da pena. O STF (Tema 1.178 – Repercussão Geral) entendeu que o preceito
secundário do art. 33 da Lei 11.343/06 é opção legislativa no combate ao tráfico de drogas,
apenando com maior severidade aqueles infratores, não competindo ao Poder Judiciário interferir
nessas escolhas, in verbis:

A multa mínima prevista no artigo 33 da Lei 11.343/06 é opção legislativa


legítima para a quantificação da pena, não cabendo ao Poder Judiciário
alterá-la com fundamento nos princípios da proporcionalidade, da isonomia e
da individualização da pena. STF. Plenário. RE 1347158/SP, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 21/10/2021 (Repercussão Geral – Tema 1.178)

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 18

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CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA

11.6.1. Previsão legal

Está prevista no art. 33, § 4º da Lei 11.343/2006.

Também é chamada de tráfico acidental, de tráfico privilegiado, de tráfico eventual.

Art. 33, § 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas


poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em
penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012)

11.6.2. Vedação de penas restritivas de direitos

O STF, em controle difuso de constitucionalidade, entendeu que a expressão “vedada a


conversão em penas restritivas de direitos” era inconstitucional, uma vez que viola os princípios da
individualização da pena e da proporcionalidade.

Diante disso, o Senado Federal, em 2012, editou a Resolução nº 5, a fim de que a decisão
do STF fosse retirada a expressão, admitindo-se a substituição da pena privativa de liberdade por
penas restritivas de direitos.

11.6.3. Tráfico privilegiado X Crime Hediondo

O STF, em mudança de entendimento (overruling), passou a considerar que o chamado


tráfico privilegiado não pode ser equiparado a crime hediondo, considerando que (argumentos
extraídos do Info 831 do Dizer o Direito)3:

1) Para que um crime seja considerado hediondo ou equiparado, é indispensável que a lei
assim o preveja. Ao se analisar a Lei 11.343/2006, percebe-se que apenas as
modalidades de tráfico de entorpecentes definidas no art. 33, caput e § 1º são
equiparadas a crimes hediondos.

2) O art. 33, § 4º não foi incluído pelo legislador como sendo equiparado a hediondo. O
legislador entendeu que deveria conferir ao tráfico privilegiado um tratamento distinto
das demais modalidades de tráfico previstas no art. 33, caput e § 1º.

3) A redação dada ao art. 33, § 4º demonstra que existe um menor juízo de reprovação
nesta conduta e, em consequência, de punição dessas pessoas. Não se pode, portanto,
afirmar que este crime tem natureza hedionda.

4) Os Decretos 6.706/2008 e 7.049/2009 beneficiaram com indulto os condenados por


tráfico de entorpecentes privilegiado, a demonstrar inclinação no sentido de que esse
delito não é hediondo.

3 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Tráfico privilegiado não é hediondo (cancelamento da Súmula 512-STJ). Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/aee1bc7fa5da061b752d0efddbd16495>.
Acesso em: 29/11/2022.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 19

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5) Vale ressaltar, ainda, que o crime de associação para o tráfico, que exige liame subjetivo
estável e habitual direcionado à consecução da traficância, não é equiparado a hediondo.
Dessa forma, afirmar que o tráfico minorado é crime equiparado a hediondo significaria
concluir que a lei conferiu ao traficante ocasional tratamento penal mais severo que o
dispensado ao agente que se associa de forma estável para exercer a traficância de
modo habitual.

Em virtude da decisão do Plenário do STF, o STJ cancelou a Súmula 512, a qual afirmava
que a aplicação da causa de diminuição de pena do § 4º do art. 33 não afastava a hediondez do
crime.

Corroborando o entendimento acima, o Pacote Anticrime alterou a redação do art. 112 da


LEP, expressando que o tráfico privilegiado não é crime hediondo e nem equiparado:

Art. 112, § 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste


artigo, o crime de tráfico de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343,
de 23 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

11.6.4. Requisitos cumulativos

Para que o tráfico privilegiado seja reconhecido, é necessário o preenchimento de 4


requisitos, quais sejam:

1) O agente deve ser primário;

2) O agente deve possuir bons antecedentes;

3) O agente não pode se dedicar a atividades criminosas;

4) O agente não pode integrar organização criminosa.

São requisitos cumulativos. Logo, caso o agente não preencha algum não poderá ser
beneficiado, conforme determinou o STJ:

STJ - Tese 22: A causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da


Lei de Drogas só pode ser aplicada se todos os requisitos, cumulativamente,
estiverem presentes.

Além disso, a habitualidade e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser


comprovados pela acusação, não sendo possível que o benefício seja afastado por simples
presunção.

A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei nº


11.343/2006 tem como fundamento distinguir o traficante contumaz e
profissional daquele iniciante na vida criminosa, bem como do que se
aventura na vida da traficância por motivos que, por vezes, confundem-se
com a sua própria sobrevivência e/ou de sua família. Assim, para legitimar
a não aplicação do redutor é essencial a fundamentação corroborada
em elementos capazes de afastar um dos requisitos legais, sob pena de
desrespeito ao princípio da individualização da pena e de
fundamentação das decisões judiciais. Desse modo, a habitualidade e o
pertencimento a organizações criminosas deverão ser comprovados, não

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valendo a simples presunção. Não havendo prova nesse sentido, o condenado
fará jus à redução de pena. Em outras palavras, militará em favor do réu a
presunção de que é primário e de bons antecedentes e de que não se
dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa. O
ônus de provar o contrário é do Ministério Público. Assim, o STF
considerou preenchidas as condições da aplicação da redução de pena, por
se estar diante de ré primária, com bons antecedentes e sem indicação de
pertencimento a organização criminosa. STF. 2ª Turma. HC 154694 AgR/SP,
rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em
4/2/2020 (Info 965).

Destaca-se, ainda, que não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico
privilegiado, prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu
responder a inquéritos policiais ou processos criminais em andamento, mesmo que estejam em
fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da presunção de não culpabilidade).

Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006 (Lei de Drogas) com base em condenações não alcançadas pela
preclusão maior (coisa julgada). STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1936058/SP,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/09/2021.

É vedada a utilização de inquéritos e/ou ações penais em curso para impedir


a aplicação do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. STJ. 3ª Seção. REsp
1.977.027-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 10/08/2022 (Info 745).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(TJ/SP - VUNESP - 2021): A respeito do tráfico ilícito de drogas na sua forma
privilegiada (artigo 33, parágrafo 4º, da Lei nº 11.343/06), é correto afirmar
que não se aplica a réus reincidentes. Correto.

(TJ/MS - FCC - 2020): É cabível a redução da pena de um sexto a dois terços


para o agente que tem em depósito, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto
químico destinado à preparação de drogas, desde que primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa. Correto.

11.6.5. Diminuição da pena e quantidade da droga

Imagine que o agente é primário, de bons antecedentes, não se dedica a atividades


criminosas e nem integra organização criminosa. Contudo, foi apreendido com uma grande
quantidade de drogas. Neste caso, será possível a concessão do benefício? De acordo com o STF
(2ª Turma), a quantidade de drogas, isoladamente, não pode servir de fundamento para a negativa
do benefício.

A quantidade e natureza da droga são circunstâncias que, apesar de


configurarem elementos determinantes na modulação da causa de
diminuição de pena, por si sós, não são aptas a comprovar o envolvimento
com o crime organizado ou a dedicação à atividade criminosa, devendo o
juízo condenatório obter outros elementos hábeis a embasar tal afirmativa.
(STF - HC: 195319 SP 0110517-85.2020.1.00.0000, Relator: CÁRMEN

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LÚCIA, Data de Julgamento: 24/02/2021, Segunda Turma, Data de
Publicação: 05/03/2021).

Frise-se, contudo, que a apreensão de petrechos para a traficância, a depender das


circunstâncias do caso concreto, pode afastar a causa de diminuição de pena do tráfico privilegiado,
in verbis:

Caso adaptado: o agente foi preso em flagrante delito e com ele foram
encontrados, além de entorpecentes, balança de precisão, colher, peneira,
todos com resquícios de cocaína e 66 frasconetes. O juiz condenou o réu e
negou o benefício do art. 33, § 4º sob o argumento de que havia a apreensão
desses petrechos, utilizados comumente para o tráfico de drogas, indicam
que o réu se dedicava às atividades criminosas. Assim, não preencheu um
dos requisitos para a obtenção do benefício. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC
773113-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2022
(Info 752).4

11.6.6. Exercício de atividade criminosa

Indaga-se: a atividade criminosa deve ser exercida com exclusividade para invalidar o
benefício?

Antes, importante relembrar os requisitos para concessão da causa de diminuição de pena:


primariedade do agente, bons antecedentes, não se dedicar a atividades criminosas e não integrar
organização criminosa.

Imagine o seguinte caso: o agente é médico e, eventualmente, dedica-se às atividades


criminosas de tráfico de drogas. Mesmo que a defesa alegue que o agente desempenha a função
de médico e esporadicamente recorre ao tráfico, não será possível reconhecer a causa de
diminuição de pena, conforme entendimento dos tribunais superiores.

Ainda que o réu comprove o exercício de atividade profissional lícita, se, de


forma concomitante, ele se dedicava a atividades criminosas, não terá direito
à causa especial de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006 (Lei de Drogas). O tráfico de drogas praticado por intermédio de
adolescente que, em troca da mercancia, recebia comissão, evidencia
(demonstra) que o acusado se dedicava a atividades criminosas,
circunstância apta a afastar a incidência da causa especial de diminuição de
pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. STJ. 6ª Turma. REsp
1380741-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 12/4/2016 (Info
582).5

11.6.7. “Mulas” do tráfico

4 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A apreensão de petrechos para a traficância, a depender das circunstâncias do caso concreto,
pode afastar a causa de diminuição de pena do tráfico privilegiado (art. 33, § 4º, da LD). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8d12cf40aa0cf92405843c12a2d57f03>. Acesso em: 29/11/2022.
5 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O fato de o réu ter ocupação lícita não significa que terá direito, necessariamente, à minorante
do § 4º do art. 33 da LD. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/83e8ef518174e1eb6be4a0778d050c9d>. Acesso em: 24/11/2022.

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De acordo com Márcio Cavalcante6, “mula” é o nome dado a pessoa, geralmente primária e
de bons antecedentes (para que não desperte suspeitas), que é cooptada pelas quadrilhas de tráfico
de drogas para que realize o transporte do entorpecente de uma cidade, estado, país, para outros,
em troca de uma contraprestação pecuniária, ou por conta de ameaças.

Normalmente, a droga é transportada pela “mula” de forma dissimulada, escondida em


fundos falsos de bolsas, junto ao corpo ou até mesmo em cápsulas dentro do estômago da pessoa.
A “mula” também é conhecida como “avião” ou “transportador”.

Em relação às mulas, até pouco tempo, entendia-se que havia dedicação à atividade
criminosa e que integrava organização criminosa. Portanto, o benefício não seria aplicado.

Contudo, o atual entendimento do STF é no sentido de que:

HC 124.107 - Info 766 STF - o fato de o agente transportar droga, por si


só, não é suficiente para afirmar que ele integre a organização
criminosa. Assim, é possível aplicar a causa de diminuição, não se podendo
fundamentar tal negativa em mera suposição de que o réu se dedique a
atividades criminosas em face da quantidade de droga apreendida.

O STJ, no Informativo 602, seguiu o mesmo entendimento do STF:

HC 387.077 É possível o reconhecimento do tráfico privilegiado ao agente


transportador de drogas, na qualidade de "mula", uma vez que a simples
atuação nessa condição não induz, automaticamente, à conclusão de que ele
seja integrante de organização criminosa.

(TJ/GO - FCC - 2021): É inviável a aplicação da causa especial de diminuição


da pena do art. 33, § 4°, da Lei 11.343/2006, quando há condenação
simultânea do agente nos crimes de tráfico de drogas e de associação para
o tráfico, mas possível que a fração de redução, em caso de exclusiva
condenação por tráfico, seja modulada em razão da qualidade e da
quantidade de droga apreendida, além das demais circunstâncias do delito,
não obstando a aplicação da minorante, por si só, a condição de “mula”.
Correto.

11.6.8. Causa de diminuição e histórico de ato infracional

Conforme bem descreveu Márcio Cavalcante7, o STJ entende que a existência de ato(s)
infracional(is) pode ser sopesada para fins de comprovar a dedicação do réu a atividades criminosas
e, por conseguinte, de impedir a incidência da causa especial de diminuição de pena prevista no §
4º do art. 33 da Lei de Drogas.

6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível aplicar o § 4º do art. 33 da lei de drogas às “mulas”. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a7971abb4134fc0cfcec7d589e1ebcf6>. Acesso em:
24/11/2022.
7 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O histórico infracional é suficiente para afastar a causa de diminuição prevista no art 33 § 4º, da
Lei 11.343/2006?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ec79d4bed810ed64267d169b0d37373e>. Acesso em: 29/11/2022.

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Embora atos infracionais praticados na adolescência não constituam crime na acepção
normativa do termo, não há como se olvidar que eles são fatos contrários ao Direito e implicam,
sim, consequências jurídicas, inclusive a possibilidade de internação do menor.

Quando esse indivíduo completa 18 anos de idade – e, portanto, torna-se imputável – essa
mesma conduta deixa de ser considerada ato infracional e passa a ser, em seu sentido técnico-
jurídico, classificada como crime. No entanto, do ponto de vista da essência do fato, não há distinção
entre ambos, porque o fato, objetivamente analisado, é o mesmo.

Diante de tais considerações, não se vê óbice a que a existência de atos infracionais possa,
com base nas peculiaridades do caso concreto, ser considerada elemento apto a evidenciar a
dedicação do acusado a atividades criminosas, até porque esses atos não serão sopesados para
um agravamento da pena do réu, mas para lhe negar a possibilidade de ser beneficiado com uma
redução em sua reprimenda.

Se a natureza do instituto em análise é justamente tratar com menor rigor o indivíduo que se
envolve circunstancialmente com o tráfico de drogas – e que, destarte, não possui maior
envolvimento com o narcotráfico ou habitualidade na prática delitiva – não parece razoável punir
um jovem de 18 ou 19 anos de idade, sem nenhum passado criminógeno e sem nenhum registro
contra si, da mesma forma e com igual intensidade daquele indivíduo que, quando adolescente,
cometeu reiteradas vezes atos infracionais graves ou atos infracionais equivalentes a tráfico de
drogas. Se assim fosse feito, estaria havendo uma afronta ao princípio da individualização da pena
e do próprio princípio da igualdade.

É importante esclarecer que o registro da existência de atos infracionais pode afastar o


benefício do art. 33, § 4º não por ausência de preenchimento dos 2 primeiros requisitos elencados
pelo legislador (primariedade e existência de bons antecedentes), mas sim pelo descumprimento
do terceiro requisito exigido pela lei, que é a ausência de dedicação do acusado a atividades
criminosas.

Em outros termos, embora seja evidente que não seja possível considerar atos infracionais
como antecedentes penais e muito menos como reincidência, não se vê razões para desconsiderar
todo o passado de atuação de um adolescente contrário ao Direito para concluir pela sua dedicação
a atividades delituosas. Não há impedimento, portanto, a que se considere fatos da vida real para
esse fim.

Ademais, exigir a existência de prévio cometimento de crime e de prévia imposição de pena


para fins de justificar o afastamento do redutor em questão acaba, em última análise, esvaziando o
próprio conceito de dedicação a atividades criminosas. Isso porque, se houver trânsito em julgado
de condenação por crime praticado anteriormente, então essa condenação anterior já se enquadra
ou no conceito de maus antecedentes ou no de reincidência. Assim, considerando que não há
palavras inúteis na lei, por certo que o legislador quis abarcar situação diversa ao prever a
impossibilidade de concessão do benefício àqueles indivíduos que se dedicam a atividades
criminosas.

Vale ressaltar que não é todo e qualquer ato infracional praticado pelo acusado quando ainda
adolescente que poderá, automaticamente, gerar a negativa de incidência do redutor previsto no
art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, até porque justiça penal não se faz por atacado e sim
artesanalmente, examinando-se atentamente cada caso para dele extraírem-se todas as suas

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especificidades, de modo a torná-lo singular e, portanto, a merecer providência adequada e
necessária.

Para que se negue o benefício é necessário que, no caso concreto, se identifique:

1) Se o ato infracional foi grave;

2) Se o ato infracional está documentado nos autos, de sorte a não pairar dúvidas sobre o
reconhecimento judicial de sua ocorrência;

3) A distância temporal entre o ato infracional e o crime que deu origem ao processo no
qual se está a decidir sobre a possibilidade de incidência ou não do redutor, ou seja, se
o ato infracional não está muito distante no tempo.

Ante todo o exposto, é preciso verificar se STF possui a mesma posição.


Para o STF, a existência de atos infracionais pode servir para afastar o benefício do § 4º do
art. 33 da LD? Ainda não há entendimento uníssono.
Para a 1ª Turma do STF, SIM, pode afastar:

(...) Tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/06). Condenação. Dosimetria.


Aplicação do redutor de pena do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas. Utilização da
prática de atos infracionais para se afastar a causa de diminuição.
Possibilidade. Precedentes. Agravo regimental não provido. STF. 1ª Turma.
RHC 190434 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/08/2021.

Já para a 2ª Turma do STF, NÃO é possível:

(...) 2. A causa de diminuição prevista no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006


é aplicada desde que o agente seja primário, possua bons antecedentes, não
se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.
3. Na linha dos precedentes desta Colenda Turma, a menção a atos
infracionais praticados pelo agente não consiste fundamentação idônea para
afastar a minorante em exame. Esse entendimento está em consonância com
sistema de proteção integral assegurado a crianças e adolescentes por nosso
ordenamento jurídico. (...) STF. 2ª Turma. HC 202574 AgR, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 17/08/2021.

FIGURAS EQUIPARADAS

As figuras equiparadas ao tráfico de drogas estão previstas nos incisos do § 1º do art. 33 da


LD, passando-se, então, a analisar cada um dos seus incisos.

11.7.1. Inciso I

Art. 33, § 1º Nas mesmas penas incorre quem:


I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda,
oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado
à preparação de drogas.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 25

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Novamente, perceba que há diversos núcleos, a fim de que o maior número de situações
seja enquadrado como tráfico de drogas.

Aqui, o objeto material não é a droga, não se exige que contenha o princípio ativo, mas que
seja a matéria-prima, insumo ou o produto químico. Basta que seja idôneo à produção da droga, a
exemplo da posse de acetona que é utilizada como matéria-prima para a produção de cocaína.

O § 1º do art. 33 da LD prevê que também é crime a importação de “matéria-prima” ou


“insumo” destinado à preparação de drogas.

Nesse liame, questiona-se: a semente de maconha poderia ser considerada como “matéria-
prima” ou “insumo” destinado à preparação de drogas? Também não.

Isso ocorre porque ela não é um “ingrediente” para a confecção de drogas. Não se faz droga
misturando a semente de maconha com qualquer coisa. Dito de outro modo: não se prepara droga
com semente de maconha. Isso porque a semente de maconha não tem substância psicoativa (ela
não tem nada em sua composição que atue no sistema nervoso central gerando euforia, mudança
de humor, prazer etc.), conforme já explicou o Ministro Gilmar Mendes:

“Na doutrina, afirma-se que a matéria-prima, conforme Vicente Greco Filho e


João Daniel Rassi, é a substância de que podem ser extraídos ou produzidos
os entorpecentes que causem dependência física ou psíquica (GRECO
FILHO, Vicente; RASSI, João Daniel. Lei de drogas anotada. 3ª edição. São
Paulo: Saraiva, 2009. p. 99). Ou seja, a matéria-prima ou insumo devem ter
condições e qualidades químicas para, mediante transformação ou adição,
por exemplo, produzirem a droga ilícita, o que não é o caso das sementes da
planta Cannabis sativa, que não possuem a substância psicoativa (THC)” (HC
144161/SP).

Desse modo, a semente da cannabis sativa não é, em si, droga (não está listada na Portaria)
e também não pode ser considerada matéria-prima ou insumo destinado à preparação de droga
ilícita.

Não configura crime a importação de pequena quantidade de sementes de


maconha. STF. 2ª Turma. HC 144161/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 11/9/2018 (Info 915).

As turmas do STJ divergiam sobre o tema, mas o tema lá também se encontra atualmente
pacificado:

É atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes de


maconha. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.624.564-SP, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 14/10/2020 (Info 683).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC/PB - CESPE - 2022): A importação de pequena quantidade de sementes
da planta conhecida como maconha é atípica. Correto.

(MPE/TO - Promotor de Justiça - CESPE - 2022): A conduta de importar


pequena quantidade de sementes de maconha configura uma das
modalidades do tipo penal de tráfico previsto na Lei Antidrogas. Errado.

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11.7.2. Inciso II

Art. 33, § 1º Nas mesmas penas incorre quem:


II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em
matéria-prima para a preparação de drogas.

Novamente, o objeto material é uma matéria-prima, no caso a planta que irá ser utilizada na
produção da droga. Não é necessário que a planta origine diretamente a droga.

Ressalta-se que só estará configurado o crime quando presente o elemento normativo “sem
autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar”. Aplica-se, aqui, o art. 2º
da Lei 11.343/2006, in verbis:

Art. 2o Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o


plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais
possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de
autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção
de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a
respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso.

A Lei prevê, ainda, que a União poderá autorizar o plantio de tais vegetais, desde que sejam
para fins medicinais ou científicos, fixando o prazo e o local em que serão plantadas, com a referida
fiscalização.

Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos


vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais
ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização,
respeitadas as ressalvas supramencionadas.

Nesse mesmo sentido, importante trazer à tona discussão que ainda não possui
entendimento uníssono na jurisprudência: é possível que o Poder Judiciário conceda
autorização para que a pessoa faça cultivo de maconha com objetivos medicinais?

A 5ª Turma do STJ, no AgRg no RHC 155.610-CE, julgado em 10/05/2022 (Info 736),


entende que NÃO é possível, com base no seguinte fundamento:

É incabível salvo-conduto para o cultivo da cannabis visando a extração do


óleo medicinal, ainda que na quantidade necessária para o controle da
epilepsia, posto que a autorização fica a cargo da análise do caso concreto
pela ANVISA.

Em sentido contrário, a 6ª Turma do STJ, no REsp 1.972.092, julgado em 14/06/2022 (Info


742), afirma que é possível SIM, considerando que:

É cabível a concessão de salvo-conduto para o plantio e o transporte de


Cannabis Sativa para fins exclusivamente terapêuticos, com base em
receituário e laudo subscrito por profissional médico especializado, e
chancelado pela Anvisa.

Em continuidade, destaca-se o art. 243 da CF, pertinente ao tema, segundo o qual será
possível expropriar (natureza de confisco, não havendo indenização) as propriedades rurais e

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urbanas que se destinam a cultura ilegal de plantas psicotrópicas. Além disso, nada impede a
aplicação nos casos do art. 28, § 1º da Lei de Drogas.

Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde


forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de
trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma
agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao
proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no
que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 81, de 2014)
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em
decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração
de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com
destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 81, de 2014)

Por sua vez, o art. 32 da Lei 11.343/2006 prevê a destruição imediata da plantação,
conforme abaixo exposto:

Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado


de polícia na forma do art. 50-A, que recolherá quantidade suficiente para
exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições
encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as medidas
necessárias para a preservação da prova. (Redação dada pela Lei nº 12.961,
de 2014)

Outro ponto de destaque refere-se ao alcance da medida expropriatória: será atingida a


totalidade da área e não apenas a que for destinada ao plantio de matéria-prima que será utilizada
na produção de drogas.

Por fim, a responsabilidade do proprietário da área destinada ao plantio, de acordo com o


STF, poderá ser afastada, desde que comprove que não possui culpa. Assim, comprovado que não
agiu com culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo, não perderá a propriedade.

A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser


afastada, desde que o proprietário comprove que não incorreu em culpa,
ainda que in vigilando ou in eligendo. STF. Plenário. RE 635336/PE, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2016 (repercussão geral) (Info 851).8

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE/MG - FUNDEP - 2021): É possível ao juiz determinar a destruição das
drogas apreendidas antes da confecção do laudo definitivo. Correto.

(Polícia Federal - CESPE - 2021): O confisco e a posterior reversão a fundo


especial de bem apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes
exigem prova de habitualidade e reiteração do uso do bem para a referida
finalidade. Errado.

8 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Possibilidade de o proprietário afastar a sanção do art. 243 da CF/88 se provar que não teve
culpa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a75a52f7209c01df2598a77ebc4de539>. Acesso em: 29/11/2022.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 28

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11.7.3. Inciso III

Art. 33, § 1º Nas mesmas penas incorre quem:


III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade,
posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se
utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

Refere-se à utilização para o efetivo tráfico de drogas, não se restringe ao proprietário do


bem e não se exige a finalidade de lucro. Caso seja utilizado para o consumo pessoal de drogas,
não incidirá no tráfico equiparado.

Trata-se de crime doloso, o agente deve conhecer a natureza da substância.

11.7.4. Inciso IV

Art. 33, § 1º Nas mesmas penas incorre quem:


IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico
destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a
determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando
presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal
preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Trata-se de novidade introduzida pelo Pacote Anticrime que visou legalizar a situação de
flagrante preparado em relação às condutas criminais preexistentes.

12. INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO USO INDEVIDO DE DROGAS

É delito previsto no § 2º do art. 33 da LD, cuja pena será de detenção, de 1 a 3 anos, e multa
de 100 a 300 dias.

Art. 33, § 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:


Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300
(trezentos) dias-multa.

O induzimento (faz surgir a ideia), a instigação (reforça a ideia que já existe) e o auxílio
(participação material) devem ser dirigidos a pessoas determinadas.

A consumação exige o efetivo uso da droga, não basta só induzir, instigar ou auxiliar sem
que a pessoa efetivamente faça uso.

Não é crime equiparado a hediondo. É crime de médio potencial ofensivo e admite a


suspensão condicional do processo.

MARCHA DA MACONHA = Não caracteriza o crime do § 2º do art.


33, conforme decidiu o STF na ADI 4274/DF, tendo em vista que a
liberdade de expressão e manifestação de pensamento é consagrada
na CF. Ademais, só existe o crime quando as condutas são destinadas
a pessoa determinada, não a uma multidão.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 29

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EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PEDIDO DE
“INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO” DO § 2º DO ART. 33
DA LEI Nº 11.343/2006, CRIMINALIZADOR DAS CONDUTAS DE “INDUZIR,
INSTIGAR OU AUXILIAR ALGUÉM AO USO INDEVIDO DE DROGA”. 1.
Cabível o pedido de “interpretação conforme à Constituição” de preceito legal
portador de mais de um sentido, dando-se que ao menos um deles é contrário
à Constituição Federal. 2. A utilização do § 3º do art. 33 da Lei 11.343/2006
como fundamento para a proibição judicial de eventos públicos de defesa da
legalização ou da descriminalização do uso de entorpecentes ofende o direito
fundamental de reunião, expressamente outorgado pelo inciso XVI do art. 5º
da Carta Magna. Regular exercício das liberdades constitucionais de
manifestação de pensamento e expressão, em sentido lato, além do direito
de acesso à informação (incisos IV, IX e XIV do art. 5º da Constituição
Republicana, respectivamente). 3. Nenhuma lei, seja ela civil ou penal, pode
blindar-se contra a discussão do seu próprio conteúdo. Nem mesmo a
Constituição está a salvo da ampla, livre e aberta discussão dos seus defeitos
e das suas virtudes, desde que sejam obedecidas as condicionantes ao
direito constitucional de reunião, tal como a prévia comunicação às
autoridades competentes. 4. Impossibilidade de restrição ao direito
fundamental de reunião que não se contenha nas duas situações
excepcionais que a própria Constituição prevê: o estado de defesa e o estado
de sítio (art. 136, § 1º, inciso I, alínea “a”, e art. 139, inciso IV). 5. Ação direta
julgada procedente para dar ao § 2º do art. 33 da Lei 11.343/2006
“interpretação conforme à Constituição” e dele excluir qualquer
significado que enseje a proibição de manifestações e debates públicos
acerca da descriminalização ou legalização do uso de drogas ou de
qualquer substância que leve o ser humano ao entorpecimento
episódico, ou então viciado, das suas faculdades psicofísicas. ADI 4274,
Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 23/11/2011,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-084 DIVULG 30-04-2012 PUBLIC 02-05-
2012 RTJ VOL-00222-01 PP-00146).

13. CEDENTE EVENTUAL

É crime previsto no § 3º do art. 33, da Lei 11.343/2006, conforme redação legal abaixo:

Art. 33, § 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa


de seu relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700
(setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas
previstas no art. 28.

Obviamente, este delito não é considerado tráfico de drogas e, consequentemente, não é


equiparado a crime hediondo. Trata-se de uma infração penal de menor potencial ofensivo, cuja
competência será do JECRIM.

Na antiga lei, como não havia previsão legal, a conduta descrita no § 3º era considerada
tráfico de drogas (majoritário) e, ainda, fato atípico (minoritária).

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 30

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Para que o agente incorra nas sanções do § 3º é necessário o preenchimento de quatro
requisitos, cumulativos, vejamos:

1) Oferta eventual de droga;

2) Oferta gratuita;

3) O destinatário da droga deve ser pessoa do relacionamento de quem oferece a droga;

4) A droga deve ser destinada ao consumo conjunto (tanto de quem oferece quanto de
quem recebe).

A falta de algum requisito acarreta as sanções do art. 33, caput, da LD.

14. ART. 34 – MAQUINISMO E OBJETOS DESTINADOS AO TRÁFICO

Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir,


entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que
gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto
destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e
duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.

Trata-se do tráfico de drogas, portanto, equiparado a hediondo.

FINALIDADE DO TIPO PENAL

Busca incriminar condutas não abrangidas pelo caput do art. 33, as quais são ligadas à
produção de drogas.

OBJETO MATERIAL

É o bem relacionado ao processo de criação, fabricação e produção da droga. Ex.: o agente


que monta um laboratório para refinar cocaína.

Obs.: não há crime quando se apreende um bem ou instrumento


ligado ao uso da droga, sem que esta exista. Por exemplo, a
apreensão de um cachimbo para consumo de crack.

Para que se configure a lesão ao bem jurídico tutelado pelo art. 34 da Lei nº
11.343/2006, a ação de possuir maquinário e/ou objetos deve ter o especial
fim de fabricar, preparar, produzir ou transformar drogas, visando ao tráfico.
Assim, ainda que o crime previsto no art. 34 da Lei nº 11.343/2006 possa
subsistir de forma autônoma, não é possível que o agente responda pela
prática do referido delito quando a posse dos instrumentos se configura como
ato preparatório destinado ao consumo pessoal de entorpecente. As
condutas previstas no art. 28 da Lei de Drogas recebem tratamento legislativo
mais brando, razão pela qual não há respaldo legal para punir com maior rigor

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 31

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as ações que antecedem o próprio consumo pessoal do entorpecente. STJ.
6ª Turma. RHC 135.617-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/09/2021
(Info 709).

CONFLITO DE NORMAS COM O ART. 33, CAPUT, E PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO

O agente responderá pelo art. 34 da LD quando não houver nenhuma droga no local, mas
sim apenas o maquinário. Havendo os objetos de produção da droga e a droga, o agente responderá
apenas pelo art. 33, caput, da LD, absorvendo o 34.

I - A prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei de Drogas absorve o


delito capitulado no art. 34 da mesma lei, desde que não fique caracterizada
a existência de contextos autônomos e coexistentes aptos a vulnerar o bem
jurídico tutelado de forma distinta. Assim, responderá apenas pelo crime do
art. 33 (sem concurso com o art. 34), o agente que, além de preparar para
venda certa quantidade de drogas ilícitas em sua residência, mantiver, no
mesmo local, uma balança de precisão e um alicate de unha utilizados na
preparação das substâncias. Isso porque, na situação em análise, não há
autonomia necessária a embasar a condenação em ambos os tipos penais
simultaneamente, sob pena de “bis in idem”. STJ. 5ª Turma. REsp 1196334-
PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/9/2013 (Info 531).9

Para melhor compreensão sobre o referido julgado, colaciona-se abaixo a excelente


explicação do Dizer o Direito, retirada do Info 531 do STJ.

Carlos foi preso, em sua residência, com certa quantidade de cocaína destinada à venda.
Além da droga, o agente mantinha, no mesmo local, uma balança de precisão e um alicate de unha
utilizados na preparação das “trouxinhas” de cocaína. O Ministério Público desejava a condenação
do réu pelos delitos do art. 33 e 34 da Lei 11.343/2006, em concurso.

O STJ, no REsp 1.196.334-PR (5ª Turma), contudo, decidiu que o acusado deveria
responder apenas pelo crime de tráfico de drogas (art. 33), ficando o delito do art. 34 absorvido. O
Min. Marco Aurélio Bellize assentou que “a prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei de
Drogas absorve o delito capitulado no art. 34 da mesma lei, desde que não fique caracterizada a
existência de contextos autônomos e coexistentes aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma
distinta.”

Na situação em análise, entendeu-se que não há autonomia necessária a embasar a


condenação em ambos os tipos penais simultaneamente, sob pena de “bis in idem”. Para o Min.
Relator, deve ficar demonstrada a real lesividade dos objetos tidos como instrumentos destinados
à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sob pena de a posse de uma
tampa de caneta (utilizada como medidor), atrair a incidência do tipo penal em exame.

Relevante, assim, analisar se os objetos apreendidos são aptos a vulnerar o tipo penal em
tela. Na situação em análise, o STJ entendeu que, além de a conduta não se mostrar autônoma, a
posse de uma balança de precisão e de um alicate de unha não poderia ser considerada como

9 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Tráfico de maquinário (art. 34). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c559da2ba967eb820766939a658022c8>. Acesso em: 29/11/2022.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 32

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posse de maquinário nos termos do que descreve o art. 34, pois os referidos instrumentos integram
a prática do delito de tráfico, não se prestando à configuração do crime de posse de maquinário.

CONCURSO DE CRIMES: ART. 33, CAPUT E ART. 34

II - Responderá pelo crime de tráfico de drogas (art. 33) em concurso com o


art. 34 o agente que, além de ter em depósito certa quantidade de drogas
ilícitas em sua residência para fins de mercancia, possuir, no mesmo local e
em grande escala, objetos, maquinário e utensílios que constituam laboratório
utilizado para a produção, preparo, fabricação e transformação de drogas
ilícitas em grandes quantidades. Não se pode aplicar o princípio da
consunção porque nesse caso existe autonomia de condutas e os objetos
encontrados não seriam meios necessários nem constituíam fase normal de
execução daquele delito de tráfico de drogas, possuindo lesividade autônoma
para violar o bem jurídico. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 303213-SP, Rel.
Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 8/10/2013 (Info 531).

Para melhor compreensão do julgado acima, tem-se o seguinte caso: Pablo foi preso, em
sua residência, com certa quantidade de cocaína destinada à venda. Além da droga, o agente
mantinha, no mesmo local e em grande escala, objetos, maquinário e utensílios que constituíam um
verdadeiro “laboratório” utilizado para a produção, preparo, fabricação e transformação de drogas
ilícitas em grandes quantidades.

O Ministério Público pediu a condenação do réu pelos delitos do art. 33 e 34 da Lei n.


11.343/2006, em concurso. O STJ concordou com o MP e decidiu que o acusado deveria responder
pelos crimes de tráfico de drogas (art. 33) e tráfico de maquinário (art. 34) em concurso.

Nessa situação, as circunstâncias fáticas demonstraram que havia verdadeira autonomia


das condutas, o que inviabilizava a incidência do princípio da consunção. O princípio da consunção
deve ser aplicado quando um dos crimes for o meio normal para a preparação, execução ou mero
exaurimento do delito visado pelo agente, situação que fará com que este absorva aquele outro
delito, desde que não ofendam bens jurídicos distintos.

Dessa forma, a depender do contexto em que os crimes foram praticados, será possível o
reconhecimento da absorção do delito previsto no art. 34 pelo crime previsto no art. 33. Contudo,
para tanto, é necessário que não fique caracterizada a existência de contextos autônomos e
coexistentes aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma distinta. Levando-se em
consideração que o crime do art. 34 visa coibir a produção de drogas, enquanto o art. 33 tem por
objetivo evitar a sua disseminação, deve-se analisar, para fins de incidência ou não do princípio da
consunção, a real lesividade dos objetos tidos como instrumentos destinados à fabricação,
preparação, produção ou transformação de drogas.

Relevante aferir, portanto, se os objetos apreendidos são aptos a vulnerar o tipo penal em
tela quanto à coibição da própria produção de drogas. Logo, se os maquinários e utensílios
apreendidos não forem suficientes para a produção ou transformação da droga, será possível a
absorção do crime do art. 34 pelo do art. 33, haja vista ser aquele apenas meio para a realização
do tráfico de drogas (como a posse de uma balança e de um alicate – objetos que, por si sós, são
insuficientes para o fabrico ou transformação de entorpecentes, constituindo apenas um meio para
a realização do delito do art. 33).

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 33

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Todavia, a posse ou depósito de maquinário e utensílios que demonstrem a existência de
um verdadeiro laboratório voltado à fabricação ou transformação de drogas implica autonomia das
condutas, por não serem esses objetos meios necessários ou fase normal de execução do tráfico
de drogas.

15. ART. 35 – ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO

O art. 35 da Lei de Drogas dispõe sobre o crime de associação para o tráfico, salientando
que a leitura de sua parte final confirma que apenas os arts. 33, caput e seu 1º e o art. 34 da LD
são crimes de tráfico:

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar,


reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e §
1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos)
a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se
associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

INADMISSIBILIDADE DE TENTATIVA

Este crime não admite tentativa, eis que se trata de um crime obstáculo, ou seja, é um crime
que o legislador utiliza um ato preparatório de outro crime e o tipifica de forma autônoma. Cria-se
um tipo penal preventivo, antecipando-se a tutela penal.

OUTRAS FORMAS DE ASSOCIAÇÃO

É importante distinguir o delito de associação para o tráfico de drogas do crime de


associação criminosa, previsto no art. 288 do CP. Observe a tabela abaixo:

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de


cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada
ou se houver a participação de criança ou adolescente.

ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

Basta a presença/união de 2 pessoas, sendo


Exige, pelo menos, 3 pessoas para que se
suficiente que apenas um deles seja
caracterize.
imputável.

A intenção é cometer quaisquer crimes


A intenção é cometer qualquer delito em geral,
previstos nos arts. 33, caput e § 1º e art. 34 da
a exemplo de roubo, furto.
Lei de Drogas.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 34

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Existe ou não reiteração na intenção de
Exige permanência.
cometer os crimes.

REITERAÇÃO NA INTENÇÃO DE COMETER CRIMES

Segundo Masson, o art. 35 é falho ao dispensar a reiteração, uma vez que toda a associação
reclama, como o próprio nome diz, um ânimo de permanência. Não existe eventualidade na
associação, a reiteração é um requisito. Quando não está presente, é caso de concurso de pessoas.

Segundo o STJ e o STF, para configuração do tipo de associação para o tráfico, é necessário
que haja estabilidade e permanência na associação criminosa. Dessa forma, é atípica a conduta se
não houver ânimo associativo permanente (duradouro), mas apenas esporádico (eventual),
conforme entendimento do seguinte julgado:

“(...) Para a caracterização do crime de associação para o tráfico é


imprescindível o dolo de se associar com estabilidade e permanência, sendo
que a reunião ocasional de duas ou mais pessoas não se subsumi ao tipo do
artigo 35 da Lei 11.343/2006. Doutrina. Precedentes. (...)” (HC 254.428/SP,
Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 27/11/2012).10

CONCURSO DE CRIMES

É perfeitamente possível concurso de crimes entre a associação e tráfico de drogas. Este


não irá absorver o delito do art. 35 da LD.

16. ART. 36 – FINANCIAMENTO AO TRÁFICO

É um crime de pena alta, de modo que a doutrina minoritária entende que se trata de um
crime de tráfico de drogas, juntamente com o caput e § 1º, do art. 33 e art. 34 da LD.

Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos
arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e
quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.

FINANCIAMENTO OU CUSTEIO SEM TRÁFICO

O agente que pratica o art. 36 da LD não é um traficante de drogas, tendo em vista que ele
irá apenas financiar ou custear as condutas previstas como tráfico de drogas.

É o caso, por exemplo, de um empresário que empresta 500 mil reais para o traficante
adquirir as drogas.

10 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Associação para fins de tráfico (art. 35). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/1bc0249a6412ef49b07fe6f62e6dc8de>. Acesso em: 29/11/2022.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 35

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Por isso, este crime é uma exceção à Teoria Monista (quem concorre de qualquer forma
para a prática do crime irá responder por ele), já que apesar de concorrer para a prática do tráfico
de drogas o agente não irá responder por ele, mas sim pelo art. 36.

AUTOFINANCIAMENTO E ART. 40, VII DA LD

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de
um sexto a dois terços, se:
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

Tal causa de aumento de pena será aplicada quando o próprio agente, que pratica a conduta
de tráfico, financia a atividade criminosa, isto é, ele utiliza seus recursos para comprar a droga, por
isso terá sua pena aumentada.

Não haverá concurso material entre os delitos de tráfico e financiamento para o tráfico.
Nesse sentido, o Info 534 do STJ, com a excelente explicação do Dizer o Direito:

Se o agente financia ou custeia o tráfico, mas não pratica nenhum verbo do


art. 33: responderá apenas pelo art. 36 da Lei de Drogas. Se o agente, além
de financiar ou custear o tráfico, também pratica algum verbo do art. 33:
responderá apenas pelo art. 33 c/c o art. 40, VII da Lei de Drogas (não será
condenado pelo art. 36). STJ. 6ª Turma. REsp 1290296-PR, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 17/12/2013 (Info 534).11

O agente que atua diretamente na traficância, executando, pessoalmente, as condutas


tipificadas no art. 33 e que também financia a aquisição das drogas, deve responder apenas pelo
crime previsto no art. 33 com a causa de aumento prevista no art. 40, VII, sendo afastado o crime
do art. 36. O financiamento ou custeio ao tráfico ilícito de drogas (art. 36) é delito autônomo aplicável
somente ao agente que NÃO tem participação direta na execução do tráfico, limitando-se a fornecer
os recursos necessários para subsidiar a mercancia.

Ao prever como delito autônomo a atividade de financiar ou custear o tráfico (art. 36), o
objetivo do legislador foi estabelecer uma exceção à teoria monista e punir o agente que não tem
participação direta na execução no tráfico e que se limitada a fornecer dinheiro ou bens para
subsidiar a mercancia, sem praticar qualquer conduta do art. 33.

Assim, nas hipóteses em que ocorre o AUTOFINANCIAMENTO para o tráfico ilícito de


drogas, como no caso concreto, não há que se falar em concurso material entre os crimes dos arts.
33 e 36, devendo o agente ser condenado pela pena do tráfico (art. 33), com a causa de aumento
de pena do art. 40, VII, da Lei de Drogas.

Se o agente que faz autofinanciamento fosse condenado pelos arts. 33 e 36, haveria bis in
idem. Além disso, chegaríamos à conclusão de que o art. 40, VII nunca poderia ser aplicado em
conjunto com o art. 33.

Ante todo exposto, em síntese, tem-se que:

11 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Financiamento do tráfico e assemelhados (art. 36). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a368b0de8b91cfb3f91892fbf1ebd4b2>. Acesso em: 29/11/2022.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 36

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1) Se o agente financia ou custeia o tráfico, mas não pratica nenhum verbo do art. 33,
responderá apenas pelo art. 36 da Lei de Drogas;

2) Se o agente, além de financiar ou custear o tráfico, também pratica algum verbo do art.
33, responderá apenas pelo art. 33 c/c o art. 40, VII da Lei de Drogas (não será
condenado pelo art. 36).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE/TO - CESPE - 2022): O agente que atuar diretamente na traficância e
também financiar ou custear a aquisição de drogas ilícitas responderá pelos
dois crimes correspondentes, em concurso material. Errado.

(MPE/RS - MPE-RS - 2021): O agente que atua diretamente na traficância e


que também financia ou custeia a aquisição de drogas deve responder pelo
crime previsto no artigo 33, caput, com a incidência da causa de aumento de
pena prevista no artigo 40, inciso VII, ambos da Lei nº 11.343/2006,
afastando-se, por consequência, a conduta autônoma prevista no artigo 36
do mesmo ato normativo. Correto.

17. ART. 37 – INFORMANTE COLABORADOR

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação


destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e §
1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos)
a 700 (setecentos) dias-multa.

Para a caracterização do crime do art. 37 da LD, não basta a colaboração para o tráfico.
Exige-se que o agente colabore para o grupo, organização ou associação voltados ao tráfico.

O informante colaborador não integra o grupo, organização ou associação, apenas auxilia


no desempenho de suas atividades. Caso fosse um integrante, praticaria o crime do art. 35 da LD.

Cita-se, como exemplo, o fogueteiro (pessoa que avisa quando a droga chegou).

COLABORADOR FUNCIONÁRIO PÚBLICO

Caso o informante colaborador seja funcionário público:

1) Se não tiver solicitado nem recebido qualquer vantagem indevida, deve responder pelo
crime do art. 37 da LD, com a majorante prevista no art. 40, II;

2) Se tiver solicitado ou recebido vantagem indevida, responderá pelo art. 37 em concurso


material com o crime de corrupção passiva (art. 317 do CP). Nesse caso, não haverá a
incidência da majorante do art. 40, II, da LD, considerando que a condição de servidor
público já foi utilizada para caracterizar o crime do art. 317.

ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E SUBSIDIARIEDADE

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 37

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Caso o agente integre a associação, irá responder pelo art. 35 da LD. Não há concurso de
crimes entre os arts. 35 e 37 da LD, consoante precedente do STJ:

É possível que alguém seja condenado pelo art. 35 e, ao mesmo tempo, pelo
art. 37, da Lei de Drogas em concurso material, sob o argumento de que o
réu era associado ao grupo criminoso e que, além disso, atuava também
como “olheiro”? NÃO. Segundo decidiu o STJ, nesse caso, ele deverá
responder apenas pelo crime do art. 35 (sem concurso material com o art. 37
Considerar que o informante possa ser punido duplamente (pela associação
e pela colaboração com a própria associação da qual faça parte), contraria o
princípio da subsidiariedade e revela indevido bis in idem, punindo-se, de
forma extremamente severa, aquele que exerce função que não pode ser
entendida como a mais relevante na divisão de tarefas do mundo do tráfico.
STJ. 5ª Turma. HC 224849-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
11/6/2013 (Info 527).12

18. CAUSAS DE AUMENTO DA PENA

As causas de aumento de pena estão previstas no art. 40 da LD, aplicando-se apenas aos
crimes dos arts. 33 a 37 da LD, razão pela qual serão analisados os crimes dos arts. 38 e 39 em
momento posterior.

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de
um sexto a dois terços, se:
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as
circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no
desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de
estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de
entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem
espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de
dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou
policiais ou em transportes públicos;
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de
arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o
Distrito Federal;
VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem
tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de
entendimento e determinação;
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

APLICABILIDADE

12 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Informante do tráfico (art. 37). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f18a6d1cde4b205199de8729a6637b42>. Acesso em: 24/11/2022.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 38

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As causas de aumento de pena são aplicadas ao tráfico de drogas, bem como aos crimes
ligados ao tráfico (associação, financiamento, colaboração). Não incidem nos crimes dos arts. 28,
28 e 29 da Lei de Drogas.

Incidem na terceira fase da pena e, por isso, a pena pode ser fixada acima do máximo legal.

TRANSNACIONALIDADE (INC. I)

Art. 40, I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido


e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito.

Trata-se do tráfico internacional de drogas, caracterizado pela natureza, pela procedência


ou pelas circunstâncias do fato.

Percebe-se que o tráfico internacional não é um delito autônomo, de modo que o agente
responde, em regra, pelo art. 33, caput, com a causa de aumento do inc. I, do art. 40 da LD.

18.2.1. Transposição da fronteira

Para incidir a causa de aumento de pena, não é necessário que a droga tenha saído do
Brasil. Basta que haja circunstância indicativa que a droga sairia do país.

Nesse sentido, a Súmula 607 do STJ:

Súmula 607 - A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da


Lei n. 11.343/2006) configura-se com a prova da destinação internacional das
drogas, ainda que não consumada a transposição de fronteiras.

18.2.2. Competência

É de competência da Justiça Federal, nos termos do art. 70 da LD:

Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37


desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da
Justiça Federal.

Caso a droga tenha sido importada pela via postal, a competência será do local em que a
substância for apreendida ou do local do destino da droga?13

Importação da droga via postal (Correios)


Tráfico transnacional de drogas (art. 33 c/c art. 40, I, da Lei nº 11.343/2006)
A competência será do local onde a droga foi apreendida ou do local de destino da droga?
Entendimento anterior do STJ: Entendimento atual do STJ:
Local de apreensão da droga Local de destino da droga
Essa posição estava manifestada na Súmula 528 Na hipótese de importação da droga via correio
do STJ, aprovada em 13/05/2015: cumulada com o conhecimento do destinatário por
meio do endereço aposto na correspondência, a

13 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Compete ao Juízo Federal do endereço do destinatário da droga, importada via Correio,
processar e julgar o crime de tráfico internacional. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/7dd2ae7db7d18ee7c9425e38df1af5e2>. Acesso em: 29/11/2022.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 39

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Súmula 528 - STJ: Compete ao juiz federal do local Súmula 528/STJ deve ser flexibilizada para se fixar
da apreensão da droga remetida do exterior pela a competência no Juízo do local de destino da
via postal processar e julgar o crime de tráfico droga, em favor da facilitação da fase investigativa,
internacional. da busca da verdade e da duração razoável do
processo.
STJ. 3ª Seção. CC 177.882-PR, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 26/05/2021 (Info 698).
Argumentos desse antigo entendimento: Argumentos do novo entendimento:
O CPP prevê que a competência é definida pelo O primeiro argumento decorre do bom senso. Em
local em que o crime se consumar: São Paulo desembarca a maioria das remessas
importadas, via correios, do exterior. A existência
Art. 70. A competência será, de regra, determinada
de destinatário certo e devidamente identificado
pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no
colocaria a Polícia Federal lotada no Estado de
caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado
São Paulo para investigar indivíduo que residisse,
o último ato de execução.
v.g., em Porto Alegre, em Boa Vista, em Cuiabá
A conduta prevista no art. 33, caput, da Lei nº etc. Enfim, em qualquer lugar do Brasil para onde
11.343/2006 constitui delito formal, multinuclear, a encomenda estivesse endereçada. Isso
sendo que, para sua consumação, basta a dificultaria sobremaneira as investigações, quando
execução de qualquer das condutas previstas no não as inviabilizasse por completo.
dispositivo legal.
O segundo argumento decorre da regra que define
No caso em tela, a pessoa que encomendou a a competência pelo lugar em que efetivamente se
droga praticou o verbo “importar”, que significa consuma a infração, circunstância esta essencial
“fazer vir de outro país, estado ou município; trazer para a fixação da competência, nos termos do art.
para dentro.” Logo, pode-se afirmar que o delito se 70, do CPP.
consumou no instante em que o produto importado
Para que haja a remessa da droga ao Brasil, é
tocou o território nacional, entrada essa
necessário que o importador entabule um negócio
consubstanciada na apreensão da droga.
(evidentemente ilícito). Não é crível, ainda mais no
Vale ressaltar que, para que ocorra a consumação âmbito do tráfico internacional, que alguém remeta
do delito de tráfico transnacional de drogas, é drogas para o Brasil gratuitamente ou ofereça essa
desnecessário que a correspondência chegue ao remessa como um presente sem ônus.
destinatário final. Se chegar, haverá mero
É evidente que há um negócio espúrio preliminar à
exaurimento da conduta. A consumação
remessa do entorpecente. Assim, quando o
(importação) ocorreu quando a encomenda entrou
importador acerta a remessa do entorpecente,
no território nacional.
efetua o pagamento do preço e se cerca dos
Dessa forma, o delito se consumou no local de cuidados para que receba o produto, o negócio se
entrada da mercadoria, sendo esse o juízo encontra aperfeiçoado, dependendo o seu êxito
competente, nos termos do art. 70 do CPP. integral, tão somente, do efetivo recebimento da
droga. Desse modo, a consumação da importação
da droga ocorre no momento da entabulação do
negócio jurídico. Logo, o local de apreensão da
mercadoria em trânsito não se confunde com o
local da consumação do delito, o qual já se
encontrava perfeito e acabado desde a
negociação.

A ementa oficial do julgado fala em “flexibilização da Súmula 528 do STJ”:

(...) 7. A fixação da competência no local de destino da droga, quando houver


postagem do exterior para o Brasil com o conhecimento do endereço
designado para a entrega, proporcionará eficiência da colheita de provas
relativamente à autoria e, consequentemente, também viabilizará o exercício
da defesa de forma mais ampla. Em suma, deve ser estabelecida a
competência no Juízo do local de destino do entorpecente, mediante

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 40

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flexibilização da Súmula n. 528/STJ, em favor da facilitação da fase
investigativa, da busca da verdade e da duração razoável do processo.

Em suma:

Na hipótese de importação da droga via correio cumulada com o


conhecimento do destinatário por meio do endereço aposto na
correspondência, a Súmula 528/STJ deve ser flexibilizada para se fixar a
competência no Juízo do local de destino da droga, em favor da
facilitação da fase investigativa, da busca da verdade e da duração
razoável do processo. STJ. 3ª Seção. CC 177.882-PR, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 26/05/2021 (Info 698).

Logo, para fins de concurso público, adota-se a expressão “flexibilização da Súmula 528 do
STJ”.

É mister salientar, contudo, que em 25/02/2022, após o julgamento acima, o STJ decidiu
cancelar formalmente a Súmula 528. Portanto, a Súmula 528 do STJ está formalmente cancelada.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE/GO FGV - 2022): Para configuração da majorante da
transnacionalidade (Art. 40, inciso I, da Lei nº 11.343/2006), a persecução
penal deve demonstrar elementos concretos aptos de que o agente pretendia
disseminar a droga no exterior, sendo dispensável ultrapassar as fronteiras
que dividem as nações. Correto.

AGENTES (INC. II)

Art. 40, II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou


no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância.

Os crimes da Lei de Drogas são comuns, não exigem uma qualidade especial do agente.
Contudo, as penas serão aumentadas quando o delito for praticado por certos agentes, sendo eles:

1) O agente que pratica o crime prevalecendo-se de sua função pública;

2) O agente que pratica o crime no desempenho de missão de educação;

3) O agente que pratica o crime no exercício do poder familiar, guarda ou vigilância.

LOCAL EM QUE O CRIME FOR COMETIDO (INC. III)

Art. 40, III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações
de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de
entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem
espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de
dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou
policiais ou em transportes públicos.

18.4.1. Fundamento

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A majorante fundamenta-se na difusão do dano e na maior potencialidade do delito, sua
extensão nas referidas localidades.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE/TO - CESPE - 2022): O rol de ambientes disposto no inciso III do art.
40, que enseja majoração da pena aplicada por crime previsto na Lei
Antidrogas, é taxativo e tem por objetivo proteger espaços que promovam a
aglomeração de pessoas, circunstância que facilita a ação criminosa. Errado.

18.4.2. Estabelecimento prisional

Para o STF, não é necessário que a droga seja destinada à difusão dentro do
estabelecimento prisional. Basta que seja apreendida no local.

Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida
a majorante prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006. Esse dispositivo
não faz a exigência de que as drogas efetivamente passem por dentro dos
locais que se busca dar maior proteção, mas apenas que o cometimento dos
crimes tenha ocorrido em seu interior. STJ. 5ª Turma. HC 440.888-MS, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/10/2019 (Info 659).14

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPDFT - MPDFT - 2021): Configura a causa de aumento de pena de ter sido
a infração realizada nas dependências ou imediações de estabelecimento
prisionais, a conduta de indivíduo preso no sistema carcerário movimentar
volume de entorpecentes e realizar negociações de tráfico por telefone,
mesmo que nenhuma droga tenha entrado dentro do presídio. Correto.

18.4.3. Transporte público

A causa de aumento de pena irá incidir apenas quando a intenção do agente for a de vender
a droga no transporte público.

Assim, se o agente leva a droga em transporte público, mas não a comercializa dentro do
meio de transporte, incidirá essa majorante? NÃO. A majorante do art. 40, III, da Lei 11.343/2006
somente deve ser aplicada nos casos em que ficar demonstrada a comercialização efetiva da droga
em seu interior. É a posição majoritária no STF e STJ.

18.4.4. Imediações de estabelecimento de ensino

A prática do delito de tráfico de drogas nas proximidades de estabelecimentos de ensino


(art. 40, III, da Lei 11.343/06) enseja a aplicação da majorante, sendo desnecessária a prova de
que o ilícito visava atingir os frequentadores deste local.

Para a incidência da majorante prevista no art. 40, inciso III, da Lei 11.343/2006 é
desnecessária a efetiva comprovação de que a mercancia tinha por objetivo atingir os estudantes,
sendo suficiente que a prática ilícita tenha ocorrido em locais próximos, ou seja, nas imediações de

14 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista
no art. 40, III, da Lei 11.343/2006. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/659b7b42e9c002ce0075077cd55a1623>. Acesso em: 29/11/2022.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 42

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tais estabelecimentos, diante da exposição de pessoas ao risco inerente à atividade criminosa da
narcotraficância.

Não incide a causa de aumento de pena prevista no art. 40, inciso III, da Lei 11.343/2006,
se a prática de narcotraficância ocorrer em dia e horário em que não facilite a prática criminosa e a
disseminação de drogas em área de maior aglomeração de pessoas. Por exemplo, se o tráfico de
drogas é praticado no domingo de madrugada, dia e horário em que o estabelecimento de ensino
não estava funcionando, não deve incidir a majorante.

No mesmo sentido, destaca-se que também não incide a causa de aumento de pena se o
crime foi praticado nas proximidades de escola fechada em razão da COVID-19, de acordo com
posicionamento adotado pelo STJ nos seguintes termos:

No delito de tráfico de drogas praticado nas proximidades ou nas imediações


de estabelecimento de ensino, pode-se, excepcionalmente, em razão das
peculiaridades do caso concreto, afastar a incidência da majorante prevista
no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006. A razão de ser da causa especial de
aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006 é a
de punir, com maior rigor, aquele que, nas imediações ou nas dependências
dos locais a que se refere o dispositivo, dada a maior aglomeração de
pessoas, tem como mais ágil e facilitada a prática do tráfico de drogas,
justamente porque, em localidades como tais, é mais fácil ao traficante passar
despercebido à fiscalização policial, além de ser maior o grau de
vulnerabilidade das pessoas reunidas em determinados lugares. Na espécie,
não ficou evidenciado nenhum benefício advindo ao réu com a prática do
delito nas proximidades ou nas imediações de estabelecimento de ensino –
o ilícito foi perpetrado em momento em que as escolas estavam fechadas por
conta das medidas restritivas de combate à COVID-19 – e se também não
houve uma maximização do risco exposto àqueles que frequentam a escola
(alunos, pais, professores, funcionários em geral), deve, excepcionalmente,
em razão das peculiaridades do caso concreto, ser afastada a incidência da
referida majorante. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 728750-DF, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/05/2022 (Info 738).

18.4.5. Imediações de Igreja

Há duas correntes acerca da incidência da causa de aumento em caso de tráfico de drogas


cometido nas dependências ou nas imediações de igreja:

1) 1ª Corrente: NÃO há incidência.

Entende-se que o tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi contemplado
pelo legislador no rol das majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei 11.343/2006, não
podendo, portanto, ser utilizado com esse fim tendo em vista que no Direito Penal incriminador não
se admite a analogia in malam partem.

Caso o legislador quisesse punir de forma mais gravosa também o fato de o agente cometer
o delito nas dependências ou nas imediações de igreja, teria feito expressamente, assim como fez
em relação aos demais locais.

Trata-se de posicionamento adotado pela 6ª Turma do STJ no HC 528851-SP, julgado em


05/05/2020 (Info 671), sendo a corrente que prevalece.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 43

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2) 2ª Corrente: há SIM incidência.

Justificada a incidência da causa de aumento prevista no art. 40, inciso III, da Lei
11.343/2006, uma vez consta nos autos a existência de igreja evangélica a aproximadamente 23
metros de distância do local onde a traficância era realizada.

Foi o entendimento firmado pela 5ª Turma do STJ no AgRg no HC 668934/MG, julgado em


22/06/2021.

Obs.: com relação ao caso concreto envolvendo o AgRg no HC


668934/MG, salienta-se que além de uma igreja evangélica, o local
também funcionava como entidade social, de modo que se amoldava
no inciso III por esse outro motivo.

MODO COMO O CRIME FOI PRATICADO (INC. IV)

Art. 40, IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça,
emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou
coletiva.

A violência não precisa ser no momento em que a droga for vendida.

TRÁFICO INTERESTADUAL

Art. 40, V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes


e o Distrito Federal.

Aqui, o legislador não cometeu o mesmo erro que ocorre na recepção, por exemplo, ao não
fazer referência ao DF.

Não é necessário que ocorra a transposição das fronteiras, bastando que as circunstâncias
demonstrem que isso iria ocorrer, consoante apontado pelo STF:

Para que incida a causa de aumento de pena prevista no inciso V do art. 40,
não se exige a efetiva transposição da fronteira interestadual pelo agente,
sendo suficiente a comprovação de que a substância tinha como destino
localidade em outro Estado da Federação. STF. 1ª Turma. HC 122791/MS,
Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808).15

O STJ segue o entendimento do STF, tendo, inclusive, editado uma súmula sobre o assunto:

Súmula 587 - STJ: Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V,


da Lei 11.343/06, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre
estados da federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca da
intenção de realizar o tráfico interestadual.

15 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Súmula 587-STJ. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4d0b954f0bef437c29dfa73fafdf3fa5>. Acesso em: 30/11/2022.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 44

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INDAGA-SE: é possível a incidência desta majorante e, ao mesmo
tempo, a incidência da causa de aumento da transnacionalidade?
Depende. Se a droga chegar ao Brasil e era destinada a ser difundida
em mais de um Estado, aplicar-se-á as duas majorantes. Se droga ao
chegar ao Brasil, passa por mais de um Estado, mas seu destino era
um único Estado, aplicar-se-á apenas a causa de aumento do tráfico
internacional.

Nesse sentido, o Info 586 do STJ define que as causas especiais de aumento da pena
relativas à transnacionalidade e à interestadualidade do delito, previstas, respectivamente, nos
incisos I e V do art. 40 da Lei de Drogas, até podem ser aplicadas simultaneamente, desde que
demonstrada que a intenção do acusado que importou a substância era a de pulverizar a droga em
mais de um Estado do território nacional. Se isso não ficar provado, incide apenas a
transnacionalidade.

Assim, é inadmissível a aplicação simultânea das causas de aumento da transnacionalidade


(art. 40, I) e da interestadualidade (art. 40, V) quando não ficar comprovada a intenção do importador
da droga de difundi-la em mais de um Estado-membro. O fato de o agente, por motivos de ordem
geográfica, ter que passar por mais de um Estado para chegar ao seu destino final não é suficiente
para caracterizar a interestadualidade.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(TJ-GO - FCC - 2021): Para a incidência da majorante do art. 40, V, da Lei n°
11.343/2006, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras, bastando
a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico interestadual, e,
se além dela, houver a incidência de outra circunstância elencada no mesmo
artigo, possível a aplicação de acréscimo acima da fração mínima com base
apenas no número de causas de aumento identificadas. Errado.

ENVOLVENDO CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Art. 40, VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou


a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de
entendimento e determinação.

Praticar um crime na companhia de menores, além das sanções do delito, enseja o crime
de corrupção de menores, em concurso.

Em relação aos crimes dos arts. 33 a 37 da LD, quando o maior pratica um crime juntamente
com um menor, não é possível aplicar as sanções do delito de corrupção de menores, em razão do
princípio da especialidade (art. 44, VI da LD).

Nesse sentido, o entendimento consolidado pela 6ª Turma do STJ no REsp 1622781-MT,


julgado em 22/11/2016 (Info 595)16, foi no sentido de que caso delito praticado pelo agente e pelo
menor de 18 anos não esteja previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu responderá pelo
crime praticado e também pelo delito do art. 244-B do ECA (corrupção de menores).

16 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Agente que pratica delitos da Lei de Drogas envolvendo criança ou adolescente responde
também por corrupção de menores?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/56a8da1d3bcb2e9b334a778be5b1d781>. Acesso em: 29/11/2022.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 45

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Todavia, caso o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos seja o art. 33, 34, 35,
36 ou 37 da Lei nº 11.343/2006, ele responderá apenas pelo crime da Lei de Drogas com a causa
de aumento de pena do art. 40, VI. Não será punido pelo art. 244-B do ECA para evitar bis in idem.

Em síntese: na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar
previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime de corrupção
de menores, porém, se a conduta estiver tipificada em um desses artigos (33 a 37), não será
possível a condenação por aquele delito, mas apenas a majoração da sua pena com base no art.
40, VI, da Lei nº 11.343/2006.

19. COLABORAÇÃO EFICAZ (ART. 41)

Possui a seguinte redação legal:

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a


investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais
coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto
do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois
terços.

Segundo Masson, trata-se de uma manifestação do Direito Penal premial. Significa dizer que
o criminoso arrependido que colabora com o Estado possui direito a um prêmio.

Na Lei de Drogas, a colaboração que poderá ser feita tanto na fase investigatória quanto na
fase processual, reduzirá a pena de 1/3 a 2/3, desde que:

1) Seja possível identificar a participação dos partícipes;

2) Seja possível recuperar de forma total ou parcial o produto do crime.

Destaca-se que só poderá ser reconhecida pelo juiz, na sentença condenatória. Assim, será
proferida sentença condenando o agente e, posteriormente, o juiz irá reduzir a pena.

20. CRIME CULPOSO (ART. 38)

Conforme apontado anteriormente, é o único crime culposo da Lei de Drogas:

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas


necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50
(cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da
categoria profissional a que pertença o agente.

Trata-se de infração de menor potencial ofensivo, que será julgada e processada no


JECRIM.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 46

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Como se percebe pelos núcleos do tipo penal, é um crime próprio, exigindo-se a qualidade
especial do agente, pois a conduta de prescrever uma droga só pode ser praticada pelo médico,
veterinário ou dentista e conduta de ministrar, além das pessoas acima, só pode ser praticada pelos
profissionais da enfermagem ou de farmácia.

Salienta-se que se trata de um crime culposo previsto em tipo fechado, pois o legislador
descreve expressamente as hipóteses em que a culpa poderá ocorrer, quais sejam:

1) Quando o paciente não necessita da droga;

2) Quando a droga é prescrita ou ministrada em doses excessivas;

3) Quando a droga é prescrita ou ministrada em desacordo com determinação legal ou


regulamentar.

21. CONDUÇÃO DE EMBARCAÇÃO OU AERONAVE APÓS O CONSUMO DE DROGA

Trata-se de crime de perigo concreto (situação de perigo deve ser provada no caso real),
previsto no art. 39 da LD:

Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas,


expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do
veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo
mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200
(duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa.
Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente
com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos)
a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for
de transporte coletivo de passageiros.

O tipo penal refere-se apenas à aeronave ou à embarcação (de qualquer porte, pois não há
especificação na lei). Dessa forma, não se aplica aos casos de condução de veículo automotor em
via pública, casos em que será aplicado o art. 306 do CTB:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada


em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que
determine dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição
de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

22. PROCEDIMENTO POLICIAL

LAVRATURA DO APF

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 47

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Para a lavratura do auto de prisão em flagrante, nos termos do art. 50, § 1º, basta que seja
feito um laudo de constatação da natureza da droga (materialidade), apontando o tipo e a
quantidade da droga.

Art. 50, § 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e


estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de
constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou,
na falta deste, por pessoa idônea.

Ressalta-se que o laudo será suficiente para a lavratura do APF, bem como para o
oferecimento e o recebimento da denúncia. Mas, por ser precário, não servirá para a condenação
do agente, sendo necessário o exame químico-toxicológico.

CONCLUSÃO DO INQUÉRITO

O inquérito policial deve ser concluído em:

1) 30 dias: indiciado preso;

2) 90 dias: indiciado solto.

Os prazos podem ser duplicados pelo juiz, mesmo no caso de indiciado preso, conforme o
art. 51 da LD:

Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o


indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados
pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da
autoridade de polícia judiciária.

23. DESTRUIÇÃO DAS DROGAS APREENDIDAS

A existência de uma droga, por si só, coloca em risco a saúde pública. Assim, quanto mais
rapidamente providenciar-se a destruição da droga, melhor.

COM PRISÃO EM FLAGRANTE (ART. 50)

Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará,


imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do
auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24
(vinte e quatro) horas.
§ 3o Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10
(dez) dias, certificará a regularidade formal do laudo de constatação e
determinará a destruição das drogas apreendidas, guardando-se amostra
necessária à realização do laudo definitivo.
§ 4o A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia
competente no prazo de 15 (quinze) dias na presença do Ministério Público e
da autoridade sanitária.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 48

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§ 5o O local será vistoriado antes e depois de efetivada a destruição das
drogas referida no § 3o, sendo lavrado auto circunstanciado pelo delegado de
polícia, certificando-se neste a destruição total delas.

Antes da destruição, é preciso guardar uma quantidade para o exame definitivo, bem como
para eventual contraprova.

O MP irá fiscalizar a destruição da droga, que será feita pelo delegado de polícia.

Por fim, o local de destruição será vistoriado antes e após a destruição (o ideal é filmar e
fotografar).

SEM PRISÃO EM FLAGRANTE (ART. 50-A)

Art. 50-A. A destruição das drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão


em flagrante será feita por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias
contados da data da apreensão, guardando-se amostra necessária à
realização do laudo definitivo.

Quando a droga for apreendida sem prisão em flagrante, deverá ser destruída, por
incineração, em até 30 dias, contados da data da apreensão.

24. PROCEDIMENTOS INVESTIGATÓRIOS ESPECIAIS (ART. 53)

Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes


previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante
autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos
investigatórios:
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída
pelos órgãos especializados pertinentes;
II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores
químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem
no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior
número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo
da ação penal cabível.
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será
concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação
dos agentes do delito ou de colaboradores.

São meios especiais, que dependem de autorização judicial, mas que não excluem os meios
comuns previstos no CPP.

Obs.: a oitiva do MP só será necessária quando o procedimento


investigatório especial for solicitado pela autoridade policial.

AGENTE INFILTRADO (INC. I)

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 49

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Ocorre quando se infiltra um policial na organização criminosa, o qual está autorizado a
praticar fatos típicos, que estarão acobertados pela excludente de ilicitude do estrito cumprimento
do dever legal.

AÇÃO CONTROLADA (INC. II)

É também chamada de flagrante retardado/diferido.

A autoridade policial retarda o momento da prisão, com autorização judicial, a fim de que
sejam obtidas mais provas e a prisão de mais pessoas.

25. INTERROGATÓRIO DO RÉU

A Lei de Drogas, em seu art. 57, determina que o interrogatório do réu é o primeiro ato da
audiência de instrução, vejamos:

Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do


acusado e a inquirição das testemunhas, será dada a palavra,
sucessivamente, ao representante do Ministério Público e ao defensor do
acusado, para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada
um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz.
Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes
se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas
correspondentes se o entender pertinente e relevante.

Contudo, o CPP, desde 2008, passou a prever que o interrogatório do acusado é o último
ato da instrução:

Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo


máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do
ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela
defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem
como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento
de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado

CPP (art. 400) Lei 11.343/2006 (art. 57)

O art. 400 do CP foi alterado pela Lei


11.719/2008 e, atualmente, o interrogatório O art. 57 da Lei de Drogas prevê que, na
deve ser feito depois da inquirição das audiência de instrução e julgamento, o
testemunhas e da realização das demais interrogatório do acusado seja feito antes da
provas. inquirição das testemunhas.

Em suma, o interrogatório passou a ser o último Em suma, o interrogatório é o primeiro ato da


ato da audiência de instrução (segundo a antiga audiência de instrução.
previsão, o interrogatório era o primeiro ato).

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 50

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O que é mais favorável ao réu: ser interrogado antes ou depois da oitiva das testemunhas?
Depois. Isso porque após o acusado ouvir o relato trazido pelas testemunhas, ele poderá decidir a
versão dos fatos que irá apresentar. Se, por exemplo, avaliar que nenhuma testemunha o apontou
como o autor do crime, poderá sustentar a negativa de autoria ou optar pelo direito ao silêncio. Ao
contrário, se entender que as testemunhas foram sólidas em incriminá-lo, terá como opção viável
confessar e obter a atenuação da pena.

Dessa feita, a regra do art. 400 do CPP é mais favorável ao réu do que a previsão do art. 57
da Lei nº 11.343/2006.

Diante dessa constatação, e pelo fato de a Lei 11.719/2008 ser posterior à Lei de Drogas,
surgiu uma corrente na doutrina defendendo que o art. 57 foi derrogado e que, também no
procedimento da Lei 11.343/2006, o interrogatório deveria ser o último ato da audiência de
instrução. Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? SIM.

A exigência de realização do interrogatório ao final da instrução criminal, conforme o art. 400


do CPP, é aplicável:

1) Aos processos penais militares;

2) Aos processos penais eleitorais;

3) A todos os procedimentos penais regidos por legislação especial (Ex.: a própria Lei de
Drogas).

Tal modificação se deu em virtude do HC 127900/AM, julgado pelo STF em 3/3/2016 (Info
816).

Vale ressaltar que antes deste julgamento (HC 127900/AM), o entendimento que prevalecia
era outro. Por conta disso, o STF, por questões de segurança jurídica, afirmou que a tese fixada
(interrogatório como último ato da instrução em todos os procedimentos penais) só se tornou
obrigatória a partir da data de publicação da ata deste julgamento, ou seja, do dia 11/03/2016 em
diante. Os interrogatórios realizados nos processos penais militares, eleitorais e da Lei de Drogas
até o dia 10/03/2016 são válidos mesmo que tenham sido o primeiro ato da instrução.

O STJ acompanhou a posição do STF:

(...) 1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC n. 127.900/AM, deu


nova conformidade à norma contida no art. 400 do CPP (com redação dada
pela Lei n. 11.719/08), à luz do sistema constitucional acusatório e dos
princípios do contraditório e da ampla defesa. O interrogatório passa a ser
sempre último ato da instrução, mesmo nos procedimentos regidos por lei
especial, caindo por terra a solução de antinomias com arrimo no princípio da
especialidade. Ressalvou-se, contudo, a incidência da nova compreensão
aos processos nos quais a instrução não tenha se encerrado até a publicação
da ata daquele julgamento (10.03.2016). In casu, o paciente foi sentenciado
em 3.8.2015, afastando-se, pois, qualquer pretensão anulatória. (...) STJ. 6ª
Turma. HC 403.550/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
15/08/2017 (Info 609).

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 51

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Como o tema foi cobrado em concurso?
(PC/RJ - CESPE - 2022): A audiência de instrução e julgamento será
realizada dentro dos sessenta dias seguintes ao recebimento da denúncia,
salvo se determinada a realização de avaliação para atestar dependência de
drogas, quando a referida audiência se realizará em noventa dias. Errado.

26. APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO DE BENS DO ACUSADO

Segundo Cleber Masson, com o objetivo de assegurar a efetividade dos efeitos (civis) da
condenação criminal e o pagamento das penas pecuniárias e despesas processuais, a Lei de
Drogas, em seu Capítulo IV do Título IV, tratou da apreensão, arrecadação e destinação de bens
do acusado, seguindo a lógica de que o crime não deve compensar porque o Estado vai recuperar
o patrimônio que deita raízes no delito.

Nesse liame, dispõe o art. 60 da LD que:

Art. 60. O juiz, a requerimento do Ministério Público ou do assistente de


acusação, ou mediante representação da autoridade de polícia judiciária,
poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e outras
medidas assecuratórias nos casos em que haja suspeita de que os bens,
direitos ou valores sejam produto do crime ou constituam proveito dos crimes
previstos nesta Lei, procedendo-se na forma dos arts. 125 e seguintes do
Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo
Penal .

Trata-se das medidas assecuratórias relacionadas ao produto (vantagem direta obtida pelo
agente em decorrência da prática do crime) ou proveito (é a vantagem indireta do crime) do delito.

Em linhas gerais, a cautelar de sequestro se volta para os bens imóveis (art. 125 do CPP)
e móveis (art. 132 do CPP) que constituam proveitos do crime (ex.: casas e veículos adquiridos
com o dinheiro do narcotráfico). A medida reclama a suspeita da proveniência ilícita dos bens (art.
60, caput, da LD) e tem por escopo garantir o confisco e a reparação do dano.

Tratando-se, ao contrário, do produto (ex.: dinheiro obtido com a mercancia), do objeto


material (a droga) ou do instrumento do delito (ex.: veículo empregado em prol do narcotráfico), a
medida assecuratória adequada a ser tomada pelo Estado é a busca e apreensão.

O sequestro, que pode ser manejado em qualquer fase da persecução penal (art. 127 do
CPP), destina-se a evitar que o agente dilapide o seu patrimônio e, com isso, frustre o perdimento
e o ressarcimento dos eventuais danos. Trata-se, pois, de diligência com a finalidade de evitar o
enriquecimento ilícito do traficante, bem como evitar a lavagem de dinheiro, possibilitando a
transformação de dinheiro sujo em dinheiro limpo.

De acordo com posicionamento de Masson, o standard necessário para a decretação das


medidas assecuratórias com relação ao sequestro no âmbito da Lei de Drogas é menor que o
exigido pelo CPP para o sequestro. Com efeito, enquanto a Lei de Drogas se contenta apenas com
a suspeita de que os bens, direitos ou valores sejam produto do crime ou constituam proveito dos
delitos previstos na Lei 11.343/2006 (art. 60), o CPP reclama a existência de indícios veementes da
proveniência ilícita dos bens (art. 126) para a efetivação do sequestro.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 52

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Ao contrário do que ocorre com o sequestro, o arresto (de imóveis ou móveis) e a
especialização da hipoteca legal de imóveis (direito real sobre coisa alheia op lege que não
importa em perda da posse, nem da propriedade) são providências acauteladoras incidentes sobre
os bens de origem lícita adquiridos pelo sujeito, sem que haja qualquer liame com o delito, e têm
por fim assegurar a indenização do ofendido pelos danos causados e o pagamento das despesas
judiciais, mediante a indisponibilização de determinado(s) bem.

Entretanto, como o sujeito passivo dos crimes previstos na Lei de Drogas é a coletividade
(crime vago), em regra, faltarão ofendidos – ressalvados os casos envolvendo os delitos inscritos
nos arts. 38 e 39 – legitimados a manejar esses procedimentos na busca por bens do acusado para
a garantia de pleito indenizatório. O Ministério Público, contudo, continua tendo legitimidade para
requerer o arresto e a especialização da hipoteca legal com vistas a garantir o pagamento da pena
pecuniária e das despesas processuais.

Em continuidade, destaca-se a inovação trazida em 2022, ocasião na qual o legislador


buscou oportunizar o direito de manifestação ao acusado acerca da origem lícita do bem, bem como
resguardou o direito do terceiro de boa-fé nos §§ 5º e 6º do art. 60, in verbis:

Art. 60, § 5º Decretadas quaisquer das medidas previstas no caput deste


artigo, o juiz facultará ao acusado que, no prazo de 5 (cinco) dias, apresente
provas, ou requeira a produção delas, acerca da origem lícita do bem ou do
valor objeto da decisão, exceto no caso de veículo apreendido em transporte
de droga ilícita. (Incluído pela Lei nº 14.322, de 2022)
§ 6º Provada a origem lícita do bem ou do valor, o juiz decidirá por sua
liberação, exceto no caso de veículo apreendido em transporte de droga
ilícita, cuja destinação observará o disposto nos arts. 61 e 62 desta Lei,
ressalvado o direito de terceiro de boa-fé. (Incluído pela Lei nº 14.322, de
2022)

Outrossim, a Lei de Drogas disciplinou expressamente acerca da apreensão dos


instrumentos (instrumenta sceleris) e outros objetos utilizados para a prática do crime:

Art. 61. A apreensão de veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer


outros meios de transporte e dos maquinários, utensílios, instrumentos e
objetos de qualquer natureza utilizados para a prática, habitual ou não, dos
crimes definidos nesta Lei será imediatamente comunicada pela autoridade
de polícia judiciária responsável pela investigação ao juízo
competente. (Redação dada pela Lei nº 14.322, de 2022)

Realizada a comunicação prevista no art. 61, o magistrado ordenará às secretarias de


fazenda e aos órgãos de registro e controle que efetuem as averbações necessárias (LD, art. 61, §
12) e, mediante manifestação do Ministério Público e avaliação prévias, poderá submeter os bens
que constituam instrumentos utilizados para a prática do narcotráfico e os que tenham sido
sequestrados, apreendidos ou submetidos a qualquer medida assecuratória, denominada utilização
funcional.

Para Cleber Masson, constatado o interesse público, a coisa pode ser entregue para
custódia e uso (sob responsabilidade) dos órgãos de segurança pública previstos no art. 144 da
Constituição Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo, da Força Nacional de
Segurança Pública e do Instituto Geral de Perícia, com o objetivo de sua conservação e para o

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 53

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desempenho de suas atividades (LD, arts. 61 e 62, caput, c.c. CPP, art. 133-A, caput). Há na
medida, portanto, dupla finalidade.

A decisão que viabiliza a utilização funcional do bem constrito pode ser tomada tão logo
efetivada a comunicação a que se refere o art. 61, não dependendo, pois, de sentença condenatória.
Ao contrário, o ideal é que, quando cabível, seja ela proferida ainda na primeira fase da persecução
penal, de modo a evitar a ação corrosiva do tempo sobre esses objetos e a sanar a incapacidade
prática do Estado de adequadamente administrar os bens que ingressam em sua esfera de
proteção.

27. JURISPRUDÊNCIA EM TESE

A seguir, colaciona-se o compilado das Edições da Jurisprudência em Tese do STJ.

1) É cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/2006, desde que o resultado da incidência


das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei
n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.

2) A inobservância do art. 55 da Lei 11.343/2006, que determina o recebimento da denúncia


após a apresentação da defesa prévia, constitui nulidade relativa quando forem demonstrados os
prejuízos suportados pela defesa.

3) O laudo pericial definitivo atestando a ilicitude da droga afasta eventuais irregularidades


do laudo preliminar realizado na fase de investigação.

4) A falta da assinatura do perito criminal no laudo toxicológico é mera irregularidade que


não tem o condão de anular o referido exame.

5) O princípio da insignificância não se aplica aos delitos do art. 33, caput, e do art. 28 da
Lei de Drogas, pois trata-se de crimes de perigo abstrato ou presumido.

6) A conduta de porte de substância entorpecente para consumo próprio, prevista no art. 28


da Lei 11.343/2006, foi apenas despenalizada pela nova Lei de Drogas, mas não descriminalizada,
não havendo, portanto, abolitio criminis.

7) As contravenções penais, puníveis com pena de prisão simples, não geram reincidência,
mostrando-se, portanto, desproporcional que condenações anteriores pelo delito do art. 28 da Lei
11.343/2006 configurem reincidência, uma vez que não são puníveis com pena privativa de
liberdade.

8) O crime de uso de entorpecente para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei


11.343/2006, é de menor potencial ofensivo, o que determina a competência do Juizado Especial
estadual, já que ele não está previsto em tratado internacional e o art. 70 da Lei n. 11.343/2006 não
o inclui dentre os que devem ser julgados pela justiça federal.

9) A conduta prevista no art. 28 da Lei 11.343/2006 admite tanto a transação penal quanto
a suspensão condicional do processo.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 54

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10) A posse de substância entorpecente para uso próprio configura crime doloso e quando
cometido no interior do estabelecimento prisional constitui falta grave, nos termos do art. 52 da Lei
de Execução Penal - LEP (Lei 7.210/1984).

11) É imprescindível a confecção do laudo toxicológico para comprovar a materialidade da


infração disciplinar e a natureza da substância encontrada com o apenado no interior de
estabelecimento prisional.

12) A comprovação da materialidade do delito de posse de drogas para uso próprio (art. 28
da Lei 11.343/2006) exige a elaboração de laudo de constatação da substância entorpecente que
evidencie a natureza e a quantidade da substância apreendida.

13) O tráfico de drogas é crime de ação múltipla e a prática de um dos verbos contidos no
art. 33, caput, da Lei 11.343/2006 é suficiente para a consumação do delito.

14) O laudo de constatação preliminar de substância entorpecente constitui condição de


procedibilidade para apuração do crime de tráfico de drogas.

15) Para a configuração do delito de tráfico de drogas previsto no caput do art. 33 da Lei
11.343/2006, é desnecessária a aferição do grau de pureza da substância apreendida.

16) Não se reconhece a existência de bis in idem na aplicação da causa de aumento de


pena pela transnacionalidade (art. 40, inciso I, da Lei 11.343/2006), em razão do art. 33, caput, da
Lei 11.343/2006 prever as condutas de "importar" e "exportar", pois trata-se de tipo penal de ação
múltipla, e o simples fato de o agente "trazer consigo" a droga já conduz à configuração da tipicidade
formal do crime de tráfico.

17) O agente que atua diretamente na traficância e que também financia ou custeia a
aquisição de drogas deve responder pelo crime previsto no art. 33, caput, da Lei 11.343/2006 com
a incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 40, VII, da Lei 11.343/2006, afastando-
se, por conseguinte, a conduta autônoma prevista no art. 36 da referida legislação.

18) É possível a aplicação do princípio da consunção entre os crimes previstos no § 1º do


art. 33 e/ou no art. 34 pelo tipificado no caput do art. 33 da Lei 11.343/2006, desde que não
caracterizada a existência de contextos autônomos e coexistentes, aptos a vulnerar o bem jurídico
tutelado de forma distinta.

19) Quando o agente no exercício irregular da medicina prescreve substância caracterizada


como droga, resta configurado, em tese, o delito do art. 282 do Código Penal, em concurso formal
com o art. 33, caput, da Lei 11.343/2006.

20) O § 3º do art. 33 da Lei 11.343/2006 traz tipo específico para aquele que fornece
gratuitamente substância entorpecente a pessoa de seu relacionamento para juntos a consumirem
e, por se tratar de norma penal mais benéfica, deve ser aplicado retroativamente.

21) O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006)
não é crime equiparado a hediondo.

22) A causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas só pode ser
aplicada se todos os requisitos, cumulativamente, estiverem presentes.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 55

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23) É inviável a aplicação da causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do art.
33 da Lei 11.343/2006 quando há condenação simultânea do agente nos crimes de tráfico de drogas
e de associação para o tráfico, por evidenciar a sua dedicação a atividades criminosas ou a sua
participação em organização criminosa.

24) A condição de "mula" do tráfico, por si só, não afasta a possibilidade de aplicação da
minorante do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006, uma vez que a figura de transportador da droga
não induz, automaticamente, à conclusão de que o agente integre, de forma estável e permanente,
organização criminosa.

25) Configura constrangimento ilegal o afastamento do tráfico privilegiado e da redução da


fração de diminuição de pena por presunção de que o agente se dedica a atividades criminosas,
derivada unicamente da análise da natureza ou da quantidade de drogas apreendidas.

26) Para a caracterização do crime de associação para o tráfico de drogas (art. 35 da Lei
11.343/2006) é imprescindível o dolo de se associar com estabilidade e permanência.

27) Para a configuração do crime de associação para o tráfico de drogas, previsto no art. 35
da Lei 11.343/2006, é irrelevante apreensão de drogas na posse direta do agente.

28) O crime de associação para o tráfico de entorpecentes (art. 35 da Lei 11. 343/2006) não
figura no rol taxativo de crimes hediondos ou de delitos a eles equiparados.

29) Em se tratando de condenado pelo delito previsto no art. 14 da Lei 6.368/1976, deve-se
observar as reprimendas mínima e máxima estabelecidas pelo art. 8º da Lei 8.072/1990 (3 a 6 anos
de reclusão), por ser norma penal mais benéfica ao réu, impondo-se, inclusive, se for o caso, a
exclusão da pena de multa.

30) O crime de financiar ou custear o tráfico ilícito de drogas (art. 36 da Lei 11.343/2006) é
delito autônomo aplicável ao agente que não tem participação direta na execução do tráfico,
limitando-se a fornecer os recursos necessários para subsidiar as infrações a que se referem os art.
33, caput e § 1º, e art. 34 da Lei de Drogas.

31) O crime de colaboração com o tráfico, art. 37 da Lei n. 11.343/2006, é um tipo penal
subsidiário em relação aos delitos dos arts. 33 e 35 da referida lei e tem como destinatário o agente
que colabora como informante, de forma esporádica, eventual, sem vínculo efetivo, para o êxito da
atividade de grupo, de associação ou de organização criminosa destinados à prática de qualquer
dos delitos previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 da Lei de Drogas.

32) A Lei 11.343/2006 manteve as condutas descritas no art. 12, § 2º, inciso III, da Lei
6.368/1976, razão pela qual não há que se falar em abolitio criminis.

33) A Lei 11.343/2006 aboliu a majorante da associação eventual para o tráfico prevista no
art. 18, III, primeira parte, da Lei 6.368/1976.

34) A incidência da majorante da segunda parte do inciso III do art. 18 da Lei 6. 368/1976 –
"visar [o crime] a menores de 21 (vinte e um) anos" – segue contemplada no art. 40, inciso VI, da
nova Lei de Drogas – "sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente" – não restando
configurada a abolitio criminis.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 56

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35) O art. 40 da Lei 11.343/2006 conferiu tratamento mais favorável às causas especiais de
aumento de pena, devendo ser aplicado retroativamente aos delitos cometidos sob a égide da Lei
6.368/1976.

36) Não acarreta bis in idem a incidência simultânea das majorantes previstas no art. 40 da
Lei 11.343/2006 aos crimes de tráfico de drogas e de associação para fins de tráfico, porquanto são
delitos autônomos, cujas penas devem ser calculadas e fixadas separadamente.

37) Para a incidência das majorantes previstas no art. 40, I e V, da Lei 11. 343/2006, é
desnecessária a efetiva transposição de fronteiras, sendo suficiente, respectivamente, a prova de
destinação internacional das drogas ou a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico
interestadual.

38) É cabível a aplicação cumulativa das causas de aumento relativas à transnacionalidade


e à interestadualidade do delito, previstas nos incisos I e V do art. 40 da Lei de Drogas, quando
evidenciado que a droga proveniente do exterior se destina a mais de um estado da Federação,
sendo o intuito dos agentes distribuir o entorpecente estrangeiro por mais de uma localidade do
país.

39) O rol previsto no inciso III do art. 40 da Lei de Drogas não deve ser encarado como
taxativo, pois o objetivo da referida lei é proteger espaços que promovam a aglomeração de
pessoas, circunstância que facilita a ação criminosa.

40) A causa de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei de Drogas possui
natureza objetiva e se aplica em função do lugar do cometimento do delito, sendo despicienda a
comprovação efetiva do tráfico nos locais e nas imediações mencionados no inciso ou que o crime
visava a atingir seus frequentadores.

41) A incidência da majorante prevista no art. 40, inciso III, da Lei 11.343/2006 deve ser
excepcionalmente afastada na hipótese de não existir nenhuma indicação de que houve o
aproveitamento da aglomeração de pessoas ou a exposição dos frequentadores do local para a
disseminação de drogas, verificando-se, caso a caso, as condições de dia, local e horário da prática
do delito.

42) Para a caracterização da causa de aumento de pena do art. 40, III, da Lei 11. 343/2006,
é necessária a efetiva oferta ou a comercialização da droga no interior de veículo público, não
bastando, para a sua incidência, o fato de o agente ter se utilizado dele como meio de locomoção
e de transporte da substância ilícita.

43) A aplicação das majorantes previstas no art. 40 da Lei de Drogas exige motivação
concreta, quando estabelecida acima da fração mínima, não sendo suficiente a mera indicação do
número de causas de aumento.

44) Para fins de fixação da pena, não há necessidade de se aferir o grau de pureza da
substância apreendida uma vez que o art. 42 da Lei de Drogas estabelece como critérios "a natureza
e a quantidade da substância".

45) É possível a valoração da quantidade e natureza da droga apreendida, tanto para a


fixação da pena-base quanto para a modulação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da
Lei 11.343/2006, neste último caso ainda que sejam os únicos elementos aferidos, desde que não
tenham sidos considerados na primeira fase do cálculo da pena.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 57

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46) A utilização concomitante da quantidade de droga apreendida para elevar a pena-base
e para afastar a incidência da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas, por demonstrar
que o acusado se dedica a atividades criminosas ou integra organização criminosa, não configura
bis in idem, tratando-se de hipótese diversa da Repercussão Geral - TEMA 712/STF.

47) Reconhecida a inconstitucionalidade da vedação prevista na parte final do § 4º do art.


33 da Lei de Drogas, inexiste óbice à substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de
direitos aos condenados pelo crime de tráfico de drogas, desde que preenchidos os requisitos do
art. 44 do Código Penal.

48) A utilização da reincidência como agravante genérica é circunstância que afasta a causa
especial de diminuição da pena do crime de tráfico, e não caracteriza bis in idem.

49) Reconhecida a inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/1990, é possível a


fixação de regime prisional diferente do fechado para o início do cumprimento de pena imposta ao
condenado por tráfico de drogas, devendo o magistrado observar as regras previstas no Código
Penal para a fixação do regime prisional.

50) O juiz pode fixar regime inicial mais gravoso do que aquele relacionado unicamente com
o quantum da pena ao considerar a natureza ou a quantidade da droga.

51) Configura ofensa ao princípio da proteção integral a aplicação de medida de


semiliberdade ao adolescente pela prática de ato infracional análogo ao crime previsto no art. 28 da
Lei 11.343/2006.

52) O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz obrigatoriamente à
imposição de medida socioeducativa de internação do adolescente.

53) A despeito de não ser considerado hediondo, o crime de associação para o tráfico, no
que se refere à concessão do livramento condicional, deve, em razão do princípio da especialidade,
observar a regra estabelecida pelo art. 44, parágrafo único, da Lei 11.343/2006: cumprimento de
2/3 (dois terços) da pena e vedação do benefício ao reincidente específico.

54) É possível a concessão de liberdade provisória nos crimes de tráfico ilícito de


entorpecentes.

55) É vedada a concessão de indulto aos condenados por crime hediondo ou por crime a
ele equiparado, entre os quais se insere o delito de tráfico previsto no art. 33, caput e § 1º da Lei
11.343/2006, afastando-se a referida vedação na hipótese de aplicação da causa de diminuição
prevista no art. 33, § 4º, da mesma Lei, uma vez que a figura do tráfico privilegiado é desprovida de
natureza hedionda.

56) A expropriação de bens em favor da União, decorrente da prática de crime de tráfico


ilícito de entorpecentes, constitui efeito automático da sentença penal condenatória.

57) Não viola o princípio da dignidade da pessoa humana a revista íntima realizada conforme
as normas administrativas que disciplinam a atividade fiscalizatória, quando houver fundada
suspeita de que o visitante esteja transportando drogas ou outros itens proibidos para o interior do
estabelecimento prisional.

Como o tema foi cobrado em concurso?

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 58

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(MPE/SP - Promotor de Justiça - MPE-SP - 2022): A utilização da
reincidência como agravante genérica e como circunstância que afasta a
causa especial de diminuição da pena do crime de tráfico não caracteriza bis
in idem. Correto.

(MPE/-SE - CESPE - 2022): Indivíduo primário, mas comprovadamente


envolvido com atividade criminosa, foi preso e condenado pela prática de
tráfico de drogas, tendo o juiz decidido por uma pena de sete anos. Nesse
caso, pode o juiz fixar o regime inicial de cumprimento de pena, com
fundamento na natureza ou na quantidade da droga. Correto.

(PC/PR - NC-UFPR - 2021): A comprovação da materialidade do delito de


posse de drogas para uso próprio não depende da elaboração de laudo de
constatação da substância entorpecente que evidencie a natureza e a
quantidade da substância apreendida. Errado.

CS – LEI DE DROGAS 2023.1 59

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