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Lei 11.343/2006
Lei de Drogas
Edição 2023.1
Revisada
Atualizada
Ampliada
Olá!
O Caderno Legislação Penal Especial possui como base as aulas dos professores Renato
Brasileiro, Cleber Masson e Vinícius Marçal, complementadas com as aulas do Professor Fábio
Roque (CERS).
Três livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2018, b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2020, ambos da Editora
Juspodivm e c) Lei de Drogas - Aspectos Penais e Processuais (Cleber Masson e Vinícius Marçal,
ano 2021, da Editora Gen.
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante! As bancas costumam repetir certos temas.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Lei 11.343/2006, também denominada de Lei de Drogas (LD), trata de forma integral
(material e processual) toda a sistemática penal envolvendo drogas. Além disso, revogou
expressamente as Leis 6.368/76 e 10.409/2002:
Destaca-se que, anteriormente, a Lei 6.368/76 regulava a sistemática das drogas, sendo
editada em 2002 a Lei 10.409/2002, a qual teve sua parte material (crimes e penas) integralmente
vetada pelo Presidente da República, prevalecendo apenas sua parte processual. Assim, havia, até
a edição da Lei 11.343/2006, duas leis que tratavam sobre o tema, uma dispondo sobre o direito
material penal e a outra contendo a parte procedimental.
A nova Lei de Drogas criou o SISNAD - Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas:
Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas
- Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e
reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas
para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e
define crimes.
2. OBJETIVIDADE JURÍDICA
A Lei 11.343/2006, por sua vez, visa tutelar a saúde pública. Ressalta-se, assim, que na
parte penal a referida lei não se preocupa com a saúde individual (de cada usuário), mas sim com
a saúde de toda a coletividade, pois enquanto há a circulação de drogas, “toda a sociedade corre
perigo”.
3. OBJETO MATERIAL
Por objeto material entende-se a coisa ou pessoa sobre a qual recai a conduta criminosa do
agente.
A droga é o objeto material da Lei 11.343/2006 e sua definição está prevista no art. 1º,
parágrafo único da referida lei, in verbis:
Art. 1º, Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as
substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim
especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente
pelo Poder Executivo da União.
Percebe-se, assim, que para determinada substância ser considerada uma droga é
necessário que:
Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1o desta Lei, até que
seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-
se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob
controle especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998.
A prova da materialidade, constatação do princípio ativo, será feita por meio de um exame
químico-toxicológico (perícia).
4. SUJEITO ATIVO
Em regra, os crimes previstos na Lei de Drogas são crimes comuns ou gerais, isto é, são
crimes que podem ser cometidos por qualquer pessoa, não se exigindo situação especial.
Há, contudo, uma exceção prevista no art. 38 da LD, eis que as condutas de prescrever
(médico ou dentista) ou ministrar (farmacêutico ou profissional de enfermagem) drogas,
culposamente, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, exigem qualidade especial, tratando-se de
crime próprio ou especial.
5. SUJEITO PASSIVO
Como o bem jurídico protegido pela Lei de Drogas é a coletividade, o sujeito passivo de tais
crimes será a coletividade, por isso são classificados como crimes vagos.
Frisa-se que o crime vago possui como sujeito passivo um ente destituído de personalidade
jurídica (crimes de trânsito, crimes contra a família, crimes da Lei de Drogas).
6. ELEMENTO SUBJETIVO
Os crimes da Lei 11.343/2006 são DOLOSOS, salvo o crime previsto no art. 38.
Por sua vez, no crime de perigo abstrato, também chamado de crime de perigo presumido,
a prática da conduta descrita em lei acarreta a presunção absoluta do perigo ao bem jurídico, não
se exigindo prova concreta.
Cita-se, como exemplo, o caso do traficante de drogas, que não se exige prova de que a
coletividade, efetivamente, estava em perigo com a sua conduta.
8. AÇÃO PENAL
9. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Contudo, em relação ao art. 28 da Lei (consumo próprio), o STF (Info 655) já admitiu a
aplicação de tal princípio, com base nos seguintes argumentos1:
b) Deste modo, o Direito Penal não deve se ocupar de condutas que produzam resultados
cujo desvalor – por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes – não
representam, por isso mesmo, expressivo prejuízo, seja ao titular do bem jurídico
tutelado, seja à integridade da própria ordem social.
1 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Porte de droga para consumo pessoal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/68b1fbe7f16e4ae3024973f12f3cb313>. Acesso em: 29/11/2022.
Entretanto, vale registrar que o caso foi empatado com 2 votos favoráveis dos Ministros
Gilmar Mendes e Edson Fachin e com 2 votos contrários dos Ministros Ricardo Lewandowski e
Nunes Marques, bem como que o tema aguarda posicionamento do STF (Tema 506).
PREVISÃO LEGAL
O porte e cultivo para consumo pessoal é delito previsto no art. 28 da Lei de Drogas, com a
seguinte redação legal:
É consenso que o problema do usuário de drogas não é de justiça penal, mas sim um
problema de saúde pública que necessita de políticas públicas.
A atual Lei de Drogas abrandou muito a situação do usuário (na antiga lei tal delito era punido
com pena de detenção de até um ano), prevendo penas de advertência, prestação de serviço à
comunidade e medidas socioeducativas, acabando com a pena privativa de liberdade. Portanto,
não caberá prisão provisória (preventiva e temporária) e nem prisão definitiva.
O tipo penal do art. 28 faz referência ao porte e à posse para consumo pessoal,
diferentemente da legislação antiga, que se falava em uso próprio.
Idealizado por Claus Roxin, o princípio da alteridade defende que não há crime na conduta
que prejudica somente quem a praticou. O crime, portanto, deve ultrapassar a esfera pessoal do
agente, causando danos ou perigo a terceiros.
Os crimes da Lei de Drogas são crimes contra saúde pública, não havendo preocupação
com a saúde do usuário. Justamente por isso que não há no art. 28 a expressão “uso” e,
consequentemente, não há crime no uso pretérito da droga.
NATUREZA JURÍDICA
Quando a Lei de Drogas entrou em vigor (2006), o saudoso Luiz Flávio Gomes afirmou que
o art. 28 não era crime e nem contravenção penal, com base no art. 1º da Lei de Introdução ao CP,
considerando que o gênero “infração penal” subdivide-se em 2 espécies:
1) Crime: espécie de infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção,
isolada ou cumulativamente com a pena de multa;
2) Contravenção penal: espécie de infração penal a que a lei comina prisão simples ou
multa, de forma isolada ou cumulativa.
Como não há nenhuma dessas penas cominadas ao art. 28, para Luiz Flávio Gomes o
referido tipo penal não seria crime e muito menos contravenção, mas sim uma infração penal sui
generis. Contudo, há uma crítica: não basta afirmar que não se trata de crime e nem de
contravenção penal, precisa definir o que é, não simplesmente dizer que é algo sui generis.
Assim, de acordo com o decidido pelo STF no RE 430.105, trata-se de CRIME, eis que:
e) A LICP pode ser modificada por outra lei ordinária, como aconteceu com a Lei de Drogas.
Ou seja, o art. 1º da LICP traz um conceito legal de crime, de natureza genérica, aplicado
aos crimes em geral, ao passo que o art. 28 da Lei de Drogas também traz um conceito
de crime, mas de forma restrita, pois aplicado apenas à Lei de Drogas;
A figura equiparada solucionou um problema que existia com a legislação anterior. Sempre
que era caso de cultivo para consumo pessoal, o fato era considerado atípico ou, dependendo do
juiz, enquadrado como tráfico de drogas, não havia coerência.
Obs.: não confunda o § 1º do art. 28 com o art. 33, § 1º, II que trata de
figura equiparada ao tráfico, cuja finalidade do agente é entregar
matéria prima, para preparação de drogas, a terceiros.
Havendo dúvida entre tráfico e porte de drogas para consumo pessoal, o juiz deve condenar
pelo crime menos grave (in dubio pro reo).
De acordo com o STJ (AgRg no AREsp 1740201/AM), não é apenas a quantidade de drogas
que constitui fator determinante para a conclusão de que a substância se destinava a consumo
pessoal, mas também o local e as condições em que se desenvolveu a ação, as circunstâncias
sociais e pessoais, bem como a conduta e os antecedentes do agente.
PENAS
Nos termos do art. 28, § 3º, a prestação de serviços à comunidade e a medida educativa
terão prazo máximo de 5 meses. Caso o réu seja reincidente específico, o prazo máximo passa a
ser de 10 meses, de acordo com o § 4º do referido artigo:
Art. 28, § 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão
aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.
§ 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput
deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.
Além disso, as penas poderão ser aplicadas de forma isolada ou de forma cumulativa, sendo
possível sua substituição, ouvido o MP e a defesa, a qualquer tempo (art. 27). Assim, por exemplo,
o juiz poderá aplicar a pena de advertência e a de prestação de serviço à comunidade
cumulativamente, bem como substituí-las, a qualquer tempo, pela pena de medida educativa, após
ouvir o MP e a defesa.
Importante salientar, ainda, que caso o condenado não cumpra as penas impostas, o agente
não poderá ser conduzido à prisão. O juiz deverá utilizar o § 6º do art. 28 da Lei de Drogas que
prevê a admoestação verbal e, após, multa.
Em relação à multa, destaca-se que irá para o Fundo Nacional Antidrogas (art. 29) e que
será fixada em 2 fases, quais sejam:
1) 1ª fase: o juiz irá calcular quantidade de dias-multa (entre 40 e 100). Aqui, leva-se em
conta a reprovabilidade da conduta;
2) 2ª fase: o juiz irá fixar o valor de cada dia-multa (entre 1/30 até 3x o valor do salário-
mínimo). Aqui, considera-se a capacidade econômica do agente.
Salienta-se que a condenação anterior pelo crime do art. 28 da Lei de Drogas, conforme
entendimento do STJ, não enseja reincidência.
Art. 63. Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois
de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha
condenado por crime anterior. (veja que o agente tem que ter sido condenado
por crime anterior)
3) A contravenção é punida com prisão simples e/ou multa (art. 5º, do DL 3688/41).
5) Desse modo, comparando a pena das contravenções penais com a do crime do art. 28
da LD, chega-se à conclusão de que as penas previstas para as contravenções são mais
gravosas (mais duras) do que as sanções cominadas para o art. 28 da LD.
Evidencia-se, por fim, que a 2ª Turma do STF comungou do mesmo entendimento e decidiu
que:
PRESCRIÇÃO
A prescrição é fixa e não poderá ser calculada com base na quantidade da pena imposta.
Por isso, o art. 30 fixou o prazo de 2 anos, tanto para a pretensão punitiva quanto para a pretensão
executória, aplicando-se o art. 107 do CP para os casos de interrupção do prazo.
2 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A condenação pelo art 28 da Lei 11.343/2006(porte de droga para uso próprio) não configura
reincidência. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4d215ab7508a3e089af43fb605dd27d1>. Acesso em: 29/11/2022.
RITO PROCESSUAL
Para encerrar a análise do art. 28 da Lei de Drogas, é importante observar o rito processual
do referido delito. Por se tratar de uma infração de menor potencial ofensivo, seguirá o rito da Lei
9.099/95.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Os crimes previstos na Lei de Drogas não possuem um nome específico, não há uma
“rubrica marginal” como ocorre no CP, por exemplo, que chama o art. 121 de homicídio, o art. 155
de furto, o art. 157 de roubo. Aqui, o nome dos crimes é dado pela doutrina e pela jurisprudência.
O caput do art. 33 contém 18 núcleos. É chamado de tipo misto alternativo, de crime de ação
múltipla ou crime de conteúdo variável. Assim, mesmo que o agente pratique 2 ou mais condutas
contra o mesmo objeto material (mesma droga) irá responder por um único crime.
Contudo, se as drogas forem diversas haverá concurso de crime. Ex.: o agente importou
cocaína, guardou maconha, vendeu LSD.
SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime comum ou geral, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa. Não se
exige qualidade especial do agente.
ELEMENTO NORMATIVO
Assim, é perfeitamente possível o comércio lícito de drogas, desde que haja autorização
legal.
FLAGRANTE PREPARADO
Para saber se o flagrante preparado é válido ou não, importante conhecer a Súmula 145 do
STF, vejamos:
A súmula trata do crime de ensaio ou experiência ou delito putativo por obra do agente
provocador. Segundo Nelson Hungria, neste caso, o traficante será um “protagonista inconsciente
de uma comédia criminosa“.
Para determinar se há ou não crime, importante separar as condutas, com base nos
seguintes critérios:
DOSIMETRIA DA PENA
Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre
o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da
substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente.
Para fixar a pena de multa, após observar o art. 42 da Lei Drogas, o juiz irá fixar os dias-
multas (500 até 1500). Posteriormente, irá calcular o valor de cada dia-multa, o qual não poderá ser
menor do que 1/30 avos do salário-mínimo e nem ultrapassar o valor de 5 vezes o salário-mínimo.
Caso o valor da multa seja insuficiente, o juiz poderá aumentar em até 10x o seu valor.
Diante disso, o Senado Federal, em 2012, editou a Resolução nº 5, a fim de que a decisão
do STF fosse retirada a expressão, admitindo-se a substituição da pena privativa de liberdade por
penas restritivas de direitos.
1) Para que um crime seja considerado hediondo ou equiparado, é indispensável que a lei
assim o preveja. Ao se analisar a Lei 11.343/2006, percebe-se que apenas as
modalidades de tráfico de entorpecentes definidas no art. 33, caput e § 1º são
equiparadas a crimes hediondos.
2) O art. 33, § 4º não foi incluído pelo legislador como sendo equiparado a hediondo. O
legislador entendeu que deveria conferir ao tráfico privilegiado um tratamento distinto
das demais modalidades de tráfico previstas no art. 33, caput e § 1º.
3) A redação dada ao art. 33, § 4º demonstra que existe um menor juízo de reprovação
nesta conduta e, em consequência, de punição dessas pessoas. Não se pode, portanto,
afirmar que este crime tem natureza hedionda.
3 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Tráfico privilegiado não é hediondo (cancelamento da Súmula 512-STJ). Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/aee1bc7fa5da061b752d0efddbd16495>.
Acesso em: 29/11/2022.
Em virtude da decisão do Plenário do STF, o STJ cancelou a Súmula 512, a qual afirmava
que a aplicação da causa de diminuição de pena do § 4º do art. 33 não afastava a hediondez do
crime.
São requisitos cumulativos. Logo, caso o agente não preencha algum não poderá ser
beneficiado, conforme determinou o STJ:
Destaca-se, ainda, que não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico
privilegiado, prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu
responder a inquéritos policiais ou processos criminais em andamento, mesmo que estejam em
fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da presunção de não culpabilidade).
Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006 (Lei de Drogas) com base em condenações não alcançadas pela
preclusão maior (coisa julgada). STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1936058/SP,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/09/2021.
Caso adaptado: o agente foi preso em flagrante delito e com ele foram
encontrados, além de entorpecentes, balança de precisão, colher, peneira,
todos com resquícios de cocaína e 66 frasconetes. O juiz condenou o réu e
negou o benefício do art. 33, § 4º sob o argumento de que havia a apreensão
desses petrechos, utilizados comumente para o tráfico de drogas, indicam
que o réu se dedicava às atividades criminosas. Assim, não preencheu um
dos requisitos para a obtenção do benefício. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC
773113-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2022
(Info 752).4
Indaga-se: a atividade criminosa deve ser exercida com exclusividade para invalidar o
benefício?
4 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A apreensão de petrechos para a traficância, a depender das circunstâncias do caso concreto,
pode afastar a causa de diminuição de pena do tráfico privilegiado (art. 33, § 4º, da LD). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8d12cf40aa0cf92405843c12a2d57f03>. Acesso em: 29/11/2022.
5 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O fato de o réu ter ocupação lícita não significa que terá direito, necessariamente, à minorante
do § 4º do art. 33 da LD. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/83e8ef518174e1eb6be4a0778d050c9d>. Acesso em: 24/11/2022.
Em relação às mulas, até pouco tempo, entendia-se que havia dedicação à atividade
criminosa e que integrava organização criminosa. Portanto, o benefício não seria aplicado.
Conforme bem descreveu Márcio Cavalcante7, o STJ entende que a existência de ato(s)
infracional(is) pode ser sopesada para fins de comprovar a dedicação do réu a atividades criminosas
e, por conseguinte, de impedir a incidência da causa especial de diminuição de pena prevista no §
4º do art. 33 da Lei de Drogas.
6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível aplicar o § 4º do art. 33 da lei de drogas às “mulas”. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a7971abb4134fc0cfcec7d589e1ebcf6>. Acesso em:
24/11/2022.
7 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O histórico infracional é suficiente para afastar a causa de diminuição prevista no art 33 § 4º, da
Lei 11.343/2006?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ec79d4bed810ed64267d169b0d37373e>. Acesso em: 29/11/2022.
Quando esse indivíduo completa 18 anos de idade – e, portanto, torna-se imputável – essa
mesma conduta deixa de ser considerada ato infracional e passa a ser, em seu sentido técnico-
jurídico, classificada como crime. No entanto, do ponto de vista da essência do fato, não há distinção
entre ambos, porque o fato, objetivamente analisado, é o mesmo.
Diante de tais considerações, não se vê óbice a que a existência de atos infracionais possa,
com base nas peculiaridades do caso concreto, ser considerada elemento apto a evidenciar a
dedicação do acusado a atividades criminosas, até porque esses atos não serão sopesados para
um agravamento da pena do réu, mas para lhe negar a possibilidade de ser beneficiado com uma
redução em sua reprimenda.
Se a natureza do instituto em análise é justamente tratar com menor rigor o indivíduo que se
envolve circunstancialmente com o tráfico de drogas – e que, destarte, não possui maior
envolvimento com o narcotráfico ou habitualidade na prática delitiva – não parece razoável punir
um jovem de 18 ou 19 anos de idade, sem nenhum passado criminógeno e sem nenhum registro
contra si, da mesma forma e com igual intensidade daquele indivíduo que, quando adolescente,
cometeu reiteradas vezes atos infracionais graves ou atos infracionais equivalentes a tráfico de
drogas. Se assim fosse feito, estaria havendo uma afronta ao princípio da individualização da pena
e do próprio princípio da igualdade.
Em outros termos, embora seja evidente que não seja possível considerar atos infracionais
como antecedentes penais e muito menos como reincidência, não se vê razões para desconsiderar
todo o passado de atuação de um adolescente contrário ao Direito para concluir pela sua dedicação
a atividades delituosas. Não há impedimento, portanto, a que se considere fatos da vida real para
esse fim.
Vale ressaltar que não é todo e qualquer ato infracional praticado pelo acusado quando ainda
adolescente que poderá, automaticamente, gerar a negativa de incidência do redutor previsto no
art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, até porque justiça penal não se faz por atacado e sim
artesanalmente, examinando-se atentamente cada caso para dele extraírem-se todas as suas
2) Se o ato infracional está documentado nos autos, de sorte a não pairar dúvidas sobre o
reconhecimento judicial de sua ocorrência;
3) A distância temporal entre o ato infracional e o crime que deu origem ao processo no
qual se está a decidir sobre a possibilidade de incidência ou não do redutor, ou seja, se
o ato infracional não está muito distante no tempo.
FIGURAS EQUIPARADAS
11.7.1. Inciso I
Aqui, o objeto material não é a droga, não se exige que contenha o princípio ativo, mas que
seja a matéria-prima, insumo ou o produto químico. Basta que seja idôneo à produção da droga, a
exemplo da posse de acetona que é utilizada como matéria-prima para a produção de cocaína.
Nesse liame, questiona-se: a semente de maconha poderia ser considerada como “matéria-
prima” ou “insumo” destinado à preparação de drogas? Também não.
Isso ocorre porque ela não é um “ingrediente” para a confecção de drogas. Não se faz droga
misturando a semente de maconha com qualquer coisa. Dito de outro modo: não se prepara droga
com semente de maconha. Isso porque a semente de maconha não tem substância psicoativa (ela
não tem nada em sua composição que atue no sistema nervoso central gerando euforia, mudança
de humor, prazer etc.), conforme já explicou o Ministro Gilmar Mendes:
Desse modo, a semente da cannabis sativa não é, em si, droga (não está listada na Portaria)
e também não pode ser considerada matéria-prima ou insumo destinado à preparação de droga
ilícita.
As turmas do STJ divergiam sobre o tema, mas o tema lá também se encontra atualmente
pacificado:
Novamente, o objeto material é uma matéria-prima, no caso a planta que irá ser utilizada na
produção da droga. Não é necessário que a planta origine diretamente a droga.
Ressalta-se que só estará configurado o crime quando presente o elemento normativo “sem
autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar”. Aplica-se, aqui, o art. 2º
da Lei 11.343/2006, in verbis:
A Lei prevê, ainda, que a União poderá autorizar o plantio de tais vegetais, desde que sejam
para fins medicinais ou científicos, fixando o prazo e o local em que serão plantadas, com a referida
fiscalização.
Nesse mesmo sentido, importante trazer à tona discussão que ainda não possui
entendimento uníssono na jurisprudência: é possível que o Poder Judiciário conceda
autorização para que a pessoa faça cultivo de maconha com objetivos medicinais?
Em continuidade, destaca-se o art. 243 da CF, pertinente ao tema, segundo o qual será
possível expropriar (natureza de confisco, não havendo indenização) as propriedades rurais e
Por sua vez, o art. 32 da Lei 11.343/2006 prevê a destruição imediata da plantação,
conforme abaixo exposto:
8 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Possibilidade de o proprietário afastar a sanção do art. 243 da CF/88 se provar que não teve
culpa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a75a52f7209c01df2598a77ebc4de539>. Acesso em: 29/11/2022.
11.7.4. Inciso IV
Trata-se de novidade introduzida pelo Pacote Anticrime que visou legalizar a situação de
flagrante preparado em relação às condutas criminais preexistentes.
É delito previsto no § 2º do art. 33 da LD, cuja pena será de detenção, de 1 a 3 anos, e multa
de 100 a 300 dias.
O induzimento (faz surgir a ideia), a instigação (reforça a ideia que já existe) e o auxílio
(participação material) devem ser dirigidos a pessoas determinadas.
A consumação exige o efetivo uso da droga, não basta só induzir, instigar ou auxiliar sem
que a pessoa efetivamente faça uso.
É crime previsto no § 3º do art. 33, da Lei 11.343/2006, conforme redação legal abaixo:
Na antiga lei, como não havia previsão legal, a conduta descrita no § 3º era considerada
tráfico de drogas (majoritário) e, ainda, fato atípico (minoritária).
2) Oferta gratuita;
4) A droga deve ser destinada ao consumo conjunto (tanto de quem oferece quanto de
quem recebe).
Busca incriminar condutas não abrangidas pelo caput do art. 33, as quais são ligadas à
produção de drogas.
OBJETO MATERIAL
Para que se configure a lesão ao bem jurídico tutelado pelo art. 34 da Lei nº
11.343/2006, a ação de possuir maquinário e/ou objetos deve ter o especial
fim de fabricar, preparar, produzir ou transformar drogas, visando ao tráfico.
Assim, ainda que o crime previsto no art. 34 da Lei nº 11.343/2006 possa
subsistir de forma autônoma, não é possível que o agente responda pela
prática do referido delito quando a posse dos instrumentos se configura como
ato preparatório destinado ao consumo pessoal de entorpecente. As
condutas previstas no art. 28 da Lei de Drogas recebem tratamento legislativo
mais brando, razão pela qual não há respaldo legal para punir com maior rigor
O agente responderá pelo art. 34 da LD quando não houver nenhuma droga no local, mas
sim apenas o maquinário. Havendo os objetos de produção da droga e a droga, o agente responderá
apenas pelo art. 33, caput, da LD, absorvendo o 34.
Carlos foi preso, em sua residência, com certa quantidade de cocaína destinada à venda.
Além da droga, o agente mantinha, no mesmo local, uma balança de precisão e um alicate de unha
utilizados na preparação das “trouxinhas” de cocaína. O Ministério Público desejava a condenação
do réu pelos delitos do art. 33 e 34 da Lei 11.343/2006, em concurso.
O STJ, no REsp 1.196.334-PR (5ª Turma), contudo, decidiu que o acusado deveria
responder apenas pelo crime de tráfico de drogas (art. 33), ficando o delito do art. 34 absorvido. O
Min. Marco Aurélio Bellize assentou que “a prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei de
Drogas absorve o delito capitulado no art. 34 da mesma lei, desde que não fique caracterizada a
existência de contextos autônomos e coexistentes aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma
distinta.”
Relevante, assim, analisar se os objetos apreendidos são aptos a vulnerar o tipo penal em
tela. Na situação em análise, o STJ entendeu que, além de a conduta não se mostrar autônoma, a
posse de uma balança de precisão e de um alicate de unha não poderia ser considerada como
9 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Tráfico de maquinário (art. 34). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c559da2ba967eb820766939a658022c8>. Acesso em: 29/11/2022.
Para melhor compreensão do julgado acima, tem-se o seguinte caso: Pablo foi preso, em
sua residência, com certa quantidade de cocaína destinada à venda. Além da droga, o agente
mantinha, no mesmo local e em grande escala, objetos, maquinário e utensílios que constituíam um
verdadeiro “laboratório” utilizado para a produção, preparo, fabricação e transformação de drogas
ilícitas em grandes quantidades.
Dessa forma, a depender do contexto em que os crimes foram praticados, será possível o
reconhecimento da absorção do delito previsto no art. 34 pelo crime previsto no art. 33. Contudo,
para tanto, é necessário que não fique caracterizada a existência de contextos autônomos e
coexistentes aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma distinta. Levando-se em
consideração que o crime do art. 34 visa coibir a produção de drogas, enquanto o art. 33 tem por
objetivo evitar a sua disseminação, deve-se analisar, para fins de incidência ou não do princípio da
consunção, a real lesividade dos objetos tidos como instrumentos destinados à fabricação,
preparação, produção ou transformação de drogas.
Relevante aferir, portanto, se os objetos apreendidos são aptos a vulnerar o tipo penal em
tela quanto à coibição da própria produção de drogas. Logo, se os maquinários e utensílios
apreendidos não forem suficientes para a produção ou transformação da droga, será possível a
absorção do crime do art. 34 pelo do art. 33, haja vista ser aquele apenas meio para a realização
do tráfico de drogas (como a posse de uma balança e de um alicate – objetos que, por si sós, são
insuficientes para o fabrico ou transformação de entorpecentes, constituindo apenas um meio para
a realização do delito do art. 33).
O art. 35 da Lei de Drogas dispõe sobre o crime de associação para o tráfico, salientando
que a leitura de sua parte final confirma que apenas os arts. 33, caput e seu 1º e o art. 34 da LD
são crimes de tráfico:
INADMISSIBILIDADE DE TENTATIVA
Este crime não admite tentativa, eis que se trata de um crime obstáculo, ou seja, é um crime
que o legislador utiliza um ato preparatório de outro crime e o tipifica de forma autônoma. Cria-se
um tipo penal preventivo, antecipando-se a tutela penal.
Segundo Masson, o art. 35 é falho ao dispensar a reiteração, uma vez que toda a associação
reclama, como o próprio nome diz, um ânimo de permanência. Não existe eventualidade na
associação, a reiteração é um requisito. Quando não está presente, é caso de concurso de pessoas.
Segundo o STJ e o STF, para configuração do tipo de associação para o tráfico, é necessário
que haja estabilidade e permanência na associação criminosa. Dessa forma, é atípica a conduta se
não houver ânimo associativo permanente (duradouro), mas apenas esporádico (eventual),
conforme entendimento do seguinte julgado:
CONCURSO DE CRIMES
É um crime de pena alta, de modo que a doutrina minoritária entende que se trata de um
crime de tráfico de drogas, juntamente com o caput e § 1º, do art. 33 e art. 34 da LD.
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos
arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e
quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.
O agente que pratica o art. 36 da LD não é um traficante de drogas, tendo em vista que ele
irá apenas financiar ou custear as condutas previstas como tráfico de drogas.
É o caso, por exemplo, de um empresário que empresta 500 mil reais para o traficante
adquirir as drogas.
10 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Associação para fins de tráfico (art. 35). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/1bc0249a6412ef49b07fe6f62e6dc8de>. Acesso em: 29/11/2022.
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de
um sexto a dois terços, se:
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.
Tal causa de aumento de pena será aplicada quando o próprio agente, que pratica a conduta
de tráfico, financia a atividade criminosa, isto é, ele utiliza seus recursos para comprar a droga, por
isso terá sua pena aumentada.
Não haverá concurso material entre os delitos de tráfico e financiamento para o tráfico.
Nesse sentido, o Info 534 do STJ, com a excelente explicação do Dizer o Direito:
Ao prever como delito autônomo a atividade de financiar ou custear o tráfico (art. 36), o
objetivo do legislador foi estabelecer uma exceção à teoria monista e punir o agente que não tem
participação direta na execução no tráfico e que se limitada a fornecer dinheiro ou bens para
subsidiar a mercancia, sem praticar qualquer conduta do art. 33.
Se o agente que faz autofinanciamento fosse condenado pelos arts. 33 e 36, haveria bis in
idem. Além disso, chegaríamos à conclusão de que o art. 40, VII nunca poderia ser aplicado em
conjunto com o art. 33.
11 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Financiamento do tráfico e assemelhados (art. 36). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a368b0de8b91cfb3f91892fbf1ebd4b2>. Acesso em: 29/11/2022.
2) Se o agente, além de financiar ou custear o tráfico, também pratica algum verbo do art.
33, responderá apenas pelo art. 33 c/c o art. 40, VII da Lei de Drogas (não será
condenado pelo art. 36).
Para a caracterização do crime do art. 37 da LD, não basta a colaboração para o tráfico.
Exige-se que o agente colabore para o grupo, organização ou associação voltados ao tráfico.
Cita-se, como exemplo, o fogueteiro (pessoa que avisa quando a droga chegou).
1) Se não tiver solicitado nem recebido qualquer vantagem indevida, deve responder pelo
crime do art. 37 da LD, com a majorante prevista no art. 40, II;
É possível que alguém seja condenado pelo art. 35 e, ao mesmo tempo, pelo
art. 37, da Lei de Drogas em concurso material, sob o argumento de que o
réu era associado ao grupo criminoso e que, além disso, atuava também
como “olheiro”? NÃO. Segundo decidiu o STJ, nesse caso, ele deverá
responder apenas pelo crime do art. 35 (sem concurso material com o art. 37
Considerar que o informante possa ser punido duplamente (pela associação
e pela colaboração com a própria associação da qual faça parte), contraria o
princípio da subsidiariedade e revela indevido bis in idem, punindo-se, de
forma extremamente severa, aquele que exerce função que não pode ser
entendida como a mais relevante na divisão de tarefas do mundo do tráfico.
STJ. 5ª Turma. HC 224849-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
11/6/2013 (Info 527).12
As causas de aumento de pena estão previstas no art. 40 da LD, aplicando-se apenas aos
crimes dos arts. 33 a 37 da LD, razão pela qual serão analisados os crimes dos arts. 38 e 39 em
momento posterior.
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de
um sexto a dois terços, se:
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as
circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no
desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de
estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de
entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem
espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de
dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou
policiais ou em transportes públicos;
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de
arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o
Distrito Federal;
VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem
tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de
entendimento e determinação;
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.
APLICABILIDADE
12 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Informante do tráfico (art. 37). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f18a6d1cde4b205199de8729a6637b42>. Acesso em: 24/11/2022.
Incidem na terceira fase da pena e, por isso, a pena pode ser fixada acima do máximo legal.
TRANSNACIONALIDADE (INC. I)
Percebe-se que o tráfico internacional não é um delito autônomo, de modo que o agente
responde, em regra, pelo art. 33, caput, com a causa de aumento do inc. I, do art. 40 da LD.
Para incidir a causa de aumento de pena, não é necessário que a droga tenha saído do
Brasil. Basta que haja circunstância indicativa que a droga sairia do país.
18.2.2. Competência
Caso a droga tenha sido importada pela via postal, a competência será do local em que a
substância for apreendida ou do local do destino da droga?13
13 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Compete ao Juízo Federal do endereço do destinatário da droga, importada via Correio,
processar e julgar o crime de tráfico internacional. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/7dd2ae7db7d18ee7c9425e38df1af5e2>. Acesso em: 29/11/2022.
Em suma:
Logo, para fins de concurso público, adota-se a expressão “flexibilização da Súmula 528 do
STJ”.
É mister salientar, contudo, que em 25/02/2022, após o julgamento acima, o STJ decidiu
cancelar formalmente a Súmula 528. Portanto, a Súmula 528 do STJ está formalmente cancelada.
Os crimes da Lei de Drogas são comuns, não exigem uma qualidade especial do agente.
Contudo, as penas serão aumentadas quando o delito for praticado por certos agentes, sendo eles:
Art. 40, III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações
de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de
entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem
espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de
dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou
policiais ou em transportes públicos.
18.4.1. Fundamento
Para o STF, não é necessário que a droga seja destinada à difusão dentro do
estabelecimento prisional. Basta que seja apreendida no local.
Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida
a majorante prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006. Esse dispositivo
não faz a exigência de que as drogas efetivamente passem por dentro dos
locais que se busca dar maior proteção, mas apenas que o cometimento dos
crimes tenha ocorrido em seu interior. STJ. 5ª Turma. HC 440.888-MS, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/10/2019 (Info 659).14
A causa de aumento de pena irá incidir apenas quando a intenção do agente for a de vender
a droga no transporte público.
Assim, se o agente leva a droga em transporte público, mas não a comercializa dentro do
meio de transporte, incidirá essa majorante? NÃO. A majorante do art. 40, III, da Lei 11.343/2006
somente deve ser aplicada nos casos em que ficar demonstrada a comercialização efetiva da droga
em seu interior. É a posição majoritária no STF e STJ.
Para a incidência da majorante prevista no art. 40, inciso III, da Lei 11.343/2006 é
desnecessária a efetiva comprovação de que a mercancia tinha por objetivo atingir os estudantes,
sendo suficiente que a prática ilícita tenha ocorrido em locais próximos, ou seja, nas imediações de
14 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista
no art. 40, III, da Lei 11.343/2006. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/659b7b42e9c002ce0075077cd55a1623>. Acesso em: 29/11/2022.
Não incide a causa de aumento de pena prevista no art. 40, inciso III, da Lei 11.343/2006,
se a prática de narcotraficância ocorrer em dia e horário em que não facilite a prática criminosa e a
disseminação de drogas em área de maior aglomeração de pessoas. Por exemplo, se o tráfico de
drogas é praticado no domingo de madrugada, dia e horário em que o estabelecimento de ensino
não estava funcionando, não deve incidir a majorante.
No mesmo sentido, destaca-se que também não incide a causa de aumento de pena se o
crime foi praticado nas proximidades de escola fechada em razão da COVID-19, de acordo com
posicionamento adotado pelo STJ nos seguintes termos:
Entende-se que o tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi contemplado
pelo legislador no rol das majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei 11.343/2006, não
podendo, portanto, ser utilizado com esse fim tendo em vista que no Direito Penal incriminador não
se admite a analogia in malam partem.
Caso o legislador quisesse punir de forma mais gravosa também o fato de o agente cometer
o delito nas dependências ou nas imediações de igreja, teria feito expressamente, assim como fez
em relação aos demais locais.
Justificada a incidência da causa de aumento prevista no art. 40, inciso III, da Lei
11.343/2006, uma vez consta nos autos a existência de igreja evangélica a aproximadamente 23
metros de distância do local onde a traficância era realizada.
Art. 40, IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça,
emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou
coletiva.
TRÁFICO INTERESTADUAL
Aqui, o legislador não cometeu o mesmo erro que ocorre na recepção, por exemplo, ao não
fazer referência ao DF.
Não é necessário que ocorra a transposição das fronteiras, bastando que as circunstâncias
demonstrem que isso iria ocorrer, consoante apontado pelo STF:
Para que incida a causa de aumento de pena prevista no inciso V do art. 40,
não se exige a efetiva transposição da fronteira interestadual pelo agente,
sendo suficiente a comprovação de que a substância tinha como destino
localidade em outro Estado da Federação. STF. 1ª Turma. HC 122791/MS,
Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808).15
O STJ segue o entendimento do STF, tendo, inclusive, editado uma súmula sobre o assunto:
15 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Súmula 587-STJ. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4d0b954f0bef437c29dfa73fafdf3fa5>. Acesso em: 30/11/2022.
Nesse sentido, o Info 586 do STJ define que as causas especiais de aumento da pena
relativas à transnacionalidade e à interestadualidade do delito, previstas, respectivamente, nos
incisos I e V do art. 40 da Lei de Drogas, até podem ser aplicadas simultaneamente, desde que
demonstrada que a intenção do acusado que importou a substância era a de pulverizar a droga em
mais de um Estado do território nacional. Se isso não ficar provado, incide apenas a
transnacionalidade.
Praticar um crime na companhia de menores, além das sanções do delito, enseja o crime
de corrupção de menores, em concurso.
Em relação aos crimes dos arts. 33 a 37 da LD, quando o maior pratica um crime juntamente
com um menor, não é possível aplicar as sanções do delito de corrupção de menores, em razão do
princípio da especialidade (art. 44, VI da LD).
16 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Agente que pratica delitos da Lei de Drogas envolvendo criança ou adolescente responde
também por corrupção de menores?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/56a8da1d3bcb2e9b334a778be5b1d781>. Acesso em: 29/11/2022.
Em síntese: na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar
previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime de corrupção
de menores, porém, se a conduta estiver tipificada em um desses artigos (33 a 37), não será
possível a condenação por aquele delito, mas apenas a majoração da sua pena com base no art.
40, VI, da Lei nº 11.343/2006.
Segundo Masson, trata-se de uma manifestação do Direito Penal premial. Significa dizer que
o criminoso arrependido que colabora com o Estado possui direito a um prêmio.
Na Lei de Drogas, a colaboração que poderá ser feita tanto na fase investigatória quanto na
fase processual, reduzirá a pena de 1/3 a 2/3, desde que:
Destaca-se que só poderá ser reconhecida pelo juiz, na sentença condenatória. Assim, será
proferida sentença condenando o agente e, posteriormente, o juiz irá reduzir a pena.
Salienta-se que se trata de um crime culposo previsto em tipo fechado, pois o legislador
descreve expressamente as hipóteses em que a culpa poderá ocorrer, quais sejam:
Trata-se de crime de perigo concreto (situação de perigo deve ser provada no caso real),
previsto no art. 39 da LD:
O tipo penal refere-se apenas à aeronave ou à embarcação (de qualquer porte, pois não há
especificação na lei). Dessa forma, não se aplica aos casos de condução de veículo automotor em
via pública, casos em que será aplicado o art. 306 do CTB:
LAVRATURA DO APF
Ressalta-se que o laudo será suficiente para a lavratura do APF, bem como para o
oferecimento e o recebimento da denúncia. Mas, por ser precário, não servirá para a condenação
do agente, sendo necessário o exame químico-toxicológico.
CONCLUSÃO DO INQUÉRITO
Os prazos podem ser duplicados pelo juiz, mesmo no caso de indiciado preso, conforme o
art. 51 da LD:
A existência de uma droga, por si só, coloca em risco a saúde pública. Assim, quanto mais
rapidamente providenciar-se a destruição da droga, melhor.
Antes da destruição, é preciso guardar uma quantidade para o exame definitivo, bem como
para eventual contraprova.
O MP irá fiscalizar a destruição da droga, que será feita pelo delegado de polícia.
Por fim, o local de destruição será vistoriado antes e após a destruição (o ideal é filmar e
fotografar).
Quando a droga for apreendida sem prisão em flagrante, deverá ser destruída, por
incineração, em até 30 dias, contados da data da apreensão.
São meios especiais, que dependem de autorização judicial, mas que não excluem os meios
comuns previstos no CPP.
A autoridade policial retarda o momento da prisão, com autorização judicial, a fim de que
sejam obtidas mais provas e a prisão de mais pessoas.
A Lei de Drogas, em seu art. 57, determina que o interrogatório do réu é o primeiro ato da
audiência de instrução, vejamos:
Contudo, o CPP, desde 2008, passou a prever que o interrogatório do acusado é o último
ato da instrução:
Dessa feita, a regra do art. 400 do CPP é mais favorável ao réu do que a previsão do art. 57
da Lei nº 11.343/2006.
Diante dessa constatação, e pelo fato de a Lei 11.719/2008 ser posterior à Lei de Drogas,
surgiu uma corrente na doutrina defendendo que o art. 57 foi derrogado e que, também no
procedimento da Lei 11.343/2006, o interrogatório deveria ser o último ato da audiência de
instrução. Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? SIM.
3) A todos os procedimentos penais regidos por legislação especial (Ex.: a própria Lei de
Drogas).
Tal modificação se deu em virtude do HC 127900/AM, julgado pelo STF em 3/3/2016 (Info
816).
Vale ressaltar que antes deste julgamento (HC 127900/AM), o entendimento que prevalecia
era outro. Por conta disso, o STF, por questões de segurança jurídica, afirmou que a tese fixada
(interrogatório como último ato da instrução em todos os procedimentos penais) só se tornou
obrigatória a partir da data de publicação da ata deste julgamento, ou seja, do dia 11/03/2016 em
diante. Os interrogatórios realizados nos processos penais militares, eleitorais e da Lei de Drogas
até o dia 10/03/2016 são válidos mesmo que tenham sido o primeiro ato da instrução.
Segundo Cleber Masson, com o objetivo de assegurar a efetividade dos efeitos (civis) da
condenação criminal e o pagamento das penas pecuniárias e despesas processuais, a Lei de
Drogas, em seu Capítulo IV do Título IV, tratou da apreensão, arrecadação e destinação de bens
do acusado, seguindo a lógica de que o crime não deve compensar porque o Estado vai recuperar
o patrimônio que deita raízes no delito.
Trata-se das medidas assecuratórias relacionadas ao produto (vantagem direta obtida pelo
agente em decorrência da prática do crime) ou proveito (é a vantagem indireta do crime) do delito.
Em linhas gerais, a cautelar de sequestro se volta para os bens imóveis (art. 125 do CPP)
e móveis (art. 132 do CPP) que constituam proveitos do crime (ex.: casas e veículos adquiridos
com o dinheiro do narcotráfico). A medida reclama a suspeita da proveniência ilícita dos bens (art.
60, caput, da LD) e tem por escopo garantir o confisco e a reparação do dano.
O sequestro, que pode ser manejado em qualquer fase da persecução penal (art. 127 do
CPP), destina-se a evitar que o agente dilapide o seu patrimônio e, com isso, frustre o perdimento
e o ressarcimento dos eventuais danos. Trata-se, pois, de diligência com a finalidade de evitar o
enriquecimento ilícito do traficante, bem como evitar a lavagem de dinheiro, possibilitando a
transformação de dinheiro sujo em dinheiro limpo.
Entretanto, como o sujeito passivo dos crimes previstos na Lei de Drogas é a coletividade
(crime vago), em regra, faltarão ofendidos – ressalvados os casos envolvendo os delitos inscritos
nos arts. 38 e 39 – legitimados a manejar esses procedimentos na busca por bens do acusado para
a garantia de pleito indenizatório. O Ministério Público, contudo, continua tendo legitimidade para
requerer o arresto e a especialização da hipoteca legal com vistas a garantir o pagamento da pena
pecuniária e das despesas processuais.
Para Cleber Masson, constatado o interesse público, a coisa pode ser entregue para
custódia e uso (sob responsabilidade) dos órgãos de segurança pública previstos no art. 144 da
Constituição Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo, da Força Nacional de
Segurança Pública e do Instituto Geral de Perícia, com o objetivo de sua conservação e para o
A decisão que viabiliza a utilização funcional do bem constrito pode ser tomada tão logo
efetivada a comunicação a que se refere o art. 61, não dependendo, pois, de sentença condenatória.
Ao contrário, o ideal é que, quando cabível, seja ela proferida ainda na primeira fase da persecução
penal, de modo a evitar a ação corrosiva do tempo sobre esses objetos e a sanar a incapacidade
prática do Estado de adequadamente administrar os bens que ingressam em sua esfera de
proteção.
5) O princípio da insignificância não se aplica aos delitos do art. 33, caput, e do art. 28 da
Lei de Drogas, pois trata-se de crimes de perigo abstrato ou presumido.
7) As contravenções penais, puníveis com pena de prisão simples, não geram reincidência,
mostrando-se, portanto, desproporcional que condenações anteriores pelo delito do art. 28 da Lei
11.343/2006 configurem reincidência, uma vez que não são puníveis com pena privativa de
liberdade.
9) A conduta prevista no art. 28 da Lei 11.343/2006 admite tanto a transação penal quanto
a suspensão condicional do processo.
12) A comprovação da materialidade do delito de posse de drogas para uso próprio (art. 28
da Lei 11.343/2006) exige a elaboração de laudo de constatação da substância entorpecente que
evidencie a natureza e a quantidade da substância apreendida.
13) O tráfico de drogas é crime de ação múltipla e a prática de um dos verbos contidos no
art. 33, caput, da Lei 11.343/2006 é suficiente para a consumação do delito.
15) Para a configuração do delito de tráfico de drogas previsto no caput do art. 33 da Lei
11.343/2006, é desnecessária a aferição do grau de pureza da substância apreendida.
17) O agente que atua diretamente na traficância e que também financia ou custeia a
aquisição de drogas deve responder pelo crime previsto no art. 33, caput, da Lei 11.343/2006 com
a incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 40, VII, da Lei 11.343/2006, afastando-
se, por conseguinte, a conduta autônoma prevista no art. 36 da referida legislação.
20) O § 3º do art. 33 da Lei 11.343/2006 traz tipo específico para aquele que fornece
gratuitamente substância entorpecente a pessoa de seu relacionamento para juntos a consumirem
e, por se tratar de norma penal mais benéfica, deve ser aplicado retroativamente.
21) O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006)
não é crime equiparado a hediondo.
22) A causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas só pode ser
aplicada se todos os requisitos, cumulativamente, estiverem presentes.
24) A condição de "mula" do tráfico, por si só, não afasta a possibilidade de aplicação da
minorante do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006, uma vez que a figura de transportador da droga
não induz, automaticamente, à conclusão de que o agente integre, de forma estável e permanente,
organização criminosa.
26) Para a caracterização do crime de associação para o tráfico de drogas (art. 35 da Lei
11.343/2006) é imprescindível o dolo de se associar com estabilidade e permanência.
27) Para a configuração do crime de associação para o tráfico de drogas, previsto no art. 35
da Lei 11.343/2006, é irrelevante apreensão de drogas na posse direta do agente.
28) O crime de associação para o tráfico de entorpecentes (art. 35 da Lei 11. 343/2006) não
figura no rol taxativo de crimes hediondos ou de delitos a eles equiparados.
29) Em se tratando de condenado pelo delito previsto no art. 14 da Lei 6.368/1976, deve-se
observar as reprimendas mínima e máxima estabelecidas pelo art. 8º da Lei 8.072/1990 (3 a 6 anos
de reclusão), por ser norma penal mais benéfica ao réu, impondo-se, inclusive, se for o caso, a
exclusão da pena de multa.
30) O crime de financiar ou custear o tráfico ilícito de drogas (art. 36 da Lei 11.343/2006) é
delito autônomo aplicável ao agente que não tem participação direta na execução do tráfico,
limitando-se a fornecer os recursos necessários para subsidiar as infrações a que se referem os art.
33, caput e § 1º, e art. 34 da Lei de Drogas.
31) O crime de colaboração com o tráfico, art. 37 da Lei n. 11.343/2006, é um tipo penal
subsidiário em relação aos delitos dos arts. 33 e 35 da referida lei e tem como destinatário o agente
que colabora como informante, de forma esporádica, eventual, sem vínculo efetivo, para o êxito da
atividade de grupo, de associação ou de organização criminosa destinados à prática de qualquer
dos delitos previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 da Lei de Drogas.
32) A Lei 11.343/2006 manteve as condutas descritas no art. 12, § 2º, inciso III, da Lei
6.368/1976, razão pela qual não há que se falar em abolitio criminis.
33) A Lei 11.343/2006 aboliu a majorante da associação eventual para o tráfico prevista no
art. 18, III, primeira parte, da Lei 6.368/1976.
34) A incidência da majorante da segunda parte do inciso III do art. 18 da Lei 6. 368/1976 –
"visar [o crime] a menores de 21 (vinte e um) anos" – segue contemplada no art. 40, inciso VI, da
nova Lei de Drogas – "sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente" – não restando
configurada a abolitio criminis.
36) Não acarreta bis in idem a incidência simultânea das majorantes previstas no art. 40 da
Lei 11.343/2006 aos crimes de tráfico de drogas e de associação para fins de tráfico, porquanto são
delitos autônomos, cujas penas devem ser calculadas e fixadas separadamente.
37) Para a incidência das majorantes previstas no art. 40, I e V, da Lei 11. 343/2006, é
desnecessária a efetiva transposição de fronteiras, sendo suficiente, respectivamente, a prova de
destinação internacional das drogas ou a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico
interestadual.
39) O rol previsto no inciso III do art. 40 da Lei de Drogas não deve ser encarado como
taxativo, pois o objetivo da referida lei é proteger espaços que promovam a aglomeração de
pessoas, circunstância que facilita a ação criminosa.
40) A causa de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei de Drogas possui
natureza objetiva e se aplica em função do lugar do cometimento do delito, sendo despicienda a
comprovação efetiva do tráfico nos locais e nas imediações mencionados no inciso ou que o crime
visava a atingir seus frequentadores.
41) A incidência da majorante prevista no art. 40, inciso III, da Lei 11.343/2006 deve ser
excepcionalmente afastada na hipótese de não existir nenhuma indicação de que houve o
aproveitamento da aglomeração de pessoas ou a exposição dos frequentadores do local para a
disseminação de drogas, verificando-se, caso a caso, as condições de dia, local e horário da prática
do delito.
42) Para a caracterização da causa de aumento de pena do art. 40, III, da Lei 11. 343/2006,
é necessária a efetiva oferta ou a comercialização da droga no interior de veículo público, não
bastando, para a sua incidência, o fato de o agente ter se utilizado dele como meio de locomoção
e de transporte da substância ilícita.
43) A aplicação das majorantes previstas no art. 40 da Lei de Drogas exige motivação
concreta, quando estabelecida acima da fração mínima, não sendo suficiente a mera indicação do
número de causas de aumento.
44) Para fins de fixação da pena, não há necessidade de se aferir o grau de pureza da
substância apreendida uma vez que o art. 42 da Lei de Drogas estabelece como critérios "a natureza
e a quantidade da substância".
48) A utilização da reincidência como agravante genérica é circunstância que afasta a causa
especial de diminuição da pena do crime de tráfico, e não caracteriza bis in idem.
50) O juiz pode fixar regime inicial mais gravoso do que aquele relacionado unicamente com
o quantum da pena ao considerar a natureza ou a quantidade da droga.
52) O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz obrigatoriamente à
imposição de medida socioeducativa de internação do adolescente.
53) A despeito de não ser considerado hediondo, o crime de associação para o tráfico, no
que se refere à concessão do livramento condicional, deve, em razão do princípio da especialidade,
observar a regra estabelecida pelo art. 44, parágrafo único, da Lei 11.343/2006: cumprimento de
2/3 (dois terços) da pena e vedação do benefício ao reincidente específico.
55) É vedada a concessão de indulto aos condenados por crime hediondo ou por crime a
ele equiparado, entre os quais se insere o delito de tráfico previsto no art. 33, caput e § 1º da Lei
11.343/2006, afastando-se a referida vedação na hipótese de aplicação da causa de diminuição
prevista no art. 33, § 4º, da mesma Lei, uma vez que a figura do tráfico privilegiado é desprovida de
natureza hedionda.
57) Não viola o princípio da dignidade da pessoa humana a revista íntima realizada conforme
as normas administrativas que disciplinam a atividade fiscalizatória, quando houver fundada
suspeita de que o visitante esteja transportando drogas ou outros itens proibidos para o interior do
estabelecimento prisional.