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Sumário
Aspectos Históricos, Culturais e Conceituais da Dependência Química..........................4
Neurobiologia...........................................................................................................................................6
Neuropsicologia e Dependência Química....................................................................................16
Etiologia, critérios diagnósticos e classificação.........................................................................21
Critérios Diagnósticos e Classificação............................................................................................25
Comorbidades...........................................................................................................................................30
Principais Comorbidades......................................................................................................................32
Poliusuários.................................................................................................................................................39
Drogas lícitas: Álcool................................................................................................................................43
Drogas lícitas: Nicotina............................................................................................................................50
Drogas lícitas: Opioides............................................................................................................................57
Drogas lícitas: Anfetaminas...................................................................................................................64
Drogas lícitas: Benzodiazepínicos, Ansiolíticos e Hipnóticos..................................................69
Drogas lícitas: Anabolizantes................................................................................................................74
Drogas ilícitas: Maconha, Haxixe e Skunk.........................................................................................80
Drogas ilícitas: Cocaína.............................................................................................................................85
Drogas ilícitas: Crack e Similares.........................................................................................................91
Drogas ilícitas: Alucinógenos.................................................................................................................95
Drogas ilícitas: Inalantes e outras drogas de abuso.....................................................................98
Construtos Cognitivos...........................................................................................................................101
Comprometimento da Atenção e Funções Executivas.............................................................106
Comprometimento da Memória........................................................................................................109
Comprometimento da praxia e visuoconstrução.......................................................................112
Reabilitação Neuropsicológica e Dependência Química.........................................................113
Populações Especiais: Crianças e Adolescentes..........................................................................116
Populações Especiais: Mulher, Gestante e Perinatal.................................................................125
Populações Especiais: Idosos..............................................................................................................132
Populações Especiais: LGBTQIA+ e Consequências do Abuso..............................................137
Populações Especiais: Minorias.........................................................................................................140
Intervenção Breve....................................................................................................................................145
Terapia de Grupo no Tratamento da Dependência Química................................................151
Prevenção a Recaída...............................................................................................................................156
Terapia Familiar e Dependência Química.....................................................................................161
Grupo de Apoio (Paciente e Família)...............................................................................................166
Redução de Danos..................................................................................................................................168
Papel das Equipes Multidisciplinares no Tratamento da Dependência
Química......................................................................................................................................................172
Políticas Públicas para a Dependência Química e Lei Orgânica..........................................175
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Organização do Serviço no Tratamento da Dependência Química.....................................178
Dispositivos de Atenção Psicossocial...............................................................................................183
Comunidades Terapêuticas e Residências Assistidas..............................................................188
Suicídio e Dependência Química........................................................................................................190
Fatores de Proteção e Risco na Dependência Química.............................................................195
Dicas de Filmes..........................................................................................................................................198
Referências Bibliográficas....................................................................................................................199
Anexos..........................................................................................................................................................202
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Aspectos Históricos, Culturais e Conceituais da
Dependência Química
“Toda forma de vício é ruim, não importa o que seja, droga, álcool ou idealismo.”
Carl Jung
Pontos Importantes:
Se liga:
5
Mas por que este fenômeno é tão milenar? Podemos inferir que o homem
sempre buscou através dos tempos, o aumento de seu prazer e
diminuição do sofrimento.
Se liga:
Neurobiologia
“O vício não é uma escolha...”
Dr. Gabor Maté
Pontos Importantes:
A compreensão da neurociência auxilia no entendimento da
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neurobiologia da dependência química.
O sistema de recompensa tem sido um dos fatores para
entendimento do abuso das substâncias psicoativas.
De acordo com pesquisas recentes, as regiões pré-frontais são
mais afetadas com o uso de substâncias psicoativas,
apresentando íntima ligação com o processo de dependência
química.
Se liga:
8
apresenta um mecanismo particular de ação no cérebro, pois cada
droga tem seu mecanismo próprio de ação, e essa ação particular atua
de forma direta ou indireta no sistema de recompensa cerebral.
9
repercussões no comportamento e cognição do dependente.
10
repetição crônica da substância.
11
recompensa. De acordo com certos estudos científicos, essa possível
repetição crônica da atividade da dopamina no sistema de recompensa,
pode então, promover um desequilíbrio neuroquímico, conduzindo a
uma homeostase alterada ao gerar neuroadaptações estruturais e
funcionais permanentes a neuroplasticidade cerebral.
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Neurocircuito e Neurotransmissores
Fonte: Livro Neurobiologia dos Transtornos Psiquiátricos
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Neuropsicologia e Dependência Química
“Um homem pinta com seu cérebro, não com suas mãos”
Michelangelo Buonarroti
Pontos Importantes:
Compreensão da importância da avaliação neuropsicológica na
dependência química.
O uso de substâncias psicoativas altera o funcionamento cognitivo.
Os comprometimentos cognitivos parecem interferir na adesão ao
tratamento.
Como dito anteriormente, o transtorno por uso substâncias é
entendido como uma doença crônica, que afeta as funções cognitivas
com repercussões na funcionalidade e adesão ao tratamento.
Compreender os aspectos de comprometimento neuropsicológico
pode auxiliar na construção de recursos para um tratamento mais
eficaz e individualizado, contemplando as limitações e
potencialidades cognitivas apresentadas pelo dependente químico.
Nesta perspectiva, a neuropsicologia surge com objetivo de
estabelecer relações entre o cérebro e comportamento humano, por
meio de processos cerebrais que podem se observados direta ou
indiretamente.
Pode-se observar, ao longo da história da humanidade, que o
homem vem tecendo estudos na tentativa de explicar os processos
cerebrais. Na antiguidade clássica, Hipócrates (séc. V a.C.), referia-se
ao cérebro como o órgão do intelecto. No século II a.C., Galeno
enfatizou que o encéfalo era formado por duas partes: o cerebrum,
relacionado as sensações, e o cerebellum, ligado ao controle dos
músculos, sendo que os nervos eram vias que levavam os líquidos
vitais ou humores, permitindo assim, que as sensações fossem
registradas e os movimentos iniciados.
Descartes, referia-se à glândula pineal como centro da alma. Gall,
ao final do século XVIII, discorreu que as faculdades humanas
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estariam localizadas em diferentes órgãos e centros cerebrais e que
as atividades intelectuais estariam situadas nos dois hemisférios
cerebrais. Com isso, surgiu a base da frenologia e da corrente
localizacionista.
O que é a Neuropsicologia?
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A partir do entendimento dos constructos cognitivos, iremos
entender o conceito da avaliação neuropsicológica, que segue
logo abaixo:
20
substâncias, presença de comorbidades psiquiátricas, tempo e
intensidade do uso da substância.
Pesquisas científicas relatam, que o uso das drogas podem alterar
o funcionamento cognitivo, com repercussão na eficácia da proposta
de tratamento, visto que as funções mais comprometidas no uso
referem-se as funções executivas. As alterações nesse domínio
cognitivo, denotam incapacidade para utilizar conhecimentos
específicos em uma ação apropriada, dificuldade de mudar de um
conceito para o outro e alterar um comportamento depois de iniciado,
dificuldade em integrar detalhes isolados e de manipular informações
simultâneas.
Sendo assim, a identificação precoce das alterações cognitivas,
irá possibilitar o aumento das chances de adequar uma intervenção ao
dependente químico. Além disso, auxilia no complemento do
diagnóstico, esclarecendo possíveis dificuldades que o indivíduo possa
enfrentar para se manter abstinente ou evitar uma recaída.
Pontos Importantes:
22
utilizado pela primeira vez na sociedade, e sendo compreendido como
uma doença de fato. Neste modelo, havia pouca atenção para os
aspectos comportamentais, o foco de tratamento era voltado para as
internações prolongadas e tratamentos físicos, como tônicos, banhos a
vapor e estimulação farádica, e até o uso de sanguessugas.
23
o risco do desenvolvimento da doença. Dentre as teorias psicológicas,
abarcadas dentro desse modelo se destacam: o modelo
caracteriológico e determinista, as explicações psicanalíticas, a teoria
sistêmica, teorias comportamentais e a teoria cognitivo-
comportamental.
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Critérios Diagnósticos e Classificação
Aumento do fígado;
Irritação nasal;
26
Odor de álcool;
28
A fim de melhor organizar os critérios diagnósticos propostos
pelo DSM-5, segue a tabela abaixo:
29
É importante ressaltar, que a dependência de substâncias é um
fenômeno que se caracteriza por padrões diferenciados de consumo. Os
pacientes dependentes químicos podem apresentar diversos graus de
consumo, desde um consumo que no momento não gere prejuízos evidentes,
passando por níveis que afetam determinados contextos da vida do
indivíduo, até chegar a padrões que prejudicam intensamente sua vida, o que
podemos considerar um nível grave de dependência. Mesmo o paciente
tratado e em determinado momento “abstinente” do uso de determinada
substância, ainda é dependente químico, embora não esteja dependente de
uma substância específica naquele exato momento.
Comorbidades Psiquiátricas
“Pedras no caminho? Guardo todas. Um dia vou fazer um castelo…”
Fernando Pessoa
Pontos Importantes:
31
Na Hipótese do Uso de Substâncias Secundário ao transtorno
psiquiátrico, a condição psiquiátrica causaria sofrimentos que
seriam atenuados pelo uso de substâncias, na tentativa de produzir
melhoras nos sintomas apresentado pelo transtorno psiquiátrico.
Esquizofrenia
32
Depressão
33
Transtorno Bipolar
Transtornos de Ansiedade
Ratto e Cordeiro (2018), relatam que cerca de 33% dos adultos com
TDAH têm problemas relacionados com consumo abusivo/dependência de
álcool e drogas, entre as quais a maconha é a mais comumente utilizada,
seguida de estimulantes e cocaína. O consumo de álcool nessa população,
35
segundo estudo recente, tem representativa prevalência, onde cerca de 38%
dessas pessoas apresentaram TDAH na infância.
Transtornos de Personalidade
Transtornos Alimentares
Anorexia Nervosa
36
Bulimia Nervosa
Diagnóstico
38
Poliusuários
“A arte de ser sábio é a arte de saber o que ignorar”.
Anônimo
Pontos Importantes:
39
nessa fase é precário devido a um de desequilíbrio natural entre o
desenvolvimento de vias inibitórias e estimulatórias.
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Além disso, os efeitos desagradáveis da abstinência recente de cocaína e
crack, denominada crash, são atenuados pelos efeitos do álcool.
Álcool
Pontos Importantes:
Fatores para compreensão da dependência do álcool;
Morbidades causadas pelo álcool;
Transtornos psiquiátricos decorrentes do consumo do álcool.
Distúrbios gastroenterológicos;
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Distúrbios musculoesqueléticos;
Distúrbios endócrinos;
Câncer;
Doenças cardiovasculares;
Doenças respiratórias;
Distúrbios metabólicos;
Distúrbios hematológicos;
Distúrbios no sistema nervoso central e periférico;
Síndrome fetal alcoólica;
Doenças dermatológicas;
Supressão do sistema imunológico;
Alterações no funcionamento sexual.
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agressividade, labilidade do humor, diminuição do julgamento crítico e
funcionamento social e ocupacional prejudicados.
Nicotina
“Um café, um cigarro, um trago. Um dia vamos pagar por isso”.
Cleber Guilherme
Pontos Importantes:
Entendimento que o tabagismo é uma doença crônica, porém
passível de tratamento.
Uma avaliação inicial deverá abordar aspectos da história do
tabagismo, comorbidades psiquiátricas e clínicas, bem como a
utilização de questionários e inventários.
O tratamento é singular e individualizado contemplando as
especificidades de cada paciente.
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falsa crença entre os usuários que outros produtos derivados da folha do
tabaco que não cigarros industrializados oferecem menos risco à saúde.
O consumo do tabaco, tem se tornado cada vez maior, com seu início
em idades mais precoces. A indústria do cigarro, conhecedora do
potencial de mercado, direciona seu marketing principalmente aos
jovens, bem como para mulheres, o que destaca sérias complicações a
saúdes dessas populações bem como uma incidência maior de possíveis
óbitos.
52
Mas como compreender que o uso de nicotina tornou-se um sinal
de alerta para um possível diagnóstico de dependência?
Segundo a OMS (1997), três ou mais características descritas
abaixo, por um período de um ano que configura a dependência:
Doenças cardiovasculares;
Câncer;
Doenças respiratórias;
Doenças pulmonares;
Efeitos sobre o feto durante uma gestação.
54
De acordo com a literatura científica, na dependência comportamental,
o fumante estabelece uma rotina, criando hábitos que se tornam gatilhos do
desejo de fumar. Nesses momentos, em geral que o fumante consome o
tabaco, a vontade de fumar costuma acontecer automaticamente pela
lembrança do consumo naquela situação. A repetição da associação do
hábito de fumar com algum comportamento gera o condicionamento. Além
de prazeroso, fumar muitas vezes torna-se um amortecedor de emoções, no
qual a associação de sentimentos com o cigarro gera uma dependência
emocional.
55
Dentre as propostas farmacológicas não nicotínicas, temos o uso de
antidepressivos como a Bupropiona, Nortriptilina e Vereniclina, que são
utilizados durante a síndrome de abstinência, atuando, na maior parte das
vezes, sob vias neurotransmissoras que participam dos mesmos mecanismos
da dependência da nicotina.
56
Opioides
“As pessoas não são viciadas em álcool ou drogas, são viciadas em sair da realidade”.
Cleber Guilherme
Pontos Importantes:
Os opioides são drogas depressoras do Sistema Nervoso Central;
O curso é crônico, embora períodos breves de abstinência possam
ocorrer.
A recaída é um evento bastante comum;
As intervenções farmacológicas prescritas no tratamento de
dependência de opioides são: naloxona, naltrexona, metadona e
buprenorfina.
57
Opioides Naturais ópio, morfina, codeína e tebaína:
são preparados a partir do ópio (em
grego, “suco”), uma seiva de aspecto
leitoso obtida por meio de cortes na
papoula.
Opioides Semissintéticos heroína, oxicodona, hidrocodona,
oximorfona e hidromorfona: são
obtidos por meio de alterações das
moléculas dos opioides naturais.
Opioides Sintéticos meperidina, fentanil, LAAM (L-α
acetilmetadol ou levometadilacetato),
propoxifeno e metadona: são obtidos
totalmente em laboratório.
59
De acordo com o DSM-5 e CID 10, seguem os critérios para o
diagnóstico de intoxicação aguda:
60
meses. O quadro clínico é mais sutil, e essa síndrome está associada a
possibilidades de recaídas.
61
Já no exame físico, o usuário em estado de intoxicação pode apresentar
rubor facial, miose com ou sem prejuízo da acuidade visual, taquicardia,
hipotensão arterial, arreflexia e prurido. No estado de abstinência, fica
evidenciada presença de coriza, hiperalgesia, midríase, fotofobia, sudorese,
tremor, febre, lacrimejamento e piloereção. O uso crônico de opioides
injetáveis está associado à presença de veias esclerosadas com marcas de
picadas nas extremidades dos membros superiores. Os usuários que inalam
heroína e outros opioides podem apresentar irritação da mucosa nasal.
63
idade, mas dois picos de incidência sobressaem: o fim da adolescência e após
os 20 anos de idade (APA, 1995).
Anfetaminas
“As pessoas não são viciadas em álcool ou drogas, são viciadas em sair da realidade”.
Cleber Guilherme
Pontos Importantes:
64
As anfetaminas são potentes estimulantes do sistema nervoso central,
capazes de criar dependência em razão de seus efeitos euforizantes e de sua
habilidade de reduzir a fadiga e aumentar o estado de alerta. Apesar de seus
efeitos capazes de causar dependência química, as anfetaminas podiam ser
prescritas para fins clínicos. Atualmente, com sua venda proibida, o abuso
dessas substâncias é cometido por pessoas que as conseguem de forma
ilegal. São substâncias sintéticas, que além da própria anfetamina, vários
outros derivados, como femproporex, metilfenidato, pemolina, mazindol,
dietilpropiona e metanfetaminas fazem parte desse grupo.
Antipsicótico;
Benzodiazepínicos;
Observação: ambiente seguro e calmo;
Tratamento de possíveis desidratação e hipertermia.
Descanso;
Alimentação saudável;
68
Insônia e ansiedade: BZD de curta ação (p. ex.: alprazolam,
bromazepam, lorazepam);
Craving e humor depressivo: o manejo deve ser abstinência da
droga e abordagens psicossociais.
70
Como agentes sedativos hipnóticos, os BZDs têm a habilidade de
produzir depressão no sistema nervoso central, por meio da ativação do
sistema gabaérgico. Em doses menores, pode diminuir o nível de atividade
do indivíduo, moderando a excitação e com efeitos calmantes e ansiolíticos.
Em doses maiores, observa-se sonolência com repercussão na indução e a
manutenção do sono. Pode haver casos de desinibição do comportamento,
com agressividade e hostilidade, principalmente se for combinado ao álcool.
71
Alguns sintomas de abstinência são:
Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Psiquiatria e Associação Brasileira de Neurologia (2013); Lingford-
Hughes e colaboradores (2012).
73
Nota-se, que a avaliação é parte fundamental dentro do tratamento
com o dependente químico. A avaliação das comorbidades clínicas, a
solicitação de exames laboratoriais, como provas de função hepática e renal,
bem como a avaliação do suporte social e de atividades laborativas do
paciente, também são fundamentais para orientar as condutas terapêuticas.
Com todas as informações necessárias, podem-se dividir os pacientes de
acordo com sua gravidade e risco.
Anabolizantes
Pontos Importantes:
Os anabolizantes são divididos em anabolizantes esteróides e
andrógenos.
Substância utilizada não apenas para desempenho, mas para o
ganho de massa muscular.
74
Pouquíssimos estudos relacionados com o tratamento de esteróides
anabolizantes, os que existem foram conduzidos a partir da
experiência clínica.
As vias de administração podem ser feitas de duas maneiras: por via oral
e com injeções intramusculares. Alguns têm efeitos quando ingeridos
oralmente; outros, só quando injetados. De acordo com Figlie, Bordin e
Laranjeira (2018), a absorção dos esteróides anabolizantes ocorre da
seguinte maneira:
76
“Uma vez na corrente sanguínea, a testosterona ou qualquer esteróide anabolizante
exógeno atravessa as paredes das células-alvo e se liga a seus receptores no citoplasma.
Essas células-alvo se encontram em vários tecidos do corpo humano, incluindo
esqueleto, músculo cardíaco, sistema nervoso central, pele e próstata. Esses complexos
receptores de hormônios alcançam, então, o núcleo da célula e seu material genético
ácido desoxirribonucléico (DNA). Isso dá início a um processo cujo resultado final será
a produção de proteínas específicas, que vão deixar a célula e mediar às funções
biológicas do hormônio. O aumento dos níveis de testosterona (ou drogas similares)
produz um efeito de feedback negativo no hipotálamo, inibindo o lançamento de mais
testosterona (o mesmo processo que ocorre com os contraceptivos orais à base de
estrogênio e progesterona)”, pg. 132.
EFEITOS POSITIVOS
Aumento transitório do tamanho dos músculos e da força muscular.
Tratamento de traumas e cirurgias.
EFEITOS NEGATIVOS
Cardiovasculares: Aumento de fatores de risco cardíacos, como
hipertensão e taxas de colesterol (lipoproteína de baixa densidade [LDL] e
lipoproteína de alta densidade [HDL];
Infarto do miocárdio;
Trombose.
Hepáticos (associados ao consumo oral): Aumento do número de
enzimas;
Infertilidade transitória;
Impotência;
Alterações da menstruação.
Sistema endócrino: Diminuição do funcionamento da tireóide
Efeitos imunológicos: Diminuição das imunoglobulinas
Efeitos musculoesqueléticos: Fechamento prematuro dos centros de
crescimento dos ossos;
Acne e seborréia;
Estrias;
Calvície;
Aumento do clitóris;
Engrossamento da pele;
Tendência à agressividade;
Episódios psicóticos;
Depressão;
Distimia;
78
Ansiedade generalizada;
Transtorno de pânico;
Suicídio.
79
Maconha, Haxixe e Skunk
Pontos Importantes:
Por volta da primeira metade dos anos 60, um grupo de pesquisa Israelita
do professor Rafael Mechoulam, determinou a estrutura dos principais
canabinoides (canabidiol), incluindo o ∆9-tetra-hidrocanabinol (∆9-THC),
responsável pelos efeitos psicoativos da planta. Hoje são conhecidos cerca de
100 canabinoides, com pouca ou nenhuma psicoatividade, porém com outros
efeitos, muitos deles com potencial terapêutico.
82
A razão para um uso tão indiscriminado desta substância reside na
sensação de “barato” que os usuários experimentam. Essas sensações
referem-se a um estado alterado de consciência, caracterizado por mudanças
emocionais, como euforia moderada e relaxamento; alterações perceptuais,
como distorção do tempo; e intensificação das experiências sensoriais
simples, como comer, assistir a filmes, ouvir músicas e ter relações sexuais.
Quando a maconha é utilizada em um contexto social, essas experiências são
acompanhadas de risadas, fala excessiva e aumento da sociabilidade.
Relaxamento
Euforia
Pupilas dilatadas
Conjuntivas avermelhadas
Boca seca
Aumento do apetite
Rinite
Faringite
Comprometimento da capacidade mental
Alteração da percepção
Alteração da coordenação motora
Maior risco de acidentes
Voz pastosa (mole)
Aumento dos batimentos cardíacos
Aumento da pressão arterial
Despersonalização
Ansiedade/confusão
Alucinações
Perda da capacidade de insights
Aumento do risco de sintomas psicóticos entre aqueles com história
pessoal ou familiar anterior.
Cocaína
Pontos Importantes:
86
Existem determinados populações de pacientes, com mecanismos de
metabolização deficientes, que são mais vulneráveis a toxidade da cocaína:
idosos, pacientes com doenças no fígado, mulheres grávidas e crianças. Em
combinação com o álcool, outro metabólito ativo é formado, o cocaetileno,
cujos efeitos sobre o cérebro são mais duradouros, e é ainda mais tóxico que
as drogas sozinhas. Logo, o uso combinado de cocaína e álcool aumenta o
risco de toxicidade da cocaína.
87
efeitos serão vistas ao se abordarem os efeitos cardiovasculares e
psicoativos.
Euforia
Sensação de bem-estar
Estimulações mentais e motoras
Aumento da autoestima
Agressividade
Irritabilidade
Inquietação
Sensação de anestesia
Tiques
Coordenação motora diminuída
Acidente vascular cerebral
Convulsão
Dor de cabeça
Desmaio
Tontura
Tremores
88
Tinido no ouvido
Visão embaçada
Desconfiança e sentimento de perseguição (“nóia”)
Depressão (efeito rebote da intensa excitação)
Isolamento
Falar muito
Desinibição
Aumento dos batimentos cardíacos
Batimento cardíaco irregular
Aumento da pressão arterial
Ataque cardíaco
Parada respiratória
Tosse
89
Já a abstinência começa de 12 a 96 h após o crash e pode durar de 2 até
12 semanas. A anedonia é importante nesse período e contrasta com as
memórias eufóricas do uso. A presença de fatores e situações
desencadeadores de craving normalmente suplanta o desejo de se manter
em abstinência e as recaídas são comuns nessa fase. Ansiedade,
hiper/hipossonia, hiperfagia e alterações psicomotoras (tremores, dores
musculares, movimentos involuntários) são outros sintomas típicos dessa
fase.
90
dependente. Há uma diversidade de tratamentos que são funcionais, como
abordagens terapêuticas, internações em casos específicos, desintoxicações e
grupos terapêuticos.
Crack e Similares
Pontos Importantes:
É uma nova forma de apresentação e administração da cocaína.
O crack é uma das substâncias que apresenta o maior risco da
instalação de um quadro de dependência logo no primeiro ano de
consumo.
A pasta básica de coca (sulfato de cocaína) pode ser obtida por meio da
maceração ou pulverização das folhas de coca com solvente (álcool, benzina,
parafina ou querosene), ácido sulfúrico e carbonato de sódio. Desde os
primeiros relatos, chamavam atenção dos pesquisadores a intensidade e a
curta duração dos sintomas de euforia, seu preço muito inferior ao da
cocaína refinada, as impurezas do amálgama e o “microtráfico” feito pelo
usuário para a manutenção do próprio consumo. A pasta básica era chamada
nos países andinos de “basuco”, evocando a natureza da mistura (alcalina) e
a potência de seus efeitos psicotrópicos (bazuca).
91
mais intensos do que a cocaína; e por apresentar menores riscos de
contaminação que aqueles existentes no consumo de cocaína injetável.
92
disseminação maciça no cérebro. Após atingir o cérebro, a droga se
concentra em outros órgãos, como os rins e o baço.
94
Alucinógenos
Pontos Importantes:
95
mandrágora, henbane, datura e muitas outras drogas sintéticas
usadas no tratamento dos sintomas parkinsonianos;
Outro grupo, sem similaridade com qualquer neurotransmissor
conhecido e chamado de “miscelânea”, incluifenciclidina, cetamina e
amanita muscaria.
Intoxicações por O tratamento mais eficaz é feito por aumento da acidez da urina e
PCP da excreção urinária.
A acidificação apenas deverá ser realizada após eliminar a
hipótese de mioglobinuria (que sinalizaria rabdomiólise) e pode
ser feita com ácido ascórbico ou cloreto de amônio.
O pH deve ser mantido em torno de 5,5 e constantemente
monitorado.
97
Inalantes e outras drogas de abuso
Pontos Importantes:
98
mortalidade significativas, principalmente, em crianças em idade escolar e
em adolescentes.
99
A síndrome de abstinência dos solventes não foi bem documentada e
parece não ser clinicamente significativa, também não está clara qual é a
intensidade da exposição (duração e dosagem) necessária para resultar em
sintomas de abstinência. Normalmente, inicia-se 24h a 48h após a cessação
do uso, pode durar de 2 a 5 dias e inclui perturbações do sono, tremores,
irritabilidade, respiração acelerada, náuseas e desconforto no abdômen e no
tórax.
100
Construtos Cognitivos
Pontos Importantes:
Entendimento da neuropsicologia e suas interfaces.
Compreensão dos domínios cognitivos.
Impacto dos comprometimentos nas esferas cognitiva,
comportamental e emocional do dependente químico.
101
palavras, a neuropsicologia atua mais frequentemente no estudo das funções
mentais superiores.
103
Áreas corticais com suas respectivas funções:
Funções
Parietal Processamento de informações táteis e integração sensorial multimodal.
Temporal Processamento de informações auditivas, gustativas e olfatórias, além de
integração multimodal e de linguagem (percepção lingüística).
Occipital Processamento de informações visuais e integração sensorial
multimodal
Frontal Planejamento e processamento motor voluntário, integração de funções
superiores, como expressão dalinguagem, consciência, raciocínio e
tomada de decisão.
Ínsula Processamento emocional para coordenação de comportamentos e
estados emocionais.
104
conjunto de memórias de cada pessoa influencia a sua personalidade. Devido
a essa característica, nenhuma pessoa é capaz de ser igual à outra, mesmo
gêmeos monozigóticos originarão seres humanos totalmente diferentes, de
acordo com as experiências de memória que tiverem” (Izquierdo, 2011).
A atenção refere-se à capacidade ou processo pelos quais o organismo se
torna receptivo aos estímulos internos e externos, proporciona habilidades
que orientam o organismo a mudar o estímulo, trocar o foco e/ou sustentá-
lo, inibindo estímulos internos (pensamentos e memórias) e externos
(sensações), sendo subdividida em diferentes tipos: atenção seletiva, atenção
sustentada, atenção dividida, atenção alternada e amplitude atencional.
A praxia e visuconstrução caracterizam-se como funções
neuropsicológicas complexas que correspondem a sistemas de movimentos
coordenados em função de um resultado ou intenção. Denomina-se apraxia a
dificuldade/impossibilidade de realizar corretamente movimentos gestuais
como consequência de um acometimento neurológico que afete o
planejamento motor, estando ausentes alterações sensoriais, perceptivas,
motoras (anteriores à lesão) e de compreensão. Esses comportamentos são
inúmeros e muito variáveis, envolvendo diversas habilidades
neuropsicológicas.
No contexto prático, a avaliação neuropsicológica é indicada quando as
queixas extrapolam o uso das substâncias e refletem transtornos cognitivos–
comportamentais que afetam o rendimento do trabalho, a aprendizagem e as
relações interpessoais. Essas alterações ficam mais claras quando o
indivíduo tenta manter suas atividades, mas demonstra dificuldades ou
diferenças em seu desempenho.
Nota-se, que a utilização da substância psicoativa causa impacto no
sistema nervoso, sendo extremamente nocivo ao equilíbrio físico, cognitivo,
comportamental e emocional do indivíduo. Com isso, a avaliação
neuropsicológica pode contribuir para o levantamento de possíveis prejuízos
cognitivos, possibilitando a identificação de comportamentos alterados e o
desenvolvimento de estratégias para minimizar esses déficits.
105
Portanto, o uso de substâncias e a presença de prejuízos cognitivos
podem, de forma potencial, produzir alterações comportamentais,
emocionais e de personalidade nesses indivíduos, aspectos que devem ser
considerados em um processo de tratamento e reabilitação
neuropsicológica.
106
processos cognitivos de estabelecimento de metas, planejamento, solução de
problemas, fluência, categorização, memória operacional, monitoração da
aprendizagem e da atenção, flexibilidade cognitiva, capacidade de abstração,
auto-regulação, julgamento, tomada de decisão, foco e sustentação da
atenção.
O córtex orbitofrontal pré-frontal é fortemente interconectado com
áreas de processamento cognitivo e emocional. Esta área tem sido associado
a aspectos do comportamento social, como empatia, cumprimento de regras
sociais, controle inibitório e auto-monitoração. Seu comprometimento está
geralmente associado a comportamentos de risco e alterações da
personalidade caracterizadas por redução da sensibilidade às normas
sociais, infantilização e dependência de reforço evidente e baixa tolerância à
frustração. Há também prejuízo no julgamento social, no aprendizado
baseado em emoções.
107
Em relação à atenção, é importante compreender que ela se configura
como uma capacidade ou processo pelos quais o organismo se torna
receptivo aos estímulos internos e externos, proporciona habilidades que
orientam o organismo a mudar o estímulo, trocar o foco e/ou sustentá-lo,
inibindo estímulos internos (pensamentos e memórias) e externos
(sensações).
A atenção pode ser classificada em:
108
atualizar e modular a evidência de um reforço da capacidade de controle
prepotente de inibir as respostas. É visto também desmotivação para
mudança de comportamento. As alterações constatadas nas capacidades de
planejamento e flexibilidade mental estão diretamente relacionadas com a
dificuldade de fazer escolhas assertivas com relação à manutenção da
abstinência e afetando a aderência ao tratamento.
Compromentimentos da Memória
Pontos Importantes:
109
Segundo Santos, Andrade e Bueno (2015), a memória caracteriza-se
pela capacidade de adquirir, armazenar e recuperar diferentes tipos de
informações, sendo fundamental para a sobrevivência e a formação da
identidade. O ser humano se constitui a partir de momentos e experiências
vivenciados ao longo da vida. Aprender a locomover-se e a comunicar-se o
torna apto para o convívio social. A personalidade caracteriza-se por seus
gostos, opiniões e posicionamentos, baseados também nas experiências de
vida.
As ciências cognitivas que vêm sendo desenvolvidas há vários anos
consideram que a memória não é uma entidade única, mas subdividida em
vários tipos e subtipos: memórias de longo prazo (MLP), que, por sua vez,
podem ser divididas em memória declarativa (ouexplícita) e memória não
declarativa (ou implícita).
A memória declarativa consiste na lembrança consciente de eventos
pessoais e de fatos culturais aprendidos ao longo da vida, se subdividindo
em memória episódica e memória semântica.
A memória implícita é aprendida aos poucos, com repetições que
seguem as mesmas regras. Elas compreendem diversos tipos, como a
memória de procedimento, o condicionamento clássico (pareamento entre
estímulos), o condicionamento operante (relação de contingência entre uma
resposta e um estímulo reforçador), a habituação, a sensibilização.
Outra distinção antiga entre os sistemas de memória, é aquela entre
memória de curto prazo e de longo prazo, conforme o tempo e a capacidade
de armazenamento. A memória de curto prazo armazena conteúdo limitado
(cerca de quatro itens ao mesmo tempo) e apenas por alguns segundos,
enquanto a memória de longo prazo é capaz de armazenar quantidade
ilimitada de informações por minutos ou anos.
Sendo assim, podemos compreender que a memória de curto prazo foi
conceitualmente englobada por outro sistema: o de memória operacional. A
memória operacional (working memory) é entendida como a capacidade de
manter e, ao mesmo tempo, manipular informações por um período breve de
110
tempo.
No uso abusivo e crônico de álcool, estudos relatam através de
neuroimagem que os danos estruturais e funcionais afetam o hipocampo e os
lobos frontais, e até mesmo no córtex cerebelar. Em quadros de intoxicação
aguda por álcool, há sérias consequências como a síndrome de Korsakoff e
demência alcoólica, causando perda de memória recente, prejuízo para
novos aprendizados, perturbação em relação ao tempo, produção de falsas
memórias.
Com o uso da maconha, percebemos que há um aumento no risco de
derrame e a diminuição de certas regiões do cérebro como a amígdala e o
hipocampo, que são ricas em receptores para o tetrahidrocanabinol (THC).
Isso pode afetar diretamente a capacidade de memorização e a regulação de
emoções como medo e agressividade. Nota-se também, alterações
anatômicas do hipocampo (área de formação de novas memórias) e
estruturas do sistema límbico (amígdala), podendo agravar as funções
referentes à memória e atenção.
A cocaína apresenta um enorme potencial para a dependência, sendo
capaz de estimular o funcionamento cerebral, causando déficit na
concentração, memória visual e verbal, no aprendizado. De acordo com
estudos, o uso crônico da cocaína causa alterações neuronais e sinápticas em
diferentes regiões cerebrais incluindo o hipocampo.
Vemos então, a importância da memória em nossas vidas. A memória
refere-se à retenção dos conhecimentos adquiridos sobre o mundo, ela
transforma o passado em presente, nos possibilita a aquisição de novos
conteúdos promovendo assim os aprendizados durante a vida. Nota-se, que
o uso da substância, seja ele crônico ou agudo, provoca alterações
significativas nesse construto neuropsicológico. As alterações evidenciadas
na memória podem comprometer o tratamento na dependência química,
fazendo com que o sujeito não aprenda de forma eficiente o programa
proposto acarretando em dificuldades na mudança comportamental.
111
Comprometimentos da Praxia e Visuoconstrução
Pontos Importantes:
Praxia e visuoconstrução construtos complexos do funcionamento
do individuo.
Na visuoconstrução os comprometimentos estão relacionados na
capacidade de realizar o escaneamento espacial, na construção e na
utilização e manipulação da informação a partir de imagens visuais.
112
Assim temos as seguintes apraxias:
Apraxia Ideativa;
Apraxia Ideatoria;
Apraxia Visioconstrutiva;
Apraxia Conceitual.
114
Modificar o ambiente com tecnologia assistida ou outros meios de
adaptação às dificuldades individuais de cada paciente.
Crianças e Adolescentes
“O que se faz agora com as crianças é o que elas farão depois com a sociedade”.
Karl Mannheim
Pontos Importantes:
A principal tarefa na adolescência é a construção da identidade
própria, de sua imagem e papel social.
O uso de drogas na infância e adolescência é um dos principais
problemas das sociedades atuais.
Não há critérios diagnósticos específicos para essa fase no DSM-5,
se utiliza os critérios gerais.
116
escolhas, o que pode acontecer com a experimentação do uso de substâncias
psicoativas nessa fase.
118
Solvente 8,7 7,0 0,7 6,0 6,0 13,0 6,5
os
nas
*Uso na vida: quando a pessoa fez uso de qualquer droga psicotrópica pelo menos uma vez na vida*
Fonte Adaptada: Carlini e colaboradores (2010); Comisión Interamericana para elControldel
Abuso de Drogas (2015); Kraus e colaboradores (2016); Ministério del Interior y Seguridad
Pública (2011); Monitoringthe Future Study (2016).
Faltas às aulas;
Queda do rendimento escolar;
Mudanças radicais no vocabulário;
120
Amizades;
Estilo de se vestir;
Interesses culturais, religiosos ou hábitos de lazer;
Isolamento social;
Irritabilidade e agressividade;
Alterações em hábitos (como horário de dormir e de se alimentar,
perda de objetos ou roupas, gastos exagerados, etc.);
Mentiras frequentes;
Problemas disciplinares graves no colégio;
Envolvimento com brigas ou problemas legais.
“Aquele que é feliz, espalha felicidade. Aquele que teima na infelicidade, que perde o equilíbrio e a
confiança, perde-se na vida”.
Anne Frank
Pontos Importantes:
Psicológicas e psiquiátricas:
Sociais e culturais:
Durante a gestação:
129
e as demais recebem um ponto quando a resposta é positiva. As demais
questões são pontuados com 2 pontos, caso a reposta seja afirmativa. Ao
final, somam-se todos os pontos das 5 questões. No escore obtido, a presença
de pelo menos dois pontos indica que um problema com o álcool possa estar
presente e que a mulher deveria ser encaminhada para uma avaliação
especializada para que o diagnóstico possa ser corretamente elaborado e o
tratamento adequado instituído.
Entre as principais recomendações do tratamento de mulheres com
transtornos por uso de substâncias (TUS), podemos citar:
130
Incluir a participação dos filhos durante o tratamento, a qual pode
ser desde uma visita, com atividades desenvolvidas para a interação
de mãe e filhos, a regimes intensivos, que não afastam os filhos de
mães e permitem que sejam cuidados de forma concomitante;
Lembrar que os programas devem considerar as diferenças
culturais do local onde está inserido;
Observar que é importante existir uma competência cultural para
compreender as particularidades e heterogeneidades dentro de
cada uma das comunidades envolvidas com uso, abuso e
dependência de substâncias, assim como, reconhecer seus ícones e
suas festividades;
Envolver líderes comunitários e pares ou semelhantes, em especial,
para populações de difícil acesso. Os resultados apontam que a
aproximação dos pares na abordagem tende a motivar a busca de
tratamento. Incluir suporte social e jurídico, como atenção a
creches e transporte;
Ter programas abrangentes, sendo que o tratamento deve incluir
aconselhamento, educação e orientação, além de intervenções
psicossociais e farmacológicas.
131
Idosos
“No final, não são os anos da sua vida que contam, e sim a vida ao longo desses anos”.
Abraham Lincoln
Pontos Importantes:
População com característica específica para dependência química.
Dentre as drogas ilícitas utilizadas por essa população, se destacam
a maconha, cocaína e heroína. E as drogas lícitas, há o álcool e os
benzodiazepínicos.
Não há critérios diagnósticos específicos no DSM-5, utilizam-se os
critérios gerais, porém, aliados com as especificidades dessa
população.
133
cerebral, apresentando risco aumentado de interações medicamentosas, o
que determina uma maior suscetibilidade aos efeitos decorrentes do uso de
álcool.
O consumo leve do álcool nos idosos, segundo evidências científicas,
não apresentam efeitos significativos na proteção contra doenças
coronarianas como é apresentado em adultos de meia-idade. Já o consumo
de grandes quantidades de álcool está associado ao desenvolvimento de
volume cerebral menor nos idosos, que com frequência está relacionado ao
declínio cognitivo acelerado quadros demenciais.
A identificação dos problemas decorrentes do consumo de álcool nos
idosos, é um desafio, pois isso ocorre porque os sintomas de uso podem se
assemelhar a sintomas de doenças clínicas e psiquiátricas frequentes nessa
faixa etária. As definições habituais usadas para uso e dependência de álcool
são difíceis de empregar em idosos, uma vez que a maioria deles já se
aposentou ou apresenta grande redução dos contatos sociais.
Na tabela podemos verificar algumas condições clínicas que dificultam
no diagnóstico de consumo de álcool e outras drogas.
CONDIÇÕES CLÍNICAS, NEUROPSIQUIÁTRICAS E FUNCIONAIS QUE
DIFICULTAM O DIAGNÓSTICO DE USO DE ÁLCOOL E DE OUTRAS
SUBSTÂNCIAS NOS IDOSOS
Neuropsiquiátrica Quadros psiquiátrico (depressão, ansiedade,
alterações do humor, esquizofrenia e outros
transtornos psicóticos);
Comprometimento cognitivo (doença de
Alzheimer e outras demências);
Delirium;
Transtornos da personalidade;
Convulsões;
Tremores;
Alterações do sono (insônia, hipersonia e
sonolência excessiva diurna).
134
Clínicas Dores crônicas;
Distúrbios gastrintestinais;
Distúrbios hepáticos e renais
135
idosos, um desafio único para a equipe que o acompanha. Em muitos casos,
o paciente idoso apresenta várias queixas e questões médicas. Muitos sinais
e sintomas comportamentais que, em um adulto, podem sugerir a
intoxicação ou abstinência de drogas, podem ser facilmente confundidos
com doenças clínicas ou transtornos psiquiátricos e, portanto, tratados
inadequadamente.
Para se realizar um diagnóstico de drogas ilícitas nos idosos devemos
investigar os fatores de risco para o uso dessas substâncias, que poderão
elucidar o reconhecimento o uso nessa população. Vejamos alguns fatores de
risco:
136
LGBTQIA+ e Consequências do Abuso
Pontos Importantes:
A população LGBTQIA+ apresenta as taxas mais elevadas de
transtornos por uso de substâncias.
Apresentam vulnerabilidades que podem contribuir para o
consumo das substâncias psicoativas.
O tratamento dessa população precisa ter um olhar voltado à
própria história, costumes, valores e as normas comportamentais e
sociais.
138
Essa população apresenta algumas vulnerabilidades que podem
contribuir para o consumo das substâncias psicoativas. Vejamos
abaixo algumas:
Preconceito no tratamento e na avaliação, seja focando a orientação
sexual como inapropriada, seja ignorando importantes fatos ligados à
sexualidade;
Ignorância sobre questões LGBTQIA+ e desconforto em abordar
assuntos sobre sexualidade;
Ignorância sobre as inter-relações entre sexualidade e abuso de álcool
e drogas;
Há dificuldade em revelar a orientação sexual devido ao medo de ser
maltratado por funcionários ou pacientes. Alguns são forçados a
revelar sua orientação homoafetiva;
Há os que recebem alta dos locais de tratamento logo que sua
sexualidade fica conhecida;
Alguns temem que se sua orientação sexual for conhecida, isso acabe
recebendo mais ênfase do que seus problemas com o uso de
substâncias psicoativas;
Alguns serviços não gostam de ter as parcerias afetivas de seus
pacientes participando de programas de família ou grupos de ajuda
mútua;
A maioria dos programas de desintoxicação e programas de
reabilitação não é sensível a questões de orientação sexual e gênero, e,
portanto, não encorajam que isso seja discutido ou revelado;
Não conseguir admitir a orientação sexual pode facilitar recaídas;
Redes tradicionais de apoio à recuperação (família, igreja, escola,
trabalho) em geral são fechadas para o público LGBTQIA+;
O homossexual não “assumido” que frequenta grupos de ajuda mútua,
como alcoólicos anônimos (AA) e narcóticos anônimos (NA), pode se
sentir constrangido e não retornar às reuniões por acreditar estar
139
quebrando a chave da filosofia da sobriedade dessas irmandades, que
é “ser honesto e aberto em suas relações com seus pares.
Minorias
Pontos Importantes:
Na dependência química das minorias, é importante evidenciar o
conceito de vulnerabilidade.
O tratamento precisa ser voltado para a realidade e as necessidades
dessa população.
141
A situação de rua deve ser compreendida como parte de um processo
de marginalização e desfiliação dos indivíduos, os quais podem utilizar as
ruas de maneiras diversas. Em geral, três subgrupos podem ser identificados
de acordo com tempo de permanência e grau de vínculos familiares:
Ficar na rua – circunstancialmente;
Estar na rua – recentemente;
Ser da rua – permanentemente.
142
Necessidade de fazer “bicos” ou mesmo pedir dinheiro nas ruas.
Populações Indígenas
Os processos de colonização no mundo tiveram semelhanças
importantes, sendo que os atuais problemas de saúde (incluindo transtornos
psiquiátricos relacionados ao uso de substâncias) são resultados de políticas
governamentais inadequadas, criação de reservas indígenas, adoção de
estilos de vida sedentários, marginalização, racismo e, por fim, criação de
uma autoimagem indígena negativa.
População Carcerária
O uso, abuso e dependência de substâncias psicoativas em populações
carcerárias, são considerados extremamente altos, trazendo grande impacto
na vida de seus usuários, assim como, os custos elevados para a saúde
pública. Associados ao uso de substâncias, estão também os
comportamentos sexuais de risco, que aumentam chances para infecções
sexualmente transmissíveis.
144
Há uma variedade de estudos internacionais que abordam essa
questão, propondo estratégias medicamentosas centradas, sobretudo, no
tratamento de heroína e em medidas de penas alternativas para essa
população, o que de certa forma, é ainda distante da realidade nacional,
porque a heroína não é a principal droga de abuso no nosso país.
Infelizmente, no Brasil não existem estudos acerca dessa população,
principalmente, estudos representativos, da extensão da dependência
química no sistema prisional brasileiro. Porém, não é difícil supor os
possíveis entraves para a condução de estudos dessa magnitude, que
poderiam revelar contextos de violação de legislação e corrupção.
Intervenção Breve
“Conhecer a sua própria escuridão é o melhor método para lidar com a escuridão dos outros”
Carl Jung
Pontos Importantes:
A intervenção breve é eficaz em reduzir o consumo e os problemas
ligados ao consumo de álcool.
Ela se baseia no modelo cognitivo de dependência.
Desenvolvida para atender os estágios iniciais dos transtornos por uso
de substâncias.
1. Fatores genéticos;
2. Fatores ambientais;
3. Fatores culturais;
4. Fatores psicológicos.
146
comportamentos, e a motivação para fazê-lo, são componentes fundamentais
para alterar comportamentos tidos como nocivos.
147
apresenta dificuldade em detectar riscos para consumidores menos graves,
mulheres e adolescentes.
148
apresentam um plano para modificar seu comportamento. Estão
começando a ter consciência ou a se preocupar com as
consequências adversas do consumo excessivo de álcool.
150
Se o paciente estiver com sintomas de abstinência, deve-se
iniciar a desintoxicação seguindo o consenso sobre
síndrome de abstinência de álcool (SAA);
Negociação da Estabelecer uma meta de tratamento em acordo com o
meta de paciente;
tratamento Se o paciente estiver fazendo uso de alto risco, o médico
pode sugerir como meta o beber controlado;
Se o paciente tiver uma dependência já instalada, a melhor
meta é a abstinência;
Técnicas de Diagnosticar o estado de motivação do paciente;
modificação de Realizar balanço entre os prós e contras do uso de álcool;
comportamento Realizar avaliação laboratorial e investigar áreas de vida
com problemas relacionados ao consumo;
Material de Fornecer ao paciente material didático informativo sobre
autoajuda uso de álcool;
Seguimento Realizar visita mensal ao consultório ou visita domiciliar
mensal ou dar um telefonema.
152
sofrimento, pela experiência e pelos anseios da outra parte de sua própria
história. A sensação de pertencimento e de experiência compartilhada com
pessoas “iguais” a ele o auxilia a criar saídas para o isolamento e a solidão
tão presente no usuário de drogas.
O grupo tem a força de criar uma identidade, que servirá posteriormente
como apoio para a construção de uma identidade própria, mais fortalecida e
autêntica. A psicoterapia de grupo, com objetivos focados, bem definidos e
coerentes com a realidade, tem sido uma grande contribuição para que o
indivíduo atualize seus conflitos e sofrimentos em um ambiente protegido,
que o auxilie a reformular sua forma de agir e reagir frente aos eventos de
sua vida.
No contexto grupal, o indivíduo pode encontrar maior possibilidade de
perceber a si mesmo e ao outro, por meio do que podemos chamar “reação
espelho” (enxergar-se a partir do outro), além de poder se familiarizar com
novas maneiras de sofrimento e de soluções, representadas por pessoas
reais colocadas durante a terapia de grupo.
A psicoterapia de grupo pode ser utilizada para diversas finalidades,
desde a busca do autoconhecimento e mudanças nas relações interpessoais
até grupos que se propõem a trabalhar sintomas específicos, como é o caso
da dependência de álcool e outras substâncias. Além das muitas
aplicabilidades, vários referenciais teóricos podem ser utilizados,
dependendo da formação do especialista, do perfil do grupo, dos objetivos
terapêuticos, entre outros critérios básicos.
No caso da dependência química, é importante que a abordagem teórica
leve em conta a amplitude da problemática e as consequências negativas
nela inseridas, principalmente, quanto ao potencial destrutivo (físico, mental
e social). Geralmente, o indivíduo apresenta um quadro de perdas e
limitações, o que dificulta, em primeira instância, o aprofundamento para
questões mais amplas, inconscientes e angustiantes de sua vida. Mesmo o
especialista, tendo plena consciência do caráter sintomatológico da questão,
acreditamos existir aqui a necessidade de abordar o comportamento de
153
maneira menos angustiante. Os grupos de orientação, aconselhamento ou
apoio centralizam a busca de soluções mais práticas, objetivando a mudança
de padrões de comportamentos destrutivos por novas atitudes para lidar
com as mesmas questões conflitantes.
Na dependência química, a terapia cognitivo comportamental vem
demonstrando maior eficácia em termos de custo-benefício quando aplicada
em grupo, em vez de individualmente. A terapia cognitiva atua basicamente
no fortalecimento das atitudes e do pensamento, focando, de maneira mais
diretiva, o comportamento em questão. Aborda os determinantes do hábito
aditivo, incluindo antecedentes situacionais e ambientais, crenças e
expectativas, história familiar individual e experiências anteriores com a
substância psicoativa, atividades que envolvem o consumo e as
consequências do hábito. Segundo a teoria, sendo o comportamento
resultado do aprendizado, o ser humano pode, conscientemente, aprender e
adquirir atitudes mais adaptadas.
A prevenção à recaída, derivada do enfoque cognitivo-comportamental,
pode ser incorporada a terapia de grupo, com o objetivo auxiliar o indivíduo
a aprender outras respostas para as mesmas situações, por meio da
percepção de crenças errôneas ligadas ao uso, treinamento de habilidades
comportamentais e modificações no estilo de vida. O psicodrama, a gestalt e
outras terapias de ação, podem ser úteis também, como abordagens
principais ou inseridas na terapia convencional, principalmente, em casos
em que o grupo apresenta maiores resistências.
Independentemente da linha teórica, vários autores destacam vantagens
do trabalho envolvendo interações grupais. Tão importante quanto o
referencial teórico do psicoterapeuta é seu preparo técnico e pessoal, bem
como sua disponibilidade para flexibilizar alternativas para as diversas
demandas. É preciso man ter a atenção, observando quais são as situações
de risco para recaída e buscar desenvolver estratégias para evitá-las. É
notório que na primeira fase do tratamento, predominam sentimentos
ambivalentes e poucas condições para lidar com a angústia e a frustração, o
154
que aumenta o risco de retorno ao uso, portanto, na fase de tratamento, o
preparo do terapeuta para utilização de técnicas de prevenção de recaída é
bastante útil.
Para manter a estrutura organizativa do grupo, é necessário estabelecer o
cumprimento das regras, pois serão os norteadores do trabalho grupal. Ter
regras coerentes e claras, objetivamente expostas a todos os participantes,
permite o acompanhamento de seu cumprimento e um referencial seguro
para todos. Se o contrato é dúbio ou implícito, a pessoa se sente em
condições de mudar as regras de acordo com visão e desejos particulares,
reproduzindo sua função desadaptativa no grupo.
Para questões que apareçam no decorrer do tratamento e que não
estavam previstas no contrato, é sugerido pela literatura, que
primeiramente, sejam pensadas pela coordenação do grupo, objetivando
coerência com os objetivos do tratamento, e colocadas para o grupo, ou para
serem discutidas e chegar a um consenso entre os participantes ou apenas
para colocar as regras já decididas pela coordenação, nunca esquecendo de
quem dirige o grupo são os profissionais/coordenadores, portanto, estes
precisam ter a visão do todo para lidar com as decisões.
Para se formular um bom contrato terapêutico é necessário abordar os
seguintes aspectos:
Objetivo (abstinência e melhoria da qualidade de vida);
Prazo mínimo de compromisso e alta;
Tentativa de abstinência no dia da sessão;
Evitar segredo entre os membros do grupo;
Necessidade de sigilo no tocante ao conteúdo das sessões, bem como
aos participantes;
Horários e local das sessões;
Aviso de faltas previstas;
Honorários, dia de pagamento, reajustes e férias do terapeuta.
Prevenção a Recaída
Pontos Importantes:
Variedade de técnicas, quase todas cognitivas ou comportamentais,
que objetivam a mudança do hábito autodestrutivo.
Baseada na aprendizagem social de Bandura.
Nessa abordagem, podemos compreender a recaída, não como uma
catástrofe inexplicável, mas como um evento que acontece por meio
de uma série de processos cognitivos, comportamentais e afetivos.
156
essas situações e em mudanças nas reações cognitivas e emocionais
associadas. No entanto, convém ressaltar, que a grande maioria dos
programas de prevenção de recaída, embasa-se no modelo teórico do
processo de recaída, proposto por Marlatt, em 1985, para o quais vários
outros autores contribuíram após sua formulação pioneira.
As intervenções nessa abordagem de tratamento, focam no
desenvolvimento de comportamentos positivos e saudáveis para substituir
aqueles associados ao consumo abusivo de substâncias e reforçam o não uso.
Portanto, o objetivo da prevenção da à recaída é bem mais amplo do que
apenas ajudar o paciente a desenvolver habilidade para aprender a viver
sem ter no álcool ou na droga uma prioridade. Seu comportamento de uso é
apenas o ponto de partida para a modificação de todo um estilo de vida, de
um jeito de ser no mundo.
Esta intervenção embasa-se no modelo de aprendizagem social de
Bandura proposto por Marlatt. Segundo essa teoria, o comportamento de
uso ou consumo abusivo de substâncias é aprendido e sua frequência,
duração e intensidade aumentamem função dos benefícios psicológicos
alcançados. Na aprendizagem social, a interação dos fatores biológicos,
genéticos e psicossociais é percebida como importante, ou seja, é possível
que uma vulnerabilidade genética interaja com fatores psicossociais,
resultando em habilidades deficientes que solicitem treinamento e
remediação. Nessa perspectiva, o uso de substâncias é um mecanismo
aprendido, por meio de reforço e de modelagem, que tem como finalidade
reduzir o estresse. Conforme o uso da substância contínua, o indivíduo
poderá utilizá-la com mais frequência e em doses maiores, para evitar os
sintomas de abstinência.
Quanto ao processo de recaída, presume-se que o indivíduo
experiencie um senso de controle, enquanto mantém a abstinência. Quanto
maior o tempo de abstinência, maior será sua percepção de controle. Esse
senso de controlecontinuará até que a pessoa encontre uma situação de alto
risco. Uma situação de alto risco é definida, de maneira ampla, como
157
qualquer situação que represente uma ameaça ao senso de controle e
aumente o potencial risco de recaída. Na iminência da situação de risco, o
usuário pode apresenta ou não uma resposta de enfrentamento eficaz.
Quando não há uma resposta de enfrentamento, o indivíduo tende a
experimentar uma diminuição da autoeficácia (impotência e tendência a
render-e passivamente).
A situação de risco, de acordo com Figlie, Cordeiro e Laranjeira (2019),
significa qualquer determinante interno (psicológico) ou externo
(ambiental) que ameace a percepção de controle (autoeficácia) do indivíduo.
Vejamos algumas situações de riscos iminentes para o dependente químico:
158
ocorra uma resposta de enfrentamento ou uma súbita mudança na
circunstância no último minuto, o indivíduo pode atravessar a fronteira da
abstinência (ou uso controlado) para a recaída (uso descontrolado), por
meio de um uso inicial ou lapso.
Nessa perspectiva, podemos compreender a recaída, não como uma
catástrofe inexplicável pelo modelo de prevenção de recaída, mas como um
evento que acontece por meio de uma série de processos cognitivos,
comportamentais e afetivos. Já um lapso se refere a um escorregão, descuido
ou falha, uma retomada do antigo padrão de consumo alcoólico, um retorno
ao beber nos mesmos níveis anteriores à intervenção terapêutica ou à
abstinência.
Observa-se, que no tratamento em dependência química, os lapsos ou
escorregões durante a abstinência são inevitáveis e vistos como um ponto
crítico, a partir do qual o indivíduo pode retornar à abstinência ou
desenvolver um completo padrão de recaída como resposta ao efeito da
violação da abstinência proposta pelo próprio indivíduo.
159
Avaliações de autoeficácia: este procedimento envolve a
apresentação de uma lista de várias situações de alto risco e a
solicitação ao cliente para avaliar o grau de tentação que tende a
experienciar e o grau de segurança que sente sobre sua capacidade
de lidar efetivamente (evitar um lapso) em cada uma dessas
situações.
Descrições de episódios passados ou fantasias de recaída: as
recaídas pelas quais o paciente já passou, ou teme passar, podem
ser utilizadas como fontes de informação e aprendizado. Quais
foram às circunstâncias que culminaram ou culminariam com o uso
inicial? Que habilidade(s) seria(m) necessária(s) para enfrentar
essas situações? De que maneira o uso inicial evolui para uma
recaída? O que o paciente pensa/sente a respeito do uso inicial? A
que atribui à causa?
Pontos Importantes:
A família é um importante sistema dentro da sociedade.
A família pode ser entendida como um cenário de risco e/ou de
proteção frente às complexidades do abuso de substâncias.
A terapia familiar (TF) é uma modalidade que traz benefícios e
contribui de maneira positiva para a mudança no padrão de abuso
ou dependência química.
161
Em 2007 o IBGE realizou uma pesquisa nacional com as famílias
brasileiras, que revelaram as seguintes configurações familiares:
Famílias com filhos predominam (67,6%).
Crescimento da proporção de pessoas que vivem sozinhas, dos
casais sem filhos, das mulheres sem cônjuge — mas com filhos
— na chefia das famílias, além de uma redução da proporção dos
casais com filhos.
Aumento considerável, entre 1996 e 2006, do número de
mulheres indicadas como provedoras, com uma variação de
79%, enquanto, no mesmo período, o número de homens
“chefes” de família aumentou 25%.
A família monoparental feminina tem expressão significativa nas
áreas urbanas, sobretudo, no contexto metropolitano.
Tendência de redução do tamanho da família, que passou de 3,6
pessoas, em 1996, para 3,2, em 2006.
Arranjos unipessoais representaram 10,7% do total no país.
40% das famílias tinham um membro com mais de 60 anos.
163
Identificação do membro mais motivado da família: objetiva
facilitar a entrada do paciente no tratamento e ajudar o familiar
envolvido.
Terapia de família unilateral: terapia feita com o cônjuge, no sentido
de facilitar a entrada do paciente no tratamento.
Aconselhamento cooperativo: treinamento oferecido a familiares
que necessitam de ajuda em função de estarem envolvidos com
dependentes químicos, recrutados pela mídia.
Método de engajamento sistêmico estrutural-estratégico:
tratamento focado na mudança dos padrões de interação familiar, já
que enfatizam a importância desses padrões, alguns relacionados ao
uso de drogas.
Sequência de intervenção relacional para o engajamento: forma
de intervenção mais flexível que permite à família, em conjunto com
seu familiar dependente, tomar decisões relacionadas ao familiar em
função de seu uso de drogas.
Terapia de rede: foca a família como um grupo que atua como
substrato para a mudança, ampliando o apoio para o contexto social
dos pacientes (rede).
164
Grupos de multifamiliares: por meio de um encontro de famílias que
compartilham da mesma problemática, cria-se um novo espaço
terapêutico que permite um rico intercâmbio a partir da solidariedade
e da ajuda mútua, em que as famílias se convocam para ajudar a
solucionar o problema de todas, gerando um efeito em rede. Todas as
famílias são participantes e destinatárias de ajuda.
Psicoterapia de casal: casais podem ser atendidos individualmente
ou em grupos, caso o terapeuta tenha habilidade para conduzir as
sessões sem expor particularidades de cada casal que não sejam
adequadas ao tema focado.
Grupo de educadores, grupo de outros familiares e variações: o
atendimento familiar é múltiplo, e o trabalho interventivo pode ser
definido pelos núcleos, como pelo gênero, ou por questões específicas
a serem discutidas.
165
paciente e de sua família, sendo analisadas dentro de um processo, o que
significa que mudanças não serão imediatas, e sim construídas conforme a
realidade de cada sistema familiar.
166
A literatura do AA, lista também as 12 tradições que devem ser
respeitadas. Trata-se da Constituição Mundial da irmandade. Manter a
unidade – ou seja, o bem-estar comum – é uma tradição dos Alcoólicos
Anônimos, bem como divulgar a mensagem do AA, por meio de palestras em
hospitais e empresas, e manter-se auto-suficiente, rejeitando qualquer tipo
de doação.
Os Alcoólicos Anônimos (AA), destaca-se como uma organização de
autodenominados alcoólicos que se reúnem frequentemente e
voluntariamente, para reforçar sua prática de abstinência de ingestão de
bebidas alcoólicas. Os Narcóticos Anônimos (NA), destaca-se como uma
organização de autodenominados narcóticos que se reúnem frequentemente
e voluntariamente para reforçar sua prática de abstinência de ingestão de
outras drogas.
Já os grupos de apoio para as familiares, destacam-se o Amor Exigente,
que é um grupo cujo programa terapêutico focadona prevenção, mas
também na recuperação. Ajuda não só jovens quimicamente dependentes,
mas também, qualquer jovem ou casal de pais com problemas, na tentativa
de mudar seus comportamentos e, consequentemente, os comportamentos
dos seus.
Portanto, vimos a importâncias dos grupos de ajuda no tratamento da
dependência química, embora, a rigor, como assinala alguns autores, o
modelo de autoajuda não se configure como um “ambiente de tratamento”,
167
de qualquer maneira, é uma fonte importantíssima de ajuda a muitas
pessoas com problemas com álcool e outras drogas. Os grupos de autoajuda
não se autodenominam como fonte de solução para o problema da
dependência química ou outro distúrbio relacionado com as compulsões.
Seus membros reconhecem que tiveram sucesso ao tratar de seus próprios
problemas, entretanto, sob quaisquer circunstâncias não compartilham da
opinião de que sua visão terapêutica deva ser adotada universalmente.
Redução de Danos
Pontos Importantes:
A redução de danos é uma estratégia que visa minimizar as
consequências adversas do uso de substâncias psicoativas.
Considerada um meio, não uma finalidade no tratamento.
169
Programas de substituição de substâncias;
Salas limpas para uso de substâncias;
Programas de prevenção de overdose;
Distribuição de naloxona;
Treinamento de pares em ressuscitação cardiopulmonar;
Mudanças legislativas e regulatórias.
170
A RD reconhece a abstinência como resultado ideal, mas aceita
alternativas que reduzam os danos;
A RD surgiu principalmente como uma abordagem “de baixo para
cima”, com base na defesa do dependente, em vez de uma política “de
cima para baixo”, promovida pelos formuladores de políticas de
drogas;
Acesso a serviços de baixa exigência como uma alternativa para
abordagens tradicionais de alta exigência;
A RD se baseia nos princípios do pragmatismo empático versus
idealismo moralista.
173
implicadas. Nessa medida, o manejo dos problemas exige uma constante
negociação, capacidade de articulação e integração entre os profissionais da
equipe.
O paciente deve ser entendido e abordado sob a ótica da totalidade,
considerada na perspectiva da integralidade, que é a chave da intervenção
terapêutica, a fim de atenuar o sofrimento humano, onde o sujeito assume o
protagonismo de sua vida. Já as intervenções com as famílias objetivam
empoderar os familiares para que compreendam o problema em suas
diferentes facetas, incluindo sua repercussão no plano das interações do
sistema familiar, para que a família se conscientize da necessidade de se
reposicionar ante o familiar dependente.
A assistência em saúde envolve um do tipo profissional e
especializado, que tenham qualificação técnica em graus diversificados e
que, portanto, dominam saberes e técnicas específicas para auxiliar
indivíduos com problemas de saúde ou em situação de vulnerabilidade
psicossocial que implica riscos para adoecimento. De acordo com a
complexidade do serviço prestado, existe a necessidade de diversos
profissionais na prática clínica: médicos de diversas especialidades,
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, psicólogos,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, farmacêuticos,
assistentes sociais, entre outros.
A natureza das relações de trabalho nas equipes interdisciplinares
constitui uma das barreiras mais salientes para a implementação da
interdisciplinaridade. A organização taylorista-fordista, que ordena o campo
das relações de trabalho na saúde, impõe uma fragmentação e
hierarquização de tarefas.
O trabalho em equipe exige uma lógica cooperativa, diferente do
modelo fragmentado de organização do trabalho, em que cada profissional
realiza parcelas do trabalho sem uma integração com as demais áreas
envolvidas. A abordagem interdisciplinar pressupõe novas formas de
relacionamento, tanto no que diz respeito à hierarquia institucional, a
174
gestão, a divisão e a organização do trabalho, quanto no que se refere às
relações que os trabalhadores estabelecem entre si e com os usuários do
serviço. As barreiras que se interpõem a um trabalho efetivo da equipe
multidisciplinar compreendem: formação e capacitação profissional,
definição dos objetivos e papéis, manejo dos conflitos, padrões de
comunicação e fatores institucionais.
176
de um olhar ampliado que a saúde é representada na contemporaneidade.
Pontos Importantes:
178
Necessidade de uma organização de trabalho voltada para a
necessidade do usuário.
Não há um modelo que seja melhor, o modelo é o que for mais
adequado para o sujeito.
Há um grande número de papéis profissionais no tratamento da
dependência química.
180
Todo o serviço deve procurar o seu lugar para apoiar com mais eficácia
o paciente que o procura, isso vai além da determinação do papel e do
posicionamento do serviço: é necessário também se conectar aos demais
serviços disponíveis, para formar redes de apoio mútuo. Isso reforça e
amplia as estratégias de tratamento do serviço e possibilita o
encaminhamento aqueles que já concluíram o tratamento proposto, mas
ainda necessitam de outras abordagens.
Dentre da organização de trabalho, há um grande número de
profissionais diretamente envolvidos no tratamento da dependência
química. Cada ambiente (e a complexidade de sua organização) requer um
tipo de equipe. Podemos citar alguns dos papéis profissionais:
Médico generalista e médico especialista;
Psicólogo;
Assistente social;
Enfermeiro;
Terapeuta ocupacional;
181
Acompanhante terapêutico;
Agentes comunitários de saúde;
Conselheiros ex-usuários.
Individualização da abordagem;
Disponibilidade de acesso;
Multidisciplinaridade;
Plano de tratamento maleável;
Tempo de permanência mínimo;
Psicoterapia individual e em grupo;
Farmacoterapia;
Tratamento integrado da comorbidade;
Desintoxicação apenas como primeiro passo;
Tratamento voluntário e involuntário;
Monitoramento do consumo;
Doenças sexualmente transmissíveis e síndrome da
imunodeficiência adquirida;
Tratamento em longo prazo.
182
Quanto ao planejamento, este está destinado ao desenvolvimento do
conteúdo do serviço, do processo de implantação e gestão, bem como ao
estabelecimento das normas de interação entre os membros da equipe e
entre estes e o público-alvo. Tudo isso visa um só objetivo: produzir um
atendimento de qualidade para aqueles que buscam os serviços para
dependência química. A avaliação é a parte constituinte (e indissociável) do
planejamento, sendo responsável pelo dinamismo que toda proposta de
tratamento deve possuir.
Trabalhar com dependentes químicos, em geral, é uma atividade que
exige dos profissionais envolvidos capacidade de acolher, de receber, de
estar aberto para a vivência do outro. Além disso, somam-se muita
capacidade de tolerar frustrações, grau elevado de reafirmação interna e
externa de regras e de limites. O recurso humano para essa função é,
portanto, o grande diferencial de qualquer serviço de dependência química
que se deseje organizar. A combinação do conhecimento do profissional com
mais anos de experiência e das vicissitudes dos profissionais mais jovens são
ingredientes que podem ser facilitadores desse processo. É importante,
sobretudo que haja treinamento específico e educação continuada sobre a
área de atuação, por meio dos vários cursos de capacitação existentes, mas
principalmente daqueles ligados a especializações em comportamentos
aditivos.
Pontos Importantes:
183
desenvolvidas pela atenção Básica (Unidades Básicas de Saúde; Programa
Saúde da Família) nos territórios; o secundário que está ligado ao
tratamento especializado e curativo, como por exemplo, psiquiatria,
ginecologia, neurologia, etc., e, por fim, o nível terciário marcado pela alta
complexidade, que consiste nos serviços que dispõem de tecnologias para
cirurgias e reabilitação, como no caso dos hospitais.
Entende-se por atenção primária, o nível básico da organização dos
serviços de saúde, de acordo com os princípios do SUS, que atua,
principalmente na promoção e proteção à saúde da população. Fazem parte
desta categoria as Unidades Básicas de Saúde (UBS), as iniciativas da
Estratégia de Saúde da Família (ESF), assim como os consultórios de ruas,
entre outros. A estratégia de Saúde da Família (ESF) busca promover a
qualidade de vida da população brasileira e intervir nos fatores que colocam
a saúde em risco. Sendo assim, destacam cinco princípios básicos da Atenção
Primária, tais como: acessibilidade, abrangência, coordenada, contínua e
responsabilidade. De acordo com portal PenseSus, podemos compreender
melhor o conceito de atenção básica:
“Atenção básica ou atenção primária em saúde é conhecida como a “porta de
entrada” dos usuários nos sistemas de saúde. Ou seja, é o atendimento inicial.
Seu objetivo é orientar sobre a prevenção de doenças, solucionar os possíveis
casos de agravos e direcionar os mais graves para níveis de atendimento
superiores em complexidade. A atenção básica funciona, portanto, como um
filtro capaz de organizar o fluxo dos serviços nas redes de saúde, dos mais
simples aos mais complexos”.
184
O Programa Saúde da Família tem como proposta a reestruturação do
sistema de saúde no âmbito da atenção primária. A Estratégia Saúde da
Família (ESF) busca promover a qualidade de vida da população brasileira e
intervir nos fatores que colocam a saúde em risco, como falta de atividade
física, má alimentação, uso de tabaco, dentre outros. Com atenção integral,
equânime e contínua, a ESF se fortalece como a porta de entrada do Sistema
Único de Saúde.
A Atenção Secundária à Saúde, está relacionada aos serviços de média
complexidade que englobam as especialidades de densidade tecnológica
intermediária, os tratamentos específicos de apoio diagnóstico e terapêutico,
assim como, os atendimentos em urgência e emergência. Este nível de
atenção é composto por assistências curativas, tratamento de doenças e
prevenção do agravamento, ou seja, na atenção secundária, já existe um
processo de adoecimento em curso que precisa ser tratado adequadamente.
De forma geral, o nível secundário de atenção à saúde é composto
pelos seguintes serviços: Unidade de Pronto Atendimento (UPA),
Policlínicas, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Centro Especializado de
Odontologia (CEO) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
Na atenção secundária, podemos destacar os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS), que são unidades que prestam serviços de saúde de
caráter aberto e comunitário, constituído por uma equipe multiprofissional e
realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou
transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso
de álcool e outras drogas, sejam em situações de crise ou nos processos de
reabilitação psicossocial.
O CAPS tem como papel acolher as demandas em saúde mental em
substituição ao modelo psiquiátrico centrado no hospital e na forma de
encarar os mais variados tipos de sofrimento psíquico como um mal a ser
excluído. Para YASUÍ (2006, p.107), o CAPS é uma estratégia de
transformação que faz parte de uma ampla rede de cuidados e “não se limita
ou se esgota na implantação de um serviço. O CAPS é um meio, é um
185
caminho, não o fim”.
187
Comunidades Terapêuticas e Residências
Assistidas
Pontos Importantes:
As comunidades terapêuticas são dispositivos de internação
especializada.
As comunidades terapêuticas trabalham com a proposta de
abstinência, baseadas nos 12 passos e espiritualidade.
As residências terapêuticas, por sua vez, são locais para pacientes
com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas
destinadas e com transtornos mentais que permaneceram em
longas internações psiquiátricas.
Pontos Importantes:
Suicídio associado a vários transtornos psiquiátricos, no qual são
passíveis de tratamento.
Mandamento da preservação a vida: proteja a vida, não minimize a
tentativa de suicídio, seja empático sempre e avalie os fatores de
risco e proteção.
Desenvolvimento de programas mais efetivos na prevenção do
comportamento suicida.
O termo suicídio é derivado do latim a partir das palavras sui (si mesmo)
e caedes (ação de matar). É um fenômeno descrito como existente desde a
pré-história e que evoluiu com significados conceituais diferentes ao longo
da história humana. Em 400 a.C., por exemplo, Hipócrates atribuía o suicídio
190
à melancolia como uma consequência da depressão. Já Santo Agostinho
(354- -430) entendia o suicídio como algo relacionado ao pecado, baseado
no mandamento não matarás – Santo Agostinho interpretou “não matarás
nem a ti próprio” e daí a conotação de pecado. Em 967, na Inglaterra, o
suicídio torna-se, então, um crime. Somente em 1827, o fenômeno adquire a
conotação de um problema psiquiátrico, e apenas, recentemente, em 1976, o
suicídio passou a ser compreendido em uma abordagem mais biológica.
Compreende-se por comportamento suicida o ato pelo qual o indivíduo se
agride, independentemente, de quão letal seja esse ato ou mesmo sem
reconhecimento genuíno dessa atitude. Assim, o comportamento suicida é
compreendido fazendo parte de um continuum que engloba pensamentos,
gestos e atitudes autodestrutivos e o suicídio em si. Esse último corresponde
a um ato deliberado de autoagressão realizado na expectativa de ser fatal.
O suicídio tem sido associado de forma consistente a uma doença
psiquiátrica em evolução via de regra tratável. Entre os principais
diagnósticos envolvidos, estão os transtornos psicóticos primários, os
afetivos e os relacionados ao uso de substâncias psicoativas. É considerada
uma questão de saúde pública, sendo imperativo preveni-lo. Mas, para bem
prevenir, é necessário compreender.
Pesquisa realizada pela UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da UNIFESP (Universidade
Federal de São Paulo)
192
que 2 a 3,4% dos dependentes de álcool se suicidam. Outros dados de
metanálise elevam esse risco a 7%. Porém, os estudos publicados até o
momento não distinguem com clareza se o risco é maior sob abuso ou sob
dependência de substâncias psicoativas.
As pesquisas com foco nos adolescentes e suicídios, recebem menos
atenção nos tipos de comportamento suicida, como ideação e tentativas, os
quais são mais comuns entre mulheres. Algumas pesquisas têm associado o
suicídio em mulheres, principalmente, a beber em binge, experiência de uma
infância adversa, problemas de relacionamento, depressão e comportamento
suicida precoce.
Com certa frequência, há características em comum entre indivíduos
com problemas relacionados a abuso ou dependência de álcool que podem
consumar suicídio, vejamos elas:
1. Iniciaram o uso de bebidas muito jovens;
2. Pertencem ao gênero masculino;
3. Tendem a ser brancos, de meia-idade, solteiros, sem amigos e
socialmente isolados;
4. Consumiram álcool compulsivamente durante vários anos de forma
pesada e têm histórico familiar de dependência de álcool;
5. Apresentam saúde física comprometida, sentimentos depressivos, vida
pessoal perturbada e caótica, sofreram uma grande perda interpessoal
recente, como luto ou separação conjugal, e têm baixo rendimento no
trabalho ou estão desempregados. É muito provável que as perdas
interpessoais e os outros eventos indesejáveis sejam consequência da
própria síndrome de dependência de álcool e que tenham contribuído
para o desenvolvimento de um transtorno do humor, que muitas vezes
está presente nas semanas que antecederam o suicídio.
194
Fatores de Proteção e Risco na Dependência
Química
Pontos Importantes:
196
particularmente relevantes para essa mudança.
197
Dica de Vídeo: “Medicalização da Saúde”, com Naomar Almeida Filho.
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=kF58rMxir2I
198
Referências Bibliográficas
200
QUEVEDO, J., IQUEVEDO, I. (2020). Neurobiologia dos Transtornos
Psiquiatricos. Porto Alegre: Artmed.
https://usf-camelias.min-
saude.pt/PublishingImages/Teste%20de%20Fagerstrom.pdf
https://www.fct.unesp.br/Home/Administracao/TecSaude-
UNAMOS/audit_com_escore_para_entrevistadI-1.pdf
https://www.who.int/substance_abuse/activities/assist_portuguese.pdf
http://sgmd.nute.ufsc.br/content/portal-aberta-
sgmd/e03_m03/medias/files/E3_M3_QUESTIONARIO.pdf
http://inpad.uniad.org.br/wp-content/uploads/2013/03/SDS_Maconha.pdf
http://inpad.uniad.org.br/wp-content/uploads/2013/03/SDS_Coca.pdf
201
Anexos
202