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MÓDULO 01

Histórico do uso de álcool e


outras drogas e sua interseção
com o sistema penitenciário

CURSO LASSUS . MÓDULO 1 2


CAPÍTULO 01
Histórico do uso de álcool e outras
drogas, disposições legais e políticas
públicas de saúde em resposta ao
fenômeno da dependência química

Introdução..........................................................................................................................................................05
Aspectos históricos sobre o uso de álcool e outras drogas...............................................................06
Especificidades da realidade brasileira.......................................................................................................14
Legislação nacional e políticas públicas no âmbito do uso de drogas.............................................17
Políticas de Saúde Específicas para o Sistema Penitenciário.............................................................23
O uso de drogas no sistema prisional – diagnóstico atual..................................................................26
Resumo do capítulo.........................................................................................................................................31
Atividade de assimilação do conteúdo......................................................................................................32
Leituras complementares...............................................................................................................................34
Referências.........................................................................................................................................................35

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No final deste capítulo, você será capaz de:

• conhecer a trajetória histórica do uso de álcool e outras


drogas na sociedade e sua representação social e cultural;

• conhecer algumas disposições legais brasileiras sobre o


uso de drogas, bem como políticas de saúde para atenção e
cuidados aos usuários dependentes, em âmbito geral, e no
âmbito específico do sistema prisional.
INTRODUÇÃO drogas pela Classificação Estatística Internacional de Doenças e
O uso de álcool e outras drogas acompanha a trajetória do Problemas Relacionados com a Saúde, da Organização Mundial da
homem desde sempre. O consumo dessas substâncias adquiriu Saúde (CID-10) (OMS, 2008), em que eles podem ser classificados
características de epidemia, sobretudo a partir das décadas de como: experimentadores; ocasionais; habituais ou dependentes.
50 e 60, obrigando os diferentes países a criarem legislações Nosso objetivo aqui é que você comece a aprofundar seus
e medidas, não apenas para travar sua produção e tráfico, mas conhecimentos sobre essa temática!
também para prestar assistência ao número preocupantemente
crescente de pessoas dependentes de tais substâncias.
Para que você conheça um pouco da história e trajetória do
consumo dessas substâncias, o primeiro capítulo abordará seus
aspectos históricos, sociais, culturais e simbólicos, com ênfase
também nas especificidades da realidade brasileira.
Posteriormente veremos de que forma o Brasil se organizou
para responder ao problema, não apenas do ponto de vista legal,
mas também em relação ao nível das políticas públicas de saúde que
visam à assistência ao usuário dependente de álcool e outras drogas.
Considerando que nosso foco é o sistema prisional, não
podemos deixar de apresentar os dados mais atuais relativos
ao consumo de tais substâncias dentro do próprio sistema e as
políticas específicas para atenção à saúde dos cidadãos privados de
liberdade, que preveem a assistência aos usuários dependentes de
álcool e outras drogas.
Cabe salientar, ainda, que adotamos, neste material de
estudos, a definição dada aos usuários de álcool e outras

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ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE
O USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

Nota Introdutória: Por droga entende-se toda e qualquer substância, natural ou sintética, que, uma vez
introduzida no organismo, modifica suas funções. Portanto, toda e qualquer substância psicoativa. No senso
comum é descrita como toda a substância ilegal, de uso proibido e nocivo ao indivíduo, modificando suas funções
psíquicas, sensações, humor e comportamento. No entanto, pode ser entendida como qualquer substância
psicoativa, legal ou ilegal. Dessa forma, em nossos conteúdos, incluímos o álcool nesta definição (WHO, 2005).

O uso de drogas é um fenômeno mundial que acompanha as diferentes


sociedades desde o início das civilizações. Atualmente, apesar de variar de região
para região, afeta praticamente todos os países, sobretudo a população mais
jovem, numa tendência potencialmente crescente. Por essa razão, tem recebido
cada vez mais atenção por parte das políticas públicas de diferentes áreas, como
justiça e saúde.
O fenômeno do uso de substâncias psicoativas é, hoje em dia, um problema
macrossocial, no qual encontramos correlacionados fatores individuais,
familiares, econômicos, políticos, entre outros. É um dos problemas sociais mais
graves de nosso tempo, uma vez que afeta diretamente as diferentes sociedades,
ou seja, mesmo aqueles que não têm relação direta com o problema acabam
sendo envolvidos pela criminalidade a ele associada.
Vejamos, então, como se caracterizam os usos de drogas ao longo da história.

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Nos tempos clássicos, Grécia e Roma pareciam ter apenas
como “problema” social o consumo de álcool. O ópio era usado
como medicamento e, embora já divulgado na Ásia Menor e
Assíria, a Cannabis parece ter tido pouca relevância para estas
civilizações (CHOPRA, 1975).
Para Pensar
A introdução do ópio na Índia, por volta de 700-800 a.C., é A informação sobre o uso de substâncias psicoativas
de responsabilidade dos árabes, sendo o seu uso, inicialmente, anterior ao século XVI é escassa e a existente
encontra-se fragmentada. Ao que parece, nos tempos
limitado a fins terapêuticos. Por volta de 1000 d.C., verifica-se uma
clássicos e medievais, o álcool era a única droga capaz
grande divulgação de seu uso, ainda com os mesmos fins, não só na
de criar problemas sociais maiores.
Índia como também na China. No entanto, o uso dessa substância
pelos soldados e combatentes como forma de “ganhar coragem”
deixa antever a evolução psíquica de seus efeitos.
Em meados do século XII, com a descoberta de técnicas de A partir de 1500 d.C., período em que a incidência do uso
destilação mais potentes, passam a ser produzidas na Europa substâncias psicoativas aumentou consideravelmente, é possível
bebidas alcoólicas, também muito mais potentes. Seu uso, no encontrar informação mais detalhada e já aí reconhecer as linhas
entanto, manteve-se, até meados do século XVI, sob o domínio distintas dos padrões modernos de uso e abuso. No entanto,
exclusivo da medicina. embora se verifique um aumento de informação, prevaleceu o
Na mesma época, mas do outro lado do Atlântico, o Império problema da interpretação, devendo os dados serem analisados
Inca centra grande parte de seu sistema sociorreligioso em uma à luz das políticas (nomeadamente as leis e os impostos, as
planta: a coca – dádiva divina do Deus Sol. E o café – até então quantidades de produção etc.) de cada época e de cada cultura
destinado a fins médicos – difundiu-se na Arábia devido ao (AMARAL DIAS, 1980).
desenvolvimento da técnica de moagem (ao que parece, originária No início do século XVI, com a expansão marítima, o uso de
da Etiópia), surgindo numerosas casas para seu consumo, e seu uso drogas difunde-se e diversifica-se. Chega do “Novo Mundo”, uma
expandindo-se para outros fins (NIDA, 1979). enorme quantidade de drogas: o tabaco, a coca, o ópio, a cassina

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(planta com propriedades analgésicas), o café da Arábia e da um problema, quer na Europa, quer no Novo Mundo, coincidindo
Turquia, a cola da África e o chá da China (SATOW, 1978). aqui com a migração contínua de mão de obra chinesa para a costa
Ainda no mesmo século, assiste-se a grandes mudanças oeste dos EUA.
socioculturais no mundo ocidental, que o tornam mais receptivo ao
uso de todas estas substâncias: o controle religioso e social diminui
e a sociedade torna-se mais complexa, circular e livre. Verifica-se o
aumento do consumo do álcool e o aparecimento de seu consumo
recreativo. Reformadores como Calvino e Lutero enfatizam a
necessidade de controlar esta situação, surgindo, pela primeira
vez, literatura sobre o tema (NIDA, 1979).
O fim do Império Inca (séc. XVI), o controle do comércio
e a progressiva aculturação dos povos asiáticos levou ao
enfraquecimento ou desvirtuamento de leis e normas
sociorreligiosas. Consequentemente, surge o consumo
de substâncias psicoativas fora dos contextos religiosos e
medicinais, por parte dos que anteriormente se encontravam
afastados do consumo.
Na Europa, a influência dos costumes dos países recém-
descobertos era pouca ou nula. Se inicialmente as substâncias
psicoativas e seus efeitos causavam alguma estranheza, sendo o
álcool o único agente tóxico conhecido, seu uso foi lentamente
ganhando território (CRAWSHAW, 1979). Exemplo dessa
progressiva divulgação é o surgimento, anos mais tarde, da
Figura 1: retrato antigo de pessoas em um ambiente de uso de ópio. Fonte: Convencion-
opiomania (ou ópio dependência). O consumo de ópio torna-se internacional-del-opio (2012).

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Em 1804, Serturner isola o ingrediente ativo do ópio. Treze
anos mais tarde lhe atribui a designação de morfina e em 1825
ela passa a ser usada como analgésico. Até 1850, ano em que foi
inventada a seringa hipodérmica, sua utilização era rara. A partir
desta data seu uso se difunde por acreditarem que, com o emprego
da seringa, permitindo a administração da morfina sem penetração
no estômago, tal substância não provocaria dependência
(CRAWSHAW, 1979).
Em 1874 foi produzido, na Inglaterra, um derivado químico da
morfina: a heroína. No entanto, seu uso não teve grande divulgação
antes de 1880. Em 1898, a empresa farmacêutica alemã Bayer
comercializou a substância como menos viciante e menos tóxica
do que a morfina. Divulgada pela Bayer como sedativa da tosse,
tão naturalmente quanto se divulga o uso de aspirina, a heroína
se revelou, tragicamente, muito mais perigosa do que a morfina.
Um mito de curta duração cujas consequências perduram até os
dias de hoje. Em 1930 surgem as substâncias sínteses da heroína, Figura 2: Vidro antigo de heroína como medicamento. Fonte: JIM (2001).

o Dolosal e a Metadona, analgésicos miraculosos, tão poderosos


quanto a heroína, mas menos nocivos.

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Na mesma década começaram a surgir as primeiras medidas
internacionais, quer de combate ao uso e tráfico de drogas, quer
de compreensão do fenômeno da dependência, reflexo de uma
situação que começava a preocupar os governantes da época.
Ainda em 1930 foi criado, nos Estados Unidos, o Federal Bureau
of Narcotics (Serviço Federal sobre Narcóticos), que adotou em
1937 o Marijuana Tax Act (Lei do Imposto sobre a Marijuana),
documento que criminaliza o uso da Cannabis nos Estados
Unidos. Simultaneamente, a Sociedade das Nações (antecessora
das Organização das Nações Unidas) cria o primeiro Comitê de
Peritos, responsável por definir a dependência química, sobretudo
por definir as drogas susceptíveis de causar esta dependência
(CRAWSHAW, 1979).
Com o fim da II Guerra Mundial, os EUA assumem um papel
fundamental no ditar de todas as novas “modas” relativas ao
consumo de drogas e aos fenômenos sociais consequentes.
Os jovens americanos iniciam o consumo de Benzedrina
(nomeada de bomba B pelos seus usuários), que misturavam com
barbitúricos. Surgem também os cocktails Jerônimo, uma mistura
de barbitúricos e álcool que precedeu os cocktails químicos que
caracterizaram os anos 1980. Emergem as primeiras gangs de
jovens, responsáveis pelo crescimento de uma violência grupal e
Figura 3: Pilotos da Força Aérea Americana durante a Segunda Guerra Mundial. Fonte: Pixabay
juvenil inquietante. (2014).

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Do outro lado do mundo, no Japão, também resultado do final Além disso, distingue dependência química de habituação,
da II Guerra Mundial e das mudanças político-sociais, assiste-se a caracterizando habituação como:
uma epidemia de dependentes de anfetaminas. O pico do consumo
é atingido em 1954, com cerca de dois milhões de dependentes.
Verifica-se, então, que o problema da dependência química teve
seu início junto a jovens das classes sociais mais baixas (BRILL;
“Um estado resultante do consumo repetido de uma droga.
HIROSE, 1969). Suas características são: o desejo de continuar a usar a
Na década de 1950, a Organização Mundial de Saúde (OMS) droga por causa da sensação de bem-estar obtida através
propõe que se defina a dependência química , à época designada de de seu uso; pequena ou nenhuma tendência a aumentar
toxicomania, como: as doses; certa dependência psíquica em relação aos
efeitos da droga, ausência de dependência física e, por
consequência, ausência da síndrome de abstinência; os
efeitos nocivos, a existirem, dizem respeito, sobretudo, ao
próprio usuário.” (WHO, 1957, não paginado).
“Um estado de intoxicação periódico ou crônico,
engendrado pelo consumo repetido de uma droga, natural
ou sintética. Suas características são: um invencível desejo
ou uma necessidade de continuar a consumir droga e a
procurá-la por todos os meios; uma tendência a aumentar Durante os anos 1960 a explosão demográfica decorrente do
as doses; uma dependência psíquica e geralmente física pós-guerra começa a ser visível , aumentando, consequentemente,
em relação à droga; os efeitos nocivos ao indivíduo e à o número de jovens que abusam o uso de drogas. Diante
sociedade.” (WHO, 1957, não paginado). disso, o Comitê de Peritos da Organização Mundial de Saúde
propõe novas definições, mais de acordo com o que se passa no
mundo do consumo. Assim, prevê a introdução do conceito de
farmacodependência:

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Novos aspectos da farmacodependência
“Um estado psíquico e algumas vezes físico, resultante da
interação entre um organismo vivo e um medicamento,
caracterizando-se por modificações de comportamento e
por outras reações que compreendem sempre uma pulsão
modificação
a tomar o medicamento de forma contínua ou periódica do comportamento
a fim de reencontrar os seus efeitos psíquicos e, por
vezes, evitar a privação. Este estado pode se acompanhar
ou não de tolerância. O mesmo indivíduo pode ser
dependente de mais de um medicamento.” (WHO, 1969,
não paginado). distinção entre
fenômeno de
dependência
tolerância
física e psíquica

A noção de farmacodependência substitui os termos


toxicomania (dependência química) e habituação, e,
simultaneamente, são introduzidos novos aspectos do problema
(Figura 4). Figura 4: novos aspectos da farmacodependência. Fonte: SEAD-UFSC (2018).

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Também a noção de polidependência (politoxicomania, à
época) aparece pela primeira vez esboçada. Esta definição, Verifica-se, então, que, embora as drogas sejam
consumidas desde a antiguidade, o tipo de drogas
casualmente ou não, surge ligada a um novo fenômeno, designado
consumido varia, parecendo ter seus ciclos próprios.
por Olivenstein (1980) de drogas ideológicas. Estas encerram em Em sua nova forma de consumo, o fenômeno estende-se,
si a ideologia de uma recusa do atual modo de vida e têm como atualmente, a todo o planeta.
principal precursor T. Leary e como bandeira o LSD e a maconha.
Aqui encontramos o ponto de partida para a epidemia do uso de
drogas em todo o mundo moderno.
Segue-se o movimento Hippie, a contestação estudantil,
a dependência química juvenil e o aumento das substâncias
psicotrópicas, sobretudo as que afetam o psiquismo e cujo efeito
não é aceito pela sociedade. A dependência de vários tipos de
drogas – polidependência – apresenta-se como a forma mais
Para Pensar
comum do uso dependente de drogas. É comum escutarmos que o uso de substâncias
A partir dos anos 1990, os jovens passam a aliar o consumo psicoativas (álcool e outras drogas) está presente nas
diferentes sociedades desde o início das civilizações,
de drogas sintéticas ao uso de álcool, marijuana e haxixe. As
sendo utilizadas para os mais diversos propósitos. Na
drogas sintéticas (opioides) têm por alvo preferencial os jovens;
sua opinião, o que mudou em relação ao uso de álcool
os opiáceos têm sua procura diminuída, e, consequentemente, a e outras drogas nas últimas décadas ou nos últimos
população que deles depende envelhecida. anos? Quais as possíveis influências sociais sobre essas
mudanças? O que você pensa sobre o cenário atual do
uso de álcool e outras drogas na nossa sociedade?

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Especificidades da realidade brasileira
Quando pensamos no uso de drogas no Brasil, não podemos deixar de ter presente
suas especificidades culturais, sociais e antropológicas. Os próprios ciclos
econômicos da história brasileira estão fortemente intrincados à produção destes
tipos de substâncias: a cana-de-açúcar (para a produção de aguardente), o tabaco e
o café. Conheça na Figura 5 as especificidades de algumas drogas:

Especificidades da realidade brasileira

Os povos indígenas sempre fizeram uso medicinal de diversos tipos de plantas, muitas delas psicoativas. O uso do tabaco indígena
tornou-se uma droga de difusão global, por meio de sua consagração entre religiosos e soldados. A tradição do xamanismo indígena, de
misturar duas plantas transformando-as numa bebida de efeito alucinógeno, se propagou às grandes cidades, e inclusive a outros países,
sob a denominação de Santo Daime. O uso religioso da ayahuasca foi reconhecido pelo Estado brasileiro como direito de prática religiosa,
protegido por meio de tombamento, enquanto patrimônio imaterial.

A maconha, cujo uso era, inicialmente, predominantemente feito pelos afrodescententes escravizados, foi também usada para
o tratamento da asma e de muitas outras afecções. Seu consumo recreativo, desde sempre estigmatizado como hábito dos
afrodescendentes e dos pobres, se disseminou entre as camadas populares das grandes cidades e áreas do interior do país.

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A cocaína esteve sempre presente na frabricação de remédios artesanais, e posteriormente na indústria farmacêutica, para o tratamento
da asma e alívio de outros problemas respiratórios. Até o início do século XX, não se encontram relatos de seu consumo abusivo (CARLINI
et al., 1995). A partir de 1910-1920, começa a haver registros de uma crescente preocupação com seu uso não medicinal, principalmente
em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Posteriormente, ao final da década de 1980, os consumos, por via intranasal e endovenosa,
começam a ser novamente preocupantes, bem como sua associação com a infecção pelo HIV e outras infeccões sexualmente transmissíveis.

A partir da década de 1990, o consumo do crack (uma mistura de cocaína e bicabornato de sódio, aquecida e fumada na forma de
pedra) teve grande expansão, principalmente entre os jovens menores de 20 anos de todas as classes sociais, sobretudo das classes
mais baixas (KESSELER; PECHANSKY, 2018). Seu potencial de dependência e seu baixo custo favoreceram muito o aumento de seu
consumo. Em São Paulo existe até um local denominado Cracolândia, tamanha foi a disseminação do uso desta droga na cidade.

Os efeitos euforizantes dos agentes inalantes disseminaram seu consumo em quase todas as épocas, havendo uma alternância entre o tipo
de substância usada. Atualmente são usadas principalmente: as colas; os solventes, removedores e diluentes de tinta; os anestésicos voláteis;
e os gases.

O ecstasy e outras drogas derivadas do MDMA (da anfetamina metilenodioximetanfetamina), surgidas na Europa no final da década
de 1980, teve seu consumo aumentado entre os jovens, inclusive no Brasil. Seus efeitos estimulantes potenciam sua disseminação
entre esta população, sobretudo em locais de dança e música eletrônica, conhecidos por raves.

Importa ainda salientar que no Brasil é também preocupante o uso abusivo de drogas anabolizantes, associadas ao culto do corpo
e essencialmente procuradas por esportistas e bodybuilders, seja para aumentar a competitividade, ajudar na cura de lesões, ou
simplesmente por questões estéticas. Os graves danos que podem causar à saúde dos consumidores obriga a se pensar em medidas ao
nível da saúde pública.

Figura 5: ícones e uma pequena explicação sobre as especificidades da realidade brasileira com relação a sete drogas: tabaco, maconha, cocaína, crack, agentes inalantes, ecstasy e anabolizantes. Fonte: SEAD-
UFSC (2018).

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Começamos este item apresentando referências do quanto associados ao uso abusivo de álcool. Mais recentemente, esse
a produção de substâncias psicoativas, parte delas consideradas tipo de consumo também tem sido implicado na causalidade
drogas lícitas, caracterizam os próprios ciclos econômicos da de doenças transmissíveis, como a tuberculose, o HIV/AIDS, as
história brasileira. O Brasil continua sendo, até hoje, o maior hepatites virais e as pneumonias (REHM, 2011; WHO, 2014).
produtor de café do mundo e o maior exportador de tabaco, Nas lesões não intencionais decorrentes do uso abusivo do
produzido sobretudo no Rio Grande do Sul e no sul da Bahia. álcool, incluem-se aquelas que se devem a acidentes de trânsito,
No entanto, as substâncias de maior importância na sua história violência e suicídios. Além das consequências à saúde, o uso
econômica, social e cultural foram, e ainda hoje são, as bebidas excessivo das bebidas alcoólicas causa perdas sociais e econômicas
alcoólicas, especialmente a cachaça e a cerveja. importantes para os indivíduos e para as sociedades (WHO, 2014).
Um total de 3,3 milhões de pessoas morrem todos os anos
devido às consequências do uso excessivo de bebidas alcoólicas,
As bebidas alcoólicas formam um produto importante representando 5,9% de todas as mortes no mundo. Na faixa etária
dos engenhos, sobretudo a aguardente – denominada compreendida entre os 20 e 39 anos, a relação direta entre o uso
de cachaça. A partir do século XIX, o Brasil iniciou a
abusivo e a morte é de 25% (WHO, 2014).
fabricação de cerveja, tendo hoje a maior produção
mundial desta bebida. Os dados da OMS divulgados em 2017 apontam que o
consumo de álcool per capita no Brasil chegou a 8,9 litros em 2016,
superando a média internacional de 6,4 litros por pessoa. Com isso,
A Organização Mundial da Saúde (OMS) não vê o consumo o país figura na 49.ª posição entre os 193 avaliados.
do álcool em si como um problema, mas considera que o uso Dados do ano anterior, resultado da Pesquisa Nacional de
excessivo e a falta de controle em certas situações podem se Saúde Escolar (Pense), divulgados pelo Instituto Brasileiro de
transformar em ameaça. Geografia e Estatística (IBGE), apontam um crescimento de 55%
O consumo nocivo do álcool mantém relação causal com mais no número de adolescentes do último ano do ensino fundamental
de 200 tipos de doenças e lesões. Câncer, cirrose, bem como que já experimentaram bebidas alcoólicas. Destes, 21,4% já
desordens mentais e comportamentais são frequentemente experimentaram algum episódio de embriaguez na vida.

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A presença cada vez mais acentuada de bebidas alcoólicas na rotina dos
adolescentes brasileiros é preocupante, não só devido a todos os fatores já referidos,
mas sobretudo devido à estreita relação entre a idade de início do consumo e o
desenvolvimento de patologia aditiva. Isto é, quanto menor é a idade em que é
iniciado o consumo, maior é a probabilidade de se desenvolverem comportamentos
dependentes em relação à substância (HINGSON; HEEREN; WINTER, 2006).

LEGISLAÇÃO NACIONAL E POLÍTICAS


PÚBLICAS NO ÂMBITO DO USO DE DROGAS
Durante décadas, muitos países fizeram um uso tendencioso do conteúdo das
Convenções Internacionais das Nações Unidas (1961, 1971, 1988, 2012) para
justificar e sustentar políticas repressivas centradas quase exclusivamente no
combate à produção e ao tráfico de drogas, num regime que ficou conhecido como
Guerra às drogas.

Esta interpretação tendenciosa inviabilizou a execução de muitos dos objetivos das convenções que visam
proteger a saúde dos indivíduos e da sociedade contra os efeitos adversos do consumo dessas substâncias.
As convenções exigem dos países que as ratificaram especial atenção e adoção de medidas para a prevenção
de seu uso abusivo e para a identificação precoce, tratamento, educação, pós-tratamento, reabilitação e
reintegração social das pessoas com elas envolvidas.

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Inúmeros países enfrentam atualmente níveis alarmantes de impostas pelo regime global de controle de drogas, quer por
violência organizada e interpessoal. Boa parte dela diretamente questões ideológicas, quer, sobretudo, devido às evidências de
ligada ao consumo, produção e tráfico de drogas ilícitas. Não que o regime não está reduzindo a oferta nem a demanda por
sendo uma exceção, o Brasil experimentou nas últimas décadas drogas ilícitas.
um processo de enrijecimento e intolerância ao porte e ao uso Inúmeras pesquisas mostram que a abordagem proibicionista,
de substâncias psicoativas ilícitas. Consequentemente, gerou um baseada em estratégias que criminalizam o uso, combatem
enorme aumento de todos os índices de violência na sociedade e o tráfico e a produção de drogas a qualquer custo, gerando
o encarceramento em massa (WAISELFISZ, 2012), destacando-se consequências desastrosas em termos de saúde e de segurança
atualmente como o terceiro país do mundo com o maior número pública, tem sido responsável pelo aumento sem precedentes
de privados de liberdade, número superior a 726 mil pessoas do número de privados de liberdade, sendo grande parte destes
(INFOPEN, 2016). os usuários de substâncias ilícitas (CARVALHO, 2014; UNODC,
2012, 2013, 2014, 2015; WERB et al., 2010).
Começa então a ser dada maior ênfase aos aspectos ligados
Informações detalhadas sobre os dados relativos
à população em situação de privação de liberdade ao cuidado dos usuários, estabelecidos pelas já referidas
podem ser obtidas do último Levantamento Nacional convenções, em detrimento da interpretação abusiva de seus
de Informações Penitenciárias, disponível em: <http:// pressupostos, embora tais convenções prevejam também
www.justica.gov.br/news/ha-726-712-pessoas-presas-no-brasil/
medidas de combate à produção e ao tráfico de drogas
relatorio_2016_junho.pdf>.
(COMISSÃO GLOBAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS, 2011;
COUNT THE COSTS, 2012).
Cabe ressaltar que existem evidências de uma crescente
resistência ao regime mundial de controle das drogas e à sua Confira na Figura 6 a historicidade das práticas do cuidado e
quase exclusiva ênfase no controle da oferta, realizada por políticas sobre drogas:
meio de medidas repressivas. Um número cada vez maior de
governos e sociedades civis ressente-se das medidas restritivas

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Práticas do cuidado e políticas sobre drogas

No Brasil, as práticas de cuidado em saúde para usuários de drogas oscilaram, historicamente, entre
cuidados de caráter religioso e o de cunho psiquiátrico, orientados para a abstinência.

Progressivamente, foram passando para uma abordagem interdisciplinar do problema, para a qual
contribuem profissionais de diversas áreas do conhecimento. Tal abordagem visa a atenção integral por
meio da implementação de um conjunto de ações, programas e linhas de cuidados estratégicos para o
tratamento e a redução de danos e vulnerabilidades decorrentes do uso abusivo de substância psicoativas.

A Lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006, para além de descriminalizar o consumo de substâncias ilícitas,
institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad). O Sisnad é responsável por
estabelecer medidas para a prevenção do uso indevido de substâncias ilícitas, para a atenção à reinserção
social de usuários e dependentes e ainda por estabelecer normas para repressão da produção não autorizada
e do tráfico ilícito.

No ano de 2018, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) propõe um conjunto de diretrizes
para realinhamento da Política Nacional sobre Drogas. A Resolução n.3/GSIPR/CONAD estabelece que
Programas, projetos e ações devem considerar, em sua estruturação, iniciativas de ampliação e reorganização
da rede de cuidados, acolhimento e suportes sociais, conceitualmente orientadas para a prevenção e
mobilização social, promoção da saúde, promoção da abstinência, suporte social e redução dos riscos sociais
e à saúde e danos decorrentes do uso abusivo.

Figura 6: histórico sobre as práticas do cuidado e das políticas sobre drogas. Destaca a abstinência, a abordagem interdisciplinar, a prevenção do uso indevido e
por fim a ampliação e reorganização da rede de cuidados. Fonte: SEAD-UFSC (2018).

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Com essas orientações, pretende-se a ampliação da lógica Consideradas as alterações propostas, importa salientar que
de intervenção atualmente centrada exclusivamente na a Política Nacional sobre Drogas em vigor propunha, já à data de
implementação de estratégias de redução de danos, que se sua homologação, o incentivo à articulação da rede de serviços
mostram insuficientes não só para a vida do dependente químico governamentais e não governamentais, de modo a promover a
como para a de toda a sua família. Assim, para além de linhas execução de ações integrais e intersetoriais no atendimento aos
de tratamento promotoras da abstinência, este realinhamento usuários de álcool e outras drogas (BRASIL, 2006). O mesmo acontecia
considera a necessidade de um contínuo aprimoramento das ações com a Política Nacional de Atenção Integral aos Usuários de Álcool e
públicas de prevenção, acolhimento, formação e pesquisa nesta outras Drogas, aprovada pelo Ministério da Saúde em 2004.
área. Também considera a formalização de uma rede nacional de Vejamos, então, como teve início a estruturação de políticas
mobilização comunitária e apoio aos familiares, em articulação com públicas de saúde voltadas ao cuidado e à assistência a esta população;
grupos e entidades da sociedade civil organizada cuja atuação seja mas antes gostaríamos de chamar sua atenção para o seguinte:
reconhecida. A rede de suporte social deve ser composta também
por essas organizações da sociedade civil (BRASIL, 2018).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a
dependência química como quadros de transtorno mental.
Conheça a Resolução n.1/2018 do CONAD na íntegra. Ela se
Assim, ao nível da saúde pública, as políticas específicas
encontra disponível em: <http://www.bsgestaopublica.com.br/index.php/ para dependentes químicos se inscrevem no quadro mais
resolucaconad1>. amplo de políticas de saúde mental.

Para informações mais amplas sobre esta classificação pode


ser consultado o manual Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde – CID-10
(OMS, 2010). Disponível em: <http://apps.who.int/classifications/icd10/
browse/2010/en >.

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Na década de 1990, a recente redemocratização do país, a criação do Sistema
Único de Saúde (SUS) e sua regulamentação permitiram ao movimento pela Reforma
Psiquiátrica desenvolver e começar a concretizar sua proposta de substituição
do modelo centrado na hospitalização (designado de hospitalocêntrico) por uma
rede de atenção psicossocial de base comunitária, que esteve na origem da Lei da
Reforma Psiquiátrica – Lei n.º 10.216/01 (BRASIL, 2001).

O sistema de atenção em saúde mental no Brasil tinha como único recurso terapêutico a internação em hospitais
públicos ou privados. Os ambulatórios eram muito raros, ofereciam poucas vagas e em sua maioria eram anexos
aos hospitais, funcionando como porta de entrada para as referidas internações. Portanto, sendo esta sua única
modalidade de tratamento, a assistência à saúde mental era integralmente hospitalocêntrica.

Acolhendo as sugestões do movimento social, o Ministério da Saúde estabeleceu


as primeiras regulamentações para serviços comunitários, designados Núcleos de
Atenção Psicossocial (NAPS) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) – Portaria
GM 224/92 (BRASIL, 1992). Esses serviços são definidos como unidades de saúde
locais/regionalizadas que atendem uma população vulnerabilizada, definida pelo
nível local, e oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime
ambulatorial e a internação hospitalar. As unidades podem ser porta de entrada
da rede de serviços para ações relativas à saúde mental e atendimento também
a pacientes referenciados de outros serviços de saúde, dos serviços de urgência
psiquiátrica ou egressos de internação hospitalar (BRASIL, 1992).

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No que diz respeito especificamente à atenção ao uso de com cerca de 150 novos serviços, chegando a regiões até então
álcool e outras drogas, até então ausente no debate da Reforma completamente desassistidas (BRASIL, 2004).
Psiquiátrica, a 2ª Conferência Nacional de Saúde Mental A funcionalidade e o funcionamento dos CAPS têm sido
(CNSM,1992) teve um papel fundamental na sua regulamentação. aprimorados e, no último ano, o Ministério da Saúde publicou
Apresentou uma proposta para a criação de uma rede de saúde a Portaria n.º 3588/17, que amplia uma vez mais esta rede e
mental que se encarregue de construir respostas efetivas para a estabelece uma outra categoria de CAPS–AD, a categoria IV,
atenção integral aos pacientes com transtornos mentais. Porém, que difere das outras três pelo fato de ter a obrigatoriedade de
apesar dessa proposta, a implantação de uma política específica funcionar 24 horas por dia nas cenas de uso de drogas, todos os
para dar resposta às questões ligadas ao uso abusivo de álcool e dias da semana, inclusive aos fins de semana e feriados, e visar ao
outras drogas no âmbito da saúde pública só se efetivou em 2002, atendimento também de crianças e adolescentes (BRASIL, 2017).
com a publicação da Portaria n.º 336/2002 (BRASIL, 2002).
Em 2001, com a homologação da referida Lei n.º 10.216/01,
fica definida a Política Nacional de Saúde Mental dentro de uma
lógica antimanicomial e não hospitalocêntrica, que se concretiza
na criação de novos serviços de saúde mental, em substituição dos
tradicionais hospitais psiquiátricos (BRASIL, 2001).
Para Pensar
Esta lei abriu espaço para que, no ano seguinte, fosse Você lembra, ou consegue imaginar, uma época em
publicada a Portaria n.º 336/2002, que, por sua vez, definiu que todas as pessoas consideradas loucas – incluindo
os dependentes de álcool e outras drogas – eram
diversas modalidades de CAPS, entre elas os serviços dirigidos,
enviadas para hospitais psiquiátricos, ou hospícios,
especificamente, aos usuários de álcool e outras drogas (CAPS–
por falta de outros serviços de assistência? Quais as
AD) (BRASIL, 2002). Além disso, ao definir o papel dos CAPS consequências para as pessoas internadas? Como era
na organização da atenção psicossocial no território enquanto isso em sua cidade?
modalidade de atenção comunitária, esta portaria incentivou
a expansão desses centros, que, a cada ano, passaram a contar

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Políticas de saúde específicas dificultaram a execução de ações de saúde no geral e das que se
para o sistema penitenciário destinam ao cuidado da dependência química em particular.
A Política Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL, 1990),
posteriormente reforçada pelo Programa de Atenção Integral
a Usuários de Álcool e outras Drogas (BRASIL, 2004), pressupõe A dificuldade do próprio sistema penitenciário em
reconhecer a existência de tráfico e consumo de drogas
um tratamento diferenciado para a dependência química, em
dentro das unidades prisionais mostra ser também um
espaço que possibilite a intervenção com foco neste agravo enorme entrave para a execução de linhas de cuidados
em saúde, respeitando-se os limites e possibilidades do sujeito para os usuários.
em cumprimento de pena privativa de liberdade ou em medida
de segurança.
Em 2003, com objetivo de reforçar essas ações, os Ministérios Visando garantir o direito à saúde para todas as pessoas
da Saúde e da Justiça promulgam a Portaria Interministerial n.º privadas de liberdade no Sistema Prisional e seu acesso ao Sistema
1777, que estabelece o Plano Nacional de Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), respeitando os preceitos dos direitos
Penitenciário (PNSSP). O plano prevê ações de Redução de Danos humanos e de cidadania, em 2 de janeiro de 2014, foi publicada a
entre a população privada de liberdade e aqueles que estão sob o Portaria n.º 01/2014, que estabelece a Política Nacional de Atenção
regime legal de medidas de segurança e que fazem uso abusivo de Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema
substâncias ilícitas (BRASIL, 2003). Prisional (PNAISP) (BRASIL, 2014a).
O conjunto das normativas, ao mesmo tempo que tornam A PNAISP prevê que as Unidades de Saúde Prisionais sejam
oficiais tais ações, obrigam as administrações penitenciárias a um ponto de atenção da Rede de Atenção à Saúde do SUS e
aprofundar o conhecimento sobre esta população, necessitando de articulação com outros dispositivos da Rede no território –
colocar em pauta o desenho e execução de intervenções pretende-se, portanto, qualificar a atenção básica no âmbito do
específicas. No entanto, a falta de vontade e empenho políticos, sistema prisional.
o não reconhecimento dos direitos humanos e cívicos dos Cada unidade prisional do itinerário carcerário – delegacias de
privados de liberdade e a precariedade do sistema penitenciário polícia, cadeias públicas, penitenciárias, presídios colônias agrícolas

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ou agroindustriais, ou hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico – deverá contar
com uma Unidade Básica de Saúde Prisional, que, por sua vez, contará com equipes
multiprofissionais que ofertarão ações de promoção da saúde e prevenção de agravos.
Caso não haja ambiência na unidade prisional, a Unidade Básica de Saúde do
território poderá se responsabilizar pelas ações. Apresentamos na figura a seguir as
principais ações da PNAISP.

1 Garantir o acesso à Rede de Atenção à Saúde no território com mais agilidade, equidade e qualidade.

Implementar ações para a promoção da saúde e prevenção de doenças transmissíveis, doenças não
2 transmissíveis e dos agravos decorrentes do confinamento.

Melhorar as ações de vigilância sanitária na alimentação e nas condições de higiene dentro das
3 unidades prisionais, contribuindo para a garantia da salubridade ambiental.

4 Operar estendendo e aprofundando as ações de todos os programas do Ministério da Saúde.

5 Atuar na prevenção do uso de álcool e de outras drogas e na reabilitação de usuários.

6 Garantir medidas de proteção, como a vacinação para hepatites, influenza e outras do celandário de adultos.

7 Garantir ações de promoção de saúde e de tratamentos bucais.

8 Garantir o acesso aos programas de saúde mental, gerais e específicos.

Garantir a aquisição e repasse de medicamentos da farmácia básica às equipes de saúde e distribuição de


9 insumos aos privados de liberdade.

Multiplicar as unidades básicas de saúde prisional e promover seu funcionamento na lógica do SUS.
10
Figura 7: principais ações da PNAISP. Fonte: Brasil (2014) adaptado por SEAD-UFSC (2018).

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Vinculado à PNAISP, é ainda instituído, no mesmo ano, o (EAP). O objetivo primordial é o redirecionamento dessas pessoas
Serviço de Avaliação e Acompanhamento de Medidas Terapêuticas para a Rede de Atenção à Saúde (RAS), que será possível por meio da
Aplicáveis à Pessoa com Transtorno Mental em Conflito com a Lei aplicação de penas alternativas à privação de liberdade.
– Portaria n.º 94/2014 (BRASIL, 2014b). Este serviço é parte da As Equipes de Avaliação têm como função apoiar ações e
estratégia para a readequação dos modelos de atenção a pessoas serviços para concretização do redirecionamento. Sua atuação
com transtorno mental em conflito com a lei e será efetivado pelas tem início na fase de audiência de custódia e, entre suas
Equipes de Avaliação e Acompanhamento das Medidas Terapêuticas atribuições, sete constam nas Regras de Mandela, das quais
Aplicáveis à Pessoa com Transtorno Mental em Conflito com a Lei destacamos três na Figura 8 a seguir:

1 2 3
A realização de avaliações
biopsicossociais e a apresentação A identificação de programas O estabelecimento de processos
de propostas orientadas, e serviços do SUS e do Sistema de comunicação com gestores e
sobretudo, para a adoção Único de Assistência Social equipes de serviços do SUS e do
de medidas terapêuticas, (SUAS) necessários para SUAS que viabilizem o acesso da
preferencialmente de operacionalizar as medidas de pessoa com transtorno mental
base comunitária, a serem atenção à pessoa com transtorno em conflito com a lei a linhas de
implementadas segundo um mental em conflito com a Lei, cuidado adequadas.
Projeto Terapêutico Singular garantindo a efetividade do PTS.
(PTS).

Figura 8: Regras de Mandela. Fonte: BRASIL (2014b) adaptado por SEAD-UFSC (2018).

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O uso de drogas no sistema
prisional – diagnóstico atual
Qualidade, desempenho e resultados parecem ser os
Em muitos países, apesar do fato de os usuários de drogas fatores que mais influenciam a atratividade e eficiência de
constituírem grande parte, se não a maior, da população privada programas de tratamento para as pessoas em situação de
de liberdade, o sistema prisional carece de linhas de acesso dependência de drogas.
adequado a programas de tratamento e de ações estratégicas
para a reabilitação dessa população, incluindo a disponibilização
de tratamento para comorbidades psiquiátricas que afetam A qualidade das linhas de cuidado resulta de uma combinação
uma proporção elevada da população dependente de drogas de fatores que incluem, entre outros: boa infraestrutura, número
(BAILLARGEON et al., 2009; WHO, 2005). suficiente de pessoal competente, atuação em equipe, tempo
Ressalta-se que não só o histórico do infrator quanto ao uso adequado dedicado a cada paciente, regras clínicas claras, variedade
nocivo de álcool e drogas ilícitas durante o período de detenção de métodos de tratamento oferecidos, recursos disponíveis e eficaz
é frequentemente ignorado como também as evidências que gerenciamento de casos. Programas de tratamento de qualidade
apontam uma alta taxa de recaída em relação ao uso de drogas, disponibilizam um serviço acolhedor, e mesmo chamativo, para os
overdose e reincidência nos consumos entre os indivíduos pacientes em potencial (UNODC, 2010).
dependentes de drogas após o cumprimento de penas privativas Em 2015, os vinte e sete Estados-membros da União Europeia
de liberdade (DOLAN et al., 2005; RAMSAY, 2003). Mostra- (UE) contavam com um total de 1.404.398 privados de liberdade
se, assim, urgente e necessário pensar e implementar ações e – menos 6,8% do que em 2014. No entanto, deste número total,
programas de tratamento. 13,9% destas pessoas foram condenadas por crimes relacionados
A realidade demonstra que os danos decorrentes do uso com drogas, e essa proporção varia consideravelmente de país para
de álcool e outras drogas nas unidades prisionais requerem país. Na Grécia, por exemplo, 50% do total de privados de liberdade
intervenções integradas que possibilitem reduzir os fatores de foram condenados por esse tipo de crime, por oposição aos 5%
vulnerabilidade que comprometem a recuperação integral da verificados na Romênia, na Hungria ou na Lituânia (COUNCIL OF
saúde dos privados de liberdade (COUNCIL OF EUROPE, 2017). EUROPE, 2017).

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Contrariando a tendência verificada em muitos países, na que diz respeito à garantia de direitos sociais básicos resulta na
qual se inclui o Brasil, os dados mais recentes relativos aos países criminalização de uma parcela da população, não por acaso da que
europeus indicam que o número de pessoas em situação de se encontra socialmente mais desassistida (WACQUANT, 2011).
privação de liberdade tem vindo a diminuir. Dessa forma, os Estados Unidos têm lidado com questões
Os dados da realidade norte-americana provém sociais como se fossem questões penais, encarcerando as
majoritariamente dos Estados Unidos da América (EUA), país populações mais pobres, marginalizadas econômica e socialmente,
com a maior população em situação de privação de liberdade do dentre as quais se destaca a população de usuários de drogas,
mundo (NIDA, 2017). que ascende a 70% na maioria das áreas metropolitanas (HUMAN
A partir do início do século XIX, o consumo de drogas nos EUA RIGHTS WATCH, 2017).
passou a ser visto como um comportamento perigoso e vinculado Mesmo com esse crescimento tão significativo da
a determinados grupos sociais. Sob essa perspectiva, alguns estilos população de privados de liberdade, uma parte significativa dos
de vida passam a ser criminalizados, resultando numa imposição estabelecimentos prisionais estadunidenses não está priorizando
de valores econômicos e morais neoliberais, com consequentes o tratamento para usuários dependentes de drogas, apesar dos
ações de controle sobre populações socialmente vulneráveis claros benefícios que este traz para os privados de liberdade,
(WACQUANT, 2008, 2011). suas famílias e comunidades, como têm demonstrado diversas
Nas últimas décadas, a precariedade do sistema social pesquisas (NIDA, 2015).
estadunidense foi acompanhada por um aumento do número Os EUA parecem debater-se com questões semelhantes às
de instituições carcerárias no país, sugerindo que os mesmos brasileiras no que diz respeito ao enfrentamento deste problema:
sujeitos que se beneficiam de programas assistenciais acabam políticas e estratégias específicas para privados de liberdade
sendo punidos pelo Estado, que sustenta um sistema econômico dependentes de drogas com fraca implementação, quer por falta
e social desigual. Os dados da realidade norte-americana chegam- de recursos humanos, quer por oposição das administrações
nos maioritariamente dos Estados Unidos da América (EUA), país penitenciárias e, sobretudo, pela sobrelotação de um sistema que
com a maior população em situação de privação de liberdade alberga a maior população penitenciária do mundo, grande parte
do mundo (NIDA, 2017). Portanto, a negligência do Estado no relacionada com crimes ligados ao tráfico e/ou consumo de drogas

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(BELENKO; PEUGH, 2004; MUMOLA; KARBERG, 2007; NIDA,
2010, 2012, 2014; TAXMAN et al., 2007).
Verifica-se, então, que não apenas o número de privados de
liberdade que recebem tratamento para o uso abusivo de drogas
é pouco expressivo, como também as intervenções existentes
tendem a ser de caráter não clínico e de curto prazo (BELENKO;
PEUGH, 2004; JOHNSON, 2012; MUMOLA; KARBERG, 2007;
RAWLINS, 2017). Essa realidade parece não se afastar muito
da realidade brasileira. No Brasil, conforme já referido, têm sido
desenhadas diversas políticas e ratificadas outras tantas portarias
que instituem diretrizes visando ao cuidado a essa população. No
entanto, o resultado das investigações aponta uma significativa
falta de assistência à saúde no sistema prisional e, nos casos de
uso dependente de drogas e das demais doenças psiquiátricas,
uma desassistência que parece ser quase generalizada
(ALMEIDA-FILHO, 1997; ANDRADE, 2012; ANDREOLI et al.,
2014; MORAES; DALGALARRONDO, 2006; PONDE et al., 2011;
RIBEIRO et al., 2013).
O estudo realizado por Andreoli et al. (2014), em presídios do
estado de São Paulo, aponta para a prevalência de transtornos
mentais entre os privados de liberdade duas vezes superior à
encontrada na população geral do estado. Confira mais detalhes
da pesquisa na Figura 09.

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Transtornos mentais entre privados de liberdade

Figura 09: dados comparativos por gênero do percentual de privados de liberdade com transtornos mentais especificando sua relação com consumo abusivo de álcool e drogas. Fonte: Andreoli et al. (2014)
adaptado por SEAD-UFSC (2018).

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Números idênticos foram anteriormente encontrados por
outros autores, quer no estado de São Paulo, quer no estado da
No Módulo 2 serão amplamente abordadas as propostas
Bahia (ALMEIDA-FILHO, 1997; ANDRADE, 2012; MORAES;
para o tratamento e cuidado aos usuários de drogas no
DALGALARRONDO, 2006; RIBEIRO et al., 2013; PONDE et al., sistema prisional.
2011). O estudo mais recente e mais amplo que avaliou a qualidade
da atenção e cuidados prestados aos usuários dependentes de
drogas no sistema penitenciário foi realizado por Bravo, em 2009.
Em face de suas constatações, o autor aponta a necessidade de:

• organizar ações de sensibilização junto à justiça, diretores de


presídios e outros atores institucionais, prévias à implementação
dos projetos e ações de cuidado a usuários dependentes de álcool e
outras drogas;
Para Pensar
• estender as linhas de cuidados aos privados de liberdade que Agora que você conhece melhor o que pode e deve ser feito nas
aguardam julgamento nas delegacias e cadeias públicas. Estes unidades prisionais em atenção aos problemas de saúde em
geral, e à saúde mental e ao uso de álcool e outras drogas em
são sistematicamente excluídos das ações de saúde e são os que
particular, você acha que o sistema penitenciário está agindo
padecem das piores condições a este e a outros níveis;
de acordo com as normativas? Há algo mais que possa ser feito
• investir em cursos de capacitação neste âmbito para todos em atenção à saúde em geral e ao cuidado dos portadores de
os profissionais do sistema penitenciário, considerando as transtornos mentais?
resistências manifestadas no cuidado a esta população;
• implementar linhas de cuidado que permitam obter resultados
positivos entre usuários de crack, dado que esta droga, modalidade
de consumo e danos associados requerem formas particulares de
abordagem (BRAVO, 2009).

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Resumo do Capítulo
O capítulo pretendeu apresentar um pouco da trajetória dos consumos de drogas
nas diferentes sociedades, inclusive na brasileira, e a representação social desses
consumos, de que forma eles foram passando da esfera religiosa e medicinal para
a esfera recreativa e de afirmação geracional até se transformarem em fenômenos
epidêmicos, problema sério de saúde pública que exige intervenções governamentais
legislativas de repressão e também assistenciais.
Não sendo o sistema penitenciário alheio a esse problema, não só porque parte
substancial dos privados de liberdade faz uso dependente de drogas, mas também
porque muitos iniciam seus consumos enquanto cumprem penas privativas de
liberdade, o capítulo procurou também mostrar a você os dados atuais sobre o número
problemático de dependentes químicos em situação de privação de liberdade, o que
tem sido feito para enfrentamento deste problema e, sobretudo, o que ainda falta fazer.
Ao ampliar sua visão sobre a representação social do problema do uso abusivo
de drogas, ter maior ciência do que se passa nos sistemas penitenciários dos
diferentes países e conhecer as respostas assistenciais que, a nível nacional, podem
ser acionadas fora e dentro do sistema prisional, você – enquanto agente de execução
penal – poderá (re)pensar sua participação/contribuição, pessoal e profissional, para
enfrentamento do problema.
Abordaremos mais aprofundadamente as possibilidades de operacionalização de sua
contribuição no capítulo seguinte!

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ATIVIDADE DE FIXAÇÃO DE CONTEÚDO
III. As ações da PNAISP devem garantir o acesso à Rede de
Questão 1: A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Atenção à Saúde no território com mais agilidade, equidade
Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) e qualidade, e também melhorar as ações de vigilância
pretende qualificar a atenção básica no âmbito do sistema sanitária ao nível da alimentação e das condições de higiene,
prisional, prevendo, para isso, que as unidades de saúde prisionais contribuindo para a garantia da salubridade ambiental das
sejam um ponto de atenção da Rede de Atenção à Saúde do SUS unidades prisionais.
e de articulação com outros dispositivos dessa rede no território.
IV. A PNAISP deve ter como objetivo implementar ações de
Para isso: promoção da saúde e prevenção de doenças transmissíveis, doenças
não transmissíveis e dos agravos decorrentes do confinamento,
I. A PNAISP deve ser implementada em qualquer unidade prisional embora não consiga garantir medidas de proteção, como a vacinação
do itinerário carcerário, seja ela uma delegacia de polícia, uma para hepatites, influenza e outras do calendário de adultos.
cadeia pública, uma penitenciária, presídio, colônia agrícola ou
agroindustrial ou hospital de custódia e tratamento psiquiátrico. Analisando as afirmações apresentadas relativas a esses
princípios, escolha a opção correta:
II. As ações da PNAISP devem garantir o acesso aos programas a) Somente as afirmações II e IV estão corretas.
de saúde mental, gerais e específicos, concretamente os que b) Todas as afirmações estão corretas.
atuam na prevenção do uso de álcool e outras drogas e na c) Somente as afirmações I e III estão corretas.
reabilitação de usuários. d) Somente as afirmações I, II e III estão corretas.

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Questão 2: Os danos decorrentes do uso abusivo de álcool e II. Número suficiente de pessoal competente e atuação em equipe.
outras drogas nas unidades prisionais requerem intervenções
integradas que possibilitem reduzir os fatores de vulnerabilidade III. Regras clínicas claras e tempo adequado dedicado a cada
que comprometem a recuperação integral da saúde dos privados paciente.
de liberdade. A qualidade das linhas de cuidado a oferecer aos
usuários dependentes resulta de uma combinação de fatores que IV. Serviços acolhedores e chamativos.
devem incluir:
Analisando as afirmações apresentadas relativas a esses
I. Boa infraestrutura, disponibilidade de recursos, variedade princípios, escolha a opção correta:
de métodos de tratamento oferecidos e eficaz gerenciamento a) Somente as afirmações II e IV estão corretas.
de casos. b) Todas as afirmações estão corretas.
c) Somente as afirmações I e III estão corretas.
d) Somente as afirmações I, II e III estão corretas.

CURSO LASSUS . MÓDULO 1 33


LEITURAS COMPLEMENTARES
DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL (DEPEN); PROGRAMA DAS
NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD). Produção de
Relatório sobre Políticas e Estratégias de Cuidado aos Dependentes de Drogas
no Brasil, na América Latina e no Caribe, apontando os Processos Terapêuticos
Utilizados. Produto 01 da Consultoria Nacional Especializada para Produção de
Subsídios visando o Fortalecimento das Ações de Saúde voltadas às Pessoas com
Dependência Química no Sistema Prisional. COSTA, Joana Carvalho. Brasília:
Ministério da Justiça, Departamento Penitenciário Nacional, 2016a, 77p.

DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL (DEPEN); PROGRAMA DAS


NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD). Relatório sobre
Experiências de Cuidados aos Dependentes de Drogas no Sistema Prisional
Produto 02 da Consultoria Nacional Especializada para Produção de Subsídios
visando o Fortalecimento das Ações de Saúde voltadas às Pessoas com
Dependência Química no Sistema Prisional. COSTA, Joana Carvalho. Brasília:
Ministério da Justiça, Departamento Penitenciário Nacional, 2016b, 63p.
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Penitenciário Nacional

MINISTÉRIO DA
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SECRETARIA NACIONAL DE
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MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA

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