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Introdução..........................................................................................................................................................05
Aspectos históricos sobre o uso de álcool e outras drogas...............................................................06
Especificidades da realidade brasileira.......................................................................................................14
Legislação nacional e políticas públicas no âmbito do uso de drogas.............................................17
Políticas de Saúde Específicas para o Sistema Penitenciário.............................................................23
O uso de drogas no sistema prisional – diagnóstico atual..................................................................26
Resumo do capítulo.........................................................................................................................................31
Atividade de assimilação do conteúdo......................................................................................................32
Leituras complementares...............................................................................................................................34
Referências.........................................................................................................................................................35
Nota Introdutória: Por droga entende-se toda e qualquer substância, natural ou sintética, que, uma vez
introduzida no organismo, modifica suas funções. Portanto, toda e qualquer substância psicoativa. No senso
comum é descrita como toda a substância ilegal, de uso proibido e nocivo ao indivíduo, modificando suas funções
psíquicas, sensações, humor e comportamento. No entanto, pode ser entendida como qualquer substância
psicoativa, legal ou ilegal. Dessa forma, em nossos conteúdos, incluímos o álcool nesta definição (WHO, 2005).
Os povos indígenas sempre fizeram uso medicinal de diversos tipos de plantas, muitas delas psicoativas. O uso do tabaco indígena
tornou-se uma droga de difusão global, por meio de sua consagração entre religiosos e soldados. A tradição do xamanismo indígena, de
misturar duas plantas transformando-as numa bebida de efeito alucinógeno, se propagou às grandes cidades, e inclusive a outros países,
sob a denominação de Santo Daime. O uso religioso da ayahuasca foi reconhecido pelo Estado brasileiro como direito de prática religiosa,
protegido por meio de tombamento, enquanto patrimônio imaterial.
A maconha, cujo uso era, inicialmente, predominantemente feito pelos afrodescententes escravizados, foi também usada para
o tratamento da asma e de muitas outras afecções. Seu consumo recreativo, desde sempre estigmatizado como hábito dos
afrodescendentes e dos pobres, se disseminou entre as camadas populares das grandes cidades e áreas do interior do país.
A partir da década de 1990, o consumo do crack (uma mistura de cocaína e bicabornato de sódio, aquecida e fumada na forma de
pedra) teve grande expansão, principalmente entre os jovens menores de 20 anos de todas as classes sociais, sobretudo das classes
mais baixas (KESSELER; PECHANSKY, 2018). Seu potencial de dependência e seu baixo custo favoreceram muito o aumento de seu
consumo. Em São Paulo existe até um local denominado Cracolândia, tamanha foi a disseminação do uso desta droga na cidade.
Os efeitos euforizantes dos agentes inalantes disseminaram seu consumo em quase todas as épocas, havendo uma alternância entre o tipo
de substância usada. Atualmente são usadas principalmente: as colas; os solventes, removedores e diluentes de tinta; os anestésicos voláteis;
e os gases.
O ecstasy e outras drogas derivadas do MDMA (da anfetamina metilenodioximetanfetamina), surgidas na Europa no final da década
de 1980, teve seu consumo aumentado entre os jovens, inclusive no Brasil. Seus efeitos estimulantes potenciam sua disseminação
entre esta população, sobretudo em locais de dança e música eletrônica, conhecidos por raves.
Importa ainda salientar que no Brasil é também preocupante o uso abusivo de drogas anabolizantes, associadas ao culto do corpo
e essencialmente procuradas por esportistas e bodybuilders, seja para aumentar a competitividade, ajudar na cura de lesões, ou
simplesmente por questões estéticas. Os graves danos que podem causar à saúde dos consumidores obriga a se pensar em medidas ao
nível da saúde pública.
Figura 5: ícones e uma pequena explicação sobre as especificidades da realidade brasileira com relação a sete drogas: tabaco, maconha, cocaína, crack, agentes inalantes, ecstasy e anabolizantes. Fonte: SEAD-
UFSC (2018).
Esta interpretação tendenciosa inviabilizou a execução de muitos dos objetivos das convenções que visam
proteger a saúde dos indivíduos e da sociedade contra os efeitos adversos do consumo dessas substâncias.
As convenções exigem dos países que as ratificaram especial atenção e adoção de medidas para a prevenção
de seu uso abusivo e para a identificação precoce, tratamento, educação, pós-tratamento, reabilitação e
reintegração social das pessoas com elas envolvidas.
No Brasil, as práticas de cuidado em saúde para usuários de drogas oscilaram, historicamente, entre
cuidados de caráter religioso e o de cunho psiquiátrico, orientados para a abstinência.
Progressivamente, foram passando para uma abordagem interdisciplinar do problema, para a qual
contribuem profissionais de diversas áreas do conhecimento. Tal abordagem visa a atenção integral por
meio da implementação de um conjunto de ações, programas e linhas de cuidados estratégicos para o
tratamento e a redução de danos e vulnerabilidades decorrentes do uso abusivo de substância psicoativas.
A Lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006, para além de descriminalizar o consumo de substâncias ilícitas,
institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad). O Sisnad é responsável por
estabelecer medidas para a prevenção do uso indevido de substâncias ilícitas, para a atenção à reinserção
social de usuários e dependentes e ainda por estabelecer normas para repressão da produção não autorizada
e do tráfico ilícito.
No ano de 2018, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) propõe um conjunto de diretrizes
para realinhamento da Política Nacional sobre Drogas. A Resolução n.3/GSIPR/CONAD estabelece que
Programas, projetos e ações devem considerar, em sua estruturação, iniciativas de ampliação e reorganização
da rede de cuidados, acolhimento e suportes sociais, conceitualmente orientadas para a prevenção e
mobilização social, promoção da saúde, promoção da abstinência, suporte social e redução dos riscos sociais
e à saúde e danos decorrentes do uso abusivo.
Figura 6: histórico sobre as práticas do cuidado e das políticas sobre drogas. Destaca a abstinência, a abordagem interdisciplinar, a prevenção do uso indevido e
por fim a ampliação e reorganização da rede de cuidados. Fonte: SEAD-UFSC (2018).
O sistema de atenção em saúde mental no Brasil tinha como único recurso terapêutico a internação em hospitais
públicos ou privados. Os ambulatórios eram muito raros, ofereciam poucas vagas e em sua maioria eram anexos
aos hospitais, funcionando como porta de entrada para as referidas internações. Portanto, sendo esta sua única
modalidade de tratamento, a assistência à saúde mental era integralmente hospitalocêntrica.
1 Garantir o acesso à Rede de Atenção à Saúde no território com mais agilidade, equidade e qualidade.
Implementar ações para a promoção da saúde e prevenção de doenças transmissíveis, doenças não
2 transmissíveis e dos agravos decorrentes do confinamento.
Melhorar as ações de vigilância sanitária na alimentação e nas condições de higiene dentro das
3 unidades prisionais, contribuindo para a garantia da salubridade ambiental.
6 Garantir medidas de proteção, como a vacinação para hepatites, influenza e outras do celandário de adultos.
Multiplicar as unidades básicas de saúde prisional e promover seu funcionamento na lógica do SUS.
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Figura 7: principais ações da PNAISP. Fonte: Brasil (2014) adaptado por SEAD-UFSC (2018).
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A realização de avaliações
biopsicossociais e a apresentação A identificação de programas O estabelecimento de processos
de propostas orientadas, e serviços do SUS e do Sistema de comunicação com gestores e
sobretudo, para a adoção Único de Assistência Social equipes de serviços do SUS e do
de medidas terapêuticas, (SUAS) necessários para SUAS que viabilizem o acesso da
preferencialmente de operacionalizar as medidas de pessoa com transtorno mental
base comunitária, a serem atenção à pessoa com transtorno em conflito com a lei a linhas de
implementadas segundo um mental em conflito com a Lei, cuidado adequadas.
Projeto Terapêutico Singular garantindo a efetividade do PTS.
(PTS).
Figura 8: Regras de Mandela. Fonte: BRASIL (2014b) adaptado por SEAD-UFSC (2018).
Figura 09: dados comparativos por gênero do percentual de privados de liberdade com transtornos mentais especificando sua relação com consumo abusivo de álcool e drogas. Fonte: Andreoli et al. (2014)
adaptado por SEAD-UFSC (2018).
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MINISTÉRIO DA
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