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criminalidade."
ABSTRACT: The harmful use of alcohol is a11 serious public health and social
problem that has negative consequences for the individual, the family and society. This
article, through an analysis of a literature review in an interdisciplinary scope, aimed
to investigate the culture of alcohol as a driver of stigma, violence and criminality. The
biopsychosocial impact of alcohol consumption, risk situations arising from
problematic use, the naturalization of social stigma, violence and crime in the urban
environment were addressed. The literature highlights the dissonance and paradoxes
that involve both the biphasic nature of the substance, the biopsychosocial
repercussions of its consumption and the disarticulation of public policies in
confronting and preventing the abusive or problematic use of alcohol. In the
sociocultural sphere, it appears that this theme has been addressed only from the
perspective of health promotion, proving to be moralizing and repressive in the context
of Public Security and the Justice System, a situation that feeds back into the culture the
painful situation of social vulnerability. Therapeutic or Systemic Justice Programs can
constitute an important paradigm shift in the attention of these users in the criminal
judicial scenario, as long as they are articulated in an intersectoral, interdisciplinary,
interinstitutional and cooperative manner, being managed under the biocentric
perspective and protective biothetic action of the actors involved.
Por outro lado, não é possível que se advogue a ideia generalizada de que não há
problema no uso do álcool, posto que, historicamente, é indutora de anomia nas
Além disso, o consumo de bebidas alcoólicas per capita por ano no Brasil, 8,9
litros, ultrapassa a média mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde
A disjunção lógica na coleta da amostra tem sido um dos principais óbices para a
sistematização dos dados produzidos por diferentes agências em busca de evidências
científicas, pois em algumas pesquisas não se trata apenas de um problema
metodológico, antes de uma impossibilidade lógica relacionada com o uso de
metodologias que adotam pressupostos inteiramente distintos.
Ao longo de muitos anos, por meio da propaganda, das cenas dos filmes ou
mesmo em programas televisivos, o uso do álcool de fato pode ter representado uma
modalidade de estimulação cultural de hábitos de consumo, tendo sido os jovens os
mais suscetíveis a tais imagens e condicionamento social (refs).
No decorrer dos anos, imagens têm sido estudadas, elaboradas por especialistas
e veiculadas nos meios de comunicação com a finalidade de seduzir ou manipular o
possível consumidor, oferecendo ilusão de empoderamento, pois, ao consumir álcool,
este sentiria e viveria como alguém com status, poder e aceitabilidade social.
1
SILVA, Daniela Romanelli da. Princípio da subsidiariedade. In: BARRETO, Vicente de Paulo
(Coord.) Dicionário de filosofia do direito. São Leopoldo/Rio de Janeiro: Unisinos/Renovar, 2006.
Assim, a relação entre usuários e o álcool no Brasil envolve um processo de
naturalização, especialmente em certos ambientes, como os sociais e comerciais. Esses
usuários não se percebem com problemas em relação ao consumo, posto que nesses
ambientes o consumo é legalizado, tratando-se, no seu entendimento e entre os seus
pares, de um estilo de vida (refs).
Existem múltiplos fatores que interferem na ação e nos efeitos do álcool, como a
a idade, o gênero, aspectos genéticos, a personalidade, e principalmente o ambiente
(refs). Dessa forma, o uso do álcool é um fenômeno complexo, que não pode ser
explicado ou manejado apenas como uma questão de saúde mental ou de segurança
pública.
VARGAS (2006) observou que ao usar álcool os indivíduos calculam suas ações
para maximizar os benefícios e diminuir os prejuízos. Constatou que a irracionalidade
do consumo e seus riscos têm inspiração no alheamento das verdadeiras condições de
existência – ou seja, a fuga da realidade. ROCHA (2006) relata que ouvir música mais
os efeitos das substâncias de abuso, ocorre um desligamento da realidade e um
mergulho em uma cena repleta de sensações prazerosas.
O uso precoce de álcool envolve múltiplos fatores de risco que exigem atenção
de todos os profissionais envolvidos, sejam os profissionais da saúde, sejam os
pesquisadores e aqueles que se dedicam ao gerenciamento de políticas. Outro fator
relevante é que a probabilidade do padrão de uso ocasional precoce se tornar abusivo e
dependente existe, e que o sujeito está em uma etapa do desenvolvimento
neurobiológico bastante vulnerável (refs)
Então, qual o nexo existente entre uso do álcool e a violência? ROTH (1994)
para responder afirmativamente esta pergunta constatou que, dentre todas as substâncias
de abuso, “o álcool é único que, comprovadamente, aumenta a agressão”. Para tanto
organizou uma amostra, contendo inquéritos policiais, cuja série demonstra como o
agressor, a vítima ou ambos fizeram uso de álcool antes de consumar quase a metade de
todos os eventos violentos entre eles.
ROTH (1994) observou que os transtornos adquiridos pelo uso crônico do álcool
e respostas violentas na idade adulta podem ter fatores preditivos que aconteceram na
infância como a violência no ambiente familiar. GEBARA et al. (2015) constatou que o
abuso de álcool está mais associado ao nível de gravidade dos atos violentos do que a
aumentos na sua ocorrência e que a associação entre álcool e violência se torna mais
potente com um aumento do consumo.
O marco teórico fundamental sobre estigma social foi proposto por GOFFMAN
(1978) conceituando-o como um sinal ou uma marca que designa o portador como
"deteriorado" e, consequentemente, menos valorizado do que as pessoas "normais". O
estigma social constitui-se numa marca física ou social com conotação negativa ou que
leva o seu portador a ser marginalizado ou excluído de algumas situações sociais,
impactando no valor atribuído a uma determinada identidade social.
Em seus estudos ROOM (2006), constatou que além dos problemas físicos ou
orgânicos associados à ingestão, o uso de álcool apresenta resultados diferenciados de
acordo com os aspectos sociais, destacando que a moralização ou estigmatização do uso
pode influenciar de forma importante tanto nas consequências do uso como no resultado
do tratamento ou acesso a este.
Para LIMA & VALA (2004) a estigmatização ocorre quando pessoas atribuem
rótulos e estereótipos negativos a determinados comportamentos, situação que
influencia direta ou indiretamente a condição de saúde da pessoa estigmatizada,
desdobrando-se em diversas consequências, inclusive ao agravamento da situação.
Contudo, tal situação na cena judicial não deixava de ser paradoxal, pois se por
um lado as leis procuravam reprimir e condenar a embriaguez, por outro, facultavam a
sua propagação ao admiti-la como uma atenuante do crime. De um modo geral, a
tendência que se verificava na legislação penal era a de punir a embriaguez na mesma
perspectiva em que se penalizavam os vadios e os vagabundos, pois ambas as situações
eram perniciosas para o equilíbrio e bem-estar social, representando uma ameaça à
segurança e ordem públicas.
5. CONCLUSÃO
Fato é que o uso problemático de álcool pode ser prejudicial individualmente aos
sujeitos e coletivamente à população geral, relacionado a patologias crônicas e agudas,
além de outros problemas psicológicos e sociais. Um entendimento mais amplo e
criterioso sobre o uso de álcool deve ser contemplado para balizar e investir em políticas
públicas integradas de saúde, assistência social e segurança pública, voltadas para ações
preventivas aos vários problemas associados ao abuso, tais como os problemas crônicos
ou agudos de saúde, violência, acidentes de trânsito, comportamento sexual de risco,
tentativas de suicídio, problemas familiares, laborais e no rendimento e absenteísmo
acadêmico.
De fato, a relação do álcool com a criminalidade coexiste junto a outros
elementos, cuja transversalidade e complexidade demanda por estudos
multiprofissionais e atuação tecnicamente articulada. Contudo, entendendo-a como fator
de complexificação, é necessário repousar o olhar sobre a proporção dos prejuízos, visto
que a cultura do álcool é naturalizada e enraizada no país e sua dimensão abrange o
cotidiano dos brasileiros, presumindo um propulsor trágico, segundo o número
crescente e precoce de sua utilização.
Por fim, conclui-se que, SIM, todos os seres humanos têm direitos
garantidos, considerando as muitas décadas de Ciência, de NÃO consumir
álcool ou qualquer outro tipo de substância que, por suas características
farmacológicas, possam inevitavelmente alterar sua capacidade de criticar a
realidade; e que por seus efeitos personalíssimos e atrelados a determinadas
conjecturas possam desencadear consequências biopsicossociais
irremediáveis. E que esse direito humano seja garantido em toda a sua
plenitude às crianças e adolescentes.
6. REFERÊNCIAS
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development and analysis of samples from Brazilian drivers. Forensic Sci Int. 2012;
223(1-3):208-16.
5) Por outro lado, não é possível que se advogue a ideia generalizada de que não
há qualquer problema na utilização do álcool, posto que indutora de anomia no tecido
social. Antes, mostra-se urgente e necessária a constituição de um debate transversal e
multidisciplinar sobre a drogadição e os temas a ela relacionados, de modo a que se
constituam, pelo Estado, perspectivas alternativas que auxiliem no seu manejo.
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