Você está na página 1de 47

Dr ogas:

entr e a hist er ia e a ciência


Uma visão atual da Moralidade e das evidências mundiais e
brasileiras sobre os entorpecentes

por Alessandro Loiola, MD

Copyright © 2019 ManhoodBrasil


Sobre a obra:

Os dados que alcançam o grande público realmente mostram o


mundo das drogas e suas consequências? É possível algum progresso
Moral e Prático para resolver este problema? Mais que isso: será que
temos um problema com as Drogas? Como identificar o que é
histeria e pseudo-moralismo e o que é realidade e lucidez em um
assunto tão controverso?

As respostas para estas e muitas outras questões estão no novo


lançamento exclusivo de ManhoodBrasil Edições: “Drogas: entre
a Histeria e a Ciência” , e-book escrito pelo médico e filósofo
capixaba Alessandro Loiola.

Entre em contato diretamente com o autor e faça seu pedido. Para


sua comodidade, você receberá seu exemplar em formato EPUB e
PDF.

A presente obra é disponibilizada pela equipe ManhoodBrasil e seus


diversos parceiros com o objetivo de disseminar o conhecimento
para uso em pesquisas e estudos acadêmicos. Caso tenha interesse
em conhecer outros conteúdos produzidos por ManhoodBrasil,
teremos o maior prazer em receber sua visita em nosso site e redes
sociais: Site: www.manhoodbrasil.com.br
Facebook: https://web.facebook.com/manhoodbrasil/
Instagram:
https://www.instagram.com/manhoodbrasil/

Para contato com o autor:


Email: alessandroloiola@gmail.com
Facebook: https://web.facebook.com/alessandro.loiola.9
Índice
1. Introdução
2. Usos e Abu so s
3. Um Pouco Sobre as Campeãs de Audiência
4. Qu atr o Ar gu men tos Contr a as
Dr ogas
5. Contr a-ar gu m entando a Fa vor das Dr ogas
6. Como Outros Países Lidam com as Drogas?
7. O que a Islândia Tem Para Nos Ensinar?
8. O Brasil Vive uma Epidemia de Entorpecentes?
9. Uma Visão Moral Nua, Crua e Utilitária
10. Conclusão
INTRODUÇÃO

A maioria dos países permite o uso recreacional de substâncias


psicoativas como cafeína, nicotina e álcool, mas proíbe o uso de
outras. Muitas pessoas acham legítimo que alguém tome uns
drinques para relaxar nas horas de folga – o happy hour, inclusive,
se tornou um hábito bastante difundido nas grandes cidades –, mas
qual seria a razão pela qual achamos tolerável permitir o uso de
álcool para recreação enquanto proibimos o uso de outros
entorpecentes com o mesmo propósito?
Em quase todos os casos, as normas que tornam algumas drogas
ilegais não se baseiam em evidências objetivas, mas em uma
percepção emocional de sua imoralidade: consideramos algumas
drogas “erradas” e ponto final. Nenhuma discussão é aceita além
deste limite. Como sempre ocorre, o argumento ético inspira um
apelo que supera a lógica, teoricamente sustentando-se por si só.
Apesar desta retórica, é surpreendentemente difícil defender o
motivo pelo qual o consumo de algumas substâncias é permitido e de
outras não, como veremos a seguir.
US OS E AB US OS
O fascínio com substâncias psicoativas vem sendo registrado
desde que aprendemos a escrever: há relatos de uso de álcool no
Egito e de ópio na Grécia, centenas de anos antes da era Cristã, e é
bastante provável que nossa relação com estas e outras “drogas” seja
bem mais antiga que isto. Com o tempo, a humanidade aumentou
em tamanho, e nosso contato com as drogas também: de acordo com
dados da ONU, cerca de 275 milhões de pessoas – ou 5,6% da
população mundial entre 15 e 64 anos de idade – utilizaram drogas
consideradas ilícitas pelo menos uma vez nos últimos 12 meses.
Destas, 11% sofreram danos devido ao consumo e 0,06% morreram
de overdose1.
O número de mortes decorrentes do uso de drogas lícitas e ilícitas
vem aumentando nas últimas décadas: em 1996, elas vitimaram 216
mil pessoas no mundo todo. Em 2016, foram 317 mil. Considerando-
se este período, o aumento de 46% no número de mortes por
substâncias psicoativas foi acompanhado de um aumento de apenas
27% da população mundial (de cerca de 5,8 bilhões de pessoas em
1996 para 7,4 bilhões em 2016). Não morrem mais pessoas apenas
porque existem mais pessoas no mundo: morrem mais pessoas
porque o quebra-cabeça dos entorpecentes vem sendo abordado de
maneira sistematicamente improfícua8,9.
O risco de uso e abuso de drogas depende de fatores externos
como disponibilidade, custo, método de administração e grau de
aceitação por parte da sociedade. Todavia, os mecanismos que levam
à dependência são influenciados por predisposições genéticas:
estudos com gêmeos mostram que existe um componente hereditário
que predispõe ao uso e ao desenvolvimento de adicção2. Estima-se
que a genética contribua com cerca de 40% da capacidade de alguém
desenvolver algum tipo de dependência, mas esta influência varia
segundo a substância, o sexo e a idade: a herança genética responde
por 49% da dependência de álcool entre homens (h) e 64% em
mulheres (m); para cocaína, 44% (h) e 65% (m); para maconha, 33%
(h) e 79% (m); e para cigarro 53% (h) e 62% (m). Dependências que
surgem na tenra idade em geral estão relacionadas a fatores
ambientais, ao passo que dependências que surgem durante ou além
da idade adulta costumam estar mais associadas à influência dos
genes6. E aqui temos o primeiro ponto interessante com relação às
drogas: elas fornecem mais uma evidência contundente da obviedade
de que gêneros não são uma “construção social”, mas um fato
biológico inegociável.
Por razões genéticas, biológicas e hormonais, as mulheres tendem
a ter respostas biológicas e psicológicas mais prazerosas a drogas
como maconha, opioides, cocaína, anfetaminas e tranquilizantes.
Naquelas com risco de dependência, o vício surge e se instala mais
rapidamente em comparação aos homens na mesma situação, porém
as doses utilizadas e os efeitos colaterais tendem a ser maiores. Por
exemplo: os sintomas de abstinência após cessação do tabagismo são
mais intensos nas mulheres, e os índices de recidiva são maiores.
Nos homens, isto ocorre com bebidas alcoólicas3-5.

UM POUCO SOBRE AS CAMPEÃS DE AUDIÊNCIA


Dentre as drogas mais populares na Pós-Modernidade, temos
álcool, cigarro, maconha, cocaína e crack, anfetaminas, ecstasy,
alucinógenos, opioides e opiáceos, tranquilizantes e antidepressivos.

Álcool

Em países desenvolvidos como Bélgica, Alemanha, França, Reino


Unido, Austrália, EUA e Itália, o consumo de álcool vem diminuindo
desde 1920. Atualmente, entre pessoas com mais de 15 anos de
idade, o consumo anual per capita de álcool puro tem sido estimado
em torno de 12 litros na Inglaterra, na França e na Rússia; 10 litros
na Austrália e na Argentina; 9,8 litros nos EUA e Canadá; 7 litros na
Itália e na China; e cerca de 8 litros no Brasil7.

Cigarro

Aproximadamente 35% dos homens e 22% das mulheres nos EUA


utilizam nicotina, mas as mulheres estão sujeitas a mais
complicações associadas ao tabagismo que os homens, e apresentam
mais dificuldade para interromper o hábito4. No Brasil, 13% dos
homens e 9% das mulheres são fumantes – o dobro da prevalência
observada na década de 198010. Em termos de morbidade, o tabaco
representa 4,1% dos problemas de saúde relacionados ao consumo de
drogas no mundo todo; o álcool, 4%; e todas as drogas ilícitas
combinadas, apenas 0,8%2.

Maconha

Evidências indicam que a maconha já era utilizada há mais de


5.000 anos na região que hoje conhecemos como Romênia11. No
século XXI, a cannabis conquistou o título de droga ilícita mais
cultivada, vendida e utilizada em todo o mundo: segundo a
Organização Mundial de Saúde, 2,5% dos habitantes do planeta – ou
147 milhões de pessoas – consome maconha pelo menos uma vez ao
ano11.
No curto prazo, a maconha pode resultar em sedação, perda de
memórias recentes, comprometimento da coordenação motora e da
capacidade de julgamento, ansiedade, ideações de autoextermínio,
paranoia e psicose. Durante a gestação, o uso de maconha parece
prejudicar permanentemente o desenvolvimento cerebral e a
capacidade cognitiva do bebê12. No longo prazo, a cannabis pode
levar à dependência química, comprometimento intelectual
duradouro, bronquite, doenças cardiovasculares, osteoporose,
síndrome do estresse pós-traumático, depressão e esquizofrenia2,11.

Cocaína

No século XVI, a cocaína trazida do Peru era recomendada na


Europa como um tratamento medicinal. No século XIX, Freud a
indicava como auxílio terapêutico em casos de melancolia, caquexia e
exaustão física e psicológica. Entre 1880 e 1930, a cocaína chegou a
ser considerada a panaceia dos novos tempos, e a partir dela foram
desenvolvidos os primeiros anestésicos eficazes15. Entretanto, antes
que a primeira metade do século XX terminasse, os efeitos deletérios
da cocaína se tornaram óbvios e seu emprego curativo entrou em
declínio16.
No Brasil, cerca de 2% dos estudantes de grandes centros urbanos
já usaram cocaína pelo menos uma vez na vida64. Nos EUA, 40% dos
usuários habituais de cocaína são mulheres, sendo que elas
representam a maioria (51%) na faixa etária entre 12 e 17 anos de
idade3. Apesar de ser uma das drogas ilícitas de consumo mais
comum, a maioria dos usuários de cocaína consome a droga de modo
recreacional e não diariamente13.

Crack

O crack é produzido pela mistura da pasta base de cocaína com


água e bicarbonato de sódio. Quando aquecida, esta mistura dá
origem a cristais conhecidos como “pedras” de crack – em termos
bem simples, o crack é a apresentação da cocaína que pode ser
fumada. No Brasil, estima-se que o crack possua uma prevalência de
0,81% entre os usuários de drogas ilícitas, o que representaria cerca
de 370 mil pessoas64,65.
As discussões que o crack provoca derivam de dois problemas
Morais que orbitam seu uso. Primeiro, o risco de dependência pode
ser considerado “explosivo” quando comparado à maconha ou ao
álcool: mais de 80% dos usuários que tentam abandonar o crack não
conseguem – contra 65% para maconha e 20% para álcool65,93,94.
Segundo, a possibilidade de violência: estatísticas de grupos
terapêuticos mostram que mais de 30% dos usuários de crack se
envolvem em práticas criminosas66.

Anfetaminas
Dentre as anfetaminas, duas merecem destaque: a metanfetamina
e o ecstasy.
A metanfetamina, conhecida como meth ou cristal , é a droga
ilegal mais comumente sintetizada nos EUA. Cerca de 6% dos
adolescentes norte-americanos com idade igual ou superior a 12 anos
já utilizaram Meth pelo menos uma vez2. Os efeitos da meth duram
algumas horas e incluem euforia, hipersexualidade, diminuição da
ansiedade e aumento da sensação dos níveis de energia com aumento
da produtividade. O abuso pode causar danos cerebrais e prejuízo
das faculdades intelectuais, hipertermia, insuficiência renal e
hepática aguda, convulsões, arritmia cardíaca, infarto do miocárdio e
derrame. O uso crônico costuma resultar em ansiedade, depressão,
agressividade, isolamento social, psicose, transtornos do humor e
dificuldades de coordenação motora.
O ecstasy , ou 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA), é um
derivado da anfetamina. Foi sintetizado e patenteado na Alemanha
pela Merck, em 1914, como um moderador do apetite, mas nunca
chegou a ser comercializado com este objetivo. Na década de 1980,
começou a ganhar fama como uma droga de uso recreacional, com
efeitos parecidos àqueles da cocaína2. Atualmente, as preparações
“caseiras” de ecstasy contém cafeína, LSD, anfetamina,
metanfetamina, anfetaminas, paracetamol, quetamina outras
substâncias não identificadas. Mesmo com esta salada, a morte como
consequência do uso e ecstasy é considerada rara – mas ocorrer.
Entre os especialistas, o aspecto mais perturbador do abuso de
MDMA é a possibilidade de efeitos psiquiátricos irreversíveis no
longo prazo67.

Alucinógenos
Os alucinógenos dividem-se em três grupos: as triptaminas (p.ex.:
o DMT e a psilocibina, sendo esta encontrada em cogumelos do
gênero Psilocybe, Panaeolus e Conocybe, entre outros); as
liseramidas (p.ex.: LSD, derivado do fungo Claviceps purpurea ); e as
fenetilaminas (p.ex.: a mescalina, derivada do cacto mexicano
chamado pescal ou peiote)14. Em nosso meio, a mescalina não tem
grande público. Mas os outros têm.
O LSD foi sintetizado pela primeira vez pelo químico suíço Albert
Hofmann em 1938, e seus efeitos psicoativos foram descobertos
quanto Albert acidentalmente ingeriu a droga em 1943. Ele também
foi o responsável pelo isolamento da psilocibina a partir do cogumelo
mexicano Psilocybe mexicana em 195817. Mais de 100 espécies
diferentes de cogumelos que ocorrem na natureza são ricas em
psilocibina, com propriedades alucinógenas são bastante similares
ao LSD.
A N, N-dimetiltriptamina, ou DMT, é considerada o alucinógeno
mais potente conhecido. Sintetizado pela primeira vez por Richard
Manske, um bioquímico canadense, em 1931, o DMT foi
extensamente pesquisado pelo químico brasileiro Oswaldo
Gonçalves de Lima, que demonstrou a presença de DMT em várias
plantas. Desde então, pesquisas adicionais encontraram traços de
DMT em praticamente todos os seres vivos. Nos humanos, a
atividade do DMT concentra-se nas camadas subcorticais dos lobos
frontoparietais e temporais e nas camadas corticais dos lobos
parietais, mas ainda não sabemos em quais quantidades ele ocorre
em nossa espécie18. As propriedades alucinógenas do DMT foram
descobertas pela ciência apenas em 1956, quando o psiquiatra
húngaro Stephen Szara extraiu DMT da planta Mimosa hostilis e
injetou um pouco em si mesmo, por via intramuscular18.
A molécula de DMT é surpreendentemente similar às moléculas
de serotonina, triptofano e psilocibina18. Quando administrado por
via oral, o DMT é inativado pelas enzimas Monoamino Oxidase
(MAO) no fígado antes que qualquer efeito seja percebido pelo
cérebro. Apenas quando a atividade da MAO é inibida, os efeitos do
DMT oral são percebidos. Porém, quando administrado por via
inalatória, endovenosa ou intramuscular, o DMT consegue evitar a
inativação pela MAO no fígado e seus efeitos surgem em minutos ou
mesmo segundos, durando entre 15 e 60 minutos, dependendo da
dose e da via utilizada18.
Curiosamente, populações indígenas no Brasil, Colômbia, Peru e
Equador “descobriram” meios de ingerir DMT em misturas contendo
inibidores da MAO encontrados na natureza: o DMT é o principal
composto da ayahuasca, um psicotrópico utilizado em muitos rituais
religiosos. A Ayahuasca costuma ser obtida fervendo-se folhas de
Psychotria viridis (também conhecida como chacrona, uma planta
arbórea rica em DMT) com caules de Banisteriopsis caapi (também
conhecido como cipó mariri ou jagube, rico em inibidores da
MAO)17.
Nas últimas décadas, o uso de DMT vem se tornando cada vez
mais comum. Seus efeitos incluem alucinações visuais, distorção da
imagem corporal, distúrbios da fala, alterações do humor, euforia e
ansiedade. Estes efeitos dependem da via, da quantidade e do
contexto em que a droga é utilizada: os sintomas do DMT
intramuscular, por exemplo, costumam ser menos intensos que
aqueles do DMT inalado ou endovenoso. Quando utilizado por via
oral, as manifestações do DMT se iniciam em 60 minutos, atingem
um pico após 90 minutos e duram aproximadamente 4 horas. Por via
endovenosa, doses menores que 0,2 mg/Kg não produzem efeitos
alucinógenos, e é possível que a administração por infusão contínua
produza efeitos mais prolongados, mas isto ainda não foi testado18.

Opioides, Opiáceos, Tranquilizantes e Antidepressivos


Opioides e opiáceos como morfina, heroína, meperidina,
propoxifeno e metadona possuem uma prevalência muito baixa no
Brasil. Apenas 0,1% da população brasileira entre 12 e 65 anos
utilizará heroína pelo menos uma vez na vida95. Por outro lado,
tranquilizantes e antidepressivos são bem mais frequentes: estima-se
que cerca de 20% dos brasileiros apresentem sintomas depressivos96
e muitos se medicam de forma rotineira, mesmo quando não
indicado. De cada 10 brasileiros em uso de tranquilizantes como
diazepam, alprazolam e clonazepam, três consomem a substância
sem qualquer recomendação médica expressa, sendo que as
mulheres utilizam estas substâncias três vezes mais que os
homens68. Especificamente com relação ao clonazepam (Rivotril®),
somos o terceiro maior produtor e o maior consumidor do mundo: o
clonazepam é o segundo remédio mais vendido no país, perdendo
apenas para contraceptivos orais atrelados à distribuição pelo SUS.
Sozinho, ele movimenta mais 220 milhões de reais no mercado
farmacêutico brasileiro a cada ano69,70.
QUA TRO ARGUME NTOS CONTRA
AS DROGAS
Qualquer que seja a natureza do entorpecente e seu emprego –
recreacional ou terapêutico –, a simples menção da palavra
“entorpecente” desencadeia uma miríade de reações sociais,
políticas, médicas, históricas e, acima de tudo, Morais: nossa
ideologia inata nos diz que substâncias psicoativas são
fundamentalmente erradas. Os principais argumentos que
sustentam esta posição em geral caem em uma de quatro categorias:
(1) as drogas provocam alterações do estado mental e eliminam o
livre arbítrio; (2) as drogas causam violência; (3) as drogas custam
dinheiro para a sociedade; e (4) existem políticas antidrogas que
deram certo, então não existem justificativas para que elas
continuem sendo usadas.

Drogas Provocam Alterações do Estado Mental e Eliminam o Livre


Arbítrio
Os usuários de substâncias psicoativas costumam associá-las a
uma experiência positiva, a um estado de aventura, motivação,
relaxamento, divertimento, fuga da realidade ou de revelação
espiritual. Todavia, o efeito de qualquer substância psicoativa é
imprevisível: um dia o álcool lhe deixa leve, no outro lhe deixa
agressivo. Um dia a maconha lhe proporciona uma viagem reflexiva,
no outro causa um surto de paranoia. Um dia a fluoxetina elimina o
humor melancólico, no dia seguinte encoraja o suicídio. Um dia uma
xícara de chá de ayahuasca dissolve seu ego e promove uma conexão
espiritual com elfos cabalísticos, no dia seguinte você mergulha em
uma crise de ansiedade com fortes traços de esquizofrenia. Em
resumo: é impossível predizer as repercussões, e cada novo uso é um
novo risco assumido. Podemos até achar que temos algum controle
sobre as chances, mas esta impressão não passa de uma tênue ilusão
de segurança.
Excetuando-se as prescrições médicas, quando alguém começa a
utilizar uma substância psicoativa, quase sempre é por livre e
espontânea escolha e a Moralidade de fato participa do processo
decisional: o indivíduo faz conscientemente a opção entre usar ou
não a droga – e, neste momento, seu julgamento tem alguma
representatividade. Todavia, com ou sem a colaboração de fatores
genéticos, e na presença ou não de uma receita formal, pessoas que
lidam mal com a frustração e a ansiedade encontrarão na droga uma
maneira de lidar com a realidade fugindo dela. Uma vez instalada a
dependência química, o autopertencimento se esvai, levando com ele
a capacidade de emitir arbítrios Morais lúcidos sobre o que é Bom e
Correto. É nesta hora que a alteração do estado mental causada pela
droga passa a representar o prenúncio de um desastre.

Drogas Causam Violência


O Brasil está entre os 10 países mais violentos do mundo: 9% dos
brasileiros em áreas urbanas já foram vítimas de pelo menos uma
forma de violência física27. Quando somamos a isto a correlação
entre abuso de drogas e condutas agressivas, temos um problema
real em mãos: cocaína, crack, anfetaminas e metanfetaminas
induzem comportamentos violentos. Ecstasy e Maconha podem
causar paranoia, crises de pânico e surtos psicóticos que podem
derivar para agressões13, assim como drogas consideradas lícitas,
como desvenlaflaxina, fluvoxamia, paroxetina e fluoxetina
(antidepressivos); venlaflaxina (ansiolítico); triazolam
(benzodiazepínico); atomexetina (utilizada no tratamento do
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade); e mefoquina
(antimalárico) também podem resultar em atitudes hostis36.
Entre os usuários de entorpecentes que procuram tratamento
especializado, 72% dos homens e 50% das mulheres possuem
antecedentes de comportamentos violentos, especialmente aqueles
que fazem uso de álcool, maconha ou cocaína. De um modo geral, o
consumo de drogas está associado ao risco de negligência, abuso
físico e violência sexual contra crianças, dentro e fora da escola, além
de aumentar em seis vezes a possibilidade de suicídio22-24,29-31.
Com relação ao álcool – a droga mais comum no mundo –, vale
dizer que seu consumo aumenta o risco de estupro, tanto pelo
incremento da vulnerabilidade da vítima quanto pelo
comprometimento do juízo Moral, pelo aumento da impulsividade e
pela diminuição da inibição e do medo por parte do atacante26.
Dados multinacionais de unidades de Pronto Socorro mostram que o
consumo de álcool está relacionado a 62% das ocorrências
envolvendo violência e em 40% dos casos de violência doméstica32.
Pesquisas realizadas no estado de São Paulo entre 2001 e 2004
estimaram que a adoção de políticas de tolerância zero para a
associação entre consumo de bebidas alcoólicas e direção reduziu em
10% o número de homicídios intencionais21.
Além da violência envolvendo o usuário e seus contactantes, o
comércio de drogas causa sua própria violência colateral. Por
exemplo: em julho de 2017, o Uruguai tornou-se o primeiro país do
mundo a vender maconha com fins recreativos ao público. De acordo
com o Instituto de Regulação e Controle da Cannabis, o consumo
uruguaio não sofreu um acréscimo além do esperado, mas observou-
se um aumento da violência associada ao comércio da maconha: os
traficantes disputam e defendem com unhas e dentes cada fatia dos
territórios disponíveis. Algumas vezes, é mais fácil roubar o produto
de outros cartéis que produzi-lo. E ambas as dinâmicas são
conduzidas com emprego de meios brutais que podem afetar tanto
usuários quanto não-usuários25, 28,33-35.

Drogas Custam Dinheiro para a Sociedade


O Brasil é o terceiro maior fabricante de cerveja do mundo e a
produção cresce a uma taxa média de 5% ao ano. O segmento
cervejeiro responde por 80% do mercado de bebidas alcoólicas,
faturando mais de R$ 70 bilhões por ano e recolhendo cerca de R$ 21
bilhões em impostos37. Não obstante, segundo a Organização Pan-
Americana de Saúde, o álcool é o maior fator de risco de morte entre
adolescentes entre 15 e 19 anos, superando todas as demais drogas:
73,9 homens e 11,7 mulheres a cada 100 mil habitantes morrem
anualmente no Brasil por causa do álcool38. Como resultado,
enquanto os pequenos e os grandes produtores de bebidas alcoólicas
movimentam o equivalente a 1,6% do PIB, o alcoolismo suga 7,3% do
PIB37, e 30% de todas as mortes no trânsito estão relacionadas à
presença de um ou mais motoristas dirigindo sob o efeito de álcool19.
Ainda assim, as bebidas alcoólicas não são consideradas
fundamentalmente imorais ou ilegais.
O cigarro representa um imbróglio quase tão grande quanto o
álcool. De acordo com dados do Centers for Disease Control, o
tabaco mata mais pessoas nos EUA que HIV, drogas ilegais,
acidentes automobilísticos, suicídios e homicídios intencionais
somados39. No Brasil, 15% das pessoas maiores de 18 anos – ou mais
de 20 milhões de indivíduos – utilizam produtos derivados do
tabaco, com aumento considerável do risco para doenças
cardiovasculares, pulmonares e câncer40. O tabagismo é responsável
por 12,6% de todas as mortes em brasileiros com mais de 35 anos de
idade, causando aos cofres nacionais um prejuízo de R$ 56 bilhões a
cada ano entre custos médicos diretos e custos decorrentes da perda
de produtividade, morte prematura ou incapacitação. A arrecadação
com impostos sobre produtos de tabaco retorna R$ 12 bilhões destes
custos, restando ao Estado um prejuízo de R$ 44 bilhões41. Ou seja:
para o bolso da sociedade, a legalidade da nicotina é um péssimo
negócio. Ainda assim, a nicotina não é considerada imoral ou ilegal.
Além de as drogas – lícitas ou não – representarem uma perda de
produtividade, elas ainda oneram aqueles que produzem e pagam
impostos com seu trabalho: nos EUA, 26% das mulheres e 12% dos
homens dependentes químicos necessitam de assistência financeira
do Estado para sobreviver4. Infelizmente, não existem dados
equivalentes para o Brasil, mas não é irreal supor que também
tenhamos um (enorme) problema neste sentido.

Drogas Podem ser Controladas por Políticas Adequadas


O argumento derradeiro contra os entorpecentes reside no fato de
que existem políticas antidrogas que deram certo, então não
teríamos justificativas para outorgar seu uso.
Na primeira metade do século XX, Mahatma Gandhi tentou
instituir uma Lei Seca na Índia, mas não obteve sucesso. No início do
século XXI, a Índia viu os índices de alcoolismo aumentar 55% e uma
nova onda proibicionista surgiu: em 2016, alguns estados
começaram a introduzir regras banindo o comércio de bebidas
alcoólicas42. Os resultados desta política ainda estão para ser vistos.
Mas os clássicos resultados da Lei Seca norte-americana são bem
conhecidos.
Um pouco antes da cruzada anti-etílica de Gandhi, os
proibicionistas dos EUA já acreditavam que a indústria de bebidas
alcoólicas representava a maior de todas as ameaças à sociedade, e
apenas a proibição irrestrita poderia evitar a iminente falência da
família e do american way of life. Boa parte dos apoiadores da Lei
Seca era composta de cidadãos que bebiam, mas achavam que outras
pessoas não deveriam beber. A despeito da jacobice intrínseca, a Lei
Seca – ou Ato Volstead ou Ato de Proibição Nacional – entrou em
vigor em 16 de janeiro de 1920. Sua aprovação ganhou apoio por três
motivos principais: primeiro, os altos índices de mortes causadas
pelo alcoolismo no começo do século XX (10 a 15 mortes por 100 mil
habitantes/ano). Segundo, a turbulência política do período, com os
movimentos marxistas provocando convulsões sociais em toda parte.
Terceiro, pela crença popular de que o consumo de álcool de alguns
impedia o progresso Moral e material de todos44.
A Lei Seca proibia a produção, o transporte e a venda de bebidas
alcoólicas, mas era cheia de brechas: não havia proibição para posse
e consumo. Muitos farmacêuticos tinham permissão para vender
uísque sob prescrição como tratamento para várias moléstias, indo
desde ansiedade até gripe. Com a Lei Seca, o número de
farmacêuticos triplicou. O uso de bebidas alcoólicas também era
permitido com fins religiosos, e muitas cidades testemunharam uma
proliferação de congregações43.
Mesmo com estes furos, a prevalência de alcoolismo, de
internações hospitalares por psicose alcoólica e embriaguez, e de
mortes por cirrose diminuiu durante os anos da Lei Seca em
comparação aos anos pré-proibição45. O consumo de cigarro também
diminuiu, mas o consumo de narcóticos aumentou45. Com relação à
violência, a Lei Seca diminuiu em 40% o número de crimes contra
pessoas e propriedades, mas aumentou em 20% o número de
detenções por comércio ou consumo de bebidas alcoólicas45.
Um dos efeitos inesperados da Lei Seca foi modificar o padrão de
consumo de bebidas: os destilados, por serem mais fortes em um
volume menor, substituíram os fermentados; e o consumo foi
transferido dos bares para os lares, devido ao risco de flagrante. Isso
teve um efeito social inesperado: os saloons não eram meramente
lugares para beber. Eles retinham o monopólio da vida social da
maioria dos assalariados norte-americanos. Eram locais diversão,
recreação e formação de laços de amizade. Com o fim dos bares,
várias outras formas de confraternização, recreação e diversão
ganharam a preferência do público45, e é de se teorizar que o rádio,
das salas de cinema e até mesmo a cultura dos shoppings centers
surgiram e ganharam popularidade aproveitando este hiato.

CONTRA-ARGUMENTANDO A FAVOR DAS DROGAS

Os principais argumentos em defesa da descriminalização e


liberação geral drogas residem no Relativismo Moral do argumento
das alterações dos estados mentais; na incongruência do conceito de
livre arbítrio; na diferença fundamental entre associação e relação
causal entre drogas e violência; na impostura discricionária dos
custos sociais; na análise pragmática dos resultados da Lei Seca nos
EUA; e na limitação das potencialidades terapêuticas de várias
substâncias consideradas ilícitas.

O Relativismo Moral da Alteração dos Estados Mentais


Condenamos as drogas, pois elas produzem “alterações dos
estados mentais” que consideramos normais. Sem adentrar no
mérito do que seria um “estado mental normal”, o que há de
intrinsecamente errado com substâncias capazes de alterar os
estados mentais humanos?
O propranolol, um anti-hipertensivo comum, pode afetar a
memória e produzir diferentes graus de amnésia no longo prazo.
Pessoas que utilizam medicamentos contra doença de Parkinson
apresentam alterações significativas de sua capacidade de emitir
julgamentos Morais46. Cerca de 15% dos fármacos indicados no
tratamento de depressão, ansiedade, insônia, tabagismo, psicose,
epilepsia e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade podem
precipitar comportamentos violentos36. Estas substâncias deveriam
ser declaradas imorais?
Abordando o universo químico de maneira Virtuosa,
Consequencialista e Utilitarista, alguém poderia dizer que
substâncias “lícitas” devem ser tratadas de maneira diferentes
porque são “terapêuticas”, ao passo que as ilícitas são apenas
“recreacionais”. Mas o que dizer o álcool e do cigarro? Por acaso são
terapêuticos? E são imorais ou ilegais? E exatamente como você
diferencia uma substância ou atividade terapêutica de uma
recreacional? Meditar, ler um livro ou ouvir uma música para relaxar
depois de um dia estafante são recursos artificiais empregados para
produzir estados mentais alterados e talvez até pegar no sono. São
simultaneamente recreacionais e terapêuticos – assim como algumas
drogas consideradas ilícitas.
Após avaliar o risco cumulativo de 20 drogas, pesquisadores do
Departamento de Neuropsicofarmacologia do Imperial College, de
Londres, concluíram que o álcool era a substância mais perigosa de
todas. A psilocibina foi considerada a mais segura, com um risco 12
vezes menor que aquele das bebidas alcoólicas. O LSD ficou em
terceira lugar neste quesito. No cômputo geral, os alucinógenos
causam menos danos físicos e mentais que muitos medicamentos de
prescrição usual, como os benzodiazepínicos, e são menos tóxicos
que a maioria das drogas consideradas líticas14,17,90. Na literatura
médica, não existem relatos de mortes por overdose decorrentes do
fumo de maconha ou ingestão de psilocibina53-55,97,98. O mesmo não
pode ser afirmado com relação ao álcool ou a diversos sedativos,
antidepressivos, tranquilizantes e analgésicos opiáceos encontrados
no comércio.
Em 2013, pesquisadores noruegueses avaliaram 21.967
participantes de uma pesquisa nacional sobre uso de drogas e
descobriram que 13,4% dos respondentes relatava uso crônico de
alucinógenos, mas nenhum reportava qualquer efeito negativo em
termos de desempenho mental ou social. Pelo contrário: muitos
referiam uma melhor percepção de saúde mental e menores índices
de ansiedade e uso de medicamentos psiquiátricos47. Se você
condena as drogas porque elas alteram o comportamento humano, o
que fazer com substâncias capazes de gerar empatia, controlar
temperamentos e tornar as pessoas mais pacientes, felizes, Boas e
Corretas ? Muitas religiões e cultos utilizam alucinógenos como
Ayahuasca e Psilocibina para promover aperfeiçoamento Moral há
centenas – talvez milhares – de anos. Se a Moralidade é uma
virtude, melhorá-la através da modulação farmacológica dos estados
mentais seria imoral?
A Incongruência do Conceito de Livre Arbítrio
Uma as faces da condenação da alteração do estado mental diz
respeito à perda do livre arbítrio. De fato, existem evidências
neurocientíficas mostrando que os mecanismos cerebrais envolvidos
no arbítrio de pessoas com dependência química são diferentes
daqueles acionados em pessoas não-dependentes48. Entretanto,
existe aqui uma dubiedade: Presumimos que nossas escolhas são
todas deliberadas, lógicas e racionais – o que não são nem de perto.
Praticamente todas as escolhas que você faz, dia após dia, hora após
hora, minuto a minuto, são irracionais, impulsivas ou emocionais.
Com uma frequência incômoda, seu livre arbítrio – programatizado
pelos seus genes, formatado por suas experiências e limitado pelas
regras sociais aprendidas –, opera baseado em sensos abstratos de
esperança, necessidade, prazer, medo ou incerteza. A pretensa
liberdade de seus critérios de seleção é apenas isto: uma pretensão
de liberdade, cujo maior e talvez único valor reside em mitigar a
aflição causada pela absoluta falta de controle sobre quase tudo. Qual
a diferença essencial entre os seus processos “conscientes e
inadiáveis” de tomada de decisão e as compulsões mentais urgentes
de um dependente químico?
Se nos livrarmos da noção de que o consumo de drogas elimina o
livre arbítrio, e considerarmos que o usuário de drogas, mesmo
aquele com dependência, exerce algum controle sobre suas decisões,
então ele pode ser Moralmente e legalmente imputado por elas e
suas consequências. Encarar o usuário de entorpecentes como um
agente Moral ciente de suas escolhas e não uma vítima de seu vício
ou da “sociedade” significa abandonar de uma vez por todas o rótulo
de doença que colamos sobre a dependência química.
É óbvio que esta mudança de paradigma representa um retorno
às acusações de fraqueza de caráter pelos setores mais Moralistas da
sociedade: um usuário torna-se usuário por que quer, e um viciado é
viciado pelo mesmo motivo. Ainda que esta seja uma declaração
dura, ela é decente: trata-se de assumir a responsabilidade pelos
efeitos de nossas vicissitudes. Um dependente químico pode solicitar
ajuda para livrar-se da compulsão, mas isto não o torna menos autor
do hábito adquirido ou lhe amputa o pouco livre arbítrio que cada
um de nós usufrui.
Drogas Versus Violência: a diferença fundamental entre associação
e causa
Em 1971, Nixon declarou que os entorpecentes eram o inimigo
público número um, dando início à Guerra às Drogas nos EUA.
Como ocorrido na Lei Seca, a Guerra ostensiva causou uma epidemia
de encarceramentos e incentivou o emprego atividades criminosas
como um meio de proteger ou adquirir narcóticos. Isto vinculou
etiologicamente o comércio de drogas à violência, pois atividades
ilegais estão relacionadas ao uso da força. Todavia, em uma análise
mais lúcida, é fácil perceber que as drogas são preditivas de
violência, elas estão relacionadas à violência, mas não existem
estudos mostrando relações causais concretas e inquestionáveis
entre ambas28.
Haja vista a imensa popularidade das bebidas alcoólicas e de
outras drogas, o índice geral de abuso e dependência de
entorpecentes é relativamente baixo, cravando 2,9% da população na
Inglaterra; 2,7% na França; 5,9% na Rússia; 3,8% na Austrália; 3,1%
na Argentina; 5,4% nos EUA; 3,7% no Canadá; 1,6% na Itália; 1,9%
na China; e 3,7% no Brasil7. Se presumirmos que a Guerra às Drogas
de fato evita alguém de se tornar um dependente químico, responda:
quantos potenciais viciados precisam ser salvos pelas normas
vigentes para compensar a morte de um único inocente pego por
uma bala perdida no meio de uma briga de quadrilhas de traficantes
rivais?
No Brasil, a lei n. 11 343/2006 tem sido apontada como
responsável por mais que duplicar a população carcerária do país
condenada por delito ligado a drogas49, mas ela não diminuiu a
violência nas ruas: em 2005, nossa população carcerária contava
com 361 mil detentos. Em 2018, eram 605 mil – um aumento de 67%
em um período onde a população nacional aumentou apenas 11%.
Cerca de 30% dos presidiários estão encarcerados por tráfico de
drogas. Ou seja: pelo menos 22% do aumento do número de
encarceramentos foi resultado direto da Guerra às Drogas em si, não
de outras consequências relacionadas a elas, como roubos, agressões
ou homicídios. Enquanto combatíamos o comércio e o consumo de
entorpecentes, a taxa anual de assassinatos por 100 mil habitantes
saltou de 26,1 em 2005 para 30,3 em 201850-52. Exatamente o quê a
montanha de dinheiro investida na “Guerra” resolveu?
A atividade no mundo do crime em geral precede o uso de drogas
ilícitas: apesar de mais de 70% dos homens presos devido crimes
contra a integridade física ou a propriedade de terceiros
apresentarem testes positivos para o uso de substâncias ilícitas, e
75% dos presidiários serem usuários de drogas, 50% não faziam uso
de entorpecentes quando foram presos pela primeira vez13. O crime
leva ao uso de drogas – não o contrário. Policiar, investigar e punir
com rapidez e rigor crimes de violência e contra a propriedade seria
uma medida mais inteligente e eficaz para diminuir o problema das
drogas que mobilizar recursos imensos para combater vendedores e
usuários pela droga em si.
Além de a maioria dos usuários não cometer crimes contra a
integridade física ou a propriedade privada de terceiros, eu costumo
observar com assombro e perguntar aos meus botões: de que
maneira chegamos à incrível conclusão que as drogas são a principal
causa de violência e assassinatos em nosso país quando menos de
10% dos homicídios no Brasil são elucidados?71

A Hipocrisia Discricionária dos Custos Sociais


Você pode até apontar o dedo acusador para os custos sociais das
pessoas que não estudam, não trabalham e não estão procurando
emprego, e gastam seu tempo cometendo crimes para usar drogas e
vice-versa. Todavia, a realidade é diferente desta preconcepção. A
maioria dos usuários não financia seu vício por meio de crimes
contra a integridade física ou a propriedade de terceiros: 70% deles
utilizam os recursos provenientes de seus empregos fixos ou
temporários para bancar o vício. Muitos complementam o
financiamento a partir da ajuda de familiares ou recebem algum tipo
de auxílio do governo13 – o que não é Moralmente aprovável, mas
não constitui uma ilegalidade e menos ainda uma violência.
Quando justificamos a condenação Moral das drogas
denunciando os danos sociais colaterais que elas causam, quase
sempre estamos nos referindo aos custos da criminalidade e da
violência associadas ao tráfico. Mas boa parte destes custos só existe
porque certos entorpecentes são considerados ilegais: procure por
donos de bares matando uns aos outros para assumir pontos de
venda de cerveja, ou operadores de caixa de lojas de conveniência
explodindo postos de gasolina para diminuir a concorrência da
venda de cigarros. Dificilmente encontrará algum.
Se a criminalização das drogas visa proteger a integridade física e
a propriedade de terceiros, então o combate às drogas deveria
reduzir estes indicadores de violência – e não é isto que vem
ocorrendo. É provável que sem a Guerra às Drogas os preços da
maconha, do crack, da cocaína, do LSD, do ecstasy e de muitos
entorpecentes caíssem vertiginosamente, assim como o emprego de
meios violentos para garantir o seu comércio. E existem evidências
mostrando os efeitos de políticas assim: entre 2013 e 2014, a
legalização da maconha no estado de Washington (EUA) levou a uma
diminuição significativa da criminalidade no período: o consumo da
droga aumentou, mas os estupros diminuíram 30% e os roubos e
assaltos, 10%57. A adoção de políticas similares para a maconha
também resultaram em uma diminuição de 13% nos crimes violentos
nos estados dos EUA que fazem fronteira com o México56.
Em Portugal, a prevalência de uso de drogas nos últimos 12 meses
para pessoas entre 15 e 64 anos de idade é de 8% para maconha;
0,2% para cocaína, crack, anfetaminas e ecstasy; 12% para
tranquilizantes e sedativos; e 0,5% para opioides e opiáceos1. Desde
2001, a legislação portuguesa descriminalizou a aquisição e a posse
de várias drogas para consumo pessoal. Contudo, caso a quantidade
de entorpecentes esteja além daquela estipulada pela lei, pode haver
configuração e condenação por tráfico, com penas que variam de 1 a
12 anos de reclusão dependendo da natureza da substância. Todavia,
a sentença pode ser reduzida caso o cidadão consiga provar que
vendia drogas para sustentar seu próprio vício em drogas. Em 2013,
prevendo as constantes inovações do mercado de entorpecentes, o
Decreto Lei 54 proibiu a produção, exportação, propaganda,
distribuição, venda ou dispensação de novas substâncias psicoativas
não listadas no Decreto Lei 15, de 1993.
Desde a descriminalização, Portugal tem registrado quedas
dramáticas no número de mortes por overdose, infeções por HIV e
crimes relacionados com o consumo de entorpecentes. Estudos
indicam que o uso de drogas diminuiu no país. Entre a população
com menos de 34 anos, o consumo de heroína caiu 70%. Apesar de
ainda apresentar índices preocupantes, 16 anos depois da reforma, a
experiência portuguesa demonstra que o consumo de drogas não
aumentou89, tampouco o país se tornou uma rota de turismo de
droga ou o paraíso da violência indiscriminada: segundo a ONU91,
Portugal apresenta uma taxa anual de homicídios por 100 mil
habitantes de apenas 0,97 – ou trinta vezes menor que a aquela do
Brasil.
Atualmente, a Guerra às Drogas nos EUA custa aos cofres federais
cerca de 26 bilhões de dólares ao ano, e calcula-se que outros 25
bilhões sejam gastos pelos estados a cada ano. Se considerarmos os
danos causados à propriedade associados o tráfico, estes custos
avançam mais 10 bilhões de dólares – isso para não falar nas vidas
perdidas e nas lesões corporais incapacitantes. Em um cenário
assim, estudos estimam que a legalização das drogas nos EUA
reduziria os gastos governamentais em cerca de 41,3 bilhões de
dólares por ano58. Uma vez que os recursos do Estado são limitados,
as decisões devem ser tomadas de maneira Utilitária e
Consequencialista: onde estes recursos podem ser empregados
produzindo o maior e o melhor efeito possível?
Quando optamos por uma “Guerra às Drogas”, o financiamento
destes esforços significa que menos dinheiro será empregado em
outros setores da sociedade. Não existe isso de um almoço grátis,
advertiu Milton Friedman há muitos anos. O empenho do sistema
policial e do aparato de justiça para combater no front da Guerra às
Drogas reduz o efetivo disponível para combater a violência e crimes
contra a propriedade – que nem sempre estão relacionados ao
consumo ou ao uso de entorpecentes ilegais.

Uma Consideração Pragmática da Lei Seca nos EUA


No começo do século XX, legiões de proibicionistas motivados
por uma onda de Moralidade religiosa tentaram adotar restrições ou
mesmo banir o comércio e o consumo de álcool em países como
Índia, Islândia, Finlândia, Noruega, Rússia, Canadá e Nova Zelândia.
Mas nenhum destes experimentos foi tão amplo e bem documentado
quanto a Lei Seca nos EUA. A despeito dos efeitos positivos
descritos, o período da Lei norte-americana não foi um sucesso
absoluto. Como toda Guerra às Drogas, ela causou danos.
Economicamente, a Lei Seca aniquilou toda uma indústria:
em 1916, havia 1.300 cervejarias nos EUA; dez anos depois, havia
nenhuma. No mesmo período, o número de destilarias diminuiu 85%
e o número de vinícolas caiu de 318 em 1914 para 27 em 192544. A
falência de destilarias, cervejarias, vinícolas, restaurantes e bares e
todo tipo de indústria e serviços que orbitavam o mercado de bebidas
alcoólicas eliminou milhares de postos de trabalho e redundou em
uma queda na qualidade das bebidas vendidas no mercado negro.
Uma vez que a Lei era dúbia quanto à produção caseira de vinhos,
houve uma explosão na venda de concentrados de uva que traziam
no rótulo a observação: “não deixar armazenado sob o risco de
fermentação alcoólica”. Mesmo com estes subterfúgios, a Lei Seca
custou ao todo 300 milhões de dólares para ser instituída e
ocasionou uma perda de 11 bilhões de dólares em impostos43.
Socialmente, os benefícios também foram ambíguos: antes de
1917, os índices gerais de mortalidade estavam decrescendo tanto
entre homens quanto entre mulheres. A partir de 1921, com a
vigência da Lei, observou-se um pronunciado aumento dos índices
de óbito entre homens e apenas um leve declínio entre as mulheres.
Análises mais detalhadas mostraram que a mortalidade de homens
negros, especialmente na faixa acima de 35 anos de idade, aumentou
entre 1921 e 1926. Entre homens brancos, os índices de mortalidade
permaneceram estacionados, mas as mulheres brancas apresentaram
uma diminuição rápida e significativa. Em outras palavras: durante
os primeiros anos da Lei Seca, a melhora dos indicadores de
mortalidade limitou-se ao grupo das mulheres brancas, piorando em
todos os outros estratos demográficos45.
Quando foi revogada em dezembro de 1933, no auge da Grande
Depressão, a Lei já havia pavimentado o caminho para o surgimento
de inúmeras quadrilhas de crime organizado, e todo o empenho das
autoridades e toda a montanha de dinheiro investida não foram
capazes de formar uma geração de pessoas abstêmias: com a
suspensão do decreto, o consumo per capita de bebidas alcoólicas
voltou a crescer44. No final, a norma que deveria inspirar
temperança produziu destemperança e excessos, tornando os
problemas socioeconômicos relacionados ao álcool ainda piores que
antes43.
As Possibilidades Terapêuticas
A Moralidade discricionária que desaprova algumas drogas
vai contra as evidências científicas que documentam suas
prodigiosas possibilidades terapêuticas. Por exemplo: os tratamentos
disponíveis para muitos transtornos mentais não são eficazes. Os
efeitos colaterais são incômodos, a adesão é um problema e as
recorrências são comuns. Contudo, existem relatos de excelentes
resultados com o emprego de substâncias consideradas ilícitas em
pessoas sofrendo de tabagismo, alcoolismo, síndrome do estresse
pós-traumático, ansiedade e depressão 13,17. Exempli gratia , vejamos
o caso de quatro substâncias “imorais e ilegais”: a maconha, a
psilocibina, o LSD e o DMT.
Em 2.900 a.C., a medicina tradicional chinesa já prescrevia o uso
de maconha como tratamento para dores osteomusculares. Também
existem registros de empregos terapêuticos da cannabis na medicina
indiana datados de 1.000 a.C60. Atualmente, sobram dados
confirmando a eficácia da maconha no tratamento de dores crônicas,
enxaqueca, fibromialgia, náuseas por quimioterapia, síndrome do
intestino irritável, glaucoma, ansiedade, epilepsia, anorexia, insônia
e doença de Parkinson11,13. Por causa do volume dessas evidências, o
Canadá introduziu a cannabis no arsenal terapêutico “tradicional”
em 200159. Em 2017, 28 estados nos EUA já haviam feito o mesmo11.
Em todos os casos, existe a advertência de não recomendar a
abordagem em gestantes, mulheres em fase de amamentação,
pessoas com menos de 25 anos de idade, indivíduos com histórico de
abuso de drogas, psicose, ou doenças pulmonares, cardiovasculares
ou renais crônicas59. Não obstante, nos pacientes tratados a partir de
uma indicação clínica correta, os benefícios tornaram-se
indiscutíveis.
O LSD é eficaz no tratamento de depressão e ansiedade
severa em pacientes refratários aos tratamentos convencionais, sem
produzir efeitos colaterais significativos14,18,61. Não obstante, seu
estereótipo de “substância perigosa da contracultura” vem
impedindo que testes populacionais mais amplos sejam realizados.
Em 2011, uma revisão da literatura médica sobre testes com
psilocibina não mostrou qualquer aumento no índice de dependência
química, psicose, transtornos mentais, efeitos colaterais graves ou
sequelas cognitivas crônicas entre os usuários da substâncias97: 60%
das pessoas que utilizam psilocibina uma única vez relatam uma
“viagem” mística transformadora, classificando a vivência como uma
das cinco maiores experiências positivamente modificadoras de suas
personalidades. Esta capacidade de persuasão tornou a psilocibina
extremamente oportuna no tratamento de pacientes com transtorno
obsessivo-compulsivo e de transtornos de ansiedade e depressão em
pacientes com câncer e outras doenças terminais14,18,62. Em
tabagistas que consomem mais de 15 cigarros por dia, a associação
de psilocibina com terapia cognitivo-comportamental é capaz de
produzir abstenção por mais de 6 meses em 80% dos casos63.
Em 2012, pesquisadores espanhóis investigaram 127 usuários
crônicos de ayahuasca (DMT), comparando-os a um grupo de 115
pessoas religiosas. Após 1 ano de acompanhamento, os cientistas
observaram que os usuários do chá apresentavam índices menores
de psicopatologia e egocentrismo, e índices melhores de percepção
de bem-estar psicossocial, resiliência emocional e memória de
trabalho que o grupo de religiosos72. Em 2015 e 2016, estudos de
neuroimagem mostraram que o uso prolongado de ayahuasca (DMT)
promove mudanças objetivas em várias estruturas cerebrais,
interrompendo o padrão de pensamentos repetitivos e patológicos
presentes em pessoas com ansiedade, depressão e dependência
química (incluindo tabagismo e alcoolismo), mudando suas
perspectivas, valores, personalidades e comportamentos17.
Clinicamente, os usuários crônicos de ayahuasca exibem níveis
menores de desesperança, e uma única dose da substância é capaz de
diminuir sintomas depressivos graves por até 21 dias, sem provocar
mania ou hipomania99. Devido aos efeitos neuroprotetores e
neurorregenerativos, os cientistas teorizam que a administração
contínua de DMT poderia ser útil no tratamento de lesões cerebrais
graves e estados de hipóxia prolongada como parada
cardiorrespiratória, doença arterial obstrutiva periférica e asfixia
perinatal18.
Apesar destas evidências, nosso preconceito Moral com relação às
substâncias alucinógenas tem sido um obstáculo para seu estudo e
emprego terapêutico. Para muitos pesquisadores, os alucinógenos
são considerados o fruto proibido da árvore o conhecimento:
sabemos que eles podem ter utilidade, mas sua investigação
científica é coberta por várias camadas de tabus e censuras. A
despeito dos pontos de vista e percepções pessoais divergentes,
descartar as implicações e a eficácia terapêutica documentada do uso
de algumas substâncias entorpecentes não é apenas uma
imoralidade, mas irresponsável, tirânico e – porque não dizer –
cruel.

COMO OUTROS PAÍSES LIDAM COM AS DROGAS?

Sempre que o assunto “drogas” surge no Brasil, nos perguntamos


como as nações mais desenvolvidas lidam com esse assunto. Muito
bem: tomemos como exemplo os 10 países com a melhor colocação
em termos de IDH entre 189 nações segundo a ONU (quais sejam:
Noruega, Suíça, Austrália, Irlanda, Alemanha, Islândia, Suécia,
Singapura e Holanda) e vejamos como isto ocorre: Na Noruega, a
prevalência de uso de drogas nos últimos 12 meses para pessoas
entre 15 e 64 anos de idade é de 8,6% para maconha; 1,3% para
cocaína ou crack; 0,5% pra anfetaminas; 1,6% para ecstasy; 4,3%
para tranquilizantes e sedativos; 0,2% para opioides e opiáceos1,73. A
Noruega descriminalizou as drogas em 2017: os entorpecentes
deixaram de ser um problema de polícia e passaram a ser tratados
como problemas de saúde pública. Usuários não são mais presos,
mas recebem tratamento. Contudo, a produção, aquisição,
importação, exportação, armazenamento de entorpecentes, quando
julgados atividade de tráfico, configuram crime com pena de 2 a 10
anos de reclusão mais multa73,74.
Na Suíça, a prevalência de uso de drogas nos últimos 12 meses
para pessoas entre 15 e 64 anos de idade é de 9% para maconha;
0,8% para cocaína ou crack; 0,3% pra anfetaminas; 0,1% para
ecstasy; e 0,4% para opioides e opiáceos1. Em meados da década de
1980, assustada com o elevado número de mortes por overdose por
heroína, a Suíça passou a oferecer tratamento ao invés de cadeia para
os usuários. A descriminalização fez com que o mercado para
heroína diminuísse 83%. Apesar de algumas experiências mal
sucedidas – como a liberação para venda, compra e uso de heroína
no parque Platzspitz, em Zurique entre 1987 e 1992 – as medidas do
governo suíço reduziram em 90% a incidência de crimes contra
propriedade cometidos por participantes dos programas de
desintoxicação75. Entre 1992 e 2014, o número de mortes anuais por
overdose de entorpecentes despencou de 419 para 134. Em 2008, um
plebiscito votou a favor da continuidade do programa estatal para
regulação da heroína, mas contra a legalização da maconha76.
A Austrália, o terceiro melhor IDH do mundo, lidera a lista
mundial de países que mais utilizam drogas recreacionais: a
prevalência de uso de drogas nos últimos 12 meses para australianos
entre 15 e 64 anos de idade é de 10% para maconha; 2,5% para
cocaína ou crack; 1,4% pra anfetaminas; 2,2% para ecstasy; 1,6%
para tranquilizantes e sedativos; e 3% para opioides e opiáceos1.
Apesar da progressão do número de mortes por overdose desde 2011,
a política australiana pode ser considerada flexível, variando de
acordo com o estado: alguns permitem o porte de maconha para uso
pessoal, outros exigem tratamento compulsório e aplicam multas.
Na Irlanda, a prevalência de uso de drogas nos últimos 12 meses
para pessoas entre 15 e 64 anos de idade é de 13,8% para maconha;
2,9% para cocaína ou crack; 0,6% pra anfetaminas; 4,4% para
ecstasy; 6% para tranquilizantes e sedativos, e 0,7% para opioides e
opiáceos1,77. A legislação irlandesa encara todas as substâncias
psicoativas – incluindo álcool, medicamentos e drogas ilícitas – mais
ou menos da mesma maneira: apesar de a posse de drogas
consideradas ilegais ser um crime independente da quantidade, a
política do governo irlandês tem sido a de abordar a posse de
pequenas quantidades de droga como sendo para uso pessoal,
preferindo ações que visam a recuperação do usuário e não seu
encarceramento. Todavia, o tráfico de entorpecentes configura crime
passível de pena perpétua e reclusão de no mínimo 10 anos caso o
cidadão esteja portando uma quantidade de substâncias com valor
acima de 13 mil Euros78.
Na Alemanha, a prevalência de uso de drogas nos últimos 12
meses para pessoas entre 15 e 64 anos de idade é de 13,3% para
maconha; 1,2% para cocaína ou crack; 1,9% pra anfetaminas; 1,3%
para ecstasy; 5,4% para tranquilizantes e sedativos; e 0,3% para
opioides e opiáceos1. O uso de entorpecentes não é considerado um
crime, mas a lei prevê punições para posse de narcóticos de acordo
com a quantidade e o tipo de droga, o envolvimento de outras
pessoas, o histórico pessoal e se existe ou não interesse público em
interditar o envolvido. Existem critérios diferentes para o que
representa uma “pequena quantidade” de maconha, heroína,
cocaína, anfetamina e ecstasy. Para metanfetamina, existe uma lei
Federal estipulando um limite de 5 gramas de substância ativa para
posse. Nos casos julgados e sentenciados, o princípio “tratamento ao
invés de punição” permite – em certas circunstâncias – que o
condenado opte pelo tratamento, com abrandamento da pena79.
Na Suécia, a prevalência de uso de drogas nos últimos 12 meses
para pessoas entre 15 e 64 anos de idade é de 7,3% para maconha;
0,6% para cocaína ou crack; 0,7% pra anfetaminas; 0,5% para
ecstasy; 2,7% para tranquilizantes e sedativos; e 0,5% para opioides e
opiáceos1. O uso e a posse de drogas ilícitas configura crime, sendo a
posse passível de condenação dependendo da natureza e da
quantidade da substância encontrada, entre outras circunstâncias,
com penas variando entre 6 meses a 10 anos de reclusão80.
Em Singapura, a legislação contra entorpecentes é extremamente
rígida. Segundo o Misuse of Drugs Act81, a posse de qualquer
quantidade de entorpecente é presumida como tráfico e, acima de
um determinado patamar, a pena de morte deve ser considerada.
Para aplicação da pena capital, a lei estipula o limite mínimo de 500
gramas para maconha; 30 gramas para cocaína; e 250 gramas para
metanfetamina, por exemplo. Quantidades abaixo do limite para
pena de morte podem ser punidas com castigos corporais, reclusão
por vários anos ou prisão perpétua. Qualquer cidadão de Singapura
que utilize drogas fora do país está sujeito a 10 anos de reclusão mais
multa81. De acordo com Central Narcotis Bureau (CNB), as drogas
mais comuns são metanfetamina (64% dos usuários presos), heroína
(27%) e maconha (7%)82. Apesar da legislação rígida e de os dados
oficiais basearem-se somente no número de pessoas detidas devido
ao consumo de entorpecentes mostrarem que o número de usuários
permaneceu estável desde 2012, mais de 40% dos usuários presos
em 2017 eram usuários novos e 64% deles estavam abaixo dos 30
anos de idade, sugerindo que o problema das drogas em Singapura
ou vem ocorrendo debaixo dos bigodes dos oficiais do CNB há
muitos anos ou está apenas começando83.
Desde a década de 1970, a Holanda tem sido citada como uma
referência na tolerância ao uso de entorpecentes, especialmente
maconha. A posse, o cultivo, a produção, a venda, a importação ou a
exportação de drogas pode configurar crime dependendo da
quantidade e do tipo de substância envolvida, com pena máxima de
12 anos reclusão. Sem embargo, o simples uso de drogas não é
considerado um crime nos termos da lei, desde que respeitadas
algumas normas quanto ao local e idade dos usuários. Como regra,
ser pego com até 5 gramas de maconha não constitui razão suficiente
para que alguém seja preso. A prevalência de uso de drogas nos
últimos 12 meses para holandeses entre 15 e 64 anos de idade é de
15,7% para maconha; 3,7% para cocaína ou crack; 3,6% pra
anfetaminas; 7,4% para ecstasy; 0,5% para tranquilizantes e
sedativos; e 0,1% para opioides e opiáceos1,84.
Estes dados, aliados às análises da experiência da Lei Seca norte-
americana, sugerem que a descriminalização de entorpecentes é
viável em muitos cenários e que nem sempre a condenação
peremptória do uso produz os resultados esperados. Pelo contrário: a
perseguição implacável pode mascarar as estatísticas e comprometer
a confiabilidade dos diagnósticos sociais. Ainda assim, mesmo nos
países mais indulgentes, a permissão para o uso aliada à repressão
da produção e comércio de entorpecentes é uma amostra cômica do
tamanho das contradições produzidas pela Moralidade pública.

O QUE A ISLÂNDIA TEM PARA NOS ENSINAR?

Apesar de a Islândia ostentar o 6º melhor IDH do mundo, deixei


sua análise propositadamente por último. No final da década de
1997, seus adolescentes estavam entre os bebedores mais vorazes da
Europa. Vinte anos depois, o país apresentava ao mundo uma
geração de jovens com baixíssimos índices de alcoolismo, drogadição
e tabagismo: a prevalência de uso de drogas nos últimos 12 meses
para islandeses entre 15 e 64 anos de idade é de 3,4% para maconha;
1% para cocaína ou crack; 0,7% pra anfetaminas; 0,5% para ecstasy;
e 0,7% para opioides e opiáceos1. Observando estes números, é
possível perceber que este pequeno país insular tem um problema
menor com as drogas quando comparado às outras nove nações
abordadas anteriormente. Qual teria sido o pulo do gato da Islândia?
A história de sucesso da Islândia está associada aos trabalhos do
psicólogo norte-americano Harvey Milkman. Durante a década de
1970, ao avaliar usuários de heroína e anfetaminas, Milkman
observou que estes dois grupos possuíam estilos de personalidade
bem diferentes: os usuários de heroína e outros opioides buscavam
na droga uma maneira de amortecer a realidade, ao passo que os
usuários de anfetamina buscavam uma maneira de vencê-la e
conquistá-la85. Milkman ponderou que uma maneira de evitar o
contato com as drogas seria detectar estes traços de personalidade
ainda no início da adolescência, oferecendo aos jovens cérebros
atividades que suplementassem aquele “hiato” que, se não fosse
abordado do modo correto, fatalmente os conduziria para algum tipo
de entorpecente.
Em 1992, Harvey recebeu uma bolsa do governo norte-americano
para trabalhar sua teoria junto a adolescentes com elevado risco
social em Denver, capital e cidade mais populosa do estado do
Colorado (EUA). Ele passou a oferecer aos jovens arte, música,
dança, escultura, retórica, pintura e qualquer atividade recreacional
saudável que quisessem aprender – uma abordagem quase
Aristotélica de “boa orientação do ócio”. Associado a este roteiro,
Milkman colocou seus alunos em sessões de meditação nos moldes
de Atenção Plena (mindfulness), para que desenvolvessem as
habilidades necessárias para gerenciar suas mentes, aprimorar seus
raciocínios e melhorar seu padrão de relacionamento interpessoal. O
ponto central no plano residia no fato de que palestras e oficinas de
“combate às drogas” não funcionam porque são chatos e
desinteressantes. O que falta aos jovens em situação de risco não são
palestrantes, mas habilidades e capacidades para lidar com desejos,
informações e objetivos.
No final da década de 1990, Milkman foi convidado a levar seu
programa para a Islândia86. Lá, incluiu os pais dos participantes no
sistema, fazendo-os perceber que o tempo e qualidade do tempo que
passavam com seus filhos fazia toda diferença. Simultaneamente, o
governo da Islândia começou a mudar algumas leis: a venda de
cigarros foi proibida para menores de 18 anos e a venda de álcool
para pessoas com menos de 20 anos de idade se tornou ilegal. A
legislação também baniu toda e qualquer forma de propaganda de
tabaco e álcool, e passou a ser ilegal a presença de crianças entre 13 e
16 anos na rua após as 10 horas da noite. Medidas adicionais foram
implantadas para estreitar os vínculos entre os pais e as escolas: nas
reuniões obrigatórias, os pais recebiam orientações sobre como
conversar com seus filhos sobre projetos de vida, a questionar sobre
suas companhias e ter controle sobre aonde iam. Em algumas
cidades, famílias de baixa renda passaram a receber um Cartão de
Lazer no valor de pouco mais de 700 reais por ano por criança, para
pagar por atividades como esporte, dança, pintura, teatro e cinema87.
Durante 15 anos, as capacitações para os educadores, as
atividades e entrevistas periódicas com os adolescentes, e os reforços
de orientação para os pais foram mantidos com grande método e
disciplina. Os foram mais que palpáveis: o porcentual de crianças
entre 15 e 16 anos de idade que passavam boa parte de seu tempo
livre com seus pais nos finais de semana dobrou (de 23% para 46%),
o porcentual daquelas que participavam de atividades esportivas pelo
menos quatro vezes na semana aumentou de 24% para 42%, e a
prevalência de adolescentes usuários de cigarro, maconha e bebidas
alcoólicas despencou88.
As ideias de Harvey Milkman e a experiência da Islândia oferecem
um exemplo magnífico de como medidas simples e inteligentes,
associadas à dedicação e perseverança, são capazes de produzir
resultados extraordinários. Apesar de a Islândia ter pouco mais de
330 mil habitantes espalhados em uma área de 102 mil km2, isso
não significa que os mesmos princípios não possam ser aplicados em
um país de 208 milhões de habitantes e 8,5 milhões de km2 de
extensão. Tudo que precisamos fazer é replicar o modelo fatiando-o
para municípios ou cidades com até 300 mil habitantes, por
exemplo, e então expandido para centros progressivamente maiores.
Os dados da Islândia e as ideias de Milkman suscitam duas
perguntas. Primeiro: será que temos juízo, competência e boa
vontade para implantar algo parecido? Segundo e mais importante:
será que é necessário?

O BRASIL VIVE UMA EPIDEMIA DE ENTORPECENTES?

Observando a população brasileira como um todo, constatamos


que 21% dos jovens entre 16 e 24 anos já experimentaram pelo
menos uma droga ilícita49. Contudo, tornando estas estatísticas ao
mesmo tempo mais generalizadas e específicas, temos a prevalência
de uso de drogas nos últimos 12 meses para pessoas entre 15 e 64
anos de idade no Brasil é de 2,5% para maconha; 1% para cocaína ou
crack; 0,3% pra anfetaminas; 0,2% para ecstasy; 2,1% para
tranquilizantes e sedativos; e 0,1% para opioides e opiáceos1. Quando
comparamos estes números aos da Islândia, por exemplo, é difícil
crer que temos um uso descontrolado de drogas: exceto pelo uso de
tranquilizantes e sedativos, os demais índices são iguais ou menores
que aqueles do país nórdico – mesmo após quase duas décadas de
ações focadas do governo islandês.
Fazendo uma soma simples da prevalência das cinco drogas
“ilícitas” mais comuns (a saber: maconha, cocaína crack,
anfetaminas, ecstasy e opioides opiáceos), temos uma prevalência
de uso de 12,2 na Noruega; 10,6 na Suíça; 17,7 na Austrália; 22,4 na
Irlanda; 23,1 na Alemanha; 6,3 na Islândia/ 9,6 na Suécia; e 30,5 na
Holanda – ou uma “prevalência média” de 16,55 (Singapura não
oferece dados suficientes para este cálculo). No Brasil, esta soma
equivale a 4,1 – 400% menor que a média dos nove países com
melhor IDH do mundo. Ainda que os dados da ONU possam ser
considerados suspeitos ou tendenciosos, é difícil afirmar que esta
discrepância seja apenas um produto de conspirações geopolíticas ou
pura engenharia social. Negar-se a enxergar a dimensão das
estatísticas não é ser saudavelmente cético, mas apenas
voluntariamente teimoso.
Não obstante nossa menor prevalência no uso de entorpecentes,
temos um índice de homicídios intencionais por 100 mil
habitantes/ano 46 vezes maior que a média dos nove países com
melhor IDH do mundo: segundo dados da ONU, em 2016, a Noruega
apresentou um índice de homicídios intencionais de 0,5; a Suíça,
0,54; a Austrália, 0,94; a Irlanda, 0,8; a Alemanha, 1,18; a Islândia,
0,3; a Suécia, 1,08; e a Holanda, 0,55, perfazendo uma média de
0,65. No mesmo ano, os brasileiros experimentaram uma taxa de
homicídios intencionais de 29,5391.
Se o consumo de entorpecentes – e consequentemente o
mercado que as fornece – é a principal causa de violência em uma
sociedade, então os países listados, que apresentam um consumo de
drogas ilícitas bem maior que aquele documentado no Brasil, não
deveriam ter índices de homicídios intencionais mais elevados que os
nossos? Mas não é isso que ocorre. Na verdade, como visto, os dados
oficiais apontam que consumimos bem menos drogas que eles, mas
ainda assim matamos mais.
Se procurarmos uma associação um pouco mais razoável, a
encontraremos no PIB nominal per capita (PPC): os 10 países com
melhor IDH do mundo possuem um PPC de 54,1 mil dólares –
versus 13,6 mil do Brasil92. Em outras palavras: o brasileiro médio
ganha cerca de 400% menos que um cidadão dos países mais ricos, e
este dado – e não a prevalência de uso de drogas – alinha-se melhor
ao elevado índice de homicídios intencionais em nosso país. Se
pretendemos combater a violência nestas paragens, deveríamos
tratar nossa miopia Moralista, esquecer as drogas e colocar todos os
esforços na melhora da produtividade e da renda.

UMA VISÃO MORAL NUA, CRUA E UTILITÁRIA


A Moralidade consiste na conversão de uma preferência em um
valor cultural que passa a ser internalizado pela sociedade em um
determinado momento. Por isso, em geral, a Moralidade é vista
como algo positivo, mas ela também pode ser empregada como
ferramenta de coação de um grupo sobre outro.
A Homossexualidade já foi considerada imoral, e então uma
doença, e então apenas uma orientação sexual trivial e digna. O
tabagismo já foi considerado elegante, e então uma declaração de
rebeldia, e então um hábito Moralmente condenável, mas
permissível. Em ambos os casos, o processo social envolvido
costuma ser quase sempre o mesmo: primeiro, observa-se o uso de
uma substância ou comportamento em uma minoria demográfica em
particular; por influência cultural, o hábito se espalha para outros
grupos e comunidades adjacentes, todavia mantendo o rótulo de
imoralidade e desconfiança. Logo em seguida, por pressões políticas,
a ação é considerada “ilícita”. Com o tempo, caso o uso ou
comportamento se torne disseminado o suficiente, inicia-se um
movimento contrário para suspensão do rótulo de ilicitude. Se a
droga ou comportamento tiver a capacidade de se tornar popular,
deixará também de ser considerado imoral – e, em alguns casos,
poderá ser até reclassificado como tolerável (tabaco) ou de uso
corriqueiro por pessoas refinadas (vinho, uísque), mesmo quando
seus prejuízos são extensos e conhecidos.
Alguns entorpecentes têm sido parte de rituais religiosos há
milhares de anos, mas a modernidade os baniu do teatro das
discussões sérias sem que houvesse qualquer raciocínio científico
baseado em evidências que justificassem essa discriminação.
Alegamos que algumas drogas são imorais, pois a vida é a sagrada e
as drogas a destroem. Entretanto, considere o caso do açúcar
refinado: o excesso de açúcar mata milhões de pessoas no mundo
todo, todos os anos. Poucas pessoas consomem açúcar porque são
forçadas a isso. Consumimos açúcar porque nos sentimos bem,
porque o açúcar é uma fonte rápida de energia e – principalmente –
porque alimentos doces são gostosos. Mas não precisamos consumir
açúcar refinado para sobreviver: o organismo pode muito bem retirar
o açúcar que necessita de alimentos naturais. Se vamos proibir as
drogas pelas ameaças que elas trazem à vida (que é sagrada ), não
deveríamos fazer o serviço completo e proibir o açúcar também?
Atividades como boxe, MMA, base jumping, paraquedismo,
alpinismo e voo livre são extremamente arriscados – ainda que este
seja um perigo controlado e assumido de modo voluntário. Se vamos
proibir o uso de drogas pelos danos e riscos que elas trazem ao
usuário e à vida que é sagrada, não deveríamos aproveitar a chance e
aprovar um pacote tornando estas atividades ilegais de uma vez por
todas? E o que dizer sobre pessoas que se alimentam de maneira
inadequada, se recusam a fazer exercícios e se tornam obesas? Elas
estão colocando suas vidas em risco! Não deveriam ser proibidas e
punidas pela força da Lei de fazerem isto?
Dizemos que as drogas são imorais, pois limitam livre arbítrio e
causam dependência. Bem, seu livre arbítrio é limitado pelo Estado
(vide os limites de velocidade, o uso obrigatório de capacete ou cinto
de segurança, sua “contribuição compulsória” para o Imposto de
Renda e o serviço militar obrigatório), pelas convenções sociais, por
seus genes, e por suas obrigações com a sua família, seu trabalho e
suas contas. E somos dependentes de comida, água, afeto e
relacionamentos: o jejum, a desidratação e o isolamento emocional,
quando muito intensos e prolongados, podem produzir danos físicos
e psicológicos terríveis.
Finalmente, dizemos que as drogas são imorais, pois podem
causar danos a outrem e à propriedade de terceiros, ainda que não
intencionalmente. Neste caso, deveríamos ser honestos com o
método de raciocínio empregado e repensar a Moralidade de
automóveis, bicicletas, motocicletas, skates, patins, aviões,
helicópteros, pisos encerados, piscinas, varandas e janelas sem
grades, tomadas elétricas, embalagens de vidro, utensílios de
plástico, armas de fogo e incontáveis medicamentos.
Argumentar assim não é aproveitar recursos sofistas para impor o
império do Relativismo Moral permissivo e contraproducente, mas
tentar fazer valer uma visão racional e congruente da Moralidade que
nos dispomos a bancar. É isso ou assumir a perpétua hipocrisia
coletiva de tudo.

CONCLUSÃO

As proibições costumam vir acompanhadas de modificações


legislativas que mais tarde garantem ao Estado o monopólio quase
total daquilo que foi proibido. No Brasil, este fenômeno pode ser
visto com relação aos jogos de apostas e o porte de armas de fogo.
Em outros casos, o banimento oficial representa apenas uma
tentativa fracassada de impedir o consumo daquilo que continuará
sendo consumido ilegalmente. A tolerância zero com as drogas é uma
bandeira política sedutora, mas ela é uma intenção natimorta a
inalcançável: humanos não irão parar de consumir drogas por força
da Lei – eles irão apenas consumi-las com maior discrição. Nenhum
dependente de crack ou usuário de ecstasy jamais aguardou
autorização do governo para começar a servir-se de narcóticos.
Sejam as drogas um problema ou não, não existe um passe de
mágica para resolvê-las. O perfil dos entorpecentes e dos usuários irá
mudar com o tempo, assim como os eventuais dilemas associados.
Qualquer medida com intenção de eficácia real deverá passar não
pelo combate violento às drogas, mas pela impunidade dos crimes
contra a integridade física e a propriedade do cidadão, pela
prevenção do contato dos jovens com a subcultura que permeia
criminalidade, por medidas educacionais explícitas e permanentes
nas escolas, pelo estabelecimento de regras meritocráticas no
mercado de trabalho, pela melhora da renda oriunda do esforço
próprio, e pela valorização da religião e da saúde emocional dos
núcleos familiares. Em termos de Estado, é imperativo estabelecer
uma maior autonomia para que cada unidade da federação decida
como irá dividir seus recursos para lidar com os entorpecentes.
Após quase cinco séculos de disseminação do método científico,
qualquer julgamento Moral deveria envolver evidências, não
emoções. E delegar ao Estado a proibição ou autorização do uso de
drogas consiste em manter a tutela governamental de decisões que
deveriam caber unicamente ao indivíduo. O Estado deveria servir
para proteção dos mais vulneráveis – bebês, crianças e pessoas
mentalmente incapacitadas, por exemplo –, deixando aos adultos a
responsabilidade pelas consequências de suas próprias escolhas. Sem
embargo, uma consulta popular realizada nos EUA em 2016 mostrou
que 60% da população apoiava a legalização da maconha, sendo que
54% acreditavam que esta legalização deveria ser plena e irrestrita11.
No Brasil, como herança de décadas de políticas assistencialistas e
paternalistas, 47% da população é favorável a que o Estado decida
quais drogas podem ser consumidas legalmente e quais devem ser
proibidas49. É triste constatar, mas, como nação, temos um longo
caminho pela frente para apreender o que significa
Autopertencimento.

Referências Bibliográficas:
1. United Nations Office on Drugs and Crime. World Drug Report 2018.
Acessado em https://www.unodc.org/wdr2018/en/topics.html
2. Ali SF et al. Understanding the Global Problem of Drug Addiction is a Challenge
for IDARS Scientists. Curr Neuropharmacol. 2011 Mar; 9(1): 2–7.
3. Becker JB et al. Sex differences, gender and addiction. J Neurosci Res. 2017
Jan 2; 95(1-2): 136–147.
4. Greenfield SF et al. Substance Abuse in Women. Psychiatr Clin North Am.
2010 Jun; 33(2): 339–355.
5. Hecksher D, Hesse M. Women and Substance Use Disorders. Mens Sana
Monogr. 2009 Jan-Dec; 7(1): 50–62.
6. Love T et al. Neuroscience of Internet Pornography Addiction: A Review and
Update. Behav Sci (Basel). 2015 Sep; 5(3): 388–433.
7. Ritchie H, Roser M. Alcohol consumption. Our World in Data , abril/2018.
Acessado em https://ourworldindata.org/alcohol-consumption
8. Ritchie H, Roser M. Substance Use. Our World in Data , abril/2018. Acessado
em https://ourworldindata.org/substance-use
9. Worldometers. World Population by Year. Acessado em
http://www.worldometers.info/world-population/world-population-by-year/
10. Malta DC et al. Evolução de indicadores do tabagismo segundo inquéritos de
telefone, 2006-2014. Cad. Saúde Pública 2017; 33 Sup 3:e00134915.
11. Bridgeman MB, Abazia DT. Medicinal Cannabis: History, Pharmacology,
And Implications for the Acute Care Setting. P T. 2017 Mar; 42(3): 180–188.
12. Hasin DS. US Epidemiology of Cannabis Use and Associated Problems.
Neuropsychopharmacology. 2018 Jan; 43(1): 195–212.
13. Bruce L. Benson, David W. Rasmussen. Illicit Drugs and Crime. Liberty
Tree Network (1996).
14. Baumeister D et al. Classical hallucinogens as antidepressants? A review of
pharmacodynamics and putative clinical roles. Ther Adv Psychopharmacol. 2014
Aug; 4(4): 156–169.
15. Tricot JP. Cocaine: half a century of therapeutic use (1880-1930). Verh K Acad
Geneeskd Belg. 1991;53(5):487-96.
16. Grinspoon L, Bakalar JB. Coca and cocaine as medicines: an historical
review. J Ethnopharmacol. 1981 Mar-May;3(2-3):149-59.
17. dos Santos RG et al. Antidepressive, anxiolytic, and antiaddictive effects of
ayahuasca, psilocybin and lysergic acid diethylamide (LSD): a systematic review
of clinical trials published in the last 25 years. Ther Adv Psychopharmacol. 2016
Jun; 6(3): 193–213.
18. Barker SA. N, N-Dimethyltryptamine (DMT), an Endogenous Hallucinogen:
Past, Present, and Future Research to Determine Its Role and Function. Front
Neurosci. 2018; 12: 536.
19. Centers for Disease Control and Prevention. Impaired Driving: Get the
Facts. Acessado em
https://www.cdc.gov/motorvehiclesafety/impaired_driving/impaired-
drv_factsheet.html
20. Ilgen M, Kleinberg F. The Link Between Substance Abuse, Violence, and
Suicide. Psychiatric Times , Jan/2011; 8(1):1-7. Acessado em
https://www.psychiatrictimes.com/substance-use-disorder/link-between-
substance-abuse-violence-and-suicide
21. Biderman C, De Mello JMP, Schneider AA. Dry Law and Homicides:
Evidence from the São Paulo Metropolitan Area. The Economic Journal, March
2010; 120(543):157-182.
22. Murray RL et al. Psychological Aggression, Physical Aggression, and Injury in
Nonpartner Relationships Among Men and Women in Treatment for Substance-
Use Disorders. J Stud Alcohol Drugs. 2008 Nov; 69(6): 896–905.
23. Kessler RC, Borges G, Walters EE. Prevalence of and risk factors for lifetime
suicide attempts in the National Comorbidity Survey. Arch Gen Psychiatry. 1999
Jul;56(7):617-26.
24. Brookoff D. Drugs, Alcohol, and Domestic Violence in Memphis. National
Institute of Justice, Oct 1997. Acessado em
https://www.ncjrs.gov/pdffiles/fs000172.pdf
25. de Carvalho HB, Seibel SD. Crack Cocaine Use and its Relationship with
Violence and Hiv. Clinics (Sao Paulo) , 2009 Sep; 64(9): 857–866.
26. National Institute of Justice (NIJ). Factors That Increase Sexual Assault
Risk, 01/10/2018. Acessado em https://www.nij.gov/topics/crime/rape-sexual-
violence/campus/pages/alcohol.aspx
27. Abdalla RR et al. Association between drug use and urban violence: Data from
the II Brazilian National Alcohol and Drugs Survey (BNADS). Addict Behav Rep.
2018 Jun; 7: 8–13.
28. Phillips MD. Assessing the Impact of Drug Use and Drug Selling on Violent
Offending in a Panel of Delinquent Youth. J Drug Issues. 2012 Jul; 42(3): 298–
316.
29. Liakoni E et al. Psychoactive substances and violent offences: A retrospective
analysis of presentations to an urban emergency department in Switzerland. PLoS
One. 2018; 13(3): e0195234.
30. Lowry R et al. School violence, substance use, and availability of illegal drugs
on school property among US high school students. J Sch Health. 1999
Nov;69(9):347-55.
31. Miller BA et al. Alcohol, drugs, and violence in children's lives. Recent Dev
Alcohol. 1997;13:357-85.
32. Cherpitel CJ et al. Attribution of Alcohol to Violence-Related Injury: Self and
Other’s Drinking in the Event. J Stud Alcohol Drugs. 2012 Mar; 73(2): 277–284.
33. Agence France Presse. A experiência do Uruguai um ano após a legalização da
maconha. Jornal Estado de Minas , 17/10/2018. Acessado em
https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2018/10/17/interna_interna
cional,997969/a-experiencia-do-uruguai-um-ano-apos-a-legalizacao-da-
maconha.shtml
34. Martínez M. Legalização da maconha intensifica violência entre traficantes no
Uruguai. El País, 10/08/2018. Acessado em
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/08/09/internacional/1533827324_546108
.html
35. Fábio AC. Os primeiros dados de violência após a liberação da maconha no
Uruguai. Nexo, 17/08/18. Acessado em
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/08/17/Os-primeiros-dados-de-
viol%C3%AAncia-ap%C3%B3s-a-libera%C3%A7%C3%A3o-da-maconha-no-
Uruguai
36. Moore TJ et al. Prescription Drugs Associated with Reports of Violence
Towards Others. PLoS One. 2010; 5(12): e15337.
37. Correio Braziliense Economia. País perde com alcoolismo 4,5 vezes mais do
que o lucro de fabricantes. Jornal Correio Braziliense , 24/01/2015. Acessado em
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2015/01/24/inter
nas_economia,467939/pais-perde-com-alcoolismo-4-5-vezes-mais-do-que-o-
lucro-de-fabricantes.shtml
38. Nações Unidas do Brasil. Brasil é o terceiro país das Américas com mais
mortes de homens causadas pelo álcool. ONU, 20/08/2015. Acessado em
https://nacoesunidas.org/onu-brasil-e-o-terceiro-pais-das-americas-com-mais-
mortes-de-homens-causadas-pelo-alcool/
39. Centers for Disease Control. Tobacco-Related Mortality. Acessado em
https://www.cdc.gov/tobacco/data_statistics/fact_sheets/health_effects/tobacc
o_related_mortality/index.htm
40. Governo do Brasil. Mortes por tabagismo podem chegar a 7,5 mi por ano, diz
OMS. Portal Brasil , 30/08/2017. Acessado em
http://www.brasil.gov.br/noticias/saude/2017/08/mortes-por-tabagismo-
podem-chegar-a-7-5-mi-por-ano
41. Pinto M et al. Carga de doença atribuível ao uso do tabaco no Brasil e potencial
impacto do aumento de preços por meio de impostos – Documento técnico IECS
N° 21. Instituto de Efectividad Clínica y Sanitaria , maio de 2017. Acessado em
http://actbr.org.br/uploads/arquivo/1169_apresentacao_custo.pdf
42. Iwanek K. The Dry Laws of India. The Diplomat, 25/04/2016. Acessado em
https://thediplomat.com/2016/04/the-dry-laws-of-india/
43. Lerner M. Unintended consequences. Acessado em
http://www.pbs.org/kenburns/prohibition/unintended-consequences/
44. Blocker JS. Did Prohibition Really Work? Alcohol Prohibition as a Public
Health Innovation. Am J Public Health. 2006 February; 96(2): 233–243.
45. Richard Boeckel. Social and economic effects of prohibition. CQ Press, 1928,
Editorial research reports - Vol. IV. Acessado em
http://library.cqpress.com/cqresearcher/cqresrre1928103100
46. Crockett MJ et al. Dissociable Effects of Serotonin and Dopamine on the
Valuation of Harm in Moral Decision Making. Curr Biol. 2015 Jul
20;25(14):1852-9.
47. Krebs T, Johansen P. Psychedelics and mental health: a population study.
PLoS One, 2013; 8: e6397.
48. Frank LE, Nagel SK. Addiction and Moralization: the Role of the Underlying
Model of Addiction. Neuroethics. 2017; 10(1): 129–139.
49. Venturi G. Consumo de drogas, opinião pública e moralidade - Motivações e
argumentos baseados em uso. Tempo Social, agosto 2017; 29(2):159-186.
50. Conselho Nacional de Justiça. BNMP 2.0 revela o perfil da população
carcerária brasileira. CNJ, 09/08/2018. Acessado em
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/87316-bnmp-2-0-revela-o-perfil-da-
populacao-carceraria-brasileira
51. Departamento Penitenciário Nacional - Ministério da Justiça e
Segurança Pública. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias -
Atualização - Junho de 2016. Acessado em https://www.justica.gov.br/news/ha-
726-712-pessoas-presas-no-brasil/relatorio_2016_junho.pdf
52. IPEA. Atlas da Violência 2018 . Acessado em
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180
604_atlas_da_violencia_2018.pdf
53. Jerome L. (2007) Psilocybin Investigator’s Brochure. Multidisciplinary
Association for Psychedelic Studies. Acessado em
http://www.maps.org/research-archive/psilo/psilo_ib.pdf
54. Calabria B et al. Does cannabis use increase the risk of death? Systematic
review of epidemiological evidence on adverse effects of cannabis use. Drug
Alcohol Rev. 2010 May; 29(3):318-30.
55. Hasin DS. US Epidemiology of Cannabis Use and Associated Problems.
Neuropsychopharmacology. 2018 Jan; 43(1): 195–212.
56. Doward J. Legal marijuana cuts violence says US study, as medical-use laws see
crime fall. The Guardian , 14/01/2018. Acessado em
https://www.theguardian.com/world/2018/jan/14/legal-marijuana-medical-use-
crime-rate-plummets-us-study
57. Dragone D et al. Crime and the legalization of recreational marijuana. Journal
of Economic Behavior & Organization , March 2019; 159:488-501.
58. Jeffrey Miron, Katherine Waldock. The Budgetary Impact of Ending Drug
Prohibition. Cato Institute (2010).
59. Mouhamed Y et al. Therapeutic potential of medicinal marijuana: an
educational primer for health care professional. Drug Healthc Patient Saf. 2018;
10: 45–66.
60. Hill KP et al. Cannabis and Pain: A Clinical Review. Cannabis Cannabinoid
Res. 2017; 2(1): 96–104.
61. Gasser P et al. Safety and Efficacy of Lysergic Acid Diethylamide-Assisted
Psychotherapy for Anxiety Associated With Life-threatening Diseases. J Nerv
Ment Dis. 2014 Jul; 202(7): 513–520.
62. Kraehenmann R et al. Psilocybin-induced decrease in amygdala reactivity
correlates with enhanced positive mood in healthy volunteers. Biol Psychiatry ,
2016; 78: 572–581.
63. Garcia-Romeu A et al. Psilocybin-occasioned Mystical Experiences in the
Treatment of Tobacco Addiction. Curr Drug Abuse Rev. 2015; 7(3): 157–164.
64. Marques ACPR et al . Abuso e dependência: crack. Rev Assoc Med Bras , 2012;
58(2):141-153.
65. Pedrosa SM et al. A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas
em tratamento. Rev Bras Enferm , 2016; 69(5):899-906.
66. Fernandes SS et al . Evasão do tratamento da dependência de drogas:
prevalência e fatores associados identificados a partir de um trabalho de Busca
Ativa. Cad. Saúde Colet. , 2017, Rio de Janeiro, 25 (2): 131-137.
67. Ferigolo M et al. "Êxtase": revisão farmacológica. Rev. Saúde Pública , 1998;
32(5):487-95.
68. Campos NPS et al. Uso indiscriminado de benzodiazepínicos. Revista Saúde
em Foco, 2017; 9:485-491.
69. Versolato B. Nação Rivotril. Superinteressante, 12/08/2010. Acessado em
https://super.abril.com.br/saude/nacao-rivotril/
70. Cruz NLM. Clonazepam, um campeão de vendas no Brasil. Por quê? Tese de
Mestrado em Ciências na UNIFESP, 2016. Acessado em
http://repositorio.unifesp.br/bitstream/handle/11600/41881/2016-0019.pdf?
sequence=1&isAllowed=y
71. [da Redação]. Mapa da Violência: de cada 50 mil homicídios, só 8% são
esclarecidos. Revista Consultor Jurídico , 09/05/2011. Acessado em
https://www.conjur.com.br/2011-mai-09/somente-homicidios-sao-resolvidos-
50-mil-cometidos-pais
72. Bouso JC et al. Personality, psychopathology, life attitudes and
neuropsychological performance among ritual users of Ayahuasca: a longitudinal
study. PLoS One. 2012; 7(8):e42421.
73. European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction. Norway -
Country Drug Report 2018. Acessado em
http://www.emcdda.europa.eu/countries/drug-reports/2018/norway/drug-laws-
and-drug-law-offences_en
74. Wallin C. Ao invés de punir, Noruega oferece tratamento a viciados. RFI,
20/12/2017. Acessado em http://br.rfi.fr/europa/20171220-ao-inves-de-punir-
noruega-oferece-tratamento-viciados
75. Revista em Discussão. As drogas na Suíça. Jornal do Senado. Acessado em
https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/dependencia-
quimica/mundo-e-as-drogas/as-drogas-na-suica.aspx
76. Siegenthaler P. Repensando a Política das Drogas. Swissinfo.ch, 01/03/2018.
Acessado em https://www.swissinfo.ch/por/sociedade/repensando-a-
pol%C3%ADtica-das-drogas_-a-proibi%C3%A7%C3%A3o-das-drogas-causa-
mais-problemas-do-que-oferece-solu%C3%A7%C3%B5es-/43691840
77. European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction. Ireland -
Country Drug Report 2018. Acessado em
http://www.emcdda.europa.eu/countries/drug-reports/2018/ireland_en
78. Health Research Board National Drugs Library. Ireland: national report
for 2017 – drug policy. Acessado em https://www.drugsandalcohol.ie/25262/
79. European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction. Germany -
Country Drug Report 2018. Acessado em
http://www.emcdda.europa.eu/countries/drug-reports/2018/germany_en
80. European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction. Sweden -
Country Drug Report 2018. Acessado em
http://www.emcdda.europa.eu/countries/drug-reports/2018/sweden_en
81. Central Narcotics Bureau. Misuse Drugs Act (MDA). Acessado em
https://www.cnb.gov.sg/drug-information/misuse-of-drugs-act
82. Singapores Central Narcotics Bureau. Overview of Singapore’s Drug
Situation in 2017. Acessado em https://www.cnb.gov.sg/docs/default-
source/drug-situation-report-documents/cnb-annual-stats-release-for-2017_12-
jun.pdf
83. Singapore´s Public Data. Demographic Profile of Drug Abuser. Acessado em
https://data.gov.sg/dataset/demographic-profile-of-drug-abusers
84. European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction.
Netherlands - Country Drug Report 2018. Acessado
http://www.emcdda.europa.eu/countries/drug-reports/2018/netherlands_en
85. Harvey B. Milkman, Kenneth W. Wanberg, Cleo Parker Robinson. Project Self
Discovery: Artistic Alternatives for High Risk Youth. Wiley (1995).
86. Young E. How Iceland Got Teens to Say No to Drugs. The Atlantic, 19/01/2017.
Acessado em https://www.theatlantic.com/health/archive/2017/01/teens-drugs-
iceland/513668/
87. Icelandic Centre for Social Research and Analysis (ICSRA).
http://www.rannsoknir.is/en/home/
88. Milkman HB. Iceland succeeds at reversing teenage substance abuse. Acessado
em https://www.dfaf.org/wp-content/uploads/2018/08/Iceland-Succeeds-at-
Reversing-Teenage-Substance-Abuse2016.pdf
89. European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction. Portugal -
Country Drug Report 2018. Acessado em
http://www.emcdda.europa.eu/countries/drug-reports/2018/portugal_en
90. Nutt D, King L, Phillips L. Drug harms in the UK: a multicriteria decision
analysis. Lancet, 2010; 376: 1558–1565.
91. United Nations Office on Drugs and Crime. Intentional Homicide Victims -
2016. Acessado em https://dataunodc.un.org/crime/intentional-homicide-
victims
92. International Monetary Fund. World Economic Outlook Database. Acessado
em https://www.imf.org
93. Sherman BJ, McRae-Clark AL. Treatment of Cannabis Use Disorder: Current
Science and Future Outlook. Pharmacotherapy. 2016 May; 36(5): 511–535.
94. Moos RH, Moos BS. Rates and predictors of relapse after natural and treated
remission from alcohol use disorders. Addiction. 2006 Feb; 101(2): 212–222.
95. Ronzani TM et al. Mídia e drogas: análise documental da mídia escrita
brasileira sobre o tema entre 1999 e 2003. Ciênc. saúde coletiva , Nov./Dec.
2009; 14(5): 1751-1761.
96. Barros MBA et al. Depression and health behaviors in Brazilian adults – PNS
2013. Rev Saude Publica. 2017; 51(Suppl 1):8s.
97. Daniel J, Haberman M. Clinical potential of psilocybin as a treatment for
mental health conditions. Ment Health Clin. 2017 Jan; 7(1): 24–28.
98. van Amsterdam J, Opperhuizen A, van den Brink W. Harm potential of
magic mushroom use: a review. Regul Toxicol Pharmacol, 2011 Apr; 59(3):423-9.
99. Osório F et al. Antidepressant effects of a single dose of ayahuasca in patients
with recurrent depression: a preliminary report. Braz J Psychiatry. 2015 Jan-
Mar;37(1):13-20.

Você também pode gostar