Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1.2 Origem.................................................................................................. 4
1.3 Definições............................................................................................. 7
5 HUMANIZAÇÃO ....................................................................................... 18
6 HUMANIZAÇÃO E ÉTICA......................................................................... 21
9 SERVIÇOS ............................................................................................... 40
BIBLIOGRAFIAS ............................................................................................ 46
1
2 INFERÊNCIAS INICIAIS
i.
Fonte: www.eternit.com.b
A Ética é a ciência da verdade; não existe uma ética da mentira, nem a meia
ética e ambas, ética e verdade são a essência da consciência humana. Ninguém lhes
pode ser indiferente.
A omissão da consciência é tão dolorosa que o homem, quando não consegue
seguir seus ditamos, inventa simulacros de ética e de verdade. Cria caricaturas da
ética, sacrificando a verdade por meio de retóricas ideológicas, assim, prevalecem as
exteriorizações que nada mais são do que a relativização da ética, que corresponde
à elasticidade da consciência.
A ética e a verdade, por habitarem a consciência, vêm de dentro, têm a ver com
o ser: ou é ou não se é! (MATOS, 2008).
Não há possibilidade de vida social sem que haja observância de princípios
éticos.
A sociedade apoia-se em três conceitos, seus pilares éticos:
É essencial que ela seja justa – que haja oportunidade para todos;
É essencial que ela seja livre – que a vontade educada torne a liberdade
responsável;
2
É vital que ela seja solidária – que haja compromisso com o bem pessoal e o
bem comum.
Ética da simulação ou meia-ética são mentiras inteiras que não resistem à
verdade, no tempo, mas estão aí camufladas no meio social e nosso interesse é
justamente levá-los a refletir que o compromisso com a sociedade, o respeito à
dignidade humana passa necessariamente pela ética, onde quer que esteja o
profissional, na educação, nos serviços de saúde, na administração pública, no meio
empresarial, ele deve permear seu viver na ética.
Para que sejam cumpridas as funções básicas da sociedade, são
imprescindíveis desenvolverem-se, igualmente, três capacidades, eminentemente
éticas:
Liderança integrada – não basta que haja líderes, eles devem estar integrados
por verdades comuns;
Organização flexível – que as estruturas estimulem a participação, a
criatividade, a descentralização e a delegação de autoridade;
Visão e ação estratégicas – que se desenvolva simultaneamente a percepção
diagnóstica (saber o que está acontecendo) e o pensamento estratégico (saber definir
cenários do porvir e tomar decisões eficazes) (MATOS, 2008).
3
servir de modo indireto como orientação moral para os que pretendam agir
racionalmente no conjunto da sua vida.
2.2 Origem
Ética é uma palavra de origem grega, com duas origens possíveis. A primeira
é a palavra grega éthos, com e curto, que pode ser traduzida por costume, a segunda
também se escreve éthos, porém com e longo, que significa propriedade do caráter.
A primeira é a que serviu de base para a tradução latina Moral, enquanto que a
segunda é a que, de alguma forma, orienta a utilização atual que damos a palavra
Ética (GOLDIM, 2000).
Ética é a investigação geral sobre aquilo que é bom.
Ética significa modo de ser, caráter, comportamento. É o ramo da filosofia que
busca estudar e indicar o melhor modo de viver no cotidiano e na sociedade.
Diferencia-se da moral, pois enquanto esta se fundamenta na obediência a normas,
tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos, a
ética, ao contrário, busca fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento
humano.
Na filosofia clássica, a ética não se resume ao estudo da moral (entendida como
“costume”, do latim mos, mores), mas a todo o campo do conhecimento que não é
abrangido na física, metafísica, estética, na lógica e nem na retórica.
Assim, a ética abrangia os campos que atualmente são denominados
antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, educação física e até
mesmo política, em suma, campos direta ou indiretamente ligados a maneiras de
viver.
Porém, com a crescente profissionalização e especialização do conhecimento
que se seguiu à revolução industrial, a maioria dos campos que eram objeto de estudo
da filosofia, particularmente da ética, foram estabelecidos como disciplinas científicas
independentes. Deste modo, é comum que atualmente a ética seja definida como “a
área da filosofia que se ocupa do estudo das normas morais nas sociedades
humanas” e busca explicar e justificar os costumes de um determinado agrupamento
humano, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns.
Neste sentido, ética pode ser definida como a ciência que estuda a conduta humana
4
e a moral é a qualidade desta conduta, quando se julga do ponto de vista do Bem e
do Mal.
A ética também não deve ser confundida com a lei, embora com certa
frequência a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre com a
lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a
cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas;
por outro lado, a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas no escopo da
ética.
Fonte: faculdadelasalle.edu.br
5
A Ética tem por objetivo facilitar a realização das pessoas. Que o ser humano
chegue a realizar-se a si mesmo como tal, isto é, como pessoa. (...) A Ética se ocupa
e pretende a perfeição do ser humano.
Ética existe em todas as sociedades humanas, e, talvez, mesmo entre nossos
parentes não humanos mais próximos. Podemos abandonar o pressuposto de que a
Ética é unicamente humana.
A Ética pode ser um conjunto de regras, princípios ou maneiras de pensar que
guiam, ou chamam a si a autoridade de guiar, as ações de um grupo em particular
(moralidade), ou é o estudo sistemático da argumentação sobre como nós devemos
agir (filosofia moral).
É extremamente importante saber diferenciar a Ética da Moral e do Direito.
Estas três áreas de conhecimento se distinguem, porém, têm grandes vínculos e até
mesmo sobreposições (GOLDIM, 2003).
Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabelecer uma
certa previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém, se diferenciam.
A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma
de garantir o seu bem-viver. A Moral independe das fronteiras geográficas e garante
uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo
referencial moral comum.
6
Fonte: www.blogdofabossi.com.br
2.3 Definições
Ético (ethos): disciplina filosófica que estuda o valor das condutas humanas,
seus motivos e finalidades. Reflexão sobre os valores e justificativas morais, aquilo
que se considera o bem.
Análise da capacidade humana de escolher, ser livre e responsável por sua
conduta entre os demais. Para alguns autores, o mesmo que moral (MARTINS, 2002).
7
Antiético: contra uma ética estabelecida ou contra a ideia (da ética) de
estabelecer o que devemos fazer ou quem queremos ser levando os outros em
consideração. Muitas vezes, o antiético tem ideias éticas próprias.
8
Fonte: www.amcconsult.com.br
Para José Renato Nalini (1999) a ética é uma ciência, pois tem objeto próprio,
leis próprias e método próprio. O objeto da ética é a moral. A moral é dos aspectos do
comportamento humano. A expressão deriva da palavra romana mores, com o sentido
de costumes, conjunto de normas adquiridas pelo hábito reiterado de sua prática.
A ética e a moral não devem ser confundidas. Segundo os estudiosos do
assunto, a ética não cria a moral (MARTINS, 2002).
O Professor de ética Mário Alencastro (2000) assevera que toda moral supõe
determinados princípios, normas ou regras de comportamento, não é a ética que os
estabelece numa determinada comunidade. A ética depara com uma experiência
histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em
vigor e, partindo delas, procura determinar a essência da moral, sua origem, as
condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza
e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o princípio
que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais.
“Os problemas éticos, ao contrário dos prático-morais são caracterizados pela
sua generalidade. Por exemplo, se um indivíduo está diante de uma determinada
situação, deverá resolvê-la por si mesmo, com a ajuda de uma norma que reconhece
e aceita intimamente, pois o problema do que fazer numa dada situação é um
problema prático-moral e não teórico-ético. Mas, quando estamos diante de uma
9
situação, como, por exemplo, definir o conceito de Bem, já ultrapassamos os limites
dos problemas morais e estamos num problema geral de caráter teórico, no campo
de investigação da ética. Tanto assim, que diversas teorias éticas se organizaram em
torno da definição do que é bem. Muitos filósofos acreditaram que, uma vez entendido
o que é bem, descobriríamos o que fazer diante das situações apresentadas pela vida.
As respostas encontradas não são unânimes e as definições de bem variam muito de
um filósofo para outro. Para uns, bem é o prazer, para outros é o útil e assim por
diante” (ALENCASTRO, 2000).
1 O fenômeno da felicidade
2 Escola de pensamento fundada em Atenas, por Aristipo de Cirene. Foi a partir do nome desta cidade que os
cirenaicos receberam sua denominação. É considerada pela tradição uma das chamadas escolas socráticas,
juntamente com os cínicos e os megáricos. Tais escolas recebem esta denominação por se configurar, cada uma
delas, como uma determinada interpretação dos ensinamentos de Sócrates, especialmente no que concerne à
correlação entre conhecimento e virtude.
10
Afirmava que a agressividade é insensata porque “enquanto se busca prejudicar o
inimigo, esquecemos o nosso próprio interesse”.
Aristóteles, em sua obra Ética a Nicômaco, afirma que a felicidade (eudemonia)
não consiste nem nos prazeres, nem nas riquezas, nem nas honras, mas numa vida
virtuosa. A virtude (areté), por sua vez, se encontra num justo meio entre os extremos,
que será encontrada por aquele dotado de prudência (phronesis) e educado pelo
hábito no seu exercício.
Aristóteles faz uma distinção entre os saberes teóricos, poiéticos e práticos que
nos levam a entender melhor que tipo de saber constitui a ética.
Os saberes teóricos (do grego theorein: ver, contemplar) ocupam-se de
averiguar o que são as coisas, o que ocorre de fato no mundo e quais são as causas
objetivas dos acontecimentos. São saberes descritivos, mostram-nos o que existe, o
que é, o que acontece. As diferentes ciências da natureza (Física, Química, Biologia,
Astronomia, etc.) são saberes teóricos na medida em que o que buscam é,
simplesmente, mostrar-nos como é o mundo.
Aristóteles dizia que os saberes teóricos versam sobre “o que não pode ser de
outra maneira”, ou seja, o que é assim porque assim o encontramos no mundo, não
porque assim o dispôs a nossa vontade: o sol aquece, os animais respiram a água se
evapora, as plantas crescem... tudo isso é assim e não podemos mudá-lo a nosso bel-
prazer. Podemos tentar impedir que uma coisa concreta seja aquecida pelo sol,
utilizando para tanto quaisquer meios que tenhamos a nosso alcance, mas que o sol
aqueça ou não aqueça não depende de nossa vontade: pertence ao tipo de coisas
que “não podem ser de outra maneira”.
Em contrapartida, os saberes poiéticos e práticos versam, segundo Aristóteles,
sobre “o que pode ser de outra maneira”, ou seja, sobre o que podemos controlar à
vontade. Os saberes poiéticos (do grego poiein: fazer, fabricar, produzir) são aqueles
que nos servem de guia para a elaboração de algum produto, de alguma obra, quer
seja algum tipo de artefato útil (como construir uma roda ou tecer uma manta) ou
simplesmente um objeto belo (como uma escultura, uma pintura ou um poema)
(CORTINA; MARTÍNEZ, 2009).
11
As técnicas e as artes são saberes desse tipo. O que hoje chamamos de
“tecnologias” são igualmente saberes que abarcam tanto a simples técnica - baseada
em conhecimentos teóricos - como a produção artística.
Os saberes poiéticos, diferentemente dos saberes teóricos, não descrevem o
que existe, mas procuram estabelecer normas, padrões e orientações sobre como se
deve agir para atingir o fim desejado (ou seja, uma roda ou uma manta bem-feitas,
uma escultura, uma pintura ou um poema belo). Os saberes poiéticos são normativos,
porém não pretendem servir de referência para toda a nossa vida, mas unicamente
para a obtenção de certos resultados que supostamente buscamos.
Por sua vez, os saberes práticos (do grego práxis: atividade, tarefa, negócio),
que também são normativos, são aqueles que procuram orientar-nos sobre o que
devemos fazer para conduzir nossa vida de uma maneira boa e justa, como devemos
agir, qual decisão é a mais correta em cada caso concreto para que a própria vida
seja boa em seu conjunto. Tratam do que deve existir, do que deveria ser (embora
ainda não seja), do que seria bom que acontecesse (segundo alguma concepção do
bem humano). Tentam nos mostrar como agir bem, como nos conduzir
adequadamente no conjunto de nossa vida (CORTINA; MARTÍNEZ, 2009).
Na classificação aristotélica, os saberes práticos eram agrupados sob o rótulo
“filosofia prática”, rótulo que abarcava não só a Ética (saber prático destinado a
orientar a tomada de decisões prudentes que nos levam a conseguir uma vida boa),
mas também a Economia (saber prático encarregado da boa administração dos bens
da casa e da cidade) e a Política (saber prático que tem por objeto o bom governo da
pólis).
Para Epicuro3 a felicidade consiste na busca do prazer, que ele definia como
um estado de tranquilidade e de libertação da superstição e do medo (ataraxia), assim
como a ausência de sofrimento (aponia). Para ele, a felicidade não é a busca
desenfreada de bens e prazeres corporais, mas o prazer obtido pelo conhecimento,
amizade e uma vida simples. Por exemplo, ele argumentava que ao comermos,
obtemos prazer não pelo excesso ou pelo luxo culinário (que leva a um prazer fortuito,
3Um filósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi muito difundido e numerosos centros epicuristas
se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador.
12
seguido pela insatisfação), mas pela moderação, que torna o prazer um estado de
espírito constante, mesmo se nos alimentarmos simplesmente de pão e água.
Para os filósofos cínicos, a felicidade era identificada com o poder sobre si
mesmo ou autossuficiência (em grego, autárkeia) e é alcançada eliminando-se da
vontade todo o supérfluo, tudo aquilo que fosse exterior. Defendiam um retorno à vida
da natureza, errante e instintiva, como a dos cães. Desacreditavam as conquistas da
civilização, suas estruturas jurídicas, religiosas e sociais.
Para os estoicos, a felicidade consiste em viver de acordo com a lei racional da
natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo. O
homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande
ordem e propósito do universo, devendo assim manter a serenidade e indiferença
perante as tragédias e alegrias.
Espinoza, em sua obra Ética, afirma que a felicidade é encontrada através da
alegria ativa, que nos possibilita ultrapassar as paixões (tristeza e alegria passivas).
A alegria ativa consiste em compreender e ativamente criar as
condições/oportunidades exteriores que levam à alegria e ao amor (o amor é definido
por ele como a alegria que associamos a uma causa exterior a nós), contra a tristeza
e o ódio (o ódio é definido por ele como a tristeza que associamos a uma causa
exterior a nós). Ele criticava severamente os filósofos cristãos medievais que
afirmavam que a tristeza e o sofrimento são bons (como em Cristo).
Para Espinoza, unicamente a alegria nos leva ao amor no cotidiano e na
convivência com os outros, enquanto a tristeza nunca é boa, intrinsecamente
relacionada ao ódio, à tristeza sempre é destrutiva para nós e para os outros.
4 VALORES ÉTICOS
A ética aristotélica afirma que existe moral porque os seres humanos buscam
inevitavelmente a felicidade, a ventura, e para alcançar plenamente esse objetivo
necessitam das orientações morais.
Mas, além disso, ela nos proporciona critérios racionais para averiguar que tipo
de comportamentos, quais virtudes, em suma, que tipo de caráter moral é o adequado
para essa finalidade.
13
Desse modo, Aristóteles entende a vida moral como um modo de “auto
realização” e por isso dizemos que a ética aristotélica pertence ao grupo de éticas
eudemonistas, porque assim se aprecia melhor a diferença em relação a outras éticas.
Para ele os valores seriam:
3-Próprias do autodomínio:
Fortaleza ou coragem (andreía)
Temperança ou moderação (sofrosine)
Pudor (aidos)
14
Para Scheler4, existe uma ciência pura dos valores, uma axiologia pura, que se
sustenta em três princípios:
Todos os valores são negativos ou positivos;
Valor e dever estão relacionados, pois a captação de um valor não realizado é
acompanhada pelo dever de realizá-lo;
Nossa preferência por um valor e não por outro verifica-se porque nossa
intuição emocional capta os valores já hierarquizados. A vontade de realizar um valor
moral superior em vez de um inferior constitui o bem moral, e seu contrário é o mal.
Não existem, portanto, valores especificamente morais.
Esse modelo ético foi seguido e ampliado por pensadores como Nicolai
Hartmann, Hans Reiner, Dietrich Von Hildebrand e José Ortega y Gasset, que chamou
a intuição emocional de “estimativa” e incluiu os valores morais na hierarquia objetiva,
diferentemente de Scheler, como mostra o quadro abaixo.
4 Max Scheller (1874-1928) foi um filósofo fenomenologista, preocupado especialmente com a filosofia dos valores.
15
Escrupuloso – negligente
Leal – desleal
Bonito – feio
Gracioso – tosco
Estéticos
Elegante – deselegante
Harmonioso – desarmônico
Santo ou sagrado – profano
Divino – demoníaco
Religiosos
Supremo – derivado
Milagroso – mecânico
Fonte: ORTEGA y GASSET (1993, p. 334)
16
As regras deontológicas e os profissionais da saúde
Fonte: davidkaller.site.med.br
17
Segundo a Organização Mundial da Saúde (1993), “prover medicamentos e
outros produtos e serviços para a saúde e ajudar as pessoas e a sociedade a utilizá-
los da melhor maneira possível é a missão de algumas práticas de saúde”. Essa
missão precisa do envolvimento de profissionais com formação direcionada para não
deixar nenhum dos elos da cadeia de atendimento a descoberto, ou seja, desde a
produção até o usuário final.
A atuação destes profissionais inclui uma somatória de atitudes,
comportamentos, corresponsabilidades e habilidades na prestação dos serviços, com
o objetivo de alcançar resultados terapêuticos eficientes e seguros, privilegiando a
saúde e a qualidade de vida do paciente (MARTINEZ, 1996 apud OLIVEIRA et al,
2005).
6 HUMANIZAÇÃO
18
Para certos autores, essa é uma das principais características do que eles
chamam de época hipermoderna ou supermoderna: a figura do excesso e da
deformação notadamente no que se refere ao “eu”. Nessa vertente, Lasch dá aos
tempos atuais o nome de Cultura Narcísica, e Debors, de Sociedade do Espetáculo,
ora ressaltando o individualismo, o culto ao corpo e a supervalorização dos aspectos
da aparência estética, ora ressaltando o exibicionismo, a captura pela imagem e o
comportamento histriônico que se realiza como espetáculo. No campo das relações,
a perda de suportes sociais e éticos, somada ao modo narcísico de ser, cria as
condições para a intolerância à diferença, e o outro é visto não como parceiro ou
aliado, mas como ameaça. Tal disposição, associada à rapidez e pouco estímulo à
reflexão sobre os aspectos existenciais e morais do viver humano, faz com que a
violência – que (por motivos que fogem ao alcance deste artigo) é parte do nosso
cotidiano – se apresente também como modo de resolver conflitos.
No contraponto, do meio do século XX para cá, começam a se desenhar
respostas para a sociedade assim estabelecida. Direitos Humanos, Bioética, Proteção
Ambiental, Cidadania, mais do que conceitos emergentes, são práticas que vão
ganhando espaço no dia-a-dia das pessoas, chamando-nos para o trabalho de
construção de outra realidade. Na área da Saúde surgiram várias iniciativas com o
nome de humanização. É bem provável que esse termo tenha sido forjado há umas
duas décadas, quando os acordes da luta antimanicomial, na área da Saúde Mental8,
e do movimento feminista pela humanização do parto e nascimento, na área da Saúde
da Mulher, começaram a ganhar volume e produzir ruído suficiente para registrar
marca histórica.
Desde então, vários hospitais, predominantemente do setor público,
começaram a desenvolver ações que chamavam de “humanizadoras”. Inicialmente,
eram ações que tornavam o ambiente hospitalar mais afável: atividades lúdicas, lazer,
entretenimento ou arte, melhorias na aparência física dos serviços. Não chegavam a
abalar ou modificar substancialmente a organização do trabalho ou o modo de gestão,
tampouco a vida das pessoas, mas faziam o papel de válvulas de escape para diminuir
o sofrimento que o ambiente hospitalar provoca em pacientes e trabalhadores. Pouco
a pouco, a ideia foi ganhando consistência, resultando alterações de rotina (por
exemplo, visita livre, acompanhante, dieta personalizada).
19
Em 2001, quando a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo fez um
levantamento dos hospitais públicos do Estado que desenvolviam ações
humanizadoras, praticamente todos faziam alguma coisa nesse sentido. O mesmo se
verificou em noventa e quatro hospitais de referência no país, escolhidos pelo
Ministério da Saúde, praticamente na mesma época. A iniciativa partia dos próprios
trabalhadores, independentemente de incentivo ou determinação dos gestores locais.
Tratava-se de uma resposta a essa necessidade sentida e reconhecida pelas pessoas
em seus ambientes de trabalho. Hoje, várias sondagens conceituais, manifestações
ideológicas, construções teóricas e técnicas e programas temáticos fazem da
humanização um instigante campo de inovação da produção teórica e prática na área
da Saúde.
Fonte: www.cmtecnologia.com.br
7 HUMANIZAÇÃO E ÉTICA
22
A humanização propõe a construção coletiva de valores que resgatem a
dignidade humana na área da Saúde e o exercício da ética, aqui pensada como um
princípio organizador da ação. O agir ético, neste ponto de vista, se refere à reflexão
crítica que cada um de nós, profissional da saúde, tem o dever de realizar,
confrontando os princípios institucionais com os próprios valores, seu modo de ser e
pensar e agir no sentido do Bem.
Claro que seria um ato de violência se, em nome da humanização,
determinássemos quais os valores pessoais que cada um deve ter. Entretanto, na
dimensão institucional, tratam-se de valores fundamentais para balizar a atitude
profissional de todos com diretrizes éticas que expressem o que, coletivamente, se
considera bom e justo.
A ética, assim pensada, torna-se um importante instrumento contra a violência
e a favor da humanização. Humanização e violência institucional. Na sua história, a
humanização surge, então, como resposta espontânea a um estado de tensão,
insatisfação e sofrimento tanto dos profissionais quanto dos pacientes, diante de fatos
e fenômenos que configuram o que chamamos de violência institucional na Saúde.
Na área da Saúde, a violência institucional decorre de relações sociais
marcadas pela sujeição dos indivíduos. Historicamente, a organização hierárquica do
hospital do século XIX foi uma importante estratégia da Medicina da época moderna
para o desenvolvimento da clínica e da tecnologia médica. Aumentou o acesso da
população ao atendimento e propiciou grandes avanços técnicos. Entretanto, junto a
esses progressos, também se engendraram situações que tornaram o hospital lugar
de sofrimento.
O não reconhecimento das subjetividades envolvidas nas práticas assistenciais
no interior de uma estrutura caracterizada pela rigidez hierárquica, controle, ausência
de direito ou recurso das decisões superiores, forma de circulação da comunicação
apenas descendente, descaso pelos aspectos humanísticos, e disciplina autoritária,
fizeram do hospital um lugar onde as pessoas são tratadas como coisas e prevalece
o desrespeito à sua autonomia e a falta de solidariedade.
A própria organização científica do trabalho (fortemente presente na área da
Saúde) fragmenta o processo que vai do início ao fim da produção, seja de bens, seja
de serviços, deixando cada etapa do processo a cargo de um grupo de trabalhadores
23
que acaba tendo apenas a visão da parte que lhe cabe e não do todo. Essa estratégia
agiliza e multiplica o resultado, entretanto cria um estado de alienação em relação à
importância de cada um para a realização completa da tarefa que, na área da Saúde,
tem como consequência a naturalização do sofrimento e a diminuição do
compromisso e da responsabilidade na produção da saúde.
Desenha-se, assim, um cenário social e institucional, em que a falta de
sensibilidade e de valores humanísticos abre espaço para que o comportamento
violento (expresso em atos de brutalidade explícita ou sofisticados disfarces da
intolerância e do desprezo) passe a ser a norma e não a exceção. Outro fator que
contribui para esse estado de coisas é a medicalização do viver humano.
Inicialmente, a medicalização se referia à transformação de problemas sociais
em problemas de saúde. Por exemplo: antes de encarnar no corpo, a fome é um
problema da pobreza ou da educação, depois de um tempo vira desnutrição.
Combater a fome é diferente de tratar a desnutrição do ponto de vista social (uma
coisa é dar atenção à Saúde, outra é mudar a distribuição de renda).
Aos poucos, a medicalização foi abrangendo problemas que em épocas
anteriores não teriam a Medicina como destino, mas sim outras áreas do saber. Com
o aumento da crença das pessoas no que consideram verdades científicas na área da
Saúde, e a decadência do valor socialmente dado às outras formas de compreensão
da existência humana, toda e qualquer expressão da vida passa por um diagnóstico
previsto em algum CID (Código Internacional das Doenças), e busca remédio na
Medicina.
Assim, toda tristeza vira depressão, toda inquietação vira ansiedade e todo
mundo procura os serviços de Saúde atrás de respostas rápidas e deglutíeis, mesmo
que não funcionem. Ao lado desse fenômeno cultural da contemporaneidade, em
nossa realidade, o sucateamento dos serviços de saúde devido à má gestão da coisa
pública ou aos sempre insuficientes investimentos frente aos crescentes custos da
Medicina Biotecnológica, levou à pletora do acesso aos serviços e ao esgotamento
dos profissionais para atender.
24
Fonte:files.estudantesdeadm.com
25
ambientes bem decorados que não devem nada aos hotéis de luxo, frigobar no quarto
e lojinha de conveniência –, nos hospitais públicos e movimentos sociais a
humanização escapa aos modelos comerciais e recupera dos ideais do SUS a prática
da cidadania. Quase vinte anos depois da sua criação, o SUS é o sistema idealizado
para os anseios de saúde do povo brasileiro, mas é também o sistema de saúde
público que apresenta as contradições e heterogeneidades que caracterizam a nossa
sociedade: serviços modernos, e de ponta tecnológica, ao lado de serviços
sucateados nos quais a cronificação do modo obsoleto de operar o serviço público, a
burocratização e os fenômenos que caracterizam situações de violência institucional
estão presentes.
No ano 2000, o Ministério da Saúde, sensível às manifestações setoriais e às
diversas iniciativas locais de humanização das práticas de saúde, criou o Programa
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH). O PNHAH era um
programa que estimulava a disseminação das ideias da Humanização, os
diagnósticos situacionais e a promoção de ações humanizadoras de acordo com
realidades locais. Inovador e bem construído por um grupo de psicanalistas, o
programa tinha forte acento na transformação das relações interpessoais pelo
aprofundamento da compreensão dos fenômenos no campo das subjetividades. Em
2003, o Ministério da Saúde passou o PNHAH por uma revisão, e lançou a Política
Nacional de Humanização (PNH), que mudou o patamar de alcance da humanização
dos hospitais para toda a rede SUS e definiu uma política cujo foco passou a ser,
principalmente, os processos de gestão e de trabalho.
Como política, a PNH se apresenta como um conjunto de diretrizes transversais
que norteiam toda atividade institucional que envolva usuários ou profissionais da
Saúde, em qualquer instância de efetuação. Tais diretrizes apontam como caminho: -
A valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão
fortalecendo compromissos e responsabilidade; - O fortalecimento do trabalho em
equipe, estimulando a transdisciplinaridade e a grupalidade.
A utilização da informação, comunicação, educação permanente e dos espaços
da gestão na construção de autonomia e protagonismo; - A promoção do cuidado
(pessoal e institucional) ao cuidador. Nessa vertente, a humanização focaliza com
especial atenção os processos de trabalho e os modelos de gestão e planejamento,
26
interferindo no cerne da vida institucional, local onde de fato se engendram os vícios
e os abusos da violência institucional. O resultado esperado é a valorização das
pessoas em todas as práticas de atenção e gestão, a integração, o compromisso e a
responsabilidade de todos com o bem comum. Para sua implementação16, a PNH
atua nos eixos de institucionalização que operaram a mudança de cultura a que se
propõe. Tais eixos compreendem a inserção das diretrizes da humanização nos
planos estaduais e municipais dos vários governos, nos programas de Educação
Permanente, nos cursos profissionalizantes e instituições formadoras da área da
Saúde, na mídia, nas ações de atenção integral à Saúde, no estímulo à pesquisa
relacionada ao tema, vinculando-os ao repasse de recursos.
Várias ações e indicadores de validação e monitoramento foram desenvolvidos
pelo Ministério da Saúde para estimular e acompanhar os processos de humanização
não só nos hospitais, mas nos três níveis de atenção à Saúde no SUS. A estratégia
de criação e fortalecimento dos Grupos de Trabalho de Humanização nas instituições
(grupos formados por pessoas ligadas ao tema e aos gestores dos serviços de Saúde,
com o papel de implementar a PNH na sua unidade) merece considerações à parte e
ajustes, mesmo assim mostrou-se exitosa em vários locais, acumulando bons
exemplos de trabalho na área.
Entretanto, a humanização só se torna realidade em uma instituição quando
seus gestores fazem dela mais que retórica, um modelo de fazer gestão. Boas
intenções e programas limitados a ações circunstanciais não sustentam a
humanização como processo transformador. Os instrumentos que de fato asseguram
esse processo são: a informação, a educação permanente, a qualidade e a gestão
participativa.
Enfim, pensar a humanização como política significa menos o que fazer e mais
como fazer. Embora importantes, não são necessariamente as ações ditas
humanizadoras que determinam um caráter humanizado ao serviço como um todo,
mas a consideração aos princípios conceituais que definem a humanização como a
base para toda e qualquer atividade. Este é o grande desafio: criar uma nova cultura
de funcionamento institucional e de relacionamentos na qual, cotidianamente, se
façam presente os valores da humanização.
27
7.1 A humanização como expressão de ética
28
transformando-o num ser humano, com um estilo de funcionamento e modo de ser
singulares (OLIVEIRA; COLLET e VIERA, 2006).
O fato dos seres humanos serem dotados de linguagem torna possível a
construção de redes de significados, que são compartilhadas em maior ou menor
medida com os semelhantes e que lhes dão uma identidade cultural. Em função disto,
o ser humano é capaz de transformar imagens em obras de arte, palavras em poesia
e literatura e sons em fala e música, ignorância em saber e ciência. É capaz ainda de
produzir cultura e a partir dela, intervir e modificar a natureza. Por exemplo,
transformando doença em saúde (OLIVEIRA; COLLET e VIERA, 2006).
Entretanto, segundo os mesmos autores acima, a palavra pode fracassar e
quando a palavra fracassa o ser humano também é capaz das maiores
arbitrariedades, levando a destruições. Essa destrutividade pode se manifestar em
muitos níveis e intensidades, desde um “não olhar no rosto e dar bom dia”, até o ato
de violência mais cruel e definitivo.
Partindo das inferências acima, humanizar é garantir à palavra a sua dignidade
ética. Ou seja, o sofrimento humano e as percepções de dor ou de prazer no corpo,
para serem humanizados, precisam tanto que as palavras que o sujeito expressa
sejam reconhecidas pelo outro, quanto esse sujeito precisa ouvir do outro, palavras
de seu reconhecimento. Pela linguagem se fazem as descobertas de meios pessoais
de comunicação com o outro, sem o que a desumanização é recíproca.
Isto é, sem comunicação não há humanização. A humanização depende de
nossa capacidade de falar e ouvir, do diálogo com nossos semelhantes (BRASIL,
2004).
O planejamento da assistência deve sempre valorizar a vida humana e a
cidadania, considerando, assim, as circunstâncias sociais, étnicas, educacionais e
psíquicas que envolvem cada indivíduo. Deve ser pautada no contato humano, de
forma acolhedora e sem juízo de valores e contemplar a integralidade do ser humano
(BRASIL, 2004).
A Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde (PNH) entende por
humanização a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de
produção de saúde e enfatiza a autonomia e o protagonismo desses sujeitos, a
corresponsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários e a
29
participação coletiva no processo de gestão. Pressupõe mudanças no modelo de
atenção e, portanto, no modelo de gestão. Assim, essa tarefa convoca gestores,
trabalhadores e usuários.
Reafirmando a importância do termo humanizar, este é um verbo que precisa
ser conjugado continuadamente por um número cada vez maior de usuários e
trabalhadores da saúde, pois ele facilmente se desgasta e vira desumanização.
Para Backes, Lunardi e Lunardi Filho (2006), perceber o outro requer uma
atitude profundamente humana. Reconhecer e promover a humanização, à luz de
considerações éticas, demanda um esforço para rever, principalmente, atitudes e
comportamentos dos profissionais envolvidos direta ou indiretamente no cuidado do
paciente, o que também está enraizado no Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem (CEPE, 1993), evidenciando que os códigos de ética profissionais,
enquanto expressão de sistemas de valores, explicitam a moralidade de um grupo,
pressupondo a imposição desses valores, e não o seu questionamento(COHEN;
FERRAZ, 1995).
A humanização encontra respaldo, também, na atual Constituição Federal, no
artigo primeiro, Inciso III, que assinala “a dignidade da pessoa humana” como um dos
fundamentos do Estado Democrático de Direito (BRASIL, 1988).
Os direitos dos seres humanos nascem com os homens e, naturalmente,
quando se fala de direitos da pessoa humana, pensa-se em sua integridade,
dignidade, liberdade e saúde (GARRAFA, 1995).
As discussões até o momento nos levam a crer que não é possível pensar um
cuidado que não seja humanizado, entretanto, o fato de haver a necessidade do
estabelecimento de uma política voltada para a humanização, infelizmente, é porque
o cuidado não acontece de fato humanizado.
A implementação de um cuidado humanizado, no entanto, mais do que o
cumprimento de uma prescrição moral, pautada na obediência ao que deve ser
associada ao risco da punição frente a transgressões (COHEN; FERRAZ, 1995),
necessita fundamentar-se na ética.
Dessa forma, é importante assinalar que a ética não se preocupa apenas com
as coisas como são, mas como as coisas podem ser e, especialmente, como devem
30
ser (MARTIN, 2003), de modo particular a partir da identificação de conflitos presentes
nessas relações.
Em meio a tantos avanços tecnológicos e possibilidades de melhoria da
assistência hospitalar e de sua humanização, os recursos, todavia, parecem estar
mais associados a propostas de investimentos na estrutura física dos prédios, na alta
e moderna tecnologia e a outros processos que não, necessariamente, impliquem
mudanças na cultura organizacional em prol da humanização do trabalho e do cuidado
enquanto expressão da ética. Sem dúvida, tais medidas podem ser relevantes numa
instituição. Contudo, não podem descaracterizar a dimensão humana que necessita
estar na base de qualquer processo de intervenção na saúde, principalmente, no que
diz respeito à pretendida humanização de um hospital (BACKES, LUNARDI E
LUNARDI FILHO, 2006).
Humanização, como espaço ético, requer, então, o fomento de relações
profissionais saudáveis, de respeito pelo diferente, de investimento na formação
humana dos sujeitos que integram as instituições, além do reconhecimento dos limites
profissionais. Nesse processo, o profissional, possivelmente, terá condições de
compreender sua condição humana e sua condição de cuidador de outros seres
humanos, respeitando sua condição de sujeito, sua individualidade, privacidade,
história, sentimentos, direito de decidir quanto ao que deseja para si, para sua saúde
e seu corpo. O verdadeiro cuidado humano, prima pela ética, enquanto elemento
impulsionador das ações e intervenções pessoais e profissionais, constituindo a base
do processo de humanização (BACKES, LUNARDI E LUNARDI FILHO, 2006).
Quando se define a humanização hospitalar como expressão da ética, a
filosofia da instituição necessita convergir para a construção de estratégias que
contribuam para a humanização do/no trabalho, mediante o estímulo à participação e
à comunicação efetiva, com qualidade em todas as suas dimensões: na relação da
administração com os trabalhadores, dos trabalhadores entre si e desses com os
pacientes.
Por consequência, faz-se necessário incentivar a horizontalidade nas relações,
pautada na liberdade de ser, pensar, falar, divergir, propor. É imprescindível
reconhecer, ainda, que o exercício da autonomia, ou seja, a relação sujeito-sujeito,
31
não é um valor absoluto, mas um valor que dignifica tanto a pessoa que cuida quanto
a que está sob cuidado profissional.
Fonte: www.amazonaws.com
33
b) Parâmetros para humanização do trabalho dos profissionais:
* Gestão hospitalar e participação dos profissionais
1. Oportunidades de discussão da qualidade dos serviços prestados
2. Oportunidades de discussão das dificuldades na execução do trabalho de
atendimento aos usuários
3. Manutenção de mecanismos para captação de sugestões para a melhoria
do trabalho
4. Oportunidades de reconhecimento e resolução de conflitos e divergências
5. Aplicação sistemática de normas de trabalho
34
* Relacionamento interpessoal no trabalho
1. Confiança
2. Integração grupal
3. Cooperação
Fonte: www.pontorh.com.br
Segundo Pepe (2008), cada pessoa tem uma história de vida, uma maneira de
pensar a vida e assim também o trabalho é visto de sua forma especial. Há pessoas
mais dispostas a ouvir, outras nem tanto, há pessoas que se interessam em aprender
constantemente, outras não, enfim as pessoas têm objetivos diferenciados e nesta
35
situação muitas vezes priorizam o que melhor lhes convém e às vezes estará em
conflito com a própria empresa.
Como observado por Bom Sucesso, o autoconhecimento e o conhecimento do
outro são componentes essenciais na compreensão de como a pessoa atua no
trabalho, dificultando ou facilitando as relações. Dentre as dificuldades mais
observadas, destacam-se: a falta de objetivos pessoais, dificuldade em priorizar e
dificuldade em ouvir.
É bom lembrar também que o ser humano é individual, é único e que, portanto,
também reage de forma única e individual a situações semelhantes.
Para Bom Sucesso (1997, p. 176) no cenário idealizado de pleno emprego,
mesmo de ótimas condições financeiras, conforto e segurança, alguns trabalhadores
ainda estarão tomados pelo sofrimento emocional. Outros, necessitados, cavando o
alimento diário com esforço excessivo, ainda assim se declaram felizes,
esperançosos.
Nesse contexto e de acordo com os processos dinâmicos e interativos de gerir
pessoas (agregar, recompensar, desenvolver, manter e monitorar) estabelecidos por
Chiavenato (2005), a promoção da socialização do funcionário ou colaborador
também agrega valor às inter-relações no ambiente de trabalho, ou seja, as empresas
precisam promover a socialização dos novos funcionários, o que pode acontecer
através de vários programas de integração, quer sejam do tipo formal ou informal;
individual ou coletivo; uniforme ou variável, dentre outros.
Um ambiente saudável, rico, tranquilo e ao mesmo tempo desafiador, que leve
o indivíduo a buscar novas conquistas, a satisfazer novas necessidades favorece não
só as relações pessoais, mas o bom desenvolvimento, a fruição dos trabalhos e o
atendimento dos objetivos da administração quer seja ela pública ou privada.
36
poderá resultar de um trabalho feito em conjunto de todos os que estão envolvidos no
desempenho da organização, não apenas de um grupo de pessoas.
Para o autor, o conceito de Qualidade Total, significa qualidade em todos os
aspectos das operações da empresa, é responsabilidade de todos e de cada um dos
membros da organização que intervêm em cada etapa do processo.
No que diz respeito ao desenvolvimento da qualidade total, na literatura alguns
autores afirmam que é sinônimo de qualidade absoluta ou qualidade acabada.
Entretanto, Mezzomo (2001) afirma que essas expressões não têm sentido, porque
qualidade não é algo estático, mas dinâmico; qualidade não é um estado, mas,
processo (busca continuada). Pode-se definir a qualidade total como um esforço
corporativo (compromisso de todos e em todos os níveis) para adquirir a estrutura e
os processos à produção dos resultados previstos/satisfação dos clientes: internos e
externos, e a sua melhoria continuada.
A busca da qualidade pelos consumidores ocorre como reflexo de suas
necessidades e expectativas em relação ao serviço a ser recebido. São componentes
inseparáveis para a prática do gerenciamento da qualidade total, o planejamento da
qualidade, a manutenção da qualidade, a melhoria da qualidade.
Nesse sentido, Varo (1994 p.10) afirma que na atualidade, “a extensão do
conceito de qualidade a todas as áreas da empresa conduz ao conceito de qualidade
total”. Para ele, qualidade total é o conjunto de princípios e métodos organizados e de
estratégia global que intentam mobilizar toda a empresa, com o fim de obter uma
melhor satisfação do cliente ao menor custo. Portanto, é um sistema integrador dos
esforços de melhoria contínua da qualidade de todas as pessoas de uma organização,
para prover produtos e serviços que satisfaçam às necessidades dos consumidores.
Os autores De Domingo y Arranz, (1997) explicitam os princípios básicos de
comportamento que se encontram implícitos na própria definição de qualidade total:
a) Conseguir satisfazer os clientes
Estabelecer e melhorar as relações cliente-provedor.
Satisfazer a (os) clientes internos.
Conhecer os requisitos dos clientes.
Medir o grau de satisfação do cliente
Responder a todas as expectativas do cliente.
37
b) Implicação e apoio incondicional da direção
Deve fazer patente de seu compromisso pela qualidade e dispor os meios.
Deve liderar a implantação da Qualidade Total.
Deve planejá-lo de um modo permanente.
Deve estabelecer canal de comunicação.
e) A formação permanente
Para envolver o pessoal é necessário formá-lo.
Estabelecer planos de formação.
Facilitar e fomentar sua educação.
Informação e reconhecimento.
38
comando do seu próprio processo, para modificá-lo, melhorando-o, simplificando-o ou
revendo-o” (TEBOUL, 1991 p.282).
Em outras palavras, é uma filosofia de gestão que pressupõe um envolvimento
de todos os membros de uma organização em uma constante busca de auto
superação e contínuo aperfeiçoamento. Essa filosofia traz resultados concretos, como
comprovam as empresas bem-sucedidas no mundo atual (CHIAVENATO, 1999).
Conforme Chiavenato (2000), as características básicas da qualidade total são
caracterizadas por sete aspectos:
Organizacionalmente ampla e se transmite através das áreas funcionais.
Focaliza a qualidade dos processos que levam ao produto ou serviço.
É um processo de melhoria contínua.
Requer total apoio da alta administração e o envolvimento de todas as pessoas
no esforço pela qualidade.
Focaliza o cliente, o consumidor.
Baseia-se na solução de problemas e no empowerment da força de trabalho.
Envolve uma abordagem de equipes.
Nesse contexto, o sucesso de qualquer programa de qualidade total, depende,
essencialmente, da atuação dos gerentes em todos os níveis hierárquicos da
organização (Carvalho, 1995:168). Pode-se dizer que o TQM é uma autêntica
revolução administrativa, desde que cada gerente assuma as tarefas de: analisar o
desempenho individual e coletivo de sua unidade de trabalho, em função dos
resultados esperados; controlar a execução do processo de qualidade, criando
oportunidades para que seus colaboradores possam avaliar e acompanhar sua
viabilidade, custos, expectativas etc.; promover programas de treinamento e
reciclagem de seus auxiliares, em face dos desafios impostos pelo processo de
qualidade; divulgar a política da qualidade adotada pela empresa a cada membro do
grupo, monitorando e aperfeiçoando os índices de erros, defeitos e desperdícios
(Carvalho, 1995). Portanto, é preciso que a atuação gerencial, como um todo, seja
permeada pelo desejo de melhorar de fato, a qualidade de produtos e serviços.
Na concepção de Varo (1994), a qualidade total, o controle total da qualidade
(TQC) total quality managemment (TQM) conduzem a um processo que analisa cada
sistema crítico da organização e estabelece medidas básicas de atuação para, a partir
39
delas, trabalhar constantemente, com o propósito de obter o funcionamento ótimo do
sistema.
Considerando que a qualidade total afeta todas as partes da empresa, dessa
forma, “a organização deve ser conduzida como um sistema aberto que integra
elementos externos, tais como os clientes e os provedores, e toda a sua cadeia
produtiva, inclusive seu desenho, normalização, tecnologia, provedores e compras,
pessoal, produção, controle final, promoção da saúde, assistência continuada, clientes
e usuários, marketing e investigação e desenvolvimento” (VARO, 1994: 344).
Do ponto de vista empresarial, para funcionar plenamente, a qualidade total
deve ser aplicada a todas as áreas, iniciando-se pelo topo da empresa. Os problemas
para a implantação da qualidade total podem ser solucionados com diversas atuações
dirigidas a toda a empresa: a formação, a comunicação e a informação, a participação
e colaboração de todo o pessoal, o apoio e facilidades às pessoas, a orientação dos
objetivos, a prioridade de ação sobre as pessoas, a promoção e seleção do pessoal e
a avaliação contínua da qualidade (VARO, 1994).
A implementação do processo da qualidade total requer uma visão de futuro, o
envolvimento de todos, em todos os níveis, através de um consistente plano de
educação e treinamento. Exige ainda a criação de uma estrutura de apoio, de
monitoria e de realimentação do processo, a celebração dos sucessos e a permanente
avaliação do nível de satisfação dos clientes, de modo a poder antecipar, atender e
exceder sua expectativa.
O movimento pela qualidade total no Brasil iniciou-se na década de 70 do
século XX, tendo como pioneiros os professores Vicente Falconi e José Martins de
Godoy. O caminho percorrido foi mais ou menos semelhante ao de outros países:
começou pela área industrial, com rápida expansão para os setores de serviços,
estendendo-se para a educação, a saúde, a administração pública, alcançando, por
fim, todos os setores de atividades, em empresas e organizações públicas e privadas,
nas diversas regiões brasileiras (NOGUEIRA, 1999).
10 SERVIÇOS
41
difícil, pois requer o conhecimento profundo do prestador (profissional) e o
reconhecimento do cliente.
Medir a qualidade de serviços é uma tarefa difícil, quando comparada com
medir a qualidade de produtos. Os produtos possuem muitas características físicas
que podem ser detectadas, inclusive com uma precisão alta, por meio de instrumentos
de medição. Por sua vez, os serviços contêm características psicológicas e aspectos
qualitativos difíceis de serem captados com um alto nível de confiança. Nesse
contexto, Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000) afirmam que a qualidade do serviço
normalmente se estende além da prestação do serviço em si. Em hospitais, por
exemplo, os serviços impactam na qualidade de vida futura dos clientes.
Quanto ao nível de satisfação dos clientes, as informações se constituem uma
das maiores prioridades de gestão nas empresas comprometidas com qualidade de
seus produtos e serviços e, por conseguinte, com os resultados alcançados junto a
seus clientes.
Fonte: www.brin3.com.br
42
diagnóstico e procedimentos e a qualidade funcional está relacionada à maneira da
prestação dos serviços de tratamento de saúde.
Qualquer serviço oferecido deve estar centrado nas necessidades do cliente.
Na área de saúde, os serviços prestados devem ir ao encontro das necessidades do
cidadão, levando em consideração suas expectativas sobre os cuidados à saúde,
devendo assegurar sua participação por meio do compartilhamento de
responsabilidade pelo seu bem-estar.
43
próxima com o aspecto imagem da qualidade percebida (Grönroos, 2003). Entretanto,
as demais determinantes estão relacionadas, em maior ou menor grau com a
dimensão do processo da qualidade percebida.
A qualidade de um serviço, conforme percebida pelos clientes tem as seguintes
dimensões: o que o cliente recebe e como o cliente recebe. O resultado técnico do
processo-qualidade técnica - e a dimensão funcional do processo qualidade funcional
(GRÖNROOS, 2003).
Fonte: www.medias.ciranda.me
44
De acordo com Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000), ao contrário de um produto
que possui características físicas que podem ser medidas objetivamente, a qualidade
de serviço contém muitas características psicológicas e comportamentais muito
difíceis de mensurar. Nesse sentido, pode-se afirmar que a prestação de um serviço
frequentemente se confunde, no mesmo momento, com o seu consumo Moreira,
(1996), o que se identifica na maioria dos serviços, é que estes são, no mínimo,
produzidos e consumidos simultaneamente (Grönroos, 2003). Portanto, os serviços
são processos consistindo em uma série de atividades em vez de coisas, por isso,
não é possível manter serviços em estoque, como acontece com os bens físicos, mas
admite-se, que, mesmo não sendo possível manter serviços em estoque, pode-se
tentar manter clientes em estoque.
45
BIBLIOGRAFIAS
46
COHEN, C, FERRAZ, F.C. Direitos humanos ou ética das relações. In: Segre M,
Cohen C, organizadores. Bioética. São Paulo (SP): EDUSP; 1995. p. 37-50.
CORTINA, Adela; MARTÍNEZ, Emilio. Ética. Tradução: Silvana Cobucci Leite. 2 ed.
São Paulo: Loyola, 2009.
GARRAFA, V.A. Dimensão da Ética em Saúde Pública. São Paulo (SP): FSP/USP;
1995.
47
MATOS, Francisco Gomes de. Ética na gestão empresarial: da construção à ação.
São Paulo: Saraiva, 2008.
NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. São Paulo: RT, 1999.
48
49