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EXPOSIÇÃO / JUSTIFICATIVA
A tese, ora apresentada, propõe um novo modelo de atuação do Ministério Público junto às
comunidades terapêuticas, concebidas como entidades que promovem o acolhimento de caráter voluntário e em
regime residencial transitório de pessoas com problemas decorrentes do uso nocivo e/ou dependência de
substâncias psicoativas.
Sugere-se a necessidade de articulação de uma espiral fiscalizatória que avalie a efetividade, a
eficiência e a eficácia dos serviços oferecidos, desde o planejamento até a implementação, inclusive da
perspectiva dos usuários dos serviços, a ser concretizada de forma contrarreferenciada pelas diferentes esferas de
formulação da política pública.
A proposta está fundamentada nas conclusões da pesquisa de campo realizada in loco junto a cinco
comunidades terapêuticas localizadas no Estado do Paraná e aos seus usuários, bem como nos conceitos teóricos
que balizaram sua metodologia de atendimento, pautada na ambiência democrática, e na Nota Técnica n°
01/2020, confeccionada pelo CAOP Cível como Plano de Trabalho conjunto com a Coordenação do Comitê do
MPPR de Enfrentamento às Drogas, por meio da qual o Roteiro de visita institucional às comunidades
terapêuticas (Anexo I) e as Orientações Práticas para o planejamento das visitas institucionais às comunidades
terapêuticas (Anexo II) foram divulgados para o público interno da instituição, disponibilizados para consulta no
site do Projeto SEMEAR4.
Abordou-se, para tanto, o antagonismo cooperativo na provisão de cuidado aos usuários, por meio de
dois modelos de assistência: em liberdade e em imersão voluntária, além da dupla articulação das comunidades
terapêuticas com a RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) e a rede socioassistencial.
Foram analisados, outrossim, os marcos teóricos e legais na articulação da atividade fiscalizatória do
Ministério Público, constatando-se vácuo fiscalizatório que precisa ser superado. Mostra-se fundamental, nesse
sentido, firmar pacto intergovernamental para estabelecer parâmetros para a articulação de uma espiral
fiscalizatória, que inova tanto no formato quanto no alcance dessa atividade essencial de maternagem social.
1. INTRODUÇÃO
1 Graduado em Direito e em Comunicação Social pela Universidade Federal do Paraná. Pós-Graduado pela Escola da Magistratura do
Paraná.Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Promotor de Justiça titular na 5° Promotoria de Justiça de Campo Largo e
Coordenador do Comitê do Ministério Público do Estado do Paraná de Enfrentamento às Drogas e do Projeto Estratégico SEMEAR –
Enfrentamento ao Álcool, Crack e outras Drogas. Membro do Conselho Estadual de Políticas Públicas sobre Drogas, representante do
Ministério Público.
2 Formada em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná (1988), Especialista em Psicologia Jurídica pelo Conselho Federal de
Psicologia/CFP, Especialista em Direito de Família pela PUC/PR (2002), Mestre em Direito
pela Universidade Internacional de Lisboa (2006), Especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio
Vargas (1994), Especialista em Perícia de Trânsito pela UFSC (2009). Atua profissionalmente como Psicóloga Jurídica no Ministério Público
do Estado do Paraná (MPPR) desde 1994. E-mail: nksvoboda@mppr.mp.br .
3 Graduada em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Especialista em Direito Constitucional pela Academia Brasileira de Direito
Constitucional – ABDCONST. Pós-Graduada em “Ministério Público - Estado Democrático de Direito” pela Fundação Escola do Ministério
Público do Estado do Paraná – FEMPAR. Assessora Jurídica lotada na Coordenação do Comitê do Ministério Público do Estado do Paraná
de Enfrentamento às Drogas e do Projeto Estratégico SEMEAR – Enfrentamento ao Álcool, Crack e Outras Drogas. Curitiba/PR, Brasil.
4 Site Projeto SEMEAR: https://site.mppr.mp.br/semear
As comunidades terapêuticas atuam no Brasil há décadas sem qualquer tipo de fiscalização qualitativa
sistemática, restringindo-se a supervisão/inspeção de tais entidades às diretrizes estabelecidas nos marcos
regulatórios gerais que disciplinam a fiscalização nos âmbitos de sua inscrição comercial e sanitário, tais como a
realizada pela ANVISA e pelo Corpo de Bombeiros ou, então, quando demandadas por denúncias pontuais,
tomando proporções de âmbito judicial/criminal.
A ampliação quantitativa dessas instituições no território nacional, que foram incorporadas em 2019 à
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), suscitaram debate público sobre a necessidade de sua regulamentação,
enquanto equipamento híbrido e coletivo destinado ao cuidado e/ou tratamento de dependentes químicos,
operando de modo adjunto em âmbito multi ou interinstitucional, seja no sistema de saúde, na assistência social,
e até mesmo cogitado para atuar como instituição parceira nas iniciativas afetas à “Justiça Terapêutica” 5.
Notável esforço institucional do Ministério Público do Estado do Paraná tem sido empreendido na
perspectiva de estudar e analisar essa urgente demanda social, viabilizando-se, inicialmente, para tanto, um
Projeto Piloto de Fiscalização das Comunidades Terapêuticas, que teve como o propósito revisionar
bibliograficamente o tema e abordá-lo in loco, verificando a realidade metodológica que permeia o tratamento
dos usuários acolhidos nesse tipo de equipamento social. O empreendimento pioneiro de natureza
interdisciplinar até o momento possibilitou alguns robustos resultados. Dentre eles, destacam-se:
a) A compilação de elementos bibliográficos e estatísticos, elaboração de relatórios técnicos,
publicação de artigos e a apresentação de protótipo de instrumento técnico específico para as atividades de
fiscalização do Ministério Público no âmbito do equipamento social do tipo Comunidade Terapêutica, ora
denominado: “Protocolo de Ambiência Democrática em Comunidades Terapêuticas” (PAD/CT) - atividades
realizadas por psicólogos que atuam no CAEX/NATE – Núcleo de Apoio Técnico Especializado, mediante a
coordenação dos integrantes do Projeto SEMEAR de Enfrentamento ao Álcool, Crack e Outras Drogas;
b) A elaboração e expedição da Nota Técnica n. 01/2020 e seus anexos, referente à fiscalização do
funcionamento das comunidades terapêuticas (CTs) no Estado do Paraná, confeccionada pelo Centro de Apoio
Operacional das Promotorias de Justiça Cíveis, Falimentares, de Liquidações Extrajudiciais, das Fundações e do
Terceiro Setor como Plano de Trabalho conjunto com a Coordenação do Comitê do MPPR de Enfrentamento às
Drogas e publicizada em 27 de outubro de 20206.
5 Consoante o Procurador de Justiça Ricardo de Oliveira Silva, fundador da Associação Nacional de Justiça Terapêutica (ANJT), citado por
Lima (2009, p. 22) “A Justiça Terapêutica pode ser compreendida como um conjunto de medidas que visam aumentar a possibilidade de que
infratores usuários e dependentes de drogas entrem e permaneçam em tratamento, modificando seus comportamentos anteriores delituosos
para comportamentos socialmente adequados”.
6 Referido documento, disponível em: <https://site.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=3209>, orientou que seja
realizada a fiscalização in loco das comunidades terapêuticas, segundo os parâmetros esmiuçados no roteiro de fiscalização e de acordo com
as orientações práticas para o planejamento das visitas institucionais previstas no Anexo II. Consoante as orientações explicitadas no Anexo
II, os membros do Ministério Público responsáveis pela fiscalização devem:
1) Instaurar Livro Virtual Obrigatório no Sistema PRO-MP;
2) Para identificar a existência de Comunidades Terapêuticas:
a. Oficiar à Vigilância Sanitária dos municípios da Comarca, solicitando nome do serviço, endereço, nome dos responsáveis e telefone;
b. Conferir CTs georreferenciadas na Plataforma Atuação, disponível na intranet do MPPR;
c. Conferir as CTs contratadas pelo Ministério da Cidadania georreferenciadas pela Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às
Drogas
SENAPRED;
d. Pesquisar no Mapa das Organizações da Sociedade Civil mantido pelo IPEA se há indícios da existência de outras CTs não abrangidas
pelos campos de pesquisa anteriores.
i. Sugere-se clicar no item “consulta avançada”, selecionar o Município e aplicar o filtro de atuação nas áreas de saúde e assistência social
ou filtrar pelo CNAE “Atividades de assistência psicossocial e à saúde a portadores de distúrbios psíquicos, deficiência mental e
dependência química”. Se houver dúvida sobre as entidades listadas serem ou não CTs, pode-se realizar pesquisa complementar via contato
telefônico ou mecanismos de pesquisa online, como o Google.
3. Sugere-se realizar reunião preparatória com os Serviços de Vigilância Sanitária e Secretaria de Assistência Social, caso a CT atenda
pessoas em vulnerabilidade econômica, para levantar informações prévias sobre a realidade de cada CT, que auxiliarão a definir a ordem
das instituições a serem visitadas. A reunião servirá também para se combinar responsabilidades de cada componente da equipe.
Atentar-se para que não se forme um grupo de trabalho com grande quantidade de pessoas. O Promotor de Justiça também poderá optar
por realizar o trabalho sem a presença de equipes convidadas.
4. Definir calendário de visitas, em conjunto com os órgãos convidados.
Tal iniciativa decorreu de emergentes contradições constatadas no âmbito das políticas públicas
relacionadas ao cuidado dos usuários que fazem uso problemático de álcool e outras drogas, posto que tal
cenário tem sido marcado, nos últimos anos, por dissonâncias e conflitos entre diferentes correntes
metodológicas, ideológicas e agentes institucionais, relativamente a divergências entre dois modelos de atenção a
esse público antagonizados: CAPS ad e Comunidades Terapêuticas.
Ainda que ambas as modalidades de serviços, ao reproduzir a lógica da concorrência no território,
convivam e, eventualmente, disputem a atenção dos usuários e de seus familiares, este artigo atem-se aos
aspectos relevantes que apontam para a necessidade de implementação de uma espiral fiscalizatória para as
comunidades terapêuticas, ou seja, uma fiscalização articulada das diferentes esferas de formulação da política
pública, do custeio, do acesso, dos serviços prestados e da metodologia adotada pelas CTs no atendimento, a
despeito dos conflitos e debates instalados no cenário nacional.
3.5 A dupla articulação das Comunidades Terapêuticas com a RAPS e a Rede Socioassistencial
A despeito de o cenário da política nacional sobre drogas desvelar-se como politicamente
dicotomizado, tal dicotomia descreve a complexidade desse tipo de tratamento, que exige metodologias diversas
para oferecer amparo ante a natural diversidade que torna o ser humano sujeito de direitos e não de verdades.
Tem sido expressivo o avanço das comunidades terapêuticas, tanto numericamente, no território,
quanto politicamente, com avanço nas pautas orçamentárias mediante o repasse de verbas públicas. Recursos
públicos e mesmo recursos privados têm sido destinados para o funcionamento desse equipamento social,
amparados pela portaria nº 3.588/2017 do Ministério da Saúde, que, ao alterar a RAPS, diversificou a lógica do
atendimento prestado, ampliando a quantidade de leitos especializados.
Nessa conjectura é necessário estar atento e organizado para avaliar e fiscalizar os efeitos que a
atualização da política pública sobre drogas possa ter promovido. Entre avanços e retrocessos, explicitam-se dois
cenários: i) aquele decorrente da luta antimanicomial pela garantia de direitos humanos das pessoas portadoras
de transtornos mentais, inclusive os decorrentes do uso de drogas, muitas vezes encaminhadas por terceiros
motivados pela necessidade de tratamento; ii) a garantia de que este mesmo direito humano não prive os usuários
dos meios, consoante a sua perspectiva individual de motivação para a mudança.
Evidentemente que além de articuladas com a RAPS, as comunidades terapêuticas também devem
estar articuladas com os equipamentos da rede socioassistencial, de forma a possibilitar o controle de entrada e
saída dos usuários de tais serviços, mediante referência e contrarreferência, bem como o seu acompanhamento,
que possibilitará a construção de um histórico, do qual podem ser extraídos dados relevantes sobre a eficácia e a
resolutividade das propostas terapêuticas oferecidas.
A título exemplificativo, foi amplamente noticiado que a Portaria 69/2020, do Ministério da
Cidadania, regulamentou, no contexto da pandemia da COVID-19, o repasse financeiro emergencial em ações
socioassistenciais, bem como a estruturação da rede do Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
especificando o acolhimento das pessoas em situação de rua que necessitem de tratamento para álcool e outras
drogas e normatizando a atuação conjunta das comunidades terapêuticas com a gestão municipal.
Desse modo, as comunidades terapêuticas devem articular-se com os Centros de Referência em
Assistência Social (CRAS) e os Centros de Referência Especializadas em Assistência Social (CREAS), provendo
atenção às pessoas em situação de rua durante o período pandêmico. Tal ação conjunta entre a rede
socioassistencial e as comunidades terapêuticas objetivam atender tanto os dependentes químicos quanto a
população de rua que se encontra em situação de vulnerabilidade social e necessita de tratamento.
No mesmo sentido, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) tem orientado que na demanda
para o atendimento às necessidades das pessoas em situações de rua que também façam uso problemático de
álcool e outras drogas, a Rede Socioassistencial, conjuntamente com a Rede de Atenção Psicossocial da saúde,
desenhem protocolos e fluxos de encaminhamento para as Comunidades Terapêuticas cadastradas junto à
Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (SENAPRED).
Além disso, a SENAPRED vem empreendendo esforços para identificar e construir uma rede de
comunidades terapêuticas, visando disponibilizar vagas para pessoas em situação de rua que precisem e
aceitem voluntariamente tratamento para a superação da condição de uso problemático de álcool e drogas,
mediante fluxos de trabalho pré estabelecidos, sem que, contudo, se faça uso dos recursos orçamentários do
SUAS.
Certamente a complexidade desse cenário exige mais sensibilidade técnica e recursos de custeio que
aqueles subvencionados nas práticas de teor prevencionistas. Nesse processo de diversificação metodológica,
mostra-se essencial tanto assegurar o fortalecimento dos serviços da rede pública, como os Centro de Atenção
Psicossocial para Álcool e Drogas (CAPS-ad), quanto garantir que a política sobre drogas seja eficaz,
inclusiva e garantidora de todos os direitos, inclusive para aqueles que buscam tratamento em
comunidades terapêuticas motivados pela mudança em seu comportamento problema.
No âmbito da saúde mental, além da busca ativa, mostra-se essencial, identificar no território, a
demanda ativa de cada usuário, ante os serviços disponibilizados pelos equipamentos nas redes. Mais do que
prestar atendimentos, urge o acompanhamento destes usuários, posto que apresentam motivação e racionalidade
peculiar para acessar os encaminhamentos e os protocolos disponibilizados.
O desafio fiscalizatório mostra-se iminente, demandando por novas tecnologias e modalidades que
atendam não apenas a legalidade dos encaminhamentos, seus fluxos e protocolos, mas também a eficácia dos
atendimentos prestados e a resolutividade dos recursos públicos aplicados.
Dada a complexidade do fenômeno articulatório interinstitucional de âmbito intergovernamental e a
necessidade de aprimoramento da vinculação, regulamentação e fiscalização das Comunidades Terapêuticas em
consonância com a resolutividade dos atendimentos prestados, faz-se recomendável a inclusão digital das
comunidades terapêuticas nos sistemas da RAPS e do SUAS, de forma a possibilitar o acompanhamento do
histórico dos pacientes atendidos e as ações de referência e contrarreferência entre os serviços e equipamentos.
Procedimento tecnológico dessa envergadura terá potencial para viabilizar a fiscalização relacionada
com a eficiência do programa implementado, via cadastramento institucional de base algorítmica que atualize
os dados de acolhimentos realizados e/ou atendimentos prestados, mediante a inscrição do CPF dos usuários
beneficiados, dado fundamental para orientar a alocação de recursos públicos e para garantir que as pessoas
tenham a oferta não apenas do tratamento mais adequado para o seu estágio de motivação para a mudança, mas
também às abordagens que apresentem resultados mais eficazes.
1) O atendimento para os usuários que fazem uso abusivo de drogas tem ensejado a oportunidade e o desafio
para a implementação de método sistêmico de controle dos acolhimentos realizados nas comunidades
terapêuticas, oportunizando a criação de novos protocolos fiscalizatórios, tais como: central de vagas, avaliação
estatística da recorrência dos acolhimentos, incidência de recaídas, lapsos e abandono do tratamento, entre outras
possibilidades de produção e articulação de informação neste setor. Propõe-se, nesse sentido, que a Nota
Técnica n° 01/2020 seja amplamente divulgada e aplicada como uma prática institucional no âmbito da
atuação voltada para as políticas públicas sobre drogas;
2) Mostra-se premente, ainda, como medida complementar, encontrar meios e instrumentos para a promoção de
tripla atenção fiscalizatória que contemple:
2.1) Fiscalização Intergovernamental: fiscalização das variáveis que envolvem as questões metodológicas
relacionadas com a efetividade na implementação da política pública nas instâncias intergovernamentais;
2.2) Fiscalização Institucional: fiscalização relacionada com a eficácia da metodologia de trabalho das
comunidades terapêuticas, que aborde as demandas de natureza mais subjetivas e motivacionais, os direitos
humanos e a saúde mental dos usuários e seus familiares;
2.3) Fiscalização Digital: fiscalização de natureza digital relacionada com a eficiência ou resolutividade do
programa implementado, via cadastramento institucional e base estatística que atualize os dados de acolhimentos
realizados e/ou atendimentos prestados, mediante a inscrição do CPF dos usuários beneficiados.
3) Ao constatarmos vácuos fiscalizatórios que precisam ser superados, é fundamental que o Ministério Público
atue como agente fomentador do estabelecimento de um pacto intergovernamental, responsável pela fiscalização
tanto das comunidades terapêuticas quanto de outros equipamentos que assistam os usuários abusivos de drogas,
incluindo os demais equipamentos que integram a RAPS.
4) Faz-se necessário, inclusive no âmbito interno ao Ministério Público do Estado do Paraná, acordar os
parâmetros na articulação de uma espiral fiscalizatória, a ser concretizada via sistema intergovernamental,
mediante a criação de um grupo de trabalho, com participação da sociedade civil, para inovar tanto no formato
quanto no alcance da atividade essencial de fiscalização não apenas das comunidades terapêuticas mas também
dos demais equipamentos da RAPS e da Rede Socioassistencial, bem como dos seus fluxos de encaminhamento
e protocolos de referência e contrarreferência;
5) Propõe-se, prevalentemente, que a espiral fiscalizatória envolva o acompanhamento dos fluxos de
investimento dos recursos públicos alocados e de entrada e saída dos usuários nas comunidades terapêuticas,
garantindo igualdade e equidade nos atendimentos, recursos tão caros e sensíveis às pautas de direitos
humanos e direito à saúde dentro das comunidades de base, tendo como premissas:
5.1) Transparência na versação dos recursos públicos disponibilizados;
5.2) Avaliação dos critérios utilizados para entrada, metodologias de tratamento e alta do usuário e sua
compatibilidade com as pautas dos direitos humanos;
5.3) Digitalização das Cts e das instituições que integram a RAPS e o SUAS e a subsequente integração dos
sistemas tecnológicos;
5.4) Capacitação dos profissionais que atuam na RAPS para que integrem pautas de acolhimento em
comunidades terapêuticas nos protocolos, quando indicado por critérios técnicos ou se faça necessário, incluindo
casos quando da impossibilidade passageira de convivência no meio externo;
5.5) Interlocução e articulação com todos os equipamentos que integram a RAPS, enquanto alternativas
agregadas ao atendimento, posto que não excludentes que articulam as possibilidades de tratamento sem
necessidade de internação.
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