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Sumário: Introdução. Distinções necessárias: o que são Parcerias Público-Privadas (PPPs), concessões e o
regime de parcerias com organizações da Sociedade Civil para o direito brasileiro 2. Distinções necessárias: o
que são parcerias público-privadas (PPPs), concessões e o regime de parcerias com organizações da sociedade
civil para o direito brasileiro. 3. A distância da prática administrativa e do regime jurídico para com as
necessidades públicas. 4. Um estudo de caso: as parcerias sociais no estado de mato grosso. Considerações
Finais. Referências Bibliograficas.
INTRODUÇÃO
A concretização das políticas públicas sociais exige, por parte dos gestores e atores
públicos, transversalidade, eficiência na gestão/execução orçamentária e inovação constante 1.
Para isso, o conhecimento do arranjo legal de alternativas, boas práticas e metodologias, que
calhem àquela exigência, é desafio precípuo, sob pena de atrasos e prejuízos que
comprometem as políticas públicas em geral.
1 José Celso Cardoso Jr., Alexandre dos Santos Cunha. Coord. Planejamento e avaliação de políticas públicas /
– Brasília: Ipea, 2015. 475 p.: il. color. – (Pensamento Estratégico, Planejamento Governamental &
Desenvolvimento no Brasil Contemporâneo; Livro 1)
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Um dado que ilustra essa premissas é definido em cerca de 47% dos projetos de
parcerias público-privadas que, no Brasil, são frustrados antes da licitação3; outrossim, a partir
de análise feita entre os anos de 2018 e 2019, o Acórdão nº 1.079/2019, do Tribunal de
Contas da União (TCU), apontou que, de 38.412 obras e contratos federais consolidados,
cerca de 14 mil se encontram paralisados, representando cerca de 37,5% das obras que
deveriam estar em andamento, o que somava R$ 144 bilhões em obras paralisadas4.
2 SILVA, S. A trajetória histórica da segurança alimentar e nutricional na agenda política nacional: projetos,
descontinuidades e consolidação. Brasília: Ipea, 2014. (Texto para Discussão, n. 1.953).
3 Dados da Plataforma Radar PPP www.radarppp.com/informacao/radar-de-projetos.
4 Brasil. Tribunal de Contas da União. Acórdão 1079/2019-TCU-Plenário:
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/externas/56a-legislatura/
obras-inacabadas-no-pais/outros-documentos/acordao-tcu-1079-2019.
5 Brasil. Ministério da Economia. Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade. Secretaria de
Desenvolvimento da Infraestrutura. Estruturação de propostas de investimento em infraestrutura : modelo de
cinco dimensões [recurso eletrônico]. Ministério da Economia, Secretaria Especial de Produtividade e
Competitividade, Secretaria de Desenvolvimento da Infraestrutura ; Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) ; Infrastructure and Projects Authority do Reino Unido (IPA-UK). Brasília :
SDI/SEPEC/Ministério da Economia, 2022.
6 United Kingdom. HM Treassury. Guide To Developing The Project Business Case – better business CASES:
for better outcomes. London: HM Treassury, 2018. Disponível em < www.gov.uk/government/publications >.
3
nacionais. A esse modelo deve haver uma metodologia específica, mensurável, atingível,
relevante e realizável em um tempo determinado – o que se denomina S.M.A.R.T7.
Por sua vez, o objetivo da dimensão comercial é demonstrar que a opção de projeto
adotada representa um modelo de negócio viável e tem uma boa estrutura entre os setores
público e privado – o que pode ser bem identificado e amadurecido por padrões de
governança e boas práticas entre as partes.
7 Cf.: The purpose of the strategic dimension of the business case is to make the case for change and to
demonstrate how it provides strategic fit. Demonstrating that the scheme provides synergy and holistic fit with
other projects and programmes within the strategic portfolio requires an up-to-date organisational business
strategy that references all relevant local, regional and national policies and targets. Making a robust case for
change requires a clear understanding of the rationale, drivers and objectives for the spending proposal,
which must be made SMART – Specific, Measurable, Achievable, Relevant and Time constrained – for the
purposes of post-evaluation. United Kingdom. HM Treassury. Guide To Developing The Project Business
Case – BETTER BUSINESS CASES: for better outcomes. London: HM Treassury, 2018, p. 7.
8 Cf.: The purpose of the commercial dimension of the business case is to demonstrate that the preferred option
will result in a viable procurement and a well-structured Deal between the public sector and its service
providers.
Demonstrating a viable procurement requires an understanding of the market place, knowledge of what is
realistically achievable by the supply side and research into the procurement routes that will deliver best value
to both parties. Putting in place a well-structured Deal requires a clear understanding of the services, outputs
and milestones required to be achieved and of how the potential risks in the Design, Build, Funding and
Operational (DBFO) phases of the scheme can best be allocated between the public and private sectors and
reflected in the charging mechanism and contractual arrangements. The challenge for the public sector is to
be an ‘intelligent customer’ and to anticipate from the outset how best public value can continue to be secured
in during the contract phase in the face of inevitable changes to business, organisational and operational
requirements. United Kingdom. HM Treassury. Guide To Developing The Project Business Case – BETTER
BUSINESS CASES: for better outcomes. London: HM Treassury, 2018, p. 9.
9 A respeito da necessidade dessas analyses para uma avaliação qualitative de projetos, cf.: Guide To
Developing The Project Business Case, op. cit., p. 43.
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Por sua vez, a análise do Guia de PPP do Banco Mundial com a legislação brasileira
para projetos e contratos de longo prazo motiva muitas das reflexões deste ensaio. Logo no
seu início, o estudo Banco define PPP como um contrato de longo prazo entre um particular e
um ente governamental, para fornecimento de um bem público ou serviço, no qual o
particular assume um risco significativo, gerencia o bem ou serviço e tem remuneração
atrelada ao desempenho10.
Ainda, o referido guia caracteriza os modelos de PPP a partir das fases do projeto e
suas funções. São apresentadas cinco funções: desenho, construção, financiamento,
manutenção e operação (DBFOM11).
A esse respeito, o Guia preconiza que o arcabouço legal que rege essas funções e
eventuais parcerias, entre o setor público e privado, é adaptável ao país e à sua tradição,
variando de acordo com matéria e com a legislação local em si12.
10 Cf.: The introduction to this Reference Guide provided a broad definition of a PPP: A long-term contract
between a private party and a government entity, for providing a public asset or service, in which the private
party bears significant risk and management responsibility and remuneration is linked to performance.
Internatonal Bank for Reconstructon and Development / The World Bank. Public-Private Partnerships
Reference Guide. Version 3.0. 2017, p. 6. Versão digital < https://ppp.worldbank.org/public-private-
partnership/sites/ppp.worldbank.org/files/documents/PPP%20Reference%20Guide%20Version%203.pdf >.
11 No original: design, build, finance, maintain and operate.
12 Sobre este aspecto, a versão original trabalha o arcabouço legal sob o escopo e um direito de PPP: This
section briefly describes and provides examples of PPP legal frameworks: Section 2.2.1 - Scope of the PPP
Legal Framework describes the broad scope of legislation that may affect PPPs and Section 2.2.2 - PPP Laws
focuses on PPP-specific legislation. Internatonal Bank for Reconstructon and Development / The World Bank,
2017, p. 66.
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Será patrocinada a PPP que aborde uma concessão de serviços públicos ou de obras
públicas, então regidas pela Lei nº 8.987/95, e que a remuneração do parceiro privado seja
composta por tarifa cobrada dos usuários cumulada com uma contraprestação pecuniária do
parceiro público. Já a PPP administrativa se caracteriza em contrato de prestação de serviços
de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução
de obra ou fornecimento e instalação de bens – nesta, não cobrança de tarifa aos usuários, mas
contraprestação exclusivamente pública.
A concessão é pautada na relação usuário como pagador do serviço. Isto é, por meio
da concessão vem uma desestatização na prestação de um serviço público, sem a transferência
dos bens pré-existentes e relacionados com aquela prestação, de modo que os ativos, ao final
do contrato, continuarão na titularidade ou serão revertidos ao Ente concessionário.
Outrossim, a Lei nº 9.074/95, em seu art. 1º, define serviço públicos sujeitos ao regime
de concessão: (i) vias federais, precedidas ou não da execução de obra pública, (ii) exploração
de obras ou serviços federais de barragens, contenções, eclusas ou outros dispositivos de
transposição hidroviária de níveis, diques, irrigações, precedidas ou não da execução de obras
públicas, (iii) estações aduaneiras e outros terminais alfandegados de uso público, não
instalados em área de porto ou aeroporto, precedidos ou não de obras públicas 19, (iv) os
serviços postais. Outras leis específicas regulamentam esses exemplos passíveis de concessão,
com: a Lei nº 9.472/97 (telecomunicações), Lei nº 12.815/13 (portos) Lei nº 14.273/21
(ferrovias).
19 BRASIL. Lei n° 9.074 de julho de 1995. Estabelece normas para outorga e prorrogações das concessões e
permissões de serviços públicos e dá outras providências. Art. 1º, §2º. Em exceção à regra geral de ausência
de prazo para concessões, este exemplo estabelece o prazo mínimo de vinte e cinco anos, com possibilidade
de prorrogação por mais dez anos.
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Nesses casos, eventual necessidade do Poder Público, para uma contratação de longo
prazo, compartilhamento de riscos, remuneração por desempenho, capitalização de
investimento e financiamento para a construção ou reforma estrutural de um ativo público a
prestar um serviço público, deve ser atendida por uma PPP administrativa. Pois, nesta
hipótese, a Administração Pública seguirá como usuária direta ou indireta do bem e serviço,
em representação interesse público primário tutelado (saúde e educação) e atendimento à
necessidade do serviço essencial.
20 BRASIL. Lei nº 13.019 de julho de 2014. Estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração
pública e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação. Brasília. 2014. Art. 2º, inciso
XII.
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Essa análise de custo-benefício deve também mensurar uma análise de custo social,
isto é, trazer a um valor presente os benefícios e impactos sociais do projeto 22, levando,
inclusive, em conta as necessidades e opiniões dos envolvidos em determinado projeto.
diversas áreas: produtiva, social, industrial, agrícola, etc.), seja ela nacional, regional ou local,
no intuito de preencher lacunas e garantir segurança jurídica a modelos de negócio
contratualizados para o longo prazo, desempenho e compartilhamento de riscos.
Assim, por que não haver uma evolução legislativa dos institutos e conceitos de
concessões e PPP para as parcerias previstas na Lei nº 13.019/14? Essa propositura vai para
além de uma aproximação de regimes, seja técnico-analítica ou jurídico-positivo, mas um
avizinhamento de culturas e boas práticas, que pode dar concretização a muitas necessidades
públicas.
prazos comuns de dez e cinco anos; (iv) trazer ao cotidiano de parcerias sociais a figura do
verificador independente (V.I.), como mecanismo de accountability, governança e eficiência
na execução dos serviços e pagamentos; (v) pensar em formas de controle prévio e simultâneo
por parte dos Tribunais de Contas em auxílio e acompanhamento dos editais de chamamento
público, assim como já faz o Tribunal de Contas da União, com a Instrução Normativa-TCU
nº 81/2018, a qual instituiu modelo de fiscalização dos processos de desestatização do
Governo Federal; (vi) a formulação de mecanismos de garantia, por parte do Poder Público,
em parcerias sociais, atrairia maior bancabilidade das propostas de termos de fomento ou
colaboração, o que aprimoraria toda uma cultura de financiabilidade por parte de bancos
nacionais ou internacionais; (vii) a adoção de mecanismos de solução amigável de
controvérsias (dispute board) asseguraria um menor custo aos entes, na sua litigância, assim
como aos parceiros sociais, dada a relação “tempo x processo x solução” costumar ser mais
vantajosa por essas alternativas.
Segundo consulta ao site local, mais de vinte e seis contratos já foram celebrados 24,
somando entre pavimentação e manutenção mais de 1.900km de trechos abrangidos.
24 MATO GROSSO. SINFRA. A lista das Parcerias celebradas entre o Governo de Mato Grosso
(SINFRA) e Organizações da Sociedade Civil (OSC). Disponível em:
https://www.sinfra.mt.gov.br/parceria-de-pavimentacao-e-manutencao . Acesso em 22 de março de 2023.
25 Op. Cit.
26 NERY, Erick Matheus. Mato Grosso ultrapassa Argentina e vira 3º maior produtor de soja do mundo.
Suno. Economia. 16/03/23. Disponível em:
https://www.suno.com.br/noticias/mato-grosso-ultrapassa-argentina-soja/#:~:text=O%20Mato%20Grosso
%20ultrapassou%20a,colhe%2033%20milh%C3%B5es%20de%20toneladas
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei n° 11.079 de dezembro de 2004. Institui normas gerais para licitação e
contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. Brasília. 2004.
Art. 5º, inciso II.
_______. Lei n° 9.074 de julho de 1995. Estabelece normas para outorga e prorrogações das
concessões e permissões de serviços públicos e dá outras providências. Art. 1º, §2º. Em
exceção à regra geral de ausência de prazo para concessões, este exemplo estabelece o prazo
mínimo de vinte e cinco anos, com possibilidade de prorrogação por mais dez anos.
_______. Lei nº 13.019 de julho de 2014. Estabelece o regime jurídico das parcerias entre a
administração pública e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação.
Brasília. 2014. Art. 2º, inciso XII.
A respeito da necessidade dessas analyses para uma avaliação qualitative de projetos, cf.:
Guide To Developing The Project Business Case, op. cit., p. 43.
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Internatonal Bank for Reconstructon and Development / The World Bank. Public-Private
Partnerships Reference Guide. Version 3.0. 2017, p. 6. Versão digital <
https://ppp.worldbank.org/public-private-partnership/sites/ppp.worldbank.org/files/
documents/PPP%20Reference%20Guide%20Version%203.pdf >.
José Celso Cardoso Jr., Alexandre dos Santos Cunha. Coord. Planejamento e avaliação de
políticas públicas / – Brasília: Ipea, 2015. 475 p.: il. color. – (Pensamento Estratégico,
Planejamento Governamental & Desenvolvimento no Brasil Contemporâneo; Livro 1)
MATO GROSSO. SINFRA. A lista das Parcerias celebradas entre o Governo de Mato
Grosso (SINFRA) e Organizações da Sociedade Civil (OSC). Disponível em:
https://www.sinfra.mt.gov.br/parceria-de-pavimentacao-e-manutencao . Acesso em 22 de
março de 2023.
NERY, Erick Matheus. Mato Grosso ultrapassa Argentina e vira 3º maior produtor de
soja do mundo. Suno. Economia. 16/03/23. Disponível em:
United Kingdom. HM Treassury. Guide To Developing The Project Business Case – BETTER
BUSINESS CASES: for better outcomes. London: HM Treassury, 2018, p. 7.
United Kingdom. HM Treassury. Guide To Developing The Project Business Case – better
business CASES: for better outcomes. London: HM Treassury, 2018. Disponível em <
www.gov.uk/government/publications >.