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COLÉGIO DE EDUCAÇÃO BÁSICA SANTA ESMERALDA

MARIANE RODRIGUES LIMA

O ÁLCOOL E A SOCIEDADE: UMA ANÁLISE HUMANA

Arapiraca-AL
2023
MARIANE RODRIGUES LIMA

O ÁLCOOL E A SOCIEDADE: UMA ANÁLISE HUMANA

Artigo apresentado como requisito avaliativo


para a disciplina Redação para obtenção de
nota pela Prof. Elba Renata.

Arapiraca-AL
2023
DEDICATÓRIA

Ao meu pai, aquele que, de maneira indireta e infelizmente muito presente ajudou-
me a escrever este artigo. Amo-te infinitamente.
AGRADECIMENTOS

Para a produção deste artigo, foram necessárias muitas pessoas. Em primeiro


momento, obrigada professora Elba Renata por ser sempre tão calma e caridosa, a
senhora é luz!
“A palavra para álcool em latim é ‘spiritus’. Existe
essa dicotomia do álcool transferir para a pessoa uma
ilusão de espiritualidade e acabar minando a
espiritualidade da pessoa. Dá um vazio terrível e uma
sensação de que não existe Deus. Independente de
religião. É uma sensação de que a vida não vale a
pena ser vivida”.

Renato Russo
O Álcool e A Sociedade: Uma Análise Humana

Mariane Rodrigues Lima

RESUMO

Este artigo tem o intuito de visibilizar o alcoolismo e desmistificar seu tratamento. Por
meio da revisão da literatura científica, busca compreender as nuances multifacetadas
da patologia e dos usuários da droga, e como a sociedade reage perante eles. A
pesquisa também resulta no entendimento químico, biológico e sociocultural da
utilização do álcool. A compreensão do efeito causador e resultante, como arma
social, fornece o potencial de conhecimento da patologia.

Palavras-chave: Alcoolismo. Biologia. Sociedade. Química.


Alcohol and Society: A Human Analysis

Mariane Rodrigues Lima

Abstract

This article aims to make alcoholism visible and demystify its treatment. Through a
review of scientific literature, it seeks to understand the multifaceted nuances of
pathology and drug users, and how society reacts to them. The research also results
in a chemical, biological and sociocultural understanding of alcohol use.
Understanding the causative and resulting effect, as a social weapon, provides the
potential for knowledge of pathology.

Keywords: Alcoholism. Biology. Society. Chemical.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................01
2. O ÁLCOOL QUIMICAMENTE..............................................................................04
2.1 PRODUÇÃO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS.......................................................04
2.2 O TESTE DO ETILÔMETRO..............................................................................05
3.O ÁLCOOL E A BIOLOGIA HUMANA..................................................................06
4. O ÁCOOL E A PSIQUE HUMANA.......................................................................07
5. O ÁLCOOL E A ARTE..........................................................................................09
5.1 BUKOWSKI.........................................................................................................09
5.2 RENATO RUSSO................................................................................................10
6. A PATOLOGIA ALCOOLISMO............................................................................12
7. CONCLUSÃO.......................................................................................................13
8. BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................14
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1. INTRODUÇÃO

No antigo testamento há o relato mais antigo da embriaguez: Noé tornou-se


lavrador de terra, plantou a vinha e embebedou-se de vinho. A passagem também
conta que seu filho mais jovem, Cam, encontrou-o nu em sua tenda. Gênesis
9:20-24:

20 E começou Noé a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha.


21 E bebeu do vinho, e embebedou-se; e descobriu-se no meio de
sua tenda.
22 E viu Cam, o pai de Canaã, a nudez do seu pai, e fê-lo saber a
ambos seus irmãos no lado de fora.
23 Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e puseram-na sobre
ambos os seus ombros, e indo virados para trás, cobriram a nudez
do seu pai, e os seus rostos estavam virados, de maneira que não
viram a nudez do seu pai.
24 E despertou Noé do seu vinho, e soube o que seu filho menor lhe
fizera.

Entende-se que o consumo de álcool não é contemporâneo. A bebida


alcoólica surgiu durante o período Neolítico (10.000 a.C. até 3.000 a.C.), com uma
fermentação natural e produção artesanal. A partir disso, os celtas, gregos,
romanos, egípcios e babilônios registraram de alguma forma o consumo e a
produção de bebidas alcoólicas. (CISA, 2022)
Somente no Século XIX (depois de Cristo) houve o entendimento da palavra
“alcoolismo”. O vocábulo surgiu na Europa, durante um período de transformações
sociais através da Revolução Industrial, que pregava adestramento das massas e
nacionalismo. Assim, o alcoolismo e o consumo de álcool começaram a ser
enxergados como “pragas” capazes de gerar conflitos, indisciplina, promiscuidade e
ameaças à humanidade. O alcoolismo foi, durante cerca de um século, associado à
“degenerescência”, à degradação física, psicológica e moral que, na mentalidade da
época, poderia ser adquirida e transmitida à prole (SOURNIA, 1986).

Constituiu-se que o consumo de destilados e bebidas alcoólicas formavam


um “pecado social”, contrário à ideia recém-nascida de modernização e
evolução humana. Nas novas sociedades industriais, o consumo crônico de
álcool foi visto como crime, doença e pecado. Em meados do século XX,
quando a discussão sobre a degeneração diminuiu, as abordagens médicas
para a compreensão do fenômeno foram fortemente defendidas.
2

No Brasil, como em muitas nações, o alcoolismo foi o foco das conversas


médico-higienistas. As iniciativas anti-alcoólicas visavam principalmente os homens
das classes mais necessitadas. As iniciativas baseavam-se especialmente em
pressupostos de gênero: o homem deveria ser o “trabalhador-provedor” e a mulher
deveria ser a “dona de casa perfeita” que proporcionaria um lar acolhedor ao marido
e aos filhos. O alcoolismo era apresentado como a antítese desses valores,
associado à vagabundagem e ao crime, caminho para a destruição da família e para
a animalização (MATOS, 2000).
Países dados como “desenvolvidos”, como a França, passaram a criar uma
maioridade para o consumo do álcool. Porém, enquanto alguns legalizavam as
bebidas, outros criminalizavam. Os Estados Unidos da América decretou a Lei Seca
em 1920 (CISA, 2022):

A Lei Seca proibiu a fabricação, venda, troca, transporte, importação,


exportação, distribuição, posse e consumo de bebida alcoólica e foi
considerada por muitos um desastre para a saúde pública e economia
americana, por ter gerado um mercado ilegal de bebidas alcoólicas, e
consequentemente, aumentado a violência e a criminalidade no país.

Somente no ano de 1952 que o alcoolismo passou a ser tratado como


doença, através da primeira edição do DSM-I (Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders). Já em 1967, o conceito do alcoolismo como patologia foi adotado
pela OMS na Classificação Internacional das Doenças (CID-8), a partir da 8ª
Conferência Mundial de Saúde12,13. A doença foi inserida dentro de uma ampla
categoria de transtornos de personalidade e neuroses, sendo subdividida entre:
dependência, abuso do álcool e consumo excessivo habitual. A dependência de
álcool foi caracterizada pelo uso compulsivo de bebidas alcoólicas e pela
manifestação de sintomas de abstinência após a cessação do uso de álcool (CISA,
2022).
A partir de 2022, entrou em vigor a CID-11, que atualiza especificidades sobre
o alcoolismo, como os diferentes padrões de consumo excessivo: Uso Nocivo,
definido como o consumo que leva a danos físicos ou mentais; Uso Disfuncional,
definido como o consumo que leva a problemas sociais; Uso Arriscado, cuja
quantidade ou padrão de consumo confere riscos de danos futuros e Uso Não
Autorizado, consumo que causa a reprovação da sociedade.
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O objetivo do presente estudo foi visibilizar a patologia alcoolismo, pouco


tratada e muito banalizada. Mas, desmistificar também seu possível tratamento e
reações químicas. Além disso, realizar uma análise abrangente sobre o papel do
consumo de álcool na sociedade, com foco nas consequências e impactos
humanos, incluindo aspectos sociais, de saúde e psicológicos.
A metodologia utilizada foi a qualitativa de caráter bibliográfico, com
referenciais teóricos descritivos e explicativos, como: livros, artigos científicos,
revistas, etc. A revisão bibliográfica foi baseada em artigos do CISA (Centro de
Informações sobre Saúde e Álcool).
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2. O ÁLCOOL QUIMICAMENTE

A palavra “álcool” vem do árabe ál-kuhul, que significava “colírio de pó de


antimônio”, um produto de maquiagem que era utilizado. Entretanto, os alquimistas
passaram a utilizar o nome para se referir a todos os produtos de destilação 一 um
líquido normalmente incolor, volátil e inflamável. O termo designa genericamente o
grupo funcional dos álcoois, formados por uma hidroxila ligada a átomos de carbono
saturados. Um álcool pode ser classificado como primário, secundário ou terciário,
de acordo com a quantidade de carbonos que a hidroxila é interligada ou com a
quantidade de hidroxilas presentes na cadeia carbônica.

O etanol ou álcool etílico (CH3CH2OH) é o álcool utilizado em bebidas


alcoólicas ou em biocombustíveis, é uma substância pura formada por uma molécula
com dois átomos de carbono, cinco de hidrogênio e uma hidroxila. Sua produção
ocorre através da fermentação de açúcares ou da destilação de diversos produtos
vegetais (cana-de-açúcar, milho, beterraba, entre outros).

2.1 PRODUÇÃO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS

O processo de fermentação alcoólica é o mais utilizado na produção de


bebidas embriagantes e é uma via catabólica onde há quebra das moléculas de
carboidrato (glicose ou frutose) nas células de microrganismos (bactérias ou
leveduras) até a formação de etanol e CO2, liberando energia química e térmica.
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Na Idade Média, os árabes levaram para a Europa Ocidental a destilação,


que é um processo de separação de misturas homogêneas através do aquecimento.
Por causa disso, as bebidas alcoólicas passaram a ser divididas em dois grandes
grupos: bebidas fermentadas não destiladas e bebidas fermentadas destiladas.
As não destiladas não passam pelo processo de destilação e possuem teores
alcoólicos baixos em comparação às destiladas. Atingem no máximo 15% de álcool
(15○GL) em sua composição, além disso seu cheiro, cor e sabor dependem das
outras matérias-primas e aditivos utilizados na fermentação.
As destiladas passam pelo processo da destilação depois da fermentação, os
vapores são extraídos e condensados. Por isso, possuem maior teor alcoólico.

2.2 O TESTE DO ETILÔMETRO

O etilômetro ou bafômetro é um instrumento amplamente utilizado para


identificação de concentração do álcool etílico analisando o ar exalado dos pulmões.
Seu funcionamento ocorre por meio da reação eletroquímica de oxidação.
Ao entrar na corrente sanguínea, o álcool deixa vestígios nos pulmões. O
sensor do bafômetro reage de acordo com a condutividade elétrica, se houver maior
quantidade de oxigênio no ar a condutividade diminui e se houver maior quantidade
de álcool etílico a condutividade aumenta.
A base química do bafômetro é a reação entre o álcool primário e ácido
carboxílico com reagentes de cromo. No dispositivo geralmente é utilizado o
dicromato de potássio em meio ácido. O cromo +6 utilizado é de tom alaranjado. Ao
oxidar com o álcool primário, o etanol, o cromo é reduzido a Cr+³ que é verde.
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3. O ÁLCOOL E A BIOLOGIA HUMANA

O etanol é de absorção lenta pelo estômago, por isso, ao ser ingerido, passa
por diferentes metabolizações no organismo. É levado para o intestino delgado,
onde é absorvido 75% do total com maior rapidez. O álcool, por ser solúvel em água,
logo acessa a corrente sanguínea e é distribuído para a maior parte dos órgãos e
sistemas.
Os músculos, o coração e o cérebro absorvem as mesmas quantidades de
álcool, entretanto, o fígado, responsável pela metabolização do corpo, recebe maior
quantidade do etanol, por isso é mais suscetível a danos causados pelo consumo
excessivo.
Segundo o CISA (2015) mais de 90% do etanol absorvido é eliminado pelo
fígado e 2% a 5% é expulso pelo suor, urina e respiração.
A primeira etapa da metabolização do álcool absorvido é a oxidação do
acetaldeído (álcool em que o hidrogênio foi removido) pela ADH (álcool
desidrogenase) que transmuda o acetaldeído para acetato, que é enviado para a
corrente sanguínea e alcança parte dos ciclos.
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4. O ÁLCOOL E A PSIQUE HUMANA

O álcool tem sido associado a diversos problemas sociais, como: mortes no


trânsito, doenças, conflitos familiares, homicídio, fim de casamentos, etc.
Compreender o uso crônico de álcool é um desafio intrínseco à raça humana.
Inúmeros psicanalistas buscaram entender o que leva alguém a buscar a
embriaguez e inúmeras hipóteses já foram criadas.
De acordo com um estudo realizado em 2015 pela UNICESUMAR, após o
questionamento de qual o significado do álcool, 38% dos participantes disseram que
significava um momento de êxtase, 30% responderam que era o motivo de estarem
com os amigos, 21% confirmaram que era o prazer da ingestão da bebida e 4%
afirmaram que era uma fuga da sociedade.
Na psicologia é possível encontrar diversos fatores relacionados ao uso
contínuo do etanol. Existem traços recorrentes ao alcoólatra, como: regressão
emocional, imaturidade, instabilidade, ansiedade, insegurança e fraqueza do ego,
disseram Van Kolck, Tosi e Pellegrini (1991) e Sonenreich (1971).
De acordo com Kolck, os alcoolistas são pessoas dependentes, tímidas e
acovardadas, que não querem tomar iniciativas ou buscá-las. A visão dos alcoolistas
em relação ao álcool também é distorcida, criando a síntese do idealcoolismo, onde
Antônio Carlos Xavier e Emir Tomazelli (2012):

Nos estados de alcoolismo, é da ordem da idealização. O


álcool se torna a ilusão do divino ou o próprio divino que o protege da
realidade e da sua humanidade frustrante em troca de sua oferenda,
seu corpo e sua alma. Isto é, o estado emocional que o álcool
provoca por meio de sua ingestão alcoólatra não recreativa leva-o a
um tal estado de afastamento das angústias e de sobrevoo sobre os
limites humanos, que funda uma “religião”de veneração, fidelidade e
entrega.

A partir desse estágio o alcoolista teria uma visão distorcida da realidade, em


que se veria como um deus, viveria como tal, sobrevivendo à realidade
desesperadora ou à humanidade limitante.
Há inúmeras nomenclaturas distintas para o álcool, alguns o chamam de
Majestade pois no mundo todo ele tem mais de seiscentos milhões de súditos, o que
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equivale a duas vezes a população dos Estados Unidos da América do Norte de


acordo com Santos, E. (2019, p. 10)
O álcool seria uma espécie de fuga para o alcoolista, anestesiando os
sentimentos de inadequação, mascarando com o exibicionismo e sensação de
grandeza, escondendo, desse modo, a auto-imagem negativa. Segundo Castro e
Silva Filho (1993), em decorrência da irritabilidade, comportamento agressivo e
incerto, visão distorcida da realidade e dificuldade na compreensão de mundo, o
alcoólatra causa dificuldades em seu relacionamento familiar, que é futuramente
agravado.
Alguns traços recorrentes no espectro alcoólatra são: profunda solidão,
desesperança e sensação de anonimato e passividade social, de acordo com
Alonso-Fernandez (1991). A respeito do isolamento, desde a infância o indivíduo
apresenta essa condição, com a falta de amor ou atenção recebida do “outro”,
caracterizando pais e/ou familiares próximos. Assim, o “outro” é visto como uma
figura ameaçadora, semeando reações emocionais de inferioridade física,
psicológica e intelectual. O sentimento de solidão é devastador e insuportável
porque assenta-se no aniquilamento de suas esperanças decorrentes da frustração
afetiva de acordo com Eurípedes Costa e Colaboradores (2000, p. 2)
Diante disso, o alcoólatra passa a se ver como insuficiente, anônimo e
passivo socialmente, sem possuir direito à influências e covardemente
desnecessário e ignorável. Gerando, assim, uma falta de perspectiva relacionada a
um futuro próspero, sujeitando à desesperança consigo mesmo que desencadeia
pensamentos e/ou comportamentos suicidas. É um sujeito marcado por um
desgosto pessoal, uma amargura da insuficiência e então, como fruto de uma
baixa-estima, busca como válvula de escape de suas desilusões o álcool, que
possui potencial entorpecente.
Melman (1992) afirma que o que gera falta ao alcoolista é o reconhecimento e
o respeito dentro da própria constelação familiar.
O uso indevido de álcool pode danificar a qualidade do indivíduo como
membro familiar, tal qual pai ou mãe. O alcoolismo está ligado a disfunções na
esfera social, como: Síndrome Fetal Alcoólica, causada no feto pelo cosumo de
bebidas embriagantes, abuso infantil e ciclo familiar danificado por comportamento
agressivo e doenças resultantes, afirma o CISA (2006).
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Ademais, pode prejudicar a família economicamente, mas ao


desenvolvimento de doenças psiquiátricas também, atingindo a saúde da esfera.

5. O ÁLCOOL E A ARTE

O estudo de Brito; Amaral; Viana (2019) mostra que atividades terapêuticas


relacionadas à arte promovem a inclusão social e norte de novos sentidos para
alcoolistas. Outras propostas se fundamentam no cuidado, afeto e liberdade de
expressão através de pinturas, escrita, música e permitem a criação do vínculo
pessoal.
Inúmeros artistas por todo o globo lidaram ou lidam com problemas
relacionados ao abuso de substâncias, sobretudo alcoólicas e relatam suas
experiências como uma forma de ajudar e apoiar.

5.1 BUKOWSKI

O famoso autor Charles Bukowski, conhecido e popularizado por causa de


seus contos, poesias e obras quase autobiográficas era alcoólatra. Por vezes, o
álcool tinha destaque ou papel principal em seus escritos, e era tema recorrente de
Bukowski. Sua escrita em relação a suas vivências e ao álcool era por vezes brutal e
excessivamente sincera. Charles se autodeclarava alcoolista e era verdadeiro
enquanto a isso.
Não necessariamente escrevia sobre o álcool o idealizando, na realidade
reconhecia os pontos negativos do consumo excessivo e seus aspectos prejudiciais.
Personagens de seus contos retratam o abuso do álcool e serviam como escapismo
de sua própria vida e autodestruição.
Sua obra “Sobre Bêbados e Bebidas” (1975) retrata a visão de Charles
Bukowski sobre o alcoolismo e seus efeitos:

Se acontece uma coisa ruim, você bebe pra esquecer; se acontece


uma coisa boa, você bebe pra comemorar; se não acontece nada,
você bebe pra que aconteça alguma coisa.
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Um tópico recorrente de suas obras é a solidão que sentia e a busca por


sentido na sua vida, assuntos correlacionados ao uso abusivo da droga.

5.2 RENATO RUSSO

O famoso compositor, cantor, músico e líder da banda de rock nacional que


mais vendeu discos no Brasil, Renato Russo, tinha uma relação conturbada com o
uso de drogas.

Russo, no ano de 1993, passou 29 dias internado na clínica de reabilitação


Vila Serena, Rio de Janeiro. O cantor escreveu durante todo o período sobre seus
sentimentos. Durante esse período, conta que seguiu à risca os 12 passos do AA
(Alcoólicos Anônimos). Em 2015 a editora Companhia das Letras juntou todos esses
relatos e publicou um único livro chamado “Só Por Hoje e Para Sempre”, Renato
Russo (1993, p. 22):

Naturalmente, os escândalos, meu comportamento agressivo


quando bebo e até aspectos privados de minha dependência chegam
ao público (e existem também os boatos — nunca se acerta, mas,
como é de praxe nestes casos, chegasse perto da verdade: já estive
internado em vários hospícios, meu uso de drogas é homérico —
embora não faça apologia das drogas em minhas canções, pelo
contrário — e até já “morri” umas duas ou três vezes.
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Em 1994, Renato, ao ser entrevistado por Jô Soares, falou com sinceridade


sobre o alcoolismo. Antes de conhecer o grupo AA não compreendia a si mesmo,
sentia que era depressivo, melancólico, entretanto, na realidade, eram sintomas da
doença.
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6. A PATOLOGIA ALCOOLISMO

O alcoolismo é considerado um dos maiores problemas de saúde pública


atualmente e tem atraído a atenção de autoridades médicas em diversos países.
Segundo informações disponíveis, 12,3% da população brasileira é dependente de
álcool, com a incidência da dependência concentrada na faixa etária de 18 a 24
anos, totalizando 19,2% (Cebrid 2006: 41).
Alcoolismo é a dependência do indivíduo ao álcool. Caracteriza-se como uma
doença crônica, ou seja, com durabilidade de anos ou a vida inteira. Por tratar-se de
uma patologia psicológica não possui cura, apenas tratamento.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) não existe um padrão de
consumo do etanol livre de riscos. Quando o consumo do álcool assume um papel
de destaque na vida do indivíduo, sendo consumido de maneira descontrolada e
emocionalmente dependente, pode estar presenciando um quadro de alcoolismo.
O uso contínuo do etanol em grandes quantidades pode acarretar danos à
saúde física, sendo os mais comuns problemas no sistema digestório, como
doenças no fígado, problemas gastrointestinais, pancreatite. De acordo com o CISA
(2006) estima-se que 90% dos alcoólicos crônicos desenvolvem doença hepática
gordurosa, e 40% podem acarretar cirrose, inflamação irreversível no fígado que o
torna disfuncional. Isso ocorre porque o álcool é metabolizado no fígado e por isso
possui grande potencial de sofrer lesão.
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7. CONCLUSÃO

A partir da presente pesquisa objetivou-se que o consumo do álcool é


histórico e intrínseco à humanidade. Desde o período neolítico o ser-humano
encontrou, a partir da fermentação de frutos e vegetais, as primeiras bebidas
embriagantes. Com o surgimento de grandes civilizações, a produção e consumo de
bebidas foram registrados.
Com a Revolução Industrial, em um período de múltiplas revoluções, o
alcoolismo foi visto como uma “praga” pela primeira vez, capaz de gerar conflitos e a
regressão humana. Além de degradação física, psicológica e moral.
No Brasil, os médicos e sanitaristas que iniciaram os movimentos anti-álcool
eram pautados em discursos de gêneros, em que o homem deveria por obrigação
ser o provedor. O foco desses debates eram, sobretudo, homens de classes mais
baixas que deveriam trabalhar e largar a vagabundagem.
Em 2022, com a CID-11, especificidades sobre o alcoolismo decretaram os
diferentes padrões de consumo nocivo da droga e sua dependência, que foi apenas
vista como uma patologia pela OMS em 1967.
Quimicamente, o etanol faz parte do grupo funcional dos álcoois e sua
produção ocorre a partir de diversos produtos vegetais.
O consumo de bebidas embriagantes tem sido associado a diversos
problemas sociais, na psicologia é possível encontrar fatores relacionados ao uso do
álcool e a criação de inúmeras hipóteses para achar os motivos da dependência
química.
Ademais, estudos mostram a eficiência de tratamentos terapêuticos como
forma de reabilitação da patologia alcoolismo.
De acordo com as pesquisas realizadas, acredito ter avançado na
compreensão do alcoolismo química e biologicamente, além de constatar seu
estigma social desde os primórdios da sociedade humana. Assim, pode-se perceber
que o alcoolista necessita de apoio, não somente de forças reabilitacionais, mas
familiares e sociais também. Dessa maneira, vidas, famílias e amigos são salvos.
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8. BIBLIOGRAFIA

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