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Atenção Psicossocial à Dependência Química

Autor: Serginaldo José dos Santos

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SUMÁRIO

UNIDADE 1 - PRINCÍPIOS GERAIS SOBRE O USO DO ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS


................................................................................................................................ 04 1.1
Questões norteadoras do uso de drogas na evolução do homem ................................. 04 1.2
Drogas: classificação e efeitos ........................................................................................ 13 1.3 A
Dependência Química .................................................................................................. 23 1.4
Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso e abuso de álcool e outras drogas
..................................................................................................................................... 34
UNIDADE 2 - POLÍTICA DE ATENÇÃO INTEGRAL AOS USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
............................................................................................................... 43 2.1 Política Nacional
sobre Drogas........................................................................................ 43 2.2 A rede de atenção
ao uso de álcool e outras drogas no Sistema Único de Saúde ....... 51 2.3 O tratamento e a
reabilitação psicossocial do usuário de álcool e outras drogas na rede pública
.................................................................................................................................... 58 2.4
Prevenção ao consumo de álcool e outras drogas e a política de redução de danos ... 83

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 92

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INTRODUÇÃO

O consumo de drogas e os transtornos mentais provenientes do uso abusivo e da dependência


são uma das preocupações mais complexas de nossos tempos, pois exigem que o governo e a
sociedade partilhem a responsabilidade na busca de alternativas que levem à sua melhor
compreensão e abordagem. Nossos objetivos com essa disciplina se iniciam com: Breve
discussão norteadora sobre as múltiplas dimensões da utilização do uso de drogas durante a
história da humanidade, assim como a apresentação de dados epidemiológicos de padrões de
consumo; Compreensão dos principais conceitos ligados às relações entre o uso, abuso e
dependência de drogas; Conhecer as principais substâncias psicoativas, suas características e
consequências para a produção de transtornos mentais específicos, que as tornam um
importante problema de saúde pública; Finalizando com a apresentação das principais
políticas públicas de nosso país, em especial na área de saúde e em todas as dimensões do
cuidado.

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UNIDADE 1 - PRINCÍPIOS GERAIS SOBRE O USO DO ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS


O objetivo com essa unidade é entendermos alguns princípios gerais da utilização e adesão de
substâncias psicoativas e de por que consideramos esse tema como um problema social e de
saúde pública. Para um melhor aproveitamento do seu estudo, foram subdivididos nas
temáticas que se seguem: Concepções norteadoras do uso de drogas na evolução do
homem; Drogas: classificação e efeitos; A dependência de drogas; e, Classificação dos
transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substância psicoativa.

1.1 Questões norteadoras do uso de drogas na evolução do homem

Ao longo da história, questões com o uso excessivo e/ou a dependência de álcool e de outras
drogas têm sido debatidas por inúmeros pontos de vista. Como descrevem Duarte & Morihisa
(2008, p. 42):

O uso de drogas que alteram o estado mental, chamadas nesta Unidade de substâncias
psicoativas (SPA), acontece há milhares de anos e muito provavelmente vai acompanhar toda
a história da humanidade. Quer seja por razões culturais ou religiosas, por recreação ou como
forma de enfrentamento de problemas, para transgredir ou transcender, como meio de
socialização ou para se isolar, o homem sempre se relacionou com as drogas.

A partir da ótica médica do século XX, foi considerado um transtorno mental decorrente de
questões biológicas, contudo inúmeras outras implicações passaram a ser consideradas, como
sociais, psicológicas, econômicas e políticas, na busca de compreendermos a globalidade do
problema e não apenas sua criminalização. O consumo de substâncias psicoativas, em especial
das drogas lícitas como o álcool e o tabaco, é bastante frequente em nossa sociedade, fazendo
parte da história da civilização humana. Tanto que, nas civilizações antigas as plantas com
princípios psicoativos (como o ópio, a coca e a maconha) foram utilizados com

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inúmeras finalidades, como: curar doenças, afastar espíritos, estimular o sucesso, atenuar a
fome e o frio, entre tantas outras.
Figura 1 - Registros arqueológicos Fonte: http://migre.me/dCQ7N

Segundo Lacerda (2008), a maconha que cresce espontaneamente no Himalaia, no Tibet, seria
utilizada desde 12.000 anos a.C., com os hindus descrevendo seus efeitos, como o de estimular
o apetite e induzir o sono, entre 2.000 e 1.400 anos a.C. e de sua utilização na medicina
chinesa descrita em tratado datado do primeiro século d.C. O uso provável do ópio na
Mesopotâmia dataria de 3.000 anos a.C., com significado divino de acalmar os enfermos.
Aparece na “Odisseia”, livro de Homero, como uma bebida para esquecer a dor e a infelicidade
e foi utilizado até o século XIX, quando se observou seu uso abusivo como forma medicinal.
(LACERDA, 2008).

Figura 2 - O livre comércio e o uso de ópio na China no séc. XIX Fonte: http://migre.me/dCQdt

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As bebidas alcoólicas, entre todas as substâncias psicoativas, sempre estiveram presentes na


maioria das civilizações, encontradas inclusive entre os povos indígenas antes da colonização
de nosso país ou utilizadas como meio facilitador do domínio destes povos pelos
colonizadores. A Bíblia descreve a utilização de bebidas alcoólicas em inúmeras passagens,
como a embriaguez de Noé ou na santa ceia, assim como o uso de vinho faz parte dos rituais
sagrados de inúmeras religiões, como a católica e o judaísmo. Para Buchele & Cruz (2008, p.
66):

Nesse sentido, a utilização das drogas não representava, em geral, uma ameaça à sociedade,
pois seu uso estava relacionado aos rituais, aos costumes e aos próprios valores coletivos e,
ainda, não se sabia dos efeitos negativos que elas poderiam causar – não havia estudos
científicos.

Com a era moderna e o avanço da ciência, os produtos antes obtidos na natureza foram
levados aos laboratórios e transformados, surgindo as drogas sintéticas, como as anfetaminas
(1837), a morfina (1804-1852) e heroína (1874). Todas surgindo com expectativas de uso
medicamentoso, como as anfetaminas para aumento da energia e elevar o estado de humor, a
morfina utilizada para o tratamento da dor e a heroína ironicamente como substituto da
dependência química decorrente do uso da morfina e antitussígeno. Até serem conhecidos
seus efeitos adversos nas décadas seguintes e a proibição de seu uso, mesmo assim foram
utilizadas durante as duas guerras mundiais como amenizador da dor dos feridos ou para
estimular o vigor dos soldados.

Figura 3 - Vidros medicinais do séc. XIX, quando as drogas eram utilizadas para tratamentos
Fonte: http://www.encod.org

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Paralelo ao uso científico, no século XIX e início do século XX, muitas vezes o assunto foi
abordado por autores, em geral ligado à literatura e às artes, que faziam uso de drogas e as
descreviam de forma romântica, assim como seus efeitos e os rituais em que as utilizavam,
criando a magia do status de sua utilização. Nos anos 50 surgem os benzodiazepínicos e com
eles a possibilidade de tratamento de inúmeros transtornos mentais baseados no seu efeito
tranquilizante. Mas sua utilização foi disseminada, pois seus efeitos calmantes contribuíam
para aliviar as tensões do dia a dia e beneficiar um sono mais tranquilo, se popularizando
dentro da cultura da medicação. A cultura hippie, nos anos 60 e 70, dá um novo sentido para a
utilização das drogas, pela contestação de valores incorporados pela sociedade. Seja pelo uso
de roupas, pela música e drogas, buscando ideias de libertação por meio da criação de um
mundo alternativo diferente do sistema social e cultural vigente. Nesta época é estimulado o
uso de drogas, como o LSD, com seus efeitos ligados ao prazer e a alteração de consciência.
Fonte: http://migre.me/dCQys

Segundo Lessa (1998), a partir dos anos 70, a faixa etária dos usuários de droga começa a se
alargar, desde adolescentes até idosos. Sendo que os jovens recorrem com maior frequência
às drogas ilícitas como os solventes, a maconha e a cocaína. Os idosos fazem uso das drogas
lícitas como o tabaco, o álcool, a cafeína e os medicamentos controlados. Para Buchele & Cruz
(2008, p. 67), a atualidade é marcada pelo uso de diferentes tipos de substâncias psicoativas,
que vão “[...] desde um uso lúdico com fins prazerosos até o desencadeamento de estado de
êxtase, uso místico, curativo ou no contexto científico da atualidade”. Concluindo que, tanto a
experimentação quanto o uso dessas substâncias crescem de forma consistente em todos os
segmentos do País.

Quer ler um pouco mais sobre a história das drogas? Acesse o site da European Coalition for
Just and Effective Drug Policies (ENCOD). Disponível em:
<http://www.encod.org/info/HISTORIAINTERNACIONAL-DA-DROGA.html> Acesso em 19 jul.
2018.

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Lessa (1998, p. 1), complementa, porém, que:

[...] há uma forte tendência a enfatizar os perigos e malefícios que a droga pode trazer, sendo
ela associada à marginalidade, à violência, ao crime, à degradação, dando a falsa ideia de que
está presente só nas classes inferiores.

Em contrapartida, as políticas públicas de nosso país encaram as drogas de forma mais ampla,
entendendo que “a dependência das drogas é transtorno em que predomina a
heterogeneidade, já que afeta as pessoas de diferentes maneiras, por diferentes razões, em
diferentes contextos e circunstâncias.” (BRASIL, 2004, p. 8). Segundo Garcia et al. (2008, p.
267):

O debate hoje em relação às drogas vem sendo construído em torno de discursos científicos
que tendem a configurar o problema ora como questão de segurança pública (relativo ao
narcotráfico e à repressão da oferta), ora como questão de saúde pública (relativo à repressão
da demanda por um lado e à redução de danos por outro).

Até hoje em dia, o discurso de líderes políticos e governantes foi prioritariamente relacionado
com o comércio ilegal de drogas, mobilizado em geral por ser uma ameaça às estruturas
democráticas de muitos países. “Os recursos oriundos do tráfico de drogas, por sua natureza
ilícita, só podem atuar em oposição a todos os mecanismos reguladores da economia mundial
(p. 267)”, estimando-se que os lucros chegariam a 500 bilhões de dólares/ano, incrementando
outras atividades criminosas, tais como o “tráfico de armas, o contrabando, o terrorismo, as
guerras e guerrilhas, e até os golpes de Estado”. (GARCIA et al., 2008, p. 268).
Como aponta Fraga (2000, apud GARCIA et al., 2008), o narcotráfico enseja um jogo entre o
legal e o ilegal no qual destacam-se três etapas: a produção, a distribuição-consumo e a
lavagem de dinheiro. Para que essas etapas se realizem, é necessário que o narcotráfico
estabeleça alianças com o Estado, por meio do suborno de agentes ou do recurso ao sistema
financeiro, que está no lado legal da sociedade, para fins de distribuição e lavagem de
dinheiro. Estimativas da ONU apontam que no mundo quase 5% da população entre 15 e 64
anos usa drogas ilícitas pelo menos uma vez por ano. A droga mais consumida no mundo seria
a maconha. O uso de drogas não é exclusividade de determinada classe socioeconômica,
distribuindo-se regularmente por todas elas. Portanto, as campanhas preventivas não
precisam se preocupar apenas com determinados segmentos populacionais. Assim como em
vários estudos anteriores, o uso na vida de certas drogas foi maior para o gênero masculino,
para: maconha, cocaína, energéticos e esteroides anabolizantes. Para o gênero feminino,
tradicionalmente o maior uso na vida é de medicamentos: anfetamínicos e ansiolíticos.
(BRASIL, 2009). Segundo o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no
Brasil, desenvolvido pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CARLINI
et al, 2006), verificou-se que aproximadamente 4,5% dos entrevistados, na faixa etária entre
12 e 65 anos, fizeram uso de alguma droga ilícita (exceto álcool e tabaco) no último mês da
pesquisa, ampliando-se o percentual para 10,3% dos pesquisados no último ano e de 22,8%
durante algum período da vida. Quanto ao uso em algum período da vida, a maconha foi a
droga mais citada (8,8%), seguida de solventes (6,1%) e benzodiazepínicos (5,6%). Valores
inferiores aos encontrados em outros países, como EUA (40,2%) e Reino Unido (30,8%), no
caso da maconha. Das drogas ilícitas mais utilizadas com maior frequência (durante o mês da
pesquisa) destacaram-se a maconha (1,9%) e a cocaína e os solventes (ambos com 0,4%) e na
época do levantamento, apenas 0,1% para o crack. Contudo, destaco os valores encontrados
para as drogas lícitas descritos na tabela a seguir.

DROGAS

Tipos de Uso % Na vida No ano No mês Álcool 74,6 49,8 38,3 Tabaco 44,0 19,2 18,4

Fonte: adaptada (CARLINI et al, 2006)

A prevalência de uso na vida para qualquer droga (exceto tabaco e álcool) foi de 22,8%, sendo
a maior porcentagem observada na região Nordeste (27,6%) e a menor foi na região Norte
(14,4%). Valores similares aos encontrados no Chile e metade do valor encontrado nos EUA. A
média brasileira de prevalência de uso na vida de álcool foi de 74,6%, sendo a menor taxa
observada na Região Norte (53,9%) e o maior na Sudeste (80,4%). Inferiores a média de outros
países, como o EUA (82,4%). O índice de dependentes de álcool foi de 12,3%, com maior
número de dependentes do sexo masculino. Quanto ao uso na vida de tabaco, foi encontrado
44,0% no total dos pesquisados, porcentagem inferior à do Chile (72,0%) e EUA (67,3%).
Quanto à dependência de tabaco, 10,1% preencheram critérios para um diagnóstico positivo.
Segundo o Relatório Brasileiro sobre Drogas (BRASIL, 2010), o uso na vida de álcool diminuiu
para ambos os gêneros, em nove das dez capitais onde já haviam sido realizados
levantamentos anteriores com a mesma metodologia. Contudo, a diminuição do uso na vida
de tabaco não foi tão significativa quanto a do álcool, a despeito da proibição das propagandas
para os cigarros, mantendo-se inalterada na comparação dos cinco levantamentos, para quase
todas as 10 capitais. Em Porto Alegre houve inclusive aumento do uso na vida de tabaco para o
gênero feminino.

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Figura 5 - Campanha publicitária do Ministério da Saúde contra o consumo de tabaco Fonte:


http://migre.me/dCRwq

Pelo II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil (CARLINI et al,
2006), cabe ressaltar os dados referentes à percepção de tráfico e à percepção de efeitos
adversos do uso de drogas: Cerca de 18,5% dos entrevistados afirmaram ter visto alguém
vendendo drogas e 18,3% comprando drogas; Cerca de 64% dos entrevistados afirmaram ter
visto pessoas alcoolizadas nos 30 dias prévios à pesquisa e sob efeitos de outras drogas foi de
36,9%. Descritos pelos autores da pesquisa, como porcentagens muito elevadas, “[...] o que
pode ser, simplesmente, reflexo de uma hipervalorização da sociedade, delegando às drogas
qualquer alteração comportamental.” (CARLINI et al, 2006, p. 400). Quanto ao risco da
utilização (considerado grave para uma ou duas vezes por semana), a percepção para as
bebidas alcoólicas foi de 20,8%, para a maconha de 48,1% e para a cocaína de 77,1%.
Destacando-se que a percepção de riscos mais que duplica na comparação entre Álcool e
Maconha e quase triplica quando o Álcool é comparado à Cocaína/Crack. Com cerca de 11%
dos entrevistados tratados pelo uso de álcool e outras drogas. Mesmo que os dados
estatísticos sejam inferiores aos de outros países, “o uso diário de Álcool, Maconha e Cocaína é
considerado um risco grave à quase totalidade da amostra, independente do sexo, da faixa
etária e região brasileira.” (CARLINI et al, 2006, p. 400).
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Após esses dados estatísticos, devemos retomar algumas considerações sobre o uso de drogas,
pois as mesmas inserem-se no movimento social de nossa cultura. Algumas delas, como o
álcool e o tabaco, são incorporados culturalmente a ponto de não serem considerados como
drogas e são legalmente comercializados. O álcool, em especial, é ingrediente essencial nas
grandes festividades e nos encontros sociais, além de assumir papel de destaque como valor
social a ser alcançado pelos adolescentes para a transição para a fase do adulto.

Fonte: http://migre.me/dCROK

Portanto, qualquer ação ou intervenção com relação ao uso abusivo de álcool e de outras
drogas passa pelo entendimento da relação entre o homem, a droga e o ambiente. Exemplo
desta relação seria o Carnaval, se tomássemos como exemplo a proibição da venda e ingestão
de bebidas alcoólicas durante suas festividades, ou mesmo, no popular churrasco do final de
semana. Pois, trata-se de comportamentos transmitidos coletivamente e característicos da
sociedade brasileira, influenciando portando nas atitudes e modos de agir de grupos num
determinado contexto social.

Exercício 1

Pesquise a respeito da Nova Lei Seca e responda ao questionamento a seguir: De acordo com a
Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET), o uso de bebidas alcoólicas é
responsável por 30% dos acidentes de trânsito. Com o objetivo de reduzir o uso de álcool
associado à direção de veículos, implantou-se a “Lei Seca”.

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I. Em caso de suspeita de ingestão de bebidas, ao abordar o condutor do veículo, o policial
informa as alterações ocorridas no Código de Trânsito Brasileiro e solicita a documentação do
condutor. II. Quem for flagrado sob efeito de álcool (superior a 1 mg de álcool por litro de ar
expelido) é enquadrado no Art. 165 do Código de Trânsito Brasileiro. III. A penalidade é multa
(R$ 957,70) e suspensão do direito de dirigir por 12 meses. IV. Até 90% do álcool ingerido é
absorvido em uma hora, mas a eliminação demora de 6 a 8 horas. Podendo aumentar o tempo
de reação do condutor de 0,75 para até 2 segundos (Site do Departamento da Polícia
Rodoviária Federal). a) Apenas os enunciados I e III estão corretos. b) Apenas os enunciados I e
IV estão corretos. c) Apenas os enunciados II e III estão corretos. d) Apenas os enunciados I e II
estão corretos. e) Apenas os enunciados II e IV estão corretos.

1.2 Drogas: classificação e efeitos

Droga, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2006), é qualquer substância não
produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas,
produzindo alterações em seu funcionamento. Como aponta Nicastri (2008, p. 22):

Uma droga não é por si só boa ou má. Existem substâncias que são usadas com a finalidade de
produzir efeitos benéficos, como o tratamento de doenças, e são consideradas medicamentos.
Mas também existem substâncias que provocam malefícios à saúde, os venenos ou tóxicos. É
interessante que a mesma substância pode funcionar como medicamento em algumas
situações e como tóxico em outras.

Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), em seu capítulo V, referentes aos


Transtornos Mentais e de Comportamento devido ao uso de substâncias psicoativas, as
principais drogas são: Álcool; Opióides (morfina, heroína, codeína, diversas substâncias
sintéticas); Canabinóides (maconha); Sedativos ou hipnóticos (barbitúricos,
benzodiazepínicos); Cocaína e seus derivados;

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Outros estimulantes (anfetaminas e cafeína); Alucinógenos; Tabaco; Solventes voláteis.


Há diversas formas de classificar as drogas. Do ponto de vista legal:
• Lícitas: são aquelas que têm a sua produção e seu uso permitido por lei e que são liberadas
para comercialização. Observamos, porém, que o fato de serem liberadas não quer dizer que
não provoquem algum prejuízo à saúde mental, física e social. Isto dependerá de múltiplos
fatores, tais como: quantidade, qualidade, frequência de uso, entre outros. São exemplos de
drogas lícitas: o álcool e o tabaco, com venda proibida para menores de 18 anos, e de alguns
medicamentos que só podem ser adquiridos por meio de prescrição médica especial.

• Ilícitas: são aquelas que têm a sua produção, comercialização e uso proibidos por lei. Deste
grupo fazem parte a cocaína e seus derivados, a maconha, o LSD, entre outras. Lembrando,
ainda, que há variações de restrição de uso, como no caso da maconha. As drogas podem ser
classificadas também pelas ações aparentes sobre o Sistema Nervoso Central (SNC), conforme
as modificações observáveis na atividade mental ou no comportamento da pessoa que utiliza a
substância (NICASTRI, 2008; CEBRID, 2011). São elas:

1. Drogas depressoras da atividade mental: essa categoria inclui uma grande variedade
de substâncias, que diferem acentuadamente em suas propriedades físicas e químicas,
mas que apresentam a característica comum de causar uma diminuição da atividade
global ou de certos sistemas específicos do SNC. Como consequência dessa ação, há a
tendência de ocorrer uma diminuição da atividade motora, da reatividade à dor e da
ansiedade, e é comum um efeito euforizante inicial seguido de sonolência.

2. Dentro das drogas depressoras encontramos: Álcool. Soníferos ou hipnóticos


(drogas que promovem o sono): barbitúricos, alguns benzodiazepínicos.

Ansiolíticos (acalmam; inibem a ansiedade). As principais drogas pertencentes a essa


classificação são os benzodiazepínicos. Ex.: diazepam e lorazepam. Opiáceos ou narcóticos
(aliviam a dor e dão sonolência). Ex.: morfina, heroína, codeína e meperidina. Inalantes ou
solventes (colas, tintas, removedores).

2. Drogas estimulantes da atividade mental: são incluídas nesse grupo as drogas capazes de
aumentar a atividade de determinados sistemas neuronais, o que traz como consequências um
estado de alerta exagerado, insônia e aceleração dos processos psíquicos. As drogas incluídas
neste grupo são: Anorexígenos (diminuem a fome). As principais drogas pertencentes a essa
classificação são as anfetaminas. Ex.: dietilpropriona e femproporex. Cocaína, crack ou
merla.

3. Drogas perturbadoras da atividade mental: nesse grupo de drogas, classificam-se diversas


substâncias cujo efeito principal é provocar alterações no funcionamento cerebral, que
resultam em vários fenômenos psíquicos anormais, entre os quais destacamos os delírios e as
alucinações. Por esse motivo, essas drogas receberam a denominação de alucinógenos. Esse
tipo de fenômeno ocorre de modo espontâneo em certas doenças mentais denominadas
psicoses, razão pela qual essas drogas também são chamadas psicotomiméticos. As principais
drogas desta categoria podem ser de origem natural ou sintética: Fonte: www.neip.info
De origem natural (reino vegetal e reino funghi) o Mescalina (do cacto mexicano). o THC (da
maconha). o Psilocibina (de certos cogumelos).

o Lírio (trombeteira, zabumba ou saia-branca). De origem sintética o LSD-25. o Ecstasy. o


Anticolinérgicos (Artane®, Bentyl®). Além destas drogas, existem outros tipos de drogas cujos
efeitos psicoativos não possibilitam sua classificação numa única categoria (depressoras,
estimulantes ou perturbadoras da atividade mental). Como o tabaco e a cafeína.

Exercício 2

De acordo com as ações provocadas no Sistema Nervoso Central, modificando a atividade


mental ou comportamental, relacione a ação da droga com as drogas que propiciam o efeito
causado: A. Drogas Depressoras

( a ) Álcool (b ) Crack B. Drogas Estimulantes ( a ) Maconha ( ) Solventes C. Drogas


Perturbadoras ( ) Ecstasy ( ) Tabaco

a) A / B / C / A / C / B

b) A / C / C / B / C / A c)

C/B/A/A/A/B

d) B / B / C / B / A / B

e) A / A / C / C / B / B

Dica de Aprofundamento Selecionamos alguns sites de aprofundamento: www.senad.gov.br


www.obid.senad.gov.br www.cebrid.epm.br www.drugabuse.gov Entre os inúmeros
materiais sobre drogas, sugerimos: CEBRID. Livreto informativo sobre drogas psicotrópicas.
Brasília: SENAD, 2011.

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Exercício 3

1. Sobre o álcool, assinale a alternativa correta: a) O consumo de álcool é considerado ilícito. b)


Tem efeito estimulante inicial de desinibição de comportamentos. c) Seu efeito depressor é a
euforia. d) O efeito do álcool é maior nos homens que nas mulheres. e) O efeito do álcool é
igual em todos e na mesma intensidade.

2. Ainda sobre o álcool, assinale a alternativa INCORRETA: a) No primeiro momento de


ingestão tem efeito estimulante, seguido de efeitos depressores. b) A ingestão de álcool
diminui a coordenação motora e os reflexos, comprometendo a capacidade de dirigir veículos
ou operar outras máquinas. c) Os fatores que podem levar ao alcoolismo são de origem
biológica. d) As doenças mais frequentes, com o uso crônico, são as relacionadas ao fígado e
ao aparelho digestivo. e) Mães dependentes de álcool durante a gravidez podem ter filhos
mais irritados e com dificuldades de dormir logo após o nascimento.

3. Sobre as substâncias opiáceas, assinale a alternativa correta: a) Todas as drogas do tipo


opiáceas têm basicamente os mesmos efeitos no SNC: aumentam sua atividade. b) Essas
drogas também são denominadas de narcóticas, por produzirem redução da ansiedade. c) Os
efeitos pelo abuso produzem isolamento da realidade e embotamento da afetividade. d) São
bastante usadas na clínica médica por não produzirem depressão respiratória ou cardíaca. e)
Medicações à base de substâncias opiáceas são vendidas livremente nas farmácias,
aumentando a possibilidade de abuso e dependência.

4. Sobre as anfetaminas, assinale a alternativa INCORRETA: a) Fazem o cérebro trabalhar mais


depressa, deixando as pessoas em maior vigília (“ligadas ou elétricas”) e sem sono. b)
Chamadas de “rebite” são usadas por motoristas que precisam dirigir por horas seguidas sem
descanso, para cumprir prazos predeterminados. c) Também usadas por pessoas que
costumam fazer regimes de emagrecimento sem acompanhamento médico.
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d) As anfetaminas são drogas naturais encontradas na composição de inúmeras plantas de uso


cotidiano. e) Como efeitos corporais, observa-se a taquicardia e o aumento da pressão arterial.

5. Sobre a cannabis sativa, assinale a alternativa correta: a) É reconhecida como medicamento


em algumas condições clínicas, como para reduzir ou abolir náuseas e vômitos após
quimioterapia. b) O LSD (dietilamina) é a porção da droga que produz sua ação alucinógena. c)
Como efeitos, observamos melhora na percepção têmporo-espacial e na atenção. d) Em geral,
produz sensação de calma e relaxamento, hilaridade (vontade de rir), denominado de “bode”.
e) Mesmo em pequenas doses e independente da sensibilidade do usuário, produz delírios e
alucinações.

A ação de cada substância psicoativa depende: do tipo da droga (estimulante, depressora ou


perturbadora), da via de administração, da quantidade da droga, do tempo e da frequência de
uso, da qualidade da droga, da absorção e da eliminação da droga pelo organismo, da
associação com outras drogas, do contexto social, bem como das condições psicológicas e
físicas do indivíduo. Como relatado por Fonseca & Lemos (2011, p. 26), “[...] a droga é apenas
um dos fatores da tríade que leva à dependência. Os outros dois são o indivíduo e a sociedade,
na qual droga e indivíduo se encontram”. Mas que características farmacológicas as drogas de
abuso deveriam ter para causar dependência? Segundo Fonseca & Lemos (2011), dois fatores
são essenciais: aliviar a dor ou produzir um estado de espírito agradável (euforia). “Seu efeito
deve ser rápido, pois, do contrário, o indivíduo não associará o que sente à droga consumida
(p. 26)”. Todas as drogas capazes de produzir euforia ou aliviar a dor têm uma característica
comum: atuam de maneira diferenciada no circuito do prazer ou de recompensa, o que resulta
na liberação de dopamina. O circuito de recompensa cerebral tem a função biológica de
manter a sobrevivência da espécie. Este se dá, por mecanismos de recordação de onde há
alimentos e parcerias sexuais. Cada vez que esse circuito é estimulado, são

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mandadas mensagens para a amígdala, que classifica o estímulo como “bom” ou “agradável”,
finalizando com o envio e gravação desses estímulos nas áreas relacionadas à memória. De
forma a disponibilizá-las sempre que necessárias. O conhecimento desse fenômeno é essencial
para o tratamento de um dependente químico, pois a droga subverte a função do circuito, o
ambiente onde é consumida será gravado, e caberá ao dependente, auxiliado por seu
terapeuta, substituir as memórias da droga por novas memórias.

Figura 6 - Circuito de recompensa cerebral

Esse circuito não é privilégio dos primatas superiores, como o homem, surgindo também em
outras espécies e, portanto, é primário e instintivo. É consenso na comunidade científica que a
memória da droga é permanente e predomina sobre as funções superiores do córtex, onde
existem áreas que deveriam ligar com a decisão de não usar drogas. Além da dopamina,
existem pelo menos 50 neurotransmissores e modulares no organismo que influencia o
circuito de recompensa cerebral, como: opióide, noradrenérgico, serotonérgico,
endocanabinóide, glutamato e GABA. Sua interação é a regra no funcionamento cerebral,
sendo que, ao interferir em um sistema (conjunto de neurônios que se comunicam por meio
de um neurotransmissor), interfere-se em outros.

Nucleus accumbens

Córtex Pré-Frontal

Área tegmentar ventral

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Quadro 1 - Neurotransmissores e seu envolvimento com drogas de abuso

Aminoácidos inibitórios: ácido gama‑aminobutírico (GABA): está envolvido na ação dos


benzodiazepínicos e do álcool. Aminoácidos excitatórios: glutamato: tem importante ação na
abstinência do álcool, levando à morte celular e demência alcoólica, o que provavelmente
mudará em breve a conduta no tratamento da intoxicação alcoólica. Envolvido na ação da
cocaína e seus efeitos a longo prazo. Colinérgico: acetilcolina (ACh): a nicotina dá o nome a um
dos seus receptores e está envolvida na memória e na atenção. Adrenérgicos: adrenalina (ADr,
epinefrina) e noradrenalina (NA, norepinefrina): estão relacionados à ação das anfetaminas.
Dopaminérgico: dopamina (DA): é a base da ação da cocaína. Serotonérgico: serotonina (5HT,
5‑hidroxitriptamina): está relacionada a efeitos alucinatórios. Neurotransmissores peptídicos:
peptídeos opiáceos (Endorfina, encefalina e dinorfina): são importantes na ação dos opioides,
como morfina, e na regulação de outros sistemas. São responsáveis também pela euforia
causada pelo álcool, base da ação da naltrexona no tratamento do alcoolismo. Fonte:
Adaptação de Fonseca & Lemos (2011)

Os neurotransmissores atuam em receptores celulares no neurônio póssináptico, que são


proteínas ligadas à membrana celular. Ao fazerem isso, podem facilitar a abertura de canais
iônicos, ativar ou inibir enzimas, que formarão novas moléculas intracelulares, chamadas de
segundos mensageiros, e que atuarão no núcleo da célula receptora modificando a expressão
gênica. Esse mecanismo tem sido atribuído aos antidepressivos.

As drogas podem ser agonistas, antagonistas ou agonistas parciais:

as chamadas drogas agonistas seriam aquelas que produzem alguma reação ao interagir com
receptores; as drogas antagonistas são as que ocupam o receptor pós-sináptico, mas nada
fazem, impedindo a ação que o neurotransmissor faria; as drogas agonistas parciais são as
que funcionam menos que o neurotransmissor daquele receptor, contudo em sua ausência,
exercem um efeito agonista. Na sinapse, pode ocorrer ainda, que autorreceptores pré-
sinápticos atuem informando à célula a situação sináptica, e, quando ativados, reduzem a
liberação do neurotransmissor.

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As drogas podem alterar a plasticidade cerebral, mudar suas sinapses e até gerar novas
ligações entre os neurônios. Mas muitos dos mecanismos envolvidos não são conhecidos,
como é do efeito placebo, que consiste em sucesso terapêutico após administração ou mesmo
prescrição de uma droga, onde os efeitos obtidos não seriam provenientes de sua ação
propriamente dita. Como exemplo, temos o caso dos antidepressivos, cujo efeito placebo pode
ser responsável por até 40% das curas obtidas e seus efeitos serem de longa duração.
Possivelmente, atribuído às relações iniciais médico‑paciente, que podem confundir inclusive
na interpretação de resultados de um medicamento, no qual o efeito da melhora pode
desaparecer da mesma forma como surgiu. O início da ação tem relação direta com a via pela
qual a droga entrou no organismo. Embora haja relatos de uso de drogas por todas as vias
possíveis, algumas formas são mais frequentes: oral, endovenosa, inalação e aspiração. Os
mecanismos de entrada no organismo envolvem a passagem da droga através de membranas
de característica lipoproteica até atingir o sangue. Como passam dos compartimentos de
maior concentração para os de menor concentração, as drogas de menor peso molecular e as
mais lipossolúveis atravessam com maior facilidade. Entretanto, mecanismos ativos podem
atuar com gasto de energia, transportando contra o gradiente de concentração e moléculas
maiores. (FONSECA; LEMOS, 2011). As drogas psicoativas atravessam a barreira
hematoencefálica, a mais complexa camada lipoproteica que uma molécula tem de atravessar,
consequentemente chega ao sistema nervoso com facilidade, e, portanto, passando também
por outras barreiras, como a placenta, durante a gestação e afetando o desenvolvimento fetal,
podendo gerar inúmeras repercussões.

Quanto ao início do efeito, quanto menos barreiras a droga tenha que atravessar para atingir o
cérebro, mais rápido será seu efeito. O exemplo mais fácil de ser compreendido é o da
cocaína, quando a folha da coca é mascada (hábito milenar nos países andinos), é lentamente
absorvida e diminui a fadiga e a fome, efeitos que foram considerados positivos pelos
espanhóis na invasão da América, quando escravizaram o povo nativo. Contudo, ao ser
inalado, o tempo de início do efeito é bastante reduzido, e a diferença de estado droga/não
droga é perceptível, levando uma porcentagem considerável de usuários à dependência.

Figura 7 - Administração endovenosa Fonte: http://migre.me/dCU0e

Com relação às vias de administração, a velocidade de início da ação são maiores quando as
drogas são administradas por via endovenosa e fumada. Devido a vínculo mais imediato com a
corrente sanguínea, a cocaína e seus derivados entram facilmente, indo direto ao cérebro.

Mesmo quando fumada, a ação da droga é quase tão rápida quanto a endovenosa, o que
explica como o crack pode causar dependência, pois seus efeitos euforizantes são
extremamente potentes, podendo levar à dependência após o uso por períodos muito curtos.

A duração do efeito depende da eliminação: fases alfa e beta, ou seja, distribuição e excreção.
A questão da distribuição é mais importante para algumas drogas como os benzodiazepínicos,
a maconha e o álcool. Após atingirem o cérebro, ocorre seu efeito e obedecendo aos
gradientes de concentração, sai do cérebro e é distribuída para outros tecidos, dependendo de
fatores como, por exemplo, sua lipossolubilidade.

No caso do álcool, visto ser hidrossolúvel e a mulher ter mais gordura do que o homem, a
distribuição na mulher será menor e, portanto, os níveis séricos maiores, ou no diazepam, que
ocorre distribuição para gorduras, fazendo parecer que seu efeito sedativo termina
rapidamente após uma única administração. A fase de excreção pode demorar quando os
metabólitos também são ativos, como no caso do diazepam e do delta‑9‑tetraidrocanabinol
(THC), princípio ativo da maconha. A maioria das drogas psicoativas atua de acordo com os
sistemas de neurotransmissores clássicos, portanto, nas sinapses dos neurotransmissores ou
em seus receptores, o que levaria às adaptações em longo prazo. Por exemplo, a cocaína inibe
a recaptação de dopamina e serotonina e noradrenalina, mantendo esses transmissores por
mais tempo na fenda sináptica para serem utilizados.

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Do ponto de vista neuroquímico, segundo Fonseca e Lemos (2011, p. 28):

O desenvolvimento da dependência e a vulnerabilidade à recaída após a abstinência seriam o


resultado de processos neuroadaptativos no SNC que se opõem às ações agudas reforçadoras
das drogas de abuso. Essas alterações levam ao prejuízo dos mecanismos que medeiam o
reforço positivo e à emergência de estados afetivos diferentes e opostos ao reforço positivo,
como ansiedade, disforia e depressão na abstinência. Há evidências consideráveis implicando
perturbações na transmissão dopaminérgica e serotonérgica no núcleo acumbens, como
substratos potenciais para essas mudanças afetivas. Esses sistemas neuroquímicos que são
ativados pela cocaína e pela autoadministração de etanol estão deficientes na abstinência.
Além disso, evidências sugerem que o aumento do fator liberador de corticotrofina (CRF) no
núcleo central da amígdala é um mecanismo subjacente dos sintomas ansiogênicos,
semelhantes ao estresse, que ocorrem na abstinência e que são comuns a todas as drogas de
abuso. Pode existir, também, uma ligação entre anormalidades duradouras da função do eixo
hipotálamo‑hipófise‑adrenal e vulnerabilidade à recaída durante a síndrome de abstinência
protraída.

1.3 A Dependência Química

A utilização de drogas psicotivas e de suas repercussões no estado mental, como visto


anteriormente, acontece há milhares de anos e provavelmente acompanhará a humanidade
ao longo de sua história. Bordin et al. (2010), descrevem que há quatro modelos teóricos para
a compreensão da dependência química: o modelo de doença, o modelo de comportamento
aprendido, o modelo psicanalítico e o modelo familiar. O modelo de doença entende a
dependência como um “[...] transtorno primário e independente de outras condições: uma
herdada suscetibilidade biológica aos efeitos do álcool ou das drogas.” (BORDIN et al, 2010, p.
3). Compreende-se a dependência como qualquer outra doença crônica, como o diabetes. Por
essa teoria, as principais características da dependência são: a perda de controle do consumo
de álcool ou drogas; a negação do problema; o uso continuado, apesar das consequências
negativas observadas; e, um padrão típico de recaídas. Pelo modelo de comportamento
aprendido, como o próprio nome diz, são decorrentes de processos de aprendizagem. Tanto os
comportamentos, os

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pensamentos, os sentimentos e as mudanças fisiológicas que foram obtidas de forma


disfuncional, poderiam ser modificados pelas mesmas regras que os criaram. Fazem parte
desde modelo, quatro escolas de pensamento (BORDIN et al, 2010, p. 4): Condicionamento
clássico: explica como diversas situações ambientais tornam-se estímulos condicionados
capazes de gerar respostas (craving, por exemplo). Condicionamento operante: estes
teóricos acreditam que os padrões de comportamento são determinados por reforçadores
positivos ou negativos que ocorrem como resultado do comportamento. O abuso de álcool e
drogas seria influenciado pelos dois tipos de reforço: o uso produziria o reforço positivo da
euforia, do relaxamento, do bem-estar e removeria a ansiedade, a depressão, ou a tensão
(reforço negativo). Modelagem: envolve observação do comportamento de outras pessoas
como forma de desenvolver habilidades. Seria a imitação de comportamento. É vista como
uma forma rápida e eficiente de mudança. Esse modelo tem explicado a iniciação do abuso de
álcool ou drogas, especialmente em adolescentes, os quais imitariam os comportamentos dos
pais e colegas. Essa escola propõe a imitação de comportamento mais funcionais como
tratamento. Fonte: http://migre.me/dCUYF

Modelo cognitivo-comportamental: esse modelo acredita que as emoções e os


comportamentos são influenciados pelos processos de pensamento. Para esses teóricos,
determinados estímulos (internos ou externos) interagem com as vulnerabilidades do
indivíduo, com suas crenças disfuncionais a respeito de si mesmo e a respeito do uso de
substâncias e levam ao craving e ao comportamento de busca.

Pelo modelo psicanalítica tradicional, o comportamento de uso de álcool e drogas é uma


tentativa de se retornar a estados prazerosos, de outras fases do desenvolvimento. Pelas
abordagens mais contemporâneas, “[...] como uma forma que o indivíduo encontra de se
adaptar a seus déficits de autorregulação, que emergiram da privação ou de interações
disfuncionais na primeira infância” (idem, p. 4), que levaria a um processo de automedicação
(uso de drogas) em decorrência de deficiências como: déficits na tolerância aos afetos;
prejuízo nas habilidades de autoproteção; vulnerabilidade no desenvolvimento da autoestima;
e, problemas na construção dos relacionamentos e da intimidade.
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Os modelos familiares são subsidiados por estudos baseados: no modelo de doença familiar,
no modelo familiar sistêmico e no modelo comportamental. Estas teorias contribuíram com a
compreensão do “[...] conceito de equilíbrio e a importância das regras e metas que governam
os relacionamentos familiares e como elas contribuem para a manutenção do uso de
substâncias químicas.” (BORDIN et al, 2010, p. 5). A integração de todos os modelos descritos
anteriormente constitui o modelo biopsicossocial, na tentativa de compreender e possibilitar
formas de prevenção ou tratamento ao uso de drogas, de forma mais globalizada e refletindo
os diferentes aspectos do indivíduo. No entanto, a nossa tarefa é compreender os conceitos
desde a experimentação, uso, abuso e com isso conceituarmos a dependência química. Como
observamos ao longo do nosso texto, a utilização em algum momento da vida
(experimentação), é comum entre os indivíduos que compõem nossa sociedade, com
aproximadamente 22,8% da população utilizando algum tipo de droga ilícita durante a vida,
mas com apenas 4,5% da população em uso frequente (dependência). Contudo, se
considerarmos drogas lícitas, como o álcool e o tabaco, os mesmos valores sobem
respectivamente para 74,6% e 44% para utilização em algum momento da vida e de 38,3% e
18,4% para o uso de forma mais regular. (CARLINI et al, 2006). Também devemos lembrar que
o conceito, a percepção humana e o julgamento moral sobre o consumo de drogas evoluiu
constantemente, passando pela utilização por diversas razões ou aos limites de uso,
mobilização por questões científicas, morais ou legais da cultura atual. Duarte & Morihisa
(2008), lembram que:

Os aspectos relacionados à saúde só foram mais estudados e discutidos nos últimos dois
séculos, predominando, antes disso, visões preconceituosas sobre os usuários, vistos muitas
vezes como possuídos por forças do mal, portadores de graves falhas de caráter ou totalmente
desprovidos de força de vontade para não sucumbirem ao vício. (p. 42).

Muitos dos conceitos surgiram com base na relação humana com o álcool, por ser ele a droga
de uso mais difundido e antigo. Na primeira metade do século XX, nos EUA, a influência de
estudos sobre o alcoolismo, como os do cientista

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Jellinek, obtiveram apoio social em especial dentre os grupos de ajuda mútua, como os
Alcoólicos Anônimos (AA), e exerceram influência na Organização Mundial de Saúde (OMS) e
na Associação Médica Americana (AMA), que na década de 60, com o programa da saúde
mental da OMS se empenharam para melhorar o diagnóstico e a classificação de transtornos
mentais, assim como para a criação de termos relacionados à área. (DUARTE; MORIHISA,
2008). Esses trabalhos propiciaram a atual Classificação Internacional das Doenças (CID-10) e o
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), da Associação Psiquiátrica
Americana. As conceituações mais utilizadas na atualidade são baseadas nos critérios
propostos por Edwards e Gross, em 1976, para a dependência do álcool. Até então,
considerava-se que beber excessivamente seria uma falha de caráter e que o modelo de
doença “alcoolismo”, seria de variar entre ser ou não portador da doença. Ou seja, não
permitindo “graduações de gravidade dos quadros; modelo no qual a perda do controle, a
presença de sintomas de tolerância e abstinência determinam o indivíduo como sendo ou não
dependente” (DUARTE; MORIHISA, 2008, p. 43). Na Síndrome de Dependência do Álcool
descrita por Edwards & Gross (1976 apud DUARTE; MORIHISA, 2008, p. 44), os sinais e
sintomas se instalariam de forma progressiva: Estreitamento do repertório de beber: as
situações em que o sujeito bebe se tornam mais comuns, com menos variações em termos de
escolha da companhia, dos horários, do local ou dos motivos para beber, ficando ele cada vez
mais estereotipado à medida que a dependência avança. Saliência do comportamento de
busca pelo álcool: o sujeito passa gradualmente a planejar seu dia a dia em função da bebida,
como vai obtê-la, onde vai consumi-la e como vai recuperar-se, deixando as demais atividades
em plano secundário. Sensação subjetiva da necessidade de beber: o sujeito percebe que
perdeu o controle, que sente um desejo praticamente incontrolável e compulsivo de beber.
Desenvolvimento da tolerância ao álcool: por razões biológicas, o organismo do indivíduo
suporta quantidades cada vez maiores de álcool

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ou a mesma quantidade não produz mais os mesmos efeitos que no início do consumo.
Sintomas repetidos de abstinência: em paralelo com o desenvolvimento da tolerância, o
sujeito passa a apresentar sintomas desagradáveis ao diminuir ou interromper a sua dose
habitual. Surgem ansiedade e alterações de humor, tremores, taquicardia, enjoos, suor
excessivo e até convulsões, com risco de morte. Alívio dos sintomas de abstinência ao
aumentar o consumo: nem sempre o sujeito admite, mas um questionamento detalhado
mostrará que ele está tolerante ao álcool e somente não desenvolve os descritos sintomas na
abstinência porque não reduz ou até aumenta gradualmente seu consumo, retardando muitas
vezes o diagnóstico.
Figura 8 - Aumento do consumo para evitar a abstinência Fonte: http://migre.me/dD2k8

Reinstalação da síndrome de dependência: o padrão antigo de consumo pode se


restabelecer rapidamente, mesmo após um longo período de não-uso. Com base nesses
critérios, se trocarmos o álcool por qualquer outra droga com potencial de abuso ou até
mesmo pelos comportamentos que eventualmente podem sair do controle, percebemos
grande semelhança na natureza dos sintomas. Retomemos os termos utilizados com relação
ao consumo de drogas: Uso de drogas; Abuso de drogas; Dependência de drogas. Para
Bordin et al. (2010, p. 5):

Não existe uma fronteira clara entre uso, abuso e dependência. Poderíamos definir o uso
como qualquer consumo de substâncias,

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seja para experimentar, seja esporádico ou episódico; abuso ou uso nocivo como o consumo
de substâncias já associado a algum tipo de prejuízo (biológico, psicológico ou social); e por
fim, dependência como o consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios
para o usuário. Quanto ao uso de drogas, pode ser definido como a autoadministração de
qualquer quantidade de substância psicoativa. Esclarece ainda, o site Infodrogas (2013), que
no uso de drogas, o vínculo com a substância é frágil, em decorrência da frequência,
permitindo a manutenção de outras relações humanas. O que possibilitaria o uso de certas
substâncias, sem abusar delas. Como é a utilização de medicamentos sob prescrição médica e
em uso correto de sua dosagem. Quanto ao uso, a Organização Mundial de Saúde utiliza duas
classificações, uma temporal ligada à frequência e outra ligada ao padrão de uso. Quanto à
frequência: Uso na vida: quando a pessoa fez uso de qualquer droga pelo menos uma vez na
vida; Uso no ano: quando a pessoa utilizou drogas pelo menos uma vez nos últimos doze
meses; Uso no mês ou recente: quando a pessoa utilizou drogas pelo menos uma vez nos
últimos trinta dias. Quanto ao padrão de uso: Uso de risco: padrão de uso ocasional, repetido
e persistente, que implica em alto risco de danos futuros à saúde física ou mental do usuário,
mas que ainda não resultou em significantes efeitos mórbidos orgânicos ou psicológicos; Uso
prejudicial: padrão de uso que já cause dano físico e/ou mental à saúde. Quanto ao abuso de
drogas, pode ser entendido como um padrão de uso que aumenta o risco de consequências
prejudiciais para o usuário. Devido ao vínculo forte com a substância, interfere em suas
relações humanas. Todo abuso decorre do uso indevido, entretanto nem sempre o uso
indevido é um abuso, como tomar um medicamento erroneamente ou a automedicação, que
numa primeira instância não caracteriza uma dependência. Se considerarmos a questão da
legalidade de uma droga, as drogas ilícitas, de acordo com a lei,

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corresponderiam a um abuso passível de sanção legal, uma vez que tais usos são proibidos. O
mesmo se considerarmos drogas lícitas, como uso de bebidas alcoólicas quando associado ao
ato de dirigir, poderia ser considerado um abuso, visto que seria uma transgressão de leis
reguladoras do trânsito de veículos.

Fonte: http://migre.me/dD2Gd

Segundo o CID-10, o termo “uso nocivo” é aquele que resulta em dano físico ou mental,
enquanto no DSM-IV, “abuso” engloba também consequências sociais.

Quadro 2 - Critérios de abuso X uso nocivo da DSM-IV e CID-10

DSM-IV CID-10

ABUSO USO NOCIVO

Um ou mais dos seguintes critérios ocorrendo no período de 12 meses, sem nunca preencher
critérios para dependência:

1. Uso recorrente resultando em fracasso em cumprir obrigações importantes relativas a seu


papel no trabalho, na escola ou em casa. 2. Uso recorrente em situações nas quais isto
representa perigo físico. 3. Problemas legais recorrentes relacionados à substância. 4. Uso
continuado, apesar de problemas

1. Evidência clara de que o uso foi responsável (ou contribuiu consideravelmente) para dano
físico ou psicológico, incluindo capacidade de julgamento comprometida ou disfunção de
comportamento. 2. A natureza do dano é claramente identificável. 3. O padrão de uso tem
persistido por pelo menos um mês ou tem ocorrido repetidamente dentro de um período de
12 meses.
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sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos efeitos da


substância.

4. Não satisfaz critérios para qualquer outro transtorno relacionado à mesma substância no
mesmo período (exceto intoxicação aguda). Fonte: Duarte & Morihisa (2008, p. 46)

O uso nocivo se configuraria como um padrão de consumo de qualquer substância psicoativa


que causa dano para a saúde.

O dano pode ser físico (por exemplo, hepatite secundária ao uso de injeção de drogas) ou
mental (por exemplo, episódios depressivos secundários à ingestão abundante de álcool).
Comumente, o uso nocivo tem consequências sociais adversas; no entanto apenas essas não
são suficientes para justificar o diagnóstico de uso nocivo (OMS, 2006).

A dependência, por sua vez, apesar dos inúmeros estudos e teorias que os norteiam, não tem
os limites assim tão claros. A dependência faz parte da natureza do homem, pois, durante todo
o desenvolvimento humano, o indivíduo se compreende entre estados de dependência. Desde
os processos de alimentação ou de cuidados, durante a vida, o ser humano cria relações de
dependência com objetos, pessoas e situações. Enquanto algumas dessas relações são
importantes para o bem-estar, como as relações de cuidado mãe-bebê ou filho-pais durante o
envelhecimento, outras relações causam prejuízo ou perda de autonomia, como o excesso de
alimentação ou relações afetivas distorcidas. A dependência química se caracteriza pelo
vínculo extremo com a droga, onde essa é priorizada em detrimento de outras relações e na
ausência de seu consumo, se associam sintomas penosos e adversos. (INFODROGA, 2013).
Toda dependência é constituída de três elementos: Uma substância psicoativa com
características farmacológicas peculiares; O indivíduo com suas características de
personalidade e sua singularidade biológica; Um contexto sociocultural dinâmico e
polimorfo, onde se realiza o encontro entre o indivíduo e o produto. Existem dois tipos de
dependência: a dependência física e a dependência psíquica.
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A dependência física ocorre quando uma droga é utilizada em “quantidades e frequências


elevadas e o organismo se defende estabelecendo um novo equilíbrio em seu funcionamento
e adaptando-se à droga de tal forma que, na sua falta, funciona mal”. (INFODROGA, 2013).
Tanto que, quando o uso da droga é interrompido, sintomas físicos são observados, o que
pode gerar a síndrome de abstinência. A dependência psíquica ocorre quando a pessoa é
mobilizada por um impulso ou desejo incontrolável de usar uma droga à qual se habituou. A
droga produz sentimentos diversos, como de satisfação, e isso é fundamental para a instalação
da dependência, pois exige o uso periódico ou contínuo da droga para produzir o prazer ou
evitar o desconforto. Na tabela seguinte, encontra-se uma comparação entre os critérios de
dependência referidos nas classificações da DSM-IV e CID-10 para identificar o dependente de
substância psicoativa.

Quadro 3 - Critérios para dependência da DSM-IV X CID-10 DSM-IV CID-10

Padrão mal adaptativo de uso, levando a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativos,


manifestados por três ou mais dos seguintes critérios, ocorrendo a qualquer momento no
período de 12 meses. 1. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: (a) uma
necessidade de quantidades progressivamente maiores para adquirir a intoxicação ou efeito
desejado; (b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade. 2.
Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: a) síndrome de abstinência
característica para a substância; b) a mesma substância (ou uma substância estreitamente
relacionada) é consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência.

Três ou mais das seguintes manifestações ocorrendo conjuntamente por, pelo menos, um mês
ou, se persistirem por períodos menores que um mês, devem ter ocorrido juntas de forma
repetida em um período de 12 meses. 1. Forte desejo ou compulsão para consumir a
substância. 2. Comprometimento da capacidade de controlar o início, término ou níveis de
uso, evidenciado pelo consumo frequente em quantidades ou períodos maiores que o
planejado ou por desejo persistente ou esforços infrutíferos para reduzir ou controlar o uso. 3.
Estado fisiológico de abstinência quando o uso é interrompido ou reduzido, como evidenciado
pela síndrome de abstinência característica da substância ou pelo uso desta ou similar para
aliviar ou evitar tais sintomas. 4. Evidência de tolerância aos efeitos,

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3. A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período
mais longo do que o pretendido. 4. Existe um desejo persistente ou esforços mal sucedidos no
sentido de reduzir ou controlar o uso. 5. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a
obtenção e utilização da substância ou na recuperação de seus efeitos. 6. Importantes
atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas. 7. O uso
continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou
recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância.

necessitando de quantidades maiores para obter o efeito desejado ou estado de intoxicação


ou redução acentuada destes efeitos com o uso continuado da mesma quantidade. 5.
Preocupação com o uso, manifestado pela redução ou abandono das atividades prazerosas ou
de interesse significativo por causa do uso ou do tempo gasto em obtenção, consumo e
recuperação dos efeitos. 6. Uso persistente, a despeito de evidências claras de consequências
nocivas, evidenciadas pelo uso continuado quando o sujeito está efetivamente consciente (ou
espera-se que esteja) da natureza e extensão dos efeitos nocivos.

Fonte: Duarte & Morihisa (2008, p. 47)

Contudo, para Bordin et al. (2010), existiria uma evolução progressiva, iniciando-se por uma
fase de uso, com evolução de alguns indivíduos para o estágio de abuso, e desses alguns se
tornariam dependentes. Prosseguindo que:

Estudos populacionais demonstram que das pessoas que fazem uso nocivo do álcool, 60% não
progredirão para a dependência nos próximos dois anos, 20% voltarão para o uso considerado
normal e 20% ficarão dependentes. (p. 5).

Outros conceitos podem ser acrescidos aos demais (OMS, 2006), como a intoxicação, o
potencial de dependência e os diferentes tipos de síndromes de abstinência nos diferentes
tipos de drogas:

NOTA IMPORTANTE Inúmeros estudos apontam que quanto mais cedo for a exposição a
álcool, tabaco, ou outras drogas de abuso, maior a possibilidade de desenvolvimento de
problemas que levariam à dependência. O que justificaria as ações de prevenção destinadas à
infância e à adolescência.

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• Intoxicação: situação consequente à administração de uma substância psicoativa e que


resulta em perturbações do nível da consciência, da cognição, da percepção, do juízo crítico,
do afeto, do comportamento ou de outras funções e reações psicofisiológicas. As perturbações
estão relacionadas com a substância devido aos efeitos farmacológicos agudos e das reações
aprendidas relativos à substância e desaparecem completamente com o tempo, exceto
quando houver surgido lesões teciduais ou outras complicações. O termo é mais comumente
utilizado em relação ao uso de álcool; seu equivalente da linguagem diária é “embriaguez”. A
intoxicação pelo álcool manifesta-se por rubor facial, fala empastada, marcha instável, euforia,
hiperatividade, volubilidade, perturbação da conduta, diminuição do tempo de reação, juízo
crítico perturbado, incoordenação motora, insensibilidade ou estupor. • Potencial de
dependência: a propensão que tem uma substância para gerar um estado de dependência,
como consequência de seus efeitos fisiológicos ou psicológicos. O potencial de dependência é
determinado pelas propriedades farmacológicas intrínsecas da substância, os quais podem ser
avaliados em animais e em seres humanos através de procedimentos laboratoriais. • Síndrome
de abstinência: grupo de sintomas de configuração e gravidade variáveis que ocorrem após a
cessação ou redução do uso de uma substância psicoativa que vinha sendo usada
repetidamente e geralmente após um longo período e/ou em altas doses. A síndrome pode ser
acompanhada por sinais de alterações fisiológicas. A síndrome de abstinência é um dos
indicadores da síndrome de dependência. Também é uma característica distintiva do
significado mais estrito do termo dependência. O início e o curso da síndrome de abstinência
são limitados no tempo e são relacionados ao tipo de substância e à dose que vinham sendo
usadas imediatamente antes da interrupção ou da redução do uso. Tipicamente, as
características da síndrome são opostas às da intoxicação aguda. A síndrome de abstinência do
álcool é caracterizada por tremores, sudorese, ansiedade, agitação, depressão, náusea e mal-
estar. Ocorre entre 6-48 horas após a interrupção do consumo de álcool e, quando não
complicada, termina em 2-5 dias. Pode complicar-se por convulsões tipo grande mal e
progredir para um delirium (conhecido como delirium tremes). As síndromes de abstinência de
sedativos têm várias características comuns com a abstinência do álcool, mas podem também
incluir dores musculares e espasmos, distorções perceptivas e distorções da imagem corporal.
A abstinência de opióides é acompanhada de rinorreia (secreção nasal), lacrimejamento
(excesso de formação de lágrimas), dores musculares, calafrios, arrepios e, após 24-48 horas,
cãibras abdominais e musculares. O comportamento de busca da droga é proeminente e
continua após a diminuição dos sintomas físicos. A abstinência de estimulantes (crash) não é
tão bem definida quanto às síndromes de abstinência de substâncias depressoras do sistema
nervoso central; a depressão é proeminente e acompanhada por mal-estar, inércia e
instabilidade.

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Exercício 4

1. Qual das alternativas completa corretamente o enunciado a seguir? A tolerância é definida


como uma necessidade ______maior_ de quantidade de drogas para obter-se o efeito
desejado e com menor efeito no uso __continuo_______ da mesma quantidade. a) menor,
maior b) maior, contínuo c) menor, contínuo d) maior, menor

2. Sobre a dependência, assinale a alternativa correta: a) O vínculo não é extremo à droga,


mantendo-se todas as outras relações sociais e o cuidado. b) Uso de experimentação de uma
substância psicoativa. c) A dependência química independe das características psicoativas de
uma droga. d) Quando a pessoa já fez uso de qualquer droga pelo menos uma vez durante sua
vida. e) Alívio dos sintomas da abstinência quando se aumenta o consumo.

1.4 Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso e abuso de álcool e outras drogas A
psicopatologia é definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento
mental do ser humano; observados por vivências, estados mentais e padrões
comportamentais descritos sob a forma de sintomas, didaticamente divididos dentre as
funções, que quando organizados caracterizam e identificam um determinado transtorno
mental. Em geral, por meio da entrevista psiquiátrica -- anamnese, exame psíquico e súmula
psicopatológica – é que são identificados os principais transtornos mentais que podem ser
codificados com base em duas ferramentas normativas: a Classificação de Transtornos Mentais
e de Comportamento da Classificação Internacional de Doenças - CID-10 (OMS, 1993) e/ou
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV da Associação Americana de
Psiquiatria (APA, 2006).

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Segundo o manual da APA (2006), durante a entrevista devem ser coletados dados referentes
à história do uso de substâncias psicoativas, tanto no passado como atualmente.
Questionando-se drogas lícitas e ilícitas: álcool, cafeína, nicotina, maconha, cocaína, opióides,
agentes sedativo-hipnóticos, estimulantes, solventes, anfetaminas, esteróides androgênicos e
alucinógenos. Todas as informações que forem relevantes devem incluir:

A quantidade e a frequência do uso, via de administração, padrão de uso (p. ex., episódico ou
contínuo, solitário ou social), consequências funcionais, interpessoais ou legais, fenômenos de
tolerância e de abstinência, qualquer associação temporal entre o uso de substâncias e a
doença psiquiátrica atual e quaisquer benefícios alegados do uso. Também é importante
indagar a respeito de tratamentos anteriores para transtornos por uso de substâncias, assim
como sobre períodos de abstinência, incluindo sua duração, época de ocorrência e fatores que
contribuíram para a abstinência ou para a recaída. (APA, 2006, p. 25-26).

Fonte: http://migre.me/dD40j Contudo, devemos lembrar que a obtenção detalhada do uso


de substâncias psicoativas muitas vezes exige abordagem gradual e não-confrontativa do
tema, com múltiplas perguntas direcionadas à mesma informação por caminhos diferentes
e/ou o uso de gírias para drogas, padrões de uso e efeitos. Muitos pacientes tendem a
subestimar seu nível de consumo de substâncias e/ou as consequências funcionais adversas
relacionadas ao uso delas. Concomitantemente, a entrevista de outros membros da família
pode ser útil, tanto para a confrontação de dados e percepção dos problemas, como para a
verificação de padrões de uso de outros familiares ou constelação de conviventes. Ao final,
com base nas ferramentas de classificação, encontramos códigos onde são identificados os
principais transtornos mentais ligados ao uso de

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substâncias psicoativas. A seguir são descritos os codificadores com base no CID10:

Quadro 4 - Codificadores no CID-10 relacionados a substâncias psicoativas Transtornos mentais


e comportamentais devidos ao uso de substâncias psicoativas F10 Transtornos mentais e
comportamentais devidos ao uso de álcool F11 Transtornos mentais e comportamentais
devidos ao uso de opiáceos F12 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de
canabinóides F13 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de sedativos e
hipnóticos F14 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de cocaína F15
Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de outros estimulantes, inclusive a
cafeína F16 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de alucinógenos F17
Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de fumo F18 Transtornos mentais e
comportamentais devidos ao uso de solventes voláteis F19 Transtornos mentais e
comportamentais devidos ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras substâncias
psicoativas

Fonte: CID-10 (OMS, 1993)

Como vimos anteriormente, ao longo de nossa disciplina, o diagnóstico de dependência de


uma substância requer: Presença de compulsão para o consumo; Aumento da tolerância;
Síndrome da abstinência; Alívio ou evitação da abstinência pelo aumento do consumo; e,
Consumo da substância em detrimento de outras áreas de interesse pessoal (relações afetivas,
trabalho, por exemplo). Engel et al. (2006, p. 23), explicam que:

As complicações clínicas orientam um critério de gravidade da dependência. Abordá-las de


modo preciso e precoce é importante, entre outros motivos, pelo fato de que pode estimular o
paciente a buscar a abstinência. Muitos pacientes não admitem a relação entre

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seu consumo de drogas e as complicações clínicas, mas aceitam ser submetidos a tratamento
por conta das mesmas.

Simultaneamente ao transtorno ligado à dependência, pode haver a coexistência de dois ou


mais transtornos mentais, denominada de comorbidade. Às vezes motivado pelo uso de duas
ou mais substâncias (álcool e cocaína) e/ou outro transtorno mental, como depressão e uso de
cocaína. Como são inúmeros os transtornos por substâncias psicoativas, selecionamos apenas
o uso da cocaína como exemplo de enquadre em nossa disciplina. As referências bibliográficas
ao final e os sites sugeridos podem ajudar o aluno na busca de maiores informações com
relação a outras substâncias psicoativas.
1.4.1 Transtornos Mentais e Comportamentais devidos ao uso da Cocaína

A cocaína é uma das drogas ilícitas mais aditivas e perigosas, atualmente consumida por 0,3%
da população mundial. Segundo o Levantamento Brasileiro sobre Drogas (BRASIL, 2009), a
prevalência de seu uso durante algum momento da vida chega a 2,9%, mas é inferior ao do
Chile (5,3%) ou nos EUA (14,2%), maior na região sudeste (3,9%) e menor nas regiões norte e
nordeste (1%). O uso de cocaína no Brasil varia bastante conforme sexo e idade: situa-se em
5,4% entre homens e 1,2% entre mulheres. A faixa etária de maior uso ocorre entre 25 e 34
anos de idade, na qual atinge a porcentagem de 5,2%. Entre os adolescentes de 12 a 17 anos,
0,5% relatam já terem experimentado essa droga. (BRASIL, 2009). Quanto ao uso do crack,
estima-se que 0,7 de pessoas que fizeram uso em algum momento de sua vida, com valores
entre 0,1% e 02% de uso frequente ou pesado. A prevalência entre os homens é duas vezes
maior do que entre as mulheres, com variações relacionadas à idade, com maior incidência na
população de adultos jovens. É uma substância extraída de uma planta originária na América
do Sul, popularmente conhecida como coca (Erythroxylon coca), e, transformado
posteriormente em vários subprodutos: pó (cloridrato de cocaína), crack e merla.

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A cocaína pode ser consumida por várias vias de administração, com rápida e eficaz absorção
pelas mucosas oral, nasal e pulmonar. Na forma de pó pode ser aspirado ou dissolvido em
água e injetado na corrente sanguínea, e na forma de pedra, é fumada, o crack. Existe ainda a
pasta de coca, um produto menos purificado, que também pode ser fumado, conhecido como
merla. O mecanismo de ação se dá principalmente pela inibição da recaptação de dopamina,
mas há também bloqueio da recaptação da serotonina e da noradrenalina. Devido à cocaína
também apresentar propriedades de anestésico local que independem de sua atuação no
cérebro, foi uma das indicações de uso médico da substância no passado, mas hoje em dia este
uso é obsoleto. Seus efeitos têm início rápido e duração breve. No entanto, são mais intensos
e fugazes quando a via de utilização é a intravenosa ou quando o indivíduo utiliza o crack ou
merla. Efeitos do uso da cocaína (NICASTRI, 2008): Sensação intensa de euforia e poder;
Estado de excitação; Hiperatividade; Insônia; Falta de apetite; Perda da sensação de
cansaço. A euforia desencadeada reforça e motiva, na maioria dos indivíduos, o desejo por um
novo episódio de consumo. Quanto mais rápido o início da ação, quanto maior a sua
intensidade dos efeitos, e quanto menor a duração destes, maior a chance de o indivíduo
evoluir para situações de uso nocivo e dependência. Portanto, a via de administração é um
importante fator de risco para um comportamento de uso prejudicial e, apesar de não serem
descritas tolerância nem síndrome de abstinência inequívoca, observa-se frequentemente o
aumento progressivo das doses consumidas. No caso do crack, os indivíduos desenvolvem
dependência severa rapidamente, muitas vezes em poucos meses ou mesmo algumas
semanas de uso.

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Figura 9 - Sintomas persecutórios Fonte: http://migre.me/dD4pW

Com o uso de doses maiores, observam-se outros efeitos, como irritabilidade, agressividade e
até delírios e alucinações (psicose cocaínica). Pode ser observado hipertermia corporal e até
crises convulsivas, que podem levar à morte se esses sintomas forem prolongados. Ocorrem,
ainda, dilatação pupilar, elevação da pressão arterial e taquicardia (efeitos que podem levar
até a parada cardíaca, uma das possíveis causas de morte por overdose). Deve-se suspeitar de
uso de cocaína em indivíduos que apresentem mudanças em seu comportamento habitual,
tais como irritabilidade, dificuldades de concentração, comportamento compulsivo, insônia
severa e perda de peso. Assim como dificuldade para executar tarefas esperadas associadas ao
trabalho e às atividades domésticas. Os critérios para dependência de cocaína são
semelhantes àqueles para outras substâncias psicoativas: desejo compulsivo de consumo,
tolerância, abstinência, abandono progressivo de outras atividades, persistência do uso a
despeito do prejuízo, entre outros. Seu uso pode produzir complicações agudas ou crônicas. As
manifestações agudas decorrem de seu efeito estimulante, com ação periférica ou central,
tanto psíquicos quanto físicos. Em geral, ocorre a euforia, aumento do estado de vigília,
aumento da autoestima, melhor desempenho em atividades físicas e psíquicas. Pode haver
delírios persecutórios e alucinações, que melhoram após cessar o efeito do uso. Enquanto os
efeitos físicos estão ligados à hiperatividade do sistema autonômico: taquicardia, hipertensão
arterial, taquipneia, hipertermia, sudorese, tremor leve em extremidades, tiques, midríase,
espasmos musculares e vasoconstrição (ENGEL et al, 2006).

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Pode ocorrer intoxicação aguda e overdose com uso de doses maiores, produzindo
irritabilidade, sintomas maníacos, agitação e comportamento sexual compulsivo. As
complicações clínicas estão ligadas à ação excessiva do sistema nervoso simpático, que pode
gerar a falência de um ou mais órgãos. Como se trata de uma emergência clínica, há um alto
risco de morte do usuário, em especial pelas alterações no sistema cardiovascular e sistema
nervoso central. Os sinais de abstinência, após a cessação do uso ou pela intoxicação aguda,
são disforia (mau humor), anedonia (incapacidade de sentir prazer), ansiedade, irritabilidade,
fadiga, hipersonolência e, ocasionalmente, agitação. Com possibilidade até de ideação suicida.
Esses sinais melhoram em até 24 horas, quando o uso de cocaína for leve ou moderado, mas
podem durar até uma semana, quando o consumo é pesado. Existem evidências de que o uso
dessa substância seja um fator de risco para o desenvolvimento de infartos do miocárdio e
acidentes vasculares cerebrais em indivíduos relativamente jovens. Há relatos ainda, de
convulsões do tipo tônicoclônicas e as mortes associadas à ingestão de altas doses de cocaína,
além dos fatores descritos acima, se associam à depressão respiratória. Como a maioria das
drogas, seu consumo durante a gravidez pode estar associado ao baixo peso do recém-nascido
ao nascer, abortos e déficits cognitivos. Inúmeras comorbidades estão associadas ao uso de
substâncias psicoativas, como hipoglicemia e distúrbios metabólicos. Pode haver transtornos
de humor, “[...] sendo que sintomas maníacos frequentemente ocorrem na intoxicação,
enquanto que sintomas depressivos estão mais associados à abstinência” (ENGEL et al, 2006,
p. 25). Os sintomas psicóticos ocorrem na intoxicação, com a presença de delírios
persecutórios e alucinações. Não há um medicamento eficaz para proporcionar o alívio dos
sintomas da abstinência. “O maior obstáculo a ser superado no tratamento dos transtornos
relacionados à cocaína é a intensa avidez do paciente pela droga” (ENGEL et al, 2006, p. 26),
além de reforçadores negativos por problemas familiares e no trabalho. Intervenções
psicológicas individuais ou em grupo, com a família e grupos de apoio como os narcóticos
anônimos podem contribuir para o tratamento. Apesar de ser considerado como uma nova
droga, o crack é uma nova maneira de se preparar e usar a cocaína (em formato de pedra e
consumido por via oral, fumado em cachimbo) e popularizado na década de 1990 por ter um
preço mais acessível. Contudo, com menor quantidade de substância ativa, e os efeitos estão
ligados à liberação da cocaína diretamente na corrente sanguínea através dos pulmões. Fonte:
http://migre.me/dD8ed

A merla (mela, mel ou melado) é a cocaína apresentada sob a forma de base ou pasta, um
produto ainda sem refino e muito contaminado com as substâncias utilizadas na extração. É
preparada de forma diferente do crack, mas também é fumada. Os efeitos do crack e da merla,
os riscos associados a seu uso e o potencial de dependência são basicamente os mesmos da
cocaína em pó. Segundo o site “Crack, é possível vencer” (BRASIL, 2013). O usuário de crack
apresenta mudanças evidentes de hábitos, comportamentos e aparência física. Um dos
sintomas físicos mais comuns que ajudam a identificar o uso da droga é a redução drástica do
apetite, que leva à perda de peso rápida e acentuada – em um mês de uso contínuo, o usuário
pode emagrecer até 10 quilos. Fraqueza, desnutrição e aparência de cansaço físico também
são sintomas relacionados à perda de apetite. É comum ainda que o usuário tenha insônia
enquanto está sob o efeito do crack, assim como sonolência nos períodos sem a droga. Os
períodos de utilização da droga prolongam-se até três dias e noites, onde atividades como
alimentação, higiene pessoal e sono são abandonadas, comprometendo gravemente o estado
físico do usuário. Sinais físicos como queimaduras e bolhas no rosto, lábios, dedos e mãos
podem ser sinais do uso da droga, em função da alta temperatura que a queima da pedra
requer. Falta de atenção e concentração são sintomas comuns, que levam o usuário de crack a
deixar de cumprir atividades rotineiras, como frequentar trabalho e escola ou conviver com a
família e amigos.

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O usuário de crack também pode experimentar alucinações, sensações de perseguição


(paranoia) e episódios de ansiedade que podem culminar em ataques de pânico, por exemplo.
Isolamento e conflitos familiares são comuns, e devido à dependência rápida, o usuário pode
passar a furtar objetos de valor de sua própria casa ou trabalho para comprar e consumir a
droga.

UNIDADE 2 - POLÍTICA DE ATENÇÃO INTEGRAL AOS USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

O consumo de drogas e os transtornos mentais provenientes do uso abusivo e da dependência


são uma das preocupações mais complexas de nossos tempos, pois exigem que o governo e a
sociedade partilhem a responsabilidade na busca de alternativas que levem a uma melhor
abordagem para a resolução desta problemática. Nosso objetivo com esta unidade é:
conhecermos a história das políticas públicas sobre álcool e drogas no Brasil e a atual situação
no país; a discussão sobre a prevenção ao uso de drogas, o tratamento da dependência
química no âmbito da saúde pública, assim como questões subjacentes como a redução de
danos e reinserção social.

2.1 Política Nacional sobre Drogas

A construção da agenda do atual governo para responder a este desafio foi fundamentada pela
integração das políticas setoriais com a política nacional sobre drogas, a descentralização das
ações, o estabelecimento de parcerias com a comunidade científica e organizações sociais,
além da ampliação e do fortalecimento da cooperação internacional voltados ao tema (SENAD,
2008). A estratégia de governo está definida em três eixos de atuação, articulados e
coordenados pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD). As ações emanadas
destes eixos, desenvolvidas em parceria com diversos atores do governo e da sociedade,
permitem: A realização de um diagnóstico situacional sobre o consumo de drogas, seu
impacto nos diversos domínios da vida da população e as alternativas existentes. Este
diagnóstico vem se consolidando, por meio de estudos e pesquisas de abrangência nacional
(vide unidade 1), na população geral e naquelas específicas que vivem em maior
vulnerabilidade para o consumo e o tráfico de drogas. A capacitação dos atores sociais que
trabalham diretamente com o tema drogas, e também de multiplicadores de informações de

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prevenção, tratamento e reinserção social. Esse esforço tem permitido a formação e a


articulação de uma ampla rede de proteção social, formada por conselheiros municipais,
educadores, profissionais das áreas de saúde, de segurança pública, entre outros. A
implantação de projetos estratégicos de alcance nacional que ampliam o acesso da população
às informações, ao conhecimento e aos recursos existentes na comunidade. Também no
cenário internacional, o Brasil além de participar dos principais fóruns de discussão sobre o
tema vem fomentando a cooperação por meio de acordos com organismos internacionais e
com países das Américas, Europa e África.

Figura 10 - Esquema do Sistema Nacional de Política de Drogas Fonte: http://migre.me/dDbNv

Em uma perspectiva histórica, Garcia et al. (2008), relatam que o país tem regulamentação
sobre as drogas desde 1938 (Decreto-Lei de Fiscalização de Entorpecentes n° 891/38,
posteriormente incorporada ao artigo 281 do Código Penal de 1941). O Código Penal Brasileiro
surge na gestão do Presidente Getúlio Vargas (1930-1945), focado nas preocupações com o
trabalhador e do papel do governo em desenvolver ações para conter o comportamento
desviante.

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O discurso médico da época era o da normatização e a “[...] concepção delineada no Código


configurava uma perspectiva criminalizadora do consumo de drogas (classificadas como
ilegais)” (p. 268), e a preocupação era elaborar estratégias de controle sobre a população
trabalhadora. Em geral, essas estratégias eram por meio de: palestras e conferências,
propaganda (cartazes, folhetos, etc.) e Semana Antialcoólica. Apontado pelos mesmos autores
como os primórdios da educação antialcoólica em contraposição da inércia estatal nas
primeiras décadas do século XX, apoiada por instituições científicas, religiosas, educacionais,
imprensa, clubes desportivos, entre outras. “É nesse cenário que as demandas configuradas a
partir das ligas pela temperança (associações puritanas organizadas contra o álcool, jogo e a
prostituição) são absorvidas rapidamente pelo Estado.” (RODRIGUES, 2002 apud GARCIA et al.,
2008, p. 269). As políticas de enfrentamento à questão das drogas, principalmente a partir da
década de 1960, evidenciam ações baseadas essencialmente na redução da oferta de drogas,
restringindo-se ao campo jurídico e/ou médico. Nesse período prevaleceram ações
governamentais de enfoque repressivo, que buscou controlar o tráfico e o consumo de
substâncias psicoativas, enviando para a prisão tanto traficantes como usuários. A adoção da
política proibicionista trouxe por um lado, a clandestinidade de determinadas substâncias
psicoativas, enviando para a prisão tanto traficantes como usuários. A adoção da política
proibicionista trouxe por um lado, a clandestinidade de determinadas substâncias; por outro,
não conseguindo evitar seu uso e ainda dificultar o seu controle. Fonte:
http://migre.me/dDcdk As políticas de enfrentamento à questão das drogas, principalmente a
partir da década de 1960, evidenciam ações baseadas essencialmente na redução da oferta de
drogas, restringindo-se ao campo jurídico e/ou médico. Nesse período prevaleceram ações
governamentais de enfoque repressivo, que buscou controlar o tráfico e o consumo de
substâncias psicoativas, enviando para a prisão tanto traficantes como usuários. A adoção da
política proibicionista trouxe por um lado, a

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clandestinidade de determinadas substâncias; por outro, não conseguindo evitar seu uso e
ainda dificultar o seu controle. Surgem inúmeras estruturas governamentais, como o Conselho
de Prevenção Antitóxico do Ministério da Saúde, a Comissão Nacional de Fiscalização de
Entorpecentes Tóxicos do Conselho Nacional de Saúde, o Conselho de Prevenção Antitóxicos
do Ministério da Educação e Cultura e o Sistema Nacional de prevenção, Fiscalização e
Repressão vinculado ao Ministério da Justiça. Todos com funções diversas, desde o
levantamento de dados, informação e orientação, assessoramento e articulação entre as
diversas esferas públicas. Diversas alterações legislativas no curso da história brasileira
culminaram na Lei 6368/76, estabelecida no governo militar do presidente Ernesto Geisel.
Após três anos de discussão por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso
Nacional, aberta após a morte de duas crianças, vítimas de crimes que tinham relação com as
drogas. Na década de 1980, surgem os Conselhos Antidrogas (Decreto 85.110), chamados
Conselhos de Entorpecentes (Conselho Federal – CONFEN, Conselhos Estaduais – CONENS e
Conselhos Municipais – COMENS), que contribuíram para conduzir o tema das drogas no Brasil
focado no binômio abstinência-repressão. Na década de 1990, no governo de Fernando
Henrique Cardoso, substituise o Sistema anterior, criando-se o Sistema Nacional Antidrogas
(SISNAD) e a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) diretamente vinculada ao Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência da República (GARCIA et al., 2008). Até o ano de 1998,
o Brasil não contava com uma política nacional específica sobre o tema da redução da
demanda e da oferta de drogas. Foi a partir da realização da XX Assembleia Geral Especial das
Nações Unidas, na qual foram discutidos os princípios diretivos para a redução da demanda de
drogas, aderidos pelo Brasil, que foram tomadas as primeiras medidas. O então Conselho
Federal de Entorpecentes (CONFEN) foi transformado no Conselho Nacional Antidrogas
(CONAD). A criação da SENAD1 expressou uma estratégia política do governo brasileiro em
mostrar à comunidade internacional uma postura de combate às drogas como prioridade de
governo. Em dezembro de 1998, foi realizado em Brasília o I Fórum Nacional Antidrogas com a
finalidade de elaborar a Política Nacional Antidrogas (PNAD).

1 De acordo com a Medida Provisória n° 1.669 e Decreto n° 2.632 de 19 de junho de 1998.

Três anos depois, em dezembro de 2001, por ocasião do II Fórum Nacional Antidrogas e com
base nos subsídios provenientes do I Fórum, a PNAD foi formalmente elaborada. Então, em 26
de agosto de 2002, por meio de Decreto Presidencial, foi instituída a Política Nacional
Antidrogas2 (DUARTE, 2008). Em 2003, em seu primeiro mandato presidencial, o Presidente
Lula, em mensagem ao Congresso Nacional, aponta para a necessidade de construção de uma
nova agenda nacional para a redução da demanda de drogas no País, que viesse a contemplar
três pontos principais (DUARTE, 2008, p. 176): Integração das políticas públicas setoriais com
a Política Nacional Antidrogas, visando ampliar o alcance das ações; Descentralização das
ações em nível municipal, permitindo a condução local das atividades da redução da demanda,
devidamente adaptadas à realidade de cada município; Estreitamento das relações com a
sociedade e com a comunidade científica. Ao longo dos primeiros anos de existência da
Política Nacional Antidrogas, o tema drogas manteve-se em pauta e a demanda pelo
aprofundamento do assunto também. Assim, foi necessário reavaliar e atualizar os
fundamentos da PNAD, levando em conta as transformações sociais, políticas e econômicas
pelas quais o País e o mundo vinham passando. Segundo Duarte (2008, p. 177):

A SENAD, como órgão responsável por articular, coordenar e integrar as ações intersetoriais do
governo na área de redução da demanda de drogas, além de implementar, acompanhar e
fortalecer a Política de drogas no País, desenvolveu, em 2004, um processo para o
realinhamento da Política vigente. Para isso, uma série de oito eventos foi realizada: um
Seminário Internacional de Políticas Públicas sobre Drogas, seis fóruns regionais e o Fórum
Nacional sobre Drogas. Devido à intersetorialidade do tema, o processo de realinhamento da
PNAD contou com representantes do governo federal, dos governos estaduais, municipais e do
Distrito Federal, da comunidade científica, das organizações não governamentais, dos
educadores, das lideranças comunitárias, dos profissionais da área da saúde e assistência
social e da segurança pública e justiça.
Contando com a participação popular e subsidiada por dados epidemiológicos e científicos
atualizados, a política nacional passa a chamar-se

2 Decreto nº 4.345 de 26.08.2002, que instituiu a Política Nacional Antidrogas.

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Política Nacional sobre Drogas (PNAD). Após aprovação pelo Conselho Nacional Antidrogas
(CONAD), em 23 de maio de 2005, por meio da Resolução nº3/GSIPR/CH/CONAD. Onde o
prefixo “anti” da Política Nacional Antidrogas foi substituído pelo termo “sobre drogas”, de
acordo com novas terminologias, baseadas no posicionamento do governo e na demanda
popular (DUARTE, 2008; GARCIA et al., 2008). Em 2006, a SENAD assessorando parlamentares
no processo, aprovaram a Lei n° 11.343 de 23.08.2006, que instituiu o Sistema Nacional de
Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), substituindo a legislação anterior, de trinta anos
atrás, que se mostrava obsoleta e em desacordo com os avanços científicos na área e com as
transformações sociais. Mobilizado pelo modelo americano que demonstrava “[...] que o custo
de programas de prevenção do uso de drogas e de tratamento de dependentes é muito mais
barato (entre 10 a 20 vezes) e eficaz do que a repressão externa e interna respectivamente”
(GARCIA et al., 2008, p. 270). Concomitante à Política Pública Sobre Drogas (PPD), o Brasil
possui a Política de Atenção Integral ao Usuário de Álcool e Drogas do Ministério da Saúde,
com princípios e diretrizes que apontam em direção contrária à PPD. A Política Nacional sobre
o Álcool resultou de um longo processo de discussão. Em julho de 2005, o Conselho Nacional
Antidrogas (CONAD), ciente dos graves problemas inerentes ao consumo prejudicial de álcool
e com o objetivo de ampliar o espaço de participação social para a discussão de tão
importante tema, instalou a Câmara Especial de Políticas Públicas sobre o Álcool (CEPPA),
compostas por diferentes órgãos governamentais, especialistas, legisladores e representantes
da sociedade civil. A Câmara Especial iniciou suas atividades a partir dos resultados do Grupo
Técnico Interministerial criado no Ministério da Saúde, em 2003. Nesta direção, diversas ações
foram efetivadas. Destaca-se a 1ª Conferência Panamericana de Políticas Públicas para o
Álcool, realizada em novembro de 2005, em parceria com a Organização Panamericana de
Saúde (OPAS). Neste evento, representantes governamentais de 26 países discutiram o
impacto, na saúde e na segurança, do consumo indevido de álcool. O resultado deste trabalho
foi a elaboração da Declaração de Brasília de Políticas Públicas sobre o Álcool, que fez algumas
recomendações sobre possíveis medidas a serem adotadas pelos países quando da elaboração
de suas políticas públicas:
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1. A redução dos danos relacionados ao consumo abusivo de álcool seja considerada uma
prioridade de saúde pública; 2. Sejam desenvolvidas estratégias regionais e nacionais, a fim de
reduzir os danos relacionados ao consumo do álcool; 3. As estratégias devem estar apoiadas
em estudos científicos sobre o impacto do álcool e os efeitos; 4. A política deve contemplar
áreas prioritárias de ação: o consumo geral da população, mulheres (inclusive mulheres
grávidas), populações indígenas, jovens, outras populações vulneráveis, violência, lesões
intencionais e não intencionais, consumo de álcool por menores de idade e transtornos
relacionados ao uso de álcool. Esse processo permitiu ao Brasil chegar a uma política realista
sem qualquer viés de fundamentalismo ou de banalização do consumo, embasado de forma
consistente por dados epidemiológicos, pelos avanços da ciência e pelo respeito ao momento
sociopolítico do País, refletindo a preocupação da sociedade em relação ao uso cada vez mais
precoce dessa substância, assim como o seu impacto negativo na saúde e na segurança. Em
maio de 2007, o Governo Federal, por meio de um Decreto Presidencial (nº 6.117 de
22.05.2007), apresentou à sociedade brasileira a Política Nacional sobre o Álcool, numa clara
demonstração de responsabilidade e vontade política com um assunto difícil, mas de
inquestionável relevância. A Política Nacional sobre o Álcool (BRASIL, 2010a) possui como
objetivo geral estabelecer princípios que orientem a elaboração de estratégias para o
enfrentamento coletivo dos problemas relacionados ao consumo de álcool, contemplando a
intersetorialidade e a integralidade de ações para a redução dos danos sociais, à saúde e à
vida, causados pelo consumo desta substância, bem como das situações de violência e
criminalidade associadas ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas. Esta política, reconhecendo a
importância da implantação de diferentes medidas articuladas entre si e, numa proposta
efetiva ao clamor da sociedade por ações concretas de proteção aos diferentes domínios da
vida da população, veio acompanhada de um elenco de medidas passíveis de implementação
pelos órgãos de governo no âmbito de suas competências e outras, de articulação com o poder
Legislativo e outros setores da sociedade.

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A aprovação da Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008, estabeleceu a alcoolemia 0 (zero) e


impõe severas penalidades para aqueles condutores que dirijam sobre a influência do álcool,
além de instituir restrições ao uso e à propaganda de bebidas alcoólicas, dentre outras
medidas.
Fonte: http://migre.me/dDdbh Assim, cada vez mais, é fundamental o conhecimento e a
ampla disseminação da política e da legislação brasileira sobre drogas em todos os setores do
País, mostrando a sua importância nas ações de prevenção do uso, tratamento, recuperação e
reinserção social. O uso indevido de álcool e outras drogas afeta a todos: familiares, líderes
comunitários, profissionais e cidadãos. As orientações da Política Nacional sobre Drogas e da
Política Nacional sobre o Álcool devem contribuir para o fortalecimento de uma rede de
atenção às questões relativas ao uso de álcool e outras drogas numa perspectiva inclusiva, de
respeito às diferenças, humanista, de acolhimento e não estigmatizante.

Dicas de Aprofundamento Política Nacional sobre Drogas. Disponível em:


<http://www.justica.gov.br/central-de-conteudo/politicas-sobredrogas/cartilhas-politicas-
sobredrogas/2011legislacaopoliticaspublicas.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2018. Política Nacional
sobre o Álcool. Disponível em: <https://www.obid.senad.gov.br/pessoas-sujeitos-drogas-
esociedade/politica-nacional-sobre-o-alcool> Acesso em: 19 jul. 2018. Política do Ministério da
Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas. Disponível em: <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_atencao_alcool_droga s.pdf > Acesso em:
19 jul. 2018. Declaração de Brasília de Políticas Públicas sobre o Álcool. Disponível em:
<http://www.campinas.sp.gov.br/governo/assistenciasocial-seguranca-alimentar/prevencao-
asdrogas/declaracao_brasilia_politicas_publicas_sobre_alcool.pdf> Acesso em: 19 jul. 2018.
Legislação e Políticas Públicas sobre Drogas. Disponível em: <
https://www.obid.senad.gov.br/biblioteca/publicacoes/legislacao-epoliticas-publicas-sobre-
drogas-no-brasil.pdf/view> Acesso em: 19 jul. 2018.
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2.2 A rede de atenção ao uso de álcool e outras drogas no Sistema Único de Saúde

A atenção à saúde mental no Brasil caracterizava-se, sobretudo antes dos anos 1990, por
centrar a atenção nas pessoas com transtornos mentais em serviços hospitalares
especializados, os hospitais psiquiátricos. No ano de 2001, como um dos resultados das
reivindicações de movimentos sociais desde a década de 70, que denunciavam a violência dos
manicômios e a hegemonia de uma rede privada de assistência, foi sancionada a Lei Federal
10.216/01, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais e
redireciona a assistência em saúde mental no país, privilegiando o oferecimento de
tratamento em serviços abertos, não hospitalares, e de base comunitária. Este
redirecionamento do modelo de assistência em saúde mental no SUS teve como principal
objetivo a ampliação e qualificação do cuidado às pessoas com transtornos mentais nos
serviços comunitários, com base no território. Neste novo modelo, a atenção hospitalar deixa
de ser o centro, como era antes, tornando-se complementar. Trata-se de mudança
fundamental na concepção e na forma de como deve se dar o cuidado: o mais próximo da rede
familiar, social e cultural do paciente, para que seja possível a retomada de sua história de vida
e de seu processo de saúde/ adoecimento. Aliado a isso, adota-se a concepção de que a
produção de saúde é também produção de sujeitos. Os saberes e práticas não somente
técnicos devem se articular à construção de um processo de valorização da subjetividade, em
que os serviços de saúde possam se tornar mais acolhedores, com possibilidades de criação de
vínculos. (BRASIL, 2009). Com a Política Nacional de Saúde Mental do SUS houve a redução
gradual e planejada de leitos em hospitais psiquiátricos, com a desinstitucionalização de
pessoas com longo histórico de internações, ao mesmo tempo que implantava uma rede
comunitária de serviços de saúde mental, como os serviços de atenção psicossocial e
reabilitação. A atenção em saúde mental no Sistema Único de Saúde se dá através de diversos
dispositivos, articulados em rede: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços
Residenciais Terapêuticos (SRT), Ambulatórios, Centros de Convivência e Cultura, Leitos de
Atenção Integral em Hospitais Gerais, Serviços Hospitalares de Referência para a Atenção
Integral aos Usuários de Álcool e outras

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Drogas (SHRad). Para além desses dispositivos, compõem a rede as ações de saúde mental na
Atenção Básica, as ações de inclusão social pelo trabalho e o Programa de Volta para Casa
(BRASIL, 2004a).

Segundo essas diretrizes políticas, a internação de usuários de álcool e outras drogas devem
ser de curta duração e priorizada em leitos de atenção integral em hospitais gerais, com
acompanhamento na rede de serviços extra-hospitalares, sobretudo nos CAPS. Os CAPS são
considerados estratégicos para a mudança do modelo de atenção à saúde mental. São serviços
de saúde municipais, abertos, comunitários, que oferecem atendimento diário às pessoas com
transtornos mentais severos e persistentes, realizando o acompanhamento clínico e a
reinserção social destas pessoas através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos
civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É função dos CAPS prestar
atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando assim as internações em hospitais
psiquiátricos; promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais através de
ações intersetoriais; regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua
área de atuação e dar suporte à atenção à saúde mental na rede básica. Existem CAPS para
adultos com transtornos mentais severos e persistentes (CAPS I, CAPS II e CAPS III, este último,
24 horas), CAPS específicos para crianças e adolescentes com transtornos mentais (CAPSi), e
CAPS para pessoas com transtornos decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas
(CAPSad). (BRASIL, 2004a). Na atenção psicossocial são privilegiadas as formas de tratamento
que visem à inclusão social, à cidadania e garantam o direito ao acesso à saúde integral dos
usuários de álcool e outras drogas, garantindo uma atenção integral, de base comunitária.
Diante da diversidade das características populacionais existentes no país e da variação da
incidência de transtornos causados pelo uso de álcool e outras drogas, a Política do Ministério
da Saúde para Usuários de Álcool e Outras Drogas (BRASIL, 2004b) estabelece e define, no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS),

Para mais informações, consulte o Portal da Saúde, disponível em:


<http://portalms.saude.gov.br/#> Acesso em: 19 jul. 2018.

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competências federais, estaduais e municipais para a construção de uma rede de atenção às


pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas, com ações de promoção, prevenção,
proteção à saúde dos usuários e estabelece uma rede estratégica de serviços extra-
hospitalares para essa clientela, articulada à rede de atenção psicossocial e fundada na
abordagem de redução de danos. Na clínica do uso de álcool e outras drogas, o
desenvolvimento de ações de atenção integral deve ser planejado de forma a considerar toda
a problemática envolvida no cenário do consumo de substâncias. Desta forma, os CAPSad,
assim como os demais dispositivos da rede, devem fazer uso deliberado e eficaz dos conceitos
de território e rede, bem como da lógica da clínica ampliada, realizando uma procura ativa e
sistemática das necessidades a serem atendidas de forma integrada ao meio cultural e à
comunidade em que estão inseridos os serviços. Uma ação em rede eficaz pode reduzir
consideravelmente o nível de problemas relacionados ao consumo de álcool e outras drogas
que são vivenciados por uma sociedade. (BRASIL, 2004a; BRASIL, 2004b). Essa rede deve
trabalhar dentro dos princípios do SUS de universalidade, equidade e integralidade,
contemplando as demandas de saúde e de saúde mental dos usuários de álcool e outras
drogas. Deve também contemplar as diretrizes e princípios que preveem a intersetorialidade e
da multidisciplinaridade, ao envolver campos distintos como Educação, Esportes, Cultura,
entre outros. Segundo o Relatório Brasileiro sobre Drogas (BRASIL, 2009), a cobertura
assistencial de CAPs para cada 100 mil habitantes maior ou igual a 0,70 é considerada uma
cobertura muito boa; será boa se estiver entre 0,50 e 0,69; regular/baixa se estiver entre 0,35
e 0,49; baixa se estiver entre 0,20 e 0,34 e insuficiente/crítica se for menor do que 0,20. Para
que se possa avaliar o processo de expansão dos serviços, no entanto, são necessárias séries
históricas dos dados. Dados do Ministério da Saúde informam que a cobertura CAPS aumentou
ano a ano no período, mesmo com o aumento concomitante da população. O número de CAPS
era 148 em 1998, 179 em 1999, 208 em 2000, 295 em 2001, 424 em 2002, 500 em 2003, 605
em 2004, 738 em 2005, 1.011 em 2006, 1.153 em 2007, 1.326 em 2008 e 1.394 em junho de
2009. No ano de 2002 a cobertura CAPS era de 21% da população; em junho de 2009 esta
cobertura chega a 57%.

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No Brasil, como um todo, foram encontrados 57% de cobertura CAPS. Sendo que, em 17
estados brasileiros a cobertura CAPS foi considerada boa ou muito boa, e apenas o estado do
Amazonas, com suas características particulares, apresenta cobertura CAPS insuficiente ou
crítica. Os indicadores por região revelaram que a cobertura da Região Sul foi muito boa (76%),
da Região Nordeste (68%) e da Região Sudeste (50%) foram boas, enquanto que da Região
CentroOeste foi regular/baixa (44%) e da Região Norte foi considerada baixa (35%). (BRASIL,
2009).

Mas já em 2010, segundo o “Informativo eletrônico de dados sobre a Política Nacional de


Saúde Mental” (BRASIL, 2010c), alcançou 63% de cobertura. Os indicadores por região
revelaram que a cobertura da Região Sul foi muito boa (0,80), da Região Nordeste (0,77) e da
Região Sudeste (0,54) foram boas, enquanto que da Região Centro-Oeste (0,48) e da Região
Norte (0,38) foram regular/baixa. Com baixa cobertura no estado do Acre (0,29) e no Distrito
Federal (0,21), e o estado do Amazonas manteve-se com indicadores insuficiente/crítico (0,15).

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Totalizando 1541 CAPS. Com interessante aumento do número de serviços em municípios


entre 20 e 50 mil habitantes ao longo dos anos (cerca de 30% dos CAPS estão hoje nestes
municípios), o que demonstra um processo de interiorização dos serviços. Com relação ao
número de leitos psiquiátricos, ao mesmo tempo em que foi aumentado o número de CAPS,
diminui-se o número de leitos em Hospitais Psiquiátricos. A Política de desinstitucionalização
do Ministério da Saúde tem como um de seus principais componentes a indução da redução
de leitos psiquiátricos no país, com a avaliação e a melhora da qualidade dos hospitais
psiquiátricos conveniados e públicos. Este processo de indução vem permitindo a retirada do
SUS de um grande número de leitos inadequados às exigências mínimas de qualidade
assistencial e respeito aos direitos humanos, um diagnóstico da qualidade da assistência
psiquiátrica hospitalar pública no país, além do desencadeamento da reorganização da
atenção em saúde mental, com a consequente expansão da rede. O número de leitos era de
51.393 em 2002, 48.303 em 2003, 45.814 em 2004, 42.076 em 2005, 39.567 em 2006, 37.988
em 2007 e 36.797 em outubro de 2008. Observa-se que, gradativamente, a redução de leitos
tem sido acompanhada pela expansão da rede de serviços da saúde mental. (BRASIL, 2009).
Cerca de 16.000 leitos com baixa qualidade assistencial foram fechados de forma pactuada e
programada. O ano de 2009 fechou com 35.426 leitos. (BRASIL, 2010c). Entre o período 2002 e
2007, a contribuição de leitos em hospitais de pequeno porte aumentou e ocorreu o oposto
com os hospitais de grande porte. Em 2002, 24,1% dos leitos estavam em hospitais de
pequeno porte (com até 160 leitos), porcentagem que passou a 44,0% em 2007. Essa
porcentagem, em hospitais de grande porte (com mais de 400 leitos), passou de 29,4% para
14,5%. (BRASIL, 2009). A estratégia do Ministério da Saúde de realizar uma redução planejada
de leitos em Hospitais Psiquiátricos incide especialmente em hospitais de maior porte (com
mais de 160 leitos), permitindo assim a reorganização do parque hospitalar em psiquiatria na
direção dos pequenos hospitais. Os hospitais psiquiátricos restantes ficaram menores. Hoje
44% dos leitos em hospitais psiquiátricos estão

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situados em hospitais de pequeno porte e pessoas com longo histórico de internação foram
desinstitucionalizadas. (BRASIL, 2010c). Considerados como leitos integrantes de uma rede de
leitos de atenção integral à saúde mental, os leitos em Hospitais Gerais devem, segundo a
Política Nacional de Saúde Mental, ser acolhedores e estar em articulação com outros
equipamentos de referência dos pacientes. A rede de leitos em Hospitais Gerais conta hoje, no
Brasil, com cerca de 2.500 leitos, devendo crescer nos próximos anos. Existem critérios
específicos para a abertura de leitos para álcool e outras drogas nos Hospitais Gerais, em
Serviços de Referência para Álcool e Outras Drogas. Em 2009, ainda tínhamos um total de 208
hospitais psiquiátricos no Brasil, sendo 4 na Região Norte, 50 na Região Nordeste, 114 na
Região Sudeste, 25 na Região Sul e 15 na Região Centro-Oeste. Na relação do número de leitos
SUS por 1.000 habitantes, o Rio de Janeiro, com 0,42, é o estado com o maior índice. Em
seguida vêm: Pernambuco com 0,31 e São Paulo com 0,26. Os estados de Rondônia, Roraima e
Amapá não têm nenhum leito disponível (BRASIL, 2010c). Contudo, em relação à distribuição
geográfica, 58,69% dos leitos disponíveis se encontram na região sudeste, seguida da região
nordeste (23,23%) e apenas 0,86% de leitos disponíveis na região norte. O número de leitos e
hospitais psiquiátricos tende a cair ainda mais nos próximos anos, assim como devem
aumentar o número de CAPS e outros dispositivos da rede de atenção psicossocial. Dados do
Ministério da Saúde revelam que ainda existem no Brasil 11 Hospitais Psiquiátricos com mais
de 400 leitos (BRASIL, 2009). Os dados ainda demonstram a concentração de leitos em
hospitais psiquiátricos nas unidades federativas. O estado do Rio de Janeiro segue
apresentando a maior concentração de leitos por habitante, resultado das políticas públicas do
séc. XIX e da primeira metade do séc. XX. Contudo, a expansão e qualificação de leitos de
atenção integral à saúde mental nos Hospitais Gerais ainda é um grande desafio para a rede de
saúde mental. Estes leitos, articulados aos CAPS III, às emergências gerais e aos Serviços
Hospitalares de Referência para Álcool e Drogas devem oferecer acolhimento integral ao
paciente em crise, em diálogo com outros dispositivos de referência para o usuário. A
regulação desses leitos de atenção integral é

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fundamental para garantir acessibilidade e resolutividade, especialmente nas grandes


metrópoles. Para estimular a qualificação destes leitos, como parte do Plano Emergencial para
a Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas no SUS (PEAD), houve reajuste dos
procedimentos para a atenção em saúde mental em Hospitais Gerais ao final de 2009 (PT GM
2.629/09). A partir desta portaria, pela primeira vez, os procedimentos de psiquiatria em HG
passam a ser mais bem remunerados do que os procedimentos em Hospitais Psiquiátricos
(BRASIL, 2010c). O Plano Emergencial de Ampliação do Tratamento e Prevenção em Álcool e
outras Drogas (PEAD) foi lançado em 2009, com o objetivo de intensificar, ampliar e
diversificar as ações orientadas para a prevenção, promoção da saúde e tratamento dos riscos
e danos associados ao consumo prejudicial de drogas. Segundo o Ministério da Saúde (2013), o
plano busca alcançar, prioritariamente, crianças, adolescentes e jovens em situação de grave
vulnerabilidade social, por meio das ações de prevenção, promoção e tratamento dos riscos e
danos associados ao consumo prejudicial de substâncias psicoativas. Para atingir os objetivos,
foram previstos 4 eixos de atuação: • Ampliação do acesso, • Qualificação dos profissionais, •
Articulação intra/intersetorial, • Promoção da saúde, dos direitos e enfrentamento do estigma.
Como parte do PEAD, a área de Saúde Mental, lançou o Edital (SAS/SVS nº 01/2009) para apoio
a projetos de redução de danos com o objetivo de ampliar o acesso aos serviços de saúde,
melhorar e qualificar o atendimento oferecido pelo SUS às pessoas que usam álcool e outras
drogas. Para que tenhamos respostas adequadas, sensíveis ao ambiente cultural, aos direitos
humanos e às peculiaridades da complexidade clínica no âmbito de Álcool e Drogas, é preciso
que diferentes equipamentos e estratégias estejam presentes no território. A tabela a seguir
mostra o número de equipamentos implantados pelo PEAD desde junho de 2009, aponta para
o investimento em Consultórios de Rua, que oferecem cuidados básicos de saúde para a
população vulnerável no próprio contexto de rua, em ação conjunta com outros setores como
Assistência Social, Justiça, Cultura, Esporte e outros, e na estratégia de Redução de Danos,
para além da implantação de novos CAPS.

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Tabela 2 – Equipamentos/Estratégias implantados pelo Plano Emergencial para a Atenção


Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas no SUS (PEAD). Brasil (Junho de 2009 a maio de
2010) Equipamento/Estratégia Implantados CAPSad 26 CAPS I 11 CAPS III 34 Consultórios de
Rua 10 Escola de Redutores de Danos 24

Fonte: Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas/DAPES/SAS/MS O PEAD também
busca qualificar os Hospitais Gerais na atenção às pessoas que fazem uso prejudicial de drogas
e necessitam eventualmente de atenção hospitalar. O Plano também investe em pesquisas
para investigar o perfil do consumo de crack, os riscos associados e as intervenções clínicas
que são eficazes na saúde pública.

Exercício 5

Em caso de necessidade de usuário de álcool ou drogas ser tratado, caso não haja um CAPSad
no município, devem se seguir os procedimentos abaixo. Indique qual a sequência correta
destes procedimentos: I. Em caso de desintoxicação, encaminhar para leito psiquiátrico. II.
Passar por avaliação multiprofissional para identificação de problemas. III.
Reencaminhamento para CAPS para acompanhamento terapêutico individual ou em grupo. IV.
Procurar uma unidade básica de saúde ou CAPS que existir. a) II / IV / I / III b) IV / III / II / I c) I /
II / IV / III d) IV / III / I / II e) IV / II / I / III

2.3 O tratamento e a reabilitação psicossocial do usuário de álcool e outras drogas na rede


pública

Segundo o Ministério da Saúde (2013), a política de atenção a álcool e outras drogas prevê a
constituição de uma rede que articule os CAPSad e os leitos para internação em hospitais
gerais (para desintoxicação e outros tratamentos).

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Estes serviços devem trabalhar com a lógica da redução de danos como eixo central ao
atendimento aos usuários/dependentes de álcool e outras drogas, pautado na realidade de
cada caso, o que não quer dizer abstinência para todos os casos. A atual Política do Ministério
da Saúde para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas traz recomendações
básicas para ações na área de saúde mental: 1. Promover assistência em nível de cuidados
primários; 2. Disponibilizar medicamentos de uso essencial em saúde mental; 3. Promover
cuidados comunitários; 4. Educar a população; 5. Envolver comunidades, famílias e usuários; 6.
Estabelecer políticas, programas e legislação específicos; 7. Desenvolver recursos humanos; 8.
Atuar de forma integrada com outros setores; 9. Monitorar a saúde mental da comunidade;
10. Apoiar pesquisas científicas.

Os CAPSAd, criados a partir de 2002, têm como objetivo central oferecer atendimento a
pacientes que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas, permitindo o planejamento
terapêutico dentro de uma perspectiva individualizada e também comunitária (BRASIL, 2004b;
CARVALHO, 2008). Suas atividades vão desde o atendimento individual (medicamentoso,
psicoterápico, de orientação, entre outros) até atendimentos em grupo ou oficinas
terapêuticas e visitas domiciliares. Também devem oferecer condições para o repouso, bem
como para a desintoxicação de pacientes que necessitem desse tipo de cuidado e que não
demandem atenção clínica hospitalar. Em relação às políticas de prevenção ao uso indevido de
drogas, Carvalho (2008, p. 188) coloca:
O CAPSAd pode constituir um espaço privilegiado para a implementação de ações educativas,
com o fornecimento de informações sobre os danos do consumo, alternativas para lazer e
atividades livres de drogas, além de ser uma porta aberta para a

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identificação de problemas vivenciados pela população atendida, contribuindo para a


construção de soluções.

Vale destacar, ainda, que a política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a Usuários
de Álcool e outras Drogas deve se articular internamente com outros programas com enfoque
no município e nas comunidades locais e, principalmente, na realidade da família, sobretudo
com o Programa Saúde da Família (PSF), que incorpora e reafirma os princípios básicos do SUS:
universalização, descentralização, integralidade e participação da comunidade. Como principal
ação do SUS, o Programa Saúde da Família (PSF) é parte de uma estratégia mais ampla de
reorientação do modelo de atenção à saúde, responsáveis pelo acompanhamento de um
número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. Importante
aliado na realização das diretrizes e orientações contidas na Política Nacional Sobre Drogas,
em especial nos campos da prevenção e do tratamento. Pois, por meio do trabalho
desenvolvido pelas equipes interdisciplinares, é possível conhecer a realidade das famílias
atendidas, realizando um diagnóstico de suas características sociais, demográficas e
epidemiológicas. Essencial para identificar os principais problemas de saúde e situações de
risco aos quais a população está exposta, e com isto, subsidiar o processo de formulação e a
implantação de ações de educação preventiva ao uso de drogas, com foco tanto no indivíduo,
quanto na família. Pela portaria nº 2.841, de 20 de setembro de 2010, ampliou-se a rede de
CAPS no SUS, com a criação de Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas/24
horas - CAPS AD III. Sua criação foi mobilizada pela portaria nº 1.190/GM/MS, de 4 de junho de
2009, que instituiu o Decreto Nº 7.179, de 20 de maio de 2010, que institui o Plano Integrado
de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, em especial para atender à programação do Plano
Integrado de Enfrentamento do Crack, e considerações epidemiológicas, que mostravam a
expansão no Brasil do consumo de algumas substâncias, especialmente álcool, cocaína (na
forma de cloridrato e de pasta-base, crack, merla) e inalantes. O CAPS AD III assemelha-se ao
modelo de CAPS III, mas destina-se a proporcionar atenção integral e contínua a pessoas com
transtornos decorrentes do uso abusivo e da dependência de álcool e outras drogas, com
funcionamento durante as 24 horas do dia, inclusive nos feriados e finais de semana.
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Para sua implantação, o município deve ter uma população mínima de cobertura de 200 mil
habitantes ou ser município polo regional, que reúna outros municípios de referência na
região, cujo somatório populacional (da região) seja igual ou maior que 200 mil habitantes. O
CAPS AD III deve:

a) constituir-se em serviço aberto, de base comunitária que funcione segundo a lógica do


território, e que forneça atenção contínua, durante 24 horas diariamente, incluindo feriados e
finais de semana; b) responsabilizar-se, sob coordenação do gestor local, pela organização da
demanda e da rede de cuidados em saúde mental, álcool e outras drogas, no âmbito do seu
território; c) possuir capacidade técnica para desempenhar o papel de regular e articular as
ações de atenção integral aos usuários de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do seu
território; d) coordenar, acompanhar e supervisionar, por delegação do gestor local,
internações em hospital geral e unidades especializadas, no âmbito de seu território; e)
realizar ações de apoio matricial na atenção básica, no âmbito de seu território; f) realizar e
manter atualizado o cadastramento dos pacientes que utilizam medicamentos essenciais para
a área de saúde mental; g) funcionar, de forma articulada, com o Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência - SAMU- 192 e com a rede de urgência/emergência local/regional; e, h)
articular-se com a rede de proteção social de seu território de atuação, para acompanhamento
compartilhado de casos, quando necessário. (BRASIL, 2010a)

A atenção integral ao paciente no CAPS AD III inclui as seguintes atividades: a) atendimento


individual (medicamentoso, psicoterápico, orientação, entre outros); b) atendimento em
grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, entre outras); c) oficinas
terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio; d) visitas e
atendimentos domiciliares; e) atendimento à família; f) atividades de integração na
comunidade, na família, no trabalho, na escola, na cultura e na sociedade em geral; g)
acolhimento noturno, nos feriados e finais de semana, com, no mínimo, 8 (oito) e, no máximo,
12 (doze) leitos, para realizar intervenções a situações de crise (abstinência e/ou
desintoxicação sem intercorrência clínica grave e comorbidades) e, também, repouso e/ou
observação; h) os pacientes assistidos em um turno (4 horas) receberão uma refeição diária; os
assistidos em dois turnos (8 horas) receberão duas refeições diárias, e os que permanecerem
no serviço durante 24 horas
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contínuas receberão 4 (quatro) refeições diárias; i) a permanência de um mesmo paciente no


acolhimento noturno, caso seja necessário prolongar-se para além do período médio de 2 a 5
dias, fica limitada a 10 (dez) dias corridos ou 14 (quatorze) dias intercalados em um período de
30 (trinta) dias; e j) estratégias de redução de danos dentro e fora do CAPS AD III, em
articulação com profissionais da atenção básica. A equipe técnica mínima para atuação no
CAPS AD III, para o atendimento de 40 (quarenta) pacientes por turno, tendo como limite
máximo 60 (sessenta) pacientes/dia, em regime intensivo, deve ser composta por: a) 1 (um)
médico clínico; b) 1 (um) médico psiquiatra; c) 1 (um) enfermeiro com formação em saúde
mental; d) 5 (cinco) profissionais de nível superior entre as seguintes categorias: psicólogo,
assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional
necessário ao projeto terapêutico; e) 4 (quatro) técnicos de enfermagem; e f) 4 (quatro)
profissionais de nível médio: redutor de danos, técnico administrativo, técnico educacional,
artesão e/ou outros. Para cada período de acolhimento noturno, em plantões corridos de 12
horas, a equipe deve ser composta, por: a) 1 (um) profissional de nível superior; b) 3 (três)
técnicos de enfermagem, sob supervisão do enfermeiro do serviço; c) 1 (um) profissional de
nível médio da área de apoio. Para cada período de 12 horas diurnas, nos sábados, domingos
e feriados, a equipe deve ser composta de modo a cobrir todos os turnos por: a) 1 (um)
profissional de nível superior entre as seguintes categorias: médico, enfermeiro, psicólogo,
assistente social, terapeuta ocupacional, ou outro profissional de nível superior justificado pelo
projeto terapêutico; b) 3 (três) técnicos de enfermagem, sob supervisão do enfermeiro do
serviço; e c) 1 (um) profissional de nível médio da área de apoio. Além das ações de prevenção
e de tratamento, outra ação importante do Ministério da Saúde é o Controle de Entorpecentes
e Substâncias que Produzem Dependência Física ou Psíquica, e de Precursores, por meio de
Padronização de Serviços de Atenção à Dependência Química (BRASIL, 2004b). Compreendido
pelas atividades de controle das drogas lícitas utilizadas em medicina, desde sua fabricação,
distribuição, prescrição e venda, bem como o estabelecimento de padrões para o
funcionamento de serviços voltados à prevenção e recuperação. Competindo ao Ministério da
Saúde, por meio de seus órgãos especializados,

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baixar instruções de caráter geral ou especial sobre proibição, limitação, fiscalização e controle
da produção, do comércio e do uso de substâncias entorpecentes ou que determinem
dependência física ou psíquica e de especialidades farmacêuticas que as contenham.
Figura 12 - Controle da prescrição de medicamentos Fonte: http://migre.me/dDb5s

Competência, por força da Lei nº 9.782/99, à Agência Nacional de Vigilância Sanitária


(ANVISA), cuja função principal é a de proteger e promover a saúde do conjunto da população
brasileira, garantindo a segurança sanitária de produtos e de serviços, conforme está explícito
na Lei n° 8.080/90 (SUS). A implantação de um Serviço Hospitalar de Referência para Álcool e
outras Drogas (SHRad) em Hospital Geral é importante em municípios com mais de 200.000
habitantes que já ofereçam atendimento especializado, como o CAPSad (projetos de
municípios com menor população podem ser analisados, de acordo com a situação local).

Os principais objetivos dos SHRad são o atendimento de casos de urgência/emergência


relacionados a álcool e outras drogas (Síndrome de Abstinência Alcoólica, overdose, entre
outros) e a redução de internações de alcoolistas e dependentes de outras drogas em hospitais
psiquiátricos. Para tanto, os SHRad realizam procedimentos melhor remunerados pelo SUS e
podem contar com, no máximo, 16 leitos. Para cadastrar um SHRad junto ao Ministério da
Saúde, o gestor deve requerer à Comissão Intergestores Bipartite, por meio do Secretário de
Estado da Saúde, a aprovação do pedido de cadastramento do serviço e encaminhar processo
de solicitação de cadastramentos ao Ministério da Saúde, em acordo com a Portaria GM 1612,
de 09 de setembro de 2005.

2.3.1 Tratamento

Como relação ao tratamento, o Estado deve estimular, garantir e promover ações para que a
sociedade (incluindo os usuários, dependentes, familiares e populações específicas), possa
assumir com responsabilidade ética, o tratamento, a recuperação e a reinserção social,
apoiada técnica e financeiramente, de forma descentralizada, pelos órgãos governamentais,
nos níveis municipal, estadual e federal, pelas organizações não governamentais e entidades
privadas (BRASIL, 2013). O acesso às diferentes modalidades de tratamento e recuperação,
reinserção social e ocupacional deve ser identificado, qualificado e garantido como um
processo contínuo de esforços disponibilizados, de forma permanente, para os usuários,
dependentes e seus familiares, com investimento técnico e financeiro de forma
descentralizada. As ações vinculadas a pesquisas científicas para que se possibilite avaliação e
incentivo daquelas que tenham obtido resultados mais efetivos, garantindo a alocação de
recursos técnicos e financeiros. No Orçamento Geral da União devem ser previstas dotações
orçamentárias, em todos os ministérios responsáveis pelas ações da Política Nacional sobre
Drogas, distribuídas de forma descentralizada, com base em avaliação das necessidades
específicas para a área de tratamento, recuperação,
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redução de danos, reinserção social e ocupacional, estimulando o controle social e a


responsabilidade compartilhada entre governo e sociedade. Entre os principais tópicos de suas
diretrizes destacam-se: Promover e garantir a articulação e integração em rede nacional das
intervenções para tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção social e ocupacional
(Unidade Básica de Saúde, ambulatórios, Centro de Atenção Psicossocial, Centro de Atenção
Psicossocial Álcool e Drogas, comunidades terapêuticas, grupos de autoajuda e ajuda mútua,
hospitais gerais e psiquiátricos, hospital-dia, serviços de emergências, corpo de bombeiros,
clínicas especializadas, casas de apoio e convivência e moradias assistidas) com o Sistema
Único de Saúde e Sistema Único de Assistência Social para o usuário e seus familiares, por
meio de distribuição descentralizada e fiscalizada de recursos técnicos e financeiros.
Desenvolver e disponibilizar banco de dados, com informações científicas atualizadas, para
subsidiar o planejamento e avaliação das práticas de tratamento, recuperação, redução de
danos, reinserção social e ocupacional sob a responsabilidade de órgãos públicos, privados ou
de organizações não governamentais, devendo essas informações ser de abrangência regional
(estaduais e municipais), com ampla divulgação, fácil acesso e resguardando o sigilo das
informações. Definir normas mínimas que regulem o funcionamento de instituições
dedicadas ao tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção social e ocupacional,
quaisquer que sejam os modelos ou formas de atuação, monitorar e fiscalizar o cumprimento
dessas normas, respeitando o âmbito de atuação de cada instituição. Assim como, estabelecer
seus procedimentos de avaliação. Segundo o OBID (2013), o tratamento da dependência de
álcool e outras drogas tem recebido atenção da área de psiquiatria desde que a dependência
foi considerada como doença. Existindo inúmeras modalidades de tratamento, como o
tratamento clássico, tratamento psicoterápico e o tratamento medicamentoso. O tratamento
clássico consiste na internação em hospital psiquiátrico ou em unidades especializadas.
Baseado no princípio da desintoxicação do paciente e da impossibilidade de acesso do
dependente ao álcool e/ou outras drogas. As

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indicações de uma internação, por exemplo, são baseadas em uma série de critérios, como:
Condições médicas ou psiquiátricas que requeiram observação constante (estados psicóticos
graves, ideias suicidas ou homicidas, debilitação ou abstinência grave); Complicações
orgânicas devidas ao uso ou cessação do uso da droga; Dificuldade para cessar o uso de
drogas, apesar dos esforços terapêuticos; Ausência de adequado apoio psicossocial que
possa facilitar o início da abstinência; Necessidade de interromper uma situação externa que
reforça o uso da droga. É uma das principais modalidades utilizadas no nosso meio, mas, como
toda internação, seu custo é mais elevado, exigindo cuidados intensivos e produzindo ônus
indiretos como o afastamento do paciente do seu meio social e do trabalho.
Comparativamente a outros tratamentos ambulatoriais, não se comprova uma maior
efetividade resolutiva, contribuindo para a estigmatização dos pacientes. O tratamento
medicamentoso é baseado em inúmeros princípios farmacológicos sobre a dependência
química, funciona com a prescrição de medicamentos por profissionais da área médica, tanto
em hospitalizações, para tratar sintomas de intoxicação e abstinência, quanto no tratamento
ambulatorial. As estratégias medicamentosas aceitas e eficazes têm como finalidade: Tratar
sintomas da intoxicação; Tratar sintomas de abstinência; Substituir o efeito de uma
substância (por exemplo, adesivo de nicotina no tratamento do tabagismo ou da heroína pela
metadona); Antagonizar os efeitos da droga (como o naltrexone, no tratamento do
alcoolismo); Causar aversão à droga (como o dissulfiram que provoca vermelhidão facial, dor
de cabeça, palpitação, enjoo e sensação de morte, quando o indivíduo ingere álcool).

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Sobre o tratamento farmacológico, Fonseca & Lemos (2011, p. 33), consideram que:

Compreender os mecanismos que determinam a ação das drogas de abuso sobre o organismo
não é suficiente para tratar a adicção, uma vez que a dependência química não depende
apenas da droga. Existe o risco da expectativa exagerada dos pacientes em relação aos
medicamentos disponíveis, dificultando que assumam a responsabilidade na participação do
tratamento e fazendo com que deleguem, como na ideologia de usar drogas, sua vida a
substâncias químicas. Essa é uma atitude mais fácil, que reflete a da sociedade, a qual busca
soluções rápidas para suas tensões. Esse comportamento também ocorre com outros
pacientes, como hipertensos e diabéticos, que têm dificuldade em adotar medidas não
farmacológicas. Além disso, o uso de terapia de reposição como a de nicotina, parece gerar em
algumas pessoas uma sensação de impotência: “Só posso parar de fumar se usar o adesivo?
Não posso sequer reduzir sua dosagem?”. Embora essa atitude represente uma redução de
danos, obviamente não é desejável. Conhecer a farmacologia das drogas de abuso significa
obter ferramentas para compreender este órgão que tem maravilhosa complexidade: o
cérebro, e apenas esse objetivo já justifica seu estudo.
O tratamento psicoterápico utiliza inúmeras abordagens teóricas, desde a psicanálise até
técnicas cognitivas ou cognitivo-comportamentais, com resultados variados de acordo com as
abordagens e os diferentes sujeitos. São utilizadas inúmeras modalidades de intervenções
como: Individual; Grupal; De caráter breve ou sem duração limitada; Intervenções
envolvendo parceiros (terapia de casal) ou toda sua família; Intervenções com envolvimento
do ambiente de trabalho. Além dessas modalidades, outras podem ser associadas ao
tratamento, como o aconselhamento, laborterapia, arteterapia, com destaque especial para os
grupos de mútua-ajuda como os Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos. A efetividade
dos tratamentos contra o uso abusivo de drogas e a dependência é considerada baixa, devido
a inúmeras questões, como a própria droga e seus mecanismos de ação (a maioria dos
trabalhos são baseados no tratamento do alcoolismo), questões individuais, familiares e
sociais. Além de

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considerações quanto à moda da eficácia de um tratamento em um determinado período;


políticas públicas de custeio de tratamentos e a existência de profissionais especializados em
alguma modalidade específica de tratamento.

Figura 13 - Terapia de grupo Fonte: http://migre.me/dE0QT

Com relação à efetividade do tratamento, devem ser considerados o tempo em que uma
modalidade de tratamento foi aplicada e os recursos disponíveis para o tratamento, e em
especial, características pessoais da personalidade do paciente e questões estáveis, como
idade, sexo, condições socioeconômicas, entre outras. De acordo com De Bon & Kessler
(2008), as primeiras abordagens terapêuticas para o tratamento de dependentes químicos
datam do século XIX. Não há um consenso sobre o melhor tipo de tratamento, que deve ser
norteado por pesquisas científicas, pois os profissionais envolvidos com o tratamento de
substâncias psicoativas devem conhecer os efeitos agudos e crônicos das drogas de abuso,
suas formas de uso, a prevalência e os padrões de uso mais típicos, assim como a
heterogeneidade dos sujeitos e diferentes abordagens de tratamentos, devido à dependência
química ser resultado da interação de vários aspectos da vida do indivíduo: biológico,
psicológico e social. As intervenções devem ser diferenciadas para cada indivíduo e devem
considerar todos os aspectos envolvidos.
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Um dos modelos para tratamento, baseado na motivação, é o descrito por Prochaska & Di
Clemente (1983 apud DE BON, KESSLER; 2008), e tem sido bastante discutido entre os
profissionais envolvidos no trabalho com pacientes com dependência química. O modelo
sugerido apresenta fases, nem sempre sequenciais e a possibilidade de estratégias de
abordagem para o cuidado.

Quadro 5 - Modelo baseado na motivação de Prochaska & Di Clemente (1983)

ESTÁGIO DESCRIÇÃO ABORDAGEM

Précontemplação

O indivíduo não percebe os prejuízos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. Segue


com seu uso e não pensa em parar nos próximos seis meses.

Convidar o indivíduo à reflexão; evitar confrontação; remover barreiras ao tratamento.

Contemplação

O indivíduo percebe os problemas relacionados ao uso, mas não toma nenhuma atitude em
direção à abstinência. Pensa em parar nos próximos seis meses.

Discutir os prós e contras do uso de SPA; desenvolver discrepância (levando-o a refletir: “É


possível atingir os objetivos que busco na vida se continuar com o uso?”).

Preparação
Utiliza SPA, porém já fez uma tentativa de parar por 24 horas, no último ano. Pensa em entrar
em abstinência nos próximos 30 dias.

Remover barreiras ao tratamento, ajudar ativamente e demonstrar interesse e apoio à atitude


do indivíduo.

Ação Conseguiu parar completamente o uso nos últimos seis meses.

Implementar o plano terapêutico.

Manutenção Está em abstinência há mais de seis meses.

Colaborar na construção de um novo estilo de vida, mais responsável e autônomo. Recaída


Retornou à utilização da droga. Reavaliar o estágio motivacional do indivíduo. Fonte: De Bom
& Kessler (2008)

A definição de objetivos de um tratamento para dependência química inicia-se com a


percepção dos dependentes químicos com relação aos problemas relacionados ao uso de
substâncias.

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Portanto, o primeiro passo para o tratamento é alcançar um nível de participação e motivação


suficientes para manter um tratamento a médio e longo prazo. Em geral, costuma-se propor
três objetivos ordenados: abstinência, melhora da qualidade de vida e prevenção de recaídas
(DE BOM; KESSLER, 2008, p. 154).

a) Abstinência do uso de substâncias psicoativas: o objetivo final da maioria dos tratamentos é


o abandono da substância química. Para tanto, inclui a aquisição de diferentes habilidades e
comportamentos que permitam evitar seu consumo. b) Melhorar a qualidade de vida:
independente de o primeiro objetivo ser alcançado e dado ao fato de nem sempre estarem
presentes as condições psicológicas e sociais propícias para atingilo, é de especial importância
a melhora da qualidade de vida, mesmo que o uso de drogas não tenha sido interrompido.
Para estes indivíduos, deve ser reforçada a adesão ao tratamento e deve ser proposta uma
estratégia de redução de danos, que permita diminuir as consequências negativas do
consumo. Fazem parte desta estratégia, entre outras, a prevenção e o tratamento de doenças
clínicas (como HIV, hepatites) e psiquiátricas (como depressão, psicose). c) Prevenção de
recaídas: os indivíduos que aceitam como meta a abstinência completa devem ser preparados
para a possibilidade de recaídas. É importante que estejam cientes da natureza crônica e
reincidente da dependência química.

Às vezes, para atingir estes objetivos, é necessário propor objetivos intermediários que
possibilitem o comprometimento e cumprimento das metas, como a redução da quantidade
de substância a ser utilizada. Outra questão de extrema importância, como nos aponta de De
Bon & Kessler (2008), é a definição de “quem precisa de tratamento”. Neste sentido, os
profissionais envolvidos devem realizar uma avaliação cuidadosa e ampla do indivíduo. Desde
perguntas sobre as substâncias utilizadas, o tipo de consumo de cada uma delas (se o uso é
experimental, recreacional, abuso ou dependência); tratamentos anteriores; comorbidades
clínicas e psiquiátricas; história familiar e o perfil psicossocial. Lembrando-se que:

Quanto maior a gravidade do consumo, mais o indivíduo necessita de tratamento. Indivíduos


que apresentam padrões de consumo recreacional e de abuso, em geral, também se
beneficiam de tratamento, sendo que, nesses casos, apenas o aconselhamento pode ser
suficiente. (p. 154)

Como descrito no final da 1ª Unidade, ao descrever o transtorno mental pelo uso de cocaína,
devemos avaliar possíveis comorbidades psiquiátricas, pois o uso de drogas pode ser causa
e/ou consequência de sintomas psiquiátricos. Que pode, se presente a comorbidade, ser uma
dificuldade para a adesão ao tratamento a ser utilizado, por não responder bem “[...] a
abordagens terapêuticas direcionadas apenas a um dos transtornos, tornando-se necessário
combinar medicações e modificar as terapias psicossociais, incluindo abordagens para ambos.”
(DE BOM; KESSLER, 2008, p. 155). Antigamente, havia poucas opções disponíveis (internação,
grupo de autoajuda e encaminhamento a especialistas), contudo, como as pesquisas têm
demonstrado que tratamentos breves, como aconselhamento e intervenções breves,
conduzidos por não especialistas, apresentam resultados significativos e com baixo custo,
essas técnicas vêm sendo amplamente difundidas também em nosso meio. Contudo,
indivíduos com maior dificuldade de adesão ou pouca melhora no tratamento breve devem ser
encaminhados a especialistas como psiquiatras ou psicólogos. Um tratamento mais
especializado será necessário sempre que houver a suspeita de outras doenças psiquiátricas,
ou quando não melhorarem com tratamentos anteriores ou quando tiverem múltiplas
recaídas. “A determinação dos diversos padrões de uso de substâncias psicoativas é
importante para estabelecer o melhor programa terapêutico para esses indivíduos, além de
permitir diagnóstico e classificação acurados.” (DUARTE; MORIHISA, 2008, p. 48).
a) Algumas Formas de Tratamento A intervenção precoce é uma estratégia terapêutica que
combina a detecção precoce do uso perigoso ou prejudicial de substâncias e o tratamento das
pessoas com esses padrões de uso. O tratamento é oferecido ou proporcionado antes que os
pacientes se apresentem por vontade própria e, em muitos casos,

A dependência das drogas é transtorno em que predomina a heterogeneidade, já que afeta as


pessoas de diferentes maneiras, por diferentes razões, em diferentes contextos e
circunstâncias.

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antes que eles estejam conscientes de que o uso dessas substâncias pode causar problemas. É
dirigida particularmente a indivíduos que não desenvolveram dependência física nem grandes
complicações psicossociais. A intervenção precoce é, portanto, um tratamento pró-ativo, é
iniciado mais pelo agente de saúde do que pelo próprio paciente. O primeiro estágio consiste
em um procedimento sistemático de detecção precoce. Há várias abordagens: um inquérito de
rotina, durante a história clínica, do uso de álcool, tabaco e outras drogas e o uso de testes de
triagem em locais de cuidados primários de saúde, por exemplo. Fazem-se perguntas
suplementares para confirmar o diagnóstico. O segundo componente, o tratamento,
geralmente é breve e ocorre em locais de cuidados primários de saúde (durando, em média,
de 5 a 30 minutos). O tratamento pode ser mais prolongado em outros locais. A desintoxicação
pode ser realizada em três níveis com complexidade crescente: tratamento ambulatorial,
internação domiciliar e internação hospitalar. No tratamento ambulatorial e na internação
domiciliar, sempre que necessário, utilizamse medicamentos para o alívio dos sintomas
(benzodiazepínicos, antipsicóticos, entre outros). Em qualquer uma das opções, os objetivos da
desintoxicação são: Alívio dos sintomas existentes; Prevenção do agravamento do quadro
(convulsões, por exemplo); Vinculação e engajamento do indivíduo no tratamento. Os
grupos de autoajuda são programas populares, como os dos 12 passos empregados pelos
Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA) e, segundo pesquisas, costumam ser
bem sucedidos como programas de recuperação para os transtornos por uso abusivo de álcool
ou outras drogas. Caracterizam-se por serem gratuitos e amplamente disponíveis em todo o
País. Seu trabalho é orientado por ex-dependentes, que servem de apoio ao dependente
químico, pois se orientam pela experiência dos demais participantes e pela identificação com
eles. Os resultados obtidos também são provenientes do contato e apoio social obtido, e de
treino para lidar com as pressões da vida diária. Os grupos de ajuda mútua no campo do álcool
datam dos Washingtonianos de 1840 e incluem grupos baseados na Europa, como Blue Cross,
Gold Cross, grupos Hudolin e Links. A abordagem de alguns desses grupos possibilita uma
orientação profissional ou semiprofissional. No campo do álcool, algumas pensões
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protegidas ou casas de recuperação e as comunidades terapêuticas para os dependentes de


outras drogas podem ser considerados como grupos residenciais de ajuda mútua. (OMS, 2006)
As comunidades terapêuticas são instituições para tratamento de dependentes químicos
disponíveis no nosso meio, com as mais variadas orientações teóricas e, em geral, utilizam
uma filosofia terapêutica baseada em disciplina, trabalho e religião. Esse recurso deve ser
reservado para indivíduos que necessitam de um ambiente altamente estruturado e para
aqueles com necessidade de controle externo (nenhuma capacidade de manter abstinência
sem auxílio). Algumas disponibilizam atendimento médico e devem ser preferidas quando
houver a possibilidade da indicação de uso de medicação por comorbidade ou por
dependência grave. Em geral, são dirigidas principalmente por pessoas que se recuperaram de
uma dependência, e são em geral isoladas geograficamente. As comunidades terapêuticas são
caracterizadas por uma combinação de “teste de realidade” (através da confrontação do
problema relacionado ao uso de droga do indivíduo) e de apoio dos funcionários e de co-
residentes para a recuperação. Elas têm geralmente uma linha muito similar à dos grupos de
autoajuda. O “Programa Crack, é possível vencer” (SENAD, 2013) novembro de 2012, abriu
edital público para geração de mais de 10 mil vagas para acolher gratuitamente usuários e
dependentes de drogas em todo o país, com recursos provenientes do Fundo Nacional
Antidrogas (FUNAD), com o pagamento mensal de R$ 1 mil pelos serviços de acolhimento de
adultos e R$ 1,5 mil para crianças, adolescentes e mães em fase de amamentação. As
primeiras instituições credenciadas estão sendo divulgadas a partir de fevereiro de 2013 e
devem cumprir uma série de questões normativas como: Não praticar ou permitir a
contenção física, isolamento ou restrição à liberdade da pessoa acolhida; Respeitar a
internação voluntária, exceto para casos previstos em lei; Obedecer a Resolução de Diretoria
Colegiada (RDC) nº 29 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que dispõe sobre
os requisitos de segurança sanitária para o funcionamento de instituições que prestem
serviços de atenção a pessoas com transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de
substâncias psicoativas; Comunicar formalmente o acolhimento voluntário da pessoa em
tratamento às redes do Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde, e do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS), do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS). Os tratamentos psicossociais são os tratamentos mais utilizados e em geral,
estão disponíveis em diversos níveis do sistema de saúde: em postos de saúde, em CAPSad, e
serviços terciários de atendimento (hospitais gerais). As formas mais aceitas de tratamentos
psicossociais são: entrevista motivacional, aconselhamento, intervenção breve, terapia
cognitivo-comportamental e prevenção de recaídas, terapia de grupo e terapia familiar. A
Entrevista Motivacional, desenvolvida por Müller et al, postula que a motivação dos indivíduos
para uma mudança de comportamento pode ser modificada através de estratégias específicas.
A técnica evita o confronto direto e promove o questionamento e o aconselhamento, visando
a estimular a mudança do comportamento, priorizando a autonomia do indivíduo em tomar
decisões com base em cinco princípios básicos (DE BOM; KESSLER, 2008, p. 158-9).

1. Expressar empatia: escutar respeitosamente o indivíduo, tentando compreender o seu


ponto de vista, ainda que não concordando necessariamente com ele. 2. Desenvolver
discrepância: conduzir o usuário a visualizar os seus objetivos de vida, contrastando com o seu
comportamento atual, para poder criar uma percepção de incompatibilidade entre os atos e os
seus objetivos. 3. Evitar discussões: evitar discussões e confrontações diretas, promovendo
reflexões com eventuais aconselhamentos sobre o tema em questão. 4. Fluir com a resistência:
não se deve impor novas visões ou metas, mas convidar o indivíduo a vislumbrar novas
perspectivas que lhe são oferecidas. 5. Estimular a autoeficácia: a autoeficácia é a crença do
próprio indivíduo na sua habilidade de executar uma tarefa ou resolver um problema e deve
sempre ser estimulada.

O aconselhamento psicológico é um tipo de intervenção psicossocial amplamente utilizada em


dependência química e contribui para uma evolução positiva do tratamento. Consiste,
fundamentalmente, de apoio, proporcionando estrutura, monitoração, acompanhamento da
conduta e encorajamento da abstinência. Proporciona, também, serviços ou tarefas concretas
tais como encaminhamento para emprego, serviços médicos e auxílio com questões legais. O

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aconselhamento deve ser individualizado, enfatizando o retorno da avaliação realizada. Pode


ser mínimo (3 minutos), breve (3-10 minutos) ou intensivo (mais de 10 minutos). Pode ser
aplicado por qualquer profissional adequadamente treinado e apresenta quatro fases:
Avaliação (identificação do problema). Aconselhamento (estratégias motivacionais).
Assistência. Acompanhamento. A Intervenção Breve é uma técnica de curta duração, mais
estruturada que o aconselhamento, com o objetivo de auxiliar um indivíduo a parar ou reduzir
o uso de substâncias psicoativas ou (menos comumente) a lidar com outras questões de vida.
Possui um formato claro e simples, e também pode ser utilizada por qualquer profissional. Tais
intervenções são estruturadas em uma ou até quatro sessões, podendo produzir um impacto
igual ou maior que tratamentos mais extensivos para a dependência de álcool. As intervenções
breves utilizam técnicas comportamentais para alcançar a abstinência ou a moderação do
consumo. Começando pelo estabelecimento de uma meta, seguido do desenvolvimento de
automonitorização, identificação das situações de risco e estratégias para evitar o retorno ao
padrão de consumo problemático. O espectro de problemas também determina que se
apliquem intervenções mais especializadas para indivíduos com problemas graves, além de
adicionais terapêuticos, como manuais de autoajuda, aumentando a efetividade dos
tratamentos.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é um tipo de abordagem psicológica que visa


corrigir as distorções cognitivas (pensamentos e crenças maladaptativas) e os
comportamentos inadequados que o usuário tem em relação à

Dica de Aprofundamento MARQUES, Ana Cecília P. Roselli; FURTADO, E. Felipe. Intervenções


breves para problemas relacionados ao álcool. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26s1/a08v26s1.pdf> Acesso em: 19 jul. 2018.

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droga. A abordagem básica da TCC pode ser resumida em “reconhecer, evitar e criar
habilidades para enfrentar” as situações que favorecem o uso de drogas. As sessões seguem
uma estrutura padronizada e os indivíduos têm papel ativo no tratamento. Após a motivação e
a implementação de estratégias para interromper o uso da droga, surge uma tarefa tão ou
mais difícil, que consiste em evitar que o indivíduo volte a consumi-la. Dentro do modelo de
prevenção de recaída, além da incorporação dos aspectos cognitivo-comportamentais são
treinadas habilidades/estratégias de enfrentamento de situações de risco, além de promover
amplas modificações no estilo de vida do indivíduo. Um conjunto de procedimentos
terapêuticos empregados para ajudar indivíduos com problemas relacionados ao álcool ou a
outra droga a evitarem ou enfrentarem uma recaída ou deslize. Os procedimentos podem ser
usados em combinação com outros tratamentos e abordagens terapêuticas, desde que
baseados na moderação e na abstinência. Através desta técnica é possível ensinar o paciente,
estratégias de enfrentamento para evitar situações consideradas como perigosos precipitantes
de recaída e, através de repetição mental e de outras técnicas, a fim de minimizar o uso da
substância uma vez que um deslize tenha ocorrido.
A Terapia de Grupo é uma alternativa para atender um maior número de pessoas, num menor
tempo, e, portanto, com um custo mais baixo. É considerada uma alternativa viável e também
efetiva. O tratamento em grupo de dependentes de álcool e de outras drogas vem ocupando
um espaço amplo, mas o seu estudo ainda é restrito, pois exige uma metodologia de avaliação
muito rigorosa.

Dica de Aprofundamento

RANGÉ, Bernard P.; MARLATT, G. Alan. Terapia cognitivo-comportamental de transtornos de


abuso de álcool e drogas. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v30s2/a06v30s2.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2018. SILVA, Cláudio
Jerônimo da; SERRA, Ana Maria. Terapias Cognitiva e CognitivoComportamental em
dependência química. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26s1/a09v26s1.pdf>.
Acesso em: 19 jul. 2018.

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A Terapia de família é utilizada quando se percebe que o conflito familiar interfere


diretamente no tratamento; costuma-se indicar terapia de família.
Outra modalidade terapêutica é a da reabilitação psicossocial, que se utiliza de inúmeras
formas de tratamento já relatado. A reabilitação segue uma fase inicial de tratamento (que
pode implicar desintoxicação e tratamentos médicos e psiquiátricos). Compreende uma ampla
variedade de abordagens, que incluem terapia de grupo, terapias comportamentais específicas
para prevenir a recaída, participação em grupos de ajuda mútua, residência em uma
comunidade terapêutica ou em uma pensão protegida, treinamento vocacional e emprego
protegido. A expectativa é a de uma reintegração social na comunidade em geral. A
Organização Mundial da Saúde, em 1996, definiu a reabilitação psicossocial como um processo
que facilita aos indivíduos deficientes, incapacitados ou inválidos a oportunidade de atingirem
seu nível máximo de funcionamento independente em suas comunidades. Implicando tanto a
melhoria das capacidades individuais, como a introdução de modificações ambientais a fim de
proporcionar a melhor qualidade de vida possível aos indivíduos que tenham sofrido de uma
doença mental, ou que tenham alguma deficiência de suas capacidades mentais que resulta
em qualquer grau de incapacidade. (OMS, 2006). Fonte: http://migre.me/dE3Aa

Dica de Aprofundamento

SEADI, Susana M. Sastre; OLIVEIRA, Margareth da Silva. A Terapia Multifamiliar no Tratamento


da Dependência Química: um estudo retrospectivo de seis anos. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/pc/v21n2/08.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2018.

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b) Consultório de Rua O Consultório de Rua surgiu no fim da década de 1990, na cidade de


Salvador (BA), para atender a população em situação de risco e vulnerabilidade social,
principalmente crianças e adolescentes usuários de álcool e outras drogas. (BRASIL, 2013a). A
experiência do Consultório de Rua de Salvador é referência para novos projetos "Consultório
na Rua" previstos no Plano “Crack, é possível vencer”, o qual consolida sua atuação para o
encaminhamento de usuários de crack e outras drogas que vivem nas áreas de maior risco
social nos espaços urbanos. No Consultório de Rua, uma equipe formada por médicos,
psiquiatras, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e pedagogos presta atendimento aos
dependentes químicos diretamente na rua, com o suporte de um ambulatório móvel. A
estratégia de abordagem é inspirada na ONG francesa Médicos do Mundo, que atende
moradores de ruas e prostitutas em um ônibus equipado como se fosse uma clínica. Após um
mapeamento para descobrir onde estão concentrados os usuários de drogas, os profissionais
fazem a chamada aproximação, intervenção com a população local que pode levar de semanas
a meses. Até que os usuários se sintam seguros com relação à equipe, que após ganhar a
confiança dos frequentadores do local, iniciam suas atividades, desde a distribuição de kits
com preservativos, curativos, medicamentos, cartilhas e material de conscientização sobre o
uso de drogas. As relações entre o usuário e a equipe levam em consideração se a pessoa
quer ou não receber informações e orientações dos profissionais. O foco do projeto não é que
os usuários parem de usar drogas ou aceitem participar de um tratamento, mas que isso seja
uma consequência do trabalho realizado com eles na rua, uma vontade que deve partir do
indivíduo e não da equipe profissional. Os Consultórios de Rua (BRASIL, 2010b), constituem
uma modalidade de atendimento extramuros dirigida aos usuários de drogas que vivem em
condições de maior vulnerabilidade social e distanciados da rede de serviços de saúde e
intersetorial. São dispositivos clínico-comunitários que ofertam cuidados em saúde aos
usuários em seus próprios contextos de vida, adaptados para as especificidades de uma
população complexa. Promovem a acessibilidade a serviços da rede institucionalizada, a
assistência integral e a promoção de laços sociais para

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os usuários em situação de exclusão social, possibilitando um espaço concreto do exercício de


direitos e cidadania. Sua estrutura de funcionamento conta com uma equipe volante mínima
com formação multidisciplinar constituída por profissionais da saúde mental da atenção básica
e de pelo menos um profissional da assistência social, sendo estes: médico, assistente social,
psicólogo, outros profissionais de nível superior, redutores de danos, técnicos de enfermagem
e educadores sociais. Além desses, eventualmente, poderá contar com oficineiros que possam,
estrategicamente, desenvolver atividades de arte-expressão. Para o desenvolvimento de suas
atividades necessita de carro tipo perua (“van”), usado para fazer o deslocamento da equipe
profissional e dos materiais necessários à realização das ações. O carro, além de transportar a
equipe e os insumos, tem a função de se constituir como referência para os usuários. Para isso,
a caracterização do veículo deve conter sua identificação institucional, com o nome
Consultório de Rua - SUS marcando a presença do serviço público de saúde. É interessante
também que seu ’’layout’’ esteja de acordo com a linguagem do público que deverá acessar -
usuários jovens de substâncias psicoativas em situação de maior vulnerabilidade. Há veículos
de Consultórios de Rua que foram grafitados ou que portam adesivos de símbolos contendo
alguma significação para este segmento jovem. Fonte: http://migre.me/dE3Oz A ideia é
favorecer traços de identificação com o dispositivo e promover a construção de um vínculo
desde o primeiro momento. O carro é um dos elementos que podem contribuir para a
aproximação inicial e a construção do Consultório de Rua como um referencial para os
cuidados com a saúde. O terceiro aspecto diz respeito a um ponto fixo onde os Consultórios
de Rua devem se instalar em cada área de atuação previamente definida. Considerando o fato
de que, em muitos locais escolhidos para a intervenção, a população alvo é flutuante, é
necessário que se estabeleça um local, dia e hora para os encontros, mantendo-se a
regularidade da presença da equipe de forma constante, de modo a criar uma referência e
tornar os contatos mais acessíveis para os usuários.

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Com isto, o Consultório de Rua é uma proposta de clínica na rua, especializada para o
atendimento de problemas relacionados ao consumo de substâncias psicoativas. A perspectiva
de uma oferta programada, tal como se modela este dispositivo, implica em ofertar onde
ainda não há uma demanda de ajuda explicitada. Não havendo as condições prévias
estabelecidas, tudo está por se fazer. De modo que o ‟lugar” do profissional é construído a
partir do momento em que se coloca no contexto do trabalho, assim como o ‟lugar” do
Consultório de Rua. Diferentemente do trabalho dentro de uma instituição, quando é o
usuário que busca o serviço e cujas condições de atendimento já estão dadas, com toda a
ambiência ajudando a compor o setting terapêutico, incluindo o lugar que o profissional ocupa
na organização do serviço, na rua esses “lugares” precisam ser construídos a partir do trabalho
e da posição em que os profissionais se colocam para os usuários. No seu posicionamento, a
equipe deve explicitar o propósito da presença do Consultório de Rua e quais as características
do seu trabalho, diferenciando-o de outras ações desenvolvidas na rua, como ações de cunho
caritativo. Assim, gradativamente, vai-se demarcando o lugar do Consultório de Rua enquanto
um dispositivo do campo da saúde. (BRASIL, 2010b, p. 11).

Caso o usuário opte por fazer o tratamento mais especializado, será encaminhado para uma
rede de serviços da Política Nacional de Drogas.
c) A Internação compulsória Em janeiro de 2013, o Governo do Estado de São Paulo deu início
à parceria com o Ministério Público, o Tribunal de Justiça e a OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) para plantão especial no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas
(CRATOD, 2013), para atendimento diferenciado aos dependentes químicos. Em casos
extremos, a Justiça passou a decidir pela internação compulsória do dependente. Segundo a
Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania (CRATOD, 2013), quando uma pessoa não quer
se internar voluntariamente, pode-se recorrer

Dica de Aprofundamento

Leia o Guia do projeto Consultório de Rua. Disponível em:


<https://projetosintegrados.wordpress.com/2014/09/15/senad-guia-do-projetoconsultorio-
de-rua/>. Acesso em: 19 jul. 2018.

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às internações involuntária ou compulsória, definidas pela Lei nº 10.216, de 2001. Além da


internação voluntária, existem dois tipos de internação: • Internação involuntária: onde um
familiar pode solicitar a internação involuntária, desde que o pedido seja feito por escrito e
aceito pelo médico psiquiatra. A lei determina que, nesses casos, os responsáveis técnicos do
estabelecimento de saúde têm prazo de 72 horas para informar ao Ministério Público da
comarca sobre a internação e seus motivos. O objetivo é evitar a possibilidade de esse tipo de
internação ser utilizado para a prática de cárcere privado. • Internação compulsória: neste
caso não é necessária a autorização familiar e é em geral determinada por juiz competente,
depois de pedido formal, feito por um médico, atestando que a pessoa não tem domínio sobre
a sua condição psicológica e física. A grande polêmica gerada foi que o Governo do Estado de
São Paulo criou medidas para o cumprimento mais eficiente da lei, viabilizando uma parceria
inédita no Brasil entre o Judiciário e o Executivo, entre médicos, juízes e advogados, com o
objetivo de tornar a tramitação do processo de internação compulsória (já previsto em lei)
mais célere, para proteger as vidas daqueles que mais precisam e que perderam totalmente os
laços familiares. Visto que, as famílias com recursos econômicos já utilizam esse mecanismo
(internação involuntária) para resgatar os seus parentes das drogas. Como parte do cuidado
que é obrigação do Estado, retirá-los do abandono e de situação de risco de saúde e
devidamente atestado a sua ineficácia para o cuidado físico e psicológico, com a presença do
Judiciário no sentido de salvaguardar as garantias aos direitos dos dependentes químicos.
(CRATOD, 2013).
Figura 14 - Dependente químico na cidade de São Paulo Fonte: http://migre.me/dE5ez

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Casos de internação compulsória continuarão a ser exceção e não regra. A política prioritária
continua sendo a internação voluntária, através do convencimento do dependente por
agentes de saúde, assistentes sociais e integrantes das políticas de consultório de rua, além de
outras formas de tratamento. Apesar da polêmica gerada, alguns estados norte-americanos,
como a Califórnia, possuem leis específicas sobre a internação compulsória ou involuntária. O
Canadá permite o tratamento forçado no caso de viciados em heroína, assim como a Austrália
e a Nova Zelândia, em especial quando representem riscos para si próprios ou para terceiros.
Em geral, as leis são utilizadas principalmente para menores de idade. A Organização Mundial
de Saúde no documento “Principles of Drug Dependence Treatment”, de 2008, considera que
o tratamento de dependência de drogas, como qualquer procedimento médico, não deve ser
forçado. Mas admite, que em situações de crise de alto risco para a pessoa ou para outros,
pode ser determinado sob condições específicas e por período determinado por lei. (Vide:
http://www.unodc.org/documents/drug-treatment/UNODC-WHO-Principles-of-
DrugDependence-Treatment-March08.pdf).

Exercício 6

1. Sobre os consultórios de rua, assinale a alternativa INCORRETA: a) Seu objetivo é atender à


população em situação de risco e vulnerabilidade social. b) Principalmente atende a crianças e
adolescentes usuários de álcool e outras drogas. c) É composta por equipe multidisciplinar de
profissionais da saúde mental da atenção básica e de pelo menos um profissional da
assistência social. d) Suas atividades são desenvolvidas em um posto de saúde, em área
considerada de risco social. e) Visam a construção de um vínculo inicial, para que o usuário de
drogas escolha ser tratado.

2. Sobre a internação compulsória, assinale a alternativa correta: a) É um tipo de internação


domiciliar de um usuário de drogas. b) É sempre um ato ilegal, sob qualquer circunstância.
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c) Está amparada pela Lei nº 10.216, de 2001. d) É a internação solicitada por um familiar. e) É
um ato arbitrário no país, sem exemplos em outros países.

2.4 Prevenção ao consumo de álcool e outras drogas e a política de redução de danos Antes
até de se pensar em tratamento, deveríamos basear muitas das ações na prevenção, seja qual
for o seu nível, pensando naqueles indivíduos que ainda não utilizaram drogas, onde o
processo de educação seria o norteador dos trabalhos. Sem nos esquecer daquele usuário que
não deseja parar com o uso de uma substância química, a fim de evitar prejuízos severos a sua
saúde (redução de danos).

2.4.1 A Prevenção Segundo as Políticas sobre Drogas (BRASIL, 2013), a prevenção para o uso
de drogas deve ser um comprometimento e parceria entre diferentes segmentos da sociedade
brasileira e dos órgãos governamentais, em todos os âmbitos (federal, estadual e municipal),
fundamentada na filosofia da “Responsabilidade Compartilhada”, com a construção de redes
sociais que visem à melhoria das condições de vida e promoção geral da saúde. Mas sua
execução deve ser descentralizada e executada nos municípios, com o apoio dos Conselhos
Estaduais de políticas públicas sobre drogas e da sociedade civil organizada, adequada às
peculiaridades locais e priorizando as comunidades mais vulneráveis, identificadas por um
diagnóstico prévio. Todas as ações preventivas devem ser pautadas em princípios éticos e de
pluralidade cultural, orientando-se para a promoção de valores voltados à saúde física e
mental, individual e coletiva, ao bem-estar, à integração socioeconômica e à valorização das
relações familiares, considerando seus diferentes modelos. As ações preventivas devem ser
planejadas e direcionadas ao desenvolvimento humano, para o incentivo à educação para a
vida saudável, acesso aos bens culturais, incluindo a prática de esportes, cultura, lazer, a
socialização do conhecimento sobre drogas, com embasamento científico, o

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fomento do protagonismo juvenil, da participação da família, da escola e da sociedade na


multiplicação dessas ações. Fundamentadas cientificamente, de acordo com as especificidades
do público-alvo, as diversidades culturais, a vulnerabilidade, respeitando as diferenças de
gênero, raça e etnia. Os principais tópicos de suas diretrizes são: A capacitação continuada
sobre prevenção do uso indevido de drogas lícitas e ilícitas, para a população geral e/ou
representantes de entidades governamentais. Propiciando a formação de multiplicadores de
ações e formação de redes sociais de apoio; Ações que desestimulem o uso inicial ou que
incentivem a diminuição do consumo de drogas, assim como reduzam os riscos e danos
associados ao seu uso indevido; Manutenção de um sistema de informações epidemiológicas
sobre o uso de drogas, em âmbito nacional, que possibilite a formulação e implementação de
ações de prevenção, incluindo mapeamento e divulgação de “boas práticas” existentes no
Brasil e em outros países. O objetivo da prevenção, segundo a Organização Mundial de Saúde,
é reduzir a incidência de problemas causados pelo uso indevido de drogas em uma pessoa e
em um determinado meio ambiente. Podendo ser organizado de diferentes óticas: •
Prevenção primária: evitar que o uso de drogas se instale, dirigindo- se a um público que ainda
não foi afetado. • Prevenção secundária: efetuar ações que evitem a evolução para usos mais
prejudiciais; • Prevenção terciária: tratar os efeitos causados pelo uso da droga, melhorando a
qualidade de vida das pessoas afetadas. Segundo Zemel (2008, p. 95):

O uso indevido de álcool e outras drogas é fruto de uma multiplicidade de fatores. Nenhuma
pessoa nasce predestinada a usar álcool e outras drogas ou se torna dependente apenas por
influência de amigos ou pela grande oferta do tráfico. Nós, seres humanos, por nossa
humanidade e incompletude, buscamos elementos para aliviar dores e acirrar prazeres. Assim,
encontramos as drogas. Algumas vezes experimentamos, outras usamos sem nos
comprometermos, e outras ainda abusamos.

Existem fatores que contribuem para a construção das circunstâncias do uso abusivo,
chamados de fatores de risco, que tornam a pessoa mais vulnerável a ter comportamento que
pode levar ao uso ou abuso de drogas. Assim como existem fatores que colaboram para que o
indivíduo, mesmo tendo contato com a droga, tenha condição de se proteger, são os
chamados fatores de proteção. Para Sodelli (2005 apud ZEMEL, 2008, p. 95):

Mostra-se evidente a inter-relação e a interdependência existentes entre o usuário e o


contexto que o circunda. Pensar nesta teia de vulnerabilidades e nos determinantes
socioculturais em relação ao uso de drogas em uma sociedade, certamente amplia e torna
mais complexa a abordagem desse fenômeno.

Os fatores de risco e de proteção dependem de: Aspectos biológicos; Cadeia genética;


Nas peculiaridades das relações interpessoais; Nas interações familiares; Nas
oportunidades de contato ou convivência com a droga; Nas sensações provocadas pelo
efeito obtido com o uso da droga; Na cultura que cada um vive, ou seja, na especificidade de
cada indivíduo.
Se examinarmos um fator como a timidez, por exemplo: de um lado, ela pode ser analisada
como fator de risco para o indivíduo que, por ser tímido, aceita o uso de drogas para ser
integrado a um grupo de usuários. De outro, ela pode ser vista como fator de proteção quando
o indivíduo tímido, por medo, diante do oferecimento da droga, se recusa a experimentá-la.
(ZEMEL, 2008, p. 96).

O trabalho de prevenção para um determinado grupo deve ser baseado em identificar os


fatores de risco para que se possa minimizá-los e identificar os fatores de proteção para
fortalecê-los. A prevenção voltada para o uso abusivo e/ou dependência de álcool e outras
drogas pode ser definida como um processo de planejamento, implantação e implementação
de múltiplas estratégias voltadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e risco
específicos, e fortalecimento dos fatores de proteção. Implica necessariamente a inserção
comunitária das práticas propostas, com a colaboração

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de todos os segmentos sociais disponíveis, buscando atuar, dentro de suas competências, para
facilitar processos que levem à redução da iniciação no consumo, do aumento deste em
frequência e intensidade, e das consequências do uso em padrões de maior acometimento
global. Para tanto, a lógica da redução de danos deve ser considerada como estratégica ao
planejamento de propostas e ações preventivas. Devemos lembrar que fatores são próprios do
indivíduo (Quadro 6), ou estariam ligados à família (Quadro 7) ou à sociedade em que se vive
(Quadro 8).

Quadro 6 - Fatores do próprio indivíduo De proteção De risco

Habilidades sociais; Cooperação; Habilidades para resolver problemas Vínculos positivos com
pessoas, instituições e valores; Autonomia; Autoestima desenvolvida.

Insegurança; Insatisfação com a vida; Sintomas depressivos; Curiosidade; Busca de prazer.

Fonte: SENAD (2006)

Zemel (2008), lembra que mesmo a curiosidade, que é essencial para o desenvolvimento
humano, no sentido de aquisição de seu conhecimento, pode também ser essencial para a
experimentação e uso nocivo de uma substância psicoativa. A família por sua vez, um dos
pilares de nossa personalidade, tem por função proteger e favorecer o desenvolvimento de
competências, assim como ser o principal veículo da introdução dos limites e regras.
Fonte: http://migre.me/dE8qc

Muitas vezes, como parte do desenvolvimento humano, o adolescente como forma de firmar
sua identidade, rompe com a autoridade familiar ou se utiliza

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de substâncias psicoativas por não saber lidar com as ansiedades e frustrações inerentes à
fase. Quanto à família, vemos que o uso de álcool e outras drogas pelos pais é um fator de
risco importante, assim como a ocorrência de isolamento social entre os membros da família.
Também é negativamente influente um padrão familiar disfuncional, bem como a falta do
elemento paterno. São considerados fatores de proteção a existência de vinculação familiar,
com o desenvolvimento de valores e o compartilhamento de tarefas no lar, bem como a troca
de informações entre os membros da família sobre as suas rotinas e práticas diárias; o cultivo
de valores familiares, regras e rotinas domésticas também deve ser considerado, e viabilizado
por meio da intensificação do contato entre os componentes de cada núcleo familiar. Quadro
7 - Fatores familiares De proteção De risco

Pais que acompanham as atividades dos filhos; Estabelecimento de regras de conduta claras;
Envolvimento afetivo com a vida dos filhos; Respeito aos ritos familiares; Estabelecimento
claro da hierarquia familiar.

Pais fazem uso abusivo de drogas; Pais sofrem doenças mentais; Pais excessivamente
autoritários ou muito exigentes; Famílias que mantêm uma cultura aditiva (forma de viver
adotada por uma família na qual as resoluções são dadas como formas de impedir a reflexão).
Fonte: SENAD (2006)

Com relação à sociedade em que vive, se referindo ainda aos jovens, Zemel (2008, p. 98),
pontua:

Se o jovem vem de uma família desorganizada, mas encontra em sua vida um grupo
comunitário que faz seu asseguramento, oferecendo-lhe alternativas de lazer e de
desenvolvimento de habilidades pessoais, pode vir a ter sua formação garantida, aprendendo
a criticar e se responsabilizar por si próprio e pelo seu grupo social.
No domínio das relações interpessoais, os principais fatores de risco são pares que usam
drogas, ou ainda que aprovem e/ou valorizam o seu uso; a rejeição sistemática de regras,
práticas ou atividades organizadas também é aqui

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considerada como um sinalizador. Ao contrário, pares que não usam álcool/drogas, e não
aprovam ou valorizam o seu uso exercem influência positiva, o mesmo ocorrendo com aqueles
envolvidos com atividades de qualquer ordem (recreativa, escolar, profissional, religiosa ou
outras), que não envolvam o uso indevido de álcool e outras drogas.

Quadro 8 - Fatores Sociais

De proteção De risco Respeito às leis sociais; Credibilidade da mídia; Oportunidades de


trabalho e lazer; Informações adequadas sobre as drogas e seus efeitos; Clima comunitário
afetivo; Consciência comunitária e mobilização social. Violência; Desvalorização das
autoridades sociais; Descrença nas instituições; Falta de recursos para prevenção e
atendimento; Falta de oportunidades de trabalho e lazer. Fonte: SENAD (2006)

Zemel (2008) finaliza ainda, que alguns fatores de proteção ou fatores de risco podem estar
relacionados com a droga, como informações contextualizadas sobre os efeitos e regras e
controle para o consumo adequado ou a disponibilidade para a compra, propaganda que
incentive o uso, assim como o prazer obtido com o uso, respectivamente. Como frisa a OMS, o
objetivo da prevenção é reduzir a incidência de problemas causados pelo uso indevido de
drogas em uma pessoa e em um determinado meio ambiente. Superando o antigo modelo das
categorias de prevenção primária, secundária e terciária do modelo biomédico tradicional.
Prevenção primária: evitar que o uso de drogas se instale, dirigindose a um público que não foi
afetado. Prevenção secundária: efetuar ações que evitem a evolução do uso para usos mais
prejudiciais. Prevenção terciária: tratar os efeitos causados pelo uso da droga, melhorando a
qualidade de vida das pessoas afetadas. A prevenção deve se organizar focando o indivíduo ou
a população em que estão implícitos os conceitos de fatores associados à proteção e ao risco,
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considerando a multiplicidade de fatores envolvidos ao uso abusivo e na dependência de


drogas. Em atividades preventivas que passam a ser chamadas de: intervenção global ou
universal; intervenção específica ou seletiva; e intervenção indicada. (Quadro 9).

Quadro 9 - Modelo de prevenção baseado nos fatores de proteção e de risco.

O QUE É? ONDE SE APLICA?

Intervenção global: são programas destinados à população geral, supostamente sem qualquer
fator associado ao risco.

Intervenção global/universal: na comunidade, em ambiente escolar e nos meios de


comunicação.

Intervenção específica: são ações voltadas para populações com um ou mais fatores
associados ao risco de uso de substâncias.

Intervenção específica/seletiva: por exemplo, em grupos de crianças, filhos de dependentes


químicos.

Intervenção indicada: são intervenções voltadas para pessoas identificadas como usuárias ou
com comportamentos violentos relacionados direta ou indiretamente ao uso de substâncias,
como, por exemplo, alguns acidentes de trânsito.

Intervenção indicada: em programas que visem diminuir o consumo de álcool e outras drogas,
mas também a melhora de aspectos da vida do indivíduo como, por exemplo, desempenho
acadêmico e reinserção escolar. Fonte: Zemel (2008, p. 101)

Inúmeros materiais educativos são disponíveis nos sites já citados, abrangendo educadores,
familiares, crianças e adolescentes.

2.4.2 Redução de Danos A promoção de estratégias e ações de redução de danos, voltadas


para a saúde pública e direitos humanos, deve ser realizada de forma articulada inter e
intrassetorial, visando à redução dos riscos, às consequências adversas e dos danos associados
ao uso de álcool e outras drogas para a pessoa, a família e a sociedade. As diretrizes das
estratégias de redução de danos são amparadas pelo artigo 196 da Constituição Federal, como
medida de intervenção preventiva, assistencial, de promoção da saúde e dos direitos
humanos. Devendo garantir o apoio à implementação, divulgação e acompanhamento das
iniciativas e estratégias
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de redução de danos desenvolvidas por organizações governamentais e não governamentais,


assegurando os recursos técnicos, políticos e financeiros necessários, em consonância com as
políticas públicas de saúde. Segundo o site Infodrogas (2013), o conceito de redução de danos
refere-se a uma política de saúde que se propõe a reduzir os prejuízos do uso de drogas, sejam
de natureza biológica, social e/ou econômica, incluindo o seu direito de consumir drogas.
Utilizando para tanto, métodos de reduzir o risco do dano associado a certos
comportamentos, mesmo que não ocorra a diminuição da frequência desses comportamentos.
Para a International Harm Reduction Association (2010, p. 1):

Redução de danos é um conjunto de políticas e práticas cujo objetivo é reduzir os danos


associados ao uso de drogas psicoativas em pessoas que não podem ou não querem parar de
usar drogas. Por definição, redução de danos foca na prevenção aos danos, ao invés da
prevenção do uso de drogas; bem como foca em pessoas que seguem usando drogas.

A redução dos danos relacionada ao uso de drogas tem origem no Comitê Rolleston, em 1926,
que concluiu que a manutenção de usuários por meio do emprego de opiáceos era o
tratamento mais adequado para determinados usuários. Com o aparecimento da AIDS, o tema
voltou à tona devido à possibilidade de contágio por drogas injetáveis e o compartilhamento
de seringas e agulhas. (INFODROGAS, 2013). Embora as políticas de redução de danos tenham
inicialmente se destacado a partir da distribuição de agulhas e seringas para usuários de
drogas injetáveis, como estratégia para prevenir a transmissão do vírus da AIDS, não é limitado
apenas a isso. Um exemplo da redução de danos, com relação ao consumo de álcool, são as
campanhas do tipo “se beber não dirija” e em caso do consumo, o uso de táxis ou a condução
do veículo por sujeito abstinente de álcool. Fonte: http://migre.me/dFT4z

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As intervenções de redução de danos devem ser práticas, baseadas na forma científica


existente. A maior parte das ações de redução de danos são de baixo custo, fáceis de
implementar e têm um alto impacto na saúde individual e comunitária. Devem ser facilitadoras
e não coercitivas, e são fundamentadas nas necessidades dos indivíduos: “[...] manter as
pessoas que usam drogas, vivas e protegidas de danos irreparáveis são consideradas as mais
urgentes prioridades, mesmo compreendendo que existem muitas outras prioridades.” (IHRA,
2010, p. 2). Para isto, as pessoas que trabalham no campo de redução de danos devem aceitar
as pessoas como elas são e evitar julgar os comportamentos adotados por pessoas que usam
drogas. Essencialmente, a política de redução de danos: É uma alternativa de saúde pública
aos modelos moral, criminal e de doença. Reconhece a abstinência como resultado ideal,
mas aceita alternativas que reduzam danos. É baseada na defesa do dependente; Promove
acesso a serviços de baixa exigência, ou seja, serviços que acolhem usuários de forma mais
tolerante, como uma alternativa para as abordagens tradicionais de alta exigência, aquelas
que, tipicamente, exigem a abstinência total como pré-requisito para a aceitação ou
permanência do usuário. Baseia-se nos princípios do pragmatismo empático versus idealismo
moralista.

PALAVRAS FINAIS

Como a temática em dependência química é ampla e, em constante modificação, mobilizada


por transformações nas políticas de cuidados sociedade atual, não esgotamos todas as
possibilidades de discussão.

Acreditamos que as reflexões propiciadas ao longo da disciplina incitaram o pós-graduando a


se interessar pela temática e como ator e/ou participante do processo do cuidado, permitir
que se aprofunde cada vez mais.

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