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Introdução

O presente trabalho tem o abjetivo de apresentar os pontos contrários a


descriminalização das drogas que vem sendo pauta em vários debates nas redes sociais,
significando que os usuários poderiam consumir as substâncias sem serem punidos pelo código
penal, contrariando o previsto na lei 11.343/2006. Entretanto, é importante ressaltar que o porte
de drogas para consumo próprio já foi despenalizado, mas não descriminalizado, fato este que
encontra amparo legal no Decreto Lei n° 2.848 de 1940.

Portanto, a liberação das drogas ilícitas como a maconha pode ser extremamente
prejudicial a sociedade e ao próprio individuo que a usa, cooperando para o aumento do
consumo e fortalecimento do narcotráfico e principalmente ferindo direitos fundamentais
garantidos pela Constituição Federal de 1988.

Desse modo, neste tópico, exploraremos o presente tema sobre a descriminalização, bem
como os argumentos que contrariam os cinco votos proferidos pelos respeitados Ministros do
STF de modo a demonstrar os potenciais impactos dessa mudança das políticas de drogas em
uma sociedade.

Desenvolvimento

As drogas ilícitas chegaram ao brasil no final do século XIX, período em que havia um
processo acelerado de urbanização e industrialização que resultou em condições miseráveis de
trabalho e de existência para a maior parte da população. Portanto, com essas questões sociais,
a classe trabalhadora buscou um refúgio do mundo conturbado e com constantes mudanças nos
vícios deselegantes, estes caracterizados pelo alcoolismo e maconhismo, uma vez que os vícios
elegantes que eram morfina, cocaína e heroína, apenas eram consumidos por pessoas da alta
classe social.

Desse modo, fato é que desde os primórdios dos tempos, o Brasil possui concentração
de poder econômico nas mãos dos mais ricos, no qual os mais pobres são a maioria da
população. Dessa forma, a falta de poder econômico da população à época gerou um consumo
exarcebado de álcool e maconha por aqueles que buscavam uma “fuga do mundo real”.
De acordo com o Informe Mundial sobre as Drogas publicado pela UNODC em 2018,
cerca de 5,6% da população mundial com idade entre 15 e 64 anos (cerca de 275
milhões de pessoas) fez uso de algum tipo de droga ilícita no ano de 2016. A cannabis
foi a droga mais consumida neste mesmo período, correspondendo a 3,9% da
população global nessa mesma faixa etária. O documento também apontou um
crescimento de 60% das mortes causadas diretamente pelo uso de drogas no período
de 2000 a 2015 (cerca 105.000 óbitos registrados em 2000 e 168.000 óbitos
registrados em 2015). Disponível em:
https://www.congresso2019.fomerco.com.br/resources/anais/9/fomerco2019/156884
9373_ARQUIVO_09da9b5bfebcbb7df3b9778e4b66d803.pdf

Assim, com o passar do tempo as drogas concentradas nas mãos dos mais ricos,
começaram a ser desejadas pelos desafortunados que não obtinham condições de arcar com os
custos de drogas ilícitas tão caras como a cocaína, heroína e morfina, fazendo com que os
traficantes à época começassem a diluir as drogas comercializadas, bem como fabricar mais
para atender a essa população que não detinha de renda suficiente.

Nesse sentido, o consumo em massa de drogas ilícitas, gerou a necessidade do combate


as drogas em que vivemos até os dias atuais:

No Brasil, o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas Pela População


Brasileira, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com outras
instituições, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto
Nacional de Câncer (Inca) e a Universidade de Princeton (EUA), também trouxe
dados preocupantes. O estudo, divulgado em 2019, e considerado o mais completo
levantamento sobre drogas já realizado no País, apontou que 3,2% dos brasileiros
usaram substâncias ilícitas nos 12 meses anteriores à pesquisa, o que equivale a 4,9
milhões de pessoas. Entre os jovens, o percentual mais que dobra: 7,4% dos
entrevistados entre 18 e 24 anos haviam consumido drogas ilegais no ano anterior à
entrevista.

A droga ilícita mais consumida entre os pesquisados foi a maconha: 7,7% disseram
ter usado ao menos uma vez na vida. Em seguida, veio a cocaína em pó: 3,1% já
haviam consumido a substância. O levantamento também pesquisou outras drogas
lícitas e ilícitas, como o crack, LSD, medicamentos, heroína, ecstasy, entre outros.
Porém, os dados considerados mais alarmantes com relação aos padrões de uso de
drogas no Brasil foram relacionados ao álcool. Mais da metade da população brasileira
de 12 a 65 anos declarou ter consumido bebida alcoólica alguma vez na vida. Cerca
de 46 milhões (30,1%) informaram ter consumido pelo menos uma dose nos 30 dias
anteriores. E aproximadamente 2,3 milhões de pessoas apresentaram critérios para
dependência de álcool nos 12 meses anteriores à pesquisa. Mais um problema que
precisa ser combatido com informação, já que o álcool tem venda liberada e seu uso,
no Brasil, é cultural. Disponível em: https://portal.al.go.leg.br/noticias/118223/no-
dia-internacional-contra-abuso-e-trafico-de-drogas-parlamentares-defendem-
campanhas-de-

Em outro ponto, passamos a análise da descriminalização do porte de drogas para


consumo próprio. Adiante, a Constituição Federal de 1988, trouxe a em sua redação, no que
tange aos direitos sociais, a garantia do direito a saúde e a segurança. Vejamos:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,


o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)

Portanto, o consumo próprio de drogas ilícitas causa danos à saúde como a destruição
de neurônios, diminuição a capacidade de pensar; desenvolvimento de doenças psiquiátricas
como depressão ou esquizofrenia; lesões no fígado; desenvolvimento de doenças contagiosas,
como AIDS ou hepatite.

Dessa forma, diante do exposto acima, a liberação do porte de drogas ilícitas para
consumo próprio contraria um direito fundamental e constitucional de todo Brasileiro, fazendo
com que tal liberação se torne inconstitucional por violar tal direito, uma vez que a decisão do
consumo de drogas não é um direito individual e afeta o coletivo, no momento em que a
dependência gerada pelo uso constante pode causar alucinações ao individuo colocando em
risco a segurança das pessoas que convive com o usuário.
As drogas são classificadas pelos efeitos que causam no sistema nervoso, podendo
ser:
Depressoras: diminuem as atividades cerebrais e possuem alguma propriedade
analgésica. Causa sonolência e desatenção.
Estimulantes: aumentam a atividade cerebral. Causa aumento da atenção, euforia e
pensamento acelerado.
Perturbadoras: causa alucinações ou ilusões.

A longo prazo, o uso de drogas pode causar: destruição de neurônios, diminuindo a


capacidade de pensar; desenvolvimento de doenças psiquiátricas como depressão ou
esquizofrenia; lesões no fígado; desenvolvimento de doenças contagiosas, como aids
ou hepatite.

A maioria das drogas pode levar a dependência, levando a pessoa a sofrimento físico
e psicológico quando interrompe o consumo. Disponível em:
https://blog.austahospital.com.br/drogas-causa-
dependencia/#:~:text=A%20longo%20prazo%2C%20o%20uso,contagiosas%2C%2
0como%20AIDS%20ou%20hepatite.

Vejamos abaixo a história de um dos vários usuários de drogas, que tentam recomeçar
sua vida longe delas atualmente.
Matheus, 18 anos, estudante, Florianópolis (SC)
1 ano e 4 meses longe das drogas

"Na época, morava com meu pai e meu irmão. Comecei fumando maconha e com o
tempo usei todas as substâncias possíveis. Me identifiquei no crack e foi quando
minha vida começou a se destruir, perdi tudo. Meu pai não tinha mais controle sobre
mim, que ainda era menor de idade. Meu pai ficou doente, teve câncer e, após um
mês, ele faleceu.
Me senti destruído, perdi o rumo e passei a viver só em função da droga. Todo dia,
toda noite, com chuva e com sol eu estava usando. Cada vez queria usar mais, a droga
já não me satisfazia como antes. Foi quando a morte do meu pai me trouxe um
despertar espiritual e decidi me internar. Nesse momento, minhas irmãs voltaram a se
aproximar de mim e me internaram em uma comunidade terapêutica. Lá eu aprendi
muito sobre a irmandade de Narcóticos Anônimos e, quando saí, passei a frequentar
as reuniões da NA. Fui muito bem recebido e consegui me sentir importante para
alguém.
Achava que ia morrer usando e hoje venho apreendendo que o NA está de porta
abertas para me acolher e me ajudar. Para me manter longe da droga, ainda preciso
me vigiar, saber o que vou fazer. Evito algumas pessoas e lugares. Tudo o que é ruim
para mim hoje eu evito. Procuro decidir tudo da maneira mais correta, calculo e tomo
a atitude certa com responsabilidade. O primeiro passo para parar de usar é ter o
desejo. Tem que querer muito. É difícil, eu sei. Cada dia eu faço a decisão de não usar.
Eu tenho o desejo, eu tenho a vontade de ficar limpo. Com tudo isso aprendi a
preservar a minha vida. A coisa mais importante que tenho hoje é a minha vida."
Disponível em: https://www.minhavida.com.br/materias/materia-14575

À vista desse desígnio, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de


Psiquiatria se posicionou no sentido de que a descriminalização do consumo de drogas pode
ocasionar no aumento do consumo, no comprometimento a saúde dos usuários e pública, bem
como no fortalecimento do narcotráfico. Ademias, a Associação de Delegados de Polícia do
Brasil (Adepol) acrescentou que a descriminalização ocasiona no aumento do consumo,
portanto, mais usuários significa mais traficantes e consequentemente, mais violência no país.

Visto isso, é de fácil entendimento que com mais violência outro direito fundamental
garantido pela Constituição Federal seria ferido, uma vez que o Estado tem o dever de fornecer
segurança à população, de modo que a liberação das drogas para consumo próprio feriria dois
direitos fundamentais inerentes a dignidade da pessoa humana.

Dessarte, no que se refere aos argumentos proferidos pelos respeitados Ministros do


STF temos que, o argumento de que é inconstitucional o art. 28 da lei antidrogas, uma vez que
o Estado não deve interferir em um hábito pessoal que não gere dano as outras pessoas, não
encontra verdade diante aos fundamentos expostos acima.

Por fim, temos que a lei 11.343/2006 em seu art. 28 que


Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva
ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou
produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à
natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente.
§ 3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo
prazo máximo de 5 (cinco) meses.
§ 4º Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste
artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.
§ 5º A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários,
entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres,
públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da
prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.
§ 6º Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput,
nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz
submetê-lo, sucessivamente a:
I - admoestação verbal;
II - multa.
§ 7º O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator,
gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para
tratamento especializado.

Sendo muito clara em sua redação, a aplicação de uma sanção menos punitiva para quem
porta drogas para consumo próprio, não ferindo, dessa forma, nenhum direito constitucional,
uma vez que a manutenção dessas medidas deverá se manter.

Ademais, cabe ressaltar que para descriminalizar o porte para consumo próprio teríamos
que descriminalizar também, a produção de drogas o que geraria um grande problema no
controle das quantidades produzidas, que poderia ocasionar problemas até mesmo na
importação e exportação dessas, uma vez que tudo que e produzido no Brasil atualmente é
exportado para fora. assim, parte desse entendimento foi firmado pelo respeitado Ministro Luís
Barroso ao relatar que há uma inconsistência em descriminalizar o porte, mas manter
criminalizada a produção da droga. Portanto, o ministro sugeriu que o Congresso observe com
atenção o exemplo de países nos quais o mercado é legalizado. Desse modo, para ele a questão
deve ser tratada como um caso de saúde pública, e não na ótica criminal

Conclusão

Diante os fundamentos expostos no desenvolvimento desse trabalho, temos que o


problema das drogas existe desde o final do século XIX, onde as pessoas menos desfavorecidas
economicamente sempre foram as mais atingidas o que ocasionou sofrimento em uma eterna
“luta contra as drogas” a várias famílias.

Portanto, a discussão sobre a descriminalização ou não, deve estar voltada a


fundamentos jurídicos como os direitos fundamentais inerentes a dignidade da pessoa humana,
como a segurança e a proteção do maior bem jurídico, sendo a vida. Desse modo, toda e
qualquer decisão contrária a isso viola princípios básicos que precisam ser preservados para
que o ato de usar drogas que causam tantos danos à saúde e a coletividade não seja normalizado.
Ademais, a redação do art. 28 da Lei 11.343/2006 se atenua a deixar e permitir penas
mais brandas como admoestação verbal caso um individuo seja pego com posse de drogas para
consumo próprio, justamente para evitar mais lotação em presídios por atitudes que não ferem
o bem jurídico de terceiros.

Contudo, a manutenção da criminalização das drogas deve ser a medida que se mantém
por não violar princípios básicos, conforme já explicado e exemplificado no desenvolvimento
do presente trabalho.

Referências:

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

Lei nº 13.840, de 5 de junho de 2019. Brasília: Diário Oficial da União. BRASIL. Política
Nacional sobre Drogas. Disponivel em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11343.htm

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/08/stf-julga-descriminalizacao-das-drogas-
conheca-argumentos-contra-e-a-
favor.shtml#:~:text=ARGUMENTOS%20CONTRA%20A%20DESCRIMINALIZA%C3%87
%C3%83O%20DAS%20DROGAS&text=Em%20nota%20conjunta%20divulgada%20no,ao
%20uso%20terap%C3%AAutico%20da%20Cannabis.

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