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Resumo: O presente artigo aborda a temática das drogas como tabu na sociedade e sua relação nas políticas
brasileiras, com o objetivo de vislumbrar a possibilidade de uma outra alternativa além da criminalização
das drogas. O trabalho foi realizado partir de uma revisão de literatura em bases de dados, sobre o tema
drogas e tabu. Os dados coletados refletem sobre o moralismo do combate às drogas e os desafios
enfrentados pela adoção de políticas de criminalização das drogas. Enquanto isso, a produção de drogas
lícitas e ilícitas aumenta e o consumo também, gerando a necessidade de tornar alternativas das adotadas
atualmente.
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Dentista pela Universidade Federal do Ceará (UFC), ex-integrante do Programa de Educação para o
Trabalho em Saúde (PET-SAÚDE), Discente do curso de Direito da Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-
mail: ayllavieira@yahoo.com.br.
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Graduado em Direito pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Especialista em Direito
Processual Civil pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Defensor Público. E-mail:
fabiobcarneiro@hotmail.com.
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Graduado em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Graduado em Ciências Sociais pela
Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará
(UFC). Professor da Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: robson-mata@hotmail.com.
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INTRODUÇÃO
Durante muito tempo, até os dias de hoje, falar sobre drogas constitui um tabu.
Falar da descriminalização das drogas torna-se um assunto, ainda mais, cercado de
preconceitos, receios e moralismo. Segundo GUEIROS (1), a palavra tabu, de origem
polinésia, de início toma o sentido de proibições de caráter sagrado, mas seu significado
estendeu-se para outras proibições ou inconveniências e está atualmente bem difundida
na cultura ocidental. Falar de drogas ainda é um assunto muito evitado e proibido para
algumas sociedades. E quando o tema é abordado de maneira informal, normalmente, são
conceitos repetidos pela sociedade como verdade científica. Mas, não o são.
A presença das drogas na humanidade existe há muito tempo e supõe-se que
sempre existirá. Exigir ou procurar uma sociedade livre de drogas é ilusório e inútil. Não
necessariamente a mesma substância, mas normalmente quando desaparece uma, surge
outra.
A história das drogas vem desde tempos antigos. Há milhares de anos, o homem
faz uso de substâncias psicoativas. Estudos arqueológicos indicam que o consumo do
álcool data de 6.000 a.C., o ópio já era utilizado, no Egito, em 1.000 a. C., na Ásia em
1.300 a. C., se fazia o uso da canabis, os árabes, em 1.600 usavam o haxixe. A primeira
guerra das drogas ocorreu na China, datada em 1.800, contra o ópio e até hoje é possível
observar uma luta contra as drogas, em busca de um objetivo maior, um mundo livre
delas. (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas [OBID], 2011)2.
Em determinados momentos da história dos processos punitivos, podemos
observar a questão política exercida sobre as drogas. Como por exemplo, na década de
70, em que os Estados Unidos da América (EUA) declaram guerra contra as drogas, não
somente pelos malefícios das drogas, mas também pela perca de dinheiro do governo
ianque. A estratégia do Governo Nixon, com a importante ação da representação dos EUA
nos grupos de trabalho sobre política de drogas Organização das Nações Unidas (ONU),
capitaneada por George Bush, foi a de conduzir a opinião pública a eleger as drogas,
principalmente a heroína e a cocaína, como (novo) inimigo interno da nação
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METODOLOGIA
Trazendo esse contexto para o Brasil, o nosso governo não deve se preocupar
apenas no combate da produção e entrada de drogas no país. Deve-se tentar reduzir o
consumo, tratar os usuários e prevenir o consumo. A Escola de Chicago, uma das teorias
criminológicas, tida como conservadora, propõe posturas preventivas e não repressivas,
como solução para redução da criminalidade – esta, intimamente ligada ao uso de drogas.
Algumas propostas de prevenção à criminalidade estão atreladas à redução do
consumo de drogas da população mais carente e também à proposta preventiva de
políticas públicas minimizadoras da miséria e de resgate da cidadania. Segundo Shaw e
Mckay, nenhuma redução de criminalidade é possível se não houver mudanças efetivas
das condições socioeconômicas e sociais das crianças. (SHAW, 1929) 6.
A rejeição de medidas preventivas e adoção de políticas de repressão estatal leva
a um ciclo vicioso de menos educação, menos prevenção, mais consumo de drogas, mais
crimes, mais prisões e pouca ou nenhuma solução.
No século XX, a maconha ainda era uma droga lícita e economicamente positiva
no Brasil. Houve um período em que a droga era compreendida como um remédio, uma
vez que tinha a capacidade de eliminar a dor e de afastar os problemas (OBID, 2011)2.
Vale destacar que, até então, colonizadores, senhores de engenho e Agentes do Império
Lusitano já estavam habituados com o cultivo e uso da erva (A história da maconha, a
droga mais polêmica do mundo, 2012)7.
Mas, no decorre dos anos se tornou pouco aceita por representar as baixas classes
sociais, pois a erva representava as raízes culturais do continente africano. No início do
século XX, com a industrialização e urbanização, o hábito de uso da maconha ganha
adeptos, além de ex-escravos, mestiços, índios e imigrantes rurais, os moradores dos
meios urbanos também passaram a utilizar a cannabis. Apesar da planta ser utilizada
como matéria-prima para fibra têxtil, principalmente da elite, sua imagem ficou marcada
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O uso das drogas não é um problema individual do usuário. A atitude dele destrói
uma família inteira, com o abandono dos laços sociais, repercutindo diretamente na
sociedade. Isto gera efeitos devastadores, com o crescimento das atividades criminais, o
aumento do sentimento de insegurança e a manutenção de um caríssimo aparato de
repressão.
Além disso, vira um problema de saúde pública, necessitando do tratamento dos
viciados e das doenças infecto-contagiosas, adquiridas pelo uso de drogas injetáveis. Bem
como provoca um problema econômico, uma vez que as drogas ilícitas constituem uma
fonte de renda informal, que faz parte do novo ambiente social, econômico e cultural.
Com essa análise, vislumbramos que uma atitude individual reflete todo um drama
público e isso abre espaço para apresentar formas alternativas de punição para combate
às drogas, bem como reduzir os danos ao uso.
Deve-se estabelecer a ideologia de diferenciação. Traçar a nítida distinção entre
consumidor e traficante, ou seja, entre doente e delinquente. Iniciar o discurso médico-
psiquiátrico, de tratar o usuário como doente que necessita de ajuda profissional médica
e psicológica observando que a responsabilização da disseminação das drogas é bem mais
complexa do que a simples punição de encarceramento. Não apenas responsabilizar o
usuário, o traficante e a família do usuário, mas principalmente saber que é dever do
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governo evitar esse uso de maneira mais ampla e que o encarceramento não é a única
opção. É uma responsabilização de todos os atores envolvidos. São os usuários, os grupos
sociais, o criminoso e o governo por meio da política, saúde, educação e trabalho.
Além da distinção, deve-se tratar, de maneira adequada, os usuários. Estes,
normalmente, não têm informação intelectual, não estão preparados para o mercado de
trabalho e não se empregam. Devem ter apoio psicológico, médico e educacional, assim
como fornecer condições para a existência de empregos formais e bem remunerados, para
que o tráfico não seja uma opção vantajosa.
Além disso, aplicar a lei, de forma vaga, não diferenciando a quantidade de porte
de drogas, não distinguindo o tráfico do consumo, tende apenas a favorecer os
dominadores do poder, da maneira que os convêm. A lei deve ser aplicada de maneira
universal e não de acordo com a vontade individual do representante do governo. Mas,
sim, de maneira clara, sem deixar espaço para interpretações diferentes.
Vera Malaguti Batista faz essa abordagem, da aplicação da lei vaga:
em que a atenção à saúde do usuário de entorpecentes se torna um tema cada vez mais
relevante.
A partir da década de 2000, as políticas públicas de drogas brasileiras têm-se
apresentado permeáveis ao enfoque da redução de danos, podendo ser observada uma
importante mudança, referente à distinção feita entre as atividades antidrogas e aquelas
de prevenção, tratamento, recuperação e reinserção social, conferindo maior destaque a
estas últimas (Brasil, 2000)11.
Embora estratégias, como a redução de danos, tenham conquistado espaço na
agenda pública brasileira e mudanças estarem ocorrendo na legislação, estamos longe de
chegar aos modelos ideais. Existe uma incongruência nas propostas do Ministério da
Saúde de se posicionar em favor da construção de uma política de redução de danos e a
Política Nacional sobre Drogas baseada em uma abordagem de erradicação das drogas
ilícitas.
Nesse cenário, fica claro que as drogas devem ser reconhecidas como um
problema social complexo, a ser enfrentado com políticas públicas, mas elas devem ser
adotadas de uma maneira clara, em que o usuário de drogas deve ser visto como um
doente e não um delinquente, abandonando o julgamento moral do mesmo, com o
afastamento da visão moralista do combate às drogas ilícitas e com a quebra do tabu.
Deve-se fazer com que o usuário busque tratamento e não se afaste da solução
pelo medo da prisão. A política de criminalização de drogas dificulta a prevenção, visto
que trata o usuário como delinquente, pois culpabiliza-se, na concepção dessa política
nacional, o usuário de drogas pelos crimes relacionados ao tráfico.
A solução não é a prisão de doentes, mas sim prevenção, educação, valorização
do trabalho, descriminalização da droga (pela qual continua punindo, mas não com a
prisão), organização e controle de vendas de entorpecentes, acesso e acompanhamento do
viciado à rede de serviços e rede de suporte social, repressão à produção e ao tráfico de
drogas, atenção à saúde e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e adoção
de política de redução de danos. Cuidando do doente e reduzindo o dano da droga no
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usuário, para evitar outros riscos relacionados ao uso de drogas como infecções causados
pelo HIV, hepatite C e overdoses. Oferecendo um local limpo, seguro. E que o usuário
vá ao encontro do médico e de ações sociais, como educação e sensibilização, mesmo que
para isso seja oferecido a própria droga pelo governo.
A droga também deve ser vista como uma medicação. A dose, que o usuário não
sabe administrar, deve ser feita pelo profissional médico, permitindo tratar o doente
viciado e também favorecendo uma melhor qualidade de vida a pacientes, que necessitam
do uso de algumas drogas tidas como ilícitas, como pacientes com câncer, esclerose
múltipla e pacientes com tiques nervosos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Porém, nada impede que isso comece hoje, com as ações de base, para, no futuro,
enfrentemos a droga de uma maneira mais aberta, quebrando todo o tabu histórico.
REFERÊNCIAS
ALVES, V. S. “Modelos de atenção à saúde de usuários de álcool e outras drogas: discursos políticos,
saberes e práticas”. In: Cadernos de Saúde Pública, 25(11), 2009. p. 2309-2319.
BATISTA, Vera Malaguti. Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio de Janeiro. 2. ed. Rio
de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia, 2003.
Booth, W.C., Colomb, G.G., & Williams, J.M. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
CARVALHO, Salo de. A política Criminal de drogas no Brasil - Estudo criminológico e drogmático da
Lei 11.343/06. Editora Saraiva, 2014, p. 70 e 71.
Decreto nº. 3.696 de 21 de dezembro de 2000. Dispõe sobre o Sistema Nacional Antidrogas, e dá outras
providências. Diário Oficial da União 2000; 22 dez.
História da maconha, a droga mais polêmica do mundo. 2012. Acessado em 16 março, 2017, disponível
em: http://psicodelia.org/noticias/a-historia-da-maconha-a-droga-mais-polemica-do-mundo.
Lei nº. 11.343 de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas
SISNAD; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
drogas; define crimes e dá outras providências. Diário Oficial da União 2006;24 ago.
Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas – (OBID) 2011. Acessado em 3 março, 2017,
disponível em:
http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/conteudo/index.php?id_conteudo=11288&rasto=INFORMA
%C3%87%C3%95ES+SOBRE+DROGAS%2FTipos+de+drogas/%C3%81lcool#historico.
OLMO, Rosa Del. A América latina e sua Criminologia. Rio de Janeiro: Revan: ICC: 2004 (Pensamento
Criminológico, 9).
SHAW, Clinfford, Frederick M. Zorbaugh, Hery D. Mackay, and Leonard S. Cottrell. Delinquency Areas.
Chicago: University of Chicago Press. 1929.