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3 A GÊNESE DO PROIBICIONISMO
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criminalização da maconha situa-se entre a crença de que os negros eram a
maldição da nação e o controle dos processos curativos pela medicina. Já que as
ervas eram à base dos rituais de cura dos terreiros de religião de matriz africana.
Para Saad, ancorada em Adiala:
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consumo e a venda. Outra iniciativa importante é a ampliação da discussão acerca
das finalidades terapêuticas da planta ao redor do mundo, inclusive no Brasil, onde
os fins terapêuticos da maconha foram reconhecidos pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC)
no 156 de 5 de maio de 2017, que inclui a maconha na categoria "planta medicinal"
das Denominações Comuns Brasileiras (DCB). Aqui cabe uma nota de que esse
reconhecimento, enquanto planta medicinal, não é uma novidade, talvez um resgate
de um uso milenar, agora sob a chancela da indústria farmacêutica.
Assim, o proibicionismo enquanto um estatuto, não é apenas um conjunto de
leis. Não, é um tanto mais complexo, disperso e perverso. Não se trata de um jogo
de palavras, é complexo, pois é também uma lógica e, como tal, permeia as
instituições, as relações e as formas de pensar (COLETIVO DAR, 2016); disperso,
pois, por ser cultural, se expressa de formas diversas, nas instituições de segurança,
de saúde, de educação, nas comunidades, nas relações entre vizinhos e amigos em
que um vigia e controla o comportamento do outro.
Com a relação à perversidade, muito há que ser enunciado, mas o principal a
ser denunciado, cada vez mais e com maior intensidade, é a letalidade desse
sistema. A capacidade de provocar mortes, como cessão da vida de forma objetiva e
simbólica ao produzir encarceramentos em massa, buracos e ausências nas vidas
de famílias e comunidades, mortes simbólicas que impactam objetivamente as
pessoas. Resultados de uma guerra.
Embora uma convenção internacional, este estatuto assume delineamentos
diferentes em cada país. No Brasil temos uma guerra às drogas que assume
contornos discriminatórios e seletivos. Uma política repressiva que consome
recursos financeiros e que não reduz a oferta nem a demanda por drogas. A cada
apreensão e incineração de drogas pela polícia torna-se mais visível o desequilíbrio
entre repressão, produção e comércio. Sobre esse desequilíbrio, há uma analogia
recorrente entre os agentes, moradores de comunidades, estudiosos para descrever
a situação “enxugar gelo”. Se há um descrédito crescente sobre essa metodologia, e
muitos estudos que demonstram sua ineficácia no que tange ao objetivo de reduzir a
demanda e a oferta, por que há insistência e acirramento da guerra às drogas?