Você está na página 1de 11

Título: Porque queremos a legalização da maconha

Por: André Oliveira Sampaio e Zenobio Alberto Marin Gonzales

1 - SUMÁRIO:

2 - INTRODUÇÃO: _________________________________________________ 1

3 - DESENVOLVIMENTO:____________________________________________ 2

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS: _______________________________________ 9

5 - BIBLIOGRAFIA: ________________________________________________ 11

2. Introdução

A Cannabis sativa é uma planta que nasce no mundo inteiro, sua história
milenar acompanha a história do homem que foi o responsável por semear essa espécie
por todos os lugares do planeta. Têm um histórico uso medicinais em várias épocas e
vários países, usos tradicionais da cultura popular em vários lugares do mundo.
Também foi utilizada para fins rituais e religiosos ao longo da história da humanidade.
A sua proibição gerou uma série de consequenciais sociais. É uma planta que possui
vários usos, dos quais falarei sobre alguns mais adiante. A proibição da maconha é uma
questão recente na história da humanidade, que nos leva a perguntar: Por que?
A proibição da cannabis gera violência, repressão e violação de direitos
principalmente das classes mais pobres e das pessoas de pele negra.
O proibicionismo é uma política aplicada ao controle de algumas substâncias
que supostamente ou comprovadamente podem causar mal aos usuários ou terceiros.
Esse tipo de guerra, combate as chamadas drogas ilícitas geralmente é motivado por
questões morais, preconceitos étnico-raciais e interesses econômicos. Esse tipo de
política cria um mercado ilegal dessas substâncias que gera muito lucro para grandes
traficantes que se esconde na alta sociedade, nas polícias e na classe política. Em países
como o Brasil e os Estados Unidos essa política tem sido responsável pelo
encarceramento em massa e assassinato de pobres e pessoas de pele negra e parda, além
de fortalecer a segregação e a desigualdade social.
O racismo estrutural é uma ideologia estruturante do funcionamento da máquina
governamental brasileira, uma política velada, que influencia a forma como o estado
atua sobre a população negra e periférica. Essa política se expressa claramente após a
abolição da escravidão com a criação de várias leis que proibiam as práticas culturais
negras e puniam e encarceravam seus praticantes. Hoje se expressa principalmente na
ausência de políticas públicas reparativas e na política de combate as drogas, uma
espécie de guerra contra as populações pobres, periféricas e negras. O tráfico de drogas
é uma consequência da proibição de determinadas substâncias, cria um mercado
paralelo, que aparece como uma alternativa econômica para as populações pobres e
negras que não tem acesso aos privilégios de nascença, pele branca, ou herança familiar.
É uma estratégia falida, uma espécie de enxuga gelo, que provoca o extermínio e
o encarceramento em massa de uma determinada população a partir da suas condição
social e sua cor de pele. Um racismo enraizado na estrutura do estado brasileiro. E um
fenômeno estudado mais recentemente que são as consequências dessa política racista
na população negra feminina. Recai sobre as mulheres a responsabilidade pelo cuidado
e pela sobrevivência dos companheiros encarcerados e dos filhos. O encarceramento
feminino também surge como consequência, por conta que as mulheres acabam
obrigadas a assumir os negócios ilícitos dos companheiros encarcerados.
O debate da legalização da maconha é uma temática extremamente polêmica não
só no Brasil como no mundo inteiro. Atualmente esse debate tem ganhado visibilidade
na mídia e no seio da sociedade que conta até com um movimento internacional a favor
da legalização.

3. Desenvolvimento

3.1. Um breve histórico da proibição à legalização

Existem registros de usos da espécie Cannabis sativa pela espécie Homo


sapiens que datam de cerca doze mil anos atrás. Ela esteve presente em diversas
sociedades e culturas humanas através dos milênios com usos variados. Porém,
recentemente a humanidade parece ter mudado de opinião sobre a sua, até então, relação
harmoniosa com essa planta.
Em meados da década de 30 do século passado, um cidadão norte
americano chamado Harry Anslinger foi nomeado chefe da recém criada Agência
Federal de Narcóticos (FBN em inglês), órgão este que permaneceu a frente por 32
anos. A história desse homem está intimamente relacionada com a história da proibição.
“Em 1937, Anslinger foi ao Congresso dizer que, sob o efeito da maconha,
“algumas pessoas embarcam numa raiva delirante e cometem crimes violentos”[...]O
congresso aprovou sem maiores discussões, o Ato de Taxação da Maconha, pelo qual o
uso “recreativo” da planta ficava terminantemente proibido.” (BURGIERMAN, 2002).
Não foi difícil convencer os parlamentares e a população norte americana do
perigo dessa droga. A maconha chegou aos Estados Unidos trazida pelos mexicanos,
imigrantes de classe baixa que buscavam melhores condições de vida, e não tardou para
que a xenofobia direcionada aos mexicanos fosse também direcionada aos seus
principais hábitos, como por exemplo, o de fumar maconha.
A maconha logo se tornou popular em outro grupo social, os músicos de jazz,
oriundos de outra população marginalizada, os negros. Com os índices de criminalidade
aumentando após a crise de 1929, foi fácil associar isso as populações marginais e
consequentemente a maconha. Se não havia meio legal para manter essas populações
sobre controle, controlam-se então seus hábitos. Com a proibição, essas minorias
passaram a viver sob constante ameaça de prisão por conta de sua prática cultural.
Juntam-se a isso os interesses das indústrias de sintéticos derivados do petróleo e
de papel derivado do eucalipto que disputavam mercado com as fibras e o óleo da
semente da maconha. Anslinger possuía uma proximidade no mínimo curiosa com
proprietários de algumas dessas indústrias.
“Anslinger era casado com a sobrinha de Andrew Mellon, dono da gigante
petrolífera Gulf Oil e um dos principais investidores da igualmente gigante Du Pont. “A
Du Pont foi uma das maiores responsáveis por orquestrar a destruição da indústria do
cânhamo”, afirma o escritor e ativista antiproibição Jack Herer em seu livro The
Emperor Wear No Clothes[...]” (BURGIERMAN, 2002).
Vários países seguiram o exemplo dos Estados Unidos e gradualmente a
maconha foi sendo proibida pelo mundo. Em 1961, mais de cem países assinaram a
Convenção Única da ONU sobre entorpecentes. Essa convenção aumentou o controle e
a colaboração internacional para o combate ao narcotráfico, abriu espaço para as
intervenções militares americanas em diversos países como foi o caso da Colômbia e
para aplicação de sanções nos países que não estivessem “combatendo o tráfico da
maneira que eles consideram correta” (BURGIERMAN, 2002).
Em 1963 Mesmo com toda a proibição nos EUA e na Europa, o Prof. Dr.
Raphael Mechoulam, do Departamento de Química Medicinal e Produtos Naturais, da
Escola de Medicina da Universidade Hebraica de Jerusalém, isola o canabidiol (CBD) e
no ano seguinte, o delta 9-tetrahidrocanabinol (THC).
No Brasil, de acordo com André Barros advogado da marcha da maconha no Rio
de Janeiro, a maconha ser chamada de ‘fumo de Angola‘ é uma das provas de que a
planta foi trazida para o Brasil como parte da cultura negra da África. Também
denominada ‘Pito de Pango‘ por ser consumida em um cachimbo de barro (pito), a
maconha (pango) foi criminalizada pela primeira vez em todo o mundo no Rio de
Janeiro, em um nítido ato de racismo. Em sessão de 4 de outubro de 1830, na Seção
Primeira Saúde Pública, Título 2º, entrou em vigor a seguinte lei:
“É proibida a venda e o uso do “Pito do Pango”, bem como a conservação dele
em casas públicas: os contraventores serão multados, a saber, o vendedor em 20$000,
e os escravos, e mais pessoas que dele usarem, em 3 dias de cadeia.”
Difundia-se, não apenas no Brasil, mas em âmbito mundial, a tese de que o
consumo da maconha era um mal. Em 1924, um médico brasileiro teve papel
importante nessa história. Pernambuco Filho, em conferência promovida pela “Liga das
Nações” em Genebra, associou o uso maconha ao danoso uso do ópio, um dos maiores
problemas de saúde pública da época.
Ainda no Brasil de ano de 1981 um grupo do Prof. Dr. Elisaldo Carlini
(UNIFESP) publica no J ClinPharmacol[1981 Aug-Sep;21(8-9 Suppl):417S-427S],
respeitado periódico científico internacional, um estudo duplo cego, randomizado,
incluindo uma pequena amostra de oito pacientes, comparados com sete controles, o
efeito benéfico do CBD para controle de crises convulsivas.
Entre 1999 – 2000 o sistema endocanabinoide começa a ser elucidado pela
ciência. Após a descoberta dos canabinoides internos, produzidos pelo próprio corpo
humano, anandamida (N-araquidoniletanolamida) e 2-araquidonilglicerol (2-AG), dos
receptores de canabinoides CB1 e CB2, e das enzimas relacionadas ao metabolismo dos
mesmos, um sistema especializado se consolida. A comunidade científica focou na
investigação do seu potencial clínico, com resultados encorajadores em muitas áreas. Os
receptores canabinoides são identificados em várias células e sistemas, além do sistema
nervoso central, e a ciência avança na área da imunologia e oncologia.
No ano 2007 houve o lançamento do livro Maconha, Cérebro e Saúde, dos
neurocientistas Renato Malcher-Lopes e Sidarta Ribeiro. O livro se somou aos
contínuos esforços de grupos brasileiros, sobretudo os ligados ao CEBRIDE, no sentido
de divulgar para o público o entendimento do sistema endo canabinoide e seu potencial
medicinal. O livro foi de grande impacto tanto no meio acadêmico quanto junto ao
publico em geral, tendo sua primeira edição completamente esgotada, e servindo como
um dos pilares para o desenvolvimento do roteiro do documentário Cortina de Fumaça,
de Rodrigo Mac Niven.
Em 2010 foi lançado o documentário “Cortina de Fumaça” de Rodrigo Mac
Niven roda o Brasil e o mundo em diversos festivais de cinema internacionais, bate
mais de 300.000 visualizações no YouTube e, eventualmente, chega à TV a cabo. O
documentário teve grande repercussão nacional e impacto político, trouxe pela primeira
vez no Brasil, para o grande público, uma abordagem multidisciplinar aprofundada e
francamente inovadora sobre o uso medicinal da maconha, e sobre os problemas
advindos da proibição da planta. A abordagem do documentário é excepcionalmente
multidisciplinar e inclui depoimentos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do
ex-secretário nacional de justiça e diretor da SENAD, Pedro Abramovay; de médicos
como Elisaldo Carlini, Dartiu Xavier, neurocientistas, como Renato Malcher-Lopes e
Sidarta Ribeiro, além de juristas, antropólogos, sociólogos, historiadores, juízes e
politicos de renome nacional e internacional.
Em 2011 o STF autorizou o acontecimento da marcha da maconha no Brasil.
Nos últimos anos o debate sobre a legalização tem aparecido com mais força. No
Brasil desde o mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, que por diversas
vezes se declarou favorável à legalização, as leis que criminalizam o uso de maconha
vem sendo flexibilizadas. Em 2006, já no mandato do presidente Luis Inácio Lula da
Silva, a nova lei anti-drogas determina medidas ou penas alternativas a usuários
apanhados com a droga.
A trajetória da Cannabis medicinal na Anvisa começou em 2015. Foi quando a
agência publicou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 3 e, em seguida,
a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 17. A primeira finalmente retirou
o Canabidiol (CBD) da relação de substâncias proibidas e o incluiu no rol de
medicamentos da lista C1, em que estão os fármacos controlados.
Em janeiro de 2017, a anvisa registrou o primeiro produto com THC, o Mevatyl.
Abrindo caminho para a regulamentação do processo de importação pela RDC Nº 17,
que posteriormente foi atualizada. Isso aconteceu em 2019, quando a Anvisa publicou
a RDC Nº 327, na qual foram estabelecidos os requisitos para a comercialização de
produtos de Cannabis para fins medicinais no país. Além disso, a resolução também
determinou regras para a sua fabricação.
Por último já esse ano 2021, tivemos aprovado em uma comissão da câmara dos
deputados o projeto de lei PL 399/15, que regulamenta o plantio de cannabis no Brasil
para empresas e associações.

3.2. Aplicação da maconha na saúde atualmente, sistema


endocanabinóide e SUS

O SUS é a primeira opção que temos para o tratamento de saúde no Brasil, é um


serviço público universal que atende gratuitamente a toda a polução. É a garantia de
acesso ao direito a saúde, que é uma obrigação do estado. É um sistema que realiza
serviços de baixa, média e alta complexidade em saúde, sendo a única opção de
tratamento para a maioria da população que não tem renda para bancar serviços
particulares.
A maconha é uma planta utilizada milenarmente que possui várias propriedades
medicinais hoje cientificamente comprovadas, da qual podem ser extraídos diversos
tipos de preparos medicinais, cosméticos e alimentícios. Considero matéria prima para
preparo de medicamento fitoterápico que pode ser incluída no programa nacional de
plantas medicinais e fitoterápicos e nas farmácias vivas do SUS.
Os principais princípios ativos da planta cannabis sativa são conhecidos como
canabinóides. Na natureza existem três tipos de canabinóides classificados a partir de
sua origem: endógenos, produzidos no organismo humano; fitocanabinóides, presentes
nas plantas; e sintéticos, criados em laboratório.
O sistema endocanabinóide é um sistema presente no organismo humano e em
provavelmente todos os mamíferos. É um sistema que se manifesta na presença de
receptores neuroquímicos presentes na maior parte do corpo, chamados os principais de
CB1 e CB2. E na produção de substancias chamadas canabinóides endógenos que se
ligam a esses receptores, regulando diversas funções do organismo a partir de uma ação
neuronal como: sono, apetite, humor, sensações de dor e até mesmo a formação da
personalidade.
Os canabinóides promovem a homeostase do organismo, atuando na
comunicação entre as células nervosas por meio de neurotransmissão bioquímica. As
pesquisas mais atuais indicam que existe um fenômeno chamado “efeito comitiva”, que
favorece a atuação dos canabinóides e outras substâncias presentes na cannabis como os
terpenos em conjunto no organismo, numa sinergia que aumenta a eficácia da terapia
quando são utilizadas fórmulas integrais da maconha em comparação a uma eficácia
menor quando utilizados princípios ativos isoladamente.
O Brasil foi um dos países pioneiros nos estudos da cannabis medicinal através
do trabalho do professor Dr. Carline, na pesquisa do tratamento da epilepsia. Hoje as
pesquisas acadêmicas sugerem a existência de uma doença chamada síndrome da
deficiência endocanabinoide.
Maconha pode causar dependência? Sim. Assim como uma variedade infinita de
substâncias que agem no sistema nervoso o princípio ativo da maconha, delta-9-
tetrahidrocanabinol – THC pode causar dependência. Porém, apenas em torno de 10%
dos usuários de maconha desenvolvem dependência. É a metade dos índices do álcool e
um terço dos do tabaco.
É verdade que usar maconha leva ao uso de drogas mais pesadas? Não. Mas o
usuário de drogas pesadas quase certamente fumou maconha antes. Em contrapartida, a
grande maioria das pessoas que experimentam maconha não chegam a experimentar
outras drogas ilícitas. Os primeiros degraus da escada são certamente o álcool e o
tabaco. O usuário de maconha precisa fazer contato com o traficante para conseguir a
droga, o traficante certamente tem outros produtos a oferecer, nesse sentido a maconha
abre sim as portas para outras drogas (BURGIERMAN, 2002).
Fumar maconha queima os neurônios? Não. O usuário sob efeito do THC tem a
sua memória de curto prazo e sua atenção levemente prejudicada. Logo passado os
efeitos a memória retorna ao seu funcionamento normal. Hoje há pesquisas que afirmam
que a maconha promove a neurogênese, neuroproteção e estimula a plasticidade do
cérebro.
E quais seriam outros possíveis bons usos da maconha para a saúde?
Primeiramente, desde os primeiros vestígios encontrados sobre a relação do homem
com a maconha, há indicações desta para uso medicinal no tratamento de diversas
doenças: o Pen Ts’ao Ching, a primeira farmacopéia conhecida do mundo, datada de
2737 a.C., recomenda a maconha contra dores menstruais, reumatismo, prisão de ventre
e malária. A medicina ayurvédica, tradição indiana há milênios utiliza maconha no
tratamento de diarréia, insolação e falta de apetite.
Existem pesquisas com cannabis medicinal na área de redução de danos em
usuários de crack e outras drogas. Redução de danos é uma política\ação que surge
voltada para usuários de drogas injetáveis e posteriormente se expande para o campo da
saúde mental e da saúde em geral. Resultados demonstraram que a cannabis medicinal
pode ser uma porta de saída para usuários de crack e outras drogas.
Hoje há pesquisas que apontam para o uso de maconha no auxilio nos
tratamentos de: náusea, esclerose múltipla, glaucoma, dor, autismos, ansiedade,
depressão, síndrome do intestino irritado, insônia e AIDS. E até mesmo usada durante
as síndromes de abstinência de drogas mais pesadas como crack e cocaína.
A cannabis pode auxiliar no tratamento de pessoas com câncer principalmente
aliviando os efeitos da quimioterapia, náuseas, dores, falta de apetite e melhora do
humor. Pesquisas recentes também indicam que canabinóides podem provocar a morte
da célula cancerígena ajudando a reduzir os tumores.
O CBD pode prevenir lesões em atletas. Esportistas de alto rendimento
costumam conviver com dores e lesões, e uso constante de analgésicos e anti-
inflamatórios. Cada vez mais atletas falam do uso de CBD, porém o THC ainda
continua proibido pelas agências antidoping. Em 2018 o CBD foi retirado da lista da
agência mundial antidopagem. O ópio é utilizado para alívio da dor a cerca de 4 mil
anos, hoje os atletas estão procurando alternativas menos invasivas e com menos efeitos
colaterais. Houve um período de intolerância para a maconha no esporte, até a inalação
passiva da cannabis poderia ser acusada no exame antidoping. Hoje a quantidade foi
reajustada em 10x ao valor antigo. Os possíveis benefícios do uso de CBD para os
atletas são: anti-inflamatório, ansiolítico, regulador do sono, analgésico e antioxidante.
Nos Estados Unidos, em alguns estados, o canabidiol é considerado um
suplemento alimentar. No Brasil o THC e o CBD podem ser prescritos desde 2005 por
um profissional médico.
4. Considerações finais

Quando conhecemos a história da proibição relacionada ao racismo e a


interesses econômicos tornou-se difícil não tomarmos uma posição crítica e parcial a
favor da legalização por conhecer os efeitos desta no organismo e saber que grande
parte do que se fala sobre drogas por aí são mentiras sem tamanho. É muita prepotência
do ser humano querer proibir a existência de uma planta, negando até sua relação
milenar com esta.
Na história da recente proibição da maconha um fato é bastante evidente: todas
as medidas proibicionistas adotadas até hoje tem surtido pouco ou nenhum efeito na
redução da produção e do consumo. O número de usuários de maconha e outras drogas
continuam crescendo. O tráfico de drogas e a violência a ele relacionada também.
O tráfico de drogas tem na maconha uma de suas principais fontes de
financiamento. A ilegalidade mantém o monopólio desse comércio na mão dos
traficantes que estipulam os preços, submetem o usuário a relação com o tráfico e ainda
manipulam quimicamente a planta influenciando nos índices de dependência e
aumentado os danos causados ao organismo pelo consumo.
Se a experiência prática das políticas de controle de drogas mostra que estas têm
falhado, o que fazer? Quais seriam os possíveis benefícios da legalização da maconha?
Acho que já existem algumas respostas claras para essas perguntas. Apresentarei agora
alguns outros usos da cannabis.
O cânhamo, outro nome para a espécie Cannabis sativa, um nome bem menos
conhecido e bem menos impactante do que seu anagrama maconha, é uma planta
extremamente útil. Ela produz fibras resistentes, óleo e substâncias extraídas dessa
planta podem ser utilizadas para a fabricação de remédios.
Florestas inteiras foram devastadas para a produção de papel, imensos desertos
verdes são cultivados para sustentar essa produção. O papel hoje é produzido
principalmente da celulose extraída do eucalipto. O eucalipto é uma planta de grande
porte que demora em média sete anos para ser colhida, é uma espécie que suga muita
água do solo, esgotando o lençol freático e demandando irrigação (EMBRAPA, 2003).
O cânhamo é uma planta de menor porte, ocupa áreas menores, produz fibras mais
resistentes e pode ser colhida após três meses. Além de papel, as fibras de cânhamo
servem para produzir tecidos e cordas, podendo substituir vários dos atuais sintéticos
utilizados que causam danos ambientais devastadores nos seus processos de produção.
O óleo do cânhamo pode ser usado como solvente de tintas, cosméticos e
lubrificantes. Segundo o relatório da ONU sobre os usos lícitos da cannabis, o óleo da
semente tem baixa quantidade de gordura saturada sendo mais saudável que a maioria
dos óleos disponíveis no mercado. Além do enorme potencial energético do cânhamo
que supera inclusive o da cana-de-açúcar (BURGIERMAN, 2002).
Um grande passo para a legalização da maconha e mudança do quadro social em
que ela se encontra seria a liberação do cultivo doméstico, da autonomia usuário, extrair
o próprio remédio é um exercício do direito a saúde e a vida. Como democratizar o
acesso ao uso medicinal da cannabis?
O Brasil é um dos países mais atrasados quando o assunto é cannabis, apesar de
ter mais de 20000 pacientes autorizados pela anvisa a importar remédios a base de
maconha e ter uma demanda de cerca de 10 milhões de pessoas que poderiam se
beneficiar do uso de derivados da cannabis. explicou sobre os aspectos jurídicos e legais
relativos ao cultivo doméstico da cannabis para o uso medicinal. Trouxe também a ideia
da desobediência civil e a possibilidade da inclusão da cannabis medicinal nas farmácias
vivas.
Nesse contexto, a marcha da maconha e as associações cannábicas tem cumprido
um papel fundamental na luta pelos direitos dos pacientes e divulgação de informação
qualificada sobre o assunto, preenchendo uma lacuna deixada pelo estado na regulação
da cannabis medicinal e na assistência a pacientes que podem se beneficiar dessa
medicação.
5. Bibliografia

BURGIERMAN, D. B. Coleção para saber mais: Maconha. Editora Abril. São


Paulo, 2002.

http://www.marchadamaconha.org

http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Eucalipto/Cultivodo
Eucalipto/09_sistemas_agroflorestais.htm

https://www.hypeness.com.br/2020/09/maconha-comecou-a-ser-criminalizada-
com-lei-racista-contra-negros-escravizados/)

https://www.cannabisesaude.com.br/cannabis-regulamentacao/)

https://amame.org.br/historia-da-cannabis-medicinal/)

Você também pode gostar