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02/09/2019 Proibição de Drogas no Brasil e no Mundo

jusbrasil.com.br
2 de Setembro de 2019

Proibição de Drogas no Brasil e no Mundo

Um Breve Histórico

Determinar a origem histórica da legislação de proibição de drogas é


praticamente impossível, isso pelo fato de que processo que voltou-se a
conceber como ilícitas determinadas substâncias apresentar-se como
“moralizador e normalizador”. O que está ao alcance, entretanto, é a
possibilidade de captação de elementos punitivos que surgiram em
determinados momentos da história que implicariam, posteriormente,
na estruturação de todo o arcabouço proibicionista que temos
atualmente (CARVALHO, 2010, p. 10).

O lícito das drogas não está limitado somente ao tráfico, dela (a droga)
emana uma gama de mazelas que transforma diversos setores da
existência humana social. A ilicitude das drogas compreende delitos –
dos mais famélicos furtos à sequestros genialmente arquitetados, para
a obtenção de dinheiro e aquisição dos entorpecentes. “[...] Até o
tráfico internacional de armas, existindo entre estes outros também de
conseqüências gravosas como as ameaças, homicídios, sequestros,
“lavagem de dinheiro”, dentre muitos outros” (QUEIROZ, 2002, p. 53).

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A preocupação com esse problema é imenso, na verdade, essa
preocupação ocupa diversos setores, como relatam Dunn, Jungerman e
Laranjeira:

É crescente a preocupação do país em relação ao uso das drogas; a


imprensa falada e escrita tem revelado com certa frequência o
mundo das drogas, recheando-o de imagens de destruição,
violência e empobrecimento; em qualquer reunião de pais e
professores se discute esse tema, e mesmo famílias que não
convivem com usuários de drogas já estão preocupadas em evitar
que isso aconteça um dia a um dos seus: à sua maneira, as
autoridades se interessam pelo problema, pois sabem que esse
comércio ilegal movimenta a soma astronômica de 600 bilhões de
dólares por ano no mundo, soma inferior apenas ao da indústria de
armamentos; os profissionais da saúde também procuram orientar
a sociedade passando as informações mais úteis aos usuários em
potencial, aos usuários propriamente ditos, suas famílias e
autoridades em geral. Mas tudo isso ainda parece pouco diante da
dimensão da questão (DUNN, JUNGERMAN, LARANJEIRA, 1998,
p. 07).

O primeiro caso na história de controle de consumo de substâncias


psicoativas ocorreu ainda civilização Inca, originária da região de
Cuzco que se voltou totalmente à produção e à utilização de coca. Lá,
apenas a oligarquia tinha autorização para consumir a coca e “[...]
Mascar sem autorização era considerado crime no Império “
(ESCOHOTADO, apud, LEITE, 1999, p. 17).

Podemos afirmar que a epidemia por tóxicos passou a ser reconhecida,


inicialmente, nos Estados Unidos no ano de 1950 com a enxurrada de
casos envolvendo o vício em heroína (ZALUAR et al. 1999, p. 130)

No ano de 1970, o problema social começava também a ser notado no


Brasil com o crescente consumo de Cannabis (maconha) e em 1980 a
cocaína já invadia o país (ZALUAR et al. 1999, p. 131).

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O eminente “problema social” provocado pela invasão implacável das
drogas fez com que a medicina científica da época e o Estado se
voltassem a criar ações repressivas no sentido de, ao menos, amenizar
a epidemia, desse modo crio-se o chamado “modelo proibicionista de
drogas” (FILHO, 2012).

Os ingleses passaram no ano de 1880 a usar o ópio como pagamento no


comércio de produtos devido à escassez da prata que era utilizada na
época como moeda de troca. O ópio era comprado geralmente na índia
e vendido à população chinesa; ocorre que, a substituição da prata pelo
ópio corroborou para que se iniciasse uma onda crescente de consumo
da droga e, posteriormente, uma epidemia. No ano de 1906 a
dependência de ópio acorrentava um quarto da população chinesa
masculina em Xangai, esse número representou a maior epidemia
causada pelo consumo de drogas já observada na história. Por esse
motivo, a Comissão de Xangai voltou-se a trabalhar arduamente na
restrição de substâncias psicoativas, com o intuito de conter a imensa
epidemia, nunca vista antes (SILVA, 2012, p. 29).

No ano de 1936 ocorre a Convenção de Genébra que passa a


regulamentar o tráfico, a produção e o uso de substâncias
entorpecentes (CARVALHO, 2010, p. 12).

Um dos grandes marcos históricos da política proibicionista de drogas


se deu no ano de 1945 quando a ONU veio efetivamente a consolidar
políticas públicas sobre drogas ilícitas através de orientação
proibicionista (SILVA, 2012, p. 29).

Em 1946 é criada a CDN pela ONU com o objetivo de trabalhar em


políticas visando aperfeiçoar o sistema proibicionista internacional de
drogas. A Comissão foi a responsável pela organização de três
importantes convenções internacionais, uma na cidade de Nova Iorque
no ano de 1961, outra na em Viena em 1971 e a terceira no ano de 1988
também em Viena, referidas convenções seriam conhecidas
posteriormente como as Convenções-Irmãs da ONU (SILVA, 2012, p.
29).
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Também nesse mesmo ano foi aprovada a Convenção Contra o Tráfico
Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, essa voltou-se a
complementar as convenções de 1961 e 1972 e tinha como principal
objetivo a análise da questão do tráfico ilícito de entorpecentes, como
observa Silva a se referir a este acontecimento:

[...] assim, fortaleceu o controle de percussores químicos,


acrescentando o éter etílico e a acetona no rol das substâncias
controladas. Essa convenção também posicionava-se sobre a
cooperação internacional para a extradição de traficantes de
drogas, seu transporte e procedimentos de transferência (SILVA,
2012, p. 31).

Podemos afirmar que grande ápice do sistema internacional de


controle de drogas ocorreu no final da década de 80 quando os países
passaram a conceber o problema das drogas um desafio de toda a
sociedade, abrangendo todo o globo; entenderam os países que deveria
haver um cooperativismo mútuo entre eles, cada qual compreendendo
e trabalhando em conjunto, para solucionar os diversos problemas que
as drogas causava em cada um (BOITEUX et al, 2012).

Para Tatiani Cristina da Silva (2012, p.32), apesar de delegar aos países
signatários a posse ou não de determinadas substâncias psicoativas
ilícitas, bem como de recomendar à esses países que fossem aplicadas
sanções proporcionais à gravidade do delito “a maioria dos países
optou, no início, por criminalizar e as sanções, as quais nunca foram
tão proporcionais assim”.

É importante salientar que o simples encarceramento dos usuários de


drogas torna-se como medida ineficiente para sua recuperação, uma
vez que aplicar à ele simplesmente uma punição, apenas já reforça sua
figura estigmatizada que este possui na sociedade (SILVA, 2012, p. 32).

As políticas proibicionistas de drogas ilícitas culminaram para que


diversos órgãos em todo o mundo criassem campanhas no sentido de
amenizar os grandes problemas oriundos tanto do abuso quanto do
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tráfico de drogas (SILVA, 2012, p. 32).

Em 1998 a Organização das Nações Unidas realiza uma Seção Especial


da Assembleia Geral, nesta reunião discutiu-se a erradicação de plantas
utilizadas para a produção de drogas (UNODC, 2012).

Em 2009 a CND das Nações Unidas realizou uma análise importante


realizando um estudo comparativo para apontar os progressos até
então conquistados, tomou-se como referência os dez últimos anos
para traçar um comparativo amplo da pesquisa; verificou-se que os
resultados foram conquistados nos dez últimos anos, porém verificou-
se que nem todas as regiões haviam sido beneficiadas, o crescimento
havia, nos últimos dez anos, decaído gradativamente e estabilizado.
Frente esse resultado, os países signatários decidiram renovar seus
compromissos e estipularam o ano de 2019 para apresentar novos
resultados através de uma política para minimizar ou até mesmo
extinguir o consumo de drogas (UNODC, 2012).

Para Carvalho (2010, p. 10), no Brasil uma das primeiras abordagens


proibitivas com relação às drogas ocorreu nas Ordenações Filipinas, o
título LXXXIX do Livro V, salientava que era proibido por qualquer
pessoa a posse e o comércio de qualquer substância venenosa.

Em 1890, vários crimes que se referiam à saúde pública passaram a ser


regulamentamos, com Código Republicano era possível identificar no
seu artigo de ordem 159 que a exposição, a venda ou a utilização de
substâncias venenosas sem prévia autorização seriam penalizadas com
multa (CARVALHO, 2012, p. 11).

O Código de 1890 sofreu uma importante alteração em 1932, as leis


penais passaram a ver os delitos cometidos contra a saúde pública com
olhos mais rigorosos; neste período foram acrescentados doze
parágrafos no artigo de ordem 59 daquele código, alterações merecem
ser observadas: a pena de multa já prevista se manteve, acrescentando
também a pena de prisão; foi acrescentado o termo “substâncias

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entorpecentes”; e o termo “vender e subministrar” entorpecentes.
Diante disso surge um novo modelo de proibição de drogas amparado
pelos decretos nº 780/36 e 2.953/38 (SILVA, 2012, p. 34-35).

Em 1938 o Brasil torna-se signatário do Modelo Internacional de


Controle às drogas, a “política proibicionista sistematizada” que
amparava as substâncias entorpecentes surgiu efetivamente na década
de 1940 através do Decreto Lei nº 891/38 (CARVALHO, 2010, p. 12).

Segundo Tatiani Cristina da Silva (2012, p.34) esse assunto voltou a ser
novamente estudado pelo Código Penal de 1940 quando criado o
Decreto Lei nº 2.848/1940e previa no seu artigo 281:

Art. 281 - importar ou exportar, vender ou expor a venda, fornecer,


ainda a título gratuito, transportar, trazer consigo, ter em
depósito, guardar, ministrar ou, de qualquer maneira, entregar a
consumo substância entorpecente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar (SILVA, 2012,
p. 34).

Em 1976 é instituída a Lei nº 6.368/76, podemos analisar pelo ano de


instituição que referida lei se deu no regime militar de governo, o teor
desta lei se baseia principalmente na redução na comercialização das
drogas, ou seja, fora empregada políticas no sentido de fiscalizar e
trabalhar de forma repreensiva à comercialização de drogas, os que
eram surpreendidos nesse comércio, tanto os que compravam quanto
os que vendia eram submetidos à prisão (CARVALHO, 2010, p. 35).

Ao relatar o amparo que a Constituição de 1988 e a Lei de Crimes


Hediondos deu às drogas disserta Silva:

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A entrada em vigor da Constituição de 1988 manteve o tratamento
repressivo ao traficante, haja vista que a Carta Magna determina
essa conduta como crime inafiançável e insuscetível de graça ou
indulto. Com a edição da Lei dos Crimes Hediondos – Lei nº. 8.072
de 1990, foi vedada a concessão de liberdade provisória aos
acusados por tráfico de drogas. A mesma lei determinou que a pena
privativa de liberdade fosse cumprida em sua integralidade sob o
regime fechado e que o livramento condicional só pudesse ser
requerido pelo condenado que já tivesse cumprido mais de dois
terços da pena. (SILVA, 2012, p. 36).

Explica Carvalho (2010, p. 36) que em 2002 entrava em vigor a Lei nº


10.409 que regulamentava de forma inda mais eficiente aspectos sobre
a prevenção, o tratamento, a fiscalização, e o comércio de drogas.

Já no ano de 2006, através da Lei 11.343 instituiu-se o Sistema


Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SINAD) que prescreveu
medidas para prevenção, repressão e reabilitação do dependente
químico na sociedade (FREITAS, 2014, p. 01)

Referências:
BOITEUX, Luciana et al. Sumário Executivo: relatório de
pesquisa “tráfico de drogas e constituição”. Rio de
Janeiro/Brasília: 2009. Disponível em:. Acesso em: 17 Mar. 2015.

CARVALHO, Salo. A Política Criminal de Drogas no Brasil:


estudo criminológico e dogmático da Lei 11.343/06. 5. Ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2010. Conselho Regional de Medicina do Estado
de São Paulo. Câmara Técnica de Saúde Mental. Cracolândia, por
diretrizes convergentes. Rev. Latinoam. Psicopatol. Fundam., São
Paulo, v. 15, n. 1, mar. 2012. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttextπd=S141547142012000100001&lng pt &nrm=iso.
Acesso: em 27 ago 2015.

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FREITAS, Jayme Walmer de. Aspectos penal e processual penal
da novíssima lei antitóxicos. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n.
1209, Out. 2006. Disponível em:. Acesso em: 05 abr. 2015.

FREITAS, Jayme Walmer de. Aspectos penal e processual penal


da novíssima lei antitóxicos. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n.
1209, Out. 2006. Disponível em:. Acesso em: 05 abr. 2014.

LARANJEIRA, Ronaldo. JUNGERMAN, Flávia, DUNN, John.


Drogas: maconha, cocaína e crack. 2ª ed. São Paulo: Contexto,
1998. 67p.

LEITE, Marcos da Costa et al. Cocaína e Crack: sod fundamentos


ao tratamento. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda., 1999.
317 p.

QUEIROZ, Olivaldo Salustiano. O aumento da criminalidade em


decorrência do uso de drogas. 2010. 65 f. TCC (Graduação em
Direito) – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade
Universitária de Paranaíba, Paranaíba, 2010.

SILVA, Ilma Ribeiro. Alcoolismo e abuso de substâncias


psicoativas: tratamento, prevenção e educação. São Paulo:
Vetor, 2000.

SILVA, Tatiani Cristina da. A lei 11.343/2006 e o tráfico de


drogas: estudo sobre a possível lesão aos princípios penais de
garantia decorrente da não diferenciação penal para as
diversas categorias de traficantes de drogas. 2012. 75 f. TCC
(Graduação em Direito) – Universidade do Extremo Sul Catarinense -
UNESC, Criciúma, 2012.

ZALUAR, Alba et al. Drogas e Cidadania: repressão ou redução


de danos. 1 ed, São Paulo: Brasiliense, 1994.

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