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Unidade 1

ASPECTOS
MERCADOLÓGICOS DO
NARCOTRÁFICO E DO
CRIME ORGANIZADO
1.1 ECONOMIA DAS DROGAS

1.2 MERCADOS ILEGAIS

1.3 REDUÇÃO DA OFERTA DE DROGAS

Contextualizando
Nesta unidade, apresentaremos as principais noções e conceitos relacionados

aos aspectos mercadológicos do crime organizado e do narcotráfico, assim como os

aspectos relacionados à oferta de drogas. Para compor nossa reflexão, vamos nos valer

de aspectos econômicos, sociais, culturais e psicológicos que circundam o problema.

Para entender como se estrutura o sistema de economia das drogas, avance para o

próximo tópico.

1.1 Economia das drogas


A questão das drogas é um tema bastante presente e controvertido politicamente na

vida contemporânea. Você já deve ter ouvido discussões que perpassam esse assunto,

em ambientes diferentes, por diversas pessoas. De fato, o problema das drogas causa

pressão nas áreas da saúde, educação, segurança pública, gestão prisional e assistência

social, entre outras.


Foto: © [Haider] / Adobe Stock.

Os hospitais, presídios e centros de recuperação de dependentes químicos mostram uma

face grotesca do que começa com a produção de substâncias de uso ilícito,

normalmente Cannabis e cocaína, seu transporte e depois tráfico de forma pulverizada

nas áreas urbanas da maior parte do mundo, uma verdadeira epidemia silenciosa.

Nas ruas da maioria das capitais do país, usuários de drogas são


vistos nas sinaleiras, numa situação degradante, pedindo moedas e
mendigando qualquer centavo para compra de droga.
(SOUZA; CALVETE, 2017)

Você perceberá, ao longo deste módulo, que a questão das drogas é bastante complexa,

a começar por sua natureza sanitária, social e econômica. A dependência química é uma

doença com várias expressões e com relação a diferentes drogas.

Saiba Mais
O Código Internacional de Doenças (2013), em sua décima edição, aponta os vários

diagnósticos correspondentes.

Para falarmos da relação entre economia e drogas, é necessário falarmos de Gary

Becker (Prêmio Nobel de Ciências Econômicas de 1992) e sua contribuição para o

estudo da chamada Economia do Crime. Em 2004, Becker e colaboradores focaram o

tema específico da Teoria Econômica dos Bens Ilegais: o Caso das Drogas. Veja:

Becker (1974, p. 4) pressupõe que o crime é uma atividade ou


‘indústria’ economicamente relevante, conquanto negligenciada pelos
economistas; conjectura, na sequência, que a negligência resulta de
atitude que concebe a atividade ilegal como demasiadamente imoral
para que receba uma atenção científica sistemática.
(CARDOSO, 2018, p. 185)

A ideia da descriminalização das drogas foi levantada por Becker e colaboradores. O

famoso e premiado economista, juntamente com outros dois pesquisadores da

Universidade de Cambridge, Inglaterra, estimaram teoricamente que os custos sociais da

criminalização das drogas poderiam superar seus efeitos benéficos (BECKER;

MURPHY; GROSSMAN, 2006, p. 38 apud CARDOSO, 2018, p. 185).

DICA DE MÍDIA
“The Business of Drugs”, em inglês original, ou “Drogas: oferta e demanda”, em

português, é uma série, disponível no aplicativo Netflix desde 2020. A apresentadora da

série é uma ex-analista da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos da

América que esteve por vários anos no enfrentamento da questão das drogas.

No trailer da série, a apresentadora declara que a única maneira de acabar com a guerra

contra as drogas é entendendo a economia que a impulsiona.

Vale ressaltar que a modelagem utilizada por Becker e colaboradores é estritamente

econométrica, ou seja, tem o objetivo de entender as variáveis capazes de interferir em

uma relação de causa e efeito. Portanto, não tem provisão sobre as muitas variáveis

intervenientes, como é o caso na relação entre liberação de drogas e menores custos

econômicos e sociais, passíveis de atuarem sobre o complexo fenômeno estudado: as

drogas ilícitas.

Clique no player a seguir e confira o vídeo sobre Economia do Crime.

Passadas algumas décadas das reflexões teóricas e das projeções de Becker acerca dos

eventuais benefícios da descriminalização das drogas, hoje é possível comparar fatos


sobre a aplicação das duas políticas: a política de descriminalização e a política de

proibição legal.

Os Estados Unidos da América constituem um bom exemplo a ser estudado nesse

sentido. Clique nas setas e confira:

1.
2.
Estados que liberam o consumo recrativo da Cannabis nos EUA: Califórnia, Colorado,
Oregon, Massachusetts, Washington, Maine, Nevada, Illinois, Michigan, Vermont,
Alasca e Maine.Foto: © Adaptado de [sutowo] / Adobe Stock.

Lá as unidades federativas possuem legislações distintas, ao contrário do Brasil, país

onde prevalece uma legislação federal única. Em função disso, as políticas de liberação

de uso e comercialização legal de drogas podem assumir posições extremamente

díspares.

PreviousNext

No estado do Colorado, por exemplo, houve um aumento em todas as taxas criminais

desde que leis liberando a maconha foram aprovadas (FURTON, 2018). Por outro lado,

uma pesquisa mostrou que, na cidade de Denver, também no Colorado, a presença de

pontos de venda de maconha se correlacionou positivamente com uma redução de 17

crimes por mês a cada 10.000 residências nos bairros onde foram instalados.

Veja os dados relativos à queda dos crimes na capital do Colorado:

Porém, há que se ressaltar que

correlações não são, necessariamente, relações de causa e efeito.

Algo digno de nota está no fato de o Colorado ser conhecido nos Estados Unidos da

América pelo
ethos libertário de seus locais. Curiosamente, a cidade de Boulder no Colorado
foi ranqueada pela National Geographic Society como sendo a mais feliz dos
EUA.

Como a cidade mais feliz dos EUA, é seguro dizer que Boulder
encontrou seu equilíbrio. Esta cidade descontraída no sopé das
Montanhas Rochosas pontua em vários níveis da escala para
hierarquizar a felicidade.
(GUPTON, 2017)

No sentido oposto à política de abertura para a liberação do comércio de drogas, está o

recrudescimento da repressão ao tráfico em países como Filipinas e Indonésia. A guerra

declarada pelo presidente filipino Rodrigo Duterte contra o tráfico continua bastante

popular no país, ainda que tenha um alto índice de mortes relacionadas a essa política,

segundo o artigo de Martin Petty (2019).

Situação semelhante ocorre na Indonésia, país que até mesmo já executou brasileiros

envolvidos com o narcotráfico internacional. A opção pela redução da oferta de drogas

ao povo indonésio pela via da repressão é perceptível em falas do presidente Joko


Widodo.

As drogas estão entrando nas aldeias, arruinando nossos jovens,


estão sendo vendidas nos campi; até as universidades têm problemas
com drogas. Isto é uma emergência.
(JOKO WIDODO)

A questão tem se tornado tão séria que o governo brasileiro tem alertado os viajantes

brasileiros dos riscos de se ingressar na Indonésia portando drogas.


Clique no player a seguir para ouvir o podcast sobre as Instruções para Viajantes

Brasileiros (BRASIL, 2020) ou clique em "Transcrição" para ler o texto.

Podcast
Transcrição

Se a imoralidade do tema tráfico e do uso de drogas é fato ou não, em face das ciências,

nem por isso a economia das drogas deixou de ser tratada por diversas ciências,

incluindo a própria economia. E para você entender a economia das drogas, é necessário

ter em conta, inicialmente, a noção do que é a expressão “economia”.

Economia traduz o processo pelo qual bens e serviços são produzidos,


vendidos e comprados pelos agentes econômicos em um determinado
tempo e lugar.

Neste ponto, também se faz necessário compreender a expressão “droga” no contexto

deste curso.

Clique no player a seguir e confira o vídeo que apresenta uma classificação das drogas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define ‘droga’ como sendo


‘toda substância, natural ou sintética, capaz de produzir, em doses
variáveis, os fenômenos de dependência psicológica ou dependência
orgânica’.
(OMS, 2008 apud ROCHA, 2015, p. 20)

Já o Departamento de Narcóticos da Polícia Civil do Paraná define o termo “droga”

ligeiramente diferente, para ele “droga é o nome genérico dado a todos os tipos de

substâncias, naturais ou não, que ao serem ingeridas provocam alterações físicas e

psíquicas” (DENARC, 2020).


Correspondentemente, drogas de uso ilícito são produzidas em certos locais, sendo

depois transportadas e finalmente vendidas e compradas:

Trata-se, portanto, de uma atividade de cunho translocalizado, ou que pode acontecer

sequencialmente em lugares diferentes, no todo ou em parte.

Principais fluxos globais de cocaína

Fonte: Adaptado do UNODC (2011).

O termo “droga” teve origem na palavra droog, proveniente do holandês antigo, cujo

significado é folha seca (DENARC, 2020), por conta dos medicamentos que

antigamente eram feitos com plantas. Hoje, a terminologia ‘droga’ se refere a toda

substância que tem propriedade de afetar a estrutura e produzir efeitos no organismo,

segundo a OMS.

Chamamos de drogas

psicotrópicas aquelas que atuam diretamente no funcionamento do sistema


cerebral e causam modificações no estado mental.

Drogas psicotrópicas, também conhecidas por substâncias psicoativas, são aquelas que

atuam diretamente sobre o cérebro, alterando de alguma maneira o psiquismo. Elas

dividem-se em três grupos: drogas depressoras, drogas estimulantes e drogas

perturbadoras.

É importante ressaltar que os usuários dessas drogas podem ser classificados de acordo

com o padrão de consumo.


Clique nas setas e veja quais são os tipos de classificações:

Experimental.

As drogas psicotrópicas são altamente viciantes, podendo levar o indivíduo à

dependência química, física e psicológica, e, dentre outras coisas, pode resultar na morte

do usuário (DENARC, 2020).

Veja a seguir os detalhes do surgimento da Cocaína e da Heroína.

1.1.1 Cocaína e heroína

Em um ensaio informativo intitulado “Doses Diárias: cocaína, a droga glamourosa dos

anos 70 está de volta”, o site do Instituto para Pesquisas em Ciências Sociais da

Universidade de Queensland (Austrália) traça, em breves linhas, a trajetória da cocaína

ao longo da história. Um trecho desse ensaio referindo-se a um dos derivados mais

perigosos da cocaína, o crack, está traduzido a seguir:

O crack de cocaína é processado com amônia ou bicarbonato de


sódio, produzindo uma versão sólida em pedra da droga que pode ser
fumada. Não só o crack foi mais potente, mas os efeitos da droga
(normalmente após o fumo) foram sentidos mais rapidamente.
(FERRIS; WOOD; COOK, 2018)

Ainda de acordo com o autor, o fato de a droga ser muito mais barata permitiu que ela

se espalhasse rapidamente nas comunidades mais carentes. Em 1985, seu uso tornou-se

uma epidemia que teve duração de 10 anos.

Clique nas setas a seguir e confira algumas informações sobre o crack:


1.
2.

Crianças na Cracolândia.Foto: Gazeta do Povo.

É um tipo de apresentação da cocaína sob forma solidificada em cristais.

PreviousNext

Nos Estados Unidos da América, surge também a heroína, uma droga derivada da

papoula e, assim como a morfina, é um pó de cor branca. A ela também foi associado

um glamour, como na descrição do periódico “The Dispatch” da Universidade de Nova

Iorque:

Em 1990, a heroína chique se tornou o auge do vício em drogas na


mídia, principalmente na indústria da moda, onde a estética
andrógina era procurada por designers, fotógrafos e marcas,
acreditando que, quanto mais doente você parece, mais as pessoas
olham para você. Com uma indústria forjada pelo vício em drogas,
treze designers se uniram para derrubar o sentimento com a formação
de Designers Against Addiction.
(THE DISPATCH, 2018)

Seja por glamour, por ponderações econômicas ligadas à política criminal ou por

qualquer outro motivo, no Brasil também há um forte apelo para a abolição das

restrições ao comércio de drogas. Em manifestação recente, o icônico advogado

criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro afirmou que há necessidade de

descriminalizar todas as drogas (JORNAL O MOSSOROENSE, 2020).

Contudo, essa intenção não se restringe a manifestações na mídia e em eventos

acadêmicos. Não é de hoje que sentenças judiciais e mesmo a lei penal vêm

paulatinamente incorporando a agenda defendida com veemência por Almeida Castro.

Um exemplo disso está na profunda alteração da Lei de Drogas ocorrida em 2006.


Antes
Lei nº 6.368
21 de outubro de 1976
Art. 16.
Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substâncias entorpecentes ou
que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.
Pena: Detenção, de seis meses a dois anos, e pagamento de vinte a cinquentas dias-
multa.

Depois
Lei nº 11.343
23 de agosto de 2006
Art. 28.
Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:

I. advertência sobre os efeitos das drogas;

II. prestação de serviços à comunidade;

III. medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Nesse sentido, observando-se a evolução da taxa de homicídios no Brasil, percebe-se

um ponto de inflexão com o aumento de mortes por armas de fogo justamente após o

advento da Lei nº 11.343/2006, a qual, na prática, despenalizou o consumo de drogas no

país. Os aspectos psicossociais e econômicos relacionados à liberação das drogas serão

retomados com maior profundidade ao longo deste curso.

Taxa de homicídio no Brasil de 1980 a 2017

Fonte: Adaptada de Romano (2019).


Veja a seguir como funciona o mercado do tráfico, e o que dizem os indicadores.

1.1.2 Mercado do tráfico

Várias décadas após Gary Becker estabelecer as bases da Economia do Crime, são

diversos os autores e instituições da área econômica que também passaram a tratar do

tema. Até mesmo importantes indicadores econômicos já são associados a atividades

ilícitas.

A exemplo disso, estão os documentos de organizações UNODC, UNDP, OMS etc.,

que trazem referências a atividades ilícitas em sua articulação com indicadores

macroeconômicos.

Segue abaixo um excerto de estudo do Banco Mundial a esse respeito, especificamente

no que concerne a atividades ilícitas na Colômbia:

O artigo articula um conjunto de dados cujos componentes principais


são estimativas de renda ilícita advinda do tráfico de drogas e
criminalidade comum. Rendas ilícitas aumentaram drasticamente até
2001, atingindo um máximo de aproximadamente 12 por cento do
Produto Interno Bruto (PIB) e então decresceram para menos de dois
por cento em 2013. No período de declínio estão superpostos um
período de alto crescimento econômico e a fase posterior a
implementação do Plano Colômbia.
(VILLA; MISAS; LOYAZ; 2020)

Entendidos os conceitos básicos sobre economia e drogas, é possível imaginar a

existência de uma economia das drogas. Ela envolve diversos processos, incluindo a

lavagem de dinheiro.
Processos envolvidos na economia das drogas

A lavagem de dinheiro é o processamento de recursos criminais para disfarçar sua

origem ilegal. Esse processo é crucial para as operações do crime organizado, porque os

infratores seriam descobertos facilmente se não pudessem "mesclar" seu dinheiro ilegal

em um negócio jurídico, banco ou imobiliário (SOUDIJN, 2014).

Na Prática
Por exemplo, um traficante de drogas pode comprar um restaurante para disfarçar os

lucros das drogas com os lucros legítimos do restaurante. Dessa maneira, os lucros das

drogas são lavados pelo restaurante para fazer com que a renda pareça ter sido obtida

legalmente.

Tendo compreendido que a economia é um sistema e que envolve a produção, o

transporte, a compra e a venda de bens e serviços, emerge a questão do mercado, seja

ele tangível ou intangível (virtual, por exemplo). É nele que os agentes econômicos

trocam ou vendem seus bens e serviços, valendo-se de unidades monetárias ou de outros

bens.

É importante saber que os agentes econômicos que atuam no mercado são indivíduos e

organizações de indivíduos, o que chamamos de crime organizado, quando referente a

drogas de uso ilícito.

Ou seja, são seres humanos que fazem escolhas, sozinhos ou em grupo. Portanto, um

mercado é determinado pelo conjunto das interações humanas que nele ocorrem. “Na

economia global do século XXI, há uma tendência inexorável nas organizações

criminosas a se desenvolverem como pequenos grupos de empreendedores que têm

apenas conexões tênues, ou como ela sugere, crime em rede.” (POTTER, 2007).
Assim como em qualquer outro mercado, o processo que constitui o mercado das drogas

ilícitas reflete questões macroestruturais, como produção, distribuição, lucratividade,

liquidez e segurança, e também questões próprias do nível do indivíduo, de seu

ambiente e de seus grupos imediatos. Isso vale para a oferta, para a procura e para as

ações de prevenção e repressão a esse mercado.

Considerando que as escolhas individuais são relevantes para a


compreensão da dinâmica do mercado das drogas, fica explícito que as
ciências comportamentais também podem contribuir para a compreensão
e implementação de estratégias que possam desarticulá-lo.

Veja a seguir algumas informações sobre os mercados ilegais.

1.2 Mercados ilegais


No glossário de termos organizado pela Gerência de Desenvolvimento Econômico da

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal, há uma versão

adicional sobre o termo “mercado”.

Mercado deve ser entendido como o ‘local’ em que operam as forças


da oferta e demanda, através de vendedores e compradores, de tal
forma que ocorra a transferência de propriedade da mercadoria
através de operações de compra e venda.
(EMATER-DF, 2020)

Você já deve ter entendido que, conforme referido anteriormente, a ideia de mercado

não pressupõe um local específico, mas um espaço ou região em que compradores e

vendedores se relacionam, de tal forma que os preços de um mesmo bem (incluindo

drogas ilícitas) tendem, rapidamente, a serem iguais.

Clique nas imagens e confira:


Mercado municipal

Mercado
on-line

Mercado das drogas

Mercado financeiro

Nesse sistema e na seara das drogas ilícitas, cabe destacar os fornecedores de

substâncias, os usuários e as próprias drogas ilícitas.

Fatores que favorecem a expansão do mercado global


de drogas

Mercado global de drogas: mais complexo e em expansão.


Fonte: Adaptada de UNODC (2020).

Kuhns (2007) estabelece um diferencial também na maneira como os mercados de

drogas estão dispostos:

As substâncias psicoativas, hoje consideradas drogas ilícitas, estão difundidas por todo

globo. Sua difusão e respectivos mercados, correspondentemente, aconteceu

globalmente e desde tempos imemoriais.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o Protocolo de Drogas Sintéticas

de 1948, ou Protocolo de Paris. Tal protocolo, entretanto, não é inovador sobre o tema,

já que a Liga das Nações (que antecedeu a ONU) também tratou da questão.
Fumante de ópio de Xangai na década de 1920.
Foto: Facts and Details.

A produção e uso de drogas, ainda que imemorial, tem alguns marcos clássicos. O

período que compreendeu as décadas de 1840 e 1850 foi marcado por conflitos entre o

Reino Unido e o Império Chinês em razão do comércio do ópio. Foram as denominadas

Guerras do Ópio.

Saiba Mais
Veja mais sobre o assunto no artigo Guerras do Ópio.

Originado na Ásia e derivado da flor da papoula (papaverum somniferum), o ópio tem

efeitos analgésicos e era largamente consumido na Europa e na América no século XIX.

A morfina, importante droga analgésica, é o mais conhecido dos alcaloides contidos no

ópio.

Segunda Guerra do Ópio.


Foto: © [Archivist] / Adobe Stock.

Alguns textos específicos e atuais do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime trazem informações importantes sobre o crescimento das substâncias ilegais em

circulação e a realidade do número de usuários no mundo.

Relatório Mundial sobre Drogas do UNODC 2020.


Fonte: UNODC (2020).

A seguir, apresentaremos informações relacionadas às drogas de uso ilícito, usuários e

fornecedores.

1.2.1 Drogas de uso ilícito


Veja o que nos diz o UNODC acerca do mercado de drogas ilícitas.

Clique no player a seguir para ouvir o podcast ou clique em "Transcrição" para ler o

texto.

Podcast
Transcrição

Entre as substâncias que emergiram no mercado, na última década, podemos citar:

canabinoides sintéticos, catinonas, fenetilaminas, piperazinas e várias substâncias

análogas ao fentanil, que resultaram em um incremento na classificação dessas

substâncias em nível internacional.

1.2.2 Usuários de drogas ilícitas

Sobre os usuários e as consequências do consumo de drogas ilícitas para a saúde, o

World Drug Report 2020 do UNODC apresenta os seguintes dados:

Número de usuários no ano de 2018 em milhões

Fonte: Adaptado do Relatório Mundial sobre Drogas do UNODC (2020).

Ainda de acordo com o documento da ONU, 11 milhões de pessoas injetam drogas.

Clique nos quadrados e veja os dados:

HIV
HIV
1,4 milhão de usuários de drogas injetáveis vivem com HIV

Hepatite C
Hepatite C
5,5 milhões de usuários têm Hepatite C
HIV + Hepatite C
HIV + Hepatite C
1,2 milhão de usuários estão vivendo com Hepatite C e HIV

Você sabia que os altos índices de transmissão de HIV e hepatite C fazem com que

esses vírus sejam considerados epidemias globais? As pessoas que injentam drogas,

PWID, são uma das populações mais vulneráveis afetadas por essas doenças
infecciosas.

A prevalência de HIV e hepatite C é desproporcionalmente alta nesse grupo e é

responsável por uma uma parte significativa de novos infectados por HIV e por hepatite

C em todo o mundo (UNODC, 2020, p. 11).

1.2.3 Fornecedores

Finalmente, considerando o componente “fornecedores” do mercado de drogas, os

documentos do UNODC também trazem informações pertinentes.

Clique no player a seguir para ouvir o podcast ou clique em "Transcrição" para ler o

texto.

Podcast
Transcrição

Dos mencionados relatórios do UNODC, é possível mensurar e qualificar o avanço, a

complexidade e a extensão do mercado de drogas no plano internacional.

Extensão do mercado de drogas internacional


Fonte: Adaptado de Mundo Estranho (2018).

Em síntese, nos últimos trinta anos vem ocorrendo em todo o mundo um crescimento

vertiginoso da quantidade e da variedade de drogas ilícitas que se encontram difundidas

pelo planeta. Entre essas substâncias, a Cannabis é a mais consumida e os opioides são

as drogas mais danosas à saúde.

Boa parte da totalidade de cocaína mundial é produzida em três países que fazem

fronteira com o Brasil: Colômbia, Peru e Bolívia.

DICA DE MÍDIA
Para saber mais sobre o desenvolvimento do mercado da maconha, vale a pena ver o

vídeo “Evolução do Mercado de Maconha”.

Esses números são refletidos nos altos índices de prisões provisórias relacionadas ao

crime de tráfico de drogas ou a crimes correlatos. Veja o percentual no gráfico a seguir:

Percentual de presos provisórios por tipo de crime


praticado

Fonte: Adaptado de Tribunal de Justiça (2017).

Vamos relembrar os pontos principais? Veja uma síntese dos pontos mais importantes

relacionados ao aumento das substâncias ilegais em circulação e a realidade dos

números de usuários no mundo.

No próximo tópico, você vai entender o panorâma geral das políticas de redução de

drogas no Brasil.

1.3 Redução da oferta de drogas


A Política Nacional sobre Drogas, instituída pelo Decreto nº 9.761/2019, nomeou a

redução da oferta de drogas como um de seus principais eixos de atuação, com ações

prioritárias sumarizadas pelo Ministério de Justiça e Segurança Pública.

Segundo a Política Nacional sobre Drogas, as iniciativas de redução da oferta incluem

ações de Segurança Pública, defesa, inteligência, regulação de substâncias precursoras,

de substâncias controladas e de drogas lícitas, repressão da produção não autorizada,

operações especiais, bem como a recuperação de ativos que financiem ou sejam

resultados dessas atividades criminosas.

Clique nos ícones a seguir e veja as ações previstas no eixo de redução de oferta.

Repressão ao uso de drogas ilícitas.

Com base no princípio da responsabilidade compartilhada, o combate às drogas ilícitas

vinculadas ao crime organizado deve priorizar as regiões com maiores indicadores de

homicídios.

Entende-se que a redução dos crimes relacionados ao tráfico e uso de drogas ilícitas

proporcionará melhoria substancial nas condições de segurança e bem-estar de

comunidades, de famílias e dos cidadãos, de um modo geral.

Uma atribuição central da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas é assessorar o

Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública e prestar assistência aos órgãos do

ministério quanto às políticas sobre drogas relacionadas com a redução da oferta, a


repressão da produção não autorizada e o combate ao tráfico ilícito de drogas,

respeitadas as competências de outras entidades da Administração Direta e Indireta.

Fonte: Divulgação/PRF.

As unidades de operações especiais, tanto das forças armadas quanto das forças

policiais brasileiras, figuram como importante recurso para o enfrentamento repressivo

da oferta de drogas.

Clique no player a seguir e veja o vídeo sobre o Comando de Operações Táticas.

Comando de Operações Táticas do Departamento de Polícia Federal.


Foto: © [André Gustavo Stumpf] / Flickr.

Clique no player a seguir e veja o vídeo sobre as operações especiais, e sua relevância

no enfrentamento aos grupos organizados.

No contexto americano de operações especiais, a Joint Pub. 3-05 estabelece as missões


de ação direta projetadas para a obtenção de resultados específicos.

Saiba Mais
Para saber mais, leia na íntegra a publicação da Joint Pub. 3-05.

Veja mais vídeos sobre as operações especiais nas dicas de mídia a seguir:

DICA DE MÍDIA
Assista ao vídeo “Curso de Ações de Comandos”.
Você também pode ter acesso aos trabalhos da BOPE, no vídeo “BOPE Policia Militar

- DF”.

Para entender mais sobre o Comando de Operações Táticas, assista ao vídeo da Polícia

Federal.

Veja o vídeo institucional de conclusão do módulo Resposta Tática do III Curso de

Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal.

Você sabe o que significa a expressão latina ultima ratio? Ela é uma das expressões

mais conhecidas no contexto das operações especiais.

Ultima ratio significa literalmente última razão, ou, em termos mais


práticos, último recurso. Tratando-se de uma alternativa tática, seja no
contexto macro do combate ao crime organizado, seja no contexto
específico do enfrentamento de narcotraficantes, as ações envolvendo o
emprego de forças especiais precisam ser precedidas do trabalho de
inteligência.

Isso se torna ainda mais relevante porque a Inteligência de Segurança Pública está

intimamente relacionada à execução de ações para prever, prevenir, neutralizar e

reprimir atos criminosos de qualquer natureza.

Lei nº 9883
de 7 de dezembro de 1999
Art. 1º
§ 2º, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN)

“[...] entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e


disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e
situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação
governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.”

Veja que essa definição está relacionada diretamente a questões de Estado, ou seja, a

referida lei trata eminentemente de Inteligência de Estado. Por sua vez, como já

mencionado, os recursos a serem empregados pelas agências de Segurança Pública,

tanto na prevenção quanto no combate à prática de ilícitos como tráfico de drogas,

sempre serão melhores dosados se forem precedidos de ações de Inteligência de

Segurança Pública.

A atividade de Inteligência de Segurança Pública (ISP) é a sistematização de ações

especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na

esfera de Segurança Pública. Além disso, suas ações servem de orientação para

subsidiar os tomadores de decisão, no planejamento e execução de uma política de

Segurança Pública, com ações voltadas para previsão, prevenção, neutralização e

repressão de atos criminosos de qualquer natureza que atentem à ordem pública, à

sergurança das pessoas e do patrimônio.

Conheça algumas finalidades da ISP a seguir:

Por sua vez, a Doutrina de Inteligência de Segurança Pública do Estado do Rio de

Janeiro (DISPERJ, 2015), precursora da própria Doutrina Nacional de Segurança

Pública (DNISP), define a atividade de Inteligência de Segurança Pública (ISP), em

seus dois ramos, Inteligência e Contrainteligência, da seguinte forma:

O exercício permanente e sistemático de ações especializadas para


identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na
esfera de Segurança Pública, basicamente orientadas para produção
e salvaguarda de conhecimentos necessários para subsidiar os
tomadores de decisão, para o planejamento e execução de uma
política de Segurança Pública e das ações para prever, prevenir,
neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza que
atentem à ordem pública, à incolumidade das pessoas e do
patrimônio.
(DISPERJ, 2015)

Aqui cabe refletir sobre os contornos conceituais da Doutrina Nacional de Inteligência

de Segurança Pública (DNISP). Segundo a DNISP (2015), a doutrina é um “conjunto de

conceitos, características, princípios, valores, normas, métodos, procedimentos, ações e

técnicas que orientam e disciplinam as atividades de ISP.”

Propõe uma linguagem especializada entre os profissionais da atividade de ISP, de

modo que as relações de comunicação essenciais ao seu exercício ocorram sem

distorções ou incompreensões.

Dentro dessa perspectiva, a doutrina deve ser capaz de padronizar a atuação das

agências que integram o Sistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), visando

maximizar os seus padrões de eficácia e eficiência, convertendo-se em importante

instrumento de assessoria às políticas e ações relacionadas à área de Segurança Pública.

Saiba Mais
Ainda dentro da temática “inteligência”, para mais informações sobre proteção de

conhecimentos sensíveis e sigilosos, bem como outros assuntos correlatos, sugere-se a

consulta ao "Caderno de Legislação da Agência Brasileira de Inteligência".

Finalmente, para encerrar este tópico sobre elementos relevantes para a política de

redução da oferta de drogas, convém elucidar o que vem a ser o “princípio da

responsabilidade compartilhada”.
Mais de 11 mil militares e 33 agências governamentais atuam no combate ao crime nas
fronteiras.
Fonte: IDESF.

No contexto da Política Nacional sobre Drogas, esse princípio está relacionado com a

necessidade de se canalizarem esforços em nível local, regional, nacional e

internacional com vistas ao combate do cultivo, da produção e do tráfico de drogas

(ciclo logístico).

Ou seja, é preciso adotar estratégias de cooperação mútua e de articulação de esforços

entre governo, iniciativa privada, terceiro setor e cidadãos de modo geral, com foco na

priorização de regiões que apresentam taxas de homicídios mais elevadas. Em outras

palavras, os múltiplos atores envolvidos nos esforços de redução da oferta de drogas

devem agir de forma mais organizada que aqueles que atuam na atividade criminal.

Parafraseando as palavras de Rudy Giuliani, ex-prefeito da cidade de Nova Iorque, já é

tempo de as ações de redução da oferta de drogas passarem a ser tão organizadas quanto

o crime organizado.

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