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AVANÇOS E DESAFIOS NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL BRASILEIRA E

PORTUGUESA COM USUÁRIOS DE DROGAS: UMA EXPERIÊNCIA


CLÍNICA E DE PESQUISA SOBRE A REDUÇÃO DE DANOS1.

Julio Cesar Nicodemos2

I) Introdução: um breve panorama político e do cuidado dos usuários de


drogas no Brasil e em Portugal

O presente trabalho tem como objetivo um pequeno ensaio comparativo e de


ordem qualitativa sobre as ações pautadas pelas políticas públicas de saúde no campo do
cuidado dos usuários de drogas em Portugal e no Brasil através do recorte da
experiência clínica e de pesquisa do autor em ambos os países. Portanto, buscaremos
identificar, quando falamos de Redução de Riscos e Minimização dos Danos, e
tratamento dos usuários de drogas, os principais embaraços no cotidiano do cuidado das
equipes de saúde considerando as diferentes realidades e a diversidade dos problemas
encontrados na oferta destes cuidados. Apesar da organização deste artigo em partes
numeradas e diferenciadas, ele possui uma dinâmica retroativa de leitura onde algumas
de nossas conclusões já se encontram presentes desde a sua introdução mas que só
poderão ser melhor compreendidas se lermos até o final.
Desde já, podemos afirmar que aquilo que chamamos de riscos e os danos
causados pelas drogas em território português e brasileiro se diferem consideravelmente
já que cada território é atravessado e composto por diretrizes de atenção aos usuários de
drogas que transbordam o setor da saúde e que implicam nos modos como os demais
setores das cidades, assim como os discursos que permeiam esta problemática na
cidade, irão oferecer suas estratégias de intervenção. Podemos dizer que há um
diferença considerável como o estado de cada país e suas populações em geral acolhem
esta problemática e oferecem suas possíveis soluções.
É notório o impacto que a Lei de número 30 de 29 de novembro do ano 2000, lei
que descriminaliza os usuários de drogas em todo o território português, fazendo retrair
o aparato repressivo através da desjudicialização dos comportamentos e a criação de
1
Texto apresentado no dia 20 de junho de 2017 no I Colóquio luso-brasileiro de clínica psicossocial com
usuários de drogas em situação de vulnerabilidade na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto (Portugal).
2
Aluno do doutorado do Programa de Pós-graduação em Psicanálise da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro e aluno do doutorado sanduíche da Universidade do Porto (FPCEUP). Psicólogo e psicanalista
supervisor clínico-institucional do CAPS-ad Alameda e da equipe de Redução de Danos de Niterói (RJ) e
professor de Psicologia na Universidade Salgado de Oliveira na cidade de Niterói (RJ) e da pós-
graduação em Psicanálise da Faculdade de Medicina de Campos dos Goytacazes (RJ).

1
instâncias administrativas extrajurídicas chamadas “Comissões para a Dissuasão da
Toxicodependência” (CDT). O aumento considerável de suportes psicossociais no setor
da saúde apresentou ao longo da década de 2000 consequências diretas na queda do
número de pessoas encaminhadas para as instituições penitenciárias e um número
crescente de pessoas em tratamento para seus usos abusivos de drogas, também notou-
se uma queda significativa de mortes por overdose.
A partir da nossa experiência, podemos constatar que os danos provocados pelo
caráter punitivo de repressão policial é amenizado consideravelmente, o que não
significa que no setor da saúde tenhamos avançado de forma consistente nas nossas
tecnologias psicossociais de tratamento e seus financiamentos pelo Estado português de
modo paralelo aos avanços políticos. Apesar da expansão das equipes de rua em todo o
território português para o atendimento das populações em situação de rua e/ou em
situação de vulnerabilidade com a presença do uso de drogas, isto não modificou
consideravelmente as mentalidades e as formações profissionais onde são poucos os
profissionais habilitados para os desafios destes trabalhos em territórios psicotrópicos e
o cuidado do sofrimento psíquico que tais sujeitos apresentam. Diferentemente do que
encontramos em algumas experiências brasileiras, há uma disjunção entre as
intervenções psicossociais e uma possível escuta clínica inventiva diante do sofrimento
de cada sujeito fixando as intervenções em ações e protocolos restritamente médico-
sanitários para o impedimento de novas epidemias e mortes por overdose ou doenças
sexualmente transmissíveis. Neste sentido, tais ações são ainda muito mais pautadas
num discurso médico curativo do que em ações psicossociais de fato.
Por outro lado, no Brasil, podemos verificar que apesar da Lei 11.343 do ano de
2006 modificar o aspecto coercitivo da lei de 1976 – que autorizava o magistrado a
definir a internação compulsória para sujeitos que apresentassem “recaídas” ao longo do
seus tratamentos ambulatoriais –, ela mantém a judicialização dos usuários não
especificando as diferenciações entre usuários e comerciantes de drogas (apesar de citá-
los como atores diferenciados). A Guerra às Drogas no Brasil (com forte influência das
políticas norte-americanas desde meados do século passado) perpetua uma série de
consequências sociais fazendo correr em suas entranhas decisões segregadoras dos mais
pobres e negros que preenchem os espaços já superlotados de uma aparato penitenciário
em expansão em vias de ser totalmente privatizado, a gestão da miséria brasileira
historicamente sempre gerou lucros aviltantes para a elite nacional.

2
Neste sentido, os riscos e danos em relação ao uso de drogas no Brasil,
encontram-se muito mais localizados no estigma da clandestinidade marcada pelo crime
onde morrem, todos os dias, usuários de drogas, narcocomerciantes ou, simplesmente,
moradores das periferias que estão no meio das trocas de tiros entre o tráfico de drogas e
a polícia. Esta direção de intervenção, o combate às drogas, já foi inúmeras vezes
comprovada empiricamente como fracassada e, mesmo assim, continuamos nesta tóxica
e mortífera aposta não contra às drogas mas sim contra determinadas parcelas da
população.
Segundo Jorge Quintas (2011) em seu livro Regulação Legal do Consumo de
Drogas: Impactos da Experiência Portuguesa da Descriminalização:
A argumentação anti-proibicionista é já clássica: a guerra às drogas, a
repressão e o proibicionismo têm altos custos e consequências muito
nefastas para os cidadãos, consumidores ou abstémios, e para a sociedade. A
difícil distinção entre danos do uso e danos do controlo, permite considerar
que os militantes anti-proibicionistas talvez exagerem o peso negativo do par
proibição-repressão e menosprezem a carga que é devida ao uso de drogas
em si. Colocados numa amálgama de conceitos, a repressão do tráfico e do
consumo de drogas (expressa frequentemente na metáfora da guerra à
droga), e a interdição dos comportamentos, tendencialmente por via
criminal, serão, no entanto, responsáveis por uma parte significativa dos
problemas actuais relacionados, directa ou indirectamente, com as drogas
(QUINTAS, 2011 p.47).

Entretanto, se por um lado as políticas de drogas operadas pela Secretaria


Nacional de Políticas Sobre Drogas (SENAD) submetida ao Ministério da Justiça
perpetua uma direção nacional proibicionista em sua pior versão repressiva, ao longo
dos anos 90 e os anos 2000, no campo da atenção psicossocial vinculado ao Ministério
da Saúde, observamos experiências exitosas de intervenção através da Redução de
Riscos e Minimização dos Danos nos territórios psicotrópicos brasileiros atravessados
pela violência desta Guerra às Drogas. Exemplo disso é a experiência do psicanalista
Antônio Lancetti durante os anos 90 na cidade de Santos (SP) descrita em seu livro
Clínica Peripatética (2012, p.79):
A experiência ocorreu num clima de confronto e de radical postura em favor
da defesa e da afirmação da vida. Precursora, enfrentou forte resistência da
mídia local, das forças conservadoras da cidade e do Ministério Público.
Para se ter ideia, o secretário municipal de saúde da época, David Cpistrano
Filho, e o coordenador de aids, Fábio Mesquita, foram processados,
acusados de incitar o uso de drogas ilegais, e a experiência teve de ser
interrompida por ordem judicial.
Os avanços políticos da Reforma Psiquiátrica Brasileira e a implantação dos
Centros de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas (CAPS-ad),

3
permitiram novas e inovadoras articulações (em alguns lugares específicos do país e
num recorte de tempo) no que se refere ao desenvolvimento de ações de saúde com esta
população. As diretrizes da Redução de Danos3 somadas ao teor de
desinstitucionalização da Reforma Psiquiátrica Brasileira e a aproximação de muitos
psicanalistas na construção de novas direções de trabalhos nos territórios, produziu a
emergência de pontos de resistência ao aparelho repressor e uma verdadeira inclusão
dos sujeitos marginalizados socialmente em ações de tratamento menos pautadas em
protocolos sanitários – inclusão que se deu primeiramente através das apostas de escutas
de sujeitos que pudessem, minimamente, implicarem-se com aquilo que endereçam ao
Outro. Desde já afirmamos que não há inclusão possível no campo social se não
incluirmos um sujeito que emerge através dos ditos numa cadeia de linguagem, algo que
os psicanalistas não se pouparam de dizer a cada vez que se pensou na oferta de
cidadania e de bens para aqueles alijados dos cuidados do Sistema Único de Saúde
(SUS).
Infelizmente tais experiências foram pontuais e muitas delas duraram
relativamente pouco tempo, tendo em vista a falta de investimentos públicos e o
surgimento de grupos conservadores (muitos deles ligados às igrejas) cada vez mais
interessados nesta população como uma “galinha dos ovos de ouro” que gera muitos
lucros, principalmente quando retomam os modelos iatrogênicos centrados em
estratégias de internações voluntárias, involuntárias ou compulsórias. Fazemos
referência aqui a expansão do complexo de Comunidades Terapêuticas religiosas no
Brasil que simplesmente ignoram as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e
preconizam a internação e a abstinência do uso de drogas como eixos principais. O que
temos hoje no Brasil é um cenário de um veloz retrocesso em relação aos investimentos
no campo da atenção psicossocial e a formação profissional qualificada para a
operacionalização desta direção de trabalho pautada na atenção psicossocial e na
Redução de Riscos e Minimização dos Danos (ou, simplesmente, Redução de Danos
como costumamos chamar no Brasil)

3
No Brasil chamamos este modo de intervenção com baixos limiares de exigência para o tratamento de
usuários de drogas no campo da saúde de Redução de Danos. Em Portugal tais intervenções chamam-se
Redução de Riscos e de Danos ou Redução de Riscos e Minimização dos Danos.

4
II) Questões que emergiram através da experiência clínica e de pesquisa na
atenção psicossocial no Brasil e em Portugal:

Nesta parte do artigo nos deteremos nas questões de pesquisa sobre os impactos
das políticas de drogas nas práticas de cuidados em saúde de um em que possamos
formular questões a serem refletidas pela universidade e pelos profissionais envolvidos
neste campo. Tais questionamentos emergiram ao longo dos anos através de nossa
prática na atenção psicossocial brasileira e no encontro com profissionais de saúde,
pesquisadores e pacientes com os quais tivemos contato ao longo dos últimos anos em
Portugal. Para demonstrarmos a autenticidade dos nossos questionamentos – que
emergiram através da nossa própria prática clínica e de pesquisa –, é inevitável uma
breve apresentação biográfico-profissional do próprio autor para que o leitor acompanhe
seus pontos de partida e de chegada, este último apontando o momento em que nos
encontramos atualmente na formulação de uma tese de doutorado no Programa de Pós-
graduação em Psicanálise na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ):

Em 2015, quando pela primeira vez desembarquei na cidade do Porto, em


Portugal, meu interesse era o de obter alguns esclarecimentos do professor Luís
Fernandes4 sobre seus “actores e territórios psicotrópicos” (nome de sua tese de
doutorado), além de investigar o impacto de uma política de descriminalização das
drogas (reconhecidamente chamada de “modelo português”) no cotidiano dos
tratamentos de seus usuários5.
Não me deixando capturar pela ingenuidade de que as linhas traçadas de uma
política pública, por si só, tem o poder de transformar as práticas como um passe de
mágica, logo em minha chegada pude elaborar os seguintes questionamentos: quais
4
Professor da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e que nos
anos 90 desenvolveu o conceito de “actores e territórios psicotrópicos” em sua tese de doutorado através
de um estudo etnográfico de algumas cenas de uso de drogas na cidade do Porto. Seu trabalho ainda hoje
é de extrema influência nos debates das políticas públicas portuguesas destinadas aos usuários de drogas e
na formação profissional de muitos daqueles que trabalham com Redução de Riscos e Danos em Portugal
e no Brasil.
5
Nossa experiência na cidade do Porto junto das instituições de saúde que lidam com os usuários de
drogas e a Universidade do Porto teve três momentos em continuidade: o primeiro em janeiro de 2015
quando visitamos algumas instituições de saúde incluindo algumas equipes de Rua; um segundo momento
em janeiro de 2016 onde pudemos participar de modo mais implicado no cotidiano de uma equipe de rua
na cidade de Barcelos; e um terceiro momento em 2017 quando, entre os meses de abril e setembro,
desenvolvemos a nossa pesquisa de doutorado sanduíche com o financiamento da CAPES (PDSE) sob
orientação do professor Lúis Fernandes na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto em parceria com a equipe de rua da ONG Norte Vida, onde trabalhamos incluídos
nas equipes de modo sistemático ao longo dos meses.

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seriam os seus reais efeitos sobre cada sujeito em tratamento sabendo que a existência
de uma lei, de uma política pública, não garante melhores práticas e em consonância
com suas diretrizes? As práticas de cuidado realizadas pelos profissionais de saúde se
tornaram mais inclusivas desde os anos 2000 em Portugal? Os usuários conseguem
acessar os serviços de tratamento com menos temor da justiça e da moral dos
profissionais? Além destas perguntas, considerando que assim como o Brasil, Portugal é
um país de contrastes e contradições – um país com uma população majoritariamente
católica e que numa só década descriminaliza o uso de drogas e o aborto –, como estas
contradições apareceriam dentro do setor da saúde responsável pelo cuidado dos
usuários de drogas? As respostas para estas perguntas surgiram mais recentemente na
forma de novas perguntas. Por exemplo, interrogo por que há uma separação entre as
ações de Redução de Danos e de Minimização dos Riscos nos territórios psicotrópicos,
das instituições que verdadeiramente são consideradas como lugares de tratamentos6
stricto sensu (pelo menos é assim que aparece nos discursos que me encontrei): por que
as estratégias de redução de danos (realizadas principalmente pelas equipas de rua)
permanecem alijadas enquanto um atravessamento fundamental das equipes de
tratamento stricto sensu? O poder médico é quem conduz estes tratamentos? Não seria a
redução de danos, se aliada a outras ferramentas do cuidado, o próprio tratamento? O
que é tratar sem considerar a redução de danos como um dos pilares do cuidado? Ou
seja, desde 2015 me dirijo ao Porto para responder algumas perguntas e a cada vez que
volto me vejo com novas questões. O que talvez signifique que eu esteja num caminho
mais ou menos interessante em minhas pesquisas já que são as perguntas que nos
movem em nossas pesquisas.
Neste percurso, também estamos advertidos de que Brasil e Portugal possuem
diferenças socioeconômicas abissais e caminhos diferentes na construção deste campo
de políticas públicas: enquanto no Brasil o tratamento dos usuários de drogas está
incluído no setor do Ministério da Saúde (por enquanto pelo menos) que é a
Coordenação Nacional de Saúde Mental, Portugal mantém o tratamento dos sujeitos
psicóticos e portadores de outros sofrimentos psíquicos apartado das intervenções
específicas de atenção aos usuários de drogas: mas na prática dos profissionais, seria
isto possível no cotidiano das equipas de rua? O que fazem com os psicóticos quando os
6
Os Centros de Respostas Integradas (CRI) são os órgãos da saúde responsáveis pelas ofertas de atenção
aos usuários de drogas desde os cuidados nas ruas através das Equipas de Rua até os regimes
ambulatoriais de tratamento através de consultas médicas, psicológicas e de assistentes sociais. Apesar do
significante “Integradas”, verificamos uma cisão entre as ações de Redução de Riscos e Minimização de
Danos nas ruas e aquilo que eles circunscrevem como tratamento, os atendimentos ambulatoriais.

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encontram? Como tratam de seus sofrimentos para além do uso de drogas considerando
toda a sua produção delirante, automatismos mentais, alucinações, etc.?
O que verificamos em algumas situações específicas foi a produção de novos
sofrimentos se considerarmos que tratar requer um mínimo de escuta para as suas
singularidades e, por vezes, o abandono de nossos protocolos sanitários de intervenção.
Tratar é também escutá-los de forma implicada com o que nos dizem, ou seja, implica-
los e nos implicarmos na construção de novas possibilidades de cuidado. De saída,
sabemos através da clínica que não tratamos, a princípio, de corpos adoecidos ou
intoxicados por uma substância química, a nossa aposta precisa atingir um sujeito que
ali lança mão do recurso tóxico por algum motivo que lhe é próprio em sua trajetória de
vida. A nossa (a minha) aposta em muitos dispositivos de tratamento no Brasil (como é
o caso de muitos CAPS-ad que se responsabilizam pelas formações de suas equipes
multiprofissionais através das supervisões) é a aliança entre este fazer orientado pelas
coordenadas políticas das estratégias de Redução de Danos, mas não sem considerar que
há uma escuta necessária para cada um que nos demanda alguma ajuda e que nos
endereça algum tipo de sofrimento psíquico. Portanto, uma aposta clínica, mas não sem
considerar um terreno político para este fazer, já que não há clínica possível em terrenos
em que o objetivo do tratamento já está, a priori, pré-definido, como é o caso das
estratégias que buscam a abstinência como objetivo único: nestas últimas o caminho a
ser percorrido no tratamento para estes especialistas da dependência química (ou da
toxicodependência, como chamam os portugueses) já está formatado, ou seja, o sujeito
em questão fica de fora, não tem escolha, culminando na maioria dos casos graves em
infinitas internações e sua cronificação na etiqueta de toxicodepência oferecida pela
psiquiatria conservadora do DSM IV.
Diante destas perguntas que fizemos, algumas outras também se fizeram
presentes e que buscaremos responder ao final de nossa pesquisa de doutorado ainda em
curso: como nossos companheiros portugueses fazem para tratar dos que sofrem, mas
que também fazem uso de drogas e são reconhecidos como socialmente vulneráveis,
como os psicóticos em situação de rua, por exemplo? Mesmo as estratégias de Redução
de Danos, com seu horizonte mais progressista do que as estratégias de abstinência,
podem cair num fazer protocolar e de controle dos corpos caso não identifiquemos que a
escuta daquilo que é singular para cada sujeito em seu sofrimento, e os caminhos que
devemos percorrer com ele, não cabe num fazer pautado pelo protocolo, o protocolo só
nos serve para abolir aquilo que é de cada um, encaixar na massa de pessoas doentes

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para que na sequência interrompam o seu comportamento desviante. Não foi uma única
vez que escutamos de alguns profissionais que um paciente com transtorno mental em
uso de drogas precisa ser encaminhado para um serviço de psiquiatria específico.
O desvio, muitas vezes, também pode ser um caminho interessante, e desde o
nosso percurso no Brasil, teríamos muitos casos para apresenta-los como é o caso de L
que ao diminuir o seu uso de drogas e conseguir um trabalho, começa a dizer que está
atormentado por pensamentos pedófilos e pensa em se matar. O caminho desviante nas
ruas com a cocaína foi a única saída que encontrou para apaziguar o seu sofrimento
diante da invasão destes pensamentos, a droga aqui foi uma solução possível para L e
precisamos manejá-la com muita delicadeza. Para esta conclusão clínica, precisamos
desta articulação necessária entre um fazer clínico e um mandato político que dê lugar a
este fazer. Se por um lado os profissionais de saúde brasileiros gastam (inclusive “as
suas próprias vidas”) suas forças driblando o arsenal bélico para a produção de acesso
de seus pacientes, eles contam com possíveis formações que inclua esta dimensão de
escuta, rara em outros países do mundo, e que pode implicar verdadeiramente um
sujeito e a si próprio na elaboração e invenção de estratégias de cuidado.
Neste sentido, distribuir metadona, entregar preservativos, encaminhar os sem-
abrigo para algum acolhimento e oferecer aconselhamentos, não pode ser apenas o que
traduz uma intervenção em Redução de Danos. Precisamos nos oferecer um pouco mais,
escutar cada um em sua miséria subjetiva, convocarmos as forças demoníacas presente
na vida de cada um para que nos inclua em seu manejo a partir daquilo que nós, clínicos
orientados pela psicanálise desde Freud e Lacan (e por que não afirmarmos isto?),
chamamos de transferência (conceito freudiano que se refere a um modo específico de
vinculação de tratamento e que se dá entre o sujeito do inconsciente e aquele que se
oferece a uma escuta, geralmente um psicanalista ou alguém sob a supervisão de um e
que aposte no inconsciente).
Destacamos que não falamos aqui de uma direção de trabalho que vislumbre a
abolição das forças demoníacas de cada sujeito (isto seria no mínimo ingênuo de nossa
parte), já elas fazem parte da vida psíquica de todos nós. Quem crê nesta possibilidade
são os religiosos e os profissionais pautados pelo DSM IV.
Queremos, através da transferência, desde tipo de vínculo muito específico que
abordamos, que tais forças trabalhem a favor de cada sujeito, que não sucumbam a um
gozo mortífero com a droga. Para isto, nós profissionais da saúde precisamos de alguma
coragem, pois paga-se um preço quando convocamos o demônio de cada um, muitas

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vezes um preço altíssimo e com a própria carne, como nos dizia Lacan. Não é à toa que
Freud em março de 1909, ao se dirigir aos Estados Unidos com os seus parceiros Jung e
Ferenczi, diz que irá levar a peste aos americanos pautados ainda por uma medicina
tradicional e uma psicologia ingênua e adaptativa.
O tratamento sempre será no um a um, ainda que uma política pública permita
que este tratamento ocorra de modo mais ou menos possível, com mais ou menos
obstáculos. Precisamos muitas vezes quebrar os protocolos construídos para as massas
de usuários de drogas que nos diz o que fazer e nos dispormos a percorrer um caminho
(que pode ser árido), que a princípio cada sujeito e nós mesmos não sabemos qual será,
com cada um e a partir de cada palavra que nos diz, permitindo que eles falem de suas
mazelas e de seus modos de satisfação (com ou sem a droga, desviante ou não das
normais sociais) sem que a princípio tenhamos o que fazer. A abstinência está do nosso
lado neste sentido, abstinência do nosso furor curandis que tenta salvar o outro a
qualquer preço. Muitos destes sujeitos nunca utilizaram as suas próprias palavras para
ressignificarem as suas existências e experiências, nunca se referiram a si de outras
maneiras que não apenas a maneira como a medicina e os operadores da lei se referiram
a eles ao longo de suas vidas. Apostamos que a experiência de falar (um falar
endereçado a alguém que deseja escutar aquilo que não se pode dizer e que ninguém
quer escutar) – incluindo aqui o falar da droga e de seus abusos, que aparece como
ações sem a presença de palavras –, por si só já produz grandes efeitos: precisamos
fazer passar da ação à palavra (neste caso o ato ininterrupto de usar drogas), e isto pode
levar um longo tempo e requer de nós aquilo que o psicanalista e professor da Pós-
graduação em Psicanálise da UERJ, Luciano da Fonseca Elia costuma chamar em suas
falas de “paciência psicossocial”. A escuta clínica é uma aposta sem que estejamos a
trabalhar com as nossas expectativas próprias atravessadas pelos nossos ideais de cura,
tratamento e reinserção social. Todos eles já estão inseridos socialmente, ainda que
numa segregação no campo do Outro social.
Destarte, como já mencionamos no início deste artifo, o Brasil, do mesmo modo
que Portugal, também apresenta suas contradições em seu percurso de intervenção com
esta população: ao mesmo tempo que possui um sistema de saúde pública que prevê o
acesso universal e a equidade nos tratamentos com uma rede de dispositivos em
diferentes territórios das cidades, até nos mais violentos, possui uma nova lei de drogas
(2006) que pouco se difere da lei de drogas criada em 1976 (época da ditadura militar)
de modo que vincula a atenção dos usuários aos equipamentos jurídicos.

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No Brasil, quando nos dispomos a trabalhar com os usuários de drogas, nos
deparamos, a cada esquina, com o discurso que se sustenta nesta lei de drogas e de seus
operadores tendo a mídia e o poder da justiça como seus principais fiadores. Os efeitos
deste discurso pautado numa lei, gera em todos os níveis consequências graves desde a
esfera microssocial à esfera macrossocial. Observamos isto na violência institucional
sobre estes sujeitos que em nome da “guerra às drogas” são assassinados todos os dias
com total conhecimento da população e da máquina estatal. Um discurso muito mais
produtor de sofrimentos do que as consequências de um uso abusivo de substâncias.
Podemos até mesmo dizer que há uma produção de um discurso que passa a fazer parte
das trocas simbólicas diárias nas ruas e nas instituições brasileiras que autoriza e quer
estes assassinatos. Sendo assim, distribuir insumos para o não contágio de doenças
infecciosas seria apenas um detalhe (ainda que importante) para o nosso fazer em
Redução de Danos. Os sujeitos chegam até as nossas equipes de saúde carregando em
seus corpos as marcas deste discurso através de inscrições do estigma advindos de um
Outro social.
Para ilustrarmos também as consequências de um dos efeitos deste discurso,
produtor de violências cometidas pelo próprio Estado e suas instituições (sendo elas de
saúde ou não), temos as pesquisas do delegado de polícia Dr. Orlando Zaccone, cuja
tese de doutorado deu o tírulo ao seu livro Indignos de vida, a forma jurídica da
política de extermínio na cidade do Rio de Janeiro (2015).
Neste trabalho ele investigou os discursos presentes em 308 inquéritos policiais
conhecidos como “auto de resistência” entre os anos de 2003 e 2009 e que foram
arquivados pelo Ministério Público do estado do RJ negligenciando a morte de mais de
300 pessoas em nome da defesa social. Como exemplo, citaremos um recorte de um
parecer de um dos promotores diante de ladrões de automóveis (em quase todos os
casos havia relatos por parte dos promotores do uso de drogas como uma marca a mais
das vítimas e que as sentenciavam a morte):
Quando Marcos Antônio recebeu voz de assalto emitida pelos agentes,
saiu do carro em que estava, deu ordem de parada aos assaltantes e
recebeu tiros, mas, em revide, contra eles atirou, matando,
infelizmente, somente Antônio. O agente, portanto, matou um fauno 7,
que objetivava cometer um assalto contra ele, agindo absolutamente
dentro da lei. [...] Ressalto que, para desgosto dos defensores dos
Direitos Humanos de plantão, não há dúvidas da tipificação da causa
de exclusão da ilicitude em comento. [...] Bandido que dá tiro para

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Figura mitológica com aparência demoníaca.

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matar tem que tomar tiro para morrer. Lamento, todavia, que tenha
sido apenas um dos rapinantes enviado para o inferno. Fica aqui o
conselho para Marcos Antônio: melhore a sua mira [...] Com efeito, a
dinâmica dos fatos aqui estudados, leva à conclusão que o presente
caderno investigatório somente foi distribuído para este Tribunal do
Júri em razão de ter Antônio Rogério da Silva Sena, para a fortuna da
sociedade, sido morto (ZACCONE 2015, p. 37).

III) Algumas conclusões: do panorama psicossocial à formação de novos


profisisonais

Pois bem, este cenário até aqui apresentado em torno dos discursos produtores
de encarceramento e mortes produzidos pelas instituições estatais no Brasil não pode ser
negligenciado quando abordamos, a partir do nosso campo de atuação, do SUS, mais
especificamente das instituições de atenção psicossocial, o tratamento que oferecemos
aos usuários de drogas mais vulneráveis. Reduzir danos e minimizar os riscos também
nos aponta para intervenções que não se referem apenas ao campo do corpo biológico
que pode ou não se contaminar. Mas este passo, talvez ainda mais complexo que a
implantação de modelos políticos mais progressistas de atenção aos usuários de drogas,
ainda não foi possível para a maioria dos países do mundo que trabalham dentro das
balizas de Redução de Danos e Minimização dos Riscos. Nós brasileiros ainda temos
este privilégio técnico em muitos serviços de atenção psicossocial, por mais incrível que
pareça, ainda que tenhamos uma arcaica política de drogas.
Nos corpos destes sujeitos com os quais lidamos, supostamente intoxicados
pelas drogas – numa perspectiva não dicotômica entre o campo psíquico e campo
biológico –, encontramos sofrimentos psíquicos de ordem singular e que se relacionam
as suas histórias de vida, mas que também são marcados por estes discursos presentes
no laço social pulverizados na cidade. Os corpos não estão apenas intoxicados de
substâncias químicas, já que a nossa constituição corporal não é apenas física, mas
também discursiva (digamos assim) de modo indissociável: basta observarmos uma
criança que aprende a caminhar com o suporte do corpo de um adulto, mas não sem que
este adulto lhe diga algumas palavras para encorajá-la a caminhar. Não há corpo sem os
significantes que vem deste Outro que o sustenta enquanto um corpo. Este Outro
oferece estas marcas como inscrições que cada um experimentará em seus primeiros
encontros na vida e no seu circular pelo mundo, pela cidade, exigindo que se
posicionem como sujeitos aceitando estas marcas como suas ou não.

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Notamos isto naqueles que são diagnosticados precocemente pela psiquiatria
como “dependentes químicos” e passam uma vida inteira se autonomeando assim e
sempre na iminência de uma nova recaída por conta das crises de abstinência (isto não
quer dizer que negamos esta dimensão bioquímica dos corpos, mas afirmamos que ela
não possui realidade em si).
A violência institucional que citamos presente na cidade, quando não matam
inúmeros cidadãos, marcam estes corpos do mesmo modo que identificamos os
discursos pautados pelo saber médico patologizante tomando o uso de drogas,
destacando o uso abusivo, como um transtorno mental crônico. Dependente químico ou
criminoso são as marcas que produzem segregação e que muitos de nós profissionais da
saúde ratificamos com as nossas práticas sem nos darmos conta. Temos grandes
dificuldades de escaparmos desta produção de marginais que advém com este discurso
médico-jurídico sobre o uso de drogas, e isto não acontece apenas num país ou no outro,
mas sim em muitos países – e a Indonésia ganha destaque nesta lista de países sendo um
dos países com as penas mais severas para o consumo e o tráfico de drogas podendo ser
decretada a pena de morte de acordo com a situação – e as formações profissionais em
saúde não escapam a esta captura discursiva, ainda que estejamos num país que
descriminalizou todas as drogas como Portugal.
Mais uma vez, destacamos que a Redução de Danos neste sentido, pode e deve
fazer muito mais que o simples cuidado médico-sanitário, seja no Brasil ou em Portugal.
Não há lei de descriminalização do uso de drogas suficientemente interessante se com
ela não estivermos preparados em nossas formações para encarar o sofrimento psíquico
que marca cada um na dinâmica de suas vidas, mas não sem considerarmos os discursos
deste Outro social que também lhe marca, segrega e produz tais sofrimentos (e temos a
formação das cracolândias como estes espaços que reúne sujeitos marcados por este
Outro social). A escuta clínica, nesta direção, alia-se as práticas de saúde permitindo
que possamos incluir um sujeito que tem um saber sobre si e do seu uso de drogas. É a
partir deste saber que ele também não sabe que poderemos fazer algo mais interessante
com ele sobre suas marcas produtoras de sofrimento que podem mata-los numa
overdose de segregação com as etiquetas que recebe passivamente do Outro social,
precisamos operar também como “desetiquetadores” destes nomes que estão nestes
corpos que nos chegam. Estes sujeitos se tomados apenas como objetos de intervenção
médica e da justiça apenas se fixam nestas nomeações advindas destes campos que nada

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auxiliam na construção de um caminho singular mais interessante com seus usos de
drogas.
Sendo assim, nossa conclusão é: enquanto a Redução de Danos não se aliar a um
fazer clínico no campo psicossocial, um fazer clínico-político, permaneceremos apenas
como operadores de um discurso médico-sanitário muito mais preocupados com o
controle dos corpos intoxicados e das epidemias do que com o sofrimento psíquico
existente no laço social de cada sujeito. Como o próprio Freud já nos advertia em 1921
em seu texto Psicologia das Massas e análise do eu, não há separação entre uma
psicologia individual de uma outra, uma psicologia social. Ainda assim, em pleno
século XXI, permanecemos nesta esquize perigosa e produtora de alienação dos
profissionais com danos graves nos tratamentos que oferecemos no campo da saúde
pública.
Neste sentido, tanto Portugal quanto o Brasil, em suas parcerias e trocas de saberes
e de percursos políticos, possuem afinidades e diferenciações que podem e devem se
complementar no desenvolvimento de novas ações no campo da atenção psicossocial.
Nós brasileiros precisamos com urgência rever nossas políticas de drogas ainda pautada
na repressão policial, já Portugal pode e deve se beneficiar de um percurso construído
na Reforma Psiquiátrica Brasileira na elaboração de suas novas tecnologias de cuidado.
Em relação à formação profissional, podemos afirmar que os cursos da área da
saúde no Brasil, assim como outros localizados no campo das ciências humanas (como a
antropologia, sociologia, geografia, etc.), nos últimos anos, tentam incluir de modo
preciso em suas discussões e pautas, os temas-alvo dos discursos mais conservadores e
produtores de exclusão: o uso abusivo de drogas, a prostituição, as questões de gêneros,
a população em situação de rua, etc.
Mais especificamente em relação às graduações e pós-graduações em Psicologia (e
isto também inclui as pós-graduações em Psicanálise), principalmente nas pesquisas,
extensões acadêmicas e práticas de estágio, o atravessamento da pauta dos Direitos
Humanos vem se aproximando e promovendo uma relação intrínseca ao fazer clínico e
às intervenções coletivas, aposta interessante e fundamental em nossos cotidianos mas
não sem um grande desafio. Formar psicólogos neste contexto no qual nos
encontramos, requer mais que a transmissão de conteúdos de um saber psi, mas sim a
possibilidade de diálogo entre muitos saberes e, mais fundamentalmente ainda, a
transmissão de uma posição de trabalho que não está pautada apenas por saberes e
conteúdos psi, pois inclui uma dimensão ética e política. Transmitir uma posição diante

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do outro é de fato o que mais nos interessa já que sem isto somos perigosamente
iatrogênicos.
Em relação à atenção psicossocial com usuários de drogas, principalmente quando
abordamos o tema da Redução de Danos, notamos na atualidade uma enorme resistência
por parte de um público, que cada vez mais ocupa as salas de aula e que trazem consigo
seus valores morais lapidados por suas duras formações religiosas. Com estes, sabemos
que não basta oferecer material didático para a apreensão de novos conteúdos mas
requer de nós professores e supervisores de estágio a possibilidade de produzir novas
dobras em suas rígidas posições recheadas de saberes a priori sobre o tema assim como
fissuras diante daquilo que já sabem sobre o que seria melhor para o outro sem que ao
menos alguma escuta, menos contaminada pelos ideais de salvação, esteja em jogo. O
próprio Lacan ao oferecer uma entrevista e que fora publicada com o nome O Triunfo
da Religião ,em 1974, dizia que este discurso tem a função de secretar sentido a granel
em tudo e em todos e que a nossa função, enquanto clínicos, estaria na contramão desta
proposta para apreendermos melhor aquilo que “não funciona” no mundo.
A formação em Psicologia no Brasil, contudo, nas últimas décadas, não deixou de
considerar estes obstáculos e apesar de uma nova onda conservadora que assola os
discursos em nosso país, apostamos que é preciso sustentar nossos posicionamentos não
apenas no nosso campo de intervenção direta na cidade, mas também com cada um que
nos confiou a sua formação.
Em relação à Psicanálise, para a nossa sorte, ela ainda possui um lugar nas
universidades brasileiras, diferentemente de muitos países europeus que já a aboliram de
suas grades, e isto não é à toa. O pragmatismo pseudocientífico dos manuais
contemporâneos de psiquiatria e o combate às discussões sobre a sexualidade (e também
das múltiplas identidades de gênero) por grupos específicos de nossa sociedade,
provavelmente, produz obstáculos semelhantes aos que Freud precisou transpor em
1905 ao apresentar a sua teoria sobre a sexualidade infantil para um público de médicos
de Viena. Acreditamos que já em 1884 ele também tenha se deparado com grupos
conservadores ao expor seu artigo Über Coca e os benefícios do uso da coca pelos seus
pacientes alcoolistas e deprimidos (ainda que historicamente a cocaína ainda não, havia
ganhado todos os seus estigmas pelo proibicionismo). Portanto, apesar de ter se passado
mais de um século, sabemos que promover leituras psi mais interessantes do mundo,
leituras que subvertem as leituras promotoras de segregração, e inventar novos
mecanismos de tratamento do sofrimento psíquico, requer de nós paciência, coragem e

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desejo para que continuemos esta transmissão que não começou conosco mas que agora
nos implica diretamente enquanto educadores e profissionais do campo.

IV) Referências Bibliográficas:

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