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3 O PROIBICIONISMO
Na prática, não há sociedade que não faça uso de substâncias psicoativas. Talvez
apenas os esquimós sejam uma exceção porque não têm acesso à vegetação.
Portanto, essa prática é estrutural e universal nas culturas humanas, e a ideia de que
ela pode ser removida e erradicada é simplesmente impossível, porque todas as
culturas humanas sempre usaram substâncias para aliviar a dor, melhorar o
desempenho ou criar uma relação mais próxima com o divino. A descriminalização do
uso de substâncias psicoativas é tema de luta social no Brasil há décadas
(CARNEIRO, 2018).
Apesar de todo esse processo histórico, no final da década de 1960 o movimento de
contracultura, a onda de protestos pacifistas e o uso indiscriminado dos psicodélicos
levou o governo do presidente Richard Nixon nos Estados Unidos a declarar a guerra
às drogas, através do Controled Substance Act, em 1971. Esses compostos foram
considerados como riscos à saúde com potencial de dependência química e sem
qualquer utilidade terapêutica. Isso prejudicou severamente as pesquisas sobre efeitos
dos psicodélicos em humanos (VOLLENWEIDER E KOMETER, 2010 apud FONTES,
2017, p. 109).
As políticas proibicionistas justificam sua razão de ser numa lógica cientificista e
positivista, mas sua materialidade na história demonstra que elas se estruturam
fundamentalmente nas necessidades da economia capitalista. No mercado comum,
em vários Estados no mundo as drogas são uma das principais fontes de arrecadação
de impostos. Por exemplo, na Rússia czarista o comercio de vodca gerava cerca de
30% da arrecadação. E o proibicionismo gera um hipervalor, uma espécie de inflação
sobre as drogas que faz com que no mercado paralelo elas rendam muito para
aqueles que a comercializam. Ainda, o proibicionismo se constitui moralmente dentro
de uma lógica fordista do capital. O operário que utiliza psicoativos de forma costumaz
pode não produzir lucro de forma concentrada e ativa (CARNEIRO, 2018).
A guerra contra as drogas também tem um forte componente de controle social e
racial. Ela tem feito com que leis que restringem a ação policial não sejam postas em
pratica e aumentou a brutalidade policial contra as minorias afro-americanas sem ter o
resultado esperado de queda do uso e tráfico de drogas. Cerca de metade dos
presidiários federais nos Estados Unidos são infratores da legislação antidrogas, e os
negros são presos seis vezes mais do que os brancos (Sentencing Project, 2014).
Assim, a aplicação destas politicas não tiveram como resultados a conservação da
saúde pública ou erradicação de substancias ilícitas, mas sim trouxe demasiadas
consequências para a população pobre e negra, e impediu avanços científicos com
implicações médicas, políticas, religiosas e econômicas (Medeiros e Tófoli, 2018).
De acordo com Santos e Medeiros (2021) é claro o potencial terapêutico dos
psicodélicos. Nas décadas de 1950 e 1960 vários estudos foram feitos acerca do
potencial terapêutico dessas substâncias, como para fins de tratamento de estresse
pós-traumático, depressão e para incursão em sessões de psicanálise. Ainda segundo
os autores:
“A terapia psicodélica assistida compreende três estágios: preparação, sessão
psicodélica e integração (...) A confluência desses processos é a flexibilidade
psicológica, ou a capacidade de entrar em contato com o momento presente mais
plenamente como um ser humano consciente e, com base no que a situação permite,
a capacidade para mudar ou persistir no comportamento a fim de servir a fins
valiosos.” (SANTOS E MEDEIROS, 2021, p.2)

CARNEIRO, Henrique Soares. Drogas: a história do proibicionismo. São Paulo:


Autonomia Literária. 2018. Acesso em: 12 dez. 2022.
SENTENCING PROJECTS. Trends in U.S. corrections. Washington: Sentencing
Projects, 2014. Disponível em: https://goo.gl/LpvLsA Acesso em: 12 dez. 2022.

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