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TEMPLO ESCOLA DE UMBANDA SAGRADA BENEDITO DE ARUANDA E SETE ESPADAS

TURMA DE DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO 1 – AULA 1 E 2 – INTRODUÇÃO

Marcus Cardinelli
Dirigente do TEUSBASE
Sacerdote de Umbanda Sagrada
Mago Iniciador da Magia Divina

BIBLIOGRAFIA:

SARACENI, Rubens. Código de Umbanda.

_____. Tratado Geral de Umbanda.

_____. Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada.

APRESENTAÇÃO

Sejam bem-vindos ao Curso de Desenvolvimento Mediúnico e Teologia de Umbanda


Sagrada do Templo Escola de Umbanda Sagrada Benedito de Aruanda e Sete Espadas.

Meu nome é Marcus Cardinelli, sou dirigente do Templo, sacerdote coroado de


Umbanda Sagrada e Mago Iniciador da Magia Divina. Além disso, sou Antropólogo com
doutorado em Ciências Sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestrado
em Antropologia na Universidade Federal Fluminense.

Comecei minha vivência prática na religião em 2001. Essa jornada que iremos percorrer
juntos é fruto das minhas formações na Umbanda Sagrada, na Magia Divina e da experiência
tanto na atuação em Templos de Umbanda Sagrada, quanto na coordenação de turmas de
desenvolvimento mediúnico de outros Templos de Umbanda Sagrada e da prática em terreiros
de Umbanda Tradicional.

Tenho certeza de que nenhum de vocês sairá o mesmo da vivência de 2 anos no


Desenvolvimento Mediúnico. A Jornada de autoconhecimento e de religação ao Sagrado,
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associada a compreensão teológica dos fundamentos de Umbanda e a conexão com os Orixás


e Guias espirituais é um processo muito transformador e curador.

Estaremos juntos nessa caminhada!

Gostaria de começar indicando toda a literatura escrita por Pai Rubens Saraceni. Esse
Pai Espiritual será muito referido ao longo do nosso curso. As apostilas serão em muito
baseadas em suas discussões, com muitas resenhas e fichamentos de seus escritos. Ele foi o
fundador desse segmento de umbanda chamado “Umbanda Sagrada”, além de ter sido o
canalizador da Magia Divina no plano material. Seus livros foram publicados pela editora
Madras.

Em tempo, vale dizer que as apostilas aqui não pretendem substituir nem fazer as vezes
de livros. Até por isso, serão entregues após as aulas. O curso possui uma vasta literatura
indicada, sobretudo os livros de Rubens Saraceni. As apostilas pretendem ser uma memória de
conhecimentos acumulados e debatidos em aula e de discussões travadas por Pai Rubens em
sua obra. Além desse Pai Espiritual, indicamos livros de Alexandre Cumino, José Usher, Cris
Egidio, Lurdes de Campos Vieira etc.

Para começar, gostaria de indicar 3 livros para vocês:

• O Guardião da Meia Noite – Editora Madras – Rubens Saraceni

• Diálogo com um Executor – Editora Madras – Rubens Saraceni

• Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada – Editora Madras – Rubens Saraceni

No TEUSBASE todos são tratados de forma igual. Para mim todos são meus irmãos
amados e alunos, independente dos cargos que exercem em outros terreiros. Aqui o dirigente,
o babalaô, a yawô, a yalOrixá, o ogã, o cambono, enfim, todos serão tratados da mesma forma.
Eu mesmo não tenho preferência de como devem me chamar, então fiquem à vontade para
falarem comigo com as diversas denominações: Irmão, Pai, Mestre, Professor, Marcus.
Atenderei da mesma forma, sem qualquer tipo de preferência.

INTRODUÇÃO

O que é Teologia de Umbanda Sagrada?

A palavra Teologia vem do grego (Théos + Logos) em que Théos = Deus ou Divindade,
Logos = Palavra ou Estudo. Logo, literalmente, Teologia é o Estudo de Deus, das Divindades ou
simplesmente o Estudo do Sagrado.

Teologia é a ciência que trata de Deus seus atributos e perfeições, bem como suas
relações com os homens. A Teologia tem por tarefa explicar a religião. Se há religião, há
teologia.

Estudar Teologia de Umbanda é estudar a Religião de Umbanda. Teologia pode ser


definida como um estudo racional de seu universo religioso, o que envolve desde os
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fundamentos mais básicos de seu ritual – sua liturgia – até conceitos mais elaborados de sua
Gênese ou Cosmologia.

Então, Teologia de Umbanda Sagrada é o estudo estruturado e organizado de todos os


fundamentos da religião de Umbanda Sagrada. É o estudo do que é Umbanda, como
enxergamos Deus e suas divindades, como são os nossos ritos, quais são nossas liturgias, o
porquê de tudo o que vemos na religião.

A Umbanda Sagrada é uma religião simples e sua teologia também é simples. Portanto
não se assuste com o nome “Teologia”, que é apenas o termo correto para identificar um
estudo sério e profundo da religião.

Este é o momento de estudar a Umbanda Sagrada, pois nossa religião está crescendo e
precisa se consolidar a partir de seus próprios fundamentos. Não podemos mais buscar
fundamentos nos irmãos do Candomblé ou qualquer outra religião. Não podemos mais
perguntar a eles o que são os Orixás, como cultuá-los, o que é certo ou o que é errado.

Candomblé é outra religião! E a Umbanda Sagrada tem fundamento, é preciso preparar!

Na Umbanda temos batizado, ritual fúnebre e casamento. Não precisamos realizar


nossos casamentos nas igrejas católicas! Um sacerdote tem totais condições de realizar uma
cerimônia com efeito legal e espiritual! Isso é muito importante saber.

O padre não é o único que realiza ritual fúnebre. O sacerdote umbandista tem seu
método e realiza uma ótima purificação do corpo do “de cujos”. A Umbanda acredita que o
ritual fúnebre é muito importante para o encaminhamento do espírito.

Batizados não são realizados somente na Igreja Católica! O umbandista pode e deve
batizar seu filho no terreiro com a presença de toda a família. Quem não se sentir à vontade
indo num Templo de Umbanda, não vá! Simples Assim! Por que somente nós temos que ir aos
outros templos quando convidados?

O Umbandista não pode ter vergonha de dizer: Sou Umbandista! Quando perguntarem
a sua religião, não respondam: “Sou espírita ou sou espiritualista”, digam: “Sou Umbandista!”.
No momento que assumirmos nossa religião já damos um grande passo para a construção de
nossa identidade.

O outro passo é estudar a religião para poder falar sobre ela. Um dia alguém vai
perguntar: “Não conheço a Umbanda, no que ela acredita? O que vocês pregam?”. Você como
umbandista terá o dever de explicar.

O curso de desenvolvimento mediúnico, onde a teologia de umbanda sagrada está


inserida, ajuda nisso. Ajuda nesse processo de autoconhecimento. Afinal, todos nós somos
Umbanda!

Quando surgiram alguns Cursos de Umbanda, muitos foram e ainda são proibidos de
frequentar, e mais justificativas surgem, como “estão mercantilizando a Umbanda”, “Umbanda
não se aprende em curso”, “vai pegar demanda” e outros como, por exemplo, desmerecer
quem se dedica a ensinar sobre a sua religião.
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Rubens Saraceni criou em 1996 o Curso de Teologia de Umbanda Sagrada, um curso


teórico sobre a religião, no qual para estudar não é preciso ser médium e nem umbandista.
Passados alguns anos estamos aqui contando milhares de pessoas que já se beneficiaram com
este aprendizado.

Somos muitos que recebemos a missão de trabalhar na Umbanda e muitos a


abandonam por não conseguir entender sua riqueza de elementos e complexidade litúrgica.
Que, no entanto, podem ser explicados de uma forma simples, mas não simplista, pois na
Umbanda há muito que estudar.

Nada mais tranquilizador que a compreensão teórica do que se pratica. Afinal, como
criar uma identidade umbandista e me reconhecer como tal, se não consigo ainda
compreender o que estou praticando e o que vem a ser Umbanda?

A Umbanda Sagrada é muito maior do que o seu terreiro, do que este terreiro ou de
qualquer terreiro, pois a Umbanda é a unidade. A Umbanda é o que temos em comum e os
terreiros são as Umbandas que expressam uma tradição religiosa. Muitas vezes esta tradição é
resultado de um sacerdote que quis fazer a “sua” Umbanda. Isto vem acarretando muitos
problemas, pois ninguém quer largar a mão do que acredita para canalizar algo para o benefício
comum. O que você pratica é uma visão, é uma verdade relativa, jamais será a absoluta! A única
verdade absoluta é Deus e qualquer religião ou templo são visões parciais de seus mistérios.

Existe a necessidade real do estudo, sem a pretensão de subestimar a prática, mas com
o objetivo de criar uma consciência “religiosa” que vá além dos limites de “terreiro”. Por falta
dessa consciência a Umbanda já perdeu muito espaço e vem sendo criticada, tornando-se alvo,
entre outros, de seitas que a discriminam e a acusam de práticas negativas diante de seus
médiuns muitas vezes sem condições teóricas de se defender ou argumentar sobre a ignorância
deste preconceito e discriminação.

A falta de uma Teologia pensada, de uma doutrina e de um acompanhamento dos novos


dirigentes de Tendas de Umbanda, resultou em erros irreparáveis e condutas pessoais que não
tinham e não tem nada a ver com o que nos ensina a espiritualidade.

Muitas pessoas, ainda despreparadas, mal instruídas e até incapazes para a direção de
um Templo, abriram suas tendas, criando a sua própria Umbanda e deram vazão a seus
emocionais desequilibrados e seus vícios religiosos, pois não aceitavam a condição de liderados
e almejavam serem líderes, bajulados ou temidos.

A Umbanda Sagrada, entendida atualmente como um seguimento da Umbanda


(corrente de pensamento trazida por Pai Rubens Saraceni e seus mentores), vem angariando
cada vez mais simpatizantes e adeptos, pois prega a liberdade de pensar e agir.

Na Umbanda Sagrada, a dependência dos filhos com os seus sacerdotes é gradualmente


diluída pois, no desenvolvimento mediúnico, o filho de fé aprende a fazer suas firmezas e
proteções, a fazer seus banhos e magias, a riscar os símbolos dos Orixás, a se ligar com seus
guias fora do terreiro e muito mais. Tudo isso faz o médium vivenciar sua maturidade espiritual.

Sabemos que existem várias correntes de pensamento dentro da Umbanda, e também


há muitas formas de praticá-la, ainda que todas se mantenham fiéis à participação dos espíritos
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nos seus trabalhos. Não consideramos nenhuma das correntes melhor ou pior e nem mais ou
menos importante para a consolidação da Umbanda. Todas foram, são e sempre serão boas e
importantes, pois só assim não se estabelecerá um domínio e uma paralisia geral na assimilação
e incorporação de novas práticas ou conceitos renovadores.

Por exemplo, podemos ter como fundamento básico de sua unidade a definição de
Umbanda dada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, por meio de seu médium Zélio de Moraes,
em 15 de Novembro de 1908:

UMBANDA É A MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO PARA A PRÁTICA DA CARIDADE.

Esta definição está em sua unidade, faz parte de seus fundamentos básicos, não cobrar
pelos trabalhos, logo ela pode ter variantes, mas nenhuma das tais deve apresentar-se
cobrando para realizar trabalhos espirituais.

A Umbanda é uma religião nova. Ela é sincrética e absorveu conceitos, posturas e


preceitos cristãos, indígenas e afros, pois estas três culturas religiosas estão na sua base
teológica e são visíveis ao bom observador.

Uma data é o marco inicial da Umbanda: a manifestação do Senhor Caboclo das Sete
Encruzilhadas no médium Zélio Fernandino de Morais, ocorrida em 15 de novembro de 1908,
diferenciando-a do espiritismo e dos cultos de nação/Candomblé de então. A Umbanda tem
suas raízes nas religiões indígenas, africanas e cristã, mas incorporou conhecimentos religiosos
universais pertencentes a muitas outras religiões. Umbanda é o sinônimo de prática religiosa e
magística caritativa e não tem a cobrança pecuniária como uma de suas práticas usuais.

A Umbanda não recorre aos sacrifícios de animais para assentamento de Orixás e não
tem nessa prática legítima e tradicional do Candomblé um dos seus recursos de oferenda às
divindades, pois recorre às flores, frutos, alimentos e velas quando as reverencia.

A Umbanda não é uma seita, e sim uma religião, ainda meio difusa devido à aceitação
maciça de médiuns cujas formações religiosas se processaram em outras religiões e cujo usos
e costumes vão sendo diluídos muito lentamente para não melindrar os conceitos e as posturas
religiosas dos seus novos adeptos, adquiridos fora da Umbanda, mas respeitados por ela.

A Umbanda não apressa o desenvolvimento doutrinário dos seus fiéis, pois tem no
tempo e na espiritualidade dois ótimos recursos para conquistar o coração e a mente dos seus
fiéis. A Umbanda tem na mediunidade de incorporação a sua maior fonte de adeptos, pois a
mediunidade independe da crença religiosa das pessoas e, como a maioria das religiões
condena os médiuns ou segrega-os, taxando-os de pessoas possessas ou desequilibradas, ela
sempre será procurada pelas pessoas possuidoras de faculdades mediúnicas, principalmente a
de incorporação.

A Umbanda tem de preparar muito bem os seus sacerdotes para que esses acolham em
seus templos todas as pessoas possuidoras de faculdades mediúnicas e as auxiliem no
desenvolvimento delas, preparando-as para que futuramente se tornem, também elas os seus
futuros sacerdotes.
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A Umbanda tem na mediunidade de incorporação o seu principal mecanismo de prática


religiosa, pois, com seus médiuns bem preparados, acolhe seus fiéis, auxilia na resolução de
problemas graves ou corriqueiros, todos tratados com a mesma preocupação e dedicação
espiritual e sacerdotal. A Umbanda é uma religião espírita e espiritualista. Espírita porque está,
em parte, fundamentada na manifestação dos espíritos guias. E espiritualista porque
incorporou conceitos e práticas espiritualistas (referentes ao mundo espiritual), tais como
magias espirituais e religiosas, culto aos ancestrais Divinos, culto religioso aos espíritos
superiores da natureza, culto aos espíritos elevados ou ascencionados e que retornam como
guias espirituais, para auxiliar a evolução das pessoas que frequentam os templos de Umbanda.

A Umbanda não alimenta segregacionismo religioso de nenhuma espécie e vê as outras


religiões como legitimas representantes de Deus. E vê todas como ótimas vias evolutivas
criadas por Ele para acelerarem a evolução da humanidade. A Umbanda não adota práticas
agressivas de conversão religiosa, pois acha esses procedimentos uma violência consciencial
contra as pessoas, preferindo somente auxiliar quem adentrar em seus templos.

A Umbanda prega que os espíritos elevados (os seus espíritos guias) são dotados de
faculdades e poderes superiores ao senso comum dos encarnados e tem neles um dos seus
recursos religiosos e magísticos, recorrendo a eles em suas sessões de trabalho e tendo neles
um dos seus fundamentos religiosos. A Umbanda prega que as divindades de Deus (os Orixás)
são seres Divinos dotados de faculdades e poderes superiores aos dos espíritos e tem nelas um
dos seus fundamentos religiosos, recomendando o culto a elas e a prática de oferendas como
uma das formas de reverenciá-las, já que são indissociadas da natureza terrestre ou Divina de
tudo o que Deus criou.

A Umbanda prega a existência de um Deus único e tem nessa sua crença o seu maior
fundamento religioso, ao qual não dispensa em nenhum momento nos seus cultos religiosos e,
mesmo que reverencie as divindades, os espíritos da natureza e os espíritos ascencionados (os
guias-chefes), não os dissocia D'Ele, o nosso Pai Maior e nosso Divino Criador.

A Umbanda cultua os Orixás, que são as qualidades de Deus manifestadas no meio


natural e divino. Os guias da Umbanda são manifestadores espirituais destes Orixás e nos
esclarecem quanto a nossa origem. A Umbanda é uma via evolutiva que nos religa aos nossos
Pais e mães ancestrais, que são os Sagrados Orixás cultuados nas giras caritativas.

A Umbanda é fundamentada pelos espíritos incorporantes que conquistam a mente e


o coração das pessoas, por meio do auxílio espiritual. Você sabe que está num terreiro de
Umbanda quando existe a figura do caboclo, do preto-velho, da criança, do exu, da pombagira
e eles fazem, unicamente, o bem para todos os que procuram um acalento e uma orientação.
Esses trabalhos jamais interferem no livre-arbítrio do próximo e sempre estão condicionados
ao merecimento e necessidade daquele que solicitou ajuda.

Como religião, a Umbanda oferece a seus fiéis tudo o que as outras oferecem e até um
pouco mais. Como “via evolutiva”, reconduz às hierarquias naturais regidas pelos Orixás os seus
filhos naturais que foram afastados de seus domínios, pois foram conduzidos para o estágio
humano da evolução.

O Templo de Umbanda costuma ter um altar que na maioria das vezes tem imagens
católicas ou no mínimo uma imagem de Cristo. Nesse espaço que chamamos de Templo, de
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Tenda, de Centro, de Terreiro, se separa uma parte onde se sentam os consulentes (aquelas
pessoas que vieram tomar um passe e receber uma orientação) e uma outra parte, onde estão
os médiuns (que na maioria dos Templos vestem branco). Entre esses médiuns, estão aqueles
que têm mediunidade de incorporação desenvolvida, que vão incorporar as Entidades para dar
consulta. Essa é a estrutura.

O Ritual é o que diz qual é o momento de rezar, o momento de incorporar, de dar


consulta e de terminar. Como funciona o Ritual de Umbanda? Tem uma oração, tem uma
saudação a esquerda, tem a defumação, o abrir espiritual da gira, quando tem cortina tem o
abrir da cortina, bater cabeça, louvação aos chefes da casa ou Orixás chefes da casa, pode ter
ou não a chamada do chefe em terra e depois a chamada da linha que vai atender. Então,
incorpora, atende até o último consulente, quando termina canta para subir, canta para fechar
e terminou. Isso é o Ritual. Esse ritual genuinamente Umbandista foi desenvolvido pelo Caboclo
das Sete Encruzilhadas e isso define umbanda.

DIFERENTES MODOS DE PRATICAR UMBANDA

Umbanda Branca

O termo pode ter surgido da definição de Linha Branca de Umbanda usada por Leal de
Souza e adotada por tantos outros. A ideia era de que a Umbanda era uma “Linha” do
Espiritismo ou uma forma de praticar Espiritismo, na qual a Linha Branca se divide em outras
Sete Linhas. Ao afirmar a Umbanda como Branca subentende-se muitas coisas, entre elas que
possa haver outras umbandas, de outras cores e “sabores”. Mas a questão de ser branca está
muito mais ligada ao fato de associar ao que é “claro”, “limpo”, “leve” ou simplesmente ausente
do “preto”, “escuro” ou “negro”. Há um preconceito subentendido, afinal é uma Umbanda mais
“branca” que “negra”, mais europeia que afro e, porque não, mais Espírita.

Geralmente usa-se essa qualificação, “Umbanda Branca”, para definir trabalhos de


Umbanda com a ausência do que chamamos de “Linha da Esquerda”, para Leal de Souza uma
“Linha Negra”. Ainda hoje muitos se identificam dessa forma e geralmente o usam como um
“recurso” para “livrar-se” do preconceito de outros... como a dizer:

Sou Umbandista, mas da Umbanda Branca – como quem afirma pertencer à “Umbanda
boa”. Não há uma “Umbanda Negra” ou uma “Umbanda Ruim”. Toda Umbanda é Boa.

Umbanda Pura

Ao propor o Primeiro Congresso de Umbanda em 1941 o grupo que assumiu essa


responsabilidade esperava apresentar uma “Umbanda Pura” (“desafricanizada” e
“orientalizada”), praticada pela classe média no Rio de Janeiro. É a Umbanda praticada pelo
“grupo fundador da Umbanda” ou simplesmente o grupo intelectual carioca que lutou pela
legitimação da Umbanda, criando a Primeira Federação Espírita de Umbanda do Brasil, Primeiro
Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda e o Primeiro Jornal de Umbanda.
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Esse grupo pretendia uma “codificação” da Umbanda em seu estado mais puro de ser.
A ideia de uma “Religião Pura” sempre será algo a ser questionado, independente de qual
tradição lhe tenha dado origem.

Umbanda Popular

É a prática da religião de Umbanda sem muito conhecimento de causa, sem estudo ou


interesse em entender seus fundamentos. É uma forma de religiosidade na qual vale apenas o
que é dito e ensinado de forma direta pelos espíritos. O único conhecimento válido é o que
veio de forma direta em seu próprio ambiente ritualístico.

Não se costuma fazer referências a outras filosofias ou justificar suas práticas de forma
“intelectualizada”. Eximindo-se de autoexplicar-se reforçam a característica mística da religião,
em que, independente de “racionalizações”, a prática se sustenta devido à quantidade de
resultados positivos alcançados. Podemos dizer que os adeptos muitas vezes não sabem ou
têm certeza de como as coisas funcionam, mas sabem que funcionam.

É aqui que muitas vezes nos deparamos com médiuns que afirmam, sobre a Umbanda,
que não sabem de nada o que estão fazendo, mas que seus guias espirituais (caboclo e outros)
sabem e isto lhes basta. Outrora, alguns afirmam que médium não pode saber de nada de
Umbanda para não mistificar.

Umbanda Tradicional

Esta qualificação serve tanto para identificar a “Umbanda Branca”, “Umbanda Pura” ou
“Umbanda Popular”, que são as formas mais antigas, mais conhecidas e mais populares de
praticar Umbanda, muito embora esse perfil esteja mudando. Cremos que hoje os terreiros
que se adaptaram para uma linguagem mais intelectualizada e racional estão em franco
crescimento.

Umbanda Esotérica ou Iniciática

É uma forma de praticar a Umbanda estudando os fundamentos ocultos, conhecidos


apenas dos antigos sacerdotes egípcios, hindus, maias, incas, astecas etc. O conhecimento
esotérico, ou seja, fechado e oculto dos arcanos sagrados, é desvelado por meio de iniciações.
Foi idealizada com inspiração na obra de Blavatski, Ane Bessant, Saint-Yves D’Alveydre, Leterre,
Domingos Magarinos (Epiaga), Eliphas Levi, Papus etc.

Os fundamentos esotéricos da Umbanda foram organizados pela Tenda Espírita Mirim


e apresentados, alguns deles, no Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda. O
primeiro autor que trouxe este tema para a literatura umbandista foi Oliveira Magno, 1951,
com o título A Umbanda Esotérica e Iniciática. Recebeu contribuições de Tata Tancredo e
Aluízio Fontenelle.
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A Primeira Escola Iniciática Umbandista, que se tem notícia, foi o Primado de Umbanda,
mais uma iniciativa do Caboclo Mirim. Já na segunda e terceira geração de autores Umbandistas
surgirão outros autores dentro deste seguimento. Costumam citar a origem da Umbanda na
Atlântida ou Lemúria, no mito do AUMBANDÃ, que seria a forma mais “pura” de Umbanda.

Umbanda Traçada, Mista ou Omolocô

São nomes usados para identificar uma Umbanda praticada com influência maior dos
Cultos de Nação ou do Candomblé Brasileiro onde se combina os fundamentos e preceitos
oriundos das culturas africanas com as entidades de Umbanda.

Pode-se ter os tradicionais rituais de Camarinha, Bori, Ebós e oferenda de animais com
seus respectivos sacrifícios. Muitos chamam esta variação de Umbandomblé.

O autor, médium, sacerdote e presidente de Federação que mais defendeu a origem


africana da Umbanda foi o conhecido Tata Tancredo.

Umbanda de Caboclo

É uma variação de Umbanda onde prevalece a presença do caboclo, muitas vezes


acreditando que a Umbanda é antes de tudo a prática dos índios brasileiros revista pela cultura
moderna e doutrinada, com conceitos que foram sendo absorvidos com o tempo.

Umbanda de Jurema

No nordeste existe um culto popular chamado Catimbó ou Linha dos Mestres da


Jurema, que combina a cultura indígena com a cultura católica, somando valores da magia
europeia e de quando em vez algo da cultura afro. O principal fundamento é o uso da Jurema
Sagrada, como bebida e, também, misturada no fumo, que vai ao fornilho do tradicional
cachimbo, feito de Jurema ou Angico. As entidades que se manifestam são chamadas de
Mestres da Jurema. Umbanda herdou a manifestação do Mestre Zé Pelintra, que pode vir como
Exu, Baiano, Preto-Velho ou Malandro.

Quando se combinam os fundamentos de Umbanda e Catimbó temos esta modalidade,


que pode ser uma Umbanda regional de Pernambuco ou praticada de forma intencional pelo
umbandista que se interessou pela Jurema e descobriu a Linha de Mestres dentro de sua
Umbanda.

Umbandaime

O Santo Daime é uma religião nativa do Amazonas, sendo uma variação da Ayuasca, que
é um chá preparado com duas ervas de poder, o cipó Mariri e a folha da Chacrona. De tanto
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ter visões de entidades de Umbanda e Orixás em rituais do Daime é que alguns grupos de
umbandistas passaram a praticar Umbandaime, ou seja, trabalhos de Umbanda ingerindo o
Daime ou rituais de Ayuasca, para se comunicar com as entidades de Umbanda. A Umbanda
em si não tem em seus fundamentos o uso de bebidas enteógenas, além dos tradicionais café,
cerveja, vinho, “pinga”, batida de coco e outros que servem apenas como “curiador” (elemento
usado para potencializar alguma ação espiritual ou magística). Cada linha de trabalho tem sua
“bebida-curiadora”, no entanto, nem a bebida nem o fumo são carregados de erva que induza
o estado de transe.

No caso do Daime, el está no centro do culto. O poder que se manifesta por meio do
chá é que conduz o adepto. Na Umbanda quem conduz o trabalho são os espíritos guias, com
daime ou sem daime.

Umbanda Eclética

Chama-se de Eclética a Umbanda que mistura de tudo um pouco, fazendo uma


bricolagem de Orixás com Mestres Ascensionados e divindades hindus por exemplo.

Recorrem à conhecida Linha do Oriente para justificar a presença de tantos elementos


diferentes do Oriente e Ocidente junto ao esoterismo, ocultismo e misticismo.

Umbanda Sagrada ou Umbanda Natural

Quando começou a psicografar e dar palestras, Rubens Saraceni sempre fazia questão
de se referir à Umbanda como Sagrada. Não havia intenção de criar uma nova Umbanda,
apenas ressaltar uma qualidade inerente a ela.

Na apresentação de seu primeiro título doutrinário “Umbanda – O Ritual do Culto à


Natureza”, publicado em 1995, afirma que o livro em questão guarda uma coerência bastante
grande, o de trilhar num meio termo entre o popular e o iniciático. Já no Código de Umbanda,
no capítulo Umbanda Natural, cita: Umbanda Astrológica, Filosófica, Analógica, Numerológica,
Oculta, Aberta, Popular, Branca, Iniciática, Teosófica, Exotérica e Esotérica.

Para então afirmar que: Natural é a Umbanda regida pelos Orixás, que são senhores dos
mistérios naturais. No livro As Sete Linhas de Umbanda volta a citar as várias “umbandas” e
comenta que na verdade, e a bem da verdade, tudo são segmentações dentro da religião
Umbandista. Ainda assim, sem a intenção de criar uma segmentação dentro do todo, trouxe
muitos temas novos e novas abordagens para outros tantos, criando toda uma Teologia de
Umbanda. Seus conceitos se expandiram muito rapidamente assim como a popularidade de
títulos como O Guardião da Meia Noite e Cavaleiro da Estrela da Guia.

Sua forma de apresentar, entender e explicar a Umbanda ficou identificada ou rotulada


de Umbanda Sagrada. Palavra que para este autor engloba toda a Umbanda, como um Todo
também chamado de Umbanda Natural.
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Umbanda Cristã

A Umbanda, fundada no dia 15 de novembro de 1908, tem no Caboclo das Sete


Encruzilhadas a entidade que lançou seus fundamentos básicos. Logo na primeira
manifestação, essa entidade já esclareceu que havia sido, em uma de suas encarnações, o Frei
Gabriel de Malagrida, um sacerdote cristão queimado na “Santa Inquisição”, por ter previsto o
terremoto de Lisboa, e que posteriormente nasceu como índio no Brasil.

Ao dizer qual seria o nome do primeiro templo da religião, Tenda Espírita Nossa Senhora
da Piedade, porque “assim como Maria acolheu Jesus da mesma forma a Umbanda acolheria
seus filhos”, já dava uma diretriz cristã à nova religião. Há um conto sobre o Caboclo das Sete
Encruzilhadas que diz ter sido chamado por Maria, Mãe de Jesus, para semear a nova religião.

Todo trabalho e doutrina de Zélio de Moraes tem esse perfil cristão, subentendendo
Umbanda Cristã, antes de ser “Umbanda Branca” ou “Umbanda Pura”, outros adjetivos que já
foram associados à sua forma de praticá-la.

Outro elemento que endossa a qualidade cristã da Umbanda é o arquétipo dos Pretos
e Pretas-velhas: ex-escravos batizados com nomes católicos e que trazem muita fé em Cristo,
nos Santos e Orixás.

No TEUSBASE praticamos a Umbanda Sagrada fundamentada por Pai Rubens Saraceni


e respeitamos todas as formas de se praticar Umbanda.

HISTÓRIA DA UMBANDA

Antes de começarmos a contar capítulos da história da Umbanda e como tudo


começou, melhor sabermos de onde vem esta palavra: Umbanda.

Umbanda é uma palavra de origem Kimbundu idioma bantu (o kimbundu faz parte de
uma grande família de línguas africanas e é uma das línguas tradicionais da Angola). Nas terras
bantas africanas Umbanda significa a “arte de curar”, ou “o culto pelo qual o sacerdote curava”,
também pode servir como sacerdote, curador, o que cuida de um grupo espiritual, o líder
espiritual.

Entendam que a palavra Umbanda já existia antes da religião se concretizar no plano


material, de ser anunciada, mas ela tinha um significado diferente da palavra Umbanda para
nós. Muitos já discutiram e deram suas visões pessoais sobre o que é Umbanda, mas no nosso
seguimento de Umbanda Sagrada dizemos: Umbanda é o UM + BANDA, Cada um de nós somos
UM que formamos esta grande BANDA de Amor, Fé e União Fraternal.

O Caboclo das 7 Encruzilhadas, entidade que anunciou a Umbanda, dizia: Umbanda é a


manifestação do espírito para a prática da caridade. Nós também concordamos com esta
afirmação, mesmo que se restrinja literalmente à palavra caridade. Entendemos que a
Umbanda é uma via evolutiva muito maior do que uma religião, é uma forma de pensar e ser
que nos conduz à nossa origem divina.
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Dito isto, seguiremos com a história da Umbanda.

No final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz com 17 anos de idade,
que se preparava para ingressar na carreira militar na Marinha, começou a sofrer estranhos
“ataques”. Sua família, conhecida e tradicional na cidade de Neves, estado do Rio de Janeiro,
foi pega de surpresa pelos acontecimentos.

Esses “ataques” do rapaz eram caracterizados por posturas de um velho, falando coisas
sem sentido e desconexas, como se fosse outra pessoa que havia vivido em outra época. Muitas
vezes assumia uma forma que parecia um índio, que mostrava conhecer muitas coisas da
natureza.

Após examiná-lo durante vários dias, o médico da família recomendou que seria melhor
encaminhá-lo a um padre, pois o médico (que era tio do paciente), dizia que a loucura do rapaz
não se enquadrava em nada que ele havia conhecido. Acreditava mais, era que o menino estava
endemoniado.

Zélio neste momento já em franca piora física fica de cama e não consegue mais andar.
Padre, benzedeiros, nada fazia efeito. O menino continuava a sofrer os surtos psicóticos e a
não poder andar.

14 de Novembro de 1908, o menino diz: Amanhã eu levantarei desta cama e estarei


curado. Seus familiares ficam boquiabertos, mas desacreditam por acharem que Zélio estava
sofrendo mais um surto sem sentido. No dia seguinte ele se levanta e está curado! Novo em
folha! Depois de meses numa cama sem poder andar, o menino se movimenta sem ajuda
aparentando total equilíbrio físico e emocional.

Sem ter explicação para o fato, alguém da família sugeriu que “isso era coisa de
espiritismo” e que era melhor levá-lo à Federação Espírita de Niterói, presidida na época por
José de Souza. Neste mesmo dia, 15 de novembro de 1908, o jovem Zélio foi convidado a
participar da sessão, tomando um lugar à mesa.

Tomado por uma força estranha e alheia a sua vontade, e contrariando as normas que
impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, Zélio levantou-se e disse:
“Aqui está faltando uma flor”. Saiu da sala indo ao jardim e voltando após com uma flor, que
colocou no centro da mesa. Essa atitude causou um enorme tumulto entre os presentes.

Restabelecidos os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se


diziam pretos escravos e índios. O diretor dos trabalhos achou tudo aquilo um absurdo e
advertiu-os com aspereza, citando o “seu atraso espiritual” e convidando-os a se retirarem.
Após esse incidente, novamente uma força estranha tomou o jovem Zélio e através dele falou:
“Porque repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas
mensagens. Será por causa de suas origens sociais e da cor?”

Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e


afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura. Um médium
vidente perguntou: “Por que o irmão fala nesses termos, pretendendo que a direção aceite a
manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são
13

claramente atrasados? Por que fala desse modo, se estou vendo que me dirijo nesse momento
a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?

“Se querem um nome, que seja este: Sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para
mim, não haverá caminhos fechados.”. “O que você vê em mim, são restos de uma existência
anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na
fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus
concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro.”

Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral:

“Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de
novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que
estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes
confiou.

Neste imóvel, localizado na Rua Floriano Peixoto, nº 30, em Neves, Niterói – RJ iniciou-
se a religião de Umbanda, anunciada no dia 16 de novembro de 1908, pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas. “Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve
existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.”

O vidente retrucou: “Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto”? Perguntou com
ironia. E o espírito já identificado disse: “Cada colina de Niterói atuará como porta-voz,
anunciando o culto que amanhã iniciarei”.

Para finalizar o caboclo completou: “Deus, em sua infinita Bondade, estabeleceu na


morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam
iguais na morte, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer
diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira
da morte. Porque não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de
não haverem sido pessoas socialmente importantes na terra, também trazem importantes
mensagens do além?”.

No dia seguinte, na casa da família Moraes, ao se aproximar a hora marcada, 20:00h, lá


já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem a veracidade do que
fora declarado na véspera; estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos e, do lado de
fora, uma multidão de desconhecidos.

Às 20:00h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele


momento se iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos que haviam servido
como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de atuação nos remanescentes
das seitas negras, já deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria; e
os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados,
qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social.

A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal desse


culto, que teria por base o Evangelho de Jesus.
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O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam


chamados os períodos de trabalho espiritual, diárias, das 20:00 às 22:00 h; os participantes
estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do
Movimento Religioso que se iniciava: UMBANDA – Manifestação do Espírito para a Caridade.

A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora
da Piedade, porque assim como Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos
como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.

Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos


sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou à parte prática dos trabalhos.
Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala
mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e
humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa
dizendo as seguintes palavras:

“Nego num senta não meu sinhô, nego fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e
nego deve arrespeitá”.

Após insistência dos presentes fala:

“Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego”.

Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa
na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele
responde: “Minha cachimba. Nego qué o pito que deixou no toco. Manda muleque busca.”

Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a


solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antônio também a
primeira entidade a solicitar uma guia.

No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na Rua Floriano Peixoto. Enfermos,


cegos etc. vinham em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns, cuja
manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de
suas qualidades excepcionais.

A partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente


para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Além de Pai Antônio,
tinha como auxiliar o Caboclo Orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de
trabalhos de magia negra.

Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para
fundar sete tendas para a propagação da Umbanda. As agremiações ganharam os seguintes
nomes:

1. Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia

2. Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição

3. Tenda Espírita Santa Barbara


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4. Tenda Espirita São Pedro

5. Tenda Espírita Oxalá

6. Tenda Espírita São Jorge

7. Tenda Espírita São Gerônimo

A respeito do uso do termo espírita e de nomes de santos católicos nas tendas fundadas,
o mesmo teve como causa o fato de naquela época não se poder registrar o nome Umbanda.
Quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referência para
fiéis da religião católica que procuravam os préstimos da Umbanda. O ritual estabelecido pelo
Caboclo das Sete Encruzilhadas era bem simples, com cânticos baixos e harmoniosos,
vestimenta branca, proibição de sacrifícios de animais. As guias usadas são apenas as que
determinam a entidade que se manifesta. Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos
ambientes vibratórios da natureza, a par do ensinamento doutrinário, na base do Evangelho,
constituiriam os principais elementos de preparação do médium.

Após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora da Piedade (1º templo de
Umbanda), Zélio entregou a direção dos trabalhos às suas filhas Zélia e Zilméa, continuando,
ao lado de sua esposa Isabel, médium do Caboclo Roxo, a trabalhar na Cabana de Pai Antônio,
em Boca do Mato, distrito de Cachoeiras de Macacu – RJ, dedicando a maior parte das horas
de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e de todos os que o
procuravam.

Zélio Fernandino de Moraes dedicou 66 anos de sua vida à Umbanda, tendo retornado
ao plano espiritual em 03 de outubro de 1975, com a certeza de missão cumprida. Seu trabalho
e as diretrizes traçadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas continuam em ação através de
suas filhas Zélia e Zilméa de Moraes, que têm em seus corações um grande amor pela
Umbanda, árvore frondosa que está sempre a dar frutos a quem souber e merecer colhê-los.

Se quiserem se aprofundar no estudo sobre a história da Umbanda, sugiro a leitura do


livro: “História da Umbanda - Uma Religião Brasileira”, Editora Madras, Alexandre Cumino.

O QUE NÃO É UMBANDA?

• UMBANDA NÃO É Trabalhos espirituais financeiramente cobrados.

• UMBANDA NÃO É Assédio moral, sexual ou comportamento promíscuo.

• UMBANDA NÃO É Falta de ética ou desrespeito aos que procuram amparo espiritual.

• UMBANDA NÃO É Trabalhos de amarração e outros similares.

• UMBANDA NÃO É Promessas de milagre, emprego ou solução material.

• UMBANDA NÃO É Atalhos para evolução e iluminação, sem trabalho espiritual.


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• UMBANDA NÃO É Culto ao ego, vaidade ou personalidade.

• “Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade” (Caboclo das Sete


Encruzilhadas)

• “Umbanda é Fé, Amor e Caridade” (Caboclo das Sete Encruzilhadas)

• “Umbanda é aprender com os mais evoluídos e ensinar aos menos evoluídos” (Caboclo
das Sete Encruzilhadas)

• “Umbanda é UM, a unidade do Todo, e BANDA, nós suas partes.” (Zélio de Moraes)

• “Umbanda é a escola da vida” (Caboclo Mirim)

• “Umbanda é coisa séria para gente séria” (Caboclo Mirim)

• “Umbanda é religião, como qualquer outra, mas com fundamentos próprios” (Rubens
Saraceni)

• “Umbanda é acima de tudo trabalho espiritual” (Rubens Saraceni)

• “Umbanda é sinônimo de Curador, Sacerdote e Médium” (Rubens Saraceni)

• “Umbanda é o ritual do culto à natureza” (Rubens Saraceni)

OUTRAS REFLEXÕES SOBRE O QUE NÃO É UMBANDA (VALE DESTACAR, MUITOS SEGUIMENTOS
DE UMBANDA ADEREM A TODOS ESSES FUNDAMENTOS)

• Jogo de Búzios: Não é fundamento da Umbanda. É fundamento do Candomblé

• Camarinha: Não é fundamento da Umbanda. É fundamento do Candomblé

• Bori: Não é fundamento da Umbanda. É fundamento do Candomblé

• Raspagem de cabeça e catulagem: Não é fundamento da Umbanda. É fundamento do


Candomblé

• Sacrifício de animais aos Orixás: Não é fundamento da Umbanda. É fundamento do


Candomblé

• Evangelho segundo o Espiritismo: Não é fundamento da Umbanda. É fundamento do


Kardecismo

• Mesa Branca: Não é fundamento da Umbanda. É fundamento do Kardecismo

• Quaresma: Não é fundamento da Umbanda. É fundamento do Catolicismo

• Quizila: Não é fundamento da Umbanda. É fundamento do Candomblé


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• “Quem é filho de um determinado Orixá não pode incorporar outro que não seja o seu”:
Não é fundamento da Umbanda. É fundamento de algumas casas das religiões afro

• Ekedi: Não é cargo da Umbanda. É cargo do Candomblé

• Santos: Não é fundamento da Umbanda. É fundamento do Catolicismo (Na Umbanda


não tem santo, tem Orixá)

• Orações como “Pai Nosso”, “Ave Maria”, “Credo” etc: Não é fundamento da Umbanda.
É fundamento do Catolicismo

• Uso de ervas somente dos seus Orixás na Cabeça: Não é fundamento da Umbanda. É
fundamento de candomblé

A Umbanda é rica de fundamentos! Tem o batizado, o ritual fúnebre, temos o


casamento umbandista, temos os amacis de apresentação mediúnica, temos as oferendas
firmadoras na natureza

O fato é que vemos o bori, o jogo de búzios, a camarinha, a deitada para o “santo”, a
saída de “santo” na Umbanda.

Existem dois grandes problemas hoje na Umbanda:

1. A formação sacerdotal (como um médium com missão se torna sacerdote);

2. A formação mediúnica (como um recém chegado na religião se torna médium da corrente).

Para solucionar esse problema, não raro sacerdotes e médiuns buscam conhecimento
em formações de outras religiões, incorporando todas essas práticas à umbanda.

E PARA SER UMBANDA?

• As giras são gratuitas?

• Tem preto-velho, caboclo e criança?

• Cultua os Orixás?

• Tem prece inicial, defumação, pontos cantados e médiuns atendendo com seus guias
as pessoas?

• Pratica-se única e exclusivamente o bem?

A essência está nessas 5 perguntas, o resto é forma que se pratica. CUIDADO COM O
PRECONCEITO INTRARELIGIOSO!
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MUSICALIDADE: A IMPORTÂNCIA DOS PONTOS CANTADOS

A musicalidade, na figura da curimba, é fundamento de Umbanda Sagrada e é uma das


bases para um bom trabalho da corrente mediúnica. Os atabaques movimentam, direcionam,
invocam, encaminham e ordenam energias que o consulente comum e até mesmos os médiuns
desconhecem.

Uma das formas encontradas para a reaproximação do Homem com o Divino é a música,
onde se exprime o respeito e o amor ao Pai Maior. Dessa forma, os cânticos são um atributo
comum a todas as religiões onde, com suas características próprias, exteriorizam a sua devoção
e servidão aos desígnios do Plano Astral Superior.

Os Pontos Cantados de Umbanda têm muitas finalidades, estando longe de serem


apenas para alegrar ou distrair pela música. São, na verdade, capazes de movimentar as forças
sutis da Natureza e de atrair certas vibrações. Juntamente com o som dos atabaques, formam
uma corrente magnética. Quando nos concentramos para o início de uma incorporação, somos
envolvidos por esses sons mágicos, fazendo-nos vibrar em sintonia, facilitando, assim, todo o
processo.

No TEUSBASE seguimos a ritualística da Umbanda Sagrada, onde cantamos os pontos


na seguinte ordem:

• Oração Inicial

• Saudação à Porteira

• Ponto para Exu

• Canto para Pombagira

• Ponto para o Mistério Tranca-Ruas

• Canto para Defumação

• Canto para Olorum

• Canto para Oxalá

• Canto para as 7 Linhas

• Ponto de Chamada do Orixá que abrirá a gira

• Ponto de Chamada da Linha de Trabalho

• Saudação Final à Esquerda

• Prece de Encerramento

• Ponto de Encerramento
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• Hino de Umbanda

Todo esse ritual leva entorno de 2 horas. Não realizamos giras nem rituais de qualquer
espécie sem hora para começar e para terminar. Uma das coisas que chamam mais atenção na
Umbanda Sagrada é a organização. Imprevistos acontecem, mas devem ser exceção.

MEDIUNIDADE

A mediunidade é a qualidade de toda pessoa que é médium. As faculdades mediúnicas


têm muitas formas de aflorar e costumam processar-se de diferentes formas.

Mediunidade é sinônimo de sacerdócio espiritual. Temos nela um elo de comunicação


com um plano da vida que é invisível à maioria e só uns poucos clarividentes podem vê-lo e
descrevê-lo.

A mediunidade de inspiração e de incorporação são as mais comuns, e suas práticas são


tão antigas que sua origem se perde no tempo.

Mediunidade é uma forma de acelerar a evolução espiritual, tanto dos médiuns quanto
dos espíritos. Mediunidade é uma faculdade que uma pessoa possui e que, se desenvolvida
ordenadamente, poderá servir de meio de comunicação entre os dois planos da vida: o
espiritual e o material.

A mediunidade sempre existiu como canal de comunicação entre os dois planos da vida
(profetas, oráculos etc.). A mediunidade e a magia caminham juntas com a religiosidade. Então,
ou é aceita pelas religiões estabelecidas ou é combatida acirradamente (inquisição, conversão
obrigatória), taxando qualquer tipo de mediunidade como manifestação demoníaca.

O que precisamos entender é que a mediunidade não é um carma e sim um dom do


espírito. Ninguém deve ser obrigado a desenvolver a sua mediunidade, mas devemos entender
o motivo de tê-la em si.

O médium de Umbanda é o ponto chave do Ritual de Umbanda no plano material. Por


isso, o médium iniciante deve merecer dos filhos-de-fé mais antigos toda a atenção, carinho,
paciência e respeito. Do lado espiritual, todo o apoio é dado, pois os espíritos guias sabem que
esse é o período em que o médium se sente mais frágil. Para o médium iniciante, esse é o
momento de transição em que novos valores religiosos e morais estão sendo vivenciados.

TIPOS DE MEDIUNIDADE

Para tipos de mediunidade, temos inúmeras variações. Classificamos aqui algumas das
capacidades “catalogadas” e presentes também em ambientes de Umbanda.

• Psicografia: A primeira menção sobre psicografia dentro da Umbanda é de Pai Rubens


Saraceni. Com mais de 60 obras, o sacerdote divide seus livros, entre os que
fundamentam a Umbanda e seus ritos e os romances psicografados. Rubens Saraceni
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iniciou um processo que ia na contramão do que se considerava “correto” à sua época.


Hoje, é fácil encontrar obras de diversos autores umbandistas que psicografam
romances mediúnicos, porém, nem sempre eles foram bem aceitos.

• Incorporação: A manifestação mediúnica mais comum na Umbanda e a qual também


se deve a sua fundação e sustentação. O ato de incorporar uma entidade consiste em
fazer a conexão entre o médium e o guia. Normalmente há uma primeira conexão entre
o mental do médium e o da entidade que vai incorporar. Por isso dizemos que tudo
começa no mental. Manter a mente vazia, “firmar a cabeça” é o segredo de uma boa
incorporação. No momento da incorporação, nosso espírito continua “habitando” o
corpo físico.

• Psicofonia: Nessa modalidade o espírito se comunica por meio da fala do médium


transmitindo sua mensagem. Nessa mediunidade só há a fala do espírito, não havendo
o controle do restante do corpo para manifestação.

• Xenoglossia: Resumidamente, a xenoglossia pode ser tipificada como a capacidade que


o médium desenvolve de falar em línguas diversas. Esses dialetos são desconhecidos ao
médium e até mesmo ao linguajar humano. Por exemplo, o médium nunca estudou
inglês e o caboclo inicia um diálogo com um consulente americano nesta língua.

• Clariaudiência: Ouvir a voz do espírito. A clariaudiência é a capacidade de ouvir os


espíritos ao vivo. Você não ouve espírito no passado, nem no futuro e, também, não
ouve coisas acontecendo fora do lugar. Não é premonição, nem nada disso. Ter
clariaudiência é quando um guia espiritual se aproxima de você, fala e você escuta.
Escuta assim como está me escutando, isso sim é clariaudiência.

• Clariolfativo e Clarigustativo: Capacidade de sentir aromas e gostos presentes no


mundo espiritual, ou seja, que não estão materializados nesse plano.

• Clarividência: Esse fenômeno ocorre quando o médium consegue ter a visão do mundo
astral. É a mediunidade mais difícil de se encontrar e, às vezes, há também uma
confusão entre a pessoa que possui clarividência e aquele que vê “vultos”
esporadicamente. O clarividente manifesta essa capacidade mediúnica a qualquer
momento, basta que esteja concentrado.

• Vidência: Nessa modalidade de mediunidade, encontramos a pessoa que concebe


imagens de fatos e cenas que estão acontecendo ou já aconteceram em algum lugar. A
vidência é quando a pessoa abre uma visão e abre-se uma tela aos olhos daquela
pessoa. Abre essa tela/janela e ela consegue enxergar uma cena ou situação. Um
indivíduo em outro ambiente, lugar ou tempo. Resumindo: Vidência é enxergar no
mental, dentro da cabeça. Clarividência é ver ao vivo e em cores com o olho material.

• Pictografia: Conhecido como pintura mediúnica, a pictografia é o dom de pintar e


produzir arte conduzido pelo espírito. Nesse ato, a entidade toma as funções motoras
do médium desenvolvendo a pintura como forma de manifestação.

• Inspiração ou irradiação (Audiência): Consiste em “escutar” mentalmente ou intuir algo.


É importante ressaltar que difere da clariaudiência, pois nessa modalidade, como já
21

dito, o médium escuta claramente a voz do espírito, podendo até identificar e discernir
o timbre da voz de seu mentor. A inspiração é algo mais sutil.

• Projeção astral: Nesse tipo de mediunidade o perispírito ou a alma da pessoa se projeta


para fora do corpo realizando a conhecida viagem astral. Esse desdobramento ocorre
quando o espírito da pessoa tem alguma tarefa no astral e se “desliga”
temporariamente do seu corpo físico para executá-la.

• Psicometria: Pode ser entendida como a mediunidade que possibilita que o médium
obtenha informações sobre a história de algum objeto.

A mediunidade não é propriedade de uma ou outra religião. Ela é algo natural ao


homem. Entretanto, cada um de nós vem a esse plano com o domínio de determinadas
faculdades mediúnicas, que têm ligação com a vibração espiritual religiosa que rege nossa
ancestralidade.

A mediunidade, na visão da Umbanda Sagrada, é um dom do espírito conquistado


através de várias experiências de vidas passadas, onde vivenciamos a nossa religiosidade e, aos
poucos, tomamos ciência dessa parte espiritual. O desbloqueio de qualquer dom do espírito é
gradual e depende da sua evolução consciencial.

Simples: Ser médium, em algum grau, é supernormal. O fato aqui não é ser médium; é
responder a seguinte pergunta: “O que você fará com a sua mediunidade?”.

É preciso preparar o médium para que ele possa atrair uma boa vibração. Lapidá-lo para
que ele seja um bom canal para a espiritualidade. A mediunidade equilibrada é a melhor coisa
que pode acontecer com um ser humano encarnado, mas o estudo e a retidão moral vão
lapidar o uso do seu dom.

Alguns sintomas da mediunidade:

• Dores de cabeça;

• Nevralgia facial;

• Vômitos;

• Azias e soluços;

• Perda de Apetite;

• Perda ou sono profundo;

• Hipertensão;

• Irritabilidade;

• Problemas psicológicos e psiquiátricos;

• Enxaquecas;
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• Mãos e pés suados em excesso;

• Calafrios;

• Zumbidos no ouvido;

Muitos médiuns, antes de se desenvolverem, passam por problemas graves no âmbito


psicológico e psiquiátrico. Doenças diagnosticadas em médiuns umbandistas: Bipolaridade,
Transtornos Obsessivos, Irritabilidade em excesso, Síndrome do Pânico etc.

O desenvolvimento mediúnico ajudará nisso tudo, mas o tratamento médico precisa ser
em paralelo. Aos poucos, o equilíbrio energético e mediúnico se tornará equilíbrio da condição
física e emocional.

Um bom desenvolvimento mediúnico deve ter:

• Reforma Íntima

• Mudança de hábitos nocivos

• Boa alimentação

• A busca pela harmonia familiar

• Estudo da Doutrina Umbandista

• Observação atenta aos rituais

• Preparação espiritual adequada (preceitos)

• Culto familiar (altar e tronqueira caseira)

• Meditação

• Oferendas

• Firmezas

• Idas aos campos de força dos Orixás

A frase que mais ouvimos desde que começamos a ministrar cursos de Umbanda é:
“Minha mãe é médium de berço” / “Eu sou médium de berço”/”Meu pai é médium de berço”
etc.

A grande verdade nisso tudo é a seguinte: Todos nós somos médiuns de berço. Alguns
manifestam a mediunidade em terna idade, outros na adolescência, outros na fase adulta e
muitos outros já na “terceira idade”.

A mediunidade é um dom do espírito. Trazemos isso conosco desde o nascimento. É um


dom que está em nós e ninguém poderá tirar. Cada vez mais os médiuns estão manifestando
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suas mediunidades mais tarde, já na fase adulta. Sabem o motivo? Simples: Tempo para se
dedicar e condições de entendê-la de forma racional.

Uma criança não tem maturidade de entender a sua mediunidade. A espiritualidade


vem cada vez mais podando manifestações em crianças e adolescentes. Já na fase adulta ou na
terceira idade, o médium tem maturidade e condições (inclusive financeiras) de lapidar de
forma ordenada seu dom.

Quando decidirmos desenvolver nosso dom mediúnico ou passarmos por um processo


de descoberta interior no campo espiritual, estaremos ali conscientes do que está
acontecendo. Estaremos ali para nos religarmos à nossa família espiritual e aos nossos Pais e
Mães Ancestrais (Orixás).

Desenvolver a mediunidade é colocar o seu dom a serviço de Deus e de toda a


comunidade. Quem estuda, se prepara, se transforma, tem conteúdo para doar. Quem não se
dedica, não pode doar o que não tem. Incorporar seu guia espiritual para atender pessoas é
mérito e não punição ou carma. Entendam isso e já terão dado dois ou três passos à frente.

No processo de desenvolvimento, vocês verão que cada um vai no seu ritmo, que cada
um tem uma forma de agir, mas os mais dedicados e despertos terão um aproveitamento
melhor. Um médium que estuda, medita, firma suas forças, tem sua tronqueira caseira, que
realiza seus banhos, respeita os preceitos, certamente terá um desenvolvimento satisfatório.
Quem não faz nada disso, ao olhar para o lado, dirá: “Este é médium de berço” ou “Este tem
os guias firmes desde o começo” ou “Este é um médium forte”. Dedicação e comprometimento
dirão o quanto de interação você terá com a espiritualidade.

O desenvolvimento do médium é eterno, mas a preparação mediúnica/educação


mediúnica tem começo, meio e fim. No final de 2 anos você será um expansor do conhecimento
umbandista, será independente para tomar suas próprias decisões e terá o discernimento de
escolher o que fazer com este dom que Deus lhe deu.

Os mistérios de Deus são divinos e têm o poder único emanado por ele para atuar por
intermédio das pessoas. Todo mistério é emanado por Deus e manifesta-se nas pessoas como
dons do espírito. Os médiuns, além de manifestarem seus próprios dons, possuem a faculdade
de manifestarem os dons dos espíritos que neles incorporam e por meio deles auxiliam muitas
pessoas.

Médium é a pessoa que possui a faculdade que possibilita a um espírito vibrando num
grau magnético ocupar o seu corpo físico, que vibra em outro grau magnético, pois só em graus
magnéticos diferentes dois corpos podem compartilhar de um mesmo espaço, sem se
desequilibrarem emocionalmente.

A mediunidade é um dom e deve ser lapidado até tornar-se pura e só refletir os dons
dos espíritos superiores ou dos espíritos ordenados pela Lei, que rege esta faculdade
paranormal. As religiões são uma forma de ordenação das faculdades e dos dons das pessoas.

Os profetas eram médiuns. Prediziam o futuro e davam alertas, porque eram intuídos
por espíritos superiores. Eles não são melhores do que os atuais médiuns, pois estes têm maior
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entendimento e não afirmam que falam com Deus, ou que Ele está falando através de suas
bocas.

O médium consciente de suas faculdades mediúnicas deve ter bom senso para não se
desvirtuar, julgando-se especial ou melhor do que o seu irmão. Os médiuns devem ser
lapidados e preparados para lidar com forças poderosíssimas e poderes emanados por Deus,
mas confiados às Divindades.

A educação mediúnica é muito importante, pois só se reeducando internamente um


médium alcança níveis vibratórios mentais e conscienciais que lhe facultam os níveis espirituais
superiores, a sintonização mental com seu mestre individual, a neutralização de possíveis vícios
antagônicos com as práticas religiosas e a compreensão ou percepção do que está acontecendo
dentro do seu campo mediúnico.

Quando bem-educado mediunicamente, sua sensitividade é capaz de identificar


presenças positivas, ou negativas que adentrem seus campos vibratórios mentais e espirituais.
O desenvolvimento mediúnico é muito mais do que chacoalhar o corpo no salão do terreiro,
muito mais e vai muito mais além! A incorporação é apenas um aspecto. Hoje temos as figuras
dos Templo-Escolas. Isso é um marco para a nossa religião”

Um Templo-Escola é um Templo como qualquer outro. Há atendimentos gratuitos pelos


guias, assim como os demais templos de Umbanda. Porém, quando não há giras, o propósito
do Templo se volta totalmente ao ensino. Cursos que antes sequer existiam, agora são
possíveis.

Antes para aprender a realizar uma oferenda para Exu levava-se meses. Você tinha que
fazer milhões de perguntas para o seu sacerdote, perguntar o fundamento de cada coisa e
torcer para ele estar de bom humor. Hoje alguém em um workshop sai com tanto
conhecimento que, algo semelhante levaria meses ou até anos, dependendo do terreiro.

Desenvolvimento Mediúnico é a formação do médium como pessoa, como canal da


espiritualidade, como religioso. É uma vivência!

INCORPORAÇÃO, ANIMISMO E MISTIFICAÇÃO

• Animismo: Médium contribuindo para a incorporação de forma inconsciente (sem


querer). Quando isso ocorre (e sempre ocorre), o médium passa na incorporação ideias
e pensamentos seus sobre a vida, sobre os assuntos da religião, enfim, ele interfere
(positivamente ou negativamente) sem a intenção negativa de prejudicar o consulente.

• Mistificação: Médium contribuindo negativamente na incorporação de forma


consciente. Quanto isso acontece (e não deve acontecer nunca), o médium interfere na
incorporação, passando à frente do guia ou até se passando por ele com a intenção de
criar uma situação ruim. Alguns médiuns desequilibrados fingem estar incorporados
para suprir seu ego ou até mesmo para enganar os consulentes.
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Em algumas religiões, o fenômeno que chamamos de “incorporação” não é algo


desejado e, quando alguém entra em transe, geralmente, é algo contra a sua vontade. Por esse
fato, se usa o termo possessão e se afirma que tal pessoa está possuída. A própria palavra
implica algo que está sendo tomado à força, uma agressão. Assim é, por exemplo, no
Catolicismo: Quando alguém é possuído ou tomado, logo é reconhecido como uma possessão
demoníaca e o caminho mais indicado é fazer um exorcismo.

Nas religiões pentecostais, é costume incorporar o espírito-santo e falar em outras


línguas, o que também é um fenômeno de transe. Ainda neste seguimento, também se fazem
exorcismos de capetas ou demônios que podem estar atrapalhando a vida de alguém. Nas
novas religiões evangélicas brasileiras, houve uma demonização das entidades de Umbanda,
especialmente Exu e Pombagira e, assim, é comum que os adeptos incorporem essas entidades
como se elas fossem demônios que necessitam ser expulsos. ISSO COM TODA CERTEZA É
FRUTO DA PROFUNDA INTOLERÂNCIA QUE ALGUNS SEGUIMENTOS DESSA RELIGIÃO
MANIFESTAM.

Esse quadro em torno do transe, aqui chamado de possessão, faz com que se crie um
grande imaginário ao redor do que chamamos de incorporação na Umbanda. Muitas pessoas
chegam aos templos umbandistas acreditando que serão possuídas pelos guias de Umbanda,
creem que serão tomadas de si mesmas e que as entidades espirituais entram em seus corpos
independente de sua vontade. NADA DISSO É VERDADE.

Na Umbanda, o transe de incorporação é algo desejado, o médium quer estar


incorporado, quer viver esta experiência, admira e ama os guias espirituais e deseja essa
proximidade. Então, quando entramos nessa realidade de Umbanda, em que todos querem
incorporar, deparamo-nos com o fato de que isso não é algo tão simples e que, embora seja
para uma grande maioria, não é para todos. Há muitas dificuldades e bloqueios que impedem
a incorporação, mas que podem ser trabalhados e neutralizados com um bom desenvolvimento
mediúnico.

Podemos definir que a palavra “incorporação” é a mais utilizada para definir esse transe
em que um médium está manifestado com um guia de Umbanda. Isso também cria outras
dificuldades com relação à expectativa e ao entendimento que o médium tem sobre o que irá
acontecer com ele quando seu guia espiritual se apresentar.

Embora o Espiritismo traga muita luz e estudo sobre as diversas formas de


mediunidade, é muito raro encontrar o transe de incorporação no meio espírita. O que mais
vemos é a psicofonia, ou seja, a fala mediúnica, que difere do que chamamos de
“incorporação”, na qual o médium fica totalmente caracterizado pela forma da manifestação
de seus guias espirituais.

A racionalização do fenômeno mediúnico é algo bom para seu entendimento, mas a


racionalização excessiva pode atrapalhar mais que ajudar. Isso se deve ao fato de que, no
processo de transe e incorporação, há momentos em que o melhor é esquecer de tudo que é
racional ou questionável e apenas se entregar.

A incorporação é um ato de amor, no qual o médium tem a oportunidade de unir-se


misticamente a seus guias e Orixás. Nas religiões de transe acontece isso, algo muito especial,
seus mestres e suas divindades vêm à terra e lhe tomam como morada para sua manifestação.
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O médium em si é um templo vivo recebendo a visita das entidades, as quais ele tem em alta
conta dentro do que é sagrado e divino. O mesmo vemos no Candomblé, Catimbó, Pajelança,
Tambor de Mina e outras religiões dos seguimentos afro-indígenas-brasileiros.

O transe de incorporação é uma das manifestações mais antigas de religiosidade e


espiritualidade. Muitos antes de haver uma história escrita, os xamãs de todas as culturas já
entravam em transe e recebiam espíritos e divindades por meios dos rituais mais variados. A
incorporação não é uma invenção de Kardec e muito menos da Umbanda, ou de outras
tradições atuais. A incorporação é algo ancestral e visceral no ser humano. Mesmo que
encontre uma sociedade em que nenhuma religião de transe esteja presente, sempre haverá
pessoas que entram em transe e têm algo de positivo como resultado de uma incorporação.

Incorporação é parceria!

Sabemos que a incorporação, na Umbanda, não é considerada um ato de possessão.


Não acontece contra o desejo do médium, mas sim, com sua vontade e consentimento. Isso é
bem simples de entender, levando-se em consideração que os mentores de Umbanda
respeitam o nosso livre-arbítrio e que a incorporação é algo muito almejado entre os
umbandistas. Alguns poucos e raros médiuns de Umbanda são “tomados” mediunicamente
sem ter passado por um processo de desenvolvimento mediúnico.

Há casos de médiuns que começam a se desenvolver e, depois de algum tempo,


desistem da mediunidade ou da Umbanda. Isto sempre é respeitado, no entanto, não se perde
a mediunidade, e o que acontece é o médium continuar sentindo e percebendo coisas
pertinentes à mediunidade e não saber o que fazer com isso.

Os guias se aproximam com muito respeito e amor daqueles que serão seus parceiros
nessa empreitada mediúnica. Desenvolver a mediunidade é descobrir essa parceria e descobrir
como se relacionar de forma tranquila com algo tão complexo, ou quase surreal, como a
incorporação de outro ser em seu corpo, e ainda compartilhar seus sentimentos e
pensamentos com os sentimentos e pensamentos desse outro, que na verdade é um mestre
para a vida.

Na construção dessa parceria, haverá momentos em que o médium colocará em dúvida


se a manifestação é de si mesmo ou de algum guia espiritual. Isso é algo muito normal. A grande
maioria dos médiuns passa por isso e supera essa crise, sem pressa e sem atropelo, o que faz
parte de um amadurecimento mediúnico. Isso quer dizer que aprender a identificar quem é
você e quem é seu guia, enquanto incorporado, faz parte do desenvolvimento. Por mais que
pareça estar ficando louco, com dupla personalidade ou ludibriando a si ou aos outros, o tempo
se encarrega de mostrar onde estamos enganados e onde estamos acertando.

Muitos acham que estão mistificando no começo dos seus desenvolvimentos ou pelo
menos têm medo de mistificar. Isso é normal, mas devemos esclarecer que a mistificação se dá
quando alguém influencia propositalmente a incorporação com o intuito negativo. Na verdade,
o que há muito é o animismo.

O animismo é você mais ali do que seu guia, faz parte do processo. Com o tempo, você
verá que vale a pena confiar e se entregar totalmente. Assim, diminuirá sua parcela na
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incorporação e aumentará a parcela do seu guia. Os dois sempre estarão juntos, mas ele
comandará as ações. Enquanto você não esvaziar a mente e não se entregar haverá animismo.

O importante é ir aprendendo e deixando o guia trabalhar do jeito que ele é. O


animismo diminui quando você já conheceu o seu corpo, a sua mediunidade, o seu guia e como
ele se comporta. Se solte, confie e o tempo vai trabalhando a seu favor!

Se entregar é o segredo!

Aceitar e se entregar é o único caminho para descobrir uma mediunidade saudável.


Claro que existe um filtro: Você se entrega ao que lhe faz bem. Você se entrega ao sentir a
presença de guias que o amam. Caso contrário, ao sentir presenças desagradáveis, você
aprende a resistir e usar também seu livre-arbítrio para o ato de incorporar ou não. Tudo isso
faz parte do desenvolvimento mediúnico, que é o período mais delicado da vida mediúnica, em
que o médium se abre para essa nova realidade e expõe toda a sua fragilidade. Em
contrapartida, esse médium descobre novas forças para si e para sua vida, descobre recursos
de energia e desenvolve sua percepção com relação ao que sente mediunicamente.

Com o tempo, esse médium vai descobrindo em seus guias pessoas que o amam e
querem o seu bem. Ao longo desse período, vai descobrindo a personalidade de cada um de
seus mentores e identificando o quanto são diferentes dele, em suas opiniões e visão de
mundo.

O trabalho mediúnico passa a ser uma parceria desejada e saudável e o médium agora
conta com orientadores para toda a sua vida, que o amam e o respeitam acima do que estamos
acostumados neste mundo tão pequeno e material. O médium descobre um novo mundo, uma
nova realidade.

INCORPORAÇÃO: INCONSCIENTE OU CONSCIENTE?

A mediunidade de incorporação é a modalidade mais comum na Umbanda. Muito mais


que a simples mecânica de transmitir mensagens dos espíritos por nosso aparelho vocal
(psicofonia), existe toda uma caracterização no médium incorporado por uma entidade na
Umbanda, pois eles trazem todo um conjunto de trejeitos que identifica a qual linha pertencem
(Preto Velho, Caboclo, Baiano...) e qual o tipo de trabalho realizam.

Dentro da mecânica de incorporação é costume entre os médiuns se perguntarem se


são conscientes ou inconscientes, como se essa resposta esclarecesse realmente um tipo de
mediunidade ou ainda a qualidade da comunicação.

O fato é que uma simples resposta a esta pergunta não esclarece nada. Vejamos, por
exemplo, dentro do que se costuma chamar “médium inconsciente”. O que é um “médium
inconsciente”?

Na prática, é aquele que não se lembra do que aconteceu enquanto esteve incorporado.
Mas qual é a mecânica de incorporação? Como se processa o fenômeno mediúnico nele?
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Em verdade, muitos que não se lembram do trabalho que seus guias realizam e
costumam ser chamados de médiuns inconscientes podem ter tipos diferentes de
mediunidade.

Alguns médiuns quando incorporados são semiconscientes. Seu corpo perispiritual,


duplo etérico, fica um pouco deslocado do eixo normal. Tudo se processa como se fosse um
sonho. Ao desincorporar o guia, seu corpo volta ao eixo sofrendo um pequeno “choque”, como
quem acabou de acordar, assim esquecendo o que aconteceu enquanto esteve incorporado,
mas não estava inconsciente durante o processo.

A maioria dos médiuns é semiconsciente e, por esta razão, precisa passar pelo
desenvolvimento mediúnico. E, embora se digam conscientes, mal se lembram das consultas
ou de quem realmente tomou ou deixou de tomar passes com seus guias após um tempo.
Simplesmente foge da memória os acontecimentos.

Existem os semiconscientes que lembram de tudo, existem os que se lembram de partes


e existem os que, na maioria das vezes, esquecem muitas coisas do que aconteceu. Tudo vai
depender do dia, do preparo que o médium teve para o trabalho, assim como do seu grau de
comprometimento com a espiritualidade.

Outra coisa importante: Não tente ser quem você não é! Você é o que é por um motivo.
Aceite isso e aprimore o seu dom.

Se você lembra de tudo e está muito presente na incorporação, aceite isso e aprenda a
lidar com essa mediunidade. Se você esquece de partes e não se sente tão presente na
incorporação, aprimore isso e faça um bom trabalho. Se você mal lembra do que aconteceu
quando estava incorporado, ótimo! Faça o possível para dotar os guias das ferramentas de
trabalho que ele precisa: Conhecimento e Fé!

O médium em desenvolvimento pode levar tempo para se sentir seguro e tranquilo, a


fim de desabrochar seu dom com tranquilidade. A grande maioria das pessoas que tem
interesse na mediunidade de incorporação traz este dom adormecido. No entanto, algumas
vão passar por dificuldades antes de conseguir uma incorporação satisfatória, que lhes permita
trabalhar mediunicamente incorporando com desenvoltura.

HIERARQUIA NA UMBANDA SAGRADA

A Umbanda Sagrada é uma linha de Umbanda. É uma forma de se fazer Umbanda! Essa
forma nasceu com Pai Rubens Saraceni (orientado pelo seu mestre espiritual Pai Benedito de
Aruanda) e tem dois pilares:

• Estudo

• Organização

O estudo é o preparo prático e teórico baseado na Doutrina e Teologia de Umbanda


Sagrada.
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A Organização é baseada na estrutura, ritual e hierarquia (tanto a hierarquia de terreiro


quanto a hierarquia espiritual).

Em um templo de Umbanda Sagrada existem vários tipos de médiuns que vão


assumindo funções dependendo da sua vivência na comunidade espiritual:

• Sacerdote – Usa filá/pano de cabeça e estola dourados

• Pais e Mães Pequenos – Usam filá/pano de cabeça e estola perolados, sendo que no
filá/pano de cabeça existe uma estrela dourada, assim como na estola que possui uma
fita na ponta dourada

• Médiuns em desenvolvimento – Médiuns que estão no curso de desenvolvimento se


preparando – Usam filá/pano de cabeça e estola brancos – Estola com fita branca

• Médiuns de Apoio ou Auxiliares - Usam filá/pano de cabeça e estola brancos – Estola


com fita verde

• Médiuns de Passe - Usam filá/pano de cabeça e estola brancos – Estola com fita
vermelha

• Médiuns de Consulta - Usam filá/pano de cabeça e estola brancos – Estola com fita azul
índigo

Esta é a estrutura de médiuns de um Templo de Umbanda Sagrada. Sua hierarquia é


baseada nas funções que cada um pode exercer. Quanto mais experiente, quanto mais
estudioso, quando mais dedicado, mais funções assume.

Na falta do Sacerdote, Pais e Mães pequenos lideram o ritual e dão as orientações. Na


falta desses, os médiuns de consulta.

Tudo é muito bem-organizado e sua hierarquia é clara e respeitada. Nenhum médium


é melhor que o outro, apenas possui mais responsabilidades. A hierarquia de um templo é
indicada pelo seu guia chefe. No TEUSBASE, o preto-velho Pai Benedito de Aruanda outorga as
funções diretamente (funções espirituais).

A hierarquia espiritual de um Templo é esta:

• Orixá de Frente do Sacerdote

• Orixá Juntó do Sacerdote

• Orixá Ancestral Dominante do Sacerdote

• Orixá Ancestral Recessivo do Sacerdote

• Mentor Espiritual do Sacerdote

• Guia Chefe do Sacerdote


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• Guia de Frente do Sacerdote

No TEUSBASE temos:

• Oxalá (Pai da Casa)

• Iemanjá (Mãe da Casa)

• Ogum

• Iansã

• Caboclo Sete Espadas

• Preto-Velho Pai Benedito de Aruanda

• Exu Tranca-Ruas dos Sete Caminhos

Importante saber que nenhum guia ou Orixá lidera ou sustenta uma casa espiritual à
toa. Devemos ter respeito e reverência! Orixá em terra, curve-se! Guia chefe de gira em terra,
curve-se! São Pais e Mães que te amam e doam suas evoluções para as evoluções alheias. Pedir
bênção a um guia ou a um Orixá é sinônimo de inteligência espiritual, amor e fé!

CAMBONOS

Muitos imaginam só médiuns de incorporação podem integrar correntes mediúnicas.


Existem diversos tipos de mediunidade e os Templos umbandistas necessitam de muitos
colaboradores atuando em diversos setores.

O terreiro é um organismo e, como tal, necessita de muitas funções agindo


conjuntamente e em sintonia para a boa realização das suas atividades. Funções de Portaria,
de lojinha, de recepção dos consulentes, de cambonos, de curimba etc. Todos são essenciais
para os trabalhos.

Os cambonos são muito importantes no terreiro e aqui no TEUSBASE é a porta de


entrada para a corrente mediúnica.

Então temos os seguintes tipos de médiuns:

• Iniciantes: vivenciarão um rodízio de atividades. O objetivo é conhecer toda a estrutura


do terreiro: Cantina, Lojinha, Corrente Mediúnica (como cambonos), Auxiliares da
Administração etc.;

• Médiuns de Passe;

• Médiuns de Atendimento;

• Pai e Mãe Pequeno.


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Para os médiuns novos, o período como cambono é único, pois o médium aprende
como manusear os elementos que os guias usam nas suas magias de umbanda, aprendem a
forma de falar dos guias, seus arquétipos e, também, são treinados pelos guias incorporados a
dar passagem aos seus irmãos espirituais.

Dentro do terreiro todos são importantes, mas cada um exerce uma função. O ideal é
que o dirigente e os médiuns mais antigos conheçam e façam bem todas as funções!

MISTÉRIO DAS BÊNÇÃOS DIVINAS

Talvez um dos mistérios mais deturpados e banalizados dentro das religiões.

O que é uma bênção? Uma graça divina, algo que vem do divino para nós. Luz, amparo,
proteção, fluxo energético de uma divindade direcionada a uma ou mais pessoas.

Quem pode abençoar? Qualquer pessoa em nome das divindades.

A bênção do sacerdote é diferente? O sacerdote de Umbanda Sagrada é um iniciado


nos 14 Orixás, logo sua bênção é sétupla. Não é melhor, não é mais importante, mas se feita
com amor e intenção pura/verdadeira, carrega o axé de todos os Orixás através do senhor de
todas as bênçãos: Oxalá.

Sou obrigado a pedir bênção? Nunca! Para se ativar o mistério das bênçãos divinas
quem as pede precisa reconhecer naquele que vai abençoar a figura do portador do axé dos
Orixás. Precisa pedir com fé, amor e respeito. Se assim o fizer, será agraciado com um
maravilhoso fluxo energético sétuplo de Oxalá ou do Orixá que o sacerdote pediu para
abençoar a pessoa.

“Que Oxalá lhe abençoe!” é diferente de “Que Pai Ogum lhe abençoe!”. O sacerdote
pode identificar o Orixá que precisa atuar na pessoa e solicitar sua benção ao filho de fé.

Pedidos de bênçãos obrigados são deturpações do mistério. Nenhum Orixá abençoa


quem não queira ser abençoado. Outra coisa: “Eu te abençoo”, esta palavra não existe! Ser
humano não emite bençãos, quem envia bênçãos são os Orixás. Nem guias espirituais emitem
bênçãos, eles solicitam que os Orixás abençoem que os pedem.

Como pedir bênção (caso sinta vontade)? Curvar ligeiramente a cabeça, pedir licença
para pegar na mão dos sacerdotes, com sua mão direita pegar a mão direita do sacerdote e
beijar. Aguardar a benção. Bençãos somente são emitidas com a mão direita, pois possui o axé
irradiador (mão esquerda é absorvedora).

Em época de pandemia por COVID19, sugiro apenas solicitar bênçãos a distância.

Irmãos de fé podem trocar bênçãos? Claro que podem! A irmandade na Umbanda, o


sentimento de respeito e fraternidade possuem poder de realização nas bênçãos.

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