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Rubens Saraceni

>    Apresentação a Teogonia de Umbanda

O texto abaixo é a primeira parte da apresentação do livro "Orixás


- Teogonia de Umbanda", de Rubens Saraceni - 2002 - Editora
Madras

Observem que queremos chamar a tenção dos leitores para o


fato de que em um século de existência a Umbanda já avançou
muito em seus aspectos teóricos e práticos e, no entanto,
sempre haverá espaço para novos livros e conceitos, porque ela
é uma religião de fato e uma fonte inesgotável de conceitos e
informa¬ções. Tanto isso é verdade que jamais deixaremos de
ter novos livros sobre a religião umbandista, nos quais os
autores estarão reavivando a fé dos leitores, abordando
aspectos ritualís¬ticos e conceitos doutrinários, sempre movidos
pelo intuito de elucidar, escla¬recer e instruir as novas gerações
umbandistas.

Sim, as novas gerações são as grandes levas de pessoas


possuidoras de mediunidade de incorporação que adentram
diariamente os templos de Umbanda, ávidas por informações
acerca do universo divino da sua nova religião.

Pai Benedito de Aruanda, M. L. , já nos dizia:

"Filhos, não temam as críticas cujo intuito é destruir a Umbanda


porque elas não prosperarão, já que a cada novo dia milhares
de espíritos reencarnam e muitos deles já trazem abertas as
suas faculdades mediúnicas, faculdades essas que os conduzirão
ao encontro das religiões espíritas ou mediúnicas, tais como o
espiritismo, a Umbanda e o Candomblé.

Pai Benedito também dizia:


"Filhos, a Umbanda é maior que todos os umbandistas juntos,
pois ela é uma religião, e, como tal, sempre abrigará novos
fiéis, mostrando a todos que é em si um mistério de Deus, apto
a abrigar em seu seio (templos) quantos a procurarem e a
adotarem como sua 'guia terrena' nos caminhos que nos
conduzem a Deus".

Pai Benedito também nos alertava sempre sobre o fato de que,


caso alguém quisesse se arvorar em "papa" da Umbanda ou
chamasse para si a posse dela, dos seus conceitos e da sua
doutrina, logo se veria tão assoberbado que se calaria e se
recolheria ao silêncio sepulcral do seu íntimo, já que a Umbanda
não tem um dono ou um papa.

Pai Benedito também nos dizia:

"Filhos, a Umbanda é uma religião mediúnica e, como tal,


dispensa templos suntuosos, pois onde houver um médium lá
estará um dos seus 'templos vivos', através do qual a religião
fluirá em todo o seu esplendor. Portanto, sejam bons e bem
esclarecidos médiuns, porque serão a religião".

Tantas coisas foram ditas a nós por Pai Benedito de Aruanda


que é impossível recordar todas neste momento em que escrevo
a apresentação deste livro.

Mas se de algumas me recordo é para salientar a sapiência


desse nosso amado irmão Preto-Velho que sempre nos alertava:

"Filhos, Deus é a verdade e a fonte divina de todos os mistérios.


Só Ele realmente sabe! Quanto a nós, espíritos mensageiros e
médiuns, so¬mos apenas intérpretes d´Ele e dos Seus
mistérios, dos quais temos nossa versões e nada mais".

Logo, caso lhes digam:


Esta é a verdade final sobre Deus e sobre seus mistérios –
fiquem alertas porque ali estará alguém fazendo proselitismo
em causa própria ou é um mero especulador.

Se relembro os alertas de Pai Benedito de Aruanda, dados


quando ele psicografava através de mim, é porque ele sempre
foi um crítico ardente de muitos dos comentários sobre os
orixás.

Ele não poupava ninguém quando o assunto era os orixás e até


nos dizia:

"Filhos, hoje estão surgindo pessoas, cheias de soberbia e


sapiência, arvorando-se em arautos do saber sobre os orixás,
tal como faziam os missionários cristãos, que saiam pelo mundo
catequizando a torto e a direito pessoas cuja religiosidade
simples não resistia diante das suas citações em 'latim' feitas
muito mais para impressionar as 'massas ignorantes' que pelo
seu conteúdo".

"Lembrem-se",

alertava-nos Pai Benedito,

"que orixá é mistério de Deus! E, como tal, assume as feições


humanas que lhe dermos. Mas lembrem-se também: Existe uma
Ciência Divina que explica os mistérios dos orixás de forma
científica e, em vez de recorrer aos seus aspectos míticos, os
decifra e os ensina através das qualidades divinas que cada um
deles é em si mesmo".

"Na 'ciência divina' está a chave para decifrar os mistérios dos


orixás, filhos de Umbanda!"

alertava-nos Pai Benedito de Aruanda, M. L.


"Na ciência divina existe uma ciência dos entrecruzamentos que
nos explica cada orixá cultuado nas religiões africanas puras ou
afro-brasileiras."

Pai Benedito sabia das coisas que nós não conhecíamos, mas
que o tempo se encarregou de nos mostrar.

Recentemente (março de 2000) ganhei um livro


intitulado Orixás da Bahia, de autoria de Elyette Guimarães de
Magalhães e, para minha surpresa, encontrei uma descrição
sobre o orixá Logum Edé, a qual transcrevo na íntegra:

"Este grande orixá, filho de Ibualama ou Inlé – uma 'qualidade'


de Oxossi, como dizem os afro-haitianos – e da Oxum
cognominada Yeyê Ponda ou mais simplesmente Oxum Ipondá,
participa de modo muito imediato tanto da natureza como da
própria condição de seu pai e de sua mãe, cujos caracteres
reúne (os mais opostos inclusive) e em cujos domínios alterna.
Assis é que de seis e seis meses, conforme os mitos, deixa de
ser o másculo caçador habitante dos bosques, onde captura e
mata os animais selvagens dos quais se nutre, para mudar-se
em bela ninfa vaidosa e cheia de requebros, senhora das águas
doces de cujos peixes ora se alimenta – e vice versa.
Poderíamos mesmo dizer que Logum Edé é, de fato, numa só
pessoa e sucessivamente, Ibualama e Oxum".

Na ciência dos entrecruzamentos, discutida parcialmente no


nosso livro O Código da Umbanda, já vimos surgirem orixás
intermediários a partir dos cruzamentos das irradiações verticais
com as correntes horizontais (faixas vibratórias), e ali todos
foram identificados por nomes simbolizadores dos seus campos
de ação nos domínios divinos.
Deduzimos que Logum-Edé é o nosso amado Pai Oxossi do
amor, da união e da concepção da vida, aos qual descrevemos
assim:

- 2º Oxossi: é o Oxossi do amor ou o Oxossi mineral, também


denominado Oxossi do conhecimento genético. Ele surge a
partir do 2º pólo magnético, que é formado no entrecruzamento
com a corrente eletromagnética mineral, regida pelo orixá Oxum
(orixá da concepção e do amor) com a 3º irradiação vertical,
regida por Oxossi.

É impressionante como a descrição mítica e a científica se


encaixam no caso de Logum Edé e do 2º Oxossi ou "Oxossi do
amor", e se alguém ainda duvidar de que são uma só divindade,
então nada podemos fazer além de recomendar isto: dêem
tempo ao tempo para esclarecer o que não nos foi possível.

Observem que, se ressaltei o caso do orixá Logum Edé, já


que O Código da Umbanda foi escrito em 1994 e só em março
de 2000 este livro me chegou às mãos, e o código é obra
mediúnica de diversos espíritos (Pai Benedito inclusive),
também em maio de 2000, durante uma aula de teologia de
Umbanda, mestre Anaanda nos revelou que o orixá Ewá é uma
"Iemanjá" intermediária, regente de uma faixa vibratória
horizontal em cujas pontas estão Iemanjá e Ogum, fato esse
que a torna impulsiva como todo Iemanjá e aguerrida como
todo Ogum, levando muitos a identificarem-na como uma
"Iansã".

A ciência divina nos ensina que Ewá é uma divindade


intermediária de Iemanjá, que atua sob a irradiação de Ogum
como geradora de uma vibração, energia e magnetismo
criadores do caráter e amoldadora da moral dos seres sob sua
influência.
Cremos que esses dois exemplos já são suficientes para que os
nossos leitores entendam o objetivo da nossa Teogonia de
Umbanda.

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